efeito do extrato hidroalcoÓlico de eugenia uniflora l...
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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC
PROGRAMA DE POS GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE
ANGELA MARTINHA BONGIOLO
EFEITO DO EXTRATO HIDROALCOÓLICO DE Eugenia uniflora L.
(MYRTACEAE) SOBRE A HIPERGLICEMIA E DISLIPIDEMIA DE
RATOS DIABÉTICOS INDUZIDOS POR ALOXANA.
CRICIÚMA, MARÇO DE 2008
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ANGELA MARTINHA BONGIOLO
EFEITO DO EXTRATO HIDROALCOÓLICO DE Eugenia uniflora L.
(MYRTACEAE) SOBRE A HIPERGLICEMIA E DISLIPIDEMIA DE
RATOS DIABÉTICOS INDUZIDOS POR ALOXANA.
Dissertação apresentada à Diretoria de Pós-graduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense- UNESC, para a obtenção do título de mestre em Ciências da Saúde
Orientador(a): Prof. Dra. Luciane Costa Campos
CRICIÚMA, MARÇO DE 2008
ANGELA MARTINHA BONGIOLO
EFEITO DO EXTRATO HIDROALCOÓLICO DE Eugenia uniflora L.
(MYRTACEAE) SOBRE A HIPERGLICEMIA E DISLIPIDEMIA DE
RATOS DIABÉTICOS INDUZIDOS POR ALOXANA.
Dissertação apresentada à Diretoria de Pós-graduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense- UNESC, para a obtenção do título de mestre em Ciências da Saúde
Orientador(a): Prof. Dra. Luciane Costa Campos
CRICIÚMA, MARÇO DE 2008
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, que sempre me ampara no caminho para
alcançar minhas metas.
A minha orientadora Luciane, que além de brilhantemente conduzir o trabalho,
sempre esteve à disposição em todos os momentos. Obrigada! Grande amiga!
A batalhadora professora Tatiana Schoenfelder, que esteve em todos os
momentos orientando este trabalho. Este trabalho não seria realizado sem seu
grande apoio.
As meninas, Larissa e Juana, minhas alunas, porém neste estudo, foram
minhas professoras.
Agradeço também aos técnicos de laboratório, Geovana, Sinara, Mara e
Tiago que estiveram presentes no desenvolvimento do experimento.
A todos os mestres que neste período de alguma forma contribuíram para o
meu crescimento profissional e para a conclusão deste trabalho.
Ao meu filho Lucas que sempre entendeu minha ausência.
Muito obrigada!
RESUMO
Eugenia uniflora L. (Myrtaceae), é conhecida na América do Sul como “pitangueira” ou “nangapiri” e utilizada popularmente para o tratamento de várias patologias, particularmente no diabetes. No Paraguai as folhas dessa espécie têm sido utilizadas para obesidade e diabetes. A planta apresenta compostos fenólicos com ação antioxidante, hipoglicemiante e anti-reumática, sendo utilizados em distúrbios estomacais e como anti-hipertensivos. No entanto os efeitos e mecanismos farmacológicos como hipoglicemiante da E. uniflora não estão totalmente elucidados. A infusão das folhas dessa planta é aplicada popularmente em especial como tratamento do diabetes mellitus, coadjuvante ao tratamento médico convencional. A partir disso objetivou-se verificar a propriedade hipoglicemiante do extrato bruto hidroalcoólico de folhas de E. uniflora (EHE) avaliando também as modificações lipidêmicas decorrentes das alterações metabólicas dessa patologia. Foram utilizados ratos machos Wistar (200-300g). Os animais normoglicêmicos permaneceram em jejum de 12-14 horas durante a noite e foram divididos em: grupos tratados com EHE (125, 250, 500 e 1000 mg/kg v.o., n=6) e controle (veículo solução salina v.o.). O sangue foi coletado por punção ocular 1, 2, 3 e 4 horas após o tratamento e os níveis de glicose sangüínea foram determinados. Para o teste de tolerância à glicose os ratos em jejum foram divididos em 3 grupos: ratos hiperglicêmicos (glicose 4 g/kg, v.o.), tratados com EHE (glicose v.o. + EHE 125, 250, 500 e 1000 mg/kg v.o., n=6) e controle (veiculo solução salina v.o.). O sangue foi coletado 30, 60, 90 e 180 minutos após os tratamentos e determinados os níveis de glicose sangüínea. No experimento em animais diabéticos, o diabetes foi induzido por uma única administração intraperitoneal de 200 mg/kg de monohidrato de aloxana. Após 72 horas o estado diabético foi confirmado pela perda do peso corporal e desenvolvimento de hiperglicemia (níveis séricos >300 mg/dl). Foram então separados e receberam: EHE (125, 250, 500 e 1000 mg/kg v.o.) ou controle (veículo v.o). O sangue foi coletado 1, 2, 3 e 4 horas após os tratamentos e foram determinados os níveis de glicose sangüínea, colesterol total e triglicerídeos. Os resultados obtidos mostraram que o EHE não demonstrou atividade hipoglicemiante em animais normais, tão pouco nos animais que foram submetidos ao teste de tolerância à glicose. Nos animais diabéticos, o EHE mostrou diminuir o triglicerídeo sérico nas concentrações de 500 mg/kg nos tempos 1h (21%, P<0,01), 2h (41%, P<0,001), 3h (55%, P<0,001) e 4h (50%, P<0,001) e para a concentração de 1.000 mg/kg nos tempos 1h (56%, P<0,001), 2h (46%,P<0,001), 3h (57%, P<0,001) e 4 h (70%, P<0,001). Esses resultados sugerem que o EHE de E. uniflora pode ter efeito sobre a hipertrigliceridemia que ocorre em decorrência do diabetes. Entretanto estudos farmacológicos e bioquímicos adicionais devem ser feitos para tentar elucidar o mecanismo pelo qual a planta exerce essa propriedade. Palavras-chave: plantas medicinais; Eugenia uniflora; diabetes mellitus; aloxana; hipertrigliceridemia; etnofarmacologia.
ABSTRACT
Eugenia uniflora L. (Myrtaceae) is a tree species known in South America by the popular names “pitangueira” or “nangapiri”. Leaf infusion is used in Brazilian folk medicine to treat several diseases. In Paraguay, the leaves are used to treat obesity and diabetes. This plant presents phenolic compounds with antioxidant, hypoglycemic and anti-rheumatic effects and is used as anti-hypertensive and to stomach diseases. However the mechanisms responsible for the hypoglycemiant effects of E. uniflora are not clearly understood. Leaf infusion is used popularly to treat diabetes mellitus, associated with the conventional treatment. The aim of this work was to verify the hypoglycemic property of the crude hydroalcoholic extract (EBH) of leaves from E. uniflora and to evaluate the lipidemic alterations resulting of this pathology. Male Wistar rats (body weight 200 – 300g) were used in the experiments. Overnight fasted normal animals were randomly divided into: EBH treated groups (125, 250, 500, 1000 mg/kg v.o., n=6) and control (vehicle saline v. o.). Blood samples were collected from the retro-orbital plexus 1, 2, 3 and 4 h after treatment and blood glucose levels were measured. Fasted rats were divided into three groups for the oral glucose tolerance test (OGTT): hyperglycemic rats (glucose 4 g/kg, v.o.), EBH treated (glucose v.o. + EBH 125, 250, 500, 1000 mg/kg v.o, n=6) and control (vehicle saline v.o.). Blood samples were collected from the retro-orbital plexus before and at 30, 60, 90 and 180 min after the glucose loading, and blood glucose levels were measured. Diabetes was induced by a single intraperitoneal injection of 200 mg/kg of alloxan monohydrate. Diabetes was confirmed 72 h after the alloxan injection by the development of hyperglycemia, with serum glucose levels > 300 mg/dL and decrease of weight. The animals were then randomly allocated into groups: EBH treated (125, 250, 500 e 1000 mg/kg v.o.) or control (vehicle v.o.). Blood samples were collected from the retro-orbital plexus 1, 2, 3 and 4 h after the treatment and blood glucose, triglyceride and cholesterol levels were measured. EBH tested doses did not present significant lowering of blood glucose on normal rats (Table 1) and oral glucose tolerance test (Table 2). In the groups of diabetic rats, the EBH decreased the triglyceride levels at doses of 125 mg/kg at 2h (43%, P<0.05); 500 mg/kg at 1h (21%, P<0.01), 2h (41%, P<0.001), 3h (55%, P<0.001) and 4h (50%, P<0.001); 1000 mg/kg at 1h (56%, P<0.001), 2h (46%, P<0.001), 3h (57%, P<0.001) and 4 h (70%, P<0.001). Results suggest that the crude hydroalcoholic extract of E. uniflora (EBH) may present a hypotriglyceridemic effect, with implication on diabetes. Further pharmacological and biochemical investigations are necessary to elucidate the mechanism of the hypolipidemic effect of the leaves of this species. Key-words: medicinal plants; Eugenia uniflora; diabetes mellitus; alloxan; hypertriglyceridemia; ethnopharmacology.
5
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................06
1.1 Diabetes X Dislipidemias………………………………………………….08
1.2 Plantas Medicinais… ………...............……………………………………09
1.3 Plantas hipoglicêmicas......................... ...............................................13
1.4 Eugenia uniflora L.................................................................................14
1.5 E. uniflora X Uso tradicional................................. ................................15
1.6 E. uniflora X Ação farmacológica.............................. ...........................17
2 OBJETIVOS....................................... ....................................................................20
2.1 Objetivo geral................................ ..........................................................20
2.2 Objetivos específicos......................... ....................................................20
3 ARTIGO CIENTIFICO............................................................................................21
4 DISCUSSÃO..........................................................................................................37
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................... ................................................48
1 INTRODUÇÃO
O Diabetes mellitus (DM) é um distúrbio metabólico crônico, caracterizado
por níveis elevados de glicemia. A Organização Mundial de Saúde (OMS) e a
Associação Americana de Diabetes (ADA) propuseram incluir quatro classes clínicas
na classificação do Diabetes: DM tipo I, DM tipo II, outros tipos específicos
(secundário a doença pancreática, resistência congênita ou adquirida a insulina,
relacionados a anormalidades da insulina, associado a desnutrição ou fibrocalculoso
e tipo LADA – Latent Autoimmune Diabetes in Adults) e diabetes mellitus gestacional
(DIRETRIZES BRASILEIRA DE DIABETES, 2006).
O DM tipo I é o resultado de uma destruição das células β-pancreáticas com
conseqüente deficiência de insulina. Na maioria dos casos, esta destruição é
ocasionada por auto-imunidade, porém existem casos em que não apresenta estas
evidências, sendo caracterizada como forma idiopática do DM tipo I. O DM tipo I está
presente em cerca de 5 a 10% dos casos. O DM tipo II caracteriza-se por defeitos na
ação e na secreção da insulina. Em geral ambos os defeitos estão presentes quando
a hiperglicemia se manifesta, porém pode haver predomínio de um deles. O DM tipo
II está presente em cerca de 90 a 95% dos casos (DIRETRIZES BRASILEIRA DE
DIABETES, 2006).
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cinco milhões de
brasileiros têm diabetes. O país encontra-se em 6º lugar no mundo em casos dessa
doença. Esta situação é agravada devido às estatísticas mostrarem que 50% das
pessoas não sabem que têm diabetes e 23% conhece seu diagnóstico, mas não
fazem nenhum tipo de tratamento (OLIVEIRA & FILHO, 2004).
7
Pacientes diabéticos estão propensos a complicações a longo prazo, como a
retinopatia, catarata, aterosclerose, neuropatia, nefropatia e dificuldades na
cicatrização de feridas. Como conseqüência, a expectativa de vida dos diabéticos é
somente 2/3 da expectativa da população em geral (AHMED, 2004).
O DM é a maior causa de incapacidade e hospitalização resultando em alto
custo financeiro ($92 bilhões/ano nos EUA) (FOSTER, 1994). As opções para
diabéticos não insulino-dependentes, como modificação na dieta, hipoglicemiantes
orais e insulina tem suas limitações próprias. A princípio o tratamento pode ser
dietético, porém, os agentes hipoglicemiantes tornam-se comumente necessários, e
cerca de um terço dos pacientes acaba necessitando de insulina. No entanto, a
evolução não é retardada, nem evitada pelo tratamento (RANG, 2004).
As complicações do DM parecem afetar órgãos onde as células não
requerem insulina para a utilização da glicose, tais como, sistema nervoso, coração
e pequenos vasos sanguíneos. Como conseqüência, estas células têm alterações
nas concentrações de glicose intracelular durante hiperglicemia (AHMED, 2005).
O papel da hiperglicemia nas complicações tardias não está muito claro,
entretanto existem hipóteses sobre a participação da proteína glicada nestas
complicações. A formação da proteína glicada em condições de hiperglicemia se dá
pela reação de um grupo amino livre da proteína com o grupo carbonil de um
carboidrato, no caso a glicose. Reações oxidativas estão também envolvidas na
formação de produtos finais da glicação que é acelerado na presença de oxigênio e
reduzido em condições anaeróbicas. Substâncias antioxidantes protegem contra
radicais livres derivados da glicação e podem ter efeito terapêutico (AHMED, 2005).
No diabetes, caracterizado pela ausência ou resistência a insulina , a enzima
lípase sensível a hormônio é ativada promovendo a hidrólise dos triglicerídeos
8
armazenados, liberando grande quantidade de ácidos graxos e glicerol, elevando a
concentração plasmática de ácidos graxos livres. O excesso de ácidos graxos no
plasma promove a conversão hepática de diversos ácidos graxos em fosfolipídios e
colesterol, que juntamente com o excesso de triglicerídeos sintetizados no fígado,
são enviados ao sangue nas lipoproteínas (GUYTON, 2006).
1.1 Diabetes X Dislipidemias
Dislipidemias são alterações no metabolismo lipídico que promovem
alterações nos níveis das lipoproteínas, e assim podendo contribuir para o
desenvolvimento de doenças crônicas, sendo classificadas em primárias ou
secundárias. As primárias são associadas a fatores genéticos e as secundárias
podem ser devido a ações medicamentosas (diuréticos, os beta bloqueadores, os
anticoncepcionais, corticosteróides e anabolizantes) ou por conseqüência de alguma
doença, tais como hipotireoidismo, doenças renais parenquimatosas e diabetes
melittus (VIANA e cols. apud DAMASO, 2001).
Tanto o diabetes tipo I como o diabetes tipo II são associados com o risco de
doença cardiovascular, onde as principais causas de mortalidade estão relacionadas
com lesões ateroscleróticas de artérias de grande calibre como o infarto agudo do
miocárdio e o acidente vascular cerebral (BORTOLOTTO, 2007).
Lipoproteínas são complexos macromoleculares que transportam lipídios
plasmáticos hidrofóbicos no plasma, denominadas partículas esféricas, constituídas
por numerosas moléculas de proteínas e lipídios (HARRISON; BRAUNWALD, 2006;
9
RODRIGUES, 2007). As lipoproteínas são classificadas com base nas suas
densidades em cinco classes: quilomícrons, lipoproteínas de muito baixa densidade
(VLDL), lipoproteínas de densidade intermediária (IDL), lipoproteínas de baixa
densidade (LDL) e lipoproteína de alta densidade (HDL) (HARRISON;
BRAUNWALD, 2006).
No diabetes ocorre o aumento da glicação da lipoproteína de baixa
densidade (LDL). A glicação do LDL não é reconhecida pelo receptor de LDL, mas é
reconhecida pelos macrófagos que apresentam-se aumentados e podem ser
considerados ao menos em parte responsáveis pela hiperlipidemia e aceleração da
formação das células espumosas observadas em pacientes diabéticos. A glicação e
a formação dos produtos finais dessa glicação são acompanhados pelo aumento da
oxidação de LDL e de um aumento nesta oxidação LDL aterogênica ocorrendo no
diabetes. Ao contrário, a glicação da lipoproteína de alta densidade aumenta o
turnover e reduz a eficiência durante transporte reverso de colesterol. A glicação da
HDL reduz a atividade da paraoxonase, uma enzima importante associada a HDL,
importante para a prevenção da oxidação de LDL e adesão de monócitos nas
células endoteliais aórticas, ambos são chaves iniciais durante a formação de placas
ateroscleróticas (AHMED, 2004).
A aterosclerose pode ocorrer, portanto, com freqüência em pacientes
diabéticos de longa data, sendo caracterizada pela deposição de placas
ateroscleróticas nas paredes das artérias, obstruindo a passagem sangüínea e
podendo levar ao infarto miocárdio.
1.2 Plantas Medicinais
10
A utilização de plantas medicinais como fonte de alívio para doenças pode
ser percebida em documentos de civilizações primitivas na China, Índia e Europa.
Acredita-se, portanto, que as farmacopéias tradicionais foram elaboradas ao longo
de muitos séculos de experimentação onde o conhecimento empírico acumulado foi
preservado e é transmitido a gerações futuras (ELISABETSKY; SETZER, 1985).
Os primeiros europeus que chegaram ao Brasil encontraram inúmeras
plantas medicinais utilizadas pelos índios, repassadas e aprimoradas de geração a
geração pelos pajés das tribos indígenas. Os novos conhecimentos sobre a flora
local acabaram-se fundidos àqueles trazidos da Europa. Os escravos africanos
contribuíram para a formação da tradição no uso de plantas medicinais com o uso
de plantas trazidas da África (DI STASI, 1996; SIMÕES e cols., 2002).
Durante o período da industrialização e urbanização, o conhecimento
tradicional em nosso país foi deixado de lado, despertando novamente o interesse
pela fitoterapia com as recentes tendências globais preocupadas com a
biodiversidade e com o desenvolvimento sustentável (SIMÕES e cols., 2002).
A realização de vários estudos nos permite supor que grande parte das
formações culturais do planeta faz uso de plantas para fins terapêuticos. Em muitos
casos esse uso representa o único ou principal recurso medicinal de algumas
comunidades ou grupos étnicos. A prática da terapia com plantas medicinais é tão
antiga quanto é a existência da espécie humana (DI STASI, 1996; SIMÕES e cols.,
2002).
A investigação destes conhecimentos seculares do uso de plantas com
finalidades medicinais por determinados grupos étnicos com o propósito de oferecer
elementos práticos para outros investigadores favorecendo a descoberta de novos
11
medicamentos é, entre outros, um dos objetivos da etnobotânica (ALBUQUERQUE,
2002).
Os resultados de pesquisas com plantas medicinais podem ter
desdobramentos em vários níveis. No nível individual, a descoberta de drogas
protótipo pode determinar a melhoria da qualidade de vida em doenças crônicas ou
a própria sobrevivência do paciente afetado. No nível social, a descoberta de fontes
naturais e locais de compostos químicos importados e/ou o desenvolvimento de
fitoterápicos de fabricação nacional pode ter efeitos econômicos significativos, além
de possibilitar a autonomia de cada país no gerenciamento de suas políticas de
saúde. Por parte do setor empresarial, a indústria farmacêutica movimenta
importantes volumes de capital e a procura de drogas protótipo envolve milhões de
dólares. No nível ecológico, esse crescimento do interesse medicinal aumenta a
importância da conservação da biodiversidade e diversidade cultural do
ecossistema, salvaguardando e perpetuando nossa interdependência de plantas
como fonte de medicamentos de origem vegetal (ELISABETSKY; COSTA-CAMPOS,
1996).
A Organização Mundial da Saúde estima que 65-80% da população mundial
utiliza de algum modo plantas para suprir as necessidades de assistência médica
primária. Já que não há hospitais adequados e médicos treinados, a destruição da
floresta acarreta a extinção da fonte primária de saúde destas populações (BALICK,
1990; CALIXTO, 2000).
Segundo indicam os estudos do NIH (National Institute of Health), nos
Estados Unidos, pelo menos um terço dos pacientes tratados com a medicina
convencional também utiliza fitoterápicos (FETRON & ÁVILA, 1999).
12
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o uso de plantas
medicinais é uma importante alternativa para tratamento de doenças, principalmente
nos países em desenvolvimento, atendendo os cuidados primários com a saúde.
Além do incentivo quanto ao uso da fitoterapia no sistema nacional de saúde,
também orientam sobre a necessidade de investigações sobre sua segurança,
eficácia, qualidade e acesso e uso racional da medicina tradicional complementada
com a medicina alternativa (OMS, 2002).
No Brasil, o Ministério da Saúde (MS) em 2001 divulgou uma proposta de
política nacional de plantas medicinais e fitoterápicos, tendo como objetivos
estabelecer a relação nacional de medicamentos fitoterápicos para Atenção Básica;
incentivar a pesquisa e o desenvolvimento de plantas medicinais e medicamentos
fitoterápicos; resgatar, valorizar, embasar cientificamente e validar o conhecimento,
a produção e o uso popular de plantas medicinais.
O objetivo desta política é garantir a população brasileira o acesso seguro e
uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos, promovendo o uso sustentável da
biodiversidade, o desenvolvimento da cadeia produtiva e da indústria nacional
(Ministério da Saúde, 2001).
A etnofarmacologia vem de encontro com esses objetivos, uma vez que tem
como finalidade básica, em estudos fitoquímicos e farmacológicos, conciliar as
informações adquiridas junto às comunidades locais que fazem uso da flora
medicinal, com o intuito de fornecer dados para produção de medicamentos
economicamente acessíveis à população mundial, especialmente à de países em
desenvolvimento (SIMÕES e cols., 2002).
13
O método etnofarmacológico permite a formulação de hipóteses quanto às
atividades farmacológicas e as substâncias ativas responsáveis pelas ações
terapêuticas relatadas pelas populações usuárias (ELIZABETSKY; SETZER, 1985).
É fundamental que se desenvolva estudos etnofarmacológicos no Brasil,
pois somente cerca de 8% da flora considerada a mais rica do mundo foram
analisadas. Também é necessário que se busque nestas plantas uma opção de
desenvolvimentos de novos medicamentos, objetivando obter fármacos mais
eficazes e específicos (LORENZI; MATOS, 2002).
No Brasil, a população utiliza freqüentemente as plantas medicinais para o
tratamento de diversas moléstias, através do conhecimento popular passado de
geração a geração.
É difícil selecionar espécies vegetais a investigar quanto ao potencial
farmacológico, levando-se em conta a imensa quantidade de espécies a explorar.
Os relatos da medicina popular costumam serem vistos como eficazes na
identificação de espécies vegetais potencialmente terapêuticas e, orientadores das
pesquisas com plantas medicinais (AURICCHIO, 2003).
1.3 Plantas hipoglicêmicas
Várias plantas e compostos derivados de plantas têm sido utilizados há
muito tempo no tratamento do diabetes, basicamente para controlar a glicemia dos
pacientes. As plantas têm sido as origens para o desenvolvimento de medicamentos
e muitos fármacos disponíveis são derivados direta ou indiretamente destas fontes.
14
As informações etnobotânicas relatam que aproximadamente 800 plantas possuem
potencial anti-diabético (ALARCON-AGUILARA, 1998).
Um grande número de princípios ativos derivados destas plantas tem
demonstrado importante atividade e possibilidade de uso no tratamento do DM tipo II
(IVORRA e cols., 1998). Muitos destes compostos são alcalóides, glicosídeos,
polissacarídeos, esteróides, carboidratos, glicopeptídeos, terpenóides, aminoácidos
e íons inorgânicos (GROVER, 2002).
O uso de ervas no controle do diabetes na Índia apresenta grande
prevalência e muitas destas plantas têm sido investigadas quanto aos seus
benefícios nos diferentes tipos de diabetes. Os resultados desses estudos têm sido
descritos em numerosas revistas científicas, destacando algumas espécies como:
Acacia arabica (Lam) (Mimosaceae), Aegle marmelos L. (Rutaceae), Aloe vera L.
(Aloaceae), Eugenia jambolana L. (Myrtaceae), Eugenia uniflora L. (Myrtaceae) e
muitas outras (MUKHERJEE, 2006).
1.4 Eugenia uniflora L.
A Eugenia uniflora L. pertencente à família Myrtaceae possui algumas
sinonímias, entre elas: Eugenia micheli, Stenocalyx brunneus, Stenocalyx glaber,
Myrtus brasiliana, Plinia rubrea e Plinia pedunculata. Conhecida popularmente como
pitangueira ou pitangueira-vermelha é uma árvore originária do Brasil e distribuída
em toda América do Sul (LORENZI; MATOS, 2002).
15
É um vegetal encontrado em Goiás, Bahia, Mato Grosso do Sul, Mato
Grosso, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, sendo
seletiva higrófita, ocorrendo com freqüência em solos úmidos próximos a rios. É
principalmente de fácil adaptação ao clima do sul do Brasil, sendo também
abundante nas matas litorâneas (AURICCHIO, 2003).
A composição fitoquímica das folhas da E. uniflora incluem a presença de
compostos fenólicos, flavonóides, leucoanticianidinas, esteróides e/ou triterpenóides
(BANDONI, 1972; CONSOLINI, 1999; CONSOLINI, 2002; AURICCHIO, 2003).
Schmada-Hirschmann e cols. (1995 apud AURICCHIO; BACCHI, 2003) verificaram a
presença dos flavonóides quercetina e miricetina em folhas de E. uniflora coletadas
no leste do Paraguai. No trabalho publicado por Lee et al. (1997 apud AURICCHIO;
BACCHI, 2003) sobre a investigação dos constituintes fenólicos de folhas de folhas
de E. uniflora, relataram também a presença de eugenioflorina D1 e eugenioflorina
D2, dois taninos macrocíclicos hidrolisáveis, obtidos do extrato metanólico das
folhas.
Os flavonóides são compostos que contêm grupos hidroxila fenólicos que
lhes conferem uma ação antioxidante com potencial terapêutico. O efeito
farmacológico dos flavonóides se deve à sua ação na inibição de certas enzimas e
sua capacidade antioxidante. A quercetina é um destacado integrante do grupo de
flavonóides e por sua ação antioxidante, o seu desempenho terapêutico tem sido
mencionado por vários autores no combate de estresse oxidativo. A quercetina
depura ânions superóxidos e radicais hidroxilas (SOARES, 2002; MILTERSTEINER
e cols., 2003;).
16
1.5 E. uniflora X Uso Tradicional
A E. uniflora foi introduzida na medicina popular pelos Guaranis no século
XV. Na América do Sul, as folhas desta planta têm sido utilizadas para o tratamento
da hipercolesterolemia, gota, hipertensão, antidiarréico, reumatismo, tosse, febre,
doenças hepáticas, amigdalite, dores de garganta e hemorróidas (SCHMEDA-
HIRSCHMANN, 1987; SCHMEDA-HIRSCHMANN, 1998). No Paraguai, as folhas
dessa espécie têm sido utilizadas para obesidade e diabetes (ARAI e cols., 1999).
Em regiões adjacentes do Paraguai as folhas parecem apresentar propriedades
diurética e anti-inflamatória (SCHMEDA- HIRSCHMANN, 1987).
Em um estudo realizado no estado do Rio Grande do Sul, no município de
São José do Polêsine, foi aplicado um modelo de questionário em 85 famílias, com o
objetivo de catalogar as espécies vegetais utilizadas para as doenças de maior
incidência na região e para obtenção de informações etnofarmacológicas. Foram
identificadas 136 espécies sendo a E. uniflora uma das sete espécies citadas da
família das Myrtaceae. Os métodos mais empregados pela população estudada que
utilizam as folhas de pitangueira foi na forma de decocto e infusão e empregadas
para cólica menstrual, diarréia, hipertensão e hipotensão (DORIGONI e cols., 2001).
Garlet e Irgang (2001) realizaram um levantamento de plantas medicinais
utilizadas por mulheres agricultoras de Cruz Alta, Rio Grande do Sul, com o intuito
de resgatar e preservar o conhecimento popular. Foram citadas 189 espécies,
dentre elas as folhas de E. uniflora que eram utilizadas para aliviar as cólicas
menstruais, estomacais, para a diarréia, a hipercolesterolemia, o diabetes e como
17
fortificante. A forma de preparo relatada por essa população foi através de chá das
folhas da planta.
Na cidade de Porto Alegre, no bairro de Ponta Grossa, foram entrevistadas
51 pessoas para verificar a importância das espécies e uso tradicional para esta
população. As folhas de E. uniflora foram as mais citadas com 76% de concordância
e a sua utilização principal relatada foi para tratar “diarréia, disenteria e desarranjo”
(VENDRUSCOLO; MENTZ, 2006).
O uso da infusão das folhas de E. uniflora no tratamento de diversas
patologias é aplicado na medicina popular, em especial como tratamento do
diabetes mellitus coadjuvante ao tratamento médico convencional, ainda que em sua
grande maioria, os pacientes deixam de revelar isso aos médicos.
E. uniflora X Ação Biológica
Schmeda–Hirschmann e cols. (1987) utilizaram diversas frações do extrato
hidroalcoólico das folhas de E. uniflora para verificar a atividade da enzima xantina-
oxidase, responsável em catalisar a oxidação da hipoxantina e xantina em ácido
úrico. Concluíram que ocorre a atividade inibitória desta enzima e em grande parte
deve-se aos flavonóides quercetina e miricetina.
Em outro estudo, o extrato aquoso bruto de folhas de E.uniflora foi
administrado em ratos com o intuito de verificar a ação hipotensora, vasodilatadora e
diurética e para estabelecer a dose terapêutica. Os resultados mostraram uma
18
notável atividade hipotensora após administrar, via intraperitoneal, doses de 1,0
mg/kg de extrato de 30 em 30 minutos por até 4-7 horas em ratos anestesiados com
1,5g de uretano/kg. Para determinar a origem da atividade hipotensora, um grupo de
animais foi tratado com fenilefrina e outro com fenilefrina mais extrato na dose de 8
mg/kg. A pressão arterial de ratos tratados com o extrato de E. uniflora diminuiu em
relação àqueles tratados apenas com fenilefrina. No primeiro grupo o valor de
pressão máxima foi de 120mmHg + 9, já no segundo grupo o valor de pressão
mínima foi de 52 mmHg + 9, considerando que o extrato de folhas de E.uniflora
apresenta atividade hipotensora, porém não competitiva com a fenilefrina, sendo
este um agonista alfa-1. A ação diurética do extrato foi verificada após administração
das doses de 15, 60 ou 120 mg/kg de extrato, solução salina ou amilorida. O extrato
apresentou atividade diurética na dose de 120 mg/kg, considerado quase tão
potente quanto amilorida, que diminui reabsorção de sódio e retém potássio. No
entanto, extrato induziu uma diminuição na excreção de sódio (CONSOLINI, 1999).
Almeida e cols. (1995) utilizaram o extrato aquoso bruto de diversas plantas
entre elas E.uniflora e verificaram a redução de propulsão gastrintestinal quando
relacionado com o grupo controle, indicando que o extrato apresenta ação
antidiarréico, que necessitam de confirmação através de estudos com animais
infectados com agentes enteropatogênicos.
Holetz e cols. (2002) avaliaram a ação antimicrobiana de 13 plantas do
Brasil usualmente empregadas pela população com esta finalidade. Foi testado o
extrato bruto hidroalcoólico em bactérias gram-negativas e gram-positivas. O extrato
bruto de E. uniflora apresentou atividade antimicrobiana moderada para os
microrganismos Staphylococcus aureus com concentração inibitória mínima de 250
µg/mL e Escherichia coli com concentração inibitória mínima 500 µg/mL. Quanto a
19
ação antifúngica, o extrato apresentou boa atividade para Cândida krusei e Cândida
tropicalis, ambos com concentração inibitória mínima de 31,2 µg/mL e atividade
moderada para Cândida parapsilosis (125 µg/mL). Auricchio e cols. (2007),
demonstraram que o extrato de E. uniflora apresenta atividade antimicrobiana mais
expressiva frente à Staphylococcus aureus, Salmonela cholerasuis e Pseudomonas
aeruginosa.
O extrato etanólico de seis plantas foi avaliado por Velásquez e cols. (2003)
para verificar propriedades antioxidantes. O extrato de E. uniflora protegeu contra
peroxidação lipídica enzimática e não enzimática de membranas microssomal de
ratos e atuou como “scavenger” de radicais livres superóxidos e radical 1,1-difenil-2-
picril hidrazina (DPPH).
Os estudos sobre os efeitos do extrato hidroalcoólico dias folhas de E.
uniflora relatam melhora sobre a hiperglicemia e hipertrigliceridemia pós-prandial,
sugerindo mecanismos de inibição da decomposição de açúcares e gorduras, e
absorção de glicose (ARAI e cols., 1999). Os pesquisadores atribuíram ao extrato
obtido por infusão de folhas de E. uniflora, uma atividade inibitória sobre as enzimas
α-glicosidase, maltase e sucrase em camundongos, sugerindo, portanto, ser útil no
tratamento de diabetes.
Entretanto, são necessários mais estudos sobre a propriedade
hipoglicemiante em animais diabéticos avaliando também as alterações lipidêmicas
decorrentes das alterações metabólicas dessa patologia. A realização deste estudo
justifica-se para um melhor esclarecimento quanto à eficácia do extrato
hidroalcoólico de folhas de E. uniflora no tratamento hipoglicêmico.
20
2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL:
Investigar o efeito do extrato hidroalcoólico das folhas de Eugenia uniflora L.
sobre as alterações glicêmicas e lipidêmicas em ratos.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
- Avaliar a atividade hipoglicemiante do extrato hidroalcoólico de E. uniflora
em ratos normais, hiperglicêmicos e diabéticos induzidos por aloxana.
- Verificar ação hipolipidêmica do extrato hidroalcoólico de E. uniflora em
ratos diabéticos induzidos por aloxana.
21
3 ARTIGO CIENTIFICO
Angela M. Bongiolo, Larissa L. Pavei, Juana V. Reus, Tatiana Schoenfelder, Luciane
Costa-Campos. Evaluation of the hydroalcoholic extract of Eugenia uniflora L.
(Myrtaceae) in animal model of diabetes.
Submetido a Journal of Ethnopharmacology
22
Evaluation of the hydroalcoholic extract of Eugenia uniflora L. (Myrtaceae) in animal model of diabetes.
Ângela Martinha Bongioloa,b, Larissa Lodetti Paveib, Juana Villatore Réusb, Tatiana
Schoenfelderb,c, Luciane Costa-Camposa,c,d*
a Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, Universidade do Extremo Sul
Catarinense, Criciúma – SC, Brazil
b Curso de Nutrição, Universidade do Extremo Sul Catarinense, Universidade do
Extremo Sul Catarinense, Criciúma – SC, Brazil
c Laboratório de Etnofarmacologia, Universidade do Extremo Sul Catarinense,
Criciúma – SC, Brazil
d Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais, Universidade do Extremo
Sul Catarinense, Av. Universitária nο1105, CEP: 88806-000, Criciúma – SC, Brazil
_____________________________________________________________________
* Correspondence address:
Luciane Costa Campos, Programa de Pós Graduação em Ciências Ambientais,
Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC
Av. Universitária nο1105, CEP: 88806-000, Criciúma – SC, Brazil
e-mail: [email protected]
Phone: (+55) 48 3431-2643 FAX: (+55) 48 3431-2644.
23
Abstract:
Eugenia uniflora L. (Myrtaceae), “pitangueira”, is widely dispersed in southern Brazil
because of its medicinal properties. The infusion of the E. uniflora leaves is used for
various pathologies, especially on the diabetes mellitus treatment as a supporter for
the conventional medical treatment. This study aimed to check the hyperglycemic
and hyperlipidemia action of the E. uniflora hydroalcoholic extract (EHE) in diabetic
rats induced with alloxan. The animals were divided in three groups for the
hypoglycemic effect evaluation: normal rats, alloxan diabetic rats, and hyperglycemic
rats. Glucose serum was analyzed after the treatment of the animals. Triglyceride
and cholesterol levels were determined on the diabetic animals induced with alloxan.
The EHE did not show hypoglycemic activity on the normal nor the hyperglycemic
animals. However, the EHE was effective lowering the blood triglyceride in
concentrations of 500 mg/kg on times 1, 2, 3 and 4 hours after the extract
administration and in concentration of 1,000 mg/kg on times 1, 2, 3 and 4 hours. Our
results suggest that E. uniflora could be a potential candidate as a hypolipidemic
agent.
Keywords: Eugenia uniflora, hypolipidemic, alloxan, diabetes mellitus, medicinal
plants, dyslipidemia.
24
1. Introduction
The Diabetes Mellitus (DM) is the greatest cause of disability and hospitalization
resulting in a high financial cost, about $92 billions/year in the USA (Foster, 1994,
Vats et al., 2002). The DM is an endocrine disorder characterized by the
hyperglycemia due to the total or partial lack of insulin or insulin-resistant. Diabetic
patients are inclined to long term complications such as retinopathy, cataract,
atherosclerosis, neuropathy and difficulties with healing their wounds. The DM
complications seem to affect the organs where the cells do not require insulin for the
use of glucose, such as the nervous system, the heart, and small blood vessels. As a
consequence, these cells have high concentrations of intracellular glucose during the
hyperglycemia (Ahmed, 2005).
Together with the hyperglycemia and the abnormalities on the blood lipid levels,
the diabetes results in microvascular and macrovascular complications, being the
greatest cause of morbidity and mortality in diabetic patients (Huse et al., 1989). The
diabetes is associated with alterations on the profile of plasmatic lipids and
lipoproteins and with the increase of atherosclerosis risk, coronary insufficiency and
stroke of the myocardium (Ravi et al., 2005).
The potential role of medicinal plants as hypoglycemic agents has been reviewed
by several authors, and is supported by ethnobotanical surveys and the use of
traditional medicines in numerous cultures (Ivorra et al., 1988; Jouad et al., 2001;
Grover et al., 2002; Yeh et al., 2003; Biesalski, 2004; Li et al., 2004, Afifi et al., 2005).
Eugenia uniflora L. (Myrtaceae), “pitangueira”, is widely spread in South America,
South Asia and Africa. In South America, this plant leaves have been used on the
25
treatment of hypercholesterolemia, gout, hypertension, anti-diarrhea, arthritis, cough,
fever, hepatic diseases, tonsillitis, sore throats and hemorrhoids (Schmeda-
Hirschmann et al., 1987, Schmeda-Hirschmann, 1988).
In Paraguay the leaves of this species have been used for obesity and diabetes
(Ferro et al., 1988). However their pharmacological mechanisms and effects in
hypoglycemia are not totally clear (Grover et al., 2002; Arai et al., 1999). In southern
Brazil the E. uniflora leaf infusion is used to treat various pathologies in popular
medicine, especially as a treatment for diabetes mellitus, as a co-adjuvant to the
conventional medical treatment.
There are few studies about the effects of E. uniflora on diabetes and its
complications. Studies concerning the effects of the hydroalcoholic extract of E.
uniflora leaves report a decrease of the hyperglycemia and postprandial
hypertriglyceridemia, suggesting inhibition mechanisms on the breaking up of sugars
and fats, and absorption of glucose (Arai et al., 1999). The authors also attributed to
the infusion of E. uniflora leaves an inhibitory activity on α-glycosidase enzymes,
maltose and sucrose in mice, suggesting, therefore, to be useful on the treatment of
diabetes. However, more studies are needed on the hypoglycemic properties of E.
uniflora on diabetic animals, also evaluating the lipidemic alterations deriving from
the metabolic modifications typical of this pathology. The present work evaluates the
effects of the hydroalcoholic extract of the leaves of E. uniflora on the hyperglycemia
and hyperlipidemia in alloxan-induced diabetic rats.
2. Materials and Methods
2.1 Plant material and preparation of the hydroalcoholic extract (EHE)
26
The leaves of E. uniflora were collected in Nova Veneza (Santa Catarina, Brazil).
They were taxonomically authenticated by Dr. Vanilde Citadini-Zanete and a voucher
specimen of the plant (CRI7374) was deposited in the herbarium Pe. Dr. Raulino
Reitz at Universidade do Extremo Sul Catarinense (Criciúma, Brazil).
For the preparation of the EHE, leaves of E. uniflora (300 g) were macerated in
ethanol 70% (3 L) at room temperature for 10 days. The final solution was filtrated
and dried at 42° C by rotary evaporator (Fisaton 80 2D; 117 RPM). The concentrated
extract (EHE) was stored at 4°C in refrigerator.
2.2 Animals
Male albino Wistar rats (body weight 200 – 250g) were used in the experiment.
These rats were housed in an air-conditioned room (21°C) with controlled lighting
(lights on from 07:00am to 07:00pm). The animals were maintained with pelleted
food (Supra Lab, Alisul – Braço do Norte - SC), while tap water was available ad
libitum. Before experimentation the animals were fasted for 12-14 hours but had free
access to water. Rats were monitored and maintained in accordance with the ethical
recommendations of the Brazilian Veterinary-Medicine Council (CMV) and the
Brazilian College of Animal Experimentation (COBEA). All procedures were carried
out according to institutional policies on the handling of experimental animals
(CEP515/2007).
2.3 Study of EHE in normal rats
Overnight fasted animals were randomly divided into three groups of six rats:
group I received the vehicle only (v.o. control); group II received EHE (125,250, 500,
1000 mg/kg, v.o.); group III received glibenclamide (200 mg/kg, v.o.)
27
Blood samples were collected from the retro-orbital plexus before the
administration of the extract and 1, 2 and 3 hours subsequently. Blood glucose levels
were then measured.
2.4 Oral glucose tolerance test
The oral glucose tolerance test (OGTT) was performed on normal rats. Fasted
rats were divided into three groups of six animals: group I received glucose (4 g/kg,
v.o.); group II received glucose (4 g/kg, v.o.) plus EHE (125, 250, 500, 1000 mg/kg,
v.o.); group III received glucose (4 g/kg, v.o.) plus glibenclamide (200 mg/kg, v.o.).
Blood samples were collected from the retro-orbital plexus before and at 0.5, 1,
1.5 and 3 hours after the glucose loading, and blood glucose levels were then
measured.
2.5 Study of EHE in diabetic rats
Diabetes was induced by a single intraperitoneal (IP) injection of 200 mg/kg of
alloxan monohydrate (dissolved in water just before use) (Schoenfelder et al., 2006).
Animals whose development of hyperglycemia was confirmed (around 90%) 72 h
after the alloxan injection, with serum glucose levels > 300 mg/dL were considered
diabetic. These were used for the study and randomly allocated into groups of six
rats: group IV was considered control and received the vehicle only (v.o.); group V
received EHE (125, 250, 500 and 1000 mg/kg, v.o.); group VI received glibenclamide
(200 mg/kg, v.o.).
Blood samples were collected from the retro-orbital plexus before the
administration of EHE and 1, 2, 3 and 4 hours after the treatment and blood glucose,
cholesterol and triglycerides levels were then measured.
28
2.6 Biochemical estimates
Fasting blood glucose, cholesterol and triglyceride (TG) levels were measured
using standard methods (Trinder, 1969; Allain et al., 1974; Bucolo and David, 1973).
2.7 Statistical analysis
The data are expressed as mean ± SEM. One-way analysis of variance (ANOVA)
followed by Bonferroni’s post-test was used to identify significant differences between
the groups. Differences were considered to be significant when P ≤ 0.05.
3. Results
3.1 Effect of EHE on normal rats
The effects of the treatment with E. uniflora extract and glibenclamide on the
blood glucose concentration in normal fasted rats are shown in Table 1. None of the
tested doses presented any significant lowering of blood glucose when compared to
the “zero time” of each respective dose. Glibenclamide exhibited a reduction in the
glucose concentration of 30% (P<0.01) after 1 h.
3.2 Effect of EHE on the oral glucose tolerance test
Within 0.5 h of starting the glucose tolerance test, blood glucose concentration
almost doubled from its initial control level. This hyperglycemia was maintained until
1 h, before beginning to decrease (Table 2).
None of the tested doses of E. uniflora prevented the increase in blood glucose
levels after glucose administration when compared to the “zero time” of each
29
respective dose. Glibenclamide did not exhibit a significant reduction in blood
glucose levels (Table 2).
3.3 Effect of EHE on blood glucose, triglyceride and cholesterol levels in alloxan-
induced diabetic rats
The administration of alloxan (200 mg/kg) significantly decreased (19%, P<0.05)
the body weight of the rats while it significantly increased (63%, P<0.001) the blood
glucose concentrations when compared to those of the normal animals (Table 3).
The administration of alloxan (200 mg/kg) significantly decreased (13%, P<0.05)
the body weight of the rats while increasing the blood glucose (115%, P<0.001),
cholesterol (34%, P<0.001) and triglyceride (52%, P<0.001) concentrations when
compared to those of the normal animals (data not shown).
The acute treatment with different concentrations of E. uniflora extract in alloxan-
induced diabetic rats did not show significant decrease on the blood glucose and
cholesterol levels (Table 4). The glibenclamide-treated animals showed a significant
reduction in blood glucose levels at 1 h (34%; P<0.01), 2 h (40%; P<0.001) and 4h
(45%; P<0.001) (Table 4).
The treatment with EHE (500 mg/kg) significantly decreased triglyceride levels at
all times tested: 1 h (21.5%, P<0.01), 2 h (41.6%, P<0.001), 3 h (55.6%, P<0.001)
and 4 h (49.8%, P<0.001). The treatment with EHE (1000 mg/kg) also significantly
decreased triglyceride levels at all times tested: 1h (56.4%, P<0.001), 2h (46.1%,
P<0.001), 3h (56.9%, P<0.001) and 4h (70.75%, P<0.001) (Table 4).
4. Discussion and Conclusion
30
The treatment with the crude extract of E. uniflora did not alter, in any doses, the
blood glucose levels on the different groups analyzed. However, the EHE was
effective on significantly decreasing the blood triglycerides levels on the diabetic
animals. The elevated lipid levels derive from the metabolic changes induced by the
diabetes on the animals. However the EHE did not decrease the blood cholesterol
levels.
The greatest decrease of the triglycerides levels with the doses of 500 mg/kg and
1000 mg/kg of EHE were observed respectively three hours (55.6%) and four hours
(70.75%) after the treatment.
The results obtained in our experimental model of diabetes confirm the results
described by Arai et al. (1999). In their studies the authors administrated different
doses of fractions of the E. uniflora hydroalcoholic extract in mice followed by oral
administration of corn oil (5 mL/kg). The aqueous fraction and the precipitate showed
significant effect, inhibiting the increase of plasmatic triglyceride concentration.
Arai et al. (1999) suggest that the effect of EHE over the pancreatic lipase in an
in vitro experimental model can be related to the inhibition of this enzyme, being it
responsible for the lipid breaking up in the intestines. In their study, the enzyme
activity was inhibited by the action of different fractions and doses of the E. uniflora
extract, suggesting its action occurs by inhibiting the breaking up of sugars and fat in
the intestines.
In another study by Ferro et al. (1988) the results achieved suggest the E.
uniflora extract can promote a protective effect on the triglyceride levels and Very
Low Density Lipoprotein (VLDL) in Cebus apella male monkeys.
31
In summary, the E. uniflora extract showed hypolipidemic activity in diabetic
animals. This has clinical implications, since if used as a hypoglycemic agent, it may
reverse the dyslipidemia associated with diabetes and may prevent the
cardiovascular complications which are very prevalent in diabetic patients. The
present work is the third investigating the effects of E. uniflora on diabetes and our
results suggest that this plant may be a potential hypolipidemic agent on the
treatment of dyslipidemia in humans, being necessary more investigations.
Table 1. Acute effect of EHE in normoglycemic rats and in alloxan-diabetic rats
Blood glucose level (mg/ dl) Time (h) Group I (control) Group II E. uniflora - treated
Group III Glibenclamide
125 mg/kg 250 mg/kg 500 mg/kg 1.000 mg/kg 200 mg/kg 0 160.12 ± 3.69 108.24 ± 2.14 110.13 ± 3.27 99.92 ± 5 .11 111.30 ± 3.61 122.75 ± 3.54 1 115.28 ± 3.15 *** 122.63 ± 3.88 134.64 ± 7.45 114.99 ± 6.58 156.14 ± 6.37 ** 86.40 ± 4.60 ** 2 159.87 ± 3.84 108.98 ± 3.92 119.28 ± 3.80 116.16 ± 3.88 133.38 ± 7.37 98.57 ± 9.88 3 189.12 ± 5.56 *** 112.26 ± 6.56 100.66 ± 9.69 140.47 ± 8.78 * 163.63 ± 9.25 *** 126.73 ± 7.64 4 195.15 ± 2.35 *** 109.70 ± 5.35 101.03 ± 8.30 134.70 ± 12.24 * 165.01 ± 6.16 *** 100.37 ± 5.27
Values are expressed as mean ± SEM; n=6 in duplicates for each group.
(*), (**); (***) Statistically significant difference to the corresponding zero time value, P≤0.05, P≤0.01
and P≤ 0.001, respectively.
32
Table 2. Effect of EHE on oral glucose tolerance
Time (min)
Blood glucose level (mg/ dl)
Group I (control) Group II glucose plus E. uniflora
Group VI glucose plus Glibenclamide
Glucose 125 mg/kg 250 mg/kg 500 mg/kg 1.000 mg/kg 200 mg/kg
0 72.02±6.76 119.65± 6.01 119.57±6.26 135.12±6.31 125.00±8.70 117.84±4.16 30 152.62±3.97 *** 1145.14± 8.31 136.32±10.75 213.42±6.59 *** 215.55±6. 01 *** 173.00±8.55 ** 60 165.57±5.94 *** 1179.47± 7.67 *** 182.92±10.28 *** 217.37±10.53 *** 215.07±13.06 *** 132.05±6.94 90 176.50±13.00 *** 1176.16± 5.48 *** 195.45±4.79 *** 211.61±8.74 *** 242.08±15.66 *** 140.23±11.50 180 113.87±7.41 * 157.30± 4.01 ** 164.78±6.96 ** 178.74±5.79 * 176.79±5.38 * 125.47±8.76
Values are expressed as mean ± SEM; n=6 in duplicates for each group.
(*); (**); (***) Statistically significant difference to the corresponding zero time value, P≤0.05, P≤ 0,01
and P≤ 0.001 respectively.
Table 3. Effect of alloxan over the body weight and blood glucose level, at the third day, after induce diabetes
Group Tratament Body weight (g) Blood glucose(mg/dL)
I Normal 239.77± 3.60 162.45 ± 3.01
II Alloxan 194.45± 6.51 434.75 ± 48.02
Values are expressed as mean ± SEM; n=10 in duplicates for each group.
(*); (****) Statistically significant difference to the corresponding zero time value, P≤0.05, P≤ 0,0001
respectively.
33
Table 4. Acute effect of EHE in alloxan-diabetic rats
Time (h) Blood glucose level (mg/ dl)
Group IV (control)
Group V E. uniflora - t reated Glibenclamide
125 mg/kg 250 mg/kg 500 mg/kg 1.000 mg/kg 200 mg/k g
0 345.23 ± 3.93 323.54 ± 5.26 329.71 ± 4.92 417.37 ± 4.58 411.23 ± 20.53 345.82 ± 16.13 1 349.82 ± 1.76 331.77 ± 5.64 343.26 ± 10.91 428.48 ± 6.56 443.22 ± 10.14 228.90 ± 11.34 ** 2 362.07 ± 6.54 335.20 ± 4.75 340.13 ± 13.23 429.28 ± 7.55 433.19 ± 10.61 205.53 ± 16.76 *** 3 344.85 ± 15.75 341.17 ± 6.12 341.84 ± 10.46 426.10 ± 4.29 441.95 ± 3.77 270.64 ± 8.88 4 355.38 ± 4.46 342.68 ± 8.85 351.42 ± 9.84 440.85 ± 6.50 431.71 ± 10.95 189.27 ± 32.62 ***
Time (h) Blood cholesterol level (mg/ dl)
0 86.84 ± 5.07 51.10 ± 5.41 80.85 ± 7.21 99.78 ± 8. 48 77.64 ± 8.62 76.36 ± 5.89 1 56.77 ± 2.46 ** 53.04 ± 6.04 78.36 ± 5.24 117.80 ± 5.53 63.70 ± 4.52 73.21 ± 2.32 2 83.94 ± 7.96 49.01 ± 4.70 82.16 ± 8.77 97.65 ± 8. 87 56.24 ± 7.14 73.48 ± 3.96 3 53.29 ± 2.75 ** 49.87 ± 4.37 90.96 ± 8.67 85.40 ± 7.57 54.68 ± 3.85 95.90 ± 5.44 * 4 44.12 ± 7.34 *** 47.13 ± 6.45 89.57 ± 7.32 77.00 ± 8.00 51.52 ± 7.86 80.58 ± 3.61
Time (h) Blood trigliceride level (mg/dl)
0 549.56±19.16 261.63 ± 35.95 872.38 ± 50.63 1.494.15 ± 34.96 496.48 ± 10.20 305.83 ± 30.03 1 429.41±20.31 ** 196.40 ± 39.81 853.25 ± 41.58 1.172.19±70.08 ** 216.31 ± 4.60 *** 363.75 ± 17.26 2 536.67±31.76 147.46 ± 35.81 732.70 ±103.60 872.19 ±57.88 *** 267.34 ±23.88 *** 399.66 ± 17.42 * 3 537.87±4.68 294.14 ± 29.63 839.68 ± 31.37 663.25 ±60.20 *** 213.96 ±10.11 *** 358.81 ± 7.91 4 664.34±14.18 ** 254.52 ± 22.00 843.97 ± 29.94 748.62 ±29.78 *** 145.22 ± 4.97 *** 325.59 ± 9.43
Values are expressed as mean ± SEM; n=6 in duplicates for each group.
(*); (**); (***) Statistically significant difference to the corresponding zero time value,
P≤0.05, P≤ 0,01 and P≤ 0.001 respectively.
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37
4 Discussão
No presente estudo, a atividade hipoglicêmica do extrato bruto hidroalcoólico
de folhas de E. uniflora (EHE) foi avaliada em três grupos de ratos experimentais:
ratos normais; hiperglicêmicos e diabéticos induzidos por aloxana.
Os resultados obtidos nesse experimento mostraram que o tratamento com
diferentes doses do extrato da planta em estudo não foi capaz de reduzir os níveis
glicêmicos, sendo verificado esse mesmo resultado em todos os grupos
experimentais. Entretanto, no grupo de animais diabéticos induzidos por aloxana (2,
4, 5, 6-tetraoxypyrimidine; 5,6-dioxyuracil), o extrato induziu uma redução
significativa nos níveis de triglicerídeos. As reduções nos níveis de triglicerídeos
plasmáticos foram significativas nas doses de 500 mg/kg e 1.000 mg/kg de EHE nos
tempos 1, 2, 3 e 4 horas após a administração do extrato. Contudo, nos animais
tratados com o extrato não foi observado decréscimo em relação aos níveis de
colesterol.
Os tratamentos convencionais utilizados em pacientes diabéticos incluem a
administração de insulina e/ou vários agentes antidiabéticos de uso oral. Os
antidiabéticos orais disponíveis são as sulfunoréias, biguanidas, inibidores
glucosidase e glinidas que podem ser utilizados como terapia única ou em
combinação com a insulina para melhor regulação da glicemia.
Neste estudo, foi utilizada a glibenclamida como grupo controle positivo, no
qual verificou-se significativa redução nos níveis séricos de glicose dos animais
diabéticos (1 h (34%; P<0.01), 2 h (40%; P<0.001) e 4h (45%; P<0.001). Nos
animais normais uma redução de 30% ocorreu 1 hora após a administração de
38
glibenclamida e no teste de tolerância à glicose não houve redução na glicose
sérica.
O hipoglicemiante oral, glibenclamida, também conhecido como glibura na
América do Norte, atua estimulando a liberação de insulina endógena. Por essa
razão não possui ação em pacientes que não apresentam função residual de células
β-pancreáticas (MARTINS e cols., 2007).
A partir dos resultados obtidos nesse estudo, sugere-se que na indução do
diabetes por aloxana não ocorreu destruição total das células β–pancreáticas, uma
vez que a glibenclamida provocou reduções significativas na glicemia nos grupos de
animais diabéticos alloxanizados.
A ação diabetogênica do aloxana foi reportada por Dunn, Sheehan e
McLethie (1943 apud SZKUDELSKI, 2001) em seu estudo sobre os efeitos dessa
substância em coelhos. Os autores concluíram nesse trabalho que o aloxana induz
necrose específica das ilhotas pancreáticas. A partir daí, essa substância tem sido
comumente utilizada como modelo animal de indução de diabetes mellitus insulino-
dependentes. O aloxana exerce sua ação quando administrado parenteralmente:
intravenosa, subcutânea ou intraperitonealmente. A ação do aloxana no pâncreas é
precedida por uma rápida captação das células β-pancreáticas. Esse mecanismo
tem sido proposto como um dos mais importantes fatores que determinam a
diabetogenicidade da substância.
Além disso, tem sido proposto também que alteração na homeostase
intracelular de cálcio é um importante fator diabetogênico provocado pelo aloxana. A
afluência do cálcio pode resultar da capacidade do aloxana de despolarizar as
células β–pancreáticas. Portanto, a ação tóxica do aloxana sobre essas células é
39
devido a diversos processos, como inibição da glucoquinase, geração de radicais
livres e distúrbios na homeostase intracelular do cálcio (SZKUDELSKI, 2001).
Sy e cols. (2005) relataram em seu estudo sobre a avaliação da ação do
extrato aquoso de Vernonia colorata Willd. Drake (Composeae) em ratos, que
ocorreu a indução de diabetes não insulino-dependentes com a administração de
aloxana via intraperitoneal. Estes autores sugerem que, na dose de 120 mg/kg de
aloxana, as células β-pancreáticas foram parcialmente destruídas. Possivelmente a
insulina é secretada, porém em quantidades insuficientes para manter os níveis de
glicemia adequados. A partir desse estudo sugere-se, portanto, que o aloxana pode
ser utilizado como modelo de diabetes tanto do tipo I como do tipo II.
Poucos estudos têm relatado o efeito da E. uniflora sobre o diabetes, como
indica a utilização popular. Em estudo realizado por Arai e cols. (1999) foram
utilizados camundongos para avaliar os efeitos do extrato hidroalcoólico de folhas de
E. uniflora sobre hiperglicemia. O estudo consistiu em administrar diferentes frações
de extrato hidroalcoólico 70% após a administração oral ou intraperitoneal de glicose
e sacarose. No grupo controle positivo foi administrado tolbutamida ou metformina e
voglibose. Os autores observaram, a partir dos seus resultados, que o extrato
hidroalcoólico na dose de 300 mg/kg provocou uma redução nos níveis séricos de
glicose nos animais tratados com glicose por via oral, mais precisamente pelas
frações do n-hexano do extrato e precipitado. Nos grupos controle positivo, os
fármacos tolbutamida e metformina inibiram significativamente o aumento nos níveis
de glicemia pela glicose via oral. No entanto, nos camundongos tratados com glicose
pela via intraperitoneal não foi verificada redução da glicemia pelo extrato. Porém, os
efeitos inibitórios da tolbutamida e metformina também foram observados após a
administração intraperitoneal de glicose. Nos camundongos que receberam
40
sacarose via oral, todas as frações do extrato inibiram o aumento da glicose
plasmática significativamente. No grupo controle positivo, verificou-se que a
voglibose teve ação importante na inibição da elevação da glicemia por sacarose
oral. Foram realizados também experimentos para verificar os efeitos do extrato de
E. uniflora e suas frações sobre a enzima α-glicosidase. Como resultado foi
verificado que as frações aquosa, precipitado e a fração por ultrafiltração da solução
aquosa do extrato inibiram a atividade da maltase e sucrase de forma dose
dependente. Os autores sugeriram como mecanismo de atividade hipoglicêmica do
extrato de E. uniflora a inibição da decomposição de açúcares e inibição da
absorção de glicose, corroborando com a utilização de folhas de E. uniflora para
diabetes e obesidade.
No presente estudo, os animais utilizados foram ratos nos quais foi
administrada uma dose única de aloxana 200 mg/kg intraperitonealmente e assim
induzidos ao diabetes. Após 72 horas da confirmação do estado diabético pelo
aloxana, foi realizado o experimento que consistiu da administração do extrato nas
doses de 125, 250, 500 e 1.000 mg/kg e coleta de sangue antes e 1, 2, 3 e 4 horas
após o extrato, para realizar as análises laboratoriais. No entanto, os resultados
obtidos nesse experimento não mostraram alterações nos níveis plasmáticos de
glicose, diferentemente do que foi constatado por Arai e cols. (1999). A diferença
entre os resultados obtidos no presente estudo e no trabalho realizado por esses
autores pode ser analisada e justificada pelas diferenças metodológicas entre os
experimentos ou pelo fato do extrato ser utilizado na forma de frações de diferentes
concentrações de solventes, os quais foram utilizados por aqueles autores em seu
estudo.
41
Outro resultado obtido na presente avaliação foi uma ação hipolipidêmica do
EHE nos animais diabéticos. O tratamento com as doses de 500 e 1.000 mg/kg de
EHE reduziu significativamente os níveis plasmáticos de triglicerídeos em todos os
tempos testados: 1, 2, 3 e 4 horas após a administração do extrato. Entretanto não
foi observada redução nos níveis de colesterol sérico nos animais tratados.
Em estudo realizado por Ferro e cols. (1988) foi avaliado o efeito do extrato
etanólico das folhas de E. uniflora sobre o metabolismo de lipídios em macacos
Cebus apella. Foi induzida experimentalmente a hipercolesterolemia e
hipertrigliceridemia nos animais utilizados para esse estudo. Os animais foram
divididos em grupo controle e grupo teste, recebendo ração comercial padrão,
suplementada com frutas frescas duas vezes por semana e com multivitamínicos,
cálcio e ferro uma vez na semana. Diariamente os animais recebiam uma emulsão
lipídica rica em gorduras e colesterol. A administração do extrato hidroalcoólico de E.
uniflora 70% com a emulsão lipídica foi iniciada quando os níveis séricos de
colesterol eram superiores a 30% comparados aos valores de referência. O extrato
foi administrado via oral diariamente durante 14 dias. Depois deste período, as duas
preparações foram suspensas e as alterações sorológicas foram avaliadas nas duas
semanas seguintes. Os resultados obtidos nesse estudo mostraram que o extrato
das folhas de E. uniflora apresenta ligeira atividade sobre o metabolismo de lipídios.
Em ambos os grupos, teste e controle, não houve alterações importantes na uremia
e glicemia durante o tratamento. Entretanto, diferenças significativas foram
observadas nos níveis de triglicérides e VLDL duas semanas depois da suspensão
da administração da emulsão lipídica e do extrato. A partir dos resultados, os
autores sugerem que o extrato de E. uniflora pode ser capaz de exercer um efeito
42
protetor em relação aos níveis de triglicerídeos e VLDL em animais
hipertrigliceridêmicos e hipercolesterêmicos.
No presente estudo pôde-se constatar que os resultados obtidos vêm ao
encontro com os apresentados por Ferro e cols. (1998) no que se refere ao efeito
sobre os níveis séricos de triglicerídeos. No entanto, não foram avaliados os níveis
de lipoproteínas séricas, não podendo, dessa forma, comparar-se todos os
resultados aos do estudo de Ferro e cols. (1998). Porém de acordo com Lameu
(2005), as partículas de VLDL podem ser liberadas na circulação com a
responsabilidade de transportar os triglicerídeos endogenamente sintetizados para
os tecidos extra-hepáticos, como o tecido adiposo e muscular. Entende-se, portanto,
que níveis aumentados da partícula VLDL estão diretamente ligados ao aumento de
triglicerídeos plasmáticos. Pode-se dessa forma supor que no presente estudo existe
a possibilidade de os níveis de VLDL estarem elevados, mesmo não tendo sido
analisados, sendo relevante serem avaliados em estudos posteriores.
No trabalho realizado por Arai e cols. (1999) foi investigada a ação de
frações do extrato hidroalcoólico 70% sobre os níveis séricos de triglicerídeos em
camundongos. Os camundongos do grupo teste receberam por via oral as frações
do extrato seguido pela ingestão de 5 ml/kg de óleo de milho. No grupo controle, os
animais receberam somente o solvente. Após 1,5, 3 e 4,5 horas da ingestão do óleo
de milho o sangue dos animais foi coletado para as análises bioquímicas. Os
resultados desse estudo demonstraram que as frações aquosa e precipitado inibiram
significativamente o aumento da concentração plasmática de triglicerídeos. Os
autores avaliaram o efeito das frações do extrato de E. uniflora sobre a atividade da
enzima lípase pancreática in vitro. Essa enzima é responsável pela decomposição
de lipídios no intestino, ingeridos na alimentação, em ácidos graxos e glicerol que
43
posteriormente serão absorvidos. Os resultados obtidos pelos autores neste
experimento mostraram que, com exceção da fração n-hexano, as demais frações
inibiram a atividade da lípase pancreática de maneira dose-dependente.
Fármacos capazes de inibir a enzima lípase pancreática são indicados para
redução dos níveis de triglicerídeos no plasma em casos específicos. A inibição
dessa enzima leva a uma redução na decomposição dos lipídios permitindo assim a
excreção de grande parte da gordura ingerida (RANG, 2003).
Levando-se em consideração que no presente estudo os níveis de
triglicerídeos foram significativamente reduzidos pelo EHE e, que no estudo
realizado por Arai e cols. (1999), foi constatada a ação das frações do extrato de E.
uniflora sobre a enzima lípase pancreática, podemos sugerir que possivelmente o
EHE possa ter agido da mesma forma. Entretanto devem-se realizar estudos
específicos com essa enzima para confirmação.
Tem sido proposto em alguns estudos que ocorre um estresse oxidativo
derivado de um aumento na produção de espécies reativas de oxigênio (EROS) e
concomitante redução dos mecanismos antioxidantes em pacientes diabéticos. O
estresse oxidativo facilitaria o dano progressivo às funções das células β–
pancreáticas na patogênese do DM. A formação da proteína glicada e os produtos
finais dessa glicação são acompanhados pelo aumento da atividade dos radicais
livres, contribuindo para a gênese dos malefícios ao nível molecular no diabetes
(SONG e cols. 2005).
Em decorrência destes distúrbios metabólicos observados no diabetes,
surgiriam diversas complicações, entre elas, doença macrovascular e
microangiopatia. Esses distúrbios são caracterizados pela disfunção do endotélio
vascular, que constitui um evento precoce e crítico no desenvolvimento destas
44
complicações vasculares. Os radicais livres derivados de oxigênio e os produtos
finais da glicacão avançada têm sido apontados como responsáveis nesta disfunção
(RANG, 2003).
Tem sido sugerido que doenças causadas pelas reações oxidativas em
sistemas biológicos podem ser retardadas pela ingestão de agentes antioxidantes
encontrados na dieta, em especial os compostos fenólicos (SIMOES, 2002). Se o
sistema endógeno estiver inadequado para a realização dos mecanismos de
proteção contra as espécies reativas de oxigênio, o dano oxidativo pode ocorrer em
importantes macromoléculas (VELÁZQUEZ e cols., 2002).
Diversos autores relatam a presença de diferentes compostos fenólicos nas
folhas de E. uniflora, em especial quercetina e miricetina que encontram-se em
maior quantidade (BANDONI, 1972; CONSOLINI, 1999; CONSOLINI, 2002;
AURICCHIO, 2003. SCHMEDA-HIRSCHMANN e cols.,1987). Velázquez e cols.
(2002) realizaram um estudo para verificar as propriedades antioxidantes de seis
plantas utilizadas na medicina popular no Paraguai, estando entre elas a E. uniflora.
Para a realização do experimento, os autores utilizaram ratos que receberam o
extrato metanólico de partes aéreas das plantas com o intuito de verificar a
capacidade “scavenger” de radicais livres e sua atividade antioxidante. Os
resultados do estudo levaram os autores a considerar que as folhas de E. uniflora
apresentam alta atividade inibitória da peroxidação lipídica, íons superóxido e
potente eficácia na redução do radical livre DPPH.
Os flavonóides têm grande atividade antioxidante agindo como “scavenger”
de radicais livres e potencial ação como quelante de metais. Um estudo prospectivo
realizado na Finlândia mostrou que a ingestão de alguns tipos específicos de
flavonóides, incluindo quercetina e miricetina está inversamente associada ao risco
45
de incidência do diabetes tipo II (KNEKT e cols., 2002). A partir disso, Song e cols.
(2002) sugere que os flavonóides podem atuar preservando as funções das células
β–pancreáticas por redução do dano no tecido induzido pelo estresse oxidativo.
Além disso, teria também a capacidade protetora contra a progressão da resistência
à insulina no diabetes tipo II.
Os níveis de lipídios séricos estão usualmente elevados em pacientes
diabéticos e essa elevação representa um risco aumentado de doença arterial
coronariana. A redução na concentração de lipídios séricos através do controle
alimentar ou com o uso de medicamentos está associado com menor risco de
doença cardiovascular (PARI e cols.). A aterosclerose é a mais séria conseqüência
provocada pelo diabetes e considerada a maior causa de morte destes pacientes
(AHMED, 2005).
Ong e Khoo (2000), em experimento realizado em ratos diabéticos utilizando
miricetina na dose de 3 mg/kg a cada 12 horas, demonstraram que, após dois dias
de tratamento, a hiperglicemia foi reduzida em 50% em relação ao controle.
Também foi evidenciada que a hipertrigliceridemia sofreu redução até os parâmetros
normais. Os autores sugerem nesse estudo que a miricetina apresenta potencial
terapêutico no tratamento do diabetes.
Em outro estudo, Liu e cols. (2007) verificaram os efeitos da miricetina sobre
a resistência à insulina em ratos alimentados por seis semanas com dieta contendo
60% de frutose. Esses animais receberam durante quatorze dias injeções
intravenosas de miricetina (1 mg/kg, 3 vezes ao dia). Os resultados obtidos pelos
autores mostraram uma redução significativa nos altos níveis de glicemia e nos
níveis de triglicerídeos plasmáticos.
46
Em estudo realizado para verificar a ação in vitro dos flavonóides, entre eles,
quercetina e miricetina, concluíram que com as propriedades antioxidantes destes
compostos provavelmente inibem a glicação de LDL e dessa forma ter um papel
importante em atenuar o risco aterosclerótico em indivíduos diabéticos (GHAFFARI;
MOJAB, 2007)..
A partir dos dados apresentados nesses estudos, podemos sugerir que a
presença dos flavonóides quercetina e miricetina nas folhas da planta E. uniflora
seja responsável pela a ação hipolipidêmica do EHE verificada no presente trabalho.
Esses compostos presentes no extrato podem agir potencializando a redução da
oxidação de LDL, reduzindo assim os níveis de triglicerídeos plasmáticos.
Portanto, novos estudos são importantes para complementação desses
resultados. Também é relevante a avaliação do potencial da E. uniflora como agente
protetor de disfunções metabólicas em estado diabético ou outras desordens que
levem a um quadro aterosclerótico.
Apesar do EHE não ter apresentando capacidade de controle nos níveis
sangüíneos de glicose, os dados corroboram com a indicação popular de uso da E.
uniflora para o diabetes. Pode-se sugerir isso uma vez que o EHE foi capaz de
reduzir os níveis de triglicerídeos plasmáticos nos animais diabéticos e, dessa forma,
seria importante na redução das alterações metabólicas decorrentes dessa
patologia.
No entanto, novos experimentos devem ser realizados, especialmente em
animais diabéticos com uso crônico do extrato de E. uniflora para confirmação dos
resultados verificados no presente estudo.
O uso tradicional de plantas baseadas na crença popular e nas várias
formações culturais para o alívio de sintomas e prevenção de algumas doenças ou
47
distúrbios fisiológicos tem sido o marco inicial para o desenvolvimento de pesquisas
etnofarmacológicas. Através de estudos semelhantes ao apresentado, contribui-se
com a população usuária quanto ao emprego correto de plantas medicinais para fins
terapêuticos, através da comprovação da eficácia e segurança terapêuticas das
plantas.
Esses resultados mais uma vez demonstram a importância de estudos
etnofarmacológicos que contribuem para a descoberta e desenvolvimento de novos
fármacos protótipos.
O incentivo da OMS, juntamente com a política nacional de plantas
medicinais e fitoterápicos do Ministério da Saúde, quanto a utilização de plantas
medicinais no tratamento de diversas patologias coadjuvante ao tratamento
alternativo, e da importância de pesquisas etnofarmacológicas, vem estimular os
estudiosos no conhecimento do potencial da flora brasileira para a produção de
fitofármacos, contribuindo desta forma para a obtenção de novos fármacos mais
eficazes e específicos.
48
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