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112

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Page 1: Manual HGP 6º
Page 2: Manual HGP 6º

9

1. Império e Monarquia Absoluta no século XVIIIO Império Português no século XVIII

A Monarquia Absoluta no tempo de D. João V

1.1

1.2

1Império e Monarquia Absolutano século XVIII

Séc. XVIII Séc. XIX

1800

Séc. XVII

1697• Descoberta de

ouro no Brasil.

1750• Início do reinado

de D. José I.

1706• Início do

reinadodeD. João V.

1749• Início da

construçãoda Igreja daMisericórdia,no Porto.

1717

• Início da construçãodo Palácio e Conventode Mafra e daBibliotecada Universidadede Coimbra.

1731• Início da

construção doAqueduto dasÁguas Livres.

1747• Início da construção

do Palácio deQueluz.

Coche de gala de D. João V

(Museu Nacional dos Coches).

1700

as páginas de DESENVOLVIMENTO

onde poderás encontrar:

• texto informativo;

• documentos;

• mapas e gráficos;

• fotos e ilustrações;

• questões de

exploração

dos documentos

e/ou das figuras

• «Sou capaz de…», actividades

que deverás realizar depois de es-

tudares os conteúdos de cada pá-

gina dupla; esta rubrica inclui

ainda o «Construir o meu glos-

sário» e o «Situar no tempo»,

exercícios para realizar no Cader-

no de Actividades.

Vais continuar a tua viagem pela nossa Terra e pela nossa História.

Para que uma viagem

seja agradável e proveitosa,

é necessário saber utilizar

um guia ou um roteiro. Nes-

te caso, é necessário saber

utilizar os dois volumes do

Manual de História e Geo-

grafia de Portugal.

Antes de partir de novo,

vamos dar-te algumas infor-

mações:

De acordo com o Progra-

ma, o Manual está dividido

em dois grandes temas, um

por volume, apresentados

em página dupla.

TEMAC Do Portugal do séculoXVIII à consolidaçãoda sociedade liberal

1 Império e Monarquia Absoluta no século XVIII

2 Lisboa Pombalina

3 1820 e o Liberalismo

4 Portugal na segunda metadedo século XIX

a página de

ABERTURA,

contendo:

• a gravura globalizante;

• os conteúdos

programáticos;

• a barra cronológica.

a página de GRAVURA

MOTIVADORA

cuja observação te

despertará o interesse

e a curiosidade por

aquilo que vais estudar.

APRESENTAÇÃO DO MANUAL

Cada um desses temas está dividido em subtemas que incluem:

Tema C 1. Império e Monarquia Absoluta no século XVIII

10

1.1 O Império Português no século XVIII

Exploração económica

O território e os recursos naturais

Como já estudaste, durante a União Ibérica os países inimigos

da Espanha (como a Holanda, a Grã-Bretanha e a França) ocuparam

parte do Império Português.

Após a restauração da independência, Portugal, apesar de ter re-

cuperado alguns dos territórios que antes possuía, acabou por perder,

definitivamente, outros, sobretudo no Oriente. Embora o comércio

com esta região se continuasse a fazer, foi diminuindo bastante nos

séculos XVII e XVIII, devido à concorrência estrangeira.

Os principais domínios e interesses comerciais portugueses

concentravam-se agora em volta do oceano Atlântico. Navios

portugueses cruzavam este oceano, navegando entre os três conti-

nentes – Europa, África e América – e tendo os arquipélagos como

pontos de apoio à navegação (fig. 1).

O Brasil, principal fonte de riqueza do Reino

No século XVII, o açúcar brasileiro ocupou o lugar dos produ-

tos orientais na economia portuguesa. S. Salvador da Baía, então

capital do Brasil, tornou-se uma das mais importantes cidades do Rei-

no. Foram os lucros do comércio do açúcar que permitiram a D. João

IV não só fazer face às despesas da Guerra da Restauração, como

comprar ao estrangeiro os produtos de primeira necessidade, como os

cereais, que escasseavam em Portugal. No entanto, foi no século XVIII

que os engenhos produziram maior quantidade de açúcar (fig. 2).fig. 2 Produção de açúcar.

• Indica:

a) as regiões que faziam parte do império colonial portu-

guês no século XVIII:

– em África; – na América; – no Oriente;

b) três produtos brasileiros e três produtos africanos que

eram enviados para o Reino.

fig. 1 O Império Português no século

XVIII e os produtos comercializados

(adaptado de A. H. de Oliveira Marques e

J. J. Alves Dias, Atlas Histórico de Portugal

e do Ultramar Português).

11

fig. 3 Engenho de açúcar brasileiro. A cana-de-açúcar era esmagada e dela extraído

o caldo que depois era cozido em grandes caldeirões de cobre. Era depois passado

para formas onde cristalizava. A propriedade do senhor do engenho compreendia os

campos de plantação (canaviais), o local onde se fazia o fabrico do açúcar, a casa

grande, onde morava o senhor e a sua família, e a sanzala, onde viviam os escravos.

Nos finais do século XVII e durante o século XVIII, ocorreu ainda

no Brasil um facto de grande importância económica: a descoberta e

exploração de minas de ouro e diamantes. Foram descobertas pelos

bandeirantes, grupos de colonos que organizavam expedições para o

interior do território brasileiro com o objectivo de conhecer os seus re-

cursos naturais e aprisionar indígenas para trabalharem nos engenhos

(fig. 5).

A coroa portuguesa beneficiou largamente dessa descoberta, co-

brando aos particulares que exploravam o ouro e os diamantes o

«quinto», ou seja, a quinta parte do metal extraído.

fig. 5 Os bandeirantes fundaram cidades e

povoações e contribuíram para alargar a

fronteira do Brasil muito para além do que fi-

cara estabelecido no Tratado de Tordesilhas.

fig. 6 Remessas de ouro brasileiro chegado a Portugal.

fig. 4 Cofre de transporte. O ouro

era fundido em barras e nelas grava-

dos o seu peso, o ano da sua

fundição e as armas reais. As barras

seguiam depois para Lisboa em co-

fres de ferro com fechaduras bem

fortes e escondidas, de modo a ser

quase impossível abri-los.

1.

2.

Sou capaz de...

Escrever um texto sobre a vida num engenho do Brasil, durante o século XVIII.

Dar a minha opinião sobre o papel desempenhado pelos bandeirantes.

• Com base na figura 5, indica as

zonas onde foram descobertos

metais preciosos.

• Com base na figura 6, indica os

períodos em que chegou mais

e menos ouro a Portugal.

2

Page 3: Manual HGP 6º

• Investigação sobre pregões antigos e criação de novos para algumas profissões actuais.

• Leitura de textos sobre profissões de antigamente (O Sol e o Menino dos Pés Frios,

de Matilde Rosa Araújo, Portugal Em Selos, edição dos CTT).

• Elaboração de guiões de entrevistas.

Língua Portuguesa

• Legendar peças de vestuário, por exemplo, dos vendedores ambulantes do século XIX.Inglês

• Visionamento de filmes como, por exemplo, O Pátio das Cantigas, onde podes ver

como certas profissões continuaram a existir no século XX.

• Exploração de documentos escritos e iconográficos.

• Visitas de estudo.

História e Geografia

de Portugal

• Analisar a roda dos alimentos e relacioná-la com a alimentação do século XIX.Ciências da Natureza

• Planificação e construção de um calendário.

• Ensaio vocal dos pregões e dos provérbios. Se possível, acompanhá-los com música.

Ed. Visual e Tecnológica

• Elaboração e resolução de problemas com base em pregões ou provérbios.Matemática

Possíveis contributos das disciplinas e de outras áreas curriculares não disciplinares

ACTIVIDADESDisciplinas e áreas curriculares

não disciplinares

• Organização de uma Biblioteca de Turma em articulação com a Língua Portuguesa.Estudo Acompanhado

Ed. Musical

• Organização de debates sobre as profissões, pregões e provérbios, com a presença

de artesãos (oleiros, ferreiros, costureiras...) e historiadores da história local.Formação Cívica

87

PROJECTO

Profissões, pregões e provérbios do século XIX

• Será que todas as profissões de antigamente ainda hoje se mantêm?

• E se algumas já desapareceram, por que terá isso acontecido?

• O que eram os pregões? Será que ainda hoje se mantêm alguns desses pregões?

• O que são provérbios? Alguns deles estarão relacionados com algumas profissões?

• Por que é importante conhecermos as profissões que já não existem ou estão em vias de

extinção, os provérbios e os pregões?

• Se eu pudesse, optaria por escolher uma dessas profissões, em vias de extinção, ou outra

mais moderna?

Para dares resposta a todas estas questões, propomos-te que, individualmente ou em grupo:

• visiones filmes antigos, leias livros, faças entrevistas a pessoas idosas da tua região sobre as pro-

fissões de antigamente, os pregões e os provérbios;

• faças visitas de estudo a oficinas de artesãos e a fábricas;

• pesquises pregões e provérbios na Internet;

Com base na informação recolhida e nos trabalhos realizados, poderás:

• elaborar um calendário sobre «Os provérbios e a agricultura», como já fizeram os teus colegas

da Escola Básica 2, 3 da Ribeira do Neiva. Podes também incluir no teu calendário alguns pregões

(por exemplo, no mês de Novembro um pregão sobre as castanhas);

• prepares um espectáculo a ser apresentado no final do ano lectivo à comunidade escolar e não

escolar em que sejam apresentados os pregões e os provérbios, se possível, com os alunos vesti-

dos à época.

• organizar uma exposição com os materiais elaborados, como entrevistas, textos, vídeos…

86

fig. 1 Capa e página do calendário «Os Provérbios e a Agricultura», elaborado pelos alunos da

EB 2, 3 da Ribeira do Neiva.

• «Esquema-Síntese», um resumo da matéria que es-

tudaste; aqui encontras também a indicação para os

endereços da Internet que podes consultar.

• «Agora já sei…» onde, a partir da observação da gra-

vura motivadora, te são propostos exercícios e activi-

dades para avaliares as tuas competências.

Como o Programa se refere apenas aos epi-

sódios e figuras mais significativos da His-

tória de Portugal, muito ficará por dizer.

Para saberes um pouco mais, encontrarás,

no final de cada volume, a rubrica «A Mi-

nha Região nos Séculos…», que inclui

acontecimentos que ocorreram em

diversas localidades do País durante os

períodos em estudo. Não te esqueças de ler

a parte que diz respeito à tua Região.

Encontras, em cada volume, um «Projecto»

com sugestões de actividades que podes rea-

lizar em articulação com outras disciplinas.

E não te esqueças do Caderno de Apoio e do Caderno de Actividades, auxiliares e companheiros que,

além de te ajudarem na viagem que vais realizar, te propõem actividades com as quais te irás divertir.

BOA VIAGEM!

APRESENTAÇÃO DO MANUAL

84

Invasões Francesas Indepêndencia do Brasil Guerra Civil

Indústria Agricultura Transportes e comunicações

• Mecanização• Fim do pousio

e introdução de

novas culturas

• Adubos quí-

micos

• Mala-posta

• Comboio

• Telefone

• Correios

• Telégrafo

Desemprego

Emigração

PORTUGAL, um país atrasado tecnologicamente e empobrecido

Medidas tomadas pelos governos liberais

Redução da

mão-de-obra

necessária para

a produção

Aumento

da produção

• Mobilidade das pessoas

• Mobilidade das mercadorias

• Troca de ideias e informação

Melhor e mais variada alimentação

Aumento populacional

• Introdução da máquina

a vapor

PORTUGAL NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX

Esquema-Síntese

www.projectos.TE.pt/linkspara saber mais sobre...

• Portugal na segunda

metade do século XIX

Agora Já Sei...

1. Depois de observar a o mapa:

1.1 Identificar:

a) as principais zonas industriais;

b) as principais minas exploradas.

2. Depois de observar a imagem ao lado, indicar:

2.1 os dois produtos que estão a ser transpor-

tados no comboio;

2.2 a respectiva importância nesta época.

3. Explicar a inovação introduzida no processo

de transformação das matérias-primas.

4. Referir:

4.1 dois melhoramentos introduzidos nas cidades, na segunda metade do

século XIX;

4.2 duas medidas tomadas que contribuíram para a defesa dos direitos

humanos;

4.3 três medidas tomadas a nível do ensino.

5. Copiar para o meu caderno diário o quadro seguinte e, depois, completá-lo.

85

6. Redigir um pequeno texto comparando a vida de um camponês com a de um operário no século

XIX.

MOVIMENTOS DA POPULAÇÃO

Nome dado à

saída das pessoas

do campo para

a cidade

Razões

dessa

saída

Nome dado à

saída de pessoas

para outro país

Razões

dessa

saída

Principal

destino

dessas

pessoas

Razões

dessa

escolha

O Funchal em 1836

(…) Todavia, tudo falta nesta terceira cidade do Reino: não há molhe;não há um só cais onde saltem os estrangeiros a pé enxuto; não há ilumi-nação na cidade; não há cemitério; não há teatro (…); não há caminhostransitáveis; estão completamente arruinadas as calçadas das ruas e nemdinheiro temos para tapar os buracos mais perigosos; não há depósitos demendigos que andam em bando pelas ruas, comovendo compaixão, des-gostos e repugnância; não há uma polícia municipal eficiente; enfim, to-das as coisas, e todos os belos estabelecimentos, que nenhuma cidade,

Proclamação dos liberais

Madeirenses! É já notório que uma facção sanguinária e ambiciosa,rodeando um príncipe jovem, o senhor infante D. Miguel, o tem seduzi-do e arrastado a ponto de usurpar a coroa do seu próprio irmão e rei le-gítimo. Pelo direito da natureza e pelo direito público nacional a coroalusitana pertence ao filho primogénito de nossos monarcas. O primogé-nito é o senhor D. Pedro IV; as nações o reconheceram legítimo rei dePortugal; os portugueses lhe juraram fidelidade.

Proclamação de Travassos Valdez de 22 de Junho de 1828,

in Documentos para a História das Cortes Geraes da Nação Portugueza, Lisboa, 1888,

citado por Alberto Vieira (coord.), História da Madeira

Proclamação dos miguelistas

Habitantes da ilha da Madeira! Preciosa porção da nação Portuguesa!Quando a imoralidade de alguns indivíduos procurou insinuar-se entre vóscomo virtude, presenciastes com mágoa o roubo e profanação dos tem-plos: a rebelião de um chefe traidor contra o nosso legítimo soberano D. Miguel I (hoje como tal reconhecido pelos três estados do reino) preten-dia separar-vos involuntariamente de vossos irmãos; ameaçou-nos o pu-nhal dos assassinos, e por comiseração muitos de vós fostes deportados.

Proclamação de José Maria Monteiro, governador da Madeira, 22 de Agosto de 1828,

in Documentos para a História das Cortes Geraes da Nação Portugueza, Lisboa, 1888,

citado por Alberto Vieira (coord.), História da Madeira

A Madeira

O vinho

A vertente sul, dominada na quase totalidade pelo espaço da primitivacapitania do Funchal, foi onde se produziu o melhor vinho, enquanto a donorte, quase exclusiva da capitania de Machico, produzia vinho de inferiorqualidade que raramente saía da Ilha, sendo usado para consumo corren-te ou então utilizado no fabrico de aguardente.

Alguns dados soltos permitem fazer uma ideia da geografia da produção.De acordo com os dados de 1787, o Arquipélago produziu 22 053 pipas, sen-do apenas 179 do Porto Santo. São Vicente era o principal produtor, com3898 pipas, logo seguido do Porto da Cruz, com 1245. No Sul, a maior e me-lhor produção foi sempre a das freguesias limítrofes do Funchal. Saía daquio melhor vinho de exportação. Foi o produto que mais tempo activou as tro-cas externas da Ilha. A partir de meados do século XVII, a produção entrouem curva ascendente, iniciando-se a queda na década de vinte do séculoXIX. O golpe mortal foi dado na segunda metade da centúria e teve origemnas diversas doenças que assolaram a vinha.

in Alberto Vieira (coord.), História da Madeira (adaptado)

fig. 1 Rótulo de garrafa de vinho da

Madeira divulgando as «capacidades

medicinais» do vinho e a paisagem

madeirense. Os bons ares da ilha, que

ajudavam à cura de algumas doen-

ças, como a tuberculose, atraíram

milhares de visitantes no século XIX,

quer portugueses, quer estrangeiros.

CRONOLOGIA

1744 -1801A exportação de vinho da Madei-ra atinge a quantidade máxima.

1748 -1756Mais de 6000 madeirenses eaçoreanos emigram para o Brasil.1807A imposição do Bloqueio Conti-nental pela França leva os Ingle-ses a ocuparem a Madeira.1821Em Janeiro é proclamado o libe-ralismo na Madeira.1822Os arquipélagos da Madeira edos Açores passam a ser desig-nados por «ilhas adjacentes» naConstituição liberal.1834 -1852Uma média anual de 300 a 400doentes, nomeadamente ingle-ses, procuram a Madeira.

106

107

A construção das estradas

Na segunda metade do século XIX, a política de transportes e comu-nicações desenvolve-se na Madeira, tal como no Continente.

Em 1837, perante a urgente necessidade de melhorar as estradas econstruir novas vias de comunicação, formou-se uma comissão – a «Comissão das Estradas».

Segundo a carta régia de 19 de Agosto de 1824, cada habitante eraobrigado a contribuir com cinco dias de trabalho ou mil réis por ano,para a reparação ou abertura de estradas. A esta comissão cabia o direitode arrecadar e aplicar os fundos obtidos para esse fim.

Das actas das sessões, dos ofícios e das cartas recebidas e enviadaspela Comissão, sabemos que: se abriram novos caminhos; se repararamos que estavam degradados; construíram-se pontes; procedeu-se ao cal-cetamento de novas estradas; fizeram-se muros de suporte, desaterros,limpeza de caminhos, de ribeiras e de canos de esgoto.

in Abel Fernandes (dir.), História da Madeira (adaptado)

O «comboio» do Monte

O comboio aparece em 1893, fazendo a ligação do Funchal ao Montee depois do Funchal ao Terreiro da Luta. Este novo meio de transportefoi importantíssimo para o progresso do Funchal, pois que, pela primeiravez, na Ilha, aparece a viação acelerada.

«A cidade do Funchal, pelas excepcionais condições em que se en-contra, como estação de inverno e sanitária, visitada anualmente porconsiderável número de estrangeiros tem absoluta necessidade de pro-mover os progressos materiais que melhor contribuírem para o seu afor-moseamento, decência e confortabilidade.

A maior distracção dos nossos hóspedes estrangeiros consiste nas ex-cursões às majestosas montanhas, e a visita predilecta dos turistas é àSenhora do Monte.

A Empresa do Caminho de Ferro do Monte veio obviar a essas dificul-dades, oferecendo a nacionais e estrangeiros meio fácil, seguro, cómodoe económico de transporte de pessoas e mercadorias para a deliciosa es-tância do Monte».

Diário de Notícias, 26 de Janeiro de 1904,

citado por Abel Fernandes (dir.), História da Madeira (adaptado)

fig. 2 Comboio, ou elevador, e car-

ro de cestos no Monte, Funchal.

fig. 3 Pormenor da cidade do Funchal nos finais do século XIX.

1864 1878 1890 1900

17 677 19 752 18 778 20 844

Quadro IA população do Funchal

CRONOLOGIA

1841-1889Cerca de 37 000 madeirensesemigram para o Continenteamericano.1852Praga de oídio ataca as vinhasmadeirenses.1858Fica concluída a levada para re-gadio na Calheta.1862Existem 1029 bordadeiras noFunchal e Câmara de Lobos e559 teares em toda a ilha.1863Existem 365 moinhos de águapara moer cereais em toda a ilha.1865Lei que liberta todos os escravosque desembarquem na Madeira.1870Ligação de Portugal Continentalà Madeira por cabo submarino.1871A Madeira exporta 527 883 kgde açúcar.1872A filoxera ataca as vinhas madei-renses.1876Fundação do Diário de Notíciasdo Funchal.1888É eleito um deputado republica-no às Cortes.

ou aldeia dos países civilizados deixa de possuir, todos aqui desconhece-mos por falta de meios ou antes por falta de os saber procurar (…).

Registo Geral da Camâra da Funchal, 1836,

citado por Alberto Vieira (coord.), História da Madeira

3

Page 4: Manual HGP 6º

4

1. IMPÉRIO E MONARQUIA ABSOLUTANO SÉCULO XVIII . . . . . . . . . . 8

1.1 O Império Português no século XVIII . 10

Exploração económica . . . . . . . . . 10

O território e os recursos naturais . . . . . 10

O Brasil, principal fonte de riqueza do Reino . 10

Sou capaz de… . . . . . . . . . . . . . . . 11

Os movimentos da população . . . . . 12

O tráfico de escravos . . . . . . . . . . . 12

Sou capaz de… . . . . . . . . . . . . . . . 13

1.2 A Monarquia Absoluta no tempo

de D. João V . . . . . . . . . . . . . 14

A vida na corte . . . . . . . . . . . . . 14

Sou capaz de… . . . . . . . . . . . . . . . 15

A sociedade no tempo de D. João V . . 16

A nobreza . . . . . . . . . . . . . . . . 16

O clero . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

O povo . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

Sou capaz de… . . . . . . . . . . . . . . . 17

A cultura e a arte . . . . . . . . . . . . . 18

Sou capaz de… . . . . . . . . . . . . . . . 19

Esquema-síntese . . . . . . . . . . . . . . . . 20

Agora Já Sei… . . . . . . . . . . . . . . . . 21

2. LISBOA POMBALINA . . . . . . . . . 22

A situação do Reino . . . . . . . . . . 24

O terramoto de 1755 . . . . . . . . . 24

Sou capaz de… . . . . . . . . . . . . . . . 25

A reconstrução de Lisboa . . . . . . . 26

Sou capaz de… . . . . . . . . . . . . . . . 27

A acção do Marquês de Pombal . . . . . 28

Sou capaz de… . . . . . . . . . . . . . . . 29

Esquema-síntese . . . . . . . . . . . . . . . . 30

Agora Já Sei… . . . . . . . . . . . . . . . . 31

3. 1820 E O LIBERALISMO . . . . . . 32

3.1 As invasões napoleónicas . . . . . . 34

A Revolução Francesa . . . . . . . . . . . 34

O Bloqueio Continental . . . . . . . . . . 34

A saída da corte para o Brasil . . . . . 35

Sou capaz de… . . . . . . . . . . . . . . . 35

A resistência aos invasores

e a intervenção inglesa . . . . . . . . 36

A primeira invasão francesa . . . . . . . . 36

A segunda invasão francesa . . . . . . . . 37

A terceira invasão francesa . . . . . . . . 37

Sou capaz de… . . . . . . . . . . . . . . . 37

3.2 A Revolução Liberal de 1820 . . . . . 38

O descontentamento dos Portugueses . 38

Sou capaz de… . . . . . . . . . . . . . . . 39

O movimento revolucionário . . . . . 40

Os antecedentes da revolução . . . . . . . 40

A revolução de 1820 . . . . . . . . . . 40

Sou capaz de… . . . . . . . . . . . . . . . 41

3.3 As Cortes Constituintes . . . . . . . 42

A Constituição de 1822 . . . . . . . . . . 42

Sou capaz de… . . . . . . . . . . . . . . . 43

3.4 A Independência do Brasil . . . . . . 44

Sou capaz de… . . . . . . . . . . . . . . . 45

3.5 As lutas entre liberais e absolutistas . 46

Sou capaz de… . . . . . . . . . . . . . . . 47

Esquema-síntese . . . . . . . . . . . . . . . . 48

Agora Já Sei… . . . . . . . . . . . . . . . . 49

Í N D I C E

C Do Portugal do século XVIIIà consolidação da sociedade liberal

TEMA

Page 5: Manual HGP 6º

4. PORTUGAL NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX . . . . . . . . . . . 50

4.1 O espaço português . . . . . . . . . 52

A situação do Reino . . . . . . . . . . 52

Os recursos naturais . . . . . . . . . . . . . . . . . .

e as inovações tecnológicas . . . . . . 53

A agricultura . . . . . . . . . . . . . . 53

Sou capaz de… . . . . . . . . . . . . . . . 53

Os novos proprietários . . . . . . . . . . 54

As novas técnicas . . . . . . . . . . . . 54

As culturas . . . . . . . . . . . . . . . 55

Sou capaz de… . . . . . . . . . . . . . . . 55

A indústria . . . . . . . . . . . . . . . 56

A máquina a vapor . . . . . . . . . . . . 56

As regiões mais industrializadas . . . . . . 57

Sou capaz de… . . . . . . . . . . . . . . . 57

O nascimento do operariado . . . . . . . . 58

A extracção mineira . . . . . . . . . . . 59

A alteração da paisagem . . . . . . . . . 59

Sou capaz de… . . . . . . . . . . . . . . . 59

Transportes e comunicações . . . . . . 60

O comboio . . . . . . . . . . . . . . . 60

Sou capaz de… . . . . . . . . . . . . . . . 61

As estradas e as vias marítimas . . . . . . 62

Os outros meios de comunicação . . . . . . 63

Sou capaz de… . . . . . . . . . . . . . . . 63

A cultura . . . . . . . . . . . . . . . 64

Sou capaz de… . . . . . . . . . . . . . . . 65

A arte . . . . . . . . . . . . . . . . 66

A arquitectura . . . . . . . . . . . . . . 66

A pintura e a escultura . . . . . . . . . . 66

A cerâmica . . . . . . . . . . . . . . . 67

Sou capaz de… . . . . . . . . . . . . . . . 67

O ensino . . . . . . . . . . . . . . . . 68

A defesa dos direitos humanos . . . . . 69

Sou capaz de… . . . . . . . . . . . . . . . 69

4.2 A vida quotidiana . . . . . . . . . . 70

A vida nos campos . . . . . . . . . . 70

As actividades . . . . . . . . . . . . . 70

A alimentação . . . . . . . . . . . . . 70

O vestuário . . . . . . . . . . . . . . . 71

A habitação . . . . . . . . . . . . . . 71

Sou capaz de… . . . . . . . . . . . . . . . 71

Os divertimentos . . . . . . . . . . . . 72

Sou capaz de… . . . . . . . . . . . . . . . 73

A vida nas grandes cidades . . . . . . 74

A população e as actividades . . . . . . . 74

Os vendedores ambulantes . . . . . . . . 75

A alimentação . . . . . . . . . . . . . 75

Sou capaz de… . . . . . . . . . . . . . . . 75

Os divertimentos . . . . . . . . . . . . 76

O vestuário e a moda . . . . . . . . . . 77

Sou capaz de… . . . . . . . . . . . . . . . 77

A mudança e a modernização . . . . . . . 78

A habitação e as condições de vida . . . . 79

A sociedade portuguesana segunda metade do século XIX . . . 79

Sou capaz de… . . . . . . . . . . . . . . . 79

A demografia . . . . . . . . . . . . . 80

A contagem da população . . . . . . . . 80

O crescimento populacional . . . . . . . 80

Sou capaz de… . . . . . . . . . . . . . . . 81

O êxodo rural . . . . . . . . . . . . . . 82

A emigração . . . . . . . . . . . . . . 82

Sou capaz de… . . . . . . . . . . . . . . . 83

Esquema-Síntese . . . . . . . . . . . . . . . 84

Agora Já Sei… . . . . . . . . . . . . . . . 85

Projecto . . . . . . . . . . . . . . . . 86

A Minha Região nos Séculos XVIII e XIX . . . 88

Cronologia e Reis de Portugal . . . . . . . . 110

Í N D I C E

5

Page 6: Manual HGP 6º
Page 7: Manual HGP 6º

TEMAC Do Portugal do séculoXVIII à consolidaçãoda sociedade liberal

1 Império e Monarquia Absoluta no século XVIII

2 Lisboa Pombalina

3 1820 e o Liberalismo

4 Portugal na segunda metadedo século XIX

Page 8: Manual HGP 6º

O Império Português no século XVIII

A Monarquia Absoluta no tempo de D. João V

1.1

1.2

1Império e Monarquia Absolutano século XVIII

Séc. XVIII Séc. XIX

1800

Séc. XVII

1697• Descoberta de

ouro no Brasil.

1750• Início do reinado

de D. José I.

1706• Início do

reinadodeD. João V.

1749• Início da

construçãoda Igreja daMisericórdia,no Porto.

1717

• Início da construçãodo Palácio e Conventode Mafra e daBibliotecada Universidadede Coimbra.

1731• Início da

construção doAqueduto dasÁguas Livres.

1747• Início da construção

do Palácio deQueluz.

Coche de gala de D. João V,

Museu Nacional dos Coches

(foto António Ventura / DDF-IPM).

1700

Page 9: Manual HGP 6º

9

1. Império e Monarquia Absoluta no século XVIII

Page 10: Manual HGP 6º

Tema C 1. Império e Monarquia Absoluta no século XVIII

10

1.1 O Império Português no século XVIII

Exploração económica

O território e os recursos naturais

Como já estudaste, durante a União Ibérica os países inimigos

da Espanha (como a Holanda, a Grã-Bretanha e a França) ocupa-

ram parte do Império Português.

Após a restauração da independência, Portugal, apesar de ter re-

cuperado alguns dos territórios que antes possuía, acabou por per-

der, definitivamente, outros, sobretudo no Oriente. Embora o

comércio com esta região se continuasse a fazer, foi diminuindo bas-

tante nos séculos XVII e XVIII, devido à concorrência estrangeira.

Os principais domínios e interesses comerciais portugueses

concentravam-se agora em volta do oceano Atlântico. Navios

portugueses cruzavam este oceano, navegando entre os três conti-

nentes – Europa, África e América – e tendo os arquipélagos como

pontos de apoio à navegação (fig. 1).

Lisboa

ANGOLA

Macau

GUINÉ

OCEANOATLÂNTICO

OCEANOÍNDICO

OCEANOPACÍFICO

N

0 5000 km

MOÇAMBIQUE

CABO VERDE

MADEIRA

Timor

AÇORES

GoaDamão

Diu

BRASIL

EquadorS. TOMÉE PRÍNCIPE

Territórios doImpério Portuguêsno séc. XVIII

Marfim

Malagueta

Algodão

Escravos

Café

Açúcar

Tabaco

Ouro

Diamantes

Cacau

Rotas Comerciais

Porcelanas

Especiarias

O Brasil, principal fonte de riqueza do Reino

No século XVII, o açúcar brasileiro ocupou o lugar dos produtos

orientais na economia portuguesa. S. Salvador da Baía, então capital

do Brasil, tornou-se uma das mais importantes cidades do Reino.

Foram os lucros do comércio do açúcar que permitiram a D. João IV

não só fazer face às despesas da Guerra da Restauração, como com-

prar ao estrangeiro os produtos de primeira necessidade, como os ce-

reais, que escasseavam em Portugal. No entanto, foi no século XVIII

que os engenhos produziram maior quantidade de açúcar (fig. 2).fig. 2 Produção de açúcar.

• Indica:

a) as regiões que faziam parte do império colonial portu-

guês no século XVIII:

– em África; – na América; – no Oriente;

b) três produtos brasileiros e três produtos africanos que

eram enviados para o Reino.

fig. 1 O Império Português no século

XVIII e os produtos comercializados

(adaptado de A. H. de Oliveira Marques e

J. J. Alves Dias, Atlas Histórico de Portugal e

do Ultramar Português).

Page 11: Manual HGP 6º

11

fig. 3 Engenho de açúcar brasileiro. A cana-de-açúcar era esmagada e dela extraído

o caldo que depois era cozido em grandes caldeirões de cobre. Era depois passado

para formas onde cristalizava. A propriedade do senhor do engenho compreendia os

campos de plantação (canaviais), o local onde se fazia o fabrico do açúcar, a casa

grande, onde morava o senhor e a sua família, e a sanzala, onde viviam os escravos.

Nos finais do século XVII e durante o século XVIII, ocorreu ainda

no Brasil um facto de grande importância económica: a descoberta e

exploração de minas de ouro e diamantes. Foram descobertas pe-

los bandeirantes, grupos de colonos que organizavam expedições

para o interior do território brasileiro com o objectivo de conhecer os

seus recursos naturais e aprisionar indígenas para trabalharem nos en-

genhos (fig. 5).

A coroa portuguesa beneficiou largamente dessa descoberta, co-

brando aos particulares que exploravam o ouro e os diamantes o

«quinto», ou seja, a quinta parte do metal extraído.

fig. 5 Os bandeirantes fundaram cidades e

povoações e contribuíram para alargar a

fronteira do Brasil muito para além do que

ficara estabelecido no Tratado de Tordesi-

fig. 6 Remessas de ouro brasileiro chegado a Portugal.

fig. 4 Cofre de transporte. O ouro

era fundido em barras e nelas grava-

dos o seu peso, o ano da sua

fundição e as armas reais. As barras

seguiam depois para Lisboa em co-

fres de ferro com fechaduras bem

fortes e escondidas, de modo a ser

quase impossível abri-los.

1.

2.

Sou capaz de...

Escrever um texto sobre a vida num engenho do Brasil, durante o século XVIII.

Dar a minha opinião sobre o papel desempenhado pelos bandeirantes.

• Com base na figura 5, indica as

zonas onde foram descobertos

metais preciosos.

• Com base na figura 6, indica os

períodos em que chegou mais

e menos ouro a Portugal.

Page 12: Manual HGP 6º

Tema C 1. Império e Monarquia Absoluta no século XVIII

12

Os movimentos da população

Nos séculos XVII e XVIII, primeiro com a produção e comerciali-

zação do açúcar e depois com a descoberta do ouro no Brasil, ocor-

reram grandes movimentações da população:

• do Reino, partiram milhares de emigrantes para o Brasil, levados

pelo desejo de enriquecer ou, pelo menos, de conseguir uma

vida melhor.

Esta emigração aumentou tanto que, no século XVIII, foram publi-

cadas leis que proibiam a saída de colonos do Reino para o Brasil;

• no Brasil, as populações avançaram do litoral para o interior: os

missionários partiam ao encontro dos índios para os evangelizar e

proteger; os bandeirantes procuravam, no interior, ouro e pedras

preciosas;

• da costa africana, partiram milhares de escravos. Alguns desti-

navam-se ao Reino, mas a maior parte foi para o Brasil para tra-

balhar, primeiro nos engenhos de açúcar e depois na exploração

do ouro (fig. 2).

A população brasileira formou-se, assim, do resultado da união de

europeus, índios e negros. Ainda hoje são evidentes as influências

destes três povos na linguagem, na música, na dança e na culinária

do Brasil.

O tráfico de escravos

Os índios brasileiros, de fraca constituição física e habituados a

viverem da caça e da recolecção, não se adaptaram aos trabalhos

duros das plantações de açúcar. Foi então necessário recorrer à mão-

de-obra escrava africana, o que provocou o transporte de milhares

de escravos em direcção ao Brasil (fig. 2).

fig. 4 Escravos africanos a caminho do cativeiro. Os escravos podiam ser prisio-

neiros de guerra, capturados pelos traficantes ou comprados a chefes locais.

fig. 1 Padre António Vieira

(1608-1697). Missionário jesuíta

que defendeu a libertação dos

índios, pregando contra o compor-

tamento dos colonos. A sua obra li-

terária (sermões, cartas, etc.) faz

dele um dos maiores escritores da

língua portuguesa.

fig. 2 Locais de origem e destino

da maioria dos escravos africa-

nos (adaptado de A. H. de Oliveira

Marques e J. J. Alves Dias, Atlas

Histórico de Portugal e do Ultramar

Português).

fig. 3 Um escravo fugitivo.

• Indica as principais zonas de

origem dos escravos e o ter-

ritório a que se destinavam.

Page 13: Manual HGP 6º

13

Nos navios que os transportavam – os navios negreiros – as condições

eram desumanas. Lê o documento seguinte.

1.

2.

3.

4.

Sou capaz de...

Comparar a evolução do número de escravos, no quadro 1, com a evolução da produção de

açúcar, no gráfico da página 10, e retirar uma conclusão.

Explicar por que motivo foram os escravos africanos muito importantes para a economia

brasileira.

Propor ao meu / à minha professor(a) um debate sobre a escravatura nos séculos XVII e XVIII.

A turma seria dividida em dois grupos: um tomaria a defesa dos senhores dos engenhos e o ou-

tro a defesa dos escravos. Cada grupo teria de argumentar de forma a justificar a sua posição.

Realizar a Ficha n.° 1 do meu Caderno de Actividades.

Ao chegarem ao Brasil, os escravos eram sepa-

rados e vendidos. Forçados às mais duras tarefas e

aos constantes maus tratos, tentavam muitas ve-

zes fugir para o interior e esconderem-se para co-

meçar uma nova vida em liberdade. Por isso, os

colonos ricos tinham vigilantes encarregues de

capturar os fugitivos (fig. 3).

A libertação dos escravos era difícil. Podia, no

entanto, ser feita através de uma carta de alforria

dada pelo dono como recompensa de qualquer

serviço excepcional.

1760-1764

1765-1769

1770-1774

1775-1778

1779-1787

10 364

14 506

1 8371

1 6864

1 6005

151

137

108

111

173

51 réis

48 réis

48 réis

51 réis

58 réis

2 réis

3 réis

2 réis

1 real

1 real

Fonte: António Carreira, As Companhias Pombalinas (adaptado)

QUADRO IPreço de venda dos escravos capturados em Angola

Períodos N.o deadultos

N.o de crianças

Custo médio dos

adultos

Custo médio dascrianças

O transporte de escravos

Os homens eram empilhados nofundo do porão do navio, acorrenta-dos, com receio de que se revoltasseme matassem todos os brancos que iama bordo. Às mulheres reservavam a se-gunda entrecoberta. As crianças eramamontoadas na primeira entrecoberta.Se quisessem dormir caíam uns sobreos outros.

Havia sentinas, mas como muitostinham medo de perder o lugar, faziamaí mesmo as suas necessidades, princi-palmente os homens, de modo que o calor e o cheiro eram insuportáveis.

Pior do que tudo era o sofrimento dos cativos, de tal forma que muitos não resistiam, morrendoasfixiados, exaustos ou doentes.

Frédéric Mauro, Portugal, o Brasil e o Atlântico

5

• Transcreve três expressões que comprovem as más condições em que os escravos viajavam.

• Dá outro título ao documento.

Plano das duas entrecobertas de um navio negreiro.

Page 14: Manual HGP 6º

Tema C 1. Império e Monarquia Absoluta no século XVIII

14

fig. 2 Pormenor do Coche dos

Oceanos, que fez parte da impo-

nente embaixada enviada por D.

João V ao Papa em 1716 (Museu

Nacional dos Coches, Lisboa). As

embaixadas enviadas a outros paí-

ses eram sempre muito grandes e

luxuosas, para demonstrar a riqueza

do Reino.

Os luxos do rei

D. João V usa grande cabeleira negra, empoada, e veste habitual-mente com grande magnificência. Tive ensejo de o ver na capelareal. Nessa ocasião cobria-lhe as vestes um longo manto de sedapreta semeada de estrelas bordadas a ouro (...) Ama excessivamentea magnificência e a ostentação. Presentemente está a construir,numa alta e árida montanha chamada Mafra, um palácio, uma igre-ja e um convento que custarão quantias fabulosas (...). Todos osanos chegam de Paris e doutras cidades os fatos mais ricos que alise fazem (...). De trajes tem uma tão grande quantidade que não po-deria usá-los todos, embora não vista cada um deles mais de trêsvezes. Em Londres vi uma peça de sua encomenda que bem revela oseu gosto pela magnificência. Era uma banheira de prata maciçadourada por dentro.

César Sausurre, Lettres de Lisbonne (adaptado)

3

• Com base na cronologia da página 8, refere o século em que

este documento terá sido escrito.

• Indica os luxos do rei referidos no documento:

a) no vestuário; b) no mobiliário; c) na constru-

ção.

1.2 A Monarquia Absoluta no tempo de D. João V

O comércio do açúcar, do ouro e dos diamantes trouxe, como

sabes, grandes rendimentos à Coroa portuguesa. Graças a esta ri-

queza, D. João V tornou-se um monarca muito poderoso.

Passou a governar o Reino sem convocar Cortes (quadro I), con-

centrando em si todos os poderes, e nomeando apenas alguns se-

cretários para porem em prática as

suas decisões. O rei detinha o poder

legislativo (fazer as leis), o poder exe-

cutivo (mandar executá-las) e ainda

o poder judicial (poder de julgar

quem não cumpria as leis). Governou

como rei absoluto, à semelhança do

que acontecia noutros reinos euro-

peus.

A vida na corte

As riquezas chegadas ao Reino permitiram a D. João V, tal como

anteriormente tinha acontecido com D. Manuel I, tornar a sua corte

numa das mais ricas da Europa. Observa a figura 2 e lê o docu-

mento 3.

fig. 1 D. João V (pintura de Leoni,

Museu Nacional dos Coches, Lisboa).

Este rei governou durante 44 anos,

de 1706 a 1750.

D. João IV

D. Afonso VI

D. Pedro II

D. João V

7

3

2

0

QUADRO I

Reuniões de Cortes

Foto

DD

F-IP

MFo

to H

enri

que

Ruas

/ D

DF-

IPM

Page 15: Manual HGP 6º

15

Como podes concluir da leitura do documento 3, a corte de

D. João V era luxuosa. O paço real foi mobilado com grande requinte

e decorado com painéis de azulejo, tapeçarias e tapetes (fig. 4). O

mobiliário era rico e variado. Dos tectos pendiam grandes lustres

(candeeiros com velas).

Davam-se banquetes com variadíssimas iguarias, que podiam ir

de sete a oito pratos, nos banquetes mais simples, a sessenta, nos

mais importantes. As novidades da época eram o café e o chocola-

te, bem como o rapé (tabaco moído), que se inalava suavemente no

final da refeição. Dançava-se o minuete ou a pavana ao som do violino

ou do cravo e jogava-se às cartas, às damas e aos dados.

Para além de banquetes e de bailes, assistia-se também na corte a

sessões de poesia, de música e a representações teatrais, muitas

vezes feitas por artistas estrangeiros que D. João V contratava.

Os espectáculos públicos, como as touradas, no Terreiro do Paço,

e a ida à ópera, eram também muito do agrado do rei, que aí se des-

locava num coche revestido a ouro e acompanhado por uma comiti-

va de nobres ricamente vestidos.

1.

2.

3.

4.

5.

Sou capaz de...

Identificar o tipo de governo de D. João V.

Relacionar este tipo de governo com a informação do quadro I.

Escrever uma frase utilizando três adjectivos que caracterizem a corte de D. João V.

Seleccionar da cronologia dois acontecimentos que possibilitaram o luxo da corte deste rei.

Dar a minha opinião sobre o tipo de governo de D. João V e a forma como foram gastas as

riquezas do Brasil.

Realizar a Ficha n.o 1 do meu Caderno de Apoio (Estudo Acompanhado).

CRONOLOGIA

1699Primeiras remessas de ouro deMinas Gerais.

1727Introdução da cultura de caféno Brasil.

1729Descoberta de diamantes noBrasil.

1734Descoberta de jazidas de ouroem Mato Grosso.

fig. 5 Painel de azulejos representando uma festa. O jardim da casa é o local

utilizado por damas e cavalheiros para tomarem uma chávena de chocolate.

fig. 6 Chocolateira de prata.

fig. 4 Tapete de Arraiolos, do sé-

culo XVIII, proveniente do Conven-

to de Santa Clara, em Vila do Conde

(Museu Nacional de Arte Antiga).

Foto

Luís

Pav

ão /

DD

F-IP

M

Page 16: Manual HGP 6º

Tema C 1. Império e Monarquia Absoluta no século XVIII

16

fig. 1 Solar de Mateus, em Vila

Real. Os nobres, à semelhança do

rei, mandavam construir palácios –

solares – de muitas divisões e rica-

mente mobilados e decorados.

fig. 2 Caricatura ridicularizando os penteados da época

(Biblioteca Nacional de Paris). Os toucados eram tão com-

plicados, com tranças, rolos, carrapitos, postiços e poupas,

que muitas damas, para não estragarem o engenhoso pentea-

do, passavam a noite sentadas numa cadeira, acompanhadas

de duas criadas prontas a ampará-las se adormecessem ou

cabeceassem.

Um elegante do século XVIII

Tenho o prazer de lhes apresentar o elegante portu-guês de 1720. (...) Está sentado ao toucador, pintan-

do-se, polvilhando-se, fazendo caretas diante deum espelhinho e cantando os versos que ouvirana última comédia do teatro do Bairro Alto. (...)

Calça sapatos de salto com grandes fivelasde prata. Já tomou o seu bochecho de

água de rosas; tocou os dentes com ver-niz; arrepiou os cabelos mais eriçadosque se visse um lobo, para encaixar acabeleira postiça (...). Ata a sua grava-

tinha; ajusta sobre a camisa a véstia decetim e veste a sua casaquinha verde.

Tira do cabide o seu chapéu de trêscantos; pega no «quito» (espadamuito pequenina que mais parece

uma jóia) e no lenço muito branco efino que perfumou com umas gotasde vinho de Madeira.

Está pronto. É gritar pelo negrinhoda casa que lhe abra a porta e abalar escadaabaixo, em pé de dança.

Júlio Dantas, O Amor em Portugal

no Século XVIII, 1917 (adaptado)

A sociedade no tempo de D. João V

A sociedade portuguesa, no início do século XVIII, continuava divi-

dida nos três principais grupos que já conheces: nobreza, clero e povo.

A nobreza

A nobreza, influenciada pelo modo de viver da corte, tentou

imitá-la na habitação (fig. 1), nas festas e nos grandes banquetes

onde se exibiam riquíssimos serviços de prata ou de louça da melhor

qualidade. No que respeitava ao vestuário, começou a usar trajes

muito complicados (fig. 2). Damas e cavalheiros usavam cabeleiras

postiças, os dentes da frente envernizados, para brilharem, e a cara

empoada de branco e enfeitada com sinais postiços de cetim preto.

3

• Identifica:

a) três características do vestuário masculino e

três do feminino diferentes da actualidade;

b) o costume que mais te impressionou e justifica.

• Dá outro título ao documento.

Page 17: Manual HGP 6º

17

O clero

O clero, para além do serviço religioso e de conti-

nuar a ser o principal responsável pelo ensino, ti-

nha também a seu cargo o Tribunal da Inquisição.

Este tribunal, surgido no reinado de D. João III (século

XVI) para defender a fé católica, era apoiado por

D. João V. Continuava a perseguir os cristãos-novos

(judeus que se tinham convertido ao catolicismo)

acusando-os de manterem práticas judaicas. Perse-

guia também os suspeitos de bruxaria, os que come-

tiam actos considerados imorais e todos aqueles que,

pelas suas ideias inovadoras, pudessem constituir um

perigo para a Igreja e para o poder absoluto do rei.

1.

2.

Sou capaz de...

Seleccionar das palavras e expressões seguintes as que dizem respeito à Inquisição:

• Tribunal da nobreza • Autos-de-fé • Tribunal da Igreja

• Apoiada por D. João V • Protegia o povo • Cristãos-novos

Comparar a vida da nobreza com a do povo em relação ao vestuário e à alimentação.

fig. 4 Auto-de-fé em Lisboa. Os condenados pelo

Tribunal da Inquisição eram torturados e podiam ser

queimados na praça pública, em cerimónias que se

chamavam autos-de-fé e que atraíam muitos espec-

tadores. Alguns destes condenados eram pessoas ricas

e os seus bens revertiam para a Coroa e para a Igreja.

O povo

O povo era um grupo social que abrangia desde a

alta burguesia – que continuava a enriquecer com o

comércio e tentava imitar o modo de viver da nobreza

–, até aos de mais baixa condição – pequenos co-

merciantes, artífices e camponeses. Estes continua-

vam a viver com grandes dificuldades, devido aos

b a i x o s

salários e aos muitos impostos que tinham de pagar.

Nas cidades, as pessoas mais pobres do povo ocupa-

vam-se como trabalhadores domésticos ou em ou-

tras actividades como, por exemplo, vendedores

ambulantes, aguadeiros ou carregadores.

Apesar de já se cultivar o milho grosso, trazido da

América, o povo continuava a alimentar-se sobretudo

de pão, peixe e legumes. Entre as principais diversões

preferidas do povo contavam-se os espectáculos de

fantoches e saltimbancos, as touradas, as procissões e as romarias.

fig. 5 Festa popular em barcos, século XVIII.

Construir o meu glossário

Registar, no meu Caderno de Actividades, o significado de monarquia absoluta, inquisição e

cristão-novo

Realizar a Ficha n.o 2 do meu Caderno de Apoio (Estudo Acompanhado).

Page 18: Manual HGP 6º

Tema C 1. Império e Monarquia Absoluta no século XVIII

18

A cultura e a arte

O reinado de D. João V ficou marcado pela construção de obrasmonumentais, só possíveis graças à riqueza vinda do Brasil. Este reideu importância à cultura, fundando, por exemplo, a Academia Real deHistória, em Lisboa, e a Biblioteca da Universidade de Coimbra (fig. 5).Também o teatro e a ópera foram actividades protegidas e desenvol-vidas por este rei e pelo seu sucessor, D. José I, que, para elas, man-daram construir edifícios próprios.

D. João V mandou construir monumentos grandiosos, como o Palá-cio e Convento de Mafra (fig. 4) e o Aqueduto das Águas Livres (fig. 3).O estilo da época era o Barroco, caracterizado pela abundância dadecoração e pelo uso de linhas curvas. No interior das igrejas e dospalácios era frequente o revestimento a talha dourada – madeiracoberta com uma folha de ouro (fig. 2) –, azulejo e mármore. Ogrande gosto pela decoração levou ao desenvolvimento da ourivesa-ria, da cerâmica, da pintura, da azulejaria e também do mobiliário(fig. 6).

fig. 2 Talha dourada no interior da Igreja de S.Francisco (Porto).

fig. 4 Palácio eConvento de Ma-fra. Este conjunto,constituído por1300 divisões, in-cluía o palácio real,um convento paratrezentos religiosos,uma igreja e umavasta biblioteca. A sua construçãodemorou 13 anos enela trabalharamcerca de 45 000h o m e n s . M u i t o smateriais vieram doestrangeiro.

fig. 3 O Aqueduto das Águas Livres veio resolver o problema deabastecimento de água a Lisboa. As obras iniciaram-se em 1731 e aágua começou a correr em Outubro de 1744.

fig. 1 Igreja e Torre dos Clérigos(Porto), da autoria de Nicolau Nasoni.

Page 19: Manual HGP 6º

19

1.

2.

3.

4.

5.

Sou capaz de...

Transcrever da cronologia o nome de três monumentos onde as riquezas do Brasil terão sidoutilizadas.

Referir uma característica do estilo Barroco visível, respectivamente, em cada uma dasfiguras 2, 4 e 5.

Construir uma frase caracterizando o estilo Barroco.

Realizar a Ficha n.° 2 do meu Caderno de Actividades.

Procurar informar-me se existe algum monumento de estilo barroco na minha localidade.Em caso afirmativo, fazer um pequeno trabalho, indicando: o nome do monumento; a dataem que foi construído; a sua localização; quem o mandou construir; qual o fim a que se des-tinava. Posso ilustrar o meu trabalho com fotografias que tenha tirado.Caso não exista nenhum destes monumentos na minha localidade, posso seleccionar umoutro, dessa época, e recolher informações sobre ele na biblioteca da minha escola.

CRONOLOGIA

1717Início da construção do Palácio eConvento de Mafra e da Bibliote-ca da Universidade de Coimbra.1731Início da construção do Aque-duto das Águas Livres.1732Início da construção da Igrejados Clérigos, junto à qual se er-gueria, mais tarde, a Torre.1747Início da construção do Paláciode Queluz.1749Início da construção da Igrejada Misericórdia, no Porto.

fig. 6 Casa de jantar do século XVIII.fig. 5 Tecto da Biblioteca da Universidade de Coimbra (por-menor).

fig. 7 Como foi gasto o ouro Brasileiro.

Page 20: Manual HGP 6º

Fortalecimento do poder realD. João V – rei absoluto

Luxo da corteConstrução de monumentos

20

Franceses, Ingleses e Holandeses acabaram com o monopólio do comércio português no Oriente

Os Portugueses interessaram-se pela exploração económica do Brasil

Movimentos da população

Portugal enriqueceu com o comérciodos produtos brasileiros

Cana-de-açúcar Ouro Diamantes

Gastos excessivos

Do Reino

• Para o Brasil partiram mi-lhares de emigrantes à pro-cura de uma vida melhor.

No Brasil

• Do litoral para o interior par-tiram:– missionários;– bandeirantes.

Da costa africana

• Partiram milhares de escravos:– para Portugal;– para o Brasil.

IMPÉRIO E MONARQUIA ABSOLUTA NO SÉCULO XVIII

Esquema-Síntese

www.projectos.TE.pt/linkspara saber mais sobre...

• Império e Monarquia Absoluta no século XVIII

Page 21: Manual HGP 6º

Agora Já Sei...

1. Depois de observar o mapa:

1.1 Identificar os territórios que Portugal mantinha:a) na Ásia;b) em África;c) na América

1.2 Escrever o nome do território de maior extensão.

1.3 Referir o nome do oceano que banha o território referido na pergunta anterior.

2. Copiar o quadro seguinte para o meu caderno diário e, depois, completá-lo.

O IMPÉRIO PORTUGUÊS NO SÉCULO XVIII

3. Sobre o reinado de D. João V:

3.1 identificar três monumentos construídos no seu reinado;

3.2 referir o estilo artístico desta época e indicar duas características desse estilo;

3.3 explicar o significado da seguinte frase:«D. João V foi um rei absoluto.»

21

Equador

Lisboa

N

0 5000 km

MADEIRA

AÇORES

Territórios do Império Português no séc. XVIII Marfim

Malagueta Algodão Escravos

Café

Açúcar Tabaco Ouro

Diamantes

Cacau

Rotas Comerciais

PorcelanasEspeciarias

Território que se tornou a principalfonte de riqueza

do Reino

Produtos chegadosao Reino

Movimentos da população provocados

pela descoberta de ouro no Brasil

Duas alterações provocadas no modo

de vida da…

• de África:

• do Brasil:

• do litoral brasileiro:

• de Portugal:

• de África:

• corte:

• nobreza:

• alta burguesia:

Page 22: Manual HGP 6º

Lisboa Pombalina2

Séc. XIXSéc. XVIIISéc. XVII

1755• Terramoto

em Lisboa.

1759• O Marquês

de Pombal expulsaos Jesuítas.• Processo

dos Távoras.

1761• Abolição

da escravaturano Reino.

• Fundaçãodo Real Colégiodos Nobres.

1777• Morte de D. José I.• D. Maria I demite e

desterra o Marquêsde Pombal.

1750• Início do reinado

de D. José I.• Nomeação

de Sebastião Joséde Carvalho e Melocomo Ministrodo Reino.

1700 1800

Marquês de Pombal (Museu da Cidade, Lisboa).

Plano de casa pombalina(Arquivo Histórico Municipalde Lisboa).

Page 23: Manual HGP 6º

2. Lisboa Pombalina

23

Real Senhor, tratareida reconstrução de Lisboa.Ficará, Senhor, mais bela

e organizada do que antes!

Page 24: Manual HGP 6º

Tema C 2. Lisboa Pombalina

24

A situação do Reino

D. José I, que sucedeu a D. João V, foi aclamado rei em 1750.Nesta altura, o País enfrentava vários problemas económicos:

• começava a chegar menos ouro do Brasil;

• a indústria estava pouco desenvolvida e os produtos erammais caros e de pior qualidade do que os produtos estrangeiros;

• a agricultura não produzia o suficiente para alimentar a popu-lação;

• as exportações de açúcar, tabaco e vinho começavam a dimi-nuir e as importações a aumentar, principalmente de produtosmanufacturados de luxo, como sedas, chapéus, louças, relógios etapeçarias;

• o comércio colonial português era, em grande parte, controladopor mercadores estrangeiros, especialmente ingleses.

Para o ajudar na resolução dos problemas do País, D. José I esco-lheu para ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, a quem,gradualmente, foi confiando o governo do Reino. Veio a atribuir-lhe,em 1759, o título de Conde de Oeiras e, dez anos depois, o de Mar-quês de Pombal (fig. 1).

O terramoto de 1755

As dificuldades económicas que o Reino atravessava foram agra-vadas por uma das mais trágicas calamidades que atingiram o País.

No dia 1 de Novembro de 1755, parte do território português foiabalado por um grande terramoto, seguido de um maremoto, que sefizeram sentir mais intensamente na cidade de Lisboa, e também emSetúbal e no Algarve (fig 2).

fig. 1 Marquês de Pombal, 1699--1782 (Museu da Cidade, Lisboa).Extinguiu a escravatura no Reino edecretou a liberdade dos índios doBrasil.

fig. 2 A destruição provocada pelo terramoto, no Sul de Portugal e na cidade de Lisboa (adaptado de A. H. de Oliveira Marques e J. J. Alves Dias, Atlas Histórico de Portugal e do Ultramar Português).

Page 25: Manual HGP 6º

25

O terramoto3

Como era o Dia de Todos os Santos, as pessoas preparavam-se parair à missa ou passear pelos arredores. Nada permitia adivinhar o que seaproximava quando, pouco depois das 9 horas e 30 minutos...

1.

2.

Sou capaz de...

Dizer qual das formas verbais – diminuíram ou aumentaram – devo aplicar às seguintes situações na altura em que D. José I foi aclamado rei:a) remessas de ouro do Brasil; b) exportações; c) importações.

Referir três adjectivos que caracterizem o que aconteceu no dia 1 de Novembro de 1755.

Morreram cerca de 10 000 pessoas e muitos edifícios ficaram emruínas, entre os quais, o Paço da Ribeira e a Casa da Índia. Perderam--se muitos tesouros, como livros e manuscritos, quadros e objectosem ouro e prata.

Após o terramoto, o rei e a família real viveram durante algunsanos numa grande construção de madeira – a «Real Barraca» – comreceio que o tremor de terra se repetisse e a queda do edifício os es-

(...) Ao olhar para a cidade, vi que os prédios mais altos rachavam e desmoronavam--se com grande ruído, arrasados com três abalos seguidos, intermitentes e violentos.

Quase todos os palácios e igrejas grandes foram então rachados ou abateram emparte e poucas casas ficaram em estado de continuarem a ser habitadas.

Todas as pessoas que não foram esmagadas mortalmente pela queda dos edifícioscorreram para os largos e para as maiores praças e aquelas que estavam mais perto dorio procuravam salvar-se em botes ou qualquer coisa em que fosse possível flutuar.

(...) Enquanto a multidão se juntava à beira do rio, a água elevou-se a uma tal alturaque invadiu e inundou a parte mais baixa da cidade, aterrorizando tanto os já horrori-zados habitantes que mesmo aqui de bordo podíamos ouvir os seus gritos terríveis evia-se a multidão correndo de um lado para o outro completamente desorientada,convencida de que tinha chegado o fim do mundo (...) e gritando: « O que será de nós!Nem a água nem a terra nos protegem, e o fogo parece agora ameaçar a nossa totaldestruição!» como, com efeito, aconteceu.

Excerto do relato de um inglês de passagem por Portugal, Lisboa, 19 de Novembro de 1755

• Refere o que provocou a destruição da cidade de Lisboa.

• Explica por que razão as pessoas correram para os largos e praças.

• Dá outro título ao documento.

Situar no tempoRealizar a actividade n.º 1 do meu Friso Cronológico.

Page 26: Manual HGP 6º

Tema C 2. Lisboa Pombalina

26

A reconstrução de Lisboa

Perante a catástrofe, o futuro Marquês de Pombal tomou váriasmedidas. Mandou:

• enterrar os mortos e socorrer os feridos;• policiar as ruas e os edifícios mais importantes para evitar os

roubos;• elaborar um plano de reconstrução, da zona de Lisboa que ficou

destruída, a cargo do arquitecto Eugénio dos Santos e do enge-nheiro Manuel da Maia.

A reconstrução da cidade, após o terramoto, ficou como umadas grandes obras do Marquês de Pombal. Nesta nova Lisboa:

• as ruas passaram a ser largas, com um traçado geométrico ecom passeios calcetados;

• as casas foram construídas todas da mesma altura (4 ou 5 pi-sos), com fachadas iguais e com uma estrutura que resistia me-lhor a possíveis novos sismos (fig. 1); para tentar evitar novosincêndios, as casas assentavam em estacas de madeira que mer-gulhavam nas águas do subsolo e, entre os edifícios, fizeram-semuros (os corta-fogos) para evitar a propagação das chamas;

• construiu-se uma rede geral de esgotos, tentando acabar-secom o velho hábito dos despejos atirados das janelas e acompa-nhados do grito de «água vai»;

• o Terreiro do Paço deu lugar à actual Praça do Comércio, ho-menagem que o Marquês de Pombal quis fazer aos comercian-tes que, com o seu dinheiro, ajudaram a reconstruir Lisboa.

fig. 3 Prédios com fachada pombalina na Praça daFigueira, em Lisboa.

fig. 1 Maqueta da gaiola pombalinaexistente no Museu do Bombeirode Lisboa. A estrutura interna dosprédios era, agora, constituída poruma «gaiola» em madeira que per-mitiria resistir a futuros eventuais ter-ramotos. Esta estrutura é hoje feitaem betão armado.

fig. 2 Fachada de casa pombalina. As fachadas iguais sim-bolizavam a igualdade de todas as pessoas perante o rei.

Page 27: Manual HGP 6º

27

fig. 4 Planta da Baixa de Lisboa. Hoje é conhecida por«baixa pombalina» por ter sido mandada reconstruir peloMarquês de Pombal.

fig. 6 Praça Marquês de Pombal, em Vila Real de Santo António, uma das poucas cidades do mundo, ea única em Portugal, que foi mandada construir de raiz. Os engenheiros tinham aprendido, na reconstruçãode Lisboa, a secar e a firmar terras movediças. Foi mandada construir em 1774, pelo Marquês de Pombal,no local onde existira a pequena aldeia de Santo António, destruída pelo maremoto. Procurou-se, assim,ocupar e desenvolver uma zona praticamente desabitada. Apresenta características urbanísticas semelhan-tes às da baixa lisboeta.

1.

2.

Sou capaz de...

Escrever três adjectivos que caracterizem a Lisboa pombalina.

Dar a minha opinião sobre esta nova Lisboa e justificá-la.

Realizar a Ficha n.o 3 do meu Caderno de Apoio (Estudo Acompanhado).

fig. 5 A Baixa Pombalina na actualidade. Na Praça doComércio ergueu-se, em 1775, a estátua equestre de D.José I. O projecto inicial da reconstrução desta praça só foicon-cluído em 1875, com a colocação do arco da Rua Au-

Page 28: Manual HGP 6º

Tema C 2. Lisboa Pombalina

28

A acção do Marquês de Pombal

A grande capacidade para resolver os problemas demonstrada porSebastião José, após o terramoto, contribuiu para reforçar a confian-ça de D. José no seu ministro. Este pôde então realizar uma série dereformas.

– Reformas económicas:

• promoveu o desenvolvimento da indústria (fig. 1);• apoiou a formação de várias companhias monopolistas, às

quais entregou a produção e o comércio de certos produtos ou dedeterminadas zonas geográficas. Destas companhias destacou-sea Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro,para desenvolver a produção e o comércio do vinho do Porto(figs. 2 e 3);

• proibiu a exportação de ouro.

– Reformas sociais:

• retirou bens e cargos hereditários à nobreza, reprimiu e até mes-mo mandou executar os que se opunham à sua política (fig. 4);

• expulsou do País os Jesuítas, acusados de cumplicidade noataque ao rei; proibiu os autos-de-fé e o Tribunal da Inquisiçãopassou a depender do rei;

• protegeu a burguesia, atribuindo-lhe cargos de grande confiança.

As medidas tomadas pelo Marquês de Pombal favoreceram, assim,a burguesia que se dedicava ao comércio e à indústria, enquanto oclero e a nobreza perderam privilégios e importância.

fig. 4 Execução da família Távora. Acusada de pos-sível cumplicidade num atentado contra D. José I, amaior parte dos seus membros foi condenada à mor-te. Os seus bens passaram para o Estado e para a Co-roa e foi proibido que mais alguém usasse esse nome.Depois da morte de D. José I, foram-lhes restituídas ashonras e o direito de usarem o nome, tendo sido con-siderado como principal culpado o duque de Aveiro.

fig. 2 Exporta-ções do vinhodo Porto para aGrã-Bretanha.

fig. 3 Vinhedos no vale do Douro. O vinhoproduzido nesta região, mais tarde conhecidocomo vinho do Porto, tornou-se, desde o sé-culo XVIII, um produto muito apreciado pelosIngleses.

fig. 1 Principais indústrias criadasou desenvolvidas no tempo doMarquês de Pombal (adaptado deA. H. de Oliveira Marques e J. J. AlvesDias, Atlas Histórico de Portugal edo Ultramar Português).

Page 29: Manual HGP 6º

29

– Reformas no ensino:

• criou por todo o País novas escolas de instrução primária;

• fundou o Real Colégio dos Nobres para a instrução dos filhos danobreza que exerceriam cargos de altos funcionários do Estado;

• proibiu a utilização dos manuais e dos métodos de ensino dosJesuítas, considerados antiquados, e extinguiu a Universidadede Évora, controlada por esta ordem religiosa;

• reformou a Universidade de Coimbra, introduzindo o ensinode novas matérias, com novos métodos e frequente recurso àexperiência laboratorial.

fig. 7 Café Martinho da Arcada, emLisboa (fundado no século XVIII). Noscafés e botequins (casas de bebidas)comentavam-se as novas ideias quechegavam a Portugal através da im-prensa e dos estrangeirados.

fig. 5 Luís António Verney ,(1713-1792), um dos mais ilustreses-trangeirados (portugueses queviviam no estrangeiro ou lá tinhamestudado e que, em Portugal, divul-gavam as novas ideias europeias).

O ensino na universidade

(...) Para que as lições [das Ciências] se façam com aproveita-mento devem os estudantes ver executar as experiências e adquiriro hábito de as executar (...). Haverá, para isso, uma colecção de má-quinas, aparelhos e instrumentos necessários para o dito fim e umasala para nela se fazerem todas as experiências com a assistênciados estudantes.

Estatutos da Universidade de Coimbra, 1772

6

• Indica as medidas tomadas que demonstram a im-portância conferida às ciências experimentais.

1.

2.

3.

Sou capaz de...

Com base na figura 1, indicar três indústrias apoiadas pelo Marquês de Pombal e a respectivalocalização.

Elaborar uma biografia do Marquês de Pombal e dar a minha opinião sobre a acção destegovernante.

Realizar a Ficha n.º 3 do meu Caderno de Actividades.

Como podes concluir, as reformas pombalinas contribuíram paraa modernização do País.

Após a morte de D. José I, sua filha, a rainha D. Maria I, demitiu-o,acusando-o de ter cometido muitas injustiças. Passou o resto da vidana sua quinta em Pombal.

Page 30: Manual HGP 6º

Terramoto de 1755

30

Políticas

• Reforço do poder real.

No ensino

• Criação de escolas deinstrução primária.

• Criação do Real Colégiodos Nobres.

• Reforma da Universidadede Coimbra.

• Extinção da Universidadede Évora.

Reformas Reconstrução de Lisboa

• Ruas largas e geométricas,com passeios calcetados.

• Casas com fachadas iguais,da mesma altura e com es-trutura anti-sismos.

• Rede geral de esgotos.• Reconstrução do Terreiro do

Paço, que passou a chamar-sePraça do Comércio.

+

Crise económica

• Menos ouro do Brasil.• Agricultura e indústria

pouco desenvolvidas.• Menos exportações.• Mais importações.

Económicas

• Desenvolvimento da in-dústria.

• Formação de compa-nhias de comércio.

Sociais

• Expulsão dos Jesuítas.• Diminuição dos bens e

cargos da nobreza.• Protecção da burguesia.

ACÇÃO DO MARQUÊS DE POMBAL

LISBOA POMBALINA

Esquema-Síntese

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• A Lisboa Pombalina

Expulsãodos Jesuítas

Praçado Comércio,

em Lisboa

Page 31: Manual HGP 6º

Agora Já Sei...

1. Dizer em que data D. José I subiu ao trono.

2. Explicar a situação da agricultura e da indústria portuguesas quando D. José I foi aclamado rei.

3. Copiar para o meu caderno diário o quadro seguinte e, depois, completá-lo.

4. Construir, no meu caderno diário, um quadro com o título«A acção do Marquês de Pombal», utilizando as expressõesseguintes:

• Desenvolvimento da indústria • Ensino • Criação de escolas de instrução primária • Expulsão dos Jesuítas • Sociedade • Protecção da burguesia • Fundação do Real Colégio dos Nobres • Apoio à formação de companhias de comércio • Economia • Extinção da Universidade de Évora • Reforma da Universidade de Coimbra • Perseguição de elementos da nobreza

5. Escrever, no meu caderno diário, um pequeno texto dandoa minha opinião sobre a acção do Marquês de Pombal ejustificá-la.

Acontecimento que destruiu a

cidade de Lisboa

Reinado em que se verificou esse acontecimento

Principal responsávelpela reconstrução

da cidade

Características da nova Lisboa

LISBOA POMBALINA

31

Page 32: Manual HGP 6º

1820 e o Liberalismo

3.1

3.2

3

Séc. XX

1800 1900

1832-1834• Guerra civil entre

liberais e absolutistas.

1822• Aprovação

da Constituição.• Independência

do Brasil.

1806• Bloqueio

Continental.

1820• Revolução

Liberal.

1807-1811• Três invasões

francesas.

Séc. XIXSéc. XVIII

As invasões napoleónicas

A Revolução Liberal de 1820

As Cortes Constituintes

A independência do Brasil

As lutas entre liberais e absolutistas

3.3

3.4

3.5

1834• Concessão de

Évora-Monte.

D. João VI

Cortes Constituintes de 1821(pintura de Veloso Salgado,

Assembleia da República).

Page 33: Manual HGP 6º

33

3. 1820 e o Liberalismo

Vou partir parao Brasil para garantir

a independênciade Portugal.

Malditos liberais.Querem acabar com os nossos

privilégios.

Viva oAbsolutismo!

Viva osvalorosos do Porto! Viva el-rei D. João VI!

Viva el-rei nosso Senhor!

Viva a Constituição,a separação dos poderes,a liberdade e a igualdade!

Apressai-vos, Senhor!Os Franceses

estão cada vez maisperto de Lisboa!

Page 34: Manual HGP 6º

Tema C 3. 1820 e o Liberalismo

34

3.1 As invasões napoleónicas

A Revolução Francesa

Nos finais do século XVIII, uma revolução pôs fim à monar-quia absoluta em França. Os revolucionários, na sua maioria bur-gueses e homens do povo, defendiam novas ideias, como aigualdade de todos os cidadãos perante a lei (todos teriam os mes-mos direitos e deveres), e a liberdade, que consideravam ser um di-reito de todo o ser humano.

Defendiam ainda a separação dos poderes que, como já sabes,na monarquia absoluta estavam concentrados numa só pessoa, o rei.

fig. 2 Execução, na guilhotina, de Luís XVI, rei de França,em 21 de Janeiro de 1793. O mesmo aconteceu a sua mu-lher, a rainha Maria Antonieta, e a muitos nobres e ele-mentos do clero. A guilhotina consistia numa estrutura demadeira com uma lâmina afiada no topo que, ao cair, cor-tava a cabeça das vítimas.

O Bloqueio Continental

Após a vitória dos revolucionários franceses, os reisabsolutos da Europa sentiram o seu poder ameaçado.Alguns deles uniram-se e declararam guerra à França. De-

pois de vários anos de luta, foram derrotados, em grandeparte, devido à acção do general Napoleão Bonaparte, comandantedas tropas francesas, que se coroou Imperador, na presença do Papa.A França passou, então, a dominar quase toda a Europa Continental.Só a Grã-Bretanha continuava a oferecer resistência. Para a isolare destruir o seu comércio, Napoleão ordenou aos países europeusque fechassem os seus portos aos navios ingleses. Esta medida, toma-da em 1806, ficou conhecida por Bloqueio Continental.

fig. 3 Napoleão Bonaparte. Gene-ral francês que chegou ao poderatravés de um golpe militar e, em1804, assumiu o título de Imperador.

fig. 1 Tomada da Bastilha, pelos revolucionários, em 14de Julho de 1789. O povo assaltou esta prisão, onde, aolongo dos séculos, estiveram detidos muitos dos que seopunham ao poder absoluto dos reis franceses.

Page 35: Manual HGP 6º

35

Portugal hesitou em obedecer às ordens de Napoleão, não sóporque existia uma velha aliança entre Portugal e a Grã-Bretanha,mas também porque o encerramento dos seus portos aos navios in-gleses prejudicaria a economia portuguesa, visto que o nosso comér-cio externo se fazia principalmente com aquele país.

O príncipe regente D. João (fig. 6) acabou, contudo, em Setembrode 1807, por ordenar a saída dos navios ingleses dos portos portu-gueses. Era tarde. A França e a Espanha, sua aliada, tinham termina-do as negociações para invadir e conquistar Portugal.

A saída da corte para o Brasil

Quando os exércitos de Napoleão já entravam em Portugal, opríncipe regente, D. João, decidiu refugiar-se no Brasil, sendoacompanhado por toda a família real. Partiram também muitos no-bres, comerciantes, funcionários do Reino e juízes. O governo doPaís ficou entregue a uma regência, constituída por cinco gover-nantes. Lê o seguinte texto:

1.

2.

3.

Sou capaz de...

Indicar duas ideias defendidas pelos revolucionários franceses.

Dar a minha opinião sobre a importância dessas ideias e justificá-la.

Sobre o Bloqueio Continental, indicar:

3.1 quem o decretou;3.2 em que consistia;3.3 os motivos que levaram Portugal a hesitar na adesão ao Bloqueio.

fig. 6 D. João, filho de D. Maria I,tomou conta do governo do Reino,a partir de 1792, devido à doençade sua mãe. Em 1799, assumiu for-malmente a regência do Reino, poros médicos terem concluído que adoença desta era incurável. Em1816, por morte de D. Maria I, foiaclamado rei, com o nome de D. João VI.

fig. 4 O Bloqueio Continental. Alinha preta delimita as zonas daEuropa que aderiram a este blo-queio.

Manifesto do príncipe regente D. João aosPortugueses

Tendo por todos os meios procurado conservar a neutralidade etendo chegado ao excesso de fechar os portos do meu Reino ao meuantigo e leal aliado, o rei da Grã-Bretanha, vejo que pelo interior domeu reino marcham as tropas do Imperador dos Franceses (...) eque as mesmas tropas se dirigem a esta capital. Sabendo eu que elasse dirigem muito particularmente contra a minha real pessoa e queo meu reino será menos inquietado se eu me ausentar dele, tenhoresolvido, em seu benefício, estabelecer-me com toda a real famíliana cidade do Rio de Janeiro até à paz geral.

26 Novembro de 1807(adaptado)

5

• A que imposição se refere D. João com a expressão «fechar os portos»?

• Qual a justificação apresentada para deixar o País?

• Identifica a colónia portuguesa para onde se dirige o príncipe re-gente e a família.

• Se fosses D. João, terias tomado a mesma atitude? Justifica.

Page 36: Manual HGP 6º

Tema C 3. 1820 e o Liberalismo

36

3

O patife do JunotVinha para nos proteger!Veio mas foi para nos roubar,E p’rás pratas recolher.

O Junot mais o Maneta*Dizem que Portugal é seu,É o diabo para elesE mais para quem lho deu.

Já o mar anda de luto,Também as embarcações.Anda a guerra contra a França,Ajuntam-se as mais nações.

Cancioneiro Popular Político

* «Maneta» era a alcunha dada pelo povo ao general francês Loison, que não ti-nha uma das mãos. Este general ficou conhecido pela grande violência das suasacções, sobretudo durante a 1.ª invasão. Terá assim nascido a expressão po-pular «ir para o maneta», que significa morrer ou desaparecer.

• Que sentimento, em relação aos Franceses, revelam as quadras?

• Que outras nações se «ajuntam» contra a França?

A primeira invasão francesa

Junot, comandante das tropas invasoras, instalou-se em Lisboasem encontrar qualquer resistência, o que, aliás, fora recomendadopelo próprio D. João, a fim de não hostilizar os Franceses. Tomou, en-tão, medidas que muito desagradaram à maioria dos Portugue-ses:

• mandou substituir a bandeira nacional pela francesa, no Cas-telo de S. Jorge;

• demitiu a «Regência» nomeada pelo príncipe regente D. João ecomeçou a governar Portugal como terra conquistada.

Além disto, os soldados franceses, juntamente com os aliados es-panhóis, cometiam roubos e violências por todo o país, provocandoa revolta da população, que não tardou a organizar-se para comba-ter o invasor. A retirada das tropas espanholas trouxe novo ânimo àrevolta popular, que alastrou por todo o País.

Portugal pediu auxílio aos Ingleses, que desembarcaram próximoda Figueira da Foz. As suas tropas, reforçadas pelas portuguesas, derro-taram os Franceses nas batalhas de Roliça (Bombarral) e Vimeiro(Torres Vedras).

Junot assinou a paz, na Convenção de Sintra, e abandonou o País,

A resistência aos invasores e a intervenção inglesa

fig. 1 Junot, general francês, co-mandante da primeira invasão. Aescassez de mantimentos, a chuvae a inexistência de caminhos apro-priados às grandes marchas foramenfraquecendo o seu exército e re-duzindo-o a um conjunto de ho-mens famintos e desorganizados.

fig. 2 As invasões francesas. As forti-ficações de Torres Vedras, construídas,em três linhas, à volta de Lisboa e naregião de Torres Vedras, foram muitoimportantes na defesa da capital(adaptado de A. H. de Oliveira Mar-ques e J. J. Alves Dias, Atlas Históricode Portugal e do Ultramar Português).

Soldados franceses.

Page 37: Manual HGP 6º

37

A segunda invasão francesa

Napoleão, porém, não desistiu.Em 1809, os Franceses, comandados pelo general Soult, en-

traram em Portugal por Trás-os-Montes e conquistaram o Norteaté ao rio Douro. Ocuparam a cidade do Porto durante algum tem-po.

A vitória pouco durou. Os soldados ingleses e portugueses, como apoio dos populares, obrigaram os Franceses a refugiar-se naGaliza (Espanha).

A terceira invasão francesa

Em 1810, os Franceses, comandados pelo general Masséna, in-vadiram de novo Portugal, agora pela Beira Alta. Apesar de derrotadosno Buçaco, continuaram a marcha em direcção a Lisboa. Foram deti-dos nas linhas defensivas de Torres Vedras, conjunto de fortificaçõesque os Ingleses tinham feito construir, a norte de Lisboa (fig. 2). Em1811, cansados de esperar reforços, os Franceses iniciaram a marchad e

1.

2.

3.

4.

Sou capaz de...

Explicar por que razão os Franceses invadiram Portugal.

Referir:2.1 os nomes dos generais que comandaram cada uma das três invasões;2.2 o país que nos ajudou militarmente na luta contra os Franceses;2.3 a táctica utilizada para derrotar definitivamente os Franceses.

Indicar três adjectivos que caracterizem as invasões francesas.

Realizar a Ficha n.º 4 do meu Caderno de Actividades.

fig. 4 Vista parcial da cidade doPorto, no século XIX . Podeobservar-se a Ponte das Barcas,que está ligada a um dos episódiosmais sangrentos das invasões fran-cesas. A população em pânicofugia da cidade, perseguida pelosFranceses. Centenas de pessoascaíram às águas do rio Douro,morrendo afogadas. Em cima, po-des observar a placa que, no caisda Ribeira do Porto, lembra as víti-mas deste desastre.

Situar no tempoRealizar a actividade n.º 2 do meu Friso Cronológico.

Page 38: Manual HGP 6º

Tema C 3. 1820 e o Liberalismo

38

3.2 A Revolução Liberal de 1820

O descontentamento dos Portugueses

As invasões tinham terminado, mas o País ficara numa situaçãomuito difícil: enorme perda de vidas humanas, comércio e indústriaparalisados, pontes cortadas, casas e monumentos destruídos e sa-queados.

Além disso, e apesar do fim das guerras com os Franceses, os In-gleses continuavam em Portugal contra a vontade de muitos por-tugueses e com muito poder, com o pretexto de garantir a defesa e areorganização do exército. O marechal inglês Beresford era, de facto,a principal autoridade do Reino (fig. 1). Lê o documento 2.

Portugal dominado pelos Ingleses

(…) Portugal, esse velho conquistador, tornara-se por sua vezuma colónia (…). Politicamente éramos colonos dos Ingleses. Onosso exército era um exército inglês, cujos soldados e unicamenteos soldados haviam nascidoneste país. Governava-nos umgeneral inglês (…). Um tratadoinfeliz colocara o nosso comér-cio a reboque do comércio in-glês e a nossa indústria tinhasido absolutamente sacrificadaà indústria inglesa. (…) Era ne-cessário sair dessa situação oumorrer.

Alexandre Herculano, Opúsculos, 1856(adaptado)

2

• Identifica as razões que explicam o descontentamento dos Portu-gueses a nível:a) político; b) económico; c) militar.

• Com base na figura 3, indica o país que, em 1819, vendeu maisprodutos a Portugal.

• Transcreve uma frase do documento 2 que possa legendar o gráfi-co da figura 3.

• Justifica a afirmação «éramos colonos dos Ingleses».

fig. 1 William Beresford (gravurade Bartolozzi, Museu Nacional deArte Antiga). General inglês, nome-ado Marechal do exército portuguêspelo regente D. João. Foram-lheconcedidos amplos poderes paramanter a ordem e reprimir conspi-rações contra o regime absolutista.

fig. 4 Soldados ingleses.

fig. 3 Importações e exportaçõesportuguesas em 1819.

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Page 39: Manual HGP 6º

39

Para além desta situação de dependência em relação à Grã-Bretanha,outros problemas provocavam o descontentamento dos Portugueses:

• D. João e a corte continuavam no Brasil, sem mostraremgrande preocupação com o que se passava em Portugal;

• o general inglês Beresford continuava não só a controlar oexército português, mas também a influenciar as decisões dosgovernantes;

• em 1808, D. João abrira os portos brasileiros ao comércio es-trangeiro, o que prejudicava muito os comerciantes e os inte-resses portugueses (fig. 5). Na verdade, o comércio externoportuguês dependia em grande parte da venda dos produtosportugueses (agrícolas e industriais) ao Brasil e da exportaçãodos produtos brasileiros.

• Explica o descontenta-mento dos comerciantesportugueses em relação aesta alteração do circuitocomercial.

fig. 5 Rotas comerciais dos produtos brasi-leiros. Com a abertura do comércio brasileiroaos outros países, Portugal deixou de ser o úni-co a vender os seus produtos ao Brasil. Alémdisso, os produtos brasileiros, que até entãoeram trazidos por comerciantes portugueses,sendo depois vendidos aos países europeus,passaram a ser comprados directamente aoBrasil por comerciantes estrangeiros.

1.

2.

Sou capaz de...

Indicar a medida tomada por D. João VI relativamente ao comércio do Brasil.

Seleccionar da cronologia acontecimentos que provocaram o descontentamento dos Portu-gueses em relação:

2.1 à família real; 2.2 aos Franceses; 2.3 aos Ingleses.

CRONOLOGIA

1807• O exército francês, comanda-

do por Junot, invade Portugal.• Saída da corte para o Brasil.1808• Abertura dos portos brasileiros

ao comércio com outros paí-ses. Esta decisão do prínciperegente D. João foi tomadasob pressão inglesa.

• Inicia-se uma vaga de revoltaspopulares contra o domíniofrancês que rapidamente alas-tra por todo o País.

• Desembarque de tropas ingle-sas na praia de Lavos, próximoda Figueira da Foz.

1809Segunda invasão francesa, co-mandada pelo general Soult. 1810• Assinatura de tratados de co-

mércio e amizade entre Portu-gal e a Grã-Bretanha, o quep r e j u -dicou o comércio e a indústriaportuguesas.

• Terceira invasão francesa, co-

fig. 6 Postal comemorativo docentenário da abertura dosportos do Brasil.

Page 40: Manual HGP 6º

Tema C 3. 1820 e o Liberalismo

40

O movimento revolucionário

Como já estudaste, era grande o descontentamento e a des-moralização dos Portugueses, pois a família real continuava noBrasil, contribuindo para o desenvolvimento deste território, e poucose preocupando com a situação vivida em Portugal.

As ideias liberais de igualdade e liberdade tinham cada vez maisadeptos entre os Portugueses.

Os antecedentes da revolução

A primeira conspiração liberal, para fazer regressar a Portugal afamília real e acabar com o domínio inglês, verificou-se em 1817. Estemovimento foi descoberto por espiões ao serviço de Beresford e o ge-neral Gomes Freire de Andrade (fig. 1), acusado de o chefiar, foi en-forcado, juntamente com outros conspiradores, no Forte de S. Juliãoda Barra (em Oeiras) e o seu corpo queimado e deitado ao mar.

Em 1818, um grupo de liberais, onde predominavam comercian-tes, militares, proprietários e juízes, formou, no Porto, uma organiza-ção secreta, o Sinédrio. Esta organização, dirigida por ManuelFernandes Tomás (fig. 2), preparou uma revolução para pôr fim àmonarquia absoluta.

fig. 1 General Gomes Freire deAndrade. Defensor dos princípiosda Revolução Francesa, combateuna Europa no exército de Napoleão.

fig. 2 Manuel Fernandes Tomás.Natural da Figueira da Foz, era juizno Porto quando fundou o Sinédrio. fig. 3 A revolução liberal na toponímia da cidade do Porto.

A revolução de 1820

A 24 de Agosto de 1820, aproveitando a ausência de Beresfordno Brasil, a guarnição militar do Porto, chefiada pelo seu coman-dante, que também fazia parte do Sinédrio, revoltou-se contra oregime absoluto e a situação do Reino.

A revolta alastrou primeiramente pelo Norte e Centro do País. Lêo documento 4.

Page 41: Manual HGP 6º

41

A 1 de Outubro, os revolucionários do Porto uniram-se aos deLisboa. Era o triunfo da Revolução Liberal. Os Ingleses foram afas-tados das suas funções militares e políticas e foi criado um governoprovisório – a Junta Provisional do Governo do Reino – que incluíarevolucionários de Lisboa e do Porto.

1.

2.3.

Sou capaz de...

Seleccionar da cronologia um acontecimento que demonstre que:1.1 Beresford era contra os revolucionários;1.2 os revolucionários tiveram êxito;1.3 os Ingleses foram expulsos.Descrever o que aconteceu em Agosto de 1820.Fazer uma pequena biografia de Gomes Freire de Andrade ou de Manuel Fernandes Tomás.

CRONOLOGIA

1816Morre D. Maria I. D. João VI torna--se rei de Portugal.

1817Tentativa de revolta contra odomínio inglês chefiada pelo ge-neral Gomes Freire de Andrade.

1818• D. João VI promove, no Rio de

Janeiro, a cerimónia da suaaclamação. O novo monarcademonstrava assim a vontadede se manter no Brasil.

• Fundação do Sinédrio, no Porto.

1820• Segunda viagem de Beresford

ao Brasil para obter de D. JoãoVI poderes mais alargados,com o objectivo de combateros revolucionários.

• Revolta liberal no Porto.• Beresford é impedido de de-

sembarcar em Portugal, quan-do regressa do Brasil.

• Criação da Junta Provisionaldo Governo do Reino.

A Revolta Militar de 1820

Em 24 de Agosto de 1820, no Campo de Santo Ovídio, no Porto,um dos comandantes das tropas revoltadas, o coronel Sepúlveda,leu a seguinte proclamação:

«Soldados! Acabou-se o sofrimento (…). Camaradas, vinde comi-go. Vamos com os nossos irmãos de armas organizar um governoprovisório que chame as Cortes a fazerem uma Constituição, cujafalta é a origem dos nossos males. É desnecessário descrever essesmales porque cada um de nós os sente. É em nome do nosso augus-to soberano, o Senhor D. João VI, que há-de governar-se (…).

Viva o nosso rei! Vivam as cortes e por elas a Constituição!»

Diário Nacional, 26 de Agosto de 1820

4

• Quais eram os males a que o documento se refere?

• Qual foi o objectivo desta revolta?

• Em nome de quem se iria governar o Reino?

fig. 5 O Rossio, em Lisboa, no dia 1 de Outubro de 1820 (Museu da Cidade, Lisboa). Pode observar-se a população emfesta, a parada militar e as carruagens em desfile.

Page 42: Manual HGP 6º

Tema C 3. 1820 e o Liberalismo

42

3.3 As Cortes Constituintes

A Constituição de 1822

A Junta Provisional do Governo do Reino teve o encargo de go-vernar o País e organizar as primeiras eleições para deputados àsCortes Constituintes. Esta assembleia tinha como principal funçãoelaborar uma Constituição que estivesse de acordo com as ideiasliberais.

Uma das primeiras medidas destas Cortes foi exigir o regresso deD. João VI do Brasil. Os deputados tomaram ainda outras decisõesimportantes, como a abolição dos privilégios do clero e da nobreza, aextinção da Inquisição e a nacionalização dos bens da Coroa, ou seja,estes bens passaram a pertencer ao Estado.

fig. 1 As Cortes de 1821, numa pintura de Veloso Salgado, no Palácio de S. Bento (actual Assembleia da República).Os deputados às Cortes foram eleitos por dois anos, pelos cidadãos com mais de vinte e cinco anos, à excepção dos anal-fabetos, das mulheres e dos frades. Os deputados eleitos representavam a Nação, e portanto o rei, sem poder absoluto,não podia interferir no funcionamento das Cortes nem dissolvê-las.

fig. 2 A Constituição estabelece as leis fundamen-tais de um país. Faz lembrar uma árvore porque, talcomo os ramos nascem do tronco, todas as outras leisnascem da Constituição.

Em Setembro de 1822, as Cortes Constituintesaprovaram a 1.ª Constituição Portuguesa, elabora-da com base nas ideias liberais defendidas pelos re-volucionários franceses de 1789. Esta Constituiçãoestabelecia como princípios fundamentais:

• a soberania da Nação, ou seja, o rei subme-tia--se à vontade dos cidadãos que, pelo voto,escolhiam os seus representantes;

• a separação dos poderes (legislativo, executivoe judicial);

• a igualdade e a liberdade dos cidadãos perantea lei.

D. João VI, entretanto regressado do Brasil, assi-nou a Constituição e comprometeu-se a respeitá--la. A monarquia absoluta deu, assim, lugar àmonarquia constitucional.

Page 43: Manual HGP 6º

43

3Dom João (…) Faço saber a todos os meus súbditos que as

Cortes decretaram (…) e jurei a Constituição Política da MonarquiaPortuguesa (…).

Art.º 7.º – (...) Todo o português pode manifestar as suas opiniões (...).Art.º 9.º – A lei é igual para todos (...).Art.º 26.º – A soberania reside na Nação. Não pode ser exercida se-

não pelos seus representantes legalmente eleitos (...).Art.º 29.º – O governo da Nação Portuguesa é a Monarquia Consti-

tucional hereditária (...).Art.º 30.º – [Os três] poderes [políticos] são: legislativo, executivo e

judicial. O primeiro reside nas Cortes (…). O segundo está no Rei e nosSecretários de Estado (…). O terceiro está nos Juízes (…).

Excerto da Constituição de 1822

• Identifica:a) o artigo que pôs fim à existência de grupos sociais privilegiados;b) o artigo que garante a continuação da Monarquia;c) a forma de governo garantida pela Constituição;d) os três poderes referidos.

Com a monarquia constitucional deixaram de existir grupos so-ciais privilegiados, já que todos os indivíduos passaram a ser iguais pe-rante a lei. O poder estava repartido: os deputados (nas Cortes)faziam e votavam as leis – poder legislativo; o rei e os secretários deEstado ou ministros (no Governo) punham as leis em prática – poderexecutivo; e os juízes (nos Tribunais) julgavam os que não cumpriam alei – poder judicial. Observa o esquema:

1.

2.

3.

Sou capaz de...

Explicar por que razão se chamaram Constituintes às Cortes que se reuniram após a Revolução.

Seleccionar o princípio liberal consagrado na Constituição de 1822 que considero maisimportante e justificar.

Realizar a Ficha n.º 5 do meu Caderno de Actividades.

fig. 4 Encadernação da 1.ªConstituição Portuguesa (for-rada a veludo e decorada comfio de ouro e prata), guardada naTorre do Tombo, em Lisboa.

Monarquia absoluta Monarquia constitucional

O rei faz as leis PODER LEGISLATIVOAs leis são feitas pelos deputados,

nas Cortes.

O rei é o juiz supremo PODER JUDICIALOs juízes julgam quem não

cumpre a lei.

O rei governa PODER EXECUTIVOO rei e os ministros governam

aplicando as leis.

Construir o meu glossárioRegistar, no meu Caderno de Actividades, o significado de cortes constituintes, constituição emonarquia constitucional.

Page 44: Manual HGP 6º

Tema C 3. 1820 e o Liberalismo

44

3.4 A independência do Brasil

Durante os treze anos de permanência de D. João VI no Brasil,este território registara grandes progressos:

• a criação do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve (1815)libertara o Brasil da sua condição de colónia e a cidade do Riode Janeiro tornara-se a sede provisória do governo;

• a abertura dos seus portos ao comércio estrangeiro fizeraaumentar o movimento comercial e enriquecera a burguesiabrasileira, cada vez mais desligada da metrópole;

• a construção de escolas, hospitais, estradas e bibliotecas;

• a criação do primeiro Banco do Brasil.

fig. 1 Um aspecto da cidade do Riode Janeiro no início do século XIX(gravura de Johann Rugendas). Oprogresso que o Brasil atingiu nosanos em que D. João VI aí perma-neceu foi muito importante para aindependência deste território.

fig. 2 Descendência de D. João VI. As datas referentes aos reis cor-respondem aos respectivos períodos de reinado. As outras datas cor-respondem ao nascimento e morte.

Quando, em 1821, D. João VI regres-sou a Portugal, deixou como regente da-quele território o seu filho primogénito,D. Pedro. Após a Revolução de 1820, asCortes Constituintes (constituídas emgrande parte por burgueses ligados à ac-tividade comercial com o Brasil e queambicionavam reconquistar os privilégiosperdidos) legislaram no sentido de recu-perar o domínio económico e político doBrasil; decretaram, assim, o regresso doBrasil à condição de colónia, devendo oseu comércio voltar a fazer-se apenascom Portugal; ordenaram, além disso,que D. Pedro, herdeiro do trono, viessepara a Europa a fim de completar a suaeducação.

D. João VI(1816-1826)

D. Pedro IV(1826)

D. Leopoldina(1797-1826)

D. Carlota Joaquina(1775-1830)

D. Maria II(1826-1853)

D. Fernando(1816-1885)

D. Miguel(1828-1834)

D. Adelaide(1831-1909)

Page 45: Manual HGP 6º

45

1.

2.

Sou capaz de...

Indicar duas vantagens, para a população do Brasil, resultantes da permanência de D. João VIneste território.

Imaginar que era um jornalista português em serviço no Brasil, na altura da independência,e redigir uma notícia para o meu jornal, relatando os principais acontecimentos que ocorre-ram nesse território.

fig. 4 Coroação de D. Pedro como Imperador do Brasil.

A reacção de D. Pedro

Como Príncipe Regente do Reino do Brasil e seu defensor perpétuo, não mandei ain-da executar nenhum dos decretos* dessas facciosas, horrorosas e desorganizadas Cortes.

Antes declaro esses decretos, bem como todos os mais que fizeram para o Brasil,nulos e, como tal, oponho-me a eles, o que é sustentado por todos os brasileiros, que,unidos a mim, me ajudam a dizer: «De Portugal nada; não queremos nada» (...) Triunfae triunfará a independência brasileira, ou a morte nos há-de custar.

Carta de D. Pedro a D. João VI, 1822

* Leis elaboradas pelas Cortes.

3

• Qual a opinião que oPríncipe tinha das Cortes?

• A que decretos se refereo documento?

• Qual a atitude tomadapor D. Pedro?

• Quem o apoiava nessadecisão?

D. Pedro, aderindo à vontade da maioria da população brasileira,decidiu não aceitar as pretensões das Cortes portuguesas. A 7 de Se-tembro de 1822, quando se encontrava junto ao rio Ipiranga (pertode S. Paulo), foi-lhe entregue um decreto das Cortes exigindo o seuregresso imediato a Portugal. Decidiu então romper definitivamentecom o governo português, proferindo a célebre frase «Independênciaou morte». Este episódio, conhecido pelo «grito do Ipiranga», é con-siderado a declaração oficial da independência do Brasil.

Foi, mais tarde, aclamado Imperador do Brasil. Foi também eleitauma Assembleia Constituinte para elaborar a Constituição brasileira.

Situar no tempoRealizar a actividade n.º 3 do meu Friso Cronológico.

Retrato de D. Pedro IV,Museu Nacional

dos Coches,foto José Pessoa /

/ DDF-IPM.)

Page 46: Manual HGP 6º

Tema C 3. 1820 e o Liberalismo

46

3.5 As lutas entre liberais e absolutistas

Iniciou-se logo a perseguição aos liberais.

D. Miguel conta com o apoio do clero e da nobreza.

Mas D. Miguel é umabsolutista, Senhor!

D. Miguel aceitou as condições propostas por D. Pedro. Porém, ao regressar a Portugal, perante o apoio do clero, da nobreza e até de populares, reuniu Cortes à maneira antiga e, em 1828, foi acla-mado rei absoluto.

Sim, masproponho a meu irmão que assuma o cargo

de regente e governe deacordo com as ideias

liberais.

Ide a Portugal e dizei que eu, D. Pedro, Imperadordo Brasil, abdico da Coroa Portuguesa na minha filha D. Maria, que casará com o tio, meu irmão D. Miguel.

Claro, não lhes agradou perderem os privilégios.

Sim, e ainda tem o apoio de alguns burgueses descontentes

com a perda dos lucros do comércio do Brasil.

MORTEAOS LIBERAIS!

1824-26 – A Grã-Bretanha e a França apoiaram D. João VI e D. Miguel teve de partir parao exílio. Quando, em 1826, o rei morreu, D. Pedro, herdeiro da Coroa portuguesa, defensorda monarquia liberal e apoiado por grande parte da burguesia, decidiu...

1823 – O regime liberal não agradava a todos osportugueses. D. Miguel, defensor da monarquiaabsoluta, organizou algumas conspirações e re-beliões contra a monarquia liberal.

Page 47: Manual HGP 6º

47

1832 – D. Pedro, que abdicara da coroa brasileira no seu filho D. Pedro II, regressou doBrasil e assumiu o comando do exército liberal nos Açores (local de refúgio de muitosliberais). Com esse exército, desembarcou na Praia do Mindelo e ocupou o Porto.

1834 – Na concessão de Évora-Monte reuniram-se os representantes dos liberais e dos absolutistas, que decidiram pôr fim à guerra civil.

Mas os absolutistas, chefiados por D. Miguel, cercaram a cidade.

Irei por mar até aoAlgarve e daí o nosso

exército partirá acaminho da capital.

Assim, derrotaremosos absolutistas.

Sua Alteza o Senhor D. Pedro concederá a liberdade a todos os presos absolutistas

e manterá os militares apoiantes de seu irmão nos seus postos.

Contudo, D. Miguel partirápara o exílio e não poderá voltar

a Portugal.

Os liberaisprocuraram,então, abrirnovas frentesde combate.O Duqueda Terceirapreparouum plano...

Ainda em 1834 dá-se a morte de D. Pedro IV, sendo o governo do Paísentregue a suafilha, D. Maria.

1.

Sou capaz de...

Realizar a Ficha n.o 6 do meu Caderno de Actividades.

Asseiceira

Almoster

Situar no tempoRealizar a actividade n.o 4 do meu Friso Cronológico.

Construir o meu glossárioRegistar, no meu Caderno de Actividades, o significado de guerra civil.

Page 48: Manual HGP 6º

48

Revolução Francesa

O rei deixou de ter todos os poderes.

A liberdade passou a ser um direito dos cidadãos.

A lei passou a ser igual para todos.

Grande descontentamento dos Portugueses.

• Regresso de D. João VI do Brasil.

• Abolição dos privilégios do cleroe da nobreza.

• Nacionalização dos bens daCoroa.

Alguns reis absolutos da Europa uniram-se e lutaram contra a França.Esta decretou o Bloqueio Continental para derrotar a Grã-Bretanha.

Portugal demorou a fechar os seus portos à Grã-Bretanha.

A França invadiu Portugal.

A família real partiu para o Brasil,onde permaneceu mesmo

após a expulsão dos Franceses.

Vitória dos liberais

Monarquia Constitucional

Portugal foi parcialmente destruído e saqueado.

O exército anglo-português derrotou os Franceses.

Os Ingleses passaram a dominar oexército e o comércio de Portugal.

REVOLUÇÃO LIBERALDE 1820 APROVAÇÃO

DA CONSTITUIÇÃO

• A liberdade passou a ser um direito dos cidadãos.

• O rei deixou de ter todos ospoderes.

• A lei passou a ser igual paratodos.

1820 E O LIBERALISMO

Esquema-Síntese

www.projectos.TE.pt/linkspara saber mais sobre...

• 1820 e o Liberalismo

Guerra Civil entre liberais e absolutistas

Page 49: Manual HGP 6º

49

Agora Já Sei...

1. Depois de observar o mapa:

1.1 Identificar:

a) o que representa a linha que cercagrande parte da Europa;

b) o país do continente europeu quenão é abrangido por essa linha;

c) a nacionalidade do barco que se dirigepara Portugal;

d) o país que se opõe à entrada dessebarco em Portugal e o motivo.

2. Copiar para o meu caderno diário o quadro seguinte e, depois, completá-lo.

3. Indicar três motivos que provocaram a Revolução Liberal de 1820.

4. Identificar o regime que vigorou em Portugal:

4.1 antes da Revolução de 1820;

4.2 depois da Revolução de 1820.

5. Transcrever, com base no documento 3 da pág. 43, os artigos da Constituição de 1822 quecorrespondem a cada um dos seguintes princípios do Liberalismo:

a) liberdade de expressão;

b) igualdade perante a Lei;

c) separação dos poderes;

d) participação dos cidadãos no governo da Nação.

6. Escrever um pequeno texto explicando o que foi, e como acabou, o conflito entre os liberais eos absolutistas.

AS INVASÕES FRANCESAS

Causa da invasão de Portugal

Solução encontrada

para garantir a independência

Apoio recebido

Comandantes de cada uma das invasões

Comoterminaramas invasões

Page 50: Manual HGP 6º

50

4.1

4.2

4O espaço português

A vida quotidiana

Séc. XXSéc. XIXSéc. XVIII

1900

1835• Introdução

da máquina a vapor, na indústria,em Portugal.

1856• Inauguração da linha

férrea Lisboa-Carregado.

1821• A máquina a vapor começa

a ser utilizada nanavegação no Tejo.

1823• Um barco a vapor faz a

carreira Lisboa-Porto.

1869• Abolição da escravatura

em todos os territóriosportugueses.

1864• Fundação do jornal

Diário de Notícias.

1895• 1.o espectáculo público

de cinema no Porto.

1800

Portugal na segunda metadedo século XIX

Inauguração doTúnel do Rossio, 1889

(Revista Ocidente, 21/04/1889).

Page 51: Manual HGP 6º

51

4. Portugal na segunda metade do século XIX

Antigamente esta terraestava em pousio.Agora dá batatas.

E para o anovamos aqui

semear trigo.

Page 52: Manual HGP 6º

Tema C 4. Portugal na segunda metade do século XIX

52

4.1 O espaço português

A situação do Reino

No início da segunda metade do século XIX, vivia-se em Por-tugal um período de crise originada pelos vários acontecimentosque tens vindo a estudar. Assim:

• as invasões francesas e a guerra civil entre liberais e absolu-tistas destruíram casas, campos e culturas, para além de teremprovocado a morte de muitas pessoas;

• o Brasil tinha-se tornado independente, pelo que Portugalperdeu a vantagem que tinha em relação ao comércio brasileiro.

Para além destes problemas, também as principais actividadeseconómicas do País (agricultura, criação de gado, indústria e extrac-ção mineira) pouco tinham evoluído, continuando a utilizar-se técni-cas e instrumentos antiquados. A produtividade era baixa e nãosatisfazia as necessidades da população. Portugal era, assim, obriga-do a importar muitos produtos de outros países mais desenvolvi-dos, gastando muito dinheiro, em grande parte pedido ao estrangeiro.

Durante o reinado de D. Maria II, os governos liberais tomaramuma série de medidas com vista à modernização do reino, introdu-zindo novas técnicas (já conhecidas, e utilizadas noutros países daEuropa) nas principais actividades económicas. Foi, no entanto, só apartir de 1851 que esta preocupação mais se acentuou, tendo esseperíodo ficado conhecido como Regeneração, ou seja, o «renascer»de um novo Portugal, mais industrializado e moderno.

fig. 1 As técnicas tradicionais decultivo continuavam a persistirem algumas zonas do nosso País.

fig. 2 Esquema genealógico dos reis portugueses da segunda metade do século XIX (as datas dos reis correspondem àduração dos seus reinados). (Retratos: D. Pedro V, Museu Nacional dos Coches, foto José Pessoa; D. Luís I, Museu Nacional dos Coches, foto Henrique Ruas – DDF -IPM.)

D. Estefânia(1837-1859)

Princesa alemã.

D. Maria Pia(1847-1911)

Princesa italiana.

D. Amélia(1865-1951)

Filha dos condesde Paris

D. Fernando II(1816-1885)

Príncipe alemão,2.o marido de D. Maria II.

D. Pedro V(1853-1861)

D. Carlos I(1889-1908)

D. Maria II(1826-1853)

D. Luís I(1861-1889)Sucedeu a seu irmão, visto este

ter morrido sem descendentes.

Page 53: Manual HGP 6º

fig. 4 Trabalhando na eira, em Vizela (Fotog. S. Villarinho Pereira, da obra UmMédico no Chiado, Luísa Villarinho, 2003).

53

Os recursos naturais e as inovações tecnológicas

A agricultura

Em meados do século XIX a maioria dos Portugueses trabalhava naagricultura. Apesar disso, como muitas terras não eram cultivadas e osconhecimentos técnicos eram reduzidos, a produção era fraca e oscamponeses continuavam a ter baixíssimos rendimentos. A falta demeios de transporte, dificultando a distribuição dos produtos, contribuíaigualmente para o atraso da agricultura em Portugal. Sobre a situação emque a agricultura portuguesa se encontrava, lê o seguinte documento:

1.

2.

Sou capaz de...

Explicar a necessidade sentida pelos governos liberais de «regenerar o País».

Referir duas razões que contribuíam para a baixa produtividade agrícola.

O desenvolvimento e a modernização da agricultura foram,por isso, prioridades fundamentais dos governos liberais. Portugalpossuía bons terrenos agrícolas mas, na sua maior parte, mal aprovei-tados; foi, assim, necessário alterar as antigas leis e elaborar novas.

fig. 5 Mouzinho da Silveira (1780--1849). Ministro de D. João VI, D. Pedro IV e de D. Maria II, foi res-ponsável por grande parte das medi-das tomadas para a modernizaçãoda agricultura.

O estado da agricultura

Não se dão às terras os tratamentos prescritos pela ciên-cia; os adubos são maus e empregados em menor quantida-de do que requer uma cultura intensiva; o afolhamento* é aoacaso (...); os adubos químicos são desconhecidos (...). Cruelignorância que consome vidas e vidas a cavar a terra ingrata e que dei-xa os cultivadores a mendigar, no fim da vida, o pão de cada dia.

Ramalho Ortigão, As Farpas, vol. I (adaptado)* Divisão de um terreno em parcelas.

3• Indica as razões que contribuíam para o

baixo rendimento da agricultura por-tuguesa.

• Refere as consequências para os campo-neses desse baixo rendimento.

Page 54: Manual HGP 6º

Tema C 4. Portugal na segunda metade do século XIX

54

fig. 1 Ceifeira mecânica movidapor cavalos. Na segunda metadedo século XIX surgiram também al-gumas ceifeiras e debulhadorasmovidas a vapor.

fig. 3 Folheto publicitário de uma fá-brica de adubos químicos.

fig. 4 Folheto publicitário de umacasa de comércio de sementes.

Os novos proprietários

Para que mais terras fossem cultivadas e assim aumentar a pro-dução, dividiu-se a terra por um maior número de proprietários:

• vendeu-se, principalmente a burgueses, parte das proprieda-des da Coroa e das ordens religiosas que tinham sido, entre-tanto, extintas;

• acabou-se com o direito de morgadio (o direito que o filhomais velho tinha de herdar a totalidade dos bens paternos), pas-sando as propriedades a ser divididas por todos os filhos;

• dividiram-se muitos baldios (terrenos incultos que podiam serutilizados por toda a comunidade para pasto do gado) em parce-las entregues aos camponeses, que os desbravaram e cultivaram.

As novas técnicas

A modernização da agricultura obrigou também à introdução denovas técnicas. Assim:

• incentivou-se a alternância das culturas, para evitar que as ter-ras tivessem de ficar em pousio – período em que não se semea-va a terra para que ela ficasse a descansar (fig. 2);

• introduziram-se os adubos químicos e a selecção de sementes(figs. 3 e 4);

• iniciou-se a mecanização da agricultura com a introduçãodas primeiras máquinas agrícolas, feitas em ferro, como a cei-feira e a debulhadora, utilizadas apenas nas grandes proprieda-des do Sul (fig. 1).

fig. 2 Novas técnicas de cultivo.No terreno que anteriormente sedeixava em pousio, agora cultivam--se batatas. Alternando as culturasnão se verifica o esgotamento dosolo e a terra continua a produzir.

Page 55: Manual HGP 6º

55

fig. 7 A cultura da vinha foi introduzida, sobretudo, nas terras onde o clima ouo solo não eram bons para a cultura de cereais. A produção de vinho chegoua ocupar cerca de 30% da produção agrícola. A partir de 1872, as vinhas dasregiões do Norte foram atingidas por uma praga – a filoxera – que originouuma considerável queda na produção do vinho.

fig. 6 Áreas de maior produçãodos principais produtos agrícolasna segunda metade do século XIX(adaptado de A. do Carmo Reis,Atlas de História de Portugal).

1.

2.

3.

Sou capaz de...

Indicar duas medidas tomadas pelos governos liberais em benefício da agricultura.

Com base na figura 6 construir um quadro indicando os produtos agrícolas cultivados emPortugal e as respectivas áreas geográficas.

Realizar a Ficha n.o 7 do meu Caderno de Actividades.

As culturas

Foram também introduzidas ou desenvolvidas novas culturas, emPortugal, durante a segunda metade do século XIX. Lê o documento 5.

Os produtos agrícolas

Entre as novas culturas introduzidas ou expandidas durante esteperíodo, destacaram-se a batata e o arroz. A batata substituiu o con-sumo de nabos e castanhas na alimentação popular, sobretudo nosdistritos do Norte e de Nordeste. Vastas áreas de castanheiros foramgradualmente cedendo o lugar a plantações de batata. Em muitasregiões, o pousio pôde ser parcialmente suprimido e substituídopor batatais. O arroz difundiu-se nos meados do século com o pro-pósito declarado de fazer baixar as respectivas importações. (…)

Também a cortiça se espalhou, tendo a sua exportação duplica-do a partir de 1870. A produção de azeite cresceu. Plantou-se vinhaem larga escala. No Algarve, aumentaram as zonas de amendoeira ealfarrobeira.

A. H. de Oliveira Marques, História de Portugal, vol. III (adaptado)

5

• Indica as duas culturas que mais cresceram neste período.

• Refere a importância de cada uma delas.

• Identifica as outras culturas referidas.

• Retira uma conclusão.

As medidas aplicadas pelos governos liberais e a introduçãode novas técnicas originaram não só uma maior distribuiçãoda terra e um maior número de proprietários, como tambémum aumento das áreas cultivadas. A produção foi gradual-mente aumentando, e tornando-se mais variada. Por todo olado, surgiram novos pomares, hortas e campos de cereais,dando a Portugal um aspecto mais verde e fértil.

Construir o meu glossárioRegistar, no meu Caderno de Actividades, o significado de baldio e pousio.

Page 56: Manual HGP 6º

Tema C 4. Portugal na segunda metade do século XIX

56

fig. 1 Máquinas a vapor utilizadasna indústria portuguesa (adaptadode Joel Serrão, Temas Oitocentistas).

fig. 3 Fábrica de vidros da Marinha Grande (RevistaOcidente, 1890).

fig. 2 Sistema de funcionamento de uma máquina a vapor. A força do vapor da água, aquecida numa caldeira, fazmover uma roda que, através de um conjunto de correias, põe em movimento várias máquinas ao mesmo tempo.

Para que um grande número de máquinas pu-desse trabalhar ao mesmo tempo surgiram gran-des espaços – as fábricas –, onde passaram atrabalhar muitos operários. Estes já não partici-pavam em todas as fases da produção, comoos artesãos, mas especializavam-se apenas numadeterminada fase. O produto final passou, assim,a ser feito por várias pessoas, trabalhando ao rit-mo imposto pela máquina, o que não permitiaqualquer paragem ou distracção. A partir daqui,passaram a fazer-se mais produtos, todos iguais,em menos tempo, e com menor esforço por par-te dos trabalhadores.

A indústria

Durante muitos séculos, os produtos foram produzidos manual-mente ou com instrumentos muito simples. Os artesãos trabalha-vam na sua própria casa ou em pequenas oficinas, executando todasas tarefas, desde a transformação da matéria-prima até ao produtofinal. A partir dos meados do século XVII, surgiram as manufacturas,onde trabalhavam muitos artesãos, com instrumentos mecânicosmovidos pela força humana, animal, do vento ou da água.

Estas formas de produção artesanal e manufactureira predomi-navam ainda em Portugal, durante grande parte do século XIX.

A máquina a vapor

Alguns inventos técnicos já utilizados no estrangeiro (especial-mente na Grã-Bretanha) começaram, entretanto, a chegar a Portu-gal. A máquina a vapor, inventada pelo inglês James Watt, foiintroduzida na indústria em 1835 e veio revolucionar todo o pro-cesso de transformação das matérias-primas (fig. 2).

Page 57: Manual HGP 6º

57

As regiões mais industrializadas

Até 1852, a industrialização desenvolveu-se de uma forma lenta,tendo, a partir dessa data, aumentado significativamente o númerode novas fábricas.

Como podes observar no mapa da figura 5, na segunda metadedo século XIX, em Portugal, o maior número de indústrias localiza-va--se nas zonas Porto / Guimarães (têxteis e confecções) e Lisboa// Setúbal (química e metalurgia).

Esta localização devia-se ao facto de aquelas zonas serem muitopopulosas (forneciam não só mão-de-obra barata mas também ummaior número de consumidores) e disporem de portos marítimosque permitiam um mais fácil abastecimento de matérias-primas e

fig. 4 Principais indústrias na segunda metade do século XIX.

1.

2.

3.

Sou capaz de...

Com base na figura 1, retirar uma conclusão sobre a introdução deste tipo de máquinas emPortugal.

Seleccionar das palavras e expressões seguintes as que estão relacionadas com o desenvol-vimento da indústria no século XIX e escrevê-las no meu caderno diário:

• roda de oleiro • operários• oficinas • litoral• máquina a vapor • artesãos• concentrações populacionais • aldeias• fábricas

Dar a minha opinião sobre a importância da invenção da máquina a vapor.

fig. 5 Principais zonas industriaisna segunda metade do séculoXIX. Para além das principais zonasindustrializadas, no Litoral, as re-giões de Covilhã, Castelo Branco,Leiria e Portalegre eram importan-tes centros produtores da indústriatêxtil.

Page 58: Manual HGP 6º

Tema C 4. Portugal na segunda metade do século XIX

58

fig. 3 Primeira comemoração do 1.° de Maio,Dia do Trabalhador (Lisboa, 1890).

O nascimento do operariado

O desenvolvimento da indústria, que se verificou na segundametade do século XIX, levou ao aparecimento de um novo gruposocial: o operariado. Homens, mulheres e, por vezes, crianças tra-balhavam nas fábricas em muito más condições.

Sujeitos a um horário muito longo (que podia ir até às 16 horasdiárias) e recebendo baixos salários, estes operários viviam pobre-mente, mesmo recorrendo ao trabalho da mulher e dos filhos.

Sobre este assunto, lê os documentos seguintes:

Nem o governo, nem a grande maioria dos patrõesdava aos operários qualquer espécie de protecção ou deassistência contra acidentes.

Com vidas e problemas semelhantes, as pessoas quecompunham o operariado começaram, a pouco e pouco,a unir-se, fundando as primeiras associações.

Para lutar pelos seus direitos e melhores condições detrabalho, os operários saíram à rua em manifestações e fi-zeram as primeiras greves.

A mão-de-obra feminina

Com a entrada da mulher na fá-brica, baixaram os salários e hoje emdia trabalham os dois para ganhartanto quanto antes ganhava o ho-mem. (…) Em muitos casos, os ho-mens ficam em casa por falta detrabalho e a mulher vai trabalhar, por-que o que o patrão deseja é a mão--de-obra mais barata.

Jornal O Eco Metalúgico, 1897

O trabalho infantil

De Inverno, ao romper da manhã, já os pequenitos esperavam, àsescuras, debaixo de chuva, ou enregelados pelo frio, que se lhes abris-se o portão da fábrica (…) Tinham de levantar-se às 2 h da noite parachegarem ao toque da sineta (...) E de seis e sete anos de idade!

Era uma fábrica de estamparia e tinturaria pelos processos ma-nuais. (...) Lavavam fazendas nos tanques, metidos na água à tem-peratura de 4 graus.

À hora das refeições nunca vi nenhum deles tomar um caldo.Pão e uma sardinha frita: era o inevitável menu.

Silva Pinto (1848-1911), jornalista e escritor, Noites de Vigília, 1896 (adaptado)

1

2

• Com base no documento 1, in-dica uma consequência da en-trada da mulher no trabalho dasfábricas;

• Com base no documento 2, re-fere como eram as condiçõesde vida destes pequenos traba-lhadores.

• Explica agora por que razão ospatrões preferiam muitas vezesa mão-de-obra feminina e in-fantil.

• Dá um título único aos dois do-cumentos.

Page 59: Manual HGP 6º

59

A extracção mineira

A mecanização da indústria deu-se com a utilização de umanova energia – o vapor. Para a conseguir, utilizou-se, como com-bustível, o carvão mineral. Este passou a ser a principal fonte deenergia, sendo utilizado para fins domésticos (aquecimento de fogõ-es de sala ou de cozinha), industriais (caldeiras das máquinas a vaporou altos fornos das fundições) e ainda para produzir o gás com quese fazia a iluminação pública.

O carvão mineral tornou-se, assim, muito valioso. Também o co-bre passou a ser extraído em maior quantidade, bem como o fer-ro, aplicado agora no fabrico de máquinas, carris e construçõespúblicas. Contudo, dada a escassa produção portuguesa, a maior par-te do carvão e do ferro continuou a ser importada.

A alteração da paisagem

Em busca de minério, perfurou-se osolo e escavaram-se os montes (fig. 5).Alguns campos começaram a ser atra-vessados por estradas e caminhos-de--ferro e construíram-se instalaçõespara apoiar esta actividade. Novas po-voações foram, assim, surgindo.

A extracção mineira e a nova energiautilizada transformaram a paisagem.Esta, sobretudo nas zonas industriais,passou a ser dominada por fábricas comchaminés muito altas para evitar que osfumos e os maus cheiros afectassem asaúde da população.

1.

2.

Sou capaz de...

Fazer uma recolha de dados e redigir um texto sobre:• exemplos de trabalho infantil e respectivos horários de trabalho, no passado e no presen-

te;• actividades económicas da minha região, indicando a actividade predominante, as prin-

cipais produções e os instrumentos de trabalho utilizados;• influência da indústria no meio ambiente.

fig. 5 Gravura representando o interior de uma mina.

fig. 4 Principais minas exploradasno século XIX.

Construir o meu glossárioRegistar, no meu Caderno de Actividades, o significado de indústria e operariado.

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Tema C 4. Portugal na segunda metade do século XIX

60

Transportes e comunicações

Todo o progresso agrícola e industrial que acabaste de estudar sófoi possível graças ao desenvolvimento das vias de comunicação edos meios de transporte, condições indispensáveis à circulação dematérias-primas e produtos. De facto, no início do século XIX, as es-tradas eram poucas e más e os transportes eram tão antiquados que,por exemplo, uma viagem de Lisboa ao Porto, que hoje se faz emcerca de 3 h de carro ou de comboio, demorava, na época, em trans-portes puxados por cavalos, cerca de sete dias.

Na segunda metade do século, o governo português iniciou,então, uma política de desenvolvimento das comunicações, cons-truindo estradas, pontes, caminhos-de-ferro e túneis e modernizan-do os próprios transportes.

Um dos principais responsáveis por esta política foi Fontes Pereirade Melo (1819-1887), ministro de D. Maria II, de D. Pedro V e de D. Luís I, que aplicou em Portugal inovações já utilizadas noutros paí-ses europeus. A introdução da máquina a vapor nos transportesfoi uma delas.

O comboio

A primeira viagem de comboio realizou-se entre Lisboa e o Carre-gado, no dia 28 de Outubro de 1856. Lê o documento seguinte quete fala sobre esta inauguração.

A inauguração do comboio

Vou contar o que me lembro do solene dia da inauguraçãoque, enfim, chegou. (...) minha mãe (...) foi comigo para ummonte fronteiro à estação de Alhandra ver a passagem do com-boio em que meu pai devia tomar lugar (…).

Finalmente avistámos ao longe um fumozinho branco, nafrente de uma fita escura que lembrava uma serpente a avançardevagarinho. Era o comboio! Quando se aproximou vimos quetrazia menos carruagens do que supúnhamos. Vinha festiva-mente embandeirado o vagão em que viajava el-rei D. Pedro V(…). Só no dia seguinte ouvimos o meu pai contar várias peripé-cias dessa jornada de inauguração. A máquina (…) não tinhaforça para puxar todas as carruagens que lhe atrelaram e fora-aslargando pelo caminho. Algumas, de convidados, nos Olivais. Ovagão do cardeal patriarca ficou em Sacavém; mais um (…) ficouao desamparo na Póvoa. Creio que se o Carregado fosse maislonge e a manter-se uma tal proporção, chegava lá a máquina ouparte dela.

Livro de Memórias da Marquesa de Rio Maior (adaptado)

2

• Refere por que razão esta viagem despertou tanto interesse.

• Explica por que foram algumas carruagens ficando pelo caminho.

fig. 1 Viajando em Portugal nosprincípios do século XIX.

fig. 3 Cerimónia de inauguração docaminho-de-ferro em Portugal ecarruagem real.

Page 61: Manual HGP 6º

61

Em 1868 inaugurou-se a ligação Lisboa-Madrid e, em 1887, ini-ciou-se a ligação directa Lisboa-Madrid-Paris, feita através do Sud--Express, um comboio mais luxuoso, com várias carruagens erestaurante. Portugal ficou, assim, mais perto do centro da Europa.

fig. 4 Ponte D. Maria, no Porto. Em 1877, concluiu-se a ligaçãoferroviária directa Lisboa-Porto graças à construção desta ponte.

fig. 6 Inauguração do caminho-de-ferro directo de Madrid à fronteira dePortugal (Revista Ocidente, 1881). O comboio era puxado por uma locomoti-va a vapor. A esta seguia-se um vagão que transportava carvão para alimentara máquina. Vinham depois as carruagens de passageiros e de mercadorias.

1.

2.

3.

Sou capaz de...

Redigir um texto utilizando as seguintes palavras: comboio, máquina a vapor, Fontes Pereirade Melo, Lisboa, D. Pedro V, Carregado, 1856, carvão.

Dar a minha opinião sobre a importância, para a Humanidade, da invenção do comboio.

Elaborar uma pequena biografia de Fontes Pereira de Melo.

Realizar a Ficha n.o 4 do meu Caderno de Apoio (Estudo Acompanhado).

fig. 5 Evolução da linha ferroviáriaem Portugal (adapatdo de A. H. deOliveira Marques, História de Portu-gal, vol. III). A via férrea foi progressi-vamente alastrando pelo País,existindo já no final do século cercade 2000 km de caminhos-de-ferro.

fig. 7 Cartaz publicitário doSud-Express.

0 50 km

1856-1869

Setúbal

Lisboa

Porto

Aveiro

Entroncamento

E S

P A

N H

A

Elvas

Coimbra

Beja

Régua

Póvoade

Varzim

BragaGuimarães

Viana do Castelo

ValençaCaminha

Figueirada Foz

Guarda

Mirandela

Viseu

Leiria

Faro

Tua

1870-1883 1884-1897

Évora

N

Sacavém

Alhandra

Olivais

0 50 km

Carregado

Póvoa

Lisboa

Page 62: Manual HGP 6º

Tema C 4. Portugal na segunda metade do século XIX

62

As estradas e as vias marítimas

Ao mesmo tempo que se desenvolvia a rede de caminho-de-ferro,iniciou-se uma fase de renovação e de construção de estradas.Quando Fontes Pereira de Melo assumiu o cargo de ministro, em1852, o País possuía apenas 218 km de estradas macadamizadas,isto é, estradas construídas segundo a técnica inglesa de Mac Adam– terra batida sobre pequenas pedras e areia grossa. Quando deixoueste cargo, em 1887, Portugal já tinha cerca de 9000 km de estradas.Observa a figura 1.

A partir de 1855, e após anteriores tentativas fracassadas, come-çou a circular, na estrada Lisboa-Porto a «mala-posta», diligênciaque transportava o correio e alguns passageiros (fig. 2).

No final do século, o automóvel começou a circular em Portugal,utilizando o petróleo como fonte de energia.

fig. 2 Carruagem da mala-posta (gravura do Museu dosCTT). O percurso entre Lisboa e Porto era feito em 34 h, incluindo o tempo gasto nas refeições que os passageiros tomavam pelo caminho. Os cavalos eram substituídos diver-sas vezes durante a viagem.

fig. 4 Porto artificial de Leixões.Construído entre 1884 e 1892 veiopermitir um mais fácil carregamen-to de mercadorias relativamente atoda a zona industrial situada entreo Porto e Guimarães.

fig. 1 Quilómetros de estradaexistentes (adaptado de A. H. deOliveira Marques, História de Portu-gal, vol. III).

fig. 3 Ponte D. Luís I, no Porto. Construída em ferro e inau-gurada em 1886, completava a ligação rodoviária entre Lis-boa e o Porto. Hoje, o seu tabuleiro superior está a seradaptado para servir o metropolitano de superfície, continu-ando o tabuleiro inferior destinado à circulação rodoviária.

O transporte preferido

Do Porto a Braga levava-se seis horas de mala-posta e pagava-se1500 [réis]; de comboio, passava a levar-se 2 horas e 22 minutos, porum preço de 810 réis.

Villaverde Cabral, O Desenvolvimento do Capitalismo em Portugal no Século XIX (adaptado)

5

• Refere duas vantagens do comboio.

• Explica por que razão o comboio podia praticar um preço diferente.

Os transportes marítimos beneficiaram igualmente de melhora-mentos, não só com a aplicação da máquina a vapor aos barcos, apartir de 1820, mas também com a construção de portos e de fa-róis ao longo da costa para orientar a navegação. Até aí, a costa por-tuguesa era conhecida pela navegação estrangeira como a «costanegra», devido à falta de sinalização.

Page 63: Manual HGP 6º

63

Os outros meios de comunicação

Além dos meios de transporte, desenvolveram-se outras formasde comunicação. Os correios foram remodelados, surgindo o pri-meiro selo adesivo e o bilhete postal, os primeiros marcos postais, osprimeiros telégrafos e, em 1882, a rede de telefones de Lisboa.

1.

2.

3.

Sou capaz de...

Indicar duas medidas tomadas, durante este período, para melhorar cada um dos transportes:a) ferroviários; b) rodoviários; c) marítimos.

Dar a minha opinião sobre qual dos acontecimentos referidos na cronologia considero maisimportante e justificar.

Realizar a Ficha n.o 9 do meu Caderno de Actividades.

CRONOLOGIA

1852Estabelecimento da mala-postaentre Porto, Braga e Guimarães.

1853Início da utilização dos selospostais.

1854Primeiras linhas telefónicas.

1856• Inauguração do primeiro troço

de caminho-de-ferro: Lisboa--Carregado.

• Inauguração da rede do telé-grafo eléctrico.

1858Primeira carreira a vapor entrePortugal e Angola.

1864Ligação de Portugal à Europapor caminho-de-ferro.

1882• Inauguração da rede de telefo-

nes de Lisboa.• Inauguração das linhas férreas

da Beira Alta e do Minho.

1887Inauguração da linha férrea doDouro.

1889Inauguração da linha férrea doSul.

Telefone de parede

T e l é g r a f o

Marcos do correio Selo

fig. 6 Meios de comunicação. Para que fosse possível a distribuição do correio, ascasas passaram a ter números e as ruas nomes, como acontece nos nossos dias. Osprimeiros selos postais portugueses entraram em circulação em 1853, tendo aimagem de D. Maria II.

Os novos meios de transporte e de comunicação trouxerammuitas alterações na forma de viver, pensar e comunicar:

• facilitaram a mobilidade de pessoas. Viajar tornou-se mais fácil, rápido e cómodo;

• possibilitaram a circulação de novas ideias, hábitos e infor-mações;

• permitiram a deslocação de maior quantidade de mercado-rias em menos tempo. Graças ao comboio, muitas regiões pu-deram escoar os seus produtos para outras zonas, favorecendo odesenvolvimento da agricultura, da indústria e do comércio. Aeconomia do País ia-se progressivamente modernizando.

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Tema C 4. Portugal na segunda metade do século XIX

64

fig. 1 Publicações da segundametade do século XIX: o jornal O Século e página de anúnciosd’ O Comércio do Porto Ilustrado.

A leitura do jornal

Recordo uma noite em que uma senhora lia, àluz do candeeiro, um jornal da tarde. Em torno damesa outras senhoras costuravam. Espalhados pe-las cadeiras, três ou quatro homens fumavam.

Ela lia as catástrofes. «Na ilha de Java um terra-moto destruíra vinte aldeias e matara duas milpessoas...» e ninguém se interessou. Na Bélgica,numa greve de operários que as tropas tinhamatacado, houvera entre os mortos quatro mulheres, duas criancinhas...Então, na aconchegada sala, vozes já mais interessadas exclamaram:«Que horror!... Pobre gente!...» (...) No sul da França, «um trem descar-rilando, causara três mortos, onze ferimentos...» Uma curta emoçãopassou através de nós com aquela desgraça quase próxima, num com-boio que desce a Portugal, onde viajam portugueses... Todos lamentá-mos, estendidos nas poltronas, gozando a nossa segurança.

A leitora virou a página do jornal... (...) E, de repente, solta umgrito, leva as mãos à cabeça:

– Santo Deus!...Todos nos erguemos num sobressalto. E ela, no seu espanto e

terror, balbuciando:– Foi a Luísa Carneiro, da Bela-Vista... Esta manhã! Desmanchou

um pé!Então a sala inteira se alvoroçou. As senhoras arremessaram a

costura; os homens esqueceram os charutos; e todos se debruça-vam e reliam a notícia (...). A Luisinha Carneiro! Desmanchara umpé! Já um criado correra, ansiosamente, para a Bela-Vista, buscarnotícias por que ansiávamos (...).

Eça de Queirós, Cartas Familiares e Bilhetes de Paris, século XIX (adaptado)

2

fig. 3 Eça de Queirós(1845-1900).

• Identifica as desgraças noticiadas no jornal.

• Explica as diferentes atitudes dos ouvintes ao tomarem conheci-mento das várias notícias.

• E tu? Reagirias do mesmo modo? Justifica.

fig. 4 O Sorvete, jornal satíricoeditado no Porto entre 1878 e1885. Comentava a vida do País,utilizando a caricatura como formade crítica social.

A cultura

Apesar da elevada quantidade de analfabetos existente em Portu-gal, na segunda metade do século XIX, um número cada vez maiorde pessoas, sobretudo das cidades, começou a interessar-se pelosacontecimentos políticos e sociais do mundo em que vivia. Para issocontribuiu o desenvolvimento dos meios de comunicação com a Eu-ropa, facilitando a importação de livros e revistas.

O número de publicações aumentou rapidamente. A imprensa tornou-se não só um meio de difusão de ideias e notícias, tanto na-cionais como estrangeiras, mas também uma forma de publicitar no-vos inventos e produtos (fig. 1). O gosto pela leitura de jornais foiprogressivamente aumentando.

Page 65: Manual HGP 6º

65

Desenvolveu-se também o gosto pelo teatro e pelo romance,que conquistou um grande número de leitores.

Em Lisboa, Almeida Garrett promoveu a construção de um Tea-tro Nacional e em todo o País inauguraram-se teatros e salas de es-pectáculos, frequentadas principalmente pela nobreza e pelaburguesia.

O romance, desenvolvido neste século, teve como principais es-critores Júlio Dinis, Almeida Garrett, Ramalho Ortigão, CamiloCastelo Branco e Eça de Queirós. As suas obras retratavam a socie-dade da época, muitas vezes de uma forma irónica e caricatural.

O romance histórico teve como principal representante Alexan-dre Herculano (fig. 6), que também desempenhou um papel muitoimportante na reorganização dos arquivos do Estado. Começou a es-crever uma História de Portugal, obra que não chegou a concluir.

1.

2.

3.

Sou capaz de...

Indicar uma razão que contribuiu para o grande desenvolvimento cultural da segunda metadedo século XIX.

Seleccionar, da cronologia, uma publicação que esteja relacionada com a luta por melhorescondições de vida dos trabalhadores das fábricas.

Elaborar a biografia de um escritor deste período.

CRONOLOGIA

1860Publicação dos primeirosromances de Júlio Dinis.

1864Fundação do jornal Diário deNotícias.

1868Fundação do jornal O Primeirode Janeiro.

1878Início da publicação do semaná-rio A Voz do Operário.

1881Fundação do jornal O Século.

1890 Inauguração do Coliseu dos Recreios, em Lisboa.

1895Primeiro espectáculo público decinema no Porto.

1896Primeiro espectáculo público decinema, no Real Coliseu de Lisboa.

Interior do teatro.

fig. 6 Alexandre Herculano(1810-1877).

fig. 5 Teatro Nacional de D. Maria II, noRossio, em Lisboa (gravura da época).Construído entre 1842 e 1846 sobre as ruí-nas do antigo Palácio da Inquisição, foi ins-pirado nas arquitecturas grega e romana.

Page 66: Manual HGP 6º

Tema C 4. Portugal na segunda metade do século XIX

66

A arte

A segunda metade do século XIX foi uma época muito rica e variada no aspecto artístico. Muitas das imagens deste período queencontras no teu manual pertencem a estes artistas. Observa-ascom atenção.

A arquitectura

A arquitectura dos finais do século XIX está relacionada com ocrescimento das cidades e com a necessidade de construção degrandes espaços – pavilhões de exposições, estações de caminho--de-ferro, fábricas, teatros… Os novos materiais utilizados foram oferro e o vidro, característicos da industrialização. O ferro permitiaconstruir estruturas sólidas mas leves, delimitando espaços amplos. Ovidro, usado como revestimento dessas estruturas, permitia a entradade luz natural.

O gosto pelo reviver de períodos importantes do passado, comoo dos Descobrimentos, é visível na arquitectura de muitos edifícios.

fig. 1 Palácio da Pena, em Sintra.Mandado construir por D. Fernando II(marido da rainha D. Maria II) entre1838 e 1885, sobre as ruínas de umconvento do século XVI, integra nasua decoração elementos de váriosestilos.

A pintura e a escultura

Os artistas deste período pintaram, sobretudo:

• paisagens rurais e marítimas;

• cenas da vida quotidiana;

• retratos. O retrato pintado fazia parte dos gostos das famílias ricas. Era moda encomendar retratos dos donos da casa a pintoresfamosos para expôr nas paredes dos salões.

Nos meados do século (1840), a invenção da fotografia veio tor-nar mais acessível o retrato, diminuindo este tipo de encomendas.

fig. 2 Hotel do Buçaco, perto deCoimbra. A sua construção, inspira-da no estilo manuelino, iniciou-seem 1888.

fig. 3 Palácio de Cristal, no Porto. Foi inaugurado com a «Exposição Internacio-nal» de 1865. Este grande espaço, que utilizou na sua construção os novos materi-ais da época (ferro e vidro), foi demolido em 1951, dando lugar ao actual PavilhãoRosa Mota, dedicado ao desporto e à cultura.

fig. 4 Retrato da viscondessa deMenezes (pintura de Luís de Mene-zes, Museu do Chiado).

Foto

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Page 67: Manual HGP 6º

67

1.

2.

3.

Sou capaz de...

Referir os novos materiais utilizados na arquitectura deste período.

Explicar por que razão a arquitectura teve de se adaptar às novas exigências da época.

Identificar nas figuras 4 e 5 temas comuns na pintura deste período.

Na pintura de paisagens e quotidiano, são de referir os nomes deSilva Porto (1850-1893), José Malhoa (1855-1933) e ColumbanoBordalo Pinheiro (1857-1927); na escultura, destacaram-se Soaresdos Reis (1847-1889) e Teixeira Lopes (1866-1942).

A cerâmica

Como caricaturista e ceramistasalientou-se Rafael BordaloPinheiro (1846-1905), conhecidopela criação da popular figura doZé Povinho (fig. 8). A maioria dassuas obras criticava a acção dosgovernantes e os usos e costumesda sociedade do seu tempo.

O azulejo foi também utilizadocomo decoração de edifícios, porvezes até com uma função publici-tária (fig. 7).

fig. 6 O Desterrado, de Soares dosReis (Museu Nacional Soares dosReis).

fig. 8 Zé Povinho, de Rafael BordaloPinheiro.

fig. 5 À Beira-Mar, de José Malhoa (Museu do Chiado).

fig. 7 Painel de azulejo da CerâmicaViúva de Lamego, realizado em 1865.

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Page 68: Manual HGP 6º

O ensino

Como te deves recordar, no tempo do Marquês de Pombal foramreformadas algumas escolas e criadas outras.

Também os governos liberais pretenderam garantir a instru-ção a todos os cidadãos. Para isso:

• no ensino primário, aumentou-se o número de escolas primárias(algumas delas do sexo feminino), tornando este ensino de fre-quência obrigatória nos três primeiros anos e um ano mais devoluntariado;

• no ensino liceal, criaram-se liceus (escolas secundárias) em to-das as capitais de distrito e dois em Lisboa. Fundaram-se escolasindustriais, comerciais e agrícolas, pois o País necessitava de for-mar técnicos competentes em todos os sectores;

• no ensino universitário, criaram-se novas escolas ligadas àmarinha, às artes, às técnicas e ao teatro. No entanto, a únicauniversidade portuguesa continuava a ser a de Coimbra.

Apesar destas medidas, nos finais do século XIX,grande parte da população continuava analfabeta, so-bretudo as mulheres, as pessoas do campo e muitascrianças das cidades que, como te lembras, começa-vam a trabalhar desde tenra idade. Observa a figura 2e o quadro I.

Tema C 4. Portugal na segunda metade do século XIX

68

Nem todos iam à escola

A criança de sete a dez anos já conduz os bois, guarda o gado,apanha a lenha, acarreta, sacha, colabora na lavoura. Tem a alturade uma enxada e a utilidade de um homem. Sai de madrugada evolta à noite.

Eça de Queirós (1845-1900)

3

• Explica o significado da frase destacada.

• Transcreve a frase do texto que indica que estas crianças nãopodiam ir à escola.

fig. 1 Passos Manuel (1801-1860).Natural dos arredores do Porto, foiministro de D. Maria II e um dosgrandes responsáveis pelas medi-das tomadas na educação.

fig. 2 Criação de escolas primárias entre 1850 e1900 (A. H. de Oliveira Marques, História de Portu-gal, vol. III).

QUADRO I

Fonte: Joel Serrão, «Analfabetismo», in Dicionário da História de Portugal

Anos População Na pop.total

Na população masculina

Na populaçãofeminina

72,5

71,6

85,4

84,9

% de analfabetos

1878

1890

1900

4 550 699

5 049 729

5 423 132

82,4

79,2

78,6

Page 69: Manual HGP 6º

69

A defesa dos direitos humanos

De acordo com os princípios liberais, que prevaleceram duranteeste século, o governo português tomou duas importantes medidasrelacionadas com os direitos do Homem:

• promulgação do Código Civil de 1867, onde a pena de morte eraabolida para crimes civis;

• extinção da escravatura em todos os territórios portugueses(1869).

Portugal foi o primeiro país da Europa a acabar com a pena demorte que, como sabes, ainda hoje existe em muitos países, como,por exemplo, em alguns estados dos Estados Unidos da América e naChina. Lê o documento seguinte:

1.

2.

3.

Sou capaz de...

Comparar os dados da figura 2 com os do quadro I e retirar uma conclusão.

Realizar a Ficha n.° 10 do meu Caderno de Actividades.

Sugerir ao meu / à minha professor(a) que organize um debate sobre as medidas de defesados direitos humanos. Elaborar um painel com as conclusões do debate e ilustrá-lo com de-senhos ou recortes de jornais e de revistas.

fig. 4 Sá da Bandeira (1795-1876).Natural de Santarém, foi ministro deD. Maria II e de D. Luís I, tendo sido oresponsável pelo fim da escravaturaem todos os territórios portugueses.

fig. 6 Algumas datas de aboliçãoda pena de morte.

O exemplo português

Portugal acaba de abolir a pena de morte. Acompanhar este pro-gresso é dar o grande passo da civilização. Desde hoje Portugal é acabeça da Europa. Vós, Portugueses, não deixastes de ser navegado-res destemidos. Antes vós íeis à frente no Oceano; hoje vós ides àfrente na Verdade. A Europa imitará Portugal.

Eu grito: Glória a Portugal.

Carta de Victor Hugo (escritor francês do século XIX) ao jornal Diário de Notícias, em 10/07/1867

5

• Explica a comparação feita entre este período português eo dos Descobrimentos.

• Comenta a frase destacada.

• Que sentimento tenta o autor transmitir aos seus leitores?

• Dá outro título ao documento.

• Concordas com a abolição desta pena? Justifica.

1920

1921

1924

1928

1978

1979

1981

Áustria

Suécia

Itália

Islândia

Dinamarca

Luxemburgo, Nicarágua

e Cabo-Verde

França

1982 Holanda

Data

Quadro II

Países

Situar no tempoRealizar a actividade n.o 5 do meu Friso Cronológico.

Page 70: Manual HGP 6º

fig. 3 A apanha da azeitona (painel de azulejo no Mercado Municipal deMontemor-o-Novo).

4.2 A vida quotidiana

A vida nos campos

As actividades

Na segunda metade do século XIX, as principais actividades daspessoas que viviam no campo continuavam a ser a agricultura e acriação de gado. Esta constituía não só um rendimento comple-mentar mas também um recurso auxiliar das actividades agrícolas(fornecia estrume para as culturas e força para puxar os arados).

Muitos camponeses trabalhavam em terras que não lhes per-tenciam, na condição de rendeiros, jornaleiros (trabalhavam à jorna,ou seja, ao dia), criados ou assalariados. Havia também numerosospequenos proprietários cujas terras mal chegavam para os sustentar.Os grandes proprietários podiam ser nobres que tinham conseguidomanter as suas propriedades ou burgueses que as tinham herdado oucomprado ao Estado.

Apesar dos progressos registados na agricultura, que já estudaste, avida dos camponeses continuava a ser muito difícil. Trabalhavam des-de o nascer até ao pôr do Sol nas múltiplas tarefas que se sucediam aolongo do ano: a sementeira, a ceifa, a vindima, a extracção da cortiçae a apanha da azeitona.

Tema C 4. Portugal na segunda metade do século XIX

70

fig. 2 Guardando o rebanho (painelde azulejo no Mercado Municipal deMontemor-o-Novo).

fig. 1 Na eira, malhando o milho.

A alimentação

A alimentação das pessoas do campo era muito simples e feitaà base dos produtos que cultivavam ou podiam adquirir com mais fa-cilidade. Compunha-se, normalmente, de pão, azeitonas, sardinha, car-ne de porco e sopa de legumes frescos ou secos. O arroz e a batata,produzidos então em maior quantidade, passaram também a fazerparte da alimentação diária. Doces e carne, de vaca ou de aves, só emdias festivos. Ao longo do ano, por ocasião das festas religiosas, con-feccionavam-se manjares com receitas próprias de cada região.

Page 71: Manual HGP 6º

71

O vestuário

O vestuário dos camponeses variava conforme a região, orespectivo clima e ainda os trabalhos que realizavam. Observa afigura 4.

1.

2.

3.

Sou capaz de...

Explicar se a alimentação dos camponeses era equilibrada ou desequilibrada e justificar.

Identificar a quem pertencia a maior parte das terras.

Referir duas razões para que o vestuário fosse diferente de região para região.

fig. 5 Trajes regionais de Viana doCastelo. Muitos trajes regionais ain-da perduram, por terem passado aser utilizados como trajes dos grupose ranchos folclóricos (imagem cedidapelo Centro Cultural Português deMississanga Inc., Ontário, Canadá).

A habitação

O tipo de casas também variava conforme a sua localização, oclima e os materiais de construção existentes na zona.

De um modo geral, os interiores eram simples e modestos.

fig. 7 Interior da casa de um la-vrador do Minho. Por vezes, a fa-mília camponesa vivia num únicocompartimento. Aí se preparavamas refeições, se comia e se dormia.

A mesa do camponês

Na mesa de pinho, recoberta com uma toalha de mão, encosta-da ao muro enegrecido pelo fumo das candeias, uma vela de sebomeio derretida num castiçal de latão alumiava dois pratos de louçaamarela, ladeados por colheres de pau e garfos de ferro. Os copos,de vidro grosso e baço, conservavam o tom roxo do vinho. (…)

A malga de barro atestada de azeitonas pretas. (…) Na largabroa estava cravado um facalhão.

Eça de Queirós, Contos

6

• Com base no documento 6 e na figura 7, descreve o interior deuma casa de camponeses.

fig. 4 Trajes típicos: A – homem e mulher dos arredores do Porto com trajo deromaria; B – homem e mulher de Ovar; C – ceifeira do Minho; D – pescadores deÍlhavo; E – camponesa do Alentejo; F – campino da Estremadura (imagens E e F:aguarelas de Alberto Souza).

A B C

D E F

Page 72: Manual HGP 6º

Tema C 4. Portugal na segunda metade do século XIX

72

Os divertimentos

Os divertimentos estavam muito relacionados com as festas religiosase com os trabalhos agrícolas (vindimas, ceifas, desfolhadas), que eram,muitas vezes, acompanhados por cantares ao desafio. Durante as festasdo santo padroeiro de cada povoação faziam-se procissões, romarias,feiras e o povo divertia-se com bailes e jogos típicos da sua região.

As crianças divertiam-se com brinquedos que elas próprias construíam.

As festas religiosas

As Janeiras à porta do ano, e os Santos Reis logo ao pé (...); o En-trudo com a festa do galo; a Quaresma com as suas devoções; peloS. João as grandes fogueiras; os magustos em «Todos-os-Santos»; noNatal as consoadas – e uma vez por outra, ao ar livre (na eira), essesautos* que têm tanta fama.

Trindade Coelho, Os Meus Amores, século XIX (adaptado)

*Representações teatrais.

2

fig. 5 Armando aos Pássaros, óleo de Henrique Pinto, da-tado de 1893 (col. particular).

fig. 6 Baile na Aldeia, pintura de Leonel Pereira (1828--1892), Museu Nacional Soares dos Reis, Porto.

fig. 3 Jogo do Chinquilho (Portugal Pittoresco e Ilustrado,I, 1903).

fig. 4 Procissão, pintura de Augusto Roquemont, meadosdo século XIX (Museu Nacional Soares dos Reis), represen-tando uma romaria no Minho.

fig. 1 Romaria do Senhor da Serra,em Belas (foto da época).

• Indica as festas religiosas a que odocumento se refere.

Foto

Car

los

Mon

teiro

/ D

DF-

IPM

Foto

Car

los

Mon

teiro

/ D

DF-

IPM

Page 73: Manual HGP 6º

73

A taberna, onde os homens se encontravam ao fim da tarde, e afonte ou o rio, onde as mulheres, em conjunto, lavavam a roupa,eram locais onde se trocavam as novidades do dia-a-dia da terra.

A tenda, ou loja, da aldeia, além de ser um lugar de abastecimentode produtos, era também outro local onde se podiam saber notícias.

1.

2.

3.

4.

Sou capaz de...

Referir duas manifestações populares ligadas às festas religiosas.

Explicar como tinham as pessoas do campo acesso às notícias de outras regiões.

Imaginar que vivia nessa época e que era um trabalhador rural. Com base nos textos que lie nas imagens que observei, elaborar uma pequena composição sobre o meu quotidiano.

Realizar a Ficha n.o 11 do meu Caderno de Actividades.

A leitura das cartas

Aquela mulher parava ali para ler a essa gente, pobre e igno-rante, as cartas que haviam recebido do correio.

– … E, por isso, minha mãe – lia ela – se Deus me ajudar, es-pero dentro em pouco ir a essa terra e darei remédio a tudo (…).

E continuou a ler a carta, no meio das lágrimas e das expan-sões de alegria da ouvinte (…).

Após esta, ainda outra e outra; uma de marido para mulher;outra de filho para mãe; outra de noivo para noiva.

Júlio Dinis, A Morgadinha dos Canaviais (romance do século XIX – adaptado)

9

• Por que motivo aquela mulher lia as cartas das outras pessoas?

fig. 8 Os Bêbedos, pintura de JoséMalhoa, 1907.

fig. 10 Uma Carta do Brasil (Ilustra-ção Portuguesa, 1884). A chegadade notícias era sempre um momen-to de grande entusiasmo.

O correio e o almocreve faziam a ligação entre as diversas re-giões. Em muitas terras organizavam-se serões para a leitura da cor-respondência recebida e para a escrita da respectiva resposta. Lê odocumento 9.

fig. 7 Mulheres lavando a roupa no rio (foto da época).

Page 74: Manual HGP 6º

Tema C 4. Portugal na segunda metade do século XIX

74

A vida nas grandes cidades

A população e as actividades

Na segunda metade do século XIX, a população portuguesa cres-ceu muito (mais de 1 milhão de habitantes), contando-se, no final doséculo, em quase 5 milhões. Lisboa e Porto eram as cidades maispopulosas. A sua área, durante este período, aumentou considera-velmente.

Era nestas duas cidades que se localizava grande parte das fábri-cas, para as quais se dirigiam pessoas de todas as partes do País àprocura de emprego e de melhores condições de vida.

A burguesia predominava também nestas duas cidades – co-merciantes, industriais, banqueiros, médicos, advogados, professorese funcionários públicos. Lisboa e Porto dominavam a actividadebancária, o comércio e a indústria do resto do País.

A pouco e pouco, alguns burgueses, cada vez mais enriquecidos,começaram também a ocupar cargos no governo, ou seja, a ter po-der político.

Mas a maioria da população das cidades, durante o século XIX,pertencia às classes populares e trabalhava em muitas actividades– operários da indústria e construção civil, empregados de balcão,criados nas casas de pessoas ricas e da classe média.

fig. 1 O crescimento da cidade de Lis-boa (adaptado de A. H. de Oliveira Mar-ques e J. J. Alves Dias, Atlas Histórico dePortugal e do Ultramar Português).

fig. 3 Número de habitantes deLisboa e do Porto (adaptado de A. H. de Oliveira Marques, Históriade Portugal, vol. III).

fig. 2 Rua Mouzinho da Silveira, no Porto (postal da época).

Page 75: Manual HGP 6º

75

Os vendedores ambulantes

Para abastecer as cidades chegavam, logo de manhã cedo, osvendedores ambulantes apregoando os seus produtos (fig. 5). Tor-naram-se figuras típicas das cidades, pela sua maneira de vestir epelo anúncio cantado (o pregão) do produto que traziam para ven-der, tentando, assim, conquistar a freguesia.

1.

2.

Sou capaz de...

Indicar duas razões para o crescimento de Lisboa e Porto.

Redigir um pequeno texto comparando o comércio desta época com o que se pratica actual-mente.

A alimentação

A burguesia e a nobreza tinham uma alimentação abundantee variada.

Faziam normalmente quatro refeições diárias: o pequeno-almoço,o almoço, o jantar e a ceia. Apreciavam muito pratos de carne e deli-ciavam-se com as sobremesas. Multiplicaram-se, nesta época, os res-taurantes e os cozinheiros famosos que inventavam novas receitasou confeccionavam outras de origem estrangeira. São, por exemplo,os casos do pudim, do puré, da omelete, do suflê ou do bife.

O povo das cidades, que não tinha dinheiro para estes luxos, ali-mentava-se de pão, legumes, toucinho e sardinhas.

fig. 5 Vendedores ambulantes: A – varina de Lisboa; B – aguadeiro de Lisboa; C – galinheira do Porto; D – vendedor decestos de Lisboa; E – vendedora de roupas de Lisboa.

Pregões do século XIX

– Que-em compra os ovos?– Ó-ó fa-va ri-ca!– Que-em merca o leiti-e-e?– Azeiti… i… i– Que-em quer figos? Que-em quer almoçar?– Oh! – Que rico safio go-o-ordo!– Sabão a vintém! Quem merca o sabão?

4

fig. 6 Livro de cozinha do final doséculo XIX.

A

B C D E

Page 76: Manual HGP 6º

Tema C 4. Portugal na segunda metade do século XIX

76

fig. 1 Andar de bicicleta era apre-ciado tanto por homens como pormulheres. Desportos como o ténis,o futebol, a ginástica ou o atletismocomeçaram a ter muitos adeptos.

fig. 4 Os banhos em Algés. De Ju-lho a Outubro, as praias da linha deCascais enchiam-se de banhistas lis-boetas. Como a maior parte daspessoas não sabia nadar, o banheiroestava sempre presente, mesmo quefosse só para ajudar a dar um mer-gulho. Os mais ricos frequentavamtambém as termas.

fig. 2 Uma festa num palacete da burguesia (foto da época).

Os divertimentos

As pessoas das cidades tinham divertimentos próprios.Reuniam-se em cafés e clubes, jantares, festas e bailes e iam à

ópera, ao teatro, ao circo e às touradas, espectáculos também muitoapreciados pela família real. No final do século, surgiu o cinema.

Frequentavam os grandes jardins – como o Passeio Público ou oJardim Zoológico em Lisboa e o Jardim de S. Lázaro, no Porto – onde,além de conviverem e comentarem as últimas novidades, ouviammúsica tocada pelas bandas no coreto, assistiam a representaçõesteatrais e ao lançamento de fogo de artifício.

fig. 3 O Passeio Público. O local da actual Avenida da Liberdade foi, durante mui-tas décadas, o principal espaço público da cidade de Lisboa. Durante este período,tornou-se o ponto de encontro da nobreza e da alta burguesia da capital. Fechavaàs 18 h, reabrindo às 20 h, com música e entradas pagas.

Comportamento de uma senhora

(…) Na praia não sai da sua barraca para o mar nem deste paraaquela, molhada, apenas com um simples fato de banho. Lança sempreuma capa sobre os ombros (…) No teatro o bom gosto exige que umasenhora fique no seu lugar durante toda a representação. (…) Não deve,sob pretexto algum, binocular para a sala.

Maria de Lurdes Lima dos Santos,Para uma Sociologia da Cultura Burguesa em Portugal no Século XIX

5

• Que podes concluir sobre o comportamento que as senhoras deve-riam ter, mesmo nos divertimentos?

Page 77: Manual HGP 6º

77

O vestuário e a moda

O vestuário usado pelas classes mais ricas foi variando aolongo do século XIX, conforme as modas que vinham de França (apátria da moda) e da Grã-Bretanha. Mas apesar das variações damoda, podemos reconhecer algumas características gerais.

No que respeita ao traje feminino, usaram-se sempre saias atéao chão com muito volume e roda, chegando a usar-se por baixouma armação de lâminas de aço e barbatanas – a crinolina – ou ain-da várias saias interiores de tecidos duros. Esta moda atingiu o augeentre 1845 e 1866. Depois passou a usar-se a tournure, uma espéciede almofada sobre os rins que levantava a saia atrás.

O traje masculino sofreu menos alterações; a casaca, o colete eas calças eram as peças principais. A sobrecasaca, que descia até aosjoelhos, era também utilizada. Por baixo, vestia-se uma camisa e punha-se sempre uma gravata cuja forma variou muito.

Na cabeça usava-se sempre chapéu, sendo o chapéu alto e o decoco os preferidos. O boné era utilizado em situações de passeio oudesporto.

1.

Sou capaz de...

Imaginar que vivia nesta época, que pertencia à burguesia e escrever um texto sobre a minhamaneira de vestir, alimentar e sobre os meus divertimentos preferidos.

Realizar as Fichas n.° 5 e n.° 6 do meu Caderno de Apoio (Estudo Acompanhado).

fig. 7 Caricatura à moda publicada no jornal O Sorvete de16/11/1884. O conceito de beleza desta época impunha asformas do corpo arredondadas e cheias. Era o caso da tour-nure, exagerada na gravura. A sombrinha era um acessórioindispensável nos passeios.

fig. 8 Anúncio aos Grandes Armazéns do Chiado, emLisboa, um dos mais conhecidos armazéns de roupa dasclasses endinheiradas. O povo não frequentava, normal-mente, este tipo de armazéns, pois o seu vestuário nãoobedecia à moda. A sua roupa era adaptada aos trabalhosque cada um desempenhava.

fig. 6 Os cabelos usavam-se sem-pre compridos na forma de trançasapanhadas, de bandós, de carrapi-tos no alto da cabeça. Por cima pu-nha-se um chapéu, de que haviavários modelos.

tournure

Page 78: Manual HGP 6º

Tema C 4. Portugal na segunda metade do século XIX

78

A mudança e a modernização

Durante a segunda metade do século XIX, as principais cidades doPaís – Lisboa e Porto – modernizaram-se, à semelhança das gran-des capitais europeias:

• a higiene nas ruas e nas casas evitou a propagação de doenças,melhorando a saúde pública: a água passou a ser, em grandeparte, canalizada; ampliaram-se as redes de esgotos; passaram aexistir serviços próprios para recolha de lixo (fig. 3);

• a iluminação das ruas (primeiro a gás e, no fim do século, aelectricidade) contribuiu para diminuir os roubos e os assaltos, epara as pessoas se sentirem mais seguras (fig. 1);

• abriram-se ruas e avenidas pavimentadas, fizeram-se passeiose praças calcetadas (fig. 4), arranjaram-se jardins públicos.

• desenvolveram-se os transportes públicos:

– o «americano» e o «chora», transportes puxados por cavalosque podiam transportar várias pessoas. O «americano» tinha aparticularidade de andar sobre carris. O «chora», para se des-locar com mais facilidade, aproveitava, por vezes, os carris do«americano» (fig. 5);

– o carro eléctrico, que começou a circular no Porto, no final doséculo.

fig. 1 A iluminação pública criounovas figuras características dacidade de Lisboa. Foi o caso dos«homens-pirilampos», que se en-carregavam da limpeza e manuten-ção dos candeeiros.

fig. 3 Carro de limpeza das ruas.

Eu [Zé Fernandes] murmurei nas profundidades do meu assom-brado ser:

– Eis a Civilização!Jacinto empurrou uma porta, penetramos numa sala cheia de ma-

jestade e sombra, onde reconheci a biblioteca por tropeçar numa pilhamonstruosa de livros novos. O meu amigo roçou de leve o dedo na pare-de: e uma coroa de lumes eléctricos, refulgindo no tecto, alumiou as es-tantes monumentais, todas de ébano.

Eça de Queirós, A Cidade e as Serras (adaptado)

2

fig. 4 A Praça de D. Pedro, no Porto, antes da abertura daAvenida dos Aliados.

• Refere a descoberta a que o autor se refere.

• Explica a expressão destacada.

Page 79: Manual HGP 6º

79

A habitação e as condições de vida

Nas cidades de Lisboa e Porto, durante o século XIX, apareceramnovos bairros e os prédios cresceram em altura e em número.

Os mais ricos construíam luxuosas residências, tendo especialcuidado na sua decoração.

A classe média vivia em andares mais ou menos espaçosos.Os mais pobres habitavam em bairros miseráveis e superlotados,

sem esgotos nem água potável, sem higiene nem segurança. Eram aschamadas «ilhas», no Porto, e os «pátios», ou «vilas», em Lisboa (fig. 6).

A sociedade portuguesa na segunda metade doséculo XIX

Como estudaste, ao longo do século XIX a sociedade portuguesafoi sofrendo profundas alterações. Observa o esquema seguinte:

1.

2.

Sou capaz de...

Elaborar um texto sobre a vida nas grandes cidades, referindo tanto aspectos como a co-modidade, higiene, rapidez, segurança, como as diferentes condições de vida.

Realizar a Ficha n.o 12 do meu Caderno de Actividades.

fig. 6 Bairros pobres em Lisboa(em cima) e no Porto (em baixo).Aqui viviam muitos operários quetrabalhavam nas unidades fabris.Alguns industriais mandavam cons-truir bairros próprios para os seustrabalhadores, junto às fábricas,chamados «vilas operárias».

fig. 5 «Chora» circulando no Terreiro do Paço, em Lisboa. O «chora» era maispequeno do que o «americano» e de qualidade inferior. O preço dos bilhetes era,por isso, mais barato.

Nobreza– Perdeu cargos a favor da burguesia– Perdeu rendimentos concedidos pelo

rei– Foram abolidos alguns impostos pa-

gos pelos camponeses

Perderam importância social,política e económica

Clero– Perdeu terras,

conventos emosteiros

Camponeses

Mantêm as difíceiscondições de vida

Operariado

Burguesia– Aumentou os seus investi-

mentos na agricultura– Passou a ocupar cargos no

Governo

Ganhou poder político,económico e social

Arq

uivo

Mar

ina

Tava

res

Dia

s

Page 80: Manual HGP 6º

Tema C 4. Portugal na segunda metade do século XIX

80

A demografia

A contagem da população

Para que os governantes pudessem dar resposta às necessidadesda população (como, por exemplo, a construção de estradas, escolasou hospitais), era necessário saber o número de habitantes do País. Jáem séculos anteriores se tinham efectuado contagens, em algumaszonas do País, com estes objectivos – os numeramentos. Estes, po-rém, eram pouco rigorosos, visto que só se contava o número de fo-gos (casas) e não de pessoas. Cada fogo era multiplicado, geralmente,por cinco habitantes.

A partir dos finais do século XVIII substituiu-se a contagem de fo-gos pela de pessoas. O primeiro recenseamento (ou censo) da po-pulação portuguesa, com forma semelhante à que hoje conhecemos,foi feito em 1864. A partir de 1890, os recenseamentos passaram afazer-se de 10 em 10 anos.

O crescimento populacional

Se até ao século XVIII o crescimento da população portuguesa foilento, devido à grande taxa de mortalidade infantil e juvenil, bem comoàs guerras, fomes e doenças, a partir de meados do século XIX a po-pulação aumentou mais rapidamente (fig. 3), devido, sobretudo:

• a uma melhoria na alimentação (não te esqueças do queaprendeste sobre as alterações na agricultura);

• ao desenvolvimento da Medicina (vacinas e novos medica-mentos) e da puericultura (ensinar a cuidar de crianças);

• à não ocorrência de guerras em território português;

• às melhores condições de higiene nas cidades (água canalizada,esgotos e ruas calcetadas).

fig. 1 Duque de Loulé. Foi duranteo Governo do duque de Loulé, noreinado de D. Luís I, que decorreu oprimeiro recenseamento da popu-lação segundo métodos rigorosos(contagem do número de habitan-tes do País, análise das suas condi-ções de vida e profissões). Oshabitantes do País eram, então,cerca de 3 800 000.

fig. 2 A vacinação, no século XIX, contribuiu para a diminuição da mortalidadeinfantil.

Page 81: Manual HGP 6º

81

3

3,5

4

4,5

5

5,5

6

1821 1840 1860 1880 1900

Milhões de habitantes

AnosContinente Continente e Ilhas

fig. 3 Aumento da população en-tre 1821 e 1900 (adaptado de A. H. de Oliveira Marques, Históriade Portugal, vol. III).

O crescimento da população portuguesa não se deu, no en-tanto, de forma igual por todo o território. O Litoral a norte doTejo continuava a ser a zona mais povoada do País e as zonas àvolta das cidades de Lisboa e do Porto continuavam a ter maiorconcentração de população.

Esta desigual distribuição da população devia-se ao facto de oLitoral Norte ter:

• solos mais férteis e maior quantidade de portos marítimos;

• maior número de indústrias (onde era sempre necessária mão--de-obra);

• maior facilidade de comunicações.

1.

2.

Sou capaz de...

Indicar duas causas do crescimento populacional durante a segunda metade do século XIXque considero mais importantes e justificar.

Referir a zona do País em que havia maior concentração de pessoas e justificar.

fig. 4 Distribuição da população em 1864 e1900 (adaptado de A. H. de Oliveira Marquese J. J. Alves Dias, Atlas Histórico de Portugal edo Ultramar Português).

• Refere três distritos que setornaram mais povoados ejustifica.

CRONOLOGIA

1831Descoberta do clorofórmio(anestesiante).

1882Descoberta do bacilo da tuber-culose.

1885• Descoberta do bacilo da cólera.• Vacina contra a raiva.

1893Criação da aspirina.

1895Realização do primeiro RX.

Construir o meu glossárioRegistar, no meu Caderno de Actividades, o significado de numeramento, recenseamento ecrescimento da população.

Page 82: Manual HGP 6º

Tema C 4. Portugal na segunda metade do século XIX

82

O êxodo rural

Apesar do desenvolvimento que se ia verificando na agricultura, aprodutividade continuava a ser fraca. Várias razões contribuíam paraa difícil situação em que grande parte da população rural vivia:

• a compra de terras, aos pequenos proprietários, pela burguesia;

• o aumento das rendas que pagavam os rendeiros, pelas terrasque cultivavam;

• o aumento da mecanização, sobretudo nas grandes proprieda-des do Sul do País, o que originou despedimentos.

Sobre estes problemas, lê o seguinte documento:

fig. 1 Trabalhador da Beira. Mui-tos camponeses abandonavam oscampos partindo para as cidades. Estas dificuldades originaram a saída de muitas pessoas do cam-

po, especialmente para as cidades mais industrializadas, procurandoemprego nas fábricas que iam sendo criadas ou, simplesmente, atraí-dos pelo sonho de uma vida mais fácil. A este movimento da popula-ção rural em direcção às cidades dá-se o nome de êxodo rural.

A emigração

Muitos portugueses procuraram, no entanto, melhores condições devida no estrangeiro, ao longo da segunda metade do século XIX. A estemovimento de saída da população dá-se o nome de emigração (fig. 3).

O abandono dos campos

A febre de civilização que as estradas e os caminhos-de-ferro le-varam à província encontraram as populações numa crise de misériaderivada da decadência agrícola. (...) Vendo as suas pobres vinhascom a filoxera, os seus castanheiros murchos, os seus olivais doen-tes, as indústrias locais sem procura, a aldeia em ruínas, lá tiveramde debandar. Os mais tímidos vieram trabalhar, como serventes ecarpinteiros, nas obras da cidade. Os mais ousados venderam a casapaterna para desertarem da Pátria, a caminho do Brasil.

Fialho de Almeida, Os Gatos, III, 1890

2

• Refere as razões que levaram os camponeses a abandonar assuas terras.

• Indica os dois locais para onde os camponeses se deslocavam.

fig. 3 Número de emigrantes por distrito, de 1870 a 1874 (Miriam Halpern Pereira,Livre Câmbio e Desenvolvimento Económico – Portugal na Segunda Metade do SéculoXIX, Lisboa, 1983).

• Indica dois distritos:a) com maior emigração;b) com menor emigração.

Page 83: Manual HGP 6º

83

A maior parte destes emigrantes preferiam o Brasil, por doismotivos principais:

• o fim da escravatura no Brasil, que teve como consequência umaumento na procura de trabalhadores;

• a utilização da mesma língua, o português.

Muitos dos emigrantes não encontravam, todavia, as condiçõesde vida esperadas, acabando alguns por morrer na pobreza sem con-seguir regressar.

Outros, no entanto, tiveram mais sorte; conseguiram tornar-seproprietários e regressarem à terra natal muito ricos. Eram os cha-mados «brasileiros», que construíam casas apalaçadas (fig. 6), viviame vestiam luxuosamente, tornando-se muitas vezes pessoas influen-tes na região. O dinheiro que estes emigrantes mandavam contribu-iu, de certa forma, para atenuar as dificuldades financeiras quePortugal continuava a enfrentar devido à sua dependência do estran-geiro, tanto a nível de importações como de empréstimos.

1.

2.

3.

Sou capaz de...

Referir duas causas do êxodo rural.

Imaginar que vivia no século XIX e que emigrava para o Brasil. Elaborar um texto descre-vendo a minha viagem, a chegada e o trabalho que encontrei. Posso também fazê-lo embanda desenhada.

Realizar a Ficha n.o 13 do meu Caderno de Actividades.

fig. 5 Caricatura do «brasileiro»rico, da autoria de Rafael BordaloPinheiro.

fig. 6 Casa de «brasileiro», emFafe.

fig. 4 Principais destinos da emigra-ção portuguesa e evolução do nú-mero de emigrantes para o Brasil,na segunda metade do século XIX.

• Refere os dois principais destinosda emigração portuguesa.

• Procura explicar a razão da forteemigração para o Brasil.

Construir o meu glossárioRegistar, no meu Caderno de Actividades, o significado de êxodo rural.

Page 84: Manual HGP 6º

84

Invasões Francesas Indepêndencia do Brasil Guerra Civil

Indústria Agricultura Transportes e comunicações

• Mecanização • Fim do pousioe introdução denovas culturas

• Adubos quí-micos

• Mala-posta

• Comboio

• Telefone

• Correios

• Telégrafo

Desemprego

Emigração

PORTUGAL, um país atrasado tecnologicamente e empobrecido

Medidas tomadas pelos governos liberais

Redução damão-de-obra

necessária paraa produção

Aumento da produção

• Mobilidade das pessoas• Mobilidade das mercadorias• Troca de ideias e informação

Melhor e mais variada alimentação

Aumento populacional

• Introdução da máquinaa vapor

PORTUGAL NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX

Esquema-Síntese

www.projectos.TE.pt/linkspara saber mais sobre...

• Portugal na segunda metade do século XIX

Page 85: Manual HGP 6º

Agora Já Sei...

1. Depois de observar a o mapa:

1.1 Identificar:

a) as principais zonas industriais;

b) as principais minas exploradas.

2. Depois de observar a imagem ao lado, indicar:

2.1 os dois produtos que estão a ser transpor-tados no comboio;

2.2 a respectiva importância nesta época.

3. Explicar a inovação introduzida no processode transformação das matérias-primas.

4. Referir:

4.1 dois melhoramentos introduzidos nas cidades, na segunda metade doséculo XIX;

4.2 duas medidas tomadas que contribuíram para a defesa dos direitos humanos;

4.3 três medidas tomadas a nível do ensino.

5. Copiar para o meu caderno diário o quadro seguinte e, depois, completá-lo.

85

6. Redigir um pequeno texto comparando a vida de um camponês com a de um operário no séculoXIX.

MOVIMENTOS DA POPULAÇÃO

Nome dado à saída das pessoas

do campo para a cidade

Razõesdessasaída

Nome dado à saída de pessoaspara outro país

Razõesdessasaída

Principal destinodessas

pessoas

Razõesdessa

escolha

Page 86: Manual HGP 6º

PROJECTOProfissões, pregões e provérbios do século XIX

• Será que todas as profissões de antigamente ainda hoje se mantêm?

• E se algumas já desapareceram, por que terá isso acontecido?

• O que eram os pregões? Será que ainda hoje se mantêm alguns desses pregões?

• O que são provérbios? Alguns deles estarão relacionados com algumas profissões?

• Por que é importante conhecermos as profissões que já não existem ou estão em vias deextinção, os provérbios e os pregões?

• Se eu pudesse, optaria por escolher uma dessas profissões, em vias de extinção, ou outramais moderna?

Para dares resposta a todas estas questões, propomos-te que, individualmente ou em grupo:

• visiones filmes antigos, leias livros, faças entrevistas a pessoas idosas da tua região sobre as pro-fissões de antigamente, os pregões e os provérbios;

• faças visitas de estudo a oficinas de artesãos e a fábricas;

• pesquises pregões e provérbios na Internet;

Com base na informação recolhida e nos trabalhos realizados, poderás:

• elaborar um calendário sobre «Os provérbios e a agricultura», como já fizeram os teus colegasda Escola Básica 2, 3 da Ribeira do Neiva. Podes também incluir no teu calendário alguns pregõ-es (por exemplo, no mês de Novembro, um pregão sobre as castanhas);

• preparar um espectáculo a ser apresentado no final do ano lectivo à comunidade escolar e nãoescolar em que sejam apresentados os pregões e os provérbios, se possível, com os alunos vesti-dos à época.

• organizar uma exposição com os materiais elaborados, como entrevistas, textos, vídeos…

86

fig. 1 Capa e página do calendário «Os Provérbios e a Agricultura», elaborado pelos alunos daEB 2, 3 da Ribeira do Neiva.

Page 87: Manual HGP 6º

• Investigação sobre pregões antigos e criação de novos para algumas profissões actuais.

• Leitura de textos sobre profissões de antigamente (O Sol e o Menino dos Pés Frios,de Matilde Rosa Araújo, Portugal Em Selos, edição dos CTT).

• Elaboração de guiões de entrevistas.

Língua Portuguesa

• Legendar peças de vestuário, por exemplo, dos vendedores ambulantes do século XIX.Inglês

• Visionamento de filmes como, por exemplo, O Pátio das Cantigas, onde podes vercomo certas profissões continuaram a existir no século XX.

• Exploração de documentos escritos e iconográficos.

• Visitas de estudo.

História e Geografiade Portugal

• Analisar a roda dos alimentos e relacioná-la com a alimentação do século XIX.Ciências da Natureza

• Planificação e construção de um calendário.

• Ensaio vocal dos pregões e dos provérbios. Se possível, acompanhá-los com música.

Ed. Visual e Tecnológica

• Elaboração e resolução de problemas com base em pregões ou provérbios.Matemática

Possíveis contributos das disciplinas e das outras áreas curriculares não disciplinares

ACTIVIDADESDisciplinas e áreas curricularesnão disciplinares

• Organização de uma Biblioteca de Turma em articulação com a Língua Portuguesa.Estudo Acompanhado

Ed. Musical

• Organização de debates sobre as profissões, pregões e provérbios, com a presençade artesãos (oleiros, ferreiros, costureiras...) e historiadores da história local.

Formação Cívica

87

Page 88: Manual HGP 6º

88

A Minha Região nos Séculos XVIII e XIX

Alentejo

Um palácio para alguns dias em Vendas Novas

Em 1728, D. João V decidiu fazer uma viagem até à fronteira com aEspanha para se fazer uma troca de princesas: a filha do rei, D. Bárbara,ia para Espanha para casar com D. Fernando VI, e a princesa espanholaD. Mariana Vitória vinha para Portugal para casar com D. José, futurorei de Portugal. Como a comitiva real tinha de viajar, em carruagenspuxadas por cavalos, por estradas de terra, precisava de descansar comfrequência. Assim, el-rei mandou construir, em apenas nove meses, umpalácio em Vendas Novas. Lá ficou instalada a comitiva real durantedois dias. Em 1860, o palácio passou a ser ocupado pela Escola Práticade Artilharia.

fig. 1 O Palácio Real que passou a Escola Prática de Artilharia, em Vendas Novas.

CRONOLOGIA

1719Caçada em Serpa com mem-bros da família real.1748Construção da Coudelaria Real deAlter do Chão, no reinado de D. João V, por ordem do príncipeD. José, futuro rei. Uma das éguasda coudelaria serviu de modelo àestátua equestre de D. José naPraça do Comércio, em Lisboa.1759Extinção da Universidade de Évorapor ordem do Marquês de Pombal.1769Fundação da fábrica de chapéusde Elvas.1771Início da construção da Real Fá-brica de Lanifícios de Portalegre.1789Criação de uma aula de Anato-mia no Hospital de Elvas.1833A população de Estremoz, apoi-ante dos absolutistas, massacrouos presos liberais que aí estavamdetidos.1834O estado-maior do exército liberal,chefiado pelo duque de Saldanha,reúne em Montemor-o-Novo.1861Conclusão da linha férrea do Bar-reiro a Vendas Novas, primeira li-nha ferroviária ao sul do Tejo.1863• Conclusão da linha férrea do

Sul, até Évora.• A linha férrea atinge Caia, pró-

ximo de Elvas.1864Conclusão da linha férrea do Sul,até Beja.1873Conclusão da linha férrea deÉvora a Estremoz.

Viagem de Mértola a Beja

Com a ajuda da maré, chegámos a Mértola, lugar tão pobre à primei-ra vista, que montámos imediatamente a cavalo e continuámos a nossaviagem por uma estrada recentemente construída, quase sempre exce-lente, mas tão atravancada de silvas e plantas selvagens que tínhamosdificuldades em passar nalguns sítios. Chegámos de noite, e muito can-sados, a Beja. A situação da cidade, no meio de uma grande planície, po-deria facilmente transformá-la numa região fértil, mas não passa de umhorroroso e inculto deserto por falta de habitantes. Foi-nos aqui de gran-de utilidade o padre João Carlos, pelas suas conversas com os campone-ses, que achávamos muito atenciosos e sempre prontos a dar-nos todasas informações de que precisávamos.

Soubemos dos camponeses que a nova estrada, que percorríamos desdeMértola, tinha sido construída por ordem do Marquês de Pombal, quandomandou edificar a sua Vila Nova [Vila Real de Santo António], no Algarve,para facilitar o transporte de mercadorias para o interior, e que tinha sidoexecutada gratuitamente, obrigando os camponeses que habitavam dentrode uma área de oito a dez léguas a virem trabalhar para a estrada, à sua pró-pria custa, e sem nenhuma espécie de gratificação do Governo, soubemostambém que os tísicos vêm de Lisboa para respirar o ar puro destes sítios.

in Arthur William Costigan, Cartas de Portugal, 1778-1779 (adaptado)

Page 89: Manual HGP 6º

89

fig. 2 Palácio dos Duques de Bra-gança, em Vila Viçosa. O rico re-cheio deste Palácio foi levado, emgrande parte, para o Paço da Ribei-ra, em Lisboa, tendo muito delesido destruído pelo terramoto de1755. O que sobrou foi levado porD. João VI para o Brasil e nuncamais voltou a Portugal.

Revolta e ocupação de Évora

A cidade de Évora aceitou a proposta do general português Franciscode Paula Leite para um levantamento contra os Franceses. No dia 13de Julho estalou a revolta. Como resposta, Junot fez seguir para o Alen-tejo um corpo de 10 000 homens, sob o comando de Loison, que, de-pois de saquear Montemor-o-Novo, levou de vencida a resistência eapoderou-se de Évora, onde cometeu roubos, destruições e morte.

O cerco de Campo Maior

No dia 8 de Março de 1811 apareceu junto de Campo Maioruma parte do exército francês que vinha impor a rendição da vila.Comandava esta o major de engenharia José Joaquim Talaia.

Uma brecha que tornava impossível a defesa levou o major a ren-der-se, no dia 21 de Março, em condições dignas. O comandantefrancês permitiu aos defensores sair com honras militares, antes deos conduzir à prisão, e livrou os habitantes do inevitável saque. Beresford chegou quatro dias depois e pôde, sem custo, reconquistara vila. Campo Maior recebeu o título de «Leal e Valorosa».

fig. 3 Nascimento de S. João Bap-tista. Azulejos do século XVIII,que se encontram no Convento deNossa Senhora da Conceição, emBeja.

Feira em Évora, no século XIX

Évora nestes dias tem estado com aquelajovial animação que as feiras têm o privilégiode dar às localidades. A feira tem sempre umcortejo ruidoso de divertimentos, de teatros,de bailes, de galanterias, de touros e tambémum pouco de lucros de comércio (...).

in Eça de Queirós, Textos do Distrito de Évora(adaptado)

Quadro IIA população

Beja

Elvas

Évora

Portalegre

6874

10 271

11 518

6433

7843

10 471

13 046

7039

8394

13 291

15 134

10 534

8885

13 981

16 020

11 820

1864 1878 1890 1900

A agricultura

José Maria dos Santos mandou plantar, no concelho de Moura,setenta mil oliveiras e levou o arroz para Alcácer do Sal. Foi um de-fensor da utilização de novos métodos de cultivo, da utilização demáquinas, de adubos e também de experimentar novas culturas. Tor-nou-se num dos homens mais ricos de Portugal.

Localidade N.◊◊◊◊o dedeputados

Avis

Beja

Crato

Elvas

Évora

Ourique

Portalegre

Vila Viçosa

1

2

1

1

2

1

1

1

Quadro IDeputados eleitos às

Cortes Constituintes de 1821

Fonte: ver página 90.

Fonte: ver página 91.

Page 90: Manual HGP 6º

90

Algarve

1755: A destruição do Algarve

O terramoto e o maremoto de 1755 atingiram com grande violênciapraticamente todo o Algarve. Por exemplo, Lagos foi, em grande parte,destruída. Os edifícios principais da localidade são construções posterio-res a esta data. Em Albufeira, apenas foram poupadas cerca de 27 casase sob os escombros da igreja ficaram 127 dos seus habitantes.

Na reconstrução do Algarve destacou-se o bispo D. Francisco Gomes.

Os pescadores de Monte Gordo

Foi o Marquês de Pombalquem mandou construir VilaReal de Santo António. Quandoo Marquês ordenou aos pesca-dores de Monte Gordo que semudassem para a nova localida-de, estes recusaram, argumen-tando que ali o mar era maisrico. Como represália, o Marquêsde Pombal mandou incendiarMonte Gordo. As casas, feitas depalha, arderam rapidamente,mas depois foram reconstruídase, no século XIX, a localidade tinha crescido e tornara-se numdos maiores centros de pesca detodo o Algarve.

A revolta contra Junot

A reacção contra Junot fez-se sentir de norte a sul do País. A primeira terra do Sul a revoltar-se foi Olhão, com a ajuda de Faro. No

dia seguinte [à revolta], um grupo de 17 pescadores embarcava no frágilcaíque Bom Sucesso, para levar ao Rio de Janeiro a boa nova, cometendouma audaciosa proeza que fez com que o príncipe regente, em sinal deapreço, viesse a conceder a Olhão o título de vila.

Dia 19 de Junho foi a vez de Faro. Enquanto os habitantes de Olhãoprocuravam entreter os Franceses com falsos pretextos, puderam os Fa-renses operar a revolta.

Em Tavira concentrou-se a resistência dos Portugueses, na fortaleza deS. João Baptista da Conceição, cujo capitão, Martim Mestre, acorrera emdefesa de Olhão. A esposa e a filha sofreram vexames sem conta dos solda-dos franceses. Mas no dia 21 a cidade ficou liberta do inimigo.

A Câmara de Faro fizera saber a todas as outras que a luta era semquartel: «Amigos, nós não estamos defendidos enquanto em nosso Reinohouver Cidade, Vila ou Aldeia que viva dominada da tirania Franceza.»

CRONOLOGIA

1774Fundação de Vila Real de SantoAntónio.1776Lei que autoriza a criação de umafábrica de tapeçarias em Tavira.1828• Revoltas em Lagos, Tavira e

Olhão contra os miguelistas.• Revolta miguelista em Faro.1833• Derrota da esquadra miguelista

junto ao Cabo de S. Vicente.• Ocupação de Faro pelas forças

liberais.• Bando de malfeitores, chefiado

por «Trovoada», pratica roubose violência em Portimão. O«Remexido» ocupa a vila e fu-zila os delinquentes.

1853Surgimento da praga de oídioque atingiu as vinhas.1877Publicação do jornal O Acadé-mico Farense.1889A linha férrea do Sul chega aFaro.

fig. 1 Pescadores de Monte Gordo, naactualidade.

Localidade N.◊◊◊◊o dedeputados

Faro

Lagos

Tavira

1

1

1

Quadro IDeputados eleitos às

Cortes Constituintes de 1821

Portugal Continental elegeu 100deputados às Cortes Constituintes.Cada deputado representava cercade 30 000 habitantes (os quadrosdos deputados eleitos foram adap-tados de Joaquim Veríssimo Serrão,História de Portugal, vol. VII).

Page 91: Manual HGP 6º

91

A indústria de conservas

Em 1773, o Marquês de Pombal criou a Companhia Geral dasPescarias do Reino dos Algarves.

Na segunda metade do século XIX, um italiano instalou a pri-meira fábrica de atum – a Santa Maria – em Vila Real de SantoAntónio, que conservava atum em azeite. O atum abundava naságuas algarvias e o azeite era transportado do Baixo Alentejo,através do rio Guadiana. Rapidamente surgiram fábricas de con-servas noutras localidades algarvias e noutras regiões do País.Contudo, Portimão tornou-se o maior centro de conservas dePortugal.

«O Remexido» em Albufeira

O «Remexido», nascido em Estômbar, foi um dos últimos resis-tentes miguelistas. Chegou a dominar toda a serra algarvia e nas cida-des temia-se a sua chegada. Em 27 de Julho de 1833, os guerrilheirosmiguelistas chefiados pelo «Remexido» cercaram Albufeira. Comoconta Silva Lopes, autor da Corografia do Algarve: «Cruel e bárbaramatança de 74 pessoas de todas as idades; ferocidade que faz bramirde horror!!!».

O «pai dos pobres» de Silves

Salvador Gomes Villarinho (1825-1893) nasceu em Monção,mas em 1870 foi viver para Silves, onde fundou uma fábrica derolhas, que em 1897 empregava mais de quinhentos trabalhado-res. Era conhecido por «o pai dos pobres». Fundou o jornal A De-fesa do Povo. Tornou-se o maior corticeiro do País e um grandebenemérito do Hospital da Misericórdia de Silves.

E assim foram proclamando a sua adesão as cidades de Silves e de La-gos e as vilas de Loulé, Albufeira, Portimão e outras, sendo Alcoutim,São Brás de Alportel e Silves focos de penetração da revolta para o in-terior.

in Joaquim Veríssimo Serrão, História de Portugal, vol. VII (adaptado)

fig. 4 Hospital da Misericórdia, emSilves (Fotog. BPI / Ed. Lopes & Irmão,in Um Médico No Chiado, Luísa Villari-nho, 2003.)

fig. 3 Mantas de fabrico artesanalem Monchique. Desde há muito queos artesãos fazem mantas, alforges delã e trabalhos de vime.

Quadro IIA população

Faro

Lagos

Tavira

8014

7744

10 529

8561

7279

11 459

9338

8259

11 558

11 789

8291

12 175

1864 1878 1890 1900

fig. 2 Tavira. O rio pode ser atravessa-do através de uma ponte de pedra, quefoi reconstruída em 1870. A ponte deferro já foi construída no século XX.

Os quadros sobre a população das regiões (com excepção dos casos indicados)foram adaptados de A. H. de Oliveira Marques, História de Portugal, vol. III.

Page 92: Manual HGP 6º

92

As invasões francesas

A ocupação de Castelo Branco (1.a invasão)

As tropas francesas passaram a fronteira portuguesa em Novembrode 1807 (...) e entraram em Castelo Branco. Esta cidade não lhes pôdedar alimentos de que precisavam (...). Os invasores lançaram-se pelas di-ferentes casas, roubando tudo quanto encontravam (...).

in Luz Soriano, História da Guerra Civil (adaptado)

Em 1807, enquanto o exército francês comandado por Junot saqueavaIdanha e Castelo Branco, outro general francês, Loison, entrava peloNorte até Lamego. Desceu pela Cova da Beira até Abrantes. As atroci-dades cometidas pelos Franceses provocaram a revolta das populações.

CRONOLOGIA

1717Abertura da manufactura de pa-pel da Lousã.1765Mandadas arrancar, pelo Mar-quês de Pombal, as vinhas doMondego e Vouga.1769Decreto que cria em Pombaluma fábrica de chapéus finos.1788Lei que entrega a particulares aexploração das fábricas do Fun-dão e da Covilhã.

1798Estabelecimento de um serviçode diligências entre Lisboa eCoimbra.1808• Revolta na Covilhã contra astropas francesas.

• Milhares de pessoas assistem àentrada das águas do rio Vougano Oceano Atlântico, o que nãoacontecia há mais de 100 anos.

1810Terceira invasão francesa. O exér-cito de Masséna entra pela BeiraAlta e conquista Almeida e Viseu.

As indústrias de lanifícios na Covilhã e no Fundão

Um dos mais importantes edifíciosda Covilhã é a antiga Real Fábrica dosPanos, construída durante o reinado deD. José I. Parte dela é hoje ocupada peloMuseu de Lanifícios. A criação da EscolaIndustrial, em 1864, na Covilhã, confir-mou a importância das indústrias de la-nifícios na região.

fig. 1 Câmara Municipal e Pelourinho, no Fundão. No tempo do Marquês de Pom-bal foi criada, no Fundão, a Fábrica Real de Lanifícios. Foi encerrada após as invasõesfrancesas, mas o edifício foi recuperado e transformado em Paços do Concelho.

Beiras

Soure: uma lenda do século XVIII

O campo da velha, depois de vendido, deu dinheiro suficiente paraconstruir o edíficio dos Paços do Concelho [de Soure].

Mas o campo da velha, segundo a tradição, foi doado à Câmara por umasenhora de idade madura e daí o nome. O campo da velha, tem uma «estó-ria». O rei, passando um dia na freguesia de Alfarelos, foi dormir a casaduma linda rapariga que deu, também, alojamento à comitiva [certamentesua majestade sonhou com o ouro do Brasil]. No dia seguinte, o rei quiscompensar a hospitalidade e perguntou-lhe o que queria que lhe ofereces-se. A rapariga não hesitou e solicitou ao rei que lhe desse uma terra que elapudesse apanhar com um coiro de boi. O rei acedeu, achando o pedido fá-cil de cumprir. A rapariga, contudo, esperta, pegou no coiro e cortou-o emtiras tão finas e tantas, que permitiram circundar um vasto terreno de algu-mas centenas de hectares. Uma lenda que perdura na memória das pes-soas e, por isso, ligada, intimamente, ao imóvel da Camâra, aos Paços doConcelho de Soure.

in Mário Nunes, Nos Caminhos do Património (adaptado)

fig. 2 Dr. Lopo de Carvalho no seuconsultório – Sanatório Sousa Mar-tins, na Guarda (Fotog. BPI / Ed. Ma-nuel Vinhas, in Um Médico no Chiado,Luísa Villarinho, 2003).

Page 93: Manual HGP 6º

93

Liberais ocupam a Guarda

Na véspera do dia de Natal ocupámos a Guarda, que estava coberta deneve (…) O frio e a falta de lenha fizeram com que nos conduzíssemos umpouco como em país conquistado, sendo necessário, para nos aquecer-mos, queimar uma parte das portas das casas onde habitamos.

Os reverendos cónegos, apesar da posição delicada em que a cidadeestava, entenderam que, à hora do costume, os sinos da catedral deviamrepicar, anunciando a missa do Galo. Pegámos em armas, porque julgá-mos que os sinos tocavam a rebate (…) mas em lugar dum combate, ti-vemos uma solene missa do Galo, a que assistimos em grande número.

Marquês de Fronteira, oficial liberal que participou na conquista da Guarda aosabsolutistas em 1826, citado em Portugal Passo a Passo – Beira Alta e Beira Baixa (adaptado)

A fuga dos Franceses

Uma ordem de um comandante do exército anglo-português, de Marçode 1811, era peremptória: quem passasse em Coimbra com géneros e víverespara as terras ocupadas pelo inimigo seria preso como «espia» dos Francesese açoitado publicamente. Durante três dias fecharam-se as fábricas de Con-deixa, Cernache, São Martinho do Bispo e de outras terras do Mondego(Tentúgal, Montemor, Figueira e Lavos) para impedir os Franceses de seabastecerem. Em sua perseguição ia o exército de Wellesley. Já quando deixa-ram Miranda do Corvo, o seu exército viu-se derrotado em Foz do Arouce,com a morte por afogamento de muitos dos seus homens no rio Ceira. Res-tava a Massena aproximar-se com rapidez da fronteira, com os restos doexército em perfeita desordem. Os Franceses tinham perdido as bagagens emuitos só levavam as mochilas. Deixavam atrás de si uma parte dos rouboscometidos: espingardas, móveis, alfaias e vestuário. E os que mais se atrasa-vam na retirada, sofriam os efeitos trágicos da vingança popular.

No dia 20 de Março de 1811, o exército francês atingia Oliveira do Hos-pital, de onde prosseguiu em direcção a Celorico da Beira e Gouveia. Ia--lhe no encalce Wellesley, que a 27 de Março colocou o quartel general emGouveia. Massena passou da Guarda para o Sabugal, para beneficiar dapassagem do Côa, e ali se fortificou, sendo porém derrotado naquela vila.Desde 9 de Abril que o marechal inglês estava em Vilar Formoso, a fim degarantir a saída do inimigo que, no dia 17, já deixara o território português.

in Joaquim Veríssimo Serrão, História de Portugal (adaptado)

O avanço dos Franceses na 3.a invasão

Três dias durou a ocupação francesa em Coimbra, que, como já suce-dera nas outras povoações desde Almeida, se traduziu em roubos, incên-dios e morticínios. [Na Figueira da Foz] os Franceses não tiraram grandelucro, por a vila ter sido evacuada e os armazéns da terra estarem vazios.Em Condeixa acharam os Franceses trigo, cevada e aveia bastante, deque logo se apoderaram. No dia 6, entraram numa Leiria deserta, ondesaquearam o Paço Episcopal.

in Joaquim Veríssimo Serrão, História de Portugal, vol. VII (adaptado)

Localidade N.◊◊◊◊o dedeputados

Arganil

Aveiro

Castelo Branco

Coimbra

Feira

Guarda

Lamego

Leiria

Linhares

Pinhel

Trancoso

Viseu

1

3

2

6

2

4

2

2

1

1

2

5

Quadro IDeputados eleitos às

Cortes Constituintes de 1821

fig. 4 Carro de bois no Mondego(Fotog. S. Villarinho Pereira, da obraUm Médico no Chiado, Luísa Villari-nho, 2003).

fig. 3 Lavadeiras no Mondego(Fotog. S. Villarinho Pereira, da obraUm Médico no Chiado, Luísa Villari-nho, 2003).

Page 94: Manual HGP 6º

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A produção de vinho na região da Bairrada

A região da Bairrada abrange os concelhos de Oliveira do Bairro,Anadia e Mealhada e também parte dos de Coimbra, Cantanhede eÁgueda. Desde há muito que a produção mais conhecida da Bairrada éo vinho. Contudo, o Marquês de Pombal mandou arrancar todas as vi-nhas desta região, argumentando que as terras seriam melhor aprovei-tadas com produção de trigo. Há quem defenda que o Marquês estavamais preocupado em defender a Companhia Geral da Agricultura dasVinhas do Alto Douro, que ele tinha criado em 1756. Apesar dos pro-testos dos populares, a ordem dada por Pombal foi cumprida. D. Maria Ilevantou a proibição e os vinhedos voltaram às terras da Bairrada. Gra-ças à construção de estradas e à chegada do comboio, no século XIX, aprodução de vinho aumentou consideravelmente, apesar da praga deoídio que atingiu muitas vinhas, a partir de 1853.

Ofício do Administrador do Concelho de Pombal para o GovernadorCivil (30 de Agosto de 1858)

(...) As necessidades urgentes deste concelho são muitas, porém clas-sificadas como secundárias em relação a uma que considero urgentíssi-ma, e de grande transcendência para o comércio destes Povos: é acomunicação. Uma boa estrada entre estes e os moradores dos concelhosdo Norte. Parece que a natureza lhe opôs uma barreira quase inacessívelentre uns e outros: transpô-la é difícil e enfadonho no tempo de Verão equase sempre perigoso no tempo de Inverno. Estas muitas dificuldadesobstam ao comércio pois que muitas pessoas dos referidos Concelhosque poderiam vir abastecer-se aos mercados de Pombal dos géneros queprecisam deixam de fazê-lo pelos obstáculos que encontram para o trans-porte e vão comprá-los a outras partes mais distantes (...)

in Joaquim Eusébio, Pombal – Oito Séculos de História

CRONOLOGIA1826Revolta absolutista na Guarda,Trancoso, Arganil e Almeida,que foram ocupadas. Os revolto-sos foram detidos na sua marchapara Coimbra pelas forças libe-rais.

1828Um grupo de estudantes liberaisassassina, perto de Condeixa,ilustres representantes da Univer-sidade de Coimbra que se diri-giam a Lisboa para felicitar D.Miguel.

1834Os liberais conquistam as Beiras.

1859A mala-posta chega pela 1.ª vezà Anadia.

1864Fundação do Jornal de Viseu.

1866Início da exploração das minasde cobre de Telhadela , emAlbergaria-a-Velha.

1882Conclusão da linha férrea da BeiraAlta.

1891Castelo Branco passa a terenergia eléctrica e linha férrea.

1893O comboio chega à Guarda.

1894Criação do 1.º sindicato agríco-la português em Montemor-o--Velho.

O medo das máquinas

Era no ano de 1845 e 1846, quando a Covilhã importava as primeirasmáquinas com aplicação à indústria de lanifícios O povo murmurou dainovação que, dizia ele, lhe vinha tirar o pão. Do murmúrio passou aajuntamento, do ajuntamento à revolta; e operários em número de 700levantaram o grito de revolta. As vozes de «Morram os engenhos! Fogoaos engenhos!» alvoroçaram a povoação inteira.

in Manuel Nunes Giraldes, Catecismo do Trabalho Nacional (adaptado)

A fábrica da Vista Alegre em Ílhavo

Em 1824, José Ferreira Pinto Basto mandou instalar uma fábrica naQuinta da Vista Alegre, em Ílhavo. Começou por fabricar belas peçasde vidro, nomeadamente cristais: copos, garrafas, jarras, frascos e de-pois faianças (loiças finas de barro) como pratos, chávenas, açucarei-ros... Tudo da mais bela feitura artística. Hoje a fábrica exporta paravárias partes do Mundo.

Para a localização da fábrica nesta região contribuíram a abundân-cia de matas que forneciam lenha para aquecer os fornos e a existên-cia de caulino, material argiloso utilizado no fabrico de faianças.

fig. 5 Porta do Soar, Viseu, iníciosdo século XX. No século XIX cons-truíram-se várias estradas que con-vergiam para a cidade de Viseu e alinha férrea, partindo de SantaComba Dão (Fotog. S. VillarinhoPereira, da obra Um Médico noChiado Luísa Villarinho, 2003).

Page 95: Manual HGP 6º

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Para «ir a banhos» na Figueira

O viajante que passar próximo da Figueira em tempo de banhos deveir ali, porque voltará satisfeito. Para isso deixa o caminho-de-ferro na es-tação de Formoselha, aonde se mete numa bateira (pequena embarca-ção), que o conduz a Montemor-o-Velho, e aí freta um barco, que o levaà Figueira depois de uma agradável viagem.

in «Roteiro do Viajante no Continente» (século XIX), citado por José Mattoso,História de Portugal

fig. 7 Canal da Ria, em Aveiro.

Quadro IIA população

Aveiro

Castelo Branco

Coimbra

Guarda

Lamego

Leiria

Viseu

6395

6136

12 727

3761

7844

2922

6399

6852

6928

13 369

4613

8124

3570

6956

8860

6728

16 985

5990

8685

3932

7996

9979

7288

18 144

6124

9471

4459

8057

1864 1878 1890 1900

fig. 8 Praça Rodrigues Lobo, emLeiria (Fotog. S. Villarinho Pereira, daobra Um Médico no Chiado, LuísaVillarinho, 2003).

João Brandão no distrito de Viseu

Antigamente era muito perigoso viajar. Não havia praticamenteestradas, os caminhos eram de terra, alguns cobertos de lama. Exis-tiam ladrões que assaltavam os viajantes, e mesmo casas e lojas.

Um famoso salteador, João Brandão, natural de Midões andou, noséculo XIX, por terras da Beira Alta, como Oliveira do Hospital, Ton-dela, Tábua, Arganil... Aos doze anos cometeu o primeiro homicídio,assassinando um pastor de Gouveia, como exercício de pontaria. Foiconsiderado herói por alguns e denunciado por outros.

Estávamos nós todos juntos uma tarde na loja, por sinal chovia a po-tes, quando chega um homem todo embuçado. Apeia-se, amarra o cava-lo à argola, e entra pela porta dentro a sacudir-se da chuva: «Está por cáo senhor Colmeal?»

Minha mãe foi chamar o nosso avô e o homem, com uma cara quemetia medo, deu-lhe um recado em voz baixa: que tivesse a ceia prontapara quinze bocas, lá pela meia-noite, que o senhor Brandão estava a ca-minho para Midões (...) Alta noite acordo a ouvir grande rebuliço: pare-cia cavalaria a descer a rua! Meu pai abriu a porta e eles entraram embicha: eram bem dezoito, todos embuçados, barbudos de chapéu, e a es-correrem água da chuva. Armados como se fossem para alguma guerra!Minha mãe tinha-se ido esconder ao pé do forno do pão. E eu, atrás daspipas, a espreitar, tremia que nem varas verdes. Foi então que um delestirou o chapéu, depois a barba postiça: era o João Brandão! Comeram ebeberam, a conversar e a rir, meus pais a servi-los, muito calados. Quan-do eram horas de abalar, atirou com uma bolsa cheia de moedas paracima do balcão: «Pague-se, e depois falaremos.» – Tornaram a montar ocavalo, e lá se foram à chuva, numa grande tropeada (...)

in José Rodrigues Miguéis, A Escola do Paraíso (adaptado)

fig. 9 Transporte de passageirosentre Coimbra e Seia (Fotog. Illust.Port., 29/04/1912, in Um Médico noChiado, Luísa Villarinho, 2003).

fig. 6 Enfermaria para mulheres,Manteigas (Fotog. Illust. Port.,19/09/1910, in Um Médico noChiado, Luísa Villarinho, 2003).

Page 96: Manual HGP 6º

96

DouroO vinho do Porto

Em 1756, o Marquês de Pombal criou a Companhia Geral da Agri-cultura das Vinhas do Alto Douro, que passou a ter o monopólio daprodução e comercialização do vinho do Porto. Esta designação deve--se ao facto de a sua comercialização ter tido início na cidade do Porto,apesar de ser produzido no Alto Douro. Desde o século XVIII que estabebida é muito apreciada no estrangeiro, especialmente em Inglaterra.Muitos ingleses fixaram-se no Porto para se dedicarem à sua comercia-lização. Daí a razão de algumas marcas de vinho do Porto terem, ainda,o nome de famílias inglesas.

As pipas de vinho eram transportadas das diversas adegas até àRégua e daqui, através do rio Douro, para Vila Nova de Gaia, ondeforam instaladas as caves ondeo vinho envelhece. O transpor-te era feito nos barcos rabelos.Cada barco podia transportaraté 60 pipas. O percurso de-morava dois dias ou mais, de-pendendo das correntes do rioe do vento.

Invasões francesas: a ocupação do Porto

A cidade do Porto foi ocupada por tropas espanholas e francesas, em1807. Após ter sido derrotado pelas tropas anglo-lusas, Junot assinouum acordo em Sintra que lhe permitia levar grande quantidade de objec-tos roubados durante a ocupação. Ignorando o acordo, os portuenses revistaram as bagagens dos Franceses, impedindo assim a saída degrande parte desses objectos.

Em 1809, os Franceses voltaram. Entrando por Trás-os-Montes,conquistaram o Norte até ao Douro. Apesar da resistência dos populares,voltaram a ocupar a cidade do Porto. Deu-se então a «tragédia da pontedas barcas». Perante a ameaça francesa, o povo tentou atravessar o rioem direcção a Gaia. Como as autoridades portuguesas tinham mandadoabrir os alçapões existentes na ponte, procurando travar o avanço dosFranceses, milhares de pessoas caíram à água, morrendo afogadas.

Na freguesia de Arrifana, Santa Maria da Feira, existe um obeliscoem memória das mais de 100 pessoas que ali foram fuziladas, em1809, por ordem do general francês Soult. Mesmo as crianças e os ido-sos que se tinham refugiado na igreja da localidade não foram poupa-dos. Soult pretendeu, assim, vingar a morte de um coronel francês.

fig. 1 Barco rabelo no Douro.

CRONOLOGIA

1756Criação da Companhia Geral daAgricultura das Vinhas do AltoDouro.1775Lei que autoriza a criação deuma fábrica de tecidos de lã,em Penafiel, e uma fábrica delinho, no Porto.1797Inauguração do teatro de SãoJoão, no Porto.1823Primeira ligação Lisboa-Porto,em barco a vapor.1828Revolta no Porto contra D. Miguel.1832• Entrada do exército liberal,

comandado por D. Pedro IV,no Porto.

• Cerco do Porto pelas forçasmiguelistas.

1854Tumultos populares, com saquede armazéns de cereais.1864A linha férrea chega a Gaia.1877A linha férrea chega ao Porto.1884 -1892Construção do porto artificialde Matosinhos, que permitiuuma melhor ligação da cidadedo Porto, e cidades próximas,ao resto do Mundo.1895Primeiro espectáculo público decinema no Porto.

LocalidadesN.◊◊◊◊o de

deputadosPenafiel

Porto

2

6

Quadro IDeputados eleitos às

Cortes Constituintes de 1821

Desembarque dos liberais

Em 8 de Julho de 1832, as tropas liberais, comandadas por D. PedroIV, tentaram desembarcar na fortaleza do Castelo de S. João Baptista,

Page 97: Manual HGP 6º

97

em Vila do Conde. Contudo, as tropas que defendiam o forte recusaram--se a aderir aos liberais. O exército de D. Pedro IV acabou por desembar-car na praia de Arenosa de Pampelido, Mindelo. Os 1500 homens quecompunham a esquadra liberal ocuparam a cidade do Porto, no dia se-guinte. Estes soldados ficaram conhecidos por os «Bravos do Mindelo».

Valongo sede de concelho

Em 1836, D. Maria II atribuiu a categoria de sede de concelho a Valongo devido «à gloriosa recordação que o seu nome oferece, por serdaquele ponto que sua Majestade Imperial, meu Augusto Pai de SaudosaMemória, dirigiu a batalha de Ponte Ferreira, uma das muitas que ven-cera para restituir-me o trono e libertar a Nação».

fig. 2 Obelisco em memória da che-gada das tropas liberais à praia deArenosa de Pampelido, Mindelo,em Vila do Conde.

fig. 3 Cartaz de uma fábrica deconservas em Espinho. A chegadado comboio, em 1867, contribuiupara o desenvolvimento da indús-tria de conservas. No século XIX, ohábito de «ir a banhos» e as «curasde mar» levaram muitas pessoas aEspinho, que se converteu num dosprincipais pontos turísticos do País.

Mulheres e homens do Porto

As soirées da Foz portuense são animadíssimas.As senhoras têm alegria e vivacidade. Conversam afectuosamente, com

uma certa ingenuidade cativante. A entoação e o compasso da sua maneiraespecial de declamar dá-lhes na conversação um ar simpático (…)

Os homens têm o tom, o ar e a moda inglesa, cultivam esmerada-mente a suíça, a gravata aparatosa, o fraque curto, a bota grossa e o cha-péu de chuva. Andam depressa e a largas passadas, jantam sempre emfamília. Os restaurantes e as mesas redondas são apenas frequentadospelos viajantes e pelos estrangeiros.

in Ramalho Ortigão, As Farpas (adaptado)

O cerco do Porto

A 7 de Julho de 1832, ao cair do dia, os miguelistas avistaram a esquadrade D. Pedro, que ancorou no dia 8 na praia do Mindelo. Eram menos denove mil homens. Os miguelistas deixaram desembarcar o exército e apres-saram-se a sair da cidade, vindo a estabelecer-se a norte e a sul do Douro,tornando-se assim evidente que queriam cercar o Porto.

Entre os liberais começaram a faltar muitas coisas, dentro da cidade nãohavia moinhos e a quantidade de gado era diminuta para tanta gente (…)

Por sua vez, o inimigo estabeleceu-se nas aldeias vizinhas e começouum rigoroso cerco, impedindo a passagem de mantimentos para o Porto.

No mês de Fevereiro, a força absolutista à volta da cidade excedia os39 000 homens. Os mantimentos arranjavam-se sem grande custo (…)

No dia 5 de Julho, D. Pedro embarcou para Lisboa; o Porto continuava aser bombardeado.

No dia 18 de Agosto, Saldanha, sabendo que os miguelistas da margemnorte tinham retirado, saiu com as suas forças em plena retirada pela estra-da de Valongo.

Levantou-se o bloqueio; o Porto estava livre.in Hugh Owen, O Cerco do Porto (adaptado)

Quadro IIA população da cidade do Porto

86 000 105 000 138 000 168 000

1864 1878 1890 1900

Page 98: Manual HGP 6º

98

Estremadura

A Aldeia Galega

Em 1709, Aldeia Galega [Montijo] é assim descrita pelo padre Carva-lho da Costa: «...Tem nove estalagens comuns, as melhores do reino, (...)Tem açougue todos os dias, até domingo às 9 horas, com carne muitoacomodada conforme o tempo.»

Diz ainda a notícia que a Aldeia Galega tem oito barcos de carreiracom um perfeito cais de cantaria, dos melhores do Ribatejo, e que todosos dias vai e vem barco de carreira de Lisboa, sendo os moradores isen-tos de pagarem passagem.

in Joaquim Tapadinhas, Aldeia Galega no Tempo dos Descobrimentos (adaptado)

As Linhas de Torres Vedras

Compunham-se de três linhas de fortificação. A primeira ia deAlhandra ao Sobral de Monte Agraço, atingindo depois Torres Ve-dras e a foz do rio Sisandro. Ainda hoje, o Forte de São João naquelavila mostra a grandeza de uma construção que defendia palmo a pal-mo um perímetro de 10 léguas ao norte de Lisboa. A segunda linha fi-cava entre Alverca e a ponte de Santa Iria, dominando Montachiquee Mafra e acabando a norte da Ericeira. Finalmente, a terceira linha,em Lisboa, situando-se ao redor de Oeiras para, em caso de necessi-dade, permitir o reembarque das tropas inglesas.

As Caldas da Rainha

D. Leonor, mulher de D. João II, mandou construir um hospital nasCaldas da Rainha, para que todos pudessem beneficiar das qualidadesmedicinais das suas águas. Ia gente de todo o Reino, ricos e pobres,que só pagavam se pudessem. D. João V tomou lá banho por treze ve-zes e mandou ampliar as instalações.

Nas margens da Lagoa de Óbidos, faziam-se caçadas e nos locaismais pitorescos, piqueniques. Por lá passaram D. João V, D. José I eD. Carlos I.

A loiça das Caldas

Em 1886, Rafael Bordalo Pi-nheiro fundou uma fábrica decerâmica nas Caldas da Rainha.É a partir de então que a louçadas Caldas tem êxito comerciale artístico. Em 1889, na Exposi-ção Universal de Paris, a fábricarecebeu uma medalha de ouro eduas de bronze e Bordalo Pi-nheiro foi condecorado pelo go-verno francês.

fig. 1 Largo do Mercado, nas Caldas daRainha (Fotog. S. Villarinho Pereira, daobra Um Médico no Chiado, Luísa Villari-nho, 2003).

CRONOLOGIA

1729Inauguração da fábrica da Pólvorade Barcarena.1742D. João V permanece um mêsnas Caldas da Rainha. São ar-ranjados os caminhos entreAveiras e Óbidos.1748Transferência da manufactura dovidro de Coina para a MarinhaGrande.1773• Lei que cria uma fábrica de te-

cidos em Cascais.• Lei que cria uma fábrica régia de

tecidos de linho em Alcobaça.1861Conclusão da linha férrea do Pi-nhal Novo a Setúbal.1868Construção do Farol de SantaMarta, em Cascais.1884Fundação em Portugal da 1.ª fá-brica de adubos químicos, naPóvoa de Santa Iria.1894Criação da 1.ª fábrica de cimen-to de Portugal, em Alhandra.

Localidades N.◊◊◊◊o dedeputados

Alcobaça

Alenquer

Lisboa

Setúbal

Torres Vedras

1

1

9

2

2

Quadro IDeputados eleitos às

Cortes Constituintes de 1821

Page 99: Manual HGP 6º

99

A Nazaré

Foi no século XVIII que a Nazaré cresceu consideravelmente,graças à actividade piscatória. Contudo, durante as invasões france-sas e no período de guerra entre os liberais e absolutistas, os pes-cadores tiveram de se refugiar na Pederneira, pois os ataques dospiratas eram constantes a um reino envolvido em guerras.

No final do século XIX, estabeleceu-se a fama dos pescadoresda Nazaré, altura em que os veraneantes a passaram a procurar.

A praia de Cascais

Quando, em meados do século XIX, começou a moda de ir àpraia, a praia de luxo dos nobres lisboetas foi a de Pedrouços. Nofinal do século, já era Cascais a praia da moda, como o compro-vam algumas casas senhoriais junto à praia e o palacete real den-tro do forte da Cidadela. Aí morreu D. Luís I, em 1889. D. Carlos Igostava de ir para lá descansar.

O Mosteiro de Alcobaça

Em 1794, William Beresford fez a seguinte descrição do mosteiro:«...Os tectos eram dourados e pintados, o pavimento coberto comtapetes da Pérsia, as mesas, com rodapés de veludo, estavam guar-necidas de soberbos gomis, bacias e jarros de prata...».

O Marquês de Pombal mandou lá fazer obras, tendo os edifíciossido restaurados e a biblioteca ampliada. Durante as invasões fran-cesas e as guerras entre liberais e absolutistas, o mosteiro foi sa-queado.

Acontecimentos em Setúbal e Palmela

De Setúbal a Almada os terrenos estavam cobertos de pinhaise mato. No século XIX, limparam-se as terras, que passaram a seraproveitadas para a agricultura, especialmente para a produção devinho.

O primeiro atropelamento por um automóvel deu-se em 20 deOutubro de 1895. O carro do conde de Avilez, movido a petróleo, feza viagem do Barreiro a Setúbal por Palmela, em uma hora. Em Pal-mela, enganou-se no percurso, tendo de descer a calçada que eramuito íngreme. O carro, no fim da calçada, atropelou um burro.

fig. 2 Praia da Nazaré (Fotog. BPI /anónimo, in Um Médico no Chiado, LuísaVillarinho, 2003).

fig. 4 Estrada Lisboa-Cascais (Fotog.BPI / Ed. J. P. Barros & CA, in Um Médicono Chiado, Luísa Villarinho, 2003).

fig. 3 Termas de Santo António do Es-toril , 1880 (Fotog. Rev. Occidente,21/11/1888, in Um Médico no Chiado,Luísa Villarinho, 2003).

Quadro IIA população

Lisboa

Setúbal

210 000

12 747

227 674

14 798

301 206

17 581

356 009

22 074

1864 1878 1890 1900

Page 100: Manual HGP 6º

100

Minho

A primeira invasão francesa: de Chaves a Braga

A nossa marcha de Chaves sobre Braga foi um combate contínuo. Tinhade lutar contra uma nação inteira: todos os habitantes, homens, mulheres,crianças, velhos e padres estavam em armas, as aldeias abandonadas, aspassagens guardadas (...) A minha vanguarda era dia e noite perseguida(...); nuvens de camponeses armados renovavam os seus ataques. Toda estagente parecia realmente tomada por uma fúria desesperada.

Memória do General Soult, século XIX (adaptado)

As primeiras fábricas de Braga

Na Rua Nova de Santa Cruz fica a Fábrica Social Bracarense. É aquique se vai realizar o nosso inquérito.

– Quando se fundou a fábrica?– Em 1866, responde o Senhor Martins Cerqueira. Foi a primeira que

se montou para o fabrico a vapor de chapéus de feltro de pêlo.– Então até aí não se faziam chapéus em Braga? – Faziam, sim, mas em pequenas e numerosas oficinas de chapéus de lã. – Numerosas? – Muito numerosas, mesmo. Desde o largo da Senhora-a-Branca até

aos Peões, e rua de S. Victor-o-Velho, e desde a rua de S. Domingos até àTamanca as oficinas sucediam-se, multiplicavam-se. Havia dezenas de-las, muitas dezenas delas.

– De fabrico manual, não é verdade? – Todas de fabrico manual.– Destacavam-se...– ... a da Taxa, a dos Bahias, a do Mananeu, a do Zé Caneca, etc.

in Manuel Araújo, Indústrias de Braga

Bens enterrados na areia em Darque

Diz-se que, durante as invasões francesas, os habitantes de Darque(Viana do Castelo), sabendo que os invasores se apoderavam de tudoo que podiam, encaixotaram os seus bens, assim como os da sua igre-ja, e enterraram-nos na areia, salvando-os do saque dos Franceses.

Frei Francisco de São Luís, de Ponte de Lima

Frei Francisco de São Luís nasceu em Ponte de Lima. Em 1808, lu-tou contra os Franceses. Em 1820, fez parte do primeiro Governo Libe-ral. Como procurou que o passado fosse respeitado, os liberaisacusaram-no de medroso; os absolutistas chamaram-lhe traidor porser liberal. Acabou por passar seis anos na prisão. Mais tarde, foi cardeale também patriarca de Lisboa.

CRONOLOGIA

1784Início da construção da Igreja doBom Jesus do Monte, em Braga.1802Instalação da fábrica de papel deVizela.1834Os liberais conquistam o Minho.1846Rebelião da Maria da Fonte:motins populares em Vieira doMinho, desencadeados por cam-poneses contra os impostos e asleis da saúde, que obrigavam aenterrar os mortos em cemitérios.Maria da Fonte, uma jovem deFonte Arcada, no concelho dePóvoa do Lanhoso, teria chefiadoum grupo de mulheres que inicioua revolta.1853Começa a alastrar a praga de oí-dio que atingiu as vinhas.1864Inauguração do Banco do Minho,em Braga.1882• Conclusão da linha férrea do

Minho até Valença. • Construção, em Braga, do 1.ºelevador de Portugal, permitindoo acesso ao Bom Jesus do Monte.

1886Inauguração da Ponte Internacio-nal de Valença.

Desenvolvimento industrial em Guimarães

Em 1884, por proposta do historiador Alberto Sampaio, realizou-seuma exposição industrial em Guimarães. Foi também nesta altura queo comboio chegou a esta localidade.

Localidades N.◊◊◊◊o dedeputados

BarcelosBragaGuimarãesValençaViana

52514

Quadro IDeputados eleitos às

Cortes Constituintes de 1821

Page 101: Manual HGP 6º

101

As terras do Minho

A propriedade minhota não está somente dividida por numerosospossuidores, está ainda retalhada. Os bens de cada proprietário constamde uma porção mais ou menos numerosa de parcelas dispersas: uma lei-ra separada das leiras vizinhas pelos pequenos carvalhos encavaladospelas videiras (…); mais longe outra leira; aqui a terra seca; além o lamei-ro; (…) Esta circunstância característica de toda a lavoura do Minho (…)encarece e dificulta consideravelmente o amanho das terras.

in Ramalho Ortigão, As Farpas (adaptado)

Do Minho para o Brasil

A partida dos emigrantes

«Eu vi muitas vezes, na Foz do Douro, saírem iates e barcas que leva-vam a bordo centenas de rapazes do Minho.

Os emigrantes eram tão numerosos que toda a gente tinha pelo me-nos um brasileiro na família e as heranças eram tão importantes, quefrequentemente chegavam para enriquecer os herdeiros (…).

Os emigrados portugueses atraíram ao Brasil os pais, os tios, os ir-mãos, que tinham ficado na terra (…).»

in Alberto Pimentel, Espelho de Portugueses, século XIX (adaptado)

Os emigrantes no Brasil

Comiam, dormiam e trabalhavam como escravos. Tinham a sua tami-na (ração) de carne seca, feijão e farinha que eram obrigados a cozinharpara comer na hora do almoço e do jantar. Sanzalas eram as habitaçõesque constavam de um pequeno quarto, não soalhado, com porta e janela,tendo por cama uma esteira e por mobília uma pedra para se sentarem.

in Primeiro Inquérito Parlamentar sobre Emigração, 1873

Estes dois acontecimentos contribuíram para o desenvolvimento in-dustrial de Guimarães: mandaram-se vir máquinas de fiação e fardos dealgodão da Grã-Bretanha, construíram-se fábricas que passaram a ven-der o seu vestuário para todo o País.

O regulamento da fábrica a vapor de Manuel Bernardes Alves de-monstra-nos algumas regras a que estavam sujeitos os operários:

• eram multados quaisquer operários ou operárias em sessenta réispelos motivos seguintes:– se lavassem a cara na fonte da fábrica;– se fossem encontrados às portas das retretes esperando a saída

dos que estivessem lá dentro;• eram multados em 100 réis os que fossem encontrados a cantar ou

a fazer barulho.

fig. 2 Praça do Toural e estátua deD. Afonso Henriques, obra de Soa-res dos Reis, em Guimarães. À inau-guração desta estátua assistiu o reiD. Luís I. Seria mudada para a zonado castelo, em 1940 (Fotog. S. Villa-rinho Pereira, da obra Um Médico noChiado, Luísa Villarinho, 2003).

fig. 3 Venda de porcos, em Vize-la (Fotog. S. Villarinho Pereira, daobra Um Médico no Chiado, LuísaVillarinho, 2003).

fig. 1 Pormenor da romaria daSenhora da Agonia, em Viana doCastelo. Já em 1873, Pinho Lealconsiderava esta romaria como «amais concorrida» do Alto Minho.

Quadro IIA população

Braga

Guimarães

Viana do Castelo

18 831

7568

9263

19 755

7980

8816

23 089

8611

9682

24 202

9104

9990

1864 1878 1890 1900

Page 102: Manual HGP 6º

102

Ribatejo

Indústrias de Tomar

Tomar, que não teve prejuízo com o terramoto de 1755, recebeu bene-fício industrial no período pombalino e no seguinte, fundindo, em 1771, aantiga fábrica de meias de seda com uma fábrica de chapéus, numa uni-dade só e, em 1788, Jácome Ratton aqui implantaria uma fábrica de fiaçãode algodão (...) Sabe-se da existência, em 1840, de sete fábricas de fiação,papel, curtumes, destilação e chapéus, empregando cerca de 650 operários.Foi ela [Tomar] a terceira do País a ter electricidade, em 1901.

in José Augusto França, Tomar (adaptado)

A retirada dos Franceses

No princípio de 1811 era cada vez mais difícil a posição de Massena,no eixo de Torres Novas a Santarém. Wellesley colocara Beresford naChamusca e tinha o domínio da margem esquerda até Vila Franca deXira, ao mesmo tempo que apertava o cerco a Santarém.

Para obter gado e cereais, era cada vez mais extensa a área do Tejoque os Franceses tornavam objecto das suas pilhagens. Quanto ao mare-chal inglês, mantinha-se no quartel-general do Cartaxo à espera de per-seguir, na retirada iminente, o invasor. No início de Março anunciava-se,enfim, a saída de Massena de Santarém, depois de as tropas lançaremfogo às principais moradias e de semearem por toda a vila a miséria e opavor. Os dois hospitais de Santarém ficavam cheios de militares doen-tes, que os Franceses abandonavam à sua triste sorte.

O mesmo espectáculo a caminho de Tomar, com os feridos e mortosa juncar as estradas, onde Massena chegou no dia 8 de Março. Entretan-to, sem perder tempo na perseguição, Beresford atingiu Abrantes.

in Joaquim Veríssimo Serrão, História de Portugal, vol. VII

CRONOLOGIA

1759Fundação da Real Fábrica dechapéus de Tomar.1789D. Maria I autoriza, em todo o Ri-batejo, nova plantação de vinha,que havia sido arrancada por or-dem do Marquês de Pombal.1794Fundação da 1.ª fábrica de fiaçãode Tomar.1807Novembro: dia 26, Junot chega aTancos; dia 27, à Golegã; dia 28,ao Cartaxo.1833Fixação em Santarém do quar-tel-general de D. Miguel, com oobjectivo de preparar a ocupa-ção de Lisboa.1834Conquista de Rio Maior e TorresNovas pelas forças liberais, quetambém derrotam as forças mi-guelistas em Pernes e Almoster.Derrota dos miguelistas em As-seiceira, perto de Tomar.1851Trabalhadores de Santarém rea-gem à introdução de máquinasagrícolas, espetando paus e lan-çando pedras nos campos.1861O comboio chega a Santarém.

Os Franceses em Abrantes

O general Junot chegou na manhã do dia 24 a Abrantes. Contava as-segurar-se da passagem do Zêzere pela tomada de Punhete, pequena al-deia situada na margem esquerda deste rio, na confluência com o Tejo,que devia ser, sob o ponto de vista militar, o complemento da ocupaçãode Abrantes. O capitão de engenharia, os sapadores-mineiros catalães eum destacamento da infantaria francesa foram a Punhete para estabele-cer, com a ajuda dos habitantes, uma ponte constituída por barcos que,depois de terem sido usados em 1801, tinham ficado abandonados emvários locais no rio. Abrantes é uma vila considerável. Está edificada so-bre a parte meridional de uma elevação, aos pés da qual corre o Tejo.Chega-se aí por caminhos estreitos e difíceis.

O lugar de Abrantes pode exercer a maior influência nas operações deguerra, apenas lhe faltando ser melhor fortificada para ser considerada achave de entrada em Portugal. O exército encontrou em Abrantes o fimdos seus sofrimentos. Distribuiu-se aos soldados víveres e calçado. A in-certeza e o receio que tínhamos de um desembarque inglês na emboca-dura do Tejo, desapareceram (…). O general francês [Junot] anunciou elemesmo ao Primeiro-Ministro de Portugal a sua chegada a Abrantes. «Euestarei dentro de quatro dias em Lisboa», disse-lhe. «Os meus soldadosestão desolados por não terem ainda usado o fusil. Não os force a isso,creio que procederia mal.»

in Le Général Foy, Histoire de la Guerre de la Péninsule, 1827 (adaptado)

Localidade N.◊◊◊◊o dedeputados

Ourém

Santarém

Tomar

1

3

3

Quadro IDeputados eleitos às

Cortes Constituintes de 1821

Page 103: Manual HGP 6º

103

Campinos e toureiros

Reaparece-nos a estação do caminho-de-ferro português, em SantaApolónia, aos sábados de Verão. Os ruídos da multidão apressada e ale-gre; a população pitoresca do Ribatejo com os barretes, os cajados, os al-forges de lã preta com riscas brancas e azuis; os toureiros que vão paraVila Franca ou para Alhandra, com as suas cintas de seda e o chapéucastelhano caído sobre o olho.

in Ramalho Ortigão, Banhos de Caldas e Águas Minerais, século XIX

A grande propriedade sem os aperfeiçoamentos agrícolas, que lhessão inerentes e indispensáveis, ainda influi largamente no atraso da re-gião sul do país.

Os concelhos ao norte do Tejo, onde a propriedade se acha mais divi-dida e onde a cultura é mais intensa, são os que acusam uma maior den-sidade de população.

(…) milhões de seres enxameiam nos pântanos, nos charcos e arrozais,conservados e tolerados numa não pequena superfície da região sul dodistrito; as ribeiras, cujos [cursos de água] estão à mercê do acaso; as valassem corrente nem limpeza; os numerosos charcos infartados pelas águas(…), sem escoante, sem drenagem, são uma das principais causas quemais influenciam a mortalidade.

in Frederico Augusto Pimentel, Propostas Apresentadasà Junta Geral do Districto de Santarém, 1884 (adaptado)

fig. 1 Azulejos no mercado de VilaFranca de Xira.

fig. 2 Atelier fotográfico de CarlosRelvas, na Golegã, 1885. CarlosRelvas foi um dos pioneiros da foto-grafia em Portugal (Fotog. Illust.Port. 16/11/1885, in Um Médico noChiado, Luísa Villarinho, 2003).

fig. 3 Solar da Quinta de Alorna,em Almeirim (século XIX).

fig. 4 Aspecto do Museu Ferroviá-rio no Entroncamento. Esta locali-dade nasceu, num local quasedeserto, no cruzamento da linha doNorte com a de Leste, em 1864. Nosseus jardins e praças podem hojever-se antigos «cavalos de ferro».

Quadro IIA evolução da população

Abrantes

Almeirim

Barquinha

Benavente

Cartaxo

Chamusca

Constância

Coruche

Ferreira do Zêzere

Golegã

Mação

Ourém

Rio Maior

Salvaterra

Santarém

Sardoal

Tomar

Torres Novas

Total

869

328

132

210

357

266

100

319

300

86

319

606

238

176

1283

138

793

931

7451

762

183

68

155

192

194

69

217

331

89

336

358

173

117

757

187

512

419

5119

722

324

105

187

344

231

48

261

326

110

350

545

242

202

992

129

749

901

6768

427

177

58

132

199

147

43

153

184

94

209

331

166

114

592

72

468

424

3990

Concelhos

24 706

9029

3675

5326

11 163

8350

2912

8053

12 157

3706

11 447

19 983

9226

4889

36 329

4939

25 226

27 246

228 362

Nascimentos Óbitos Nascimentos ÓbitosTotal de

habitantes

1864 1878 1878

in Frederico Augusto Pimentel, Propostas Apresentadasà Junta Geral do Districto de Santarém, 1884 (adaptado)

A população

Page 104: Manual HGP 6º

104

Trás-os-Montes

A região mais produtiva e habitada de Trás-os-Montes inclui Bar-queiros, Mesão Frio, Régua, Vila Real e Santa Marta de Penaguião. É uma região com terras férteis e acessível, primeiro por via fluvial e de-pois também por estrada. Foi na Régua que se estabeleceu, à beira-rio,a sede duriense da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas doAlto Douro, com os armazéns e os cais de embarque. Esta companhiacontribuiu decididamente para o crescimento da Régua. O Peso, avila de cima, foi crescendo pela vertente abaixo, enquanto a Régua, flu-vial e comercial, fica junto ao rio.

Perto da Régua ficam as termas de Caldas de Moledo. Dona Antó-nia Ferreira, conhecida como a «Ferreirinha», mulher ligada à produçãode vinho do Porto e amiga de ajudar os pobres, contribuiu para o seudesenvolvimento.

Revolta contra Junot

(...) A província de Trás-os-Montes foi a primeira a manifestar a suaoposição aos Franceses. A partir de Chaves, o grito alastrou pelo NordesteTransmontano.

O povo de Vila Real reuniu-se junto do Regimento de Milícias, tendo orespectivo coronel dado inteiro aplauso às manifestações em curso. Estan-do à frente da guarnição de Almeida, Loison recebeu ordem para seguir deimediato com destino ao Porto, a fim de pôr termo à insubordinação dasprovíncias de Trás-os-Montes e do Minho. Loison chegou a Lamego, ondeenfrentou o problema do local mais aconselhável para a travessia do Douro.O general francês preferiu o caminho da Régua, onde deixou uma guarni-ção enquanto se instalava em Mesão Frio. Mas aí foi detido: com a notíciade que os seus homens tinham sido atacados na Régua, o tristemente cé-lebre general retrocedeu para aquela vila, que impiedosamente bombar-deou. Mas viu-se impedido de prosseguir o seu avanço, pelo que resolveuregressar à Beira Alta para tentar outro percurso para o Porto. Incendiandoas casas e as searas que foi encontrando, seguiu Loison o caminho de Lamego, sempre perseguido por grupos armados que não lhe poupavam aretaguarda. Foram eles que impediram o fugitivo de pôr Lamego a saque,como era sua intenção.

in Joaquim Veríssimo Serrão, História de Portugal, vol. VII (adaptado)

A derrota de Amarante

(...) em Fevereiro de 1823, eclodiu a revolta de Vila Real, sob o comandodo conde de Amarante. Era uma figura de prestígio na província de Trás--os-Montes. Tal como seu pai, recusou-se a abraçar o liberalismo, pensan-do ser ainda possível restaurar o regime absoluto. O seu movimentoestendeu-se a Braga, Chaves, Bragança e a outras terras do NordesteTransmontano, mas a derrota de Amarante, que lhe foi imposta pelo exér-cito fiel ao Governo liberal, obrigou o conde a exilar-se em Espanha.

in Joaquim Veríssimo Serrão, História de Portugal, vol. VII (adaptado)

CRONOLOGIA

1778Criação da Escola de Fiação deTrás-os-Montes.1789Criação da «Aula de Anatomia eCirurgia» no Hospital Real deChaves.1809Segunda invasão francesa. Oexército de Soult entra por Trás--os-Montes e dirige-se ao Porto.1834Os liberais conquistam Trás-os--Montes.1853Começa a alastrar a praga de oí-dio que atingiu as vinhas.1870A seda, que se produzia em Al-fândega da Fé desde o séculoXVIII, atinge uma produção de17 toneladas.

Data Localidade

Quadro IRevoltas contra os Franceses

em 1808

6 de Junho

8 de Junho

11 de Junho

13 de Junho

16 de Junho

17 de Junho

Chaves

Vila Pouca de Aguiar

Bragança

Miranda do Douro

Vila Real

Moncorvo,Mirandela,Alfândega da Fé

Page 105: Manual HGP 6º

105

A vida quotidiana do camponês

Levanta-se geralmente ao romper do dia, pelas 5 horas, durante o Verão,pelas 4 horas no Inverno.

Nos meses de Inverno, logo que se levanta, come o seu almoço, aindaem casa, e dirige-se ao campo. Durante o Verão vai para o campo, logo quese levanta, e aí toma o seu almoço, quando, pelas 8 horas e meia, lho levamde casa. Volta à faina até ao meio-dia. Nesta altura vai jantar, refeição quetambém lhe levam de casa. No Verão, a hora para jantar é seguida de outrapara dormir ou descansar. É a sesta, que finda às 2 horas. Durante o Inver-no, trabalha desde a 1 hora até ao anoitecer. Durante o Verão, entre as duashoras e o anoitecer, ainda volta a interromper os seus afazeres para meren-dar, por volta das 5 horas.

Ao anoitecer, recolhe a casa e, na companhia de toda a família, come asua ceia. É chegada a hora do recolhimento da alma. À volta da mesa ondese ceou, ou sentados todos à lareira, reza-se o terço.

in J. T. Montalvão Machado, Aspecto Médico-Sanitário do Districto de Vila Real, 1950

fig. 1 Chafariz em Vila Real, prin-cípios do século XX (Fotog. S. Vil-larinho Pereira, da obra Um Médicono Chiado, Luísa Villarinho, 2003).

fig. 2 Carro de bois em Lamas deOlo, no Parque Natural do Alvão.

fig . 3 Câmara Municipal de Mirandela, no antigo Palácio dosTávoras. Esta família foi acusada deestar envolvida no atentado a D. José I, tendo os seus membrossido condenados à morte.

Quadro IIIAs refeições do camponês

• Prato: batatas e azeite

• Um caldo: couves,feijão, arroz

• Pão

• Prato: batatas, carnegorda de porco

• Um caldo: couves,feijão

• Pão

• Azeitonas, pão • Caldo: batatas,couves

• Pão

Almoço Jantar Merenda Ceia

Quadro VA população

Bragança

Vila Real

4754

4836

5071

5296

5840

5920

5535

6716

1864 1878 1890 1900

Quadro IVA emigração

1886

1890

1900

13 998

29 427

21 235

1074

3070

1129

AnosEmigrantes

do ContinenteEmigrantes do distrito

de Vila Real

Localidade N.◊◊◊◊o dedeputados

Bragança

Miranda

Moncorvo

Vila Real

3

1

2

3

Quadro IIDeputados eleitos às

Cortes Constituintes de 1821

in J. T. Montalvão Machado, Aspecto Médico-Sanitário do Districto de Vila Real, 1950

A emigração

Page 106: Manual HGP 6º

O Funchal em 1836

(…) Todavia, tudo falta nesta terceira cidade do Reino: não há molhe;não há um só cais onde saltem os estrangeiros a pé enxuto; não há ilumi-nação na cidade; não há cemitério; não há teatro (…); não há caminhostransitáveis; estão completamente arruinadas as calçadas das ruas e nemdinheiro temos para tapar os buracos mais perigosos; não há depósitos demendigos que andam em bando pelas ruas, comovendo compaixão, des-gostos e repugnância; não há uma polícia municipal eficiente; enfim, to-das as coisas, e todos os belos estabelecimentos, que nenhuma cidade,

Proclamação dos liberais

Madeirenses! É já notório que uma facção sanguinária e ambiciosa,rodeando um príncipe jovem, o senhor infante D. Miguel, o tem seduzi-do e arrastado a ponto de usurpar a coroa do seu próprio irmão e rei le-gítimo. Pelo direito da natureza e pelo direito público nacional a coroalusitana pertence ao filho primogénito de nossos monarcas. O primogé-nito é o senhor D. Pedro IV; as nações o reconheceram legítimo rei dePortugal; os portugueses lhe juraram fidelidade.

Proclamação de Travassos Valdez de 22 de Junho de 1828,in Documentos para a História das Cortes Geraes da Nação Portugueza, Lisboa, 1888,

citado por Alberto Vieira (coord.), História da Madeira

Proclamação dos miguelistas

Habitantes da ilha da Madeira! Preciosa porção da nação Portuguesa!Quando a imoralidade de alguns indivíduos procurou insinuar-se entre vóscomo virtude, presenciastes com mágoa o roubo e profanação dos tem-plos: a rebelião de um chefe traidor contra o nosso legítimo soberano D. Miguel I (hoje como tal reconhecido pelos três estados do reino) preten-dia separar-vos involuntariamente de vossos irmãos; ameaçou-nos o pu-nhal dos assassinos, e por comiseração muitos de vós fostes deportados.

Proclamação de José Maria Monteiro, governador da Madeira, 22 de Agosto de 1828,in Documentos para a História das Cortes Geraes da Nação Portugueza, Lisboa, 1888,

citado por Alberto Vieira (coord.), História da Madeira

Madeira

O vinho

A vertente sul, dominada na quase totalidade pelo espaço da primitivacapitania do Funchal, foi onde se produziu o melhor vinho, enquanto a donorte, quase exclusiva da capitania de Machico, produzia vinho de inferiorqualidade que raramente saía da Ilha, sendo usado para consumo corren-te ou então utilizado no fabrico de aguardente.

Alguns dados soltos permitem fazer uma ideia da geografia da produção.De acordo com os dados de 1787, o Arquipélago produziu 22 053 pipas, sen-do apenas 179 do Porto Santo. São Vicente era o principal produtor, com3898 pipas, logo seguido do Porto da Cruz, com 1245. No Sul, a maior e me-lhor produção foi sempre a das freguesias limítrofes do Funchal. Saía daquio melhor vinho de exportação. Foi o produto que mais tempo activou as tro-cas externas da Ilha. A partir de meados do século XVII, a produção entrouem curva ascendente, iniciando-se a queda na década de vinte do séculoXIX. O golpe mortal foi dado na segunda metade da centúria e teve origemnas diversas doenças que assolaram a vinha.

in Alberto Vieira (coord.), História da Madeira (adaptado)

fig. 1 Rótulo de garrafa de vinho daMadeira divulgando as «capacidadesmedicinais» do vinho e a paisagemmadeirense. Os bons ares da ilha, queajudavam à cura de algumas doen-ças, como a tuberculose, atraírammilhares de visitantes no século XIX,quer portugueses, quer estrangeiros.

CRONOLOGIA1744 -1801A exportação de vinho da Madei-ra atinge a quantidade máxima.

1748 -1756Mais de 6000 madeirenses eaçoreanos emigram para o Brasil.1807A imposição do Bloqueio Conti-nental pela França leva os Ingle-ses a ocuparem a Madeira.1821Em Janeiro é proclamado o libe-ralismo na Madeira.1822Os arquipélagos da Madeira edos Açores passam a ser desig-nados por «ilhas adjacentes» naConstituição liberal.1834 -1852Uma média anual de 300 a 400doentes, nomeadamente ingle-ses, procuram a Madeira.

106

Page 107: Manual HGP 6º

107

A construção das estradas

Na segunda metade do século XIX, a política de transportes e comu-nicações desenvolve-se na Madeira, tal como no Continente.

Em 1837, perante a urgente necessidade de melhorar as estradas econstruir novas vias de comunicação, formou-se uma comissão – a «Comissão das Estradas».

Segundo a carta régia de 19 de Agosto de 1824, cada habitante eraobrigado a contribuir com cinco dias de trabalho ou mil réis por ano,para a reparação ou abertura de estradas. A esta comissão cabia o direitode arrecadar e aplicar os fundos obtidos para esse fim.

Das actas das sessões, dos ofícios e das cartas recebidas e enviadaspela Comissão, sabemos que: se abriram novos caminhos; se repararamos que estavam degradados; construíram-se pontes; procedeu-se ao cal-cetamento de novas estradas; fizeram-se muros de suporte, desaterros,limpeza de caminhos, de ribeiras e de canos de esgoto.

in Abel Fernandes (dir.), História da Madeira (adaptado)

O «comboio» do Monte

O comboio aparece em 1893, fazendo a ligação do Funchal ao Montee depois do Funchal ao Terreiro da Luta. Este novo meio de transportefoi importantíssimo para o progresso do Funchal, pois que, pela primeiravez, na Ilha, aparece a viação acelerada.

«A cidade do Funchal, pelas excepcionais condições em que se en-contra, como estação de inverno e sanitária, visitada anualmente porconsiderável número de estrangeiros tem absoluta necessidade de pro-mover os progressos materiais que melhor contribuírem para o seu afor-moseamento, decência e confortabilidade.

A maior distracção dos nossos hóspedes estrangeiros consiste nas ex-cursões às majestosas montanhas, e a visita predilecta dos turistas é àSenhora do Monte.

A Empresa do Caminho de Ferro do Monte veio obviar a essas dificul-dades, oferecendo a nacionais e estrangeiros meio fácil, seguro, cómodoe económico de transporte de pessoas e mercadorias para a deliciosa es-tância do Monte».

Diário de Notícias, 26 de Janeiro de 1904,citado por Abel Fernandes (dir.), História da Madeira (adaptado)

fig. 2 Comboio, ou elevador, e car-ro de cestos no Monte, Funchal.

fig. 3 Pormenor da cidade do Funchal nos finais do século XIX.

1864 1878 1890 1900

17 677 19 752 18 778 20 844

Quadro IA população do Funchal

CRONOLOGIA1841-1889Cerca de 37 000 madeirensesemigram para o Continenteamericano.1852Praga de oídio ataca as vinhasmadeirenses.1858Fica concluída a levada para re-gadio na Calheta.1862Existem 1029 bordadeiras noFunchal e Câmara de Lobos e559 teares em toda a ilha.1863Existem 365 moinhos de águapara moer cereais em toda a ilha.1865Lei que liberta todos os escravosque desembarquem na Madeira.1870Ligação de Portugal Continentalà Madeira por cabo submarino.1871A Madeira exporta 527 883 kgde açúcar.1872A filoxera ataca as vinhas madei-renses.1876Fundação do Diário de Notíciasdo Funchal.1888É eleito um deputado republica-no às Cortes.

ou aldeia dos países civilizados deixa de possuir, todos aqui desconhece-mos por falta de meios ou antes por falta de os saber procurar (…).

Registo Geral da Camâra da Funchal, 1836,citado por Alberto Vieira (coord.), História da Madeira

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Açores

A agricultura

As técnicas agrícolas são consideradas muito rudimentares pela gene-ralidade dos observadores. Francisco Borges da Silva afirma, em 1813, que«os conhecimentos que temos desta ciência são do tempo dos Romanos».

Os instrumentos mais comuns são o grande e largo sacho e o arado ra-dial de madeira, só com a relha guarnecida de ferro. O trigo é normalmen-te debulhado na eira com pesados trilhos puxados por bois. As juntas debois, jungidas por uma canga de madeira, ajudam o camponês na lavoura.

As debulhadoras mecânicas foram introduzidas em S. Miguel nos finsda primeira metade do século XIX: havia uma no lugar da Maia e PortoFormoso, importada da Inglaterra, movida por quatro bois, de elevado cus-to, e umas pequenas máquinas de debulhar, portáteis, movidas por doishomens. A primeira máquina a vapor, instalada na mesma ilha, em 1848,moía trigo, milho e serrava madeiras. Trata-se, contudo, de experiênciasisoladas, porque a generalidade da agricultura permanece rudimentar.

Maria Isabel João, Os Açores no Século XIX – Economia, Sociedade eMovimentos Autonomistas, Cosmos Editora (adaptado)

A indústria

Na primeira metade do século XIX, a maioria das indústrias que exis-tem são caseiras ou pequenas oficinas com o mestre, normalmente pro-prietário, e muito poucos operários ou aprendizes. Manufactura-se olinho e a lã, fazem-se cestos de vimes, chapéus de palha, louças de fabricogrosseiro, moagem de cereais com atafonas, força hidráulica ou do ven-to, destila-se a aguardente.

Em 1852, registam-se, somente, 28 operários nas ilhas, dos quais 10sabem ler e escrever.

Dos 5025 assalariados referidos no inquérito de 1890, 3500 são dosexo masculino e 1525 do sexo feminino.

A fiação e a tecelagem empregam exclusivamente mulheres e na in-dústria do tabaco 96% do pessoal é feminino.

A maioria esmagadora dos operários é analfabeta: só 11,8% do totalsabe ler – 467 homens e 126 mulheres.

Maria Isabel João, Os Açores no Século XIX – Economia, Sociedade eMovimentos Autonomistas, Cosmos Editora (adaptado)

fig. 1 Angra do Heroísmo, na ilhaTerceira. Esta ilha constituiu um im-portante local de apoio aos liberais.Em 1828, foi criada em Angra umaJunta Provisória «para suster os direi-tos do senhor D. Pedro e da senhoraD. Maria». Angra passou a chamar-seAngra do Heroísmo pela lealdade,dedicação e coragem demonstradosna defesa do liberalismo.Em 1829, a vila da Praia foi atacadapor uma poderosa frota miguelista,que tentou desembarcar nesta vila,sem sucesso. Como recompensapela resistência, a vila passou a cha-mar-se Praia da Vitória.

CRONOLOGIA

1748-1756Mais de 6000 açoreanos e ma-deirenses emigram para o Brasil.1771Lei que reconhece os Açorescomo província de Portugal.1798Lei que incentiva o cultivo debatata nos Açores.1822Os arquipélagos da Madeira e dosAçores passam a ser designadosna Constituição liberal por «ilhasadjacentes».1831Desembarque de militares liberaiscomandados pelo futuro duqueda Terceira, organizando-se em S.Miguel o exército de D. Pedro IV.1832• Angra passa a capital do Reinodurante a estadia de D. Pedro IV.

• A Horta recebe a visita de D. Pe-dro IV e passa a cidade, por mer-cê real, uma vez que aderiu àcausa liberal.

• O exército liberal parte dosAçores com destino ao Porto.

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A sociedade

Diversos relatos de estrangeiros do século XIX permitem-nos traçarum retrato sumário dos maiores proprietários micaelenses. J. W. Websterfaz [deles] um retrato muito negativo: «a maior parte deles passa a vidanum estado de grande indolência e ignorância, parecendo consistir qua-se toda a sua felicidade em comer, dormir e amontoar dinheiro.»

Contudo, refere-se também que existem outros, abastados, que vivemnas cidades e mandam os filhos estudar no estrangeiro. De tal modo, quealguns dos jovens herdeiros «falam o francês e o inglês e lêem O Panora-ma», a bem redigida revista lisbonense.

As classes baixas são compostas, essencialmente, por pequenos pro-prietários rurais e urbanos, rendeiros, artífices, pescadores e jornaleiros. Ogrupo social mais desfavorecido é formado pelos jornaleiros, que só encon-tram trabalho sazonal nos campos, podendo ainda empregar-se na pesca enas obras públicas. A construção das docas de Ponta Delgada e do Faial [fo-ram], grandes obras que exigiram muita mão-de-obra, referindo em 1862--1863 o Governador Civil de Ponta Delgada que «a emigração para o Brasilcessou inteiramente neste distrito. Mais trabalho nas obras públicas, asobras do porto artificial e o aumento de salários influíram neste resultado».

Maria Isabel João, Os Açores no Século XIX – Economia, Sociedade eMovimentos Autonomistas, Cosmos Editora (adaptado)

A habitação

No último quartel do século XIX, as casas são, geralmente, só de um piso,construídas de pedra basáltica, nem sempre rebocadas, com tecto de colmo,divididas interiormente por um ou dois tabiques caiados, que separam oquarto de entrada e o dormitório. O chão é térreo, sendo por vezes assoalha-do na zona das camas. Algumas casas já dispõem de vidraças nas janelas.

A mobília é escassa e os apetrechos de cozinha toscos. Todo o luxo des-tes interiores reside na bela colcha de tear caseiro que cobre a cama dos do-nos da casa, nas imagens dos santos e no oratório de pinho, pintado a óleo.

Maria Isabel João, Os Açores no Século XIX – Economia, Sociedade eMovimentos Autonomistas, Cosmos Editora (adaptado)

A alimentação

[No último quartel do século XIX] os pobres, sobretudo as mulheres, ain-da preferem sentar-se no chão, «à turca», apesar de já possuírem uma ouduas cadeiras; comem com as mãos em grosseiras louças de barro, fabrica-das nas ilhas. Andam descalços ou calçam grosseiras sandálias de tiras decouro. Nos dias santos vestem roupa lavada e os homens calçam sapatos.

A alimentação é constituída por pão de milho, batatas, inhames, legu-mes, peixe seco ou fresco e pouca carne, do porco ou das galinhas quedebicam no quintal. Em maus anos agrícolas, a fome aperta e dão-se,então, alguns motins no cais contra o embarque de cereais.

Maria Isabel João, Os Açores no Século XIX – Economia, Sociedade eMovimentos Autonomistas, Cosmos Editora (adaptado)

fig. 2 Terreno agrícola na Maia,Santa Maria. Por vezes, foi necessá-rio construir muros de pedra paraque se pudesse praticar a agricultura.Nos séculos XVIII e XIX, a laranjaera uma importante fonte de rique-za da ilha de S. Miguel, sendo ex-portada principalmente paraGrã-Bretanha. Tal como a vinha, oslaranjais foram atingidos por umapraga, surgindo então novas cultu-ras, como o ananás e o chá.

fig. 3 Tecendo uma colcha.

Quadro IA população

1864 1878 1890 1900

11 568

8278

15 733

11 070

7446

17 635

11 012

6879

16 767

10 788

6575

17 620

Angra do Heroísmo

Horta

Ponta Delgada

CRONOLOGIA

1839Criação do novo concelho daPovoação, verificando-se um rá-pido desenvolvimento agrícola,de tal forma que ficou conheci-do por «Celeiro da Ilha».1856Construção do palácio deSant‘Ana por Jácome Correia, onderecebeu D. Carlos I quando o reivisitou Ponta Delgada, em 1901.1861Início de obras no porto de PontaDelgada, na ilha de São Miguel.1865Lei que liberta todos os escravosque desembarquem nos Açores.1876Início de obras na doca da Horta,na ilha do Faial.1893Ligação de Portugal Continentalaos Açores por cabo submarino.

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110

Cronologia e reis de Portugal

1654 • Expulsão dos Holandeses do Brasil.1697 • Descoberta de ouro no Brasil.

• Últimas Cortes.1699 • Chegada da primeira remessa de ouro brasileiro.1703 • Tratado de Methuen (tratado comercial entre

Portugal e Grã-Bretanha).1708 • Casamento de D. João V com D. Maria Ana de

Áustria.1717 • Início da construção do Convento de Mafra.

• Início da construção da Biblioteca da Univer-sidade de Coimbra.

1720 • Fundação, em Lisboa, da Academia Real daHistória Portuguesa.

1727 • Introdução da cultura do café no Brasil.1729 • Descoberta de diamantes no Brasil.

• Casamento de D. José com D. Mariana Vitória.1731 • Início da construção do Aqueduto das Águas

Livres.1747 • Início da construção do Palácio de Queluz.1748 • Conclusão das obras do Aqueduto das Águas

Livres.1749 • Início da construção da Igreja da Misericórdia,

no Porto.1750 • Nomeação de Sebastião José de Carvalho e

Melo como Ministro do Reino.1755 • Inauguração da ópera do Tejo em Lisboa.

• Terramoto em Lisboa.1757 • Início da construção da Torre dos Clérigos no

Porto.1759 • O Marquês de Pombal expulsa os Jesuítas.

• Processo dos Távoras.1761 • Abolição da escravatura no Reino.1770 • O comércio é declarado «profissão nobre, ne-

cessária e proveitosa».1777 • D. Maria I demite e desterra o Marquês de

Pombal.

1779 • Início da construção da Basílica da Estrela, emLisboa.

1792 • O príncipe D. João assume o governo do Paísdevido a sua mãe (D. Maria I) ter enlouquecido.

1799 • O príncipe D. João assume a regência do Reino.

1807 • Primeira invasão francesa (Junot).

1808 • Abertura do comércio brasileiro ao comérciointernacional.

• Criação da Gazeta do Rio de Janeiro.• Criação do Banco do Brasil.

1809 • Segunda invasão francesa (Soult).

1810 • Terceira invasão francesa (Masséna).• Tratado de comércio com a Grã-Bretanha.• Inauguração da Biblioteca Nacional do Rio de

Janeiro.

1811 • Retirada dos Franceses.

1815 • O Brasil é elevado a Reino.

1816 • D. João VI é aclamado rei.

1817 • Gomes Freire de Andrade é enforcado.• Primeira tentativa de introdução da máquina

a vapor.

1818 • É fundado o Sinédrio (Porto).

1820 • Revolução Liberal.

1821 • D. João VI regressa do Brasil.• Regência do Brasil entregue ao príncipe D. Pedro.

1822 • Independência do Brasil.• 1.a Constituição Portuguesa.

1823 • «Vilafrancada» – revolta absolutista.

1823 • Um barco a vapor faz a carreira Lisboa → Porto.

1824 • «Abrilada» – revolta absolutista.

1825 • Reconhecimento, por parte de Portugal, da In-dependência do Brasil.

1826 • Regência da Infanta D. Maria em nome de D. Pedro IV.

Séc. XVII

1700

1683D. Pedro II

1750D. José I

1777D. Maria I

1706D. João V

Séc. XVIII

Page 111: Manual HGP 6º

111

• D. Pedro abdica do trono a favor de sua filhaD. Maria II.

• Carta Constitucional.1828 • D. Miguel é aclamado rei absoluto.1831 • D. Pedro abdica do trono brasileiro e regressa

a Portugal.1832 • Os liberais desembarcam perto do Porto.

• Os miguelistas cercam o Porto.1833 • As forças liberais vindas do Algarve ocupam

Lisboa.1834 • Batalhas de Almoster e Asseiceira.

• Concessão de Évora-Monte.• Morte de D. Pedro IV.

1835 • Início da utilização da máquina a vapor na in-dústria.

1838 • Primeira Exposição Industrial Portuguesa.1848 • Utilização do gás para iluminação do Chiado,

em Lisboa.1852 • Início da mala-posta entre Porto, Braga e Gui-

marães.1853 • Início da utilização dos selos postais.1854 • Inauguração das primeiras linhas telefónicas.1855 • Exposição Industrial do Porto.1856 • Inauguração do primeiro troço dos caminhos-

-de-ferro – Lisboa → Carregado.1858 • Primeira carreira a vapor entre Portugal e Angola.1859 • Generalização do sistema métrico a todo o terri-

tório nacional.1860 • Publicados os primeiros romances de Júlio Dinis.1861 • Início das aulas no Curso Superior de Letras.1863 • Decreto abolindo os morgadios.1864 • Primeiro recenseamento simultâneo de toda a

população.• Portugal fica ligado à Europa por caminho-de-

-ferro.• Fundação do Diário de Notícias.

1867 • Abolição da pena de morte para todos os cri-

mes civis.

1868 • Fundação da Companhia das Águas de Lisboa.

1869 • Extinção da escravatura em todos os territórios

portugueses.

1872 • Primeiros movimentos grevistas.

1877 • É terminada a construção da ponte D. Maria

Pia, sobre o rio Douro.

1878 • Utilização da electricidade para iluminação do

Chiado, em Lisboa.

• Início da publicação do semanário A Voz do

Operário.

1880 • A Companhia das Águas de Lisboa inaugura

uma central que garante o abastecimento de

água a toda a cidade.

• Criação da figura do «Zé Povinho», por Rafael

Bordalo Pinheiro.

1881 • Greves no sector de vestuário e tecelagem.

• Fundação, em Lisboa, do jornal O Século.

1882 • Utilização do telefone, em Lisboa.

1884 • Fundação da primeira fábrica de adubos quí-

micos.

1886 • Greve dos metalúrgicos.

1889 • Criação do Batalhão de Sapadores Bombeiros

de Lisboa.

1891 • Fundação da Companhia de Gás e Electricida-

de do Porto.

1894 • Fundação da primeira fábrica de cimento.

1895 • Utilização em Portugal dos primeiros auto-

móveis.

1896 • Primeiro espectáculo público de cinema no

Real Coliseu de Lisboa.

Séc. XIX

1853D. Pedro V

Séc. XX

1800

1816D. João VI

1826D. Pedro IV

1826D. Maria II

1828D. Miguel

1861D. Luís I

1889D. Carlos I

1900

Page 112: Manual HGP 6º

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