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Guaraí-TO 2009 Raimundo Rodrigues de Araújo Filho CUSTOS DE TRANSPORTE DA COMMODITY SOJA: ESTUDO DE CASO NA FAZENDA ESTÂNCIA LAGEDO

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Guara-TO 2009

Raimundo Rodrigues de Arajo Filho

CUSTOS DE TRANSPORTE DA COMMODITY SOJA:

ESTUDO DE CASO NA FAZENDA ESTNCIA LAGEDO

Guara-TO 2009

Raimundo Rodrigues de Arajo Filho

CUSTOS DE TRANSPORTE DA COMMODITY SOJA:

ESTUDO DE CASO NA FAZENDA ESTNCIA LAGEDO

Trabalho de Concluso de Curso,

elaborado sob a orientao do Professor

Mestre Nelson Russo de Moraes,

apresentado Banca Examinadora, como

requisito para concluso do Curso de

Administrao de Empresa da Faculdade

Guara FAG.

Copyright By Raimundo Rodrigues de Arajo Filho

Ficha Catalogrfica

Setor de Catalogao e Classificao Biblioteca Universitria Albina Dias

FUNDEG/FAG

Geraldo Costa - Bibliotecrio/Documentalista CRB2/1038

Todos os direitos reservados em Lngua Portuguesa, no Brasil, de acordo com a Lei

n..610/98. Nenhuma parte deste trabalho pode ser reproduzida ou transmitida de

qualquer forma ou por qualquer meio, incluindo fotocpia, gravao ou informao

computadorizada, sem a permisso escrita do (a) autor (a). A violao dos direitos

do (a) autor (a) crime estabelecido pelo Art. 184 do Cdigo Penal.

388.3240981 A663c Arajo Filho, Raimundo Rodrigues de

Custos de transporte da commodity soja : estudo

de caso na fazenda estncia lagedo / por Raimundo

Rodrigues de Arajo Filho, 2009.

140 f.

Monografia (Graduao) Faculdade Guara - Curso de Administrao de Empresas, 2009.

1. Transporte rodoviario de carga - Brasil - Custo operacional. I. Ttulo.

CDD 22. Ed.

http://catalogos.bn.br/scripts/odwp032k.dll?t=bs&pr=livros_pr&db=livros&use=sh&disp=list&sort=off&ss=NEW&arg=transporte|rodoviario|de|carga

Raimundo Rodrigues de Arajo Filho

CUSTOS DE TRANSPORTE DA COMMODITY SOJA:

ESTUDO DE CASO NA FAZENDA ESTNCIA LAGEDO

Trabalho de Concluso de Curso,

elaborado sob a orientao do Professor

Mestre Nelson Russo de Moraes,

apresentado Banca Examinadora, como

requisito parcial para concluso do Curso

de Administrao de Empresas da

Faculdade Guara FAG.

Banca Examinadora

_____________________________

Prof. Msc. Nelson Russo de Morais

Orientador FUNDEG/FAG

___________________________

___________________________

Data da aprovao: _____/_____/_____.

minha esposa, aos meus filhos, e aos

meus pais, amigos, conselheiros,

incentivadores, e aos mestres que me

guiaram na descoberta dos livros, das

bibliotecas e do prazer da leitura e da

pesquisa.

AGRADECIMENTOS

Ao meu Deus, Ser Supremo, ao corpo discente da Faculdade Guara - FAG, aos

acadmicos do Curso de Administrao de Empresas pelo apoio, e em especial ao

professor Msc Nelson Russo de Morais, pela pacincia e dedicao na orientao e

correo deste trabalho.

Pedimos um pouco de ordem para nos

proteger do caos. Nada mais doloroso,

mais angustiante do que um pensamento

que escapa a si mesmo, idias que fogem

que desaparecem apenas esboadas, j

corrodas pelo esquecimento ou

precipitadas em outras, que tambm no

dominamos (DELEUZE E GUATTARI)

RESUMO

A racionalizao dos custos de transporte torna-se condio bsica de competitividade para diversos seguimentos, dentre eles o agronegcio. O transporte rodovirio apresenta-se como um grande integrador das principais regies produtora de commodities agrcolas com os portos exportadores e o mercado interno. Dessa forma, a proposta deste TCC analisar os custos de transporte rodovirio da commodity soja, sobre o preo do produto oriundo da Fazenda Lagedo, localizada no municpio de Fortaleza do Taboco, Estado do Tocantins, citando tambm os principais fatores de custo. Para tanto, considerou-se os custos rodovirios da fazenda Estncia Lagedo para escoar a safra 2008/09. Como resultado, os principais fatores que impulsionam ou retraem o custo rodovirio so as despesas com combustvel, as despesas do conjunto de rodagem, as condies das vias, a distncia entre os plos produtores, os portos e os silos. A pesquisa aborda a falta de estrutura de transporte condizente com o territrio brasileiro, que alm de extenso possui um potencial agrcola promissor, mas que prejudicado pela falta de modais de transportes eficientes. Apresenta-se dados bibliogrficos sobre o transporte de cargas agroindustriais, transporte de soja em gro, conceitos de custos logsticos, transporte, logstica e a commodity na economia brasileira, a regio norte, breve histrico do Estado do Tocantins, estudo de caso: Fazenda Estncia Lagedo.

Palavras-chave: Custo De Transporte; Logstica, Modal Rodovirio; Soja.

ABSTRACT

Streamlining the cost of transportation becomes a basic condition of competitiveness for different segments, among them agribusiness. The road presents itself as a major integrator of the main regions producing agricultural commodities in the exporting ports and the internal market. Thus, the aim of this TCC is to analyze the costs of road transport of soybean commodity, the price of the product from the Lagedo Farm, located in Fortaleza do Taboco, Tocantins State, also citing the major cost factors. To this end, we considered the costs of the farm road Resort Lagedo to drain the 2008/09 harvest. As a result, the main factors driving the cost, or retrench road are fuel expenses, the cost of all tires, road conditions, and the distance between the producing areas, ports and silos. The research addresses the lack of transport infrastructure consistent with the Brazilian territory, which also has an extensive agricultural potential promising but is hampered by lack of efficient modes of transport. It presents bibliographic data on freight agribusiness, transportation of soybeans, the concepts of logistics costs, transportation, logistics and commodity on the Brazilian economy, the northern region, a brief history of the State of Tocantins, Case Study: Farm Resort Lagedo. Key-words: Cost of Transport, Logistics, Road Transportation, Soybean.

LISTA DE SIGLAS

ABIOVE: Associao Brasileira das Indstrias de leos Vegetais AC: Acre

ADAPEC: Agncia de Desenvolvimento Agropecurio do Tocantins AHITAR: A Hidrovia Tocantins Araguaia

AM: Amazonas AP: Amap

ASLOG: Associao Brasileira de Logstica

ANTT: Agncia Nacional de Transportes Terrestres ABNT: Associao Brasileira de Normas Tcnicas.

ADTP: Agncia de Desenvolvimento Tiet Paran BNDES: Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social

BR: Brasil CDP: Companhia Docas do Par

CNT: Confederao Nacional do Transporte CONAB: Companhia Nacional de Abastecimento

CREMA: Programa Integrado de Recuperao e Conservao da Rede de Rodovias Federais - Ministrio dos Transportes

CVRD. Companhia Vale do Rio Doce

DNER: Departamento Nacional de Estrada e Rodagem DNIT 1. Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes

EFC: 2. Estrada de Ferro Carajs

EFA: 3. Estrada de Ferro Amap EFNS: Estrada de Ferro Norte-Sul

EZALQ Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de So Paulo

IPVA: Imposto sobre a Propriedade de Veculos Automotores IEA: Instituto de Economia Agrcola

EMPRABA: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria

FAG: Faculdade Guara

GEIPOT: Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes do Ministrio dos Transportes

GO: Gois

MA: Maranho MT: Mato Grosso

IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica.

PA: Par PNV: Plano Nacional de Viao

RO: Rondnia

SEAGRO: Secretaria da Agricultura, Pecuria e Abastecimento do Estado do Tocantins

SEINF: Secretaria de Infra-Estrutura do Estado do Tocantins

SIFRECA: Sistema de Informao de Fretes para Cargas Agrcolas

http://www.dnit.gov.br/

TKU: Toneladas Transportadas Por Quilmetro til

TO: Tocantins

USP: Universidade de So Paulo VALEC: Engenharia, Construo e Ferrovia S.A

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Evoluo da colheita nos quatro principais estados produtores 2000/01

Figura 2: Matriz de Transportes de Cargas no Brasil em 2008.

Figura 3. Mapa da Malha Rodoviria Brasileira

Figura 4. Mapa do Brasil com as condies das Rodovias da Regio Norte

Figura 5: Mapa da Regio Norte

Figura 6: Mapa do Brasil com os Eixos Estruturantes

Figura 7: Mapa do Estado do Tocantins com as Rodovias Federais e Estaduais

Figura 8: Mapa da Regio Norte com diviso dos trechos considerados na

Estrada de Ferro Norte-Sul EFNS (2006)

Figura 9: Mapa do Brasil indicando o traado da Estrada de Ferro Norte-Sul

EFNS (2006)

Figura 10: rea Total Plantada de soja (Mil/ha)

Figura 11: Produo Total de Soja (ton)

Figura 12: Mapa do Estado do Tocantins com Rodovias Federais, Estaduais,

Ferrovias Hidrovias, Portos e Aeroporto

Figura 13: Mapa do Estado do Tocantins com as principais Rodovias Federais e

Estaduais.

Figura 14: Mapa do Municpio de Fortaleza do Taboco Estado do Tocantins

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Relao entre o preo do frete e o preo dos produtos: valor mnimo, mdio e mximo, para as safras entre 1994 e 1997.

Tabela 2. Estimativa mensal de colheita da soja, no Centro-Sul do Brasil, safra

2000/01.

Tabela 3. Matriz Origem-Destino para o transporte da soja em gro (2009). Perodo: 25/07 - 21/08/2009.

Tabela 4. Matriz Origem-Destino para o transporte da soja em gro (2009). Perodo: 22/08 - 25/09/2009.

Tabela 5. Referente aos valores de frete de farelo de soja em sacas de 50kg e a granel.

Tabela 6. Comparao de custo de transporte da soja em diferentes plos produtores (1998/U$$/ton.)

Tabela 7. Matriz de Transporte de Carga no Brasil (%)

Tabela 8. Estado de conservao das rodovias, extenso, gesto estadual e terceirizada

Tabela 9. Sistema Rodovirio do Estado do Tocantins com Rodovias Federais, Estaduais e Municipais.

Tabela 10. Malha Rodoviria do Estado do Tocantins em 1999

Tabela 11. Populao, rea total e densidade populacional

Tabela 12. rea total da Fazenda Estncia Lagedo e utilizao

Tabela 13. Quantidade total de soja colhida, peso bruto, peso lquido, impureza, umidade e custo do frete at o depsito da BUNGE/2009

Tabela 14. Quantidade total de soja colhida, peso bruto, peso lquido, impureza, umidade e custo do frete at o depsito da MULTIGRAIN/2009

Tabela 15. Total Geral de soja colhida, peso bruto, peso lquido, impureza, umidade e custo do frete at o depsito da BUNGE, MULTIGRAIN/2009

Tabela 16. Comparao do valor do frete da Fazenda Estncia Lagedo com outras regies produtoras (R$/t.km)

Tabela 17. Comparao do preo do frete da soja em gro: Fazenda Estncia Lagedo com a matriz origem destino Sifreca de 25/07 - 21/08/2009

SUMRIO

RESUMO ..................................................................................................................... 8

ABSTRACT ................................................................................................................. 9

1 INTRODUO ....................................................................................................... 17

1.1 JUSTIFICATIVA ............................................................................................... 21

1.2 PROBLEMTICA ............................................................................................. 22

1.3 HIPTESES..................................................................................................... 22

1.4 OBJETIVOS ..................................................................................................... 23

1.4.1 Objetivo Geral .......................................................................................... 23

1.4.2 Objetivos Especficos .............................................................................. 23

1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO ......................................................................... 24

2 REFERENCIAL TERICO ..................................................................................... 26

2.1 TRANSPORTE DE CARGAS AGROINDUSTRIAIS ........................................ 26

2.2 TRANSPORTE DA SOJA EM GRO .............................................................. 31

2.3 FUNDAMENTAO TERICA DA FORMAO DO PREO DE FRETE ..... 35

2.4 TRANSPORTE DA COMMODITY SOJA ......................................................... 38

2.5 FUNES DO TRANSPORTE DE CARGAS NA LOGSTICA ........................ 40

3 CONCEITUAO DE CUSTOS LOGSTICOS ..................................................... 48

3.1 CONCEITOS DE CUSTOS APLICVEIS LOGSTICA ................................. 48

3.2 CUSTO RODOVIRIO ..................................................................................... 50

3.2.1 Custos de Transporte Agrcola............................................................... 51

3.3 FATORES DETERMINANTES DO VALOR DO FRETE .................................. 52

3.4 SISTEMA DE INFORMAO DE FRETES (SIFRECA) .................................. 53

3.5 PERDA DA PRODUO DA COMMODITY SOJA DURANTE O

TRANSPORTE ............................................................................................... 61

4 TRANSPORTE, LOGSTICA E A COMMODITY SOJA NA ECONOMIA

BRASILEIRA ...................................................................................................... 63

4.1 TRANSPORTES NA ECONOMIA BRASILEIRA .............................................. 63

4.2 BREVE HISTRICO DOS MODAIS DE TRANSPORTES BRASILEIROS ...... 66

4.3 OS MODAIS DE TRANSPORTES BRASILEIROS .......................................... 67

4.4 LOGSTICA E A ECONOMIA BRASILEIRA ..................................................... 69

4.5 MALHA RODOVIRIA BRASILEIRA ............................................................... 72

4.6 CARACTERIZAO DO TRANSPORTE RODOVIRIO BRASILEIRO .......... 73

4.7 RODOVIAS BRASILEIRAS .............................................................................. 74

4.8 COMPOSIO DA MALHA RODOVIRIA BRASILEIRA ................................ 74

4.8.1Condies da Malha Rodoviria Brasileira Segundo Pesquisas da

Confederao Nacional dos Transportes (CNT, 2006) .................................. 76

4.9 A REGIO NORTE .......................................................................................... 79

4.9.1 Eixos Estruturantes da Regio Norte ..................................................... 81

5 HISTRICO DO ESTADO DO TOCANTINS ......................................................... 83

5.1 HISTRICO DO TRANSPORTE NO ESTADO DO TOCANTINS ................... 84

5.2 MODAIS DE TRANSPORTE EXISTENTES NO ESTADO DO TOCANTINS .. 85

5.2.1 Modal Rodovirio ..................................................................................... 85

5.2.2 Modal Ferrovirio ..................................................................................... 88

5.2.3 A Estrada de Ferro Norte-Sul (EFNS) ..................................................... 88

5.2.4 Modal Hidrovirio ..................................................................................... 92

5.2.5 Modal Aerovirio ...................................................................................... 93

5.3 DADOS BIBLIOGRFICOS E ESTATSTICOS DA MATRIZ DE TRANSPORTE

DO ESTADO DO TOCANTINS ...................................................................... 94

5.4 HISTRICO DA CIDADE DE FORTALEZA DO TABOCO ESTADO DO

TOCANTINS................................................................................................. 106

5.5 MODAIS DE TRANSPORTE DE FORTALEZA DO TABOCO ..................... 108

5.5.1 Modal Rodovirio ................................................................................... 108

6 ESTUDO DE CASO: FAZENDA ESTNCIA LAGEDO ..................................... 110

6.1 CARACTERIZAO ...................................................................................... 110

6.1.1 Localizao............................................................................................. 110

6.1.2 rea de produo .................................................................................. 110

6.1.3 Instalaes ............................................................................................. 111

6.1.4 Equipamentos ........................................................................................ 111

6.2 DADOS REFERENTES A SAFRA 2008/2009 DA FAZENDA ESTNCIA

LAGEDO MUNICPIO DE FORTALEZA DO TABOCO -TO .................... 112

7 METODOLOGIA .................................................................................................. 116

7.1 CONCEITO DE PESQUISA ........................................................................... 116

7.2 ENFOQUE DA PESQUISA ............................................................................ 117

7.3 TIPOS DE PESQUISA ................................................................................... 119

7.4 MTODOLOGIA CIENTFICA ........................................................................ 120

7.5 DELIMITAO DO UNIVERSO A SER PESQUISADO................................. 121

7.6 ANLISE E DISCUSSO DOS DADOS DOS CUSTOS DE TRANSPORTE DE

SOJA, SAFRA 2008/2009 DA FAZENDA ESTNCIA LAGEDO .................. 122

CONSIDERAES FINAIS .................................................................................... 128

ANEXOS ................................................................................................................. 136

1 INTRODUO

As aes de polticas agrcolas direcionadas apenas ao aumento da

produo, embora importantes, no parecem ser suficientes em mercado

globalizado e competitivo. (FARINA apud OJIMA at al., 2007, p.1)

O agronegcio o segmento da economia que mais tem colaborado para a

formao do saldo da balana comercial do Pas. De acordo com os dados do

Instituto de Economia Agrcola (IEA, 2006), em 2005, o segmento respondeu por

39% das exportaes, com destaque para o complexo soja que deteve 20% das

divisas geradas com o agronegcio.

De acordo com Ojima (2007) como conseqncia do avano das mudanas

tcnicas e organizacionais, a indstria agroalimentar brasileira passou por um

processo de reestruturao, tendo como principais determinantes desse processo, a

competio externa e as mudanas no perfil do consumidor. Dessa forma, nesse

cenrio os segmentos de logstica e distribuio passam a ter um importante papel

na determinao de margens de lucro e da cesta de produtos a serem colocados no

mercado.

Segundo dados do Ministrio dos Transportes, em 2001, o modal rodovirio

foi responsvel por 60% da movimentao de carga no Brasil, seguido da ferrovia,

com 21%, e o aquavirio com 14%. O cenrio desse setor pode ser caracterizado

pela predominncia da movimentao de produtos de baixo valor agregado

percorrendo longas distncias, desse modo, seria necessrio favorecer arranjos

logsticos que contemplassem o transporte hidrovirio e ferrovirio indicados para

esse tipo de perfil. Entretanto, o transporte rodovirio predominante. (OJIMA et al.,

2007)

18

No caso brasileiro, o transporte de gros esbarra na estrutura apresentada

pelas estradas do Pas, gerando perdas do produto e, tambm, devido ao desgaste

sofrido pelo caminho, com conseqente aumento do preo do frete.

O fato de o Brasil possuir dimenses continentais eleva a importncia dos

meios de transportes serem eficientes, que permitem integrar o territrio nacional,

facilitando o desenvolvimento econmico das diversas regies do Pas. E,

principalmente, pelo fato de seus principais produtos de exportao serem

commodities, a existncia de modais de transporte que atendem as necessidades da

produo agrcola um fator predominante para a competitividade do agronegcio

no mercado mundial.

Segundo Martins e Caixeta-Filho (2001, p. 16):

Os transportes tm a funo bsica de proporcionar elevao na

disponibilidade de bens ao permitirem o acesso a produo que de outra

maneira no estariam disponveis para uma sociedade ou estaria apenas a

um elevado preo. Tm, assim, a funo econmica de promover a

integrao entre sociedades que produzem bens diferentes entre si.

O transporte est entre as principais operaes logsticas no escoamento de

produtos agrcolas brasileiros e esse representa boa parte dos custos logsticos.

Cada dia as organizaes e/ou empresas tm percebido a importncia da logstica

como fator competitivo, por isso, cada vez mais procuram otimizar as operaes

logsticas para a reduo de custos, e em se tratando de agronegcios a logstica

pode desempenhar papel fundamental na reduo de custo.

O potencial agrcola brasileiro extraordinrio, e dentro deste cenrio, a soja

destaca-se por ter os menores custos de produo mundial, mas se torna menos

competitiva frente aos seus principais concorrentes mundiais, devido aos custos

logsticos brasileiros, em especial, os de transporte. Por isso, a necessidade de

19

modais com grande capacidade, permitindo ganho de escala, e, conseqentemente,

reduo no custo de frete, se torna primordial para alavancar as exportaes de

commodities.

A Regio Norte vem se destacando nos ltimos anos como produtora de

gros, especialmente a soja. O transporte nessa regio com destino aos portos para

exportao realizado, principalmente por rodovia, ferrovia e, em menor escala, por

hidrovia, mas o transporte rodovirio concentra os maiores volumes.

Esta regio possui um grande potencial para o transporte hidrovirio, pois

banhada por grandes bacias hidrogrfica brasileiras. O Estado do Tocantins

banhado pela bacia do Tocantins-Araguaia, praticamente toda navegvel. Mas todo

esse potencial pouco utilizado, uma das razes a falta de infra-estrutura do

transporte hidrovirio que tem seu desenvolvimento comprometido devido s

questes ambientais.

Nos pases desenvolvidos, para o transporte de produtos de baixo valor

agregado, geralmente utilizada a hidrovia. Os EUA que possuem um grande

territrio como o brasileiro e, tambm so grandes produtores e exportadores de

soja, transportam a maior parte de sua produo pelo modal hidrovirio. Apenas

para ilustrar, 16% da soja americana transportada por rodovias, contra 67% da

brasileira. Em contrapartida, 61% da soja americana viajam por hidrovias, contra 5%

da brasileira. (EMBAPA, 2005).

O Brasil tambm perde competitividade quando se calculam os custos de

escoamento interno. Estimativas da Associao Brasileira das Indstrias de leos

Vegetais ABIOVE indicam que o custo de escoamento interno no Brasil cerca de

80% maior do que nos Estados Unidos. (ABIOVE, 2009).

20

A ferrovia poderia ser uma opo mais econmica e eficiente no transporte

brasileiro, mas foi tratada como sem importncia durante parte do sculo passado. A

partir de 1997, iniciou-se a retomada de sua importncia com o programa de

privatizao, foram aplicados novos investimentos, mas devido o sucateamento os

reflexos destes investimentos demoraram a surtir efeitos.

De acordo com Bowersox e Closs (2001, p. 284):

A capacidade de transportar de maneira eficiente uma grande tonelada por

longas distncias a principal razo para que as ferrovias continuem

ocupando um lugar de estaque na receita bruta e na tonelagem

intermunicipal. As operaes ferrovirias incorrem em altos custos fixos em

virtude do equipamento caro, do acesso, dos ptios de manobra e dos

terminais. Entretanto, o sistema ferrovirio conta com custos operacionais

variveis relativamente baixos.

O transporte rodovirio apesar de tradicionalmente receber maiores

investimentos, tambm se encontra bastante deteriorado, com muitas estradas em

pssimas condies de conservao, em muitos casos, apenas as rodovias

privatizadas esto em um estado condizente de conservao.

Como indica a pesquisa realizada pela CNT (Confederao Nacional dos

Transportes) em 2006, e conforme os critrios de anlise desta pesquisa que leva

em considerao caractersticas do pavimento, sinalizao e geometria viria, de

acordo com estes critrios as condies de conservao dos 74.681km de rodovias

avaliados resultam em um ndice extremamente desfavorvel, em 74,7% da

extenso apresentam algum tipo de comprometimento, sendo, portanto,

classificadas como Deficiente, Ruim ou Pssimo (CNT, 2006).

21

1.1 JUSTIFICATIVA

Uma pesquisa cientfica torna-se importante quando o resultado interessa e

pode atingir parte de uma sociedade, como o caso dos custos do transporte

rodovirio da commodity1 soja, cuja finalidade apresentar informaes aos

produtores quanto aos custos diretos e indiretos de servio de transporte realizado

no mercado, a fim de obter melhor vantagem competitiva.

Este trabalho pretende contribuir com dados atualizados e informaes

importantes para as associaes e cooperativas de produtores rurais, que baseados

neste estudo podero viabilizar o transporte de soja da rea de produo aos

depsitos, com possveis redues de custos.

Na esfera acadmica, a forma metodolgica de trabalho cientfico possibilita

o aprendizado e o conhecimento. Este trabalho constituir de oportunidade para

avaliar o conhecimento e informaes obtidas e estudadas durante o curso de

Administrao e principalmente para colocar em prtica as teorias abordadas ao

longo do curso, e tambm contribuir com material terico baseado em estudo de

caso em uma Fazenda Agropecuria, possibilitando a novos acadmicos e ao

mundo cientfico, informaes adicionais para o estudo do tema custos de

transporte da commodity soja.

Analisar-se- as causas do aumento dos custos do transporte dessa

commodity para proporcionar aos agricultores informaes de qual tipo de modal de

transporte mais vantajoso para o transporte de gros, e qual proporciona menor

custo.

1 Commodity um termo de lngua inglesa, que tem vrios significados, que como o seu plural

commoditieis, refere-se a mercadorias, utilizado nas transaes comerciais de produtos de origem primria nas bolsas de mercadorias. Fonte: Dicionrio virtual de economia.

22

1.2 PROBLEMTICA

No contexto globalizado, necessrio questionar tudo que nos cerca,

principalmente, com referncia aos custos existentes no processo produtivo. O

agricultor que no tem informaes estar fadado ao prejuzo, por no saber ou no

conseguir calcular o quanto disponibilizou para produzir e transportar a safra at o

comprador e/ou depsito.

De acordo com Mattar (2008, p. 161):

assim como as demais modalidades de transporte, o rodovirio necessita de modelos de anlise para escolha dos equipamentos a serem utilizados, assim como para o dimensionamento das frotas que iro atender s necessidades de transporte.

Diante do exposto, questiona-se: Existe impacto nos custos de transporte da

commodity soja na propriedade Fazenda Estncia Lagedo, desde o momento da

colheita at a entrega do produto ao comprador?

1.3 HIPTESES

As rodovias brasileiras so intensamente utilizadas por veculos de cargas

considerados veculos pesados, pois esse modal tem maior prioridade no pas,

devido ao modelo de desenvolvimento estabelecido entre os anos das dcadas de

1950 a 1980, em que as prioridades de estruturao da malha de transportes se

estabeleceram sobre o modal rodovirio. Apesar da intensa utilizao e da

priorizao de poltica de transporte s rodovias, a manuteno baixa, por isso a

malha rodoviria brasileira se encontra em ms condies de trfego, com exceo

23

principalmente das rodovias privatizadas, que em contraponto acabam

agregando maiores valores ao transporte, devido ao sistema de cobrana sobre a

utilizao (pedgios).

A Confederao Nacional dos Transportes (CNT) faz pesquisas anuais sobre

as rodovias brasileiras, a fim de avaliar a qualidade do pavimento, sinalizao e a

geometria das vias, e classificam as rodovias de acordo com esses critrios com

conceitos timo, bom, ruim e pssimo.

Considerando a existncia de uma malha rodoviria de m conservao, a

distncia dos portos e dos eixos ferrovirios e hidrovirios traz impactos aos custos

de transporte na Estncia Lagedo.

1.4 OBJETIVOS

1.4.1 Objetivo Geral

Analisar o impacto dos custos de transporte da commodity soja, sobre o preo

do produto oriundo da Fazenda Lagedo, localizada no municpio de Fortaleza do

Taboco, Estado do Tocantins.

1.4.2 Objetivos Especficos

Levantar os custos do modal rodovirio adotado pela Fazenda Lagedo.

Realizar estudo comparativo dos custos do transporte da propriedade com

custos de outras regies.

24

Analisar a eficincia de gesto dos custos de transporte da commodity soja na

Estncia Lagedo.

1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO

Este trabalho de concluso de curso TCC, denominado Custos de

Transporte da commodity soja: Estudo de caso na fazenda Estncia Lagedo, aps

os elementos pr-textuais, est subdividido em quatro partes principais,

denominados captulos: Introduo, referencial terico, metodologia, anlise e

interpretao de dados e consideraes finais.

Na Introduo foram abordados de forma sucinta e objetiva todos os

captulos.

No Captulo I Referencial Terico. Foi realizada pesquisa bibliogrfica em

fontes secundrias, nos livros existentes na biblioteca da Faculdade Guara FAG,

teses de doutorado, mestrado e em artigos cientficos, que proporcionaram a

aquisio de novos conceitos sobre o tema, assim como estabeleceu um paralelo

entre a teoria e a prtica, possibilitando observar a importncia do estudo sobre os

custos de transporte da commodity soja para as fazendas produtoras, bem como

analisar as causas que elevam os custos do modal de transporte rodovirio, as

condies das rodovias nacionais, estaduais, estradas municipais e a matriz origem-

destino, usada como parmetro para calcular o preo do frete praticado nas regies

produtoras de soja no Brasil.

25

No Captulo II Metodologia so apresentados os mtodos cientficos

utilizados para alcanar os objetivos propostos na pesquisa, principalmente, quanto

abordagem e as tcnicas de pesquisa adotadas para desenvolver este trabalho,

assim como o uso das normas da Associao Brasileira de Normas Tcnicas

ABNT.

No Captulo III Caracterizao da Empresa Abordou-se os elementos que

caracterizam a fazenda Estncia Lagedo, sua localizao no municpio de Fortaleza

do Taboco Estado do Tocantins, levando em considerao aspectos histricos,

localizao, rea de produo, instalaes e equipamentos.

No Captulo IV Anlise e Interpretao dos Dados Aborda os trabalhos de

pesquisa desenvolvidos e a apropriao de conceitos usados na anlise dos dados

e das informaes obtidas, de acordo com os referenciais usados para a

fundamentao. Por fim, so elaboradas as consideraes finais referente ao

trabalho.

26

2 REFERENCIAL TERICO

2.1 TRANSPORTE DE CARGAS AGROINDUSTRIAIS

Pode-se dizer que o transporte de cargas agroindustriais, ou mais

genericamente, a logstica agroindustrial, assunto recente no meio cientfico

brasileiro. O prprio estudo da logstica ainda pode ser considerado muito incipiente,

no Brasil, inclusive com poucos trabalhos cientficos e obras publicadas, o que

tornou este trabalho mais complexo na busca de informaes em fontes

bibliogrficas confiveis.

Ballou uma das principais referncias na sistematizao dos conceitos e

assuntos relacionados logstica. Sua obra, cuja primeira edio foi publicada no

incio dos anos da dcada de 1980, sendo um dos principais referenciais na rea.

Segundo o autor:

A logstica empresarial estuda como a administrao pode prover melhor

nvel de rentabilidade nos servios de distribuio aos clientes e

consumidores, atravs de planejamento, organizao e controle efetivo para

as atividades de movimentao e armazenamento que visam facilitar o fluxo

de produtos. (BALLOU, 1993, p. 17)

Historicamente, a Segunda Guerra Mundial foi o marco para o

desenvolvimento da logstica na ocasio logstica militar , pela necessidade de

se transportar e armazenar adequadamente os armamentos e mantimentos para os

exrcitos, em especial os norte-americanos, no qual o assunto ganhou maior

relevncia. Portanto, ainda conforme Ballou apud Gameiro (2003, p. 7), o perodo

27

entre as dcadas de 50 e 60 do sculo passado representou a poca de grande

desenvolvimento da teoria e prtica logstica.

O transporte, por sua vez, seria um dos componentes da logstica, como fica

claro na definio anteriormente colocada. Certamente, um ponto-chave,

sobretudo no caso de cargas de baixo preo, para as quais o custo da

movimentao, em termos relativos, bastante elevado.

Soares & Caixeta-Filho apud Gameiro (2003, p. 7) observam que os sistemas

produtivos da agricultura brasileira tm avanado significativamente, em especial, no

que se refere ao desenvolvimento e disseminao de novas tcnicas de produo. A

competitividade final dos produtos, porm, comprometida por gargalos ao longo de

determinada cadeia, sendo que a logstica e o transporte so fundamentais nesse

contexto.

Alm de o assunto ser tambm relativamente novo do ponto de vista

acadmico, deve-se ressaltar que, no caso de sua insero no contexto da

agricultura brasileira, existem outros motivos que explicam seu recente surgimento

como assunto de pesquisa. O trecho a seguir, de Caixeta-Filho, evidencia com

propriedade os fenmenos de realocao da agricultura brasileira, que implicam

reestruturao da produo e logsticas envolvidas:

Um dos mais marcantes fenmenos observados na economia agrcola

brasileira nas ltimas dcadas, e de forma acelerada nos anos mais

recentes, a verdadeira revoluo no seu arranjo espacial. Os negcios

agropecurios foram ocupando reas de fronteiras, como o Norte e o

Centro-Oeste, alm de vastas reas do Nordeste, em geral atravs de

atividades que incorporam modernas tecnologias de produo.

Paralelamente, fornecedores de insumos, armazenadores e indstrias de

processamento vo se aglomerando ao redor das zonas de produo,

visando principalmente a minimizao dos custos de transporte envolvidos,

atendendo assim aos princpios de racionalidade econmica. (CAIXETA-

FIHO, 1999, p. 8)

28

O desenvolvimento das pesquisas em torno da logstica agroindustrial, no

Brasil, trouxe consigo a necessidade de conhecimento do custo ou valor dos fretes,

uma vez que, essa a varivel norteadora do processo.

A informao relevante para as anlises da logstica agroindustrial no Brasil

a predominncia do modal rodovirio na movimentao das cargas. Conforme os

dados da Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes (Geipot)2, citada por

Caixeta-Filho (1999), 81% dos graneis slidos agrcolas foram movimentados por

rodovias em 1995, enquanto 16% foram por ferrovias e menos de 3%, por hidrovias.

Tais informaes atestam sobre o papel do transporte rodovirio para as cargas

agrcolas.

A importncia do custo de transporte sobre a formulao de valores e o

acesso ou distribuio dos produtos de origem agrcola, por sua vez, consagrada

na literatura, assumindo papel de destaque na maioria das obras publicadas, o que

denota um interesse e investimento cientfico maior no mbito do transporte de

insumos e produo agrcola.

Roehner apud Gameiro (2003, p.9), em seu trabalho sobre o papel dos custos

de transportes nos mercados de commodities, apresenta uma importante

contribuio ao assunto. O autor afirma que houve uma enorme reduo nos valores

de frete no final do Sculo XIX, tanto no transporte terrestre quanto no martimo. No

sculo XX, a queda foi menos acentuada, mas ainda evidente. Apesar dessa

2 Com a reestruturao dos rgos pbicos federais, em fevereiro de 2002 a Empresa Brasileira de

Planejamento e Transportes (Geipot) foi absorvida pela Agncia Nacional dos Transportes Terrestres

(ANTT), deixando de existir sob aquela denominao.

29

tendncia de reduo, na dcada de 1980, o frete continuou representando entre

10% e 30% do preo final dos granis agrcolas.

Roehner apud Gameiro (2003, p. 9) estudou, ainda, o efeito de variaes dos

custos de transporte sobre uma srie de aspectos relacionados aos mercados e

commodities, tais como a magnitude das diferenas espaciais de preo, o progresso

da integrao dos mercados (com sua correspondente reduo nas diferenas

espaciais mencionadas), a evoluo histrica na volatilidade dos preos e o

desenvolvimento do comrcio.

Uma das constataes do autor foi a de que a influncia das diferenas

espaciais de preo (proporcionadas principalmente pelos custos logsticos) era to

significativa que se sobressaa ante as diferenas de qualidade de um produto.

Utilizando o trigo como exemplo nos Estados Unidos (EUA), o autor concluiu que as

diferenas de preo existentes entre as distintas classes (que medem a qualidade

daquele gro) variavam entre 2% e 5%, enquanto as diferenas especiais de preo

ficavam entre 10% e 15%.

Historicamente, identifica-se uma significativa relao entre os custos de

transporte e problemas de abastecimento que, inclusive, levavam a srias crises de

fome no passado. Segundo Roehner apud Gameiro (2003), estudando as crises de

abastecimento nos sculos XVII e XVIII, concluiu que a Inglaterra presenciou

dificuldades relativamente pequenas, enquanto a Frana sofrera fortemente com a

falta de alimentos, sendo que a principal explicao estaria associada aos custos de

transporte. Enquanto a capital e as grandes cidades da Inglaterra estavam a menos

de 100 km do mar, diversas regies da Frana s podiam ser abastecidas por

estradas ou ferrovias, onde o custo de transporte era significativamente superior. As

30

piores crises ocorridas naquele perodo foram verificadas exatamente nos locais que

eram precariamente servidos por estradas e ferrovias.

Gameiro (2003) no Brasil, o frete rodovirio apresenta significativa

participao no preo da carga, dependendo do produto e da poca. A Tabela 1

ilustra resultados de pesquisas sobre a relao entre o preo do frete e o valor de

alguns produtos relevantes.

Tabela 1. Relao entre o preo do frente e o preo dos produtos: valor mnimo,

mdio e mximo, para as safras entre 1994 e 1997.

Produto

Faixa de

Distncia

(km)

Relao entre preo do frete e preo do

produto (%)

Mnimo Mdio Mximo

Milho 800 - 899 16,9 22,7 30,6

Soja 900 999 11,5 13,0 28,8

Arroz beneficiado 450 649 11,1 12,0 13,1

Acar 350 399 5,5 6,2 6,9

Algodo em pluma 500 549 4,0 4,4 4,9

Farelo de soja 200 249 1,5 3,2 7,5

Fonte: Adaptada de Caixeta-Filho et al. apud Gameiro (2003, p. 11)

Observa-se, por exemplo, no caso do milho, que o preo do frete pode chegar

a mais de 30% do valor do produto, em condies extremas. Em mdia, no perodo

considerado, a relao para o milho foi de 22,7%. No caso da soja, um dos produtos

mais importantes da agricultura brasileira, o frete representava, em mdia, 13% do

valor do produto, segundo a fonte.

medida que o preo do produto aumenta, h uma tendncia de reduo no

valor dessa relao, como o caso do farelo de soja e do algodo. Entretanto,

geralmente h uma relao positiva entre os preos do produto e do seu frete.

Dentre outros fatores, isso pode ser explicado pelo maior cuidado necessrio em seu

31

transporte e pelo maior risco de perdas, especialmente pelo roubo de cargas, que

tem caracterizado sua movimentao nos ltimos anos.

Portanto, fica claro que o preo do frete fundamental na logstica do produto

e que, em ltima instncia, afeta fortemente a rentabilidade do negcio.

2.2 TRANSPORTE DA SOJA EM GRO

Esta pesquisa contempla o estudo de caso do custo do transporte rodovirio

da commodity soja a granel. A importncia desse produto para a agricultura

brasileira o principal motivo que levou sua escolha.

Segundo Soares et al. apud Gameiro (2003, p. 12), a soja normalmente

transportada a granel. Esse servio comumente prestado por transportadores

autnomos, devido baixa especificidade do veculo. A movimentao rodoviria do

gro apresenta um papel de destaque na oferta de transporte para granis agrcolas,

uma vez que grandes volumes so envolvidos.

Caixeta-Filho et al apud Gameiro (2003, p. 13) afirmam:

H intensa utilizao dos servios de transporte no escoamento da safra da

soja, vem provocando grande desestabilizao no mercado de fretes. Isso

ocasionado pelo fato de a oferta de veculos no ser suficiente para cobrir a

demanda existente para movimentao da soja e outros produtos agrcolas,

proporcionando aumento significativo dos fretes. (...) A safra de soja , sem

dvida, a que mais desestabiliza o mercado de frete. O pico da safra

comea na segunda quinzena de maro e vai at a segunda quinzena de

abril (...).

O problema da concentrao da colheita reforado pela deficincia em

estrutura de armazenagem em muitas regies. A falta de armazns obriga os

agricultores a escoarem sua produo imediatamente aps a colheita. Na Tabela 2

32

so apresentados dados sobre o volume mensal de colheita da soja nos principais

estados produtores no Brasil.

Tabela 2. Estimativa mensal de colheita da soja no Centro-Sul do Brasil, safra

2000/2001.

Estado Produo Fevereiro Maro Abril Maio

(t) (%) (t) (%) (t) (%) (t) (%) (t) (%)

Minas Gerais 1.444,5 4 0 260,0 18 678,9 47 505,6 35

So Paulo 1.335,9 4 187,0 14 975,2 73 160,3 12 13,3 1

Paran 8.294,1 24 414,7 5 4.478,8 54 3.317,6 40 82,9 1

Santa Catarina 521,5 1 0 31,3 6 365,1 70 125,2 24

Rio Grande do Sul 6.914,5 20 0 691,5 10 5.324,2 77 894,9 13

Mato Grosso 9.200,8 26 1.840,2 20 4.600,4 50 2.300,2 25 460,0 5

Mato Grosso do Sul 3.087,1 9 463,1 15 1.389,2 45 1.234,8 40 0

Gois 4.143,2 12 704,3 17 1.408,7 34 1.740,1 42 290,0 7

Distrito Federal 73,5 0 11,0 15 25,7 35 36,8 50 0

Total Centro Sul 35.015,1 100 3.620,3 10 13.860,8 40 15.158,0 43 2.376,0 7

Fonte: Adaptada Companhia Nacional de Abastecimento Conab apud Gameiro (2003, p. 13)

Observa-se, com o auxlio da Figura 1, que os meses de maro e abril

concentram mais de 80% do volume colhido, o que explica a enorme demanda por

servio de transporte nesse perodo.

Figura 1. Evoluo da colheita nos quatro principais estados produtores 2000/01

Fonte: Adaptada a partir de dados da Conab apud Gameiro (2003, p. 14)

ParanRio Grande do Sul

Mato GrossoMato Grosso do Sul

0%

20%

40%

60%

80%

Paran

Rio Grande do Sul

Mato Grosso

Mato Grosso do Sul

33

Fica claro pelo que demonstrado, que os preos dos fretes tendem a se

elevar nessas pocas do ano.

Nas proximidades dos meses de maro, o preo do frete sofre significativa

alterao, podendo manter-se nos meses seguintes, como no ano de 1999, ou

retornar a patamares inferiores. Esse comportamento evidencia a importncia de se

dispor de ndices que meam a evoluo desses preos, tanto em perodos

subseqentes como em intervalos especficos, tais como nos meses de pico de

safra.

O estudo do transporte exige o conhecimento das rotas e suas respectivas

quantidades movimentadas. So informaes relativamente difceis de serem

obtidas no caso do modal rodovirio, que, principalmente pela sua

desregulamentao, no dispe de um servio amplo de registro. Portanto, tais

informaes, geralmente, so obtidas por meio de estimativas das quantidades

ofertadas nas regies produtoras e das quantidades demandadas nas regies de

destino do produto.

Pelas caractersticas do mercado de soja no Brasil, h meios de se obter

estimativas com certo grau de confiabilidade. Pelo lado da oferta tm-se as

quantidades produzidas em cada municpio; j dentro do prisma da demanda, tem-

se uma forte concentrao nos portos de exposio, especialmente o de Paranagu-

PR e de Santos-SP, bem como nas regies de processamento do gro,

concentradas nos estados do Sul Paran e Rio Grande do Sul e do Sudeste So

Paulo e Minas Gerais. Esses dados so divulgados por instituies pblicas de

estatsticas e so bastante confiveis, estando disponveis ao pblico em geral. A

dificuldade, porm, reside na definio da proporo da quantidade ofertada em um

determinado local e destinada a esse ou quele destino. Para tanto, procura-se

34

construir uma matriz origem-destino, ajustando-se essas quantidades de modo a

fechar os valores ofertados e demandados, em todas as regies.

A matriz origem-destino mais atual, que tem conhecimento para a soja, foi

elaborada em 1997, pelo Geipot, com dados referentes ao ano de 1995 para as

principais rotas de escoamento do produto, conforme apresentado na Tabela 3.

Tabela 3. Matriz Origem-Destino para o transporte da soja em gro (2009). Perodo:

25/2007 - 21/08/2009.

Origem UF Destino UF R$/t R$/t.km

gua Boa MT Alto Araguaia MT 51,84 0,08

Alto Taquari MT Paranagu PR 150,00 0,10 Balsas MA Macei AL 120,00 0,08

Brasnorte MT Rondonpolis MT 75,00 0,09

Camapu MS Paranagu PR 106,75 0,08

Campo Novo do Parecis MT Araucria PR 160,00 0,07

Campo Verde MT Rondonpolis MT 19,73 0,14

Navira MS Toledo PR 26,00 0,11

Nova Maring MT Rondonpolis MT 71,00 0,12

Ourinhos SP Paranagu PR 57,00 0,11

Paracatu MG Araguari MG 34,00 0,12 Pedro Afonso TO Porto Franco MA 42,75 0,11

Ponta Grossa PR So Francisco do Sul SC 36,31 0,13

Fonte: Informe Sifreca (2009)

Tabela 4. Matriz Origem-Destino para o transporte da soja em gro (2009). Perodo:

22/2008 - 25/09/2009.

Origem UF Destino UF R$/t R$/t.km

gua Boa MT Jata GO 41,42 0,08

Aral Moreira MS Cu Azul PR 43,56 0,09

Barreiras BA Salvador BA 98,00 0,11

Buritizeiro MG Uberlndia MG 39,43 0,08

Camapu MS Trs Lagoas MS 40,00 0,09

Campo Novo do Parecis MT Alto Araguaia MT 75,22 0,09

Campo Verde MT Paranagu PR 140,00 0,08

Caravagio MT Alto Araguaia MT 76,10 0,09

Chapada RS Rio Grande RS 44,00 0,07

Cludia MT Santos SP 193,40 0,08

Costa Rica MS Santos SP 109,38 0,10

Cuiab MT Paranagu PR 152,67 0,08

Dourados MS Chapec SC 73,21 0,09

Rondonpolis MT Paranagu PR 132,25 0,08

Santa Mariana PR Maring PR 17,00 0,09 Santa Rosa do Tocantins TO Porto Franco MA 68,00 0,09

So Desidrio BA Salvador BA 100,00 0,11

Fonte: Informe Sifreca (2009)

35

A matriz fornece um razovel conhecimento das principais rotas. Trata-se de

uma amostra dos valores R$/t e R$t.km, ou seja, o valor da tonelada em real e o

valor da tonelada por Km.

2.3 FUNDAMENTAO TERICA DA FORMAO DO PREO DE FRETE

Para Samuelson apud Gameiro (2003, p. 18), o entendimento da estrutura do

frete transportation rate importante para o entendimento da indstria do

transporte como um todo.

Interessante observar que, na literatura de Lngua Inglesa, usualmente,

utilizam-se os termos rate e tariff para designar o preo do frete. Uma das

explicaes reside no fato de que, historicamente, a indstria do transporte foi

bastante regulamentada, em vista da importncia que a atividade apresenta para

toda a sociedade. Portanto, era fato comum o estabelecimento de tarifas por rgos

de regulamentao para os servios de transporte.

No entanto, observando-se a traduo dessas palavras para o Portugus,

tem-se que rate pode tanto significar preo, valor, taxa e tambm ndice. No

caso de tariff, a definio mais restrita, sugerindo algo imposto, ainda que seja

um preo.

A diversidade de termos utilizados na literatura pode gerar alguma confuso

conceitual, de modo que sua definio se faz necessrio.

A seguir so abordados alguns significados de relevncia para fins de melhor

entendimento do trabalho.

Preo do transporte, valor e frete A palavra frete utilizada como

sinnimo de transporte e carregamento. Alm disso, utilizada para designar a

36

importncia paga pelo transporte de alguma coisa. Esta importncia pode ser

entendida como o preo ou o valor pago pelo servio. Portanto, frete pode

significar o preo do transporte.

A distino entre preo e frete transcende a mera diferena ortogrfica e

cai em uma importncia de debate da Teoria Econmica, qual no se pretende

adentra.

Opta-se pela adoo do termo preo para designar a importncia financeira

envolvida no pagamento de um servio de transporte, evitando o uso de valor. Mais

ainda, esse preo de transporte, ser tratado simplesmente por frete.

Transportador, empresa de transporte, autnomo e embarcador

Transportador o agente responsvel pelo servio de transporte. Pode ser uma

pessoa fsica ou uma empresa (pessoa jurdica). Quando pessoa fsica, o

transportador recebe a denominao de transportador autnomo. As empresas de

transporte, tambm denominadas simplesmente de transportadoras, assim como

os autnomos, so prestadoras de servio, no sendo, portanto, as proprietrias das

mercadorias transportadas.

As transportadoras geralmente possuem uma frota prpria com motoristas

empregados, mas no raro subcontratam transportadores autnomos, situao na

qual esse recebe a denominao de transportador agregado. Nesse tipo de

relao, o autnomo pode tanto utilizar seu prprio veculo como algum da

transportadora contratante.

37

Embarcador3, por sua vez, o contratante do servio de transporte e

geralmente o proprietrio da mercadoria. Pode ser tanto uma pessoa fsica ou

jurdica. Este agente paga aos transportadores pelo servio de transporte.

(GAMEIRO 2003)

O preo do transporte (ou simplesmente frete) a varivel usada para

designar um frete especfico, ou seja, o preo cobrado por um servio de

transporte determinado, bem definido.

De posse dessas definies de transporte possvel avanar no sentido de

entender as relaes que determinam o preo do transporte.

consagrado que os servios de transporte enfrentam uma demanda do tipo

derivada ou de segunda ordem, uma vez que surgem da necessidade da troca de

bens no mercado. (GAMEIRO 2003)

3 O termo embarcador, apesar de largamente utilizado na literatura e no mercado brasileiro de

transporte, no consta nos dicionrios do idioma Portugus. Trata-se de uma traduo do termo shipper.

38

2.4 TRANSPORTE DA COMMODITY SOJA

O transporte uma atividade econmica cada vez mais importante no mundo

empresarial/agronegcio. O produto final, at chegar ao cliente passa por uma srie

de etapas que os tornam mais caro. Da a necessidade de se manter um rigoroso

controle dos custos, para que estes no afetem o cliente.

Novaes apud Fleury (2007, p. 12), define logstica como o processo de

planejar, implementar e controlar eficientemente o custo correto, o fluxo e

armazenamento de matrias-primas e estoques durante a produo de produtos

acabados, e as informaes relativas a essas atividades, desde o ponto de origem

at o ponto de consumo, com o propsito de atender aos requisitos do cliente.

Para isso, existe a logstica, que procura encontrar os melhores meios de

transportar, agregando eficincia e rapidez exigidas pelo mercado globalizado.

Para a maior parte das empresas, o transporte a atividade com maior grau

de importncia, por ter maior visibilidade e tambm, por ser essencial cadeia de

operaes logstica. Nenhuma empresa pode operar sem movimentar seus produtos

acabados ou matrias-primas. (GOMES, 2004, p.73).

Desde o momento em que o processo produtivo finalizado at o momento

em que o comprador toma posse das mercadorias, estas so de responsabilidade da

logstica, que tem por objetivo armazen-las em depsitos prprios e transport-las

diretamente ao cliente ou at depsitos locais.

O profissional de logstica deve preocupar-se em assegurar a disponibilidade

dos produtos requeridos pelos clientes medida que eles desejem e se isto pode

ser feito a um custo razovel. H muitas opes a considerar.

39

De acordo com Ballou (1993, pp. 40-41):

H normalmente dois tipos de mercados para os quais se devem planejar.

Um deles o de usurios finais, que so aqueles que usam o produto tanto

para satisfazer suas necessidades como aqueles que criam novos

produtos, que o caso dos consumidores industriais. Os consumidores

finais tambm podem ser companhias que, por sua vez, vendem os seus

produtos aos seus clientes. (BALLOU 1993, pp. 40-41)

A principal funo dos rgos de transporte, segundo Dias (1993)

promover a otimizao de prazo, custos e qualidade de atendimento, uma vez que

estes elementos podero viabilizar maior possibilidade de mercado, tendo por base

as seguintes argumentaes: 1. Custos: Ao termos valores de custos de transporte

superiores s mdias de mercado, aumentaro nossas dificuldades de concorrncia.

2. Prazos: Para determinados produtos os prazos de sua entrega so to

importantes que, devido vida do produto ser extremamente curta, pode-se, ao

estender seu prazo de entrega, prejudicar inclusive vendas futuras. A ttulo de

exemplo, determinados tipos de peridicos que, se no colocados em determinadas

praas em prazos especficos, tm suas vendas futuras prejudicadas, j que o

consumidor no est disposto a "esperar" a regularizao nas entregas. A mesma

observao vlida, principalmente no transporte de cosmticos, produtos farma-

cuticos e alimentcios. 3. Qualidade: Em determinados casos, principalmente no

transporte de matrias-primas mais sofisticadas, poder vir a onerar os custos de

transporte. Um fator primordial para a qualidade do transporte a embalagem do

produto transportado. Desde o carregamento do produto, ele est sujeito a riscos de

avarias devido prpria operao, e, se a embalagem no for correta para a

modalidade de transporte que estar sujeita certamente o material ser avariado.

40

Em funo do tipo de transporte h necessidade de avaliar os riscos possveis na:

carga e descarga do material; no percurso da estrada e qualidade da estrada; no

ferrovirio, nmero de transbordo; no martimo (movimentos, vertical, transversal e

longitudinal) (DIAS, 1993, p.321).

2.5 FUNES DO TRANSPORTE DE CARGAS NA LOGSTICA

O transporte uma das principais funes logsticas. Alm de representar a

maior parcela dos custos logsticos na maioria das organizaes e/ou agronegcio

tem papel fundamental no desempenho de diversas dimenses do servio ao

cliente. Do ponto de vista de custos, representa, em mdia, cerca de 60% das

despesas logsticas, o que, em alguns casos, pode significar duas ou trs vezes o

lucro de uma companhia e/ou fazenda. As principais funes do transporte na

logstica esto ligadas basicamente s dimenses de tempo e utilidade de lugar.

Desde os primrdios, o transporte de mercadorias e/ou matria-prima tem sido

utilizado para disponibilizar produtos onde existe demanda potencial, dentro do

prazo adequado s necessidades do comprador. Mesmo com o avano de

tecnologias que permitem a troca de informaes em tempo real, o transporte

continua sendo fundamental para que seja atingido o objetivo logstico, que o

produto certo, na quantidade certa, na hora certa, no lugar certo ao menor custo

possvel (FLEURY, WANKE & FIGUEREDO, 2007, p. 19).

Ojima (2004, p. 12), afirma que a distribuio de transporte de carga pelos

diferentes modais diferente da geografia de cada pas e/ou estado e tambm dos

incentivos governamentais no setor. A participao dos modais rodovirio, ferrovirio

41

e hidrovirio no transporte de carga brasileiro substancialmente diferente daquela

encontrada em outros pases de dimenses continentais similares. (CNT, 2006)

A anlise de transportes tem como objetivo estudar e definir as possibilidades

de utilizao de determinada linha quando j se tem o estudo de viabilidade

econmica da utilizao de rota e modalidade especificada por outro setor do

departamento de transportes, como poderemos ver mais adiante. Outra funo a

do controle do cumprimento de prazos preestabelecidos de entrega. Assim sendo, o

analista de transporte dever apresentar periodicamente relatrios de forma sucinta

dos prazos apresentados em confronto direto com os prazos tericos.

Dever constar tambm deste relatrio as rotas de grande relevncia, que

surgem com maior freqncia, dando assim possibilidade de decises mais

acertadas ao administrador do departamento em questo, pois, com base nestes

dados, determinadas linhas que possam apresentar teoricamente menores custos

sero eliminadas devido a dificuldades de operao encontradas. (DIAS, 1993,

p.328).

Segundo Ballou apud Pozes (2007, p.1), o tempo de entrega (mdia) e a

variabilidade no tempo de entrega (desvio-padro) esto ocupando os primeiros

lugares em importncia para o desempenho do transporte. O tempo de entrega, ou o

lead-time, o tempo mdio que um carregamento leva da origem ao destino. J a

variabilidade refere-se s diferenas da durao do tempo de entrega de

carregamentos que possuem mesma origem e destino, movimentando-se no mesmo

modal. A variabilidade do lead-time a principal medida da incerteza no

desempenho do transporte.

Fica, ento, evidente, a importncia de se reduzir esses dois parmetros de

transporte, para que se aumente a eficincia do processo, diminuindo as incertezas.

42

Mas, que parmetros devem ser reduzidos preferencialmente, o tempo mdio ou a

variabilidade? Que modal deve ser escolhido para uma determinada operao? A

resposta destas perguntas o cerne desta ferramenta (POZES, 2007, p.2).

Por outro lado, de acordo com Dias (1993, p.329):

[...] a coordenao de transportes possui como atribuio principal o

escalonamento de viagens, alm de outras atividades de segunda ordem,

tais como: controle de pagamentos, fornecimento de informaes ao setor

de custos, respostas a correspondncias etc. O setor de estudos

econmicos visa estabelecer a viabilidade econmica de realizao do

transporte. O setor de anlise de custos se encarregar de apresentar

relatrios sobre o resultado econmico de determinada poca; quando

existir grandes distores as mesmas devero ser apresentadas em

detalhamento com suas devidas justificativas. (DIAS, 1993, p.329):

Uma das principais responsabilidades do Departamento de Transporte de

uma empresa e/ou fazenda a escolha da transportadora. Muitas empresas

vivenciam esse problema e o primeiro passo deve ser a escolha entre a utilizao de

transporte prprio ou transporte contratado.

Cada empresa precisa analisar suas disponibilidades de frota prpria e

compatibilizar, desta forma os servios realizados atualmente com essa nova tarefa.

Em princpio, a rentabilidade do veculo de carga est condicionada a um

planejamento que lhe permite rodar sempre carregado.

Para quem j tem um servio regular de entregas na rea dos seus principais

fornecedores, a tarefa fica bastante simplificada. Mas, se isso no ocorre, ser

necessrio promover um estudo das empresas de transporte que operam em cada

rea e negociar operao mediante um contrato de servio.

43

Quando no se disponibiliza de antecedentes, muito difcil proceder-se

definio de normas rgidas para contratar empresas de transporte.

Pode-se, entretanto, estabelecer alguns pressupostos para facilitar a tomada

de deciso, e estes pressupostos so, segundo Dias (1993, p.330) os seguintes: 1.

Potencial da empresa/fazenda: Aqui, deve-se considerar o capital; a tonelagem de

frota prpria; a infra-estrutura disponvel (terminais na rea desejada, comunicao e

pessoal); a quantidade e importncia de clientes que operam com material

semelhante; prazos de entrega oferecidos nas diversas linhas para cargas

completas e cargas fracionadas. Ao fazer essa solicitao empresa, deve-se

indicar qual a previso de transporte em toneladas, e/ou metros cbicos, ou peas,

indicando neste ltimo caso o peso e a dimenso de cada unidade e seu valor

aproximado. 2. Tarifas: Ainda que a coleta de tarifas seja efetuada simultaneamente

com o levantamento do potencial da empresa, sua anlise deve estar condicionada

na pr-seleo. Escolher uma empresa de transporte s pela tarifa no a boa

norma, por motivos j bastante conhecidos. Depois de conferidos os dados

fornecidos na primeira etapa, especialmente seu conceito junto aos clientes

principais, pode-se analisar as tarifas oferecidas e escolher as que proporcionam

custos mais baixos. As tarifas de transporte rodovirio so constitudas de duas

parcelas bsicas: frete e frete-valor (ad valorem4), ambas negociveis entre usurio

e o transportador. Assim, a anlise deve ser feita pela soma das duas.

Ao tomar-se conhecimento do valor mdio da mercadoria/matria-prima que

ser transportada, realiza-se o clculo do custo do valor do frete por unidade ou

4Ad valorem: Expresso em latim que significa, segundo o valor ou conforme o valor. Na cobrana ou no clculo de um imposto, tributo ou taxa, aquele estimado como uma percentagem do valor de uma mercadoria. No se trata de uma quantia fixa, mas dependente do valor da mercadoria que est sendo tributada. Quando o tributo cobrado uma quantia fixa, o mesmo denominado tributo especfico. Fonte: Glossrio de Supply Chain Management.

http://www.igf.com.br/aprende/glossario/glo_Resp.aspx?id=115

44

tonelada e adiciona-se ao frete-peso. Realizados estes procedimentos, adquire-se

subsdios para decidir seguramente sobre qual a empresa com que se vai operar.

Depois de realizada a escolha das empresas, indispensvel montar um

sistema de avaliao de desempenho que abranja dois itens bsicos: prazo de

entrega e eficincia.

Os dados relativos aos prazos (previso e cumprimento), s diferenas e

percentuais podero ser preenchidos pelo funcionrio encarregado de fechar o

mapa no final de cada ms e encaminh-lo ao responsvel pelas decises sobre

transportes. (DIAS, 1993, p.330).

Ainda para o mesmo autor, (1993, p.330), no custo final do produto estar

incluso, direta ou indiretamente, o frete desde sua fonte produtiva at o

almoxarifado. O valor deste frete encontrar-se- embutido no custo do produto ou

ser pago ao transportador diretamente.

Assim, toda operao de compra tem de levar em conta esse valor, que

acaba tornando-se significativo medida que seus custos vo sendo elevados em

funo, principalmente, dos preos dos derivados de petrleo e demais insumos

(pneus, veculos, mo-de-obra etc.).

Para Faria & Costa (2005, p. 58), os custos de transporte deveriam ser

observados sob duas ticas: a do usurio (contratante) e a da empresa operadora

(que possui frota prpria). Na tica do usurio (contratante), quando a empresa

terceiriza as operaes de transporte (ou parte dela), os custos de transporte so

variveis. Na tica da empresa operadora (com a frota prpria), os custos de

transporte tm uma parcela fixa e uma parcela varivel.

Os custos de transporte, segundo Bowersox & Closs apud Faria & Costa

(2005, p. 58), so influenciados, basicamente pelos seguintes fatores econmicos: 1.

45

Distncia: o que tem maior influncia no custo, pois afeta os custos variveis.

Embora a relao custo/distncia seja considerada linear, ou seja, quanto maior a

distncia, maior o custo total, mas o custo de frete por quilmetro rodado diminui,

gradualmente, com a distncia, em funo de os custos fixos permanecerem os

mesmos; 2. Volume: segue o princpio da economia de escala, ou seja, o custo do

transporte unitrio diminui medida que o volume da carga aumenta. Com a carga

consolidada e ocupao completa da capacidade do veculo, tem-se uma diluio

dos custos por unidade transportada; 3. Densidade: a relao entre peso e volume

e incorpora consideraes de peso a ser transportado e espao a ser ocupado. Um

veculo, normalmente, mais restrito ao espao do que quanto ao peso. Em termos

logsticos, para melhor aproveitamento da capacidade do veculo deve-se aumentar

a densidade da carga. Esses custos devem ser balanceados com os custos dos

sistemas de carga/descarga, no intuito de minimizar o custo total; 4. Facilidade de

acondicionamento: refere-se s dimenses da carga e de como estas possam afetar

o aproveitamento do espao do veculo (carreta, continer, vago). Produtos com

tamanhos ou formas no padronizadas levam ao desperdcio de espao, o que gera

custos desnecessrios; 5. Facilidade no manuseio: para agilizar e facilitar a

carga/descarga pode ser utilizado equipamentos especiais que, tambm, afetam o

custo de manuseio/movimentao; 6. Responsabilidade: o grau de responsabilidade

est relacionado questo do risco e incidncia de reclamaes, contemplando as

caractersticas da carga a ser transportada, tais como: suscetibilidade de avarias, de

roubo, de combusto ou exploso espontnea, riscos de deteriorao e produtos

com alto valor agregado (seguro da carga); e 7. Mercado: os custos de frete so

influenciados por fatores de mercado, tais como sazonalidade das movimentaes

dos produtos, intensidade e facilidade de trfego, nacional ou internacional, entre

46

outros. A existncia de carga em rotas de retorno, por exemplo, pode reduzir o custo

do frete por unidade de peso. Se isso no ocorre e o veculo volta vazio, o custo de

retorno ir onerar o custo da viagem inicial.

Por sua vez, a escolha do modo de transporte influenciado pelos fatores

custo, tempo de trnsito da origem ao destino, risco (envolvendo a integridade da

carga) e freqncia (regularidade do transporte). Normalmente, o fator custo o

mais importante, em termos econmicos e financeiros, mas os outros fatores

tambm podem comprometer a definio do modo de transporte, estando

relacionado ao atendimento do nvel de servio exigido.

De acordo com Dias (1993, p.331), no transporte rodovirio de carga geral

so utilizados dois tipos de veculos: o truck, caminho com dois eixos traseiros e

capacidade nominal de 40 m3 e 12 t; carreta com semi-reboque com trs eixos

traseiros e capacidade-nominal de 75 m3 ou 25 t. Essa opo devida limitao de

peso por eixo fixado em lei e fiscalizado pelo DNER por meio de balanas colocadas

em pontos estratgicos das rodovias (Lei da Balana). Dessa forma, a programao

dos lotes de compra deve, sempre que possvel, respeitar essas limitaes em peso

e dimenses, programando-se remessas que possam ocupar totalmente esses tipos

de veculos ou seus mltiplos.

Essa poltica viabiliza significativa reduo no custo do transporte, haja vista

que sempre obtm-se fretes mais adequados quando lota-se o veculo, devido

reduo de custos operacionais de transporte.

Alm disso, evidencia-se a reduo do tempo de viagem e conse-

qentemente, a reduo dos prazos de entrega, portanto, ao proceder-se

programao da compra de materiais de elevadas dimenses deve-se levar em

47

considerao esse fator que compatibiliza o produto com as disponibilidades usuais

do transporte rodovirio, sempre visando conteno de custos.

importante salientar tambm, que a carroceria seja adequada modalidade

de transporte, podendo resistir ao carregamento, viagem e descarga e podendo

sofrer as tenses normais referentes sua acomodao no caminho que estar

realizando o transporte. (DIAS, 1993, p.331).

48

3 CONCEITUAO DE CUSTOS LOGSTICOS

Segundo Novaes (2001, p. 153), usa-se muitos termos na linguagem

quotidiana sem grande preocupao com seu significado mais correto. Assim,

quando se fala em casa sobre a contratao de determinado servio domstico,

como o conserto de uma televiso, por exemplo, dizemos indiretamente que custou

X reais, ou levou-nos a um gasto de X reais, ou que tivemos uma despesa de X

reais. Todavia, no ambiente empresarial e preciso ficar atento a diferenas

importantes entre tais conceitos, ou seja, custos so gastos relacionados aos

sacrifcios dos recursos ocorridos no processo produtivo.

3.1 CONCEITOS DE CUSTOS APLICVEIS LOGSTICA

Neste tpico, sero descritos alguns conceitos de custos aplicveis gesto

da Logstica. importante que os gestores do sistema logstico compreendam e

utilizem uma srie de informaes de custos, bem como o comportamento de cada

um deles.

Bloomberg et al. apud Faria & Costa (2005, p. 47) sugerem que os custos

sejam segregados em: diretos e indiretos, fixos, variveis e semivariveis,

irrecuperveis e incrementais ou marginais. Cada um desses custos revela uma

importncia nica para a tomada de decises em Logstica e, dessa maneira, so

classificados da forma que se pode observar no Quadro 1.

49

Fonte: Adaptada Faria & Costa (2005, p. 48)

Custos Diretos so aqueles que podem ser diretamente apropriados a

cada tipo de objeto, pela sua fcil identificao e mensurao no momento de sua

ocorrncia, tal como, por exemplo, os custos de transportes na distribuio, que

podem ser identificados em funo dos produtos faturados e entregues a cada

cliente. Custos Indiretos So aqueles que no se podem apropriar diretamente a

cada tipo de objeto, no momento de sua ocorrncia, por no estarem diretamente

relacionado ao mesmo. Como exemplo, podemos citar os custos com a tecnologia

de informao utilizada em um processo logstico que atenda diversos clientes. Os

Custos Logsticos indiretos so os mais difceis de mensurar e alocar a cada objeto

de anlise. (FARIA & COSTA 2005, p. 48)

Custos Fixos So os custos estruturais que ocorrem perodo aps perodo,

sem alteraes, ou cujas alteraes no se verificam como conseqncia de

variao no volume de atividades em iguais perodos. Na Logstica, podem ser

citados os custos com armazenagem prpria, contemplando a depreciao dos

ativos logsticos, os gastos com a mo-de-obra mensalista e outros gastos gerais.

Quadro 1. Classificao dos Custos Logsticos finalidade da informao

Finalidade da informao Classificao dos Custos Logsticos

Quanto ao relacionamento com o objeto Diretos e Indiretos

Quanto ao comportamento diante do volume de atividades

Variveis Fixos

Quanto ao relacionamento com o processo de gesto

Controlveis e No Controlveis; Custos de Oportunidade; Custos relevantes; Custos Irrecuperveis; Custos incrementais ou Diferenciais; Custos Ocultos; Custo-Padro; Custo-Meta; Custo-Kaizen; Custo do Ciclo de Vida

50

Custos Variveis So custos que variam em funo do volume da atividade.

Conhecer os custos variveis auxilia em muitas decises de curto prazo, como, por

exemplo, o ajuste do mix de produtos em face dos fatores limitantes de condies

operacionais e de mercado existente. (FARIA & COSTA 2005, p. 48)

3.2 CUSTO RODOVIRIO

Para Ojima (2007, p. 65), a classificao de custo fixo e varivel feita

atravs de um parmetro de comparao. Para algumas empresas, os custos fixos

so aqueles que independem do nvel de atividade e os custos variveis aqueles

que variam de acordo com o seu comportamento.

Em relao ao transportador, a classificao do custo se d em razo da

distncia percorrida, onde a unidade varivel a quilometragem. Dessa forma, os

custos ocasionados independentes do deslocamento do caminho so considerados

fixos, enquanto os custos que variam conforme a distncia percorrida so variveis.

Nesse sentido, foram considerados como custos fixos os itens: depreciao,

despesas com pessoal (motorista), despesas com veculo (pagamento do veculo,

IPVA), seguro do veculo, seguro obrigatrio e despesas administrativas.

Quanto aos custos variveis, consideram-se: despesas com combustvel (leo

diesel), despesas com lubrificantes e filtros, despesas com conjunto de rodagem

(pneus, cmaras, protetores e recapagens), despesas com pedgio e despesas com

manuteno (peas e pessoal de oficina). Vale ressaltar que o pedgio no

alocado de acordo com a distncia, e sim de acordo com a rota avaliada. (OJIMA

2007, p. 65)

51

3.2.1 Custos de Transporte Agrcola

Segundo Martins apud Oliveira (2007, p. 2), os custos de transporte, embora

sejam importantes em qualquer ramo de atividade produtiva, torna-se mais

significativos no caso dos produtos agrcolas. A participao dos custos de

transporte no preo final dos produtos agrcolas no atacado mais que duas vezes

maior em relao aos produtos manufaturados.

Os servios de transportes, como os produtos derivados da agricultura e

indstria, so bens econmicos de uso intermedirio. Assim, os desequilbrios e as

distores no setor de transportes transmitem-se, com maior ou menor intensidade,

a todas as atividades econmicas (BRASIL apud OLIVEIRA, 2007).

Para Costa apud Oliveira (2007, p.2), o custo Brasil (ineficincias de infra-

estruturas de transporte e tributrias) vem sendo apontadas como uma das

principais causas de perda de competitividade de soja brasileira frente americana.

Dentro dessas ineficincias, destaca-se o setor de transportes, que se apresenta

muito mal dimensionado e bastante precrio para as necessidades nacionais. A

infra-estrutura de transporte um importante fator diferenciador dos preos da soja

no mercado interno, o que vem prejudicando notadamente as regies de fronteira

que possuem infra-estrutura precria.

De acordo com Bueno (2001), o custo de transporte uma varivel

extremamente importante com o aumento das relaes econmicas tanto internas

quanto externas. A reduo desses custos assim como os de produo

fundamental para manter a competitividade e a produo de uma determinada

localidade ou de um tipo de mercadoria. Temos vrias maneiras para transportar os

produtos com destaque para o rodovirio, ferrovirio e hidrovirio. Na regio Norte o

52

principal produto que no contexto atual tem excedente a soja, uma mercadoria cujo

preo cotado internacionalmente; ou seja, o lucro dos produtores vai depender

principalmente da reduo dos custos.

Para Hijjar (2007, p. 3), esta informao pode ser utilizada em pelo menos

dois em tipos de ao, uma de curto e outra de longo prazo, cujos resultados podem

culminar na reduo dos custos logsticos das empresas.

A anlise de curto prazo aponta para a possibilidade de reduo da

ociosidade dos caminhes nas rotas de retorno e, conseqentemente, de diminuio

dos custos de frete. papel dos responsveis pelo gerenciamento de transporte das

empresas embarcadoras e das transportadoras criarem parcerias com indstrias

locais interessadas em utilizar a disponibilidade dos caminhes nas rotas de menor

fluxo.

Por sua vez, a informao sobre o preo de frete nas diferentes rotas sugere

que, no longo prazo, a empresa pode revisar a sua malha logstica de modo a

aproveitar os possveis ganhos e redues de custos com frete.

A soja transportada via rodovirio tem um custo toneladas por quilmetro de

R$ 0,056, quando usado o ferrovirio de R$ 0,016 e o hidrovirio de R$0,009.

Nos Estados Unidos 61% da soja transportada por hidrovias e 16% por ferrovias,

principal concorrente brasileiro do produto, no Brasil esses nmeros so

respectivamente de 7% e 67%. O inverso do principal concorrente (BUENO, 2001).

3.3 FATORES DETERMINANTES DO VALOR DO FRETE

De acordo com Corra Jnior et al. (2001, p. 92), trabalho como os de

Thompson (1960) e Hauser (1986) creditam distncia entre a origem e o destino

53

envolvidos o papel determinante para o estabelecimento de preos de frete.

Entretanto, segundo Binkley & Harrer (1981), citados pelo mesmo autor, muitos

fatores podem influenciar essa taxa, no havendo necessariamente relao

diretamente proporcional com a distncia percorrida.

Baseando-se principalmente em Ortzar e Willunsen (1984) e Caixeta-Filho et

al. (1998), possvel identificar algumas variveis que podem influenciar o

estabelecimento do preo do frete, das quais se destacam: 1. Distncia percorrida;

2. Custos operacionais; 3. Possibilidade de carga de retorno; 4. Carga e descarga; 5.

Sazonalidade da demanda por transporte; 6. Especificidade da carga transportada e

do veculo utilizado; 7. Perdas e avarias; 8. Vias utilizadas; 9. Pedgios e

fiscalizao; 10. Prazo de entrega; 11. Aspectos geogrficos. (CORRA JNIOR et

al. 2001, p. 92)

No contexto brasileiro, alm desses aspectos, h tambm um vis que pode

elevar o preo do frete, fruto do reduzido grau de competitividade intermodais no

pas, que advm da peculiaridade da prestao de servios porta a porta

desenvolvidos pelo modal rodovirio e, principalmente, do subaproveitamento do

potencial de modais alternativos, como o ferrovirio e o hidrovirio, o que colabora

para a reduo da concorrncia entre os modais. (CORRA JNIOR et al. 2001, p.

92)

3.4 SISTEMA DE INFORMAO DE FRETES (SIFRECA)

O Sistema de Informao de Fretes para Cargas Agrcolas (Sifreca) um

projeto desenvolvido pelo Departamento de Economia, Administrao e Sociologia

54

da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Ezalq), da Universidade de So

Paulo (USP).

Segundo Caixeta-Filho apud Gameiro (2003, p. 89), o trabalho realizado por

professores, pesquisadores e um grupo de alunos da Esalq/USP, que

semanalmente levantam junto a empresas do ramo de transporte, processamento e

os valores do frete-empresa, separados por rota e carga. Atualmente, modais

considerados so: rodovirio, ferrovirio, hidrovirio e aerovirio.

Cerca de 50 produtos so abordados pela pesquisa, tais como Acar,

adubos e fertilizantes, algodo, arroz, aveia, boi gordo, carne bovina, caf, calcrio,

carvo vegetal, legumes e frutas, feijo, soja (em gro, farelo e leo) laranja, suco de

laranja, tric, leite, milho, madeira, sal mineral, flores, dentre outros. (GAMEIRO,

2003, p. 89)

De acordo com o Informe Sifreca apud Gameiro (2003, p. 89), as distncias

tomadas como referncia para o acompanhamento das rotas foram obtidas atravs

dos informantes do Sifreca. Na atualidade, a amostra conta com um total de

aproximadamente cinco mil rotas diferentes, incluindo todos os modais, sendo que o

nmero de rotas varia ao longo do ano, de acordo com critrios sazonais.

Os preos cotados so estritamente analisados segundo procedimentos

cientificamente aceitos e com a necessria iseno, de forma que eventuais vieses

possam ser detectados e eliminados. Como resultado obtm-se o valor mdio do

frete de quatro semanas, na rota em questo. (GAMEIRO, 2003, p. 89)

Conforme Caixeta-Filho apud Gameiro (2003, p. 89), os dados obtidos so

disponibilizados mensalmente ao pblico via internet5 e na forma impressa, atravs

5 O webesite do Sifreca e http://sifreca.usp.br

55

do Informe Sifreca. O contedo do Informe Sifreca basicamente diz respeito a

tabelas de fretes separados por produto, nas quais constam dados referentes a

origem, destino, quilometragem, valores dos fretes (em R$/t e R$/t.km) e variao

desses valores frente ao perodo anterior. Alm disso, a publicao traz uma anlise

sobre o comportamento dos preos dos fretes para os principais produtos cotados,

considerando os fatores determinantes de seus movimentos por exemplo, preos

dos combustveis, entrada ou trmino de safras, condies climticas entre outros.

Tabela 5: Referente aos valores de frete de farelo de soja em sacas de 50kg e a

granel.

Perodo: 22/08 - 25/09/2009

Origem UF Destino UF R$/t R$/t.km

Anpolis GO Paranagu PR 89,20 0,06

Cascavel PR Ponta Grossa PR 39,33 0,09

Jata GO Guaxup MG 72,36 0,09

Passo Fundo RS Estrela RS 25,00 0,13

Rondonpolis MT Alto Araguaia MT 26,00 0,12

Santa Mariana PR Paranagu PR 45,50 0,09

Uberlndia MG Guaruj SP 86,50 0,13

Fonte: Sifreca (2009)

O Sifreca se insere num contexto de reconhecida escassez de informaes

relativas logstica agroindustrial, as quais so importantes para a eficincia da

distribuio de insumos e produtos in natura e processados de origem agropecuria.

Para isso Caixeta-Filho apud Gameiro (2003, p. 91):

O mercado de frete rodovirio no Brasil, e em particular o de cargas

agrcola, no sofre nenhum tipo de controle pelo governo, significando que

os preos so formados com base na livre negociao entre a oferta e a

procura pelo servio de transporte. Os transportadores tm que estar

atualizados sobe todas as variveis incorporadas em seu custo para

estarem aptos negociao com os demandantes. (CAIXETA-FILHO apud

GAMEIRO, 2003, p. 91)

56

Em termos acadmicos, o Sifreca tem sido fonte freqente para pesquisas

que envolvem a problemtica do transporte que requerem sries histricas de

preos de frete. (GAMEIRO, 2003, p. 91)

Tabela 6: Comparao de custo de transporte da soja em diferentes plos

produtores (1998/U$$/ton.)

Discriminao

Diamantino

MT, 2.015 Km

do porto

Santos

Cascavel

PR, 600 Km de

Paranagu.

Balsas MA,

1.000 Km do

porto da

ponta da

madeira

Sul do Par,

930 Km do

porto de

ponta da

madeira

Sul do Par,

943 Km do

Porto de Vila

do Conte

Frete rodovirio 42.00 15.00 10.75 6.18 4.03

Frete Ferrovirio - - 8.15 9.50 -

Frete fluvial - - - - 3.23

Despesa porturia 11.00 17.00 14.00 14.00 14.19

Sub-total 53.00 23.00 23.00 20.08 11.66

Frete Martimo/Roterd 17.00 17.00 14.00 14.00 14.19

Total. 70.00 40.00 37.30 34.08 25.85

Fonte: Adaptada CVRD, (1998).

O Estado de Tocantins, uma das regies econmicas mais dinmicas do pas,

encontra-se diante de um gargalo, devido s dificuldades de escoamento da

produo, em funo dos elevados custos do transporte at os mercados nacionais

e internacionais. A soja colhida no norte do Estado transportada pelo sistema

rodovirio. A tabela 6 apresenta os mais diferentes custos nos principais plos

produtores de soja no pas. (CVRD, 2007).

Segundo a ADTP (2007), a Ferrovia Norte-sul um dos grandes projetos que

provocaro grandes mudanas na regio. Principalmente porque reduzir os custos

de produo da regio, com isso aumentar a competitividade dos produtos

agrcolas tocantinense. A soja responsvel, ainda, pela redescoberta de modais no

Pas, como a ferrovia e a hidrovia.

57

Segundo Hijjar (2007, p. 4), de forma geral, as grandes empresas

contratantes de servios de transporte no Brasil possuem um poder de barganha e

uma fora de negociao alta em relao aos seus transportadores, especialmente

os de menor porte, que atuam em um mercado de elevada concorrncia.

Essas embarcadoras desempenham um papel importante na modelagem do

perfil do mercado de transporte de cargas no pas. Se as grandes indstrias

pressionam seus transportadores por preos baixos, em detrimento da qualidade do

servio, ser assim o modelo deste mercado. Por sua vez, se as exigncias por

melhores servios aumentarem, a presso por reduo de preos provavelmente

ser menos representativa e o transporte rodovirio poder melhorar em termos de

qualidade e segurana.

Conforme Ojima (2004, p.15), no perodo entre 1994 e 2000 a modalidade de

transporte rodovirio tem absorvido mais da metade dos transportes de cargas no

Brasil, sendo em 2000 responsvel por 60,49% contra 20, 86% do transporte

ferrovirio e 13% do Transporte hidrovirio. Segundo Caixeta apud Ojima (2004, p.

15), essa predominncia do modo rodovirio pode ser explicada pelas dificuldades

que outras categorias de transporte enfrentam para atender eficientemente aos

aumentos de demanda em reas mais afastadas do Pas, as quais no so servidas

por ferrovias ou hidrovias. A Tabela 6 mostra a participao dos diferentes modais

de transporte na movimentao de cargas e a evoluo dessa participao entre os

anos de 1996 a 2000, onde observa-se um ligeiro aumento na utilizao de outros

modais de transporte alternativos, mas sempre com uma predominncia do modal

rodovirio.

58

Tabela 7: Matriz de Transporte de Carga no Brasil (%)

MODOS 1996 1997 1998 1999 2000

Hidrovirio 11,5% 11,6% 12,7% 13,2% 13,9%

Ferrovirio 20,7% 20,7% 20,0% 19,6% 20,9%

Rodovirio 63,7% 62,90% 62,5% 62,3% 60,4%

Outros 4,1% 4,80% 4,8% 4,9% 4,8%

Fonte: GEIPOT apud Ojima, (2004, p. 15)

A tabela 7 apresenta custos de fretes com diferentes modais de transporte em

alguns plos produtores de soja com destino aos portos de escoamento, e deste at

o porto de Roterdan para o ano de 2000. Verifica-se que, com a utilizao da

combinao do modal hidrovirio e rodovirio, tem-se uma significativa reduo nos

custos com frete, sendo o modal rodovirio aquele que apresenta os maiores custos.

Segundo ADTP (2007), a infra-estrutura no Brasil, entretanto, necessita de

recursos e ultrapassar obstculos, alguns deles culturais. Detentor de uma das

maiores redes hidrogrficas do mundo, o Pas usa muito pouco as suas hidrovias.

No caso do transporte da soja, apenas 5% feito por hidrovia, contra 67% por

rodovia e 28% por ferrovia.

Evidentemente, a hidrovi