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    Iju

    2010

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    2010, Adriano Canabarro TeieiraUniersidade de Passo Fundo,Instituto de Cincias Eatas e Geocincias B5Passo Fundo RS Brasil CEP.: 99052-900Currculo: http://lattes.cnpq.br/1841882790688813Pgina pessoal: http://usuarios.upf.br/~teieiraTwitter: http://twitter.com/aTeieiraRSMsn: [email protected]: adrianoteieirapf

    Direitos de Publicao:Programao isual, Editorao e ImpressoEditora Uniju da Uniersidade Regional do Noroestedo Estado do Rio Grande do SulRua do Comrcio, 136498700-000 - Iju - RS - Brasil -Fone: (0__55) 3332-0217Fa: (0__55) 3332-0216E-mail: [email protected]://www.editoraunijui.com.br

    Editor:Gilmar Antonio BedinEditor-Adjunto:Joel CorsoCapa: Elias Ricardo Schssler

    Andr Luis Macedo Caruso

    Catalogao na Publicao:Biblioteca Uniersitria Mario Osorio Marques Uniju

    T266i Teieira, Adriano Canabarro.Incluso digital : noas perspectias para a informtica

    educatia / Adriano Canabarro Teieira. Iju : Ed. Uniju,

    2010. 152 p.ISBN 978-85-7429-851-1

    1. Educao. 2. Incluso digital. 3. Informtica educati-a. I. Ttulo. II. Ttulo: Noas perspectias para a informticaeducatia.

    CDU : 37.0137:004.73

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    AgrAdecimentos

    Uniersidade de Passo Fundo e Uniersidade Federal do Rio

    Grande do Sul, instituies em que realizei minha formao acadmica ecientfica; Fundao de Amparo Pesquisa do Rio Grande do Sul pela

    concesso de bolsa de iniciao cientfica; ao Laboratrio de Tecnologias

    Audioisuais da Uniersidade de Roma Trs Itlia, pela possibilidade de

    realizao de estudos aanados na rea de pesquisa no perodo de setembro

    de 2004 a setembro de 2005, e ao Alan Office, pelo apoio concedido por

    meio do programa de bolsas de alto nel da Unio Europeia para a Amrica

    Latina (bolsa n E04D047495BR).

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    sumrio

    LISTA DE FIGURAS E GRFICOS .......................................................11

    LISTA DE TABELAS ................................................................................13

    LISTA DE ABREvIATURAS ...................................................................15

    APRESENTAO ......................................................................................17

    INTRODUO ..........................................................................................19

    REDES CONCEITUAIS DE PARTIDA .................................................23

    Conectando alguns ns iniciais: a sociedade contempornea .............23

    A perenidade das redes e a urgncia

    de uma cultura equialente ...........................................................26

    A dimenso reticular do processo de autoria ................................32A filosofia do software lire como manifestao

    de cultura de rede ..........................................................................34

    Mais elementos da sociedade contempornea .....................................35

    A lgica do mercado global ............................................................35

    A necessria ampliao do conceito de incluso digital ...............36

    Abstraindo elementos finais e proisrios da rede formada................39

    Notas de fim ...........................................................................................40

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    LINEARIDADE ESCOLAR

    NA RETICULARIDADE SOCIAL..........................................................43

    A escola como elemento de manuteno da hegemonia .............47A importncia das polticas pblicas .....................................................51

    Programa Nacional de Informtica na Educao .........................52

    Fundo de Uniersalizao dos Serios de Telecomunicaes ..56

    Opo brasileira por software lire ................................................58

    Um contraponto entre as polticas pblicas elencadas ...............61

    A necessidade de um noo modelo educacional ................................62

    A questo da formao docente ...........................................................65

    Abstraindo elementos finais e proisrios da rede formada................71

    Notas de fim ...........................................................................................72

    O PROJETO EMERSO TECNOLGICA DE PROFESSORES.....77

    Percurso metodolgico ...........................................................................77

    Definio da amostra ......................................................................79

    Detalhamento dos instrumentos ...................................................80

    Aes desenolidas ..............................................................................84

    Ao 1: Diulgao da pesquisa .....................................................84

    Ao 2: Reconhecimento de concepes iniciais .........................85

    Ao 3: Desenolimento de momentos

    de discusso e refleo ...................................................................87

    Ao 4: vincia do processo autoral .............................................88

    Ao 5: Anlise dos dados coletados..............................................91

    Notas de fim ...........................................................................................95

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    O PROCESSO vIvENCIADO NO PROJETO EMERSOTECNOLGICA DE PROFESSORES EM FORMAO ..................97

    Anlises propostas ..................................................................................98

    O processo como eperincia de incluso digital ........................99

    A filosofia de software lire no processode criao de software didticos ..................................................104

    O aano na cultura de rede ........................................................108

    Alguns ns de rede a eplorar .............................................................113

    Contrapontos entre produtos e processo ....................................114

    Modelo de formao docente ienciado ...................................117

    Notas de fim .........................................................................................119

    CONSIDERAES FINAIS...................................................................121

    A origem deste liro .............................................................................121

    O processo cientfico-metodolgico ...........................................122

    A anlise do processo ...................................................................123

    REFERNCIAS ........................................................................................127

    ANExOS ....................................................................................................133

    Aneo 1: Um contraponto entre o Relatrio Jacques Delorse a Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional ........................133

    Aneo 2: O Proinfo na regio de Passo Fundo ...................................137

    Aneo 3: Sistematizao do processo refleio empregadona etrao das categorias de codificao a partir do conceitode cultura de rede ................................................................................144

    Aneo 4: Proposta de eperincia de formao docentecom base no processo ienciado no projeto

    Emerso Tecnolgica de Professores ..................................................145Nota de fim ...........................................................................................151

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    ListA de FigurAs e grFicos

    Figura 1: Mapa da ecluso digital no Brasil ..............................................37

    Figura 2: Mapa conceitual elaborado no decorrer da pesquisa ................83

    Figura 3: Categorias de codificao etradas

    do conceito de cultura de rede ...................................................94

    Grfico 1: Manifestaes de cultura de rede durante o projeto ..............110

    Grfico 2: Manifestaes de cultura de rede posterior ao projeto...........110

    Grfico 3: Manifestaes de criao e manuteno de cultura de redea partir de seus elementos centrais durante o projeto ............111

    Grfico 4: Manifestaes de criao e manuteno de cultura de rede

    a partir de seus elementos centrais posteriores ao projeto .....112

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    ListA de tABeLAs

    Tabela 1: Processo refleio realizado para o estabelecimento

    do conceito de rede......................................................................29

    Tabela 2: Nmero de laboratrios de Informtica

    e de conees Internet disponibilizados

    no pas no perodo de 2002 a 2003 ..............................................46

    Tabela 3: Comparatio entre os nmeros iniciais e atuais do Proinfo ......53

    Tabela 4: Categorias etradas do conceito de cultura de rede ...............109

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    ListA de ABreviAturAs

    Anatel: Agncia Nacional de Telecomunicaes

    CCC: Curso de Cincia da Computao

    CTG: Centro de Tradies Gachas

    Fapergs: Fundao de Amparo Pesquisa do Estado do Rio Grande do

    Sul

    FGv: Fundao Getlio vargas

    Fust: Fundo de Uniersalizao dos Serios de Telecomunicaes

    HTML: Hyper Tet Markup Language

    IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    Inep: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio

    Teieira

    ITI: Instituto Nacional de Tecnologia da Informao

    LCI: Laboratrio Central de Informtica

    LTA: Laboratorio Tecnologie Audioisie

    MC: Ministrio das Comunicaes

    MCT: Ministrio da Cincia e Tecnologia

    MEC: Ministrio da Educao

    NTE: Ncleo de Tecnologia Educacional

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    17Introduo

    Pnad: Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios

    Proinfo: Programa Nacional de Informtica na Educao

    P2P: Peer-To-Peer

    PSL: Projeto Software Lire Brasil

    SMS: Short Message Serice

    TCU: Tribunal de Contas da Unio

    TIC: Tecnologias de Informao e Comunicao

    TR: Tecnologias de RedeUFRGS: Uniersidade Federal do Rio Grande do Sul

    Uniroma3: Uniersit degli Studi di Roma Tre

    UPF: Uniersidade de Passo Fundo

    voIP: voice Oer Internet Protocol

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    ApresentAo

    Neste liro, fruto do fenmeno de autoemerso na construo de

    sua tese de doutorado, Adriano Teieira Canabarro nos desafia a pensar nainstituio de um noo paradigma para a Educao e para a formao de-professores: a cultura da rede. Apoiado na proposta de apropriao autoraldas tecnologias da rede (TR) pelos professores, o autor desenole eperi-ncias de formao na interface entre a lgica reticular e a criao de umacultura equialente. A equialncia correlaciona a ao dos professoresno sentido de se apropriarem das tecnologias de rede numa dinmica decriao e manuteno de uma cultura de rede, ao mesmo tempo em queienciam essa apropriao junto aos demais ns da trama pedaggica.Essa disposio de simetria e conergncia dos princpios da emerso traz cena o rompimento com o paradigma da recepo. Oferece uma base paraa reconstruo de si, do professor proatio, na lgica das redes, que assumeo contnuo desenolimento da sua fluncia tecnocontetual.

    De um lado, Adriano Canabarro apresenta uma crtica contundenteaos modos escolares de realizar a escolarizao, que anula[m] o potencial

    das TR numa dinmica de acomodao destas tradicional lgica linear.

    De outro, seu teto conclama as escolas e os seus professores a ines-tirem no potencial das tecnologias de rede como elementos contribuintesna construo de eperincias colaboratias e horizontais.

    A escola brasileira, por sua capilaridade nacional e pelo acesso uni-ersalizado de crianas e joens ao Ensino Fundamental e em epanso aoEnsino Mdio, tem o priilgio de poder ir a ser o lugar de maior impactona transformao dos sujeitos da aprendizagem e dos modos de produodo conhecimento ao fazer uso autoral das tecnologias de rede.

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    19Apresentao

    A formao de noos agentes educacionais que usufruam das tecno-logias de rede e repliquem, ampliem, transcendam nossas propostas poss-eis hoje um desejo que est no cerne da transformao da pedagogia. A

    replicao to-somente o primeiro instante de uma eperincia aprendidaque pode ser habilmente transformada pelo pensamento, pela eperincia,pela ao informada e refleia. O incio deste desencadeamento eige quea eperincia tenha potncia de ser boa na sua replicao e de ser passelde reconstruo criatia. Essa frmula prospectia coloca desafios em proporincias fundacionais capazes de gerar outros modos de fazer escolarizaoe, portanto, Educao. E aqui reside um grande desafio!

    Nossas incias pedaggicas fundacionais, como alunos ou profes-

    sores, nem sempre primaram pela eperincia criatia, o que resultou emsalas de aula desrticas. Essas se reproduzem pela falta de potncia daseperincias que se apresentam e naquilo que elas poderiam ir a gerar.

    Na sua origem essas eperincias so deedoras. Mas Adriano Cana-barro props um modo de intereno ao centrar sua ateno e energia noprocesso de emerso. No fez concesses ao que a est as salas de auladesrticas. Mostrou que possel realizar incias pedaggicas fundacio-nais que priilegiam o protagonismo de professores e, consequentemente,

    aumentam as chances de termos alunos proatios. Isso implicou a construode uma dimenso reticular de aprendizagem, de descoberta de potencia-lidades, [...] e refleo crtica sobre o conteto de cada sujeito. O conitea todos criar e recriar os ns da rede ao se reconhecer como n de umatrama hipertetual.

    A rede e as tecnologias que ampliam nossa participao e sentidos sofatos portadores do porir j presentes no cotidiano que tendem a se epandirno refinamento da configurao de uma noa ordem: uma matriz de inte-rao entre sujeitos, saberes, contetos, competncias,cujas consequnciasse traduzem em deslocamentos dos centros produtores de conhecimento.Um esforo sinrgico capaz de potencializar a circulao e a criao de co-nhecimentos. Esse esprito responde pela escritura deste liro, tecido commuito conhecimento e incia,densamente construdos com as tecnologiasde rede. vale a pena acompanhar as anlises crticas e as proposies deAdriano Canabarro ao islumbrar potencial dos sujeitos no uso criatio dasTR e os desdobramentos no campo educacional. Que a leitura deste liro

    seja inspiradora para noas eperincias educacionais!

    Professora doutora Marie Jane Soares Carvalho UFRGS

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    introduo

    Um dos fenmenos de destaque na sociedade contempornea o

    crescente nel de coneo possibilitado pelo adento das Tecnologias de

    Rede (TR), que, ao redefinirem os conceitos de espao e de tempo, anulam

    distncias e autorizam processos comunicacionais e colaboratios em tempo

    real, colocando lado a lado territrios, pessoas e culturas.

    Nessa perspectia, se, por um lado, as TRs potencializam processos

    colaboratios de aprendizagem, por outro possibilitam que se ampliem pro-

    cessos de dominao e eplorao, baseados na construo de uma massade consumidores permanentemente disponeis ao do mercado global e

    imersos numa cultura tecnolgica que refora posturas passias; que ignora as

    diferenas, desconsidera as culturas locais e impe tendncias, consolidando

    um processo que lea incapacidade de reconhecer as TRs como elementos

    essencialmente sociais e potencialmente libertadores.

    Apesar de sua intencionalidade geradora, entretanto, as TRs trazem

    em si caractersticas que as diferenciam radicalmente das demais tecno-

    logias, permitindo apropriao crtica, protagonista e contrria lgica

    erticalizada das mdias de massa, possibilitando a alorizao cultural e o

    estabelecimento de processos de aprendizagem baseados numa cultura de

    rede. Tal cultura pressupe processos de autoria horizontais e colaboratios,

    baseados na comunicao multidirecional e no autorreconhecimento como

    n de uma rede que, como tal, dee, necessariamente, romper com a lgica

    da distribuio imposta, como possel erificar no fenmeno do software

    lire, manifestao genuna desta cultura.

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    21Introduo

    A partir do reconhecimento de aes no sentido de formatar as TRs

    lgica da linearidade e da receptiidade, aponta-se para a urgncia da

    ampliao do conceito de incluso digital na sociedade contempornea,

    superando a ideia de que incluir possibilitar o acesso para propor uma

    concepo de incluso como forma crtica e protagonista de apropriao das

    TRs e cujo cerne a incia de uma cultura de rede. Nesse conteto a

    escola desempenha papel fundamental, seja na superao do modelo social

    baseado no consumo, na reproduo e na massificao dos indiduos, seja

    na perpetuao e na manuteno dessa realidade.

    De fato, possel erificar que o modelo erticalizado e hierrquicoda escola nica no tem contribudo para uma apropriao diferenciada das

    TRs, mas auiliado na manuteno dos processos contemporneos de eclu-

    so social por meio da utilizao unidirecional de tais recursos tecnolgicos.

    Essa realidade complea e demanda um esforo conjunto entre poder p-

    blico, escolas e sociedade no sentido de iabilizar o acesso, de questionar e

    discutir a concepo educacional que permeia as aes na rea e, sobretudo,

    de ampliar reflees e aes referentes formao docente, todas com istas construo de um processo educacional que possibilite a incia de uma

    cultura de rede como elemento fundamental para o eerccio da cidadania

    no atual conteto social.

    Assim, necessrio questionar: Como esperar que os professores,

    tambm imersos nessa cultura tecnolgica de reproduo e consumo, cons-

    truam junto a seus alunos um ambiente no qual seja possel desenoleruma cultura de rede se eles prprios raramente a ienciaram?

    Nesse sentido, este teto, resultado da pesquisa de Doutorado em

    Informtica Aplicada Educao na Uniersidade Federal do Rio Grande

    do Sul (UFRGS), apresenta o relato detalhado do projeto de Emerso Tec-

    nolgica de Professores realizado na Uniersidade de Passo Fundo (UPF)

    no perodo de 2001 a 2005, junto a um grupo de professores em formao de

    cursos de Licenciatura daquela instituio. Numa perspectia metodolgica

    de pesquisa participante, baseou-se em mtodos de coleta e anlise de dados

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    22A d r i a n o C a n a b a r r o T e i x e i r a

    qualitatios e caracterizou-se como uma eperincia de formao docente

    fundamentada na lgica das redes, com istas construo e manuteno

    de uma cultura equialente entre os sujeitos enolidos.

    A pesquisa realizada no projeto de Emerso Tecnolgica de Professo-

    res tee por objetio principal analisar o processo ienciado pelos sujeitos

    a fim de erificar em que medida e de que forma este auiliou na incia

    e no desenolimento de uma cultura de rede como elemento base de

    processos de incluso digital.

    Para tanto, outros elementos especficos foram fundamentais nessa

    tarefa, tais como: (a) aprofundar o conhecimento acerca de fenmenos

    sociais contemporneos a fim de (b) realizar abstraes sobre o papel da

    escola no atual conteto social e (c) reconhecer a potencialidade das redes

    em processos de formao docente. Com base nisso, (d) identificar as formas

    mediante as quais os participantes do projeto perceberam a eperincia no

    intuito de melhor (e) compreender o processo de apropriao dos conceitos

    e das habilidades enolidas na proposta. Finalmente, deseja-se (f) propor

    reflees que possibilitem aanar nas discusses referentes formaodocente no conteto social atual e (g) detectar questes que demandem

    mais empenho e discusso na rea especfica do estudo.

    Um dos elementos que contriburam para a realizao da pesquisa

    que originou este teto nasceu de eperincias ienciadas durante minha

    caminhada acadmica, marcada pelo desejo de contribuir com o processo

    educacional por meio de reflees acerca da necessria apropriao dos re-cursos tecnolgicos disponeis sociedade. Nesse sentido, possel citar

    outros fatores determinantes.

    O primeiro surgiu com a pesquisa realizada no Mestrado em Edu-

    cao da Uniersidade de Passo Fundo,1 ocasio em que erifiquei que as

    TRs podem representar um potencializador significatio para o processo de

    aprendizagem e para o eerccio da cidadania, proporcionando alternatias

    1 Maiores detalhes sobre a eperincia em Teieira (2002).

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    23Introduo

    de reerso de quadros de ecluso social na medida em que possibilitam

    acesso a elementos e bens culturais at ento inacesseis a epressia par-

    cela de populao brasileira. Tambm obserei, entretanto, a importncia

    fundamental do educador na proposta de estratgias didticas que consi-

    derem as tecnologias como potencializadoras de processos essencialmente

    comunicacionais e colaboratios.

    Outro elemento a ser destacado diz respeito s eperincias ien-

    ciadas no desenolimento de minhas atiidades docentes em cursos de

    Ps-Graduao lato sensu em Informtica Aplicada Educao. Nessas

    oportunidades, por rias ezes foi leantada a questo da necessidade de

    momentos de formao docente especfica na rea, leando ao questiona-

    mento do modelo de formao proposto nesses cursos e necessidade de

    eperimentar um modelo de formao baseado na lgica das redes, a fim

    de analisar a sua possel contribuio para propostas na rea de informtica

    educatia.

    Um terceiro elemento refere-se eperincia ienciada no ano de

    2002 na UPF, onde, num projeto destinado capacitao docente para atuar

    com as noas tecnologias, denominado na poca Imerso Tecnolgica de

    Professores, acentuou-se o reconhecimento da insuficincia da formao

    superior com referncia capacitao tecnolgica de seus alunos, futuros

    professores. Nessa oportunidade leantaram-se questes importantes dis-

    cusso e que seriram de base para reconfiguraes na pesquisa, culminandona proposta do projeto de Emerso Tecnolgica de Professores.2

    Por fim, destaca-se que este teto, ao relatar detalhadamente o per-

    curso terico e metodolgico percorrido, quer contribuir com a construo

    de uma concepo de informtica educatia que tenha por base a lgica das

    redes e seja, antes de tudo, um processo de incluso digital.

    2 Os motios que learam a essa mudana de denominao so detalhados na nota ii docaptulo O Projeto de Emerso Tecnolgica de Professores.

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    redes conceituAisde pArtidA

    A partir da anlise da configurao social atual, desejo construir uma

    linha de raciocnio que possibilite aanar na compreenso da dinmica so-

    cial contempornea, fornecendo as bases contetuais das reflees a serem

    desenolidas e que fundamentam a pesquisa realizada. Ao apresentar ques-

    tes preliminares, busco refletir sobre o alor crescente do conhecimento

    e sobre a importncia estratgica das tecnologias contemporneas, seja no

    estabelecimento de um alto nel de coneo, propcio ao desenolimento

    de processos colaboratios e comunicacionais, seja no seu emprego como

    elemento de imposio cultural e dominao, a partir de sua acomodao

    lgica da distribuio em massa de informaes.

    Nesse conteto, desenolo o raciocnio de que so urgentes a (re)signi-

    ficao e a ampliao do conceito de incluso digital, entendida como elemento

    central para o eerccio da cidadania numa sociedade globalizada e conectada,

    cuja base a incia de uma cultura baseada na lgica das redes.

    ConeCtandoalgunsnsiniCiais:asoCiedadeContempornea

    Ao refletir sobre eperincias realizadas no campo potencialmente

    imbricado da tecnologia e da educao, fundamental destacar alguns as-

    pectos referentes ao papel desempenhado por esses fenmenos sociais no

    conteto contemporneo.

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    25Redes Conceituais de Partida

    Para tanto, parto da idia amplamente difundida de que este um

    momento marcado pelo ertiginoso desenolimento das Tecnologias de

    Informao e Comunicao (TICs) e pela alorizao do conhecimento.

    Para realizar essas reflees adoto como pano de fundo os conceitos de

    sociedade de aprendizagem, de cibercultura e do que se denomina de

    globalizao.

    Como destacado anteriormente, dois elementos so importantes para

    essa contetualizao inicial: o primeiro refere-se ao potencial das TICs no

    processo de disponibilizao de informaes, e o segundo, ao alor crescente

    do conhecimento como fator fundamental ao desenolimento humano esocial. A partir desse cenrio, frequente a inculao entre a abundncia

    de informaes e a possibilidade de ampliao do conhecimento, entretanto

    preciso reconhecer que essas informaes no se caracterizam como co-

    nhecimento, raciocnio considerado na conceituao de sociedade proposta

    por Fres (2000).

    Compilando e aaliando concepes suas e de outros pesquisadores,a autora discute os conceitos de sociedade da informao e sociedade

    do conhecimento na medida em que aalia que a primeira ainda no

    uma sociedade informada, uma ez que a informao no est disponel

    a todos, e a segunda, por sua ez, trata o conhecimento como um produto

    material, de mercado, algo que passa a interessar no apenas s uniersidades

    e centros de pesquisa.

    Assim, em razo da necessidade constante e crescente de atualizaoe de apropriao de conhecimentos por parte dos indiduos, Teresinha

    Fres prope a utilizao da epresso sociedade da aprendizagem, que

    surgiu em decorrncia da articulao entre sistemas educacionais e outras

    agncias da sociedade os meios de comunicao de massa, os sindicatos,

    as empresas dos setores produtios, as instituies pblicas de informao,

    sade, segurana, etc. -, os quais passaram a serir de lastro para a compre-

    enso poltico-epistemolgica dos impactos das tecnologias da informao e

    comunicao na formao do trabalhador (2000, p. 298).

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    26A d r i a n o C a n a b a r r o T e i x e i r a

    Ratificando a pertinncia da denominao proposta por Fres e em

    consonncia com o raciocnio de Edgar Morin, de que o conhecimento s

    conhecimento enquanto organizao, relacionado com as informaes e

    inserido no conteto destas (2000, p. 16), possel propor uma leitura al-

    ternatia dessa realidade baseada no raciocnio de que, embora a informao

    no esteja ao alcance de todos e normalmente se apresente fragmentada e

    descontetualizada, nunca estee to disponel e em tamanha abundncia

    em razo das potencialidades das TICs.

    O conhecimento, por sua ez, fundamental para o desenolimento

    humano e social, demanda refleo indiidual e coletia, contetualizao,formao e troca de sentidos, elementos fundamentais ao processo de apren-

    dizagem, que possibilitam que essas informaes contribuam efetiamente

    para a construo de conhecimento.

    Buscando aprofundar o entendimento da sociedade, possel en-

    contrar algumas contribuies fundamentais no conceito de cibercultura

    apresentado por Andr Lemos, como a forma sociocultural que emerge darelao simbitica entre a sociedade, a cultura e as noas tecnologias (2003,

    p. 12). Marcada pelas tecnologias digitais, a cibercultura permeia o cotidiano

    das pessoas, que coniem e se fundem com as tecnologias disponeis,

    fazendo de celulares etenses de seus prprios corpos e de cartes inteli-

    gentes elementos comuns ao seu dia a dia. Dessa forma, independentemente

    do acesso aos aparatos tecnolgicos, consolida-se um processo de imerso

    indiidual e coletia numa configurao social repleta de tecnologias, quemodifica continuamente a dinmica cotidiana dos indiduos ao mesmo

    tempo em que tambm so modificadas nessa interao, porm em inten-

    sidades e formas diersas.

    Fundada em caractersticas reticulares, a cibercultura libera os polos

    de emisso, possibilitando que cada indiduo seja um potencial e perma-

    nente emissor e receptor de informaes, independentemente do local onde

    se encontre. Em razo da (re)significao dos conceitos de tempo e espao,

    a cibercultura rompe com a lgica de distribuio broadcastdas mdias de

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    27Redes Conceituais de Partida

    massa, potencializando as trocas todos para todos, na medida em que se

    constri a partir de um dos conceitos-chae da sociedade contempornea,

    o conceito de rede.

    A perenidade das redese a urgncia de uma cultura equivalente

    To antigo quanto a prpria humanidade, o conceito de redei apresen-

    ta-se como: ubquo, na medida em que est presente no cerne de fenmenos

    biolgicos e sociais; contemporneo, uma ez que o adento das redes de

    computadores eps ao etremo suas caractersticas e potencialidades, e

    urgente para uma sociedade imersa numa cultura de passiidade, recepo

    e reproduo, ainda baseada na distribuio em massa de informaes, ca-

    racterstica primordial das mdias tradicionais.

    A fim de refletir sobre o funcionamento e potencialidade das redes,

    adotamos como pontos de partida o conceito de hipertetoii (Ly, 1993)e as leis da cibercultura (Lemos, 2003), na medida em que trazem em sua

    gnese a lgica e a marca das estruturas reticulares.

    O primeiro conceito, aprofundado por Pierre Ly em 1993, est

    intimamente relacionado dinmica das redes e no d conta somente

    da comunicao, mas dos processos sociotcnicos que, assim como rios

    outros fenmenos, tm uma forma hipertetual (p. 25). visando a apresen-tar a forma como uma trama hipertetual se organiza, Ly formulou seis

    princpios abstratos:

    da metamorfose, que se refere dinamicidade das redes que se (re)organizam

    a partir da interao entre os diferentes ns que a compem;

    da heterogeneidade, que garante rede uma infinidade de formas de comuni-

    cao e de intensidadede trocas, considerando a diersidade de elementos

    que podem assumir o papel de n em um determinado momento;

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    28A d r i a n o C a n a b a r r o T e i x e i r a

    da multiplicidadee de encaixe das escalas, que identifica cada n da estrutu-

    ra como um potencial elo com outras redes, ampliando ao infinito a sua

    dimenso de alcance;

    da exterioridade, que aponta para a independncia das redes para a ao

    de um agente interno especfico e predeterminado, sendo continuamente

    reconfigurada a partir das noas conees a ns ou a outras redes, caracte-

    rizando a natural e necessria abertura das teias hipertetuais;

    da topologia, intimamente relacionado ao princpio da metamorfose,que

    garante a fleibilidade das relaes, das trocas realizadas e do desenho

    da rede;

    da mobilidade dos centros, caracterizado pela horizontalidade de processos,

    isto que no h apenas um n de rede responsel pelo seu funciona-

    mento, mas rios ns de rede que, em diferentes momentos, assumem

    papis mais ou menos atios na malha de conees.

    Duas reflees podem ser propostas com base nesses princpios: a

    primeira refere-se impossibilidade da eistncia de uma estrutura hiperte-tual na ausncia de ns em constante moimento comunicacional; a segunda

    aponta para a contemporaneidade de tais preceitos, delineados ainda em

    1993, por poderem serir de base para o entendimento da organizao reti-

    cular da sociedade contempornea, potencializada pela presena das TICs,

    denominadas a partir deste ponto de tecnologias de rede (TRs).iii

    O segundo elemento adotado nas reflees sobre o funcionamento

    das redes foi aprofundado por Andr Lemos, que, ao apresentar a cibercul-tura, destaca trs leis especficas, fundamentais para o entendimento dessa

    organizao sociocultural e sintetizadas em sequncia.

    Na primeira lei, denominada lei da reconfigurao, o autor alerta para a

    necessidade de reconfigurar prticas, modalidades mediticas, espaos, sem

    a substituio de seus respectios antecedentes; a lei sequente, caracterizada

    como liberao dos polos de emisso, sugere que as diersas manifestaes

    socioculturais contemporneas representam ozes e discursos anteriormente

    reprimidos pela edio da informao pelos compleos comunicacionais de

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    29Redes Conceituais de Partida

    massa; por fim, a terceira lei, da conexo generalizada, destaca a eoluo do

    computador pessoal desconectado (CP) para o computador conectado rede

    (CC) e, finalmente, para o computador conectado mel (CCm) (Lemos,

    2003, p. 22).

    Destacamos que o progresso epresso na ltima lei d-se especial-

    mente a partir da fuso da telefonia mel com as TRs, no sendo mais

    necessrio se deslocar at pontos especficos e tecnologicamente organizados

    para acessar a malha comunicacional estabelecida, pois cada indiduo um

    potencial n de rede. Ao tratar dessa conectiidade instituda, Mitchell traduz

    adequadamente aquilo que em potncia j uma realidade, afirmando que

    in an electronically nomadicized world I have become a two-legged terminal, an

    ambulatory IP address, maybe even a wireless router in an ad hoc mobile network

    (2003, p. 58).

    Nas diretias de Lemos, tambm possel destacar a estreita in-

    terdependncia eistente entre a rede e a ao de seus ns, numa dinmica

    comunicacional que permite noas formas de apropriao s tecnologias con-

    temporneas e que, independentemente de seus objetios iniciais, possibilita

    aos indiduos e grupos a que pertencem organizarem-se e mobilizarem-se

    no objetio de ampliar seus horizontes de interao e de ao a partir dos

    contetos onde se encontram.

    Com esse elenco de abstraes referentes sociedade contempornea,

    compreendemos a eploso de pontos de emisso e de troca de informaes

    e sentidos, eplcitos em WebLogs, FotoLogs, WebCams e SMSs, bem como as

    intensas manifestaes comunicacionais ienciadas em chats,jogos on-line,

    comunidades irtuais, Flashmobs1 ou P2P para trocas de msicas, filmes ou

    qualquer outro material que possa serir de elo entre pessoas.

    Nessa configurao social, no somente a postura dos indiduos

    chamada mudana a fim de poder transitar e participar dessa realidade

    comunicacional, mas tambm os conceitos de espao e tempo foram signi-

    ficatiamente modificados, na medida em que as TRs proporcionam acesso

    1 Manifestaes-relmpago em locais pblicos e com posterior disperso, organizadas pelautilizao de celulares ou outras formas de comunicao em rede.

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    30A d r i a n o C a n a b a r r o T e i x e i r a

    a um noo territrio, no qual as distncias foram anuladas e o tempo real,

    gradatiamente, passa a ser a medida temporal dos processos. Referindo-se

    s modificaes consequentes desse conceito de tempo, Santos afirma que

    autoriza usar o mesmo momento a partir de mltiplos lugares, e todos oslugares a partir de um s deles (2004, p. 28), ampliando, dessa forma, o

    campo de ao e de presena dos indiduos. Assim, independentemente de

    onde estejam fisicamente, as pessoas iem uma realidade em que assumem

    ostatus de posseis emissores em estado de permanente recepo.

    Alm da natural e forte relao eistente entre os dois conceitos

    apresentados, destacamos as aproimaes que interessam particularmente proposta deste estudo por meio da abstrao de alguns de seus elementos

    centrais e que auiliam na definio do conceito de redes a ser adotado.

    Tabela 1: Processo refleio realizado para o estabelecimento do conceito

    de rede

    Hiperteto Cibercultura Ponto conergente Processo refleio Caracterstica

    Da mobilida-de dos centros

    Liberao dos

    polos de emis-

    so

    Necessidade/pos-

    sibilidade de umapostura atia decada n da rede.

    A rede s eiste em

    funo da atiidade/acessibilidade de seusns.

    Atiidade

    Da multipli-

    cidade e de

    encaixe das

    escalas

    Conexo gene-

    ralizada

    Ampliao ou redu-o das redes pormeio de ns per-manentemente dis-poneis e que seconectam a outrosns ou redes.

    A c o m p o s i o d euma rede compleae indeterminada emfuno das diferentesaes e elementospostos em moimentopara o(s) processo(s)corrente(s).

    Compleidade

    Da metamor-

    fose

    Reconfigura-

    o

    Dinmica impressa rede em funoda ao de seus ns,dos processos cor-rentes e das noasrequisies feitas estrutura reticular.

    Em funo da multi-plicidade de processose de elementos enol-idos nos moimentoscomunicacionais su-portados pela estruturareticular, a rede est emconstante atiidade ecada processo demandadiferentes composiese configuraes rede.

    Dinamicidade

    Fontes: Princpios do Hiperteto (Ly, 1993) e Leis da Cibercultura (Lemos,2003).

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    31Redes Conceituais de Partida

    Por meio das aproimaes feitas, entendemos rede como uma

    estrutura dinmica e aberta, cuja condio primeira de eistncia a ao

    dos ns que a formam e que, ao construrem suas prprias formas de apro-

    priao e de ao sobre a trama, modificam-na e por ela so modificados. Sua

    funo bsica dar suporte ao estabelecimento de relaes comunicacionais

    e colaboratias entre seus ns, entendidos como qualquer elemento que

    possa integr-la num determinado momento a fim de completar algum sig-

    nificado ou sentido no processo corrente, independentemente de pertencer

    anteriormente ao emaranhado comunicacional.2

    Dessa forma, o que se pe em jogo na sociedade contempornea, e

    tambm como fundamental na lgica das redes, a necessidade de assumir o

    papel de n na trama numa perspectia contrria dinmica de distribuio,

    apropriando-se das caractersticas e potencialidades das redes e das tecnolo-

    gias que a suportam, procedimento que, segundo Lemos, remete a noas

    potencialidades libertadoras para os cyborgs interpretatios,3 eleando-os

    dimenso de netcyborgs (2002, p. 187), seres que, mediante uma posturaatia, anulam gradatiamente o controle das mdias de massa e organizam-se

    a partir de conees multidirecionais.i

    O processo de reconhecimento enquanto n de rede ocorre gradual-

    mente por meio de eperincias de autoria, nas quais, pelas modificaes

    impressas pelo sujeito na rede de significaes na qual se encontra, ele

    prprio seja reconfigurado e possa se sentir capaz de, com o aprimoramentodas habilidades enolidas e da refleo crtica sobre suas manifestaes

    criatias, eperimentar autorias mais compleas e significatias para ele e

    para a trama hipertetual, passando a uma dimenso desujeito-autor.

    2 Salientamos que tal definio no tem o objetio de constituir um noo conceito de rede, masde representar uma sistematizao conceitual baseada na abstrao dos pontos principais dosconceitos e reflees feitas sobre hiperteto (Ly, 1993) e cibercultura (Lemos, 2003).

    3 [...] o cyborg interpretatio se constitui pela influncia dos mass media, coagido que pelopoder da teleiso e do cinema. Assim, a cultura de massa e do espetculo nos fez cyborgsinterpretatios (Lemos, 2002, p. 185).

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    32A d r i a n o C a n a b a r r o T e i x e i r a

    Nesse sentido, ao refletir sobre o papel do autor, Maraschin define-o

    como processualidade, no tendo um carter definitio, finito, mas que

    se relana a cada passo (2000, p. 35), e que, segundo a lgica das redes,

    pode ser caracterizado pela interrupo da postura unidirecional e linear

    tradicional na busca de uma liberdade criatia, assumindo-se como um n

    atio da rede de sentidos, subertendo o institudo a fim de romper com o

    paradigma da recepo por intermdio de eperincias de autoria baseadas

    no protagonismo, na criticidade, na horizontalidade e na liberdade.

    Para que tal concepo de autoria, contudo, possa tomar forma numa

    configurao social baseada na lgica das redes e potencializada pela presena

    das TRs, fundamental que os indiduos se apropriem4 dos fenmenos

    tcnico-sociais contemporneos, num processo denominado neste estudo

    de fluncia tecnocontetual. Na base dessa apropriao identificamos

    dois conceitos fundamentais a sua definio e entendimento: o de fluncia

    em tecnologias (Caralho, 2002) e o de domnio das senhas infotcnicas

    de acesso (Triinho, 2003), ambos analisados a partir do conceito de redesanteriormente definido.

    Ao tratar da fluncia em tecnologia, Caralho aponta para a ampliao

    conceitual em relao ao termo alfabetizao e define-a como a capaci-

    dade de reformular conhecimentos, epressar-se criatia e apropriadamente,

    bem como produzir e gerar informao [...], para efetiamente funcionar na

    sociedade da informao (2002, p. 9).

    Buscando refletir sobre tal conceito a partir da reconfigurao espao-

    temporal proocada pelas TRs, alertamos para a necessidade de que esse

    processo ocorra numa perspectia de alorizao das culturas e de respeito

    s diferenas. Para que tais capacidades possam se desenoler, porm,

    4 Salienta-se que o termo apropriao utilizado a partir do conceito de apropriao socialproposto por Benakouche. A autora destaca que o processo de aprendizado/domnio dosdiferentes grupos sociais com relao aos usos dos objetos tcnicos a que tem acesso. [...]faz-se de forma diferenciada entre sociedades e grupos de uma mesma sociedade (2005).

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    33Redes Conceituais de Partida

    necessrio que os indiduos se apropriem dos fenmenos tcnicos de forma

    que possamsere estarna organizao reticular da sociedade de forma lire

    e numa dinmica de autonomia temporria.

    Para tanto, Triinho (2003, p. 65) destaca a necessidade de domnio

    daquilo que chama de senhas infotcnicas de acesso, constitudas pelos

    objetos infotecnolgicos, softwares, netwares e de infraestrutura de coneo

    rede; pelo capital cognitio conforme; pelostatus de usurio teleinteragente

    e pela capacidade, tanto econmica quanto subjetia, de acompanhamento

    das reciclagens estruturais dos objetos infotecnolgicos e do capital cogni-

    tio conforme.

    Com base nestas reflees, definimos fluncia tecnocontetual

    como um processo dinmico e proisrio que se renoa e aprimora na ao

    e na interao dos ns sobree na rede de sentidos e suas interconees.

    Para isso, essencial a apropriao crtico-refleia dos fenmenos socio-

    tcnicos numa perspectia de contetualizao sociocultural, bem como o

    desenolimento e a manuteno das habilidades necessrias interao

    com e atravs deles.

    Definidos esses conceitos e propostas essas reflees, h urgncia no

    desenolimento de uma cultura de rede, entendida como um conjunto

    compleo de sentidos, concepes e condutas fundamentais aos indiduos

    na sociedade contempornea, baseado na lgica das redes e caracterizado

    pelo rompimento do paradigma de recepo e reproduo numa dinmicapermanente de construo e manuteno da fluncia tecnocontetual.

    A dimenso reticular do processo de autoria

    Dadas as caractersticas das redes, ampliam-se as possibilidades e a

    necessidade de autoria para a dimenso de autoria colaboratia, na qual os

    indiduos constroem processos horizontais e comunicatios, alorizando a

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    35Redes Conceituais de Partida

    A filosofia do software livrecomo manifestao de cultura de rede

    Embora seja um fenmeno em crescente eidncia na atualidade,

    preciso fazer um resgate do conceito de software lire e da filosofia que o

    norteia a fim de desenoler o raciocnio em torno da relao eistente entre

    software lire e o desenolimento de uma cultura de rede.

    Referindo-se ao moimento software lire, Sileira e Cassiano

    afirmam que baseado no princpio do compartilhamento do conheci-

    mento e na solidariedade praticada pela inteligncia coletia conectada narede mundial de computadores (2003, p. 36). Tal premissa est clara nos

    elementos definidores do conceito de software lire, nos quais a idia de

    liberdade mostra-se fortemente presente e transcende aspectos tcnicos,

    sendo epressa em quatro dimenses: a liberdade de eecutar o programa,

    para qualquer propsito; a liberdade de estudar como o programa funciona e

    de adapt-lo para as suas necessidades; a liberdade de redistribuir cpias de

    modo que se possa coloc-lo a serio de outras necessidades e a liberdade

    de aperfeioar o programa e liberar os seus aperfeioamentos de modo que

    toda a comunidade se beneficie (PSL, 2005a).

    Numa anlise ampla, tais dimenses representam a liberdade de

    eperimentar noas e contetualizadas solues e parcerias para propsitos

    especficos, sempre numa perspectia de aperfeioamento e de colaborao.

    Nesse sentido, Lemos defende que, alm da forma cooperatia de trabalho,

    trata-se de buscar adicionar, modificar o que foi dito, escrito, graado, sem

    a lgica proprietria, sem a dinmica da acumulao e do segredo (2004,

    p. 10).

    Dessa forma, assumir a filosofia do software lire aceitar o desafio

    de ser autor, reconhecendo-se como um n de uma rede colaboratia que,

    por meio de eperincias refleias de autorias e co-autorias, se refina e se

    aperfeioa numa dinmica de autonomia proisria, pautada pela colaborao

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    com os demais ns a fim de se harmonizar com a dinmica da rede e suas

    reconfiguraes, enolendo-se numa espiral de apropriaes e reapropria-

    es de conceitos, tcnicas e possibilidades.

    maiselementosdasoCiedadeContempornea

    A lgica do mercado global

    A fim de ampliar a contetualizao social apresentada, propomos

    a anlise de outra realidade na sociedade contempornea. Nesse sentido,as idias apresentadas por Milton Santos (2004), em especial o conceito de

    globalizao que prope, representam um ponto de partida para que se possa

    refletir sobre a importncia de se romper com a lgica da distribuio e repro-

    duo e sobre a urgncia de redefinio do conceito de incluso digital.

    Fazendo-se um resgate histrico possel identificar a ntima

    ligao eistente entre as tecnologias e o estabelecimento de relaes de

    poder e dominao, uma ez que, a serio dos atores hegemnicos, tradi-

    cionalmente tm sido empregadas para manter os papis sociais. Aanando

    nessa perspectia, as TRs representam um aparato fundamental e poderoso

    no somente no processo de manuteno de hegemonias, mas tambm na

    ampliao de situaes de dominao e de ecluso.

    Nesse sentido, preciso reconhecer que, mais do que conectar equi-

    pamentos, conectam-se culturas e contetos diferenciados, ampliando aspossibilidades de trocas e de crescimento sociocultural, mas tambm criando

    um noo territrio, aberto e indefinido, sujeito manipulao de informaes,

    imposio cultural, incitao para o consumo e a influncias eternas.

    Presumimos que, medida que as informaes disponeis so pro-

    duzidas por poucos compleos de comunicao, logicamente representam

    reescritas especficas de fragmentos de fatos ocorridos, contribuindo para a

    criao de um no lugar, uma suposta aldeia global na qual, pelas mos do

    mercado global, coisas, relaes, dinheiros, gostos largamente se difundem

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    37Redes Conceituais de Partida

    por sobre continentes, raas, lnguas, religies, como se as particularidades

    tecidas ao longo dos sculos houessem sido todas esgaradas (Santos,

    2004, p. 41).

    Incompatel com as caractersticas da cibercultura e contrariamente

    s possibilidades de emisso e de criao que trazem em si, erificamos

    um esforo no sentido de imprimir s TRs o tradicional modelo centrado

    na recepo, no consumo e na reproduo, procurando fazer com que cada

    indiduo se torne um consumidor potencial, constantemente acessel

    ao do mercado, reduzindo-as, dessa forma, a tecnologias de recepo.

    Nesse conteto, Serpa chama a ateno para o fato de que a incluso socialno mais a formao do indiduo cidado, includo na cultura nacional

    e, sim, do indiduo consumidor, participante desse no-lugar, o Mercado

    (2004, p. 183). Nessa dinmica so propostos mecanismos que asseguram

    aos indiduos condies de manipular as tecnologias de acesso ao noo

    territrio por meio de processos de capacitao que impem e reforam a

    cultura passia da recepo e da reproduo.

    Dessa forma, intumos que a sociedade da aprendizagem e a ciber-cultura no so, de fato, unanimidade,ii e que as iniciatias de incluso, por

    sua ez, em desconsiderando as caractersticas essenciais das TRs como a

    comunicao multidirecional, a interatiidade e o hiperteto, garantem a

    dinmica e a manuteno do mercado neoliberal.

    A necessria ampliaodo conceito de incluso digital

    Com base nessas reflees, possel questionar a estatstica apre-

    sentada no Mapa da Ecluso Digital, elaborado pelo Centro de Polticas

    Sociais da FGv (2003) e que traa o perfil da ecluso digital a partir da

    anlise dos microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios

    (Pnad) para o ano de 2001 e do Censo Demogrfico 2000, ambos leantadas

    pelo IBGE. Segundo esses dados, 12,46% da populao brasileira dispem

    de acesso a computadores e 8,31% Internet (FGv, 2003, p. 27). Esse ma-

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    terial tambm apresenta a representao grfica do processo de ecluso, no

    qual possel erificar que este acompanha a distribuio geogrfica das

    outras modalidades de seletiidade eistentes no pas, na medida em que

    as regies mais desenolidas so as que, logicamente, apresentam maioracesso, como possel isualizar na Figura 1.

    Figura 1: Mapa da ecluso digital no Brasil

    Fonte: Mapa da Ecluso Digital (FGv, 2003).

    A crtica pesquisa reside no fato de que foi realizada considerando

    como elemento definidor de situao de ecluso digital o acesso domiciliar

    Internet, um dado quantitatio que no lea em conta o que fundamental

    numa anlise de incluso digital como processo efetio de incluso social: a

    forma como se d esse acesso. Procedendo dessa forma, ignora-se que gran-

    de parte da sociedade j est imersa de fato e ideologicamente na cultura

    digital do consumo, da recepo e da passiidade, acentuada fortemente

    por iniciatias de pseudoincluso digital baseadas na reproduo, na falta de

    criatiidade e na negao da reticularidade das tecnologias contemporneas.

    No raramente caracterizadas pelo treinamento para utilizar determinados

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    39Redes Conceituais de Partida

    programas proprietrios, o que, em mbito macrossocial, refora a depen-

    dncia tecnolgica, tais iniciatias geralmente so desinculadas de qualquer

    compromisso social com a criao de uma cultura tecnolgica fundada na

    lgica das redes.

    Com base nessa ideia possel supor que no somente dentre os

    que possuem acesso domiciliar Internet, mas tambm nas escolas e or-

    ganizaes no goernamentais, um percentual muito maior de indiduos

    est submetido a uma situao de ecluso digital, que, pela determinao

    de formas de acesso diferenciado para as diferentes camadas da sociedade,

    deia de ser mais uma faceta da ecluso social para se consolidar como uma

    de suas principais mantenedoras.

    Embora reconheamos a no neutralidade das tecnologias dada sua

    intencionalidade geradora, eplicitada nos conceitos de artificialidadee de

    racionalidade6propostos por Santos (2002), as TRs possuem caractersticas

    reolucionrias em relao as suas antecessoras. Na medida em que trazemem si a potencialidade das redes, as TRs permitem uma apropriao dife-

    renciada, pautada na criticidade, na criatiidade e na autoria. Entendidas

    como produtos sociais que oferecem a possibilidade de superao do im-

    peratio da tecnologia hegemnica e paralelamente admitem a proliferao

    de noos arranjos, com a retomada da criatiidade (Santos, 2004, p. 8),

    podem ser assumidas pelos diferentes grupos sociais segundo suas prprias

    culturas e caractersticas, num moimento de alorizao de diferenas, de

    produo de contedo e de estabelecimento de processos comunicatios e

    colaboratios.

    6 A artificialidade do objeto tcnico a garantia de sua eficcia para a tarefa para que foiconcebido (Santos, 2002, p. 181). [...] A partir desta artificialidade que a caracterstica deracionalidade se constri. A tcnica alimenta a estandardizao, apia a produo de prottipose normas, atribuindo aos mtodos apenas a sua dimenso lgica, cada intereno tcnicasendo uma reduo (de fatos, de instrumentos, de foras e de meios), serida por um discurso.A racionalidade resultante se impe s epensas da espontaneidade e da criatiidade, porqueao serio de um lucro a ser obtido uniersalmente (p. 182).

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    40A d r i a n o C a n a b a r r o T e i x e i r a

    Assim, propomos o alargamento do conceito de incluso digital para

    uma dimenso reticular, caracterizando-o como um processo horizontal que

    dee ocorrer a partir do interior dos grupos com istas ao desenolimento

    de cultura de rede, numa perspectia que considere processos de interao,

    de construo de identidade, de ampliao da cultura e de alorizao da

    diersidade, para, desde uma postura de criao de contedos prprios e de

    eerccio da cidadania, possibilitar a quebra do ciclo de produo, consumo

    e dependncia tecnocultural.

    abstraindoelementosfinaiseprovisriosdaredeformada

    Com base nas reflees realizadas possel constatar que, embora

    a situao de crescente conectiidade, cuja estrutura tcnica fornecida

    pelas TRs, seja adequada ao estabelecimento de processos colaboratios e

    de moimentos comunicacionais propcios construo do conhecimento,

    elemento fundamental para o desenolimento indiidual e coletio, a malha

    comunicacional tem sido frequentemente utilizada no sentido de manter

    os papis sociais numa dinmica de unificao dos territrios a eplorar no

    sentido mais amplo do termo.

    Nesse sentido, preciso reconhecer a situao de imerso tecnolgicaa que os indiduos esto submetidos, num nel de compleidade tal que os

    impede de reconhecer e de se apropriar das potencialidades reolucionrias

    das TRs. Estas, cuja lgica das redes a base organizacional, possibilitam

    uma apropriao diferenciada, por meio do rompimento com a lgica bro-

    adcaste do estabelecimento de processos horizontais e multidirecionais de

    comunicao e colaborao, tendo como ponto fundamental a necessria

    ao dos ns que compem a rede hipertetual, como possel identificar

    nas manifestaes de software lire.

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    41Redes Conceituais de Partida

    Considerando essa realidade, ressaltamos a urgente ampliao do

    conceito de incluso digital para uma dimenso que priilegie a forma de

    acesso, no somente o acesso em si, e que tenha como base e finalidade a

    construo e a incia de uma cultura de rede como elemento fundamentalpara o eerccio da cidadania na sociedade contempornea.

    notasi Ao fazer esta eposio, deseja-se eplicitar que tal conceito, prprio da natureza e da eis-

    tncia humana, traz em si a possibilidade de potencializao do processo cognitio humano,que, embora estando em constante eoluo e no seja to antigo quanto o homem, pode sercompreendido a partir de um conceito de rede. Para aprofundar esta questo, Capra (2002),principalmente em seus trs primeiros captulos, discute amplamente a organizao reticularda ida tanto em seus aspectos biolgicos quanto nos sociais.

    ii visando a alargar a abrangncia e o potencial desta estrutura reticular que caracteriza ohi-pertexto, aponta-se para o conceito dehipermdia,entendida como a fuso das possibilidadesoferecidas pela multimdia enquanto combinao de teto, arte grfica, som, animao edeo monitorado por computador e eposta aos sentidos do receptor e as caractersticas deuma estrutura hipertetual pela qual se moimenta com autonomia no s para combinardados, mas para alter-los, para criar outros e para construir noas rotas de naegao. Mais

    elementos em Sila (2000, p. 154-162).iii Justifica-se que a opo por tal denominao se d pelo fato de que embora as TICs apontem

    para a possibilidade de comunicao, tm sido utilizadas maciamente no sentido de distri-buio de informaes, no de troca. A sigla NTIC, por sua ez, utilizada frequentementepara denomin-las, tambm no parece adequada em funo de que se acredita que umanoa TIC depende intimamente da forma inusitada e inoadora de utilizao, no com suadata de fabricao, subertendo sua intencionalidade geradora. Assim, deseja-se desenolerreflees especificamente sobre as TRs, enquanto ambientes comunicacionais multidire-cionais, interatios, colaboratios e que trazem em si caractersticas e potencialidades quepossibilitam sua reapropriao numa dinmica contrria distribuio e reproduo.

    i

    importante destacar que a adoo do termo multidirecional se d em funo do reco-nhecimento de que as tecnologias contemporneas possibilitam um processo comunicacionalque dierso do modelo unidirecional Um para Todos e caracterstico da lgica broadcast.Diferencia-se tambm do esquema bidirecional Um para Um, possel a partir do surgi-mento de tecnologias como o telefone, por eemplo, que, embora represente um aanoem relao ao esquema comunicacional anterior, ainda no se apropria de forma plena dascaractersticas das redes, fundamentais para o estabelecimento de processos comunicacionaismultidirecionais, autorizando uma comunicao do tipo Todos para Todos .

    Justifica-se a opo momentnea pela denominao de sujeito-autorpelo fato de que nesteponto se quer enfatizar oSujeito como aquele que protagonista, que possui uma posturade criao, de eposio de idias e de eteriorizao de subjetiidades, no como aquelesobre o qual uma determinada ao acontece, sendo constantemente coagido a alguma coisa,submetido a uma determinada situao e obrigado a se moer no sentido imposto, numasituao de um indiduo indeterminado, sem nome e sem histria.

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    i Faz-se esta ressala medida que se reconhece que os Wikis so potencialmente maisacesseis e abertos colaborao de usurios de diferentes perfis e competncias tcnicase, portanto, mais democrticos participao e ao, ampliando consideraelmente a am-plitude das redes formadas.

    ii O termo unanimidade usado para afirmar que, embora sejam fenmenos sociais poten-cialmente presentes na ida das pessoas, em funo do processo/formato de globalizaoapresentado/ienciado (cf. pgina 36, pargrafo 2), e da necessidade de ampliao poltico-conceitual do conceito de incluso digital proposto na tese (cf. pgina 39, pargrafo 1), nem asociedade da aprendizagem na conceituao de Fres e na ampliao proposta neste estudo(cf. pgina 24, pargrafo 4), tampouco o de cibercultura apresentado por Lemos e adotadocomo um dos fenmenos estudados para a compreenso da dinmica social contempornea(cf. pgina 25, pargrafo 3), so realidade para todas as parcelas da sociedade, nem se de-senolem na mesma intensidade entre elas.

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    LineAridAde escoLArnA reticuLAridAde sociAL

    ineitel o relacionamento entre essa possibilidade comunicatia

    e colaboratia potencialmente instituda na cibercultura e os antigos, porm

    ainda presentes, discursos referentes importncia de ambientes de cons-

    truo colaboratia do conhecimento, fundamentados nas trocas entre os

    sujeitos e o meio, na pesquisa, na descoberta, na autoria e na criticidade.

    A potencialidade dessa relao intensifica-se quando reconhecemos

    as caractersticas das TRs, baseadas fundamentalmente numa lgica reticu-

    lar, marcadas pelas possibilidades da hipermdia e pela ubiquidade e que,

    a partir da (re)significao dos conceitos de espao e tempo, ampliam de

    forma indita a possibilidade de trocas entre diferentes indiduos e culturas,

    bem como as possibilidades de comunicao e colaborao em processos de

    aprendizagem e de eerccio da cidadania.

    A fim de aprofundar as implicaes e a compleidade dessa relao,

    resgatamos a lgica de distribuio de informaes instituda e imposta pe-

    los atores hegemnicos, que, num moimento contrrio lgica das redes,

    alem-se das TRs como tecnologias de acesso, promoendo uma dinmica

    social baseada na passiidade, na recepo e na reproduo, desconsiderando

    as diferenas e ignorando as culturas locais, para, dessa forma, ampliar a massa

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    45Linearidade Escolar na Reticularidade Social

    de consumidores1 permanentemente acesseis e incapazes de reconhecer

    e de se apropriar das TRs de forma crtica e protagonista, impondo uma

    cultura de rede s aessas.i

    Num conteto de crescente coneo, a educao tem papel funda-

    mental na organizao social contempornea, seja na reerso do conteto

    institudo, mediante a apropriao das TRs no estabelecimento de processos

    comunicacionais multidirecionais, horizontais e reticulares, seja na manu-

    teno da cultura da recepo e da reproduo, fundamentais imposio

    cultural e dominao social.

    Assim, a partir do reconhecimento do alor estratgico da educao,

    aprofundamos a anlise de elementos acerca dos diferentes papis assumidos

    por ela, do alor das polticas pblicas na rea, da necessidade de um noo

    modelo educacional e da importncia dos processos de formao docente para

    o rompimento do paradigma de recepo institudo, bem como sobre a sua

    possel contribuio para a criao e manuteno de uma cultura de rede.

    A escola, enquanto instituio social deliberadamente criada para seocupar dos processos educacionais, constitui o ponto de partida para as abs-

    traes e reflees a serem efetiadas, uma ez que tem assumido funes

    que o muito alm da transmisso de informaes e da pretensa construo

    do conhecimento. Embora reconheamos que a escola possui qualidades e

    deficincias, salientamos que as reflees a seguir so feitas numa dimenso

    crtica, fundamentadas em eperincias pessoais e em reflees tericas

    nascidas de dilogos estabelecidos com diferentes autores.

    Por esse motio, comungamos da afirmao de Serpa de que a escola

    nunca , de forma absoluta, reprodutora ou transformadora somente (2004,

    p. 65), pois, como produto da sociedade, pode se (re)configurar a fim de dar

    respostas s demandas sociais, sejam elas baseadas na reproduo do esquema

    hegemnico, seja no sentido de transformar realidades.

    1 No somente de produtos, mas de ideias, posturas, concepes e tendncias, num processode generalizao de acesso e indiidualizao do consumo.

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    vrias so as razes que contribuem para a identificao da escola

    como espao estratgico para o rompimento com o paradigma broadcast

    institudo e para a construo e manuteno de uma cultura de rede.

    Inicialmente preciso reforar a ideia da escola como instituio

    social deliberadamente criada para se ocupar da formao humanaii e que

    tem assumido crescente responsabilidade e importncia nos processos for-

    matios dos sujeitos. Geralmente uma das nicas alternatias aos apelos

    passiidade e ao consumo das mdias de massa que inadem os mais

    diferentes ambientes e que m se constituindo como um dos principais

    eculos pseudoculturais da sociedade, permanentemente disponel aos

    indiduos numa dinmica de onipresena.iii

    Outro elemento significatio refere-se capilaridade da escola e do

    percentual de pessoas que abrange no territrio brasileiro. Pelas estatsticas

    disponibilizadas no Sistema de Estatsticas Educacionais do Inep/MEC,2

    possel ter uma iso mais detalhada dessa abrangncia, bem como dapresena crescente das TRs nesses ambientes. Segundo os Indicadores

    Educacionais do pas, em 2000 96,4% da populao entre 7 e 14 anos e 83%

    da populao entre 15 e 17 estaam matriculados em escolas do Ensino

    Fundamental e Mdio (Inep, 2005), um percentual epressio do ponto

    de ista quantitatio e que no pode ser desprezado em se considerando

    mudanas sociais e estruturais a mdio e longo prazos, sejam elas no sentido

    que forem.

    Como terceiro fator til s reflees deste teto, reconhecendo as

    caractersticas das TRs, que possibilitam a quebra do paradigma de recepo

    e que so determinantes para alguns dos elementos do desenolimento de

    fluncia tecnocontetual, a Tabela 2 apresenta o incremento na disponibili-

    zao de recursos tecnolgicos entre os anos de 2002 e 2003.

    2 Foram utilizados os dados disponibilizados no sistema em 6 de maio de 2005.

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    47Linearidade Escolar na Reticularidade Social

    Tabela 2: Nmero de laboratrios de Informtica e de conees Internet

    disponibilizados no pas no perodo de 2002 a 200334

    Laboratrio

    de Informtica

    Conexo

    Internet4Nmero total

    de laboratrios

    Nmero total

    de escolas

    Ensino Fundamental 2.078 3.533 23.064 169.065

    Ensino Mdio 1.033 1.619 12.947 23.118

    Fonte: Edudadabrasil 2005 / Inep

    Salientamos que, quando apontamos as limitaes das estatsticas

    apresentadas no Mapa da Ecluso Digital (FGv, 2003), na medida em que

    estas consideram somente o acesso s TRs como elemento determinante naidentificao de situaes de ecluso digital, destacamos a necessidade de

    ampliar o entendimento dos processos de incluso digital para uma dimenso

    deforma de acesso, no somente de acesso. Reafirmamos, entretanto, que

    o acesso s TRs condio fundamental para possibilitar formas diferen-

    ciadas de apropriao dessas dentro de um processo de desenolimento e

    manuteno de uma cultura de rede. Assim, esses nmeros tm o objetio

    de colaborar com a demonstrao do potencial dos estabelecimentos deensino nesse sentido.i

    Tomando por base essas informaes e resgatando os dados da FGv

    sobre o percentual de acesso domiciliar Internet, podemos supor que o

    ambiente escolar geralmente fornece o primeiro contato com essas tecno-

    logias para a maioria dos enolidos no processo educacional,5 reafirmando

    a sua importncia estratgica na sociedade contempornea e ampliando a

    necessidade de que os processos educacionais, alendo-se das TRs numaperspectia de ambiente comunicacional, assumam a lgica das redes como

    fundamento.

    3 Para a realizao desta pesquisa consideraram-se no sistema todas as escolas de EnsinoFundamental e Mdio de qualquer categoria administratia, com qualquer localizao e queofeream qualquer srie.

    4 A partir das informaes geradas pelo sistema, no possel determinar em quantas escolas

    o acesso Internet disponibilizado aos alunos.5 A discusso referente forma como se d esse contato ser realizada na prima seo deste

    teto.

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    A escola como elementode manuteno da hegemonia

    To importante quanto reconhecer o potencial da escola como

    instituio que possui qualidades e que necessria enquanto formato

    realizar uma refleo crtica sobre o seu papel enquanto local fundamental

    na manuteno da tradicional lgica da distribuio instituda e de suas

    implicaes.

    Referindo-se ao processo educatio na modernidade, Serpa afirma

    que concretizou-se atras da escola nica, com o objetio de formar cadahomem e mulher no mbito da cultura nacional, entendendo-se esta como

    a cultura do Rei (2004, p. 148), ou seja, a cultura e os interesses do poder

    hegemnico. Nessa perspectia, desconsideram-se as culturas regionais e

    locais e assume-se, gradatiamente, o compromisso com a cultura imposta,

    num processo que isa consequente igualizao dos indiduos e grupos

    sociais num moimento de massificao compulsria.

    Essencialmente ancorada em processos erticais e hierarquizados, a

    escola nica reproduz a dinmica broadcastdas mdias de massa, por meio

    de uma organizao baseada na transmisso de informaes, eplcita na

    disposio dos meis nas salas de aula e de seu carter hermtico, na postura

    fsica e comportamental assumida por professores e alunos, na maneira como

    os recursos tecnolgicos disponeis sociedade geralmente so acomoda-

    dos nos moldes tradicionais e lineares de utilizao, na forma como se d o

    processo de aprendizagem e nos seus mtodos de alidao.

    Ao abordar a dimenso reprodutora da escola nica e uniersalizada

    e a sua origem social, Serpa afirma que uma necessidade da sociedade

    moderna, j que esta ficou relatiizada, sem hierarquias a priori; precisou-se

    ter uma instituio social que mantiesse a ordem social na relatiizao

    (2004, p. 65) e que atendesse necessidade de manuteno de uma massa

    de sujeitos passios e acostumados ao consumo e reproduo, disponeis

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    49Linearidade Escolar na Reticularidade Social

    ao do mercado local e global. Tal realidade denunciada por Freire ao

    alertar para a eistncia de uma educao para o homem-objeto e outra

    para o homem-sujeito (1983, p. 36).

    Passadas mais de duas dcadas, essa situao continua a figurar como

    realidade e, analisada na perspectia de uma sociedade profundamente

    transformada pela dinmica das redes e submetida lgica da globalizao,

    pode ser identificada tambm em reas fundamentais soberania das naes,

    como a educao, em que se erificam influncias no sentido de impor uma

    educao para a dominao e outra para a obedincia.

    Num estudo sobre a influncia do Banco Mundial nas polticas sociais

    brasileiras, Fonseca denuncia que, quando este faz um emprstimo, impe

    determinadas condicionalidades [...] que incluem desde a fiao de clusu-

    las financeiras e gerenciais, at a fiao de diretrizes educacionais (2000,

    p. 67). Tal afirmao, referente influncia eistente nas definies educa-

    cionais, pde ser detectada ao relacionarmos e analisarmos as aproimaesentre o Relatrio da Comisso Internacional sobre Educao para o Sculo

    XXI: Educao: um Tesouro a Descobrir(Delors, 2001), organizado a pedido

    da Unesco, e as Leis de Diretrizes e Bases brasileiras (Brasil, 2003b).

    A relao mencionada desenolida no Aneo 1 e permite identificar

    em ambos a mesma concepo educacional e um moimento no sentido

    de reatribuir educao e, por conseguinte, escola, o poder centralizadordo processo formatio dos cidados, o que no configuraria um elemento

    negatio se essa formao no estiesse intimamente atrelada a uma con-

    cepo erticalizada e reprodutora. Podemos supor que esse esforo se d no

    sentido de manter a sustentabilidade das relaes entre os pases, baseadas

    num processo de globalizao no qual todo e qualquer pedao da superf-

    cie da Terra se torna funcional s necessidades, usos e apetites de Estados

    e empresas nesta fase da histria (Santos, 2004, p. 81) e que encontra na

    educao uma forma eficaz de manuteno dessa realidade.

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    Realizadas essas reflees, possel afirmar que o formato atual

    da escola contribui para o fortalecimento dos papis sociais no somente

    reforando a postura passia e massificante, desconsiderando as culturas e

    primando pela formatao coletia dos indiduos, mas tambm anulando

    o potencial das TRs numa dinmica de acomodao destas tradicional

    lgica linear.

    Desconsidera-se que, como produtos sociais, as TRs no deeriam ser

    inseridas no processo educacional, como se escola e tecnologia no fossem

    produtos de uma mesma sociedade, mas apropriadas no sentido de permear

    os processos educacionais como elementos contribuintes na construo deeperincias colaboratios e horizontais. Essa realidade pode ser erificada

    no depoimento de Aut0135, participante do projeto de Emerso Tecnolgica

    de Professores:

    Na minha escola no tem computador, mas eu estudei, fiz magist-rio numa escola particular e a gente s usaa os computadores paradigitar tambm. Todas as ezes que mandaam a gente para l agente nunca tee uma atiidade diferente, nada... computador erapara ter ... algumas ezes a gente digitaa teto, para ser entregue eaaliado[...] (Aut0135).6

    Nessa dinmica, e sob o discurso de preparar para as necessidades do

    mercado de trabalho, ou, ainda, de incular o oferecimento deLaboratrios

    de Informtica ideia de modernidade e de qualidade,i a escola tem pos-

    sibilitado o acesso burocratizado, linear e fragmentado s TRs, adequando-as lgica tradicional. Garante, dessa forma, que esse imenso nmero de

    alunos, a mdio e longo prazos, reproduzam e assumam essa postura de

    passiidade e recepo em outras instncias sociais, sendo incapazes de

    6 Esta sigla identifica o fragmento do teto retirado do Banco de Dados da pesquisa armaze-nado no Sistema de Indeao e Tratamento de Dados (cf. pgina 84, pargrafo 1). As trsprimeiras letras representam o nome do sujeito; os dois algarismos seguintes, a Unidade deDados (UD) no banco e os dois ltimos, o pargrafo correspondente dentro da UD. Casono seja possel a determinao do nome do sujeito, utiliza-se a siglaAut, como abreiaturade Autor.

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    reconhecer nessas tecnologias formas priilegiadas de agregao social, de

    eerccio da cidadania e de desenolimento, reforando os papis sociais

    dentro e fora do pas.

    Tal realidade pode ser ainda mais complea quando, ao erticalizar

    processos e reproduzir modelos hierarquizados, a escola desconsidera as

    caractersticas das noas geraes, que possuem uma tendncia natural co-

    municao multidirecional, reticularidade e multiplicidade de processos,

    a uma incia cultural intensa, seja ela em CTGs, em grupos dehip hop, ou

    em rodas de capoeira,ii todos desenolidospela e na dinmica da sociedade

    contempornea, cada um a sua maneira e dentro de suas condies.

    Assim, na medida em que a escola nica ignora essa eferescncia

    cultural, consolida uma iolncia que consiste na transformao do Outro

    no Eu, a heterogeneidade na homogeneidade, o no acesso das culturas

    dos diferentes grupos humanos dinmica da sociedade moderna (Serpa,

    2004, p. 182).

    Buscando refletir sobre as implicaes desse modelo de escola na

    sociedade, alguns elementos podem ser destacados. O primeiro, baseado

    na (re)siginificao do espao e do tempo, aponta para a incapacidade da

    escola nica de potencializar processos de alorizao cultural e de respeito

    s diferenas entre os diferentes grupos sociais aproimados pelas TRs, fun-

    damental para o eerccio da cidadania na sociedade contempornea. Ainda

    com referncia ao espao e tempo, as TRs reduzem a necessidade de um

    local especfico e da sincronia temporal para acesso a informaes e, em certa

    medida, para o estabelecimento de processos comunicacionais unidirecionais,

    elementos fortemente caractersticos da escola como instituio.

    Outro elemento a ser apresentado refere-se linearidade e erticali-

    dade instituda nos processos realizados nos ambientes escolares, resgatando

    a idia de educao bancria proposta por Paulo Freire (1997) e reforando

    as posturas passias de recepo e de reproduo do modelo igente. Des-

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    considera-se, dessa forma, a necessidade de desenolimento de processos

    horizontais, comunicacionais e colaboratios baseados na lgica das redes e

    passeis de potencializao pela apropriao das TRs pela educao.

    Assim, essas reflees leam a crer que a escola nica no d conta

    das demandas contemporneas, nem, tampouco, considera as caractersticas

    e potencialidades reticulares das TRs, no contribuindo dessa forma para a

    criao de uma cultura de rede e ampliando as implicaes do processo de

    ecluso digital como elemento de destaque na manuteno da estrutura

    social atual.

    aimportnCiadaspoltiCaspbliCas

    Com o reconhecimento da compleidade inerente a essa realidade

    que conjuga a urgncia da ampliao do acesso s TRs, a necessidade de

    reflees e aes no sentido de qualificar esse acesso, a importncia do

    fortalecimento da escola nesse processo e a conenincia de ampliao

    do conceito de incluso digital na perspectia proposta neste estudo, ficaeidente que no bastam iniciatias isoladas por parte dos enolidos nesse

    conteto.

    Nesse sentido, necessrio um eerccio de refleo coletio, [...]

    que possa cooperatiamente potencializar a tomada de decises, assumir po-

    sies, criar iniciatias, traar planos, estabelecer polticas, definir pedagogias,

    definir pontos de partida (At, 2000, p. 27), a partir do estabelecimento de

    polticas pblicas articuladas que fortaleam todos e cada n dessa trama eque os tomem como parceiros no processo, a fim de que possam contribuir,

    efetiamente, para uma educao que d respostas s demandas e caracte-

    rsticas da sociedade contempornea.

    Isso posto, desejamos refletir sobre as principais iniciatias goerna-

    mentais relatias ao trinmio escola, formao docente e TR: o Programa

    Nacional de Informtica na Educao (Proinfo), que conjuga esforos no

    sentido de propiciar acesso e formar professores; o Fundo de Uniersalizao

    de Serios de Telecomunicaes (Fust), que, entre outras aes, pre a

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    53Linearidade Escolar na Reticularidade Social

    coneo de bibliotecas e escolas Internet, e uma terceira, etremamente

    significatia no sentido de romper com a lgica da distribuio instituda,referente opo brasileira pela utilizao de software lire.

    Programa Nacional de Informtica na Educao

    Considerado a principal iniciatia do pas na introduo das tecnolo-

    gias de rede na escola pblica, o Proinfo foi aproado em 9 de abril de 1997pela portaria n 522, figurando como a principal poltica pblica no que se

    refere informtica educatia como processo de fornecimento de acesso eformao docente.

    No intuito de inserir o programa nas diretrizes definidas pelo MEC

    referentes Poltica Nacional de Educao, os objetios do Proinfo so(Brasil, 2003a, p. 3):

    a) melhorar a qualidade do processo de ensino-aprendizagem mediante a

    possibilidade de igualdade de acesso a instrumentos tecnolgicos e aos

    benefcios decorrentes do uso das tecnologias no processo educacional;

    b) possibilitar a criao de uma noa ecologia cognitia por meio da incor-

    porao adequada das tecnologias nas escolas;

    c) propiciar uma educao oltada para o desenolimento cientfico e

    tecnolgico, como base de atuao dos indiduos no conteto cientficoe tecnolgico atual;

    d) educar para uma cidadania global numa sociedade globalizada.

    Considerando os objetios do programa, algumas consideraes po-dem ser feitas no sentido de identificar as concepes educacionais eistentes

    nessa poltica. No objetio a, clara a inculao equiocada e latente no

    imaginrio social de que o acesso s TRs necessariamente conduz a umamelhoria de qualidade do processo ensino-aprendizagem,iii desconside-

    rando que a sala de aula infopobre pode ser rica em interatiidade, uma ezque o que est em questo o moimento contemporneo das tecnologiase no necessariamente a presena da infotecnologia (Sila, 2000, p. 78).

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    Com base no teto do Proinfo, ainda podemos detectar a ausncia de indi-

    caes sobre a forma como tais recursos podem ser imbricados aos processos

    necessariamente horizontais e comunicacionais da aprendizagem.

    Os objetios seguintes apontam para a insuficincia do modelo edu-

    cacional atual em dar respostas s demandas de uma sociedade em crescente

    coneo, na medida em que atribuem ao Proinfo funes intimamente rela-

    cionadas educao com ou sem TR, responsabilidade que, certamente, no

    pode eercer sozinho ou sem uma profunda articulao entre as diferentes

    polticas pblicas na rea, ancoradas num amplo processo de discusso sobre

    a concepo de educao que se quer ienciar.Segundo o documento base do programa, as metas para o binio 97-98

    eram de atender 7,5 milhes de alunos em 6 mil escolas; instalar 200 ncleos

    de tecnologia educacional (NTEs); capacitar mil professores multiplicadores

    e 25 mil professores das escolas para trabalhar com recursos de telemtica

    em sala de aula; formar 6.600 tcnicos de suporte s escolas e instalar 105 mil

    computadores, cem mil destinados s escolas pblicas selecionadas e 5 mil

    aos NTEs. Buscando sistematizar a eoluo das metas do Proinfo, a tabelaa seguir apresenta uma relao entre essas preises e os nmeros atuais:7

    Tabela 3: Comparatio entre os nmeros iniciais e atuais do Proinfo8

    Preiso binio 97-98 Dados 20059

    Alunos atendidos 7.500.000 10.720.104Escolas atendidas 6.000 4.856NTEs 200 345

    Professores multiplicadores 1000 2.114Professores capacitados 200.000 166.477Tcnicos de suporte 6.600 291Microcomputadores distribudos 105.000 66.169

    Fonte: Portal Seed Proinfo / MEC

    7 Para a realizao desse comparatio, utilizaram-se os nmeros constantes das metas para obinio 97-98, estabelecidas no documento base do programa, e as informaes disponibilizadas

    no site do Proinfo (http://www.proinfo.mec.go.br/), na opo NTE/Escolas.8 Esses alores dizem respeito soma dos nmeros correspondentes de cada Estado em 11

    de maio de 2005.

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    Ainda em 1999, ao realizar uma leitura crtica das metas iniciais,

    Cysneiros (1999) reconhecia que cem mil mquinas era um nmero signifi-

    catio, mas chamaa a ateno para o fato de que sero beneficiadas cerca

    de seis mil escolas, que representam apenas 13,4% do unierso de 44,8 milestabelecimentos, que recebero 15 ou 20 computadores, muito pouco para

    800 ou mais alunos por escola.

    Passados seis anos, embora reconheamos a importncia do Proinfo

    no processo de informatizao do sistema pblico de ensino, possel e-

    rificar, pelos dados da Tabela 3, que ainda no atingimos esses nmeros e, a

    partir das duas ltimas colunas da Tabela 2, que precisamos aanar muitono que se refere disponibilizao de acesso a tais recursos tecnolgicos nos

    estabelecimentos de ensino, tarefa no eclusia do Proinfo.

    Ao buscar posseis articulaes entre o Proinfo e outras polticas

    pblicas, questo fundamental racionalizao das erbas pblicas e efi-

    ccia de seus resultados, Cysneiros relata que, embora o Proinfo represente

    um aano em relao a outras polticas educacionais anteriores na rea,

    algumas falhas so identificadas, como a ausncia de articulao com os

    demais programas de tecnologia educatia do MEC, especialmente com o

    deo escola, a ista grossa para considereis diferenas regionais [...] e com

    outros como educao especial (1999).

    Ao reiterar que, mais do que acesso, o conteto contemporneo

    demanda reflees e aes que contemplem a forma como se d esse pro-

    cesso, outro elemento a ser destacado, em razo da importncia de qualquerprograma relacionado informtica educatia, refere-se especificamente

    capacitao docente. Em suas diretrizes, o Proinfo pre a capacitao do

    professor no sentido de prepar-lo para o ingresso em uma noa cultura,

    redimensionando o papel do professor na formao do cidado deste sculo

    (Brasil, 2003a, p. 7).

    Pode-se detectar na ideia de ingresso numa noa cultura que as

    diretrizes ignoram o conteto de imerso tecnolgica a que todos os indi-

    duos esto submetidos em diferentes intensidades, portanto j participantes

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    desse conteto, no propondo elementos que apontem para a necessidade

    de emerso do modelo tradicional, eleando cada indiduo a uma dimenso

    de produtores e emissores de sentido e de significados nos ambientes em

    que atuam.

    Dentre os objetios apresentados, possel destacar a tendncia

    de reproduo eistente nas concepes tradicionais de educao, quando

    pre a preparao de professores para saberem usaras noas tecnologias

    de informao de forma autnoma e independente, possibilitando a incor-

    porao das noas tecnologias eperincia profissional de cada um isando

    transformao de sua prtica pedaggica (Brasil, 2003a, p. 8).

    Ao analisar esse objetio, emos que o termo usar remete a uma

    ideia de passiidade, reduzindo o professor a utilizador de uma tecnologia

    que dee ser incorporada a sua eperincia, no reconhecida como fomenta-

    dora de noas incias. Da mesma forma, quando se mencionam os termos

    autonomia e independncia, pressupe-se liberdade para criar noas

    formas de fazer, no somente na transformao de prticas pedaggicas,processo que no depende somente das tecnologias, mas na potencializao

    e enriquecimento de tais atiidades, como preisto na lei da Reconfigurao

    da Cibercultura.

    A fim de conhecer como se d a atuao do Proinfo e quais as atii-

    dades que prope, em 2004 realizamos um reconhecimento das iniciatias

    do NTE de Passo Fundo, deidamente detalhado no Aneo 2,i Com isso,

    erificamos que alguns elementos fundamentais formao docente na so-ciedade contempornea ainda merecem especial ateno no programa, tais

    como: o desenolimento de propostas de formao horizontais, colaboratias

    e contetualizadas que considerem todos os sujeitos do processo educacional;

    a utilizao e opo pela filosofia do software lire como elemento base para

    o rompimento da lgica broadcaste da dependncia tecnolgica e cultural; a

    amplificao de aspectos que priilegiem a dimenso autoral dos professores

    em formao a fim de que possam reconhecer-se como agentes responseis

    pelo processo de apropriao crtica das TRs.

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    57Linearidade Escolar na Reticularidade Social

    Fundo de Universalizaodos Servios de Telecomunicaes

    O Fundo de Uniersalizao dos Serios de Telecomunic