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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3 Cadernos PDE I

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE

I

CARTAZES: UMA PROPOSTA DE PRODUÇÃO E LEITURA DE IMAGENS NO

ENSINO DE ARTE1

Mara Adriana Peiter BOTASSOLI2

RESUMO: Este artigo tem como finalidade apresentar o desenvolvimento e os principais resultados da implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica sobre a importância da leitura e produção de imagens em sala de aula, uma vez que estas estão presentes no dia a dia dos alunos, tendo como objeto de estudo a comunicação visual dos cartazes, realizada no Ensino de Arte na turma de 8º ano. As atividades propostas contemplaram 32 horas e foram divididas em etapas. A partir da implementação observou-se que o desenvolvimento e os resultados foram positivos, uma vez que, vivências estéticas e conceitos foram construídos por esses alunos, sob mediação docente. Palavras-chave: Ensino de Arte; Comunicação Visual; Cartazes.

1 INTRODUÇÃO

Este artigo tem como objetivo apresentar o desenvolvimento e os principais

resultados da realização do Projeto de Intervenção Pedagógica no Ensino de Arte,

desenvolvido durante o ano de 2015 com a turma de 8º ano do Ensino Fundamental.

Tal experiência é um componente do Programa de Desenvolvimento Educacional –

PDE, promovido pela Secretaria de Estado da Educação do Governo do Estado do

Paraná, o qual visa o aperfeiçoamento profissional dos professores deste estado no

espaço escolar, bem como o fortalecimento do diálogo entre a Educação Básica e o

Ensino Superior.

Atualmente, muitas críticas vêm sendo feitas aos programas de Formação

Continuada de professores no Brasil, uma vez que estes consideram que todo o corpo

docente se encontra no mesmo nível de formação e de experiência, e assim,

desconsidera as singularidades de cada profissional, oferecendo uma formação

fragmentada e descontextualizada, por meio de ações isoladas da realidade vivenciada

por ele.

1Trabalho realizado sob orientação da professora Desirée Paschoal de Melo – Universidade Estadual do

Centro-Oeste do Paraná - UNICENTRO – Campus Santa Cruz, Guarapuava – PR. 2Professora de Arte da Rede Estadual de Ensino – PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional do

Paraná – Foz do Iguaçu – PR.

Diante dessa realidade, o PDE, com objetivo de superar esse quadro, propõe

um modelo de formação continuada diferente dos demais programas, com uma carga

horária maior, tendo como parceria as Universidades Públicas do Estado, oferecendo

aos professores uma oportunidade de aperfeiçoamento a partir de seu retorno ao meio

acadêmico, e acima de tudo, promovendo encaminhamentos que vão ao encontro de

sua realidade profissional.

Entre as atividades que devem ser desenvolvidas pelo professor PDE, neste

novo modelo de formação oferecido, está em primeiro momento a elaboração do

Projeto de Intervenção Pedagógica, que deve ser pensado a partir dos problemas

vivenciados no cotidiano escolar do qual faz parte, tendo como embasamento as

Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educação Básica para a Rede Estadual de

Ensino (DCEs), documento norteador das ações pedagógicas do Estado do Paraná.

Neste sentido, o projeto idealizado foi pensado e desenvolvido com o intuito de

investigar a produção e leitura de imagens no Ensino de Arte, a partir da comunicação

visual nos cartazes, pois de acordo com o que propõem as DCEs (2008, p.14) “um

sujeito é constituído pela influência do contexto histórico em que vive e das relações

sociais que trava nesse meio, porém este carrega consigo suas singularidades, que

atua na sociedade a partir da forma como a vê e das possibilidades que tem de

participar dela”.

Os cartazes devem ser trabalhados na disciplina de Arte, tendo em vista que a

leitura e produção crítica desse objeto pode fazer com que os alunos desenvolvam, a

partir do fruir e do fazer artístico, um olhar cultural e uma vivência estética no seu

cotidiano, relacionando tempo e espaço, produzindo assim uma compreensão maior

acerca de como o ser humano, ao longo dos tempos, vê, pensa, faz e diz. O aluno

precisa saber o que ele consome enquanto comunicação visual.

Na intenção de tornar o texto mais claro para o leitor, a estrutura dessa unidade

está organizada em três partes. A primeira parte apresenta os pressupostos teóricos, a

qual consiste na revisão de textos, artigos e livros sobre os conteúdos abordados nas

atividades. A segunda parte descreve de modo objetivo e sintético a descrição e análise

da implementação do Projeto de Intervenção. A terceira parte apresenta as

considerações finais sobre a pesquisa-ação.

Diante da implementação das ações pensadas no Projeto de Intervenção

percebeu-se que os alunos passaram a ter um novo olhar diante das mensagens

contidas nos cartazes, desenvolvendo uma leitura crítica sobre como as artes podem

interferir no dia a dia, sem deixar de reconhecer sua função estética, o que influenciará

na sua participação social, assim como propõem as DCEs.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 A linguagem visual e sua propagação

No mundo contemporâneo está-se vivendo o que chamam de “Sociedade da

Informação”, na qual a maioria do conhecimento produzido chega até o homem por

intermédio das diferentes tecnologias, que se valem da linguagem visual, a partir de

imagens.

A linguagem visual passou a fazer parte do cotidiano das pessoas, imagens

produzidas para diversos fins, sejam elas para entretenimento ou comercialização, para

o lúdico ou para incitar o consumo. Moles (2001, p.15) considera que “a civilização

contemporânea constitui uma civilização da imagem”. Vive-se em mundo de imagens,

as quais determinam grande parte das relações no convívio social.

No entanto, sabe-se que a imagem está presente na vida das pessoas desde os

primórdios, basta reporta-se a era primitiva, na qual o ser humano na luta pela

sobrevivência sondava sua presa que era reconhecida pela a imagem de sua pegada.

Hollis (2001, p.02) sobre isso diz “A comunicação visual, em seu sentido mais amplo,

tem uma longa história. Quando o homem primitivo, ao sair à caça, distinguia na lama a

pegada de um animal, o que havia ali era um sinal gráfico”.

Hoje, é visto que há um crescente interesse pelo visual, o que tem feito com que

estudiosos passem a discutir a respeito das imagens que proliferam cada dia mais no

mundo atual. Entre os profissionais estão alguns educadores, os quais defendem que

na escola se faz necessário uma discussão a respeito de uma alfabetização visual, no

que se refere à leitura das imagens e de como essas são lidas e interpretadas pelos

alunos.

Apesar disso, ainda persiste muitas vezes no meio escolar a ênfase na

linguagem verbal e sobre isso Dondis (2003, p.17) relata que a linguagem visual,

(...) é uma esfera em que o sistema educacional se move com lentidão,

monolítica, persistindo ainda uma ênfase no modo verbal, que exclui o restante

da sensibilidade humana, mesmo que, paradoxalmente em muitos casos os

alunos são bombardeados com recursos visuais – dispositivos, filmes, slides,

projeções audiovisuais, mas trata-se de representações que reforçam suas

experiências passivas de consumidores de televisão.

Dessa forma, é papel da escola repensar suas práticas pedagógicas neste

sentido, valorizando as diversas linguagens que hoje circulam no meio social, logo no

cotidiano dos alunos.

2.2 O cartaz e sua evolução histórica

Entre as linguagens que fazem uso da imagem e também da escrita está o

cartaz, sendo que é possível considerar a história de evolução do cartaz concomitante

com a do próprio homem, tendo em vista o surgimento de suas primeiras evidências

ainda nos tempos em que a pedra era utilizada como produção e leitura de imagem. O

primeiro cartaz que já se tenha ouvido falar data o de 1454, sendo ele manuscrito e

sem imagens, de autoria de Saint Flour. Passando ainda pela xilogravura e tipografia,

técnicas que consistem em utilizar madeira ou metal para imprimir no papel letras,

símbolos e imagens.

Porém, o cartaz com a forma que hoje se conhece só passou a existir quando foi

inventada a impressão sobre papel, no período da Idade Média. Esse invento foi um

marco na história, ou seja, a partir disso a Igreja e o Estado passaram a utilizá-lo sob a

forma de monopólio, pois os cartazes eram usados para impor indulgências, anunciar

feiras, festas públicas, convocação de soldados para guerras e até esclarecimentos à

população. A proliferação da propaganda era tão grande que em 1722 a profissão de

colador foi regulamentada.

Seguindo o curso histórico, em 1793 com o invento da litografia pelo austríaco

Alois Senefelder, foi possível o aperfeiçoamento da impressão dos cartazes, o qual

passou a ser mais rápida, o que tornou o cartaz alvo de interesse de muitos artistas.

Segundo Hollis (2001, p.12) “A litografia permitiu que os artistas imprimissem grandes

áreas de modo uniforme, utilizassem cores e pudessem desenhar as suas próprias

letras”, o que decorreu o surgimento do design gráfico.

O pintor Jules Cheret foi um deles. O primeiro trabalho de design impresso em

cores, a partir do processo litográfico deste designer, foi para a ópera Orphéeaux

Enfers.

Segundo Verhagen (2001, p.151)

No início, continham imagens simples ou apenas texto, em preto em branco. As

mudanças na sua forma gráfica e a sua conquista de status aconteceram a

partir de Jules Chéret, artista francês revolucionário dentro da história dos

cartazes, cujos trabalhos ficaram famosos, passaram a ser considerados obras

de arte e logo se tornaram itens de colecionadores.

Este pintor foi o pioneiro na junção de arte e propaganda ao ar livre, juntamente

com alguns colegas pintores colocaram em prática um projeto para transformar as ruas

de Paris em verdadeiras galerias a céu aberto, onde o público tivesse maior acesso à

arte. Fixaram nas ruas parisienses cartazes multicoloridos de vários artistas, o que

ocasionou o surgimento da estreita relação entre arte e propaganda que dura até os

dias de hoje. Há documentos que confirmam que o pintor Toulouse Lautrec trabalhava

como ilustrador e diretor de arte dos cartazes de divulgação dos espetáculos do Moulin

Rouge.

O cartaz comercial ganhou um novo destaque na Europa, após a Primeira

Guerra Mundial, pois as vanguardas artísticas e suas aspirações revolucionaram o

design gráfico, o qual evoluiu, o que acabou refletindo na produção de cartazes, nas

suas formas de reprodução e no uso das cores, textos e técnicas.

Sobre o cartaz e seu desenvolvimento na Europa, num período pós guerra, Hollis

destaca:

Durante a guerra ficou estabelecida a importância do design gráfico, através do

uso de ilustrações, legendas e diagramas que ajudavam a instruir e, também,

através dos signos e símbolos que permitiam a identificação imediata de postos

militares. Essas peças tinham, em comum com os cartazes da época, o design

econômico e o uso de imagens fortes e slogans diretos. (...) Tais cartazes foram

usados pelos governos do mesmo modo que o rádio e a televisão viriam a ser

usados depois, para chamar o cidadão a participar dos esforços de guerra e

refletiam o caráter e o estágio de desenvolvimento do design gráfico em cada

uma das nações que participava da guerra. (HOLLIS 2001, p.25- 26)

Hoje, considerado como uma mídia de apoio para as demais e mais comumente

vista na forma impressa, o cartaz continua em processo de evolução, contando com a

mais alta tecnologia tornou-se interativo e ainda mais persuasivo para com o público

alvo que se destina.

De acordo o Catálogo Cartazes Cubano (2009, p.19) os objetivos do cartaz

podem ser caracterizados como:

Circuito sócio-econômico de venda; e a comunicação de mensagens entre um organismo e a massa. De acordo com estes destinos, são classificados, respectivamente, como cartaz publicitário e cartaz de propaganda. O primeiro tinha originariamente por objetivo, divulgar um dado produto, alardeando suas qualidades, local de venda e preço. Hoje, pretende, sobretudo criar o desejo de aquisição. O cartaz de propaganda, por outro lado, possui basicamente o papel de transmissor de mensagens: atua como difusor de ideias ou faz levar a público a realização de um determinado evento cultural. Seu principal objetivo é a informação.

Há uma variedade de possibilidades de atuação dos cartazes, conforme o objetivo

de sua comunicação. As principais áreas de atuação dos cartazes são: os cartazes de

campanhas políticas, religiosas, sociais e culturais; os cartazes de divulgação de eventos,

espetáculos e exposições; os cartazes de filmes, bandas musicais, modelos e atores; os

cartazes artísticos; os cartazes de anúncios publicitários de produtos ou serviços, entre

outros, nas suas diferentes funções.

2.3 O cartaz e sua função estética

Na linguagem do cartaz há uma dualidade entre suas diferentes funções: da

função estética, simbólica e expressiva a sua função prática, lógica, ordenadora,

utilitária, semântica e referencial. A busca pela função estética dos cartazes refere-se a

composição visual que visa atender o aspecto psicológico e afetivo da percepção

sensorial durante sua apreciação pelo espectador (Lobach, 2001, p. 60), isto é projetos

preocupados com a participação perceptivo-afetiva do espectador por meio de sua

vivencia sensivel.

No contexto atual a criação de cartazes se destaca pelas novas formas visuais,

com o intuito de estabelecer maior número de informação e mais viabilidade na

comunicação com o público-alvo.

A cor é um exemplo disso, pois esta é responsável por chamar a atenção,

influenciando psicologicamente o público. Além disso, é atrativa e embeleza a obra.

Para Sant’Anna, (1990, p. 181),

A cor tem uma ação estimulante sobre os indivíduos eficiência em reter a sua atenção. Quando bem escolhidas e harmonizadas, as cores tornam mais aprazível, mais bela e , portanto, mais atrativa a peça publicitária. E, com isso,

prendem mais a vista do leitor no anúncio e dão prestigio a coisa anunciada.

A tipografia pode ser entendida segundo diferentes conceitos, entre elas, em

oposição à escrita manual, o termo tipografia se refere às formas padronizadas e

predefinidas de desenho da letra.

Quanto às imagens desde tempos primórdios, a forma mais comum do homem

se comunicar era por meio das palavras e das imagens, esta última fala por si só. Com

exceção das diferenças de ordem cultural, sua principal característica é a

universalidade, logo se justifica sua importância para a comunicação visual.

Já a função prática trata dos cartazes preocupados com a legibilidade e

objetividade, satisfazendo as necessidades físicas e fisiológicas de seu espectador

(Lobach, 2001, p.58).

A função prática pode entendida como todas as relações entre um produto e um

usuário que se embasam em efeitos diretos orgânicos corporais.

Sobre essa dualidade de funções, o que parece determinar a predominância de

uma ou de outra função, seja estética ou prática, é a maneira como o designer/artista

organiza visualmente as informações. Isto é, a forma como o designer otimiza a

composição dos elementos estruturais e expressivos (os pontos, as linhas, os planos,

as cores, as tonalidades, os volumes, as texturas, etc) na seleção e/ou criação das

mais variadas possibilidades como: de estrutura, de peso, de tamanho e de forma das

tipografias; de técnicas e de materiais das ilustrações e das fotografias; de tamanho, de

forma e de espessura dos formatos e dos suportes; de qualidade e de refinamento dos

tipos de impressão e de acabamentos. (MELO, 2009, p.78)

Desse modo e diante da experiência vivenciada na prática pedagógica é que

elaborou-se um Projeto de Intervenção que será apresentado a seguir, o qual busca

estimular o aluno a refletir criticamente sobre como as artes podem interferir em nosso

dia a dia, sobretudo, nas mensagens contidas em cartazes e também reconhecendo

sua função estética.

3 RELATO DE UMA PESQUISA- AÇÃO

No primeiro semestre de 2014 foi definido o Projeto de Intervenção Pedagógica,

o qual partiu do problema identificado no campo de atuação, ou seja, diante das

experiências enquanto professora da rede Pública de Ensino, oportunizou conhecer a

realidade de muitos adolescentes, os quais são bombardeados cotidianamente com

imagens, como forma de padronização de comportamentos.

Tendo em vista essa problemática, é que desenvolveu-se uma proposta

pedagógica, com vistas a possibilitar por meio da vivencia artística a reflexão critica

sobre o modo de como a comunicação visual, por meio dos cartazes, intervém no

cotidiano dos alunos.

Quanto ao tipo de pesquisa adotou-se neste estudo uma pesquisa-ação. De

acordo com Ketele e Roegiers (1993) apud Engel (1999, p.182) “A pesquisa-ação é

um tipo de pesquisa participante engajada, em oposição à pesquisa tradicional, que é

considerada como “independente”, “não-reativa” e “objetiva”. Como o próprio nome já

diz, a pesquisa-ação procura unir a pesquisa à ação ou prática”.

Sendo assim, acredita-se que mediante a metodologia de investigação

desempenhada e das análises feitas sobre os resultados, reflexões sobre a prática

educativa surgirão referentes à temática aqui discutida.

Atualmente, muitas manifestações artísticas relacionadas com a comunicação

visual podem ser encontradas em diversas linguagens: no vídeo, na fotografia, arte

digital, na história em quadrinhos, nas publicações gráficas como os jornais, as revistas,

os livros, os outdoors, panfletos e cartazes.

A escolha do estudo de cartazes se deu devido a sua variedade de

possibilidades de atuação em nosso cotidiano, de acordo com o objetivo de sua

comunicação, na qual a imagem tem por objetivo chamar a atenção de espectador. O

cartaz se constitui como um veículo de comunicação de massa, tendo em vista a

reprodução em série e sua afixação em locais públicos, o que permite uma grande

repercussão daquilo que se quer propagar.

Geralmente o cartaz é veiculado na esfera pública, de fácil visualização para um

número maior de pessoas e da forma mais instantânea. “A imagem é percebida quase

que imediatamente no cartaz. De fato, a visão da imagem se faz totalmente clara em

cerca de 1/5 de segundo” (MOLES, 2004, p. 23).

No segundo semestre de 2014 foi definida a Unidade, a qual traz uma sequência

de atividades, que permitem ao aluno compreender como as artes estão relacionadas

ao seu cotidiano, tendo como suporte o cartaz. Este material é direcionado para a

Implementação do Projeto na Escola.

De acordo com documento síntese tal atividade é a elaboração intencional do

professor PDE ao organizar um material didático, enquanto estratégia metodológica,

que sirva aos propósitos de seu Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola.

Para a elaboração deste material primeiramente buscou-se o ter clareza quanto

à intencionalidade de produção, buscando a fundamentação teórica e os

encaminhamentos metodológicos a serem apresentados, de forma a garantir a sua

aplicabilidade na realidade escolar.

No segundo semestre de 2015 aconteceu o Grupo de Trabalho em Rede - GTR,

de 31 de agosto de 2015 a 02 de dezembro de 2015, com a participação de dezessete

professores dos diversos municípios do Paraná, todos vinculados a rede estadual de

educação, os quais realizaram leituras, debates, interações, troca de ideias sobre o

Projeto de Intervenção Pedagógica, o Material Didático Pedagógico e todas as etapas

de implementação do projeto que aconteceu na escola.

Os relatos dos professores demonstraram interesse pelo tema, muitos deles

ressaltaram a importância da leitura de imagens, pois esta quando feita de maneira

consciente, respaldada em uma concepção na qual o aluno é agente na construção dos

conhecimentos, pode proporcionar o desenvolvimento de um olhar crítico em relação ao

mundo, o que vem ao encontro do que propõem as DCEs (2008), quando apontam que

“Trabalhar com as artes visuais sob uma perspectiva histórica e critica, reafirma a

discussão sobre essa área como processo intelectual e sensível que permite um olhar

sobre a realidade humano-social, e as possibilidades de transformação desta realidade”

(PARANÁ, 2008. p.72).

Por meio dos relatos dos professores participantes percebeu-se a grande

preocupação em relação ao fato de que, muitas vezes, a linguagem visual vem sido

relegada a um segundo plano na escola, o que constitui-se num desperdício, uma vez

que, a experiência visual que a criança carrega consigo desde pequena não recebe

tratamento adequado, como se a linguagem verbal fosse única e exclusiva forma de

comunicação que a criança pode exprimir suas emoções, sentimentos e até mesmo

aprender. “Os professores, tradicionalmente, no Brasil, tem medo da imagem na sala de

aula. Da televisão às artes plásticas, a sedução da imagem os assusta, porque não

foram preparados para decodificá-la e usá-la em prol da aprendizagem reflexiva de

seus alunos (BARBOSA, 1988, p. 138)”.

Esses professores em suas discussões concluíram que, por ser a leitura de

imagens tão influente e formadora do olhar crítico, é necessário que a escola,

juntamente com o corpo docente, estejam atentos ao currículo da disciplina de Arte,

pois esta área do conhecimento oportuniza que o aluno tenha contato com as diferentes

linguagens artísticas.

Para Barbosa,

Em nossa vida diária estamos rodeados por imagens impostas pela mídia, vendendo produtos, idéias, conceitos, comportamentos, slogans políticos etc. Como resultado de nossa incapacidade de ler essas imagens, nós aprendemos por meio delas inconscientemente. A educação deveria prestar atenção ao discurso visual. Ensinar a gramática visual e sua sintaxe através da arte e tornar as crianças conscientes da produção humana de alta qualidade é uma forma de prepará-las para compreender e avaliar todo o tipo de imagem, conscientizando-as de que estão aprendendo com estas imagens (BARBOSA, 1998, p. 17).

A implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica ocorreu nos meses de

fevereiro, julho, agosto e início de setembro do ano de 2015, com os alunos do 8º ano

do Colégio Estadual Marechal Arthur da Costa e Silva, na cidade de Medianeira-PR,

totalizando 32 h/a.

Inicialmente apresentou-se a proposta para a direção, equipe pedagógica,

professores e comunidade escolar, os quais deram apoio e se propuseram a

acompanhar e auxiliar no que fosse necessário. Também foi apresentado o projeto para

os alunos do 8º ano do Ensino Fundamental, explicando a forma de trabalho e porque

desenvolver esta proposta, e os seus benefícios em relação a disciplina de Arte. Os

alunos foram estimulados a envolver-se com o processo artístico e com isso

mostraram-se interessados e com muitas expectativas em participar, pois além do

estímulo, atividades que envolvem os aspectos visuais são atrativas para a maioria

deles. Além disso, esclareceu-se que no final das atividades irão produzir alguns

cartazes artísticos sobre temas artísticos que escolherem.

A primeira atividade desenvolvida foi à apresentação da proposta propriamente

dita e o diagnóstico inicial, que teve como objetivo reconhecer os conhecimentos

prévios dos alunos sobre o assunto e apresentar, de forma mais detalhada, as

atividades que seriam realizadas durante a implementação. A sondagem foi feita por

meio de questionamentos e os alunos participaram discutindo cada uma das perguntas,

sob mediação do professor, que buscava saber sobre o que os alunos já sabiam sobre

o tema.

Os alunos levantaram algumas características, função social e estrutura dos

cartazes, o que apontou o ponto de partida para os trabalhos iniciais, pois estes indicam

anterioridade à experiência de nova aprendizagem. Segundo Ausubel (2003, p.85)

“Para se alcançar a aprendizagem significativa é necessário determinar o que o aluno já

sabe e ensinar a partir disto”.

Na segunda etapa, as atividades apresentadas tiveram como objetivo que os

alunos entendessem a imagem como forma de comunicação, sendo que oralmente foi

explicado como o homem primitivo registrava os acontecimentos do dia a dia, os quais

faziam desenhos que representavam animais, objetos e pessoas. Desenhos que

trouxeram informações daquela época, quando a escrita ainda não existia. Os

desenhos eram feitos nas paredes de pedras das cavernas, passando a ser conhecidos

como pictogramas, e considerados como pinturas rupestres.

Para dinamizar a aula foi mostrada uma coletânea de imagens sobre as

primeiras formas de registros dos homens da caverna, explorando todas as imagens,

solicitando que tentassem imaginar o que os primitivos estavam representando. Nesta

atividade os alunos ficaram curiosos e fizeram diversos questionamentos sobre o

assunto, relataram também que esta abordagem já havia sido feita pelo professor de

História, confirmando assim a interdisciplinaridade desta disciplina com o ensino de

arte, embora esta última com enfoque artístico. Freire (1996) esclarece em seus

estudos que o educador em sua função democrática, deve a incitar sua curiosidade de

seus alunos, de modo que desenvolvam a capacidade crítica.

Ainda nesta etapa os alunos registraram em seus cadernos atividades diversas

sobre as imagens apresentadas, assistiram ao video “A história do desenho que virou

letra”, para saber um pouco mais sobre como o homem da caverna registrava o seu dia

a dia, o que despertou nos alunos ainda mais a curiosidade sobre o modo de vida do

homem primitivo.

Foi aproveitado o momento para explicar aos alunos que a arte consiste numa

das primeiras manifestações da humanidade como forma de marcar sua presença,

criando objetos e formas tais como a pintura nas cavernas, templos religiosos, roupas,

quadros, filmes etc. Esta era a forma do homem representar sua vivência no mundo, de

se comunicar através do tempo, expressar suas ideias, sentimentos e sensações para o

outro.

Para finalizar esta etapa foram confeccionados carimbos de isopor de figuras

rupestres juntamente com os alunos, sob orientação do professor. Os alunos

escolheram as figuras. Depois de montados os carimbos os alunos carimbaram seus

cadernos e dos colegas, trocando carimbos entre eles. Foi um momento de

socialização, interação e aprendizagem, pois os alunos se envolveram trocando

materiais e ideias. Atividades práticas sempre prendem a atenção dos alunos.

Na sequência foram desenvolvidas atividades da terceira etapa, as quais

visavam que os alunos compreendessem os aspectos da comunicação e visual e

também reconhecessem a comunicação visual como uma estratégia da arte. Nesta os

alunos construíram coletivamente um conjunto de símbolos com os respectivos

significados, retratando um acontecimento vivido na escola ou a rotina da sala de aula.

Também criaram seu próprio pictograma e apresentaram para sua turma. Ficou

evidente que os alunos se interessaram pelas atividades, pois perguntavam, trocavam

informações, ideias e coletivamente realizaram a atividade proposta, mostrando muito

envolvimento com a mesma.

Outra atividade que também faz parte da terceira etapa referia-se a abordagem

do gênero cartaz, objeto de estudo. Foi esclarecido para os alunos que a Arte usa a

imagem para se comunicar, o que chamamos de comunicação visual, os cartazes são

exemplos disso. O cartaz, por fazer uso de imagens, cores, traços e estilos, tem o

poder de trazer encantamento por parte de quem o observa.

O cartaz ganhou destaque para a propaganda no século XX. Para Hollis (2001,

p.05) “nas ruas das crescentes cidades do final do século XIX, os pôsteres eram uma

expressão da vida econômica, social e cultural, competindo entre si para atrair

compradores para os produtos e público para os entretenimentos”.

Desse modo, inicialmente foram explorados cartazes comuns retirados no

comércio da cidade, sendo analisados coletivamente com os alunos, destacando

nesses não somente a linguagem verbal, mas principalmente as imagens contidas

neles, as cores e os estilos de cada um. Os alunos também foram questionados sobre

quais mensagens estavam contidas nos cartazes, a função dos mesmos, para que

servem, a quem se destinam, o que lhes chamou mais a atenção e etc.

Nesta aula os alunos puderam falar sobre os cartazes que já tinham visto sobre

as mensagens contidas neles e também participar respondendo aos questionamentos.

A etapa seguinte teve como objetivo o aprofundamento sobre os cartazes,

buscando identificar as mensagens trazidas nos cartazes por meio dos aspectos

visuais.

Para isso foram apresentados diversos cartazes, reproduzidos no data show,

mostrando aos alunos sua evolução ao longo dos anos. O primeiro deles foi um modelo

a partir das técnicas com tipografia e xilogravura, mostrando aos alunos como

funcionava esta técnica e qual foi a outra técnica que sobrepôs a essa, ou seja, a

litografia e a cromolitografia, a qual permitia o uso da cor. Essas técnicas despertaram

curiosidade nos alunos.

Figura 1

Tipografia e xilogravura Fonte: http://carocodejaca.wordpress.com/2011/03/24/a-historia-do-cartaz/

Também foram explorados diversos outros cartazes como Belle Époque,

cartazes representando o Cubismo, o Dadaísmo, Surrealismo, de Toulouse-Lautrec e

etc., tais obras foram sendo contextualizadas e analisadas com os alunos. Para atender

as expectativas dos alunos e a suas curiosidades sobre a xilogravura, foi desenvolvida

uma atividade, na qual eles construíram xilogravuras com figuras rupestres. Depois de

confeccionadas as xilogravuras foram expostas num mural na sala de aula. Com esta

atividade prática foi possível os alunos entenderem como funcionava este técnica.

A quinta etapa teve como objetivo entender os elementos fundamentais que

compõem um cartaz. Para isso, foi selecionado o cartaz abaixo e explorado com os

alunos.

Figura 2

Fonte: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=42347

Os alunos observaram no cartaz todas as informações visuais, e registradas no

quadro todas as informações. Estes expressaram emoções e sensações expressadas,

a partir da análise realizada, os quais também destacaram que havia mais imagem e

menos texto.

Nesta atividade discutiu-se a função social do cartaz, a qual não se limita

somente na comunicação, ou seja, a função prática, mas como também sua função

estética, que permite compreender uma visão de mundo, a qual tem reflexo nas

escolhas estéticas registradas no design de cada lugar, suas influências, ideias e

cultura.

Na etapa seguinte foram trabalhadas as cores primárias e secundárias, por meio

de material concreto, no qual os alunos faziam a mistura das cores, e cada nova

descoberta, percebia-se o entusiasmo e uma nova aprendizagem, tendo em vista que a

maioria deles não sabia que da mistura de determinadas cores podem surgir outras.

Na etapa posterior foram propostas atividades sobre os diferentes tipos de letras

tipografia, observadas a partir de jornais, revistas e cartazes. Foi montado um painel

sobre o tema “Paz e Amor”, com recortes de letras. Depois da escrita também

recortaram algumas imagens que retratavam o tema.

Foi uma atividade muito interessante, pois os alunos participaram demonstrando

o que aprenderam sobre a função do cartaz, seu valor artístico, tipo de letras e as

imagens adequadas.

A partir das atividades realizadas percebeu-se que os objetivos propostos

inicialmente foram alcançados, pois os alunos passaram a olhar o cartaz não somente

sob o viés informativo, mas como também artístico. Além disso, o uso da imagem

despertou nos alunos o interesse em participar das atividades, o que possibilitou uma

aprendizagem prazerosa e significativa.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante da constatação da inquietude referente ao trabalho com a linguagem

visual em sala de aula, sob respaldo da ideia de que a linguagem verbal é a única e

exclusiva forma de comunicação que a criança pode exprimir suas emoções,

sentimentos e até mesmo aprender, é que desenvolveu-se uma proposta de trabalho

voltada ao uso da imagem como forma de comunicação.

Inicialmente realizou-se algumas reflexões as quais embasaram e justificaram a

iniciativa, mostrando a importância do trabalho com imagens, materializadas no cartaz,

pois as imagens estão presentes no dia a dia dos alunos, e estes estão em constante

contato com ela, seja na comunicação visual encontradas nos outdoors, nas revistas,

na televisão, na internet, etc. Neste contexto, as disciplinas curriculares têm um

importante papel, em especial, a área de Arte, por meio da inserção de propostas de

produção e leitura de imagens no contexto escolar. É por meio delas que o homem

pode construir e fazer sua própria história.

Finalmente, apresentou-se a Proposta de Implementação na Escola, mostrando

todas as etapas, refletindo sobre os resultados, relacionando com as ideias de

estudiosos do assunto.

Nesta etapa ainda utilizou-se do debate dos professores participantes do GTR,

os quais serviram para sustentar a viabilidade e pertinência das ações realizadas na

implementação.

Ao finalizar a implementação, concluiu-se que, a expectativa inicial, que se

transformou em um plano, por fim colocou-se em prática e assim, permitiu-se a criação

de uma nova realidade, a qual contribuiu para a prática pedagógica dos professores

participantes do GTR e para a construção dos conhecimentos dos alunos.

Ao findar este trabalho, pode-se dizer que a participação no Programa de

Desenvolvimento Educacional – PDE possibilitou um maior aprofundamento teórico

sobre o tema abordado, a análise da atuação profissional, a troca de experiência com

professores da Rede Estadual e o diálogo com a Universidade, imprescindíveis para

novas formas de organização do trabalho pedagógico na escola. Tudo isso representa

um salto qualitativo na vida profissional do professor participante do PDE e uma

oportunidade de contribuir na formação continuada daqueles que participaram do

processo – o que, espera-se, refletir de forma positiva nas salas de aula.

REFERÊNCIAS

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