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R$ 5,00 ISSN 1413 - 1749 FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA Ano 128 • Nº 2.173 • Abril 2010 D EUS , C RISTO E C ARIDADE

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R$ 5,00

ISSN 1

413

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749

F E D E R A Ç Ã O E S P Í R I T A B R A S I L E I R A

Ano 128 • Nº 2.173 • Abr i l 2010D EUS , CR I S TO E CAR I D ADE

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Fundada em 21 de janeiro de 1883

Fundador: AUGUSTO ELIAS DA SILVA

Revista de Espiritismo Cristão

Ano 128 / Abril, 2010 / N o 2.173

ISSN 1413-1749Propriedade e orientação daFEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRADiretor: NESTOR JOÃO MASOTTI

Editor: ALTIVO FERREIRA

Redatores: AFFONSO BORGES GALLEGO SOARES, ANTONIO

CESAR PERRI DE CARVALHO E EVANDRO NOLETO

BEZERRA

Secretário: PAULO DE TARSO DOS REIS LYRA

Gerente: ILCIO BIANCHI

Gerente de Produção: GILBERTO ANDRADE

Equipe de Diagramação: SARAÍ AYRES TORRES, AGADYR

TORRES PEREIRA E CLAUDIO CARVALHO

Equipe de Revisão: MÔNICA DOS SANTOS E WAGNA

CARVALHO

REFORMADOR: Registro de publicação no 121.P.209/73 (DCDP do Departamento de Polícia Federal do Ministério da Justiça)CNPJ 33.644.857/0002-84 • I. E. 81.600.503

Direção e Redação:

Av. L-2 Norte • Q. 603 • Conj. F (SGAN) 70830-030 • Brasília (DF)Tel.: (61) 2101-6150FAX: (61) 3322-0523Home page: http://www.febnet.org.brE-mail: [email protected]

Departamento Editorial e Gráfico:

Rua Sousa Valente, 17 • 20941-040Rio de Janeiro (RJ) • BrasilTel.: (21) 2187-8282 • FAX: (21) 2187-8298E-mails: [email protected]

[email protected]

Projeto gráfico da revista: JULIO MOREIRA

Capa: AGADYR TORRES PEREIRA E CAROLINE VASQUEZ

SumárioExpediente

PARA O BRASIL

Assinatura anual R$ 39,00

Número avulso R$ 5,00

PARA O EXTERIOR

Assinatura anual US$ 35,00

Assinatura de Reformador: Tel.: (21) 2187-8264 • 2187-8274

E-mail: [email protected]

Editorial

Chico Xavier – Mediunidade e Caridade com Jesus e Kardec

Entrevista: Divaldo Pereira Franco

Chico Xavier é o apóstolo do Espiritismo

Esflorando o Evangelho

Mediunidade – Emmanuel

A FEB e o Esperanto

Chico Xavier e o esperanto – Affonso Soares

Conselho Espírita Internacional

Obras de Chico Xavier publicadas em outros idiomas

Seara Espírita

Francisco Cândido Xavier (1910-2002) – Affonso Soares e

Zêus Wantuil

Antes e depois – Richard Simonetti

Sob a tutela de Ismael – Manuel Quintão

Repercussões da atuação de Chico Xavier –

Antonio Cesar Perri de Carvalho

“Parnaso de Além-Túmulo” – Ramiro Gama

Correios e Casa da Moeda homenageiam Chico Xavier

Em dia com o Espiritismo – O Plano Espiritual –

Marta Antunes Moura

Impressões de Quintão sobre Chico Xavier

Em espírito – Emmanuel

Chico, sempre presente – Licurgo Soares de Lacerda Filho

A primeira visita de Chico Xavier ao Rio

A presença de Chico Xavier em Brasília

Trabalho Divino – Maria Dolores

Filme: lançado Chico Xavier

Francisco Cândido Xavier – (Continuação da p. 8)

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4 Reformador • Abr i l 2010122

Editorial

1KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 91. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2008.Q. 886.

mediunidade, faculdade que possibilita ao homem comunicar-se com osEspíritos desencarnados, existe desde que o ser humano se encontra naTerra, tendo sido sempre instrumento da Providência Divina para a evolu-

ção da Humanidade.

A caridade, conforme a entende Jesus, ou seja, “benevolência para com todos,indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas”,1 é, para o homem,a expressão mais elevada da Lei de Amor que emana de Deus.

A Doutrina Espírita, revelada pelos Espíritos superiores, inserida nas obras bási-cas de Allan Kardec, a qual se constitui no Consolador prometido por Jesus, trou-xe-nos a clara compreensão de que somos Espíritos imortais em constante proces-so de evolução, através de múltiplas encarnações, e que existem as leis morais re-gendo a nossa vida, cabendo-nos respeitá-las, em nosso próprio interesse.

Francisco Cândido Xavier, seguindo disciplinadamente os princípios da DoutrinaEspírita, os quais possibilitam melhor compreensão do Evangelho de Jesus, demons-trou a todos nós que estes princípios não são apenas os mais nobres e elevados quese encontram ao alcance de todos os homens, mas, também, que é perfeitamentepossível colocá-los em prática com fidelidade, sem desvios ou distorções.

Pondo a sua mediunidade a serviço do Evangelho, Chico Xavier possibilitou umacompreensão mais aprofundada dos ensinos que a Doutrina Espírita nos apresen-ta, e, tendo por diretriz de vida a prática fiel da caridade, tal como Jesus a ensinoue exemplificou, deixou um roteiro de vida que, se seguido, permitirá que saiamos,gradativa e seguramente, da faixa dos Espíritos, encarnados ou desencarnados, quevivem no círculo vicioso da dor e do engano, para ingressar na faixa dos Espíritosque, pela dedicação ao bem, começam a construir uma paz interior decorrente datranquilidade de consciência, por se esforçarem na vivência da Lei de Amor queemana do Criador e rege a nossa existência.

Sabemos, com a Doutrina Espírita, que Jesus é o Guia e Modelo da Huma-nidade. Agora temos, também, mais próximo de nós, o exemplo de Chico Xavier,que orienta, motiva e serve de referência para o exercício na prática do bem, quenos cabe realizar.

A

Mediunidade e Caridade Chico Xavier –

com Jesus e Kardec

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Reconhecimento e gratidão

Não obstante sabermos, todos os espíritas, que amorte é tão somente uma transição natural, ineren-te à própria vida, e que não significa qualquer perdaessencial para o ser, uma vez que o organismo físico,material, perecível, não passa de revestimento gros-seiro, tomado à Natureza para a ela um dia retornar– não obstante, repetimos, tal compreensão adquiri-da nas fontes sagradas da III Revelação –, os espíritasestamos sensibilizados pelo passamento daqueleque, durante sucessivas décadas, ofereceu aos ho-mens o testemunho da fidelidade aos compromissosassumidos com o Alto para servir de medianeiro en-tre os dois planos de vida. Já não mais temos entrenós, no círculo grosseiro das formas, o muito amadomédium Francisco Cândido Xavier.

Causaria estranheza identificarmos o querido ir-mão com o conteúdo da citação que colhemos daobra de Léon Denis, pois que estaríamos ferindo amemória do nosso homenageado, de cujos traçosinconfundíveis de caráter sempre avultaram a hu-mildade, a simplicidade, reforçadas pela consciênciaque sempre teve de sua mera condição de interme-

diário. Na verdade, a menção de tão profunda tese,desenvolvida pelo eminente discípulo de AllanKardec, não a aplicamos ao saudoso médium, mas,sim, à coorte de missionários aos quais ele serviu deporta-voz no exercício abençoado de seu mandatomediúnico. E era assim que ele, como lúcido estu-dioso e fiel praticante da Doutrina, se via, relem-brando-nos a lição fundamental que nenhum mé-dium pode desprezar: apagar-se, como João Batista,para deixar brilhar a Luzque jorra de MaisAlto. É o que oChico sempre fez,não obstante ha-ver merecido todaa carinhosa evi-dência que lhe ofe-reciam tanto os co-rações sofredores,revigorados pelasbênçãos provenientesde suas faculdades,

Francisco Cândido Xavier(1910-2002)1

“O que demonstra, de modo brilhante, a intervenção de Deus na História, é o aparecimento,no tempo próprio, nas horas solenes, desses grandes missionários, que vêm estender

a mão aos homens e os repor na senda perdida, ensinando-lhes a lei moral, a fraternidade, o amor de seus semelhantes, dando-lhes o grande exemplo do

sacrifício de si pela causa de todos.”2

AF F O N S O SOA R E S E ZÊ U S WA N T U I L

1N. da R.: Reformador, ano 120, n. 2.080A, p. 17-34, jul. 2002.Texto revisado por Affonso Soares, co-autor do artigo.2N. da R.: DÉNIS, Léon. O grande enigma. Rio de Janeiro: FEB,2008. P. 1, cap. 7, p. 101.

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como os corações de boa vontade, encantados comsua produção e sua personalidade de escol.

Chico e a Casa de Ismael

Chico foi o instrumento ideal para que o DivinoMestre consolidasse no Brasil o transplante da Árvo-re do Evangelho, o qual, anunciado em Mateus(21:43), foi confirmado, em 1920, em comunicaçãorecebida na Casa de Ismael através do médium Albi-no Teixeira e, mais tarde, em 1938, na obra do Espí-rito Humberto de Campos, recebida pelo próprioChico, intitulada Brasil, Coração do Mundo, Pátria do

Evangelho. E para que empreendimento de tal vultonão experimentasse os prejuízos que sempre emba-raçam os passos da individualidade encarnada, desdeo início de sua luminosa missão o querido médium,certamente tocado pelo sopro inspiracional de seusMentores do Além, buscou amparo moral e intelec-tual da Casa de Ismael.

Foi de tal ordem a tessitura dos laços que se for-maram entre ele e a Federação, que é impossível dis-sociá-los, no que respeita à concretização no planovisível da parte mais substanciosa da obra que viriainfluir decisivamente para a formação evangélica doMovimento Espírita no Brasil. E, não obstante serainda prematuro um juízo completo sobre a influên-cia que um tal exemplo de fidelidade e dedicaçãoexerceu e irá exercer na disseminação dos princí-pios do Espiritismo, não podemos deixar de aquitranscrever, por sua justeza, o pensamento do escri-tor Hernani T. Sant’Anna, expresso em “À guisa deapresentação” no livro 50 Anos de Parnaso, de ClóvisRamos, a respeito da perspectiva passado-presente--porvir daquele que deixa o plano físico:

Creio que, por mais privilegiados que sejam, falece

aos contemporâneos de alguém a projeção histórica

indispensável para avaliarem com justeza o grau de

sua influência na perspectiva do tempo. Assim, por

mais aptidões julguemos possuir, penso que ainda

não podemos fazer ideia adequada de como será

lembrado, no grande futuro, o nosso tão querido

Francisco Cândido Xavier.

Se, porém, não podemos investir-nos no direito de

ajuizar pelo porvir, podemos certamente recordar o

passado e sentir com toda a força o presente, agindo

de acordo com o nosso entendimento e com o nosso

coração. Se não nos assiste o poder de falar pelas ge-

rações porvindouras, que irão compulsar e aferir a

obra mediúnica do Chico, temos sobre ela os nossos

próprios juízos, na condição de seus contemporâ-

neos e beneficiários diretos – e é nesses juízos que ali-

cerçamos os nossos sentimentos. Para nós, portanto –

e falo por mim, no caso –, o Chico e sua obra (e não

os separo, porque a meu ver intimamente se entro-

sam e se completam) representam a própria conso-

lidação do trabalho codificador de Kardec, quer pela

exuberância de sua contribuição fenomenológica,

quer pelo impacto e pela projeção de seu ideário, quer

pela extraordinária pujança de sua exemplificação.

Primeiros passos na vida terrena

Nosso irmão reencarna em 2 de abril de 1910, napequena cidade de Pedro Leopoldo, em Minas Ge-rais, sendo batizado com o nome de Francisco dePaula Cândido.3 De origem muito humilde, Chicoera filho do operário João Cândido Xavier e da lava-deira Maria João de Deus, desencarnados respectiva-mente em 6/12/1960 e 29/9/1915.

As aparições do Espírito de sua mãe, quando acriança ainda não havia completado cinco anos, as-sinalaram os primeiros fenômenos de clarividência eclauridiência que se ofereciam às suas faculdadesmediúnicas, os quais, se proporcionaram grande ale-gria à sua alma infantil, também lhe valeram castigose incompreensões por parte de quem tudo julgavainvencionices de menino travesso.

Em virtude da escassez de recursos com que afamília numerosa sempre se debatia, o Chico foiobrigado, desde menino, a trabalhar para que em ca-sa não faltasse o mínimo necessário. Fazia seus estu-dos elementares, ao mesmo tempo que se dedicava

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3Só em abril de 1966, Chico pediu a retificação de seu nomeFrancisco de Paula Cândido para Francisco Cândido Xavier, o quelhe foi judicialmente autorizado.

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aos rudes serviços de aprendiz numa tecelagem, on-de seu pai o colocara aos 9 anos. Pela manhã, até as11 horas, o Chico assistia às aulas no grupo escolar,para, em seguida, trabalhar, até as 2 horas da manhãna fábrica de tecidos. Tal regime não permitiu quesua instrução fosse além do grau primário. Chicoainda trabalharia como caixeiro, garçom, ajudantede cozinheiro e, finalmente, como obscuro funcioná-rio do Ministério da Agricultura, condição em que seaposentou, por invalidez, em janeiro de1961, em razão de moléstia incurá-vel nos olhos.

Tais precariedades, de ordemsocial e intelectual, obedeciam,todavia, a plano superior, providen-cial, imunizando o instrumentocontra os daninhos prejuízos dapresunção acadêmica, da indife-rença moral e do materialismo.

Educado sob orientação católica,o Chico atravessaria essa fase pri-mitiva de sua iniciação sob o signoda perplexidade diante de fenôme-nos cuja explicação satisfatóriaaguardaria até o ano de 1927, quan-do, precisamente no dia 7 de maio,assistiria à primeira sessão espírita,promovida pelo casal José HermínioPerácio e Cármen Pena Perácio, parasocorrer um caso de obsessão napessoa de sua irmã Maria XavierPena. Sua intervenção nesse tra-balho foi por meio de preces.

Iniciação no Espiritismo

José Hermínio e Cármen Pena Perácio foram osinstrumentos do Alto para aproximar o Chico daDoutrina Espírita. D. Cármen, portadora de positivasfaculdades mediúnicas, serviu de canal para as pri-meiras orientações da Espiritualidade com vistas àutilização dos dotes do Chico. Em 8/7/1927, no Cen-tro Espírita Luiz Gonzaga, recém-fundado pelo casalPerácio em Pedro Leopoldo, o jovem médium recebe

sua primeira comunicação psicográfica, obedecendoa recomendação dos guias por intermédio de d. Cár-men. Dias depois, em sessão particular na Fazenda Ma-quiné, propriedade dos Perácio, d. Cármen ouve e vêo Espírito Emmanuel, o qual lhe recomenda pedir aoChico que tome de papel e lápis. Chico recebe de suamãe, Maria João de Deus, conselhos em torno dotratamento da irmã Maria Xavier Pena, que se resta-belecia de terrível processo obsessivo.

Ainda antes de se apresentar àsfaculdades mediúnicas do Chi-

co, o que ocorreria em 1931,Emmanuel criara para a

visão de d. Cármen umquadro fluídico, anun-ciador da missão desti-nada ao médium. Foi a18/1/1929, durante uma

sessão no C. E. Luiz Gon-zaga: d. Cármen vê quedo teto choviam livros

sobre a cabeça do Chico esobre todo o grupo.

É nesse ambiente de paze de envolvimento superior

que o Chico se prepara, sob acondução dos guias e o amparocarinhoso do casal Perácio e

dos demais membros do Cen-tro, para os graves desem-

penhos na seara espíri-ta. Nesse período, apósveicular mensagens de

orientação, aconselhamento, de cunho íntimo,familiar, inicia-se a produção literária, pela recep-ção de poesias de elevado conteúdo e fino lavor.Certamente inspirado pelos Maiores do mundo in-visível, o Sr. José Hermínio sugere ao Chico queescreva para Manuel Quintão, vice-presidente da FEB,explicando o que ocorria e pedindo orientação.

Esse contato, decisivo para a vida do Chico, se dáem 1931. O médium inicia correspondência com obrilhante cronista de Casos e Coisas, enviando-lheum punhado de poesias mediunicamente recebidas,

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para que o devotado obreiro da Casa de Ismael ajui-zasse de seu valor literário e doutrinário, bem comoas analisasse do ponto de vista de sua autenticidade.

O “Parnaso”

Antes desse contato, muitas peças ditadas ao Chicoforam consideradas pelos amigos, e mesmo por seuirmão José Cândido, como nascidas da própria la-vra do médium, embora este afirmasse a impossibili-dade de tal fato. À revelia do Chico, enviavam os poe-mas à imprensa espírita (Reformador, O Clarim, Au-

rora) e à imprensa leiga (Jornal das Moças, Gazeta de No-

tícias, Almanaque de Lembranças) sob o nome de F.Xavier. Assustado, pois tinha consciência da profun-da seriedade do assunto, o Chico decide então sub-meter ao exame da Federação Espírita Brasileira osversos que continuava a receber, mas agora assinadospor seus verdadeiros autores, nomes respeitáveis e ilus-tres da literatura luso-brasileira. Manuel Quintão, queera escritor e poeta, não hesita em aceitar a origemmediúnica do material a ele enviado para exame, iden-tificando os autores espirituais pelo inconfundível estilode cada um e estribando-se igualmente na probidademoral daquele que, com humildade e desinteresse,procurava honrar a Verdade. O fruto de tão decisivocontato seria o aparecimento, em julho de 1932, damonumental obra Parnaso de Além-Túmulo, que inau-guraria a fecunda produção do médium, com vistas asustentar os princípios do Espiritismo Cristão no Brasil.

Em Reformador de 1967, páginas 145 a 147, numartigo intitulado “Chico Xavier em 40 anos”, IsmaelGomes Braga evoca esses lances iniciais da trajetóriado saudoso médium, recordando ter sido em 16/2/1930 aprimeira vez que aparecem no órgão da FEB versos me-diúnicos então atribuídos a F. Xavier. Ismael os reapre-senta ao público, juntamente com outras poesias, ain-da atribuídas a F. Xavier, que apareceram em Reformador

de maio de 1930 e julho de 1931, além de outro poemapublicado no Jornal das Moças, de 1931. Nesse artigo,Ismael revela seus autores espirituais: João de Deus,Antero de Quental e Cruz e Souza. (Artigo publicadoem Reformador de julho de 2002, p. 12(202)-14(204).Eis os quatro sonetos:

Os felizes

No triste horror,Destes caminhosCheios de espinhos,E de amargor,

Os pobrezinhos,Filhos da Dor,Têm mais carinhosDo Criador!

Pois sabem ver,Em seu sofrerPela existência,

A caridade,Suma bondadeDa Providência!

João de Deus(De Reformador de 16/2/1930.)

O Cristo de Deus

Lendo M. Quintão

Cristo de Deus, que eras a purezaEterna, absoluta, invariável,Antes que fosse a humana natureza,Estes cosmos – matéria transformável;

Que já eras a fúlgida realeza,Dessa luz soberana, imponderável,O expoente maior dessa grandeza,Da grandeza sublime do Imutável!

Ainda antes da humana inteligência,Eras já todo o Amor, toda a Ciência,Perfeição do perfeito inconcebível;

Foste, és e serás eternamente,O Enviado do Pai onipotente,Cristo-Luz da verdade inconfundível!

Antero de Quental(De Reformador de 16/5/1930.)

(Continua na página 40.)

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Reformador: Como foi seu pri-

meiro encontro com Chico Xavier?

Divaldo: No mês de março de1948, convidado pelo confradeEderlindo Sá Roriz, a visitar BeloHorizonte, durante as minhas fé-rias de funcionário autárquico –foi ele quem me induziu a pro-ferir a primeira palestra na UniãoEspírita Sergipana, no dia 27 de março de 1947, quando residiaem Aracaju, e eu era seu hós-pede – porque ele fora transferi-do com a família para a capitalmineira, após aceitar-lhe o convi-te, em lá chegando, no dia ime-diato, tive a imensa alegria de co-nhecer o venerando médiumChico Xavier, em um encontroinolvidável. Já nos correspondía-mos epistolarmente desde algunsmeses...

Naquela época, habitualmen-te, às terças-feiras, Chico Xaviervisitava a família da dona LucíliaCavalcanti, viúva e fotógrafa, re-sidente na Rua Tupinambás, no

330, térreo (“Foto Minas”), na-quela cidade, a quem era profun-damente vinculado, especial-mente em razão do afeto espiri-tual que dedicava ao jovem Car-los Cavalcanti, que então funda-ra e dirigia a União das Mocida-des Espíritas Nina Arueira. Às17h, com um grupo de amigos,entre os quais, Ederlindo Sá Ro-riz, Arnaldo Rocha e José Mar-tins Peralva Sobrinho, vimoschegar, procedente de PedroLeopoldo, o afável amigo, que lo-go saltou e pôs-se a abraçar-nos

a todos, que formávamos, à portade entrada, um semicírculo...Jovialmente saudou-me e, se-gurando-me pelo braço, convi-

9Abr i l 2010 • Reformador 127

D I VA L D O PE R E I R A FR A N C OEntrevista

Divaldo Pereira Franco comenta sobre seus contatos com Francisco Cândido Xavier acerca do mediunato e da obra do missionário homenageado pelo

Centenário de Nascimento

Chico Xavieré o apóstolo do

Espiritismo

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dou-nos a adentrar na residênciaque lhe era querida.

Reformador: Esteve em outros even-

tos com Chico?

Divaldo: Sim. Estive ao lado de-le em muitos eventos, dentre ou-tros, em algumas das tardes-noi-tes de autógrafos em diversas ci-dades, assim como em atividades,nas quais eu deveria proferirconferência, como ocorreu emUberaba, inúmeras vezes, em di-versos auditórios, inclusive emcomemorações muito especiais.Outrossim, por ocasião do rece-bimento do Diploma de Cida-dão Uberabense, em 1980, queme foi concedido, cuja entregaocorreu no ginásio da cidade,ele proferiu inolvidável palestra,

aliás, como sempre o fazia nasatividades em que ambos parti-cipávamos, antes da conferênciade agradecimento que me estavareservada. Igualmente, encontra-mo-nos por ocasião da propostaque apresentamos para que setornasse candidato ao Prêmio No-bel da Paz 1981 – primeiro ha-vendo falado com ele, que anuiuem receber a homenagem comvistas à divulgação do Espiritis-mo – no Rio de Janeiro, na res-peitável Instituição Espírita Ma-rieta Gaio, em São Cristóvão, comAugusto Cesar Vannucci e ou-tros repórteres, no que resultouem memorável reportagem narevista Manchete. Recordo-me,também, do inesquecível encon-tro na quadra de esportes do Gi-

násio Caio Martins, em Niterói,quando ele foi agraciado com oTítulo de Cidadão Niteroiense,diante de grande público querepletava todo o imenso auditó-rio. Naquela ocasião, ele teve agentileza de deixar alguém à mi-nha espera, na entrada, porquan-to eu proferira uma conferênciaem Campos, naquele Estado, eapós desincumbir-me do mister,viajei àquela cidade, exclusiva-mente para abraçá-lo, conformecombináramos antes por corres-pondência.

Também estive em alguns dosjantares beneficentes promovidospor Mercedes, em São Paulo, emfavor dos irmãos portadores do“fogo selvagem” aos cuidadosdo Lar da Caridade, fundado pordona Aparecida Ferreira, há pou-co desencarnada, dos quais eleparticipava anualmente, havendoeu proferido uma breve palestra,numa dessas ocasiões, no ClubePinheiros, na capital paulistana.

Reformador: Há um livro psicogra-

fado por você e o Chico?

Divaldo: Sim, existe, e chama-se...E o amor continua. É constituídode mensagens por nós ambos psi-cografadas e de autoria, respecti-vamente, dos Espíritos Emmanuele Joanna de Ângelis, prefaciadopelo Espírito Dr. Bezerra de Me-nezes, através dele e deste ser-vidor. Diversos outros livros denossa lavra mediúnica foram hon-rados com prefácios por ele psico-grafados e ditados pelos EspíritosRabindranath Tagore, Emmanuel,Dr. Bezerra de Menezes...

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Divaldo e Chico na “peregrinação ” em Uberaba

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Reformador: O que mais lhe cha-

ma a atenção na vida luminosa de

Chico Xavier?

Divaldo: Tudo, na sua existên-cia, é rico de beleza e de espiri-tualidade. Desde criança, a suavida é assinalada pela comu-nhão direta com os Espíritosnobres, sendo conduzido, passoa passo, pela sabedoria e auste-ridade do nobre Emmanuel, seuguia e amigo, até alcançar o clí-max do ministério, após vencerlongo percurso de sofrimentos ede renúncias, de abnegação e desacrifícios, sem jamais queixar--se, nem reclamar. A sua humil-dade, posta à prova, mil vezes, éo testemunho mais nobre da suagrandiosa missão, que dele fez overdadeiro apóstolo do Espiri-tismo. Em todos os lances, por-tanto, da sua existência, em pú-blico ou na solidão, aplaudidoou tentado a ser empurrado parao ridículo, ele se manteve irreto-cável como uma estrela luminí-fera no velário da noite.

Reformador: Qual sua avaliação

sobre a obra psicográfica de Chico

Xavier?

Divaldo: É-me difícil aquilatar agrandeza da obra mediúnica deque foi instrumento o inesquecí-vel apóstolo mineiro, porquantonão tenho capacidade intelectualpara penetrar-lhe todo o conteú-do histórico, científico, religioso,ético-moral e filosófico. Do pon-to de vista da autenticidade dasmensagens por ele recebidas, àscentenas, existem depoimentosde imortais da Academia Brasi-

leira de Letras, de estudioso dacaligrafia dos missivistas etc.,não me atrevendo a penetrarnesse campo delicado e profun-do. Nada obstante, conforme sevêm confirmando inúmeras dasinformações nessa monumentalobra, veiculadas, por cientistasde renome, que não têm ne-nhum contato com o Espiritis-mo, verificamos quão grandiosa

e profética é a mesma. Ademais,encontra-se perfeitamente inte-grada no contexto da cultura ho-dierna com amplas possibilida-des de entendimento no futuro,sem ferir nenhum dos paradig-mas da Doutrina Espírita.

Reformador: Como avalia a mis-

são do citado médium?

Divaldo: Chico Xavier é, semqualquer possibilidade de dúvi-da, o apóstolo do Espiritismo, nosdois séculos: naquele em que nas-ceu e viveu, bem como no emque desencarnou, respectivamen-te, XX e XXI. Logrou alcançar omediunato, conforme a expres-são do Espírito Jeanne d’Arc, emO Livro dos Médiuns. Ele se tornoua própria missão, sendo muitodifícil separar o homem do após-tolo e o missionário do irmãode todas as criaturas: vegetais,animais e humanas.

Reformador: Ao ensejo do Cente-

nário de Chico Xavier, o que reco-

mendaria aos espíritas?

Divaldo: Após o cuidadoso es-tudo da Codificação e das obrasque lhe são complementares,sugeriria que todos mergulhás-semos o pensamento e a emoçãono estudo cuidadoso e sistema-tizado das obras ímpares recebi-das pelo excelente médium e ab-negado servidor de Jesus. Aosmédiuns, se me é permitido, su-geriria, também, que nele vísse-mos o exemplo máximo do po-der da vontade contra as vicissi-tudes e os desafios, permane-cendo fiel a Jesus e a Kardec, vi-venciando a doutrina liberta-dora, sem alarde, sem fugas psi-cológicas, sem angústias, ricosda paz que o abençoado amigodeixava transparecer no sem-blante, mesmo nas horas maisgraves da sua existência, e deque era portador, irradiando-aem favor de todos aqueles quese lhe acercavam.

11Abr i l 2010 • Reformador 129

Ele se tornoua própriamissão,

sendo muitodifícil

separar o homem

do apóstolo

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erguntei a um amigo qual aimportância de Chico Xa-vier para o Espiritismo:

Respondeu-me:– Antes e depois.– Não entendi.– O Espiritismo pode ser divi-

dido entre antes e depois de Chi-co Xavier.

Embora a Doutrina Espírita sejaindivisível em seus fundamentos,podemos dizer que o Movimento

Espírita no Brasil está perfeitamen-te enquadrado nessa definição.

O início do depois ocorreu em1932, quando o médium tinhaapenas 22 anos, com o lançamen-to do livro Parnaso de Além-Tú-

mulo. Reunia 60 poemas de poetasdesencarnados, nove brasileiros,quatro portuguêses e um anôni-mo. Já na sexta edição, publicadaem 1955, totalizava 259 poemas,com 56 autores luso-brasileiros,entre renomados e anônimos.

Chico demonstrava bem a queviera, assombrando a opinião pú-blica e particularmente os experts.Dizia Buffon (1707-1788) que o

estilo é o homem. É como uma im-pressão digital. Cada qual tem a sua.A técnica do chamado pasticho, co-piar autores, é extremamente com-plexa, com resultados medíocres.Não fora assim e teríamos incon-táveis clones de escritores famosos.

Imagine, caro leitor, um jovemque fez apenas os quatro anos dochamado grupo escolar escrever àmaneira de dezenas de poetas, emsua quase totalidade desconheci-dos para ele.

O livro ainda hoje intriga pes-quisadores interessados em desven-dar os mistérios da psicografia, quepara nós, espíritas, não tem nadade misteriosa. São os defuntos quedão seu recado, do jeito que o fa-ziam quando encarnados, embo-ra, obviamente mudem a temática,superando o imediatismo terres-tre para falar do idealismo celeste.

A partir de então, a Espirituali-dade ofereceria, por intermédio deChico, qual se fora uma incompa-rável linotipo do Além, livros a mão

cheia, como diria Castro Alves, to-talizando, por ocasião da sua de-sencarnação, em 2002, 412 de au-tores desencarnados, psicografa-dos em 72 anos de labores mediú-nicos, com a espantosa média dequase seis livros por ano.

O leitor atento perceberá quea obra de Chico se desdobra cal-cada nos três aspectos básicos daDoutrina Espírita: Ciência, Filo-sofia e Religião.

O próprio Parnaso de Além-Tú-

mulo está nesse contexto. É ciên-

Antese depois

PR I C H A R D S I M O N E T T I

l

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cia, evidenciando a continuidadeda vida física e da possibilidade deintercâmbio com o Além; é filoso-fia no conteúdo das poesias, enfo-cando os problemas existenciais; éreligião em seu aspecto mais no-bre, com abordagens que falam dosanseios de comunhão da criaturacom o Criador.

Evidencia-se, também, um pla-nejamento da Espiritualidade, di-vidindo em duas etapas distintas amissão do médium, a partir dasduas cidades onde residiu.

Em Pedro Leopoldo, de1932 a 1959, Chico recebeuos livros mais importan-tes, conjugando os ro-mances, estudos evan-gélicos e filosóficos deEmmanuel, as narra-tivas de Humberto deCampos e a notávelSérie André Luiz.

Foi nesse períodoo legítimo representan-te do Espírito de Verdade,que veio lembrar os ensi-namentos de Jesus e ofere-cer conhecimentos novos, sur-preendentes, maravilhosos...

A partir de 1960, já em Uberaba,Chico representou o Consolador,recebendo milhares de mensagensde Espíritos desencarnados que seidentificavam junto aos familiares,pela linguagem, expressões, lem-branças, oferecendo-lhes a gloriosanotícia de que continuavam vivos,numa outra dimensão, a recomen-dar-lhes que fossem fortes e firmesno enfrentar as experiências na car-ne, para um reencontro feliz nomundo espiritual em bases de

vitória sobre as provações huma-nas, ensejando-lhes glorioso porvir.

Costuma-se dizer que os gêniosdevem ser apreciados de longe,pois são pessoas de trato difícil,excessivamente orgulhosos de suaobra ou demasiadamente preocu-pados com ela.

Chico Xavier, gênio da mediu-nidade, é uma exceção, já que, tãogrande quanto a faculdade que odistinguiu, foi sua figura humana,a ombrear-se com os mais devota-dos e sinceros discípulos de Jesus.

Procurado incessantemente pormultidões de amigos, necessitados ecuriosos, a todos recebia com aten-ção, oferecendo-lhes a impressãode uma feliz intimidade, fruto de

anos de convivência. Quem con-versava alguns momentos com Chi-co tinha a impressão de que se tra-tava de um velho amigo.

Num gesto muito espontâneo,retribuía imediatamente a mani-festação daqueles que, pretenden-do reverenciá-lo, beijavam-lhe asmãos. Evitava, assim, colocar-se nu-ma posição de superioridade.

Embora declarasse que nuncapassara um dia sem chorar, que-rendo dizer com isso que grandes

eram suas lutas, também nuncadeixou de sorrir, estenden-

do àqueles que o procura-vam bênçãos de confor-

to e alegria, esperança ebom ânimo, ressaltan-do sempre os aspec-tos mais belos e posi-tivos da existência.

Quem participade trabalhos assis-

tenciais, quer em reu-niões mediúnicas ou

no atendimento mate-rial, e mesmo os que, por

força de suas obrigações pro-fissionais, são obrigados a man-

ter contato com muita gente, sabemo quanto é difícil conservar a sere-nidade, o equilíbrio, o bom humor,em face das solicitações alheias.

Semelhantes virtudes ainda sãoteóricas em nós. Temos consciênciade que é preciso ser assim; todavia,elas não moram em nosso cora-ção, exigem muita disciplina, quaseuma violentação de nós mesmospara que as exercitemos.

Não sendo espontaneamente se-renos, equilibrados e bem humora-dos, é fácil nos tornarmos ríspidos,

13Abr i l 2010 • Reformador 131

l

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ou porque as solicitações alheias nospareçam descabidas, o trabalho nospareça excessivo, ou porque deixa-mos que problemas particulares sereflitam em nosso comportamento.

Chico Xavier oferece o exemplodo assistente perfeito.

Estava sempre sorrindo, sempreconfiante, não tinha palavras ríspi-das, nem exasperadas ou agressivas.

E dizia:– Minha gente, Emmanuel ensi-

na que tristeza é cupim no coração,traz moléstia grave. Muitas doençastêm como causa um movimentoexplosivo de cólera, um aborreci-mento, um atrito, um ato de revol-ta, de inconformação pelo desejonão satisfeito. É o coração que rece-be em cheio a punhalada do ódioque alimentamos; é o fígado que sesobrecarrega com a angústia de umorgulho ferido; são os pulmões quese mostram enfraquecidos por fal-tar o oxigênio do otimismo, da con-fiança em nós mesmos e em Deus.É preciso conservar o bom ânimoe perdoar infinitamente, cultivandoo Bem, estabelecendo elos de sim-patia ao redor de nossos passos.

A mensagem maior que os Es-píritos transmitiram nos livrospsicografados por Chico sinteti-za-se no próprio médium:

É a mensagem da fraternidade, aconcepção de que todos somos ir-mãos, filhos do mesmo Pai de infini-to amor e misericórdia, e que tantomais felizes seremos quanto maiora nossa capacidade de vivermos emfunção da felicidade alheia.

Abençoado Chico!

14 Reformador • Abr i l 2010132

l

rmãos, Deus nos abençoeos propósitos sinceros antea sublime efeméride espíri-

ta, que é o Centenário de nossoChico Xavier!

Na condição de humilde ope-rário desta Seara Espírita Cristã,que à frente dos destinos da Fe-deração Espírita Brasileira à épo-ca, representamos a “porta” deentrada do abnegado medianei-ro, para que as “Vozes do Céu”falassem aos homens, em prosae em versos, temos nesta hora odever de agradecimento a tantoempenho, a tanta lealdade, a ta-manha devoção!

A obra começa a ser emoldu-rada, muito embora, no Brasil, ela,desde sua publicidade, tenha me-recido estudo e apreço por partede nossa família espiritista.

Os tempos que se aproximamsão, ao mesmo tempo, desafio mo-ral aos homens e sua efetiva ini-ciação na Luz de Deus!

Não se pode separar luz desombra num mundo como a Ter-ra, e é por isso que dor e ventu-ra são notas do sublime cânticoevolutivo das almas.

À sede, surge a água fresca.Ante a fome, o alimento

nutritivo.

Para a dor, a luz do Amor quebrota da fé!

Chico, como medianeiro, é oleito fecundo do rio onde o lí-quido precioso encontra perfei-to escoadouro.

O mundo necessita da Doutri-na Espírita e a torrente de Luz eCaridade que verte da vida hu-milde e abnegada do filho de Pe-dro Leopoldo é sublime ode à vi-da infinita, com todas as notas deconforto e orientação que fazemdas pelejas terrenas um cursoabençoado de vida e redenção.

Ao mundo inteiro, nós, os hu-mílimos seareiros da VerdadeEvangélica, oferecemos a opulen-ta obra mediúnica de FranciscoCândido Xavier, com a sublimemoldura de sua entrega a Jesus!

Deus nos fortaleça em nossasCaravanas do Consolador e noscubra, em Humanidade, de amore paz!

Manuel Quintão

(Mensagem psicografada pelo médium

Wagner Gomes da Paixão no Centro Espíri-

ta Luiz Gonzaga, em Pedro Leopoldo, Mi-

nas Gerais, durante evento de abertura das

comemorações do Centenário de Chico Xa-

vier, ocorrido no dia 1º de janeiro de 2010.)

Sob a tutelade Ismael

I

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esde o início, a obra psico-gráfica de Chico Xavier pro-voca repercussões. A publi-

cação da obra inaugural – Parna-

so de Além-Túmulo –, em 1932, ge-rou manifestações dos escritoresMenotti Del Picchia e AgrippinoGrieco, identificando os estilos dosdiversos poetas brasileiros e portu-gueses. Após o lançamento de obrasassinadas por Humberto de Cam-pos, surge o processo movido porseus familiares, em 1944, reclaman-do direitos autorais. Chico Xaviere a Federação Espírita Brasileira(FEB) ganharam a causa no Tribu-nal de Apelação do Distrito Fede-ral. O assunto teve destaque naimprensa leiga da época e trans-formou-se no tema do livro A Psi-

cografia ante os Tribunais, de Mi-guel Timponi, editado pela FEB.1

Francisco Cândido Xavier é res-ponsável pela expansão qualita-tiva e quantitativa da literatura es-pírita. Até sua desencarnação fo-ram publicados 412 livros psicográ-ficos.2 Estes têm o valor de com-plementar os textos da Codifica-

ção, mas mantendo as orientaçõesiniciais de Emmanuel no históri-co encontro deste Espírito com omédium, em 1931:“Disciplina, dis-ciplina e disciplina” e de ser “sem-pre fiel a Jesus e a Kardec”.1,3

A obra mediúnica de Chico Xa-vier provocou um grande impac-to no Movimento Espírita brasi-leiro. Com o lançamento de Nosso

Lar, em 1944, inicia-se a chamadaSérie André Luiz, contribuindo

com subsídios para as práticas es-píritas. As obras históricas e de in-terpretações do Novo Testamento,assinadas por Emmanuel, contri-buem para a compreensão da Dou-trina Espírita, notadamente com oslivros que homenageiam e comen-tam as então centenárias obras daCodificação: Religião dos Espíritos,Seara dos Médiuns, Livro da Espe-

rança e Justiça Divina.3

Em função dos atendimentos apessoas que “perderam” entes que-ridos, surgiram as psicografias dasintituladas cartas familiares, des-de os primeiros anos de labor domédium, intensificando-se a par-tir dos anos 1970, gerando deze-nas de livros.

Centenas de livros foram verti-dos para outros idiomas. Fato sig-nificativo é que a Editora MensajeFraternal (Venezuela), com o apoiodo Instituto de Difusão Espírita(Araras, SP), com edições em es-panhol, fez ampla difusão naAmérica Latina. Atualmente, oConselho Espírita Internacional(CEI) tem lançado e divulgado,

Repercussõesda atuação de

Chico Xavier

15Abr i l 2010 • Reformador 133

DAN TO N I O CE S A R PE R R I D E CA RVA L H O

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nos vários Continentes, livros dosEspíritos Emmanuel e André Luizem alemão, espanhol, francês, in-glês e russo.

Durante as sete décadas de la-bor em Pedro Leopoldo e Ubera-ba, Chico Xavier sempre se dedi-cou ao atendimento assistencial eespiritual às pessoas que o procura-vam, com desprendimento, dedica-ção e exemplos de um grande amorpelo próximo.Apoiou e visitou mui-tas instituições assistenciais espíri-tas, notadamente o “Lar da Cari-dade” (Hospital do “Fogo Selva-gem”), de Uberaba. Estas marcasimpressionaram espíritas e não es-píritas, e Chico Xavier tornou-seum ícone do homem de bem.

Embora já existissem reporta-gens sobre o médium, veiculadaspela imprensa, os fatos midiáticosmais marcantes ocorreram com aatuação do jornalista Saulo Gomes,

na antiga TV Tupi, de São Paulo,em uma entrevista pioneira com omédium, em 1968, e, depois, comas apresentações do programaPinga Fogo, em 1971 e 72. Em se-guida, a novela A Viagem foi umsucesso no mesmo canal de TV,alcançando 85% de audiência.Trata-se de adaptação do romancepsicográfico E a Vida Continua...

(Ed. FEB), realizada pela novelistaIvani Ribeiro, com assessoria deJosé Herculano Pires. Essa novelagerou o livro com o título da mes-ma. Em 1994, a TV Globo reapre-sentou a novela com revisão da ci-tada novelista. Foi outro sucessotelevisivo, que estimulou a procurapor livros e por centros espíritas.Na década de 1980, merece desta-que a experiência levada a efeitopelo teatrólogo Augusto César Va-nucci, exibindo a peça Além da Vida

em várias capitais brasileiras. Fil-

mes como Joelma 23o Andar, ba-seado em mensagem do livro Somos

Seis, sensibilizaram milhares de es-pectadores. Em 1995, o sistema LBVde rádios lançou a novela Há Dois

Mil Anos.1 Neste ínterim, muitasoutras peças teatrais foram exibi-das com base em livros psicográ-ficos de Chico Xavier. Por ocasiãode seu Centenário de Nascimento,estão previstos lançamentos defilmes sobre sua vida, Nosso Lar eE a Vida Continua...

Há casos de utilização de textospsicografados por Chico Xavierem tribunais do júri, contribuin-do para a absolvição de acusados.Tais fatos foram comentados e alvode discussões na imprensa leiga.1

A obra mediúnica de Chico Xavierinspirou a fundação e o funciona-mento de inúmeras instituições es-píritas, inclusive da Associação Mé-dico-Espírita de São Paulo, atual-

16 Reformador • Abr i l 2010134

Chico Xavier no Lar da Caridade, em Uberaba

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mente desdobrada em níveis na-cional e internacional. Em nossosdias há produção de dissertações eteses acadêmicas, e publicações deartigos científicos sobre a mediu-nidade e a obra de Chico Xavier.4

Nos anos 1970, Chico Xavier foiagraciado com centenas de títulosde cidadania, outorgados por As-sembleias Legislativas e Câmarasde Vereadores. Principalmente ascerimônias realizadas em São Pauloe Rio de Janeiro ganharam a mí-dia. Em 1980, vicejou o movimentopara se propor a candidatura deChico Xavier ao Prêmio Nobel daPaz 1981. A iniciativa partiu de Au-gusto Cesar Vanucci, diretor da TVGlobo. Constituiu-se um Comitê,e listas percorreram o País comple-tando cerca de dois milhões de assi-naturas. As informações sobre essamovimentação nacional e o resumodas obras psicográficas, em quatroidiomas, foram enfeixados em umvolume, utilizado para a inscrição– que foi aceita – para a candi-datura ao Prêmio Nobel da Paz.Este, foi editado, com prefácio dodeputado federal Freitas Nobre,elemento de proa no citado movi-mento.1,5 Chico Xavier não recebeutal honraria e sabe-se que, geral-mente, é relacionada com a políti-ca internacional. Na sua humilda-de, Chico comentou no início dacampanha em matéria publica-da por Lavoura e Comércio (Ube-raba, 6/3/1980):

[...] Eu, na condição de inseto

humano se fosse convidado a

me pronunciar sobre o mais al-

to vulto da Humanidade, digno

de receber o Prêmio Nobel da

Paz, votaria em Jesus Cristo, en-

tregando-se os benefícios de se-

melhante premiação aos nossos

irmãos internados, nas institui-

ções de assistência social, das

quais Jesus é sempre a inspira-

ção, a força, a bênção e o alicer-

ce de origem.1

Chico Xavier foi eleito o “Minei-ro do Século” em concurso reali-zado pela Rede Globo, em MinasGerais, no ano 2000, e após suadesencarnação foi incluído entreos mais ilustres brasileiros, em vo-tação pela Internet. Por ocasião desua desencarnação, foi decretadoluto oficial em Uberaba e no Esta-do de Minas Gerais, ocorrendomanifestações de diversas autori-dades, inclusive do presidenteFernando Henrique Cardoso:

Grande líder espiritual e figura

querida e admirada pelo Brasil

inteiro, Chico Xavier deixou sua

marca nos corações de todos os

brasileiros que, ao longo de dé-

cadas, aprenderam a respeitar

seu permanente compromisso

com o bem-estar do próximo.6

Em nossos dias, a exemplo desua terra natal, que dispõe da Pra-ça Chico Xavier, há inúmeras ho-menagens com seu nome em lo-gradouros públicos, em institui-ções espíritas e, mais recentemen-te, no trecho da rodovia BR-050,entre a divisa dos Estados de SãoPaulo e Minas Gerais e a divisados Municípios de Uberaba comUberlândia. Embora, certamente,

não fosse o desejo do médium,simples e humilde, elas represen-tam o reconhecimento à históriade vida de um homem de bem!

O trabalho de Chico Xavier cons-tituiu um divisor de águas no Mo-vimento Espírita brasileiro e con-quistou o respeito do povo. Um fa-to simples comprova a abrangên-cia da projeção de sua obra. Bastaobservar a quantidade de pessoasque são vistas lendo seus livros nostransportes coletivos, e as que leeme valorizam os folhetos que passamde mão em mão. Chico Xavier é ohomem do bem e da paz, arautodo Mundo Espiritual!

Referências:1PERRI DE CARVALHO, A. C. Chico Xavier

– O homem e a obra. São Paulo: Edições

USE, 1997. p. 94.2Relação de livros psicografados por Chi-

co Xavier. In: Biografia de Chico Xavier.

Disponível em: <http://www.100anoschico

xavier.com.br/paginas/biografia.html>.

Acesso em 9 de janeiro de 2010.3PERRI DE CARVALHO, A. C. Homenagem

de Emmanuel à Codificação. In: Reforma-

dor, ano 125, n. 2.137, p. 39(157)-40(158),

abr. 2007.4BIBLIOTECA DE OBRAS RARAS. Trabalhos

acadêmicos. Disponível em: <http://www.

febnet.org.br/site/pesquisas.php?SecPad

=50&Sec=387>. Acesso em 9 de janeiro

de 2010.5Resumo das obras psicografadas por

Francisco Cândido Xavier. In: Organização

da Comissão Nacional Pró-Indicação de

Francisco Cândido Xavier ao Prêmio No-

bel da Paz, 1981, São Paulo. p. 534.6Manifestações de respeito e gratidão. In:

Reformador. ed. espec. ano 120, n. 2.180A,

p. 14-16, jul. 2002.

17Abr i l 2010 • Reformador 135

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sta criatura simplese boa, que se cha-ma Francisco Cân-

dido Xavier, graças à mi-sericórdia de Deus, aca-ba de dar um significati-vo e lindo presente aoEspiritismo hodierno –oferecendo-lhe um livrocom poesias de poetas dealém-túmulo, que a suamediunidade limpa e se-gura psicografou.

É tanto mais valioso oseu livro à Doutrina deJesus, quanto se sabe que,emparedado no seu pró-prio sonho de ser humil-de e bom, dono de umainstrução mediana e, mes-mo assim, obtida a golpesde esforço próprio, Fran-cisco Cândido Xavier ob-teve (e obterá, se Deus quiser) poesias do Além,sintetizando culturas variadas e, confessadamentepor ele, acima da que possui, e cuja autenticidade

assombra pela forma es-tilar, pelo lavor idealísticoe pelo sentido caracterís-tico dos que as assinam.

O Espiritismo precisa-va deste livro. Ele só, es-tou certo, fará pensar amuito materialista ou in-crédulo-relativo. Ele é eserá, já agora, a Delenda

Carthago da crítica apai-xonada, ou dos fanáticosdas religiões sem asas;mas, também, sem dúvi-da, é e será um diqueformidável às marés detoda incredulidade. Len-do-o, mesmo sem se co-nhecer o médium e suacultura, tem-se um con-solo e uma certeza imen-sos: Francisco CândidoXavier é um instrumento

limpo, uma harpa afinada e de ouro dos irmãosdo Espaço. E o Espiritismo, mais uma vez, se afir-ma neste princípio soberano e tão discutido e

18 Reformador • Abr i l 2010 136

E

“Parnaso deAlém-Túmulo”

Notas à margem das poesias mediúnicas psicografadas porFrancisco Cândido Xavier

RA M I RO GA M A

Capa de “Parnaso” com novo projeto gráfico

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pouco ainda acreditado ou compreendido; osmortos vivem, melhor e mais do que nós, e podemfalar e escrever por nosso intermédio, tanto oumelhor, como se vivos fossem na Terra.

Eu que milito, graças a Deus, no campo espiri-tista e que até bem pouco militava na corrente li-terária da nova geração, perfilando figuras doBrasil mental, entre as quais a de Augusto dos An-jos – posso, em verdade, dizer da alegria boa e sin-cera, grande e confortadora, que me invadiu a al-ma, ao certificar-me de que todos os versos doParnaso de Além-Túmulo são, de fato, dos poetasque os assinam.

Dos versos de Augusto dos Anjos, psicografa-dos por Francisco Xavier, então, fora um sacrilé-gio pensar o contrário. São bem dele, mas de umAugusto dos Anjos já bem mais espiritualizado,piedoso, cristão, senhor da Verdade Única do Evan-gelho de Jesus e ventilador de temas mais dignosda sua imensa cultura filosófica.

Eu, que lhe conheço todos os versos, linha a linha,que lhe decorei os ritmos, que me extasiei com o seuverbalismo individual e único, tão decantado porEuclides da Cunha, integrando-me naquele Amazo-nas de Belezas – confesso: ao ler, em Parnaso de

Além-Túmulo, “Vozes de uma sombra”, fiquei pro-fundamente encantado. Sim, encantado; sou todoencantamento! Esta a minha impressão.

O Poeta científico do Eu, o torturado, o arma-zenador de dores, o jeremiador pessimista, que ofoi – consanguíneo mental dos Carlyle, dos Dan-te, dos Pascal, dos Pöe e dos Spencer, hoje, é maishumanista, mais geral e nos aparece o mesmo napossança mental, no verbalismo bizarro, na quali-dade e quantidade esplendorosas dos conceitos,mas tão diferente do seu sentir de encarnado!Graças a Deus, que ganhou o que lhe faltava paraser maior e despertar em si o anjinho bom, quepossuía e não sabia ver, quando na Terra.

Vejamos como progrediu, moral e intelectual-mente. No seu verso: “Hino à dor”, ele cantava,quando encarnado:

“Dor! Saúde dos seres que se fanam,Riqueza da alma, físico tesouro,Alegria das glândulas do choroDe onde todas as lágrimas emanam...”

Mas, esquecia-se de dizer que ela não nascede um desígnio divino, como muitos acreditam.Calava-se e, às vezes, se revoltava, como no“Poema negro”, contra os seus males, na maio-ria provindos da falta de resignação e da dúvidamantida com o seu ateísmo, conforme o per-filei. Agora, porém, serena, culta e cristãmente,ele nos afirma:

“A Dor...Não nasce de um desígnio divino,Nem de fatalidades do destinoQue destrói nossas células sensitivas;

Vem-nos dos próprios males que engendramosEm cujo ignoto báratro afundamos,Através de existências sucessivas.”1

Constato, como constatei, em A. dos Anjos, omesmo abusador de: Morte, Dor, Vermes, Matéria

etc. e, como em todo poeta de sua estirpe, o mes-mo repetidor de frases marmóreas, como em “Vo-zes de uma sombra” – filigranas de cinzel, sínteseda ciência de Darwin e de Descartes – provando--nos que seu vocabulário não foi esquecido, masargumentado e enriquecido:

“Como vivem o novo e o obsoleto,O ângulo obtuso e o ângulo reto 2

Dentro das linhas da Geometria...”

Na Terra, dissera:

“O ângulo obtuso, pois, e o ângulo reto,Uma feição humana e outra divina...”

19Abr i l 2010 • Reformador 137

l

1O grifo é meu.

2Idem.

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Assim, também, no “Número infinito”, que é umcontinuador expressivo do “Último número” – feito15 minutos antes de se desprender. Neste, como en-carnado, dizia que tudo morre, pensando ser o seuúltimo número... Agora, desencarnado, certifica-seser ele infinito...

“Último número” (feito como encarnado)

“Hora da minha morte, Hirta, ao meu lado,A ideia estertorava-se... No fundoDo meu entendimento moribundoJazia o último número cansado3

Era de vê-lo, imóvel, resignado,Tragicamente de si mesmo oriundo,Fora da sucessão, estranho ao mundo,Com o reflexo fúnebre do Incriado.

Bradei: – Que fazes ainda no meu crânio?E o último número, atro e subterrâneo,Parecia dizer-me; É tarde, amigo,

Pois que a minha antogenica grandezaNunca vibrou em tua língua presa,Não te abandono mais! Morro contigo!”

“Número infinito” (feito como desencarnado)

“Sístoles e diástoles derradeirasNo hirto peito, rígido e gelado;4

E eu via o último número extenuado

Estertorando sobre as montureiras.

Interregno. Escuridão, ânsia e inferneiras.Depois o ar, o oxigênio eterisadoE depois do oxigênio o ilimitado,Resplendente clarão de horas primeiras.

Busquei a última visão das vistas foscas,O derradeiro Número entre as moscas,À camada telúrica adstrito.

E eu vi, vítima dúctil da desgraça,Vi que cada minuto que se passaÉ nova luz do Número Infinito.”

E, assim, continua o nosso A. dos Anjos, me-lhorado, colocando sua enorme inteligência a ser-viço da Causa da Verdade. E, humanizado e pie-doso, menos herético, mais sábio e esclarecido, noDonde viemos e para onde vamos, mostrando-se--nos um escafandrista dos mares da Verdade e umpesquisador mais seguro das coisas do Infinito –dá pensamento às árvores, humaniza as sombras,penetra a alma do éter e ministra ao mundo in-crédulo lições magníficas da imortalidade da al-ma e da pluralidade dos mundos, através dos ver-sos de ouro de Parnaso de Além-Túmulo: “Voz doInfinito”, “Voz humana”, “Alma”, “Análise”, “Evolu-ção”, “Homo”, “Incógnita” e “Ego sum” – que bempoderiam ser enfeixados, sozinhos, num livro,que excederia de muito o primitivo EU.

Sinto não poder transcrever aqui todos eles.Pois, tão belos, em parte, quanto esses seus últi-mos versos famosos do EU.

Bem nos mostra que a Arte continua sendo-lheo que foi na Terra para a sua inteligência – um es-pelho de Ariel, a refletir sempre a Beleza e a Gran-deza das Obras de Deus!

Graças dou ao Criador por permitir tal graça, quala de lermos autênticos versos de poetas de além-tú-mulo, como os de Augusto dos Anjos. E abençoadaseja, para todo o sempre, a mediunidade ora mani-festada de Francisco Cândido Xavier.5

Fonte: Reformador, ano 50, n. 18, p. 479-481, set. 1932.

20 Reformador • Abr i l 2010 138

3O grifo é meu.

4Idem. Serviu-se do mesmo adjetivo que na poesia anterior.

5Por um tanto extenso o artigo do nosso confrade ilustre e distin-to amigo Ramiro Gama, deixamos para o próximo número doReformador a segunda parte do seu belo e excelente trabalho, a emque fala dos versos dos outros poetas, cujas produções mediúnicasformam o volume – Parnaso de Além-Túmulo. Que ele nos perdoea partição do seu escrito. – N. da R. [Nota da Redação de 1932.]

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21Abr i l 2010 • Reformador 139

Esf lorando o EvangelhoPelo Espírito Emmanuel

“E nos últimos dias acontecerá, diz o Senhor,que do meu espírito derramarei sobre toda carne;

os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão,vossos mancebos terão visões e os

vossos velhos sonharão sonhos.”(ATOS, 2:17.)

Mediunidade

Fonte: XAVIER, Francisco C. Caminho, verdade e vida. Ed. especial. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Cap. 10.

o dia de Pentecostes, Jerusalém estava repleta de forasteiros. Filhos da Me-

sopotâmia, da Frígia, da Líbia, do Egito, cretenses, árabes, partos e romanos

se aglomeravam na praça extensa, quando os discípulos humildes do

Nazareno anunciaram a Boa Nova, atendendo a cada grupo da multidão em seu

idioma particular.

Uma onda de surpresa e de alegria invadiu o espírito geral.

Não faltaram os céticos, no divino concerto, atribuindo à loucura e à embriaguez

a revelação observada. Simão Pedro destaca-se e esclarece que se trata da luz pro-

metida pelos céus à escuridão da carne.

Desde esse dia, as claridades do Pentecostes jorraram sobre o mundo, incessan-

temente. Até aí, os discípulos eram frágeis e indecisos, mas, dessa hora em diante,

quebram as influências do meio, curam os doentes, levantam o espírito dos infor-

tunados, falam aos reis da Terra em nome do Senhor.

O poder de Jesus se lhes comunicara às energias reduzidas.

Estabelecera-se a era da mediunidade, alicerce de todas as realizações do

Cristianismo, através dos séculos.

Contra o seu influxo, trabalham, até hoje, os prejuízos morais que avassalam os

caminhos do homem, mas é sobre a mediunidade, gloriosa luz dos céus oferecida

às criaturas, no Pentecostes, que se edificam as construções espirituais de todas as

comunidades sinceras da Doutrina do Cristo e é ainda ela que, dilatada dos apósto-

los ao círculo de todos os homens, ressurge no Espiritismo cristão, como a alma

imortal do Cristianismo redivivo.

N

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Correios e Casada Moeda

homenageiamChico Xavier

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Fonte: Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos.

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conhecimento atual que te-mos do mundo espiritualse deve, efetivamente, à ex-

cepcional faculdade mediúnica deChico Xavier e à sua exemplar con-duta moral, condições que lhe per-mitiram captar corretamente osverdadeiros ensinos dos Espíritose não ser enganado por mistifica-dores que, infelizmente, abundamna realidade extrafísica.

Neste artigo vamos apresentarapenas breves anotações a respei-to da realidade viva que se estendeno plano imediato à experiênciareencarnatória, pois o assunto émuito vasto.

Os relatos mediúnicos presentesnos livros recebidos pela mediuni-dade do Chico Xavier, sobretudoos do Espírito André Luiz, fornecemsignificativas informações a respeitoda sociedade humana que existe noAlém, cuja organização social fun-damenta-se nos princípios de afini-dade e que pode ser comparada a

“imensa floresta de criações mentais,onde cada Espírito, em processo deevolução e acrisolamento, encon-tra os reflexos de si mesmo”, comoensina Emmanuel.1 André Luiz, poroutro lado, enfatiza “que o planoimediato à residência dos homensjaz subdividido em várias esferas.Assim é com efeito, não do ponto devista do espaço, mas sim sob o pris-ma de condições [de vida]”.2 Con-tudo, o ciclo geofísico, consequen-te da rotação do Planeta em tornodo próprio eixo, não sofre maioresalterações, pois é governado pelas

[...] mesmas leis de gravitação

que controlam a Terra, com os

dias e as noites marcando a con-

ta do tempo, embora os rigores

das estações estejam suprimidos

pelos fatores de ambiente que

asseguram a harmonia da Natu-

reza, estabelecendo clima quase

constante e quase uniforme, co-

mo se os equinócios e solstícios

entrelaçassem as próprias forças,

retificando automaticamente os

excessos de influenciação com

que se dividem.3

A Natureza do plano espiritualreflete as emissões mentais dosseus habitantes, sendo organizadapor elementos semelhantes aos doplano físico, porém mais aperfei-çoados e leves, porque a matériase encontra em outra dimensãovibratória, formada de “elementosatômicos mais complicados [so-fisticados] e sutis, aquém do hi-drogênio e além do urânio [...]”,4

condições que extrapolam a co-nhecida série estequiométrica doselementos químicos.

Nessas condições, sabe-se que nooutro lado da vida as construçõeshumanas e as da Natureza – reser-vatórios hídricos (oceanos, rios, la-gos e fontes), planícies e planaltos,flora (florestas e bosques) e faunadiversificada – utilizam como ma-

O

Em dia com o Espiritismo

O PlanoMA RTA AN T U N E S MO U R A

Espiritual

25Abr i l 2010 • Reformador 143

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téria prima um fluido vivo e multi-

forme, estuante e inestancável, defi-nido como subproduto do fluidocósmico universal, que é “absorvidopela mente humana, em processovitalista semelhante à respiração”.5

Esclarece André Luiz:

Plantas e animais domesticados

pela inteligência humana, duran-

te milênios, podem ser aí aclima-

tados e aprimorados, por deter-

minados períodos de existência,

ao fim dos quais regressam aos

seus núcleos de origem no solo

terrestre, para que avancem na

romagem evolutiva, compensa-

dos com valiosas aquisições de

acrisolamento, pelas quais auxi-

liam a flora e a fauna habituais à

Terra, com os benefícios das cha-

madas mutações espontâneas.6

O número das coletividades hu-manas do plano extrafísico se des-dobra ao infinito, mas “as socie-dades humanas desencarnadas, emquase dois terços, permanecemnaturalmente jungidas, de algumasorte, aos interesses terrenos”.7 Taisorganizações sociais “aglutinam-se

em verdadeiras cidades e vilarejos,com estilos variados, como acon-tece aos burgos terrestres, caracte-rísticos da metrópole ou do cam-po, edificando largos empreendi-mentos de educação e progresso,em favor de si mesmas e em bene-fício dos outros”.8 Contudo, eluci-da o Espírito Abel Gomes:

[...] Além da sepultura, continua-

mos a obra encetada ou somos

escravos do mal que praticamos

na Terra. Por isto, o estado mental

é muito importante nas condições

da matéria rarefeita que a cria-

tura passa a habitar, logo depois

de abandonar o carro fisiológico.9

Sendo assim, há grupamentoshumanos que representam focos deperturbação e há outros assinaladospelo equilíbrio e harmonia espiri-tuais, pois um fato é incontestável:

O homem desencarnado pro-

cura ansiosamente, no Espaço,

as aglomerações afins com o seu

pensamento, de modo a conti-

nuar o mesmo gênero de vida

abandonado na Terra [...].10

Entretanto, nem todos os Espí-ritos têm acesso livre aos diferen-tes grupos, como a propósito lem-bram os Espíritos da Codificação:

Os bons vão a toda parte e as-

sim deve ser, para que possam

exercer sua influência sobre os

maus. Mas as regiões habitadas

pelos bons são interditadas aos

Espíritos imperfeitos, a fim de

não as perturbarem com suas

paixões inferiores.11

Tomando como referência o pla-no físico da Terra, André Luiz nosfornece a seguinte classificação dascomunidades espirituais, para quetenhamos uma ideia panorâmica doassunto (e que não deve ser enten-dida de forma rígida ou absoluta):

• Regiões abismais, também deno-minadas Abismos ou Trevas, situa-das abaixo da superfície terres-tre. São localidades de desolação etristeza. O sofrimento e as paixõesinferiores marcam o semblantedos seus habitantes. Aí vivem mi-lhares de Espíritos que, “preferin-do caminhar às escuras, pela preo-

26 Reformador • Abr i l 2010 144

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cupação egoística que os absorve,costumam cair em precipícios, es-tacionando no fundo do abismopor tempo indeterminado [...]”.12

• Umbral, vasta e heterogênea re-gião localizada na superfície eacima da crosta, é

região de profundo interesse pa-

ra quem esteja na Terra. Concen-

tra-se, aí, tudo o que não tem fi-

nalidade para a vida superior.

[...] Há legiões compactas de al-

mas irresolutas e ignorantes, que

não são suficientemente perver-

sas para serem enviadas a colô-

nias de reparação mais dolorosa,

nem bastante nobres para serem

conduzidas a planos de elevação.

Representam fileiras de habitan-

tes do Umbral, companheiros

imediatos dos homens encarna-

dos, separados deles apenas por

leis vibratórias. Não é de estra-

nhar, portanto, que semelhan-

tes lugares se caracterizem por

grandes perturbações. Lá vivem,

agrupam-se, os revoltados de to-

da espécie. Formam, igualmente,

núcleos invisíveis de notável po-

der, pela concentração das ten-

dências e desejos gerais. [...] É

zona de verdugos e vítimas, de

exploradores e explorados.13

• Colônias de Transição ou de Fron-

teira, encontradas entre o Umbrale as Regiões superiores. Comoexemplo, temos a Colônia “NossoLar”. Nela ainda existe sofrimen-to, mas os seus habitantes, de evo-lução mediana, são mais esclare-cidos, dedicados ao trabalho e à

realização no bem. Tais condi-ções favorecem a Natureza, plenade belezas e harmonias inexisten-tes nos planos inferiores. A Co-lônia possui várias avenidas en-feitadas de árvores frondosas. Oar aí é puro, e a atmosfera am-biental reflete profunda tranqui-lidade espiritual. Não há, porém,qualquer sinal de inércia ou deociosidade, visto que as vias pú-blicas estão sempre repletas deentidades numerosas em cons-tantes atividades, indo e vindo.14

• Esferas superiores, situadas aci-ma das Colônias de Transição,são núcleos de diferentes grausde purificação e, por conseguin-te, de felicidade. Apresentam di-versos níveis de elevação espiri-tual, tal como acontece com asdemais coletividades. Há comu-nidades redimidas, situadas “nasregiões mais elevadas da zonaespiritual da Terra”.15 O habitan-te dessas esferas “vive muito aci-ma de nossas noções de forma,em condições inapreciáveis à nos-sa atual conceituação da vida. Jáperdeu todo o contato direto coma Crosta Terrestre e só poderiafazer-se sentir, por lá, atravésde enviados e missionários degrande poder”.16

Curvamo-nos com muito res-peito e gratidão à grandeza e ex-tensão do trabalho mediúnico vei-culado por Chico Xavier, o Obrei-ro do Senhor, mesmo que ele, emsua simplicidade, haja afirmado:Tenho recolhido as maiores lições

no trabalho do livro [...]. Vejo todos

trabalhando tanto, sinto-me como

uma formiga, muito pequena, em

meio a tanto serviço.17

Referências:1XAVIER, Francisco C. Pensamento e vida.

Pelo Espírito Emmanuel. 18. ed. 1. reimp.

Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 18.2XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, Waldo.

Evolução em dois mundos. Pelo Espírito

André Luiz. 25. ed. 2. reimp. Rio de Janei-

ro: FEB, 2009. P. 1, cap. 13, item Esferas

espirituais, p. 122.3______. ______. Item Vida na Espirituali-

dade, p. 121.4______. ______. Item Fluido vivo, p. 120. 5______. ______. p. 119-120. 6______. ______. Item Vida na Espirituali-

dade, p. 121.7______. ______. P. 2, cap. 7, p. 227.8______. ______. p. 228.9XAVIER, Francisco C. Falando à Terra:

mensagens mediúnicas de vários Espíri-

tos. 6. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002. Cap.

Notícias, p. 66.10______. O consolador. Pelo Espírito Em-

manuel. 28. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro:

FEB, 2009. Q. 148, p. 120.11KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.

Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio

de Janeiro: FEB, 2010. Q. 279.12XAVIER, Francisco C. Nosso lar. Pelo Es-

pírito André Luiz. 60. ed. 2. reimp. Rio de

Janeiro: FEB, 2009. Cap. 44, p. 291.13______.______. Cap. 12, p. 81-82.14______.______. Cap. 8.15______. Obreiros da vida eterna. Pelo

Espírito André Luiz. 33. ed. 2. reimp. Rio

de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 3, p. 59-60.16______.______. p. 60.17NOBRE, Marlene, R. S. Lições de sabe-

doria: Chico Xavier nos 23 anos da Folha

Espírita. 2. ed. São Paulo: FE, 1997. Cap.

24, p. 262.

27Abr i l 2010 • Reformador 145

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a fecundação dos corações humanos, com vis-tas a uma sólida preparação do porvir, os eleva-dos Espíritos condutores da Humanidade tive-

ram em Chico Xavier o instrumento ideal para veicularuma grande quantidade de informações em torno detemas ligados ao Consolador prometido por Jesus.

Referindo-nos a esses temas na matéria sobre ogrande médium, reproduzida nesta edição comemo-rativa de nossa Revista, ali mencionamos, como umadas mais significativas revelações, os ascendentes es-pirituais do esperanto, isto é, o fato de que a genialcriação de Lázaro Luís Zamenhof foi por ele conce-bida e elaborada no mundo dos Espíritos.

Graças às faculdades peregrinas do Chico, o Movimen-to Espírita brasileiro, no momento oportuno, recebeu dasEsferas espirituais, representadas por seu Guia espiritualEmmanuel, a sanção aos trabalhos que, no final da déca-da de 30, se intensificavam em torno da Língua Inter-nacional Neutra. Tal incentivo concretizou-se na mensa-gem que o venerando educador espiritual ditou, em 19de janeiro de 1940, sob o título “A Missão do Esperanto”:

Sim, o Esperanto é lição de fraternidade. Aprendamo-

-la, para sondar, na Terra, o pensamento daqueles que

sofrem e trabalham noutros campos. Com muita pro-

priedade digo: “aprendamo-la”, porque somos tam-

bém companheiros vossos que, havendo conquistado

a expressão universal do pensamento, vos desejamos

o mesmo bem espiritual, de modo a organizarmos

na Terra, os melhores movimentos de unificação.1

A partir de então, diante de tão poderoso estímu-lo, a intermediação do Chico passou também a ser-vir aos ideais esperantistas, encorajando, fortalecen-do e sustentando, não somente os círculos dos espí-ritas devotados à causa da Língua Internacional, masse estendendo igualmente aos esperantistas em geral,graças à inabalável respeitabilidade que sempre ca-racterizou a vida e a produção do médium.

A sanção trazida por Emmanuel teve ainda, comoauspicioso efeito, a permissão a que se manifestas-sem outros Espíritos em favor do ensino, propagan-da e utilização do esperanto, ensejando a divulgaçãomundial dos princípios espíritas, além de contribuir,pela essência universalista de ambos os ideais, para aresistência e combate ao sectarismo.

Ao longo dos anos, através do Chico, manifestam--se, com fecundos incentivos ao ideal do esperanto, ospoetas Cruz e Souza, Abel Gomes, Amaral Ornellas eCastro Alves; os pioneiros desse ideal linguístico noseio do Movimento Espírita, João Ernesto, José Ma-chado Tosta, Francisco Valdomiro Lorenz, EstevinaMagalhães; e, não se referindo especificamente ao es-peranto, mas ao problema linguístico no mundo espi-ritual, os Espíritos André Luiz e Irmão Jacob.

A produção mediúnica desses amigos espirituaisevidencia o elevado apreço do Alto pelo idioma eseus ideais, homenageando-lhe, em peças de excelen-te valor artístico e doutrinário, as suas virtudes, osseus obreiros, os seus objetivos superiores, as suasbelas conquistas. Mas, dentre todas essas manifesta-ções, avulta a que foi psicografada pelo Chico, da au-toria do Espírito Francisco Valdomiro Lorenz, em 19

Chico Xaviere o esperanto

N

28 Reformador • Abr i l 2010 146

A FEB e o Esperanto

AF F O N S O SOA R E S

1Reformador, ano 58, n. 2, p. 18(46)-19(47), fev. 1940.

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de janeiro de 1959, intitulada “O Esperanto comoRevelação”, em que é informada a origem da línguanas esferas espirituais, para a solução do problemalinguístico lá existente.

Verificando as imensas dificuldades para o inter-

câmbio de tribos e povos desencarnados, especialis-

tas espirituais de fonética, etimologia e onomato-

peia empreenderam a formação de um idioma in-

ternacional para entendimento rápido nas regiões

espaciais vizinhas do Globo, multiplicando, em vão,

tentames e experiências, até que um

dos grandes missionários da

Luz, consagra-

do à concórdia,

tomou a si o exa-

me e a solução

do problema.

[...]

Novas perspectivas

descerram-se, pro-

missoras.

Cercando-se de as-

sessores eficientes, o

construtor da unificação ini-

ciou dilatados estudos e, con-

jugando as mais conhecidas

raízes idiomáticas de vários

povos, concretizou, em quase

meio século de trabalho, a sublime realização.

Auxiliado pelas numerosas equipes de colaborado-

res que se lhe afinavam com o ideal, o gênio da con-

fraternização humana, que conhecemos por Lázaro

Luís Zamenhof, engenhara, com a inspiração divina,

o prodígio do Esperanto, estabelecendo-se a institui-

ção de academias respectivas, nos planos espirituais

conexos às nações mais cultas do Planeta.2

No conjunto das obras recebidas mediunicamentepelo Chico, vertidas para o esperanto, figuram: Ação

e Reação (Ago kaj Reago), Há Dois Mil Anos (Anta9

Du Mil Jaroj), No Mundo Maior (En Pli Granda Mon-

do), O Esperanto como Revelação (Esperanto kiel Re-

velacio), Crianças no Além (Infanoj en la Transmondo)O Consolador (La Konsolanto), Nosso Lar (Nia Hejmo),Pai Nosso (Patro Nia), Paulo e Estêvão (Pa9lo kaj Ste-

fano), Pensamento e Vida (Penso kaj Vivo), A Cami-

nho da Luz (Sur la Vojo al la lumo) e Sinal Verde (Ver-

da Signalo).Com base nas suas versões em esperanto, Nosso

Lar foi traduzido para o tcheco e para o japonês,Ação e Reação e A Caminho da Luz para o tcheco, ePai Nosso para o albanês.

Finalizamos esta modesta homenagemao querido Chico, com uma sua ma-

nifestação pessoala respeito do espe-

ranto. Ela está regis-trada no livro Teste-

munhos de Chico Xa-

vier, da autoria deSuely Caldas Schubert,

no capítulo “Aprendero Esperanto”. Vamos

transcrever da carta domédium, de 15 de janei-

ro de 1947, ao então presiden-te da FEB, Antônio Wantuil deFreitas, o trecho pertinente:

[...] Fiquei muito satisfeito com as

tuas boas referências, acerca do novo interesse que

tomaste pelo Esperanto, no curso de teu trabalho

junto ao Novo Testamento. Espero que, mais tarde,

nesta ou noutra esfera, me concederá Jesus a neces-

sária oportunidade de aprender a Língua Interna-

cional. Confiarei no futuro. [...]

Ao Chico, portanto, estará sempre reservado, nocoração da generosa coletividade dos esperantistas,disseminada pelo mundo, um merecido sentimentode gratidão pelo inavaliável serviço que prestou, ecertamente continua prestando, à nobre causa daLíngua Internacional Neutra, como idealista de escole intermediário dos grandes Espíritos que a susten-tam, neste e no outro mundo.

29Abr i l 2010 • Reformador 147

2Reformador, ano 77, n. 4, itens 4 e 5, p. 13(81)-15(83), abr. 1959.

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anuel Quintão (1874--1955), presidente da Fe-deração Espírita Brasileira

(FEB) nos anos 1915, 1918, 1919 e1929, autêntico descobridor do po-tencial do médium Francisco Cândi-do Xavier e intermediário para a pu-blicação de Parnaso de Além-Túmu-

lo, pela FEB, em 1932 – e prefaciadorda mesma –, escreveu o opúsculo deimpressões de viagem Romaria da

Graça, publicado pela FEB, em 1939.Em 37 páginas, Quintão regis-

tra uma das visitas que fez a ChicoXavier, entre os dias 12 e 19 de ou-tubro de 1938, acompanhado deconfrades do Rio de Janeiro e SãoPaulo, incluindo Olímpio Giffoni,também da FEB. O relato refere-sea visitas às reuniões do Centro Es-pírita Luiz Gonzaga e Fazenda Mo-delo, em Pedro Leopoldo; ao Cen-tro Espírita Bittencourt Sampaio,em Sete Lagoas; e à União EspíritaMineira, em Belo Horizonte, sem-pre com o acompanhamento doentão jovem médium.

O autor, de sensibilidade poética,emociona-se ao chegar a Pedro Leo-poldo, evocando desde a passagemde Borba Gato por aqueles sítios, atéos progressos da pequena cidade:

[...] Vimo-la assim, do alto da “Re-

presa” e tivemos a impressão de

uma iluminura de postal colorido.

Que o leitor nos perdoe a di-

gressão. É que, “Pedro Leopol-

do” é o berço de “Chico Xavier”,

o médium de Parnaso de Além-

-Túmulo, de Emmanuel, de [Bra-

sil, Coração do Mundo], Pátria

do Evangelho, enfim de toda uma

floração doutrinária, maravilho-

sa de ideias e fecunda de graças

[...]. (Op. cit., p. 7.)

No primeiro encontro no Cen-tro, manifesta-se Emmanuel, pelapsicofonia, saudando os visitantes,ocorrem comunicações de Espíri-tos familiares dos presentes, e, pelapsicografia Bittencourt Sampaio,escreve o poema “Ave Maria!”. Nosdemais dias, atendendo à solicita-ção de Guillon Ribeiro, tradutor

de A Grande Síntese, e sem conhe-cer a obra, Chico Xavier psicogra-fa uma apresentação para o livro,assinada por Emmanuel, e, tam-bém, um poema alusivo ao mes-mo, de autoria de Augusto dosAnjos. Em outro dia, escreve umapágina sobre o romance Hercula-

num, do Espírito Conde Roches-ter, onde complementa algumasinformações e comenta: “Do pro-veitoso livro que lestes, conheçotodos os personagens. Não se tra-ta de uma ficção, mas de uma for-te expressão de realidade”. Na reu-nião em Sete Lagoas, Chico Xavierpsicografa emocionada carta deum filho, dirigida a um visitanteque chegava da Bahia, e ainda umpoema de Bittencourt Sampaio. Noúltimo dia de reuniões no Centro

Impressões de Quintão

30 Reformador • Abr i l 2010 148

M

sobre Chico Xavier

Visita de Manuel Quintão a Pedro Leopoldo, em 1938, acompanhado deOlímpio Giffoni e outros confrades

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Espírita Luiz Gonzaga, Chico Xavierpsicografa um poema de CasimiroCunha dirigido a Quintão, enchen-do-o de emoção e do que ele con-siderou “prova robustíssima, a mais,das faculdades extraordinárias domédium Xavier”.

Os jornadeiros encerraram aviagem com uma visita à UniãoEspírita Mineira, em Belo Horizon-te, sendo recepcionados pelo pre-sidente, Cícero Pereira. Na oportu-nidade, Chico Xavier psicografouo seguinte soneto:

Oração

Misericordiosíssimo Senhor!Derramai neste templo da

[VerdadeVossas bênçãos de vida e de

[bondade,À luz divina do Consolador.

Sois o manancial de todo o[Amor,

A sublime e perene claridade,Que consola e redime a

[humanidadeNeste mundo de lágrima e de

[dor!

Misericordiosíssimo Cordeiro!Misericórdia e luz do mundo

[inteiro,Dai-nos os bens da fé, da

[humildade!...

Abençoai-nos às luzes deste[templo;

Que em tudo aqui floresça o[bom exemplo

De esforço e luta na [Fraternidade.

Bittencourt Sampaio(Op. cit., p. 36-37.)

Manuel Quintão encerra seu re-lato comentando:

O silvo de locomotivas em ma-

nobra tem, para nós, expressões

agoniadas e lembram que, logo

mais, Mantiqueira abaixo, have-

remos de acarinhar mais fundo o

acúleo da saudade. Saudade das

graças recolhidas e vividas na Ro-

maria da Graça. (Op. cit., p. 37.)

Síntese e trechos extraídos de Romaria

da graça, autoria de Manuel Quintão, Ed.

FEB, 1939.

31Abr i l 2010 • Reformador 149

uem vive, segundo as leis sublimes do espírito, respira em esferadiferente do próprio campo material em que ainda pousa os pés.

Avançada compreensão assinala-lhe a posição íntima.Vale-se do dia qual aprendiz aplicado que estima na permanência

sobre a Terra valioso tempo de aprendizado que não deve menosprezar.Encontra, no trabalho, a dádiva abençoada de elevação e apri-

moramento.Na ignorância alheia, descobre preciosas possibilidades de serviço.Nas dificuldades e aflições da estrada, recolhe recursos à própria

iluminação e engrandecimento.Vê passar obstáculos, como vê correr nuvens.Ama a responsabilidade, mas não se prende à posse.Dirige com devotamento, contudo, foge ao domínio.Ampara sem inclinações doentias.Serve sem escravizar-se.Permanece atento para com as obrigações da sementeira, todavia,

não se inquieta pela colheita, porque sabe que o campo e a planta,o sol e a chuva, a água e o vento pertencem ao Eterno Doador.

Usufrutuário dos bens divinos, onde quer que se encontre, carregaconsigo mesmo, na consciência e no coração, os próprios tesouros.

Bem-aventurado o homem que segue vida afora em espírito!Para ele, a morte aflitiva não é mais que alvorada de novo dia, subli-me transformação e alegre despertar!

Fonte: XAVIER, Francisco C. Pão nosso. Ed. espec. Rio de Janeiro: FEB, 2005.

Cap. 82.

“Mas, se pelo espírito mortificardes as obras da carne, vivereis.”

– PAULO. (Romanos, 8:13.)

Emmanuel

Q

Em espírito

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O Conselho Espírita Internacio-nal (CEI), em parceria com a Fede-ração Espírita Brasileira (FEB), vemeditando numerosos livros espíritasem diferentes idiomas, priorizan-do as obras de Allan Kardec e as deChico Xavier, dentre outros autores.

Como fruto desse trabalho, ho-je estão disponíveis muitas obrasde Chico Xavier, em diferentes paí-ses, as quais são divulgadas nas prin-cipais feiras de livros do mundo,como Frankfurt,Nova York e BuenosAires, só para citar algumas delas.

O Conselho Espírita Interna-cional também dispõe de uma pá-gina na Internet, onde podem serconhecidas todas as obras jápublicadas – <www.edicei.com>– e efetua um trabalho promo-cional permanente nos países emque se falam as línguas nas quaisjá existem livros disponíveis.

Segue a relação das obras doChico, que o CEI publicou, e tam-bém das obras que atualmente es-tão em processo de edição:

Série André Luiz

• Nosso Lar – (francês / inglês // espanhol / alemão / russo)

• Os Mensageiros – (francês / inglês // espanhol / alemão / russo)

• Missionários da Luz – (francês // inglês / espanhol / russo)

• Obreiros da Vida Eterna – (francês / inglês / espanhol // russo)

• No Mundo Maior – (francês /inglês / russo)

• Libertação – (francês / russo)• Entre a Terra e o Céu – (francês)• Nos Domínios da Mediunidade

– (francês / russo)• Ação e Reação – (francês)• Evolução em Dois Mundos –

(francês)• Mecanismos da Mediunidade –

(francês) • Sexo e Destino / (francês)• E a Vida Continua... – (francês /

/ inglês / espanhol)

Romances de Emmanuel

• Paulo e Estêvão – (francês / in-glês)

• Há Dois Mil Anos – (francês // inglês / russo)

• Cinquenta Anos Depois – (fran-cês)

• Ave, Cristo! – (francês)• Renúncia – (francês)

Coleção Fonte Viva

• Vinha de Luz – (francês)

• Pão Nosso – (francês)• Caminho, Verdade e Vida –

(francês / espanhol)• Fonte Viva – (francês)

Outras obras

• O Consolador – (francês)• A Caminho da Luz – (francês)• Jesus no Lar – (francês / inglês) • Seara dos Médiuns – (espanhol)• Justiça Divina – (espanhol)• Religião dos Espíritos – (espa-

nhol)• O Espírito da Verdade – (espa-

nhol)• Vida e Sexo – (espanhol)• Pensamento e Vida – (espanhol)• Agenda Cristã – (húngaro)

Infantis

• Pai Nosso – (inglês)• Cartilha do Bem –(inglês / es-

panhol)• Mensagem do Pequeno Morto –

(inglês / espanhol)

Além destes, continuam sendotraduzidos outros títulos, que seencontram em processo de edi-ção, alguns dos quais poderão serlançados, por ocasião do 3o Con-gresso Espírita Brasileiro.

Obras de Chico Xavier

32 Reformador • Abr i l 2010150

Conselho Espírita Internacional

publicadas em outros idiomas

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erta vez, o poeta alemãoEugen Berthold FriedrichBrecht (1898-1956) escreveu:

Há homens que lutam um dia,

[e são bons;

Há outros que lutam um ano, e

[são melhores;

Há aqueles que lutam muitos

[anos, e são muito bons;

Porém, há os que lutam toda a

[vida;

Estes são os imprescindíveis.1

Já foram feitas várias conside-rações sobre o texto inspirador deBrecht, mas, hoje, não é tarefa fá-cil perceber alguém que tenha seencaixado de forma tão precisa noconceito de imprescindibilidadecomo o médium Francisco Cân-dido Xavier.

É óbvio que Chico Xavier nãotrabalhou individualmente, e bemsabemos que a obra gestada pormeio de suas mãos não era de suaautoria, e sim dos Espíritos que de-le se cercaram. Tal condição chegaa convencer alguns desavisados

companheiros de que Chico teriasido um mero coadjuvante, agindonos bastidores do texto mediúnico.Porém, nós, sabedores das comple-xidades que envolvem o trato me-diúnico, temos a convicção de que,em toda a história da mediunida-de, bem poucos foram os médiunsque reuniram características sufi-cientes para realizar a tarefa quefoi confiada a Chico Xavier.

Médiuns do quilate de Chico nãosão encontrados com facilidade. Pa-ra cumprir seu mandato, para “lu-tar” suas batalhas, não bastaria ter acapacidade mediúnica. Na verdade,historicamente, vários possuíramrecursos mediúnicos muito maisassombrosos que os apresentadospelo médium pedro-leopoldense.

Entretanto, quais poderiam reu-nir em torno da capacidade mediú-nica tantas virtudes como as queo médium possuía? Quais foramdotados de tanta disciplina, humil-dade, resignação, paciência, esque-cimento de seus próprios interes-ses e amor pelos que, desespera-dos, buscavam consolo e amparo?

Sem esses atributos, decerto,Espíritos como Emmanuel não lo-grariam tanto êxito em transmitir

mensagens de tão elevado cunhomoral-religioso. André Luiz nãoencontraria terreno favorável paradescrever com tanta exatidão o quese passa no mundo espiritual. Poe-tas do Além não se deparariam comrecursos tão inspiradores para poe-tizar seus sentimentos. Filhos desen-carnados em tenra idade não en-contrariam o carinho necessáriopara conseguir acalmar os coraçõesaflitos de tantas amarguradas mães.

Depois de cumprida sua respei-tável missão, Chico partiu em 30de junho de 2002. Muitos lamen-tam sua ausência, saudosos de suapresença física. Mesmo tomadospela legitimidade da saudade, nãopodemos esquecer que, na condi-ção de Espírito, Chico permanecevivo. Agora com suas virtudes en-grandecidas em razão da liberda-de espiritual que conquistou.

Além disso, lembremo-nos deque ele estará sempre presente naslinhas contidas em centenas deobras que auxiliou a escrever, pormeio de sua virtuosa mediunidade,e que hoje servem de referência atodos aqueles que buscam uma ro-ta para prosseguir com mais segu-rança na jornada terrena...

Chico,sempre presente

CL I C U RG O SOA R E S D E LAC E R DA F I L H O

1BRECHT, Berthold. Poemas 1913-1956.6. ed. Editora 34, 2003.

33Abr i l 2010 • Reformador 151

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Foi a 7 de junho de 1936 que o médium FranciscoCândido Xavier veio, pela primeira vez, ao Rio deJaneiro, a serviço da Repartição de Pedro Leopoldo,onde trabalhava.

Aqui chegando, foi recebido por Manuel Quintão,que o levou a ver as belezas naturais da terra carioca,o mar principalmente, que o médium sempre sonha-ra em ver, frente a frente.

Solucionados os problemas da Repartição, e apósoutros passeios pela cidade maravilhosa e visitas apessoas de suas relações, Chico Xavier compareceu, naquarta-feira, ao Grupo Ismael, célula-máter da FEB.

Antes, porém, o Diário da Noite descobre que omédium se achava hospedado na casa do Quintão.O repórter do conhecido jornal carioca invade o “es-conderijo” e obtém, após séria resistência, uma re-portagem com o médium, boa no todo, apesar de al-gumas omissões e cincas do repórter. Fez o mesmo, aseguir, o jornal Pátria.

À noite, no Grupo Ismael, Chico Xavier psicogra-fou sucessivamente sonetos de Cruz e Souza, Autade Souza e Hermes Fontes, bem como excelente pá-gina doutrinária, em prosa, do Espírito BittencourtSampaio.

Na quinta-feira, em casa de Quintão, onde ChicoXavier já havia recebido espontaneamente a signi-ficativa crônica – “A Casa de Ismael”, do EspíritoHumberto de Campos, escrito que na ocasião foi es-tampado nos jornais acima citados e que se acha pu-blicado no livro Crônicas de Além-Túmulo –, reali-zou-se uma sessão íntima, na qual, por intermédiodo jovem de Pedro Leopoldo, uma filha de Quintão,desencarnada, se identificou nos mais mínimos deta-lhes, só conhecidos dos membros da família, trazen-do a todos a inabalável certeza de sua presença.

Sexta-feira, Chico Xavier passou o dia a passear ea visitar alguns confrades, e, à noite, participou dareunião pública da Federação Espírita Brasileira, emsua sede à Avenida Passos.

Perante um milhar de assistentes, o médium rece-beu o soneto “Templo da paz”, do Espírito João de Deus,e, logo a seguir, a magistral mensagem de Emmanuelintitulada – “Pela Revivescência do Cristianismo”, in-cluída, posteriormente, no livro – Emmanuel.

No dia imediato, Chico Xavier se despedia, na antigagare Pedro II,dos diretores da Federação, levando os abra-ços e os votos de felicidades da família espírita carioca.

Em complemento a essa súmula recordativa daprimeira visita de Francisco Cândido Xavier ao Riode Janeiro, inserimos, em seguida, a mensagem deBittencourt Sampaio, a que acima nos referimos,bem como o soneto de Cruz e Souza recebido namesma ocasião:

Meus amigos.Glória a Deus nas alturas e paz na Terra aos homens

de boa vontade. Meu coração se afoga subitamenteno pranto, lembrando-me de que todos nos podería-mos encontrar no divino banquete. O mundo, po-rém, atraiu grande parte dos nossos companheiroscom as seduções de seus efêmeros prazeres. Entre-tanto, os baluartes do templo de Ismael permaneceminabaláveis, edificados na rocha das grandes e conso-ladoras verdades do Evangelho de Jesus.

Minha voz, amigos, é hoje mais familiar e mais ín-tima. Substituindo, no momento, aquele cuja tarefavem sendo penosamente cumprida, está o nosso ir-mão Xavier, para vos transmitir a minha palavra de

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A primeira visita de

Chico Xavier ao RIO

l

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companheiro e de amigo. Não me dirijo a vós senãopara vos falar ao coração, muitas vezes despedaçado,ao longo do caminho, pelas perfídias atrozes de to-dos aqueles que concentram suas energias no ataqueao instituto do Bem, à palavra do Evangelho e ao es-tatuto da Verdade.

Mas, filhos, se o espaço que vos é vizinho estácheio de organizações poderosas do mal, objetivandoa destruição da obra comum, há uma esfera divina,de onde partem os alvitres valiosos, a inspiraçãoprovidencial, para quantos aqui mourejam com o pro-pósito de bem servirem à causa da luz e da verdade.

Não necessito alongar-me em considerações sobrea grande e sublime tarefa do Brasil, como orientador,no seio dos povos, da revivescência do Cristianismo,restabelecendo-lhe as verdades fecundas, nem preci-so encarecer a magnitude da obra do Evangelho,problemas esses de elevado interesse espiritual paraas vossas coletividades e cuja solução já procurei in-dicar, trazendo-vos, espontaneamente, a minha pala-vra humilde de miserável servo de Jesus.

Agora, amigos, cabe-me solicitar a vossa atençãopara a continuidade do nosso programa, traçado hámais de cinquenta anos.

A Federação não pode prescindir da célula pri-mordial do seu organismo, representada pelo San-tuário de Ismael, onde cada um afina a sua mentepara a tarefa do sacrifício e da abnegação, em prol dacausa da Verdade, nem pode desviar-se do seu rotei-ro, delineado dentro do Evangelho, com o objetivoda formação da mentalidade essencialmente cristã.

Todas as questões científicas, no seio da doutrina,repetimo-lo, têm caráter secundário, servindo apenasde acessórios na expansão das realidades espiritualistas.

Na atualidade, mais do que tudo, necessita-se daformação dos espíritas, da disciplina cristã, da com-preensão dos deveres individuais, ante as excelênciasda doutrina, a fim de que se possam atacar os gran-des cometimentos.

Firmai-vos na orientação que vindes observando,sem embargo das ideologias ocas que vos espreitamno caminho das experiências penosas. Somente den-tro das características morais e religiosas pode o Es-piritismo cooperar na evolução da Humanidade.

As criaturas humanas se envenenaram com o ex-cesso de investigações e de empreendimentos cientí-ficos, para os quais não prepararam seus corações eseus espíritos. Derivativo lógico dessa ânsia mal diri-gida de conhecer a verdade é o estado atual de con-fusionismo, em que se debatem todos os setores dasatividades terrenas, no campo social e político. Nãoque condenemos a curiosidade, porquanto ela repre-senta os pródromos de todos os conhecimentos;mas, é que acima de tudo se faz necessário o métodoe a legitimidade da compreensão individual e coletiva.

Preparai-vos, portanto, preparando simultanea-mente os vossos irmãos em Humanidade, dentro doensinamento cristão, e amanhã compreendereis, senão puderdes entender ainda hoje, a sublimidade danossa tarefa comum e a grandeza dos seus objetivos.

Que Maria derrame sobre os vossos Espíritos asua bênção e que o divino Mestre agasalhe sob omanto acolhedor da sua misericórdia todas as espe-ranças e anseios de vossos corações.

Templo de IsmaelNeste templo de amor profundo e puro,Que as desgraças e as dores alivia,Ouvem-se vozes da Sabedoria,Clarificando estradas do futuro.

Porto luminosíssimo e seguro,Onde se encontra a doce eucaristiaDo Evangelho da Paz e da Alegria,Luz entre as sombras do caminho escuro...

Nestas portas que acolhem desgraçados,Infelizes, sedentos e esfomeados,Ouve-se a voz do amor, profunda e imensa.

É Ismael consolando os sofredores,Vendo seu templo esplêndido de flores,Cheias da luz suavíssima da crença.

Fonte: Reformador, ano 85, n. 7, p. 21(161)-22(162), jul. 1967.Transcrito de Reformador, ano 126, n. 2.156, p. 16(414)-17(415),nov. 2008.

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F. L. Bittencourt Sampaio

Cruz e Souza

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Para coroamento de trabalhos tão profícuos,1 aFEB programara uma sessão pública às 20h30 dedomingo, com a presença do médium FranciscoCândido Xavier, que aquiesceu ao convite que lhefora dirigido. Assim, por volta das 18h desse dia[7/1/1973], todos os participantes se dirigirampara a sede da FEB Seção-Brasília, que já começa-va a encher-se de público. O presidente, acompa-nhado dos diretores, postou-se à entrada do edifí-cio, a esperar Chico Xavier, que chegou às 18h30.Logo após os primeiros cumprimentos, ChicoXavier, ladeado pelo presidente e diretores, fezuma visita às instalações e jardins para, em segui-da, participar de uma reunião informal, no salãode reuniões, com todos os membros do CFN.

De início, o presidente da FEB dirigiu uma sauda-ção fraterna ao infatigável medianeiro do MundoMaior, fazendo-lhe entrega, na ocasião, a título de tributo de reconhecimento, de um exemplar daedição comemorativa do Parnaso de Além-Túmulo,com uma dedicatória subscrita por todos os dire-tores da Casa de Ismael. A seguir, passou a palavraa Chico Xavier, que se dirigiu aos presentes emexpressões repassadas de emoção e humildade, fa-zendo marejar os olhos de quantos ali se encon-travam. Logo após, houve uma confraternizaçãogeral, durante a qual todos tiveram ocasião de pa-lestrar com o querido companheiro.

Às 20h15, precisamente, o presidente da FEBconvidou os companheiros a se dirigirem para osalão de reuniões públicas, que já se encontrava su-perlotado, com centenas de pessoas postadas de pé,nos corredores laterais e ao fundo do salão. Os re-

A presença de

1N. da R.: Referência à Reunião do Conselho Federativo Nacionalda FEB, que se realizara de 5 a 7 de janeiro de 1973.

Sessão Pública: Luciano dos Anjos, Abelardo Idalgo Magalhães, Francisco Cândido Xavier, Armando de Oliveira Assis, Antônio Fernandes Soares, José Antônio de S. Thiago e Francisco Thiesen

Chico Xavier em Brasília

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presentantes das Federativas estaduais tomaram lu-gar em duas bancadas situadas ao lado dos extre-mos da mesa da presidência e na primeira fila debancos do recinto.

À mesa da presidência tomaram assento o presi-dente e os diretores da FEB, o assistente do pre-sidente, o orador da noite, Dr. José Antônio de SãoThiago, presidente da Federação Espírita Catari-nense, e o médium Francisco Cândido Xavier, quepela primeira vez comparecia a um ato públicodessa natureza em Brasília, o que motivou intensodocumentário levado a efeito pelos jornais, rádiose TVs locais.

Durante o transcurso da reunião, enquanto fala-va o Dr. José São Thiago, Chico Xavier recebeu psi-cograficamente uma mensagem subscrita por Em-manuel e duas poesias, uma de Americano do Bra-sil e outra de autoria de Pedro de Alcântara, trans-critas a seguir. Emmanuel alude expressamente à“Casa de Ismael” e destaca o apelo a Jesus para a compreensão de que “Deus não nos cria pelo sis-tema de produção em massa”, conclamando a to-dos, afinal, ao entendimento e à harmonia. Ameri-cano do Brasil, por seu turno, pede em versos ale-xandrinos as bênçãos do Criador para Brasília, cujainspiração construirá a Nova Humanidade.

Finalmente, Pedro de Alcântara, em decassíla-bos, decanta a beleza natural e espiritual de Brasí-

lia. Importa acentuar, a propósito, que tanto a men-sagem quanto os dois sonetos foram psicografadosem três tipos diferentes de letra, sendo que a assi-natura de Pedro de Alcântara apresenta caracteresde grande similitude com a do Imperador enquan-to encarnado.

Senhor Jesus!

Reunidos na Casa de Ismael, rogamos para quenos abençoes os propósitos de servir ante os pro-blemas da atualidade terrestre.

Deixa-nos saber que estamos todos interliga-dos em teu coração compassivo e sábio, para quenão venhamos a desertar da fraternidade que nosreúne!...

Orienta-nos o raciocínio, de modo a verificar-mos que as nossas necessidades e aspirações se ir-manam no mesmo campo de experiência, a fim deque o respeito recíproco nos presida atividades erelações.

Faze-nos observar, por misericórdia, que Deusnão nos cria pelo sistema de produção em massa eque por isto mesmo cada qual de nós enxerga a vi-da e os processos da evolução de maneira diferen-te. Ainda assim, induze-nos a registrar que emboraas nossas disparidades de interpretação diante dosfenômenos que nos cercam, todos podemos e deve-

Sessão Pública: a palavra da Espiritualidade

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2Mantida a grafia do original.

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mos ser cada vez mais irmãos uns dos outros nasáreas de vivência e solidariedade, ação e tolerância.

Ajuda-nos a entender que a Ciência pode gover-nar a matéria no Plano Físico e eliminar as distân-cias no Espaço Cósmico, entretanto, faze-nos reco-nhecer que nós outros, os obreiros da fé viva, fomoschamados para reacender a luz de teus ensinamen-tos nos corações, objetivando a edificação espiritualdo futuro, a começar de nós mesmos. Para isso,Senhor, para que o título de servidores nos honori-fique as tarefas, ampara-nos o desejo de trabalharaprendendo e de servir elevando sempre!... E auxi-liando-nos a desterrar qualquer fórmula de violên-cia de nossas resoluções e atitudes, ensina-nos quesomente o amor, em nossas realizações de cultura e de inteligência, pode construir em nós e por nós oteu reino de sabedoria e felicidade, no qual estare-mos incessantemente contigo, tanto quanto já estásconosco, hoje e para sempre.

Emmanuel

Brasília, Deus te abençoe

Deus te abençoe, Brasília, ao sol que te engrinalda O esplendor do progresso a que te determinas,Dos monumentos de aço às flores das campinas,Do teu céu de safira ao solo de esmeralda...

Do planalto feliz solene se desfraldaO pavilhão da paz com que te descortinasCriando novas leis à luz das leis Divinas,Nas quais a Terra anule o ódio em que se escalda!...

Ante os astros da Cruz guardas o dom perfeitoDo amor que esculpe a Vida ao buril do DireitoSem que a sombra do mal te espezinhe ou degrade!...

Deus te apoie e engrandeça o trabalho fecundo,De sustentar em Cristo a inspiração do Mundo,Na excelsa construção da Nova Humanidade!...

Americano do Brasil

Em Brasília

Ao exaltar-te o brilho, por mais tente,Não consigo falar como quisera,Brasília da constante primavera,Encharcada de céu resplandecente.

O calor da palavra mais sinceraNão exprime este amor profundo e ardente,Com que te abraço enternecidamente Metrópole de Luz da Nova Era!...

Coração do Brasil, fecundo e grande,Encerras no planalto que te expande Nossas claras conquistas, ao vivê-las!...

Por isso, Deus te guarda a paz e a vida,Do chão que te assegura a fronte erguida,Ao céu que te bendiz florindo estrelas!...

Pedro D’Alcantara2

Finda a reunião, às 21h30, com a prece proferidapelo vice-presidente da FEB, senhor Abelardo Idal-go Magalhães, Chico Xavier, com a bondade e pa-ciência inesgotável que lhe são características,atendeu a quantos lhe quiseram dirigir um cum-primento, concedendo, outrossim, inúmeros autó-grafos em livros, ao que se dedicou até cerca de1h30 da madrugada do dia 8.

Antes das despedidas finais, o denodado médiumainda permaneceu, por quase uma hora, em palestraíntima com os diretores da FEB, permutando impres-sões sobre variados problemas do movimento espírita.

Poderemos todos, que participamos da reunião deBrasília, guardar a serena certeza de que ela represen-tou um agigantado passo na intensificação e consolida-ção do movimento de unificação dos espíritas. Tenha-mos a convicção de que essa é a sensação de todos osque comungaram, naqueles três dias, dos esforços emprol dos mesmos ideais e dos mesmos objetivos.

Fonte: Reformador, ano 91, n. 2, p. 11(39)-13(41), fev. 1973.

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Contando com ampla divulgação na mídia, foilançado o filme Chico Xavier, produção de DanielFilho (Globo Filmes), em avant-première, nos dias 12e 13 de março, respectivamente, em Uberaba e PedroLeopoldo. Este filme é baseado no livro As Vidas de

Chico Xavier, de Marcel Souto Maior. Em 2 de abril,

o filme entra no circuito comercial em todo o Brasil.Nas duas cidades compareceu o presidente da FEB,Nestor João Masotti, acompanhado dos diretoresAntonio Cesar Perri de Carvalho e João Pinto Rabe-lo. Informações: <www.100anoschicoxavier.com.br>;<www.febnet.org.br>; <www.uembh.org.br>.

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Trabalho Divino

Maria Dolores

(Mensagem psicografada por Francisco Cândido Xavier, na Sessão Pública da Federação Espírita Brasileira, Av. Passos, 30, em

22 de dezembro de 1973.)

Fonte: Reformador, ano 91, n. 1, p. 8(4), jan. 1973.

Filme: lançado ChicoXavier

Escuta, alma querida e boa,Perante as aflições que te espanquem a vida,Na prova que atordoa,A sofrimento, lágrima e tumulto,Embora tolerando o impacto das trevas,Busca enxergar o mecanismo ocultoDas tarefas de amor e redenção que levas!...

Deus clareia a razãoAqui, ali, além,Para que o nosso próprio coraçãoRevele por si mesmo a lei do bem...

Tens para dar, conheces para verE para dar e ver já podes discernir...Eis a missão que trazes por dever:Trabalhar, compreender, elevar, construir!...

Tudo o que existe e vibraEntre as forças do mundo,Tem no próprio destino o dom profundoDe ajudar e servir!...

O Sol gasta-se em luz a entregar-se de todoE tanto ampara aos céus quanto às furnas de lodo...O jardim despojado a refazer-se esperaPara dar-se de novo em nova primavera...Toda árvore esquece o que sofre do homem

E apoia sem cessar aqueles que a consomem!...Olha o minério arrebatado ao solo,Sem possibilidades de regresso.Padece fogo ardenteA fim de assegurar constantemente O esplendor o progresso.

Já consegues pensar que qualquer flor que apanhas,A mais singela e a mais descolorida,É um sonho que arrancaste à naturezaPara adornar-te à vida?Que modelas a enxadaE golpeias o chão,Para que o chão te guarde a sementeiraE te forneça o pão?

Assim também por onde vás,Ante assaltos, tragédias, ironias,Tribulação ou desengano,Quando as estradas do cotidianoSurjam mais espinhosas ou sombrias,Nada reclames, serve.E nem reproves, ama!Em toda parte a vida te reclamaTolerância, alegria, esperança e bondade,Inda que a dor te fira ou arrase os sonhos teus,Porque o Céu te entregou a liberdadeDe servir e elevar a HumanidadePor trabalho de Deus.

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(Continuação da p. 8)

Crê!

Há na crença uma luz radiosa e pura,Que transfigura os prantos em prazeres,Que transforma os amargos padeceres,Em momentos de mística ventura.

Confia, espera e crê. Quando sofreres,Sob os guantes da ríspida amargura,Nas tormentas acerbas dos deveresEsquecerás a dor e a desventura.

É que, em meio das mágoas mais atrozes,Sentirás dentro em ti estranhas vozesRepletas de doçura indefinida:

São os seres ditosos, superiores,Que nos impelem a nós, os sofredores,Aos luminosos planos da outra vida.

Antero de Quental(De Reformador de 16/7/1931.)

Sobre a Dor

Suporta calmo a dor que padeceres,Convicto de que até dos sofrimentos,No desempenho austero dos deveres,Mana o sol que clareia os sentimentos.

Tolera sempre as mágoas que sofreres,Em teus dias tristonhos e nevoentos;Há reais e legítimos prazeresPor trás dos prantos e padecimentos.

A dor, constantemente, em toda a parte,Inspira as epopeias fulgurantes,Nas lutas do viver, no amor, na arte;

Nela existe uma célica harmonia,Que nos desvenda, em rápidos instantes,Mananciais de lúcida poesia.

Cruz e Souza(Do Jornal das Moças, ano 1931.)

“Amigo e Mentor”

O ano de 1932 reservaria ao Chico a alegria de ou-tro encontro decisivo para o seu desempenho demédium sério, modesto, devotado e seguro, segundoa conceituação de Allan Kardec, no capítulo XVI,item 197, de O Livro dos Médiuns. Lançado o Parnaso

de Além-Túmulo, eis que o Alto lhe envia a amizadede Antônio Wantuil de Freitas, então no exercício dojornalismo, a serviço do Consolador Prometido, atra-vés das páginas do periódico A Verdade, do Rio de Ja-neiro. Wantuil lhe escreve, em nome do Espírito VovóVirgínia, entidade benfazeja que o amparava na nobretarefa de divulgador do Espiritismo, enviando-lhedez livros espíritas, com o que inaugurava um inter-câmbio com o querido médium que durou até o fimda existência corpórea do saudoso presidente da FEB,e do qual podemos fazer uma ideia por intermédioda obra Testemunhos de Chico Xavier, de Suely CaldasSchubert, editada pela Federação Espírita Brasileira.

Em 19 de dezembro de 1967, ao transmitir suasexpressões de respeito e gratidão aos companheirosda Casa de Ismael, Chico Xavier faria esta confissão:

Durante quarenta anos o nosso Dr. Wantuil de Frei-

tas tem sido para mim um amigo e um mentor. Se é

verdade que temos no Espírito Emmanuel um ami-

go vigilante, um orientador no Mundo Espiritual, eu

devo reconhecer de público tudo quanto devo a este

nosso amigo valoroso e incansável [...]. (O Espírita

Fluminense, janeiro de 1969.)

O Alto buscava preservar o valioso instrumentocontra os inevitáveis assédios das hostes trevosas, àsquais absolutamente não interessava a nova dispen-sação de luz de que ele seria o veículo ideal. E nesseesforço cuidava de cercá-lo, na Terra, de outros ser-vos esclarecidos, de modo que, pela união de forças,pela recíproca sustentação fraterna, não periclitasse agigantesca obra que se iniciava.

Francisco Cândido Xavier

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“Sofrer para aprender”

Em 1933, o Chico experimenta um grave teste pa-ra a sua fidelidade de servo do Senhor. A tentação ocerca, ferindo a corda sensível das necessidades ma-teriais, com as quais ele sempre se viu a braços no seiode uma família numerosa, assediada por prementesdificuldades com respeito à própria subsistência.

Um distinto poeta e escritor, José Álvaro Santos,tendo lido o “Parnaso” econdoendo-se da situaçãodo Chico e de sua família,convida-o a ir para BeloHorizonte, onde lhe con-seguiria colocação maisrendosa. Seu pai o enco-raja insistentemente, in-vocando as agruras daprópria vida, e o Chico, ànoite, ouve de Emmanuela advertência de que esseplano era inoportuno, oamparo viria sem neces-sidade de tal iniciativa.Vendo, porém, a terrívelluta íntima do Chico, oamoroso guia, emborareafirmando o prudenteconselho, autoriza-o, pa-ra evitar que o Chicocontrariasse o velho pai.Mas profetiza: – “Ganha-rás conhecimentos e ex-periências de que muitonecessitas. Não abando-nes a prática da oração.Estaremos contigo atra-vés da prece”.

Tudo resultou infrutífero, não tendo o Chico con-seguido o almejado emprego.

O amigo se fora para o Rio de Janeiro, e o mé-dium decide retornar, triste, ao lar paterno. Enquan-to aguardava o trem, eis que dois “amigos” o procu-ram, declarando que um emprego para ele estava

sendo obtido em Belo Horizonte. Não somente em-prego, mas também recursos para instruir-se conve-nientemente e para socorrer sua família. O Chico en-che-se de alegria pela feliz perspectiva. Mas duroupouco a felicidade. Os portadores da notícia tambémtraziam condições: para obter a colocação, o Chicodeveria renunciar ao Espiritismo e dizer que o Parna-

so de Além-Túmulo era dele e não dos Espíritos... Chi-co obviamente recusa, alcançando o sentido da lição

e compreendendo quesua experiência era útilnão somente para si, maspara todos os médiunsque enfrentam situaçõessemelhantes.

Elias Barbosa, emseu excelente livro No

Mundo de Chico Xavier

(1968), de que nos te-mos servido, propõeao Chico uma pergun-ta a respeito da posiçãode Emmanuel sobre oocorrido:

P. – Depois disso, Emma-

nuel examinou o assunto

com alguma consideração

digna de nota?

R. – Nosso Benfeitor es-

piritual ponderou, como

sempre, que todo médium

tem seus testes como todo

aluno tem exames na es-

cola, e que eu não poderia

escapar. Ainda hoje devo

sofrer para aprender, co-

mo me dizia ele em 1933, e creio sinceramente que

ainda nada sofri para compensar as alegrias que ele,

Emmanuel, na Doutrina Espírita, me tem dado.

Ainda em 1934, como que couraçando-o contraos ataques provenientes de alguns representantes dareligião tradicional e da ciência oficial, os quais, ao

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longo dos anos, atribuiriam sua produção mediúnicaa simulações, anormalidades, auto-hipnose, disrit-mia cerebral e quejandos disparates, o Espírito dogrande romancista português, Eça de Queiroz, fiel àboa e velha ironia, espanta sua tristeza com este face-to recado:

“Vai continuando até que te receitem a enxovia ouo manicômio. No cárcere ou no sanatório, alcançarásum período de repouso. Não te apavores”.

O Espírito Humberto de Campos

O ano de 1935 seria outro marco no árduo, masluminoso mediumato do humilde operário do Cristo.É quando se lhe apresenta o Espírito do consagradoescritor brasileiro, Humberto de Campos, desencarna-do na cidade do Rio de Janeiro em 1934. Chico recor-re ao amigo Manuel Quintão, relatando-lhe a singu-laridade do contato com o escritor desencarnado, aomesmo tempo em que lhe envia duas páginas mediú-nicas, uma das quais é a que Humberto de Campos lheditou em 27/3/1935, intitulada “De um casarão do ou-tro mundo”, a qual aparece numa obra de 1936: Pala-

vras do Infinito, e, em 1937, no livro Crônicas de Além-

-Túmulo, editado pela Federação Espírita Brasileira.Cremos ser digna do conhecimento do leitor a

carta que Chico endereçou a Quintão, publicada porReformador, no mesmo ano, 1935, na página 162:

Pedro Leopoldo, 30/3/1935

Bondoso amigo Sr. M. Quintão

Saudações com os meus votos de paz.

Não sei se o amigo recebeu a minha última carta,

mas, mesmo sem saber se o estou aborrecendo, en-

vio-lhe outra, acompanhada de duas produções me-

diúnicas recebidas por mim nesta semana. Peço-lhe

a sua opinião muito franca sobre elas, desejando que

me escreva em breves dias. Há mais de um mês tive

um sonho engraçado. Sonhei que uma pessoa me

apresentou Humberto de Campos, num lugar de

céu muito azul e brilhante e no chão havia uma es-

pécie de vegetação que não me deixava ver a Terra.

Não vi casa alguma. O que me impressionou mais é

que as pessoas que eu via estavam sob uma árvore

muito grande e tão branca que, quando o sol batia

nas suas frondes de folhas muito delgadas, parecia

uma grande árvore de cristal. Ele veio então ao meu

lado e me estendeu a mão com bondade, dizendo –

“Você é o menino do Parnaso?” Disse-me mais coi-

sas das quais não posso me recordar.

Que diz o amigo de tudo isto? Seria a minha imagi-

nação? Não sei. Em todo o caso, mando estas pági-

nas para o senhor ler. Estão certas as citações?

Sem mais, esperando carta sua, espera as suas des-

culpas o amigo e menor criado às ordens

Francisco Cândido Xavier

Daí em diante o Chico começaria a arcar com oterrível ônus da popularidade, inevitável na trilha dosque, portadores das fagulhas celestes, devem sacrifi-car-se para espancar as trevas dos caminhos humanos.

O início das manifestações de Humberto de Cam-pos atrai a curiosidade da imprensa e o Chico en-frenta a primeira entrevista, promovida pelo jornalO GLOBO. Da reportagem que com ele faz o repór-ter Clementino de Alencar, em 1935, nasce o livroPalavras do Infinito (1936), edição da LAKE, jámencionado.

Cresce a produção mediúnica

Com esses fatos auspiciosos, é dado prossegui-mento à fecunda produção junto à Federação EspíritaBrasileira, surgindo nesse abençoado cenário de rea-nunciação das verdades celestes a plêiade de obreirosdesencarnados que trariam, cada um em sua especia-lidade, a seiva para o sustento da generosa Árvore doEspiritismo Cristão, aqui plantada pela gloriosa fa-lange de Ismael.

As faculdades peregrinas do saudoso médium,sua inabalável fidelidade ao programa delineadopelos Espíritos superiores, suas virtudes cristãs pro-vadas nas lutas ásperas da existência terrena, prin-cipalmente a renúncia aos próprios interesses pes-

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soais em favor da Causa, suportando calúnias, difa-mações e perseguições, asseguram a execução doplano concebido pelos servos de Jesus. E do Alto,em catadupas, jorram as luzes da revelação e daconsolação. Humberto de Campos, Emmanuel, Ca-simiro Cunha, André Luiz, Veneranda, Neio Lúcio,Frederico Fígner, entre muitos outros, fecundam opensamento e o sentimento de mais de uma gera-ção de espíritas devotados, esclarecem consciências,reerguem caídos, revigoram enfraquecidos, servin-do-se do instrumento por excelência, eis que elepróprio vive, profunda e sinceramente, as verdadesque deve veicular.

Muito se pode escrever sobre a essência superiorde tal produção, levada a efeito sob a orientação deEmmanuel. Limitemo-nos à menção de grandes te-mas abrangidos pelo plano dos benfeitores espiri-tuais, concretizado através do saudoso médium:

Revelação dos ascendentes espirituais na História(A Caminho da Luz), missão coletiva de um povo(Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho),conclusão dos Atos dos Apóstolos (Paulo e Estêvão),detalhamento da vida de além-túmulo (obra de An-dré Luiz), ascendentes espirituais do esperanto(mensagens de Emmanuel e de Francisco ValdomiroLorenz), compreensão superior do sexo (Vida e Se-

xo), avançado estudo da mediunidade (Nos Domí-

nios da Mediunidade), entre outros, tudo envolvido,impregnado pela mensagem maior, isto é, a vivênciado Evangelho de Jesus.

No Grupo Ismael

É aos 7 de junho de 1936 que o Chico pisa pela pri-meira vez as plagas cariocas, em viagem de serviço.

Aproveita então a oportunidade para conhecer aCasa de Ismael, da qual muito lhe falavam seus men-tores espirituais e os necessitados do corpo e do espí-rito que lá obtinham o bálsamo para suas dores.

Comparece, no dia 10 de junho, quarta-feira, àsessão do Grupo Ismael, cumprindo promessa feitaa Manuel Quintão, quando este, em março domesmo ano, excursionara a Pedro Leopoldo na com-panhia de outros obreiros da Casa de Ismael.

No dia 12, sexta-feira, o Chico toma parte na ses-são pública da Casa, durante a qual, como tambémna sessão do Grupo, recebe comunicações em prosae versos dos Espíritos Cruz e Souza, Auta de Souza,Hermes Fontes, Emmanuel e Bittencourt Sampaio.

Dentre as muitas peças, de elevado conteúdo moral,recebidas pelo Chico nessa memorável sessão pública,não podemos deixar de transcrever o belíssimo sonetocom que o poeta português João de Deus reverencia aOficina de Ismael sob o título “Templo da Paz”:

Aqui é o templo augusto da Esperança,

De cujo altar o Espírito, se crê,

Em claridades doces entrevê

O País da Verdade e da Bonança!

Oásis de repouso onde descansa

Todo aquele que chora e que tem fé,

Templo divino que Ismael provê

De luminosa bem-aventurança.

Enquanto o mundo clama em desconforto,

O crente encontra aqui seguro porto,

Cheio de amor e fé, de vida e luz!

Templo de paz da vida verdadeira,

Santuário da Terra Brasileira

De onde se espalha o ensino de Jesus!

Mais se estreitavam os laços entre o médium e aveneranda Instituição, certamente em cumprimentoa sagrados compromissos firmados no Além.

No ano seguinte, precisamente no dia 2 de abril de1937, o Chico faria nova visita à Casa de Ismael, apóshaver regressado da capital paulista, aonde fora paratomar parte nas homenagens prestadas a Allan Kar-dec pela Sociedade Metapsíquica daquela cidade.

Era novo testemunho do carinho e do apreço quesempre devotou à Casa, testemunho aliás dos maisexpressivos pela sua espontaneidade e pelos sacrifí-cios de uma viagem incômoda e exaustiva. Como daoutra vez, o Chico assiste à sessão regimental daqueledia, uma sexta-feira, durante a qual psicografa umapágina de autoria do Espírito Bittencourt Sampaio.

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Comentários de dois ilustres escritores

A primeira metade dos anos 40 reservaria ao Chicograndes alegrias e consolações, ao lado de um difíciltestemunho em favor da Verdade. Dois ilustres escri-tores patrícios, despertados pelos clarins da imortali-dade que Humberto de Campos faz ressoar nos acam-

pamentos da intelectualidade cética, dão ensejo a ma-nifestações sinceras e frutíferas em favor do Espiritis-mo. Em 1939, Agrippino Grieco, embora com as na-turais reservas de pensador católico, acolhe uma crô-nica póstuma de seu velho amigo Humberto de Cam-pos, ditada aos 30 de julho daquele ano na sede daUnião Espírita Mineira, com as seguintes expressões:

– “Uma crônica, em suma, que, dada a ler a qual-quer leitor de mediana instrução, logo lhe arrancariaeste comentário: ‘É Humberto puro!”’ E aos 6 de ou-tubro o mesmo Humberto responde, através do Chi-co, a uma carta do escritor Gastão Penalva, publica-da pelo Jornal do Brasil de 4 do mesmo mês (“AHumberto de Campos – onde estiver”), afastando--lhe o abatimento causado pelos prenúncios da ca-tastrófica Guerra que assolaria o planeta até 1945.

Mas, se a Humanidade devia experimentar a ine-vitável repercussão dos ódios coletivos, dos naciona-lismos exacerbados, deixando-se conduzir pelas tre-vosas falanges do caos, num conflito de assustadorasproporções e lamentáveis consequências, o Alto, ashostes do Cristo, cuidava de enviar as provisões deLuz para o futuro, o bálsamo para todas as dores, uti-lizando-se do humilde instrumento que, em Pedro

Leopoldo, reencarnara para servir aos núcleos queno mundo espiritual se organizavam com vistas a

preparar a mentalidade evangélica a se instalarno Orbe após a grande ceifa.

Sobre o assunto assim pontificava o Espí-rito Emmanuel em mensagem de 2 de janei-ro de 1940, publicada em Reformador:

[...] A Europa, nas suas expressões de deca-

dência, não conseguiria receber semelhantes

vibrações, numa hora destas, em que o Velho

Mundo ouve, amargurado, os mais doloro-

sos ais do Apocalipse.

É por essa razão que os Espíritos do bem e

da sabedoria buscam a América, para conti-

nuação da tarefa sagrada e, muito particular-

mente, o Brasil, dentro da sua incontestável

missão de difundir o Evangelho pelo mundo, de

modo a edificar-se o homem do futuro nas mais

consoladoras verdades celestiais.

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A fase dos romances

Nesse período, rico de experiências para o jovemmédium, Emmanuel lhe propicia abençoadas consola-ções por meio da visão dos quadros fluídicos que pre-cederiam à recepção dos grandes romances históri-cos, joias dignas de ombrear, quiçá superando-as, comas mais belas obras da literatura sobre os tempos he-róicos do Cristianismo, como Quo Vadis? e Fabíola.

Entre 1939 e 1942, o amoroso guia, que já orien-tava os trabalhos do Chico desde 1931, revela aspec-tos de sua personalidade, ditando-lhe os romancesHá Dois Mil Anos e Cinquenta Anos Depois, os quaistinham sido prometidos em A Caminho da Luz, livroem que Emmanuel narra os ascendentes espirituaisdas civilizações terrestres.

Mas, se lhe proporcionava tão consoladoras e trans-cendentes manifestações de seu amor e de sua sabe-doria, Emmanuel não poupava ao Chico ensinamen-tos e aprendizagens que, conquanto triviais, nem porisso deixavam de ser igualmente úteis para a conve-niente formação do medianeiro.

Um episódio, ocorrido em 1941, dá bem a medidado zelo daquele amoroso e consciencioso Benfeitor.Uma cunhada do Chico, que enviuvara havia algunsmeses, viu-se compelida a internação em sanatóriopara doenças mentais, deixando sobre o médium a pe-sada carga de condução dos sobrinhos, um dos quaisera paralítico. O Chico chorou muito, o que lhe valeuconsoladores esclarecimentos de Emmanuel sobre ajustiça e necessidade das aflições. Mas o médium, des-feito em lágrimas, ainda persistia em certa inconfor-mação, e, à pergunta do bondoso guia (por que aindachorava?) ele responde agastado: – “Estou chorando,porque, afinal de contas, o senhor precisa saber que elaé minha irmã!”. Emmanuel então lhe proporciona, aele e a todo sincero discípulo do Cristo, profunda liçãosobre a verdadeira fraternidade: – “Eu me admiro mui-to, porque, antes dela, você tinha lá dentro, naquelacasa, trezentas irmãs e nunca vi você ir lá chorar pornenhuma. A dor Xavier não é maior que a dor Almei-da, do que a dor Pires, do que a dor Soares, a dor detoda família que tem um doente. Se você quer mesmoseguir a doutrina que professa, ao invés de chorar

por sua cunhada, tome o seu lugar ao lado da criançaque está doente, precisando de calor humano. Subs-titua nossa irmã, exercendo, assim, a fraternidade”.

Em 1942, materializa-se na Terra, graças à bondadede Emmanuel e ao devotamento do Chico, o livro que,evidenciando profundos e luminosos traços da perso-nalidade do apóstolo das nações, também revelaria aomundo o papel do primeiro mártir do Cristianismona obra do gigante de Tarso que levou a doutrina deJesus para além das fronteiras da Palestina. Referimo--nos ao livro Paulo e Estêvão, o qual como que ampliao quadro do Novo Testamento, completando o relatoinacabado de Lucas em os Atos dos Apóstolos. A mé-dium Yvonne A. Pereira, que, à época de sua publicação,atravessava ríspidas provações, revigora-se ao influxode tão sublimes revelações, declarando, mais tarde,ser Paulo e Estêvão a mais importante obra concedi-da aos homens pela Espiritualidade superior, depois dacodificação do Espiritismo. “Li-o, reli-o e estudei-ocom a alma voltada para o Céu e ali encontrei não ape-nas legítimo conforto para o coração, mas tambémorientação nova para a minha vida.”

Consolidação Chico-FEB

É, todavia, o ano de 1943 que assinala etapa marcan-te na mediunidade de Chico Xavier. A ascensão de An-tônio Wantuil de Freitas à Presidência da Casa de Is-mael consolidaria as providenciais relações entre omédium e a Federação, com vistas à divulgação dasrevelações de que ele ainda se faria portador, empreen-dimento que naturalmente exigiria uma sustentaçãoeditorial capaz de enfrentar os prejuízos que esprei-tam e assediam toda iniciativa no plano material.

Wantuil era a personalidade talhada para tal mis-são. O Chico identifica a relevância do fato, de formasimples e lúcida, num postal que envia ao presidenteda FEB, em 23/12/43:

[...] Façamos de conta que eu sou um pescador, no

dizer de um Espírito amigo. Hei de enviar-te sempre

o resultado da pescaria, e examinarás o material, an-

tes de ir ao mercado, não é? Lançarás apenas o que

aches de utilidade. [...]

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Esboçava-se, embora ainda no plano das ideias, onúcleo editorial da Casa de Ismael, veículo seguro paraque chegasse aos mercados do sentimento e da razãoa pescaria de luz obtida pelo humilde médium de Pe-dro Leopoldo nos oceanos fecundos da Espiritualidade.

E, como que aprovando a feliz conjunção com oplano físico, o Alto envia ao Chico a outra parte daalegria que lhe reservava o ano de 1943: inicia-se otrabalho com o Espírito André Luiz, objetivandoimportantíssimo programa de inusitadas revelaçõessobre a vida na Espiritualidade.

A missão de André Luiz

Os primeiros contatos com André Luiz datam, po-rém, de 1941, quando o Chico começa a ver o amadoEspírito sempre junto a Emmanuel, identificando-ocomo uma daquelas “autoridades espirituais”, de quelhe falara o amoroso guia, incumbidas de revelar des-conhecidos aspectos da vida de além-túmulo, comobjetivos de despertamento e edificação.

Ouçamos do próprio Chico as suas impressões,transcritas, à página 98, na obra Testemunhos de Chico

Xavier, de Suely Caldas Schubert, editada pela FEB:

Dentro de algum tempo, familiarizei-me com esse

novo amigo. Participava de nossas preces, perdia

tempo comigo, conversando. Contava-me histórias

interessantes e muitas vezes relacionou recordações

do Segundo Império, o que me faz acreditar tenha

sido ele, André Luiz, personalidade da época referi-

da. Achava estranho o cuidado dele, o interesse e a

estima; entretanto, decorrido algum tempo, disse-

-me Emmanuel que estava o companheiro treinan-

do para se desincumbir de tarefa projetada e, de fato,

em 1943, iniciava o trabalho com “Nosso Lar”.

Em 1946, o Chico, ainda em carta a Wantuil, ex-pressava sua crença de que André Luiz representavaum círculo talvez mais vasto de entidades superiores,baseando sua suposição no fato de que, havendo sidointerrompida, por vários dias, a recepção da obra Mis-

sionários da Luz, ele veio a saber que a causa da inter-rupção foi a realização de algumas reuniões para o

exame da conveniência ou não de serem apresenta-das algumas teses do autor espiritual no referido li-vro. Para reforço de sua opinião, ele informa a Wantuilque “em psicografando o capítulo ‘Reencarnação’, domesmo trabalho, por mais de uma vez, vi Emmanuele Bezerra de Menezes associados ao autor, fiscalizan-do ou amparando o trabalho”.

O Caso Humberto de Campos

Tantas bênçãos fortaleceriam o médium para o gran-de testemunho a ser oferecido pela Causa, no ano de1944, quando a viúva de Humberto de Campos o en-volve, e a Federação, em rumoroso processo em tor-no da produção literária atribuída ao Espírito do fa-lecido esposo, até então enfeixada em cinco obraspublicadas pela FEB: Crônicas de Além-Túmulo, Bra-

sil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, Novas

Mensagens, Boa Nova e Reportagens de Além-Túmulo.O manso e devotado servo de Jesus jamais pode-

ria supor que seu pacífico trabalho, sob a invocaçãode sinceras e humildes preces, tendo por companhiaum punhado de adeptos tão modestos e simplesquanto ele, e, por direção, a solicitude dos amorososguias, viesse a suscitar um movimento que, empol-gando a opinião pública da Nação, evocasse disputasem torno de direitos autorais, vantagens financeiras,bem como pusesse em julgamento a autenticidadedo fato mediúnico, a existência dos Espíritos e suapossibilidade de se comunicarem com os “vivos”,enfim, a própria Doutrina dos Espíritos.

Então, e com mais fortes e justificadas razões, re-velava-se a sabedoria do Alto em colocar à frente dosdestinos da Federação o caráter firme e íntegro deAntônio Wantuil de Freitas, sob cuja coordenação,com o concurso de Miguel Timponi, Carlos Imbas-sahy, Indalício Mendes e Jaime Cisneiros, articulou--se a defesa do médium e da obra que, por seu inter-médio, viria a ser ampliada, defesa impregnada, co-mo convinha, do espírito evangélico, serena, estriba-da na lógica e no sentimento. Dessa necessidade oChico também teve clara consciência, como se de-preende das seguintes expressões endereçadas aopresidente, em 23 de novembro de 1944:

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[...] É muito triste vermos companheiros, com tan-

tas expressões de cultura evangélica, arvorarem-se

em lutadores e combatentes sem educação. Logo que

houve o agravo da sentença (caso H. Campos), ob-

servando a agressividade de muitos, escrevi mais de

cinquenta cartas privadas e confidenciais aos amigos

da Doutrina, com responsabilidade na imprensa es-

piritista, rogando a eles me ajudarem, por amor de

Jesus, com o silêncio e a prece e não com defesas

precipitadas e, confesso-te, que algumas dessas car-

tas foram escritas com lágrimas por mim, tal a deso-

rientação de certos amigos que facilmente se trans-

formam em provocadores e ironistas, esquecendo os

mais comezinhos deveres cristãos. [...]

O sacrifício do médium, protegido pelo Alto epela Casa de Ismael, não foi absolutamente em vão,pois dele resultaram abençoadas consequências fa-voráveis à divulgação da Doutrina Espírita em todasas camadas da sociedade, conferindo-lhe, a ele, comoveículo de tão consoladora dispensação de luzes, atêmpera indispensável para arrostar os novos obstá-culos que, inevitavelmente, se ergueriam em suamissão de ponte entre o Céu e a Terra. O caso foi en-cerrado com sentença favorável ao médium e à Fede-ração, tendo sido a ação declaratória julgada impro-cedente, merecendo destaque o seguinte trecho doDespacho Saneador de 23/8/44, assinado pelo Dr. JoãoFrederico Mourão Russel:

Nossa legislação protege a propriedade intelectual,

em favor dos herdeiros, até certo limite de tempo,

após a morte, mas, o que considera, para esse fim,

como propriedade intelectual, são as obras produzi-

das pelo “de cujus” em vida. O direito a estas é que

se transmite aos herdeiros. Não pode, portanto, a

suplicante pretender direitos autorais sobre supostas

produções literárias atribuídas ao “espírito” do autor.

Após o rumoroso caso, sobre o qual a obra A Psi-

cografia ante os Tribunais, de Miguel Timponi, edita-da pela FEB, nos fornece circunstanciado relato, o Es-pírito Humberto de Campos permaneceu no aben-çoado serviço de iluminação, mas agora sob o suges-

tivo pseudônimo “Irmão X”, apagando-se com rela-ção ao cognome por ele utilizado, em parte, na suaprodução literária na Terra.

Intermediário da luz, sem privilégios

Na década que se segue, outros ásperos desafios seinterpõem entre o médium e os objetivos que o Altolhe apontava, sem, contudo, desviá-lo do programa,antes capacitando-o para a canalização de novos jor-ros de luz espiritual, tanto pelo exercício de sua me-diunidade, através da qual, como fora predito em1929, choveriam livros para a Humanidade, comopor sua vivência da caridade cristã nas tarefas bene-ficentes a que se dava de todo o coração.

Em 1951, por estrangulamento de hérnia, vê-seobrigado a submeter-se a uma cirurgia no HospitalSão João Batista, em Pedro Leopoldo, evidenciando atodos a grande lição de que sua condição de médiumnão lhe conferia qualquer privilégio, devendo supor-tar com paciência e resignação as dificuldades ine-rentes a toda encarnação humana. Mas, amparadopelo Alto, que, ao lado de toda dor sempre coloca umbálsamo, também nesse ano o Chico é confortado efortalecido por testemunhos de fraternidade, novasoportunidades de serviço, bem como por abençoa-das realizações na seara mediúnica.

No ano seguinte, funda-se em Pedro Leopoldo,por sugestão dos orientadores espirituais, o “GrupoMeimei”, visando-se a atender mais especialmente oscasos de obsessão e doenças mentais. É nos trabalhosdesse Grupo que o Chico, por via psicofônica, obtémum admirável conjunto de manifestações de diversosEspíritos, enfeixadas nas obras Instruções Psicofônicas

e Vozes do Grande Além, as quais, juntamente com olivro Falando à Terra, formariam um todo algo se-melhante à série intitulada Do País da Luz, recebida,nas primeiras décadas do século XX, pelo médiumportuguês Fernando de Lacerda.

Também nesse fecundo período, o Chico veiculaapreciados comentários de Emmanuel sobre versícu-los do Novo Testamento, comentários que seriamreunidos na série iniciada pelo volume Caminho,

Verdade e Vida.

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Entre 1952 e 1953, o Chico participaria, como mé-dium, em sessões de materialização, encerradas to-davia por ordem de Emmanuel, a fim de que o im-portantíssimo setor da recepção de livros não expe-rimentasse qualquer arrefecimento.

Alegrias e dores

As primeiras obras psicografadas por Yvonne A.Pereira, a partir de 1955, dão ao Chico novo ânimo,tanto pela essência da produção veiculada pela mé-dium, quanto por seu caráter de verdadeira cristã, demédium a serviço da causa de Jesus.

E, em 1957, surgem as esperanças de um auxiliardireto, mais próximo, na figura de Waldo Vieira,cujos dons mediúnicos prenunciavam promissores efecundas realizações na seara do livro espírita.

Em carta dirigida ao Dr. Wantuil, em 28/8/57, oChico assim se expressava, revelando a sua grandezade espírito e o seu acendrado amor à Doutrina:

Para mim seria o ideal que muitos médiuns apare-

cessem, cada vez mais cônscios de nossas responsabi-

lidades para com o Espiritismo Evangélico no Brasil.

Médiuns que entendam a Federação e lhe respeitem

as diretrizes. Permita Jesus que muitos e muitos apare-

çam e nos auxiliem a todos, porque a comunidade

espírita cresce dia a dia, rogando pão espiritual.

Soava, porém, a hora de novo e, agora, bem ásperotestemunho. Teria como estopim a invigilância de umparente próximo que, habilmente manipulado portradicionais adversários do Espiritismo, serviria deinstrumento para tentar levá-lo ao ridículo, a ele e àDoutrina, com a acusação de que sua obra mediúnicaera fruto de mistificação consciente, não passando oChico de um esperto imitador. Numa entrevista ex-clusiva ao jornal belo-horizontino Diário de Minas,de 30/7/58 (Reformador, setembro, 1958, p. 11 e 12),o médium, com serenidade e espírito de renúncia, res-ponde a tudo com benevolência, indulgência e per-dão, envolvendo aquele parente em sinceras vibra-ções de amor, e, por fim, declara ao repórter: “Creioque com esta nova conversação estou encerrando de

minha parte todo o assunto de que eu possa tratar napresente questão, rogando a Deus nos abençoe a to-dos”. E o triste episódio morreria por si mesmo...

Transferência para Uberaba

No ano seguinte, exatamente aos 5 de janeiro de1959, transfere-se para Uberaba (MG), onde encon-traria o clima adequado para amenizar os efeitos deuma labirintite que o acometera em princípios de 1958.

A nova fase de vida em nada altera as diretrizes es-pirituais que o guiam no cumprimento dos sagradosdeveres de médium a serviço de Jesus: fidelidade aoEvangelho e à Doutrina, sob o amparo dos desvela-dos guias, tendo à frente o infatigável Emmanuel.

Em Uberaba, como até então em Pedro Leopoldo,prosseguem os labores no campo do livro espírita eintensificam-se as atividades na beneficência, pormeio da assistência à pobreza, do atendimento frater-no, a princípio na Comunhão Espírita Cristã e, maistarde, sob os auspícios do Grupo Espírita da Prece,além do sagrado serviço da orientação espiritual e doreceituário homeopático, tudo gratuitamente ofere-cido, como recomenda o Evangelho.

Sempre fiel a esse programa, o Chico ingressa nadécada de 60, mantendo sua ininterrupta atividademediúnica no Espiritismo Cristão.

Em excursão ao Exterior

Os abençoados frutos de seu trabalho já fecundamcorações fora do Brasil, seu nome alcança projeçãointernacional, e é quando vê chegado o momento depessoalmente colaborar para a difusão do generosoideal entre irmãos de outras terras.

Em 1965 e 1966, excursiona, na companhia deWaldo Vieira, para visitar comunidades espíritasde diversas cidades dos Estados Unidos, México, Cuba,Haiti, Inglaterra, França, Itália e Portugal. Particular-mente promissora foi a visita aos Estados Unidos, deque resultou a fundação do “Christian Spirit Center” eo lançamento do livro The World of the Spirit, tradu-ção em inglês da obra psicografada por Chico e Waldo,da autoria de diversos Espíritos, lançada no Brasil sob

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o título Ideal Espírita, da Comunhão Espírita Cristã,de Uberaba. Dessas viagens à América do Norte e àEuropa surgiu, publicada pela FEB, a obra Entre Ir-

mãos de outras Terras, com mensagens recebidas emlíngua portuguesa e diretamente em língua inglesa.

Homenagens oficiais repassadas à Doutrina Espírita

Amado por todos, respeitado pelos adversários doEspiritismo, o Chico sempre e cada vez mais conquis-ta os corações, exemplificando as virtudes cristãs damansidão, da brandura, da caridade enfim, atrain-do sofredores, descrentes, desorientados para as luzes doEspiritismo Evangélico, calando, humildemente, asvozes de todos os que não simpatizam com a Doutri-na, de que ele é um perfeito seguidor. E, naturalmen-te, sua pessoa é por todos requisitada, multidões oprocuram, tanto para dele receber o conforto moralproveniente do Alto, como para, tão somente, vê-lo,ouvir-lhe uma palavra, envolver-se no ambiente ben-fazejo que o cerca.

É a época das homenagens oficiais. A partir de1968, a começar por sua jamais esquecida Pedro Leo-

poldo, dezenas de localidades, grandes e pequenas,lhe oferecem, por intermédio de suas casas legislati-vas, títulos de cidadania honorária, dos quais o gene-roso médium jamais declina, não por orgulho ouvaidade, já que tais sentimentos não vivem em seucoração, mas pelo amor à Causa do Cristo, pois sabeque é à Doutrina Espírita Cristã que tais homena-gens, consciente ou inconscientemente, se dirigem.

Entrevistas e reportagens

Sua palavra, sempre repassada de sabedoria, eleva-ção moral e brandura, é avidamente disputada pelosveículos de comunicação, agora liderados pelo maispoderoso divulgador de ideias no século XX, que é atelevisão. A entrevista concedida à TV Tupi, canal 4,de São Paulo, em 27 de julho de 1971, transmitida aovivo no programa Pinga Fogo, atingindo níveis deaudiência nunca antes verificados, inaugura na déca-da de 70 mais uma abençoada fase de serviços pres-tados pelo Chico à difusão das verdades espíritas. Em12 de dezembro do mesmo ano, o Chico participariade nova entrevista no Pinga Fogo, que também obte-ve grande repercussão. Seguem-se muitas outras,

Elias Barbosa, Chico Xavier, Waldo Vieira e Lauro Michelin em 1963

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também dadas a jornaise revistas, e desse movi-mento surgem diversosvolumes que conservamno papel ou em fitas cas-sete, para as gerações fu-turas, tão precioso cabedalde informações a respeito davida espiritual, das leis queregem os passos do Espíri-to imortal, na carne ou noalém-túmulo. A Internet vi-ria posteriormente ampliar oconhecimento de Chico e suaobra pelo mundo afora.

Visitas à Casa de Ismael

A década de 70 reserva uma imensa alegria à Casade Ismael, quando o Chico a visita por três vezes. Em22 de setembro de 1972, o médium revê o velho evenerando casarão da Avenida Passos, tomando parteem sessão pública noturna destinada ao estudo regu-lar de O Livro dos Espíritos. Carinhosamente recebidopelo presidente Armando de Assis, o Chico funcionacomo psicógrafo da reunião, recebendo belíssimosoneto de Amaral Ornellas, que a seguir transcrevemos:

Fim de Século

(Diante do Cristo e do Futuro, no Lar Terrestre)

Século XX... A Terra é nau sob tormenta...

Toda a estrutura estala, ao mar que se encapela...

A sombra espessa agrava o rigor da procela,

Salta o vento a rugir na fúria que o sustenta.

Templos, legendas, leis da equipagem atenta

Tremem, conquanto a luz de lâmpada singela:

O equilíbrio persiste, apoio e sentinela,

Contra o caos que domina em cólera violenta...

Gritos, altercações, sofrimento, cansaço,

Relâmpagos varando a imensidade do Espaço

São súplicas da fé na voragem sombria...

Mas no bojo do abismo um clarão resplendora,

Destacam-se da noite os acenos da aurora,

É o Cristo, em Sol de Amor que acende o Novo

[Dia!...

Em 21 de dezembro do mesmo ano, volta o Chicoà Casa de Ismael, chegando às 8 horas da manhã aoDepartamento Editorial, no bairro de São Cristóvão, noRio de Janeiro, para o lançamento da edição comemo-rativa do 40o aniversário de aparecimento do Parnaso

de Além-Túmulo. Após almoçar na residência do presi-dente Armando de Assis, Chico volta ao DepartamentoEditorial, onde encontra a querida médium YvonneA. Pereira, e juntos saem a percorrer todos os setores edependências da Gráfica. No dia seguinte, o médiumretorna ao Departamento Editorial para novamenteautografar o “Parnaso”. E à noite comparece à sessãopública,na Avenida Passos,durante a qual psicografaduasbelas peças poéticas dos Espíritos Constâncio Alves eMaria Dolores. Aqui transcrevemos o soneto “SempreJesus”, de Constâncio Alves, publicado, juntamente como belíssimo poema “Trabalho Divino” de Maria Do-lores, em Reformador de janeiro de 1973 [o poema deMaria Dolores está transcrito na p. 39 desta edição]:

...E tudo passará nos domínios do mundo,

Do grânulo de pó ao espaço irrestrito,

As civilizações e as eras em conflito

Fogem de passo em passo e segundo a segundo...

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Chico no programaPinga Fogo

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Tudo o tempo transforma em silêncio profundo

Da lava comburente ao bloco de granito.

E o Homem segue além, procurando o Infinito

Entre o sonho criador e o cansaço infecundo!...

Esplendores da Assíria, Egito, Grécia, Roma...

A morte tudo altera e a vida se retoma

A fim de burilar-se em tudo quanto encerra...

Unicamente o Cristo Augusto e Soberano

Rebrilha sempre mais sobre o destino humano

Promovendo a grandeza e a perfeição da Terra!...

Chico fora também convidado pela Federação Es-pírita Brasileira para participar dos atos inauguraisda sua sede em Brasília, convite que ele agradeceu,dizendo da impossibilidade da sua presença por mo-tivo de doença. Entretanto, deixou expresso este sig-nificativo trecho, em carta de 23/9/70:

Creia, no entanto, que estamos em pensamento e

coração com os amigos da Federação Espírita Brasi-

leira, no grande acontecimento, de tanta significação

para todos os setores de nossa querida Doutrina no

Brasil. E faço votos para que a inauguração referida

seja mais uma afirmação da vitalidade e da seguran-

ça com que a FEB a todos nos orienta no trabalho

espiritual, em nosso País.

Em 7 de janeiro de 1973, domingo, o Chico visitaa sede da Federação Espírita Brasileira, em Brasília,para participar de reunião pública que assinalaria ocoroamento dos trabalhos do Conselho FederativoNacional, desenvolvidos na semana transcorrida.Noticiava Reformador de fevereiro de 1973 ter sidoaquela a “primeira vez que comparecia a um ato pú-blico dessa natureza em Brasília, o que motivou in-tenso documentário levado a efeito pelos jornais, rá-dios e TVs locais”.

Durante a reunião, com a presença do presidenteArmando de Assis e demais diretores da FEB, bemassim dos membros do Conselho Federativo Nacio-nal, Chico veicula uma página-prece de Emmanuel,que alude expressamente à Casa de Ismael, concla-

mando a todos ao entendimento e à harmonia. E, emseguida, dois sonetos mediúnicos, da autoria de Ame-ricano do Brasil e Pedro D’Alcântara.

A FEB e os cinquenta anos de mediunidade do Chico

Em 1977, o Movimento Espírita do Brasil home-nageia o querido médium por haver atingido 50anos de exercício ininterrupto da mediunidade, fielàs bases de Allan Kardec e sob a constante inspiraçãodo Evangelho de Jesus. Números especiais de concei-tuados periódicos espíritas são inteiramente dedica-dos ao médium, evocando-lhe a vida irrepreensível,o amor jamais arrefecido, a inabalável fidelidade aoprograma delineado pelos mentores espirituais daPátria do Cruzeiro nos Conselhos do Infinito, sob aorientação de Ismael e o amparo do Divino Mestre.

O consagrado médico, jornalista e teatrólogo, PedroBloch, associa-se às homenagens, declarando: “Mui-ta gente o considera um embusteiro. Mas que divinoembusteiro não deve ser para viver toda aquela vidade humildade e renúncia”.

Artigo da Diretoria da Federação Espírita Brasilei-ra, em Reformador de julho de 1977, expressava o ca-rinho e a gratidão pelo seareiro que, junto a ela, mui-to fizera pela execução do programa traçado por Je-sus, ao mesmo tempo que reverenciava a todos osque, a exemplo do Chico, trouxeram e continuavamtrazendo sua quota de contribuição para a grandeobra de cristianização da Terra:

A Casa-Máter do Espiritismo, lembrando a data que

assinala meio século de intensos labores de Francis-

co Cândido Xavier, no campo mediúnico ligado es-

pecialmente à missão do livro espírita, deseja ex-

pressar, simbolizado no amplexo ao médium de Pe-

dro Leopoldo e Uberaba, o seu carinho e apreço ir-

restrito a todos os médiuns, do passado e da atuali-

dade, que deram e dão expressivas provas de dedica-

ção ao trabalho do Senhor, sabendo renunciar e tes-

temunhar, com valor e fé, no dia a dia, a excelência

da mensagem do Espírito da Verdade, na restaura-

ção do Cristianismo do Cristo.

51Abr i l 2010 • Reformador 169

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Nesse mesmo número, é iniciada a publicação deum resumo biográfico do querido médium, paraatender ao interesse sempre crescente que sua obrasuscitara no Brasil e no Exterior e da qual cerca detrês dezenas de livros estavam vertidos em diversaslínguas. Começando pelo esperanto, os dados bio-gráficos foram sucessivamente publicados em Refor-

mador, nos seguintes idiomas: espanhol, inglês, tche-co, alemão, polonês, hebraico, japonês, francês, ita-liano, árabe e holandês. Cumpre ressaltar que muitasobras do Chico foram transcritas no Sistema Braillee igualmente em discos e fitas cassete.

Novos frutos de consolação

Mas, ao contrário do que ocorre no círculo das ta-refas exclusivamente terrenas, materiais, o respeitáveltempo de serviço do médium não traduz qualquerarrefecimento, tanto em sua disposição para o traba-lho quanto na vigorosa potencialidade de suas facul-dades mediúnicas, não obstante o notório declínio desuas forças orgânicas. E é assim que os anos 70 pre-senciam uma belíssima floração de seus dons singu-lares, da qual resultariam abençoados frutos de con-solação para dezenas de famílias atingidas nos seusmais sagrados laços de amor.

Como que revivendo os tempos dramáticos daPrimeira Guerra Mundial, quando o Alto permitiu amanifestação dos Espíritos de jovens cuja morte noscampos de batalha enlutava os corações amorosos depais e mães, inconsoláveis, eis que nesse período, emque a juventude igualmente tem sucumbido em umaguerra diferente, mas não menos cruel, o Chico servede intermediário para que inúmeras famílias retomemcontato com seus entes queridos, arrebatados brusca-mente do convívio no lar em face dos superiores desíg-nios da incorruptível Justiça Divina. Centenas de men-sagens, abundantes em elementos insuspeitíssimos deidentificação, reerguem os corações abatidos dos queficaram na Terra, atraindo-os para a orientação segurae amorosa do Espiritismo Evangélico, ensejando igual-mente a composição de consoladores volumes, cujaessência celeste estenderia tão sublime conforto a to-dos os que vergassem sob a dor da separação. Crianças,

adolescentes, jovens, chefes e mães de família, paren-tes queridos, retornam das sombras em que a dor ea dúvida os haviam encerrado, para reafirmarem aimortalidade, instilando nos que permaneciam nacarne a certeza de que a abençoada marcha prosse-gue, sem interrupção, em laços sempre mais estreitosde amor e solidariedade, na vida de além-túmulo.

Ratificação dos direitos autorais

Em fins de 1978, o grande médium, mais uma vezdemonstrando clarividente lucidez, sólido critérioapoiado na prudência e no conhecimento do caráterhumano, tudo sustentado pela vigilante proteção dosguias espirituais, toma a iniciativa de assegurar a vas-tíssima obra, produzida por intermédio de suas fa-culdades, contra eventuais disputas futuras em pre-juízo do patrimônio moral e doutrinário que ela re-presenta. Com as diversas editoras, às quais já haviacedido integralmente os direitos autorais de livrosque recebera mediunicamente, o querido médiumassina escrituras para a confirmação irrestrita de taiscessões. E, para cumprimento da inspirada decisão,Francisco Cândido Xavier, em 19/10/78, vem ao Riode Janeiro para, lado a lado da Federação EspíritaBrasileira, representada pelo então presidente Fran-cisco Thiesen, assinar o documento de cessão de di-reitos autorais de sua produção literária, mediúnicaou não, confiada à FEB, com a ratificação de anterio-res cessões de direitos. É então lavrada a Escriturano 15o Ofício de Notas do Rio de Janeiro (RJ), Livrono 1306, Fls. 197 (Reformador, janeiro 1979, p. 47 e53). Para reforço jurídico de tão prudentes inicia-tivas, o médium assina em 24/11/78, no Cartóriodo 2o Ofício de Uberaba (MG), Livro no 420, Fls.117, uma escritura declaratória na qual afirma que

toda a sua produção literária antes referida perten-

cerá, de direito, apenas e exclusivamente a quem ele

fez cessões específicas e formais dos respectivos di-

reitos autorais, através de instrumentos jurídicos

apropriados. V) – Que ele, declarante, faz as presentes

declarações tendo em vista dirimir quaisquer dúvi-

das e prevenir situações futuras com relação aos

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direitos autorais decorrentes de toda a sua produção

literária, para tornar claro que nenhuma pessoa, físi-

ca ou jurídica, deverá ser reconhecida como deten-

tora legal de direitos autorais cedidos pelo declaran-

te, salvo se tal alegação for comprovada por instru-

mento legal escrito e juridicamente válido. [...]

Estava assegurada a continuidade pacífica da obrade divulgação, realizada ininterruptamente durantemais de meio século. Mas, tal medida, pela qual “César”tomava parte na obra de Deus, também serviria parapoupar o médium de dissabores a que sempre estãosujeitos os que não conduzem sua vida sobre os tri-lhos do zelo e da prudência. Sobre essa particularidadefalaria o próprio médium em entrevista concedida aojornal Lavoura e Comércio, de Uberaba (MG), publi-cada em seu número de 2/12/78 sob o título “Entre-vista – livros e cessões de direitos autorais de ChicoXavier”. Eis a pergunta e respectiva resposta:

P. – Notando-se hoje mais ampla divulgação dos

livros mediúnicos, sob a sua responsabilidade, rele-

ve-nos a indagação talvez indiscreta, mas a Receita

Federal está informada que você nada recebe por

seu trabalho?

R. – Toda pergunta é respeitável e se nem todas po-

dem obter, de imediato, a resposta ampla e concreta,

em meu caso dos livros mediúnicos, posso apresentar

às dignas autoridades da Receita Federal as docu-

mentações comprobatórias de que nunca recebi qual-

quer pagamento das editoras espíritas evangélicas

por páginas obtidas por mim, mediunicamente. No

presente caso, as escrituras confirmativas das cessões

irrestritas dos direitos autorais, por mim assinadas,

podem desfazer quaisquer dúvidas.

Os livros mediúnicos recebidos por Chico Xavierforam destinados, desde 1932, a diversas instituiçõesespíritas, não tendo ele nenhuma participação pessoalnessa distribuição, conforme afirmou em março de1975. Recebeu ele orientação para, com aqueles livros,não só divulgar a Doutrina Espírita, mas também pos-sibilitar a sustentação de obras assistenciais. Chegou a14 (quatorze) o número de instituições beneficiadas.

De 1932 a 2002, foram editoradas 4124 obras recebi-das pela mediunidade de Chico Xavier. Delas, 88 (oi-tenta e oito) pertencem exclusivamente à FederaçãoEspírita Brasileira e atualmente perfazem um total de14.866.700 (quatorze milhões, oitocentos e sessenta eseis mil e setecentos) exemplares dados a público.5 Aesses livros febianos o próprio Chico chamaria “livros--astros”, com isto querendo dizer que eles se revestemde especial importância na sua obra mediúnica.

Por sua vasta produção, o Chico se alinharia entre osautores brasileiros mais vendidos, cerca de 30 milhõesde exemplares, posição em que se tem mantido até hoje.

No teatro e na televisão

Na segunda metade dos anos 70 e início da décadade 80, a obra veiculada pelo Chico ganha atenções dasrodas de teatro e televisão, convindo não esquecer queentre 1961 e 1964 foram apresentadas pela TV-Itacolo-mi, de Belo Horizonte (MG), quatro telenovelas basea-das nos romances mediúnicos Há Dois Mil Anos, Cin-

quenta Anos Depois, Renúncia e Ave, Cristo!. Diretores,autores e produtores de nomeada, dentre os quais IvaniRibeiro e Augusto César Vanucci, aproveitam, animadospela nobre intenção de estender a mensagem espírita aopovo, o riquíssimo filão existente na literatura psicogra-fada pelo Chico. Obras de André Luiz e de Emmanuel,como Nosso Lar e Renúncia, são adaptadas para ence-nação no palco ou sob a forma de novela de rádio e te-levisão. O maior sucesso de bilheteria vem da peça Além

da Vida, tecida com o material fornecido por mensagenspsicografadas pelo Chico e por Divaldo Franco, peçaque, lançada em 1982, continua até hoje em cartaz.

A figura doce e comunicativa do Chico passa en-tão a ser o alvo das mais carinhosas manifestaçõesdo meio artístico. Aos 23/5/1980, conforme registradoem Reformador do mesmo ano, ocorreu uma ines-quecível noite nos estúdios da Rede Globo de Televi-são, Canal 4 (Rio de Janeiro), com o programa Um

homem chamado amor que enfocou Francisco Cân-

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4N. do R.: Atualmente cerca de 450 títulos.

5N. do R.: Atualmente 17.841.800 (dezessete milhões, oitocentos equarenta e um mil e oitocentos) exemplares dados a público pela FEB.

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dido Xavier, então presente àquele “especial”. Dirigi-da pelo conhecido apresentador Hilton Gomes, aSexta-Super apresentou pronunciamentos de feste-jados artistas de televisão e teatro, além de cantorase cantores famosos, todos amigos incondicionais domédium. Este, por sua vez, respondeu a várias per-guntas dos presentes sobre diversos assuntos. Satis-fazendo à curiosidade da artista Yara Cortes, quetambém queria saber quem recebia os direitos auto-rais das obras do Chico, este declarou, em termosbem claros:

Todos os direitos autorais foram cedidos a institui-

ções de caridade, a começar pela digna Federação Es-

pírita Brasileira, sediada no Rio de Janeiro, e a outras

instituições congêneres espalhadas em todo o País.

Esse “especial” levou o consagrado jornalista, es-critor, político, crítico de música, teatro, cinema e te-levisão, Artur da Távola – um verdadeiro especialis-ta da comunicação – a tecer brilhante e imparcialanálise da personalidade do Chico, publicada no jor-nal O GLOBO, do Rio de Janeiro, edição de 26/5/80,e transcrita em Reformador de junho do mesmo ano,página 36. Desse longo artigo reapresentamos o se-guinte e muito significativo trecho:

Além da aura de paz e pacificação que parte dele, há

um outro elemento poderoso a explicar o fascínio e

a durabilidade da impressionante figura de comunica-

ção de Francisco Cândido Xavier: a grande seriedade

pessoal do médium, a dedicação integral de sua vida

aos que sofrem e o desinteresse material absoluto. A

canalização de todo o dinheiro levantado em direi-

tos autorais para as variadíssimas atividades assisten-

ciais espíritas dão a Chico Xavier uma autoridade

moral – tanto maior porque não reivindicada por ele

– que o coloca entre os grandes líderes religiosos do

nosso tempo.

Candidatura ao Prêmio Nobel

Em 1980, por iniciativa do então deputado federalFreitas Nobre, do diretor de televisão Augusto César

Vanucci e do ator Dionísio Azevedo, o MovimentoEspírita do Brasil é mobilizado para indicar o mé-dium como candidato ao Prêmio Nobel da Paz, em1981. A justificativa assentava sobre os serviços domédium, durante toda a sua existência, aos pobres e sofredores de todos os matizes, bem como sobre ainfluência de sua vida e obra no erguimento de múl-tiplas instituições de assistência social.

Tal iniciativa, envolvendo aspectos fundamentaisda própria ética espírita, suscitou um movimento deopinião no seio mesmo da organização do Espiritis-mo no Brasil, cujas entidades representativas nos Es-tados necessariamente se voltaram para a Casa de Is-mael dela obtendo, a título de fraterna orientação,um documento firmado em 14/3/80 pelo então pre-sidente Francisco Thiesen, transcrito em Reformador

de abril de 1980, página 8.O próprio médium esclarece todas as questões sus-

citadas por sua indicação, de iniciativa de terceiros,ao famoso Prêmio, por meio de entrevista concedida aCarlos A. Bacelli, publicada no periódico Lavoura e Co-

mércio, edição de 6/3/80 e transcrita no número de Re-

formador supracitado. Dela destacamos o seguinte tre-cho, por conter preciosa lição de humildade e lucidez:

8) O Prêmio da Paz é um reconhecimento interna-

cional ao trabalho de uma personalidade que se des-

tacou na luta pela compreensão entre os homens.

Você se considera, pelo inegável exemplo a serviço

do Evangelho, um benfeitor da Humanidade?

– De modo algum. Para falar a verdade, tenho sido

sempre alguém com tamanha luta para compreen-

der a mim mesmo, que nunca me passou pela cabe-

ça a ideia de estar trabalhando pela compreensão

entre os homens. O Evangelho de Jesus, na Doutrina

Espírita, representa uma luz a me mostrar a imensida-

de do esforço que tenho a fazer para melhorar-me.

Se a pergunta me compele a examinar a palavra “ben-

feitor”, devo esclarecer que se existem pessoas que se

beneficiaram, com essa ou aquela atividade, de que

tenho compartilhado, semelhantes benefícios terão

nascido dos Benfeitores espirituais que nos ampa-

ram e que habitualmente se servem de minhas mo-

destas faculdades mediúnicas e não de mim próprio.

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O Prêmio Nobel da Paz de 1981, ao qual tambémconcorrera o chefe da Igreja Católica, Papa João Pau-lo II, seria enfim conferido ao “Alto Comissariadopara Refugiados das Nações Unidas”.

Praça Chico Xavier, em PedroLeopoldo

Ainda em 1980, o Chico rece-beria carinhosa manifestação deamor do povo de Pedro Leopoldo, cidade que o viunascer, crescer, preparar-se para as graves responsa-bilidades de médium espírita e, como tal, ali serviraté 1959, quando se transferiria para Uberaba. Auma bela praça pública, construída em local aprazí-vel da pequena cidade, e onde também se inaugura-va o novo prédio da Prefeitura Municipal, era dado onome de “Praça Chico Xavier”, nela tendo sido colo-cada, em sólido bloco de pedra, uma placa comemo-rativa com os seguintes dizeres: Praça Chico Xavier. –

Homenagem do povo de Pedro Leopoldo ao seu ilustre

e querido irmão. – Hélio Issa – Prefeito Municipal. –

Pedro Leopoldo. – 15/11/1980.Ao ato de inauguração compareceram autorida-

des do governo, o povo em geral, desde as pessoasmais conceituadas até os mais humildes moradoresda cidade e de seus arredores. Era mais uma prova deque os corações, mesmo os mais refratários, sempre

se rendem ao amor, ali encarnado na figura modes-ta, humilde e sincera do querido médium, cujo mag-netismo nascia, entre outras razões, do fato de queele nada reivindicava para si, senão o direito de ser-vir ao próximo sob a inspiração e a orientação daDoutrina dos Espíritos e do Evangelho de Jesus.

A pensão especial

As esferas oficiais ainda lhe reservariam, no inícioda década de 90, uma outra homenagem, conceden-do-lhe, por proposição do então presidente da Repú-blica, Fernando Collor, uma pensão especial no valorde 3,4 salários-mínimos. Em seu parecer, unanime-mente aprovado em 1994 pelo Tribunal de Contas daUnião, o ministro-relator do processo, Dr. Adhemar

Ghisi, católico praticante e ad-mirador confesso do médium,assim se expressou sobre a lega-lidade do benefício:

É competência do TCU apreciar,

para fins de registro, a concessão de

pensões pelo Governo. Tenho cer-

teza de que o processo vai ser apro-

vado, e com louvores, porque o

Chico Xavier é um grande exemplo para todos nós.

Ele passou toda a sua vida se dedicando às pessoas

mais necessitadas.

Outras tarefas

Os últimos tempos da abençoada existência doamado médium foram marcados pelo acentuado de-clínio das forças físicas, a que o vinha conduzindo oagravamento de enfermidades por ele suportadas es-toicamente durante longos anos de ininterrupta ati-vidade. Nada obstante, ainda encontrava forças parareceber os amigos, visitar os necessitados, confortarsofredores, gravar entrevistas, receber mensagens,comparecer às tarefas do Grupo Espírita da Prece,enfim, trabalhar, servir, honrar seu compromissocom o Cristo de Deus. Como diria Clóvis Tavares,Chico dava “a impressão de uma vela que ardia, alu-

55Abr i l 2010 • Reformador 173

Inauguração da “PraçaChico Xavier”

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miando a todos e se consumindo a si mesma, em su-blime oferenda de amor e sacrifício”.

Ainda um belo e fecundo exemplo de seu amor àCausa do Divino Mestre é o fato de que, a começarde dezembro de 1982, ele passou a visitar, de temposem tempos, a Colônia Santa Marta, em Goiânia(GO), destinada ao tratamento dos hansenianos, on-de se desenrolaram, graças à sua bondade e às aben-çoadas faculdades de que era portador, muitos casoscomovedores, de grande beleza espiritual.

Na noite de 5 de novembro de 1981, ao ser en-tregue, em Uberaba, o Título de Cidadania ao mé-dium Divaldo Pereira Franco, ouviu-se a palavra deChico Xavier que, em certo trecho de sua saudação,declara:

Reconheço, reverenciando na personalidade de Di-

valdo Pereira Franco, não apenas o companheiro a

quem devo, particularmente, atenções e gentilezas

irresgatáveis para mim. Reconhecemos nele o líder

autêntico pela inteligência e pelo coração, credor de

nossa admiração incondicional e de nosso profundo

reconhecimento.

Era esta mais uma demonstração do Chico, de ca-rinho e humildade, de respeito e consideração, pelosveros trabalhadores na Seara Espírita.

Sua falta será intensamente sentida, não somenteentre os espíritas, mas igualmente por todos os cora-ções sinceros e de boa vontade que o tinham comosímbolo da pureza de coração, do devotamento aopróximo, da humildade natural e espontânea, dasaudável alegria, virtudes com as quais soube man-ter-se à altura da missão que lhe foi confiada pela Es-piritualidade superior. Não é por menos que o bri-lhante cronista Artur da Távola, a quem já nos re-portamos colunas atrás, ressaltava no diário cariocaO DIA de 20/9/1989:

Francisco Cândido Xavier é uma instituição nacional.

Apreciam-no adeptos de todas as religiões. Respeitam-

-no todos os brasileiros. Vida inteira dedicada a re-

partir o bem, o consolo, as tentativas de ajuda, de

cura, de elevação do padrão espiritual do ser humano.

Fazemos nossas as palavras de Divaldo PereiraFranco, quando, em 1987 (Reformador de março de1988), dava seu testemunho de amor e de respeitopelo valoroso médium: “[...] ele é como um farol emnoite escura derramando claridades e apontando orumo para a embarcação da minha vida encontrar o porto de segurança”.

Em sessão de 4 de outubro de 1995, o ConselhoFederativo Nacional aprovava significativa e belamoção de reconhecimento e gratidão a Chico Xavier,estampada em Reformador de dezembro de 95. E porocasião dos 70 anos de exercício de sua mediunida-de, o então presidente da Federação Espírita Brasi-leira, Juvanir Borges de Souza, participava das come-morações levadas a efeito na União Espírita Mineira,tendo pronunciado como orador oficial da noite de8 de julho de 1997, ante um auditório superlotado,apreciada conferência sobre a vida e a obra do mé-dium, destacando a importância da memorável data.

Comenda da Paz

Pela Lei Estadual no 13.394, de 7/12/1999 (D. O. Mi-nas Gerais, 8/12/99), foi instituída a “Comenda da PazChico Xavier”, no Estado de Minas Gerais, destinada ahomenagear pessoas físicas e jurídicas que se tenhamdestacado na promoção da paz, por meio de atividadesrelacionadas em vários itens, entre eles a contribuiçãoao desenvolvimento espiritual da Humanidade.

Segundo o projeto que deu origem à Lei, a escolhado nome de Chico Xavier para a Comenda “deu-seporque ele se transformou numa referência universalde pessoas dotadas da boa vontade de construir ummundo melhor”.

A primeira solenidade de outorga da condecora-ção, com a qual Chico Xavier foi um dos agraciados,ocorreu em 3 de março de 2001.

O “Mineiro do Século”

O médium Francisco Cândido Xavier foi eleito o“Mineiro do Século”, numa promoção da Rede Glo-bo Minas, que atraiu, em 15 dias, mais de 2,5 mi-lhões de votantes, através do telefone e da Internet.

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Com resultado conhecido em 17/11/2000, Chico Xa-vier recebeu 704.030 votos em todo o Estado, fican-do em segundo lugar o inventor do avião, SantosDumont, com 701.598 votos, e, em terceiro, EdsonArantes do Nascimento, o Pelé, com 260.336 votos.

A sucessão de Chico Xavier

Registramos, como luminosa lição de humildade edesprendimento para todos quantos nos dedicamosaos serviços da Doutrina Espírita, a seguinte declara-ção do médium, contida em entrevista que concedeuao jornal Estado de Minas, de Belo Horizonte (MG),edição de 12/7/80:

P. – Como ficará a Doutrina Espírita após a sua

morte? O senhor acha que ela ficará abalada? Quem

poderá substituí-lo na liderança?

R. – A Doutrina Espírita estará tão bem depois da

minha desencarnação quanto estava antes, porque

eu não sou pessoa com qualidades especiais para

servi-la. Eu sou um médium tão comum, tão falível

como qualquer outro. Não me sinto uma pessoa ne-

cessária e muito menos indispensável. Outros médiuns

estarão aí interpretando o pensamento e a mensa-

gem dos nossos amigos espirituais [...].

Arremate

À guisa de arremate a esta singela homenagem aoquerido irmão, não podemos deixar de lembrar a ve-neranda figura daquele que o preparou, que o con-duziu, que o guiou desde o início de seu mediumato,quiçá já antes que ele reencarnasse, adestrando-lhe oEspírito para o desempenho de tão árdua missão.Referimo-nos ao amoroso Benfeitor espiritual, aodedicado educador que conhecemos pelo nome deEmmanuel. Podemos mesmo afirmar que sem Em-manuel não teríamos o Chico.

A tão elevado Espírito prestamos nossa singela re-verência, suplicando-lhe continue entre nós, a nosajudar com a paciência e o desvelo que tão fortemen-te influíram na consolidação da mentalidade cristãdo Movimento Espírita no Brasil.

Chico Xavier agora estará recebendo os merecidosfrutos de seu abnegado serviço à Humanidade. E a nós,os que nos temos beneficiado com os luminosos re-sultados de sua semeadura, cabe o honroso dever deconduzir-nos à altura dela, inspirando-nos tanto noconteúdo da obra que por ele se concretizou na Terra,como em sua vida digna de um verdadeiro cristão, deum verdadeiro espírita.

A Casa de Ismael, associando-se aos espiritistas detodo o Brasil e do mundo, expressa ao querido compa-nheiro Chico Xavier imorredoura gratidão pela vidainteiramente doada à Causa do Espiritismo Cristão.

Deus o ampare e ilumine nas novas estradas apercorrer!

Bibliografia:

BARBOSA, Elias. No mundo de Chico Xavier. 7. ed. IDE.

COLEÇÕES DE REFORMADOR, órgão da Federação Espírita Brasi-

leira. Diversos volumes.

MAIOR, Marcel S. As vidas de Chico Xavier. Editora ROCCO, 1994.

PEREIRA, Yvonne A. Recordações da mediunidade. 4. ed. 1. reimp.

Rio de Janeiro: FEB, 2009.

RAMOS, Clóvis. 50 anos de parnaso. Rio de Janeiro: FEB, 1982.

SCHUBERT, Suely C. Testemunhos de Chico Xavier. 3. ed. 1. reimp.

Rio de Janeiro: FEB, 2008.

SOARES, Célia (Coord. Editorial). Chico Xavier, mandato de amor.

Belo Horizonte: UEM, 1993.

TAVARES, Clóvis. Amor e sabedoria de Emmanuel. 7. ed. IDE.

______. Trinta anos com Chico Xavier. 5. ed. IDE.

TIMPONI, Miguel. A psicografia ante os tribunais: no seu tríplice

aspecto: jurídico, científico, literário. 6. ed. Rio de Janeiro: FEB,

1999.

XAVIER, Francisco C. Crônicas de além-túmulo. Pelo Espírito

Humberto de Campos. 16. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008.

______. Encontros no Tempo. Espíritos diversos (Hércio Marcos

C. Arantes). 2. ed. IDE.

______. Entender conversando. Pelo Espírito Emmanuel. 7. ed. IDE.

______. Entrevistas. 2. ed. IDE.

______. Novas mensagens. Pelo Espírito Humberto de Campos.

13. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009.

WANTUIL, Zêus; THIESEN, Francisco. Allan Kardec: pesquisa bio-

bibliográfica e ensaios de interpretação. 4. ed. Rio de Janeiro:

FEB, 1998. V. 3.

57Abr i l 2010 • Reformador 175

Page 58: reformador abril 2010 - a.qxp

58 Reformador • Abr i l 2010176

Seara Espírita

Estados Unidos: Reuniões e Palestras emMiami

O presidente da FEB e secretário-geral do ConselhoEspírita Internacional, Nestor João Masotti, esteveem Miami (EUA) para reuniões com a Federação Es-pírita do Estado da Flórida e palestra no Centro Es-pírita Bezerra de Menezes. Neste local, em 12 defevereiro, abordou o tema “Chico Xavier: Mediuni-dade e Caridade com Jesus e Kardec”. Informações:<[email protected]>.

Paraíba: Encontro sobre Chico Xavier No período de 12 a 16 de fevereiro, a Federação Espí-rita Paraibana promoveu o Encontro Espírita Parai-bano (Enesp), incluindo atividades para jovens ecrianças, com o tema “Chico Xavier, um Centenáriode Amor e Luz”. Na conferência de abertura, comDivaldo Pereira Franco, além de numeroso público,houve o comparecimento do arcebispo Dom AldoPagotto. Atuaram também como expositores Severi-no Celestino, Carlos Roberto, Rossandro Klinjey, Jo-sé Raimundo de Lima, Gizelda Arnaud e Marco Li-ma. Informações: <[email protected]>.

Pernambuco: Palestra sobre Chico XavierA Federação Espírita Pernambucana promoveupalestra sobre “Chico Xavier: Vida e Obras”, como diretor da FEB Antonio Cesar Perri de Carvalho,no dia 21 de fevereiro, em sua sede, no Recife,realizada em seguida ao encerramento do evento“Integração dos Centros Espíritas de Pernambu-co” (INTECEPE), iniciado no dia anterior, cujotema “Centro Espírita – Base Fundamental do Mo-vimento Espírita” foi abordado pelo citado diretore por Célia Maria Rey de Carvalho. Informações:<www.federacaoespiritape.org>.

Paraná: “Sinfonia do Amor”A “Sinfonia do Amor”, composta por Plínio Oliveira,foi gravada para gerar um DVD, durante grandeevento no dia 24 de fevereiro, promovido pela Fede-

ração Espírita do Paraná, no Teatro Positivo, emCuritiba. Espetáculo que contou com coro infanto--juvenil, coro adulto e músicos, totalizando 180 par-ticipantes. Um grande público prestigiou o evento ehouve saudação pelo presidente da FEP, presença derepresentantes de autoridades paranaenses e dascidades paulistas de Catanduva e São José do RioPreto – onde o compositor também atua –, e do di-retor da FEB Antonio Cesar Perri de Carvalho. Oconcerto é inspirado na vida e obra de Chico Xavier,composto pelo maestro e compositor Plínio Olivei-ra. Informações: <www.feparana.com.br>.

Mato Grosso: Dirigentes estudam Chico XavierNo dia 13 de março ocorreu o Encontro de Dirigen-tes de Casas Espíritas de Mato Grosso, em Cuiabá.O evento teve o apoio da Federação Espírita do Es-tado de Mato Grosso, e houve ênfase nas comemo-rações do Centenário de Chico Xavier. Informações:<www.feemt.org.br>.

Pedro Leopoldo: Inaugurado Espaço Cultural

Na terra natal do médium homenageado foi inau-gurado, em 13 de março, o “Espaço Cultural ChicoXavier – UFMG”, resultante da restauração dasresidências do antigo administrador da FazendaModelo, Rômulo Joviano, na qual Chico participa-va de reuniões e também psicografou livros. Trata-sede uma parceria da Universidade Federal de MinasGerais – responsável pela Fazenda Modelo –, com aFederação Espírita Brasileira e a União EspíritaMineira (UEM), havendo o comparecimento doreitor Prof. Ronaldo Tadêu Pena e da pró-reito-ra de Extensão da UFMG, Prof.a Ângela ImaculadaLoureiro de Freitas Dalben, do presidente da FEB,Nestor João Masotti, e do diretor Antonio CesarPerri de Carvalho, de Marival Veloso de Matos, pre-sidente da UEM, e dirigentes espíritas da cidade.Informações: <www.100anoschicoxavier.com.br>;<www.febnet.org.br>; <www.uembh.org.br>.

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