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Pneumologia Paulista | Setembro 2017 1 ISSN (on-line): 2448-0533

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2 Pneumologia Paulista | Setembro 2017

Presidente: Regina Maria de Carvalho PintoVice-Presidente: Roberto Rodrigues JúniorSecretária Geral: Silvia Carla Souza Rodrigues1ª Secretária: Roberta Pulcheri RamosDiretora de Finanças: Frederico Leon Arrabal FernandesDiretor de Assuntos Científicos: Willian Salibe FilhoDiretor de Divulgação: José Gustavo Barian RomaldiniDiretor Assuntos do Interior: Ciro de Castro BottoDiretor de Informática: Claúdio Ricardo Frison

COMISSÕES

Defesa Profissional: Lilia Azzi Collet da Rocha CamargoEnsino: Suzana Erico Tanni MinamotoPromoções: Luis Renato AlvesAssuntos da Grande São Paulo: Lilian Ballini CaetanoPublicações: Rodrigo Abensur Athanazio

DEPARTAMENTOS

Cirurgia Torácica:Marcos Naoyuki SamanoCelso Murilo Nálio Matias de FariaErika Rymkiewicz

Endoscopia Respiratória:Evelise LimaFelipe Nominando Diniz OliveiraViviane Rossi Figueiredo

SOCIEDADE PAULISTA DE PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIABIÊNIO 2016/2017

Diretoria

Pediatria:Marina Buarque de AlmeidaAdyleia Aparecida Dalbo Contrera ToroClaudine Sarmento da Veiga

Fisioterapia Respiratória:Luciana Dias ChiavegatoAdriana Claudia LunardiLara Maris Nápolis Goulart Rodrigues

CONSELHO FISCAL

Efetivos:Élcio dos Santos Oliveira ViannaJoão Marcos SalgeMaria Vera Cruz de Oliveira Castellano

Suplentes:Ricardo Mingarini TerraLiana Pinheiro dos SantosMaria Raquel Soares

CONSELHO DELIBERATIVO

Oliver Augusto NascimentoMônica Corso PereiraJaquelina Sonoe Ota ArakakiJosé Eduardo Delfini CançadoRafael StelmachRoberto StirbulovAna Luisa Godoy FernandesMário Terra FilhoEliana Sheila Pereira da Silva MendesJorge NakataniAlberto CukierCarlos Alberto de Castro PereiraMiguel BogossianFrancisco Vargas SusoManuel Lopes dos SantosNelson Morrone

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REGIONAIS

Regional do ABCPresidente: Claudia Maria de Medeiros PachecoSecretária: Mônica Silveira Lapa

Regional de Araraquara / Bauru / BotucatuPresidente: Marcos Abdo ArbexSecretário: José Eduardo Bergami Antunes

Regional de CampinasPresidente: Mauricio Sousa de Toledo LemeSecretário: Paulo Roberto Tonidandel

Regional de MaríliaPresidente: Gisele César de Rossi AgostinhoSecretária: Maria de Lourdes Marmorato Botta Hafner

Regional de Ribeirão PretoPresidente: Adriana Ignácio de PáduaSecretária: Fabíola Galhardo Rizzatti

Regional de SantosPresidente: Alex Gonçalves MacedoSecretário: Thiago Fernandes Leomil

Regional de São José dos CamposPresidente: José Eduardo de OliveiraSecretária: Márcio Adriano Leite Bastos

Regional de São José do Rio PretoPresidente: Clélia Margarete Trindade BorralhoSecretário: Leandro Cesar Salviano

SUB-COMISSÕES

Asma - Maria Amélia Carvalho da Silva Santos

Câncer - Teresa Yae Takagaki

Circulação - Caio Júlio Cesar dos Santos Fernandes

Distúrbios Respiratórios do Sono - Pedro Rodrigues Genta

Doenças Intersticiais - Regina Célia Carlos Tibana

Epidemiologia - Maria Cecília Nieves Teixeira Maiorano

Infecções Respiratórias e Micoses - Mauro Gomes

Pleura - Ricardo Milinavicius

Doenças Ambientais e Ocupacionais - Ubiratan de PaulaSantos

Tabagismo - Aldo Agra de Albuquerque Neto

Terapia Intensiva - Eduardo Leite Vieira Costa

Tuberculose - Suzana Pimenta

Função Pulmonar - Andréa Gimenez

Imagem - Gustavo de Souza Portes Meirelles

Doença Pulmonar Avançada - José Eduardo Afonso Júnior

Exercício e Atividade Física - André Luis Pereira deAlbuquerque

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Apresentação

Caro(a) sócio(a),

No dia 05 de setembro é comemorado o dia nacional da conscientização e divulgação da fibrosecística. O pneumologista é o especialista reconhecido como coordenador da equipe multidisciplinarque atende estes pacientes uma vez que as alterações pulmonares estão altamente associadas àmorbimortalidade destes indivíduos.Importante ressaltar que, antigamente confinada à prática do pneumopediatra, o pneumologistaadulto passou a ser cada vez mais requisitado para o tratamento destes pacientes. Esta mudançaocorreu em consequência dos grandes avanços no diagnóstico e terapêutica desta doença nasúltimas décadas. Atualmente, diversos países do mundo apresentam a maior parte dos pacientescom fibrose acima dos 18 anos e com expectativa de vida que ultrapassa a quarta década de vida.Desta forma, na edição do mês de setembro publicamos um caso relacionado à fibrose císticareforçando o empenho da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia em apoiar o mês dedivulgação da doença e manter a educação continuada de qualidade dos seus sócios.

Atenciosamente,

Dr Rodrigo AthanazioEditor-chefe do Pneumologia Paulista

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Teste de triagem neonatal falso negativo emFibrose Cística é possível?Flávia Querubim Oliveira1, Francyelly Wisnievski Yamamoto2, Luciana Oliveira Silvano Tostes2,Renato Gonçalves Felix2, Giesela Fleischer Ferrari3.1Médica Residente da Pneumologia Pediátrica Faculdade de Medicina de Botucatu – FMB/UNESP2Médico Assistente da Pneumologia Pediátrica Faculdade de Medicina de Botucatu – FMB/UNESP3Prof. Assistente Doutora do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina de Botucatu -FMB/UNESP.

Flávia Querubim OliveiraAv. Professor Mário Rubens GuimarãesMontenegro, S/N, Bairro/Distrito: Unesp Campusde Batucatu - CEP: 18618-687 - Botucatu - SPFax: (14) 3880 1479Tel: (14) 3811 6274E-mail: [email protected]

Relato de Caso

JMBS, sexo masculino, 2 anos e 11 meses, branco,procedente de Santa Cruz do Rio Pardo - SP.

Mãe GII/PII/A0, pais não consanguíneos e o menor éfilho de outro relacionamento. Nascido de parto cesáreoapresentou choro e liquido meconial fluido. A pontuaçãopela escala de Apgar foi 10 e 10 respectivamente, termode 37 semanas e peso adequado para idade gestacional.A primeira coleta do Teste do Pezinho foi realizada noquarto dia de vida com dosagem de tripsina imunorreativa(TIR): 59,1ng/ml, considerada dentro da normalidade.

A criança evoluiu com baixo ganho ponderal, fezeslíquidas, volumosas, de odor fétido e sem produtospatológicos. Realizada a hipótese diagnóstica de alergiaa proteína do leite de vaca (APLV) e iniciado fórmulaextensamente hidrolisada.

Nos primeiros seis meses de vida foi internado por duasvezes, a primeira aos quatro meses por sepse edesidratação com necessidade de hospitalização por 10dias, e aos cinco meses por desidratação apenas. Após asinternações foi solicitado novo TIR com cinco meses devida que evidenciou: 128ng/ml e referenciado em marçode 2015, ao Ambulatório de Triagem Neonatal para FibroseCística - Hospital das Clinicas UNESP com seis meses deidade por suspeita de FC.

Na consulta de triagem em nosso serviço, mãe relatousuor salgado, prurido nasal e negou outros sintomasrespiratórios. Não soube informar a presença de gordura

nas fezes, mas referia pouca melhora na consistência dasfezes e ganho ponderal irregular após alteração da dietada criança.

Ao exame físico encontrava-se em bom estado geral,hidratado, afebril e ativo. Na ausculta cardiológicaapresentava bulhas rítmicas, normofonéticas, em doistempos sem sopros ou extrassístoles e eucárdico(frequência cardíaca de 120 bpm). No exame do aparelhopulmonar encontrava-se eupneico (frequênciarespiratória de 35 irpm), murmúrio vesicularuniversalmente audível e sem ruídos adventícios, ausênciado uso de musculatura acessória (batimento de asa denariz, tiragem subcostal e/ou intercostal). O abdomeapresentava-se globoso com ruídos hidroaéreos audíveis,flácido a palpação superficial e profunda, e indolor,ausência de vísceromegalias. Encontrava-se no percentil< 3 de peso e altura, mas com bom ganho ponderal (52,7g/dia) e estatural.

A conduta inicial foi manter uso de fórmulaextensamente hidrolisada, seio materno e orientadosuspender os derivados lácteos da dieta da mãe.Solicitados exames laboratoriais, que vieram normais(hemograma, função hepática, albumina e urina I).

A urocultura foi positiva para Klebsiella pneumoniae,prescrito antimicrobiano e, após término do tratamento,nova amostra de urocultura mostrou-se negativa. A análisedo coprograma evidenciou Sudam positivo. Baseado nesteresultado e devido a pouca melhora do quadro diarreico,com alteração de dieta, foram solicitados novos exameslaboratoriais e a dosagem de cloro no suor.

O esteatócrito e elastase fecal se evidenciaramalterados com os seguintes valores respectivamente:19,62% e 69 µg/g (insuficiente pancreático). As dosagensde cloro no suor foram de: 91,3 mEq/L (Peso: 104 mg) e155,2 mEq/L (Peso:145mg).

A história clinica e os resultados laboratoriaispreencheram critérios para diagnóstico de Fibrose Císticacom insuficiência pancreática e iniciado tratamento com

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enzimas pancreáticas e reposição de vitaminas aos novemeses.

Após inicio do tratamento o menor apresentou melhorana consistência das fezes e do ganho ponderal-estatural efoi então reintroduzida dieta normal para idade eafastada APLV.

Aos 11 meses de vida, devido à alteração da funçãohepática e ultrassonografia abdominal comhepatomegalia, foi introduzido ácido ursodesoxicólico.

No ano de 2017 foi realizado o teste de genotipagem,que mostrou duas mutações patogênicas da fibrose cística,isto é ∆F508 e G542 X.

No momento se encontra em percentil 50 de peso ealtura. Não faz uso de alfadornase, pois não apresentasintomas respiratórios nem alterações radiológicas.

Discussão

A fibrose cística (FC) é uma doença genética letal dotipo autossômica recessiva, causada por mutações emum gene do braço longo do cromossoma 7, responsávelpela codificação da proteína denominada CFTR (cysticfibrosis transmembrane condutance regulator). Aanormalidade da CFTR resulta em secreções espessas eviscosas, causadoras de obstrução de ductos, canalículosglandulares, culminando em doença pulmonar,insuficiência pancreática e níveis anormalmente elevadosde eletrólitos no suor (suor salgado).1,2,3

Essa doença é mais prevalente em caucasianos e estima-se que no Brasil a incidência seja de 1:7.576 nascidosvivos. No caso descrito o paciente é caucasiano.1,2

A suspeita para essa doença pode ser feita através doTeste do Pezinho (Triagem Neonatal – TNN), com coleta deamostra de sangue em papel de filtro que avalia otripsinogênio imunorreativo (TIR), o seu aumentoidentifica os recém-nascidos com risco de ter a doença eesses devem ser encaminhados para avaliação em centrode referência de FC.4

O Teste do Pezinho no Brasil, fase III, foi instituído noâmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) através daportaria GM/MS 822, de 06 de junho de 2001. Algunsestados não estavam capacitados para realizar a dosagemde TIR no TNN. Iniciaram a TNN para FC a cidade de BeloHorizonte e os Estados de Santa Catarina e Paraná. AResolução 24 de 04 de fevereiro de 2010 da Secretaria deSaúde (SS 24), instituiu no Estado de São Paulo a pesquisapara FC. O TIR é um precursor da enzima pancreática eestá elevado no sangue dos recém-nascidos com FC,mesmo naquelas crianças onde ainda há suficiênciapancreática e ausência dos sintomas da doença. Esteaumento ocorre porque a fibrose pancreática que amaioria destes pacientes apresenta, já ocorre no períodointra-útero, levando a um refluxo das enzimas pancreáticaspara a circulação sanguínea com a elevação dos níveisséricos do TIR, que pode ser quantificado no teste do

pezinho. Os níveis de TIR podem estar alterados em outrascondições (recém-nascidos submetidos a grande estresseperinatal, baixos índices na escala de Apgar, pré-maturos,portadores de síndromes genéticas, afrodescendentes,obstrução intestinal e agenesia de ductos pancreáticos),ou seja, não se trata de um exame diagnóstico para FC. Oíndice de testes falsos positivos pelo algoritmo baseadona quantificação do TIR é bastante alto, e o número defalsos positivos e falsos negativos depende do valor decorte estabelecido.1,4,5 A TNN negativa não exclui odiagnóstico, como no caso descrito.

No Brasil, segue-se o algoritmo baseado em duasdosagens de TIR durante o primeiro mês de vida, entretantohá países que associam a pesquisa das principaismutações envolvidas na patogênese da doença durante ainvestigação.1,5

A Resolução de 2010 adotava que a primeira e segundadosagem de TIR superior ou igual a 70ng/ml seriamcritérios de encaminhamento ao Centro de Referência, comdosagem de cloro no suor. A coleta após 45º dia de vidanão era critério diagnóstico para a FC.1,2 A resolução 73de 29 de julho de 2015 da Secretária de Saúde (SS 73),adota que a primeira coleta deve ser realizada entre o 3ºe o 15 º dia de vida, com TIR inferior a 79,9ng/ml normal e,maior ou igual a 80ng/ml, indica realização de segundacoleta do exame. Esta segunda coleta ocorrerá entre 16 º e30º dia de vida, com TIR superior ou igual a 70ng/ml, ouse coleta com mais de 30 dias de vida, com resultadomaior ou igual a 100ng/ml, o paciente deverá sersubmetido à avaliação clínica imediata e realização dedosagem de cloro no suor4 . No presente relato, a TNN foicoletada no tempo correto (4º dia de vida), porém comresultado falso negativo para FC. A segunda amostra deTIR, aos cinco meses de vida, foi coletada antes da SS 73,e, portanto, não foi considerado critério de suspeita paraFC, apenas foram considerados os sinais clínicos.

A FC é uma doença de envolvimento multissistêmico,caracterizada por doença pulmonar progressiva,disfunção pancreática exócrina, doença hepática,problemas na motilidade intestinal, infertilidademasculina e concentrações elevadas de eletrólitos no suor,em decorrência da hiperviscosidade dos líquidosproduzidos pelas glândulas mucosas.6

As manifestações do aparelho respiratório ocorrem emmais de 95% dos pacientes, e são caracterizadas por sinusites,bronquites, pneumonias e bronquiectasias. Os sintomasreferidos são: de tosse crônica persistente, escarro mucosomuito espesso, sibilância ou roncos, aumento do diâmetroanteroposterior do tórax. Alguns pacientes sãooligossintomáticos por vários anos, o que não impede aprogressão silenciosa para bronquiectasias.2,3

A radiografia de tórax avalia o grau decomprometimento pulmonar e permite comparações delesões durante o seguimento. Ela pode ser normal, masmuito precocemente apresentará sinais de hiperinsuflação

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Figura 1: Algoritmo dos casos com triagem neonatal para confirmação de fibrose cística. FC: fibrose cística; e TIR: tripsina imunorreativa. 1

pulmonar, associado ou não a obstrução completa debrônquios (colapsos ou atelectasias).2 O caso em questãomanteve-se assintomático e sem alterações radiológicas.

A insuficiência pancreática exócrina é a maisimportante manifestação digestiva, caracterizada pordiarreia crônica, fezes volumosas, brilhantes, gordurosase fétidas, geralmente acima de cinco evacuações por dia.Podem ainda ser observados restos alimentares nãodigeridos. A manifestação mais precoce e característicado aparelho digestivo é o íleo meconial, obstrução queaparece nas primeiras 24 a 48 horas do nascimento,incidindo em 10-15 % dos pacientes com FC2. Neste caso,ao nascimento foi identificado mecônio fluido e a mãenão identificava a evacuação com restos alimentares eforma esteatorréica com fezes brilhantes e gordurosas.

As glândulas sudoríparas secretam suor muito salgadoque, em certas crianças deposita-se na testa sob a formade cristais de sal, manifestação muito sugestiva de FCquando relatada. Nos períodos de calor os pacientespodem sofrer acentuada depleção de sódio e cloro pelasudorese, com desidratação hiponatrêmica e alcalosehipercalêmica (heat-stroke syndrom)3. Aos cincos mesesde vida o paciente já havia sido internado duas vezes pordesidratação e a mãe relatava suor salgado.

O crescimento insuficiente em lactentes que sealimentam com quantidades adequadas de nutrientes, eque não conseguem ganhar peso, ou crescer, pode denotar

má absorção. A desnutrição pode se manifestar comedema, anemia e hipoalbuminemia2. Ao exame físico, omenor não se apresentava edemaciado, e os exameslaboratoriais não foram sugestivos para o quadro dedesnutrição.

O diagnóstico de FC é baseado em parâmetrosunificados para todos os pacientes: achados fenotípicos,valores elevados de cloro no suor, identificação de duasmutações patogênicas de FC ou testes da diferença depotencial nasal e avaliação eletrofisiológica na biopsiaretal.7,1

O teste de suor é considerado padrão-ouro e deve serrealizada a analise iônica quantitativa de suor, estimuladopela pilocarpina (Gibson e Cooke) e o peso de suor superiora 50mg. Os valores em pelo menos duas determinaçõesdeverão ser iguais ou acima de 60 mEq/L para confirmarFC. Valores até 29,9 mEq/L são considerados normais eentre 30 e 59,9 mEq/L são considerados duvidosos emqualquer faixa etária.1,8,9 No presente relato o menorapresentou duas dosagens alteradas, sendo confirmadodiagnóstico de FC. (Figura 1)

Os pacientes com FC devem ser submetidos àinvestigação genética, pois a identificação dessasmutações têm implicações prognósticas, planejamentofamiliar e diagnóstico da doença. A mutação da CFTR podecausar redução da expressão da proteína, função,estabilidade ou a combinação destas e os defeitos da CFTR

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são classificados em 6 classes.1,9

A abordagem genética inicial pode ser pela pesquisadas mutações mais prevalentes: ∆F508 e G542X. A ∆F508é a deleção do aminoácido fenilalanina na posição 508,afeta cerca de 60% da população mundial, é uma mutaçãode classe II, e a G542X promove substituição doaminoácido glicina na posição 542, mutação de classe I eestá presente em heterozigose em 96 entre cerca de 138mil indivíduos na população mundial.9 A genotipagem dopaciente evidenciou heterozigose para as duas mutaçõesmais prevalentes.

O diagnóstico foi tardio para o menor apresentado,mesmo tendo realizado a TNN, devido resultado negativodo TIR. Lembrar que isto não afasta diagnósticodefinitivamente, sendo imperativo o acompanhamento dospacientes com pediatra, avaliando sintomas,desenvolvimento ponderal e, se necessário, realização deduas amostras de dosagem de cloro no suor e/ou testegenética para confirmar ou afastar a doença, comorealizado no paciente apresentado.

Referências Bibliográficas

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2. Reis FJC, Damasceno N. Artigo de revisão: Fibrose cística. Jornalde Pediatria. 1998; 74(supl.1): S76-S94.

3. Adde FV, Filho LVRF, Rozov T. Fibrose Cística (mucoviscidose). In:Rozov T. Doenças Pulmonares em Pediatria: diagnóstico e tratamento.2º Edição. São Paulo: Atheneu; 2011, p.743-772.

4. Diário oficial do Estado de São Paulo – resolução de 29 de Maio de2015. Acessado: http://docplayer.com.br/2112058-Resolucao-ss-no-73-29-de-julho-de-2015.html, em 25 de Agosto de 2017.

5. Santos GP, Domingos MT, Wittig EO, Riedi CA, Rosario NA. Neonatalcystic fibrosis screening program in the state of Paraná: evaluation 30months after implementation [Article in Portuguese]. J Pediatr (Rio J).2005;81(3):240-4. https://doi.org/10.2223/JPED.1345

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