origem do systems approach

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    ORIGEM E APLICAES FUTURAS DO CONCEITO DE SYSTEMS APPROACH

    Aldo Malavasi1, David dos Santos Martins2

    1 Biofbrica Moscamed Brasil, Juazeiro - BA, [email protected]; 2 Instituto Capixaba de Pesquisa,Assistncia Tcnica e Extenso Rural Incaper, Vitria - ES, [email protected]

    INTRODUO

    Quarentenas tm sido usadas por milhares de anos para fornecer proteo contra pragas e doenas queafetam animais, plantas e seres humanos.

    O objetivo dos tratamentos quarentenrios atualmente empregados para pragas de plantas eliminartodos os estgios que possam estar associados planta, parte dela, ou ainda a um produto vegetal. H hoje umnmero bastante extenso de leis, normas, estandares e regulamentos estaduais, nacionais, regionais einternacionais que regulam o movimento de plantas e seus derivados da regio onde foi produzida para outraregio.

    Os tratamentos so freqentemente adotados para produtos regulados como uma forma de mitigao derisco, e sua certificao feita por inspetores autorizados. Historicamente, a fumigao qumica, os tratamentosa frio e com calor aplicados por um certo perodo de tempo foram requeridos como uma condio para que osprodutos pudessem deixar sua rea de produo e serem enviados para outras regies.

    Nas ltimas dcadas, tm sido empregados como tratamento quarentenrio vrias combinaes demtodos de mitigao de risco para vrias commodities onde um tratamento simples no est disponvel ou nooferece a segurana desejada.

    PROBITO 9 e ARP ANLISE DE RISCO DE PRAGAS

    Por mais de 50 anos, foi exigido, pelas agncias de proteo de plantas dos pases importadores, que aeficcia do tratamento quarentenrio para certas pragas, especialmente os tefritdeos, fosse baseada no conceitoestatstico do Probito 9. Na prtica, isso significa que o tratamento deveria matar 99,9968%, ou, em outraspalavras, apenas trs sobreviventes numa populao hipottica de 100.000 indivduos.

    Na falta de melhor soluo estatstica, o probito 9 acabou sendo a metodologia aprovada para quasetodos os rgos de quarentena, por absoluta falta de pesquisadores estatsticos e matemticos que sedebruassem sobre o problema.

    Em meados da dcada de 80 do sculo passado, iniciou-se um movimento com o objetivo de desenvolvermtodos alternativos que pudessem substituir o conceito do Probito 9. Quase simultaneamente, iniciou-se tambmos trabalhos de Anlise de Risco de Pragas - ARP para ajudar na tomada de deciso das agncias de seguranaagropecuria. As ARPs difundiram-se extraordinariamente em grande parte como resposta globalizao docomrcio e como necessidade de estimar de forma holstica os riscos inerentes ao trnsito de produtosagropecurios.

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    Novas abordagens estatsticas foram desenvolvidas nessas duas ltimas dcadas e, embora nototalmente abandonado, o Probito 9 caiu em desuso, substitudo por anlises mais sofisticadas. Na esteiradessa nova tendncia, foi desenvolvido o conceito de systems approach para uso em segurana quarentenria.

    A ORIGEM DO CONCEITO DE SYSTEMS APPROACH

    O systems approach (SA) integra o sistema analtico e o sinttico, englobando ao mesmo tempo umaviso holstica e reducionista. O sistema foi inicialmente proposto sob o nome de Teoria dos Sistemas Geraispelo biologista Ludwing van Bertalanffy em 1890. Ele notou que os fsicos tratavam seus fenmenos de formafechada, e seus modelos basicamente no interagiam com o mundo externo. Como estudioso dos sistemasvivos, van Bertalanffy percebeu que essa caracterstica praticamente impossvel de se aplicar para a maior partedos fenmenos naturais.

    Os sistemas vivos interagem continuamente com o ambiente, retirando dele elementos fsicos, qumicose biolgicos para sua sobrevivncia, e devolvendo, ento, ao ambiente os mesmos elementos, apenas modificados.A entrada de um elemento no sistema tem mltiplos efeitos e nem todos eles so conhecidos com preciso. AFigura 1 ilustra esse fenmeno.

    FIGURA 1 Modelo de um sistema aberto, caixa branca, que recebe inputs e que interagem com os subsistemas,e a caixa preta, onde os componentes no so observveis (modificado de HEYLIGHEN, 1988).

    No modelo acima, importante ressaltar que a caixa preta no apenas restrita a situaes que no seconhece. Em muitos casos, pode-se estimar facilmente o que ocorre dentro, mas uma deciso metodolgicaignorar os detalhes internos. Esses dois sistemas complementares, as caixas branca e preta, ilustram umprincpio geral de que os sistemas so estruturados hierarquicamente. No nvel hierrquico superior, tem-se aviso do todo, sem ateno aos detalhes dos componentes individuais. No nvel hierrquico mais baixo, h umamultiplicidade de elementos interagindo, mas sem o entendimento de como so organizados como um todo. Deacordo com uma viso analtica, a compreenso desse nvel mais baixo tudo de que se necessita, enquanto aviso holstica procura enxergar o sistema como um todo. Apenas para exemplificar fora da rea de agricultura, amedicina, que no passado era basicamente analtica, atacando o problema especfico e orientando a cura, olhandoapenas para o diagnstico mais imediato, tem mudado para a viso holstica, trazendo para o diagnstico a maior

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    quantidade possvel de informao para um tratamento muito mais amplo de todo o organismo e no apenas deuma de suas partes.

    O conceito de systems approach, que integra elementos bsicos dentro de um sistema mais amplo, temsido empregado em anos recentes para gerenciamento de aprendizado e deciso em diferentes campos doconhecimento, como engenharia, software, arte e agricultura.

    SYSTEMS APPROACH NA AGRICULTURA

    Em segurana quarentenria, o conceito foi muito bem sintetizado por Jang e Moffitt (1995), que tem-semostrado bastante operacional aps uma dcada:

    Systems approach pode ser definido como a integrao de prticas na pr e ps-colheita usadas naproduo, colheita, empacotamento e transporte de uma commodity que cumulativamente atinge asexigncias da segurana quarentenria.

    Systems approach integra fatores biolgicos, fsicos e operacionais que podem afetar a incidncia, aviabilidade e o potencial reprodutivo de uma peste dentro de um sistema de prticas e procedimentos

    que conjuntamente promovem a segurana quarentenria.

    Na realidade Jang e Moffitt sintetizaram, de forma muito precisa, procedimentos que j existiam naprtica desde os anos 1960, mas que no haviam sido sistematizados (JANG; MOFFITT, 1994; IPPC, 2000).

    Outro fator histrico que est na origem do conceito de systems approach em agricultura odesenvolvimento do conceito de rea livre de pragas e dos campos de produo livre de praga no final dos anos80. A aplicabilidade do conceito de rea livre desenvolvida por alguns pesquisadores e por agncia de proteo deplantas (MALAVASI et al., 1994; NAPPO, 1994) esbarrou numa realidade no muito favorvel na maior parte dosagroecossistemas: reas livres principalmente de tefritdeos so difceis de existirem naturalmente, e aindamais difcil de serem estabelecidas artificialmente e mantidas continuamente.

    H uma forte correlao entre a presena de tefritdeos e a disponibilidade quantitativa e qualitativa deseus hospedeiros primrios ou secundrios. As condies climticas, aps a disponibilidade de hospedeiros,so os fatores mais importantes como determinante das populaes de tefritdeos. A condio mais comum emrelao aos tefritdeos, que usualmente encontrada nas reas de agroecossistemas onde se pretende obter ostatus de rea Livre de Mosca-das-Frutas - ALMF, uma populao baixa ou residual de alguma espciequarentenria de tefritdeo. Mesmo ocorrendo em baixa prevalncia, esta condio torna invivel tcnica eeconomicamente o estabelecimento de uma ALMF. Desta forma, a soluo mais plausvel neste caso exatamenteo emprego do conceito de systems approach.

    Este um enfoque holstico do controle que minimiza o movimento das pragas do campo para as packinghouses e de l para o consumidor final, podendo reduzir significativamente a ocorrncia de pragas, sendotransportadas com a commodity.

    SYSTEMS APPROACH COMO TRATAMENTO QUARENTENRIO

    A segurana quarentenria necessria para que se assegure que uma praga existente numa rea noseja levada para outra rea onde atualmente ela no ocorre. Medidas de segurana quarentenria so feitas paraproteger regies e pases e existem dentro de fronteiras nacionais e principalmente entre pases exportadores eimportadores. A partir dos anos 80 do sculo passado, aconteceram significativos progressos sintetizados na

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    Figura 2.A definio oficial foi dada pela Organizao de Agricultura e Alimentao das Naes Unidas FAO

    (United Nations Food and Agriculture Organization FAO) dentro da Conveno Internacional de ProteoFitossanitria CIPF (International Plant Protection Convention IPPC), que desenvolveu a norma Aplicao deMedidas Integradas em um Enfoque de Sistemas Para o Manejo Integrado de Pragas (IPPC, 2002):

    Integrao de diferentes medidas de manejo de risco de pragas, das quais, pelo menos duas, atuam

    independentemente, e logrando com efeito acumulativo alcanar o nvel desejado de proteo fitossanitria.

    O systems approach pode ser dividido em cinco fases (MOFFITT, 1994; JANG; MOFFITT, 1994):1. Prticas do Manejo Integrado de Pragas MIP (Integrated Pest Management IPM) no campo de

    produo.2. Medidas preventivas na fase de pr-colheita, com o objetivo de reduzir a ocorrncia da praga no produto

    quando ele chega packing house.3. Remoo na ps-colheita de frutos com danos ou com sinais de infestao por insetos.4. Inspeo e certificao dos frutos empacotados.5. Transporte e distribuio da commodity.

    FIGURA 2 A evoluo e interao dos conceitos em proteo de plantas no fim do sculo 20.

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    Fase 1. Empregar a metodologia do MIP o primeiro passo dentro do systems approach. O monitoramento dapraga-alvo e o emprego de amostragem, alm de modelos preditivos populacionais, permitem estimar apopulao no campo e assim adotar a tempo as medidas corretivas mais eficientes de controle da praga.

    Fase 2. O foco desta fase do systems approach prevenir a ocorrncia de praga dentro da commodity, antes deser colhida. Esta fase baseada nos conhecimentos da interao entre a praga e o hospedeiro commodity.O conhecimento acurado da biologia da praga e seu hospedeiro, com a determinao dos perodos deataque em relao maturao, por exemplo, permite estabelecer, prximo ao ponto de colheita, quaisas chances de ocorrncia da infestao. Este conhecimento pode permitir um gerenciamento tanto dapoca de colheita, como da poca de semeadura nas culturas de ciclo curto.

    Fase 3. Envolve as operaes, dentro da packing house, que permitem inspecionar, selecionar e eliminar aquelesfrutos que apresentem qualquer tipo de dano externo ou que estejam fora dos padres estabelecidos.Tratamentos qumicos e fsicos objetivando outras pragas, como fungos e bactrias, podem ajudar naeliminao de possveis estgios imaturos de tefritdeos.

    Fase 4. A inspeo final e a certificao do produto terminado permitem assegurar que as normas, at aquelafase, foram apropriadamente seguidas. Essa atividade executada por fiscais ou do pas exportador oudo pas importador e mais raramente de ambos.

    Fase 5. As prticas de transporte e distribuio permitem que, ao entregar o produto que foi transportado emgrandes quantidades em pequenas unidades, ainda seja feita uma seleo adicional e eliminao defrutos danificados. A vantagem adicional que essa seleo feita aps um certo perodo de tempo apso embalamento, quando possvel visualizar melhor qualquer dano causado por inseto.

    DESENHANDO UM SYSTEMS APPROACH

    Um projeto de systems approach no trivial e envolve muitos outros fatores que simplesmente umtratamento nico, como gua quente, tratamento a frio ou irradiao de alta energia. O grau de dificuldade para oestabelecimento de um programa de systems approach depende acentuadamente da informao biolgicadisponvel, do conhecimento da mitigao de riscos envolvidos e de outras informaes necessrias para oprograma (NATIONAL PLANT BOARD, 2002).

    DADOS NECESSRIOS

    Em levantamento feito em 1997, Liquido et al. (1997) identificaram as seguintes condies para permitiro sucesso de um programa de systems approach:

    conhecimento da praga associada commodity; biologia bsica da praga, incluindo a relao praga-hospedeiro, a disperso, os hospedeiros alternativos,

    a seleo de hospedeiros e a dinmica populacional; conhecimento do patgeno (quando for o caso) e do seu ciclo de vida; sistemas existentes para o levantamento no campo e/ou a deteco da praga no carregamento; conhecimento das prticas existentes na colheita, no empacotamento e nas formas de comercializao; no caso de pragas que so geralmente ausentes ou raras nas commodities comerciais, isto explicado

    por:- manejo normal no campo;- hospedeiro no-preferencial;- cultivar resistente;- assincronia fenolgica entre praga e commodity; e

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    - limitao ecolgica da praga na rea de produo. no h mtodos alternativos disponveis para se obter a segurana quarentenria, por isso systems

    approach a melhor opo porque no causa dano na commodity e/ou mais custo-efetivo; volume suficiente da commodity comercializado para justificar e compensar os custos do programa; algum grau de redundncia e independncia entre os componentes do programa pode ser desenhado

    para permitir trabalhar com a variabilidade encontrada nas populaes da praga e para compensar afalha parcial de outros componentes do programa;

    segurana quarentenria alcanada tanto por estimativas qualitativas, como quantitativas.

    Norma Internacional da CIFP/FAO

    A Norma Internacional para Medida Fitossanitaria NIMF (International Standard for Phytosanitary Measure ISPM), no 14 da CIFP, a norma na qual a Organizao Nacional de Proteo Fitossanitria ONPF, tanto opas exportador como o importador devem-se basear para propor um programa de SA. Nessa norma, especificadoque as etapas para se propor um programa devem ser as seguintes:

    determinar, a partir de uma Anlise de Risco de Praga ARP (Pest Risk Analysis PRA), o risco dapraga e a descrio das suas vias de introduo;

    identificar onde e quando as medidas de manejo ocorrem ou podem ser aplicadas (pontos de controle); distinguir entre as medidas as que so essenciais para o sistema e outros fatores ou condies; identificar as medidas independentes e dependentes e as opes para compensar as incertezas; avaliar a eficcia individual e integrada das medidas que so essenciais para o sistema; avaliar a viabilidade e as restries ao comrcio; e consultar; inplementar utilizando documentos e relatrios; rever e modificar quando necessrio.

    Opes disponveis para o manejo do risco

    Independentemente de como as medidas mitigadoras so categorizadas, elas podem ser aplicadas emqualquer das 5 fases discutidas acima. Uma anlise cuidadosa dos dados disponveis para a relao praga-commodity orientar quais os elementos que podero ser usados.

    PR-COLHEITA

    certificao e gerenciamento da rea produtora (medidas de supresso, biocontrole, Tcnica do InsetoEstril TIE (Sterile Insect Technique SIT);

    cultivo protegido (telados, ensacamento dos frutos); cultivares resistentes ou menos suscetveis; colheita em certos perodos do ano ou com certa idade; disrupo de acasalamento (confuso sexual); controles culturais; stios de produo livres da praga; e baixa prevalncia da espcie alvo continuamente ou em pocas especficas;

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    verificao e subseqente eliminao dos produtos infestados.

    COLHEITA

    limpeza, inspeo e seleo; estgio de maturao; poca da colheita; controle cultural (remoo de hospedeiros maduros, de hospedeiros nativos, limpeza do pomar); e tcnica especfica de colheita e processamento.

    TRATAMENTO PS-COLHEITA E PROCESSAMENTO

    tratamento para matar, esterilizar ou remover a praga ou outros patgenos ou aumentar o tempo deprateleira (fumigao, irradiao, calor, frio, atmosfera controlada, lavagem, escovao, aplicao decera);

    inspeo e classificao; controle cultural incluindo remoo de partes do hospedeiro; certificao das packing houses; e verificao e subseqente eliminao dos produtos infestados.

    TRNSITO E DISTRIBUIO

    tratamento ou processamento em trnsito ou no porto de entrada; restries ao consumidor final, a distribuio da commodity, perodo do ano e portos de entrada; quarentena ps-entrada; inspeo e verificao com subseqente eliminao ou negativa para entrada; rapidez e tipo de transporte utilizado; e limpeza (contineres e meios de transporte livres de contaminao).

    Os critrios mnimos para que uma medida possa ser considerada um componente requerido para osystems approach que a medida: a) seja claramente definida, b) seja descoberta ou j conhecida de ter um nvelde eficcia conhecido, c) seja oficialmente requerida (obrigatria), d) possa ser supervisionada e controlada pelofiscal da ONPF (IPPC, 2002).

    A norma No 14 descreve ainda os trs tipos estruturais que podem ser usados dentro do systems approach: Sistemas de Mitigao uma combinao de procedimentos fitossanitrios oficiais. Sistemas de Qualidade uma combinao de procedimentos fitossanitrios e outros procedimentos.

    Tipicamente esses incluem uma srie de processos planejados para assegurar a qualidade dascommodities, mas que tambm contribuem para a segurana fitossanitria.

    Sistemas de Pontos de Controle equivalente Anlise de Perigos e Pontos Crticos de Controle APPCC (Hazard Analysis Critical Control Point HACCP) usada em segurana alimentar. Isto envolveeventos independentes, rigidamente definidos, ou processos que so medidos, monitorados econtrolados.

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    SYSTEMS APPROACH COMO ALTERNATIVA DE ERRADICAO

    Se o desenvolvimento de um processo de systems approach necessita de uma grande quantidade deinformao, por outro lado, , muitas vezes, a nica alternativa vivel para a exportao de commodities.

    Quando h uma populao residual numa rea de produo de frutas, a erradicao no , no maiornmero de casos, a soluo operacional mais adequada. Os processos de erradicao em reas relativamenteamplas de uma espcie de mosca-das-frutas so tecnicamente possveis, embora economicamente inviveis naquase totalidade dos casos. Quando se acrescenta mais de uma espcie de mosca-das-frutas de importnciaquarentenria no cenrio da erradicao, as dificuldades so multiplicadas geometricamente.

    Pases que foram bem ou mal sucedidos na erradicao de tefritdeos do seu territrio enfrentaram eainda enfrentam grandes dificuldades, notadamente na Amrica Latina, como Mxico, Chile e Argentina. O pasmais bem sucedido nesse aspecto o Japo, que erradicou duas espcies de mosca-das-frutas de todo oarquiplago que forma o pas. Os EUA so bem sucedidos em manter a mosca do mediterrneo (Ceratitiscapitata) fora de seu territrio continental, sempre fustigado por introdues sucessivas. Ainda nos EUA, h doiscasos emblemticos: a Flrida, onde o governo federal e o governo estadual nunca consideraram seriamente aerradicao da mosca-do-caribe, Anastrepha suspensa, espcie extica Flrida, que l foi introduzida por voltade 1930. Embora A. suspensa seja encontrada apenas nas regies mais quentes do Estado, ao sul de Orlando,e em densidades no muito elevadas, nunca a erradicao da espcie entrou seriamente na agenda do UnitedStates Department of Agriculture USDA (equivalente ao Ministrio de Agricultura, Pecuria e Abastecimento MAPA) e do Department of Plant Industry of Florida DPI (equivalente a Secretarias de Agricultura dos Estados).Por outro lado, como a Flrida livre de Ceratitis capitata, o programa preventivo para esta espcie na regio deTampa e Sarasota sustentado pelo USDA por causa da ameaa que essa espcie de tefritdeo representa citricultura do Estado.

    Assim, em relao mosca-do-caribe na Flrida que l ataca citros de forma no muito intensa, asoluo encontrada para exportar grapefruit ao Japo foi o emprego de um protocolo USDA - MAFF Ministry ofAgriculture, Forest and Fishery of Japan, com uma srie de medidas mitigadoras para garantir a seguranaquarentenria. Tipicamente, o programa de exportao de grapefruit da regio central da Flrida para o Japo um dos primeiros casos de systems approach bem documentados. Dentro do protocolo, h os seguintes elementos:baixa prevalncia de Anastrepha suspensa, eliminao de hospedeiros em torno do campo de produo,caracterizao de uma zona tampo (buffer zone), perodo de colheita determinado em razo da baixa populaoda praga-alvo.

    O segundo caso nos EUA o Estado do Hava, que est 3.800 km da costa da Califrnia, no PacficoNorte. um arquiplago com oito ilhas principais, geologicamente jovem e que sofreu a invaso sucessiva deespcies de mosca-das-frutas a partir do sculo 19, culminando hoje com a ocorrncia de espcies de importnciaquarentenria. Apesar de relativamente pequena a rea territorial (16.000 km2), no se cogitou at agora, de formasimilar Florida, a erradicao daquelas espcies de qualquer das ilhas do arquiplago, embora a tecnologiaesteja disponvel e seja vivel sob a tica da economia americana. Alternativamente erradicao, a opo doUSDA e do HDOA The Hawaii Department of Agriculture foi o desenvolvimento de tratamentos quarentenrios,como o ar quente forado, dupla imerso em gua quente e, mais recentemente, o systems approach.

    SYSTEMS APPROACH NO BRASIL

    O systems approach foi aplicado cultura do papaya no Brasil levando-se em conta trs componentesprincipais: baixa prevalncia de tefritdeos nas reas de produo; status de hospedeiro no-preferencial do

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    papaya para Ceratitis capitata e Anastrepha fraterculus; e baixa suscetibilidade do fruto nos estgios inicias dematurao (MARTINS; MALAVASI, 1999; MARTINS; MALAVASI, 2003ab). Como resultado do trabalho coordenadoentre diferentes instituies, o Brasil iniciou as exportaes do mamo papaya para os EUA em setembro de1998. Em termos operacionais, o programa necessita seguir os seguintes procedimentos:

    a) a densidade populacional de Ceratitis capitata deve ser monitorada atravs do controle de pragas;b) as armadilhas devem ser instaladas na densidade de 1 armadilha por ha, sendo metade do tipo

    McPhail e metade do tipo Jackson;c) a colheita de frutos para exportao deve ser feita antes que 1/4 da superfcie da casca esteja amarela

    (estgio 2);d) as plantas do campo de produo devem estar livres de frutos com maturao acima do estgio 2;e) os frutos cados ao cho devem ser recolhidos e destrudos;f) o campo de produo deve ser mantido em boas condies de sanidade e livres de plantas com

    viroses;g) aps a colheita, os frutos devem ser levados imediatamente para a packing house, que totalmente

    protegida contra a entrada das moscas-das-frutas e outros insetos;h) o transporte deve ser feito em paletes telados ou contineres lacrados.

    O programa de systems approach para o mamo papaya foi evoluindo gradualmente com a entrada denovas cultivares e novas reas de produo. As etapas foram as seguintes:

    1. Mamo papaya da cultivar Sunrise Solo produzidos exclusivamente no Esprito Santo.2. Papaya da cultivar Golden produzidos na mesma regio.3. Papaya da cultivar Formosa (Taiung) produzidos na mesma regio.4. Entrada no programa das reas produtoras da regio sul da Bahia e do Estado do Rio Grande do Nortepara todas as cultivares.

    OS DESAFIOS NO PRESENTE E NO FUTURO

    Deve ser ressaltado que o systems approach est diretamente associado ao Manejo Integrado de Pragas MIP e Produo Integrada de Frutas PIF, que objetivam melhorar a qualidade final do produto. Quando seplaneja uma produo voltada para a exportao, h automaticamente uma elevao do nvel tecnolgico que trazassociado ao menor nmero de pragas, menor uso de insumos e menor probabilidade de insetos associados.

    Os principais desafios que a aplicao do conceito de systems approach traz referem-se s ferramentasa serem empregadas. As ferramentas do MIP e da PIF devem ser aplicadas de forma mais consistente dentro dosystems approach. Os pesquisadores do MIP devem estar atentos para a segurana quarentenria. Osentomlogos e fitopatologistas concentram seus esforos fundamentalmente na perda econmica que os agentescausam. A tendncia atual, e mais ainda no futuro, que esses pesquisadores se preocupem tambm com asquestes quarentenrias de forma que as tcnicas, as metodologias e os agentes empregados faam parte dasferramentas de deciso quarentenria.

    O estabelecimento de programas de systems approach requer mais conhecimento, o que significa umforte componente de pesquisa e desenvolvimento. De forma adjacente, necessrio treinamento para o setorprodutivo e para as organizaes fitossanitrias, para que entendam e interfiram positivamente no processo.

    Essas atividades de pesquisa e desenvolvimento so tipicamente multidisciplinares e envolvem as reasde fitotecnia, fitopatologia, entomologia, ecologia, comportamento, dinmica populacional, fisiologia pr e ps-colheita e logstica. H um enorme campo de trabalho que permitir abrir novos mercados para novos produtos,gerando mais emprego e renda, alm de trabalhos cientficos de qualidade.

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    Permanece o desafio da formao dessas equipes multidisciplinares para verificar o status e proporsolues, com mtodos operacionais mais efetivos, de implementao segura e de fcil verificao pelos rgosreguladores.

    O FUTURO DO SYSTEMS APPROACH

    H uma tendncia mundial em estimar os riscos associados s commodities e no somente para umanica praga. Este enfoque muda a forma de manejar o risco quarentenrio e abre enormes perspectivas para aexportao de muitas frutas produzidas em diferentes regies.

    Com as novas normas internacionais sendo implementadas nos diferentes pases, espera-se quegradualmente se aplique o conceito de systems approach como soluo quarentenria. A grande inovao naaplicao desse conceito a ausncia de tratamentos violentos que diminuem a qualidade final da fruta e aincorporao de elementos que foram desenvolvidos em laboratrio. Embora ecologicamente mais aceitvel, aaplicao do systems approach mais difcil e exige um gerenciamento mais complexo em toda a cadeiaprodutiva e nos sistemas de inspeo.

    Em resumo, espera-se que em futuro prximo um maior nmero de commodities sejam incorporadas aosystems approach, que haja forte associao com as tcnicas empregadas no MIP e na PIF e que se possaaplicar o conceito num maior nmero possvel de situaes geogrficas.

    REFERNCIAS

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