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Vol.5,n.1,pp.72-78 (Abr - Jun 2015) Journal of Exact Sciences – JES JES - Edição Especial CONBRAD Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/jes TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA: RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE O ROTEIRO DE VISITAÇÃO AO PROJETO ATELIÊ ARTE NAS COTAS, EM CUBATÃO, SÃO PAULO, BRASIL TOURISM OF COMMUNITY BASE: EXPERIENCE REPORT ON THE VISITATION OF THE SCRIPT WORKSHOP ART PROJECT “ATELIÊ ARTE NAS COTAS” IN CUBATÃO, SAO PAULO, BRAZIL ARISTIDES FARIA LOPES DOS SANTOS, RENATO MARCHESINI, RENATA ANTUNES DA CRUZ Para obter mais informações sobre este estudo, ou para contato com os autores, escreva para: [email protected] Secretaria do CONGRESSO BRASILEIRO DE ADMISTRAÇÃO. Rua Marcílio Dias,1290, sala 502. Maringá, Paraná, Brasil. CEP: 87050.120. Recebido em 20/01/2015. Aceito para publicação em 03/02/2015 RESUMO Como o turismo pode induzir o processo de promoção soci- al? Para responder ao problema de pesquisa apresenta-se um relato de experiência de turismo de base comunitária empreendida pela agência de viagens e turismo Caiçara Expedições em parceria com o projeto “Ateliê Arte nas Cotas”, realizado em Cubatão no estado de São Paulo, re- gião sudeste brasileira. O projeto é parte do “Programa de Recuperação Socioambiental da Serra do Mar", oriundo de parceria entre o Bando Interamericano de Desenvolvi- mento e o governo estadual. Esse estudo de caso possui natu- reza empírica, caráter exploratório e a abordagem de análise dos dados é qualitativa. Realizou-se pesquisa bibliográfica, documental e observação participante. Verificou-se alta adesão da comunidade tanto por meio da participação nos cursos prá- ticos quanto da autorização para pintura de suas casas. Cons- tatou-se o orgulho dos moradores cujas casas foram coloridas, sobretudo, por que passaram a receber visitantes. Conclui-se que o roteiro promovido pela Caiçara Expedições ajuda a valo- rizar as pessoas e a comunidade como um todo, a promover uma nova identidade cultural e a transformar a realidade soci- oeconômica local pelo turismo. PALAVRAS-CHAVE: Turismo de base comunitária, susten- tabilidade, hospitalidade. ABSTRACT How tourism can induce the process of social promotion? To an- swer to this question this research presents an experience report about a community-based visiting script promoted by “Caiçara Expedições” in partnership with the “Ateliê Arte nas Cotas” pro- ject held in Cubatão in the state of São Paulo, southeastern of Brazil. The project is part of the “Serra do Mar Social Environmental Re- covery Program”, originated from a partnership between the In- ter-American Development Bank and the state government. This case study has empirical, and exploratory approach and the data analysis is qualitative. It was performed a bibliographical and documentary research and participant observation. This research observed high adherence of the community both through participa- tion in the workshops as through the permission to paint their homes. It was observed the pride of the residents whose houses were colored, especially, as they have experienced receiving visitors. It was concluded that the visiting script promoted by “Caiçara Ex- pedições” helps valuing people and the community as a whole, promoting a new cultural identity and transform the local economic reality by tourism. KEYWORDS: Community based tourism, sustainability, hospi- tality. 1. INTRODUÇÃO O presente artigo relata a experiência de turismo de base comunitária empreendida pela Caiçara Expedições em parceria com o projeto “Ateliê Arte nas Cotas”, rea- lizado no município de Cubatão, localiza-se na Região Metropolitana da Baixada Santista, litoral do estado de São Paulo. O objetivo do referido projeto é elevar a autoes- tima dos moradores e promover a construção de nova iden- tidade comunitária. Como relatado nesse trabalho, verifi- ca-se que as ações citadas acontecem em comunidades ca- rentes do município de Cubatão. O referido projeto é parte integrante do “Programa de Recuperação Socioambiental da Serra do Mar", oriundo de uma parceria entre o Bando Interamericano de De- senvolvimento (BID) e o Governo do Estado de São Paulo representado por meio da Companhia de Desen- volvimento Habitacional Urbano (CDHU), da Fundação

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JES - Edição Especial CONBRAD Openly accessible at http://www.mastereditora.com.br/jes

TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA:RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE O ROTEIRO DE

VISITAÇÃO AO PROJETO ATELIÊ ARTE NAS COTAS,EM CUBATÃO, SÃO PAULO, BRASIL

TOURISM OF COMMUNITY BASE: EXPERIENCE REPORT ON THE VISITATION OFTHE SCRIPT WORKSHOP ART PROJECT “ATELIÊ ARTE NAS COTAS” IN CUBATÃO,

SAO PAULO, BRAZIL

ARISTIDES FARIA LOPES DOS SANTOS, RENATO MARCHESINI, RENATA ANTUNES DA CRUZ

Para obter mais informações sobre este estudo, ou para contato com os autores, escreva para: [email protected] do CONGRESSO BRASILEIRO DE ADMISTRAÇÃO. Rua Marcílio Dias,1290, sala 502. Maringá, Paraná, Brasil. CEP: 87050.120.

Recebido em 20/01/2015. Aceito para publicação em 03/02/2015

RESUMOComo o turismo pode induzir o processo de promoção soci-al? Para responder ao problema de pesquisa apresenta-seum relato de experiência de turismo de base comunitáriaempreendida pela agência de viagens e turismo CaiçaraExpedições em parceria com o projeto “Ateliê Arte nasCotas”, realizado em Cubatão no estado de São Paulo, re-gião sudeste brasileira. O projeto é parte do “Programa deRecuperação Socioambiental da Serra do Mar", oriundode parceria entre o Bando Interamericano de Desenvolvi-mento e o governo estadual. Esse estudo de caso possui natu-reza empírica, caráter exploratório e a abordagem de análisedos dados é qualitativa. Realizou-se pesquisa bibliográfica,documental e observação participante. Verificou-se alta adesãoda comunidade tanto por meio da participação nos cursos prá-ticos quanto da autorização para pintura de suas casas. Cons-tatou-se o orgulho dos moradores cujas casas foram coloridas,sobretudo, por que passaram a receber visitantes. Conclui-seque o roteiro promovido pela Caiçara Expedições ajuda a valo-rizar as pessoas e a comunidade como um todo, a promoveruma nova identidade cultural e a transformar a realidade soci-oeconômica local pelo turismo.

PALAVRAS-CHAVE: Turismo de base comunitária, susten-tabilidade, hospitalidade.

ABSTRACTHow tourism can induce the process of social promotion? To an-swer to this question this research presents an experience reportabout a community-based visiting script promoted by “CaiçaraExpedições” in partnership with the “Ateliê Arte nas Cotas” pro-ject held in Cubatão in the state of São Paulo, southeastern of Brazil.The project is part of the “Serra do Mar Social Environmental Re-

covery Program”, originated from a partnership between the In-ter-American Development Bank and the state government. Thiscase study has empirical, and exploratory approach and the dataanalysis is qualitative. It was performed a bibliographical anddocumentary research and participant observation. This researchobserved high adherence of the community both through participa-tion in the workshops as through the permission to paint theirhomes. It was observed the pride of the residents whose houseswere colored, especially, as they have experienced receiving visitors.It was concluded that the visiting script promoted by “Caiçara Ex-pedições” helps valuing people and the community as a whole,promoting a new cultural identity and transform the local economicreality by tourism.

KEYWORDS: Community based tourism, sustainability, hospi-tality.

1. INTRODUÇÃOO presente artigo relata a experiência de turismo de

base comunitária empreendida pela Caiçara Expediçõesem parceria com o projeto “Ateliê Arte nas Cotas”, rea-lizado no município de Cubatão, localiza-se na RegiãoMetropolitana da Baixada Santista, litoral do estado deSão Paulo. O objetivo do referido projeto é elevar a autoes-tima dos moradores e promover a construção de nova iden-tidade comunitária. Como relatado nesse trabalho, verifi-ca-se que as ações citadas acontecem em comunidades ca-rentes do município de Cubatão.

O referido projeto é parte integrante do “Programa deRecuperação Socioambiental da Serra do Mar", oriundode uma parceria entre o Bando Interamericano de De-senvolvimento (BID) e o Governo do Estado de SãoPaulo representado por meio da Companhia de Desen-volvimento Habitacional Urbano (CDHU), da Fundação

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Florestal e da Polícia Militar Ambiental.Ao todo, a região possui 1.625.000 habitantes, sendo

que Cubatão tem 125.178 (IBGE, 2013). Mais especifi-camente, a cidade foi edificada no sopé da Serra do Mar,que originalmente servia como ponto de parada para aspessoas que acessavam ao planalto paulista. Conformeinformações da Prefeitura Municipal de Cubatão (2013),para acessar ao planalto, “seguia-se no início a trilha dosíndios Tupiniquins. Depois, através do Vale do Rio Pe-requê (...). Mais tarde, a Calçada do Lorena se tornou oprincipal caminho entre o litoral e o planalto”.

No início do século XX teve início o processo de in-dustrialização do país e, nos anos 1920, iniciaram asobras de construção de duas grandes indústrias: SãoPaulo Light S.A. Serviços de Eletricidade e fábrica depapel e celulose Companhia Santista de Papel S.A. (de-nominada originalmente como Companhia Fabril deCubatão), que iniciou suas operações em 1932. A se-gunda, por sua vez, motivou a criação da vila Fabril,local de moradia dos funcionários que trabalhavam naempresa.

Atualmente, o bairro passa por processo de estudo eplanejamento de intervenções de recuperação urbana,restauração do patrimônio arquitetônico local e qualifi-cação profissional dos moradores locais, sobretudo, pormeio da implantação do Centro Vocacional Tecnológico(em fase final de obras) na cidade, espaço educacionalque objetiva a qualificação profissional para inclusão nomercado de trabalho local e regional.

Dentro desse universo de ações, em 2011, surgiu ainiciativa de criação do “Ateliê Arte nas Cotas”. Os alu-nos aprendem técnicas de estêncil, que consiste na aplicaçãode tinta com rolos, ou sprays para preencher um papel comdesenho vazado. Essa técnica e mosaicos são aplicados nosmuros das casas do bairro Cota 200. Além dessa iniciativa,são confeccionadas camisetas, agendas e almofadas, que sãovendidas e cujo faturamento revertido ao projeto.

Desde 2013, a Caiçara Expedições, agência de viagens eturismo sediada na cidade vizinha de São Vicente, ofereceum roteiro turístico de base comunitária, ou seja, que preco-niza a experiência e o relacionamento do turista em contatocom as pessoas da localidade.

Essa pesquisa caracteriza-se como um relato de experi-ência. É um estudo exploratório, cuja abordagem de análisedos dados é qualitativa. Realizou-se pesquisa bibliográfica edocumental e observação participante.

O trabalho foi organizado em dois tópicos temáticos,sendo o primeiro sobre a convivência e a coabitação emcomunidade, onde se insere a atividade turística e as relaçõesde hospitalidade entre visitante e visitado. Os principais au-tores consultados foram Grinover (2007), Yázigi (2001),Bauman (2003), Wall (1997) e Laraia (2008).

Já no segundo tópico apresenta-se no, além de dados so-ciais, econômicos e ambientais sobre o município de Cuba-tão, o relato do roteiro de visitação do projeto “Ateliê Arte

nas Cotas”, realizado em Cubatão. A elaboração do panora-ma histórico da cidade de Cubatão teve como principal re-ferência.

As visitas de observação participante ocorreram nosdias 20 de abril de 2013 e no dia 08 de junho de 2014.Nessas ocasiões os pesquisadores tiveram contato comvoluntárias do projeto “Ateliê Arte nas Cotas”, turistas(residentes na própria Região Metropolitana da BaixadaSantista) e moradores da Cota 200.

2. DESENVOLVIMENTOTurismo de base comunitária: relações de hospi-talidade

Para essa pesquisa, a hospitalidade compreende-secomo a intenção espontânea de receber bem, da atitudeintencional ou involuntária de acolher, proteger e servirao visitante, seja este convidado ou não. Montandonapud. Grinover (2007) escreve que a hospitalidade “nãose reduz ao oferecimento de uma restauração ou de umalojamento, mas à relação interpessoal estabelecida, queimplica uma ligação social e valores de solidariedade ede sociabilidade”. É possível perceber nessa citação doispontos essenciais para a discussão em torno da hospita-lidade: “relação interpessoal”; e “ligação social”.

Primeiro, conforme o autor sugere, torna-se possívelinferir que se há relação de hospitalidade, a mesma deveser pessoal, humana e, dessa maneira, jamais impessoal,que remete, então, a hostilidade. Do mesmo modo, se hárelação pessoal, direta entre visitante e visitado, passa aexistir uma ligação, uma relação social, que remete inva-riavelmente a uma relação comunitária, já que o indiví-duo carrega consigo elementos de seu entorno – materiale imaterial – habitual. Cabe, então, uma reflexão emtorno dos cenários em que se desenrolam os fenômenossociais apresentados anteriormente, como propõe Gri-nover (idem, p. 20)

O autor afirma que “a história da hospitalidade é ahistória do homem, de seus encontros, de seus diálogos ede tudo aquilo que tem criado para facilitar sua aproxi-mação com seus semelhantes”. Acredita-se que sejafundamental discutir sobre os espaços onde se materia-lizam tais relações e – dada a proposta desse estudo – aanálise de uma experiência gerencial no campo do tu-rismo de base comunitária parece ser um meio enrique-cedor para tal.

Discute-se há bastante tempo a questão da cobrançade taxas de ingresso para visitação a monumentos dopatrimônio material, tais como acervos de museus oumesmo áreas naturais protegidas. O termo “privatização”parece ser percebido de maneira equívoca e mesmo suacompreensão destoada ideológica e propositadamente.

No intuito de promover a cultura local, as tradiçõesda população autóctone e o folclore regional, gestorespúblicos ligados a áreas como turismo, lazer e cultura,

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por exemplo, tendem a incorrer nesse equívoco concei-tual. Há de se concordar que a transversalidade do tu-rismo impõe um desafio relevante no sentido de equili-brar interesses (entre entes públicos e privados) e equa-cionar conflitos (entre comunidades receptoras e seusvisitantes).

Assim, privatizar as manifestações tem sido privati-zar o acesso do público (seja local ou não). A conse-quência tende a ser a segregação e a cenarização de ritu-ais e mesmo da paisagem. Trata-se, pois, da conversãode costumes e em cenas, que, segundo Bauman (2003),torna a comunidade em uma “estética gerada pela[pré]ocupação com a identidade [...] que alimenta aindústria do entretenimento”. Antagonicamente, é a co-mercialização1 do patrimônio que o faz deixar de servalioso por sua significação na história ou na identidadelocal e passa a ser valioso porque pode ser “vendido”como atrativo turístico (WALL, 1997). O turismo ba-seia-se no consumo e na apropriação dos espaços, priva-tizando alguns e recuperando a utilidade pública de ou-tros.

Sobre essa ambiguidade, Barretto (2000) afirma que“a revitalização de bairros inteiros para o consumo cul-tural e turístico, sobretudo em áreas centrais ou portuá-rias de cidades, também tem sido uma forma de permitira conservação das construções históricas neles existen-tes”. Nesse sentido, o olhar sobre tais iniciativas deve serponderado e a propositura de projetos tem de atender aospreceitos de sustentabilidade social (os quais demandambase local, participação comunitária e distribuição debenefícios e mitigação de custos, também).

A questão é controversa. Parece clara a necessidadede proteção, de defesa. Mas, ao mesmo tempo, essestermos soam como distanciamento ou desconhecimento.Fato é que há de se financiar tal administração. E qualorganização deverá fazê-lo? A própria Constituição Fe-deral informa, na Seção II: da Cultura, em seu artigo 216,que “o Estado garantirá a todos o pleno exercício dosdireitos e acesso às fontes da cultura nacional, e apoia-rá e incentivará a valorização e a difusão das manifes-tações culturais”. Ora, se a Carta Magna afirma que“garante o acesso”, logo preconiza que a privatizaçãocitada anteriormente deixa de ser polêmica e passa a serinconstitucional.

Fica evidente a demanda por erradicação da visão depreservação do patrimônio cultural desligada de seu usosocial e do acesso pela população. Assim, ganham forçatanto o senso de cidadania, quanto a questão da susten-tabilidade (CANTARINO, 2007). O problema se mostra

1 Grivoner (2007), sobre a perda do verdadeiro sentido de acolhimentoda hospitalidade, afirma que “a comercialização da hospitalidade e doacolhimento, não podendo ser atribuída como culpa entre os profissio-nais do turismo, não implica obrigatoriamente uma depreciação dessaprestimosidade. É verdade que o serviço ao cliente e sua exploraçãofinanceira são de tal modo imbricados um no outro, que se tornouimpossível separa-los”;

na harmonia entre a hospitalidade original [ou conser-vação, no caso] versus a sua exploração comercial(GRINOVER, 2007). A atenção à revitalização do pa-trimônio histórico tem sido positiva, enobrecendo e va-lorizando o crescimento da etno-história e das represen-tações do passado e do presente. Logicamente, contribu-indo para sustentabilidade do turismo de caráter cultural.

Para fazer frente à banalização do termo sustentabi-lidade e dos seus princípios, defende-se a “educaçãopatrimonial” como elemento condicionante das práticasde viagem de motivação cultural (CHIOZZINI, 2006).Esse autor afirma que “a educação patrimonial vem ga-nhando destaque nas discussões sobre patrimônio histó-rico e também encontra um campo fértil dentro do tu-rismo cultural”. Paralelamente, acredita-se que propostasde educação ambiental, no sentido de educação para oexercício da cidadania planetária, podem ser de grandecolaboração ao promover a identificação entre o patri-mônio histórico-cultural e a sociedade.

Laraia (2008) afirma que “o homem tem despendidogrande parte da sua história na Terra, separado em pe-quenos grupos, cada um com sua própria linguagem, suaprópria visão de mundo, seus costumes e expectativas”.Nesse sentido, Bauman (2003) aponta que “uma coleti-vidade que pretenda ser a comunidade encarnada, o so-nho realizado, e (em nome de todo o bem que se supõeque essa comunidade oferece) exige lealdade incondici-onal e trata tudo o que fica aquém de tal lealdade comoum ato de imperdoável traição”. O autor promove umainteressante diferenciação entre um agrupamento (ao quechama de coletividade) e uma comunidade (no sentidode identidade, vínculo e cumplicidade).

Outro elemento muito pertinente dentro dessa ques-tão é a diversidade, em seu sentido de mais amplo en-tendimento. Trigo (2009, p. 144) afirma que os segmen-tos [comunidades] alternativos formam justamente opluralismo e a diversidade nas sociedades democráticaspós-industriais, com suas tribos, etnias e grupos cominteresses e comportamentos variados.

Mais especificamente, os grupos juvenis tendem aapegarem-se mais em julgamentos, visto que seus mem-bros são, normalmente, mais inseguros e não possuemreferenciais sociais. Nesse mesmo sentido, Levisky apud.Uvinha (2001) escreve que nos grupos de jovens, o quehá de comum é o fato de todos eles estarem à procura dealgo, isto é, de estarem à procura de si mesmos [...], nogrupo, uns se parecem com os outros e nisso se confor-tam; um é modelo para o outro; sofrem de angústias se-melhantes e na indefinição é que se encontram; dentrodo grupo cada um está na busca de si mesmo, e o grupocomo unidade existe nesse sentido; o encontro visa, an-tes de mais nada, a externalizar os próprios pensamentose confronta-los com os demais.

Conforme Yázigi (2001), “construir uma identidade,isto é, dar-lhes uma forma, é legitimar a própria vida,

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porque é a forma que dá fundamento à existência”. Nomesmo sentido, Laraia (2008) aponta que “podemos en-tender o fato de que indivíduos de culturas diferentespodem ser facilmente identificados por uma série decaracterísticas, tais como o modo de agir, vestir, cami-nhar, comer, sem mencionar a evidência das diferençaslinguísticas, o fato de mais imediata observação empí-rica”. Essa “série de características” é a “forma” a quese refere Eduardo Yázigi, corroborando os elementos deidentificação levantados anteriormente.

Especificamente sobre os ídolos, Bauman (2003)aponta que “os ídolos, pode-se dizer, foram feitos sobencomenda para uma vida fatiada em episódios. As co-munidades que se formam em torno deles são comuni-dades instantâneas prontas para o consumo imediato – etambém inteiramente descartáveis depois de usadas”.Fato que não descarta a identidade entre os membros dogrupo, tampouco os vínculos emocionais compartilhados.Por mais efêmera que seja uma comunidade, ela terásido intensa enquanto manteve seus propósitos.

Laraia (2008) acredita que “homens de culturas dife-rentes usam lentes diversas, e, portanto, tem visões de-sencontradas das coisas”. É interessante como o autorsintetiza de modo contrário a visão do convívio harmô-nico. Refletir sobre o assunto é complexo, pois a diver-sidade de cenários é ampla – do ponto de vista geográfi-co – e está passando por processo de homogeneização –ao passo que a globalização elimina singularidades. Omesmo autor escreve que se trata de um “tipo de com-portamento padronizado por um sistema”. Sistema quese convenciona chamar de capitalismo liberal.

Os diversos grupos sociais desenvolvem códigos en-tre seus participantes. O mesmo autor escreve, ainda,que a chegada de um estranho em determinadas comu-nidades pode ser considerada como a quebra da ordemsocial ou sobrenatural. A cultura constitui-se de sistemasde símbolos que interagem entre si, ensejando o dina-mismo contemporâneo. Ao retomar as reflexões sobre ahospitalidade, é possível observar que, conforme Grino-ver (2007), o gesto de hospitalidade é, de início, aqueleque coloca de lado a hostilidade latente a qualquer ato dehospitalidade, mesmo que, na própria essência de seufuncionamento, a hospitalidade tenha, por necessidade,de manter o estrangeiro como tal, isto é, “preservar certadistância” para preservar sua identidade.

Seguindo esse raciocínio, o autor destaca o “acolhi-mento” como meio de materialização da dita hospitali-dade. E o define como “o conjunto dos comportamentos[...] para ter um bom êxito na aproximação [...] de umarelação humana de qualidade, com o objetivo de satis-fazer sua curiosidade, suas necessidades [...] e na pers-pectiva de desenvolver e estimular [...] a tolerância e acompreensão entre os seres humanos” conforme Grino-ver (2007).

Comentando a construção da identidade das comu-

nidades, Yázigi (2001) aponta que “deveria ser tambémuma arte porque redefine nossas relações com outraspessoas, grupos, lugares, coisas [...]”. Cabe destacar achamada do autor ao termo “lugares”. A diante seráabordado esse tema, ou seja, a percepção e a ligaçãoentre os valores de determinada comunidade e o espaçoem que suas relações acontecem.

Pinto (2003) escreve que “como atividade humana, énecessário considera-la [a comunicação] integrada aosprocessos culturais e, para estudar sua evolução, não épossível desvincula-la da cultura”. À ligação comunica-ção/comportamento refere-se como agente de fortaleci-mento do vínculo existente dentro de cada grupo social.

Então, ainda que pertencer a uma comunidade sejaatingir a plenitude social, Laraia (2008) aponta que “aparticipação do indivíduo em sua cultura é sempre limi-tada; nenhuma pessoa é capaz de participar de todos oselementos de sua cultura”. É relevante registrar que oautor não faz referência sobre as motivações de cada ser,mas infere-se que tais participações são genuínas e devontade própria. Sem a efetiva participação nos proces-sos interiores ao grupo, desaparece o senso de pertenci-mento e a efetividade daquela comunidade, o que desca-racteriza seus vínculos com “seu” local original.

Cabe refletir acerca da espontaneidade das manifes-tações culturais, pois a partir do momento em que umvínculo é “forçado” a existir e a se manter vivo, acredi-ta-se que o deixa de ser genuíno. Uma manifestaçãocultural deixa de ser popular, tornando-se institucional,mesmo que tenha sido anteriormente muito difundida emsegmentos subalternos da população, quando seus pro-dutores passam a depender, para sua realização, de umaentidade pública ou privada. Ainda sobre hospitalidade,torna-se oportuno afirmar que hoje esse segmento tem seestruturado por conta de seu comércio. A hospitalidadecomercial, ou seja, os negócios ligados diretamente aosserviços de hospedagem, alimentação, entretenimento,transporte e lazer, institui-se em um paradoxo em vistade sua história, pois em essência é gratuita, espontânea(GRINOVER, 2007).

Interferir direta ou indiretamente no sentido de man-ter certa tradição ou manifestação é atuar para a extinçãoda emoção e da afetividade que caracteriza a “vincula-ção” proposta. Sobre a espontaneidade em manter-se emdeterminada comunidade, honrando o compromisso horafirmado, Bauman (2003) faz algumas reflexões, a saber:

A comunidade, cujos usos e princípios sãoconfirmar, pelo poder do número, a propriedade daescolha e emprestar parte de sua gravidade àidentidade a que confere “aprovação social”, devepossuir os mesmos traços; Ela deve ser e permanecer flexível, nunca

ultrapassando o nível “até nova ordem” e “enquantofor satisfatório”;

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Sua criação e seu desmantelamento devem serdeterminados pelas escolhas feitas pelos que ascompõem – por suas decisões de firmar ou retirarseu compromisso; Em nenhum caso deve o compromisso, uma vez

declarado, ser irrevogável: o vínculo constituídopelas escolhas jamais deve prejudicar, e muitomenos impedir, escolhas adicionais e diferentes.

É intrigante como o termo “flexível” aparece por di-versas vezes. E quem é o indivíduo que definirá os ní-veis de flexibilidade? Como no debate sobre os ídolos ea efemeridade das comunidades, pergunta-se: quaismembros devem opinar para a criação ou desmantela-mento do grupo? E os que desejassem permanecer fir-mes na proposta? Continuam gozando de legitimidade?Ao que parece, segundo o autor, os compromissos nãoprejudicariam os papéis exercidos pelas pessoas fora davida comunitária.

Como visto, o estabelecimento e a consolidação deidentidade e vínculos se faz, sobretudo, por meio da co-municação. Seja corporal, escrita ou mesmo pela lin-guagem. Assim, o tópico a seguir propõe reflexões sobrea competitividade empresarial balizada por preceitos dasustentabilidade.

Caracterização da área estudada: Cubatão, SãoPaulo, Brasil.Panorama histórico

A primeira referência formal sobre a localidade datade 1533, quando redigiu-se documento que formaliza aconcessão a Rui Pinto, entre outras, as terras da “Barrado Cubatão”.

A cidade foi edificada no sopé da Serra do Mar, queoriginalmente servia como ponto de parada para as pes-soas que acessavam ao planalto paulista desde o litoral.Conforme informações da Prefeitura Municipal de Cu-batão (2013), para acessar ao planalto, “seguia-se noinício a trilha dos índios Tupiniquins. Depois, a partirde 1560, através do Vale do Rio Perequê (...). Mais tarde,em 1792, a Calçada do Lorena se tornou o principalcaminho entre o litoral e o planalto”. Anos depois, em1867, foi inaugurada a estrada de ferro que liga o litoralao planalto e interior do estado de São Paulo, designadacomo “São Paulo Railway” (TORRES et al., 2002).

No início do século XX teve início o processo de in-dustrialização do país e, nos anos 1920, iniciaram asobras de construção de duas grandes indústrias: SãoPaulo Light S.A. Serviços de Eletricidade e fábrica depapel e celulose Companhia Santista de Papel S.A. (de-nominada originalmente como Companhia Fabril deCubatão), que iniciou suas operações em 1932. A se-gunda, por sua vez, motivou a criação da vila Fabril,local de moradia dos funcionários que trabalhavam naempresa.

A essa época tiveram início articulações locais paraelevar Cubatão a condição de município, separando,assim, a localidade da administração de Santos. Apósanos, em 1949, o distrito ganhou a categoria de municí-pio e seu primeiro prefeito foi o Sr. Armando Cunha.

Atualmente, a região possui 1.625.000 habitantes,sendo que Cubatão tem 125.178 (IBGE, 2013). Duasrodovias estaduais permitem esse trânsito tanto para ve-ículos de carga quanto para automóveis: rodovia Anchi-eta e rodovia Imigrantes, inauguradas respectivamenteem 1947 e 1976, sendo que a segunda ganhou ampliaçãono ano de 2002.

O município de Cubatão é sede de um polo industrial,no qual operam vinte e quatro indústrias. Dentro do pa-norama histórico apresentado, é importante citar que dototal de vinte e quatro empresas, dezoito foram implan-tadas no período entre 1955 a 1975, investimentos fo-mentados, essencialmente, por três razões: a localizaçãoestratégica entre o Porto de Santos, a capital e o interiordo estado; a inauguração da rodovia Anchieta (1947) e,posteriormente, incentivos fiscais e a concessão de ter-renos para a implantação dessas indústrias.

Em vista da geografia propícia e a pujança do poloindustrial local, duas dessas indústrias – Ultrafértil eCosipa (atual Usiminas) – possuem terminais portuários,onde recebem matéria prima e embarcam produtos aca-bados.

É possível inferir, então, que além da geração de em-pregos, a concentração industrial propiciou a geração deresultados econômicos e financeiros relevantes para omunicípio, já que a arrecadação tributária concentra-seno Imposto sobre operações relativas a circulação demercadorias e sobre prestações de serviços de transporteinterestadual, intermunicipal e de comunicação (ICMS),oriundo das operações industriais2.

O desempenho das indústrias locais e a moderniza-ção de serviços públicos abrem caminho para investi-mentos e parcerias em torno do lazer e do turismo. Nessesentido, a Administração, aplicou recursos na reforma emodernização de um parque público municipal que loca-liza-se na região central da cidade. A inauguração doparque Anilinas aconteceu parcialmente em 2011 e, noano seguinte, foram entregues obras finais dessa área delazer. Em discurso à ocasião da cerimônia de inaugura-ção, a então prefeita Márcia Rosa afirmou: “Estamosdevolvendo ao povo o orgulho de ser cubatense. Essepatrimônio é de vocês, cuidem bem dele. Estamos dei-xando um legado para a cidade, um parque à altura dagrandeza de Cubatão". É possível perceber, então, oempenho do poder público local em proporcionar espa-ços públicos de lazer para a população residente e de

2Prefeitura Municipal de Cubatão. Origem e desenvolvimento. Dispo-nível em:<http://www.cubatao.sp.gov.br/historia/origem-desenvolvimento/>.Acessado em 17 de junho de 2014;

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visitantes, já que o espaço recebe eventos artísticos eesportivos.

Nesse mesmo sentido, no que tange a administraçãopública da atividade turística, Branco (1992) diz que o“turismo [...] pode ser construtivo e enriquecermos cul-turalmente. A busca de lugares tranquilos para lazer eaprendizado é muito salutar”. E a cidade, enquanto es-paço de diálogo e convívio entre visitantes e visitados,deve ser administrada no sentido de harmonizar essasinter-relações (de hospitalidade ou hospitalidade, comovisto).

No tópico a seguir relata-se a experiência de gestão eoperação do roteiro de visitação ao projeto “Ateliê Artenas Cotas”, iniciativa que se encontra alinhada com obom momento econômico da cidade, que inicia investi-mentos na promoção turística.

Relato de experiência: roteiro de visitação ao pro-jeto “Ateliê Arte nas Cotas”

O projeto “Ateliê Arte nas Cotas” é parte integrantedo “Programa de Recuperação Socioambiental da Serrado Mar", oriundo de uma parceria entre o Bando Intera-mericano de Desenvolvimento (BID) e o Governo doEstado de São Paulo por meio da Companhia de Desen-volvimento Habitacional Urbano (CDHU), da FundaçãoFlorestal e da Polícia Militar Ambiental. O objetivo doreferido projeto é elevar a autoestima dos moradores e pro-mover a construção de nova identidade comunitária.

O roteiro de visitação ao projeto “Ateliê Arte nasCotas” foi idealizado e formatado por Renato Marchesi-ni, Guia de Turismo e Diretor de Projetos da CaiçaraExpedições, agência de viagens e turismo sediada nacidade vizinha de São Vicente. Ao descer a Serra do Mar,pela rodovia Anchieta, o profissional se deparou com umcolorido especial nas casas, muros e praças da Cota 200,comunidade residente nas encostas da Serra do Mar.

A ideia de formatação de um roteiro de visitação aolocal partiu da percepção dessa intervenção urbana – atéentão pouco conhecida – realizada pelos alunos do Ateliê,ainda em fase inicial de operação. Marchesini acreditaque “o turismo com base comunitária é uma propostaque beneficia as famílias locais, tanto economicamentequanto na autoestima3”. Assim, além de conhecer pontosturísticos cubatenses, os visitantes podem participar deuma oficina para aprender a técnica de estêncil, que éutilizada pelos alunos para colorir as moradias. Por meiode uma moldura feita com papelão ou plástico, os alunoscriam desenhos nas paredes, muros e praças das cotas,por meio da combinação de cores e padrões.

Segundo Fernanda Saguas Tresas, coordenadora doprojeto, “será uma alegria mostrar o trabalho social feito

3Diário do Litoral. Cubatão entra no roteiro do Turismo Comunitário.Disponível em:<http://www.diariodolitoral.com.br/conteudo/9351-cubatao-entra-no-roteiro-do-turismo-comunitario >. Acessado em 16 de junho de 2014;

no ateliê e nos outros projetos do bairro. Incluir os bair-ros Cota em um passeio por Cubatão é algo incrível ediferente4”. O roteiro caracteriza-se pelo rico patrimônionatural, histórico, arquitetônicas, cultural e social local.

A visitação a sede do projeto inclui uma apresentaçãosobre a iniciativa, suas intervenções artísticas na comu-nidade da Cota 200 e uma oficina prática. Assim, além opróprio projeto, são visitados a Vila Fabril, o Largo doSapo, o Cruzeiro Quinhentista e o Parque Anilinas. Adi-cionalmente, são avistados ao longo do trajeto: o ParqueEstadual da Serra do Mar / Núcleo Itutinga-Pilões, aUsina Henry Borden e o polo industrial da cidade.

Ao chegar a Cota 200 realiza-se uma parada em ummirante que fica em uma pequena praça conhecida comoPraça das Mangueiras, construída para a comunidaderesidente de onde é possível contemplar o encontro dasduas pistas da rodovia Imigrantes, a rodovia Anchieta, e,ao longe, as cidades de Cubatão, Santos, Guarujá, SãoVicente e Praia Grande5.

É interessante citar a aceitação do projeto. A senhoraLúcia Georgina Moura (comerciante local) afirma: “euadorei o colorido no meu comércio, o bairro está maisalegre e alto astral, muito boa essa iniciativa”. Nomesmo sentido, a senhora Fátima Maria Costa (aluna doprojeto) aponta que o projeto “ajuda a formar uma fave-la, [que] é um pedacinho da gente nestes desenhos. Ficamais bonito”.

A turista Marli Cuzzo, após ter apreciado as pinturas,o entorno, a comunidade e a paisagem, afirma que “É aprimeira vez que eu visito uma comunidade, uma favelamesmo, confesso que eu tinha receio, mas mudei total-mente a concepção, achei interessante, lindo”.

Em termos de resultados quantitativos, verifica-seque até 2013, mais de três mil moradores da localidadejá aderiram as oficinas oferecidas gratuitamente peloprojeto “Ateliê Arte nas Cotas”. Adicionalmente, cercade 60 pessoas se formaram no curso de “Intervenção emArte Urbana”.

Além disso, destaca-se que a implementação de pro-jetos como esse contribui para a sustentabilidade urba-nística, socioeconômica, ambiental e cultural das inter-venções promovidas pela CDHU, pois o trabalho é an-corado em princípios de construção do pacto social pre-liminar como subsídio e apoio à intervenção física urba-nística e organização comunitária com desenvolvimentolocal.

3. CONCLUSÃOO desenvolvimento do turismo de base comunitária

4 Idem.;5 A Tribuna. Turistas visitam Cota 200 e Cubatão quer criar turismocomunitário. Disponível em:<http://www.atribuna.com.br/2.685/turistas-visitam-cota-200-e-cubat%C3%A3o-quer-criar-turismo-comunit%C3%A1rio-1.277559 >. Aces-sado em 16 de junho de 2014;

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em Cubatão configura-se como elemento de diferencia-ção mercadológica tanto para a imagem da cidade quan-to para a agência de viagens e turismo que opera esseroteiro.

Ao mesmo tempo em que aumenta a competitividadeentre os destinos turísticos cresce a disputa por clientesentre os prestadores de serviços turísticos. Desse modo,torna-se essencial fomentar novos modelos de gestão,operação e promoção dos produtos turísticos.

É pertinente afirmar que a visitação a comunidadeCota 200 tende a fortalecer vínculos, ajudar a mudar aimagem que as pessoas – residentes e visitantes – têm dacidade e da comunidade e pode colaborar para a manu-tenção da qualidade de vida da população local uma vezque atrai investimentos e propicia o consumo no local. Oprojeto “Ateliê Arte nas Cotas” é integrante de um am-plo programa de recuperação socioambiental regional,nesse sentido, poderá, inclusive, estabelecer novas rela-ções e fortalecer relações comunitárias já existentes en-tre outras comunidades semelhantes.

O trabalho foi organizado em dois tópicos temáticos,sendo o primeiro sobre a convivência e a coabitação emcomunidade, onde se insere a atividade turística e as relaçõesde hospitalidade entre visitante e visitado. E no segundoapresentou-se no terceiro fragmento, um panorama históricoe dados socioeconômicos sobre a cidade de Cubatão. Foiapresentado, também, o relato de experiência de visitação aoprojeto “Ateliê Arte nas Cotas”.

Como resultados, verificou-se que há alta adesão dosmoradores locais, tanto participando dos cursos práticosquanto autorizando a pintura de suas casas. Como visto, até2013, mais de três mil moradores da localidade já aderi-ram as oficinas oferecidas gratuitamente pelo projeto“Ateliê Arte nas Cotas”.

Adicionalmente, cerca de 60 pessoas se formaram nocurso de “Intervenção em Arte Urbana”. Foi possívelconstatar, ainda, expressão do orgulho dos moradores cujascasas foram coloridas por meio do projeto, sobretudo, porque passaram a receber visitantes.

Conclui-se que, nesse caso, o roteiro promovido pelaCaiçara Expedições ajuda a valorizar as pessoas e a iniciati-va do projeto “Ateliê Arte nas Cotas”, promover a identida-de cultural local e a desmistificar e transformar a realidadesocioeconômica local pelo turismo.

REFERÊNCIAS

[1] A Tribuna. Turistas visitam Cota 200 e Cubatão quer criarturismo comunitário. Disponível em:<http://www.atribuna.com.br/2.685/turistas-visitam-cota-200-e-cubat%C3%A3o-quer-criar-turismo-comunit%C3%A1rio-1.277559>. Acessado em 16 de junho de 2014.

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[6] <http://www.blogcaicara.com/2013/04/roteiro-de-turismo-comunitario-roteiro.html >. Acessado em 16 de junho de 2014.

[7] Caiçara Expedições. Turismo com Base Comunitária Cota 200/ Cubatão (SP). Disponível em:<http://www.caicaraexpedicoes.com/antigo/produto.php?produto=242 >. Acessado em 16 de junho de 2014.

[8] Caiçara Expedições. Turismo Comunitário em Cubatão: Cota200. Disponível em:<http://www.blogcaicara.com/2013/04/turismo-comunitario-em-cubatao-cota-200.html >. Acessado em 16 de junho de 2014.

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[11]Diário do Litoral. Cubatão entra no roteiro do TurismoComunitário. Disponível em:<http://www.diariodolitoral.com.br/conteudo/9351-cubatao-entra-no-roteiro-do-turismo-comunitario >. Acessado em 16 dejunho de 2014.

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