old nº 29

86
Nº 29 Janeiro de 2014

Upload: revista-old

Post on 30-Mar-2016

216 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Edição de Janeiro de 2014 da OLD, com os trabalhos de Christian Piana, Dimas Oliveira, Renato Stockler e Raphael Alves. O entrevistado do mês é Gilvan Barreto.

TRANSCRIPT

Page 1: OLD Nº 29

Nº 29 Janeiro de 2014

Page 2: OLD Nº 29

Revista OLD Número 29Janeiro de 2014

Felipe Abreu e Paula HayasakiFelipe AbreuCamila Martins, Felipe Abreu, Juliana Biscalquin, Luciana Dal Ri e Tito Ferradans

Christian Piana

Dimas Oliveira, Christian Piana, Raphael Alves e Renato Stockler

Gilvan Barreto

[email protected]/revistaold@revista_oldwww.revistaold.tumblr.com@revistaold

Equipe Editorial Direção de Arte

Texto e Entrevista

Capa

Fotografias

Entrevista

EmailFacebook

TwitterTumblr

Instagram

Parceiros

Page 3: OLD Nº 29

Livros06Mostra SP de FotografiaExposição08Christian PianaPortfolio10Dimas OliveiraPortfolio32Gilvan BarretoEntrevista44Renato StocklerPortfolio52Rapahel AlvesPortfolio66UltrapassagemColuna78FissurasColuna80

10

66

32

52

44

Page 4: OLD Nº 29

Feliz ano novo! Começou mais um, o terceiro na vida da OLD. Mês que vem chegamos à nossa trigésima edição e em Maio comemoraremos nosso terceiro aniversário. É... O tempo passa!2014 deve ser um ano tão ou mais conturbado do que 2013. Com a chegada da Copa e o aumento do custo de vida por conta dela, é muito possível que voltemos às ruas para protestar.No ano passado a fotografia teve um papel central nas discussões sociais e neste ano não deve ser diferente. Aos poucos os protagonistas vão se firmando e vamos percebendo quais os trabalhos que serão referência ao longo do ano.Para começar esta nova temporada com tudo nós apresentamos os trabalhos de Christian Piana, Dimas Oliveira, Renato Stockler e Rapahel Alves.Nossa capa, assinada por Christian Piana, faz parte do poderoso ensaio Milagres, que apresentamos logo no começo desta edição. São imagens de cultos evangélicos, com um foco especial nos momentos de catarse coletiva, tão falados, mas pouco registrados. Além de Milagres, Christian também apresenta sua série São Paulo, uma visão melancólica e sombria da capital paulista.A cidade também e o grande foco de Dimas Oliveira que apresenta uma visão plural da nossa metrópole, com um PB denso e muito bem trabalhado.Lugar Sem Nome é a série apresentada por Renato Stockler nesta edição. Suas imagens apresentam um hospital abandonado, em que os pequenos detalhes de um antiga ocupação criam o fio narrativo. São imagens organizadas e contemplativas, que dão conta de unir o passado e o presente de um mesmo local.

Nosso ensaio final é Quando as Águas... de Raphael Alves. Seu trabalho apresenta a delicada e essencial relação do homem com a água no Norte do Brasil, construindo um ensaio que aos poucos apresenta cada momento em que a água se mistura à vida do homem.Para começar bem o ano nossa entrevista tinha que ser especial! Nesta edição nós conversamos com Gilvan Barreto, um dos fotógrafos mais elogiados da sua geração, que acaba de lançar seu segundo livro: O Livro do Sol. Gilvan apresenta um pouco da sua trajetória e sua visão iluminada sobre a fotografia contemporânea, sua práticas e interesses. Um ótimo papo para guiar os pensamentos neste ano que começa.É com isso e muito mais que iniciamos mais um ano de trabalho. Espero que você que está chegando pela primeira vez fique e que você que já nos conhece continue por aqui.Até fevereiro!

Felipe Abreu

Page 5: OLD Nº 29

January 18, 1914

Page 6: OLD Nº 29

Um dos preceitos mais tradicionais da fotografia de rua é o de que se deve chegar o mais perto possível do seu assunto, de que se uma foto não está boa é porque você não está perto o suficiente. Agora como é possível chegar o mais perto possível do silêncio, do vazio?Lucas Lenci preenche suas imagens com delicadas composições que nos levam a mundo silencioso, calmo, levemente melancólico. Não é possível chegar fisicamente perto do silêncio, mas em Desaudio as imagens estão inundadas dele, criando um mundo próprio, no qual ao barulho não é permitido entrar.Desaudio é o primeiro livro do fotógrafo paulistano, que construiu este trabalho ao longo dos últimos anos, fotografando o mundo todo. Suas imagens são muito calmas, de cores e personagens sutis. Ver Desaudio é como um pequeno ritual. Sua capa cria uma neblina sobre a primeira imagem, que é descoberta quando se tira o livro de sua capa protetora. Após liberar as imagens de sua proteção podemos enfim mergulhar neste belo e silencioso mundo visual.

Disponível nas principais livrarias do paísValor médio: R$ 85,0059 páginas.

DESAUDIO,LUCAS LENCI

LIVROS

OLD06

Page 7: OLD Nº 29

LIVROS

Já falamos de Gilvan Barreto em nosso tumblr e em dois textos da coluna Fissuras. Nestas duas oportunidades comentamos seu primeiro livro, Moscouzinho, um dos mais elogiados fotolivros brasileiros dos últimos tempos. No final do ano passado Gilvan lançou seu segundo fotolivro, chamado O Livro do Sol, que comentamos aqui e mais profundamente na entrevista desta edição, com o autor.Gilvan tem uma habilidade marcante de construir mundo próprios em seus ensaios. Suas imagens criam recortes de um espaço físico e o transformam em algo novo, em um espaço próprio.Se em Moscouzinho o fotógrafo buscou revisitar uma memória afetiva, em O Livro do Sol sua busca é outra, abordando a relação do homem nordestino com a água, buscando espaços que fazem referência à abundância de água mesmo na seca mais extrema.Neste seu segundo trabalho publicado, Gilvan Barreto continua transformando o real em seu, apresentando uma visão e uma abordagem única para os temas que aborda.

Disponível nas principais livrarias do paísValor médio por Volume: R$ 60,00

136 páginas

O LIVRO DO SOL,GILVAN BARRETO

OLD07

Page 8: OLD Nº 29

OLD08

5ª MOSTRA SP DE FOTOGRAFIAPelo quinto ano consecutivo a Mostra ocupa a Vila Madalena com o que há

de melhor na fotografia brasileira.

EXPOSIÇÃO

São Paulo é um dos principais centros culturais do Brasil, com grandes museus, galerias e espaços culturais. Mesmo assim a capital paulista viu outras cidades criarem e sustentarem eventos importantes de fotografia enquanto São Paulo não tinha um evento para chamar de seu. Esse problema foi resolvido cinco anos atrás, com a criação da Mostra SP de Fotografia, capitaneada por Fernando Costa Netto.A cada ano que passa a Mostra fica maior e mais robusta, atraindo a atenção fotográfica de São Paulo para o bairro da Vila Madalena durante os meses de Janeiro e Fevereiro. Sempre iniciando as atividades no dia do aniversário da cidade, a Mostra ocupa a Vila Madalena com exposições, intervenções, palestras e muito mais. Em 2014 serão 50 exposições além de diversas atividades como workshops em parceria com a Magnum e o lançamento da Academia Paulista de Fotografia.A Mostra busca apresentar um panorama plural da fotografia de São Paulo. Neste ano - pela segunda vez consecutiva - o evento abriu uma convocatória para que fotógrafos enviassem seus trabalhos sobre a cidade de São Paulo. Em 2014 serão 5 exposições saídas da convocatória, com curadoria de Alexandre Belém e Geórgia Quintas, do Olhavê.

Além do espaço para jovens fotógrafos a Mostra traz o lançamento da Academia Paulista, com imagens exclusivas de grandes fotógrafos sobre a nossa metrópole. As imagens estarão expostas da DOC Galeria e tem como objetivo incentivar o colecionismo na fotografia.A programação completa da Mostra ainda não foi divulgada, mas o nosso conselho é separar um final de semana e passear pela Vila e visitar o máximo possível de exposições. O mais marcante da Mostra é a sua ocupação, sua simbiose com o bairro que abriga os trabalhos. Durante o tempo de exposição há fotografia por todos os lados, convidando para uma parada. A cada ano a organização da Mostra distribui um mapa com todas as exposições e o circuito pode ser feito tranquilamente à pé. O lançamento da exposição também é sempre muito divertido. A cada ano os trabalhos que participam do evento são projetados em um grande telão na Rua Aspicuelta. É uma ótima chance para conhecer os participantes, tomar um chopp e já entrar no clima da principal ocupação fotográfica de São Paulo.

A Mostra SP de Fotografia inicia suas atividades no dia 25 de Janeiro, ocupando o bairro da Vila Madalena, em São Paulo.

Page 9: OLD Nº 29

Nelson Kon

Page 10: OLD Nº 29

Christian PianaMilagres e São Paulo

Page 11: OLD Nº 29
Page 12: OLD Nº 29

Nossa primeira capa de 2014 ficou nas mãos de Christian Piana. Com um olhar duro, pungente e sempre próximo de seus assuntos, Piana apresenta neste início de ano da OLD dois ensaios: Milagres e São Paulo.

Suas fotografias estão sempre muito perto dos seus personagens e imersas em seus temas. Como você constrói a relação com quem fotografa? Como é o processo de imersão nas questões em que você está trabalhando?

Sim, prefiro sempre fotografar tendo uma grande proximidade com o que estou fotografando. Posso dizer que me reconheço na famosa frase de Robert Capa “Se uma foto não está suficiente boa, é porque você não se aproximou o suficiente”. Não gosto das fotografias de reportagem que são claramente feita mantendo uma posição de “segurança”, distante dos assuntos, com teleobjetivas; a menos que, claro, não seja uma precisa escolha de composição. Acredito que as melhores imagens documentais, as imagens fortes, intensas, são aquelas feitas “mergulhando” na realidade retratada, tendo um claro, visível e físico contato com ela. Estando dentro do assunto, se colocando em jogo. Nestas imagens o espectador tem a sensação de ser levado aí no meio, de sentir o cheiro das coisas, de fazer também parte daquele assunto, de ter a mesma relação intima com as coisas que o fotografo teve. Obviamente para cada situação há uma diferente forma de estabelecer a minha relação com o assunto

fotografado. Em linha geral prefiro me dedicar a trabalhos que necessitem tempos, pesquisas e aprofundamento. Há trabalhos em que é preciso acompanhar algumas atividades e interagir com quem faz parte delas. Nestes casos gosto de estabelecer uma relação muito transparente e de confiança com as pessoas: prefiro deixar claras minhas intenções e o motivo que me leva a documentar, tento estabelecer relações de amizade e fazer com que a maquina fotográfica também seja uma presença introduzida delicadamente. Sei que as primeiras fotos que faço nestas situações, nunca são as melhores: após um tempo, após que as pessoas iniciam a se sentir a vontade comigo e com a câmera é que a beleza natural das coisas aparece.Em outros casos e situações, como por exemplo no registro de uma cidade, de seus espaços, etc... Não é possível estabelecer amizades e relações pessoais. Mesmo assim procuro criar uma relação intima com as atmosferas do lugar. Procuro vive-las e senti-las. Ando muito, passeio, observo as coisas com muita curiosidade, mesmo as coisas simples e aparentemente insignificantes. Procuro não ter limites e restrições de áreas e lugares que possa percorrer e fotografar. Nestes casos prefiro fotografar como se fosse uma presença invisível: me mover de uma forma muito sutil, pouco ou nada chamativa; mas sempre estando em contato com o fluxo vital, com as coisas acontecendo. Quando é impossível ser imperceptível no ato de fotografar e com certeza as pessoas notam que estou a fotografá-las, início mostrando a câmera, tirando algumas fotos aleatórias da paisagem, só para ver quais são as reações e em seguida aponto, com um gesto calmo e não agressivo, a maquina para elas. Prefiro sempre o uso de pouco equipamento, de maquinas de menor tamanho e com lentes fixas e pequenas, não uso acessórios fotográficos extras a menos que não seja extremamente necessário, quando trabalho me visto normalmente, nada que deixe a entender que sou fotografo ou que estou ai para fotografar.

OLD12

Page 13: OLD Nº 29

OLD13

Page 14: OLD Nº 29

OLD14

Page 15: OLD Nº 29

Seu ensaio Milagres aborda um tema muito delicado e fechado no Brasil, os cultos evangélicos. Como você conseguiu abertura para fazer esse trabalho? O que você aprendeu estando imerso neste universo tão único?

Eu não consegui abertura, não foi me permitido fotografar. Sempre senti vontade em conhecer de perto algumas igrejas evangélicas, movido pelo espírito de curiosidade, pois no meu pais natal isto não existe, ou pelo menos não é tão forte como aqui no Brasil. Porem só vendo os cultos transmitido através a televisão que definitivamente quis me aproximar e fotografá-los.O que me atraiu foi o fenômeno dos milagres, e sobretudo a carga emocional que isto provocava nas pessoas que ai estavam e que recebiam ou testemunhavam um milagre. Um dia fui até a sede principal da igreja que via na televisão, após horas de espera no meio de muitos fieis consegui me aproximar de um bispo, que foi me indicado como um dos mais relevantes responsáveis, lhe pedi para poder documentar os cultos e me aproximar do altar, mas meu pedido foi rapidamente ignorado.Mesmo assim decidi, por alguns meses, participar todos os domingos das celebrações, no meio da multidão, fotografando com uma maquina compacta para não chamar atenção. Sei das criticas que são movidas a estas igrejas: o fato de pedir muito dinheiro nos dízimos e de encenar milagres. Mas nunca quis denunciar algo, ou desvendar algum tipo de segredo.

Não me interessava assumir uma postura critica em retratar aquilo. O que realmente me interessava era o tamanho da paixão que nos cultos aflorava, gravar em imagens a energia transportadora que levava os fieis em testemunhar de perto o fenômeno do milagre: não a mística e o poder metafísico do milagre, mas seus aspectos humanos, como isso se dava nas pessoas que os recebiam.Estes cultos são momentos extremamente intensos, as palavras de quem conduz, acompanhadas das musicas, seguem um ritmo preciso e levam a multidão em um estado de transe. As pessoas se emocionam, choram, gritam e externam a Fe sem limites, as vezes até desmaiar. Ao estar no meio é impossível não se deixar contaminar pela emoção. Algumas igrejas usam a palavra “show de Fe” e realmente é como estar num grande show onde todos compartilham uma mesma energia. Isto é forte! Eu nunca fui religioso e continuo não sendo, mas compreendo perfeitamente porque quem acredita e é vitima de algum mal, ou aflito por algum tipo de problema, procura uma destas igrejas. Imagino que um crente saindo de um culto como estes se sinta realmente melhor e acredito que, levado pela energia do evento, pela força do acreditar, uma pessoa encontre o entusiasmo para querer encarar uma doença. Se isto é ético ou não, se isto tem a ver com Deus ou não, ou se isso enriquece alguém, não era o foco do meu trabalho, o que quis registrar foi o fenômeno em si, o comportamento humano.

OLD15

Page 16: OLD Nº 29
Page 17: OLD Nº 29
Page 18: OLD Nº 29
Page 19: OLD Nº 29
Page 20: OLD Nº 29
Page 21: OLD Nº 29
Page 22: OLD Nº 29
Page 23: OLD Nº 29
Page 24: OLD Nº 29
Page 25: OLD Nº 29
Page 26: OLD Nº 29
Page 27: OLD Nº 29
Page 28: OLD Nº 29
Page 29: OLD Nº 29
Page 30: OLD Nº 29

OLD30

Page 31: OLD Nº 29

Em São Paulo você usa do preto e branco para retratar a rotina cansativa da cidade. Qual a sua relação com São Paulo? Que elementos são essenciais para a construção da sua narrativa fotográfica?

A minha relação com São Paulo é uma relação de ódio e amor. Eu gosto da natureza, do silencio, do selvagem e São Paulo é o oposto. Mas também sou fortemente atraído pelo caos, pelo incontrolado fluxo urbano e pelos infernos que os homens conseguem construir estando juntos. São Paulo é uma clássica megalópole sul americana, com todos seus contrastes. Nela estão presentes as vanguardas culturais e tecnológicas da America latina, mas ao mesmo tempo é uma centrifuga de confusão, um território repletos de fantasmas, uma cidade que ostenta sua riqueza, mas que não consegue esconder seu degrado. Em São Paulo tem tudo, porem condensado, espremido entre suas enormes e cinzentas estruturas, São Paulo nos transforma todos em condenados da terra, São Paulo não deixa ninguém tranqüilo, relaxado. São Paulo é sempre a beira da implosão, do colapso, São Paulo pulsa de vida. Impossível não se sentir fascinados por São Paulo.

Este ensaio porem, mesmo que use uma linguagem visual muito próxima a fotorreportagem, não compõe uma matéria jornalística sobre a cidade, que critica ou reconstrói seus aspectos sociais. Não quis ilustrar a vida da Grande São Paulo, mas extrapolar poeticamente dela fragmentos, momentos que em suas “insanidades”, em suas fragmentações, reportam tempos e atmosferas, que recompostos falam sobre seu intimo sabor. Usei a maquina fotográfica como um caderno de anotações, para anotar nela impressões. Não usei enquadramentos elaborados ou construídos dentro de uma lógica de composição fotográfica, mas apontei a câmera no que me chamava atenção, realizando fotografias de momentos aparentemente casuais, de coisas aparentemente banais. O uso do preto e branco não sempre, para mim, é resultado de uma escolha racional. Muitas vezes, a segunda das intenções do trabalho, “sinto” se usar cor ou não. Consigo pré visualizá-lo mentalmente e perceber se a linguagem que quero construir se adapta melhor ao PB. Neste ensaio dei larga prioridade as tonalidades escuras, a dualidade das coisas reflexas nos claros e escuros e a presença das sombras. Por isso acho que escolhi, sem pensar muito, o preto e branco: pela sua capacidade, entre outras, de carregar de significados as sombras, de representá-las como presenças.

OLD31

Page 32: OLD Nº 29

Dimas OliveiraPortfolio

Page 33: OLD Nº 29
Page 34: OLD Nº 29

Dimas Oliveira traz para a OLD seu portfolio de imagens em Preto e Branco de São Paulo. São imagens que mostram as multifacetas da capital paulista, criando uma abordagem plural sobre a nossa megalópole.

Dimas, como você começou na fotografia? Conte um pouco da sua história pra gente.

Sempre fui muito observador. Acho que por ter uma personalidade mais introvertida, sempre gostei de enxergar algumas cenas, que pra mim eram interessantes, e guardá-las comigo, já que não tinha uma câmera em mãos. Em 2009, após ter tido um curso de fotografia na Miami Ad School/ESPM em São Paulo, resolvi oficializar esse meu gosto pelas imagens, adquirindo uma câmera que me permitiu desenvolver todos os meus trabalhos em fotografia até agora. Sobre mim, sou mineiro natural de Santa Rita do Sapucaí e tenho 30 anos. Me formei em engenharia elétrica pelo INATEL, mas não gostei da carreira e, logo após formado, corri pra estudar aquilo que realmente me satisfazia, que era trabalhar com criação. Em 2008, me mudei para São Paulo, SP, para trabalhar como designer gráfico no Departamento de Comunicação do Colégio São Luís. Em 2009, ingressei no curso de Direção de Arte da Miami Ad School/ESPM.

Após o término do curso, fui contratado pela agência de propaganda digital ID\, por onde fiquei durante um ano. Ainda em 2012, desenvolvi um trabalho fotográfico na Europa e desde maio de 2013 trabalho no Departamento de Comunicação dos Jesuítas do Brasil, além de desenvolver o trabalho em fotografia contemporânea, paralelamente.

O seu trabalho São Paulo #1 trabalha com momentos diversos da capital paulista. Qual a sua relação com a cidade? Como São Paulo te inspira para fotografar?

A minha relação com São Paulo e é profundo encantamento. Desde quando cheguei por aqui, tudo me inspira a sair em busca de novos lugares pra visitar, conhecer. Pra quem passou a vida toda no interior, São Paulo é uma cartela de opções sem fim. Há quem não goste daqui, mas a capital paulista me acolheu e me acolhe muito bem. A sensação de estar em uma cidade em que a maioria das pessoas se respeita e corre atrás de seus objetivos é uma das coisas que me inspiram a desenvolver meu trabalho fotográfico por aqui.

OLD34

Page 35: OLD Nº 29

OLD35

Page 36: OLD Nº 29
Page 37: OLD Nº 29
Page 38: OLD Nº 29
Page 39: OLD Nº 29
Page 40: OLD Nº 29
Page 41: OLD Nº 29
Page 42: OLD Nº 29

OLD42

Page 43: OLD Nº 29

Você consegue encontrar detalhes da cidade que traduzem muito bem sua aura. Como é essa busca por locais e objetos? Qual é sua rotina quando está fotografando?

Algumas das coisas que mais gosto em SP e que podem, também, traduzir a minha aura seriam a efervescência da Paulista, o refúgio do Mosteiro de São Bento, a tranquilidade das ruas dos Jardins, as mil caras do Centro, o silêncio das galerias e museus, o cheiro da Reserva Cultural. E, antes de fotografar, procuro encontrar lugares e eventos que, na minha visão, darão imagens interessantes, sejam pela peculiaridade ou pela curiosidade que outros fotógrafos não teriam. E quando estou fotografando, mergulho de cabeça na situação, seja ela uma quebra de recorde da maior bateria de escola de samba do mundo ou no alto de um edifício na Paulista.

Sua fotografia é bastante focada no registro do cotidiano urbano, certo? Quais são os fotógrafos que te influenciam nessa produção? O que mais te desperta interesse nesse contexto?

Sim, o registro do cotidiano urbano é o meu trabalho principal. Alguns dos fotógrafos que me inspiraram a seguir nesse trabalho foram o Bresson e o Robert Doisneau, assim como inspiraram tantos outros fotógrafos. Mas há também fotógrafos que não são tão conhecidos no circuito da fotografia, mas que me possuem um excelente trabalho fotográfico. São eles: João Linneu, Eduardo Lima, Theo Rocha e Wilson Mateos. São todos do meio publicitário, de onde eu venho, e que também desenvolvem um trabalho de fotografia em paralelo no pouco tempo que lhes restam, quando saem de suas agências.

OLD43

Page 44: OLD Nº 29

OLD ENTREVISTA

GILVAN BARRETO

Page 45: OLD Nº 29

OLD ENTREVISTA

GILVAN BARRETO

Page 46: OLD Nº 29

A fotografia de Gilvan Barreto tem a mistura perfeita entre realidade e fantasia. Suas imagens são a construção de um mundo pessoal, com base na realidade mais árida que se pode encontrar. Gilvan acaba de lançar seu segundo e promissor livro - depois do muito elogiado Moscouzinho - que atende pelo nome de O Livro do Sol. Na conversa a seguir você irá conhecer mais sobre as fotografias e os pensamento de Gilvan Barreto.

Gilvan, como começou sua trajetória na fotografia?

Comecei a fotografar em meados dos anos 90. Recife fervia com o Manguebit e suas “antenas parabólicas fincadas no mangue”. Um ciclo promissor do cinema pernambucano começava a despontar nacionalmente. A Manguetown era uma cidade mais agradável e todo esse movimento me influenciou muito. Depois tive uma passagem rápida como fotojornalista. Em 1999 fui para São Paulo para trabalhar na Caminhos da Terra. Por esta revista viajei muito pelo Brasil, África, Américas, Europa e um pouco na Ásia. Voltei ao Recife e intensifiquei a parceria com organizações nacionais e internacionais que trabalham com temas sociais e ambientais. Atualmente vivo no Rio de Janeiro há 8 anos.

Você já atuou como fotógrafo e como editor em sua carreira. Quais as principais diferenças que você sente nas duas áreas de atuação? Como essa experiência influenciou sua produção autoral?

Um cria compulsivamente de maneira emocional, intensa. Enquanto o outro é frio, calculista, corta, descarta imagens e assim afina o discurso. Um trabalha como um machado, o outro é um bisturi. Potência e precisão. Estendo isso a relação entre autores e curadores. Precisa existir admiração, confiança entre as duas partes. São forças e habilidades complementares. A experiência como editor me ajuda a cortar caminhos. Falando em produção de livros, meu

maior interesse atualmente, enquanto produzo imagens, já penso na sequência, paginação e nas imagens de ligação que posso precisar. Mas é importante ter opinião de alguém que você confia. Trabalhei com pessoas muito bacanas e espero poder trabalhar com muitas outras ainda.

Seu livro Moscouzinho foi um dos destaques entre os fotolivros brasileiros dos últimos anos. Como foi o processo de produção da obra? O projeto sempre teve como formato final um livro?

Sim, o Moscouzinho está gerando uma repercussão incrível. O livro é a recriação das memórias de uma criança que cresceu num reduto comunista em plena ditadura no Brasil. Moscouzinho é apelido da minha cidade natal, em Pernambuco. Sempre pensei em Moscouzinho como um livro. Quando meu pai adoeceu, vi que aquela era a hora de finalmente contar essa história. Corri contra o tempo, queria que ele ainda estive aqui para conferir o resultado. Mas o processo foi longo, quase 4 anos escrevendo, desenhando, pesquisando para reinventar a “República Socialista do Afeto”.A idéia inicial era fazer um documental clássico. Mas foi diante dos documentos da repressão militar que surgiu a necessidade de criar com total liberdade. Se aqueles tantos registros forjados são considerados documentos oficiais, eu também poderia criar novos documentos. Sim, porque a tendência é que nossa produção vire memória e documento de nossa época. Inclusive as ficções, já que nascem principalmente das tensões que nos cercam. Foi daí que nasceu a ideia de fazer fotocolagens misturando documentos do DOPS com fotos de álbuns de família.

Para você, qual a relação da fotografia com a realidade?

Existe a realidade como algo absoluto? Estamos sempre especulando, criando teses, interpretando, tentando nos aproximar

OLD46

Page 47: OLD Nº 29

dessa realidade. As ficções são ferramentas para elaboração dos discursos. Assim nascem “nossas verdades”, e através das imagens, surgem representações livres e originais. Botando as palavras numa peleja, talvez pudéssemos chamar de ‘Docs existenciais”, não?

Você acredita que há algum limite para a fotografia? Com a expansão desses possíveis limites, podemos chegar a um ponto de perder as características básicas da fotografia?

Nós criamos fronteiras, classificações e impedimentos. Ao ver um bom trabalho nunca me ocorre pensar se esse trabalho tem ou não “características básicas da fotografia”. Procuro boas ideias, narrativas diferenciadas, trabalhos que emocionem. Tenho consciência que algumas das minhas imagens esbarram em outras linguagens, chamam outros suportes e técnicas. Não tenho a menor intenção de impedir esse movimento, muito pelo contrário. Gosto de pensar que posso estar trabalhando neste limiar. Mas vou onde e como sentir necessidade. Não sei se por isso essas imagens pedem outras classificações. Estou investindo em projetos audiovisuais, em conexões com a música e literatura. Mas a minha função é essencialmente criar imagens. Sou um fotógrafo.

Você acabou de lançar seu segundo livro, chamado O Livro do Sol. Como essa experiência foi diferente da primeira, com Moscouzinho? Quais as suas expectativas com esse novo lançamento?

Enquanto o Moscouzinho foi planejado e roteirizado, neste novo livro quis reverter o processo . Fiz um road book no sertanejo no auge da maior seca das últimas décadas. Peguei a estrada sem cartas nas mangas. Viajava apenas com duas ideias fixas; a água e a poesia de João Cabral de Melo Neto. Mas não me interessava fazer um diário fotográfico. Não busco o instante decisivo. O Livro do Sol é uma crônica sobre uma terra seca povoada por um imaginário fantástico

Nós criamos fronteiras, classificações e impedimentos. Ao ver um bom trabalho nunca

me ocorre pensar se esse trabalho tem ou não “características

básicas da fotografia”. Procuro boas ideias, narrativas

diferenciadas, trabalhos que emocionem.

Page 48: OLD Nº 29
Page 49: OLD Nº 29
Page 50: OLD Nº 29

OLD50

Page 51: OLD Nº 29

de águas em abundância. Sugere um culto quase sagrado por este recurso natural. É um recorte muito específico mas representa um pensamento recorrente em tantas outras paisagens semelhantes pelo mundo. Acredito que livro vá encontrar abrigo também nos olhos atentos às questões ambientais e na poesia, deve se ligar aos filhos naturais dos sertões e aos que adotaram esta como sua paisagem interior. Espero que seja percebida a sua identidade latina. É com este propósito também que os textos do livro se inclinam. É esta também a razão de traduzir os escritos apenas para o castelhano.

As imagens de O Livro do Sol tem uma proximidade geográfica, e em alguns momentos estética, com Moscouzinho, mas sua abordagem temática é bastante diferente. Como ocorreu esse processo? Você uma mudança radical entre os dois projetos?

N’O Livro do Sol há um afastamento maior, me coloco na condição de observador. Invisto num sonho/miragem sertaneja que identifiquei nos mais de 20 anos frequentando a região. Talvez neste sentido, exista uma elaboração mais fria, analítica. Acho que neste livro consigo ser mais pontual, mais afiado. Apesar da gravidade do assunto, a seca, não há essa imagem do sertanejo exótico, folclórico ou “coitadinho”. Ninguém aguenta mais essa representação do homem sertanejo. Aliás, quase não há a presença humana. Mostro uma terra praticamente desértica. Uma paisagem que flutua no tempo. São imagens atuais mas que poderiam ter sido feitas há décadas. Por outro lado, estão congeladas para o futuro. Um retrato com um tom misterioso e até apocalíptico sobre essa era do sol, da natureza em desarmonia e do homem em vias de perder suas habilidades no trato com a terra.

Qual o papel do sonho na construção das imagens de O Livro do Sol? E qual o papel do real neste processo?

A seca é um fenômeno natural, o sonho de água uma consequência

lógica aos sertanejos de todo o mundo. Considerando indomáveis tanto as forças da natureza, como os desejos inconscientes, restam as ações do Homem. Publicar um livro sobre a relação do sertanejo com a natureza durante uma das mais severas secas da História, indica também um posicionamento político. O acesso a água é libertador, uma ação contrária á secular indústria da seca, que não só persiste, como hoje é mais diversa e eficiente. A água, elemento básico para nossa sobrevivência, hoje é um mero item de comércio e instrumento gerador de desigualdade social. Quem tem água produz, se desenvolve e pode consumir mais água. Quem não tem água está fora deste ciclo. Sonho com outra realidade.

Gilvan, quais são os seus objetivos com a produção de fotografias?

Vivo um momento interessante. Experimentando, formulando propostas e linhas de reflexão na minha produção. Conseguindo realizar velhos e novos projetos. São dois livros publicados em dois anos. O trabalho está andando sozinho. Abrindo espaços e criando parcerias com gente que sempre admirei. O Livro do Sol por exemplo, traz na capa um desenho que ganhei de Ariano Suassuna, um consultor informal do projeto. Uma honra para mim. Quero publicar mais livros. Em 2014, publicarei a Orquestra Pernambucana de Fotografia. Um projeto coletivo com os maiores músicos e fotógrafos de Pernambuco. Quero trazer mais gente para dentro da fotografia (ou ajudar a levar a fotografia para outros ambientes). Pretendo colocar minhas influências da literatura e cinema “para trabalhar” ainda mais na geração das minhas imagens. Quero participar das discussões cada vez mais. Politizar o debate em detrimento a politicagem.

OLD51

Page 52: OLD Nº 29

Renato StocklerLugar Sem Nome

Page 53: OLD Nº 29
Page 54: OLD Nº 29

Em Lugar Sem Nome, Renato Stockler mergulha na vazies de um espaço abandonado. Suas imagens buscam os vestígios de sua antiga ocupação, criando uma narrativa sutil, em que os detalhes são os principais condutores da história.

Renato, conte pra gente sobre sua trajetória fotográfica.

Desde criança me encanta a alegria em ver, ouvir e vicenciar histórias. Cresci ouvindo histórias dos mais velhos, dos amigos, da família. Durante minha graduação em jornalismo buscava uma maneira de contar histórias, tratar sobre questões mais universais, sentimentos de mundo, as relações entre as pessoas, os espaços, as ações e a presença humana em tantos territórios. E me intrigava a maneira como poderia fazer a ponte entre o que vejo para outras pessoas. Fui descobrindo na fotografia a possibilidade de uma reinterpretação de sentimentos e de um outro olhar mais atento que me levasse a uma reflexão mais profunda. Ao mesmo tempo havia a necessidade de narrar fatos e acontecimentos, abrir um espaço onde os conflitos do mundo pudessem, de alguma maneira,

ser tratados.Fui para o fotojornalismo, em 2004. Muitos retratos, algumas coberturas maiores, mas sempre tendo os espaços como personagens e não somente cenário. Sempre busquei tratar do olhar sobre o lugar onde estamos, de como o vivemos, de como o representamos e como nos relacionamos com sua pulsação. Trabalhei em muitas editoras, fiz parte da equipe de fotógrafos da Folha de São Paulo e criei com o fotógrafo Bruno Miranda a Na Lata onde estou até hoje. Trabalhamos em projetos próprios que buscam na narrativa visual recriar o laço entre aquilo que fotografamos e o aquele que vê, que lê a fotografia. Também acabo de ser premiado com o projeto Saltando Muros, uma parceria Memorial da América Latina e a Fundación Fondo Internacional de las Artes (Espanha), com apoio da Secretaria Geral Ibero-Americana (SEGIB).

OLD54

Page 55: OLD Nº 29

OLD55

Page 56: OLD Nº 29
Page 57: OLD Nº 29
Page 58: OLD Nº 29
Page 59: OLD Nº 29
Page 60: OLD Nº 29
Page 61: OLD Nº 29
Page 62: OLD Nº 29
Page 63: OLD Nº 29
Page 64: OLD Nº 29

OLD64

Page 65: OLD Nº 29

Como você buscou construir a narrativa desse ensaio sem a presença de personagens humanos? Isso foi uma preocupação durante a edição?

Um deslocamento provocador e solitário me acompanhou durante a produção desse trabalho: a cadeira enquadrada pela porta, o leito hospitalar descartado no canto de uma sala vazia, os objetos empilhados e inutilizados confrontavam-se com o silêncio das salas e com as texturas das paredes descascadas pela ação do tempo. Ali coexistiam elementos plenos de seus significados que confrontavam o cenário de esquecimento em outro momento, algo que busca a percepção daquilo que não está visível e que foi esquecido, como um baú que só existe na memória de quem esteve ali.Esse é um espaço efêmero, que não cria laços afetivos, uma vez que foi um lugar de passagem para aqueles que por ali estiveram ou trabalharam. Findada sua utilidade, o espaço sofreu o abandono e a ausência da vida salva, da lembrança do que ali ocorrera: sensações que se descrevem em paredes, no piso empoeirado, nas janelas estilhaçadas, no mobiliário inerte, nas portas apodrecidas; a tradução da angústia através da solidão dos objetos, outrora repletos de utilidade e que agora guardam para si somente seus significados. A presença humana é marcada pela ausência, tanto de pessoas quanto de ações recentes. São locais que fazem parte de um território desconhecido pela cultura do descarte e do esquecimento, um não-lugar perdido na memória de quem passou por ali. Há gente nas fotos de certo modo. Há histórias sem nomes, sem tempos.

Você tem uma relação forte com a fotografia móvel, que é leve, dinâmica. Neste ensaio as imagens parecem ser muito bem pensadas e trabalhadas. Como esse contraste se encaixa dentro da sua produção?

São propostas diferentes. Tenho uma certa obsessão com linhas e busco criar composições que permitam uma narrativa visual silenciosa, algo que contraponha uma aparente falta de profundidade e de reflexão com a intencionalidade de criar uma imagem e reinterpretar algo que vejo. Nesse trabalho encontrei um fôlego, um respiro. Cada sala daquele prédio me impunha a imaginação do que ocorrera ali, de quem eram aqueles marcas, quais histórias estavam impregnadas na tinta descascada das paredes, no piso empoeirado, nos móveis inutilizados. Aquele era um momento de repensar sobre o que representava e o que queria representar. O processo de gerar uma narrativa dali estava era mais próximo da reorganização aqueles quadros do que da criação de composições. As composições já estavam prontas. Eu só as encontrei. O que pretendo com um trabalho como esse é um contraponto de tudo que encontro na rua. Ali as histórias estão escondidas, entranhadas em outros tempos. O que a fotografia móvel me permite um outro olhar sobre o cotidiano. O que tinha ali me pedia uma outra postura, uma calma para sentir mais do que reagir. Por isso a película, por isso médio formato. Por isso um lugar sem nome.

OLD65

Page 66: OLD Nº 29

Raphael AlvesQuando as Águas...

Page 67: OLD Nº 29
Page 68: OLD Nº 29

Raphael Alves nos leva em uma viagem pelo Amazonas em seu ensaio. Uma viagem guiada pela relação do homem com a água, tão essencial no Norte do nosso país. São imagens que flagram os mais diversos momentos dessa tão complexa e essencial união.

Raphael, conte pra gente como surgiu o projeto Quando as águas...

Bem, é um projeto que comecei para o curso que estou fazendo. Me interesso sempre pela questão da água na minha região (Amazonas), afinal vivemos em meio a muita água e há algumas questões que desejo explorar: a relação que as pessoas nas proximidades e em Manaus têm com a água; a poluição; os rios e lagos como meios de transporte e fonte de sustento (pesca) e, claro, os extremos vazante e enchente dos rios ( que parecem estar se acentuando)

Qual a sua relação com a região de Manaus? Como foi fotografar a cultura ribeirinha?

Bem, ainda estou fotografando. Quanto à minha relação, ela é vital. Nasci em Manaus, mas fui muito criança para o Rio. Depois, na adolescência, retornei. É o meu lar e eu procuro falar do lugar em que vivo com meu trabalho...

OLD68

Page 69: OLD Nº 29

OLD69

Page 70: OLD Nº 29
Page 71: OLD Nº 29
Page 72: OLD Nº 29
Page 73: OLD Nº 29
Page 74: OLD Nº 29
Page 75: OLD Nº 29
Page 76: OLD Nº 29

OLD76

Page 77: OLD Nº 29

Qual a sensação de registrar um lugar em que a natureza claramente se sobrepõe ao homem? Como isso mudou sua visão como fotógrafo?

Primeiramente, creio que é justamente esse o problema. Muitas vezes - e em Manaus acontece o mesmo - o ser humano fala e se comporta em relação à natureza como se não fizesse parte dela... Eu espero que esse meu projeto renda frutos para contribuir para uma relação de, ao menos, equilíbrio entre o ser humano e as águas em Manaus. O ideal seria a harmonia total...Quanto ao que muda na minha visão, eu acredito que tudo o que um fotógrafo vê afeta seus próximos passos, não apenas como fotografo, mas como ser humano... Claro, isso se o fotógrafo souber ter sempre novos olhos, como dizia o Marcel Proust... Então, acredito que contribui na minha vida toda e, espero, que me torne um ser humano melhor...

Por que você optou pelo uso do PB neste ensaio? As cores fortes da região iriam atrapalhar ou acrescentar à narrativa?

Na verdade, Acho que, no caso do “Quando as águas...” o p&b contribui para o que desejo mostrar: contrastes (cheia X seca, falta de água no meio da bacia amazônica, etc). Acredito que alguém pode mostrar o mesmo com cores, mas minha narrativa precisava do p&b.

Quais foram as situações e os personagens mais marcantes que você encontrou durante este projeto?

Tudo é marcante, mas conheci muitas pessoas e foram as pessoas que me fizeram escolher ser fotógrafo, elas são sempre responsáveis pelos momentos marcantes. Das histórias mais tristes como a de um rapaz chamado Shalon que afirmou ter que se mudar por dois meses todo ano, pois mora em uma área que sempre alaga durante a enchente, às mais alegres de crianças que encontram alegria nesses dois extremos - seca e cheia - essas são as histórias que mais me marcam.

OLD77

Page 78: OLD Nº 29

ultra-passagem

78

Tito é fotógrafo de vídeo e vive a testar todas as (im)possibilidades que câmeras e lentes lhe

oferecem. Você pode saber um pouco mais de suas peripécias em tferradans.com/blog

Page 79: OLD Nº 29

Com todos os benefícios oferecidos pelo formato raw, não é difícil afirmar que, depois de feita a foto, praticamente tudo pode ser ajustado e modificado. Exceto o foco. Uma foto desfocada, ou com o foco no lugar errado está irremediavelmente perdida.E como funciona o foco, numa câmera fotográfica? Resgatando alguns princípios de física, quando os raios luminosos entram pela lente em suas diversas direções, a curvatura do vidro faz com que eles se reencontrem do lado de dentro, sobre o sensor. A parte mais importante desse funcionamento é que assuntos posicionados a diferentes distâncias da câmera, resultam em imagens diferentemente afastadas uma da outra. Por isso que existe o mecanismo de foco. Uma vez que a imagem formada é menor que o objeto real, o ajuste na posição do foco – dos elementos internos da lente – é pequena, e consegue alterar a distância de formação da imagem sobre o sensor. Por esse motivo que temos partes em foco, e partes fora de foco. Existem diversos fatores que influenciam essa percepção, como a abertura da lente, distância focal e tamanho do sensor, mas eles não serão levados em conta dessa vez.E porque o foco é inalterável? Porque há apenas uma lente, e um sensor quando a imagem é registrada. Existe uma técnica chamada focus-stacking, que combina múltiplas fotos, com diferentes posições focais e produz imagens de foco inicialmente impossível. O tema da coluna desse mês contorna essas limitações. Light field é uma tecnologia ainda pouco comum, onde o sensor da câmera é revestido de pequeníssimas lentes, resultando numa imagem que armazena informação suficiente para permitir drásticas alterações de foco sem qualquer perda de qualidade na imagem. Claro, essas microlentes trazem consequências e aumentam muito o custo de produção do equipamento. Há uma lente principal, que define o quão aberto ou fechado será o enquadramento, mas essa lente já não possui anel de foco. A empresa Lytro é a pioneira em trazer esse tipo de câmera para o mercado digital popular, mas o equipamento ainda tem sérias limitações, como um design estranho, uma lente fixa, usos limitados

e baixíssima resolução. Os arquivos resultantes devem ser processados por um programa especial, capaz de interpretar os dados relativos às diferentes posições focais registradas, e exibir apenas uma delas para o usuário. O foco da imagem é alterado com um simples clique sobre a área onde se deseja ter foco.Apesar de seus primeiros conceitos terem surgido em 1902, é só agora que essa tecnologia começa de fato a se expandir e ser pesquisada mais a fundo, em termos práticos. Ao longo dos próximos anos devemos ver mais produtos e técnicas capazes de resultados similares ou superiores, criando um novo mercado – a princípio amador, devido à baixa resolução.Ainda vai passar algum tempo até que surjam câmeras, a nível profissional, que apresentem soluções similares e permitam que nós, fotógrafos, tenhamos mais liberdade e agilidade na hora de produzir uma imagem. Uma câmera plenóptica (nome mais charmoso para light field) seria excelente opção para fotógrafos em situações onde grande velocidade e precisão são exigidas, ou atenção aos arredores – como zonas de conflito, grandes festas populares, entre outros exemplos –, pois permite que o fotógrafo se concentre em outros pontos além da recorrente neurose de “conseguir uma imagem em foco”, e muitas vezes ter que descartar o que seria a melhor imagem de uma série, se não fosse o foco, levemente fora de lugar.

79

Page 80: OLD Nº 29

fissuras

Ágata é um coletivo multidisciplinar, um encontro de afinidades que tem na fotografia um campo fértil para a investigação do processo criativo e

da expressão artística.

Luciana Dal Ri

80

Page 81: OLD Nº 29

Acompanhar para criar junto. Propor novos olhares. Contaminar para contaminar-se. Com esses desejos continuamos buscando desvendar processos, agora acompanhadas dos residentes do LABMIS, Lívia Aquino, Ronaldo Entler, Pio Figueroa e Carol Lopes.

Caixa-potênciaComo acompanhar o desenvolvimento simultâneo do trabalho de oito artistas e uma pesquisadora, além de refletir sobre a nossa própria proposta? Isso seria trabalho de uma vida, se não tivesse que ser definido em cerca de cinco meses. Ah, as dores e delícias dos editais. Para otimizar o tempo e criar uma dinâmica entre o grupo, distribuímos caixas arquivos e sugerimos que eles se atentem aos diversos tipos de documentos que cruzarem seus caminhos ao longo desse tempo que vamos passar juntos. Textos, filmes, músicas, outros trabalhos, ou qualquer tipo de material que eles identifiquem como parte de uma obra em construção devem ser guardados ali. É um convite à organização e ao cuidado com as referências. Arquivos em construção, “caixas-potência” que vão abrigar rastros que ainda fogem à consciência e que darão forma àquilo que ainda não conhecemos. Obras por vir. Além disso, essas caixas ficarão à disposição para consulta. A partir da análise desse material iniciaremos a pesquisa sobre os diversos processos criativos e suas possíveis interpretações, que, no final da residência, farão parte de um dossiê de acompanhamento de cada artista. Nessa proposta de construção compartilhada, acreditamos que, além de uma nova perspectiva crítica sobre a arte, ao se atentarem aos seus processos, os próprios artistas criarão um novo repertório sobre seus trabalhos.

A incerteza como fio condutorO processo criativo é uma folha em branco que começa ser preenchida de maneira orgânica, com alguma estratégia, mas pouco racionalizada. Não é à toa que a incerteza foi pred0ominante neste primeiro momento na residência. Projetos foram escritos e apresentados, divididos com os demais, resignificados ou em vias de.

Incertezas que nos motivam por apontarem as primeiras pistas de cada trabalho. Dúvidas que se tornam ainda mais interessantes do que a própria busca pelas respostas. E elas aparecem de maneira diferente para cada um dos artistas. Os principais desafios parecem dizer respeito, por exemplo, à dificuldade de precisar o tema, à necessidade de definir alguns primeiros recortes, à incitação de traduzir o conceito em forma ou, ainda, ao esforço de, muitas vezes, identificar primeiro o que o trabalho “não é”, mais do que dizer em que ele consiste. Entler chamou atenção para o esforço de falar sobre o próprio trabalho, uma prática que se torna cada vez mais recorrente nos circuitos artísticos. Nos colocamos também diante dessa provocação e acompanhamos as falas dos outros residentes. Todos sofremos de um mal comum: a dificuldade de comunicarmos nossas vontades, as direções iniciais dos trabalhos que ainda não existem. Fazer o exercício de defender nossas ideias, de perceber melhor nossas opções resultou em uma experiência interessante e análoga ao que queremos propor para o grupo através das caixas: trazer consciência do processo para que, dessa lucidez criativa desponte, além de uma narrativa crítica, ressonâncias na própria obra e no fazer artístico. O ano que começaInicia-se, a partir de agora, um processo estimulante de tomada de consciência. Queremos evidenciar, juntos, aspectos do ato criativo que muitas vezes estão ocultos. Detalhes que, para nós, funcionam como pequenas senhas para acessarmos o universo rico que os residentes nos apresentaram nas últimas semanas de 2013. No ano que começa, pretendemos encontrar quais as questões mais pertinentes para cada projeto. As caixas, que abriremos no final desse mês, irão nos ajudar a materializar e visualizar algumas dessas questões, que, na medida em que nos suscitarem novas reflexões, partilharemos por aqui.

81

Page 82: OLD Nº 29

Mande seu portfolio para [email protected]

Page 83: OLD Nº 29

Marcelo Hein

Page 84: OLD Nº 29

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

--

CapAcitaÇÃO profissionalnovas turmas, garanta sua vaga!

INSTITUTO INTERNACIONAL DE FOTOGRAFIA

intensivo de fotografia de moda13 a 17 de janeiro de 2014

Cinematografia21, 22 e 23 de janeiro de 2014

info

rm

e p

ub

lic

itá

rio

aprenda com quem faz

Page 85: OLD Nº 29

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

--

CapAcitaÇÃO profissionalnovas turmas, garanta sua vaga!

INSTITUTO INTERNACIONAL DE FOTOGRAFIA

intensivo de fotografia de moda13 a 17 de janeiro de 2014

Cinematografia21, 22 e 23 de janeiro de 2014

info

rm

e p

ub

lic

itá

rio

aprenda com quem faz

Page 86: OLD Nº 29