revista certificada grendal review -...
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Departamento Acadêmico de la Universidad Grendal
Edición Especial. La Enseñanza
Mediante la Exposición y su
Aplicabilidad.
Revista Certificada Grendal Review
www.grendal.education
GRENDAL COLLEGE AND UNIVERSITY
DIRECTORProf. Msc. Braulio Lourenço – Brasil
SECRETARIAAline Bersagui
CONSEJO DE REDACCIÓNProf. Dra. Tânia Castelliano – BrasilProf. Dr. Jorge Becerra – Peru Prof. Dr.Victor Serna – USAProf. MsC. Rufino Tunga – AngolaProf. Dr. Juan Ángel Mario Rolleri – Bolivia
JUNTA EDITORIADr. Tapash Kumar BiswasDr. Friedrich SchneiderDr. Friedrich Schneider Dr. Zaid N. Zaid Al- ShammariDr. Zaid Dr. Onadipe SamuelDr. Onadipe Dr. Rashid AlammariDr. Rashid Alammari Dr. Akash KumarDr. Akash Kumar Dr. Samer RastamDr. Samer Rastam Dr. Brent M. TaborDr. Brent M.
CONSEJO ASESOR CIENTÍFICO .
Dr. Tapash Kumar Biswas
Career Summary
Dr. Tapash Kumar Biswas has about 24 years processional
experience in research, training and project
implementation, monitoring and evaluation of
development projects in the field of rural development,
especially on poverty reduction, micro finance,
demography, research methodology, participatory
planning, results-based management, agriculture, food
security and women's empowerment. Dr. Biswas started
his career as Statistical Officer of Bangladesh Bureau of
Statistics (BBS), held different positions at BARD and at
IRRI. He has also published about 30 research and impact
evaluation studies. Dr Biswas has also designed a
significant number of training courses especially in the
areas of Research Methodology for Social Science
Researchers; Project Monitoring and Evaluation; Results-
based Management; Participatory Rural Appraisal (PRA);
Project Cycle Management (PCM); Participatory Planning,
e t c . H e h a s o r g a n i z e d a b o u t 5 0 t r a i n i n g
courses/workshops/seminars on national and
international level.
Dr. Friedrich Schneider
Career Summary
Dr. Friedrich Schneider is Full Professor of Economics at
Johannes Kepler University of Linz, Austria. He obtained his
PhD in Economics from the University of Konstanz and has
since held numerous visiting and honorary positions at a
number of universities. He was Dean of Social Science and
Economics and Vice President of Foreign Affairs at
Johannes Kepler University of Linz and President of the
Austrian Economic Association. He has also been
consultant to numerous organizations including the
Brussels EU Commission. He has published extensively in
various economic journals.
Revista Científica Grendal Review Av. Nilo Peçanha n° 1851, Sala 308Três Figueiras, Porto Alegre – Rio Grende do SulE-mails: [email protected] I [email protected]ço Eletrônico: www.grendal.education
Dr. Zaid N. Zaid Al- Shammari
Career Summary
Dr. Zaid is a leader and an educationist and the founder of
the Student Education Journal at GUST. His extraordinary
skills and educational background make him another
feather in Wac University's cap.
Dr. Onadipe Samuel
Career Summary
Dr. Onadipe is award holder of MTN Certificate of
participation and the President, National Association of
Computer Science Students (NACOSS), FCE (T) Chapter. He
has also served as financial secretary, National Association
of Mathematics Students of Nigeria (NAMSON) FCE (T)
Chapter. He has strong interpersonal skills and plans,
prioritize, and take responsibility for his work.
Dr. Rashid Alammari
Career Summary
Rashid Alammari has a teaching and administrative
experience of around 10 years in Electrical Engineering and
Power Systems. He has served as the Chairman and Vice
Chairman of the Department of Electrical Engineering at
the Qatar University. He has technical experience in
computer systems and programming languages (Fortran
and C++) and software programs for teaching and research
in the field of electrical engineering and in the field of
power systems (NAG, ETAP Power Station, and Power
World Simulator). He has participated in many national
and international conferences and workshops and has also
received Distinguished Research Faculty Award from the
Qatar University.
Dr. Akash Kumar
Career Summary
Dr. Akash Kumar is a highly valued member at the Wac
University because of his interest in developing such
systems and devices that can help improve the quality of
life. In this regard, he has also developed 'Method and
Apparatus for Syndrome Calculation' and 'Pipelined Reed-
Solomon Decoder'. Currently he is conducting a research
to design predictable multi-processor systems –
predictable in terms of both the architecture and the
applications. He has also received numerous scholarships
and research and teaching grants. He has also been
awarded Gold Medal at Singapore Mathematical
Olympiad. He has highly developed technical and language
skills.
Dr. Samer Rastam
Career Summary
Dr. Samer Rastam brings with him years of experience of
research in the field of medicine and tobacco. He is also
working for the establishment of of the Syrian Center for
Tobacco Studies to support the tobacco control efforts in
the region and has around 25 publications to his credit.
Dr. Brent M. Tabor
Career Summary
Dr. Brent M. Tabor is a financial expert and possesses rich
experience in the fields of accounting and finance.
Currently pursuing a PhD at North Central University, AZ,
Brent M.
03
PREFÁCIO .........................................................................................................................................................07
CURRÍCULO E CULTURAAlberto Breno de Medeiros e Ana Karla de Medeiros ....................................................................................09-11
AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM E A SUA IMPORTÂNCIA PARA A PRÁTICA PEDAGÓGICAWalma Laene Ferreira e Valdete Pudencio Ribeiro .......................................................................................12-22
ANÁLISE DA DEFICIÊNCIA INTELECTUAL DE ESTUDANTES E OS DESAFIOS PARA OS PROFESSORES DE UMA ESCOLA PÚBLICA DO MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA/PBKátia Cilene Carvalho da Cunha ...................................................................................................................23-27
A PRÁTICA PEDAGÓGICA EM SALA DE AULA: AVALIAÇÃO DE TÉCNICAS METODOLÓGICAS DE LEITURA E ESCRITARachel Batista dos Santos ...........................................................................................................................28-32
A IMPORTÂNCIA DA GEOGRAFIA BÍBLICA PARA COMPREENSÃO DO CRISTIANISMO, JUDAÍSMO E ISLAMISMO: UMA VISÃO DOCENTEMarcos Aurelio Martins da Costa .................................................................................................................33-44
O ENSINO DE MATEMÁTICA: A NUMERALIZAÇÃO COMO PRINCÍPIO NORTEADORElvisson Nascimento De Oliveira ..................................................................................................................45-57
A SEXUALIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL E O PAPEL DO EDUCADORMaria Caroline Diniz Escorel........................................................................................................................58-62
AVALIAÇÃO: UMA FERRAMENTA PARA POSSIBILIDADES DE CRESCIMENTOSônia Duarte Dantas de Oliveira .................................................................................................................63-69
AVALIAÇÃO DO APRENDIZADO DE CIÊNCIAS EM UMA ESCOLA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL II Francinéria Bezerra de Queiroz Henrique.....................................................................................................70-74
CURRÍCULO E AVALIAÇÃO ESCOLAR: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICAAndré Nóbrega de Sousa e Gilbert Guimarães Monte...................................................................................75-80
EDUCAÇÃO ESPECIAL: ASPECTOS LEGAIS DA INCLUSÃO E CONFIGURAÇÃO DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICASGilneide Albuquerque de Medeiros.............................................................................................................81-94
INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA NA ESCOLA REGULAREdnalva Soares de Carvalho e Rondinelli de Carvalho Silva..............................................95-101
ALFABETIZAÇÃOE LETRAMENTO LITERÁRIONA PERSPECTIVA DO PROCESSO ENSINO APRENDIZAGEM DAS SÉRIES INICIAIS: PAPEL DO PROFESSOR/FORMAÇÃO– PAPEL DA ESCOLA/FAMÍLIAMaria de Fátima Barbosa e Maria Auxiliadora Costa............................................................................102-111
PSICOMOTRICIDADE RELACIONAL NO FAVORECIMENTO DA APRENDIZAGEMAlexandra Paiva de Menezes e Fabiula Feitosa Rodrigues.........................................................................112-121
S u m m a r y
04
POLÍTICAS PÚBLICAS PARA INCLUSÃO DE PESSOAS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAISEster de Melo e Silva e Celidyana Alves Nogueira.....................................................................................122-132
O PLANEJAMENTO ESCOLAR COMO PRÁTICA EDUCACIONALAndré Nóbrega de Sousa e Cristiane Pereira Soares da Silva.....................................................................133-141
MESQUITA: ARTE, SABEDORIA E SAGRADOElvisson Oliveira do Nascimento e Guilherme Hempel Ferreira Gomes.....................................................142-147
AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM ESCOLAR: MAIS UM PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTOZeneide Fernandes Araujo de Almeida .....................................................................................................148-153.O PLANEJAMENTO É ESSENCIAL NA PRÁTICA PEDAGÓGICAMaria da Glória Gomes de Meireles Mendonça e Francisco Xavier de Mendonça.....................................154-161
A EDUCAÇÃO INCLUSIVA SOB A ÓTICA DE VIGOTSKYPátilla Vanessa Matias Gama e Sonia Duarte Dantas de Oliveira..............................................................162-170
ANÁLISES DOS ESPAÇOS DE SALA DE AULA DENTRO DOS DESAFIOS DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC)Sdurce Helena Santos do Nascimento Arakaki e Marcos Arakaki...............................................................171-178
A EXPANSÃO DO INSTITUTO FEDERAL NA PARAÍBA, O DESAFIO DA IMPLANTAÇÃO Alexandre Urquiza....................................................................................................................................179-195
A CURA NO VALE DO AMANHECER: UMA ANÁLISE DO TRABALHO DE CURA EVANGÉLICAZeneide Fernandes Araújo de Almeida e Guilherme Hempel Ferreira Gomes..........................................196-204
POLITICA PÚBLICA: ESCOLA TEMPO INTEGRAL NA REDE MUNICIPALFrancinéria Bezerra de Queiroz Henrique e Clizaldo Luiz Maroja Di Pace França........................................205-209
A FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES: CONTRIBUIÇÕES À MELHORIA DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICASDeusdedit de Lima e Dídimo George de Assis Matos.................................................................................210-215
AVALIAÇÃO DA PRÁTICA DA LEITURA E SUAS LIMITAÇÕES EM UMA ESCOLA PÚBLICA DO MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA/PBKátia Cilene Carvalho da Cunha e Rachel Batista dos Santos.....................................................................216-221
AVALIAÇÃO ESCOLAR E AÇÃO DOCENTE Tarciano Paiva Felismino..........................................................................................................................222-233
AVALIAÇÃO DOS SISTEMAS EDUCACIONAIS E O EXAME NACIONAL DO ENSINO MÉDIO (ENEM)Givanilda Queiroz De Souza......................................................................................................................234-237
AS CONTRIBUIÇÕES DO PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO – PNE 13.005/2014 À EDUCAÇÃO ESPECIALGivanilda Queiroz de Souza.........................................................................................................238-246
EDUCAÇÃO E MEIO AMBIENTE: REVISÃO DA LITERATURAGilmara Benício de Sa e Huber Danúbio Correia Danowski..................................................................247-251
DEFINIR O CURRICULO PARA OS CURSOS DE GESTÃO NAS ESCOLAS TECNICAS EM PERNAMBUCOPaulo Zimmermann.................................................................................................................................252-257
05
GESTÃO ESCOLAR: ASPECTOS AVALIADOS EM DIFERENTES DIMENSÕESHelio Duarte de Assis Filho e Vera Lúcia dos Santos................................................................................258-266
DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM NA 1º FASE DO ENSINO FUNDAMENTAL EM ALUNOS QUE APRESENTAM TRANSTORNO GLOBAL DO DESENVOLVIMENTOTânia Maria Pereira Pires.........................................................................................................................267-278
06
P R E F Á C I O
A REVISTA CIENTÍFICA GRENDAL
REVIEW é uma ferramenta internacional de grande
valor no processo de implantação da educação a
d i s t â n c i a , p r i m a n d o p e l a q u a l i d a d e e
aperfeiçoamento de seu corpo docente e discente
dos países de língua portuguesa e hispana.
O fato de ser seus próprios professores e
alunos que produzem diferentes capítulos da revista,
demonstra que, a instituição está preocupada em
construir com sua equipe as estratégias de
atendimento educacional em EaD e, além do
aspecto relacionado especificamente com o
processo docente, constata-se também que há uma
preocupação com a gerência do processo
educacional em EaD.
Outro aspecto que gostaríamos de ressaltar,
é a coragem de todos os participantes de relatarem
sua vivência de campo, por intermédio de textos
escritos por profissionais que muitas vezes tiveram
que colocar toda sua criatividade para poderem
garantir a qualidade de seu trabalho.
Finalmente desejos externar nosso
agradecimento pela consideração com a qual fui
brindado de escrever o prefácio de uma revista, que
sem dúvida alguma será o orgulho de pesquisadores
dos países de língua portuguesa e hispana, uma vez
que, a mesma está sendo o resultado dos esforços
de todos.
07
Prof. Dr. Jorge Becerra
Vice-Presidente e Diretor da Divisão Latino-americana
08
9
CURRÍCULO E CULTURA
Alberto Breno de Medeiros1
Ana Karla de Medeiros2
RESUMO
Este trabalho reflete acerca da relação entre cultura e currículo escolar voltado às diferenças culturais. A esta relação faz-se necessário à construção de discursos significativos para o desenvolvimento do currículo escolar, na perspectiva da promoção de uma educação de qualidade, democrática, relevante do ponto de vista da modificação do conhecimento escolar e multiculturalmente orientada. Para alcançar esta reestruturação no currículo é necessário percorrer um caminho difícil, contraditório, contestável e frágil, mas essencial para obter sucesso.
Palavras-chave: Currículo. Cultura. Multicultura.
ABSTRACT
This work reflects on the relationship between culture and curriculum geared to cultural differences. To this list it is necessary to the construction of significant speeches for the development of school curriculum with a view to promoting quality education, democratic, relevant from the point of view of modification of the educational and multicultural oriented knowledge. To achieve this restructuring the curriculum is necessary to travel a difficult road, contradictory, flimsy and fragile, but essential for success.
Keywords: Curriculum. Culture. Multiculture.
10
INTRODUÇÃO
O currículo é compreendido por SILVA (2002,
p.150) como “uma trajetória, relação de poder,
documento de identidade”. Desse modo, torna-se
peça fundamental para a compreensão da
organização escolar, do trabalho pedagógico e da
relação com o conhecimento no contexto da educação
escolar. Nos sistemas educacionais e nas escolas,
inúmeros têm sido os esforços por elaborar propostas
curriculares que venham a favorecer a construção de
uma escola de qualidade no país diante das
necessidades atuais do país.
A cultura do aluno, para alguns docentes, não
tem correlação com a qualidade cotidiana distribuída
nas aulas e a diversidade cultural é um obstáculo e
que deve ser superado através da implantação de
uma cultura oficial, extinguindo assim a pluralidade
cultural (SACRISTÃN, 200). Desse modo, tais escolas
induzem ao processo de padronização de
comportamentos, conhecimentos e habilidades, ou
seja, homogeneização cultural.
1. CURRÍCULO
O currículo no ambiente escolar é o espaço em
que se concretiza o processo educativo, o qual pode
ser considerado como o principal instrumento para
promover a qualidade na educação (MENDONÇA et
al., 2009). Nesse sentido, o currículo não pode ser
instituído como um simples processo de transmissão
de conhecimentos e conteúdos. Pois, apresenta um
caráter político e histórico, como também, constitui
uma relação social, no sentido de que a produção do
conhecimento nele envolvido é produzida através de
uma relação entre pessoas (GOMES, 2007).
É através do currículo que as ações
pedagógicas se desdobram nas escolas e nas salas
de aula. Assim, o currículo corresponde, então, ao
eixo principal da escola. Daí a necessidade de
discussões sobre o currículo, que permitam prosseguir
no entendimento do processo curricular e das relações
entre o conhecimento escolar, a sociedade, a cultura,
a auto formação individual e o momento histórico em
que estamos situados (MENDONÇA et al., 2009).
A reflexão sobre currículo está instalada como
tema central nos projetos político pedagógicos das
escolas e nas propostas dos sistemas de ensino,
assim como nas pesquisas, na teoria pedagógica e na
formação inicial e permanentes dos docentes.
Conforme Silva (2009, p.195):
As narrativas contidas no currículo, explícita ou implicitamente, corporificam noções particulares sobre conhecimento, sobre formas de organização da sociedade, sobre os diferentes grupos sociais. Elas dizem qual conhecimento é legítimo e qual é ilegítimo, quais formas de conhecer são válidas e quais não o são, o que é certo e o que é errado, o que é moral e o que é imoral, o que é bom e o que é mal, o que é belo e o que é feio, quais vozes são autorizadas e quais não são. As narrativas contidas no currículo trazem embutidas noções sobre quais grupos sociais podem representar a si e aos outros e quais grupos sociais podem apenas ser representados ou até mesmo serem totalmente excluídos de qualquer representação. Elas, além disso, representam os diferentes grupos sociais de forma diferente: enquanto as formas de vida e a cultura de alguns grupos são valorizadas e instituídas como cânon, as de outros são desvalorizadas e proscritas. Assim, as narrativas do currículo contam histórias que fixam noções particulares sobre gênero, raça, classe – noções que acabam também nos fixando posições muito particulares ao longo desses eixos.
As indagações sobre currículo, presentes nas
escolas e na teoria pedagógica, demonstram que a
consciência de que os currículos não são conteúdos
prontos a serem passados aos alunos. São produtos
da construção e seleção de conhecimentos e práticas
obtidas em contextos concretos e em dinâmicas
sociais, políticas, culturais, intelectuais e pedagógicas.
11
A prática social do currículo escolar esta
ancorada no espectro e dinamismo da cultura e, assim
sendo, questões fundamentais que expressam sua
complexidade precisam ser objeto de reflexão e de
análise,
2. CULTURA
Para Geertz (1989, p.15), “a cultura é um
sistema ordenado de significados e símbolos, em
cujos termos os indivíduos definem seus mundos,
revelam seus achados e fazem seus julgamentos”.
A cultura é o alicerce e o argumento que
explicam os acontecimentos sociais, comportamentos
humanos e os eventos que dão significado ao dia-a-
dia. “Sem os homens certamente não haverá cultura,
mas de forma semelhante e muito mais
significativamente, sem cultura não haveria homens”
(GEERTZ, 1989, p.61).
Na contemporaneidade, os discursos sobre
cultura tendem a assumir diversas perspectivas,
sentidos e frentes de lutas. Pois, muitos saberes são
extintos do ambiente escolar por sua cultura não
estarem de acordo com o padrão de interesse de toda
a sociedade (TEIXEIRA; BEZERRA, 2007).
O currículo deve estar relacionado com as
diferentes culturas, porque todos os alunos possuem
capacidades que podem ser desenvolvidas sem lançar
fora suas tradições e valores culturais.
O sistema educacional através de um
currículo multicultural deve inserir a liberdade cultural
sem preconceitos (culturais e sociais) com postura
crítica de modo a conciliar a identidade cultural
nacional com a globalização mundial.
O currículo tem como papel importante o
estímulo da troca entre os diversos grupos culturais
proporcionando um enriquecimento mútuo, através de
questionamentos e desconstrução de discursos e
práticas monoculturais, desvelando as relações de
poder existentes entre as culturas no currículo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo educativo (ensino-aprendizagem)
deve promover uma educação multicultural e,
consequentemente, inserir estes valores em seu
currículo através de novas práticas e um
comprometimento da realização de mudanças
profundas neste processo.
A nossa sociedade, em dias atuais, tem
necessitado da construção de um currículo crítico,
político e que coloca como essencial a diversidade
cultural através da vivência e discussões constantes
sobre problemas, como por exemplos, preconceito e
discriminação. Descolonizar os currículos é mais um
árduo desafio para a educação escolar, pois é
necessário aceitar a diversidade posicionando-se
contra as diversas formas de dominação, exclusão e
dominação.
REFERÊNCIAS GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC – Livros Técnicos e Científicos, 1989. GOMES, Nilma Lino. Diversidade e Currículo. In: BEAUCHAMP, Janete; PAGEL, Sandra Denise; NASCIMENTO, Aricélia Ribeiro. Indagações sobre currículo: diversidade e currículo. Brasília: Ministério da Educação; Secretaria de Educação Básica, 2007. MENDONÇA R. H., MOREIRA, A. F. B., SANTOS, L., GALLO, S., VIEGA-NETO, A. Currículo: conhecimento e cultura. TV Escola/Salto para o futuro, n. 1, p. 1- 35, 2009 SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de Identidade: uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. . Currículo e identidade social: territórios contestados. In: SILVA, Tomaz Tadeu da (Org.). Alienígenas na sala de aula: uma introdução aos estudos culturais em educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. TEXEIRA, C. R., BEZERRA, R. D. B. Escola, currículo e cultura(s): a construção do processo educativo na perspectiva da multiculturalidade. Dialogia, v. 6, p. 55- 63, 2007.
12
AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM E A SUA IMPORTÂNCIA PARA A PRÁTICA PEDAGÓGICA
Walma Laene Ferreira Valdete Pudencio Ribeiro
RESUMO
Diante da importância do tema, serão enfatizadas questões referentes ao processo de avaliação no contexto escolar, exercício praticado pelo professor mediante a prática da ação didática, a qual se deve fundamentar no âmbito da dinamicidade, visando analisar o nível de aprendizagem do educando que representa um dos principais elementos do processo de ensino-aprendizagem. A elaboração deste artigo acontece a partir de estudos bibliográficos, que tem como objetivos refletir sobre as práticas que permeiam as formas avaliativas no contexto escolar, e a importância da avaliação na formação de docentes. Compreender que a avaliação representa um processo permanente de aprendizagem, dinâmico e transformador do contexto social, político, econômico e cultural.
Palavras chaves: avaliação, aprendizagem, formação de professores, processo educativo.
ABSTRACT
Given the importance of the subject, will be emphasized issues relating to the evaluation process in the school context, exercise practiced by the teacher through the practice of teaching action, which must be based within the dynamics, aiming analyze the level of learning in the classroom is one of the main elements of the teaching- learning process. The preparation of this article happens from bibliographic studies, which aims to reflect on the practices permeate the evaluative forms in the school context, and the importance of evaluation in teacher education. Understanding that the review is an ongoing process of learning, dynamic and transforming the social, political, economic and cultural.
Keywords: evaluation, learning, teacher training, educational process.
13
INTRODUÇÃO
A avaliação escolar não representa uma tarefa
fácil, porque avaliar exige uma metodologia adequada
para este procedimento que exige do profissional
docente plena preparação para conduzir tal processo
de maneira coerente para obter resultados positivos.
A avaliação é uma atividade didática
imprescindível para o trabalho docente, que deve
seguir no processo de ensino-aprendizagem. É
através da avaliação que os resultados obtidos no
transcorrer do trabalho entre o professor e os alunos
são confrontados com os objetivos sugeridos e daí
pode-se orientar a tomada de decisões em relação às
atividades seguintes. Avaliar não deve ser apenas
medir, não é um processo exclusivamente técnico, ela
deve ser feita com ética e responsabilidade. É um
processo que inclui ideologias, escolhas, percepções,
crenças e representações, que diz quais os meios
mais adequados aos quais será julgado um fato.
O educador que utiliza instrumentos avaliativos
diversos e acompanha o processo de aprendizagem
de seus alunos ao longo do ano escolar, torna-se
diferente de outros professores que se limitam a
aplicar uma prova ao final do período. No processo
avaliativo o procedimento de observação é muito
importante, pois os comportamentos de alguns alunos
podem chamar a atenção do professor, como:
crianças ansiosas, nervosas, agressivas ou tímidas
demais. Esses comportamentos podem influenciar na
vida escolar do aluno, prejudicando a relação com o
professor, com os colegas, com a sua aprendizagem,
e conseqüentemente seu rendimento escolar.
A escolha desse título deu-se a partir da
experiência profissional como professora de escola
pública, trabalhando com uma turma multisseriada,
onde existem muitas dificuldades, como: crianças com
diferentes faixas etárias, mais de duas turmas em sala
de aula e níveis de aprendizagens diferentes por
turma. Diante dessa realidade torna-se possível
aprofundar a temática a partir da construção deste
artigo bibliográfico, como uma forma de ampliar o
conhecimento sobre o assunto e contribuir
positivamente para a minha prática avaliativa em sala
de aula.
O termo avaliação é muito complexo e vem
sendo muito discutido no campo da aprendizagem,
mas ainda é pouco valorizado. Desta forma, pesquisar
sobre a avaliação faz refletir sobre o posicionamento
do docente enquanto profissional da educação.
Este artigo está organizado da seguinte forma.
De início a introdução, logo depois, a metodologia
empregada para a realização do trabalho, em seguida
conceitos, tipos de avaliação, breve histórico da
avaliação no Brasil, importância da avaliação na
formação de professores, e por fim as considerações
finais.
1. METODOLOGIA
Este artigo é fruto de uma pesquisa bibliográfica
sobre o tema da Avaliação da Aprendizagem,
pesquisada em livros, revistas, internet e artigos sobre
o assunto. O instrumento usado foi à pesquisa
documental. Este artigo procurou alçar subsídios
teóricos para refletir e compreender como se dá o
processo avaliativo no âmbito escolar.
Pesquisar é um processo que deve contribuir
para o conhecimento humano, gerando assim novas
aprendizagens, podendo desenvolver, ampliar,
reproduzir ou atualizar conhecimentos pré-existentes
no pesquisador.
A pesquisa é usada para estabelecer, confirmar
ou reafirmar fatos, resolver questões novas ou já
existentes e desenvolver novas teorias. A pesquisa
bibliográfica abarca leitura, interpretação, análise de
livros, e documentos. Ela é importante porque é um
passo inicial na construção de um processo de
investigação.
Segundo Lakatos (1992):
14
A pesquisa bibliográfica permite compreender que, se de um lado a resolução de um problema pode ser obtida através dela, por outro, tanto a pesquisa de laboratório quanto à de campo (documentação direta) exigem, como premissa, o levantamento do estudo da questão que se propõe a analisar e solucionar. A pesquisa bibliográfica pode, portanto, ser considerada também como o primeiro passo de toda pesquisa científica. (1992, p.44).
Uma das características principais da pesquisa
bibliográfica é oferecer uma bagagem teórica variada,
colaborando para ampliar o conhecimento e fazer da
pesquisa um material rico sobre o assunto.
Esse tipo de pesquisa foi escolhido porque
possibilitou aprofundar o estudo a partir de diversos
autores, e foi dividida em dois momentos:
primeiramente em estudos e discussão feitos em
seminários realizados no curso de pós-graduação
stricto sensu da Unigrendal, e em forma de pesquisa
bibliográfica, que serviu de alicerce para a
investigação.
2. CONHECENDO ALGUNS CONCEITOS DE AVALIAÇÃO
No desempenho da função docente o professor
não deve desenvolver as atividades seguindo as
diretrizes que ditam as regras da prática avaliativa, o
mesmo precisa ser criativo e coerente ao buscar
estratégias para conduzir o processo de avaliação de
maneira diversificada, criando na sala de aula
situações didáticas com que venham diversificar as
atividades referentes à avaliação. Lembrando que
essas situações didáticas devem ser conduzidas de
maneira com que venham desenvolver o
conhecimento do educando de forma ampla. A
avaliação se caracteriza como uma tarefa nada fácil,
porque exige do profissional docente uma postura de
determinação ao conduzir a forma de como conduzir
os passos para proceder no contexto avaliativo.
O processo avaliativo parte do pressuposto de
que se defrontar com dificuldades é inerente ao ato de
aprender e de ensinar. Assim, a análise de
dificuldades e facilidades deve ser compreendido não
como um veredito que irá culpar ou absolver o aluno,
mas sim como uma análise da situação escolar atual
do educando, em função das condições de ensino que
estão sendo oferecidas.
A avaliação deve ser um processo de
mediação na construção do conhecimento, fazendo
com que o educando mostre como anda a construção
da aprendizagem em relação aos conteúdos
explorados na sala de aula. Portanto, a avaliação não
deve se limitar apenas ao ambiente escolar, precisa
ser algo abrangente, de forma que o aluno venha
mostrar tudo o que conseguiu absorver, durante cada
bimestre e ano letivo.
A avaliação é um ato de diagnosticar uma
experiência, visando conduzir para a produção de um
melhor resultado. O ato de avaliar é focado na
construção de melhor resultado, e o ato de examinar
está centrado no julgamento de aprovação ou
reprovação. Por suas particularidades são atos
praticamente opostos, contudo professores em sua
prática diária não fazem essa diferenciação, e acabam
por praticar exames ao invés de avaliação. Libâneo
(1994) define avaliação como:
Um componente do processo de ensino que visa, através da verificação e qualificação dos resultados obtidos, a determinar a correspondência destes com os objetivos propostos e, daí, orientar a tomada de decisões em relação às atividades didáticas seguintes. (LIBÂNEO, 1994, p.196).
A avaliação é uma tarefa didática essencial e
constante para o trabalho docente, ela está sempre
atribuindo qualidades a alguma coisa, situação,
experiência ou alguém. Pode-se então dizer que a
15
avaliação é um componente do processo de ensino-
aprendizagem que aponta para a melhoria dos
objetivos propostos tendo por base a verificação e
qualificação dos resultados obtidos. Conforme afirma
Caldeira (2000):
A avaliação escolar é um meio e não um fim em si mesmo; está delimitada por uma determinada teoria e por uma determinada prática pedagógica. Ela não ocorre num vazio conceitual, mas está dimensionada por um modelo teórico de sociedade, de homem, de educação e, consequentemente, de ensino e de aprendizagem, expresso na teoria e na prática pedagógica (CALDEIRA, 2000 p. 122).
Não existe um fim no processo avaliativo, ele é
uma atividade constante, pois estamos sempre sendo
avaliados ao longo da vida, seja na escola ou na
universidade, no trabalho ou na vida social. De acordo
com Luckesi (1998, p.88), “a avaliação da
aprendizagem está sendo praticada independente do
processo ensino-aprendizagem, pois mais importante
do que ser uma oportunidade de aprendizagem
significativa, a avaliação vem se tornando um
instrumento de ameaça”.
De acordo com o autor, a avaliação está sendo
usada como instrumento de punição para os alunos,
tornando prejudicial seu uso no contexto escolar. Já
que ela é uma aliada do professor que quer uma
melhoria em sua sala de aula, ela se torna essencial.
A avaliação deve englobar a forma de como o
aluno se comporta, de como organiza o material
didático, de como age diante das tarefas propostas no
ambiente pelo professor. Avaliar não significa apenas
submeter o aluno a resolver provas escritas, mas,
incentivar o mesmo a produzir textos visando analisar
como o mesmo se encontra no tocante a
aprendizagem na escrita e leitura.
A avaliação precisa ser bastante eclética no
sentido de fazer com que o aluno possa se expressar
por meio das atividades avaliativas realizadas
semanalmente ou mensalmente. Além das atividades
desempenhadas no ambiente escolar torna-se
fundamental o professor avaliar o educando através
das tarefas realizadas fora da sala de aula, desde que
seja algum tipo de evento promovido pela escola,
porque a participação do aluno significa algo muito
mais importante no desenvolvimento do seu
aprendizado.
Toda e qualquer atividade avaliativa representa
um caminho que conduz o aluno para o horizonte do
conhecimento, o qual significa o passaporte para o
ingresso no mercado de trabalho que diante de tantas
transformações sociais, torna-se cada vez mais
exigente, cobrando do cidadão uma maior preparação
no tocante ao desempenho profissional.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional – LDB n. 9.394/96 não beneficia sistema
rígido de notas parciais e médias finais no processo
de avaliação. A LDB dá preferência à educação em
termos de qualidade e valores, onde o indivíduo
aprende para possuir novas atitudes e valores. O que
pode ser considerado como um avanço no que
concerne ao processo avaliativo previsto na legislação
brasileira.
O papel do professor na avaliação da
aprendizagem exige determinação e flexibilidade para
superar desafios provenientes do exercício da
profissão que apresenta desafios, os quais são
superados por meio da dedicação a profissão, a qual
deve ser conduzida de modo coerente e ético no
intuito de contribuir diretamente no desenvolvimento
do processo de formação do educando na condição
de futuro cidadão que precisa adquirir uma visão do
seu verdadeiro papel dentro do âmbito social, agindo
coerentemente diante das diversas situações do
cotidiano.
De acordo com Ferreira (2011, V.II, n.1) “A
avaliação deve acompanhar o percurso e sinalizar
novos caminhos, não mais ser vista como arma que
16
minimiza o progresso e elimina a autenticidade dos
envolvidos”.
Desse modo, a avaliação objetiva ajudar o
alunado em sua autonomia, em seu desenvolvimento,
ajudando na apropriação das competências, tornando-
se um instrumento de suporte na ação de descoberta
de si mesmo.
O processo avaliativo deve analisar todas as
características do educando dentro da sala de aula e
como o mesmo se comporta diante de determinadas
situações. Avaliar o rendimento da aprendizagem do
aluno é um processo que deve ser conduzido pelo
profissional de maneira que venha analisar todos os
aspectos que envolvem a vida escolar do educando
levando em conta comportamento, participação,
atenção e compromisso com as atividades cotidianas
propostas no ambiente escolar.
Segundo Libâneo (1994, p. 195), “a avaliação
é uma tarefa didática necessária e permanente do
trabalho docente, que deve acompanhar passo a
passo o processo de ensino e aprendizagem”.
Portanto, é através da avaliação que os
professores podem comparar os objetivos propostos
com os resultados alcançados, e identificar as
dificuldades dos educandos, assim como os
progressos, podendo corrigir possíveis erros e
reorganizar seu trabalho, tomando decisões
adequadas. O trabalho avaliativo é muito complexo,
não se restringindo a realização de provas e atribuição
de notas. A avaliação é um reflexo do trabalho do
docente e do alunado, onde as notas fornecem dados
que devem ser analisados qualitativamente. A
avaliação deve ser usada como ferramenta de
investigação para professores e alunos possível de
apontar possibilidades favoráveis na construção do
conhecimento.
A avaliação deve ser conduzida de modo que
o aluno sinta-se motivado a compreender que ao ser
avaliado, precisa mostrar que as informações
transmitidas pelo professor, estão sendo absorvidas
facilmente, neste contexto o educando ao responder
os exercícios está mostrando que há um visível
desenvolvimento na construção da sua aprendizagem.
3. TIPOS DE AVALIAÇÃO
Avaliar não significa apenas atribuir ao
educando notas, para que o mesmo possa passar de
ano, porém, olhando por um ângulo mais amplo
compreende-se que avaliar o discente é muito mais
que um simples processo de notificar o mesmo diante
do desenvolvimento de uma determinada tarefa
avaliativa.
Sobre a avaliação da aprendizagem Luckesi
(2011b) diz que “a avaliação da aprendizagem
necessita, para cumprir o seu verdadeiro significado,
assumir a função de subsidiar a construção da
aprendizagem bem-sucedida” (p.184).
Para o autor a avaliação deve estar a favor da
aprendizagem, contribuindo para a construção de
conhecimentos e minimizar o fracasso escolar. Onde
professores e alunos possam estar envolvidos na
busca da melhoria da aprendizagem, auxiliando no
crescimento de todos os envolvidos.
O planejamento e a avaliação caminham
juntos e estão a favor da obtenção de resultados
satisfatórios.
Entende-se que a educação não significa uma
mera transmissão e memorização de informações
prontas e o aluno é visto como um ser passivo e
receptivo. O contexto educativo representa um
universo que oportuniza o ser humano ir de encontro à
aquisição de conhecimentos teóricos e práticos que
possibilitam o indivíduo desenvolver as habilidades
profissionais dentro do mercado de trabalho,
reconhecendo o seu papel no desempenho de uma
determinada função, como também é importante saber
respeitar as diferenças e conviver em harmonia com
todos.
17
A educação representa o caminho adequado
para a sociedade encontrar os meios que promoveram
o desenvolvimento dos principais aspectos que são
fundamentais para as pessoas em geral, um país sem
uma educação de qualidade não tem possibilidades
de mostrar desenvolvimento, porque onde há
analfabetismo não há desenvolvimento social. A falta
de conhecimentos torna o ser humano alheio aos
acontecimentos que ocorrem em nível de mundo, ou
região e sem uma boa preparação se adequar as
mudanças sociais.
Há diversos tipos de avaliação dentro da prática
didática, os quais devem ser inovados através de
dinâmicas que contribuem para tornar esse processo
interessante. Cada tipo de avaliação apresenta
características peculiares que exigem inovação
através de uma metodologia que venha mostrar
dinamicidade para que o momento de avaliação torne-
se bem mais interessante. Dentro da diversidade da
forma de avaliar identificam-se pelo menos três tipos
de avaliação que podem ser utilizados no contexto
educativo, são eles:
Avaliação diagnóstica: geralmente é realizada
no início do ano letivo para identificar e avaliar o
conhecimento que o aluno tem sobre determinado
assunto. Ela constata particularidades dos alunos e
detecta pré-requisitos para novas experiências de
aprendizagem, assim como determina as causas de
dificuldades de aprendizagem. Como técnicas pode-se
utilizar o pré-teste e a ficha de observação.
Avaliação formativa: ocorre ao longo do ano
letivo, e é através dessa avaliação que se faz o
acompanhamento progressivo e a orientação do
aluno. Esse tipo de avaliação identifica se os métodos
e os recursos estão surtindo resultados positivos. Ela
ajuda o aluno a desenvolver suas capacidades
cognitivas, ao passo que fornece informações sobre
seu desempenho. Identifica obstáculos que estão
comprometendo a aprendizagem. Pode-se usar a
observação de trabalhos individuais e em grupo, e
exercícios práticos.
Avaliação somativa: é realizada ao final de cada
período de aprendizado (bimestral, semestral ou
anual) com o objetivo de medir o conhecimento que foi
adquirido pelo aluno, segundo níveis de
aproveitamento e tem função classificadora. Como
instrumentos têm as provas objetivas e subjetivas.
Além desses tipos mencionados acima, o
professor deve aplicar os seus conhecimentos ao
praticar outros tipos de avaliação através de situações
criadas dentro do ambiente escolar, incrementando a
aula com tarefas dinâmicas, no sentido de inovar a
prática avaliativa que representa um contexto de
relevante importância.
4. BREVE HISTÓRICO DA AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO BRASIL
A história da educação brasileira foi marcada
por muitos fatos que contribuiram para mudar a
conjuntura educacional brasileira que atualmente
mostra-se bem mais desenvolvida, facilitando um
ensino de melhor qualidade para todas as classes.
Os primeiros vestígios de um sistema de
avaliação da aprendizagem ocorreram em 1549 com o
ensino jesuitico, que permaneceu até 1759. Mesmo
não possuindo um sistema avaliativo propriamente
dito, os jesuítas tinham o ensino focado na
memorização, onde seus alunos eram obrigados a
decorar lições.
Esse tipo de ensino possuia uma metodologia
baseada em exercícios de repetição. Ou seja, a
avaliação acontecia por meio dos exercícios
realizados na sala de aula pelos alunos, que
respondiam as perguntas formuladas nas atividades
elaboradas pelo professor, que geralmente era um
religioso.
No período do império, as avaliações quase não
eram realizadas, por não haver um processo avaliativo
18
estabelecido. Nessa época iniciou-se a formação de
professores para escolas primárias. Quando foram
implantados os cursos destinados a formação de
professores para atuar na educação primária, sendo
este um passo muito importante para o universo da
educação, que com o decorrer dos séculos foi se
expandindo, possibilitando o acesso de um elevado
número de pessoas a escola, onde conseguiam se
alfabetizar.
Com o avanço do campo educacional foi se
configurando uma nova realidade dentro da
sociedade, a qual começou a vivenciar os sinais do
desenvolvimento proveniente do aumento de pessoas
preparadas inseridas no mercado de trabalho,
desempenhando as mais diversas funções dentro do
contexto profissional.
No período republicano a avaliação apareceu
de forma mais sistemática onde os educandos
passaram a ser avaliados constantemente por meio de
provas, restringindo a avaliação em aprovação ou
reprovação. Neste período a educação era direito
apenas de pessoas que tivessem condições finaceiras
para pagar os estudos, porque não havia escolas
públicas. Diante dessa realidade as pessoas
pertencentes à classe pobre não tinham como
estudar, portanto, eram privadas de aprender a ler e
escrever, como também o sistema da época não
permitia que o proletariado adquirisse conhecimentos,
porque só a burguesia podia estudar.
Na Escola Nova, o processo avaliativo era feito
de forma subjetiva, pois permitia que o aluno tivesse
autonomia sobre sua formação. Atualmente alguns
educadores já modificaram sua percepção sobre o
que é avaliar, pois perceberam a importância deste
processo no ato educativo e das peculiaridades de
cada educando.
Nos dias atuais o professor demonstra
habilidades criativas no âmbito do processo avaliativo
através de uma metodologia praticamente inovada,
que permite introduzir na sala de aula os mais
diversos métodos que possibilitam avaliar o aluno de
maneira amplamente dinamizada.
A avaliação se caracteriza como uma tarefa que
exige uma observação sistemática dos alunos para
saber se os mesmo estão aprendendo, como estão
assimilando o conhecimento e em que condições ou
atividades eles encontram maior ou menor dificuldade.
Essa avaliação não se refere apenas ao domínio de
conteúdos específicos, mas também ao
desenvolvimento das capacidades.
No âmbito da aprendizagem a escola deve
oferecer ao educando a oportunidade de ampliar o
conhecimento dentro da dimensão cultural, social e
ética. Mediante essa visão, fica claro que educar é
formar e aprender, é construir o próprio saber, por isto,
a avaliação, contempla dimensões, e não se reduz
apenas em atribuir notas.
O exercício de ensinar e aprender consiste
em concretizar mudanças e aquisições de
comportamentos motores, cognitivos, afetivos e
sociais, o ato de avaliar significa observar se eles
estão sendo realmente atingidos e em que grau se dá
essa consecução, para ajudar o aluno a avançar na
aprendizagem e na construção do seu saber.
5. A IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES
Durante o período de preparação do professor,
o mesmo estuda sobre a importância da didática no
desempenho do trabalho educativo, o qual precisa ser
conduzido de modo coerente e fundamentado em um
novo paradigma educacional que exige do profissional
docente preparação, dedicação e responsabilidade.
O processo de formação do profissional
educativo deve mostrar a relevante importância da
preparação docente no sentido de garantir a
realização de um trabalho voltado para a contribuição
no desenvolvimento tanto do educando como da
própria comunidade onde o mesmo encontra-se
19
inserido. Durante o transcorrer do estágio
preparatório, o professor deve conduzir as atividades
referentes à preparação docente como uma prévia do
que significa atuar numa sala de aula, configurando-se
como um sujeito mediador da construção do
conhecimento daqueles que procuram a escola para
adquirir uma preparação profissional.
Para tornar-se um profissional competente tem
que ter comprometimento com o trabalho educacional
que deve ser conduzido diariamente, fundamentado
numa visão ampla do que representa o papel do
educador como uma figura elementar dentro da
sociedade que se desenvolve a partir da influência de
uma educação que apresente qualidade colaborando
na formação de cada indivíduo de modo adequado.
Um professor habilidoso no desenvolvimento
das atividades docentes, as quais quando conduzidas
de modo coerente e criativo contribuem para favorecer
a construção do conhecimento do educando que
precisa ser frequentemente avaliado. De acordo com
Hoffmam (2003, p.32):
Durante muito tempo, o estudo sobre avaliação nos cursos de formação de professores esteve focado em teorias de medidas educacionais: o aprendizado gerava em torno de como fazer provas e como atribuir notas e medidas, o que pode justificar as posturas docentes com as quais convivemos até hoje.
A reflexão sobre o processo avaliativo nos
cursos de formação de professores tem ganhado mais
espaço, onde futuros profissionais questionam os
métodos e a importância dessa tarefa tão complexa.
Tem sido uma grande preocupação dos cursos de
licenciaturas a preparação de professores para
exercer o momento da avaliação.
O professor reflexivo busca encontrar
estratégias adequadas no sentido de proceder
coerentemente no ato de avalliar, desenvolvendo
atividades avaliativas dentro de técnicas
metodológicas inteiramente inovadas garantindo uma
melhor forma de analisar a construção do aprendizado
do educando que deve compreender o quanto o
professor significa como o mediador do conhecimento.
De acordo com Luckesi (2011a), o ato de
avaliar é um ato de investigar, e se necessário intervir.
A avaliação “configura-se como um ato de investigar a
qualidade da aprendizagem dos educandos, a fim de
diagnosticar impasses e consequentemente, se
necessário propor soluções” (p.175).
A forma de encarar o processo avaliativo
reflete a atitude do professor em sua interação com a
classe bem como sua relação com o aluno, este
relacionamento deve ser de respeito mútuo e troca de
experiências visando à construção de saberes
tornando ambas as partes construtoras de uma nova
realidade.
Por exemplo, um professor autoritário e
inseguro, poderá ver na avaliação uma arma de
tortura ou punição para alunos apáticos ou
indisciplinados, porém, agir desta forma o professor
está agindo de maneira inadequada, um profissional
docente que usa a autoridade de forma errada na sala
de aula, não é digno de respeito.
Atualmente o professor deve desenvolver a
função docente dentro de uma visão dinâmica, focada
na introdução de um dinamismo amplo no ambiente
escolar com a finalidade de tornar o mesmo um
universo estimulante, fazendo com que o educando
sinta-me bastante motivado a realizar as tarefas
didáticas com mais empenho, mostrando-se cada vez
mais interessado em aprender.
O professor deve ser sério e responsável,
quanto à orientação sobre as atividades de
aprendizagem dos educando, tenderá a encarar a
avaliação como uma forma de diagnóstico dos
avanços e dificuldades dos alunos e como indicador
para o replanejamento de seu trabalho docente.
A escola deve se conscientizar que a intenção
não é o aluno tirar nota e sim conseguir aprender, já
que ainda existe nota, que ela possa ser utilizada
20
realmente como um identificador para o professor da
necessidade de retomar a sua prática pedagógica. A
avaliação do desempenho do educando deve ser
encarada sempre como instrumento a serviço da
aprendizagem, da melhoria do ensino do professor, do
aprimoramento da escola. Avalia-se visando aumentar
a compreensão do sistema de ensino, das práticas
educativas, dos conhecimentos dos alunos.
A avaliação quando dialógica alcança o
sucesso da aprendizagem, visto que o diálogo é
indispensável, onde o professor se comunica de
maneira apropriada, e agradável com o discente. Por
meio da prática diária do diálogo o professor pode tirar
conclusões em relação aos pontos que devem ser
melhorados na maneira de conduzir as atividades
avaliativas.
O mesmo não deve ser autoritário ao aplicar
as tarefas avaliativas na sala de aula, mas, se mostrar
atencioso para com os alunos, sempre pronto para
responder aos questionamentos feitos pelos educando
que muitas vezes precisam tirar alguma dúvida. O
professor na sala de aula deve se posicionar como
amigo do aluno, mostrando ao mesmo a importância
do respeito mútuo dentro do espaço escolar, o qual
representa o universo em que se constrói o
conhecimento.
Define-se a avaliação da aprendizagem como um ato amoroso no sentido de que a avaliação, por si, é um ato acolhedor, integrativo, inclusivo. Para compreender isso, importa distinguir avaliação de julgamento. O julgamento é um ato que distingue o certo do errado, incluindo o primeiro e excluindo o segundo. A avaliação tem por base acolher uma situação, para, então e só então, ajuizar a sua qualidade, tendo em vista dar-lhe suporte de mudança, se necessário. A avaliação, como ato diagnóstico, tem por objetivo a inclusão e não a exclusão; a inclusão e não a seleção que obrigatoriamente conduz à exclusão. (LUCKESI, 2011b, p.205).
Nas palavras do autor acima citado, fica claro
o quanto o ato avaliativo deve ser conduzido de
maneira atenciosa visando fazer com que o aluno
sinta-se seguro a resolver a tarefa avaliativa. Mesmo
errando nas respostas da prova o educando mostra
que estar buscando aprender, portanto, o professor
deve sempre motivar o aluno a superar as dificuldades
no campo da aprendizagem.
O ato amoroso abrange todo o cuidado que o
docente tem com o alunado, a fim de que este
aprenda tudo o que é preciso, da melhor forma,
buscando assim a inclusão. O sucesso do processo
de ensino estar sujeito também ao ato de cuidar do
próximo, de escolher métodos, ações, alegrias e
tristezas, procurando não julgar e sim entender.
O ato de avaliar fornece informações que
permitem verificar diretamente o nível de
aprendizagem dos alunos, e também, indiretamente
determinar a qualidade do processo de ensino. Ao
avaliar o progresso de seus alunos na aprendizagem,
o professor pode obter informações valiosas sobre seu
próprio trabalho.
Nesse sentido a avaliação tem uma função de
revitalização, porque fornece ao professor dados para
que ele possa repensar e replanejar sua atuação
didática, visando aperfeiçoá-la, para que seus alunos
obtenham mais êxito na aprendizagem a qual precisa
apresentar resultados positivos através do
desempenho do próprio educando que ao resolver as
atividades contidas na avaliação mostra o quanto já
aprendeu, o quanto é capaz de desempenhar as
tarefas propostas no ambiente escolar, o qual deve
ser encarado como um cenário produtor de um
aprendizado que será útil para o resto da vida.
O ato de avaliar no universo da educação
significa uma tarefa didaticamente necessária e
permanente no trabalho diário do facilitador do
conhecimento, ela deve acompanhar todos os passos
do processo de ensino e aprendizagem. É através da
avaliação que vão sendo comparados os resultados
21
obtidos no decorrer do trabalho conjunto do professor
e dos alunos, conforme os objetivos propostos, com a
finalidade de observar progressos, dificuldades e
orientar o trabalho para as correções necessárias.
Rever o ponto de vista de avaliação é
observar as concepções de ensino aprendizagem, de
educação dentro do âmbito escolar, apoiado em
princípios e valores comprometidos com a instituição
de aluno cidadão. Quando isso for empregado na
prática à avaliação poderá ser vista como função
diagnóstica, dialógica e transformadora da realidade
no ambiente escolar.
Avaliar o rendimento da aprendizagem do
aluno é um processo que deve ser compreendido
como uma função de grande importância porque o
mesmo significa um acompanhamento por parte do
professor de como o aluno estar construindo o
conhecimento em relação ao estudo das disciplinas
trabalhadas na sala de aula. A criatividade dentro da
metodologia avaliativa significa inovar cada vez mais,
objetivando mostrar ao educando que a sala de aula
representa um universo em que se constrói o
conhecimento.
A compreensão da avaliação significa um
processo continuo da construção da aprendizagem
que se dar através da interação vivenciada dentro da
sala de aula entre professor e aluno, em que ambas
as partes tenham consciência de que é na troca de
experiências que se constrói o saber que contribuirá
para a integração do educando no mercado de
trabalho.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Mediante o estudo realizado conclui-se que
avaliação é um meio muito importante para a prática
escolar, porque é através dela que se consegue fazer
uma reflexão sobre a prática do docente e do
aproveitamento escolar dos alunos. Estamos em
busca de uma avaliação que tenha como objetivo o
avanço e o crescimento de seus educandos.
Os docentes devem ter a consciência de que
uma avaliação realizada de forma incorreta, ainda de
forma tradicional, contribui para o fracasso escolar e
consequentemente com as relações do contexto
social. A avaliação deve ser um processo de
mediação na construção do conhecimento.
Compreender que o aluno deve ser respeitado em
todos os sentidos seja, físico, econômico, social e
cultural, não podendo haver qualquer espécie de
discriminação, pois sendo valorizado como ser
humano pleno, atingirá seus objetivos sem maiores
problemas. Compreende-se que a avaliação é
indispensável durante todo o processo educativo,
tornando-se assim uma valiosa estratégia de
mediação da aprendizagem, configurando-se também
como uma reflexão e análise sobre o nível de
qualidade do trabalho escolar tanto do professor como
dos alunos. Ela se faz presente em todos os
momentos da atividade humana, o avaliar faz parte do
cotidiano do professor e do aluno.
A avaliação deve ser compreendida como
uma atividade desenvolvida pelo professor que deve
seguir adequadamente na construção do aprendizado
do educando. Através da avaliação é possível analisar
os resultados obtidos pelo aluno, verificando o
progresso e dificuldades, apresentados pelo mesmo
na qual o professor deve saber que cada educando
possui um modo de aprender diferente e utilizar
metodologias adequadas para seus alunos.
A avaliação escolar é bastante significativa
dentro do campo do ensino-aprendizagem, pois faz
com que o aluno assuma poder sobre si mesmo,
tenha consciência do que é capaz de melhorar, cada
vez que obtém uma nota baixa, o mesmo deve tentar
obter melhores resultados nas próximas avaliações.
Desse modo, o professor assumindo uma pedagogia
dinâmica deve oferecer ao alunado diferentes tipos de
22
estratégias que atendam as competências e
capacidades e que sejam significativas.
Por fim, em face de tudo que foi exposto, pode-
se entender que o formato da avaliação promoveu
várias modificações no sistema escolar, dando espaço
a reflexões sobre o avaliar na escola. A avaliação
formativa com base no diagnóstico ganhou espaço,
permitindo corrigir as modalidades de ação no seu
percurso, permitindo um olhar mais atento sobre os
educandos. Contudo para a realização desse novo
HOFFMANN. Jussara Maria Lerch. Avaliação Mediadora: uma prática em construção da pré-escola à Universidade. 27 ªed. Porto Alegre: Editora Mediação, 2003. LAKATOS, Maria Eva. MARCONI, Maria de Andrade. Metodologia do Trabalho Científico /4ª ed. São Paulo. Revista e Ampliada. Atlas, 1992; LIBÂNIO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994; LUCKESI, Cipriano. Avaliação da aprendizagem. São Paulo: Cortez, 2011a.
olhar é preciso à construção de uma nova cultura . Avaliação da aprendizagem escolar. 7ª
escolar, com práticas inovadoras.
REFERÊNCIAS
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ed. São Paulo: Cortez, 1998. . Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições. 22ª ed. Cortez, 2011b. O mito da avaliação da aprendizagem. Disponível em: <http://educador.brasilescola.com/trabalho- docente/o-mito-avaliacao-aprendizagem.htm>. Acesso em 11 de março de 2014.
Avaliação da aprendizagem na formação de professores: estão os futuros professores preparados para avaliar. Disponível em: <http://www.ucs.br/etc/conferencias/index.php/anpeds ul/9anpedsul/paper/view/2082/587>. Acesso em 15 de março de 2014.
Avaliação segundo a LDB. Disponível em: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAfc3AAH/avali acao-segundo-a-ldb>. Acesso em 10 de março de 2014.
Avaliar para ensinar melhor. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/planejamento-e- avaliacao/avaliacao/avaliar-ensinar-melhor- 424538.shtml>. Acesso em 05 de março de 2014. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Disponível em: <http://www.mec.gov.br>. Acesso em: 10 de Maio de 2014.
CALDEIRA, Anna M. Salgueiro. Ressignificando a avaliação escolar. In: Comissão Permanente de Avaliação Institucional: UFMG-PAIUB. Belo Horizonte: PROGRAD/UFMG, 2000. p. 122-129 (Cadernos de Avaliação, 3);
FERREIRA, I. Avaliação na escola: paradigma, concepções e conflitos. Disponível em: < http://professoraivaniferreira.blogspot.com.br/2011/03/ artigo-sobre-avaliacao-escolar.html>. Acesso em: 15 de maio de 2016.
23
ANÁLISE DA DEFICIÊNCIA INTELECTUAL DE ESTUDANTES E OS DESAFIOS PARA OS PROFESSORES DE UMA ESCOLA PÚBLICA DO MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA/PB
Kátia Cilene Carvalho da Cunha1
RESUMO.
Objetivou-se com esse trabalho de pesquisa avaliar a percepção das dificuldades, capacidades e possibilidades dos alunos com deficiência intelectual promovendo e facilitando a interação e evolução deste aluno na escola. O trabalho de pesquisa foi realizado no município de João Pessoa/PB, através da realização de entrevistas via questionário. Para a obtenção dos resultados definiu-se como universo amostral um grupo representativo de dez professores da escolar. De acordo com os resultados constatados nesta pesquisa observou-se que as escolas ainda não se encontram preparadas para receber alunos com deficiência intelectual, sendo os problemas mais discutidos aqueles de ordem econômica e o preconceito. Apesar da inclusão no Brasil ser considerado um assunto novo, grandes tem sido os avanços quanto a este processo. Entretanto, a Política de inclusão da pessoa com deficiência intelectual no Brasil ainda é considerada ruim pelos docentes.
Palavras-chave: inclusão, escola, AEE.
ABSTRACT
The goals of this research was to evaluate the student’s perception when it comes to his/her difficulties, abilities and possibilities and with intellectual disabilities as well by promoting and facilitating his/her interaction and evolution at school. The research took place in João Pessoa city / PB, questionnaire has been used to get to it. In order to have the results a universe sample was used to represent a group of ten teacheres from that school. According to the results observed in this study, schools are not prepared yet to receive intellectual disabilities carrier, therefore the most discussed problems are in related to the economic order and prejudice. Despite the inclusion in Brazil is considered a new issue, it has been great progress on this process. However, the person's inclusion policy with intellectual disabilities in Brazil is still considered awful by teachers.
Keywords: inclusion, school, AEE.
24
INTRODUÇÃO
A deficiência intelectual, durante muito tempo,
foi concebida e tratada como doença mental, tanto
que os termos utilizados para nomeá-la foram
enormemente influenciados pelos conhecimentos e
terminologia da medicina (LOPES, 2009). Entretanto,
nas últimas décadas diversas mudanças de
paradigmas tem modificado este conceito e
desenvolvido novas práticas de ensino e avaliação
curricular para estes estudantes.
De acordo com Gomes (2005), alunos com
Deficiência Intelectual desenvolvem seus próprios
esquemas e evoluem nas suas conceitualizações e
entendimento, mas demonstram dificuldades em
discutir esses esquemas sem mediação de terceiros,
sendo de suma importância centrar-se na educação
cognitiva e promover situações desafiadoras. Assim,
compreende-se como um dos grandes desafios da
escola e do atendimento educacional especializado a
capacidade de desenvolver metodologias adequadas
para ensinar e avaliar esses estudantes dentro de
suas habilidades e dificuldades inerentes de sua
deficiência.
Neste contexto, o aluno com deficiência
intelectual, terá condições de construir sua própria
inteligência de acordo com a quantidade e qualidade
de recursos cognitivos que lhe é disponível, tonando-
se agente na construção do saber. Para Brasil (2007),
o aluno com deficiência intelectual tem uma maneira
própria de lidar com o saber, que não corresponde ao
que a escola preconiza ou estabeleceu previamente.
Portanto, objetivou-se com este trabalho de
pesquisa diagnosticar a visão dos docentes da escola
Municipal de Ensino Infantil e Fundamental Professor
João Medeiros, a respeito dos avanços ocorridos no
processo de inclusão, bem como se encontram as leis
que definem a educação inclusiva, as dificuldades no
processo inclusivo e a política de inclusão
estabelecida no Brasil.
1. METODOLOGIA DA PESQUISA
A pesquisa foi realizada na Escola Municipal
de Ensino Infantil e Fundamental Professor João
Medeiros, situada no município de João Pessoa/PB,
composta por 320 estudantes, 18 professores, 4
especialistas (Supervisor Escolar, Orientador
Educacional, Assistente Social e Psicóloga) 1 diretor,
2 adjuntos, 1 secretário, 1 auxiliar de secretaria, 4
inspetores de aluno, 4 merendeiras, 1 supervisora da
merenda, 4 auxiliares de serviços gerais, 2 monitores
de informática e 4 vigilantes.
Para a obtenção dos resultados foram
selecionados dez professores da escola, os quais
foram convidados a participarem das entrevistas,
realizada através da aplicação de um questionário do
tipo semiestruturado contendo dez questões de
múltiplas escolhas.
Após a obtenção dos resultados estes foram
tabulados utilizando-se o programa Excel e os dados
foram distribuídos de forma quantitativa e qualitativa
utilizando-se determinação de percentuais (%)
correspondentes, e a elaboração de gráficos, de forma
a representar as questões propostas na pesquisa.
2. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Para avaliar a visão dos docentes da escola
Municipal de Ensino Infantil e Fundamental Professor
João Medeiros, a respeito dos avanços ocorridos no
processo de inclusão, bem como se encontram as leis
que definem a educação inclusiva, as dificuldades no
processo inclusivo e a política de inclusão
estabelecida no Brasil, foram abordados e discutidos
alguns questionamentos, conforme apresentados nas
discussões descritas abaixo.
De acordo com o gráfico 1, observa-se que a
opinião dos professores do ensino fundamental a
respeito da política de inclusão da pessoa com
deficiência foram variáveis entre ruim a excelente. A
25
Núm
ero
d e p
rofe
ssor
es-1
Núm
ero
d e p
rofe
ssor
es-1
que a política de inclusão da pessoa com deficiência é
muito ruim, contra um terço dos professores que
consideram a política de inclusão como boa.
docentes a respeito da política de inclusão da pessoa
9 8 7 6 5 4 3 2
0,0% 0,0% 0
100,0% 0,0%
com deficiência, sob a ótica dos docentes da escola.
8
Excelente Boa Regular Ruim Avanço d a ed ucação inclusiva no brasil
Fonte: Pesquisa de Campo
7
5 4 3 2 1 0,0% 0
33,3%
0,0%
66,7%
De forma geral, observa-se que a visão
realista dos docentes é um modo de esporem que
muito da educação não funciona por falta de
capacitação, apesar de o esforço diário ser constante, Excelente Boa Regular Ruim
Opinião d os professores sobre inclusão
Fonte: Pesquisa de Campo
A esse respeito podemos acrescentar que a
Política Nacional de Educação Especial na
Perspectiva da Educação Inclusiva (de janeiro de
2008), afirma que a Educação Especial deve oferecer
o Atendimento Educacional Especializado às
necessidades educacionais especiais dos alunos com:
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e
altas habilidades/superdotação, concordando com a
visão dos professores quanto a este compromisso.
Com relação ao questionamento que aborda
os avanços da educação inclusiva no Brasil, conforme
o gráfico 2, verifica-se que todos os entrevistados
relataram como estão acontecendo de forma regular.
Ou seja, os avanços são morosos e pouco eficientes.
Gráfico 2. Panorama geral quanto à opinião dos
docentes a respeito dos avanços da Educação
inclusiva no Brasil, sob a ótica dos docentes da
escola.
ainda falta capacitação é uma urgência para que a
educação aconteça plenamente. Conforme Omote
(2005), quando se discute a educação inclusiva,
lembramos constantemente da necessidade de uma
profunda mudança nas atitudes por parte de todas as
pessoas envolvidas neste processo, visto que é
necessário que toda a comunidade escolar respeite as
mais variadas diferenças que qualquer estudante pode
apresentar, reconhecendo nelas a oportunidade de
aprendizagem de todos, em sua totalidade.
Com relação de como os professores definem
a lei de educação inclusiva no Brasil, observa-se que
a grande maioria dos entrevistados relataram que a lei
de educação inclusiva no Brasil é regular, e um quinto
do total dos professores entrevistados a
caracterizaram como ruim.
Conforme a literatura, a atual Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Lei 9.394/1996, a respeito do
ensino inclusivo, estabelece que os sistemas de
ensino devem assegurar aos alunos currículo,
métodos, recursos e organização específicos para
atender às suas necessidades, bem como a
terminalidade específica àqueles que não atingiram o
nível exigido para a conclusão do ensino fundamental,
em virtude de suas deficiências; e assegura a
aceleração de estudos aos superdotados para
26
Núm
ero
d e p
rofe
ssor
es-1
Núm
ero
d e p
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ssor
es-1
conclusão do programa escolar (BRASIL, 1996).
Assim, é possível inferir que existem grandes lacunas
ainda a respeito da Lei a respeito do ensino inclusivo
exigindo uma nova postura dos governantes e
gestores envolvidos no processo.
10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0,0% 0,0% 0
100,0%
0,0%
Gráfico 3. Panorama geral quanto à classificação dos
docentes a respeito da Definição da Lei de Educação
inclusiva no Brasil, sob a ótica dos docentes da
escola.
Excelente Boa Regular Ruim
Organização da escola regular diante das necessidades educacionais especiais do aluno com deficiência
Fonte: Pesquisa de Campo
9
7 6 5 4 3 2 1 0,0% 0,0% 0
77,8%
22,2%
Diante dos resultados observados na literatura
tem-se observado que na realidade as escolas
brasileiras não apenas tem estrutura de incluir todos
na livre circulação de suas instalações, mas a
sociedade escolar como um todo não estar preparada
para incluir inteiramente estas pessoas, visto que a Excelente Boa Regular Ruim Definição d a lei d e ed ucação inclusiva no Brasil
Fonte: Pesquisa de Campo
Com relação à organização da escola para
regular diante das necessidades educacionais
especiais do aluno com deficiência, a opinião dos
professores foram amplamente homogênea, visto que
todos os professores classificaram a organização da
escola como regular (Gráfico 4).
De acordo com os resultados obtidos nesta
pesquisa constata-se que o relato dos professores
entrevistados é realístico e marcante, visto que, de
forma geral, a escola não tem condições de receber
portadores de necessidades especiais.
Gráfico 4. Panorama geral de como encontra-se
organizada a escola regular diante das necessidades
educacionais especiais do aluno com deficiência, sob
a ótica dos docentes da escola.
socialização dos alunos especiais acontece com
respeito e tolerância entre os demais estudantes,
porém o processo de ensino-aprendizagem não é real,
uma vez que faltam especialistas para realizar essa
tarefa, visto que toda a comunidade escolar é
responsável por este processo de inclusão.
No tocante a identificação dos problemas que
interferem no processo de inclusão do aluno com
deficiência intelectual na escola, conforme o gráfico 5
observa-se que 44,4% dos entrevistados relataram
que os principais problemas são de ordem econômica
e os preconceitos. Por outro lado, 11% dos
professores entrevistados não conseguiram identificar
os problemas que interferem no processo de inclusão
do aluno com deficiência. Gráfico 5. Panorama geral a respeito dos principais
problemas que interferem no processo de inclusão de
alunos com deficiência intelectual, sob o ponto de
vista dos professores.
27
44,4% 44,4%
0,0% 0,0% 11,1%
Núm
ero
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10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Problemas que interferem na inclusão do aluno com deficiência em sua escola
Fonte: Pesquisa de campo
De acordo com a literatura, a Declaração
Internacional de Montreal sobre Inclusão de 2001 traz
um forte apelo de Direitos inerentes à pessoa humana
e estabelece que o acesso igualitário a todos os
espaços da vida é um pré-requisito para os direitos
humanos universais e liberdades fundamentais das
pessoas.
Vale destacar que, nas últimas décadas,
estamos vivendo um tempo inédito em termos de
avanços legais em relação à inclusão da pessoa com
deficiência intelectual no Brasil. No que tange à
educação inclusiva, especificamente às políticas,
estas têm sido aprofundadas a partir da legislação,
documentos e projetos; tanto na realidade do país
quanto da realidade local (MANTOAN, 2010). De
forma geral, a maior parte das pesquisas realizadas,
nesta área, está vinculada a devida contribuição, na
medida em que analisam os cenários e oferecem
subsídios para o aprofundamento das políticas e das
práticas em educação inclusiva.
A inclusão escolar de estudantes com
deficiência intelectual, associada às relações e os
conflitos interpessoais do cotidiano escolar vivenciado
pelos docentes e discentes, bem como toda
comunidade escolar, com os sentimentos,
pensamentos, posicionamentos e emoções exibidas,
exigem de todos; a construção de um processo de
aprendizagem para o enfrentamento adequado das
dificuldades que envolvem a inclusão escolar. Assim,
nem sempre a teoria discutida na literatura caminha
lado a lado com a prática. Para muitos gestores,
professores e pessoas leigas do assunto, as políticas
educacionais inclusivas discorrem seus discursos, no
entanto, não oferecem parâmetros e subsídios para a
prática inclusiva cotidiana.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De forma geral observou-se nesta pesquisa
que as escolas ainda não se encontram preparadas
para receber alunos com deficiência intelectual, sendo
os problemas mais discutidos aqueles de ordem
econômica e o preconceito. Por outro lado, as leis que
definem a Educação inclusiva no Brasil ainda são
consideradas regulares, necessitando de
aprimoramento e aplicabilidade.
Apesar da inclusão no Brasil ser considerado
um assunto novo, grandes tem sido os avanços
quanto a este processo. Entretanto, a Política de
inclusão da pessoa com deficiência intelectual no
Brasil ainda é considerada ruim pelos docentes.
REFERÊNCIAS BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei número 9394, 20 de dezembro de 1996. BRASIL. Política nacional de educação especial na perspectiva da educação inclusiva. Brasília: 2007. GOMES, W.O. Inclusão escolar: um olhar na especificidade da aprendizagem do aluno com deficiência mental incluso no ensino fundamental. Dissertação de Mestrado. UFPR. 174p. LOPES, M. C. Inclusão como prática política de governamentalidade. In: LOPES, Maura Corcini; HATTGE, Morgana Domênica (orgs.). Inclusão escolar: conjunto de práticas que governam. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009. p. 107-130. MANTOAN, M. T. E.; SANTOS, M. T. T. Atendimento educacional especializado: políticas públicas e gestão nos municípios. São Paulo: Moderna, 2010. OMOTE, S. A construção de uma escala de atitudes sociais em relação à inclusão: notas preliminares. Revista Brasileira de Educação Especial, Marília, v. 11, n. 1, jan./abr., 2005.
28
A PRÁTICA PEDAGÓGICA EM SALA DE AULA: AVALIAÇÃO DE TÉCNICAS METODOLÓGICAS DE LEITURA E ESCRITA
Rachel Batista dos Santos1
RESUMO Objetivou-se com este trabalho de pesquisa avaliar a prática pedagógica do corpo docente da escola visando à melhoria da leitura e escrita de seus discentes do ensino fundamental da Escola Municipal de Ensino Infantil e Fundamental Professor João Medeiros, localizada no município de João Pessoa/PB. De forma geral, os resultados obtidos nesta pesquisa permitiram preencher algumas lacunas existentes no campo das práticas pedagógicas. Entretanto, grandes desafios são lançados para os professores objetivando desenvolver novas dinâmicas e metodologias capazes de despertar no aluno a vontade de desenvolver suas habilidades quanto à leitura e a escrita. Apesar de sua complexidade e dificuldades quanto a inovações por parte dos docentes, as práticas pedagógicas devem ser repensadas para que o aprendizado ocorra de forma mais eficiente.
Palavras-chave: Práticas pedagógicas, ensino e aprendizagem, escola pública.
ABSTRACT This research aims is to evaluate the teachers teaching practice in order to make them improving their students reading and writing skill from the elementary school from the “Escola Municipal de Ensino Infantil e Fundamental Professor João Medeiros” in João Pessoa city/ PB. So the results obtained in this research allowed to fill in some space provide in their pedagogical practices field. However, some challenges are launched for teachers aiming to develop new dynamics and methodologies able to encourage students desire in order to develop their skills when it comes to reading and writing. Despite its complexity and difficulties of the teachers innovations, the teaching practices should be rethought so that learning occurs in a efficiently way.
Keywords: teaching practices, teaching and learning, public school.
29
INTRODUÇÃO
As mudanças de paradigmas quanto às práticas
pedagógicas exercidas pelos docentes em escolas
públicas tem se tornado alvo investigativo nas últimas
décadas, visto que geralmente esta prática
pedagógica pouco tem contribuído com a
sedimentação dos conhecimentos dos estudantes, em
especial quanto à leitura e a escrita.
São várias as concepções que podem definir a
prática pedagógica. Assim, para muitos autores esta
pode ser definida como uma ação realizada pelo
professor no ambiente educativo, tendo como principal
interesse desenvolver a aprendizagem dos alunos,
através de estratégias que viabilizem o trabalho em
sala de aula, orientado por diversos saberes,
habilidades e competências, direcionadas ao trabalho
docente.
Para Carvalho (2008), a prática pedagógica
expressa toda e qualquer atividade cotidiana
vivenciada pelos professores e estudantes em sala de
aula. Entre estas se destacam o planejamento das
atividades que serão desenvolvidas em sala de aula e
toda rotina aplicada em sala de aula.
De acordo com a literatura constatamos que as
práticas pedagógicas exercidas em sala de aula nas
escolas públicas, se estabelecem pela transmissão
passiva de informações aos alunos, pela ausência da
ligação com sua vida cotidiana e pelo predomínio de
metodologias pouco criativas e ultrapassadas,
resultando em baixo nível de aprendizado, evasão
escolar e reprovação (MIRALHA, 2008).
Geralmente, a prática pedagógica vivenciada
pelos professores está intimamente associada a seus
conceitos, valores, necessidades, hábitos, histórias de
vida e profissional. Além disso, sua prática está
relacionada ainda a sua formação inicial e continuada
que não se vincula a valorização das diferenças, que
em grande parte, fortalece os paradigmas de que
todos os estudantes devem aprender no mesmo ritmo,
forma e tempo similar, registrando-se uma
padronização generalizada na construção dos
saberes, isolando-se o cotidiano vivenciado pelo
aluno, sua cultura, necessidades e dificuldades
existentes, tornando o aprendizado pouco eficiente e
moroso.
Assim, avaliar as práticas pedagógicas
exercidas em sala de aula e desenvolver novas
estratégias de ensino focalizando o aprimoramento da
leitura e escrita, que envolvam os estudantes de forma
dinâmica para que sedimente o conhecimento e
evoluam socialmente, torna-se um grande desafio
para os docentes nas últimas décadas.
Neste sentido, objetivou-se com este trabalho
de pesquisa avaliar a prática pedagógica do corpo
docente da escola visando à melhoria da leitura e
escrita de seus discentes do ensino fundamental da
Escola Municipal de Ensino Infantil e Fundamental
Professor João Medeiros, localizada no município de
João Pessoa/PB.
1. METODOLOGIA ADOTADA NA PESQUISA
O trabalho de pesquisa foi realizado na Escola
Municipal de Ensino Infantil e Fundamental Professor
João Medeiros, localizada no município de João
Pessoa/PB, composta por 320 estudantes, 18
professores, 4 especialistas (Supervisor Escolar,
Orientador Educacional, Assistente Social e
Psicóloga) 1 diretor, 2 adjuntos, 1 secretário, 1 auxiliar
de secretaria, 4 inspetores de aluno, 4 merendeiras, 1
supervisora da merenda, 4 auxiliares de serviços
gerais, 2 monitores de informática e 4 vigilantes.
Para a obtenção dos resultados foram
selecionados dez professores da escola, os quais
foram convidados a participarem das entrevistas, as
quais foram realizadas através da aplicação de um
questionário do tipo semiestruturado contendo cinco
questões de múltiplas escolhas. Questões tais como
planejamento de atividades em sala de aula, prática
30
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ero d
e pr
ofes
sore
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Núm
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da leitura em sala de aula, disponibilidade de materiais
didáticos em sala de aula, além que questões que
abordam a participação da família no processo de
aprendizado dos alunos quanto à leitura e a escrita.
Após a obtenção dos resultados estes foram
compreensão dos conceitos que ficariam abstratos se
relacionados unicamente com as palavras lidas.
Gráfico 1. Panorama gera a respeito da prática da
leitura em sala de aula, sob a ótica dos docentes.
tabulados utilizando-se o programa Excel e os dados
foram distribuídos de forma quantitativa e qualitativa
utilizando-se determinação de percentuais (%)
correspondentes, e a elaboração de gráficos, de forma
a representar as questões propostas na pesquisa.
10 90,0%
9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
10,0%
2. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Sim Não Você lê histórias para as crianças pelo menos uma vez por
dia
A prática diária dos professores quanto à leitura
e escrita, forma de avaliação, programação de
atividades em sala de aula, disponibilidade de
materiais didáticos, tem sido avaliada
significativamente nas escolas públicas nas últimas
décadas, objetivando quebrar paradigmas e aprimorar
o aprendizado. Assim, alguns questionamentos sobre
esta temática foram discorridos e analisados nesta
pesquisa.
A respeito da leitura, questionou-se aos
professores se eles exerciam a prática da leitura em
Fonte: Pesquisa de Campo
Com relação à disponibilidade de materiais para
os alunos lerem em sala de aula, conforme o gráfico 2,
observa-se que na escola alvo desta pesquisa todos
os professores entrevistados relatam que os
estudantes utilizam diariamente materiais de leitura
que se encontram disponíveis em sala de aula.
Gráfico 2. Panorama gera a respeito da
disponibilidade de materiais de leitura e sua utilização
para os estudantes, sob a ótica dos docentes.
12
sala de aula pelo menos uma vez por semana, e
constatou-se que 90% dos professores entrevistados
relatam que leem histórias em sala de aula pelo
menos uma vez por semana. Por outro lado, 10% dos
entrevistados mencionaram que não exercem esta
100,0% 10
8
6
4
2
0
0,0%
prática pedagógica em sala de aula (Gráfico 1).
Contrastando-se os resultados obtidos nesta
pesquisa com aqueles obtidos na literatura é possível
inferir similaridade. Santos e Gazarolli (2011) relatam
que a prática de leitura em sala de aula é de grande
importância para iniciar a criança no caminho que leva
à consolidação da prática e do prazer de ler, visto que
a linguagem e os elementos abordados nas histórias
lidas em sala de aula, quando bem utilizadas, podem
ser aliados do ensino, visto que a união do texto com
a imagem ou a interpretação do professor facilita a
Sim Não Os alunos lêem/usam diariamente materiais de leitura
disponibilizados nas salas de aula Fonte: Pesquisa de campo
Contrastando-se os resultados observados
nesta pesquisa com aqueles citados na literatura é
possível inferir similaridade, ou seja, atualmente as
escolas públicas detém um grande acervo de livros
em sala de aula. Teixeira (2009) em seu trabalho
intitulado “Espaços, recursos escolares e habilidades
de leitura de estudantes da rede pública municipal do
Rio de Janeiro: estudo exploratório” contatou a
31
Núm
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existência de micro bibliotecas localizadas nas salas
de aula de uma escola pública municipal, o que vem a
reforçar os resultados obtidos nesta pesquisa.
Quanto à participação dos estudantes no
planejamento das atividades para a aprendizagem
progressiva do funcionamento da escrita, a grande
maioria dos professores entrevistados relatou que a
elaboração das atividades é planejada de forma
interativa entre alunos e professores (Figura 3).
Gráfico 3. Panorama gera a respeito da participação
dos estudantes no planejamento das atividades para a
aprendizagem progressiva do funcionamento da
escrita, sob a ótica dos docentes.
imprescindível no aprendizado dos estudantes. Assim,
os incentivos que eles dão aos seus filhos quanto ao
aprimoramento da leitura e da escrita estabelece as
diferenças no sucesso escola em relação àqueles que
não têm a família como incentivadores para a
aquisição do conhecimento. Gráfico 4. Panorama gera a respeito da participação
dos professores quanto a orientação dos familiares
para incentivarem seus filhos quanto a prática da
leitura e da escrita, sob a ótica dos docentes.
12 100,0%
10
8
10 90,0% 9 8
6 5 4 3 2 1 0
10,0%
6
4
2
0,0% 0
Sim Não Os familiares recebem orientações suas, sobre como
incentivar as crianças a ler e escrever
. Sim Não
As crianças participam d iariamente d e ativid ad es planejad as para a aprend izagem progressiva d o funcionamento d a escrita
Fonte: Pesquisa de Campo
Thomazi e Asinelli (2009) asseguram que é
fundamental a participação dos alunos no
planejamento das atividades de leitura para que haja
progressão contínua em sua aquisição. Para os
autores, a escolha do livro, a exploração de um filme,
a criação de um cartaz em sala de aula, dentre outras
atividades sugeridas pelos estudantes faz toda
diferença na construção do conhecimento,
recomendando esta prática pedagógica nas escolas.
Quanto ao questionamento se os familiares
recebem orientações dos professores a respeito de
como incentivar os estudantes a lerem e escreverem,
os resultados obtidos nesta pesquisa permitem inferir
que os professores orientam significativamente os pais
dos alunos para que incentivem seus filhos quanto às
práticas da leitura e da escrita (Gráfico 4). Para
Schechia e Andrade (2005), a família é um parceiro
Fonte: Pesquisa de Campo
No tocante a participação dos estudantes nos
projetos ou atividades que podem conhecer ou
exercitar os diferentes usos da leitura e da escrita no
cotidiano, a exemplo da elaboração de cartazes,
receitas, embalagens, jornais e revistas, observa-se
que a grande maioria dos estudantes participa sempre
contra 10% que relataram participação em alguns
momentos.
Gráfico 5. Panorama gera a respeito da participação
dos estudantes nos projetos ou atividades que podem
conhecer ou exercitar os diferentes usos da leitura e
da escrita no cotidiano, sob a ótica dos docentes.
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10
90,0% 9
7
5
4
3
2
0
10,0%
0,0%
materiais de leitura que se encontram disponíveis em
sala de aula.
A elaboração das atividades que serão
realizadas em sala de aula é planejada de forma
interativa entre alunos e professores.
Os professores orientam significativamente os
pais dos alunos para que incentivem seus filhos Sempre Algumas vezes Nunca
Os alunos participam d e projetos ou ativid ad es nas quais pod em conhecer e exercitar os d iferentes usos d a leitura e d a escrita no d
ia-a-d ia? Por exemplo: receitas; embalagens; jornais; revistas; cartaz
quanto às práticas da leitura e da escrita.
Os estudantes da escola objeto deste estudo
participam diretamente da elaboração dos projetos ou Fonte: Pesquisa de Campo
De acordo com Teixeira (2009), a utilização de
cartazes produzidos pelos estudantes em escolas
públicas exibidos em murais nos espaços coletivos da
escola é uma excelente estratégia no aprimoramento
da leitura e da escrita. Para o autor, esta prática
pedagógica propicia melhores condições para os
estudantes praticarem a leitura e a escrita bem como
desenvolver o gosto pela leitura.
De forma geral, os resultados obtidos nesta
pesquisa permitiram preencher algumas lacunas
existentes no campo das práticas pedagógicas.
Entretanto, grandes desafios são lançados para os
professores objetivando desenvolver novas dinâmicas
e metodologias capazes de despertar no aluno a
vontade de desenvolver suas habilidades quanto à
leitura e a escrita.
Apesar de sua complexidade e dificuldades
quanto a inovações por parte dos docentes, as
práticas pedagógicas devem ser repensadas para que
o aprendizado ocorra de forma mais eficiente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com os resultados obtidos nesta
pesquisa a respeito de práticas pedagógicas com
ênfase em leitura e escrita foi possível constatar que a
prática da leitura é exercida pelo menos uma vez por
dia em sala de aula.
A escola dispõe de materiais para os alunos
lerem em sala de aula, e estes utilizam diariamente
atividades que podem conhecer ou exercitar os
diferentes usos da leitura e da escrita no cotidiano, a
exemplo da elaboração de cartazes, receitas,
embalagens, jornais e revistas.
REFERÊNCIAS CARVALHO, M. C. V. de. As práticas pedagógicas na sala de aula e a qualidade do processo ensino aprendizagem Estudo de caso: Escola Secundária de Achada Grande. Monografia Universidade Jean Piaget de Cabo Verde, 2009, 107p. CHECHIA, V. A; ANDRADE, A. dos S. O desempenho escolar dos filhos na percepção de pais de alunos com sucesso e insucesso escolar. Estudos de Psicologia 2005, 10(3), 431-440. MIRALHA, J. O. A prática pedagógica de professores do ensino fundamental na perspectiva de uma educação de qualidade para todos. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Tecnologia, 2008, 251p. SANTOS, M. O. dos; GANZAROLLI, M. E. Histórias em quadrinhos: formando leitores. TransInformação, Campinas, 23 (1):63-75, jan./abr., 2011. TEIXEIRA, R. A. Espaços, recursos escolares e habilidades de leitura de estudantes da rede pública municipal do Rio de Janeiro: estudo exploratório. Revista Brasileira de Educação v. 14 n. 41 maio/ago. 2009. THOMAZI, A. R. G; ASINELLI, T. M. T. Prática docente: considerações sobre o planejamento das atividades pedagógicas. Educar, Curitiba, n. 35, p. 181-195, 2009.
33
A IMPORTÂNCIA DA GEOGRAFIA BÍBLICA PARA COMPREENSÃO DO CRISTIANISMO, JUDAÍSMO E ISLAMISMO: UMA VISÃO DOCENTE
Marcos Aurelio Martins da Costa1
RESUMO
O presente Artigo tem como objetivo discutir o lugar da Geografia Bíblica no ensino religioso apresentando-o com conteúdos e metodologia própria que proporcionem uma educação completa, que humanize e transforme a realidade de um mundo carente de respeito, de senso crítico, de tolerância e de interesse por questões que sejam capazes de levar o sujeito, na sua fase mais frágil, de preparação para a vida, para recuperação e promoção do ser humano em sua dignidade, a atuar como cidadão, agente da própria história, com conhecimento religioso que o torne apto a vivenciar os valores propostos pelas religiões, sem discriminar seus semelhantes por motivo de crença. A importância da Geografia Bíblica é atribuída como sendo esta, um meio auxiliar no estudo e compreensão da do espaço geográfico que surgem as principais religiões: Cristianismo, Judaísmo e Islamismo. O ensino religioso torna-se objetivo de fácil comunicação quando podemos apontar, mostrar e descrever os locais onde os fatos se desenrolaram. Este artigo é apresentado através de uma interpretação qualitativa, nas quais as concepções de abordagem formam um conjunto de técnicas que permitem a construção do espaço das religiões Abraâmicas.
Palavras-chave: ENSINO RELIGIOSO; GEOGRAFIA BIBLICA; EDUCAÇÃO
ABSTRACT
This article aims to discuss the place of Biblical Geography in religious teaching presenting it with content and its own methodology to provide a complete education that humanizes and transforms the reality of a world in need of respect, critical thinking, tolerance and interest in matters that are able to take the subject at its most fragile stage of preparation for life, for the recovery and promotion of the human being in its dignity, to act as a citizen agent of history itself, with religious knowledge that makes able to experience the values proposed by religions, without discriminating against their peers by belief reason. The importance of Biblical Geography is assigned as this, a way to help in the study and understanding of geographical space that come the major religions: Christianity, Judaism and Islam. Religious education becomes goal of easy communication when we can point to, show and describe the places where the events took place. This article is presented through a qualitative interpretation, in which the approach to concepts are a set of techniques that allow the construction of the space of the Abrahamic religions.
Keywords: RELIGIOUS EDUCATION; BIBLICAL GEOGRAPHY; EDUCATION
1 Mestre em Ciências da Educação pela Unigrendal Premium Corporate, Especialização em Educação, Desenvolvimento e Políticas Educativas pela Faculdade Nossa Senhora de Lurdes, Licenciado e Bacharelado em Geografia pela Universidade Federal da Paraíba e Bacharel em Teologia pela Faculdade Integrada do Ceara. Professor em Seminário Teológico Kerigma, EEE Pres. Costa e Silva, Colégio Intensivo e TOP-Sistema de Ensino. Email: [email protected].
34
INTRODUÇÃO
É sabido que em nosso país o ensino religioso
tem sido ofertado ao longo da história da educação
brasileira a partir de sua exigência em colégios
cristãos embora, já a partir da nova LDB – Lei Nº.
9.394, de 20 de dezembro de 1996 –, tenha sido
colocado como parte do currículo, no elenco de
disciplinas do núcleo diversificado, portanto de caráter
facultativo.
Não se pode negar que sempre houve a boa
vontade dos colégios de apresentar tal disciplina nos
currículos escolares, porém os colégios,
especialmente os situados nas pequenas cidades do
interior, têm encontrado dificuldades em fazê-lo, pura
e simplesmente por falta de professores, os quais
sempre eram, e são ainda, improvisados nas figuras
de padres e pastores, ou algum leigo
reconhecidamente religioso.
As experiências vivenciadas pelos professores
de ensino religioso apontam para a existência de uma
preocupação com o ensino da Geografia Bíblica
apenas nos seminários – católicos ou protestantes –,
o que, por si, demonstra sua importância, porque ao
lado da filosofia, da sociologia e da pedagogia, entre
outras disciplinas, o futuro pastor ou padre necessita
entender o momento histórico e o espaço geográfico
existente da religião que adotou como filosofia de vida.
Na tentativa de incluir no ensino religioso a
todos os currículos, busca-se apresentá-lo com
conteúdos e metodologia próprios que proporcionem
uma educação completa, que humanize e transforme
a realidade de um mundo carente de respeito, de
senso crítico, de tolerância e de interesse por
questões que sejam capazes de levar o sujeito, na sua
fase mais frágil de preparação para a vida, para
recuperação e promoção do ser humano em sua
dignidade, a atuar como cidadão, agente da própria
história, com conhecimento religioso que o torne apto
a vivenciar os valores propostos pelas religiões, sem
discriminar seus semelhantes por motivo de crença
(VELOSO, 2008). A problemática apresentada nos faz
apreender, do ponto de vista pedagógico e
metodológico, a contribuição que o ensino da
Geografia Bíblica oferece no avanço do ensino
religioso.
Consideram-se concepções teóricas e
conceituais sobre a história das religiões e os reflexos
de suas filosofias, dogmas e elementos éticos que
influenciaram a humanidade através dos séculos,
dando ênfase a utilização do espaço geográfico.
Como técnicas auxiliares são utilizadas a
entrevista semi-estruturada e a observação direta. A
coleta de dados é também realizada mediante
pesquisa bibliográfica, em sites institucionais e outros.
O interesse em estudar tal disciplina parte da
necessidade já explicada de formar professores
capacitados a lecionarem a religião dentro dos mais
altos padrões de ecumenismo, uma necessidade que
se faz presente em um mundo globalizado.
No Mundo Antigo, existiam várias nações que
tinham história de origens diferentes e costumes
diversos, separadas por fatores físicos, como
montanhas, desertos rios e lagos, totalmente
desligadas e sem comunicação entre si durante
períodos de séculos. Portanto, o que é mais intrigante
é a concordância na existência de um Ser Supremo
que regia os seus valores e participava na própria
construção de leis sociais e espirituais.
Os povos dessas regiões, seja qual tenha sido
a divergência nos costumes e nos cultos, revelam a
observância de cerimonias religiosas de alguma
especie, e o reconhecimento da existência de ao
menos uma divindade ou do verdadeiro Deus
(JONIER, 2004).
A Geografia Bíblica é importante, porque
contribui para o conhecimento do território onde
35
surgiram as principais religiões do mundo, mas sua
institucionalização como disciplina não é notória, já
que ela é utilizada apenas nas universidades que
oferecem cursos de graduação em teologia.
A contribuição da Geografia Bíblica é dada por
razões diversas, como o fato de que ela faz
descrições da terra e da população residente em seu
território, no período denominado Mundo Antigo, indica
as principais riquezas do povo e as atividades
econômicas exercidas por eles há mais de 2000 anos.
Descreve a terra onde ocorreram os fatos narrados na
Bíblia e também aqueles que estão relacionados com
outras religiões.
A Geografia Bíblica contribui
extraordinariamente para o conhecimento de um país
ou de áreas percorridas por religiosos, séculos atrás,
como no Egito, Antioquia ou palestina. Mensagens e
fatos descritos na Bíblia, tido como obscuros tornam-
se mais claros quando estudados à luz da Geografia
Bíblica (GILBERTO, 2008).
A Geografia Bíblica, como disciplina produz
substanciais informações sobre as populações
existentes, bastante diversificadas quanto à origem,
aos sistemas de exploração da terra e aos níveis
culturais, formadas por povos escravos e livres, em
sua maioria localizados em áreas de difícil
sobrevivência como desertos e montes.
O termo Geografia Bíblica se refere, portanto,
a uma pequena área de estudo do espaço geográfico
mundial para estudar o território onde surgiram as
principais religiões, ressaltando que o Oriente Médio é
o ponto de convergência das três grandes religiões
monoteístas da atualidade: cristianismo, judaísmo e
islamismo (ARCHELA; BARROS, 2008).
E, ao analisar os problemas territoriais e o
destino dos Estados nacionais que compõe esta área,
percebe-se que há poucos livros escritos sobre eles e
assim mesmo não são especificamente de Geografia
Bíblica, mas livros que trabalham a maior parte de
seus conteúdos da historia bíblica para mostrar a
realidade do Mundo Antigo.
A Geografia Bíblica traz uma renovação,
provocando o crescimento da leitura e da reflexão
sobre a área de estudo, ou seja, o Mundo Bíblico.
Com ela se iniciaram os estudos de Geografia nos
chamados seminários.
O que torna também o estudo da Geografia
Bíblica relevante é a interdisciplinaridade de que ela
se reveste. Do ponto de vista sociológico, o ensino
religioso é muito significante, pois dá continuidade ao
trabalho iniciado na família: promove o encontro, o
diálogo, a abertura.
Do ponto de vista psicológico, contribui para a
integração da personalidade. E do ponto de vista
ético-moral, ajuda a amadurecer no caminho das
ações ou escolhas, oferecendo elementos ou critérios
de juízo, como também contribui para o crescimento
da liberdade e da autonomia.
GEOGRAFIA BÍBLICA: CONCEITOS E DIVISÕES
O estudo da Geografia Bíblica visa a analisar
a influência do espaço geográfico na evolução
histórica das religiões e para isto se vale das suas
origens e localização no espaço terrestre, lembrando
que o mundo conhecido antigamente era bem menor
do que o espaço global que se conhece atualmente.
Toda a revisão bibliográfica tem como objetivo
proporcionar um relacionamento de seu estudo ao
objetivo principal, que consiste em analisar se é
possível desenvolver o ensino religioso através de
procedimentos pedagógicos e metodológicos do
ensino da Geografia Bíblica.
Estudar Geografia Bíblica se reveste de
grande relevância, porque este estudo oferece a
apreciação, a compreensão e interpretação dos fatos
36
bíblicos. Segundo Ronis, “Geografia Bíblica é a parte
da Geografia Geral que tem por objetivo o
conhecimento das diferentes áreas da superfície
relacionadas com a Bíblia” (RONIS, 1989, p. 13).
As fontes de estudo da Geografia Bíblica, de
um modo geral, estão na própria Bíblia Sagrada, na
arqueologia, na historia geral e na cartografia, daí se
ter como corolário a localização do mundo bíblico no
Oriente Médio, partindo-se do pressuposto de que a
Mesopotâmia seria o berço da humanidade (o
Continente Africano é considerado o berço da
humanidade, sendo a localizaçao do mais antigo
registro de vida humana) baseado em que, estando
localizada entre os rios Tigres e Eufrates, foi dali que
partiram as primeiras civilizações.
Mesopotâmia, Pérsia, Armênia, Ásia Menor,
Macedônia, Grécia, Creta, Roma, Síria, Fenícia,
Palestina, Arábia, Egito, Etiópia e Líbia (ARCHELA;
BARROS, 2008).
A região denominada de Mundo Bíblico situa-
se hoje nas regiões conhecidas como Oriente Médio e
mediterrânicas. A Mesopotâmia é o berço da raça
humana(o Continente Africano é considerado o berço
da humanidade, sendo a localizaçao do mais antigo
registro de vida humana), situada nas planícies entre
os rios Tigre e Eufrates, de onde partiram as primeiras
civilizações. “Após a dispersão das raças, Sem
povoou o Sudeste da Ásia, Cão povoou a África,
Canaã, península arábica, Jafé povoou a Europa e
parte da Ásia” (Gn 10, 1-32).
se:
Através do estudo da Geografia Bíblica, pode-
a) localizar os relatos bíblicos no espaço e no
Pode-se apontar como áreas limites do Mundo
Bíblico a Península Ibérica, a ocidente, e o atual
Iraque, a oriente. Atualmente encontram-se nestas
tempo;
b) compreender as regiões nas quais
ocorreram os fatos relatados na Bíblia;
c) entender o desenvolvimento das sociedades
que viveram nestas épocas;
d) visualizar os lugares específicos indicados
no texto bíblico e suas atuais (localizações??)
O estudo da Geografia Bíblica deve ainda ser
dividido em quatro partes fundamentais: a humana, a
econômica, a física e a política. Na humana, serão
retratadas a história dos habitantes primitivos, seus
países, os povos vizinhos, seus usos e costumes. Na
econômica, serão descritos os reinos animal, vegetal e
mineral. Na física, a hidrografia, o clima e o relevo. E,
por último, na política, a história das conquistas e os
sistemas de governo.
O Mundo Bíblico corresponde a uma região
que abrange os países atuais desde o Irã até a
regiões países como Portugal, Espanha, França, Itália,
Grécia, os diversos países balcânicos, Turquia, Egito,
Israel, Jordânia, Líbano, Síria, Iraque, Irã, Arábia
Saudita e Emirados Arabes (SILVA, 2009)2.
O mundo antigo.
FONTE: <http://www.pilb.t5.com.br/mapas/mapa01.jpg> .
Acesso em: 08.abr.2009.
Espanha no sentido leste-oeste e do norte da Turquia
até o Iêmem e Egito no sentido norte-sul. Na
Antigüidade, estas regiões foram denominadas de:
2 Nota do autor: artigos pesquisados via internet que não identificam datas de edição ou publicação são referenciados ao final e inseridos pela data do acesso.
37
BREVE HISTÓRICO DAS RELIGIÕES
Estudar a História das Religiões no contexto
que envolve a Geografia Bíblica é uma necessidade,
não só pela importância que tráz para a compreensão
cultural da humanidade, mas porque, especialmente
nos dias de hoje, ajuda a entender alguns conflitos
que colocam a religião como pressuposto de
intolerância. Neste estudo não se deseja, com a
história das religiões, questionar a existência ou não
de Deus ou de deuses, o importante é demonstrar,
historicamente e geograficamente, como foram
constituídas as principais religiões.
Portanto, aqui se descrevem os variados
aspectos das religiões, os fenômenos religiosos que
geram crenças, ações, instituições, condutas, ritos,
mitos, e que, muitas vezes, são usados como base de
desentendimentos entre as civilizações e acabam
gerando conflitos. Daí não haver a preocupação de
direcionar o estudo para questões éticas e filosóficas
que envolvem a formação das diversas religiões tidas
como principais, porque praticar uma religião é
questão de decisão individual e na maioria das vezes
gerada pela tradição familiar, de caráter
exclusivamente pessoal, uma decisão do íntimo das
pessoas, cada individuo, em principio, considera a
religião que pratica como a única, a verdadeira, a que
efetivamente leva à salvação eterna.
O CRISTIANISMO
O cristianismo é uma das chamadas grandes
religiões. Tem aproximadamente 1,9 bilhão de
seguidores em todo o mundo, incluindo católicos,
ortodoxos e protestantes. Cristianismo vem da palavra
Cristo, que significa messias, pessoa consagrada,
ungida. Do hebraico mashiah (o salvador) foi traduzida
para o grego como khristos e para o latim como
christus (HURLBUT, 1993).
A doutrina do cristianismo baseia-se na crença
de que todo o ser humano é eterno, a exemplo de
Cristo, que ressuscitou após sua morte. A fé cristã
ensina que a vida presente é uma caminhada e que a
morte é uma passagem para uma vida eterna e feliz
para todos os que seguirem os ensinamentos de
Cristo. Os ensinamentos estão contidos
exclusivamente na Bíblia, dividida entre o Antigo e o
Novo Testamentos.
O Antigo Testamento trata da lei judaica, ou
Torah. Começa com relatos da criação e é todo
permeado pela promessa de que Deus, revelado a
Abraão, a Moisés e aos profetas enviaria à Terra seu
próprio filho como Messias, o salvador.
O Novo Testamento contém os ensinamentos
de Cristo, escritos por seus seguidores. Os principais
são os quatro evangelhos ("mensagem", "boa nova")
escritos pelos apóstolos Mateus, Marcos, Lucas e
João. Também inclui os Atos dos Apóstolos (cartas e
ensinamentos que foram passados de boca em boca
no início da era cristã, com destaque para as cartas de
Paulo) e o Apocalipse.
O nascimento do cristianismo se confunde
com a história do Império Romano e com a história do
povo judeu. Na sua origem, o cristianismo foi
apontado como uma seita surgida do judaísmo e
terrivelmente perseguida (BRITO, 2007).
Quando Jesus Cristo nasceu, por volta do ano
4 aC (problema na datação: Jesus Cristo nasceu 4
anos antes de Cristo? Deve ser explicado ou
arrumado), na pequena cidade de Belém, próxima a
Jerusalém, os romanos dominavam a Palestina. Os
judeus viviam sob a administração de governadores
romanos e, por isso, asperavam pela chegado do
Messias (criam que seria um grande homem de guerra
e que governaria politicamente), apontado na Torah
(Antigo Testamento) como o enviado que os libertaria
da dominação romana.
38
Até os 30 anos, Jesus viveu anônimo em
Nazaré, cidade situada no norte do atual Israel. Aos 33
anos, seria crucificado em Jerusalém e ressuscitaria
três dias depois. Em pouco tempo, aproximadamente
três anos, reunira seguidores (os 12 apóstolos) e
percorrera a região pregando sua doutrina e fazendo
milagres, como ressuscitar pessoas mortas e curar
cegos. Logo tornou-se conhecido de todos e grandes
multidões o seguiam (HURLBUT, 1993).
Mas, para as autoridades religiosas judaicas
ele era um blasfemo, pois se autodenominava o
Messias. Não tinha aparência e poder para ser o o
líder que libertaria a região da dominação romana. Ele
apenas pregava paz, amor ao próximo. Para os
romanos, era um agitador popular.
Após ser preso e morto, a tendência era de
que seus seguidores se dispersassem e seus
ensinamentos fossem esquecidos. Ocorreu o
contrário. É justamente nesse fato que se assenta a fé
cristã. Como haviam antecipado os profetas no Antigo
Testamento, Cristo ressuscitou, apareceu a seus
apóstolos (apóstolo quer dizer enviado) que estavam
escondidos e ordenou que se espalhassem pelo
mundo pregando sua mensagem de amor, paz,
restauração e salvação (BRITO, 2007).
O cristianismo firmou-se como uma religião de
origem divina. Seu fundador era o próprio filho de
Deus, enviado como salvador e construtor da história
junto com o homem. Ser cristão, portanto, seria
engajar-se na obra redentora de Cristo, tendo como
base a fé em seus ensinamentos.
Rapidamente, a doutrina cristã se espalhou
pela região do Mediterrâneo e chegou ao coração do
Império Romano. A difusão do cristianismo pela Grécia
e Ásia Menor foi obra especialmente do apóstolo
Paulo, que não era um dos 12 e teria sido chamado
para a missão pelo próprio Jesus. As comunidades
cristãs se multiplicaram. Surgiram rivalidades. Em
Roma, muitos cristãos foram transformados em
mártires, comidos por leões em espetáculos no
Coliseu, como alvos da ira de imperadores atacados
por corrupção e devassidão.
Em 313, o imperador Constantino se
converteu ao cristianismo e concedeu liberdade de
culto, o que facilitou a expansão da doutrina por todo o
império. Antes de Constantino, as reuniões ocorriam
em subterrâneos, as famosas catacumbas que até
hoje podem ser visitadas em Roma.
O cristianismo, mesmo firmando-se como de
origem divina, é, como qualquer religião, praticado por
seres humanos com liberdade de pensamento e
diferentes formas de pensar. Desvios de percurso e
situações históricas determinaram os rachas que
dividiram o cristianismo em várias confissões (as
principais são as dos católicos, protestantes e
ortodoxos).
O primeiro grande racha veio em 1054,
quando o patriarca de Constantinopla, Miguel
Keroularios, rompeu com o papa, separando do
cristianismo controlado por Roma as igrejas orientais,
ditas ortodoxas. Bizâncio e depois Constantinopla (a
Istambul de hoje, na Turquia), seria até 1453 a capital
do Império Romano do Oriente, ou Império Bizantino.
O império romano do Ocidente já havia caído muito
tempo antes, em 476, marcando o início da Idade
Média. E foi justamente na chamada Idade Média,
ainda hoje um dos períodos mais obscuros da história,
que o cristianismo enfrentou seus maiores desafios,
produzindo acertos e erros (BRITO, 2007).
Essa caminhada culminou com o segundo
grande racha, a partir de 1517. O teólogo alemão
Martinho Lutero, membro da ordem religiosa dos
Agostinianos, revoltou-se contra a prática da venda de
indulgências e passou a defender a tese de que o
homem somente se salva pela fé.
Lutero é excomungado e funda a Igreja
Luterana. Não reconhece a autoridade papal, nega o
39
culto aos santos e acaba com a confissão obrigatória
e o celibato dos padres e religiosos. Mas mantém os
sacramentos do batismo e da eucaristia.
Mais tarde, a chamada Reforma Protestante
deu origem a outras inúmeras igrejas cristãs, cada
uma com diferentes interpretações de passagens
bíblicas ou de ensinamentos de Cristo. Outras
levantadas pelo próprio Espírito Santo, dão
continuidade aos propósito do Senhor Deus (trecho
confuso: o autor refere-se a interpretações levantadas
LITERaLMENTE pelo Espírito Santo? Ou isto
conforme as respectivas doutrinas/interpretações?
Especificar).
O JUDAÍSMO
Para os cristãos, o judaísmo ocupa posição
inigualável entre as religiões do mundo. O cristianismo
encontra suas raízes no judaísmo histórico, o
judaísmo do Antigo Testamento. O cristianismo não
suplanta o judaísmo do Antigo Testamento, mas é
antes a fruição, o resultado líquido do judaísmo do
Antigo Testamento.
As tentativas de sistematização de uma
história judaica têm trazido diversos problemas aos
estudiosos, pois há inúmeros problemas a serem
resolvidos ao tratar-se deste assunto. Temos entre
estes problemas a questão de determinar
precisamente quando se inicia uma história do povo
judeu: se como grupo étnico, religioso ou cultural, e as
fontes que servem como base de estudo para esta
história.
Geralmente os documentos extra bíblicos
relacionados ao período mais antigo da história
judaica são escassos e sujeitos a debates, o que
levou a duas ramificações de estudo: a postura
maximalista, que diz que tudo que não pode ser
comprovado como falso e deve ser aceito como
verdadeiro, e a postura minimalista que diz que os
eventos que não são corroborados por eventos
contemporâneos devem ser descartados.
O problema de um estudo crítico sobre a
história judaica a partir da Bíblia surge do fato de que
sabemos que as escrituras hebraicas foram
compiladas muito mais tarde do que os períodos que
pretendem narrar.
Os nomes de Abraão e Moisés são vinculados
à origem do Judaísmo, religião surgida há (ou em?)
aproximadamente 2000 a.C. Abrão era de uma cidade
do Mundo Antigo chamada Ur, localizada na Babilônia,
atual Tal-al-Muqayyar no sul do Iraque.
O Judaísmo começou quando um homem de
nome Abrão recebeu a chamada da parte do único e
verdadeiro Deus para deixar o seu povo, caído na
idolatria, em "Ur dos caudeus", e migrar para terra de
Canaã (MCDOWELL; STEWART, 1996).
Um dos elementos fortes da religião pré-
judaísmo é o surgimento dos profetas, homens de
diversas camadas sociais que pregavam e
anunciariam profecias da parte de Deus. Sua
pregação anunciando os castigos da desobediência
para com Deus encontraram eco com a destruição de
Israel em 722 a.C. e com a conquista de Judá pelos
babilônios em 586 a.C.
Com a dispersão dos reinos israelitas, muitos
judeus assimilaram-se aos povos para o qual foram
dispersados. Mas as comunidades israelitas
remanescentes desenvolveram sua cultura e religião,
criando o que temos hoje como Judaísmo. O
fortalecimento da comunidade e a descentralização do
culto (através da criação das sinagogas), além do
estabelecimento de um conjunto de mandamentos que
deveria ser aprendido pelos membros da comunidade
e obedecidos em qualquer lugar em que vivessem,
aliaram-se à esperança no restabelecimento
novamente na Terra Prometida, dando aos judeus
uma consciência messiânica. No entanto, com a
40
liberação do retorno dos judeus para a Judéia poucas
comunidades retornaram para a Judéia.
A história dos judeus está desde o passado
ligado a questões de terra. Em termos de organização
clerical, há a divisão em congregações, que escolhem
individualmente seus rabinos. Os textos sagrados
judaicos são: a Bíblia dos hebreus, que inclui o Torah
(o Pentateuco, os cinco primeiros livros bíblicos:
Gênesis, Êxodo, Números, Levítico e Deuteronômio),
os Profetas e outros livros; o Talmude, formado pelo
conjunto de ensinamentos do Judaísmo, além de
tratar-se de um guia de leis religiosas e civis
(HISTÓRIA, 2009).
Os cultos são realizados nas sinagogas, que
também são utilizadas como espaços dedicados à
educação e aos assuntos coletivos.
No judaísmo surgiram várias vertentes, como
a Ortodoxa, a Conservadora e a Reformista. A
ideologia da vertente conservadora permite novas
interpretações dos textos sagrados, apesar de tomar
como sagradas as tradições judaicas.
Os seguidores da vertente Reformista
submetem as tradições judaicas a reavaliações, de
geração a geração. Esta (ou a Ortodoxa?) é a vertente
mais radical do Judaísmo, se caracterizando pela
observação rigorosa dos costumes e rituais em sua
forma mais primitiva e tradicional, de acordo com as
regras estabelecidas pelo Talmude e pelo Torah.
Não reconhecem Jesus como o Messias, eles
acreditam que um novo Messias surgirá em busca da
redenção da espécie humana. Portanto, a fé judaica
concentra-se em um único Deus, que criou o homem à
sua própria imagem e semelhança, e que teria
formado um pacto com Abraão, considerado o pai do
povo judeu. Para o judaísmo, Moisés é considerado
um profeta superior a todos os demais, tratando-se
ainda de um símbolo de libertação e independência
pátria.
Para Trepp (1966), desde o começo de sua
história, o destino dos judeus tem estado
inextricavelmente ligado ao território de Israel. Para os
judeus, sua história começa quando Abraão recebeu
ordem para migrar para a terra Prometida, pois
somente ali eles podem realizar-se como servos e
arautos de Deus.
A terra de Israel sempre foi a Terra Prometida.
Somente ali a Torah [Lei] pode ser livremente
traduzida na vida de uma nação independente.
O ISLAMISMO
A fé islâmica é uma das grandes forças
impulsionadoras nas vidas de muitas das nações do
Oriente Próximo e Médio, da Ásia Ocidental e do norte
da África. O impacto dessa fé sobre o mundo vem
aumentando constantemente. Atualmente, o islamismo
é a religião de mais rápido crescimento no mundo. Em
grande parte, a tensão árabe-israelense pode ser
explicada pelo conflito entre o islamismo e o judaísmo.
A religião muçulmana tem crescido nos
últimos anos (atualmente é a segunda maior do
mundo) e está presente em todos os continentes.
Porém, a maior parte de seguidores do islamismo
encontra-se nos países árabes do Oriente Médio e do
norte da África. A religião muçulmana é monoteísta, ou
seja, tem apenas um Deus: Alá. Criada pelo profeta
Maomé, a doutrina muçulmana encontra-se no livro
sagrado, o Alcorão ou Corão. Foi fundada na região
da atual Arábia Saudita.
Os primórdios da história do islamismo giram
em torno de uma figura central, Maomé (formas
variantes: Muhammed e Mohammed). Embora os
ensinamentos do islamismo sejam uma interessante
mistura de diferentes idéias religiosas, a origem dessa
religião acha-se, historicamente, na pessoa ímpar de
Maomé (MCDOWELL; STEWART, 1996).
41
O Islamismo surge com as revelações de Alá
ao profeta Maomé, por volta do século VII d. C, daí
reconhecer o primeiro como seu único deus e o
segundo como seu legitimo profeta. Como afirma
Jesse lyman:
O fundador da religião maometana foi Maomé, nascido em Meca, Arábia, no ano 570. Iniciou sua carreira como profeta e reformador no ano 610, aos quarenta anos de idade. No início, o movimento começado por Maomé conquistou poucos discípulos, porém o suficiente para sofrer perseguições (apud HURLBUT, 1993, p. 107).
Tem como textos sagrados o Alcorão, que
contém as revelações de Alá a Maomé, o Hadith,
contendo os pensamentos e as ações de Maomé, e o
Sunnah, conjunto de regras de conduta a ser seguido
pelos islâmicos (HISTÓRIA, 2009).
O Alcorão é a base doutrinal criada por
Maomé e constitui o fundamento sobre o qual assenta
toda a estrutura da religião Islâmica. É uma coletânea
dos versos recitados pelo profeta, graças – segundo a
tradição muçulmana – à revelação feita a ele por
Deus, por intermédio do anjo Gabriel. As 114 suratas
(capítulos) do Alcorão expõem os fundamentos do
monoteísmo islâmico e os princípios morais que
regem a comunidade.
Reconhecem-se duas correntes no Islamismo:
os sunitas, o maior e mais ortodoxo grupo islâmico, o
qual é maioria religiosa no Iêmen e na Arábia Saudita,
entre outros povos. Esta vertente reconhece Abu Bakr
e os três califas que o seguiram como sucessores de
Maomé. A outra vertente é formada pelos xiitas que
divergem nesta sucessão, reconhecendo Ali, sobrinho
de Maomé, como seu sucessor.
Os islâmicos têm como símbolos mais
importantes a família e a mesquita, elementos centrais
da vida dos seguidores do Islamismo. Dados
estatísticos apresentam o Islamismo como a religião
que mais rapidamente ganha adeptos na atualidade
(informação citada pela segunda vez, mas ainda não
referendada em fonte).
Atualmente, calcula-se que os muçulmanos já
somam 1,3 bilhão de praticantes da religião, que é
adepta de interpretações radicais dos ensinamentos
de Maomé. As democracias do tipo ocidental são raras
no Islã: só a Indonésia, a Turquia e Bangladesh têm
esse tipo de regime.
RELIGIOSIDADE NO BRASIL
No Brasil, observam-se com muita ênfase os
aspectos do pluralismo religioso. Amostragens
estatísticas efetuadas por diversos institutos de
pesquisas em anos anteriores ao último censo (2000)
foram referendas em quase sua totalidade pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística–IBGE,
órgão considerado para pesquisas oficiais pelo
governo brasileiro.
De interessante nesta pesquisa observam-se
os principais resultados, relativos à questão “religião”,
são três:
- a diminuição da porcentagem dos católicos, de 83,8% (1991) para 73,8% (2000); em números absolutos, os católicos aumentam de 121,8 milhões (1991) para 125 milhões (2000); - o aumento da porcentagem dos evangélicos, de 9,05% (1991) para 15,45% (2000); em números absolutos, de cerca de 13 milhões para 26 milhões; - o aumento dos que se declaram “sem religião”, que passam de 4,8% da população (1991) para 7,3% (2000), ou de 7 milhões para 12,3 milhões (ANTONIAZZI, 2003, p. 75).
É comum as pessoas freqüentarem mais de
uma religião ao mesmo tempo, isto é, não se pode
negar que pessoas católicas ou de outra religião
freqüentam, mesmo que ocasionalmente os terreiros
de candomblés e outros ritos afro-brasileiros e
42
também outras religiões cristãs, praticando o seu
próprio ecumenismo.
A freqüência a cultos afro-brasileiros,
representados no Brasil pelo Candomblé e pela
Umbanda, segundo alguns estudiosos, se dá muito
mais por conta do seu sincretismo, pois estas religiões
costumam vincular santos da Igreja Católica e suas
divindades africanas, cujo caso mais comum é o de
Iemanjá e Nossa Senhora da Conceição. O fato é que
os praticantes destes ramos religiosos afro-brasileiros
estão sempre se dizendo católicos ou espíritas, pelo
que difícil se torna informar o número exato dos seus
seguidores no Brasil.
Sobre as religiões afro-brasileiras, devem-se
observar os dizeres de Prandi: “desde o início as
religiões afro-brasileiras se fizeram sincréticas,
estabelecendo paralelismos entre divindades africanas
e santos católicos, adotando o calendário de festas do
catolicismo, valorizando a freqüência aos ritos e
sacramentos da igreja” (PRANDI, 2003, p. 16).
POSSIBILIDADES PEDAGÓGICAS E METODOLÓGICAS DO ENSINO DA GEOGRAFIA
BÍBLICA
Pode-se afirmar que o ensino religioso no
Brasil ainda está na fase inicial de sua formação, ou
seja, encontra-se ainda na sua origem (o primeiro
Governo Vargas já introduzira o ensino religioso nas
escolas públicas me caráter facultvtivo).
De inicio, a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional nada esclareceu em sobre o tema,
tratado da seguinte maneira em seu artigo 33 original:
Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, sendo oferecido, sem ônus para os cofres públicos, de acordo com as preferências manifestadas
pelos alunos ou por seus responsáveis, em caráter: I - confessional, de acordo com a opção religiosa do aluno ou do seu responsável, ministrado por professores ou orientadores religiosos preparados e credenciados pelas respectivas igrejas ou entidades religiosas; ou II - interconfessional, resultante de acordo entre as diversas entidades religiosas, que se responsabilizarão pela elaboração do respectivo programa. (LDB, 1996).
O inciso I do referido artigo tornava
amplamente dificultoso o ensino religioso, porque
exigia dos professores capacidade ecumênica na
mesma sala de aula, ou separação de alunos por
credo e, ainda por cima, sem remuneração. Na prática
não se conseguiu colocar professores capazes de
lecionar de modo adequado.
No caso do inciso II, à época a palavra
ecumenismo era apenas um sonho, pois as entidades
não se entendiam plenamente.
Felizmente o bom senso do legislador levou-o
a alterar o artigo 33, que assim está escrito
atualmente, modificado que foi pela Lei 9.475, de 22
de julho de 1997:
Art.1º - O art. 33 da Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar com a seguinte redação: Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo. § 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a definição dos conteúdos do ensino religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e admissão dos professores. § 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas diferentes denominações religiosas, para a definição dos conteúdos do ensino religioso (BRASIL, 1997).
43
Uma redação que efetivamente ofereceu um
modelo mais adequado de ensino religioso, dando
maior liberdade de expressão, respeitando a
diversidade, definindo em conjunto com entidades
civis religiosas, o que mantém o sentido laico do
governo, na definição de conteúdos.
Deste modo, o ensino religioso constitui-se em
elemento fundamental para a formação básica de um
novo cidadão, porque trouxe elementos para o
desenvolvimento da criança e do adolescente,
tornando-se indispensável como disciplina, muito
embora, talvez por não ser obrigatória, tornou-se
ponto polêmico entre educadores e parte da
sociedade, por acreditarem que a religião é prática de
fé e não um discurso de conhecimentos.
O que a lei nem os responsáveis pelo ensino
no Brasil não previram foi a necessidade de habilitar
professores para ministrar esta disciplina, o que tem
resultado em grandes problemas administrativos e
curriculares.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A diversidade religiosa é sem dúvida, uma das
mais marcantes características da humanidade.
Estimativas indicam que há mais de duas mil
religiões e mais de dez mil seitas no mundo inteiro. Só
no Brasil são mais de cinco mil grupos principais
(fonte?).
Tamanha multiplicidade de crenças tornou
mais complexa a relação entre os povos. Assim como
a diversidade étnica, a diversidade religiosa acabou
resultando em intolerância nas mãos do homem
moderno (e as perseguições religiosas medievais não
seriam consideradas casos de intolerância já
existentes antes da moderindade?).
No contexto atual, a globalização vem cada
vez mais reforçando a individualidade e o
comportamento de intolerância entre as pessoas, de
etnias e escolhas religiosas diferentes.
E neste aspecto, a geografia religiosa contribui
para que se possa entender o desenvolvimento destas
religiões e encontrar respostas alinhadas com os
conflitos atualmente existentes. É na geografia
religiosa que podemos localizar os relatos no espaço e
no tempo, compreender as regiões nas quais
ocorreram os fatos relatados na Bíblia, perceber o
modo de vida das sociedades que viveram nestas
épocas, os lugares específicos indicados no texto
bíblico e suas atuais localizações geográficas.
Para um bom aproveitamento da leitura é de
fundamental importância que o leitor tenha ideia dos
lugares e do momento histórico de ocorrência dos
fatos como também, da correspondência desses
acontecimentos com as regiões atuais.
Para que se possa, desta feita, erradicar os
desentendimentos que venham a distanciar as
pessoas por suas concepções religiosas e ideológicas,
enfim a Geografia Bíblica serve como ferramenta de
delineamento do futuro ao mesmo tempo em que se
vê no passado os pontos de fundamentação das
religiões ora existentes.
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44
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O ENSINO DE MATEMÁTICA: A NUMERALIZAÇÃO COMO PRINCÍPIO NORTEADOR
Elvisson Nascimento De Oliveira
RESUMO A presente pesquisa tem como proposta a discussão sobre a numeralização como princípio norteador do processo de ensino e aprendizagem. Analisa diferentes períodos do processo de ensino da Matemática, estabelecendo paralelos entre eles e, dessa forma, tenta compreender as perspectivas e atuais desafios deste ensino. Propõe-se um estudo sobre as novas propostas metodológicas para o ensino de Matemática e sobre as expectativas do professor de Matemática em relação à sala de aula e ao aluno em todo o seu contexto social. Busca-se, portanto, gerar discussões sobre essa temática, no intuito de tornar o processo de ensinoaprendizagem de Matemática um caminho de construção significativo para o educando.
Palavras-chave: ensino da matemática; numeralização; contexto social.
ABSTRACT The present research has a proposal the discussion about the numeralization as guide of the education process and learning. It analyzes different periods of the process of education of Mathematics, establishing parallel between them and, in that way, tries to understand the perspectives and current challenges of this education. It intends a study about the news methodologies proposed for the teaching of Mathematics and about the expectations of the students in all social context of them. One searches, therefore, to generate discussions on this thematic one, in intention to become the process of teach-learning of Mathematics a significant way of construction for the student.
Key-words: education of Mathematics; numeralization; social context.
Mestrando Em Educação Pela UNIGRENDAL PREMIUM CORPORATE
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INTRODUÇÃO
Nas ultimas décadas, a qualidade do ensino de
Matemática tem atingido, o seu mais baixo nível na
história educacional do país: os resultados do Sistema
Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB)
mostram que apenas 6% dos alunos se aproximam do
nível desejado em Matemática. Apesar de estarmos
vivendo em uma sociedade que vem sofrendo grandes e
constantes transformações — abertura de fronteiras,
facilidades de negociar, avanço digital e tecnológico,
novos meios de comunicação —, onde as crianças que
nascem nesse meio digitalizado, desde a mais tênue
idade, já sabem utilizar jogos no computador, manusear
o controle remoto da televisão ou do aparelho de som,
percebemos que a falta de conhecimento (ou o pouco
conhecimento) de fatos simples do nosso cotidiano,
como juros, por exemplo, faz com que a cidadania fique
longe de ser alcançada.
Esses resultados evidenciam não só a má
formação de uma geração de professores e estudantes,
mas também evidenciam o pouco valor dado ao
conhecimento matemático, assim como o baixo nível de
conhecimento da maioria da população brasileira, no
que diz respeito à Matemática. O fracasso escolar,
um dos mais graves problemas do sistema escolar
brasileiro, se aplica às questões da falta ou do pouco
conhecimento matemático.
A escolarização é aqui entendida como um dos
requisitos fundamentais para o processo de
democratização: a conquista, pelo conjunto da
população, das condições materiais, sociais, políticas e
culturais que, lhe possibilitem participar na condução
das decisões políticas e governamentais.
O chamado analfabetismo numérico é um vácuo
no conhecimento matemático, que irá comprometer a
capacidade de reflexão do indivíduo. Daí a necessidade
de nós, educadores matemáticos, trabalharmos com
nossos educandos, desde a infância, conhecimentos
que mostrem a existência de uma relação direta entre a
escola e a vida. Para tanto, se o professor não tiver um
domínio do conteúdo a ser ensinado, não conseguirá
oferecer pontos de vista distintos sobre um mesmo
assunto, suas relações com outros conteúdos e
suas possíveis aplicações.
Verifica-se, portanto, a necessidade de aprender
Matemática para entender o mundo. tanto a ênfase
quanto a demanda às habilidades matemáticas
mudam com o tempo, tanto para os educandos quanto
para educadores. As novas concepções de ensino
apontam que contas sem sentido, palavras e conceitos
estranhos e grandes abstrações dificilmente fazem com
que os alunos se interessem pelo ensino de
Matemática.
Os métodos unicamente expositivos são
inadequados, tornando reduzidos os papéis tanto do
professor, quanto do aluno, a meros transmissores e
receptores de conteúdos, o que foi apontado por
importantes contribuições e pesquisas baseadas em
teorias psicológicas, redundando em propostas que
sugeriam o uso de diversos recursos e a
participação ativa dos alunos. Nomes como Piaget,
Bruner, Wallon, Vygotisky, assinalam o lúdico como
possibilidade de construção do conhecimento
matemático.
O lúdico assim considerado como um grande
meio de desenvolvimento do indivíduo, desde a aprendizagem da comunicação oral e escrita às noções
lógico-matemáticas.
As dificuldades atuais do ensino de
Matemática nada mais são que resquícios históricos de
uma educação verticalizada, fundamentada num processo de memorização, onde residia a idéia de que
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sucesso em Matemática representava igual sucesso em
outras áreas do conhecimento, além da idéia utilitarista:
a Matemática deveria ser então, apreendida de modo
que o indivíduo pudesse utilizá-la no seu cotidiano como
uma ferramenta de auxílio aos estudos das outras
ciências.
O nosso projeto de pesquisa é resultante de
experiências profissionais, de observações em sala de
aula dos maiores desafios do ensino de Matemática,
como também de discussões em reuniões pedagógicas
sobre esse tema. Boa parte dos discursos de nós,
educadores, ainda reside na idéia de que o trabalho
docente resume-se em passar a matéria do programa,
geralmente em consonância com o livro didático.
Nosso objetivo é o de compreender o ensino de
Matemática no novo cenário educacional, e como os
professores vêm trabalhando nessa perspectiva.
Buscaremos, portanto, compreender como o ensino de
Matemática tem sido abordado historicamente e como
tornar o processo de ensino-aprendizagem da
Matemática um caminho de construção significativo para
o educando.
Dessa forma, traremos à baila o conceito de
numeralização, que entendemos como um dos maiores
entraves no ensino de Matemática.
Paralelo ao conceito de alfabetização, o conceito
de numeralização aqui abordado visa a explicar as
dificuldades enfrentadas pelas crianças não
numeralizadas no prosseguimento dos seus estudos, e
as dificuldades dos professores em lidar com essa
situação real de sala de aula.
Buscaremos compreender as expectativas do
professor de Matemática em relação à sala de aula,
nesse novo contexto, apontando, sobretudo, para a
importância da formação continuada dos professores de
Matemática, enquanto formação que vise a dar
subsídios para que este profissional possa lidar com as
situações reais de sala de aula.
A partir de reflexões sobre esses problemas,
das necessidades dos educandos e dos educadores no
que concerne ao ensino de Matemática, buscaremos
entender e buscar soluções para tanto.
A reflexão sobre a prática é um ato difícil de ser concretizado, porém, entendemos que a formação profissional é um processo pedagógico, intencional e organizado, de preparação teórico-científica e técnica do professor para dirigir competentemente o processo de ensino (LIBÂNEO, 1994, p. 27).
Somos sujeitos da experiência, na condição de
alunos e professores, e por isso, sujeitos portadores de
angústias e expectativas. Por mais que nosso cotidiano
seja distinto, encontramos sempre um ponto em
comum: a exclusão a que a Matemática, na grande
maioria das vezes, coloca os educandos,
independentemente do seu grau de escolaridade e
apesar das crescentes discussões entre os profissionais
da área e apesar do surgimento das novas propostas
educacionais nesse campo. Portanto, o exercício de
aprendizagem e interpretação crítica dos processos
vividos é visto, assim, como decisiva contribuição à
reelaboração das práticas sociais.
A dinâmica desse processo é o ponto de
partida que nos aproxima do que se pede a
sistematização das experiências: (trecho confuso)
penetrar no interior dessa dinâmica, entendê-la a partir
de sua própria lógica e extrair ensinamentos que
possam contribuir para o enriquecimento tanto prático,
quanto teórico.
A relação dialética entre prática e teoria, a
transformação da realidade, filosofia gramsciana da
práxis, é o pano de fundo às propostas de
sistematização.
A sistematização é aquela interpretação crítica de uma ou várias experiência que, a partir de seu ordenamento e reconstrução, descobre ou explicita a lógica do processo vivido, os fatores que intervieram no dito processo, como se relacionaram entre si e
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porque o fizeram desse modo (HOLLIDAY, 1996, p.29).
Sistematizar vai além da narrativa de
experiências, da descrição de processos, da ordenação
e tabulação de informações: requer um pensar
dinâmico, rigoroso, processual, crítico e criativo em
função de uma utilidade concreta. Possibilita um
favorecimento do intercâmbio de experiências; uma
melhor compreensão do trabalho individual e em equipe;
uma aquisição e reflexão de conhecimentos teóricos a
partir das práticas sociais concretas; uma melhoria da
prática.
COMO COMEÇOU O TEMA
As experiências de ordem pessoal no ensino da
Matemática são o que impulsiona a produção deste
trabalho. Nas nossas relações profissionais e no
exercício de nossas práticas, temos observado que a
Matemática ainda é uma disciplina que leva muitos
alunos à não-aprendizagem escolar, apesar das
crescentes discussões entre os profissionais da área e
deles com as novas propostas educacionais surgidas
nesse campo.
Percebemos que as discussões sobre os
desafios de ensinar Matemática são constantes tanto
em reuniões pedagógicas, como também em palestras,
oficinas, e permeiam todos os níveis de ensino.
A Matemática, além de ser uma matéria que
consta do currículo escolar, é necessária às atividades
cotidianas. A ausência da Matemática é desconfortante
não só no âmbito escolar, mas em grande parte da vida
cotidiana dos sujeitos. Desse modo, quanto mais
habilidades com a Matemática a criança tiver na
infância, maior será a facilidade de executá-la quando
jovem ou adulta.
Sob os diversos aspectos, a Matemática é mais
fácil agora, tanto para as crianças como para os adultos.
As calculadoras e computadores extraíram muito do
trabalho penoso que gerações anteriores consideravam
tão pouco atraente.
A importância e a demanda das habilidades
matemáticas mudaram. No mundo atual, exige-se das
pessoas muito mais estimativas do que cálculos exatos.
Isso não significa dizer, porém, que defendemos a
abolição dos cálculos escritos. As técnicas operatórias
fazem parte da cultura da humanidade e não é objetivo
nosso ignorá-las.
Enfatizamos, porém, que algo como a conta
armada mais comum nas séries iniciais do Ensino
Fundamental, tem deixado de ser o centro do currículo
de Matemática.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN)
defendem que o cálculo escrito deve conviver com
outras modalidades de cálculo, como o cálculo mental,
as estimativas e o cálculo produzido pelas calculadoras.
Partindo do princípio de que as mudanças da
sociedade refletem nas mudanças de conceitos,
relacionamos o conceito de alfabetização com o
conceito de numeralização. Gray mostra esta
flexibilidade de conceitos tanto entre países como ao
longo do tempo:
Uma pessoa é fundamentalmente alfabetizada quando ela adquiriu o conhecimento e habilidades em leitura e escrita que a capacitam a engajar se efetivamente em todas as atividades nas quais a alfabetização é normalmente suposta em sua cultura ou grupo (apud NUNES & BRYANT, 1997, p. 18).
Isto se aplica também à numeralização. A uma
pessoa numeralizada, portanto, seria suficiente dominar
aritmética e porcentagens para ser considerada
numeralizada há cem anos atrás. Porém, as exigências
para numeralização no mundo de hoje parecem ser
bastante diferentes.
Esse conhecimento vai além da capacidade de executar simples cálculos. Entendemos que o numeralizado deve ser capaz de pensar sobre e discutir relações numéricas e espaciais utilizando as convenções
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da nossa própria cultura (NUNES & BRYANT, 1997, p. 19).
Seria interessante que ser numeralizado
implicasse em ter familiaridade e habilidade. Ou seja,
que uma pessoa numeralizada pudesse ser capaz de
apreciar e entender algumas das formas pelas quais a
Matemática pode ser usada como um meio de
comunicação.
A numeralização está compreendida em
diferentes contextos de aprendizagem escolar, porém,
conceitos matemáticos não são sempre claramente
definidos como tal, porque eles são apresentados como
idéias, não como números. Chapman et alii apontam
que os conceitos usados em geografia e estudos
sociais, por exemplo, envolvem ideias matemáticas,
mas as pessoas podem permanecer não cientes disso
(apud NUNES & BRYANT, 1997, p. 19). Expressões
como "mortalidade" e "inflação", por exemplo, envolvem
a ideia de proporção, um conceito matemático básico
que pode passar despercebido como tal no contexto de
outras disciplinas.
A numeralização também está envolvida na vida
cotidiana e no trabalho, mas frequentemente também
não é reconhecida como conhecimento matemático.
Pensando, portanto, em um local de
aprendizagem progressiva de Matemática, nos cabe
indagar se estamos criando ambientes escolares nos
quais as crianças não apenas aprendam sobre números
e aritmética, mas também pensem de forma
matemática.
Para serem numeralizadas, as crianças
precisam ter pensamentos lógicos, precisam aprender
sistemas convencionais;, e precisam usar seu
pensamento matemático estimulando seu raciocínio de
forma significativa e apropriada nas situações.
Ser numeralizado implica em pensar
matematicamente sobre situações. Para pensar
matematicamente, os sistemas matemáticos de
representação que utilizaremos como ferramentas
precisam ser conhecidos. Estes sistemas devem ter
sentido, ou seja, devem ter relações com as situações
nas quais podem ser usados. Precisamos ter a
capacidade de entender a lógica destas situações,
as invariáveis, para que possamos escolher as
formas apropriadas de Matemática. Contudo, não é
suficiente aprender procedimentos, é necessário
transformar esses procedimentos em ferramentas de
pensamento.
Mantém-se ainda a questão sobre quais
ferramentas necessitamos a fim de sermos
numeralizados no mundo de hoje. Sem dúvida,
precisamos de sistemas de numeração. Mas realmente
precisamos de muito mais para trabalhar em muitos
contextos que se tornaram parte da vida cotidiana.
Devemos, por exemplo, pensar proporcionalmente a
fim de realizarmos negócios mais vantajosos.
Provavelmente, precisemos pensar algebricamente
a fim de usar determinados tipos de software de
computador.
O computador transformou a Matemática e
converteu-se num elemento primordial. Este avanço deu
grande impulso a certos ramos da Matemática, como a
análise numérica e a matemática finita, e gerou novas
áreas de investigação, como o estudo dos algoritmos.
Tornou-se, uma poderosa ferramenta em diversos
campos como a teoria numérica, as equações
diferenciais e a álgebra abstrata. São inúmeros,
portanto, os tipos específicos de matemática para
sermos numeralizados nas sociedades
contemporâneas.
No início da aprendizagem escolar, os alunos
não dispõem de conhecimentos e competências para
chegar à solução, necessitando de uma ampla
experiência com situações-problema que os conduzam
a desenvolver raciocínios mais complexos por meio de
tentativas, explorações e reflexões.
50
Dessa forma, ao construírem e organizarem um
repertório básico, nas séries iniciais, os alunos
começam a desenvolver habilidades próprias de cálculo.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN)
apontam caminhos metodológicos para o ensino de
Matemática: a solução de problemas, os recursos
tecnológicos, a história da Matemática e os jogos.
Defendem uma aprendizagem de Matemática baseada
na construção dos conhecimentos abordados,
considerando os conhecimentos prévios dos alunos e
sua contribuição na formação de alunos prontos a
enfrentar situações e abordagens novas.
Ao educador, cabe o desafio de imaginar novas
metodologias e pesquisar estratégias alternativas para
um ensino mais abrangente, envolvente, participativo,
multidisciplinar e que esteja inserido na realidade.
Como abordaremos a seguir, o lúdico é visto
como uma das alternativas para a motivação para o
ensino de vários conteúdos e disciplinas, sobretudo os
conteúdos da disciplina de Matemática.
Difícil, no entanto, é compreender o quanto
difícil é essa tarefa: como lidar com essa concepção, se
nossa educação não contemplava (ou contempla?) algo
que se assemelhasse (ou se assemelhe?) à utilização
de novos recursos em sala de aula?
Como lidar com novas alternativas se ainda está
impregnado em nós o ranço de uma educação que tinha
como foco a aula expositiva? Neste sentido, recorremos
a Libâneo:
A seriedade profissional do professor se manifesta quando compreende o seu papel de instrumentalizar os alunos para a conquista dos conhecimentos e sua aplicação na vida prática; (...) orienta-os positivamente para as tarefas da vida adulta. Tais propósitos devem ser concretizados na prática, através de aulas planejadas onde se evidenciem: sobretudo, a segurança nos conteúdos e nos métodos de ensino (...) (grifo nosso – Qual grifo?). Sem sombra de dúvidas, penosa é a tarefa do professor advindo de uma educação verticalizada, trabalhar com novas
abordagens metodológicas. Porém, concebemos que o papel do professor — enquanto membro da comunidade e agente de mudança — está adquirir novos conhecimentos, comportamentos e atitudes. Deve ainda, atender às exigências colocadas pela sociedade atual, e cumprir os novos papéis que lhe estão sendo destinados na formação de indivíduos aptos a enfrentar essa sociedade em rápida e contínua mudança, numa perspectiva de estimular, dirigir, incentivar, impulsionar o processo de aprendizagem do aluno (LIBANEO, 1994, p. 115).
Contudo, a meditação (ou mediação?) é
favorecida pelo professor, pela qual são munidas as
condições e os meios para os educandos se tornarem
sujeitos ativos na assimilação de conhecimentos.
O CAMINHO DO TRABALHO
Para efeito desse estudo, utilizaremos a
proposta de observação participante de Minayo:
A técnica de observação participante se realiza através do contato direto do pesquisador com o fenômeno observado para obter informações sobre a realidade dos atores sociais em seus próprios contextos. O observador, enquanto parte do contexto de observação, estabelece uma relação face a face com os observados. Nesse processo, ele, ao mesmo tempo, pode modificar e ser modificado pelo contexto (MINAYO, 1994, p. 59).
Dessa forma, observamos diretamente na
própria realidade situações ou fenômenos que não são
obtidos por meio instrumento de perguntas. O
pesquisador, assim, está inserido no campo
investigativo. Campo investigativo esse advindo da troca
de experiências acumuladas durante anos de salas
de aula e nos detemos em qualificar nosso estudo e
não em quantificá-lo. Ainda em Minayo (1994), pudemos
compreender que a pesquisa de ordem qualitativa
responde a questões muito particulares. Ela se
51
preocupa com um nível de realidade que não pode ser
quantificado.
Para efeito deste estudo, envolvemos revisão
bibliográfica e coletas de informações em reuniões
pedagógicas sobre as dificuldades enfrentadas por
professores de Matemática dos variados níveis de
ensino.
O nosso campo investigativo se dá na forma de
troca de experiências acumuladas durante anos de
salas de aula e, portanto, esse é o norteador desse
estudo.
A profissão de professor combina sistematicamente elementos teóricos com situações práticas reais. Por essa razão, ao pensar um currículo de formação, a ênfase na prática como atividade formadora aparece, à primeira vista, como exercício formativo para o futuro professor. (LIBÂNEO, 2004, p. 94)
No exercício de nossas práticas somos, muitas
vezes, obrigados a buscar informações novas a todo
instante, ou seja, nos tornarmos o sujeito da informação
descrito por Larrosa (2002), a quem nada acontece ou
sucedem, a quem nada toca.
Porém, é no relacionamento do dia a dia, ora
como professores, ora como alunos, que nos tornamos
sujeitos da experiência, sujeitos construtores de um
saber significativo.
Não basta colocarmos a Matemática como área
de competência, termos o domínio do seu conteúdo e
apropriarmo-nos de seus conhecimentos. Sabemos que,
mais importante que isso é o educando que temos, e
que, junto conosco, torna-se sujeito da experiência,
constrói saberes, aprende e ensina.
A PERSPECTIVA HISTÓRICA DA MATEMÁTICA
Vêm da Antigüidade as duas concepções de
Matemática que permanecem até os dias atuais. Em
primeiro lugar, a idéia de que aquele que tem sucesso
em Matemática sabe raciocinar e pensar
adequadamente, relacionando de forma direta a
capacidade de raciocínio ao conhecimento matemático,
nasceu na concepção formalista e idealista de Platão.
Para ele, o ensino desta ciência, desvinculado
de suas aplicações, representava um treinamento de
estratégias de raciocínio que poderiam ser
generalizadas a outras áreas do currículo e para
toda a vida. Desse modo, se justificaria o ensino de
Matemática para os membros da aristocracia grega.
Essa lógica fundamenta-se na crença de que
procedimentos gerais do raciocínio ou de solução de
problemas podem ser ensinados de maneira abstrata e
aplicados em qualquer outra área, constituindo-se numa
visão idealista em função das estratégias do
pensamento formal.
A segunda idéia que perpassa a história é uma visão utilitarista da Matemática, que foi desencadeada a partir dos trabalhos de Aristóteles. Os argumentos práticos justificariam a importância da área de conhecimento, pois ela é o "idioma das ciências e a tecnologia" (POZO & ECHEVÉRRIA, 1998, p. 45 Obra não consta nas referências bibliográficas).
Nesta direção, a Matemática deve ser
apreendida de modo que o indivíduo possa utilizá-la no
seu cotidiano e como uma ferramenta para auxiliar o
estudo das outras ciências.
Segundo Onuchic (1999 Obra não consta nas
referências bibliográficas), no início do século XX o
ensino de Matemática se realizava por meio da
repetição. O professor falava, o aluno recebia a
informação, escrevia, memorizava e repetia, tanto na
escola como em casa.
Essa é a educação que Paulo Freire,
sabiamente, criticava como "educação bancária": aquela
52
em que só se permite ao educando receber, guardar e
arquivar os depósitos. Freire defende que, neste tipo de
educação,
não pode haver conhecimento, pois os educandos não são chamados a conhecer, mas a memorizar o conteúdo narrado pelo educador. Não realizam nenhum ato cognoscitivo, uma vez que o objeto que deveria ser posto como incidência de seu ato cognoscente é posse do educador e não mediatizador da reflexão crítica de ambos (FREIRE, 1987, para 69).
Nesse caso, a memorização dos fatos básicos,
algo como o uso da tabuada, por exemplo, era muito
respeitada. Esse era o perfil de um ensino totalmente
verticalizado.
Em seguida o ensino da Matemática é
notoriamente marcado pela compreensão. Havia neste
período, uma preocupação em termos de técnicas
operatórias a serem usadas em um problema-padrão ou
para aprender algum conteúdo novo.
No Brasil, em 1964, o professor Luiz Alberto S.
Brasil (não consta nas referências bibliográficas), já
defendia um ensino de Matemática cujo ponto de partida
fosse um problema gerador de novos conceitos e
conteúdos.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais de
Matemática (BRASIL, 1997) trazem consigo uma nova
concepção de ensino e aprendizagem de Matemática
baseada na construção de significado dos
conhecimentos abordados, considerando a
aprendizagem como um processo que tem, como ponto
de partida, os conhecimentos prévios dos alunos e
considerando sua contribuição na formação de alunos
capazes de enfrentar situações novas que exijam novas
abordagens. Segundo Onuchic (1999 Obra não consta
nas referências bibliográficas), fazer da compreensão o
ponto central do ensino da Matemática deveria ser o
objetivo de professores e de educadores em geral.
A respeito da formação, recorremos a Candau
(1987). Segundo a autora, a análise das publicações
mostra que a década de 60 privilegiou a abordagem de
que "os problemas educacionais poderiam ser
solucionados com a modernização dos métodos de
ensino", enquanto a década de 70 privilegiou a
"experimentação, racionalização, exatidão e
planejamento". Nestas décadas, portanto, "as
Licenciaturas eram estudadas fundamentalmente
nos seus aspectos funcionais e operacionais". A partir
disso, a década de 80 foi responsável por instaurar
a era dos questionamentos sobre a licenciatura,
vista como situada "numa problemática educacional, a
partir de e em relação com os determinantes históricos e
político-sociais que a condicionam". depois desses
anos" (visão mecanicista) e, por outro lado, vigorava a
idéia segundo a qual "a prática educativa escolar é uma
das modalidades da prática social global e não uma
entidade que estaria precedendo a prática social como
um todo" (visão globalizante, mais complexa)
(trecho confuso devido à colocação das aspas. Além
disso, a pagina das citações textuais não é referida).
Outro aspecto privilegiado foi o do papel do professor,
cuidando da especificidade do trabalho docente,
colocando ênfase na "socialização do saber sistematizado como função própria da escola",
discutindo as relações entre uma competência
técnica e um compromisso político, levantando pontos
fundamentais para posicionar o magistério como
profissão, alertando para a desvalorização como eixo
central do problema: "o magistério como profissão é
ainda tema de reduzida envergadura em nossa literatura
educacional. Isso deve refletir a situação dessa
ocupação, ainda longe, segundo alguns, de constituir
uma verdadeira profissão" (a pagina das citações
textuais não é referida).
A formação do professor passa a ser primordial,
incluindo os professores formadores de docentes que
se encontram nas Universidades, uma vez que as
demandas sociais sobre o ensino estão sofrendo um
processo de mudança de paradigmas, entre estes a
aprendizagem da Matemática de maneira significativa.
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No Brasil, já encontramos uma boa quantidade de
pesquisas na área de Matemática, mas muito ainda há
para se construir e aprofundar.
A base fundamental para o sucesso, na era da
informação será a experiência educacional diversificada;
o que os estudantes precisam não é dominar um
conteúdo, mas dominar o processo de aprendizagem.
Cada vez mais haverá necessidade de uma educação
permanente, explorando todas as possibilidades
oferecidas pelas novas propostas de ensino.
Neste sentido, Libâneo diz que
a formação continuada consiste de ações de formação dentro da jornada de trabalho (...) e pra lá da jornada de trabalho. (...) Ela se faz por meio do estudo, da reflexão, da discussão e da confrontação das experiências dos professores. É responsabilidade da instituição, mas também do próprio professor, porque o compromisso com a profissão requer que ele tome para si a responsabilidade com a própria formação (LIBANEO, 2001, p. 191).
Portanto, a capacidade que o educador tem de
analisar, adotar princípios, montar estratégias e técnicas
mais adequadas às condições da realidade educacional
é a base para qualquer transformação.
NOVAS ABORDAGENS NO ENSINAR DE MATEMÁTICA
Alguns estudos têm demonstrado experiências
que deram certo, no que se refere às inovações no
ensino de Matemática. Atividades apoiadas em
materiais didáticos e jogos, dos mais simples aos mais
complexos, levam os estudantes a perceber
regularidades e propriedades matemáticas.
O uso do soroban, do material dourado, de
jogos e brincadeiras tem mostrado que, eliminando
técnicas insensatas e regras arbitrárias para produzir
respostas escritas corretas, e encorajando os
educandos a pensarem por si mesmos, podemos gerar
estudantes que confiam em seu raciocínio.
São, dessa forma, situações, procedimentos e
representações simbólicas que formam o que os
teóricos chamam de campo conceitual. Verificamos,
portanto, que objetiva-se, com isso, uma progressão,
nem sempre linear, do raciocínio.
A maioria das crianças e jovens desanima
diante do ranço de complicação inútil. Porém, tais
estudos mostram que, se o raciocínio for estimulado sob
forma de brincadeira, charadas, jogos ou histórias de
aventura, logo se percebe que não é de todo difícil fazer
com que os alunos se interessem pela Matemática.
No Brasil, o precursor das novas abordagens
metodológicas no ensino de Matemática foi o professor
de Matemática, Júlio César de Mello e Souza, mais
conhecido pelo pseudônimo de Malba Tahan. Autor de
um dos maiores sucessos editoriais de todos os tempos
no país, o romance O Homem que Calculava, Malba
Tahan, trouxe para o ensino de Matemática de nossas
escolas a possibilidade de brincar de comércio visando
aproximar o ensino do real; de utilizar o teatro e
esquemas gráficos para aprender frações; além da
criação e utilização dos laboratórios de Matemática.
Com isso, consideramos que receber
informações não é suficiente para que o aluno aprenda
a compreender de fato o que se quer ensinar. Essa
compreensão está intimamente ligada à observação e à
investigação do mundo: quanto mais a criança tiver
oportunidade de exploração, mais será capaz de
relacionar fatos e idéias e tirar formular conclusões. Ao
passo que, na infância, uma criança tem oportunidade
de praticar relações comerciais, por exemplo, ela terá
mais facilidade de resolver problemas matemáticos,
sobretudo na sua juventude, frente àquela que não teve
a mesma oportunidade.
Assim, estudantes que adquirem, sobretudo na
infância, a facilidade de raciocínio lógico-matemático
têm uma base sólida para o aprendizado posterior.
Aqueles que só conseguem aplicar técnicas feitas
podem conseguir boas notas durante poucos anos,
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mas não terão base necessária para uma matemática
mais elevada.
Não consideramos, porém, que a utilização do
lúdico, deva ser prioritária, tampouco deva excluir outros
caminhos metodológicos: o cálculo deve ser incentivado
nas mais variadas situações de aprendizagem; o
estímulo à explicitação verbal ou escrita dos
procedimentos utilizados pelo aluno favorece a troca de
experiências. Portanto, pensar como as crianças
concebem a Matemática é fundamental.
Haverá ocasiões em que possibilitar às crianças
o acesso a novos meios de pensamento será uma
questão de aprender novos sistemas convencionais de
representação: elas podem precisar, por exemplo,
aprender a usar um transferidor, contar dinheiro ou
inserir comandos em um software de computador.
Em outras ocasiões, elas podem precisar
conectar seu antigo conhecimento com situações novas.
A importância de procedimentos antigos será
transformada pelo seu uso para resolver problemas
novos.
Haverá ainda ocasiões em que o pensamento
das crianças será expandido através de suas tentativas
de lutar com novos tipos de invariáveis. Neste caso, elas
poderão usar seus próprios símbolos e recursos durante
algum tempo, antes que sejam solicitadas a utilizar
formas convencionais de representação.
A metodologia aplicada deve estimular o
raciocínio, a interação entre os alunos e/ou professor,
não tendo como característica principal a memorização
do conteúdo e termos técnicos.
Trabalhar o lúdico e o desenvolvimento da
afetividade e da solidariedade nas relações entre alunos
e professor, e alunos entre si, abre um leque sobre as
possibilidades de despertar alunos apáticos, inquietos
ou desinteressados, favorecendo maior envolvimento e
participação, ao passo que altera o cenário da sala de
aula e a eficácia da aprendizagem.
Consideramos interessante que essa
metodologia deve ser igualmente aplicada a partir
das séries iniciais do Ensino Fundamental e atinja os
outros níveis de ensino, verificando o que é mais
adequado à realidade na qual estamos inseridos.
Tanto o Plano Nacional do Livro Didático
(PNLD), quanto os Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCN) apostam numa educação matemática
que propicie no aluno o desenvolvimento de
competências e habilidades, tais como:
Leitura e interpretação de textos
matemáticos;
Leitura, interpretação e utilização de
representações matemáticas, como tabelas,
gráficos etc.;
Transcrição de mensagens matemáticas
da linguagem corrente para linguagem
simbólica (equações, gráficos, diagramas etc.) e
vice-versa;
Utilização adequada dos recursos
tecnológicos como instrumentos de produção e
de comunicação;
Uso correto das terminologias;
Utilização correta de instrumentos
de medição e de desenho;
Identificação do problema, considerando
seleção e interpretação das informações;
Formulação de hipóteses;
Seleção de estratégias de resolução de
problemas;
Distinção e utilização de raciocínios
dedutivos e indutivos;
Discussão de idéias e produção de
argumentos;
Desenvolvimento da capacidade de
utilização da Matemática na interpretação e
intervenção no real;
55
Aplicação de conhecimentos e métodos
matemáticos em situações reais, em especial
em outras áreas do conhecimento;
Estabelecimento de relações das etapas
da história da Matemática com a evolução da
humanidade;
Utilização adequada de calculadoras,
computador, entre outros, reconhecendo suas
limitações e potencialidades.
Frente aos desafios e às novas possibilidades
do ensino de Matemática, refletimos na perspectiva de
Arantes:
No trabalho educativo cotidiano não existe uma aprendizagem meramente cognitiva ou racional, pois os alunos e as alunas não deixam os aspectos afetivos que compõem sua personalidade do lado de fora da sala de aula, quando estão interagindo com os objetos de conhecimento, ou não deixam latentes seus sentimentos, afetos e relações interpessoais enquanto pensam (Arantes 2000).
Trabalhar com metodologias alternativas no
ensino de Matemática pode ser sim gratificante, desde
que se considere que os conteúdos devem ser claros e
objetivos, e devem estabelecer ligação entre princípios
estudados e fenômenos conhecidos pelos alunos e
professores, numa perspectiva de construção do
conhecimento lógico-matemático.
Logo, quanto maior o número possível de
relações estabelecidas entre objetos, maior será o
domínio das técnicas e procedimentos matemáticos do
educando. Dessa forma, estabelece-se, no educando, a
construção do pensamento autônomo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo em vista o acima exposto,
consideramos que, caso sejam revistos os aspectos de
formação profissional dos professores de Matemática,
seriam facilitadas as compreensões e aplicações acerca
desse tema.
Compreendendo as novas exigências desse
novo modelo de sociedade, o papel da escola
implica em fazer com que no futuro as crianças tenham
mais habilidades e conhecimentos matemáticos que
possuem no momento (habilidades e conhecimentos
estes, ainda com ranços de uma educação
tradicional, verticalizada, mecânica).
Ao professor cabe tornar as crianças
numeralizadas, entendendo como elas aprendem
matemática hoje e o que a aprendizagem matemática
pode fazer no pensamento delas.
Devemos considerar tanto como as crianças
aprendem sobre números como sobre operações
aritméticas, como também como elas virão a pensar
matematicamente de maneira progressivamente mais
complexa.
Sem sombra de dúvidas, a formação e a
atualização constante do professor são duas chaves
mestras da educação, sobretudo dos professores da
educação matemática.
Porém, é sabido que poucos têm a chance de
financiar cursos de pós-graduação, mestrado ou
doutorado e, mesmo quando se tem essa oportunidade,
não se pode esquecer de que a troca de idéias e
experiências também acontece em encontros,
seminários e palestras.
Difícil pensar como um professor que aumenta
sua carga horária em função de melhorar sua renda
familiar, enfrenta esses desafios.
Difícil pensar também, como professores recém-
saídos de uma proposta tradicional de educação
centrada na figura do professor, onde o princípio era a
transmissão de conhecimentos por meio da aula,
frequentemente expositiva, numa seqüência
predeterminada e fixa que enfatizava a repetição de
exercícios com exigências à memorização, se deparam
com situações novas em meio a softwares de
computadores, internet entre outros.
56
O melhor caminho para garantir o aprendizado é
relacionar os conteúdos matemáticos e mostrar como
eles se complementam. Isso é o que dá significado ao
estudo. Geralmente, os tópicos aparecem de forma
fragmentada, como se não tivessem nenhuma ligação
entre si.
É preciso, portanto, que o professor organize os
temas de forma a favorecer que o aluno perceba entre
eles uma rede de significados.
Os inúmeros cursos de formação inicial e
continuada não têm apresentado respostas capazes de
provocar mudanças mais objetivas no cotidiano das
salas de aula.
Percebe-se a urgente necessidade de pesquisas
voltadas à operacionalização destes novos enfoques,
nas diversas práticas educativas com vistas a contribuir
com as teorias no campo das concepções e
representações, assim como no campo de novas
práticas e posturas frente à escola e ao conhecimento
da questão.
A formação dos professores ganha novos
contornos quando se constata que a direção dada por
estes, no manuseio de diferentes e inovadores meios
pedagógicos, é determinante na forma de aprendizagem
dos alunos. O melhor livro texto ou outro
material não tem poder de direcionar o ensino a não ser
que o professor deseje e o faça.
Nessa direção, Sztajn (1997 Obra não consta
nas referências bibliográficas) argumenta que não é
suficiente uma formação dos professores calcada na
ampliação dos conteúdos matemáticos e pedagógicos,
mas torna-se cada vez mais imperativo trabalhar as
visões que o professor tem do mundo e de seu papel,
enquanto educador matemático situado numa realidade
social, econômica e cultural.
Com isso, consideramos que existe a
necessidade real de se criar condições para um
processo de formação continuada, vislumbrando
contemplar, na grade curricular dos cursos voltados
para a formação do professor, seja ele de quaisquer
áreas, conteúdos que propiciem uma melhor
aplicabilidade do que nele for aprendido e apreendido.
O professor só pode ajudar o aluno no processo
de aprendizagem se puder oferecer pontos de vista
distintos sobre um mesmo assunto. Isso só é
possível se o professor tiver um bom domínio do
conteúdo a ser ensinado. A preocupação exagerada
com as técnicas de ensino na formação dos professores
afastou-os da comunidade matemática.
Acreditamos que precisamos pensar o ensino
de Matemática de forma diferente. Precisamos pensar
que, ao projetar um currículo que transforme os nossos
jovens numeralizados para esse novo modelo de
sociedade, podemos ter que relembrar continuamente
que a Matemática que as crianças aprendem deve
lhes dar acesso a novos meios de pensar e deve aumentar seu poder para pensar matematicamente.
Pudemos, nesse estudo, analisar a importante
tríade no processo ensino-aprendizagem de
Matemática: a formação do professor; a complexa
relação entre os textos didáticos e a prática social do
educando; o trabalho com os aspectos afetivo e lúdico
em sala de aula e todas as variáveis imbricadas ao se
elaborar um saber relativo ao "fazer pedagógico".
Nossos estudos apontam para a necessidade
de uma nova maneira de ensinar e de aprender,
focalizando os vínculos afetivos e o lúdico, as vivências cotidianas dos alunos, a busca continuada por
capacitação em serviço, a análise, seleção e a
construção coletiva de saberes de forma solidária e
colaborativa entre educandos e educadores, contrariamente à enfadonha repetição de fórmulas
prontas que devem ser seguidas e nunca alteradas,
como sugere o atual quadro educacional.
57
O Brasil tem condições de mudar o quadro
lastimável em que se encontra o ensino da Matemática.
Com satisfação, notamos um movimento muito
importante de nossos professores em busca de
aperfeiçoamento. Muitos deles têm consciência dos
problemas de sua formação e dos reflexos que ela tem
dentro da sala de aula. Há uma enorme massa de
professores que querem ser treinados em conteúdos. O
desafio é alcançar o maior número de professores no
menor espaço de tempo.
REFERÊNCIAS
ARANTES, V. A. Cognição, afetividade e moralidade. Educação e Pesquisa. n. 2, v. 26, São Paulo, julho/dezembro de 2000, pp. 137-153.
BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais: matemática. Brasília: MEC/SEF, 1997.
CANDAU, V.M.F. (Coord.). Novos rumos da licenciatura. Brasília: INEP/PUCRJ (Série Estudos e Pesquisas), 1987.
CAVALCANTE, M. 20 dicas para dominar as modernas práticas pedagógicas. Nova Escola. São Paulo: Ed. Abril, dezembro de 2005.
FALZETTA, R. Todas as contas num punhado só. Nova Escola. São Paulo: Ed. Abril, setembro de 2006. FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 17ª. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
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Adeus professor, adeus professora?: novas exigências educacionais e profissão docente. 8ª ed. São Paulo: Cortez, 2004.
MINAYO, M. C. S. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 18ª ed. Petrópolis: Vozes, 1994.
NUNES, T. & BRYANT, P. Crianças fazendo matemática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
58
A SEXUALIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL E O PAPEL DO EDUCADOR
Maria Caroline Diniz Escorel1
RESUMO
O contexto educacional demonstra que o tema sexualidade, deve ser abordado de maneira cada vez mais eficiente pelas escolas, conjuntamente com a família, especialmente quando se trata da sexualidade na educação infantil. Nesse sentido, o educador, mais uma vez exerce uma função de extrema importância, e a sua permanente capacitação proporcionará condições de atender melhor as peculiaridades que são apresentada pelos alunos no ambiente escolar. O objetivo deste estudo consiste em discutir a sexualidade na educação infantil e a necessidade de formação do educador para desempenhar seu papel satisfatoriamente. A metodologia utilizada para o presente estudo classificou-se como bibliográfico e exploratório, sendo a pesquisa realizada em livros, revistas e sites específicos que tratam o tema abordado. Foi possível tecer algumas considerações sobre a abordagem proposta, destacando que o educador infantil, que possuí uma efetiva participação no processo de formação e desenvolvimento educacional da criança, deve ser complementado com a educação doméstica, na qual a família deve proporcionar também ensinamentos saudáveis, através de diálogos abertos, e que todas as informações sejam refletidas posteriormente em outras fases de sua vida.
Palavras Chave: Educação infantil, sexualidade, educador.
ABSTRACT
The educational context shows that the theme sexuality must be addressed ever more efficient by schools, together with the family, especially when it comes to sexuality in early childhood education. In this sense, the teacher once again plays an extremely important role, and their ongoing training will provide conditions to better meet the peculiarities that are presented by the students in the school environment. The aim of this study is to discuss sexuality in early childhood education and the need for teacher training to perform their role satisfactorily. The methodology used for this study was classified as bibliographic and exploratory, and the research carried out in books, magazines and specific sites that deal with the topic addressed. It was possible to make some observations on the proposed approach, highlighting that child educator who possess an effective participation in the process of training and educational development of children, it should be complemented with domestic education, in which the family should also provide healthy teachings through open dialogue, and that all the information is later reflected in other phases of your life.
Keywords: early childhood education, sexuality, educator.
1 Discente do Programa de Pós-Graduação – Mestrado em Educação da UNIGRENDAL, Graduada em Fisioterapia, pelo Centro Universitário de João Pessoa – Unipe; Especialista em Recursos cinesioterapeuticos, pela Universidade Federal da Paraíba - UFPB
59
INTRODUÇÃO
A educação infantil trabalha e educa crianças
nos seus primeiros anos de vida, geralmente elas
possuem entre 0 a 6 anos de vida, que representa
uma faixa etária fundamental para o desenvolvimento
do ser humano, e requer tanto da escola como da
família um empenho constante, para garantir
resultados favoráveis em diversas áreas, dentre as
quais, destaca-se o foco na educação sexual. Nesse
sentido, torna-se uma preocupação para as escolas a
busca pela melhor maneira de tratar os assuntos
relacionados com a sexualidade. O tema sexualidade,
ainda é visto como um “tabu”, dentro de algumas
famílias e também de escolas. Porém, nos dias atuais
já é perceptível um maior grau de mudança de cultura
relativa aos assuntos que tratam de sexo sexualidade,
permitindo a abordagem dos conteúdos de forma
natural, educativa e preventiva, cujos ensinamentos
passam a integrar um conjunto futuro de informações
livres de preconceito.
Nesse contexto, faz-se necessário destacar a
relevante importância da relação entre escolas,
educadores e as famílias para conjuntamente,
alcançar uma orientação adequada e baseada em
conceitos formadores de um nível educacional
saudável, livre de preconceitos e de enigmas.
Nessa perspectiva, as ações que questionam,
dialogam, problematizam, e desvendam elementos
concernentes à sexualidade constituem aspectos que
contribuem para o desenvolvimento humano, iniciando
as orientações acompanhamento desde a primeira
infância.
O objetivo deste artigo consiste em discutir a
importância da sexualidade na educação infantil,
destacando o papel do educador e a necessidade de
preparação didática do mesmo, capacitando-o para
promover um diálogo constante e de desenvolvimento
contínuo, contribuindo para a formação dos aspectos
relativos à sexualidade, que se inicia na primeira
infância.
Alguns autores e pedagogos destacam a
importância do diálogo, dentro do contexto abordado,
e demonstram que as crianças e jovens usam
diversas formas para promover este diálogo.
“[...]fazem parte das conversas dos/as estudantes, elas estão nos grafites dos banheiros, nas piadas e brincadeiras, nas aproximações afetivas, nos namoros; e não apenas aí, elas estão também de fato nas salas de aula –assumidamente ou não –nas falas e atitudes das professoras, dos professores e estudantes.” (LOURO, 1997, p. 131)
Os diálogos ocorrem em ambientes
diferenciados, destacando, a própria moradia, o
ambiente escolar e sala de aula, considerando que as
questões recorrentes sobre a sexualidade não estão
apenas entre os amigos e familiares, mas também
podem ser realizadas nos programas de rádio e
televisão e na internet, que são meios às vezes
perigosos na formação da educação sexual.
1. EDUCAÇÃO INFANTIL
A escola é considerada como a instituição
adequada e eficiente para balizar os ensinamentos
necessários e complementares à educação
doméstica. O processo de sociabilidade, evoluí à
medida que avança o nível educacional, dispondo de
regras de comportamento, valores, parâmetros morais
e éticos, e suas atividades ensejam na educação
infantil.
Como respaldo que fundamenta a integração
da escola e da família, inseridas na sociedade como
agentes propulsores da educação, pode-se destacar o
conteúdo constitucional que regula o direito à
educação, conforme disposto no art. 227, in verbis:
60
Artigo 227 - "É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão."
Neste processo de socialização, as crianças
são influenciadas por pedagogias culturais, que
colaboram nos processos construtivos de suas
sexualidades. Mas também, outros agentes são
igualmente responsáveis pelo desenvolvimento
humano, psíquico e educacional da criança, dentre
eles a família, a sociedade e o Estado, cada um deles
exercendo com zelo seu papel dentro da formação da
criança.
o tema – “sexualidade” - trazendo seus conflitos,
dúvidas e expectativas.
Por sua vez, a escola complementa com o
auxilio dos educadores, a formação das crianças,
nesse processo evolutivo de diálogo e de
aprendizado.
Para Ribeiro (2009), é essencial que a família
promova um ambiente de discussão e de
desenvolvimento contínuo, sendo capazes de iniciar
conversas, trocas experiências e resolver conflitos
sem violência.
Diante dessas considerações, percebe-se que
o bom diálogo e as informações claras, despidas de
preconceitos e de mistérios, são fundamentais para
obter resultados positivos para a criança e os demais
envolvidos no processo educacional.
Corroborando com o disposto acima, a
Declaração Universal dos direitos da Criança
proclamados pela ONU, afirma que os anos mais
importantes para o desenvolvimento da criança são os
seis primeiros. Nesses seis anos se forma a estrutura
da personalidade e a base da sua afetividade, em
torno da imagem que ela faz de si mesmo. Aos seis
anos a criança já passou por várias experiências,
como o amor ou a rejeição, o carinho ou a violência, o
cuidado ou a indiferença, a certeza ou a dúvida, a
alegria ou a ansiedade. Para desenvolver-se de
maneira saudável e feliz, é preciso que a maior parte
das experiências seja positiva. (UNICEF, 1959).
O autor Muller (2013), considera que os pais
são os principais exemplos, quando o assunto se
refere à educação infantil na esfera sexual, são eles
os primeiros e fundamentais educadores sexuais de
seus filhos. E nessa ótica, o ambiente familiar deve
ser um lugar que favoreça o diálogo de maneira mais
aberta possível, mesmo que exija uma conversa mais
complexa. Logo, é de grande importância que os filhos
não sintam timidez para iniciar um bom diálogo sobre
2. SEXUALIDADE INFANTIL NA ESCOLA
A sexualidade infantil é inerente a qualquer
criança, e sua demonstração será particular a cada
uma. Aos educadores cabe conhecê-la, respeitá-la,
conduzi-la de forma adequada, sem estimulação nem
repressão, tendo sempre em mente uma reflexão de
sua própria sexualidade.
A abordagem do assunto sexualidade
constitui-se como um tema de difícil tratamento, e
quando envolve a sexualidade das crianças, percebe-
se que há uma deficiência com relação à formação
dos docentes, que são designados para educar a
criança. É possível considerar que não basta o
conhecimento sobre a sexualidade, mas a
sensibilidade do educador na condução das
informações e nas orientações que são fundamentais,
constitui-se como um elemento essencial,
proporcionando às crianças uma maior segurança e
confiança para assimilar e abordar a sexualidade.
Criança e sexualidade são instituições sociais
ligadas a práticas relacionais e modos de educação,
61
que caminham e convivem juntas sob influência do
meio cultural.
Sabe-se que as crianças estão presentes em
todo o mundo, e que são sujeitos de diferenciados
aspectos sociais, culturais e políticos que influenciam
na sua formação. E sendo assim, não podem ser
categorizados, uma vez que não vivem infâncias
iguais. Desta forma, conclui James (2009, p. 33) que
os aspectos que poderiam ser considerados naturais,
na verdade, são resultados inerentes ao
relacionamento social, politico e econômicos, não
representando assim aspectos necessários ou
naturais para os sujeitos que estão na faixa etária da
educação infantil.
Merece ser destacado que o corpo da criança
é a matriz da sua sexualidade, na medida em que, por
seu intermédio, sente o mundo desde o nascimento. A
criança começa a perceber algumas características de
seu corpo, e daí desperta outros interesses.
Este corpo infantil, na inter-relação de laços
estreitos e afetuosos de intimidades, passa a ser um
tocado, sentido, com maior intimidade, em decorrência
de abraços, carinhos e afagos trocados pelos
pequenos com seus pares, familiares e também com
os educadores.
Segundo Louro (2010), a escola pratica a
pedagogia dos corpos, ensinando formas “corretas” de
sentar, de falar, de vestir-se. Enfim, os padrões
aceitos pela nossa sociedade para homens e
mulheres são impostos às crianças, mesmo que
indiretamente, nos discursos, nos silêncios, nos rituais
e nas práticas escolares.
Sabendo-se que no contexto escolar as
manifestações da sexualidade estão presentes, cabe
ao professor e a professora problematizá-las. Uma vez
que a escola tem como função a transmissão de
conhecimentos científicos, bem como, o
desenvolvimento integral do indivíduo.
3. O PAPEL DO EDUCADOR NO PROCESSO DE EDUCAÇÃO SEXUAL
O educador infantil tem um papel muito
importante no desenvolvimento de uma criança. Entre
suas atribuições, esse profissional é responsável por
propiciar experiências que ajudem a criança a
desenvolver suas capacidades cognitivas (atenção,
memória, raciocínio, entre outras). Trata-se de um
processo longo, desenvolvido de forma contínua e
dinâmica a partir dos primeiros anos de vida.
Dentro desse processo, o professor deve
impor limites às crianças na escola. Ainda que a
atitude de dizer “NÃO” possa ser prejudicial ao
desenvolvimento da criança, em determinadas
situações é essencial que os educadores tenham o
compromisso ético de combater, por exemplo,
possíveis apelidos pejorativos colocados entre os
alunos. A imposição de limites é necessária para
evitar expor a criança a alguma situação
constrangedora
Outro ponto ao qual o professor/educador
deve estar atento diz respeito ao tratamento a todos
os alunos seja igual. O educador infantil é o
personagem que, além dos pais, será um espelho
para a criança. Assim, uma boa educação infantil tem
o papel de formar a criança e transformá-la no futuro
em um homem ou uma mulher que faça a diferença na
sociedade. Tudo isso começa pela sala de aula da
escola de educação infantil.
Sendo assim, torna-se imperativo um olhar
mais aprimorado dos profissionais que lidam com a
sexualidade na educação infantil, uma vez que no dia-
a-dia, surgem experiências problemáticas que levam
os educadores a decisões num ambiente de grande
turbulência, incertezas, e que enseja em conflito de
valores relativos ao sexual, principalmente quando os
educadores se deparam com situações de
curiosidade, nas quais as crianças são movidas pela
“vontade de saber” (FOUCAULT, 2005)
62
Nesse contexto, na maioria das vezes as
crianças trazem para a escola situações diversas e
muitas das vezes inusitadas, procurando caminhar em
busca do conhecimento sobre sexualidade e como
consequência promovem nos educadores,
sentimentos de desconhecimento ou constrangimento,
que podem ser atribuídos a fatores externos como a
falta de orientação e preparo desses educadores para
enfrentar os choques e os desafios relativos à
sexualidade das crianças que aparecem no cotidiano
da escola.
A convivência familiar e no âmbito escolar,
refletem no desenvolvimento e nos valores que são
significativos para o processo formativo das crianças.
Outrossim, é importante ressaltar que a própria
expressão da sexualidade traduzida por valores,
crenças, opiniões e sentimentos, nunca estará
absolutamente isento de deparar-se com diversas
perguntas e curiosidades.
Louro (2008) considera que a sexualidade
está continuamente na escola, faz parte dos sujeitos e
não é algo que possa ser desligado ou algo do qual
alguém possa se “despir”.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As contribuições que a literatura dispõe
auxiliam o entendimento sobre o papel do educador
no processo de desenvolvimento da criança, no
entanto, o cotidiano e a vivência de sala de aula
exigem um pouco mais do profissional da educação.
Nesse sentido, vale ressaltar que a abordagem da
sexualidade em sala de aula, os mesmo nas
dependências da escola, estão presentes de maneira
mais forte.
O papel do educador extrapola os muros da
instituição escolar, e permitem que sejam continuado
e complementado dentro da família, pois também é
um ambiente de grande importância para que as
crianças absorvam corretamente os ensinamentos e
as suas curiosidades consigam ser sanadas ao longo
do processo de ensino-aprendizagem. Para alcançar
os resultados pretendidos que atendam o anseio dos
alunos, o diálogo, ainda permanece sendo a
ferramenta mais indicada, desde que se mantenha um
diálogo aberto, livre de tabus e preconceitos,
entendendo-se que a própria sociedade ainda traz
uma carga de preconceitos, que precisa ser eliminada
a fim de não prejudicar a formação dos futuros
cidadãos, evitando assim problemas graves ao longo
de suas vidas com relação ao próprio corpo e a
sexualidade.
REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/cons tituicao.htm> Acesso em: 12 mar. 2016. FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. 12. ed. São Paulo: Loyola, 2005. HAMZE. Amélia. Repaginando a educação infantil. Disponível em: <http://educador.brasilescola.uol.com.br/gestao- educacional/repaginando-a-educacao-infantil.htm>> Acesso em 25 jul 2016. LOURO. Guacira Lopes. Pedagogias da Sexualidade. In O corpo Educado: pedagogias da sexualidade. Gracira Lopes Louro. 3 ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010. . Guacira Lopes. Pedagogias da Sexualidade. In O corpo Educado: pedagogias da sexualidade. Gracira Lopes Louro. 3 ed. Belo Horizonte: UNICEF. Declaração Universal dos Direitos da Criança (1959). Disponível em: <http://www.unicef.org/brazil/pt/resources_10120.htm> Acesso em 20 jul. 2016
63
AVALIAÇÃO: UMA FERRAMENTA PARA POSSIBILIDADES DE CRESCIMENTO
Sônia Duarte Dantas de Oliveira1
RESUMO
O presente artigo tem por objetivo apresentar uma breve reflexão sobre a avaliação como uma prática inovadora para o cotidiano das escolas, a partir de algumas referências bibliográficas que possibilitem um novo olhar para os modos de avaliar, utilizando técnicas adequadas e critérios avaliativos que promovam o sucesso do/a aluno/a. Traz uma abordagem significativa relacionando os aspectos que envolvem a avaliação como uma prática didática que contribuem para criar possibilidades de construção do conhecimento para o aluno através de um processo pedagógico dinâmico e planejado visando possibilitar ao aluno reflexões críticas. Refletir sobre o ato de avaliar está associado a uma prática educativa indispensável para auxiliar no desenvolvimento da aprendizagem. Neste sentido, a prática de avaliação requer tomada de decisões importantes do educador e equipe pedagógica no que diz respeito ao desenvolvimento de ações numa interação social, afetiva e profissional.
Palavras Chave: Avaliação; Planejamento; Relação de Crescimento; Práticas Pedagógicas.
ABSTRACT This article aims to present a brief reflection on the evaluation as an innovative practice for the daily life of schools, from some references that make possible a new look for ways to evaluate, using appropriate techniques and evaluative criteria that promote success the / a student / a. It brings a significant approach relating the aspects involving the evaluation as a teaching practice that contributes to create building possibilities of knowledge to students through a dynamic learning process and planned order to enable the student reflections criticism. Reflect on the act of evaluating is associated with an educational practice indispensable to assist in the development of learning. In this sense the practice of evaluation requires making important decisions of the teacher and teaching staff regarding the development of actions in social, affective and professional interaction.
Keywords: Evaluation; Planning; Growth ratio; Pedagogical practices.
1Graduada em Pedagogia pela Faculdade de Estudos Sociais Aplicados de Aracaju, Especialista em Psicologia da Educação pela Universidade Federal da Paraíba, Mestranda em Ciências da Educação pela Faculdade UniGrendal Premium Corporate, Orientadora Escolar da Rede Municipal de João Pessoa/PB e Professora do Município de Santa Rita/PB.
64
1- INTRODUÇÂO
A avaliação da aprendizagem escolar é um
tema relevante para todos os envolvidos e
comprometidos com práticas educativas. Com o
advento da Lei de Diretrizes e Bases da Educação –
LDB (BRASIL, 1996), precisamente no Capítulo II da
Educação Básica, o artigo 29, Parágrafo V, o aspecto
qualitativo do desempenho escolar passou a ser mais
valorizado em relação ao aspecto quantitativo,
obrigando o docente a compreender que o verdadeiro
papel da avaliação é na verdade atingir os objetivos
propostos e ainda criar possibilidades de avanços nos
casos de baixo rendimento escolar.
A formação docente requer novos significados
e novas exigências diante da sociedade
contemporânea. Este artigo visa despertar para a
ação reflexiva do professor que deve ter em mente
uma prática constante e imprescindível para que seu
fazer pedagógico possa lograr êxito. Neste sentido, a
avaliação qualitativa é uma ferramenta valiosa para
orientar essa prática e propiciar uma aprendizagem
significativa.
Faz-se mister destacar que a avaliação
quantitativa não pode ser descartada, mas o que deve
ser considerado é que esta sirva de complemento
para qualificar e conduzir a prática docente,
principalmente por exigência do sistema.
Para a construção de uma escola evolutiva, se
faz necessário oportunizar a tomada de consciência
sobre a contradição existente entre a ação de
educação em prática e a construção de uma relação
de crescimento. Nesse sentido, são atribuições do
professor, dentre os seus mais diversos papéis,
funcionar como um mediador da aprendizagem, um
facilitador do conhecimento que se dispõe frente às
novas experiências dos seus alunos, bem como busca
trazer a esse processo de construção do saber a
bagagem que seu aluno já traz consigo, a saber, esse
chamado de “conhecimento de mundo”, tão
mencionado pelo educador Paulo Freire.
O docente precisa ser um mediador que filtra
os sentimentos e questionamentos trazidos pelos seus
alunos, compreendendo-os em suas complexidades e
diversidades, motivando-os ao crescimento contínuo.
Para a construção de uma escola evolutiva, se
faz necessário oportunizar a tomada de consciência
sobre a contradição existente entre a ação de
educação em prática e a construção de uma relação
de crescimento.
Nesse sentido, são “atribuições” do professor,
dentre os seus mais diversos papéis, funcionar como
um mediador da aprendizagem, um indivíduo que se
dispõe frente às novas experiências com seus alunos,
que procura compreender os sentimentos e problemas
trazidos por eles, aceitando-os em suas
complexidades e diversidades, motivando-os ao
crescimento contínuo. TRECHO REPETIDO
Sendo assim, esse artigo tem como objetivo
geral trazer algumas considerações acerca da
avaliação em sentido amplo, almejando ampliar a
visão dos profissionais da área de educação em
relação ao assunto.
Em relação à metodologia, foram realizadas
pesquisas de cunho bibliográfico através da seleção
de material acadêmico e autores renomados que
tratam do assunto com propriedade, tudo analisado
com muito rigor científico.
2– AVALIAÇÃO: ASPECTOS CONCEITUAIS
Falar de avaliação da aprendizagem nos
remete à reflexão do quão enorme é a amplitude da
educação, que se faz através do conhecimento e
necessita do feedback para ser efetivada.
Sob esta ótica, a avaliação pode ser vista de
diversas formas, porém não pode, sob nenhuma,
65
hipótese perder sua real finalidade, que está ligada a
própria educação. Faz-se necessário apresentar
alguns conceitos de avaliação para uma melhor
compreensão da dimensão desse processo tão
presente nas escolas.
Na visão de Libâneo (1994),
A avaliação é uma tarefa didática necessária e permanente do trabalho docente, que deve acompanhar passo a passo o processo de ensino e aprendizagem. Através dela os resultados que vão sendo obtidos no decorrer do trabalho conjunto do professor e dos alunos são comparados com os objetivos propostos a fim de constatar progressos, dificuldades, e reorientar o trabalho para as correções necessárias (LIBANEO, 1994, p.195).
Perrenoud (1999) já se preocupa com a
questão do feedback, de extrema importância na
avaliação:
Mesmo que se diferenciem as intenções e as palavras, por um lado na observação, no feedback, na regulação e, por outro, na medida imparcial dos conhecimentos e das competências adquiridas, não se impedirá essas duas lógicas de coexistirem, praticamente, na escola e na aula, as vezes em harmonia, com mais freqüência se opondo mutuamente (PERRENOUD, 1999, p. 23).
Luckesi (2002, p.174) entende a avaliação
como a oportunidade para se verificar a educação
para a cidadania, por isso ele admite que: “A
avaliação, aqui, apresenta-se como meio constante de
fornecer suporte ao educando no seu processo de
assimilação dos conteúdos e no seu processo de
constituição de si mesmo como sujeito existencial e
como cidadão”.
2.1 – ATO DE AVALIAR: PROCESSO CONTÍNUO
O ato de avaliar tem sido utilizado como forma
de classificação e não como meio diagnóstico. O
professor ao planejar utiliza-se das notas, priorizando
a quantidade e não a qualidade. Desta forma, a
avaliação torna-se, nas mãos do professor, um
instrumento para controlar e disciplinar, inibindo a
criticidade e a criatividade dos estudantes (LUCKESI,
2002).
Ao avaliar se faz necessário criar meios que
favoreçam a aquisição, fixação e aprofundamento de
novos conhecimentos, despertando para novas
possibilidades no sentido de melhorar o
desenvolvimento cognitivo dos educandos.
Segundo Rabelo (1998), a avaliação exercida
apenas com a função de classificar alunos não dá
ênfase ao desenvolvimento e pouco auxilia no
crescimento deles na aprendizagem. Entende-se,
portanto que, seja qual for o tipo de avaliação –
diagnóstica, formativa ou somativa –, o importante é
que os educadores avaliem o processo com olhar
mediador, estabelecendo sempre um elo entre a forma
como o aluno compreendeu o conteúdo e como
aconteceu o processo de construção do
conhecimento, criando, todavia, novas oportunidades
de reflexão, pois é assim que se dá o processo de
avaliação, sempre de forma continua.
A avaliação deverá ser assumida como um
instrumento de compreensão do estágio de
aprendizagem em que se encontra o aluno, tendo em
vista tomar decisões suficientes e satisfatórias para
que possa avançar no seu processo de aprendizagem
(LUCKESI, 2002, p.81).
Infelizmente, o sistema de ensino vigente em
nosso país ainda prioriza números. A forma como os
conteúdos são transmitidos e avaliados, não tem
realçado o fazer pedagógico. Na verdade, provas e
exames têm sido as principais formas para obtenção
da nota.
66
É importante ressaltar que o papel do
professor, no pensar e fazer coletivo do
desenvolvimento de ações junto ao educando,
envolvendo-se em uma interação afetiva, profissional
e dialógica, é fundamental na construção de novos
conhecimentos, tornando o processo de ensino e
aprendizagem mais ativo e significativo. Dessa forma,
percebe-se que o conhecimento é construído e de
forma muito significativa, o aluno corresponde,
demonstrando com isso que o educador alcançou o
objetivo proposto. Essa é a verdadeira avaliação. O
momento em que o aluno dá o feedback do que foi
ensinado de forma significativa.
Neste sentido, Freire (1987) sabiamente
ilustra a relação professor aluno no sentido de
mediação. O educador facilita, media o conteúdo e o
educando envolve-se no processo de conhecimento.
Em função disso e em contraposição à visão
mecanicista do modelo tradicional pseudo-educativo,
pode-se pensar em uma nova força de ação cuja base
reside na participação de muitas pessoas, agindo em
função de necessidades, interesses e objetivos
comuns.
Ainda dentro desse aspecto Luckesi (2002)
considera que:
A avaliação da aprendizagem nesse contexto é um ato amoroso, na medida em que inclui o educando no seu curso de aprendizagem, cada vez com qualidade mais satisfatória, assim como na medida em que o inclui entre os bem- sucedidos, devido ao fato de que esse sucesso foi construído ao longo do processo de ensino aprendizagem (o sucesso não vem de graça). A construção, para efetivamente ser construção, necessita incluir, seja do ponto de vista individual, integrando a aprendizagem e o desenvolvimento do educando, seja do ponto de vista coletivo, integrando o educando num grupo de iguais, o todo da sociedade (LUCKESI, 2002, p. 175).
A educação por meio de atitudes e ações
deverá acontecer com a participação e colaboração de
todos. Professores comprometidos com as atribuições
que lhe são conferidas utilizam a avaliação como
instrumento de suma importância pedagógica que de
forma contínua verifica o avanço ou não da
aprendizagem do discente, numa justificativa
associada ao processo de ensino e identificada em
sua fonte de conhecimento. Luckesi (2002) afirma que
quando um professor não consegue obter o resultado
esperado dos alunos em uma atividade a eles
atribuída, ele deve conversar com os alunos e verificar
o porquê desse erro e como foi cometido. O autor
prossegue enfatizando que, na maioria das vezes, o
aluno diz que só agora ele percebeu o que era para
fazer, isso confirma que, o erro elaborado
conscientemente possibilita o avanço.
Quando a avaliação é trabalhada em uma
linha de pensamento que vise à construção do
conhecimento, o docente passa a ter uma visão aberta
às novas realidades e aceitações, desmistificando a
ideia de que se avalia para atribuir uma nota. Luckesi
explica a diferença entre avaliar e verificar
conhecimentos:
A avaliação diferentemente de verificação, envolve um ato que ultrapassara obtenção da configuração do objeto, exigindo decisão do que fazer antes ou com ele. A verificação é uma ação que “congela” o objeto; a avaliação por sua vez, direciona o objeto numa trilha dinâmica de ação (LUCKESI, 2002, p.93).
Nessa concepção, a avaliação é uma prática
didática processual, dinâmica e contínua, capaz de
deslumbrar momentos de construção de grandes
significados, propiciando aos educandos autonomia
para realizar novo saberes.
Uma avaliação do rendimento escolar somente pode ser considerada eficiente quando produto de uma observação contínua ao longo do período escolar e
67
não somente concentrada nos momentos de provas e exames. Essa avaliação pode valer-se dessas provas – com e sem consulta – mas precisa aceitar também os trabalhos realizados individualmente e em grupos; a capacidade do aluno de encontrar e selecionar informações e sua propriedade em associá-las aos saberes que pertencem a sua estrutura cognitiva. Somente com um “leque” de múltiplos componentes pode o professor, como verdadeiro juiz, proferir um criterioso veredicto (ANTUNES, 2003, p.17).
O processo de ensino requer planejamento.
Quando se planeja, obrigatoriamente se pensa em
avaliação. Avaliar é promover condições que
favoreçam uma aprendizagem significativa. Ações
bem planejadas e organizadas sistematicamente
propiciam bons resultados no processo ensino
aprendizagem. Toda prática pedagógica requer
constantes avaliações tanto com relação ao
desenvolvimento cognitivo dos alunos, quanto ao fazer
pedagógico do docente que necessita se auto avaliar
para nortear suas ações, no que diz respeito à
metodologia, teoria e perspectiva educacional
buscando resultados cada vez melhores.
2.3 – TIPOS DE AVALIAÇÃO
Em um processo contínuo, se faz necessário
trabalhar os vários tipos de avaliação, de preferência
diante de um contexto que viabilize acompanhamento
sistemático de toda a equipe escolar e especialmente
o docente, para um melhor desenvolvimento no
processo de ensino aprendizagem dos discentes.
A educação brasileira trabalha basicamente
três tipos de avaliação, a saber: 1) avaliação
diagnóstica - É utilizada visando em um âmbito geral
identificar e avaliar o conhecimento do discente em
suas dificuldades de aprendizagem. Esse tipo de
avaliação, na visão de Santana (1997, p.33), “permite
averiguar as causas de repetidas dificuldades de
aprendizagem”; 2) Avaliação Formativa - Esta prática
de avaliação pode ser entendida como uma prática
contínua que objetiva melhorar as aprendizagens em
curso, contribuindo para o acompanhamento e
orientação dos alunos durante todo o seu processo de
formação. “É formativa toda a avaliação que ajuda o
aluno a aprender e a se desenvolver, que participa da
regulação das aprendizagens e do desenvolvimento
no sentido de um projeto educativo” (PERRENOUD,
1999, p. ???); 3) Avaliação Somativa - Essa
modalidade avaliativa geralmente, é aplicada ao final
de cada período de aprendizado, com o objetivo de
medir o conhecimento adquirido pelo educando.
Santos (2005, p. 23) acredita que a avaliação
é um procedimento educacional complexo que o
simples ato de atribuir notas a um aluno por alguma
prova ou teste de verificação de aprendizagem
realizado por ele. Ele cita ainda alguns tipos de
avaliação, por exemplo: 1) A avaliação cumulativa – É
uma espécie de avaliação qualitativa onde o docente
soma tudo que o aluno realiza ao longo do bimestre e
atribui a ele uma nota que inclui presença,
compromisso, pontualidade, disponibilidade,
participação nas aulas, etc.; 2) Auto-Avaliação – Esse
tipo de avaliação pode ser realizada tanto pelo aluno
quanto pelo professor e visa a compreender como
anda o processo de construção do conhecimento, de
transmissão de conteúdos, verificação de rendimento,
etc.
Segundo Perrenoud (1999):
A avaliação da aprendizagem, no novo paradigma, é um processo mediador na construção do currículo e se encontra intimamente relacionada à gestão da aprendizagem dos alunos. Na avaliação da aprendizagem, o professor não deve permitir que os resultados das provas periódicas, geralmente de caráter classificatório, sejam supervalorizados em detrimento de suas observações diárias, de caráter diagnóstico (PERRENOUD, 1999, p. ???).
68
É certo destacar que a avaliação é uma
espécie de ação reflexiva, onde o educador estará
avaliando sua forma de ministrar os conteúdos. A
avaliação pressupõe, portanto, uma ação de mão
dupla, que necessita de envolvimento, de troca de
saberes. Acerca disso, Hofmman destaca que:
Quando avaliamos uma pessoa, nos envolvemos por inteiro – o que sabemos, o que sentimos, o que conhecemos desta pessoa, a relação que nós temos com ela. E é esta relação que o professor acaba criando com seu aluno. Então, para que ele transforme essa sua prática, algumas concepções são extremamente necessárias. Em primeiro lugar, o sentimento de compromisso em relação àquela pessoa com quem está se relacionando. Avaliar é muito mais que conhecer o aluno, é reconhecê-lo como uma pessoa digna de respeito e de interesse. Em segundo lugar, o professor precisa estar preocupado com a aprendizagem desse aluno. Nesse sentido, o professor se torna um aprendiz do processo, pois se aprofunda nas estratégias de pensamento do aluno, nas formas como ele age, pensa e realiza essas atividades educativas. Só assim é que o professor pode intervir, ajudar e orientar esse aluno (HOFMMAN, s/d, p. 1).
É preciso, primeiro, identificar as
necessidades educacionais e só depois elaborar
programas de avaliação centrados no processo
educativo.
A avaliação educacional pode ser considerada
como um dos temas que, ao serem abordados,
sempre requerem um exercício de “olhar para o
passado” para entender o que reserva o futuro.
“Enfim, terá de ser o instrumento do reconhecimento
dos caminhos percorridos e da identificação dos
caminhos a serem percorridos” (LUCKESI, 2002,
p.43).
3 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma prática educativa que possa atender as
exigências sociais vigentes deve ser pautada em
reflexões, pesquisas e criações. Neste sentido o papel
do professor é estimular e orientar a aprendizagem
com aulas dinâmicas, que permitam o
desenvolvimento do aluno.
È necessário que o professor planeje
criteriosamente não só os conteúdos a serem
abordados, como também as formas de avaliação com
base na participação ativa do aluno, resultando numa
aprendizagem significativa. O professor deve contar
com o apoio de uma equipe pedagógica que possa
ajudá-lo no desenvolvimento de suas ações, sempre
mantendo-o atualizado.
É importante lembrar que as informações
relacionadas aos saberes que pertencem à sua
estrutura cognitiva advêm de uma construção que
envolve participação, interação e estímulos. O
professor precisa criar estratégias para, junto com o
aluno, avaliar o processo de aprendizagem no sentido
de organizar novas ações que fomentem melhorias
crescentes no desenvolvimento cognitivo. Nesse
contexto, a avaliação qualitativa só contribui para que
essas melhorias aconteçam.
Não é mais concebível que um docente possa
avaliar com base na reprodução sem reflexão e sem
vínculo entre a educação escolar e as práticas sociais
no que se refere à Lei de Diretrizes e Bases de
Educação (LDB) nº 9394 de 20/12/1996, no Título II
dos Princípios e Fins da Educação Nacional, artigo 3º,
parágrafo XI. É necessário avaliar sempre pensando
em melhores resultados, possibilitando um
crescimento contínuo.
A proposta deste artigo é remeter a população
acadêmica em geral a uma reflexão bem como de
suscitar a vontade de pensar e executar ações
norteadoras com um olhar de valorização, que permita
enxergar a avaliação da aprendizagem como um
processo de transparência e de conhecimentos que
69
necessitam ser trabalhado em nossas instituições de
ensino.
No entanto, se faz necessário o investimento
nas formações continuadas para Coordenadores
Pedagógicos, devido aos mesmos estarem à frente
deste trabalho tão importante de acompanhamentos
pedagógicos na avaliação da aprendizagem dos
educandos. Abrindo assim um leque na visão dos
educadores que somam junto à equipe pedagógica da
escola para o crescimento relevante em seus
conhecimentos pedagógicos e aos resultados
positivos.
4 – REFERÊNCIAS
ANTUNES, Celso. A avaliação da aprendizagem escolar. 3ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.
BRASIL (2005). Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 21 de dezembro 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm> Acesso em 20 de setembro 2014.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
HOFMMAN, J. Avaliação: Entrevista com Jussara Hofmman. Disponível em: <http://www.dn.senai.br/competencia/src/contextualiza cao/celia%20- %20avaliacao%20Jussara%20Hoffmam.pdf> Acesso em 20 de Maio de 2016.
LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez (Coleção Magistério – série formação do professor), 1994.
LUCKESI, CIPRIANO C. Avaliação da aprendizagem Escolar: Estudos e proposições. São Paulo: Cortez, 2002; PERRENOUD, Philippe. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens – entre duas lógicas. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.
RABELO, Edmar Henrique. Avaliação Novos Tempos Novas Práticas. 2ª ed. Petrópolis: Vozes, 1998. SANTANA, Ilza M. Por que avaliar? Como avaliar?: Critérios de instrumentos. 3ª ed. Petrópolis: Vozes, 1997.
SANTOS, Clovis Roberto dos. Avaliação Educacional: um olhar reflexivo sobre sua prática. São Paulo: Avercamp, 2005.
70
AVALIAÇÃO DO APRENDIZADO DE CIÊNCIAS EM UMA ESCOLA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL II
Francinéria Bezerra de Queiroz Henrique Mestranda na Unigrendal
RESUMO
Nesta pesquisa foram analisadas as manifestações de estudantes da Educação Fundamental II sobre o processo de ensino e aprendizagem em Ciências. A pesquisa buscou conhecer e problematizar fatores que interferem no desempenho escolar e apontou anseios e expectativas em relação à escola que frequentam. Nesta pesquisa foram analisados os índices de aprovação e reprovação dos estudantes do 6º ao 9º ano em ciências no de 2013 na Escola Municipal de Ensino Fundamental e Infantil Augusto dos Anjos. A pesquisa envolveu 2 professores com formação em Ciências Biológicas que atuam nesta escola de nível fundamental, na disciplina de Ciências, e 300 estudantes do nível fundamental II. Pode-se afirmar que a introdução de práticas científicas no cotidiano escolar é muito importante, devido à influência que os mesmos exerceram frente aos alunos, pois quando eles estão envolvidos emocionalmente na ação, torna-se mais fácil e dinâmico o processo de ensino e aprendizagem.
Palavras-chave: cotidiano, desempenho, ensino
ABSTRACT
In this research analyzed the student demonstrations of Elementary Education II on the process of teaching and learning in science. The research aimed to discover and discuss factors that interfere with school performance and made wishes and expectations of the school they attend. In this research the rates of approval and disapproval of students from 6th to 9th grade science in 2013 at the Municipal School of Elementary Education and Child Augusto dos Anjos were analyzed. The research involved two teachers with degrees in Biological Sciences who work in this school fundamental level, the discipline of Sciences, and 300 students from elementary level II. It can be stated that the introduction of scientific practices in everyday school life is very important because of the influence that they exercised front of the students, because when they are emotionally involved in the action, it becomes easier and dynamic process of teaching and learning.
Keywords: everyday, performance, teaching.
71
INTRODUÇÃO
A sala deve aula ser um ambiente propício à
aprendizagem, na qual a educação científica facilite a
interação entre professores e alunos. No entanto,
fatores como indisciplina, propostas de ensino com
metodologias inadequadas e o estabelecimento de
relações entre professor e aluno em sala de aula
mostram-se bastante comprometidas e estão sendo
apontadas como responsáveis pelo não envolvimento
nas aulas. No entanto, a política educacional nos dias
atuais não pode mais formar cidadãos com formação
específica para cada uma das necessidades. Para
diversos autores o currículo de ciências é uma das vias
por meio das quais os alunos devem aprender a
aprender, adquirir estratégias e capacidades que
permitam transformar, reelaborar e, em resumo,
reconstruir os conhecimentos que recebem (Pérez
Cabam, 1997; Pozo e Monereo, 1997; Pozo Postigo e
Gomez Crespo, 1995 – as obras não estão citadas nas
referências bibliográficas). Sobretudo nos últimos anos,
a pesquisa na educação em ciências vem produzindo
conhecimento e dando suporte ao planejamento de
ensino das ciências exatas e da natureza de forma a
favorecer a produção e a absorção de conhecimentos
significativos pelos alunos, não apenas no que se
refere à assimilação dos conteúdos das disciplinas
científicas, como também sobre o processo de
construção da própria Ciência. Conforme Krasilchik e
Marandino (2004),
ser letrado cientificamente significa não só saber ler e escrever sobre ciência, mas também cultivar e exercer práticas sociais envolvidas com a ciência; em outras palavras, fazer parte da cultura científica [...] da maneira que cada cidadão, individual e coletivamente, considerar oportuno (KRASILCHIK e MARANDINO, 2004, p. 22-24).
Assim, a compreensão dos conteúdos de
Ciências, está relacionada com uma nova visão da
ciência e de conhecimento científico que não se
configura num corpo de teorias e procedimentos de
caráter positivista, mas como modelos teóricos social
e historicamente produzidos. Com isso, a função do
educador é rever e discutir a qualidade do ensino, pois
é uma questão de política pública, mas o processo em
sala de aula deve ser de tal forma que conduza a uma
aprendizagem e uma resposta contemplativa
TRECHO CONFUSO.
Quando nos referimos ao ensino de ciências
no ensino fundamental, notamos que a prática
comumente efetivada em sala de aula consiste na
transmissão-recepção de conhecimentos que, muitas
vezes, deixa lacunas no processo. Com isso, a
tomada de decisão no sentido da formação mais
ampla para viver no mundo moderno é hoje uma
obrigação para os que acreditam que a educação é
um poderoso instrumento para combater e impedir a
exclusão e dar aos educandos de todas as idades
possibilidades de superação dos obstáculos que
tendem a mantê-los no tradicional modelo da
educação brasileira. Os problemas notados somente
serão modificados com uma corajosa ação de
renovação curricular incluindo programas e
metodologias adequadas às questões sociais. Como é
do conhecimento, na maioria das escolas públicas,
não há limite de número de alunos(as) por turma, para
trabalhar com métodos diferenciados, torna-se difícil
pois alguns professores trabalham com diversas
turmas e com a diversidade de conteúdos, não
possuem tempo suficiente para planejar, preparar,
aplicar e corrigir os exercícios propostos para cada
tópico. Apesar disso, conforme destaca Fernandez
(2001 – a obra não está citada nas referências
bibliográficas), a difícil tarefa do professor ou
professora pode tornar-se prazerosa quando se
almeja fazer consigo mesmo o que propicia aos
72
outros. Portanto, o objetivo desta pesquisa é analisar
as manifestações de estudantes da educação
fundamental II sobre o processo de ensino e
aprendizagem em ciências através dos índices de
aprovação e reprovação.
METODOLOGIA
A pesquisa foi realizada na Escola Municipal
de Ensino Fundamental e Infantil Augusto dos Anjos,
localizada em João Pessoa-PB, com dados do censo
escolar realizado pela própria escola no ano de 2013.
Foram analisados os índices de aprovação e
reprovação dos estudantes do 6º ao 9º anos em
ciências no ano de 2013. A pesquisa envolveu 2
professores com formação em Ciências Biológicas
que atuam nesta escola de nível fundamental, na
disciplina de Ciências, e 310 estudantes do nível
fundamental II, sem distinção de sexo ou de idade.
alunos. Neste sentido observou-se que a ciência
estimula e o ambiente necessários para propiciar o
desenvolvimento espontâneo e criativo dos alunos
(TRECHO CONFUSO) além de permitir que os
professores ampliassem seus conhecimentos sobre
técnicas ativas de ensino e desenvolvendo suas
capacidades pessoais e profissionais, estimulando-o a
recriar sua prática pedagógica
GRAFICO 1. Números de alunos e índices de
aprovação e reprovação dos estudantes do 6º ao 9º
ano em ciências da EMIF Augusto dos Anjos no ano
de 2013.
Numero de alunos aprovados e reprovados
Numero de alunos Aprovados
Reprovados Desistentes
71 69 71 56 61 56 4841
RESULTADOS E DISCUSSÃO 15 0 8 0
15 0 6 0
6º 7º 8º 9º
A partir dos resultados obtidos, pode-se
afirmar que a introdução de práticas científicas no
cotidiano escolar é muito importante, devido à
influência que os mesmos exerceram frente aos
alunos, pois quando eles estão envolvidos
emocionalmente na ação, torna-se mais fácil e
dinâmico o processo de ensino e aprendizagem
refletindo nos índices de reprovação que foi zero
observada no gráfico 1 (o gráfico não demonstra isso),
sendo significativo que os alunos com maior
dificuldade na disciplina tenham sido os de maior
aproveitamento no desenvolvimento das atividades.
Alguns alunos gostaram tanto da atividade que
sugeriram serem aplicados com mais freqüência
(TRECHO CONFUSO). Essa aceitação social é
devido ao caráter investigativo do cotidiano dos
De um lado, estão os professores que
propõem o ensino de ciências com base em
experiências práticas, feitas em laboratório. De outro,
estão os educadores que focam a transmissão de
conceitos e a teoria em aulas expositivas – e que, pela
escolha metodológica, são conhecidos como
tradicionalistas. A partir da percepção dos problemas
destas linhas de ensino, surgiu uma terceira
perspectiva conhecida como investigativa, que propõe
se basear em uma situação-problema para oferecer
aos alunos a oportunidade de observar, levantar
hipóteses, fazer registros e tirar conclusões (Trevisan
2010 – a obra não está citada nas referências
bibliográficas). "Dessa forma, permitimos que as
crianças e os jovens avancem num processo que
73
possibilitará a formação de um pensamento
sistemático, crítico e autônomo, capaz de prepará-los
para enfrentar os desafios da atualidade dentro e fora
da escola" (fonte da citação não identificada), o
pensamento científico não é algo inato ou espontâneo,
mas requer o desenvolvimento de hábitos de
pensamento sistemáticos e rigorosos, que exigem
esforço e tempo. Como se trata de uma aprendizagem
complexa que, inclusive, pode muitas vezes
contradizer o nosso senso comum, é preciso que seja
ensinada. Se pensarmos na quantidade de anos que
as crianças e os jovens passam na escola, fica claro
que essa instituição tem uma oportunidade única de
contribuir para formar essas habilidades de
pensamento, num trabalho que começa na infância.
Os educadores devem saber que os modos de fazer e
pensar da ciência são parte fundamental do que
devem ensinar. Se esses não forem seus objetivos
didáticos, o desenvolvimento do pensamento científico
acabará ocupando um lugar secundário, enquanto os
dados, a terminologia e os conceitos continuarão
figurando como o mais importante. Tão essencial
quanto examinar o saber já estabelecido é apresentar
aos alunos a ciência como um processo, como uma
maneira de chegar aos conhecimentos que já
dispomos atualmente. Os bons professores de
ciências organizam suas aulas incluindo diversas
abordagens didáticas: a realização de experiências, o
trabalho com textos, os debates, as pesquisas sobre a
história da ciência, as atividades com o objetivo de
analisar os resultados dos experimentos feitos pela
turma e muitas outras. O importante é que as aulas
permitam aos alunos ter um papel ativo. Pode-se
começar com competências mais simples, como a
observação, a descrição, a classificação, a busca de
padrões e a formulação de perguntas. Num segundo
momento, abordar as que estão mais próximas do
pensamento hipotético-dedutivo, como a realização de
experiências, a análise dos dados, a elaboração de
conclusões. Isso permitirá que os professores – se
possível trabalhando em equipe – possam planejar
suas aulas. Ano a ano, essas sequências precisam
ser revistas para ajustes de acordo com observações
de sala ou para incorporar novas propostas de
metodologia para a investigação em ciências. É
possível desenvolver boas atividades com materiais
muito simples, que os próprios alunos costumam ter
em casa. Em Ciências, o mais importante é que os
alunos compreendam os fenômenos, em vez de
apenas saber como se chamam. Os nomes, embora
importantes para a comunicação, são meras
convenções. No entanto, o que vemos com mais
frequência é que as aulas comecem exatamente ao
contrário. O professor inicia perguntando às crianças:
"O que é a matéria?" Depois, pede que procurem a
definição no dicionário. Faz tudo isso sem ter exposto
os estudantes a fenômenos em que há a interferência
dessa matéria – e aqui falo de fenômenos simples,
como deixar cair um objeto e empurrar outro. O mais
adequado, a meu ver, seria se basear na observação
do fenômeno em situações distintas – nesse exemplo,
a observação dos diversos tipos de matéria, de
diferentes propriedades, sobre a maleabilidade dos
materiais – para que os alunos comecem a sequência
didática compreendendo do que se trata. Aprender a
pensar cientificamente tem tudo a ver com a
capacidade de organizar nossas perguntas, ideias,
hipóteses, dados e conclusões. Não há uma receita
para decidir quando isso será necessário. O ideal é
prever, no momento de planejar as aulas, quais
situações são propícias para esse tipo de produção. O
essencial é que o instrumento de avaliação esteja
alinhado de maneira coerente aos objetivos didáticos
previamente definidos, permitindo analisar se os
estudantes realmente desenvolveram as habilidades
propostas nas aulas. Uma estratégia para criar boas
avaliações é propor aos alunos que respondam a
situações-problema. Para resolvê-las, não basta
74
dominar as definições e os conceitos: é necessário
compreender os fenômenos estudados para usar as
soluções em um novo contexto. Ensinar ciências é um
grande desafio. A construção dos conhecimentos
científicos e o desenvolvimento tecnológico crescem a
velocidades inimagináveis. Pesquisas e estudos
apontam o crescente desinteresse dos alunos pelas
ciências e a não aprendizagem dos conteúdos que
lhes são ensinados. Avaliações e pesquisas têm
apontado que os alunos não encontram somente
dificuldades conceituais, mas também enfrentam
dificuldades no uso de estratégias de raciocínio e
soluções de problemas próprios da pesquisa científica.
Os experimentos muitas vezes são vistos pelos alunos
como situações de demonstração e não de pesquisa.
A atividade intelectual presente no trabalho de
investigação científica é vista pelos alunos como uma
atividade solitária permeada pelo esforço individual, e
as conquistas, como mérito pessoal e não situações
de cooperação, busca conjunta e aprendizagem
coletiva. É fácil encontrar alunos que assumem uma
postura inadequada ao trabalho científico, esperando
receber as respostas em vez de buscá-las, que
perderam o interesse e o encantamento em fazer
perguntas, questionar a si, ao outro e a situação
observada. A imagem da ciência como um processo
de descobrimento de leis, identificada como visão
positivista, coleção de fatos objetivos governados por
leis que podem ser extraídas diretamente pela
observação e com metodologia adequada, apesar de
ter sido superada entre os filósofos e historiadores das
ciências, continua presente em muitas salas de aula.
O desajuste entre a Ciência que é ensinada na escola
e os próprios alunos é cada vez maior, refletindo uma
crise na cultura educacional. Como aborda Juan
Ignacio Pozo no artigo "La Crisis de la Educación
Científica, Volver a lo Básico o Volver al
Constructivismo?", a mudança no ensino de Ciências
requer adotar não apenas novos métodos, mas novas
metas e outra cultura educacional de ensino dessa
área na escola.
CONCLUSÃO
Pode-se afirmar que a introdução de práticas
científicas no cotidiano escolar é muito importante,
devido à influência que os mesmos exerceram frente
aos alunos, pois quando eles estão envolvidos
emocionalmente na ação, torna-se mais fácil e
dinâmico o processo de ensino e aprendizagem,
sendo significativo que os alunos com maior
dificuldade na disciplina tenham sido os de maior
aproveitamento no desenvolvimento das atividades.
REFERÊNCIAS BRASIL. PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS (PCN) – terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua ciências naturais. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. FURMAN, Melina e PODESTÁ, Maria E. La aventura de enseñar ciencias naturales. Buenos Aires: Aique, 2008. KRASILCHIK, M.; MARANDINO, M. Ensino de Ciências e Cidadania. São Paulo: Moderna, 2004. POZO, Juan I. Teorias Cognitivas da Aprendizagem. 3ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. POZO, Juan I.; CRESPO, Miguel A. G. A aprendizagem e o Ensino de Ciências. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. VIGOTSKI, L.S. Psicologia Pedagógica. Porto Alegre: Artmed, 2003.
75
CURRÍCULO E AVALIAÇÃO ESCOLAR: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA
André Nóbrega de Sousa1
Gilbert Guimarães Monte2
RESUMO
O presente artigo objetiva promover uma reflexão sobre currículo e avaliação escolar no processo educativo e o cotidiano da escola. Atualmente, vimos observando, no Brasil, a implantação generalizada de processo de avaliação para todos os níveis de escolarização, bem como o uso do processo de controle do trabalho pedagógico, o que tem levado professores, escolas e alunos a se preocuparem com o fracasso escolar. Como tarefa docente exige compreender o erro e o acerto ao direcionar a prática pedagógica no processo ensino- aprendizagem, tendo em vista que o currículo influencia a formação das pessoas e, também é determinante no desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem e ao conhecimento. A importância do currículo na avaliação facilita a compreensão e continuidade do ensino.
Palavras-Chave: Currículo, Conhecimento, Escola, Avaliação.
RESUMEN
Este artículo tiene como objetivo promover la reflexión sobre el currículo y la evaluación escolar en la rutina de proceso y la escuela de educación. En la actualidad, hemos estado observando en Brasil, el proceso de evaluación de la aplicación generalizada a todos los niveles de la enseñanza, así como el uso del control del proceso de trabajo pedagógico, lo que ha llevado maestros, escuelas y estudiantes que preocuparse por el fracaso escolar. Como tarea docente requiere comprender el error y golpear la práctica pedagógica directa en el proceso de enseñanza-aprendizaje, teniendo en cuenta que el plan de estudios influye en la formación de las personas y también es fundamental para el desarrollo de la enseñanza - aprendizaje y el proceso de conocimiento. La importancia de la evaluación curricular facilita la comprensión y la continuidad de la educación.
Palabras clave: Plan de estudios, conocimientos, la evaluación de la escuela.
76
1. INTRODUÇÃO
O presente artigo tem como objetivo promover
uma reflexão sobre as relações existentes entre o
currículo e a avaliação no processo educativo e no
cotidiano da escola. O currículo, enquanto instrumento
da cidadania democrática, deve contemplar conteúdos
e estratégias de aprendizagem que capacitem o ser
humano para a realização da vida em sociedade
baseados no desenvolvimento e habilidades
socioeducativas.
Buscando o aprofundamento do tema em
pauta o currículo é um conceito de uso relativamente
recente entre nós, se considerarmos a significação
que tem em outros contextos culturais e pedagógicos
nos quais conta com uma maior tradição.
A prática a que se refere o currículo, no
entanto, é uma realidade prévia muito bem
estabelecida através de comportamentos didáticos,
políticos, administrativos, econômicos, entre outros,
atrás dos quais se encobrem muitos pressupostos,
teorias parciais, esquemas de racionalidade, crenças,
valores, que condicionam a teorização sobre o
currículo. É necessária certa prudência inicial frente a
qualquer colocação ingênua de índole pedagógica que
se apresente como capaz de reger a prática curricular
ou, simplesmente de racionalizá-la.
A partir desta primeira constatação, não será
difícil explicarmos as razões pelas quais a teorização
sobre o currículo não se encontra adequadamente
sistematizada e apareça em muitos casos sob as
vestes da linguagem e dos conceitos técnicos como
uma legitimação "a posteriori" das práticas vigentes e
também para que, em outros casos, em menor
número, aparece como um discurso crítico que trata
de esclarecer os pressupostos e o significado de ditas
práticas.
2. CRUZAMENTO DE PRÁTICAS DIVERSAS
Partir do conceito de currículo como a
construção social que preenche a escolaridade de
conteúdos e orientações nos leva a analisar os
contextos concretos que lhe vão dando forma e
conteúdo, antes de passar a ter algumas realidades
como experiência de aprendizagem para os alunos. É
preciso continuar a análise dentro do âmbito do
sistema educativo com seus determinantes mais
imediatos até vê-lo convertido ou modelado de uma
forma particular na prática pedagógica. Nenhum
fenômeno é indiferente ao contexto no qual se produz
e o currículo se sobrepõe em contextos que se
dissimulam e se integram uns aos outros, conceitos
que dão significado as experiências curriculares
obtidas por quem delas participa (KING, 1986, p. 37).
Se o currículo, evidentemente, é algo que se constrói,
seus conteúdos e suas formas últimas não podem ser
indiferentes aos contextos nos quais se configura.
Conceber o currículo como uma praxis
significa que muitos tipos de ações intervêm em sua
configuração, que o processo ocorre dentro de certas
condições concretas, que se configura dentro de um
mundo de interações culturais e sociais, que é um
universo construído não natural, que essa construção
não é independente de quem tem o poder para
constitui-la (GRUNDY, 1987, p. 115-116). Isso significa
que uma concepção processual do currículo nos leva
a ver seu significado e importância real como o
resultado das diversas operações às quais é
submetido e não só nos aspectos materiais que
contém, nem sequer quanto às ideias que lhes dão
forma e estrutura interna: enquadramento político e
administrativo, divisão de decisões, planejamento e
modelo, tradução em materiais, manejo por parte dos
professores, avaliação de seus resultados, tarefas de
aprendizagem que os alunos realizam. Significa
também que sua construção não pode ser entendida
separadamente das condições reais de seu
desenvolvimento e, por isso mesmo, entender o
currículo num sistema educativo requer prestar
77
atenção às práticas políticas e administrativas que se
expressam em seu desenvolvimento, às condições
estruturais, organizativas, materiais, dotação de
professorado, à bagagem de ideias e significado que
lhe dão forma e que o modelam em sucessivos
passos de transformação.
É, enfim, um campo prático complexo, como
reconhecia Walker quando afirmava que os
fenômenos curriculares incluem todas aquelas
atividades e iniciativas através das quais o currículo é
planejado, criado, adotado, apresentado,
experimentado, criticado, atacado, defendido e
avaliado, assim como todos aqueles objetos materiais
que o configuram, como são os livros-texto, os
aparelhos e equipamentos, os planos e guias do
professor (WALKER, 1973, p. 247).
O currículo modela-se dentro de um sistema
escolar concreto, dirige-se a determinados
professores e alunos, serve-se de determinados
meios, cristaliza, enfim, num contexto, que é o que
acaba por lhe dar o significado real. Daí que a única
teoria possível que possa dar conta desses processos
tenha de ser do tipo crítico, pondo em evidência as
realidades que o condicionam.
3. NÍVEIS DO CURRÍCULO NUMA PERSPECTIVA CRÍTICA
Os resultados do trabalho serão apresentados
segundo o referencial proposto por Goodlad (1977)
para níveis do currículo, cujas vantagens estão em se
compreender o trabalho curricular de uma forma
densa, profunda, porém didática.
John Goodlad, citado por Domingues (1985),
pesquisador do que acontece na sala de aula, propõe
definições situacionais para os vários níveis de
currículo percebidos na sala de aula. De acordo com
Domingues, Goodlad depois de visitar centenas de
salas de aula, afirma que existem:
a) um currículo formal: o que foi prescrito como
desejável por alguma organização normativa;
b) um currículo operacional: o que ocorre, de fato, na
sala de aula. Em outras palavras, o que o observador
vê quando está presente na sala de aula;
c) um currículo percebido: o que o professor diz que
está fazendo e o porquê dessa ação;
d) um currículo experienciado: o que os alunos
percebem e como reagem ao que está sendo
oferecido.
Tendo por inspiração a proposta de Goodlad,
procederemos resumidamente à explicitação de cada
um desses níveis do currículo numa perspectiva
crítica.
O currículo formal vigente apresenta-se como
o currículo formal, legal e enuncia o discurso da classe
que está no poder, traduzido em disciplinas e
programas e passado ao professor na forma de guias
de ensino, programas, livros didáticos.
Se entendermos por nível manifesto uma
proposta de currículo explicitada criticamente, a leitura
do currículo formal mostra sua ligação com a ciência
natural e com as implicações ideológicas, que estão
presentes nas relações sociais subjacentes a essa
concepção. O currículo formal, na perspectiva de
ciência natural, distancia-se do currículo real,
dicotomizando a teoria e a prática, os meios e os fins
da ação educativa.
O currículo manifesto na perspectiva crítica
não trabalha com propostas abstratas de currículo,
nem com programas padronizados que cumprem uma
função reprodutiva. Admite-se a complexidade da sala
de aula, que o ensino e o currículo não comportam
fórmulas prontas e acabadas: dessa forma, trata-se
diretamente com a situação de realidade para se
atingir um trabalho integrado.
O ensino numa perspectiva crítica leva em
consideração tanto o aspecto da interação em sala de
aula, quanto o da elaboração do conhecimento,
78
porquanto são essas as vias em que ocorre a
transmissão ideológica no currículo. A leitura reflexiva
do discurso subjacente à retórica do poder passa pela
análise e reflexão e pela construção de um discurso
identificado com a realidade cotidiana de sua clientela
escolar.
O nível operacional do currículo na visão
crítica exige um reposicionamento quanto a sua
aplicação em sala de aula.
Ao propor princípios abstratos, considerações
de ordem teórica, prescrições de fórmulas, o currículo
formal vigente cria uma situação pseudoprática e
técnica difícil de ser contornada pelos que estão
incumbidos de executá-los.
No currículo prescritivo, a questão
metodológica tem sido trabalhada exaustivamente e a
instrumentação elaborada a priori pode ser
reproduzida pelo professor.
O currículo numa perspectiva crítica recoloca
os aspectos técnicos em uma nova dimensão. A
técnica é um meio, nunca um fim em si mesmo.
A construção de um currículo crítico esbarra
com uma lacuna metodológica quanto a sua forma de
operacionalização. São poucos os autores que
trabalham com este aspecto. Entre eles podemos citar
Paulo Freire, Ira Shor, Antônio Faundez, autores
preocupados com o cotidiano do professor e que
oferecem a própria prática como exemplo de como se
pode aplicar o método dialógico na perspectiva de
uma educação libertadora.
4. AVALIAÇÃO E CURRÍCULO NO COTIDIANO ESCOLAR
Nenhuma discussão curricular pode
negligenciar o fato de que aquilo que se propõe e que
se desenvolve nas salas de aula dará origem a um
processo de avaliação. Ou seja, a avaliação é parte
integrante do currículo, na medida em que a ele se
incorpora como uma das etapas do processo
pedagógico. Nesse sentido, sentimos a necessidade
de incorporar ao debate sobre a questão da avaliação
não apenas os processos e instrumentos
explicitamente desenvolvidos com essa finalidade,
mas também uma discussão a respeito dos modos
como nossos alunos e alunas vivenciam
cotidianamente essa dimensão de suas vidas
escolares.
Percebemos, quando nos dedicamos a essa
reflexão, que a avaliação e a preocupação com ela
rondam o cotidiano das salas de aula, seja como
possibilidade - as avaliações de participação -, seja
como ameaça - quem fizer bagunça tem zero! Assim,
podemos dizer que no cotidiano, a presença da
avaliação é permanente.
Essa onipresença joga um importante papel
no fazer de alunos e alunas, na medida em que os
ensina, cotidianamente, comportamentos e atitudes
necessários, tanto diante de situações ligadas aos
conteúdos quanto diante dos outros momentos da vida
escolar.
5. A AVALIAÇÃO COMO EXPRESSÃO DE JUÍZOS E DECISÕES DOS PROFESSORES
Dentro de nosso sistema escolar, a
transformação ou incidência no currículo que ocorre
na prática como consequência da pressão avaliadora,
deve ser remetida aos procedimentos empregados
pelos professores. Os mecanismos que os docentes
desenvolvem no ato de avaliação são tão decisivos
porque todas as funções da avaliação dependem da
que eles realizam sobre os alunos. Certamente existe
uma espécie de desinteresse coletivo para não
analisar um problema que tanto centraliza as
atividades das instituições educativas. O professor,
como ser dependente, profissionalmente falando
recupera sua autonomia ao não existir controle
explicito sobre sua prática, ou ao menos pode ter essa
sensação.
79
Em geral, a avaliação, a simples atribuição de
uma nota, a qualificação ou apresentação de toda a
categoria que suponha a localização de uma
realização do aluno dentro de uma escala implícita ou
explícita são a expressão de um juízo por parte do
professor, que pressupõe uma tomada de decisões,
por elementar que seja, e que se apoia em diferentes
tipos de evidências ou indícios, tomados através de
algum procedimento técnico quando é uma avaliação
formal, ou por mera observação informal.
A importância das notas e das avaliações
escolares do ponto de vista social, acadêmico e
pessoal para os alunos contrasta certamente com a
simplicidade dos processos pelos quais são atribuídas
aos alunos; processos que tem muito a ver com a
típica conduta simplificada de tomada de decisões por
parte do professor.
O fracasso escolar como expressão de uma
avaliação negativa está diretamente ligado ao modo
como se realiza todo este processo e aos esquemas
que intervém nele. Inclusive pode se colocar a
hipótese, como fazem Noizet e Caverni (1983), de que
não serão os próprios procedimentos de avaliação os
responsáveis pelo fracasso escolar. A compreensão
do fracasso exige seguir os passos do processo pelo
qual o sistema educativo ou um determinado professor
dá uma qualificação negativa, pois é o resultado de
uma série de decisões dos professores.
A literatura sobre a tomada de decisões do
professor ressalta o fato de que elas não são
elaboradas segundo um modelo teórico altamente
estruturado, mais que têm muito a ver com as
prementes urgências institucionais e com as
demandas que a situação ambiental de classe lhe
exige num determinado momento. De qualquer forma,
como assinalávamos considerando um reduzido
espectro de informações.
Pratt Whitmer (1983, p.2) destaca que as
exigências imediatas da aula e as características dos
alunos influem fortemente na atribuição de
classificações, no processo de seleção, organização e
inferência de evidência sobre a qual se elabora a
qualificação.
Deveria se levar em conta esta circunstância
quando se propõe aos professores modelos ideais
para realizar a avaliação de seus alunos.
Certamente as qualificações escolares que
envolvem juízos de valorização sobre os alunos, sobre
a qualidade de seus trabalhos, etc. são atribuídas a
partir de uma informação elementar sobre o aluno ou
tomando como ponto de partida alguma concepção
muito genérica sobre sua personalidade global. A
participação destes “contaminantes” naturais do
processo de avaliação é uma consequência do
contexto de relações interpessoais no qual se
desenvolve o ensino e o é em maior medida nos
níveis mais elementares da educação. Outra
manifestação da “economia” do processo avaliador
nos professores reside na comprovação da constância
do mesmo através do tempo, dentro de estilos
peculiares de avaliar em cada professor que não evita
a instabilidade dos juízes expressados, como já
ressaltaram as pesquisas docimológicas (PIERON,
1963).
As pesquisas docimológicas referem-se a uma
disciplina que estuda a elaboração e a análise de
exames e provas com caráter avaliativo.
O comportamento dos avaliadores evidencia a
coerência de suas apreciações sucessivas sobre um
mesmo aluno através do tempo como tendência
estatisticamente comprovada (CAVERNI; NOIZET,
1978).
CONCLUSÃO
De acordo com a temática exposta, a questão
curricular propõe que se desenvolva em sala de aula
esforços para consolidar de forma cristalina a
abordagem sobre o tema currículo e avaliação no
âmbito escolar, em que a avaliação é parte integrante
80
do currículo, na medida em que se incorpora o
processo pedagógico, onde professores buscam
adaptarem-se as exigências dos exames nacionais
para evitar o fracasso dos alunos.
Em síntese, entendemos o currículo como o
projeto que preside as atividades educativas
escolares, define suas intenções e proporciona guias
de ação adequadas e úteis para os professores, que
são diretamente responsáveis pela execução do
plano.
WALKER, D. What curriculum research. In: TAYLOR, P.H. Curriculum, School and Society. Windsor. NFER. p. 246-262. 1973.
Para isso, o currículo proporciona informações
concretas sobre o que ensinar, quando ensinar, como
ensinar e que, como e quando avaliar.
REFERÊNCIAS
COLL, C. Psicologia e Currículo: uma aproximação psicopedagógica à elaboração do currículo escolar. São Paulo: Editora Ática, 2003.
DOMINGUES, J. L. O cotidiano da escola de 1º grau: o sonho e a realidade: tese de doutoramento. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 1985.
ESTEBAN, M. T. (org.). Escola, currículo e avaliação. São Paulo: Editora Cortez, 2003.
GRUNDY, S. Producto o praxis del curriculum. Madrid: Morata, 1991.
KING, N. Recontextualizing the curriculum: theory into practice. XXV, n. 1. p. 36-40, 1986.
NOIZET, G. y CAVERNI, J. P. Les procédures d’évaluation ont-elles leur part de responsabilité dans l’échec scolaire? Revue Française de Pédagogie. n. 62. Enero-frebrero-marzo. p. 7-14, 1983.
PIERON, H. Examens el docimologie. Paris: P.U.F., 1963.
PRATT WHITMER, S. A descriptive multimethod study of teacher judgment during the marking process. Institute for Research on Teaching. Michigan State University, 1983.
SACRISTÁN, J. G. O currículo: uma reflexão sobre a prática. 3. ed. Porto Alegre: Editora Artmed, 2000.
SILVA, T. M. N. A construção do currículo na sala de aula: o professor como pesquisador. São Paulo: Editora EPU, 1990.
81
EDUCAÇÃO ESPECIAL: ASPECTOS LEGAIS DA INCLUSÃO E CONFIGURAÇÃO DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
SPECIAL EDUCATION: LEGAL ASPECTS OF INCLUSION AND CONFIGURATION OF EDUCATIONAL PRACTICES
Gilneide Albuquerque de Medeiros1
RESUMO
A construção deste artigo se dá a partir da necessidade de abordar os aspectos legais da inclusão e a configuração das práticas pedagógicas no que se refere à Educação Especial, reunindo leis, informações e dados. Faz-se necessário relatar que todas as informações têm destaque especial para Inclusão dos alunos que apresentam Necessidades Educacionais Especiais. Relata-se Leis Federais e Estaduais, como também documentos Nacionais e Internacionais que regem a Inclusão Educacional.
Palavras-chave: Educação Especial; Inclusão; Leis.
ABSTRACT
The construction of this article starts from the need to address the legal aspects of inclusion in configuration of pedagogical practices in regard to special education, gathering laws, information and data. It is necess ary to report that all information has special emphasis on inclusion of students with special educational needs. It is reported Federal law and State, as well as national and international documents governing the Educational Inclusion.
Keywords: Special Education; Inclusion; Laws.
1 Professora (Habilitação: Português/Inglês), Psicóloga, Neuropsicóloga (UNIPE-PB), Especialista em Gestalt Terapia e Bioenergética (UERJ-RJ), Especialista em Psicologia Jurídica (UERJ-RJ), Especialista em Saúde Mental e Apoio Psicossocial (FIP-PB), Mestranda em Educação (UNIGRENDAL-USA). Psicóloga na Prefeitura Municipal de Cabedelo e Psicóloga no Ministério Público do Estado da Paraíba.
82
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como objetivo
abordar os aspectos legais da inclusão e
configurações das práticas pedagógicas no que se
refere à educação especial. Para tanto, inicialmente,
faz-se necessário tornar claro os marcos legais que
asseguram a educação inclusiva nas esferas
internacional, federal e estadual. Foram utilizadas
informações oficiais de inúmeras instituições, entre
elas, e a principal, o Ministério de Educação e Cultura
– MEC.
É importante que se reconheça que o
processo de inclusão educacional nos
estabelecimentos de ensino deve ser obrigatório,
considerando as leis que asseguram esse propósito.
De acordo com Claser, em se tratando exclusivamente
de educação, o objetivo essencial da inclusão é “a
equiparação de oportunidades educacionais escolares
para igualar os direitos de todos à educação, com
ênfase nos alunos que apresentam necessidades
educacionais especiais, com apoio necessário e
recursos adequados” (CLASER, 2001, p. ???).
Para assegurar a previsão e provisão de
recursos de apoio para atender às necessidades
educacionais especiais, sendo elas temporárias ou
permanentes, de qualquer aluno, é preciso buscar a
garantia do cumprimento dos dispositivos legais,
fomentando articulações e parcerias internas e
externas, para assegurar esse serviço ao alunado em
questão.
No entanto, não se pode deixar de lado as
questões de cidadania: os alunos que apresentam
algum tipo de necessidade educacional especial
deverão ser acolhidos e permanecer nas escolas,
principalmente, porque são cidadãos e têm os
mesmos direitos que qualquer outra pessoa no
tocante à educação. De acordo com Rodrigues, a
prática da inclusão
depende muito da conscientização, da sensibilidade, do respeito, do conhecimento dos processos de desenvolvimento, da aceitação e muito menos da legislação. É um engajamento individual, social e coletivo de superação de preconceitos. (Rodrigues, 2003, p.39).
Neste artigo, constam as determinações dos
marcos legais, como também esclarecimentos e
definições de termos que regem a educação inclusiva,
caracterização das deficiências, definições de termos
da educação regular sob a ótica da inclusão, objetivos
da educação inclusiva, metodologia aplicada e encerra
com as considerações finais.
2. FUNDAMENTOS DA POLÍTICA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA
A Política da Educação Inclusiva dispõe sobre
o atendimento de alunos com necessidades especiais
nas escolas. O Conselho Estadual de Educação da
Paraíba, em seu documento que regulamenta a
Educação Especial no Sistema de Educação Estadual,
faz referência aos dispositivos legais da Constituição
Federal de 1988, à Lei Nº 9.394/96 – Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional, ao Plano Nacional da
Educação, à Declaração de Salamanca, à Convenção
de Guatemala e ao Estatuto da Criança e do
Adolescente.
2.1. MARCOS LEGAIS
A escola historicamente caracterizou-se pela
visão da educação que delimita a escolarização como
privilégio de um grupo, uma exclusão que foi
legitimada nas políticas e práticas educacionais
reprodutoras da ordem social. A partir do processo de
democratização da escola, evidencia-se o paradoxo
inclusão/exclusão quando os sistemas de ensino
universalizam o acesso, mas continuam excluindo
indivíduos e grupos considerados fora dos padrões
homogeneizadores da escola. Assim, sob formas
83
distintas, a exclusão tem apresentado características
comuns nos processos de segregação e integração,
que pressupõem a seleção, naturalizando o fracasso
escolar.
A partir da visão dos direitos humanos e do
conceito de cidadania fundamentado no
reconhecimento das diferenças e na participação dos
sujeitos, decorre uma identificação dos mecanismos e
processos de hierarquização que operam na
regulação e produção das desigualdades. Essa
problematização explicita os processos normativos de
distinção dos alunos em razão de características
intelectuais, físicas, culturais, sociais e linguísticas,
entre outras, estruturantes do modelo tradicional de
educação escolar.
No Brasil, o atendimento às pessoas com
deficiência teve início na época do Império, com a
criação de duas instituições: o Imperial Instituto dos
Meninos Cegos, em 1854, atual Instituto Benjamin
Constant – IBC, e o Instituto dos Surdos Mudos, em
1857, hoje denominado Instituto Nacional da
Educação dos Surdos – INES, ambos no Rio de
Janeiro. No início do século XX, é fundado o Instituto
Pestalozzi (1926), instituição especializada no
atendimento às pessoas com deficiência mental; em
1954, é fundada a primeira Associação de Pais e
Amigos dos Excepcionais – APAE e, em 1945, é
criado o primeiro atendimento educacional
especializado às pessoas com superdotação na
Sociedade Pestalozzi, por Helena Antipoff.
2.1.1. DE ACORDO COM A CONSTITUIÇÃO FEDERAL EM 1988:
A Constituição Federal de 1988 traz como um
dos seus objetivos fundamentais “promover o bem de
todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor,
idade e quaisquer outras formas de discriminação”
(art.3º, inciso IV). Define, no artigo 205, a educação
como um direito de todos, garantindo o pleno
desenvolvimento da pessoa, o exercício da cidadania
e a qualificação para o trabalho. No seu artigo 206,
inciso I, estabelece a “igualdade de condições de
acesso e permanência na escola” como um dos
princípios para o ensino e garante, como dever do
Estado, a oferta do atendimento educacional
especializado, preferencialmente na rede regular de
ensino (art. 208).
2.1.2. DE ACORDO COM O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – ECA (1990):
O Estatuto da Criança e do Adolescente –
ECA, Lei nº 8.069/90, no artigo 55, reforça os
dispositivos legais supracitados ao determinar que “os
pais ou responsáveis têm a obrigação de matricular
seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino”.
2.1.3. DE ACORDO COM A DECLARAÇÃO DE SALAMANCA (1994):
Em 1994, a Declaração de Salamanca
proclama que as escolas regulares com orientação
inclusiva constituem os meios mais eficazes de
combater atitudes discriminatórias e que alunos com
necessidades educacionais especiais devem ter
acesso à escola regular, tendo como princípio
orientador que “as escolas deveriam acomodar todas
as crianças independentemente de suas condições
físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas
ou outras” (BRASIL, 2006, p.330).
2.1.4. DE ACORDO COM A LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL – LDB (1996):
A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, Lei nº 9.394/96, no artigo 59, preconiza que
os sistemas de ensino devem assegurar aos alunos
currículo, métodos, recursos e organização
específicos para atender às suas necessidades;
assegura a terminalidade específica àqueles que não
atingiram o nível exigido para a conclusão do ensino
fundamental, em virtude de suas deficiências; e
84
assegura a aceleração de estudos aos superdotados
para conclusão do programa escolar. Também define,
dentre as normas para a organização da educação
básica, a “possibilidade de avanço nos cursos e nas
séries mediante verificação do aprendizado” (art. 24,
inciso V) e “oportunidades educacionais apropriadas,
consideradas as características do alunado, seus
interesses, condições de vida e de trabalho, mediante
cursos e exames” (art. 37).
2.1.5. DE ACORDO COM A CONVENÇÃO DA
GUATEMALA (1999):
A Convenção da Guatemala (1999),
promulgada no Brasil pelo Decreto nº 3.956/2001,
afirma que as pessoas com deficiência têm os
mesmos direitos humanos e liberdades fundamentais
que as demais pessoas, definindo como discriminação
com base na deficiência toda diferenciação ou
exclusão que possa impedir ou anular o exercício dos
direitos humanos e de suas liberdades fundamentais.
Este Decreto tem importante repercussão na
educação, exigindo uma reinterpretação da educação
especial, compreendida no contexto da diferenciação,
adotado para promover a eliminação das barreiras que
impedem o acesso à escolarização.
2.1.6. De acordo com o Plano Nacional de
Educação (2001):
A Educação Especial se destina às pessoas com necessidades especiais no campo da aprendizagem, originadas quer de deficiência física, sensorial, mental ou múltipla, quer de características como altas habilidades, superdotação ou talentos. (...). Quanto mais cedo se der a intervenção educacional, mais eficaz ela se tornará no decorrer dos anos, produzindo efeitos mais profundos sobre o desenvolvimento das crianças. Por isso, o atendimento deve começar precocemente, inclusive como forma preventiva. Na hipótese de não ser
possível o atendimento durante a educação infantil, há que se detectarem as deficiências, como as visuais e auditivas, que podem dificultar a aprendizagem escolar, quando a criança ingressa no ensino fundamental.
3. COMPREENSÃO DE TERMOS
Tendo conhecimento prévio dos marcos legais
que sustentam a Educação Inclusiva, faz-se uso deste
artigo para definir legalmente o termo Inclusão, Escola
Inclusiva e Educação Inclusiva, para em seguida,
fundamentar à luz da teoria científica os termos que
regem a Inclusão Educacional.
3.1. INCLUSÃO
Ao pensar-se a inclusão do ponto de vista do
sujeito, na dimensão individual, pode-se falar no
movimento próprio da criança, que a conduz
naturalmente em direção ao outro e ao meio ambiente.
Pode-se dizer que esse movimento é condição básica
para aprendizagem: aprendizagem de si, do outro e do
mundo ao seu redor. Sassaki considera que inclusão:
É o processo pelo qual, a sociedade se adapta, para poder incluir, em seus sistemas sociais gerais, pessoas com necessidades especiais e, simultaneamente, estes se preparam para assumir seus papéis na sociedade. A inclusão constitui-se então, um processo bilateral, no qual as pessoas, ainda excluídas buscam, em parceria, equacionar problemas, decidir sobre soluções e efetivar a equiparação de oportunidades para todos. (SASSAKI, 1997, p.41)
3.2. ESCOLA INCLUSIVA
A escola que se define como diversa e
inclusiva, em especial, de pessoas com deficiência, é
aquela que abraça as diferenças, procura favorecer
condições de aprendizagens a todos, não importando
sexo, cor, nível social e econômico, grau de
85
aprendizagens e, sobretudo, deficiências, seja ela de
que ordem for. É uma escola que respeita a
diversidade como chave para um processo de
inclusão plena e concreta, como indica Henriques:
Escola inclusiva é aquela que garante a qualidade de ensino a cada um de seus alunos, reconhecendo e respeitando a diversidade e respondendo a cada um de acordo com suas potencialidades e necessidades. Uma escola somente poderá ser considerada inclusiva quando estiver organizada, para favorecer a cada aluno, independentemente de etnia, sexo, idade, deficiência, condição social ou qualquer outra situação. Um ensino significativo é aquele que garante o acesso ao conjunto sistematizado de conhecimentos como recursos a serem mobilizados. (HENRIQUES, 2012, p. 09).
3.3. EDUCAÇÃO INCLUSIVA
A educação inclusiva é uma abordagem que
procura responder às necessidades de aprendizagem
de todas as crianças, jovens e adultos, com foco
específico nas pessoas ou grupo de pessoas que
estão excluídas da efetivação do direito à educação e
que estão fora da escola ou enfrentam barreiras para
participação nos processos de aprendizagem escolar.
A educação inclusiva deve ser entendida como uma tentativa a mais de atender as dificuldades de aprendizagem de qualquer aluno no sistema educacional e como meio de assegurar que os alunos, que apresentam alguma deficiência, tenham os mesmos direitos que os outros, ou seja, os mesmos direitos de seus colegas escolarizados em escola regular. (MEC, 2005).
Compreende-se Educação Inclusiva como
uma modalidade a mais que as escolas devem
oferecer aos alunos que apresentam “entraves” na
aquisição da aprendizagem. Para tanto, as ações da
educação inclusiva podem ser usufruídas por qualquer
aluno, tendo ele deficiências especificas ou não. De
acordo com Santiago, alunos com necessidades
educacionais especiais são:
Aqueles que estão à margem da aprendizagem, ou seja, alunos que apresentam comprometimentos de origens cognitivas, física, emocional ou social que possam estar atrapalhando o seu desempenho escolar. Tem-se como foco estimular as potencialidades do aluno, considerando suas peculiaridades e singularidades. Respeitando-os como seres únicos e diferentes entre si, valorizando o que eles têm de melhor e estimulando os pontos menos trabalhados (SANTIAGO, 2007).
4.0. TERMOS QUE REGEM A EDUCAÇÃO INCLUSIVA
4.1. EDUCANDOS QUE APRESENTAM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS
São prioritariamente:
Os alunos que apresentam superdotação, condutas típicas de síndromes e quadros psicológicos, neurológicos ou psiquiátricos, ou então significativas diferenças físicas, sensoriais ou intelectuais, decorrentes de fatores inatos ou adquiridos, de caráter temporário ou permanente e que, em interações socioambientais resultem em necessidades educacionais diferentes da maioria das pessoas (MEC, 1999).
Faz-se necessário, destacar que algumas
necessidades especiais apresentadas por
determinados alunos são oriundas de fatores sociais,
tais como: abandono, miséria, fome, abuso sexual,
uso temporário de substâncias psicoativas, maus
tratos, entre outras. Nestes casos específicos, quando
o aluno apresenta dificuldade na aprendizagem devido
à falta de concentração, inquietação, agressividade ou
mau comportamento, cabe à escola tomar providência
junto à família. Caso necessário, o Conselho Tutelar
deverá ser acionado, como também o Ministério
Público nos casos mais graves. O Artigo 56 do
Estatuto da Criança e do Adolescente faz menção a
este ponto, deixando claro que “é responsabilidade
dos dirigentes dos estabelecimentos de ensinos
usarem o recurso da lei, quando necessário for”.
86
4.2. NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS
Os Parâmetros Curriculares Nacionais
preconizam a diversidade da comunidade escolar e
baseiam-se no pressuposto de que a realização de
adaptações curriculares pode atender a necessidades
particulares dos alunos. Considera-se que a atenção à
diversidade deve se concretizar em medidas que
levem em conta não só as capacidades intelectuais e
os conhecimentos dos alunos, mas, também, seus
interesses e motivações. A atenção à diversidade está
focalizada no direito de acesso às escolas e visa à
melhoria da qualidade de ensino e aprendizagem para
todos, irrestritamente, bem como as perspectivas de
desenvolvimento e socialização. A escola, nessa
perspectiva, busca consolidar o respeito às diferenças,
conquanto não elogie a desigualdade. As diferenças
são vistas, não como obstáculo para o cumprimento
da ação educativa, mas podendo e devendo ser
fatores de enriquecimento. A diversidade, existente na
comunidade escolar contempla uma ampla dimensão
de características.
Necessidades educacionais podem ser identificadas em diversas situações representativas de dificuldade de aprendizagem, como decorrência de condições individuais, econômico ou sócio culturais dos alunos: crianças com condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais e sensoriais diferenciadas; crianças com deficiência e bem dotadas; crianças trabalhadoras ou que vivem nas ruas; crianças de populações distantes ou nômades, crianças de minorias linguísticas, étnicas ou culturais e crianças de grupos desfavorecidos ou marginalizados. O termo surgiu para evitar os efeitos negativos de expressões utilizadas no contexto educacional – deficientes, excepcionais, subnormais, superdotados, infradotados, incapacitados etc. – para referir-se aos alunos com altas habilidades/superdotação, aos portadores de deficiência cognitivas, físicas, psiquiátricas e sensoriais. Tem o propósito de deslocar o foco do aluno e direcioná-los para as respostas
educacionais que eles requerem, evitando enfatizar seus atributos ou condições pessoais que podem interferir na sua aprendizagem e escolarização. É uma forma de reconhecer que muitos alunos, sejam ou não portadores de deficiência ou de superdotação, apresentam necessidades educacionais que passam a ser especiais, quando exigem respostas específicas adequadas (MEC, 199).
Considerando o relato acima descrito, faz-se
necessário relatar que o termo “portador de deficiência
ou portador de necessidades” não deve mais ser
usado. Atualmente, a denominação apresenta-se
como: “pessoa com deficiência” ou “pessoa com
necessidades especiais”. Vale registrar que a
“necessidade especial” apresentada por um aluno
pode ser algo tanto “definitivo”, como “momentâneo”,
ou seja, um aluno pode apresentar uma necessidade
momentânea que será logo extinta à medida que
receba da escola um trabalho focado e diretivo.
4.3. TERMINALIDADE ESPECÍFICA
É uma certificação de conclusão de escolaridade, com histórico escolar que apresenta, de forma descritiva, as habilidades atingidas pelos educandos com grave deficiência mental ou múltipla, cujas necessidades educacionais especiais não lhes permitem atingir o nível de conhecimento exigido para a conclusão do ensino fundamental, respeitada a legislação existente, e de acordo com o regimento e proposta pedagógica da escola (MEC, 1999).
O capítulo V da LDB de 1996, que trata da
Educação Especial, diz no Artigo 59, Inciso II, que os
Sistemas de Ensino deverão assegurar a
Terminalidade também, para os alunos que
apresentarem “superdotação” como forma de
aceleração no processo de aprendizagem.
4.4. REDE DE APOIO
87
São os serviços educacionais diversificados,
oferecidos pela escola comum, para responder às
necessidades educacionais do educando. A saber, os
que se seguem.
4.4.1. CLASSE COMUM
Serviço que se efetiva por meio do trabalho de equipe, abrangendo professores da classe comum e da educação especial, para o atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos, durante o processo de ensino-aprendizagem. Pode contar com a colaboração de outros profissionais, como psicólogos escolares, por exemplo. (BRASIL, 2001.)
4.4.2. CLASSE ESPECIAL
É uma sala de aula, em escola de ensino
regular, em espaço físico e modulação adequada.
Neste tipo de sala, o professor da educação especial utiliza métodos, técnicas, procedimentos didáticos e recursos pedagógicos especializados e, quando necessário, equipamentos e materiais didáticos específicos, conforme série/ciclo/etapa da educação básica, para que o aluno tenha acesso ao currículo da base nacional comum (BRASIL, 2001).
4.4.3. SALA DE RECURSO
Serviço de natureza pedagógica, conduzido
por professor especializado, que suplementa (no caso
dos superdotados) e complementa (para os demais
alunos) o atendimento educacional, realizado em
classes comuns da rede regular de ensino.
Esse serviço realiza-se em escola, em local dotado de equipamentos e recursos pedagógicos adequados às necessidades educacionais dos alunos, podendo estender-se a alunos nas escolas próximas, nos quais ainda não exista esse atendimento. Pode ser realizado, individualmente, ou em pequenos grupos, para alunos que apresentam necessidades educacionais especiais semelhantes, em horário diferente
daquele em que frequentam a classe comum (BRASIL, 2001).
4.4.4. PROFESSOR DE EDUCAÇÃO ESPECIAL
É o que desenvolveu, através de formação
específica, competências para a identificação de
necessidades educacionais especiais, estando em
condições de definir, implementar, liderar e apoiar a
implementação de estratégias de flexibilização,
adaptação curricular e práticas didáticas e
pedagógicas adequadas, bem como trabalhar em
equipe, assistindo ao professor de classe comum nas
práticas necessárias à inclusão dos alunos com
necessidades especiais (MEC/SEESP, 2001).
4.4.5. PROFESSOR CAPACITADO PARA EDUCAÇÃO ESPECIAL
É o professor de sala de aula que tem
condições de atender a portadores de necessidades
especiais em virtude de constar, em seus currículos
formativos, conteúdos sobre educação especial
(MEC/SEESP, 2001).
4.4.6. PROFESSOR INTÉRPRETE
É o profissional especializado para apoiar
alunos surdos, cegos ou surdo-cegos e outros que
apresentam sérios comprometimentos de
comunicação ou sinalização. Domina a linguagem
Braille (para deficientes visuais) e a linguagem de
sinais (para sujeitos surdos) (MEC/SEESP, 2001).
4.4.7. ATENDIMENTO ITINERANTE
As Diretrizes Nacionais para a Educação
Especial na Educação Básica destaca que Itinerância
é:
88
Serviço de orientação e supervisão pedagógica, desenvolvida por professores especializados, que fazem visitas periódicas às escolas para trabalhar com alunos que apresentam necessidades educacionais especiais, e com seus respectivos professores de classe comum, da rede regular de ensino (MEC/SEESP, 2001).
4.4.8. ATENDIMENTO TRANSITÓRIO
As Diretrizes Nacionais para a Educação
Especial na Educação Básica afirma que atendimento
transitório é o
Atendimento que se faz de modo específico, mas transitório, a portadores de necessidades especiais nas situações em que o trabalho escolar em classes regulares não se faz possíveis. O atendimento hospitalar é um dos casos. (MEC/SEESP, 2001).
4.4.9. ATENDIMENTO ESCOLAR HOSPITALAR
As Diretrizes Nacionais para a Educação
Especial na Educação Básica entende o atendimento
transitório hospitalar como o
Atendimento escolar, por professor capacitado eu especializado, a portadores de necessidades especiais que se encontrem internados, transitoriamente ou em caráter permanente, em função da gravidade de seus casos (MEC/SEESP, 2001).
5. CARACTERIZAÇÃO DAS DEFICIÊNCIAS
De acordo com os Parâmetros Curriculares
Nacionais (MEC,1999), as principais deficiências são
conceituadas da seguinte forma:
Deficiência Auditiva - Perda total ou parcial, congênita ou adquirida, da capacidade de compreender a fala por intermédio do ouvido; Deficiência Visual - É a redução ou perda total da capacidade de ver com o melhor olho e após correção ótica; Deficiência Física - Alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano,
acarretando o comprometimento da função física, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções; Deficiência Mental – Funcionamento intelectual significativamente inferior à media, com manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, tais como: comunicação, cuidado pessoal, habilidades sociais, utilização da comunidade, saúde, segurança, habilidades acadêmicas, lazer e trabalho; Deficiência Múltipla – A associação de duas ou mais deficiências; Síndrome de Down - Alteração genética cromossômica, que traz como consequência características físicas marcantes e implicações tanto para o desenvolvimento fisiológico quanto para a aprendizagem; Condutas Típicas - Manifestações de comportamento típicas de portadores de síndromes e quadros psicológicos, neurológicos ou psiquiátricos que ocasionam atrasos no desenvolvimento e prejuízos no relacionamento social, em graus que requeiram atendimento educacional especializado. É importante ressaltar que o Transtorno do Déficit de atenção / Hiperatividade – TDAH enquadra-se como distúrbio neurológico. Este distúrbio é bastante confundido e até mesmo rotulado em alunos que apresentam ‘falta de limites’, ‘educação doméstica inadequada’, ‘agressividade’ e ‘irritabilidade’. Cabe a uma equipe multidisciplinar avaliar o aluno e diagnosticar. O TDAH não pode, em nenhuma hipótese, ser confundido com comportamentos inadequados, mesmo porque, sendo o TDAH um déficit neurológico, o aluno necessitará de interação medicamentosa, bem como, de psicoterapia; Autismo - Transtorno do desenvolvimento caracterizado, de maneira geral, por problemas nas áreas de comunicação e interação, bem como, por padrões restritos, repetitivos e estereotipados de comportamento, interesses e atividades; Superdotação – Capacidade intelectual, cognitiva ou de outra qualidade, significativamente acima da média das pessoas comuns (no caso do teste de QI, registros acima de 140);
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Paralisia – Prejuízo (sequela de agressão encefálica) permanente do movimento e da postura, resultante de uma desordem encefálica não progressiva. É causada por fatores hereditários ou problemas havidos durante a gravidez, parto neonatal ou nos dois primeiros anos de vida. Pode ser acompanhada de rebaixamento mental e distúrbios convulsivos; Distúrbio da aprendizagem – Pode ser a dislexia ou disgrafia: a) Dislexia – Distúrbio da aprendizagem, específico da linguagem, caracterizada por dificuldade na decodificação de palavras. Mostra insuficiência no processo fonológico. Apresenta sintomas variados; b) Disgrafia – Distúrbio de aprendizagem semelhante à Dislexia, ocasionando dificuldades no desenvolvimento da escrita manual. Os portadores desse distúrbio podem escrever perfeitamente bem com máquinas de escrever ou teclados de computador.
6. DEFINIÇÕES DE TERMOS DA EDUCAÇÃO REGULAR SOB A ÓTICA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA
6.1. CURRÍCULO
A propósito do debate sobre a organização da
escola para atender a diversidade e inclusão de todos
os alunos, sobretudo, de pessoas com deficiência,
recobre-se de especial importância a discussão sobre
o currículo escolar adotado e/ou formulados pelas
escolas. Tendo em vista que não adianta o governo, o
contexto educacional e/ou organismos sociais
trabalharem, lutarem para a adoção de uma escola
diversa e inclusiva, e o currículo não favorecer esse
caminho.
Um currículo estanque, aplicado de maneira rígida, sem a necessária reflexão, resulta obviamente num potente recurso de exclusão social, pois não permite espaço para discussões que levem a adaptações curriculares, necessárias para o atendimento à diversidade, presente na sala de aula. Infelizmente, o currículo ainda tem sido entendido e aplicado de acordo com a
perspectiva de que o ensino regular possui um padrão de exigências de aprendizagem, que todo aluno deve aprender, a fim de obter sucesso na escola. Esta visão encontra-se arraigada no fato de que há áreas de 422 conhecimentos ou conteúdos pré- determinados, que, se aprendidos com eficácia, resultam em uma formação plena para a vida. (JUNG, 2012, p. 05).
As considerações de Jung (2012) evocam a
importância de se levar adiante o debate sobre o
currículo escolar, em especial, quando se defende,
busca e/ou se trabalha para a construção de uma
escola diversa e inclusiva. Deste modo, compreende-
se a necessidade de reflexão e vontade política, por
parte de todos os envolvidos no processo educacional,
para ultrapassar as velhas concepções, formulações
rígidas, padronizações escolares e visões excludentes
na construção do currículo escolar. A propósito das
políticas públicas educacionais para a construção de
uma escola inclusiva e aberta à diversidade, observa-
se que os órgãos governamentais ligados ao setor
educacional, dão amplo apoio à construção de um
currículo que atenda às necessidades educacionais
especiais:
Art. 17. Em consonância com os princípios da educação inclusiva, as escolas das redes regulares de educação profissional, públicas e privadas, devem atender alunos que apresentem necessidades educacionais especiais, mediante a promoção das condições de acessibilidade, a capacitação de recursos humanos, a flexibilização e adaptação do currículo e o encaminhamento para o trabalho, contando, para tal, com a colaboração do setor responsável pela educação especial do respectivo sistema de ensino (Resolução CNE/CEB Nº2, 2001).
Como se vê, em sua política de inclusão dos
alunos com necessidade especiais, o governo
brasileiro é bem enfático em sua defesa da reflexão e
necessidade de adequação do currículo às
necessidades dos alunos com deficiências. Em outro
90
documento mais recente do governo, editado pelo
MEC, lê-se as seguintes orientações, em termos da
adequação do currículo à questão da diversidade:
A reflexão sobre o currículo está instalada nos diversos âmbitos educacionais inclusive nas escolas. Durante as últimas décadas, o currículo tem sido central nos debates da academia, da teoria pedagógica, da formação docente e pedagógica, principalmente neste período de ampliação da duração do ensino fundamental de 9 anos. Seria possível um diálogo que inclui a diversidade entre a teoria acumulada e as propostas e práticas de reorientação curricular? Educar na diversidade pressupõe a adoção de um modelo de currículo na escola que facilite adaptações e flexibilizações para o aprender e ensinar de todos os alunos e alunas em sua diversidade (BRASIL, 2007).
Portanto, em relação à questão da escola
aberta à diversidade e inclusão de alunos com
necessidades especiais, estabelece-se a necessidade
de se adaptar as situações diversas, plurais e
múltiplas, para que se atenda eficientemente à
proposta da igualdade de oportunidades para todos.
Isto implica em oferecer um ambiente de equidade
para que cada sujeito seja atendido em suas
necessidades específicas e especiais. Daí a
importância da reflexão e discussão sobre adaptação
do currículo a estes alunos. Como indica Henriques:
As adaptações curriculares necessitam ser pensadas, a partir do contexto grupal em que se insere determinado aluno; a partir de cada situação particular e não como propostas universais. As adequações se referem a um contexto e não à criança. As flexibilizações curriculares devem ser pensadas, a adaptação curricular, feita por um professor, para um aluno especifico, é válida apenas para esse aluno e para esse momento e funciona como instrumento para programar uma prática educativa para a diversidade e devem responder a uma construção do professor em interação com o coletivo de professores da escola e outros
profissionais das áreas da educação, saúde e assistência social (HENRIQUES, 2012, p. 11).
Concluindo esse tópico, procurou-se delinear
nas discussões acima, a importância da adequação
curricular às necessidades dos alunos com
deficiência, em face das questões ligadas ao
planejamento educacional nacional. Afinal de contas,
as diretrizes curriculares nacionais se preocupam em
atender uma maioria, em sua demanda de construção
de um currículo universal, sem levar em conta as
diferenças e a pluralidade de um contexto
heterogêneo das minorias: como é o caso dos alunos
com necessidades educacionais especiais.
6.2 AVALIAÇÃO
Considerando a temática da Avaliação, houve
a necessidade de oferecer maiores esclarecimentos e
definições de maneira geral. Sendo assim, recorreu-se
ao Conselho Nacional de Educação, como também a
alguns documentos oficiais do Ministério de Educação
e Cultura – MEC e do Ministério Público Federal. De
acordo com CNE (2001):
Artigo 8º - As escolas da rede regular de ensino devem prever e prover na organização de suas classes comuns: III – Flexibilizações e adaptações curriculares que considerem o significado prático e instrumental dos conteúdos básicos, metodologias de ensino e recursos didáticos diferenciados e processos de avaliação adequados ao desenvolvimento dos alunos que apresentam necessidades educacionais especiais, em consonância com o projeto pedagógico da escola, respeitando a frequência obrigatória.
Tomando como base norteadora resoluções
do CNE a prática avaliativa para alunos que
apresentam necessidades educacionais especiais,
necessita, na verdade, somente ser seguida na
91
íntegra, de acordo com a deliberação do Conselho
acima descrito. Ou seja, o processo de avaliação dos
alunos com necessidades educacionais especiais não
difere muito do que preconiza o Conselho. É preciso
adaptações curriculares que possam considerar as
potencialidades de cada aluno, respeitando as
peculiaridades e a fase do seu desenvolvimento
cognitivo.
O tema avaliação de alunos com
necessidades educacionais especiais é o mais
abordado dentro do processo de inclusão educacional.
Portanto, torna-se necessário, aperfeiçoar o máximo
possível. Neste artigo, recorre-se a alguns teóricos e
documentos oficiais para, na medida do possível,
clarificá-lo ao máximo.
O documento oficial elaborado pelo Ministério
Público Federal em 2004, intitulado “O acesso de
alunos com deficiência às escolas e classes comuns
da rede regular”, determina
que a avaliação do desenvolvimento dos alunos deverá ser modificada para ser coerente com as demais inovações propostas de inclusão. Segundo este documento, o processo ideal é o que acompanha o percurso de cada estudante, do ponto de vista da evolução de suas competências, habilidades e conhecimentos. A meta é mobilizar e aplicar conteúdos acadêmicos e outros meios que possam ser úteis para chegar e realizar tarefas e alcançar os resultados pretendidos pelo aluno. Apreciam-se os seus progressos na organização dos estudos, no tratamento das informações e na participação na vida social. Desse modo, muda-se o caráter da avaliação que, usualmente, se pratica nas escolas e que tem fins meramente classificatórios. Para alcançar sua nova finalidade, avaliação terá, necessariamente, de ser dinâmica, contínua, mapeando o processo de aprendizagem dos alunos e seus avanços, retrocessos, dificuldades e progressos (BRASIL, 2004).
A presença de alunos com necessidades
educacionais especiais em sala de aula é um fator
determinante para o redimensionamento das práticas
avaliativas, especialmente quando suas limitações são
muito específicas, como no caso de alunos surdos,
cegos, com problemas motores, intelectuais e
comportamentais. A distribuição do espaço físico e a
disposição do mobiliário, a organização do tempo e a
divisão de grupos de trabalho, o planejamento das
atividades de ensino-aprendizagem e dos recursos
materiais e humanos devem ser favoráveis à
participação dos alunos e ao desenvolvimento pleno
de suas capacidades (Silva, 2010, p.29).
Cabe ao professor, juntamente com a equipe
multidisciplinar, alicerçar as mudanças necessárias à
prática pedagógica a fim de que contemple a inclusão
de todos os alunos a respeito da diversidade.
A escola precisa acolher e cumprir sua missão
de educar os alunos com necessidades educacionais
especiais, adaptando-se às suas peculiaridades no
campo da aprendizagem. Dessa forma, a avaliação
torna-se inclusiva, na medida em que, ao invés de
centrar-se nas limitações desse alunado, direciona-se
para o atendimento de suas necessidades e para a
participação ativa de toda a comunidade escolar
nesse sentido.
6.2.1. LDB E AVALIAÇÃO
As observações são extremamente
importantes no momento da avaliação, mas não são
suficientes, principalmente ao que se refere à
avaliação do aspecto cognitivo. Para tanto, faz-se
necessário uma avaliação escrita para complementar
todos os aspectos envolvidos durante o processo de
ensino e aprendizagem.
A LDB (1996), no Artigo 24, refere-se à
verificação do rendimento escolar, solicitando que
observe alguns critérios. Entre eles, cita-se a
“avaliação contínua e cumulativa do desempenho do
aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos
sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do
período sobre os de eventuais provas finais”.
92
Tomando como base esta Lei Federal, é
possível observar que o aspecto qualitativo do aluno
necessita ser observado e, consequentemente,
aproveitado em todos os aspectos avaliativos. Sendo
assim, pode-se confirmar que a grande maioria dos
teóricos e estudiosos da educação inclusiva está em
sintonia com a LDB. O aluno que apresenta
dificuldade educacional especial precisa ser
compreendido como “um todo”; é necessário e urgente
que o aluno possa ser avaliado enquanto pessoa e
não como alguém rotulado a não aprender.
É fundamental que o professor acompanhe e
reconheça o processo desenvolvido por seu aluno,
identificando em que ponto ou nível ele se encontra ao
elaborar determinado conceito e, a partir destas
observações, oferecer ou criar condições para que ele
possa agir com êxito, refletir e finalmente criar novas
hipóteses.
Para que o aluno seja identificado e receba
atendimento pedagógico na busca de remoção das
barreiras que possam estar interferindo na construção
do conhecimento, é imprescindível que haja uma
ampla e profunda compreensão de suas
potencialidades e dificuldades. Para tanto, a
avaliação, no contexto escolar, deverá envolver todos
os profissionais da escola que direta ou indiretamente
atuam com o aluno, tendo como objetivo o
estabelecimento de uma proposta pedagógica e
implementação de atividades a serem desenvolvidas,
durante o processo de ensino e aprendizagem que
estejam em consonância com as necessidades
educacionais especiais do aluno.
Deslocando-se o foco da avaliação da pessoa
propriamente dita para as influências que o meio
exerce sobre a mesma, verifica-se a existência e a
qualidade dos apoios de que necessita para o
desenvolvimento de suas habilidades adaptativas.
Nessa proposta, o processo de avaliação envolve as
habilidades intelectivas, adaptativas, afetivo-
emocionais, físicas e de saúde e as condições
ambientais, visando determinar o nível e a intensidade
dos apoios que se fizerem necessários para os alunos
prosseguirem, com êxito, no processo educativo, de
desenvolvimento e de aprendizagem (BRASIL, 2005).
6.2.2. MEC E AVALIAÇÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS
Esta avaliação deve estar a serviço da
implementação dos apoios necessários ao progresso
de todos os alunos, bem como para a melhoria das
respostas educativas oferecidas no contexto
educacional escolar e social. Para atender uma
proposta de avaliação, onde se considere o sujeito e
seu ambiente, faz-se necessário considerar os
seguintes objetivos (MEC, 2005):
Conhecer para intervir, de modo preventivo, sobre as variáveis identificadas como barreiras para a aprendizagem e para a participação; Conhecer os procedimentos e instrumentos de avaliação, como subsídios à prática pedagógica; Contribuir para o desenvolvimento global do aluno e para o aprimoramento das instituições de ensino; Identificar potencialidades e necessidades educacionais dos alunos e das condições da escola e da família; Identificar os elementos que intervêm no processo de ensino e aprendizagem e, quando necessário, rever as práticas pedagógicas.
O MEC/SEESP (2006) conclui o documento
dizendo
que as práticas escolares que permitem ao aluno aprender e ter reconhecidos e valorizados os conhecimentos que é capaz de produzir, segundo suas possibilidades, são próprias de um ensino escolar que se distingue pela diversidade de atividades. O professor, na perspectiva da educação inclusiva, não é aquele que ministra um “ensino diversificado”, para alguns, mas aquele que prepara atividades diversas para seus alunos (com ou sem necessidades
93
especiais) ao trabalhar um mesmo conteúdo curricular. As atividades não são graduadas, para atender a níveis diferentes de compreensão e estão disponíveis na sala de aula para que seus alunos as escolham livremente, de acordo com o interesse que têm por elas.
Finaliza-se o tema da avaliação, tendo
convicção de que as instituições educacionais
necessitam se adaptar em vários aspectos para
receber os alunos com necessidades especiais e não
os alunos que precisam se adaptar a elas.
Falar em adaptação nas escolas é englobar
tudo que for necessário para prover o ensino a
“todos”. Estamos falando de adaptações curriculares,
currículos flexíveis, estrutura organizacional,
capacitação de professores e equipe técnica,
acessibilidade física, recursos pedagógicos etc.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A educação inclusiva vem despontando no
cenário nacional desde meados da década de 90, no
entanto observa-se que, durante alguns anos, não
passou de escritos e discussões teóricas.
Efetivamente, poucos são os que praticam
verdadeiramente essa ação. Embora a inclusão
educacional faça parte da legislação do país, somos
conhecedores de muitas ações de exclusão em
escolas, tanto na esfera pública como privada.
A lei é clara, a Instituição de Ensino que negar
matrícula a uma criança, simplesmente porque ela traz
consigo uma deficiência pode estar sujeita à pena,
constituída de crime; Art. 8º, Lei 7.853/89 do Código
Penal.
É importante que se tenha o conhecimento de
que para vencer todas as dificuldades adversas
necessita-se cada vez mais tornar claro o tema
Inclusão Educacional. Para participar ativamente de
determinada situação, faz-se necessário o
conhecimento tanto prático como teórico. Pensando
dessa forma, este artigo foi elaborado com este
propósito. Na verdade, o principal objetivo neste
trabalho é mostrar para a sociedade educacional que
fazer inclusão não precisa de tantos aparatos, basta
olhar o próximo como alguém verdadeiramente
próximo; alguém com potencial, com vontades, com
capacidades. Este é o perfil dos alunos que
apresentam necessidades educacionais especiais.
Eles são alunos como os outros, só precisam ser
respeitados e valorizados.
Foi considerado prudente deixar explícito que
o termo inclusão educacional vai muito além das
“falas” deste texto. Fazer inclusão educacional é estar
desprovido de qualquer tipo de preconceito, é
verdadeiramente aceitar o “outro” como ele é. Quando
se pensa em inclusão educacional, geralmente liga-se
às questões de deficiências, no entanto, incluir
significa aceitar qualquer pessoa que esteja fora, que
esteja à margem da sociedade. Sendo assim, não
podemos deixar de fora os índios, os ciganos, os
homossexuais, os soros-positivos, os marginalizados,
os sem tetos, etc. É importante ficar claro que o termo
inclusão é extremamente abrangente.
Abrangente também é o que todos que fazem
educação podem fazer pelos os que estão à margem
da escolarização. É preciso que se ampliem atos e
ações em relação à inclusão educacional. Conclui-se,
tendo a certeza de que muito ainda tem a se fazer
frente à inclusão educacional, no entanto, todo o
trabalho até então realizado nas escolas faz parte de
ações praticadas que não têm ponto final.
8. REFERÊNCIAS ALVES, Denise de Oliveira. Sala de recursos multifuncionais: espaços para atendimento educacional especializado. Brasília: MEC/SEESP, 2006. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Texto Promulgado em 05 de outubro de 1989. Brasília/DF. Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA. Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990. Brasília/DF.
94
Declaração de Salamanca e linha de ação sobre necessidades educativas especiais. Brasília: UNESCO, 1994
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB. Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Brasília: Ministério da Educação.
Parâmetros curriculares nacionais - Livro 1. Brasília: MEC/ Secretaria de Educação Especial, 1999.
Resolução CNE/CNB nº2, de 11 de fevereiro de 2001. Brasília: Conselho Nacional de Educação – CNE.
Plano nacional de Educação. Lei nº 10.172 de 09 de janeiro de 2001. Brasília/DF.
Política Nacional de Educação Especial. Brasília; MEC/SEESP, 2001.
Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Brasília: MEC/SEESP, 2001.
Direito à educação - necessidades educacionais especiais: subsídios para atuação do ministério público brasileiro. Brasília: MEC/SEESP, 2001.
Inclusão. Revista de educação especial. V. 1, n.1. Brasília: Secretaria de Educação Especial, 2005.
Avaliação para identificação das necessidades educacionais especiais. Brasília: MEC/SEESP, 2005.
Direito à educação:subsídios para a gestão dos sistemas educacionais – orientações e marcos legais. Brasília: MEC/SEESP,2006.
Educação Inclusiva – Documento Subsidiário à Política de Inclusão. Brasília: MEC/SEESP, 2006.
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95
INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA NA ESCOLA REGULAR
Ednalva Soares de Carvalho Rondinelli de Carvalho Silva
E-mail: [email protected]
Dra. Tania Castelliano (Orientadora)
RESUMO
Incluir alunos com deficiência na escola é uma proposta da educação inclusiva, e tem despertado uma série de debates no campo educacional brasileiro, tal proposta é contrária ao modelo tradicional das escolas. O impacto causado pela inclusão nos remete a vários questionamentos, tendo em vista que essa ideia é relevante e ao mesmo tempo desafiadora. Mesmo amparada por lei, não oferece condição, suporte e investimento necessários para o seu desenvolvimento como defende o princípio da educação inclusiva uma escola para todos, ensino de qualidade e igualdade de direitos. O objetivo geral desse trabalho é identificar no contexto concreto da escola como ocorre a inclusão na prática e o que pensa a comunidade escolar sobre esse processo. Os resultados mostram que a maior parte da comunidade escolar ainda não sabe ao certo o conceito de inclusão confundindo com integração. As dificuldades identificadas foram: a falta de formação dos professores, de um profissional especializado, e diagnósticos dos alunos com deficiência. Ainda é uma barreira a ser vencida, a falta de formação específica para os professores que atuam na educação básica, também a falta de profissionais especializados.
Palavras-chave: Inclusão; Alunos com deficiência; Ensino regular.
ABSTRACT
Include students with disabilities in school is a proposal of inclusive education, and has attracted a number of discussions in the Brazilian educational field, such a proposal is contrary to the traditional model of schools. The impact of inclusion leads us to many questions, given that this idea is relevant and challenging at the same time. Even required by law, does not offer condition, support and investment needed for its development and upholds the principle of inclusive education a school for all, quality education and equal rights. The aim of this study is to identify the concrete school context as is the inclusion in practice and what you think the school community about this process. The results show that most of the school community still not sure the concept of inclusion confused with integration difficulties identified were: the lack of teacher training, a specialized professional, and diagnostics of students with disabilities is still a barrier to be overcome, the lack of specific training for teachers who work in primary education, also the lack of specialized professionals.
Keywords: Inclusion; Students with disabilities; Regular education.
96
1 INTRODUÇÃO
O presente estudo investigou o que pensa a
comunidade escolar e qual a atual situação da
inclusão dos alunos com deficiências no ensino
regular. A pesquisa contribui para pensar como a
inclusão é percebida no contexto da escola regular e
ainda possibilita novos questionamentos para
possíveis estudos futuros. O objetivo geral desse
trabalho é, portanto, o de identificar, no contexto
concreto da escola, como ocorre a inclusão na sala de
aula e o que pensa a comunidade escolar sobre esse
processo. Para tanto, se faz necessário: Discutir a
inclusão e alguns pressupostos teóricos que dêem
suporte à compreensão do diálogo que os autores
fazem sobre a temática.
Observar no cotidiano da escola as
estratégias utilizadas para inclusão desses alunos
com deficiência e ainda refletir sobre as percepções
da comunidade escolar sobre a inclusão e os limites e
possibilidades da inclusão na prática escolar: Estas
informações servem como base para a elaboração de
outros estudos nesse campo. Assim, o conhecimento
sobre o tema pode trazer novas possibilidades para as
práticas pedagógicas dos profissionais da educação,
como também a oportunidade de revisar suas
estratégias e as metodologias que são empregadas na
formação do aluno com deficiência.
O impacto causado pela inclusão nos remete
a vários questionamentos, tendo em vista que essa
ideia é relevante e ao mesmo tempo desafiadora.
Mesmo amparada por lei, não se oferece condição,
suporte e investimento necessários para o seu
desenvolvimento, que defende o princípio da
educação inclusiva uma escola para todos, ensino de
qualidade e igualdade de direitos, tendo em vista as
contradições entre as políticas de inclusão e a
realidade da educação brasileira, as barreiras
encontradas, as limitações impostas por suas
deficiências: sensoriais, mentais, físicas e motoras.
2 BREVE HISTÓRICO SOBRE A INCLUSÃO.
A Criação das escolas especiais foi o ponto de
partida que levou as crianças com deficiências a
frequentarem a escola, ainda um ambiente segregado,
devido essas crianças serem excluídas e
discriminadas na sociedade. Ao longo dos anos os
professores observaram esses alunos, e perceberam
que muitos deles tinham capacidades, potencialidades
dependendo do grau de deficiência a aprendizagem
era possível e significativa. A partir daí começa a
surgir a ideia de integração com crianças sem
deficiências.
Segundo Beyer (2005), por volta da década de
70 do século XX, surgiu na Alemanha a Escola
Flamming, que foi pioneira na integração de alunos
com e sem deficiências, que passavam a frequentar
as mesmas salas de aulas. Essa iniciativa partiu de
um grupo de pais e profissionais terapêuticos que
acreditavam que, com a integração de seus filhos com
crianças ‟normais”, haveria um melhor desempenho e
seria uma forma de integrá-los, ou melhor, de fazê-los
serem aceitos na sociedade.
Porém, a integração não foi bem aceita e
compreendida por outras escolas. Muitas só inseriam
esses alunos, os que não conseguiam se adaptar ao
sistema, eram deixados de lado, ou melhor,
segregados, e consequentemente abandonavam a
escola.
Somente no final da década de 80, também do
século XX, surgiu a chamada inclusão. No entanto, só
a partir dos anos 90, mais precisamente em 1994,
com A Declaração de Salamanca, na Espanha, que o
termo “inclusão” foi reconhecido no âmbito da
educação inclusiva.
Percebe-se, ainda, que o tema educação inclusiva, apontado na década de 1990, ficou restrito, por vezes, à educação de pessoas com deficiência [...] não se trata única e exclusivamente do segmento das pessoas com deficiência, no sentido de
97
incluí-los nas escolas regulares, deve-se incluir também toda criança, jovem e adulto que vive a condição de analfabetismo funcional, de diferença étnica, cultural, religiosa, de condição social [...] (VIZIM, 2003, p. 62).
De acordo com o autor, a educação inclusiva,
não deve se restringir somente às pessoas com
deficiência, mas a todos aqueles que são excluídos,
seja por raça, cor, etnia, situação social, analfabetismo
e etc.
A educação brasileira, por si só, já enfrenta
inúmeros desafios, porém, o que está acontecendo
hoje é uma mudança de paradigma, no que se refere
à educação na perspectiva inclusiva. Tendo em vista
que ela é amparada por documentos legais, desde os
nacionais como Política Pública de Educação Especial
na Perspectiva Inclusiva, a Constituição Federal de
1988, a Lei 7.853 de 24 de outubro de 1989, a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº
9.394/96, a Resolução CNE/CEB nº 2/2001 e
Resolução CNE/CEB nº 4/2009, aos de nível
internacional, como a Declaração de Salamanca,
realizada em 7 e 10 de junho de 1994 em Salamanca
na Espanha dentre outros.
No entanto, algumas dessas políticas
precisam sair do papel, para de fato, consolidar a
igualdade de direitos sem distinção, e poder contribuir,
para uma educação de qualidade para todos. Diante
disso, essas leis precisam ser compreendidas e
revistas, para que suas propostas possam ir além do
papel, para que a inclusão seja validada com o
acesso, permanência, socialização e participação dos
alunos com deficiências nas salas de aulas do ensino
regular.
Sabendo que o princípio da inclusão defende
a possibilidade com que a sociedade forneça as
condições ideais para que todas as pessoas possam
ter a possibilidade de ser um agente ativo na
sociedade, as ações de inclusão devem se fazer
presentes nos aspectos da vida do indivíduo, tais
como no campo educacional, social entre outros. A
escassez de informações ocasionará, nos casos em
que a criança não esteja estimulada, prejuízos nos
mais diversos aspectos de seu desenvolvimento, não
apenas no aspecto motor, cognitivo, emocional como
também social.
Dessa forma, é de suma importância que a
criança seja amplamente estimulada para que possa
alcançar níveis de desenvolvimento semelhantes aos
de seus colegas não deficientes. Esse estímulo deve
preceder o período escolar, porém a escola como
meio na qual essa criança seja inserida
consequentemente, o professor exerce papel
fundamental nesse processo de desenvolvimento.
Para Ramos (2010), ter uma equipe de
‟professores e funcionários” preparada para lidar com
as situações inusitadas, quando um aluno necessita
de ajuda para usar o banheiro, auxílio em atividades
ou mesmo fora da sala de aula. Sendo uma das
maiores preocupações dos educadores, a falta de
qualificação e de profissionais especializados por ser
uma situação comum nas escolas que atendem esses
alunos. É apenas com o conhecimento sobre as
necessidades, as capacidades, as potencialidades e
as habilidades de seus alunos, sejam eles deficientes
ou não, que o educador será capaz de desenvolver
práticas eficazes para a inclusão dos mesmos.
Dentro do contexto escolar, depara-se com
barreiras que impossibilitam a concretização, as quais
são classificadas, em conformidade com as atitudes
apresentadas pelos próprios professores. Essas
barreiras, ou mesmo dificuldades, encontradas podem
ser: barreiras relacionadas ao professor, à falta de
uma preparação profissional de qualidade, barreiras
físicas ou arquitetônicas e as atitudinais.
Dependendo de fatores como as
características individuais apresentadas, as atividades
propostas aos alunos com deficiências necessitam de
mais tempo, explicações específicas, de
98
demonstrações, auxílio que nem sempre esses
profissionais dispõem, o ideal seria direcionar a
formação do professor aliada a do profissional
especializado fundamental durante o processo
inclusivo. De acordo com Rodrigues (2002), a
possibilidade de trabalhar vários conteúdos de
diferentes maneiras, com atividades que permita a
participação de alunos com dificuldades para
responder a exigências as quais os professores
sentem necessidade em desenvolver é uma forma de
inclusão.
Em qualquer circunstância, é tarefa da escola identificar as barreiras à aprendizagem e encontrar caminhos para superá-las. [...] é necessário conhecer as condições do contexto dentro do qual as dificuldades se manifestam para evitar localizá-las no âmbito das limitações [...] dos alunos (DUK, 2005, p. 167).
Cabe ao professor o papel de ajustar suas
atividades rotineiras com os conteúdos para ser
aplicados à realidade dos seus alunos, respeitando,
sempre, a diversidade constante em sua sala. No caso
do aluno com deficiência, as principais modificações
dizem respeito às adaptações nas atividades a serem
propostas, nos conteúdos, com diferentes tipos de
atividades, podendo, dessa forma, realizar
modificações que permitam a participação de todos.
As atividades propostas são amplamente possíveis de
adaptações e apresentam, geralmente, características
lúdicas e recreativas estimulantes à participação e à
integração de todos. É importante o desenvolvimento
de pesquisas nessa área para sanar as grandes
dificuldades ainda encontradas. Muitas são as atitudes
e ações desenvolvidas para a inclusão do aluno com
deficiência no contexto educacional.
Esse é um processo gradual que necessita de
muitos adendos com relação às pesquisas, assim
como ao que diz respeito à conscientização das
possibilidades para a sua concretização. Os
educadores devem conscientizar-se da busca por
atitudes que incluam em todas as suas práticas
educacionais, com as quais a diversidade tem grande
valor para o crescimento e o desenvolvimento da
sociedade.
2.1 O DESAFIO DA INCLUSÃO
A inclusão de alunos com deficiência, na sala
de aula do ensino regular, vem sendo ainda um
desafio para o sistema de ensino que muitas vezes
prefere o modelo tradicional, sem perspectiva
inclusiva, inerte. Mesmo com a ‟implementação” das
políticas amparadas pela legislação, o desafio da
inclusão ainda implica em mudanças e reestruturação,
visto que as leis não estão sendo cumpridas e nem
dão suportes necessários na maioria das vezes, ou
seja, nem sempre oferecem subsídios e precisam ser
revistas para que dessa forma se possa realmente
fazer valer a inclusão dos alunos com deficiências no
ensino regular e oferecer um ensino de qualidade para
todos.
O desafio da educação inclusiva consiste em atribuir o devido peso a ambos princípios e mantê-los numa relação de equilíbrio, isto é, possibilitar a educação comum, sem menosprezar o atendimento dos alunos em suas necessidades específicas (BEYER, 2005, p.37).
Para Beyer (2005), a inclusão só será validada
se houver uma troca entre o ensino comum e o
atendimento especializado, porque um complementa o
outro, facilitando a aprendizagem como também o
atendimento de qualidade aos alunos.
Conforme Glat & Fernandes (2005), a
educação inclusiva será aquela que oferece um
ensino em consonância com as diferenças e as
necessidades de cada aluno, não devendo ser vista
de forma segregada, mas como parte do sistema
regular. Para tanto, o quesito indispensável para a
efetivação deste conceito é a formação adequada e
contínua do professor.
99
A chegada desses alunos propõe mudanças
no cotidiano escolar. Com isso é preciso repensar as
práticas pedagógicas utilizadas, a acessibilidade, a
formação dos professores entre outros. Para que a
inclusão aconteça, é fundamental que o sistema
ofereça condição e formação assumindo um
compromisso mediante toda comunidade escolar, que
todos os envolvidos estejam cientes dos deveres
sendo esses aspectos essenciais no processo
inclusivo.
O importante não é só capacitar o professor, mas também toda equipe de funcionários desta escola, já que o indivíduo não estará apenas dentro de sala de aula. [...] Alguém tem por obrigação treinar estes profissionais. Não adianta cobrar sem dar subsídios suficientes para uma boa adaptação deste indivíduo na escola. Esta preparação, com todos os profissionais serve para promover o progresso no sentido do estabelecimento de escolas inclusivas (ALVES, 2009, p. 45-46).
A escola, para ser inclusiva, precisa além do
apoio e do interesse de todas as partes envolvidas, do
estabelecimento de metas e de propostas que vão ao
encontro das necessidades advindas da inclusão, ou
melhor dos alunos com deficiências. Para que isso
aconteça, é necessário dar abertura para que novas
possibilidades sejam testadas, como um contato mais
estreito com os pais desses alunos, que muito têm a
contribuir, já que conhecem as limitações e
necessidades de seus filhos. Essa troca é de suma
importância, onde a inclusão será menos impactante e
aconteça de forma mais amena, onde as condições
oferecidas sejam benéficas a todos. Para que isso
ocorra, cabe à escola juntamente com seus gestores,
professores, e demais profissionais dar o primeiro
passo. Começando com a reavaliação de suas
metodologias e a flexibilização do currículo, para
atender à diversidade de forma mais precisa e eficaz.
Os professores, no geral, precisam realmente de uma boa formação para
ensinar a qualquer um. Saber que a formação é importante para tal processo, mas não basta que se preocupe apenas com a formação, pois a inclusão vai além disso (MANTOAN, 2005, p. 26).
De acordo com a autora, a formação é
indispensável, porém, a inclusão deve levar o
professor a buscar alternativas que vão além da
formação, ou melhor, soluções que viabilizem o
processo inclusivo. Para Mizukami, “aprender a ser
professor [...] não é, portanto, tarefa que se conclua
após estudos de um aparato de conteúdos e técnicas
de transmissão deles” (2002, p. 12).
O professor no contexto inclusivo deve
trabalhar com seus alunos a aprendizagem, por meio
de situações práticas vivenciadas no cotidiano escolar,
consideradas tão importantes quanto o conhecimento
adquirido na formação.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho ora apresentado revela que mesmo
que já esteja incorporada no discurso, a inclusão
escolar ainda é um enorme desafio tanto para os
professores, quanto para gestores e demais
profissionais da escola, que devem transpor uma
infinidade de barreiras. Porém, apesar dos obstáculos
observados, é possível afirmar que há um desejo de
criar uma escola inclusiva. As respostas mostraram
um processo de saberes em formação provocados
pela chegada desses alunos com deficiências nas
salas de aula regulares.
É no sentido de fortalecer as ações dos
professores e de toda comunidade escolar em relação
ao processo de inclusão, através da reflexão sobre
sua própria concepção da deficiência e sua prática
junto a estes alunos, que se propôs este trabalho.
Assim, pretende-se contribuir para pensar sobre as
possibilidades de construção de uma sociedade
menos excludente, com o aperfeiçoamento de
100
políticas públicas voltadas para a inclusão, onde todos Ministério da Educação/ Secretaria de
possam efetivamente ter os mesmos direitos
fundamentais como o acesso a uma educação de
qualidade e à cidadania.
Pode-se concluir ao término deste trabalho
que a proposta de inclusão hoje ainda é algo distante,
ocorrendo apenas a integração desses alunos. Diante
de todos os relatos e na vivência do cotidiano escolar
durante a pesquisa, pudemos identificar os entraves
encontrados, a falta de formação dos professores,
escassez de material pedagógico adequado, de uma
sala de recurso, de um profissional qualificado para
atuar juntamente com o professor, salas superlotadas,
a falta de diagnósticos dos alunos, falta de
conhecimento dos pais como também as barreiras
atitudinais externas advindas dos pais desses alunos.
Estabelecer uma proposta educacional que
contemple um novo entendimento sobre a inclusão
minimizando as necessidades, com a reestruturação
do sistema, investimentos, para a escola poder
oferecer um ensino de qualidade sendo assim o
processo acontecerá de forma gradual. É fundamental
que todos, professores, pais, alunos e comunidade
escolar, compreendam que a educação inclusiva é
possível sim, porém necessita da colaboração de
todos.
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102
ALFABETIZAÇÃOE LETRAMENTO LITERÁRIONA PERSPECTIVA DO PROCESSO ENSINO APRENDIZAGEM DAS SÉRIES INICIAIS: PAPEL DO PROFESSOR/FORMAÇÃO–
PAPEL DA ESCOLA/FAMÍLIA
Maria de Fátima Barbosa1
Maria Auxiliadora Costa2
Profª Drª. Maíra Cordeiro dos Santos3
RESUMO
O presente artigo, tem a finalidade de trazer aos leitores alguns questionamentosacerca da alfabetização ao longo da história em que consiste os determinantes das metodologias aplicadas pelos professores e pela escola e, o novo conceito – letramento.Temática que tem trazido um novo olhar para o professor das séries iniciais (1º ao 3º anos), que está participando e envolvido na formação continuada do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa – PNAIC. A proposta é alfabetizar letrando crianças até oito anos de idade dentro do ciclo, ou seja, que estas consolidem os direitos de aprendizagem, a partir das estratégias deincentivo à leitura e escrita, para desenvolver a aprendizagem com ênfase no letramento literário, que deve ter como finalidade preparar a criança um juízo de valor, o que significa uma afirmação qualitativa sobre um dado objeto, sendo este satisfatório o quanto mais se aproximar do ideal estabelecido. Aescola tem diante de si o desafio de formar leitores capazes de interagir com o texto, de mobilizar saberes de diversificadas áreas de conhecimento, através da leitura e da escrita, dando apoio e condições ao mediador desse processo que é o professor, além de contar com a parceria da família.
Palavras-Chave: Alfabetização, letramento literário, aluno, professor, escola, família.
ABSTRAT
This article aims to bring readers some questions about the literacy throughout history that is the determinant of the methodologies used by the teachers and the school, and the new concept - literacy. Theme that has brought a new look to the teacher of the lower grades (1 to 3 years), who is participating and involved in the continuing education of the National Pact for Literacy in the Age One - PNAIC. The proposal is literate letrando children up to eight years in the cycle, meaning that they consolidate the rights of learning, from strategies to encourage reading and writing, to develop learning with emphasis on literary literacy, which should have intended to prepare the child a value judgment, which means a qualitative statement about a given object, which is the more satisfactory the approach the ideal set. The school is faced with the challenge of educating readers able to interact with the text, to mobilize knowledge of different areas of knowledge through reading and writing , giving support and cond itions to the mediator of this process is the teacher , in addition to in partnership with family.
Keywords: Literacy, literary literacy, student, teacher, school, family.
1 MBA executivo em Gestão de Pessoas, Faculdade de Desenvolvimento e Integração Regional – FADIRE; Especialista em Psicopedagogia Institucional e Clínica Faculdade Integrada de Patos – FIP; Graduação Pedagogia/Habilitação Supervisão Escolar; Supervisora Escolar/Conde; Educadora Social– Centro de Referência Especializado da Assistência Social – CREAS/Baia da Traição; [email protected]
2 Especialista em Psicopedagogia Institucional; Graduação Pedagogia/Habilitação Supervisão Escolar; Secretária Hospital Universitário – HU; Supervisora Escolar/Conde; [email protected]
3 Doutora em Linguística (UFPB), Mestre em Linguística (UFPB), Tutora a distância da EAD/UFPB, Professora de Língua Portuguesa, Advogada.
103
INTRODUÇÃO
Este artigo ora escrito trás aos leitores alguns
questionamentos a cerca do que é alfabetização e
esse novo conceito – letramento. Em que consiste
alfabetizar e letrar? Que conhecimentos e
capacidades estão envolvidos na alfabetização e no
letramento? Qual a importância desses conceitos para
a prática de ensino da linguagem escrita?
Temática que tem trazido um novo olhar para
o professor das séries iniciais (1º ao 3º anos), na
perspectiva do Pacto Nacional pela Alfabetização na
Idade Certa – PNAICde que a criança deve ser
alfabetizada no ciclo até os oito anos de idade. O
conceito de letramento ainda se confunde com
alfabetização e se torna um pouco complexo no
processo de ensino aprendizagem. Diante dessa
complexidade faremos um recorte e focamos na
alfabetização com ênfase no letramento literário, que
nos remete a refletir sobre os caminhos possíveis,
procura ressaltar que o professor não pode perder de
vista que o objetivo primeiro de qualquer proposta de
leitura do texto literário infantil deve ser a formação de
um leitor que constrói o significado do texto ao mesmo
tempo em que amplia seu repertório linguístico, textual
e estético. Ou seja, favorecer o letramento literário
durante o processo de alfabetização implica ler uma
diversidade de textos infantis, priorizando a relação do
leitor com o universo literário criado pelo texto, para
despertar a imaginação criadora da criança e sua
sensibilidade estética.
Ao longo da evolução histórica se teoriza
conceitos, mas na prática nem sempre se
complementa, por que se vivenciam realidades
educativas diferentes.
Soares (2001, p. 18) define letramento como o
“resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e
escrever: o estado ou a condição que adquire um
grupo social ou um indivíduo como consequência de
ter-se apropriado da escrita”.
Para que o indivíduo como aluno das séries
iniciais na perspectiva do Pacto Nacional pela
Alfabetização na Idade Certa se torne alfabetizado e
letrado é fundamental o desenvolvimento da leitura a
partir da diversidade de gêneros textuais. Assim, é
preciso conhecer a natureza do enunciado e as
particularidades de gêneros, uma vez que,
desconhecer tais fatores implica também o
desconhecimento do vínculo existente entre a língua e
a vida, desconhecimento através dos enunciados que
ambas se interpretam.
A partir destas reflexões de Bakhtin (2000)
sobre os gêneros, pensamos a questão do letramento
que para nós situa-se na confluência dos gêneros
primários e dos gêneros secundários. Marcuschi
(2001, p.21) define letramento da seguinte maneira: o
letramento é um processo de aprendizagem social e
histórica da leitura e da escrita em contextos informais
e para uso utilitários, por isso é um conjunto de
práticas, ou seja, letramentos como bem disse Street
(1995). Distribui-se em graus de domínio que vão de
um patamar mínimo a um máximo.
Os estudos do letramento têm como objeto de
conhecimento os aspectos e os impactos sociais do
uso da língua escrita (KLEIMAN, 1995). De origem
acadêmica, o conceito foi paulatinamente se
infiltrando no discurso escolar, contrariamente ao que
a criação do novo termo pretendia desvincular os
estudos da língua escrita dos usos escolares, a fim de
marcar o caráter ideológico de todo uso da língua
escrita (STREET,1984) e distinguir as múltiplas
práticas de letramento da prática de alfabetização, tida
como única e geral, mas apenas uma das práticas de
letramento da nossa sociedade, embora
possivelmente a mais importante, até mesmo pelo fato
de ser realizada pela também mais importante agência
de letramento, a instituição escolar.
Talvez tenha sido o contraste estabelecido
entre alfabetização e letramento, desde quando o
conceito começou a circular no Brasil, em meados da
104
década de 80, o que limitou a relevância e o impacto
do conceito de letramento para o ensino e a
aprendizagem aos primeiros anos de contato do aluno
com a língua escrita, pois é àquele período em que o
discente está em processo de aquisição dos
fundamentos do código da língua escrita. Assim,
enquanto professores alfabetizadores se preocupam
comas melhores formas de tornar os seus alunos
letrados, os professores de língua materna se
preocupam com as melhores formas de introduzirem
os gêneros, criando-se aí uma falsa dicotomia, pois o
aluno da quarta, sexta ou oitava série do ensino
fundamental, assim como o aluno de ensino médio
está também, ao longo da escolarização, em processo
de letramento. Aliás, nesse segmento, estão todos os
que utilizam a língua escrita em seu cotidiano.
Segundo (BRITO 2005) alfabetização, nas
últimas décadas, sobretudo considerando-se as
contribuições da Psicolinguística e das teorias não
comportamentalistas passaram por significativas
transformações, deixando de ser visto apenas como o
processo de ensino aprendizagem do sistema da
escrita.
O Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade
Certa veio com uma proposta de alfabetizar na
perspectiva do letramento, e isso formou um ciclo
onde a responsabilidade é de todos, ou seja, o
professor passa por uma formação através de um
orientador de estudos o qual passa também por um
formador com objetivos de ver o resultado na ponta, a
aprendizagem do aluno que deve ter o apoio e
envolvimento da escola como um todo em parceria
com a família. Entende-se que a família e a escola são
as principais instâncias sociais nas quais a criança
está inserida e no interior das mesmas se constroem
os processos de socialização, a base no meio da
família, depois na escola. Apesar de que a relação
entre essas duas instâncias ao longo da história nem
sempre ocorreu de maneira harmônica e em
complementaridade. Ainda hoje é vista como um
desafio e as mudanças se dão de acordo com o
contexto social vivenciado tanto pelas famílias, quanto
pelas escolas.
Partindo desse princípio, considera-se que o
processo de mudanças das ações desenvolvidas ao
longo da história em relação a alfabetizara criança
dentro da faixa etária, perpassa por vários períodos.
ALFABETIZAÇÃO
Se analisarmos a história da alfabetização,
podemos perceber que a mesma se divide em três
principais períodos: o primeiro composto da
antiguidade e Idade Média; o segundo, que se inicia
entre os séculos XVI e XVII, e vai até os anos 1960 do
século XX; e o terceiro, em curso na história.
No primeiro período prevaleceu o método da
soletração, através do mesmo se iniciava o processo
de alfabetização das vinte e quatro letras do alfabeto,
de forma decorada dizendo os seus nomes, sem
visualizar suas formas. Era um método demorado e
difícil do ponto de vista da aprendizagem,
principalmente pelo seu grafismo complexo e gótico.
No segundo e longo período, registra-se o
aparecimento do método fônico, onde se relaciona as
letras aos seus sons, daí a alfabetização tornou-se um
processo menos demorado, no entanto só com o
surgimento do método silábico derivado do fônico, no
qual as sílabas se juntam para formar palavras é que
o processo de alfabetização ganha novo ímpeto. É
nesse momento, por volta de 1655, que surge o
método global com Comeniuns, no qual a palavra está
associada à representação gráfica de seu significado,
podendo ser aprendida como um todo.
A partir dos anos de 1960 já no século XX, as
sociedades passaram a ser ainda mais grafocêntricas,
certo de que as pessoas passaram a conviver mais
com situações em que a escrita está presente,
ordenando e regulando as relações sociais,
distribuindo papéis e criando distinções entre grupos.
105
Assim sendo o conceito de alfabetização se amplia,
podendo ser designado como alfabetismo ou
letramento, não se limitando apenas ao saber ler e
escrever, mas ao saber fazer o uso social dessas
ferramentas que para Soares (1998, p. 18) é: “o
resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e
escrever: o estado ou a condição que adquire um
grupo social ou um indivíduo como consequência de
ter-se apropriado da escrita”.
Entretanto, a mesma autora afirma que
mesmo sabendo ler e escrever, se não se faz uso da
leitura e da escrita, a pessoa é alfabetizada, mas não
é letrada, meta a ser alcançada por via da
incorporação da linguagem escrita na vida cotidiana.
Partindo desse princípio, ganhou relevo a
alfabetização na perspectiva do letramento, segundo a
qual se entende que o processo de aprendizagem do
sistema escrito de uma língua deve está associado ao
desenvolvimento da capacidade do sujeito de se
apropriar dos usos sociais dessa língua. Assim,
defende-se que aprender a ler e escrever não são o
suficiente, uma vez que, para responder as frequentes
exigências de leitura e escrita da sociedade, faz-se
necessário também fazer uso adequado dessas
práticas. Essa é, então, a concepção de alfabetização
que fundamenta o Pacto Nacional pela Alfabetização
na Idade Certa (PNAIC).
LETRAMENTO LITERÁRIO INFANTIL
O Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade
Certa veio ascender às discussões teóricas sobre o
texto literário infantil de forma unânime em apontar a
relevância de sua leitura para o desdobramento das
capacidades afetivas e intelectuais da criança. Isso
porque, ao corresponder às necessidades e interesses
do seu destinatário tal texto torna-se uma via de
acesso à realidade e pode facilitar a ordenação das
experiências existenciais do leitor mirim. De acordo
com tal contestação evidencia-se a importância de
que a literatura infantil tenha lugar de destaque nos
contextos de letramento da criança, dentro e fora da
escola.
Partindo desse princípio, a figura do professor
assume um papel fundamental, por que ele se torna
um dos principais mediadores da relação da criança
com o texto. Portanto, é fundamental que o mesmo
seja um conhecedor da literatura infantil,
compreendendo suas peculiaridades e refletindo sobre
as formas de abordá-la em sala de aula tendo em
vista o desenvolvimento do aluno. Além do mais o
professor precisa gostar e ter o hábito de ler com
prazer. A leitura do texto literário infantil não deve ter o
pretexto de explorar conteúdos escolares, o professor
precisa favorecer o letramento literário da criança
encarada com “um processo de apropriação da
literatura enquanto construção literária de sentidos”
(COSSON; PAULINO, 2009, p. 67). Deve, portanto,
estar atento ao caráter estético-literário da obra
infantil, abordando-a de forma a enfatizar suas
qualidades artísticas, que impulsionam o leitor para a
construção do sentido, permeada pela fruição do
texto.
Cosson (2006) chama a atenção para o
letramento literário, particularmente voltado ao ensino
da literatura em sala de aula. Para o autor (2006, p.
120), ser leitor de literatura na escola implica, para
além de fruir com um livro literário, posicionar-se
diante dele, “afirmando ou retificando valores culturais
e expandindo sentidos”. Este aprendizado depende
exclusivamente do encontro pessoal do leitor com o
texto literário, que, frequentemente, é propiciado pelas
propostas de abordagem tais textos no contexto da
sala de aula.
Considerando a relevância das propostas de
abordagem da literatura infantil na escola para a
formação do leitor criança, principalmente na
perspectiva do PACTO, que tem como objetivos
assegurar os direitos de aprendizagem a partir da
apropriação do sistema de escrita alfabética e a
106
consolidação do processo de alfabetização é preciso
partir da compreensão de que leitura é uma atividade
estratégica, uma vez que o leitor age de modo
deliberado, monitorando frequentemente sua
compreensão. Como tais estratégias não surgem
como um passe de mágica na competência leitora dos
sujeitos é necessário planejar situações em que
possamos investir no seu ensino (SOLÉ, 2003).
Fica evidente a importância da figura mediadora
do professor nesse processo de aprendizagem da
criança, a partir do desenvolvimento da leitura e
escrita. Portanto, a formação continuada desse
profissional é fundamental, para que o mesmo se
atualize e adquira metodologias e estratégias
adequadas à realidade do contexto escolar e também
do aluno. Vejamos o que diz alguns autores sobre a
questão em debate.
PAPEL DO PROFESSOR/FORMAÇÃO
O professor e a escola como um todo podem
ser um elo muito importante entre o educando, a
família e a sociedade, no intuito de observar ou até
mesmo apontar soluções a problemas que interferem
diretamente no objetivo maior da educação, que é a
aprendizagem do aluno (SANTOS, 2008).
O PACTO Nacional pela Alfabetização na
Idade Certa é um programa que tem como proposta
alfabetizar a criança até os oito anos de idade, no
período de seiscentos dias, ou seja, a criança deve
consolidar os direitos de aprendizagem no sistema de
leitura e escrita. Para que isto aconteça é de extrema
importância o papel do professor como mediador
sensível e preparado a desenvolver estratégias e
atividades para alfabetizar o aluno na perspectiva do
letramento, evidenciando a importância de que a
literatura infantil tenha lugar de destaque nos
contextos de letramento da criança, dentro e fora da
escola.
Partindo desse princípio, a figura do professor
assume um papel fundamental, uma vez que é ele um
dos principais mediadores da relação da criança com
o texto.
Libâneo (1998) ressalta também que a vida
contemporânea afeta as práticas de convivência
humana, ou seja, com os avanços dos meios de
comunicação mexem direto com o trabalho do
professor, uma vez que os próprios alunos levam o
seu cotidiano, a rua, a cidade, a televisão e os
problemas para a classe. Desta forma, o professor
precisa estar preparado para lidar com essas
diversidades, procurando reciclar seu conhecimento,
rever o cotidiano e refletir criticamente a realidade,
buscando os fatores envolvidos.
A realidade nos mostra uma generalização por
parte de alguns educadores, olhando para um grupo
de alunos como um todo, muitas vezes não permitindo
a expressão desta singularidade, que pode se
apresentar na forma de um erro ortográfico, mau
comportamento, chegando muitas vezes estes alunos
a serem rotulados pelo próprio educador, como alunos
com problemas de aprendizagem.
Segundo Mendes (1992), é necessário rever
esta tendência de atribuir a responsabilidade somente
ao aluno, o que é comum no cotidiano das escolas há
muito tempo. No processo de ensino e no processo da
aprendizagem existem dois sujeitos envolvidos: o que
ensina e o que aprende e através dessa reflexão, é
essencial pensar no que acontece com o aluno
(possíveis motivos para sua dificuldade: defasagem
cognitiva, alteração na dinâmica familiar, etc) e
também com o professor (estratégias pedagógicas
não adequadas às necessidades destes alunos).
Jusani (2009) assinala que pouco tem se
pensado sobre o valor da afetividade na
aprendizagem, destacando também a importância de
uma relação saudável e confiável entre educador e
educando. Segundo o autor, o ser humano é fruto da
sua interação com o mundo e através destas
107
interações se dá a formação da sua personalidade e
habilidade, adquirindo e reformulando conhecimentos
a partir da sua relação com o outro e com isso,
desenvolvendo os seus sentimentos.
Vale destacar que o professor deve observar o
aluno como um ser humano em construção,
respeitando seus conhecimentos vindos do ambiente
onde convivem. Contudo, o despertar dos vínculos
afetivos estreitam os laços entre professor e aluno,
sendo eles essenciais para o processo cognitivo.
O educador necessita, segundo Jusani (2009),
refletir, rever seus conceitos, sobre seus métodos e
seus velhos paradigmas para despertar em seu aluno
a vontade de aprender. De acordo com o autor, para
que um educador tenha um bom êxito no processo de
construção do conhecimento e no estímulo do seu
aluno, é preciso bem mais do que metodologias
modernas e titulações, o professor precisa ter
consciência de que está em suas mãos a
responsabilidade de construir o conhecimento do seu
aluno, se sendo a sua função tornar esse momento
agradável e prazeroso.
É importante compreender que educar está
além da transmissão de conhecimentos, pois é preciso
dá oportunidade do aluno aprender e buscar suas
próprias verdades, mas devemos utilizar de vários
meios como o afeto que vincula uma relação sólida
entre aluno e professor e proporcionando prazer em
estudar, nisso Cunha (2008, p 51) diz que:
Em qualquer circunstância, o primeiro caminho para a conquista da atenção do aprendiz é o afeto. Ele é um meio facilitador para a educação. Irrompe em lugares que, muitas vezes, estão fechados às possibilidades acadêmicas. Considerando o nível de dispersão, conflitos familiares e pessoais e até comportamentos agressivos na escola hoje em dia, seria difícil encontrar algum outro mecanismo de auxílio ao professor mais eficaz.
Tendo como uma importante ferramenta ao auxílio
do professor, o afeto supera as muralhas emocionais
e pode romper bloqueios psicológicos e também de
promover um bem estar no aluno. Saltini (2008, p. 12)
enfatiza que “inicialmente, educar seria, então,
conduzir ou criar condições para que, na interação, na
adaptação da criança de zero até seis anos, fosse
possível desenvolver as estruturas da Inteligência
necessárias ao estabelecimento de uma relação
lógico-afetivo com o mundo”.
Portanto, Saltini (2008) relata que é através da
interação afetiva do aluno com o professor e com seus
colegas de classe que ocorre a troca de informações
através do diálogo, em que o aluno vai se desenvolver
intelectualmente na interação das atividades.
Partindo-se do princípio que a questão da
afetividade é um dos pontos principais no
desenvolvimento da aprendizagem do aluno,
compreende-se que o ser humano tem a necessidade
de ser ouvido e acolhido, acima de tudo em ser
compreendido. Neste sentido, a afetividade está
também ligada na construção da autoestima, sendo
pautada em partilha de sentimentos e respeito
mútuos.
Contudo, Libâneo (1998) o professor deve adotar
uma postura de afeto no contexto grupal, não se
referindo para apenas uma criança. Ou seja, quando
se fala de afeto no contexto grupal entende-se que a
escola como um todo tem um papel importante na
construção e desenvolvimento dessa criança em
parceria com a família. E essa construção deve ser
fortalecida desde a infância através do afeto. Vejamos
algumas reflexões adiante.
PAPEL DA ESCOLA/FAMÍLIA
Segundo Kaloustian (1988), a família é o lugar
indispensável para a garantia da sobrevivência e da
proteção integral dos filhos e demais membros,
independentemente do arranjo familiar ou da forma
108
como vêm se estruturando. É a família que propicia os
aportes afetivos e, sobretudo materiais necessários ao
desenvolvimento e bem-estar dos seus componentes.
Portanto, é importante salientar que a escola precisa
aderir à parceria com a família, para que juntos
proporcionem uma melhor qualidade no processo de
ensino aprendizagem da criança.
Gokhale (1980) acrescenta que a família não
é somente o berço da cultura e a base da sociedade
futura, mas é também o centro da vida social. A
educação, bem sucedida da criança na família é que
vai servir de apoio à sua criatividade e ao seu
comportamento produtivo quando for adulto.
Ao ressaltar, a forma de organização social, o
papel elementar da família quanto à proteção,
afetividade e educação, questiona-se: onde buscar
fundamentação para a relação educação
escola/família? O dever da família com o processo da
escolaridade e a importância da sua presença no
contexto escolar é publicamente reconhecido na
legislação nacional e nas diretrizes do Ministério da
Educação aprovadas no decorrer dos anos 90, tais
como: Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei
8069/90), nos artigos 4º e 55; Política Nacional de
Educação Especial, que adota como umas de suas
diretrizes gerais: adotar mecanismos que oportunizem
a participação efetiva da família no desenvolvimento
global do aluno. Lei de Diretrizes e Bases da
Educação (Lei 9394/96), artigo 1º, 2º, 6º e 12; Plano
Nacional de Educação (aprovado pela lei nº
10172/2007), que define como uma de suas diretrizes
a implantação de conselhos escolares e outras formas
de participação da comunidade escolar (composta
também pela família) e local na melhoria do
funcionamento das instituições de educação e no
enriquecimento das oportunidades educativas e dos
recursos pedagógicos.
Portanto ao nos colocarmos de forma crítica
sobre a função e o papel que a escola ocupa na
sociedade contemporânea é primeiro, refletir sobre as
maneiras de agir do professor no contexto das
práticas pedagógicas. A formação docente precisa
incluir, cada vez mais, a crítica
epistemológica (BECKER, 2001) em suas práticas
profissionais, a fim de pensar o seu papel na escola
contemporânea e a sua ação enquanto agente social
ativo.
Uma das práticas mais destacadas que
diferenciam o homem de outros animais é a longa
duração da infância. Delval (1998), sobre a função do
ensino, dispõe que, embora o homem nasça em
estado de imaturidade, possui uma disposição para
aprender. “Nascemos com uma série de disposições
inatas que serão desenvolvidas dependendo do meio,
tanto físico quanto social, em que seremos criados,
logo, o desenvolvimento humano não pode ser
concebido sem a existência de uma
sociedade” (DELVAL, 1998, p.17).
Nos primórdios, a educação ficava por conta
dos adultos, os quais eram responsáveis por transmitir
a cultura da sociedade aos jovens que, por sua vez,
tornavam-se adultos tão iguais aos seus "educadores"
quanto possível, além de que nessa época as
primeiras escolas só eram frequentadas por aqueles
considerados “predestinados” a ocupar determinadas
funções sociais e, além de transmitir conhecimentos,
era função da escola, preservar os valores e os fins da
sociedade, objetivando que cada indivíduo ficasse
limitado a ocupar as posições sociais em que
nasceram. Pensando assim, acreditavam que a
educação igualitária e abrangente seria prejudicial à
sociedade e, somente com o Iluminismo, no século
XVIII, passa-se a pensar em igualdade entre os
homens e, consequentemente, em um ensino ao
alcance de todos.
Somente no início do século XIX é que
começa a implantação do ensino obrigatório, e ainda
em meio a muita polêmica. Muitos argumentavam que,
quando são proporcionados conhecimentos a
indivíduos de classe baixa, a tendência provável é que
109
esses aspirem modificar o lugar que lhes cabe na
sociedade [1] acarretando conflitos e alterações na
ordem social. Sobre esse entendimento percebe-se
que pouca mudança ocorreu até os dias atuais, pois,
se diz que todos têm direito à educação, contudo nas
entre linhas fica subentendido por alguns essa
provável tendência de que indivíduos de baixa renda
aspirem modificar o lugar que lhes cabe na sociedade.
A escola que surge não é aceitação das ideias
e dos ideais vislumbrados por filósofos e pedagogos, é
antes o resultado das necessidades econômicas e
sociais. O conhecimento ocupava um lugar secundário
na escola, ficando a transmissão de valores morais e
religiosos em primeiro plano, predominando, ainda, o
papel da escola como instrumento de solidificação da
ordem social (DELVAL, 1998, p. 20-21).
Nos fins do século XIX, iniciou-se o movimento de
reforma da escola. O pressuposto era que a escola
atendesse às necessidades das crianças e se
preocupasse em transmitir os conhecimentos
científicos e tecnológicos, capacitando a sociedade
para as novas linhas de trabalho. Em outras palavras,
a reforma constituía um movimento de ajuste social.
Surgem, conseguintemente, outros movimentos de
evolução educacional, entre ele, a "educação
libertadora" que critica a ação passiva dos alunos que,
dentro da escola, ficam restritos a posição de simples
ouvintes - a função da escola é formar indivíduos
livres, a educação deve libertar o indivíduo.
Fazer uma reflexão crítica sobre a função e o
papel que a escola ocupa na sociedade
contemporânea é, antes, refletir sobre as formas de
agir do professor no contexto das práticas
pedagógicas. A formação docente precisa incluir, cada
vez mais, a crítica epistemológica (BECKER, 2001)
em suas práticas profissionais, a fim de pensar o seu
papel na escola contemporânea e a sua ação
enquanto agente social ativo.
Levando em consideração o aumento no número
de alunos com dificuldades de aprendizagem e
também o papel da escola no desenvolvimento dessas
dificuldades, ressalta-se a importância da relação
professor-aluno. Faz-se necessário pensar na
importância dessa relação para o futuro da educação
do nosso país.
Segundo Pain (2009), no ambiente escolar se faz
necessário o reconhecimento de cada aluno com a
sua subjetividade, com o seu modo de aprender. Ou
seja, considerar que ele é um ser humano único em
desenvolvimento.
O contexto de hoje não é tão diferente. O que
temos visto ainda com muita frequência é o uso da
literatura infantil na escola como pretexto para o
ensino de conteúdos escolares. Essa tem sido a maior
motivação do professor, ao planejar suas aulas, para
trabalhar os livros de literatura infantil. Muitas vezes, o
pretexto educativo é o principal norteador do trabalho
com esses livros e, ao planejar, o professor acaba
utilizando a literatura para o ensino da Língua
Portuguesa e suas normas. De tal maneira vemos o
critério estético ser deixado de lado, em troca da
introjeção de valores morais, de conteúdos de
diversas áreas disciplinares, e regras gramaticais etc.
Essa escolarização da literatura está enraizada
principalmente no professor, que muitas vezes não é
um leitor e, tão pouco, apreciador da obra literária
infantil, como afirma Lajolo (1986, p. 53):
[...] se a relação do professor com o texto não tiver um significado, se ele não for um bom leitor, são grandes as chances de que ele seja um mau professor. É a semelhança do que ocorre com ele, são igualmente grandes os riscos de que o texto não apresente significado nenhum para os alunos, mesmo que eles respondam satisfatoriamente a todas as questões propostas.
Essa realidade nos preocupa, porque para muitos
a escola representa um dos principais meios de
acesso à literatura, haja vista, que é nesse espaço em
que se dá o primeiro contato da criança com os livros
literários. Mas é preciso fazer uma ressalva quanto a
110
esse cenário, com o avanço da tecnologia é
necessário considerar outros mecanismos que
proporcionam o contato da criança com a literatura. É
o caso da TV e do DVD, que também tem seu papel
no acesso da criança a literatura, após a adaptação de
diversas obras para esse meio digital, com um número
considerável de desenhos e filmes de narrativas
infantis, contos clássicos da literatura brasileira e
mundial, e por isso representam meios não menos
importantes nessa difusão da literatura, seja adulta,
seja infanto-juvenil. Mas acredita-se que é na escola
que se dá o estreito contato da maioria dos indivíduos,
adultos ou crianças, com a leitura, seja de qual gênero
for. A esse respeito, adverte Magnani (2001, p. 64):
Considerando que existe uma quantidade mínima necessária de bibliotecas e que a indústria cultural, através dos meios de comunicação de massa, principalmente a TV, exerce grande influência na ocupação do tempo livre de nossas crianças e jovens, o espaço para a leitura se restringe à escola.
Vale salientar que essa realidade afeta principalmente
os menos favorecidos, pois o meio em que vive, na
maioria das vezes, não há incentivo a leitura,
principalmente quando os responsáveis pela criança
também não sabem ler nem escrever.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao realizar este estudo sobre alfabetização e
letramento, foi possível perceber a complexidade dos
conceitos ao longo da história, estes quando deixam
de ser apenas uma teoria formada e passam para
prática cotidiana do professor. Alfabetizar na
perspectiva do letramento é uma tarefa complexa e de
muita responsabilidade para o professor quando
pouco sabe a respeito deste assunto, no entanto, para
o que está envolvido na formação continuada na
perspectiva do Plano Nacional pela Alfabetização na
Idade Certa, já se percebe a integração do mesmo em
relação à temática e automaticamente o seu
envolvimento no processo de ensino aprendizagem da
criança. Nessa perspectiva o professor internaliza a
proposta, atua como mediador e ao utilizar as
estratégias da leitura diversificada e a escrita, ele tem
como objetivo formar leitores capazes de interagir com
o texto, de mobilizar saberes de diversificadas áreas
do conhecimento dentro e fora da escola.
Para finalizar é possível considerar que para
alfabetizar letrando não se trata de um ato isolado que
dependa apenas da vontade do aluno, mas é uma
corresponsabilidade também do professor que deve
sempre modificar suas práticas investindo na
formação continuada, da escola valorizando esses
saberes levando em conta a realidade cultural e social
que as crianças estão inseridas e da participação
efetiva da família como parceira da escola com o
objetivo de auxiliar na aprendizagem da criança. É
possível desenvolver uma aprendizagem de qualidade
sem fazer julgamento e compreender que cada
criança tem seu momento e seu tempo, nesse
processo a afetividade é um elemento que fortalece a
relação escola x família.
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112
PSICOMOTRICIDADE RELACIONAL NO FAVORECIMENTO DA APRENDIZAGEM
Alexandra Paiva de Menezes1
Fabiula Feitosa Rodrigues2
RESUMO
Este artigo versa sobre a Psicomotricidade Relacional na escola e de como este método favorece a aprendizagem, teve como objetivo principal destacar a importância de sua inclusão e defender a ampliação em outras escolas do município de Fortaleza. A metodologia empregada foi a pesquisa bibliográfica e a de campo numa abordagem qualitativa, sistemática e participativa por meio de sessões de Psicomotricidade Relacional semanais com cerca de uma hora de atendimento para cada grupo. Realizada com os alunos dos 1º e 2º anos dos turnos manhã e tarde da Escola Municipal Raimundo Moreira Sena, uma escola pública de Fortaleza, do Distrito V, localizada em um bairro carente da cidade com muitas exclusões sociais e violência. A coleta de dados foi feita através de análises das avaliações realizadas pelas professoras das turmas em estudo e observações diárias comportamentais dos alunos em sala de aula e no recreio. Este método se apoiou no brincar espontâneo, favorecido pelo jogo funcional e de ficção. Evidenciado pelo que o aluno pode fazer, trabalhou nas dificuldades pessoais e relacionais dos educandos, de maneira simbólica, criativa e construtiva, potencializando suas conquistas e crescimento nos planos físico, cognitivo, emocional e social. Seu intuito foi de prevenção, com enfoque na saúde e não em doença a Psicomotricidade Relacional foi levada à escola visando ir além do desenvolvimento das habilidades motoras dos educandos. Com base na comunicação corporal, procurou-se estimular a capacidade relacional dos envolvidos no contexto escolar. Utilizou-se para mediar as relações o corpo e os objetos que foram os mediadores de contato, substituto, ou relacional. Foi constatado que a Psicomotricidade Relacional deve ser implantada em todas as escolas públicas de Fortaleza por favorecer a aprendizagem do aluno, assim como melhorar as relações das crianças com os adultos e com outras crianças.
Palavras-Chave: Psicomotricidade Relacional; Brincar Espontâneo; Escola; Aprendizagem.
ABSTRACT
This article deals with the Relational Psychomotricity in school and how this method favors the learning, aimed to highlight the importance of including it and defend the expansion in other schools of the city of Fortaleza. The methodology employed was the bibliographic research and fieldwork in a qualitative approach, systematic and participative way through sessions of Relational Psychomotor per week with approximately one hour of treatment for each group. Performed with the students of 1st and 2nd years of shifts, morning and afternoon of the Municipal School Raimundo Moreira Sena, a public school in Fortaleza, in the district V, located in a neighborhood in need of the city with many social exclusions. Data collection was conducted through analysis of the assessments made by the teachers of classes in study and behavioral observations of students in the classroom and playground. This method is supported in the play spontaneously, favored by the game functional and fiction. Evidenced by what the student can do, he worked in the personal difficulties and relational of learners, in a symbolic way, creatively and constructively, potentiating their achievements and growth in the physical, cognitive, emotional and social development. Its purpose was to prevention, with a focus on health and not disease in the Relational Psychomotricity was taken to school in order to go beyond the development of motor skills of students. On the basis of the communication index, we tried to stimulate the capacity of relational involved in the school context. It was used to mediate the relationships of the body and the objects that were the mediators of contact, substitute, or relational. It was noted that the Relational Psychomotricity must be deployed in all public schools from Fortaleza to encourage student learning, as well as improve relations of children with adults and with other children.
Keywords: Relational Psychomotricity; Play spontaneously; School; Learning.
1 Pedagoga, Especialista em Gestão Escolar, Especialista em Psicomotricidade Relacional, mestranda em Ciências da Educação.
2 Pedagoga, Especialista em Administração em Recursos humanos, mestranda em Ciências da Educação.
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INTRODUÇÃO
A Psicomotricidade Relacional visa privilegiar
a qualidade da relação afetiva, por meio das relações
tônicas corporais e emoções vivenciadas na relação
com o outro, com os objetos e com o espaço. É no
setting da Psicomotricidade Relacional que
vivenciamos as relações de autenticidade com
espontaneidade, de maneira a favorecer a conquista
da autoestima, da autonomia e consequentemente da
aprendizagem objeto de estudo desse trabalho.
Neste sentido indagamos: A Psicomotricidade
Relacional favorece a aprendizagem? Em que
aspectos do desenvolvimento infantil? Que evidências
comprovam a contribuição deste método psicomotor?
Diante destes questionamentos partimos das
hipóteses que a Psicomotricidade Relacional contribui
para o aprendizado da criança ajudando-a na busca
de sua autonomia, bem como o brincar espontâneo
permite o desenvolvimento integral da criança,
conquistando avanços significativos nas relações
pessoais e sociais.
Objetivando destacar a importância da
inclusão de atividades de psicomotricidade relacional
na escola e defender sua ampliação em outras
escolas do município de Fortaleza, no ano de 2015,
foram atendidos alunos de 1º e 2º anos da E.M.
RAIMUNDO MOREIRA SENA, por ocasião do projeto
piloto para implantação da Psicomotricidade
Relacional nas escolas do município de Fortaleza.
Como procedimentos metodológicos foram
realizados, revisões bibliográficas e pesquisa de
campo, utilizando a abordagem qualitativa, sistemática
e participante através de sessões semanais de
Psicomotricidade Relacional de uma hora de duração,
com crianças do 1º e 2° anos da escola acima citada e
antes do início desta intervenção e ao final delas,
houve a abordagem quantitativa através de análises
das avaliações feitas pelas professoras das turmas
atendidas e observações diárias no recreio e em sala
de aula.
Para responder se esta prática contribui para
o desenvolvimento da aprendizagem realizamos a
pesquisa que tem como título “Psicomotricidade
Relacional no favorecimento da aprendizagem” que
apresenta como se estrutura o setting da
Psicomotricidade Relacional, faz um breve relato
sobre a escola em estudo e expõe como esta
metodologia contribui para a qualidade das relações e
consequentemente no desejo de aprender dos
educandos.
1. A PSICOMOTRICIDADE RELACIONAL NA ESCOLA
Na década de 1970 foi criado a
Psicomotricidade Relacional por André Lapierre
educador físico francês, que acreditava que o corpo
não era apenas cognição, mas sim um lugar onde se
sente as emoções por meio das relações, seja de
prazer, frustração, desejo, angústias, dentre outros.
No início dos anos 1980 esta metodologia chega ao
Brasil e Leopoldo Vieira dar continuidade na
disseminação deste trabalho em nosso país.
(LAPIERRE, 2010).
Esta metodologia se especifica sobre o
conteúdo simbólico das relações e tem se mostrado
“[...] como uma poderosa ferramenta de intervenção,
desenvolvendo-se como um processo eficaz de ajuda
nas relações pessoais e interpessoais nos âmbitos
familiares, escolares, da clínica, da empresa, dentre
outros.” (VIEIRA; BATISTA; LAPIERRE, 2005, p.32).
Tanto na empresa, como na escola ela se desenvolve
para efeito de prevenção e profilaxia, e na clínica com
enfoque na terapia, tratando da doença.
Com intuito de prevenção, no enfoque da
saúde e não da doença a Psicomotricidade Relacional
foi levada à escola visando ir além do
desenvolvimento das habilidades motoras dos
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educandos. Com base na comunicação corporal,
procura-se estimular a capacidade relacional dos
envolvidos no contexto escolar, na qual a
preocupação não se limita ao cognitivo e a higiene
física, mas também com a higiene mental. (VIEIRRA;
BATISTA; LAPIERRE, 2005).
Por ser um método que prioriza as
potencialidades e não as dificuldades, vemos na
Psicomotricidade Relacional uma ferramenta para
provocar nas crianças o desejo de aprender, em meio
aos diversos obstáculos que ela vivencia em seu
cotidiano, tais como problemas cognitivos, emocionais
e relacionais, sem mencionar que em vários casos
ainda existem a fome e a violência física e psíquica.
Através dessa observação acreditamos que o
fracasso escolar não está pautado apenas nas
dificuldades psicomotoras racionais e nas noções e
organizações de espaço e tempo, mas igualmente em
outros distúrbios relacionais, emocionais como
acrescenta Lapierre e Lapierre (2002, p.14) “[...] a
criança também tem distúrbios de comportamento:
inibição ou agitação, agressividade ou passividade,
inatenção, dispersão, ansiedade etc.” que influencia
diretamente no desenvolvimento da aprendizagem.
Os aspectos externos, em partes, afetam os
desejos, os sonhos e os valores dos educandos,
fazendo com que muitos deles não tenham
motivações para aprender. Segundo Galvão apud
Wallon (1995), no processo de desenvolvimento
infantil acontece fases alternadas de afetividade e
cognição, assim sendo a aprendizagem não se dá
apenas pela maturação do indivíduo, mas também
pela relação com o outro, acreditamos que esta última
é a principal forma de aprendizagem.
Neste contexto vemos na psicomotricidade
relacional uma aliada para o desenvolvimento destas
crianças, pois de acordo com Vieira, Batista e Lapierre
(2005) é através do brincar espontâneo, do diálogo
corporal entre objetos, pessoas e símbolos, da relação
entre o psiquismo e a motricidade que acontece o
desenvolvimento das potencialidades, respeitando o
indivíduo em seu próprio tempo de evolução e suas
dificuldades, numa relação afetiva baseada no
respeito e na aceitação.
Desta forma, as vivências de psicomotricidade
relacional, concede aos participantes uma liberdade
de se expressar e se relacionar consigo mesmo, com
o outro e com os objetos, expressão essa, sem
julgamentos, sem culpas, onde é possível para a
criança demonstrar seus anseios, medos, conflitos e
superações. (LAPIERRE; LAPIERRE, 2002)
Nesta perspectiva, este método permite aos
envolvidos uma relação de pertença, de confiança e
de valorização, desenvolve um desejo de evoluir, criar
e construir, num processo de estruturação e
descobrimento de si própria.
Esta prática de ensino-aprendizagem utiliza-se
da brincadeira espontânea, para promover o
atendimento das necessidades afetivas e emocionais
da criança, visando “[...] privilegiar a qualidade da
relação afetiva, a disponibilidade tônica, onde o corpo
e a motricidade são abordados como unidade e
totalidade do ser”, num processo de comunicação
afetiva que permeiam a evolução da personalidade e a
inserção social. (VIEIRA; BATISTA; LAPIERRE, 2005,
p. 28).
Ainda de acordo com Vieira, Batista e Lapierre
(2005, p. 140), “a aprendizagem e o desenvolvimento
se produzem pelas formas de relações afetivas com o
outro, de acordo com as possibilidades e limites de
cada um, em comum acordo”. No setting da
Psicomotricidade Relacional o jogo promove novos
conhecimentos, desenvolve uma variedade de
conteúdos, procedimentos, atitudes e valores.
Wallon (1981) nos fala das formas que os
jogos se apresentam primeiramente os funcionais,
depois os de ficção, os de aquisição e os de
fabricação, nesse caso gostaríamos de chamar a
atenção para os jogos de ficção, pois:
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Com a ficção, introduz-se na vida mental o uso de simulacros, que são a transição necessária entre o indício, ainda ligado a coisa, e o símbolo, suporte das puras combinações intelectuais. Ajudando a criança a transpor este limiar, o jogo desempenha um papel importante na sua evolução psíquica. (WALLON, 1981, p. 85)
Desta forma, disponibilizando para criança,
um espaço que possibilite o encontro do prazer do
movimento e do brincar, onde são desenvolvidas
atividades lúdicas que permite a promoção do
desenvolvimento da criatividade e da espontaneidade,
favorecerá a aprendizagem e conseqüentemente a
descoberta do eu. Como enfatiza Winnicott (1975, p.
80) “É no brincar, e somente no brincar, que o
indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar
sua personalidade”.
Nas sessões de Psicomotricidade Relacional,
as crianças têm um espaço seguro, o seu corpo e do
outro assim como, os objetos mediadores das
relações, no qual ela se encontra livre para imaginar,
criar e viver suas emoções sem culpabilização.
Através do jogo natural, acontece o desenvolvimento
motor, cognitivo, social e emocional; o favorecimento
da qualidade da relação afetiva com os iguais e com o
adulto; e possibilita a construção do sentimento de
segurança e confiança.
Durante o Setting utilizamos os mediadores da
comunicação que são a voz e o olhar - que penetra o
corpo do outro e os objetos que podem se distinguir
como mediador de contato – quando preenche o
espaço que separa um corpo do outro, substituto –
quando carregado de afetividade substitui o lugar do
adulto amado, e relacional – quando se torna meio de
troca, tanto dado, quanto recebido. (LAPIERRE;
LAPIERRE, 2002).
Na prática psicomotora, utilizamos diferentes
estratégias que facilitam a maturidade infantil, tais
como: A colaboração e o acordo, a surpresa, a
afirmação, o reforço, o convite, a provocação, a
contenção, a frustração, a imitação, a afetividade e
favorecimento da autonomia, tudo isso dentro de um
espaço seguro em que o psicomotricista relacional
representa a lei, não culpabilizada, mas sim de forma
clara.
Essas estratégias são utilizadas no setting,
espaço no qual acontece o jogo simbólico, livre de
julgamentos de valor, através da disponibilidade
corporal e dos objetos clássicos da Psicomotricidade
Relacional são eles: a bola que está ligada à
maternagem; o bambolê que pode representar a casa,
um ventre, uma prisão; as cordas favorecem as
ligações com o outro; os bastões ligados à
agressividade o poder; os tecidos ligados ao desejo de
proteção ou regressão; jornais permite a liberação das
pulsões agressivas; as caixas provocam pedidos de
maternagem, cuidado e proteção. (VIEIRRA;
BATISTA; LAPIERRE, 2005).
Além desses objetos que utilizamos para
estabelecer as relações, ainda podemos acrescentar
os mediadores corporais, tais como: o gesto, utilizado
principalmente com crianças retraídas, desconfiadas
ou oponentes; a voz utilizada para conseguir uma
maior empatia e motivação das crianças; o olhar
utilizado para observar o olhar do outro como portador
de uma história individual, e que por sua vez, constrói
lentamente uma nova história individual, e que por sua
vez constrói uma nova história relacional; a escuta
utilizada para o ajuste recíproco do tônus, que se
produz numa relação estreita corpo a corpo. (VIEIRA;
BATISTA; LAPIERRE, 2005).
Cada um desses mediadores de comunicação
e ou corporais, tem seus simbolismos próprios que
favorecem o contato corporal, o simbolismo, a
criatividade, a construção, criando possibilidades de
desenvolvimento de vários conteúdos referentes a
conceitos, procedimentos, atitudes e valores
(VIEIRRA; BATISTA; LAPIERRE, 2005) tão
necessários para a elaboração de uma identidade
equilibrada.
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As vivências corporais apoiadas pelos objetos
provocam nos alunos descobertas de potencialidades,
e integração de limites e contribuem para o ajuste
positivo da expressão da agressividade desajustada
tão observada no contexto atual, quando:
As tensões agressivas vão então se resolver num jogo que se tornará cada vez mais simbólico, e a criança vai por isso adquirir progressivamente uma independência que não é submissão cega nem oposição sistemática, mas aceitação ponderada, procura de um compromisso e, se possível, de uma harmonização entre seus próprios desejos com os desejos do outro. (LAPIERRE; LAPIERRE, 2002, p.67).
De modo geral, a agressividade é percebida dentro da
escola, como um fator negativo de violência e não
como um grande potencial a ser explorado e
desenvolvido. Entretanto é valido ressaltar que as
competições individuais e sociais fazem parte da vida
e agressividade ajustada se faz necessária para que o
indivíduo possa se posicionar nas diversas situações
da vida e não desista facilmente dos seus sonhos e
desejos.
A psicomotricidade relacional evidencia que as
dificuldades comportamentais e em alguns casos de
aprendizagem dos alunos nas escolas, encobrem e
revelam problemas afetivos decorrente da falta da
relação de qualidade, do toque, da atenção, do
cuidado de alguém que apenas escute o grito de
socorro, muitas das vezes não pronunciado
verbalmente.
Por meio do brincar espontâneo e da
disponibilidade corporal, estabelecemos relações
significativas, no plano afetivo, e podemos ajudar a
cada uma destas crianças expostas a tantas
exclusões sociais, a elaborar seus conflitos e a
construir uma personalidade mais equilibrada.
2. CONHECENDO A ESCOLA
Na época da inauguração da Escola Municipal
Raimundo Moreira Sena houve muita polêmica, a
escola foi construída na área de lazer da comunidade,
não ofertou matrículas para as crianças do entorno e
nem vagas de trabalho para os pais, pois ela foi
inaugurada em 20 de julho de 2002, no meio do ano
letivo, para comportar quatro anexos (prédios
alugados pela prefeitura).
Devido ao erro operacional, da construção ao
funcionamento da escola, houve muitas ameaças de
morte ao diretor e de invasões. Os pais dos alunos
chegavam à escola correndo para pegar seus filhos
antes do término da aula, por que ouviam falar que
algumas pessoas estavam se preparando com paus e
com armas para invadir o prédio escolar.
Em uma determinada ocasião foi preciso
chamar a polícia, veio até helicóptero, para proteger
todos da escola, entretanto nunca houve de fato
qualquer invasão, porém fora da escola os
professores viviam sendo assaltados, o clima era
muito tenso, uma mistura de medo, insegurança e
incerteza.
Quando inaugurada esta escola funcionava
nos três turnos: manhã as séries iniciais até a 2ª série,
hoje 3º ano, tarde 3ª e 4ª série, hoje 4º e 5º ano, e a
noite EJA (Educação de Jovens e Adultos), eram um
mil e duzentos alunos, muita criança fora de faixa, pré-
adolescente e adolescente, por isso não existiu a
mesma série nos dois turnos.
Seu espaço físico comportava 14 salas de
aula, 1 biblioteca, 1 sala de informática, 1 sala de
jogos/leitura, 1 secretaria, 1 sala de professores, 1
sala da direção, 1 sala da coordenação, 1 sala de
vídeo, 1 cozinha, 2 dispensas, 2 almoxarifados, 10
banheiros, 1 quadra de esportes e estacionamento.
Esta escola fica situada na Granja Lisboa, um
dos bairros do Grande Bom Jardim, uma área
periférica de Fortaleza com graves problemas sociais,
tais como falta de saneamento básico, casas em
grande parte construída em terrenos apossados ou
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conjuntos habitacionais ofertados pelo município,
tráfico de drogas e condições de pobreza acentuadas.
Grande parte dos alunos desta instituição, vivem em
situações de fome, insegurança, expostos a um alto
índice de violência física, emocional e social, muitas
delas em total exclusão social, estas situações
incidem profundamente na psiquê das crianças, estas
carentes de afeto e atenção, tornam-se retraídas ou
violentas.
Em 2014 esta instituição foi escolhida como
uma das 30 escolas que receberam o Projeto
Psicomotricidade na Escola, Alfabetização na Idade
Certa, por ter índices baixos de aprendizagem e alto
índice de violência.
No ano de 2015 demos início ao projeto com
um quadro de profissionais escolar composto por: 5
pessoas na gestão (1 diretor, 2 coordenadoras,1
secretário e 1 agente administrativo), 11 professores
efetivos, 11 docentes substitutos, 1 Psicomotricista
Relacional, e 10 funcionários de apoio; em termos
pedagógicos: Turnos manhã e Tarde, da Educação
Infantil ao Ensino Fundamental I, com 2 turmas de
Infantil IV, 2 turmas de Infantil V, 5 turmas de 1º ano, 2
turmas de 2º ano, 3 turmas de 3º ano, 3 turmas de 4º
ano, 3 turmas de 5º ano, 2 turmas de PCA I e 2
turmas do Programa Mais Educação.
Formas diferentes de manifestações
comportamentais são observadas na escola e com um
olhar cuidadoso e um pouco de conversa detectamos
as diversas situações críticas em que estas crianças
são expostas em suas residências ou na rua, fatos
estes que incidem negativamente na aprendizagem
dos alunos.
2. DA TEORIA À PRÁTICA
No início do ano letivo de 2015, durante a
semana pedagógica, da Escola Municipal Raimundo
Moreira Sena, foi realizada a apresentação da
Psicomotricidade Relacional para os professores e
gestores da escola, informando o que era essa
metodologia, como aconteceria o atendimento com as
crianças e quais turmas seriam beneficiadas.
Posteriormente realizamos a reunião com os pais e ou
responsáveis pelos os alunos que seriam favorecidos,
além do que foi apresentado para o grupo escolar,
acrescentando na reunião a assinatura das
autorizações para divulgações de imagens.
As turmas pré-estabelecidas para o
atendimento no Projeto Psicomotricidade Relacional
na escola, com o propósito de favorecer o
aprendizado da leitura e escrita na idade certa, foram
as de 1º e 2º anos e para completar as oito salas,
incluímos o Infantil V do turno vespertino, porém para
efeito de estudo só consideramos as classes de 1º e
2º anos.
Para realizar o atendimento, das 170 crianças,
as oito turmas foram divididas em dois grupos,
totalizando 16 sessões semanalmente, com cerca de
uma hora de duração cada, entretanto as sessões
foram diferenciadas para cada turma, por motivos de
feriados escolares, trabalhos pedagógicos da escola e
infraestrutura do prédio escolar (às vezes ventiladores
quebrados e/ou goteiras na sala em época de chuva).
Como já foi falado anteriormente, no Setting
utilizamos o corpo como principal mediador das
relações e os objetos que juntos favoreceram o
desenvolvimento dos alunos nos planos: psicomotor –
coordenação motora ampla e fina, imagem e esquema
corporal, orientação temporal e espacial, equilíbrio
dinâmico e estático e ritmo; cognitivo – atividades que
desenvolva as funções tátil, visual, gustativa, auditiva
e olfato; social – limites, afeto, acordo, respeito,
espera, frustração, prazer; emocional – autocontrole,
autoestima e autonomia.
A criança não é só cognição, ela tem
sentimentos e vive em sociedade, esses aspectos
precisam estar estruturados e ajustados para que ela
aprenda os conteúdos escolares e os jogos simbólicos
proporcionaram momentos de construção e
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desenvolvimento emocional, relacional, físico e
psíquico.
Ao brincarmos saímos do plano real e
entramos no mundo da imaginação, podemos ser
príncipes, princesas, monstros, pessoas boas,
malvadas, proteger, machucar até matar, tudo
simbolicamente, livre de culpa, pois na sala da
Psicomotricidade Relacional somos livres para sermos
nós mesmas. Podemos expor nossos medos e
fantasmas; podemos vivenciar sendo fortes,
importantes e capazes de lutar por nossos sonhos e
desejos; podemos gritar, chorar, sorrir, receber limites,
mas também colo e afeto, enfim podemos experienciar
situações no simbólico que nunca poderíamos na
nossa realidade.
A psicomotricista relacional vai até a sala de
aula e recebe o grupo e já no percurso até o espaço
onde acontecerá a sessão é trabalhado as noções
espaciais direita, esquerda, em cima, em baixo. Ao
chegar à sala as crianças se deparam com a primeira
regra é preciso tirar os sapatos, algumas têm certa
relutância em ficar descalços, mas se faz necessário
para que saiamos do plano real e entremos no plano
imaginário.
Ao estarmos descalços, sentamos no tapete
(que representa nossa casa, lugar de segurança e
proteção) e ali nos apresentamos e conversamos
sobre as pouquíssimas regras que é: brincar à
vontade, sem se machucar e não machucar o outro e
o tapete é o lugar para descansar e se cuidar.
Depois de repassadas as regras a
psicomotricista entrega o material que será o
mediador das relações. Então começa o jogo
simbólico, dependendo do material escolhido serão
invocados nas crianças inúmeros sentimentos, como
prazer, alegria, frustração, medo, inibição,
agressividade que se apresenta para afirmar poder,
para proteger seu material ou para destruir. O
profissional realiza as intervenções, por meio de um
brincar, levando em consideração o conteúdo
pedagógico e simbólico vivido na relação. As ações
das crianças inicialmente desajustadas vão se
transformando no decorrer da sessão em lindas
construções.
Após o jogo dinâmico, começa o relaxamento,
algumas crianças resolvem voltar para casa (tapete),
onde encontra o cuidado e proteção da mãe simbólica
(psicomotricista), outros ainda inseguros preferem os
cantos das paredes, para descansar. Nesse momento
acontece uma entrega corporal, as relações de afeto
são mais intensas, enquanto alguns recebem com
facilidade, outros evitam os contatos.
Quando o tempo do relaxamento acaba,
guardamos os materiais deixando a sala organizada
do jeito que encontramos quando chegamos, depois
de tudo pronto voltamos para o tapete e realizamos a
rodinha final, onde conversamos sobre os sentimentos
vividos, prazeres e frustrações de cada participante.
Logo após a rodinha final nos despedimos e
então calçamos os sapatos, simbolizando a volta para
o mundo real. As crianças saem do espaço simbólico
onde foram permitidas situações imaginárias que
contribuíram para a construção do eu e retornam para
sala de aula mais propícia à aprendizagem.
No início do atendimento, as crianças
apresentavam dificuldades de relacionamentos, de
respeitar os limites e as regras, agressividades
desajustadas, falta de atenção, inquietação, inibição,
insegurança, fatores esses que dificultavam a
aprendizagem escolar. Segundo Batista (2015), o
psicomotricista relacional estimula a curiosidade da
criança e enfrentamento de seus desafios que
envolvem a vivência da aceitação de limites e
frustrações, a confiança em si e da perseverança,
atuando com a aceitação dos conteúdos apresentados
no setting.
Durante as sessões foram construídas
relações de confiança entre os envolvidos, na qual de
forma simbólica, as crianças viveram o prazer e o
desprazer, externaram sua agressividade (que para
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nós significa pulsão de vida) sem culpabilização,
através das relações estabelecidas com o outro, com
o objeto e com o espaço. Como diz Vieira, Batista e
Lapierre (2005, p.145).
O jogo, na sala de Psicomotricidade Relacional, promove um lugar de relação e de vivência, em função do contato direto com os objetos e com os outros, o que facilita a manifestação das ideias prévias e das vivências que as crianças possuem com seu corpo, com sua identidade, com papéis familiares e sociais, com a qualidade dos objetos, das relações espaço-temporal, ou dos modos de expressão.
Com isso, ao fim do ano letivo os alunos
apresentaram avanços significativos na
aprendizagem, conforme podemos observar nas
tabelas abaixo que detalha o número de crianças
avaliadas, em quais níveis de escrita de palavras e de
leitura os alunos estavam no início e no final do
atendimento.
TABELA 1 - NÍVEIS DE ESCRITA DE PALAVRAS
uma criança apresentava esse nível, assim como dos
setenta e sete alunos dos 1º anos apresentavam o
nível pré-silábico em fevereiro e, apenas um
permaneceu nesse nível em dezembro, as demais
avançaram significativamente. TABELA 2. NÍVEIS DE LEITURA
NÍVEIS
2º ANO FEV
2º ANO OUT
1º ANO FEV
1º ANO DEZ
NÃO IDENT. LETRAS
1
0
17
0
APENAS LETRAS
11
0
48
15
APENAS SÍLABAS
13
1
19
16
LÊ PALAVRAS
7
3
3
19
LÊ FRASES
5
1
1
6 LÊ TEXTO SILABANDO
2
7
0
11
LÊ TEXTO C/ FLUÊNCIA
3
30
0
17
Nº DE CRIANÇAS AVALIADAS
42
42
88
88
FONTE: AVALIAÇÃO MENSAL DAS PROFESSORAS DE SALA
Observa-se na tabela 2 que em fevereiro
apenas três alunos do 2º ano apresentavam fluência
NÍVEIS
2º ANO FEV
2º ANO DEZ
1º ANO FEV
1º ANO DEZ
na leitura de textos, e no mês de dezembro o
quantitativo aumentou para trinta alunos. Na turma do PRÉ-SILÁBICA 10 0 77 1
SILÁBICA 16 1 9 29
SILÁB.
ALFABÉTICA 7 3 3 15
ALFABÉTICA 9 7 0 26
ALF. –
ORTOGRÁFICA 0 31 0 17
Nº DE CRIANÇAS AVALIADAS 42 42 88 88
FONTE: AVALIAÇÃO MENSAL DAS PROFESSORAS DE
SALA
Na tabela 1, podemos observar que das
quarenta e duas crianças atendidas nos 2º anos, em
fevereiro, nenhuma apresentava o nível de escrita de
palavras alfabético-ortográfica e em dezembro trinta e
1º ano inicialmente nenhuma criança conseguia ler
com fluência e no fim da avaliação dezessete crianças
liam fluentemente, o que aponta uma melhoria
substancial na aprendizagem dos estudantes.
Além desses avanços, os alunos
apresentaram um melhor relacionamento em sala de
aula e no recreio, maior concentração na realização
das atividades, menor agressividade desajustada e
maior afetividade entre as crianças atendidas no
Projeto Psicomotricidade Relacional na escola, com
outras crianças e com os adultos. Como confirmam os
relatos seguintes:
A Psicomotricidade Relacional interfere de forma positiva, uma vez que utiliza o lúdico na exploração das potencialidades das crianças. A afetividade é
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extremamente trabalhada, subsidiando a psicomotricista na intervenção individual. Em relação à aprendizagem, no que se refere a esta escola, as atividades da Psicomotricidade surgiram como uma ferramenta de apoio, pois cativa os alunos para as sessões, explora as energias contidas, ajudando, com certeza, na concentração dos alunos. Apesar de nossa estrutura não ser ainda a ideal, acredito na capacidade das intervenções da Psicomotricidade ao favorecimento da aprendizagem de nossos alunos e de uma melhoria substancial de suas relações. (Diretor)
Avalio o trabalho da Psicomotricidade Relacional na Escola Raimundo Moreira Sena com muito significativo para o desenvolvimento social, afetivo, motor e cognitivo de nossos alunos. Pois observar, que as crianças que foram submetidas a esse trabalho, apresentaram mudanças em seus relacionamentos sociais, afetivos e cognitivos; em especial quando se tratava de alguns casos onde as crianças permaneciam em situação de isolamento, ou falta de interesse pelos acontecimentos em sua volt; foi notório a mudança de postura dessas crianças que apresentaram autonomia, mais envolvimento com seus pares, professores e com as atividades escolares e assim ampliaram suas possibilidades de melhor desempenho escolar. (Coordenadora pedagógica)
Ainda nesse sentido, destacamos os
depoimentos das professoras do 1º e 2º anos
respectivamente:
As aulas estão cada vez melhores, pois a turma aguarda com alegria o dia da Psicomotricidade, sendo assim mostram maior atenção na sala durante o conteúdo, os conflitos estão diminuindo e há um melhor relacionamento entre os alunos. (Professora do 1º ano) Melhorou a concentração na aprendizagem e na disciplina, tendo um melhor relacionamento com professor e seus colegas. A participação na sala de aula melhorou bastante, pois houve envolvimento maior na aprendizagem. (Professora do 2º ano)
Como diz Vieira, Batista, Lapierre (2005) A
Psicomotricidade Relacional é uma prática que
permite a criança, ao jovem e ao adulto, a expressão e
superação de conflitos relacionais que aplicada ao
cotidiano escolar justifica-se por interferir
preventivamente sobre o processo de
desenvolvimento.
CONCLUSÃO
A Psicomotricidade Relacional fortaleceu
vínculos significativos entre os participantes das
sessões e os envolvidos com estes, nestes momentos
foram criadas relações profundas, cheias de
afetividade, de escuta, de compreensão e aceitação
que transformaram para melhor todas as relações
futuras. No setting procuramos não julgar e sim
compreender as crianças, seus pedidos, desejos, seus
anseios e através da escuta do que não é falado
verbalmente, procuramos dar importância a cada
conteúdo, para que as relações corporais favoreçam a
construção de sua personalidade.
A escola em estudo oportunizou profissionais
dispostos a proporcionar um ensino de qualidade,
tanto gestores, como professores se mostraram
comprometidos com o aprendizado do aluno e mesmo
este inserido em um contexto social excludente,
conseguiu através da intervenção psicomotora
relacional, perceber sua importância e a do outro para
um bom convívio social.
Os resultados da pesquisa indicaram que a
Psicomotricidade Relacional aplicada ao cotidiano
escolar diminuiu problemas de comportamento dos
alunos aumentando suas habilidades de aceitar limites
e regras, afirmar sua identidade, cooperar, ajustar
positivamente sua agressividade, e de se relacionar
afetivamente com os outros. Esses aspectos
potencializa a aprendizagem por favorecer uma
melhor adaptação da criança na escola.
121
Comprovou-se que a utilização das relações
corporais, facilitadas pelo uso de objetos mediadores
de contato e pelas intervenções possibilitaram que os
envolvidos vivenciassem no simbólico, o que seriam
impossível realiza-lo no plano real.
Os jogos simbólicos interviram positivamente
na construção da personalidade da criança, ampliando
a capacidade de escolha, o estímulo da criatividade
para construção compartilhada, a aprendizagem para
lidar com a diversidade, a autonomia, as relações de
ajuda, e o fortalecimento da autoconfiança e
autoestima.
Ao fim da pesquisa constatamos que a
Psicomotricidade Relacional favorece a
aprendizagem, nos aspectos sociais, emocionais,
cognitivos e físico, evidenciados pelas observações
dos profissionais escolares, assim como as avaliações
de leitura e escrita realizadas em sala de aula.
Confirmamos que as hipóteses elencadas no
início do nosso artigo se mostraram verdadeiras, que
a Psicomotricidade Relacional contribui para o
aprendizado da criança ajudando-a na busca de sua
autonomia, bem como o brincar espontâneo permitiu o
desenvolvimento integral da criança, conquistando
avanços significativos nas relações pessoais e sociais,
consequentemente da aprendizagem.
Tendo em vista os aspectos observados
concluímos que a inclusão de atividades sistemáticas
de Psicomotricidade Relacional no cotidiano escolar
apresenta-se, não somente oportuno, mas de extrema
importância, desde que de forma lúdica, por meio da
comunicação tônica, privilegia a qualidade da relação
afetiva da criança com o adulto, com as outras
crianças, com o espaço escolar, potencializando
sobremaneira a aprendizagem e melhores condições
de sucesso da criança em sua vida futura!
Atualmente apenas dez escolas do Município
de Fortaleza trabalham com a Psicomotricidade
Relacional, considerando a quantidade de crianças
atendidas nas escolas públicas este número é muito
baixo, diante do resultado da pesquisa é de suma
importância sua ampliação para todas as escolas,
bem como estudos mais aprofundados desta natureza
que possibilite debates nas áreas da Psicomotricidade
Relacional e Educação.
REFERÊNCIAS BATISTA, Maria Isabel Bellaguarda; et al. Relatório do projeto-piloto para a implantação da psicomotricidade Relaciona nas escolas públicas municipais de Fortaleza / Maria Isabel Bellaguarda Batista, José Leopoldo Vieira, Rosalina Rocha Araújo Moraes, Rita Vieira de Figueiredo, Adriana Leite Limaverde Gomes, Walberto Silva dos Santos. Fortaleza, CE: RDS Editora, 2015. 174.;il. GALVÃO, Izabel. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. 4 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1995. LAPIERRE, André. Da psicomotricidade relacional à análise corporal da relação. Curitiba: Ed. da UFPR, 2010. 247 p. LAPIERRE, Anne; LAPIERRE, André. O Adulto diante da criança de 0 a 3 anos. Psicomotricidade Relacional e formação da personalidade. Curitiba: Ed. da UFPR: CIAR, 2002. VIEIRA, Jose Leopoldo; BATISTA, Maria Isabel Bellaguarda; LAPIERRE, Anne. Psicomotricidade Relacional: A teoria de uma prática. 2 ed. Curitiba: Ed. Filosofar, 2005, 170 p. WALLON, Henri. A Evolução Psicológica da Criança. Lisboa: Edições 70, 1981. WINNICOTT, D.W. O brincar e a realidade. Imago, 1975.
122
POLÍTICAS PÚBLICAS PARA INCLUSÃO DE PESSOAS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS
Ester de Melo e Silva1
Celidyana Alves Nogueira2
RESUMO
O presente artigo tem por objetivo tecer considerações acerca da expansão e implementação de políticas públicas voltadas para a educação inclusiva de pessoas com necessidades especiais no Brasil. Nesse sentido, a literatura assinala para grandes transformações educacionais: mudanças nos parâmetros curriculares nacionais, na legislação referente à acessibilidade à escola, mudanças na obrigatoriedade do ensino, na fundação de outro tipo de escola. A formulação de políticas públicas voltadas para a garantia dos direitos fundamentais das pessoas com deficiência está, por conseguinte, sendo progressivamente incorporada à agenda política e, consequentemente, o acesso a bens e serviços para todos, com equiparação de oportunidades, tornou-se uma demanda evidente para os agentes políticos. Nesse sentido, citam-se os principais documentos voltados para a inclusão das pessoas com necessidade educacionais especiais: a Constituição de 1988; o Estatuto da Criança e do Adolescente, 1990; o Plano Decenal de Educação (1993‐2003); a Política Nacional de Educação Especial (1994); a LDB nº 9.394/96; o Plano Nacional de Educação e as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (2001); a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008); o Decreto nº. 6.571, de 17 de setembro de 2008, que dispõe sobre ao atendimento educacional especializado; o Parecer CNE/CEB nº. 13/2009, que dispõe sobre as diretrizes operacionais para o atendimento educacional especializado na Educação Básica, modalidade Educação Especial e, mais recentemente, a Resolução CNE/CEB 4/2009 que institui Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, modalidade Educação Especial.
Palavras-chave: Educação Inclusiva; Políticas Públicas; Necessidade Educacionais Especiais.
1 Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB; Especialista em Psicopedagogia pela Faculdade Integrada de Patos – FIP; Especialista em Neuropsicologia pelo Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ. 2 Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB: Especialista em Psicopedagogia pela Faculdade Integrada de Patos – FIP.
123
1 INTRODUÇÃO
O presente artigo tem por objetivo tecer
considerações acerca da expansão e implementação
de políticas públicas voltadas para a educação
inclusiva no Brasil. Nesse sentido, a literatura assinala
para grandes transformações educacionais: mudanças
nos parâmetros curriculares nacionais, na legislação
referente à acessibilidade à escola, mudanças na
obrigatoriedade do ensino, na fundação de outro tipo
de escola.
Existe o direito universal à educação e à
escola para todos os brasileiros, assim como as
escolas brasileiras têm a obrigatoriedade legal de
acolher a todos. A abertura das escolas para as
diferenças é, principalmente, uma decorrência da
legislação e, com base na mesma, de políticas
públicas, o que implica em uma mudança radical nos
processos de ensino e aprendizagem. Inclui uma
proposta de ruptura entre as fronteiras existentes em
diferentes disciplinas, entre saber e realidade.
Trata-se de uma valorização da multiplicidade,
da integração de saberes, das redes de conhecimento
que, a partir daí se formam e se constituem. Assinala
para a transversalidade das áreas curriculares e para
a autonomia intelectual do aluno, sujeito do
conhecimento e que, por isso mesmo, imprime valor
ao que constrói. Esse processo não pode prescindir
da interação social. É importante refletir sobre os
impactos das ações emanadas de políticas públicas
para professores e alunos, em se tratando de
educação inclusiva.
A educação inclusiva é uma possibilidade de
romper as barreiras que inviabilizam a aceitação das
diferenças entre as pessoas. Mas trata-se de um
processo complexo, que exige capacitação, exercício
da tolerância, conhecimento e que também necessita
de avaliação permanente.
2 POLÍTICAS PÚBLICAS – ELEMENTOS CONSTITUINTES
Ao tratar-se da construção do conceito de
políticas, remete-se ao princípio do termo que o
originou, assinalando as mudanças advindas ao longo
dos tempos. Segundo Shiroma, Moraes e Evangelista
(2007, p.7), o termo “política” prenuncia uma
multiplicidade de significados, presentes nas múltiplas
fases históricas do Ocidente. Em sua acepção
clássica, deriva de um adjetivo originado de polis –
politikós – e refere-se à cidade e, por conseguinte, ao
urbano, ao civil, ao público, ao social.
Silva também contribui afirmando
que políticas referem-se ao conjunto de atos, de medidas e direcionamentos abrangentes e internacionais, estabelecidos no campo econômico e estendidos à educação pública pelo Banco Mundial, dirigidas aos Estados da América Latina e assumidos pelos governos locais, que tratam de disciplinar, de ordenar e de imprimir a direção que se deseja para a educação nacional (SILVA, 2002, p. 7).
A definição do que sejam políticas públicas
ainda é um campo em discussão, porém elas são
compreendidas, para alguns autores, como ações que
nascem do contexto social, mas que passam pela
esfera estatal, como uma intervenção pública numa
realidade social, quer seja para fazer investimentos ou
para uma mera regulamentação administrativa.
De forma habitual, costuma-se relacionar a
expressão “políticas públicas” a simples aplicações de
recursos públicos ou mesmo aos deveres legais do
Estado com o cidadão, sendo tal entendimento
incompleto. Essa idéia restringe a compreensão do
termo, uma vez que política pública não se resume
apenas ao gerenciamento de recursos e ações
estatais. Boneti atenta para o fato de uma grande
124
complexidade anteceder e justificar o nascer de uma
idéia e a sua operacionalização, destacando que
toda política é originada de uma idéia e esta de um princípio, de uma pressuposição ou de uma vontade. Neste sentido, a palavra princípio não carrega consigo apenas o significado literal do termo, mas algo a mais, o contexto dos fatores determinantes que dão origem a uma idéia de política pública, como o caso da conjugação de interesses, as inserções ideológicas, as concepções científicas, as correlações de forças sociais, etc. (BONETI, 2006, p. 9).
No que concerne a tal entendimento e visão
acerca de princípios, o autor supracitado ressalta que
“dentro dele estão contidos ideários da realidade que
se deseja mudar, construir ou reconstruir com uma
determinada política pública. Isto porque País, Estado
ou Município reafirmam ou não áreas de interesse
para atendimento prioritário” (BONETI, 2006, p.10).
Ainda segundo Boneti (2006), a relação entre
o Estado, as classes sociais e a sociedade civil,
proporciona o surgimento de agentes definidores das
políticas públicas. A partir do contexto da produção
econômica, cultura e interesses dos grupos
dominantes, são construídas as políticas públicas, sua
elaboração e operacionalização, de acordo com as
ações institucionais e em particular.
Por sua vez, Bucci (2002) entende que as
políticas públicas são consideradas atividades típicas
do Estado social de direito e conseqüências diretas da
necessidade de participação social em sua efetivação.
A autora compreende por política pública, a
organização sistemática dos motivos fundamentais e
dos objetivos que orientam os programas de governo
relacionados à resolução de problemas sociais.
Conforme Teixeira (2002), políticas públicas
se constituem em diretrizes, princípios norteadores de
ação do poder público, regras e procedimentos
determinantes para estabelecer as relações entre
poder público e sociedade, assim como as mediações
entre atores da sociedade e do Estado. Ainda
segundo o autor, as políticas públicas são, nesse
caso, políticas explicitadas, sistematizadas ou
formuladas em documentos (leis, programas, linhas de
financiamentos) que orientam e dão suporte às ações
que envolvem aplicações de recursos públicos. Perez
esclarece que
as políticas públicas permitem romper com as barreiras que separam a administração pública da sociedade. Esta passa a participar da concepção, da decisão e da sua implementação. Podem- se citar as audiências públicas e as consultas públicas, como exemplos práticos da participação na elaboração das políticas públicas. Já o plebiscito administrativo, o referendo, as comissões de caráter deliberativo são exemplos da participação no processo de decisão. Exemplos de execução de políticas públicas são as comissões de usuários, a atuação de organizações sociais ou de entidades de utilidade pública e a expansão dos serviços públicos (PEREZ, 2004, p. 43).
Sob a ótica de Kauchakje (2008), as políticas
públicas competem sim ao Estado, mas há que se
considerar a participação da sociedade civil na
elaboração, na implementação, na fiscalização e no
controle destas através da participação em conselhos,
organizações não-governamentais e movimentos
sociais, por exemplo.
Atualmente, compreendem-se políticas
públicas como ações desenvolvidas pelo Estado que
visam a assegurar boas condições de vida para os
cidadãos e suprir satisfatoriamente suas necessidades
básicas, tendo ainda que ser previamente
programadas, previstas e elaboradas de modo geral
para que não haja supervalorização inadequada de
nenhuma área.
Para tanto, é fundamental que a
Administração Pública, na figura do gestor público
responsável, elabore planos de ação com os quais
sejam previamente estabelecidas as metas que se
pretendem alcançar ao longo da gestão
125
governamental – sendo elas de esfera municipal,
estadual ou federal.
Embora variados, os conceitos de política
pública demonstram certa similaridade por a
considerarem um meio para atingir um fim único, ou
seja, realizar os anseios e demandas da população.
Assim, “as políticas públicas (policies), por sua vez,
seriam o resultado da própria atividade política na
alocação de recursos e na provisão de bens e
serviços públicos” (MAGALHAES; BOUCHARDET,
2005, p. 163)
2.1 POLÍTICAS EDUCACIONAIS
Ribeiro (2003) relata que a diversidade de
abordagens e questões que envolvem as políticas
públicas se insere num contexto amplo e complexo.
Juntamente a estas reflexões, estão presentes as
políticas educacionais de educação especial na
perspectiva inclusiva. Conforme a referida autora,
pontuar sobre as políticas públicas é condição para compreender seu significado, sentido, amplitude e mediações necessárias para a efetivação do direito à educação. Inicialmente, cabe ressaltar que não é suficiente a constituição de uma política pública educacional bem definida, com conteúdo bem construído, formulado; o importante e imprescindível é trabalhar para que a política aconteça, contemplando de forma efetiva o processo de desenvolvimento e aprendizagem do principal sujeito da esfera educacional: o aluno (RIBEIRO, 2003).
A educação não deve ser pensada de forma
abstrata e a implementação das políticas educacionais
são necessárias à sensibilização e à qualificação de
todos os sujeitos envolvidos no processo, para que,
então, sejam criadas as políticas de Estado e não
políticas de Governo, lembrando que nem tudo que
serve para o Governo serve para a escola, para a
educação. Para Ribeiro (2003) a política educacional
só terá sentido quando democraticamente construída
por uma identidade coletiva e não individual e singular.
Neste sentido,
o Estado é um dos principais lugares da política e um dos principais atores políticos. Em seu sentido mais simples, a política é uma declaração de algum tipo – ou ao menos uma decisão sobre como fazer coisas no sentido de “ter” uma política –, mas que pode ser puramente simbólica, ou seja, mostrar que há uma política ou que uma política foi formulada. (BALL, MAINARDES, 2011, p. 14).
Cabe ressaltar a presença do Banco Mundial
(BM) através de suas políticas estratégicas e suas
intervenções educacionais, principalmente no que
refere às políticas para a Educação Básica pública. O
Banco Mundial surgiu em 1944, no contexto do
término da II Guerra Mundial, com o objetivo imediato
de cuidar da reconstrução das economias devastadas
e atuar como credor dos países afetados pela guerra.
Desde esse período, [o BM] exerce participação de prestígio na implementação das políticas educacionais, sendo o Brasil um dos países em que a educação é financiada e sofre a intervenção dessa organização financeira. Realmente, a atual perspectiva de educação se insere, em geral, na tendência mundial ou global de mercantilização dos direitos básicos a partir da adoção de políticas externas que se coadunam às diretrizes reformistas propostas ou impostas pelas implementações das políticas públicas, entre elas, a política educacional constituída pelo Banco Mundial, FMI e outros (TORRES, 2003, p. 125).
Não apenas formulam condições para
empréstimos, como também atuam paralelamente ao
Estado como implementadores de reformas
educacionais. Dentre essas reformas, destaca-se a
prioridade dos investimentos na educação primária,
visando uma formação para o mercado de trabalho
onde não há espaço para o desenvolvimento de
126
sujeitos críticos e reflexivos que estejam aptos a
produzir ciência e conhecimento.
Em vista disto, o Banco Mundial vem
trabalhando de maneira direta na educação há mais
de quatro décadas, tanto que se transformou, nos
últimos anos, no organismo com maior visibilidade no
cenário educativo mundial e acabou por ocupar
espaços antes conferidos à UNESCO (Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura), organismo especializado em educação.
Atualmente, o Banco Mundial é a “principal
agência de assistência técnica em matéria de
educação para os países em desenvolvimento e, ao
mesmo tempo, a fim de sustentar tal função técnica,
em fonte e referencial importante de pesquisa
educativa no âmbito mundial” (TORRES, 2003, p.
126). Toda proposta de política educacional não é
definida como sendo fixa e imutável. Nesse sentido,
conforme ressaltam Ball e Mainardes (2011) podem
ser sujeitas a interpretações e traduções e
compreendidas como respostas a problemas da
prática. As políticas estão sempre em algum tipo de
fluxo, no processo de se tornarem algo mais. Esse é,
fundamentalmente, o caso atual da educação, que flui
ao lado da política (declarações, demandas e
expectativas).
2.2 POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA: DOCUMENTOS LEGAIS
A formulação de políticas públicas voltadas
para a garantia dos direitos fundamentais das pessoas
com deficiência está, por conseguinte, sendo
progressivamente incorporada à agenda política e,
consequentemente, o acesso a bens e serviços para
todos, com equiparação de oportunidades, tornou-se
uma demanda evidente para os agentes políticos.
No Brasil, as propostas para a educação
especial são marcadas, de um lado pela atuação das
instituições especializadas e de outro pela defesa do
espaço da escola comum como sendo aquele
destinado também às crianças e jovens com
deficiência. No que se refere ao espaço da escola
comum, a bandeira foi levantada em um primeiro
momento pelo princípio da integração, movimento que
permeou a educação especial na década de 1960 e
depois já nos anos de 1990, o movimento da inclusão
escolar.
Essa dualidade entre o ensino comum e o
ensino especial pode ser identificada nos vários
documentos que orientam a educação das pessoas
com deficiência: a Constituição de 1988; o Estatuto da
Criança e do Adolescente, 1990; o Plano Decenal de
Educação (1993‐2003); a Política Nacional de
Educação Especial (1994); a LDB nº 9.394/96; o Plano
Nacional de Educação e as Diretrizes Nacionais para
a Educação Especial na Educação Básica (2001); a
Política Nacional de Educação Especial na
Perspectiva da Educação Inclusiva (2008); o Decreto
n. 6.571, de 17 de setembro de 2008, que dispõe
sobre ao atendimento educacional especializado; o
Parecer CNE/CEB n. 13/2009, que dispõe sobre as
diretrizes operacionais para o atendimento
educacional especializado na Educação Básica,
modalidade Educação Especial e, mais recentemente,
a Resolução CNE/CEB 4/2009 que institui Diretrizes
Operacionais para o Atendimento Educacional
Especializado na Educação Básica, modalidade
Educação Especial.
A nítida ampliação das referências à educação
especial na perspectiva inclusiva nos textos de
políticas públicas desse gênero, nos remete a um
olhar para possível compreensão da implementação e
do impacto no âmbito escolar. A Lei nº 9.394/96, em
seu capítulo V da educação especial, art. 58, refere:
“Entende-se por educação especial, para os efeitos
desta Lei, a modalidade de educação escolar,
127
oferecida preferencialmente na rede regular de ensino,
para educandos portadores de necessidades
especiais” (BRASIL, 1996).
Contudo, a definição mais atual para
educação especial é localizada no art. 3º da
Resolução nº 2/2001:
[Por] Modalidade da educação escolar, entende-se um processo educacional definido por uma proposta pedagógica que assegure recursos e serviços educacionais especiais, organizados institucionalmente para apoiar, complementar, suplementar e, em alguns casos, substituir os serviços educacionais comuns, de modo a garantir a educação escolar e promover o desenvolvimento das potencialidades dos educandos que apresentam necessidades educacionais especiais, em todas as etapas e modalidades da educação básica.
Sabe-se que educação implica refletir sobre
sua importância e necessidade iminente para
vivermos com plenitude como pessoas e como
cidadãos envolvidos na sociedade. No entanto, o
paradigma educacional atual requer políticas
educacionais que atendam aos anseios exigidos nas
diversas áreas da educação, com ênfase ao essencial
de toda a educação, o ser humano. Nesse contexto, a
implementação das políticas públicas de educação
inclusiva no âmbito educacional é relevante, pois
contribui efetivamente com uma educação que fará a
diferença.
Na procura de constituição de um percurso
abrangendo as políticas públicas de educação
especial inclusiva, relata-se de início a Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988, que
apresenta como um dos seus objetivos fundamentais
o compromisso político brasileiro com a educação de
forma a estabelecer a igualdade no acesso à escola,
sendo dever do Estado proporcionar atendimento
educacional especializado aos portadores de
deficiência (novos documentos surgem com o uso da
expressão “necessidades educacionais especiais”),
como consta no art. 1º da Resolução nº 2/2001,
preferencialmente na rede regular de ensino. É
notável que haja o acesso à escola pelo elevado
número de alunos com necessidades educacionais
especiais matriculados em escolas comuns e especial.
O Plano Nacional de Educação (PNE)
aprovado pela Lei nº. 10.172, de 9/01/2001, ao avaliar
a situação da educação especial no Brasil, afirma que
“apesar do crescimento das matrículas, o déficit é
muito grande e constitui um desafio imenso para os
sistemas de ensino, pois diversas ações devem ser
realizadas ao mesmo tempo” (BRASIL, 2001). O
referido plano afirma ainda que uma das tendências
recentes dos sistemas de ensino é a
integração/inclusão do aluno com necessidades
especiais no ensino comum e, se isto não for possível
em função das necessidades do aluno, deve‐se
realizar um atendimento em classes e escolas
especializadas (PNE, 2001).
A Política Nacional de Educação Especial,
formulada em 1994, prevê um conjunto de medidas de
atendimento à pessoa com deficiência, com a
finalidade de manter e ampliar os serviços existentes.
Na introdução do documento, o Ministério da
Educação e Cultura (MEC) reconhece o grande
desafio imposto que, na época, era o de assegurar o
exercício de direitos das pessoas com deficiência na
construção de uma sociedade democrática. Entre as
medidas previstas para ampliar o atendimento
educacional especializado, destacam‐se as parcerias
dos três níveis governamentais (federal, estadual e
municipal) e das organizações não-governamentais.
A LBD nº 9.394/96, no capítulo V, art. 58,
recomenda as duas formas de atendimento. Há a
prescrição de que a educação dos alunos com
deficiência é dever do Estado, com matrícula
preferencialmente na rede regular de ensino com
apoio especializado. O Capítulo V, artigo 58,
prescreve:
128
§ 1º ‐ Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação especial. § 2º ‐ O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular (BRASIL, 1996).
O art. 58 da referida Lei define a educação
especial como uma modalidade da educação escolar.
Segundo Aranha, essa condição de modalidade tem
induzido a, pelo menos, duas interpretações, dentre
elas pode‐se destacar a “dicotomia entre o ensino
regular e o especial” (ARANHA, 2001, p. 162).
No que se refere ao trabalho das instituições
especiais como espaço de atendimento, o Plano
estabelece: “Quanto às escolas especiais, a política
de inclusão as reorienta para prestarem apoio aos
Programas de Integração.” Dentre os objetivos e
metas a serem perseguidas, está a de “assegurar a
continuidade do apoio técnico e financeiro às
instituições privadas sem fins lucrativos com atuação
exclusiva em educação especial” (PNE, 2001). Sobre
esse atendimento, o Plano define que
as escolas especiais devem ser enfatizadas quando as necessidades dos alunos assim o indicarem. Quando esse tipo de instituição não puder ser criado nos Municípios menores e mais pobres, recomenda‐se a celebração de convênios intermunicipais e com organizações não governamentais, para garantir o atendimento da clientela. (PNE, 2001)
O documento Diretrizes Nacionais para
Educação Especial na Educação Básica (2001), no
Art. 10, prevê o atendimento especializado para
aqueles alunos que apresentam necessidades
peculiares que não podem ser supridas pelas escolas
comuns:
Os alunos que apresentam necessidades educacionais especiais e que requeiram atenção individualizada nas atividades de vida autônoma e social: recursos, ajudas e apoios intensos e contínuos, bem como adaptações curriculares tão significativas que a escola comum não consiga prover, podem ser atendidos, em caráter extraordinário, em escolas especiais, públicas ou privadas, atendimento esse complementado, sempre que necessário e de maneira articulada, por serviços das áreas da saúde, trabalho e assistência social (BRASIL, 2001, p. 73).
Em 2007 o MEC/SEESP, apoiado no
movimento da inclusão escolar dos alunos com
deficiência, publica em sua página eletrônica uma
primeira versão do documento intitulado “Política
Nacional de Educação Especial na Perspectiva da
Educação Inclusiva”. Nele, há referência à educação
inclusiva como um movimento mundial:
O movimento mundial pela educação inclusiva é uma ação política, cultural, social e pedagógica, desencadeada em defesa do direito de todos os alunos de estarem juntos, aprendendo e participando, sem nenhum tipo de discriminação. A educação inclusiva constitui um paradigma educacional fundamentado na concepção de direitos humanos, que conjuga igualdade e diferença como valores indissociáveis, e que avança em relação à ideia de equidade formal ao contextualizar as circunstâncias históricas da produção da exclusão dentro e fora da escola (BRASIL, 2008).
Segundo as orientações da Política, a
educação especial com base na perspectiva da
educação inclusiva deve integrar a proposta
pedagógica da escola comum com vistas a promover
o “atendimento às necessidades educacionais
especiais de alunos com deficiência, transtornos
globais de desenvolvimento e altas
habilidades/superdotação” (BRASIL, 2008).
A educação especial deve atuar de forma
conjunta com o ensino comum para orientar o
129
atendimento às necessidades educacionais especiais
desses alunos. Entretanto, as condições de
funcionamento e organização didática das escolas do
ensino comum não são consideradas quando se
preconiza a inclusão escolar dos alunos com
deficiência. O que se propõe é ajustar a forma de
funcionamento das escolas oferecendo atendimento
especializado.
Segundo o texto da Política, a educação
especial deixaria sua condição de “sistema paralelo de
ensino” (BRASIL, 2008). A análise do texto da Política
de Educação Especial na Perspectiva da Educação
Inclusiva remete a uma discussão presente na área
que expressa a condição de a educação especial se
constituir como um reparo do ensino comum. Ao
analisar os discursos de inclusão presentes na política
educacional, Garcia conclui que tais discursos
exercem uma função reparadora:
Os documentos aqui referidos têm em comum, discursos que defendem práticas inclusivas no campo educacional como promotoras de inclusão social, mas numa perspectiva que não questiona o atual sistema social, ao contrário, propõem reparos sociais para aqueles que deles necessitam. Da mesma forma, não questionam a organização escolar na qual a educação básica ocorre (GARCIA, 2008, p. 14).
Segundo a Política Nacional de Educação
Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, o
atendimento especializado tem as seguintes funções:
“identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos
e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a
plena participação dos alunos, considerando suas
necessidades específicas” (BRASIL, 2008).
Fica claro no documento que as atividades
desenvolvidas no atendimento educacional
especializado não substituem a escolarização.
Complementam e/ou suplementam a educação dos
alunos com deficiência e contribuem, segundo o
documento em referência, para a inclusão escolar
desses alunos. Garcia afirma que “o atendimento
especializado, na forma de serviços e de recursos
especiais, é seguidamente relacionado na política
vigente com práticas denominadas inclusivas”
(GARCIA, 2008, p. 14).
Quanto ao local de realização desse
atendimento, a ênfase é dada aos espaços das
escolas comuns como uma oferta obrigatória: “em
todas as etapas e modalidades da educação básica, o
atendimento educacional especializado é organizado
para apoiar o desenvolvimento dos alunos,
constituindo oferta obrigatória dos sistemas de ensino”
(BRASIL, 2008). Entretanto, não é descartada a
possibilidade de ser efetivado nas instituições e
centros especializados privados, ou seja, nas
instituições especializadas: “o atendimento
educacional especializado é acompanhado por meio
de instrumentos que possibilitem monitoramento e
avaliação da oferta realizada nas escolas da rede
pública e nos centros de atendimento educacional
especializados públicos ou conveniados” (BRASIL,
2008).
Dessa forma, é possível verificar que a
Política Nacional de Educação Especial na
Perspectiva da Educação Inclusiva recomenda a
atuação das instituições especializadas apenas como
uma rede de apoio à inclusão dos alunos com
deficiência no ensino comum. Para a efetivação das
propostas demarcadas pela Política Nacional em
referência, o governo federal publicou o Decreto nº.
6.571, de 17 de setembro de 2008, que dispõe sobre
ao atendimento educacional especializado. Em seu
Art.1º, dispõe que a União prestará apoio técnico e
financeiro aos sistemas públicos de ensino com vistas
a ampliar a oferta desses serviços aos alunos com
deficiência matriculados no ensino comum.
A publicação do Decreto nº. 6.571, de 17 de
setembro de 2008, torna legítima as propostas da
Política Nacional de Educação Especial na
Perspectiva da Educação Inclusiva que, embora não
130
publicada oficialmente, foi oficializada a partir do que
define o Decreto Nº. 6.571. Em setembro de 2009, é
homologado o Parecer CNE/CEB Nº. 13/2009, que
dispõe sobre as Diretrizes Operacionais para o
atendimento educacional especializado na Educação
Básica, modalidade Educação Especial, para orientar
os sistemas de ensino na implantação do AEE aos
alunos com deficiência matriculados no ensino
comum.
3 AVALIAÇÃO CRÍTICA
A inclusão é o processo de inserção de
pessoas com deficiência no âmbito social. O alicerce
para essa integração é a escola e as políticas públicas
garantem essa implantação baseada em Leis que
lutam pela igualdade e pelo direito à educação para
todos. A LDB/96 assegura esse direito às pessoas
com necessidades educacionais especiais, exigindo
adequação de currículos, métodos, técnicas e
recursos para atender as especificidades. Porém, a
realidade de hoje demonstra que as instituições de
ensino não estão preparadas e nem estruturadas para
receber a nova demanda.
Muito se tem falado e escrito sobre “inclusão”
que tem como princípio a inserção de pessoas com
deficiência no âmbito social. De acordo com a
Constituição Federal (1988) Art. 205, “ a educação,
direito de todos e dever do Estado e da família, será
promovida e incentivada com a colaboração da
sociedade. Visando o pleno desenvolvimento da
pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho”.
Quando se afirma que “A educação é direito
de todos”, faz-se necessário compreender que a
educação está baseada na aceitação das diferenças e
na valorização do indivíduo, independentes dos
fatores físicos e psíquicos. Nesta perspectiva é que se
fala em “inclusão”, onde todos tenham os mesmos
direitos e deveres, construindo um universo que
favoreça o crescimento, valorizando as diferenças e o
potencial de todos.
É necessário garantir a igualdade. Mas os pais
ou responsáveis pelas pessoas com deficiências têm
como obstáculo submeter-lhes a viverem na
construção desse direito, pois a sociedade ainda não
demonstra saber conviver com a diversidade e essa
construção pode significar sofrimento, tanto para os
pais quanto para as pessoas com necessidades
educacionais especiais, mesmo que as políticas
garantam esse direito. Poucos sabem que são
assistidos pela lei, e na sua maioria estão vivendo
excluídos sem saberem ao menos o que lhes é
assegurado.
A lei exige que haja uma adaptação na escola
como todo. Com o objetivo de tornar a inclusão real,
ela propõe que os currículos atendam às
necessidades especiais, pois não adiantaria o
agrupamento das crianças com deficiência na escola
regular se não atendesse às suas verdadeiras
necessidades. Os métodos e as técnicas devem
favorecer o aprendizado de todos, propor uma política
educacional que garanta a aprendizagem,
indiscriminadamente, é uma competência do governo
e da escola, tais como possibilitar recursos para que o
professor possa desempenhar sua função de ensinar
atendendo à diversidade.
Quando a educação brasileira estiver
preparada para adequações de currículos, métodos,
técnicas, recursos educativos e organização
específica para atender às necessidades educacionais
especiais, poderá se dizer que se está a um passo
para o progresso. As dificuldades da educação
brasileira permeiam não somente a inclusão, mas
também o seu funcionamento natural, visto que o
número de analfabetos e o índice do fracasso escolar
crescem gradativamente.
A inclusão no âmbito da nossa sociedade já é
uma realidade, os pais de crianças com Necessidades
Educacionais Especiais, respaldado na Lei de
131
Diretrizes e Bases, Carta de Salamanca e ultimamente
a campanha realizada na mídia, têm matriculado ou
tentado o ingresso dos seus filhos em escolas
regulares. Mas a questão principal é que os
professores e escolas se julgam despreparados para
esta proposta, então as crianças agrupadas nesta
situação permanecem ainda segregadas dentro de
salas de aula regular.
4 CONCLUSÃO
Foi possível verificar, por meio da análise dos
documentos que orientam a educação especial, uma
indefinição sobre o lugar e o papel das instituições
diante do movimento de inclusão escolar dos alunos
com deficiência. Esta situação tem mobilizado as
instituições que têm buscado reconfigurar sua atuação
nesse contexto. Algumas instituições, por força do
emergente movimento de inclusão escolar, deflagram
um processo de reorganização de suas práticas e
implantam serviços que se ocupam especificamente
da inclusão dos alunos com deficiência no ensino
comum.
Aos educadores e pesquisadores da
educação especial, o desafio que se impões, para
além da definição de espaços e serviços é a
construção de projeto que realmente promova a
qualidade da educação das pessoas com deficiência,
independente do lugar que ocupam: educação
especial e ensino comum. Constata‐se que há um
desencontro entre os serviços especializados e as
escolas comuns, o que gera a disparidade de ações e
serviços, pulverização de esforços e pouca eficiência
naquilo que se objetiva: uma educação que contemple
as pessoas com deficiência.
Para Aranha, a inclusão escolar “prevê
intervenções decisivas e incisivas, em ambos os lados
da equação: no processo de desenvolvimento do
sujeito e no processo de reajuste da realidade social”.
Assim, “além de se investir no processo de
desenvolvimento do indivíduo, busca-se a criação
imediata de condições que garantam o acesso e a
participação da pessoa na vida comunitária, através
da provisão de suportes físicos, psicológicos, sociais e
instrumentais” (ARANHA, 2001, p. 165).
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133
O PLANEJAMENTO ESCOLAR COMO PRÁTICA EDUCACIONAL
André Nóbrega de Sousa Cristiane Pereira Soares da Silva
RESUMO
Este artigo sobre Planejamento visa à eficácia da preparação para a tomada de decisão, prática e ao acompanhamento do processo ensino-aprendizagem, em que a escola tem por finalidade procurar fazer acontecer, de forma concreta, o desenvolvimento intelectual dos alunos, fruto do ato de planejar do professor e da escola como um todo. Planejar é uma atividade que faz parte do ser humano, muito mais do que imaginamos à primeira vista. Nas coisas mínimas do dia-a-dia estão presentes atos de planejamento. O planejamento escolar é de fundamental importância e implica uma enorme complexidade, por estar na pauta da formação do ser humano. A escola exerce um papel importante perante a sociedade. Ao falar em planejamento, nasce o desejo de que a escola cumpra com o seu papel social de humanizar e emancipar o aluno, para que ele possa crescer como pessoa e como cidadão, e que o professor tenha um trabalho menos alienado e alienante e que, como instrumento de transformação, possa repensar as práticas educativas e possa refletir sobre elas, ressignificá-las e buscar novas alternativas na valorização do ensino. Daí, entendemos ser o planejamento um excelente caminho. O planejamento em si faz com que a escola desenvolva ações concretas na organização e funcionamento da escola. É preciso recuperar o discurso que há entre o pensar e o agir e entre a teoria e a prática. Sendo assim, os caminhos são longos, é preciso planejar e ter sabedoria para colocar em prática o planejamento escolar, quebrando os paradigmas da escola.
Palavras-Chave: Escola; Prática de Planejamento; Ensino; Aprendizagem.
RESUMEN
Este artículo acerca de la planificación es asegurar la eficiencia de la preparación para la toma de decisiones, la práctica y el seguimiento del proceso de enseñanza-aprendizaje en la escuela está diseñado para tratar de hacer que suceda, concretamente el desarrollo intelectual de los estudiantes, actuará el fruto de la planificación de la maestro y la escuela en su conjunto. La planificación es una actividad que es parte del ser humano, mucho más de lo que pensábamos en un principio. Las cosas más pequeñas de los actos del día a día están presentes planificación. La planificación de la escuela es de importancia fundamental e implica una enorme complejidad, para estar en el orden del día de la formación de los seres humanos. La escuela juega un papel importante en la sociedad. En su intervención en la planificación, nace el deseo de que la escuela cumple su función social para humanizar y emancipar al estudiante, de modo que pueda crecer como persona y como ciudadano, y que el maestro tiene una mano de obra menos alienada y alienante, la maestro como una herramienta para la transformación de repensar las prácticas educativas y reflexionar sobre ellos, ofreciendo un nuevo significado y se buscan nuevas alternativas en el valor de la educación. Por lo tanto, creemos que es la planificación de una manera excelente. La planificación en sí, hace que la escuela para desarrollar acciones concretas en la organización y funcionamiento de la escuela. Hay que recuperar el discurso que existe entre el pensamiento y la acción, y entre la teoría y la práctica. Por lo tanto, los caminos son largos, es necesario planificar y tener la sabiduría para poner en práctica la planificación escolar, rompiendo los paradigmas de la escuela.
Palabras-clave: escuela; planificación de la práctica; educación; aprendizaje.
134
INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, em comparação com o
que ocorreu desde o homem primitivo até o dos
nossos dias, houve uma vertiginosa e fulminante
aceleração no processo de desenvolvimento mundial.
Essa mudança veio a exigir intensificação das
relações humanas, aumento de atividade e
necessidade de maiores conhecimentos. Em face
desses reclamos do mundo atual, o homem tem se
esforçado para melhor adaptar-se a seus
semelhantes. Pelo estudo cada vez mais aprofundado
das relações humanas, busca ele amenizar tensões,
conflitos e antagonismos e favorecer a participação, a
colaboração e a cooperação.
Para melhor corresponder aos imperativos do
momento e compreender a vida em sociedade, o
homem precisa, basicamente, de reflexão e
planejamento. Pela reflexão, o homem desenvolve
níveis cada vez mais aprimorados de discernimento,
compreensão e julgamento da realidade, favorecendo
assim a conduta inteligente em situações novas de
vida. Pelo planejamento, o homem organiza e
disciplina a sua ação, partindo sempre para
realizações mais complexas e requintadas.
Em nosso dia-a-dia, enfrentamos situações
que requerem planejamento, só que nem sempre o
mesmo está formalizado. Para as atividades diárias
raramente delineamos etapas concretas de ação. Isto
porque sua consecução está ligada a um processo
rotineiro ou mesmo tradicional; diariamente as
realizamos da mesma forma: por exemplo,
levantarmos de manhã.
Já, no entanto, quando nos propomos a
realizar uma atividade, não tão comum em nosso dia-
a-dia, buscamos racionalizá-la através de uma
metodização que favoreça, em última instância, o
alcance do que desejamos. Isto deve ser realizado
sempre de forma econômica e eficiente. Por exemplo,
quando nos propomos a fazer uma série de compras,
inicialmente determinamos quais os artigos que
desejamos adquirir; conforme as mercadorias
pretendidas, estabelecemos um itinerário “X” que
favorecerá esta realização. Nesta segunda etapa,
temos uma série de alternativas a decidir em relação
ao que fazer e como fazer para realizar essas
compras. Num momento posterior, realizamos a ação,
isto é, percorremos o itinerário pré-estabelecido e
realizamos nossas compras. Após, verificamos qual foi
o resultado obtido, ou melhor, das compras desejadas
verificamos o que realmente conseguimos adquirir.
Aqui ainda temos oportunidade de constatar se os
meios adotados foram os mais adequados ao que
desejamos realizar.
Essa é uma situação comum em nossa vida.
Rememorando nossas experiências, em relação ao
fato exemplificado – realizar compras – podemos
perfeitamente comprovar a necessidade desta
sistematização para, com maior eficácia,
satisfazermos nossos propósitos.
Assim também acontece nos diversos campos
da atividade humana. Para a obtenção de êxito, o
planejamento se impõe como medida básica. O juiz
que preside um julgamento prepara de antemão quais
as ações que praticará na corte de justiça, a dona de
casa planeja como administrar o lar, o viajante tem
sua previsão feita para cada etapa da viagem a ser
realizada. Disso tudo, concluímos que o planejamento
é um conjunto de ações coordenadas entre si, que
concorrem para a obtenção de um certo resultado
desejado.
Segundo Parra (1972), o planejamento
implica, basicamente, decidir sobre: a) o que
pretendemos realizar; b) o que vamos fazer; c) como
vamos fazer; d) o que e como devemos analisar a
situação, a fim de verificar se o que pretendemos foi
atingido.
135
1. PLANEJAMENTO
As ideias de planejamento são discutidas
amplamente em nossos dias. Numa resenha
bibliográfica em torno do assunto, encontramos
algumas posições diferentes entre os autores. No
entanto, em dois aspectos há acordo unânime, isto é,
consideram planejamento a previsão metódica de uma
ação a ser desencadeada e a racionalização dos
meios para atingir os fins.
Planejamento, na sua acepção mais ampla,
sempre abrange uma gama de ideias. Por si só não
constitui a fórmula mágica que soluciona ou muda a
problemática a ser resolvida. Exige uma busca cada
vez maior de estudos científicos que favoreçam o
estabelecimento de diretrizes realistas. Nunca
devemos pensar num planejamento pronto, imutável e
definitivo. Devemos antes acreditar que ele representa
uma primeira aproximação de medidas adequadas a
uma determinada realidade, tornando-se, através de
sucessivos replanejamentos, cada vez mais
apropriado para enfrentar a problemática desta
realidade. Essas medidas favorecem a passagem
gradativa de uma situação existente para uma
situação desejada.
Nessa perspectiva, vemos que o planejamento
é um processo que consiste em preparar um conjunto
de decisões tendo em vista agir, posteriormente, para
atingir determinados objetivos (DROR, 1968, p. 10) e
também uma tomada de decisões dentre possíveis
alternativas, visando atingir os resultados previstos de
forma mais eficiente e econômica (PARRA, 1972, p.
6).
O planejamento requer que se pense no
futuro. É composto de várias etapas interdependentes,
as quais, através de seu conjunto, possibilitam à
pessoa ou ao grupo de pessoas atingirem os
objetivos. Ele é a base para a ação sistemática. É
utilizado na área econômica, social, política, cultural e
educacional, permitindo o maior progresso possível
dentro da margem de operação definida pelos
condicionamentos do meio.
2. PLANEJAMENTO EDUCACIONAL
A educação é hoje concebida como fator de
mudança, renovação e progresso. Por tais
circunstâncias, o planejamento se impõe, neste setor,
como recurso de organização. É o fundamento de
toda ação educacional.
A educação, por ser considerada um
investimento indispensável à globalidade
desenvolvimentista, passou nos últimos decênios de
nosso século, a merecer maior atenção das
autoridades, legisladores e educadores.
Amparados em legislação pertinente, foram
desencadeados processos de aceleração,
principalmente no que diz respeito à expansão e
melhoria da rede escolar e preparação de recursos
humanos.
O planejamento educacional põe em relevo
esta área, integrando-a, ao mesmo tempo, no
progresso global do país.
Nessa ampla perspectiva constatamos que
planejamento educacional é um processo contínuo
que se preocupa com o “para onde ir” e com as
maneiras adequadas “para chegar lá”, tendo em vista
a situação presente e as possibilidades futuras, para
que o desenvolvimento da educação atenda tanto às
necessidades do desenvolvimento da sociedade,
quanto às do indivíduo (COARACY, 1972, p. 79). Ao
mesmo tempo, o planejamento educacional é também
um processo de abordagem racional e científica dos
problemas da educação, incluindo a definição de
prioridades e levando em conta a relação entre os
diversos níveis do contexto educacional.
2.1. OBJETIVOS
136
São objetivos do planejamento educacional,
segundo Joanna Coaracy (1972, p. 78-79):
a) relacionar o desenvolvimento do sistema educacional com o desenvolvimento econômico, social, político e cultural do país, em geral, e de cada comunidade, em particular;
b) estabelecer as condições necessárias para o aperfeiçoamento dos fatores que influem diretamente sobre a eficiência do sistema educacional (estrutura, administração, financiamento, pessoal, conteúdo, procedimentos e instrumentos);
c) alcançar maior coerência interna na determinação dos objetivos e nos meios mais adequados para atingi-los;
d) conciliar e aperfeiçoar a eficiência interna e externa do sistema.
É condição primordial do processo de
planejamento integral da educação que, em nenhum
caso, interesses pessoais ou de grupos possam
desviá-lo de seus fins essenciais, que vão contribuir
para a dignificação do homem e para o
desenvolvimento cultural, social e econômico do país.
2.2. REQUISITOS
Os requisitos fundamentais do planejamento
educacional de acordo com a UNESCO (1958) são:
a) aplicação do método científico na investigação da realidade educativa, cultural, social e econômica do país; b) apreciação objetiva das necessidades, para satisfazê-las a curto, médio, e longo prazo; c) apreciação realista das possibilidades de recursos humanos e financeiros, a fim de assegurar a eficácia das soluções propostas; d) previsão dos fatores mais significativos que intervêm no desenvolvimento do planejamento; e) continuidade que assegure a ação sistemática para alcançar os fins propostos; f) coordenação dos serviços da educação, e destes com os demais
serviços do Estado, em todos os níveis da administração pública; g) avaliação periódica dos planos e adaptação constante dos mesmos às novas necessidades e circunstâncias; h) flexibilidade que permita a adaptação do plano a situações imprevistas ou imprevisíveis; i) trabalho de equipe que garanta uma soma de esforços eficazes e coordenados; j) formulação e apresentação do plano como iniciativa e esforço nacionais, e não como esforço de determinadas pessoas, grupos e setores. O planejamento educacional tem como pressupostos básicos: a) o delineamento da filosofia da Educação do País, evidenciando o valor da pessoa e da escola na sociedade; b) a aplicação da análise – sistemática e racional – ao processo de desenvolvimento da educação, buscando torná-lo mais eficiente e passível de responder com maior precisão às necessidades e objetivos da sociedade.
Podemos, portanto, considerar que o
planejamento educacional constitui a abordagem
racional e científica dos problemas da educação,
envolvendo o aprimoramento gradual de conceitos e
meios de análise visando a estudar a eficiência e a
produtividade do sistema educacional, em seus
múltiplos aspectos.
3. FUNDAMENTOS DA ELABORAÇÃO DO PLANEJAMENTO
A elaboração do planejamento “é um processo
mental; precede a ação e reporta-se a um real ‘não
mental’, mas é relativo a uma situação desejada, um
real construído mentalmente” (CARVALHO; DIOGO,
1994, p. 13). Dá-se como referência as três
dimensões da ação humana consciente e intencional:
Realidade, Finalidade e Plano de Ação Mediadora
(essência da elaboração do planejamento).
Figura 1. Esquema: Dimensões do Planejamento
137
A mediação (partejada pelo plano) é “filha” da
tensão entre a realidade e a finalidade, ou seja, se não
há distância entre o que se vive e o que se quer, não
há motivo para a ação (por via de consequência, nem
para a elaboração do plano). “O hiato entre a visão e a
realidade é fonte de energia. (…) Nós chamamos este
hiato de tensão criativa” (SENGE, 1998, p. 178).
A cada uma destas dimensões do
planejamento, corresponde respectivamente um tipo
de atividade reflexiva:
Quadro1. Dimensões e Atividades Reflexivas
Correlatas na Elaboração do Planejamento
Dimensão do Planejamento
Atividade Reflexiva Correlata
Realidade Cognoscitiva
Finalidade Teleológica
Plano de Mediação Projetivo Mediadora
Em sua obra Filosofia da Práxis, Vázquez
(1977) insiste na práxis como articulação entre
reflexão e ação, teoria e prática. Aponta duas grandes
atividades que estariam envolvidas na reflexão: a
atividade Cognoscitiva e a Teleológica. Considerando
a análise prévia que fizemos sobre as três dimensões
constituintes da atividade humana consciente e
intencional, sentimos necessidade de desdobrar essa
divisão, visando a uma maior clareza e precisão na
compreensão do processo de reflexão. A atividade
teleológica, em que Vázquez subentende tanto a
finalidade da ação quanto o plano de ação, pode se
referir à intencionalidade da ação, e na atividade que
chamaremos de Projetivo Mediadora, em função de
seu caráter de projeto de ação, que fará a mediação
entre a realidade e a finalidade (transformar a
realidade na direção da finalidade).
Observemos que, na verdade, a atividade
reflexiva no seu conjunto pode ser entendida como
mediadora da ação humana consciente; aqui, no
entanto, estamos falando de um aspecto particular
desta mediação: a projeção.
4. DIMENSÕES BÁSICAS DO PROCESSO DE ELABORAÇÃO DO PLANEJAMENTO
4.1. REALIDADE
Planejar, como vimos, é tentar intervir no vir-a-
ser, antever, amarrar ao nosso desejo os
acontecimentos no tempo futuro. Para isto, é preciso
conhecer o campo em que se quer intervir, sua
estrutura e funcionamento: “o projeto retém e revela a
realidade superada, recusada pelo movimento mesmo
que a supera: assim, o conhecimento é um momento
da práxis, mesmo da mais rudimentar” (SARTRE,
1978, p. 152). Quando nos referimos ao conhecimento
da realidade, falamos de uma visão de um
sujeito/grupo, que é, portanto, sempre uma
construção.
Acontece que a realidade não se dá a
conhecer diretamente, não se “entrega”. O esforço de
decifração e interpretação visa a apreender o
dinamismo do real já configurado, tendo em vista nele
entrar, seja no sentido de usufruir ou de transformar.
Tanto o para quê, quanto o quê do plano estão
referidos à situação, à realidade. Ela é o ponto de
partida e o de chegada (só que já transformada), bem
como o campo de caminhada.
Ao ser conhecida, a realidade pode revelar
possibilidades inexploradas:
A situação, ao mesmo tempo em que nos indica o que nos falta (portanto, os objetivos, ou seja, aquilo que ainda não
138
foi alcançado mas que deve ser alcançado), indica o que temos (portanto, os meios que nos permitem realizar os objetivos propostos) (SAVIANI, 1983, p. 64).
A atividade reflexiva característica desta
dimensão, como indicamos, é a Cognoscitiva. Refere-
se à reflexão sobre uma realidade presente, que se
pretende conhecer; não traz em si uma exigência de
ação efetiva, diferentemente da Teleológica. Uma das
funções da teoria é interpretar a realidade, decifrá-la,
através da pesquisa. Tem como resultado a produção
de conhecimentos (informações que se articulam em
saberes, conceitos, hipóteses, teorias, leis).
4.2. FINALIDADE
Esta dimensão corresponde à busca do telos
(fim), à explicitação da intencionalidade, ao sentido a
ser dado à ação, ao estado futuro de coisas, a uma
orientação geral, à direção para transformar o que é
naquilo que deve ser: qual o horizonte, qual a utopia, o
que se deseja mais profundamente.
A forma de raciocínio projectual é diferente das formas de raciocínio descritivo e explicativo relacionadas com a observação de fatos. (…) Não é um método de obtenção de informação, é um método de “injeção” de informação na configuração do projeto (THIOLLENT, 1984, p. 49).
A afirmação do que se quer tem uma
importante tarefa na superação dialética: ao assumir
finalidades, o homem nega a realidade presente e
afirma uma outra ainda não existente. “O presente é
contraditório, está sempre sobrecarregado de
passado, mas, ao mesmo tempo, está sempre grávido
das possibilidades concretas de futuro” (KONDER,
1992, p. 123). A determinação da ação passa a vir não
simplesmente do passado ou do presente, mas como
que também do futuro.
A atividade propriamente humana só se verifica quando atos dirigidos a um objeto para transformá-lo se iniciam com um resultado ideal, ou finalidade, e terminam com um resultado ou produto efetivo, real. Neste caso, os atos não só são determinados casualmente por um estado anterior que se verificou efetivamente – determinação do passado pelo presente – , como também por algo que ainda não tem uma existência efetiva e que, não obstante, determina e regula os diferentes atos antes de culminar no resultado real; ou seja, a determinação não vem do passado, mas sim do futuro (VÁZQUEZ, 1977, p. 187).
A finalidade deve ser aberta, um projeto
dinâmico, que vai se configurando pela interação com
a própria realidade.
Aqui, a atividade reflexiva característica é a
Teleológica, que se refere a um estado futuro, portanto
ainda inexistente. É a construção de representações
mentais sobre o que se deseja. Trata-se da
intencionalidade, do alçar vôo, antever, projetar ou
explicitar finalidades. Tem como resultado os fins, os
objetivos, as metas (de acordo com os diferentes
níveis de abrangência), o “produto” ideal, entes que
“ainda-não-são”, a imagem do resultado almejado.
O caráter finalista que reveste certas ideias
provém do engajamento do homem no mundo
(PINTO, 1979, p. 144), da sua luta pela sobrevivência,
da sua não mera adaptação, “a atividade teleológica
traz implícita uma exigência de realização, em virtude
da qual se tende a fazer da finalidade uma causa de
ação real” (VÁZQUEZ, 1977, p. 191).
A atividade reflexiva serve também, pois, para
a projeção, para esboçar o novo, para abrir novas
possibilidades, criar o ainda não existente: “o possível
cognitivo é essencialmente invenção e criação”
(PIAGET, 1985, p. 8). A mudança da realidade exige
imaginação, criatividade a fim de se projetar uma
possibilidade de organização diferente da que temos.
Podemos lembrar uma outra colocação de Einstein:
139
“Nada existe na ciência que não tenha estado antes
na imaginação” .
o possível, o virtual, o futuro não se representa senão através do imaginário. Trabalhadas, elaboradas, essas representações se tornam utopias afirmativas ou negativas. De tal modo que o imaginário possui uma “função” igual ou superior à do saber que se refere ao “real” (LEFEBVRE, 1983, p. 63).
mudança, onde se elabora um plano de intervenção.
Enquanto a finalidade corresponde a uma antecipação
de um estado a ser alcançado, o plano diz respeito à
antecipação do processo (sucessão de iniciativas,
passagem de um estado a outro) a ser desencadeado
(BARBIER, 1996, p. 57). Tudo se dá como se a
imagem ideal projetada retroagisse sobre o sujeito
para estruturá-lo a fim de alcançá-la (NOT, 1981, p.
454).
Para planejar é importante imaginar. Porém,
não uma imaginação descomprometida, mas que
tenha em conta as experiências anteriores e o
engajamento para que venha a acontecer.
Segundo Barbier, há, com efeito, uma relação
genética entre as representações: “para definir uma
representação do possível torna-se provavelmente
necessário partir de uma representação do real
existente” (BARBIER, 1996, p. 52), ou seja, a
construção da representação de um estado ideal, de
um novo horizonte se dá tendo como base as
representações mentais anteriores, portanto relativas
ao passado ou ao presente. Logo, o trabalho de
conhecer bem a realidade é da maior importância para
ampliar o leque de possibilidades de criação de novas
representações antecipadoras. Assim, estabelecer
finalidades não pode ser entendido como um
devaneio, um passeio por cima das nuvens onde as
finalidades, prontas, amadurecidas, bem definidas,
seriam colhidas e trazidas, mas sim como um
processo que parte de uma escuta atenta da
realidade, que arrisca interpretações, e que finalmente
ousa apostar em algumas projeções.
4.3. PLANO DE MEDIAÇÃO
É a previsão das ações, do movimento, da
sequência de operações a serem realizadas para a
transformação da realidade. Dimensão mais
operacional, de criação de alternativas concretas de
A atividade reflexiva Projetivo Mediadora é a
característica dessa dimensão. São ideias que têm a
função de poder representar prefiguradamente uma
ação a fazer. Trata-se de buscar construir a imagem
mental do caminho a ser seguido, ser capaz de
visualizar o movimento na situação futura: como
ocupar o tempo, o espaço e os recursos. Tem como
resultado o projeto – stricto senso –, a produção de
propostas de atividades, enfim, o plano a ser
assumido.
Para o êxito na realização do projetado, é
fundamental, portanto, que a consciência não se limite
à representação do próprio fim, mas que este fim
direcione igualmente o modo de ação nele implicado.
acaba por dar uma estrutura nova ao ato de trabalho, enquanto implica doravante em si próprio o seu próprio plano, como consciência da forma do movimento a imprimir ao objeto. É pois na verdade a imagem que o trabalhador projetou da sua cabeça no material, não somente a imagem da própria forma do instrumento a obter, mas a imagem da forma do movimento da sua execução, que se realiza na matéria trabalhada (TRÂN DUC THAO, 1974, p. 201).
O plano deve levar em consideração os meios
disponíveis ou potenciais. Vai implicar também em
tomada de decisões quanto às formas de realização.
Devemos estar atentos para um possível
equívoco metodológico: a confusão entre a
operacionalização da solução do problema
140
(mediações) e a finalidade. Diante de uma situação-
problema, uma vez que esta é captada, normalmente
o que aparece no sujeito é o desejo de sua superação
– objetivo/finalidade –, e isto pode ser confundido com
a solução; ocorre que a operacionalização precisa ser
elaborada (plano de mediação), ser construída, a
partir da análise sobre as determinações da realidade
e da reflexão sobre os fins almejados.
5. CONCLUSÃO
De acordo com o exposto no decorrer do
texto, ficou clara a importância do planejamento no
âmbito da educação. O conhecimento escolar não
deve ser transmitido de forma isolada, é tarefa da
escola planejar, elaborar e executar o planejamento,
cabendo ao professor conduzir os estudantes ao
processo pedagógico para que, efetivamente possam
construir o conhecimento escolar.
O comprometimento da ação pedagógica da
escola é relevante no processo ensino-aprendizagem,
onde os professores, preocupados com a formação
dos alunos, podem contribuir para uma melhor
qualificação da sociedade, possibilitando ações
concretas na construção, ampliação e promoção de
novos conhecimentos nos estudantes.
Por fim, a partir da reflexão apresentada neste
artigo, o planejamento propõe sistematizar e
disponibilizar ferramentas que aproximem a teoria da
prática pedagógica, apontando caminhos que possam
ajudar a transformar a prática na direção do ensino
mais significativo, crítico e duradouro para a
construção da cidadania. Neste aspecto, o importante
é que a escola cumpra com o seu papel social para
que o aluno possa crescer como pessoa.
REFERÊNCIAS BARBIER, J-M. Elaboração de projetos de ação e planificação. Porto: Porto Editora, 1996. CARVALHO, A. DIOGO, F. Projecto Educativo. Porto: Afrontamento, 1994. COARACY, J. O planejamento como processo. Revista Educação, ano I, n.º 4, Brasília, 1972, p. 79. DROR, V. In: ANDERSON, C.A. Le contexte social de la planification de l'education. Paris: UNESCO, 1968, p. 10. GANDIN, D. A prática do planejamento participativo. 22ª ed. Petrópolis: Vozes, 2013. KONDER, L. O que é dialética. 2ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1981. LEFEBVRE, H. La presencia y la ausencia – contribucíon a la teoria de las representaciones. México: Fondo de Cultura Económica, 1983. O marxismo. 5ª ed. Rio de Janeiro: Difel, 1979. NOT, L. As pedagogias do conhecimento. São Paulo: Difel, 1981. PARRA, N. Planejamento de currículo. Revista Escola, n.º 5, São Paulo, Abril de 1972, p. 6. PIAGET, J. e colaboradores. O possível e o necessário. V. 1. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985. PINTO, A. V. Ciência e existência. 2ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. SANT'ANNA, F. M., ENRICONE, D., ANDRÉ, L. C., TURRA, C.M.G. Planejamento de Ensino e Avaliação. 10ª ed. Porto Alegre: Ed. Sagra Luzzatto, 1982. SARTRE, J-P. Questão de método. In: Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1978. SAVIANI, D. Educação: do senso comum a consciência filosófica. 3.ª ed. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1983. Escola e democracia. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1983. SENGE, P. M. A quinta disciplina. São Paulo: Best Seller, 1998. THIOLLENT, M. J. M. Aspectos qualitativos da
141
metodologia de pesquisa com objetivos de descrição, avaliação e reconstrução. Cadernos de Pesquisa (49). São Paulo: Fundação Carlos Chagas, maio de 1984.
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VÁZQUEZ, A. S. Filosofia da praxis. 2ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.
142
MESQUITA: ARTE, SABEDORIA E SAGRADO
Elvisson Oliveira do Nascimento1
Guilherme Hempel Ferreira Gomes2
RESUMO
A presente pesquisa tem o objetivo de analisar o local de culto mais conhecido para os muçulmanos que é a mesquita em seus múltiplos aspectos. Pretendemos expor as diversas utilizações que vai muito além de um simples local para oração, mas também como local de aprendizado onde se deu o início da transição de uma tradição oral para escrita e o desenvolvimento de uma arte que estava conectada e em continuidade com a lei corânica como dimensão interna da mensagem islâmica. As mesquitas demonstram e simbolizam o centro do poder muçulmano enquanto legitima as relações de poder em uma construção com identidade religiosa, veremos então como se dá estas relações e como seu estudo é fundamental para compreensão dos vários aspectos atribuídos à mesquita.
Palavras-chaves: Islã, mesquita, arquitetura, poder muçulmano, arte islâmica.
1 Mestrando em Educação - UNIGRENDAL 2 Graduando do Curso de Bacharelado em Ciências das Religiões da Universidade Federal da Paraíba. Integrante do Raízes: Grupo de pesquisa sobre religiões mediúnicas e suas interlocuções, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Ciências das Religiões.
143
INTRODUÇÃO
A palavra para mesquita, masjid, vem do
aramaico e a raiz do seu significado “adorar” ou
“prostrar-se”, encontra-se também na palavra etíope
mesgad, utilizada para templo ou igreja. No Alcorão é
uma palavra genérica, empregada não somente para
os santuários muçulmanos, como também para o
santuário cristão associado aos Sete Adormecidos de
Éfeso (sura 18:21/20) e ao templo judeu em
Jerusalém (se adotarmos a interpretação tradicional
de sura 17:1). Ibn Khaldun (d.1406) usava essa
palavra no sentido genérico, incluindo até mesmo o
templo de Salomão. O significado básico de
“sinagoga” e “igreja” (ekklesia) é reunião, o mesmo
que jami, uma palavra que progressivamente veio a
ser usada para mesquita.3
Sem dúvida alguma Maomé sabia acerca de
sinagogas e igrejas ou capelas, pois elas são
mencionadas no Alcorão (sura 20:40/41). Com a
expansão do islamismo, desenvolveram-se várias
adaptações com santuários cristãos e judaicos. Em
Damasco, a tradição relata que a igreja de São João
foi dividida, metade para os muçulmanos e metade
para os cristãos. Em qualquer evento, os dois centros
de adoração ficavam ao lado um do outro até que a
igreja foi incorporada pela mesquita.
Em Hims, na Síria e em Dabil, na Armênia,
muçulmanos e cristãos compartilhavam os mesmos
prédios. Omar, o segundo califa, edificou uma
mesquita no lugar do templo de Jerusalém, onde o
Domo da rocha foi posteriormente construído.
1. O INÍCIO
Entre suas origens se encontram a Casa do
Profeta, em Medina (cerca de 622), junto a casa de
Maomé havia uma área murada com pequenos
3 CARRIKER, C. Timóteo. Evangelho e cultura. Leituras para a antropologia missionária. P.165-167.
cômodos ao longo da lateral sudeste, para moradia. O
restante do espaço era ocupado um pátio interno,
parcialmente aberto, embora tenha sido construída
para fins residenciais, a edificação também servia
como local de reunião, onde seus seguidores podiam
ouvir sermões e orar em conjunto; após a morte do
profeta, sua forma foi copiada em locais para culto
simples construídos em outras cidades.
A grande mesquita de Damasco (706-15,
com reconstruções posteriores) é a mais antiga
mesquita remanescente e demonstra o processo ao
longo do qual a tipologia se desenvolveu. O terreno é
ocupado a muito tempo, pois anteriormente lá havia
um templo romano dedicado a Júpiter e uma igreja
paleocristã do século IV dedicada a São João Batista.
Durante certo tempo após a conquista islâmica da
cidade, em 635, tanto cristãos como muçulmanos
oravam no local, mas em 706 a igreja existente foi
derrubada e o califado de Al-Walid I construiu uma
mesquita impressionante, baseada em parte nas
igrejas com planta baixa em forma de basílica
tripartida com nave central e duas naves laterais. As
paredes externas da mesquita foram determinadas
pelo formato do templo cristão preexistente e o acesso
era por meio de um portal no centro de um dos lados
menores, voltado para o leste. Quatro torres ou
minaretes – ofereciam plataformas elevadas nas
quinas dos prédios, a partir dos quais o muezim podia
convocar os fiéis para rezar. O projeto genérico
dessas torres talvez tenha se baseado em torres de
fortificação ou faróis anteriores, mas, quando foram
usados em Damasco, os minaretes se tornaram
elementos padrão das mesquitas da sexta-feira
subsequentes. Assim como os campanários (torres de
sino) ou as cúpulas altas das igrejas cristãs, os
minaretes servem para destacar a mesquita na
paisagem. Muito tempo depois, algumas mesquitas
especialmente importantes passaram a ter minaretes
múltiplos, mas, em geral, um minarete bastava.
144
Mais da metade do espaço interno é
ocupado por um pátio com arcadas – ou sahn – que
contém um pavilhão cupulado com fonte, para
lavagens rituais, e um pavilhão octogonal
originariamente empregado para guarda do tesouro
público. O salão para culto coberto ou haram, se
estende ao longo de toda parede sul. Duas colunatas
paralelas dividem longitudinalmente esse salão em
três partes e perto do seu centro as arcadas são
interrompidas por um largo elemento transversal
similar a uma nave central com uma cúpula de
madeira sobre seu vão central. Em projetos
posteriores, esse elemento se transformou na
maqsura, uma área especial para procissões
reservada para o séquito do califa, o que justifica sua
cúpula como elemento especial de arquitetura. Como
a parede sul é parede para o culto, a qibla, ela possui
três nichos, mirhabs4, os quais indicam a direção de
Meca. Um púlpito elevado, o minbar, fica a direita do
mihrab central e dele são feitos os sermões, as
leituras do Corão e as proclamações ou os chamados
públicos.5
2. AS GRANDES MESQUITAS
Os primeiros arquitetos islâmicos adotaram
formas locais: o Domo da rocha, em Jerusalém (688-
92 d.C.), por exemplo, exibe a influencia do projeto
bizantino. Construído como santuário ao redor da
rocha da qual se diz qua o profeta acendeu ao céu, o
Domo é uma estrutura octogonal emcimada por um
domo reluzente (alumínio anodizado desde 1967,
chumbo dourado antes) que se ergue acima de duas
colunatas internas. Os brilhantes mosaicos e
mármores do revestimento original das paredes foram
4 Mihrab é um termo que designa um nicho em forma de abside numa mesquita. Tem como função indicar a direcção da cidade de Meca (qibla), para qual os muçulmanos se orientam quando realizam as cinco orações diárias (salat). 5 FAZIO, Michael. A história da arquitetura mundial. p. 173- 187.
substituídos por ladrilhos geométricos de mármore
durante o domínio turco, no século XVI. Não obstante,
o Domo tem uma leveza de toque compartilhada por
poucos edifícios europeus da Era das Trevas.
Contudo, as grandes mesquitas,
naturalmente foram construídas em outros lugares. A
maior já construída foi a Grande mesquita de
Samarra, Iraque (iniciada em 848 d.C.). Hoje restam
apenas ruínas, mas também muito impressionante:
uma muralha exterior, de 155 m x 238 m, circundada
por um salão de oração, sombreado por um minarete
gigantesco em espiral, no qual podiam subir cavalo e
cavaleiro. É difícil imaginar um grande espaço como
este, quase militar, ecoando ao som do chamado do
muezin, as orações dos submissos e o fluxo da água.
Para os árabes, povo do deserto, a água sempre foi
celebrada e é parte integrante do projeto de muitos
edifícios árabes e dos jardins e pátios que fluem deles
e para eles. O principio do projeto de Samarra foram
levados por Ahmed Ibn Tulun para o Cairo, onde ele
construiu a nova cidade no fim do século IX, usando
como modelo a pátria iraquiana. O edifício mais
impressionante que deixou foi a mesquita de Ibn Tulun
(876-79), um espaçoso pátio ou espaço para cortejos,
feito de tijolo com estuque, provavelmente construído
por artesãos que haviam viajado do Iraque para o
Egito.6
2.1 MESQUITA NA ESPANHA
Na idade média, na Europa, um dos
melhores lugares para se viver, sem dúvida era a
Andaluzia, domínio islâmico da Espanha meridional.
Uma terra não só de tolerância religiosa e intelectual,
mas com jardins exuberantes, água corrente,
Hammans (banhos turcos) e uma grandiosa
arquitetura que a Europa não experimentaria por muito
tempo. 6GLANCEY, Jonathan. História da arquitetura. P.46-49.
145
Os invasores árabes, influenciados por
Maomé, levaram a cabo suas jihads (guerra santa) no
norte da África, e foi apenas na batalha de Moussais-
le-Bataille, perto de Poitiers, em 732 d.C., que os
franceses, liderados por Carlos Martelo, conseguiram
deter seu avanço, rumo a Paris. Levaram para
Espanha, além de um alto nível de civilização (para
uma civilização que até pouco tempo era nômade) foi
uma arquitetura realmente bela. Todo edifício islâmico
de importância era um tipo de representação de um
oásis no deserto, cada um guardado por muros
fortificados, mas com água abundante, jardins
luxuriantes e caramanchões no interior.
2.2 A MESQUITA DE CÓRDOBA
Para Glancey (2001) “A mesquita de
Córdoba (iniciada em 785) é o primeiro edifício
importante da dinastia omíada após partirem da Síria
para a Espanha passando pela Tunísia”. O estilo do
salão de oração era diferente, foi estendido quase
sem emendas durante três grandes ampliações nos
séculos IX e X. O salão completo cobre o mesmo
espaço que o pátio cheio de laranjeiras a sua frente.
Dentro, cheio de fileiras de arcadas, formando colunas
que sustentam arcos alongados em forma de
ferradura. Cada passo do visitante altera a maneira de
se ver as colunas e arcos que se cruzam. O efeito
visual da arquitetura aparentemente encadeada do
salão é realçado pelo tratamento dado aos arcos em
ferradura: alternam faixas de tijolo e pedra. As
incansáveis arcadas finalmente cedem lugar a três
santuários decorativos de projeto elaborado.
3. A MESQUITA ENQUANTO LOCAL DE ENSINO
No mundo árabe a escola nasceu com a
mesquita de Medina, construída no século VII pelo
profeta Maomé e seus companheiros. Desde então, e
até o século X, todas as mesquitas foram centros
onde se instruíam os crentes da nova fé e se
imaginava religião. No entanto devido à progressiva
complexidade das estruturas da via social e dos
valores e regras que o governavam, a comunidade
teve de enfrentar novos problemas.
Um século depois da morte do Profeta,
ocorrida em 632, novas formas de ensino tornaram -
se necessárias e foram criados círculos de estudo nas
mesquitas, nos palácios, nas ruas e praças públicas.
Essa transmissão do poder não se limitava ao ensino
do Corão, mas incluía literatura, poesia, gramática,
etc. Na praça do Mirbad, em Bagdá, reuniram-se
círculos de gramáticos, estudantes e curiosos; dentro
de uma mesma mesquita eram ministrados cursos de
jurisprudência, poesia, gramática e outros. Esses
cursos e círculos constituíram uma espécie de
universidade livre, pois os mestres ensinavam o que
sabiam sem qualquer restrição ou obrigação, e os
estudantes podiam escolher livremente os cursos,
debates e círculos que desejavam seguir.
Essa liberdade de ensino e aprendizagem
revela uma profunda coesão cultural e social. A
transmissão de ideias através de homens e de livros,
assim como a contribuição de diversas culturas que se
vinham fundir no mesmo crisol, permitiam à cultura
árabe conhecer um desenvolvimento um florescimento
sem precedentes, em todas as esferas do saber.
Durante o reinado dos califas abássidas (do ano 750
até fins do século XIII), o ensino religioso tornou-se
disciplina independente; alguns mestres ocupavam-se
do Corão, do hadith (tradições do profeta) e da
jurisprudência, enquanto outros estudavam a língua, a
literatura e a história. Nesse período, os círculos de
estudos multiplicaram-se e aprimoraram-se, formando
núcleos do que viria ser a madrassa (colégio),
destinada aos adultos que já haviam recebido o
ensino primário em escolas particulares ou em
mesquitas. Somente apartir do século X, a madrassa
surge como instituição independente e distinta da
146
mesquita, embora sua criação, pelo menos no início,
estivesse reservada a um jurista ou ao ensino de
acordo com uma escola jurídica específica.
4. O PODER E A MESQUITA
A produção e os meios de produção de bens
e serviços de natureza simbólica, segundo Bordieu
(1971), abrange também a produção religiosa. Tem a
tendência de se concentrar nas mãos de um grupo de
administradores do sagrado. O capital religioso é um
instrumento de poder dos detentores do saber
sagrado e de certa forma se interliga com espaço
sagrado, a dimensão política do sagrado objetiva
investigar as normas e as formas adotadas pelas
instituições religiosas a fim de assegurar a vivência da
fé e a vigilância dos fiéis, afirmando assim sua
identidade religiosa.
O homem religioso é um homem motivado
pela fé em sua experiência seja individual, ou coletiva.
Tem um significado único para cada indivíduo, relação
direta com a divindade, a experiência coletiva no
mundo islâmico é organizada pela mesquita que
assume uma dimensão simbólica na qual se enraízam
seus valores e através dos quais se afirma a
comunidade religiosa. A comunidade religiosa constrói
a mesquita e esta, na função político-social, sustenta a
própria comunidade. Quer seja na ordem religiosa,
quer pela ordem política, o território responde a duas
funções.
Sagrado, profano e território contribuem para
que o grupo religioso reforce o sentido de
pertencimento à instituição religiosa. O exercício do
poder religioso ocorre na vivência da fé. Cada
comunidade religiosa se estabelece no mundo
sagrado onde participa da memória histórica no tempo
e no espaço. Dessa forma, a manutenção do lugar
sagrado favorece a noção de que a comunidade
partilha uma identidade comum, um sentimento de
integração e de comunidade religiosa.
Desta forma a mesquita representa
enquanto espaço sagrado um símbolo do poder
muçulmano e muitas foram modificadas ao longo de
diversos governos islâmicos no intuito de impor sua
grandeza.
CONCLUSÃO
Ao longo desta exposição tivemos a
oportunidade de conhecer um pouco da origem, da
História e da grandeza artística que se modela a
espiritualidade. A arte na mesquita se manifesta como
uma jornada da alma em busca do belo. Convergem
diversas técnicas que expressaram aquilo que o
islamismo tem como objetivo comprovar ao longo de
uma História consagrada a Alá e ao profeta Maomé.
Uma construção pode ao mesmo tempo ratificar as
múltiplas faces e utilizações corroborando para se
entender o significado de sua existência.
A mesquita se constitui como construção
emblemática do Islã, como símbolo de sua ligação
com a divindade suprema e como os homens
enxergam neste espaço sagrado o poder de uma fé
que vai além das relações humanas, conhecer a
mesquita é conhecer a fé islâmica em todo seu
esplendor, é conhecer a História por trás da História,
ou melhor, no bastidor de uma História, é sinônimo de
Poder, fé, religião e conhecimento. O conhecimento se
fez presente desde o início do islamismo, período que
se iniciou a transição de uma tradição oral para a
escrita e que se perpetuou pela busca do
conhecimento incentivada pelo próprio profeta. Sua
função social evoluiu assim também como sua
arquitetura ao longo do tempo. Conhecer a mesquita
se faz necessário para o pesquisador que deseja
aprofundar os ensinamentos acerca da tradição
islâmica.
REFERÊNCIAS
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148
AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM ESCOLAR:
MAIS UM PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO
Zeneide Fernandes Araujo de Almeida
Mestranda em Educação pela UNIGRENDAL PREMIUM CORPORATE
RESUMO
O presente artigo tem por objetivo tratar da avaliação da aprendizagem escolar, no processo de construção do conhecimento, uma vez, que a avaliação é parte integrante do processo ensino/aprendizagem. Essa prática, atualmente, ganhou espaço muito amplo nos processos de ensino. Para uma melhor fundamentação, buscamos o suporte teórico adotado por Almeida (2011) e Luckesi (2011), uma vez que ambos compactuam que a avaliação da aprendizagem, no novo paradigma, é um processo mediador na construção do currículo e se encontra intimamente relacionada à gestão da aprendizagem do alunado. Para esses autores, avaliação da aprendizagem não é algo meramente técnico. Envolve auto-estima, respeito à vivência e cultura própria do indivíduo, filosofia de vida, sentimentos e posicionamento político. Para eles, é fundamental definir concretamente o que se quer avaliar para não perder o foco dos novos conhecimentos e habilidades que devem ser incorporados pelos alunos.
149
INTRODUÇÃO
O presente artigo tem por objetivo tratar sobre
avaliação, buscando os conceitos de avaliação da
aprendizagem escolar, defendidos pelos autores
Luckesi (2011) e Almeida e Franco (2011), uma vez
que ambos defendem que o importante hoje é
encontrar estratégias para qualidade do ensino do
alunado e oferecer alternativas para uma melhor
aprendizagem.
Sabemos que é necessário refletir sobre a
avaliação da aprendizagem escolar e realizá-la
constantemente, para ser reconhecida como sinal de
seriedade e de abordagem científica das questões.
Isso se faz no próprio processo, como parte dele, ou
enquanto ele se desenvolve, sem que, para isso, se
deva sempre realizar uma parada formal.
Nesse sentido, a avaliação da aprendizagem
como um processo continuo, qualitativo, deve ser
encarada como reorientação para uma aprendizagem
melhor, como também para uma melhoria no sistema
de ensino. Notamos que atualmente, a avaliação da
aprendizagem está sendo voltada para a preparação
de exames, pois, quase sempre, os sistemas de
ensino estão interessados nos percentuais de
aprovação e reprovação dos alunos. Defendemos que
a prática avaliativa tem que centrar-se no diagnóstico
e na inclusão e não na classificação.
Segundo Luckesi (2011), a avaliação da
aprendizagem ao longo dos anos está sendo praticada
independente do processo ensino-aprendizagem, pois
mais importante que ser uma oportunidade de
aprendizagem significativa, a avaliação vem se
tornando um instrumento de ameaças, exclusão e
disciplinamento, a respeito, afirma Luckesi (2011).
A avaliação da aprendizagem escolar não pode continuar a ser tratada como um elemento à parte, pois integra o processo didático de ensino-aprendizagem, como um de seus elementos constitutivos (LUCKESI, 2011, p.19).
Nesta mesma linha de raciocínio, também
ressaltam Almeida e Franco (2011), quando se
colocam;
O verdadeiro educador consegue envolver os alunos no processo de avaliação, de modo a torná-los dispostos a, sem medo de constrangimento, ouvir críticas e usá-las para crescer. Para conseguir isso, em vez de identificar apenas o erro apegando-se o que estar indo mal, o educador busca primeiro o que estar certo, o que estar bem feito, o que foi sucesso (ALMEIDA; FRANCO, 2011, p.11).
Para esses autores, não há avaliação se ela
não trouxer um diagnóstico que contribua para
melhorar a aprendizagem. Com essa premissa,
Luckesi (2011) passou a estudar as relações da
avaliação com o planejamento e a prática de ensino,
como também seus aspectos psicológicos. Para
Almeida e Franco (2011) o sentido da avaliação eficaz
é aquela que permite ao educador diagnosticar o
processo do aprendiz e definir ações para tornar as
atividades planejadas produtivas.
Ainda com sua contribuição, Luckesi (2011)
enfatiza que a escola opera com verificação e não
com avaliação da aprendizagem. Assim,
a verificação encerra-se no momento em que o objeto ou o ato de investigação chega a ser configurado, sinteticamente, no pensamento abstrato, isto é, no momento em que se chega à conclusão que tal objeto ou ato possui determinada configuração. (…) A avaliação, diferentemente da verificação, envolve um ato que ultrapassa a obtenção da configuração do objeto, exigindo decisão do que fazer ante ou com ele. (…) A verificação é uma ação que “congela” o objeto; a avaliação, por sua vez, direciona o objeto numa trilha dinâmica de ação (LUCKESI, 2011, p.52-53).
Para Almeida e Franco (2011), é vital na
escola um processo de avaliação que considere as
etapas da aprendizagem no momento de planejar os
instrumentos avaliativos, de analisar os resultados
obtidos e de formar o diagnóstico que será
comunicado ao aluno. Para este autor,
150
Se o autor da avaliação entende em que etapa do processo o aluno se encontra, qual a estratégia se espera que ele domine e o que falta para que tenha sucesso nessa empreitada, a expectativa de conseguir atingira a meta torna-se muito mais palpável (ALMEIDA; FRANCO, 2011, p. 17).
Tomando as palavras citadas dos autores,
podemos dizer que a prática educacional brasileira
opera na quase totalidade das vezes, como
verificação. Por isso, segundo eles, tem sido incapaz
de retirar do processo de aferição as conseqüências
mais significativas para a melhoria da qualidade e do
nível de aprendizagem dos educandos. Afinal uma
avaliação que busca a transformação social deve ter
como objetivo o avanço e o crescimento do seu
educando e não limitar o conhecimento através de
práticas disciplinadoras, excludentes, punitivas.
Entendemos que o segredo da avaliação
exige planejamento. É preciso decidir que instrumento
será usado, em que momento e com qual finalidade.
As aprendizagens significativas necessitam de uma
avaliação baseada em princípios com negociação,
respeito à diversidade, diálogo, e uma ação docente
articulada às necessidades dos estudantes
considerando posturas éticas e emancipadoras diante
da realidade escolar.
AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM E SUAS QUESTÕES BÁSICAS
Avaliar é sempre julgar a realidade, para o que
é imprescindível comparar alguma situação, fato ou
elemento da realidade, com um padrão prévia ou
concomitantemente expresso ou subentendido.
Não podemos deixar de fazer balanços
periódicos das aquisições dos alunos. Eles são
essenciais para fundamentar decisões de aprovação
ou de orientação necessárias mais tarde.
Há pouco tempo, a avaliação era usada como
instrumento para classificar e rotular os alunos entre
os bons, os que dão trabalho e os que não têm jeito.
Hoje esse modelo está ultrapassado e atualmente a
avaliação é vista como uma das mais importantes
ferramentas à disposição dos professores para que se
alcance o principal objetivo da escola: fazer o alunado
aprender.
O senso comum tem a ideia de que aprender
é aprender e ponto final. Mas na verdade o processo
não funciona assim. Algumas aprendizagens exigem
mais habilidades motoras que cognitivas ou
emocionais. Outras exigem mais conhecimento e
repertório de mundo do que aptidões práticas.
Segundo Almeida e Franco (2011):
A avaliação sempre é vivida como um processo pessoal e provoca um impacto emocional profundo, qual em geral se reflete no comportamento e nas atitudes dos indivíduos. O resultado do processo avaliativo é coberto por camadas de emoções, que variam de pessoa para pessoa: dúvida sobre a própria capacidade, arrogância, medo, excitação, resistência à crítica. Essas emoções não são prerrogativas das crianças. Todos nós sentimos a cada dia as dificuldades de sermos avaliados (ALMEIDA; FRANCO, 2011, p. 10).
Já para Luckesi (2011):
Nem sempre é fácil encontrar um meio de fazer do trabalho um caminho para uma vida prazerosa. Ao trabalhar com meus alunos tenho tentado a cada dia oferecer incentivo para que possam encontrar mais facilmente, em si mesmos, os meios para obter satisfação e realização por meio do seu trabalho. Não se trata de ensinamentos no sentido tradicional da palavra, mais de sugestões destinadas a orientá-los com seu trabalho e alto desenvolvimento (LUCKESI, 2011, p. 174).
Nas entrelinhas das citações acima, vimos
que mudar padrões estruturados no inicio da vida é
uma das missões mais difíceis de aprender e de se
ensinar. Almeida e Franco relatam que o medo de
errar faz com que muitos fiquem aquém de suas
possibilidades, não arrisquem, não atinjam seu
151
potencial. É muito comum, por exemplo, que os alunos
não queiram expor seus trabalhos aos colegas de
classe. Luckesi diz que cada ser vivo do universo
expressa sua verdadeira natureza no seu processo de
vida. “No entanto não existe realmente nenhuma
limitação quanto ao que podemos realizar, se
apreciarmos, de verdade, todas as oportunidades que
a vida nos oferece” (LUCKESI, 2011, p. 175).
CONTORNOS INICIAIS SOBRE A PRÁTICA AVALIATIVA
Para Almeida e Franco (2011), não se pensa
em avaliação educacional sem pensar em um objetivo
a ser atingido. E, quanto maior o número de
informações, mais acertados os diagnósticos, as
conclusões e até as decisões.
O modelo de avaliação pode centrar a analise
no produto ou no processo. Nos dois casos, fornecerá
apenas um conjunto específico de informações que
devem ser analisadas no contexto. Almeida e Franco
(2011) apresentam alguns dos vários tipos de
avaliação:
Qualitativa – por estar centrada na
qualidade, essa avaliação focaliza mais o
processo e as mudanças que o
aprendizado promoveu nos alunos do que
o produto em si;
Somativa – a avaliação somativa é
costumeiramente aplicada em forma de
provas, testes e produtos quantificáveis;
Emancipatória – prioriza os aspectos
qualitativos do desenvolvimento do aluno
e tem caráter participativo. Esse tipo de
avaliação tem como componentes
básicos:
- a busca pela qualidade;
- o uso de métodos dialógicos;
- a análise dos resultados por todos os
envolvidos no processo.
Quantitativo – essa avaliação
considera o produto e suas
quantificações;
Formativa – voltada para a formação
do aluno, essa avaliação promove a
coleta de dados para reorientar o
processo de ensino-aprendizagem;
Normativo – como essa modalidade
atribui níveis e notas em uma
classificação ordenada, possibilita ao
professor selecionar, classificar e
comparar o desempenho de cada aluno
em relação ao desempenho médio do
grupo do qual faz parte. Na prática, a
avaliação normativa permite:
- identificar quem precisa de apoio;
- realizar agrupamentos.
Diagnóstica – sua função é, como o
nome diz, diagnóstica, sondar como
andam os processos de ensino e de
aprendizagem. A avaliação diagnóstica
tem seu máximo sentido quando feita em
conselho de classe. Resumindo, ela
cumpre três objetivos:
- identificar a realidade e as condições
de quem vai participar do processo;
- verificar presença (ou não) das
habilidades e pré-requisitos necessários;
- identificar as causas de dificuldades
de aprendizagem recorrentes.
Luckesi (2011) lembra que a boa avaliação
envolve três passos:
Saber o nível atual de desempenho do
aluno (etapa também conhecida como
diagnóstico);
Comparar essa informação com aquilo
que é necessário ensinar no processo
educativo (qualificação);
152
Tomar as decisões que possibilitam
atingir os resultados (planejar atividades,
sequências didáticas ou projetos de
ensino, com os respectivos instrumentos
avaliativos para cada etapa.
De acordo com Luckesi, “aprender a avaliar”
significa aprender os conceitos teóricos sobre
avaliação, mas, concomitante a isso, aprender a
praticar a avaliação, traduzindo-a em atos do
cotidiano. “Aprender conceitos é fácil, o difícil mesmo
é passar da compreensão para a prática” (LUCKESI,
2011, p. 30).
Nesse sentido, Luckesi (2011) enfatiza que,
Os conceitos poderão ser aprendidos nos livros e nos artigos de revistas especializadas, assim como em conferências e debates, a prática terá que ser aprendida no dia a dia da vida escolar, experimentando, investigando, buscando novas possibilidades, ultrapassando os impasses e incômodos, sempre assentados sobre conhecimentos significativos e válidos. Certamente que essa aprendizagem não se fará de um dia para o outro. É uma aprendizagem que exige tempo e atenção específicas, na medida em que herdamos e constituímos hábitos que conduzem a uma forma automática de agir (LUCKESI, 2011, p.30).
Teremos então, que aprender a agir com a
avaliação da aprendizagem. Para isso, necessitamos
colocar à nossa frente o desejo de tomá-la em nossas
mãos, dedicando todos os dias atenção a ela, agindo
e refletindo sobre nossa ação, fazendo diferente do
que já foi em compatibilidade com o que efetivamente
significa avaliar.
CONCLUSÃO
De acordo como parecer sobre a avaliação da
aprendizagem, a visão dos autores Luckesi (2011) e
Almeida e Franco (2011) revela que a avaliação da
aprendizagem escolar não consiste em classificar,
selecionar, premiar, promover, ameaçar e disciplinar.
A sintonia entre os autores, parte do pressuposto que
avaliar é o ato de diagnosticar, investigar sobre o
desempenho escolar dos educandos, essa
investigação nos passa o conhecimento sobre o seu
estado de aprendizagem, dando importância ao que
ele aprendeu e não aprendeu.
Para esses autores, o ato de avaliar, por sua
constituição mesma, não se destina a um julgamento
“definitivo” sobre alguma coisa, pessoa ou situação,
pois que não é um ato seletivo. A avaliação se destina
ao diagnóstico e, por isso mesmo, à inclusão; destina-
se à melhoria do ciclo da vida. Deste modo, por si, é
um ato amoroso.
A boa avaliação permite a análise dos
resultados e a escolha dos passos seguintes que vão
reafirmar o compromisso com a aprendizagem e o
ensino mais eficientes e prazerosos. Quando o ato de
estudar, conhecer e trocar conhecimentos dá prazer
ao aluno, a escola toda sai ganhando. Propor e
realizar a avaliação da aprendizagem exige que ela
seja um instrumento auxiliar da aprendizagem e não
um instrumento de aprovação e reprovação dos
alunos.
Assim, a auto-estima e a autonomia do aluno
e do professor se desenvolvem em um ambiente que
busca a criatividade e o respeito pela atitude curiosa e
de experimentação que cada um traz dentro de si
desde o nascimento. “Essas habilidades e
competências fortalecem a opção dos mestres de
ensinar e mantêm neles o gosto e alegria pelo que
fazem” (ALMEIDA; FRANCO, 2011, p. 83).
A avaliação subsidia, em qualquer atividade
humana, o resultado bem sucedido. Ela oferece os
recursos para diagnosticar (investigar) uma ação
qualquer e, a partir do conhecimento que obtém sobre
a qualidade dos resultados dessa ação, intervir nela
para que se encaminhe na direção dos resultados
desejados.
153
BIBLIOGRAFIA
LUCKESI, Cipriano C. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições. 22 ed. São Paulo: Cortez, 2011.
ALMEIDA, Fernando; FRANCO, Mônica G. Avaliação para a aprendizagem: o processo avaliativo para melhorar o desempenho dos alunos. São Paulo: Ática Educadores, 2011.
154
O PLANEJAMENTO É ESSENCIAL NA PRÁTICA PEDAGÓGICA
Maria da Glória Gomes de Meireles Mendonça1
Francisco Xavier de Mendonça2
RESUMO
Através desta pesquisa buscamos apresentar a importância do planejamento Pedagógico, que o mesmo deve fazer parte do cotidiano do professor, inclusive aqueles mais experientes, e destacamos as bases que fundamenta o planejamento e alguns passos que são fundamentais para organizar uma boa prática pedagógica. O professor precisa se conscientizar da importância do planejamento escolar, e compreender porque é fundamental buscar inovações na sua pratica pedagógica, e sempre seguir as leis básicas da educação para um maior aprofundamento nos termos norteadores educacionais. Destacamos também a importância da orientação da proposta pedagógica da escola, este documento não dever constar apenas como documento para provar que a escola esta organizada, mas sim como algo essencial nos encontros pedagógico e das decisões importantes tomadas pela gestão escolar. Colocamos algumas orientações de como planejar? Para alguns podem até julgar como desnecessário pela experiência na profissão, mas nesta pesquisa mostraremos etapas que são fundamentais para o planejamento pedagógico, com base que facilitará a reflexão e a troca de conhecimentos entre os colegas de profissão e a satisfação de estar contribuindo para descoberta de algo novo que não seria possível sem um trabalho coletivo e participativo.
Palavras-Chave: Educação. Prática docente. Planejamento de ensino.
ABSTRACT
Through this research we seek to present the importance of pedagogical planning, that it should be part of the teacher's daily life, including those more experienced, and we point out the bases underlying the planning and steps that are essential to organize a good pedagogical practice. The teacher must be aware of the importance of school planning, and understand why it is essential to seek innovations in their teaching practice, and always follow the basic laws of education for further development in educational guiding terms. We also highlight the importance of the school's pedagogical proposal guidance, this document should not appear merely as a document to prove that the school is organized, but as something essential in the pedagogical meetings and important decisions tak en by the school management. We put some guidelines on how to plan? For some may judge as unnecessary by the experience in the profession, but this research show steps that are critical to the educational planning based to facilitate reflection and the exchange of knowledge among peers and pleased to be contributing to discovery something new that would not be possible without a collective and participatory work.
Keywords: Education. Teaching practice. Educational planning.
155
INTRODUÇÃO
Na sociedade moderna, frente ao mundo
globalizado, a escola é reconhecida como a instituição
responsável pela formação do sujeito crítico, reflexivo,
autônomo e criativo. Com isso novas exigências são
impostas diariamente ao educador para que os
conhecimentos repassados sejam de fato
significativos ao aprendente. Nessa perspectiva, a
presente pesquisa parte das contribuições de alguns
teóricos, procurando desvelar qual é a importância do
planejamento escolar como ferramenta ao
aprimoramento da práxis pedagógica.
Discutir sobre essa temática é essencial para
que o educador construa um referencial profissional
de atuação que corresponda às necessidades de
aprendizagem do educando e para que este se
constitua como um profissional, cuja prática se
assente na ação-reflexão-ação. No contexto
educacional, o planejamento de ensino é uma
ferramenta de suma importância para a vida em
sociedade e na escola, o bom planejamento é o
instrumento da racionalização do trabalho pedagógico
que articula a atividade escolar com os conteúdos do
contexto social (LIBÂNEO, 1991).
Cientes de que toda ação humana sempre é
orientada em prol do alcance de objetivos pré-
definidos, o planejamento é a tomada de decisão
coerentemente sistematizada e racionalmente
organizada tendo como pressupostos: a educação, o
educando, o educador, e os métodos e técnicas de
ensino. Nesta vertente, a educação contemporânea
necessita se revestir de novos subsídios para romper
com a prática tradicional que para o momento atual é
estanque e invasiva, por não conseguir despertar no
educando as competências e habilidades requeridas
pela sociedade do conhecimento às novas gerações.
Para melhor entendimento da questão em
estudo toma-se como mote a análise das obras de
Libâneo (1991), Piletti (2004), Moretto (2007),
Vasconcelos (2000), apenas para citar alguns, que
com seus estudos tem demonstrado que o
planejamento é uma ação necessária em qualquer
espaço de atividade humana e no campo educacional,
torna-se de suma importância para evitar a
improvisação, prever e superar dificuldades e para
cumprir a função social do ensino com eficácia e
eficiência nas ações desenvolvidas.
Nosso principal objetivo é analisar as
dificuldades enfrentadas pela gestão sobre o
planejamento pedagógico, quais os entraves que
impede a essa prática pedagógica, seria a falta de
acompanhamento de uma equipe técnica pedagógica,
a falta de compromisso de alguns educadores ou a
jornada de trabalho de alguns professores, diante das
variados impasses nos propomos aprofundar esta
pesquisa para motivar aos professores da importância
do planejamento na nossa vida diária, por ser algo
essencial ao ser humano onde através do mesmo
traçamos o caminho no qual vamos percorrer. A
educação tem por obrigação ser referência em
planejamento porque é a base de formação do
cidadão.
PLANEJAMENTO DE ENSINO: PROCESSO DE REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA OU PROCESSO
DE REFLEXÃO-AÇÃO-REFLEXÃO
Mesmo com todos os avanços que a
humanidade tem conquistado ao logo dos anos
observamos um ponto fundamental nestes
desenvolvimentos à organização de algo que se
pretende realizar isso se chama de planejamento algo
essencial o futuro da humanidade.
Inclusive Platão em seu livro a república cita a
necessidade de se colocar a escola a serviço da
sociedade e alguns civilizações com exemplos os
povos pré-colombianos aqui na América e várias
outras civilizações adotava em suas práticas métodos
que podemos relatar como planejamento.
156
Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945)
surgiu à necessidade de investimentos na área
educacional como uma prática fundamental no
desenvolvimento de vários países. O planejamento
educacional foi preconizado como o caminho para
viabilizar os avanços em vários planos nacionais.
O processo de planejamento educacional teve
uma maior agilidade nos países desenvolvidos e
transcorreu de maneira mais lenta nos países pobres
ou subdesenvolvidos. Aqui no Brasil podemos citar
como exemplo de planejamento governamental o
Plano de Metas do governo Kubistchek.
No setor educacional podemos apresentar a
Lei nº 4.024/61, considerada a primeira Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional a mesma
“faz pela primeira vez, referência à formulação de um
plano nacional de educação, mas em 1962, elaborou-
se um plano que era apenas, basicamente, um
conjunto de metas quantitativas a serem alcançadas
num prazo de 8 anos”. (PADILHA, 1998, p.100).
Na Lei nº 9394/96 a lei de Diretrizes e bases
da Educação em vigor em seus artigos 12 faz
incumbências aos estabelecimentos de ensino e no
artigo 13 são as incumbências dos docentes
descrevendo a autonomia e da necessidade do
planejamento educacional.
O planejamento pedagógico é essencial para
a vida do professor, é através da organização dos
conteúdos e leitura aprofundada e reflexão com base
na realidade do aluno, daí então o educador toma
consciência dos caminhos que deve percorrer para
conseguir inovar em suas metodologias, que são
necessárias para que os alunos tenham uma
motivação em participar das aulas.
Na atualidade mesmo nas series iniciais a
quantidades de informação que os alunos trazem para
sala de aula são muitos grande por essa razão é de
fundamental importância que o professor possa
interagir fazendo com que os mesmos sejam
colocados no centro das atenções como participante
na construção do conhecimento, caso contrário terá
muita dificuldade com a turma porque as crianças e os
adolescentes e até mesmo os adultos gosta de
novidades, se aula não tiver algo possa lhe atrair com
certeza vão conversar com os colegas usar o celular
trazendo um transtorno muito grande para a sala de
aula.
O ato de planejar deve se tornar uma atitude
prazerosa no cotidiano do professor, não deve ser
considerado um tormento, que alguns acreditar que
não é necessário porque saber como ministrar aula,
mas na verdade não se trata de experiências
acumulada, mas, uma preparação prévia do que se
pretende realizar. Sabemos que não é obrigado
acontecer tudo da maneira que foi planejado, até o
porquê temos por necessidade ser flexível, para que
possamos adequar nosso plano a uma eventual
ocorrência que vier acontecer. Em nosso cotidiano
estamos sempre planejando a nossa vida uma viagem
uma festa um passeio de final de semana, às vezes
quando acontece de receber um convite em cima da
hora procura sempre uma desculpa não planejei nada
por essa razão não posso ir. Uma vida organizada
pessoal e profissionalmente evita o estresse e
possibilitar variados momentos de satisfação além de
contribuir para o sucesso profissional.
Essa indagação tem acompanhado a prática
de muitos educadores que ainda não adquiriram a
criticidade para entender que o planejamento
pedagógico é essencial à vida do professor, uma vez
que é através da organização dos conteúdos, da
leitura aprofundada e reflexão com base na realidade
do educando que o planejamento vai capacitar o
docente a adquirir consciência do caminho que deve
percorrer para conseguir inovar sua metodologia, de
forma que desperte no educando a motivação que o
leve a participar ativamente das atividades que lhes
são proposta.
De acordo com Padilha (2001, p. 30):
157
O ato de planejar está relacionado com tomadas de decisão, com ações; ele prevê necessidades tais como meios, estratégias e recursos disponíveis, visando sempre ao alcance de objetivos, em prazos determinados e etapas definidas, a partir dos resultados das avaliações.
Compartilhando com esse pensamento,
Vygotsky (1998, p. 114) acrescenta que “o único bom
ensino é o que se adianta ao desenvolvimento”; desse
modo, quando planejamos estamos organizando a
prática educativa para auxiliar o desenvolvimento
global do indivíduo.
Na atualidade a quantidades de informação
que os alunos trazem para sala de aula é muito
grande, por essa razão é de fundamental importância
que o professor construa um referencial de atuação
que transforme o educando num co-participante na
construção do conhecimento, e isso só pode ser
alcançado se o educador planejar suas aulas com
vistas a atender as necessidades de aprendizagem do
educando.
De acordo com a LDBEN - Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional de 1996, a qual
preconiza que o planejamento deve nortear as
atividades cotidianas dos professores, para que seja
possível favorecer o pleno desenvolvimento do
educando. Essa preocupação dá-se pelo
reconhecimento de que o conhecimento é um
processo dinâmico, e como tal seu desenvolvimento
requer dos profissionais um forte compromisso
político-pedagógico com a prática docente.
A práxis pedagógica requer do docente
consciência sobre si, sobre suas ações, e isto só pode
acontecer a partir de uma profunda reflexão sobre o
que se faz e sobre as decisões que se toma. Refletir
sobre “o que” e o “como ensinar”, norteia a relação
entre teoria-conhecimento e prática-ação, como um
processo indissociado, de relação continuada de
interpretação e análise da ação-prática, com
referência na teoria-conhecimento. Sem refletir sobre
suas ações, o educador está fadado a desenvolver
uma metodologia ineficaz ao sucesso do educando.
Para Silva e Ferreira (2010, p. 29):
Esse movimento se faz na unidade teoria- prática e prática-teoria, em que o valor epistemológico (conhecimento) e o pragmático (prática) se entrelaçam, superando a fragmentação de conhecimentos descontextualizados, isto é, distanciados da realidade em si e da realidade dos alunos. Podemos afirmar que os conhecimentos escolares só fazem sentido quando atrelados a uma vivência pedagógica e social contextualizada e significativa.
Nesse entendimento, o ato de planejar deve
tornar-se uma ação contínua, uma preparação prévia
do que se pretende realizar. Ciente das dificuldades
enfrentadas no dia a dia certamente corre-se o risco
de não conseguir efetivar na prática o que foi
planejado, isso exigirá do docente a capacidade de
adequar o planejamento de ensino a realidade de sua
sala de aula. O ato de planejar é, pois, ação
intencional do homem e se concretiza mediante a
definição de três aspectos essenciais: a necessidade,
o objetivo da ação e o plano para a realização da ação
(SILVA e FERREIRA, 2010).
Ainda com base nas contribuições de Libâneo
(1994) subtende-se que o planejamento é algo
essencial a prática do professor e que este necessita
atualizar cotidianamente sua prática pedagógica para
não ser ultrapassado pelas inovações quem vêm
ocorrendo na dinâmica escolar.
Para Libâneo (1994, p. 227):
Ao planejarem o processo de ensino, a escola e os professores devem, pois ter clareza de como o trabalho docente pode prestar um efetivo serviço à população e saber que conteúdos respondem às exigências profissionais, políticas e culturais postas por uma sociedade que ainda não alcançou a cidadania plena.
Nessa perspectiva, a tarefa de ensinar não se
reduz apenas a expor conteúdos, como também não
158
pode ser vista como mera transmissão de
conhecimentos; simultaneamente, não é sinônimo de
método, exposição de estratégias, pelo qual se
organiza uma aula, tampouco deve ser vista
unicamente como uma organização do trabalho
escolar. Ou seja, é uma atividade complexa que exige,
segundo Libâneo (1994), um “lidar
epistemologicamente”, “cientificamente” e
“criticamente”, tendo em conta as múltiplas relações
que se estabelecem entre sujeitos, cultura e
fenômenos.
Portanto, cabe ao docente a tarefa de
desmitificar o planejamento, trazendo-o para a escola
como algo vivo, dinâmico e que ao final do ano deverá
estar amassado, rasurado, modificado e marcado pela
dinamicidade da prática do professor, pois “ensinar
exige reflexão crítica sobre a prática” (FREIRE, 1997).
Por essa razão é importante que o professor
tenha interesse pela pesquisa em variadas fontes,
para construir novos subsídios à práxis pedagógica.
Entretanto, é preciso considerar que essa tarefa não é
fácil frente à burocracia que impera nos espaços
escolares, frente à valorização do educador e
principalmente frente àqueles que se recusam a
romper com a pedagogia tradicional.
ETAPAS DO PLANEJAMENTO
O planejamento educacional é fundamental
seguir algumas etapas facilitando a multiplicação do
conhecimento, em primeiro lugar é preciso que o
professor selecione os materiais que pretende
pesquisar e construir suas ideias de forma individual.
No segundo momento deve ser socializado o
conhecimento com os colegas de encontro e num
terceiro momento, apresentação os conteúdos
planejados por todos os professores a equipe
pedagogica ser houver e ser caso não tenha
apresentação ao diretor escolar , e de maneira
coletiva sejam discutido e aprimorado e traçado as
estrategias de avaliação. Os professores precisam
quebrar o paradigma de que o planejamento é um ato
simplesmente técnico e passar a se questionarem
sobre o tipo de cidadão que pretendem formar,
analisando a sociedade na qual ele está inserido, bem
como suas necessidades para se tornar atuante nesta
sociedade. Para LUCKESI (2001, p.108):
“O planejamento não será nem exclusivamente um ato político filosófico, nem exclusivamente um ato técnico; será sim um ato ao mesmo tempo político- social, científico e técnico: político-social, na medida em que está comprometido com as finalidades sociais e políticas; científicas na medida em que não pode planejar sem um conhecimento da realidade; técnico, na medida em que o planejamento exige uma definição de meios eficientes para se obter resultados.”
Como visto até o momento, o planejamento de
ensino é um dos muitos subsidios que auxiliam o
educandor na nobre e díficil missão de educar. Nobre
porque concede ao indivíduo a oportunidade de
auxiliar os sujeitos a descobrirem suas
potencialidades naturais, díficil porque exige dos
sujeitos envolvidos em tal tarefa um forte
compromisso didático-pedagógico com a formação
social e humana dos indivíduos, e nesse processo, o
professor é o elemento chave para qualquer mudança
que se deseje alcançar.
O ato de planejar para ser de fato eficiente
deve orientar-se por etapas que definam quais
objetivos se pretende alcançar a curto, médio e longo
prazo. Nessa elaboração, segundo Piletti (2010) é
preciso considerar:
O conhecimento da realidade – para
atender as necessidades do aluno e
preciso é preciso antes de mais nada,
saber para quem vai planejar. Fazendo
isso, estamos realiando uma sondagem,
isto é, buscando dados. Sem isso, o
educador corre o risco de propor o que é
159
impossivel alcançar ou o que não
interessa, ou ainda o que já foi alcançado
elo educando.
Elaboração do plano – a partir dos
dados obtidos com a sondagem, tem-se
condição de estabelecer o que é possivel
alcançar, como fazer para alcançar o que
julgamos possivel e como avaliar os
resultados.
Execução do plano – consiste no
desenvolvimento das atividades
previstas, sempre levando em
consideração que nesse processo a
reação dos alunos ou circunstancias
presentes no ambiente, exigirão
adaptações e alterações no
planejamento, uma das caracteristicas
essenciais de um bom planejamento é a
flexibilidade.
Avaliação e aperfeiçoamento do plano
– nessa etapa a avaliação adquire um
significado distinto da avaliação da
aprendizagem e u significado mais amplo,
isto é, procura-se avaliar a qualidade do
nosso plano, a nossa eficiencia como
professor e a eficiencia do sistema
escolar (Piletti, 2010, p. 64-65).
Conforme Libâneo (1994) no planejamento de
ensino é importante que o professor use meios para
avaliar suas aulas, para analisar se sua metodologia
está sendo atraente para os alunos, pois seu método
pode influenciar na vida social e psicológica dos
alunos, contribuindo para um cidadão crítico
consciente de seus direitos ou alienado.
Pelo exposto, percebe-se que as etapas de
um planejamento direcionam o educador a elaborar
seu trabalho de maneira crítica, refletindo em cada
passo executado sobre como será sua ação docente.
Ademais, No contexto escolar, o planejamento precisa
ser compreendido como algo vivo, dinâmico, que
contribui com o trabalho intencional, ou seja, um
processo didático necessário, flexível e inacabado.
COMO PLANEJAR
Planejar é pensar sobre que existe sobre o
que se quer alcançar com que meios se pretende agir
(OLIVEIRA. 2007 p. 21). Em qualquer atividade
realizada pelo ser humano existe a necessidade de
um planejamento prévio que nos conduza a alcançar
com sucesso os objetivos pretendidos. Na educação
isso não é diferente, na verdade é uma necessidade
se quisermos realmente formar o sujeito autônomo e
independente, capaz de adquirir informações por
conta própria e fazer, a partir delas, inferências
racionais, lógicas e coerentes. Essa é a principal meta
de qualquer sociedade democrática e moderna.
Para planejar é necessário definir os objetivos
que pretende alcançar. Já os conteúdos dizem
respeito o que se deve ensinar aos alunos, enquanto a
metodologia pode ser definida como as estratégias
que serão utilizadas na consecução dos objetivos.
Após concluir as etapas anteriores, é preciso avaliar
se os objetivos foram alcançados ou se existe a
necessidade de nova adaptação da metodologia
utilizada. Perrenoud (2000, p. 13) aponta que:
Por essa razão o planejamento tem uma importância fundamental, mesmo por mais experiente que seja o profissional, o ato de planejar é necessário para que possamos avaliar o motivo que uma turma assimilou melhor o conteúdo que outra, e além evitar o improviso que percebido como muita facilidade pelo aluno, e contribui para falta de motivação como também para o professor que chegar a sala sem saber o quer vai fazer. Sabemos que o planejamento é flexível, tanto pode como deve realizar ajuste sempre que necessário de acordo com a realidade dos alunos.
160
Contudo, só isso não basta. Perrenoud (2000,
p. 50) ainda alerta que “é preciso ser experiente para
descobrir as artimanhas dos alunos em geral, mestre
na arte de parecer ativos, para saber que o silêncio
concentrado não é garantia de aprendizagem”.
Existem alunos que conversam durante a explicação
do professor e conseguem assimilar com maior
profundidade os conceitos repassados, como também
existem vários que por medo de expor suas fraquezas
ou timidez, mantem-se calados.
O professor deve observar o comportamento
do alunado durante as explicações para detectar os
que apresentam dificuldades, ou os que não se
identificam com a metodologia utilizada, etc. A partir
dessas observações é possível construir uma prática
educativa que seja de fato transformadora, que
consiga mobilizar o educando no seu processo
pessoal de desenvolvimento da aprendizagem. Ou
seja, ao planejar o professor dever contemplar em
metodologia atividades que estimule o aluno a pensar,
a participar, a indagar, para que este/a seja sujeito
principal do ato de aprender, possibilitando ao mesmo
desenvolver suas habilidades e descobrir o talento
que estar escondido e que deve ser despertado
trazendo motivação e proporcionando uma atitude de
bem estar.
Outro ponto importante nessa discussão, diz
respeito ao compromisso do educador com a
construção do Projeto Proposta Político-Pedagógico
(PPP) da escola. Sua participação é de suma
relevância para construir uma escola democrática e de
qualidade. A construção do PPP deve ser uma ação
coletiva, para que todos os envolvidos com a
educação colaborem com sua construção, porque nele
está expresso organização de toda a escola, da sala
de aula e sua relação com o contexto social. Nas
palavras de Gadotti (1994, apud VEIGA 2009, p. 20):
Todo projeto supõe rupturas com o presente e promessas para o futuro. Projetar significa tentar quebrar um estado confortável para arriscar-se,
atravessar um período de instabilidade e buscar uma nova estabilidade em função da promessa que cada projeto contém de estado melhor do que o presente. Um projeto educativo pode ser tomado como promessa frente a determinadas rupturas. As promessas tornam visíveis os campos de ação possível, comprometendo seus atores e autores.
O projeto político Pedagógico tem com base
um documento decisivo nas pretensões educativas
que parte do princípio do planejamento organizacional
para execução da prática pedagógica a partir das
dificuldades apresentada e através das metas
elencadas em busca de solucionar alguns problemas,
para que isso venha ocorre se faz necessário um
diagnóstico da escola para se pensar que tipo de
cidadão a escola pretender preparar para sociedade.
A construção da proposta deve
prioritariamente atender alguns requisitos que são
primordiais a construção deve ter como base um
processo de reflexão de toda comunidade escola, com
um envolvimento de todos os sujeitos que estão
envolvidos no ensino e aprendizagem para que essa
participação possibilite a motivação coletiva para
conscientização na busca de alcançar os objetivos
proposto para construção da cidadania.
A modernidade exige que a escola se revista
de uma nova áurea, e principalmente, que os
educadores se reconheçam como co-construtores de
uma sociedade mais justa e igualitária, aberta a
aceitação da diversidade que impera nos tempos
atuais. Destaque, hoje é consenso o quanto é
importante o professor conhecer quem são os alunos
e quais os conhecimentos prévios que possuem, a fim
de estabelecer o que é necessário para pensar num
planejamento de ensino com possibilidade de ajudá-
los a desenvolver suas capacidades a partir do que
eles já sabem e do que eles são. O papel da escola é
preparar-se para bem socializar os conhecimentos
escolares.
161
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao término dessa pesquisa é possível
compreender que o planejamento escolar é uma
necessidade para vislumbrar melhor as formas de
transmitir os saberes, bem como para aperfeiçoar os
conhecimentos pedagógicos. Sua elaboração
possibilita ao educador compreender que a práxis
pedagógica, para surtir o êxito desejado não pode,
nem deve ser feita ao acaso, antes precisa se adequar
as necessidades de aprendizagem do educando.
No momento do planejamento acreditamos
que é preciso melhor estratégia do encontro
pedagógico que este não deve se transformar apenas
REFERÊNCIAS BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96. 6ed. Brasília: Câmara dos Deputados. 2011. BRIZA, L. Formação, proposta pedagógica, planejamento, sucesso escolar. http://revistaescola.abril.com.br/formacao/proposta- pedagogica-planejamento-bases-sucesso-escolar- 424816.shtml.394, Acessando em 23 de setembro 2014. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática pedagógica. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Editora Cortez. 1994.
em encontro de bate papo entre professores, que o _.Pedagogia e pedagogos, para que?. 9.ed.
ambiente seja um momento de discutir os problemas e
juntos buscar solução e como avaliar o que foi
programado e verificar se todos os objetivos propostos
foram alcançados e diante do resultado analisar quais
as falhas apresentadas e juntos construir ações de
como corrigir o que não deu certo.
Assumir o compromisso com a formação do
sujeito crítico, autônomo, reflexivo exige uma
permanente reflexão sobre os conteúdos de ensino,
que analisados criteriosamente leva o educador a
desenvolver atitudes de curiosidade científicas, de
investigação da realidade, para que a prática de
ensino se caracterize como uma ação vinculada à
aprendizagem e não uma mera transmissão de
conhecimentos, mas a criação de novas
possibilidades de sua produção ou de sua construção.
Mas para isso é imprescindível que o
educador torne-se um pesquisador, questione,
dialogue, esteja aberto a mudanças, porque sem
desenvolver essas atitudes é difícil compreender a
complexidade do mundo atual. É nesta perspectiva
que surge a necessidade de pensar criticamente os
conteúdos, métodos e avaliação para ensinar bem,
conectado com outras práticas sociais para melhor
colaborar na formação dos alunos.
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162
A EDUCAÇÃO INCLUSIVA SOB A ÓTICA DE VIGOTSKY
Pátilla Vanessa Matias Gama1
Sonia Duarte Dantas de Oliveira2
RESUMO
A educação especial e a inclusão têm sido temas relevantes nos últimos anos que permeiam a educação. É preciso educar para o diferente, é preciso urgentemente conviver com as diferenças e acolher as crianças portadoras de deficiência para que as mesmas tenham as mesmas oportunidades e possam interagir no ambiente escolar. Pensando nisso, Vygotsky contribuiu de forma positiva em relação ao tema, promovendo e estimulando a reflexão em relação ao processo de inclusão escolar. Este artigo trás em seu bojo essas reflexões que em muito contribuem para ampliar as ideias e tem como objetivo mostrar a educação especial sob a ótica de Vygotsky, suas contribuições e propósitos. A partir da leitura, é preciso despertar para a reflexão conceitual acerca da inclusão e quem participa dela, no sentido de despertar um novo olhar sobre o tema. Seja qual for o posicionamento acadêmico a respeito, faz-se mister conhecer as ideias de Vygotsky acerca do tema e compreender as considerações que ele faz a respeito. É importante destacar que a realidade inclusiva nos dias atuais não possui um único significado, ao contrário, trás em si muitos fatores, quais sejam: uma série de significados, de muitos olhares, de diversas formas de efetivar-se no contexto escolar. É preciso compreender que a inclusão é para todos e que precisamos ter uma visão que possa nortear os muitos segmentos da sociedade, constituídos das diferenças. Nossa vida em sociedade pressupõe que somos multiculturais e precisamos do respeito de todos, da convivência harmoniosa, da interação social para termos garantido um desenvolvimento saudável.
Palavras-chave: Educação. Inclusão. Contribuições. Vygotsky.
ABSTRACT
Special education and inclusion have been relevant issues in recent years that permeate education. Educating for different, it is an urgent need to live with differences and welcome children with disabilities so that they have the same opportunities and to interact in the school environment. Thinking about it, Vygotsky contributed positively in relation to the theme, promoting and encouraging reflection regarding the process of school inclusion. This article back within itself these reflections which greatly contribute to expand the ideas and aims to show special education from the perspective of Vygotsky, their contributions and purposes. From reading, we must wake up to the conceptual reflection about inclusion and who participates in it, to awaken a new look at the subject. Whatever academic positioning about, it is essential to understand Vygotsky's ideas on the subject and understand the considerations that it is about. It is important to point out that inclusive reality nowadays do not have a single meaning, rather, behind itself many factors, namely: a number of meanings, many looks in many ways to be effected in the school context. You have to understand that inclusion is for all and we need to have a vision that can guide the many segments of society, made up of differences. Our life in society assumes that we are multicultural and we need the respect of all, the harmonious coexistence, social interaction to have guaranteed a healthy development.
Keywords: Education. Inclusion. Contributions. Vygotsky.
1 Graduada em Letras pela Universidade Estadual da Paraíba, Especialista em Língua, Linguagem e Literatura pelo Centro Integrado de Tecnologia e Pesquisa na Paraíba, Mestranda em Ciências da Educação pela Faculdade UniGrendal Premium Corporate e Professora da Rede Estadual da Paraíba.
2 Graduada em Pedagogia pela Faculdade de Estudos Sociais Aplicados de Aracaju, Especialista em Psicologia da Educação pela Universidade Federal da Paraíba, Mestranda em Ciências da Educação pela Faculdade UniGrendal Premium Corporate, Orientadora Escolar da Rede Municipal de João Pessoa/PB e Professora do Município de Santa Rita/PB.
163
INTRODUÇÃO
No decorrer deste século, dentre as teorias da
aprendizagem e do desenvolvimento cognitivo, o
pensamento de Vygotsky toma uma forma mais
consistente no que tange aos fatores psicossociais
como determinantes nas condições de aprendizagem
e desenvolvimento infantil. Na visão de Vygotsky duas
dimensões afetam a evolução e o desenvolvimento do
ser humano, a saber: a dimensão biológica e a social,
que tem a ver com o histórico cultural, onde o ser
humano é percebido como ser sócio histórico,
biologicamente cultural e, culturalmente biológico.
Faz-se necessário, portanto, ao considerar as
realidades escolares, valorizar as dimensões que
interagem com os sujeitos no âmbito escolar. E que
essa valorização não se limite apenas aos alunos,
mas também haja uma ponte aos educadores e
demais funcionários do ambiente escolar e que esses
possam somar com suas experiências sociais e
culturais trazidas para esse espaço.
A educação inclusiva já perdeu o caráter
especial e passou a fazer parte do currículo comum. A
intenção é justamente trabalhar os interesses do aluno
visando seu pleno desenvolvimento.
A escola precisa se adequar a educação
inclusiva de forma a estar orientada pelas normas e
desfazer por completo tudo aquilo que diferencia o
deficiente. O objetivo da escola deve ser de minimizar
as diferenças. Ninguém deve se envergonhar de sua
escola e em suas portas não deve jamais estar
escrito: “Perdei toda esperança os que aqui entrais.”
(VYGOTSKY, 1997, p. 93).
A partir dessa abordagem, pode-se
compreender por que para Vygotsky era fundamental
que se preservasse e, sobretudo, considerasse a
promoção das condições mais plenas e viáveis de
acessibilidade social para as chamadas “crianças
potencialmente ameaçadas”. Vygotsky pensava na
individualização de cada ser ali presente, da interação
com significados. A ênfase que ele dava aos espaços
escolares e sociais não poderia sob nenhuma
hipótese segregar pessoas, muito menos crianças
portadoras de deficiência.
Por essa razão Vygotsky defendia que o lugar
mais propício para todas as crianças era sem sombra
de dúvidas a escola e as crianças portadoras de
deficiência deveriam sim estar nas escolas regulares
para compartilhar do espaço democrático, social e
cultural.
Para Vygotsky a criança começa a aprender
muito antes de chegar na escola, mas é na escola que
novos elementos vão sendo incorporados, o que
favorece grandes avanços no desenvolvimento da
criança.
È no fundamento de sua teoria sócio-histórica
que ele encontra amparo para defender a importância
da interação social das crianças portadoras de
deficiência. Ele cita a riqueza da heterogeneidade nas
experiências do coletivo. Vygotsky entende que é na
amplitude da vivência social que a criança encontra
solo fértil para construção de seu conhecimento e
desenvolvimento.
O OLHAR DE VIGOTSKY SOBRE A EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Vygotsky confirma que as características
humanas são provenientes das relações homem e
sociedade, pois para atender as suas necessidades
básicas, o homem transforma o meio e
consequentemente transforma-se a si mesmo. Essa
afirmação corrobora com a ideia de que a criança,
mesmo nascendo com as funções psicológicas
básicas, aos poucos estas vão se transformando em
funções psicológicas superiores através do convívio e
mediação do outro. Portanto é importante que a
educação inclusiva aconteça de forma responsável e
inclua realmente. Qualquer que seja a deficiência:
visual, auditiva, intelectual e etc. Intervenções
164
adequadas e vivencia social contribui para o
desenvolvimento de qualquer criança, tornando-a mais
autônoma, capaz e feliz.
Para Vygotsky (1997), as duas linhas básicas
determinantes do desenvolvimento humano, desta
maneira, a biológica e a cultural, precisam ser
adequadamente consideradas dentro da psicologia e
da educação, já que seus estudos criticavam a visão
linear que se dava ao desenvolvimento humano de
qualquer indivíduo, por relações de estímulo-resposta
Feed back, extremamente restritas à esfera biológica
e orgânica.
Nesse pensamento, comunga com o
antropólogo Laraia (1986), que também defende a
cultura como condicionante do fator biológico, cujo
ambiente é capaz de moldar, tanto a personalidade do
sujeito, quanto a sua própria vida existencial,
carecendo, para se compreender o comportamento
humano, dessa articulação biocultural.
De acordo com a abordagem de Vygotsky
(1997), uma forma fantástica de entender como se dá
a articulação das dimensões biológicas e culturais é
analisando a situação das pessoas portadoras de
deficiência, uma vez que seu estado de carência
orgânica é mais acentuado e suas limitações no
âmbito cultural podem comprometer o papel
desempenhado pelas mesmas.
Vygotsky (1997, p.93) já era em sua época um
pensador inclusivista quando afirmou que:
“Por suposto que certos elementos do ensino e da educação especiais devem conservar-se na escola especial ou introduzir-se na escola comum, porém, como princípio deve ser criado o sistema combinado da educação especial e comum (...). A outra medida consiste em derrubar os muros de nossas escolas especiais.”
Nesse sentido, ele, no auge do século XX, em
plenas implementações integrativas para as pessoas
com deficiência, já as criticava para defender
veementemente a ideia do atendimento educacional
de crianças, adolescentes e adultos com deficiência
na escola regular, incluindo-as tanto nesse setor
quanto nas mais diversas esferas comunitárias.
O contraste entre as duas dimensões pesa em
favor do prejuízo resultante do isolamento social a que
essas pessoas foram e ainda são costumeiramente
submetidas. Na maioria das vezes não são as
pessoas com deficiência que têm que se adaptar ao
meio, mas o contrário, haja vista que justamente aí
reside a necessidade maior de apoio externo, além,
evidentemente, do suporte às carências orgânicas
específicas. Temos por exemplo, para o surdo o
domínio e uso da língua de sinais; para o cego a
escrita e leitura em Braille; para os paralisados
mentais meios viáveis que facilitem o seu
aprendizado, e assim por diante.
O MARCO LEGAL DA INCLUSÃO ESCOLAR
Em se tratando de educação especial e
inclusão escolar, as muitas propostas de integrar
alunos portadores de deficiência em escolas regulares
surgiram em detrimento das muitas transformações
que ocorreram no cenário internacional da educação
especial. No inicio da década de 1980, um maior
número de alunos portadores de deficiência
começaram a frequentar as escolas regulares.
Esse número de alunos foi aumentando
gradativamente a partir da atenção dispensada a
necessidade de educar as crianças portadoras de
deficiência como consequência da insistente
insatisfação por parte dos pais em relação as escolas
de atendimentos especiais. Muitas dessas unidades
acabavam por estigmatizar e segregar as crianças que
ali estudavam.
A partir da década de 1980, esse modelo
educacional cuja base era a integração do educando,
começa a ser questionado. Um novo paradigma
emerge da inclusão escolar, que pressupõe uma
ampla abertura na escola para atendê-los, a todos,
165
sem qualquer distinção, em sala regular, cujo princípio
maior era o respeito às suas diferenças e o
atendimento de suas necessidades individuais.
Aquelas modalidades e serviços educacionais
especializados existentes na escola passam a ser
questionado em decorrência do seu caráter altamente
segregativo.
Conforme o exposto acima, alguns países no
cenário internacional emitiram os primeiros sinais de
sensibilização em relação a essas novas ideias e,
como que num efeito dominó, produziram intensos
impactos significativos na forma de enxergar a
educação dos alunos com necessidades especiais
praticamente em toda a Europa e, posteriormente, em
todo o mundo.
O movimento em prol da inclusão começou
por volta de 1985 nos países mais desenvolvidos do
mundo e tomou impulso na década de 1990 naqueles
em desenvolvimento. A busca de uma escola que
atendesse a todos foi documentada pela primeira vez
em 1979, no México. Na ocasião, um grupo de países,
por iniciativa da UNESCO (Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura),
assinou o Projeto Principal da Educação que tinha por
objetivo definir e adotar algumas medidas capazes de
combater a elitização da escola nos países da
América Latina.
Conforme os estudos de Facion (2005) crê-se
que a semente da inclusão foi implantada pela DPI
(Disabled Peoples' International), uma organização
não governamental, criada por líderes deficientes,
quando em sua Declaração de Princípios, em 1981,
definiu o conceito de equiparação de oportunidades e
defendia que os sistemas gerais da sociedade, tais
como o meio físico, a habilitação e transporte, os
serviços sociais e de saúde, as oportunidades de
educação e trabalho e a vida cultural e social,
incluídas as instalações esportivas e de recreação,
fossem acessíveis para todos, em todas as áreas,
permitindo-lhes assim alcançar uma qualidade de vida
equiparada a de outras pessoas.
Outros documentos se sucederam e o mais
célebre deles é a Declaração de Salamanca, um
documento sobre os princípios, políticas e a prática da
educação para as necessidades especiais,
considerado como ápice desse processo, assinada em
10 de Junho de 1994 na Espanha. Ele se utiliza de
diversos termos relacionados à inclusão, dentre eles:
educação inclusiva, princípio de inclusão, escolaridade
inclusiva, políticas educacionais inclusivas, provisão
inclusiva às necessidades educacionais especiais,
inclusão na educação e no emprego e sociedade
inclusiva, sendo, sobretudo, a principal responsável
pela oficialização desses termos no campo
educacional em todo o mundo.
Foi com o objetivo de promover uma
educação para todos que mais de 300 representantes
de 92 Governos e de 25 organizações internacionais
reuniram-se para essa Conferência na cidade de
Salamanca a convite do governo espanhol e da
UNESCO. A inspiração para esse encontro foi
marcada pela reafirmação dos direitos de todas as
pessoas à educação, conforme a Declaração
Universal de Direitos Humanos, de 1948, e, ainda,
ratificar o empenho da comunidade internacional em
cumprir o estabelecido na “Conferência Mundial sobre
Educação para Todos”, em Jomtiem, na Tailândia.
Nesta conferência, em 1990, as Nações
Unidas, representadas pela UNESCO, propunham e
garantiam a constituição de um sistema educacional
inclusivo, frisando-se a democratização da educação,
independentemente das diferenças particulares dos
alunos. O mais célebre documento da educação
inclusiva é consequência de todo esse processo, mas
as raízes do que foi discutido na Espanha naquela
ocasião estavam registradas nas diversas declarações
das Nações Unidas que culminaram no documento
Normas Uniformes sobre a Igualdade de
166
Oportunidades para as Pessoas com Deficiência,
assinado em 1993 e publicado em 1994.
De acordo com estas normas, os Estados são
obrigados a garantir que a educação de pessoas com
deficiência seja parte integrante do sistema educativo.
Por ele, firma-se a urgência de ações que
transformem em realidade uma educação capaz de
reconhecer e respeitar as diferenças, promover o
processo de ensino aprendizagem e atender às
necessidades de cada criança, individualmente.
A Declaração de Salamanca (1994) evidencia
que a educação inclusiva não se refere apenas às
pessoas com deficiência, e sim a todos os seres
humanos, sem exceção, que tenham necessidades
educativas especiais em caráter temporário,
intermitente ou permanente. Isso entra em
consonância com a filosofia da inclusão na medida em
que ela não admite exceções: todas as pessoas
devem ser incluídas. O seu princípio fundamental “[...]
é de que as escolas devem acolher todas as crianças
independentemente de suas condições físicas,
intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou
outras” (p. 17).
Recomenda-se, ainda, que essas instituições
escolares se ajustem a essas necessidades quaisquer
que sejam elas, incluindo aquelas das pessoas que
vivem nas ruas, as que trabalham, as nômades, as de
minorias étnicas, culturais e sociais, além das que se
desenvolvem a margem da sociedade, inclusive as
culturalmente estigmatizadas, como é o caso do povo
nordestino brasileiro, cujas peculiaridades culturais e
regionais são tão menosprezadas, seja pelo fator
linguístico, seja pelos seus valores de convivência
social.
Acompanhando nossa caminhada histórica, e
ainda fundamentando-se nos estudos de Facion
(2005), outros movimentos subsequentes à
Declaração de Salamanca foram organizados pela
DPI como o de Madri, aprovado em 23 de Março de
2002, que proclamou o ano de 2003 como o Ano
Europeu das Pessoas com Deficiências.
O objetivo maior, desse movimento, centrava-
se na conscientização da população sobre os direitos
de mais de 50 milhões de europeus com deficiência.
Essa declaração tem como determinação a não
discriminação e a ação afirmativa para promover a
inclusão social. Seguem com a mesma força e
impacto social a aprovação em 18 de outubro de 2002
de mais duas declarações: a de Caracas, na
Venezuela, e a de Sapporo, no Japão.
A Declaração de Caracas destaca o
compromisso de todos em elevar a qualidade de vida
das pessoas com deficiências, inclusive das suas
famílias, estabelecendo-se, assim, o ano de 2004
como o ano dedicado tanto às pessoas com
deficiência, quanto às famílias, no prisma da
equiparação de oportunidades. Já a Declaração de
Sapporo, organizada e composta apenas por pessoas
com alguma necessidade especial, diz que, na
condição de pessoas com deficiências, opõem-se a
guerras, violência e todas as formas de opressão,
além de desejarem construir uma organização unida e
forte.
Todos esses acontecimentos destacam a
ampla mobilização mundial de pessoas com
deficiências em busca de seus direitos e uma melhor
qualidade de vida. A inclusão social e escolar tem
servido como alavanca para esse processo. Então, o
professor começa a ser desafiado cotidianamente a
trabalhar com a diversidade em sala de aula, ou seja,
com as diferenças individuais de todos os seus
alunos, não deixando ninguém excluído dos processos
educacionais, e vai até mais além, quando inclui
mudanças na forma de enxergá-los, envolvendo, nas
suas posturas cotidianas, a quebra das barreiras,
tanto pedagógicas quanto atitudinais.
167
O COTIDIANO ESCOLAR NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Para Pires (2004), o cotidiano é o conjunto de
todas as atividades rotineiras e significativas da vida
de uma pessoa. Corresponde a tudo que acontece no
seu dia-a-dia e passa a ter um atributo que determina
a sua forma de ser, de pensar e de agir, seja em casa,
na rua, no bairro, na cidade, no Estado, seja em
situações triviais, no ônibus, no trabalho, nas
conversas entre amigos com manifestações de
sentimentos e afetos.
Já o cotidiano escolar é o cenário onde se
refletem todos os comportamentos que constituem a
diversidade social de uma sala de aula. Enquanto
isso, o cotidiano na escola inclusiva diz respeito a tudo
que envolve a vida do sujeito, o que ele traz consigo
para o ambiente escolar.
Essa realidade está repleta de acontecimentos
concretos que permeiam as relações interpessoais
entre os sujeitos, outros agentes da escola e o mundo,
sendo, para essa autora, o maior desafio da escola
inclusiva o pleno desenvolvimento de todos os seus
educandos através de intensas renovações
curriculares e pedagógicas com o efetivo respeito às
diferenças escolares, isso porque o ambiente escolar
é uma extensão do ambiente social e vice-versa,
repleto de barreiras que precisam ser enfrentadas.
Conforme o pensamento de Carvalho (2000),
com respeito às barreiras que dificultam as
aprendizagens de todos os alunos, estão inseridas
nesse quadro caótico tanto as de caráter
arquitetônico, quanto às pedagógicas, servindo de
graves entraves ao processo educativo. Isso porque
fazem parte das falhas estruturais da sociedade,
influenciando, sobretudo, nos processos dialógicos
das relações, seja devido às metodologias obsoletas,
ou pela prioridade dada ao “como se ensina” em
detrimento ao “como se aprende”, considerando o
alunado como meros “expectadores”, quando, na
verdade, são eles os verdadeiros “protagonistas” do
processo ensino-aprendizagem.
Nessa perspectiva, é preciso enfrentar,
principalmente as barreiras atitudinais, para que elas
se transformem em soluções dos problemas que
surgem na práxis pedagógica, transformando-os.
De acordo com as ideias de Demo apud
Carvalho (2000), no que se refere à práxis
pedagógica, faz um paralelo comparativo entre as
duas formas de atitudes educativas no âmbito escolar,
pois, na medida em que uns valorizam as
metodologias, outros colocam sua energia em torno
dos alunos, os aprendizes; enquanto aquele é o
professor que transmite conhecimento, este é o
educador preocupado com a pessoa de seu aluno.
Ainda em consonância com as reflexões de
Carvalho (2000), é, portanto, preciso mudar de atitude
e lançar sob a educação Especial um novo olhar,
tirando-a da condição de subsistema da educação
formal, inserindo-a de fato neste de maneira holística
e humanizada.
Na realidade, é todo o sistema educativo que
precisa ser encarado de forma diferente, tendo como
eixos norteadores as mais variadas formas de
inclusão capazes de ver o “especial na educação”
porque ela auxilia no crescimento humano. Para essa
autora, a inclusão é o processo pelo qual todos têm
acesso ao convívio social. Ela é peculiar ao ser
humano nas suas mais variadas dimensões (familiar,
lazer, escolar, moradia, segurança etc.) porque diz
respeito aos direitos básicos que compreendem a vida
do cidadão.
Prossegue dizendo que a confusão que se faz
em se achar que o verbete “Educação Especial” faça
parte só do que se refere à educação das pessoas
com deficiência é um grande equívoco que precisa ser
revisto dada a necessidade urgente de uma
transformação atitudinal nas ações que englobam os
procedimentos de ensino-aprendizagem como um
168
todo, pois necessidades especiais todos nós temos
em algum momento de nossas vidas.
Outro olhar, apontado por ela, traz uma
concepção inovadora de necessidade quando afirma
que os educandos com deficiências têm, no cotidiano
de suas especificidades e limitações físicas ou
sensoriais, “necessidades específicas”, ou seja, o
aluno cego tem a “necessidade específica” de
aprender o Sistema Braille para acompanhar, com
êxito, a dinâmica da sala de aula; o aluno surdo tem a
“necessidade específica” de aprender a Língua
Brasileira de Sinais (LIBRAS) com o mesmo propósito,
e assim por diante, com as demais deficiências.
Então, mergulhados nesse contexto complexo,
o desafio para o novo milênio são as novas
perspectivas de enfrentamento dessa realidade, sendo
a maior delas a conquista do interesse de se conhecer
o diferente e o especial da educação como um fato
inerente a esse processo, haja vista que todo ser
humano é único e individual, portanto, diferente e
especial.
De acordo com as ideias de Coelho (2006), o
acesso e a permanência dos alunos especiais na rede
regular de ensino têm que, da mesma forma, estar
comprometidos com as mudanças de atitudes, tanto
no âmbito administrativo, quanto no pedagógico,
garantindo o respeito às especificidades e
necessidades dos seus educandos. O processo
avaliativo precisa ser revisto, pois não se pode avaliar
da mesma forma, utilizando-se dos mesmos
mecanismos, para todos os sujeitos, uma vez que lida
com pessoas diferentes, com ritmos próprios de
aprendizagem.
A ideia de igualdade para todos é, nesse
enfoque, excludente, porque subjuga a diferença. Não
basta só matricular a pessoa na escola e pronto, é
imprescindível o compromisso com as diferenças e
peculiaridades dos indivíduos: é preciso que o PPP
(Projeto Político Pedagógico), documento que norteia
toda a práxis escolar, esteja pautado em políticas
educativas que contemplem as mais variadas formas
de aprendizagens significativas.
A equipe profissional necessita conhecer os
pressupostos da Educação Inclusiva como ponto de
partida para se entender o que significa incluir um
aluno com necessidades especiais nas classes
regulares, este entendido como todos os alunos que
chegam à escola com vontade de aprender.
“[...] preventivamente, cabe examinar a formação inicial de todos os professores, de modo a assumirem a perspectiva da educação para todos ao longo de toda a trajetória profissional, aliando qualidade com equidade.” Pensamos que não basta receber tais alunos para a mera socialização, o que seria mais uma forma de exclusão, é necessário um atendimento que oportunize o desenvolvimento efetivo de todos, para isso, torna-se primordial que o professor tenha uma prática reflexiva e fundamentada. Que busque capacitar-se, visto que somente a formação inicial pode não ser suficiente para o enfrentamento de questões tão sérias e por vezes difíceis de lidar. O art. 18 Diretrizes Nacionais para Educação Especial na Educação Básica dispõe sobre os professores e sua formação para atuar no contexto inclusivo: “[...] professores capacitados e especializados, conforme previsto no artigo 59 da LDBEN [...] a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura de graduação plena. (BRASIL, 2001, p.77).
Cada pessoa apresenta um nível de
dificuldade para aprender determinadas coisas.
Gardner (1994), através de sua pesquisa na área da
ciência cognitiva, buscou avaliar também, o
desenvolvimento de diferentes capacidades em
crianças consideradas “normais” e “superdotadas”,
adultos com lesões cerebrais, autistas etc. Como
resultado de suas pesquisas, Gardner destacou
alguns tipos de inteligência, entre elas uma merece
maior destaque para o tema abordado que é a
inteligência interpessoal. Baseia-se na capacidade de
169
perceber distinções nos outros. O professor pode criar
meios para desenvolver essa inteligência através de
trabalhos e experiências em grupo que desenvolvam
habilidades de aprendizagem. Nessa perspectiva as
interações e os estímulos bem planejados nos
remetem ao conceito da Zona de Desenvolvimento
Proximal (ZDP), em que Vygotsky definiu o
desenvolvimento do aprendiz em três estágios, a
saber: 1) Real: determinado pela capacidade do
indivíduo solucionar independentemente as atividades
que lhe são propostas; 2) Potencial: determinado
através da solução de atividades realizadas sob a
orientação de um outro indivíduo mais capaz ou em
cooperação com colegas mais experientes; e por fim,
3) Proximal: considerada como o nível intermediário
entre desenvolvimento real e desenvolvimento
potencial. Essa Teoria confirma que todos podem
aprender através das interações e do cooperativismo.
Assim, a escola, cenário da diversidade, que
reflete todos os anseios dos indivíduos, vai ser
diferente, feita para pessoas diferentes, respeitando-
se a si mesma, colocada no mundo de forma dialética,
baseada nas trocas de experiências e preocupada
com o “como se aprende”, com competências
pedagógicas construídas em propostas que repensem
os contextos de seus educandos. Propostas que
saiam do papel e transformem realidades cheias de
alegria e esperança de uma melhor qualidade de vida
para todos.
É notória a necessidade de uma formação e
preparação melhor dos professores para que possam
fazer um bom trabalho, e quando se trata de inclusão
há uma necessidade ainda maior de novas
abordagens, experiências e aprendizagens que
promovam êxito nas práticas pedagógicas. Marchesi
(2004) comenta que criar escola inclusivas de
qualidades, requer mais que boas intensões,
declarações e documentos oficiais, requer que
sociedade, escola e professores tomem consciência
das tenções e organizem condições para criação de
escolas inclusivas de qualidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Paradoxalmente, quanto mais uma sociedade
necessita tornar-se inclusiva para atender as diversas
necessidades humanas de qualidades culturais e
sociais, porque seus indivíduos estão excluídos
desses processos de aquisição espiritual, material e
intelectual, é que mais estigmas aparecem nas suas
relações sociais e, por conseguinte, mais pessoas vão
lutar para conquistar seus espaços de direito, mais
pessoas vão lutar para participar das tendências
sociais inclusivistas. Isto se deve ao fato de que a
sociedade é naturalmente inclusiva porque ela é
essencialmente plural e diversificada, como também
vastamente heterogênea na sua constituição e, como
num efeito cascata, desigual na apropriação dos
direitos.
A administração dessa diversidade, em
direção a uma sociedade mais inclusiva, implica
igualdade de direitos na diversidade e, inclusive,
diversidade na capacidade de contribuir para o bem
comum de todas as pessoas. Tudo isso se reflete na
inevitável possibilidade de dinamismo e versatilidade
dos acontecimentos sociais. São, justamente, esses
elementos que parecem criar um terreno fértil para
construção de novos desvios e estigmas na sociedade
inclusiva.
Novos desvios e estigmas, nessa sociedade,
são necessários e imprescindíveis no processo de
qualidade dos direitos e construção social. São estas
as sociedades que mais necessitam tornarem-se
inclusivas para atender à altura de suas capacidades
culturais, materiais, intelectuais, espirituais e sociais a
superação dos direitos desiguais e condições
desiguais de existências humanas. Sendo assim, o
estigma em tempos de inclusão, como sempre foi ao
longo dos tempos remotos da história, é inevitável
170
para uma sociedade que pretende ser, de fato,
inclusiva. Eis o grande desafio desse milênio.
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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA. Disponível em: <http://cae.ucb.br/tas/tas/tas13.html>. Acesso em: 19 de junho de 2016.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
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ANÁLISES DOS ESPAÇOS DE SALA DE AULA DENTRO DOS DESAFIOS DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC)
ARAKAKI, Durce Helena Santos do Nascimento ARAKAKI, Marcos
RESUMO
Este trabalho apresenta discussões, debates e reflexões de várias vertentes educacionais sobre o processo de desenvolvimento das TICs no contexto da sala de aula, bem como levanta questionamentos e experiências provenientes das atividades do ProInfo sobre os espaços da sala de aula na educação.
Palavras-chave: TICs. Sala de Aula. ProInfo.
Professora Municipal da Prefeitura de Mataraca. Graduada em Pedagogia e Especialista em Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa pela Universidade Estadual Vale do Acaraú/Unavidal.
Professor Municipal da Prefeitura de Santa Rita. Graduado do Curso de Licenciatura em Letras: Habilitação II pela UFPB e Bacharel em Direito pela Unipê.
172
INTRODUÇÃO
Com a era do desenvolvimento crescente das
Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), a
tecnologia faz parte do cotidiano das pessoas como
um todo, desde aparelhos domésticos, meios de
transporte, e celulares portáteis, essas tecnologias
têm influenciado cada vez mais a rotina da
humanidade.
E na educação isso não poderia ser diferente,
o desenvolvimento das TICs de certa forma chegou a
todos os campos da sociedade e se torna motivo de
preocupações, incertezas e problematizações em sala
de aula. Problemas que começam desde tempos
seculares onde o espaço de sala de aula que não
mudou e de políticas-pedagógicas arcaicas que estão
padronizadas no formato ‘sala-alunos-professor’ que
são ‘empurradas’ para dentro da sala de aula e
passam pelo desenvolvimento desproporcional da
velocidade das TICs que acabam por inviabilizar os
paradigmas dos professores em lidar com esse
desenvolvimento tecnológico na mesma proporção.
Esses contextos das relações problemáticas
entre TICs, sala de aula e projeto político-pedagógigo
podem ter soluções quando a sociedade ou a
comunidade escolar trabalham juntos para sanar as
diversas dificuldades em conjunto, incluindo também o
desenvolvimento constante das TICs e mesmo
prevendo ou antecedendo o surgimento de novas
tecnologias e de como a escola, professores, alunos
lidarão com esses contextos no dia-a-dia.
DISCUSSÕES TEÓRICAS
A pesquisadora Sibilia (2012), no respectivo
livro “Redes ou paredes: a escola em tempos de
dispersão”, diz que a “escola está em crise”,
comparando a instituição da escola como uma
tecnologia obsoleta, incompatível “com os corpos e as
subjetividades das crianças de hoje” (SIBILIA, 2012).
Essas tecnologias fazem parte da atual geração do
século XXI, desenvolvendo pela sua necessidade e
tendências humanas, por tecnologias cada vez mais
rápidas, avançadas e portáteis, tanto que vários
campos do conhecimento humano ainda não
conseguem assimilar ou acompanhar essas
mudanças, como no Direito, na Medicina e muito
menos na Educação.
Para citar um exemplo, o uso dos celulares
por alunos em sala de aula, é considerado um dos
grandes problemas no ambiente escolar, tanto que
existem leis municipais que proíbem o uso do celular
em sala de aula, mas tanto alunos e professores, bem
como a grande maioria da sociedade atual, portam
celulares como um algo indispensável na vida de
muitas pessoas, o uso constante por parte do alunado
pode se tornar um ato abusivo ou prejudicial para os
colegas e o professor que almeja aplicar seus
conteúdos.
A grande polêmica é que, de um lado, uma
parte da sociedade é contra o uso total ou parcial dos
celulares por alunos em sala de aula, enquanto que
outra parte pensa em possibilidades do uso dos
mesmos para fins didáticos e interativos em sala de
aula ou mesmo em chegar a um consenso com a
comunidade escolar para estabelecer limites ao uso
ou não dos celulares, o mesmo acontecendo com
outros aparelhos portáteis eletrônicos dentro do
ambiente escolar. E mesmo proibindo o uso e o porte
dos celulares em escolas, os alunos ainda vão
transportar celulares, mesmo que clandestinamente
para sala de aula, vide os problemas de locais onde
não deveriam portar celulares como presídios e
concurso públicos e ainda assim acontece.
De certa forma esse é um exemplo que entra
em contraposição ao mundo da educação,
principalmente se essa educação se refere ao Ensino
Fundamental de um público mais jovem, onde as
soluções para determinado conflito se baseia na
retenção pela força e autoridade, e não em políticas
173
educacionais-pedagógicas que forneçam alternativas
para aprimorar uma aula no contexto sócio-
educacional da realidade em que se vive.
No entanto, existe uma maior flexibilidade em
cursos livres, universitários e de pós-graduações que
aderiram ao sistema de Ensino à Distância (EaD), e
que apresentam experiências interessantes sobre a
permissão de dispositivos eletrônicos conectados com
a internet para auxílio ou material complementar em
sala de aula, isso porque de certo modo o público de
maior idade costuma ter uma maior responsabilidade
sobre seus atos e tende a usar tais dispositivos e
recursos em favor próprio com maior foco e objetivos
específicos (pelo menos é o que se espera de uma
parte do alunado que tenha acesso a tais tecnologias).
Outro fator problemático existente é a falta de
uma formação adequada da maioria dos professores
sobre as tecnologias vigentes, bem como da
atualização e modernização desses conceitos para a
prática na real utilização desses recursos, que até
mesmo são enviados e fazem parte de um projeto
político-pedagógico educacional de escolas, mas que
na teoria e na prática nunca são utilizados ou só
utilizados em exceções esporádicas, como é o caso
de muitos laboratórios de informática em redes
públicas que ficam amontoados de recursos
tecnológicos, onde um erro de gestão não permita que
a utilização seja efetivada, porque de certa forma,
muitas pessoas, professores, alunos e comunidade
possuem seus medos, inseguranças, em lidar com
aquilo que é novo demais, ou diferente demais do
padrão, preferindo excluir e coibir o uso desses
instrumentos, mesmo quando esses instrumentos
poderiam ajudar a complementar, ensinar e facilitar a
realização de tarefas para a comunidade escolar como
um todo.
METODOLOGIA E COMPARAÇÕES DE SALAS DE AULAS
Durante as aulas formativas e discussões
sobre educação na sala de aula do Proinfo1 (Programa
Nacional de Tecnologia Educacional), uma de suas
atividades pedia aos alunos que procurassem, através
de ferramentas de busca da internet, imagens
relativas ao processo educativo com palavras-chaves
de ‘aula, professor, escola’. E em seguida deveria ser
refletido as seguintes perguntas: Quais mensagens
essas imagens transmitem acerca do papel do
professor e do estudante?; Qual a proporção de
imagens que apresentam uma cena tradicional de
professor transmitindo informações?; Qual a
proporção de imagens onde o aluno tem um papel
passivo de apenas ouvir, copiar, exercitar?
Vendo as imagens pelo site do Google,
fizemos uma seleção de quatro imagens, que mais
chamaram nossa atenção, num processo mais
qualitativo, para podermos fazer as análises, incluindo
algumas headlines que acompanhavam as fotos, e
vimos que, a cada 10 imagens que temos de
professores dando aula para alunos, dois parecem
estar dando aula de maneira em que o aluno tira
dúvidas ou que pelo menos faz indagações, enquanto
que em outras imagens restantes os alunos parecem
estar atrelados à passividade de copiar, anotar tudo
que o professor aplica no quadro. Figura 1. Professor perde tempo demais com bagunça no Brasil. Um em cada 5 minutos de aulas no
1 Programa Nacional de Tecnologia Educacional (ProInfo) é um programa educacional criado pela Portaria nº 522/MEC, de 9 de abril de 1997, para promover o uso pedagógico das tecnologias de informática e comunicações (TICs) na rede pública de ensino fundamental e médio.
174
Brasil é perdido por indisciplina dos alunos, mostra pesquisa da OCDE.
Figura 2. Professor em sala de aula. 10 de janeiro de 2013. Professores dão aulas em mais de uma escola para ter um salário compatível.
Figura 3. Maneira de ensinar continua a mesma: uma sala de aula com carteiras enfileiradas e um professor. E este é o desafio que mais preocupa os educadores.
Figura 4. Professor dando aula de joelhos numa escola estadual de Santa Rita.
Em fato, é extremamente difícil para os
professores em geral sair do contexto de sala de aula,
pois é o molde tradicional e padrão de toda escola que
gera algum conhecimento, ou pelo menos alguma
formação em algum conhecimento específico, seguir
esse modelo: sala de aula com carteiras enfileiradas
com o professor ou professora escrevendo no quadro
negro e os alunos copiando apenas (como mostra a
figura 3 e sua headline). Tanto que, para sair desse
ambiente e propor algo novo ou diferente, é preciso
muito planejamento, estrutura, recursos, permissões,
entre outros aspectos, para pôr em prática uma aula
externa ou diferente, por exemplo, visitar um museu
atrelado a algo específico de uma matéria do
professor. E mesmo quando o professor gera alguma
aula diferente, que fuja aos padrões do ensino
tradicional ainda é visto com muita cautela, polêmica e
contradições por parte de pais, diretores,
supervisores, empregadores, e mesmo entre a própria
classe dos professores.
Sem falar, das precárias e problemáticas
condições que atingem grande porcentual da
Educação do Brasil, em todas as áreas do
conhecimento. Por exemplo, a headline da figura 1 diz
que grande parte do tempo de ensino em sala de aula
é desperdiçada pelos professores tentando acalmar
ou tomando ações momentâneas para impedir o
avanço de atitudes de indisciplina em sala de aula, ou
seja, impedir a bagunça geral, tentando punir,
reclamar ou ameaçar o aluno para não cometer tal ato
indisciplinatório. Porque mesmo os professores
brasileiros tendo uma carga horária de trabalho maior
do que muitos países estrangeiros (cerca de 25 a 30
horas semanais contra 19 de outros países), grande
parte do tempo de aula é desperdiçado com o
apaziguamento de atos indisciplinatórios. Mostrando
que tal fórmula de aula tradicional é desgastante e
desmotivadora, principalmente nas primeiras séries
iniciais e dos mais jovens, que sempre possuem mais
força e imaturidade para cometer ou praticar atos de
indisciplina.
A figura 2, mostra uma outra professora de
costas escrevendo no quadro e os alunos copiando,
pode mostrar também que o desgaste e a
175
desmotivação também parte dos professores, que ao
exemplo da aula tradicional, e a headline que
acompanha a imagem, diz que para manter um salário
estável (nem sempre), professores em geral trabalham
em mais de uma escola para manter um salário que
condiz com seus gastos e necessidades. E por
sempre serem considerados uma categoria
responsável por toda consequência da educação da
nação em sala de aula, gera-se desgaste, estresse e
desmotivação muito grande por parte dos professores
em continuar em sala de aula ou mesmo planejar
aulas diferentes, pois é muito mais cômodo continuar
preso em sua rotina e aplicar velhas formas que
aparentemente dão certo: “cinco minutos de grito,
reclamações, ameaças, para evitar atos
indisciplinatórios, conteúdo no quadro e fim da aula
para a próxima aula ou escola, repetir o mesmo
processo”, e também devido a alta carga horária de
trabalho muitos professores ficam sem tempo para
estudar ou buscar cursos de atualizações,
especialização, mestrado, etc., ficando acomodados
no tempo, desatualizados com as mudanças sociais,
principalmente tecnológicas, que mudam o tempo
todo, porque em parte atualmente a educação é
incapaz de absorver todas informações e atualizações
que se pedem no mundo moderno e tecnológico, pois
falta formação dos professores a interagirem com
recursos tecnológicos, assim como os celulares,
tablets, netbooks, notebooks, se tornam um grande
empecilho para as escolas brasileiras, principalmente
dentro da sala de aula.
Na figura 4, vemos um professor dando aula
de joelhos mesmo com o quadro caído no chão,
mesmo sendo um caso isolado ou à parte, essa
imagem representa um pouco a situação de muitas
escolas brasileiras, em que equipamentos e recursos
sejam administrativos, de merenda escolar até
laboratórios de informática, bibliotecas, ginásios
esportivos, existem de forma precária, defeituosa ou
mesmo inexistem em alguns lugares dependendo da
realidade da escola. Para o professor sair de uma aula
comum, são necessários muitos recursos, mas
quando esses recursos são defeituosos, quebrados,
ou mesmo faltam, fica difícil realizar na prática uma
aula diferente ou que saia da forma tradicional, sendo
necessário ter suas adaptações de agir no momento
com aquilo que se tem. Em parte, a educação
tradicional de alunos e comunidades locais também é
precária para cuidar e preservar os patrimônios
escolares ou educativos, a depredação e o
vandalismo por parte de alunos e pessoas de fora e
mesmo da comunidade local, e até da escola,
contribuem para a destruição dos recursos escolares,
principalmente quando falta formação educacional
para todos os setores em rede (desde alunos até a
comunidade local).
Talvez, tenhamos apontado somente os
aspectos negativos da sala de aula, bem como temas
problemáticos da educação brasileira (se bem as
próprias imagens são subjetivas o suficiente para
gerar outras centenas de interpretações e leituras
diferentes), mas não é impossível, nem mesmo um
bicho de sete cabeças, tentar criar e praticar formas
alternativas e diferentes que possam ir além da sala
de aula na educação brasileira, pois há também várias
formas de se dar aula que vão além da forma
tradicional de ensino, embora este ainda seja um fator
predominante em sala de aula.
OUTRAS SALAS DE AULA
Em outro momento, que foi pedido para ser
analisado, tiraram-se fotos de um dia casual de
trabalho na escola, para que se comparasse com as
análises e reflexões. Selecionamos 4 fotos do arquivo
da escola em que funcionava o Programa Projovem
Urbano2, na Escola Municipal João Santa Cruz, no 2 O Programa Nacional de Inclusão de Jovens (ProJovem) na modalidade urbana visa à formação integral do jovem entre 18 e 29 anos que não concluiu
176
período noturno, com os relatos de atividades das
fotos:
Figura-cena 1. Escola João Santa Cruz: Projovem
Urbano
Na primeira semana de aulas do Projovem
Urbano que ocorreram no período noturno, as aulas
foram em círculos (ou quadrados) em que ocorreram
aulas especiais que dinamizaram uma introdução e
acolhida receptivos, mostrando que o Projovem tem
uma dinâmica de aula diferente das aulas normais ou
tradicionais. Utilizamos bastantes recursos
tecnológicos para exemplificar ou mostrar vídeos e
mesmo a prática de dinâmicas que servem de
motivação e encorajamento para os alunos
continuarem a estudar e se interessarem pelo
programa e proposta do Projovem.
Figura-cena 2. Aula PO-Inter.
o ensino fundamental, para inseri-lo no mercado de trabalho e possibilitar a ele o exercício da cidadania. Oferece um curso de duração de 18 meses, que é realizado presencialmente e à distância. Ao participar do programa, os alunos recebem uma bolsa mensal de R$100,00.
Geralmente nas aulas de PO-inter (Professor
Orientador – integrado) a participação do aluno é
levada em conta, o trabalho em equipe é essencial
para o sucesso de uma dinamização especial dentro
da sala de aula, pois cada educador pode incrementar
e dividir, opinar, e trabalhar uma ótica especial para
atender às discussões e anseios que permeiam a
visão de cada aluno
Figura-cena 3. Professor e Sala de Aula
É claro que o espaço predominante tradicional
ainda é operante nas aulas do Projovem urbano.
Ainda constam aulas tradicionais, em que o professor
utiliza o quadro e os alunos sentam nas carteiras para
aprender e assimilar os conteúdos do currículo do
programa, pois não é somente de aulas integradas e
dinâmicas que vive o Projovem, mas também de sete
matérias que precisam ser repassadas aos estudantes
ao longo de 18 meses, que são: Matemática, Língua
Portuguesa, Língua Inglesa, Ciências Naturais,
Ciências Humanas, Participação Cidadã e
Qualificação Profissional do Arco de Turismo. Aulas
demasiadas longas, conteudistas e inexpressivas
demais acabam por afastar os alunos das aulas.
Então, de acordo com o dia e a possibilidade de
recursos, juntamos esforços para construir uma aula
integrada que todos possam interagir e participar. Sem
falar que existe formação obrigatória quinzenais para
todos os professores do Projovem urbano para melhor
se prepararem para as aulas.
177
Figura-cena 4. Evento Escolar: Semana do Estudante
Eventos escolares e datas comemorativas
podem ter uma relevância na vida social e participativa
dos estudantes-alunos que participam da vida escolar,
em que a contribuição com a escola e organização em
rede de vários fatores, como funcionários, gestores,
administração e professores do EJA, que trabalham
no mesmo turno reforça a idéia de que a escola faz
parte da vida dos estudantes e da comunidade local,
indo além da sala de aula.
De certo modo, não escapamos de fazer
propaganda em demasiado de nosso trabalho, difícil
ser parcial quando se está trabalhando com algo que
você lida com apreço todos os dias, mas que apesar
disso ainda tem seus problemas como a evasão
escolar que ocorre muito no período da noite, pois
muitos acabam desistindo do curso e da escola para
trabalhar em empregos temporários, e muitas vezes
sem carteira assinada. Há também os problemas do
tráfico de drogas que é altamente forte no local, e que
de certa forma está ligado também no aumento da
violência e mortalidade juvenil que tanto assola o país,
em seus vários aspectos sociais. E que mostra uma
aula diferente do que foi analisada no tópico anterior,
apesar dos vários problemas é possível integrar e criar
aulas dinâmicas, criativas e diferentes que atraiam e
situem na realidade local do alunado, inclusive criando
contextos de incorporação da utilização das TICs no
cotidiano, uma vez que há o interesse das partes em
construir algo de bom.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Enfim, dificilmente iremos escapar pelo
menos, na educação atual, do clássico modo padrão
de dar aula: quadro, professor e alunos. Como o
desenvolvimento das TICs é, no Brasil, um aspecto
novo que ainda está sendo assimilado de forma bem
lenta pela educação, há uma série de fatores que
englobam a grande problemática social e educativa
que de certa forma atinge toda sociedade. Pois seria
preciso um longo investimento em educação,
formação e melhores condições salariais e de vida
tanto para professores, como alunos, comunidade e
sociedade em geral. E mais do que isso seria preciso
quebrar os paradigmas que estão entrelaçados que
uma aula boa é apenas a sala de aula, quadro e
professor. Enquanto não mudarmos nossa postura
cultural de “sempre levar vantagem em tudo”, de
condenar e não dar alternativas para que algo “novo”,
como as TICs, possa interagir com as pessoas e seus
ambientes de forma integrada, se preferirmos agir com
mesquinharias, intrigas, rivalidade e passividade
ignorante, sem nunca resolver nada, então seremos e
continuaremos atrasados e repetindo os mesmos
erros. Se pudermos chegar numa conclusão em que
todos fatores pudessem se equilibrar poderíamos (ou
não) mudar a mente das pessoas de que é possível
fazer e criar algo novo sem se distanciar do objetivo
final, que é a inclusão e educação de todos.
REFERÊNCIAS FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1970. LUCKESI, Cipriano C. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e preposições. 9ª ed. São Paulo: Cortez, 2008. RAMOS, Edla Maria F.; ARRIADA, Monica C.; FIORENTINI, Leda Maria R. Introdução à Educação Digital: Guia do Cursista. 2ª ed. Brasília: Ministério da Educação/Secretaria de Educação à Distância, 2013.
178
SALGADO, Maria C U e AMARAL, Ana Lucia [orgs.]. Manual do Educador: Orienta<;oes Gerais - Programa Nacional de lnclusao de Jovens - Projovem Urbano. Brasilia, 2012.
SIBILIA, Paula. Redes ou paredes: a escola em tempos de dispersao. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012.
179
A EXPANSÃO DO INSTITUTO FEDERAL NA PARAÍBA, O DESAFIO DA IMPLANTAÇÃO THE EXPANSION OF THE FEDERAL INSTITUTE IN PARAIBA, THE CHALLENGE OF
IMPLEMENTATION
Alexandre Urquiza1
“Proteção social não se restringe a condições individuais, são também condições familiares, são condições de um conjunto de população, mas também do território onde se vive”. (Aldaíza Sposati)
RESUMO
Este artigo visa a fazer uma análise do processo de expansão do IFPB2 na Paraíba, abordando, desde o fim do Curso Técnico Integrado ao Nível Médio em 1997, ao retorno desta modalidade de formação em 2004 e os desafios enfrentados para a implantação dos Campus do IF em Campina Grande, Cabedelo, Patos, Monteiro, Princesa Isabel, Picuí e Guarabira. A metodologia a ser utilizada será a de entrevista oral dos Assessores de Implantação, gravada através de vídeos, em seguida, transcritas e transcriadas para o texto em curso, levantando, além destes dois momentos da história da educação profissional: a importância da expansão para o Estado e para o município; as principais dificuldades enfrentadas para a implantação da unidade; como foram definidos os cursos na implantação e qual a expectativa da cadeia produtiva do município onde estava sendo instalado e da região polarizada por este com relação a chegada do IF. O trabalho busca verificar se é esta ou se pode ser melhorada a forma de ampliação com a construção de novos campi do IF na Paraíba.
Palavras-chave: Ensino Técnico Integrado; Expansão dos Institutos.
ABSTRACT
This article aims to make an analysis of the IFPB expansion process in Paraíba, addressing, since the end of the course Integrated Technical the Middle Level in 1997, the return of this type of training in 2004 and the challenges for the implementation of Campus IF in Campina Grande, Cabedelo, Patos, Monteiro, Princesa Isabel, Picuí and Guarabira. The methodology used will be the oral interview of Implementation Advisers, recorded through video, then transcribed and transcriadas to the text in progress, raising, besides these two moments in the history of education: the importance of expanding to the state and to the county; the main difficulties faced in the implementation of the unit; as the courses in the implementation have been defined and what the expectations of the productive chain of the county where it was being installed and the polarized region by this regarding the arrival of the IF. The work aims to verify whether it is this or whether it can be improved the form of expansion with the construction of new campuses of IF in Paraíba.
Keywords:Integrated Technical Education; Expansion of Institutes.
1 Alexandre Urquiza de Sá - Professor do IFPB, Especialista em Metodologia do Ensino Técnico, Mestrando em Educação pela UniGrendal University, Assessor de Implantação do Campus Avançado do IFPB em Pedras de Fogo – PB. 2 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba.
180
INTRODUÇÃO
A partir de uma vida profissional que foi
construída literalmente dentro da educação
profissional, e como professor desde fevereiro de
1982, na ainda Escola Técnica Federal do Pará, ao
regressar à Paraíba, presenciando as mudanças de
nomenclatura de Escola Técnica Federal da Paraíba
(ETFPB), passando por Centro Federal de Educação
Ciência e Tecnologia da Paraíba (CEFETPB) e hoje,
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
da Paraíba (IFPB) que compõe a Rede Federal de
Educação Profissional e Tecnológica, pudemos(/pude)
vivenciar todas as intervenções e transformações
ocorridas nesse período.
Baseado nessa vida profissional, estivemos
sempre pautados nos estudos na área da Educação.
O IFPB, como instituição formadora na área da
Educação Profissional e Tecnológica, em todas as
modalidades de ensino, tem exercido um papel por
demais importante nesses estudos. Mais ainda, tem
sido objeto de nossas indagações e pesquisas.
No início, em fevereiro de 1982, na Escola
Técnica Federal do Pará, como docente, e,
posteriormente, na ETFPB, onde, além da função
docente, tivemos a oportunidade de passar pelas
Coordenações do Curso de Edificações, Coordenação
de Laboratórios da Área de Construção Civil e pela
Coordenação da Área de Construção Civil, quando foi
possível contribuir mais profundamente com o dia a
dia da instituição de educação profissional.
Dentre várias ações desenvolvidas na
Instituição, destacamos a implantação dos
Laboratórios de Ferrovias (maquete simulando um
trecho de percurso entre cidades, de uma ferrovia, em
escala, representando várias componentes, como:
pátio de estação férrea, pontes, túneis, etc.), vinculado
ao curso técnico de estradas e uma miniestação de
tratamento de água, em acrílico transparente, que
trata água bruta da mesma forma que uma estação de
tratamento de água em tamanho real, atendendo às
exigências da Organização Mundial de Saúde (OMS),
vinculado ao curso de técnico em meio ambiente.
Diante dos desafios teóricos desta realidade
educacional, me propus trabalhar, no Mestrado em
Educação, com o tema: A expansão do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia na Paraíba, o desafio da implantação dos Campi do IF, nos municípios de Campina Grande, Cabedelo, Monteiro, Patos, Picuí, Princesa Isabel e Guarabira, tema este que se insere na linha de
pesquisa Políticas Públicas em Educação. O marco
temporal para esta análise tem início com a
implantação do Decreto n° 2.208/97, passando pelo
Decreto n° 5.154/04 – por se tratarem de dois
instrumentos que interferiram diretamente no Currículo
e na expansão dos IFs no Brasil – e vai até a situação
destes campi em fevereiro de 2016.
A dissertação está em construção, de modo
que, para este artigo, o período avaliado nos remeterá
ao intervalo entre a implementação do Decreto
2.208/97 e o momento da implantação das unidades
do IF acima referidas.
A metodologia consistirá na realização de
entrevistas orais registradas por meio de filmagens,
que serão transcritas e transcriadas, com os
assessores de implantação dos Campi, e o ex Pró-
Reitor de Desenvolvimento Institucional e
Interiorização, PRODI, nomeados pelo Reitor da
época, que protagonizaram esses momentos.
Também será realizada a análise de textos e
documentos sobre os dois Decretos, especificamente
no que tratam do encerramento da matriz curricular da
formação técnica integrada ao nível médio.
O objetivo deste artigo é analisar os dados da
educação profissional relativos à expansão,
denominada de expansão II (Campi de Cabedelo,
Patos, Monteiro, Princesa Isabel e Picuí), acrescido
dos campi de Campina Grande, implantado ainda
181
como UNED3, antes da expansão II, e Guarabira, logo
após os cinco campi citados anteriormente, através do
Instituto Federal da Paraíba.
A sociedade é um organismo vivo e as
relações das pessoas que a compõem estão em
constante mutação, o que torna este tema bastante
instigante, principalmente pela crescente mudança no
modo de ser e atuar do trabalhador e da trabalhadora
no contexto socioeconômico atual, em função do
processo inevitável e crescente de globalização, que
envolve fatores econômicos, sociais, políticos e
culturais, expressando o espírito da época e a etapa
de desenvolvimento do capitalismo em que o mundo
se encontra atualmente.
Esta mutação da sociedade, essa
necessidade de capacitação exigida por um mercado
cada vez mais exigente, que já discute a educação ao
longo de toda a vida e a necessidade de inclusão de
atores que sempre tiveram muita dificuldade no
acesso à educação profissional, pública e de boa
qualidade, direcionaram nossa atenção para o estudo
sobre a decisão governamental de expansão da rede
de educação profissional e tecnológica ao longo dos
rincões, dos grotões do Brasil, como aconteceu com a
implantação dos campi em estudo.
O IFPB, que assim como em outros Estados
da Federação, teve várias nomenclaturas, sempre
primou por uma educação profissional de boa
qualidade e sempre ocupou espaços invejáveis na
concorrência por vagas nas universidades através dos
antigos vestibulares e do ENEM sem, no entanto, ter
esta ação como a sua meta principal. Este é um
comportamento quase uniforme ao observarmos os
campi dos outros Estados da Federação, senão,
vejamos, com base em dados da Pesquisa Nacional
de Egressos dos Cursos Técnicos da Rede Federal de
Educação Profissional e Tecnológica (2003-2007),
3 Unidade Descentralizada de Ensino, localizada em outro endereço ou município, porém, ligada administrativamente ao CEFET em João Pessoa.
observa-se que 72% dos egressos dos cursos técnicos da Rede Federal de EPT no Brasil, com pequena variação nas cinco regiões do país, estão inseridos no mercado de trabalho. Destes 72%, cabe destacar que 38% além de trabalharem, também estudam, evidenciando-se a preocupação de que a educação continuada é fundamental para a empregabilidade. Do total de entrevistados, apenas 22% só estudam e 7% não trabalham nem estudam (PATRÃO e FERES s/d, p. 16).
Gráfico I - Pesquisa Nacional de Egressos dos Cursos Técnicos da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica (2003-2007)
Tota
l
Região Centr o Oeste
Nordest e
Nort e
Sudest e
Sul
BASE 2657 175 797 174 1059 452 A) Trabalhando
34%
39%
36%
32%
27% 43 %
B) Trabalhando e estudando
38%
35%
35%
42%
42%
31 %
A + B
72%
74%
71%
74%
69% 74 %
C) Apenas estuda
22%
18%
21%
20%
24% 21 %
D) Não trabalha/estu da
7%
7%
8%
7%
6%
6%
Quadro 3.1: Situação atual dos egressos no que se refere ao trabalho e ao estudo
Fonte: (PATRÃO e FERES s/d, p. 16).
A Escola Técnica Federal da Paraíba era a
única unidade de educação técnica profissional da
rede federal do Estado, e, por estar situada em João
Pessoa, dificultava o acesso para os estudantes
paraibanos e paraibanas do interior que sonhavam em
ter uma formação profissional na Escola Técnica. A
posição geográfica, no litoral do Estado, obrigava os
pais a arcarem com as despesas de acomodação,
alimentação e locomoção ou a incomodar algum
parente ou amigo próximo para tornar realidade o
sonho do filho ou da filha, assim como a EAF, quase
no limite oeste do Estado, como única instituição
federal de formação técnica voltada para as atividades
rurais.
182
Fazendo um breve resgate, por meio da Lei N°
11.892 de dezembro de 2008, foi instituída a Rede
Federal de Educação Profissional e Tecnológica e
criados os Institutos Federais de Educação, Ciência e
Tecnologia. No caso da Paraíba, o IFPB foi criado a
partir da junção do Centro Federal de Educação
Tecnológica da Paraíba – CEFET-PB que englobava
as Unidades Descentralizadas de Cajazeiras e
Campina Grande – UNEDs, e a Escola Agrotécnica de
Sousa.
Ao longo da história, a Escola de Aprendizes
Artífices passou por transformações e também por
mudanças de denominação. Foi Liceu Industrial,
Escola Industrial de João Pessoa, mais conhecida
como Escola Industrial Federal da Paraíba, Escola
Técnica Federal da Paraíba, Centro Federal de
Educação Tecnológica da Paraíba e, a partir de 2008,
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
da Paraíba.
A educação profissionalizante no Brasil teve
início no ano de 1909, quando o então presidente Nilo
Peçanha criou, por meio do Decreto no 7.566 de 23 de
setembro de 1909, 19 instituições denominadas de
Escola de Aprendizes Artífices com a finalidade de
oferecer ensino profissional gratuito para aqueles que
precisavam de uma profissão e não podiam pagar
pelo ensino.
Em 1955, nasce a Escola de Economia
Doméstica Rural (1955-1979), primeira denominação
da Escola Agrotécnica Federal (EAF) de Sousa,
vinculada ao Ministério da Agricultura, voltada para a
formação de professores rurais através do Curso de
Magistério e Extensão em Economia Rural Doméstica,
por meio da Portaria nº 552, de 4 de junho de 1955.
Ao longo na década de 1960, a Escola de
Economia Doméstica de Sousa também passa por
transformações, chegando a conseguir, em 1969, por
doação de José Sarmento Júnior, conhecido na região
como Dr. Zezé, um terreno que possibilitou a
construção da sua sede definitiva, para a qual foi
transferida no ano de 1970, na av. Tancredo Neves
s/n, Jardim Sorrilândia.
Em 1961, a Lei n° 4024 equipara o ensino
técnico ao ensino acadêmico, permitindo assim que os
egressos das escolas técnicas ingressem na
universidade.
Em 1967, com a denominação de Escola
Técnica Federal da Paraíba, dá mais um passo
importante na consolidação da sua história de
formação de cidadãos e cidadãs e possibilita a
entrada do universo feminino no seu corpo discente.
Em 1978, com a Lei 6545, são criados os
CEFETs, passando a figurarem como tal, as escolas
técnicas do Paraná, Rio de Janeiro e Minas Gerais,
possibilitando a estas instituições a formação de
engenheiros industriais e tecnólogos. No ano seguinte,
a escola de Sousa passa a ser denominada como
Escola Agrotécnica Federal de Sousa, por meio do
Decreto 83.935 de setembro de 1979.
Em dezembro de 1994, o então presidente
Itamar Franco inicia a formação do Sistema Nacional
de Educação Tecnológica, através da Lei 8.948 e, em
abril de 1997, através do Decreto 2.208, o governo
federal exclui dos CEFETs a formação profissional na
modalidade integrada ao ensino médio e congelando a
expectativa de expansão para outras cidades.
A partir de 1997, a Escola Técnica Federal da
Paraíba e Escolas Técnicas dos demais Estados da
Federação são transformadas em Centros Federais de
Educação Tecnológica, possibilitando de imediato a
oferta de cursos de nível superior, a formação dos
Tecnólogos, e em 2008 são transformados em
seguida em Institutos Federais de Educação, Ciência
e Tecnologia.
A nova condição possibilitou a atuação nos
mais diversos níveis da educação profissional, desde
o nível fundamental até a pós-graduação, passando
183
pela educação profissional de jovens e adultos. Neste
momento, o IFPB já contava com os Campi de João
Pessoa, Sousa, Cajazeiras, Campina Grande,
Cabedelo, Patos, Monteiro, Princesa Isabel e Picuí e
já trabalhava com a perspectiva de expansão para
Guarabira, Santa Rita, Centro de Referência em
Cabedelo, Itabaiana, Itaporanga, Esperança e Catolé
do Rocha, perfazendo 15 Campi e um Centro de
Referência em Pesca e Navegação Marítima.
UMA ANÁLISE SOBRE O FIM E A RETOMADA DO CURSO TÉCNICO INTEGRADO AO NÍVEL MÉDIO - DECRETOS 2.208/97 E 5.154/04
Até 1993, quando nasce, como Unidade
Descentralizada de Ensino – UNED, em Cajazeiras, a
educação profissional e tecnológica federal na Paraíba
existia somente em João Pessoa, através da Escola
Técnica Federal, e em Sousa, com a Escola
Agrotécnica Federal. A partir de 2006, com a
implantação do Campus em Campina Grande,
existindo ainda como CEFET, o IFPB, estende-se a
outros 18 municípios do Estado da Paraíba, sendo
eles: Campina Grande, Picuí, Monteiro, Patos,
Cabedelo, Cabedelo Centro, este último, nasce como
Centro de Referência em Pesca e Navegação
Marítima, Princesa Isabel, Guarabira, Santa Rita,
Itabaiana, Itaporanga, Catolé do Rocha, Esperança,
Mangabeira. Estas unidades já se encontram
funcionando com curso regular presencial e, mais
recentemente, com funcionamento através do
PRONATEC e de cursos técnicos na modalidade
subsequentes ao médio, por EaD, em instalações
provisórias, os Campus Avançados de Pedras de
Fogo, Soledade, Santa Luzia e Areia.
É importante ressaltar que o Instituto não é
mais um intruso que chega ao município oferecendo a
educação que sabe fazer, mas, fundamentalmente, o
Campus do Instituto Federal chega para oferecer
educação profissional naquilo que é, prioritariamente,
a identidade econômica da região. Ao capacitarmos
naquilo que o município já tem como matriz
econômica, estamos dando mais uma contribuição
para que a região se fortaleça, cresça e melhore a
qualidade de vida de seus cidadãos e cidadãs e, ao
mesmo tempo, fazemos com que migrar para outros
centros em busca de trabalho ou emprego seja,
apenas mais uma opção, visto que, a formação
adquirida possibilita ser absorvido pelo meio produtivo
local e até mesmo empreender na sua região de
origem.
A expansão possibilita aos estudantes dos
diversos locais do Estado acesso aos IFs na própria
região em que residem ou em municípios a no máximo
50 quilômetros de distância da cidade onde residem,
ao tempo em que traz para o interior do Estado, não
somente a estrutura física dos novos Campi, como
também docentes, técnicos e técnicas administrativas
para residirem na região onde estão estas novas
unidades. Possibilita a permanência de estudantes
nas suas próprias cidades e traz alunos e alunas das
cidades circunvizinhas, possibilitando o acesso à
educação técnica e tecnológica de boa qualidade, com
pequenos deslocamentos e com o devido apoio, via
assistência estudantil, aos que comprovem esta
necessidade. O IFPB tem instalados atualmente no
estado 2.260 servidores, sendo 1.164 docentes, 993
técnicos e técnicas administrativos, 103 docentes
substitutos e aproximadamente, 24.000 estudantes.
A instalação de um campus, de uma
instituição do porte do IFPB também traz renda. O
comércio local é aquecido e, em pouco tempo, novos
prédios são construídos, mudando gradativamente o
cenário do município, trazendo, enfim,
desenvolvimento e melhora na qualidade de vida, na
medida em que, além de educação profissional, o
Instituto prima também pelo tripé indissociável:
Ensino, Pesquisa e Extensão. Esta indissociabilidade
possibilita que o campus do IF execute pesquisas e
ações de extensão que, juntamente com as atividades
184
de ensino, vão consolidando a identidade cultural da
região.
Voltando um pouco no tempo, faremos uma
análise do encerramento da formação técnica na
modalidade integrada ao nível médio, com o Decreto
2.208/97 a partir das falas dos entrevistados (6
homens) e da entrevistada.
O DECRETO 2.208/97 – O FIM DO CURSO TÉCNICO NA MODALIDADE INTEGRADO AO NÍVEL MÉDIO.
A importância da inclusão da análise no
Decreto 2.208/97 neste trabalho deve-se ao fato de
que este instrumento, foi uma ação de violência contra
as instituições federais de educação
profissionalizante, na medida em que interferiu, sem
nenhuma discussão anterior ou participativa, em uma
forma de educação ofertada até então pelos CEFETs,
que eram os Cursos Técnicos Integrados ao Nível
Médio.
Naquele momento, também ficava secundada
toda e qualquer discussão sobre a perspectiva de
expansão dos CEFETs que, na época, tinham no país
uma série de UNEDs em estudos para expansão,
inclusive a de Campina Grande na Paraíba. A
perspectiva de expansão foi postergada por uma série
de exigências contidas na Lei Federal Nº 9.649/98 de
27 de maio de 1998, dentre elas, contrapartidas4 dos
Estados e Municípios que inviabilizavam a expansão.
4Artigo 47: altera o art. 3º da Lei Federal nº 8.948/94. Artigo 66: revoga os arts. 1º, 2º e 9º da Lei Federal nº 8.948/94. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: (...) Art. 47. O art. 3º da Lei nº 8.948, de 8 de dezembro de 1994, passa a vigorar acrescido dos seguintes parágrafos: (...) “§ 5º - A expansão da oferta de educação profissional, mediante a criação de novas unidades de ensino por parte da União, somente poderá ocorrer em parceria com Estados, Municípios, Distrito Federal, setor produtivo ou organizações não governamentais, que serão responsáveis
No ano de 1997, por força da política
neoliberal5, foi imposto, sem nenhuma discussão, o
Decreto 2.208 que, entre outras medidas, eliminava a
formação Técnica de Nível Médio, na modalidade
Integrada ao Médio, pois, separava os conteúdos
curriculares da formação técnica, dos conteúdos
curriculares propedêuticos, questionava o fato do
acesso do egresso do então CEFET, direto à
universidade e interferia diretamente na
expansão/interiorização da educação profissional nos
Estados, que reiniciava a ser vislumbrada naquele
período.
A defesa da formação técnica na forma
integrada ao Nível Médio tem base em autores que
defendem a quebra da dicotomia trabalho
intelectual/trabalho manual. É a concepção de um
ensino médio e de uma educação profissional
integrados e articulados. Trata-se de um ensino médio
integrado “a uma formação científica-tecnológica e ao
conhecimento histórico social, [que] permitam ao
jovem a compreensão dos fundamentos técnicos,
sociais, culturais e políticos do atual sistema
produtivo” (CIAVATTA, 2005, p.15). Passa
necessariamente por entender que
essa forma de compreender o ensino integrado exige a crítica às perspectivas reducionistas de ensino, que se comprometem em desenvolver algumas atividades humanas em detrimento de outras e que, em geral, reservam aos estudantes de origem trabalhadora o desenvolvimento de capacidades cognitivas básicas e instrumentais em detrimento do desenvolvimento de sua força criativa e de sua autonomia intelectual e política. Ao tratarmos de práticas pedagógicas orientadas pela ideia de integridade da formação humana, sistematizamos algumas indicações teóricas e práticas com o propósito de favorecer aos
pela manutenção e gestão dos novos estabelecimentos de ensino. 5 Política de manutenção de um "Estado-Mínimo", preconizada pela doutrina neoliberal adotada no Brasil a partir da década de 1990 que gerou forte desestatização da economia, com a privatização de empresas estatais.
185
educadores de ensino médio e técnico, em particular, subsídios que permitam a construção de arranjos pedagógicos promotores da compreensão da dialeticidade entre as especificidades dos diferentes fenômenos físicos e sociais tratados em sala de aula com a totalidade natural e social (ARAÚJO, 2013, p. 3).
Não se tratava de praticar exclusivamente a
nova modalidade de formação profissional
subsequente ao nível médio, isto porque os CEFETs
já a ofereciam naquela época, com a denominação de
curso técnico pós-médio. Ou seja, a imposição do
Decreto já era praticada, direcionada para estudantes
que já tivessem concluído o nível médio, para um
público mais específico: aqueles e aquelas que não
logravam êxito nos vestibulares e ou trabalhadores e
trabalhadoras com o intuito de se atualizarem
profissionalmente, buscar ascensão profissional na
empresa que trabalhavam, qualificar-se para buscar
outras atividades, enfim, a novidade não era novidade.
E é preciso que seja dito que defender ensino
técnico na modalidade integrado ao ensino médio não
significa, em momento algum, fazer a defesa de uma
formação profissional, simplesmente com a
convivência conjunta de conteúdos propedêuticos e
técnicos. De forma alguma, não se trata de
embaralhar conteúdos, é preciso construir a harmonia
dessa convivência, demonstrando a interdependência
dos conteúdos, a intercomplementaridade.
As diversas experiências de Ensino Integrado, nos diferentes Estados das regiões brasileiras, de Norte a Sul do país, apresentam dificuldades quanto à materialização da proposta de Ensino Médio Integrado enquanto conteúdo. A proposta se restringiu apenas a implantação da forma Ensino Médio junto com a Formação Profissional, mantendo- se a forma pragmática dos anos 1970, sem a materialidade da proposta filosófica, epistemológica e política (COSTA, 2012, p. 37).
A defesa inclui também a crítica, e, objetiva
buscarmos recuperar na literatura pedagógica crítica
ao conteúdo do projeto de ensino integrado, que
possibilite a formação orientada pela formatação das
matrizes curriculares com a ideia de completude da
formação humana, destacando o caráter político desta
proposta (trecho confuso).
O período de vigência do Decreto n° 2.208 foi
bastante questionado pela comunidade, tendo em
vista este não ter sido precedido de nenhuma
discussão com as instituições nem com seus
estudantes, impondo mudanças drásticas no dia a dia
e, também, pelo fato de, naturalmente o ser humano
ser resistente a mudanças.
É possível que se questione o fato de se ter
forçado uma reação contrária a este decreto, antes de
passar o tempo mínimo para se avaliar o resultado de
uma reforma em curso, mas é inadmissível que se
tenha que esperar concluir o tempo mínimo para
análise de uma reforma que veio com o peso da
imposição e sem nenhuma discussão ou
convencimento junto à população ou às instituições
envolvidas. É também importante ressaltar que a
preocupação da instituição era garantir a permanência
da formação do curso Técnico Integrado ao Médio,
que tinha sido abolido com o decreto 2.208/97.
A formação integrada, assumida como princípio educacional, implica superar o pragmatismo que reduz a educação a sua funcionalidade e incluir outras práticas formativas, a exemplo da introdução de elementos de metodologia cientifica, de ética, de economia e dos direitos do trabalho no ensino da filosofia, do desenvolvimento do trabalho em equipe, de projetos, da generalização da iniciação cientifica na pratica formativa. O que exige a implementação de políticas públicas de concessão de bolsas de iniciação cientifica também para o nível médio (FRIGOTTO, 1987, p. 34).
186
No curso da imposição do decreto, os
CEFETs passaram por situações jamais imaginadas
no âmbito dos espaços escolares, a exemplo do dia
em que um professor, Bernardes Martins Lindoso, um
dos idealizadores da reforma, em uma atividade
organizada pelo MEC no auditório professor José
Marques do CEFET João Pessoa, dirigiu-se para a
plateia de servidores e perguntou quem ali ensinava
história ou geografia, momento em que alguns
docentes levantaram a mão ao que ele de imediato
disse: “procurem um lugar para ir porque aqui é lugar
de disciplinas técnicas”. Esse foi o nível de imposição
de uma reforma que tinha o objetivo específico de
atender a exigências do projeto neoliberal ora
implantado no Brasil. Cabe salientar que este
momento vivido no auditório, violento para a
educação, foi confirmado por alguns dos
entrevistados.
Por mais que os técnicos defensores da
reforma entendessem como incorreto o fato de um
egresso do CEFET ascender à universidade, sempre
foi o entendimento geral que o cidadão ou cidadã não
pode ser cerceado nos seus sonhos, e o fato de fazer
um curso técnico não significa que não possa
vislumbrar a possibilidade de cursar a graduação e/ou
pós-graduação, inclusive, em uma área
completamente adversa à que optou quando cursou o
curso técnico integrado ao nível médio.
Após a identificação, na entrevista, a primeira
pergunta foi sobre a vigência dos Decretos 2.208 e
5.154: como tinham vivenciado, e qual o entendimento
dos entrevistados sobre a eliminação dos Cursos
Técnicos na Modalidade Vinculado ao Ensino Médio
(ação do primeiro Decreto) e em seguida o retorno
desta modalidade de formação profissional (objeto do
segundo Decreto).
No caso do Decreto 2.208, que ficou vigente
de 1997 a 2004, o universo de entrevistados vivenciou
a sua implantação, tendo em vista serem servidores
da rede de educação profissional à época. Os 7
docentes – sendo 6 professores e uma professora –
tinham ingressado na Escola Técnica ou no CEFET
em data anterior à implantação do citado Decreto (17
de abril de 1997).
Em nenhum dos entrevistados ou
entrevistada, o Decreto obteve guarida. Todos
discordaram da extinção do Curso Técnico na
modalidade Integrado ao Médio, discordando
completamente, caracterizando a unanimidade pela
não aceitação ao encerramento da formação
integrada.
A mesma frustração se deu ao lembrarem-se
do longo período vivenciado na instituição sem o
espaço para a discussão sobre expansão do IF, na
época CEFET. Também foi feita a defesa da retomada
da implantação de novos campi em outros municípios
mais distantes da capital do Estado, em condições
mais frágeis socialmente e que carecem de formação
profissional, para capacitar e ao mesmo tempo
funcionar como mola propulsora para o
desenvolvimento local, enfrentando o êxodo rural e/ou
possibilitando a convivência com as adversidades
locais, com capacitação que favoreça este
enfrentamento. O DECRETO 5.154/04 – A RETOMADA DO CURSO
TÉCNICO INTEGRADO AO NÍVEL MÉDIO
A partir de 2002, a expectativa da educação
profissional no âmbito dos CEFETs passou a ser
completamente diferente do que foi com a implantação
do Decreto 2.208/97. O novo governo reabriu as
discussões sobre cursos de formação na modalidade
técnico integrado ao nível médio e as Instituições
voltaram a funcionar com a perspectiva da expansão
para outros municípios.
É bem verdade que a expectativa era de que o
Decreto 2.208/97 fosse revogado imediatamente.
Entretanto, acabou se esperando quase dois anos,
187
muitas discussões, quando finalmente veio o Decreto
n° 5.154 de 23 de julho de 2004 que,
Regulamenta o § 2º do art. 36 e os arts. 39 a 41 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, e dá outras providências (BRASIL, 2004).
No seu artigo 9º, revoga o Decreto n°
2.208/97.
Na Paraíba, as ações da expansão foram
retomadas com a implantação da unidade de Campina
Grande, ainda como UNED, segundo entrevistas, por
intervenção política, antes da Chamada Pública, em
um pacote de 33 UNEDs que tinham sido congeladas
no governo de Fernando Henrique Cardoso, e, no final
de 2007, em nível nacional, com o lançamento da
Chamada Pública 001/2007 do MEC/SETEC, abrindo
espaço para candidaturas de 150 municípios que
seriam contemplados com Campus dos IFs em todo o
país, ficando a Paraíba com 5 Campi a serem
implantados.
Inusitadamente, a intervenção direta de uma
reivindicação política só aconteceu em um dos casos,
o município de Picuí, que perdeu o prazo para atender
à Chamada Pública de propostas para apoio ao plano
de expansão da rede federal de educação tecnológica
– Fase II, número 001/2007, promovida pelo
MEC/SETEC, e que o prefeito, na época, buscou
meios para incluir esta unidade, se tornando a quinta
unidade da expansão II no Estado da Paraíba.
As demais atenderam à chamada que se
caracterizava um convite, com uma série de
contrapartidas, obrigatórias e complementares e que
seriam avaliadas para a decisão de quais municípios
seriam contemplados com um Campus. Compunham
as contrapartidas obrigatórias expressas na Chamada
Pública, especificadas como doação à União ou à
Instituição Federal de Educação Tecnológica por ela
indicada:
4.4 [...] de área física destinada à implantação de unidade de educação profissional e tecnológica, desde que a referida área esteja enquadrada em pelo menos uma das três seguintes configurações: 4.4.1 Imóvel sem benfeitorias (terra nua), localizado em área urbana, apresentando dimensão mínima de 20.000 m², e preferivelmente superior a 50.000 m², quando destinado à implantação de unidade de ensino que atuará prioritariamente no setor de indústria e/ou de serviços; 4.4.2 Imóvel sem benfeitorias (terra nua), localizado em área rural ou nas proximidades de perímetro urbano, apresentando dimensão mínima de 50 hectares, e preferivelmente superior a 150 hectares, quando destinado à implantação de unidade de ensino que atuará prioritariamente no setor do agronegócio; 4.4.3 Edificação construída no âmbito do Programa de Expansão da Educação Profissional – PROEP, do Ministério da Educação, ou que reúna as características de Patrimônio Histórico, dispensando-se, neste caso, o atendimento às dimensões mínimas de terreno, estabelecidas nos subitens 4.4.1 e 4.4.2. 4.5 O imóvel ou edificação indicado como contrapartida obrigatória deverá apresentar condições adequadas de interligação às redes públicas de abastecimento de água, eletrificação e telefonia. 4.6 Além das características relacionadas no subitem 4.5, o imóvel ou edificação indicado como contrapartida obrigatória deverá apresentar: 4.6.1 Condições favoráveis de acesso pelos alunos e servidores, mediante existência de: 4.6.1.1 pavimentação nas vias de tráfego que derem acesso ao imóvel indicado; ou 4.6.1.2 linhas regulares de transporte urbano ou rural; ou 4.6.1.3 serviços públicos de transporte escolar. 4.6.2 Características topográficas favoráveis à realização de obras civis; 4.6.3 Características geológicas adequadas no caso de imóveis rurais, como a existência de veio de água perene e de um mínimo de 60% de área agricultável. 4.6.4 Comprovação da inexistência de óbices de natureza ambiental, jurídica e
188
dominial, que possam inviabilizar ou retardar a sua utilização para os fins em questão (BRASIL, 2007).
Neste momento, 2006, a totalidade dos
entrevistados mostrou-se completamente receptiva,
não somente ao fato de viver a perspectiva da
expansão, mas, também, por todo o conjunto da obra
que representava e que será retratada no capítulo
abaixo.
A EXPANSÃO, DA UNED EM CAMPINA GRANDE AOS NOVOS CAMPI DO IF EM CABEDELO, PATOS, MONTEIRO, PRINCESA ISABEL, PICUÍ E GUARABIRA
Neste capítulo, serão analisados os dados
obtidos com a pesquisa de campo realizada na forma
de entrevistas filmadas, transcritas e transcriadas ao
texto, com os sete assessores de implantação,
gestores do primeiro momento da expansão dos
Campi de Campina Grande, já implantado, e dos que
constaram da expansão II e Guarabira.
Foram definidos como objeto deste estudo, os
Campi de Campina Grande, Cabedelo, Patos,
Monteiro, Princesa Isabel, Picuí e Guarabira.
De início, questionamos sobre como
vivenciaram a intervenção dos decretos 2.208/97 e
5.154/04 sobre a formação técnica na modalidade
integrada ao nível médio, que tratamos no capítulo
anterior. Em seguida, questionamos a respeito da
importância da expansão da oferta da Educação
Profissional Técnica e Tecnológica para o Estado da
Paraíba através da implantação de Campus em outros
municípios do Estado.
A IMPORTÂNCIA DA EXPANSÃO PARA O ESTADO E PARA O MUNICÍPIO
A reação foi de unanimidade com relação à
importância da implantação de um campus do IF em
outras regiões de um Estado pobre como a Paraíba,
que sempre foi relegado a um segundo, terceiro
planos – ou na verdade, a sequer ter sido pensado
num plano de expansão com esta magnitude que
levasse unidades deste porte para os grotões da
Paraíba e do Brasil. Um misto de inclusão social;
prioridade na aplicação de políticas públicas; forma
adequada para o enfrentamento do êxodo rural;
capilarização das unidades federais de educação
profissional, forma de fomento para o desenvolvimento
de tecnologia própria, tendo em vista que os IFs são
instituições que praticam ensino, pesquisa e extensão,
e, até expressões como: é um sonho materializado no
sertão ou em outros locais tão carentes quanto,
tornando claro que o anseio, desde sempre, pela
expansão do IF era uma expectativa positiva de
muitos, seja da própria instituição ou da comunidade
fora dela.
Desde Campina Grande, com mais de
300.000 habitantes, com uma identificação
internacionalmente reconhecida com a área de
informática, dispondo de uma Escola Técnica, a
Redentorista que não dispunha até então de uma
unidade do CEFET, que já existia em Cajazeiras.
Apesar de contar com instituições de educação
profissional na rede privada, a expectativa de vir a ter
um Campus já tinha algum tempo, sendo pertinente
informar que a construção do prédio definitivo teve
início em 2006 e sendo concluído em 2007, um
recorde se comparado aos outros, passando pelas
demais unidades, situadas em áreas extremamente
carentes, regiões do semiárido nordestino e que
sempre ansiou por um projeto que possibilitasse
condições de conviver com a aridez do solo nordestino
sem ter que se render às tentações do êxodo rural,
abandonando, sem nenhuma condição de preparação
via educação para as intempéries que se encontra em
outros espaços.
2.2 - AS DIFICULDADES NA IMPLANTAÇÃO
189
Podemos afirmar, com base nas entrevistas,
que é voz corrente dentre os assessores de
implantação que, no que diz respeito à estrutura física,
as dificuldades na implantação foram tremendas. Na
quase totalidade das situações, foram estruturas
bastante inadequadas para o funcionamento de uma
instituição de educação profissional, que além de
necessitar de salas de aula amplas, também
demandava ambientes adequados para a instalação
de laboratórios, problema enfrentado também por
quase todas as unidades. Foram feitas adaptações
iniciais, buscando minimizar o comprometimento da
qualidade do ensino, e ao mesmo tempo, apressando
as obras para a conclusão dos locais definitivos para
alcançarmos o padrão de qualidade que sempre
norteou a educação nos institutos federais ao longo do
país, além de problemas como falta de pessoal,
docente, técnico administrativo, segurança, apoio e
limpeza, internet, dentre outros.
A dificuldade na implantação dos Campi
estudados, comum a todos, apresentou peculiaridades
para cada caso. É preciso evidenciar que grande parte
das dificuldades advém da decisão institucional de
executar a expansão – a construção das estruturas
definitivas – com o funcionamento simultâneo dos
campi, em estruturas provisórias.
A UNED de Campina Grande, segundo o
assessor de implantação, professor Cícero Nicácio,
atual Reitor do IF, trouxe no início a caracterização da
precariedade. A instalação em Campina Grande,
mesmo com todo o empenho da prefeitura, aconteceu
em um prédio locado, com sérias dificuldades de
acessibilidade, salas de aula quentes e pequenas,
pessimamente ventiladas, tudo isto acontecendo em
um período em que a UNED não tinha sequer
orçamento e nenhuma autonomia. Todas as
demandas dependiam de aprovação do CEFET em
João Pessoa. Até as primeiras carteiras foram
emprestadas pela prefeitura.
A demora na construção do local definitivo
levou ao descrédito, em determinado momento, e os
estudantes chegaram a duvidar de que realmente
viesse um CEFET para Campina. Tal situação levou o
assessor de implantação a montar uma operação
denominada de “São Tomé”, para que os estudantes
vivenciassem este momento.
E isso foi muito bacana. Desse dia, nós temos fotografias dos estudantes, entusiasmados com esse momento. Havia uma preocupação dos estudantes, um desconforto em relação às instalações provisórias, mas havia, sobretudo, um desejo muito forte de ter uma Instituição consolidada.(2016).
Por outro lado, contou com importantíssimo
apoio da gestão municipal, na doação do terreno para
construção do prédio definitivo, total desobstrução da
documentação de cartório, a cessão de pessoal da
edilidade para a segurança, limpeza e apoio, tendo em
vista que o campus não tinha pessoal. “Nós
começamos com 9 professores substitutos, me
recordo muito bem, e apenas 2 servidores técnicos
administrativos, sendo um assistente social e uma
técnica de laboratório na área de química. Isso em fins
do ano de 2006” (Idem).
O campus de Cabedelo, cidade portuária do
Estado, que conta com uma boa estrutura no
município, se comparada aos demais, teve a sua
localização definitiva, dentro de uma comunidade
extremamente insalubre. Com sérios problemas de
infraestrutura, localidade de difícil acesso, falta de
saneamento, escolas com condições muito ruins de
funcionamento, se constituindo um dos locais mais
adequados para a implantação de um Campus do IF,
para que se possa resgatar um passivo que a
população mais carente, teve que enfrentar ao longo
dos anos.
Durante mais de um ano o Campus funcionou
em um local completamente inadequado, com
dificuldades de acesso, tendo em vista que, no
190
período das chuvas, a circunvizinhança do campus
provisório o deixava completamente ilhado, tendo as
suas aulas suspensas em vários momentos. Segundo
o professor Avenzoar, “nós começamos a funcionar
sem a infraestrutura instalada e isso causa um stress
na comunidade, isso causa angústia e isso causa
dificuldades administrativas…”. Grandes dificuldades
com pessoal, professores contratados para disciplinas
específicas que provocavam carga horária baixa no
início e prejudicava outras disciplinas ainda sem
docentes. Mesmo com a proximidade com João
Pessoa, as dificuldades de pessoal foram muito
grandes nas diversas áreas, docentes e técnicos
administrativos. Enquanto enfrentava as adversidades,
o prédio de funcionamento definitivo ia sendo
construído.
Com relação ao local cedido para o
funcionamento provisório, o Campus em Patos não
diferiu muito dos demais: uma escola municipal, com
estrutura pessimamente conservada, na saída para a
cidade de Teixeira, nas proximidades do açude
Jatobá, transformando o acesso ao Campus, uma das
grandes, talvez a maior das dificuldades enfrentadas.
Com um sistema de transporte público do município
extremamente precário, dificultava consideravelmente
a chegada de alunos e servidores ao Campus.
Pessoal, docente e técnico-administrativo, foi também
um grande problema. O Campus definitivo ia sendo
materializado em um terreno vizinho ao de
funcionamento provisório. Segundo o professor
Fernando Gurjão, “fomos vencendo essas dificuldades
à medida que foram chegando os equipamentos, os
professores e à medida que recebíamos o novo
prédio” .
No cariri ocidental, onde se situa a cidade de
Monteiro, começou a funcionar, provisoriamente, o
que foi considerada a melhor estrutura até então: o
Colégio Diocesano, com o apoio da prefeitura e da
diocese local. Foram feitas recuperações estruturais
no local provisório: portas, janelas, instalações
sanitárias, etc. Outra observação feita pelo Assessor
de Implantação em Monteiro, professor Ricardo Lima,
foi com relação à distribuição de material por parte da
Reitoria: no início, “cada um que chegava, pegava, o
material e saía embora correndo, não dizia a ninguém,
e ninguém reclamava, certo? Mas a gente brigava no
colégio dirigente, para dividir as cadeiras direitinho,
etc. e tal”. Inicialmente foram enviadas carteiras
antigas, só um tempo depois chegaram carteiras
novas, não tinha internet. Durante aproximadamente 1
ano e meio, o funcionamento do Campus teve grande
dependência do município. A prefeitura bancava a
vigilância, o aluguel do prédio da diocese com o
pagamento de água e energia. Outra grande
dificuldade era pessoal docente. Majoritariamente, a
nossa necessidade era suprida com a contratação de
professores substitutos.
Talvez, das novas unidades, Princesa Isabel
tenha sido o maior desafio. A questão de
acessibilidade começa a partir do acesso ao
município. Localizada na mesorregião da Borborema,
nas proximidades do pico do Jabre, ponto mais alto do
Estado em relação ao nível do mar, o município não
dispunha de local apropriado para o funcionamento
provisório do Campus. Em determinado momento,
chegou a ocupar cinco espaços diferentes,
espalhados pelo município.
Cinco espaços diferentes: Escola Pública Carlos Alberto, Escola Gama e Melo, é… Convento das Carmelitas, dos Franciscanos e um prédio que nós alugamos do senhor José Cazuza, que é um empresário da região, onde funcionava o nosso escritório [...] inclusive um restaurante das Irmãs Carmelitas, que de noite deixava de ser restaurante e passava a ter aula do… do IFPB, as mesas limpavam-se e ali tinha aula, que de dia era restaurante.
O campus de Picuí teve como peculiaridade o
fato de a Assessora de Implantação ser uma docente
do IF lotada no Campus João Pessoa, mas cuja
família dos pais era oriunda de Picuí. Este detalhe,
191
segundo opinião da própria professora, funcionou
como mais um incentivo, além do compromisso que
sempre teve com o Instituto, o laço familiar, provocava
um empenho a mais.
O Campus também teve início em um local
cedido pela prefeitura, uma escola antiga,
praticamente abandonada, “não tinha nada, então eu
tive que fazer tudo, desde a limpeza à colocação de
lâmpadas, portas, eu posso dizer assim, de consertar
tudo que estava danificado para poder iniciar”. Os
reparos foram realizados para que a unidade pudesse
funcionar provisoriamente.
A implantação começou em março de 2009,
com 3 pessoas dos quadros do IF e o pessoal de
apoio cedido pela prefeitura, 12 pessoas e em
setembro do mesmo ano, as aulas já estavam
iniciando. Os docentes eram professores substitutos,
que, normalmente tinham outra atividade remunerada
e o município em questão tinha sérias dificuldades,
dentre elas, o sistema regular de transportes – o
ônibus saía de Picuí às 5 e às 13 horas. A solução era
a utilização do transporte alternativo para chegar e
sair, obrigando a necessidade de concentração de
aulas e turnos para que os professores pudessem
conciliar as atividades.
O Campus contou com o apoio de docentes
do Campus João Pessoa e também de Campina
Grande, que se deslocavam até Picuí, principalmente,
no caso das disciplinas específicas ou de conteúdos
técnicos, como foi o caso do professor Roberto
Oliveira de edificações, Humberto Nilton e Marconi de
eletrotécnica, Mary Roberta de mecânica, dentre
outros. Os docentes tinham a sua carga horário
acrescida das atividades em Picuí para ajudar a
minimizar as dificuldades de um Campus que ainda
não dispunha de um corpo docente com condições de
Fabíola, Pompéia, Denise, numa forma de reconhecer
e ao mesmo tempo retratar o que na opinião dela fazia
com que o IF funcionasse como uma família, pois as
pessoas tinham um compromisso a mais. “Porque a
gente convida, mas ele vai para ajudar NE… porque é
aquela história, eu estou indo para ajudar a instituição,
e você vai por amor”. Além das dificuldades citadas,
tem a questão do precário abastecimento de água.
Picuí tem um dos menores índices pluviométrico do
Estado, entre 250 e 500mm anual6. Água salobra, o
campus tinha obrigatoriamente que viabilizar a água
para beber. Teve que adquirir bebedouros para
garrafão de água mineral.
E por fim, as dificuldades apresentadas pelo
Assessor de Implantação do Campus em Guarabira.
Segundo o Assessor de Implantação, o desejo era
enorme, porém, as dificuldades também. Desde o
local de funcionamento provisório, um prédio alugado
pela prefeitura, dificuldade de pessoal para o início,
parcialmente enfrentada com a disponibilidade de
servidores por parte da gestão municipal. A região
polarizada por Guarabira, tem aproximadamente mais
11 municípios, cujas gestões, tinham interesse na
implantação de um Campus do IF, e que, no início das
discussões assumiram o compromisso de viabilizar o
transporte para acesso dos estudantes desses
municípios para a cidade de Guarabira, tendo em vista
a questão do transporte ser um dos grandes
problemas da região. O não cumprimento deste
acordo, já no início, gerou evasão.
A DEFINIÇÃO DOS CURSOS A SEREM IMPLANTADOS
suprir as suas necessidades. Faço aqui um destaque
para a preocupação da professora Verônica em fazer
constar o nome de outros colegas, como Emanoel,
6Segundo monitoramento pluviométrico disponível em: <http://site2.aesa.pb.gov.br/aesa/jsp/monitoramento/chuvas/ climatologiasGraficos.jsp>. Acesso em 21 de agosto de 2010.
192
A definição dos cursos técnicos foi precedida
por um estudo de prospecção realizado nas regiões
em que seriam implantados os Campi, acompanhado
da realização de audiências públicas com a
participação da comunidade, através dos estudantes e
docentes locais, empresários, cidadãos em geral,
acontecendo nas Câmaras Municipais, após convite
público para toda a comunidade. Eventos como esses
possibilitaram que o participante pudesse sugerir um
curso que lhe interessasse individualmente e ao
mesmo tempo, o estudo balizou a definição entre a
sugestão da maioria e o resultado da pesquisa que
identificou a identidade local, através dos seus
Arranjos Produtivos Locais (APL).
Em Campina Grande, os estudos
direcionaram para cursos de Técnico em Informática e
em Mineração na modalidade Integrado ao Médio
(doravante identificados pela sigla CTIM), em função
da identidade da região com a área de informática e
também pelo fato desta região ser um celeiro de
mineradoras, localizados do cariri ocidental ao oriental
e que tem este município no centro e o Curso Superior
de Tecnólogo (doravante, identificado pela sigla CST)
em Telemática, área correlata à informática.
Para os demais Campi, a metodologia foi
também a das audiências públicas em conjunto com
estudos feitos com base nos APL, o que resultou na
definição dos CTIM em Pesca e Meio Ambiente e o
CST em Design Gráfico para o Campus de Cabedelo.
No caso de Patos, as audiências públicas,
direcionaram para o CST em Segurança no Trabalho;
CTIM em Manutenção e Suporte em Informática;
curso Técnico na modalidade Subsequente ao Nível
Médio (doravante, identificado pela sigla CTSM) em
Eletrotécnica e em Edificações, e o CTSM em
Calçados. Este, após o período de inscrição e
seleção, contou com a aprovação de apenas dois
estudantes. Foi feita uma análise onde se constatou
que seria um risco muito grande contratar docentes e
estruturar laboratórios para uma área com aquela
procura. A comissão optou pela oferta de matrícula em
outros dos cursos oferecidos aos dois classificados e
não implantaram o curso de Técnico em Calçados.
Curiosamente, a região polarizada por Patos dispõe
de várias pequenas indústrias na área de calçados.
No município de Monteiro, no cariri, as
audiências públicas foram direcionadas inclusive em
um lobby para um curso de enfermagem ou de direito,
tendo em vista que na região o atendimento dessas
demandas era através da rede privada e a população
queria uma instituição pública e gratuita. Apesar deste
movimento, a análise feita pela Assessoria de
Implantação foi de que seria um alto investimento para
áreas nas quais o IF não tinha nenhuma experiência
(saúde e direito). Optou-se pela implantação do CTIM
em Manutenção e Suporte de Informática, CTSM em
Manutenção e Suporte de Informática e em Secretaria
Escolar e o CST em Construção de Edifícios.
Em Princesa Isabel, após as audiências
públicas, foram implantados inicialmente os CTIM em
Controle Ambiental e Edificações, CTSM em
Edificações e Manutenção e Suporte em Informática e
CST em Gestão Ambiental.
No Campus de Picuí, a discussão também
passou pelas audiências públicas que contribuíram
para que a Assessora de Implantação definisse pelos
CTSM de Mineração – é importante ressaltar que a
região é cercada de jazidas – e Informática e o CST
em Agroecologia. De início foram matriculados
estudantes nos três turnos, sendo, depois, necessário
ajustar por conta da dificuldade de pessoal, docente e
técnico administrativo.
Em Guarabira, também após as audiências
públicas, definiram-se o CTSM em Informática, o
CTIM em Contabilidade e o CST em Gestão
Comercial, em função da forte identidade do município
e região com a área de comércio, o que possibilitou
que o IF mantivesse um contato permanente com a
193
Associação Comercial e o SEBRAE local, que são
inclusive, membros do Conselho Diretor do IF.
A EXPECTATIVA DA CADEIA PRODUTIVA COM RELAÇÃO AOS EGRESSOS
Em Campina (385.213 habitantes), em
Guarabira (55.326 habitantes) e de certa forma
também em Patos (100.674 habitantes), pode-se
observar na entrevista com os Assessores de
Implantação que havia uma expectativa positiva dos
meios produtivos locais com relação aos egressos do
IF,e a ocupação de espaços de trabalho, bem como
uma qualificação do mercado de trabalho local e da
região. Este entendimento não foi observado com
relação ao campus de Cabedelo. Nestas regiões, com
adensamento populacional bem maior em relação as
demais, estava nítido o entendimento de que a
implantação de um campus do IF iria contribuir com o
desenvolvimento regional, com a qualificação através
da educação profissional, ofertada pelo Instituto. Com
relação aos demais municípios, a expectativa da
cadeia produtiva local era de ter chegado uma
instituição com educação de qualidade,
profissionalizante e que iria possibilitar aos moradores
do local e região, o acesso à educação gratuita e com
qualidade no ensino para seus filhos e filhas. A
perspectiva de que finalmente se tem acesso a uma
instituição de educação para formar, com qualidade, o
povo da região.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo mostra que, mesmo atendendo a
uma Chamada Pública, exceção para os Campi de
Campina Grande e Guarabira, a expansão II atendeu
a necessidade de capilarizar a disponibilidade da
educação profissional, técnica e tecnológica ao longo
do Estado da Paraíba. O Objetivo era fazer com que o
espaçamento entre um campus e outro estivesse
dentro de um raio máximo 50 km. Das regiões do
Estado, após esta fase da expansão, só ficou de fora,
a região noroeste da Paraíba, que viria a ser coberta
com a expansão III, com a implantação do Campus de
Catolé do Rocha. A expansão II, além deste, trouxe os
campi de Santa Rita, Itabaiana, Esperança,
Itaporanga.
Um campus do Instituto Federal, de uma
Universidade Federal ou de uma Universidade
Estadual é um sonho onde quer que seja implantado.
A realização concreta deste sonho acontece quando o
egresso ou a egressa, pode decidir por ficar ou sair
autonomamente no município ou região e isto não
influencia em modificação da sua condição de vida
com qualidade.
Ao sair do Instituto, o cidadão ou a cidadã
precisa estar em condições de enfrentar as
adversidades, seja inserindo-se no mercado de
trabalho local, empreendendo de forma autônoma ou
coletiva ou também, podendo, com o que apreendeu
ao longo do tempo de estudos, enfrentar, qualquer
outro concorrente, em qualquer outro local onde esta
situação aconteça, e, fundamentalmente, ter ciência
de que o processo de aprendizagem é contínuo e
permanente.
É claro que a educação acontece ao longo de
toda a vida e que o limite é a conjugação entre a
vontade individual e as oportunidades.
Independentemente do nível ou forma de entrada, se
na idade regular ou se no PROEJA, o objetivo da
instituição deve a inclusão do estudante nos seus
quadros e sua permanência até os níveis superiores
oferecidos. Este percurso não precisa acontecer de
forma ininterrupta. A instituição deve estar de braços
abertos para todas as idas e vindas que se fizerem
necessárias. Porém, é fundamental que o Instituto, na
reitoria e nos campi, tenha um canal permanente de
diálogo e de estudos com a cadeia produtiva, não com
a obrigatoriedade de atender exclusivamente ao
194
mercado, mas, de estar atento aos anseios deste,
porque a Instituição tem o papel importante, através
do ensino, pesquisa e extensão, de desenvolver ações
e tecnologias e essas, devem obrigatoriamente
atender, a um mercado instalado e fundamentalmente
à modernização, ampliação deste e a instalação de
outros.
É importante fazer mais um registro sobre a
expansão dos campi, que é a necessidade de estudos
com relação às questões hídricas e de energia, pois é
inconcebível que uma instituição de educação
profissional e tecnológica não antecipe estudos com
relação a questões de abastecimento de água e de
energia.
É necessário um estudo aprofundado dos
índices pluviométricos e de formas de enfrentamento
prévio da escassez de água, seja pela disponibilização
de poços ou de espaços de armazenamento onde se
fizer necessário, tendo em vista ser este um dos
grandes entraves nas questões de fixação do homem
e da mulher, no campo, nesta região do semiárido
paraibano e nordestino, sendo, em breve, um
problema para o mundo como um todo.
A disponibilidade permanente da luz do sol
não pode mais ser desprezada. Principalmente
quando a instituição em pauta é para a educação
profissional, técnica e tecnológica. É imprescindível
que sejam avaliadas as questões inerentes à
utilização da energia solar, da luz natural para
iluminação dos ambientes e dos ventos, seja na
ventilação natural ou para energia eólica, onde houver
possibilidades.
Por fim, o IFPB tem o desafio de mostrar para
sempre que necessário, à atualização na sua área ou
em outra que necessite, para que a convivência
estudante/instituição seja permanente, no espaço de
formação profissional.
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o estudante e para o egresso que sua matriz curricular
Ensino médio e profissional: as políticas não é estanque. Precisa mostrar ainda que a
educação hoje acontece ao longo de toda a vida, que
o campus de origem, que foi porta de entrada para ele
em um determinado momento vira espaço aberto para
uso continuo e permanente, estando disponível,
do estado neoliberal. São Paulo: Cortez, 1997.
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196
A CURA NO VALE DO AMANHECER: UMA ANÁLISE DO TRABALHO DE CURA EVANGÉLICA
Zeneide Fernandes Araújo de Almeida1
Guilherme Hempel Ferreira Gomes2
RESUMO
O sincretismo como marca profunda no Vale do Amanhecer - VDA (Oliveira, 2013), abriga uma série de entidades que transitam em diversas doutrinas religiosas entre elas a figura mítica dos Médicos de cura, personagem oriunda do Kardecismo. Alguns trabalhos realizados nos templos requerem o atendimento destas entidades que entre as atividades realizadas uma das que se configura das mais comuns é o atendimento espiritual no trabalho chamado de Cura Evangélica, trabalho este onde o Doutrinador (médium preparado para “conversar” com os espíritos) tem a função de intermediar o “Passe Magnético” entre o Médico de cura e o “paciente” que compreende todos que não fazem parte do corpo mediúnico e que buscam tratamento espiritual e essa relação se dá de forma íntima e pessoal. O presente trabalho pretende analisar como se dá a relação entre o atendimento do Médico e o consulente conhecido como “paciente”, pois o mesmo entre outras coisas intenciona a cura no tratamento espiritual. Essa relação é construída através da confiança e uma forte crença na entidade, verá quais as expectativas construídas no imaginário de quem procura o VDA, seus anseios e pretensões. Através de observações em campo, entrevistas, além da pesquisa de obras de referência na área das religiões afro- brasileiras.
Palavras-chave: Espiritualismo, cultura popular, Médicos de Cura, vale do amanhecer.
1 Mestranda em Educação – UNIGRENDAL PREMIUM.
2 Graduando do Curso de Bacharelado em Ciências das Religiões da Universidade Federal da Paraíba. Integrante do Raízes: Grupo de pesquisa sobre religiões mediúnicas e suas interlocuções, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Ciências das Religiões.
197
INTRODUÇÃO
A principal característica da Ordem
Espiritualista Cristã é o seu contexto milenarista em
que o III Milênio se refere a um futuro transcendental.
A comunidade Vale do Amanhecer e a doutrina foi
criada pela médium clarividente Neiva Chaves Zelaya,
tia Neiva, nascida em Propía, Sergipe em 1925, e
falecida em 1985, sua carreira religiosa teve inicio em
1958 quando ela começou a ter visões de um índio
todo enfeitado com penas brancas, que mais tarde
identificou-se como Pai Seta Branca, que conforme a
doutrina é o líder supremo dos espíritos ou entidades ,
acreditam que abaixo de Jesus está Pai Seta Branca,
esse é um dos nomes recebidos por este espírito que
preside todo o desenvolvimento Cármico do planeta,
a quem foi dada a missão de espiritualizar o Homem.
Também conhecido por Francisco de Assis em uma
de suas encarnações retornou no século XII, na Itália,
junto com sua alma gêmea - Mãe Yara - como Clara
de Assis, desenvolvendo magnífica obra dentro da
Igreja Católica Apostólica Romana, criando a Ordem
Franciscana, implantando as bases de sua Doutrina,
que seria Amor, Humildade e Tolerância. Para a
doutrina o pai Seta Branca é o guardião do oraculo de
Simiromba, “Raízes do Céu” em que ele administra
todo o potencial de forças que agem e interagem na
terra e ele é o Simiromba de Deus.
A ordem teve inicio em Planaltina, cidade
satélite de Brasília, segundo os adeptos da doutrina o
modelo inicial da construção do templo, com todas as
suas simbologias e elementos sagrados se deve a
clarividência da Tia Neiva que via um templo
semelhante no plano espiritual.
A doutrina do Vale do Amanhecer é composta
por um panteão de entidades que são oriundas de
outros contextos religiosos e rituais de ouras religiões,
como também é composta por entidades e
denominações criadas na própria doutrina. Doutrina
essa que recebe a denominação de Corrente Indiana
do Espaço, e os trabalhos espirituais realizados são
chamados de pronto socorro Universal, pois são
realizados trabalhos que se assemelham ao de um
pronto socorro comum, prestando atendimento de
urgência a pessoas que se encontram em sofrimento
espiritual, vale salientar que o paciente que se
encontra em tratamento com o medico convencional, é
instruído a não abandonar o seu tratamento, pelo fato
de partirem do principio doutrinário de que existem
doenças materiais ou da matéria, causadas por
agentes materiais, que devem ser tratadas por
médicos convencionais; como existem doenças
espirituais que também podem se denominadas como
obsessões, que tem como agentes causadores os
espíritos das trevas que são pouco evoluídos, e que
esses doentes só encontram a cura espiritual,
obviamente com o tratamento espiritual, mas há
também a simultaneidade, doenças causadas por
causas conjuntas devem ser tradadas pelo medico e
pelo médium.
O ambiente interno do Vale do Amanhecer é
regido por toda uma hierarquia que eles denominam
como sagrada, que é representada por categoria de
Médiuns, que são agrupados por falanges. É notório
na comunidade que não há explicitamente restrições
religiosas com relação a outras religiões, como por
exemplo, a sua semelhança com o Espiritismo, no
vale a doutrina central é que o universo é concebido
como sendo constituído por vários mundos habitados
por espíritos encarnados e desencarnados em
diferentes estágios de evolução, a terra segundo essa
concepção é o planeta de expiação intermediário, e o
astral Superior é o local onde vivem as entidades
superiores ou de luz.
Talvez resida aí a justificativa dessa pesquisa
sobre a cura espiritual no Vale do Amanhecer são as
peculiaridades do seu Locus Religiosus que intriga e
nos faz quere ter um olhar de conhecimento para esse
sistema de crenças unificados em uma doutrina com
um conjunto de princípios e regras que além de
198
reproduzir as regras do grupo os orientam à
semelhança do seu espaço sagrado com suas
crenças que compreende desde a reencarnação até a
viabilidade de comunicação com seres extraplanetário.
A própria Tia Neiva formulou uma gama de
crenças, ritos, e tradições mítica pouco ortodoxa,
sempre com o principio basilar da crença na
reencarnação, onde ela mesma se afirma para a
constituição desse painel de temporalidades míticas e
ritológicas, preposição referendada pelo líder
intelectual e autor das publicações oficiais do Vale do
Amanhecer Mario Sassi. (1977) Seu espirito tem a
experiência de muitas encarnações, experiências
vividas durante milhares de anos. (Sassi p.19).
É toda essa possibilidade de trazer algo
heterogêneo que optamos por essa pesquisa, o Vale
do Amanhecer abre inúmeras portas de conhecermos
uma demanda de trabalhos espirituais, in loco, entre
eles o da cura espiritual desde a consulta com os
pretos velhos, é importante salientarmos a relação
médium/paciente, o médium sempre vai ser alguém
que já esteve do outro lado, ou seja, os médiuns que
participam das praticas rituais realizadas no Vale do
Amanhecer já foi um paciente, partindo do principio
Crístico do dar e do receber.
A cerca da mediunidade, no entender dos
seguidores da doutrina do Vale do Amanhecer todos
os seres humanos possuem mediunidade, é um dom
natural desde que se permita o contato com os
espíritos desencarnados, como também o contato com
os planos onde esses espíritos habitam. Numa
pesquisa sobre a cura no Vale do Amanhecer não
pode deixar de falar da Agua fluidificada, agua essa
de uma fonte artificial localizada no interior do templo,
considerada pelos adeptos como tendo poderes
curativos e denominada como fonte de Iemanjá.
O tratamento espiritual é exclusivamente
destinado a adultos e tem no transe uma forma de
contato com o sobrenatural, são trabalhos e rituais
que obedecem a uma rotina e cada problema tem a
sua classificação de solução indicada pelos espíritos
da luz.
O PAPEL DA TIA NEIVA NO VALE DO AMANHECER
Percebemos no decorrer da nossa pesquisa
que em se tratando da doutrina do Vale do Amanhecer
é intrínseco o papel da Tia Neiva em seu contexto
histórico, concluímos que não há a menor
possibilidade de desvencilhar a trajetória do Vale do
Amanhecer da trajetória dela, pois o universo hibrido,
plural e encantado do VDA possui sua historia
vinculada a biografia da Tia Neiva.
Para os adeptos da doutrina, Tia Neiva teria
reencarnado em diversas épocas com papeis
preponderantes em sua caminhada, como, Pytia,
Cleópatra, Natasha, esses espíritos preponderantes
em suas épocas, como Koatay 108, portador de 108
Mantras de forças, segundo a líder religiosa, seria
durante esta missão a implantação da doutrina do
amanhecer na terra conhecida como Tia Neiva.
Afirmava que nesta jornada, seria homenageada pela
espiritualidade maior com o título Agla.
Nasce no sertão brasileiro, em Propriá
Sergipe, como uma menina que se chamava Neiva,
nascida em 30 de outubro de 1925, que faleceu em
Brasília DF, dia 15 de novembro de 1985, já tendo
cumprido sua jornada como ela mesmo gostava de
falar em meio a muitas dificuldades e grandes
realizações.
Em 1949, com 22 anos de idade, quatro filhos.
Neiva ficou viúva teve que buscar seus sustentos,
começou sua vida profissional em Ceras, onde
montou o foto Neiva, tirando fotos, vendendo material
fotográfico, teve que desistir, por recomendações
médicas, com sua forte personalidade, ela não se
deixou abater, comprou um caminhão tirou habilitação
profissional, a primeira mulher concedida no Brasil,
começou a transportar cargas por todo pais.
199
Sempre em lutas e preocupações
permanentes, os pais que não aceitavam aquela
estranha profissão para uma mulher; os sogros
Argentinos queriam a guarda dos dois filhos meninos,
os estudos de seus filhos. Neiva saiu de Ceres e fez
verdadeira peregrinação por outros lugares;
Uberlândia (MG) passou a dirigir ônibus, porém
mantendo seu caminhão em serviço, nesse mesmo
ano, com a oportunidade da construção da nova
capital Brasília. Neiva mudou-se com a família para o
núcleo Bandeirantes, ponto inicial das obras da nova
cidade, trabalhando com caminhões na novacap.
Estava com 32 anos quando começou a ter
visões revelando-se segundo ela sua clarividência,
Neiva dizia que via e ouvia os espíritos e podia prever
o futuro e revelar o passado das pessoas, o que a
deixava desesperada segundo seus relatos, por ter
tido uma formação familiar rigorosamente católica.
Sua trajetória, então, passou por penosa adaptação
para aceitação de sua missão que informava ter .
Em 1958 deixou o núcleo Bandeirantes, onde
começara sua trajetória espiritualista, e junto com
seus filhos Gilberto, Carmem Lúcia, Vera Lucia, e
Raul, com cinco famílias espiritualista, fundou em 8 de
novembro de 1959 a união espiritualista Seta Branca
UESB, na serra do ouro, próximo a Alexânia, (Goiás)
dando início ao fluxo de sua caminhada que
supostamente recebera do pai Seta Branca (mentor
espiritual da doutrina), em um rustico templo,
pacientes eram atendidos pelos médiuns que até
residiam em construções de madeira e palha. Tia
Neiva mantinha também um hospital, um orfanato com
cerca de oitenta crianças, plantavam, faziam farinha
para vender, pegavam fretes, e tudo era valido para
ajudar na manutenção.
Em 9 de novembro de 1959, Tia Neiva inicia
sua trajetória espiritual. Em 1964 mudou-se para
Taguatinga, onde funcionou a ordem espiritualista
Cristã, sendo Tia Neiva mais uma vez internada por
causa da tuberculose.
Após trabalhosa busca para encontrar um
local certo para fixar-se, Tia Neiva e seu grupo
chegaram a Planaltina, DF, em 9 de novembro de
1969, onde fundou o atual vale do amanhecer, Tia
Neiva implantou na doutrina a conduta doutrinaria em
seus médiuns, capacitando-os ao atendimento
fraterno, sem precisar da manifestação dos pacientes,
que não precisa revelar quem são, o que fazem ou de
onde vem.
Segundo os adeptos da doutrina ela
Vivenciava o evangelho de Jesus, simples e humana,
foi Tia Neiva uma grande mãe para todos, sempre
tratando com amor e carinho, compreensão e
tolerância, sua vida, suas dificuldades, seus
sofrimentos, sua doutrina, de tudo consta uma
grandeza de espirito segundo atesta seus adeptos.
Vejamos a mensagem de Tia Neiva (1978):
Somente pela força do jaguar, nesta doutrina do amanhecer, e na dedicação constante de nossas vidas, por amor, que podemos manipular as energias e transformar o ódio, a calunia, inveja em amor e humildade, nos corações que, doentes de espíritos, permanecem no erro. Quantos se perdem por falta de conhecimento por não terem a sua lei. Nós temos a nossa lei que é o amor e o espirito da verdade. Vamos amar, na simplicidade de nosso coração, distribuir tudo que recebemos, na lei do auxílio, aos nossos semelhantes, fazendo aqui, apenas este registro singelo, como uma pequena homenagem a este grandioso espirito. (MENSAGEM DA TIA NEIVA 9 DE ABRIL DE 1978).
ENTIDADES DO VALE DO AMANHECER
Segundo Galinkin (2008), um dos objetivos do
Vale do Amanhecer nesse sincretismo religioso é a
ajuda espiritual, onde pessoas procuram muitas vezes
motivadas por doenças que não são curadas pela
medicina tradicional e veem no Vale do Amanhecer
como sua última instância. Para realizar as curas as
200
entidades do espaço fazem operações espirituais que
se destina a casos graves de doenças com sintomas
físicos cujo agente causal é o elítrio, ou seja, espíritos
obsessores ligados a uma parte do corpo de alguém.
Sabendo-se que na Doutrina do Vale do
Amanhecer trabalham somente Espíritos evoluídos
como informa seus adeptos, espíritos que já não
precisam mais encarnar, pois que quando na
reencarnados já trilhavam no caminho do bem. Sendo
assim ficando livres da lei de causa e efeito ou lei do
carma.
Como atesta Galinkin, as entidades
autorizadas a trabalharem na corrente do Amanhecer
são, pois Espíritos como os pretos velhos que são
grandes sábios que trabalham nos tronos vermelhos,
amarelos, linhas de passe, trabalhos iniciáticos e
indução. Os pretos velhos são entidades Espirituais
que dão comunicação, mensagens e passes utilizando
a humilde roupagem dos pretos velhos inclusive o
linguajar brejeiro e simples dos encarnados.
Cavaleiros de oxosse e caboclos são grandes
iniciados e são chamados de Espíritos de lei. Eles
gostam de trabalhar na linha de passes, quase não se
comunicam, trabalham no trono quando se faz
necessário à manipulação de energia pesadas e os
médiuns necessitam de maior energização. Esses
espíritos trabalham nas consagrações da Estrela
candente.
Entidades de cura são os médicos da
Universidade de Maianty (Universidade espiritual),
médicos esses que fazem parte de uma falange alemã
e quem está entre eles é Dr. Hans e Dr. Fritz. Porém
muitas entidades assumem nomes brasileiros, como
Dr. Bezerra de Menezes e Dr. André Luiz que são
especializados no atendimento na sala de cura e no
trabalho iniciático de junção. Esses trabalhos são
realizados para curar as doenças espirituais e aliviar o
sofrimento das pessoas segundo os seus seguidores.
Segundo Amurabi Oliveira (2008), o Vale do
Amanhecer, que só trabalha com Espíritos de luz é
chamado de mentores e se apresentam com as
roupagens que proporcionam melhores resultados no
seu trabalho através dos médiuns por isso eles usam
os macacões dos pretos velhos e os penachos dos
caboclos. Esses Espíritos dispensam o personalismo
e não interferem nos seu livre-arbítrio. Não fazem uso
de objetos, bebidas, charutos e etc.
A Doutrina do Amanhecer é apenas uma
doutrina com sentindo universal, mas que tem base no
cristianismo.
Os ensinamentos dos antigos médiuns da
doutrina explicam que Pai Seta Branca mentor do Vale
do Amanhecer é um dos nomes recebidos pelo
Espírito de Oxalá, Orixá. Pai Seta Branca recebeu a
missão de espiritualizar o homem para o
desenvolvimento cármico do nosso planeta. Ele é o
grandioso guardião do Oráculo de Simiromba(onde
recebe a projeção do Pai Seta Branca). Simiromba
quer dizer raízes do céu “e Pai Seta Branca é o
Simiromba de Deus”. Ele teria retornado segundo os
membros da doutrina no século XII, na Itália como
Francisco de Assis junto com sua alma gêmea Mãe
Yara, como Clara de Assis.
O aniversário de Pai Seta Branca é
comemorado no dia 14 de fevereiro e sempre dia 1º
de cada mês no templo faz-se um ritual da benção de
Pai Seta Branca e 14 ninfas se revezam na
incorporação do Pai, dando a benção a muitos
pacientes. Todos os anos desde 1971, uma só ninfa
incorporava e dava mensagem e benção ao Pai Seta
Branca, que se dirigia aos seus filhos Jaguares
através de mensagens que são pronunciadas a meia
noite do dia 31 de dezembro.
Segundo Allan Kardec no livro dos Espíritos,
as entidade superiores comunicam-se por ideias de
forma muito rápida. Não há segredos entre eles, pois
podem ouvir todos os pensamentos entre si, como
também os dos outros Espíritos mais abaixo na
hierarquia espiritual. Eles são mensageiros e
ministros de Deus, de modo que cujas ordens
201
executam para manter a harmonia do universo.
Comandam todos os Espíritos, auxiliam para que eles
se aperfeiçoem. Assistem os homens nas suas
aflições, ajudam para que possam fazer o bem e
também nas faltas que cometem e que os conservam
distantes da suprema felicidade.
As entidades superiores podem por em
comunicação com os homens onde está a verdadeira
caridade. Eles estão acima de nós nos procurando
ajudar, constituindo para nós um meio de esperança
de que ainda podemos aspirar para chegar um dia à
perfeição. Não mais encarnam na terra, nem mesmo
em missão. Quando excepcionalmente encarnam na
terra a exemplo de Jesus, é para cumprir missão de
progresso da perfeição da humanidade.
A CURA NO VALE DO AMANHECER
Analisando entrevistas de pacientes no VDA
surgiram as seguintes interrogativas: o porquê dos
pacientes buscar a cura no vale do amanhecer? O que
poderia proporcionar para aqueles que passavam
pelos trabalhos da doutrina, por constantes aflições
problemas estes ligados ao espiritual? Qual seria a
forma como ocorreria o tratamento espiritual, no vale
do amanhecer como os paciente enfrentam a cura no
vale do amanhecer quais as suas principais
expectativas ao iniciarem ao tratamento? Desta forma
responderemos estas questões e muitas outras no
percorrer deste trabalho.
Diversos casos foram analisados na
perspectiva da cura no vale do amanhecer, assim dos
principais caminhos no tratamento espiritual, notou-se
pelo discurso dos seguidores da doutrina do
amanhecer que os mesmos diziam encontrar
melhoramento interior humano em que a medicina não
poderia alcançar, percebeu-se nas pessoas ao
iniciarem o tratamento nos tronos ou mesmo no
trabalho de cura espiritual uma paz espiritual de bem
estar, experiência esta apenas vivenciada após
iniciada no tratamento de cura espiritual após as
consultas realizadas.
Assim, partirmos de alguns exemplos, de
acordo com relatos de seus pacientes muitos se
deparavam com doenças incuráveis, com isso surgiu o
desequilíbrio emocional, muitas das vezes
desenganados pela medicina que já não conseguia o
diagnostico preciso de suas doenças, precedida das
constantes inquietações de espíritos como informa
pacientes do templo da cidade de Bayeux, que já
encontrava em outro plano espiritual, assim um
verdadeiro desequilíbrio emocional, ou passado por
outros sofrimentos repercutindo também em desordem
emocional, os pacientes já não encontravam forças
para enfrentar seus problemas devido aos espíritos
desencarnados considerados inferiores na doutrina
não conseguem seguir em um plano espiritual, assim
os pacientes vão em busca do atendimento no vale do
amanhecer, foi através do tratamento espiritual de
cura que foi capaz de proporcionar o bem estar dos
pacientes, para aqueles que estavam passando por
constantes aflições entre outros problemas
vivenciados no campo emocional.
Podemos verificar nas entrevistas de campo
realizada a importância do trabalho de cura no vale do
amanhecer, para estes pacientes com doenças
espirituais em que a medicina não possui tratamento
espiritual, com isso o paciente ao submeter-se ao
tratamento espiritual no vale do amanhecer é capaz
de proporcionar uma paz espiritual aos problemas ao
qual vinham passando consigo mesmo, que por sua
vez, no vale do amanhecer, é capaz de realizar o
tratamento para amenizar constantes perturbações
sofridas que por sua vez se fez perceber uma melhora
significativa conforme afirmam.
As doenças espirituais estão subdivididas em
dois tipos: materiais, cujos agentes devem ser
tratados por médicos comuns; e espirituais, que
demandam o tratamento oferecido pelo Vale. Há,
porém, a possibilidade de haver doenças causadas
202
por um conjunto de fatores, de modo que o tratamento
tradicional deve ser acompanhado do tratamento
espiritual. Sejam as doenças causadas por elítrios,
obsessores, exus, sofredores ou cobradores, em
todos os casos pode se tratar de uma obsessão, que
pode se revelar nos sintomas do alcoolismo, da
loucura, ou mesmo de problemas afetivos e familiares.
Ao começar, o tratamento que tem inicio nos
tronos os trabalhos voltados para curar doenças
espirituais, aliviar doenças e sofrimentos dos
pacientes, que são chamados desobsessão e cura e
são realizados estes trabalhos por uma dupla um
apará, este médium de incorporação, é aquele que
recebe em seu corpo a projeção de espíritos e
entidades, incorporada, isto é este sujeito ao transe,
através do contato com o transcendente tem a função
de emprestar seu corpo para a incorporação de
entidades de luz e dos espíritos das trevas ou pouco
desenvolvidos podem evoluir, ou mesmo podem
perturbar a existência das pessoas aqui no espaço
terrestre.
Desta forma, a cura no vale do amanhecer, é
precedida pela cura dos médicos espirituais, médicos
do espaço que fazem operações através de
emanação magnética, muitas das vezes com o
paciente ao qual passou pela consulta medica, mas
não detectando nenhuma doença, com isso procura a
cura no vale do amanhecer pelo qual é submetido à
cura em seus trabalhos espirituais como acura
evangélica, é uma espécie de cirurgia espiritual as
entidades estando incorporadas nos rituais de cura
pelos médicos incorporados.
Sendo assim, verificamos ao realizar as
entrevista de campo no vale do amanhecer em
Mangabeira, com aqueles pacientes que ao
submeterem-se as consultas espirituais, por de
alguma forma, está passando por constantes aflições
e problemas de ordem espiritual conforme afirmam,
observamos em seus semblantes que ao iniciarem o
tratamento espiritual, uma melhora significativa vem
acompanhada de um gratificante bem estar por parte
dos pacientes, por muitas das vezes chegarem sem
forças pra enfrentarem os seus problemas, mas que
por sua vez, ao iniciarem o seu tratamento como
paciente depara-se com uma melhoria significativa e
ao sair do trabalho revela-se um certa paz de espírito
como é comum verificar em seus relatos.
O TRABALHO DE CURA EVANGÉLICA
A doutrina do Amanhecer nitidamente tem um
caráter de bricolagem, segundo conceito elaborado
por Lévi-Strauss (1967), assim se constitui por
diversos atores divinos, a absorção de conceitos e
entidades citadas na literatura Kardecista busca
legitimar o VDA, diferenciando de outras
denominações Afro-brasileiras. Segundo Tia Neiva ela
teria passado por um processo de aprendizagem com
mãe Neném que teria sido sua primeira tutora sobre
conhecimento espiritual e esta teria instruído sobre o
conhecimento Kardecista. Elementos considerados
negativos como o charuto, bebida e intervenção ao
Livre-arbítrio não são empregados dentro da doutrina
do VDA dando uma ideia de “Pureza” em relação à
Umbanda, por exemplo, até mesmo entidades como
pretos-velhos e caboclos não são objetos de culto,
como na Umbanda estes apresentam características
performáticas e acredita-se serem entre os adeptos
seres intergalácticos ou espíritos de luz se
aproximando desta forma ao Kardecismo (Oliveira
2011). A entidade em destaque no trabalho de cura é
o Médico de Cura ou Médico do espaço entidade que
os adeptos entendem como um espírito que age
realizando curas espirituais na doutrina kardecista,
segundo Fabiano Silva, presidente do templo de Nova
Mangabeira em João Pessoa, são entidades que
teriam exercido a função de médicos no plano terreno
durante a segunda guerra mundial, uma “falange de
médicos alemães”, afirma. Estas entidades que agem
no trabalho de cura evangélica possuem nomes bem
203
conhecidos no espiritismo kardecista como Dr. Fritz,
Dr. Bezerra de Menezes, etc.
Nos templos menores que não utilizam a
chamada “corrente mestra” que não são templos
iniciáticos e são conhecidos como pronto-socorro o
trabalho é realizado após o “paciente” ter sido
atendido no trabalho conhecido como “Tronos”,
primeiro trabalho ao paciente que chega ao templo em
que é atendido por um “preto-velho” que o encaminha
para o trabalho de cura evangélica. O trabalho
segundo o manual conhecido como “Unificação” indica
que o ambiente físico deve portar uma maca em
número ímpar entre 1 e 7 macas, as macas e as
cadeiras (ou bancos) devem ser pintadas ou forradas
em vermelho que na doutrina é considerada a cor da
cura desobssessiva, cada maca deve conter um
travesseiro e um lençol ambos na cor branca,
geralmente é colocado alguma fotografia de Jesus
Cristo como inspiração. O trabalho inicia com um
médium doutrinador que irá comandar todo o ritual,
um par formado por Apará e doutrinador para cada
maca, este comandante faz uma breve harmonização
ou preleção e em seguida com o procedimento
habitual de abertura dos trabalhos com suas
determinadas chaves ritualísticas, após abertura se dá
o transe mediúnico de incorporação do médico de
cura que emana o Ectoplasma, no livro Nos Domínios
da Mediunidade, André Luiz descreve o ectoplasma
como "uma pasta flexível, à maneira de uma geléia
viscosa e semi-líquida". Prossegue explicando que
"está situado entre a matéria densa e a matéria
perispirítica, assim como um produto de emanações
da alma pelo filtro do corpo, e é recurso peculiar não
somente ao homem, mas a todas as formas da
Natureza". Segundo ainda o espiritismo Kardecista
com o tempo o ser humano vai perdendo em seu
organismo ectoplasma o que se faz necessário sua
reposição, no trabalho de cura evangélica realizada no
VDA esta energia é reposta e utilizada na cura
espiritual.
É notório que os pacientes que procuram o
VDA estão em busca de alívio tanto emocional,
espiritual quanto físico. De acordo com as palavras de
Victor que frequenta o VDA:
[...] eu digo cura por conta da fé, a cura desta minha doença sinusite e renite alérgica e desde que eu cheguei aqui não sinto mais nada, tinha muita dor de cabeça, muita tontura. [...] acredito que o Vale assim como o Kardecismo existem para auxiliar assim como outras religiões principalmente aos desencarnados, só amor ao próximo. (VICTOR 2014).
Pelo discurso observamos uma ideia muito
nítida no imaginário daqueles que procuram o a
doutrina do amanhecer que realmente a cura acontece
no corpo físico, para os adeptos da doutrina a cura se
processa primeiro no nível espiritual onde se origina
as doenças afirmam seus seguidores e em
consequência o corpo físico. Muitos pacientes se
tornam adeptos, pois acreditam que foram curados no
Vale do Amanhecer como afirma uma adepta que está
na Ordem espiritualista cristã a mais de dez anos:
[...] eu fui libertada de um câncer, tive princípio de câncer, tirei útero, colo do útero, tirei tudo que tinha direito, passou uns seis meses voltou e aí dentro de uma estrela (Trabalho feito na área externa do templo) lá em Minas eu vi minha cirurgia. Eu consegui ser uma pessoa melhor em todos os aspectos. Fisicamente, né [...] essa vida dinâmica dentro do vale do amanhecer é tudo pra mim, faço sempre meus exames e graças a Deus tá tudo tranquilo, fui ao vale para conhecer e aqui me curei. (ANDREIA 2014).
Segundo o presidente do templo em
mangabeira o paciente chega na dor, antes afirma ele
que as drogas, o álcool lhe trazia somente um vazio
até conhecer a Ordem que lhe trouxe um sentido a
sua vida, relata que neste templo muitos chegaram em
um estado de enfermidade avançada e saem curadas,
afirma. Após o termino do trabalho segundo a
ritualística da doutrina os paciente saem
204
esperançosos de que serão curados, muitos
continuam ainda seu tratamento encaminhado a
outros trabalhos no templo.
CONCLUSÃO
Observamos que os médiuns da doutrina do
amanhecer foram no passado pacientes, de alguma
forma encontraram alívio aos seus sofrimentos,
emocionais ou físicos o que fez com que adentrassem
na doutrina, muitos relatam experiências de cura antes
e após a entrada na ordem. A fé percebida por
aqueles que procuram o VDA é a grande propulsora, a
crença no complexo panteão de divindades é tamanha
que chega a causar espanto, principalmente quando
falam da doutrina religiosa. Tia Neiva criou um sistema
religioso incomum, sincrético, mas que de forma
peculiar as praticas consideradas grotescas nas
religiões afro-brasileiras foram descartadas e outras
ressignificadas prevalecendo a essência Kardecista. A
cura alcançada por aqueles que desejosos de
encontrar alívio no trabalho de cura evangélica, não
podemos afirmar cientificamente o fato, pois reside
numa esfera transcendental, mas podemos afirmar
categoricamente que os pacientes têm uma firme
convicção que a cura se processou de fato e que o
trabalho de cura evangélica foi fundamental em seu
reestabelecimento. Ficou claro que os seus membros
acreditam que a cura do corpo físico é consequência
de um tratamento do espírito, segundo seus adeptos a
conduta doutrinária acelera o processo curativo. O
ambiente também contribui para o efeito psicológico
adequado colaborando com a expectativa do paciente,
enfim é uma doutrina que vem crescendo a cada dia
principalmente na Paraíba onde conta com diversos
templos, muito há para conhecer do VDA e seus
aspectos curativos sejam no âmbito físico, espiritual e
emocional, mas que neste sucinto trabalho abordamos
alguns de seus aspectos mais importantes.
REFERÊNCIAS ÁLVARES, Bálsamo. Tia Neiva – Autobiografia missionária. Brasília: [do autor], 1992. GALINKIN, Ana Lúcia. A cura no vale do amanhecer. Dissertação (Mestrado em Antropologia) - Universidade de Brasília, Brasília, 1997. KARDEC, Allan, 1804-1869. O Livro dos Médiuns. 68 ed. Araras/SP: IDE, 2004. OLIVEIRA, Amurabi. Nova Era à brasileira: A New Age Popular do Vale do Amanhecer. Interações : Cultura e Comunidade (Faculdade Católica de Uberlândia. Impresso), v. 4, p. 31-50, 2009. . Dinâmicas culturais e relações de reciprocidade no Vale do Amanhecer: um estudo de caso sobre o templo de Campina Grande – PB. Campina Grande. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais). Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande, 2008. . Entre caboclos, preto-velhos e cores: a imersão dos sujeitos no universo místico-esotérico do Vale do Amanhecer. 2011. Tese (Doutorado em Sociologia)– Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2011c. SASSI, Mário. 2000 – A conjunção de Dois Planos. Brasília: [do autor], 1977. _. Instruções práticas para médiuns. Fascículo I. Brasília, ed. Vida, 1977. Zelaya, CN. Livro Minha vida, Meus amores. Brasília, 1986.
205
POLITICA PÚBLICA: ESCOLA TEMPO INTEGRAL NA REDE MUNICIPAL
Francinéria Bezerra de Queiroz Henrique1
Clizaldo Luiz Maroja Di Pace França2
RESUMO
Este estudo apresenta a possibilidade de articulação entre a educação fundamental e a jornada ampliada e diversificada do Programa Mais Educação instituído no Brasil em escala nacional em 2008, estratégia do Ministério da Educação (MEC) para a implementação da Educação Integral no Brasil. Faz um resgate histórico dos debates e das políticas da escola de turno integral no país, mostrando que a temática vem se consolidando. Apresenta o debate sobre políticas culturais, a partir da garantia dos direitos culturais. Defende que as áreas da educação e da cultura precisam interagir mais, com a escola sendo espaço fundamental para a democratização da cultura. Estuda o exemplo da Escola Municipal de Ensino Fundamental Augusto dos Anjos de João Pessoa, e sua experiência de articular as duas propostas no planejamento do Programa Mais Educação. A Escola planeja e vivencia processos de aprendizagens cognitivas e lúdicas adequadas ás necessidades e interesses dos docentes e discentes á realidade local e aos saberes das iniciativas artísticas e culturais da comunidade.
Palavras-chave: educação integral, programa mais educação, políticas culturais acesso à cultura.
ABSTRACT
This study presents the possibility of linkage between basic education and the expanded and diversified journey More Education Program established in Brazil on a national scale in 2008, strategy of the Ministry of Education (MEC) for the implementation of the Comprehensive Education in Brazil. It recounts the history of the debates and school fulltime policies in the country, showing that the theme has been consolidating. Presents the debate on cultural policy, from the guarantee of cultural rights. Argues that the areas of education and culture need to interact more with the school is central to the democratization of culture space. Studying the example of the Municipal School for Primary Education Augusto dos Anjos João Pessoa, and experience to articulate the two proposals in the planning of More Education Program. The School plans and experiences and cognitive processes of playful learning appropriate to the needs and interests of teachers and students will local reality and knowledge of the artistic and cultural community initiatives.
Keywords: comprehensive education, program more education, cultural policy access to culture.
1 Mestranda na Unigrendal 2 Mestrando Unigrendal
206
INTRODUÇÃO
A temática Escola de Tempo Integral não se
constitui um campo novo de estudo. Muitos
educadores e pesquisadores têm discutido e escrito
sobre este tema, tais como Cavaliere (2007), Coelho
(2002a, 2002b, 2009), Brandão (2009), Bomeny
(2009), Maurício (2009), Guará (2009), dentre outros.
Citado por Eugenio et al., 2010. Atualmente, no Brasil,
têm sido desenvolvidas algumas experiências de
Escola de Tempo Integral, tanto em nível estadual
(São Paulo, Santa Catarina), como municipal
(Curitiba-PR, Goianésia-GO, Vitória da Conquista-BA,
Apucarana-PR) e em agora João Pessoa.
.O Programa Mais Educação/Educação
Integral, realizado pela Prefeitura Municipal de João
Pessoa (PMJP) através da Secretaria de Educação e
Cultura (Sedec), tem desenvolvido atividades
complementares em 92 escolas da rede municipal de
ensino. Destas unidades de ensino, 12 delas são em
tempo integral, distribuídas nos bairros da capital
paraibana, ampliando a jornada escolar para 7 horas
diárias ou 35 horas semanais. Entre elas a Escola
Municipal Augusto dos Anjos localizada na cidade de
João Pessoa , Paraiba na qual trabalho. Com isso
surgiu o desejo de pesquisar, estudar e pensar sobre
educação academicamente surge em um momento
específico com o trabalho desenvolvido no Programa
Mais Educação, em João Pessoa. A vontade de fazer
mestrado existia basicamente para ter uma ascensão
profissional , mas com o início do trabalho o tema
política pública veio a calhar pois já venho observando
e vivenciando a escola de tempo integral , o momento
de realizar o mestrado, pois o cerne da pesquisa
apareceu, na prática, em uma proposta de Educação
Integral para as escolas públicas brasileiras, com o
convívio dos estudantes, dos monitores, do cotidiano
escolar.
Segundo (Eugenio 2010) muito são as
discussões no Brasil em relação às políticas públicas
de educação. Entre estas discussões está a de que o
tempo dedicado à educação escolar deve ser
aumentado para dar conta da formação dos alunos.
Deste modo, não há outro jeito, esta pesquisa terá o
sabor da dedicação e da crença de que a educação é
fator possível de mudança da realidade de milhões de
crianças e adolescentes espalhados pelo Brasil,
especialmente na cidade de João Pessoa. Estou
vivendo esta experiência na escola na qual trabalho,
pois nela funciona o ensino fundamental II e o
Programa Mais Educação no mesmo horário, a
comunidade em que a escola está inserida os
estudantes tem dificuldades de aprendizagem e de
baixa estima, com problemas sérios na inserção da
vida social. Comecei a pesquisar e estudar as leis que
regem o Programa, e descobri que ele desenvolve
com as temáticas que me eram tão relevantes, uma
nova escola, através da relação com a comunidade,
com o acesso à cultura, a partir de conceitos de
Cidade Educadora; a possibilidade de me envolver
com oficinas culturais no turno integral da escola,
propiciando aos alunos trabalhar com outro currículo
além do tradicional da escola, o espaço escolar
tornou-se também local de Pintura, Dança, Teatro,
Judô, Violão, Rádio Escola e Bijuteria.
A vontade dos docentes é de promover a
interdisciplinaridade e fazer uma escola atrativa para
todos, tendo um espaço físico e materiais apropriados
na escola, para que os alunos possam ser
protagonistas de fato nos projetos. A importância de
pesquisar e vivenciar in loco e acompanhar uma parte
o processo nacional de educação integral através do
Programa Mais Educação, e ver que as escolas do
Brasil estão com uma caminhada muito interessante
com a temática da escola de tempo integral. Deste
modo, a proposta da escola onde atuo é marcante na
jornada nacional do Programa Mais Educação. Com
207
esta pesquisa, quero fundir a vivência de professora
com a de pesquisadora, podendo articular as duas
grades curriculares a partir de um olhar sobre o meu
trabalho no cotidiano. Acredito que possa ser também
uma experiência de leitura na qual encontremos novos
caminhos possíveis para a educação. Com um
trabalho possível de ser guiado pelos estatutos e a
experiência em sala de aula, tenho observado a
mudança na vida dos estudantes, de forma positiva,
influenciada pelo acesso à cultura promovida pelo
Programa Mais Educação.
O PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO: CARACTERÍSTICAS DE UMA POLÍTICA
EDUCACIONAL
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Brasileira declara que uma escola competente é
aquela que promove o conhecimento das várias
linguagens que norteiam a era da informação. É uma
escola que se interessa por formar pessoas que
compreendam e dominem os sistemas de produção
de informações e, consequentemente, estejam
melhores preparadas para atuarem de forma mais
responsável na vida da sociedade.
Segundo os Parâmetros Curriculares
Nacionais:
“Isso requer que a escola seja um espaço de formação e informação, em que a aprendizagem de conteúdos deve necessariamente favorecer a inserção do estudante no dia-a-dia nas questões sociais marcantes e um universo cultural maior. A formação escolar deve propiciar o desenvolvimento de capacidades, de modo a favorecer a compreensão e a intervenção nos fenômenos culturais e sociais, assim como possibilitar aos estudantes usufruir as manifestações culturais nacionais e universais”. (PCN, 1998. vol. 01, p.45).
Nesse contexto, o corpo docente e o corpo
discente passam da condição de consumidores, para
a categoria de produtores do conhecimento.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB) – Lei no 9.394/96 prevê, nos artigos
34 e 87, a ampliação progressiva da jornada escolar
para o tempo integral, a critério dos estabelecimentos
de ensino. Em janeiro de 2001, a Lei nº 10.172 institui
o Plano Nacional de Educação (PNE), que igualmente
reforça a possibilidade de Educação Integral. Na sua
meta, propõe-se a ampliação da jornada escolar para
– no mínimo – sete horas diárias, com ênfase nas
camadas mais necessitadas da população. Em abril
de 2007, o Ministério da Educação lança o Plano de
Desenvolvimento da Educação (PDE), que contém
ações para a educação brasileira. A partir dele, a
proposta de educação integral vai ganhando força e
fôlego. O Fundo Nacional para o Desenvolvimento da
Educação (FUNDEB), por exemplo, associa valores
maiores na distribuição de recursos, levando em
consideração a implementação da educação em
tempo integral.
O Programa Mais Educação nasce com o
objetivo da implementação das ações de tempo
integral que compõe o PDE. Ele é instituído pela
portaria Normativa Interministerial no 17/07, com o
objetivo de “fomentar a Educação Integral das
crianças, adolescentes e jovens, por meio de
atividades socioeducativas, no contraturno escolar,
articuladas ao projeto de ensino desenvolvido pela
escola” (BRASIL, 2009a, p. 24).
É importante ressaltar que consta na proposta
do Plano Nacional de Educação (Projeto de Lei
8085/10 – em tramitação na Câmara dos Deputados)
uma meta específica para a educação integral tendo
como meta oferecer educação em tempo integral em
50% das escolas públicas de educação básica..Com
algumas estratégias: estender progressivamente o
alcance do programa nacional de ampliação da
208
jornada escolar, mediante oferta de educação básica
pública em tempo integral, por meio de atividades de
acompanhamento pedagógico e interdisciplinares, de
forma que o tempo de permanência de crianças,
adolescentes e jovens na escola ou sob sua
responsabilidade passe a ser igual ou superior a sete
horas diárias durante todo o ano letivo, buscando
atender a pelo menos metade dos alunos matriculados
nas escolas contempladas pelo programa.
Institucionalizar e manter, em regime de
colaboração, programa nacional de ampliação e
reestruturação das escolas públicas por meio da
instalação de quadras poliesportivas, laboratórios,
bibliotecas, auditórios, cozinhas, refeitórios, banheiros
e outros equipamentos, bem como de produção de
material didático e de formação de recursos humanos
para a educação em tempo integral. Fomentar a
articulação da escola com os diferentes espaços
educativos e equipamentos públicos como centros
comunitários, bibliotecas, praças, parques, museus,
teatros e cinema. Estimular a oferta de atividades
voltadas à ampliação da jornada escolar de
estudantes matriculados nas escolas da rede pública
de educação básica por parte das entidades privadas
de serviço social, vinculadas ao sistema sindical de
forma concomitante e em articulação com a rede
pública de ensino. Orientar, na forma do art. 13, § 1º,
I, da Lei nº 12.101, de 27 de novembro de 2009, a
aplicação em gratuidade em atividades de ampliação
da jornada escolar de estudantes matriculados nas
escolas da rede pública de educação básica de forma
concomitante e em articulação com a rede pública de
ensino. Atender as escolas do campo na oferta de
educação em tempo integral considerando as
peculiaridades locais (BRASIL, 2010).
O Programa Mais Educação é uma estratégia
para alcançar esta meta. Na Escola Municipal de
Ensino Fundamental Augusto dos Anjos enquanto
pública e democrática vem buscando de modo efetivo
colaborar para a formação de cidadãos plenos e que
atendam as necessidades impostas por uma
sociedade globalizada, procurando oferecer um ensino
de qualidade, combatendo á evasão e a repetência
garantindo assim, a permanência de todos através de
socialização/apropriação do conhecimento e
habilidades e competências significativas, para que os
sujeitos possam ser atuantes , protagonistas e
determinantes no processo de transformação social.
De acordo com Cavaliere (2007), os estudos
realizados ao longo da última década têm identificado
ao menos quatro concepções de escola de tempo
integral: a visão assistencialista, a concepção
autoritária, a concepção democrática e uma
concepção multissetorial de educação integral. Ainda
de acordo com a autora, a ampliação do tempo diário
do aluno na escola pode ser compreendida com uma
forma de melhorar o rendimento escolar, como uma
adequação da rotina urbana contemporânea, em que
a escola serve para atender a esta demanda, ou como
uma nova concepção de educação escolar, em que a
escola desempenhe o papel de formação na vida dos
indivíduos. Sendo assim uma ferramenta
importantíssima no desenvolvimento social e
intelectual dos estudantes advindos deste sistema.
CONCLUSÕES
Um dos maiores problemas do Brasil é
conseguir galgar uma educação pública de qualidade,
pois a realidade na sala de aula é “dura”, com muita
defasagem, repetência e reprovação. Para tentar
resolver alguns desses problemas foi criado o
programa de escola integral defendida por alguns
educadores como Paulo Freire e Anísio Teixeira. O
Programa Mais Educação surgiu com o propósito de
diminuir ou acabar com esses problemas, incluindo os
estudantes desestimulados, através de uma proposta
educacional diferenciada e da ampliação da jornada
209
escolar, o programa oferece aos estudantes a
inserção educacional e social. A implantação deste
programa nas escolas públicas gera alguns problemas
quanto ao espaço físico e adequação dos profissionais
qualificados para serem monitores, por ser também
um programa nacional requer ajustes para cada
realidade.
REFERÊNCIAS
BENEDITO G. EUGÊNIO; IRAILDE DE O. XAVIER. A Política de escola de tempo integral na rede municipal de Vitória da Conquista. P o i é s i s – Revista do programa de pós-graduação em educação – mestrado – Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL), Tubarão, v.3, n. 5, p. 56 – 70, jan./jun. de 2010.
BRASIL. Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 1996.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Introdução aos Parâmetros Curriculares Nacionais/Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. CAVALIERE, ANA MARIA. Tempo de Escola e qualidade na educação pública. Educação e Sociedade, Campinas, vol. 28, n. 100 – Especial, p. 1015-1035, out. 2007. FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade e outros escritos. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 14a edição. 2011. SÉRIE MAIS EDUCAÇÃO. Texto Referência para Debate Nacional. Ministério da Educação, Brasília, 2009.
. Lei nº 9.608, de 18 de fevereiro de 1998. Regulamenta o trabalho voluntário no país. Diário Oficial da União, Brasília, DF, fev. 1998.
. Ministério da Educação. Educação Integral: texto referência para o debate nacional. MEC, Brasília. (Série Mais Educação). , 2009a.
. Ministério da Educação. Gestão intersetorial do território. MEC, Brasília, (Série Mais Educação). 2009b.
. Ministério da Educação. Manual de educação integral para obtenção de apoio financeiro por meio do Programa Dinheiro Direto na escola – PDDE. Brasília, 2008.
. Ministério da Educação. Programa Mais Educação passo a passo. Brasília, 2009c.
. Ministério da Educação. Rede de saberes Mais Educação: pressupostos para projetos pedagógicos de educação integral. MEC, Brasília, 2009d.
. Plano Nacional de Educação 2011-2020. Projeto de Lei 8085/10 – em tramitação na Câmara dos Deputados, 2010.
210
A FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES: CONTRIBUIÇÕES À MELHORIA DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
Deusdedit de Lima1
Dídimo George de Assis Matos2
RESUMO
O objetivo deste estudo foi compreender a importância da formação continuada dos professores para o exercício da prática docente e escolheu-se um caso específico como amostra. O caso escolhido foi da Escola Municipal de Ensino Fundamental Dr. José Novais em João Pessoa (PB) em que os professores buscaram o aperfeiçoamento e melhoria de sua prática pedagógica. Essa instituição educacional já cumpriu sua Meta 16 - da Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014 do Plano Nacional de Educação – PNE. Essa meta tem a finalidade de formar, em nível de Pós-Graduação, 50% (cinquenta por cento) dos professores da educação básica, até o último ano de vigência do PNE, e garantir a todos(as) os(as) profissionais da educação básica, formação continuada em sua área de atuação, considerando as necessidades, demandas e contextualizações dos sistemas de ensino. A Pesquisa foi desenvolvida no programa de Pós-Graduação, Mestrado em Educação da Olwa College and University. A metodologia utilizada foi estudo de caso que foi conduzido no próprio colégio. Os professores se mostraram interessados por acreditar na formação continuada visando o desenvolvimento profissional em suas práticas docentes.
Palavras-chave: Formação continuada. Desenvolvimento profissional. Práticas docentes.
ABSTRACT
The aim of this study was to understand the importance of continuing training of teachers for the practice of teaching practice and was chosen a specific case as a sample. The case chosen was the Municipal Elementary School Dr. José Novais in João Pessoa (PB) where teachers sought the development and improvement of their practice. This educational institution has fulfilled its Target 16 - Law No. 13,005 of June 25, 2014 the National Education Plan - PNE. This goal aims to form in the Graduate level, 50% (fifty percent) of basic education teachers, until the last year of the NAP, and ensure all (as) (as) professionals basic education, continuing education in their area, considering the needs, demands and contextualization of education systems. The research was develo ped at the Graduate program, Master in Education Olwa College and University. The methodology used was the case study that was conducted at the college itself. Teachers were interested to believe in continuing education aimed at professional development in their teaching practices.
Keywords: Continuing education. Professional development. Teaching practices.
1 Mestrando em Educação pela Olwa College and University. Psicólogo Clínico. Psicoterapeuta Sexual. E-mail: [email protected] 2 Doutor em Educação; doutorando em Geopolítica na USP; professor da Olwa College and University. Orientador. E-mail: [email protected]
211
INTRODUÇÃO
Vivemos numa sociedade em constante
mudança que exige desafios e novas exigências, quer
seja individualmente ou coletivamente e isso requer
respostas urgentes e adequadas. Essa mudança
requer do sistema educacional uma grande
responsabilidade e contribuição dos professores no
sentido de se fazer necessária uma educação
permanente, formação contínua, formação profissional
e formação ao longo da vida para que possa haver as
transformações sociais.
A formação continuada é de grande
importância na vida dos professores. O professor
necessita de aprendizagem constante, pois esses
novos conhecimentos serão partilhados com seus
alunos em suas práticas cotidianas. As novas
aquisições e experiências proporcionam novos
conhecimentos aos alunos e com isso haverá o que se
chama de processo educativo.
O processo educativo pode ser resumido da
seguinte forma: alguém que sabe e ensina a alguém
que não sabe. É o ato de ensinar para que alguém
aprenda, ou seja, é a transmissão de conhecimentos.
Aquele que sabe mais irá ensinar, corrigir e levar o
conhecimento a quem deve aprender o conteúdo.
Nesse sentido, o risco é o professor se considerar a
autoridade máxima e único responsável pelo processo
educativo.
A formação de professores vem sendo foco de
análise de vários estudos e pesquisas nas últimas
décadas. Assim “o debate em torno do professorado é
um dos polos de referência do pensamento sobre a
educação, objeto obrigatório da investigação
educativa e pedra angular dos processos de reforma
dos sistemas educativos.” (SACRISTÁN, 1999, p.64).
No processo de educação tradicional o
professor é considerado aquele que sabe, fala porque
sabe tudo e o aluno só recebe informações porque
ainda está em formação, aprendendo. Nessa prática
há pouco debate, diálogo ou discussão e esse modelo
não se preocupa com a transformação e crescimento
pleno das pessoas e nem com o processo evolutivo e
de mudanças pelo qual se pretende instituir no
educando a fim de que ele desenvolva seu potencial.
O professor deve procurar formação continuada a fim
de que possa adquirir novos conhecimentos e levá-los
para a sala de aula em sua prática diária.
Entende-se que a formação continuada do
professor é um processo que se constitui ao longo de
sua trajetória profissional e deve ser um processo
constante de novas aprendizagens que são
necessárias na vida profissional de cada um a fim de
que ele (professor) possa informar, formar e melhorar
a qualidade das atividades de seus educando em suas
práticas pedagógicas.
A FORMAÇÃO CONTINUADA DO PROFESSOR
O professor deve ter uma formação básica
que adquiriu através de curso de graduação, pós-
graduação, aperfeiçoamento ou através de leituras,
bem como das experiências de vida, das vivências e
de sua formação propriamente dita. É um processo
contínuo, a aprendizagem deve ser constante, pois as
mudanças são constantes, e quem não atualiza seus
conhecimentos corre o risco de ter um conhecimento
desatualizado, limitado, ultrapassado.
A respeito dessas mudanças constantes, a
formação continuada na visão do autor abaixo:
Os professores não alteram e não devem alterar suas práticas apenas porque uma diretriz lhes é apresentada, e eles se sentem forçados a cumpri-las. Eles não podem evocar novas práticas a partir de nada ou transpô-las de imediato do livro didático para a sala de aula. Os profissionais necessitam de chances para experimentar a observação, a modelagem, o treinamento, a instrução individual, a prática e o feedback, a fim de que tenham a possibilidade de desenvolver novas habilidades e de torná-las uma parte integrante de suas rotinas de sala de aula. (HARGREAVES, 2002, p.114).
212
Entende-se que a formação continuada é de
grande importância no cotidiano dos professores
devido ao aprofundamento dos conhecimentos
existentes, somados aos que eles adquirirão e que
serão partilhados, vivenciados, experienciados em
suas práticas docentes.
Segundo o PNE (2014, p. 43) cuja finalidade é
de formar, em nível de Pós-Graduação, 50%
(cinquenta por cento) dos professores da educação
básica, até o último ano de vigência do PNE, em 2024
e garantir a todos(as) os(as) profissionais da
educação básica formação continuada em sua área de
atuação, considerando as necessidades, demandas e
contextualizações dos sistemas de ensino. A
instituição educacional pesquisada já cumpriu sua
Meta 16, da Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014, do
Plano Nacional de Educação – PNE.
Os dados são os seguintes:
ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL DR. JOSÉ NOVAIS
Quant. de alunos: 351
Quant. de alunos da Educação Básica: 299
Professores:
Quant. (geral): 13
Quant. professores da educação básica com
formação/licenciatura e Pós-Graduação): 09
Quant. de professores SEM Pós-Graduação: 01
Área em que os professores têm interesse em fazer
uma Pós-Graduação: Educação.
A formação continuada como apoio ao
desenvolvimento pessoal, profissional e institucional
dos professores contribui para a transformação
escolar como prática e mudança como menciona
Imbernón (2010, p, 75):
O conhecimento profissional consolidado mediante a formação permanente apoia- se tanto na aquisição de conhecimentos
teóricos e de competências de processamento da informação, análise e reflexão crítica em, sobre e durante a ação, o diagnóstico, a decisão racional, a avaliação de processos e a reformulação de projetos.
Então, percebe-se que o professor necessita
ter esses conhecimentos teóricos e práticos, ou seja,
de competências e habilidades em sua prática
educacional a fim de auxiliar na transformação da
realidade escolar com seus alunos. Nesse contexto,
“Refletir sobre a prática educacional, mediante a
análise da realidade do ensino, da leitura pausada, da
troca de experiências. Estruturas que tornem possível
a compreensão, a interpretação e a intervenção sobre
a prática” (IMBERNÓN, 2010, p.43).
O professor que investe em novos cursos e
novas aprendizagens aumenta e melhora a sua
capacidade cognitiva no sentido de ter melhor
percepção, aprendizagem, conhecimento e
competência que são necessárias para o seu
desenvolvimento pessoal, profissional e
consequentemente, institucional(escolar). Isso irá
refletir na sua prática pedagógica de ensinar, interagir,
transformar e ser capaz de mudar a realidade de
alguns ou do grupo (alunos). Essas orientações estão
subsidiadas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional-LDB.
De acordo com Brasil (1996, art. 43), a Lei nº
9.394, de 20 de dezembro de 1996 – Lei de Diretrizes
e Bases da educação nacional (LDB) – Capítulo IV -
Da Educação Superior - Art. 43, diz:
A educação superior tem por finalidade: I–estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo; II–formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua; III–incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo,
213
desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive; IV–promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicações ou de outras formas de comunicação; V– suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar a correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada geração.
Note-se que o professor necessita de
aprimoramento constante para atender as exigências
citadas no parágrafo anterior (Art. 43 da Lei 9.394/96 –
LDB). Para estimular a criação cultural e o
pensamento reflexivo é preciso que o professor tenha
conhecimento, habilidades e atitudes, não só
adquiridos na academia, mas, sobretudo, na educação
do meio social para que ele possa dar o exemplo, ser
exemplo para o outro. Enfim, para que o professor
seja formador e promova a formação do outro implica
em saberes sistematizados e aprendizagem
constante.
Ainda de acordo com Brasil (1996, art. 63) da
Lei 9.394/96, inciso III - da Lei de Diretrizes e Bases
da educação nacional (LDB) – “Os institutos
superiores de educação manterão programas de
educação continuada para os profissionais de
educação dos diversos níveis”.
Para Brasil (2013, art. 62-A), Lei nº 12.796, de
2013: “a formação dos profissionais a que se refere o
inciso III do art. 61 far-se-á por meio de cursos de
conteúdo técnico-pedagógico, em nível médio ou
superior, incluindo habilitações tecnológicas”.
Parágrafo único. Garantir-se-á formação
continuada para os profissionais a que se refere o
caput, no local de trabalho ou em instituições de
educação básica e superior, incluindo cursos de
educação profissional, cursos superiores de
graduação plena ou tecnológicos e de pós-graduação.
” “
1. Plano Nacional de Educação 2001-2010
Os principais desafios para o cumprimento das
metas do PNE: o PNE expressava o reconhecimento
da educação como um direito de cidadania e os
objetivos e metas refletiam as prioridades
estabelecidas pelos Estados e Municípios. Essas
metas gerariam um grande impacto no quadro geral
das matrículas, com repercussões em outros
segmentos do setor educacional, mas para a
implementação dependeria de um vultoso
investimento financeiro e mudanças na gestão de
sistemas.
De acordo com o INEP (2004, p. 43), o desafio
apontado nessas metas seria:
“[...] alcançar a expansão do atendimento escolar nos diversos níveis de ensino, melhorar a formação acadêmica do corpo docente e da infraestrutura da escola, revertendo o quadro atual predominante em boa parte das unidades escolares do país”.
Ainda de acordo a com o INEP (2004, p. 43),
em se tratando de expansão do atendimento escolar,
na educação infantil, as metas do PNE previam o
atendimento das crianças no seguinte escalonamento:
[...] 30% das crianças de até 3 anos de idade em cinco anos; 50% das crianças de até 3 anos de idade em dez anos; 60% das crianças de 4 a 6 anos de idade em cinco anos; 80% das crianças de 4 a 6 anos de idade, com 100% de atendimento na idade de 6 anos, em dez anos. Previam, também, assegurar escolas com padrões mínimos de infraestrutura, em cinco anos. Havia medidas apontadas para a formação dos professores da educação básica, no sentido de assegurar, no mínimo, a formação em nível de ensino médio
214
(Normal), em cinco anos, e a formação em nível superior em dez anos. Estimava- se, ainda, instalar, em 100% dos municípios, estrutura de supervisão, no período de três anos; assegurar a alimentação escolar para todas as crianças matriculadas e adotar, progressivamente, o atendimento em tempo integral.
Quando se fala de expansão de atendimento
escolar e de infraestrutura da escola, isso requer
investimento por parte dos governos estaduais e
municipais. Nesse sentido, devido à falta de
infraestrutura na instituição escolar, o professor pode
ficar sem condições de prestar uma educação de
qualidade aos seus alunos.
A falta de aprendizagem pode levar o aluno à
desmotivação, ter baixa autoestima, desacreditar em
sua capacidade de aprender e ter uma crença
negativa em relação ao professor, isto é, ele pode
pensar que o professor não acredita em seu potencial.
Vasconcellos (1998, p. 130), ressalta que: “[...] em
educação é fundamental a crença do professor em
sua capacidade de ensinar e na capacidade do aluno
aprender, e a crença do aluno na sua capacidade de
aprender e na capacidade de ensinar do professor”.
Essa percepção que o aluno tem de si mesmo
que não é capaz de aprender é que leva à baixa
autoestima e motivado pela crença que tem acerca do
professor, que ele não sabe ensinar, que fala difícil,
que não desperta interesse pelos alunos, estes
deixam de se interessar pelo aprendizado, e aí se
instala a desmotivação. O ser humano não pode ser
compreendido fora de seu contexto. Logo, o professor
precisa entender e compreender que ensinar visa
levar o aluno a ter consciência crítica para perceber a
realidade.
É importante que o profissional, quer seja
professor ou não, invista em sua formação, pois é
através de novos cursos que surgem novas
aprendizagens e consequentemente refletirão na
prática diária. A formação contínua agrega antigos e
novos conhecimentos a fim de que o professor possa
inseri-los em sua prática docente considerando o
contexto social e não apenas as suas crenças,
motivações e valores, mas também respeitando as
dos educandos, a escola e a comunidade no processo
de desenvolvimento profissional.
Segundo Oliveira (1997, p. 95), o
desenvolvimento profissional: “Reporta-se de uma
forma mais específica, ao domínio de conhecimentos
sobre o ensino, às relações interpessoais, às
competências envolvidas no processo pedagógico e
ao processo reflexivo sobre as práticas do professor”.
O desenvolvimento profissional está
relacionado com as dimensões do saber: os
conhecimentos específicos que o professor tem; a do
saber fazer se refere ao desempenho profissional,
atitudes e ações educativas que o professor
desenvolve; e a do saber ser que se liga às relações
interpessoais, autopercepção, motivações, saber
partilhar, generosidade, etc.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A formação continuada do professor é mais
um suporte a fim de que ele possa desempenhar sua
função ou profissão com maior segurança e
conhecimento daquilo que se propõe para que seus
objetivos, os dos alunos e os da escola sejam
alcançados.
O processo de formação continuada pode
desembocar numa melhor conscientização do
professor para que ele utilize os conhecimentos
adquiridos em sua prática cotidiana e melhorar a
aprendizagem dos alunos e a qualidade do ensino da
Escola. Assim, todos poderão ter maior satisfação nos
seus objetivos.
Os professores em suas práticas pedagógicas
diárias poderão refletir sobre os pontos positivos e
negativos acerca de sua formação profissional, de sua
necessidade de aprimoramento e aprendizagem
215
constante a fim de que a sua imagem de professor
possa ser levada aos alunos através de suas
atividades docentes.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/lei9394_ldb n1.pdf. 09 fev. 2015.
_. Lei nº 12.796, de 4 de abril de 2013. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional sobre a formação dos professores da educação nacional. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011- 2014/2013/lei/l12796.htm. 09 fev. 2015.
HARGREAVES, A. Aprendendo a mudar: o ensino para além dos conteúdos e da padronização. Porto Alegre: Artmed, 2002.
IMBERNÓN, F. Formação continuada de professores. Porto Alegre: Artmed, 2010.
- FE/USP, São Paulo, 1998.
INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Os desafios do Plano Nacional de Educação. Brasília, 2004. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me0 00085.pdf. Acesso em: 29 mai. 2016. OLIVEIRA, L. "A Ação-Investigação e o desenvolvimento profissional dos professores: Um estudo no âmbito da formação contínua". In: SÁ CHAVES, Idália (org.). Percursos de formação e desenvolvimento profissional. Porto: Porto Editora, 1997, pp. 92-105. PNE-PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Anexos. Metas e Estratégias 2014-2024. Lei Nº 13.005, De 25 De Junho De 2014. Disponível em: https://www.fnde.gov.br/fndelegis/action/UrlPublicasAc tion.php?acao=abrirAtoPublico&sgl_tipo=LEI&num_at o=00013005&seq_ato=000&vlr_ano=2014&sgl_orgao =NI. Acesso em: 29 mai. 2016. SACRISTÁN, J. G. Poderes instáveis em educação. Porto Alegre: Artmed, 1999. VASCONCELLOS, C. dos S. Processo de mudança da avaliação da aprendizagem: o papel do professor – representações e práticas. 1998. 283 f. Tese (Doutorado em Educação: Didática)
216
AVALIAÇÃO DA PRÁTICA DA LEITURA E SUAS LIMITAÇÕES EM UMA ESCOLA PÚBLICA DO MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA/PB
Kátia Cilene Carvalho da Cunha Rachel Batista dos Santos
RESUMO
A avaliação da prática de leitura e suas principais dificuldades em escolas públicas tem sido alvo de pesquisa nas últimas décadas, visto que esta ferramenta ainda é considerada como uma grande preocupação no ensino fundamental. Objetivou-se com este trabalho de pesquisa avaliar os instrumentos que levam os estudantes a praticarem a leitura e suas limitações. O trabalho de pesquisa foi realizado na Escola Municipal de Ensino Infantil e Fundamental Profº João Medeiros, localizada no município de João Pessoa/PB. Estabeleceu-se como universo amostral a quantidade de dez estudantes da escola o qual através da utilização de um questionário semiestruturado foram entrevistados. Os resultados obtidos permitiram inferir que uma das principais dificuldades encontradas para a prática da leitura é a falta de acompanhamento dos pais. Por outro lado, os estudantes manifestaram o gosto pela leitura, além de lerem revistas em quadrinhos e que a leitura é fundamental para a vida.
Palavras-chave: Escola pública, ensino fundamental, leitura.
ABSTRACT The reading practice evolution and their main difficulties in public schools has been the goal of researches in the latest decades, and It has been considering one the majors concern in elementary school. The objective of this research was to evaluate the ways that lead the students to practice reading and their limitations. The research took place at “Escola Municipal de Ensino Infantil e Fundamental Profº João Medeiros”, in João Pessoa city / PB. A number of ten students were interviewed, and a semi-structured questionnaire was used to do so. The results infer that one of the hardest trouble when it comes to practice of reading, is the lack of parental guidance. On the other hand, students have shown interest for reading, especially comic books, and they have in mind that reading is the foundation stone for life.
Keywords: Public school, elementary school, reading.
217
INTRODUÇÃO
A leitura é atualmente considerada como uma
necessidade imediata para que se possa viver em
uma sociedade globalizada, visto que um dos seus
objetivos é formar leitores críticos e conscientes da
sua função perante a sociedade da qual faz parte, ou
seja, a leitura objetiva formar cidadãos capazes de se
posicionar diante dos desafios da vida, fazer escolhas,
emitir pareceres, desenvolver estratégias de
desenvolvimento, e, sobretudo, construir e defender a
sua cidadania.
Mota (2008) enfatiza que nas últimas três
décadas registrou-se um aumento significativo de
pesquisas que avaliam a relação entre a consciência
metalinguística e a alfabetização, visando diagnosticar
as lacunas existentes e elaborar novas estratégias
para o aprimoramento de novas metodologias de
ensino que contemplem o exercício da leitura.
Seguindo a mesma linha de pensamento do autor
supracitado, Xavier et alii. (2011), acrescenta que
conhecer as estratégias destas habilidades utilizadas
por alunos nos anos iniciais de escolarização como o
ensino fundamental é um requisito essencial para a
prevenção, identificação e criação de estratégias de
trabalho que visem a superar as dificuldades de leitura
e escrita no âmbito escolar.
De forma geral, cabe ao professor sugerir
leituras para os seus alunos que tragam lições de vida
ou complemente de alguma forma seu cotidiano, tipo
de comportamento, principalmente, de fatos que
evidenciem lideranças e novas estratégias para
superar as dificuldades vivenciadas no dia a dia. Além
disso, as leituras recomendadas nunca devem conter
mensagens de pessimismo, de revolta ou que
evidenciem qualquer preconceito que conduza o
estudante a desenvolver atitudes que venham
prejudicá-lo em um futuro próximo.
De acordo com a literatura, são poucas as
crianças que gostam de ler. Neste sentido o educador
precisa elaborar novas estratégias que seduzam seu
aluno nas atividades vivenciadas em sala de aula,
sendo imprescindível que o educador conquiste seu
aluno de forma que o mesmo seja capaz de descobrir
o gosto e o prazer em viajar nas páginas de seus
livros, despertando sua imaginação e criatividade e
não uma tarefa obrigatória realizada apenas como
forma de obter notas escolares.
Objetivou-se com este trabalho de pesquisa
avaliar os instrumentos que levam os estudantes a
praticarem a leitura e suas limitações.
METODOLOGIA ADOTADA NA PESQUISA
O trabalho de pesquisa foi realizado na Escola
Municipal de Ensino Infantil e Fundamental Profº João
Medeiros, localizada no município de João
Pessoa/PB, composta por 320 estudantes, 18
professores, 4 especialistas (Supervisor Escolar,
Orientador Educacional, Assistente Social e
Psicóloga), 1 diretor, 2 adjuntos, 1 secretário, 1
auxiliar de secretaria, 4 inspetores de aluno, 4
merendeiras, 1 supervisora da merenda, 4 auxiliares
de serviços gerais, 2 monitores de informática e 4
vigilantes.
Para a obtenção dos resultados foram
selecionados dez estudantes da escola, os quais
foram convidados a participarem das entrevistas,
realizadas através da aplicação de um questionário do
tipo semiestruturado contendo cinco questões de
múltiplas escolhas.
Após a obtenção dos resultados estes foram
tabulados utilizando-se o programa Excel e os dados
foram distribuídos de forma quantitativa e qualitativa
utilizando-se determinação de percentuais (%)
correspondentes, e elaboração de gráficos, de forma a
representar as questões propostas na pesquisa.
218
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Na escola, os estudantes precisam ter contato
cotidiano com diferentes tipos de textos, além de ouvir
histórias para que possam observar o comportamento
do adulto lendo e escrevendo. Além de realizar as
atividades escolares, o estudante ainda precisa ser
incentivado pelo professor e pelos pais, para que
assim possa aprender a ler e a escrever na idade
certa, além de despertar o gosto pela a leitura.
Quando os estudantes foram questionados a
respeito do gosto pela leitura, conforme o gráfico 1,
observa-se que 90% dos educandos relataram que
gostam de ler, e 10% dos estudantes entrevistados
mencionaram que não tem gosto pela leitura. Pelos
resultados obtidos, observa-se de forma geral a
maioria dos estudantes já desenvolveram o gosto pela
leitura.
A esse respeito, Primo e Lustiago (2013)
relatam em seus estudos realizados com estudantes
das séries iniciais do ensino fundamental que a
grande maioria dos investigados não tem afinidade
com a leitura. Para Mendes e Silva (2008), o ato de ler
ainda é pouco utilizado por estudantes do ensino
fundamental.
Gráfico 1. Visão geral do gosto pela leitura sob a ótica dos estudantes da Escola Municipal de Ensino Infantil e Fundamental Profº João Medeiros, João Pessoa/PB
Fonte: Pesquisa de Campo.
Comparando-se os resultados obtidos nesta
pesquisa com aqueles relatados na literatura,
constatam-se resultados opostos. Em estudos
realizados com estudantes das séries iniciais do
ensino fundamental, Primo e Lustiago (2013)
constataram que a grande maioria dos estudantes
investigados relatou não ter afinidade com a leitura.
De forma similar Mendes e Silva (2008) relatam que o
ato de ler ainda é pouco utilizado por estudantes do
ensino fundamental.
Quanto ao questionamento se a mãe dos
estudantes pratica a leitura com eles, conforme o
gráfico 2, constata-se que a grande maioria dos
estudantes entrevistados relata que esta prática não
existe em seus lares, e somente 20% dos estudantes
evidenciaram que seus pais sentam com eles e
praticam a leitura, incentivando-os desta maneira. Gráfico 2. Visão geral a respeito da prática da leitura
dos estudantes e seus familiares sob a ótica dos
estudantes da Escola Municipal de Ensino Infantil e
Fundamental Profº João Medeiros, João Pessoa/PB
Fonte: Pesquisa de Campo.
De acordo com os resultados observados é
possível inferir a necessidade da parceria entre
família/escola a fim de que juntos possam contribui
para incentivar a criança/aluno no quesito leitura é
extremamente importante.
De acordo com Lima e Domingues (2007),
somente 20% dos pais de estudantes participam da
vida escolar dos filhos e em ocasiões de reuniões de
pais e mestres (30%), sendo omissos a participarem
do acompanhamento das tarefas escolares e
principalmente quando diz respeito à prática da leitura.
Com relação ao quesito que objetivou abordar
se os estudantes têm acesso à leitura através de
revistas em quadrinho e/ou livros infantis, conforme o
gráfico 3, constata-se que 80% dos educandos
219
evidenciaram que têm acesso à leitura através de
revistas, e apenas 20% mencionaram que não.
Fazendo-se uma analogia dos resultados
observados nesta pesquisa com aqueles obtidos na
literatura, é possível inferir similaridade. A este
respeito, Santos e Gazarolli (2011) relatam que a
utilização das revistas em quadrinhos pode ser de
grande importância para incentivar a criança a trilhar e
consolidar a prática e o prazer de ler.
Gráfico 3. Visão geral a respeito do acesso à leitura através de revista em quadrinho e/ou livros infantis sob a ótica dos estudantes da Escola Municipal de Ensino Infantil e Fundamental Profº João Medeiros, João Pessoa/PB
Fonte: Pesquisa de Campo
Quanto ao acesso à internet para jogos e/ou
pesquisas, conforme o gráfico 4, constata-se que a
grande maioria dos educandos amostrados evidenciou
que tem acesso. Apenas 30% do público entrevistado
relataram que não usam a internet para jogar e/ou
pesquisar.
De forma geral, constatamos que, embora a
mídia e a tecnologia se façam presentes no contexto
atual, ainda requer um planejamento voltado para o
seu uso de forma correta como atração para a prática
da leitura, visto que a maioria dos estudantes utiliza as
tecnologias disponíveis apenas para diversão, a
exemplo das redes sociais e jogos eletrônicos. A esse
respeito, Suzuki et alii. (2009) relatam que o uso da
internet é constante pelos estudantes, principalmente
para jogos, reforçando os resultados obtidos nesta
pesquisa, embora tenham sido constatados para
alunos do ensino fundamental.
Gráfico 4. Visão geral a respeito do acesso a internet para jogos e/ou pesquisas sob a ótica dos estudantes da Escola Municipal de Ensino Infantil e Fundamental Profº João Medeiros, João Pessoa/PB
Fonte: Pesquisa de Campo
De acordo com os resultados, é possível
inferir que embora a mídia e a tecnologia se façam
presentes na atualidade, ainda é necessário um
planejamento adequado para o seu uso objetivando
ser um instrumento atrativo para a leitura.
Para Santana (2013), os jogos eletrônicos são
aplicáveis na educação enquanto recurso pedagógico,
auxiliando o professor em suas aulas como na
preparação de material didático, possibilitando um
resultado satisfatório em relação à aprendizagem do
conteúdo proposto para seus alunos ao utilizá-lo.
Com relação à importância da leitura na vida
dos estudantes, conforme o gráfico 5, observa-se que
todos os estudantes entrevistados relatam que a
leitura é fundamental para o desenvolvimento
intelectual, social e cultural deles e de toda sociedade.
De forma geral, é possível inferir que a leitura
é uma atividade prazerosa e poderosa, abrindo
horizontes e consolidando o aprendizado, pois além
de desenvolver a capacidade de criar, traz
conhecimentos, promovendo uma nova visão do
mundo.
Assim, o leitor estabelece uma relação
dinâmica entre a fantasia, encontrada nos universos
dos livros lidos e a realidade encontrada em seu meio
social, fazendo-o quebrar os paradigmas que o
cercam e os limites historicamente apreendidos. Para
Brito (2010), a criatividade, a imaginação e o
raciocínio se sobrepõem diante deste magnífico
cenário, criando um palco de possibilidades.
220
De acordo com a linha de pensamento do
autor supracitado, é possível constatar a importância
da leitura na vida de cada estudante. Contrastando-se
os resultados obtidos nesta pesquisa, observa-se
similaridade entre outros aurores como Sabino (2008),
Pires (2012), dentre outros.
Gráfico 5. Visão geral a respeito da importância da leitura na vida dos estudantes alocados na Escola Municipal de Ensino Infantil e Fundamental Profº João Medeiros, João Pessoa/PB
Fonte: Pesquisa de Campo.
Conforme os resultados abordados nesta
pesquisa, é possível inferir que, para que ocorram
avanços na prática da leitura e da escrita dos
estudantes é preciso que os professores e os pais
destes estejam comprometidos com a promoção e
desenvolvimento, através de uma prática pedagógica
que utilize estratégias e recursos didáticos
facilitadores da aprendizagem. O assunto abordado
nesta pesquisa não se encerra com estes resultados
ou com aqueles já discutidos e consagrados por
diversos estudiosos do assunto, visto que as
evidências aqui constatadas propiciam um vasto
campo de estudo relacionado ao tema, para que
possamos compreender melhor e buscarmos soluções
e estratégias interessantes para a melhoria das
habilidades de leitura nos anos iniciais do ensino
fundamental.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados obtidos permitiram inferir que
uma das principais dificuldades encontradas para a
prática da leitura é a falta de acompanhamento dos
pais. Por outro lado, os estudantes manifestaram o
gosto pela leitura, além de lerem revistas em
quadrinho e que a leitura é fundamental para a vida.
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222
AVALIAÇÃO ESCOLAR E AÇÃO DOCENTE
Tarciano Paiva Felismino
RESUMO
O presente trabalho propõe discorrer sobre o processo avaliativo no âmbito escolar, evidenciando os aspectos que caracterizam o surgimento desse procedimento na história da educação, a legislação que o legitima e as formas de aplicação nesse contexto. Com base em alguns pressupostos teóricos e documentos, como a LDB e os PCN, propõe-se um debate reflexivo sobre a avaliação com aplicação na educação pautada em princípios que favoreçam o desenvolvimento humano e a construção do conhecimento. As reflexões suscitadas nesse estudo evidenciam a necessidade de se refletir sobre a avaliação, sobre a importância da atuação docente no processo de ensino e aprendizagem e na seleção dos instrumentos utilizados, valorizando a potencialidade dos alunos.
Palavras-chave: Educação. Ensino e Aprendizagem. Avaliação. Docência.
ABSTRACT
The present work proposes to discuss the evaluation process within schools, highlighting the aspects that characterize the emergence of this procedure in the history of education, legislation that legitimizes and ways of application in this context. Based on a few theoretical assumptions and documents, as LDB and PCN, proposes a reflective debate on evaluation with application in education based on principles that promote human development and the construction of knowledge. Reflections arising from this study highlight the need to reflect on the evaluation, on the importance of acting teacher in the teaching and learning process and in the selection of the instruments used valuing the potentiality of students.
Keywords: Education. Teaching and learning. Evaluation. Teaching.
223
INTRODUÇÃO
Ao longo da história da educação brasileira a
avaliação vem ocupando espaços de destaque em
muitos diálogos, debates e discussões que, na maioria
das vezes, expressam dúvidas, conflitos e
contradições.
Compreendida como um elemento que integra
o processo de ensino e aprendizagem a avaliação se
situa atualmente no cerne do âmbito educacional e
demanda aparelhamento particular com conhecimento
técnico e ampla competência dos educadores para a
observação (ORIGEM DA PALAVRA).
No que se refere aos aspectos globais do
processo ensino aprendizagem, a avaliação está
sendo apontada como uma análise contínua e
processual, onde o avaliar vai além do “medir”
conteúdos apreendidos pelo alunado num
determinado período escolar, passando a ser aceita
como elemento de reflexão contínua para o professor
e para o aluno em suas práticas docente e discente.
O debate sobre a avaliação requer uma visão
mais aprofundada acerca do processo de ensinar e de
aprender, além de uma concepção mais ampla sobre
o papel da educação e do educador na emissão de
valores ao (s) conhecimento (s) adquirido (s) pelos
alunos. Nessa perspectiva um educador proficiente
deverá utilizar os mais diversificados meios, formas e
instrumentos avaliativos, visando resultados
relevantes para suas análises, e possíveis
reformulações de metas a serem atingidas para a
construção das competências de seus alunos.
No entanto o panorama atual da educação
revela que a avaliação não tem sido utilizada como
uma ferramenta de auxílio na promoção do
desenvolvimento do aluno, através do
acompanhamento de sua evolução, haja vista que
esta tem se constituído elemento que vem
ocasionando a reprovação e a retenção dos
estudantes, descumprindo o que estabelece a
legislação educacional. Percebe-se que mesmo com
alguns avanços, os processos avaliativos aplicados
em muitas instituições escolares ainda insistem em
manter um modelo que muito se assemelha às
concepções tradicionalistas e tecnicistas, se
distanciando do objetivo defendido pela legislação
educacional.
Diante das questões anteriormente
destacadas o presente trabalho busca compreender
como ocorre o processo de avaliação dos saberes
estudantis no contexto da escola e pretende
aprofundar o debate acerca da avaliação,
reconhecendo a sua relevância para o processo de
ensino e aprendizagem, com o intuito de provocar
reflexões e a revisão de antigas concepções que
revelam e justificam os impasses identificados no
âmbito da educação.
CONCEITUAÇÃO E HISTÓRICO DO TERMO
“AVALIAR” 1.1 CONCEITOS
A palavra avaliar vem do latim valere= “ter
saúde, vigor, força”, resultando em “valia” (em
Português) (ORIGEM DA PALAVRA). Para Kraemer
(2005) “avaliar” se origina de a + valere e significa:
[...] atribuir valor e mérito ao objeto em estudo. Avaliar é atribuir um juízo de valor sobre a propriedade de um processo para a aferição da qualidade do seu resultado, portanto, a compreensão do processo de avaliação do processo ensino/aprendizagem tem a ver com o ato de avaliar ao de “medir” os conhecimentos adquiridos pelos alunos (KRAEMER, 2005, p. 01).
Presentes em todos os campos da atividade
humana, os julgamentos, as comparações e estão
presentes nas diversas tomadas de decisões,
constituindo-se uma prática cotidiana, seja de maneira
formal ou informal.
224
No âmbito da escola a organização e
sistematização do processo avaliativo ocorrem
formalmente com o intuito de atender aos objetivos
explícitos ou implícitos das escolas, refletindo valores
e normas defendidos pela sociedade (DALBEN, 2005
apud CHUEIRI, 2008). Nesse sentido as práticas de
avaliação podem, portanto, servir à manutenção ou à
transformação social.
De acordo com Villas-Boas (apud CHUEIRI,
2008) essa prática, seja qual for o nível de ensino, “[...]
não existe e não opera por si mesma; está sempre a
serviço de um projeto ou de um conceito teórico, ou
seja, é determinada pelas concepções que
fundamentam a proposta de ensino” (p. 51). A
avaliação escolar é um meio e não um fim em si
mesmo; está delimitada por uma determinada teoria e
por uma determinada prática pedagógica. Ela não
ocorre num vazio conceitual, mas está dimensionada
por um modelo teórico de sociedade, de homem, de
educação e, consequentemente, de ensino e de
aprendizagem, expresso na teoria e na prática
pedagógica. (CALDEIRA, 2000 apud CHUEIRI, 2008,
p. 51).
Diante do exposto percebe-se que a avaliação
a qual é submetido o processo de ensino e
aprendizagem não se configura enquanto uma prática
neutra ou privada de intenções. (CHUEIRI, 2008).
Para Luckesi (s.d., p. 01) a avaliação de um
educando sugere, a princípio, uma atitude de
acolhimento “[...] no seu e no seu modo de ser, como
está, [...]” e só a partir disso, o professor deverá tomar
a decisão sobre o que irá fazer. Portanto, ao assumir
o papel de avaliador, o professor “[...] interpreta e
atribui sentidos e significados e representações a
respeito da avaliação e acerca de seu papel como
avaliador, com base em suas próprias concepções,
vivências e conhecimentos.” (CHUEIRI, 2008, p. 52).
1.2 BREVE HISTÓRICO DAS CONCEPÇÕES PEDAGÓGICAS SOBRE A AVALIAÇÃO
A avaliação tem sido estudada desde o início do
século XX e Caro (apud
GOLDBERG & SOUZA, 1982) aponta várias
pesquisas realizadas nos anos 20 para medir efeitos
de programas de diversas áreas sobre o
comportamento das pessoas. Eram realizados
experimentos relativos à produtividade e à moral dos
operários, à eficácia de programas de saúde pública, à
influência de programas experimentais universitários
sobre a personalidade e atitudes dos alunos, etc.
Para Mapelli (2009) a avaliação da
aprendizagem e a Psicologia andam juntas, sendo que
as duas primeiras décadas do século XX foram
marcadas pelo desenvolvimento de testes
padronizados para medir as habilidades e aptidões
dos alunos.
O processo de avaliação é amplo, podendo ter
como concepção sua inserção no processo de ensino
aprendizagem. “A avaliação deve antes de qualquer
coisa contribuir para a formação dos alunos, dentro
dos objetivos da escola”, afirma Kirch (2008 apud
MAPELLI, 2009, p. 06).
Estudos comprovam que embora o exercício
docente já estivesse presente na Grécia Antiga, só a
partir da conexão da pedagogia com a psicologia,
esse só passou a ser visto cientificamente (apud
MAPELLI, 2009).
O período que marca o princípio do processo
avaliativo data de 1.200 a.C. quando se estabeleceu a
técnica do exame. A aferição da aprendizagem foi
estruturada tomando-se por base o modo como o
sujeito observa, julga e avalia o que repercutiu na
análise dos métodos utilizados para a avaliação do
ensino e da aprendizagem (MAPELLI, 2009).
OS EXAMES
Data do século XVI a utilização da avaliação
na forma de exames e provas, nos colégios católicos
da Ordem dos Jesuítas, e nas escolas protestantes:
225
A tradição dos exames escolares, que conhecemos hoje, em nossas escolas, foi sistematizada nos séculos XVI e XVII, com as configurações da atividade pedagógica produzidas pelos padres jesuítas (séc. XVI) e pelo Bispo John Amós Comênio (fim do séc. XVI e primeira metade do século XVII). (LUCKESI, 2003 apud CHUEIRI, 2008, p. 53).
Porém, conforme destaca Chueiri (2008)
registros revelam que na China, 3.000 a.C. já se
constata a utilização de exames em processos
seletivos de homens para o exército. Mas os exames
usados enquanto prática avaliativa nas escolas, como
se percebe nos dias atuais, teve a sua sistematização
a partir do advento da modernidade.
Foi a ascensão e a estabilização da classe
burguesa que marcou o auge da prática de exames, já
que a ausência de privilégios levaria a buscar
ascensão social através do trabalho. No entanto, o
exame de admissão introduzido de forma generalizada
na seleção de trabalhadores para o serviço público, foi
considerado como uma iniciativa importante para o
processo de democratização do Estado como também
na composição de uma sociedade caracterizada pela
meritocracia.1 (CHUEIRI, 2008).
Com o incremento do modo de produção
o saber do Estado. (AFONSO, 2000, p. 30 apud CHUEIRI, 2008, p 54).
Para a autora supracitada analisar a prática de
exames favorece a identificação da concepção
preliminar acerca da avaliação, que embora tenha sido
trazida de uma época distante, ainda se mantém nas
escolas brasileiras. Esses conceitos traduzem o
quanto era mantido a perspectiva da avaliação como
sinônimo de exame e da avaliação como um
instrumento de medição do desempenho.
A MENSURAÇÃO
A avaliação como processo de medida foi
principiada no século XX, nos Estados Unidos e teve
como destaque os estudos desenvolvidos por
Thorndike 2 sobre os testes voltados à educação. A
evolução desses estudos culminou na elaboração de
testes padronizados, cujo objetivo seria mensurar as
habilidades e aptidões dos alunos. (CHUEIRI, 2008).
A contribuição da Psicologia para a avaliação
na educação se destaca nos primórdios do século XX
sob dois aspectos, em primeiro lugar, no que se refere
aos testes psicológicos, tomando por fundamento os
estudos de Sperman (1904, 1907, 1913) bem como os
estudos de Binet e Simon (1905) sobre a Psicometria,
capitalista, o exame como forma de avaliação se
manteve, configurando-se enquanto elemento chave
do sistema. É, portanto, ao longo do século XIX que se assiste à multiplicação de exames e diplomas, pondo em evidência o contínuo controle por parte do Estado dos processos de certificação. Como Karl Marx observou, o exame passa a mediar as relações mais amplas da cultura com o Estado, constituindo-se num vínculo objetivo entre o saber da sociedade civil e
2 Edward Lee Thorndike nasceu em 1874, na cidade de Williamsburg, Massa, nos Estados Unidos e era filho de um ministro metodista em Lowell, Massachusetts. Ele cresceu numa época em que a psicologia científica estava se estabelecendo em instituições acadêmicas. As grandes contribuições dele para psicologia educacional no início de sua carreira estão em grande parte nos métodos que ele inventou para testar e medir a inteligência de crianças e a habilidade delas para aprender. Publicou nos Estados Unidos sua importante monografia de doutorado intitulada "Inteligência Animal: Um Estudo Experimental dos Processos Associativos em Animais". As investigações pioneiras de Edward L. Throndike nos campos da aprendizagem humana estão entre as mais influentes na história de Psicologia. Em 1912, ele foi reconhecido por suas pesquisas, sendo eleito como o presidente da Associação Psicológica americana. Em 1934, a Associação americana para o Avanço de Ciência elegeu-o como o único cientista social desta organização profissional. Thorndike se aposentou em 1939, mas trabalhou ativamente até 1949, quando faleceu. (UNIRIOTEC).
226
quando elaboraram o primeiro teste de inteligência
direcionado para crianças e adultos. (Idem).
O fato de demonstrarem com esses estudos a
possibilidade de se medir comportamentos através
desses testes contribuiu para a ampliação da cultura
de testes e medidas no campo da educação. Essa
situação dificultou uma distinção entre avaliação e
mensuração nesse período. (CHUEIRI, 2008).
Em segundo lugar, a Psicologia contribuiu
para o processo de avaliação na educação com os
estudos da Psicologia Comportamental relacionados à
aprendizagem. Nessa visão, a aprendizagem pode ser
quantificada, desse modo, mensurada. Esses estudos
servem de elemento basilar para a chamada
“Pedagogia Tecnicista”, que funda o conceito de
aprendizagem na Psicologia Comportamental.
Esta sempre buscou adquirir o “status” de ciência, libertando-se da introspecção e fundamentando-se na lógica científica dominante que lhe garantisse a objetividade das ciências da natureza. Seu principal foco de preocupação são as mudanças comportamentais que possam ser cientificamente observadas, portanto, quantificadas. (CALDEIRA, 1997 apud CHUEIRI, 2008, p. 55).
Diante do exposto, percebe-se que ao se
restringir a pratica de avaliação à prova – enquanto
instrumento de medida, sugere a aceitação da
credibilidade da prova e que o não reconhecimento
dos aspectos subjetivos do avaliador pode interferir
nos resultados do processo avaliativo.
CLASSIFICAÇÃO OU REGULAÇÃO
Classificar o desempenho do aluno através da
avaliação caracteriza uma das mais tradicionais
concepções sobre a prática de avaliação no contexto
escolar. Sobre essa questão Perrenoud (1999 apud
CHUEIRI, 2008, p. 57) destaca que “a avaliação é
tradicionalmente associada, na escola, à criação de
hierarquias de excelência. Os alunos são comparados
e depois classificados em virtude de uma norma de
excelência, definida em absoluto ou encarnada pelo
professor e pelos melhores alunos.”
Nessa perspectiva a avaliação passa a
desempenhar o papel de certificação, onde o diploma
garantirá que o seu portador tenha recebido uma
formação, dispensando-o de ser submetido a novas
provas.
Essa forma de avaliação indica que as
práticas avaliativas são cruzadas por duas lógicas:
uma de caráter formativo e outra de cunho somativo.
(Grifo nosso).
Sobre a lógica da Avaliação somativa, Sordi
(2001 apud CHUEIRI, 2008) ressalta que:
Esta se relaciona mais ao produto demonstrado pelo aluno em situações previamente estipuladas e definidas pelo professor, e se materializa na nota, objeto de desejo e sofrimento dos alunos, de suas famílias e até do próprio professor. Predomina nessa lógica o viés burocrático que empobrece a aprendizagem, estimulando ações didáticas voltadas para o controle das atividades exercidas pelo aluno, mas não necessariamente geradoras de conhecimento. (p. 57)
Embora não sejam consideradas
necessariamente excludentes, essas práticas podem
para afetar o desenvolvimento dos alunos, na medida
em que atua de modo superficial, podendo
negligenciar as potencialidades.
Na lógica da Avaliação formativa o cerne é
“[...] o processo de apropriação dos conhecimentos
pelo aluno, os diferentes caminhos que ele percorre,
mediados pela mediação ativa do professor, a fim de
promover a regulação das aprendizagens, revertendo
a eventual rota do fracasso e reinserindo o aluno no
processo educativo.”(CHUEIRI, 2008, pp. 57, 58).
Conforme destaca a autora acima, o papel
fundamental dessa modalidade avaliativa é favorecer
uma regulação positiva da atividade de ensino
proposta.
227
Qualificação
Essa perspectiva surgiu com o intuito de
resistir contra as concepções tecnicistas e
quantitativas da avaliação. Registros históricos
revelam que no início dos anos de 1960, os modelos e
práticas desenvolvidas nas escolas brasileiras se
tornaram alvo de críticas. Com novas concepções de
avaliação começaram a surgir, apresentando uma
variedade de enfoques e fundamentos envolvendo
aspectos éticos, epistemológicos e teóricos.
Essa concepção traduz uma célere busca de
outra opção para a avaliação no contexto escolar:
Produziu-se um acelerado desenvolvimento do interesse sobre a perspectiva chamada de avaliação “qualitativa”. Esse movimento deveu-se em grande parte ao reconhecimento de que os testes padronizados de rendimento não ofereciam toda a informação necessária para compreender o que os professores ensinavam e o que os alunos aprendem. (SAUL, 1988 apud CHUEIRI, 2008, p. 57)
Nesse contexto a avaliação de caráter
qualitativa alia “[...] um conjunto de técnicas,
orientações e pressupostos da metodologia
etnográfica, da investigação de campo”. (CHUEIRI,
2008, p. 59).
Outro aspecto característico desse tipo de
avaliação se refere à flexibilidade no delineamento de
modo a admitir um ponto de vista de cunho
progressivo. Isto significa que se trata de uma
avaliação que direciona sua ação em processos “[...] é
em si mesma um processo que evolui em virtude de
descobertas sucessivas e de transformações do
contexto; supõe, então, um enfoque seletivo e
progressivo.” (CHUEIRI, 2008, p. 59).
Portanto a avaliação qualitativa é considerada
como um modelo de caráter transitório por apresentar
como enfoque central uma concepção acerca dos
processos dos indivíduos e do processo de
aprendizagem. Isso ocasiona um rompimento com a
concepção quantitativa, cuja prioridade é dada aos
resultados.
Entende-se que a avaliação se faz necessária
para que se possa refletir, questionar e transformar as
ações no âmbito educacional. O mito da avaliação é
decorrente de sua caminhada histórica, sendo que
seus fantasmas ainda se apresentam como forma de
controle e de autoritarismo por diversas gerações.
No Brasil a tecnologia educacional como
alternativa de educação para as massas populares
tem subsídio em leis e pareceres. (MAPELLI, 2009).
Ao considerar o papel do professor como
avaliador, atribuindo sentidos e significados ao
processo avaliativo, Chueiri (2008) busca resgatar o
significado de avaliação em algumas das principais
concepções pedagógicas, que marcaram o contexto
da escola, entre os séculos XVI e XVII, período em
que surge a prática de avaliar no processo de ensinar
e de aprender no âmbito da educação. Com isso a
autora pretende analisar em que medida essas
concepções ainda estão presentes, dominando as
práticas hodiernas de avaliação da aquisição de
conhecimentos no espaço escolar. O PROCESSO AVALIATIVO NA EDUCAÇÃO
Ao se referir à avaliação na Educação Básica,
a Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional
(LDB) estabelece:
a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais; b) possibilidade de aceleração de estudos para o aluno com atraso escolar; c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do aprendizado; d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito;
228
e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de preferência paralelos ao período letivo, para os casos de baixo rendimento escolar, e serem disciplinados pelas instituições de ensino em seus regimentos; [...]. (BRASIL, 2010, p.43).
Nesses termos a LDB determina que as
instituições de ensino, sejam estas públicas ou
privadas, promovam um processo de avaliação de
qualidade, sem interrupções e que atue como
intermediário nas escolas e instituições de ensino
superior. (BRAGA, 2007 apud MAPELLI, 2009).
Apesar de a LDB ser considerada um avanço
no que diz respeito às discussões que abordam a
avaliação da aprendizagem escolar, há polêmicas que
consideram aspectos ainda insuficientes na legislação,
por não atenderem às expectativas dos docentes
quanto à comprovação de sua eficácia. O problema
também perpassa por concepções equivocadas do
que vem a ser e como efetivar a avaliação, ainda
entendida como instrumento mensurador e punitivo.
Como um exemplo disso pode ser destacado
a Prova Brasil, criada pelo Ministério da Educação
desde 1990 com a finalidade de tornar mais refinada a
avaliação da Educação. Esse teste com questões de
múltipla escolha de Língua Portuguesa e de
Matemática foi aplicado pela primeira vez em 2005
nas zonas urbanas, objetivando avaliar de forma
global e abranger todas as escolas. (DIDONET et al.,
2007).
No entanto a autora supracitada enfatiza que
os resultados da Prova Brasil revelaram, entre outros
aspectos, que a situação educacional ainda dista do
panorama almejado. Em todo o território brasileiro e,
principalmente nas regiões Norte e Nordeste, ficou
constatado que “[...] milhões de crianças têm acesso à
escola, frequentam as aulas, mas aprendem pouco,
muito pouco”. (DIDONET et. al., 2007, p. 02). Isto
significa que:
[...] não basta à escola dizer que ensina se ninguém aprende - assim como os
anos de estudo tampouco significam mais nada. É óbvio que é possível fazer críticas ao teste criado pelo MEC (afinal, dificilmente haverá um modelo 100% perfeito). Muito mais importante é começar a construir, de uma vez por todas, uma cultura de que a avaliação é o caminho para sair desse buraco em que, todos concordamos, nossa Educação se encontra. (DIDONET et al., 2007, p 02)
As questões anteriormente apresentadas
podem servir para ressaltar os riscos da utilização de
um modelo de avaliação que desconsidere os
objetivos da educação e que acabe servindo para
reforçar o que Luckesi (2003) denomina de “Cultura do
Exame”. Talvez por essa razão esse autor, reconheça
a serventia e o imperativo dos exames apenas para
aquelas situações nas quais se exige classificação
(nos concursos) ou nos casos em que se faz
necessário a comprovação de conhecimentos sobre
determinada área. No entanto, o autor defende que
“[...] a sala de aula é o lugar onde, em termos de
avaliação, deveria predominar o diagnóstico como
recurso de acompanhamento e reorientação da
aprendizagem, em vez de predominarem os exames
como recursos classificatórios.” (LUCKESI, 2003, p.
47).
Hoffmann (2001 apud COSTA, 2000) defende
que “[...] repensar os princípios de avaliação pode ser
um primeiro passo para transformá-la, porque exige
discuti-la em seu conjunto: valores, organização
curricular, preceitos metodológicos, visão política,
comunitária.” (p.01).
O processo avaliativo deve ser compreendido
como uma ferramenta imprescindível que pode
garantir a aquisição de conhecimentos e não como
instrumento de reprovação ou exclusão discente. A
educação deve suplantar a crise dos modelos
educacionais que se caracteriza pelo foco no ensino e
o espaço escolar cuja atuação garante,
exclusivamente, um ensino de fundamento linear e
uniforme, não se responsabilizando pela
aprendizagem dos alunos. (BRASIL, 2012).
229
Ao se referir sobre o objetivo da avaliação,
sobre o porquê e para quê avaliar, Méndez (2002
apud CHUEIRI, 2008) afirma que “[...] o conhecimento
deve ser o referente teórico que dá sentido global ao
processo de realizar uma avaliação, podendo diferir
segundo a percepção teórica que guia a avaliação.
Aqui está o sentido e o significado da avaliação e,
como substrato, o da educação.” (p. 52).
Nessa perspectiva o processo avaliativo está
rigorosamente ligado à natureza do conhecimento e a
partir da distinção dessa natureza, a prática de
avaliação deve ser ajustada à mesma, se intenciona
manter a fidelidade e coerência epistemológica. Nesse
sentido, entende-se que a avaliação considerada
como uma prática escolar, não se constitui enquanto
uma atividade que ocorre de forma neutra e
puramente técnica, é, portanto, desenvolvida com
base num paradigma de teórico de mundo, de ciência
e de educação, que se traduz em prática pedagógica.
.
2.1 Avaliação e Práticas pedagógicas: a atuação
docente
A avaliação é compreendida como uma
atividade humana utilizada nas mais diferentes
circunstâncias da vida. Especificamente a que é
praticada na escola, é considerada como uma
importante ferramenta de inclusão para alunos com
algum tipo de limitação ou dificuldade de
aprendizagem em todos os níveis de ensino, devendo
garantir-lhes os direitos de desenvolvimento global,
através do respeito à individualidade e ao ritmo de
compreensão que o aprendiz sinaliza não só ao longo
do ano letivo, mas em toda sua escolaridade.
Sobre essa temática, um dos mais
importantes documentos que orienta para a Educação
institui:
A avaliação é parte do processo ensino aprendizagem. Ela incide sobre uma grande variedade de aspectos relativos ao desempenho dos alunos, como aquisição de conceitos, domínio de
procedimentos e desenvolvimento de atitudes. Mas também devem ser avaliados aspectos como seleção de dimensionamento dos conteúdos, práticas pedagógicas, condições em que se processa o trabalho escolar e as próprias formas de avaliação. (BRASIL, 1997a, p.20).
Nesse contexto, são percebidas muitas
variantes que devem ser consideradas no processo
avaliativo, o trabalho do professor como mediador
entre seus alunos e os conhecimentos apresentados,
devendo acontecer a partir de uma sistematização
frequente com observações atentas, registros,
acompanhamento, intervenções planejadas e
atendimentos individualizados, com atenção aos
aspetos gerais dos aprendizes e que vise atingir o que
mais se almeja no fazer pedagógico - a progressão do
aluno.
Segundo Santaló (1996):
A missão dos educadores é preparar as novas gerações para o mundo em que terão que viver. Isso quer dizer proporcionar-lhes um ensino necessário para que adquiram as destrezas e habilidades que vão necessitar para seu desempenho, com comodidade e eficiência, no seio da sociedade que enfrentarão ao concluir sua escolaridade. (SANTALÓ, 1996, p.11).
Philippe Perrenoud um dos célebres
pensadores da Educação Contemporânea discute
entre outros assuntos, sobre as práticas pedagógicas.
Ao se referir sobre a avaliação, o autor tece críticas ao
processo avaliativo desenvolvido nas escolas.
Em busca da excelência, construímos instrumentos para julgar qual seria o ponto de ruptura entre o êxito e o fracasso. Desta escolha, que legitimamos muitas vezes por matrizes formais de avaliação e pelo rigor metodológico, construímos as imagens do bom aluno, do bom professor, da boa escola. E nem sempre, ao fazermos isso, estamos conscientemente a serviço da lógica da
230
seleção. (PERRENOUD, 1999 apud NOVAES, 2006, p.246).
Para Perrenoud (1999 apud NOVAES):
Os instrumentos avaliativos também são usados para a regulação contínua das aprendizagens. No caso específico da avaliação discente, podemos considerar que uma avaliação formativa é aquela que visa contribuir para a regulação das aprendizagens. Construir uma imagem do bom aluno permitiria delimitar o objetivo pedagógico do docente, evidenciando suas intenções e possibilitando a construção do projeto que guiará sua prática. (PERRENOUD, 1999 apud NOVAES, 2006, p. 246).
Diante do exposto a construção de outros
métodos validados teria de ocorrer não só pela sua
severidade, mas também através de um acordo entre
avaliador e avaliado.
O processo avaliativo deve ser compreendido
como uma ferramenta imprescindível que pode
garantir a aquisição de conhecimentos e não como
instrumento de reprovação ou exclusão discente. A
educação deve suplantar a crise dos modelos
educacionais que se caracteriza pelo foco no ensino e
o espaço escolar cuja atuação garante,
exclusivamente, um ensino de fundamento linear e
uniforme, não se responsabilizando pela
aprendizagem dos alunos. (BRASIL, 2012).
Para Hoffmann (1992 apud BRASIL, 2012) a
avaliação da aprendizagem deve partir, a princípio, de
uma avaliação da instituição escolar, desconsiderando
as apreciações infundadas acerca de seus alunos,
haja vista que:
[...] o conhecimento produzido pelo educando, num dado momento de sua experiência de vida, é um conhecimento em processo de superação. A criança, o jovem, aprimora sua forma de pensar o mundo à medida que se depare com novas situações, novos desafios e formulam e reformulam suas hipóteses.
(HOFFMANN, 1992 apud BRASIL, 2012, p. 13).
Ainda de acordo com Hoffmann (2002 apud
SANTARÉM e CRUZ, s.d.) “A avaliação escolar, hoje,
só faz sentido se tiver o intuito de buscar caminhos
para a melhor aprendizagem”. (p.02).
Mirtes (2007) diz que o educador, ao lidar com
a avaliação da aprendizagem escolar, deve ter em
mente a necessidade de colocar em sua prática diária,
novas propostas que visem a melhoria do ensino, pois
a avaliação é parte de um processo e não um fim em
si e deve ser utilizada como um instrumento para a
melhoria da aprendizagem dos educandos.
Esses aspectos apontam que a avaliação
deve ser um instrumento a ser utilizado pelo professor
com o objetivo de orientá-lo na condução de sua
prática e nunca transformá-la numa ferramenta para
reprovar ou reter alunos (D’ AMBRÓSIO 2001 apud
STAMATO; MARIANO, s.d.).
Nessa visão professor e aluno terão
responsabilidades compartilhadas, o primeiro,
procurará ver o aluno em sua pluralidade de
dimensões, estabelecendo canais de comunicação e
interação com seus aprendizes, produzindo
diversidade de instrumentos de acompanhamento dos
mesmos e da formulação de estratégias interventivas.
O segundo – o aluno - deve ter a oportunidade de
despertar para sua participação nessa dinâmica de
construção de conhecimentos, onde fará análise
crítica de seu próprio desempenho.
Com isso pretende-se superar a visão
reducionista e vigente de procedimentos de avaliação
mais formais que são utilizados, unicamente, como
verificação e controle da aprendizagem - geralmente
são aqueles que lançam mão de provas escritas e
objetivas aplicadas ao final de cada bimestre,
convertendo-se em notas e médias. Esse
comportamento retrata o caráter restritivo do uso da
avaliação escolar e que não atende mais às
necessidades educativas atuais.
231
Ribeiro (2011) defende que:
O educando que compreende através do educador que a avaliação é um processo de continua construção, consegue com o tempo e com o auxilio do educador identificar quais são seus pontos “fortes” e o que ainda precisa “melhorar”, assim desenvolve-se a noção de uma atitude crítica sobre o seu aprendizado, pratica a autoavaliação, que serve para o educador e o aluno, estarem constantemente refletindo sobre suas potencialidades e reconhecendo suas aptidões. (RIBEIRO, 2011, p. 02).
Portanto, oportunizar momentos com a
utilização de diferentes instrumentos avaliativos é
fundamental na prática docente, ou seja, nem sempre
é possível avaliar ao mesmo tempo todas as
habilidades, porém é importante que o docente realize
o mapeamento prévio dos conhecimentos de cada
aluno para que seu trabalho se desenvolva
objetivando atingir a progressão das aprendizagens.
Nessa perspectiva faz-se necessário
redimensionar a prática de avaliação no contexto
escolar. Então, não só o aluno, mas o professor e
todos os envolvidos na prática pedagógica podem,
através dela, refletir sobre sua própria evolução na
construção do conhecimento. (ADAMUZ, 2011).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A avaliação vem se constituindo como uma
ferramenta que pode contribuir para processo de
ensino e aprendizagem nos diversos níveis de ensino,
podendo também favorecer o desenvolvimento global
dos alunos. Tomando-se por base os estudos e
pressupostos desenvolvidos por diversos autores que
se interessam pelo assunto, percebe-se a importância
e as proporções de alcance da avaliação da
aprendizagem dentro do fazer pedagógico.
Embora os avanços nesse sentido sejam
significativos, muitos estudiosos ainda concordam que
a prática de exames nas escolas brasileiras, seja esta
pública ou privada, do nível de Educação Básica ao
Ensino Superior. (LUCKESI, 2003). Para Luckesi
(2003) o que se mudou foi a denominação da prática
avaliativa – ‘Avaliação da aprendizagem escolar’ - no
entanto, segundo o autor, ainda se mantém a prática
de ‘exames’ nas escolas brasileiras.
O autor supracitado revela que há resquícios
do que ele chama de “Pedagogia do Exame” nas
práticas nacionais avaliativas e cita como exemplos, o
Exame nacional do Ensino Médio (ENEM) e o Sistema
Nacional de Avaliação da Educação Superior
(SINAES) – o antigo e extinto “Provão.” E dentre
esses se pode também citar a conhecida “Provinha
Brasil.” Para o autor essas práticas atuam na
contramão da aquisição do conhecimento na medida
em que “[...] reforçam mais a cultura do exame do que
a cultura da avaliação.” (LUCKESI, 2003, p.8).
Configurando-se como “espinha dorsal” de
todo o sistema educativo o processo avaliativo deve
levar em consideração não apenas os atores
principais: professor, aluno e conhecimento, mas o
comprometimento da Escola, do Currículo e do
Sistema de Ensino em todas as suas esferas com o
intuito de contribuir para ampliar as potencialidades de
cada educando, respeitando seus ritmos de
aprendizagem.
Documentos relevantes como os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN) defendem um modelo
avaliativo que possa aferir o ensino que é oferecido
aos alunos, verificando se a aprendizagem que se
observa é aquela esperada, se o ensino conseguiu
cumprir o seu propósito de “fazer aprender”. (BRASIL,
1997b, p. 56).
Com base nos pressupostos teóricos e nos
critérios instituídos pela legislação educacional pode-
se concluir que o processo avaliativo pode contribuir
para a aquisição do conhecimento e, de igual modo
para o desenvolvimento pleno de cada educando.
Com esse fim, é fundamental o conhecimento do
aluno e de suas necessidades para que com base
232
nisso sejam traçado, portanto os caminhos para o
alcance dos objetivos propostos.
Acompanhar ações integradas de avaliação
requer um monitoramento do que é planejado até as
ações de ensino que de fato forem vivenciadas em
sala de aula, servindo-se de vários instrumentos que
lhe proporcione condições de analisar a progressão
dos estudantes e suas relações com as estratégias
didáticas adotadas. Nessa perspectiva, é importante
estar atento que o planejamento exige que o professor
defina os objetivos, ou seja, tenha a clareza do que
quer atingir dos alunos com relação à aprendizagem.
A unidade escolar como um todo também
precisa realizar sua autoavaliação, rever o regimento
interno, seu projeto político pedagógico anualmente
com toda a comunidade escolar, as prioridades de
ensino, os projetos desenvolvidos bem como reavaliar
seus objetivos, buscar novas propostas para garantir a
aprendizagem das crianças que não se apropriaram
de conhecimentos previstos para uma determinada
etapa escolar. Pode-se, também, construir opções
variadas para atender aos estudantes, considerando
suas diferentes necessidades. Desse modo, a
construção e a avaliação permanente são
imprescindíveis, prevendo modelos de avaliação
coletiva da própria escola.
É também de responsabilidade do docente
buscar estratégias de sala de aula, aos diferentes
tempos de aprendizagem, respeitando as
individualidades dos estudantes, mediando estratégias
de ensino acessíveis a qualquer nível de
aprendizagem. E como a avaliação não é um
processo indissociável das práticas de ensino, o
professor pode e deve mediar uma avaliação mais
ampla.
Nem sempre é possível avaliar todas as
habilidades ao mesmo tempo, o professor precisa
levar seus alunos a pensar sobre o que não sabem
planejar e assegurar momentos para avaliar o
aprendizado de seus alunos para assim, aproximá-los
do conhecimento esperado.
O educador e o educando precisam estar
sempre refletindo suas potencialidades, reconhecendo
suas aptidões e entraves, inovando sua prática para
garantir a progressão das aprendizagens.
Por fim, o educador e a escola devem atuar
respectivamente, num mesmo propósito, como mola
propulsora desse crescimento e propiciando, para os
alunos, um espaço rico em experiências que
estimulam potencialidades e promove,
gradativamente, a formação dos indivíduos.
REFERÊNCIAS ADAMUZ, Regina Celia. Avaliação Educacional: Uma Reflexão. UNOPAR, 2011. Disponível em<http://www.unopar.br/portugues/revfonte/artigos/7 avaliacao/7avaliacao.html> Acesso em 17 jul. 2014. BRASIL. Avaliação no Ciclo de Alfabetização: Reflexões e Sugestões. Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa. Ministério da Educação - Secretaria de Educação Básica - SEB. Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Brasília, 2012. Disponível em <http://pacto.mec.gov.br/images/pdf/Formacao/cadern o_avaliacao.pdf.> Acesso em 11 ago. 2014. . Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: matemática – Brasília: MEC/SEF, 1997a.142p. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro03.pdf> Acesso em: 03 de set. 2014. . Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: introdução aos parâmetros curriculares nacionais. vol.1. Introdução. Brasília: MEC/ SEF, 1997b. 126 p. CHUEIRI, Mary Stela Ferreira. Concepções sobre a Avaliação Escolar. Estudos em Avaliação Educacional, v. 19, n. 39, jan/abr. 2008. Disponível em: < http://www.fcc.org.br/pesquisa/publicacoes/eae/arquiv os/1418/1418.pdf > Acesso em: 11 jun. 2016. COSTA, Abraão Erick Brito da. Resumo do Livro: Avaliar para promover: as setas do caminho. Universidade Federal da Bahia. Abril, 2000. Disponível em: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAvr8AI/resum
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234
AVALIAÇÃO DOS SISTEMAS EDUCACIONAIS E O EXAME NACIONAL DO ENSINO
MÉDIO (ENEM)
Givanilda Queiroz De Souza
RESUMO
A presente proposta deste estudo é analisar, a partir de pesquisas investigativas, o processo seletivo do Exame
Nacional do Ensino Médio (ENEM), no propósito de esclarecer a descoberta da real função intencionalista dos
criadores de tal exame, quais objetivos, funcionalidade em nível de conhecimento, competitividade e os
pressupostos pontos negativos e positivos para o discente concorrer a uma vaga nas universidades públicas e
privadas do Brasil.
Palavras-chave: Aprendizagem; auto-estima; exame.
RESUMEN
La propuesta de este estúdio es analizar desde la investigación de investigación el proceso de selección del
Examen Nacional de Enseñanza Media (ENEM), con el propósito de aclarar el descubrimiento de la función real
intencionalista de los creadores de dicho examen, cual los objetivos, el nivel de funcionalidad, de los
conocimientos, competitividad y los puntos negativos y positivos supuesto para el estudiante solicitar un puesto en
las universidades públicas y privadas de Brasil.
Palabras-clave: Aprendizaje; autoestima; examen.
1 Pedagoga, Graduada pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB. Pós-Graduada em Psicopedagogia Clinica e Institucional pelo Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ. Pós-Graduanda em Psicologia Escolar da Aprendizagem pelo Centro Integrado de Tecnologia e Pesquisa – Cintep-PB e Mestranda em Ciências da Educação pela Olwa Unigrendal University, Polo João Pessoa-PB. E-mail: [email protected]
235
INTRODUÇÃO
A pesquisa investigativa em endereços
eletrônicos como o Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), no
intuito de colher informações concretas, acerca do
Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), teve
caráter crucial na coleta de dados para a presente
pesquisa, cujo objetivo é analisar os supostos pontos
positivos e negativos na aplicabilidade do exame para
avaliação dos estudantes ao término do ensino médio
(e também para aqueles que se interessam em
realizá-lo já tendo concluído esta etapa fundamental
dos estudos); assim como mencionar as Instituições
Educacionais desse nível de escolarização, também
avaliadas através do ENEM.
Tendo em vista que o principal objetivo do
ENEM é avaliar o desempenho dos alunos em sua
fase de escolaridade básica, incentivando-os a um
cabal desenvolvimento das suas reflexões e
indagações para a construção de uma cidadania
plena, com dignidade e respeito. Através da
metodologia qualitativa desse exame, os estudantes
podem vir a ter acesso a cursos profissionalizantes,
pós-médio e ao ensino superior, desmistificando,
deste modo, a elegibilidade da sua auto-estima,
sabendo que são capazes de obterem resultados
positivos, que irão influenciar o seu desenvolvimento
cultural e profissional por todo o seu processo de
longevidade.
Conforme Duarte (1983), provocando a
avaliação após cada passo, possibilita-se o refazer, o
replanejar, na busca da descoberta dos pontos
positivos e negativos da ação realizada, isto possibilita
o preparo de uma nova ação com mais qualidade. De
tal forma, o ENEM objetiva e concretiza, nas suas
idealidades, ofertar escolhas de caminhos para assim
dispor das possibilidades de sua realização, e ainda a
reinvenção pessoal a cada dificuldade para a
concretização de maiores sonhos.
No dia 1º de Outubro de 2009, o Ministério da
Educação e Cultura (MEC) anunciou a suspensão das
provas do ENEM sob suspeita de fraudes, notícia
divulgada pelo Jornal Paulista (Estadão).
Em 2010, ocorreram falhas na impressão das
questões do exame. A Gráfica responsável pela
elaboração das provas, a RR Donnelley, confirmou o
erro.
DESENVOLVIMENTO
EXAME NACIONAL DO ENSINO MÉDIO (ENEM)
A primeira edição do Enem, cujo intuito era a
obtenção de uma avaliação individual de caráter
voluntário dos alunos ao término do ensino médio, foi
criada no ano de 1998. A partir de então, os exames
são realizados de forma anual para as pessoas que
estão concluindo o ensino médio ou que já o
concluíram anteriormente. Um dos seus objetivos
principais é dar ao aluno a possibilidade de se auto-
avaliar a partir dos conhecimentos adquiridos no
decorrer de sua jornada de aprendizagem intraclasse
e extraclasse.
O modelo avaliativo desenvolvido pelo ENEM
dá ênfase à construção dos conhecimentos contínuos
e não apenas à memória. Aqui não se nega a
importância da memória, de maneira alguma, uma vez
que ela é fundamental e possui grande importância,
todavia se leva em consideração que não é o único
componente para a compreensão do mundo na sua
totalidade. A Prova do ENEM é interdisciplinar e
contextualizada. Portanto, diferente de outros modelos
tradicionais, que induzem o aluno a acumular
bastantes informações, sem se preocupar se esse
acúmulo de informações irá servir futuramente, ou se
é apenas uma maneira de selecionar ou excluir.
O ENEM coloca o aluno defronte a situações-
problemas do cotidiano realista e o deixa que pense,
reflita, aprenda e faça a escolha de acordo com sua
própria autonomia, adquirida cotidianamente no
236
mundo. “A avaliação não se improvisa. Precisa ser
pensada e organizada, especialmente quando o grupo
é grande e se pretende a participação de todos”
(CABELLO et al., 1987,).
A avaliação busca confrontar os resultados desejados com os resultados alcançados, para analisar as causas dos acertos e dos desvios ocorridos. Consiste em detectar as falhas da organização e de emprego de recursos, a falta de adaptação a realidade, bem como a falha das políticas e das estratégias (BRIGHENTI, 1988, p. 56-57).
DEMOCRATIZAÇÃO DO ENEM
Um dos incentivos mais democráticos para
que os concluintes e egressos do ensino médio
tivessem a possibilidade de fazê-lo foi justamente a
isenção da taxa de inscrição para alunos da escola
pública. Outro fator importante e fundamental para
incentivar esses alunos, motivando-os com condições
concretas e dando reais possibilidades de
ingressarem no ensino superior, é a nota obtida no
Exame que pode levar o aluno avaliado à condição de
bolsista integral ou parcial do Prouni em universidades
prestigiadas, públicas e privadas do país. Ou seja, as
mais concorridas e conceituadas.
Sabe-se que são mais de 600 instituições de
ensino de nível superior (IES) cadastradas no Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
(INEP) que utilizam os resultados do ENEM em seus
processos seletivos. O exame, em seus últimos dez
anos, vem conseguindo acompanhar as profundas e
constantes mudanças que acontecem, não só na área
da educação, mas também na área social. Por isso
precisa ser reinventado a cada ano, a fim de poder
atingir todas as modalidades de educação. Portanto,
considera-se o ENEM como um exame qualitativo
(DEMO, 1987, p. 47).
Ao que se discute nas questões avaliativas,
remete-se à realização de uma avaliação mais estreita
no que condiz às diretrizes da avaliação propriamente
ditas e colocadas. Sabe-se que, quando se trata de
avaliar algo/outro, deve-se prover o conhecimento ao
menos do objetivo.
A Avaliação qualitativa supõe, em seu grau
mais elevado e em si correto, um profundo processo
participativo, que realiza não somente o necessário
envolvimento político, mas o surgimento de outras
formas de conhecimento, obtidas da prática, da
sabedoria, sem, com isto, desprezar, em momento
algum, a boa teoria.
De acordo com Libâneo (2006), para que a
avaliação cumpra as suas funções em nível de
qualidade, ela deve cumprir as suas funções
pedagógico-didáticas, de diagnóstico e de controle, de
modo que se coloquem como instrumentos de
verificação da aprendizagem e rendimentos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nota-se que a vivência sistemática em
constantes mudanças exige de cada um de nós
esforço, flexibilidade e adaptações para o sucesso
absoluto, com o objetivo pleno ou concreto. O
processo avaliativo do ENEM na sua totalidade indaga
mais positividade do que negatividade. De maneira
bem abrangente, a positividade, porque, sabe-se que
este processo avaliativo veio trazer esperança de um
futuro mais digno para uma infinidade de pessoas que
não tinham condições suficientes para ingressarem
numa universidade, principalmente nas privadas,
justamente por falta de recursos financeiros.
O ENEM está oferecendo possibilidades de
acesso às classes menos favorecidas ao estudo num
ambiente onde antes só passavam na calçada, sem
chance de entrarem nem para conhecer o ambiente
interno. Esse sonho hoje é uma realidade para
inúmeras pessoas. Um dos pontos negativos citado
237
com conhecimento de causa é justamente a extensão
da prova com suas 180 questões, acrescida de uma
redação, divididas em horas nos dois dias da sua
aplicabilidade. Há cerca de três minutos para cada
questão e a administração do tempo restante para a
redação, podendo ser comprovado algo subumano
para todos (as) que se submetem a essa avaliação. O
próprio INEP/MEC responsável por tamanha seleção,
deveria rever a questão do tempo, pois é sabido
insuficiente para realizar uma avaliação de tamanha
proporção classificatória, principalmente para alguns
cursos que exigem bastantes cálculos e são altamente
concorridos, como Medicina, Direito e Engenharia.
O desgaste mental e físico é
extraordinariamente notório em cada ser que se
dispõe a fazê-lo. Outro ponto negativo visto e
percebido através da mídia falada e escrita é
justamente os boatos sobre os vazamentos de
gabaritos do exame, erros de impressão, falhas em
questões da prova e suspeita de fraudes. Isso traz
tristeza e descrédito. Mas, ainda é uma incógnita, visto
que não se sabe até que ponto esses boatos são fatos
verdadeiros ou falsos. Logo, crê-se que ainda
careçam alguns ajustes, não só na elaboração, mas
também na segurança, para que esses fatos ou
boatos não aconteçam e venham prejudicar milhares
de pessoas que se preparam o ano todo para terem
seu sonho realizado.
REFERÊNCIAS
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CABELLO, Miguel. et. alii. Manual de Planejamento Pastoral. São Paulo: Paulinas, 1987.
DEMO, Pedro. Avaliação Qualitativa. São Paulo: Cortez, 1987.
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Participação e conquista. São Paulo: Cortez, 1988. DUARTE, Laura S. Isto não se aprende na escola. Petrópolis: Vozes, 1983.
238
AS CONTRIBUIÇÕES DO PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO – PNE 13.005/2014 À EDUCAÇÃO ESPECIAL
Givanilda Queiroz de Souza
RESUMO
As discussões em torno da oferta de Educação Especial se intensificaram no país com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Lei 9.394/96, o Plano Nacional de Educação aprovado no ano de 2001, pela Lei 10.172/2001 e, no atual contexto, com a aprovação do novo Plano Nacional de Educação pela Lei 13.005/2014. Nesse sentido, este artigo analisa como a Educação Especial vem sendo tratada no novo PNE, mais especificamente na meta quatro, que trata exclusivamente da universalização para a população de 4(quatro) a 17 (dezessete) anos de idade o acesso à educação básica e o atendimento educacional especializado preferencialmente na rede regular de ensino com garantia de um sistema educacional inclusivo. A referida análise se fundamenta nos documentos legais, bem como na literatura concernente à temática onde, que após a criticidade na elaboração da análise contínua da temática, será feito um comparativo entre o plano anterior e o plano da atualidade.
Palavras-chave: Política Educacional; Plano Nacional de Educação; Educação Especial.
RESUMEN
Discusiones en torno de la oferta de la educación especial se intensificarón en el país con la aprobación de la Ley de Directrices y Bases de la Educación Nacional 9.394 / 96, el Plan Nacional de Educación aprobada en 2001 por la Ley 10.172 / 2001, y en el contexto actual, con la aprobación del nuevo plan Nacional de Educación por la Ley 13.005 / 2014. Por lo tanto, este artículo analiza cómo la educación especial ha sido tratado en el nuevo PNE, más concretamente, en el objetivo cuatro, que proviene exclusivamente de su universalización de la población de 4 (cuatro) a 17 (diecisiete) años de edad el acceso a la educación básica y la educación preferentemente especializado en el sistema escolar regular, para garantizar un sistema educativo inclusivo. Este análisis se basa en los documentos legales y la literatura en relación con el tema, que después de la criticidad en el desarrollo de análisis temático continua, una comparación del plan anterior se hará con el plan actual.
Palabras clave: Política Educativa; Plan Nacional de Educación: Educación Especial.
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INTRODUÇÃO
O presente trabalho foi realizado a partir de
abordagem teórica, no intuito de entender um pouco
mais sobre o atual Plano Nacional de Educação e,
especificamente, sobre a Meta 4, que trata da
educação especial. Objetiva também explanar de
maneira mais ampla o que de positivo e próspero
surgiu e entender sua significação metodológica, na
aplicabilidade das estratégias para que se faça
cumprir, de forma a suprir as necessidades
educacionais especiais de quem realmente precisa,
sabendo que há um ponto extremamente significativo
no atual PNE: a oferta do atendimento educacional
especializado para a população com deficiência,
transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades ou superdotação; o acesso à educação
básica e ao atendimento educacional especializado,
preferencialmente na rede regular de ensino, com a
garantia de um sistema educacional inclusivo, com
salas de recursos multifuncionais, classes, escolas ou
serviços especializados, públicos ou conveniados.
No Plano Nacional de Educação (PNE) atual,
os Governos Federal, Estadual e Municipal trabalham
de maneira cooperativa e interligados de acordo com
a realidade de cada um, para o melhoramento da
aplicabilidade das estratégias vigentes, diferentemente
do anterior que focava apenas o atendimento escolar.
Obviamente, não se pode esquecer de mencionar que
todas as instituições educacionais têm o dever de
oferecer uma educação igualitária de qualidade para
todos, de acordo com as Leis instituídas, assim como
surgem e servem para colaborar com acessibilidade e
permanência dos alunos com necessidades especiais.
Documentos de relevante importância, como a
Constituição Federal de 1988 (CF), nos seus artigos
205, 206, 208 e 213 que abordam os Direitos e
Deveres para o atendimento educacional
especializado e o Estatuto da Criança e do
Adolescente Lei nº 8.069/90 no Art. 53 (ECA)
discorrem sobre a importância do atendimento
educacional especializado aos portadores de
deficiência. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB); Lei nº 9.394/96, no Capítulo V, da
Educação Especial, arts. 58, 59, 60, expõe os Direitos
e Deveres que o poder Público deve adotar para os
educandos com necessidades especiais,
preferencialmente na rede regular de ensino. Todos
esses documentos encontram-se na luta em prol das
crianças e dos jovens com necessidades especiais
para que se tornem parte integrante dos sistemas
educacionais regulares, cumprindo seus Deveres e
exercendo seus Direitos, conforme a Lei instituída. No
entanto, as dificuldades em torno da aprendizagem e
dos direitos dessas crianças e jovens vêm se
arrastando há séculos. Lutas e movimentos que
buscam soluções inclusivas estão ganhando seu
espaço na construção de caminhos que podem levar
esses indivíduos a um futuro com direito à diversidade
(a Declaração de Salamanca 1994 é um dos
documentos que fundamenta essas lutas na busca de
soluções para inclusão dos indivíduos com
necessidades especiais). A sociedade, em todas as
culturas, passou por diversas fases no que se refere
às práticas sociais. Em relação às pessoas com
deficiência, começou-se praticando o extermínio e a
exclusão social; em seguida, desenvolveu-se o
atendimento segregado dentro de instituições. Logo
após, num processo longo, passou-se a lutar pela
integração e, posteriormente, pela inclusão social,
buscando modificar os sistemas sociais gerais,
adaptando-os às necessidades dos cidadãos tidos
como “diferentes” (Soares apud Mazzota, 1987).
Assim sendo, uma educação inclusiva se faz
necessária. A própria Constituição Federal, no seu art.
205, profere sobre “Educação Direito de Todos”,
assegurando por Lei os direitos dos portadores de
necessidades especiais. Portanto, as escolas têm a
obrigação de se adequarem a essa nova clientela
especial, promovendo e criando condições de forma
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acolhedora, sem discriminação, sem o afugento da
realidade para que todas (os) possam aprimorar sua
capacidade de se desenvolver individualmente e
coletivamente. Quanto ao poder público (Governo), a
este cabe dar condições financeiras para que os
projetos saiam do papel e venham dar suporte às
escolas, a fim de que desenvolvam suas atividades de
forma igualitária, incluindo todas as crianças,
independentemente de suas diferenças. “Ser diferente
é Ser especial”.
O ATENDIMENTO EDUCACIONAL A CRIANÇAS PORTADORAS DE NECESSIDADES ESPECIAIS:
BREVE HISTÓRICO
De acordo com Mantoan (2007), o
desenvolvimento histórico da educação especial no
Brasil teve início no século XIX, quando os serviços
dedicados a este segmento da nossa população,
inspirado assim por experiências norte-americanas e
também europeias, foram trazidos por alguns
brasileiros que se dispunham a organizar e também a
fazer a implementação de ações isoladas e
particulares para assim atender a pessoas com
deficiências físicas, mentais e também de caráter
sensorial.
Ainda conforme o autor supracitado, essas
iniciativas não estavam integradas às políticas
públicas de educação. Sendo assim, fez-se
necessário o passar de um século, aproximadamente,
para que a educação especial passasse a ser uma
das componentes de nosso sistema de educação. De
fato, no início dos anos 60, é que essa modalidade de
ensino foi oficialmente instituída, com a denominação
de "educação dos excepcionais".
Pode-se afirmar que a história da educação de
pessoas com deficiência no Brasil está delimitada
entre três grandes períodos. São eles:
1854 a 1956 – marcado por iniciativas de
caráter privado;
1957 a 1993 – definido por ações oficiais de
âmbito nacional;
1993.... – caracterizado pelos movimentos
em favor da inclusão escolar.
No primeiro período, deu-se ênfase ao
atendimento clínico especializado (incluindo a
educação escolar) e foram criadas as instituições mais
tradicionais de assistência às pessoas com
deficiências mental, físicas e sensoriais que seguiram
o exemplo e o pioneirismo do Instituto dos Meninos
Cegos, criado na cidade do Rio de Janeiro, em fins de
1854.
Dentre a fundação de tal Instituto e os dias de
hoje, a história da educação especial no Brasil foi se
estruturando, seguindo quase sempre modelos que
primam pelo assistencialismo, pela visão segregativa
e por uma segmentação das deficiências, fato que
contribui ainda mais para que a formação escolar e a
vida social das crianças e jovens com deficiência
aconteçam em um mundo à parte (MANTOAN, 2007).
A educação especial foi então assumida pelo
poder público no ano de 1957 com a criação das tais
campanhas, que eram destinadas especialmente ao
atendimento de cada uma das deficiências. Neste
mesmo ano, foi instituída a Campanha para a
Educação do Surdo Brasileiro – CESB, seguida da
instalação do Instituto Nacional de Educação de
Surdos – INES, existente até os dias de hoje, no Rio
de Janeiro/RJ. Outras Campanhas similares foram
criadas posteriormente para atender a outras
deficiências (MINTO, 2000).
De acordo com Mantoan (1972), a primeira
proposta de estruturação da educação especial
brasileira foi apresentada ao Grupo Tarefa de
Educação Especial (instituído pelo Ministério de
Educação e Cultura – MEC), juntamente ao o
especialista James Gallagher, que veio ao Brasil a
convite de tal Grupo. A fim de geri-lo, foi criado um
órgão central, sediado no próprio Ministério, o Centro
Nacional de Educação Especial (CENESP) que
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manteve inicialmente as mesmas competências e
estrutura organizacional de seu antecessor, no MEC.
Assim sendo, as conduções das políticas brasileiras
de educação especial estiveram por muito tempo nos
mesmos poderes, ou seja, foram mantidas por um
grupo que se envolveu a risca com tal tarefa.
Sabe-se que muitos políticos, educadores,
pais e personalidades (não só brasileiras, mas de
outros países que se identificam com a educação de
pessoas com deficiência) fizeram parte e foram
protagonistas da história dessa modalidade de ensino.
A Declaração de Salamanca de 1994 e a Declaração
Mundial de Educação para Todos de 1990 são
documentos que se completam e são de extrema
relevância no que concerne à educação especial. A
diversidade de pessoas e países se fez presentes na
colaboração e elaboração desses documentos que
serviram e servem de instrumentos mediadores para a
obtenção de uma Educação Inclusiva com excelência
para todos os que realmente necessitam e que por
alguma dificuldade são impedidos ou excluídos de
exercer seus Direitos a Diversidade.
Todos tiveram papéis relevantes e
fundamentais em todos os períodos desse caminhar e
não podem ser ignorados, pois atuaram em quadros
político-situacionais que de alguma forma afetaram a
educação de pessoas com deficiência, seja
avançando, ousando, transformando as propostas,
seja retardando-as, impedindo a sua evolução para
novos alvos educacionais (MANTOAN, 2007).
Primeiro Marco da Educação Especial foi Dom Pedro II em 1854, influenciado pelo ministro Couto Ferraz. Tem-se alguns Educadores envolvidos no âmbito da educação especial, podendo citar: O professor Marcos Mazzota que desde 1982 critica a percepção “estatística” de que toda a pessoa com deficiência demanda educação especial (...); a professora itinerante de pessoas com deficiência, Carminha Soares; e Vygotsky (1896 – 1934) que deu sua contribuição com suas análises sobre o papel da interação social, na formação do psiquismo para o estudo da relação, desenvolvimento e aprendizagem do indivíduo.
Pais de pessoas com deficiência estão entre
os que compõem essa liderança e a maioria deles têm
sido uma complexa força, mais para manter, do que
para mudar as concepções e condições de
atendimento clínico e escolar de seus filhos com
deficiência (MINTO, 2000).
Ainda conforme o autor supracitado não se
pode, pois, fazer jus ou até desconsiderar as
iniciativas de caráter privatista e beneficente lideradas
pelos pais no atendimento clínico e escolar de
pessoas com deficiência, assim como na formação
para o trabalho, apesar de suas intenções serem na
grande maioria das vezes, respaldadas pela
discriminação e pelo forte protecionismo.
Recentemente, mais precisamente a partir da
década de 80 e no início dos anos 90, as pessoas
com deficiência vêm se organizando, participando de
Comissões, e também de Coordenações, Fóruns e
movimentos, visando a assegurar, de alguma forma,
os direitos que conquistaram de serem reconhecidos e
respeitados em suas necessidades básicas de
convívio com as demais pessoas. Esses movimentos
estão se infiltrando em ambientes relacionados ao
trabalho, transporte, arquitetura, urbanismo,
segurança previdência social, acessibilidade em geral
(MANTOAN, 2007).
As pessoas buscam afirmação e
consequentemente querem ser ouvidas, como outras
vozes (mesmo que das minorias), que precisam ser
consideradas em uma sociedade democrática, como a
que hoje vivemos neste país. Mas, infelizmente,
apesar dos pesares, e de estarem presentes e terem
mostrado suas atuações com os vários aspectos da
vida social, os referidos movimentos não são fortes,
ainda, no que condiz respeito às prerrogativas
educacionais, aos processos escolares, notadamente
os inclusivos (MINTO, 2000).
Sabe-se das barreiras existentes quando se
fala e se pratica inclusão social em qualquer nível ou
grau de deficiência. Não é fácil executar o que a Lei
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ordena. Muitas vezes esbarra-se em obstáculos quase
inultrapassáveis nas escolas, nas ruas, em casa, em
ambientes públicos entre outros. Mesmo quando há a
consciência e o conhecimento da Lei em vigor,
algumas pessoas se omitem em praticá-la. A Lei nº.
7.853/89, em seu Art. 2º diz que: Ao Poder Público e
seus órgãos cabe assegurar às pessoas portadoras
de deficiência o pleno exercício dos seus direitos
básicos, inclusive dos direitos à educação, à saúde,
ao trabalho, ao lazer, à previdência social, ao amparo
à infância e à maternidade, e de outros que,
decorrentes da Constituição e das Leis propiciem seu
bem-estar pessoal, social e econômico. São direitos
garantidos por Lei aos portadores de necessidades
especiais e que há a obrigação de se fazer cumprir
independente de raça, sexo ou cor.
A EDUCAÇAO ESPECIAL NA LDB 9.394/96
Entende-se por educação especial, para os
efeitos de tal Lei comentada em seus artigos 58, e 59,
a modalidade de educação escolar oferecida
preferencialmente na rede regular de ensino, para
educandos acometidos por necessidades especiais.
Haverá assim, quando necessário, serviços de apoio
especializado, na escola regular, para o atendimento
das peculiaridades da clientela de educação especial.
O atendimento educacional será realizado em
classes, escolas ou serviços especializados, sempre
que, em função propostas das condições específicas
dos alunos, infelizmente não for possível a sua
integração nas classes ditas como comuns de ensino
regular. A oferta da educação especial, dever este de
caráter constitucional do Estado, tem início na faixa
etária de zero a seis anos, durante a educação infantil.
Sendo assim, o poder Público adotará, como
alternativa preferencial, a ampliação do atendimento
aos educandos com necessidades especiais na
própria rede pública regular de ensino,
independentemente do apoio às instituições previstas.
O NOVO PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO E A EDUCAÇÃO ESPECIAL: UMA ANÁLISE DAS
CONTRIBUIÇOES PARA O CAMPO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL
A educação inclusiva é hoje o debate mais
presente na educação do país. Nunca antes foi tão
discutido o princípio constitucional de igualdade de
condições de acesso e permanência na escola,
implicando na necessidade de reverter os velhos
conceitos de normalidades e padrões de
aprendizagem, bem como afirmar novos valores na
escola que contemplem a cidadania, o acesso
universal e a garantia do direito de todas as crianças,
jovens e adultos de participação nos diferentes
espaços da estrutura social (DUTRA, 2006). O PNE
(Plano Nacional da Educação) anterior, instituído em
sua primeira edição pela Constituição Federal de
1988, no inciso III do art. 208, e definido pelo art. 2º do
Decreto nº 7.611/2011, segundo o disposto na LDB
(Lei nº 9.394/1996) diz:
A Educação Especial, assunto da Meta 4,
deve ser oferecida preferencialmente na rede regular
de ensino. O PNE anterior, no que diz respeito ao
atendimento Especial, focava apenas na expansão do
atendimento escolar. “Universalizar, para a população
de quatro a dezessete anos, o atendimento escolar
aos estudantes com deficiências, transtornos globais
do desenvolvimento e altas habilidades ou
superdotação na rede regular de ensino”. O PNE
(Plano Nacional da Educação) atual, Lei nº 13.005, de
25 de junho de 2014. Art. 1º. diz: “É aprovado o Plano
Nacional de Educação – PNE, com vigência por 10
(dez) anos, a contar da publicação desta Lei, na forma
do Anexo, com vistas ao comprimento do disposto no
art. 214 da Constituição Federal". No Art. 4º, parágrafo
único, há a seguinte observação: “o poder público
buscará ampliar o escopo das pesquisas com fins
estatísticos de forma a incluir informação detalhada
sobre o perfil das populações de 4 (quatro) a 17
(dezessete) anos com deficiência".
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A Educação especial focada de maneira clara
e objetiva está contida na meta 4 desse plano. Propõe
universalizar, para a população de 4 (quatro) a 17
(dezessete) anos com deficiência, transtornos globais
do desenvolvimento e altas habilidades ou
superdotação, o acesso à educação básica e ao
atendimento educacional especializado,
preferencialmente na rede regular de ensino, com a
garantia de sistema educacional inclusivo, de salas de
recursos multifuncionais, classes, escolas ou serviços
especializados, públicos ou conveniados. Algumas
Estratégias reforçam bem a intenção de se fazer
cumprir o pretendido preferencialmente e de forma
especializada.
Veja-se o que dizem alguns pontos
estratégicos. A estratégia 4.3. compromete-se a
implantar, ao longo deste PNE, salas de recursos
multifuncionais e fomentar a formação continuada de
professores e professoras para o atendimento
educacional especializado nas escolas urbanas, do
campo, indígenas e de comunidades quilombolas.
Sabe-se que há uma desestruturação física (ambiente
escolar), na maioria das escolas públicas. Algumas
sequer comportam salas de recursos, como no caso
da escola Rita Alves situada em Bayeux, na qual
leciono, onde falta espaço para receber essa clientela
que carece de ambiente, materiais e profissionais
especializados.
Esperar que saiam do papel as metas deste
PNE e se façam cumprir na realidade em sua
totalidade será um grande avanço na construção de
uma educação especial inclusiva, que respeite as
diferenças dos sujeitos com suas singularidades de
maneira significativa, humanística e democrática para
cada brasileiro que dela necessita. A estratégia
seguinte (4.4.) compromete-se a garantir atendimento
especializado em salas de recursos multifuncionais,
classes, escolas ou serviços especializados, públicos
ou conveniados, nas formas complementar e
suplementar, a todos (as) alunos (as) com deficiência,
transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades ou superdotação, matriculados na rede
pública de educação básica, conforme necessidade
identificada por meio de avaliação, ouvidos a família e
o aluno.
Complementando, Hamurabi Messeder diz
que: o ensino especial tem sido alvo de críticas por,
muitas vezes, não promover o convívio entre as
crianças especiais e as demais crianças. Porém é
necessário ter em conta que a escola regular nem
sempre consegue oferecer uma resposta capaz de
atender às necessidades físicas, emocionais e
intelectuais dessas crianças. (MESSEDER, 2007, p.
138)
A postura do autor citado torna-se
esclarecedora diante da realidade dos fatos. Por
conhecimentos de causa, ele consegue enxergar
muito além das propagandas e projetos que surgem
pleiteando especificamente e exclusivamente a
educação inclusiva. Mas o que é inclusão? Será que é
a família colocar sua criança em uma escola regular
simplesmente porque “diz” trabalhar a inclusão, e a
meta 4 do PNE vigente fala, preferencialmente, ou
seja, de preferência em escolas regulares?
E ainda: a escola de preferência regular
pública busca atender e entender o contexto social no
qual a criança está inserida e quais suas dificuldades
de locomoção até a escola mais próxima? Há diálogo
com os pais para saber se é realmente isso que eles
querem pra seu/sua filho (a)? Uma escola regular?
Uma especializada? Ou as duas? Há uma série de
perguntas ‘gritando’ por respostas solucionáveis, a fim
de que se possa entender o que realmente seria
melhor para famílias com crianças portadoras de
alguma deficiência. Saber e entender o que realmente
essas crianças necessitam especificamente não é
tarefa fácil, mas é possível quando se quer realmente
enfrentar as dificuldades existentes e dar o melhor
para quem realmente necessita. Sabe-se que cada
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criança tem seus limites e suas dificuldades e o que
pode servir para um, pode não servir para outro.
Portanto, há de se concordar no que diz
respeito às possibilidades da adequação nas duas
escolas quando necessário, a regular e a
especializada, justamente pelas modificações,
adaptações e a forma diferenciada e ajustada que o
ensino especializado tem em relação ao ensino
regular, porque, de tal forma, a criança não deixa de
ser incluída e também não fica fora da realidade de
suas necessidades estruturais para o desenvolvimento
pessoal e cultural na construção da sua cidadania.
Na estratégia 4.5, lemos:
Estimular a criação de centros multidisciplinares de apoio, pesquisa e assessoria, articulados com instituições acadêmicas e integrados por profissionais da área de saúde, assistência social, pedagogia e psicologia, para apoiar o trabalho dos (as) professores (as) da educação básica com os alunos (as) com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação.
Nesse item, haveria a necessidade da
inclusão da Psicopedagogia. Por quê? Porque
estamos falando de crianças com dificuldades de
aprendizagem devido a alguma necessidade especial
ou deficiência no seu desenvolvimento pessoal. Para
isso, o profissional que lida de uma forma mais
diagnóstica e preventiva é o psicopedagogo (a). Não
desmerecendo, nem diminuindo a capacidade de
outros profissionais, aqui se cita apenas uma
categoria que se prepara tanto e de forma específica
pra exercer essa profissão e não é valorizada, e sim
excluída. É meio contraditório falar de inclusão e
excluir o profissional que lida exatamente com as
dificuldades de aprendizagem. Conforme Bossa
(1994), o objeto central de estudo da Psicopedagogia
está se estruturando em torno do processo de
aprendizagem humana: seus padrões evolutivos
normais e patológicos, bem como a influência do meio
(família, escola, sociedade) no seu desenvolvimento.
Portanto, a Psicopedagogia, tendo como base
principal a prevenção e o assessoramento a toda
comunidade escolar, possibilita oportunidades de
reconstruir a autoestima, a afetividade; reintegrar e
readaptar com respeito todo aluno com dificuldades de
aprendizagem na sua sala de aula, dando-lhe
confiança e credibilidade, respeitando seus limites.
Esse é o papel do psicopedagogo (a): a tarefa de
reconhecer, tratar e prevenir os bloqueios na
aprendizagem escolar na sua totalidade.
No exercício preventivo, segundo Bossa
(1994), pode-se falar em três níveis de prevenção. No
primeiro nível, o psicopedagogo atua com vistas a
diminuir a frequência dos problemas de
aprendizagem; no segundo nível, o objetivo é diminuir
e tratar dos problemas de aprendizagem já instalados,
pelos quais se procura avaliar os currículos com os
professores para que não se repitam tais transtornos;
no terceiro nível, o objetivo é eliminar os transtornos já
instalados, em um procedimento clínico, com todas
suas implicações. Logo, diante de tantas habilidades
complementares e suplementares que o
psicopedagogo (a) tem para tratar e prevenir
distúrbios e bloqueios de aprendizagem, existe sim
uma necessidade de tê-los (as) incluídos (as),
reconhecidos (as) e valorizados (as).
O Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA) Lei 8.069, de 13 de Junho de 1990, Art. 1º
Consiste em garantir a criança e ao adolescente, sem
exceção, os direitos à sobrevivência, ao
desenvolvimento pessoal e social e à integridade
física, psicológica e moral, com a criação e articulação
de um conjunto de políticas e ações em quatro
grandes áreas: Políticas Sociais Básicas, Assistência
Social, Proteção especial e Garantia dos Direitos.
Para Carvalho:
Especiais devem ser consideradas as alternativas educativas que a escola
245
precisa organizar, para que qualquer aluno tenha sucesso; especiais são os procedimentos de ensino; especiais são as estratégias que a pratica pedagógica deve assumir para remover barreiras para aprendizagem (CARVALHO, 2002, p. 17).
Romper essas barreiras para uma
aprendizagem satisfatória para ambas as partes
depende de muitas interações, mediações,
intervenções, compreensões, facilitações, sociais e
políticas. Anda-se a passos lentos há décadas, mas
não se deve parar o caminhar nas estradas feitas de
sonhos, que podem levá-los para um futuro mais
digno, mais completo, mais promissor, com melhores
condições estruturais, com perspectivas reais de
haver uma educação igualitária para todos,
independentemente se são vistos como “normais”,
“especiais”, “diferentes” ou “deficientes”. A intenção de
querer e a vontade de poder fazer acontecer uma
educação de qualidade, rompendo as barreiras,
criando oportunidades para nosso povo está dentro de
cada um que se dispõe a fazê-la.
Às vezes, algumas decepções sofridas por
acreditar em quem administra o país entristecem
aqueles que se preocupam em aplicar uma educação
inclusiva, visto que, depende-se do poder público para
a criação e execução das Leis em prol do
desenvolvimento social e cultural de todos e para
todos na construção da própria cidadania e no
desenvolvimento do Estado. Não importa quantas
vezes se cai, o importante é levantar e continuar em
frente, lutando, movimentando a si mesmo, criando
condições de zelo e respeito pelo país e pela gente
que muitas vezes sofre com as injustiças das
desigualdades sociais.
Traçando um comparativo entre os dois
planos, bem se vê que o atual PNE, apesar de ter
sofrido uma diminuição nas suas metas, acrescentou
à meta 4, destinada à educação especial, o
atendimento educacional especializado para os
deficientes com alto grau de dificuldades psicomotora,
compartilhando com o já existente, que é o ensino
regular, preferencialmente nas redes públicas de
ensino.
Essa ampliação faz a diferença pela atual
conjuntura de algumas crianças estarem encaixadas
nesse perfil. A autora do livro “Eu e Eles somos
Especiais”, Helena Holanda, diz que:
Alguns deficientes precisam, por algum período, de ensino especializado para ter acesso à educação, por exemplo, os deficientes auditivos, mentais e aqueles de grande limitação física. O ensino especial é a única forma de assegurar para muitos o direito à educação, à cultura e à profissionalização. Para isto, são necessárias matérias especiais, fundamentais para a vida no dia-a-dia. (HOLANDA, 2002, p.36).
De fato, a autora citada é bastante objetiva no
que diz respeito aos níveis e grau das dificuldades,
justamente por entender que cada um é cada um, que
todos são especiais e têm suas próprias limitações.
Dependendo do grau em que estejam desenvolvidas
as dificuldades de aprendizagem na criança, uma
escola especializada vai sempre estar mais preparada
para receber aqueles com maior limitação física. É
importante que se pense qual é o papel da escola e do
professor no que conduz a inclusão. Portanto, a
escola é quem deve ser modificada, adaptando-se
para receber a clientela com necessidades especiais.
Nesse sentido, a inclusão desses alunos não depende
deles, e sim do ambiente em que devem ser
conduzidos e inseridos. Da escola, depende a
inclusão. Do aluno, depende a integração, que é
justamente a sua adaptação ao ambiente e às
condições que lhes são oferecidas. Com o apoio
especializado necessário, no âmbito educacional, o
aluno elimina as barreiras que dificultam e obstruem o
seu desenvolvimento no processo de escolarização e
inclusão plena a qual leva o indivíduo com
necessidades especiais ao mundo da diversidade.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho faz acreditar nas
mudanças evolutivas dos sistemas educacionais,
mediante as Leis que norteiam os princípios básicos
inerentes para inclusão social de pessoas com
necessidades especiais, de maneira igualitária para
todos. O novo Plano Nacional de Educação (PNE),
com vigência de dez anos, contando a partir da sua
aprovação no dia 25 de junho de 2014, Lei nº 13.005,
no que concerne ao atendimento educacional
especializado, compromete-se a viabilizar as
estratégias para torná-las eficazes na retenção, ou até
mesmo na extinção da exclusão e na ampliação da
inclusão no campo do atendimento educacional
especializado. Clientela especial, que carece de
cuidados e atenção peculiar para o desenvolvimento
da sua cidadania com respeito e dignidade, podendo
integrar-se ao ambiente e às condições que lhe são
oferecidas na forma das Leis que garantem seu
desenvolvimento cultural e social independentemente
de suas dificuldades. É dever de caráter constitucional
do Estado, e o poder público tem a obrigação de
adotá-lo preferencialmente.
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SÁ, Gilmara Benício de – Unigrendal Premium Corporate E-mail: [email protected]
DANOWSKI, Huber Danúbio Correia – Unigrendal Premium Corporate E-mail: [email protected]
RESUMO
O presente artigo analisa, mediante revisão da literatura, a construção de processos identitários no âmbito escolar e permite a contextualização socioambiental de crianças e jovens egressos na educação básica e a sua inserção nas suas dimensões históricas, biológicas, sociais, subjetivas ao articular conceitos e pressupostos que tragam à tona noções de preservação/conservação do meio ambiente a partir do estabelecimento de relações entre o mundo sociocultural e natural de crianças em idade escolar articulados na propositura de estratégias didático- pedagógicas que venham a compreender definições de meio ambiente, os seus componentes biológicos, geográficos, sociais, subjetivos e históricos com o intuito de aplicar tais fundamentos e práticas no contexto das instituições públicas e privadas de ensino e objetivando fornecer material de pesquisa para teóricos e estudiosos da matéria. Metodologicamente, a pesquisa valeu-se de leituras em livros, revistas, artigos científicos, jornais científicos, além de buscar suporte em fontes eletrônicas (internet) para conferir embasamento à análise ora proposta. Como resultado desta revisão literária, espera-se conferir suporte para pesquisadores das temáticas das ciências humanas e do meio ambiente em relação à necessidade de preservação do meio ambiente como forma de oportunizar a reflexão no sentido de fomentar o debate acerca das formas de disseminação de novas condutas educativas em relação aos biomas por parte dos sujeitos componentes da sociedade e da escola.
Palavras-Chave: Educação, Meio Ambiente, Processos Identitários, Preservação.
ABSTRACT
This article looks upon review of the literature to build identity processes in schools and allows social and environmental context of children and young graduates in basic education and their integration in its historical, biological, social, subjective dimensions to articulate concepts and assumptions to bring to light preservation notions / environmental conservation through the establishment of relations between the socio-cultural and natural world of school children articulated in the bringing of didactic and pedagogical strategies that will understand environmental settings, its biological, geographical, social, subjective and historical in order to apply those fundamentals and practices in the context of public and private educational institutions and aiming to provide research material for scholars and theorists of the matter. Methodologically, the research drew on readings in books, magazines, papers, scientific journals, besides seeking support in electronic sources (internet) to give foundation to the analysis proposed here. As a result of this literature review, is expected to give support to researchers of the themes of the humanities and the environment in relation to the need to preserve th e environment as a way to create opportunities for reflection in order to foster debate about the forms of dissemination of new educational practices with regard to the biomes of the subjects components of society and school. Keywords: Education, Environment, Identity Processes, Preservation
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INTRODUÇÃO
A preservação do meio ambiente depende da
preocupação tanto dos governantes quanto da
sociedade civil para assegurar o acesso à informação
por parte de profissionais em educação, educandos e
seus familiares em torno da temática abordada, uma
vez que o referido assunto deve permear os tecidos
reflexivos de todos os integrantes da comunidade
escolar, estudiosos e acadêmicos em educação como
forma de minimizar os efeitos negativos da não-
abertura de espaços dialógicos com a intenção de
trabalhar projetos e planos de ação, experiências
vivenciadas e projetos concretos para permitir que a
sociedade e a escola reflitam sobre o assunto em
pauta, oportunizando o surgimento de uma
consciência cidadã por parte dos indivíduos que
compõem a comunidade escolar para que estes se
inteirem das suas reais necessidades em seu contexto
social.
Diante do exposto, observa-se que a despeito
do debate sobre a criação de uma consciência
ambiental por alunos, alunas, profissionais em
educação, familiares dos educandos, ainda se verifica
a falta de informação em torno da
conservação/preservação do meio ambiente, e nota-
se que o planeta Terra carece de cuidados.
Destaque-se ainda que mesmo sendo
debatidos programas e propostas que tenham em mira
a construção de uma nação educadora em meio
ambiente, questiona-se se as instituições escolares
públicas e privadas de ensino vêm trabalhando
questões referentes aos impactos ambientais
causados pelas ações humanas, à coleta seletiva de
lixo, ao descarte adequado de material hospitalar e
lixo comum bem como a elevação da autoestima de
catadores de lixo a partir da acessibilidade a
condições dignas de trabalho, renda e
sustentabilidade.
Ancorados nestes pressupostos, este estudo
dividiu os seus componentes em seções temáticas,
quais sejam: As considerações iniciais, em que foram
delineados os objetivos, a justificativa e a problemática
referida nesta análise; o aporte teórico-metodológico
em que são explicitados, à luz da literatura, os
encaminhamentos metodológicos sugeridos pela
pesquisa e por fim, a conclusão, onde são elencadas
as soluções para as situações-problema visualizadas
através das leituras, dos estudos e das tomadas de
notas e pontuados os posicionamentos com vistas a
encaminhamentos futuros.
APORTE TEÓRICO-METODOLÓGICO
A educação ambiental pode ser concebida de
acordo com a Política Nacional de Educação
Ambiental - Lei nº 9795/1999, Art 1º como
originada dos processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.
O caráter da educação ambiental enquanto
"atividade intencional" é ratificado enquanto prática
social capaz de "imprimir ao desenvolvimento
individual um caráter social em sua relação com a
natureza e com os outros seres humanos, visando
potencializar essa atividade humana com a finalidade
de torná-la plena de prática social e de ética
ambiental" (MEC/SEF, 2008).
Outras convenções e ratificações, a exemplo
da Conferência Sub-regional de Educação Ambiental
para a Educação Secundária – Chosica – Peru (1976)
evidenciam que a educação ambiental vem a ser uma
ação educativa perene que tem origem na reflexão
acerca do contexto global dos indivíduos e coerentes
com os tipos de relações que os mesmos
249
estabelecem entre si e com a natureza, dos problemas derivados de ditas relações e suas causas profundas. Ela desenvolve, mediante relações que estabelecem dirigido a transformação superadora dessa realidade, tanto em seus aspectos naturais como sociais, desenvolvendo no educando as habilidades e atitudes necessárias para dita transformação.
Já a Conferência Intergovernamental de Tbilisi
(1977) previu que a educação para o meio ambiente
pode ser concebida como sendo
um processo de reconhecimento de valores e clarificações de conceitos, objetivando o desenvolvimento das habilidades e modificando as atitudes em relação ao meio, para entender e apreciar as inter-relações entre os seres humanos, suas culturas e seus meios biofísicos. A educação ambiental também está relacionada com a prática das tomadas de decisões e a ética que conduzem para a melhora da qualidade de vida.
Outras vertentes configuram a educação
ambiental enquanto luta política e que deve ser
entendida como disputa de posições e proposições
acerca dos rumos tomados pela sociedade
contemporânea, das desterritorializações e dos
territórios demonstrando que apenas por meio dos
conhecimentos técnico-científico e dos saberes do
povo, os cidadãos podem galgar os primeiros passos
para a sustentabilidade e para a participação social,
condizente com os princípios de igualdade e
fraternidade inerente ao processo de construção da
democracia, assertiva corroborada por Loureiro (2004)
que refere à dinâmica da educação ambiental
enquanto dinâmica da própria educação. Segundo
assevera o autor a
Educação ambiental é uma perspectiva que se inscreve e se dinamiza na própria educação, formada nas relações estabelecidas entre as múltiplas tendências pedagógicas e do
ambientalismo, que têm no “ambiente” e na “natureza” categorias centrais e identitárias. Neste posicionamento, a adjetivação “ambiental” se justifica tão somente à medida que serve para destacar dimensões “esquecidas” historicamente pelo fazer educativo, no que se refere ao entendimento da vida e da natureza, e para revelar ou denunciar as dicotomias da modernidade capitalista e do paradigma analítico-linear, não- dialético, que separa: atividade econômica, ou outra, da totalidade social; sociedade e natureza; mente e corpo; matéria e espírito, razão e emoção etc. (LOUREIRO).
Para Marconi e Lakatos (2003), no que tange
à alçada metodológica, pode-se verificar que
a pesquisa pode ser considerada um procedimento formal com método de pensamento reflexivo que requer um tratamento cientifico e se constitui no caminho para se conhecer a realidade ou para descobrir a verdade parciais. Significa muito mais do que apenas procurar a verdade mas descobrir respostas para perguntas ou soluções para os problemas levantados através do emprego de métodos científicos (MARCONI e LAKATOS, 2003, p. 15).
Segundo Minayo (1993), é considerada como
atividade básica das ciências na sua indagação e descoberta da realidade. É uma atitude e uma prática teórica de constante busca que define um processo intrinsecamente inacabado e permanente. É uma atividade de aproximação sucessiva da realidade que nunca se esgota, fazendo uma combinação particular entre teoria e dados (MINAYO, 1993, p. 23).
Tomando por base o fato de que a alçada
metodológica deste trabalho de conclusão de curso de
natureza qualitativo-descritiva lançou mão da análise
bibliográfica, que segundo Diez e Horn (2013),
é a que se desenvolve tentando explicar um problema, utilizando o conhecimento disponível a partir de toerias publicadas
250
em livros e obras congêneres. [...] o investigador irá levantar o conhecimento disponível na área, identificando as teorias produzidas, analisando e avaliando sua contribuição para auxiliar a compreender e analisar o problema (DIEZ e HORN, 2013, p. 29).
De acordo com Gil (2008),
a principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente. Essa vantagem torna-se particularmente importante quando o problema da pesquisa requer dados muito dispersos pelo espaço (GIL, 2008, p. 45).
É necessário salientar que a pesquisa em
pauta valeu-se do método qualitativo e descritivo de
obras literárias referentes ao tema em pauta e para a
consecução desta pesquisa bibliográfica contou-se
com a análise realizada em fontes documentais e
bibliográficas além de informações coletadas em
informes e documentos da Secretaria de Estado da
Saúde da Paraíba, Secretaria de Estado da Educação,
da Secretaria de Estado do Desenvolvimento
Humano, da Secretaria de Desenvolvimento Social do
Município de João Pessoa e da Secretaria de Saúde
do Município de João Pessoa, Secretaria de Educação
do Município de João Pessoa, da Secretaria de
Estado do Meio Ambiente da Paraíba e da Secretaria
de Meio Ambiente de João Pessoa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O principal nesse momento são as tomadas
de atitude, ainda que de forma individual, na
esperança de que sirvam de exemplo para as
gerações mais novas. E, quem sabe, conseguiremos
fazer com que a população acorde para a gravidade
da problemática. Devemos mudar nossos hábitos
urgentemente! Se, por exemplo, pararmos de utilizar
copos de plástico e evitarmos as garrafas pet
(Politereftalato de Etila), enviando para a reciclagem
as já utilizadas, conseguiremos ajudar muito o planeta.
Você sabia, por exemplo, que 90% dos detritos
encontrados nos oceanos são compostos por plástico;
e destes, quase 30% correspondem às famosas
sacolas de supermercado?
Outra atitude simples e importante é a de não
desperdiçar comida. Primeiramente, porque é injusto
fazer isso enquanto um número enorme de pessoas
passa fome; e, dentre outros motivos, porque a maior
parte do lixo produzido no mundo é o orgânico.
Para finalizar, devemos assumir, desde já, a
consciência de que podemos fazer mais pelo planeta;
inclusive, ao alertar outras pessoas sobre seus maus
hábitos. Basta querer e acreditar que um simples
gesto fará a grande diferença.
Basta você querer. E a natureza agradecerá,
com certeza. Por Jussara de Barros e Mariana
Araguaia Graduada em Pedagogia, e bióloga
especialista em Educação Ambiental Equipe Brasil
Escola em que se busca despertar a preocupação
individual e coletiva para a questão ambiental,
garantindo o acesso à informação em linguagem
adequada, contribuindo para o desenvolvimento de
uma consciência crítica e estimulando o
enfrentamento das questões ambientais e sociais.
Desenvolve-se num contexto de complexidade,
procurando trabalhar não apenas a mudança cultural,
mas também a transformação social, assumindo a
crise ambiental como uma questão ética e política.
REFERÊNCIAS BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental. Brasília: MEC/SEF, 2008. DIEZ, Carmen L. F. Pesquisa Quantitativa x Pesquisa Qualitativa. In: Orientações para elaboração de projetos e monografias. 3ª ed. Petrópolis: Vozes, 2013.
251
GIL, Antônio Carlos. Que é pesquisa bibliográfica? In: Como elaborar projetos de pesquisa. 4ª ed. São Paulo: Editora Atlas, 2008, pp.44-58.
Como delinear uma pesquisa bibliográfica. In: Como elaborar projetos de pesquisa. 4ª ed. São Paulo: Editora Atlas, 2008, pp.58-85.
KÖCHE, José Carlos. Fundamentos de Metodologia Científica: teoria da ciência e prática da pesquisa. 14ª ed. Petrópolis: Vozes, 1997.
LOUREIRO, C. F. B. Educação Ambiental Transformadora. In: LAYRARGUES, P. P. (Coord.). Identidades da Educação Ambiental Brasileira. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2004.
MARCONI, Marina de A. e LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de Metodologia Científica. 5ª ed. São Paulo: Atlas, 2003.
MINAYO, M.C.S. O desafio do conhecimento – pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: Hucitec, 1993.
MOUSINHO, P. Glossário. In: TRIGUEIRO, A. (Coord.). Meio ambiente no século 21. Rio de Janeiro: Sextante, 2003.
Normas ABNT sobre documentação. Rio de Janeiro: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT, 2000.
SATO, Michèle; GAUTHIER, Jacques. Insurgência do grupo pesquisador na educação ambiental sociopoética. In: SATO, M.; CARVALHO, I. (Orgs.). Pesquisa em Educação Ambiental. Porto Alegre: Artmed, 2005, p.99-118.
252
DEFINIR O CURRICULO PARA OS CURSOS DE GESTÃO NAS ESCOLAS TECNICAS EM PERNAMBUCO
Paulo Zimmermann
Orientadora: Profª Drª Roseane Nascimento da Silva
RESUMO
Este trabalho científico apresenta uma reflexão sobre as Leis de Diretrizes Básicas da Educação, resoluções, decretos e pareceres, que fundamentam o Ensino Técnico no estado de Pernambuco, com o objetivo de construir um sistema curricular capaz de nortear a qualificação dos profissionais, sua preparação e busca de novos conhecimentos da padronização dos diversos cursos técnicos na área de gestão, das nomenclaturas, de seus conteúdos e os itens dos demais processos que orientam e proporcionam aos docentes e estudantes para uma nova concepção de ensino-aprendizagem, transmitindo os assuntos pertinentes na qualificação profissional e a preparação dos estudantes para o mercado de trabalho, unificando desta forma e padronizando uma linha de ação. O ensino-aprendizagem, durante seu desenvolvimento, apresenta-se em diferentes segmentos da gestão com lacunas que prejudicam o processo do ensino-aprendizagem, quando do ingresso dos estudantes no mercado de trabalho, já que a preparação dos estudantes para o exercício de profissões técnicas e da sua habilitação profissional devem ser desenvolvida nas próprias Instituições de Ensino Médio com a cooperação e fiscalização de Instituições especializadas em educação profissional.
Palavras-chave: Diretrizes. Padronização. Ensino-Aprendizagem.
ABSTRACT This research paper presents a reflection on the Law of Basic Guidelines of Education, resolutions, decrees and opinions that support the technical education in the state of Pernambuco in order to build a curriculum system able to guide the training of professionals, their preparation and search new knowledge of the standardization of various technical courses in the management area, the nomenclatures, its contents and items of other processes that guide and provide teachers and students to a new conception of teaching and learning, transmitting the relevant subjects in professional qualifications and preparing students for the labor market, thus unifying and standardizing a course of action. The teaching-learning during development, presented in different segments of management with gaps that hinder the process of teaching and learning, when the entry of students into the labor market, since the preparation of students for the exercise of technical professions and their professional qualifications, should be developed in the very high school institutions with the cooperation and supervision of institutions specializing in vocational education.
Keywords: Guidelines. Standardization. Teaching and Learning.
*Mestrando em Educação Internacional, pela OLWA UNIVERSITY – UNIGRENDAL – Professor de Cursos Técnicos e Universitários (MBA e Pós Graduação), Consultor de Empresas nas áreas de Logística e Marketing, Técnico Especialista da Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco, Contatos: Cel (81) 9776-9266 Tim – E-mail: [email protected] – Recife, PE, 10 de maio de 2016
**Doutora em Educação pela Universidade Federal de Pernambuco-UFPE (2013), núcleo de Política Planejamento e Gestão Educacional. Mestra em Educação e Pedagoga, títulos conferidos pela mesma universidade (UFPE). É analista de gestão educacional da Secretaria Executiva de Educação Profissional de Pernambuco (SEEP/PE). Desenvolve função técnica pedagógica na Prefeitura da Cidade do Recife e exerce a coordenação pedagógica da Faculdade Anchieta. Atua na área de consultoria pedagógica e formação profissional em instituições de ensino e empresas. E-mail: [email protected]. Fone> (81) xxxxxxxxx
253
Apresentação
A experiência profissional e acadêmica
adquirida ao longo dos anos na área de educação,
especialmente nos níveis universitários e técnicos, são
definidas por grandes conhecimentos na área de
Cursos Técnicos em Gestão no tocante ao
desenvolvimento de projetos, empreendedorismo,
inovação tecnológica, estudos de viabilidade técnica e
econômica vindo a contribuir com a área do trabalho e
da educação, através das análises descritivas e
críticas do sistema educacional.
Estudos realizados identificando a importância
das competências voltadas à concepção e
reestruturação de planos de estudos, de aulas, com as
relações das teorias com as práticas, educação com o
trabalho, estabelecidas no Ensino Técnico, com
fundamentos diagnosticados, que o tradicionalismo e
as forças dos paradigmas se cristalizam, sendo assim,
discussões de seus resultados não devem deflagrar
rupturas no processo instituído e aceito pelos sujeitos
envolvidos.
As necessidades de análises dos trabalhos
realizados pelas Escolas Técnicas em suas diferentes
perspectivas na dinâmica de seu cotidiano, tanto ao
nível estadual, como municipal e de escolas
particulares, tomando como eixo norteador da reflexão
as relações que se estabelecem entre os sujeitos do
processo no plano geral do curso sendo o principal
norteador da Secretaria de Educação do Estado de
Pernambuco, avaliando as ações desenvolvidas pelas
Instituições do Ensino Técnico credenciado e os
posicionamentos dos coordenadores pedagógicos dos
Cursos Técnicos em gestão são determinantes nos
processos operacionais do ensino-aprendizagem e
das movimentações de recursos, no acompanhamento
de orientações das atividades dos professores e
estudantes.
Este artigo se expressa com base nos estudos
de uma abordagem qualitativa e quantitativa que
analisa o processo da construção de uma nova
proposta curricular para o ensino técnico na área de
gestão, que as Instituições de Ensino Técnico tendem
a oferecer no mercado, considerando como processos
tradicionais cristalizados no ambiente escolar.
Observar o ambiente escolar teve como
objetivo analisar os registros de todos os fatos
ocorrentes durante os processos de desenvolvimentos
dos cursos e dos diagnósticos com intuito de avaliar
os resultados obtidos quando utilizados nas
verificações da real execução dos projetos dos cursos,
que identificarão os pontos críticos e divergentes
ocorridos durante o processo de execução do plano
na conformidade da constituição de grupos de estudos
dos indicadores, concepção do projeto, implantação,
acompanhamento, avaliação do plano piloto,
reelaboração do plano, capacitação dos docentes,
trocas de experiências, participação em vídeo
conferência e avaliação geral do processo.
DIRECIONAMENTOS ESTRUTURADORES
O Ministério da Educação (MEC), por meio da
Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica
(SETEC), acolheu, no período de 2009 a 2011,
solicitações de atualização do Catálogo Nacional de
Cursos Técnicos (CNCT), provenientes de diversos
setores envolvidos com a oferta de cursos técnicos de
nível médio em todos os sistemas de ensino. O MEC
designou a criação da Comissão Executiva Nacional
de Avaliação do Catálogo Nacional de Cursos
Técnicos (CONAC), composta por representantes do
próprio MEC, do Conselho Nacional de Educação
(CNE), de entidades diretamente ligadas à autorização
e oferta de cursos técnicos. A LDB define que a
preparação básica para o trabalho e a cidadania do
educando, deve deixá-lo apto a continuar aprendendo,
de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a
novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento
posteriores (Seção IV do art.º 35 § 2).
254
O Catálogo Nacional de Cursos Técnicos é
considerado como a mais importante ação para a
valorização da educação profissional e especialmente
dentro do campo tecnológico voltado ao nível médio,
que reflete como um produto voltado para a
construção coletiva dos profissionais envolvidos no
sistema que somaram inúmeros esforços para
concretizarem um programa eficiente ao Ministério da
Educação, que em seu documento oficial compreende
todas as áreas tecnológicas que levam à melhoria da
qualidade de vida do profissional.
Este projeto está disposto na instituição que
implantou o Catalogo Nacional de Cursos Técnicos de
Nível Médio – CNCT, que compreende as tecnologias
associadas aos instrumentos, técnicas e estratégias
que visam a buscar com o foco ao nível empresarial, o
básico sobre a produtividade, lucratividade e da
fidelização dos clientes, cujo eixo é composto pelas
tecnologias voltadas para as organizações, enfocando
a viabilidade econômica, definindo a utilização das
técnicas eficazes para as negociações, o manuseio da
informática, do marketing sendo aplicado com as suas
estratégicas junto ao mercado, dos movimentos
logísticos, do relacionamento interpessoal e de
Recursos Humanos, assegurado pela legislação
vigentes em suas áreas e com a prática da ética como
forma estrutural de uma empresa.
O PAPEL DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
A Educação Profissional estabelece
diretamente uma ligação com os questionamentos
especialmente voltados para a qualificação
profissional, relacionados ao trabalho, fazendo parte
como necessidade de interligar todo o processo da
implementação das Escolas Técnicas, Instituições
devidamente credenciadas para a relação trabalho e a
Instituição de ensino, como ponto de partida das
ações voltadas para a educação do indivíduo,
diminuindo a distância da demanda da sociedade,
com base na estruturação de projetos pedagógicos.
Segundo Nilson Holanda, profissional da área de
planejamento escolar,
Podemos definir o planejamento como a aplicação sistemática de conhecimento humano para prever e avaliar cursos de ação alternativos com vista à tomada de decisões adequadas e racionais, que sirvam de base para a ação futura. Planejar é decidir antecipadamente o que deve ser feito, ou seja, um plano é uma linha de ação pré-estabelecida (HOLANDA, 1985).
As Instituições de Ensino, diante da demanda
de Cursos Técnicos, iniciaram um processo de ofertas
de diversos cursos de qualificação profissional
atendendo a diversas áreas, disponibilizando cursos
técnicos conforme programas constantes no Catálogo
Nacional de Cursos Técnicos, que tem como órgão
fiscalizador, as Secretarias de Educação de cada
estado, visando a assegurar a veracidade contida no
projeto de Cursos Técnicos. As inovações de métodos
e técnicas devem passar por processos de
discussões, reestruturando os rumos que se
pretendem tomar para as questões da Educação
Profissional, partindo da investigação e análise de
experiências já realizadas. Cabe à equipe técnica dos
cursos escolher o melhor caminho e aplicar as
ferramentas que nortearão a finalidade, o modelo e a
interação no grupo ou no individual de como funciona
para melhor aprender, orientar e mediar o ensino para
a aprendizagem dos alunos; Responsabilizar-se pelo
sucesso da aprendizagem dos alunos; Assumir e
saber lidar com a diversidade existente entre os
alunos; Incentivar atividades de enriquecimento
cultural; Desenvolver práticas investigativas; Elaborar
e executar projetos para desenvolver conteúdos
curriculares; Utilizar novas metodologias, estratégias e
materiais de apoio; Desenvolver hábitos de
colaboração e trabalho em equipe
255
ÓRGÃO GESTOR E FISCALIZADOR
Conforme o Art. 7º da Resolução do CEE
(Conselho Estadual de Educação/PE), nº 1/2013, de
08 de Abril de 2013, os Cursos e os Programas de
Educação Profissional Técnica de Nível Médio são
organizados por eixos tecnológicos, possibilitando
itinerários formativos flexíveis, diversificados e
atualizados, segundo interesses dos sujeitos e
possibilidades das instituições educacionais,
atendendo ao Catálogo Nacional de Cursos Técnicos,
observando a identificação das ocupações no
mercado de trabalho, mediante a Classificação
Brasileira de Ocupações. A responsabilidade da
Instituição determina no seu Art. 9º que a oferta da
Educação Profissional Técnica de Nível Médio deve
ser organizada, submetendo-se aos princípios
norteadores das Diretrizes Curriculares Nacionais
definidas pela Resolução CNE/CEB nº 6, de 29 de
setembro de 2012.
Em seu artigo 24, V. a LDB afirma que a
avaliação do trabalho escolar será sempre contínua e
cumulativa, e determina que deve ser dada prioridade
para os aspectos qualitativos, devendo, prevalecer o
desempenho do aluno ao longo do ano arguido no
final do período por uma avaliação final.
O PERFIL DO PROGRAMA DE QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL
As reuniões e as visitas técnicas realizadas
pela Secretaria de Educação do Estado de
Pernambuco nas instituições de ensinos técnicos que
solicitaram aprovação dos projetos ou autorizações de
funcionamentos, avaliadas através de análises das
instalações, bibliotecas, acessibilidade, avaliações dos
docentes por disciplina e do processo como um todo,
de acordo com as resoluções do MEC e do Conselho
Estadual de Educação, como determina o Catálogo
Nacional de Cursos Técnicos ao seu credenciamento
e funcionamento quando não existir alguma exigência
técnica, nos assegura aos controles e práticas
sugestivas para complementação e mudanças nas
grades curriculares, ementas e a utilização de
bibliografias atualizadas e pertinentes a cada assunto.
As políticas e filosofias definidas dizem respeito ao
novo perfil profissional do técnico para nortear o
processo do ensino-aprendizagem mais produtivo em
toda a sua cadeia de ensino. Ao desenvolvermos esse
novo perfil dos Cursos Técnicos, verificamos que
possuem uma carga horária total de 900 horas
(novecentas horas).
Os currículos dos cursos técnicos deveriam ser compostos de três partes: disciplinas de cultura geral; disciplinas de cultura técnica; e estágio, isto é, período não determinado de trabalho na indústria, supervisionado pela autoridade docente (as escolas deveriam se esforçar para conseguir estágio para os alunos, mesmo que não fosse obrigatório) (CUNHA, 2005, p.126).
Na distribuição do primeiro módulo do curso
técnico, devem ser ministradas as disciplinas básicas
e fundamentais pertinentes a cada curso dando
suporte técnico e apoio aos demais segmentos
subsequentes, sendo o 2º e 3º módulos, e as
disciplinas especificamente de cultura técnica, focados
diretamente na parte operacional do curso, perfil do
mercado e da qualificação da mão de obra. O
complemento do ensino-aprendizagem nos Cursos
Técnicos como critério da instituição de ensino,
deveria ter opções de estágios obrigatórios com carga
horária de no mínimo 80 horas (oitenta horas), com
empresas parceiras e acompanhadas pelo
pedagógico, através de relatórios ou de outras
ferramentas consideradas pertinentes para a
avaliação, tornando o curso mais sólido, a frequência
do estudante mais alta e o nível de aptidões mais
elevado. Segundo teóricos como Althusser e
Bourdieu, “a prática escolar predominante hoje, se
256
realiza dentro de um modelo teórico de compreensão
que pressupõe a educação como um mecanismo de
conservação e reprodução da sociedade” (apud
LUCKESI, 2011,).
A avaliação dos pré-requisitos é a melhor e
mais segura forma de avaliação diagnóstica através
da qual se verifica se o formando possui as
aprendizagens anteriores necessárias para que novas
aprendizagens tenham lugar, caso haja divergências,
o ajustamento deverá ser realizado. Sendo o pré-
requisito uma aprendizagem anterior requerida e
imprescindível como modelo da nova aprendizagem. A
avaliação diagnosticada é originária da avaliação
classificatória, assumindo como um instrumento que
identificar todos os pontos de cada estágio da
aprendizagem do estudante, dentro de uma
formatação pedagógica, orientando-o a compreender
de forma continuada os estádios que sua
aprendizagem evolui a contemplar os seus
conhecimentos que são necessários.
EXPERIÊNCIA COMPROVADA
As ETE – PE, consideradas Escolas Técnicas
do Estado de Pernambuco, com base em orientações
dos seus técnicos especializados, promoveram um
encontro com os coordenadores e o corpo docente de
suas unidades de ensino a compor estudos e
avaliações dos currículos dos cursos técnicos em
Gestão de Logística a unificar todas as grades
curriculares com base nas necessidades das
empresas de logísticas que se acentuam em seus
diferentes Polos Logísticos no Estado de Pernambuco.
Estudos foram realizados e comparados as disciplinas
que foram consideradas básicas, operacionais e
administrativas do curso técnico em logística.
A grade padrão do currículo do curso técnico
em logística teve a colaboração de inúmeros
professores e diretores das unidades das ETE –
Escolas técnicas do Estado, devido às suas
localizações geográficas e segmentos diferenciados
nos setores produtivos, operacionais e de gestão de
negócios dos 17 polos Logísticos que estão
espalhados pelo Estado. Outras atividades devem ser
elaboradas para atingir os cursos Técnicos em
Recursos Humanos, Segurança do Trabalho, Técnico
em Turismo, Técnico em Administração e em outros
segmentos educacionais.
As formatações das disciplinas devem estar
ligadas ao mercado, dentro das necessidades das
empresas que buscam profissionais qualificados para
as funções oferecidas como formatação das suas
operações técnicas. Diante da utilização das
ferramentas de avaliação da quantidade e da
qualidade, é necessário que estas informações sejam
repassadas a todos os envolvidos no processo do
ensino aprendizagem, para que cada um possa
descobrir todas as variações encontradas e diante
destes dados, cada um possa legalmente encontrar o
melhor caminho para resultados mais eficazes,
seguindo passo a passo, constantemente. Como diz
Luís de Camões, “mudam-se os tempos, mudam-se
as vontades, muda-se o ser, muda-se a confiança.
Todo o mundo é composto de mudança, tomando
sempre novas qualidades”.
CONCLUSÃO
Esse artigo refere-se a conduzir os técnicos,
instituições de ensino, quer no âmbito federal,
estadual ou municipal a uma política de padronização
das grades curriculares para todas as especialidades
e personalizando as disciplinas aos modelos extraídos
dos diagnósticos avaliativos pesquisados dentro das
necessidades das empresas e do perfil ideal para o
ingresso dos estudantes no mercado de trabalho, da
sua bibliografia moderna, com a implantação de uma
metodologia adequada a cada disciplina e a
preparação do corpo docente das instituições de
257
ensino técnico para o ensino-aprendizagem e a
transmissão dos conhecimentos. A legislação
Educacional torna relevante a participação das
instituições com as comunidades, onde estão contidos
todos os direitos e deveres, das reivindicações e as
sugestões propostas, cabendo utilizar os critérios para
a solução dos problemas e seguir os caminhos rumo
ao futuro educacional. A fiscalização periódica e
permanente dará ao projeto dos cursos técnicos em
gestão, diagnósticos para servir de ajustamento dos
critérios que fortalecerão o ensino aprendizagem,
preconizando e evidenciado a qualidade de ensino ao
longo do seu processo. As mudanças que se fizerem
necessárias aos Cursos Técnicos de nível médio,
possibilitarão a certificação da qualidade do ensino
após a conclusão do curso, com aproveitamento em
cada etapa, que credencia o estudante com aptidões
profissionais para o mercado de trabalho.
Todas as visitas deverão ser formalizadas em
relatórios que demonstrarão todos os pontos
avaliados, constantes dos planos dos cursos
autorizados pela Secretária para que se possa avaliar
a instituição de ensino técnico. As visitas terão o
objetivo de orientar, ajustar o plano de cursos ao
sistema e intervir quando houver divergências na
execução e na qualidade na formação e qualificação
da mão de obra e na profissionalização.
REFERÊNCIAS BRASIL. CATÁLOGO NACIONAL DE CURSOS TÉCNICOS do Ministério da Educação do Brasil. Disponível em <www.catalogonct.mec.gov.br/>. Acesso em de 01 de junho de 2016. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Brasília: Edições Câmara, 2011.
A responsabilidade de acompanhar, orientar e
Parecer Nº 16. Brasília: MEC/CNE/CEB,
fiscalizar as instituições de ensino técnico pertence ao
órgão gestor da Secretaria de Educação do Estado de
Pernambuco que tem o objetivo de programar visitas
intermediárias dos seus técnicos especializados antes
do processo de renovação das atividades da
instituição de ensino técnico, com a primeira visita
sendo realizada após 01 (um) ano da autorização,
como finalidade verificar o desenvolvimento das
atividades expressas no plano do curso, aproveitando
a visita dos técnicos para ajustar todos os
procedimentos conforme as resoluções pertinentes e,
no 2º ano, a realização de outra visita dos técnicos
com objetivo de concretizar os ajustes das atividades
com o plano, para que no ato da renovação das
atividades educacionais a instituição de ensino não
tenha a sua renovação negada em face aos erros
cometidos durante o desenvolvimento do processo
eliminando os riscos no processo ensino-
aprendizagem com o melhor aproveitamento dos
alunos e participar das oportunidades do mercado de
trabalho.
1999. RESOLUÇÃO nº 6. Brasília: CNE/CEB, de 29 de setembro de 2012. CUNHA, Luiz Antonio. O Ensino Profissional na Irradiação do Industrialismo. São Paulo: Editora UNESP/Brasília, DF: FLACSO, 2005. HOLANDA, Nilson. Planejamento de Projetos. Rio de Janeiro: Editora Apec, 1985. LUCKESI, Cipriano C. Avaliação da Aprendizagem Escolar – Estudos e Proposições. 22ª ed. São Paulo: Cortes, 2011. PERNAMBUCO. RESOLUÇÃO Nº 1/2013 - CEE (Conselho Estadual de Educação – PE). Recife: DOE, 24/04/2013.
258
GESTÃO ESCOLAR: ASPECTOS AVALIADOS EM DIFERENTES DIMENSÕES
Helio Duarte de Assis Filho1
Vera Lúcia dos Santos2
RESUMO
A avaliação das diferentes dimensões que compõem a gestão escolar pode representar um método capaz de detectar os insucessos no ensino, criando políticas de superação das dificuldades e investindo na qualidade da educação oferecida. Ao contrário das avaliações da educação realizadas no país, baseadas em critérios numéricos, a avaliação das dimensões tende a tratar de indicadores processuais que expressam fatores como planejamento, convivência e participação escolar, Projeto Político Pedagógico, gestão democrática e qualidade de ensino, Conselho Escolar entre outros. Em vista do exposto, esse estudo tem como objetivo contribuir para a prática educativa dos docentes e discentes, bem como da administração escolar, de três escolas, buscando localizar problemas gerenciais e de adequação quanto às dimensões de organização, por meio do Projeto Político Pedagógico e de implementação, por meio dos Conselhos escolares. O desenvolvimento desse trabalho obedeceu a uma metodologia que contemplou duas naturezas. Uma investigação inicial de caráter bibliográfico, abordando as diversas teorias relacionadas à educação e à gestão escolar e depois, a aplicação de uma proposta de projeto relativo à gestão escolar. O resultado esperado é que gestores e professores apresentem alternativas para atingir a qualidade requerida para a educação, construindo um Projeto Político Pedagógico coerente com a realidade em que atual e que promova maior participação da comunidade intra e extra escolar no Conselho de cada instituição.
PALAVRAS-CHAVE: Educação; Dimensão; Conselhos escolares; Projeto Político Pedagógico.
ABSTRACT The evaluation of the different dimensions that make up the school management may represent a method capable of detecting failures in education, creating overcoming political difficulties and investing in the quality of education offered. Unlike assessments of education carried out in the country, based on numerical criteria, the assessment of dimensions tends to deal with process indicators expressing factors such as planning, coexistence and school participation, Political Pedagogical Project, democratic management and quality of education, school board between others. In view of the above, this study aims to contribute to the educational practice of teachers and students and the school administration, three schools, seeking to find management problems and suitability as the size of the organization, through the Pedagogical Political Project and implementation, through school councils. The development of this work followed a methodology which included two natures. An initial investigation of bibliographic, addressing the various theories related to education and school management and then the application of a proposed project on the municipal school management Thatcham-. The expected result is that managers and teachers submit alternatives to achieve the quality required for education, building a Pedagogical Political Project consistent with the reality that current and that promote increased participation of intra- and extra school community on the Board of each institution.
Keywords: Education; size; school councils; Pedagogical Political Project.
1 Discente do Programa de Pós-Graduação – Mestrado em Educação da UNIGRENDAL. Licenciado em Ciências Biológicas. 2 Discente do Programa de Pós-Graduação – Mestrado em Educação da UNIGRENDAL. Licenciada em Geografia e Pedagogia.
259
INTRODUÇÃO
A Educação é um direito de todos, isso é algo
ainda não bem definido entre os cidadãos Brasileiros,
haja vista é mostrar que para tanto devemos exigir das
autoridades a permanência a qualidade da mesma.
Obrigação para ser exigida e ser imposta. A cidadania
se constrói na participação em conjunto numa mesma
identidade, como fundamentos no cumprimento do
dever e na obtenção dos direitos.
No artigo 205 de nossa Constituição Federal
de 1988, fica claro: A educação, direito de todos e
dever do Estado e da Família, será promovida e
incentivada com a colaboração da sociedade, visando
ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo
para o exercício da cidadania e sua qualificação para
o trabalho.
Garantir qualidade ao que é oferecido é
ampliar o exercício constante da cidadania, a luta num
país de dimensões continentais tem que ser
constante, pois tem raízes de décadas como a
garantia dos alunos no ensino fundamental em 1988
(Constituição Federal), medida reforçada dois anos
depois pelo Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA); a alimentação gratuita nas escolas 1955, a
LDB, entre outras conquistas.
Nesse contexto, o Gestor assume um papel
importante para desenvolver no exercício da
cidadania: o de mostrar, dialogar, efetivar em conjunto
os nossos direitos e deveres. Apesar de ser difícil,
pois por um lado a constituição garante, do outro os
nossos governantes não o executam ou,
simplesmente não atendem todas as especificações
impostas pela lei.
Nossa função contemporânea passou de
burocrata a gestor de aprendizagem. A priori, é levar
ensino de qualidade mediante esforços próprios e
superar dificuldades todos os dias para a melhoria do
ensino. Não seremos “Redentores da Educação”
como dizia a Professora Amanda Gurgel (2011), pois
somos antes de tudo professores que reivindicamos o
melhor para a educação desse País.
O gestor precisa mostrar a seu coletivo –
principalmente às famílias dos discentes - seus
direitos e deveres, para a construção de uma escola
melhor, destacando as funções de todos: estados,
pais, professores, alunos, gestor, comunidade, corpo
de apoio e pedagógico, enfim a participação do
coletivo.
A sociedade, segundo estudos, pode
corroborar para o sucesso ou o fracasso escolar do
indivíduo, devido a sua situação social, com
consequência para a vida posterior de estudo. O
Projeto Político Pedagógico pode ajudar nessa
pesquisa, pois cada escola pode desenvolver, com a
ajuda da sociedade, um projeto voltado para a
melhoria da escola a sua realidade local. A efetivação
do gestor no projeto se proporciona em formar uma
tarefa coletiva na obtenção da garantia do padrão de
qualidade.
A gestão participativa e democrática deve ser
presença obrigatória nas instituições públicas,
garantida por lei no art. 14 da LDB. Porém, será que
esse direito é existente em todas as escolas? Pois é
visto ainda diretores autoritários e desinformados de
suas obrigações, apenas fiscalizando o trabalho
docente. É visível as mudanças até na nomenclatura
do nome de diretor para gestor, mas, a aceitação
ainda não é cem por cento vista.
Em favor de uma boa participação, é
fundamental que haja diálogos, troca de experiências,
elementos do método dialítico e, principalmente, o
respeito em um processo coletivo valorizando os
valores e sentimentos de maneira a trabalhar o sócio-
econômico, o político e o cultural. Nesse sentido, o
objetivo deste trabalho é contribuir para a prática
educativa dos docentes e discentes, bem como da
administração escolar, de uma escola pertencente à
rede municipal de ensino da cidade de Sapé/PB,
buscando localizar problemas gerenciais e de
260
adequação quanto às dimensões de organização, por
meio do Projeto Político Pedagógico e de
implementação, por meio dos Conselhos escolares.
A LDB é clara em seu art. 12 quando afirma
que não se pode dar um tratamento aligeirado e
medíocre a interpretação de dias letivos e horas-aulas
estabelecidas. O gestor tem que ter o diálogo a seu
favor sem autoritarismo, temos que nos adequar a
novos campos de articulação e de conduta. O respeito
a todos e as parcerias são outras medidas que
favoreceram o bom desempenho da educação
oferecida.
A educação é essencial para entrar no
primeiro mundo, para isso é preciso persistir no
receituário das nações bem-sucedidas: valorizar o
professor, aperfeiçoar o sistema de avaliação, focar a
formação e investir em infraestrutura. Tudo começa
com o desejo de chegar lá e continuar com vigilância e
fiscalização. No fim das contas, o país que veremos
no espelho no fim desta década terá a cara que
conseguirmos construir.
PRÁTICAS DE AVALIAÇÃO EM ESCOLAR PÚBLICAS NO BRASIL
A avaliação nas escolas públicas envolve os
vários integrantes da escola, e também a avaliação
dos vários componentes e das diversas dimensões do
trabalho escolar. Informalmente a avaliação ocorre,
por exemplo, quando os professores são avaliados
pelos alunos, por seus pares, pelos técnicos e pelos
dirigentes da escola. O diretor e outros profissionais
são avaliados pelos alunos. No entanto,
tradicionalmente, a avaliação que se realiza de modo
sistemático na escola é a direcionada para o aluno,
sem que os resultados dessa avaliação sejam
referenciados ao contexto em que são produzidos. Ou
seja, o fracasso ou o sucesso escolar dos alunos
tendem a ser interpretados em uma dimensão
individual, não sendo tratados com expressão do
próprio sucesso ou fracasso da Escola.
No Brasil, os indicadores de desempenho na
educação configuram uma forma de regulação híbrida
que conjuga o controle pelo Estado com estratégias
de autonomia – de caráter mais retórico que real – e
auto-regulação das instituições educativas –
distribuição da responsabilidade pela educação entre
os atores escolares: conselhos, gestores,
supervisores, coordenadores pedagógicos e
professores. Para Afonso, esta articulação, tensa e
relativamente contraditória, pode ser mais bem
designada de “avaliação estandardizada criterial com
publicitação de resultados” (AFONSO, 2001b, p. 27).
No contexto de nossa realidade, pode-se
ilustrar os desafios à educação básica a partir do que
presenciamos em nosso cotidiano. Nesse sentido,
temos, por exemplo, a Prova Brasil, que avalia o
desempenho em Língua Portuguesa e em Matemática
e o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
(Ideb), que monitora o andamento das políticas
públicas pela análise do desempenho dos alunos nos
exames Prova Brasil e Saeb e das taxas de aprovação
da escola. Esses dois instrumentos avaliam a eficácia
ou não da escola, dimensionando a qualidade do
ensino prestado. Entretanto, essa eficácia vem
atrelada a vários fatores como a formação profissional
dos docentes, clima escolar, diferenças individuais de
aprendizagem, motivação e participação do aluno,
distorção idade-série, avaliação da aprendizagem,
dentre outros. São desafios que dizem respeito a toda
comunidade escolar e que no cotidiano da escola nem
sempre é possível equacionar soluções concretas,
porque muitas delas estão além dos muros da escola.
Por outro lado, não se pode perder de vista
que a avaliação da escola diferencia-se da avaliação
da aprendizagem dos alunos, mesmo que ambas
estejam bastante relacionadas e sejam, inclusive,
interdependentes. A avaliação da aprendizagem serve
tanto para a análise do desenvolvimento da
261
aprendizagem dos alunos, quanto como parâmetro
para a avaliação do trabalho do professor. A análise
das condições institucionais da escola pode ajudar,
diversas vezes, inclusive a explicar os resultados da
avaliação da aprendizagem, por seu turno, sendo um
importante referencial para a avaliação institucional.
Atualmente, o Estado-Nação não visa somente a
avaliar a aprendizagem dos alunos, mas também a
avaliar o desempenho da Escola, da instituição como
um todo.
Nesta perspectiva, a avaliação se constitui em
um processo de busca de compreensão da realidade
escolar, com o fim de subsidiar as tomadas de
decisões quanto ao direcionamento das intervenções,
visando ao aprimoramento do trabalho escolar. Como
tal, a avaliação compreende a descrição, a
interpretação e o julgamento das ações
desenvolvidas, resultando na definição de prioridades
a serem implementadas e rumos a serem seguidos,
tendo com referências os princípios e as finalidades
estabelecidas no projeto da Escola, ao mesmo tempo
em que subsidia a sua própria redefinição.
Para que o processo de avaliação escolar
tenha o potencial de contribuir com o aperfeiçoamento
das ações em desenvolvimento, deve revestir-se de
características tais como:
- ser democrático, no sentido de considerar que os integrantes da ação educativa são capazes de assumir o processo de transformação da educação escolar, sob a ótica dos interesses das camadas majoritárias da população; - ser abrangente, significando que todos os integrantes e os diversos componentes da organização escolar sejam avaliados: a atuação do professor e de outros profissionais da escola; os conteúdos e processos de ensino; as condições, as dinâmicas e as relações de trabalho; os recursos físicos e materiais disponíveis; a articulação da escola com a comunidade, com os grupos organizados da sociedade; as relações da escola com outras.
Quando a escola se organiza para construir
um processo de avaliação institucional/desempenho a
partir do planejamento participativo, ela conecta de
forma substantiva gestão e avaliação, ou dito de outra
forma, a avaliação do conjunto do trabalho da escola
como instituição educativa como subsidio do processo
de planejamento é um instrumento de gestão
democrática desta instituição. Isto deve ter como
ponto de partida o aluno, mas a avaliação institucional
não se esgota nos elementos que podem ser
observados diretamente nos alunos, é preciso
considerar também aqueles aspectos que são
mediadores do processo pedagógico.
Assim, cabe à escola definir o seu projeto
educativo, considerando todos os aspectos e
dimensões, sem criar um descompasso entre o que se
pensa e diz e o que se tem feito, ou seja, o seu projeto
deve ser coerente, claro, participativo, e estar em
sintonia com os grupos envolvidos com a escola, isto
é, com a comunidade, alunos e professores, levando-
os a uma conscientização ao nível da necessidade de
se atender positivamente à diferença cultural.
GESTÃO DEMOCRÁTICA E A ESCOLA
A construção da gestão democrática na
escola, de acordo com Veiga (2000), passa pela
implantação, na instituição educacional, de uma
gestão participativa, entendida como a articulação
entre a ação educativa e a administração escolar. Esta
deve superar tanto o autoritarismo da escola
tradicional quanto a autogestão da escola nova, por
meio de um novo enfoque de organização escolar que
contemple o conhecimento, a compreensão e a
participação de todos na elaboração das normas
necessárias para garantia dos interesses coletivos. O
sentido pedagógico da administração colegiada reside
na operacionalização de constantes momentos de
análise, discussão dos problemas escolares e na
busca de estratégias viáveis para atingir a finalidade
essencial da escola. Lück apresenta a gestão escolar
como o
262
ato de gerir a dinâmica cultural da escola, afinado com as diretrizes e políticas educacionais públicas para a implementação de seu projeto político- pedagógico e compromissado com os princípios da democracia e com os métodos que organizem e criem condições para um ambiente educacional autônomo (soluções próprias, no âmbito de suas competências), de participação e compartilhamento (tomada de decisões conjunta e efetivação de resultados) e auto-controle (acompanhamento e avaliação com retorno de informações) (LÜCK, 2009, p. 24).
A partir da concepção de Lück (2009), é
importante a inserção de todos os sujeitos envolvidos
na dinâmica cultural da escola e nos problemas
cotidianos, de forma a provocar um efeito pedagógico
sobre todos os integrantes, pois todos, ao pensarem
os problemas, podem propor soluções e participar das
decisões, assumindo o papel de corresponsáveis no
projeto educativo da escola e por extensão da
comunidade.
Segundo Portugal, anteriormente o “diretor era
um administrador que enfeixava as decisões em suas
mãos. Como gestor, agora, ele compartilha com os
seus colaboradores tanto na formulação da Proposta
Político Pedagógica como na sua implementação no
dia-a-dia” (PORTUGAL, 2001, p.3). Nesse sentido, a
utilização do termo gestão tomou o lugar de
administração não apenas como uma simples
substituição de palavras, mas sim como uma mudança
de paradigma. Para o autor, o termo pode significar
um tempo de mudança, um caminho para a Gestão
Compartilhada.
A Gestão na Educação também pode ser
entendida como criação de um ambiente propício para
que o professor consiga realizar sua obra pedagógica,
com segurança, criatividade e de forma arrojada, com
o objetivo de tornar sua prática didático-pedagógica
uma constante experimentação (PORTUGAL, 2001).
De acordo com essa visão, para que um projeto
pedagógico de uma escola se efetive no cotidiano é
necessário que a escola busque a democracia
participativa.
Isso porque a escola, por vezes, reproduz e
mantém as desigualdades sociais, preocupando-se
com a manutenção da ordem social vigente.
Aparentemente não demonstra preocupação com a
questão da formação humana (valores morais e
éticos) e continua ressaltando apenas conteúdos,
quase sempre defasados. Nesse contexto, a escola,
para alguns educadores, apresenta-se como uma
instituição passiva, na qual há apenas a transmissão
de conhecimentos. Ela não se envolve com o
cotidiano do aluno e da comunidade, funciona como
transmissora de um saber já elaborado (AFONSO,
2001a).
Schneckenberg (1981) aponta três motivos
que explicam essa manutenção da ordem social:
primeiro, o projeto político conservador que está
embutido nas práticas administrativas; segundo, a
falta de formação ética e política dos gestores eleitos
que privilegia interesses privados em detrimento dos
coletivos e públicos e terceiro, a confusão
estabelecida pelo pragmatismo das políticas
neoliberais de privatização no setor administrativo
público. Para o autor, para a efetivação de uma
democracia participativa na escola, é preciso ir além
do pragmatismo e se comprometer com uma
construção democrática cotidiana em diferentes
setores da sociedade e do Estado:
É no contexto escolar que se evidencia a necessidade de conhecer e interpretar o processo de implementação de política e reforma educacional, ou seja: tratar como reagem os atores da gestão escolar diante da perspectiva de mudanças no cotidiano escolar, já que neste se encontra o desafio da sua operacionalização (SCHNECKENBERG, 1981, p. 114).
Como se percebe, as práticas do cotidiano
escolar constituem um horizonte para o surgimento,
263
crescimento e consolidação de um projeto
democrático alternativo. A avaliação das diferentes
dimensões da gestão escolar pode ser este horizonte,
pois, conforme Lück (2009), essas dimensões que
envolvem a gestão escolar são capazes de promover
mudanças e desenvolvimento dos processos
educacionais, tornando a formação e aprendizagem
dos alunos mais potente. A autora apresenta dez
dimensões que auxiliam a organização da gestão
escolar: 1. Fundamentos e princípios da educação e
da gestão escolar; 2. Planejamento e organização do
trabalho escolar; 3. Monitoramento de processos e
avaliação institucional; 4. Gestão de resultados
educacionais; 5. Gestão democrática e participativa; 6.
Gestão de pessoas; 7. Gestão pedagógica; 8. Gestão
administrativa; 9. Gestões da cultura escolar; 10.
Gestão do cotidiano escolar.
Ainda de acordo com Lück (2009), essas
dimensões se inter-relacionam e se interdependem
com maior ou menor intensidade, conforme a situação
envolvida, uma vez que a aplicação de cada uma
envolve um processo dinâmico e interativo, tendo
cada uma sua importância na gestão escolar como um
todo. A autora ainda relaciona essas dez dimensões a
duas dimensões maiores, as dimensões de
organização e as de implementação. A primeira
grande dimensão diz respeito à preparação, à
ordenação, à provisão de recursos e à sistematização
do trabalho, objetivando garantir uma estrutura básica
necessária para a implementação dos objetivos
educacionais e da gestão escolar. Nesta dimensão, se
enquadram as quatro primeiras apresentadas pela
autora, a exemplo, do planejamento e organização do
trabalho escolar por meio do Projeto Político
Pedagógico. A segunda grande dimensão trata das
seis últimas dimensões que têm a finalidade de
promover mudanças e transformações no contexto
escolar, a exemplo, da gestão democrática e
participativa por meio dos órgãos colegiados como os
Conselhos escolares.
Tratando das dimensões apresentadas por
Lück (2009), o planejamento e organização do
trabalho escolar se apresentam como aquele que é
inerente e essencial ao processo de gestão,
constituindo-se na sua primeira fase, uma vez que é a
mais básica e comum de suas dimensões. Segundo a
autora, “sem planejamento não há a possibilidade de
promover os vários desdobramentos da gestão
escolar, de forma articulada” (LÜCK, 2009, p. 38). É
no contexto do planejamento que se apresenta o
Projeto Político Pedagógico como instrumento
balizador para o fazer educacional e, por
consequência, da direção pela qual devem seguir a
gestão e as atividades educacionais.
De acordo com Veiga e Fonseca (2001), a
construção do Projeto Político Pedagógico pressupõe
a viabilização de propostas compartilhadas de ações
que estimulem a inovação e a expressão de várias
dimensões (social, política e ética) das identidades
dos sujeitos que o constroem, executam e avaliam.
O Projeto Político Pedagógico busca, assim,
um rumo, uma direção. É uma ação intencional, com
um sentido explícito, com um compromisso definido
coletivamente. Por isso, todo projeto pedagógico da
escola é, também, um projeto político por estar
intimamente articulado ao compromisso social,
político, ético e com os interesses reais e coletivos da
população majoritária.
Na dimensão pedagógica reside a possibilidade da efetivação da intencionalidade da escola, que é a formação do cidadão participativo, responsável, compromissado, crítico e criativo. Pedagógico, no sentido de se definir as ações educativas e as características necessárias às escolas de cumprirem seus propósitos e sua intencionalidade. (VEIGA, 2001, p. 13)
O Projeto Político Pedagógico é o fruto da
interação entre os objetivos e prioridades
estabelecidas pela coletividade, que estabelece,
através da reflexão, as ações necessárias à
264
construção de uma nova realidade. É, antes de tudo,
um trabalho que exige comprometimento de todos os
envolvidos no processo educativo: professores, equipe
técnica, alunos, seus pais e a comunidade como um
todo.
De acordo com Veiga e Fonseca (2001), esse
processo de construção contribui para a constituição
das identidades dos sujeitos em uma perspectiva
crítica quando esse instrumento é percebido como
instrumento de organização desses atores escolares
enquanto sujeitos sociais, e não como mero
documento burocrático.
No sentido do exposto pelas autoras, entende-
se que a prática de construção de um projeto deve
estar amparada por concepções teóricas sólidas e
supõe o aperfeiçoamento e a formação de seus
agentes. Só assim serão rompidas as resistências em
relação a novas práticas educativas. Os agentes
educativos devem sentir-se atraídos por essa
proposta, pois só assim terão uma postura
comprometida e responsável. Trata-se, portanto, da
conquista coletiva de um espaço para o exercício da
autonomia.
Nesse sentido, é importante a observação de
Romão e Padilha (1997) quando afirmam que a efetiva
elaboração do projeto político pedagógico da escola e
implementação de conselhos de escolas garantem a
autonomia administrativa, pedagógica e financeira da
escola, mas não eximem o Estado de suas obrigações
com o ensino público.
Nesse sentido, o Projeto Político Pedagógico,
segundo Veiga (2001), deve: I) ser construído a partir
da realidade, explicitando seus desafios e problemas;
II) ser elaborado de forma participativa; III)
corresponder a uma articulação e organização plena e
ampla de todos os aspectos educacionais; IV)
explicitar o compromisso com a formação do cidadão
e os meios e condições para promovê-la; V) ser
continuamente revisado mediante processo contínuo
de planejamento; e VI) corresponder a uma ação
articulada de todos os envolvidos com a realidade
escolar.
Além disso, Veiga (2007) informa que o
Projeto Político Pedagógico deve articular as
dimensões da intencionalidade com as da efetividade
e possibilidade, devendo, portanto ser viável,
exequível e assumido coletivamente pelos vários
segmentos da comunidade escolar (alunos,
professores, funcionários, pais e representantes da
comunidade) de maneira participativa e democrática.
Daí afirmar a autora que o Conselho Escolar
representa o sustentáculo o Projeto Político
Pedagógico uma vez que “exige uma ação colegiada
para verificar se as atividades pedagógicas estão
coerentes com os objetivos propostos” (VEIGA, 2007,
p. 117).
O Conselho de Escolar, por sua vez,
enquadra-se na dimensão de implementação,
especificamente, da gestão democrática e
participativa, como órgão colegiado organizado por
meio da participação dos membros da comunidade
escolar na gestão da escola. De acordo com Lück,
Um órgão colegiado escolar constitui-se em um mecanismo de gestão da escola que tem por objetivo auxiliar na tomada de decisão em todas as suas áreas de atuação, procurando diferentes meios para se alcançar o objetivo de ajudar o estabelecimento de ensino, em todos os seus aspectos, pela participação de modo interativo de pais, professores e funcionários (LÜCK, 2009, p. 72).
Veiga (2007) também trata do tema, afirmando
tratar-se de um órgão máximo de decisão instituído no
interior da escola, configurando um espaço de debates
e discussão onde os sujeitos que fazem a comunidade
escolar exponham seus interesses e reivindicações
desconcentrando o poder autoritário.
Enquanto órgão colegiado, o Conselho
Escolar apresenta quatro funções interligadas e
complementares: deliberativa, consultiva, supervisora
e mobilizadora. Ele
265
delibera sobre questões político- pedagógicas, administrativas, financeiras da escola; assessora e analisa as questões encaminhadas pelos diferentes segmentos da escola; apresenta soluções alternativas; acompanha a execução das atividades pedagógicas, administrativas e financeiras; assume uma função supervisora que supera a concepção fiscalizadora e avalia o cumprimento do projeto político-pedagógico; mobiliza os segmentos representativos da escola e da comunidade local para a efetivação de melhoria da qualidade social do processo educativo e da própria gestão democrática (VEIGA, 2007, p. 10).
Como se percebe, o Conselho Escolar é o
órgão máximo de decisão na escola ao tratar-se de
gestão democrática, contribuindo para a construção e
implementação do Projeto Político Pedagógico da
escola e para o alargamento do horizonte cultural dos
estudantes.
O Conselho Escolar configura-se, portanto,
como órgão de representação da comunidade escolar
e, desse modo, visa à construção de uma cultura de
participação, constituindo-se em espaço de
aprendizado do jogo político democrático e de
formação político-pedagógica. Bordignom (2004)
afirma que, na década de 1980, as associações e
movimentos populares passaram a reclamar
participação na gestão pública.
O desejo de participação comunitária se inseriu nos debates da constituinte, que geraram posteriormente, a institucionalização dos conselhos gestores de políticas públicas no Brasil. Esse conselho tem um caráter nitidamente de ação política e aliam o saber popular por meio da representação das categorias sociais de base (BORDIGNOM, 2004, p. 17).
Nesse sentido, o Conselho Escolar buscará
formas de incentivar a participação de todos os
segmentos envolvidos no processo educativo, de
modo a assegurar a sua adesão e comprometimento
com as ideias de renovação democrática dos espaços
e das políticas escolares. É, pois, um suporte de apoio
que visa a promover a participação, visando injetar
novas experiências na vida da escola para que ela
inove a sua prática pedagógica, socialize
conhecimentos, executando projetos que promovam o
bem-estar social, preservem a sua credibilidade
educativa e consolidem o seu ideal de globalizar e
difundir uma educação de qualidade, em prol de uma
melhor condição de vida para todos, tornando a
aprendizagem como um compromisso de toda a
escola (MARQUES, 1992).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando que a escola faz diferença na
aprendizagem dos alunos, a avaliação das dimensões
que compõem a gestão escolar a partir do critério do
Projeto Político Pedagógico e dos Conselhos
Escolares das escolas, mostrar-se um fator de suma
importância e merecedor de atenção por parte de
políticas públicas, posto que os resultados tendem a
apontar a eficácia/ineficácia, ora acentuada ora tênue,
no desempenho dos gestores. Nesta perspectiva, o
desempenho da gestão escolar corroborará
conclusões sobre a importância de seu papel para o
desempenho dos alunos e da escola como um todo
apontadas nos estudo bibliográfico.
Com base nos dados obtidos através do
questionário, será possível constatar se os gestores
escolares apresentam alto ou baixo desempenho
quanto a suas atribuições. Tal resultado também
indicará se persiste o modelo de gestão centralizadora
ou se já há uma tendência nas escolas em se efetivar
a democracia em seu contexto por meio do Projeto
Político Pedagógico e dos Conselhos Escolares. Ainda
que os resultados a serem obtidos sobre esta
realidade seja ainda pujante, o maior desafio da
gestão democrática nas escolas será envolver os
atores sociais nos processos da escola, tornando-os
responsáveis por um ensino de qualidade, que
beneficiará a todos nos mais diversos aspectos de
266
suas vivências, sejam particulares, sejam coletivas.
Nesse sentido, é urgente e necessária a promoção de
modelo de avaliação de todas as demais dimensões
para que, de posse dos resultados, se possa qualificar
melhor esses sujeitos sociais e corrigir os pontos
deficientes.
Pode-se afirmar, então, que a importância
desse estudo dever-se-á aos resultados a serem
obtidos, possibilitando aos gestores escolares
municipais ampliarem a visão da elaboração do
planejamento para poder implementá-lo de forma
sustentável em suas escolas, haja vista que o novo
modelo de gestão educacional impõe às escolas uma
posição diferenciada da função histórica do diretor de
escola, devendo o gestor prescindir de decisões
centralizadas, muitas vezes desprovidas de sentido e
de interesse para a comunidade escolar. A eficácia de
seu desempenho exige um conhecimento dos novos
paradigmas da educação, um posicionamento
inovador. Enfim, espera-se que os conceitos
apresentados neste trabalho oportunizem
possibilidades de estudos a serem realizados sobre o
tema.
REFERÊNCIAS
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267
DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM NA 1º FASE DO ENSINO FUNDAMENTAL EM ALUNOS QUE APRESENTAM TRANSTORNO GLOBAL DO DESENVOLVIMENTO
Tânia Maria Pereira Pires1
RESUMO Transtorno global do desenvolvimento é um ponto pouco discutido na área educacional, apesar dessa discussão trazida pela filosofia da escola inclusiva. A crescente demanda de alunos com TGD em escolas públicas no Brasil provoca a curiosidade dos profissionais da educação em obter conhecimentos específicos acerca deste problema. Neste sentido é que se origina a elaboração deste artigo. Procuramos aqui apresentar um percurso na história da educação especial no Brasil, em seguida apresentar as leis que garantem os direitos destas pessoas e, por fim, traçar um perfil dos tipos de transtornos, suas características, dificuldades e qual a postura da escola frente a este novo desafio. Palavras-chave: Transtorno global do Desenvolvimento; Dificuldade de Interação; Inclusão Escolar.
ABSTRACT
The Global Disorder of Development is a subject that few educational professionals discuss, despite having great importance in Inclusive School’s Philosophy. There are a large number of students with GDD in Brazilian public schools, this has caused some curiosity in professional from Brazilian public schools. The growing demand for students with GDD in the public schools in Brazil causes the curiosity of education professionals to obtain specific knowledge about this problem. In this sense it is that originates with this article. In this study we present a course in the history of special education in Brazil, then make the laws that guarantee the rights of these people, and finally draw a profile of the types of disorders, their characteristics, and difficulties which the school's approach to this new challenge.
Keywords: Global disorder of development; Difficulty of interaction; Inclusion in School.
1 Graduada; Universidade Federal da Paraíba/UFPB; [email protected].
268
INTRODUÇÃO
No nosso cotidiano escolar, é cada vez mais
frequente a matrícula de alunos portadores de
Transtorno Global do Desenvolvimento, e a falta de
conhecimento por parte de nós educadores em lidar
com estas situações tem favorecido cada vez mais a
exclusão desses alunos.
Segundo Brandão, “a convenção sobre os
direitos das pessoas com Deficiência, publicada em
2006 e promulgada pelo Brasil em 2009, assegura às
pessoas com deficiência o direito à educação de
qualidade” (BRANDÃO, 2010, p.4). Portanto, é direito
do aluno com deficiência que a escola atenda suas
necessidades da melhor forma possível.
A rotina escolar deve favorecer a este aluno a
superação dos desafios que a sua deficiência lhe
apresenta. Porém, esta qualidade torna-se inviável
quando o professor e demais funcionários da escola
não dispõem de conhecimentos básicos necessários
para lidar com as necessidades especiais,
principalmente com os Transtornos Globais de
Desenvolvimento. A falta de informações sobre este
assunto cria visões estereotipadas acerca do potencial
destes alunos: são eles vistos como incapazes de
aprender, são descanteados na sala de aula e,
consequentemente, no currículo escolar.
Desta forma, a inclusão, no sentido próprio da
palavra, perde seu sentido e dá margem à palavra
inserida2, ou seja, eles apenas estão na escola, sem
que suas habilidades sejam provocadas, desafiadas a
saírem de um estágio para outro, reforçando ainda
mais a ideia negativa de que eles não são capazes de
irem além e contribuindo ainda para o alto índice de
repetência, e isto é bem diferente de estar incluído.
Pensar na inclusão escolar é pensar que
todos os alunos, independentemente de
2 A palavra inserida neste contexto está no sentido apenas, de estar no espaço da sala de aula, porém sem o suporte necessário para que o aluno se encontre em condições de superar suas dificuldades.
características físicas, intelectuais ou sensoriais, têm o
direito de ter, por parte da escola, uma resposta
pedagógica que atenda suas necessidades.
Segundo Camargo e Bossa,
na medida em que o sujeito é visto somente sob o ângulo de suas limitações, a crença na sua educabilidade e possibilidade de desenvolvimento estará associada à impossibilidade de permanência deste sujeito em espaços como o ensino comum (CAMARGO e BOSSA, 2009, p. 69).
Quando a escola tem a visão de que o aluno
portador de Transtorno Global do Desenvolvimento
não tem condições de aprender, sequer dentro de
uma sala de aula do ensino regular, ela não terá
condições de atender as necessidades pedagógicas
desses alunos e nem de qualquer outro que venha a
necessitar de um atendimento que exija uma quebra
de paradigma, pois a inclusão de indivíduos em salas
regulares requer do profissional em educação uma
nova visão com relação ao processo ensino
aprendizagem.
Para Prieto,
A inclusão de indivíduos com necessidades especiais na rede regular de ensino não consiste apenas na sua permanência junto aos demais alunos e nem na negação dos serviços especializados aqueles que deles necessitam, implica em uma reorganização do sistema educacional, o que acarreta a revisão de antigas concepções e paradigmas educacionais (PRIETO, 2006, p.42).
É em busca de novas concepções referentes
às pessoas com Transtornos Globais do
Desenvolvimento, na tentativa de conhecer como
ocorre o processo de ensino aprendizagem desses
alunos, quais fatores influenciam de forma positiva e
negativa o desenvolvimento deles, que fiz a opção de
realizar uma pesquisa bibliográfica sobre o tema, para
269
que na prática possa contribuir em um trabalho
pedagógico realmente inclusivo.
Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é
analisar o processo de ensino aprendizagem na
primeira fase do ensino fundamental em crianças com
Transtornos Globais de Desenvolvimento. Para a
realização desse trabalho, será feita uma pesquisa
bibliográfica de autores que de forma direta ou indireta
realizaram estudos sobre o tema.
A princípio, foi feito um histórico da Educação
Inclusiva no Brasil, com o objetivo de situar sua
evolução até o momento atual. Em seguida, o estudo
foi direcionado para a análise das leis existentes no
país com relação aos direitos específicos garantidos
às pessoas com necessidades especiais.
O terceiro passo foi fazer estudos de teóricos
que tratam de pessoas com Transtornos Globais do
Desenvolvimento: suas causas, quais as
características, quais fatores interferem de forma
positiva e negativa no seu desenvolvimento e quais
atitudes o professor da primeira fase do ensino
fundamental deverá assumir quando tiver que realizar
um trabalho pedagógico em uma turma com tal
situação, ou seja, que tenha a presença de um aluno
com tal diagnóstico.
PERCURSO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL NO BRASIL
A partir do século XIX, a evolução da
sociedade brasileira é explicada com base nas
ciências naturais, que têm como objetivo a valorização
do conhecimento científico. Nesse período, dá-se
início à implementação de ações de grande
importância no campo da educação, como, por
exemplo, a criação da Inspetoria Geral da Instrução
Primária e Secundária da Corte (1854) e a
reformulação do status da Academia de Belas Artes
(1855). É neste contexto que são fundadas duas
instituições públicas para o atendimento de pessoas
com deficiências: o Imperial Instituto dos Meninos
Cegos (atual Benjamin Constant), em 1854, e o
Instituto Surdo Mudo (atual Instituto Nacional da
Educação dos Surdos –Inês), em 1856.
Apesar do trabalho pioneiro, a criação destas
instituições é considerada um ato isolado no que se
refere à assistência das pessoas com deficiências,
visto que não há nenhum embasamento legal sobre a
educação e tampouco com relação à educação
especial. No que se refere à educação, há apenas a
Constituição Brasileira de 1824, que registra a
responsabilidade de gratuidade da instrução primária
a todos. Na prática, o atendimento a todos era uma
falácia, pois a maioria da população não tinha a
disponibilidade de tal serviço e muito menos os
considerados “deficientes”.
Segundo Gaio e Meneghetti (2009), a primeira
Constituição da República (1891) já traz a educação
como incumbência do Congresso Nacional, atribuindo-
lhes a responsabilidade para o desenvolvimento das
letras, das artes e das ciências. A referida carta
magna estabelece a laicização do ensino como
responsabilidade do poder público, porém,
observando-se a legislação brasileira da década de
oitenta do século XIX, conclui-se que a presença do
Estado em relação à educação é pequena, ficando ao
encargo de cada região organizar a sua forma de
ensino de acordo com as suas condições.
Diante deste quadro, a educação especial não
é vista como prioridade pelo poder público, o que faz
com que esta atribuição seja assumida por instituições
privadas que se especializam no atendimento às
pessoas com deficiências. O Instituto Pestalozzi,
criado em 1926 no Rio Grande do Sul, foi a primeira
instituição particular especializada brasileira a atender
parte de seus alunos através de convênios com
instituições públicas, percebendo-se o caráter
filantrópico da mesma. Esta instituição traz para o
Brasil a visão da ortopedia das escolas auxiliares. Tal
visão está ligada aos conhecimentos das ciências
270
naturais e humanas, que possuem uma visão
estritamente organicista da deficiência mental,
partindo do princípio de que a mente se desenvolve
por níveis e, quando um dos esquemas falha, quebra-
se a cadeia de desenvolvimento.
Percebe-se que a organização das instituições
privadas especializadas no atendimento à educação
especial forma suas primeiras turmas dentro desta
compreensão da deficiência mental, conforme
explicitam Gaio e Meneghett: "As classes especiais
públicas vão surgir pautadas na necessidade científica
da separação dos alunos ‘normais’ e ‘anormais’ na
pretensão da organização de salas homogêneas”
(GAIO e MENEGHETT, 2009, p.24).
O atendimento segregado das crianças nesta
época possuía um caráter humanístico, proposto por
uma pedagogia científica e racional. A visão
apregoada era a de agrupar alunos em salas
homogêneas, segundo seu desenvolvimento mental.
Esta linha de pensamento vem do princípio da
organização racional do trabalho colocado em
evidência por W. Taylor.
Em 1930, as cidades entram no processo de
crescimento impulsionado pelo desenvolvimento
industrial, isto pressupõe uma preocupação com a
escolarização da população. Tal preocupação fica
registrada na Constituição de 1934, quando se coloca,
pela primeira vez, a responsabilidade da União de
elaborar metas e diretrizes para a educação nacional.
A partir de então, se ampliam as ofertas de vagas nas
escolas públicas, mas, apesar disto, a oferta não é
suficiente para suprir a demanda, especialmente a
entrada de alunos com necessidades especiais.
No ano de 1946, a Constituição da República
permite a isenção de impostos às instituições sociais e
educativas, desde que as mesmas ofereçam retorno
ao país com os respectivos fins. O quadro no
momento é de um país com poucas escolas,
consequentemente com pouquíssimas salas de
atendimento especializado e com uma legislação que
garante a instalação de instituições filantrópicas
(instituições privadas que formam parcerias com o
poder público). É neste quadro que, em 1954, na
cidade do Rio de Janeiro, surge a primeira Associação
de Pais e Amigos dos Excepcionais, que se expande
nacionalmente preenchendo, neste contexto, a lacuna
existente na área da educação especial.
O poder público no Brasil passa a se
preocupar de forma mais consistente com a educação
especial a partir da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação (LDB) em 1961, Lei 4024/61. Anterior a esta
legislação o que existia era a organização de
campanhas que incentivavam a inserção dos
especiais em salas regulares.
A LDB 4024/61, em seu art. 88, propõe o
atendimento ao “deficiente” dentro da sala regular
quando “houver condições”, em seguida, o art. 89
assegura assistência financeira às instituições
particulares vistas pelos Conselhos Estaduais de
Educação como competentes neste tipo de
atendimento.
Analisando estes dois artigos, fica claro que o
Estado de forma implícita se ausenta da sua
responsabilidade com relação ao atendimento
educacional aos alunos com necessidades especiais,
uma vez que não há qualquer documento com
indicação de criação de serviços especializados na
rede regular de ensino para atender a educação
especial.
A Constituição de 1967 estabelece a
elaboração dos planos nacionais de educação e, na
sua emenda, no ano de 1969, a execução desses
planos, dos planos regionais de desenvolvimento e
também a revisão das diretrizes e bases da educação.
Em 1971 a Lei 5.692, em seu art. 1º, traz como
objetivo geral da educação de 1º e 2º graus oferecer
ao educando a formação adequada ao
desenvolvimento das suas potencialidades,
qualificação para o trabalho e o preparo para o
exercício da cidadania. Toda esta preocupação tem
271
como ponto propulsor o desenvolvimento econômico
do país. A compreensão é de que a educação é vista
como necessária devido ao fato de ela possibilitar a
adaptação do indivíduo em seu meio.
É na Lei 5692/71, em seu art. 9º, que se
percebe uma preocupação em caracterizar a clientela
da educação especial, que é composta, conforme
Gaio e Meneghett, por “alunos que apresentam
deficiências físicas ou mentais, os que se encontram
em atraso considerável quanto à idade regular de
matrícula e os superdotados” (GAIO e MENEGHETT,
2009, p. 30).
Com a ampliação de escolas públicas e a
oferta do ensino regular, ficam visíveis os problemas
“sociais” e de “aprendizagem”, em virtude do acesso
da população economicamente menos favorecida. O
problema que é percebido é que a escola passa a
receber esta população sem que qualquer critério seja
estabelecido e sem que possua estrutura para atender
a diversidade que passa a receber, principalmente em
se tratando do atendimento na área da educação
especial. Um reflexo destes problemas é o fato de que
a política educacional passa a considerar “deficientes
mentais” crianças que se encontram em atraso com
relação à idade/série.
As consequências dessa política de
atendimento tornam-se claras quando são analisados
os dados do Ministério da Educação. No ano de 1981,
17,1% de alunos que recebiam atendimento
especializado encontrava-se em instituições públicas,
enquanto 82,9% estavam em instituições privadas, ou
seja, esta política excluiu as crianças especiais da
escola pública.
No ano de 1988, o país vivencia um período
de reconstrução democrática. No momento em que é
promulgada a atual Constituição Federal é discutido
também o Estatuto da Infância e da Adolescência
movimento da descentralização, que tem como
característica a autonomia dos Estados e Municípios.
Com isto, surge a criação dos Conselhos Municipais
nas áreas sociais possibilitando a participação da
sociedade nas decisões locais.
Em relação à educação especial, a
Constituição continuou priorizando o atendimento do
aluno com deficiência no ensino regular e fazendo
referências à participação das instituições privadas.
Apesar disto, ela apresenta alguns avanços, como a
garantia de salário mínimo às pessoas com
deficiências e que não possuem meios próprios para
sua manutenção (art.203, inciso V).
Os avanços e recuos presentes na
Constituição são resultados dos movimentos sociais
formados por setores antagônicos, o que acaba por
fazer prevalecer a estratégia de conciliação3.
No que se refere ao atendimento da Educação
Especial, a Lei 9394/96 (LDB), propõe este
atendimento de preferência na rede regular de ensino
(art. 4º, III) e também o oferecimento do atendimento e
apoio especializado (art. 58, §1º). Nos casos em que
não seja possível a integração na sala comum, abre-
se espaço para as escolas ou serviços especializados,
garantindo também a oferta da educação especial
pelo Estado obedecendo à faixa etária de zero a seis
anos. Quanto às instituições privadas, a Lei continua
dando apoio, baseada em alguns critérios
preestabelecidos para sua caracterização.
A história da Educação Especial no Brasil
mostra algumas contradições: há momentos em que a
Lei garante o atendimento necessário ao
desenvolvimento dos alunos portadores de
necessidades especiais, em seguida coloca o discurso
de estímulo para a formação de associações privadas
assumirem as funções sociais. Eis a contradição: se o
acesso ao ensino é um direito do cidadão e a sua
(ECA) e a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional.
A nova Constituição traz como marca o
3 A conciliação ocorre quando o poder público oferece vagas às pessoas com deficiências, mas continua dando apoio financeiro às instituições filantrópicas que prestam atendimento a estas pessoas.
272
oferta é obrigação do poder público, a presença das
instituições assistenciais assumindo tal
responsabilidade como “parceiros” colaboram de
forma gradativa para o afastamento do Estado com
relação a esta obrigação.
Diante de toda a explanação, percebe-se que
o Estado, com relação ao atendimento direcionado à
área da educação especial, não assume na prática
esta responsabilidade, apesar de a garantia deste
direito estar registrada na Constituição. Na verdade, o
que se observa são escolas que na sua rotina
estavam totalmente desprovidas de estruturas para tal
atendimento: há falta de formação na área para os
profissionais, inadequação dos espaços físicos,
ausência de recursos didático-pedagógicos etc. Esta
falta de condições acabou excluindo o aluno com
necessidades especiais da escola antes mesmo que
ele chegasse a procurá-la. A preocupação com tal
atendimento só é perceptível na escrita de alguns
artigos das Leis, não se observa nenhum relato de
ações públicas que estejam voltadas para o
atendimento desses alunos.
AS LEIS QUE GARANTEM OS DIREITOS DOS PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS
Mediante as conquistas presentes na
Constituição de 1988, principalmente com relação à
Educação Especial, o artigo 208, inciso III, trata este
atendimento como sendo de obrigação do ensino
regular e dentro da rede pública. Abre-se espaço para
ampliação de centros de atendimentos em educação
especial e para os programas brasileiros de pós-
graduação na área.
Um ano após a promulgação da Carta Magna
de 1988, foi sancionada a Lei 7.853/89 de 24 de
outubro, assegurando o pleno exercício dos direitos
individuais e sociais destas pessoas. Alguns desses
direitos são: ter acesso à matrícula no ensino regular
na rede pública ou privada, obter os mesmos
benefícios dados aos demais alunos, inclusive
material pedagógico, merenda escolar e bolsa de
estudo. Outro ponto bastante importante ao qual este
decreto se refere é a promoção de ações por parte
dos profissionais da saúde, tendo como foco o
planejamento familiar, o acompanhamento da
gravidez, do parto, a nutrição da mulher e da criança,
a identificação e o controle da gestante e do feto de
alto risco, a imunização, as doenças do metabolismo e
seu diagnóstico e o encaminhamento precoce de
outras doenças causadoras de deficiências.
Com relação à integração ao trabalho, o
mesmo decreto cita que é de responsabilidade do
poder público oferecer apoio à formação profissional e
empenhar-se no oferecimento e na manutenção de
empregos, inclusive em tempo parcial, àquelas
pessoas portadoras de deficiências que não têm
acesso aos empregos comuns. Outra atribuição
delegada ao setor governamental é a elaboração de
leis específicas que disciplinem a reserva de mercado
de trabalho em favor dos portadores de deficiências
em setores públicos e privados.
Ainda neste mesmo decreto, a questão da
acessibilidade é expressa no art. 2, inciso I, alínea a
da seguinte forma: “a adoção e a efetiva execução de
normas que garantam a funcionalidade das
edificações de vias públicas que evitem ou removam
os óbices às pessoas com de deficiência permitam o
acesso dessas a edifícios, a logradouros e a meios de
transportes”. A lei estabelece tais regras para que
sejam construídos prédios de maneira que suas
arquiteturas sejam planejadas e pensadas de forma a
garantir o acesso do deficiente. Apesar disso,
presenciamos ainda muitos edifícios, principalmente
os escolares, sem condições nenhuma de
acessibilidade para todos.
No ano de 1993, o governo baixa outro
Decreto, o de nº 914, instituindo a Política Nacional
para a Integração da Pessoa com Deficiência,
baseado na Constituição e no Decreto nº 7853,
273
quando se estabelecem os parâmetros norteadores e dificuldades vivenciadas pelas pessoas com consistentes de criação e diversificação de espaços deficiências. educativos relacionados à área da Educação Especial,
a qual está direcionada àquelas pessoas que
apresentam em caráter permanente perdas ou
anormalidades de sua estrutura ou função psicológica,
fisiológica ou anatômica que causem danos ao
desempenho de atividades consideradas normais para
o ser humano.
Tal política está baseada nos princípios de
desenvolvimento de ações que envolvam o Estado e a
sociedade civil com o objetivo de garantir a integração
da pessoa com deficiência no contexto
socioeconômico e cultural. Isso significa que estas
pessoas devem ser respeitadas, de acordo com os
direitos que as leis lhes concedem, embora esses
direitos muitas vezes sejam esquecidos
principalmente por parte daqueles que estão à frente
das instituições públicas.
As diretrizes contidas neste Decreto estão
baseadas no pleno desenvolvimento dessas pessoas,
e para isso ela estabelece que o poder público
trabalhe em parceria com instituições privadas
nacionais e internacionais com o objetivo de garantir a
implantação da mesma, a qual coloca como meta:
incluir deficientes em todas as iniciativas
governamentais de forma que suas peculiaridades
sejam respeitadas; favorecer a participação dos
portadores de deficiência na implementação da
referida política através de seus representantes;
utilizar estratégias que criem oportunidades de
trabalho e promover sua qualificação profissional e
seu acesso ao emprego.
Este decreto ainda garante o trabalho de
parcerias com as instituições não-governamentais que
realizam atendimento especializado em todos os
níveis visando à integração social dos mesmos,
reforça a formação de profissionais que trabalham na
área e o incentivo a tecnologias que minimizem as
No período de 7 a 10 de junho de 1994, na
cidade de Salamanca, Espanha, acontece a
Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas
Especiais. Esse encontro reuniu representantes de
noventa e dois países e vinte e cinco organizações
internacionais com o objetivo de discutir e traçar
diretrizes que pudessem contribuir para o acesso de
todos a uma educação de qualidade, focando
principalmente as que possuem necessidades
especiais. Desta conferência, surge o documento
denominado de Declaração de Salamanca.
Neste documento, encontramos os princípios
norteadores de uma educação inclusiva, os quais são:
a escola deve ajustar-se a todas as crianças,
independentemente das suas condições sociais,
linguísticas ou outras, ou seja, ela deve ser capaz de
oferecer uma pedagogia que atenda a todas as
crianças, inclusive as que apresentam incapacidades
graves; todas as pessoas com deficiência têm o direito
de expressar os seus anseios com relação à
educação; os governantes devem traçar metas que
contemplem a educação para todos; os que têm
necessidades especiais precisam receber apoio
suplementar de que precisam para que seja
assegurado o seu aprendizado; uma pedagogia que
tenha como foco o potencial de cada indivíduo e que
todos aprendam uns com os outros sempre que
possível.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional. Lei nº 9394/96, oficializa todos estes
parâmetros, quando, em seu capítulo V, trata da
Educação Especial como uma modalidade do ensino
fundamental e afirma que este atendimento deve
acontecer de preferência na rede pública e com apoio
especializado para atender as necessidades
individuais de cada um. Propõe ainda que, nos casos
em que não haja condições de frequentar a sala
274
regular, o indivíduo terá o direito de ter acesso a
escolas ou serviços especializados.
A lei coloca ainda como obrigação dos
sistemas de ensino garantir aos alunos com
necessidades especiais o acesso a currículos,
métodos, técnicas e recursos educativos que atendam
às suas necessidades. Assegura também uma
terminalidade específica àqueles que não têm
condições de atingir as habilidades exigidas para a
conclusão do ensino fundamental e aceleração desta
para os superdotados.
Com relação à formação profissional daqueles
que têm necessidades especiais, a lei diz que ela
deve acontecer de forma contínua, garantindo a sua
integração na sociedade. Em caso de não haver
condições de o cidadão enfrentar a competitividade do
mercado de trabalho, os órgãos oficiais deverão ter
um programa de parcerias que promovam a inserção
destas pessoas na área profissional de acordo com a
habilidade apresentada pelo indivíduo. Para os
professores que atuam na área, estes deverão ter a
formação específica a nível médio ou superior.
Em seu art. 60, a lei continua fazendo
referência ao apoio técnico e financeiro às instituições
privadas especializadas com atendimento exclusivo
em educação especial sem fins lucrativos. Porém, no
mesmo artigo, parágrafo único, relata que o poder
público adotará como alternativa preferencial a
ampliação do atendimento a estes educandos na
própria rede pública regular de ensino,
independentemente do apoio dado a estas
instituições.
O TRANSTORNO GLOBAL DE DESENVOLVIMENTO
Diante de todos os avanços legais, filosóficos
e teóricos que vêm acontecendo na área da educação
especial, torna-se cada vez mais frequente a presença
de alunos com necessidades especiais e deficientes
na sala regular de ensino, e isso tem provocado
grandes inquietações para os profissionais da área,
principalmente para o professor. Um de seus maiores
desafios é conduzir o processo ensino aprendizagem
de alunos com transtornos globais do
desenvolvimento (TGD). Tal inquietação é vista como
natural por se tratar de um ponto pouco discutido no
âmbito educacional.
A educação inclusiva de alunos com TGD tem
provocado muitos questionamentos entre educadores
em virtude de alguns déficits observados no seu
comportamento, na interação social e na
comunicação, um dos fatores que tem fundamentado
a inviabilidade da sua presença na sala comum, outro
ponto que tem sido alvo de questionamentos refere-se
às mudanças que a presença desses alunos requer da
escola em todos os setores para que suas
necessidades sejam atendidas.
Para que se tenha uma compreensão melhor
do que é o TGD, faz-se necessário uma explanação
mais detalhada deste tema. Os TGD são distúrbios
nas interações sociais, que normalmente se
manifestam nos primeiros cinco anos de vida,
apresentando dificuldade na iniciativa de
comunicação, colocando-se de maneira repetitiva,
falta de interesse nas atividades, falta de
concentração e de interação com o meio. Segundo
Belisário e Cunha (2010), os TGD englobam diversos
transtornos: autismo, Síndrome de Rett, Transtorno de
Asperger, transtorno desintegrativo da infância.
Esses transtornos possuem em comum as
funções do desenvolvimento que são afetadas.
Iremos, a princípio, nos deter à compreensão do
autismo, cujo conceito e causas de sua origem ainda
são obscuros mesmo depois de décadas de estudos.
Para o ser humano a necessidade de conhecer o
outro, de se relacionar e interagir com o seu meio é
algo nato que, via de regra, é uma necessidade que
surge de forma espontânea e que, não sendo
atendida, causa instabilidade no seu estado
275
emocional, pois seu desenvolvimento psicossocial irá
depender dessa interação, e o autista se mostra
totalmente alheio ao que acontece a sua volta.
De acordo com Kanner (apud RIVIÉRE, 2004)
o autismo é definido como um mundo distante,
estranho e cheio de labirintos. Na verdade, é um
grande desafio para nós compreendermos o porquê
de tal comportamento, a falta de interesse do autista,
de curiosidade, essa abstinência da realidade que
chega a acontecer em boa parte de seu tempo. O
autista vive tão desconectado do mundo real que nos
causa fascínio e enigmas, isso em decorrência de
querermos entender que mundo mental é este que faz
com que uma pessoa haja de forma tão inerte a tudo
que está a sua volta, contrariando tudo o que
consideramos como “normal” no comportamento do
ser humano.
Para Riviêre, “é autista aquela pessoa para a
qual as outras pessoas são opacas e imprevisíveis,
aquelas pessoas que vivem como ausentes-
mentalmente-ausentes às pessoas presentes, e que,
por tudo isso, se sente incompetente para regular e
controlar sua conduta por meio da comunicação”
(RIVIÉRE, 2004, p. 234).
Tomando como base essas colocações,
compreende-se que uma característica desse
transtorno é a ausência mental da realidade, o que
acarreta vários transtornos para o desenvolvimento do
indivíduo, uma vez que a falta de conexão com o
mundo real impede que o indivíduo se relacione com
outras pessoas, que vivencie novas experiências e,
consequentemente, que desenvolva novas
habilidades.
De acordo com Kanner (apud RIVIÉRE, 2004),
há três aspectos a serem considerados no autista: “a
incapacidade de se relacionar normalmente com
outras pessoas e situações; a comunicação e a
linguagem; e a inflexibilidade para a mudança de
rotina”. A incapacidade de se relacionar com outras
pessoas, torna-se clara através da imensa solidão em
que vive. É como algo que impede tudo que vem de
externo ao indivíduo: o contato físico direto, os
movimentos, os ruídos que ameaçam a sua solidão,
tudo isso é como se não existisse e, quando
percebidos, é como se fosse uma interferência
dolorosa.
Na comunicação e na linguagem, os autistas
não conseguem elaborar frases que transmitam
mensagem com significado; quando isso acontece há
repetição, fator que recebe o nome de ecolalia
(tendência na repetição de termos ouvidos), inversão
de pronomes pessoais, falta de atenção na linguagem,
o que aparenta ser surdez em alguns momentos.
Com relação à inflexibilidade na mudança de
rotina, o autista se mostra arredio a ter que executar
diferentes tarefas. Ele segue uma mesma rotina
diariamente e estas atividades devem ser em número
pequeno, pois não consegue acompanhar uma rotina
dinâmica e diversificada.
A tendência dos estudiosos no momento é
conceituar o autismo como a síndrome
comportamental de etiologias múltiplas que acarretam
grandes interferências no desenvolvimento global
infantil.
A Síndrome de Rett apresenta-se com uma
desaceleração do crescimento do perímetro cefálico,
perda dos movimentos das mãos adquiridos
anteriormente e adquirindo movimentos involuntários
como lavar ou torcer as mãos. Nos primeiros anos de
manifestação, há uma diminuição nas relações
sociais, embora este comportamento volte a se
desenvolver mais tarde, a linguagem expressiva ou
receptiva sofre grandes prejuízos. Monerat (2009)
coloca que essa síndrome costuma se manifestar
após os seis a doze meses de vida e afeta mais o
sexo feminino, independentemente do grupo étnico.
A primeira pessoa a se interessar pelo estudo
desse transtorno foi o pediatra Andreas Rett.
Estimulado pela observação de duas de suas
pacientes que apresentavam sintomas parecidos e em
276
seguida de mais seis meninas que estavam dentro do
mesmo diagnóstico, após vários estudos, Rett
classifica a síndrome de duas maneiras: clássica e
atípica.
A clássica foi dividida por ele em quatro
estágios. O primeiro ocorre no período de seis a
dezoito meses, acarretando a diminuição do
desenvolvimento do perímetro cefálico, mudanças na
estrutura do tônus muscular e desinteresse pelas
relações sociais, esse quadro muitas vezes não é
percebível pelos pais ou médicos; o segundo acontece
na faixa etária de dois a quatro anos de idade,
afetando o desenvolvimento da fala, a criança vai
perdendo os movimentos intencionais das mãos e
adquirindo outros sem sentido, durante o sono
começa a apresentar comportamentos de risos ou
gritos; no terceiro estágio, as complicações começam
a se apresentar de forma mais grave, o
comprometimento da motricidade começa a surgir,
aparecem crises de convulsões e escoliose, porém há
uma melhora na interação social, e na comunicação
ocorre também uma diminuição das características
autistas; a partir dos dez anos de idade, se estabelece
o quadro do quarto estágio com um comprometimento
ainda maior da mobilidade. Ainda segundo Monerat
(2009), em determinados casos ocorre a perda total
de movimentos, a escoliose se apresenta no mesmo
quadro, enquanto os movimentos involuntários das
mãos ocorrem em uma frequência mais baixa.
Nas formas atípicas, nem sempre esses
sintomas estão presentes e os estágios podem surgir
em faixas etárias diferentes das que foram colocadas
como indicadores da clássica e algumas doenças
neurológicas podem ser confundidos com os sintomas
da Síndrome de Rett, o que pode dificultar o
diagnóstico clínico, principalmente no primeiro estágio
da clássica ou da atípica. Portanto, o conhecimento na
área é fundamental para que não seja confundida a
Síndrome de Rett com o autismo.
O Transtorno de Asperger se diferencia do
autismo clássico por não apresentar atrasos
significativos na fala e nem no desenvolvimento
cognitivo. Porém, há dificuldade na interação social e
na expressão de emoções, o que muitas vezes leva as
outras pessoas a pensarem que não houve empatia.
As dificuldades de interação se manifestam
mais no contexto escolar, isto porque, nesse contexto,
os interesses pessoais se tornam públicos, causando
conflitos nas relações interpessoais. Diagnosticar tal
transtorno em adultos torna-se algo impreciso e difícil,
visto que eles já aprenderam a camuflar seus erros
sociais, os quais só se tornam perceptíveis quando se
encontram em momentos de distração, no entanto
quando se concentram em uma interação específica,
como, por exemplo, em um tratamento de psicanálise,
os adultos com Transtorno de Asperger tendem a se
comportar como qualquer pessoa.
Para Monerat (2009), a Síndrome de Rett
atinge mais o sexo feminino e Belisário e Cunha
(2010) fazem referência ao índice maior do Transtorno
de Asperger no sexo masculino, e acrescentam que,
na fase adulta, muitos podem ter uma rotina de vida
comum assumindo uma vida profissional sem nenhum
transtorno.
O Transtorno desintegrativo da infância tem
início a partir dos dois anos de idade e antes dos dez.
Neste quadro, a criança começa a apresentar uma
regressão nas funções e capacidades adquiridas. Por
se tratar de um quadro pouco conhecido, seu
diagnóstico não deve ocorrer antes da faixa etária
acima citada e deve-se ter a certeza de que havia um
desenvolvimento das funções e capacidades em
evidência, como a linguagem expressiva, a interação
social e destrezas motoras para que não haja uma
conclusão equivocada, visto que esta síndrome é rara
e, como dito anteriormente, pouco conhecida entre os
estudiosos da área.
Mediante a sintética explanação sobre TGD,
pode-se dizer que uma das características marcantes
277
de tal transtorno são alterações que ocorrem na
estrutura e no funcionamento do cérebro, deixando
como consequências déficits significativos nas
habilidades sócio cognitivas e prejuízos no
entendimento e compartilhamento das suas emoções
com os outros.
Para Lowenthal, “a inabilidade social é
resultante da dificuldade em entender o próprio estado
mental, assim como o dos outros. Esse prejuízo
parece advir do escasso contato olho a olho e da
incapacidade de imitação de outras funções primárias
na construção de cérebro social” (LOWENTHAL,
2010, p.43).
Não havendo o convívio com outras pessoas,
experiências com determinados comportamentos
sociais tornam cada vez mais difícil qualquer
perspectiva de evolução para as pessoas portadoras
do TGD, pois a esperança advém justamente da
interação com outras pessoas da mesma faixa etária,
do estímulo às suas capacidades interativas, de
motivações que sejam capazes de desenvolverem sua
capacidade de interação.
Estabelecer vínculos afetivos, comunicar-se,
fazer parte de um grupo social é algo inerente ao ser
humano, e a ausência de oportunidades que
favoreçam o desenvolvimento de tais habilidades não
é algo que se apresente de forma negativa apenas
para as pessoas com TGD, mas para qualquer
indivíduo. A construção da habilidade social acontece
através de uma sequência de interações que o
indivíduo estabelece na sua trajetória de vida, e não
são apenas os componentes genéticos que importam,
mas, acima de tudo, as condições em que acontece
este desenvolvimento, incluindo as alterações
biológicas esperadas, os sistemas de relações que
envolvem as pessoas, as condições do ambiente onde
se encontra e o seu nível cognitivo, ou seja, não se
pode dizer que um trabalho de intervenção não irá
minimizar as dificuldades que estão presentes em
qualquer síndrome.
Diante de todo esse contexto, fica clara a
importância de incluir crianças com TGD em salas de
aulas regulares para que as mesmas possam se
beneficiar das oportunidades de desenvolvimento
cognitivo emocional que as relações entre os seres
humanos propiciam a todos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante desse novo olhar, os educadores
precisam assumir o papel de pesquisadores de sua
prática constantemente, pois trabalhar com pessoas é
estar diante de grandes desafios e incertezas, sejam
quais forem as características do grupo, uma vez que
cada ser humano é único na sua forma de pensar, agir
e interagir com o meio.
A inclusão de alunos com TGD na sala regular
vem oportunizar aos educadores e demais pessoas da
comunidade a compreensão de que todos são
juridicamente iguais, no sentido de possuir o direito de
ter as condições necessárias para desenvolver
habilidades. Porém, também são diferentes, porque
cada indivíduo tem suas limitações e este é o ponto
fundamental em que a escola deve se basear na hora
de elaborar sua proposta político-pedagógica. Em
outras palavras, a escola deve considerar que nenhum
ser é desprovido de habilidades e, no entanto, tem
limitações.
Pensar no trabalho pedagógico voltado para o
atendimento de alunos com transtornos globais do
desenvolvimento é compreender que não existem
receitas que irão minimizar ou acabar com as
angústias que vivenciamos diante do desconhecido.
No entanto, buscar embasamento teórico para
subsidiar a prática escolar será de suma importância
para a superação das angústias e contribuirá muito
para o desenvolvimento de uma pedagogia inclusiva.
Não podemos desconsiderar que existem
outros fatores que influenciam na evolução sócio-
cognitivo desses alunos, tais como: o ambiente
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escolar, o número de alunos na sala, as redes de
apoio com profissionais da saúde, o acompanhamento
de especialistas da área educacional, o trabalho
interativo com a família; o nível de interferência de
cada um desses fatores vai depender das
características individuais.
Portanto, a escola que tem a preocupação de
oferecer um trabalho voltado à superação das
dificuldades do aluno com TGD deve, acima de tudo,
repensar a sua rotina escolar, não só para que atenda
a estes, mas a todos e a todas que a ela chegam. A
escola deve planejar estratégias diversificadas tanto
na área administrativa como na área pedagógica,
possibilitando, assim, a educação de qualidade ao
acesso de TODOS.
REFERÊNCIAS
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CAMARGO, Síglia P. H.; BOSSA, Cleonice Alves. Competência Social, Inclusão Escolar e Autismo: Revisão Crítica da Literatura. In: Psicologia & Sociedade. 21 (1): 2009, p. 65-74.
CRAVEIRO, Clélia Brandão. Entrevista. Inclusão: Revista da Educação Especial/Secretaria da Educação Especial. V.5, n.1 (jan/jul). Brasília: Secretaria da Educação Especial, 2010.
GAIO, Roberta & MENEGHETT, Rosa G. Krob (Orgs.) Caminhos pedagógicos da Educação Especial. Petrópolis: Vozes, 2009.
LOWENTHAL, Rosane. Transtornos Globais do Desenvolvimento e os Desafios para o processo da Inclusão Educacional. In: Inclusão: Revista da Educação Especial. V.5, n.2 (jul/dez), Brasília: Secretaria de Educação Especial, 2010.
MONERAT, Leila Schuindt. Síndrome de Rett: o que é, causas, sintomas, pesquisas. Disponível em: <http://www.bengalalegal.com/rett> Acesso em 19 de outubro de 2011.
PRIETO, Rosangela Gavioli, EGLÉR MANTOAN, Maria Teresa. Inclusão Escolar: pontos e contrapontos. São Paulo: Summus, 2006.
RIVIÊRE, Ángel. O Autismo e os transtornos Globais do Desenvolvimento. In: Desenvolvimento Psicológico da Educação: transtornos de desenvolvimento e necessidades educativas especiais. v.3, 2004, p 234-254. BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/cons titui%C3%A7ao.htm> Acesso em 19 de outubro de 2015. LEI N.º 7.853 de 24 de outubro de 1989. Disponível em <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/lei7853.p df> Acesso em 19 de outubro de 2015 .
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