número9opusdei - novas da galiza¡rio do assassinato de moncho reboiras “os fletadores do...

16
novas da Número 9, Agosto de 2003 9 número Posiçons nacionalistas recuam após a mudança normativa Aniversário do assassinato de Moncho Reboiras “Os fletadores do Prestige manten- hem laços com a monarquia” Iban Gortazar, autor do ensaio “Los Piratas del Prestige. De la Casa Blanca a la Zarzuela” Dedicam XVII Festival da Poesia à mobilizaçom cidadá OPUS DEI O poder na sombra A prelatura que fundara em 1928 Monsenhor Escrivá de Balaguer goza na actualidade de umha privilegiada posiçom na sociedade galega. A Obra está presente no poder autonómico, nas universi- dades, nos meios de comunicaçom e mesmo está a assentar umha sólida estrutura no rural do País. Perante as opinions que identificam o Opus com o grande poder económico e como um instrumento de controle social, os membros da prelatura defen- dem-se a argumentar que o único fim que perse- guem é a santificaçom mediante o trabalho. Desde que em 1989 ganhou as eleiçons autonómicas Manuel Fraga, o Opus Dei foi escalando posiçons na esca- la de poder do País. Analisando a presença de fiéis da Obra entre os políticos e conselheiros do Partido Popular, pode afirmar-se que o Opus goza de umha situaçom privilegiada no panorama político da Galiza. Basta assinalarmos que, na primeira legislatura presidida por Fraga (1989-1993), pessoas relacionadas com a Prelatura ocupárom diversas conselharias. Este é o caso da da Presidência, dirigida naquela altura por Dositeo Rodríguez, que na actualidade, é vereador do PP em Santiago de Compostela. Naquele mesmo gabinete, Xosé Manuel Romay Beccaría era o res- ponsável da Conselharia de Agricultura. Este último, que hoje em dia preside o Conselho de Estado, negou em repe- tidas ocasions a sua pertença à Obra. Nom obstante, diver- sas fontes asseguram que existe certa afinidade, talvez pro- piciada polo facto de as suas amizades mais próximas serem do Opus. Na actualidade, diversas fontes vinculam com a Prelatura o Conselheiro da Economia, Xosé Antón Orza. Resposta conundente a Cascos no 25 de Julho A concentraçom de activida- des, propostas lúdicas e mobilizaçons reivindicati- vas, tam habitual no Dia da Pátria, acentuou-se se calhar este ano pola peculiar con- juntura sócio-política vivida no nosso País: o ano político que acabava de terminar, o das maiores mobilizaçons de massas da nossa história recente, e os protestos do nacionalismo perante a afronta maquinada polo poder autonómico com a concessom da Medalha de Ouro da Galiza ao ministro Álvarez Cascos, explicam em grande medida a dinámi- ca da jornada, a mais confli- tiva dos últimos anos. Segundo o observado nas diferentes manifestaçons levadas a cabo, a capacidade de convocatória do indepen- dentismo e do nacionalismo institucional mantivo-se estável, com um ligeiro aumento da assistência nos actos do primeiro. Galiza ou o novo Macondo Desde o ano 1998, as fábricas galegas de alumínio situadas na Corunha e em Sam Cibrao (Marinha) passárom de ser proprie- dade pública a cair nas maos da mutinacio- nal Aluminium Compay of America (ALCOA). A passagem de empresa pública a empresa privada tem a ver com a política governamental de ir limitando a participa- çom do Estado naqueles sectores que nom lhe parecem estratégicos mas causantes de perdas no erário público. Por outra parte, a chegada de ares norte- americanos é acompanhada por umha renovaçom que atinge todos os aspectos da vida quotidiana e laboral dentro destas empresas agora privatizadas.

Upload: truongdan

Post on 30-Jun-2018

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: número9OPUSDEI - Novas da Galiza¡rio do assassinato de Moncho Reboiras “Os fletadores do Prestige manten-hem laços com a monarquia” Iban Gortazar, autor do ensaio “Los Piratas

novas daNúmero 9, Agosto de 2003

9número

Posiçonsnacionalistasrecuam após a mudança normativa

Aniversário doassassinatode MonchoReboiras

“Os fletadores doPrestige manten-hem laços com a

monarquia”

Iban Gortazar, autor doensaio “Los Piratas del

Prestige. De la CasaBlanca a la Zarzuela”

Dedicam XVIIFestival da Poesiaà mobilizaçomcidadá

OPUS DEIO poder na sombra

A prelatura que fundara em 1928 Monsenhor

Escrivá de Balaguer goza na actualidade de umha

privilegiada posiçom na sociedade galega. A Obra

está presente no poder autonómico, nas universi-

dades, nos meios de comunicaçom e mesmo está a

assentar umha sólida estrutura no rural do País.

Perante as opinions que identificam o Opus com o

grande poder económico e como um instrumento

de controle social, os membros da prelatura defen-

dem-se a argumentar que o único fim que perse-

guem é a santificaçom mediante o trabalho.

Desde que em 1989 ganhou as eleiçons autonómicasManuel Fraga, o Opus Dei foi escalando posiçons na esca-la de poder do País. Analisando a presença de fiéis da Obraentre os políticos e conselheiros do Partido Popular, podeafirmar-se que o Opus goza de umha situaçom privilegiadano panorama político da Galiza. Basta assinalarmos que,na primeira legislatura presidida por Fraga (1989-1993),pessoas relacionadas com a Prelatura ocupárom diversasconselharias. Este é o caso da da Presidência, dirigidanaquela altura por Dositeo Rodríguez, que na actualidade,é vereador do PP em Santiago de Compostela. Naquelemesmo gabinete, Xosé Manuel Romay Beccaría era o res-ponsável da Conselharia de Agricultura. Este último, quehoje em dia preside o Conselho de Estado, negou em repe-tidas ocasions a sua pertença à Obra. Nom obstante, diver-sas fontes asseguram que existe certa afinidade, talvez pro-piciada polo facto de as suas amizades mais próximasserem do Opus. Na actualidade, diversas fontes vinculamcom a Prelatura o Conselheiro da Economia, Xosé AntónOrza.

Resposta conundente aCascos no 25 de Julho

A concentraçom de activida-des, propostas lúdicas emobilizaçons reivindicati-vas, tam habitual no Dia daPátria, acentuou-se se calhareste ano pola peculiar con-juntura sócio-política vividano nosso País: o ano políticoque acabava de terminar, odas maiores mobilizaçons demassas da nossa históriarecente, e os protestos donacionalismo perante aafronta maquinada polopoder autonómico com a

concessom da Medalha deOuro da Galiza ao ministroÁlvarez Cascos, explicamem grande medida a dinámi-ca da jornada, a mais confli-tiva dos últimos anos. Segundo o observado nasdiferentes manifestaçonslevadas a cabo, a capacidadede convocatória do indepen-dentismo e do nacionalismoinstitucional mantivo-seestável, com um ligeiroaumento da assistência nosactos do primeiro.

Galiza ou o novo MacondoDesde o ano 1998, as fábricas galegas dealumínio situadas na Corunha e em SamCibrao (Marinha) passárom de ser proprie-dade pública a cair nas maos da mutinacio-nal Aluminium Compay of America(ALCOA). A passagem de empresa públicaa empresa privada tem a ver com a políticagovernamental de ir limitando a participa-çom do Estado naqueles sectores que nomlhe parecem estratégicos mas causantes deperdas no erário público. Por outra parte, a chegada de ares norte-americanos é acompanhada por umharenovaçom que atinge todos os aspectos davida quotidiana e laboral dentro destasempresas agora privatizadas.

Page 2: número9OPUSDEI - Novas da Galiza¡rio do assassinato de Moncho Reboiras “Os fletadores do Prestige manten-hem laços com a monarquia” Iban Gortazar, autor do ensaio “Los Piratas

“Os que máis madrugaron o 25 de xulloforon os manifestantes convocados porNÓS-Unidade Popular, que celebraban ade-mais o aniversario da sua constitución baixoo lema “Umha outra Galicia é possível”. Asonce e media partía da alameda unha mani-festación menos concorrida que a pasadoano –ao redor de cincocentas persoas- naque quixeron poñer de manifesto que o 25 dexullo “non é unha celebración inocua ecompracente”.“Às doce do mediodía partía a manifesta-ción convocada por NÓS-UP dende aAlameda camiño da Praza de Mazarelos.Perto de cincocentas persoas marcharompolas rúas de Santiago pedindo a indepen-dencia, unha “Galiza ceive, socialista e nompatriarcal asi como a liberdade para os pre-sos políticos”. Com case unha hora deretraso sobre o horario previsto saía amanifestación de NÓS-UP coa xente doBloque lambéndolle os calcañares. Apesar de que o descenso de asistentes foinotábel, case a metade que o ano pasa-do, a organización mostrou a súa satis-facción ao verse compensada polaabundante concorrencia de xente nosdemais actos convocados”.Ambas as citaçons, reproduzidasfielmente, pertencem à informa-çom que o semanário do autono-mismo A Nosa Terra dedica àmanifestaçom da esquerda inde-pendentista do Dia da Pátria de2002 e 2003 respectivamente. Ojornal vinculado ao BNG, no número 1.045de 1 de Agosto a 4 de Setembro de 2002, eno número 1.093 de 31 de Julho a 3 deSetembro de 2003, tal e como pode ser cons-tatado nos negritos com que desvendamos amanipulaçom, nom se diferencia do resto daimprensa na hora de intoxicar e transmitircalculadamente informaçom falsa sobreumha parte do independentismo galego.ANT estima que o número de manifestantesque secundárom este ano a manifestaçom daUnidade Popular aproximava-se das 500pessoas, -estimaçom bastante rigorosa pois onúmero exacto foi de 430-450-, e consideraque participárom “case a metade que o anopasado”, mas em 2002 o semanário tambémestimava em meio milhar o número de inde-pendentistas que participárom na manifesta-çom de NÓS-UP. É evidente que a ANTmente, manipula e intoxica tendo em contaque a manifestaçom deste ano foi ligeira-mente superior à de 2002. Descarta-se qualquer erro de transcriçom danotícia elaborada por César Lorenzo Gil eBegoña Carballo, ou desconhecimento dacrónica realizada no ano anterior polas suascolegas de redacçom. Também nom conside-ramos possível que as erróneas contas sejamexpressom de graves carências estruturaisem aritmética e matemática, entendidascomo o conjunto de ciências em que inter-venhem as teorias dos números, deste e desta“jornalistas”. Portanto, nom se pode inter-pretar esta absoluta e ridícula imprecisom,

expoente da falta do mais mínimo rigor jor-nalístico, senom como umha evidente mani-pulaçom e intoxicaçom do autonomismo nomomento de tratar todo o ligado com aesquerda independentista.Nom é nova esta atitude nas páginas deANT. Só nos últimos meses, para nomabrangermos umha etapa cronológica maisampla, o jornal dirigido por Afonso Eirétem-se caracterizado por umha estratégiamediática a respeito do MLNG caracterizadapola ocultaçom sistemática, e às vezesobsessiva, da imensa maioria das iniciativase actividades, combinada com umha manipu-

laçom constante das notícias que conside-ra, por diversas razons, impres-

cindível ressaltar.

Resultaria cómicoe surrealista, se nom fossepolas conseqüências e evidente intenciona-lidade política que procura, o título e trata-mento sobre o Dia da Pátria na semana pré-via: “FPG e AMI aproveitan o 25 de xullopara criticaren a Aznar” (ANT 1.092, de 24a 30 de Julho de 2003, página 8), mais pró-prio de 1995 do que do ano em curso. A orientaçom da informaçom sobre as setesabotagens realizadas em Compostela nanoite de 24 a 25 de Julho contra diversosinteresses do capital espanhol e sipaio tam-bém é umha amostra de jornalismo colabo-racionista, homologável ao conjunto daimprensa espanhola, burguesa e patriarcal,que inunda os quiosques do País. ANT, napágina 15 do já citado número 1.093, quali-fica de “vandalismo” acçons de evidenteintencionalidade e natureza política, e citan-do um artigo do “cronista político” do“Faro de Vigo”, Javier Sánchez de Dios, aoqual reverencialmente qualifica de “vetera-no comentarista”, publicado em 29 de Julhono diário viguês, adere à lógica para-poli-cial que a ofensiva fascista espanholaimpom nos meios de comunicaçom de mas-sas.O tratamento concedido à II AssembleiaNacional de NÓS-Unidade Popular tampou-co tem desperdício (ANT 1.088, página 14,de 26 de Junho a 2 de Julho). Sem contactar

com ninguém da organizaçom política uni-tária da esquerda independentista, sem citarfontes, elabora umha notícia para justificara suja estratégia de pretender gerar tensio-namento e incutir divisom interna no seiodo MLNG, plasmada nas “informaçons”recolhidas nos números 1.069 e 1.070, de 13a 19 de Fevereiro, e de 20 a 26 de Fevereirode 2003 respectivamente, com títulos tameloqüentes da intencionalidade fraccionalis-ta como “Malia as diferencias entre AMI ePrimeira Linha. Negan que a organizaciónindependentista NÓS-UP vaia rachar”.Cumpre ressaltar que, nestas planificadasmanobras confusionistas, ANT mentiu semo menor reparo ao afirmar que PrimeiraLinha declinara realizar declaraçons, quan-do em nenhum momento contactou com aorganizaçom comunista do MLNG.

É surpreendente que a informaçomda Assembleia Nacional nom esteja

acompanhada, como se fijo com ascitaçons congressuais da FPG, sem ir

mais longe, com umha entrevista aalguém da direcçom.

Finalmente, para nom vos cansar commais citaçons exaustivas sobre um trata-

mento informativo que está bem claro,ressaltemos a informaçom da greve de

fome que durante semanas mantivérom emCompostela dúzias de activistas da UnidadePopular, nos meses de Novembro eDezembro de 2002, para denunciarem a per-seguiçom contra o exercício da liberdade deexpressom que praticava, e pratica, o gover-no municipal, naquela altura de coligaçomPSOE-BNG. O semanário autonomista como gráfico cabeçalho “Grafitismo, unhaplaga ou un dereito” semeia dúvidas sobre alegitimidade do protesto ocultando as ver-dadeiras razons da iniciativa, centrando o“problema” na realizaçom de pintadassobre pedra ou património monumental aomais puro estilo “El Correo Gallego”, evi-tando informar sobre o estado de excepçomde baixa intensidade em que o regime temconvertido a capital da Galiza, como labora-tório modelo do controle social, repressomselectiva e proibiçom do exercício mais ele-mentar dos direitos básicos de manifesta-çom e expressom, que a esquerda indepen-dentista está a combater sem trégua há anos.Torna-se mais necessário do que nunca con-solidar umha rede própria de comunicaçomcom que o MLNG poda, com a pluralidadeideológica que o caracteriza, informar, coe-sionar e socializar o seu projecto revolucio-nário. Nom podemos depender, embora simdevamos ter umha clara política mediática,dos mass-media do capitalismo, nas suasvariantes espanholistas ou autonomistas.Temos que contar basicamente com os nos-sos próprios meios, e portanto urge coorde-nar as diversas expressons mediáticas doconjunto do independentismo galego, quecom todas as limitaçons, som relevantes emrelaçom com o actual grau de desenvolvi-mento do emergente movimento de liberta-çom nacional e social de género.

2 segunda Agosto 2003 novas da galiza

segunda

Editora: Minho Média S.L

Director: Ramom Gonçalves.

Redacçom: Marta Salgueiro, CarlosB.G., J.Manuel Lopes, Antom Álvarez,Miguel Garcia, Joám Evans, Tiago Peres.

Correspondentes: Compostela, UgioCaamanho / Vigo, Xiana González /Ponte-Vedra, Álvaro Franco / Lugo,Joám Bagaria / Corunha, ArmandoRibadulha / Ourense, Tiago Peres /Barbança, Joám Evans / Marinha,André Outeiro / Paris, J.Irazola /Madrid, José R.Rodríguez

Colaboraçons: Xurxo Souto, MaurícioCastro, Tomé Martins, Xesus Serrano,Manuel Andrade, José R.Pichel,Antom Garcia Matos, Xabier LagoMestre, A Gente da Barreira, EduardoSanches, Ignacio Ramonet, SantiagoAlba, Ramón Chao.

Fotografia: Borxa Vilas, Rosa Veiga,Miguel Garcia, Arquivo NGZ.

Humor Gráfico: Suso Sanmartim,Pestinho +1.

Publicidade: Tiago Peres.

Imagem corporativa: Paulo Rico

Maquetaçom: Carlos BG / MiguelGarcia

Correcçom lingüística:

Eduardo Sanches Maragoto.

NOVAS DA GALIZA

Apartado dos correios 106927080 Lugo. Galiza. Tel: 639 146 [email protected]

As opinions expressas nos artigos nomrepresentam necessariamente aposiçom do jornalOs artigos som de livre reproduçomrespeitando a ortografia e citando pro-cedência. É proibida outro tipo dereproduçom sem autorizaçom expressado grupo editor.

Feche de Ediçom: 01/06/0315.08.03

Partidismo, manipulaçom e intoxicaçomO tratamento mediático do independentismo pola imprensa autonomista

Carlos Morais

Page 3: número9OPUSDEI - Novas da Galiza¡rio do assassinato de Moncho Reboiras “Os fletadores do Prestige manten-hem laços com a monarquia” Iban Gortazar, autor do ensaio “Los Piratas

3editorialAgosto 2003novas da galiza

Suso Sanmartim

sumário

Opus Dei. O poder na sombra

Novas da Galiza descobre neste número as redes do OpusDei no nosso país, assim como

a influência da seita na vidapolítica galega

Galiza ou o novoMacondo

De se fechar Alúmina, hoje emmaos estadunidenses, Sam Cibraopoderia ser um novo Macondo,um lugar panasma e sem vida

Bandas internacionaisna nossa língua

Portugal e o Brasil oferecemum amplo abano de grupos dequalidade a fazerem música nanossa língua

Anivesrário do assassinato de

Moncho Reboiraas

Ramom Gonçalves, director deNovas da Galiza, lembra a

figura do combatente nacionalista coincidindo

com o seu cabodano

7

10

14

Falar do Opus Dei é referir a face mais retrógrada econservadora da Igreja de Roma. A doutrina daObra nom é mais do que a aplicaçom do pensamen-to capitalista ao catolicismo. Neste caso, “a salva-çom é conseqüência do trabalho” e a acumulaçomde riqueza passa a ser considerada umha virtude e aser reconhecida como um motivo de “santifica-çom”.Poucos anos depois da sua fundaçom, o Opus con-segue consolidar-se como umha congregaçom reli-giosa com fortes vínculos nos poderes político eeconómico. Dando umha vista de olhos no passadomais imediato, basta lembrarmos a geraçom de tec-nócratas do Opus que medrou ao abrigo do regimefascista de Franco e que estivo à frente de diversosministérios. Mas este nom é um fenómeno que ape-nas abranja o Estado Espanhol. A Prelatura fundadapor Escrivá de Balaguer conseguiu atingir as quotasmais altas de poder na hierarquia católica, coinci-dindo com o pontificado de Joam Paulo II. Nom foipor acaso que a chegada deste homem ao papadorepresentasse umha involuçom na Igreja, até aoponto de desbaratar completamente os tímidos pla-nos aberturistas e regeneracionistas de antecessoresseus como Joam XXIII ou Paulo VI. O Opus tam-bém serviu de contraponto violento ao movimentoda Teologia da Libertaçom na Latino-América, aoapoiar decididamente as sanguinárias ditaduras fas-cistas que padeceu o continente, entre elas, a doChile ou a de El Salvador. Em relaçom com o paísandino, Escrivá visitou-o em 1974 quando a repres-som de Pinochet estava no apogeu. Posteriormente,

numha conferência onde se falou do muito sangueespalhado polo Chile, o fundador da Obra chegou aafirmar: “Eu digo-vos que aquele sangue foi neces-sário”.Infelizmente, o Opus também estendeu as garraspola Galiza. O poder político, o económico, osmeios de comunicaçom ou o ensino nom ficamlivres da pegada da Obra. Xosé Antón Orza,Dositeo Rodríguez, Meilán Gil e Arturo Maneirotam-só som umha pequena amostra dos serventesmais significativos que a Prelatura possui no País.Mas o Opus, que sempre foi considerado de carác-ter urbano, está a assentar umha sólida estrutura nomeio rural da Galiza. Já nos anos setenta, fôromcriadas as EFA´s (Escolas Familiares Agrárias) nasNeves, Coristanco e Arçua, com o objectivo deintroduzir a doutrina da Obra nas aldeias e vilas doPaís e para fazer oposiçom ao sindicalismo agraris-ta nacionalista que começava a germinar na altura. Mas, um dos aspectos mais preocupantes é a pre-sença do Opus no ensino. As cidades de Vigo eCorunha contam com centros educativos geridospola Obra. Nestes, existe segregaçom por géneros,aspecto que atenta claramente contra os princípiosmais básicos da educaçom, entre outros motivos,porque despreza a igualdade. Esta rede pseudo-edu-cativa dispom de subsídios da Junta, já que os cen-tros da Obra som concertados. Nom esqueçamos,tampouco, que o Opus Dei é umha instituiçom mar-cada por um profundo espanholismo, reflectidotambém no seu ensino.

editorialO rosto mais intransigente do catolicismo

15

Page 4: número9OPUSDEI - Novas da Galiza¡rio do assassinato de Moncho Reboiras “Os fletadores do Prestige manten-hem laços com a monarquia” Iban Gortazar, autor do ensaio “Los Piratas

Redacçom

A concentraçom de actividades,propostas lúdicas e mobilizaçonsreivindicativas, tam habitual noDia da Pátria, acentuou-se secalhar este ano pola peculiarconjuntura sócio-política vividano nosso País: o ano político queacabava de terminar, o das maio-res mobilizaçons de massas danossa história recente, e os pro-testos do nacionalismo perante aafronta maquinada polo poderautonómico com a concessom daMedalha de Ouro da Galiza aoministro Álvarez Cascos, expli-cam em grande medida a dinámi-ca da jornada, a mais conflitivados últimos anos. Segundo o observado nas dife-rentes manifestaçons levadas acabo, a capacidade de convoca-tória do independentismo e donacionalismo institucional man-tivo-se estável, com um ligeiroaumento da assistência nos actosdo primeiro.Antes de darem começo as mobi-lizaçons nacionais e de se junta-rem as pessoas assistentes noPasseio da Alameda, meia dúziade polícias da brigada de infor-maçom detivérom os militantesde NÓS-UP Estrela Ferrenho eAntom Santos quando estavam acarregar propaganda políticanum carro, relacionando-os comas sabotagens da madrugada edeixando vazar os seus nomesaos meios, que logo prescidíromda presunçom de inocência pas-sando a acusar directamente odetido e a detida. A organizaçoma que pertencem, que tinha feitoem dias prévios umha ênfaseespecial na necessidade de opovo galego se mobilizar contraa medalha da aldragem, foi pre-cisamente a primeira em sair daAlameda. Mais de meio milharde pessoas, a maioria delasjovens, secundárom a convoca-tória, em que fôrom rasgadassimbolicamente três faixas degrande tamanho com vários arti-gos da Constituiçom Espanhola.Já em Maçarelos, o membro daDirecçom Nacional ÍriaMedranho dirigiu à assistênciaumha arenga em que salientou a

situaçom de crise nacional quevive o nosso país e convidou opúblico a secundar as diversasiniciativas –políticas, sociais,mediáticas ou culturais- postas

em andamento pola esquerdaindependentista.Por outro lado, as mais de dezmil pessoas que assistírom àmobilizaçom do BNG pudérom

ouvir o já tradicional comício deX.M. Beiras, em que se repetí-rom as ideias força dos últimosanos: necessidade de um gover-no galego, maior peso do nosso

país no Estado e diálogo políticono enquadramento autonómico.A novidade fôrom as alusons rei-teradas à crise nacional doPrestige e a insistência na reivin-dicaçom da identidade galeguis-ta do BNG em contraposiçom aoresto de forças institucionais.A terceira das manifestaçons, ada FPG, acabou na Praça doToural com discursos do escritorX.L. Méndez Ferrín, cheio dereferências à conjuntura interna-cional e às agressons do imperia-lismo, e do vereador de CangasMariano Abalo, que revisou aconjuntura política galega. Emfinalizando, os e as assistentesconfluírom com os milhares depessoas que abarrotavam oObradoiro convocadas polaNunca Mais, que repetiu osucesso mobilizador que acom-panhou a plataforma em todas assuas actividades.

Tensom no serám do 25Mas a jornada reivindicativanom terminou aqui, como costu-ma acontecer. As diversas enti-dades do MLNG continuáromavante com umha concentraçomà tarde que tinha o propósito deboicotar a entrega da medalha aÁlvarez Cascos, o que foi impe-dido pola polícia espanhola aocarregar contra os manifestantesna Porta do Caminho, deixandovárias pessoas contusionados. Atentativa de dissolver o jantar-festa de NÓS-UP frustrou-sepola determinaçom da militánciaindependentista, que impediu,formando umha corrente huma-na, a entrada da polícia no recin-to. Por outro lado, Ceivar (orga-nismo popular anti-repressivo),que aproveitou os actos do 25para fazer a sua apresentaçompública, encarregou-se da aten-çom das pessoas detidas e dadenúncia da repressom, convo-cando no Toural um cento depessoas à tardinha e organizandoo recebimento da Estrela e doAntom à saída dos julgados nodia seguinte. Os dous militantesfôrom libertados por nom terencontrado o juiz nenhumhaprova que os vinculasse com assabotagens.

A concentraçom de actividades, propostas lúdicase mobilizaçons reivindicativas, tam habitual noDia da Pátria, acentuou-se se calhar este anopola peculiar conjuntura sócio-política vivida no

nosso País: o ano político que acabava de termi-nar, o das maiores mobilizaçons de massas danossa história recente, e os protestos do nacional-ismo perante a afronta maquinada polo poder

autonómico com a concessom da Medalha deOuro da Galiza ao ministro Álvarez Cascos, expli-cam em grande medida a dinámica da jornada, amais conflitiva dos últimos anos.

4 notícias Agosto 2003 novas da galiza

Resposta contundente à medalha a Cascos no passado 25 de Julho

Grande número de actividades, diversas mobilizaçons e repressom espanhola marcam a data

Festa, mobilizaçom e acçons de sabotagemdam as boas vindas ao Dia da Pátria

A reivindicaçom nacional tem jáganho um espaço na véspera dodia nacional; as consignas e sim-bologia nacionalistas fam parte,desde a tardinha do dia 24, dastradicionais Festas do Apóstolocompostelanas, que congregammilhares de pessoas chegadas dediferentes pontos da Galiza. Às10 h da noite, enquanto no cam-pus universitário se punham aandar os primeiros espectáculosdo Festigal, a AMI convocavaperto de 200 moços e moças naPraça do Pam para a VIII rondal-ha da mocidade, mais conhecidapola Noite das Bandeiras. Houvemúsica tradicional e colocaçomde faixas da organizaçom emvários prédios da parte velha dacidade. Durante a mobilizaçom,duas pessoas encapuzadas, com aajuda de um escadote, retiráromumha bandeira espanhola do

mastro do Lar dos Velhos eVelhas que a Junta gere na Portado Caminho. Ainda que nestaocasiom as forças policiais deci-dírom nom fazer as manifesta-çons de ostentaçom de outrosanos, quando dúzias de carrinhasocupavam várias das ruas maiscêntricas da cidade, funcionoudurante a noite um operativoespecificamente destinado àvigiláncia do independentismobaptizado como OperaçomCravo, segundo pudo saberNGZ. Com um discurso de JúlioSaiáns, responsável de organiza-çom da AMI, a mobilizaçom deupassagem em Maçarelos à festa-concerto com os grupos Skárnioe Dandy Fever, que se prolonga-ria até bem entrada a madrugada.O momento mais conflitivo dajornada produziu-se por volta dameia noite na Praça de

Cervantes, onde várias pessoasencapuzadas (sobre dez, segundotestemunhas) levantárom váriasbarricadas e atacárom com arte-factos incendiários vários bal-cons bancários. Factos semel-hantes acontecêrom na zonanova da cidade, onde váriassedes de instituiçons financeirase lojas de multinacionais de tele-comunicaçons fôrom de novosabotadas. Fontes policiais emeios de comunicaçom do regi-me adjudicárom as acçons aindependentistas. Aos tópicosrituais de condena e desinforma-çom (mais intensos que noutrasocasions) aderírom todos osmeios de comunicaçom, desta-cando-se pola sua virulência efalta de rigor informativo osemanário nacionalista A NossaTerra.

Imagemda Rondalha da Mocidade com a Bandeira organizada pola AMI, que este ano celebrou a sua oitava ediçom

Page 5: número9OPUSDEI - Novas da Galiza¡rio do assassinato de Moncho Reboiras “Os fletadores do Prestige manten-hem laços com a monarquia” Iban Gortazar, autor do ensaio “Los Piratas

5notíciasAgosto 2003novas da galiza

Posiçons nacionalistas recuamapós mudança normativa

Redacçom

De facto, se bem que no essencialo acordo seja o mesmo, produzí-rom-se modificaçons significati-vas a respeito da proposta de2001, com o fim de esvaziá-las deconteúdo reintegracionista eassim marcar a autoridade daRAG nesta reforma. Entre as dife-renças a respeito da primeira pro-posta, cumpre salientar a elimina-çom da referência ao portuguêscomo recurso “para a incorpora-çom de novo léxico científico-téc-nico”, ou a desestimaçom donome “agá” para a letra <h> edígrafos de que é formante.Apesar de tudo e como se espera-va, os organismos afins ao nacio-nalismo institucional assumíromimediatamente o novo texto nor-mativo, abandonando os mínimosou normativa da concórdia quedefendiam desde há duas décadas.Porém, é opiniom generalizadaque nestes sectores se avalia comoumha derrota o facto de a reformater sido aprovada em 2003 e nomem 2001, ao recuperar a RAG ainiciativa que tinha perdido naaltura, verificando-se a escassainfluência que o BNG tem entre ogaleguismo oficial, mais próximodo PP em muitos casos. Ainda queA Mesa e o BNG fossem as pri-meiras organizaçons a aderir àreforma a cautela das suas mani-festaçons foi evidente. X. M.Beiras considerou que a novanorma, “de jeito razoável, pruden-te e mesurado permite caminhartanto para a concórdia entre asdiferentes opçons lingüísticascomo para o reconhecimento dotronco galego-português”. Poroutro lado, esta viragem semelhaapenas formal no mundo donacionalismo maioritário, já quenos últimos anos se tinha verifica-do na prática um abandono daortografia de mínimos. No entan-to, segundo fontes próximas donacionalismo institucional, oBNG necessitava da reforma e

esperava ansiosamente a suaimplementaçom a fim de pôrtermo a debates internos e exter-nos infrutíferos eleitoralmente. Por sua vez, o reintegracionismomostrou certa indiferença perantea reforma, ao considerar que ospequenos avanços nom contri-buem para abrir mais possibilida-des comunicativas ao galego.Mesmo assim, o MovimentoDefesa da Língua (MDL), AAssociaçao de Amizade Galiza-Portugal e a Associaçom Galegada Língua (AGAL) assinárom umcomunicado conjunto a que jáaderírom a Fudaçom Artábria, aAssociaçom Cultural Alto Minhoe a Assembleia Reintegracionista“Ene Agá” entre muitas pessoasparticulares. Neste manifestoassegura-se que “qualquermudança parcial dessa normanunca contribuirá para resolver oproblema do domínio linguístico(...) nem a perda de utentes da lín-gua”. Para além deste posiciona-mento conjunto, a AGAL tambémdifundiu um comunicado particu-lar em que se congratulam “deque a Real Academia se aproxi-me” dos postulados desta associa-çom mas consideram que “devealudir-se a umha ‘ReformaNormativa’ e nom a um‘Consenso Normativo’”, já que “aAGAL nom foi convidada a parti-cipar em negociaçons.” Entre as organizaçons políticas deprática reintegracionista, NÓS-UP, apesar de rejeitar o acordo,considerou-o resultado da “persis-tência, os esforços e os avançosdo movimento reintegracionistaao longo de duas décadas” e enco-rajou a base social reintegracio-nista a continuar na mesma linhaperante “esta pequena vitória”. Agora só falta que o novo textonormativo seja referendado noParlamento Galego e tudo pareceindicar que nom haverá surpresas.As boas relaçons entre o galeguis-mo oficial e o PP e a duplicidadede opçons da nova proposta que

permitirá à Junta continuar aempregar formas como “Galicia”ou “conselleria” fam pensar que a

RAG aprovou a reforma só depoisde ter obtido o consentimento deSam Caetano.

Fórum Socialdo Bérziofalará galego

NGZ

O organismo recentemente fundadoem Ponferrada aprovou a presençado galego no “documento final, eoutros textos do Fórum”, assumin-do o bilingüismo nas suas inter-vençons perante a sociedade. OFórum Social, de ámbito comarcal,é formado por 26 colectivos repre-sentantes dos campos do associa-cionismo vicinal, a defesa da lín-gua, o sindicalismo, o feminismo,as pessoas surdas e o ecologismo,entre outros. A proposta do uso dogalego partiu de Fala Ceive e foiaprovada por unanimidade, visandorecuperar a cultura e a línguapróprias na comarca.

Nova emisoranacionalista naCorunha

NGZ

A oito de Novembro de 2002, umgrupo de moços e moças corunhe-sas vinculadas ao nacionalismodecidiu pôr em andamentoRádioCeive. O dezasseis de Marçodeste ano começárom as emissons,que serám de duas horas diárias deduraçom, de segundas a sextas. EmJulho a programaçom aumentaráaté chegar às dez horas por dia,nomeadamente, das 12 às 22 horas. Um total de 22 pessoas colaboramnesta aventura. Os requisitos parapoder participar som empregar ogalego como única língua deexpressom e respeitar a linha edito-rial, baseada no ideário nacionalis-ta. O funcionamento desta estaçomde rádio é democrático e horizon-tal. Os programas versam sobrediversos temas como a natureza ouo desporto. Às quartas-feiras àsoito da tarde emite-se um espaçoinformativo. O ámbito de difusomcompreende quase toda a cidade daCorunha e parte dos concelhoslimítrofes como Oleiros ouCulheredo. Rádioceive ouve-se no106.1 FM do dial corunhês.O órgao administrador é a assem-bleia, que se reune cada dousmeses para avaliar as necessidadeseconómicas e para confeccionar aprogramaç[email protected].

A reforma da normativa oficial pola RealAcademia Galega (RAG) no dia 12 de Julhojá originou os primeiros e mais significati-

vos posicionamentos quanto à questom. Embora a maioria das organizaçons gale-guizadoras se congratulassem pola aprova-

çom da reforma, nom houvo celebraçonssalientáveis e sim críticas abertas ao factode serem tam limitadas as mudanças.

anuncia-tte

639146 523

aqui

Redacçom

A XIX ediçom da MostraInternacional do Teatro (MIT)em Ribadávia quase nom pudocelebrar-se na capital do Ribeiro.Quatro dias antes de começar oevento mais importante do teatrona Galiza, a Conselharia daCultura abaixou a ajuda econó-mica em 40%, arriscando a cele-braçom da MIT. Com o panopronto para ser levantado, odepartamento de Jesús PérezVarela comunicou que de 33.000euros comprometidos desde hámuitos anos unicamente se pro-porcionariam 21.000. A justifica-çom de Cultura som “as despesasdo Prestige”, porém, a explica-çom a esta decisom da Juntaencontra-se, segundo o directorda Mostra Rubem Garcia, nofacto de a MIT ter decidido pre-miar Burla Negra este ano “poloseu trabalho e pola dinamizaçomda cultura galega”, sendo que,

aliás, o pregoeiro da mostra foiLuis Tosar. A isto tudo deveacrescentar-se que a primeiraobra a ser representada noAuditório do Castelo deRibadávia era Alejandro y Anade “Animalario” o grupo queprotagonizou a montagem daentrega de prémios Goya.Rubem Garcia é o director daMIT há muitos anos e ele vêumha mao negra atrás da deci-som da Junta porque “na consel-haria sabem que este evento éconhecido ao largo do Estado, jáque além de estarem grupos daGaliza, venhem também gruposdo estrangeiro”. No mesmo sen-tido se expressárom naAssociaçom de CompanhiasProfissionais do Teatro naGaliza, que denunciou a atitudeda administraçom “com umhapolítica caprichosa e um nuloprojecto cultural de País, a evi-denciar o escasso respeito daConselharia polo teatro”.

Conselharia da Educaçom negasubsídio à mostra do teatro por

premiar Burla Negra

Page 6: número9OPUSDEI - Novas da Galiza¡rio do assassinato de Moncho Reboiras “Os fletadores do Prestige manten-hem laços com a monarquia” Iban Gortazar, autor do ensaio “Los Piratas

6 notícias Agosto 2003 novas da galiza

Inditex recon-hece gravesirregularidades

NGZ

Tal como tinha denunciado Novasda Galiza no número seis, prose-guem as evidências de exploraçomlaboral em Inditex. A própriaempresa reconheceu na últimaAssembleia Geral de Accionistas,celebrada na Corunha no dia 18 deJulho, a existência de “irregularida-des de certa consideraçom” em 10% das oficinas externas auditadas.Por seu lado, a CIG foi o único sin-dicato que rejeitou o relatório anualsobre a gestom da empresa. Ainda,fontes da central nacionalista pugé-rom-se em contacto com Novas daGaliza, com o intuito de apresentarna passada junta de accionistas deInditex a reportagem publicada poreste meio, como prova documentalsobre a exploraçom na rede de sub-contratas da empresa.

Solicitam ruapara MonchoReboiras

NGZ

A assembleia comarcal de Nós-Unidade Popular do Condado, commotivo do XXIII aniversário doassassinato de Ramom Reboiras,solicitou da Cámara Municipal dePonte Areas umha homenagem aopatriota galego. Na justificaçom demotivos, Nos-UP assegura queReboiras “foi um luitador deinqüestionável dedicaçom à Galizae ao Povo Trabalhador Galego ,procurando umha Galiza indepen-dente”. Para a organizaçom inde-pendentista Moncho Reboiras é“um exemplo de dignidade, decombatividade e de compromisso”.Na solicitaçom, requer-se o bapti-zado com o seu nome de umhapraça ou rua da vila “como home-nagem à sua dedicaçom e entrega ànossa naçom”.

Em que vos apoiades para afir-mar que o Prestige transportavaarmas químicas?Há um processo aberto no julgadode Corcubiom que avisa sobre aprobabilidade de que houvessemateriais deste tipo no navio.Ademais, os fretadores doPrestige, Marc Rich e MijailFridman, som conhecidos trafi-cantes de armas, presentes emrelatórios do FBI. Há pouco che-gou a Atenas um barco que ia parao Sudám com seiscentos quilos deum material químico semelhanteao semptex, utilizado para fabricarexplosivos de grande potência. Obarco que portava isto é proprieda-de de Alpha Shipping, dependentede Alpha Group, o grupo que con-tratou o Prestige. Rich e Fridmantivérom problemas com os servi-ços secretos internacionais por tra-ficar com armas em países africa-nos em conflito. Para além disto,certos movimentos nos dias poste-riores ao afundamento figérom-nos suspeitar, como a vontade debombardear o Prestige com fósfo-ro por parte de Federico Trillo.Deduzímos que havia mais qual-quer cousa, mas nom tínhamos acerteza do que poderia ser. Fontesdo julgado de Corcubiom confir-márom as nossas suspeitas. Háfaxes e documentos em poder deKale Gorria e da judicatura espan-

hola que o provam. Além disto, ocapitám Mangouras reclama docu-mentos que nom se encontram,como o diário de bordo. Estamosperante a evidência de que se pre-tendem ocultar provas.

Entom, porque nom sai à luz?Porque há demasiados interessesencobertos. Poucos dias depois doafundamento, cabeçalhos daimprensa internacional revelamque Rich e Fridman som os freta-dores do Prestige. No início, sur-preende-nos que seja revelado,mas o PP nom se importa enquan-to nom se falar dos laços que ten-hem com a monarquia espanhola eo empresariado da direita. MarcRich tem umha fundaçom noEstado espanhol, a FundaçomMarc Rich, que estivo presididapor Camilo José Cela, com a rain-ha Sofia da Grécia e a sua irmácomo membros de honra e compessoas do PP no seu seio. Estassom as informaçons que nompublica a comunicaçom socialespanhola. Em 2001, Clinton con-cede o indulto a Marc Rich (con-denado por evasom fiscal a 300anos de prisom), por ter pago parteda dívida e angariado apoios inter-nacionais. Cumpre salientarmos,dentro dos apoios, os de CamiloJosé Cela, Fernando FernándezTapias e Juan Carlos de Borbom,

que enviárom cartas a solicitar oindulto.

Quem é Fernández Tapias?F. Tapias conta no seu empóriocom Remolcanosa, infelizmentefamosa polo Casón, atentadoambiental provocado, segundo odirector geral da marinha mercan-te José Antonio Mariedo. É sóciode Marc Rich, por exemplo, emAlcoa. Libertad Digital revelouque Tapias contratara um barco naCatalunha para transportar água aMenorca, água que foi contamina-da polo caminho com pintura dopróprio navio, recém pintado.Tapias ordenou abrir as comportase deitar toneladas de água conta-minada ao mar. Há pouco, La Vozde Galicia publicou um breve queinforma sobre a decisom judicialde anular o recurso interposto porUniom Fenosa, com participaçomde Fernández Tapias, e Endesa, deque foi presidente Martín Villa.Ambas as empresas tenhem quepagar dous milhons de euros pordespejos, sobretudo de materiaispesados como o chumbo ou oenxofre, atingindo sessenta e qua-tro mil toneladas, quantidadesuperior à que deitou o Prestige.Tapias e Villa, que se apresentamcomo colaboradores no casoPrestige, som os principais conta-minadores da Galiza e uns dos

empresários que estám a benefi-ciar da privatizaçom dos serviços.

Que resultados obtivo o PP polagestom da catástrofe?Aznar conseguiu que certo pessoalda rede de Marc Rich intercedesseperante a administraçom ianquepara ser considerado na invasomdo Iraque. Entre o Iraque e aGaliza há um fio condutor: asindústrias petroleiras. Em finais deJunho levanta-se o embargo aopovo iraquiano, mas só para asempresas que colaboram com osEUA. O primeiro dia exportam 8milhons de barris de petróleo, dosquais 1.200.000 som para Repsol eCampsa. A entrada do EstadoEspanhol na invasom relaciona-secom questons económicas, depoder e a tratamentos de privilé-gio, dado que as empresas alemáse as russas fôrom vetadas. E aqui,Repsol é umha das encarregadasde comerciar com piche, a respon-sável por retirar o que fica nobarco... Os governos jogam papéisimportantes, mas as empresaspesam muitíssimo mais do quealguns governos. Nom tenho amenor dúvida de que se Repsoldecidisse qualquer coisa que con-trariasse a política estatal ámbitodos seus negócios, seria o governoa mudar a política de hidrocarbo-netos ou de transporte marítimo.

Iban Gortazar é autor do ensaio “Los Piratas del Prestige. De la Casa Blanca a la Zarzuela”

“Os fletadores do Prestige mantenhemlaços com a monarquia espanhola e o

empresariado da direita”No passado 24 de Julho apresentou-se em Compostela o livro “Los piratas del

Prestige”, que compila as investigaçons realizadas por Kale Gorria à volta do casoPrestige. A revista de investigaçom e denúncia publicou a exclusiva de que o petro-

leiro portava também materiais utilizáveis como armas químicas. Iban Gortazar,procedente da equipa de investigaçom de Egin, explica-nos as chaves da pesquisa e

os indícios que os guiárom até descobrir as informaçons reveladas.

Page 7: número9OPUSDEI - Novas da Galiza¡rio do assassinato de Moncho Reboiras “Os fletadores do Prestige manten-hem laços com a monarquia” Iban Gortazar, autor do ensaio “Los Piratas

reportagemAgosto 2003novas da galiza 7

reportagem

Opus DeiO poder na sombraO poder na sombra

A prelatura que fundara em 1928 MonsenhorEscrivá de Balaguer goza na actualidade deumha privilegiada posiçom na sociedade galega.A Obra está presente no poder autonómico,

nas universidades, nos meios de comunicaçome mesmo está a assentar umha sólida estruturano rural do País. Perante as opinions queidentificam o Opus com o grande poder

económico e como um instrumento de controlesocial, os membros da prelatura defendem-se aargumentar que o único fim que perseguem é asantificaçom mediante o trabalho.

Antón Álvarez Sanz

Desde que em 1989 ganhou aseleiçons autonómicas ManuelFraga, o Opus Dei foi escalandoposiçons na rede de poder doPaís. Analisando a presença defiéis da Obra entre os políticos econselheiros do Partido Popular,pode afirmar-se que o Opus gozade umha situaçom privilegiada nopanorama políticoda Galiza. Bastaassinalarmos que,na primeira legis-latura presididapor Fraga (1989-1993), pessoasrelacionadas com aPrelatura ocupá-rom diversas con-selharias. Este é ocaso da daPresidência, dirigi-da naquela alturapor DositeoRodríguez, que naactualidade, évereador do PP emSantiago deC o m p o s t e l a .Naquele mesmogabinete, XoséManuel RomayBeccaría era o res-ponsável daConselharia deAgricultura. Esteúltimo, que hojeem dia preside o Conselho deEstado, negou em repetidas oca-sions a sua pertença à Obra. Nomobstante, diversas fontes assegu-ram que existe certa afinidade,talvez propiciada polo facto de assuas amizades mais próximasserem do Opus. Na actualidade,diversas fontes vinculam com aPrelatura o Conselheiro daEconomia, Xosé Antón Orza.

No ámbito da educaçom, a digni-dade de maior releváncia adscritaà Obra é o reitor da Universidadeda Corunha, J. L. Meilán Gil. Oactual responsável pola insti-tuiçom corunhesa foi discípulo doministro franquista LaureanoLópez Rodó e procurador nasCortes fascistas. Meilán, membrodo presente Conselho de Estado,tinha tentado introduzir sem

demasiado êxito oOpus Dei na USC,quando era profes-sor de DireitoAdministrativo emC o m p o s t e l a .Coincidindo com apassagem deMeilán para aUniversidade daCorunha, produziu-se umha polémicarelacionada com onomeamento doreitor. A demissomdo seu antecessorno cargo, JoséAntonio PorteroMolina, por partede J. PiñeiroPermuy, conselhei-ro da Educaçom nalegislatura 1989-1993, foi motivada,segundo a versomdo cargo do PP, porumha "má gestompara pôr em anda-

mento a universidade". Estaactuaçom levantou umha azedacontrovérsia no conjunto dedocentes e estudantes da recémcriada Universidade da Corunha.Políticos da oposiçom e o próprioPortero interpretárom o facto deter sido demitido como fazendoparte do propósito do Opus detutelar esta universidade. MeilánGil, no poder da reitoria, foi rode-

ando-se de serventes afins às suasideias e tentou criar organismosdirigidos por pessoas da sua con-fiança para influir na sociedade.Por isso, continua ainda imersona dura batalha para conseguirlicenciaturas de prestígio, simila-res às formadas por profissionaisna universidade que o Opus temem Navarra. Nos orçamentos do ano 2.003 daCámara Municipal de Oleirosfigura o projecto de construçomde um auditório, co-financiadopola Universidade da Corunha econcebido pola reitoria para criar,com toda a probabilidade, asinfra-estruturas necessárias paraalbergar o segundo ciclo daFaculdade de ComunicaçomAudiovisual, licenciatura que

Meilán sempre quijo para o seucampus. Este assunto sempreenfrentou a universidade corun-hesa com a compostelana, poisambas aspiravam à concessom datam cobiçada titulaçom. Estenom é o único litígio entre estasduas universidades galegas, jáque Meilán também anseia conse-guir a licenciatura de Medicinapara a cidade herculina. Deve-seter em conta que as reclamaçonsprotagonizadas polo reitorcorunhês som plenamente apoia-das por Francisco Vázquez, presi-dente da Cámara da cidade. Estepolítico, embora nom seja oficial-mente membro do Opus, compor-ta-se como tal e sempre mantivoumha excelente relaçom com aPrelatura. Em numerosas oca-

José María Escrivá de Balaguer foi acusado em repetidas ocasions de manter boas relaçons com fascistas europeus e americanos

Na primeiralegislatura

presidida porFraga

(1989-1993),pessoas

relacionadascom o Opus ocupárom

váriasconselharias

Meilán Gil, reitorda UdC, foi

rodeando-se deserventes afins às

suas ideias e tentoucriar organismos

dirigidos por pessoas da sua confiança para

influir na sociedade

Page 8: número9OPUSDEI - Novas da Galiza¡rio do assassinato de Moncho Reboiras “Os fletadores do Prestige manten-hem laços com a monarquia” Iban Gortazar, autor do ensaio “Los Piratas

8 Agosto 2003 novas da galiza

sions, nos meios de comunicaçom,Francisco Vázquez agradeceu àObra a educaçom dos seus filhos,que estudárom na universidadeprivada de Navarra. Assim secompreende que o presidente daCámara da Corunha participe àsvezes em actos organizados polaObra, como aconteceu emFevereiro de 2002, quando assistiuna cidade a umhamesa-redonda sobre"o magistério dofundador do OpusDei como defensorda liberdade pesso-al", em que tambémestivérom presentesMeilán Gil eFrancisco Sánchez,director da Escolade Meios de La Vozde Galicia, e quetambém se relacionacom a Prelatura. EmMarço do mesmoano, Vázquez acu-diu à localidadeespanhola dePozuelo de Alarcón,onde o Opus tem asede da associaçomjuvenil ClubNeveros, para participar num coló-quio sobre as conseqüências daimigraçom e do "botelhom". Nomês de Junho de 2002, na corun-hesa Casa da Cultura Salvador deMadariaga, inaugurara-se umhapomposa exposiçom sobre Escriváde Balaguer e a história do Opus,acto que contou com o apoio ins-titucional da cámara da cidade e

com o protagonismo do seu presi-dente.A presença do Opus também temo seu referente na comunicaçomsocial. O El Ideal Gallego, quan-do era propriedade da EditorialCelta, estava estreitamente vincu-lado a esta instituiçom. No quediz respeito ao ente público daCompanhia de Rádio-Televisom

da Galiza, é conhe-cido o caso do atéhá pouco directorda Rádio Galega eactualmente secre-tário geral para asRelaçons com osM e i o sI n f o r m a t i v o s ,Alfonso Cabaleiro,qualificado pordiversas fontescomo um membro"progressista" doOpus Dei. Quantoà própriaTelevisom daGaliza, o ex-direc-tor de informativosdo canal, ArturoManeiro, membrodeclarado da Obra,presidente da

Associaçom de Jornalistas daGaliza (APG) e assessor do direc-tor geral da CRTVG, fora acusadohá anos polo próprio colectivo detrabalhadores e trabalhadoras docanal de manipulaçom, e mesmode praticar a censura informativa.Francisco Sánchez, director daEscola de Meios de La Voz deGalicia, vinculado à Prelatura, é

conhecido polos artigos de opi-niom em que realiza umha arden-te defesa da conceiçom católicada família, polo louvor do papaWoytila e por um acentuado puri-tanismo. A Escola de Meios, noano 1992, assina com aUniversidade da Corunha umconvénio mediante o qual a insti-tuiçom académica valida a Pós-graduaçom em Meios de

Comunicaçom e, posteriormente,a Pós-graduaçom em Produçom eGestom Audiovisual, que organi-za anualmente a CorporaçomVoz. Em agradecimento, o jornaldeste grupo silencia sistematica-mente qualquer informaçom quemenospreze a figura de MeilánGil, nomeadamente as denúnciasapresentadas contra o reitor poratentar contra a liberdade sindi-

cal dos e das trabalhadoras oupor incorrer em incompatibilida-de como administrador de umhaempresa que tem facturado tra-balhos para a sua própria univer-sidade. Nesta troca mútua dereconhecimentos, Meilán Gilinvestiu Santiago ReyFernández-Latorre, presidente dogrupo empresarial, como doutorHonoris Causa.

Dositeo Rodríguez, vinculado ao Opus Dei, ocupou a Conselharia de Presidência na primeira legislatura da "Era Fraga" (1989-1993)

Origens na GalizaPara datar as origens do Opus Dei nonosso país, cumpre remontarmo-nos aomês de Julho de 1938, em que Escrivá deBalaguer acode como peregrino aSantiago de Compostela. Para alémdesta peregrinaçom, o fundador da prela-tura realizou outras viagens à Galiza noperíodo de 1943 a 1948, com o intuito deiniciar o trabalho apostólico e com afinalidade de promover diferentes inicia-tivas "educativas e sociais". Os primeiros membros da Obra que seinstalam na Galiza chegam a Santiago deCompostela a partir de 1943. Entre elesdestaca Laureano López Rodó, catedráti-co de Direito Administrativo em 1945 dafacultade compostelana, que desempen-haria posteriormente importantes cargosna administraçom franquista: secretariogeral técnico do Ministério daPresidência (1956-1962), comisário doPlano de Desenvolvimento (1962-1965)e, desde 1965 até 1973, ministro. Nassuas maos estivo o desenho da políticaeconómica do Estado espanhol da altura.O Opus começa a introduzir-se no País,

principalmente através da diócese deTui-Vigo. O seu bispo, Frei Xosé LópezOrtiz, foi um dos principais impulsiona-dores do crescimento da Obra na área.Isto ocasionou que Tui-Vigo se verifi-casse como a plataforma galega delançamento da Prelatura.Em Dezembro de 1948 inaugurou-se emCompostela o Colégio Maior "A Estila",centro onde o Opus organizará o desen-volvimento das tarefas apostólicas naGaliza. Anos depois, em começos dosanos sessenta, som abertos novos centrosem Vigo e na Corunha. Posteriormente,serám inaugurados outros em Ourense,Ferrol, Ponte Vedra e Lugo. Por outro lado, entre outros projectoscorporativos da prelatura, os membrosdo Opus Dei na Galiza promovêrom acriaçom das Escolas FamiliaresAgrárias (EFA's) nas Neves, na provín-cia de Ponte Vedra e, na da Corunha,em Coristanco e Arçua. Estes centrossom dedicados à formaçom profissio-nal de pessoas das pequenas vilas ealdeias galegas. Imagem do colégio maior "La Estila". Diversas fontes asseguram que os seus responsáveis praticam a

censura, retirando dos jornais as notícias que nom som moralmente aceites.

reportagem

Paco Vázquezassistiu a um

debate sobre "Omagistério dofundador do

Opus Dei comodefensor da liberdade

pessoal", emque estivêrom

presentes MeilánGil e Francisco

Sánchez

Page 9: número9OPUSDEI - Novas da Galiza¡rio do assassinato de Moncho Reboiras “Os fletadores do Prestige manten-hem laços com a monarquia” Iban Gortazar, autor do ensaio “Los Piratas

Agosto 2003novas da galiza 9

Nome e Apelidos

Nº Conta

Junto cheque polo importe à ordem de Minho Média S.L.

Localidade E-mailC.P.Endereço

Telefone

1 Ano = 12 números = 20 �

Preenche este impresso com os teus dados pessoais e envia-o a NOVAS DA GALIZA, Caixa dos Correios 1069 (C.P. 27080) de Lugo

Assinante Colaborador = 30 �

Assinatura

[email protected] Telefone: 639 146 523

O Opus Dei é umha prelaturapessoal da Igreja, cujo nomecompleto é Prelatura da SantaCruz e Opus Dei. Entre os seusobjectivos figuram, na teoria,"levar à prática as liçons doEvangelho, mediante o exercíciodas virtudes cristás e a santifi-caçom do trabalho". A "prelaturapessoal" é umhafigura jurídica,criada no ConcílioVaticano II, queestabelece queumha instituiçomda Igreja -o Opusneste caso- nom sehá-de circunscre-ver a um determi-nado território (adiócese), e portan-to o seu ámbito deacçom é interna-cional. Neste caso,a Prelatura Pessoaldo Opus Dei édirigida por umbispo (prelado) e écomposta por umclero próprio eainda por laicos,tanto homenscomo mulheres.No primeirogrupo, encontram-se os supernume-rários, os numerá-rios e os agrega-dos. Ao segundodos grupos,actualmente formado por 70% dototal de membros que conformamo Opus, pertencem as mulheres eos homes casados que som fiéisda Obra. O resto dos membros doOpus som pessoas que se com-prometem por manter o celibatopor razons apostólicas. Algunsvivem sós ou com as suas famí-

lias (agregados) e outros residemem centros da prelatura, desem-penhando plenamente as suastarefas apostólicas (numerários).O Opus Dei foi fundado no ano1928 em Madrid, por José MaríaEscrivá de Balaguer. Após a suacriaçom, a actividade daPrelatura começou logo a se

espalhar noambiente universi-tário e ainda nosarrabaldes operá-rios e por diversoshospitais deMadrid. Depois deo fundador ter esta-belecido a sedecentral do OpusDei em Roma(1946), a organi-zaçom continuou asua expansom geo-gráfica polaAmérica e por dife-rentes estados daÁsia, da África e daOceania. O Opus,que desde 1943contava com asnecessárias apro-vaçons da SantaSede, foi erigidopor Joám Paulo II,a 28 de Novembrode 1982, como pre-latura pessoal. Dezanos mais tarde, em1992, Escrivá deBalaguer foi beati-

ficado. Os actos da sua canoni-zaçom, organizados por estapoderosa rede que a instituiçomdispersou por todo o mundo,tivérom lugar, com a concorrên-cia de inumeráveis seguidores eseguidoras, no Domingo 6 deOutubro de 2002 na Praça deSam Pedro do Vaticano.

História do Opus Dei

reportagem

O Opus Dei foifundado em

1928 por JoséMaría Escriváde Balaguer.Após a suacriaçom, a

actividade daPrelatura

começou logo ase espalhar no

ambienteuniversitário e

ainda nosarrabaldesoperários

AA Prelatura conseguiu a sua máxima expansom desde a chegada ao poder no Vaticano de Karol Woytila

A Praça de Sam Pedro do Vaticano encheu-se no dia da canonizaçom de Escrivá de Balaguer

Page 10: número9OPUSDEI - Novas da Galiza¡rio do assassinato de Moncho Reboiras “Os fletadores do Prestige manten-hem laços com a monarquia” Iban Gortazar, autor do ensaio “Los Piratas

10 Agosto 2003 novas da galiza

Galiza ou o novo MacondoGaliza ou o novo Macondo

reportagem

Desde o ano 1998, as fábricas galegas de alumíniosituadas na Corunha e em Sam Cibrao(Marinha) passárom de ser propriedade públicaa cair nas maos da mutinacional AluminiumCompay of America (ALCOA). A passagem de

empresa pública a empresa privada tem a vercom a política governamental de ir limitando aparticipaçom do Estado naqueles sectores quenom lhe parecem estratégicos mas causantesde perdas no erário público.

Por outra parte, a chegada de ares norte-americanos é acompanhada por umha renovaçomque atinge todos os aspectos da vida quotidiana e laboral dentro destas empresasagora privatizadas.

R. Marinho

História de um giganteAluminium Company of Americafoi fundada na década de oitentado século XIX, quando um estu-dante de química, Charles MartínHall, recém licenciado, decidiuprocurar um método para extrairalumínio de umha maneira maisbarata e sem que supugesse gran-des investimentos. Por aquelestempos o alumínio era considera-do um metal semiprecioso, comcuste de cinco dólares por libra.Com o sistema de Hall, que con-sistia em fabricaróxido de alumínio-alumina- cria oseu crisol a basede carbono e umbanho de criolita.Tam-só passáromquinze anos e C.M.Hall, possuia em1907 fábricas emCanadá e emPittsburg (USA),graças a ter conta-do com a ajuda dosgrandes capitalistasda costa leste dosEstados Unidos.Os usos do alumí-nio extendêrom-seà fabricaçom decabos eléctricos,motores ligeiros ematerial de cozinha. Nos anos trin-ta, o preço do alumínio desceu avinte centavos a libra. Depois da IIGrande Guerra, as aplicaçons parao alumínio ampliárom-se demaneira espectacular: construçom,aeronáutica e indústria espacial.Contudo, todas as luzes tenhemsombras, e ALCOA nom deixouescapar a tentaçom que supunhaser umha multinacional dosEstados Unidos. Durante a décadade sessenta financiou revoltas sin-dicais contra o governo elegido deforma democrática na Guiana(antiga Guiana Británica, naAmérica do Sul). O motivo erapretender manter o status quo,pagando preços dos anos trintapola bauxita (matéria prima do alu-

mínio) durante as décadas de ses-senta e setenta. Logo começou acolocar os seus interesses em luga-res como a Jamaica, onde possuifortes interesses em extracçom debauxita, assim como no Brasil e naGuiné-Conakry (África). Esta polí-tica expansiva tivo a sua fase maisimportante quando no ano 1999,acedeu às acçons da única empresaque lhe fazia um pouco de sombranos EUA, ficando com 95% domercado, quase um monopólio quedesafia as leis federais contra estetipo de estrutura empresarial.Na Europa, foi instalada em vários

países como aNoruega, a GramBretanha, a Irlanda,a Itália e o EstadoEspanhol. A aqui-siçom do monopó-lio espanhol do alu-mínio, conhecidocomo INESPAL,Instituto Espanholpara o Alumínio,foi o último passopara parar os pés aempresas europeiascomo Pechiney, amesma que ajudoua construir a indús-tria de Sam Cibrao.A Pechiney, decapital francês,decidiu unir-secom empresas

europeias visando desembarcarno Estado Espanhol. Mas apóstensas negociaçons e manobrasdilatórias do governo espanhol, oconsórcio estatal INESPAL, pas-sou a maos americanas perante asurpresa de todos e todas e preo-cupaçom de sindicatos.O lema de ALCOA continua aser o mesmo desde o início, "sera melhor empresa do mundo".Para verificarmos isto chega comdarmos umha olhada àsactuaçons dentro de umha dassuas fábricas, Sam Cibrao.

Macondo pode estar aíA indústria da Alumina-Alumínionasceu como resposta às carênciasde alumina, base da fabricaçom do

alumínio. No início, pretendia-seque acabasse instalada nas terrasde Ponte Vedra. Os protestos tor-nárom-se muito fortes e o governotardo-franquista de 1975 decideque seja a Marinha o lugar ondeserá situada a nova fábrica. Embenefício desta colocaçom, foiaduzida a escassa incidência dascentrais sindicais e a pouca respos-ta social que haveria num lugarque vivia quase subdesenvolvido.Cumpre assinalar que anos antestentara-se construir umha centralnuclear num dos concelhos em quese situa a fábrica, Jove. O outroconcello onde ficaria a indústriaseria Cervo, ao qual pertence alocalidade de Sam Cibrao.Entre estes dous concelhosmarinhaos foi repartido o corpode um monstro que precisa doesforço de cinco mil pessoas tra-balhadoras efectivas e outras tan-tas de pessoal auxiliar. Os começos fôrom umha epopeia.

Faltavam infra-estruturas parapoder instalar os fornos e as dife-rentes fases em que seria divididadepois a empresa. Para poder ins-talar o monstro, abrí-rom-se estradas queposteriormente nomvoltárom a ser utili-zadas. Foi construí-da umha barragempara fornecer águaàs necessidades derefrigeraçom ehigiene dentro daAlumina. As cen-trais térmicas dasPontes e Meiramafôron criaçons cola-terais para subminis-trar electricidade aum ponto que conso-me tantos quilová-tios como umha cidade de duzen-tas mil pessoas.A conseqüência desta instalaçomfoi que nom foi criado à margem

desta fábrica um cinturom indus-trial alternativo para suprir a activi-dade da indústria quando esta fal-tar. Quer dizer, nom há, por

enquanto, alternativaàs instalaçons deALCOA, e istosupom que estejamosperante umha indús-tria de enclave, quenom deixará nadaatrás de si. Tal comoacontece em Cemanos de solidom, deGarcía Márquez,quando a fábricabananeira fica fechadalogo depois de umhamanobra estratégicados amos ianques. Daperspectiva dos sindi-catos, esta poderia ser

a alternativa que fique na Marinhase a fábrica fechar. Seria um novoMacondo, um ermo sem vidadevorado aos poucos pola selva.

De se fechar Alúmina, Sam Cibrao poderia ser um novo Macondo, um lugar pantasma sem vida e devorado pola selva

Protestos sindicais no processo de privatizaçom da fábrica de Alúmina-Alumínio

reportagem

Após tensasnegociaçonse manobras dilatórias do

governoespanhol, oconsórcio

estatal INESPAL,passou a maos

americanas

Quem forvítima de um

acidentelaboral, deve

assistir à fábrica mesmo estando lesado

Fotografia: Xosé Marra

Page 11: número9OPUSDEI - Novas da Galiza¡rio do assassinato de Moncho Reboiras “Os fletadores do Prestige manten-hem laços com a monarquia” Iban Gortazar, autor do ensaio “Los Piratas

Agosto 2003novas da galiza 11

ALCOA por dentro

Nom há alternativa às instalaçons de ALCOA em Sam Cibrao. Estamos perante umha indústria de enclave, que nom deixará nada atrás de si.

Foi chefe do departamento dotesouro nos EUA com o gover-no de Bush filho, e antes, direc-tor geral de ALCOA. Foi o ins-tigador da compra do mercadoespanhol com a carteira declientes. Paul O´Neill foimesmo capaz de ir até Ugandacom o vocalista Bono de U2,para conhecer a escassez quesofre o país africano. Umhaexcelente política de imagemaprendida após muitos anos emALCOA, lavando a cara deumha multinacional que ocultaos números dos acidentes.Os novos comportamentosimplementados pola multina-cional americana, nom pare-cem oferecer um panoramaseguro para as pessoas quehabitam a Marinha.

(Na fotografia, O Tio O’Neillcom Bono na sua gira africana)

Tio O’NeillDe director geral de ALCOA a chefe do Departamento do Tesouro de George W. Bush

Segurança é a principal teima dasmentes duras de ALCOA: que nomhaja nenhum acidente, que se dis-tinga pola responsabilidade acimade tudo. Para isto realiza-se umhacampanha contínua de cursos depreparaçom para os trabalhadoresaprenderem o uso correcto dasmáquinas e dos diferentes aparel-hos de trabalho. A isto deve acres-centar-se o que os directivos cha-mam mobilidade laboral, a rotaçomdos trabalhadores por todos os pos-tos possíveis, para suprir possíveisoperários e operárias de licença eque o ritmo de produçom nom sejadetido nem experimente quedas. Mas, como conseqüência da venda,nom só se padece a mobilidade labo-ral. Agora, cada operário ou operáriaque assiste (obrigatoriamente) aoscursos, assina um papel em quereconhece que assistiu às aulas desegurança e de aprendizagem.Assim, em caso de acidente, as res-ponsabilidades recaem no trabalha-dor ou trabalhadora, por incompetên-cia ou falta de atençom ao seu trabal-ho. Desta maneira, quem for vítimade umha queda, escorregue ou cho-que entre máquinas, deverá assistir àfábrica mesmo estando lesado. Odestino destes lesados e lesadas seráocupar lugares dentro de áreas quenom suponham riscos para eles. Para os sindicatos isto é a armadil-ha com que ALCOA disfarça osresultados negativos quanto a aci-dentes. As estatísticas de acidentesdecrescem de ano para ano, mas arazom é o facto de nom serem pre-enchidas as comunicaçons ou pare-ceres de licença laboral em caso deacidente, ou por nom serem dadaslicenças por depressom. Em muitosdestes casos, som os afectados ouafectadas que pagam os táxis parase deslocarem ao lugar de trabalho. Em contrapartida, a auditora PriceWaterhouse, no seu relatório de2002, apontou que ALCOA nominforma correctamente a delegaçomde segurança do comité de empresa.Por sua vez, J. M. P., delegado desegurança do comité de empresa,declarou que desde a chegada deALCOA houvo duas mortes. A pri-meira por falta de material de segu-rança que devia ter proporcionado aempresa auxiliar para a qual trabal-hava o falecido e que ALCOA nomexigiu a esta empresa auxiliar. Estecaso está à espera de resoluçom judi-cial. Outro caso de morte foi segundoa empresa "um suicídio", pontomuito questionável para J.M.P. Nomsurpreende, com este panorama, queALCOA fosse obrigada por duasvezes a reconhecer acidentes laboraisque tinham sido definidos polaempresa como licenças por doença.

ÍNDICE DESINISTRALIDADE

LABORAL

Índices de:Sector Metalúrgico Estatal,Sector Industrial Estatal,ALCOA

Índice de incidêncianúmero de acidentes com pos-terior licença médica aconte-cidos durante a jornada de tra-balho por cada mil trabalha-dores expostos a risco(Ministério de Trabalho).

Fontes: Ministério deTrabalho / ALCOA

Mediante diferentes meca-nismos, ALCOA conseguedisfarçar as licenças médi-cas de maneira que estasnom sejam reconhecidasoficialmente.

S.M.E.

S.I.E.

ALCOA

reportagem

Page 12: número9OPUSDEI - Novas da Galiza¡rio do assassinato de Moncho Reboiras “Os fletadores do Prestige manten-hem laços com a monarquia” Iban Gortazar, autor do ensaio “Los Piratas

12 cultura Agosto 2003 novas da galiza

Festival da Poesia lembra vigênciados berros "Nunca Mais" e "Nom à guerra”

A XVII ediçom está dedicada à activaçom da sociedade galega nos últimos meses

"Verbas para nom esquecer" é o lemaque define o Festival da Poesia noCondado que vai ser celebrado entreos dias 3 e 6 de Setembro emSalvaterra do Minho. Mediante estelema, a Sociedade Cultural e

Desportiva (SCD) quer salientar areleváncia adquirida polo movimentosocial emergido após a tragédia doPrestige, assim como a oposiçom àguerra imperialista. A equipa organi-zadora defende a vigência e a neces-

sidade da activaçom popular, e poresta razom fai um chamamento "nomesquecer" as palavras de ordem"Nunca Mais" e "Nom à guerra",como símbolos da acçom da basecontra as afrontas do poder.

NGZ

O Condado assiste novamente àconsolidaçom de um festival quese converteu em referente cultu-ral da comarca a todos os níveis.A ediçom do ano passado reto-mou o evento, depois de seisanos de espera, servindo parareactivar umha SCD que já sentiaa necessidade de voltar ao regoapós ter organizado umha ambi-ciosa homenagem a SusoVaamonde. Con fôlegos renova-dos e um grupo de trabalhoassente, o colectivo decidiu-se aretomar anualmente a cele-braçom do Festival da Poesia,com o convencimento de estarema organizar o festival poéticomais importante da Galiza e umdos maiores acontecimentos lite-rários do Estado.A ediçom deste ano apresenta"um projecto ambicioso e umprograma superior ao dos passa-dos", incluindo poesia com músi-ca, pintura, escultura, fotografia,jogos populares, aeromodelismoe audiovisuais, para além deoutras actividades que já integrá-rom o festival doano passado. Aorganizaçom assu-me "os riscos quecorremos no que aorçamentos dizrespeito", dado queo custo económicoda presente ediçomsupera os trinta mileuros. Porém, aSCD está a trabal-har desde há mesespara fazer possível"um novo e melhorfestival".A festa poético-musical, parte cen-tral do evento, seráapresentada poloactor CarlosBlanco e terá lugarno sábado 6 deAgosto a partir das20 horas. Quanto àpoesia, a comarcavolta a estar representada porKiko Neves e conta como novi-dade com o jovem BraisGonzález. Se bem que a anteriorediçom estivesse centrada empoetas e poetisas novéis, a deste

ano junta artistas consagradoscomo Manolo Rivas e MiguelAnxo Fernanvello acompanha-dos por novas vozes comoDaniel Salgado, Fátima Peón eSamuel Solleiro. Da lusofoniaestarám presentes a portuguesa

Ana Silva Faria eo brasileiro JoséCarlos Lima, e deEuskal Herria, JonEtxeaindia. Comocada ano, será edi-tado un livro com-posto por dous tra-balhos de cadapoeta e poetisaparticipante que sehá-de apresentarem Salvaterra,Vigo eCompostela no dia2 de Agosto.O recital poéticoserá acompanhadopolas actuaçonsmusicais dos gru-pos de folqueMalvela eTreixadura, os deroque Ruxe-Ruxe,o cabo-verdianoLuis de Matos e o

espectacular grupo luso-brasilei-ro Big Fat Mamma. Antes do fes-tival poético-musical e nomesmo sábado, a festa começa às11 horas com um cortejo musical(passa-corredoiras) por conta de

Som do Minho e a actuaçom dosGaiteiros de Melide, que serámapresentados por Rubén, o palhe-teiro do Íncio. Continua com aabertura das exposiçons de bar-cos fluviais e com a posta emfuncionamento do comboio debaixa velocidade que percorreráa vila. Desde as 17 h, as criançasterám o seu espaço no Parque daCanuda, onde serealizará umha exi-biçom de aeromode-lismo, jogos popula-res e a actuaçom dostíteres de Tanxarina.O dia de início doFestival é 3 deAgosto, jornada emque abrirám as por-tas as exposiçons deescultura (pedra ebronze, Xosé LuísPenado), madeira(Valentina G.Abalo), fotografia(Areia Negra,memória visual docaso Prestige porfotojornalistas galegos), humor(Museu de Fene), barcos fluviais(maquetas do Minho e do Lima)e pintura. Estas terám lugar nasCovas de Dona Urraca, na Casado Conde e na Praça do Castelo.O dia 4 será dedicado ao audio-visual galego, com a projecçomde um documentário sobre oPrestige e vários curta-metra-

gens. E para a véspera do diagrande, celebra-se umha serenatade Cabo Verde nas Covas de DonaUrraca, com a participaçom dacélebre voz de Ana Firmino a par-tir das 23 horas, com comidacabo-verdiana incluída.

S.C.D. CondadoA Sociedade Cultural e

Desportiva doCondado fundou-sena clandestinidadeem 1.973. Desdeentom tem desen-volvido numerosasactividades, centra-das na organizaçomde certames, actosdesportivos, reivin-dicativos, musicais,culturais e popula-res, como oFestival da Poesiaque organiza desde1.981. Na actuali-dade conta com 173sócias e sócios, queincluem activistas e

pessoas colaboradoras. Hoje emdia é formada por boa parte dogrupo histórico que trabalhou nofestival e ainda um núcleo degente nova que aderiu àSociedade. Na ediçom deste anopretendem "difundir culturaviva como mostra da nossa forçacomo povo" e, sobretudo,"divertir-se".

Reuniom de umha comissom da equipa organizadora do XVII Festival da Poesia no local da SCD Condado, em Salvaterra do Minho.

O Festivalpretende"difundir

cultura vivacomo mostra

da nossaforça como

povo"

Esta ediçomapresenta "um

projectoambicioso e um

programasuperior ao das

anteriores".Poesia com

música, pintura,escultura,fotografia,

jogos populares,aeromodelismo,audiovisuais...

Page 13: número9OPUSDEI - Novas da Galiza¡rio do assassinato de Moncho Reboiras “Os fletadores do Prestige manten-hem laços com a monarquia” Iban Gortazar, autor do ensaio “Los Piratas

José Ramom Reboiras Noia -MONCHO-, nasceu há 25 anosen Dodro (Padrom). Pertencia aumha família camponesa que,como outras muitas, tivo de setransferir à cidade à procura demelhores condiçons de vida.Em Vigo, combina os estudossecundárioscom o

trabalho de atendimento à lojaque os seus pais abrírom na altu-ra. Sente no seu próprio corpo aopressom nacional da Galiza: obaixo nível de vida no campo, oconflito lingüístico... Interessa-seem profundidade polos proble-mas da Galiza, e toma consciên-cia da exploraçom colonial do

nosso povo. No ano 1969 aderecomo militante à UPG.

Realiza estudos deEngenharia Técnica.

MONCHO conta-va com grandes

simpatias noa m b i e n t e

estudantil,tanto polasua serie-dade pro-f i s s iona lcomo polo

seu papelactivo na luitareivindicativa

e na defesa dosinteresses e da cul-

tura do povo galego.Terminado o curso,entra nos estaleiros

"Barreras", onde tem aocasiom de con-

hecer na própria pele a explo-raçom capitalista, situaçom queaproveita para estudar com pro-fundidade os mecanismos utili-zados pola patronal (chefes, con-fidentes ...) e ainda a forma decombatê-los. Consolida a suaconsciência de classe e reforça asua determinaçom de luita.Entregue em cheio à luita deLibertaçom da Galiza, desloca-se primeiramente a Ferrol, ondetrabalha em ASTANO, e, poste-riormente, à Crunha, entrandocomo operário em INTELSA.Desde o seu ingresso nas fileirasda UPG, MONCHO entendeuque numha revoluçom, ou setriunfa ou se morre, por isso asua actuaçom foi sempre coe-rente com o seu pensamento. Arepressom sabia-o e andou sem-pre à procura dele: no ano 1972,enquanto estava na tropa, foiinterrogado na esquadra porWaldo L. Mazaira, chefe dapolícia de Vigo.Compreendendo a necessidadeda violência para eliminar opoder do imperialismo e o seudefensor, o regime fascista,MONCHO empreende, junto aoutros companheiros e compan-

heiras, um novo método de luitana Galiza: a luita armada.Em Abril de 1974 tem umenfrentamento com as forças daGuarda Civil num monte pertode Monforte. Cercado por gran-de número de guardas civis e da"Brigadilla", consegue, pola suaserenidade e com o apoio dopovo, burlar o cerco. Desdeentom, continua a luita nas difí-ceis condiçons da clandestinida-de, sofrendo unha implacávelperseguiçom. Mas isso nom oimpede de levar adiante a suaactividade político-militar,assestando golpes consecutivosà ditadura terrorista.No passado dia 12 de Agosto,foi localizado em Ferrol e cerca-da a casa em que se encontravajunto a outros dous compañei-ros, por 350 polícias e numero-sos "secretas" da BPS. Peranteesta situaçom e dado que era oúnico que estava armado, MON-CHO realiza o seu derradeiroacto heróico e revolucionário:com o seu valor e a sua decisomfacilita a saída dos dous com-panheiros, centrando nele aatençom das forças policiais.Apesar da diferença de forças, a

polícia demorou mais de duashoras a alcançá-lo e, depois devários intentos, consegue, final-mente, seguindo un rasto desangue, localizá-lo numha por-taria e assassiná-lo.Os militantes da UPG nomesqueceremos nunca o nossocompanheiro MONCHO que,com o seu espírito de sacrifício,com a sua entrega total e revolu-cionária à causa da LibertaçomNacional e Social do povo gale-go, foi um dos principais respon-sáveis pola conversom da UPGnumha organizaçom verdadeira-mente proletária, ao serviço dasclasses trabalhadoras galegas.MONCHO é hoje um símbolo,um exemplo para todo o povogalego na luita por umha GalizaLivre e Socialista.

MONCHO:RECOLHEMOS O TEU FUZILE O TEU EXEMPLO

Tirado do Terra e Tempocorrespondente ao mês de

Agosto de 1975.

O texto foi adaptado agalego-português actual.

históriaAgosto 2003novas da galiza 13

Ramom Gonçalves

Nom é fácil enfrentar umha análise mini-mamente coerente e com certa vontade declarificaçom a respeito da figura deMoncho Reboiras e do seu tempo já queambos estám cobertos por umha visomestereotipada através de consignas amodo de pesaroso epitáfio. Correspondeà historiografia nacionalista arquitectarumha outra imagem séria e rigorosa eassente numha metodologia nom sectária,da figura de Reboiras, afora de interpre-taçons poupadas e complexos par-tidários. Nom devemos pois estudar essetempo e essa figura nacional a partir deconceiçons metafísicas e meramente mar-tirológicas (que contradizem radical-mente o pensamento de Reboiras e da suageraçom de combate) mas a partir daanálise de um contexto particular.Apesar das fotos, epitáfios, cartazes …Moncho Reboiras continua a ser umdesconhecido para o nacionalismo

galego e nenhum favor faremos à suarecuperaçom histórica (por outro ladourgente e necessária) se sob as consignasretumbantes de cada Agosto galego nomdesentranhamos com correcçom o seupensamento político. Corresponde pois àhistoriografia patriótica resgatarReboiras da gaiola de epítetos vácuos emque mal foi recluído.Nom pretendemos destas páginas substi-tuir a história e a historiografia donacionalismo mas criar memória políticae interpretaçom ideológica longe da luitapola herança do patriota.Do Novas da Galiza desenvolvemos umtrabalho de socializaçom e recuperaçomda nossa história nacional, e nesse sentidoestamos a preparar um artigo especialsobre a vida de Reboiras. Mas nestenúmero de Agosto nom queríamos deixarpassar a oportunidade de publicar umtexto tirado do Terra e Tempo de Agosto de1975 em que os camaradas de Reboirasrecordam a sua luita e o seu exemplo.

Moncho Reboiras: mito e ocultaçom

moncho reboiras

MONCHO: recolhemos o teu fuzil e o teu exemplo

Page 14: número9OPUSDEI - Novas da Galiza¡rio do assassinato de Moncho Reboiras “Os fletadores do Prestige manten-hem laços com a monarquia” Iban Gortazar, autor do ensaio “Los Piratas

14 cultura Agosto 2003 novas da galiza

portal galego da línguaIII JornadasVI Descida emDefesa da LínguaO MDL organiza no último fim-de-semana de Agosto a VIDescida em Defesa da Língua e asIII Jornadas da Língua de Tui.O objectivo principal desta jornadaé conseguir que as meninhas e osmeninhos educados em galego nomse sintam isolados, que podam esta-belecer e fortalecer relaçons comoutras crianças educadas tambémem galego. Para verem que nomsom estranhas por falarem a sua lín-gua. Para sentirem que nom tenhemque falar outra língua para se rela-cionarem com as outras.

'A Fouce' emgalego reintegrado

'A Fenda', marca vinculada àeditora Minho Média, SL, res-ponsável pola publicaçom doperiódico Novas da Galiza, lançao seu primeiro título.Umha compilaçom de textos dohistórico jornal 'A Fouce', publica-do na Argentina nas décadas de 20e 30 pola Sociedade NazonalistaPondal e que se tornou um dos maisimportantes da emigraçom galega,é o primeiro livro publicado polaFenda, com o qual a editora abre ocaminho de um projecto dedicado àpublicaçom de livros galegos emgrafia reintegracionista.

Encontroluso-galaico de jogospopulares

A celebrar no próximo dia 6 deSetembro do 2003 a partir das18:00 horas nos jardins deRibadávia dentro das Festas doPortal, festividade local. No actoparticiparám crianças da Galiza ePortugal, e haverá música com aagrupaçom musical portuguesa "OsZés Pereiras". Organizam: AGAL,ASPGP, Concelho de Ribadávia eConcelho de Montalegre.

'Çopyright' publicanúmeros 87 e 88Esta Revista Literária de pensa-

mento crítico e criação, chega já aos7 anos na rede. Foi o tempo em quecaíram as estátuas (número 87), eOs sinais de passagem e outros poe-mas, de Iza Quelhas (número 88 ),som os novos textos da Çopyright,uma revista literária na rede, degrande trajectória e que reúnenumerosos contributos de diversosautores e autoras durante os seus já7 anos de vida.

Revista Agália73-74, já disponível

A Revista Agália, revista interna-cional e órgao de expressom daAssociaçom Galega da Língua,editada trimestralmente desde1985, acabou de sair a lume comos números 73-74 (1º semestrede 2003). Mais umha vez interes-santíssimos estudos, notas, rela-tos, recensons e um percursopolas notícias de actulidade dosprimeiros seis meses deste ano,enchem as suas páginas.

Gestora daAGAL na Corunha

Na Corunha a sede social daAssociaçom Cultural O Fachoacolheu umha reuniom de tra-balho do presidente da AGAL.No acto participárom váriaspessoas interessadas nas diná-micas galeguizadoras da cidade,entre elas Luís Maçás (presi-dente do Facho) e o sociolin-güista e tradutor Mário HerreroValeiro. Como resultado desseencontro, salienta a disposiçomda histórica associaçom corun-hesa para umha colaboraçompontual nas actividades promo-vidas pola AGAL.

AGAL-Ourensecontacta com a

sociedade da cidade

Bernardo Penabade e JoséManuel Barbosa apresentárom-se aos colectivos políticos esociais da cidade de Ourensenum dia pleno de esperança efraternidade. Assim foi no sába-do dia 19, assim foi a culmi-naçom do Pulso ao País que rea-lizou a Associaçom Galega daLíngua nos dias 17, 18 e 19 domês de Julho.O grupo local AGAL-Ourense,sob a coordenaçom de JoséManuel Barbosa preparou umhajornada muito intensa divididaem três partes bem diferencia-das. De manhá, acto com oscolectivos da cidade, à tardereuniom do grupo local, e ànoite ceia de confraternizaçom.

www.agal-gz.org

Maior presença da Galiza naactualização do Dicionário de Literatura

de Jacinto do Prado CoelhoLois Magarinhos

A Editora Figueirinhas lançou oprimeiro volume de actualizaçãodo Dicionário de Literatura(Portuguesa, Brasileira, Galega,Africana e Estilística Literária),de Jacinto do Prado Coelho, nodia 9 de Abril, pelas 18 horas, naLivraria da Biblioteca Nacional.A apresentação da obra esteve acargo de Eduardo do PradoCoelho e dos coordenadores, Prof.Doutor Ernesto Rodrigues, Prof.Doutor Pires Laranjeira e Dr.Viale Moutinho.Nesta nova fase, a coordenaçãodos volumes de actualização este-ve a cargo de Ernesto Rodrigues

(Literatura Portuguesa), PiresLaranjeira (Literaturas Brasileira eAfricana) e José Viale Moutinho(Literatura Galega). Entre os cola-boradores e colaboradoras, con-tam-se Álvaro A. Dória, AntónioCândido Franco, AntónioCoimbra Martins, Álvaro ManuelMachado, Annabela Rita, AntónioRebordão Navarro, ÁlvaroSalema, António Valdemar,Baptista-Bastos, FernandoCampos, Fernando Guimarães,José Augusto França, JoséAntónio Gomes, José ManuelMendes, Luís Amaro, AlieteGalhoz, Paula Morão, SerafimFerreira, Urbano Tavares Rodriguese Vergílio Alberto Vieira.

Entre as novas entradas relaciona-das com a Literatura Galega des-tacam as referências ao Dia dasLetras, à importância da GuerraCivil na nossa literatura ou anovos e novas autoras comoIolanda Castanho. A actualização desta obra funda-mental, ainda hoje o principal títulode consulta literária em Portugal,compreende três volumes, numconjunto formado por cerca de 800novas entradas, em aproximada-mente mil páginas. Inclui também aactualização bibliográfica de verbe-tes já existentes no Dicionário e,como novidade, várias entradasdedicadas às literaturas africanas deexpressão portuguesa.

Formas e Espírito da Galiza em Buenos AiresEntre os dias 12 e 26 de Julhoestivo aberta na Sala ArturQuadrado da Federaçom deSociedades Galegas umha expo-siçom de pintura e artesanatoorganizada pola AssociaçomCivil Amigos do Idioma Galego.Os motivos galegos centravam oconjunto da obra de várioshomens e mulheres, artistas quequeriam tributar pública homena-

gem à Galiza no dia da Pátria.O acto de inauguraçom, celebradono dia 12 de Julho, converteu-senum autêntico fórum de galegui-dade. A assistência superou o cen-tenar de pessoas, muitas delas par-ticipantes nos Cursos de Língua eLiteratura Galegas dirigidos porHigino Martins e Maria AntóniaLuna. Como "especialmente emo-tiva" qualificam alguns e algum-

has das participantes a presençano acto da Deputada Maria PilarGarcia Negro.No 25 de Julho a Federaçom orga-nizou no teatro Bambalinas umfestival artístico para celebrar o diada Pátria. Ao finalizar a reuniom,os assistentes celebravam um con-vívio na Sala Artur Quadrado emuita outra gente tivo oportunida-de de ver a mostra.

Poemário em norma AGAL 'Entre osteus olhos', pronto para ser distribuído

agal-gz.org

"Com a singeleza que caracterizao processo criador, sem dar res-postas, sem afirmaçom ou supos-to, na ambigüidade que delinhanosso ser, na entrega profunda atroca de nada, nascem aqui estespoemas de amor, de amizade, deidentificaçom com a terra, com oespaço, a paisagem... E afinal, oque é poesia senom umha formade viver, umha focagem, umha luzsobre a paisagem... tudo quantoacontece visionado deste ângulopróprio, dessa forma de estar, deintegrar-se e criar que impinge aalma do poeta... Eis pois estespoemas recém-chegados, mas

nem por isso menos necessários,lede-os, escuitai-os, fazei delesquanto a bem vossa alma indique,pois no final de contas para vósfôrom escritos ... "O poemário consta de um poemainicial, mais onze enumerados de1 a 11, e um poema final subordi-nado ao título 'Na tua memória'.Para fazer-mos boca, avançamosum trecho do poema número 5:

"Se fosse umha árvorenom houvesses dormidoem meu leitonem acovilhar com frescura fingidezteus ramos a céu abertona verde folhagemmas se fosse umha pedra

atirar-me-ia seguro à lagoapara nunca mais voltara ver o teu desprezonaquela tarde que imagineium local onde contigo abrigarmeus pensamentos(...)"

Artur Alonso Novelhe (MéxicoD.F., 1964), cursa estudos pri-mários e secundários emOurense, onde obtém também otítulo de Perito Mercantil. Naactualidade é funcionário. Este éo seu primeiro livro de poesia;tem publicado poemas na revistaAgália, e também tem colabora-do na revista de solidariedadeOutras Voces.

Difusora de Artes, Letras e Ideas publica este primeiro poemário assinadopolo sócio da AGAL Artur Alonso Novelhe, e ilustrado por Marta Vega

Page 15: número9OPUSDEI - Novas da Galiza¡rio do assassinato de Moncho Reboiras “Os fletadores do Prestige manten-hem laços com a monarquia” Iban Gortazar, autor do ensaio “Los Piratas

músicaAgosto 2003novas da galiza 15

[email protected]@terra.es

música

NA NOSSA LíNGUNA NOSSA LíNGUAABANDAS INTERNACIONAISBANDAS INTERNACIONAIS

Davide Loimil e Inácio Gomes

Já no nosso anterior artigo incidíamos nas possibilidades que dePortugal se nos ofereciam a respeito de festivais para o verao. Nestaocasiom gostaríamos de incidir num outro atractivo que Portugal, eoutros países da lusofonia, representam (ou deveriam representar)para o público galego. Porque pensamos que também no ámbitomusical, embora continue a ser maioritária a indústria anglo-saxóni-ca, continuamos a manter umha excessiva dependência do espanhole de todo o seu universo. Com este pequeno contributo interessa-noschamar a atençom para a existência de um mercado musical feito emportuguês que oferece ao público novas referências no nosso idioma

e que além disso poderia até alargar horizontes e vias de saída paraas nossas bandas. Valentim R. Fagim expressava-o assim: "Se oespanhol é o referente de oposiçom, devemos minimizar até aoimprescindível as nossas interacçons com ele e isto só se pode con-seguir através das outras variedades do nosso idioma, quer o portu-guês, quer o brasileiro, língua nacional nos respectivos países"(revista Rádio Rahim -Soundsystem- núm. 1).Aqui ficades com duas simples amostras de Portugal e Brasil, MindDa Gap e Planet Hemp, que esperamos completar em novos númerosdo NGZ. Em todo o caso, convidamos-vos a vos deter um bocadinho eexplorar o que a lusofonia nos pode oferecer (e também nós, daGaliza, a ela) a nível musical e em quase todos os estilos.

MIND DA GAPOs Mind Da Gap, banda de hiphop do Porto, deram-se a conhe-cer lá polo ano 95, com a estreiade um EP homónimo, que chega-ram a editar depois de se teremfeito notar com umha simplesmaquete no programa "Rapto" deJosé Marinho em Antena 3. Noano seguinte, assinaram aindaumha histórica colaboraçom comos Blind Zero, que rendeu o cele-brado EP "Flexogravity", umnome comum a praticamentetodas as listas de melhores discosdo ano. Foi a primeira vez (emmuito tempo, polo menos) quedois grupos entraram em estúdiopara gravar um único disco. E osresultados ficaram na memória detodos: uma colisom única entrerock e hip hop que fez com que amúsica portuguesa avançassemais uns passos. Para Dezembro desse mesmo ano1996, os Mind Da Gap deram iní-cio ao registo de maquetes para oprimeiro álbum. Contactos inter-nacionais trouxérom-nos o nomede Troy Hightower, que estivo emPortugal em Maio para misturaros 15 temas do álbum de estreiados Mind Da Gap, dando-lhe o"toque secreto" do som dos discosde hip hop norte-americano. Neste

álbum, além da produçom de luxoa cargo de DJ Serial e do som deataque de Troy Hightower, estámem clara evidência as rimas deAce e Presto, dous exímios prati-cantes na arte de vergar as palav-ras à sua vontade, contando histó-rias que vam do típico "dealer" daSé, até ao próprio Hip Hop, pas-sando polo conflito Norte-Sul. Háum universo inteiro a descobrirneste álbum.No o ano 2000 edita-se o ansiadosegundo LP, intitulado "AVerdade". O primeiro single extra-ído deste cd, dá polo nome de"Todos Gordos", e é um bombás-tico exercício de batidas e rimasenergéticas que funciona igual-mente como umha declaraçom deintençons que desbrava a filosofiade comunidade inerente à suamúsica. Este cd estava chamado acolocar Mind da Gap em particu-lar, e o hip hop em geral, numposto de privilégio dentro damúsica portuguesa.No passado ano editaram o seuúltimo cd até ao dia de hoje, inti-tulado "Suspeitos de Costume" ,em que colabora, entre outros, oB boy galego "El Puto Koke".Um trabalho redondo elaboradocom base nos mesmos ingre-dientes que empregaram nosseus anteriores cd's e com umhaproduçom excelente.

PLANET HEMPUmha outra aposta no hip hop,neste caso com umha mais explí-cita mistura de rock, chega do Riode Janeiro da mao dos PlanetHemp. Aparacem em 1993, edous anos depois assinarám umcontrato com a Sony Music,lançando, em 1995, o CD"Usuário". Com este CD consoli-darám e mesmo ampliarám osucesso gerado pola banda entre opúblico mais jovem, seduzindocom uns espectáculos ao vivomarcados polo combate e a festa.Neste primeiro trabalho, além de

alguns temas que rapidamente seconvertêrom em sucessos, incluía-se a polémica "Porcos Fardados",umha crítica à violência policial.A banda madurará partilhandopalcos com as mais grandes figu-ras do hip hop internacional,como Beastie Boys ou CypressHill, e assim chegarám à gra-vaçom de "Os Cães Ladram Masa Caravana Não Pára", no finalde 1996. O CD, mixado nosEUA, reportará à banda o Discode Platina, colocando-os já numprimeiro plano a nível internacio-nal, com um estilo muito particu-lar que experimenta através deumha imaginativa mescla entre a

psicodelia das guitarras, o rapdos vocalistas e as muitas outrasinfluências da banda. Nom obs-tante, este reconhecimento nomlhes servirá para ficarem impunesda justiça brasileira, que levaráavante umha estratégia de repres-som contra a banda principal-mente polo compromisso expri-midio nas suas letras, especial-mente com a legalizaçom daCannabis. Aí temos o exemplo de"Legalize Já", tema que foi cen-surado, para além de actuaçonscanceladas, etc. Em 2000 oPlanet Hemp conclui o seu maisrecente trabalho, "A Invasão doSagaz Homem Fumaça".

Mind da Gap

Page 16: número9OPUSDEI - Novas da Galiza¡rio do assassinato de Moncho Reboiras “Os fletadores do Prestige manten-hem laços com a monarquia” Iban Gortazar, autor do ensaio “Los Piratas

DecessoXan Carlos Ansia

“Gostaria de ir ao teu enterro.Cantar no teu funeral. Mandar-che umha coroa. Assinar nolivro de assistentes ao passa-mento. Dar os pêsames aos teusparentes. Ser um dos quatro quelevasse o teu caixom. Estar novelório toda a noite. Pôr-che umbilhete necrológico no jornal.Dedicar-che umhas necrológi-cas. Lançar-che terra quando ocaixom descesse ao nicho.Colocar a laje da tua sepultura.Ser o último a ir-me embora docemitério. Assistir de luto aocortejo fúnebre. Emocionar-mecom o responso. Suplicar poloteu descanso eterno. Pagarcatorze missas para que a tuaalma nom passasse polo purga-tório e fosse direitinha ao céu.Mas tens que morrer. Apanharum empanzinamento em qual-quer umha das festas gastronó-micas que de forma inesgotávele gratuita repartem viandasautóctones. Abandonar o trata-mento de reparaçom de tecidos erenovaçom de células para que oenvelhecimento continue a suaevoluçom definitiva. Deixar queos pólipos rectais engordem atése converterem num carcinomairrevogável. Suprimir a medica-çom que diminui a sintomatolo-gia ansioso depressiva comtranstornos psicopáticos perantesituaçons de stress ou de esforçofísico. Pôr muito sal às comidas,permanecer em bipedestaçom deforma prolongada e estática,nom telefonar ao 061 peranteumha forte e constante dor nolado esquerdo do peito. E jásabes, fumar mata lentamente eeu tenho muita pressa. Temos que ser pessoas razoá-veis. Chegou a hora da suces-som. Estou pronto para liderar oprojecto político e ser o primei-ro no cartaz eleitoral. Dá-teconta que já vens tendo uns anose que tu à minha idade já esta-vas no poleiro. Fai-te um favor evai morrendo.”

A nota nunca chegou ao seu des-tinatário. O seu autor jaz escan-galhado num tramo sem inaugu-rar do AVE de Cascos, porquequijo ultrapassar a comitiva ofi-cial e umha máquina escavadorase atravessou na trajectória doseu carro particular ao nom terdireito ainda a viajar de carrooficial. RIP.

novas da

Carlos Barros

A poucos meses do vigéssimo ani-versário, A Peneira continua vivacomo o periódico decano daimprensa comarcal galega.Guillermo Rodríguez, o actualdirector, acompanha o jornaldesde o seu nascimento com res-ponsabilidades no campo editoriale no empresarial. Depois de terresistido este longo período detempo, A Peneira encara um pro-cesso de ampliaçom de capital erenovaçom para garantir a inde-pendência e o futuro de um meiode comunicaçom feito para o País.

Como surge a ideia de fundar umjornal como A Peneira?A princípios da década de 80 tomeiconta das correspondências de LaVoz e do Faro no Condado, meiosem que tivem problemas no momen-to de publicar notícias analíticas. Naaltura tínhamos um grupo de amigosprocedentes de diferentes ámbitosque nos juntávamos numha casa paratermos reunions, falarmos e divertir-mo-nos. Surgiu entre nós a ideia danecessidade de analisar o que estavaa acontecer em Ponte Areas e nacomarca, e a melhor maneira quevimos para o fazer foi mediante umperiódico, o que nos levou a fundar APeneira em 1984.

Com que objectivos saístes à rua?Queríamos opinar sobre o que acon-tecia na comarca, nomeadamentesobre a situaçom de Ponte Areas,acerca de questons que nom cabemnos jornais diários com difusom noCondado. Mantivemos e mantemosumha perspectiva nacionalista, masnom partidista, e publicamos o jornalintegramente em galego. Na momen-to em que saímos à rua havia muitasforças nacionalistas e vivia-se umprocesso de emergência do movi-mento, mas na altura, o nacionalismonom tinha o peso específico nem oesclarecimento que tem hoje.Mantivemos posiçons muito claras edefinidas, e isto no início assustoumuita gente, mas mantivemo-noscom dignidade e independência atéhoje. Isto nom quer dizer que naque-le momento tivéssemos umha linhamais radical, apenas defendemos anossa orientaçom, respeitando oprincípio de pluralidade e sem renun-ciarmos a publicar o que nós quige-mos.

É A Peneira um jornal indepen-dente?Com certeza. É por isso que anda-

mos sempre em números vermelhos.A nossa independência é total. Como nosso critério, com a nossa subjec-tividade, cada pessoa que escreven’A Peneira tem o seu ponto de vista.Pode ser errado, pode ser discutívelmas, polo menos, nom se submete anenhum poder fáctico, económico,religioso ou de partido. Damos anossa opiniom, informamos, e onosso trabalho está aí, espalhadopolo periódico. Temos colaboradorese colaboradoras diferentes, de con-servadores a radicais, anarquistas...mas para nós a liberdade de expres-som deve estar acima de tudo. Porestas razons fomos várias vezes aosjulgados e também por esta razom ojornal ficou sempre absolvido.

Fala-nos de algum dos vossossucessos jornalísticos.Há dez anos o Opus Dei solicitou, degraça, a concessom do terreno e doedifício de umha escola que perten-cia a umha fundaçom das Neves. Dopatronato estavam dispostos a ceder-lho, e isto foi contestado polo nossojornal e polo próprio sacerdote daparóquia. Apoiando o Opus estavamo presidente de Cámara das Neves eo bispo de Tui-Vigo, mas nós defen-demos até à morte a paralisaçom daoperaçom e a retirada dos pedidos do

Opus Dei. Colaboramos com a vizin-hança e com as pessoas opostas econseguimos entre todas e todos queo projecto de usurpaçom dos terre-nos nom fosse levado avante.

Como resististes economicamentetantos anos?É umha pergunta difícil de respon-der. Nom sei bem como. Sei queresistimos e que estamos aqui, masàs vezes pergunto-me como é queconseguimos chegar. A publicidadefoi fundamental, talvez 80% dasreceitas. Nom recebemos ajudas ins-titucionais para além de algumhapublicidade de algumha cámaramunicipal. Com o governo tripartidona Junta obtínhamos algum subsídio,mas com a chegada de Fraga, as aju-das da Junta limitárom-se a algumhapublicidade esporádica e 10.000pesetas por número editado, 240.000pesetas anuais, das quais só chegá-mos a receber 200.000. Umha quan-tidade assim nom sustenta um perió-dico como o nosso. Aliás, para rece-ber subsídios existe o requisito deusar a normativa oficial na publica-çom, e nós respeitámos sempre aliberdade na norma de quem escreve.Em contrapartida, a nossa indepen-dência permite que nom tenhamosque receber chamadas telefónicas de

ninguém nem esconder a cabeçadiante de poder nenhum.

Por que há também espaços para oPP no periódico?Eis o esclarecimento da independên-cia, que nom significa partidismo.Somos nacionalistas e de esquerda,defendemos o idioma e o País, masestamos numha zona dominada porgovernos de direita. Precisámos depublicidade, mas a razom principal éque nom queremos tornar-nos emporta-voz de nenhumha opçomdeterminada. Nom seria sério. Nompodemos excluir ninguém. Nomacontecem as cousas que nós quere-mos nem como nós as queremos,mas acontecem. Nom há nisso nen-humha contradiçom e o jornal temque ser livre, sem nos tornarmos umpanegírico de ninguém, e sem queisso signifique renunciarmos à nossaorientaçom própria. O periódiconom é de ninguém, comunica.

Porque o nacionalismo nom conse-gue editar um diário?A principal causa é que o nacionalis-mo galego é, por enquanto, umnacionalismo de pandeireta, nom ésério. Nom é explicável que haja200.000 votos para o BNG e quenem 10% desses votantes sejamcapazes de manter um jornal diário.Nom falo de um folheto, mas de umperiódico galego que defenda aGaliza, com credibilidade. A provatemo-la no País Basco, onde é fecha-do um jornal e aos quinze dias há1.000 milhons de pesetas na mesapara colocar outro na rua. A NossaTerra nom é capaz de ultrapassar osemanário, e se nom tivesse umhaeditora de livros já teria fechado. Masa culpa é dos nacionalistas, que nomapostam a sério em projectos para oPaís. Um ou umha nacionalistanumha situaçom como a da Galiza,tem que ser umha pessoa comprome-tida com o seu ideário, se é que otem. Nom é questom de modas.

Quais os vossos principais reptos?Aminha ilusom é que viva vinte anosmais, com pessoas a renovar o jornale podam conseguir a periodicidadesemanal, mas isto exige ampliarinfra-estruturas, e evidentementeimplica custos difíceis de assumir.Estamos em cheio numha amplia-çom de capital e esperamos que novigéssimo aniversário esteja final-mente assente o futuro do jornal comnovas forças e um caminho maisaberto. Mas o futuro está por escre-ver e esperemos poder escrevê-loentre todos e todas.

“A nossa independência permite quenom tenhamos que esconder a cabeçadiante de poder nenhum”

a entrevista Guillermo Rodríguez, director d’A Peneira

Guillermo Rodríguez é director do periódico galego de informaçom geral A Peneira