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Intercom – Soc XXXIX Congresso Br Sniper Americano: o Fac Resumo Este artigo se propõe a e construção de personagens. a maneira como o árabe f utilizando o Palavras-chave: cinema; a Introdução Uma das discussõe início da vida acadêmica, é os de fruição e os de praz inauguram tais conceitos, t forma irrefletida. O cinem suas preocupações capitali transgressão (BARTHES, conta as narrativas cinemat preza pelo núcleo de funçã como o filme Sniper Ame Iraque, tendo como base te Edward Said. Identidades e Ideologias Nacionalidade não muito mais por simbolism escreveu Hall, “a cultura 1 Trabalho apresentado na Divisão T Comunicação, evento componen 2 Estudante de Graduação 2º ano do 3 Orientador do trabalho. Profes [email protected] ciedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares rasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a Orientalismo no Cinema de Guerra Holly Letícia Sé 2 Rafael Grohmann 3 culdade Cásper Líbero, São Paulo, SP entender como o cinema cria representaçõ . Mais especificamente, este texto tem como foi representado no cinema de guerra nos E filme Sniper Americano americano; guerra; árabe; representação. es de que estudantes de comunicação parti é das classificações de produtos midiáticos: ap zer. Mesmo antes de conhecermos os textos tendemos a pensar dessa maneira nosso con ma comercial, voltado para as grandes bilhet istas por meio da venda do prazer e do c 2006). Desprezando considerações morais tográficas populares, é possível dizer que o c ão de personagens (PROPP, 2006). Este tex ericano (2014) representa a população árab eórica de análise desse discurso a perspectiv é algo que se carrega nas veias. Tal identi mos do que por características físicas ou bi nacional é um discurso” (2004, p. 50), Temática Jornalismo, da Intercom Júnior XII Jornada de In nte do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências Curso de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero, email: le ssor do Curso de Jornalismo da Faculdade Cásper L s da Comunicação a 09/09/2016 1 ywoodiano 1 ões por meio da objetivo estudar Estados Unidos, (2014). icipam, logo no prende-se que há s de Barthes que nsumo, porém de terias, concretiza conforto da não- s e levando em cinema comercial xto quer mostrar be na Guerra do va orientalista de idade é formada iológicas. Como , um grupo de niciação Científica em s da Comunicação [email protected] Líbero, email: rafael-

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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaçãoXXXIX Congresso Brasileiro

Sniper Americano: o Orientalismo

Faculdade Cásper Líbero, São Paulo, SPResumo Este artigo se propõe a entender como o cinema cria representações por meio da construção de personagens. Mais especificamente, esa maneira como o árabe foi representado no cinema de guerra nos Estados Unidos, utilizando o filme Palavras-chave: cinema; americano; guerra; árabe; representação. Introdução

Uma das discussões dinício da vida acadêmica, é das classificações de produtos midiáticos: aprendeos de fruição e os de prazer. Mesmo antes de conhecermos os textos de Barthes que inauguram tais conceitos, tendemoforma irrefletida. O cinema comercial, voltado para as grandes bilheterias, concretiza suas preocupações capitalistas por meio da venda do prazer e transgressão (BARTHES, 2006)conta as narrativas cinematográficas populares, é possível dizer que o cinema comercial preza pelo núcleo de função de personagens (PROPP, 2006).como o filme Sniper AmericanoIraque, tendo como base teórica de análise desse discurso a perspectiva orientalista de Edward Said.

Identidades e Ideologias

Nacionalidade não é algo que se carrega

muito mais por simbolismos do que por características físicas ou biológicas. escreveu Hall, “a cultura nacion 1 Trabalho apresentado na Divisão Temática Jornalismo, da Intercom Júnior Comunicação, evento componente do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação 2 Estudante de Graduação 2º ano do Curso de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero, email: 3 Orientador do trabalho. Professor do Curso de Jornalismo da Faculdade [email protected]

Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaçãoBrasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a

: o Orientalismo no Cinema de Guerra Hollywoodiano Letícia Sé2

Rafael Grohmann3 Faculdade Cásper Líbero, São Paulo, SP

artigo se propõe a entender como o cinema cria representações por meio da construção de personagens. Mais especificamente, este texto tem como objetivo estudar a maneira como o árabe foi representado no cinema de guerra nos Estados Unidos, utilizando o filme Sniper Americano

cinema; americano; guerra; árabe; representação.

Uma das discussões de que estudantes de comunicação participam, logo no início da vida acadêmica, é das classificações de produtos midiáticos: aprendeos de fruição e os de prazer. Mesmo antes de conhecermos os textos de Barthes que inauguram tais conceitos, tendemos a pensar dessa maneira nosso consumo, porém de forma irrefletida. O cinema comercial, voltado para as grandes bilheterias, concretiza suas preocupações capitalistas por meio da venda do prazer e do conforto da não

ES, 2006). Desprezando considerações morais e levando em conta as narrativas cinematográficas populares, é possível dizer que o cinema comercial preza pelo núcleo de função de personagens (PROPP, 2006). Este texto quer mostrar

Sniper Americano (2014) representa a população árabe na Guerra do Iraque, tendo como base teórica de análise desse discurso a perspectiva orientalista de

Nacionalidade não é algo que se carrega nas veias. Tal identidade é formada muito mais por simbolismos do que por características físicas ou biológicas.

“a cultura nacional é um discurso” (2004, p. 50), um grupo de

Trabalho apresentado na Divisão Temática Jornalismo, da Intercom Júnior – XII Jornada de Iniciação Científica em evento componente do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação

Estudante de Graduação 2º ano do Curso de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero, email: [email protected]. Professor do Curso de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero, email:

Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação a 09/09/2016

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ollywoodiano1

artigo se propõe a entender como o cinema cria representações por meio da e texto tem como objetivo estudar

a maneira como o árabe foi representado no cinema de guerra nos Estados Unidos, (2014).

e que estudantes de comunicação participam, logo no início da vida acadêmica, é das classificações de produtos midiáticos: aprende-se que há os de fruição e os de prazer. Mesmo antes de conhecermos os textos de Barthes que

s a pensar dessa maneira nosso consumo, porém de forma irrefletida. O cinema comercial, voltado para as grandes bilheterias, concretiza

do conforto da não-Desprezando considerações morais e levando em

conta as narrativas cinematográficas populares, é possível dizer que o cinema comercial Este texto quer mostrar

resenta a população árabe na Guerra do Iraque, tendo como base teórica de análise desse discurso a perspectiva orientalista de

nas veias. Tal identidade é formada muito mais por simbolismos do que por características físicas ou biológicas. Como

2004, p. 50), um grupo de

XII Jornada de Iniciação Científica em evento componente do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação

[email protected] ásper Líbero, email: rafael-

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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaçãoXXXIX Congresso Brasileiro

significados que gera lealdade e identificação por meio de sEssa narração teria cinco elementos de destaque: a “narrativa da nação” (HALL, 2004, p. 52), o fato de os cidadãos contarem histórias no âmbito popular, formando imagens de como seria sua nacionalidade. “O discurso da ‘inglesidade’Inglaterra’ é, dá sentido à identidade de ‘ser inglês’trata da naturalização das origens primordiais de uma nacionalidade, da ideia de essência de uma nação; a terceira trata de “tradições inventadas”, identificações de um país por aspectos pensados como “antigos”, porém que podem, na verdade, ter sido estabelecidos recentemente (HALL, 2004, p. 54); o quarto fundamento seria o do mito de surgimento de uma nação dentro de um tempo mítico; já o explica como a “identidade nacional é também [...] simbolicamente baseada na ideia de um povo ou folk puro, original

Essas fundações do discurso de nacionalidade que Stuart Hall apresentou são criticadas por ele. A noção de nacionalidade é calcada em miscigenações violentas, fazendo com que as culturas nacionais sejam, na verdade, uma soma de narrativas de diversos povos que precisam ter suas origens esquecidas para que a homogennacionalista seja criada (HALL, 2004, p. 59excludentes – se um indivíduo se identifica com a nacionalidade exemplo, quer dizer que as outras nacionalidades não recebem sua lealdade. É no atrito entre cultura nacional versus cultura do outro (embate colonialista entre, respectivamente, virtudes e características negativas) que as identidades nacionais neoimperiais se fundam discursivamente (HALL, 2004, p. 61)

Essa oposição entre textuais – como no cinema, por exemplo. São os pósleitura das produções culturais de outros pontos de vista além do núcleo, que geraria a crítica da ideologia dominante. De acordo com Kellner,

Segundo eles [pósde várias vozes, e não como enunciação de uma única voz ideológica, que precise então ser especificada e atacada. Desse modo, exigem leituras polivalentes e um conjsuas contradições, seus elementos contestatórios periféricos e seus silêncios estruturados. Essas estratégias compreendem a análise do modo como, por exemplo, o que é periférico nos textos pode ser tão

Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaçãoBrasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a

significados que gera lealdade e identificação por meio de sua composição narrativa. Essa narração teria cinco elementos de destaque: a “narrativa da nação” (HALL, 2004,

52), o fato de os cidadãos contarem histórias no âmbito popular, formando imagens de como seria sua nacionalidade. “O discurso da ‘inglesidade’ representa o que ‘a Inglaterra’ é, dá sentido à identidade de ‘ser inglês’.” (HALL, 2004, p.52); a segunda trata da naturalização das origens primordiais de uma nacionalidade, da ideia de essência de uma nação; a terceira trata de “tradições inventadas”, identificações de um país por aspectos pensados como “antigos”, porém que podem, na verdade, ter sido estabelecidos recentemente (HALL, 2004, p. 54); o quarto fundamento seria o do mito de surgimento de uma nação dentro de um tempo mítico; já o explica como a “identidade nacional é também [...] simbolicamente baseada na ideia de

povo ou folk puro, original.” (HALL, 2004, p. 55, grifo do autor). Essas fundações do discurso de nacionalidade que Stuart Hall apresentou são

. A noção de nacionalidade é calcada em miscigenações violentas, fazendo com que as culturas nacionais sejam, na verdade, uma soma de narrativas de diversos povos que precisam ter suas origens esquecidas para que a homogen

(HALL, 2004, p. 59-60). Ao mesmo tempo, as identidades são se um indivíduo se identifica com a nacionalidade estadunidense, por

exemplo, quer dizer que as outras nacionalidades não recebem sua lealdade. É no atrito l versus cultura do outro (embate colonialista entre,

respectivamente, virtudes e características negativas) que as identidades nacionais neoimperiais se fundam discursivamente (HALL, 2004, p. 61).

Essa oposição entre explorador e explorado é refletida em diversas formas como no cinema, por exemplo. São os pós-estruturalistas que sugerem a

leitura das produções culturais de outros pontos de vista além do núcleo, que geraria a crítica da ideologia dominante. De acordo com Kellner, (2001, p.148)

Segundo eles [pós-estruturalistas], os textos devem ser lidos como expressão de várias vozes, e não como enunciação de uma única voz ideológica, que precise então ser especificada e atacada. Desse modo, exigem leituras polivalentes e um conjunto de estratégias críticas ou textuais que desvendem suas contradições, seus elementos contestatórios periféricos e seus silêncios estruturados. Essas estratégias compreendem a análise do modo como, por exemplo, o que é periférico nos textos pode ser tão significativo quanto o que

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ua composição narrativa. Essa narração teria cinco elementos de destaque: a “narrativa da nação” (HALL, 2004,

52), o fato de os cidadãos contarem histórias no âmbito popular, formando imagens representa o que ‘a

” (HALL, 2004, p.52); a segunda trata da naturalização das origens primordiais de uma nacionalidade, da ideia de essência de uma nação; a terceira trata de “tradições inventadas”, que seriam identificações de um país por aspectos pensados como “antigos”, porém que podem, na verdade, ter sido estabelecidos recentemente (HALL, 2004, p. 54); o quarto fundamento seria o do mito de surgimento de uma nação dentro de um tempo mítico; já o quinto, explica como a “identidade nacional é também [...] simbolicamente baseada na ideia de

Essas fundações do discurso de nacionalidade que Stuart Hall apresentou são . A noção de nacionalidade é calcada em miscigenações violentas,

fazendo com que as culturas nacionais sejam, na verdade, uma soma de narrativas de diversos povos que precisam ter suas origens esquecidas para que a homogeneidade

Ao mesmo tempo, as identidades são stadunidense, por

exemplo, quer dizer que as outras nacionalidades não recebem sua lealdade. É no atrito l versus cultura do outro (embate colonialista entre,

respectivamente, virtudes e características negativas) que as identidades nacionais

é refletida em diversas formas estruturalistas que sugerem a

leitura das produções culturais de outros pontos de vista além do núcleo, que geraria a

estruturalistas], os textos devem ser lidos como expressão de várias vozes, e não como enunciação de uma única voz ideológica, que precise então ser especificada e atacada. Desse modo, exigem leituras

unto de estratégias críticas ou textuais que desvendem suas contradições, seus elementos contestatórios periféricos e seus silêncios estruturados. Essas estratégias compreendem a análise do modo como, por

significativo quanto o que

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é nuclear em termos de posições ideológicas, ou como seu elementos periféricos podem desconstruir posições ideológicas afirmadas no texto por contradizêquanto o

Kellner entende que o silêncio é concretolinguagem cinematográficapersonagens, pode desconstrarmada naquele texto. Mas o silêncio pode tratar também daquilo que não foi incluso, da parcialidade, do enquadramento que visa favorecer algum grupo ou esconder suas falhas. Kellner relembra os filmes americanos que abordam o tema do retVietnã. Esses textos não retratam as violências estadunidenses contra a população vietnamita. Os soldados americanos encarnam o papel de vítimas inocentes, enquanto os vietnamitas são retratados, de forma demonizada, como comunistas malévolos. (KELLNER, 2011, p. 149)

É possível criticar a ideologia expressa um filme pela forma como ela funciona ou fracassa. As críticas desconstrutiva e diagnóstica, que visam desestalibilizar e desvendar as ideologias dominantes, hegemônica. No entanto, os efeitos de uma película sobre o posicionamento dos espectadores podem tomar sentidos diversos, como explica Kellner (20

A cultura da mídia às vezes legitima as forças de dominação e induz o público a extrair prazeconsegue fazer isso e outras ainda levadas ideologias e das instituições dominantes.

Isso acontece porque é possível compreender de diversas formas uma mesma produção textual. A maneira como entendemos o enredo e o desfecho de um filme depende o enquadramento que atribuímos a eles. “Os filmes não têm uma única mensagem simples e podem dar origem a múltiplas leituras, dependendo dos aspectos que a crítica prefira focalizar e da complexidad149).

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é nuclear em termos de posições ideológicas, ou como seu elementos periféricos podem desconstruir posições ideológicas afirmadas no texto por contradizê-las ou enfraquecê-las, ou de que modo o não dito é tão importante quanto o que realmente foi dito.

o silêncio é concreto porque gera interpretações dentro da linguagem cinematográfica. O não dito, materializado nos olhares

desconstruir a pretensão ideológica dominante que estava sendo armada naquele texto. Mas o silêncio pode tratar também daquilo que não foi incluso, da parcialidade, do enquadramento que visa favorecer algum grupo ou esconder suas falhas. Kellner relembra os filmes americanos que abordam o tema do retVietnã. Esses textos não retratam as violências estadunidenses contra a população vietnamita. Os soldados americanos encarnam o papel de vítimas inocentes, enquanto os vietnamitas são retratados, de forma demonizada, como comunistas malévolos.

É possível criticar a ideologia expressa um filme pela forma como ela funciona

ou fracassa. As críticas desconstrutiva e diagnóstica, que visam desestalibilizar e desvendar as ideologias dominantes, têm como base um esforço contra a cul

. No entanto, os efeitos de uma película sobre o posicionamento dos espectadores podem tomar sentidos diversos, como explica Kellner (201

A cultura da mídia às vezes legitima as forças de dominação e induz o público a extrair prazer da adesão a posições ideológicas, outras vezes não consegue fazer isso e outras ainda levam ao prazer por meio da contestação das ideologias e das instituições dominantes.

Isso acontece porque é possível compreender de diversas formas uma mesma textual. A maneira como entendemos o enredo e o desfecho de um filme

depende o enquadramento que atribuímos a eles. “Os filmes não têm uma única mensagem simples e podem dar origem a múltiplas leituras, dependendo dos aspectos

zar e da complexidade do texto em si.” (KELLNER, 201

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é nuclear em termos de posições ideológicas, ou como seu elementos periféricos podem desconstruir posições ideológicas afirmadas no texto por

las, ou de que modo o não dito é tão importante

porque gera interpretações dentro da olhares de alguns

que estava sendo armada naquele texto. Mas o silêncio pode tratar também daquilo que não foi incluso, da parcialidade, do enquadramento que visa favorecer algum grupo ou esconder suas falhas. Kellner relembra os filmes americanos que abordam o tema do retorno ao Vietnã. Esses textos não retratam as violências estadunidenses contra a população vietnamita. Os soldados americanos encarnam o papel de vítimas inocentes, enquanto os vietnamitas são retratados, de forma demonizada, como comunistas malévolos.

É possível criticar a ideologia expressa um filme pela forma como ela funciona ou fracassa. As críticas desconstrutiva e diagnóstica, que visam desestalibilizar e

têm como base um esforço contra a cultura . No entanto, os efeitos de uma película sobre o posicionamento dos

11, p. 150) A cultura da mídia às vezes legitima as forças de dominação e induz o

r da adesão a posições ideológicas, outras vezes não ao prazer por meio da contestação

Isso acontece porque é possível compreender de diversas formas uma mesma textual. A maneira como entendemos o enredo e o desfecho de um filme

depende o enquadramento que atribuímos a eles. “Os filmes não têm uma única mensagem simples e podem dar origem a múltiplas leituras, dependendo dos aspectos

e do texto em si.” (KELLNER, 2011, p.

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Morfologia Cinematográfica Além das possibilidades de enquadramento textual descritas por Kellner, é

importante observar a estrutura seguida por um filme para que possa se analisar o discurso dessa obra. Muitos dosdesenvolvimento de personagens, os quais interpretarão postos dentro da narrativa.

O núcleo de função de personagens (PROPP, 2006) estabelece, em 31 etapas, como os papeis de herói e deEsses passos são notadosapresenta o herói em potencial. O ambiente inicial geralmente é demarcado pelo bemestar, para que os conflitos sucessórios sejam enfatizados. O núcleo familiar é um importante detalhe, que sustenta, em partes, personagens. A primeira função consiste no afastamento. Um dos membros da família, da geração mais velha ou mais nova, deixa o núcleo inicial por algum motivo. Em seguida, o futuro herói recebe uma proibição, provocandquebra da restrição. É nesse momento, segundo Propp (2006, p. 28), em que surge o antagonista do herói, o agressor, que deve causar alguma desgraça ao núcleo heróico. O quarto passo tem como definição o interrogainformações acerca de objetos a ele preciosos. O agressor consegue obter informações e tenta persuadir ou coagir sua vitima, por meio de uma farsa, a fazer algo consigo mesmo ou com seus bens. A vítima, de maneira involuntNa oitava etapa, segundo Propp (2006, p. 30), o das pessoas da família do herói. Essa função é definida como conto maravilhoso. A nona função diz respeito herói vá ao encontro da causa que pretende defender. Propp identifica aqui dois tipos de heróis, o buscador (que deve recuperar aquilo que o antagonista usurpou) e o heróivítima (que é objeto do rapto e também pr2006, p. 36-37).

A décima etapa representa o momento da reação do herói em busca de seu objetivo. É o de vontade de libertação. “Este momento se caracteriza, por exemplo, por palavras como: ‘Permite-nos partir em busca de tuas princesas’, e outras.” (PROPP, 2006, p. 38). A função seguinte tem como definição a

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Morfologia Cinematográfica Além das possibilidades de enquadramento textual descritas por Kellner, é

importante observar a estrutura seguida por um filme para que possa se analisar o Muitos dos filmes que conhecemos seguem uma estrutura de sonagens, os quais interpretarão postos dentro da narrativa.

O núcleo de função de personagens (PROPP, 2006) estabelece, em 31 etapas, de vilão dos contos maravilhosos são formados por vivências.

Esses passos são notados após o estabelecimento da situação inicial, em que se apresenta o herói em potencial. O ambiente inicial geralmente é demarcado pelo bemestar, para que os conflitos sucessórios sejam enfatizados. O núcleo familiar é um importante detalhe, que sustenta, em partes, a trama em que se desenvolvem os

A primeira função consiste no afastamento. Um dos membros da família, da geração mais velha ou mais nova, deixa o núcleo inicial por algum motivo. Em seguida, o futuro herói recebe uma proibição, provocando o desejo de transgressão, que leva à quebra da restrição. É nesse momento, segundo Propp (2006, p. 28), em que surge o antagonista do herói, o agressor, que deve causar alguma desgraça ao núcleo heróico.

O quarto passo tem como definição o interrogatório, em que o vilão tenta obter informações acerca de objetos a ele preciosos. O agressor consegue obter informações e tenta persuadir ou coagir sua vitima, por meio de uma farsa, a fazer algo consigo mesmo ou com seus bens. A vítima, de maneira involuntária, engana-se e colabora com o vilão.

segundo Propp (2006, p. 30), o antagonista afeta negativamente uma das pessoas da família do herói. Essa função é definida como dano, e é ela que move o conto maravilhoso. A nona função diz respeito à divulgação do dano, que faz com que o herói vá ao encontro da causa que pretende defender. Propp identifica aqui dois tipos de heróis, o buscador (que deve recuperar aquilo que o antagonista usurpou) e o heróivítima (que é objeto do rapto e também protagoniza o triunfo do retorno)

A décima etapa representa o momento da reação do herói em busca de seu objetivo. É o de vontade de libertação. “Este momento se caracteriza, por exemplo, por

nos partir em busca de tuas princesas’, e outras.” (PROPP, função seguinte tem como definição a partida, e é quando, na trama, o

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Além das possibilidades de enquadramento textual descritas por Kellner, é importante observar a estrutura seguida por um filme para que possa se analisar o

uma estrutura de sonagens, os quais interpretarão postos dentro da narrativa.

O núcleo de função de personagens (PROPP, 2006) estabelece, em 31 etapas, vilão dos contos maravilhosos são formados por vivências.

tabelecimento da situação inicial, em que se apresenta o herói em potencial. O ambiente inicial geralmente é demarcado pelo bem-estar, para que os conflitos sucessórios sejam enfatizados. O núcleo familiar é um

a trama em que se desenvolvem os

A primeira função consiste no afastamento. Um dos membros da família, da geração mais velha ou mais nova, deixa o núcleo inicial por algum motivo. Em seguida,

o o desejo de transgressão, que leva à quebra da restrição. É nesse momento, segundo Propp (2006, p. 28), em que surge o antagonista do herói, o agressor, que deve causar alguma desgraça ao núcleo heróico.

tório, em que o vilão tenta obter informações acerca de objetos a ele preciosos. O agressor consegue obter informações e tenta persuadir ou coagir sua vitima, por meio de uma farsa, a fazer algo consigo mesmo

se e colabora com o vilão. antagonista afeta negativamente uma

, e é ela que move o à divulgação do dano, que faz com que o

herói vá ao encontro da causa que pretende defender. Propp identifica aqui dois tipos de heróis, o buscador (que deve recuperar aquilo que o antagonista usurpou) e o herói-

goniza o triunfo do retorno) (PROPP,

A décima etapa representa o momento da reação do herói em busca de seu objetivo. É o de vontade de libertação. “Este momento se caracteriza, por exemplo, por

nos partir em busca de tuas princesas’, e outras.” (PROPP, , e é quando, na trama, o

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herói deixa o lar familiar. Surge, então, um personagem denominado encontra ao acaso com o herói, ajudaobjeto mágico que foi furtado anteriormente. No décimo segundo passo, o doador põe o herói a algum tipo de prova e, no décimo terceiro, o protagonista reage às ações do doador de forma positiva, o que faz como que o objeto mágico se torne posse do herói. Assim, a décima quinta etapa trata do deslocamento do herói ao local em que pretende encontrar seu objetivo. Na décima sexta, ocorre o confronto entre herói e antagonista.

Na décima sétima, “o herói é marcado” (PROPP, 2006, p. 50), seja fisicamente, como com uma ferida, sejdano finalmente é reparado na décima nona função. É entre as funções vigésima e vigésima primeira que o herói tenta regressar, mas sofre perseguição. Já na vigésima segunda, ele é salvo. “A partir doutro rumo, o conto propõe novas funções.” (PROPP, 2006, p. 57)

O herói pode retornar disfarçado à sua própria casa ou ir a um palácio estrangeiro. Desta maneira, percebemembros do reino estrangeiro) apresentam pretensões infundadas, agindo como falsos heróis. O herói é posto novamente a uma provação, que consegue cumprir. “O herói é reconhecido” (PROPP, 2006, p. 59) na vigésima sétima função, fazendo com que, nfunção seguinte, o falso herói ou o antagonista seja descoberto. O protagonista, então, muda de aparência e seu inimigo recebe um castigo. Na função final, o herói se casa, podendo ocupar ou não um trono, ou mesmo, em vez do casamento, receber uma quantia de dinheiro pelos seus feitos.

A morfologia proppiana oferece uma visão de como as oposições entre bem e mal são construídas, por exemplo, no cinema. Unindo tais funções a questões de nacionalismo, representações estereotipadas e etnocêntricas podem O Árabe

A maneira como a humanidade categoriza o mundo desenvolvimento ou em supostas comunidades étnico,que os lugares tenham suas nomenclaturas naturalizadas. “Ele [o Oriente] não está meramente ali, assim como o próprio Ocidente tampouco está apenas2016, p. 31, grifo do autor)

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herói deixa o lar familiar. Surge, então, um personagem denominado encontra ao acaso com o herói, ajuda-lhe a superar o problema central e a recuperar o

foi furtado anteriormente. No décimo segundo passo, o doador põe o herói a algum tipo de prova e, no décimo terceiro, o protagonista reage às ações do doador de forma positiva, o que faz como que o objeto mágico se torne posse do herói.

inta etapa trata do deslocamento do herói ao local em que pretende encontrar seu objetivo. Na décima sexta, ocorre o confronto entre herói e antagonista.

Na décima sétima, “o herói é marcado” (PROPP, 2006, p. 50), seja fisicamente, como com uma ferida, seja com acessórios que recebe. O antagonista é vencido, e o dano finalmente é reparado na décima nona função. É entre as funções vigésima e vigésima primeira que o herói tenta regressar, mas sofre perseguição. Já na vigésima segunda, ele é salvo. “A partir deste momento, o desenvolvimento da narração toma outro rumo, o conto propõe novas funções.” (PROPP, 2006, p. 57).

O herói pode retornar disfarçado à sua própria casa ou ir a um palácio estrangeiro. Desta maneira, percebe-se que os personagens receptores (fmembros do reino estrangeiro) apresentam pretensões infundadas, agindo como falsos heróis. O herói é posto novamente a uma provação, que consegue cumprir. “O herói é reconhecido” (PROPP, 2006, p. 59) na vigésima sétima função, fazendo com que, nfunção seguinte, o falso herói ou o antagonista seja descoberto. O protagonista, então, muda de aparência e seu inimigo recebe um castigo. Na função final, o herói se casa, podendo ocupar ou não um trono, ou mesmo, em vez do casamento, receber uma

a de dinheiro pelos seus feitos. A morfologia proppiana oferece uma visão de como as oposições entre bem e

mal são construídas, por exemplo, no cinema. Unindo tais funções a questões de nacionalismo, representações estereotipadas e etnocêntricas podem

A maneira como a humanidade categoriza o mundo – desenvolvimento ou em supostas comunidades étnico, lingüísticas, culturais que os lugares tenham suas nomenclaturas naturalizadas. “Ele [o Oriente] não está

, assim como o próprio Ocidente tampouco está apenas2016, p. 31, grifo do autor). Edward Said quer dizer que o Oriente e o Ocidente são

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herói deixa o lar familiar. Surge, então, um personagem denominado doador, que se lhe a superar o problema central e a recuperar o

foi furtado anteriormente. No décimo segundo passo, o doador põe o herói a algum tipo de prova e, no décimo terceiro, o protagonista reage às ações do doador de forma positiva, o que faz como que o objeto mágico se torne posse do herói.

inta etapa trata do deslocamento do herói ao local em que pretende encontrar seu objetivo. Na décima sexta, ocorre o confronto entre herói e antagonista.

Na décima sétima, “o herói é marcado” (PROPP, 2006, p. 50), seja fisicamente, a com acessórios que recebe. O antagonista é vencido, e o

dano finalmente é reparado na décima nona função. É entre as funções vigésima e vigésima primeira que o herói tenta regressar, mas sofre perseguição. Já na vigésima

este momento, o desenvolvimento da narração toma

O herói pode retornar disfarçado à sua própria casa ou ir a um palácio se que os personagens receptores (familiares,

membros do reino estrangeiro) apresentam pretensões infundadas, agindo como falsos heróis. O herói é posto novamente a uma provação, que consegue cumprir. “O herói é reconhecido” (PROPP, 2006, p. 59) na vigésima sétima função, fazendo com que, na função seguinte, o falso herói ou o antagonista seja descoberto. O protagonista, então, muda de aparência e seu inimigo recebe um castigo. Na função final, o herói se casa, podendo ocupar ou não um trono, ou mesmo, em vez do casamento, receber uma

A morfologia proppiana oferece uma visão de como as oposições entre bem e mal são construídas, por exemplo, no cinema. Unindo tais funções a questões de nacionalismo, representações estereotipadas e etnocêntricas podem surgir.

em blocos de culturais – faz com

que os lugares tenham suas nomenclaturas naturalizadas. “Ele [o Oriente] não está , assim como o próprio Ocidente tampouco está apenas ali.” (SAID,

Edward Said quer dizer que o Oriente e o Ocidente são

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criações, modos como enxergamos nossa existência global. Não faria sentido falar de Oriente sem Ocidente, pois a imagem criada nesse discurso é a de duas faces que se “sustentam e, em certa medida, refletem uma à outra.” (SAID, 2016, p. 31)o conceito de hegemonia de Antonio Gramsci para dizer que esse fenômeno, quando ligado à cultura ocidental, gera a longevidade e consistência do orientalismo (2016, p. 34):

[...] podeprecisamea ideia de uma identidade europeia superior a todos os povos e culturas não europeus. Além disso, há a hegemonia das ideias europeias sobre o Oriente, elas próprias reiterando a superiorida

Em sua obra contra

se a ideologia que visa desconstruir é formada por um conj(eurocêntricas, racistas, imperialistas) ou se é fruto da escritores ocidentais, por exemplo, que criaram representações acerca doOriente em seus livros (SAID, 2016, p. 35como minorias simbólicas são vistas e como esteras por meio da hegemonia.

Said explica que, após a Segunda Guerra Mundial, o árabe e o islã têm sido o centro das atenções da cultura popular americana, fato que tem como reforço os conflitos árabe-israelenses. se configuram como nova potência e novo centro do mundo, cargo que antes era disputado pela França e Inglaterra

Pontos importantes para a formação de um estererepresentação visual do grupo cuja caricatura será idealizada. Said cita uma festa à fantasia de colegas de classe de Princeton, em 1967: “eram parte do repertório daqueles que foram fantasiados de árabe (SAID, 2016, p. 381) – como se fosse possível se fantasiar de um grupo de feições étnicas, culturais, linguísticas e políticas.

Em certo momento da festa, o autor explica que seu grupo escolar caminhou como em uma procissão, “as mãos acima da cabeça num gesto de derrota abjeta.” (SAID, 2016, p. 381) O árabe tinha passado “de um estere

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criações, modos como enxergamos nossa existência global. Não faria sentido falar de Oriente sem Ocidente, pois a imagem criada nesse discurso é a de duas faces que se “sustentam e, em certa medida, refletem uma à outra.” (SAID, 2016, p. 31)

de Antonio Gramsci para dizer que esse fenômeno, quando ligado à cultura ocidental, gera a longevidade e consistência do orientalismo (2016, p.

[...] pode-se argumentar que o principal componente da cultura europeia é precisamente o que tornou hegemônica essa cultura, dentro e fora da Europa: a ideia de uma identidade europeia superior a todos os povos e culturas não europeus. Além disso, há a hegemonia das ideias europeias sobre o Oriente, elas próprias reiterando a superioridade europeia sobre o atraso oriental [...]

Em sua obra contra-hegemônica, o autor de Orientalismo pergunta a si mesmo se a ideologia que visa desconstruir é formada por um conjunto de doutrinas

s, racistas, imperialistas) ou se é fruto da contribuição individual de escritores ocidentais, por exemplo, que criaram representações acerca do

(SAID, 2016, p. 35-36). É um debate que tem importância sobre como minorias simbólicas são vistas e como estereótipos são estabelecidos, agredindo

Said explica que, após a Segunda Guerra Mundial, o árabe e o islã têm sido o

centro das atenções da cultura popular americana, fato que tem como reforço os lenses. Afinal, é ao cabo da Segunda Guerra que os Estados Unidos

se configuram como nova potência e novo centro do mundo, cargo que antes era putado pela França e Inglaterra (SAID, 2016, p. 380).

tes para a formação de um estereótipo são a imagem e a sual do grupo cuja caricatura será idealizada. Said cita uma festa à

classe de Princeton, em 1967: “mantos, turbantes, sandálias” eram parte do repertório daqueles que foram fantasiados de árabe (SAID, 2016, p. 381)

ossível se fantasiar de um grupo de feições étnicas, culturais,

Em certo momento da festa, o autor explica que seu grupo escolar caminhou como em uma procissão, “as mãos acima da cabeça num gesto de derrota abjeta.”

rabe tinha passado “de um estereótipo vagamente delineado

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criações, modos como enxergamos nossa existência global. Não faria sentido falar de Oriente sem Ocidente, pois a imagem criada nesse discurso é a de duas faces que se “sustentam e, em certa medida, refletem uma à outra.” (SAID, 2016, p. 31). Said resgata

de Antonio Gramsci para dizer que esse fenômeno, quando ligado à cultura ocidental, gera a longevidade e consistência do orientalismo (2016, p.

se argumentar que o principal componente da cultura europeia é nte o que tornou hegemônica essa cultura, dentro e fora da Europa:

a ideia de uma identidade europeia superior a todos os povos e culturas não europeus. Além disso, há a hegemonia das ideias europeias sobre o Oriente,

de europeia sobre o atraso oriental [...]

pergunta a si mesmo unto de doutrinas

contribuição individual de escritores ocidentais, por exemplo, que criaram representações acerca do que é o

É um debate que tem importância sobre abelecidos, agredindo-

Said explica que, após a Segunda Guerra Mundial, o árabe e o islã têm sido o centro das atenções da cultura popular americana, fato que tem como reforço os

egunda Guerra que os Estados Unidos se configuram como nova potência e novo centro do mundo, cargo que antes era

ótipo são a imagem e a sual do grupo cuja caricatura será idealizada. Said cita uma festa à

mantos, turbantes, sandálias” eram parte do repertório daqueles que foram fantasiados de árabe (SAID, 2016, p. 381)

ossível se fantasiar de um grupo de feições étnicas, culturais,

Em certo momento da festa, o autor explica que seu grupo escolar caminhou como em uma procissão, “as mãos acima da cabeça num gesto de derrota abjeta.”

ótipo vagamente delineado

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como um nômade montado num camelo a uma caricatura aceita como a encarnação da incompetência e da fácil derrota

Além de fracassado, o árabe é projetado na ele tem alguma história, “ela é parte da história que lhe é dada (ou tirada dele: a diferença é pequena) pela tradição orientalista e, mais tarde, pela tradição sionista.” (SAID, 2016, p. 382).

O árabe também, na televisgeralmente tortura suas vítimas e sente prazer por tais atrocidades. (SAID, 2016, p. 383) Ser árabe significa não ter individualidade nem vivências particulares, porque, na mídia, “o árabe é sempre mostrado em grandes números.” (SAID, 2016, p. 383)

Por trás de todas essa características “está a ameaça da medo de que os muçulmanos (ou árabes) tomem conta do mundo.” (SAID, 2016, p. 383, grifo do autor). É importantesinônimos, o que não é verdadeenquanto que muçulmanos Sniper Americano

A película foi a maior bilheteria do ano de 2014 nos Estados mais recentes filmes nortevendas sugere que o tema da trajetória do patriota americano ainda atraia as plateias. O texto tem sua narrativa legitimada ao ser baseado em fatos reais Eastwood, o filme foi norteado pelo livro autobiográfico de Chris Kyle, o atirador de elite tido como um dos mais letais da história dos EUA. Tratapatriota, da qual se edifica o herói americano e se estabelece o árabeantagonista.

Se formos olhar o filme pela ordem de suas cenas, escutaremos, nos primeiros segundos de exibição, o Adhan, o chamado à oração islâmico. A tela, então, ainda não mostra imagens. Depois de alguguerra que vai se instalando pouco a pouco no cenário. Tal início poderia ser classificado, em uma análise saidiana, como orientalista. Afinal, para demonstrar que o filme trata do Oriente Médio, necessitou 4 Dísponível em: http://www.huffingtonpost.com/2015/03/08/americanmovie_n_6827212.html

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como um nômade montado num camelo a uma caricatura aceita como a encarnação da incompetência e da fácil derrota.” (SAID, 2016, p. 381-382).

Além de fracassado, o árabe é projetado na cultura popular como ser inerte. Se ele tem alguma história, “ela é parte da história que lhe é dada (ou tirada dele: a diferença é pequena) pela tradição orientalista e, mais tarde, pela tradição sionista.”

O árabe também, na televisão e no cinema, é tido como desonesto e sádico. Ele geralmente tortura suas vítimas e sente prazer por tais atrocidades. (SAID, 2016, p. 383) Ser árabe significa não ter individualidade nem vivências particulares, porque, na mídia,

do em grandes números.” (SAID, 2016, p. 383)Por trás de todas essa características “está a ameaça da jihad. Consequência: o

medo de que os muçulmanos (ou árabes) tomem conta do mundo.” (SAID, 2016, p. 383, importante pensar como, para o orientalista, árabe e

sinônimos, o que não é verdade. Afinal, árabe diz respeito a um povo semítico, são os fieis da religião islâmica.

A película foi a maior bilheteria do ano de 2014 nos Estados Unidosmais recentes filmes norte-americanos sobre a guerra do Iraque. O alto número das vendas sugere que o tema da trajetória do patriota americano ainda atraia as plateias. O texto tem sua narrativa legitimada ao ser baseado em fatos reais – dirigido por Clint Eastwood, o filme foi norteado pelo livro autobiográfico de Chris Kyle, o atirador de elite tido como um dos mais letais da história dos EUA. Trata-se de uma odisseia patriota, da qual se edifica o herói americano e se estabelece o árabe

Se formos olhar o filme pela ordem de suas cenas, escutaremos, nos primeiros segundos de exibição, o Adhan, o chamado à oração islâmico. A tela, então, ainda não mostra imagens. Depois de alguns segundos ecoando Allahu Akbar, surge uguerra que vai se instalando pouco a pouco no cenário. Tal início poderia ser classificado, em uma análise saidiana, como orientalista. Afinal, para demonstrar que o filme trata do Oriente Médio, necessitou-se que um canto islâmico fosse tocado

http://www.huffingtonpost.com/2015/03/08/american-sniper-highest-grossing

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como um nômade montado num camelo a uma caricatura aceita como a encarnação da

cultura popular como ser inerte. Se ele tem alguma história, “ela é parte da história que lhe é dada (ou tirada dele: a diferença é pequena) pela tradição orientalista e, mais tarde, pela tradição sionista.”

ão e no cinema, é tido como desonesto e sádico. Ele geralmente tortura suas vítimas e sente prazer por tais atrocidades. (SAID, 2016, p. 383) Ser árabe significa não ter individualidade nem vivências particulares, porque, na mídia,

do em grandes números.” (SAID, 2016, p. 383). . Consequência: o

medo de que os muçulmanos (ou árabes) tomem conta do mundo.” (SAID, 2016, p. 383, e muçulmano são

diz respeito a um povo semítico,

Unidos4 é um dos americanos sobre a guerra do Iraque. O alto número das

vendas sugere que o tema da trajetória do patriota americano ainda atraia as plateias. O dirigido por Clint

Eastwood, o filme foi norteado pelo livro autobiográfico de Chris Kyle, o atirador de se de uma odisseia

patriota, da qual se edifica o herói americano e se estabelece o árabe como seu

Se formos olhar o filme pela ordem de suas cenas, escutaremos, nos primeiros segundos de exibição, o Adhan, o chamado à oração islâmico. A tela, então, ainda não

, surge um tanque de guerra que vai se instalando pouco a pouco no cenário. Tal início poderia ser classificado, em uma análise saidiana, como orientalista. Afinal, para demonstrar que o

se que um canto islâmico fosse tocado como

grossing-

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tema de abertura. O ambiente em tons pastéis e os soldados que se instalam também sugerem ao espectador as temáticas da Guerra do Iraque e da ocupação americana, porque temos esses componentes imagéticos guardados no imaginário de nossa comunidade ocidental a respeito dos países árabes.

O primeiro diálogo acontece entre o fuzileiro naval que o protege. A mais longa frase dita no diálogo é proferida pelo personagem secundário, que diz: “a maldita poeira deste lugar cachorro”. A sentença parece um insulto ao local em que eles estão e começa a sugerir qual será a relação do norte A cena segue, Kyle aponta seu rifle de precisão a um homem que fala ao celular no telhado de uma casa. Ele é suspeito porque a cidade em que se encontra teria sido evacuada e todos os cidadãos que ainda permanecem são suspeitos. Contudo, essa explicação só será dada após algumas cenas, já que o filme usa o artifício do (tem início com o sniper já no Iraque e depois localiza quem ele era e como chegou à guerra). Esse recurso faz com que o detalhe da evacuação do território quase não seja percebido pelo espectador. A sensação de tensão e perseguição é desenvolvida a ponto de sentirmos, intuitivamente, que toda população local é suspeita, mas sem termos a consciência plena de tal quadro, já que é pequeno e deslocado o detalhe que explicita esse fato no filme. Adiante, quando Kyle tem em sua mira um menino e sua mãe que manuseiam uma bomba, o primeiro Chris, quando ele caça com seu pai. “Você será um bom caçador um dia”, o pai lhe diz, depois de o garoto ter matado um animal.uma após a outra, não é feita ao acaso. “Foi aí, na relação invisível de uma cena com a outra, que o cinema realmente gerou uma nova linguagem.” (CARRIÈRE, 2015, p.17)Seu filho tinha realmente se tornado um caçador, porque o vemos mirando em iraquianos no começo da trama sabemos que ele o fará, afinal, o filme não trata da história de um

A infância de Kyle é preenchida de elementos como o cristianismo, a educação conservadora e a violência como uma grande parte família em cultos, o jantar em que o pai ensina seus filhos a usar de força e Chris defendendo seu irmão em brigas da escola indicam esses elementos. É possível ler o cristianismo como sendo a experiência legítima, em oposiçãono filme. “os valores familiares se impõem, e no final a mente reduz a pressão que sofre

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tema de abertura. O ambiente em tons pastéis e os soldados que se instalam também sugerem ao espectador as temáticas da Guerra do Iraque e da ocupação americana, porque temos esses componentes imagéticos guardados no imaginário de nossa

idental a respeito dos países árabes. O primeiro diálogo acontece entre o sniper (que se tornará o herói) e um

fuzileiro naval que o protege. A mais longa frase dita no diálogo é proferida pelo personagem secundário, que diz: “a maldita poeira deste lugar tem gosto de merda de cachorro”. A sentença parece um insulto ao local em que eles estão e começa a sugerir qual será a relação do norte-americano com aquele território.

A cena segue, Kyle aponta seu rifle de precisão a um homem que fala ao celular elhado de uma casa. Ele é suspeito porque a cidade em que se encontra teria sido

evacuada e todos os cidadãos que ainda permanecem são suspeitos. Contudo, essa explicação só será dada após algumas cenas, já que o filme usa o artifício do

já no Iraque e depois localiza quem ele era e como chegou à guerra). Esse recurso faz com que o detalhe da evacuação do território quase não seja percebido pelo espectador. A sensação de tensão e perseguição é desenvolvida a ponto

rmos, intuitivamente, que toda população local é suspeita, mas sem termos a consciência plena de tal quadro, já que é pequeno e deslocado o detalhe que explicita esse fato no filme. Adiante, quando Kyle tem em sua mira um menino e sua mãe que

bomba, o primeiro flashback acontece. O filme volta à infância de Chris, quando ele caça com seu pai. “Você será um bom caçador um dia”, o pai lhe diz,

roto ter matado um animal. Cabe reconhecer que a colocação de cenas, o é feita ao acaso. “Foi aí, na relação invisível de uma cena com a

outra, que o cinema realmente gerou uma nova linguagem.” (CARRIÈRE, 2015, p.17)Seu filho tinha realmente se tornado um caçador, porque o vemos mirando em iraquianos no começo da trama – apesar de ainda não ter executado ninguém. Mas sabemos que ele o fará, afinal, o filme não trata da história de um sniper

A infância de Kyle é preenchida de elementos como o cristianismo, a educação conservadora e a violência como uma grande parte dessa educação. A presença da família em cultos, o jantar em que o pai ensina seus filhos a usar de força e Chris defendendo seu irmão em brigas da escola indicam esses elementos. É possível ler o cristianismo como sendo a experiência legítima, em oposição ao islamismo, mais tarde

s valores familiares se impõem, e no final a mente reduz a pressão que sofre

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tema de abertura. O ambiente em tons pastéis e os soldados que se instalam também sugerem ao espectador as temáticas da Guerra do Iraque e da ocupação americana, porque temos esses componentes imagéticos guardados no imaginário de nossa

(que se tornará o herói) e um fuzileiro naval que o protege. A mais longa frase dita no diálogo é proferida pelo

tem gosto de merda de cachorro”. A sentença parece um insulto ao local em que eles estão e começa a sugerir

A cena segue, Kyle aponta seu rifle de precisão a um homem que fala ao celular

elhado de uma casa. Ele é suspeito porque a cidade em que se encontra teria sido evacuada e todos os cidadãos que ainda permanecem são suspeitos. Contudo, essa explicação só será dada após algumas cenas, já que o filme usa o artifício do flashback

já no Iraque e depois localiza quem ele era e como chegou à guerra). Esse recurso faz com que o detalhe da evacuação do território quase não seja percebido pelo espectador. A sensação de tensão e perseguição é desenvolvida a ponto

rmos, intuitivamente, que toda população local é suspeita, mas sem termos a consciência plena de tal quadro, já que é pequeno e deslocado o detalhe que explicita esse fato no filme. Adiante, quando Kyle tem em sua mira um menino e sua mãe que

acontece. O filme volta à infância de Chris, quando ele caça com seu pai. “Você será um bom caçador um dia”, o pai lhe diz,

Cabe reconhecer que a colocação de cenas, o é feita ao acaso. “Foi aí, na relação invisível de uma cena com a

outra, que o cinema realmente gerou uma nova linguagem.” (CARRIÈRE, 2015, p.17). Seu filho tinha realmente se tornado um caçador, porque o vemos mirando em

apesar de ainda não ter executado ninguém. Mas sniper falido.

A infância de Kyle é preenchida de elementos como o cristianismo, a educação dessa educação. A presença da

família em cultos, o jantar em que o pai ensina seus filhos a usar de força e Chris defendendo seu irmão em brigas da escola indicam esses elementos. É possível ler o

ao islamismo, mais tarde s valores familiares se impõem, e no final a mente reduz a pressão que sofre

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acomodando as coisas em si mesmaseria a forma original de religião, enquanto que o islamdos acontecimentos, como um mal.

A jornada de Chris Kyle tem a situação inicial de bemem sua vida adulta, quando ele representa o nesse âmbito em que ele se prestígio. Seu núcleo familiar, então, é literalmente definido por seu irmão mais novo. Apesar disso, é possível interpretar, de forma simbólica, a própria nação estadunidense como o núcleo familiar de Kyle. Podedo antagonista, o árabe, que entra em cena para realizar uma agressão. O árabe é praticamente uma entidade, “nada de individualidade, nem de características ou experiências pesssoais.” (SAID,Land), forças especiais da marinha americanaembaixadas americanas em alguns países africanos. O fato do núcleo familiar de Kyle ser, simbolicamente, os EUA, é o

No filme, a televisão de Kyle é um elemento importante. Antes de ele assistir pela primeira vez à notícia de um atentado, sua televisão transmitia um programa de rodeio, e ele estava vestido com trajes quepodem-se notar as diferenças entre quem o protagonista é e quem ele se tornará. Durante a notícia, o jornalista televisivo reforça que há um inimigo desconhecido dos EUA, iniciando uma guerra. É possível comprsegundo os norte-americanos, que levaram à Guerra ao Terror e à invasão do Iraque.

Durante o treinamento na Marinha norteé velho demais para começar uma carreia militar podem ser analisados como a proibição na jornada do herói, já que Kyle responde que está ali “para matar terroristas”, que representa a vontade de transgressão do protagonista. Os detalhes da construção do personagem fazem cofinal, seja reforçado por esses fatos de suposta superação pessoal.

O futuro herói se torna parte da Escola de Atiradores, onde lhe é ensinado que apertar o gatilho deve ser um ato natural. Frases de efeito militarista fazem crescer, 5 Disponível em: http://www.sealswcc.com/become

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acomodando as coisas em si mesmas como ‘originais’” (SAID, 2016, p. 97)seria a forma original de religião, enquanto que o islamismo vai se delinear, ao longo dos acontecimentos, como um mal.

A jornada de Chris Kyle tem a situação inicial de bem-estar particular definida em sua vida adulta, quando ele representa o cowboy americano, vencedor de rodeios. É nesse âmbito em que ele se sustenta socialmente e financeiramente, recebendo até certo prestígio. Seu núcleo familiar, então, é literalmente definido por seu irmão mais novo. Apesar disso, é possível interpretar, de forma simbólica, a própria nação estadunidense

ar de Kyle. Pode-se chegar a este argumento após a identificação do antagonista, o árabe, que entra em cena para realizar uma agressão. O árabe é praticamente uma entidade, “nada de individualidade, nem de características ou experiências pesssoais.” (SAID, 2016, p. 383). Chris se alistou ao SEALs (Sea, Air and

, forças especiais da marinha americana5, depois de ataques terroristas às embaixadas americanas em alguns países africanos. O fato do núcleo familiar de Kyle ser, simbolicamente, os EUA, é o elemento que constrói o caráter patriota do texto.

No filme, a televisão de Kyle é um elemento importante. Antes de ele assistir pela primeira vez à notícia de um atentado, sua televisão transmitia um programa de rodeio, e ele estava vestido com trajes que remetem a essa atividade. Por esses detalhes,

se notar as diferenças entre quem o protagonista é e quem ele se tornará. Durante a notícia, o jornalista televisivo reforça que há um inimigo desconhecido dos EUA, iniciando uma guerra. É possível compreender tal informação como o gatilho,

americanos, que levaram à Guerra ao Terror e à invasão do Iraque.Durante o treinamento na Marinha norte-americana, é reforçado a Chris que ele

é velho demais para começar uma carreia militar - ele tem trinta anos. Tais comentários podem ser analisados como a proibição na jornada do herói, já que Kyle responde que está ali “para matar terroristas”, que representa a vontade de transgressão do protagonista. Os detalhes da construção do personagem fazem com que o triunfo, ao final, seja reforçado por esses fatos de suposta superação pessoal.

O futuro herói se torna parte da Escola de Atiradores, onde lhe é ensinado que apertar o gatilho deve ser um ato natural. Frases de efeito militarista fazem crescer,

http://www.sealswcc.com/become-navy-seal.html

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como ‘originais’” (SAID, 2016, p. 97). Ser cristão ismo vai se delinear, ao longo

estar particular definida americano, vencedor de rodeios. É

sustenta socialmente e financeiramente, recebendo até certo prestígio. Seu núcleo familiar, então, é literalmente definido por seu irmão mais novo. Apesar disso, é possível interpretar, de forma simbólica, a própria nação estadunidense

se chegar a este argumento após a identificação do antagonista, o árabe, que entra em cena para realizar uma agressão. O árabe é praticamente uma entidade, “nada de individualidade, nem de características ou

SEALs (Sea, Air and depois de ataques terroristas às

embaixadas americanas em alguns países africanos. O fato do núcleo familiar de Kyle elemento que constrói o caráter patriota do texto.

No filme, a televisão de Kyle é um elemento importante. Antes de ele assistir pela primeira vez à notícia de um atentado, sua televisão transmitia um programa de

remetem a essa atividade. Por esses detalhes, se notar as diferenças entre quem o protagonista é e quem ele se tornará.

Durante a notícia, o jornalista televisivo reforça que há um inimigo desconhecido dos eender tal informação como o gatilho,

americanos, que levaram à Guerra ao Terror e à invasão do Iraque. americana, é reforçado a Chris que ele

trinta anos. Tais comentários podem ser analisados como a proibição na jornada do herói, já que Kyle responde que está ali “para matar terroristas”, que representa a vontade de transgressão do

m que o triunfo, ao

O futuro herói se torna parte da Escola de Atiradores, onde lhe é ensinado que apertar o gatilho deve ser um ato natural. Frases de efeito militarista fazem crescer,

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pouco a pouco no filme, a desumanização do outro (o árabe) em benefício próprio (a pátria americana).

Começa então a cena em que Chris conhece sua futura esposa, Taya. Durante o flerte, Kyle diz que morreria pelo país, porque é o melhor país do mundo. Mesmo ambiente descontraído, como o bar em que eles se encontram, é palco para citações nacionalistas do sniper. Isso sugere que a ideia de patriotismo deve ser permanente não apenas quando cantamos o hino ou celebramos o dia da independência do país de nossa nacionalidade. O herói americano reforça ter orgulho qualquer momento.

A trajetória será pendular deste ponto em diante. Kyle ora é companheiro de Taya, ora é militar. De volta à Escola, Chris fraqueja ao atirar em alvos estáticos, acerta com precisão uma cobra que está praticamente camuflada no chão do campo de treinamento. “Sou melhor quanimpessoalidade de sua fala objetifica seus alvos, que mais tarde, serão iraquianos sob ocupação. Pode-se ler os atos do protagonista, nesse momento da trama, como uma preparação para seu desenvolvimento como herói baseado será explicitado.

A definição dos papeis de herói e antagonista começa a se delinear no episódo atentado ao World Trade Center em 11 de setembro de 2001. No filme, o protagonista assiste a cenas do atentado em sua televisão com sua namorada e a maneira como a câmera o enquadra, num close de baixo para cima, sugere que ele tomará uma decisão inspirada naquilo que assistiu. O relacionamento entre o personagem e a cena de terror a que assiste é ilusórino mesmo quadro, mas [o relacionamento] é forte e inequívoco”.

Taya e Chris se casam e dconfirmação de que partirão para o Iraque. Já no país árabe, é explicado a Kyle e a seus companheiros que a cidade foi evacuada e que “qualquer homem adulto que ainda esteja aqui… está aqui para matádiscurso: a população árabe foi esvaziada em humanidade. Iraquianos estão sofrendo uma ocupação e uma guerra avassaladora está prestes a começar. E em momento algum os norte-americanos parecem reflcidade, não o fez como forma de resistência ou apego à sua terra natal. Estar em tais localidades e ser árabe quer dizer ser um potencial ter

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uco a pouco no filme, a desumanização do outro (o árabe) em benefício próprio (a

Começa então a cena em que Chris conhece sua futura esposa, Taya. Durante o flerte, Kyle diz que morreria pelo país, porque é o melhor país do mundo. Mesmo ambiente descontraído, como o bar em que eles se encontram, é palco para citações

. Isso sugere que a ideia de patriotismo deve ser permanente não apenas quando cantamos o hino ou celebramos o dia da independência do país de

sa nacionalidade. O herói americano reforça ter orgulho de sua comunidade em

A trajetória será pendular deste ponto em diante. Kyle ora é companheiro de Taya, ora é militar. De volta à Escola, Chris fraqueja ao atirar em alvos estáticos, acerta com precisão uma cobra que está praticamente camuflada no chão do campo de treinamento. “Sou melhor quando estão respirando”, justifica ele a seu superior. A impessoalidade de sua fala objetifica seus alvos, que mais tarde, serão iraquianos sob

se ler os atos do protagonista, nesse momento da trama, como uma preparação para seu desenvolvimento como herói baseado no orientalismo, que também

A definição dos papeis de herói e antagonista começa a se delinear no episódo atentado ao World Trade Center em 11 de setembro de 2001. No filme, o

a cenas do atentado em sua televisão com sua namorada e a maneira como a câmera o enquadra, num close de baixo para cima, sugere que ele tomará uma

spirada naquilo que assistiu. O relacionamento entre o personagem e a cena de terror a que assiste é ilusório, porque, como diz Carrière (2015, p. 17), eles “não estão no mesmo quadro, mas [o relacionamento] é forte e inequívoco”.

Taya e Chris se casam e durante a celebração, seus amigos militares recebem a confirmação de que partirão para o Iraque. Já no país árabe, é explicado a Kyle e a seus companheiros que a cidade foi evacuada e que “qualquer homem adulto que ainda esteja aqui… está aqui para matá-los.” Uma análise orientalista pode ser feita a partir desse

a população árabe foi esvaziada em humanidade. Iraquianos estão sofrendo uma ocupação e uma guerra avassaladora está prestes a começar. E em momento algum

americanos parecem refletir sobre se aquela população que permaneceu na cidade, não o fez como forma de resistência ou apego à sua terra natal. Estar em tais localidades e ser árabe quer dizer ser um potencial terrorista. Há uma forte inversão de

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uco a pouco no filme, a desumanização do outro (o árabe) em benefício próprio (a

Começa então a cena em que Chris conhece sua futura esposa, Taya. Durante o flerte, Kyle diz que morreria pelo país, porque é o melhor país do mundo. Mesmo um ambiente descontraído, como o bar em que eles se encontram, é palco para citações

. Isso sugere que a ideia de patriotismo deve ser permanente – não apenas quando cantamos o hino ou celebramos o dia da independência do país de

sua comunidade em

A trajetória será pendular deste ponto em diante. Kyle ora é companheiro de Taya, ora é militar. De volta à Escola, Chris fraqueja ao atirar em alvos estáticos, mas acerta com precisão uma cobra que está praticamente camuflada no chão do campo de

ele a seu superior. A impessoalidade de sua fala objetifica seus alvos, que mais tarde, serão iraquianos sob

se ler os atos do protagonista, nesse momento da trama, como uma orientalismo, que também

A definição dos papeis de herói e antagonista começa a se delinear no episódio do atentado ao World Trade Center em 11 de setembro de 2001. No filme, o

a cenas do atentado em sua televisão com sua namorada e a maneira como a câmera o enquadra, num close de baixo para cima, sugere que ele tomará uma

spirada naquilo que assistiu. O relacionamento entre o personagem e a cena de , porque, como diz Carrière (2015, p. 17), eles “não estão

urante a celebração, seus amigos militares recebem a confirmação de que partirão para o Iraque. Já no país árabe, é explicado a Kyle e a seus companheiros que a cidade foi evacuada e que “qualquer homem adulto que ainda esteja

.” Uma análise orientalista pode ser feita a partir desse a população árabe foi esvaziada em humanidade. Iraquianos estão sofrendo

uma ocupação e uma guerra avassaladora está prestes a começar. E em momento algum etir sobre se aquela população que permaneceu na

cidade, não o fez como forma de resistência ou apego à sua terra natal. Estar em tais rorista. Há uma forte inversão de

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sentidos nesse momento – passa a ser representado como o agressor, enquanto que o americano, ocupante que vem de uma terra longínqua, é o salvador.

A história continuado sniper e de seus colegas: Mustafa, um atleta sírio que é, no presente da narrativa, um atirador de elite no Iraque; Zarqawi, um dos soldados mais importantes da Al Qaeda, e por último, outro terrorista, chamado de Açougueiro, é alvo dos americanos. Ele tesse nome por torturar pessoas a sangue frio. Novamente o caráter orientalista aparece na construção de personagens, já que as atrocidades americanas são ocultas do textoque demarca ainda mais as características negativas dos árabesdesses homens como os antagonistas da trama, o vilão da história do como entidade ameaçadora, como veremos em breve.

A primeira execução de Kyle é de uma criança que lançaria uma granada num tanque de guerra americano, incentivado por sua mãe. Quando o menino é abatido, a mulher recupera o artefato do chão e o lança em direção aos americanos, e também é morta. Uma observação importante é o traje dos personagens árabes, que Edward Said descreveu como a fantasia que os ocidentais criaram acerca do que é parecer árabe. As mulheres do filme em questão usam os tornozelos. No entanto, ele é mais popular no Irã. Já os homens, os “possíveis terroristas”, estão sempre com um lenço amarrado na cabeça. Alguns deles lembram mesmo o keffiyeh, tecido que é um símbolo nacionalista palestino. O orientalista faz com que certas peças, utilitransformem-se em um bloco, como se as nações árabes tivessem história e tradição. Não é impossível que iraquianos usem xador, mas a maneira como os símbolos cuidadosa para que representações não generalizem, que não parece ser o caso do filme americano. Além disso, a mulher árabe é representada como uma perversa que ensina seus filhos a serem “terroristas”presente na cena.

No alojamento, Kyle diz nunca ter feito tamanha maldade, referindomatado uma criança. Chris está abalado e é nesse aspecto que mora a diferença entre o herói americano e o vilão árabe. O ameridesconforto de ter que ser o herói. Ele está no Iraque, matando pessoas, para impedir

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o árabe, cuja nacionalidade tem ligações com aquela região, passa a ser representado como o agressor, enquanto que o americano, ocupante que vem de uma terra longínqua, é o salvador.

A história continua e o exército americano elege alguns terroristas como alvos e de seus colegas: Mustafa, um atleta sírio que é, no presente da narrativa, um

atirador de elite no Iraque; Zarqawi, um dos soldados mais importantes da Al Qaeda, e por último, outro terrorista, chamado de Açougueiro, é alvo dos americanos. Ele tesse nome por torturar pessoas a sangue frio. Novamente o caráter orientalista aparece na construção de personagens, já que as atrocidades americanas são ocultas do textoque demarca ainda mais as características negativas dos árabes. Apesar da eleiçdesses homens como os antagonistas da trama, o vilão da história do como entidade ameaçadora, como veremos em breve.

A primeira execução de Kyle é de uma criança que lançaria uma granada num tanque de guerra americano, incentivado por sua mãe. Quando o menino é abatido, a mulher recupera o artefato do chão e o lança em direção aos americanos, e também é

ação importante é o traje dos personagens árabes, que Edward Said descreveu como a fantasia que os ocidentais criaram acerca do que é parecer árabe. As mulheres do filme em questão usam xador, um traje preto que cobre desde a cabeça até

ntanto, ele é mais popular no Irã. Já os homens, os “possíveis terroristas”, estão sempre com um lenço amarrado na cabeça. Alguns deles lembram

, tecido que é um símbolo nacionalista palestino. O orientalista faz com que certas peças, utilizadas em países árabes ou muçulmanos específicos,

se em um bloco, como se as nações árabes tivessem todas as mesmashistória e tradição. Não é impossível que iraquianos usem keffiyeh e iraquianas usem

, mas a maneira como os símbolos culturais são colocados deve ser feita de forma cuidadosa para que representações não generalizem, que não parece ser o caso do filme

Além disso, a mulher árabe é representada como uma perversa que ensina seus filhos a serem “terroristas”, sendo chamada de “vadia” pelo fuzileiro naval

No alojamento, Kyle diz nunca ter feito tamanha maldade, referindomatado uma criança. Chris está abalado e é nesse aspecto que mora a diferença entre o herói americano e o vilão árabe. O americano tem sentimentos causados pelo desconforto de ter que ser o herói. Ele está no Iraque, matando pessoas, para impedir

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, cuja nacionalidade tem ligações com aquela região, passa a ser representado como o agressor, enquanto que o americano, ocupante que vem

e o exército americano elege alguns terroristas como alvos e de seus colegas: Mustafa, um atleta sírio que é, no presente da narrativa, um

atirador de elite no Iraque; Zarqawi, um dos soldados mais importantes da Al Qaeda, e por último, outro terrorista, chamado de Açougueiro, é alvo dos americanos. Ele tem esse nome por torturar pessoas a sangue frio. Novamente o caráter orientalista aparece na construção de personagens, já que as atrocidades americanas são ocultas do texto, o

. Apesar da eleição desses homens como os antagonistas da trama, o vilão da história do sniper é o árabe

A primeira execução de Kyle é de uma criança que lançaria uma granada num tanque de guerra americano, incentivado por sua mãe. Quando o menino é abatido, a mulher recupera o artefato do chão e o lança em direção aos americanos, e também é

ação importante é o traje dos personagens árabes, que Edward Said descreveu como a fantasia que os ocidentais criaram acerca do que é parecer árabe. As

, um traje preto que cobre desde a cabeça até ntanto, ele é mais popular no Irã. Já os homens, os “possíveis

terroristas”, estão sempre com um lenço amarrado na cabeça. Alguns deles lembram , tecido que é um símbolo nacionalista palestino. O orientalista faz

zadas em países árabes ou muçulmanos específicos, todas as mesmas

e iraquianas usem são colocados deve ser feita de forma

cuidadosa para que representações não generalizem, que não parece ser o caso do filme Além disso, a mulher árabe é representada como uma perversa que ensina

ada de “vadia” pelo fuzileiro naval

No alojamento, Kyle diz nunca ter feito tamanha maldade, referindo-se a ter matado uma criança. Chris está abalado e é nesse aspecto que mora a diferença entre o

cano tem sentimentos causados pelo desconforto de ter que ser o herói. Ele está no Iraque, matando pessoas, para impedir

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que o “mal” se espalhe e chegue à América humanidade. Em contrapartida, o árabe jamais é mostrado romantizada, como o ocidental é. De certa forma, esse quadro é gerado pela falta de individualidade da representação do árabe, mas há também o fator da caricatura do islamismo radical como gerador de atrocidades de forma despreocup

O árabe é quase um sinônimo do fracasso, segundo a lógica orientalista. No filme, vemos um homem-metralhado por soldados americanos antes de chegar a seu objetivo. tela uma sequência de mortes perpetradas por Kyle, todas perfeitamente realizadas. Uma delas é de um homem que carregava um fuzil. Mais tarde, Chris é questionado por seus superiores sobre tal morte, já que a esposa do morto disse aos americanos que seu marido carregava apenas um alcorão. O exabatido lembrava muito uma AKlinguístico, é muito sugestivo de que a religião muçulmana e a violência andam juntas, outra expressão orientalista. Kyle começa a ser chamado de “lenda” pelos colegas, pois é o atirador mais letal daquele conflito até o momento.

Há uma certa repetição de fatos muito representativa na narrativa, que envolve os patriarcas árabes. Para que os americanos encontreordem de arrombar casas e interrogar os pais de família sobre a localização dos alvos. O primeiro arrombamento acontece na casa da família de um suposto xeique (líder religioso muçulmano). Sua família é agredida enquanto Kyele não poderia estar ali, já que a cidade deveria ter sido completamente evacuada. O homem árabe responde, dizendo que os soldados podem entrar de forma pacífica e tenta acalmar a situação, quando um deles grita que ele só dipatriarca iraquiano diz que se o grupo de Zarqawi descobrir que a família está falando com americanos, farão deles exemplo para a comunidade local por meio da tortura. Então, o patriarca negocia, explicando que pode ajudaralvos, mas antes, precisa de 100 mil dólares. Aqui, o árabe é representado como sedento por dinheiro, mesmo que tais informações custem a vida de sua família. E é o que acontece - os membros da Al Qaeda descobrem o trato entAçougueiro tortura o filho do patriarca. Depois disso, o xeique também é morto pelos terroristas. A ideia instaurada nessa cena é que nem todo iraquiano é mal, aqueles que

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que o “mal” se espalhe e chegue à América – mas isso o machuca, porque ele tem humanidade. Em contrapartida, o árabe jamais é mostrado de maneira sentimental e romantizada, como o ocidental é. De certa forma, esse quadro é gerado pela falta de individualidade da representação do árabe, mas há também o fator da caricatura do islamismo radical como gerador de atrocidades de forma despreocupada.

O árabe é quase um sinônimo do fracasso, segundo a lógica orientalista. No -bomba que realiza seu plano suicida pessimamente, sendo

metralhado por soldados americanos antes de chegar a seu objetivo. Depois, ssequência de mortes perpetradas por Kyle, todas perfeitamente realizadas.

Uma delas é de um homem que carregava um fuzil. Mais tarde, Chris é questionado por seus superiores sobre tal morte, já que a esposa do morto disse aos americanos que seu

egava apenas um alcorão. O ex-cowboy responde que o alcorão do homem abatido lembrava muito uma AK-47. Tal comparação dos objetos, mesmo que em plano linguístico, é muito sugestivo de que a religião muçulmana e a violência andam juntas,

entalista. Kyle começa a ser chamado de “lenda” pelos colegas, pois é o atirador mais letal daquele conflito até o momento.

Há uma certa repetição de fatos muito representativa na narrativa, que envolve os patriarcas árabes. Para que os americanos encontrem os terroristas, eles recebem a ordem de arrombar casas e interrogar os pais de família sobre a localização dos alvos. O primeiro arrombamento acontece na casa da família de um suposto xeique (líder religioso muçulmano). Sua família é agredida enquanto Kyle grita com ele, dizendo que ele não poderia estar ali, já que a cidade deveria ter sido completamente evacuada. O homem árabe responde, dizendo que os soldados podem entrar de forma pacífica e tenta acalmar a situação, quando um deles grita que ele só diz isso porque quer explodipatriarca iraquiano diz que se o grupo de Zarqawi descobrir que a família está falando com americanos, farão deles exemplo para a comunidade local por meio da tortura. Então, o patriarca negocia, explicando que pode ajudar os americanos a encontrar seus alvos, mas antes, precisa de 100 mil dólares. Aqui, o árabe é representado como sedento por dinheiro, mesmo que tais informações custem a vida de sua família. E é o que

os membros da Al Qaeda descobrem o trato entre Kyle e a família local, o Açougueiro tortura o filho do patriarca. Depois disso, o xeique também é morto pelos terroristas. A ideia instaurada nessa cena é que nem todo iraquiano é mal, aqueles que

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mas isso o machuca, porque ele tem de maneira sentimental e

romantizada, como o ocidental é. De certa forma, esse quadro é gerado pela falta de individualidade da representação do árabe, mas há também o fator da caricatura do

ada. O árabe é quase um sinônimo do fracasso, segundo a lógica orientalista. No

bomba que realiza seu plano suicida pessimamente, sendo Depois, segue na

sequência de mortes perpetradas por Kyle, todas perfeitamente realizadas. Uma delas é de um homem que carregava um fuzil. Mais tarde, Chris é questionado por seus superiores sobre tal morte, já que a esposa do morto disse aos americanos que seu

responde que o alcorão do homem 47. Tal comparação dos objetos, mesmo que em plano

linguístico, é muito sugestivo de que a religião muçulmana e a violência andam juntas, entalista. Kyle começa a ser chamado de “lenda” pelos colegas, pois

Há uma certa repetição de fatos muito representativa na narrativa, que envolve m os terroristas, eles recebem a

ordem de arrombar casas e interrogar os pais de família sobre a localização dos alvos. O primeiro arrombamento acontece na casa da família de um suposto xeique (líder

le grita com ele, dizendo que ele não poderia estar ali, já que a cidade deveria ter sido completamente evacuada. O homem árabe responde, dizendo que os soldados podem entrar de forma pacífica e tenta

z isso porque quer explodi-los. O patriarca iraquiano diz que se o grupo de Zarqawi descobrir que a família está falando com americanos, farão deles exemplo para a comunidade local por meio da tortura.

os americanos a encontrar seus alvos, mas antes, precisa de 100 mil dólares. Aqui, o árabe é representado como sedento por dinheiro, mesmo que tais informações custem a vida de sua família. E é o que

re Kyle e a família local, o Açougueiro tortura o filho do patriarca. Depois disso, o xeique também é morto pelos terroristas. A ideia instaurada nessa cena é que nem todo iraquiano é mal, aqueles que

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cooperam com os EUA são dignos de empatia, pois Kyle lado pai.

Seguem cenas de arrombamento, outro patriarca é contido no chão e questionado se conhece os terroristas ou não. Os soldados americanos se instalam na casa dessa segunda família e são convidados a jantar o Dia do Sacrifício. Durante a refeição, Kyle repara que o cotovelo do patriarca é avermelhado, uma característica de atiradores. Esse é um ponto crucial da narrativa, que faz com que todos os árabes recebam a desconfiança do especárabe é voltada para o mal, já que o e descobre, num dos aposentos da casa, um chão falso recheado de armas e granadas. O patriarca é capturado e lhe são oferecidas duas opções: elajudará os americanos a encontrar Zarqawi. O homem vai ao encontro da facção terrorista, e quando um dos agentes abre a porta, é morto pelos soldados americanos. Depois, o patriarca pega a arma que foi largada pelo terroristaexecutado pelos soldados americanos.

É possível estabelecer uma leitura comparativa entre o patriarca americano (Kyle) versus o patriarca árabe (terrorista). Chris é um herói, mesmo quando está no núcleo familiar que constituiu (há cenperto de seus filhos). Já oatencioso com as crianças em seu lar, enquanto é um promotor de serviços malévolos em sociedade.

Há uma cena importante depoiamericano invade a casa que seria da facção de terroristas e encontram uma sala onde são guardadas cabeças de homens e pedaços de corpos. Um homem branco está morto pendurado por correntes no centro da sala. Kysegue a operação. É irônico como a cena remeteverdade, queria provocar um efeito orientalista contrário, tornando o árabe o incitador da tortura no Iraque.

Num dos turnos de volta chorando de madrugada enquanto ele assiste a uma produção do terrorista Mustafa, que tem filmagens que o mostram matando soldados americanos. O herói diz a sua mulher que Mustafa vende isso nas ruas afirma que “eles” são “selvagens”. Por enquanto, o objeto de sua fala não é especificado, mas podemos pensar em hipóteses.

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cooperam com os EUA são dignos de empatia, pois Kyle lamenta a morte da criança e

Seguem cenas de arrombamento, outro patriarca é contido no chão e questionado se conhece os terroristas ou não. Os soldados americanos se instalam na casa dessa segunda família e são convidados a jantar - há uma celebração muçulmana acontecendo, o Dia do Sacrifício. Durante a refeição, Kyle repara que o cotovelo do patriarca é avermelhado, uma característica de atiradores. Esse é um ponto crucial da narrativa, que faz com que todos os árabes recebam a desconfiança do espectador: até a hospitalidade árabe é voltada para o mal, já que o sniper se levanta da mesa ao desconfiar do homem e descobre, num dos aposentos da casa, um chão falso recheado de armas e granadas. O patriarca é capturado e lhe são oferecidas duas opções: ele será preso e julgado, ou ele ajudará os americanos a encontrar Zarqawi. O homem vai ao encontro da facção terrorista, e quando um dos agentes abre a porta, é morto pelos soldados americanos. Depois, o patriarca pega a arma que foi largada pelo terrorista agora morto, mas é executado pelos soldados americanos.

É possível estabelecer uma leitura comparativa entre o patriarca americano (Kyle) versus o patriarca árabe (terrorista). Chris é um herói, mesmo quando está no núcleo familiar que constituiu (há cenas em que Kyle é chamado de “lenda” e “herói” perto de seus filhos). Já o patriarca árabe representa um fingidor, posto que parece atencioso com as crianças em seu lar, enquanto é um promotor de serviços malévolos

Há uma cena importante depois desses acontecimentos. O grupo de operações americano invade a casa que seria da facção de terroristas e encontram uma sala onde são guardadas cabeças de homens e pedaços de corpos. Um homem branco está morto pendurado por correntes no centro da sala. Kyle ordena que seus amigos soltem

peração. É irônico como a cena remete o episódio de Abu Ghraib, quando, na verdade, queria provocar um efeito orientalista contrário, tornando o árabe o incitador

Num dos turnos de volta aos EUA, há uma cena em que o filho de Kylechorando de madrugada enquanto ele assiste a uma produção do terrorista Mustafa, que tem filmagens que o mostram matando soldados americanos. O herói diz a sua mulher que Mustafa vende isso nas ruas afirma que “eles” são “selvagens”. Por enquanto, o objeto de sua fala não é especificado, mas podemos pensar em hipóteses.

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menta a morte da criança e

Seguem cenas de arrombamento, outro patriarca é contido no chão e questionado se conhece os terroristas ou não. Os soldados americanos se instalam na casa dessa

o muçulmana acontecendo, o Dia do Sacrifício. Durante a refeição, Kyle repara que o cotovelo do patriarca é avermelhado, uma característica de atiradores. Esse é um ponto crucial da narrativa, que

tador: até a hospitalidade se levanta da mesa ao desconfiar do homem

e descobre, num dos aposentos da casa, um chão falso recheado de armas e granadas. O e será preso e julgado, ou ele

ajudará os americanos a encontrar Zarqawi. O homem vai ao encontro da facção terrorista, e quando um dos agentes abre a porta, é morto pelos soldados americanos.

agora morto, mas é

É possível estabelecer uma leitura comparativa entre o patriarca americano (Kyle) versus o patriarca árabe (terrorista). Chris é um herói, mesmo quando está no

as em que Kyle é chamado de “lenda” e “herói” fingidor, posto que parece

atencioso com as crianças em seu lar, enquanto é um promotor de serviços malévolos

s desses acontecimentos. O grupo de operações americano invade a casa que seria da facção de terroristas e encontram uma sala onde são guardadas cabeças de homens e pedaços de corpos. Um homem branco está morto

le ordena que seus amigos soltem-no e o episódio de Abu Ghraib, quando, na

verdade, queria provocar um efeito orientalista contrário, tornando o árabe o incitador

há uma cena em que o filho de Kyle está chorando de madrugada enquanto ele assiste a uma produção do terrorista Mustafa, que tem filmagens que o mostram matando soldados americanos. O herói diz a sua mulher que Mustafa vende isso nas ruas afirma que “eles” são “selvagens”. Por enquanto, o objeto de sua fala não é especificado, mas podemos pensar em hipóteses.

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Na volta ao Iraque, o país, sendo que sua cabeça vale 180 mil dólares. A identificação de quem seria Chris Kyle é a tatuagem de cruz qque o cristianismo na pele não representa nenhum extremismo religioso no filme, eoposição ao islã, que é esterereferência às ameaças locais.

Um soldado discute com Kyle se ele realmente acredita em Deus. E ele responde: “Deus, país, família”. O amigo afirma que a guerra faz as crenças vacilarem. Kyle discorda, e diz que o “mal” está presente ali, naquele “deserto”, que está sendo protegido pelos EUA para que esse “mal” não ataque São Diego ou Nova Iorque. A noção de que o Oriente Médio é um deserto inerte a espera de um salvador foi descrita por Said, que escreve: “A Palestina era vista como um deserto vazio esperando para florescer;” (2016, p. 382)descrita por Said pode ser espelhada no Iraque em relação aos EUA. O medo orientalista de que a jihad se espalhe pelo ocidente também está presente nessa cena.

Um companheiro de guerra dizsua namorada. Ele afirma ter comprado o anel no Iraque, e Kyle se espantacomprou dos selvagens?” Aqui vem a confirmação de que o árabe é o selvagem da narrativa. Afinal, seria muito improvável que o soldainimigo militar. É o árabe que representa o atraso à civilização ocidental.

Seguem cenas em que companheiros de Kyle são feridos, os quais ele sempre resgata, reforçando sua imagem leal. Numa esfera maior, podemos ler essa ligada ao seu país. É interessante notar que o protagonista jamais sorri quando está nos EUA com sua família, mas sim no Iraque. Esses fatos parecem contraditórios quando lembramos que o sniper mesmo quando comete fatalidades.o atirador antagonista, Mustafa. As cenas são épicas: Chris se prepara, junto com sua equipe, no telhado de um prédio. mancha preta. Kyle aperta o gatilho, e o espectador acompanha a bala andando lentamente pelo ar, até atingir Mustafa. Uma tempestade de areia começa, os americanos devem se retirar porque, agora, os “rebeldes” (como são chamados os antagonistas por uma vez mas continua correndo em direção ao carro em que seus amigos partem. Ao final do

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Na volta ao Iraque, o sniper se torna chefe e o homem mais procurado no sendo que sua cabeça vale 180 mil dólares. A identificação de quem seria Chris

Kyle é a tatuagem de cruz que carrega no braço, a marca da jornada do herói. Notaque o cristianismo na pele não representa nenhum extremismo religioso no filme, eoposição ao islã, que é estereotipado. A palavra “selvagem” é usada novamente como referência às ameaças locais.

soldado discute com Kyle se ele realmente acredita em Deus. E ele responde: “Deus, país, família”. O amigo afirma que a guerra faz as crenças vacilarem. Kyle discorda, e diz que o “mal” está presente ali, naquele “deserto”, que está sendo

EUA para que esse “mal” não ataque São Diego ou Nova Iorque. A noção de que o Oriente Médio é um deserto inerte a espera de um salvador foi descrita por Said, que escreve: “A Palestina era vista - por Lamartine e os primeiros sionistas

zio esperando para florescer;” (2016, p. 382). A situação histórica descrita por Said pode ser espelhada no Iraque em relação aos EUA. O medo

se espalhe pelo ocidente também está presente nessa cena.Um companheiro de guerra diz a Kyle que comprou um anel de noivado para

sua namorada. Ele afirma ter comprado o anel no Iraque, e Kyle se espantaAqui vem a confirmação de que o árabe é o selvagem da

narrativa. Afinal, seria muito improvável que o soldado tenha comprado o anel de um inimigo militar. É o árabe que representa o atraso à civilização ocidental.

Seguem cenas em que companheiros de Kyle são feridos, os quais ele sempre resgata, reforçando sua imagem leal. Numa esfera maior, podemos ler essa

É interessante notar que o protagonista jamais sorri quando está nos EUA com sua família, mas sim no Iraque. Esses fatos parecem contraditórios quando

é construído como um personagem que tem sentimentos esmo quando comete fatalidades. Em sua última missão ao Iraque, Kyle precisa matar

o atirador antagonista, Mustafa. As cenas são épicas: Chris se prepara, junto com sua prédio. Aqui, o sniper árabe é apenas uma pequena

mancha preta. Kyle aperta o gatilho, e o espectador acompanha a bala andando lentamente pelo ar, até atingir Mustafa. Uma tempestade de areia começa, os americanos devem se retirar porque, agora, os “rebeldes” (como são chamados os

no filme) querem matá-los. Na fuga épica, Kyle é atingido, mas continua correndo em direção ao carro em que seus amigos partem. Ao final do

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o homem mais procurado no sendo que sua cabeça vale 180 mil dólares. A identificação de quem seria Chris

ue carrega no braço, a marca da jornada do herói. Nota-se que o cristianismo na pele não representa nenhum extremismo religioso no filme, em

otipado. A palavra “selvagem” é usada novamente como

soldado discute com Kyle se ele realmente acredita em Deus. E ele responde: “Deus, país, família”. O amigo afirma que a guerra faz as crenças vacilarem. Kyle discorda, e diz que o “mal” está presente ali, naquele “deserto”, que está sendo

EUA para que esse “mal” não ataque São Diego ou Nova Iorque. A noção de que o Oriente Médio é um deserto inerte a espera de um salvador foi descrita

por Lamartine e os primeiros sionistas - A situação histórica

descrita por Said pode ser espelhada no Iraque em relação aos EUA. O medo se espalhe pelo ocidente também está presente nessa cena.

a Kyle que comprou um anel de noivado para sua namorada. Ele afirma ter comprado o anel no Iraque, e Kyle se espanta: “você

Aqui vem a confirmação de que o árabe é o selvagem da do tenha comprado o anel de um

inimigo militar. É o árabe que representa o atraso à civilização ocidental. Seguem cenas em que companheiros de Kyle são feridos, os quais ele sempre

resgata, reforçando sua imagem leal. Numa esfera maior, podemos ler essa lealdade É interessante notar que o protagonista jamais sorri quando está nos

EUA com sua família, mas sim no Iraque. Esses fatos parecem contraditórios quando é construído como um personagem que tem sentimentos

Em sua última missão ao Iraque, Kyle precisa matar o atirador antagonista, Mustafa. As cenas são épicas: Chris se prepara, junto com sua

árabe é apenas uma pequena e distante mancha preta. Kyle aperta o gatilho, e o espectador acompanha a bala andando lentamente pelo ar, até atingir Mustafa. Uma tempestade de areia começa, os americanos devem se retirar porque, agora, os “rebeldes” (como são chamados os

los. Na fuga épica, Kyle é atingido, mas continua correndo em direção ao carro em que seus amigos partem. Ao final do

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filme, Kyle tem mais de 160 mortes confirmadas e volta a morar nos EUA, mas prefere conviver com veteranos da guerr

Quase na última cena, ele olha para as botas de rodeio que estão no chão do quarto de sua nova casa. Por isso, o final deixa uma impressão cíclicaenxerga seu passado de confortoveterano com quem havia começado a conviverConclusão

Neste artigo, foi proposta uma leitura do cinema americano os estereótipos encarnados pelos personagens árabes.representada, no filme Sniper Americanode confiança por ter suas atitudes vinculadas à violência.desmascara o orientalismo presente no discurso nacionalistUnidos. Esse enquadramento fora do centro é importante para compreender qual a intenção da produção textos como os do cinema hollywoodiano: de maimperialismo funcionando.

Bibliografia BARTHES, Roland. O Prazer do TextoCARRIÈRE, Jean-Claude. Editora Nova Fronteira, 2015 EASTWOOD, Clint. Sinper Americanode Clint Eastwood. Los Angeles, 2014HALL, Stuart. A Identidade Cultural na PósEditora DP&A, 2004 KELLNER, Douglas. A Cultura da Mídiaentre o moderno e o pós-moderno.PROPP, Vladimir. Morfologia do Conto MaravilhosoForense Universitária, 2006SAID, Edward. OrientalismoCompanhia das Letras, 2016 “Become a Navy Seal”, disponível em: seal.html Acesso em 14/7/2016“American Sniper is Officially the Highest Grossing Movie of 2014”, disponível em: http://www.huffingtonpost.com/2015/03/08/americanmovie_n_6827212.html Acesso em 14/7/2016

Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaçãoBrasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a

filme, Kyle tem mais de 160 mortes confirmadas e volta a morar nos EUA, mas prefere viver com veteranos da guerra de que com sua própria família.

Quase na última cena, ele olha para as botas de rodeio que estão no chão do quarto de sua nova casa. Por isso, o final deixa uma impressão cíclica

de conforto naquelas botas de cowboy, e acaba sendo morto por um veterano com quem havia começado a conviver, tornando-se um mártir.

Neste artigo, foi proposta uma leitura do cinema americano visando desconstruiros estereótipos encarnados pelos personagens árabes. A população iraquiana foi

Sniper Americano, como ameaçadora, não-civilizada esuas atitudes vinculadas à violência. A análise das cenas do filme

desmascara o orientalismo presente no discurso nacionalista midiático dos Estados Esse enquadramento fora do centro é importante para compreender qual a

intenção da produção textos como os do cinema hollywoodiano: de maimperialismo funcionando.

Prazer do Texto. São Paulo, SP. Editora Perspectiva, 2006Claude. A Linguagem Secreta do Cinema. Rio de Janeiro, RJ.

Editora Nova Fronteira, 2015 Sinper Americano [Filme]. Produção de Robert Lorenz. Direção

de Clint Eastwood. Los Angeles, 2014. DVD, 133 min. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade. Rio de Janeiro, RJ.

A Cultura da Mídia: estudos culturais: identidade e política pós-moderno. Bauru, SP. EDUSC, 2011

Morfologia do Conto Maravilhoso. Rio de Janeiro, RJ. Editora Forense Universitária, 2006

Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo, SP. Companhia das Letras, 2016 “Become a Navy Seal”, disponível em: http://www.sealswcc.com/become

Acesso em 14/7/2016 “American Sniper is Officially the Highest Grossing Movie of 2014”, disponível em: http://www.huffingtonpost.com/2015/03/08/american-sniper-highest-grossing

Acesso em 14/7/2016

Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação a 09/09/2016

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filme, Kyle tem mais de 160 mortes confirmadas e volta a morar nos EUA, mas prefere

Quase na última cena, ele olha para as botas de rodeio que estão no chão do quarto de sua nova casa. Por isso, o final deixa uma impressão cíclica proppiana: ele

acaba sendo morto por um

visando desconstruir A população iraquiana foi

civilizada e indigna A análise das cenas do filme

a midiático dos Estados Esse enquadramento fora do centro é importante para compreender qual a

intenção da produção textos como os do cinema hollywoodiano: de manter o

Paulo, SP. Editora Perspectiva, 2006 . Rio de Janeiro, RJ.

[Filme]. Produção de Robert Lorenz. Direção

. Rio de Janeiro, RJ.

: estudos culturais: identidade e política

. Rio de Janeiro, RJ. Editora

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grossing-