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LUTAS DE CLA SSESNA ALEMANHA

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Karl Marx e Friedrich Engels

LUTAS DE CLASSESNA ALEMANHA

PrefácioMichael Löwy

TraduçãoNélio Schneider

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Copyright desta edição © Boitempo Editorial, 2010

Tradução dos textos originais em alemão:1. “Kritische Randglossen zu dem Artikel ‘Der König von Preussen

und die Sozialreform. Von einem Preussen”, em Karl Marx e FriedrichEngels, Werke (Berlim, Karl Die, 1976, v. 1), p. 392-409.

2. “Forderungen der Kommunistischen Partei in Deutschland”, em Karl

Marx e Friedrich Engels, Werke (Berlim, Karl Die, 1971, v. 5), p. 3-53. “Ansprace der Zentralbeörde an den Bund vom März 1850”,em Karl Marx e Friedrich Engels, Werke (5. ed., Berlim, Karl Die,

v. 7, 1973), p. 244-54

Coordenação editorialIvana Jinkings

Editora-assistenteBibiana Leme

Assistência editorial

 Ana Lotufo, Elisa Andrade Buzzoe Gustavo AssanoTradução

Nélio SchneiderPreparação

Edison UrbanoRevisão

Pedro Paulo da SilvaCapa

 Acqua Estúdio Gráfco

sobre deseno de MaringoniEditoração eletrônica Acqua Estúdio Gráfco

ProduçãoPaula Pires

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

  M355L

  Marx, Karl, 1818-1883  Lutas de classes na Alemanha / Karl Marx e Friedrich Engels ;

[apresentação de Michael Löwy ; tradução Nélio Schneider]. – 1. ed. –São Paulo : Boitempo, 2010.

  il. – (Coleção Marx-Engels)

  Contém cronologia e índice

  1. Alemanha – Política e governo. 2. Alemanha – Condições sociais.3. Movimentos sociais – Alemana. 4. Comunismo. 5. Socialismo. I. Engels,Friedric, 1820-1895. II. Ttulo. III. Srie.

10-5544. CDD 335.422  CDU 330.8526.10.10 29.10.10 022279

É vedada, nos termos da lei, a reprodução de qualquerparte deste livro sem a expressa autorização da editora.

Este livro atende s normas do novo acordo ortográco.

1a

 edição: novembro de 2010BOITEMPO EDITORIAL

 Jinkings Editores Associados Ltda.Rua Pereira Leite, 373

05442-000 São Paulo – SPTel./Fax: (11) 3875-7250 / 3872-6869editor@boitempoeditorial.com.br.boitempoeditorial.com.br

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SUMÁRIO

NOTA DA EDITORA   ..........................................................................7

PREFÁCIO,  Michael Löwy  ......................................................................9

DIE S ChLESISChEN wEBER/OS TECELõES DA S ILéSIA,

Heinrich Heine  ...........................................................................................23

GLOSAS CRíTICAS AO ARTIGO “‘O REI DA PRúSSIA

E A REFORMA SOCIAL’. DE UM PRUSSIANO ”;

Karl Marx  ..................................................................................................25

REIVI NDICA ÇõES DO PARTIDO

COMUNISTA DA ALEMANhA,

Karl Marx e Friedrich Engels  ....................................................................53

MENSAGEM DO COMI Tê CENTRAL à

LIGA [DOS COMUN ISTAS],

Karl Marx e Friedrich Engels  ....................................................................57

íNDICE O NOMÁSTICO   ..................................................................77

CRONOLOGIA RESUMIDA  ..........................................................79

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NOTA DA EDITORA

Este livro é composto de três textos, selecionados pelofilósofo Michael Löwy e nunca antes reunidos em umamesma edição. A exemplo de Lutas de classes na França– 1848 a 1850 , no qual Marx reuniu textos sobre a Fran-

ça, este volume contempla análises acerca da experiênciaalemã escritas por Marx e Engels quando contavam com25 a 30 e poucos anos.

“Glosas críticas ao artigo ‘O rei da Prússia e a reformasocial. De um prussiano’” foi publicado por Marx noperiódico Vorwärts! . A primeira parte, escrita em Parisem julho de 1844, foi divulgada no n. 63, em 7 de agos-to de 1844. A segunda saiu no n. 64, em 10 de agosto,concluindo assim a crítica ao artigo de Arnold Ruge “Orei da Prússia e a reforma social. De um prussiano”, pu-blicado no Vorwärts! n. 60. “Reivindicações do PartidoComunista da Alemanha” foi escrito entre 21 e 29 demarço de 1848 e impresso por volta de 30 de março de1848, em Paris, e antes de 10 de setembro de 1848, emColônia. A “Mensagem do Comitê Central à Liga [dos

Comunistas]”, por sua vez, foi escrita por Marx e Engelsno final de março de 1850. Em 1851, esse documento,que fora apreendido com alguns membros da Liga presospela polícia prussiana, foi publicado no Kölnische Zeitung[Jornal de Colônia] e no Dresdner Journal und Anzeiger[Jornal e Classificados de Dresden], ambos de cunhoburguês, e mais tarde também no livro Die Communisten- 

-Verschwörungen des neunzehnten Jahrhunderts [Asconspirações comunistas do século XIX], compilado porWermuth e Stieber, caracterizados por Engels como “doisdos mais miseráveis lúmpens da polícia”. A versão aqui

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Nota da editora

apresentada tem por base o texto revisado por Engels epublicado em 1885 como apêndice à edição do Enthüllun-  gen über den Kommunisten-Prozess zu Köln [Revelaçõessobre o processo dos comunistas de Colônia] (Zurique,1885), de Marx.

Enriquece este opúsculo o poema “Os tecelões daSilésia”, escrito por Heinrich Heine em 1844 após o le-

vante ocorrido no mesmo ano e que inspirou Marx apublicar as “Glosas críticas...”, como aponta Löwy emseu “Prefácio”. Os textos aqui presentes foram traduzidospor Nélio Schneider, incluindo o poema de Heine, noqual se optou por preservar o conteúdo em vez das rimas,a fim de manter o sentido que teria encantado Marx àépoca de sua publicação.

Lutas de classes na Alemanha  é o nono título da co-leção Marx-Engels, por meio da qual a Boitempo vempublicando as obras dos fundadores do marxismo emtraduções diretas do alemão e sempre com a participaçãode intelectuais renomados. A relação completa da coleçãoencontra-se na página 94 deste volume.

Ao longo do texto, as notas de rodapé são precedidasde números quando foram inseridas pelos autores, e de

asteriscos quando acrescentadas pelos editores – diferen-ciando-se também quando são da edição brasileira (N.E.), da edição alemã (N. E. A.), da edição inglesa (N. E.I.) ou da tradução (N. T.). Para destacar as inserções dotradutor ou da editora nos textos originais fizemos uso decolchetes. Esse recurso foi utilizado quando nos pareceunecessário esclarecer passagens, traduzir termos escritos

pelo autor em outras línguas, que não o alemão, ou ain-da ressaltar expressões no original cujo significado pode-ria ser traduzido de forma diferente.

Nossa publicação vem ainda acompanhada de umíndice onomástico das personagens citadas nos textosde Marx e de uma cronobiografia resumida de Marx eEngels – que contém aspectos fundamentais da vida

pessoal, da militância política e da obra teórica de ambos–, com informações úteis ao leitor, iniciado ou não naobra marxiana.

novembro de 2010 

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PREFÁCIO

Em 1895, vários anos depois da morte de Karl Marx,Friedrich Engels reuniu alguns artigos do amigo sobrea Revolução de 1848 na França – em sua maioriapublicados, na época dos acontecimentos, na Nova

Gazeta Renana  – sob o título Lutas de classes na Fran- 

ça – 1848 a 1850 , que logo se tornou um clássico daliteratura marxista. Nada equivalente foi feito em rela-ção à Alemanha, embora Marx tivesse escrito váriostextos sobre as lutas de classes alemãs, antes, durantee depois da Revolução de 1848-49 naquele país. Um

volume sobre esse tema, equivalente ao dedicado àFrança, deveria incluir uma seleção dos artigos de Marxna Nova Gazeta Renana .  Isso não foi possível, porvárias razões, mas o presente livro – fruto de uma ideiacompartida pelo autor deste prefácio e Ivana Jinkings,editora da Boitempo – é uma primeira tentativa de

reunir alguns dos principais textos redigidos por Marxe Engels sobre a luta de classes na Alemanha – textosque visavam não apenas interpretar a realidade sociale política, mas também transformá-la, para retomar afamosa Tese 11 sobre Feuerbach*.

Os três documentos incluídos neste pequeno volu-

me são bastante distintos, mas se caracterizam por uma

* Em Karl Marx e Friedrich Engels,  A ideologia alemã  (São Paulo,Boitempo, 2007), p. 539. (N. E.)

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Prefácio

formidável lucidez política – o que não exclui, comoveremos, erros de avaliação – e pela capacidade deMarx de rever, corrigir, aprofundar e modificar sua filo-sofia, teoria, estratégia ou tática. O ensaio de 1844 é omais filosófico dos três, embora se refira a um episódioconcreto da luta de classes. Os outros dois, de 1848 e

1850, são intervenções diretas, em nome do PartidoComunista, no processo revolucionário; nem por issodeixam de ter – sobretudo o de 1850 – uma dimensãofilosófico-metodológica importante. Embora assinadospor vários dirigentes da Liga dos Comunistas, sabemosque foram redigidos – como o próprio Manifesto

Comunista * –  pelos dois principais teóricos da organi-zação. O fio condutor dos três documentos é o mesmo:a luta de classes na Alemanha entre explorados e explo-radores, oprimidos e opressores, a dialética entre revo-lução social e política, ou socialista e democrática.

Apesar de seu evidente interesse teórico e político,esses documentos raramente são publicados fora dasobras completas de Marx e Engels. Que seja de nossoconhecimento, nenhum deles foi antes traduzido di-retamente do alemão para o português. O que é segu-ro é que esta edição brasileira é a primeira vez que ostrês textos aparecem reunidos em um só volume, emqualquer língua do mundo…

O ensaio “Glosas críticas ao artigo ‘O rei da Prússiae a reforma social.’ De um prussiano” é um comenta-rio polêmico a um texto publicado em julho de 1844pelo pensador neo-hegeliano, de sensibilidade demo-crático‑republicana, Arnold Ruge – com o pseudônimo 

“um prussiano” – no Vorwärts!  [Avante!], um periódi-

* São Paulo, Boitempo, 2010. (N. E.)

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Lutas de classes na Alemanha

co de esquerda publicado por exilados alemães emParis. As notas críticas de Marx apareceram no mesmojornal, em agosto de 1844. Sob o título pouco atra-tivo – “Glosas críticas” – esconde‑se um texto extre-mamente importante do ponto de vista teórico, geral-mente ignorado pela literatura secundária.

O tema do debate entre Marx e Ruge é o levantedos tecelões da Silésia – província oriental da Prús-sia – em junho de 1844, a primeira revolta operáriana história alemã moderna, esmagada pela intervençãodo exército prussiano. Em homenagem aos insurretos,o poeta alemão exilado em Paris Heinrich Heine –

grande amigo de Marx – publicara, sempre noVorwärts! , um de seus mais célebres poemas políticos,“Os tecelões da Silésia”, que apresenta esses operáriosrebeldes como uma força prestes a tecer o mantomortuário da velha Alemanha monárquica e reacioná-ria. Aos olhos de Marx – mas também de vários de seus

amigos, como testemunha sua correspondência – esseacontecimento veio confirmar, de maneira surpreen-dente, sua previsão, de poucos meses antes – no artigosobre a filosofia do direito de Hegel*  publicado noinício de 1844 nos Anais Franco-Alemães  – acerca doproletariado como única classe verdadeiramente re-

volucionária na Alemanha.Contra Ruge, que considera o levante como umassunto puramente social, condenado ao fracassopela ausência de uma “alma política”, Marx insiste nasuperioridade da revolução social sobre a revoluçãounicamente política: enquanto a rebelião operária,mesmo local, tem uma “alma universal”, a rebelião

* Publicado como apndice em Karl Marx, Crítica da filosofia do direitode Hegel (2. ed., São Paulo, Boitempo, 2010), p. 145-57. (N. E.)

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Prefácio

política tem necessariamente “um espírito mesquinho”.A ousadia dos tecelões silesianos contrasta vivamentecom a “passividade” da burguesia alemã. Desse pontode vista, o artigo é uma brilhante análise da dinâmicada luta de classes na Alemanha, que será confirmada,pelo menos em parte, pelos acontecimentos de 1848:

energia revolucionária das massas populares que selevantaram em março de 1848, tergiversações e final-mente capitulação da burguesia liberal.

Segundo Marx, o levante silesiano de junho de 1844era dirigido não só contra as máquinas – como revol-tas similares na França e na Inglaterra (o assim chama-

do “luddismo”) – mas diretamente contra o poder dospatrões e dos banqueiros, assim como contra a pro-priedade privada burguesa. O resultado político foique o levante acabou por reforçar “o servilismo e aimpotência” da burguesia. Até aqui, a rebelião dostecelões parece confirmar as intuições de Marx em seu

artigo sobre a filosofia do direito de Hegel.Entretanto, a partir de sua análise do evento, Marxchega a uma conclusão nova – radicalmente distintamesmo – em relação a seu argumento no texto dosAnais Franco-Alemães :  ele descobre “a excelentepredisposição do proletariado alemão para o socialis-

mo”, “mesmo que se abstraia da teoria alemã”, isto é,sem a intervenção do “relâmpago do pensamento” dafilosofia alemã, elemento ativo da revolução segundoos termos do ensaio dos Anais .

Mais importante ainda: ele descobre, graças aolevante dos tecelões, que o proletariado não é o “ele-

mento passivo” da revolução – terminologia dos Anais  

– mas exatamento o contrário: “Somente no socialismoum povo filosófico encontrará a práxis que lhe corres-ponde, ou seja, somente no proletariado  encontrará o

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Lutas de classes na Alemanha

elemento ativo de sua libertação”. Só nessa frase en-contramos três temas novos em relação à sua perspec-tiva filosófica anterior, ainda bastante marcada pelaproblemática neo-hegeliana:

1. O povo e a filosofia não são mais representados

como duas entidades separadas, a segunda “pene-trando” a primeira (terminologia dos Anais ). A ex-pressão “povo filosófico” traduz a superação dia-lética dessa oposição.

2. O socialismo não é representado como uma teoriapura, uma ideia “nascida na cabeça do filósofo”(ensaio dos Anais ), mas como uma práxis.

3. O proletariado aparece agora, diretamente, comoo elemento ativo da emancipação.

Esses três elementos constituem já os primeirosfundamentos da teoria da autoemancipação revolu-cionária do proletariado: eles conduzem em direçãoà categoria da práxis revolucionária das “Teses sobreFeuerbach” (1845).

A crítica explícita do neo-hegelianismo e das ideiasde Feuerbach – espírito ativo versus  matéria passiva– será formulada nas “Teses” e na Ideologia alemã  (1846)*; mas as “Glosas críticas” de agosto de 1844

representam já uma ruptura implícita: a partir de umevento histórico concreto – o levante dos tecelões –elas põem em questão, através da polêmica com Ruge,não só a filosofia hegeliana do Estado e a concepçãoestreitamente “política” da emancipação – o que osartigos de Marx nos Anais Franco-Alemães já haviam

anunciado – mas também a concepção feuerbachiana

* Karl Marx e Friedrich Engels, A ideologia alemã  , cit. (N. E.)

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Prefácio

da relação entre a filosofia e o mundo, a teoria e aprática. Ao descobrir no proletariado o elemento ativo  da emancipação, Marx, sem se referir até então a Feu-erbach, rompe com o esquema que ainda era o seu nocomeço de 1844. Graças a essa tomada de posição

 prática  sobre o movimento revolucionário, o caminho

estava aberto para chegar à filosofia da práxis.Sem dúvida, pode-se considerar que Marx exagera,nesse artigo, a consciência socialista e revolucionáriado proletariado alemão, tal como se manifesta nesseevento de junho de 1844. Sua esperança no desenvol-vimento de uma revolução social na Alemanha não se

concretizará em 1848-49. Mas a problemática políti-co-filosófica do ensaio supera os limites dessa conjun-tura histórica precisa.

As “Reivindicações do Partido Comunista da Ale-manha” foram redigidas por Marx e Engels logo depois

do início da revolução na Alemanha, em março de1848; uma revolução que se enfrenta não só com amonarquia absoluta – apoiada no poderoso exércitoprussiano – mas também com as várias oligarquiasfeudais que dividiam o país. Esse documento, escritopouco depois do Manifesto Comunista , é um testemu-

nho da importância que tinha, para os dois lutadores,a intervenção dos comunistas no processo da luta declasses revolucionária que se iniciava. Como no casodo Manifesto , o “Partido Comunista” em questão é aomesmo tempo a pequena Liga dos Comunistas, cujosdirigentes, exilados, só depois de março de 1848 pu-deram voltar à Alemanha, e a corrente comunista nosentido amplo, histórico, da palavra.

Sabemos muito pouco sobre a difusão do documen-to na Alemanha, sua recepção por setores da população,

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Lutas de classes na Alemanha

seu possível impacto no curso dos acontecimentos.Temos, portanto, de nos limitar a uma análise de seuconteúdo. Trata-se de um programa que busca articulardialeticamente reivindicações democrático-burguesas,antifeudais, e outras, próprias às classes populares emesmo à classe operária. Em sua dinâmica geral, é um

programa democrático-revolucionário, mas que vai bemalém dos limites de uma simples transformação do re-gime político, incluindo medidas pouco compatíveiscom a propriedade privada burguesa. Ele revela, aomesmo tempo, a ampla visão revolucionária de Marx eEngels, sua preocupação tática – construir uma ampla

frente democrática e antifeudal, da qual a Nova Gaze- ta Renana  tentará, mais tarde, ser a expressão – e suasilusões iniciais na possibilidade de incluir a burguesiaalemã nessa aliança.

O exemplo mais evidente dessas ilusões é a espe-rança de que a criação de um banco de estado e a

introdução do papel moeda em vez do ouro permitiria“vincular os interesses dos burgueses conservadores àrevolução”. Logo depois dos primeiros meses da Re-volução alemã de 1848, Marx e Engels se darão contada impossibilidade de ganhar essa “burguesia conser-vadora” para o processo democrático-revolucionário.

Mais preocupada com o perigo que representa paraseus interesses a mobilização popular do que com asmanobras da reação feudal, ela tenderá cada vez mais,no curso de 1848, a capitular diante do poder monár-quico prussiano.

Entretanto, se se faz abstração dessas considera-

ções táticas, a reivindicação de que todos os bancosprivados sejam substituídos por um banco estatal éde uma incrível atualidade… em 2010. Em plena cri-se financeira internacional, provocada pela especu-

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Prefácio

lação bancária desenfreada, assistimos à mais impres-sionante operação mundial de “salva-bancos” nosprincipais centros capitalistas do mundo, com cente-nas de bilhões de dólares – oriundos do impostopago pela população – entregues, praticamente semcondições, aos principais bancos privados. A respos-

ta racional e lógica não teria sido aquela proposta porMarx e Engels, a expropriação dos bancos e a criaçãode um serviço bancário público? No curso da criseatual, essa reivindicação só foi levantada, em algunspaíses, pelos comunistas revolucionários e pelosanticapitalistas consequentes.

Voltando ao texto de 1848, a tonalidade principal,como já observamos, é democrático-radical. Repúbli-ca, sufrágio universal, educação popular gratuita, se-paração entre Igreja e Estado, justiça gratuita, impostoprogressivo, limitação do direito de herança são rei-vindicações clássicas de uma revolução democrática.Deve-se observar, entretanto, que muitas dessas de-

mandas – por exemplo, a abolição dos impostos sobreo consumo – nunca foram realizadas por nenhuma dasdemocracias (burguesas) realmente existentes até hoje.Outras só conheceram realizações parciais, mutiladaspelos interesses do capital: é o caso do forte impostoprogressivo, da limitação da herança etc.

É interessante notar que várias das reivindicações –em particular as que visam as propriedades e os tribu-tos feudais – têm por objetivo ganhar para a revoluçãoos camponeses, pequenos agricultores e arrendatários.Pode-se criticar um certo viés “estatal” dessas propos-tas – só mais tarde Marx e Engels vão se interessar

pelas tradições comunitárias camponesas – mas éevidente que os autores do documento estão perfeita-mente conscientes da importância dos camponesespara uma revolução democrática radical.

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Entretanto, outras demandas desse programa, semcolocar diretamente em questão o princípio da pro-priedade privada, acabam constituindo um conjuntoimpressionante de incursões do poder público nocampo econômico, limitando assim drasticamente oespaço para o mercado capitalista. É o caso da expro-

priação não só das propriedades feudais e dos bancos,já mencionados, mas do conjunto das minas e jazidas,assim como dos meios de transporte, e da instalaçãode fábricas nacionais, garantindo o emprego para todosos trabalhadores. Se acrescentamos a essas deman-das o armamento geral do povo, criando um “exérci-

to operário”, o programa supera implicitamente os li-mites de uma transformação puramente democrática,abrindo o caminho para uma transição pós-capitalista.

Em última análise, o programa visa unificar as clas-ses populares em um processo revolucionário cujadinâmica pode ir longe. Ele se dirige explicitamente,

em sua conclusão, à classe dos produtores da riqueza– o proletariado, os pequenos cidadãos e pequenos

agricultores – oprimida e explorada por um pequeno

número. Em poucas palavras, é um chamado à luta declasses, com um conjunto de reivindicações que bus-cam impulsionar a revolução democrática até seus

últimos limites, onde ela tende a se transformar emalgo mais radical, que fica apenas implícito1.

Se comparamos o Programa de março de 1848 coma “Mensagem do Comitê Central à Liga [dos Comunis-tas]”, de março de 1850, ficará evidente todo o cami-

1 A bem da verdade, deve-se notar a ausência, nesse programa, dereivindicações sobre os direitos das mulheres, já existentes na lite-ratura socialista da época, por exemplo nos escritos de Flora Tristan,bem conhecidos de Marx e Engels.

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Prefácio

nho percorrido por Marx e Engels nesses dois anos, ea nova concepção da revolução que resulta de suaexperiência das lutas de classes na Alemanha.

A “Mensagem do Comitê Central à Liga [dos Co-munistas]” foi uma circular enviada pelos dirigentesexilados da organização a seus militantes que haviam

permanecido na Alemanha. Refugiados em Londres,Marx e Engels acompanham de perto os últimos com-bates da revolução iniciada em março de 1848. Essamodesta circular interna é na verdade um dos docu-mentos políticos mais importantes escritos pelos auto-res do Manifesto . Baseado em uma apreciação perfei-

tamente ilusória e equivocada da situação naAlemanha, onde a contrarrevolução já havia ganhadoa partida, ela prefigura entretanto as principais revo-luções do século XX. Na realidade, esse documentocontém a formulação mais explícita e coerente, naobra de Marx e Engels, da ideia de revolução perma- 

nente , isto é, a intuição da possibilidade objetiva, emum país “atrasado”, absolutista e “semifeudal” comoa Alemanha nessa época, de uma articulação dialéticadas tarefas históricas da revolução democrática e darevolução proletária, em um só processo históricoininterrupto. Essa hipótese já aparecia, de uma forma

filosófica abstrata, no ensaio sobre Hegel dos AnaisFranco-Alemães , numa expressão filosófica mais con-creta no artigo do Vorwärts!  e, em termos mais direta-mente políticos, em alguns artigos sobre a revoluçãoalemã na Nova Gazeta Renana em 1848-49. É verda-de também que em outros escritos de Marx ou de

Engels, tanto antes como depois de 1850, encontramosanálises que partem de uma perspectiva histórica bas-tante distinta, considerando o desenvolvimento docapitalismo industrial ou o estabelecimento de uma

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república parlamentar burguesa como uma etapa his-tórica distinta, anterior à luta pelo socialismo. A tensão,não resolvida, entre “permanentismo” e “etapismo”atravessa a obra dos dois pensadores revolucionários.

A circular de 1850 se encontra resolutamente nocampo do “permanentismo”. Constatando a capitula-

ção da burguesia liberal diante do absolutismo, elapropõe aos comunistas alemães trabalhar para construiruma aliança do proletariado alemão com as forçasdemocráticas da pequena burguesia, contra a coalizãoreacionária entre a monarquia, os proprietários fun-diários e a grande burguesia. Entretanto, essa coalizão

democrática é concebida como um momento transi-tório em um processo revolucionário “permanente”,até a supressão da propriedade burguesa e o estabele-cimento de uma nova sociedade, uma sociedade semclasses – não somente na Alemanha, mas em escalainternacional. Para isso, seria necessário que os ope-

rários formassem seus próprios comitês, seus governosrevolucionários locais, e sua guarda proletária arma-da. Nada disso era possível na Alemanha de 1850– o erro de avaliação de Marx e Engels é evidente, eeles próprios vão se dar conta do equívoco algunsmeses mais tarde. No entanto, existe uma semelhan-

ça impressionante com o que vai se passar, numoutro contexto histórico, claro, na Rússia em 1917:conselhos operários, guarda armada proletária, duplopoder, revolução em permanência até a supressão dapropriedade capitalista.

Documento interno da Liga dos Comunistas, a

circular de 1850 foi publicada pela primeira vez porEngels, como um anexo do livro de MarxEnthüllungen

über den Kommunisten-Prozess zu Köln  [Revelaçõessobre o processo dos comunistas de Colônia], editado

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Prefácio

em Zurique, na Suíça, em 1885. Como era de se prever,provocou severas críticas da parte dos social-democra-tas alemães mais moderados; por exemplo, EduardBernstein, em seu livro Os pressupostos do socialismo

(1898), denuncia a “revolução em permanência” comouma formulação “blanquista”. Ora, não se encontra nem

o conceito nem o termo nos escritos do grande revolu-cionário do século XIX, Auguste Blanqui. Na realidade,a fonte mais provável do termo são os escritos sobre ahistória da Revolução Francesa que Marx havia estuda-do e anotado em 1844-46, nos quais se mencionava ofato de os clubes revolucionários se reunirem “em per-

manência”. Bernstein considera também, mas dessa vezcom razão, que a dialética  é a fonte de inspiração me-todológica das ideias avançadas na circular. Segundoele, a ideia da transformação da futura explosão revo-lucionária na Alemanha em uma “revolução permanen-te” era fruto da dialética hegeliana – um método “tanto

mais perigoso quanto não é nunca inteiramente falso”–, que permite “passar bruscamente da análise econô-mica à violência política”, já que “cada coisa traz emsi o seu contrário”2.

Com efeito, é unicamente graças à sua metodologiadialética que Marx e Engels foram capazes de superar

o dualismo rígido e estático separando a evolução eco-nômica e a ação política, a revolução democrática e arevolução socialista. É sua compreensão da unidadecontraditória desses diferentes momentos e da possibi-lidade de saltos qualitativos –  as “passagens bruscas”de que fala Bernstein – no processo histórico que lhes

permitiu esboçar a problemática da revolução perma-

2 E. Bernstein, Les préssuposés du socialisme  (1899) (Paris, Seuil,1974), p. 67.

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nente. Contra esse método dialético, Bernstein nãoconsegue propor outra coisa além de um “recurso aoempirismo” como “único meio de evitar os piores erros”.Dialética contra empirismo: Bernstein não se equivocou,seria difícil definir de maneira mais precisa as premis-sas metodológicas que se enfrentam nessa polêmica.

Curiosamente, quando Leon Trotski formula, pelaprimeira vez, sua teoria da revolução permanente naRússia, na brochura Balanço e perspectivas  (1906), elenão parece conhecer a “Mensagem do Comitê Centralà Liga [dos Comunistas]”; sua fonte terminológica éum artigo sobre a Rússia publicado em 1905 pelo bió-

grafo socialista alemão de Marx, Franz Mehring– 

 que,este sim, conhecia e havia lido o documento de 1850,mesmo que não o citasse em seu texto.

O interesse desse escrito “sob o calor da luta” deMarx e Engels é que, apesar do evidente erro “empíri-co” de sua análise da situação na Alemanha, elesconseguiram captar um aspecto essencial das revolu-ções sociais do século XX, não somente na Rússia mastambém na Espanha e nos países do Sul (Ásia e Amé-rica Latina): a fusão explosiva entre as revoluçõesdemocrática (e/ou anticolonial) e socialista, em umprocesso ininterrupto, “permanente”. Ideias similaresserão desenvolvidas – sem necessariamente conhecer

a circular de 1850 ou os escritos de Trotski – por mar-xistas latino-americanos, como José Carlos Mariáteguino fim dos anos 1920 e Ernesto “Che” Guevara em1967, ou africanos, como Amílcar Cabral. A proble-mática continua sendo atual, como o demonstra odebate sobre o “socialismo do século XXI”, em parti-

cular na América Latina.

Michael Löwy 

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Nos olhos sombriosnenhuma lágrima,

Sentados ao tear, elesrangem os dentes:

Alemanha, tecemos tuamortalha,

Tecemos nela a triplamaldição – 

Tecemos, tecemos!

Maldição sobre o Deus

ao qual rezamosno frio do inverno

e passando fome.Esperamos e persistimos

em vão – Ele nos iludiu, nos tapeou,

zombou de nós –

Tecemos, tecemos!

Maldição sobre o rei,o rei dos ricos,

que da nossa miséria nãose condoeu,

que de nós extorque até

o último vintém,e como a cães nos manda

fuzilar – Tecemos, tecemos!

Im düstern Auge keineTräne

Sie sitzen am Webstuhl undfletschen die Zähne:

Deutschland, wir webendein Leichentuch,

Wir weben hinein dendreifachen Fluch –

Wir weben, wir weben!

Ein Fluch dem Gotte, zu

dem wir gebetenIn Winterskälte und

Hungersnöten;Wir haben vergebens

gehofft und geharrt –Er hat uns geäfft, gefoppt

und genarrt –

Wir weben, wir weben!

Ein Fluch dem König, demKönig der Reichen,

Den unser Elend nichtkonnte erweichen

Der den letzten Groschen

von uns erpreßtUnd uns wie Hunde

erschiessen läßt –Wir weben, wir weben!

OS TECELÕES DA SILÉSIADIE SCHLESISCHEN WEBER

Heinrich Heine 

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Heinrich Heine

Maldição sobre o falsosolo pátrio,onde só viçam humilhação

e vergonha,onde cada flor bem cedo

é vergada,onde podridão e mofo

deleitam os vermes – Tecemos, tecemos.

Voa a lançadeira, rangeo tear

Tecemos sem parar, diae noite – 

Velha Alemanha, tecemostua mortalha,

Tecemos nela a triplamaldição – 

Tecemos, tecemos!

Ein Fluch dem falschenVaterlande,Wo nur gedeihen

Schmach und Schande,Wo jede Blume früh

geknickt,Wo Fäulnis und Moder

den Wurm erquickt –Wir weben, wir weben!

Das Schiffchen fliegt, derWebstuhl kracht,

Wir weben emsig Tagund Nacht –

Altdeutschland, wir webendein Leichentuch,

Wir weben hinein dendreifachen Fluch,

Wir weben, wir weben!

Fonte: http://gutenberg.spiegel.de/?id=5&xid=1136&kapitel=117&cHash=3da378c6dbhh000158#gb_found

Tradução: Nélio Schneider

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GLOSAS CRíTICAS AO ART IGO“‘O rei da Prssia e a reforma social’.

De um prussiano”1

Karl Marx

[1a parte: Vorwärts! , n. 63, 7 de agosto de 1844]

O nmero 60 do Vorwärts! [Avante!] contém umartigo intitulado “O rei da Prssia e a reforma so-cial”, assinado: “Um prussiano”.

De início, o pretenso prussiano* faz uma expo-sição do contedo da ordem expedida pelo gabi-nete real prussiano a respeito da revolta dos traba-lhadores silesianos e da opinião do jornal francês LaRéforme sobre a ordem do gabinete prussiano. OLa Réforme teria considerado o “susto e o sentimen-

to religioso” do rei como a fonte da ordem do gabi-nete. Teria vislumbrado nesse documento atmesmo o pressentimento das grandes reformas queestavam por sobrevir sociedade burguesa. O“prussiano” dá a seguinte lição no La Réforme.

O rei e a sociedade alemã ainda não cegou ao “pressen-

timento de sua reforma”2

 nem foram as revoltas silesianase bomias que geraram esse sentimento. é impossvelapresentar a um país apolítico como a Alemana a penria

 parcial dos distritos fabris como um problema universal e

1 Razões especiais me levam a declarar que este artigo é o primei-ro que forneci ao Vorwärts! para publicação.* Trata-se do filósofo e escritor Arnold Ruge, natural de Bergen,com quem Marx havia editado os Anais Franco-Alemães. (N. T.)2 Note-se o absurdo estilstico e gramatical: “O rei da Prssia e asociedade ainda não chegou ao pressentimento de sua” (a quemse refere esse “sua”?) “reforma”.

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Glosas críticas...

muito menos como um prejuízo para todo o mundo civi-lizado. Para os alemães, esse acontecimento possui omesmo caráter de uma calamidade local  causada porinundação ou fome. É por isso que o rei o toma como uma

 falha de administração ou de assistência caritativa. Por essarazão e porque bastou um pequeno contingente militarpara acabar com os frágeis teceles, a demolição das fá-

 bricas e máquinas tampouco causou “susto” no rei e nasautoridades. Isso mesmo! Nem sequer o sentimento reli-

 gioso  ditou a ordem de gabinete: ela uma expressão bastante sóbria da poltica cristã e de uma doutrina quenão permite que nenhuma dificuldade escape ao seunico remdio, a saber, “ boa intenção dos coraçescristãos”. Pobreza e crime são dois grandes males; quempode saná-los? O Estado e as autoridades? Não, mas aunião de todos os corações cristãos.

O pretenso prussiano nega que o rei tena leva-do um “susto”, entre outras coisas, porque bastouum pequeno contingente militar para acabar comos frágeis tecelões.

Ou seja, num pas em que banquetes com brin-des e espuma de campane liberais – mencione-se

a festividade de Düsseldorf – provocam uma ordemdo gabinete real* , em que não foi preciso recorrer aum soldado sequer para acabar com os anseios detoda a burguesia liberal por liberdade de imprensae Constituição, num pas em que a obedincia pas-siva está à l’ordre du jour [na ordem do dia] – numpaís assim, a necessidade de recorrer à força arma-

da contra frágeis tecelões não seria um acontecimen-to,  e um acontecimento assustador? Ademais, osfrágeis teceles obtiveram a vitória no primeiroconfronto. Eles só foram esmagados por um refor-

* Ordem do Gabinete de Frederico Guilerme de 18 de julo de1843, proibindo a participação de funcionários do governo emeventos organizados pelos liberais, como avia ocorrido no ban-quete de Düsseldorf, em comemoração abertura da stimaDieta Renana. (N. E. I.)

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ço de tropas que acorreu posteriormente. A revol-ta de um grupo de trabaladores seria menos pe-rigosa por não ter sido necessário recorrer aoexrcito para sufocá-la? O sabido prussiano com-pare a revolta dos tecelões silesianos com as revol-tas dos trabaladores ingleses e verá que os teceles

silesianos são tecelões poderosos.Com base na relação  geral  da  política  com asmazelas sociais , explicaremos porque a revolta dostecelões não foi capaz de dar um “susto” fora docomum no rei. Adiantaremos apenas isto: a revol-ta não estava voltada diretamente contra o rei daPrssia, mas contra a burguesia. Sendo aristocratae monarca absoluto, não á maneira de o rei daPrssia gostar da burguesia; e muito menos de seassustar quando o servilismo e a impotência destasão reforçados por uma relação tensa e complicadacom o proletariado. Mais ainda: o católico ortodo-xo é mais hostil ao protestante ortodoxo do que ao

ateísta, na mesma proporção em que o legitimistase mostra mais ostil ao liberal do que ao comunis-ta. Isso é assim, não porque o ateísta e o comunistatenam mais anidade respectivamente com ocatólico e o legitimista, mas porque les são maisestranos do que o protestante e o liberal, porque

se encontram fora do seu crculo. O rei da Prssia,como político, tem sua oposição direta na política,no liberalismo. Para o rei, não existe a oposição doproletariado, na mesma medida em que o rei nãoexiste para o proletariado. O proletariado já preci-saria ter obtido um poder decisivo para abafar as

antipatias e as oposições políticas e atrair toda ainimizade da poltica contra si mesmo. Por m:para o caráter do rei, conhecido por sua avidez pelointeressante  e signifcativo , deve ter sido inclusive

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Glosas críticas...

uma surpresa agradavelmente excitante encon-trar, em seu próprio território, aquele pauperismo“interessante” e “tão decantado” que lhe proporcio-nava a oportunidade de colocar-se novamente nocentro das conversas. Como deve ter sido agradá-vel a notícia de que já possuía um  pauperismo 

prussiano “ próprio”!Nosso “ prussiano” é ainda mais infeliz ao negarque o “sentimento religioso” tenha sido a fonte daordem do gabinete real. 

Por que o sentimento religioso não é a fonte daordem do gabinete? Por ser uma expressão “bas-tante sóbria da política cristã”, uma “expressãosóbria” da doutrina que “não permite que nenhumadiculdade escape ao seu nico remdio, a saber, boa intenção dos coraçes cristãos”.

O sentimento religioso não é a fonte da políticacristã ? Uma doutrina que tem como recurso uni-versal a boa intenção dos corações cristãos não está

 baseada no sentimento religioso? Uma expressãosóbria  do sentimento religioso deixa de ser umaexpressão do sentimento religioso? E tem mais!Armo tratar-se de um sentimento religioso muitocheio de si, inebriado até, este que nega ao “Estadoe à autoridade” a competência para a “solução de

 grandes males”, buscando-a na “união dos coraçõescristãos”. Trata-se de um sentimento religioso bas-tante inebriado , que – como admite o “prussiano”– vê todo o mal na falta de sentimento cristão e, emconsequncia, remete as autoridades ao nico re-curso que pode fortalecer esse sentimento: a “exor-tação”. Conforme o “prussiano”, a intenção cristã  éo objetivo da ordem de gabinete. é claro que osentimento religioso, quando está inebriado, quan-do não está sóbrio, considera-se o nico bem. Ao

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detectar um mal, atribui-o sua ausência , pois,sendo o nico bem, o nico que pode gerar o bem.Portanto, o sentimento religioso é que, por conse-quncia, dita a ordem de gabinete ditada pelosentimento religioso. Um político com sentimentoreligioso sóbrio não buscaria “auxlio” para a sua

“perplexidade” na “exortação à intenção cristãfeita por um pregador piedoso”.Então, de que maneira o pretenso prussiano

demonstra ao La Réforme que a ordem de gabine-te não é decorrência do sentimento religioso?Descrevendo, em toda parte, a ordem de gabine-te como decorrncia do sentimento religioso. Po-de-se esperar que uma cabeça tão ilógica  tenhaalguma noção dos movimentos sociais? Ouçamosa sua prosa sobre a relação entre a sociedade alemã  e o movimento operário e a reforma social de mo-do geral. 

Façamos o que o “prussiano” negligencia: dife-

renciemos as diversas categorias que foram subsu-midas na expressão “sociedade alemã ”: governo,

 burguesia, imprensa e, por m, os próprios traba-lhadores. Estas são as diversas  massas de que setrata aqui. O “prussiano” subsume essas massas eas condena em massa a partir de sua excelsa pers-

pectiva. De acordo com ele, a sociedade alemã  “aindanão chegou ao pressentimento de sua ‘reforma’”.

Por que le falta esse instinto? O prussianoresponde o seguinte:

É impossível apresentar a um país apolítico como a Alema-na a penria parcial dos distritos fabris como um proble-ma universal e muito menos como um prejuízo para todoo mundo civilizado. Para os alemães, esse acontecimentopossui o mesmo caráter de uma calamidade local causadapor inundação ou fome. É por isso que o rei o toma comouma falha de administração ou de assistência caritativa.

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Glosas críticas...

O “prussiano”, portanto, explica essa com-preensão equivocada da penria dos trabaladoresa partir da peculiaridade de um país apolítico.

Admita-se que a Inglaterra seja um pas político.Admita-se, ademais, que a Inglaterra seja o país do

 pauperismo , tendo inclusive esse termo origem in-

glesa. Examinar a Inglaterra constitui, portanto, oexperimento mais seguro para obter conecimentosobre a relação entre um país político e o pauperismo.Na Inglaterra, a penria dos trabaladores não

 parcial , mas universal; ela não se limita aos distritosfabris, mas se estende aos distritos rurais. Nessepaís, os movimentos não se encontram em fase de

surgimento, mas são periodicamente recorrenteshá quase um século.

Ora, como a burguesia inglesa , além do governoe da imprensa a ela associados, compreendem o

 pauperismo? Na medida em que a burguesia inglesa admite

que o pauperismo é culpa da política , o whig encarao tory e o tory o whig como a causa do pauperismo.De acordo com o whig , as fontes principais do pau-perismo são o monopólio exercido pelo latifndioe a legislação que probe a importação de cereal.De acordo com o tory , o mal está todo concentrado

no liberalismo, na concorrncia, no sistema fabrillevado ao extremo. Nenhum dos partidos vê a razãona política em si; ao contrário, cada um a vê somen-te na política do partido contrário; nenhum dosdois partidos sequer sonha com uma reforma dasociedade.

A expressão mais categórica da compreensãoinglesa do pauperismo – continuamos falando dacompreensão própria da burguesia e do governoingleses – é a economia política inglesa , isto , o ree-

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xo cientco das condiçes em que se encontra aeconomia inglesa.McCulloch, aluno do cínico Ricardo e um dos

melhores e mais famosos economistas políticosingleses, que conhece as condições atuais e deve,portanto, possuir uma visão abrangente do movi-

mento da sociedade burguesa, ainda ousa, e istodurante uma preleção aberta ao pblico e sobaplausos, aplicar à economia política o que Bacondiz da losoa:

Aquele que, com verdadeira e incansável sabedoria, pro-tela o seu juízo e avança passo a passo, superando umapós outro os obstáculos que, como montanas, detm o

andamento do estudo, chegará a seu tempo ao cume daciência, onde se desfruta a paz e o ar puro, onde a nature-za se descortina aos olos em toda a sua beleza e de ondese pode descer por um trilho suavemente inclinado até osltimos detales da práxis.*

Que coisa boa o ar puro da atmosfera pestilentadas moradias nos porões ingleses! Que tremenda

beleza natural a das fantásticas roupas esfarrapadasdos pobres ingleses e do corpo murco, macilentodas muleres, consumidas pelo trabalo e pela mi-séria, a das crianças jogadas em montes de esterco,a dos fetos malformados gerados pelo excesso detrabalo na monótona atividade mecânica das fá-

 bricas! E que encantadores os últimos detalhes da práxis: a prostituição, o assassinato e a forca!At mesmo a parcela da burguesia inglesa que

está bem consciente do perigo representado pelopauperismo possui uma concepção não só particu-lar , mas tambm, para diz-lo sem rodeios, infantil e simplória desse perigo, assim como dos meios

para saná-lo.

* Marx não cita a fonte. (N. T.)

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Glosas críticas...

Por exemplo, o Dr. Kay, em sua brocura Recentmeasures for the promotion of education in England [Medidas recentes para a promoção da educação naInglaterra], reduz tudo à educação negligenciada. Eadivine-se a razão disso! é que, por decincia naeducação, o trabalador não compreende “as leis

naturais do comércio”, leis que necessariamente odegradam ao pauperismo. É por isso que ele se re-volta. Isso pode “causar embaraço  prosperidade dasfábricas inglesas e do comrcio ingls, abalar a con-ança recproca dos comerciantes, diminuir a esta-

 bilidade das instituiçes polticas e sociais”.Essa a dimensão da insensatez da burguesia

inglesa e de sua imprensa a respeito do paupe-rismo, a respeito dessa epidemia nacional que sepropaga na Inglaterra.

Pressupondo, portanto, que haja fundamentonas acusações que o nosso “prussiano” faz à socie-dade alemã, a razão disso estaria mesmo na condi-

ção apolítica da Alemanha? Mas, se de um lado a burguesia da Alemana apolítica  não conseguevisualizar a importância universal de um caso depenria parcial , a burguesia da Inglaterra politizada ,em contrapartida, consegue ignorar a importânciauniversal da penria universal, uma penria que

evidenciou sua importância universal em parte porsua recorrncia periódica no tempo, em parte pelapropagação no espaço e em parte pelo fracasso detodas as tentativas de saná-la.

Alm disso, o “prussiano” atribui condiçãoapolítica da Alemana o fato de o rei da Prssia

identicar a razão do pauperismo numa  falha deadministração e de benefcência e, em consequência,valer-se de medidas administrativas e benefcentes como meio para sanar o pauperismo.

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Lutas de classes na Alemanha

Mas essa visão das coisas seria própria do rei daPrssia? Lancemos um rápido olar para a Ingla-terra, o nico pas onde se pode falar de uma gran-de ação política voltada ao pauperismo.

A atual legislação inglesa referente aos pobresdata da lei constante do Ato no 43 do governo de

Elizabet3

. Em que consistem os meios de quedispe essa legislação? Na obrigação das paróquiasde prover auxlio aos seus trabaladores pobres,no imposto para os pobres, na benecncia legal.Essa legislação – a benecncia pela via da ad-ministração – durou dois sculos. Após longas edolorosas experincias, a que posicionamento ce-

gou o Parlamento em sua Amendment Bill [Lei dosPobres – emenda] de 1834?

De início, ele explica o terrível aumento do pau-perismo como “ falha administrativa”.

Em consequncia, reforma-se a administraçãodo imposto para os pobres, que era composta por

funcionários das respectivas paróquias. Formam-seuniões de cerca de vinte paróquias, que são postassob uma nica administração. Um Departamentode Funcionários – Board of Guardians –, de funcio-nários eleitos pelos contribuintes, rene-se emdeterminado dia na sede da união e toma decisões

quanto à licitude do auxílio. Essas comissões sãomanobradas e supervisionadas por delegados dogoverno, pela Comissão Central da Somerset Hou-se, do Ministério do Pauperismo , conforme a desig-nação certeira de um francês*. O capital que essaadministração supervisiona praticamente se igua-

3 Para os nossos propósitos, não preciso remontar ao Estatutodo trabalador, aprovado sob Eduardo III.

* Trata-se de Eugène Buret. (N. E. A.)

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la à soma dos custos de administração da guerrana França. O nmero de administraçes locaisempregadas por ela cega a 500, e cada uma dessasadministrações locais, por sua vez, oferece ocupa-ção a pelo menos doze funcionários.

O parlamento ingls não se restringiu reforma

 formal da administração.Ele detectou a fonte principal da condição agu-da do pauperismo ingls na própria Lei dos Pobres.O próprio meio legal contra a indigncia social, a

 benecncia, favoreceria a indigncia social. Quan-to ao pauperismo em termos gerais, ele seria uma

lei natural eterna , segundo a teoria de Malthus:Como a população procura incessantemente extrapolar osmeios de subsistncia, a beneficncia uma loucura, umincentivo pblico misria. Em consequncia, o Estadonada pode fazer alm de abandonar a misria sua sortee, quando muito, facilitar a morte dos miseráveis.

O Parlamento ingls combinou essa teoria decaráter humanitário com o parecer de que o pau-perismo seria a miséria inigida a si mesmo pelo tra-balhador , não devendo, em consequência, ser pre-venido como um infortnio, mas reprimido epunido como um crime.

Foi assim que surgiu o regime das workhouses ,isto , dos asilos de pobres, cuja organização inter-na dissuade os miseráveis de buscar nelas refgiopara não morrerem de fome. Nas workhouses , a be-necncia está engenosamente entrelaçada coma vingança  da burguesia contra o miserável queapela sua benecncia.

A primeira coisa que a Inglaterra tentou, por-tanto, foi acabar com o pauperismo por meio da

 benecncia e de medidas administrativas. Depois,

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ela não encarou o avanço progressivo do pauperis-mo como consequência necessária da indústriamoderna, mas como consequência do imposto inglês

 para os pobres. Ela compreendeu a penria universalcomo uma mera particularidade da legislação ingle-sa. O que antes era derivado de uma falha na bene-

cncia, passou a ser derivado de um excesso debenefcência. Por m, a misria foi vista como culpados miseráveis e, como tal, punida neles mesmos.

O signicado universal que a Inglaterra politiza-da extraiu do pauperismo restringe-se a isto: nodesdobramento do processo, apesar das medidasadministrativas, o pauperismo foi tomando aforma de uma instituição nacional , tornando-se, emconsequncia, inevitavelmente em objeto de umaadministração ramicada e bastante ampla, uma ad-ministração que, todavia, não possui mais a incum-

 bncia de sufocá-lo, mas de discipliná-lo , de per-petuá-lo. Essa administração desistiu de tentar

estancar a fonte do pauperismo valendo-se demeios  positivos; ela se restringe a cavar-le o t-mulo, valendo-se da benevolncia policial, todavez que ele brota da superfcie do pas ocial. OEstado inglês, longe de ir além das medidas ad-ministrativas e benecentes, retrocedeu aqum

delas. Ele se restringe a administrar aquele paupe-rismo que, de tão desesperado, deixa-se apanare jogar na prisão.

Portanto, até agora o “prussiano” não mostrounada de singular no procedimento do rei da Prssia.“Mas por quê ?”, exclama o grande homem com rara

ingenuidade: “Por que o rei da Prssia não ordenade imediato a educação de todas as crianças des-validas?” Por que ele se dirige primeiro s autori-dades e espera por seus planos e suas sugestões?

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Esse “prussiano” supersabido se tranquilizaráquando souber que, nesse ponto, o rei da Prssiaé tão pouco original quanto em suas demais ações,que ele inclusive adotou a nica maneira que umchefe de Estado pode adotar.

Napoleão quis acabar com a mendicância de

um só golpe. Ele encarregou suas autoridadesde preparar planos para a erradicação da mendi-cância de toda a França. O projeto foi sendo pro-telado; Napoleão perdeu a paciência e escreveu aoseu ministro do interior, Crtet, ordenando-le queacabasse com a mendicância no prazo de um mês;ele disse:

Não se deve transitar por esta Terra sem deixar marcas quenos recomendem memória da posteridade. Não me pe-çam mais três ou quatro meses para fazer verificações:tendes auditores jovens, prefeitos inteligentes, engenheirosde pontes e avenidas bem-formados; fazei com que todosse mexam e não fiquem dormitando no trabalo burocrá-tico abitual.

Em poucos meses, estava tudo feito. No dia 5de julo de 1808, foi promulgada a lei de repressão mendicância. De que maneira? Mediante osDpots [instituiçes de custódia policial], que setransformaram em penitenciárias com tanta rapi-dez que logo o pobre só conseguia cegar a essas

instituições pela via do tribunal da polícia correcional.E, não obstante, M. Noailles du Gard, membro docorpo de legisladores, exclamou:

Reconecimento eterno ao erói que assegura carnciaum refgio e pobreza os meios de subsistncia. A infân-cia não mais ficará abandonada, as famlias pobres não

carecerão mais de recursos, nem os trabaladores do en-corajamento e da ocupação. Nos pas ne seront plus arrêtés per l’image dégoûtante des infirmités et de la honteuse misère [Não seremos mais molestados pela visão repugnante dasenfermidades e da vergonhosa miséria].

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A ltima passagem cnica constitui a nica ver-dade desse panegírico.Então, se Napoleão apela para o conhecimento

de causa de seus auditores, prefeitos e engenheiros,por que o rei da Prssia não faria o mesmo comsuas autoridades?

Por que Napoleão não ordenou de imediato asupressão da mendicância? Do mesmo calibre a pergunta do “prussiano”: “Por que o rei da Prs-sia não ordena de imediato a educação das criançasdesvalidas?” O “prussiano” sabe o que o rei deve-ria ordenar? Nada além do aniquilamento do prole-tariado. Para educar crianças é preciso alimentá-las e libertá-las do trabalho remunerado. A alimentação eeducação das crianças desvalidas, isto é, a alimen-tação e educação de todo o proletariado em fase decrescimento , representaria o aniquilamento do pro-letariado e do pauperismo.

Por um momento, a Convenção teve a coragem

de ordenar  a supressão do pauperismo, não “deimediato”, como exige o “prussiano” do seu rei, massó depois de ter encarregado o Comit de SadePblica da elaboração dos planos e projetos que sefaziam necessários e depois de esse Comitê terutilizado as investigaçes abrangentes da Assem-

 ble Constituante [Assembleia Constituinte] sobreo estado da miséria francesa para propor, pela vozde Barère, a instituição do Livre de la bienfaisancenationale [Livro da benecncia nacional], etc. Qualfoi a consequência da ordem da Convenção? A con-sequência foi que passou a haver uma ordem a mais

no mundo e que, um ano depois, a Convenção seriasitiada por mulheres famintas.A Convenção, contudo, era o suprassumo  da

energia política , do poder político e do senso político.

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De imediato, sem primeiro se entender com asautoridades, nenhum  governo do mundo emitiuordens  a respeito do pauperismo. O Parlamentoinglês até mesmo enviou comissários a todos ospaíses da Europa para tomar conhecimento dosdiferentes remdios administrativos contra o mes-

mo. Porm, na medida em que os Estados se ocu-param com o pauperismo, restringiram-se s medi-das administrativas e benefcentes  ou retrocederamaqum da administração e da benecncia.

O Estado pode agir de outro modo?O Estado jamais verá no “Estado e na organiza-

ção da sociedade” a razão das mazelas sociais , como

exige o prussiano do seu rei. Onde quer que ajapartidos políticos, cada um deles verá a razão detodo e qualquer mal no fato de seu adversário estarsegurando o timão do Estado. Nem mesmo os polí-ticos radicais e revolucionários procuram a razãodo mal na essência do Estado , mas em uma deter-

minada forma de Estado, que querem substituir poroutra forma de Estado.

Do ponto de vista político, Estado e organizaçãoda sociedade não são duas coisas distintas. O Esta-do é a organização da sociedade. Na medida emque o Estado admite a existência de anomalias

sociais, ele procura situá-las no âmbito das leis danatureza, que não recebem ordens do governoumano, ou no âmbito da vida privada , que é inde-pendente dele, ou ainda no âmbito da impropriedade da administração, que é dependente dele. Assim,para a Inglaterra a miséria está fundada na lei danatureza , segundo a qual a população constante eobrigatoriamente extrapola os meios de subsistn-cia. Numa outra perspectiva, ela explica o paupe-rismo a partir da má vontade dos pobres , assim como

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o rei da Prssia o explica a partir da mentalidade nãocristã dos ricos e a Convenção o explica a partir daintenção contrarrevolucionária suspeita dos pro-prietários. Consequentemente a Inglaterra pune ospobres, o rei da Prssia exorta os ricos e a Conven-ção decapita os proprietários.

Por m, todos os Estados buscam a causa nasfalhas casuais ou intencionais  da administração  e,por isso mesmo, em medidas administrativas oremdio para suas mazelas. Por qu? Justamenteporque a administração é a atividade organizado-ra do Estado.

O Estado não pode suprimir a contradição entre

a nalidade e a boa vontade da administração, porum lado, e seus meios e sua capacidade, por outro,sem suprimir a si próprio, pois ele está baseado nessa contradição. Ele está baseado na contradi-ção entre a vida pública e a vida privada , na contra-dição entre os interesses gerais e os interesses particu-

lares. Em consequência, a administração deverestringir-se a uma atividade formal e negativa,porque o seu poder termina onde começa a vida

 burguesa e seu labor. Sim, frente s consequnciasdecorrentes da natureza associal dessa vida bur-guesa, dessa propriedade privada, desse comércio,

dessa indstria, dessa espoliação recproca dosdiversos crculos burgueses, frente a essas conse-quências a lei natural da administração é a impotên-cia. Porque essa dilaceração, essa sordidez, esseescravismo da sociedade burguesa o fundamentonatural sobre o qual está baseado o Estado moder-no, assim como a sociedade “burguesa” do escra-vismo era o fundamento natural sobre o qual esta-va baseado o Estado antigo. A existncia do Estadoe a existência da escravidão são inseparáveis. A

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 fusão do Estado antigo com a escravidão antiga –antíteses clássicas declaradas – não era mais íntimado que a do Estado moderno com o moderno mun-do da bargana – antteses cristãs dissimuladas. Sequisesse eliminar a impotência de sua administra-ção, o Estado moderno teria de eliminar a atual vida

 privada. Se ele quisesse eliminar a vida privada,teria de eliminar a si mesmo, porque ele existe tãosomente como antítese a ela. Porém, nenhum viven-te julgará que as decincias de sua existncia este-

 jam fundadas no princípio de sua vida, na essênciade sua vida, mas sempre em circunstâncias exterio-res  sua vida. O suicdio antinatural. O Estado

não pode, portanto, acreditar que a impotência sejainerente à sua administração, ou seja, a si mesmo.Ele pode tão somente admitir decincias formais ecasuais na mesma e tentar corrigi-las. Se essas mo-dicaçes não surtem efeito, a mazela social umaimperfeição natural que independe do ser humano,

uma lei divina , ou a vontade das pessoas particula-res está corrompida demais para vir ao encontrodos bons propósitos da administração. E como sãopervertidas essas pessoas particulares! Eles recla-mam do governo toda vez que este limita sua liber-dade, mas exigem do governo que este impeça as

consequncias necessárias dessa liberdade!Quanto mais poderoso for o Estado, ou seja,quanto mais político for um país, tanto menos esta-rá inclinado a buscar no princípio do Estado , ou seja,na atual organização da sociedade, da qual o Estado expressão ativa, autoconsciente e ocial, a razãodas mazelas sociais e a compreender seu princípiouniversal. O entendimento político é entendimento

 político justamente porque pensa dentro dos limitesda política. Quanto mais aguçado, quanto mais

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ativo ele for, tanto menos capaz será de compreendermazelas sociais. O perodo clássico do entendimen-to político é a Revolução Francesa. Longe de vis-lumbrar no princpio do Estado a fonte das de-cincias sociais, os eróis da Revolução Francesaveem, antes, nas decincias sociais a fonte das ir-

regularidades polticas. Nessa lina, Robespierrev a vasta pobreza e a grande riqueza apenas comoum empecilho para a democracia pura. Em con-sequncia, ele deseja estabelecer uma frugalidadeespartana universal. O princpio da poltica a von-tade. Quanto mais unilateral, ou seja, quando mais

 bem-acabado for o entendimento  político , tanto

mais ele acredita naonipotência da vontade, tanto maiscego ele é para as limitações naturais e intelectuaisda vontade, tornando-se, portanto, tanto menoscapaz de desvendar a fonte das mazelas sociais. Nãohá necessidade de dizer mais nada contra a espe-rança simplória do “prussiano”, segundo a qual o

“entendimento político” é chamado a “desvendar a raizda penúria social para a Alemanha”.

Não só foi tolice exigir do rei da Prssia umpoder tal como nem a Convenção e Napoleão jun-tos possuram; tambm foi tolice esperar dele umavisão que ultrapassa os limites de toda a política,

uma visão que o sabido “prussiano” está tão longede possuir quanto o seu rei. A tolice dessa declara-ção ca ainda mais evidente quando o “prussiano”nos condencia o seguinte: “Belas palavras e boaintenção custam  barato; a noção das coisas e asaçes ecazes custam caro; nesse caso, elas até sãomais do que caras: elas ainda nem estão à venda”.

Se ainda nem estão à venda, então se deve daro devido reconhecimento a todo aquele que tentafazer o possível a partir de sua posição. Aliás, dei-

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xo ao tato do leitor decidir se, neste caso, a lingua-gem mercantilista do “barato”, “caro”, “mais doque caro”, “nem estão venda”, própria de umcigano, pode ser associada às categorias das “belaspalavras” e da “boa intenção”.

Portanto, supondo que as observaçes do “prus-

siano” sobre o governo alemão e a burguesia alemã– esta certamente deve estar incluída na “socieda-de alemã” – tenham total fundamento, essa parce-la da sociedade estaria mais perplexa na Alemanhado que na Inglaterra e na França? Seria possívelcar mais perplexo do que, por exemplo, na Ingla-terra, onde a perplexidade tomou a forma de sistema?

hoje, quando irrompem revoltas de trabaladoresem toda a Inglaterra, a burguesia e o governo da-quele pas não estão mais bem aparelados do queno ltimo terço do sculo XVIII. Seu nico recursoé a violência física, e como a violência física diminuina mesma proporção em que o pauperismo se

propaga e o conhecimento de causa do proletaria-do aumenta, a perplexidade inglesa necessariamen-te cresce em proporção geométrica.

Por m, inverdico e sem respaldo nos fatosque a burguesia alemã ignore inteiramente o sig-nicado universal da revolta silesiana. Em várias

cidades, os mestres-artesãos procuram se associaraos artesãos. Todos os jornais liberais alemães, osórgãos da burguesia liberal extravasam temáticascomo a organização do trabalo, a reforma da so-ciedade, a crtica aos monopólios e concorrnciaetc. Tudo em decorrência dos movimentos dostrabaladores. Os jornais de Trier, Aacen, Colônia,Wesel, Mannheim, Breslau e até de Berlim trazemcom frequncia artigos bastante lcidos sobrequestões sociais, com os quais o “prussiano” po-

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deria ao menos se instruir. E mais: cartas vindas daAlemanha externam continuamente sua admiraçãocom respeito fraca resistncia da burguesia stendências e ideias sociais.

Se o “prussiano” estivesse mais familiarizadocom a istória dos movimentos sociais teria for-

mulado sua pergunta ao inverso. Por que at mes-mo a burguesia alemã interpreta a penria parcialde modo relativamente tão universal? De ondeprovém a animosidade  e o cinismo  da burguesia

 política , de onde a falta de resistência e as simpatias da burguesia apolítica para com o proletariado?

[2a parte: Vorwärts!, n. 64, 10 de agosto de 1844]

Passemos aos oráculos do “prussiano” sobre ostrabaladores alemães. Ele diz, gracejando:

Os alemães pobres não são mais inteligentes do que ospobres alemães, isto , em lugar nenum eles enxergamum palmo alm do seu fogão, de sua fábrica, do seu dis-trito: a alma política que a tudo impregna até agora aindaestá ausente de toda essa questão.

Para poder comparar a condição dos trabala-dores alemães com a condição dos trabaladores

franceses e ingleses, o “prussiano” deveria com-parar a forma inicial , o começo dos movimentosdos trabaladores da França e da Inglaterra como movimento alemão recm-iniciado. Ele deixa defaz-lo. Consequentemente, o seu arrazoado levaa trivialidades, tais como: na Alemanha, a indústria 

ainda não está tão evoluída quanto na Inglaterra,ou que, na fase inicial, um movimento apresentatraços diferentes do que durante o seu desenvol-vimento. Sua intenção era discorrer sobre a pecu-

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liaridade do movimento dos trabaladores ale-mães. Ele não diz uma palavra sequer sobre esseseu tema.

Em vez disso, posicione-se o “prussiano” naperspectiva correta. Ele descobrirá que nem sequeruma das revoltas de trabaladores da França e daInglaterra teve um caráter tão teórico e consciente quanto a revolta dos tecelões da Silésia*.

Recordemos, em primeiro lugar, a canção dostecelões** , esse arrojado grito de guerra, na qual ofogão, a fábrica e o distrito nem sequer são men-cionados; ao contrário, o proletariado proclama deimediato a sua contrariedade com a sociedade da

propriedade privada, e isto de maneira contunden-te, cortante, resoluta e violenta. A revolta silesianacomeça justamente no ponto em que as revoltasdos trabaladores da França e da Inglaterra termi-nam, ou seja, consciente da essência do proletaria-do. A própria ação possui esse caráter superior. Nãosão destruídas apenas as máquinas, essas rivais dostrabaladores, mas tambm os livros contábeis , osttulos de propriedade, e, ao passo que todos os de-mais movimentos se voltaram apenas contra o in-dustrial , o inimigo visível, este movimento se voltousimultaneamente contra o banqueiro, o inimigooculto. Por m, nenuma revolta de trabaladores

da Inglaterra foi conduzida com tanta bravura,ponderação e persistência.

* De 4 a 6 de juno de 1844, os teceles dos povoados silesianosde Langenbielau (Bielaa) e Petersaldau (Pieszyce) se revolta-ram contra os mtodos brutais de espoliação e a redução de salá-rios. No mesmo ano, os trabaladores txteis de Praga e de outros

centros industriais da Bomia tomaram as fábricas e destruramas máquinas. (N. E. A.)

** Marx se refere à canção Das Blutgericht [O tribunal de morte],muito difundida nas regiões têxteis às vésperas da revolta dosteceles. (N. E. A.)

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No que se refere ao nível de instrução ou o po-tencial de formação dos trabaladores alemães emgeral, faço menção aos escritos geniais de Weitling,que no aspecto teórico muitas vezes vão alm dopróprio Proudon, por mais que quem aqumdele no aspecto da exposição. Onde a burguesia

encontraria – inclusive entre seus lósofos e escri- bas – obra similar a Garantien der Harmonie undFreiheit  [Garantias de armonia e liberdade], deWeitling, para apresentar em relação à emancipa-ção da burguesia – a sua emancipação poltica? Acomparação entre a mediocridade sóbria e acana-

da da literatura política alemã e essa estreia literá-ria descomunal e brilante dos trabaladores ale-mães; a comparação entre esses gigantescos sapatosinfantis do proletariado e o nanismo dos desgasta-dos sapatos polticos da burguesia alemã levanecessariamente a profetizar um porte atlético para 

a Cinderela alemã . É preciso reconhecer que oproletariado alemão constitui o teórico do proleta-riado europeu, assim como o proletariado inglês éseu economista político e o proletariado francês seupolítico. É preciso reconhecer que a Alemanhapossui uma vocação clássica para a revoluçãosocial ,

que é do tamanho da sua incapacidade para a re-volução política. Porque assim como a impotênciada burguesia alemã equivale impotncia política da Alemanha, a predisposição do proletariadoalemão é a predisposição social  da Alemanha –mesmo que se abstraia da teoria alemã. O descom-passo entre o desenvolvimento losóco e o de-senvolvimento político na Alemanha não constituinenhuma anormalidade. Trata-se de um descom-passo necessário. Somente no socialismo um povo

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losóco encontrará a práxis que lhe corresponde,ou seja, somente no proletariado encontrará oelemento ativo de sua libertação.

Todavia, neste momento não tenho tempo nemvontade de explicar ao “prussiano” a relação entrea “sociedade alemã” e a revolução social e, a partir

dessa relação, a fraca reação da burguesia alemãao socialismo, por um lado, e, por outro, a excelen-te predisposição do proletariado alemão para osocialismo. Ele encontrará os elementos iniciaispara a compreensão desse fenômeno na minha“Crtica da losoa do direito de hegel – Intro-dução” (in: Anais Franco-Alemães)*.

Portanto, a inteligência dos alemães pobres é in-versamente proporcional à inteligência dos pobresalemães. No entanto, pessoas que submetem qual-quer objeto a exerccios pblicos de estilo literáriosão levadas a um contedo equivocado por essamesma atividade formal , ao passo que o contedo

equivocado, por sua vez, imprime à forma o cunhoda banalidade. Assim sendo, a tentativa do “prus-siano” de adotar, no caso das agitaçes dos traba-lhadores silesianos, a forma da antítese, desenca-minou-o para a maior anttese com relação verdade. A nica tarefa que se impe a um crebro

pensante e que preza a verdade em vista da pri-meira irrupção da revolta dos trabaladores sile-sianos não consistia em bancar o mestre-escoladesse acontecimento, mas, antes, em estudar o seucaráter peculiar. Para isso necessita-se, todavia, dealguma noção cientca e um pouco de umani-dade, ao passo que, para a outra operação, é ple-

* Publicado como apndice em Karl Marx, Crítica da filosofia do di-reito de Hegel (2. ed., São Paulo, Boitempo, 2005), p. 145-57. (N. T.)

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namente suficiente dispor de uma fraseologiapronta embebida num amor-próprio ftil.Por que o “prussiano” faz um juízo tão depre-

ciativo dos trabaladores alemães? Porque ele julga que “toda essa questão” – a saber, a questãoda penria dos trabaladores – “até agora ainda”está desprovida da “alma política que a tudo im-pregna”. Ele explica mais detalhadamente o seuapreço platônico pela alma política como segue:

Serão sufocados em sangue e incompreensão todas as re-voltas que irromperem nesse funesto isolamento das pessoasem relação à comunidade e de suas ideias em relação aos prin-cípios sociais; porm, assim que a penria gerar o entendi-mento e o entendimento político dos alemães descobrir a

raiz da penria social, tambm na Alemana esses acon-tecimentos serão percebidos como sintomas de uma gran-de revolução.

Primeiramente o “prussiano” nos permita umaobservação estilística. A sua antítese está incomple-ta. Na primeira parte, consta que a penúria gera oentendimento , e, na segunda parte, que o entendi-mento político descobre a raiz da penúria social. Osimples entendimento da primeira parte da antítesese transforma em entendimento político na segun-da parte, assim como a simples penria da primeiraparte passa a ser penria social na segunda parte.Por que esse artista do estilo dotou ambas as par-

tes da antítese de maneira tão desigual? Não creioque ele tenha feito isso conscientemente. Farei ago-ra uma leitura do seu real instinto. Se o “prussiano”tivesse escrito: “A penria social gera o entendimen-to político e o entendimento político descobre a raizda penria social”, nenhum leitor imparcial teria

deixado de perceber o contrassenso dessa antte-se. A primeira coisa que cada um teria se pergun-tado é: por que o anônimo não associa o entendi-mento social penria social nem o entendimento

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Glosas críticas...

poltico penria poltica, como manda a lógicamais elementar? Mas, passemos à questão propria-mente dita!

é completamente falso armar que a  penúriasocial gera o entendimento político; antes, o inverso:é o bem-estar social que gera o entendimento político.O entendimento  político  é um espiritualista e édado àquele que já tem, àquele que já está confor-tavelmente acomodado em seu ninho. Nosso“prussiano” queira ouvir sobre isso um economis-ta político francês, o Sr. Michel Chevalier:

No ano de 1789, quando a burguesia se insurgiu, falta-va-le, para ser livre, apenas a participação no governo dopas. A sua libertação consistia em tirar a condução dasquestes pblicas, as mais altas funçes civis, militares ereligiosas das mãos dos privilegiados, que detinham omonopólio dessas funçes. Sendo rica e esclarecida, capazde bastar a si mesma e conduzir a si mesma, ela quissubtrair-se ao régime du bon plaisir [regime arbitrário].*

 Já demonstramos ao “prussiano” o quanto oentendimento político  incapaz de descobrir a fon-

te da penria social. Mais um  comentário sobreessa sua concepção. Quanto mais culto e universalfor o entendimento político de um povo, tanto maiso proletariado – ao menos no início do movimento– desperdiça suas forças em rebelies insensatas,inteis e sufocadas em sangue. Por pensar na forma

da poltica, ele vislumbra a causa de todas as ma-zelas na vontade e todos os meios para solucioná-lasna violência  e na derrubada de uma determinadaforma de Estado. Prova: as primeiras rebelies doproletariado  francês** . Os trabaladores de Lyon 

* Marx não cita a fonte. (N. T.)** As revoltas dos teceles de seda de Lyon, nos anos de 1831 e1834, foram os primeiros levantes autônomos da classe trabala-dora contra a burguesia, dando incio ao moderno movimentodos trabaladores. (N. E. A)

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acreditavam estar perseguindo apenas propósitospolticos, pensavam ser apenas soldados da rep- blica, quando, na verdade, eram soldados do so-cialismo. Desse modo, seu entendimento políticotoldou-les a visão para a raiz da penria social;desse modo, ele falsicou a compreensão do seureal propósito, de maneira que o seu entendimen-to político iludiu o seu instinto social.

Mas se o “prussiano” espera que a penria gereo entendimento, por que ele mistura “sufocamentosem sangue” com “sufocamentos em incompreensão”?Se a penria por si só já um meio de gerar enten-dimento, a penria sangrenta constitui um meio até

 bastante drástico de gerá-lo. O “prussiano” deveria,portanto, dizer: o sufocamento em sangue sufoca-rá a incompreensão e propiciará um fôlego consi-derável ao entendimento.

O “prussiano” vaticina o sufocamento das re-voltas que irrompem no “funesto isolamento daspessoas em relação à comunidade e de suas ideiasem relação aos princípios sociais”.

 Já mostramos que a revolta silesiana de modoalgum aconteceu com base na separação entreideias e princípios sociais. Resta a considerar aindao “funesto isolamento das pessoas em relação àcomunidade”. Por comunidade deve-se entender

aqui a comunidade política , o sistema estatal. É a velhaladainha da Alemanha apolítica.

Não irrompem todas as revoltas, sem exceção,no funesto isolamento das pessoas em relação àcomunidade? Toda e qualquer revolta não pressu-põe necessariamente o isolamento? A revolução

de 1789 teria acontecido se não fosse o funestoisolamento dos cidadãos franceses em relação àcomunidade? Ela justamente se propuna a acabarcom esse isolamento.

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Glosas críticas...

Contudo, a comunidade , em relação à qual o tra- balador está isolado, possui uma realidade e umadimensão bem diferentes daquelas que são própriasda comunidade política. Essa comunidade, da qualo seu próprio trabalho o separa, é a vida mesma, a vidafsica e espiritual, a moralidade umana, a ativi-

dade humana, o usufruto humano, a condição hu-mana. A condição humana  [menschliches Wesen] é averdadeira comunidade dos humanos [Gemeinwesender Menschen]. O funesto isolamento em relação aessa condição incomparavelmente mais abrangen-te, mais insuportável, mais terrível e mais contra-ditório do que o isolamento em relação comuni-

dade política; na mesma proporção, a eliminaçãodesse isolamento e até mesmo uma reação parciala ele, uma revolta contra ele, tem um alcance in-nitamente maior, assim como o ser umano inni-tamente maior do que o cidadão e a vida humana éinnitamente maior do que a vida política. Em con-

sequência, por mais parcial que seja, a revolta indus-trial  comporta uma alma universal e, por maisuniversal que seja, a revolta política abriga, sob suaforma mais colossal , um espírito mesquinho.

O “prussiano” conclui seu artigo dignamentecom a seguinte frase de efeito: “Uma revolução social

sem alma política (isto é, sem a noção organizadorada perspectiva do todo) impossvel”.O que se viu foi isto: uma revolução social en-

contra-se na perspectiva do todo  – mesmo queocorra em um  único  distrito fabril – por ser umprotesto do ser humano contra a vida desumani-zada, por partir da  perspectiva de cada indivíduoreal, porque a comunidade contra cujo isolamentoem relação a si o indivíduo se insurge é a verdadei-ra comunidade dos umanos, a saber, a condição

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humana. Em contrapartida, a alma política de umarevolução consiste na tendência  das classes seminuncia poltica de eliminar seu isolamento  emrelação ao sistema estatal e ao  governo. Sua pers-pectiva é a do Estado, a de um todo abstrato , quesomente ganha existência pelo isolamento em re-

lação à vida real, que é impensável sem a contraposi-ção organizada entre ideia universal e existênciaindividual do ser humano. Consequentemente umarevolução de alma poltica tambm organiza, emconformidade com a natureza restrita e contraditó-ria dessa alma, um círculo dominante na sociedade,à custa da sociedade.

Queremos condenciar ao “prussiano” o queé uma “revolução  social  com alma política”; si-multaneamente le conaremos o segredo de queele próprio não consegue, nem mesmo em seu

 palavreado , elevar-se acima de uma perspectivapoltica obtusa.

Uma revolução “social” com alma política po-de ser um contrassenso complexo, caso o “prussia-no” entenda por revolução “social” uma revolução“social” em contraposição a uma revolução pol-tica, emprestando, não obstante, revoluçãosocial uma alma política em vez de uma alma so-

cial. Ou uma “revolução social com alma poltica”nada mais é que uma paráfrase daquilo que, deresto, foi denominado de “revolução política” ou“revolução pura e simples”. Toda e qualquer revo-lução dissolve a antiga sociedade; nesse sentido, elaé social. Toda e qualquer revolução derruba o anti-

 go poder; nesse sentido, ela é política.O “prussiano” faça sua escola entre a pará frase 

e o contrassenso! Contudo, na mesma medida emque uma revolução com alma política é parafrásti-

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Glosas críticas...

ca ou absurda, uma revolução poltica com almasocial faz sentido. A revolução como tal – a derru- bada do poder constitudo e a dissolução das relaçõesantigas – é um ato político. No entanto, sem revolu-ção o socialismo não poderá se concretizar. Ele ne-cessita desse ato político , já que necessita recorrer à

destruição e à dissolução. Porém, quando tem inícioa sua atividade organizadora , quando se manifesta oseu próprio fm , quando se manifesta a sua alma , osocialismo se desfaz do seu invólucro político.

Todas essas digresses se zeram necessáriaspara arrebentar a trama de erros que se escondemnuma nica coluna de jornal. Nem todos os leitores

podem dispor da formação e do tempo para dar-seconta desse tipo de charlatanice literária. O “prus-siano” anônimo não teria, portanto, a obrigaçãoperante o pblico leitor de abdicar momentanea-mente de toda e qualquer produção literária nasáreas poltica e social, bem como das declamaçes

sobre as condiçes vigentes na Alemana, e, emvez disso, dar início a uma escrupulosa tomada deconscincia sobre sua própria condição?

Paris, 31 de julho de 1844

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REIVINDICAÇõES DO PARTIDOCOMUNISTA DA ALEMANhA

Karl Marx e Friedrich Engels

[Impresso por volta de30 de março de 1848]*

“Proletários de todos os pases, uni-vos!”1. Toda a Alemana será declarada uma rep-

 blica nica e indivisvel.2. Todo alemão com 21 anos de idade é eleitore elegível, contanto que não tenha sido condenadopor nenhum crime.

3. Os representantes do povo serão remuneradospara que tambm o trabalador possa assentar-se

no Parlamento do povo alemão.4. Armamento geral do povo. No futuro, os

exércitos serão simultaneamente exércitos operá-rios, de modo que o exército deixe de apenas con-sumir, como no passado, mas produza além donecessário para custear a sua manutenção.

Ademais, esse é um meio de organização dotrabalo.

5. A aplicação da justiça gratuita.6. Todo o ônus feudal, todos os tributos, corveias,

dzimos etc., que at agora pesavam sobre o povo docampo, serão abolidos sem qualquer indenização.

* Escrito entre 21 e 29 de março de 1848. Impresso tambm antesde 10 de setembro de 1848 em Colônia. (N. E. A.)

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Reivindicações do Partido Comunista da Alemanha

7. As propriedades rurais do prncipe e as de-mais propriedades feudais, todas as minas, jazidasetc. serão convertidas em propriedade do Estado.Nessas propriedades se praticará a agriculturaextensiva com os recursos mais modernos da ciên-cia em benefcio da coletividade.

8. As ipotecas sobre as propriedades agrcolasserão declaradas propriedade do Estado. Os jurossobre essas ipotecas serão pagos pelos agriculto-res ao Estado.

9. Nas regies em que se desenvolveu o siste-ma de arrendamento, a renda fundiária ou a taxa

de arrendamento serão pagas ao Estado a título deimposto.Todas as medidas propostas sob o pontos 6, 7,

8 e 9 são concebidas para diminuir o ônus pblicoe outras cargas que pesam sobre os agricultores epequenos arrendatários, sem reduzir os meios

necessários para fazer frente às despesas do Estadonem pôr em risco a própria produção.O proprietário de terras propriamente dito, que

não é agricultor nem arrendatário, não tem nenhu-ma participação na produção. Em consequência, oconsumo praticado por ele puro abuso.

10. Todos os bancos privados serão substitudospor um banco estatal, cujos papis terão curso legal.Essa medida torna possível regular o sistema de

crédito no interesse de todo o povo e, desse modo,solapa a dominação dos grandes homens de di-neiro. Substituindo aos poucos ouro e prata porpapel-moeda, ela barateia o instrumento indispen-sável do comrcio burgus, o meio universal detroca, e permite que ouro e prata se voltem para oexterior. Por m, essa medida necessária para

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Lutas de classes na Alemanha

vincular os interesses dos burgueses conservadoresà revolução.11. Todos os meios de transporte: ferrovias,

canais, barcos a vapor, estradas, postos etc. serãoassumidos pelo Estado. Eles serão convertidos empropriedade do Estado e colocados gratuitamente

à disposição da classe desprovida de recursos.12. Não haverá diferença na remuneração dosfuncionários pblicos, a não ser esta: aqueles com família, que portanto têm mais necessidades, rece-

 berão tambm um salário mais elevado que osdemais.

13. Separação completa de Igreja e Estado. Osreligiosos de todas as consses serão remuneradosapenas por suas comunidades em base voluntária.

14. Limitação do direito de erança.15. Introdução de um forte imposto progressivo

e abolição dos impostos sobre o consumo.

16. Instalação de fábricas nacionais. O Estadoassegura a subsistncia a todos os trabaladorese assiste os incapacitados para o trabalo.

17. Educação universal e gratuita do povo.É do interesse do proletariado alemão, das clas-

ses dos pequenos cidadãos e dos pequenos agri-cultores, empregar toda energia na implementaçãodas medidas acima. Porque só mediante a concre-tização das mesmas os milhões na Alemanha queforam exploradas at agora por um pequeno n-mero e que se procurará manter na opressão, ob-terão o direito e o poder que les cabe na qualida-de de produtoras de toda a riqueza.

O Comitê:

Karl Marx – Karl Schapper – H. BauerF. Engels – J. Moll – W. Wol 

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MENSAGEM DO COMITê CENTRAL à LIGA [DOS COMUNISTAS]

Karl Marx e Friedrich Engels

[Divulgada como circular em março de 1850]

O Comitê Central à Liga

Irmãos!

Nos dois anos de revolução, 1848 e 1849, a Ligase armou de duas maneiras: em primeiro lugar,porque, em toda parte, os seus membros intervie-ram energicamente no movimento e porque com-puseram a lina de frente na imprensa, nas barri-

cadas e nos campos de batala, integrando asleiras da nica classe decididamente revolucio-nária: o proletariado. Em segundo lugar, a Liga searmou porque a sua concepção do movimento,como cou assentada nas circulares dos congressose do Comit Central de 1847, assim como no Mani-

 festo Comunista , comprovou ser a nica acertada,porque as expectativas expressas naquelas atas se

cumpriram cabalmente e a visão das condiçesatuais da sociedade antes propagada apenas emsigilo pela Liga encontra-se agora na boca do povoe anunciada publicamente nos mercados. Aomesmo tempo, a organização antes rme da Ligafoi consideravelmente abrandada. Boa parte dosmembros diretamente envolvidos no movimentorevolucionário julga que o tempo das sociedades

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 Mensagem do Comitê Central à Liga [dos Comunistas]

secretas passou e que a atuação pblica por si só suciente. Os distritos e as comunidades individual-mente afrouxaram e foram desativando seus laçoscom o Comitê Central. Portanto, enquanto o partidodemocrático, o partido da pequena burguesia, or-ganizava-se cada vez mais na Alemana, o partido

operário perdeu seu nico ponto de sustentação,mantendo-se organizado, quando muito, em algu-mas localidades para ns locais, o que o levou, nodecurso geral do movimento, a submeter-se total-mente ao domínio e à liderança dos democrataspequeno-burgueses. Esse estado de coisas precisa

acabar; a autonomia dos trabaladores deve serrestabelecida. O Comit Central compreendeu essanecessidade e, por isso, enviou já no inverno de1848/1849 um emissário, Josep Moll, Alemanapara reorganizar a Liga. A missão de Moll, porém,não trouxe resultado duradouro, em parte porque

os trabaladores alemães ainda não tinam acumu-lado experincias sucientes, em parte porque ainsurreição de maio passado a interrompeu. O pró-prio Moll pôs-se em armas, ingressou no exrcitodo Baden-Palatinado e tombou no embate junto aorio Murg no dia 29 de juno. A Liga perdeu com ele

um de seus membros mais antigos, mais ativos emais conáveis, que avia participado ativamenteem todos os congressos e gestões do Comitê Centrale já antes disso havia cumprido com grande êxitouma srie de misses. Após a derrota dos partidosrevolucionários na Alemanha e na França em julhode 1849, quase todos os membros do Comit Centralse reagruparam em Londres, juntaram novas forçasrevolucionárias e passaram a promover com entu-siasmo renovado a reorganização da Liga.

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Lutas de classes na Alemanha

A reorganização só viável por meio de umemissário e o Comitê Central considera extrema-mente importante que dito emissário parta neste

 justo instante em que uma nova revolução é imi-nente, em que o partido operário deve atuar domodo mais organizado possvel, mais unânime

possível e mais autônomo possível, caso não quei-ra ser explorado e atrelado pela burguesia comoem 1848.

 Já no ano de 1848 vos dizamos, irmãos, que os burgueses liberais alemães logo cegariam ao go-verno e imediatamente voltariam esse poder re-

cm-conquistado contra os trabaladores. Vistesque isso se cumpriu como previsto. De fato foramos burgueses que, após o movimento de março de1848, imediatamente se apossaram do governo eusaram esse poder para fazer os trabaladores, seusaliados na luta, retrocederem à sua anterior condi-

ção de oprimidos. Mesmo que a burguesia nãotenha conseguido fazer isso sem se coligar com opartido feudal derrotado em março, chegando, nonal, a ceder novamente o governo a esse partidoabsolutista feudal, ela garantiu para si as condiçesque com o tempo, em virtude das diculdades -

nanceiras do governo, acabariam por colocar o poderem suas mãos e assegurariam todos os seus inte-resses, caso fosse possível ao movimento revolu-cionário ter uma assim camada evolução pacca

 já nesse momento. Para assegurar o poder, a bur-guesia nem mesmo teria necessidade de tornar-seodiada por tomar medidas violentas contra o povo,porque todos os atos de violência já foram cometi-dos pela contrarrevolução feudal. No entanto, osdesdobramentos não tomarão esse rumo pacco.

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 Mensagem do Comitê Central à Liga [dos Comunistas]

Ao contrário, a revolução que os apressará é imi-nente, seja porque será provocada pelo levanteautônomo do proletariado francês, seja porque aSanta Aliança* invadirá a Babel revolucionária.

E o papel que os burgueses liberais alemães de-sempenaram em 1848 em relação ao povo, esse

papel tão traiçoeiro será assumido, na revolução quese avizina, pelos pequeno-burgueses democráticos,que agora, enquanto oposição, tomam a mesmaposição que os burgueses liberais detinam antesde 1848. Esse partido, o democrático, que bem maisperigoso para os trabaladores do que o anterior

partido liberal, composto por trs elementos:I. Pelas parcelas mais avançadas da grande bur-guesia, cujo objetivo a derrubada completa eimediata do feudalismo e do absolutismo. Essafração é representada pelos antigos conciliadoresde Berlim, pelos que queriam recusar-se a pagar

impostos**.

* A Santa Aliança era uma coligação das forças contrarrevolucio-nárias que se opunha a todo e qualquer movimento progressistana Europa. Ela foi criada em 26 de setembro de 1815 por iniciati-va do czar Alexandre I pelos que haviam derrotado Napoleão.Aderiram a ela, junto com a Áustria e a Prssia, quase todos osEstados europeus. Os monarcas se comprometeram a oferecer

ajuda recíproca na repressão a revoluções onde quer que irrom-pessem. Nos anos de 1848/1849, as forças contrarrevolucionáriasna Europa fizeram uma série de tentativas no sentido de ressus-citar a Santa Aliança de 1815 na luta contra o movimento revolu-cionário. Todavia, não se cegou a firmar nenum pacto. (N. T.)

** Marx e Engels chamavam de conciliadores [Vereinbarer] os depu-tados da Assembleia Nacional da Prssia que, em maio de 1848,foram convocados a Berlim para elaborar a Constituição “median-te conciliação com a coroa”. Marx e Engels camavam a Assembleia

de Berlim, que renunciou soberania popular, de “Assembleia daconciliação”. Recusadores de impostos [Steuerverweigerer] foramcamados aqueles deputados burgueses “de esquerda” da Assem- bleia Nacional da Prssia, que pretendiam combater com resistn-cia passiva e “recusa a pagar impostos” o estado de sítio imposto

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Lutas de classes na Alemanha

II. Pelos pequeno-burgueses democrático-cons-titucionais, cujo objetivo principal durante o mo-vimento até aqui foi a criação de um Estado fede-rativo mais ou menos democrático, nos moldes emque este foi almejado por seus representantes, pe-los esquerdistas da Assembleia de Frankfurt e

depois pelo Parlamento de Stugart* , e por elespróprios na campana pela Constituição imperial.III. Pelos pequeno-burgueses republicanos, que

tm como ideal uma repblica federativa nos mol-des da Suíça e que agora se denominam vermelhose social-democratas porque nutrem o desejo pie-

doso de acabar com a pressão exercida pelo grandecapital sobre o pequeno, pelo grande burgus sobreo pequeno-burgus. Os representantes dessa fraçãoeram os membros dos congressos e comits demo-cráticos, os dirigentes das associações democráti-cas, os redatores dos jornais democráticos.

Depois de sua derrota, todas essas frações pas-saram a denominar-se republicanas ou vermelas,exatamente como procedem agora na França ospequeno-burgueses republicanos camando-se de

a Berlim no dia 1º de novembro de 1848, a instalação do ministrio

de Brandenburg no dia 4 de novembro, a ocupação de Berlim pelastropas do general Von wrangel no dia 10 de novembro e a plane- jada expulsão da Assembleia Nacional Constituinte (esta foi abertano dia 22 de maio de 1848, transferida para Brandenburg no dia 9de novembro e dissolvida no dia 5 de dezembro. (N. E. A.)

* A Assembleia Nacional de Frankfurt, que desde 18 de maio de1848 vina realizando suas sesses em Frankfurt foi obrigada atransferir sua sede para Stuttgart, depois que todos os deputadosda direita e, por conclamação do rei da Prssia de 14 de maio de

1849, tambm os deputados prussianos, aviam renunciado aoseu posto; em Stuttgart, a Assembleia realizou sua primeira ses-são no dia 6 de juno de 1849 com cerca de 100 membros restan-tes, sendo dispersada por força militar no dia 18 de juno de 1849.(N. E. A.)

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 Mensagem do Comitê Central à Liga [dos Comunistas]

socialistas. Onde ainda tm a oportunidade de per-seguir seus objetivos pelas vias constitucionais, comoem würemberg, na Baviera etc., eles a aproveitampara manter as suas velhas frases e demonstrar comsua ação que não mudaram no mais mnimo. é ób-vio, aliás, que o nome modicado desse partido não

muda nada em sua relação com os trabaladores,mas apenas demonstra que ele deve fazer frentecontra a burguesia coligada com o absolutismo epara isso precisa se apoiar no proletariado.

O partido democrático pequeno-burgus mui-to forte na Alemana, abrangendo não só a maioria

dos moradores burgueses das cidades, os pequenoscomerciantes industriais e os mestres-de-obras,mas contando tambm entre suas leiras com osagricultores e o proletariado rural, na medida emque este ainda não encontrou um ponto de apoiono proletariado autônomo das cidades.

A relação do partido operário revolucionário coma democracia pequeno-burguesa a seguinte: elea acompanha contra a fração que esta quer derru-

 bar; ele se contrape a ela em tudo que seus mem- bros querem estabelecer em favor de si mesmos.

Os pequeno-burgueses democráticos, longe de

querer revolucionar toda a sociedade em favor dosproletários revolucionários, almejam uma mudan-ça das condições sociais que torne a atual socieda-de o mais suportável e confortável possível paraeles. Por isso, eles exigem sobretudo a diminuiçãodos gastos estatais mediante a limitação da buro-cracia e o deslocamento do montante principal dosimpostos para os grandes proprietários de terra eos burgueses. Eles exigem, ademais, que seja su-primida a pressão do grande capital sobre o peque-

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no mediante instituiçes pblicas de crdito e leiscontra a usura, que possibilitariam a eles e aos agri-cultores obter adiantamentos em condiçes favorá-veis do Estado em vez de pedi-los dos capitalistas;além disso, exigem a implantação das relações depropriedade burguesas no campo mediante a elimi-

nação completa do feudalismo. Para conseguir rea-lizar isso tudo, eles necessitam de uma Constituição[Verfassung] nacional democrática, seja de cunhoconstitucional [konstitutionell] ou republicano, quedê a maioria a eles e a seus aliados, os agricultores;necessitam ainda de uma Constituição [Verfassung]

comunal democrática que lhes dê o controle diretoda propriedade comunal e transra para eles umasérie de funções que, no momento, são exercidaspelos burocratas.

à dominação e rápida multiplicação do capitalpretende-se contrapor, ademais, a restrição do di-

reito de herança, por um lado, e a transferência domaior nmero possvel de obras para o Estado, poroutro. No que se refere aos trabaladores, ca es-tabelecido sobretudo que eles continuarão nacondição de trabaladores assalariados como atagora, com a diferença de que os pequeno-burgue-

ses democráticos desejam que os trabaladorestenham melhores salários e uma existência assegu-rada e esperam conseguir isso mediante o empregoparcial por parte do Estado e mediante medidascaritativas; em suma, eles esperam conseguir su-

 bornar os trabaladores com esmolas mais oumenos dissimuladas e quebrar a sua força revolu-cionária tornando sua situação momentaneamentesuportável. As reivindicações da democracia pe-queno-burguesa aqui resumidas não são defendi-

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 Mensagem do Comitê Central à Liga [dos Comunistas]

das ao mesmo tempo por todas as suas frações epouquíssimas são as pessoas que as têm presentesem seu conjunto como um alvo bem determinadoa atingir. Quanto mais os indivíduos ou as fraçõesque compõem essa democracia avançarem, tantomais assumirão como suas essas reivindicações e

os poucos que reconhecem no que foi compiladoacima o seu próprio programa julgariam que des-se modo teriam proposto o máximo que se podeesperar da revolução. Porém essas reivindicaçõesde modo algum podem bastar ao partido do pro-letariado. Ao passo que os pequeno-burgueses

democráticos querem levar a revolução a cabo damaneira mais célere possível e mediante a realiza-ção, quando muito, das demandas acima mencio-nadas, é de nosso interesse e é nossa tarefa tornara revolução permanente até que todas as classesproprietárias em maior ou menor grau tenham sido

alijadas do poder, o poder estatal tenha sido con-quistado pelo proletariado e a associação dos pro-letários tena avançado, não só em um pas, masem todos os países dominantes no mundo inteiro,a tal ponto que a concorrência entre os proletáriostenha cessado nesses países e que ao menos as

forças produtivas decisivas estejam concentradasnas mãos dos proletários. Para nós, não se trata damodicar a propriedade privada, mas de aniquilá-la, não se trata de camuar as contradiçes declasse, mas de abolir as classes, não se trata demelhorar a sociedade vigente, mas de fundar umanova. Não á a menor dvida de que, no próximodesenvolvimento da revolução, a democraciapequeno-burguesa se tornará, por algum tempo, afração mais inuente na Alemana. A questão ,

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portanto, qual será o posicionamento do proleta-riado e especicamente da Liga frente a ela:1. enquanto perdurarem as condições atuais, em

que os democratas pequeno-burgueses são tambmoprimidos;

2. durante a luta revolucionária próxima que

lhes proporcionará a supremacia;3. depois dessa luta, durante o tempo de suasupremacia sobre as classes derrubadas e sobre oproletariado.

1. No momento presente, em que são oprimidosem toda parte, os pequeno-burgueses democráticos

pregam, em geral, união e reconciliação ao prole-tariado, estendem-le a mão e almejam a criaçãode um grande partido de oposição que acolha todosos matizes no partido democrático, ou seja, elesalmejam enredar os trabaladores numa organi-zação partidária, na qual predomine o fraseado

social-democrata genrico e vazio que encobre seusinteresses particulares e na qual não será permitidoapresentar as reivindicaçes bem determinadas doproletariado em função da bendita paz. Tal uniãotraria resultados vantajosos somente para eles eseria totalmente desvantajosa para o proletariado.

O proletariado perderia de vez sua posição autô-noma, conquistada a duras penas, e caria nova-mente relegado à condição de penduricalho dademocracia burguesa ocial. Essa união deve, por-tanto, ser rejeitada da forma mais decidida possível.Em vez de rebaixar-se uma vez mais ao papel decoro que aplaude os democratas burgueses, ostrabaladores, sobretudo a Liga, devem tomarprovidências no sentido de criar, paralelamente aosdemocratas ociais, uma organização autônoma

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 Mensagem do Comitê Central à Liga [dos Comunistas]

secreta e pblica do partido dos trabaladores,elegendo como centro e ncleo das associaçesoperárias toda comunidade em que a posição e osinteresses do proletariado sejam discutidos inde-pendentemente das inuncias burguesas. Quãopouco os democratas burgueses levam a srio uma

aliança em que guram lado a lado com os prole-tários em igualdade de poder e de direitos, eviden-ciam, por exemplo, os democratas de Breslau, queno seu órgão, a Neue Oder-Zeitung [Nova Gazetado Oder]* , atacam com ódio extremo os trabala-dores autonomamente organizados, que eles titu-

lam de socialistas. Para o caso de uma luta contraum adversário comum não há necessidade de ne-numa união especca. Quando cegar a ora decombater tal adversário diretamente, os interessesdos dois partidos coincidirão durante aquele mo-mento e, como ocorreu at agora, tambm no fu-

turo essa coligação se produzirá por si mesma paraaquele lapso de tempo. é claro que, nos conitossangrentos que se avizinham, como em todos osanteriores, serão principalmente os trabaladoresque, por sua coragem, sua determinação e abnega-ção, terão de conquistar a vitória. Como ocorreu

at agora, tambm nesse embate, os pequeno-bur-gueses em massa se comportarão, enquanto forpossível, de modo hesitante, irresoluto e inerte,para então, no momento em que a vitória estiverdecidida, encampá-la para si, exortar os trabala-dores calma e ao retorno ao seu labor domstico,

* Neue Oder-Zeitung  – diário de feição democrático-burguesa,publicado com esse nome em Breslau de 1849 a 1855. Nos anosde 1850, foi considerado o jornal mais radical da Alemana, sen-do perseguido pelos órgãos governamentais. (N. E. A.)

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prevenir assim chamados excessos e excluir o pro-letariado dos frutos da vitória. Os trabaladoresnão têm poder para impedir que os democrataspequeno-burgueses ajam dessa maneira, mas tmpoder para dicultar que se insurjam contra o pro-letariado armado e tm poder para ditar-les con-

dições tais que façam com que a dominação dosdemocratas burgueses traga em si de antemão ogerme da sua própria destruição e seja considera-velmente facilitada sua posterior supressão pelodomnio do proletariado. Antes de tudo, os traba-ladores devem, durante o conito e imediatamen-

te após a luta, agir tanto quanto possvel no sentidode contrapor-se s dissuases burguesas e obrigaros democratas a concretizar o seu fraseado terro-rista atual. Eles devem atuar no sentido de que aagitação revolucionária direta não seja novamentereprimida de imediato após a vitória. Eles devem,

ao contrário, preservá-la tanto quanto possvel.Bem longe de coibir os assim camados excessos,os exemplos da vingança popular contra indivídu-os ou prdios pblicos odiados que suscitam ape-nas lembranças odiosas, deve-se não só toleraresses exemplos, mas tambm assumir pessoalmen-

te a liderança da ação. Durante a luta e após a luta,os trabaladores devem aproveitar cada oportuni-dade para apresentar suas próprias reivindicaçesao lado das reivindicaçes dos democratas burgue-ses. Eles devem exigir garantias para os trabala-dores no momento em que os burgueses democra-tas zerem menção de assumir o governo. Casoseja necessário, eles devem forçar a cessão dessasgarantias e, de modo geral, tomar providênciaspara que os novos governantes se sintam no dever

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 Mensagem do Comitê Central à Liga [dos Comunistas]

de fazer-les todas as concesses e promessas pos-síveis – este é o meio mais seguro de comprome-t-los. Eles devem refrear de todas as maneirasqualquer euforia pela vitória e todo entusiasmo pelanova condição, que se instalam após cada embatevitorioso travado nas ruas, e devem fazer isso tanto

quanto possível através da apreensão serena e friadas condições dadas e de uma postura de descon-ança indissimulada para com o novo governo.Paralelamente aos novos governos ociais, elesdevem constituir simultaneamente os governosoperários revolucionários próprios, seja na forma

de diretorias comunais e conselhos comunais, sejapor meio de clubes operários ou comits operários,de modo que os governos democráticos burguesesnão só percam de imediato o respaldo que tinamnos trabaladores, mas se vejam de sada scaliza-dos e intimidados por instâncias representativas de

toda a massa dos trabaladores. Em suma: desde oprimeiro instante da vitória, a desconança nãomais deve ser dirigida contra o partido reacionárioderrotado, mas contra os que até ali foram seusaliados, contra o partido que pretende explorarsozino a vitória conquistada conjuntamente.

2. No entanto, para que os trabaladores tenamcondições de enfrentar de modo enérgico e intimi-dador esse partido que começará a tra-los já naprimeira ora após a vitória, eles precisam estararmados e organizados. O municiamento de todoo proletariado com espingardas, ries, artilaria emunição deve ocorrer imediatamente; deve-se agirno sentido de evitar a restauração da antiga guardacivil voltada contra os trabaladores. Porm, ondeisso não for exequvel, os trabaladores devem

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tentar organizar-se independentemente como guar-da proletária, com comandantes e um alto-coman-do eleitos por eles mesmos, colocando-se sob ocomando, não do poder estatal, mas dos conselhoscomunais revolucionários institudos pelos traba-ladores. Onde forem empregados s expensas do

Estado, os trabaladores devem exigir continuar deposse das armas e organizar-se em um corpo espe-cial com ceas escolidas por eles mesmos oucomo parte da guarda proletária. Armas e muniçãonão devem ser entregues sob nenum pretexto;qualquer tentativa de desarmamento deve ser frus-

trada, se necessário, com o uso da força. Aniquilaçãoda inuncia dos democratas burgueses sobre ostrabaladores, imediata organização autônoma earmada dos trabaladores e imposição das condi-çes mais dicultosas e comprometedoras possveispara o governo por ora inevitável da democracia

 burguesa: estes são os pontos principais que o pro-letariado e, consequentemente, a Liga devem ter emmente durante e após a revolta iminente.

3. Logo que os novos governos tiverem se con-solidado minimamente, começará a sua luta contraos trabaladores. Para que possam contrapor-se

vigorosamente aos pequeno-burgueses democrá-ticos nesse momento, necessário sobretudo queos trabaladores estejam autonomamente organi-zados e centralizados em clubes. Assim que forpossvel, após a derrubada dos governos vigentes,o Comitê Central se deslocará para a Alemanha,convocará imediatamente um congresso e lhe faráas necessárias exposições a respeito da centraliza-ção dos clubes operários sob uma direção nicaestabelecida na sede principal do movimento. A

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rápida organização, ao menos de um elo provincialentre os clubes operários, constitui um dos pontosprincipais para o fortalecimento e o desenvolvimen-to do partido operário; a consequência imediata daderrocada dos governos vigentes será a eleição deuma Assembleia Nacional. Em vista dela, o prole-

tariado deve tomar providências:I. Para que nenhuma artimanha de autoridadeslocais e comissários governamentais leve à exclusãode algum grupo de trabaladores, qualquer queseja o pretexto alegado;

II. Para que, em toda parte, ao lado dos candi-

datos democráticos burgueses, sejam propostoscandidatos operários que, dentro do possível, de-vem ser membros da Liga e cuja eleição deve serpromovida com todos os meios possíveis. Inclusi-ve onde não ouver nenuma perspectiva de obterxito no empreendimento, os trabaladores devem

propor seus próprios candidatos, a m de preservarsua independência, computar suas forças e apre-sentar publicamente sua posição revolucionária eos pontos de vista do partido. Eles não devem sedeixar cativar, nesse tocante, pela retórica dos de-mocratas, como, por exemplo: dessa maneira se

estaria fracionando o partido democrático e dando reação a possibilidade de cegar vitória. Nonal das contas, todo esse fraseado vazio tem umnico propósito: engambelar o proletariado. Osavanços que o partido proletário poderá fazeratravs dessa atuação independente são innita-mente mais importantes do que a desvantagemgerada pela presença de alguns reacionários entreos representantes. Se a democracia agir desde oinício de modo decidido e aterrorizante contra a

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reação, a inuncia desta sobre as eleiçes terá sidoanulada de antemão.O primeiro ponto que causará conito entre os

democratas pequeno-burgueses e os trabaladoresserá o da abolição do feudalismo; como na primei-ra Revolução Francesa, os pequeno-burgueses

quererão dar as terras dos feudos aos agricultorescomo propriedade livre, isto , manter o proletaria-do rural e formar uma classe de agricultores pe-queno-burgueses, que percorrerá o mesmo ciclo deempobrecimento e endividamento em que se en-contram até hoje os agricultores franceses.

Os trabaladores devem opor-se a esse planono interesse do proletariado rural e em seu própriointeresse. Eles devem exigir que a propriedadefeudal conscada permaneça na condição de bemestatal e seja empregada para formar colônias ope-rárias, que serão cultivadas pelo proletariado rural

associado com todas as vantagens da agriculturaextensiva e, ao mesmo tempo, farão com que oprincpio da propriedade comum receba uma baserme em meio s oscilantes relaçes de proprieda-de burguesas. Assim como os democratas se coli-garam com os agricultores, os trabaladores devem

se coligar com o proletariado rural*. Os democratas,

* As opiniões aqui expressas acerca da questão agrária guardamestreita relação com a apreciação geral das perspectivas de des-dobramento da revolução, que Marx e Engels aviam expressadonos anos de 1840 e de 1850. Naquela poca, a opinião dos funda-dores do socialismo científico era que o capitalismo já havia ca-

ducado e que o socialismo estava às portas. Partindo disso, no seu“Discurso”, Marx e Engels se manifestaram contrários à cessãodas terras confiscadas dos senhores feudais aos agricultores; eleseram a favor de sua transformação em propriedade estatal e suacessão a colônias de trabaladores do proletariado rural associa-

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 Mensagem do Comitê Central à Liga [dos Comunistas]

ademais, atuarão no sentido de instaurar direta-mente a repblica federativa ou, caso não consi-gam evitar a repblica una e indivisvel, ao menostentarão paralisar o governo central por meio damaior autonomia e independência possível dascomunas e províncias. Em vista desse plano, os

trabaladores devem atuar não só em favor da re-pblica alemã una e indivisvel, mas, dentro dela,tambm em favor da mais efetiva centralizaçãopossível do poder nas mãos do Estado. Eles nãodevem se deixar desencaminar pelo falatório de-mocrático a respeito da liberdade das comunidades,

do autogoverno etc. Num país como a Alemanha,onde ainda há tantos restos da Idade Média a eli-minar, onde ainda á tanta obstinação local e pro-vincial a quebrar, não se pode tolerar em circuns-tância nenuma que cada povoado, cada cidade,cada provncia pona um novo obstáculo no cami-

no da atividade revolucionária, que só pode desen-volver toda a sua força a partir do centro. – Nãose pode tolerar que se renove o estado de coisasatual, em que os alemães precisam lutar por umsó e mesmo progresso em cada cidade, em cadaprovíncia separadamente. Mas o que de forma

alguma se pode tolerar é que seja perenizada,

do. Respaldado nas experincias da Grande Revolução Socialistade outubro na Rssia, bem como nas experincias do movimentorevolucionário em outros países, Lenin aprofundou as ideiasmarxistas a respeito da questão agrária. Reconhecendo a utilida-de da manutenção da maioria das grandes empresas agrícolasapós a revolução nos pases capitalistas avançados, ele escreveu:

“Contudo, seria um erro gravíssimo exagerar essa regra ou pa-dronizá-la, jamais permitindo que os pequenos e s vezes tambmos mdios agricultores dos arredores obtenam gratuitamenteuma parcela das terras dos expropriadores expropriados” (Lenin, Ausgewählte Werke in zwei Bänden , v. II, p. 765). (N. E. A.)

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mediante uma assim chamada Constituição comu-nal livre, uma forma de propriedade que ficaaquém até da moderna propriedade privada e que,em toda parte, necessariamente acaba resultandonisto: a propriedade comunal e as desavenças delaresultantes entre comunas pobres e comunas ricas,

 bem como a vigncia paralela de direito civil na-cional e direito civil comunal com suas artimanhascontra os trabaladores. Como foi o caso na Fran-ça em 1793, oje na Alemana a execução da maisrígida centralização é a tarefa do partido realmen-te revolucionário1.

Vimos como os democratas chegarão ao poderno próximo movimento e como serão forçados apropor medidas mais ou menos socialistas. Pergun-tar-se-á que medidas os trabaladores deverão

1 Nota de Engels edição de 1885: “é preciso lembrar oje que

essa passagem se baseia num mal-entendido. Naquela poca –graças aos falsificadores bonapartistas e liberais da istória –,dava-se por assentado que a máquina administrativa centralizadados franceses havia sido introduzida pela grande Revolução eutilizada principalmente pela Convenção como arma indispensá-vel e decisiva para derrotar a reação monarquista e federalista eo inimigo externo. Agora, porém, é fato conhecido que, durantetodo o perodo da revolução at o 18 de brumário, toda a admi-nistração dos departements , dos arrondissements e das comunas era

formada por autoridades eleitas pelos próprios administrados, asquais se moviam com inteira liberdade no âmbito das leis geraisdo Estado; sabe-se agora que esse autogoverno provincial e local,semelante ao norte-americano, foi a alavanca mais poderosa daRevolução, e tanto o foi que Napoleão, imediatamente após o seugolpe de Estado em 18 de brumário, apressou-se a substitu-lopelo sistema dos prefeitos vigente ainda hoje, o qual desde oprincípio foi, portanto, puro instrumento da reação. Porém, assimcomo o autogoverno local e provincial não está em contradição

com a centralização nacional de cunho político, tampouco estánecessariamente atrelado àquele egoísmo cantonal ou comunalestreito, com cuja face asquerosa nos deparamos na Suíça e que,em 1849, todos os republicanos federalistas do sul da Alemanaqueriam tornar regra para toda a Alemanha”.

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propor em contrapartida. No início do movimen-to, os trabaladores naturalmente ainda não po-derão propor medidas diretamente comunistas.Mas eles podem:

1. Obrigar os democratas a interferir no maiornmero possvel de facetas da ordem social pregres-

sa, a perturbar o seu curso regular e a comprometera si próprios, bem como concentrar o maior nmeropossível de forças produtivas, meios de transporte,fábricas, ferrovias etc. nas mãos do Estado.

2. Eles devem exacerbar as propostas dos demo-cratas, que de qualquer modo não agirão de modo

revolucionário, mas meramente reformista, etransformá-las em ataques diretos propriedadeprivada; por exemplo, quando os pequeno-burgue-ses propuserem adquirir as ferrovias e as fábricas,os trabaladores devem exigir que essas ferroviase fábricas, sendo propriedade de reacionários,

sejam simplesmente confiscadas sem qualquerindenização. Quando os democratas propuseremo imposto proporcional, os trabaladores exigirãoo imposto progressivo; quando os próprios demo-cratas requererem um imposto progressivo mode-rado, os trabaladores insistirão num imposto cujas

taxas se elevam tão rapidamente que ele acabarádestruindo o grande capital; quando os democratasreivindicarem a regulamentação da dívida estatal,os trabaladores exigirão a bancarrota do Estado.As reivindicaçes dos trabaladores devem orien-tar-se, portanto, sempre nas concesses e medidaspropostas pelos democratas.

Caso os trabaladores alemães não consigamchegar ao poder e à concretização dos interessesde sua classe sem passar por todo um longo pro-

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cesso revolucionário, desta vez eles ao menos têma convicção de que o primeiro ato desse espetácu-lo revolucionário iminente coincide com a vitóriadireta de sua própria classe na França e acelera-do por esta.

Porm, eles próprios terão de realizar o principal

para lograr a vitória nal, mais precisamente, ob-tendo clareza sobre os interesses de sua classe,assumindo o mais depressa possível um posicio-namento partidário autônomo, não se deixandodemover em nenhum momento da organizaçãoindependente do partido do proletariado pelo

fraseado ipócrita dos pequeno-burgueses demo-cráticos. Seu grito de guerra deve ser: a revoluçãoem permanência.

Londres, março de 1850

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ÍNDICE ONOMÁSTICO

BARÉRE DE VIEUZAC, Bertrand (1755‑1841) – Juristafrancês, político da Revolução Francesa, deputado daConvenção, jacobino, participante ativo do golpe do9 de termidor. p. 37

BAUER, H. [Heinrich] (s.d.‑s.d.) – Sapateiro alemão,membro do Comitê Central da Liga dos Comunistas,emissário da Liga na Alemanha em março-abril de1850, emigrou em 1851 para a Austrália. p. 55

BURET, Antoine‑Eugène (1810‑1842) – Socialista peque-no-burguês e economista francês, partidário de Sis-mondi. p. 33

CHEVALIER, Michel (1806‑1879) – Engenheiro, economis-ta e jornalista francês. Nos anos 1830, adepto de Saint--Simon; mais tarde, defensor do livre-cambismo. p. 48

CRÉTET [Emmanuel] (1747‑1809) – Conde de Chapmol,político francês, Ministro do Interior de Napoleãoentre 1807 e 1809. p. 36

EDUARDO III (1312‑1377) – Rei da Inglaterra de 1327 a1377. p. 33

ELIZABETH I (1533‑1603) – Rainha da Inglaterra de 1558a 1603. p. 33

KAY-SHUTTLERWORTH, sir James Phillips (1804-1877)– Médico inglês que por muitos anos trabalhou nosbairros operários de Manchester. p. 32

McCULLOCH, John Ramsay (1789‑1864) – Economistainglês, discípulo de David Ricardo. p. 31

MOLL, Joseph (1812‑1849) – Relojoeiro de Colônia,membro do Comitê Central da Liga dos Comunistas e

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Índice onomástico

presidente da Associação dos operários de Colônia.Participou de um levante democrático e morreu emcombate com as forças prussianas. p. 55, 58

NAPOLEÃO BONAPARTE (1769‑1821) – Imperador daFrança (1804-1814 e 1815). Gênio militar e político,figura influente na Europa nos vinte anos que se segui-ram à Revolução Francesa. p. 36, 37, 41

NOAILLES DU GARD [Jacques-Barthélémy] (1758-1828)– Político francês, deputado na Assembleia Legislativaentre 1807 e 1815. p. 36

PROUDHON, Pierre‑Joseph (1809‑1865) – Filósofo fran-cês e socialista pequeno-burguês, um dos fundadoresteóricos do anarquismo. p. 45

RICARDO, David (1778‑1823) – Economista inglês, ex-

poente da economia política clássica. p. 31ROBESPIERRE, Maximilien-Marie-Isidor de (1758-1794)

– Político francês, líder jacobino e uma das principaisfiguras da Revolução Francesa; de 1793 a 1794 foichefe do governo revolucionário. p. 41

RUGE, Arnold (1802‑1880) – Filósofo e escritor alemão,hegeliano de esquerda, com quem Marx editou osAnais Franco-Alemães . p. 25

SCHAPPER, Karl (1813‑1870) – Membro do Comitê Cen-tral da Liga dos Comunistas, de fevereiro a maio de1849 foi presidente da Associação dos Operários deColônia. Participou com August Willich da cisão daLiga dos Comunistas contra Marx, mas logo reconhe-ceu seu erro e apoiou Marx. Em 1865, foi membro doConselho Geral da Primeira Internacional. p. 55

WEITLING, Wilhelm Christian (1808‑1871) – Alfaiatede profissão; um dos teóricos do comunismo utópico.p. 45

WOLFF, W. [Wilhelm] (1809‑1864) – Professor e jorna-lista, membro do Comitê Central da Liga dos Comu-nistas, em 1848-1849 foi redator da Nova GazetaRenana ; estabeleceu-se a partir de 1851 na Inglaterra.Grande amigo de Marx e Engels. p. 55

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CRONOLOGIA RESUMIDA

Karl Marx Friedrich Engels

1818 Em Trier (capital da provínciaalemã do Reno), nasce Karl Marx(5 de maio), o segundo de oitofilhos de Heinrich Marx e de

Enriqueta Pressburg. Trier naépoca era influenciada peloliberalismo revolucionáriofrancês e pela reação ao AntigoRegime, vinda da Prússia.

1820 Nasce Friedrich Engels(28 de novembro), primeirodos oito filhos de FriedrichEngels e Elizabeth Franziska

Mauritia van Haar, em Barmen,Alemanha. Cresce no seio deuma família de industriaisreligiosa e conservadora.

1824 O pai de Marx, nascido Hirschel,advogado e conselheiro de Justiça,é obrigado a abandonar ojudaísmo por motivos profissionaise políticos (os judeus estavam

proibidos de ocupar cargospúblicos na Renânia). Marx entrapara o Ginásio de Trier (outubro).

1830 Inicia seus estudos no LiceuFriedrich Wilhelm, em Trier.

1834 Engels ingressa, em outubro,no Ginásio de Elberfeld.

1835 Escreve Reflexões de um jovem perante a escolha de sua profissão .Presta exame final de bachareladoem Trier (24 de setembro).Inscreve-se na Universidadede Bonn.

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Cronologia resumida

Karl Marx Friedrich Engels

1836 Estuda Direito na Universidadede Bonn. Participa do Clube dePoetas e de associaçõesde estudantes. No verão, ficanoivo em segredo de Jenny vonWestphalen, sua vizinha em Trier.Em razão da oposição entreas famílias, casar-se-iam apenas

sete anos depois. Matricula-sena Universidade de Berlim.

Na juventude, ficaimpressionado com a misériaem que vivem os trabalhadoresdas fábricas de sua família.Escreve Poema .

1837 Transfere-se para a Universidadede Berlim e estuda com mestrescomo Gans e Savigny. EscreveCanções selvagens  eTransformações . Em carta ao pai,descreve sua relação contraditóriacom o hegelianismo, doutrinapredominante na época.

Por insistência do pai, Engelsdeixa o ginásio e começa atrabalhar nos negócios dafamília.Escreve História de um pirata .

1838 Entra para o Clube dos Doutores,encabeçado por Bruno Bauer.Perde o interesse pelo Direito eentrega-se com paixão ao estudoda filosofia, o que lhe comprometea saúde. Morre seu pai.

Estuda comércio em Bremen.Começa a escrever ensaiosliterários e sociopolíticos, poemase panfletos filosóficos emperiódicos como o Hamburg

 Journal  e o Telegraph fürDeutschland, entre eles o poema“O beduíno” (setembro), sobreo espírito da liberdade.

1839 Escreve o primeiro trabalhode envergadura, Briefe ausdem Wupperthal  [Cartas deWupperthal], sobre a vidaoperária em Barmen e navizinha Elberfeld (Telegraph fürDeutschland , primavera).Outros viriam, como Literatura

 popular alemã , Karl Beck  

e Memorabilia de Immermann .Estuda a filosofia de Hegel.

1840 K. F. Koeppen dedica a Marxseu estudo Friedrich der Grosse  und seine Widersacher  [Frederico,o Grande, e seus adversários].

Engels publica Réquiem parao Aldeszeitung alemão  (abril),Vida literária moderna , noMitternachtzeitung  (março--maio) e Cidade natal deSiegfried  (dezembro).

1841 Com uma tese sobre as diferençasentre as filosofias de Demócritoe Epicuro, Marx recebe em Ienao título de doutor em Filosofia(15 de abril). Volta a Trier. BrunoBauer, acusado de ateísmo,

Publica Ernst Moritz Arndt . Seupai o obriga a deixar a escolade comércio para dirigir osnegócios da família. Engelsprosseguiria sozinho seusestudos de filosofia, religião,

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Lutas de classes na Alemanha

Karl Marx Friedrich Engels

é expulso da cátedra de Teologiada Universidade de Bonn, comisso Marx perde a oportunidadede atuar como docente nessauniversidade.

literatura e política. Presta oserviço militar em Berlimpor um ano. Frequenta aUniversidade de Berlim comoouvinte e conhece os jovenshegelianos. Criticaintensamente oconservadorismo na figura

de Schelling, com os escritosSchelling em Hegel , Schelling ea revelação  e Schelling, filósofoem Cristo .

1842 Elabora seus primeiros trabalhoscomo publicista. Começa acolaborar com o jornal RheinischeZeitung  [Gazeta Renana],publicação da burguesia em

Colônia, do qual mais tarde seriaredator. Conhece Engels, que naocasião visitava o jornal.

Em Manchester assume a fiaçãodo pai, a Ermen & Engels.Conhece Mary Burns, jovemtrabalhadora irlandesa, queviveria com ele até a morte.

Mary e a irmã Lizzie mostram aEngels as dificuldades da vidaoperária, e ele inicia estudossobre os efeitos do capitalismono operariado inglês. Publicaartigos no Rheinische Zeitung ,entre eles “Crítica às leis deimprensa prussianas” e“Centralização e liberdade”.

1843 Sob o regime prussiano, é fechadoo Rheinische Zeitung . Marx casa-secom Jenny von Westphalen. Recusaconvite do governo prussiano paraser redator no diário oficial. Passa alua de mel em Kreuznach, onde sededica ao estudo de diversosautores, com destaque para Hegel.Redige os manuscritos que viriam aser conhecidos como Crítica dafilosofia do direito de Hegel  [ZurKritik der HegelschenRechtsphilosophie ]. Em outubro vaia Paris, onde Moses Hess e GeorgeHerwegh o apresentamàs sociedades secretas socialistase comunistas e às associaçõesoperárias alemãs.Conclui Sobre a questão judaica  [Zur Judenfrage ]. Substitui ArnoldRuge na direção dos Deutsch--Französische Jahrbücher  [AnaisFranco-Alemães]. Em dezembroinicia grande amizade comHeinrich Heine e conclui sua

Engels escreve, com EdgarBauer, o poema satírico “Comoa Bíblia escapa milagrosamentea um atentado impudente ouO triunfo da fé”, contra oobscurantismo religioso.O jornal Schweuzerisher Republicaner  publica suas“Cartas de Londres”. EmBradford, conhece o poetaG. Weerth. Começa a escreverpara a imprensa cartista.Mantém contato com a Liga dos

 Justos. Ao longo desse período,suas cartas à irmã favorita,Marie, revelam seu amor pelanatureza e por música, livros,pintura, viagens, esporte, vinho,cerveja e tabaco.

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Cronologia resumida

Karl Marx Friedrich Engels

“Crítica da filosofia do direito deHegel – Introdução” [Zur Kritikder Hegelschen Rechtsphilosophie– Einleitung ].

1844 Em colaboração com Arnold Ruge,elabora e publica o primeiro e únicovolume dos Deutsch-Französische

 Jahrbücher , no qual participa comdois artigos: “A questão judaica” e“Introdução a uma crítica da filosofiado direito de Hegel”. Escreve osManuscritos econômico-filosóficos  [Ökonomisch-philosophischeManuskripte ]. Colabora com oVorwärts! [Avante!], órgão deimprensa dos operários alemães naemigração. Conhece a Liga dos

 Justos, fundada por Weitling. Amigode Heine, Leroux, Blanc, Proudhone Bakunin, inicia em Paris estreitaamizade com Engels. Nasce Jenny,primeira filha de Marx. Rompe comRuge e desliga-se dos Deutsch--Französische Jahrbücher . O governodecreta a prisão de Marx, Ruge, Heinee Bernays pela colaboração nos

Deutsch-Französische Jahrbücher .Encontra Engels em Paris e em dezdias planejam seu primeiro trabalhojuntos, A sagrada família  [Die heiligeFamilie ]. Marx publica no Vorwärts!  artigo sobre a greve na Silésia.

Em fevereiro, Engels publicaEsboço para uma crítica daeconomia política  [Umrisse

zu einer Kritik derNationalökonomie ], texto queinfluenciou profundamenteMarx. Segue à frente dosnegócios do pai, escreve paraos Deutsch-Französische

 Jahrbücher  e colabora com ojornal Vorwärts! . DeixaManchester. Em Paris torna-seamigo de Marx, com quemdesenvolve atividadesmilitantes, o que os leva a criarlaços cada vez mais profundoscom as organizações detrabalhadores de Paris eBruxelas. Vai para Barmen.

1845 Por causa do artigo sobre a grevena Silésia, a pedido do governoprussiano Marx é expulso da

França, juntamente com Bakunin,Bürgers e Bornstedt. Muda-se paraBruxelas e, em colaboração comEngels, escreve e publica emFrankfurt A sagrada família . Amboscomeçam a escrever A ideologiaalemã  [Die deutsche Ideologie ]e Marx elabora “As teses sobreFeuerbach” [Thesen überFeuerbach ]. Em setembro nasceLaura, segunda filha de Marx e

 Jenny. Em dezembro, ele renunciaà nacionalidade prussiana.

As observações de Engels sobrea classe trabalhadora deManchester, feitas anos antes,

formam a base de uma de suasobras principais,A situação da classetrabalhadora na Inglaterra  [DieLage der arbeitenden Klasse inEngland ] (publicadaprimeiramente em alemão; aedição seria traduzida para oinglês 40 anos mais tarde). EmBarmen organiza debates sobreas ideias comunistas junto comHess e profere os Discursos deElberfeld . Em abril sai de Barmene encontra Marx em Bruxelas.

 Juntos, estudam economia e

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Lutas de classes na Alemanha

Karl Marx Friedrich Engels

fazem uma breve visita aManchester (julho e agosto),onde percorrem alguns jornaislocais, como o ManchesterGuardian  e o Volunteer Journalfor Lancashire and Cheshire .Lançada A situação da classetrabalhadora na Inglaterra , em

Leipzig. Começa sua vida emcomum com Mary Burns.

1846 Marx e Engels organizam emBruxelas o primeiro Comitê deCorrespondência da Liga dos Justos,uma rede de correspondentescomunistas em diversos países, aqual Proudhon se nega a integrar.Em carta a Annenkov, Marx critica

o recém-publicado Sistema dascontradições econômicas ouFilosofia da miséria  [Système descontradictions économiques ouPhilosophie de la misère ], deProudhon. Redige com Engels aZirkular gegen Kriege [Circularcontra Kriege], crítica a um alemãoemigrado dono de um periódicosocialista em Nova York. Por falta

de editor, Marx e Engels desistemde publicar A ideologia alemã  (a obra só seria publicada em 1932,na União Soviética). Em dezembronasce Edgar, o terceiro filhode Marx.

Seguindo instruções do Comitêde Bruxelas, Engels estabeleceestreitos contatos com socialistase comunistas franceses. Nooutono, ele se desloca para Pariscom a incumbência deestabelecer novos comitês de

correspondência. Participa deum encontro de trabalhadoresalemães em Paris, propagandoideias comunistas e discorrendosobre a utopia de Proudhon e osocialismo real de Karl Grün.

1847 Filia-se à Liga dos Justos,em seguida nomeada Liga

dos Comunistas. Realiza-seo primeiro congresso daassociação em Londres (junho),ocasião em que se encomenda aMarx e Engels um manifesto doscomunistas. Eles participam docongresso de trabalhadoresalemães em Bruxelas e, juntos,fundam a Associação OperáriaAlemã de Bruxelas. Marx é eleito

vice-presidente da AssociaçãoDemocrática. Conclui e publicaa edição francesa de Miséria dafilosofia  [Misère de la philosophie ](Bruxelas, julho).

Engels viaja a Londres eparticipa com Marx do I

Congresso da Liga dos Justos.Publica Princípios docomunismo  [Grundsätze desKommunismus ], uma “versãopreliminar” do ManifestoComunista  [Manifest derKommunistischen Partei ].Em Bruxelas, junto com Marx,participa da reunião daAssociação Democrática,

voltando em seguida a Parispara mais uma série deencontros. Depois de atividadesem Londres, volta a Bruxelas eescreve, com Marx, o ManifestoComunista .

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Cronologia resumida

Karl Marx Friedrich Engels

1848 Marx discursa sobre o livre--cambismo numa das reuniões daAssociação Democrática. ComEngels publica, em Londres(fevereiro), o Manifesto Comunista .O governo revolucionário francês,por meio de Ferdinand Flocon,convida Marx a morar em Paris

depois que o governo belga oexpulsa de Bruxelas. Redige comEngels “Reivindicações do PartidoComunista da Alemanha”[Forderungen der KommunistischenPartei in Deutschland ] e organiza oregresso dos membros alemães daLiga dos Comunistas à pátria. Comsua família e com Engels, muda-seem fins de maio para Colônia, ondeambos fundam o jornal Neue

Rheinische Zeitung  [Nova GazetaRenana], cuja primeira edição épublicada em 1º de junho com osubtítulo Organ der Demokratie .Marx começa a dirigir a AssociaçãoOperária de Colônia e acusaa burguesia alemã de traição.Proclama o terrorismorevolucionário como único meiode amenizar “as dores de parto”

da nova sociedade. Conclama aoboicote fiscal e à resistência armada.

Expulso da França por suasatividades políticas, chega aBruxelas no fim de janeiro.

 Juntamente com Marx, tomaparte na insurreição alemã, decuja derrota falaria quatro anosdepois em Revolução econtrarrevolução na Alemanha  

[Revolution undKonterevolution inDeutschland ]. Engels exerce ocargo de editor do NeueRheinische Zeitung , recém--criado por ele e Marx.Participa, em setembro,do Comitê de SegurançaPública criado para rechaçara contrarrevolução, durantegrande ato popular promovidopelo Neue Rheinische Zeitung .O periódico sofre suspensões,mas prossegue ativo. Procuradopela polícia, tenta se exilar naBélgica, onde é preso e depoisexpulso. Muda-se para a Suíça.

1849 Marx e Engels são absolvidos emprocesso por participação nosdistúrbios de Colônia (ataquesa autoridades publicados noNeue Rheinische Zeitung ). Ambosdefendem a liberdade de imprensana Alemanha. Marx é convidado a

deixar o país, mas ainda publicariaTrabalho assalariado e capital  [Lohnarbeit und Kapital ]. Operiódico, em difícil situação, éextinto (maio). Marx, em condiçãofinanceira precária (vende ospróprios móveis para pagar asdívidas), tenta voltar a Paris, mas,impedido de ficar, é obrigado adeixar a cidade em 24 horas. Graças

a uma campanha de arrecadação defundos promovida por FerdinandLassalle na Alemanha, Marx seestabelece com a família emLondres, onde nasce Guido, seuquarto filho (novembro).

Em janeiro, Engels retorna aColônia. Em maio, toma partemilitarmente na resistência àreação. À frente de um batalhãode operários, entra emElberfeld, motivo pelo qualsofre sanções legais por parte

das autoridades prussianas,enquanto Marx é convidado adeixar o país. Publicado oúltimo número do NeueRheinische Zeitung . Marxe Engels vão para o sudoeste daAlemanha, onde Engelsenvolve-se no levante deBaden--Palatinado, antes deseguir para Londres.

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Lutas de classes na Alemanha

Karl Marx Friedrich Engels

1850 Ainda em dificuldades financeiras,organiza a ajuda aos emigradosalemães. A Liga dos Comunistasreorganiza as sessões locais e éfundada a Sociedade Universaldos Comunistas Revolucionários,cuja liderança logo se fraciona.Edita em Londres a Neue

Rheinische Zeitung  [Nova GazetaRenana], revista de economiapolítica, bem como Lutas de classe

na França  [Die Klassenkämpfe in

Frankreich ]. Morre o filho Guido.

Publica A guerra dos

camponeses na Alemanha  [Der

deutsche Bauernkrieg ]. Emnovembro, retorna aManchester, onde viverápor vinte anos, e às suasatividades na Ermen & Engels; oêxito nos negócios possibilitaajudas financeiras a Marx.

1851 Continua em dificuldades, mas,graças ao êxito dos negócios deEngels em Manchester, conta com

ajuda financeira. Dedica-seintensamente aos estudos deeconomia na biblioteca do MuseuBritânico. Aceita o convite detrabalho do New York Daily

Tribune , mas é Engels quem enviaos primeiros textos, intitulados“Contrarrevolução na Alemanha”,publicados sob a assinatura deMarx. Hermann Becker publica emColônia o primeiro e único tomodos Ensaios escolhidos de Marx .Nasce Francisca (28 de março),quinta de seus filhos.

Engels, juntamente com Marx,começa a colaborar com oMovimento Cartista [Chartist

Movement]. Estuda língua,história e literatura eslava erussa.

1852 Envia ao periódico Die Revolution ,de Nova York, uma série de artigossobre O 18 de brumário de Luís

Bonaparte  [Der achtzehnte

Brumaire des Louis Bonaparte ].Sua proposta de dissolução daLiga dos Comunistas é acolhida. Adifícil situação financeira éamenizada com o trabalho para oNew York Daily Tribune . Morre afilha Francisca, nascida um anoantes.

Publica Revolução econtrarrevolução na Alemanha  [Revolution und Konterevolution

in Deutschland ]. Com Marx,elabora o panfleto O grande

homem do exílio  [Die grossen

Männer des Exils ] e uma obra,hoje desaparecida, chamadaOs grandes homens oficiais

da Emigração ; nela, atacamos dirigentes burgueses daemigração em Londres edefendem os revolucionários de

1848-1849. Expõem, em cartase artigos conjuntos, os planos dogoverno, da polícia e dojudiciário prussianos, textosque teriam grande repercussão.

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Cronologia resumida

Karl Marx Friedrich Engels

1853 Marx escreve, tanto para o NewYork Daily Tribune  quanto parao People’s Paper , inúmeros artigossobre temas da época. Sua precáriasaúde o impede de voltar aosestudos econômicos interrompidosno ano anterior, o que fariasomente em 1857. Retoma

a correspondência com Lassalle.

Escreve artigos para o New YorkDaily Tribune . Estuda o persa ea história dos países orientais.Publica, com Marx, artigossobre a Guerra da Crimeia.

1854 Continua colaborando como New York Daily Tribune , dessavez com artigos sobrea revolução espanhola.

1855 Começa a escrever parao Neue Oder Zeitung , de Breslau,e segue como colaborador doNew York Daily Tribune . Em 16 de

janeiro nasce Eleanor, sua sextafilha, e em 6 de abril morre Edgar,o terceiro.

Escreve uma série de artigospara o periódico Putman .

1856 Ganha a vida redigindo artigospara jornais. Discursa sobre oprogresso técnico e a revoluçãoproletária em uma festa doPeople’s Paper . Estuda a históriae a civilização dos povos eslavos.

A esposa Jenny recebe umaherança da mãe, o que permiteque a família mude para umapartamento mais confortável.

Acompanhado da mulher, MaryBurns, Engels visita a terra nataldela, a Irlanda.

1857 Retoma os estudos sobre economiapolítica, por considerar iminentenova crise econômica europeia.Fica no Museu Britânico das noveda manhã às sete da noite e

trabalha madrugada adentro. Sódescansa quando adoece e aosdomingos, nos passeios com afamília em Hampstead. O médicoo proíbe de trabalhar à noite.Começa a redigir os manuscritosque viriam a ser conhecidos comoGrundrisse der Kritik derPolitischen Ökonomie  [Esboços deuma crítica da economia política],

e que servirão de base à obra Paraa crítica da economia política  [ZurKritik der Politischen Ökonomie ].Escreve a célebre Introdução de1857 . Continua a colaborar noNew York Daily Tribune . Escreve

Adoece gravemente em maio.Analisa a situação no OrienteMédio, estuda a questão eslavae aprofunda suas reflexõessobre temas militares. Sua

contribuição para a NewAmerican Encyclopaedia  [NovaEnciclopédia Americana],versando sobre as guerras, fazde Engels um continuador deVon Clausewitz e um precursorde Lenin e Mao Tsé-Tung.Continua trocando cartas comMarx, discorrendo sobre a crisena Europa e nos Estados Unidos.

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Cronologia resumida

Karl Marx Friedrich Engels

com Lassalle um novo periódico.Reencontra velhos amigos e visitaa mãe em Trier. Não conseguerecuperar a nacionalidadeprussiana. Regressa a Londres eparticipa de uma ação em favorda libertação de Blanqui. Retomaseus trabalhos científicos e a

colaboração com o New York DailyTribune  e o Die Presse  de Viena.

1862 Trabalha o ano inteiro em suaobra científica e encontra-sevárias vezes com Lassalle paradiscutirem seus projetos. Emsuas cartas a Engels, desenvolveuma crítica à teoria ricardianasobre a renda da terra. O New

York Daily Tribune , justificando--se com a situação econômicainterna norte-americana, dispensaos serviços de Marx, o que reduzainda mais seus rendimentos.Viaja à Holanda e a Trier, enovas solicitações ao tio e à mãesão negadas. De volta a Londres,tenta um cargo de escrevente daferrovia, mas é reprovado por

causa da caligrafia.

1863 Marx continua seus estudos noMuseu Britânico e se dedicatambém à matemática. Começa aredação definitiva de O capital[Das Kapital ] e participa de açõespela independência da Polônia.Morre sua mãe (novembro),deixando-lhe algum dinheiro

como herança.

Morre, em Manchester, MaryBurns, companheira de Engels(6 de janeiro). Ele permaneceriamorando com a cunhadaLizzie. Esboça, mas nãoconclui, um texto sobrerebeliões camponesas.

1864 Malgrado a saúde, continuaa trabalhar em sua obra científica.É convidado a substituir Lassalle(morto em duelo) na AssociaçãoGeral dos Operários Alemães.O cargo, entretanto, é ocupadopor Becker. Apresenta o projetoe o estatuto de uma Associação

Internacional dos Trabalhadores,durante encontro internacionalno Saint Martin’s Hall de Londres.Marx elabora o Manifesto deInauguração da AssociaçãoInternacional dos Trabalhadores.

Engels participa da fundação daAssociação Internacional dosTrabalhadores, depoisconhecida como a PrimeiraInternacional. Torna-secoproprietário da Ermen &Engels. No segundo semestre,contribui, com Marx, para

o Sozial-Demokrat , periódicoda social-democracia alemãque populariza as ideias daInternacional na Alemanha.

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Lutas de classes na Alemanha

Karl Marx Friedrich Engels

1865 Conclui a primeira redaçãode O capital  e participa doConselho Central da Internacional(setembro), em Londres. Marxescreve Salário, preço e lucro  [Lohn, Preis und Profit ]. Publica noSozial-Demokrat  uma biografiade Proudhon, morto recentemente.

Conhece o socialista francês PaulLafargue, seu futuro genro.

Recebe Marx emManchester. Ambos rompemcom Schweitzer, diretordo Sozial-Demokrat , porsua orientação lassalliana.Suas conversas sobreo movimento da classetrabalhadora na Alemanha

resultam em artigo paraa imprensa. Engels publicaA questão militar na Prússiae o Partido Operário Alemão  [Die preussische Militärfrageund die deutscheArbeiterpartei ].

1866 Apesar dos intermináveisproblemas financeiros e de

saúde, Marx conclui a redaçãodo primeiro livro de O capital .Prepara a pauta do primeiroCongresso da Internacionale as teses do Conselho Central.Pronuncia discurso sobre asituação na Polônia.

Escreve a Marx sobre ostrabalhadores emigrados

da Alemanha e pede aintervenção do ConselhoGeral da Internacional.

1867 O editor Otto Meissner publica,

em Hamburgo, o primeiro volumede O capital . Os problemas deMarx o impedem de prosseguirno projeto. Redige instruçõespara Wilhelm Liebknecht,recém-ingressado na Dietaprussiana como representantesocial-democrata.

Engels estreita relações com

os revolucionários alemães,especialmente Liebknechte Bebel. Envia carta decongratulações a Marx pelapublicação do primeiro volumede O capital . Estuda as novasdescobertas da química eescreve artigos e matérias sobreO capital , com fins dedivulgação.

1868 Piora o estado de saúdede Marx, e Engels continuaajudando-o financeiramente.Marx elabora estudos sobreas formas primitivas depropriedade comunal, emespecial sobre o mir  russo.Corresponde-se com o russoDanielson e lê Dühring. Bakuninse declara discípulode Marx e funda a AliançaInternacional da Social--Democracia. Casamento dafilha Laura com Lafargue.

Engels elabora uma sinopsedo primeiro volume de Ocapital .

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Cronologia resumida

Karl Marx Friedrich Engels

1869 Liebknecht e Bebel fundamo Partido Operário Social--Democrata alemão, de linhamarxista. Marx, fugindo daspolícias da Europa continental,passa a viver em Londres, com afamília, na mais absolutamiséria. Continua os trabalhos

para o segundo livro de Ocapital . Vai a Paris sob nomefalso, onde permanece algumtempo na casa de Laura eLafargue. Mais tarde,acompanhado da filha Jenny,visita Kugelmann em Hannover.Estuda russo e a história daIrlanda. Corresponde-se comDe Paepe sobre o proudhonismoe concede uma entrevista aosindicalista Haman sobre aimportância da organizaçãodos trabalhadores.

Em Manchester, dissolve aempresa Ermen & Engels, quehavia assumido após a mortedo pai. Com um soldo anualde 350 libras, auxilia Marx esua família; com ele, mantémintensa correspondência.Começa a contribuir com o

Volksstaat , o órgão de imprensado Partido Social-Democrataalemão. Escreve uma pequenabiografia de Marx, publicadano Die Zukunft  (julho). Lançadaa primeira edição russado Manifesto Comunista. Em setembro, acompanhadode Lizzie, Marx e Eleanor, visitaa Irlanda.

1870 Continua interessado na situaçãorussa e em seu movimentorevolucionário. Em Genebrainstala-se uma seção russa daInternacional, na qual se acentuaa oposição entre Bakunin e Marx,

que redige e distribui umacircular confidencial sobre asatividades dos bakunistas e suaaliança. Redige o primeirocomunicado da Internacionalsobre a guerra franco-prussianae exerce, a partir do ConselhoCentral, uma grande atividade emfavor da República francesa. Pormeio de Serrailler, envia

instruções para os membros daInternacional presos em Paris.A filha Jenny colabora com Marxem artigos para A Marselhesa  sobre a repressão dos irlandesespor policiais britânicos.

Engels escreve História daIrlanda  [Die Geschichte Irlands ].Começa a colaborar com operiódico inglês Pall MallGazette , discorrendo sobre aguerra franco-prussiana. Deixa

Manchester em setembro,acompanhado de Lizzie, einstala-se em Londres parapromover a causa comunista. Lácontinua escrevendo para o PallMall Gazette , dessa vez sobre odesenvolvimento das oposições.É eleito por unanimidade parao Conselho Geral da PrimeiraInternacional. O contato com

o mundo do trabalho permitiu aEngels analisar, emprofundidade, as formas dedesenvolvimento do modo deprodução capitalista. Suasconclusões seriam utilizadas porMarx em O capital .

1871 Atua na Internacional em prolda Comuna de Paris. Instrui

Frankel e Varlin e redige o folhetoDer Bürgerkrieg in Frankreich  [A guerra civil na França].É violentamente atacado pelaimprensa conservadora. Emsetembro, durante a Internacional

Prossegue suas atividades noConselho Geral e atua junto à

Comuna de Paris, que instauraum governo operário na capitalfrancesa entre 26 de marçoe 28 de maio. Participa comMarx da Conferência deLondres da Internacional.

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Lutas de classes na Alemanha

Karl Marx Friedrich Engels

em Londres, é reeleito secretárioda seção russa. Revisa o primeirovolume de O capital  para asegunda edição alemã.

1872 Acerta a primeira edição francesade O capital  e recebe exemplaresda primeira edição russa, lançadaem 27 de março. Participa dospreparativos do V Congresso daInternacional em Haia, quandose decide a transferência doConselho Geral da organizaçãopara Nova York. Jenny, a filha maisvelha, casa-se com o socialistaCharles Longuet.

Redige com Marx umacircular confidencial sobresupostos conflitos internosda Internacional, envolvendobakunistas na Suíça, intituladoAs pretensas cisões naInternacional  [Die angeblichenSpaltungen in derInternationale ]. Ambos intervêmcontra o lassalianismo na social--democracia alemã e escrevemum prefácio para a nova ediçãoalemã do Manifesto Comunista .Engels participa do Congresso

da Associação Internacionaldos Trabalhadores.

1873 Impressa a segunda edição deO capital  em Hamburgo. Marxenvia exemplares a Darwin eSpencer. Por ordens de seumédico, é proibido de realizarqualquer tipo de trabalho.

Com Marx, escreve paraperiódicos italianos uma sériede artigos sobre as teoriasanarquistas e o movimento dasclasses trabalhadoras.

1874 Negada a Marx a cidadaniainglesa, “por não ter sido fielao rei”. Com a filha Eleanor, viajaa Karlsbad para tratar da saúdenuma estação de águas.

Prepara a terceira ediçãode A guerra dos camponesesalemães .

1875 Continua seus estudos sobrea Rússia. Redige observaçõesao Programa de Gotha, dasocial-democracia alemã.

Por iniciativa de Engels,é publicada Crítica do Programade Gotha  [Kritik des GothaerProgramms ], de Marx.

1876 Continua o estudo sobre as formasprimitivas de propriedade naRússia. Volta com Eleanor aKarlsbad para tratamento.

Elabora escritos contra Dühring,discorrendo sobre a teoriamarxista, publicadosinicialmente no Vorwärts!  etransformados em livroposteriormente.

1877 Marx participa de campanhana imprensa contra a políticade Gladstone em relação à Rússia

e trabalha no segundo volume deO capital . Acometido novamentede insônias e transtornos nervosos,viaja com a esposa e a filhaEleanor para descansar emNeuenahr e na Floresta Negra.

Conta com a colaboraçãode Marx na redação finaldo Anti-Dühring  [Herrn Eugen

Dühring’s Umwälzung derWissenschaft ]. O amigocolabora com o capítulo10 da parte 2 (“Da históriacrítica”), discorrendo sobrea economia política.

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Cronologia resumida

Karl Marx Friedrich Engels

1878 Paralelamente ao segundo volumede O capital , Marx trabalha nainvestigação sobre a comuna ruralrussa, complementada comestudos de geologia. Dedica-setambém à Questão do Oriente  e participa de campanha contraBismarck e Lothar Bücher.

Publica o Anti-Dühring  e,atendendo a pedido deWolhelm Bracke feito um anoantes, publica pequenabiografia de Marx, intituladaKarl Marx . Morre Lizzie.

1879 Marx trabalha nos volumesII e III de O capital .

1880 Elabora um projeto de pesquisaa ser executado pelo PartidoOperário francês. Torna-se amigo deHyndman. Ataca o oportunismo doperiódico Sozial-Demokrat  alemão,dirigido por Liebknecht. Escreve asRandglossen zu Adolph Wagners

Lehrbuch der politischen Ökonomie  [Glosas marginais ao tratado deeconomia política de AdolphWagner]. Bebel, Bernstein e Singervisitam Marx em Londres.

Engels lança uma ediçãoespecial de três capítulos doAnti-Dühring , sob o títuloSocialismo utópico e científico  [Die Entwicklung desSocialismus Von der Utopie zurWissenschaft ]. Marx escreve o

prefácio do livro. Engelsestabelece relações comKautsky e conhece Bernstein.

1881 Prossegue os contatos comos grupos revolucionários russose mantém correspondência comZasulitch, Danielson e

Nieuwenhuis. Recebe a visitade Kautsky. Jenny, sua esposa,adoece. O casal vai a Argenteuilvisitar a filha Jenny e Longuet.Morre Jenny Marx.

Enquanto prossegue em suasatividades políticas, estuda ahistória da Alemanha e preparaLabor Standard , um diário dos

sindicatos ingleses. Escreve umobituário pela morte de JennyMarx (8 de dezembro).

1882 Continua as leituras sobre osproblemas agrários da Rússia.Acometido de pleurisia, visitaa filha Jenny em Argenteuil. Porprescrição médica, viaja pelo

Mediterrâneo e pela Suíça. Lêsobre física e matemática.

Redige com Marx um novoprefácio para a edição russado Manifesto Comunista .

1883 A filha Jenny morre em Paris(janeiro). Deprimido e muitoenfermo, com problemasrespiratórios, Marx morreem Londres, em 14 de março.É sepultado no Cemitériode Highgate.

Começa a esboçar A dialéticada natureza  [Dialektik derNatur ], publicadapostumamente em 1927.Escreve outro obituário, dessavez para a filha de Marx, Jenny.No sepultamento de Marx,

profere o que ficaria conhecidocomo Discurso dianteda sepultura de Marx  [DasBegräbnis von Karl Marx ].Após a morte do amigo, publicauma edição inglesa do primeiro

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Lutas de classes na Alemanha

Karl Marx Friedrich Engels

volume de O capital ;imediatamente depois, prefaciaa terceira edição alemã da obra,e já começa a prepararo segundo volume.

1884 Publica A origem da família, da propriedade privada e do Estado  

[Der Ursprung der Familie, desPrivateigentum und des Staates ].

1885 Editado por Engels, é publicadoo segundo volume de O capital .

1894 Também editado por Engels,é publicado o terceiro volumede O capital . O mundoacadêmico ignorou a obra pormuito tempo, embora osprincipais grupos políticos logotenham começado a estudá-la.Engels publica os textosContribuição à história docristianismo primitivo  [ZurGeschischte desUrchristentums ] e A questãocamponesa na França e naAlemanha  [Die Bauernfrage in

Frankreich und Deutschland ].

1895 Redige uma nova introduçãopara As lutas de classes naFrança . Após longo tratamentomédico, Engels morre emLondres (5 de agosto). Suascinzas são lançadas ao mar emEastbourne. Dedicou-se até ofim da vida a completar e

traduzir a obra de Marx,ofuscando a si próprio e a suaobra em favor do que eleconsiderava a causa maisimportante.

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Crítica da flosofa do direito de Hegel

Karl MarxTradução de Rubens Enderle e Leonardo de Deus

 A ideologia alemã Karl Marx e Friedrich EngelsTradução de Rubens Enderle , Nélio Schneider e Lu-ciano MartoranoApresentação de Emir Sader

 Manifesto ComunistaKarl Marx e Friedrich EngelsTradução de Ivana Jinkings e Álvaro Pina

 Manuscritos econômico-flosófcosKarl MarxTradução de Jesus Ranieri

 A sagrada famíliaKarl Marx e Friedrich EngelsTradução de Marcelo Backes

 A situação da classe trabalhadora na InglaterraFriedrich Engels

Tradução de B. A. Schumann Sobre a questão judaicaKarl MarxTradução de Nélio Schneider e Wanda Caldeira BrantApresentação e posfácio de Daniel Bensaïd Sobre o suicídio

Karl MarxTradução de Rubens Enderle e Francisco Fontanella

OUTROS LIVROS DACOLEÇÃO MARX-ENGELS

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