ministÉrio da educaÇÃo universidade federal do piauÍ...

101
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE/ DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM ENFERMAGEM ERONICE RIBEIRO DE MORAIS OS SABERES E AS PRÁTICAS DE CUIDADORES FAMILIARES DE IDOSOS COM ALZHEIMER TERESINA (PI), 2009

Upload: others

Post on 20-Jul-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

0

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE/ DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM ENFERMAGEM

ERONICE RIBEIRO DE MORAIS

OS SABERES E AS PRÁTICAS DE CUIDADORES FAMILIARES DE IDOSOS COM ALZHEIMER

TERESINA (PI), 2009

Page 2: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

Livros Grátis

http://www.livrosgratis.com.br

Milhares de livros grátis para download.

Page 3: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

1

ERONICE RIBEIRO DE MORAIS

OS SABERES E AS PRÁTICAS DE CUIDADORES FAMILIARES DE IDOSOS COM ALZHEIMER

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação Mestrado em Enfermagem da Universidade Federal do Piauí, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Enfermagem.

Orientadora: Profª. Drª. Maria do Livramento Fortes Figueiredo

Área de Concentração: Enfermagem no contexto social brasileiro

Linha de pesquisa: Processo de cuidar em saúde e enfermagem

TERESINA (PI), 2009

Page 4: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

2

ERONICE RIBEIRO DE MORAIS

OS SABERES E AS PRÁTICAS DE CUIDADORES FAMILIARES DE IDOSOS

COM ALZHEIMER

Dissertação de Mestrado submetida à Banca Examinadora do Programa de Pós-Graduação Mestrado em Enfermagem, da Universidade Federal do Piauí-UFPI, como parte dos requisitos necessários para obtenção do título de Mestre em Enfermagem.

Aprovada em: ___/___/ 2009.

Profª. Drª. Maria do Livramento Fortes Figueiredo Universidade Federal do Piauí (UFPI) - Presidente

Profª. Drª. Célia Pereira Caldas Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) - 1ª Examinadora

Profª. Drª. Maria Helena Barros Araújo Luz Universidade Federal do Piauí (UFPI) - 2ª Examinadora

Suplente:

Profª. Drª. Benevina Maria Vilar Teixeira Nunes Universidade Federal do Piauí (UFPI)

Page 5: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

3

Dedico este estudo aos meus pais, Osmina e Francisco, pelo amor incondicional e sabedoria transmitida de modo incessante e por sempre me fazerem acreditar no meu potencial e me sentir amada. Amo-os muito!

Page 6: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

4

AGRADECIMENTOS

A Deus, pela minha vida e pela luz que sempre ilumina o meu caminho e me

dá coragem para prosseguir.

À Universidade Federal do Piauí, na pessoa do Magnífico Reitor, Profº. Dr.

Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

Mestrado em Enfermagem.

À Coordenação do Programa de Pós-Graduação Mestrado em Enfermagem

da Universidade Federal do Piauí – UFPI, em nome das Professoras Doutoras

Claudete Ferreira de Sousa Monteiro e Telma Maria Evangelista de Araújo, pela

competência e dedicação no gerenciamento do curso.

A minha orientadora, Profª. Drª. Maria do Livramento Fortes Figueiredo, pelo

incentivo, dedicação e companheirismo. Sua ajuda foi essencial na construção deste

estudo, pois aproximou-me da obra de um dos homens mais sábio deste país, que

foi Paulo Freire, o que me possibilitou um enorme aprendizado.

Às professoras do Programa de Mestrado em Enfermagem, pelo estímulo ao

crescimento profissional.

Às componentes da Banca de Qualificação, Profª Drª Maria Helena Barros

Araújo Luz, Benevina Maria Vilar Teixeira Nunes, Inêz Sampaio Nery e Célia Pereira

Caldas, por suas valiosas contribuições e reflexões.

À Associação Brasileira de Alzheimer regional Piauí, na pessoa do Dr. João

Carvalho, pela sua disponibilidade em colaborar com este estudo.

Aos cuidadores familiares participantes desta investigação, pelo carinho e

atenção com que me receberam em seus domicílios.

Aos meus pais Francisco e Osmina, pelo o amor, dedicação, carinho e apoio

incondicional em todas as minhas conquistas.

Aos meus adoráveis filhos Matheus e Isadora pela compreensão, paciência

e preocupação que tiveram comigo ao longo desta caminhada.

Ao meu grande amor Carlos Augusto, pelo companheirismo e incentivo em

todos os momentos desta trajetória. Meu pequeno grande homem, essa conquista é

nossa.

Aos meus irmãos, Edilson, Eliane e Caline, pela força, apoio, refúgio e

fortaleza que representam em minha vida.

Page 7: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

5

Às colegas do Mestrado, pelo compartilhamento de experiências. Em

especial Laurimary Caminha Veloso, Sandra Marina e Jaqueline Carvalho e Silva,

pelas mãos amigas e consolo durante os momentos difíceis e pelos momentos de

felicidades que tivemos durante esta trajetória.

A todos os enfermeiros do SAMU, pela ajuda e compreensão na

concretização deste sonho.

A todos servidores do Departamento de Enfermagem, em especial

Reginaldo, Valdira Tajra e José Ribamar, pela disponibilidade e colaboração em

atender.

Ao colega Fernando Guedes Júnior, pela colaboração na formatação da

pesquisa.

A todos que contribuíram de alguma forma para a construção deste estudo,

o meu muito obrigada.

Page 8: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

6

Como uma Onda

Nada do que foi será

de novo do jeito que já foi um dia. Tudo passa

tudo sempre passará. A vida vem em ondas

como um mar num indo e vindo infinito.

Tudo que se vê não é igual ao que a gente

viu há um segundo tudo muda o tempo todo

no mundo. Não adianta fugir

nem mentir pra si mesmo agora há tanta vida lá fora aqui dentro sempre

como uma onda no mar.

(Lulu Santos/ Nelson Motta)

Page 9: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

7

RESUMO

O Brasil vive atualmente um acelerado crescimento da população idosa, elevando-se a ocorrência de doenças crônico-degenerativas, como a Doença de Alzheimer, que apresenta um caráter progressivo e incapacitante, afetando inicialmente a memória recente e, posteriormente, outras funções cognitivas, levando à dependência, demandando cuidados e serviços diversos, tanto por parte dos profissionais de saúde, como dos cuidadores familiares, que irão necessitar de suporte assistencial na execução do cuidado ao idoso e na promoção de sua própria saúde. Partindo dessa problemática, esta pesquisa teve como objeto de estudo os saberes e práticas de cuidadores familiares de idosos com Alzheimer, cujos objetivos foram: descrever os saberes e práticas dos cuidadores familiares de idosos com Alzheimer e discutir à luz do referencial dialógico de Paulo Freire os saberes e práticas dos cuidadores familiares de idosos com Alzheimer. Trata-se de uma pesquisa descritiva, qualitativa, que contou com a participação de 14 cuidadores familiares como sujeito e teve como cenário os domicílios dos participantes localizados em Teresina – PI. Os dados foram coletados através da entrevista semi-estruturada e produzidos e analisados a partir da concepção teórica de Freire, mediante a técnica de análise de conteúdo de Bardin, através da qual emergiram as seguintes categorias: os saberes sobre a Doença de Alzheimer na voz dos cuidadores familiares; a essencialidade e a individualidade do cuidado familiar do idoso com Doença de Alzheimer; as necessidades e os sentimentos que envolvem a prática do cuidador familiar de idoso com Alzheimer e a influência das questões de gênero na determinação do cuidado familiar. Este estudo, que se originou de uma rica produção de dados, irá contribuir na assistência e servir de base para pesquisas congêneres em enfermagem, revelou saberes resultantes da construção sociocultural, fruto das experiências que envolvem esta relação de cuidados, e práticas individualizadas e essenciais à sobrevivência desses idosos. Além disso, manifestou necessidades e sentimentos de diversos matizes, desde as demandas financeiras até a própria aceitação do diagnóstico, gerando emoções variadas como: amor, carinho, raiva e revolta. As mulheres predominaram como cuidadoras, sendo possível identificar a influência das questões de gênero na determinação deste cuidado. Palavras-chaves: Enfermagem. Cuidador. Idoso. Doença de Alzheimer

Page 10: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

8

ABSTRACT

Brazil is currently witnessing a dramatic growth of the elderly population, with the rising occurrence of chronic degenerative diseases such Alzheimer's disease that has a progressive and disabling power, affecting, initially, the recent memory and, later, other cognitive functions, leading to dependence, demanding care and other services, both from health professionals as well as from family care-givers, who will need support in the execution of elderly care and in promoting their own health. Based on this problem, this research had as main goal to study the object of knowledge and practice of family care of elderly patients with Alzheimer's, whose objectives were: to describe the knowledge and practices of family caregivers of elderly with Alzheimer and discuss, in light of the dialogic reference of Paulo Freire, the knowledge and practices of family caregivers of elderly with Alzheimer. This is a descriptive, qualitative research, which had 14 family caregivers as the subject and had as scenario the households of participants located in Teresina-PI. Data were collected from structured interviews and produced and analyzed based on the theoretical concepts of Freire, by means of Bardin´s technique of content analysis, through which emerged the following categories: knowledge about Alzheimer's disease in the voice of family caregivers; the essence and individuality of the family care of older persons with Alzheimer disease: the needs and feelings surrounding the practice of family caregivers of elderly with Alzheimer and the effect of gender in determining family care. This study, which arouse with a rich production of data will contribute to the assistance and be the groundings for similar research in nursing, revealed knowledge resulting from socio-cultural construction, the fruit of experiments involving the relationship of care and individualized practices essential to the survival of the elderly. In addition, it revealed needs and feelings of various sorts, including financial demands and the acceptance of the diagnosis, as well, which generated various emotions such as love, affection, anger and revolt. Women predominated as caregivers, and it is possible to identify the effect of gender in the determination of this care. Keywords: Nursing. Caregiver. Elderly. Alzheimer

Page 11: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

9

RESUMEN

Brasil está viviendo hoy un rápido crecimiento de la población de adultos mayores, con elevación de la incidencia de enfermedades crónico-degenerativas como la enfermedad de Alzheimer que tiene un carácter progresivo e incapacita la persona, que afecta inicialmente la memoria reciente y, posteriormente, otras funciones cognitivas, que conduce a la dependencia y que requieren la atención y otros servicios, tanto de los profesionales de la salud como del cuidador de la familia, que necesitarán el apoyo en la ejecución del cuidado de los ancianos y en la promoción de su propia salud. Basado en este problema, esta investigación tuvo como objetivo: estudiar el conocimiento y la práctica del cuidado familiar de pacientes ancianos con Alzheimer, cuyos objetivos fueron: describir los conocimientos y prácticas de los cuidadores familiares de ancianos con Alzheimer y examinar a la luz de la estructura dialógica de Paulo Freire los conocimientos y prácticas de los cuidadores familiares de ancianos con Alzheimer. Este es un estudio descriptivo, cualitativo, que tuvo la participación de 14 proveedores de cuidado de la familia como sujeto y tuvo como escenario los hogares de los participantes ubicados en Teresina-PI. Los datos fueron obtenidos de entrevistas estructuradas y producidos y analizados desde el concepto teórico de Freire por la técnica de análisis de contenido de Bardin, que hicieran surgir las siguientes categorías: conocimiento sobre la enfermedad de Alzheimer en la voz de los cuidadores familiares; la esencia y la individualidad del cuidado de la familia de las personas mayores con enfermedad de Alzheimer: las necesidades y sentimientos en torno a la práctica de los cuidadores familiares de ancianos con Alzheimer y la influencia del género en la determinación de atención de la familia. Este estudio, que se originó de una rica producción de datos ayudará en la asistencia y servirá de base para la investigación en investigaciones similares de enfermería, ha revelado los conocimientos, resultantes de la construcción socio-cultural, fruto de la experiencia que involucra esta relación de la atención e prácticas individualizadas, esencial para la supervivencia de los ancianos. Por otra parte, expresaron las necesidades y sentimientos de diversos tipos, desde las exigencias financieras hasta la aceptación del diagnóstico, lo que genera diversas emociones como el amor, el afecto, la ira y la revuelta. Predomina la mujer como cuidadora, y es posible identificar la influencia del género en la determinación de este cuidado. Palabras claves: Enfermería. Cuidador. Ancianos. Alzheimer

Page 12: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

10

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ABRAZ Associação Brasileira de Alzheimer

CEP Comitê de Ética e Pesquisa

DA Doença de Alzheimer

ESF Estratégia Saúde da Família

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

OPAS Organização Panamericana de Assistência a Saúde

PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

PNI Política Nacional do Idoso

PNSI Política Nacional de Saúde do Idoso

SUS Sistema Único de Saúde

UFPI Universidade Federal do Piauí

Page 13: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

11

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO 12

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS 14

1.1 Contextualização do Problema e Construção do Objeto de Estudo

15

1.2 Questão Norteadora e Objetivos do Estudo 19

1.3 Justificativa e Relevância da pesquisa 19

2 REFERENCIAL TEMÁTICO 23

2.1 O envelhecimento populacional brasileiro e doença de Alzheimer

24

2.2 A Prática do Cuidador Familiar de Idoso com Alzheimer no Domicílio

27

2.3

2.4

As Políticas Públicas de Atenção à Pessoa Idosa Intervenções de Enfermagem Junto aos Cuidadores Familiares de Idosos com Alzheimer

31

34

3 REFERENCIAL TEÓRICO- METODOLÓGICO 37

3.1 A Teoria Dialógica Libertadora de Paulo Freire 38

3.2 Tipo de Pesquisa 42

3.3 Os Sujeitos da Pesquisa 44

3.4 O Cenário da Pesquisa 46

3.5 A Produção dos Dados 46

3.6 A Análise dos Dados 47

3.7 Aspectos éticos e legais 48

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DAS CATEGORIAS TEMÁTICAS 50

4.1 Os Saberes Sobre a Doença de Alzheimer na Voz dos Cuidadores Familiares

51

4.2 A Essencialidade e a Individualidade do Cuidado Familiar do Idoso com Doença de Alzheimer

58

4.3 As Necessidades e os Sentimentos que Envolvem a Prática do cuidador Familiar de Idoso com Alzheimer

64

4.4 A influência das questões de gênero na determinação do Cuidado Familiar

72

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

77

REFERÊNCIAS 83

APÊNDICES

ANEXOS

Page 14: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

12

APRESENTAÇÃO ___________________________________________________________________

Page 15: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

13

Este estudo se insere no Programa de Pós Graduação Mestrado em

Enfermagem da Universidade Federal do Piauí, na linha de pesquisa - O processo

de cuidar em saúde e enfermagem. Desta forma, para compreender os

pressupostos deste estudo serão apresentadas cinco seções textuais:

considerações iniciais; referencial temático; referencial teórico- metodológico;

análise e discussão dos dados; e, considerações finais.

Na primeira seção: Considerações Iniciais, foi realizada uma

contextualização do problema e delimitação do objeto de estudo, além da

construção das questões norteadoras, objetivos do estudo e da justificativa.

A segunda seção intitulada: Referencial Temático, apresenta-se subdividida

em quatro subseções que expressam a relação entre o fenômeno do

envelhecimento populacional brasileiro e a Doença de Alzheimer, focalizando, para

tanto, uma breve trajetória evolutiva das Políticas Públicas direcionadas à pessoa

idosa e seus cuidadores familiares. Além disso, descreveu-se a

multidimensionalidade da prática de cuidar do portador de Alzheimer no âmbito

domiciliar, bem como o papel do enfermeiro na assistência aos cuidadores familiares

e ao idoso que vivenciam tal agravo.

A terceira seção: Referencial teórico-metodológico é composta por sete

subseções em que são explicitados todos os passos realizados para o

desenvolvimento deste estudo e, ainda, os pressupostos teóricos de Freire (1979;

1980; 1983; 1987; 1994; 1997; 1999) sobre a Teoria Dialógica Libertadora.

Na quarta seção: Análise e discussão dos dados, apresenta-se os resultados

deste estudo através da construção de quatro categorias semânticas intituladas: os

saberes sobre a doença de Alzheimer na voz dos cuidadores familiares; a

essencialidade e a individualidade do cuidado familiar do idoso com doença de

Alzheimer; as necessidades e os sentimentos que envolvem a prática do cuidador

familiar de idoso com Alzheimer; e, a influência das questões de gênero na

determinação do cuidado familiar. Cumpre referir que os resultados apresentados

foram discutidos sob à luz do referencial teórico de Paulo Freire.

Finalmente, na quinta seção: considerações finais, constatou-se que os

objetivos propostos foram alcançados e que o estudo se configurou em uma riqueza

de informações, que contribuirá para o desenvolvimento de novas pesquisas.

Page 16: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

14

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ___________________________________________________________________

Page 17: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

15

1.1 Contextualização do Problema e Construção do Objeto de Estudo

O envelhecimento populacional proporcionou mudanças significativas no

quadro de morbi-mortalidade mundial, caracterizado pelo aumento da incidência e

morte por doenças crônico-degenerativas típicas de idades mais avançadas, como

as demências, que apresentam efeitos devastadores com altos custos afetivos e

financeiros para o indivíduo e sua família.

Dentre as demências, a Doença de Alzheimer (DA) é a de maior incidência,

acometendo milhões de pessoas em todo o mundo, tendo sido eleita como o

principal foco de pesquisas sobre as demências que afetam o cérebro nas últimas

duas décadas (CANINEU, 2003).

Estima-se que este agravo atinja mais de 15 milhões de pessoas no mundo,

e no Brasil existem aproximadamente cerca de 1 milhão de indivíduos portadores da

doença, muitos dos quais ainda sem diagnóstico, porque geralmente é aguardado

um determinado tempo para tomar providências, quando se tem um idoso com

“problemas de memória” no domicilio (CAOVILLA; CANINEU, 2002).

Pesquisadores como Caramelli e Barbosa (2002), afirmam que esta

desordem neurológica possui um caráter degenerativo, progressivo e incapacitante,

que inicialmente afeta a memória recente, mas com a evolução da doença outras

funções cognitivas são alteradas, como a orientação, linguagem, julgamento, função

social e habilidades de realizar tarefas motoras, levando a perda da autonomia e a

instalação da dependência.

Vale ressaltar que a prevalência da DA na velhice extrapola o evento

biológico em si, uma vez que tem diferentes representações e repercussões no

contexto econômico, político, social e cultural das pessoas e famílias por elas

afetadas, especialmente porque a família ainda é o lócus preferencial no processo

de cuidar dos idosos, sejam eles dementes ou não (SANTOS; RIFIOTIS, 2003).

Contudo, para esses autores, o que difere, no caso dos idosos com

Alzheimer, é o fato de esses idosos requererem cuidados integrais diuturnamente,

uma vez que perdem a autonomia e a independência, necessitando de pessoas que

os auxiliem nas atividades de vida diária como: tomar banho, vestir-se, alimentar-se,

dentre outras ações.

Page 18: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

16

Nesse cenário emerge na família a figura do cuidador, que conviverá

diariamente com o enfermo, e assumirá os cuidados e as atividades relacionadas ao

idoso, tornando-se o principal apoio para auxiliar na manutenção da identidade e

autonomia, configurando-se em um importante elo entre o idoso e o mundo, sendo

constituídos, entre outros, na sua maioria, por familiares, amigos e vizinhos,

(LUZARDO, 2006).

Assim, a função de cuidador familiar de idoso com Alzheimer não é um papel

transitório, porque na maioria dos casos o portador irá viver 10 a 20 anos em

situação de crescente dependência, requerendo atenção ininterrupta durante as 24

horas do dia. As formas como as famílias lidam e se organizam para assumir esses

cuidados são muito variadas e eventualmente envolvem outras pessoas que fazem

parte do entorno familiar (SANTOS; RIFIOTIS, 2003).

Desse modo, vivenciar uma experiência de cuidar de um familiar, que na

evolução da doença chega a não reconhecer o seu ente querido, proporciona no

cuidador familiar desenvolvimento de sentimentos ambíguos e contraditórios que,

necessariamente, terão que buscar apoio em crenças e valores e na própria fé para,

assim, manter o equilíbrio e a energia capaz de propiciar a realização do cuidado.

A esse respeito, Luzardo e Waldman (2004) levantaram sentimentos

manifestados pelos cuidadores familiares dos mais variados matizes, estando

presentes em suas mensagens a culpa, o medo, a ansiedade, o pesar diante de

uma doença totalmente incapacitante, o mergulho na insegurança do caos do

desconhecido, a estranheza frente à troca inevitável de papéis sociais, o sentimento

de impotência frente à evolução da doença, a tristeza diante da falta de infra-

estrutura e de condições financeiras, além da raiva originada pela sensação de

chegada lenta da morte. Contudo, também estavam presentes sentimentos de

aceitação da vontade de Deus, de amor e de solidariedade para com seu idoso, que

se apresentava tão fragilizado.

O cuidador familiar foi considerado pelas autoras como um herói anônimo,

pois sua ação se dá no espaço doméstico, onde parte significativa da vida das

pessoas transcorre e onde se mantém segredos, verdades, mentiras, memórias,

fatos, fotos e relações importantes. Dessa forma, esses sujeitos escondidos em sua

grandeza, são heróis invisíveis e solitários, pois nem sempre são percebidos como

fundamentais ou valorizados como cuidadores, quer seja pela própria família, quer

seja pelos serviços de saúde.

Page 19: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

17

Fonseca e Soares (2006) revelam também que os dilemas, conflitos, dúvidas,

medos e inseguranças que permeiam a prática de cuidados prestada aos portadores

de Alzheimer também podem ser provenientes de orientações prescritivas,

verticalizadas dos profissionais de saúde, nas quais pouco se privilegia ou estimula

a participação da família nas ações de cuidado, tendo como conseqüências, muitas

vezes, incompreensão do processo evolutivo da doença, contribuindo para o

desgaste físico e psicológico nessa relação de cuidado.

Nessa perspectiva, é preciso compreender que os cuidadores não se

configuram como “quadros em branco”, em que o profissional pode imprimir suas

conclusões e prescrições, pois esses cuidadores trazem para o serviço de saúde

suas concepções, valores e crenças em práticas alternativas de cuidados. Desse

modo, a contextualização social e cultural do cliente que procura as instituições de

saúde vem tornando-se uma exigência para os profissionais de saúde que

pretendem oferecer uma assistência melhor qualificada em saúde (SIQUEIRA et al.,

2006).

Assim, é fundamental que o profissional de saúde, em particular o enfermeiro,

em sua prática assistencial, busque conhecer o contexto social, cultural e histórico

no qual cuidador e idoso encontram-se inseridos. Para tanto, é essencial para este

profissional, integrar-se ao ambiente familiar e identificar as potencialidades e

limitações, significados e vivências permeadas nessa relação de cuidados. E, dessa

forma, viabilizar em parceria com a família a produção de novos conhecimentos, de

caráter emancipador, constituídos a partir do movimento de troca e construção entre

os saberes científico e popular.

Esse conhecimento emancipador, para Santos (2001), seria aquele no qual a

relação sujeito-objeto é substituída pela reciprocidade entre os sujeitos e onde a

solidariedade e a participação estão presentes. Essa forma de pensar a ciência e a

produção de conhecimentos propõe a idéia de um saber não apenas voltado para as

necessidades do mercado, mas abre-se para a importância da experiência, do

compartilhamento de saberes, ampliando os cenários de geração de novos

conhecimentos.

Nesse sentido, Acioli (2008) aponta que o enfermeiro deve ir à busca de

práticas de educação em saúde que se baseiam em um enfoque crítico e

emancipador, o que implica no reconhecimento do caráter histórico dos

determinantes sociais, culturais, políticos e econômicos do processo saúde/doença.

Page 20: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

18

Para a autora, essa proposta pressupõe a compreensão do outro como

sujeito, detentor de um determinado conhecimento e não mero receptor de

informações, o que resulta no respeito ao universo cultural dos participantes e,

principalmente, na ideia de saberes popular e científico pensados de forma

dinâmica. Pois, nesse processo contínuo de interação, a “escuta atenta” e a abertura

ao saber do outro, possibilitará a construção compartilhada do conhecimento e de

formas de cuidado diferenciadas a partir dessa construção.

Nesse enfoque, ao buscar conhecer os saberes e práticas dos cuidadores de

idosos com Alzheimer, fundamentou-se o estudo na teoria dialógica libertadora de

Paulo Freire, pois na concepção desse teórico, todas as pessoas são dotadas de

saberes e esses conhecimentos provêm da reflexão que o homem faz do contexto

concreto, isto é, das experiências vividas na realidade na qual está inserido,

cumprindo também a função de analisar e refletir essa realidade, no sentido de

apropriar-se de um caráter crítico sobre ela (FREIRE, 1979).

Na compreensão de Freire (1979; 1980), é necessário não só conhecer o

mundo é preciso transformá-lo. Em outras palavras, saber/conhecer é uma atitude

ativa do homem frente ao mundo, é, antes de tudo, conscientização, envolve

intercomunicação, intersubjetividade, que pressupõe a educação dos homens entre

si mediatizados pelo mundo, tanto da natureza como da cultura.

A prática, na visão de Freire (1980), não pode se restringir à leitura

descontextualizada do mundo, ao contrário, vincula o homem nessa busca

consciente de ser, estar e agir no mundo, num processo que se faz único e

dinâmico, melhor dizendo, é apropriar-se da prática, dando sentido à teoria. Assim,

este autor expressa a práxis como o ato de ação e reflexão dos homens sobre o

mundo para transformá-lo. Nesse sentido, deve-se ressaltar que a função da prática

é a de agir sobre o mundo para transformá-lo.

E assim, refletindo, pois, sobre as necessidades, limitações, possibilidades e

estratégias de enfretamento que os cuidadores familiares vivenciam na sua rotina

diária, ao cuidar de um idoso dependente, foi focalizado como objeto deste estudo:

os saberes e práticas de cuidadores familiares de idosos com Alzheimer.

Page 21: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

19

1.2 Questão Norteadora e Objetivos do Estudo

Diante da problematização acerca do objeto delimitado neste estudo, foi

elaborada a seguinte questão que serviu para nortear e estruturar este estudo:

Quais os saberes e práticas dos cuidadores familiares de idosos com Alzheimer?

Tomando como base a questão norteadora, que conduziu na elaboração

desta pesquisa, bem como sobre o enfoque de que o sujeito é um pensador ativo,

que age de acordo com as suas necessidades, concepções e experiências

históricas, pessoais, sociais e culturais, constituíram objetivos deste estudo:

Descrever os saberes e práticas dos cuidadores familiares de idosos com

Alzheimer;

Discutir à luz do referencial dialógico de Paulo Freire os saberes e práticas dos

cuidadores familiares de idosos com Alzheimer.

1.3 Justificativa e Relevância do Estudo

A inserção na temática “cuidadores de idosos portadores de Alzheimer”

emergiu a partir da vivência e experiência profissional, como enfermeira da

Estratégia Saúde da Família (ESF) no município de Teresina, por um período de

quatro anos, onde desenvolvi ações assistenciais de Enfermagem dirigidas à

promoção da saúde do idoso na família e na comunidade.

Ao realizar o diagnóstico situacional da área, a equipe da qual participava,

identificou um alto índice de idosos portadores desse agravo que se apresentavam

dependentes dos cuidados da família. Este fato permitiu a programação de visitas

domiciliares a estes idosos, conforme as ações preconizadas pela Estratégia Saúde

da Família.

As visitas domiciliares possibilitaram ouvir depoimentos de familiares acerca

das dificuldades enfrentadas, como, por exemplo: a falta de informação para o

desempenho do cuidado, a incompreensão das orientações prescritas pelos

Page 22: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

20

profissionais de saúde, a sobrecarga de trabalho para um único indivíduo, a

disponibilidade da família na sociedade atual, dificuldades financeiras e o fato de

muitas vezes a cuidadora também ser idosa.

Nessa perspectiva, foi possível observar, empiricamente, que essas

dificuldades vivenciadas pelo núcleo familiar submetiam, particularmente, os

cuidadores familiares a uma sobrecarga psicológica acompanhada de depressão,

estresse, queda da resistência física e problemas de ordem conjugal. Paralelamente

a isso, o idoso apresentava declínio nas condições de vida que sinalizavam, muitas

vezes, dentre outros, negligência e maus-tratos.

Assim, ao interagir com essas situações e me relacionar com essas

pessoas, senti que precisava compreendê-las para assim buscar desenvolver um

cuidado integrado ao contexto das crenças e valores que são relevantes para elas.

Dessa forma, comecei a interessar-me pelos saberes que fundamentam as suas

práticas de cuidados com esse idoso, pois é notório que estes conhecimentos,

aceitos socialmente, transcendem as práticas biomédicas.

Além disso, foi possível perceber que esse universo que me era

desconhecido, era também ignorado pelo sistema formal de saúde, exigindo do

profissional de saúde, sobretudo, do enfermeiro, olhares que revelam uma

preocupação e motivem investigações voltados para a prática de cuidado orientados

pelos próprios saberes e práticas dos sujeitos envolvidos.

Atualmente, como docente da disciplina Atenção à Saúde do Idoso no Curso

de Graduação em Enfermagem, desenvolvo atividades práticas voltadas à

assistência a esta clientela, tanto na área ambulatorial como na hospitalar. Neste

contexto, observa-se que muitos profissionais de saúde, inclusive o enfermeiro,

ainda continuam prestando orientações técnicas, fragmentadas e prescritivas, sem

levar em consideração a multidimensionalidade do cuidado, principalmente em

relação aos aspectos sociais, culturais e históricos do idoso, da família e dos

próprios cuidadores.

Essa postura dos profissionais de saúde, provavelmente, está ancorada em

sua formação acadêmica, baseada no modelo biomédico, que não valoriza as

atitudes, costumes, e crenças da população, reforçando, desse modo, a

dependência aos serviços de saúde.

Baseada nessas observações, procurou-se discutir sobre quais saberes e

práticas os cuidadores familiares utilizam no seu cotidiano ao cuidar de um idoso

Page 23: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

21

com Alzheimer. Questionou-se também se esses conhecimentos foram adquiridos a

partir de vivências e experiências de cuidados com outros membros da família, de

amigos e/ou de vizinhos, ou seja, saberes provenientes da própria prática, do senso

comum, ou ainda se este cuidado se faz baseado em informações provenientes dos

serviços de saúde ou veiculados pela mídia.

Esta problemática tornou-se ainda mais instigadora a partir da minha

inserção no Programa de Pós-Graduação Mestrado em Enfermagem da

Universidade Federal do Piauí (UFPI). Após sucessivas leituras e reflexões acerca

do tema, compreendi que os cuidadores familiares de idosos com Alzheimer

apresentam uma sobrecarga física e psicológica mais significativa do que os demais

cuidadores de idosos com outras doenças crônicas, uma vez que a DA proporciona

ao portador uma perda da autonomia com instalação da dependência, necessitando

de um cuidador vigilante às 24 horas do dia, sendo estes essenciais a sobrevivência

do idoso.

Assim, ao consultar literatura internacional e nacional referente a esse tema,

foi possível constatar a existência de diversos trabalhos realizados junto aos

cuidadores familiares de idosos com Alzheimer. Embora conhecê-los tenha sido

muito importante, não se pode esquecer que as realidades nas quais eles foram

desenvolvidos são bastante diferentes do contexto piauiense.

Neste sentido, no município de Teresina já foram desenvolvidas algumas

pesquisas acadêmicas relevantes junto aos cuidadores familiares. Mas ainda se

possui um corpo de conhecimentos insuficientemente consistente, que permita saber

o que pensam esses cuidadores, como se organizam no grupo doméstico para

exercer essas funções, quais são as tensões e os conflitos experienciados por eles,

quais são suas principais queixas e seus desejos, suas estratégias para resolver

problemas cotidianos do cuidado, suas necessidades de auxílio no exercício dessas

atividades e tantas outras questões que, possivelmente, eles possuem e ainda

desconhecem.

Portanto, este estudo teve a intenção de contribuir para que se amplie o corpo

de conhecimentos acerca do processo de cuidar de idosos com Alzheimer na esfera

doméstica, segundo a ótica dos próprios cuidadores familiares e considerando seus

referenciais culturais. Desse modo, esta investigação, poderá instrumentalizar a

prática assistencial do Enfermeiro dirigida aos cuidadores na atenção básica,

através de informações e orientações fundamentais para o cuidado dos portadores

Page 24: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

22

desta patologia, e, como conseqüência da habilitação dos cuidadores, será possível

o alcance na melhoria da qualidade de vida dos idosos e de suas famílias.

Além da contribuição assistencial, acredita-se que esta investigação poderá

colaborar significativamente na área do ensino, especialmente, referente à educação

em saúde voltada para os cuidadores que são efetivos parceiros da assistência de

Enfermagem no domicílio. Também, acredita-se que a partir do conhecimento

produzido neste estudo poderão emergir bases de subsídios para Políticas Públicas

Estaduais e/ou Municipais, pois retratará uma realidade vivenciada por uma parcela

significativa da população idosa e suas famílias, que sofrem os impactos

epidemiológicos desta morbidade crônico-degenerativa e incapacitante.

Finalmente, considerando a relevância desta temática na área de

Enfermagem, e a emergência do fenômeno do envelhecimento associado a uma

patologia contemporânea como a Doença de Alzheimer, acredita-se que esta

Dissertação de Mestrado servirá de base para futuras pesquisas congêneres.

Embora tenha sido uma investigação com um limitado número de sujeitos, deu-se

voz, valorizando-se as informações dos mesmos, através de uma abordagem

qualitativa, e assim, foi possível identificar saberes e práticas repletos de

significados, sentimentos e vivências que poderão subsidiar a assistência, o ensino

e a produção de novos conhecimentos.

Page 25: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

23

2 REFERENCIAL TEMÁTICO ___________________________________________________________________

Page 26: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

24

Para contextualizar sobre os saberes e as práticas dos cuidadores de idosos

com Alzheimer no domicílio, tornou-se imperativo apresentar o fenômeno do

envelhecimento populacional brasileiro e a Doença de Alzheimer, focalizando, para

tanto, uma breve trajetória evolutiva das Políticas Públicas direcionadas à pessoa

idosa e seus cuidadores familiares. Além disso, mostrou-se necessário, nesta

construção, descrever a multidimensionalidade da prática de cuidar do portador de

Alzheimer no âmbito domiciliar, bem como enfocar o papel do enfermeiro na

assistência aos cuidadores familiares e ao idoso que vivenciam tal agravo.

2.1 O Envelhecimento Populacional Brasileiro e a Doença de Alzheimer

O envelhecimento é um processo inerente a todo ser vivo que inicia-se após

a maturidade sexual e finaliza-se com a morte. Conforme a Organização

Panamericana de Saúde (OPAS) é um processo dinâmico, progressivo, individual,

acumulativo, irreversível, não patológico, de deterioração de um organismo maduro,

próprio a todos os membros de uma espécie (BRASIL, 2006a).

No Brasil, o envelhecimento da população acontece de forma rápida,

manifestando um comportamento semelhante aos países em desenvolvimento.

Segundo as constatações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD),

a população brasileira, no ano de 2007, era constituída por 189,8 milhões de

pessoas e os idosos representavam 10,6% dessa população (IBGE, 2008).

Essa pesquisa também aponta que a faixa etária com 80 anos ou mais, é o

segmento populacional que mais cresce atualmente. Para se ter uma visualização

desse crescimento, é válido destacar que em 1940 existiam 166 mil pessoas idosas

e em menos de um século esse contingente chegou a atingir quase 1,6 milhões em

2007. Isto leva a uma heterogeneidade do segmento idoso e aumenta a demanda

por cuidados de longa permanência (IBGE, 2008).

Vale ressaltar que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ao

realizar a Síntese de Indicadores Sociais em 2008, constatou uma “feminização da

população idosa”, visto que houve uma proporção de 100 mulheres para cada 79

homens na zona urbana brasileira no ano de 2007. Essa predominância do sexo

Page 27: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

25

feminino é atribuída à redução da mortalidade feminina que vem ocorrendo nas

últimas décadas (IBGE, 2008).

Essas mudanças no perfil demográfico da população brasileira são

perceptíveis desde 1940, e são resultantes da queda da mortalidade,

concomitantemente, com a redução da taxa de fecundidade que elevou as outras

faixas etárias, repercutindo assim no aumento da expectativa de vida, sendo que em

2000 a esperança de vida ao nascer era de 65 anos para os homens e 73 anos para

as mulheres (CHAIMOWICZ, 2005).

Além das modificações populacionais, o Brasil tem vivenciado uma

transição epidemiológica, com alterações relevantes nos índices de morbi-

mortalidade. Para melhor se perceber essa transição epidemiológica, destaca-se

que em 1950, as doenças cardiovasculares causavam 12% das mortes e,

atualmente, representam mais de 40% dos óbitos. Essa inversão do perfil

epidemiológico no Brasil é fruto dos avanços tecnológicos na área da saúde, da

melhoria nas condições sócio-econômicas, do controle parcial das doenças

preveníveis por imunizações e da incorporação do saneamento básico ao espaço

urbano (GORDILHO et al., 2000).

Essa transição epidemiológica evidenciada no Brasil é visualizada também

mundialmente, como mostra o relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS)

para os agravos crônicos, que são responsáveis por 60% de todo o ônus decorrente

de doenças do mundo. O crescimento é tão significativo que, as projeções para o

ano de 2020, apontam que 80% da carga de doenças dos países desenvolvidos

devem advir das morbidades crônicas (OMS, 2003).

Dentre os agravos crônicos existentes no mundo atualmente, cabe ressaltar

as demências que vêm se destacando em função da sua incidência e prevalência,

as quais aumentam exponencialmente com a idade, dobrando, a cada 5 anos, a

partir dos 60 anos de idade. Desse modo, após 65 anos, a prevalência é de cerca de

5 a 10%, e a incidência anual é em torno de 1 a 2%, aumentando progressivamente,

após os 75 anos, respectivamente para 15 a 20% e 2 a 4% (MACHADO, 2002).

As demências acometem principalmente a memória, mas pode-se observar

prejuízo de pelo menos uma das seguintes capacidades de cognição: atenção,

imaginação, compreensão, concentração, raciocínio, julgamento, afetividade,

percepção, bem como, também pode se verificar afasia, apraxia, agnosia e

Page 28: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

26

perturbações nas funções de execução como, planejamento, organização,

seqüência e abstração por um período superior a seis meses (AMERICAN

PHYCHIATRIC ASSOCIATION, 2002; CANINEU, 2003).

A causa mais comum de demência em idoso é a doença de Alzheimer,

responsável por mais de 50% dos casos em vários países. Este agravo é

caracterizado clinicamente por sintomas de debilidade mental progressiva e,

anatomicamente, pela presença de placas de “Redlich-Fisher” no córtex cerebral. É

uma enfermidade neurológica, lenta e degenerativa, que leva à perda progressiva

das habilidades domésticas diárias e de todas as funções até chegar ao final, com a

perda total da fala e dos movimentos, ausência do pensamento e da capacidade de

comunicação (GUTERMAN, 2002).

Esse tipo de demência apresenta-se em três estágios: o inicial, que é leve e

o individuo manifesta confusões e perda da memória, desorientação espacial,

dificuldade progressiva no cotidiano, mudanças na personalidade e na capacidade

de julgamento; o segundo, considerado moderado, evoluindo para incapacidade na

realização dos atos de vida diária, ansiedade, delírios, alucinações, agitação

noturna, alterações do sono, dificuldades de reconhecimento de amigos e familiares;

e, por fim, o terceiro e mais grave estágio, caracterizado pela redução acentuada do

vocabulário, diminuição do apetite e do peso, descontrole esfincteriano e

posicionamento fetal (CAOVILLA; CANINEU, 2002).

Embora a etiologia da DA ainda não tenha sido elucidada, fatores genéticos

são extremamente relevantes, pois, além da idade, a existência de membro da

família com demência é o único fator sistematicamente associado, presente em

32,9% dos casos diagnosticados (BRASIL, 2002a).

Além de dificuldades em precisar a etiologia, o diagnóstico da DA também é

complicado, ou seja, considerando que é feito por exclusão. Os critérios para o

diagnóstico clínico provável deste agravo são: presença de demência estabelecida

por teste objetivo; prejuízo da memória e de pelo menos outra função cognitiva;

piora progressiva da sintomatologia; ausência de distúrbio do nível de consciência;

início dos sintomas entre 40 e 90 anos; ausência de distúrbios sistêmicos e/ou outra

doença do sistema nervoso central que poderiam acarretar déficit cognitivo

progressivo, como, por exemplo, hipotireoidismo (BRASIL, 2002a).

Page 29: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

27

Em relação ao tratamento, nos dias atuais, são instituídos dois tipos de

terapias: o medicamentoso, que visa corrigir os déficits cognitivos e os distúrbios

psicocomportamentais. E as terapias não-medicamentosas, consideradas um

grande avanço em relação ao retardo da progressão da doença, que são

executadas por uma equipe multiprofissional. A combinação dessas terapias

demonstra resultados satisfatórios tanto no cuidar do idoso como da família

(CAOVILLA; CANINEU 2002)

Portanto, compreender a doença no seu aspecto biológico e clínico, de certa

forma, já está sendo buscado pela ciência e vem contribuindo nas estratégias para a

terapêutica medicamentosa desses doentes. No entanto, saber lidar com o doente

inserido no seu contexto social é o que se precisa melhor investir e, assim, anunciar

que o diálogo com a família cuidadora acerca das estratégias de cuidar, a partir de

suas vivências, pode sinalizar as diferentes maneiras de cuidar do doente de

Alzheimer e produzir discussões sobre a implementação de políticas de cuidados a

esse grupo (COELHO, 2004).

2.2 A Prática do Cuidador de Idoso Portador de Alzheimer no Domicílio

Ao refletir sobre as práticas dos cuidadores de idosos com Alzheimer no

domicílio foi imprescindível buscar embasamento teórico acerca do cuidar,

considerando se tratar de uma temática que se configura como fonte de

conhecimento aplicadas a inúmeras áreas do saber humano, sobretudo, da saúde, e

aqui, especificamente, a área da Enfermagem.

Na concepção de Boff (1999, p.33):

Cuidar é mais que um ato: é uma atitude. Portanto, abrange mais que um momento de atenção, de zelo e de desvelo. Representa uma atitude de ocupação, preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro.

Esse autor afirma que o cuidado somente surge quando a existência de

alguém tem importância para o outro, quando passa a dedicar-se a ele, dispor-se a

Page 30: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

28

participar do seu destino, de suas buscas, de seus sucessos e de sua vida. Tudo

que existe e vive necessita de cuidado para continuar existindo. Uma planta, uma

criança, um idoso, o planeta Terra.

Boff (1999) ressalta que o cuidado é mais fundamental que a razão e o

desejo, e que o ser humano coloca cuidado em tudo que executa. Nesse sentido,

passa a significar a própria essência da vida humana, precisando, assim, ser

constantemente alimentado, entre outros, com ternura, amor, carinho.

Waldow (2008, p. 87) afirma que “o Ser Humano é um Ser de cuidado, o Ser

nasce com este potencial, portanto todas as pessoas são capazes de cuidar e

necessitam, igualmente de serem cuidadas”. Entretanto, o desenvolvimento desta

capacidade sofre intervenções de diversos fatores como as relações interpessoais,

bem como da cultura, ambiente, economia, religião, dentre outros.

Leininger (1991) definiu cuidar/cuidado, como um ato que se encontra em

todas as culturas no mundo e que diz respeito a modos naturais de ser e estar. O

ato de cuidar, independentemente do seu grau de complexidade ou

profissionalização implica nas ações humanas úteis para as pessoas e que se

baseiam em modos de ajudar os indivíduos culturalmente definidos.

Para a autora, cuidar é indispensável à vida do indivíduo e à própria

manutenção de toda a sociedade, permitindo a sua continuidade. O cuidar e os

cuidados são essenciais à sobrevivência dos homens, assim como para o seu

crescimento, saúde, bem-estar, cura e capacidade de lidar com as deficiências e a

morte.

Leininger (1991) afirma que os homens são considerados capazes de cuidar

e de preocupar-se com as necessidades, o bem-estar e a sobrevivência dos outros.

O cuidado humano é universal, ou seja, está presente em todas as culturas. Assim,

os homens são universalmente seres cuidadores que sobrevivem em uma

diversidade de culturas pela sua capacidade de proporcionar a universalidade do

cuidado de várias maneiras e de acordo com os diferentes contextos, necessidades

e situações.

Esse cuidado, na perspectiva de Caldas (2003), tem um caráter existencial,

considerando que emerge quando o cuidador compreende a sua subjetividade e a

do outro, vivenciando essa relação e expressando-a de tal forma que a

individualidade, a autonomia e a liberdade do outro seja respeitada.

Page 31: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

29

E nesse enfoque, cujo cuidado existencial transcende o tempo e o espaço,

como afirma essa autora, bem como independe de sociedades e culturas, é

importante acrescentar que o ser humano sempre necessita de cuidados.

Considerando certos estágios de sua vida, esse cuidado deve corresponder, dentre

outros aspectos, a uma melhor e maior interação com o outro que, por sua vez,

busca uma assistência mais ampla de seus problemas. Pode-se citar como exemplo

disso a velhice, a qual quando acompanhada de doenças passa a exigir ainda mais

cuidado.

O envelhecimento populacional conduziu a uma crise dos sistemas de

proteção social e de saúde, recaindo unicamente sobre as famílias a

responsabilidade de cuidar dos seus idosos. Esse cuidado desenvolvido no contexto

domiciliar, fez ressurgir no núcleo familiar, os cuidadores familiares, que são

pessoas que oferecem cuidados para suprir a incapacidade funcional temporária ou

definitiva do individuo.

Neste estudo, foram focalizados os cuidadores familiares de idosos com

Alzheimer, cujas tarefas envolvem o acompanhamento das atividades diárias do

idoso e seu auxílio na alimentação, higiene pessoal, medicação de rotina e outras

práticas necessárias, excluídas aquelas para as quais sejam requeridas técnicas ou

procedimentos identificados com profissões legalmente estabelecidas,

particularmente na área de Enfermagem (CAMPINAS, 2005).

Esses cuidadores recebem denominações conforme o vínculo com a pessoa

que dispensam o cuidado. Dessa forma, entende-se por cuidadores formais os

profissionais de saúde que prestam cuidados e são remunerados por estes serviços,

ao passo que os cuidadores informais são todos aqueles que prestam cuidados no

âmbito domiciliar, mas não recebem nenhuma remuneração, podem ser familiares,

amigos, vizinhos e membros da comunidade (SOMMERHALDER, 2001).

Em seu estudo sobre o impacto nas relações familiares causadas pelo

Acidente Vascular Cerebral, Karsch (2003) mostra que em 98% dos casos

pesquisados, o cuidador informal era alguém da família, predominantemente do

sexo feminino (92,9%). A maioria eram esposas (44,1%), seguida de filhas (31,3%);

as noras e as irmãs não foram freqüentes.

Para a autora, o cuidador familiar se revelou o ator social principal nos

cuidados aos idosos incapacitados, sendo que 67,9% desses indivíduos prestavam

cuidados sem nenhum tipo de ajuda. É importante destacar que a faixa etária de 50

Page 32: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

30

anos foi a mais freqüente, com 59% contra 41% daqueles que tinham idade superior

a 60 anos. Os dados mostram também que 39,3% de cuidadores, entre 60 e 80

anos, cuidavam de 62,5% de pacientes da mesma faixa etária, o que se conclui que

pessoas idosas estão cuidando de idosos.

No contexto familiar, a função de cuidador tende a ser assumida por uma

única pessoa, denominada de ”cuidador principal”, o qual se responsabiliza pelas

tarefas de cuidados, sem contar com ajuda de outros membros da família. Essa

posição é assumida geralmente, por esposas, filhas e noras. Assim, a mulher

evidencia-se como a “grande cuidadora”, a quem foi atribuída esse papel cultural e

socialmente, ao cuidar dos filhos, do marido, dos doentes e dos velhos (DIOGO;

CEOLIM; CINTRA, 2005; NERI et al., 2002).

Entretanto, Karsch (2003) alerta que cuidar de um idoso dependente em

casa é certamente uma condição que deve ser preservada e estimulada. Todavia,

estes cuidados não podem restringi-se somente aos encargos da família, tendo em

vista que atualmente as mesmas sofrem mudanças significativas em seus papéis,

ocasionadas por diversos motivos como: divórcios e novas uniões; instabilidade

econômica e migrações em busca de oportunidades de trabalho; maior tempo de

vida das gerações e um aumento do contingente de viúvas; idosos exercendo

chefias de famílias; e a participação da mulher no mercado de trabalho.

Essa mesma autora ressalta a importância de se analisar o envelhecimento

com dependência dentro de um contexto histórico, social, político, econômico e

cultural a fim de que sejam implementadas políticas públicas mais eficazes e viáveis

de suporte aos cuidadores de idosos com dependência.

Estudos científicos revelam duas concepções sobre as experiências dos

cuidadores familiares no domicílio. A primeira se baseia no enorme impacto de

conviver com o doente, que cada vez torna-se mais dependente, o que provoca uma

série de alterações na saúde física, emocional e social deste cuidador, pois o

cuidado é contínuo, exige conhecimento específico e habilidades. A outra concepção

revela os aspectos positivos que envolvem essa relação de cuidados, que se mostra

como uma experiência enriquecedora, na qual se faz uma auto-avaliação a cerca

dos conceitos e concepções de vida, ganhando-se em aprendizado e

reconhecimento social, além de renovação espiritual e fortalecimento da fé (SENA;

GONÇALVES, 2008; SOMMERHALDER, 2001; LAHAM, 2003).

Page 33: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

31

A esse respeito autores como Néri e Carvalho (2002), apontam que o cuidar

envolve questões financeiras, motivações e afetos, fazendo emergir conflitos e

ambivalências. No início do exercício desta prática, as exigências parecem mais

fortes, mas ao longo do tempo, em virtude de processos adaptativos e da variedade

de processos que ocorrem na vida do familiar que cuida, o senso de sobrecarga

pode se estabilizar ou diminuir. Nesse sentido, não se deve pensar no cuidado como

uma atividade que necessariamente traz efeitos nocivos. Apesar de ser tarefa

onerosa em muitos aspectos, nem todos os cuidadores ficam sobrecarregados,

doentes ou estressados, bem como existe a possibilidade de transformar

cognitivamente a situação de modo a lidar com o ônus.

Assim, enquanto prestadora de cuidados ao seu familiar idoso com DA, a

família constitui-se em matriz cuidadora que merece apoio e valorização por parte

dos profissionais de saúde, representando sua importante aliada. A valorização do

processo de cuidar, conduzido pelas famílias, representa uma contrapartida para o

profissional de saúde trabalhar em parceria, atendendo-a como cliente também em

suas necessidades de saúde, minimizando, assim, a vulnerabilidade tanto dos

idosos quanto dos seus familiares cuidadores. Assim, é possível prevenir a

institucionalização desses idosos e orientar os cuidadores para que possam lidar

melhor com os desafios que a doença de Alzheimer determina (PELZER, 2005).

Desse modo, conforme destaca Guterman (2002), é fundamental preparar o

cuidador e habilitá-lo ao exercício dessa função e ajudá-lo na missão que lhe cabe,

que é a de estar ao lado do idoso dando-lhe o apoio necessário, servindo-lhe de

suporte para minimizar os seus problemas. Também é necessário preparar os

demais familiares, pois embora seja individual, esta doença, pelos seus efeitos

econômicos e sociais, acomete o próprio núcleo familiar do idoso, ou seja, a todos

aqueles que fazem parte do seu ambiente domiciliar.

2.3 As Políticas Públicas de Atenção à Pessoa Idosa

Considerando a realidade do envelhecimento populacional, o Brasil tem

investido em Políticas Públicas de acolhimento à pessoa idosa, assim como em

projetos de proteção social que assegurem os direitos a esses indivíduos. Um marco

Page 34: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

32

importante dessa trajetória foi a Constituição Federal de 1988, que introduziu em sua

disposição o conceito de seguridade social, modificando o enfoque da rede de

proteção social, antes estritamente assistencialista, passando a ter um caráter

ampliado de cidadania e responsabilizando as famílias a oferecer acolhimento e

cuidado aos idosos.

Assim, a Constituição Brasileira de 1988, em seu artigo 229, relata que “os

pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os seus filhos

maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou

enfermidade”. E Acrescenta que “os programas de amparo ao idoso serão

executados preferencialmente em seus lares”. Então, é possível perceber que no

âmbito das Políticas Públicas existe uma forte tendência em reconfigurar a

institucionalização do cuidado e seu retorno à esfera doméstica. Dessa forma, a

família é percebida como cuidadora ideal, embora, na realidade concreta, conforme

apontam as pesquisas, esse núcleo de cuidados permaneça desassistido por essas

políticas e tendo que assumir sozinho mais essa responsabilidade (BRASIL, 1994).

Nesse sentido, foi estabelecida, em 1994, através da Lei 8.842, (BRASIL,

1994), a Política Nacional do Idoso (PNI), que considera idosa toda pessoa com

idade maior ou igual a 60 anos e prioriza em suas diretrizes o atendimento a esse

grupo populacional por intermédio de suas próprias famílias em detrimento do

atendimento asilar. Contudo, é valido lembrar que a família necessita de uma rede

de amparo social e de saúde que se constitua em um suporte para lidar com o idoso

à proporção que este se torne mais dependente.

Foi nessa política que, pela primeira vez, viram-se efetivamente

contemplados os direitos dos idosos de uma maneira mais ampla, buscando

envolver todos os segmentos da esfera federal, estadual e municipal com o intuito

de garantir o bem-estar físico, emocional e social do idoso em todo o território

nacional. (BRASIL, 1994)

Como um detalhamento da PNI, foi criada em dezembro de 1999 a Política

Nacional de Saúde do Idoso (PNSI), regulamentada através da portaria ministerial nº

1.395. O foco central dessa política é a promoção do envelhecimento saudável

através da manutenção da capacidade funcional, isto é, valorizando a autonomia e

preservando a independência física e mental do idoso (BRASIL, 1999).

Uma das diretrizes da PNSI propõe o apoio à formação dos cuidadores

informais. Desse modo, o governo brasileiro, no intuito de atender integralmente o

Page 35: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

33

idoso e seus familiares, instituiu, em 7 abril de 1999, a portaria interministerial nº

5.153, tendo, entre outros, o objetivo de instituir o Programa Nacional de Cuidadores

de Idosos, cujo o foco é formar cidadãos que ofereçam cuidados adequados aos

idosos, bem como conceder suporte aos familiares cuidadores (BRASIL, 1999).

A Política Nacional de saúde do Idoso foi também responsável pela criação

do Programa de Assistência aos Portadores de Alzheimer, através da portaria

ministerial nº 703, que entrou em vigor a partir de 12 abril de 2002. Esse programa

foi implantado no âmbito do SUS, o que determinou que sua abrangência se estenda

em todo território nacional. Conforme a portaria, os Centros de Referências em

Assistência à saúde do idoso passam a ser responsáveis pelo diagnóstico,

tratamento, distribuição gratuita de medicamentos, acompanhamento dos pacientes,

além da orientação a familiares e cuidadores (BRASIL, 2002b).

Outro dispositivo que nasceu dos anseios da sociedade foi o Estatuto do

Idoso, aprovado em setembro de 2003 e sancionado pela lei 10.741, mais

abrangente que a PNI, institui penas severas para quem desrespeitar e abandonar o

idoso. Esse estatuto incentiva a permanência desses cidadãos no domicílio, junto à

família e na comunidade, desestimulando as internações em serviços de longa

permanência, casas de apoio e afins (BRASIL, 2003).

Vale ressaltar como um marco no Sistema Único de Saúde (SUS), em

relação atenção à pessoa idosa, a portaria ministerial nº 399, de fevereiro de 2006,

que divulgou as Diretrizes do Pacto pela Saúde, o qual agrega três eixos: o Pacto

em Defesa do Sistema Único de Saúde, o Pacto em Defesa da Vida e o Pacto de

Gestão (BRASIL, 2006b).

No Pacto em Defesa da Vida, a saúde do idoso é contemplada como uma

das prioridades pactuadas entre as três esferas do governo, sendo apresentadas

uma série de ações que objetivam a implementação de algumas das diretrizes da

Política Nacional de Atenção à Saúde do Idoso (BRASIL, 2006c).

No decorrer do processo de pactuação, foi assinada uma nova portaria

ministerial, a de nº 2.528, de 19 de outubro de 2006, que estabeleceu a Política

Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, que teve como um dos grandes diferenciais a

orientação dos serviços públicos de saúde a identificar o nível de dependência do

idoso e atribuir um acompanhamento diferenciado para cada situação. Assim, os

serviços de saúde, para fornecer um atendimento adequado, devem fazer a

Page 36: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

34

distinção entre idosos independentes daqueles que apresentam algum nível de

fragilidade (BRASIL, 2006c).

Neste sentido, os profissionais da saúde devem avaliar as pessoas idosas

de acordo com a sua capacidade funcional. E vale ressaltar que aos idosos frágeis

ou dependentes serão destinadas ações de reabilitação, prevenção secundária e

atenção domiciliar, ao passo que aos considerados independentes caberá receber

ações de prevenção e promoção da saúde, reabilitação preventiva, atenção básica e

suporte social (BRASIL, 2006c).

2.4 Intervenções de Enfermagem junto aos Cuidadores Familiares de Idoso

com Doença de Alzheimer

Cuidar de um idoso com Alzheimer no domicilio é certamente uma tarefa

árdua para o cuidador e sua família, uma vez que este cuidado se circunscreve em

uma pluralidade de necessidades e especificidades, sejam elas relativas às

condições sociais, econômicas e biológicas, sejam de ordem psicológica e

emocional.

Partindo dessa concepção, deve-se ressaltar que cuidar do idoso e do

cuidador familiar configura-se atualmente em um dos mais novos desafios para os

serviços de saúde e, por conseguinte, para os profissionais, tendo em vista que o

envelhecimento populacional tem proporcionado um elevado número de idosos

dependentes dos cuidados da família.

Esses desafios impõem aos profissionais de saúde, em particular, o

Enfermeiro, o desenvolvimento de práticas de educação em saúde que se esforçam

em interelacionar saberes, resgatar conhecimentos e restabelecer diálogos entre

culturas que permitam ampliar a capacidade de conhecer a realidade e intervir com

responsabilidade sobre ela, para garantir a vida com qualidade a todos, em sua

relação com o ambiente (ERDMANN; SCHLINDWEIN; SOUSA, 2006).

Nessa perspectiva, cabe ao enfermeiro ao assistir os cuidadores familiares

de idoso com Alzheimer, facilitar a expressão dos problemas, dificuldades e

constrangimentos sentidos, valorizando o trabalho desenvolvido pelos mesmos.

Estes profissionais deverão mostrar disponibilidade e abertura para o diálogo e

Page 37: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

35

ajudar os cuidadores a enfrentar e resolver os conflitos resultantes do processo de

cuidar, demonstrando respeito pelas suas crenças e valores. (DUARTE; DIOGO,

2000)

Essa postura, segundo Acioli (2008), resulta na construção de um novo

saber, que nasce do entrelaçamento do conhecimento científico com o saber

popular, fruto da reflexão do cotidiano e da práxis individual ou coletiva, com

possibilidade de transformá-la, que é denominada de conhecimento compartilhado.

Essa prática educativa fomenta a interdisciplinaridade, a autonomia e a cidadania, e

privilegia a interação dialógica, na qual os sujeitos detentores dos diferentes saberes

transformam-se e vão transformando a sua realidade.

A enfermagem, pela proximidade que tem com a população, assume um

papel fundamental no apoio desses cuidadores, constituindo-se como o elo entre os

mesmos e a equipe multidisciplinar. Contudo, a prática evidencia que essa relação

nem sempre é observada, considerando que em muitas situações não há essa

interação entre o enfermeiro e os cuidadores. O projeto de manter um doente no

domicílio é necessariamente pluridisciplinar, existindo a necessidade de articular os

saberes de diferentes grupos profissionais (PEREIRA, 2008).

Para essa autora, o apoio no domicílio ao idoso e ao cuidador deve centrar-

se em uma perspectiva holística, no sentido de manter o doente o mais

independente possível, minimizando as perturbações comportamentais, em um

ambiente pouco restritivo, tendo como referência as seguintes linhas orientadoras:

manter a máxima qualidade de vida; apoiar as famílias e os doentes nas suas casas;

minimizar a mobilidade; diminuir o sofrimento; melhorar a autoestima e a integridade

pessoal; otimizar a papel da família e dos cuidadores na prestação de cuidados.

O cuidador não deve ser objeto de intervenção, ser submetido a um

tratamento, mas sim sujeito de intervenção, desenvolvendo sinergias com os

serviços de saúde. Eles devem ser encarados como aliados na recuperação e

manutenção da saúde das pessoas de quem cuidam, detentores de um potencial

determinado pelas percepções das experiências vividas, que irão influenciar os seus

comportamentos quando da gestão dessas mesmas experiências (MENDES, 2005).

Essa perspectiva passa de um paradigma, cujos sujeitos assumem um papel

passivo e de simples receptor de cuidados, conferindo-lhes um papel ativo na

vivência do cuidado e na tomada de decisões. Mendes (2005) considera que as

intervenções dos profissionais de saúde devem ser dirigidas para os cuidadores,

Page 38: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

36

encarando-os não unicamente como receptores de cuidados, mas também e

principalmente como parceiros do cuidar.

Tais condutas permitem ao enfermeiro trabalhar com os cuidadores

familiares em diversas estratégias como os grupos de auto-ajuda, palestras,

consultas de enfermagem, entre outros, no sentido de investir no apoio emocional

das pessoas que cuidam para fortalecê-las, melhorando a sua qualidade de vida e

do idoso com Alzheimer.

A esse respeito Caldas (2002) relata sua experiência em uma instituição

pública ao cuidar de pessoas idosas com demência e sua família ao nível

ambulatorial. A autora revela que se reúne com o cuidador familiar no início do

tratamento para esclarecer acerca da patologia, estabelecer estratégias de cuidado

e orientar para necessidades de adaptação da dinâmica familiar, levando em conta

as necessidades do idoso e da familia.

Caldas (2002) ressalta que continua acompanhando e reunindo-se com o

cuidador sempre que necessário, para esclarecer alterações que possam ocorrer na

evolução da doença. Os cuidadores familiares são também encaminhados ao grupo

de apoio à família, através do qual se reúnem semanalmente com a equipe

multiprofissional para esclarecimento de dúvidas e questões relativas ao cuidado.

Os cuidadores destacam a melhoria no desempenho em lidar com o idoso

demenciado, através da busca de novas estratégias para lidar com o seu ente

querido, fazendo ajustes no seu dia-a-dia, na tentativa de não se anular enquanto

ser com as suas possibilidades de continuar vivendo a sua própria vida. Nesse

sentido, essa abordagem de cuidado reafirma a preocupação dos profissionais

nessa área, na tentativa de não somente compreender a complexidade dessa

questão, mas, sobretudo, de buscar soluções e estratégias que irão ajudar as

pessoas que cuidam a enfrentarem essa condição com prazer e alegria de viver

(CALDAS, 2002).

Em vista disso, enfatiza-se que para Pereira (2008) nenhuma ação resultará

em benefício para o idoso, se o cuidador não for devidamente apoiado e integrado à

equipe de saúde. Estes atores necessitam que os profissionais de saúde atuem

como supervisores e potencializem as suas habilidades pessoais para que

aprendam não só a cuidar do seu doente, mas também a cuidar de si.

Page 39: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

37

3 REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO ___________________________________________________________________

Page 40: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

38

3.1 A Teoria Dialógica Libertadora de Paulo Freire

Ao refletir sobre as experiências e histórias de vida que permeiam a relação

entre cuidadores e idosos portadores de Alzheimer a partir dos seus saberes e

práticas, buscou-se sustentação na teoria dialética de Paulo Freire (1997), a qual

tem como pilar o caráter dialógico e problematizador das relações e da inconclusão

dos homens, que se encontra em permanente processo de aprendizagem para

atingirem as transformações.

A dialética do diálogo libertador de Freire (1980) é uma teoria que expressa

a constante capacidade de transformação, na qual o conhecimento é entendido

como inacabado, contínuo e progressivo, e o homem assume o papel de sujeito com

atitudes: crítica, reflexiva e histórica.

Deve-se destacar que, na Teoria da Conscientização de Freire (1980), por

meio da crença em si mesmo, o homem é capaz de dominar os instrumentos de

ação à sua disposição. Em outras palavras, o homem, por suas práticas, torna-se

agente transformador de seu universo sócio-cultural e histórico.

Vale ressaltar que, considerando as práticas como derivadas da

transformação ou da reconstrução dos saberes, vários estudiosos no Piauí, na área

de Enfermagem, adotaram as idéias e conceitos de Freire (1980) para subsidiar

suas produções científicas, como Figueiredo (2005), Carvalho (2009) e Brito (2009),

as quais identificam na obra desse autor um referencial temático e teórico que pode

significar um poder de ação gerador de novas práticas.

Figueiredo (2005) revela que as concepções e conceitos freirianos serviram

para dar suporte às argumentações de sua tese, que teve como pressuposto,

afirmar que as mulheres idosas sofrem com a perda de sua autonomia imposta pela

ação opressora da sociedade capitalista e globalizada na qual estão inseridas, mas

que também reconquistam essa autonomia a partir do processo de conscientização

vivenciada em espaços sócio-educacionais e democráticos, como o PTIA, nos quais

ocorrem verdadeiras mudanças, especialmente através da valorização do

envelhecer.

Carvalho (2009) enfatiza que as contribuições freireanas se definem como

importantes fontes de conhecimento e motivação para os estudos nas diversas

áreas do saber humano. Segundo a autora, trata-se de conceitos e concepções que

Page 41: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

39

embasaram a construção de sua pesquisa, considerando que constitui de uma teoria

cujo ponto de sustentação é o diálogo problematizador no processo de ensino

aprendizagem com o objetivo de fazer com que o homem atinja uma consciência

transformadora da sua realidade, buscando melhorar sua condição de vida.

Já Brito (2009) constrói seu estudo com base no pressuposto de que as

concepções filosóficas da teoria de Freire podem servir como apoio teórico

fundamental para a análise e a discussão dos saberes e das práticas sobre a

prevenção do câncer de mama, constituintes do universo do senso comum das

pessoas idosas.

Nesse sentido, afirmando, conforme Freire (2005), que a consciência do

mundo e a consciência de si crescem juntas e em razão direta, em que uma está

comprometida com a outra, ressalta-se que foi possível identificar na obra de Paulo

Freire (1980) conceitos que deram suporte às análises dos achados desta

investigação. Pois, na visão do autor, o homem é um ser inconcluso, histórico e,

como tal, contextualizado.

Cabe enfatizar que em todo homem existe um ímpeto criador que nasce da

sua inconclusão, assim, o indivíduo deve participar e buscar a transformação de sua

realidade para ser mais, passando a se constituir sujeito e não objeto de sua própria

realidade (FREIRE, 1980).

Baseado nesses princípios, Freire apóia sua teoria em seis pressupostos

designados por ele como idéias-força: toda ação educativa deve estar precedida de

reflexão sobre o homem e de uma análise do seu meio; o homem só será sujeito a

partir da reflexão de sua situação e do seu ambiente; a educação deve levar o

individuo a uma tomada de consciência e atitude crítica no sentido de haver

mudança da realidade; através da integração do homem com o seu contexto, haverá

a reflexão, o comprometimento, construção de si mesmo e o ser sujeito; à medida

que o homem se integrar às condições de seu contexto de vida realiza reflexão e

obtém respostas aos desafios que se lhe apresentam, criando cultura; o homem é

criador de cultura e fazedor da história, pois, na medida em que ele cria e decide, ele

a transforma; a educação deve pressupor que o homem chegue a ser sujeito,

construir-se como pessoa, transformar o mundo, estabelecer relações de

reciprocidade, fazer cultura e história.

Page 42: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

40

Dessas idéias-forças, propostas por Freire, emergiram alguns conceitos que

são utilizados na área da saúde, dentre elas a Enfermagem. Para nortear este

estudo houve uma aproximação com alguns conceitos propostos por este autor, que

se julgou imprescindíveis para a análise do objeto de investigação, como: o diálogo,

a cultura, a história, a conscientização e a libertação:

Para Freire (1997), o diálogo é entendido como a própria palavra, que possui

suas dimensões de ação e reflexão. É o encontro fraterno em que há troca de idéias

sobre essas experiências, a partir do saber que cada cidadão/cliente é portador. É o

encontro em que se solidarizam a ação, a reflexão e a ação de seus sujeitos

direcionados ao mundo a ser transformado e humanizado.

Nessa perspectiva, Freire (1997, p. 43) afirma que “o diálogo é uma

necessidade existencial, é o encontro amoroso dos homens que, mediatizados pelo

mundo, o „pronunciam‟, isto é, o transformam, e, transformando-o, o humanizam

para a humanização de todos”.

O diálogo é uma comunicação verdadeira entre os homens, é ação e

reflexão. E com base nesse conceito, deve-se considerar que não há palavra

verdadeira que não seja práxis, que por sua vez significa ação transformadora que

desvela a realidade, permitindo a sua compreensão. É importante lembrar que a

compreensão serve de instrumento de releitura coletiva da realidade, onde acontece

a relação entre os homens. E, assim, para se manter o diálogo é necessário amor,

humildade, fé no homem, criatividade, criticidade e esperança (ESPINOZA, 2007).

Com base nesse enfoque, foi importante a articulação do diálogo libertador

de Freire com os cuidadores de idosos com Alzheimer, pois foi possível estabelecer,

através dessa comunicação, uma relação de reciprocidade, de trocas de ideias e de

interatividade. Além disso, permitiu buscar no universo histórico-social e cultural dos

cuidadores, saberes e práticas de cuidados na perspectiva de contribuir para a

transformação da realidade.

Nesse aspecto, deve-se tomar como um dos princípios orientadores para

esta investigação, as dimensões cultural, social e histórica dos sujeitos, que

permeiam suas práticas e saberes, uma vez que o contexto no qual estes indivíduos

se encontram inseridos é constituído, dentre outras, por desigualdades políticas,

sociais, econômicas, éticas, religiosas, construídas através de diversos olhares, em

diferentes épocas históricas e por isso compreendidas de várias formas por estes

atores, conforme seus interesses nas relações sociais (FIGUEIREDO, 2005).

Page 43: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

41

Nesse contexto, Freire (1980) define cultura como todo o resultado da

atividade humana, do esforço criador e recriador do homem, de seu trabalho por

transformar e estabelecer relações de diálogo com outros homens. Resultado da

aquisição crítica, criadora e sistemática da experiência humana, a cultura não pode

ser interpretada como a justaposição de informações armazenadas na inteligência

ou na memória e não “incorporadas” no ser total e na vida plena do homem.

Atrelada à cultura, deve-se destacar a história, a qual, na compreensão de

Freire (1980, p. 38), é vista a partir do princípio de que:

Um homem faz história na medida em que, captando os temas próprios de sua época, pode cumprir tarefas concretas que supõe a realização destes temas. Também faz história quando, surgirem os novos temas, ao se buscarem valores inéditos, o homem sugere uma nova formulação, uma mudança na maneira de atuar, nas atitudes e nos comportamentos. Insistamos em que o homem, para fazer a história, tem de haver captado os temas. Do contrário, a história o arrasta, em lugar dele fazê-la.

Partindo da busca pela compreensão do contexto histórico, social e cultural

dos cuidadores de idosos com Alzheimer, que se faz necessária para a interpretação

das práticas e dos saberes desses sujeitos, foi de fundamental importância enfocar

outros conceitos de Freire (1980), como o da conscientização, que supõe a ação de

transformar, parte de situações vividas e implica em um retorno crítico à realidade

em que se inserem os indivíduos.

A conscientização é a capacidade que o homem tem de distanciar-se das

coisas para fazê-las presentes, imediatamente presentes. É a presença que tem o

poder de presentificar. Nas palavras do próprio Freire (2005, p. 13), “não é

representação, mas condição de apresentação”. E orientado por este conceito foi

que a conscientização se mostrou essencial para a análise do objeto deste estudo,

uma vez que considerada um compromisso histórico, passa a expressar a inserção

crítica na história, assumindo o homem uma posição de sujeito, podendo transformar

o mundo.

Deve-se incorporar à essencialidade da conscientização para a análise

nesta pesquisa, o fato de que o desenvolvimento crítico da tomada de consciência

significa um ir além da fase espontânea da apreensão até chegar a uma fase crítica

na qual a realidade se torna um objeto cognoscível e se assume uma posição

Page 44: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

42

epistemológica, procurando conhecer e, em outras palavras, tomar posse da

realidade (FREIRE, 1980).

A conscientização são os olhares mais críticos possíveis da realidade, que

propiciam o seu desvelamento e permitem conhecê-la para, a partir daí, conhecer os

mitos que enganam e que ajudam a manter a realidade da estrutura dominante. A

conscientização só pode existir na práxis, ou seja, no ato ação-reflexão-ação. Pois é

uma atitude crítica dos homens na história, com conseqüente engajamento no papel

de sujeito que faz e refaz o mundo, um processo contínuo que não terminará jamais

(ESPINOZA, 2007).

A liberdade é outro pressuposto adotado por Freire (1997; 1999), que

possibilita a interrelação com o objeto dessa investigação, considerando que a

liberdade se circunscreve no ato de criar e de propor o quê e como aprender,

herdando a experiência adquirida, criando e recriando, integrando-se às condições

de seu contexto, respondendo os seus desafios, objetivando-se a si próprio,

discernindo, transcendendo, lançando-se no domínio da história e da cultura. Faz-se

importante evidenciar que qualquer forma de aprendizagem sem liberdade não

subsiste, pois tolhendo a autonomia do individuo, ele não cria, não aprende e, desse

modo, sucumbe.

A seleção destes conceitos foi importante para embasar as discussões sobre

os saberes e práticas dos cuidadores de idosos com Alzheimer. Acredita-se que a

metodologia, conscientizadora e libertadora, proposta por Paulo Freire, uniu de

forma muito feliz a cognição e afetividade, reflexão e ação, opressão e liberdade.

3.2 Tipo de Pesquisa

Para atender aos objetivos propostos nesta pesquisa, optou-se por uma

abordagem qualitativa, com estudo descritivo, em decorrência da complexidade do

fenômeno, isto é, a subjetividade que envolve os saberes e práticas dos cuidadores

de idosos com Alzheimer.

Nessa perspectiva, Minayo, Deslandes e Gomes (2007) afirmam que a

pesquisa qualitativa possibilita o investigador identificar neste universo subjetivo os

Page 45: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

43

significados dos saberes e práticas a partir das crenças, conhecimentos, valores,

mitos, preconceitos, próprios da cultura e história dos sujeitos investigados.

Partindo, pois, dessa definição e considerando todo o universo de práticas e

saberes que caracterizam os sujeitos deste estudo e o objeto de investigação, que

se mostra repleto de significados, acredita-se que esta abordagem foi suficiente para

revelar os dados que responderam às questões norteadoras da pesquisa.

Para Richardson (2007), esta abordagem possibilita a descrição da

complexidade de determinado fenômeno, analisa a interação de certas variáveis,

compreende e classifica processos dinâmicos vividos por classes sociais, contribui

no processo de mudança de determinados grupos e proporciona, em maior nível de

profundidade, o entendimento das particularidades do comportamento dos

indivíduos.

A pesquisa qualitativa explora o valor e o significado individual das

informações coletadas sobre o fenômeno investigado, sendo relevantes os

depoimentos de cada um dos participantes para responder os questionamentos do

investigador sobre a problemática em estudo. Nesse enfoque, a abordagem

qualitativa serviu para aprofundar-se no universo de saberes e práticas desses

cuidadores, os quais retrataram seus valores, sentimentos, necessidades,

experiências, configurando-se em uma riqueza de informações para a análise do

estudo.

Este estudo também foi desenvolvido tomando como princípio a investigação

descritiva definida, conforme Dyniewicz (2007), como a pesquisa que tem como

propósito observar, descrever, explorar e interpretar a realidade, através da

identificação de sua ocorrência, natureza e características, o que proporciona um

aprofundamento dos fenômenos nas suas dimensões, variações e significados,

levando em consideração a subjetividade descrita pelo sujeito.

E com isso, deve-se expressar a importância e a singularidade de cada

sujeito no processo de investigação, pois se trata de um fenômeno amplo, no qual

deverá ser valorizado a totalidade de suas vivências, experiências, priorizando o

contexto político, histórico e social em que o mesmo encontra-se inserido.

Page 46: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

44

3.3 Os Sujeitos da Pesquisa

Em virtude dos novos arranjos estruturais que se configuram no interior das

famílias na atualidade, houve a necessidade de caracterizar quem são os

cuidadores familiares que, neste estudo, foram considerados as pessoas com

vínculo consangüíneo ou não que auxiliam os idosos no desempenho das atividades

de vida diária no domicílio, bem como no suporte social, emocional, econômico e

cognitivo necessário para o cuidado.

A opção por pesquisar esses sujeitos decorre do fato de que, na maioria dos

casos, são esses familiares que prestam os cuidados diretos ao demenciados ao

longo da evolução da doença e nem sempre tem seus anseios, suas angústias e

necessidades devidamente atendidas e orientadas.

É válido destacar que foram empregados dois critérios de inclusão na seleção

dos sujeitos. O primeiro deles é que deveriam residir em Teresina e exercer o papel

de cuidador familiar principal de um idoso com DA no contexto domiciliar há pelo

menos 30 dias, tendo em vista que a partir deste período já se observa uma série de

repercussões que a evolução deste agravo provoca na família. O segundo critério

adotado foi que este cuidador familiar deveria ser integrante da Associação

Brasileira de Alzheimer (ABRAz) regional Piauí, com sede no Hospital São Marcos,

localizada no município de Teresina – PI.

Considerando esses critérios, participaram da pesquisa 14 integrantes da

ABRAz – PI, os quais passaram integrar o estudo após o convite da pesquisadora,

colocando-se à disposição, sem restrições. Ao aceitarem participar da pesquisa,

foram informados sobre o estudo mediante a leitura do Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido (ANEXO A), que foi lido, discutido e assinado por todos,

mediante as devidas explicações sobre os objetivos, a metodologia e as

contribuições dos sujeitos para o desenvolvimento do trabalho.

E para melhor descrição e apresentação, foi elaborado um quadro ilustrativo

com as características sócio-demográficas dos sujeitos, as quais são bastante

heterogêneas, conforme demonstra-se a seguir:

Page 47: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

45

RESULTADO PERFIL DO SUJEITO

DADOS OBTIDOS

FREQUÊNCIA

SEXO Feminino Masculino

13 01

FAIXA ETÁRIA

30 – 39 40 – 49 50 – 59 60 – 69

02 05 06 01

ESTADO CIVIL

Casada Viúva

Solteira

10 01 03

ESCOLARIDADE

Fundamental incompleto Médio completo

Superior completo Superior incompleto

04 02 06 02

RENDA MENSAL

1 a 3 salários mínimo 4 a 7 salários mínimos 8 a 10 salários mínimos

Mais de 10 salários mínimos

06 03 02 03

PROFISSÃO

Do lar Doméstica Enfermeira

Funcionária pública Odontológa Autônoma

04 02 02 03 01 02

GRAU DE PARENTESCO

Sobrinha Filha Filho

Cônjuge Nora

Outros

01 06 01 02 02 02

TEMPO DE CUIDADO

Menos de 1 ano 1 a 4 anos 5 a 8 anos

02 07 05

Quadro 01: Caracterização Geral dos Sujeitos Fonte: Pesquisa Direta.

Assim, após a definição de quem seriam os sujeitos da pesquisa, buscou-se

uma aproximação com pessoas e locais que facilitassem o acesso aos cuidadores

familiares de idosos com DA. Elegeu-se então a ABRAz regional Piauí. A escolha

inicial desta associação foi pelo fato de ser mais acessível à obtenção da confiança

e o aceite por parte destes associados em contribuir com a pesquisa.

Vale destacar que a ABRAz – PI é uma sub-regional que está interligada à

ABRAz nacional, entidade jurídica, sem fins lucrativos, que atua na área de

educação e saúde, formada por familiares de portadores de Alzheimer e

profissionais da área de saúde e outras áreas afins e voluntários.

Page 48: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

46

A ABRAZ – PI foi criada em 21 de setembro de 2002, com a missão de ser o

núcleo central de todos aqueles envolvidos com a DA, permitindo o intercâmbio e

apoiando ações voltadas ao bem-estar do portador, da família, do cuidador e dos

profissionais. Possui atualmente 55 integrantes, dentre os quais 38 familiares e 17

profissionais das diversas áreas de saúde.

Assim, foi por intermédio dessa associação que foi possível participar das

reuniões e contatar com os cuidadores familiares, passando a conhecer mais de

perto suas experiências e vivências frente a essa relação de cuidados e a partir daí

selecionar os participantes do estudo.

3.4 O Cenário da pesquisa

Como já foi dito, os sujeitos foram identificados na ABRAz-PI, porém o

ambiente que se mostrou mais adequado para realização das entrevistas foi o

próprio domicílio dos cuidadores, garantindo a eles a permanência junto ao idoso.

Além disso, as suas residências se mostraram um ambiente favorável à interação

pesquisador e sujeitos, possibilitando a estes se sentirem mais à vontade ao revelar

suas experiências, crenças, valores, bem como seus saberes e práticas construídos

através da relação de cuidado que mantém com o idoso portador da doença.É

importante destacar que os domicílios visitados localizam-se nas diversas regiões do

município de Teresina.

3.5 A Produção dos dados

Ao definir o objeto de estudo permeado pelas características fruto da

experiência social e cultural dos sujeitos, focalizou-se como técnica para a

realização desta pesquisa a entrevista semi-estruturada que, segundo Minayo

(2007), constitui um diálogo entre dois ou mais interlocutores, no qual o pesquisador

vai estimulando os sujeitos a expor suas opiniões, pensamentos e expectativas a

Page 49: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

47

cerca de uma temática com intuito de construir informações pertinentes para o

objeto de pesquisa.

As informações foram originadas através de um roteiro de entrevista que,

segundo a autora, conteve elementos essenciais e suficientes dispostos em tópicos

que contemplou os objetivos propostos na pesquisa.

Essa técnica se mostrou adequada e contribuiu para nortear a investigação,

uma vez que possibilitou estabelecer vínculos com o entrevistado e, desse modo,

aprofundar-se no universo que envolve as relações de cuidado entre o binômio

cuidador e idoso com DA.

Após a autorização do Presidente da ABRAz - PI e a aprovação do Comitê de

Ética e Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Piauí (UFPI), deu-se início à

coleta de dados que ocorreu durante os meses de abril e maio de 2009.

Inicialmente, para a ambientação da pesquisadora e adequação do roteiro

de entrevista semi-estruturada (APÊNDICE A), aplicou-se um teste piloto com o

intuito de realizar correções neste instrumento. Em seguida, as entrevistas foram

conduzidas pela pesquisadora e gravadas em Mp3. Desta forma, esse levantamento

ocorreu até alcançar a saturação dos discursos, isto é, o ponto de saturação no qual

se percebe que as informações se tornaram repetitivas.

3.6 A Análise dos dados

Após a realização das entrevistas e suas transcrições na íntegra, buscou-se

desvendar os significados manifestos e latentes que permeiam o objeto de estudo

proposto. Desse modo elegeu-se a análise de conteúdo de Bardin (2006), que são

um conjunto de técnicas de análise parciais mas complementares, a qual consiste

na explicitação e sistematização dos conteúdos das mensagens e da expressão dos

mesmo.

Nessa perspectiva, foi essencial categorizar as narrativas dos sujeitos para

sistematizar as unidades de significação. Assim, priorizou-se a análise categorial

que consiste no desmembramento do texto em unidades e categorias conforme

reagrupamentos analógicos (BARDIN, 2006).

Page 50: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

48

Para a autora, a análise de conteúdo basicamente desdobra-se em três

fases, a saber: a pré-análise; exploração do material; tratamento dos resultados, a

inferência e a interpretação. E acrescenta-se que em cada uma dessas fases deve

se dar prioridade a uma etapa das análises, a qual deve manter uma imbricada

relação com as demais.

Na pré-análise, inicialmente, o pesquisador organiza o material para, em

seguida, realizar a leitura flutuante, na qual se estabelece o primeiro contato com o

corpus, que é o conjunto de documentos a serem submetidos aos procedimentos

analíticos. Nesta fase, o pesquisador passa a ter uma visão globalizada dos dados

(BARDIN, 2006).

A segunda etapa consiste na exploração do material que compreende a

codificação, que corresponde à transformação dos dados brutos por recorte,

agregação e enumeração em unidades de sentido, permitindo uma descrição exata

das características pertinentes do conteúdo (BARDIN, 2006).

Neste estudo, o material codificado originou unidades temáticas como

saberes, práticas, necessidades e sentimentos que envolvem a prática de cuidados

dos sujeitos cuidadores dos idosos com Alzheimer. Após o recorte, procedeu-se à

contagem das unidades de significação, conforme as regras estabelecidas pelo

codificador que, posteriormente, classificou-as e as agregou em quatro categorias:

os saberes sobre a Doença de Alzheimer na voz dos cuidadores familiares; a

essencialidade e a individualidade do cuidado familiar do idoso com Doença de

Alzheimer; as necessidades e os sentimentos que envolvem a prática do cuidador

familiar de idoso com Alzheimer e a influência das questões de gênero na

determinação do cuidado familiar.

Por fim, a terceira fase refere-se ao tratamento, inferência e a interpretação

das categorias de análise obtidas a partir dos depoimentos dos cuidadores familiares

de idosos com Alzheimer acerca das suas práticas e saberes, tendo como base o

referencial teórico dialógico de Paulo Freire.

3.7 Aspectos éticos e legais

O Termo de Consentimento foi elaborado de acordo com as Normas do

Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Piauí (CEP/UFPI), as

Page 51: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

49

quais são baseadas na Resolução do Conselho Nacional de Saúde nº. 196, de 10 de

outubro de 1996, que trata dos procedimentos éticos das pesquisas envolvendo

seres humanos. Essa resolução incorpora, sob a ótica do indivíduo e das

coletividades, os referenciais básicos da bioética, autonomia, não maleficência,

beneficência e justiça, visando assegurar os direitos e deveres que dizem respeito à

comunidade científica, aos sujeitos da pesquisa e ao Estado. Os participantes foram

ainda informados que esse Projeto de Pesquisa foi analisado e aprovado pelo

Comitê de Ética da UFPI, através do parecer nº 0017.0.045.000-09 (ANEXO B)

(BRASIL, 1996).

Destaca-se que nesse termo, como forma de assegurar o sigilo e o rigor aos

aspectos éticos da pesquisa, foi estabelecido e garantido aos sujeitos do estudo, o

anonimato de suas identidades, sendo resguardados, para tanto, os seus nomes

originais, os quais passaram a ser identificados e referidos através da terminologia

depoente acrescido da ordem numérica crescente de acordo com a seqüência das

entrevistas.

Page 52: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

50

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS ___________________________________________________________________

Page 53: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

51

A partir de suas vivências com os portadores da doença, os cuidadores

familiares revelaram uma variedade de necessidades e sentimentos gerados pela

relação com o idoso portador de Alzheimer, que permeiam seus saberes e práticas e

através da qual foi possível observar a marcante presença da mulher nessas ações

de cuidados.

Através do diálogo com os cuidadores familiares, mergulhou-se no universo

de saberes e práticas dos mesmos e pôde-se extrair dos seus discursos as unidades

de significação que possibilitaram a construção das categorias temáticas a serem

analisadas, as quais expressam as diversas formas de conhecimentos e os

diferentes modos de cuidados construídos pelos sujeitos deste estudo.

Os discursos sobre as práticas e os saberes dos sujeitos convergiram para a

formação de quatro categorias temáticas denominadas: os saberes sobre a Doença

de Alzheimer na voz dos cuidadores familiares; a essencialidade e a individualidade

do cuidado familiar do idoso com Doença de Alzheimer; as necessidades e os

sentimentos que envolvem a prática do cuidador familiar de idoso com Alzheimer e a

influência das questões de gênero na determinação do cuidado familiar.

A análise e discussão dos dados foram embasadas na teoria dialógica de

Paulo Freire, como já explicitado, com enfoque nas concepções e conceitos de

diálogo, cultura, história, conscientização e liberdade, identificando uma articulação

entre os dados emergentes dos sujeitos referentes aos saberes e práticas dos

cuidadores de idosos e os elementos teóricos que sustentam esta investigação.

4.1 Os Saberes Sobre a Doença de Alzheimer na Voz dos Cuidadores

Familiares

Com o objetivo de discutir os saberes dos cuidadores familiares sobre a

Doença de Alzheimer, realizou-se entrevista com os mesmos e constatou-se, a partir

de seus depoimentos, uma diversidade de sentimentos que se manifestaram ora por

ansiedade em verbalizar suas vivências e experiências cotidianas junto ao portador,

ora pela emoção, que pôde ser percebida não só pelas suas vozes trêmulas, mas

também, pelos olhares cheios de lágrimas, ao falar das dificuldades vividas e de

Page 54: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

52

suas relações com esse doente, carregadas de sentimentos ambivalentes: paciência

e intolerância, afeto e desafeto, medo e coragem, emoção e razão.

O diálogo com esses sujeitos permitiu identificar que os saberes sobre a

Doença de Alzheimer são resultantes da construção sociocultural, fruto das

vivências e experiências que envolvem essa relação de cuidados. Atrelado a isso

observou-se ainda que os saberes expressos por esses participantes mostraram-se

empíricos, cotidianos e históricos, conforme expressam os relatos que seguem:

[...] No inicio nós notamos assim, porque ele trabalhava, ele tinha uma locadora de sinuca e muitas sinucas. Ele colocava num lugar e esquecia de ir lá fazer a cobrança e tudo. Ele ficava falando, aí a gente notou ele trocando as coisas. A gente pedia para vestir a roupa assim, e ai ele vinha com outra [...] (Dep. 04). [...] a convivência você passa a conhecer, aprender, a detectar o diagnóstico (Dep. 13).

[...] o aprendizado sobre a doença a gente adquire somente com o dia a dia. É só com a necessidade (...) (Dep.04).

Nos discursos, os depoentes verbalizam que os saberes sobre a doença são

frutos da convivência, das necessidades sentidas, vivenciadas nessa relação de

cuidados cotidianos. Esses saberes empíricos provenientes das suas histórias de

vida são valiosos, ricos, espontâneos e essenciais no processo de construção do

conhecimento.

A esse respeito, Freire (1980) ressalta que a aquisição do conhecimento

pelo homem acontece através de sua interação com o meio, a partir de suas

necessidades subjetivas, capacitando-o de ser dotado de um conhecimento prévio

resultante das experiências vividas no cotidiano.

Sobre esse tipo de saber, Acioli e Luz (2003) referem que advém de um

conhecimento prático, que nasce das experiências da vida, do sofrimento e do

prazer. É um saber empírico, incompleto, transmitido de forma assistemática e lenta,

que tem como eixo o senso comum, a sabedoria prática que se caracteriza por uma

pluralidade, incorporado às permanências e aos conflitos presentes na realidade

social.

Contudo, embora o saber empírico, resultante do senso comum, não tenha

comprovação científica, não se desfaz o seu valor, uma vez que se expressa na

Page 55: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

53

validação da sabedoria popular a qual é passível de se transformar em outras

formas de conhecimento, inclusive, na própria ciência.

Nessa perspectiva, é fundamental que os enfermeiros na sua prática de

assistir o idoso com Alzheimer e seu cuidador familiar reconheçam e valorizem a

existência de um saber originado da experiência cotidiana dessas pessoas, visto que

a existência desse saber implica em estabelecer uma interação harmoniosa com

estes sujeitos e compartilhar conhecimentos.

É importante destacar que os cuidadores familiares construíram seus saberes

sobre a DA, a partir das manifestações clínicas percebidas no dia-a-dia dos

portadores, originados concomitantemente ao desenvolvimento das fases da

doença, que foram se somando a uma diversidade de informações adquiridas ao

longo da trajetória deste agravo, como mostram os discursos a seguir:

O Alzheimer é uma doença lenta, que acomete as pessoas de idade avançada [...]. Meu esposo ficou muito estranho em casa, no inicio não conhecia a casa, ficava despido, se armava e agredia a gente, por pouco ele não me matou, por duas vezes. Agora ele está acamado, não segura em cadeira, tem que ficar deitado (Dep. 01).

O Alzheimer na minha mãe se manifesta com fixação de idéias, ela só lembra daquilo. Ela faz a mesma pergunta, faz uma, duas, dez vezes (...) é uma pessoa que não conversa e quando conversa é aquela conversa repetitiva e se a gente não tiver paciência a pessoa se isola, e aí vai criando um mundo só dela (Dep. 03). É uma doença que ela vai esquecendo também de fazer as funções vitais como engolir, mastigar, ela vai esquecendo tudo isto, tenho que falar pra ela mastigar (Dep. 06). O paciente que tem Alzheimer se perde dentro de casa, não sabe onde está o banheiro. O engraçado é que tudo da juventude dela, ela lembra, tá tudo gravadinho, até ela diz de vez em quando: - “minha filha eu acho que eu estou é morta, não lembro mais de nada, não sei fazer mais nada, de jeito nenhum” (risos) (Dep. 14). O Alzheimer é uma doença crônico-degenerativa, que atinge o cérebro e ocorre uma degeneração e é um tipo de demência, é uma doença progressiva, que afeta inicialmente a memória, na fase inicial vai para uma fase moderada e em seguida para uma fase acentuada (Dep. 08).

Esses depoimentos demonstraram que ao elaborar um conceito sobre o

Alzheimer, esses cuidadores familiares atribuem significados relacionados com a

Page 56: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

54

sintomatologia que o portador vivencia em determinada fase da doença. Sobre a

evolução da doença, Barreto (2005) destaca três fases progressivas: a inicial; a

avançada e a terminal, descritas a seguir:

A inicial é caracterizada pelos déficits de memória, com maior dificuldade em

recordar fatos recentes, apesar de ser capaz de relatar detalhadamente eventos

passados. As situações de desorientação não são raras nessa fase, podendo o

doente perder-se na rua, em locais pouco familiares ou em ambientes habituais

como sua própria residência. Essas características do início da doença foram

expressas na fala do depoente nº 08, e, de fato, confirmam o quadro de sinais e

sintomas descrito pelo referido autor.

Em relação à fase avançada, caracteriza-se pela presença dos distúrbios

cognitivos que vão se acentuando e acabam por conduzir à perda da autonomia. O

doente evidencia dificuldades em organizar atos motores intencionais (apraxia), em

interpretar informações sensoriais (agnosia), sendo incapaz de reconhecer rostos,

objetos, lugares, de identificar sons e cheiros, situando-se em um mundo cada vez

mais estranho e confuso.

Além disso, a linguagem fica restrita, perdendo gradualmente a capacidade

de comunicar-se verbalmente (afasia). As alucinações e as distorções perceptivas

não são raras nessa etapa, em que muitas vezes o doente não reconhece a sua

própria imagem, considera a casa onde reside estranha e chega a acusar os

familiares de o terem seqüestrado. A experiência de cuidado do doente nesse

estágio gerou saberes que foram expressos pelos depoentes 03 e 14.

Na fase terminal, a agitação dá lugar à inércia. O doente entra em mutismo,

perde a postura ereta e fica confinado ao leito. Problemas de saúde tais como:

constipação, infecções respiratórias ou urinárias e úlceras por pressão surgem ou

agravam-se. Pode-se afirmar que, nesse estágio, a vida do portador torna-se

praticamente vegetativa, conforme ressalta (BARRETO, 2005).

O aprendizado com o convívio e o cuidado de um doente em fase terminal,

exige dos cuidadores, dentre outras, a capacidade de observação e de tomada de

decisão, o que deve ser capaz de superar até a falta de comunicação e expressão

de sintomas por parte do doente. Essas sintomatologias referentes à fase terminal

da doença foram mencionadas pelos depoentes 01 e 06.

Contudo, é pertinente acrescentar que em relação às características das três

fases descritas por Barreto (2005), Coelho (2004) acrescenta que não são bem

Page 57: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

55

delimitadas, considerando que os sintomas se interpenetram e o tempo de cada fase

é variável de um indivíduo ao outro. Nesse sentido, as diferenças individuais e

evolutivas da doença fazem com que os cuidadores aprendam e cuidem de modos e

formas distintas a depender das especificidades de cada doente.

Trazendo a discussão para os relatos desta pesquisa, deve-se ressaltar que

os cuidadores atribuíram um significado para a doença relacionando com suas

respectivas fases de evolução, em que se pôde identificar uma diversidade de

saberes que emergiram das falas, embora com um número limitado de cuidadores,

pois cada um dos participantes teve uma realidade diferenciada repleta de sinais e

sintomas, comportamentos, sentimentos e perdas que demandaram atitudes

também diferenciadas.

Esses cuidadores revelaram saberes empíricos, porém ricos de informações

sobre os sinais e sintomas, evolução da doença nas diferentes fases, destacando as

perdas nessa trajetória evolutiva.

Além disso, cabe enfatizar que os relatos apresentaram-se repletos de

saberes com formas alternativas de tratamento, baseados, sobretudo, no amor,

carinho, dedicação e atenção. Esse aprendizado sobre os modos de tratar/cuidar,

traduziram-se em práticas que foram construídas ao longo da doença, a partir das

especificidades da convivência individualizada e das necessidades cotidianas

subjetivas de cada portador, como descrevem os depoimentos seguintes:

[...] Mas pra ser descoberto o tratamento que prolongue só o amor, o carinho e a dedicação que a gente tem com o paciente, porque remédio pode dar uma ajuda, mas eu acho que deixa ele mais lento, por causa dos remédios que dão pra acalmar, dormir. Porque eles ficam mais é dormindo, mas ajuda. Mas é o carinho mesmo e o amor que ajuda a tratar, porque meu esposo está com 8 anos, e ele ainda não perdeu assim. É você dar amor, carinho e atenção, se lhe chamou, você diz o que é, se é pra repetir três, quatro vezes repita (Dep. 04).

Olha este cuidado tem que ter muita dedicação, renúncia, carinho, amor, são estas coisas pra nortear este cuidado, se não você não consegue, porque é muito pesado, eu acho que só o amor (Dep. 06). Eu acho que toda família que tem um portador de Alzheimer, principalmente velho, aliás, nem é mal de Alzheimer, é velho em si, tem que ter um cuidado especial. E o maior cuidado é o carinho e a pessoa se sentir amada (...). Não tem Excelon (referindo ao medicamento), não tem remédio para o mal de Alzheimer, se não

Page 58: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

56

existir o amor. Tanto é que ela tem 94 anos e já está com 7 anos que ela tem a doença e não aumentou quase nada (Dep. 11).

Nesses depoimentos, verifica-se um modo de cuidar afetuoso, pautado em

sentimentos como o amor, o carinho e a atenção, os quais se constituíram os

principais motivadores para manutenção dos cuidados que visam retardar o

agravamento do quadro clínico do doente.

No sentido de tornar mais efetiva e eficiente a atuação dos profissionais de

saúde, especialmente, o Enfermeiro, mostra-se imperativa a necessidade de

incorporação do componente afetivo às ações terapêuticas, desde as prescrições

dos medicamentos, atividades de terapias ocupacionais até as práticas de

relaxamento para os próprios cuidadores, para que estes tenham um melhor

condicionamento físico e emocional e possam estar instrumentalizados para assistir

o portador de DA.

Alem da dimensão afetiva, foi possível identificar nos conteúdos das falas

dos cuidadores a riqueza de informações que povoam o contexto sócio-cultural e

histórico, conforme descrevem os conteúdos das falas a seguir:

O médico me encheu de material, me deu um livro que fala da fase moderada e grave, me deu um DVD, me deu um CD-ROM também (Dep.09). Eu tenho conversado muito com outras pessoas, me informado, inclusive sou sócia da ABRAZ-PI. E ela faz tratamento com um neurologista muito bom, e sempre que eu vou às consultas, procuro tirar minhas dúvidas, saber da evolução da doença (Dep.03). Eu tinha muitas dúvidas, mas minha menina fez a assinatura desta revista e ai vai tirando as dúvidas. E a gente tem que lê e cada dia vai descobrindo as coisas, pois cada dia tem uma surpresa, ai com a convivência a gente vai aprendendo, a gente lê e vê que é uma coisa que não tem jeito, porque escapa mesmo da memória, que não volta (Dep. 04). Porque a vida do cuidador é essa, você aprende em livros, você aprende com outras pessoas, você aprende cuidando. É transformando sua vida, não só a vida da gente transforma, mas a casa da gente é transformada, a alimentação da gente se transforma, tudo se transforma (Dep. 08).

De acordo com Figueiredo (2005), as informações sócio-culturais são

provenientes das mais variadas fontes que aos poucos são incorporadas às

Page 59: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

57

experiências, sensações e contextos para então compor sínteses heterogêneas que

orientam as ações e práticas da população.

Os participantes do estudo verbalizaram a multidimensionalidade dos

saberes dos cuidadores familiares, que teve como gênese a própria prática,

produzindo e motivando-os na busca de informações em diversas fontes, desde o

serviço de saúde, a ABRAz, a mídia televisiva, revistas e a rede mundial de

computadores, a Internet.

E a partir dessa articulação entre teoria e prática, o cuidador familiar, como

ser social, adota uma postura crítica de forma que vai tornando-se cada vez mais

capaz de construir o seu próprio conhecimento. Assim, a aprendizagem é a

construção desse saber e a constatação da necessidade de transformação, que se

incorpora a aspectos variados de sua vida, de sua casa, de seu modo de conviver,

que se traduz na incoporação e reconstrução de novas práticas. Este movimento

corresponde à passagem da consciência ingênua à consciência crítica (FREIRE,

1994).

Na maioria dos relatos dos cuidadores, mostrou-se evidente o desejo de

aprender a cerca da evolução da patologia, que se reflete pelas buscas em

diferentes fontes, fazendo-os, inclusive, com que passassem a se associar a ABRAz

– PI, por ser um espaço de convivência de grupos de auto-ajuda para os cuidadores.

No entanto, mesmo após estes esforços e estratégias de compreensão da doença, o

conhecimento evidenciado nos depoimentos ainda se mostrou superficial e carente

de informações a cerca da evolução e manejo da DA, o que, de certa forma,

prejudica a instrumentalização do familiar para um cuidado mais eficiente e seguro e

a conseqüente minimização de desgastes físicos e/ou emocionais. Como pode-se

identificar nestes depoimentos:

Tenho muitas dúvidas, tem um mundão que eu preciso desvendar sobre os cuidados. Eu procuro me informar um pouco, mas não vislumbro ainda nada de prático que possa me auxiliar no momento, nada, nada (Dep.07). Eu já li um livro, mas ainda não tenho bem conhecimento da doença, e tenho todas as dúvidas, eu queria ter orientação, de saber como é que cuida (Dep. 02). Apesar de eu ser profissional de saúde e sócia da ABRAz, eu sabia que era uma demência, mas só a convivência prá saber dos

Page 60: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

58

transtornos que essa doença causa, tanto para o portador como para o cuidador (Dep. 08). Eu não sei de nada, só sei que é uma doença que trás muito esquecimento, a pessoa esquece tudo. Às vezes ela já almoçou e ai ela não lembra (Dep. 11).

Embora se constate um intenso envelhecimento populacional e um

crescente aumento do número de portadores de DA, a realidade da desinformação

ainda está presente, em relação ao universo que circunscreve as necessidades de

conhecimento sobre como lidar com a doença, mostrando-se imperativa a exigência

de aparelhamento dos serviços de saúde e dos profissionais, inclusive na atenção

básica, com a instrumentalização de ações educativas, acolhedoras e socializantes,

que devem ir desde palestras informativas, atendimentos individuais até as visitas

domiciliares, permitindo, a partir destas relações dialógicas e terapêuticas, trocas de

experiências e adoção de novas posturas capazes de provocar a conscientização e

conseqüente transformação da realidade.

Nesse sentido, Freire (1994) destaca que "o ser humano deve ser

compreendido como ser inacabado. E é nessa compreensão que se funde o

processo de conhecer o próximo e a si mesmo". Dessa forma, o conhecimento

estruturado no saber da experiência movimenta-se mediado pela comparação,

repetição, constatação, dúvida e curiosidade.

Com base nos conteúdos dos relatos expressos pelos sujeitos e vinculado

às formas de saberes, pôde-se descrever que, no entrelaçamento com o pensar e

fazer científicos, os familiares cuidadores de doentes com Alzheimer foram

desconstruindo e reconstruindo novos saberes e outras práticas de cuidar a partir

das dificuldades, conflitos e até da própria desinformação, o que possibilita novas

perspectivas e direcionamentos para se lidar com a doença, sobretudo com os

sujeitos que afetam e são afetados nesse processo do cuidar.

4.2 A Essencialidade e a Individualidade do Cuidado Familiar do Idoso com

Doença de Alzheimer

Ao analisar os relatos dos sujeitos, constatou-se que a prática de cuidar

mostrou-se essencial à vida do idoso com DA, as quais foram descritas como

Page 61: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

59

originárias da própria necessidade para agir e assistir, sendo construídas através do

compartilhamento entre saberes provenientes do senso comum e do meio científico,

o que resulta em estratégias de cuidados capazes de promover mudanças nas

condições de vida do idoso e do cuidador.

Os discursos verbalizaram uma prática de cuidar cotidiana, contínua,

trabalhosa e desgastante, mas sobretudo, revestida de disponibilidade, boa vontade

e respeito para com o idoso portador de Alzheimer, mostrando-se essencial a sua

sobrevivência. Outro componente presente no cuidado familiar refere-se à

individualidade, que são os modos de fazer próprios de cada individuo fruto das suas

vivências sócio-culturais.

Portanto, a essencialidade e a individualidade mostraram-se como

características marcantes nas ações de cuidados dos participantes desta

investigação, o que encontra apoio na teoria Transcultural de Leininger (1991), que

considera o cuidado indispensável à vida do indivíduo e à própria manutenção de

toda a sociedade, permitindo a sua continuidade, sendo o cuidado visto como um

fenômeno universal, comum a todas as sociedades, no entanto com formas de

expressão que diferem de uma cultura para outra.

Nenhum outro ser vivo necessita mais de cuidado ao nascer do que o

homem, baseado neste princípio existencial se apóia Boff (1999), quando afirma que

o cuidado é essencial à vida humana. Essa essencialidade pode ser evidenciada na

prática dos cuidadores de idosos com DA, considerando as demandas que surgem

nas diferentes fases da doença, as quais vão produzindo limitações, com a

progressiva perda da autonomia e da independência, a ponto de afetar a realização

de atividades de vida diária, tais como: alimentação, hidratação, higienização e

eliminações.

O grau de dependência que se apresenta de forma diversificada entre os

portadores de Alzheimer demanda de seus cuidadores práticas variadas de

cuidados, que vão desde a aproximação e a busca de compreensão de suas

angústias e incertezas com apoio afetivo até o atendimento das necessidades

básicas, essenciais à manutenção da vida.

O atendimento destas dependências ampliam o volume de cuidados tanto

em quantidade como em qualidade, pois as fragilidades vão se acentuando, bem

como, as comorbidades adicionais vão agravando as funções físicas, cognitivas,

Page 62: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

60

emocionais e sociais, tornando, cada vez mais, o cuidado essencial à vida, como

mostram os conteúdos desta falas:

A experiência não é muito boa não, mas não é ruim, é como cuidar de uma criança normalmente. Você tem que cuidar, dar banho, trocar fraldas, dar comida, porque ele já não faz nada mesmo. A prática de cuidar é trabalhosa, na hora de dar banho, é trabalhosa, porque ele não caminha normalmente. Quando eu acordo dou asseio, aí vou fazer o café dele, aí volto com ele pra cama, boto ele pra tomar sol, boto ele na cama novamente, ai quando é umas nove horas dou o lanche dele, vou cuidar das coisas de casa, quando é onze horas trago ele para almoçar, às vezes ele não quer almoçar cedo, às vezes dou o banho dele, dou o almoço, é como cuidar de uma criança (Dep. 02). Primeiro tem que dar tudo na mão. Ela tem que tomar medicação, é eu quem dou, o alimento na hora ela não se lembra, às vezes ela se alimenta e esquece que se alimentou e como no caso da minha mãe, esta engordando explosivamente, porque às vezes eu dou alimentação no horário, daí a pouco ela diz que não comeu, e aí eu como não estou em casa, ela esquece e repete novamente, e vai engordando. Também a outra questão do asseio, banho não quer tomar, é preciso a gente lembrar. Eu digo “olha mãe tem que tomar banho”. Às vezes ela fica irritada, muito irritada, e aí ela diz assim: “ah, eu fui mãe, agora sou filha?” (risos) (Dep. 14). Tem que ter cuidado com remédio, com a alimentação, providenciar uma pessoa para ajudar nas atividades domésticas, porque como eu trabalho, fica difícil ter um só cuidador. Então eu sou a cuidadora principal, tô olhando a medicação, alimentação. Eu tenho que voltar na hora pra ver se ela almoçou, eu tenho que estar à noite em casa, ver como foi à noite dela, como foi que ela dormiu, quantas vezes acordou de noite (Dep.08). Eu administro a casa, a tomada do remédio, o horário de banho, alimentação, o cardápio, a consulta com o médico, com o fisioterapeuta e essas coisas tudo é comigo e meu marido. Ela toma banho sozinha, faz as necessidades sozinha, só que normalmente ela não faz a higiene, tem que ter muito cuidado, porque ela tá na fronteira. No caso do banho, ela não tá fazendo a higiene corporal direito e não aceita que ninguém faça. Na cabecinha dela, ela acha que tá normal. Tem os cuidados com a medicação, com a higiene que é terrível e é difícil compartilhar, e mais difícil é encontrar alguém que queira partilhar (Dep.06).

Foi possível observar que essencialidade da ação de cuidar e atender o

idoso com DA que vivencia fragilidades, dependências e perda da autonomia, não

se restringe somente aos atendimentos das necessidades humanas básicas. A

essencialidade também está presente, embora de forma latente, nestes discursos,

Page 63: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

61

uma vez que o cuidado familiar dispensado aos idosos valoriza a autonomia,

autoestima como também a própria cognição.

Outra característica da prática do cuidado familiar que emergiu no estudo

refere-se à individualidade do modo de cuidar utilizado de forma específica para

cada portador da doença. Embora em diferentes oportunidades este cuidador

familiar receba orientações e prescrições genéricas acerca da assistência ao idoso,

a ação de cuidar realiza-se com vistas a atender as necessidades e demandas

individuais do idoso e da própria família.

Para tanto, ocorrem adaptações, inclusões de outras informações que se

somam ao que foi orientado pelo serviço de saúde, além das especificidades de

postura do cuidador familiar que tornam o cuidado específico para aquele indivíduo

ao qual se destina.

Essa individualidade do cuidado familiar apresenta uma diversidade de

posturas que vão desde uma atitude protetora, mantendo o idoso dependente de

sua ação e supervisão, até outras que estimulam a participação e o auto cuidado,

com vistas a reduzir o grau de dependência do idoso com DA. Esses diferentes

modos de cuidado familiar podem ser identificados nos depoimentos descritos:

Como eu te falei a gente quer proteger o doente, mas depois que eu fui para a reunião da ABRAz eu vi que eu estava fazendo errado, que até ela estava se sentindo mal de ser tão protegida. Ela disse: “eu vou perguntar ao médico, ele vai me dizer porque eu estou incapaz” (Dep. 08). O médico disse que pra pessoa que cuida de quem tem Alzheimer não tem que dar tudo de bandeja pro doente, quando ela pergunta uma coisa, você faz outra pergunta, pra vê se ela bota a mente pra funcionar, tem sempre que está estimulando (Dep. 14).

Nessas falas, verifica-se diversos modos de cuidado familiar determinados

pela maneira de ser e das visões de mundo próprias da cultura de cada cuidador,

Contudo, não se pode ignorar que o estágio evolutivo da doença e o respectivo grau

de dependência têm influência na escolha das estratégias de cuidado que melhor se

adaptem a cada indivíduo.

A atuação do cuidador familiar é fortemente influenciada pelo grau de

dependência em que se encontra o portador, pois as incapacidades podem atingir

Page 64: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

62

desde as tarefas instrumentais como fazer compras, pagar contas, manter

compromissos sociais, usar meios de transporte, cozinhar, comunicar-se, cuidar da

própria saúde e manter a sua integridade e segurança até as atividades básicas, tais

como, arrumar-se, vestir-se, comer, fazer higiene pessoal e locomover-se (BRASIL,

2008).

Partindo desse enfoque, pode-se destacar que os cuidadores têm

conhecimento de que a seleção da estratégia de cuidado familiar mostra-se como

uma ação individualizada, devendo se adaptar a cada portador, ao estágio evolutivo

da doença e ao grau de dependência, como se constata nas falas a seguir:

Quando ela está irritada, eu procuro dançar com ela, faço uma brincadeira com ela para sorrir, não se irritar, porque foi uma coisa que o médico disse: “não deixe ela ficar irritada, a gente procura não contrariar, porque ela esquece” (Dep. 11). Então agora eu criei uma maneira dela tomar banho sem gritar, é só

dizer que vai passear de carro que ela fica bem quietinha (Dep. 12).

Ao expressarem suas práticas de cuidados, os depoentes também

demonstram preocupação em evitar que o idoso fique irritado, ansioso e agitado,

passando a utilizar-se de medidas preventivas para não contrariá-lo, evitando o

confronto, considerando que este só aumenta a agitação e pode até gerar respostas

agressivas e frustrações para ambos.

Na tentativa de evitar uma situação de confronto entre portador e cuidador,

uma alternativa seria desviar o foco, distraindo o doente com outra coisa, de forma

calma e gentil. Isso pode fazer com que ele esqueça o episódio que motivou tal

situação e assim evitar problemas emocionais, como raiva, revolta, frustração,

angústia.

São inúmeros e significativos os desafios impostos aos cuidadores familiares

na convivência com o portador DA, uma vez que o agravamento da doença faz com

que o indivíduo tenha perdas cognitivas, sensoriais, associativas e afetivas que

reduzem a capacidade de discernimento de situações diárias que podem gerar

riscos. Portando, torna-se imperativo a adoção de estratégias de cuidados capazes

de minimizá-los, dentre estas, destacam-se: remover objetos pontiagudos (tesouras,

Page 65: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

63

facas, talheres, etc), fechar a casa e esconder a chave, no intuito de prevenir

evasões.

Tinha que ser tudo trancado, ele abria a casa à noite. Tive que colocar cadeado, esconder chaves, tirei tudo que fosse arma de casa, talher, louça, cadeira, foi tirado tudo de dentro de casa (Dep. 01).

A adoção de novas estratégias de cuidados é resultante da reflexão dos

cuidadores sobre as necessidades vividas, o que Freire (1980) denomina de práxis,

a unidade indissolúvel entre ação e a reflexão sobre o mundo. De acordo com este

teórico, quanto mais o sujeito refletir sobre a sua realidade, sobre sua situação

concreta, mais emerge plenamente consciente, comprometido; portanto, torna-se

capaz de intervir na realidade para transformá-la.

Nessa perspectiva, o cuidado familiar prestado pelos cuidadores do estudo

mostrou-se transformador, essencial, individual e imprescindível ao atendimento das

necessidades do idoso portador de DA, sendo um cuidado composto de elementos

que ultrapassam o conhecimento e a técnica, alcançando a afetividade e a

sensibilidade do cuidador familiar demonstradas através do compromisso,

compreensão, afeto ao idoso.

Esse modo de cuidar pode ser respaldado na concepção proposta por Boff

(1999), que aponta o cuidado como uma intervenção interpessoal e que se

manifesta nas relações compartilhadas, expressando-se numa interação com o outro

que engloba atitudes e responsabilidades, pois o cuidado humano inclui duas

significações básicas, intimamente ligadas entre si, à atitude de desvelo, de

solicitude e de atenção para com o outro e a atitude de preocupação e de

inquietação.

Nesta perspectiva, esta investigação buscou embasar-se em práticas

educativas que valorizam o diálogo, a troca de experiência, a compreensão do outro

como sujeito, detentor de um determinado saber. Essa forma de construção

compartilhada do conhecimento nasce da relação entre o senso comum e a ciência,

sendo entendida como uma metodologia desenvolvida na prática da Educação e

Saúde que considera a experiência cotidiana dos atores envolvidos e tem por

finalidade a conquista, pelos indivíduos e grupos populares, de maior poder e

Page 66: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

64

intervenção nas relações sociais que influenciam a qualidade de suas vidas

(ACIOLLI, 2008).

Desse modo, quando a enfermeira troca conhecimentos e experiências com

a família, ambos crescem e novas estratégias no cuidar se apresentam e tendem a

minimizar os conflitos dos encontros e desencontros desses saberes e práticas. A

esse respeito, Freire (1994, p. 29) afirma que "o diálogo não pode excluir o conflito,

sob pena de ser um diálogo ingênuo. Eles atuam dialeticamente, e o que dá força ao

diálogo entre os oprimidos é sua força de barganha frente ao opressor".

Nesse sentido, o profissional de saúde, sobretudo, o enfermeiro deve

continuamente procurar despertar possibilidades de dimensionar através de saberes

e práticas dos cuidadores, o cuidado e o auto-cuidado, despertando a

conscientização, a qual por sua vez é capaz de se revestir de transformações da

própria realidade social e cultural desse indivíduo.

4.3 As Necessidades e os Sentimentos que envolvem a Prática do Cuidador

Familiar de Idoso com Alzheimer

Ao procurar descrever os saberes e práticas dos cuidadores familiares

acerca da DA, foram identificados necessidades e sentimentos manifestos por estes

sujeitos de diversos matizes os quais dizem respeito ao universo social e cultural e

enfocam questões de âmbito afetivo.

Visando organizar didaticamente a análise e discussão destes achados

enquadrados nessa categoria temática, serão apresentadas, inicialmente, as

necessidades vivenciadas pelos cuidadores familiares nesta relação de cuidado.

Com propósito de possibilitar uma melhor compreensão a respeito das

necessidades vividas pelos sujeitos, buscou-se conceituá-las na perspectiva teórica

de Horta (1979), que considera o ser humano como agente de mudanças, um ser de

transformação, que causa desequilíbrio em seu próprio dinamismo. Por sua vez,

esse desequilíbrio gera necessidades, caracterizadas por estados de tensão

conscientes ou inconscientes, que os levam a satisfazê-las para manutenção do

equilíbrio.

Page 67: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

65

É importante lembrar que as necessidades neste estudo, são entendidas,

não apenas como exigências, mas principalmente como aquilo que é essencial a

sobrevivência do individuo, e quando não são atendidas ou atendidas

inadequadamente podem trazer desconforto que por sua vez se for prolongado,

pode provocar doença, seja de ordem física ou mental.

Sobre as necessidades vivenciadas pelos cuidadores familiares, pôde-se

constatar que elas apresentam características que se aproximam das descritas por

Wanda Horta, quais sejam: a universalidade, pois são comuns aos seres humanos,

sendo que neste estudo foi evidenciada nas falas de todos os participantes; e a

individualidade, sendo específica de cada indivíduo, inclusive até na maneira de

satisfazê-la, o que também foi demonstrado no discurso dos depoentes desta

investigação. Cabe enfatizar que cada sujeito expressou as demandas e dificuldades

próprias do cotidiano familiar e apontou as estratégias utilizadas para superá-las.

Em relação às necessidades da família, sabe-se que diversos fatores

influenciam no modo de satisfazê-las, dentre os quais, destacam-se: o ciclo de vida

familiar, a cultura, a raça, além dos fatores sociais e econômicos. E assim, para que

a assistência à família seja integral e resolutiva, torna-se imperativo que os

profissionais de saúde, em especial, o enfermeiro, considerem as necessidades

básicas de cada individuo dentro do seu contexto familiar, histórico, social e cultural

(WAIDMAN, ELSEN, 2004).

Partindo, pois, desses pressupostos, revela-se a importância de se ter

buscado iluminar os achados desta investigação nas concepções teóricas e

filosóficas de Freire (1980) a cerca da historicidade do ser humano, o qual apresenta

no seu ciclo vital possibilidades e limitações próprias de sua cultura, que o capacita

ao aprendizado e à transformação para superação das demandas e dificuldades

cotidianas, o que foi observado nas informações dos sujeitos participantes deste

estudo, que revelaram diferentes necessidades resultantes de sua vivência com o

portador de Alzheimer, conforme descrevem os relatos seguintes:

A rotina de cuidar muda a vida da gente, porque tem limites, hora de sair, de chegar, mas a gente aceita, porque é o jeito. É o jeito mesmo. Fica difícil, é muito difícil a gente aceitar mais a gente aceita. Foi difícil pra mim no início, eu trabalhava, ajudava no orçamento da casa, tinha um salão de atelier, eu tive que fechar para acompanhar ele. E fiquei muito nervosa neste dia, ele ia me matando, fui no médico dele e pedi para mudar os medicamentos, fiquei nervosa,

Page 68: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

66

fiquei doente, aí ele mudou o medicamento, mas como são duas famílias, aí a outra família não aceitou, porque ele ficou praticamente dopado, a família não aceitou e ai voltamos ao médico [....]. Foi difícil no início, aí foi que a família começou aceitar e começaram a me ajudar. Hoje tá bom da gente cuidar, porque todo mundo ajuda. Mas mesmo com ajuda ainda é muito difícil, porque eu cuido da casa e tenho duas netas, é difícil encontrar pessoas para conviver com a gente, eu preciso de gente para conviver, para dormir. Também difícil é a condição financeira que não ajuda, eu não tenho condição financeira para pagar duas pessoas. Hoje eu já tô com raio X, doente, doença na coluna, artrose, e osteoporose, por que me curvo toda hora para pegar ele, tem que fazer asseio, tem que trocar fraldas (Dep. 01).

Nesse depoimento, emergiram-se diversos tipos de necessidades

vivenciadas tanto pela cuidadora como pela família no cuidado ao doente, que vão

desde as necessidades de lazer, de atividades sociais; de ordem financeira; de

compartilhamento de responsabilidades e de cuidar da sua própria saúde.

Nesse depoimento, a participante do estudo expressa com muita ênfase a

necessidade financeira vivenciada desde o início da doença do seu cônjuge, que se

acentuou com evolução das dependências e impossibilitou a contratação de serviços

de terceiros. Atrelado a isso, pôde-se identificar outros conflitos como a renúncia a

vida profissional e dificuldades, referentes à perda da integridade física da cuidadora

decorrente da sobrecarga de atividades no cuidado ao doente, tendo como

resultante a instalação de patologias osteoarticulares.

Como já foi dito, cada pessoa tem necessidades específicas, assim como

também utiliza estratégias próprias para atendê-las. A depoente (Dep. 01), diante da

desestruturação financeira e familiar, buscou o diálogo e a integração da família com

vistas ao compartilhamento de responsabilidades, minimizando assim a sobrecarga

física e emocional no cuidado ao doente. Além do mais, a cuidadora, desde o início

do quadro clínico, até os momentos de intensificação dos sintomas, principalmente,

aqueles referentes à agressividade e à fuga do lar, manteve o equilíbrio emocional e

utilizou o mecanismo de aceitação da realidade para superar as dificuldades

impostas no cotidiano do cuidado familiar do cônjuge portador de DA.

Com base na problemática deste estudo, pode-se ressaltar que os achados

convergem aos de outros estudos que apontam com maior evidência algumas

necessidades dos familiares, principalmente, do cuidador, que se caracterizam como

de ordem física, psíquica, econômica, social e emocional. É importante acrescentar

Page 69: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

67

que é pertinente a esse cuidador receber apoio e ajuda da família e dos profissionais

de saúde no sentido de cuidar de sua própria saúde, de ter atividades sociais e de

lazer e de satisfazer suas próprias necessidades como ser humano (ALVAREZ,

2001).

Atrelado às necessidades vivenciadas no cotidiano do cuidado domiciliar,

também constatou-se a marcante desestruturação do núcleo familiar, decorrente do

impacto social e psíquico provocado a partir da confirmação do diagnóstico da

doença em um ente querido. Esse fato desencadeia, entre os familiares, sofrimento

e dor, principalmente por ser a doença de Alzheimer despersonalizante e

incapacitante, emergindo a partir daí conflitos e estresses, que acometem os

diversos membros da família, em especial, o cuidador familiar principal, como se

evidenciam nos depoimentos a seguir:

A principal dificuldade é a aceitação do diagnóstico [...] minha vida era completamente diferente, eu não tinha muito compromisso, pois meus filhos já são todos adultos, sabem se virar, e eu era uma pessoa livre, saía para trabalhar, dava 24 horas de plantão e hoje eu não posso mais fazer isso, porque eu tenho ela em minha casa para cuidar. As dificuldades também é o restante da família que não ajuda como deveria, talvez se a gente recebesse esta ajuda, não fosse tão estressante ser cuidador, pois somente a rotina do cuidador é que muda, porque a das outras pessoas continua, vão trabalhar, dormem todos as noites tranqüilas na sua casa, e você é só quem se estressa (Dep. 08). A maior dificuldade que a gente tem no momento é aceitação da família, que assim ela tem vários filhos e só uma filha mulher, e essa filha mulher ela não aceita. Então eu não compreendo como uma pessoa esclarecida pode não aceitar, aliás, pra ela é mais cômodo não aceitar e os outros irmãos são homens e suas mulheres é quem ficam no batente, graças a Deus é que tem, que somos três, apesar de ser eu a cuidadora principal, mas elas ajudam, cada uma faz o que pode. Mas eu acho que o problema principal dos cuidadores é a questão da ajuda, é muito complicada porque ninguém quer se comprometer, ninguém quer ficar naquela rotina (Dep. 06).

Através dos conteúdos dessas falas, percebe-se que foi difícil a aceitação do

diagnóstico, gerando necessidades de reestruturação do núcleo familiar,

visualizadas por importantes mudanças na dinâmica e nas relações familiares que

resultaram na redefinição ou trocas de papéis.

Page 70: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

68

A necessidade de informações adequadas sobre a doença e de uma melhor

instrumentalização da rede de suporte de saúde para atender o portador e a família,

emergiu no depoimento abaixo. Esta demanda encontrou articulação nos estudos de

Caldas (2000), que retratou a importância do suporte emocional e de uma rede de

cuidados que ligue a família aos serviços de apoio e aos meios que garantam

qualidade de vida aos cuidadores e portadores.

Acho que todo mundo deveria ter formação, para poder saber trabalhar, lidar com o portador dessa doença. Às vezes, sinto dificuldades em compreender as explicações dele (profissional de saúde), em relação à medicação, ele fala umas palavras que não entendo o significado (Dep. 13).

Neste discurso, o depoente expressa com clareza as dificuldades de

compreensão acerca das orientações dos profissionais de saúde, relatando não

entender se quer o significado das palavras, o que deve ser atribuído à falta de

sensibilidade e de uma abordagem capaz de alcançar as especificidades sócio-

culturais do cliente, situação frequentemente identificada no cotidiano dos serviços

de saúde, quando se constata que os profissionais utilizam termos técnicos e atuam

de forma prescritiva e verticalizada.

Essa dificuldade vivida e expressada pelo cuidador familiar, tanto evidencia

a necessidade de informação e de comunicação terapêutica eficiente como também

é capaz de desencadear sentimentos e conflitos estabelecidos através das

inseguranças, dúvidas e incertezas acerca do quadro clínico e das condutas a serem

adotadas para o idoso com DA.

A esse respeito, Luzardo e Waldman (2004) relatam que, muitas vezes, uma

consulta médica centrada no modelo tecnológico e curativista contempla apenas

aspectos intervencionistas da doença, tais como: procedimentos e terapias

medicamentosas, deixando de valorizar outras orientações que visam à

compreensão acerca do evento, uma vez que se considera que estas são tão

importantes quanto a terapia medicamentosa.

Com relação à atitude de transmissão de conhecimento de forma unilateral

presente na conduta desses profissionais de saúde, cabe ressaltar o que defende

Paulo Freire (1987) ao destacar que neste caso o saber é entendido como “uma

doação dos que se julgam sábios aos que julgam nada saber” (FREIRE, 1987, p.67).

Page 71: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

69

Vasconcelos (2001) reporta-se a este tipo de orientação como “toca boiada”,

referindo-se à imposição de normas e comportamentos considerados adequados

pelos técnicos, que conduzem a um caminho previamente determinado. Estabelece-

se uma relação vertical e autoritária entre o profissional e a população, baseada na

crença de que quem detém o saber é o educador e que é ele quem deve transmitir

suas informações e ensinamentos.

A esse respeito, observa-se que atualmente no Brasil, há uma exigência

social para que se modifiquem as posturas dos profissionais de saúde. O Sistema de

Saúde vigente vislumbra práticas de educação em saúde embasadas no princípio de

que o individuo tem um saber prévio, adquirido através de sua história de vida, de

sua prática social e cultural e de que este é o ponto de partida para a aquisição de

novos conhecimentos. A relação que se estabelece entre profissional de saúde e

população deve ser necessariamente dialógica, baseada no reconhecimento da

existência de diferentes saberes e na possibilidade de aprendizagem mútua

(BORNSTEIN, 2006).

O autor destaca também outro elemento fundamental nessas práticas

educativas, caracterizado pelo entendimento da educação como um processo de

busca e de invenção ou reinvenção, que parte da ação e da reflexão do homem

sobre o mundo para transformá-lo. A problematização das experiências ou situações

vividas se constitui em desafio para a transformação e, portanto, também em fonte

para a organização do conhecimento.

Nesse enfoque, analisando o atual quadro precário e insuficiente dos

serviços do sistema de saúde brasileiro, constata-se que os idosos portadores da

DA sobrevivem com poucos recursos pessoais e sociais, bem como suas famílias.

Além das necessidades materiais, tais como: recursos financeiros, questões de

moradia, transporte e acesso a serviços de saúde, evidenciam-se carências

expressas pelos cuidadores que vão desde as informações sobre sinais e sintomas,

evolução e tratamento da doença até uma rede de serviços de saúde

instrumentalizada para o atendimento do portador e de sua família.

É importante acrescentar sobre as necessidades sentidas pela família em

relação ao cuidado de um idoso portador de Alzheimer, que se faz essencial para o

profissional de saúde, em particular o Enfermeiro, conhecer as necessidades da

família, suas crenças, valores e costumes para facilitar a construção de um plano de

assistência digno e individualizado a cada família (WAIDMAN; ELSEN, 2004).

Page 72: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

70

Diante de todas essas necessidades apontadas e descritas pelos

cuidadores, emergiram sentimentos que envolvem a prática desses sujeitos. De

acordo com os conteúdos das falas dos depoentes, pôde-se identificar emoções e

reações afetivas diversificadas, que se refletem através da culpa, medo, ansiedade,

pesar diante de uma doença totalmente incapacitante, o mergulho na insegurança

do caos do desconhecido e a estranheza frente à troca inevitável de papéis sociais.

Além disso, caracterizam-se como freqüentes, o sentimento de impotência frente à

evolução da doença, a tristeza diante da falta de infra-estrutura e de condições

financeiras, a raiva contida pela lenta chegada da morte.

Para superar esta diversidade de sentimentos, evidenciaram-se mecanismos

de defesa tais como: a aceitação da vontade de Deus, bem como, o amor e a

solidariedade ao seu ente querido que se apresenta fragilizado, conforme

expressam estes relatos:

É uma experiência muito cansativa, é como se fosse um conflito ora você tem sentimento de pena, ora sinto muita tristeza, e para mim que entendo um pouco da doença, não é fácil você vê a evolução que cada dia a coisa vai se agravando, não é fácil vê que ela vai chegar a fase de ficar comendo pelo a mão dos outros, eu tenho muito medo, inclusive eu peço muito a Deus que minha mãe não passe por esta provação, apesar da gente não ter o direito de tá pedindo, mas é muito difícil, muito judiação, ai eu acho que é muito dolorido, mas é viver cada dia. Ela agora está comigo e eu fico irritada quando ela vai para a casa dos filhos que não tem a paciência, que não sabe e não quer entender a doença, ai não preservam ela de discussão, de bebedeira, ai ela volta muito pior, ai eu fico irritada, irritadíssima. E ai eu tenho este conflito é um misto de sentimento, pena e culpa, às vezes eu me culpo , acho que não to cuidando direito [...] (Dep.03).

O conteúdo expresso nessa fala do participante que vivencia a experiência

de cuidar de um familiar que, na evolução da doença, chega a não reconhecer o seu

ente querido, denota-se o desenvolvimento de sentimentos ambíguos e

contraditórios, que passam a exigir apoio em crenças e valores e na própria fé para,

assim, manter o equilíbrio e a energia capaz de propiciar a realização do cuidado.

Partindo desse enfoque, Silveira, Caldas e Carneiro (2006), enfatizam que a

prática do cuidar de um familiar com demência mobiliza muitos sentimentos diversos

e opostos num espaço de tempo muito curto: amor e raiva, paciência e intolerância,

carinho, tristeza, irritação, desânimo, pena, revolta, insegurança, negativismo,

Page 73: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

71

solidão, dúvida. Além disso, esse cuidado insurge de muitos medos como o de ficar

doente também, de a pessoa estar sofrendo, de a pessoa morrer.

Vilela e Caramelli (2006) acrescentam que os cuidadores sofrem uma

sobrecarga física e psíquica que pode levar a uma má qualidade de vida e por isso

também precisam ser alvo de preocupações e cuidados, já que, em caso de

sobrecarga, poderão se mostrar muito cansados, apresentar irritação e baixa

tolerância, o que certamente irá influenciar no cuidado prestado, bem como poderá

levá-los a um estado de exaustão.

De acordo com Neri e Carvalho (2002), no cuidar misturam-se questões

práticas, financeiras, motivações e afetos, fazendo emergir conflitos e

ambivalências. Em outras palavras, isso significa dizer que o cuidado não é uma

situação linear vivenciada sempre da mesma forma. No início do exercício do papel,

as exigências parecem mais fortes, mas ao longo do tempo, em virtude de

processos adaptativos e da variedade de enfretamentos que ocorrem na vida do

familiar que cuida, o senso de sobrecarga pode se estabilizar ou diminuir.

Partindo dessa mudança de paradigmas e da sobreposição de sentimentos

que se instauram com o desenvolvimento dessa prática, não se deve pensar no

cuidado como uma atividade que necessariamente traz efeitos negativos. Apesar de

ser tarefa onerosa em muitos aspectos, nem todos os cuidadores familiares ficam

insatisfeitos, doentes ou estressados, bem como existe a possibilidade de

transformar cognitivamente a situação de modo a lidar com o ônus.

Dessa forma, também foram evidenciados sentimentos positivos,

gratificantes e prazerosos produzidos nas experiências e nas mudanças

significativas ocorridas na vida de alguns dos cuidadores familiares participantes

desta investigação, como se observa nestas falas:

É uma coisa gratificante porque é minha mãe, eu e meu irmão dorme com ela. Então é prazeroso porque é minha mãe, e não dá trabalho, se a gente souber levar, não dá trabalho (Dep. 11). É uma experiência que apesar de trabalhosa, eu considero boa, porque é dos meus pais, de maneira alguma eu abro mão de cuidar deles, é bom a gente conviver juntos, é muito bom. Por outro lado é ruim, porque a gente não gostaria que isto tivesse acontecendo, como no caso de meu pai, ele é normal, toma decisões, ela não, tudo eu tenho que decidir por ela, por isso tem horas que eu fico aperreada. Mas apesar de cansativa é uma experiência que considero boa, pois são os meus pais (Dep. 14).

Page 74: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

72

Através desses relatos, pôde-se observar que por se tratar de entes

queridos, familiares como pai e mãe, isso faz com que os cuidadores se sintam

tristes, mas ao mesmo tempo não se reveste apenas de tristeza, por se constituírem

em pessoas queridas e importantes para suas vidas.

Portanto, ao se descrever as práticas e saberes dos cuidadores de idoso

com Alzheimer, pôde-se refletir sobre necessidades e sentimentos dos cuidadores

familiares deste estudo, que se revelaram em vertentes variadas de dificuldades e

possibilidades, mudanças e transformações, desestruturações e adaptações,

negações e aceitações, que apontaram para as individualidades e as

especificidades de sentimentos e atitudes dos sujeitos capazes de auto estimularem

ao aprendizado e ao crescimento do ponto de vista existencial, emocional e social.

Ocorrendo aqui o que Freire (1980) denomina de verdadeira conscientização,

geradora do aprendizado consciente e transformador, pois é caminhando que se

aprende a caminhar. E, nessa contínua aprendizagem, estes depoentes

demonstraram a superação através do sofrimento, da dor e das preocupações com

as suas realidades.

4.4 A influência das Questões de Gênero na Determinação do Cuidado Familiar

A partir da análise das características sócio-demográficas e dos discursos

dos cuidadores familiares do estudo, constatou-se que a predominância feminina

reflete intimamente as questões de gênero. Em outras palavras, a preponderância

da mulher exercendo o papel de cuidadora principal de familiares acometidos pelo

Alzheimer, recebe forte influência das questões de gênero, que não devem ser

entendidas apenas pelas diferenças anatômicas e biológicas próprias de homens e

mulheres, mas em um sentido mais amplo, que considera gênero a determinação

social e cultural dos sexos (MOTTA, 2001).

Dessa forma, o gênero feminino mostrou-se evidente não só na velhice,

como também no cuidado familiar, sendo representada neste estudo pela forte

presença de filhas e esposas que, em sua maioria, encontravam-se na meia-idade.

Page 75: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

73

Cabe enfatizar que a doença de Alzheimer impõe à família a reorganização

e negociações que incluem identificar aqueles que têm disponibilidade de tempo e o

desejo pessoal para assumir a tarefa de cuidar do portador. Este processo decorre

de uma dinâmica específica construída dentro da família e obedece a certas regras

culturais e sociais que estão relacionadas principalmente ao gênero, parentesco e

proximidade física.

Neste estudo, percebeu-se que o grau de parentesco e gênero teve

influência determinante na escolha da filha como cuidadora. Nessa perspectiva,

Freire (2001) relata que estudos sobre o processo de socialização e o

desenvolvimento de papéis ligados ao gênero mostram que desde a infância a

criança aprende as qualidades, as atitudes e os comportamentos vinculados ao seu

sexo biológico e desenvolve valores, costumes baseados naquilo que é prescrito

como adequado para seu gênero. Com isso, fica explicito, por exemplo, as

intencionalidades de que as mulheres se dediquem mais às tarefas domésticas e à

família, especialmente, nos cuidados com filhos, doentes e incapacitados. Sobre

essa questão, a depoente destaca:

A maior queixa é em relação a minha família, meus irmãos não ajudam, é uma situação muito difícil. Eles acham que como eu sou mulher, tenho o dever de cuidar (...) (Dep. 07).

Esse discurso expressa que quando o idoso necessita de ajuda, os filhos

adultos, em especial, as filhas, costumam assumir o papel de cuidadora, por terem

vínculo afetivo e uma responsabilidade de cuidar culturalmente e socialmente

definida, arraigada historicamente e que a mulher assume como função própria.

Para Santos (2003), essa divisão de responsabilidades e atividades está

intimamente relacionada à maneira como foram construídas as relações familiares e

quando o significado de dever ou obrigação era interpretado como uma forma de

retribuição pelos cuidados já recebidos pelos pais. Também ocorria o envolvimento

dos filhos, quando visavam seguir os exemplos de vida dados pelo portador, ou em

função das práticas socioculturais compartilhadas por esse grupo.

Pode-se observar, no discurso abaixo, um misto de obrigação, de retribuição

da dedicação, do amor, dos cuidados prestados, do “sacrifício que a mãe fez”. O

cuidado é interpretado como um retorno, uma reciprocidade, como uma recompensa

pelo que se recebeu, conforme expressa o relato:

Page 76: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

74

A minha mãe foi uma pessoa que casou muito nova, casou-se com 12 anos, ficou viúva com 14 anos e casou-se novamente com meu pai com 15 anos, ficou viúva aos 36 anos com 7 filhos para criar. Ela só tem o primário e formou os 7 filhos. Então se hoje eu sou dentista, a outra professora e a outra filósofa, a gente tem que agradecer a ela, pois quando meu pai morreu eu tinha apenas 5 meses, ele só fez me pegar. Então o que nós temos e o que nós somos, temos que agradecer a ela, foi nosso pai e nossa mãe. Eu acho que é por isso que o carinho é maior (Dep. 11).

Este cuidado como retribuição foi investigado por Sommerhalder (2001) que

destacou como uma possibilidade de retribuir valores e a oportunidade de dar

exemplo de solidariedade, relacionando-os ao senso de crescimento pessoal e de

auto-realização, e interpretando-os como benefícios psicológicos, evidenciados no

papel de cuidar das mulheres.

Sobre o predomínio das mulheres como cuidadoras de familiares com

Alzheimer, identificado nesta investigação, encontrou-se similaridades em outros

estudos congêneres, nacionais e internacionais, como os realizados por Caldas

(2000), Sommerhalder (2001), Santos (2003) e Pereira (2008) que relacionaram este

papel feminino aos determinantes sócio-culturais, os quais estabelecem para

mulheres as atividades domésticas e de cuidados da saúde.

No entanto, emergiram informações específicas e particulares do grupo de

sujeitos investigados que não foram evidenciadas em outras produções a cerca da

temática em foco. Pois a maioria das cuidadoras eram casadas, com curso superior,

exercendo atividades profissionais liberais, percebendo renda mensal familiar que

variava entre quatro a dez salários mínimos.

Portanto, apresentavam uma condição sócio-econômica e cultural

diferenciada e positiva, porém paradoxalmente, determinava situações e conflitos

negativos, pois ao estarem exercendo atividade fora do lar, vivenciavam a

sobrecarga da responsabilização com o familiar com DA na esfera doméstica.

Essa dupla jornada de trabalho e de responsabilidades desencadeavam

alterações físicas e emocionais, inclusive com o estabelecimento de doenças,

especialmente, as de cunho emocional. Este fato foi mencionado na fala da

depoente, conforme ressaltado a seguir:

Page 77: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

75

Às vezes me sinto culpada, por trabalhar tanto fora de casa, ou melhor, por outro lado penso, como é que eu poderia proporcionar tudo isto pra ela se eu tenho que ajudar a sustentá-la, o plano de saúde dela é em torno de 600 reais, tem uma alimentação toda especial (...) é um conflito, é um conflito muito grande (...) (Dep.03).

Com base nesse enfoque, deve-se expressar que essa condição sócio-

econômica favorável também possibilitou algumas das depoentes minimizar a

sobrecarga de trabalho a elas impostas, dividindo tais práticas com um cuidador

secundário, geralmente uma empregada doméstica que, simultaneamente, acumula

o exercício das tarefas domésticas e o cuidado do idoso com DA.

Essa mulheres que exercem a função de domésticas são pessoas cativas,

que desenvolvem em suas convivências com as famílias laços afetivos, tornando-se

reconhecidas como membros familiares. Santos (2003) enfatiza que as empregadas

doméstica, como os vizinhos e amigos, fazem parte da rede de suporte informal que

muitas famílias utilizam na prestação de cuidados ao idoso portador de Alzheimer.

Portanto, a influência das questões de gênero no cuidado ao idoso com

Alzheimer se mostrou evidente nesse estudo tendo em vista a expressividade do

número de mulheres como cuidadoras familiares. Nesse sentido, observou-se que

as filhas foram as mais selecionadas dentro da estrutura familiar para assumir esse

papel. E essa eleição da mulher para o cuidado familiar não se deu de forma

aleatória, é decorrente do aprendizado social e cultural que estabeleceu ao longo da

história a missão de cuidar para as mulheres.

Nesse sentido, as questões de gênero repercutem não só na eleição das

mulheres como cuidadoras, influenciam, de fato, no modo de cuidar, que foi

expressado de forma clara pelas depoentes deste estudo, quando filhas e/ou

esposas se doam e mergulham no contínuo zelo do seu ente querido, numa ação

repleta de sensibilidade, gratidão, solidariedade, dedicação chegando a se sacrificar

e comprometer suas relações profissionais e sociais, bem como a própria saúde.

Essa forma de cuidado e de dedicação foram, são e serão aprendidas,

ensinadas e impostas às mulheres, em sociedades como a brasileira, em particular a

piauiense, onde ainda hoje a maior parte da população feminina continua no

trabalho doméstico ou do lar, sem, logicamente, desconsiderar os avanços sociais,

culturais e políticos alcançados pelas mulheres nos últimos anos. Mesmo aquelas

Page 78: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

76

que atingiram uma formação superior e atuam profissionalmente, continuam

moldadas a serem cuidadoras no âmbito da família.

Essa forma de cuidar que vem desde o momento do nascimento, quando a

mãe cuida do filho, para lhe garantir a vida promove o aprendizado dessa missão

nas experiências das mulheres em todas as etapas da vida. E, com isso, também se

apóia a Enfermagem, que, embora se perceba uma inserção masculina, ainda se

pode dizer que é uma profissão eminentemente feminina, concebida como a arte e a

ciência do cuidado.

É válido acrescentar que nessa conjuntura familiar, em que se sobrepõe o

sexo feminino exercendo a prática do cuidado, os participantes do estudo

mostraram-se diante de um quadro repleto de situações de dependência e

necessidade de cuidado, que influencia as mulheres, filhas e/ou esposas, a

assumirem essa missão para a qual foram educadas durante toda vida.

Contudo, é importante lembrar que as mulheres cuidadoras mostraram-se

dinâmicas, batalhadoras e resilientes, embora paradoxalmente, em momentos de

conflitos, expressaram-se com características de pessoas estressadas, tristes,

chorosas em virtude dos diversos desafios impostos pela condição de ser cuidadora,

o que não as impediu de ir à luta, de continuar buscando informações, lutando por

mudanças e pela conquista de direitos, e, principalmente, demonstrando capacidade

de incorporar saberes e práticas de saúde relevantes acerca da doença,

transformando as dificuldades e demandas em possibilidades e estratégias de

cuidado, próprias dos seres humanos, que são inconclusos e estão em permanente

aprendizado, como diz Freire (1980) em sua teoria da Libertação.

Page 79: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

77

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ___________________________________________________________________

Page 80: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

78

Esta pesquisa caracterizada como uma Dissertação de Mestrado em

Enfermagem, que enfocou os saberes e práticas de cuidadores familiares de idosos

com a Doença de Alzheimer possibilitou a construção de um marco contextual a

partir de conceitos e concepções acerca do fenômeno do envelhecimento

populacional e suas vertentes demográficas, políticas e epidemiológicas, com

destaque para a DA, patologia de alta prevalência e elevado impacto fisiológico,

psicológico, social e familiar.

Buscando em estudos científicos bases referenciais sobre a trajetória

evolutiva da patologia, nas diferentes fases de desenvolvimento, bem como

identificar os saberes e práticas dos cuidadores familiares em cada uma das etapas

de agravamento do quadro clínico desta morbidade, possibilitou evidenciar a

importância deste cuidador, em sua maioria mulheres, que assumem de forma

solitária e anônima a responsabilidade pelo cuidado do idoso.

Nesse sentido, este mergulho no universo das pesquisas se deu para

responder a questionamentos instigadores originados no cotidiano assistencial e de

ensino sobre a ação de familiares que cuidam de idosos com tantas fragilidades e

dependências. E a partir destas reflexões, identificou-se a necessidade de

aproximações e articulações de conteúdos filosóficos e epistemológicos sobre o

conhecimento contidos na Teoria de Paulo Freire para iluminar a discussão dos

saberes e das práticas experimentadas por estes familiares no ato de cuidar.

Tanto o referencial teórico como os conceitos e concepções sobre a

temática do estudo, encontraram articulação com os achados da investigação,

evidenciando que os saberes e práticas destes familiares cuidadores representam

um fenômeno humano, no qual se afirmam postulações tais como, a da inconclusão

do homem, a da existência de conhecimento proveniente do senso comum e da

capacidade de aprendizado a partir da conscientização.

Dessa forma, esta investigação se configura como um rico resultado de

informações sobre os saberes e práticas de cuidadores familiares construído a partir

do próprio diálogo estabelecido entre os sujeitos e a pesquisadora nas entrevistas

domiciliares. Outros enfoques também contribuíram favoravelmente para se chegar

a esses resultados, como: a obediência aos critérios científicos e metodológicos, a

utilização da análise de conteúdo de Bardin e a identificação de um referencial

teórico adequado ao objeto de estudo.

Page 81: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

79

Além de se ter perseguido os requisitos que são exigidos nas pesquisas

cientificas, desenvolveu-se um raport positivo entre os participantes do estudo e a

pesquisadora, que propiciou uma ambientação empática e sensível, favorecendo a

expressão de vivências, valores, sentimentos e crenças que envolvem esta relação

de cuidado. E assim, deve-se expressar que os resultados alcançados mostraram

saberes e práticas repletos de subjetividades decorrentes da historicidade e da

cultura da população.

Nessa perspectiva, o estudo demonstrou que os saberes manifestos pelos

cuidadores familiares sobre a Doença de Alzheimer foram expressos através da

sintomatologia e do seu tratamento, sendo resultantes da construção sociocultural,

frutos das vivências e experiências que envolvem as práticas de cuidados.

E embora, os saberes manifestos pelos sujeitos tenham se mostrado

empíricos, cotidianos e históricos, marcados ora por crenças e mitos, ora pela

precariedade das informações, são de fundamental importância para se

estabelecerem novas visões na área da saúde, sobretudo, da enfermagem, que

devem ser priorizadas no cotidiano da assistência ao portador e ao cuidador da

doença.

Em relação às práticas de cuidado identificou-se serem essenciais no

atendimento das necessidades básicas dos portadores e, conseqüentemente, para a

manutenção da vida dos mesmos. Constatou-se também que essas ações de cuidar

são individualizadas, cotidiana, contínua, trabalhosa e desgastante, e são

determinadas pelo estágio evolutivo da patologia e do conseqüente grau de

dependência do portador. Essas ações de cuidados mostraram-se revestidas de

disponibilidade, boa vontade e respeito com o idoso, embora em alguns momentos

se intercalem sentimentos de adversidades.

É importante lembrar que também se identificou nesta investigação, as

diferentes dificuldades e demandas expressadas e/ou sentidas pelos cuidadores

familiares, destacando-se as necessidades materiais e financeiras, rede de apoio

social e profissional, a divisão de tarefas com os demais membros da família e o

reconhecimento de sua ação de cuidar.

Atrelado a essas necessidades, cabe ressaltar a importância das

informações nesse contexto, cuja desinformação sobre o processo evolutivo da

doença foi bastante evidenciada entre os cuidadores, embora participassem da

Page 82: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

80

ABRAz-PI, que tem como missão assisti-los em suas necessidades, principalmente,

no tocante a informações e orientações sobre a patologia.

Outra constatação do estudo refere-se às repercussões negativas da ação

de cuidar na própria saúde física e emocional destes cuidadores, pois foram

evidenciadas: a sobrecarga física, alterações emocionais e as limitações da vida

social, que comprometem o bem-estar destes indivíduos e do próprio doente. É

importante se relacionar que embora ocorrido estas reais conseqüências do árduo

labor destes familiares, paradoxalmente, evidenciou-se que esta prática produz

efeitos satisfatórios, que se traduz para alguns dos participantes como uma ação

enriquecedora, gratificante e capaz de produzir mudanças positivas na vida pessoal.

Também, mostrou-se evidente que a influência das questões de gênero na

determinação do cuidado familiar não repercute apenas na eleição das mulheres

como cuidadoras, mas também no modo de cuidar que foi, é e será aprendido,

ensinado à mulher, em diversas culturas, com destaque a brasileira. Certamente,

com estas características e mais o aprendizado do cuidado da saúde próprio da

condição feminina, estas mulheres realizaram uma prática responsável, respeitosa e

fraterna.

Sabe-se que o novo paradigma da saúde aponta formas de cuidar que

deverão transcender a dimensão biológica, portanto, conhecer os saberes, práticas,

necessidades e sentimentos dos cuidadores familiares possibilitou vislumbrar outros

modos de atuação dos profissionais da saúde, com destaque para o enfermeiro, no

que tange à necessidade de suporte técnico mais adequado e com maior

possibilidade de efetivação de uma intervenção terapêutica.

Assim, o estudo evidenciou ser essencial à sensibilização dos enfermeiros

acerca das repercussões que envolvem o processo de cuidar de um idoso com

Alzheimer, considerando-se que estes profissionais deverão ter um papel ativo no

planejamento de programas de apoio e acompanhamento dos cuidadores familiares

e idosos, devendo constituir-se como o elo entre a família e os demais membros da

equipe multidisciplinar, assumindo, assim, uma postura de disponibilidade e escuta

atenta que lhes permita compreender as necessidades, os sentimentos, e as

dificuldades do binômio cuidador/idoso.

Cabe também ao enfermeiro neste processo, ouvir, oferecer informação,

treinar tarefas e habilidades. Por sua vez, o cuidador familiar conduz a equipe de

saúde ao encontro de uma situação compatível com as suas necessidades pessoais

Page 83: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

81

e do familiar que cuida. Surge, então, um dos maiores desafios para os profissionais

de saúde: proporcionar práticas educativas e atendimento significativo para o doente

e seu cuidador, pois cada experiência é individualizada, tornando-se extremamente

importante o contexto, nomeadamente no que diz respeito a percepções culturais, o

papel dos outros elementos da família, amigos e comunidade em que estão

inseridos e aspectos econômicos entre outros.

Portanto, a falta de informação e o desconhecimento que são freqüentemente

referidos pelo cuidador e afetam de forma significativa o desempenho e a

continuidade do cuidado. Apontando para a necessidade de investimentos na área

de educação em saúde com vistas à capacitação destes cuidadores para um melhor

desempenho deste papel, tornando-os elementos mais ativos no processo de cuidar

e na tomada de decisões. Nessa nova e ainda utópica proposta assistencial

configura-se o paradigma inovador da prestação de cuidados que se assenta na

parceria entre o cuidador e o enfermeiro.

Na perspectiva de operacionalizar estratégias inovadoras de atenção ao idoso

e ao cuidador familiar os resultados deste estudo apontam as seguintes sugestões:

1. Capacitação dos Profissionais de Saúde da ESF, com destaque para o

Enfermeiro, na tecnologia de cuidado domiciliar ao Idoso com DA e seus Cuidadores

Familiares.

2. Implantação nos municípios com mais de 100.000 habitantes de Equipes

Especializadas de Internação Domiciliar, que prestarão uma assistência integral e

sistematizada para os idosos com DA e complicações que estejam necessitando de

um maior suporte de cuidados técnicos. Esta internação certamente favorecerá a

atuação do cuidador familiar que não só receberá as informações sobre o quadro

clínico do paciente, como o apoio nas suas tarefas de cuidar.

3. Elaboração, produção e distribuição do Manual de Orientação Técnica para

o Cuidado Familiar ao Idoso com Alzheimer para os Profissionais de Saúde da ESF,

com DVD de auto-orientação em anexo.

4. Elaboração, produção e distribuição de material educativo de orientação

aos cuidadores familiares de idosos com DA (Cartilha “O Passo a Passo do Cuidado

de Idosos com Alzheimer”).

5. Implantação de Grupos de Auto-Ajuda nos diversos territórios de saúde

pelas Equipes da ESF, com vistas a capacitar cuidadores familiares de idosos com

DA, através de Oficinas e Práticas de Educação em Saúde.

Page 84: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

82

6. Implantação de Serviços de Aconselhamento e Apoio através de linha

telefônica gratuita – 0800 nas 24 horas. Bem como pela Internet em Blogs e/ou sites

de orientação e comunicação on line, possibilitando aos cuidadores e/ou

interessados informações necessárias para o cuidado do idoso com Alzheimer e o

esclarecimento de dúvidas.

Além das sugestões anunciadas, mostra-se com uma evidente e factível

contribuição deste estudo a idealização da publicação de um livro sobre os saberes

e práticas dos cuidadores familiares de idosos com Alzheimer. Acredita-se que esta

produção científica poderá instrumentalizar não somente o cotidiano de familiares

cuidadores, como também, trará grandes benefícios à prática dialógica do

enfermeiro educador. Afinal, cuidar de um idoso com Alzheimer representa um

desafio não só para a família, mas também para os enfermeiros e profissionais de

saúde de modo geral.

Longe de esgotar os cuidados domiciliares realizados junto ao doente de

Alzheimer, esse livro trará os depoimentos dos cuidadores familiares, nos quais

retratam a sutileza e a sensibilidade do que é fundamental no cuidado, revelando

situações e sugestões de estratégias que podem facilitar o cuidado junto ao doente

e melhorar sua qualidade de vida e a de seus cuidadores.

Além do mais, espera-se que o livro enquanto produto de uma dissertação

de mestrado possa ser utilizado no ensino de graduação e pós-graduação, bem

como, sirva de bases para futuras pesquisas que focalizem a problemática dos

idosos com Alzheimer e as experiências e vivências de seus cuidadores familiares.

Logo, buscar, analisar, descrever, compreender práticas e atitudes, sinais e

sintomas, perdas e ganhos, sentimentos e pensamentos de pessoas que cuidam e

dos que recebem cuidados resultou em uma riqueza de informações para

construção desta Dissertação de Mestrado sobre fenômenos emergentes e

contemporâneos vivenciados na sociedade brasileira, tais como: o envelhecimento,

a doença de Alzheimer e seus cuidadores familiares.

Page 85: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

83

REFERÊNCIAS ___________________________________________________________________

Page 86: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

84

ACIOLI, S.; LUZ, M. T. Sentidos e Valores de Práticas Populares voltadas para a Saúde: a Doença e o Cuidado. Rev Enferm UERJ. Rio de Janeiro, v. 11, n. 2, p.

187-93, 2003. ACIOLI, S. A prática educativa como expressão do cuidado em Saúde Pública. Rev Bras Enfem. Brasília, v.61, n.1, p. 117-121, 2008.

ALVAREZ, A. M. Tendo que cuidar: a vivência do idoso e de sua família cuidadora,

no processo de cuidar e ser cuidado em contexto domiciliar. Tese (Doutorado em Enfermagem) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2001.

AMERICAN PHYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-IV-TR: Manual de diagnóstico e estatística das perturbações mentais. Ed. 4. Lisboa: Ed. Climepsi, 2002. BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Ed 4. Lisboa: Edições 70, 2006 BARRETO, J. Os sinais da doença e a sua evolução. In: BARRETO, J. A doença de Alzheimer e outras demências em Portugal. Lisboa: Lidel, 2005. BOFF, L. Saber Cuidar: ética do humano compaixão pela terra. Ed 10. Petropólis:

Vozes, 1999. BORNSTEIN, V. J. Experimentando a construção do conhecimento com base em diferentes saberes. Revista de APS, v. 9, n. 2, p. 175-179, 2006. BRITO, C. M. S. Os saberes e as práticas de mulheres idosas na prevenção do câncer de mama. Teresina, 2009. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Universidade Federal do Piauí – UFPI, Teresina, 2009. BRASIL. Gabinete Ministerial. Portaria n. 703/GM em 12 de abril de 2002. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para o Tratamento da Demência por Doença de Alzheimer. Brasília, 2002b. ______. Lei nº 8.842 de 4 de janeiro de 1994. Dispõe sobre a política nacional do idoso, cria o conselho nacional do idoso e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 1994.

Page 87: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

85

______. Ministério da saúde. Conselho Nacional de Saúde – CSN. Normas do Comitê de Ética e Pesquisa. Resolução do CSN: nº 196/96, Brasília, 1996. ______. Ministério da Previdência e Assistência Social. Portaria interministerial nº 5.153 de 7 de abril de 1999. Programa Nacional de Cuidadores de Idosos. Diário Oficial da União n. 66. Brasília, 1999.

_______. Ministério da Saúde. Portaria GM/MS nº703. Programa de Assistência aos Portadores de Alzheimer. Diário da União da República Federativa do Brasil. n.

72, seção 1, Brasília, 2002a. ______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa. Brasília, 2006a. ______. Ministério da Saúde. Política Nacional de Saúde da Pessoa idosa.

Portaria nº 2. 528, publicada em 19 de outubro de 2006. Brasília, 2006b. ______. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Departamento de Apóio à Descentralização. Coordenação-Geral de Apóio à Gestão Descentralizada. Diretrizes Operacionais dos Pactos pela Vida, em Defesa do SUS e de Gestão.

Brasília, 2006c. _______. Ministério da Previdência Social. Secretaria de Políticas de Previdência Social. Envelhecimento e Dependência: Desafios para a Organização de Proteção Social.Brasília, 2008.

_______. Senado Federal. Estatuto do Idoso. Brasília, 2003. CALDAS, C. P. Contribuindo para a construção da rede de cuidados: trabalhando com a família do idoso portador de síndrome demencial. Textos Envelhecimento, v. 4, n. 8, 2002. ______. Envelhecimento com dependência: responsabilidades e demandas da família. Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro, v.19, n. 3, p. 1108-15, 2003.

CALDAS, C. P. O Sentido do ser Cuidando de uma Pessoa Idosa que Vivencia um Processo Demencial. Tese (Doutorado em Enfermagem) - Escola de

Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2000.

Page 88: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

86

CAMPINAS. Secretaria Municipal de Saúde Campinas. Manual para cuidadores informais de idosos. São Paulo, 2005.

CANINEU, P. R. Demências: características clínicas gerais. Rio de Janeiro: Instituto de Pesquisa GERP, 2003. CAOVILLA, V. P.; CANINEU, P. R. Você não está sozinho. Ed. 1. São Paulo: Abraz, 2002. CARAMELLI, P; BARBOSA, M. T. Como diagnosticar as quatro causas mais freqüentes de demência. Rev Bras Psiquiat. São Paulo, v. 3, n.2, p. 7-10, 2002.

CARVALHO, P. M. G. Educação em saúde: práticas dos enfermeiros na Estratégia Saúde da Família. Teresina, 2009. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Universidade Federal do Piauí – UFPI, 2009. CHAIMOWICZ, F. Envelhecimento populacional e transição epidemiológica no Brasil. In: TAVARES, A. Compêndio de Neuropsiquiatria Geriátrica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. COELHO, G. S. O fudamental no cuidado junto ao idoso com Alzheimer: Vivências e experiências de familiares compartilhadas no diálogo grupal. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) - Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2004. DIOGO, M. J. D. E.; CEOLIM, M. F.; CINTRA, F. A. Orientações para idosas que cuidam de idosos no domicílio: relato de experiência. Rev Esc Enf USP. São Paulo,

2005, v. 39, n.1, p. 97-102. DUARTE, Y. A. O.; DIOGO, M. J. D. E. Atendimento Domiciliar: um enfoque

gerontológico. São Paulo: editora Atheneu, 2000. DYNIEWICZ, A. M. Metodologia da Pesquisa em Saúde para Iniciante. São

Caetano do Sul: Difusão Editora, 2007. ERDAMANN, A. L.; SCHLINDWEIN, B. H.; SOUSA, F. G. M. A. a produção do conhecimento: diálogo entre os diferentes saberes. Rev Bras Enferm. Brasília, v. 59, n. 4, p. 560 – 564, 2006.

Page 89: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

87

ESPINOZA, L. M. M. A Práxis Educativa de Enfermagem no Cuidado Hospitalar: Discursos de Enfermeiras. Tese (Doutorado em Enfermagem) - Universidade

Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2007. FIGUEIREDO, M. L. F. A mulher idosa e a educação em saúde: saberes e práticas para promoção do envelhecimento saudável. Tese (Doutorado em Enfermagem) – Escola de Enfermagem Anna Nery. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2005. FONSECA, A. M.; SOARES, E. O processo de saúde-doença e o cuidado domiciliário ao portador de doença de Alzheimer. Familia, Saúde e desenvolvimento. Curitiba, v. 8, n. 2, p 163- 167, 2006.

PAULO, F. Bem-estar subjetivo e metas de vida: comparação entre três grupos etários. (Tese de Doutorado) - Faculdade de Educação da Unicamp, Campinas, 2001. ______. Conscientização: Teoria e Prática da Libertação. São Paulo: Editora

Moraes Ltda, 1980. ______. Educação como prática da liberdade. Ed 15. Rio de Janeiro: Paz e Terra,

1983. ______. Educação como prática da liberdade. Ed 17. Rio de Janeiro: Paz e Terra,

1979. ______. Educação e Mudança. Ed 20. São Paulo: Paz e Terra; 1994.

______. Pedagogia da autonomia. Saberes necessários à prática educativa. Ed 6. São Paulo: Paz e Terra, 1997. ______. Pedagogia da esperança. Ed. 4. Rio de Janeiro (RJ): Paz e Terra; 1999. ______. Pedagogia do oprimido. Ed 17. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

______. ______. Ed. 40. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.

Page 90: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

88

GODILHO, A. et al. Desafios a serem enfrentados no terceiro milênio pelo setor de saúde na atenção ao idoso. Rio de Janeiro: UNATI, 2000. GUTERMAN, J. O Bem e o Mal de Alzheimer. Rio de Janeiro: Lidador, 2002.

HORTA, W. A. Processo de enfermagem. São Paulo: EPU, 1979. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio: Síntese de Indicadores 2007, Rio de Janeiro, v. 3. n. 11, 2008. KARSCH, U. M. S. Idosos dependentes: Famílias e cuidadores. Cad Saúde Pública. Rio de Janeiro, v. 19, n. 3, p. 861- 866, 2003. LAHAM, C. F. Percepção de perdas e ganhos subjetivos entre cuidadores atendidos em um programa de assistência domiciliar. Dissertação (Mestrado em

Ciências da Saúde) – Universidade de São Paulo. São Paulo, 2003. LEININGER, M. Care: the essence of nursing and health. Detroit Mi:Wayne State

University, 1991. LUZARDO, A. R. Características de idosos com doenças de Alzheimer e seus cuidadores: uma série de casos em um serviço de neurogeriatria. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2006. LUZARDO, A. R.; WALDMAN, B. F. Atenção ao familiar cuidador do idoso com doença de Alzheimer. Acta Scientiarum Health Sciences, Maringá, 2004, v. 26, n. 1, p 135 – 145. MACHADO, J. C. B. Doença de Alzheimer. In: FREITAS, E. V. et al. (Org.). Tratado de geriatria e gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.

MENDES, M. M. M. L. Cuidar do cuidador. Dissertação (Mestrado em Cuidados Paliativos) - Faculdade de Medicina de Lisboa, 2005. MINAYO, M. C. S.; DELANDES, S. F.; GOMES, R. Pesquisa Social. Teoria, método e criatividade. Ed 25. Petrópolis: Vozes, 2007.

Page 91: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

89

MINAYO, M. C. S. O Desafio do Conhecimento: Pesquisa Qualitativa em Saúde, Ed 9, Rio de Janeiro: Hucitec-Abrasco, 2007 MOTTA, A. B. A dimensão de gênero na análise do envelhecimento. In: FERREIRA, M. et al. (orgs.). Os poderes e os saberes das mulheres: a construção do gênero.

Salvador: Redor, 2001. NERI, A.L. et al. Cuidar de idosos no contexto da família: questões psicológicas e

sociais. Campinas: Alínea, 2002. NERI, A. L.; CARVALHO, V. A. M. L. O bem-estar do cuidador: aspectos psicossociais. In: FREITAS, E. V. et al. Tratado de geriatria e gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Cuidados inovadores para condições crônicas: componentes estruturais de saúde. Brasília, 2003.

PEREIRA, M. F. C. Cuidadores Informais de Doentes de Alzheimer: Sobrecarga Física, Emocional e Social e Psicopatologia. Dissertação (Mestrado em Ciências da Saúde) - Instituto de Ciências Biomédicas de Abel de Salazar, Universidade do Porto. Lisboa, 2008. PELZER, M. T. Assistência cuidativa humanística de enfermagem para familiares cuidadores de idosos com doença de Alzheimer a partir de um grupo de ajuda mútua. Tese (Doutorado em Enfermagem) – Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2005. RICHARDSON, R. J. Pesquisa Social Métodos e Técnicas. Ed 3. São Paulo: Atlas, 2007. SANTOS, B. S. Para um novo senso comum: a ciência, o direito e a política na transição paradigmática. São Paulo: Cortez; 2001. SANTOS, S. M. A. O cuidador familiar de idosos com demências: um estudo qualitativo de famílias de origem nipo-brasileira e brasileira. Tese (Doutorado em Ciências Médicas) - Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2003. SANTOS, S. M. A.; RIFIOTIS, T. Cuidadores familiares de idosos dementados: uma reflexão sobre o cuidado e o papel dos conflitos na dinâmica da família cuidadora.

Page 92: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

90

In: VON SIMSON, O. R. M.; NERI, A. L.; CACHIONI, M. (org.). As múltiplas faces da velhice no Brasil. Campinas: Alínea, p. 141-164, 2003. SENA, E. L. S.; GONÇALVES, L. H. T. Vivências de familiares cuidadores de pessoas idosas com doença de Alzheimer: Perspectiva da filosofia de Meleau-Ponty. Texto contexto Enferm. Florianópolis, v. 17, n. 2, p. 156-63, 2008. SOMMERHALDER, C. Significados associados à tarefa de cuidar de idoso de alta dependência no contexto familiar. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) -

Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 2001. SILVEIRA, T. M.; CALDAS, C. P.; CARNEIRO, T. F. Cuidando de idosos altamente dependentes na comunidade: um estudo sobre cuidadores familiares principais. Cad Saúde Pública, Rio de Janeiro, n. 8, p. 1629-1638, 2006.

SIQUEIRA, et al. Crenças populares referentes à saúde: apropriação de saberes culturais. Texto Contexto Enferm. Florianópolis, v.15, n. 1, p. 91-9, 2006.

VASCONCELOS, E. M. Redefinindo as práticas de saúde a partir de experiências de educação popular nos serviços de saúde. Interface – Comunic., Saúde, Educ.,

Botucatu, v.5, n.8, p.121-126, 2001 VILELA, L. P.; CARAMELLI, P. A doença de Alzheimer na visão de familiares de pacientes. Rev Assoc Med Bras, Rio de Janeiro, v. 52, n. 3, p. 148-152, 2006. WALDOW, V. R. Atualizações sobre o cuidar. Chia, Colômbia, v.8, n.1, p. 85-96,

2008. WAIDMAN, M. A. P; ELSEN, I. Famílias e necessidades... revendo estudos. Acta Scientiarum Health Sciences. Maringá, v. 26, n. 1, p. 147-157, 2004.

Page 93: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

91

APÊNDICES

___________________________________________________________________

Page 94: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

92

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE/DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO - MESTRADO EM ENFERMAGEM

APÊNDICE A - ROTEIRO DE ENTREVISTA

ENTREVISTA Nº DATA......./....../......

DADOS DE CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS

a. Idade e. Escolaridade

b. Sexo f. Renda Mensal

c. Ocupação g. Vínculo Afetivo

d. Estado Civil

1. O que você sabe sobre a doença de Alzheimer?

2. Fale sobre sua prática de cuidar do idoso portador de Alzheimer no domicílio.

3. Quais são suas dúvidas sobre essa doença e seus cuidados?

4. Você gostaria de falar alguma coisa sobre essa experiência de cuidar, que não foi

abordado nessa entrevista.

Page 95: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

93

ANEXOS __________________________________________________________________

Page 96: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

94

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE/DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO - MESTRADO EM ENFERMAGEM

ANEXO A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está sendo convidado (a) para participar, como voluntário, em uma pesquisa. Você precisa decidir se quer participar ou não. Por favor, não se apresse em tomar a decisão. Leia cuidadosamente o que se segue e pergunte ao responsável pelo estudo qualquer dúvida que você tiver. Este estudo está sendo conduzido por Eronice Ribeiro de Morais; Maria do Livramento Fortes Figueiredo. Após ser esclarecido(a) sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo, assine ao final deste documento, que está em duas vias. Uma delas é sua e a outra é do pesquisador responsável. Em caso de recusa você não será penalizado(a) de forma alguma. ESCLARECIMENTO SOBRE A PESQUISA: Título do Projeto: Saberes e práticas de cuidadores familiares de idosos com Alzheimer Pesquisador Responsável: Maria do Livramento Fortes Figueiredo. Instituição/Departamento: Universidade Federal do Piauí/ Departamento de

Enfermagem Telefone para contato (inclusive a cobrar): (86) 3215-5940 / 9981-5878 Email:

[email protected] ou [email protected] Pesquisadores participantes: Eronice Ribeiro de Morais Telefones para contato: (86) 9982 5234.

A presente pesquisa se configura como um estudo de abordagem qualitativa, do tipo descritivo, a ser realizada nos domicílios dos cuidadores familiares de idosos com Alzheimer integrantes da ABRAZ – PI, na cidade de Teresina Piauí. Os sujeitos serão cuidadores principais de idosos portadores de Alzheimer que apresentam algum grau de dependência e que aceitarem participar da pesquisa. A coleta dos dados realizar-se-á nos meses de abril e maio de 2009 após a aprovação por este comitê de ética e autorização da instituição. Objetiva-se nesta pesquisa: Descrever os saberes e práticas dos cuidadores familiares no cuidar do idoso com Alzheimer; Discutir a luz do referencial dialógico de Paulo Freire os saberes e as práticas dos cuidadores familiares de idoso com Alzheimer. Você responderá um roteiro de entrevista, no qual terão perguntas relacionadas com os saberes e as prática de cuidar do idoso com Alzheimer no domicilio e será gravada em MP3.

Ressalta-se que a presente pesquisa não trará riscos, prejuízos, desconforto, lesões, formas de indenização, nem ressarcimento de despesas.

Garantia de acesso: em qualquer etapa do estudo, você terá acesso aos profissionais responsáveis pela pesquisa para esclarecimento de eventuais dúvidas.

Page 97: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

95

O principal investigador é a Drª. Maria do Livramento Fortes Figueiredo que pode ser encontrada no endereço Universidade Federal do Piauí, Departamento de Enfermagem, Rua Marcos Parente, 1204. Bairro Fátima, Teresina-PI, telefone (86) 8822-3622. Se você tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa, entre em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Piauí, no mesmo endereço Campus Universitário Ministro Petrônio Portella - Bairro Ininga. Centro de Convivência L09 e 10 - CEP: 64.049-550 - Teresina – PI. Tel.: (86) 3215-5734 - email: [email protected] web: www.ufpi.br/cep ♦ Garantia de sigilo: Se você concordar em participar do estudo, seu nome e identidade serão mantidos em sigilo. A menos que requerido por lei ou por sua solicitação, somente o pesquisador, a equipe do estudo, representantes do patrocinador (quando presente) Comitê de Ética independente e inspetores de agências regulamentadoras do governo (quando necessário) terão acesso a suas informações para verificar as informações do estudo). ♦Em qualquer momento da pesquisa o participante terá o direito de retirar o consentimento.

Consentimento da participação da pessoa como sujeito

Eu, _________________________________________, RG/ CPF/ n.º de prontuário/ n.º de matrícula_____________________________________, abaixo assinado, concordo em participar do estudo SABERES E PRÁTICAS DE CUIDADORES FAMILIARES DE IDOSOS COM ALZHEIMER, como sujeito. Fui suficientemente informado a respeito das informações que li ou que foram lidas para mim, descrevendo o estudo. SABERES E PRÁTICAS DE CUIDADORES FAMILIARES DE IDOSOS COM ALZHEIMER. Eu discuti com a Drª Maria do Livramento Fortes Figueiredo sobre a minha decisão em participar nesse estudo. Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo, os procedimentos a serem realizados, seus desconfortos e riscos, as garantias de confidencialidade e de esclarecimentos permanentes. Ficou claro também que minha participação é isenta de despesas e que tenho garantia do acesso a tratamento hospitalar quando necessário. Concordo voluntariamente em participar deste estudo e poderei retirar o meu consentimento a qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem penalidades ou prejuízo ou perda de qualquer benefício que eu possa ter adquirido, ou no meu acompanhamento/ assistência/tratamento neste Serviço.

Teresina, ____ de _____________ de 200__.

___________________________________________________

Assinatura

Page 98: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

96

Presenciamos a solicitação de consentimento, esclarecimentos sobre a pesquisa e aceite do sujeito em participar Testemunhas (não ligadas à equipe de pesquisadores): Nome:____________________________________________ RG:______________________________________________ Assinatura: ________________________________________ Nome:____________________________________________ RG:______________________________________________ Assinatura: ________________________________________ Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e Esclarecido deste sujeito de pesquisa ou representante legal para a participação neste estudo1.

Teresina, ____ de _____________ de 200__.

_____________________________________________ Assinatura do pesquisador responsável

1 Observações complementares

Se você tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa, entre em contato: Comitê de Ética em

Pesquisa – UFPI - Campus Universitário Ministro Petrônio Portella - Bairro Ininga. Centro de Convivência L09

e 10 - CEP: 64.049-550 - Teresina – PI tel.: (86) 3215-5734 - email: [email protected] web: www.ufpi.br/cep

Page 99: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

97

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE/DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO - MESTRADO EM ENFERMAGEM

APÊNDICE B – CARTA DE APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA

Page 100: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

Livros Grátis( http://www.livrosgratis.com.br )

Milhares de Livros para Download: Baixar livros de AdministraçãoBaixar livros de AgronomiaBaixar livros de ArquiteturaBaixar livros de ArtesBaixar livros de AstronomiaBaixar livros de Biologia GeralBaixar livros de Ciência da ComputaçãoBaixar livros de Ciência da InformaçãoBaixar livros de Ciência PolíticaBaixar livros de Ciências da SaúdeBaixar livros de ComunicaçãoBaixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNEBaixar livros de Defesa civilBaixar livros de DireitoBaixar livros de Direitos humanosBaixar livros de EconomiaBaixar livros de Economia DomésticaBaixar livros de EducaçãoBaixar livros de Educação - TrânsitoBaixar livros de Educação FísicaBaixar livros de Engenharia AeroespacialBaixar livros de FarmáciaBaixar livros de FilosofiaBaixar livros de FísicaBaixar livros de GeociênciasBaixar livros de GeografiaBaixar livros de HistóriaBaixar livros de Línguas

Page 101: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ …livros01.livrosgratis.com.br/cp136240.pdf · Luis de Sousa Santos Júnior, pela realização do Programa de Pós-Graduação

Baixar livros de LiteraturaBaixar livros de Literatura de CordelBaixar livros de Literatura InfantilBaixar livros de MatemáticaBaixar livros de MedicinaBaixar livros de Medicina VeterináriaBaixar livros de Meio AmbienteBaixar livros de MeteorologiaBaixar Monografias e TCCBaixar livros MultidisciplinarBaixar livros de MúsicaBaixar livros de PsicologiaBaixar livros de QuímicaBaixar livros de Saúde ColetivaBaixar livros de Serviço SocialBaixar livros de SociologiaBaixar livros de TeologiaBaixar livros de TrabalhoBaixar livros de Turismo