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ASPECTOS MORFOLÓGICOS DO FRUTO, SEMENTE E DESENVOLVIMENTO PÓS-SEMINAL DE SUCUPIRA-BRANCA (Pterodon emarginatus Vog. - FABACEAE) 1 2 Liliane Bonadio Terra , Breno Marques Silva e Silva , Carlos Ferreira Damião 3 4 Filho e Vitti Môro RESUMO: O presente trabalho teve por objetivo caracterizar morfologicamente o fruto, a semente e o desenvolvimento pós-seminal de sucupira-branca. Frutos, sementes e plântulas foram caracterizados, quanto a forma e as dimensões, por meio de régua milimetrada e os desenhos foram feitos com auxilio do estéreo-microscópio com câmara clara. O fruto de sucupira-branca é do tipo criptossâmara, com cerca de 5,4 e 3,3cm de comprimento e largura, respectivamente, e peso de 0,9g. As sementes são exalbuminosas, glabras, eurispérmicas e elipsóides, com tegumento duro e espesso; a rafe é evidente e heterocroma; o hilo é heterocromo e elíptico; a micrópila é heterocroma, circular, e se localiza no lado do hilo oposto ao da rafe; o embrião é axial, invaginado e ocupa quase toda a semente; o eixo embrionário é espatulado, não infletido e pouco diferenciado. A raiz primária é glabra, de coloração amarelo-esverdeada e de forma cilíndrica, aos cinco dias após a semeadura. Nas plântulas, aos dez dias após a semeadura observou-se a presença de plúmula. Os eófilos são glabros, opostos, paripenados e com folíolos igualmente opostos. A germinação de sucupira-branca é do tipo hipógea. Termos para Indexação: biometria, morfologia, plântula. Fabíola 1 a a Eng . Agr . - UNESP/FCAV – Depto. de Biologia Aplicada à Agropecuária. E-mail: [email protected] 2 CNPq - Mestrando em Agronomia [Produção e Tecnologia de Sementes] - Universidade Estadual Paulista/UNESP – Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/FCAV – Departamento de Produção Vegetal/DPV. Rua Brasília, 700, Bloco C, Apto. 303, 14883260, Vila Industrial, Jaboticabal – SP. E-mail: [email protected] 3 Prof. Dr. – UNESP/FCAV – Depto. de Biologia Aplicada à Agropecuária. E-mail: damiã[email protected] 4 CNPq – Produtividade - Profa. Dra. – UNESP – FCAV - Depto. de Biologia Aplicada à Agropecuária. E-mail: [email protected]

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  • ASPECTOS MORFOLÓGICOS DO FRUTO, SEMENTE E DESENVOLVIMENTO PÓS-SEMINAL DE SUCUPIRA-BRANCA

    (Pterodon emarginatus Vog. - FABACEAE)

    1 2Liliane Bonadio Terra , Breno Marques Silva e Silva , Carlos Ferreira Damião 3 4Filho e Vitti Môro

    RESUMO: O presente trabalho teve por objetivo caracterizar morfologicamente o fruto, a semente e o desenvolvimento pós-seminal de sucupira-branca. Frutos, sementes e plântulas foram caracterizados, quanto a forma e as dimensões, por meio de régua milimetrada e os desenhos foram feitos com auxilio do estéreo-microscópio com câmara clara. O fruto de sucupira-branca é do tipo criptossâmara, com cerca de 5,4 e 3,3cm de comprimento e largura, respectivamente, e peso de 0,9g. As sementes são exalbuminosas, glabras, eurispérmicas e elipsóides, com tegumento duro e espesso; a rafe é evidente e heterocroma; o hilo é heterocromo e elíptico; a micrópila é heterocroma, circular, e se localiza no lado do hilo oposto ao da rafe; o embrião é axial, invaginado e ocupa quase toda a semente; o eixo embrionário é espatulado, não infletido e pouco diferenciado. A raiz primária é glabra, de coloração amarelo-esverdeada e de forma cilíndrica, aos cinco dias após a semeadura. Nas plântulas, aos dez dias após a semeadura observou-se a presença de plúmula. Os eófilos são glabros, opostos, paripenados e com folíolos igualmente opostos. A germinação de sucupira-branca é do tipo hipógea.

    Termos para Indexação: biometria, morfologia, plântula.

    Fabíola

    1 a aEng . Agr . - UNESP/FCAV – Depto. de Biologia Aplicada à Agropecuária. E-mail: [email protected] - Mestrando em Agronomia [Produção e Tecnologia de Sementes] - Universidade Estadual Paulista/UNESP – Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/FCAV – Departamento de Produção Vegetal/DPV. Rua Brasília, 700, Bloco C, Apto. 303, 14883260, Vila Industrial, Jaboticabal – SP. E-mail: [email protected] Prof. Dr. – UNESP/FCAV – Depto. de Biologia Aplicada à Agropecuária. E-mail: damiã[email protected] 4CNPq – Produtividade - Profa. Dra. – UNESP – FCAV - Depto. de Biologia Aplicada à Agropecuária. E-mail: [email protected]

  • MORPHOLOGYCAL ASPECTS OF THE FRUIT, THE SEED AND POST-SEMINAL DEVELOPMENT OF SUCUPIRA-BRANCA

    (Pterodon emarginatus Vog. - FABACEAE)

    ABSTRACT: The objective of this research was to characterize morphologically the fruits, seeds and seedlings of “sucupira-branca”. Fruits, seeds and seedlings were characterized according to it´s shape and dimension through the milimetric scale and with a stereomicroscopic with chamber. According to the results was observed that the “sucupira-branca” fruits are “criptossâmara”, measuring nearly 5.4cm (length) and 3.3cm (width) and weighing 0.9g. The seeds are exalbuminous, glabrous, eurispermic and ellipsoid; the tegument is dry and thick; the rafe is evident and heterochromous; the hilum is also heterochromous and circular; the embryo is axial, invaginated and occupies almost the total seed space; the embryo axis is espatulated, not inflected and little differentiated. The primary root, five days after seeding, is glabrous, yellow-greenish and cylindrical. Seedlings with ten days after seeding was noted the presence of the plumule. The eophylums are glabrous, opposites and paripinnate and with leaflets also opposites. The “sucupira-branca” germination is hypogeal.

    IndexTerms: biometry, morphology, seedling.

    INTRODUÇÃO

    Pterodon emarginatus Vogel é uma Fabaceae, popularmente conhecida por faveiro, sucupira-branca ou fava-de-sucupira. É uma espécie arbórea nativa dos cerrados brasileiros, sendo encontrada em Minas Gerais, São Paulo, Goiás e Mato Grosso do Sul (Coelho et al., 2001; Kurihara et al., 2005). De acordo com Lorenzi (2002), a sucupira-branca apresenta cerca de 8-16m de altura, com tronco de 30-40cm de diâmetro, folhas compostas penadas, com 20-36 folíolos de 3-4cm de diâmetro. A espécie é utilizada no paisagismo, na arborização urbana, na produção de madeira e de carvão (Vale et al., 2001; Kurihara et al., 2005) e na medicina popular (Pasa et al., 2005), pois apresenta comprovada atividade anti-inflamatória (Carvalho et al., 1999).

    Nas regiões mais pobres do Brasil e, até mesmo, nas grandes cidades brasileiras, as plantas medicinais são comercializadas em feiras livres, mercados populares e encontradas em quintais residenciais (Maciel et al., 2002). Em relação ao mercado mundial, cerca de 80% das pessoas utilizam

  • plantas para curar suas enfermidades (Akerele, 1992; Yamada, 1998). De maneira indireta, este tipo de cultura medicinal desperta o interesse de pesquisadores em estudos envolvendo áreas multidiciplinares, tais como a Botânica, a Farmacologia e a Fitoquímica, as quais enriquecem os conhecimentos sobre a inesgotável fonte medicinal natural, a flora mundial. Se, porém, a planta escolhida para estudo não for seguramente identificada, os trabalhos invalidam publicações, tornando-os praticamente inúteis (Farnsworth, 1988; Maciel et al., 2002). Desta forma, a identificação botânica do material a ser estudado é essencial, conforme assegurado por Júnior et al. (1994) e Cordell (1995).

    Groth & Liberal (1988) e Barroso et al. (1999) preconizam que tanto as características externas quanto as internas das sementes são pouco modificadas pelo ambiente, constituindo-se num critério bastante seguro para a identificação de famílias, gêneros e, às vezes, da espécie. Poucos manuais e trabalhos são específicos para a identificação e, na maioria deles, a morfologia de sementes é ignorada ou recebe tratamento secundário, sendo portanto inadequados, pois as sementes são conservativas na sua morfologia e freqüentemente evidenciam caracteres familiares (Gunn, 1981; Oliveira, 1993).

    De acordo com Amorin et al. (1997) e Maciel et al. (2002), os estudos morfológicos auxiliam na identificação botânica da espécie, na interpretação dos testes de germinação em laboratório, na adequação dos métodos de produção de propágulos, no reconhecimento da espécie em bancos de sementes do solo e na fase de plântula em formações florestais. Também se faz necessária no manejo e na conservação da fauna silvestre (estudo de conteúdo estomacal em aves e outros herbívoros), em estudos de Paleobotânica, de Arqueologia, de Farmacologia e de Fitoquímica. Além disso, contribuem também para o estudo dos mecanismos de dispersão, da sucessão e da regeneração natural das espécies (Pinheiro et al., 1989; Melo et al., 2004).

    O presente trabalho teve por objetivo caracterizar morfo-biometricamente o fruto, a semente e o desenvolvimento pós-seminal de sucupira-branca (Pterodon emarginatus Vog.– Fabaceae).

    MATERIAL E MÉTODOS

    Em 2001, foram coletados aleatoriamente frutos de 30 matrizes de Pterodon emarginatus Vogel, localizadas num microhabitat remanescente de

    o ofloresta mista semi-decídua, 21 16'W e 48 19'S, com altitude média de 575m, em Jaboticabal - São Paulo, Brasil. O clima da região de Jaboticabal é caracterizado como Cwa, ou seja, subtropical temperado seco no inverno.

  • Posteriormente, os frutos foram beneficiados manualmente, retirando-se o pericarpo, e as análises morfo-biométricas foram realizadas nos laboratórios de Morfologia e Anatomia Vegetal e de Cultura de Tecidos de Plantas – Departamento de Biologia Aplicada à Agropecuária/DBAA - FCAV – UNESP.

    Para estimar a porcentagem de frutos “chochos” (sem sementes), com presença de sementes claras e sementes escuras e com sinais de ataque de pragas, foram utilizados aleatoriamente três repetições de 100 frutos de sucupira-branca. Para a descrição biométrica dos frutos e das sementes, o material foi examinado a fresco e as medições foram efetuadas aleatoriamente em 50 unidades, com o auxílio de paquímetro digital e régua milimetrada. Foram tomadas as medidas mínimas e máximas de comprimento, largura e espessura e, em seguida, os dados foram dispostos em histogramas de freqüência, assim como a massa seca média das sementes e dos frutos.

    No fruto foram observados: tipo, consistência, superfície, indumentos, forma, deiscência, coloração, ápice, margens e base (Damião Filho, 1993; Barroso et al., 1999; Damião Filho & Môro, 2005). Nas sementes observou-se externamente: tipo, forma, coloração e textura. Para as descrições internas, foram realizados cortes longitudinais e transversais, para visualização em estereomicroscópio da forma, coloração, textura, presença ou ausência do endosperma, forma, tipo e posição do embrião (Damião Filho, 1993; Barroso et al., 1999; Damião Filho & Môro, 2005).

    Para o teste de germinação, foram utilizadas 40 sementes, escarificadas com lixa e não escarificadas, colocadas em meio de cultura, na metade da concentração salina proposta por Murashige & Skoog (1962). Em substrato

    Rcomercial “Plantmax ”, foram utilizadas apenas sementes não escarificadas. Para a semeadura in vitro, as sementes passaram por assepsia superficial com álcool 70%, durante três minutos e, em seguida, em hipoclorito de sódio a 0,2%, durante vinte minutos. Na seqüência, as sementes foram individualmente transferidas para o meio de cultura, contidos por tubos e submetido à esterilização, em autoclave, na temperatura de 120°C e uma atm, durante vinte minutos. Posteriormente, foram conduzidas para sala de crescimento, mantidas na temperatura n 25°C 1 e fotoperíodo de 16 horas, sob lâmpadas de luz branca.

    Para a descrição morfológica das sementes e das plântulas em diferentes estádios de desenvolvimento, foram coletadas plântulas oriundas do teste de germinação com sementes escarificadas, mantidas em meio de cultura. Diariamente, foram realizadas observações para descrição dos diversos estádios da germinação, coletando-se plântulas em fases seqüenciais, de

  • maneira a evidenciar o desenvolvimento da raiz primária, o surgimento de raízes secundárias, a emergência dos cotilédones, o início do crescimento da primeira folha e da gema apical conspícua, bem como a expansão do eófilo.

    A germinação foi caracterizada quanto ao tipo e as plântulas, quanto a forma, coloração, textura, indumentos, superfície e venação dos protófilos e da folha, filotaxia e presença ou ausência de estipulas (Ribeiro et al., 1999; Damião Filho, 1993; Damião Filho & Môro, 2005).

    Posteriormente foram elaboradas as ilustrações dos frutos, das sementes, dos estádios de desenvolvimento das plântulas, com auxílio de estereomicroscópio com câmara clara acoplada. De forma geral, as descrições seguiram os critérios e as terminologias adotados por Duke (1969), Corner (1976), Oliveira (1993), Damião Filho (1993), Barroso et al. (1999), Smith et al. (2003) e Damião Filho & Môro (2005).

    RESULTADOS E DISCUSSÃO

    Em torno de 39% dos frutos não se observou a formação de sementes (Tabela 1). Frutos atacados por pragas e frutos que continham sementes escuras (potencialmente inviáveis) somaram cerca de 13%. Assim, apenas 48% dos frutos produzidos formaram sementes potencialmente viáveis (Tabela 1). O sistema de propagação utilizando o fruto de sucupira-branca como diásporo (Lorenzi, 2002) não é eficiente quando comparado com a utilização da própria semente (Tabela 1). As sementes de sucupira-branca apresentam dormência tegumentar, pelo impedimento da entrada de ar e/ou gases, pois a maior parte das sementes não escarificadas não embeberam e conseqüentemente não germinaram. As sementes escarificadas germinaram facilmente (Tabela 1). De forma semelhante tais ocorrências foram observadas por Coelho et al. (2001) e Ferreira et al. (2001).

  • TABELA 1. Porcentagens de frutos sem sementes (frutos “chochos”) (FC), de frutos com sinais de ataque de pragas (FP), de frutos com presença de sementes claras (FSC) e de frutos com sementes escuras (FSE) e porcentagens de germinação (PG) de sementes de Pterodon emarginatus Vog., germinadas in vitro com escarificação (GIE) e sem escarificação (GI), e em substrato comercial Plantmax (GP).

    Parâmetros Média

    (%) Desvio Padrão

    (%)

    PG

    Tratamentos (%)

    FC 38,7 8,15 - -

    FP 7,0 3,61 GIE 86,6

    FSC 48,3 10,97 GI 7,1

    FSE 6,0 1,0 GP 3,3

    O pedúnculo da criptossâmara de sucupira-branca é um ramo curto, com cicatrizes bracteais, em nós ao longo da estrutura e o pericarpo apresenta uma expansão alada, em toda a periferia a partir do núcleo seminífero, localizado no centro do fruto e com uma única semente. Portanto, o fruto é monospérmico, alado, seco e indeiscente (Figura 1A). No núcleo seminífero observam-se bolsas nas quais se deposita o óleo essencial. Essas bolsas formam uma fileira única ao longo de toda a periferia do núcleo (Figura 1B). De acordo com Barroso et al. (1999) Pterodon Vog. possui fruto denominado de criptossâmara. Desta forma, a descrição corrobora com o breve relato de Oliveira & Paiva (2005), para os frutos de sucupira-branca. De acordo com Amorin et al. (1997) o fruto de Trema micrantha (L.) Blum. (candiúva) é igualmente monospérmico.

  • pedúnculo

    A

    a

    a’

    b.o.

    s

    B

    expansão alada do pericarponúcleo seminífero

    FIGURA 1. A– Vista externa do fruto de Pterodon emarginatus Vog. B– Corte

    transversal do fruto, indicado no sentido de corte a-a' Legenda: b.o. – bolsa de óleo; s – semente. Barra = 0,5 cm.

    A distribuição de freqüência dos frutos em relação aos parâmetros biométricos comportam-se de forma semelhante a uma curva de distribuição normal, verificando-se que em torno de 62% dos frutos têm peso entre 0,7 a 0,9g, com média de 0,9 0, 2g. Aproximadamente 88% dos frutos possuem comprimento (com ala) entre 5 e 6 cm, com média de 5,4 0,3cm, enquanto, para a largura (com ala), observa-se que 76% dos frutos variavam entre 3,0 e 3,4cm, com média de 3,25 0,298cm (Figura 2A-C). Rizzini (1971) afirma que o fruto da sucupira-branca tem 4-5cm de comprimento e 2-2,5cm de largura.

    0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5 1,60

    5

    10

    15

    NU

    ME

    RO

    DE

    FR

    UT

    OS

    PESO (g)A

    4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 6,50

    10

    20

    C OMPR IM ENTO (cm )B

    2,4 2,6 2,8 3,0 3,2 3,4 3,6 3,8 4,00

    5

    10

    15

    LAR GURA (cm)C

    FIGURA 2. Distribuição das freqüências de frutos de Pterodon emarginatus Vog.

    Legenda: A– -peso (g); B– -comprimento (cm); C– -largura (cm).

  • A freqüência dos frutos em relação aos parâmetros biométricos segue um padrão de distribuição normal, assim como observado por Oliveira et al. (2000) e Cruz et al. (2001), para os frutos de Thefrosia candica DC. (tefrósia) e Hymenaea intermedia Ducke (jatobá).

    As sementes de sucupira-branca são ex-albuminosas, glabras, eurispérmicas e geralmente elipsóides (Figura 3). De acordo com Corner (1976) a semente é bitégmica e anátropa. Devido à variação da forma e de tamanho, as sementes de jatobá são igualmente classificadas como eurispérmicas (Melo et al., 2004). Ferreira et al. (2001) descrevem de forma semelhante as sementes de sucupira-branca. Sobre o tegumento duro, glabro e espesso, são evidentes a rafe e o hilo elíptico, heterocromo, de coloração marrom a negra, que, às vezes, apresenta vestígios do funículo, frouxamente preso na semente madura (Figura 3). Às vezes, é possível observar-se na rafe, próximo a sua região mediana, duas saliências em forma de gotas, semelhantes à rafe da semente do feijão (Damião Filho & Môro, 2005). Em candiúva, o hilo é oboval, castanho-escuro, com superfície plana, lustrosa e glabra (Amorin et al., 1997). De acordo com Melo et al. (2004), a rafe nas sementes de jatobá é linear, pouco desenvolvida e cobre parcialmente a semente. A micrópila é heterocroma, de coloração marrom a negra e apesar de obliterada pelos tegumentos é visível como uma cicatriz circular, localizada no lado do hilo oposto ao da rafe. Em algumas sementes, a obliteração da micrópila não se completa, ficando visível como pequeno orifício. De acordo com Amorin et al. (1997), em sementes de candiúva, a micrópila é homócroma e situada na extremidade arredondada da semente.

  • rafe

    hilo

    micrópila

    A B C

    FIGURA 3. Detalhe da semente de Pterodon emarginatus Vog., em três vistas.

    Legenda: A– face ventral; B– face dorsal e, C– face lateral.Barra = 0,5 cm.

    O embrião é axial, invaginado, papilionáceo e ocupa quase a cavidade da semente (Figura 4). A estrutura do embrião coincide com o descrito para várias espécies de leguminosas (Oliveira, 1999). Da mesma forma, Davide & Chaves (1996) descrevem os embriões de Erytrina falcata Benth.(mulungu) e Platycyamus regnelli Benth.(pereiro) como sendo axiais e invaginados. Segundo Corner (1976) e Damião Filho (1993) o formato papilionáceo do embrião é característico da família Fabaceae. O embrião papilionáceo, geralmente com cotilédones plano-convexos, variando de membranáceos a carnosos, com a inserção do eixo hipocótilo-radícula bem delimitada, cordados/sagitados ou apenas profundamente sagitado (Barroso et al., 1999).

    O eixo embrionário é espatulado, não infletido, pouco diferenciado, diminuto em relação ao tamanho da semente e com a porção basal mais larga do que a superior (Figura 4). Em Dipteryx alata Vog.(cumaru), o eixo embrionário da semente é infletido (Ferreira et al., 1998). O eixo pode estar parcialmente ou totalmente alojado entre os cotilédones, sendo nas Faboideae típicas, bastante curvo e infletido sobre os cotilédones. Porém, essa característica não é constante nessa subfamília, uma vez que o grau de inflexão é muito variável e o eixo pode ser reto (Corner, 1976; Barroso et al., 1999). Sabendo-se da influência que a forma do óvulo exerce na semente, Corner (1976) verificou que as sementes das Faboideae originam-se de óvulos campilótropos.

  • Os cotilédones são crassos, plano-convexos, elípticos, de coloração verde-amarelada e dispostos longitudinalmente ao eixo embrionário (Figura 4). De acordo com Corner (1976), o endosperma é geralmente ausente em Fabaceae e quando presente apresenta poucas camadas de células. As sementes de P. emarginatus Vog. apresentam algumas camadas parecidas com células endospermáticas. Os resíduos remanescentes da nucela e as camadas de células presentes regridem imediatamente antes da maturidade (Oliveira & Paiva, 2005). As espécies de Fabaceae devem desenvolver de forma semelhante como descrito para P. emarginatus Vog. Porém, sua nucela pode ser confundida com o endosperma, como isso geralmente acontece (Oliveira & Paiva, 2005). De acordo com esses autores a reserva armazenada nos cotilédones das sementes de sucupira-branca é constituída principalmente por lipídios e proteínas.

    A B

    cotilédones

    eixo embrionário

    FIGURA 4. Embrião da semente de Pterodon emarginatus Vog.

    Legenda: A– com um cotilédone removido, vista interna mostrando a

    cavidade onde alojava-se o eixo embrionário (seta larga); B– cotilédone,

    vista interna mostrando o eixo embrionário.

    Barra = 0,5 cm.

  • A massa seca, o comprimento, largura e espessura média das sementes de sucupira-branca observadas foram de 0,075 0,02g; 9,68 1,15mm; 4,59 0,52mm e 2,53 0,34mm, respectivamente. Os paramétricos biométricos apresentados estão de acordo com os relatados por Ferreira et al. (2001). No entanto, os valores máximos e mínimos, 9-13mm de comprimento, apresentados por Rizzini (1971) não correspondem aos agora observados (Figura 5).

    3 ,2 3, 4 3,6 3, 8 4,0 4, 2 4,4 4,6 4,8 5,0 5,2 5 ,4 5,60

    5

    10

    NU

    ME

    RO

    DE

    SE

    ME

    NT

    ES

    L ARGURA (m m)

    1,6 1, 8 2 ,0 2, 2 2, 4 2 ,6 2, 8 3 ,0 3,2 3, 4 3 ,60

    5

    10

    E S P E S S U R A ( m m )

    0, 04 0,0 5 0 ,06 0,07 0,08 0,0 9 0 ,1 0 0, 11 0,12 0,130

    5

    10

    NU

    ME

    RO

    DE

    SE

    ME

    NT

    ES

    PE SO (g)A7,5 8,0 8,5 9 ,0 9,5 10,0 10, 5 11 ,0 11, 5 12,0

    0

    5

    10

    COMPRIM ENTO (m m)B

    C D

    FIGURA 5. Distribuição das freqüências das sementes de Pterodon emarginatus Vog.

    Legenda: A– peso (g); B– comprimento (mm); C– -largura (mm); D–

    espessura (mm)

  • Verificou-se que a raiz primária cilíndrica, glabra e de coloração amarelo-esverdeada, aos cinco dias após a semeadura, apresentava diferentes comprimentos, ou seja, iniciando a extrusão do tegumento ou já bem evidente (Figura 6A-B). O mesmo foi verificado para as plântulas, onde, aos dez dias após a semeadura, se observou a presença de plântulas com a plúmula (folhas primárias + gema apical) no início de expansão, enquanto outras já deixavam antever os eófilos, de maneira evidente (Figura 6D-E). Os eófilos são glabros, opostos e paripenados, com folíolos igualmente opostos (Figura 6E). De acordo com o conceito de Duke (1969) e Duke & Polhill (1981), pode-se caracterizar a germinação de sucupira-branca como hipógea (Figura 6E), visto o parco crescimento do hipocótilo. Ferreira et al. (2001), entretanto, classificaram a germinação de sementes de sucupira-branca como fanerocotiledonar epígea.

    As características das folhas aqui descritas são semelhantes às ilustrações realizadas por Rodrigues & Machado (2004) e Ferreira et al. (2001). De acordo com Caldas et al. (1997) as folhas de sucupira-branca apresentam movimentos heliotrópicos lentos e reversíveis, resultantes da curvatura dos púlvinos primários e secundários.

    CONCLUSÕES

    As descrições morfológicas proporcionam subsídios básicos para o reconhecimento prático da espécie em campo e para avaliações durante os testes de germinação e de vigor.

  • A B C

    E F

    rp

    te

    D

    rp

    co

    ep

    pl

    ep

    eo

    co

    p1

    FIGURA 6. Desenvolvimento pós-seminal de Pterodon emarginatus Vog.

    Legenda: A-B– aos 5 dias após a semeadura (d.a.s.); C– aos 7 d.a.s.; D-

    E– aos 10 d.a.s.; F – aos 12 d.a.s.; rp – raiz primária; co – cotilédone; te

    – tegumento; pl – plúmula; ep – epicótilo; eo – eófilo. Barras = 0,5 cm.

  • REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

    AKERELE, O. WHO. Guidelines for the assessment of herbal medicines. Fitoterapia, Barcelona, v.62, n.2, p.99-110, 1992.

    AMORIM, I.L.; DADIVE, A.C.; CHAVES, M.M.F. Morfologia do fruto e da semente, e germinação da semente de Trema micrantha (L.) Blum. Cerne, Lavras, v. 3, n. 1, p. 138-152, 1997.

    BARROSO, G.M.; MORIN, M.P.; PEIXOTO, A.L.; ICHASO, C.L.F. Frutos e sementes – morfologia aplicada à sistemática de dicotiledôneas. 1. ed., Viçosa: UFV, 1999, 443p.

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