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1 UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS ÁREA DE LITERATURAS, ARTES E CULTURAS REGULAÇÃO DO CIBERESPAÇO, CONTROLO DOS FLUXOS INFORMACIONAIS E DIREITOS DE AUTOR: OS CASOS DE PORTUGAL E DO BRASIL Elisianne Campos de Melo Soares Mestrado em Cultura e Comunicação 2012

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1

UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE LETRAS

AacuteREA DE LITERATURAS ARTES E CULTURAS

REGULACcedilAtildeO DO CIBERESPACcedilO CONTROLO DOS FLUXOS

INFORMACIONAIS E DIREITOS DE AUTOR

OS CASOS DE PORTUGAL E DO BRASIL

Elisianne Campos de Melo Soares

Mestrado em Cultura e Comunicaccedilatildeo

2012

2

UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE LETRAS

AacuteREA DE LITERATURAS ARTES E CULTURAS

REGULACcedilAtildeO DO CIBERESPACcedilO CONTROLO DOS FLUXOS

INFORMACIONAIS E DIREITOS DE AUTOR

OS CASOS DE PORTUGAL E DO BRASIL

Elisianne Campos de Melo Soares

Dissertaccedilatildeo orientada pelo Professor Doutor Manuel Frias Martins

MESTRADO EM CULTURA E COMUNICACcedilAtildeO

2012

3

A Deus e a mamatildee que tornaram possiacutevel a realizaccedilatildeo deste trabalho

4

5

You never change things by fighting the existing reality To change something

build a new model that makes the existing model obsolete

(Buckminster Fuller)

6

7

IacuteNDICE

AGRADECIMENTOS 9

LISTA DE SIGLAS 11

RESUMO 15

ABSTRACT 17

INTRODUCcedilAtildeO 19

CAPIacuteTULO I

NOVAS TECNOLOGIAS NOVOS PARADIGMAS 25

10 O ideal da Rede como um territoacuterio livre 27

20 O fenocircmeno da desmaterializaccedilatildeo da obra 32

30 Espaccedilo e tempo se comprimem a dromocracia firma-se 35

40 Somos todos criadores a fusatildeo entre autor e consumidor 38

50 A era de ouro do remix 44

60 Tipos de vigilacircncia e tecnologias de controlo quem satildeo e como trabalham os

gatekeepers do ciberespaccedilo 47

CAPIacuteTULO II

DIREITOS DE AUTOR E REGULACcedilAtildeO DO CIBERESPACcedilO BRASIL E PORTUGAL

EM PERSPECTIVA 57

10 Breve retrospectiva histoacuterica do surgimento dos direitos de autor 59

20 Direitos morais e direitos patrimoniais 61

21 Direitos morais 61

22 Direitos patrimoniais 62

30 Direitos de autor e regulaccedilatildeo da Internet no Brasil e em Portugal 64

31 Legislaccedilatildeo autoral brasileira 64

32 Reforma da Lei brasileira do Direito Autoral (LDA) 67

33 O Marco Civil da Internet 69

34 Legislaccedilatildeo autoral portuguesa 73

35 Regulaccedilatildeo da Internet em Portugal 75

40 Salvaguarda dos direitos de autor e combate agrave pirataria no Brasil e em Portugal

Azeredo e Lei da Coacutepia Privada 71

41 O Projeto de Lei Azeredo 71

8

42 A Lei da Coacutepia Privada em Portugal 80

50 Controlo do ciberespaccedilo e acordos aleacutem fronteiras alguns casos-chave 84

51 HADOPI 84

52 Sinde-Wert 85

53 SOPA 86

54 ACTA 87

60 Brasil e Portugal algumas semelhanccedilas e diferenccedilas 88

70 Direitos de autor e regulaccedilatildeo da Internet uma relaccedilatildeo nebulosa 91

CAPIacuteTULO III

HARMONIZACcedilAtildeO DE INTERESSES 97

10 O direito de acesso agrave informaccedilatildeo e agrave comunicaccedilatildeo como um direito humano 99

20 Novos modelos e outras alternativas de conciliaccedilatildeo entre artistas induacutestria e

usuaacuterios de Internet 103

30 Flexibilizaccedilatildeo do regime autoral o Creative Commons 103

31 O Creative Commons Portugal 108

32 As licenccedilas 30 108

33 Parcerias 109

40 A exceccedilatildeo para compartilhamento de arquivos 110

50 Cloud computing 114

60 Licenccedila global 116

70 Mecenato global 117

80 Contribuiccedilatildeo criativa 118

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 121

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 127

ANEXOS 143

9

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo em primeiro lugar a Deus que esteve comigo todo o tempo e que me

deu refrigeacuterio nos momentos de dificuldade A mamatildee que me incentivou sempre

acreditou em mim e em meus objetivos e natildeo mediu esforccedilos para concretizaacute-los Aos

professores e colegas do mestrado com quem aprendi muito nos uacuteltimos dois anos

Aos meus amigos de perto e de longe que de alguma forma conseguiram aplacar a

dor da distacircncia Agradeccedilo especialmente agraves amigas Claacuteudia Caetano Nadeige Thireacute e

Naima Dahmas e ao professor Pedro Coelho que me deram forccedila vital em momentos

criacuteticos sem a qual eu natildeo teria concluiacutedo o curso

Quero dar meu ldquomuito obrigadardquo tambeacutem aos meus familiares principalmente agrave

minha prima Edyane Franco e ao meu tio Eacutelio Campos que tambeacutem apostaram em mim e

me deram todo apoio possiacutevel Tio e prima espero um dia retribuir todo o bem que vocecircs

jaacute fizeram e fazem agrave minha vida Que Deus lhes abenccediloe sempre

Ao meu caro orientador professor Manuel Frias Martins que me deu toda

liberdade de pensamento e de ideias para realizar esse trabalho aleacutem de contribuir

muitiacutessimo com suas orientaccedilotildees sempre concisas e praacuteticas Suas criacuteticas foram todas

construtivas Para aleacutem de grande mestre ficaraacute em minha lembranccedila como ser humano

admiraacutevel e exemplo de professor

Agradeccedilo tambeacutem agraves professoras que tive na Faculdade de Letras da Universidade

de Lisboa fora do departamento de Comunicaccedilatildeo e Cultura Ana Vrajitoru Roxana

Ciolaneanu e Zlatka Timenova-Valtcheva E um ldquoobrigadardquo agrave cara colega Manuela

Zamith

Agraves queridas irmatildes Ceciacutelia Faacutetima Maria Meyre Socorro e ao irmatildeo Eliacutesio que

sempre tiveram meu nome em conta em suas oraccedilotildees Quero partilhar essa vitoacuteria com

vocecircs tambeacutem

10

11

LISTA DE SIGLAS

ACTA - Anti-Counterfeiting Trade Agreement

ADAMI - Socieacuteteacute pour lAdministration des droits des artistes et musiciens

interpregravetes

AGECOP - Associaccedilatildeo para Gestatildeo da Coacutepia Privada

ANACOM - Autoridade Nacional de Comunicaccedilotildees

AOL - America On-Line

APCT - Associaccedilatildeo Portuguesa para o Controlo de Tiragem e Circulaccedilatildeo

ARPANet - Advanced Research Projects Agency Network

BBC - British Broadcasting Corporation

CDA - Coacutedigo do Direito de Autor e dos Direitos Conexos

Cesar - Centro de Estudos e Sistemas Avanccedilados do Recife

CNIL ndash Comission Nationale de lrsquoInformatique et des Liberteacutes

CNPD - Comissatildeo Nacional de Protecccedilatildeo de Dados

CNPJ ndash Cadastro Nacional de Pessoa Juriacutedica

CPF ndash Cadastro de Pessoas Fiacutesicas

CRIS - Communication Rights in the Information Society

DADVSI - loi relative aux Droits drsquoAuteur et aux Droits Voisins dans la Socieacuteteacute de

lrsquoInformation

DRM - Digital Rights Management

DUDH - Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos

ECAD - Escritoacuterio Central de Arrecadaccedilatildeo e Distribuiccedilatildeo

EUA ndash Estados Unidos da Ameacuterica

12

FBI - Federal Bureau of Investigation

FCEE-UCP - Faculdade de Ciecircncias Econocircmicas e Empresarias da Universidade Catoacutelica

Portuguesa

FGV DIREITO RIO - Escola de Direito da Fundaccedilatildeo Getulio Vargas no Rio de Janeiro

FSF - Free Software Foundation

GB ndash Gigabyte

GMT ndash Greenwich Mean Time

HADOPI ndash Haute Autoriteacute pour la Diffusion des Œuvres et la Protection des Droits

sur Internet

IBM - International Business Machines Corporation

ICANN - Internet Corporation for Assigned Names and Numbers

ICS - Instituto da Comunicaccedilatildeo Social

INTELI - empresa de tecnologia Inteligecircncia em Inovaccedilatildeo

ISCTE - Instituto Superior de Ciecircncias do Trabalho e da Empresa

IST - Instituto Superior Teacutecnico

IVA - Imposto sobre o Valor Acrescentado

IVC - Instituto Verificador de Circulaccedilatildeo

LDA ndash Lei do Direito Autoral

MinC ndash Ministeacuterio da Cultura

OMC - Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio

ONU ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

P2P ndash Peer-to-peer

PL118 ndash Projeto de Lei da Coacutepia Privada

13

PLC - Projeto de Lei da Cacircmara dos Deputados

PLS - Projeto de Lei do Senado Federal

PS - Partido Socialista

SALMJ - Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministeacuterio da Justiccedila

SARD ndash Socieacuteteacute drsquoAcceptation et de Reacutepartition des Dons

Serpro - Serviccedilo Federal de Processamento de Dados

SOPA ndash Stop Online Piracy Act

SPA - Sociedade Portuguesa de Autores

SPEDIDAM ndash Socieacuteteacute de Perception et de Distribution des Droits des Artistes-

Interpregravetes

SSD - Solid-state drive

STIM - Svenska Tonsaumlttares Internationella Musikbyraring

TB - Terabyte

TIC - Tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo

UE ndash Uniatildeo Europeia

UMIC - Agecircncia para a Sociedade do Conhecimento

UnB - Universidade de Brasiacutelia

UNESCO - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura

UNL - Universidade Nova de Lisboa

UP - Universidade do Porto

USB ndash Universal Serial Bus

USP - Universidade de Satildeo Paulo

VJ - Video Jockey

14

VOD - Video on demand

WSIS - World Summit on the Information Society

15

RESUMO

As tecnologias digitais foram responsaacuteveis por profundas metamorfoses em nossas

atividades laborais e interaccedilotildees sociais As maacutequinas conectadas em rede nos permitiram

aceder a conteuacutedos produzidos nos mais distantes pontos do planeta e estreitar os laccedilos de

conhecimento com diferentes culturas e povos

A desmaterializaccedilatildeo e reproduccedilatildeo com alto teor de fidelidade de bens culturais

alterou nossos haacutebitos de consumo A gradual eliminaccedilatildeo dos suportes materiais e a

praticidade dos arquivos digitais fez-nos consumir cultura em quantidades e formatos

jamais antes imaginados

O advento do digital pocircs em xeque os tradicionais papeis de artistas e induacutestrias e

levou-nos por um caminho sem alternativa a necessidade de acompanhar as

transformaccedilotildees que se sucederam e de adaptarmo-nos a elas No combate a praacuteticas como

a pirataria as legislaccedilotildees de muitos paiacuteses foram endurecidas e os meios juriacutedicos que

versam sobre o tema enveredaram por caminhos radicais

O presente estudo traz essa problemaacutetica agrave discussatildeo tomando como objetos de

anaacutelise os contextos brasileiro e portuguecircs Discutimos as legislaccedilotildees que versam sobre os

direitos autorais em ambos os paiacuteses para assim nos concentrarmos nas relaccedilotildees entre

tecnologia e Direito bem como nas metamorfoses produzidas pela Internet nessas ligaccedilotildees

desde sempre delicadas Para tal tratamos tambeacutem da questatildeo da regulaccedilatildeo da Rede tema

intimamente ligado agraves mateacuterias anteriormente citadas

Palavras-chave Cibercultura Controlo Direitos de autor Internet Privacidade

Regulaccedilatildeo da Internet

16

17

ABSTRACT

The digital technologies were responsible for profound transformations in our work

activities and social interactions The network connected machines allowed us to gain

access to contents produced in the most remotes parts of the world and to strengthen ties

of knowledge with different cultures and peoples

The dematerialization and reproduction with hi-fi quality of cultural goods has

altered our consumption habits The gradual removal of the material support and the

convenience of digital files made us consume culture in quantities and formats never

imagined before

The advent of the digital put into question the traditional roles of artists and

industries and led us to a path of no return the need to follow up the changes which have

taken place and adapt to them In the combat against practices like piracy the legislation

of many countries was hardened and we saw the legal means dealing with the theme in

radical ways

This study discusses this problem taking as objects of analysis the brazilian and

portuguese contexts We discuss the laws that deal with copyright in both countries in

order to focus on the relations between technology and law and on the transformations

produced by the Internet in these very delicate links To this end we also deal with the Net

regulation which is a theme closely linked to the aforementioned topics

Key-words Cyberculture Control Copyright Internet Privacy Internet regulation

18

19

INTRODUCcedilAtildeO

20

21

O advento da Rede e dos meios eletrocircnicos de comunicaccedilatildeo representou uma

revoluccedilatildeo sem volta no mundo dos negoacutecios e das relaccedilotildees humanas Nascemos vivemos

trabalhamos e morremos sob a eacutegide da automatizaccedilatildeo do tratamento de dados e da maior

parte dos processos executados por instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas Jaacute ningueacutem pode

imaginar o mundo sem a rede de telecomunicaccedilotildees que liga os mais distantes pontos do

planeta A informatizaccedilatildeo penetrou todas as esferas da vida e faz parte das atividades que

desenvolvemos e ateacute de noacutes mesmos ndash o que natildeo nos deixa esquecer o visionaacuterio Marshal

McLuhan e sua teoria dos meios como extensotildees do Homem

Com a Internet surgem o ciberespaccedilo e todas as implicaccedilotildees que um novo lugar

representa abre-se uma nova esfera onde figuramos como indiviacuteduos portadores de uma

identidade e de poderes de accedilatildeo mas natildeo soacute Vimos instituiacuterem-se novas formas de poder

a fim de hierarquizar as relaccedilotildees e criar o miacutenimo de ordem para um bom funcionamento

Essa institucionalizaccedilatildeo passa pelo campo legislativo e representou para o Direito o

grande desafio de legislar em um espaccedilo livre das amarras fiacutesicas e suas limitaccedilotildees

Legislar em um lugar transfronteiriccedilo global e sem barreiras geograacuteficas passou a ser uma

missatildeo ineacutedita e desafiadora poreacutem espinhosa

A Rede abriu novos nichos de mercado mas tambeacutem representou a entrada da

economia tradicional em um caminho de colapso sem volta A necessidade de modificar

certas praacuteticas comerciais vem se impondo de forma cada vez mais exigente E essa

mudanccedila natildeo passa apenas pela missatildeo de desenvolver produtos para serem vendidos em

lojas virtuais Haacute que considerar que os proacuteprios produtos passaram em si mesmos por

uma metamorfose radical a desmaterializaccedilatildeo Na era da informatizaccedilatildeo muitos bens satildeo

constituiacutedos por bits e jaacute natildeo estatildeo fixados em suportes materiais Compra-se muacutesica em

mp3 literatura e livros acadecircmicos em formato e-book filmes em formatos que

permitem a visualizaccedilatildeo em aparelhos moacuteveis por exemplo A miniaturizaccedilatildeo dos

equipamentos favoreceu a compressatildeo dos bens culturais em arquivos cada vez menores e

compactos faacuteceis de serem descarregados e trocados

Se antes encontraacutevamos um amigo e lhe empresaacutevamos um CD hoje podemos

enviar-lhe as mesmas muacutesicas sem sair de casa por e-mail acessiacuteveis atraveacutes de um link

que o redireciona a um site de hospedagem de arquivos ou a um software de partilha

peer-to-peer (P2P) Praacuteticas como esta geraram profundas mudanccedilas na forma como

consumimos cultura A evoluccedilatildeo da tecnologia facilitou a reproduccedilatildeo aleacutem de barateaacute-la

consideravelmente

22

Para combater a troca de arquivos protegidos por direitos de autor vaacuterios paiacuteses

desenvolveram projetos de lei que propotildeem o endurecimento dos diplomas vigentes

visando utilizar a tecnologia para combater a proacutepria tecnologia Esse endurecimento das

legislaccedilotildees nacionais e internacionais propotildee o uso de medidas que causam bastante

polecircmica como taacuteticas de vigilacircncia e controlo do traacutefego de informaccedilotildees na Rede A

situaccedilatildeo levanta duacutevidas sobre as reais motivaccedilotildees de governos e empresas privadas

engajadas nessa luta contra o desrespeito aos direitos de autor Qual o limite dessas

medidas Natildeo haveria outras saiacutedas que evitassem accedilotildees radicais e invasivas

O presente estudo traz essa problemaacutetica agrave discussatildeo tomando como foco um

breve quadro comparativo entre Brasil e Portugal Discutimos as legislaccedilotildees que versam

sobre os direitos autorais em ambos as paiacuteses para assim direcionarmos nosso estudo para

as relaccedilotildees entre tecnologia e Direito e para as metamorfoses produzidas pela rede

mundial de computadores nessas relaccedilotildees desde sempre delicadas Para tal tratamos

tambeacutem da questatildeo da regulaccedilatildeo da Internet tema que natildeo eacute visivelmente relacionado com

os direitos de autor mas que os atravessa em seu nuacutecleo

Dividimos o estudo em trecircs capiacutetulos No primeiro trazemos agrave tona conceitos mais

gerais relacionados com o surgimento e desenvolvimento da Rede como a utoacutepica ideia

de um territoacuterio livre de controlo a desmaterializaccedilatildeo dos bens culturais as novas praacuteticas

de consumo e outras transformaccedilotildees que ela acarretou Ainda nesse capiacutetulo discutimos

algumas situaccedilotildees em que a tecnologia eacute utilizada para exercer vigilacircncia e monitoraccedilatildeo

como nas atividades relacionadas com o emprego e o marketing por exemplo

No segundo capiacutetulo entramos diretamente no campo das ciecircncias juriacutedicas

traccedilando um breve panorama do nascimento dos direitos de autor para em seguida nos

dedicarmos aos nossos dois objetos de estudo Portugal e Brasil Comeccedilamos por delinear

um quadro histoacuterico de ambos os paiacuteses no campo do Direito avanccedilando depois para o

estudo de projetos especiacuteficos de cada paiacutes como o Projeto de Lei Azeredo no Brasil e a

Lei da Coacutepia Privada em Portugal

Eacute ainda no segundo capiacutetulo que damos alguns exemplos de projetos de lei

voltados para o combate agrave pirataria na Rede em proporccedilotildees globais (ou que mesmo locais

satildeo paradigmaacuteticos ou que podem afetar quem estaacute para aleacutem de suas fronteiras de

atuaccedilatildeo) Falamos tambeacutem sobre a regulaccedilatildeo da Internet no Brasil e em Portugal e para

finalizarmos traccedilamos uma ponte entre direitos de autor e regulaccedilatildeo temas

intrinsecamente relacionados apesar de esta relaccedilatildeo nem sempre ser evidente

23

Abrimos o terceiro e uacuteltimo capiacutetulo tratando do direito agrave informaccedilatildeo e agrave

comunicaccedilatildeo como um direito humano Em seguida apresentamos algumas propostas de

conciliaccedilatildeo entre interesses da induacutestria dos autores e dos usuaacuterios da Rede ndash seja atraveacutes

de alternativas aos sistemas fechados de licenciamento de obras intelectuais seja por meio

de novos modelos comerciais que combinem preccedilos atraentes boa oferta e respeito pelos

direitos de autor

Decidimos traduzir todas as citaccedilotildees feitas a partir de obras em liacutengua estrangeira

de maneira a conservar a unidade linguiacutestica do trabalho As expressotildees e termos

estrangeiros foram grafados em negrito enquanto que os sublinhados aspas e itaacutelicos

foram utilizados para grafar nomes proacuteprios e ressaltar ideias que noacutes (ou os autores

citados) consideramos relevantes

Tambeacutem para facilitar a leitura optamos por fazer uma lista com as siglas e

abreviaturas constantes no texto juntamente com seus respectivos equivalentes por

extenso Resolvemos disponibilizar como anexos trecircs textos-chave que utilizamos neste

trabalho o texto brasileiro do Marco Civil da Internet o novo Projeto de Lei da Coacutepia

Privada portuguecircs e o diploma brasileiro com as propostas de reforma da Lei do Direito

Autoral

24

25

CAPIacuteTULO I

NOVAS TECNOLOGIAS NOVOS PARADIGMAS

26

27

10 O ideal da Rede como um territoacuterio livre

O nascimento da Internet foi acompanhado pelo ideal utoacutepico de surgimento de um

espaccedilo de liberdade absoluta A convicccedilatildeo era a de que se podia fazer muito pouco para

controlar o fluxo de informaccedilotildees que ultrapassam as fronteiras geograacuteficas A forma como

a conexatildeo entre as maacutequinas e a proacutepria arquitetura do sistema foram pensadas e

realizadas contribuiacutea para seu caraacuteter descentralizado e independente Criada como

ferramenta militar a antiga ARPANet foi projetada pelos norte-americanos para ser uma

rede de transmissatildeo de informaccedilotildees baseada em pontos como uma teia de aranha Se um

desses pontos fosse sabotado o sistema natildeo se danificaria pois natildeo possui um ceacuterebro

central a ser atingido A queda de um dos noacutes natildeo impossibilita a circulaccedilatildeo de

informaccedilotildees Nicolas Negroponte ressalta o prodiacutegio do sistema descentralizado que eacute a

Rede e compara seu modelo de funcionamento aos patos voando em formaccedilatildeo mesmo na

inexistecircncia de um comando suas peccedilas se ajustam de maneira admiraacutevel (Negroponte

1995 156-157)

A maior contribuiccedilatildeo da Rede agrave humanidade talvez tenha sido a liberaccedilatildeo do poacutelo

da emissatildeo ou da palavra (Lemos 2007b 37) isto eacute qualquer pessoa que tenha acesso a

um computador conectado agrave Internet pode falar e ser ouvida por centenas milhares de

outros utilizadores da Rede Atraveacutes da publicaccedilatildeo de textos viacutedeos etc em blogs e redes

sociais o internauta pode comunicar-se de maneira interativa com outros e propagar suas

ideias

O nascimento das tecnologias digitais construiu uma nova espeacutecie de cultura

marcada por relaccedilotildees sociais econocircmicas e poliacuteticas mediadas pela esfera virtual a

cibercultura O aparecimento da cibercultura tem a ver sobretudo com a transformaccedilatildeo

dos novos aparatos de informaccedilatildeo em recursos de uso ordinaacuterio por parte de pessoas e

instituiccedilotildees nessa nova era a utilizaccedilatildeo de equipamentos como telefones portaacuteteis palms

pages etc e praacuteticas como o voto eletrocircnico e o uso de home bankings se tornaram

rotineiras A palavra cibercultura aparece para dar conta desse e dos demais fenocircmenos

que nasceram agrave volta das noviacutessimas tecnologias de comunicaccedilatildeo das chamadas miacutedias

digitais interativas

Associa-se a criaccedilatildeo da expressatildeo cibercultura agrave engenheira norte-americana Alice

Hilton Fundadora do Instituto de Pesquisas Ciberculturais em 1964 Hilton foi pioneira ao

28

usar a expressatildeo com sentido enfaacutetico referindo-se com seu uso a uma exigecircncia eacutetica da

nova era da automaccedilatildeo e das maacutequinas inteligentes (Ruumldiger 2011 08) Para a autora a

revoluccedilatildeo que essa nova era pocircs em marcha coloca agrave sociedade um desafio eacutetico de escala

universal A humanidade deve agora escolher entre a educaccedilatildeo emancipatoacuteria e o lazer

criativos de um lado e a adaptaccedilatildeo mecacircnica e a idiotia apaacutetica de outro Hilton afirmava

que a revoluccedilatildeo ciberneacutetica tornava necessaacuteria uma reestruturaccedilatildeo dos programas e

processos educacionais jaacute que apenas ldquoos seres humanos que aprenderem a usar a

maacutequina com sabedoria seratildeo por ela liberados para alcanccedilar sua excelecircnciardquo (Hilton

1964 146)

Com o aparecimento da Internet surgiram definiccedilotildees mais abrangentes Arturo

Escobar diz que o termo cibercultura refere-se ldquoa um amplo processo de construccedilatildeo

sociocultural (da realidade) posto em marcha no rastro das novas tecnologiasrdquo (Escobar

apud Ruumldiger 2011 09) Jaacute Pierre Leacutevy propocircs um conceito mais direto a cibercultura eacute

ldquoo conjunto de teacutecnicas (materiais e intelectuais) de praacuteticas de atitudes de modos de

pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do

ciberespaccedilordquo (Leacutevy 1999 17) Consideremos o ciberespaccedilo (o novo lugar onde se

desenvolve o mundo virtual e todos os processos que permitem e atuam em seu

funcionamento) como efeito da cibercultura

A cibercultura eacute classificada por Luacutecia Santaella como a sexta e mais recente era

cultural (Santaella 2010 77) Os estaacutegios anteriores seriam oral escrito impresso de

massas e das miacutedias A cultura de massa resultado do aacutepice de desenvolvimento das

induacutestrias culturais ficou marcada pela ideia do Homem como um mero receptor sem

poder de decisatildeo despersonalizado e alienado pela enxurrada de informaccedilotildees generalistas

produzidas em larga escala Isso se deu segundo Joeumll Rosnay porque a estrutura de

distribuiccedilatildeo e difusatildeo dos produtos e serviccedilos culturais baseada em um modelo piramidal

transformou-nos de facto em receptores passivos (Rosnay 1997 295-296) O exemplo

crucial eacute o da televisatildeo natildeo haacute qualquer relaccedilatildeo dinacircmica entre produtores e receptores de

informaccedilatildeo A uacutenica forma de saber o que o puacuteblico pensa eacute realizar inqueacuteritos pesquisas

de audiecircncia ou outros levantamentos do gecircnero ndash mas tudo isso se faz em outro contexto

que natildeo o do momento do visionamento Agrave parte disso soacute recebemos aquilo que nos eacute

dado sem poder interferir nos processos produtivos

A passagem para a cultura das miacutedias se deu com o aparecimento da TV por cabo

do fax das fotocopiadoras do videocassete e de um sortimento maior de possibilidades de

29

comunicaccedilatildeo Eacute aiacute que a segmentaccedilatildeo da audiecircncia aparece para quebrar a uniformidade

da oferta

Mas foi na transiccedilatildeo da cultura das miacutedias para a cibercultura que houve a

mudanccedila mais profunda a relaccedilatildeo receptiva de sentido uacutenico com o televisor caminhou

rumo ao modo interativo e bidirecional que eacute exigido pelos computadores Para Francisco

Ruumldiger na nova miacutedia digital a comunicaccedilatildeo eacute interativa em sentido simultaneamente

especiacutefico e ampliado ampliado por um lado porque permite a interaccedilatildeo humana ativa e

em matildeo dupla com os proacuteprios equipamentos e meios que a viabilizam especiacutefico de

outro porque esta circunstacircncia permite ainda a interaccedilatildeo social ativa com outros seres

humanos ao promover o aparecimento de redes participativas que superam a pura e

simples interligaccedilatildeo social como ocorria nas miacutedias precedentes (Ruumldiger 2011 13)

A cibercultura abriu vias alternativas de comunicaccedilatildeo e deu ao puacuteblico uma vasta

gama de opccedilotildees nunca antes possiacutevel Ao contraacuterio das miacutedias precedentes que montavam

suas grades de programaccedilatildeo e de conteuacutedos agrave revelia das muacuteltiplas preferecircncias do

puacuteblico no ciberespaccedilo o utilizador tem infinitas possibilidades de escolha podendo

transitar de um conteuacutedo para outro em apenas alguns cliques criando seu proacuteprio

ambiente informacional e mesclando-o com outros Natildeo que antes natildeo houvesse

possibilidades de acesso e produccedilatildeo underground da informaccedilatildeo (fanzines raacutedios piratas

etc) ndash elas sempre existiram mas com alcance bastante limitado

Na cibercultura a piracircmide produtiva em seu modelo hieraacuterquico no qual os

papeis desempenhados eram fixos comeccedila a ceder Cada um pode torna-se produtor

criador difusor de seus proacuteprios conteuacutedos A sociedade de distribuiccedilatildeo piramidal

comeccedilou a sofrer a concorrecircncia de uma sociedade reticular de integraccedilatildeo em tempo real ndash

eacute essa uma das caracteriacutesticas mais marcantes da nova era midiaacutetica a era da cibercultura

Cada vez mais ela vecirc seu lugar de mediadora social da opiniatildeo puacuteblica ser denunciado e

rejeitado por partes significativas das grandes massas que antes se deixavam de bom

grado representar (Rushkoff 1999 141-142)

No entanto essa mudanccedila natildeo significou a morte daquilo a que Manuel Castells

chamou ldquooligopoacutelios comunicacionaisrdquo (Castells 2005 24) A influecircncia das grandes

induacutestrias de miacutedia e dos conglomerados comunicacionais continua relativamente forte no

ciberespaccedilo persistindo tambeacutem a defesa de seus interesses em detrimento do interesse

puacuteblico Conforme Castells afirma

30

() a sociedade em rede constitui comunicaccedilatildeo socializante para laacute do sistema de mass

media que caracterizava a sociedade industrial Mas natildeo representa o mundo de

liberdade entoada pelos profetas da ideologia libertaacuteria da Internet Ela eacute constituiacuteda

simultaneamente por um sistema oligopolista de negoacutecios multimeacutedia que controlam um cada vez mais inclusivo hipertexto e pela explosatildeo de redes horizontais de

comunicaccedilatildeo localglobal (CASTELLS 2005 24)

Os grandes conglomerados temem perder sua influecircncia e seu prestiacutegio e para

evitar ameaccedilas reagem usando muitos meios que ajudam a manter seu status quo no

universo comunicacional Basta que os interesses das empresas vejam-se ameaccedilados por

iniciativa dos usuaacuterios para o conflito explodir e o confronto aparecer em toda sua

violecircncia (Antoun Lemos amp Pecini 2007 264)

Eacute preciso salientar que o desenvolvimento da informaacutetica expandiu natildeo apenas as

ferramentas libertaacuterias que abriram um maior acesso agrave informaccedilatildeo e agrave cultura mas

tambeacutem os meios de controlo a esse acesso A tecnologia se mostra uma faca de dois

gumes capaz de facilitar o contato de seu usuaacuterio com canais eficientes de interaccedilatildeo e

participaccedilatildeo mas ao mesmo tempo uacutetil aos governos e aos grupos de interesses em sua

empreitada pela vigilacircncia das atividades desse usuaacuterio na Rede Recorrendo mais uma

vez a Castells

Aplicaccedilotildees de software podem configurar-se sobre a Internet permitindo a

identificaccedilatildeo de rotas de comunicaccedilatildeo e conteuacutedos Atraveacutes do uso destas tecnologias pode-se transgredir a privacidade e enquanto se chega a relacionar determinados

indiviacuteduos com processos de comunicaccedilatildeo especiacuteficos em contextos institucionais

concretos eacute possiacutevel utilizar todas as formas tradicionais de controlo poliacutetico e

organizativo contra o indiviacuteduo ligado em rede (CASTELLS 2007 203)

Dispositivos moacuteveis equipamentos informaacuteticos interligados e redes sem fio

constituem o territoacuterio informacional Entenda-se por territoacuterio informacional as zonas de

controlo de informaccedilatildeo resultantes da intersecccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico com o eletrocircnico

Pensar em termos de territoacuterio digital permite visualizar a fronteira do fluxo

informacional colocando-nos questotildees poliacuteticas relacionadas com a privacidade o

controlo e a vigilacircncia Isto porque ldquotodo territoacuterio informacional eacute um lugar social de

vigilacircncia de fronteiras jaacute que lsquoa soberania se exerce nos limites de um territoacuteriorsquo

(Foucault 2006 27) Os territoacuterios informacionais satildeo lugares onde se exercem controles

[]rdquo (Lemos 2007a 208) Em obra posterior Andreacute Lemos afirma ainda o seguinte

31

O territoacuterio informacional natildeo eacute o ciberespaccedilo mas o espaccedilo movente hiacutebrido

formado pela relaccedilatildeo entre o espaccedilo eletrocircnico e o espaccedilo fiacutesico Por exemplo o lugar

de acesso sem fio em um parque por redes wi-fi eacute um territoacuterio informacional distinto

do espaccedilo fiacutesico parque e do espaccedilo eletrocircnico Internet Ao acessar a Internet por essa rede wi-fi o usuaacuterio estaacute em um territoacuterio informacional imbricado no territoacuterio fiacutesico

(e poliacutetico cultura imaginaacuterio etc) do parque [] O territoacuterio informacional cria um

lugar dependente dos espaccedilos fiacutesico e eletrocircnico a que ele se vincula [] O que estaacute

em jogo eacute o controle (territorializaccedilatildeo) informacional e consequentemente uma nova

funccedilatildeo dos espaccedilos (puacuteblicos e privados) (LEMOS 2010 64)

Ainda haacute quem acredite que a Rede eacute um territoacuterio neutro sem governanccedila que

exerccedila algum controlo de entrada e do traacutefego de conteuacutedos em circulaccedilatildeo A situaccedilatildeo natildeo

eacute bem esta desde que a Internet passou a ser mateacuteria de legislaccedilatildeo ndash como em casos de

paiacuteses que jaacute punem judicialmente algueacutem que produza e divulgue via Internet

informaccedilotildees caluniosas sobre outrem cometa fraudes financeiras usando a Rede como

canal fira a propriedade intelectual etc

Vaacuterios autores consideram o ciberespaccedilo como um espaccedilo ilimitado constituiacutedo

por redes informacionais planetaacuterias permitindo a circulaccedilatildeo fora de qualquer

constrangimento Para eles a Rede seria portanto um espaccedilo puro e eteacutereo Os entusiastas

da liberdade absoluta na Internet afirmam que no ciberespaccedilo o territoacuterio rugoso e

resistente eacute apagado apenas subsistindo um espaccedilo fluido feito para circulaccedilatildeo Contudo

embora realmente permita essa circulaccedilatildeo o ciberespaccedilo eacute tambeacutem um espaccedilo estriado

institucionalizado controlado feito por protocolos de acessos a partir de senhas

informacionais organizado por padrotildees tecnoloacutegicos que satildeo geridos pelo ICANN

instituiccedilatildeo do Departamento de Comeacutercio Americano O ciberespaccedilo natildeo eacute um territoacuterio

apenas liso e fluido mas tambeacutem um territoacuterio de controlo e vigilacircncia ou seja um ldquolugar

de territorializaccedilatildeordquo (Lemos 2007b 44-45)

Para Luacutecia Santaella o tratamento criacutetico das chamadas ldquosupervias

informacionaisrdquo e da cibercultura que nelas se gera pode se dividir em duas tendecircncias a

eufoacuterica e a disfoacuterica (Santaella 2010 72-73) Os adeptos eufoacutericos pregam a ideia da

libertaccedilatildeo e das possibilidades utoacutepicas abertas pela comunicaccedilatildeo digital A atmosfera de

zona livre que a Internet aparentava ter nutriu ideais de mudanccedilas das formas de poder

social vigentes Pensou-se a Rede e seu caraacuteter imaterial como um novo espaccedilo livre das

formas tradicionais de propriedade Como diz Sherry Turkle ldquoPessoas que pensam o

mundo em termos burocraacuteticos preconizaram os modos pelos quais as comunidades

eletrocircnicas estariam fadadas a minar as formas tradicionais de organizaccedilatildeo e poder

sociaisrdquo (Turkle 1997 247)

32

No outro extremo estatildeo os adeptos disfoacutericos que transplantam para o ciberespaccedilo

os mesmos criteacuterios utilizados para criticar as outras miacutedias a cultura de massas e a

induacutestria cultural sem considerar as novidades e as especificidades desse novo meio Eacute

preciso considerar que o ciberespaccedilo eacute um fenocircmeno suficientemente complexo para que

natildeo o categorizemos a partir do ponto de vista de qualquer miacutedia previamente existente

Ateacute na discussatildeo referente agrave regulaccedilatildeo1 devemos considerar esse aspecto Mais adiante

voltaremos a falar sobre isso

Henrique Antoun salienta a metamorfose provocada pela comunicaccedilatildeo distribuiacuteda

pelas redes interativas mas critica o cacircntico do cibermundo libertador entoado pelos mais

entusiasmados Apesar do potencial transformador das novas tecnologias de seu poder de

reunir pessoas em prol de objetivos comuns e de seu largo alcance no globo a profusatildeo

em cascata de informaccedilotildees irrelevantes ergue um gigantesco tsunami onde se guarda a

maior parte dos conteuacutedos em circulaccedilatildeo na Internet E isso tudo estaacute longe da

recombinaccedilatildeo criadora e da atitude libertaacuteria preconizada nos mantras entoados pelos

ciberativistas (Antoun 2010 142)

Devemos considerar poreacutem que atraveacutes da apoteose da emissatildeo livre (liberdade de

vozes opiniotildees ideias) o ciberespaccedilo abriu possibilidades de mudanccedila movimento e

linhas de fuga Natildeo eacute agrave toa que atitudes de repressatildeo agrave palavra e agrave conexatildeo livres satildeo

prerrogativas tiacutepicas dos regimes totalitaacuterios

O facto eacute que os poderes judiciaacuterios de vaacuterias naccedilotildees espalhadas pelo planeta

perceberam a necessidade de punir natildeo apenas quem ferisse a moral de outra pessoa

atraveacutes da Rede mas tambeacutem quem atentasse contra outro dos ldquodireito de personalidaderdquo

ndash a saber os direitos de autor - e tambeacutem quem desrespeitasse a propriedade intelectual

Com isso a principal duacutevida que se levanta desde entatildeo eacute como adaptar o quadro juriacutedico

que versa sobre os direitos de autor os direitos conexos e a propriedade intelectual a esse

novo meio o virtual Para tentar responder a essa questatildeo eacute preciso observar algumas

mudanccedilas trazidas natildeo soacute pela Internet mas tambeacutem pelas miacutedias digitais de maneira

geral

20 O fenocircmeno da desmaterializaccedilatildeo da obra

1 Utilizamos aqui o termo regulaccedilatildeo para nos referirmos ao conjunto de medidas legais ou regulamentares

que regem um assunto (no caso um meio a Internet) embora haja especialistas que evoquem o mesmo tema

com os termos regulamentaccedilatildeo governaccedilatildeo ou governanccedila

33

Em seu formato analoacutegico uma informaccedilatildeo ndash agrave maneira de uma onda sonora que

se desloca no ar ou de um sinal eleacutetrico ndash eacute uma grandeza fiacutesica que varia e evolui no

tempo de maneira contiacutenua A digitalizaccedilatildeo consiste em dividir essa grandeza em

pequenas fraccedilotildees mediante o valor que tecircm em intervalos regulares (para a muacutesica de um

CD por exemplo 40000 vezes por segundo) Depois eacute preciso quantificar esse valor

atribuindo-lhe uma identificaccedilatildeo informaacutetica sob formato binaacuterio isto eacute utilizando apenas

dois nuacutemeros 0 e 1 (bits da informaccedilatildeo) O sinal digital eacute portanto um fluxo de bits

estocado em um disco laser e agrupado em pacotes podendo ser tratado por qualquer

computador

A digitalizaccedilatildeo homogeneiacuteza todas as fontes de informaccedilatildeo em cadeias sequenciais

de 0 e 1 Suas maiores vantagens satildeo a compressatildeo de dados e a correccedilatildeo de erros A

compressatildeo baseia-se no facto de que um sinal conteacutem muitas informaccedilotildees inuacuteteis ou

redundantes Atraveacutes da observaccedilatildeo dos bits no tempo no espaccedilo ou em ambos podem-se

remover as repeticcedilotildees comprimindo assim a forma baacutesica do som e da imagem Isso

permite inclusive a compressatildeo e descompressatildeo codificando e decodificando mensagens

em viacutedeo por exemplo A fusatildeo entre aacuteudio viacutedeo e texto em um soacute produto eacute

denominada multimiacutedia Ela refere-se assim ao tratamento digital de todas as

informaccedilotildees (som imagem programas informaacuteticos e texto) com a mesma linguagem

universal aquilo a que Joeumll Rosnay chamou de ldquoesperanto das maacutequinasrdquo (Rosnay 1997

97)

Antes da digitalizaccedilatildeo os suportes eram incompatiacuteveis e isolados cada um com

uma funccedilatildeo especiacutefica fita magneacutetica para viacutedeo ou som papel para texto e peliacutecula para

fotografia ou filme Hoje a transmissatildeo de dados digitais natildeo depende do meio de

transporte (cabos sateacutelite ondas de raacutedio etc) e sua qualidade natildeo eacute afetada por ele

Aleacutem do mais sua estocagem eacute extremamente barata Desde o iniacutecio da informaacutetica as

memoacuterias dos computadores tecircm evoluiacutedo sempre em direccedilatildeo a uma maior capacidade de

armazenamento maior miniaturizaccedilatildeo maior rapidez de acesso e confiabilidade enquanto

seu custo cai constantemente O processamento de dados por parte dos computadores

tambeacutem se desenvolve a passos largos obedecendo agrave previsatildeo de Gordon Moore em 1965

(naquela que ficou conhecida como ldquoLei de Moorerdquo que disse que o poder de

processamento dos computadores dobraria a cada vinte e quatro meses) (Leacutevy 1999 34)

34

Em um uacutenico setor do todo digital foram fundidas as principais formas de comunicaccedilatildeo

humana o documento escrito (imprensa livro etc) o audiovisual (cinema televisatildeo

etc) as telecomunicaccedilotildees (telefone cabo sateacutelites) e a informaacutetica (computadores

softwares etc) Eacute esse o processo comumente denominado ldquoconvergecircncia das miacutediasrdquo

(Santaella 2010 84)

A digitalizaccedilatildeo tambeacutem facilitou os processos de transferecircncia de dados Depois de

serem convertidos em linguagem binaacuteria os dados hiacutebridos podem ser sintetizados em

qualquer lugar e em qualquer tempo para gerar produtos com as mesmas caracteriacutesticas

visuais e sonoras Assim os dados natildeo dependem do tempo nem do espaccedilo podendo ser

reproduzidos de maneira idecircntica natildeo importando qual tenha sido sua origem nem seu

destino Eles satildeo telegrafaacuteveis Para que isso se realize precisam apenas de um modem e

de uma conexatildeo telefocircnica entre terminais de computadores

Foram dois estudantes da Universidade de Chicago que criaram o modem em

1978 Para natildeo percorrerem a longa distacircncia entre suas respectivas casas os estudantes

tentaram desenvolver um sistema de transferecircncia de programas de um computador a

outro via telefone Eles entatildeo inventaram o protocolo Xmodem que permitia que

computadores transferissem arquivos diretamente sem passar por um sistema principal

Modem significa ldquomodulador-desmoduladorrdquo Ele transforma os impulsos eletrocircnicos

produzidos pelo computador (os coacutedigos sob a forma de bits) em impulsos sonoros ou

digitais compactados tornando-os assim capazes de viajar em alta velocidade pelas redes

telefocircnicas Na recepccedilatildeo outro modem reconverte esses impulsos em textos sons ou

imagens Joeumll Rosnay diz que o modem eacute a sinapse universal do sistema nervoso

planetaacuterio (Rosnay 1997 138)

Portanto o que diferencia a informaccedilatildeo distribuiacuteda pela Internet daquela difundida

em formatos tradicionais eacute a natureza ela deixou de se apoiar em suportes fiacutesicos como

um livro ou CD por exemplo para ser convertida em linguagem binaacuteria O efeito nos leva

a pensar em paralelo ao que Karl Marx quis dizer quando afirmou que ldquotudo o que eacute soacutelido

desmancha no arrdquo (Marx apud Berman 1982 85) Essa mudanccedila na forma como a

informaccedilatildeo eacute fixada provocou profundas transformaccedilotildees na maneira como eacute distribuiacuteda

comercializada e reproduzida A desmaterializaccedilatildeo da obra diminuiu os limites entre a

reproduccedilatildeo difusatildeo e sua circulaccedilatildeo Jaacute natildeo existem barreiras fiacutesicas que separem os trecircs

processos Uma obra que antes soacute poderia ser distribuiacuteda pelos serviccedilos postais hoje pode

ser acessada atraveacutes de um download e seu conteuacutedo pode ser visualizado por meio de um

35

servidor de Internet A era da cibercultura faz nascer um novo paradigma a digitalizaccedilatildeo

que por ter vocaccedilatildeo cosmopolita rompe fronteiras barateando os custos da circulaccedilatildeo e

reproduccedilatildeo de artefatos culturais

A aura da obra original agrave qual se referiu Walter Benjamin no claacutessico texto ldquoA

obra de arte na era da sua reprodutibilidade teacutecnicardquo (Benjamin 2012 59) quebra-se

duplamente na era da cibercultura natildeo soacute pela possibilidade de copiaacute-la infinitamente

mas tambeacutem de reproduzi-la e espalhaacute-la sem sequer ser preciso algum suporte fiacutesico

Pierre Sirinelli afirma que o fenocircmeno da digitalizaccedilatildeo de bens culturais ldquopode levar agrave

lsquodessacralizaccedilatildeorsquo da obra de criaccedilatildeo intelectual com a eliminaccedilatildeo de seu suporte fiacutesico

[]rdquo (Sirinelli apud Neto 1997 14) A ausecircncia do exemplar material faz faltar uma das

caracteriacutesticas da obra protegida pelo direito do autor a fixaccedilatildeo (Paesani 2008 48) A

desmaterializaccedilatildeo da obra e suas consequecircncias satildeo pontos centrais na discussatildeo sobre as

mudanccedilas sofridas pelo direito de autor na era da informatizaccedilatildeo

30 Espaccedilo e tempo se comprimem a dromocracia firma-se

As novas tecnologias criaram um novo lugar o mundo virtual que eacute o espaccedilo onde

se desenvolve nossa existecircncia enquanto agentes virtuais capazes de intervir e de ocupar

esse territoacuterio

A noccedilatildeo de territoacuterio eacute polissecircmica e natildeo deve ser entendida apenas pelo aspecto

juriacutedico como espaccedilo fiacutesico delimitado (Lemos 2007a 209) A ideia de territoacuterio evoca o

sentido de controlo sobre fronteiras que podem ser fiacutesicas sociais simboacutelicas ou

subjetivas A criaccedilatildeo de um territoacuterio supotildee a intenccedilatildeo de controlar os processos que se

datildeo no interior das fronteiras Desterritorializar eacute portanto quebrar essas fronteiras criar

linhas de fuga Eacute justamente o que vem acontecendo desde o surgimento da Rede

A transformaccedilatildeo midiaacutetica promovida pela Internet aboliu nossas tradicionais

noccedilotildees de espaccedilo fiacutesico-geograacutefico A rede mundial de computadores trouxe a diminuiccedilatildeo

das distacircncias geograacuteficas de forma ainda mais acentuada que outros meios de

comunicaccedilatildeo veteranos ndash como o telefone por exemplo - atraveacutes de uma instantaneidade

nunca vista antes Ela promoveu a convergecircncia de diversos meios de comunicaccedilatildeo

fazendo-os trabalhar em conjunto e assim possibilitando o surgimento de um espaccedilo

multimiacutedia capaz de unificar tecnologias de texto aacuteudio e viacutedeo em tempo real

36

Com o advento da Internet a informaccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo deixaram de estar

espacialmente localizadas - isto eacute foram transferidas para o espaccedilo virtual ou ciberespaccedilo

possibilitando o contato simultacircneo de inuacutemeras pessoas entre si e com a memoacuteria do

conjunto dos computadores participantes da rede independentemente de sua localizaccedilatildeo

no espaccedilo (Sorj 2003 36) A cibercultura representou a apoteose da ldquoaldeia globalrdquo

imaginada por Marshall McLuhan (1969) agrave maneira de uma aldeia onde as notiacutecias

espalham-se velozmente a comunicaccedilatildeo em escala global se produz de maneira

praticamente instantacircnea

Armand Mattelart argumenta que a Rede tornou nulas as noccedilotildees de centralidade de

territorialidade e de materialidade

As quatro virtudes cardeais da sociedade informacional ndash ldquodescentralizarrdquo ldquoglobalizarrdquo ldquoharmonizarrdquo e ldquodar pleno poder para fazerrdquo (empowerment) ndash estatildeo a

ponto de derrubar o arcaico Leviatatilde Noacutes nos socializaremos em bairros digitais nos

quais o espaccedilo fiacutesico natildeo seraacute mais pertinente O digital suportaraacute cada vez menos a

dependecircncia em relaccedilatildeo a um lugar especiacutefico e a um tempo especiacutefico

(MATELLART 2002 150)

Anteriormente afirma que

A transgressatildeo das fronteiras eacute seu corolaacuterio quer sejam elas fiacutesicas ou funcionais O

local o nacional e o global se interpenetram A concepccedilatildeo a produccedilatildeo e a

comercializaccedilatildeo satildeo pensadas de modo sincrocircnico O recipiente e o conteuacutedo o

hardware e o software se englobam (MATTELART 2002 53)

Andreacute Lemos refere-se ao ciberespaccedilo como ambiente ldquodesterritorializanterdquo

segunda dimensatildeo de lugar que se constitui em uma realidade agrave parte do mundo material

em que vivemos e que apaga as fronteiras existentes no mundo fiacutesico pelo chamado

multiculturalismo (Lemos 2007a 212) A Rede abre espaccedilo para que diferentes culturas

se expressem e se mostrem dando-se a conhecer aos outros

Podemos dizer que a cibercultura serviu como agente difusor por excelecircncia do

multiculturalismo pela possibilidade de contatos transnacionais que promoveu Nossas

raiacutezes culturais natildeo se desprendem de noacutes mas tornam-se moacuteveis flutuantes Se

quisermos descobrir o sufismo por exemplo podemos aceder diretamente a um site

egiacutepcio e mesmo que natildeo saibamos ler em aacuterabe jaacute haacute ferramentas que permitem fazecirc-lo

pois auxiliam na traduccedilatildeo bruta de textos Nem mesmo as liacutenguas estrangeiras representam

37

barreiras Podemos ter liccedilotildees baacutesicas de aacuterabe gratuitamente pela Internet A abertura de

espaccedilos para as diferentes expressotildees culturais e linguiacutesticas manifestarem-se e a

facilidade de aceder a elas atingiu seu apogeu no ciberespaccedilo todo um universo

multicultural de pluralidade estaacute largamente disponiacutevel a alguns cliques de distacircncia

Hoje a Rede permite ao usuaacuterio estar em todos os lugares ao mesmo tempo mas

numa espeacutecie de natildeo-lugar ou de territoacuterio transnacionalizado Atraveacutes da Internet eacute

possiacutevel ouvir uma raacutedio francesa ler um jornal indiano e visitar um site russo Fazemos

coisas assim diariamente com naturalidade e facilidade Podemos conversar com um

amigo que estaacute no Liacutebano atraveacutes do Skype sem nos darmos conta de que vivemos um

processo de desterritorializaccedilatildeo generalizado Acompanhamos o desenrolar da Primavera

Aacuterabe ao vivo atraveacutes da Rede acessamos informaccedilotildees e descobrimos aquilo que natildeo faz

necessariamente parte de nosso territoacuterio fiacutesico Podemos vivenciar processos globais natildeo

enraizados na nossa tradiccedilatildeo cultural Esse fenocircmeno eacute o que Anthony Giddens (2005 15)

chama de ldquodescontextualizaccedilatildeordquo2

Por descontextualizaccedilatildeo refiro-me agrave ldquodesinserccedilatildeordquo das relaccedilotildees sociais dos contextos

locais de interacccedilatildeo e agrave sua reestruturaccedilatildeo atraveacutes de extensotildees indefinidas de espaccedilo-

tempo Os mecanismos de descontextualizaccedilatildeo [] removem as relaccedilotildees sociais da sua

ldquofixaccedilatildeordquo em locais especiacuteficos (GIDDENS 2005 15-37)

A compressatildeo do espaccedilo-tempo institui o ldquotempo realrdquo e a possibilidade de acesso

a informaccedilotildees em todos os recantos do planeta As miacutedias eletrocircnicas criam assim

processos desterritorializantes em niacuteveis poliacutetico econocircmico social cultural e subjetivo

A desterritorializaccedilatildeo informacional afeta a poliacutetica a economia o indiviacuteduo os viacutenculos

identitaacuterios a arte A Internet eacute efetivamente maacutequina desterritorializante sob os aspectos

poliacutetico (acesso e accedilatildeo para aleacutem das fronteiras) econocircmico (circulaccedilatildeo financeira

mundial) cultural (consumo de bens simboacutelicos mundiais) e subjetivo (influecircncia global

na formaccedilatildeo do sujeito) Pode-se afirmar que processos de desencaixe e de compressatildeo

espaccedilo-tempo entraram em accedilatildeo na cibercultura

Isso leva-nos a pensar no conceito de ldquodromologiardquo proposto por Paul Virilio

(2000) e retomado por Eugecircnio Trivinho (2007) Dromologia vem da palavra dromos no

original grego ldquocorridardquo A dromologia seria portanto o estudo da velocidade que

segundo Virilio tornou-se desde a Revoluccedilatildeo Industrial o regime tecnoloacutegico integral que

2 No original em inglecircs disembedding (Giddens 1995)

38

abarca todas as esferas da vida e que se ergueu como sistema social de caraacuteter

transnacional

Trivinho fala em ldquodromocracia ciberculturalrdquo para descrever a atual fase mundial

do capitalismo tardio Integrando comunicaccedilatildeo em rede instantaneidade e cultura digital

ela se traduz em outros termos como o estaacutegio mais avanccedilado da civilizaccedilatildeo midiaacutetica em

tempo real Ela tornou-se a loacutegica exponencial especiacutefica da cibercultura Dizendo de

maneira inversa a cibercultura em sua natureza se mostra como uma sociodromocracia

tecnoloacutegica em sua forma mais definida (Trivinho 2007 23)

Podemos dizer que a cibercultura eacute a era dromocraacutetica por excelecircncia no

ciberespaccedilo a velocidade eacute a grandeza mais significativa e influente

O permanente intento de vitoacuteria cineacutetica sobre o territoacuterio geograacutefico alcanccedila assim paradoxalmente na intermitente linha do tempo histoacuterico o seu ponto-limite a sua

condiccedilatildeo insuperaacutevel de natildeo-retorno com a proliferaccedilatildeo comercial dos meios

eletrocircnicos de comunicaccedilatildeo especificamente no que dizem respeito ao tempo real []

O respectivo ecircxito sobre o territoacuterio geograacutefico significa mais propriamente liquidaccedilatildeo

e superaccedilatildeo do mesmo em favor da loacutegica pura do tempo (TRIVINHO 2007 56-57)

A questatildeo do territoacuterio tem relaccedilatildeo direta com o controlo A noccedilatildeo de territoacuterio

como controlo vem da etologia mostrando como o comportamento dos animais estabelece

zonas efetivas de controlo Toda ideia de territoacuterio tem ligaccedilatildeo direta com a noccedilatildeo de

acesso e controlo no interior das fronteiras Para Lemos as palavras acesso e controlo satildeo

extremamente importantes para que consigamos compreender a sociedade tecnoloacutegica

contemporacircnea (Lemos 2007b 43) O acesso ao universo informacional se daacute atraveacutes de

palavras-passe E na Rede haacute efetivamente um maior controlo sobre o que emitimos e

recebemos ao contraacuterio da praacutetica de consumo de informaccedilatildeo na cultura de massas Na

claacutessica cultura de massas a possibilidade de controlo existia apenas sobre as informaccedilotildees

recebidas escolha de jornais de emissoras de televisatildeo de estaccedilotildees de raacutedio etc mas natildeo

sobre a emissatildeo O territoacuterio informacional eacute uma heterotopia (Foucault 1984) do controlo

e acesso a informaccedilotildees digitais

40 Somos todos criadores a fusatildeo entre autor e consumidor

39

O papel do autor sofreu profundas metamorfoses na era da cibercultura

Hildebrando Neto afirma que ldquoas novas tecnologias afastaram o criador da criaccedilatildeo

pulverizando os mecanismos de defesa da obra no acircmbito das redes de comunicaccedilatildeo

eletrocircnicardquo (Neto 1997 14) A aceleraccedilatildeo tecnoloacutegica tambeacutem cria outro receptor ativo

agitado cada vez mais conectado e produtor de novos valores sentidos e comportamentos

Na cibercultura a produccedilatildeo de informaccedilotildees deixou de obedecer agrave ordem do fluxo um

todos e passou a ser todos todos (Leacutevy 1999 63) Conforme diz Ronaldo Lemos

A grande promessa da Internet era exatamente esta romper com as barreiras entre

produtor e consumidor da cultura entre puacuteblico e artista Criar um territoacuterio neutro aberto que tornasse o indiviacuteduo o centro da informaccedilatildeo Um territoacuterio em que natildeo

necessariamente seria preciso reproduzir o modelo de concentraccedilatildeo da miacutedia que

predominou em todo o seacuteculo XX Em outras palavras tornar a cultura um produto da

interaccedilatildeo entre todos permitindo a qualquer um participar criativamente na sua

constituiccedilatildeo (LEMOS 2005 181)

Andreacute Lemos afirma que a cibercultura reconfigurou a induacutestria cultural pois

instaurou uma estrutura midiaacutetica iacutempar na histoacuteria da humanidade pela primeira vez

qualquer indiviacuteduo pode produzir e publicar informaccedilatildeo em tempo real sob diversos

formatos e modulaccedilotildees adicionar e colaborar em rede com outros etc (Lemos 2007b

39)

No atual contexto da cibercultura o antigo receptor passa a produzir e emitir sua

proacutepria informaccedilatildeo de forma livre multimodal (em vaacuterios formatos midiaacuteticos) e

planetaacuteria Os usuaacuterios estatildeo produzindo viacutedeos fotos muacutesicas escrevendo em blogs

criando foacuteruns e comunidades desenvolvendo softwares e ferramentas da Web 20 A

facilidade de produzir conteuacutedos tambeacutem afeta a forma como se daacute essa tarefa A

revoluccedilatildeo no papel do produtor atinge um ponto-chave no processo criativo a questatildeo do

estilo O estilo pode ser definido como um certo modo de criar proacuteprio de um autor

indicado pelas marcas de autoria (Santaella 2009 104)

Nos seacuteculos precedentes se encarava a atividade de criaccedilatildeo como algo

completamente individual O autor era algueacutem que isoladamente desenvolvia suas

criaccedilotildees artiacutesticas de forma solitaacuteria soacute deixando essa situaccedilatildeo no momento em que

apresentava sua obra publicamente pela primeira vez Conforme diz Henrique Gandelman

[] nesse periacuteodo noacutes temos a obra totalmente individual que se reconhece ateacute pelo estilo Se vocecirc lecirc um texto vecirc uma pintura ouve uma muacutesica no raacutedio vocecirc vai dizer

esse aiacute eacute Bach esse aiacute eacute Mozart esse aiacute eacute Joatildeo Gilberto O estilo eacute o proacuteprio homem a

40

continuaccedilatildeo da sua personalidade Entatildeo noacutes podemos observar que as primeiras leis de

direito autoral satildeo enfocadas centralizadas nesse trabalho individual em que se tinha

claramente o escritor o pintor o compositor o arquiteto que satildeo trabalhos feitos por

uma individualidade na solidatildeo do seu trabalho (GANDELMAN 1997 68)

As consequecircncias que o desenvolvimento tecnoloacutegico teve no estilo natildeo podem ser

deixadas de lado Maacutequinas como o computador alteraram o gesto criativo humano

automatizando-o Elas passam a funcionar como parceiras do indiviacuteduo no ato de criar

Luacutecia Santaella sugere que jaacute que o estilo se define pelas marcas de autor na

contemporaneidade eacute preciso compartilhar essas marcas com as maacutequinas que misturam

personificaccedilatildeo e automatizaccedilatildeo da criaccedilatildeo (Santaella 2009 105)

Outro fator que coloca profundamente em questatildeo a tradicional ideia de autoria

encontra-se no vastamente discutido conceito de interatividade Tecnologias da

inteligecircncia satildeo sine qua non tecnologias interativas E por isso mesmo elas nublam as

fronteiras entre produtores e consumidores emissores e receptores Nas formas literaacuterias

no teatro no cinema na televisatildeo e no viacutedeo haacute sempre uma linha divisoacuteria relativamente

clara entre produtores e receptores o que natildeo acontece mais nas novas formas de

comunicaccedilatildeo e de criaccedilatildeo interativas

Para Julio Plaza a interatividade natildeo eacute somente uma comodidade teacutecnica e

funcional ela implica fiacutesica psicoloacutegica e sensivelmente o espectador em uma praacutetica de

transformaccedilatildeo (Plaza 2001 36) O princiacutepio que rege a interatividade nas redes eacute o da

mutabilidade da efemeridade do vir-a-ser em processos que demandam a reciprocidade a

colaboraccedilatildeo a partilha A interatividade ciberespacial natildeo seria possiacutevel sem a

competecircncia semioacutetica do usuaacuterio para lidar com as interfaces computacionais Essa

competecircncia semioacutetica implica vigilacircncia receptividade escolha colaboraccedilatildeo controlo

desvios reenquadramentos em estados de previsibilidade de acasos desordens

adaptabilidade que satildeo entre outras as condiccedilotildees exigidas para quem prevecirc um sistema

interativo e para quem o experimenta (Santaella 2009 108-109)

Com a liberaccedilatildeo da emissatildeo os usuaacuterios podem produzir e transmitir de forma

planetaacuteria diversos tipos de informaccedilatildeo nos mais variados formatos O advento da Internet

e das maacutequinas interconectadas fomentou o aparecimento de plataformas colaborativas de

construccedilatildeo do saber Segundo Andreacute Lemos ldquoAs formas da arte eletrocircnica colaborativas

mostram diversas accedilotildees coletivas participativas e recombinatoacuterias nas quais pessoas e

grupos cooperam entre si pela via telemaacutetica [] A Internet desde seus primoacuterdios

41

configura-se como lugar de conexatildeo e compartilhamentordquo (Lemos 2007b 40) Desde seu

surgimento o ciberespaccedilo fez crescer as formas de produccedilatildeo e o consumo informacional

pela liberdade produtiva pela circulaccedilatildeo e por processos colaborativos Uma nova

economia poliacutetica comeccedilou a tomar forma produccedilatildeo significa liberaccedilatildeo da emissatildeo e

consumo eacute conexatildeo circulaccedilatildeo distribuiccedilatildeo

Como jaacute dito anteriormente os tradicionais meios de comunicaccedilatildeo unidirecionais

(emissor receptor) sofreram um abalo de proporccedilotildees gigantescas com consequecircncias

irreversiacuteveis Rodrigo Moraes reforccedila essa mudanccedila dizendo que os sistemas de

compartilhamento de arquivos por exemplo foram uma das novas ferramentas que

puseram em xeque o modelo centralizador das miacutedias claacutessicas estruturado num uacutenico

canal de emissatildeo (Moraes 2006 311) A tecnologia digital derruba a noccedilatildeo unilateral de

produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de obras intelectuais pois as novas capacidades dos usuaacuterios

descentralizaram o tradicional monopoacutelio imposto haacute seacuteculos pelas chamadas induacutestrias

culturais

Para Pierre Leacutevy a diferenccedila entre o atual estaacutegio da sociedade de informaccedilatildeo e o

quadro comunicacional anterior agrave informatizaccedilatildeo eacute substancialmente que no ciberespaccedilo

natildeo falamos mais de uma difusatildeo a partir de centros mas sim de um lugar de intensa

interaccedilatildeo O ciberespaccedilo abriga negociaccedilotildees sobre significados processos de

reconhecimento muacutetuo dos indiviacuteduos e dos grupos por meio das atividades de

comunicaccedilatildeo harmonizaccedilatildeo e debate entre os participantes (Leacutevy 1999 224)

A Rede promoveu uma abertura agrave democratizaccedilatildeo do saber O poder reunido na

centralizaccedilatildeo das informaccedilotildees vem sendo quebrado gradativamente e as novas

ferramentas de comunicaccedilatildeo comeccedilam a ser deixadas ao alcance de muitos Essa

transformaccedilatildeo evoca o conceito de inteligecircncia coletiva elaborado por Pierre Leacutevy Na era

da cibercultura assistimos agrave construccedilatildeo coletiva de conhecimentos jaacute que o espectador

tem o poder de ser tambeacutem ele emissor de informaccedilotildees e estar em contato com outros

para partilhaacute-las A inteligecircncia coletiva ldquoEacute uma inteligecircncia distribuiacuteda por toda parte

incessantemente valorizada coordenada em tempo real que resulta em uma mobilizaccedilatildeo

efetiva das competecircnciasrdquo (Leacutevy 2003 28) Partindo do pressuposto de que ldquoNingueacutem

sabe tudo todos sabem alguma coisa todo o saber estaacute na humanidaderdquo (ibidem 29) o

autor diz que o conhecimento se constroacutei na reuniatildeo do saber de cada um sobre

determinado assunto Ele estaacute em constante mutaccedilatildeo pois as diferentes informaccedilotildees vatildeo

se agregando gradativamente durante sua construccedilatildeo de forma que esse conhecimento

42

estaacute sempre inacabado aberto agraves adiccedilotildees ou modificaccedilotildees ao longo do tempo e dos

diferentes contextos sociais

A Internet eacute um espaccedilo privilegiado para a construccedilatildeo da inteligecircncia coletiva

sendo ela mesma fruto desta uacuteltima A eliminaccedilatildeo das barreiras espaccedilo-temporais cria um

lugar de fluxo para o conhecimento em construccedilatildeo jaacute que a troca e a reuniatildeo de

informaccedilotildees que partem de diversas origens satildeo facilitadas pela Rede Nessa perspectiva

o ciberespaccedilo seria o espaccedilo moacutevel das interaccedilotildees entre conhecimentos e conhecedores de

coletivos inteligentes desterritorializados As relaccedilotildees sociais de colaboraccedilatildeo entre os

utilizadores satildeo horizontais diferindo das relaccedilotildees entre produtores e consumidores das

induacutestrias culturais As relaccedilotildees satildeo constituiacutedas a partir da comunicaccedilatildeo entre pessoas e

do compartilhamento simboacutelico que criam viacutenculos e possibilitam a solidariedade As

redes horizontais de produccedilatildeo colaborativa natildeo satildeo prisioneiras dos valores de troca dos

seus produtos As redes horizontais de produccedilatildeo satildeo processos sociais criativos (Lima e

Santini 2006 123)

A interaccedilatildeo entre os diferentes usuaacuterios da Internet na elaboraccedilatildeo de

conhecimentos coletivos colabora para a construccedilatildeo de um senso comunitaacuterio na Rede Ao

inveacutes de ser um espaccedilo caoacutetico onde todos falem tudo ao mesmo tempo a Rede pode ser

um lugar onde todos se reuacutenam e formem uma comunidade organizada em torno de um

objetivo comum a construccedilatildeo coletiva do saber Em um coletivo inteligente a

comunidade assume como objetivo a constante negociaccedilatildeo da ordem estabelecida de sua

linguagem do papel de cada um e finalmente da definiccedilatildeo de seus objetivos Para Pierre

Leacutevy

Interagindo com diversas comunidades os indiviacuteduos que animam o espaccedilo do saber

longe de serem os membros intercambiaacuteveis de castas imutaacuteveis satildeo ao mesmo tempo

singulares muacuteltiplos nocircmades e em vias de metamorfose (ou de aprendizado)

permanente Esse projeto convoca um novo humanismo que inclui e amplia o

ldquoconhece-te a ti mesmordquo para um ldquoaprendamos a nos conhecer para pensar juntosrdquo e

que generaliza o ldquopenso logo existordquo em um ldquoformamos uma inteligecircncia coletiva

logo existimos eminentemente como comunidaderdquo [] Longe de fundir as

inteligecircncias individuais em uma espeacutecie de magma indistinto a inteligecircncia coletiva eacute

um processo de crescimento de diferenciaccedilatildeo e de retomada reciacuteproca das

singularidades (LEacuteVY 2003 31-32)

Na Rede haacute espaccedilo para que todos sejam ouvidos Na construccedilatildeo coletiva do saber

todos tecircm voz Os usuaacuterios valorizam essa oportunidade - trazida pela Internet - de

contribuir com informaccedilotildees na formaccedilatildeo de conhecimentos disponibilizados na Rede o

43

que explica o ecircxito de sites colaborativos como o Wikipedia Na era do conhecimento

deixar de reconhecer o Outro em sua inteligecircncia eacute recusar-lhe sua verdadeira identidade

social eacute alimentar seu ressentimento e sua hostilidade sua humilhaccedilatildeo a frustraccedilatildeo de

onde surge a violecircncia (Leacutevy 2003 32) Em contrapartida quando valorizamos o Outro

de acordo com o leque variado de seus saberes permitimos que ele se identifique de um

modo novo e positivo contribuiacutemos para mobilizaacute-lo para desenvolver nele sentimentos

de reconhecimento que facilitaratildeo consequentemente a implicaccedilatildeo subjetiva de outras

pessoas em projetos coletivos

O espaccedilo de construccedilatildeo coletiva do saber eacute um lugar de participaccedilatildeo democraacutetica

onde todos podem contribuir com alguma informaccedilatildeo teoacuterica eou praacutetica que possuam

sobre determinado assunto A perda de influecircncia dos mediadores culturais tradicionais eacute o

prenuacutencio de uma liberdade de expressatildeo nunca vista antes Apesar do inegaacutevel

movimento de concentraccedilatildeo (vd por exemplo a fusatildeo entre AOL e Time Warner) a

induacutestria da comunicaccedilatildeo natildeo tem capacidade para frear tal movimento de abertura pois o

que se oferece ao consumidor eacute precisamente a mais ampla liberdade de expressatildeo De

facto conforme refere Pierre Leacutevy a diversidade informacional e a liberdade de expressatildeo

continuam a aumentar rapidamente apesar dos movimentos de fusatildeo (Leacutevy 2004 371)

Pierre Leacutevy pertence agrave corrente teoacuterica que vecirc as possibilidades e o futuro do

ciberespaccedilo de forma bastante otimista Para ele o rompimento das barreiras entre centros

produtores de informaccedilotildees e receptores eacute positiva pelo facto de que ldquo[] eacute muito mais

difiacutecil executar manipulaccedilotildees em um espaccedilo onde todos podem emitir mensagens e onde

informaccedilotildees contraditoacuterias podem confrontar-se do que em um sistema onde os centros

emissores satildeo controlados por uma minoriardquo (Leacutevy 2004 225) De facto a Rede abriu

largo espaccedilo para a expressatildeo de opiniotildees diversas (o que obviamente inclui as

contestatoacuterias dos poderes vigentes) mas acontecimentos recentes (como o fechamento do

site de partilha de arquivos Megaupload e a prisatildeo de seu fundador Kim Schmitz na

sequecircncia das discussotildees de projetos de lei como o SOPA e o ACTA em Janeiro de 2012)

provam que o uso de forccedila policial para bloqueio suacutebito de sites eacute uma realidade (apesar

de nesses casos citados as accedilotildees natildeo terem sido justificadas com base nas determinaccedilotildees

de SOPA e ACTA porque ambas natildeo passam de projetos que nem sequer estatildeo em

vigor) apesar de toda oposiccedilatildeo e as ondas de protestos levantadas pela sociedade civil

A descentralizaccedilatildeo da produccedilatildeo de informaccedilotildees foi amplamente sentida no setor

editorial sobretudo na circulaccedilatildeo de jornais Uma pesquisa feita nos EUA e citada por

44

Andrew Keen diz que os lucros e a circulaccedilatildeo despencaram de maneira impressionante

em todas as principais empresas jornaliacutesticas do paiacutes ndash caiacuteram 69 na New York Times

Company 28 na Tribune Company e 11 na Gannet a maior dos EUA (Keen 2008

13) Essa eacute uma tendecircncia em todos os mercados editoriais do mundo No Brasil os

jornais filiados ao Instituto Verificador de Circulaccedilatildeo (IVC) tiveram 48 de queda na

circulaccedilatildeo durante o primeiro semestre de 2009 (Portal Imprensa 2009) Jaacute em Portugal

dados da Associaccedilatildeo Portuguesa para o Controlo de Tiragem e Circulaccedilatildeo (APCT) para o

mesmo periacuteodo apontam queda de 76 (Diaacuterio de Notiacutecias 2009)

Na tentativa de amenizar o impacto da digitalizaccedilatildeo e faacutecil distribuiccedilatildeo de

informaccedilotildees via Internet muitos jornais passam a cobrar pelo acesso ao seu conteuacutedo on-

line como fez em Fevereiro de 2010 o diaacuterio francecircs Le Figaro (Folha de S Paulo 2010)

e como jaacute vem sendo feito pela brasileira Folha Online O presidente do The New York

Times Artur Sulzberger afirmou que a cobranccedila pelo acesso a seu conteuacutedo on-line

iniciada em 2011 eacute uma fonte de receita fundamental para o veiacuteculo (Portal Imprensa

2010)

Vaacuterios estudiosos apontam para uma crise no modelo produtivo e econocircmico da

induacutestria cultural massiva embora isso natildeo provoque necessariamente a sua aniquilaccedilatildeo

(Lemos 2007b 39-40) No que se refere agraves reconfiguraccedilotildees da induacutestria cultural em seu

modelo claacutessico uma das grandes questotildees que atualmente surge eacute a da autoria e da

proteccedilatildeo de obras para a reproduccedilatildeo uso e coacutepia Algumas alternativas jaacute estatildeo surgindo

como opccedilatildeo para a criaccedilatildeo de mecanismos legais de recombinaccedilatildeo conhecidos como

licenccedilas abertas ou Copyleft Um exemplo de sucesso eacute a licenccedila Creative Commons ndash

licenccedila de uso que permite a modificaccedilatildeo a coacutepia e a distribuiccedilatildeo de obras com

especificaccedilotildees bastante flexiacuteveis Mais adiante falaremos sobre ela O facto eacute que a era da

cibercultura tem-se mostrado o aacutepice da crise dos sistemas culturais legais e econocircmicos

pela reconfiguraccedilatildeo da induacutestria cultural claacutessica massiva que implica

50 A era de ouro do remix

A digitalizaccedilatildeo das obras intelectuais facilitou sua transferecircncia e sobretudo sua

transformaccedilatildeo A cibercultura ldquoterritoacuterio recombinanterdquo (Lemos 2007b 35) por

45

excelecircncia deu origem ao que Lawrence Lessig chama de ldquocultura do remixrdquo ou da

colagem em que o processo de criaccedilatildeo usa de forma natildeo soacute indireta mas tambeacutem direta

outras obras como elemento de construccedilatildeo da obra final (Lessig 2005 17) Consideramos

aqui o termo remix exatamente como abordado por Lawrence Lessig natildeo apenas como a

recombinaccedilatildeo e transformaccedilatildeo de muacutesicas mas de toda e qualquer obra do espiacuterito Satildeo

bens culturais utilizados como mateacuterias-primas para a transformaccedilatildeo de si mesmos o que

inevitavelmente resulta em novas obras do espiacuterito Cria-se um horizonte para aleacutem

daquele da apropriaccedilatildeo e mera justaposiccedilatildeo de teacutecnicas antigas ocorre um entrelaccedilamento

de teacutecnicas formando natildeo o novo ou o poacutes mas o recombinado remixado ou sampleado

(Castro e Silva 2007 24) Por sampler entende-se um equipamento que armazena sons e

trechos de muacutesica em sua memoacuteria para reproduzi-los e alteraacute-los Seja em um novo disco

de hip hop no VJ que remixa imagens de TV e filmes em projetos de viacutedeo-arte ou na

simples tarefa de ldquocopiar ndash colarrdquo muitos teoacutericos estatildeo de acordo que o remix eacute a peccedila

central do processo criativo contemporacircneo

A recombinaccedilatildeo de diversos elementos (sejam eles produtivos religiosos ou

artiacutesticos) eacute sempre um traccedilo constitutivo de toda formaccedilatildeo cultural Por outro lado toda

tentativa de fechamento sobre si acarreta empobrecimento homogeneidade e morte Para

manter-se forte e dinacircmica a cultura necessita aceitar e ser de alguma forma permeaacutevel a

outras formas culturais Esse processo estaacute em marcha desde as culturas mais ldquoprimitivasrdquo

ateacute a cultura contemporacircnea e a cibercultura (Lemos 2007b 35-36) Portanto podemos

dizer que a grande novidade natildeo eacute a recombinaccedilatildeo em si mas a forma a velocidade e o

alcance global desse movimento

O uacutenico problema da cultura do remix eacute que ela eacute ilegal Graccedilas ao sistema de

direitos autorais que herdamos do seacuteculo XIX e que continua a ser sistematicamente

ampliado ao longo do tempo (inclusive globalmente atraveacutes da Organizaccedilatildeo Mundial do

Comeacutercio - OMC) cada obra cultural existente na Internet ou em qualquer outro lugar

tem dono E utilizar a obra para qualquer finalidade (copiar distribuir alterar modificar

etc) sem autorizaccedilatildeo expressa eacute uma violaccedilatildeo dos direitos de propriedade do autor ou de

seus intermediaacuterios

A linha entre referecircncias culturais e plaacutegio se mostra bastante tecircnue e nos leva a

pensar se tudo natildeo adveacutem de facto de ideias precedentes de obras jaacute realizadas O

produtor norte-americano Kirby Ferguson criou uma seacuterie de viacutedeos dedicados a essa

questatildeo e no site Everything is a Remix fornece mais evidecircncias de que tudo que eacute

46

ldquonovordquo eacute na verdade inspirado em obras jaacute criadas ou eacute formado por combinaccedilotildees ou

ediccedilotildees de materiais jaacute existentes Em um dos viacutedeos vemos por exemplo sequecircncias do

filme Kill Bill (2003) de Quentin Tarantino exatamente iguais (ou bastante semelhantes)

a cenas de outros longas-metragens como Sanjuro (1962) Lady snowblood (1973) e

Blade Runner (1982)

Lawrence Lessig salienta o problema do ponto de vista legal que a remixagem de

obras produzidas por outras pessoas pode gerar e afirma que as ferramentas tecnoloacutegicas

disponiacuteveis atualmente no mundo permitem a qualquer pessoa possibilidades criativas

jamais sonhadas (Lessig 2005 18) Um nuacutemero gigantesco de pessoas usa cotidianamente

essas ferramentas em seus sites blogs fotologs ou mesmo incluindo textos e imagens em

trabalhos escolares por exemplo Apesar disso do jeito como eacute hoje essas atividades

devem continuar relegadas agrave posiccedilatildeo de mero hobby ou divertimento domeacutestico Isso

porque sempre estamos sob o risco de sermos processados pela violaccedilatildeo da propriedade de

algueacutem Em outras palavras cada vez temos mais acesso a recursos criativos que antes

eram privileacutegio das grandes empresas de miacutedia mas devemos nos abster de usar esse

poder ldquoseriamenterdquo gerando desenvolvimento conhecimento e acesso Importa citar

Lessig

A mesclagem eacute o elemento formador da sociedade cultural em detrimento agrave induacutestria

cultural centralizada O instrumento para retardar essa quebra de barreiras e a

construccedilatildeo de uma sociedade autocircnoma eacute juriacutedico Esse instrumento em formas de

utilizaccedilatildeo estrateacutegica dos institutos da propriedade intelectual que satildeo desvirtuados de

sua funccedilatildeo originaacuteria de promover incentivos agrave criaccedilatildeo e passam a se transformar em

ferramentas de reserva de mercado para que as novas miacutedias digitais sejam ocupadas

pela mesma induacutestria cultural estadunidense que prevaleceu no seacuteculo XX (LESSIG

2005 18)

Para ilustrar a ideia contida na citaccedilatildeo podemos evocar o famoso caso Eldred

mais conhecido como o caso da ldquoLei de Proteccedilatildeo ao Mickey Mouserdquo Esse exemplo

resume bem os embates entre a induacutestria cultural e o restante da sociedade aquela

buscando a proteccedilatildeo perpeacutetua e ilimitada da sua propriedade e esta atraveacutes de diversos

agentes buscando o balanccedilo apropriado entre direitos autorais e domiacutenio puacuteblico O caso

Eldred expandiu por mais 20 anos a proteccedilatildeo dos direitos autorais nos Estados Unidos Em

1998 Mickey Mouse cairia em domiacutenio puacuteblico mas um intenso lobby no congresso

estadunidense culminou na aprovaccedilatildeo do chamado Sony Bono Act apelidado de ldquoLei de

Proteccedilatildeo ao Mickey Mouserdquo Por ela toda e qualquer obra ganhou mais 20 anos de

47

proteccedilatildeo autoral A explicaccedilatildeo para tal expansatildeo eacute incerta Ateacute hoje eacute difiacutecil saber quais

benefiacutecios essa ampliaccedilatildeo trouxe para a sociedade como um todo Se o direito autoral

existe para incentivar os artistas a criarem porquecirc expandir o prazo de proteccedilatildeo de obras

que jaacute foram criadas

Os prejuiacutezos dessa decisatildeo foram poreacutem bem mais extensos Junto com Mickey

Mouse deixaram de cair em domiacutenio puacuteblico muitas outras obras que atualmente jaacute

estariam disponiacuteveis para qualquer pessoa traduzir partilhar e publicar Dentre elas

contos de Scott Fitzgerald poemas de Robert Frost muacutesicas de George Gershwin e filmes

de Buster Keaton O maior problema de se estender o prazo de proteccedilatildeo dos direitos

autorais dessa maneira eacute que ele aumenta a dificuldade de promover a preservaccedilatildeo das

obras que natildeo possuem o mesmo valor comercial de um Mickey Mouse Devemos

considerar que a ampliaccedilatildeo do regime de propriedade prolonga a necessidade de se pedir

autorizaccedilatildeo para praticamente tudo que se queira fazer com a obra Tal situaccedilatildeo afeta

sobretudo as obras de baixo valor comercial (mas de elevado valor artiacutestico) Os recursos

para preservaccedilatildeo de tais obras jaacute satildeo poucos e diminuem ainda mais no labirinto juriacutedico

das autorizaccedilotildees As consequecircncias satildeo danosas milhares de obras que cairiam em

domiacutenio puacuteblico deixam de poder ser reproduzidas digitalizadas e publicadas livremente

e acabam deteriorando-se (juntamente com seu suporte fiacutesico) porque ningueacutem consegue

autorizaccedilatildeo para lidar com elas

60 Tipos de vigilacircncia e tecnologias de controlo quem satildeo e como trabalham os

gatekeepers do ciberespaccedilo

Na deacutecada de 50 David Manning White propocircs o conceito que ficou conhecido na

teoria da comunicaccedilatildeo por gatekeeping (Sousa 2002 39) White tinha o objetivo de

identificar os criteacuterios que faziam com que determinadas notiacutecias fossem ou natildeo

selecionadas para publicaccedilatildeo pelas empresas jornaliacutesticas Observando o funcionamento

das redaccedilotildees de vaacuterios jornais dos Estados Unidos White concluiu que a seleccedilatildeo dos

materiais para publicaccedilatildeo dependia de fatores subjetivos e arbitraacuterios aleacutem de juiacutezos de

valor vivecircncias atitudes e expectativas dos gatekeepers ndash os editores das publicaccedilotildees

O gatekeeper eacute portanto aquele que determina o que atravessa o portatildeo de

entrada no jornal o que seraacute visto pelo leitor Ele eacute um indiviacuteduo de poder no universo

48

midiaacutetico pois controla os fluxos informacionais e decide se um conteuacutedo deve ser

promovido ou ocultado Decidimos utilizar o conceito de gatekeeper para falar sobre as

figuras capazes de controlar o que circula na Rede atraveacutes do uso de ferramentas de

vigilacircncia Esses gatekeepers do ciberespaccedilo se transplantaram dos tradicionais veiacuteculos

de comunicaccedilatildeo sobretudo das grandes empresas e dos organismos governamentais e natildeo-

governamentais para a Rede Eacute sobre eles que trataremos a seguir

David Lyon estabelece trecircs grandes categorias de vigilacircncia no ciberespaccedilo

relacionadas com o emprego a seguranccedila e policiamento e o marketing (Lyon 2004) No

emprego a vigilacircncia caracteriza-se pelo monitoramento dos sites acessados e do correio

eletrocircnico dos funcionaacuterios por parte dos diretores e supervisores com o objetivo de saber

se os empregados visualizam conteuacutedo inadequado (como pornografia por exemplo) ou

utilizam-se do tempo de trabalho para dedicar-se a assuntos off-work Nos Estados

Unidos um estudo puacuteblico realizado em Abril de 2000 indicou que 735 das empresas

americanas efetuam regularmente algum tipo de vigilacircncia do uso da Internet por parte de

seus empregados (Castells 2007 206)

No acircmbito da seguranccedila e do policiamento podemos citar a vigilacircncia proposta

por oacutergatildeos como a Alta Autoridade para a Difusatildeo das Obras e a Proteccedilatildeo dos Direitos na

Internet (HADOPI) na Franccedila que promove a luta contra as redes P2P (peer-to-peer) e a

oferta de downloads gratuitos de muacutesicas filmes e livros protegidos por direitos autorais

no universo virtual atraveacutes do monitoramento das atividades dos usuaacuterios HADOPI

propotildee que os servidores de acesso agrave Internet vigiem a movimentaccedilatildeo dos usuaacuterios e lhe

repassem relatoacuterios com a identificaccedilatildeo daqueles que infringem os direitos de autor na

Rede Apoacutes uma primeira advertecircncia caso haja reincidecircncia o utilizador perde o direito

de acesso agrave Internet a partir do ponto onde o desrespeito foi cometido e mesmo assim

continua a pagar pelo serviccedilo ao servidor contratado

Haacute tambeacutem a vigilacircncia conduzida por serviccedilos policiais como o FBI americano

que em 1995 realizou uma operaccedilatildeo batizada de ldquoOperaccedilatildeo Inocenterdquo accedilatildeo sob disfarce

na America On-Line (AOL) envolvendo a interceptaccedilatildeo de correio eletrocircnico de pessoas

suspeitas de trocar materiais de pornografia infantil pela Rede (Zuidwijk e Steeves apud

Lyon 2004 115) O organismo federal tambeacutem manteacutem o programa Carnivore que

trabalha em colaboraccedilatildeo (voluntaacuteria ou natildeo) com fornecedores de acesso agrave Internet

registrando todo o traacutefego de correio eletrocircnico posteriormente catalogando a informaccedilatildeo

com base em uma amostra e processamento automatizado de palavras-chave

49

Joseacute Terceiro afirma que a recolha de dados na Internet possibilitou o surgimento

de uma nova fonte de lucro as informaccedilotildees pessoais dos usuaacuterios da Rede

A utilizaccedilatildeo das redes de computadores facilita o recolhimento de dados sobre seus usuaacuterios com o que se obteacutem um sub-produto automaacutetico suscetiacutevel de utilizaccedilatildeo e

comercializaccedilatildeo O atentado agrave privacidade das pessoas que supotildee essa recolha de dados

provoca seacuterias preocupaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave sua proteccedilatildeo confiada a teacutecnicas de

encriptaccedilatildeo que ateacute bem pouco tempo pertenciam ao clandestino mundo da espionagem

e hoje satildeo moeda corrente no mundo digital (TERCEIRO 1996 185)

As informaccedilotildees obtidas pela vigilacircncia direcionada ao marketing satildeo massivamente

utilizadas frequentemente de forma indiscriminada para fins comerciais Natildeo eacute novidade

que as empresas procuram ter acesso a informaccedilotildees privadas respeitantes aos usuaacuterios da

Rede tecnologias jaacute foram desenvolvidas unicamente com o intuito de recolher dados que

permitam traccedilar perfis dos internautas Eacute o caso dos cookies (Client-Side Persistent

Information) espeacutecie de marcadores digitais que os sites colocam automaticamente nos

discos riacutegidos dos computadores que a eles acedem Uma vez inserido o cookie em um

computador todos os movimentos on-line realizados a partir dele satildeo gravados

automaticamente pelo servidor do site que o colocou Com o auxiacutelio de tecnologias como

essa empresas de marketing e comunicaccedilatildeo na Internet vendem os dados pessoais dos

seus utilizadores aos seus clientes com fins comerciais ou utilizam-nos eles proacuteprios para

os definirem melhor Portanto vecirc-se que as tecnologias de recolha de dados associam-se

diretamente agrave economia do comeacutercio eletrocircnico As movimentaccedilotildees dos usuaacuterios satildeo

monitoradas na maioria das vezes agrave revelia destes Como diz Rohan Samarajiva

A chamada ldquoclientela de massardquo cria incentivos agrave recolha de dados pessoais para uso no

processo de produccedilatildeo e marketing Os fabricantes ou retalhistas pretendem estabelecer

tipos de serviccedilo no relacionamento com os clientes recolhendo armazenando ou

manipulando informaccedilotildees acerca deles de modo a controlar os seus comportamentos

(SAMARAJIVA apud LYON 2004 113)

As tecnologias que tornam possiacutevel descarregar livros revistas muacutesicas e filmes

em formato digital para o disco riacutegido de um computador permitem agraves editoras e agraves

empresas de lazer registrar e controlar os haacutebitos de navegaccedilatildeo das pessoas para poderem

enviar publicidade especiacutefica a cada um dos seus clientes

Na Uniatildeo Europeia a maior pressatildeo governamental a favor da proteccedilatildeo do

consumidor resultou numa lei da privacidade sob a qual as empresas natildeo estatildeo

50

autorizadas a utilizar os dados pessoais dos seus clientes sem a sua aprovaccedilatildeo expliacutecita

(Castells 2007 209) O problema eacute que muitos sites contecircm em seus longos termos de

uso claacuteusulas que determinam que os dados pessoais fornecidos convertam-se em

propriedade legal das empresas de Internet e dos seus clientes Poucos usuaacuterios leem

integralmente esses termos de uso concordando com algo que desconhecem ndash e muitos

desses sites soacute liberam seus serviccedilos e funcionalidades depois que o utilizador aceita as

regras propostas

As oportunidades de negoacutecio parecem ilimitadas neste novo ramo dedicado a

comercializar o comportamento privado Nas eleiccedilotildees do ano 2000 nos Estados Unidos

uma empresa criou uma base de dados chamada Aristotle que atraveacutes da recolha de

informaccedilotildees e dados de diversas fontes traccedilou um perfil poliacutetico de cerca de 150 milhotildees

de cidadatildeos O objetivo era vender esse banco de dados pelas melhores ofertas possiacuteveis

que geralmente eram feitas pelos escritoacuterios eleitorais dos candidatos (Castells id)

Manuel Castells divide as tecnologias de controlo em trecircs tipos tecnologias de

identificaccedilatildeo de vigilacircncia e de investigaccedilatildeo (Castells 2007) As tecnologias de

identificaccedilatildeo incluem o uso de passwords cookies e processos de autenticaccedilatildeo ndash estes

uacuteltimos utilizam assinaturas digitais que permitem a outros computadores verificar a

origem e as caracteriacutesticas da maacutequina que se liga agrave Rede eacute um protocolo de seguranccedila

vastamente adotado por empresas de comeacutercio eletrocircnico e emissoras de cartotildees de

creacutedito

As tecnologias de vigilacircncia interceptam mensagens e colocam marcadores que

permitem seguir o fluxo de comunicaccedilatildeo a partir de um determinado computador e

controlar permanentemente a atividade da maacutequina Elas podem identificar um servidor

especiacutefico na origem de uma mensagem Valendo-se disso e atraveacutes de persuasatildeo ou de

coaccedilatildeo os governos empresas ou tribunais podem obter do servidor de acesso agrave Internet a

identificaccedilatildeo do usuaacuterio suspeito Eacute o que faz a jaacute anteriormente citada HADOPI As

tecnologias de investigaccedilatildeo por sua vez elaboram bases de dados atraveacutes dos resultados

da vigilacircncia e acumulaccedilatildeo de informaccedilatildeo gravada assiduamente (Garfinkel apud Castells

2007 205) Constroacutei-se um perfil agregado a partir dos vaacuterios dados recolhidos em

formato digital algo semelhante ao que fazem os estudos de mercado

O que James Beniger chama de ldquorevoluccedilatildeo do controlordquo (Beniger 1989) espalha-

se por todas as organizaccedilotildees contemporacircneas Para o autor ela iniciou-se com a

Revoluccedilatildeo Industrial e acentuou-se apoacutes a Segunda Grande Guerra com a gradual

51

integraccedilatildeo da tecnologia em todas as esferas da vida ocorrida desde entatildeo A fusatildeo entre

as teacutecnicas associadas agrave informaccedilatildeo (processamento de dados comunicaccedilatildeo etc) facilitou

o controlo por parte de exeacutercitos e governos criando um ambiente propiacutecio para o

desenvolvimento de novas tecnologias direcionadas agrave vigilacircncia e agrave monitoraccedilatildeo dos

indiviacuteduos Para Beniger a vontade de controlar bens informacionais serviccedilos e

consequentemente pessoas estaacute nas raiacutezes da chamada sociedade da informaccedilatildeo

James Beniger alerta que mais que o controlo em si proacuteprio devemos temer quem

administra e potildee em funcionamento os instrumentos de controlo ndash eacute nas matildeos desses

agentes que o poder se concentra Sendo as comunicaccedilotildees digitais as novas formas de

controlo tambeacutem figuram como um caminho para o poder Para exercer o poder e mantecirc-

lo eacute que os meios digitais tecircm sido utilizados por diversos agentes de interesse Como

afirma David Lyon

Os empregadores tentam reduzir o risco ndash de trabalhadores que usam o horaacuterio ou o

equipamento de trabalho para os seus proacuteprios objectivos [] em situaccedilotildees de emprego

A poliacutecia em conjunto com outras instituiccedilotildees trabalha no sentido de prevenir o risco

da praacutetica de crimes ou mais genericamente de comportamentos ameaccediladores E os

homens de negoacutecios fazem tudo [] para evitarem os riscos de perder oportunidades

nichos de mercado e em uacuteltima instacircncia lucro (LYON 2004 118)

Todos estabelecem procedimentos de recolha de dados para tentarem assinalar

riscos (ou oportunidades) e prever resultados Por conseguinte a vigilacircncia espalha-se

tornando-se constantemente mais rotineira mais intensiva (perfis) e extensiva

(populaccedilotildees) guiada por forccedilas econocircmicas burocraacuteticas e agora tecnoloacutegicas

A vigilacircncia no mundo virtual eacute fruto principalmente da comercializaccedilatildeo da Rede

Na criaccedilatildeo de sistemas de identificaccedilatildeo do usuaacuterio haacute uma fonte potencial de lucro para

empresas de certificaccedilatildeo digital e controlo de acesso A questatildeo comercial desse controlo

tambeacutem envolve os direitos autorais na Internet A implementaccedilatildeo de sistemas de

vigilacircncia eacute interessante para os governos que querem encontrar alguma forma de

instaurar no ambiente virtual ferramentas de controlo semelhantes agraves existentes na esfera

fiacutesica

A necessidade de assegurar e identificar a comunicaccedilatildeo na Internet para poder ganhar

dinheiro graccedilas agrave Rede e a necessidade de proteger os direitos da propriedade

intelectual na mesma resultaram no desenvolvimento de novas arquitecturas de

software (o que Lessig denomina como ldquocoacutedigordquo) que possibilitam o controlo da

comunicaccedilatildeo informaacutetica Os governos de todo o mundo apoacuteiam estas tecnologias de

52

vigilacircncia e apressam-se a adoptaacute-las para conseguirem recuperar parte do poder que

corriam o risco de perder (CASTELLS 2007 203)

O monitoramento atraveacutes de autoridades policiais empresas ou outros oacutergatildeos

investidos de autorizaccedilatildeo concedida pelo poder legislativo seriam conforme Andreacute Lemos

ressalta ldquo[] uma forma de lsquoinvasatildeorsquo dos territoacuterios informacionais como entrar na

residecircncia seria uma invasatildeo do territoacuterio residencial As lsquodigital bordersrsquo criam nos

territoacuterios informacionais um continuum entre o mundo fiacutesico e o espaccedilo das

informaccedilotildees eletrocircnicasrdquo (Lemos 2007a 225) A vigilacircncia afeta diretamente alguns

importantes pilares da vida social e pode feri-los se direcionada para fins comerciais por

exemplo ldquoAs praacuteticas de vigilacircncia tecircm implicaccedilotildees na privacidade e em muitos outros

valores importantes na justiccedila na dignidade humana na autodeterminaccedilatildeo na inclusatildeo

social na seguranccedila e por aiacute fora Alguns destes valores podem ser protegidos se a

privacidade estiver salvaguardadardquo (Raab 2008 256)

A vigilacircncia na Rede representa portanto mais um exemplo do que Mireille

Rosello chama de ldquocultura da inseguranccedilardquo de caraacuteter planetaacuterio (Rosello apud Lemos

2010 82) As tecnologias de controlo desenvolvidas e postas em funcionamento no

ciberespaccedilo marcaram o fim da jaacute utoacutepica ideia de um territoacuterio neutro e totalmente livre

imaginado nos primoacuterdios da Internet Poreacutem a informaacutetica pode disponibilizar

ferramentas que funcionariam como um antiacutedoto contra a inseguranccedila que ela proacutepria

possibilitou Isso seria possiacutevel atraveacutes de tecnologias de filtragem de cookies meacutetodos de

encriptaccedilatildeo mais potentes etc (Raab 2008 266) No entanto eacute importante salientar que

as empresas os governos e os fabricantes de tecnologia natildeo tecircm interesse em pocircr em

marcha essas tecnologias de reforccedilo da privacidade Sendo assim os indiviacuteduos que delas

quiserem fazer uso deveratildeo empreender esforccedilos adicionais aleacutem de pagar mais para delas

beneficiarem

A recolha e o armazenamento arbitraacuterios de dados digitais se tornaram regra no

mundo virtual Aiacute se vecircem os efeitos nefastos do progresso tecnoloacutegico (Heuer 2011 85)

O custo do armazenamento de dados em formato digital tornou-se tatildeo baixo que jaacute se

mede em terabytes (a capacidade de armazenamento de um computador portaacutetil corrente

corresponde a pouco mais de metade de um terabyte) Haacute cada vez mais bancos de dados

a registrar nossos movimentos na Rede ndash a Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos

em Washington anunciou recentemente que pretende arquivar todas as mensagens

postadas no Twitter desde seu surgimento em 2006

53

De facto nossa vida esteve sempre sob algum tipo de controlo ndash desde a presenccedila

em registros de cartoacuterios agrave identificaccedilatildeo em bancos de dados de diversos serviccedilos

puacuteblicos O que se alterou com a informatizaccedilatildeo da sociedade e o advento da Internet foi o

posicionamento desses registros no espaccedilo As informaccedilotildees natildeo estatildeo mais fixadas apenas

em suportes materiais livros de atas e papeacuteis de arquivos Elas estatildeo ao alcance de alguns

cliques mundialmente disponiacuteveis suscetiacuteveis a cruzamentos mais sujeitas ao acesso

legal ou natildeo autorizado do que nunca A nova vigilacircncia surgida atraveacutes das tecnologias

digitais eacute mais sutil estaacute em todos os lugares e ao mesmo tempo em lugar nenhum Ela eacute

cada vez menos perceptiacutevel e mais difusa Sua fluidez estaacute na invisibilidade e na

mobilidade das redes

Catarina Frois salienta a mudanccedila trazida pela vigilacircncia onipresente da

informaacutetica

[] na sociedade contemporacircnea a existecircncia de grandes bases de dados informaacuteticas

que centralizam informaccedilatildeo detalhada dos cidadatildeos e que eacute depois cruzada com

informaccedilatildeo constante noutras bases de dados pessoais ameaccedila pocircr em risco o direito agrave

privacidade agrave integridade fiacutesica e moral ou mesmo em uacuteltima anaacutelise o direito agrave

escolha [] O que vemos eacute uma confluecircncia de dispositivos de reconhecimento da

pessoa que abrangem quase todas as esferas da sua vida desde a sua identidade burocraacutetica e administrativa a sua histoacuteria geneacutetica e distintividade biomeacutetrica e os

locais que frequenta quando e com quem [] Parece natildeo bastar saber-se quem a

pessoa eacute urge (quer por parte do Estado quer por parte de interesses comerciais) saber-

se o que quer e o que vai fazer Poderiacuteamos dizer que na sociedade contemporacircnea soacute

identificando eacute possiacutevel conhecer-se e soacute vigiando eacute possiacutevel prever-se (FROIS 2008

130)

Para Gilles Deleuze (1992) a sociedade do controlo eacute anunciada como nosso

futuro proacuteximo o que em termos praacuteticos de vigilacircncia quer dizer que as tecnologias natildeo

satildeo mais visiacuteveis e imoacuteveis mas ubiacutequas pervasives ldquonas coisasrdquo natildeo exigindo do

indiviacuteduo o confinamento mas exatamente o contraacuterio a mobilidade o que permite um

controlo dinacircmico Afinal natildeo podemos esquecer que essas tecnologias tecircm origem

militar Toda miacutedia locativa por seu caraacuteter que associa mobilidade e localizaccedilatildeo pode

ser usada para monitorar movimentos vigiar pessoas e controlar accedilotildees no dia-a-dia

Manuel Castells e diversos outros teoacutericos da informaacutetica e da cibercultura

afirmam que a presenccedila em registros e bancos de dados digitais traz agraves vistas o terriacutevel

temor da sociedade vigilante antecipada por George Orwell em seu 1984 e pode funcionar

como uma forma de repressatildeo agrave liberdade pela possibilidade do controlo constante Natildeo eacute

o Big Brother quem nos vigia mas sim uma multitude de pequenas irmatildes (little sisters)

54

agecircncias de vigilacircncia e processamento de informaccedilatildeo que registraratildeo sempre o nosso

comportamento jaacute que estaremos rodeados de bases de dados ao longo de toda a nossa

vida Nas sociedades democraacuteticas onde se respeitam os direitos civis a transparecircncia das

nossas vidas condicionaraacute as nossas atitudes de forma decisiva Ningueacutem conseguiu viver

jamais numa sociedade transparente Se este sistema de vigilacircncia e controlo da Internet se

desenvolver plenamente natildeo poderemos fazer o que quisermos Natildeo teremos liberdade

nem um lugar para nos escondermos (Castells 2007 215)

Isso nos leva a um tema que tambeacutem estaacute na ordem do dia em vaacuterios paiacuteses

europeus o direito ao esquecimento Um exemplo que ilustra esse direito estaacute na lei

francesa de 6 de Janeiro de 1978 relativa agrave informaacutetica aos arquivos e agraves liberdades que

prevecirc em seu artigo nordm 40

Toda pessoa fiacutesica justificante de sua identidade pode exigir do responsaacutevel pelo

tratamento de dados que as informaccedilotildees pessoais que lhe concernem sejam retificadas

completadas atualizadas ou apagadas [] logo elas sejam inexatas incompletas equivocadas desatualizadas ou cuja coleta utilizaccedilatildeo comunicaccedilatildeo ou conservaccedilatildeo

seja proibida (COMMISSION NATIONALE DE LINFORMATIQUE ET DES

LIBERTEacuteS 1978)

A Comissatildeo Europeia responsaacutevel pela Justiccedila Direitos Fundamentais e Cidadania

examina a possibilidade de rever a diretiva sobre a proteccedilatildeo de dados de forma a incluir o

direito ao esquecimento como foi anunciado em Novembro de 2010 pela sua vice-

presidente Viviane Reding (Heuer 2011 85)

No dia 24 de Janeiro de 2012 Viviane Reding apresentou em Bruxelas um plano

para que os cidadatildeos possam exercer ao maacuteximo seu direito agrave proteccedilatildeo dos dados pessoais

A legislaccedilatildeo europeia em vigor sobre o tema eacute de 1995 eacutepoca em que a Internet natildeo

possuiacutea o alcance e a influecircncia que hoje tem Aleacutem disso pesquisas recentes apontam que

72 dos europeus preocupam-se com o uso que companhias e empresas fazem de seus

dados privados (Reding 2012) O plano proposto por Viviane Reding consagra o direito

ao esquecimento Em entrevista cedida ao jornal espanhol El Paiacutes a comissaacuteria afirmou

que ldquoQuem pocircs informaccedilotildees pessoais na Rede deve ter o direito de recuperaacute-las porque

satildeo suasrdquo (Reding id) Seu plano inclui o reforccedilo das agecircncias nacionais de proteccedilatildeo de

dados e um regulamento de aplicaccedilatildeo da diretiva em escala comunitaacuteria ndash medidas a serem

postas em praacutetica ateacute 2015

55

Na Alemanha governo e parlamento debatem projetos que visam permitir aos

cidadatildeos controlar de forma mais eficaz sua vida digital Na Franccedila por exemplo foi

adotada em Outubro de 2010 uma carta natildeo vinculativa por iniciativa da secretaacuteria de

Estado das Tecnologias agrave eacutepoca Nathalie Kosciusko-Morizet Muitos dos intervenientes

franceses na Rede assinaram o documento ndash agrave exceccedilatildeo de empresas como Facebook e

Google

56

57

CAPIacuteTULO II

DIREITOS DE AUTOR E REGULACcedilAtildeO DO

CIBERESPACcedilO BRASIL E PORTUGAL EM

PERSPECTIVA

58

59

Vimos no capiacutetulo anterior que o nascimento da Internet criou duas correntes a dos

adeptos eufoacutericos e a dos adeptos disfoacutericos da informatizaccedilatildeo Por um lado os apoacutestolos

das novas tecnologias conceberam a Rede como um espaccedilo livre do Direito Conforme

afirma o jurista Joseacute de Oliveira Ascensatildeo essa ideia foi favorecida pelo facto de que a

Internet desenvolveu-se inicialmente como uma rede desinteressada veiacuteculo de diaacutelogo e

contato entre universitaacuterios e cientistas que queriam evitar empecilhos juriacutedicos agrave sua

comunicaccedilatildeo (Ascensatildeo 2003 02) No outro extremo os defensores da propriedade

intelectual (particularmente as entidades de gestatildeo coletiva de direitos de autor e conexos)

acreditaram que os novos meios nada modificariam no que diz respeito ao uso das obras

protegidas O Direito existente seria aplicaacutevel tal e qual porque seria capaz de comportar

os novos veiacuteculos que surgissem A Rede era apenas um meio a mais sujeito ao Direito

em vigor como qualquer outro

O movimento subsequente de comercializaccedilatildeo da Internet pocircs em causa essas

opiniotildees A Rede deixou de ser uma confraria desinteressada e tornou-se um poderoso

veiacuteculo de publicidade comeacutercio e fluxo de capitais Essa metamorfose exigia uma

disciplina que protegesse os intervenientes era incompatiacutevel com um espaccedilo livre do

Direito A tese da juridificaccedilatildeo da Internet venceu (ibidem 03)

O objetivo do capiacutetulo que se inicia eacute montar um panorama dos direitos de autor

nos contextos brasileiro e portuguecircs trazendo agrave discussatildeo os aspectos centrais de ambas as

legislaccedilotildees Tambeacutem apresentaremos outros temas pertinentes que cruzam o debate sobre

a propriedade intelectual como o Marco Regulatoacuterio da Internet no Brasil e a Lei da

Coacutepia Privada em Portugal

10 Breve retrospectiva histoacuterica do surgimento dos direitos de autor

Em 1710 na Inglaterra foi publicada a primeira lei regulamentar do direito de

autor e esta expressatildeo aparece pela primeira vez em 1725 utilizada pelo advogado francecircs

Louis DrsquoHeacutericourt num litiacutegio entre os livreiros de Paris e os livreiros da proviacutencia Nesse

litiacutegio ele defendeu a tese de que eram os autores e natildeo os editores ou os impressores os

verdadeiros titulares do direito Para DrsquoHeacutericourt esse direito deveria estar garantido para

evitar os riscos da exploraccedilatildeo comercial ou industrial por meio da concessatildeo de um

60

privileacutegio exclusivo Segundo Luiz Francisco Rebello ateacute entatildeo seria improacuteprio falar em

direito de autor pois a proteccedilatildeo dispensada agraves obras literaacuterias tomava invariavelmente a

forma de um privileacutegio de que beneficiavam os impressores e os editores ou mais

raramente os autores (Rebello 1973 06)

Com a Revoluccedilatildeo Francesa em 1789 surgem os direitos autorais como os

conhecemos hoje A data de 04 de Agosto de 1789 marcou o fim de todos os privileacutegios de

autores e editoras que representavam um entrave agrave liberdade econocircmica defendida pelos

burgueses Luiz Francisco Rebello relembra a declaraccedilatildeo de Laboulaye jurista francecircs que

viveu na eacutepoca da Revoluccedilatildeo ldquoFalai de propriedade todos se inclinam falai de privileacutegio

todos se revoltam O primeiro tiacutetulo representa o que haacute de mais respeitaacutevel o direito o

segundo o que haacute de mais abominaacutevel o monopoacuteliordquo (Rebello apud Moraes 2006 254)

Poreacutem impulsionada pela Sociedade de autores e compositores dramaacuteticos

fundada em 1790 pelo teatroacutelogo Beaumarchais a lei francesa de 19 de Janeiro de 1791

reconhece que ldquoA mais sagrada a mais pessoal de todas as propriedades eacute a obra fruto do

pensamento do escritorrdquo (Moatti 2007 27) Esse texto legislativo foi reforccedilado pela lei de

19 de Julho de 1793 que aumenta a proteccedilatildeo dos criadores O artigo 1 desse documento

determina que

Os autores de escritos em todos os gecircneros os compositores os pintores e os

desenhistas que produzem quadros e desenhos gozaratildeo durante toda sua vida do

direito exclusivo de vender fazer vender distribuir suas obras em todo o territoacuterio da

Repuacuteblica e de ceder a propriedade ao todo ou em parte (MOATTI 2007 27)

Essa lei tambeacutem regulamentou os direitos dos herdeiros e cessionaacuterios que

poderiam gozar dos mesmos benefiacutecios ateacute 10 anos apoacutes a morte do autor (Manso 1992

14-15) Era preciso poreacutem estender as discussotildees sobre os direitos autorais agrave esfera

internacional Como diz Eduardo Manso

O reconhecimento de que a Terra eacute uma pequena aldeia [] levou ao reconhecimento

de que a proteccedilatildeo dos direitos dos autores das obras intelectuais haveria de alcanccedilar

dimensotildees internacionais porque a obra do espiacuterito humano sendo todo o conteuacutedo das

comunicaccedilotildees sociais tem inexoraacutevel vocaccedilatildeo para difusatildeo universal Portanto o

Direito Autoral para atingir mais eficazmente seus objetivos haveria de ser tambeacutem

internacionalizado especialmente para estabelecer equanimemente proteccedilatildeo equitativa

entre os autores dos diversos paiacuteses a despeito das divergecircncias das suas legislaccedilotildees

nacionais E aiacute surgiram as convenccedilotildees internacionais [] (MANSO 1992 15)

61

Apenas em 1886 surgiu um amplo movimento pela regulaccedilatildeo dos direitos autorais

de forma conjunta entre os diversos paiacuteses Representantes de vaacuterias naccedilotildees se reuniram

em Berna na Suiacuteccedila para definir alguns padrotildees miacutenimos de proteccedilatildeo dos direitos do autor

literaacuterio cientiacutefico e artiacutestico Eacute a chamada Convenccedilatildeo de Berna que se tornou um

paracircmetro para a elaboraccedilatildeo de vaacuterias legislaccedilotildees sobre o tema Segundo Rodrigo Moraes

ldquoEssa convenccedilatildeo consiste no primeiro e mais importante instrumento internacional

versando sobre Direito Autoral Assinada na capital da Suiacuteccedila em 1886 ainda estaacute em

vigor nos dias atuaisrdquo (Moraes 2006 255)

20 Direitos morais e direitos patrimoniais

Teoacutericos que tratam sobre direitos autorais geralmente os classificam como

hiacutebridos ou duacuteplices Isso porque eles podem dividir-se em direitos morais e direitos

patrimoniais

21 Direitos morais

Os direitos morais se referem agrave ldquopaternidaderdquo do autor em relaccedilatildeo agrave sua obra satildeo

uma espeacutecie de emanaccedilatildeo da personalidade do autor e que estatildeo conforme dizem Pedro

Paranaguaacute e Seacutergio Banco ldquointimamente ligados agrave relaccedilatildeo do autor com a elaboraccedilatildeo a

divulgaccedilatildeo e a titulaccedilatildeo de sua obrardquo (Paranaguaacute e Branco 2009 42) Segundo Eduardo

Manso os direitos morais ldquo[] satildeo de pertinecircncia estritamente pessoal e visam a dar ao

autor ou a seus herdeiros que neles sejam investidos poderes para zelar por sua qualidade

de criador da obra para promover-lhe o respeito agrave forma que lhe foi dada pelo autorrdquo

(Manso 1992 52)

Geralmente os direitos morais satildeo classificados doutrinariamente como direitos

de personalidade Hildebrando Neto chega a dizer que os direitos morais se encaixam em

ldquocondiccedilotildees personaliacutessimas a possibilitar ao criador o direito de paternidade o direito de

ineacutedito a defesa da integridade da obra aleacutem de possibilitar-lhe o direito de

arrependimentordquo (Neto 1997 17) Sendo assim desfrutam das mesmas caracteriacutesticas dos

demais direitos de personalidade sendo intransferiacuteveis e irrenunciaacuteveis Pedro Paranaguaacute

e Seacutergio Branco ressaltam que

62

Atualmente [] os princiacutepios mais elementares das leis de direitos autorais vedam a

transmissatildeo da autoria da obra independentemente do meio pelo qual se decirc a cessatildeo

Mesmo no caso de obras caiacutedas em domiacutenio puacuteblico o nome do autor se conhecido

deve permanecer a elas vinculado eternamente (PARANAGUAacute E BRANCO 2009

14)

Assim como na legislaccedilatildeo brasileira o diploma portuguecircs determina no Artigo 56deg

que os direitos morais perpetuam-se apoacutes a morte do autor Eles independem dos direitos

patrimoniais e mesmo depois da transmissatildeo ou extinccedilatildeo destes o autor goza dos direitos

morais sobre a sua obra (Assembleia da Repuacuteblica 1985 42) Eacute interessante salientar que

na Antiguidade a praacutetica da compra de autoria era algo comum e bastante frequente

(Moraes 2006 246) Hoje em dia essa conduta eacute proibida visto que o direito moral agrave

paternidade da obra eacute intransferiacutevel

Pedro Paranaguaacute e Seacutergio Branco nos alertam para a necessidade de diferenciar os

direitos autorais dos demais direitos de personalidade Estes uacuteltimos ndash nome imagem

dignidade honra etc ndash nascem com os indiviacuteduos e satildeo desde logo exerciacuteveis Daiacute a

diferenccedila em relaccedilatildeo agrave situaccedilatildeo dos direitos morais que soacute satildeo exerciacuteveis se haacute a criaccedilatildeo

de algo por parte do indiviacuteduo Sendo assim eles nascem aos poucos com as pessoas

permanecendo em condiccedilatildeo suspensiva (Paranaguaacute e Branco 2009 50)

Eacute importante considerar que segundo Eduardo Manso ldquoAs faculdades

proclamadas pelos direitos morais natildeo conferem aos seus titulares nenhum poder de

utilizaccedilatildeo sobre as obras intelectuais salvo de natureza intelectual Nenhum direito moral

possibilita com seu exerciacutecio tirar direto proveito econocircmico da obra intelectualrdquo

(Manso 1992 52) Esta eacute uma atribuiccedilatildeo dos direitos patrimoniais tal como veremos a

seguir

22 Direitos patrimoniais

Consistem basicamente no direito agrave exploraccedilatildeo econocircmica das obras protegidas

Exercendo o direito patrimonial seu titular pode tirar da obra algum proveito econocircmico

de conformidade com sua natureza e com a modalidade de sua exploraccedilatildeo comercial

Os direitos patrimoniais tecircm o objetivo de suprir os meios de sobrevivecircncia do

criador intelectual Eles surgem a partir de uma comercializaccedilatildeo posterior que pode natildeo

acontecer caso o autor escolha manter sua obra ineacutedita (Moraes 2006 271) Segundo

63

Paranaguaacute e Branco (2009 53) eacute preciso salientar que os direitos patrimoniais estatildeo

sujeitos a alguns pontos

a) Temporariedade

Segundo a Lei nordm 961098 atual Lei do Direito Autoral brasileira uma obra

intelectual soacute pode ser protegida se estiver dentro do prazo de proteccedilatildeo que eacute o de vida do

autor mais 70 anos contados a partir de 1ordm de Janeiro do ano subsequente ao de seu

falecimento (Presidecircncia da Repuacuteblica Federativa do Brasil 1998) Apoacutes esse prazo a

obra cai em domiacutenio puacuteblico ndash portanto qualquer pessoa pode tirar dela proveitos

patrimoniais sem autorizaccedilatildeo do titular dos direitos autorais Os 70 anos apoacutes a morte do

autor satildeo os mesmos no Coacutedigo do Direito de Autor e dos Direitos Conexos aprovado

pelo Decreto-Lei nordm 6385 de 14 de Marccedilo de 1985 texto atualmente em vigor em

Portugal O prazo foi instaurado pelo Decreto-Lei ndeg 33497 de 27 de Novembro

b) Autorizaccedilatildeo preacutevia

Enquanto natildeo cair em domiacutenio puacuteblico uma obra soacute poderaacute ser reproduzida

mediante autorizaccedilatildeo do detentor dos direitos autorais

c) Ausecircncia de formalidade ou proteccedilatildeo automaacutetica

Natildeo eacute preciso registrar a obra para que o autor tenha direito agrave proteccedilatildeo Ela

independe do registro

d) Perpetuidade do viacutenculo autor-obra

Decorre dos direitos morais do autor O nome do autor estaraacute perenemente ligado agrave

obra sobre a qual tem direito de paternidade Sendo assim o nome do autor deveraacute

constar obrigatoriamente em qualquer uso que se faccedila da obra

e) Individualidade da proteccedilatildeo

Cada obra deve ser protegida separadamente de forma independente Por exemplo

se um livro inspira a realizaccedilatildeo de sua adaptaccedilatildeo cinematograacutefica ambas as obras que se

diferem pelos suportes estatildeo protegidas Cada uma adaptada ao seu formato inclusive

com diferentes prazos de proteccedilatildeo

f) Independecircncia das utilizaccedilotildees

64

As diferentes modalidades possiacuteveis de utilizaccedilatildeo de uma obra intelectual satildeo

independentes entre si e a autorizaccedilatildeo referente a uma modalidade concedida pelo autor

ou detentor dos direitos natildeo se estende agraves demais

g) Direito de propriedade sobre o bem

Quando se adquire um CD por exemplo se adquire o suporte material sobre o qual

estaacute fixada a obra protegida por propriedade intelectual Sendo assim nosso direito de

propriedade sobre o CD nos permite que o guardemos doemos ou ateacute o destruamos se

quisermos Nossa propriedade estaacute sobre o CD mas natildeo sobre as obras contidas nele

Como foi visto os direitos patrimoniais estatildeo voltados ao fator econocircmico ao

caraacuteter comercial da obra intelectual Ao contraacuterio destes que regulam o poder econocircmico

do autor sobre a utilizaccedilatildeo de sua obra por terceiros estatildeo os direitos morais destinados agrave

defesa da relaccedilatildeo do autor com sua obra

30 Direitos de autor e regulaccedilatildeo da Internet no Brasil e em Portugal

31 Legislaccedilatildeo autoral brasileira

O primeiro registro legal que trata dos direitos autorais no Brasil eacute a Lei de 11 de

Agosto de 1827 (Presidecircncia da Repuacuteblica Federativa do Brasil 1827) Ela instituiu os

cursos juriacutedicos no paiacutes sendo responsaacutevel pela criaccedilatildeo de dois centros de estudos um em

Satildeo Paulo e outro em Olinda Os mestres nomeados para trabalhar nos cursos deveriam

enviar agraves Assembleias Gerais os seus compecircndios relativos agraves mateacuterias que lecionavam

para receber ou natildeo aprovaccedilatildeo Com ela os mestres gozariam durante 10 anos do

privileacutegio de publicaccedilatildeo dos escritos Mas segundo Eduardo Manso ldquoTratava-se no

entanto de um direito aplicaacutevel apenas intra muros nas Faculdades de Direito de Olinda e

de Satildeo Paulo natildeo alcanccedilando os demais autores brasileirosrdquo (Manso 1992 16)

Em 1830 veio a promulgaccedilatildeo do Coacutedigo Criminal e com ela surgiu a primeira

regulaccedilatildeo sobre a mateacuteria Suas normas visavam apenas a proibiccedilatildeo da contrafaccedilatildeo

(reproduccedilatildeo natildeo autorizada) sem conceder verdadeiros direitos autorais civis

65

Foi em 1891 com a primeira Constituiccedilatildeo Republicana que o Brasil editou normas

de direito autoral como garantia constitucional conforme o sect26deg do artigo 72 da

Constituiccedilatildeo Federal nos termos (Manso 1992 17) ldquoAos autores de obras literaacuterias e

artiacutesticas eacute garantido o direito exclusivo de reproduzi-las pela imprensa ou por qualquer

outro processo mecacircnico Os herdeiros dos autores gozaratildeo desse direito pelo tempo que a

lei determinarrdquo Essa lei foi publicada 5 anos mais tarde em 1896 com o nome de

Medeiros Albuquerque Conforme diz Daniel Rocha

Ateacute o advento dessa lei no Brasil a obra intelectual era terra de ningueacutem Tanto era

assim que Pinheiro Chagas escritor portuguecircs reclamava ter no Rio de Janeiro um

ldquoladratildeo habitualrdquo que ainda tinha a audaacutecia de lhe escrever dizendo ldquoTudo que V Exordf

publica eacute admiraacutevel Faccedilo o que posso para o tornar conhecido no Brasil reimprimindo tudordquo O que ocorria eacute que na eacutepoca era comum pensar-se que a obra estrangeira

ainda mais do que a nacional podia ser copiada indiscriminadamente (ROCHA apud

PARANAGUAacute E BRANCO 2009 18)

A lei Medeiros Albuquerque esteve em vigor ateacute a chegada do Coacutedigo Civil em

Janeiro de 1917 Nele o direito autoral brasileiro perdeu sua autonomia legislativa pois

passou a ser considerado simplesmente uma espeacutecie de propriedade ldquoPropriedade

Literaacuteria Cientiacutefica e Artiacutesticardquo (Manso 1992 20) Somente em 1973 o Brasil viu

publicado um estatuto uacutenico e abrangente regulando o direito de autor A lei nordm 5988 de

14 de Dezembro de 1973 vigorou ateacute a aprovaccedilatildeo pelo Congresso Nacional da lei nordm

9610 de 19 de Fevereiro de 1998

A atual Lei do Direito Autoral (LDA)3 brasileira nordm 961098 foi aprovada pelo

Congresso Nacional em 19 de Fevereiro de 1998 e entrou em vigor em 19 de Agosto do

mesmo ano Esse diploma veio alterar atualizar e consolidar a legislaccedilatildeo anterior que

vigorou por 25 anos (Paranaguaacute e Branco 2009 19)

Conforme salienta Faacutebio Barbosa o artigo 7ordm dessa lei confere inicialmente ao

direito autoral dois princiacutepios a proteccedilatildeo agrave criaccedilatildeo de espiacuterito expressas por qualquer

meio e a exclusividade de utilizaccedilatildeo da obra (Barbosa 2006 394) Isso nos remete ao

conceito de direito autoral dado por Isaac Pilati ldquo[] agrave guisa de conceito operacional

entende-se por Direito do Autor ou Direito Autoral aquele que tem o autor de ligar o seu

nome agrave obra do espiacuterito de qualquer modo exteriorizada podendo reproduzi-la e

3 Para tornar a leitura mais simples utilizaremos a sigla LDA para nos referirmos agrave atual Lei brasileira do

Direito Autoral

66

transmiti-lardquo (Pilati apud Barbosa 2006 394) Outros autores como Gustavo Correcirca

fazem conceituaccedilotildees mais teacutecnicas

Os direitos autorais satildeo aqueles que conferem ao autor de obra literaacuteria cientiacutefica ou artiacutestica a prerrogativa de reproduzi-la e exploraacute-la economicamente enquanto viver

transmitindo-a a seus herdeiros e sucessores pelo periacuteodo de setenta anos contados de

1ordm de Janeiro do ano subsequumlente ao de seu falecimento (CORREcircA apud BARBOSA

2006 394)

Agrave eacutepoca de seu surgimento a lei nordm 961098 trouxe uma evoluccedilatildeo no campo

juriacutedico concernente agraves mudanccedilas econocircmicas culturais e sobretudo tecnoloacutegicas pelas

quais passava a sociedade Eacute importante ressaltar que os avanccedilos no campo tecnoloacutegico

afetam diretamente o direito autoral jaacute que eles provocaram uma profunda mudanccedila na

forma de produzir e utilizar obras intelectuais Este eacute um assunto que seraacute tratado em

breve

Com o advento das tecnologias digitais e da Internet foi preciso modernizar a

legislaccedilatildeo para que esta acompanhasse as mutaccedilotildees que se seguiram Segundo Faacutebio

Barbosa naquela altura ela ldquo[] modernizou-se adequando-se para definir e reconhecer

os novos direitos aplicando sanccedilotildees agraves violaccedilotildees desses direitos inclusive no que se refere

agraves alteraccedilotildees supressotildees e inutilizaccedilotildees de dispositivos tecnoloacutegicos de proteccedilatildeo agrave obra

intelectualrdquo (Barbosa 2006 396)

Um dos toacutepicos que sofreram alteraccedilatildeo eacute o que se refere ao direito de reproduccedilatildeo

O artigo 5deg VI ndash Lei 961098 lhe daacute o seguinte conceito

VI ndash reproduccedilatildeo ndash a coacutepia de um ou vaacuterios exemplares de uma obra literaacuteria artiacutestica

ou cientiacutefica ou de um fonograma de qualquer forma tangiacutevel incluindo qualquer

armazenamento permanente ou temporaacuterio por meios eletrocircnicos ou qualquer outro

meio de fixaccedilatildeo que venha a ser desenvolvido (PRESIDEcircNCIA DA REPUacuteBLICA

FEDERATIVA DO BRASIL 1998)

Como pode ser observado o direito de reproduccedilatildeo sofreu mudanccedilas conceituais

considerando a partir de entatildeo ldquoqualquer armazenamento permanente ou temporaacuterio por

meios eletrocircnicos ou qualquer outro meio de fixaccedilatildeo que venha a ser desenvolvidordquo

(Barbosa 2006 397)

Outro conceito atualizado pela lei 961098 foi o do direito de comunicaccedilatildeo ao

puacuteblico O artigo 5deg V ndash Lei 961098 daacute o conceito da seguinte maneira ldquoV ndash

67

comunicaccedilatildeo ao puacuteblico ndash ato mediante o qual a obra eacute colocada ao alcance do puacuteblico

por qualquer meio ou procedimento e que natildeo consista na distribuiccedilatildeo de exemplaresrdquo

Poreacutem apesar de haver uma ampliaccedilatildeo conceitual referente agrave comunicaccedilatildeo puacuteblica

(podendo alcanccedilar a forma digital como ldquoo ato pelo qual a obra eacute colocada ao alcance do

puacuteblicordquo) no Capiacutetulo II intitulado ldquoDa Comunicaccedilatildeo ao Puacuteblicordquo a lei delimita o ato aos

direitos de execuccedilatildeo e representaccedilatildeo puacuteblicas nos artigos 68 e paraacutegrafos que satildeo

espeacutecies do gecircnero do direito de comunicaccedilatildeo ao puacuteblico (ibidem 399)

Um terceiro ponto a ser observado na lei 961098 estaacute no direito de distribuiccedilatildeo

As facilidades trazidas pela Internet promoveram uma discussatildeo em torno da distribuiccedilatildeo

de obras intelectuais na Rede O artigo 5deg IV ndash Lei 961098 traz o conceito da seguinte

forma

IV ndash distribuiccedilatildeo ndash a colocaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico do original ou coacutepia de obras

literaacuterias artiacutesticas ou cientiacuteficas interpretaccedilotildees ou execuccedilotildees fixadas e fonogramas

mediante a venda locaccedilatildeo ou qualquer outra forma de transferecircncia de propriedade ou posse (PRESIDEcircNCIA DA REPUacuteBLICA FEDERATIVA DO BRASIL 1998)

A princiacutepio o direito de distribuiccedilatildeo traz agrave mente a ideia do objeto material a obra

fixada sobre um suporte Poreacutem deve-se salientar que a distribuiccedilatildeo eletrocircnica tambeacutem

pode ser protegida jaacute que o objeto da proteccedilatildeo dos direitos eacute a obra em si que pode ser

digitalizada (Santos apud Barbosa 2006 400) O art 29 VII da Lei do Direito Autoral

alcanccedila a distribuiccedilatildeo eletrocircnica quando fala sobre a distribuiccedilatildeo de obras mediante

recursos de telecomunicaccedilotildees (Barbosa 2006 400)

32 Reforma da Lei brasileira do Direito Autoral (LDA)

A raacutepida evoluccedilatildeo das tecnologias digitais poreacutem fez com que a LDA se tornasse

obsoleta e desatualizada em vaacuterios aspectos Com o objetivo de discutir as mudanccedilas

necessaacuterias e as alternativas possiacuteveis um anteprojeto foi aberto agrave discussatildeo puacuteblica em 14

de Junho de 2010 pelo Ministeacuterio da Cultura (MinC) apoacutes vaacuterias jornadas puacuteblicas de

debate (vd Anexo 03) Foi mesmo criado um site para facilitar a consulta

httpwwwculturagovbrconsultadireitoautoral

Na verdade o anteprojeto propotildee reformar alguns pontos da LDA e natildeo instaurar

um diploma novo O texto manteacutem-se circunscrito ao acircmbito claacutessico dos direitos de autor

68

com apenas algumas referecircncias a elementos digitais Nota-se isso pela ausecircncia de uma

consideraccedilatildeo especiacutefica dos grandes problemas suscitados pelos direitos de autor em

mateacuteria de informaacutetica Haacute referecircncias incidentais mas aspectos baacutesicos da grande

problemaacutetica atual do estatuto da obra na Internet ficam por resolver Na anaacutelise do jurista

Joseacute de Oliveira Ascensatildeo esta foi uma decisatildeo sensata jaacute que a preparaccedilatildeo de uma lei

que regulasse o direito autoral na Internet levaria muito mais tempo e isso prejudicaria os

avanccedilos nas correccedilotildees de deficiecircncias jaacute detectadas - que deveriam ser realizadas mais

rapidamente (Ascensatildeo 2011 160)

No final de 2011 o Ministeacuterio da Cultura concluiu o texto final da nova Lei do

Direito Autoral Em Marccedilo de 2012 o diploma estava na pauta de discussatildeo dos

ministeacuterios envolvidos e depois seguiria para o Congresso Nacional Na eacutepoca em que

passou pelo MinC (gerido jaacute nesta altura pela ministra Ana de Hollanda) o texto sofreu

algumas modificaccedilotildees Ele eacute mais flexiacutevel do que o atual e permitiraacute por exemplo coacutepias

de obras para uso privado educaccedilatildeo ou preservaccedilatildeo (Link 04122011)

Poreacutem o Ministeacuterio da Cultura acrescentou ao texto um mecanismo que faz parte

da legislaccedilatildeo estadunidense o de notice and take down ou notificaccedilatildeo e retirada que

serve para que detentores de direitos autorais consigam retirar conteuacutedo pirata do ar sem a

necessidade de ordem judicial Por exemplo se uma gravadora encontrar um blog

hospedado no Blogger com links para downloads ilegais de discos pode solicitar ao

Google (proprietaacuterio do Blogger) a remoccedilatildeo do conteuacutedo O Google eacute obrigado a cumprir

e notificar o autor Avaliaccedilotildees ficam para depois Cabe ao dono do blog fazer uma

contranotificaccedilatildeo pedindo a manutenccedilatildeo do conteuacutedo e assumindo a responsabilidade por

uma eventual acusaccedilatildeo judicial

Segundo Marcia Regina Barbosa diretora de Direitos Intelectuais do Ministeacuterio da

Cultura o mecanismo foi incluiacutedo na lei ldquopor demanda dos produtores das aacutereas

audiovisual e musicalrdquo A medida segundo ela ldquolegalizaraacute um procedimento que hoje jaacute eacute

muito utilizadordquo (Link 04122011) O problema desse mecanismo eacute o que Pablo

Ortellado diretor do Grupo de Poliacuteticas Puacuteblicas para o Acesso agrave Informaccedilatildeo da

Universidade de Satildeo Paulo (USP) chama de ldquocensura preacuteviardquo (Link id) O proprietaacuterio do

blog soacute pode questionar a retirada depois que ela jaacute foi feita

O Ministeacuterio da Cultura tambeacutem quer criar um registro central de obras Na praacutetica

o sistema (que tem o nome provisoacuterio de I-Registro) eacute uma plataforma que centralizaraacute

dados sobre tudo o que eacute produzido de cultura no Brasil Registrar as obras criadas nessa

69

plataforma seraacute condiccedilatildeo sine qua non para receber os direitos autorais provenientes

delas Esse procedimento eacute questionaacutevel pelo facto de que a Convenccedilatildeo de Berna que

estabelece princiacutepios baacutesicos de direitos autorais e da qual o Brasil eacute signataacuterio afirma que

natildeo eacute necessaacuterio registro para uma obra ser protegida Para Pablo Ortellado a necessidade

de registro eacute ilegal pois segundo ele esse registro obrigatoacuterio ainda impediraacute o autor de

optar por uma modalidade de licenciamento mais flexiacutevel como o Creative Commons

(Link 04122011) Falaremos sobre ele mais adiante

Em audiecircncia puacuteblica na Cacircmara dos Deputados no dia 21 de Marccedilo de 2012 Ana

de Hollanda justificou as alteraccedilotildees feitas pelo Ministeacuterio da Cultura e afirmou que ouviu

as induacutestrias culturais para lanccedilar a uacuteltima versatildeo do texto da Reforma da Lei do Direito

Autoral ldquoConsideramos a consulta puacuteblica mas abrimos para contribuiccedilatildeo Havia uma

demanda enorme dos meios culturais que diziam que natildeo tinham sido ouvidos ou

contemplados no processo anteriorrdquo (Link 21032012) Segundo ela o MinC fez poucas

alteraccedilotildees no texto apoacutes a discussatildeo puacuteblica aberta em Junho de 2010 ldquoO que foi mexido

era uma demanda forte dos setores de todas as aacutereas audiovisual muacutesica livros que natildeo

se sentiam contempladosrdquo (Link id)

Paralelamente agraves discussotildees sobre a reforma da Lei brasileira do Direito Autoral

(LDA) eacute importante salientar que o Ministeacuterio da Justiccedila brasileiro estaacute em vias de

preparar aquilo que foi denominado de ldquoMarco Civil da Internetrdquo que vai apresentar

legislaccedilatildeo especiacutefica sobre a regulaccedilatildeo da Rede no paiacutes aleacutem de tocar (de forma indireta)

na questatildeo integrada dos direitos de autor e a problemaacutetica do digital Os contornos do

Marco Civil estatildeo atualmente sendo estudados por especialistas organismos de pesquisa e

acadecircmicos e eacute um toacutepico do qual trataremos a seguir

33 O Marco Civil da Internet

As discussotildees sobre o projeto de lei de combate ao cibercrime conhecido pelo

nome de seu autor o senador Eduardo Azeredo enfureceu muitos internautas brasileiros

A pressatildeo atraveacutes da mobilizaccedilatildeo virtual fez com que o entatildeo Presidente da Repuacuteblica

Luiz Inaacutecio Lula da Silva solicitasse ao Ministeacuterio da Justiccedila a elaboraccedilatildeo de ldquoum projeto

sobre a Internet que natildeo fosse uma regulaccedilatildeo penal mas um marco civilrdquo (Abramovay

2012) Em 29 de Outubro de 2009 a Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministeacuterio da

Justiccedila (SALMJ) em parceria com a Escola de Direito da Fundaccedilatildeo Getulio Vargas no

70

Rio de Janeiro (FGV DIREITO RIO) lanccedilou o projeto para a construccedilatildeo colaborativa de

um Marco Civil da Internet no Brasil

Os principais objetivos do marco regulatoacuterio satildeo o estabelecimento de princiacutepios

garantias direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil e a determinaccedilatildeo de diretrizes

para atuaccedilatildeo da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios em relaccedilatildeo agrave

mateacuteria A disciplina do uso da Internet no Brasil tem como fundamentos os direitos

humanos e o exerciacutecio da cidadania em meios digitais a pluralidade e a diversidade a

abertura e a colaboraccedilatildeo e finalmente a livre iniciativa a livre concorrecircncia e a defesa do

consumidor Dentre seus princiacutepios estatildeo

I - garantia da liberdade de expressatildeo comunicaccedilatildeo e manifestaccedilatildeo de

pensamento nos termos da Constituiccedilatildeo

II - proteccedilatildeo da privacidade

III - proteccedilatildeo aos dados pessoais na forma da lei

IV - preservaccedilatildeo e garantia da neutralidade da Rede conforme regulamentaccedilatildeo

V - preservaccedilatildeo da estabilidade seguranccedila e funcionalidade da Rede por meio de

medidas teacutecnicas compatiacuteveis com os padrotildees internacionais e pelo estiacutemulo ao uso de

boas praacuteticas

VI - responsabilizaccedilatildeo dos agentes de acordo com suas atividades nos termos da lei e

VII - preservaccedilatildeo da natureza participativa da Rede

(CONGRESSO NACIONAL 2011 01-02)

A ideia de criar um marco regulatoacuterio civil contrapotildee-se agrave tendecircncia de se

estabelecerem restriccedilotildees condenaccedilotildees ou proibiccedilotildees relativas ao uso da Internet E aiacute estaacute

a grande diferenccedila entre o Projeto de Lei Azeredo e o marco proposto Este uacuteltimo tem

como objetivo principal determinar de forma clara direitos e responsabilidades relativas agrave

utilizaccedilatildeo dos meios digitais O foco portanto eacute o estabelecimento de uma legislaccedilatildeo que

garanta direitos e natildeo uma norma que restrinja liberdades

Jaacute que as tecnologias digitais satildeo instrumentos em constantes mutaccedilatildeo e evoluccedilatildeo

o texto do marco civil deveria abranger questotildees essenciais A natureza aberta da Rede

poderia ser prejudicada caso a legislaccedilatildeo fosse de caraacuteter restritivo ldquoQualquer iniciativa

de regulaccedilatildeo da Internet deve portanto observar princiacutepios como a liberdade de

expressatildeo a privacidade do indiviacuteduo o respeito aos direitos humanos e a preservaccedilatildeo da

dinacircmica da Internet como espaccedilo de colaboraccedilatildeordquo (Ministeacuterio da Justiccedila e FGV 2009)

Dentre os temas abordados pelo texto do marco civil estatildeo as responsabilidades

dos provedores e dos usuaacuterios sobre os conteuacutedos disponibilizados na Rede e as medidas

para regulamentar e preservar direitos fundamentais dos internautas (como a privacidade e

71

a liberdade de expressatildeo) Aleacutem disso prevecirc-se a discussatildeo sobre alguns princiacutepios que

garantam o bom funcionamento da Rede como a neutralidade da Internet Os

organizadores do marco civil decidiram natildeo abordar de maneira aprofundada questotildees

como crimes ciberneacuteticos regulaccedilatildeo de telecomunicaccedilotildees e direitos de autor por

considerarem que satildeo temas suficientemente vastos para serem discutidos em foros agrave

parte Mas de alguma forma as premissas do texto do marco tocam essas questotildees

mesmo que de forma natildeo tatildeo evidente Eacute como o caso da relaccedilatildeo entre respeito aos direitos

autorais e preservaccedilatildeo da privacidade do usuaacuterio da Rede

Tomemos quatro principais itens-chave discutidos pelo Marco Civil guarda de

dados neutralidade da Rede privacidade e responsabilidade Quando um crime eacute

cometido utilizando a Internet como meio a uacutenica forma de identificar o criminoso eacute ter

acesso aos registros de conexatildeo Atualmente no Brasil natildeo haacute nenhuma lei de caraacuteter

regulatoacuterio que defina se sites e provedores devem armazenar esses registros ou por

quanto tempo O texto do marco determina que os provedores guardem os registros de

conexatildeo de seus utilizadores mas proiacutebe que colham informaccedilotildees sobre os registros de

acesso a serviccedilos Web Isto eacute os provedores seriam obrigados a armazenar os dados que

permitem determinar quando e por qual computador o indiviacuteduo conectou-se agrave Rede mas

natildeo quais os sites que foram visitados Os proacuteprios sites poderiam fazecirc-lo mas apenas

quando o usuaacuterio consentisse Aqui estaacute um ponto que gera controveacutersias Alguns juristas

afirmam que os registros de acesso satildeo possiacuteveis provas de crimes ndash o que levaria o tema a

ser regulado por uma lei criminal natildeo por um marco civil

A questatildeo da neutralidade da Rede eacute um ponto crucial do projeto e uma polecircmica

de dimensotildees planetaacuterias O princiacutepio da neutralidade da Rede determina que todos os

pacotes de dados que transitam por ela devem ser tratados da mesma forma sem

discriminaccedilatildeo de origem destino ou tipo Manter a neutralidade quer dizer aqui evitar

praacuteticas conhecidas como traffic shaping que permite aos provedores dificultar a

conexatildeo a determinadas paacuteginas Eacute o caso dos fornecedores de acesso agrave Internet que

prejudicam propositalmente a conexatildeo a sites de partilha P2P e serviccedilos voip por

exemplo No Brasil um caso que ilustra essa atitude eacute o da Brasil Telecom e de mais trecircs

operadoras atuantes no mercado nacional que aparecem no ranking mundial dos 108

provedores avaliados pelo software Vuze sob indiacutecios da praacutetica de controlo de fluxo de

dados (Vuze 2008) O Marco prevecirc uma exceccedilatildeo apenas para requisitos teacutecnicos

necessaacuterios agrave prestaccedilatildeo adequada dos serviccedilos (Congresso Nacional 2011 03) como

72

medidas para melhoria do funcionamento da Rede que podem eventualmente prejudicar a

fluidez do traacutefego de informaccedilotildees

Para garantir a privacidade do usuaacuterio o marco determina que seus dados pessoais

soacute podem ser consultados mediante decisatildeo judicial Os criacuteticos da medida contestam esse

toacutepico afirmando que isso poderia dificultar eventuais investigaccedilotildees da poliacutecia Poreacutem

deve-se observar que o texto prevecirc que as autoridades requeiram a conservaccedilatildeo dos dados

dos usuaacuterios investigados sem burocracia impedindo que sejam apagados pelos

servidores

A responsabilidade tem a ver com a atribuiccedilatildeo de conteuacutedos publicados em sites

redes sociais etc Neste ponto o marco segue o mesmo caminho que jaacute vem sendo tomado

pela Justiccedila a responsabilidade recai sobre os proacuteprios usuaacuterios sendo os provedores

punidos apenas quando natildeo retiram o conteuacutedo do ar dentro do prazo legal estabelecido

para fazecirc-lo

O caraacuteter inteiramente colaborativo do processo de construccedilatildeo do marco civil eacute

ineacutedito e constitui seu maior trunfo A formulaccedilatildeo do texto foi executada tendo a Internet

como meio o intuito foi o de incentivar a participaccedilatildeo ativa e direta dos vaacuterios atores

sociais envolvidos no tema (sociedade civil pesquisadores membros do governo

acadecircmicos representantes da iniciativa privada etc) Todos podiam efetuar cadastro em

um site feito especialmente com o objetivo de receber propostas contribuiccedilotildees e opiniotildees

Dividiu-se o processo em duas fases Na primeira com duraccedilatildeo de

aproximadamente 45 dias (iniciada em Outubro de 2009 e fechada em 17 de Dezembro de

2009) foram debatidas ideias sobre os toacutepicos propostos para regulaccedilatildeo a partir de texto-

base produzido pelo Ministeacuterio da Justiccedila O texto-base contextualiza os principais temas

pendentes de regulaccedilatildeo pelo instrumento a ser elaborado coletivamente e aponta possiacuteveis

caminhos a serem seguidos

Cada paraacutegrafo do texto ficou aberto para inserccedilatildeo de comentaacuterios por usuaacuterios

cadastrados no site As postagens de comentaacuterios tinha limite de tamanho e de quantidade

por usuaacuterios a fim de abrir espaccedilo agrave pluralidade de participaccedilotildees Para evitar cerceamento

ao debate a equipe de coordenaccedilatildeo direcionava determinados debates para foros de

discussatildeo hospedados em comunidades especiacuteficas dentro do portal Nesses espaccedilos era

possiacutevel tornar a discussatildeo mais aprofundada Cada participante tambeacutem podia votar

positiva ou negativamente nas contribuiccedilotildees dos demais Esses votos serviam para nortear

a equipe de redaccedilatildeo sobre as preferecircncias opiniotildees e interesses dos participantes

73

contribuindo para a formulaccedilatildeo da proposta No final desta primeira fase todas as

participaccedilotildees foram compiladas e levaram agrave elaboraccedilatildeo de uma minuta de anteprojeto de

lei Nessa primeira fase o site recebeu uma meacutedia de 1300 visitas diaacuterias

Na segunda fase a discussatildeo seguiu o mesmo formato mas teve como paracircmetro a

minuta de anteprojeto de lei elaborado anteriormente Cada artigo paraacutegrafo inciso ou

aliacutenea ficou aberto para apresentaccedilatildeo de comentaacuterios por qualquer interessado A duraccedilatildeo

desta fase foi de aproximadamente 50 dias (de 08 de Abril a 30 de Maio de 2010) Durante

o periacuteodo o site recebeu 455 mil visitas e foram feitos cerca de 900 comentaacuterios agrave minuta

(Agecircncia Brasil 2010) Com o teacutermino da segunda fase foi construiacutedo o texto atualmente

disponiacutevel (vd Anexo 01)

O processo de consulta puacuteblica no qual se baseou a construccedilatildeo do marco foi

elogiado por muitos juristas e ativistas da Internet por ser aberto e democraacutetico e eacute um

modelo cuja eficaacutecia vem sendo internacionalmente reconhecida (Committee to Protect

Journalists 2010 Internet sans frontiegraveres 2010)

34 Legislaccedilatildeo autoral portuguesa

Em Portugal a Carta Constitucional de 1826 no sect24ordm do artigo 145ordm reconhece

aos inventores ldquoa propriedade das suas descobertas ou das suas produccedilotildeesrdquo mas natildeo

assegura a proteccedilatildeo agrave criaccedilatildeo literaacuteria (Monarquia Portuguesa 1826 01)

O escritor Almeida Garrett entusiasta da causa dos direitos de autor em Portugal

escreveu em 1839 sobre a falta de proteccedilatildeo aos autores nacionais

Findo o privileacutegio se era temporaacuterio ou natildeo o havendo entendia-se que toda a obra

impressa entrava no domiacutenio puacuteblico e que vivo ou morto com herdeiros ou sem eles

qualquer um podia reimprimir vender representar se era obra dramaacutetica usar dela

enfim como coisa sua ou coisa de ningueacutem que tanto vale (REBELLO 1973 07)

No ano de 1838 a Constituiccedilatildeo Portuguesa consagrou no sect4ordm do artigo 23ordm o

ldquodireito de propriedade dos inventores sobre as suas descobertas e dos escritores sobre os

seus escritos [] pelo tempo e na forma que a lei determinar []rdquo Faltava poreacutem a lei

que regulasse a mateacuteria nas suas especificidades

Em 1839 Garrett apresentou agrave Cacircmara dos Deputados um projeto de lei sobre

propriedade literaacuteria e artiacutestica Em 1841 o projeto foi aprovado mas natildeo chegou a tornar-

se lei devido agrave desfavoraacutevel conjuntura poliacutetica da eacutepoca O projeto voltou agrave Cacircmara dez

74

anos depois em 1851 quando foi aprovado e em 18 de Julho do mesmo ano foi publicado

o primeiro diploma regulador dos direitos autorias em Portugal Esta lei manteve-se em

vigor ateacute 1867 ano em que a mateacuteria referente ao direito de autor foi inserida no Coacutedigo

Civil elaborado pelo Visconde de Seabra Os artigos 570deg a 612ordm que constituem o

capiacutetulo epigrafado ldquoDo trabalho literaacuterio e artiacutesticordquo retomaram os princiacutepios e as regras

fundamentais do diploma precedente De acordo com o artigo 579ordm do coacutedigo civil o

direito dos herdeiros a publicar ou autorizar a publicaccedilatildeo de uma obra foi elevado de 30

para 50 anos consecutivos agrave morte do autor

Setenta anos depois em 3 de Junho de 1927 o decreto nordm 13725 (tambeacutem

conhecido como Lei Cunha Gonccedilalves) veio estabelecer uma regulaccedilatildeo autocircnoma para

essa mateacuteria em parte pela necessidade de harmonizaccedilatildeo entre a legislaccedilatildeo interna com o

Direito internacional jaacute que Portugal havia assinado o decreto de adesatildeo agrave Convenccedilatildeo de

Berna em 1911 A convenccedilatildeo que instituiu a Uniatildeo Internacional das Naccedilotildees Para a

Proteccedilatildeo das Obras Literaacuterias e Artiacutesticas jaacute contava na altura com a participaccedilatildeo da

Alemanha Beacutelgica Espanha Franccedila Inglaterra Itaacutelia e Suiacuteccedila Luiz Francisco Rebello

aponta que a maior inovaccedilatildeo desse decreto foi o estabelecimento da perpetuidade do

direito de autor ateacute entatildeo protegido apenas durante a vida e ateacute 50 anos apoacutes a sua morte

(ibidem 09) O sistema anterior foi poreacutem restaurado em 1966

Em 6 de Setembro de 1952 eacute assinado em Genebra um outro tratado multilateral a

Convenccedilatildeo Universal sobre o Direito de Autor de iniciativa da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) destinada a ldquo[] assegurar a

proteccedilatildeo suficiente e eficaz dos direitos dos autores e de quaisquer outros titulares dos

mesmos direitos sobre as obras literaacuterias artiacutesticas e cientiacuteficasrdquo (Convenccedilatildeo Universal

sobre Direito de Autor 1952 01) O novo tratado impocircs a necessaacuteria revisatildeo da lei

nacional com o objetivo de adequaacute-la agraves mudanccedilas das tecnologias que surgiam mas

sobretudo de adaptaacute-la ao quadro internacional A comissatildeo incumbida de fazecirc-lo redigiu

um anteprojeto de lei consideravelmente modificado pela Cacircmara Corporativa em 1953

O contra-projeto da Cacircmara Corporativa inspirou em grande parte o texto do Coacutedigo de

Direito de Autor aprovado pelo Decreto-Lei nordm 46980 de 27 de Abril de 1966

O ano de 1985 marca a aprovaccedilatildeo do Coacutedigo do Direito de Autor e dos Direitos

Conexos4 pelo Decreto-Lei nordm 6385 de 14 de Marccedilo O texto original foi alterado pelas

4 Para tornar a leitura mais simples utilizaremos a sigla CDA para nos referirmos agrave atual Lei portuguesa dos

Direitos Autorais

75

Leis ndeg 4585 de 17 de Setembro ndeg 11491 de 3 de Setembro nordm 502004 de 24 de

Agosto e pelos Decretos-Lei ndeg 33297 e 33497 ambos de 27 de Novembro Este eacute o

coacutedigo que atualmente versa sobre a questatildeo em Portugal

Em vigor haacute mais de 25 anos eacute evidente que o CDA natildeo abrange os problemas

suscitados pela informaacutetica e especialmente pela Internet Segundo Alexandre Dias

Pereira a desatualizaccedilatildeo eacute caracteriacutestica das legislaccedilotildees nacionais em geral soacute agora eacute que

elas comeccedilam a abrir suas portas aos novos problemas da teacutecnica E o faratildeo mais vezes

por imposiccedilatildeo vertical dos Tratados Internacionais eou como eacute o caso da Uniatildeo Europeia

por forccedila das Diretivas Comunitaacuterias (Pereira 2002 05) Eacute nesse contexto que se assiste

na Europa a um ldquoassaltordquo ao direito de autor pelas instituiccedilotildees comunitaacuterias Com efeito

foram adotadas diversas medidas de harmonizaccedilatildeo na sequecircncia de um programa de accedilatildeo

traccedilado no famoso Livro Verde de 1988 sobre direitos de autor e os desafios da tecnologia

A legislaccedilatildeo nacional viu ocorrerem vaacuterias mudanccedilas como os programas de computador

serem tratados em igualdade com as obras literaacuterias (Conselho Europeu 1991) e o prazo

de duraccedilatildeo dos direitos subir para os 70 anos apoacutes a morte do autor (Parlamento Europeu e

Conselho 2006)

35 Regulaccedilatildeo da Internet em Portugal

Em 31 de Maio de 2002 os presidentes do Instituto da Comunicaccedilatildeo Social (ICS) e

da Autoridade Nacional de Comunicaccedilotildees (ANACOM) apresentaram ao Governo um

conjunto de propostas de atuaccedilatildeo intitulado ldquoIniciativa Convergecircncia e Regulaccedilatildeordquo O

texto tinha como objetivo definir uma orientaccedilatildeo estrateacutegica para o desenvolvimento dos

setores do audiovisual e das comunicaccedilotildees num ambiente de convergecircncia

A iniciativa recolheu e analisou contributos de representantes dos diferentes

interesses envolvidos na questatildeo entre eles associaccedilotildees de consumidores e profissionais

entidades institucionais e operadores de telecomunicaccedilotildees Tambeacutem ouviu personalidades

de reconhecido meacuterito e experiecircncia nos setores da comunicaccedilatildeo social para aleacutem de abrir

uma consulta puacuteblica Em 3 de Junho de 2002 foi entregue aos Ministros da Presidecircncia e

da Economia o relatoacuterio final contendo um conjunto de recomendaccedilotildees e de propostas de

atuaccedilatildeo Entretanto o projeto estagnou-se e desde 2008 natildeo haacute atualizaccedilotildees a seu respeito

James Slevin afirma que o uso das novas tecnologias de informaccedilatildeo eacute visto por

parte dos EstadosndashNaccedilatildeo como sendo de prioridade para os seus interesses e por isso pede

76

algum tipo de regulaccedilatildeo Isso porque no entender do Estado (hellip) as tecnologias que

podem ser utilizadas para transmitir algum tipo de mensagens para audiecircncias

relativamente alargadas (hellip) possuem uma profunda significacircncia como fator de influecircncia

dos valores e padrotildees morais das sociedades modernasrdquo (Slevin 2000 77) James Slevin

diz ainda que a tentativa de dotar a Internet de um sistema regulatoacuterio que defenda

simultaneamente os interesses dos Estados e dos cidadatildeos provoca um embate entre dois

polos (Slevin apud Cardoso 2002 03) Primeiro o dos governos que tendem a defender

uma abordagem da Internet enquanto tecnologia que facilita a difusatildeo puacuteblica de material

algo proacuteximo do sistema de broadcasting ndash uma atividade para a qual foram ao longo das

uacuteltimas deacutecadas desenvolvidos sistemas de regulaccedilatildeo de conteuacutedos Por outro lado os

indiviacuteduos e organizaccedilotildees da sociedade civil partidaacuterios de uma abordagem da Internet

enquanto tecnologia derivada do sistema telefocircnico ndash o qual foi desde sempre

caracterizado por um sistema de regulaccedilatildeo bastante brando dos seus conteuacutedos

Em texto escrito como contribuiccedilatildeo para a ldquoIniciativa Convergecircncia e Regulaccedilatildeordquo

Gustavo Cardoso afirma poreacutem que ldquoas posiccedilotildees sobre a regulaccedilatildeo da Internet tendem a

ser por vezes simplificadas colocando o Estado como defensor da existecircncia de

regulaccedilatildeo e os cidadatildeos como arautos da auto-regulaccedilatildeordquo (Cardoso 2002 04) Foi com o

objetivo de descobrir a veracidade dessa opiniatildeo na sociedade portuguesa que o Projecto

Ciberfaces do Instituto Superior de Ciecircncias do Trabalho e da Empresa (ISCTE)

analisou no ano 2000 3 mil inqueacuteritos realizados com usuaacuterios da Internet no paiacutes

Questionados sobre as principais vantagens da Internet os inquiridos responderam

quantidade diversidade da informaccedilatildeo disponiacutevel (263) rapidez de comunicaccedilatildeo

(205) e facilidade de contato com outros (182) O item referente agrave ausecircncia de

regulaccedilatildeo figurou na 6ordf posiccedilatildeo (57) numa lista de seis (ISCTE Projecto Ciberfaces

2000) As questotildees mais problemaacuteticas que a Internet enfrenta satildeo para estes inquiridos a

privacidade dos dados a seguranccedila dos pagamentos on-line a desorganizaccedilatildeo e dispersatildeo

dos conteuacutedos e a censura a alguns desses conteuacutedos

Outra dimensatildeo significativa que a pesquisa procurou analisar foi a da relaccedilatildeo

entre direitos de autor e gratuidade de conteuacutedos Agrave questatildeo ldquoA informaccedilatildeo

disponibilizada na Internet deve ser gratuitardquo 914 responderam ldquosimrdquo e 86 ldquonatildeordquo

Perguntados se ldquoOs direitos de autor devem ser respeitados na Internetrdquo 835

concordaram e 165 discordaram Gustavo Cardoso aponta esses resultados como

sintoma do aparente paradoxo entre o acesso gratuito agraves informaccedilotildees e a defesa dos

77

direitos de autor e da necessidade de compatibilizar dois polos de interesse geralmente

considerados opostos (Cardoso 2002 07)

Na questatildeo sobre a quem deve caber a regulaccedilatildeo da Internet 63 declararam-se a

favor de algum tipo de regulaccedilatildeo 33 mostraram-se favoraacuteveis aos utilizadores (portanto

agrave auto-regulaccedilatildeo) e apenas 2 escolheram a ausecircncia de qualquer tipo de regulaccedilatildeo Os

favoraacuteveis agrave regulaccedilatildeo opinaram poreacutem que esta natildeo deveria ser feita nem pelo Governo

nem pelas empresas do setor Ambas as categorias satildeo vistas como pouco crediacuteveis para

assegurar o equiliacutebrio necessaacuterio entre o interesse privado e puacuteblico que os usuaacuterios

conferem agrave Rede Isso ocorre pelo facto de os utilizadores conferirem ao regulador a noccedilatildeo

de entidade sem interesse direto no espaccedilo em causa Assim a escolha recai ou sobre

entidades independentes ou numa combinaccedilatildeo de interesses puacuteblicos privados e

individuais Conforme diz Gustavo Cardoso ldquotratam-se portanto de modelos proacuteximos

daqueles que a legislaccedilatildeo portuguesa a par de outras a niacutevel europeu privilegia nas aacutereas

de atuaccedilatildeo das tecnologias mais tradicionais no sistema dos mediardquo (ibidem 11)

A regulaccedilatildeo da Internet depara-se com trecircs questotildees limitadoras no que se refere

aos conteuacutedos como definir quais satildeo os conteuacutedos aceitaacuteveis e inaceitaacuteveis agrave circulaccedilatildeo

como reunir as capacidades financeira e tecnoloacutegica necessaacuterias agrave aplicaccedilatildeo da regulaccedilatildeo e

como criar uma poliacutetica de cooperaccedilatildeo internacional face a uma tecnologia global como a

Internet Outro aspecto a ser considerado eacute o das formas de filtragem dos conteuacutedos As

tecnologias para fazecirc-lo ainda natildeo estatildeo suficientemente desenvolvidas aleacutem disso

qualquer atitude nesse campo esbarra na tecircnue linha que separa o combate agrave criminalidade

na Rede e o desrespeito agrave privacidade dos usuaacuterios Muito mais que uma questatildeo

tecnoloacutegica o controlo de conteuacutedos na rede mundial de computadores apresenta-se como

um dilema filosoacutefico e socioloacutegico difiacutecil de ser resolvido

40 Salvaguarda dos direitos de autor e combate agrave pirataria no Brasil e em

Portugal Azeredo e Lei da Coacutepia Privada

41 O Projeto de Lei Azeredo

78

O Projeto de Lei 892003 de autoria do senador mineiro Eduardo Azeredo eacute um

substitutivo a trecircs projetos que tramitam em conjunto pelo Congresso Nacional brasileiro

Projeto de Lei da Cacircmara de nordm 89 de 2003 e do Senado de nordm 76 e 137 de 2000 Eles

dispotildeem sobre os crimes cometidos na aacuterea de informaacutetica e suas penalidades O projeto

pretende alterar o Coacutedigo Penal o Coacutedigo de Processo Penal e outras leis ao inveacutes de

atualizaacute-las com novos tipos de crime cometidos atraveacutes das tecnologias da informaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo (TIC) (Rezende 2008)

Eduardo Azeredo (PSDB) foi governador do estado de Minas Gerais e trabalhou

na IBM por mais de 10 anos Ele tambeacutem exerceu vaacuterios cargos puacuteblicos ligados agrave aacuterea da

tecnologia com a colaboraccedilatildeo de seu assessor Joseacute Henrique Portugal que eacute ex-diretor da

empresa puacuteblica Serpro (Serviccedilo Federal de Processamento de Dados) e coautor do

respectivo Projeto de Lei que ficou conhecido como ldquoLei de Crimes de Informaacuteticardquo e

tambeacutem ldquoLei Azeredordquo

O projeto eacute criticado desde seu surgimento por apresentar um texto vago

impreciso ateacute duacutebio com pontos abertos a interpretaccedilotildees mesmo contraditoacuterias Aleacutem

disso os criacuteticos da Lei Azeredo apontam para o facto de que o texto legislativo pode

chegar a criminalizar atividades cotidianas praticadas por usuaacuterios da Rede Em seu blog

o socioacutelogo Seacutergio Amadeu afirma que ldquoao aprovar o Projeto Substitutivo ao Projeto de

Lei da Cacircmara dos Deputados (PLC) 892003 Projeto de Lei do Senado Federal (PLS)

1372000 e PLS 762000 redigido pelo senador Azeredo a Comissatildeo de Constituiccedilatildeo e

Justiccedila da Cacircmara quer transformar milhares de internautas em criminososrdquo (Amadeu

2008)

Pela burocratizaccedilatildeo do acesso que propotildee a lei pode dificultar a democratizaccedilatildeo da

Rede e servir como um entrave e um desincentivo aos usuaacuterios O texto inicial da Lei

Azeredo propotildee a obrigatoriedade da identificaccedilatildeo do usuaacuterio antes de iniciar qualquer

atividade interativa na Rede Sendo assim o envio de e-mails conversas em salas de bate-

papo criaccedilatildeo e publicaccedilatildeo de materiais em blogs e a captura de dados (downloads de

muacutesicas filmes imagens etc) dentre outras atividades ficariam sujeitas agrave preacutevia

identificaccedilatildeo do utilizador

A Lei Azeredo prevecirc a necessidade de identificar-se a cada acesso O usuaacuterio deve

fornecer informaccedilotildees como nome endereccedilo nuacutemero de telefone nuacutemeros do registro

geral (carteira de identidade) e do cadastro de pessoas fiacutesicas (CPF) ou juriacutedicas (CNPJ)

79

A navegaccedilatildeo na Internet sem o fornecimento desses dados seria punida com reclusatildeo de

dois a quatro anos

Os fornecedores de acesso agrave Internet satildeo os responsaacuteveis pela comprovaccedilatildeo da

veracidade das informaccedilotildees prestadas pelos usuaacuterios Cabe a eles verificar se os dados satildeo

ou natildeo reais e se correspondem efetivamente agrave pessoa conectada O acesso soacute seraacute

liberado apoacutes a confirmaccedilatildeo da identidade do indiviacuteduo Para isso eacute preciso obter

fotocoacutepias dos documentos de identificaccedilatildeo Caso os provedores permitam o acesso de

usuaacuterios natildeo cadastrados ficam sujeitos agrave mesma pena ndash dois a quatro anos de prisatildeo

O artigo 2 do projeto propotildee a alteraccedilatildeo do artigo 285 do Coacutedigo Penal com trecircs

apecircndices O 285-A criminaliza o acesso ldquomediante violaccedilatildeo de seguranccedilardquo agrave rede de

computadores dispositivo de comunicaccedilatildeo ou sistema informatizado protegido por

expressa restriccedilatildeo de acesso com pena de um a trecircs anos de reclusatildeo e multa O 285-B

criminaliza a obtenccedilatildeo ou transferecircncia de dado ou informaccedilatildeo disponiacutevel numa tal coisa

em desconformidade com a autorizaccedilatildeo do ldquolegiacutetimo titularrdquo da mesma com pena igual

O texto determina que os fornecedores de acesso agrave Internet guardem durante um

periacuteodo de trecircs anos as informaccedilotildees sobre as conexotildees realizadas por seus usuaacuterios de

maneira a fornececirc-las agraves autoridades responsaacuteveis pela investigaccedilatildeo de infratores

Art 22 O responsaacutevel pelo provimento de acesso agrave rede de computadores mundial

comercial ou do setor puacuteblico eacute obrigado a

I ndash manter em ambiente controlado e de seguranccedila pelo prazo de trecircs anos com o

objetivo de provimento de investigaccedilatildeo puacuteblica formalizada os dados de

endereccedilamento eletrocircnico da origem hora data e a referecircncia GMT da conexatildeo

efetuada por meio de rede de computadores e fornececirc-los exclusivamente agrave autoridade

investigatoacuteria mediante preacutevia requisiccedilatildeo judicial

II ndash preservar imediatamente apoacutes requisiccedilatildeo judicial outras informaccedilotildees requisitadas

em curso de investigaccedilatildeo respondendo civil e penalmente pela sua absoluta confidencialidade e inviolabilidade (SENADO FEDERAL 2003)

No mesmo artigo a lei ainda prevecirc que os prestadores de serviccedilo de acesso agrave rede

mundial de computadores recebam e faccedilam denuacutencias sobre usuaacuterios que pratiquem

atividades tidas como criminosas pelas autoridades competentes Cabe aos fornecedores

um papel de delaccedilatildeo

III ndash informar de maneira sigilosa agrave autoridade competente denuacutencia que tenha

recebido e que contenha indiacutecios da praacutetica de crime sujeito a acionamento penal

puacuteblico incondicionado cuja perpetraccedilatildeo haja ocorrido no acircmbito da rede de computadores sob sua responsabilidade (SENADO FEDERAL 2003)

80

O artigo 22 do Projeto de Lei 892003 eacute talvez o mais polecircmico Os criacuteticos da lei

questionam o motivo pelo qual as denuacutencias deveriam ser feitas aos fornecedores de

acesso agrave Internet e natildeo diretamente agraves autoridades competentes Se natildeo haacute restriccedilotildees nem

criteacuterios para o registro de denuacutencias qualquer interessado pode fazecirc-las aos provedores

criando uma espeacutecie de induacutestria de denuacutencias Aleacutem disso a lei induz as empresas

fornecedoras de acesso a serem conforme diz o Observatoacuterio do Direito agrave Comunicaccedilatildeo

ldquociberagentes policiaisrdquo ldquocibercapatazesrdquo que dispostos a evitar retaliaccedilotildees identificam e

denunciam usuaacuterios sem saber se houve realmente alguma violaccedilatildeo da lei (Observatoacuterio

do Direito agrave Comunicaccedilatildeo 2008) Em entrevista ao Grupo de Pesquisa em Poliacuteticas

Puacuteblicas para o Acesso agrave Informaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) o professor e

pesquisador da Universidade de Brasiacutelia (UnB) Pedro Rezende demonstrou seu temor em

relaccedilatildeo a esse artigo

Receio que tal dispositivo possa por exemplo induzir prestadores inclinados a lucrar

com espionagem ou violaccedilatildeo de privacidade em posiccedilatildeo teacutecnica de poder fazecirc-lo de

forma indetectaacutevel a se abrigarem na sombra desta subjetividade para se desimputarem

de culpabilidade caso efeitos desta inclinaccedilatildeo emerjam (REZENDE 2008)

Em Marccedilo de 2012 o Projeto de Lei Azeredo entrou na pauta de discussatildeo na

Comissatildeo de Seguranccedila Puacuteblica e Combate ao Crime Organizado na Cacircmara dos

Deputados A notiacutecia causou revolta e graccedilas agrave mobilizaccedilatildeo popular atraveacutes das redes

sociais e outros instrumentos de comunicaccedilatildeo pela Internet o debate sobre o texto foi

adiado sem prazo definido

42 A Lei da Coacutepia Privada em Portugal

O Coacutedigo de Direitos de Autor revisado e aprovado em 1985 estabeleceu em seu

81deg artigo a legitimidade da reproduccedilatildeo de obras protegidas sem o consentimento dos

titulares dos direitos quando estas se destinam a fins exclusivamente privados

(Assembleia da Repuacuteblica 1985 27) Em outras palavras a reproduccedilatildeo eacute legal quando eacute

feita por uma soacute pessoa sem fins lucrativos visando apenas satisfazer necessidades

pessoais do utilizador ou dos seus proacuteximos Eacute a isto que se chama coacutepia privada

81

Na tentativa de evitar que os autores ficassem desprotegidos pela autorizaccedilatildeo da

coacutepia em contexto privado a Lei nordm 6298 de 01 de Setembro estabelece uma

compensaccedilatildeo a atribuir pela entidade gestora dos direitos autorais Essa compensaccedilatildeo eacute

obtida da seguinte forma na venda de

[] todos e quaisquer aparelhos mecacircnicos quiacutemicos electroacutenicos ou outros que

permitam a fixaccedilatildeo e reproduccedilatildeo de obras e bem assim de todos e quaisquer suportes

materiais virgens analoacutegicos das fixaccedilotildees e reproduccedilotildees que por qualquer desses meios

possam obter-se incluir-se-aacute uma quantia destinada a beneficiar os autores os artistas

inteacuterpretes ou executantes os editores os produtores fonograacuteficos e os videograacuteficos

(ASSEMBLEIA DA REPUacuteBLICA 1998 01)

Portanto a compensaccedilatildeo obteacutem-se atraveacutes da introduccedilatildeo no preccedilo de venda ao

puacuteblico de uma determinada taxa

Em Dezembro de 1998 foi constituiacuteda a Associaccedilatildeo para Gestatildeo da Coacutepia Privada

(AGECOP) em cumprimento ao artigo 6ordm da Lei nordm 6298 de 01 de Setembro que previa

a criaccedilatildeo de ldquo[] uma pessoa colectiva sem fins lucrativos de natureza associativa ou

cooperativa que tem por objecto a cobranccedila e gestatildeo das quantias previstas na presente

leirdquo (Assembleia da Repuacuteblica 1998 02) A entidade atualmente presidida pela

Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) cobra pela coacutepia privada e distribui os valores agraves

sociedades de gestatildeo e aos detentores dos direitos de autor

A lei nordm 502004 de 24 de Agosto referente agrave Harmonizaccedilatildeo de certos aspectos

dos direitos de autor e dos direitos conexos na sociedade da informaccedilatildeo finalmente

especificou a quais aparelhos e suportes se aplicariam as taxas pela coacutepia privada Desde

entatildeo todos os equipamentos analoacutegicos que permitem gravar armazenar e reproduzir

passaram a ser taxados em 3 assim como cassetes aacuteudio viacutedeo CD-R aacuteudio DVD-R

DVD RAM etc que satildeo taxados em valores individuais que rondam os 014 e o 100

euros cada A soma incide sobre o preccedilo de venda ao puacuteblico antes da aplicaccedilatildeo do

Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) estabelecido pelos respectivos fabricantes e

importadores (Assembleia da Repuacuteblica 2004)

A ex-ministra da Cultura e atual deputada do Partido Socialista (PS) Gabriela

Canavilhas eacute a responsaacutevel pela autoria e apresentaccedilatildeo do Projeto de Lei nordm 118 tambeacutem

conhecido como Projeto de Lei da Coacutepia Privada5 agrave Assembleia da Repuacuteblica O objetivo

5 Para tornar a leitura mais simples utilizaremos a sigla PL118 para nos referirmos ao Projeto de Lei da

Coacutepia Privada

82

do texto eacute basicamente alargar o regime de taxas aos equipamentos digitais surgidos e

popularizados recentemente como aparelhos leitores de mp3 e pens USB por exemplo A

proposta sugere que o valor da taxa deixe de ser de 3 e seja proporcional agrave capacidade

do dispositivo A soma deve ser incluiacuteda no valor cobrado ao consumidor final e seraacute

obrigatoacuteria mesmo que o consumidor compre o aparelho para armazenar conteuacutedos de sua

autoria

Em artigo publicado no jornal Diaacuterio de Notiacutecias Canavilhas afirma que a ideia

inspira-se nas recentes decisotildees da Uniatildeo Europeia que tem manifestado grande

preocupaccedilatildeo para com este assunto (Canavilhas 30012012) Essa preocupaccedilatildeo foi

expressa pela Diretiva Comunitaacuteria 201129CE e mais recentemente pela Comunicaccedilatildeo

da Comissatildeo Europeia ldquoUm Mercado Uacutenico para os Direitos de Propriedade Intelectualrdquo

de Maio de 2011

Gabriela Canavilhas afirmou que os valores propostos no diploma do PS satildeo

equivalentes aos praticados atualmente em outros paiacuteses Segundo ela em 2009 entre 30

paiacuteses europeus Portugal estava em 17ordm lugar no ranking da contribuiccedilatildeo per capita para

pagamento de direitos autorais euro 030 euros por habitanteano Na Franccedila paiacutes topo da

lista cada cidadatildeo pagava 260 eurosano na Espanha 170 euros e na Holanda 090

euros Para a deputada optar por comprar equipamentos informaacuteticos em outros paiacuteses da

EU significa pagar direitos de autor aos cidadatildeos de outros paiacuteses ao inveacutes de investir nos

autores nacionais (Canavilhas id)

As memoacuterias USB aparelhos destinados agrave reproduccedilatildeo e outros suportes como

cartotildees de memoacuteria passaratildeo a custar mais 006 euro por cada gigabyte (GB) de capacidade

de armazenamento Os discos riacutegidos e outros tipos de memoacuterias natildeo volaacuteteis integrados

em equipamentos ou aparelhos com capacidade a partir de 150 GB e que permitam o

armazenamento de dados em massa seratildeo taxados a 002 euro por cada GB de capacidade

mais 0005 euro por cada GB que acresccedila a capacidade de 1 terabyte (TB) Discos riacutegidos

externos ou cartotildees SSD custaratildeo 002 euro por cada GB de capacidade e mais 0005 euro por

cada GB que acresccedila a capacidade de 1TB (Canavilhas 01022012)

Os telemoacuteveis e tablets por exemplo tambeacutem seratildeo taxados Os dispositivos de

reproduccedilatildeo de fonogramas videogramas ou outros conteuacutedos sonoros visuais ou

audiovisuais custaratildeo mais 050 euro por cada GB de capacidade de armazenamento Cada

dispositivo eacute taxado com valores especiacuteficos pelo PL118 (vd Anexo 02)

83

Em 21 de Marccedilo de 2012 o PS retirou o Projeto de Lei de discussatildeo e disse que

pretende apresentar um novo texto em breve Segundo o porta-voz do grupo parlamentar

do partido Ricardo Pires o PS decidiu pela retirada apoacutes audiccedilotildees agrave sociedade civil Ele

afirmou que o partido ldquoprocurou consensualizar uma soluccedilatildeo viaacutevel de alteraccedilatildeo

do Projeto de Lei sobre a Coacutepia Privadardquo referindo que ldquoface aos sinais puacuteblicos

designadamente de natildeo viabilizaccedilatildeo desse caminho pelo PSD o PS decidiu retirarrdquo o

documento e ldquoem breve iraacute entregar um novo projeto com alteraccedilotildees introduzidasrdquo

(IOnline 2012)

Em declaraccedilotildees dadas agrave imprensa a deputada Gabriela Canavilhas comentou as

alteraccedilotildees ao texto e afirmou que se aguardava autorizaccedilatildeo da presidente da Assembleia

da Repuacuteblica para introduzi-las A ldquodefiniccedilatildeo de equipamentos e taxas a aplicar a ser feita

por portaria governamental em cada dois anos de modo a permitir mais ceacutelere adaptaccedilatildeo

dos valores e dos produtos acompanhando a evoluccedilatildeo tecnoloacutegicardquo era uma das

modificaccedilotildees feitas (IOnline id) Outra das alteraccedilotildees introduzidas eacute a definiccedilatildeo de um

teto maacuteximo como valor limite para a taxa que sendo progressiva consoante a capacidade

de armazenamento (dos equipamentos) natildeo poderaacute exceder os 6 sobre o produto antes

do IVA

A deputada socialista disse ainda que entre as alteraccedilotildees agrave proposta inicial estaacute o

ldquoalargamento das isenccedilotildees de pagamento de taxas a profissionais em nome individual do

setor audiovisual fonograacutefico e fotograacutefico cujos equipamentos sejam adquiridos para a

sua atividade criativa bem como a instituiccedilotildees com centros de documentaccedilatildeo natildeo

comercial tais como bibliotecas museus e arquivosrdquo (IOnline id)

O texto atualmente em vigor da Lei nordm 6298 de 01 de Setembro jaacute prevecirc a isenccedilatildeo

[] quando os equipamentos ou os suportes sejam adquiridos por organismos de

comunicaccedilatildeo audiovisual ou produtores de fonogramas e de videogramas exclusivamente para as suas proacuteprias produccedilotildees ou por organismos que os utilizem para

fins exclusivos de auxiacutelio a pessoas portadoras de diminuiccedilatildeo fiacutesica visual ou auditiva

bem como nos termos de despacho conjunto dos Ministros das Financcedilas e da Cultura

por entidades de caraacutecter cultural sem fins lucrativos para uso em projectos de relevante

interesse puacuteblico (ASSEMBLEIA DA REPUacuteBLICA 1998 01)

Para beneficiar-se de tal isenccedilatildeo os organismos abrangidos devem apresentar no

ato da compra dos aparelhos e suportes uma declaraccedilatildeo emitida pela entidade gestora das

compensaccedilotildees e cobranccedila indicando e comprovando o respectivo objeto de atividade

84

O projeto de lei foi alvo de criacuteticas e deu origem a uma peticcedilatildeo em circulaccedilatildeo na

Internet que reuniu mais de oito mil assinaturas (Peticcedilatildeo puacuteblica contra o PL118 2012)

Um dos argumentos mais frequentes contra o PL118 eacute o de que os equipamentos podem

ser usados para armazenar muitos outros tipos de conteuacutedos que natildeo sejam coacutepias de obras

protegidas

50 Controlo do ciberespaccedilo e acordos aleacutem-fronteiras alguns casos-chave

51 HADOPI

Devido agrave intensa pressatildeo exercida por representantes da induacutestria cultural ndash

grandes produtores de muacutesica cinema e publicaccedilotildees impressas - o governo francecircs

decidiu comeccedilar em 2007 uma luta efetiva contra as redes P2P (peer-to-peer) e a

partilha gratuita de arquivos de muacutesicas filmes etc protegidos por direitos de autor

Formulou-se entatildeo o texto da lei HADOPI (Alta Autoridade para a Difusatildeo das Obras e a

Proteccedilatildeo dos Direitos na Internet em francecircs Haute Autoriteacute pour la Diffusion des

Œuvres et la Protection des Droits sur Internet) tambeacutem chamada de Lei ldquoCriaccedilatildeo e

Internetrdquo que sugeriu a criaccedilatildeo de uma administraccedilatildeo capaz de vigiar e punir atividades de

download e troca de arquivos ilegais na Rede Segundo o texto inicial da lei HADOPI o

mote para o surgimento desta nova administraccedilatildeo foi a necessidade de

Fazer cessar a hemorragia de obras culturais na Internet e criar a situaccedilatildeo

juriacutedica indispensaacutevel ao desenvolvimento da oferta legal de muacutesicas filmes

obras e programas audiovisuais como tambeacutem de obras literaacuterias sobre as

novas redes de comunicaccedilatildeo (REacutePUBLIQUE FRANCcedilAISE ET MINISTEgraveRE

DE LA CULTURE ET DE LA COMMUNICATION 2008 01)

O texto inicial de HADOPI propotildee que os detentores de direitos autorais (artistas

produtores e editores) colaborem com os agentes puacuteblicos fiscalizadores habilitados pela

Alta Autoridade na atividade de combate agrave contravenccedilatildeo identificando na Rede o uso de

ferramentas para a transmissatildeo iliacutecita de bens culturais protegidos por direitos de autor

(como por exemplo programas peer-to-peer e o acesso a sites de hospedagem de

arquivos) Para isso os proprietaacuterios dos direitos recorrem a sociedades especializadas no

85

reconhecimento de endereccedilos IP das maacutequinas que partilham os conteuacutedos ilegalmente na

Rede

HADOPI determina que seus agentes fiscalizadores obtenham junto aos

operadores de comunicaccedilotildees eletrocircnicas informaccedilotildees como a identidade o endereccedilo

postal o endereccedilo eletrocircnico e os contatos telefocircnicos dos usuaacuterios cadastrados em seus

bancos de dados (Reacutepublique Franccedilaise et Ministegravere de la Culture et de la Communication

2008 19) O acesso a essas informaccedilotildees permitiria entatildeo que HADOPI enviasse aos

usuaacuterios que fazem downloads iliacutecitos uma espeacutecie de aviso preacutevio advertindo-os sobre o

caraacuteter ilegal de seus atos e alertando-os sobre as sanccedilotildees que podem sofrer caso

continuem com as descargas A intercomunicaccedilatildeo entre a fiscalizaccedilatildeo de HADOPI e a

vigilacircncia dos fornecedores de acesso agrave Internet com o posterior envio de mensagens de

advertecircncia aos assinantes eacute chamada de resposta gradual

Caso o usuaacuterio volte a fazer downloads ilegalmente num prazo de seis meses

contados a partir da data de envio do primeiro aviso a comissatildeo decide pelo envio de

outro comunicado desta vez de maneira que permita estabelecer uma prova da data de

envio e sobretudo da recepccedilatildeo sob assinatura do destinataacuterio Se o usuaacuterio reincidir

HADOPI prevecirc uma sanccedilatildeo polecircmica a suspensatildeo do acesso agrave Internet

Aleacutem de ter o acesso agrave Rede interrompido HADOPI determina tambeacutem que o

assinante continue a pagar por ele ldquoArt L 331-28 ndash A suspensatildeo do acesso mencionada

nos artigos L 331-25 e L 331-26 natildeo afeta por si mesma o pagamento do preccedilo da

assinatura ao fornecedor do serviccedilordquo (Reacutepublique Franccedilaise et Ministegravere de la Culture et

de la Communication 2008 22)

A identificaccedilatildeo dos usuaacuterios infratores aparece em uma lista produzida pela

comissatildeo de proteccedilatildeo dos direitos de autor e fica agrave disposiccedilatildeo para consulta pelas

empresas fornecedoras de acesso agrave Internet Caso o servidor de acesso natildeo proceda agrave

consulta desse repertoacuterio ou caso aceite firmar contrato com o infrator mesmo

conhecendo sua situaccedilatildeo perante HADOPI ele fica sujeito ao pagamento de multa

52 Sinde-Wert

Desde Marccedilo de 2012 estaacute em vigor na Espanha a lei batizada Sinde-Wert (em

referecircncia a Aacutengeles Gonzaacuteles-Sinde antiga ministra da Cultura e Joseacute Ignacio Wert seu

sucessor) Esta lei permite ao governo fechar ou tirar sites do ar sem ordem judicial

86

A lei enfrenta uma forte oposiccedilatildeo tanto de ativistas quanto das empresas A Rede

de Empresas de Internet e a Associaccedilatildeo Espanhola de Economia Digital entraram com um

recurso no Supremo Tribunal contra a lei ndash mais especificamente contra o ldquoprocedimento

de garantia dos direitos de propriedade intelectualrdquo (Link 15022012) Segundo as

empresas o artigo traz inseguranccedila juriacutedica para as empresas de tecnologia operarem e se

desenvolverem Para elas Sinde-Wert dificulta a atuaccedilatildeo das empresas de Internet que jaacute

pensam duas vezes antes de comeccedilar um novo projeto

A lei comeccedilou a ser discutida em 2009 Gerou uma onda de protestos por todo o

paiacutes mas apesar de toda oposiccedilatildeo foi aprovada pelo governo no iniacutecio de 2012

53 SOPA

SOPA eacute a sigla inglesa para Stop Online Piracy Act Trata-se de um projeto de lei

em discussatildeo no Congresso dos Estados Unidos e que jaacute provocou manifestaccedilotildees e

interrupccedilotildees de serviccedilos de sites importantes como Google Wikipedia e Craigslist

O texto do SOPA propotildee penas ateacute 5 anos de prisatildeo para os condenados por

compartilhar conteuacutedo pirata por 10 ou mais vezes ao longo de 6 meses Os sites tambeacutem

poderiam ser punidos pela acusaccedilatildeo de permitir ou facilitar a pirataria A puniccedilatildeo seria o

encerramento dos serviccedilos e banimento de provedores de Internet sistemas de pagamento

e anunciantes em niacutevel internacional Pela lei qualquer site pode ser fechado apenas por

ter conexatildeo com outro site suspeito de pirataria a pedido do governo dos EUA ou dos

geradores de conteuacutedo Ferramentas de busca como o Google por exemplo teriam que

remover dos resultados das pesquisas endereccedilos que compartilhem conteuacutedo pirata

correndo o risco de tambeacutem serem punidos

As propostas contam com o apoio de emissoras de TV gravadoras estuacutedios de

cinema e editoras de livros que se sentem lesadas com a livre distribuiccedilatildeo de filmes e

muacutesicas na Internet principalmente em servidores internacionais Disney Universal

Paramount Sony e Warner Bros satildeo alguns dos grandes nomes da induacutestria que apoiam

esse projeto

Por outro lado empresas de tecnologia como Google Facebook Wikipedia

Craigslist WordPress entre outros satildeo contra o projeto de lei alegando que caso este

seja aprovado a liberdade na Internet seria drasticamente reduzida Aleacutem disso SOPA daacute

87

poderes em excesso para quem quiser tirar os endereccedilos do ar prejudicando o

funcionamento da Rede em escala global

Com a intensa pressatildeo popular a Casa Branca declarou ser contra o projeto Em

mensagem publicada em seu blog a Casa Branca afirmou que natildeo pode apoiar ldquoum

projeto de lei que reduz a liberdade de expressatildeo amplia os riscos de seguranccedila na

computaccedilatildeo ou abala o dinamismo e inovaccedilatildeo da Internet globalrdquo (G1 18012012) Sem o

apoio ele pode ser alterado ou ateacute dissipado do Congresso e do Senado americanos

54 ACTA

O ACTA (Acordo Comercial Anticontrafaccedilatildeo em inglecircs Anti-Counterfeiting

Trade Agreement) tratado comercial de escala planetaacuteria estaacute sendo discutido desde

2007 As negociaccedilotildees formais arrancaram em Junho de 2008 e desde entatildeo foram

realizadas sete rondas negociais O ACTA tem como objetivo estabelecer padrotildees

internacionais para o cumprimento da legislaccedilatildeo de propriedade intelectual O pacto goza

de amplo apoio dos produtores de muacutesica filmes e uma gama de outros produtos que

desfrutam da proteccedilatildeo de direitos de autor e propriedade intelectual como marcas

comerciais patentes desenhos e indicaccedilotildees geograacuteficas O acordo de longo alcance

cobriria tudo desde a falsificaccedilatildeo de medicamentos agrave pirataria on-line

Os Estados Unidos assinaram o ACTA em Outubro de 2011 ao lado de outros sete

paiacuteses Austraacutelia Canadaacute Coreacuteia do Sul Japatildeo Nova Zelacircndia Marrocos e Singapura A

Uniatildeo Europeia assinou o ACTA em 26 de Janeiro de 2012 em Toacutequio O acordo prevecirc

disposiccedilotildees em mateacuteria de execuccedilatildeo penal um domiacutenio que eacute considerado de competecircncia

partilhada entre a UE e os Estados-Membros Por este motivo teve de ser assinado e

ratificado pela UE e por seus 27 integrantes

Apoacutes a assinatura do ACTA pela UE e os seus Estados-Membros o Parlamento

Europeu foi formalmente notificado para dar iniacutecio ao procedimento de consentimento

Esse procedimento inclui debates nas diferentes comissotildees (Comeacutercio Internacional

Liberdades Civis Justiccedila e Assuntos Internos e Assuntos Juriacutedicos) e possivelmente uma

audiecircncia puacuteblica Eacute provaacutevel que o consentimento seja votado no fim do veratildeo de 2012

Depois de o Parlamento Europeu ter dado o seu consentimento e uma vez

concluiacutedos os procedimentos nacionais de ratificaccedilatildeo nos Estados-Membros o Conselho

88

da Uniatildeo Europeia adotaraacute uma decisatildeo final para celebrar o acordo Este facto seraacute entatildeo

comunicado aos demais signataacuterios do ACTA e o acordo entraraacute em vigor na UE

Em comunicado publicado no site oficial da Comissatildeo Europeia no dia 22 de

Fevereiro de 2012 o Comissaacuterio Europeu do Comeacutercio Karel De Gucht anunciou com

satisfaccedilatildeo ldquoApraz-me dizer que esta manhatilde os meus colegas da Comissatildeo discutiram e

concordaram em termos gerais com a minha proposta de enviar o ACTA para o Tribunal

Europeu da Justiccedilardquo que eacute a mais alta instacircncia judicial da Uniatildeo Europeia (Puacuteblico

22022012) De Gucht afirmou ainda que o objetivo da decisatildeo eacute tambeacutem perceber se o

acordo internacional para a proteccedilatildeo dos direitos de autor eacute incompatiacutevel ndash seja em que

sentido for ndash com os direitos fundamentais e de liberdade da Uniatildeo Europeia tais como a

liberdade de expressatildeo e de informaccedilatildeo ou a proteccedilatildeo de dados e o direito agrave propriedade

no caso especiacutefico da propriedade intelectual

Em palestra organizada pela Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa

em Marccedilo de 2012 a advogada Teresa Nobre responsaacutevel pela adaptaccedilatildeo das licenccedilas

Creative Commons agrave legislaccedilatildeo portuguesa afirmou que o risco de acordos como o ACTA

estaacute no caraacuteter vago do texto suscetiacutevel de diversas interpretaccedilotildees ldquoACTA representa um

risco real pois abre a porta agrave discussatildeo de leis como SOPA nos EUA e HADOPI em

Franccedilardquo (Nobre 2012)

Jaacute para Lucas Serra responsaacutevel pela assessoria juriacutedica da Sociedade Portuguesa

de Autores (SPA) eacute cedo para prever os resultados de um acordo como o ACTA em

aplicaccedilatildeo ldquoHaacute que ver no que vai dar O facto eacute que precisa haver portagens que

detenham a pirataria Eacute um problema grave que afeta a todos noacutes e mais ainda aos

autoresrdquo (Serra 2012)

60 Brasil e Portugal algumas semelhanccedilas e diferenccedilas

Apesar da grande diversidade e dos muitos quilocircmetros que separam

territorialmente Brasil e Portugal as semelhanccedilas entre os dois paiacuteses satildeo muitas Aleacutem de

terem culturas muito proacuteximas partilham a mesma liacutengua e as semelhanccedilas estendem-se

tambeacutem ao Direito A matriz comum manteve-se mesmo apoacutes a independecircncia do Brasil e

a consequente separaccedilatildeo legislativa Os direitos de autor natildeo escaparam dessa

89

conformidade Conforme afirma Joseacute de Oliveira Ascensatildeo a lei brasileira nordm 5988 de 14

de Dezembro de 1973 que regulou autonomamente os direitos de autor foi preparada

pouco tempo depois da entrada em vigor do Coacutedigo do Direito de Autor portuguecircs de

1966 e baseou-se neste uacuteltimo para firmar vaacuterios de seus preceitos (Ascensatildeo 2012 40)

No entanto os dois paiacuteses sofrem influecircncias diferentes apesar da legislaccedilatildeo de

base romaniacutestica o Brasil estaacute sob a atraccedilatildeo exercida pelos Estados Unidos da Ameacuterica

enquanto que Portugal segue as diretrizes impostas pela Uniatildeo Europeia (UE) Apesar de

transpor com atraso as instruccedilotildees europeias Portugal acolheu mais cedo as questotildees

relacionadas ao direito de autor no ambiente da Internet sob pressatildeo das pautas e

calendaacuterios da UE Nesse aspecto ficou agrave frente do Brasil A atual Lei do Direito Autoral

(LDA) nordm 9610 data de 19 de Fevereiro de 1998 e natildeo trata especificamente da Internet

nem das questotildees que ela impotildee Estaacute portanto bastante defasada visto que desde entatildeo

a tecnologia jaacute se desenvolveu bastante e criou novos dispositivos sobre os quais a lei natildeo

tem nenhum conhecimento

A decisatildeo pela reforma da LDA pretende tirar esse atraso do qual Portugal natildeo

sofre por estar submetido agraves diretrizes europeias em atualizaccedilotildees mais frequentes Poreacutem

a problemaacutetica da Internet parece continuar agrave margem da discussatildeo da reforma da lei

brasileira Uma proposta do Ministeacuterio da Justiccedila deveraacute suprir essa falta o Marco Civil

da Internet diploma que pretende versar sobre aspectos baacutesicos do acesso e uso da Rede

Ao mesmo tempo em que os planos para o Marco Civil foram lanccedilados o Ministeacuterio da

Cultura (MinC) resolveu iniciar o processo de reforma da LDA

Infelizmente parece que esse vazio das questotildees da Rede natildeo seraacute totalmente

preenchido com as mudanccedilas mas tal situaccedilatildeo eacute compreensiacutevel Para discutir a fundo essa

problemaacutetica seria necessaacuterio muito tempo o que atrasaria ainda mais a jaacute urgente reforma

da LDA Mesmo natildeo propondo princiacutepios de regulaccedilatildeo da Internet por si mesmo o

rascunho do texto da nova LDA jaacute cria algumas ligaccedilotildees com esse tema Associando o

texto do Marco Civil com a nova LDA seraacute possiacutevel estabelecer pontes entre os domiacutenios

da regulaccedilatildeo da Internet e a defesa dos direitos de autor

O jurista Joseacute de Oliveira Ascensatildeo afirma que com isso evidencia-se a

insuficiecircncia do direito autoral claacutessico para lidar com as questotildees relacionadas com a

Internet (Ascensatildeo 2012 42) A separaccedilatildeo que o Brasil propocircs passa por especificar as

soluccedilotildees Ao lermos os textos do Marco Civil e da reforma da LDA percebemos que o

90

primeiro tem contribuiccedilotildees muito mais significativas no domiacutenio do Direito da Internet

que o uacuteltimo

Um aspecto notaacutevel nas discussotildees pela reforma da LDA eacute o caraacuteter puacuteblico da

consulta O mesmo se deu com o Marco Civil da Internet Essa abertura agrave participaccedilatildeo da

sociedade civil mundo acadecircmico representantes das induacutestrias e criadores marcou

positivamente ambos os processos e fez do Brasil um paradigma internacional no tema

Sob o aspecto da regulaccedilatildeo da Rede em Portugal a iniciativa da Comissatildeo

Europeia e-europe 2002 mostra-se remarcaacutevel O texto definiu num quadro de agrave eacutepoca

quinze paiacuteses quais as preocupaccedilotildees comuns quanto agrave regulaccedilatildeo da Internet Desde entatildeo

o documento foi atualizado e culminou com a iniciativa i2010 O quadro regulamentar

portuguecircs para as comunicaccedilotildees eletrocircnicas aplicado no paiacutes pela Autoridade Nacional de

Comunicaccedilotildees (ANACOM) transpotildee as determinaccedilotildees da Uniatildeo Europeia transferindo-

as para os ordenamentos juriacutedicos nacionais O texto poreacutem dedica-se aos aspectos

teacutecnicos dos serviccedilos e natildeo discute em profundidade o caraacuteter mais social do sistema as

questotildees voltadas para a governaccedilatildeo da Internet etc

Para Gustavo Cardoso a regulaccedilatildeo deve ser fruto de uma anaacutelise das apropriaccedilotildees

realizadas pelos usuaacuterios da Rede e das interaccedilotildees entre os atores presentes nos sistemas

dos media e natildeo apenas baseada na tecnologia em si (Cardoso 2002 16) Aleacutem disso

precisa ter um caraacuteter proacuteprio natildeo espelhado nos quadros regulamentares de outros meios

de comunicaccedilatildeo como a TV por exemplo Isso porque a Internet jaacute eacute um meio complexo

o bastante para que sejam criadas regras especiacuteficas para sua esfera de atuaccedilatildeo No caso

portuguecircs pode-se propor uma atuaccedilatildeo mais conjugada entre as preocupaccedilotildees dedicadas agrave

gestatildeo do acesso e disponibilizaccedilatildeo de conteuacutedos e aquelas voltadas ao controlo da

dimensatildeo econocircmica da prestaccedilatildeo de serviccedilos de acesso agrave Internet A preocupaccedilatildeo com a

quebra de privacidade e do exerciacutecio da vigilacircncia deve ser transversal e estender sua

presenccedila a todos os acircmbitos da regulaccedilatildeo Esta tarefa cabe agrave articulaccedilatildeo de medidas

conjuntas e agrave uniatildeo de esforccedilos entre a ANACOM e a Comissatildeo Nacional de Protecccedilatildeo de

Dados (CNPD)

Em relaccedilatildeo aos conteuacutedos iliacutecitos disponibilizados na Rede Brasil e Portugal tecircm

uma diferenccedila sensiacutevel Eacute importante salientar que a mateacuteria natildeo eacute restrita aos direitos

autorais mas tambeacutem se relaciona com outros direitos que tambeacutem podem ser infringidos

pela Internet como a honra por exemplo A questatildeo eacute tratada pelo texto do Marco Civil

brasileiro em discussatildeo Em uma versatildeo anterior do texto foi incluiacutedo um mecanismo

91

semelhante ao dispositivo notice and take down de clara influecircncia do sistema norte-

americano

O diploma indicava que os materiais ofensivos colocados agrave disposiccedilatildeo na Rede

podiam ser retirados pelos responsaacuteveis pela hospedagem logo que o titular ofendido

manifestasse o dano O hospedeiro notificaria o usuaacuterio responsaacutevel pela publicaccedilatildeo Este

poderia responder ao hospedeiro pedindo a manutenccedilatildeo do conteuacutedo e assumindo a

responsabilidade exclusiva pelos danos causados a terceiros O hospedeiro entatildeo

disponibilizaria novamente o material e avisaria o titular sobre a resposta do responsaacutevel

pela publicaccedilatildeo Tal medida sofreu duras criacuteticas e o texto foi modificado (vd Anexo 01

Art 20) Agora propotildee-se que o provedor de serviccedilos seja obrigado a tornar indisponiacutevel o

acesso ao conteuacutedo apenas apoacutes ordem judicial Com a ordem deveraacute notificar o usuaacuterio

responsaacutevel pela publicaccedilatildeo comunicando-lhe o teor da intimaccedilatildeo

No que se refere ao regime da responsabilidade do provedor o sistema portuguecircs

estaacute baseado na Diretriz nordm 200031 sobre o comeacutercio eletrocircnico E eacute fundamentalmente

diferente do diploma brasileiro O Art 161 do Decreto-Lei nordm 72004 de 07 de Janeiro

(que transpocircs a diretriz sobre comeacutercio eletrocircnico) diz que o responsaacutevel pela

hospedagem estaacute obrigado a retirar ou impossibilitar o acesso agrave atividade ou informaccedilatildeo

cuja ilicitude for manifesta (ANACOM 2004 275) Esta previsatildeo natildeo aparece em

nenhum diploma brasileiro

A tiacutetulo de balanccedilo geral nota-se que as legislaccedilotildees de ambos os paiacuteses possuem

muitos pontos em comum mas suas diferentes influecircncias traccedilam suas assimetrias mais

marcantes e as justificam A preocupaccedilatildeo anglo-saxocircnica de bem proteger os interesses

comerciais e privados faz-se notar nos textos brasileiros enquanto um posicionamento de

maior equiliacutebrio transparece nos diplomas portugueses Poreacutem haacute que salientar que ambos

estatildeo passiacuteveis de sofrer sob polos de atraccedilatildeo que convergem para os mesmos objetivos

nem Brasil nem Portugal (e obviamente a UE) ficaratildeo indiferentes a projetos globais de

combate agrave pirataria No Brasil pela inegaacutevel influecircncia norte-americana e em Portugal

pelo alcance universal que eles possuem (e obviamente por Portugal estar inserido na

UE) Prever o niacutevel dessa influecircncia ainda natildeo eacute possiacutevel mas certamente a transformaccedilatildeo

afetaraacute todos direta ou indiretamente

70 Direitos de autor e regulaccedilatildeo da Internet uma relaccedilatildeo nebulosa

92

A temaacutetica dos direitos de autor natildeo guarda uma relaccedilatildeo imediata e de faacutecil

percepccedilatildeo com a questatildeo da regulaccedilatildeo da Internet esta poreacutem existe e a constante

evoluccedilatildeo das tecnologias digitais torna seu debate cada vez mais pertinente e necessaacuterio

Se considerarmos a defesa da propriedade intelectual (que envolve os direitos de

autor e outros toacutepicos como as patentes e as marcas registradas por exemplo) como

instrumento capaz de impedir o acesso dos utilizadores da Rede a determinados conteuacutedos

tocamos em uma questatildeo delicada e que pode dar resultados negativos Em siacutentese a ideia

eacute a de que as tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo tecircm enorme capacidade de ampliar

o acesso agrave informaccedilatildeo e conhecimento de modo que a falta de acesso agraves proacuteprias

tecnologias seria prejudicial em questotildees de desenvolvimento

Portanto nesse caso falar de governanccedila (ou regulaccedilatildeo) da Internet eacute natildeo limitar-

se a discutir aspectos teacutecnicos da estrutura e funcionamento das redes De acordo com a

Declaraccedilatildeo de Princiacutepios de Genebra elaborada durante a Cimeira Mundial sobre a

Sociedade da Informaccedilatildeo (WSIS) evento organizado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

(ONU) a administraccedilatildeo da Internet engloba natildeo apenas problemas estritamente teacutecnicos

mas tambeacutem a discussatildeo de qualquer poliacutetica puacuteblica relevante agrave gestatildeo da Rede como

recurso globalmente disponiacutevel (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas 2004)

Para Pedro Mizukami e Carlos Souza agrave medida que as tecnologias da informaccedilatildeo e

da comunicaccedilatildeo ampliam a possibilidade de acesso a conteuacutedos e tambeacutem de acesso agraves

ferramentas para a produccedilatildeo de conteuacutedos regimes de exceccedilotildees e limitaccedilotildees aos direitos

de autor surgem como umas das preocupaccedilotildees fundamentais de governanccedila

Se por um lado se assegura direitos exclusivos a autores (e agravequeles a quem satildeo

transferidos esses direitos) como forma de incentivo agrave criaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de obras intelectuais por outro haacute interesses de acesso e uso de conteuacutedo que precisam ser

sopesados em relaccedilatildeo aos incentivos que teoricamente as normas de direitos autorais

proporcionam (MIZUKAMI E SOUZA 2008 06)

Quando associamos a ideia de regulaccedilatildeo do ciberespaccedilo aos direitos autorais a

principal preocupaccedilatildeo que temos eacute o tecircnue equiliacutebrio a ser construiacutedo entre os interesses

dos diversos agentes envolvidos na questatildeo O desafio estaacute em preservar um ambiente de

harmonia entre autores editores e usuaacuterios de conteuacutedos sem que se coloquem entraves agraves

novas possibilidades proporcionadas pela Rede seja em relaccedilatildeo a novos modelos de

93

negoacutecios seja em relaccedilatildeo agrave democratizaccedilatildeo do acesso agraves ferramentas de produccedilatildeo e

distribuiccedilatildeo de informaccedilotildees Equilibrar os interesses no ciberespaccedilo sem sacrificar os

potenciais de inovaccedilatildeo e acesso ao conhecimento que ele possui

Limitaccedilotildees e exceccedilotildees aos direitos de autor satildeo toacutepicos geralmente subestimados

quando se discute o tema Pouco se debatem por exemplo os efeitos negativos dos

regimes de proteccedilatildeo da propriedade intelectual demasiado riacutegidos e inflexiacuteveis sobre a

educaccedilatildeo ou sobre a proacutepria produccedilatildeo de conteuacutedos que os direitos exclusivos procuram

fomentar O boom da Internet e o desenvolvimento acelerado das tecnologias tiraram das

sombras questotildees como a do acesso ao conhecimento mas tambeacutem fizeram ressurgir - ou

mesmo originaram - uma seacuterie de outros direitos que antes tinham presenccedila reduzida na

avaliaccedilatildeo criacutetica dos regimes tradicionais

Para Pedro Mizukami e Carlos Souza o entrave agrave discussatildeo sobre os limites e as

exceccedilotildees aos direitos de autor eacute mais visiacutevel em paiacuteses de tradiccedilatildeo juriacutedica romano-

germacircnica caracterizada por um discurso de fundamentaccedilatildeo jusnaturalista muito forte

(ibidem 07) Eles afirmam que esse discurso elimina a variedade de pontos de vista na

literatura juriacutedica Isto porque se considera que os direitos autorais satildeo necessaacuterios para a

proteccedilatildeo da propriedade e personalidade do autor (agraves vezes para a proteccedilatildeo da

personalidade via proteccedilatildeo da propriedade) mas natildeo se colocam em jogo os interesses da

coletividade e outros interesses e direitos individuais que se veem afetados pela

exclusividade dos direitos autorais

Quem de facto compete com os autores em mateacuteria de benefiacutecios financeiros natildeo

satildeo os utilizadores da Internet mas sim os ldquoempresaacuterios culturaisrdquo (Ascensatildeo 2003 17)

Eles jaacute satildeo equiparados aos autores nas justificaccedilotildees oficiais fala-se tambeacutem na

necessidade de proteger o investimento Os direitos morais estatildeo cada vez mais ausentes

nos textos dos novos instrumentos internacionais

Para Joseacute de Oliveira Ascensatildeo o protagonismo do empresaacuterio eacute uma anomalia O

jurista afirma que natildeo se explica que se crie um Direito altamente protecionista com

fundamento na dignidade da criaccedilatildeo intelectual para o pocircr afinal ao serviccedilo da proteccedilatildeo

dos investimentos (Ascensatildeo 2003 18) Os investimentos podem e devem ser protegidos

mas por meios adequados e proporcionais a esse objetivo Natildeo faz sentido que sejam

salvaguardados pelos direitos de autor que tecircm outra finalidade Se o foco da proteccedilatildeo nas

leis de direitos de autor satildeo os investimentos apenas eles interessam e suplantam a

qualidade e ateacute mesmo a existecircncia de uma obra

94

Lucas Serra acredita que o problema estaacute na cadeia produtiva do sistema

capitalista que aprisiona o autor em um ciclo de dependecircncia de editores e intermediaacuterios

ldquoA SPA eacute consciente de que os atuais modelos de mercado natildeo satildeo tatildeo beneacuteficos para os

autores mas tambeacutem se sabe que eacute difiacutecil deixar esses modelos para traacutes E isso natildeo

depende apenas dos autoresrdquo (Serra 2012)

O que vemos eacute uma hiperproteccedilatildeo do empresaacuterio no domiacutenio das induacutestrias de

Copyright o que tem graves consequecircncias As induacutestrias a defendem e afirmam que satildeo

capazes de fomentar a cultura sendo que os efeitos apontam justamente o contraacuterio A

hiperproteccedilatildeo cria todas as condiccedilotildees para tornar o acesso agrave cultura mais difiacutecil pelos altos

custos que impotildee Aleacutem disso haacute implicaccedilotildees tambeacutem em mateacuteria de concorrecircncia a

hiperproteccedilatildeo fortalece os grandes grupos nos paiacuteses exportadores de produtos de

Copyright e tambeacutem a niacutevel planetaacuterio A concentraccedilatildeo das empresas de conteuacutedos

culturais que o Direito ajudou a promover eacute tal que eacute praticamente impossiacutevel agraves novas

empresas atingir os mesmos niacuteveis A hiperproteccedilatildeo atraveacutes dos direitos exclusivos

eliminou a concorrecircncia e implantou um oligopoacutelio de dimensotildees grandiosas

Projetos de leis como SOPA e ACTA apontam para uma guerra desproporcionada

entre as induacutestrias culturais e os usuaacuterios da Rede No meio ficam os autores que natildeo tecircm

seus interesses representados ndash antes assistem aos empresaacuterios partindo em defesa de

lucros dos quais eles pouco partilham Um caso que serve para ilustrar essa questatildeo eacute o do

Napster programa de compartilhamento de arquivos em rede P2P que protagonizou o

primeiro grande episoacutedio na luta juriacutedica entre a induacutestria fonograacutefica e as redes de

compartilhamento de muacutesica na Internet

A principal questatildeo era apurar se a reproduccedilatildeo dos arquivos protegidos por

Copyright representava ou natildeo um ato de uso privado De facto o Napster natildeo procedia

ele proacuteprio agrave reproduccedilatildeo Utilizava programas que lhe permitiam detectar onde se

encontrava em rede disponiacutevel para reproduccedilatildeo o arquivo desejado Apontando-o ao

interessado era este quem realizava depois o download do ficheiro Em relaccedilatildeo agraves obras

audiovisuais o esquema era ainda mais radical Napster nem sequer localizava os arquivos

disponiacuteveis em rede Limitava-se a fornecer aos interessados um programa que permitia

que eles o fizessem Eram pois os utilizadores que procediam quer agrave localizaccedilatildeo quer ao

download

Apoacutes intensos conflitos judiciais Napster procurou adaptar-se agrave nova situaccedilatildeo

atribuindo remuneraccedilotildees aos titulares de direitos mas natildeo teve sucesso Acabou sendo

95

vendido e os novos gestores agora negociam arquivos de muacutesica digital que respeitem os

direitos autorais

O caso Napster eacute emblemaacutetico por vaacuterias questotildees mas aqui destacamos duas se

jaacute eacute difiacutecil responsabilizar empresas intermediaacuterias em situaccedilotildees desse tipo o que dizer

dos utilizadores que fazem uso privado Outro ponto marcante desse processo eacute o manejo

dos direitos de autor como instrumento redutor das possibilidades tecnoloacutegicas permitidas

pela Rede O difiacutecil equiliacutebrio a buscar encontra-se numa posiccedilatildeo intermediaacuteria em que a

renuacutencia agrave gratuidade tem de ter como contrapartida condiccedilotildees de aquisiccedilatildeo mais

atraentes em qualquer caso que natildeo impliquem a repressatildeo das potencialidades

tecnoloacutegicas positivas que a Rede disponibiliza

Para Joseacute de Oliveira Ascensatildeo situaccedilotildees como esta estatildeo conduzindo a

propriedade intelectual a uma fase extrema a dos direitos de autor sem autor Isso natildeo

significa o desaparecimento do autor mas sua transformaccedilatildeo em uma figura dispensaacutevel

ou mesmo marginal (Ascensatildeo 2003 21) A criatividade perde gradualmente seu espaccedilo

tornando-se um requisito levado bem mais em conta pelas inovaccedilotildees industriais que pelos

direitos de autor Se a proteccedilatildeo dos investimentos eacute o que haacute de mais precioso a

criatividade (e consequentemente o ato de criar marca do autor) passa a outro plano

inferior

Certos acreacutescimos de proteccedilatildeo natildeo fazem outra coisa senatildeo proteger as empresas e

seus interesses Eacute o caso do aumento dos prazos de proteccedilatildeo que na realidade eacute irrelevante

para os autores Para a induacutestria isto significa mais tempo de exploraccedilatildeo econocircmica

exclusiva Joseacute de Oliveira Ascensatildeo fala ainda nos direitos de autor sem obra se o que se

protege eacute a atividade empresarial eacute indiferente que o objeto protegido tenha o caraacuteter de

obra Soacute interessa a mercadoria intelectual seja ela qual for (ibidem 23)

96

97

CAPIacuteTULO III

HARMONIZACcedilAtildeO DE INTERESSES

98

99

10 O direito de acesso agrave informaccedilatildeo e agrave comunicaccedilatildeo como um direito humano

Tomar a questatildeo do acesso agrave informaccedilatildeo e agrave comunicaccedilatildeo sob o prisma dos direitos

humanos foi uma escolha instantacircnea Optamos por essa via ndash em detrimento de vaacuterias

outras possiacuteveis como a dos acordos comerciais ou a das convenccedilotildees teacutecnicas - pelo facto

de acreditarmos que a questatildeo afeta as pessoas de forma direta em vaacuterios niacuteveis da vida

em sociedade Sendo as comunicaccedilotildees eletrocircnicas elementos fundamentais do fluxo

comunicacional contemporacircneo eacute impossiacutevel natildeo considerar o acesso agrave informaccedilatildeo e agrave

comunicaccedilatildeo atraveacutes da Rede como cruciais para os indiviacuteduos enquanto agentes da

coletividade O futuro da sociedade informacional desenharaacute o ambiente onde os

indiviacuteduos trabalharatildeo e desenvolveratildeo suas existecircncias e o ciberespaccedilo faz parte do

caminho para esse futuro Portanto partindo da premissa de que informaccedilatildeo eacute poder e

considerando que o acesso agrave comunicaccedilatildeo eacute condiccedilatildeo sine qua non para a inserccedilatildeo e

participaccedilatildeo social iremos concentrar nossa atenccedilatildeo na relaccedilatildeo entre informaccedilatildeo e direitos

humanos

No cerne das criacuteticas agraves leis de combate agrave pirataria estatildeo evidentemente as

sanccedilotildees riacutegidas e as accedilotildees de vigilacircncia como as que preveem o controlo das atividades do

usuaacuterio na Rede e o corte de acesso ao assinante que realizar downloads de materiais

protegidos por direitos de autor Aleacutem disso o traffic shaping e outras medidas que

dificultam o acesso do utilizador agrave Internet provocam polecircmica e trazem agrave discussatildeo a

legitimidade de leis que impeccedilam as pessoas de utilizarem em plenitude as ferramentas

tecnoloacutegicas Tais restriccedilotildees em nome da defesa dos direitos de autor natildeo estariam a

passar por cima de algo mais precioso como o direito de aceder a canais de comunicaccedilatildeo

e interaccedilatildeo hoje em dia indispensaacuteveis

Um estudo que ouviu 27 mil pessoas em 26 paiacuteses para o Serviccedilo Mundial da BBC

apontou que quatro entre cinco adultos no mundo consideram o acesso agrave Internet um

direito fundamental do ser humano A mesma pesquisa mostrou tambeacutem que 53 dos

entrevistados creem que a Internet natildeo deveria ser regulada pelos governos (BBC Brasil

2010)

O direito de acesso agrave comunicaccedilatildeo digital tende a se solidificar gradualmente

como um direito humano Segundo Ciciacutelia Peruzzo

100

[] mundialmente a inclusatildeo digital passa a ser vista como um direito humano no

mesmo patamar do direito ao acesso de qualquer cidadatildeo a outras miacutedias e a condiccedilotildees

dignas de existecircncia Vaacuterias entidades estudiosos e ativistas tecircm se posicionado

publicamente a favor do direito agrave comunicaccedilatildeo tomando-o como mecanismo de se

efetivar a democratizaccedilatildeo dos meios de comunicaccedilatildeo (PERUZZO 2005 275)

Ainda segundo Peruzzo as discussotildees sobre o direito agrave informaccedilatildeo e agrave

comunicaccedilatildeo na sociedade informacional englobam tambeacutem os direitos de domiacutenio

puacuteblico software livre e propriedade intelectual aleacutem do acesso global a todas as

tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (Peruzzo 2005 276)

A Campanha CRIS (Direito agrave Comunicaccedilatildeo na Sociedade da Informaccedilatildeo em

inglecircs Communication Rights in the Information Society) movimento lanccedilado em

2001 liderado por organizaccedilotildees natildeo governamentais dos campos da comunicaccedilatildeo e dos

direitos humanos de diversos paiacuteses listou em uma de suas publicaccedilotildees alguns debates

importantes ligados agrave questatildeo do direito de acesso agrave informaccedilatildeo Dentre os toacutepicos estaacute a

tentativa de acabar com a vigilacircncia e a censura na Rede por parte de governos ou

empresas Para a Campanha CRIS ldquoo direito de comunicar constitui um direito humano

universal que assume e estaacute a serviccedilo de outros Direitos Humanosrdquo (CRIS apud Pasquali

2005 31)

Sob o ponto de vista teoacuterico o direito agrave comunicaccedilatildeo tende a ser tomado

tradicionalmente como direito agrave liberdade de informaccedilatildeo e de expressatildeo Essa concepccedilatildeo

eacute expressa nos ordenamentos juriacutedicos que tratam do tema Por exemplo a Declaraccedilatildeo

Universal dos Direitos Humanos (DUDH) de 1948 em seu Artigo 19ordm assegura que

ldquoToda pessoa tem direito agrave liberdade de opiniatildeo e expressatildeo este direito inclui a liberdade

de sem interferecircncia ter opiniotildees e de procurar receber e transmitir informaccedilotildees e ideias

por quaisquer meios e independentemente de fronteirasrdquo (Assembleia Geral das Naccedilotildees

Unidas 1948) A Convenccedilatildeo Americana de Direitos Humanos de 1969 estabelece que

ldquoToda pessoa tem o direito agrave liberdade de pensamento e de expressatildeo Este direito inclui a

liberdade de procurar receber e difundir informaccedilotildees e ideias de qualquer natureza sem

consideraccedilotildees de fronteiras verbalmente ou por escrito ou em forma impressa ou artiacutestica

ou por qualquer meio de sua escolhardquo (Conferecircncia Especializada Interamericana sobre

Direitos Humanos 1969) Conforme salienta Osvaldo Leoacuten

101

[] o direito agrave comunicaccedilatildeo se apresenta agora como aspiraccedilatildeo que se inscreve no

dever histoacuterico que comeccedilou com o reconhecimento de direitos aos proprietaacuterios dos

meios de informaccedilatildeo logo aos que trabalham sob relaccedilotildees de dependecircncia com eles e

finalmente a todas as pessoas que a Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos [] consignou como direito agrave informaccedilatildeo e agrave liberdade de expressatildeo e de opiniatildeo Esta eacute a parte de

uma concepccedilatildeo mais global [] que incorpora de maneira peculiar os novos direitos

relacionados com as mudanccedilas de cenaacuterio da comunicaccedilatildeo e um enfoque mais

interativo da comunicaccedilatildeo no qual os atores sociais satildeo sujeitos da produccedilatildeo

informativa e natildeo simplesmente receptores passivos de informaccedilatildeo (LEOacuteN 2002 03)

O direito de acesso agrave tecnologia eacute outro ponto que tambeacutem pode ser invocado

quando tratamos do contexto do ciberespaccedilo Esse direito eacute disposto no ponto 1 do artigo

27ordm da Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos onde se afirma que ldquoToda pessoa tem

o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade de fruir as artes e de

participar do processo cientiacutefico e de seus benefiacuteciosrdquo (Assembleia Geral das Naccedilotildees

Unidas 1948) Segundo Ciciacutelia Peruzzo este direito eacute inspirado pelo princiacutepio moral

baacutesico da equidade e pela noccedilatildeo de que ciecircncia e tecnologia pertencem agrave heranccedila comum

da humanidade (Peruzzo 2005 107)

O pesquisador Cees J Hamelink vecirc a discussatildeo sob o prisma de uma nova

abordagem ele alerta para a necessidade urgente de adoccedilatildeo de uma declaraccedilatildeo universal

do direito de comunicar Este direito natildeo existe atualmente em nenhuma claacuteusula da lei

internacional Em 1969 Jean DrsquoArcy apresentou o direito de comunicar por escrito ldquoO

tempo viraacute quando a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos teraacute que abranger um

direito mais extensivo que o direito do Homem agrave informaccedilatildeo isto eacute o direito de os

Homens comunicaremrdquo (DrsquoArcy apud Hamelink 2004 268) Segundo Hamelink a forccedila

motivadora desta nova abordagem foi a observaccedilatildeo de que o articulado da lei dos direitos

humanos existente (como na Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos ou no

Compromisso sobre Direitos Poliacuteticos e Civis) era inadequado para lidar com a

comunicaccedilatildeo como um processo interativo

Dentre vaacuterias propostas Hamelink sugere que o direito de comunicar deveria

englobar direitos de informaccedilatildeo tais como o direito de acesso agrave informaccedilatildeo em mateacuterias

de interesse puacuteblico (detidas por fontes puacuteblicas ou privadas) e o direito de aceder a meios

puacuteblicos de distribuiccedilatildeo de informaccedilatildeo ideias e opiniotildees Para o autor parte do direito de

comunicar tambeacutem seria composta por direitos culturais Entre eles o direito de fruir das

artes e dos benefiacutecios do progresso cientiacutefico e suas aplicaccedilotildees e o direito de criatividade e

independecircncia artiacutestica literaacuteria e acadecircmica (Hamelink 2004 268-269)

102

Mas o direito de comunicar implica no universo das comunicaccedilotildees eletrocircnicas a

necessidade de salvaguardar a privacidade dos utilizadores Dentre os direitos ditos ldquode

proteccedilatildeordquo por Hamelink estatildeo o direito de o puacuteblico ser protegido contra a interferecircncia

na sua privacidade pelos media ou pela comunicaccedilatildeo de massa ou por agecircncias puacuteblicas

ou privadas envolvidas na colheita de dados a proteccedilatildeo das comunicaccedilotildees privadas das

pessoas contra a interferecircncia de grupos puacuteblicos ou privados (ibidem 269)

Como jaacute tratamos no primeiro capiacutetulo o surgimento da Internet trouxe consigo a

ilusatildeo do tracircnsito de informaccedilotildees e ideias em total liberdade Hoje a noccedilatildeo de livre fluxo

da informaccedilatildeo tem implicaccedilotildees mais complexas e sutis e envolve o duplo estatuto dos

meios digitais por um lado ampliaram as liberdades pessoais dos indiviacuteduos por outro

abriram as portas ao roubo informacional sistemaacutetico por meio do monitoramento das

comunicaccedilotildees eletrocircnicas Vivemos naquilo que Antonio Pasquali chama de liberdade

globalmente vigiada (Pasquali 2005 35) O autor ressalta a beleza do conceito de livre

fluxo informacional e a necessidade de defendecirc-lo mas afirma que natildeo estaremos

proacuteximos o suficiente dele enquanto houver aquilo a que o Precircmio Nobel de economia J

E Stiglitz denominou de assimetria de informaccedilatildeo causada por agentes econocircmicos que

de forma fraudulenta acumulam mais informaccedilotildees do que outros Conforme afirma

Pasquali

Uma liberdade que natildeo liberta eacute egoiacutesmo e privileacutegio O duplo padratildeo de se ter livre

informaccedilatildeo como um conceito abstrato enquanto a informaccedilatildeo no mundo concreto eacute

gerenciada sob princiacutepios mercantis que tornam possiacutevel a eliminaccedilatildeo de outras

alternativas eacute relacionalmente e comunicacionalmente desonesto (PASQUALI 2005

37)

Para Leacuteo Scheer o direito de acesso agrave informaccedilatildeo e agrave comunicaccedilatildeo estaacute

intimamente ligado a uma nova forma de democracia que surgiu para ser exercida no

ciberespaccedilo Segundo o autor essa eacute a democracia da simples expressatildeo da enunciaccedilatildeo

por parte de cada um das narrativas das quais eacute portador sem necessidade de canalizaccedilatildeo

ou de conformaccedilatildeo dos sinais postos assim em circulaccedilatildeo (Scheer 1997 121) Privar o

utilizador do acesso agrave Rede (ou dificultaacute-lo) eacute portanto uma ameaccedila a essa nova

democracia e um atentado ao seu direito de desfrutar dos benefiacutecios que a tecnologia das

redes pode proporcionar agrave sua formaccedilatildeo enquanto indiviacuteduo inserido e atuante na

sociedade de informaccedilatildeo

103

20 Novos modelos e outras alternativas de conciliaccedilatildeo entre artistas induacutestria e

usuaacuterios de Internet

No final de Maio de 2012 a comissatildeo de juristas que discute a reforma do Coacutedigo

Penal no Senado brasileiro aprovou a liberaccedilatildeo de coacutepias integrais de livros CDrsquos e

DVDrsquos desde que para uso pessoal e sem fins comerciais Caso a sugestatildeo dos juristas

seja acatada pelo Congresso Nacional poderatildeo ser feitas coacutepias integrais sem que seja

caracterizado crime Para isso a coacutepia deve ser uacutenica feita a partir de uma obra original e

ser de uso privado e exclusivo de quem faz a reproduccedilatildeo sem que exista o objetivo de

lucro A proposta deve ser entregue para votaccedilatildeo ateacute o final de Junho de 2012 O texto

passa a valer apenas apoacutes a aprovaccedilatildeo no Senado e na Cacircmara e por uacuteltimo apoacutes

confirmaccedilatildeo presidencial

A comissatildeo aprovou ainda a criaccedilatildeo de um regime especiacutefico que pune o plaacutegio de

obras intelectuais Atualmente ele eacute considerado uma violaccedilatildeo aos direitos de autor com

pena prevista de 6 meses a um ano de prisatildeo Poreacutem na praacutetica essa penalizaccedilatildeo eacute

raramente aplicada Pelo texto aprovado pelos juristas quem apresentar utilizar ou

reivindicar publicamente como proacutepria obra ou trabalho intelectual de outra pessoa no

todo ou em parte pode ter que cumprir pena de seis meses a dois anos de prisatildeo (Folha

de S Paulo 2012)

Decisotildees como esta apontam para o rumo que os direitos de autor devem tomar

inevitavelmente o da mudanccedila para adaptaccedilatildeo aos novos tempos A abertura a sistemas

alternativos de licenciamento distribuiccedilatildeo e partilha de bens culturais mostra-se uma via

potencialmente importante e a flexibilizaccedilatildeo dos regimes de lucro e produccedilatildeo eacute condiccedilatildeo

indispensaacutevel agrave sobrevivecircncia das induacutestrias da cultura A seguir trataremos sobre algumas

das novas possibilidades que surgiram para fazer face agrave rigidez do Copyright e das

legislaccedilotildees que tratam dos direitos autorais e da propriedade intelectual

30 Fexibilizaccedilatildeo do regime autoral o Creative Commons

104

Uma interessante ferramenta que concilia a defesa dos direitos de autor e a

possibilidade de partilha e construccedilatildeo coletiva do conhecimento eacute o modelo de licenccedila

intelectual Creative Commons (CC)6

O Creative Commons foi criado em 2001 pelo professor da Universidade de

Standford Lawrence Lessig com a finalidade de desenvolver licenccedilas que possam ser

utilizadas por qualquer indiviacuteduo ou entidade de forma a disponibilizar seus trabalhos de

maneira aberta O CC funciona como um meio termo legal entre os tradicionais contratos

de direitos autorais como o Copyright e o domiacutenio puacuteblico onde nenhum direito eacute

reservado Ele transporta para as produccedilotildees culturais a ideia central dos softwares livres

que consistem em programas de computador com coacutedigos-fonte abertos permitindo a

modificaccedilatildeo do software para aprimoramento ou melhor adaptaccedilatildeo agraves necessidades dos

usuaacuterios

O software livre cujo grande siacutembolo estaacute no sistema operacional Linux floresce

no Brasil Conforme apontam Cloacutevis Lima e Rose Marie Santini o destaque do paiacutes no

exterior em mateacuteria de utilizaccedilatildeo de programas abertos foi reconhecido pela revista Wired

uma das mais respeitadas em mateacuteria de tecnologia Em sua ediccedilatildeo de Novembro de 2004

ela retratou o Brasil como uma ldquoNaccedilatildeo Open Sourcerdquo (Lima e Santini 2006 125)

O crescente ecircxito dos softwares livres no paiacutes se reflete tambeacutem na boa acolhida

do projeto Creative Commons O modelo de licenciamento vem sendo adaptado no Brasil

por estudiosos da Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas (FGV)

desde 2003 O ex-ministro da Cultura Gilberto Gil apelidou a flexibilizaccedilatildeo dos direitos

autorais proposta pelo CC metaforicamente de ldquoreforma agraacuteria da propriedade

6 Para tornar a leitura mais simples utilizaremos a sigla CC para nos referirmos ao Creative Commons

Figura 1 O modelo Creative Commons se mostra

como um meio termo que promove o equiliacutebrio entre o

total fechamento do Copyright e a total abertura do

domiacutenio puacuteblico Fonte Creative Commons URL

lthttpwwwcreativecommonsorgbrgt

105

intelectualrdquo (Moraes 2006 243) Cloacutevis Lima e Rose Marie Santini tambeacutem afirmam o

seguinte

O licenciamento Creative Commons surge sem a intervenccedilatildeo estatal ou a mudanccedila do arcabouccedilo juriacutedico-normativo Trata-se de um uso da proacutepria ideia e conceitos do

direito autoral para modificar sua estrutura caso a caso gerando autorizaccedilotildees

caracterizadas pelo termo ldquoCopyleftrdquo A ideia eacute permitir a criaccedilatildeo de coletividades de

obras culturais publicamente acessiacuteveis [] materializando as promessas da Internet e

das tecnologias digitais de maximizarem o potencial criativo humano (LIMA E

SANTINI 2006 121)

O modelo de licenciamento CC tem como finalidade simplificar para os criadores

a expressatildeo de sua concessatildeo de uso A uacutenica coisa que ele demanda eacute que a utilizaccedilatildeo das

obras disponibilizadas natildeo tenha fins lucrativos e que os autores sejam devidamente

citados O CC modifica a expressatildeo tradicional do Copyright de ldquoTodos os direitos

reservadosrdquo para ldquoAlguns direitos reservadosrdquo (Moraes 2006 321)

Atraveacutes do portal do CC na Internet criou-se um mecanismo de buscas por

materiais como fotografias muacutesicas textos etc registrados sob esse modelo de

licenciamento Assim uma rede onde artistas autores e outros criadores de conteuacutedos

podem compartilhar seus trabalhos pela Internet sem violar leis de direitos autorais vai

crescendo a cada dia

Eacute importante ressaltar que o CC eacute um modelo que permite o contato direto do

criador com o puacuteblico e uma eficiente maneira de manifestar o desejo de ter sua obra

difundida pela Rede Haacute artistas que querem que as pessoas tenham acesso agraves suas

produccedilotildees e eventualmente permitem que elas continuem seu trabalho atraveacutes da

reinterpretaccedilatildeo ou recriaccedilatildeo da obra Antes do surgimento da Internet da tecnologia

digital e de modelos como o Creative Commons natildeo havia meios eficientes para que esses

autores pudessem indicar agrave sociedade que eles se interessavam pela ampla liberdade de

acesso e interpretaccedilatildeo de suas produccedilotildees pelo puacuteblico Segundo Cloacutevis Lima e Rose Marie

Santini ldquoUm modelo de licenciamento como este cria meios para que autores criadores e

outros detentores de direitos possam indicar a todos seus interesses em relaccedilatildeo ao uso de

suas obras atraveacutes da opccedilatildeo por uma licenccedila especiacuteficardquo (Lima e Santini 2006 129)

Os tipos de licenccedilas CC satildeo os seguintes

a) Atribuiccedilatildeo ndash Uso natildeo comercial ndash Natildeo a obras derivadas (by-nc-nd)

106

Esta eacute a mais restritiva dentre as seis principais licenccedilas permitindo

redistribuiccedilatildeo Comumente chamada de ldquopropaganda graacutetisrdquo ela permite o download e

compartilhamento da obra por outras pessoas contanto que mencionem e faccedilam o link

para o autor Proiacutebe qualquer modificaccedilatildeo na estrutura da obra e tambeacutem veta sua

comercializaccedilatildeo

b) Atribuiccedilatildeo ndash Uso natildeo comercial ndash Compartilhamento pela mesma licenccedila

(by-nc-as)

Esta licenccedila permite a remixagem adaptaccedilatildeo e criaccedilatildeo de obras derivadas por

outras pessoas com finalidade natildeo comercial contanto que atribuam o creacutedito da obra

original ao autor e licenciem as novas obras sob o mesmo paracircmetro

c) Atribuiccedilatildeo ndash Uso natildeo comercial (by-nc)

Neste modelo outras pessoas podem remixar adaptar e criar obras derivadas

da original sendo vedado o uso comercial As novas criaccedilotildees devem ter em seus creacuteditos o

autor da obra original e tambeacutem natildeo podem ser exploradas comercialmente A diferenccedila

da licenccedila anterior eacute que nesta natildeo eacute obrigatoacuterio o registro das novas obras sob o mesmo

paracircmetro da original

d) Atribuiccedilatildeo ndash Natildeo a obras derivadas (by-nd)

Este modelo permite a distribuiccedilatildeo e o uso da obra para fins comerciais e natildeo

comerciais mas determina que a obra seja distribuiacuteda completa e sem modificaccedilotildees

atribuindo os devidos creacuteditos do autor

e) Atribuiccedilatildeo ndash Compartilhamento pela mesma licenccedila (by-as)

Esta licenccedila permite que outras pessoas remixem adaptem e criem obras

derivadas da original para fins comerciais contanto que atribuam os creacuteditos do autor e

que as novas obras sejam licenciadas sob o mesmo paracircmetro Esta licenccedila eacute comumente

comparada agraves de softwares livres

f) Atribuiccedilatildeo (by)

107

Este eacute o modelo menos restritivo e o mais aberto de todos Ele permite que

outras pessoas distribuam remixem adaptem ou criem obras derivadas com finalidade

comercial desde que creditem a criaccedilatildeo original

O CC disponibiliza ainda diversos outros tipos de licenccedilas como a ldquoSamplingrdquo

que permite a remixagem de apenas trechos da obra original e a ldquoNaccedilotildees em

Desenvolvimentordquo que propotildee condiccedilotildees menos restritivas para a disponibilizaccedilatildeo da

obra em paiacuteses que natildeo sejam considerados como de alta renda pelo Banco Mundial

Atraveacutes de suas licenccedilas o CC manteacutem o senso da inteligecircncia coletiva e da

construccedilatildeo coletiva do saber Ele propotildee um novo modo de produccedilatildeo cultural que rompe

com as formas tradicionais de organizaccedilatildeo das forccedilas produtivas em bases mercantis e

empresariais e reaproxima o autor de sua obra na medida em que lhe confere o poder de

distribuiacute-la como bem entender

As licenccedilas CC nasceram na era da Internet e satildeo perfeitamente adaptaacuteveis agrave

necessidade de conciliar o reconhecimento da autoria e a expansatildeo do acesso ao

conhecimento Eacute uma alternativa de equiliacutebrio entre a reserva total dos direitos

(Copyright) e a completa cessatildeo destes (domiacutenio puacuteblico) O mundo digital precisa de

normas flexiacuteveis com liberdades diferentes expressa de forma tal que as pessoas possam

utilizaacute-las com facilidade sem a mediaccedilatildeo da induacutestria ou de advogados

Conforme salientam Cloacutevis Lima e Rose Marie Santini ldquoAs licenccedilas criativas

convidam agrave participaccedilatildeo no processo e natildeo agrave escolha entre produtos no supermercado de

bens culturaisrdquo (Lima e Santini id) As licenccedilas Creative Commons fomentam a

criatividade dos indiviacuteduos pois incrementam o domiacutenio puacuteblico dos bens culturais e

concretizam as promessas das novas tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo de

maximizarem o potencial criativo humano e das sociedades Atraveacutes da possibilidade legal

de recriaccedilatildeo das obras intelectuais disponibilizadas sob seu registro o CC se torna uma

potencial ferramenta colaborativa de construccedilatildeo e aperfeiccediloamento de conhecimentos

aleacutem de meio de democratizaccedilatildeo do acesso agraves informaccedilotildees pela desburocratizaccedilatildeo da

reproduccedilatildeo transmissatildeo e armazenamento de conteuacutedos

Segundo o site da organizaccedilatildeo em 2009 jaacute havia 350 milhotildees de obras licenciadas

no CC dentre filmes muacutesicas livros e trabalhos acadecircmicos (Creative Commons 2009)

No Brasil a tendecircncia eacute que o modelo CC se torne cada vez mais conhecido jaacute que a

visita de Lawrence Lessig ao paiacutes para lanccedilar uma nova versatildeo do licenciamento durante a

108

feira tecnoloacutegica Campus Party em Fevereiro de 2010 teve repercussatildeo em vaacuterios meios

tradicionais de comunicaccedilatildeo e sobretudo na Rede

31 O Creative Commons Portugal

Em Portugal o modelo Creative Commons eacute recente Chegando ao paiacutes em 2006 a

licenccedila foi traduzida e adaptada agrave legislaccedilatildeo portuguesa e pode ser encontrada desde entatildeo

no site oficial do CC (clicando-se no item Internacional depois na bandeira do paiacutes onde

se poderaacute verificar a licenccedila juriacutedica) Este projeto foi liderado pelo professor Pedro

Oliveira da Faculdade de Ciecircncias Econocircmicas e Empresariais da Universidade Catoacutelica

Portuguesa (UCP) aleacutem de Joseacute Rui Felizardo e Pedro Ferreira sendo Filipa Salazar Leite

a responsaacutevel pela traduccedilatildeo da primeira versatildeo das licenccedilas

As entidades responsaacuteveis pela implementaccedilatildeo do CC em Portugal foram a

Faculdade de Ciecircncias Econocircmicas e Empresarias da Universidade Catoacutelica Portuguesa

(FCEE-UCP) - como afiliada portuguesa do Creative Commons - a empresa de tecnologia

Inteligecircncia em Inovaccedilatildeo (INTELI) e a Agecircncia para a Sociedade do Conhecimento

(UMIC) na qualidade de parceiros Atualmente apenas a INTELI se manteacutem como

parceira da FCEE-UCP neste projeto

Eacute tatildeo grande a importacircncia desta nova ferramenta que ateacute Dezembro de 2010 jaacute

eram 311314 mil obras licenciadas sob o CC em Portugal pondo o paiacutes na 21ordf posiccedilatildeo do

ranking mundial Para a advogada Teresa Nobre responsaacutevel pela adaptaccedilatildeo das licenccedilas

Creative Commons agrave legislaccedilatildeo portuguesa o dado eacute bastante positivo visto que eacute um paiacutes

de populaccedilatildeo e extensatildeo territorial modestos (Nobre 2012)

32 As licenccedilas 30

No dia 15 de Janeiro de 2011 Teresa Nobre e Clara Boavida fizeram o lanccedilamento

da versatildeo 30 das licenccedilas Creative Commons em Portugal durante o evento

comemorativo pelos dez anos da enciclopeacutedia colaborativa eletrocircnica Wikipedia realizado

no Instituto Superior Teacutecnico (IST) em Lisboa A discussatildeo puacuteblica do projeto da versatildeo

30 da licenccedila de jurisdiccedilatildeo Creative Commons Portugal esteve aberta de 24 de Novembro

a 31 de Dezembro de 2010 e convidou ao debate a sociedade civil em geral advogados

109

utilizadores de licenccedila ativos linguistas e tradutores Todos puderam opinar sobre o novo

texto atraveacutes de um foacuterum aberto no site portuguecircs do projeto

Em relaccedilatildeo agrave versatildeo anteriormente utilizada (25) a nova redaccedilatildeo trouxe alteraccedilotildees

pequenas poreacutem significativas e que ajudaram a tornar mais claros os termos da licenccedila

Aleacutem disso propocircs novas claacuteusulas referentes aos direitos morais ou agrave gestatildeo coletiva dos

direitos de autor ou dos direitos conexos Eacute importante salientar que o processo de

lanccedilamento de uma nova versatildeo das licenccedilas CC natildeo envolve apenas questotildees de traduccedilatildeo

e adaptaccedilatildeo do texto original em inglecircs para o portuguecircs mas refere-se sobretudo agrave sua

adaptaccedilatildeo agraves legislaccedilotildees portuguesas de propriedade intelectual e de direitos de autor

Sendo assim apesar das semelhanccedilas entre as versotildees brasileira e portuguesa das licenccedilas

30 elas diferem-se substancialmente no que se refere ao quesito juriacutedico

Alguns dos conceitos utilizados nas licenccedilas (eg coleccedilatildeo licenciante e titular

originaacuterio) foram aperfeiccediloados e novas claacuteusulas (como as referentes aos direitos morais

ou agrave gestatildeo coletiva do direito de autor ou dos direitos conexos) foram introduzidas As

mudanccedila afetaram sobretudo o tipo de licenccedila ldquoAtribuiccedilatildeo ndash Uso natildeo comercial ndash

Compartilhamento pela mesma licenccedilardquo (by-nc-as) O termo ldquoobrardquo foi substituiacutedo por

ldquotrabalho criativordquo A expressatildeo ldquoexibiccedilatildeo e execuccedilatildeo puacuteblicardquo foi modificada por

ldquoapresentar ao puacuteblicordquo ldquoObras coletivasrdquo tornaram-se ldquocoleccedilotildeesrdquo e ldquoobras derivadasrdquo

passaram a ser designadas por ldquotrabalhos derivadosrdquo

A versatildeo 30 das licenccedilas Creative Commons da jurisdiccedilatildeo portuguesa quando

comparada com a versatildeo 25 apresenta para aleacutem das alteraccedilotildees citadas melhoramentos

ao niacutevel de praticamente todos os conceitos que se encontram definidos nas licenccedilas e uma

nova claacuteusula que prevecirc expressamente o direito moral do autor de retirar sua obra de

circulaccedilatildeo

Em Abril de 2012 foram abertas as discussotildees da versatildeo 40 do conjunto de

licenccedilas Creative Commons como resultado dos debates levantados durante o CC Global

Summit em Setembro de 2011 na Polocircnia Ateacute o final do ano os trabalhos relacionados ao

novo texto devem ser fechados posteriormente a versatildeo final seraacute localmente discutida e

adaptada para a liacutengua e a legislaccedilatildeo nacional de cada paiacutes

33 Parcerias

110

O CC Portugal manteacutem parcerias com diversos repositoacuterios institucionais que

disponibilizam obras intelectuais do domiacutenio cientiacutefico sob suas licenccedilas Eacute o caso da

Universidade do Porto (UP) e da Universidade Nova de Lisboa (UNL) Segundo Teresa

Nobre jaacute existe uma parceria (mesmo que ainda tiacutemida) entre o CC Portugal e o poder

puacuteblico portuguecircs Eacute o caso do Portal das Escolas mantido pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

portuguecircs que publica todos os seus materiais sob licenccedilas CC (Nobre 2012)

Teresa Nobre afirma que um dos problemas que dificultam a popularizaccedilatildeo das

licenccedilas Creative Commons em Portugal eacute o desconhecimento puacuteblico acerca de sua

existecircncia Na tentativa de tornar o projeto mais conhecido no paiacutes ela diz que um dos

objetivos do CC Portugal para 2012 eacute investir de forma mais eficiente nos canais proacuteprios

de comunicaccedilatildeo como o perfil do projeto em redes sociais como Facebook e Twitter e no

site wwwcreativecommonspt Esta eacute a mesma estrateacutegia utilizada para chegar ao

conhecimento das classes artiacutesticas nacionais

Todos os filiados ao CC cooperam entre si e com o Creative Commons com vista agrave

discussatildeo de temas de interesse comum e ao desenvolvimento e aperfeiccediloamento contiacutenuo

das licenccedilas Segundo Teresa Nobre

O Creative Commons Brasil tem sido um parceiro importante do Creative Commons

Portugal na medida em que por circunstacircncias diversas tem conseguido completar o

processo de adaptaccedilatildeo das licenccedilas para o Brasil antes da Creative Commons Portugal

disponibilizando assim uma primeira base de trabalho em portuguecircs que eacute sem duacutevida

uma mais-valia natildeo obstante as diferenccedilas entre as legislaccedilotildees dos dois paiacuteses

(NOBRE 2012)

Neste momento o Creative Commons Portugal impulsiona um processo de

harmonizaccedilatildeo dos conceitos-chave em portuguecircs tendo entrado em contato com o CC

Brasil e com o CC Macau com o objetivo de levantar a discussatildeo com os mesmos Um dos

objetivos do CC Portugal para o futuro eacute conseguir incentivar e auxiliar outros paiacuteses de

liacutengua portuguesa a adotarem as licenccedilas CC pretendendo envolver nessa empreitada

tanto quanto possiacutevel o CC Brasil

40 A exceccedilatildeo para compartilhamento de arquivos

111

O principal argumento dos detentores de direitos favoraacuteveis ao arsenal juriacutedico

repressor eacute o de que as puniccedilotildees e proibiccedilotildees de downloads gratuitos aumentam as

oportunidades de vendas para obras protegidas Poreacutem haacute que considerar que na ausecircncia

de serviccedilos on-line de acesso a conteuacutedos com preccedilos e funcionalidades atraentes para os

utilizadores a repressatildeo natildeo produz efeitos consideraacuteveis Conforme afirma Volker

Grassmuck o bloqueio natildeo significa diminuiccedilatildeo da partilha e subida das vendas mas sim

uma migraccedilatildeo para plataformas mais clandestinas onde se torna ainda mais difiacutecil

monitorizar as reproduccedilotildees e as transferecircncias (Grassmuck 2009)

Vaacuterios estudos indicam que o impacto dos downloads natildeo pagos na economia das

induacutestrias da cultura eacute menor que o anunciado por estas Baseados na meacutedia obtida a partir

de oito pesquisas consideradas relevantes Felix Oberholzer-Gee e Koleman Strumpf

afirmam que a partilha de arquivos eacute responsaacutevel por uma parte pequena ndash ldquonatildeo mais do

que 20rdquo ndash do decliacutenio das vendas de muacutesica registrado nos EUA ao longo da deacutecada

passada (Oberholzer-Gee e Strumpf 2010 01) Alguns levantamentos apontam mesmo

para a tese do outro extremo a de que as descargas gratuitas impulsionam as vendas

legais Eacute o caso de uma pesquisa realizada pela Universidade do Estado da Carolina do

Norte que usou uma grande amostra de estatiacutesticas de downloads vindas de um servidor

BitTorrent A partir desses dados o economista Robert Hammond professor daquela

universidade preparou o estudo intitulado ldquoVazamento de lucros Compartilhamento de

arquivos antes do lanccedilamento e a induacutestria musicalrdquo (Link 17052012)

Hammond reuniu dados de 1095 novos aacutelbuns de 1075 artistas no maior servidor

do BitTorrent dedicado agrave muacutesica no periacuteodo entre Maio de 2010 e Janeiro de 2011

Depois combinou esses dados com nuacutemeros de vendas para construir um modelo que faz

uma previsatildeo do efeito da pirataria nas vendas de muacutesica A pesquisa dedicou-se aos

aacutelbuns que ldquovazaramrdquo na Rede antes de seu lanccedilamento oficial A induacutestria fonograacutefica

prioriza a caccedila a estes discos

O resultado aponta que as vendas aumentaram O economista chegou a essa

conclusatildeo ao ldquoisolarrdquo o efeito do compartilhamento nas vendas de um aacutelbum mapeando o

alcance do disco nas redes antes de ser lanccedilado O estudo afirma que a disseminaccedilatildeo de

um aacutelbum ldquovazadordquo transforma-se em propaganda do mesmo A pesquisa chega ateacute a

indicar que perseguir discos divulgados antes da data oficial pode atrapalhar as vendas

ldquoUsando meu modelo natildeo encontrei prova de nenhum efeito negativo em nenhum

aspectordquo concluiu Hammond sobre o compartilhamento de torrents de aacutelbuns (Link id)

112

No contexto da entrada em vigor de HADOPI na Franccedila e para tentar medir o

impacto da nova lei no paiacutes a Universidade de Rennes 1 realizou um levantamento entre

16 de Novembro e 23 de Dezembro de 2009 com 2 mil usuaacuterios de Internet na regiatildeo da

Bretanha A pesquisa concluiu que os downloads ilegais de produtos culturais como

muacutesicas filmes etc natildeo satildeo uma potencial ameaccedila agrave induacutestria isto porque 47 dos

usuaacuterios puniacuteveis por HADOPI representam a maioria dos compradores desses mesmos

produtos de forma legal na Internet Sendo assim os pesquisadores remataram que ldquoO

consumo de conteuacutedo ilegal parece estar acompanhado de uma disposiccedilatildeo a pagar pelo

conteuacutedo legalrdquo (Dejean et al 2010 09)

Ao contraacuterio do que as grandes produtoras alegam o levantamento realizado pela

Universidade de Rennes 1 aponta que se o acesso de usuaacuterios de redes P2P fosse cortado

o mercado legal de muacutesicas e viacutedeos perderia 27 de seus consumidores Se a legislaccedilatildeo

punisse todos os tipos de piratas (natildeo apenas os que fazem downloads por P2P mas

tambeacutem atraveacutes de sites streaming e endereccedilos de hospedagem de arquivos como

Rapidshare e Megaupload) a venda legal de muacutesicas e viacutedeos pela Rede perderia metade

de sua clientela Portanto segundo Sylvain Dejean a premissa de HADOPI de realizar o

corte do acesso agrave Internet dos piratas ldquoarrisca reduzir o tamanho do mercado de bens

culturais digitaisrdquo na Franccedila (ibidem 13)

A discrepacircncia entre o direito autoral e a praacutetica amplamente difundida do

compartilhamento de arquivos eacute evidente Ateacute hoje as tentativas de resolver essa

desarmonia passaram por medidas repressivas que tentaram adequar as praacuteticas culturais agrave

lei atraveacutes de dispositivos tecnoloacutegicos de proteccedilatildeo (como o DRM do inglecircs Digital

Rights Management) processos civis e penais em larga escala etc Nenhuma delas teve

impactos consideraacuteveis sobre as atividades de download ilegal Apesar do fracasso nem as

induacutestrias e nem os governos reconheceram as falhas das estrateacutegias adotadas tampouco

mudaram de abordagem Continuam a operar com as mesmas ferramentas produzindo

formas cada vez mais extremistas de repressatildeo

Uma alternativa de mudanccedila mais profunda do regime juriacutedico internacional da

propriedade intelectual eacute a proposta feita pelo advogado Bennett Lincoff e pela

Associaccedilatildeo de Compositores do Canadaacute Eles sugeriram a criaccedilatildeo de novos direitos

especificamente destinados a legalizar a partilha sem fins lucrativos de obras protegidas

por direitos de autor (Caetano e Cardoso 2012 08) Em tal modelo programas P2P e

outros dispositivos e sites que permitem o compartilhamento de bens culturais sairiam das

113

sombras da clandestinidade e passariam a ser legais Para que isso seja possiacutevel eacute

necessaacuterio pocircr em funcionamento um novo modelo de compensaccedilatildeo aos autores

O uso intenso de redes P2P para partilha de arquivos de filmes livros muacutesicas etc

demanda aquilo a que Volker Grassmuck chama de exceccedilatildeo para compartilhamento de

arquivos (Grassmuck 2010 04) a saber um regime de recolha e distribuiccedilatildeo de direitos

de autor adaptado aos downloads feitos a partir de redes peer-to-peer e outros sistemas

semelhantes Esse modelo de compensaccedilatildeo eacute discutido em vaacuterios paiacuteses sob diferentes

nomenclaturas ldquosistema de compensaccedilatildeo alternativordquo ldquotaxa fixa da culturardquo ldquolicenccedila

globalrdquo e ldquocontribuiccedilatildeo criativardquo dentre outros Eles variam em alguns detalhes mas satildeo

essencialmente baseados em uma mesma ideia reunir artistas induacutestria e usuaacuterios em

torno de um sistema que contemple simultaneamente os interesses de todos os envolvidos

na cadeia de consumo de bens artiacutestico-culturais Isso atraveacutes de ldquouma permissatildeo legal

para o compartilhamento privado de obras publicadas e protegidas pelo direito autoral para

fins natildeo comerciais sujeita a uma taxa administrada por meio de gestatildeo coletivardquo (ibidem

05)

Vaacuterias pesquisas apontam que os utilizadores estatildeo dispostos a pagar pelos

conteuacutedos que acessam e descarregam pela Internet A sociedade sueca de gestatildeo coletiva

de direitos de muacutesica STIM em uma pesquisa publicada em Fevereiro de 2009 apurou

que 862 dos usuaacuterios de Internet que responderam agrave pesquisa desejam pagar uma taxa

mensal de direito autoral que lhes permita compartilhar arquivos (ibidem 07)

Grupos musicais como Nine Inch Nails e Radiohead liberaram seus discos para

download na Internet dando ao internauta a liberdade de decidir se pagaria ou natildeo por

eles e quanto A gravadora independente on-line Magnatunecom libera todos os seus

aacutelbuns em uma licenccedila Creative Commons que permite expressamente seu uso em

compartilhamento de arquivos o que torna o pagamento efetivamente voluntaacuterio O

Magnatune tambeacutem oferece a seus consumidores a possibilidade de pagar um preccedilo agrave sua

escolha dentro da escala de 4 a 14 euros O preccedilo meacutedio pago pelos utilizadores varia entre

8 e 9 euros indicando claramente que eles desejam pagar aos criadores o preccedilo que lhes

parece justo

Diferentemente do que alegam as induacutestrias os internautas natildeo consideram o que eacute

gratuito como algo sem valor As pessoas habituadas agrave cultura do compartilhamento e da

liberdade satildeo conscientes de que os criadores devem ser remunerados e mostram-se

dispostas a desenvolver comportamentos de consumo compatiacuteveis com essa necessidade

114

Para isso eacute preciso desenvolver e pocircr agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico sistemas equitativos de

distribuiccedilatildeo de bens culturais e recolha dos direitos devidos aos autores

A seguir trataremos brevemente de trecircs propostas de exceccedilatildeo para

compartilhamento de arquivos licenccedila global mecenato global e contribuiccedilatildeo criativa

Existem muitas alternativas possiacuteveis resolvemos nos concentrar nestas por serem

modelos sobre os quais jaacute haacute alguma discussatildeo em marcha ndash tanto no mundo acadecircmico

quanto nos universos juriacutedico e comercial Antes poreacutem falaremos sobre a ldquocomputaccedilatildeo

na nuvemrdquo (cloud computing) tendecircncia a ganhar terreno no ciberespaccedilo e que se

mostra tambeacutem um importante modelo legal de acesso a bens culturais na Rede

50 Cloud computing

A ldquocomputaccedilatildeo na nuvemrdquo eacute uma expressatildeo que surge com muita frequecircncia no

vocabulaacuterio das novas utilizaccedilotildees da Internet Falar em nuvem eacute referir-se agrave proacutepria Rede

ou seja aos seus inuacutemeros servidores espalhados por todo o planeta Quando dizemos que

um ficheiro estaacute na ldquonuvemrdquo significa que o documento ou programa estaacute armazenado em

um servidor Esse ficheiro pode ser acessado simplesmente atraveacutes de uma ligaccedilatildeo agrave

Internet e natildeo depende da armazenagem em aparelhos locais como um computador ou

um smartphone O arquivo natildeo eacute guardado na proacutepria maacutequina do usuaacuterio mas nos

bancos de dados virtuais dos fornecedores de acesso agrave Rede podendo ser visualizado

atraveacutes de um navegador como Explorer ou Chrome por exemplo

Essa tecnologia natildeo eacute recente A novidade estaacute na queda dos custos de

armazenagem de grandes volumes de dados As conexotildees agrave Internet satildeo cada vez mais

velozes e atingem gradativamente um nuacutemero maior de pessoas Os arquivos

armazenados na nuvem podem ser acedidos e utilizados simultaneamente por inuacutemeros

usuaacuterios natildeo importando onde eles estejam espacialmente localizados

A isso se junta a constante diminuiccedilatildeo dos aparelhos informaacuteticos ndash os notebooks

satildeo cada vez menores e para pouparem espaccedilo utilizam discos riacutegidos pequenos e com

pouca capacidade de arquivamento de fotos viacutedeos etc Com todos os arquivos e

programa de que necessita estocados em uma nuvem o utilizador pode deixar seus

115

proacuteprios discos externos smartphones e demais equipamentos portaacuteteis para traacutes para

aceder ao que deseja basta utilizar um equipamento qualquer ligado agrave Internet

Poreacutem o ecircxito do serviccedilo depende completamente da Rede Sem conexatildeo agrave

Internet todo o sistema desmorona Outro problema que se levanta nesse meacutetodo eacute o da

confidencialidade dos dados Por mais seguros que sejam os serviccedilos de cloud

computing estatildeo sujeitos ao ataque de hackers Armazenar informaccedilotildees sigilosas tais

como dados pessoais e senhas de contas bancaacuterias por exemplo pode ser arriscado

Para Richard Stallman criador da Fundaccedilatildeo para o Software Livre (FSF) a cloud

computing eacute uma ameaccedila invisiacutevel Stallman afirma que os dados dos utilizadores da

Rede satildeo ferramentas indispensaacuteveis para determinar perfis de consumo e por isso

tornam-se mera mercadoria nas matildeos dos servidores

Haacute uma campanha para convencer os utilizadores a confiar os seus dados a empresas

nas quais natildeo deveriam de todo confiar A computaccedilatildeo na nuvem soacute pode significar

ldquoMeia bola e forccedila E natildeo pensesrdquo Natildeo eacute que natildeo possamos ter vida privada na Internet Nem que os utilizadores jaacute natildeo possam controlar os seus dados Devemos eacute

ousar remar contra a mareacute (STALLMAN 2012 56)

Estando os arquivos armazenados em um servidor o usuaacuterio jaacute natildeo possui controlo

absoluto sobre seu acesso e utilizaccedilatildeo O recente caso do fechamento do Megaupload

ilustra bem o que pode acontecer na cloud computing Tudo o que estava armazenado nos

servidores do site foi retirado do ar pela Justiccedila norte-americana (sob acusaccedilatildeo de

incentivo agrave pirataria como referido no primeiro capiacutetulo deste trabalho) impossibilitando

o acesso ateacute mesmo dos clientes que haviam pago assinatura e mantinham hospedados

materiais legais (muitos de sua proacutepria autoria)

O sucesso da cloud computing representaria a perda completa do controlo dos

proacuteprios ldquopertences virtuaisrdquo por parte do utilizador na medida em que a armazenagem

destes natildeo estaacute sob sua responsabilidade Um ambiente onde os arquivos estatildeo guardados

em servidores eacute como uma biblioteca cujas chaves estatildeo nas matildeos de poucos assim que

estes queiram restringir o acesso ao acervo poderatildeo realizaacute-lo sem grande dificuldade

fazendo o que quiserem com os livros que estatildeo laacute dentro Aleacutem disso o controlo de

plataformas ldquona nuvemrdquo eacute passiacutevel de ser tomado por oacutergatildeos governamentais empresas

privadas e demais grupos de interesses (com objetivos comerciais ou de filtragem e

monitoramento de conteuacutedos) prejudicando a fiabilidade de seu sistema

116

A cloud computing eacute a base estrutural de muitos sites de venda e reproduccedilatildeo legal

de muacutesicas filmes etc Serviccedilos como o VOD (sigla para a expressatildeo inglesa Video on

demand) plataforma de visualizaccedilatildeo de filmes on-line jaacute satildeo vastamente utilizados por

todo o mundo A Franccedila por exemplo manteacutem um serviccedilo deste tipo ligado a um de seus

canais de TV puacuteblica o France Arte (httpwwwartevodcomAccueilhtml) que

disponibiliza o acesso sob assinatura a gravaccedilotildees de filmes documentaacuterios e espetaacuteculos

de teatro e danccedila em linha O mesmo acontece com sites de muacutesica como o Terra Sonora

(httpsonoraterracombr) no Brasil O portal libera sob cadastro a escuta gratuita on-

line Tornando-se assinante do serviccedilo o utilizador pode criar uma pasta de armazenagem

das muacutesicas favoritas Poreacutem apesar de pagar pelo material o internauta natildeo pode

arquivar as muacutesicas em um CD-R por exemplo pois as faixas satildeo protegidas pela

tecnologia DRM que impede a gravaccedilatildeo Aleacutem disso ele tem um nuacutemero limitado de

vezes para reproduzir os arquivos de aacuteudio Poliacuteticas como esta fadam esse modelo de

negoacutecio ao fracasso e a instabilidade da nuvem apresenta riscos que fazem com que os

internautas natildeo adiram agrave alternativa

60 Licenccedila global

Na lista de tentativas de promoccedilatildeo dos interesses dos artistas e fomento do

consumo legal de bens culturais por parte dos utilizadores da Rede estaacute o modelo

conhecido por licenccedila global O conceito nasceu na Franccedila em 2001 fruto da parceria

entre a Sociedade de Percepccedilatildeo e de Distribuiccedilatildeo dos Direitos dos Artistas Inteacuterpretes

(SPEDIDAM) e a Sociedade Civil para a Administraccedilatildeo dos Direitos dos Artistas e

Muacutesicos Inteacuterpretes (ADAMI)

Trata-se de uma autorizaccedilatildeo dada aos internautas para acederem a conteuacutedos

culturais pela Rede e poder partilhaacute-los com outros para fins natildeo comerciais em troca de

uma taxa destinada a artistas paga juntamente com a mensalidade cobrada pelos

servidores de acesso agrave Internet Na Franccedila a SPEDIDAM e a ADAMI propuseram que

essa taxa fosse opcional Para ambas as organizaccedilotildees criadoras a licenccedila global eacute uma

alternativa interessante por criar o que chamam de ldquoespaccedilo de seguranccedila juriacutedicardquo isto eacute a

descarga e a troca de ficheiros natildeo satildeo criminalmente imputaacuteveis pois satildeo realizadas de

forma que respeita os direitos de autor SPEDIDAM e ADAMI natildeo propuseram um valor

117

exato para o pagamento mensal da licenccedila global mas sugeriram que o montante cobrado

fosse de 4 a 7 euros por assinatura (Alliance Public-Artistes 2010)

Em Dezembro de 2005 alguns deputados sugeriram que a licenccedila global fosse

incluiacuteda no texto do Projeto de Lei relativa aos Direitos de Autor e Direitos Conexos na

Sociedade de Informaccedilatildeo (DADVSI) DADVSI foi discutida em sessatildeo na Assembleia

Nacional francesa em Marccedilo de 2006 poreacutem a licenccedila global natildeo foi incluiacuteda na pauta

Agrave eacutepoca em que HADOPI comeccedilou a ser discutida na Franccedila a licenccedila global

mostrou-se uma alternativa de equiliacutebrio entre os interesses dos consumidores e dos

artistas O modelo eacute interessante pelo facto de remunerar os autores ao mesmo tempo em

que apresenta condiccedilotildees sedutoras de consumo legalizado Poreacutem haacute que discutir detalhes

importantes para o funcionamento do sistema como se o modelo de licenccedila global deve

ser obrigatoacuterio ou opcional visto que se opcional o usuaacuterio poderia decidir natildeo aderir a

ele o que natildeo o impediria de fazer downloads ilegais A aplicaccedilatildeo obrigatoacuteria parece ser a

mais simples mas devemos considerar tambeacutem o caso dos internautas que natildeo fazem

download nenhum e que teriam que pagar por algo que natildeo utilizam Aleacutem do mais eacute

preciso definir se a taxa a ser paga deve ser fixa ou variar conforme a quantidade e a

frequecircncia de downloads que o utilizador realizar

Jaacute haacute propostas e experimentos locais em atividade como eacute o caso do estudo

realizado por Matt Earp e Andrew Mcdiarmid da Escola de Informaccedilatildeo da Universidade

da Califoacuternia Berkeley Os pesquisadores propuseram a implementaccedilatildeo de uma licenccedila

voluntaacuteria global no interior da rede do campus de Berkeley que daria direito aos

estudantes de fazerem downloads ilimitados de muacutesicas mediante o pagamento de 20

doacutelares por semestre (Caetano 2008) Ao realizarem um levantamento junto a 103

estudantes da universidade Earp e Mcdiarmid descobriram que 64 dos inquiridos

estavam dispostos a pagar uma licenccedila global para a partilha de arquivos Haacute que

considerar que de tentativas locais exitosas o sistema pode expandir-se para alcanccedilar

mais utilizadores no futuro

70 Mecenato global

118

O pesquisador francecircs Francis Muguet e o programador norte-americano Richard

Stallman satildeo os idealizadores do mecenato global sistema de financiamento equitativo das

artes e da cultura Esse modelo surgiu em 2009 eacutepoca em que na Franccedila fervilhavam as

discussotildees sobre a lei HADOPI e debatia-se se a soluccedilatildeo para o problema do apoio agrave

criatividade na era digital natildeo passaria pelo incentivo agraves doaccedilotildees voluntaacuterias aos artistas ao

inveacutes do endurecimento das leis (Meacuteceacutenat Global 2009)

O mecenato global sugere a criaccedilatildeo de uma Sociedade de Aceitaccedilatildeo e Reparticcedilatildeo

de Doaccedilotildees (SARD) entidade que receberia as doaccedilotildees dos internautas e atraveacutes dos

votos destes indicaria quais obras seriam remuneradas e quais os valores dessas

remuneraccedilotildees A adesatildeo tanto dos utilizadores quanto dos artistas agrave SARD seria

obviamente livre e o envolvimento dos autores com a entidade natildeo implicaria o abandono

automaacutetico da sua sociedade de gestatildeo coletiva tradicional O sistema se aplicaria tanto

aos artistas que disponibilizassem suas obras segundo licenccedilas livres quanto agravequeles que

pretendessem conservar os seus direitos exclusivos O uacutenico preacute-requisito seria residir em

um paiacutes francoacutefono

Aleacutem da adesatildeo livre para utilizadores e artistas o mecenato global tambeacutem propotildee

que os fornecedores de acesso agrave Internet possam escolher participar ou natildeo Para Miguel

Afonso Caetano a melhor opccedilatildeo de aplicaccedilatildeo do sistema seria atraveacutes da participaccedilatildeo

obrigatoacuteria para os detentores de direitos e fornecedores de acesso poreacutem opcional para

os utilizadores haja vista que nem todos efetuam descargas de conteuacutedos protegidos por

direitos de autor Poreacutem o autor afirma que para pocircr em marcha tal projeto seria

necessaacuterio rever a Convenccedilatildeo de Berna senatildeo tudo natildeo passaria de um esforccedilo limitado a

proporccedilotildees locais sem possibilidades de aplicaccedilatildeo em escala internacional (Caetano

2009) O mesmo se aplica agrave licenccedila global

80 Contribuiccedilatildeo criativa

A contribuiccedilatildeo criativa criada por Philippe Aigrain como uma espeacutecie de

ldquobandeira brancardquo na guerra entre o Copyright e a livre partilha na Rede eacute um modelo que

procura legalizar o uso dos dispositivos P2P ao mesmo tempo em que propotildee uma forma

119

alternativa de retribuiccedilatildeo aos autores sem criar conflitos com outras fontes importantes de

remuneraccedilatildeo e de financiamento da criaccedilatildeo

O modelo prevecirc a retribuiccedilatildeo aos autores segundo a quantidade de downloads que

forem feitos de suas obras Quanto mais descargas mais repasse de direitos Esse modelo

evolui gradualmente e Aigrain jaacute chegou mesmo a propor que a propriedade intelectual no

ambiente digital saiacutesse do acircmbito claacutessico dos direitos de autor para ser objeto de um

diploma agrave parte especiacutefico (Aigrain 2008 71)

Philippe Aigrain aponta o pagamento opcional proposto pela licenccedila global e pelo

mecenato global como ponto falho dos sistemas Para o funcionamento do modelo de

contribuiccedilatildeo criativa o autor salienta a necessidade do pagamento obrigatoacuterio por parte de

todo indiviacuteduo que possua uma assinatura de serviccedilo de Internet Aigrain afirma que pode

haver exceccedilotildees relacionadas a criteacuterios sociais mas que estas devem ser compensadas pelo

orccedilamento puacuteblico ou repartidas entre os demais pagantes Ele sugere que o montante a

ser aplicado na Franccedila gire em torno dos 5 ou 7 eurosmecircs e que abarque produccedilotildees de

muacutesica audiovisual e novas miacutedias digitais (ibidem 85) Jaacute Volker Grassmuck sugere que

o valor deveria variar conforme a velocidade da conexatildeo agrave Internet Para este autor o

acesso discado (que inviabiliza outros usos que exigem capacidade de banda) por

exemplo deveria ser isento (Grassmuck 2010 08) Tanto para Aigrain como para

Grassmuck a aplicaccedilatildeo de tal taxa seria tatildeo legiacutetima e se justificaria tanto quanto as taxas

cobradas por sistemas semelhantes como os que sustentam serviccedilos de TV e radiodifusatildeo

puacuteblicos em vaacuterios paiacuteses

Philippe Aigrain afirma que eacute preciso medir a quantidade de downloads das obras

dos artistas de forma natildeo intrusiva ndash um desafio a ser enfrentado pelos proprietaacuterios de

direitos visto que

As induacutestrias de ediccedilatildeo centralizada integraram-se tanto agrave ideia de que os consumidores

de seus produtos satildeo inimigos a controlar e a vigiar que natildeo podem nem mesmo

imaginar que eles poderiam ser os melhores aliados na reparticcedilatildeo justa de uma

remuneraccedilatildeo associada ao uso das obras (AIGRAIN 2008 02)

A apuraccedilatildeo da quantidade de downloads efetuados eacute extremamente precisa nos

meios digitais Ao contraacuterio do universo analoacutegico onde as estatiacutesticas de execuccedilatildeo e

reproduccedilatildeo de muacutesicas filmes etc eram nebulosas geralmente baseadas em dados

ldquoarredondadosrdquo (e que sempre favoreciam os artistas ldquocabeccedilas-de-listardquo) o atual estaacutegio

da tecnologia permite informar com exatidatildeo quantas vezes um dado foi acessado A

120

precisatildeo das mediccedilotildees empiacutericas geram abrangecircncia justiccedila e diversidade pois garantem

o pagamento mesmo para artistas que estejam muito afastados do topo da lista de sucessos

Uma vez que os programas de P2P sejam legalizados o processo de instauraccedilatildeo de

sistemas como a licenccedila global poderaacute contar com a ajuda dos fornecedores de acesso agrave

Internet e das proacuteprias aplicaccedilotildees utilizadas para realizar as descargas (como BitTorrent

etc) A partir do registro de metadados de cada trabalho descarregado pelo utilizador

podem ser produzidos relatoacuterios mensais anocircnimos para um site administrativo que calcule

o nuacutemero total de downloads em um determinado lugar Mecanismos semelhantes jaacute

existem e estatildeo em funcionamento eacute o caso do Audioscrobbler dispositivo que produz

relatoacuterios voluntaacuterios sobre as muacutesicas ouvidas na plataforma Lastfm

Tanto a licenccedila global como o mecenato global e como a contribuiccedilatildeo criativa pode

facilitar o processo de detecccedilatildeo recolhimento e repasse de direitos quase em uma ponte

direta entre artistas e utilizadores da Rede O papel das sociedades gestoras de direitos

seria transformado e a digitalizaccedilatildeo dos processos representaria uma reduccedilatildeo draacutestica dos

custos ndash o que se converteria em benefiacutecio para os artistas pois qualquer economia

significaria maior repasse de direitos

Em um estudo recente Volker Grassmuck traccedilou um quadro comparativo entre os

modelos de gestatildeo de direitos alematildeo e brasileiro Nele descobrimos que na Alemanha as

treze organizaccedilotildees de gestatildeo coletiva existentes pagam no miacutenimo 50 e no maacuteximo

100 de suas receitas para os autores sendo que o restante vai para os exploradores

(editoras ou gravadoras) No caso do Escritoacuterio Central de Arrecadaccedilatildeo e Distribuiccedilatildeo

(ECAD) entidade que gere os direitos de autor no Brasil a situaccedilatildeo eacute mais confusa

porque seus membros natildeo satildeo diretamente autores muacutesicos e exploradores mas dez

associaccedilotildees desses grupos Essa estrutura de dois niacuteveis cria um ofuscamento adicional em

relaccedilatildeo ao fluxo de dinheiro e gera gastos administrativos totais em valores proacuteximos a

30 que aparentam estar entre os maiores do mundo (Grassmuck 2010 11-12) No

universo on-line a administraccedilatildeo digital de direitos seraacute automatizada ao niacutevel maacuteximo

garantindo que a maior quantia possiacutevel chegue agravequeles que realmente criam os bens

culturais evitando assim que os lucros sejam ldquoengolidosrdquo pelo funcionamento do

aparelho destinado a coletaacute-los

121

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

122

123

No momento do remate deste estudo o Parlamento Europeu rejeitou

definitivamente o ACTA em seccedilatildeo plenaacuteria Foram 478 votos contra o acordo 39 a favor e

165 abstenccedilotildees Com o voto contraacuterio do Parlamento ao menos 22 dos 27 paiacuteses membros

da Uniatildeo Europeia natildeo podem ratificar o tratado em sua legislaccedilatildeo local Tal decisatildeo

mostra o poder da mobilizaccedilatildeo popular aleacutem de manifestaccedilotildees nas ruas muitos cidadatildeos

europeus protestaram atraveacutes das redes sociais e demais instrumentos de comunicaccedilatildeo

conectados em rede Foram muitos os que tambeacutem contataram os membros do Parlamento

por telefone ou e-mail e a intensa pressatildeo acabou por resultar

O conceito de sociedade da informaccedilatildeo natildeo eacute neutro Informaccedilatildeo natildeo eacute o mesmo

que comunicaccedilatildeo A informaccedilatildeo eacute uma fonte de poder e o domiacutenio dos seus meios de

produccedilatildeo controlo e disseminaccedilatildeo pode ser um fator de aumento da desigualdade de

distribuiccedilatildeo de poderes em uma sociedade jaacute marcada por disparidades A democracia em

sua forma mais baacutesica requer que o poder seja distribuiacutedo ndash sendo a informaccedilatildeo uma fonte

de poder uma sociedade mais igualitaacuteria passa pelo livre acesso das pessoas a ela

No mundo em que vivemos o poder estaacute concentrado em diversas formas e

manifestaccedilotildees tais como o ideoloacutegico econocircmico tecnoloacutegico cientiacutefico ou

informacional Apoiar os direitos humanos eacute posicionar-se contra os que ameaccedilam ou

desrespeitam esses direitos Incluir o direito de acesso agrave informaccedilatildeo e agrave comunicaccedilatildeo

nessa luta eacute assumir a centralidade do ser humano como agente nos processos vitais para a

manutenccedilatildeo da vida em sociedade O acesso agrave informaccedilatildeo eacute condiccedilatildeo indispensaacutevel para a

formaccedilatildeo do indiviacuteduo enquanto ser criacutetico que questiona e interveacutem e que constroacutei os

meios que lhe permitem ser livre

Grandes corporaccedilotildees tecircm nas matildeos a infraestrutura global da Internet A quase

totalidade da Rede depende de operadores multinacionais estando a maioria deles sediada

nos EUA Muitos governos controlam e vigiam o acesso de seus cidadatildeos agrave Rede Quando

eacute de seu interesse conseguem comprometer o funcionamento das conexotildees via Internet

com o exterior como fez o governo egiacutepcio durante o movimento que ficou conhecido por

Primavera Aacuterabe no iniacutecio de 2011 que levou agrave queda do ditador Hosni Mubarak naquele

paiacutes (Sapo Notiacutecias 2011)

Numa decisatildeo histoacuterica o Conselho dos Direitos Humanos da ONU composto por

47 paiacuteses reconheceu pela primeira vez o direito agrave liberdade de expressatildeo na Internet e

tambeacutem a garantia de acesso agrave Rede O reconhecimento se deu dois dias apoacutes a decisatildeo do

Parlamento Europeu de eliminar o ACTA em Julho de 2012 Apesar da resistecircncia de

124

paiacuteses como a China e Cuba o texto do acordo foi finalizado em concordacircncia de que este

direito deveraacute ser protegido por todos os paiacuteses Esta eacute a primeira resoluccedilatildeo da ONU que

afirma que os direitos humanos devem ser protegidos no acircmbito digital e promovidos na

mesma medida e com o mesmo compromisso que os direitos humanos no mundo fiacutesico

Tanto a China quanto Cuba poreacutem fizeram ressalvas em relaccedilatildeo ao acordo o

embaixador chinecircs Xia Jingge argumentou por exemplo que ldquoos jovens precisam de ser

protegidosrdquo de sites maleacuteficos como os dedicados ao jogo agrave pornografia agrave violecircncia agrave

fraude e agrave pirataria ldquoAcreditamos que o livre fluxo de informaccedilatildeo na Internet e o fluxo

seguro de informaccedilatildeo na Internet satildeo interdependentesrdquo (Puacuteblico 06072012) Jaacute o

embaixador cubano Juan Antonio Quintanilla numa referecircncia impliacutecita aos EUA fez a

ressalva de que o texto natildeo aborda a questatildeo da ldquogovernaccedilatildeo da Internetrdquo quando ldquotodos

sabemos que esta ferramenta eacute controlada por um uacutenico paiacutes a niacutevel mundialrdquo (Puacuteblico

id)

A liberdade na Internet e a forccedila do compartilhamento de informaccedilotildees tambeacutem

foram os temas centrais do Foacuterum de Empreendedorismo Social na Nova Economia

evento realizado em Junho de 2012 paralelo agrave Rio+20 no Rio de Janeiro Em um dos

paineacuteis Silvio Meira presidente do Conselho Administrativo do Porto Digital e cientista-

chefe do Centro de Estudos e Sistemas Avanccedilados do Recife (Cesar) chamou a atenccedilatildeo

para a necessidade de ldquoprogramarmos para natildeo sermos programadosrdquo Para ele eacute preciso

tomarmos o controlo de nossas vidas no ciberespaccedilo ldquoTer propriedade pessoal dos nossos

dados seraacute absolutamente essencial Estamos sendo vendidos como mercadoria na

Internetrdquo (G1 17062012)

A regulaccedilatildeo eacute fundamental para frear as praacuteticas de uso indiscriminado de dados

dos usuaacuterios na Internet Eacute tambeacutem preciso garantir o bom funcionamento teacutecnico do

sistema com velocidade de banda a preccedilos justos boa qualidade de prestaccedilatildeo de serviccedilos

e proibiccedilatildeo de praacuteticas que prejudicam a neutralidade na Rede como o traffic shaping

mas natildeo soacute A regulaccedilatildeo natildeo deve tratar apenas do acesso agrave tecnologia mas tambeacutem da

garantia do pluralismo de informaccedilotildees em circulaccedilatildeo e de direitos e deveres na Rede Ao

mesmo tempo a proteccedilatildeo da privacidade eacute um ponto-chave que se coloca como

fundamental em qualquer tipo de regulaccedilatildeo que se aplique A salvaguarda dos dados

pessoais dos usuaacuterios mostra-se como a dimensatildeo da regulaccedilatildeo que atravessa todos os

espaccedilos de interaccedilatildeo da Internet

125

O combate ao uso de softwares como os P2Prsquos ilustra o desejo das induacutestrias de

derrubar certas tecnologias mais eficientes mas que ameaccedilam seu poderio A tecnologia

natildeo pode nem deve ser usada contra seus proacuteprios avanccedilos Antes esses avanccedilos devem

ser adaptados agraves novas necessidades de mercado que as plataformas digitais criaram

Softwares P2P podem perfeitamente ser utilizados para consumo de muacutesicas filmes etc

de maneira que respeite os direitos de autor Basta que tais mecanismos sejam implantados

dentro de um novo sistema de vendas mais justo e equilibrado que combine larga oferta

legal e preccedilos que estejam ao alcance das pessoas

O remix mesmo que feito com autorizaccedilatildeo e devida identificaccedilatildeo das fontes

utilizadas tambeacutem eacute uma praacutetica condenada pela induacutestria e pelas sociedades de gestatildeo

coletivas de direitos Poreacutem haacute que reconhecer como afirma Ronaldo Lemos que a

premissa lavoisiana de que ldquonada se cria tudo se transformardquo eacute a essecircncia da nossa

natureza cultural Poder citar e incorporar outras criaccedilotildees em uma nova eacute requisito para a

criatividade e para que o conhecimento e a cultura avancem (Lemos 2012)

Infelizmente o mundo da criaccedilatildeo eacute refeacutem de um impeacuterio legislativo de

autorizaccedilotildees mesmo quando o autor libera o uso de suas obras A burocracia para se

conseguir permissatildeo para o uso de uma obra intelectual ainda eacute uma via crucis Esta

situaccedilatildeo eacute antinatural e sistemas legislativos que funcionam assim natildeo fomentam a

criatividade tem exatamente o efeito inverso Eacute preciso desburocratizar os sistemas de

gestatildeo de patentes e de propriedade intelectual formulando regimes de exceccedilatildeo para

paiacuteses subdesenvolvidos para que estes tambeacutem tenham condiccedilotildees de avanccedilar em mateacuteria

de inovaccedilatildeo

Agrave eacutepoca da abertura das discussotildees para a reforma da Lei do Direito Autoral

(LDA) no Brasil acadecircmicos artistas escritores e membros da sociedade civil de diversos

ramos de atuaccedilatildeo profissional fizeram circular na Internet a ldquoCarta de Satildeo Paulo pelo

Acesso a Bens Culturaisrdquo um abaixo-assinado de apoio agrave reforma legislativa No texto

condena-se a vigilacircncia e o controlo das atividades dos usuaacuterios na Internet ndash o que

representa uma agressatildeo agrave privacidade e ao direito de acesso agrave informaccedilatildeo e agrave

comunicaccedilatildeo atraveacutes da Rede Antes aponta-se que eacute preciso reformar a legislaccedilatildeo autoral

em vigor de maneira a adaptaacute-la agraves accedilotildees de democratizaccedilatildeo do saber possibilitadas pela

Internet

126

[] tem-se defendido que o controlo da troca de arquivos na Internet seja feito por

meio do monitoramento do cidadatildeo no seu acesso agrave Rede Isso somente poderia ocorrer

atraveacutes da violaccedilatildeo do direito agrave privacidade e com severas ameaccedilas agrave liberdade de

expressatildeo e de comunicaccedilatildeo Entendemos que esse natildeo eacute o melhor caminho e que a reforma da lei deve ser realista face agraves novas tecnologias e praacuteticas sociais (CARTA

DE SAtildeO PAULO PELO ACESSO A BENS CULTURAIS 2010)

O Direito precisa acompanhar a evoluccedilatildeo da tecnologia Em um contexto em que

boa parte da populaccedilatildeo age de forma contraacuteria ao que diz a lei eacute necessaacuterio discutir o

descompasso entre o Direito e a sociedade para realizar as transformaccedilotildees necessaacuterias nos

diplomas juriacutedicos As puniccedilotildees severas e o endurecimento das leis natildeo vatildeo acabar com a

praacutetica da partilha de bens culturais em rede Haacute uma relaccedilatildeo direta entre o aumento da

oferta de conteuacutedo legal a preccedilos acessiacuteveis e a diminuiccedilatildeo da pirataria Portanto eacute preciso

rediscutir os modelos de negoacutecio solidificados ndash uma atitude que contraria os interesses

das induacutestrias mas eacute necessaacuteria para sua proacutepria sobrevivecircncia

A luta contra quaisquer usos comerciais da obra sem autorizaccedilatildeo de seu titular de

direitos eacute perfeitamente legiacutetima O que precisa ser feito eacute reequilibrar a posiccedilatildeo do autor

face aos intermediaacuterios culturais de forma a potencializar as alternativas de produzir

distribuir e comercializar suas obras diretamente atraveacutes das novas tecnologias Este

equiliacutebrio conferiria maior autonomia e independecircncia econocircmica aos autores permitindo

alargar as fronteiras ainda muito limitadas do mercado de bens culturais Eacute necessaacuterio criar

e aplicar sistemas que devolvam aos autores o poder sobre suas proacuteprias obras para que

estas sejam licenciadas reproduzidas e comercializadas como eles desejarem O futuro dos

direitos de autor estaacute na promoccedilatildeo de ligaccedilotildees mais diretas entre autor e puacuteblico e na

transformaccedilatildeo do papel dos intermediaacuterios na economia criativa

127

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

128

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Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas 2004 Cimeira Mundial sobre a Sociedade da

Informaccedilatildeo (WSIS)

URLlthttpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=enampid=1161|1160

gt

Acedido em 21 de Abril de 2012

Parlamento Europeu e Conselho 2006 Directiva nordm 9398CEE do Conselho de 29 de

Outubro de 1993 relativa agrave harmonizaccedilatildeo do prazo de protecccedilatildeo dos direitos de

autor e de certos direitos conexos

URLlthttpeur-

lexeuropaeuLexUriServLexUriServdouri=CELEX32006L0116PTHTMLgt

Acedido em 17 de Fevereiro de 2012

Presidecircncia da Repuacuteblica Federativa do Brasil 1827 Lei de 11 de Agosto de 1827 Crecirca

dous Cursos de sciencias Juridicas e Sociaes um na cidade de S Paulo e outro

na de Olinda

URLlthttpwwwplanaltogovbrccivil_03revistaRev_63Lei_1827htmgt

Acedido em 03 de Marccedilo de 2012

Presidecircncia da Repuacuteblica Federativa do Brasil 1998 Lei 9610 de 19 de Fevereiro de

1998 Altera atualiza e consolida a legislaccedilatildeo sobre direitos autorais e daacute outras

providecircncias

URLlthttpwwwculturagovbrsite20080202lei-no-9610-de-19-de-fevereiro-

de-1998gt

Acedido em 21 de Abril de 2012

Reacutepublique Franccedilaise et Ministegravere de la Culture et de la Communication 2008 Projet de

Loi Favorisant la Diffusion et la Protection de la Creacuteation sur Internet

URLlthttpwwwculturegouvfrcultureactualitesdossiersinternet-

creation08620-20Projet20de20loipdfgt

Acedido em 26 de Marccedilo de 2012

Senado Federal 2003 Projeto de Lei Substitutivo ao PL da Cacircmara nordm 89 de 2003 e

Projetos de Lei do Senado nordm 137 de 2000 e nordm 76 de 2000 todos referentes a

crimes na aacuterea de informaacutetica

URLlthttpwwwsafernetorgbrsiteinstitucionalprojetosobslegpl-azeredogt

141

Acedido em 21 de Abril de 2012

142

143

ANEXOS

144

145

ANEXO 1

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

146

M I N U T A D E A N T E P R O J E T O D E L E I P A R A D E B A T E C O L A B O R A T I V O S E Ccedil Atilde O I V R E V IS A D A

Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministeacuterio da Justiccedila

Esplanada dos Ministeacuterios Edifiacutecio Sede Sala 434 Brasiacutelia shy DF

httpculturadigitalbrmarcocivil

marcocivildainternetmjgovbr

identica twitter marcocivil

1

147

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

Brasiacutelia maio de 2010

2

148

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

APRESENTACcedilAtildeO

O debate sobre o marco civil eacute um debate aberto e colaborativo As opiniotildees dos

usuaacuterios satildeo levadas em consideraccedilatildeo natildeo soacute com o intuito de identificar as tendecircncias dos interesses da sociedade como tambeacutem em busca de refinamento das ideacuteias mecanismos e redaccedilotildees propostas O processo eacute incremental enriqueceshyse e aperfeiccediloashyse com a contribuiccedilatildeo de cada usuaacuterio refletindo a diversidade de interesses e perspectivas

Mais de 1500 comentaacuterios e contribuiccedilotildees foram recebidos ao longo das uacuteltimos

cinco meses E com o intuito de organizar ideacuteias e facilitar a necessaacuteria participaccedilatildeo nesta uacuteltima fase do processo o Marco Civil apresenta seu primeiro ldquobalanccedilordquo trazendo as principais propostas de alteraccedilatildeo do texto inicial

Ateacute o momento a necessidade de ajustes pontuais ndash seja na redaccedilatildeo seja nos conceitos ndash foi muito bem apontada pelos usuaacuterios as adequaccedilotildees pertinentes seratildeo gradualmente integradas agrave minuta em debate Temas como o tempo de guarda de registros de conexatildeo e a inclusatildeo de diretrizes relativas agrave educaccedilatildeo digital tambeacutem permearam as manifestaccedilotildees e serviratildeo para a maturaccedilatildeo do texto final

Os toacutepicos mais debatidos poreacutem dizem respeito agrave proposta de mecanismo voluntaacuterio que permite que os provedores de serviccedilos de internet sejam isentos de responsabilidade quanto a conteuacutedo publicado por terceiros No desenho apresentado a proposta inicial coloca como condiccedilatildeo para esta isenccedilatildeo a adoccedilatildeo voluntaacuteria de um mecanismo de resposta a notificaccedilotildees extrajudiciais ndash tanto daquele que se sente prejudicado quanto daquele que deseja identificandoshyse garantir a permanecircncia de seu conteuacutedo publicado

No entanto variadas manifestaccedilotildees ndash tanto no espaccedilo de debate aberto deste

site quanto em diversos espaccedilos fora dele ndash apontaram as dificuldades de implementaccedilatildeo de um mecanismo desta natureza em particular sobre os eventuais riscos a direitos constitucionalmente garantidos Tais manifestaccedilotildees sem duacutevida possuem fundamento e foram levadas em consideraccedilatildeo

Diante disso e com o intuito de dar um passo adiante no debate apresentamos novas

propostas de redaccedilatildeo para os artigos 20 a 24 que versam sobre a remoccedilatildeo de conteuacutedo gerado por terceiro

3

149

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

Minuta de anteprojeto de lei para debate colaborativo

SECcedilAtildeO IV REVISADA

Estabelece o Marco Civil da Internet no Brasil

O C O N G R E SS O N A C I O N A L decreta

C A P Iacute T U L O I D ISP O SI Ccedil Otilde E S P R E L I M I N A R E S

A r t 1ordm

Esta Lei estabelece direitos e deveres relativos ao uso da Internet no Brasil e determina

as diretrizes para atuaccedilatildeo da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios

em relaccedilatildeo agrave mateacuteria

A r t 2ordm

A disciplina do uso da Internet no Brasil tem como fundamentos o reconhecimento da

escala mundial da rede o exerciacutecio da cidadania em meios digitais os direitos humanos

a pluralidade a diversidade a abertura a livre iniciativa a livre concorrecircncia e a

colaboraccedilatildeo e observaraacute os seguintes princiacutepios

I ndash garantia da liberdade de expressatildeo comunicaccedilatildeo e manifestaccedilatildeo de pensamento

II ndash proteccedilatildeo da privacidade

III ndash proteccedilatildeo aos dados pessoais na forma da lei

IV ndash preservaccedilatildeo e garantia da neutralidade da rede

V ndash preservaccedilatildeo da estabilidade seguranccedila e funcionalidade da rede por meio de

medidas teacutecnicas compatiacuteveis com os padrotildees internacionais e pelo estiacutemulo ao uso de

boas praacuteticas e

VI ndash preservaccedilatildeo da natureza participativa da rede

Paraacutegrafo uacutenico Os princiacutepios expressos nesta Lei natildeo excluem outros previstos no

ordenamento juriacutedico paacutetrio relacionados agrave mateacuteria ou nos tratados internacionais em

que a Repuacuteblica Federativa do Brasil seja parte

A r t 3ordm

4

150

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

A disciplina do uso da Internet no Brasil tem os seguintes objetivos

I ndash garantir a todos os cidadatildeos o acesso agrave Internet

II ndash promover o acesso agrave informaccedilatildeo ao conhecimento e agrave participaccedilatildeo na vida cultural

III ndash fortalecer a livre iniciativa e a livre concorrecircncia

IV ndash promover a inovaccedilatildeo e fomentar a ampla difusatildeo de novas tecnologias e modelos

de uso e acesso e

V ndash promover a padronizaccedilatildeo a acessibilidade e a interoperabilidade a partir do uso de

padrotildees abertos

A r t 4ordm

Para os efeitos desta Lei considera-se

I ndash Internet o conjunto de meios de transmissatildeo comutaccedilatildeo e roteamento de dados

estruturados em escala mundial bem como os protocolos necessaacuterios agrave comunicaccedilatildeo

entre terminais incluiacutedos ainda os programas de computador especiacuteficos para esse fim

II ndash terminal computador ou dispositivo anaacutelogo que se conecte agrave Internet

III ndash administrador de sistema autocircnomo pessoa juriacutedica devidamente cadastrada junto

ao Registro de Endereccedilamento da Internet para Ameacuterica Latina e Caribe (LACNIC)

responsaacutevel por blocos especiacuteficos de nuacutemero IP (Internet protocol) e por um conjunto

de roteadores redes e linhas de comunicaccedilatildeo pela Internet que formem uma

infraestrutura delimitada por protocolos e meacutetricas comuns

IV ndash conexatildeo agrave Internet autenticaccedilatildeo de um terminal para envio e recebimento de

pacotes de dados pela Internet mediante a atribuiccedilatildeo de um nuacutemero IP

V ndash registro de conexatildeo o conjunto de informaccedilotildees referentes agrave data e hora de iniacutecio e

teacutermino de uma conexatildeo agrave Internet sua duraccedilatildeo e o nuacutemero IP utilizado pelo terminal

para o recebimento de pacotes de dados

VI ndash serviccedilos de Internet conjunto de serviccedilos diversos que podem ser acessados por

meio de um terminal conectado agrave Internet como por exemplo navegaccedilatildeo comunicaccedilatildeo

5

151

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

instantacircnea envio e recebimento de correspondecircncia eletrocircnica publicaccedilatildeo de obras

textuais ou audiovisuais em formato digital entre outros

VII ndash registros de acesso a serviccedilos de Internet o conjunto de informaccedilotildees referentes agrave

data e hora de uso de um determinado serviccedilo de Internet a partir de um determinado

nuacutemero IP

A r t 5ordm

Na interpretaccedilatildeo desta Lei levar-se-atildeo em conta aleacutem dos fundamentos princiacutepios e

objetivos previstos a natureza da Internet seus usos e costumes particulares e sua

importacircncia para a promoccedilatildeo do desenvolvimento humano econocircmico social e

cultural as exigecircncias do bem comum e os direitos e deveres individuais e

transindividuais

C A P Iacute T U L O I I

D O S D I R E I T O S E G A R A N T I A S D O S USU Aacute R I O S A r t 6ordm O acesso agrave Internet eacute direito do cidadatildeo fundamental ao exerciacutecio da cidadania agraves

liberdades de manifestaccedilatildeo do pensamento e de expressatildeo e agrave garantia do acesso agrave

informaccedilatildeo

A r t 7ordm

O usuaacuterio de Internet tem direito

I ndash agrave inviolabilidade e ao sigilo de suas comunicaccedilotildees salvo por ordem judicial nas

hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigaccedilatildeo criminal ou

instruccedilatildeo processual penal

II ndash agrave natildeo suspensatildeo ou degradaccedilatildeo da qualidade contratada da conexatildeo agrave Internet nos

termos do art 12 salvo por deacutebito diretamente decorrente de sua utilizaccedilatildeo

III ndash a informaccedilotildees claras e completas constantes dos contratos de prestaccedilatildeo de serviccedilos

estabelecendo o regime de proteccedilatildeo aos seus dados pessoais registros de conexatildeo e

registros de acesso a serviccedilos de Internet bem como sobre praacuteticas de gerenciamento da

rede que possam afetar a qualidade do serviccedilo oferecido e

6

152

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

IV ndash agrave natildeo divulgaccedilatildeo ou uso de seus registros de conexatildeo e registros de acesso a

serviccedilos de Internet salvo mediante seu consentimento expresso ou em decorrecircncia de

determinaccedilatildeo judicial

A r t 8ordm

A garantia do direito agrave privacidade e agrave liberdade de expressatildeo nas comunicaccedilotildees eacute

condiccedilatildeo para o pleno exerciacutecio do direito de acesso agrave Internet

Paraacutegrafo uacutenico O exerciacutecio do direito agrave privacidade e agrave liberdade de expressatildeo autoriza

aos usuaacuterios da Internet a livre opccedilatildeo por medidas de seguranccedila direcionadas a

salvaguardar a proteccedilatildeo de dados pessoais e o sigilo das comunicaccedilotildees

C A P Iacute T U L O I I I

A P R O V IS Atilde O D E C O N E X Atilde O E D E S E R V I Ccedil O S D E I N T E R N E T Seccedilatildeo I

D isposiccedilotildees G e r ais

A r t 9ordm

A provisatildeo de conexatildeo agrave Internet impotildee a obrigaccedilatildeo de guardar apenas os registros de

conexatildeo nos termos da Subseccedilatildeo I da Seccedilatildeo III deste Capiacutetulo ficando vedada a guarda

de registros de acesso a serviccedilos de Internet pelo provedor

Paraacutegrafo uacutenico O provedor de conexatildeo a Internet fica impedido de monitorar filtrar

analisar ou fiscalizar o conteuacutedo dos pacotes de dados salvo para administraccedilatildeo teacutecnica

de traacutefego nos termos do art 12

A r t 10

A provisatildeo de serviccedilos de Internet onerosa ou gratuita natildeo impotildee ao provedor a

obrigaccedilatildeo de monitorar filtrar analisar ou fiscalizar o conteuacutedo dos pacotes de dados

tampouco de guardar registros de acesso a serviccedilos de Internet salvo em qualquer dos

casos por ordem judicial especiacutefica observado o disposto no art 18

Paraacutegrafo uacutenico Para efeitos deste dispositivo os usuaacuterios que detenham poderes de

moderaccedilatildeo sobre o conteuacutedo de terceiros se equiparam aos provedores de serviccedilos de

Internet

A r t 11

7

153

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

A responsabilizaccedilatildeo do provedor de serviccedilos de Internet por danos decorrentes de

conteuacutedo gerado por terceiros fica condicionada ao descumprimento dos procedimentos

previstos na Seccedilatildeo IV deste Capiacutetulo

Seccedilatildeo I I

Do t r aacutefego de dados

A r t 12

O responsaacutevel pela transmissatildeo comutaccedilatildeo ou roteamento tem o dever de tratar de

forma isonocircmica quaisquer pacotes de dados conteuacutedo serviccedilo terminal ou aplicativo

sendo vedado estabelecer qualquer discriminaccedilatildeo ou degradaccedilatildeo do traacutefego que natildeo

decorra de requisitos teacutecnicos destinados a preservar a qualidade contratual do serviccedilo

Seccedilatildeo I I I

Dos r egist ros de dados

Subseccedilatildeo I

D a gua r da de r egist ros de conexatildeo

A r t 13

A guarda e a disponibilizaccedilatildeo dos registros de conexatildeo a que esta lei faz referecircncia

devem atender agrave preservaccedilatildeo da intimidade vida privada honra e imagem das partes

direta ou indiretamente envolvidas

A r t 14

A provisatildeo de conexatildeo agrave Internet impotildee ao administrador do sistema autocircnomo

respectivo o dever de manter os registros de conexatildeo sob sigilo em ambiente

controlado e de seguranccedila pelo prazo maacuteximo de 6 (seis) meses nos termos do

regulamento

Paraacutegrafo uacutenico O dever de manter os registros de conexatildeo natildeo poderaacute ser transferido

A r t 15

8

154

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

Na guarda de registros de conexatildeo

I ndash os registros de conexatildeo somente poderatildeo ser fornecidos a terceiros mediante ordem

judicial ou por autorizaccedilatildeo preacutevia e expressa do respectivo usuaacuterio

II ndash os dados cadastrais somente poderatildeo ser disponibilizados de maneira vinculada aos

registros de conexatildeo mediante ordem judicial e

III ndash as medidas e procedimentos de seguranccedila e sigilo dos registros de conexatildeo e dos

dados cadastrais devem ser informados de forma clara aos usuaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Os procedimentos de seguranccedila necessaacuterios agrave preservaccedilatildeo do sigilo e

da integridade dos registros de conexatildeo e dos dados cadastrais referidos neste artigo

deveratildeo atender a padrotildees adequados a serem definidos por meio de regulamento

Subseccedilatildeo I I

D a gua r da de r egist ros de acesso a se r viccedilos de I nte r net

A r t 16

A guarda de registros de acesso a serviccedilos de Internet dependeraacute de autorizaccedilatildeo

expressa do usuaacuterio e deveraacute obedecer ao que segue sem prejuiacutezo agraves demais normas e

diretrizes relativas agrave proteccedilatildeo de dados pessoais

I ndash informaccedilatildeo preacutevia ao usuaacuterio sobre a natureza finalidade periacuteodo de conservaccedilatildeo

poliacuteticas de seguranccedila e destinaccedilatildeo das informaccedilotildees guardadas facultando-lhe o acesso

retificaccedilatildeo e atualizaccedilatildeo sempre que solicitado

II ndash consentimento livre e informado do usuaacuterio previamente ao tratamento agrave

distribuiccedilatildeo a terceiros ou agrave publicaccedilatildeo das informaccedilotildees coletadas e

III ndash os dados que permitam a identificaccedilatildeo do usuaacuterio somente poderatildeo ser

disponibilizados de maneira vinculada aos registros de acesso a serviccedilos de Internet

mediante ordem judicial

A r t 17

Os danos causados aos titulares de dados pessoais devem ser reparados nos termos da

lei

Subseccedilatildeo I I I

D a p roteccedilatildeo ao sigilo das comunicaccedilotildees pela I nte r net

9

155

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

A r t 18

Os procedimentos de interceptaccedilatildeo escuta ou disponibilizaccedilatildeo de conteuacutedo das

comunicaccedilotildees pela Internet somente poderatildeo ocorrer para fins de persecuccedilatildeo penal e

seratildeo regulados pela lei que trata da interceptaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo telefocircnica e dados

telemaacuteticos

Seccedilatildeo I V

D a r emoccedilatildeo de conteuacutedo

A r t 19

O provedor de conexatildeo agrave Internet natildeo seraacute responsabilizado por danos decorrentes de

conteuacutedo gerado por terceiros

A r t 20

O provedor de serviccedilo de Internet somente poderaacute ser responsabilizado por danos

decorrentes de conteuacutedo gerado por terceiros se for notificado pelo ofendido e natildeo

tomar as providecircncias para no acircmbito do seu serviccedilo e dentro de prazo razoaacutevel tornar

indisponiacutevel o conteuacutedo apontado como infringente

sect 1ordm Os provedores de serviccedilos de Internet devem oferecer de forma ostensiva ao

menos um canal eletrocircnico dedicado ao recebimento de notificaccedilotildees e

contranotificaccedilotildees

sect 2ordm Eacute facultado ao provedor de serviccedilos de Internet criar mecanismo automatizado

para atender aos procedimentos dispostos nesta Seccedilatildeo

P R O P O S T A D E N O V A R E D A Ccedil Atilde O

O provedor de serviccedilo de internet somente poderaacute ser responsabilizado por danos

decorrentes de conteuacutedo gerado por terceiros se apoacutes intimado para cumprir ordem

judicial a respeito natildeo tomar as providecircncias para no acircmbito do seu serviccedilo e dentro do

prazo assinalado tornar indisponiacutevel o conteuacutedo apontado como infringente

A r t 21

1

156

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

A notificaccedilatildeo de que trata o art 20 deveraacute conter sob pena de invalidade

I ndash identificaccedilatildeo do notificante incluindo seu nome completo seus nuacutemeros de registro

civil e fiscal e dados atuais para contato

II ndash data e hora de envio

III ndash identificaccedilatildeo clara e especiacutefica do conteuacutedo apontado como infringente que

permita a localizaccedilatildeo inequiacutevoca do material pelo notificado

IV ndash descriccedilatildeo da relaccedilatildeo entre o notificante e o conteuacutedo apontado como infringente e

V ndash justificativa juriacutedica para a remoccedilatildeo

P R O P O S T A D E N O V A R E D A Ccedil Atilde O

A intimaccedilatildeo de que trata o art 20 deveraacute conter sob pena de invalidade

I ndash identificaccedilatildeo da parte que solicitou a remoccedilatildeo do conteuacutedo incluindo seu nome

completo seus nuacutemeros de registro civil e fiscal e dados atuais para contato

II ndash identificaccedilatildeo clara e especiacutefica do conteuacutedo apontado como infringente que permita

a localizaccedilatildeo inequiacutevoca do material

III ndash descriccedilatildeo da relaccedilatildeo existente entre a parte solicitante e o conteuacutedo apontado como

infringente

IV ndash justificativa juriacutedica para a remoccedilatildeo

A r t 22

Ao tornar indisponiacutevel o acesso ao conteuacutedo caberaacute ao provedor do serviccedilo informar o

fato ao usuaacuterio responsaacutevel pela publicaccedilatildeo comunicando-lhe o teor da notificaccedilatildeo de

remoccedilatildeo e fixando prazo razoaacutevel para a eliminaccedilatildeo definitiva do conteuacutedo

Paraacutegrafo uacutenico Caso o usuaacuterio responsaacutevel pelo conteuacutedo infringente natildeo seja

identificaacutevel ou natildeo possa ser localizado e desde que presentes os requisitos de

validade da notificaccedilatildeo cabe ao provedor de serviccedilo manter o bloqueio

P R O P O S T A D E N O V A R E D A Ccedil Atilde O

Ao tornar indisponiacutevel o acesso ao conteuacutedo caberaacute ao provedor do serviccedilo informar o

fato ao usuaacuterio responsaacutevel pela publicaccedilatildeo comunicando-lhe o teor da intimaccedilatildeo nos

1

157

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

casos em que o usuaacuterio responsaacutevel seja identificaacutevel

A r t 23

Eacute facultado ao usuaacuterio responsaacutevel pela publicaccedilatildeo observados os requisitos do art 21

contranotificar o provedor de serviccedilo requerendo a manutenccedilatildeo do conteuacutedo e

assumindo a responsabilidade exclusiva pelos eventuais danos causados a terceiros

caso em que caberaacute ao provedor de serviccedilo o dever de restabelecer o acesso ao conteuacutedo

indisponibilizado e informar ao notificante o restabelecimento

Paraacutegrafo uacutenico Qualquer outra pessoa interessada fiacutesica ou juriacutedica observados os

requisitos do art 21 poderaacute contranotificar o prestador de serviccedilo assumindo a

responsabilidade pela manutenccedilatildeo do conteuacutedo

P R O P O S T A D E N O V A R E D A Ccedil Atilde O

Os usuaacuterios que detenham poderes de moderaccedilatildeo sobre o conteuacutedo de terceiros se

equiparam aos provedores de serviccedilos de Internet para efeitos do disposto nesta Seccedilatildeo

A r t 24

Tanto o notificante quanto o contranotificante respondem nos termos da lei por

informaccedilotildees falsas errocircneas e pelo abuso ou maacute-feacute

P R O P O S T A D E SU P R E SS Atilde O

A r t 25

Os usuaacuterios que detenham poderes de moderaccedilatildeo sobre o conteuacutedo de terceiros se

equiparam aos provedores de serviccedilos de Internet para efeitos do disposto nesta Seccedilatildeo

Seccedilatildeo V

D a r equisiccedilatildeo j udicial de r egist ros

1

158

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

A r t 26

A parte interessada poderaacute para o exclusivo propoacutesito de formar conjunto probatoacuterio

em processo judicial requerer ao juiz a expediccedilatildeo de requisiccedilatildeo solicitando ao

responsaacutevel pela guarda o fornecimento de registros de conexatildeo ou de acesso a serviccedilo

de Internet

Paraacutegrafo uacutenico No requerimento de requisiccedilatildeo judicial a parte deveraacute fazer constar

I ndash a descriccedilatildeo pormenorizada de indiacutecios razoaacuteveis da ocorrecircncia do iliacutecito

II ndash a justificativa motivada da utilidade dos registros solicitados para fins de

investigaccedilatildeo do iliacutecito e

III ndash periacuteodo ao qual se referem os registros

A r t 27

A requisiccedilatildeo judicial de fornecimento de registros obedeceraacute aos ritos processuais

cabiacuteveis observado o que segue

sect 1ordm A requisiccedilatildeo de fornecimento de registros de acesso a serviccedilos de Internet fica

sujeita agrave comprovaccedilatildeo de que o responsaacutevel manteacutem a guarda com a autorizaccedilatildeo

expressa dos usuaacuterios obedecido o disposto no art 16

sect 2ordm Caso o fornecimento dos registros de acesso a serviccedilos de Internet natildeo seja

necessaacuterio para os fins da investigaccedilatildeo cabe ao juiz limitar a requisiccedilatildeo apenas ao

fornecimento dos registros de conexatildeo

sect 3ordm Cabe ao juiz tomar as providecircncias necessaacuterias agrave garantia do sigilo do conteuacutedo

das comunicaccedilotildees e agrave preservaccedilatildeo da intimidade vida privada honra e imagem do

usuaacuterio podendo inclusive determinar o segredo de justiccedila em relaccedilatildeo agraves informaccedilotildees

recebidas

C A P Iacute T U L O I V

D A A T U A Ccedil Atilde O D O P O D E R P Uacute B L I C O A r t 28 Constituem diretrizes para a atuaccedilatildeo da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos

Municiacutepios no desenvolvimento da Internet no Brasil

I ndash estabelecimento de mecanismos de governanccedila transparentes colaborativos e

democraacuteticos com a participaccedilatildeo dos vaacuterios setores da sociedade

II ndash promoccedilatildeo da racionalizaccedilatildeo e da interoperabilidade tecnoloacutegica dos serviccedilos de

1

159

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

governo eletrocircnico nos diferentes niacuteveis da federaccedilatildeo para permitir o intercacircmbio de

informaccedilotildees e a agilizaccedilatildeo de procedimentos

III ndash promoccedilatildeo da interoperabilidade entre sistemas e terminais diversos inclusive entre

os diferentes niacuteveis federativos e diversos setores da sociedade

IV ndash adoccedilatildeo preferencial de tecnologias padrotildees e formatos abertos

V ndash publicizaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de dados e informaccedilotildees puacuteblicos de forma aberta e

estruturada

VI ndash otimizaccedilatildeo da infraestrutura das redes promovendo a qualidade teacutecnica a

inovaccedilatildeo e a disseminaccedilatildeo dos serviccedilos de Internet sem prejuiacutezo agrave abertura

neutralidade e natureza participativa

VII ndash desenvolvimento de accedilotildees e programas de capacitaccedilatildeo para uso da internet

VIII ndash promoccedilatildeo da cultura e da cidadania inclusive pela prestaccedilatildeo mais dinacircmica e

eficiente de serviccedilos puacuteblicos

IX ndash uso eficiente de recursos puacuteblicos e dos serviccedilos finaliacutesticos disponibilizados ao

cidadatildeo e

X ndash prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos de atendimento ao cidadatildeo de forma integrada

simplificada e por muacuteltiplos canais de acesso

A r t 29

Os siacutetios e portais de entes do Poder Puacuteblico devem buscar

I ndash compatibilidade dos serviccedilos de governo eletrocircnico com diversos terminais sistemas

operacionais e aplicativos para seu acesso

II ndash acessibilidade a todos os interessados independentemente de suas capacidades

fiacutesico-motoras perceptivas culturais e sociais resguardados os aspectos de sigilo e

restriccedilotildees administrativas e legais

III ndash compatibilidade tanto agrave leitura humana como ao tratamento por maacutequinas

IV ndash facilidade de uso dos serviccedilos de governo eletrocircnico e

V ndash fortalecimento da democracia participativa

A r t 30

O cumprimento do dever constitucional do Estado na prestaccedilatildeo da educaccedilatildeo em todos

os niacuteveis de ensino abarca a capacitaccedilatildeo para o uso da Internet como ferramenta de

exerciacutecio de cidadania promoccedilatildeo de cultura e desenvolvimento tecnoloacutegico

sect 1ordm Sem prejuiacutezo das atribuiccedilotildees do poder puacuteblico o Estado fomentaraacute iniciativas

privadas que promovam a Internet como ferramenta educacional

sect 2ordm A capacitaccedilatildeo para o uso da Internet deve ocorrer integrada a outras praacuteticas

educacionais

1

160

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

A r t 31 As iniciativas puacuteblicas de fomento agrave cultura digital e de promoccedilatildeo da Internet como

ferramenta social devem

I ndash buscar minimizar as desigualdades sobretudo as regionais no acesso agrave informaccedilatildeo

e

II ndash promover a inclusatildeo digital de toda a populaccedilatildeo especialmente a de baixa renda

A r t 32

O Estado deve buscar formular e fomentar estudos perioacutedicos regulares e

periodicamente fixar metas estrateacutegias planos e cronogramas referentes ao uso e

desenvolvimento da Internet no paiacutes

C A P Iacute T U L O V

D ISP O SI Ccedil Otilde E S F I N A IS A r t 33 A defesa dos interesses e direitos dos usuaacuterios da Internet poderaacute ser exercida em juiacutezo

individualmente ou a tiacutetulo coletivo na forma do disposto nos artigos 81 e 82 da Lei

8078 de 11 de setembro de 1990

A r t 34

Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

1

161

ANEXO 2

162

PROJECTO DE LEI Nordm 118XII

ldquoAprova o regime juriacutedico da Coacutepia Privada e altera o artigo 47ordm do Coacutedigo do

Direito de Autor e dos Direitos Conexos ndash Seacutetima alteraccedilatildeo ao Decreto-Lei nordm

6385 de 14 de Marccedilordquo

Exposiccedilatildeo de motivos

O presente projecto de lei visa reforccedilar o legiacutetimo interesse dos diversos titulares de

direitos abrangidos pelo regime normalmente designado por ldquocoacutepia privadardquo mediante a

criaccedilatildeo de condiccedilotildees que garantam a percepccedilatildeo de uma compensaccedilatildeo equitativa pela

reproduccedilatildeo de obras intelectuais prestaccedilotildees e produtos legalmente protegidos procedendo agrave

regulamentaccedilatildeo do artigo 82ordm do Coacutedigo do Direito de Autor e Direitos Conexos

(CDADC)

O regime da coacutepia privada actualmente em vigor consta da Lei nordm 6298 de 1 de

Setembro alterada pela Lei nordm 502004 de 24 de Agosto e decorridos 6 anos a

experiecircncia mostra que eacute tempo de o rever com alguma profundidade

Como eacute sabido tradicionalmente o uso privado de obras intelectuais por diversas razotildees

tem estado fora do exclusivo reconhecido aos titulares de direitos em sede de propriedade

intelectual

O surgimento na segunda metade do seacuteculo XX de equipamentos e aparelhos capazes de

assegurar a reproduccedilatildeo em massa de obras de uma forma incontrolada pocircs em causa o

direito de reproduccedilatildeo de obras protegidas reconhecido aos autores no acircmbito do

monopoacutelio que lhes eacute legalmente outorgado no domiacutenio das suas faculdades de direito

163

patrimonial e obrigou os legisladores a intervir E ainda que possa ser objecto de criacutetica

cientiacutefica o recurso agrave menccedilatildeo de coacutepia privada para delimitar a presente iniciativa

legislativa optou-se por essa terminologia por ser de utilizaccedilatildeo comum e corresponder agrave

formulaccedilatildeo adoptada na Directiva 200129CE de 22 de Maio de 2001 relativa agrave

harmonizaccedilatildeo de certos aspectos do direito de autor e dos direitos conexos na sociedade de

informaccedilatildeo

A remuneraccedilatildeo compensatoacuteria por coacutepia privada constitui um instrumento que visa

conciliar de um lado o interesse patrimonial do autor detentor do exclusivo das

faculdades de exploraccedilatildeo econoacutemica da obra em qualquer suporte e em particular o

direito de reproduccedilatildeo por outro lado adequa agrave realidade tecnoloacutegica actual que coloca ao

alcance da larga maioria dos cidadatildeos sem possibilidade de um controlo individualizado a

obtenccedilatildeo de coacutepias de obras protegidas para seu uso privado

O modo concreto de permitir a efectivaccedilatildeo de uma compensaccedilatildeo equitativa a favor dos

titulares de direitos eacute o de fazer incidir taxas sobre o preccedilo de venda ao puacuteblico dos

equipamentos e suportes que permitem a reproduccedilatildeo de obras protegidas

O regime instituiacutedo segue o modelo e as melhores praacuteticas vigentes nos Estados da Uniatildeo

Europeia (UE) em especial da Espanha Franccedila Beacutelgica Alemanha Holanda Itaacutelia e

Finlacircndia devidamente adaptado agrave situaccedilatildeo sociocultural e econoacutemica portuguesa

Introduzem-se igualmente inovaccedilotildees julgadas pertinentes e que dotam o nosso paiacutes de uma

legislaccedilatildeo actual e efectivamente protectora dos legiacutetimos direitos e interesses dos titulares

de direitos

Por outro lado a coacutepia privada natildeo eacute objecto de normaccedilatildeo nos principais tratados e

convenccedilotildees multilaterais pelo que cabe um amplo espaccedilo de liberdade aos Estados na

criaccedilatildeo do respectivo regime juriacutedico na ordem interna enquadrado pelo princiacutepio da

reciprocidade nas relaccedilotildees bilaterais No caso da UE a coacutepia privada como compensaccedilatildeo

equitativa consta das aliacuteneas a) e b) do nordm 2 do artigo 5ordm Directiva 200129CE de 22 de

Maio de 2001 sobre o direito de autor na sociedade da informaccedilatildeo

164

No texto do presente projecto lei eacute utilizada a noccedilatildeo de compensaccedilatildeo equitativa em vez da

noccedilatildeo de remuneraccedilatildeo equitativa ateacute agora mais usada na legislaccedilatildeo portuguesa Para esta

mudanccedila teve-se em devida conta o disposto no recente acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila da

Uniatildeo Europeia (TJUE) (processo C-46708 Padawan SL c SGAE Terceira Secccedilatildeo de

21 de Outubro de 2010) que considerou harmonizada no espaccedilo territorial da UE aquela

noccedilatildeo

De forma a acompanhar a realidade e as incessantes inovaccedilotildees do mercado tecnoloacutegico o

presente projecto considera que o regime deve abranger natildeo soacute os aparelhos e suportes

analoacutegicos mas tambeacutem os digitais garantindo-se assim aos titulares de direitos uma

razoaacutevel e justa compensaccedilatildeo pelos danos sofridos pela praacutetica social da coacutepia privada que

natildeo eacute assegurada pelo regime actualmente em vigor

Por outro lado a garantia de uma razoaacutevel e justa compensaccedilatildeo eacute tambeacutem obtida atraveacutes

da alteraccedilatildeo dos criteacuterios definidores da aplicaccedilatildeo da compensaccedilatildeo equitativa agora fixados

tendo em conta as linhas de orientaccedilatildeo indicadas no considerando 35 da directiva

comunitaacuteria 200129CE de 22 de Maio de 2001 relativa ao direito de autor na sociedade

da informaccedilatildeo

Por outro lado e por se considerar mais adequado no plano sistemaacutetico o texto do

projecto de lei procede a um tratamento diferenciado entre a designada reprografia e a

coacutepia privada stricto sensu agrave semelhanccedila do que consta na directiva europeia No caso da

reprografia mantecircm-se o direito reconhecido na legislaccedilatildeo portuguesa aos editores

conquanto limitado ao mundo analoacutegico conforme estipula a aliacutenea b) do nordm 1 do artigo

76ordm do CDADC O texto do projecto lei actualiza ainda a noccedilatildeo de reprografia adaptando

a normaccedilatildeo agraves novas realidades tecnoloacutegicas criadas com o ambiente digital

Para a reprografia e no seguimento da referida alteraccedilatildeo dos criteacuterios definidores da

aplicaccedilatildeo da compensaccedilatildeo equitativa altera-se a taxa de 3 sobre o preccedilo de venda dos

equipamentos que permitem a reproduccedilatildeo ateacute agora vigente adoptando-se um modelo

assente na indicaccedilatildeo do montante pecuniaacuterio concreto aplicaacutevel a cada equipamento em

funccedilatildeo das respectivas caracteriacutesticas e preccedilo Trata-se de uma modalidade que se julga

melhor adaptada ao funcionamento do mercado sendo o novo texto mais claro ao prever

uma incidecircncia universal sobre os aparelhos que realizam essa funccedilatildeo

165

Os equipamentos e suportes analoacutegicos e digitais abrangidos pelo regime satildeo identificados

em anexo agrave proposta As taxas propostas de acordo com a capacidade de reproduccedilatildeo e

armazenagem dos suportes correspondem a valores justos e razoaacuteveis na busca sempre

difiacutecil de obtenccedilatildeo de um justo equiliacutebrio entre os interesses contraditoacuterios em presenccedila

Nestes casos os devedores principais do pagamento das compensaccedilotildees equitativas satildeo os

fabricantes e importadores de equipamentos e suportes de reproduccedilatildeo de obras

intelectuais A tiacutetulo subsidiaacuterio e no sentido de moralizar o sistema evitando-se fugas

regulares ao cumprimento das obrigaccedilotildees institui-se tambeacutem como devedores os

distribuidores grossistas e retalhistas dos indicados aparelhos

Quanto ao valor da taxa a aplicar sobre o preccedilo das fotocoacutepias relativas a obras protegidas

tambeacutem este deixa de ser definido com base numa taxa de 3 passando a ser fixada em

002 euros por coacutepia O valor indicado teve em conta que o preccedilo habitual no mercado de

uma coacutepia varia entre 006 e 008 euros pelo que parece justo que cerca de 14 dessa

quantia reverta a favor de autores e editores O objectivo desta soluccedilatildeo relativamente

inovadora mesmo na Uniatildeo Europeia eacute o de alcanccedilar um modo que garanta aos autores e

editores uma efectiva percepccedilatildeo de uma compensaccedilatildeo equitativa realmente operativa o que

natildeo aconteceu ateacute hoje

Este modelo eacute ainda complementado com integraccedilatildeo dos respectivos procedimentos num

regime de celebraccedilatildeo de acordos entre os estabelecimentos que se dedicam agrave reprografia e a

entidade gestora das compensaccedilotildees que se julga mais simples e adequado para todos os

intervenientes Em ordem a facilitar a celebraccedilatildeo destes acordos prevecirc-se que seja definido

por portaria um modelo de acordo a utilizar pelos intervenientes no acircmbito das suas

negociaccedilotildees

Prevecirc-se numa outra medida inovadora de largo alcance que as compensaccedilotildees de autores e

de artistas natildeo possam ser renunciaacuteveis e objecto de alienaccedilatildeo assim indo ao encontro

tambeacutem dos que reclamam uma maior e mais efectiva protecccedilatildeo para os criadores e para a

criaccedilatildeo cultural Conquanto naturalmente se reconheccedila que as faculdades patrimoniais na

propriedade intelectual possam na generalidade ser cedidas ou transmitidas a verdade eacute que

166

existem jaacute hoje excepccedilotildees sendo que nada impede que o regime da coacutepia privada possa

contemplar essa previsatildeo

Prevecirc-se ainda que na reparticcedilatildeo das remuneraccedilotildees atribuiacutedas aos autores no domiacutenio da

reprografia os autores de obras cientiacuteficas e escolares sejam contemplados com 75 das

receitas liacutequidas obtidas o que se considera justo uma vez que a reprografia tem uma

especial incidecircncia neste tipo de obras

A presente proposta manteacutem a tradiccedilatildeo de a cobranccedila gestatildeo e distribuiccedilatildeo das

compensaccedilotildees equitativas ser assegurada mediante a gestatildeo colectiva obrigatoacuteria o que eacute

comum na UE

No sentido de garantir um regime de rigor e de maior transparecircncia no exerciacutecio da gestatildeo

colectiva contempla-se a previsatildeo de que a pessoa colectiva gestora da reprografia e da

coacutepia privada natildeo deve gastar nas despesas de funcionamento mais do que 20 do volume

global de receitas obtidas em cada exerciacutecio anual

Prevecirc-se que a reprografia e a coacutepia privada sejam geridas por uma uacutenica pessoa colectiva e

natildeo duas Haacute a percepccedilatildeo de que no mercado nacional muito dificilmente seraacute possiacutevel

garantir com viabilidade econoacutemica duas entidades ainda por cima num contexto

econoacutemico deprimido nos proacuteximos tempos Por outro lado importa considerar os

dinamismos existentes agrave escala europeia que vatildeo no sentido da concentraccedilatildeocentralizaccedilatildeo

da gestatildeo colectiva aspecto reclamado por titulares de direitos e utilizadoresconsumidores

de obras protegidas

Prevecirc-se ainda o recurso agrave mediaccedilatildeo e arbitragem em caso de emergecircncia de litiacutegios por se

considerar este meio bastante mais ceacutelere do que o tribunal sendo apropriado agrave resoluccedilatildeo

das controveacutersias que surjam neste domiacutenio de actividade

Por fim mas natildeo menos importantes e embora natildeo directamente abrangido pelo regime da

coacutepia privada aproveita-se a oportunidade para dar nova redacccedilatildeo ao artigo 47ordm do Coacutedigo

de Direitos de Autor e dos Direitos Conexos visando aplicar agraves penhoras que incidam

sobre rendimentos dos autores o regime aplicaacutevel aos rendimentos auferidos no acircmbito de

contratos de trabalho clarificando-se uma situaccedilatildeo que ateacute agora suscitava dificuldades

167

interpretativas nos tribunais geradoras nalguns casos de decisotildees lesivas de justas

expectativas dos criadores intelectuais Trata-se de uma medida justa particularmente no

actual contexto de crise econoacutemica reclamada pelos autores e inclusivamente jaacute

recomendada pelo Provedor de Justiccedila

Assim nos termos constitucionais legais e regimentais aplicaacuteveis os deputados do Partido

Socialista abaixo-assinados apresentam o presente

PROJECTO DE LEI

Artigo 1ordm

Regime juriacutedico da coacutepia privada

Eacute aprovado o regime juriacutedico da coacutepia privada que se publica em anexo agrave presente lei e dela

faz parte integrante

Artigo 2ordm

Alteraccedilatildeo ao Coacutedigo do Direito de Autor e dos Direitos Conexos

O artigo 47ordm do Coacutedigo do Direito de Autor e dos Direitos Conexos aprovado pelo

Decreto-Lei nordm 6385 de 14 de Marccedilo na redacccedilatildeo dada pelas Leis nordms 4585 de 17 de

Setembro e 11491 de 3 de Setembro pelos Decretos-Lei nordms 33297 e 33497 ambos

de 27 de Novembro e pelas Leis nordm 502004 de 24 de Agosto e nordm 162008 de 1 de

Abril passa a ter a seguinte redacccedilatildeo

1-[Anterior nuacutemero uacutenico]

laquoArtigo 47ordm

[hellip]

2ndash Em caso de penhora do direito patrimonial do criador da obra aplica-se o regime fixado

para os rendimentos provenientes do trabalho por conta de outremraquo

Artigo 3ordm

Revogaccedilatildeo

Eacute revogada a Lei nordm 6298 de 1 de Setembro

168

Artigo 4ordm

Disposiccedilatildeo transitoacuteria

1 ndash A entidade gestora das compensaccedilotildees mandatada e legitimada para proceder agrave

cobranccedila gestatildeo e distribuiccedilatildeo das compensaccedilotildees agrave data da entrada em vigor da presente

lei manteacutem-se em actividade devendo rever os respectivos estatutos no prazo de 45 dias

apoacutes a entrada em vigor da presente lei

2 ndash As licenccedilas ou acordos celebrados nos termos da Lei nordm 6298 de 1 de Setembro

mantecircm-se em vigor devendo ser adaptados ao disposto no artigo 7ordm do regime juriacutedico da

coacutepia privada anexo agrave presente lei no prazo de 90 dias apoacutes a entrada em vigor da presente

lei

3 - As entidades abrangidas pelo artigo 7ordm do regime juriacutedico da coacutepia privada anexo agrave

presente lei cujo inicio de actividade se iniciou em data anterior agrave entrada em vigor da

presente lei e que natildeo celebraram acordo ou licenccedila ao abrigo da Lei nordm 6298 de 1 de

Setembro devem celebrar os acordos no prazo de 90 dias apoacutes a entrada em vigor da

presente lei

Artigo 5ordm Entrada em vigor

A presente lei entra em vigor trinta dias apoacutes a data da sua publicaccedilatildeo

169

ANEXO

REGIME JURIacuteDICO DA COacutePIA PRIVADA

Artigo 1ordm

(Objecto)

1 - O presente regime regula o artigo 82ordm do Coacutedigo do Direito de Autor e dos Direitos

Conexos aprovado pelo Decreto-Lei nordm 6385 de 14 de Marccedilo na redacccedilatildeo dada pelas

Leis nordms 4585 de 17 de Setembro e 11491 de 3 de Setembro pelos Decretos-Lei nordms

33297 e 33497 ambos de 27 de Novembro e pelas Leis nordm 502004 de 24 de Agosto e

nordm 162008 de 1 de Abril

2 - O disposto no presente regime natildeo se aplica aos programas de computador nem agraves

bases de dados constituiacutedas por meios electroacutenicos

Artigo 2ordm

Compensaccedilatildeo equitativa

Os titulares de direitos autores editores artistas inteacuterpretes ou executantes produtores de

fonogramas e de videogramas gozam do direito agrave percepccedilatildeo de uma compensaccedilatildeo

equitativa pela reproduccedilatildeo de obras protegidas para fins de uso privado nos termos

previstos no presente regime

Artigo 3ordm

(Compensaccedilatildeo equitativa pela reprografia de obras)

1 - Os autores gozam do direito agrave percepccedilatildeo de uma compensaccedilatildeo equitativa pela

reproduccedilatildeo de obras escritas em papel ou suporte semelhante realizada por qualquer tipo

de teacutecnica designadamente por meio de microfilmagem fotocoacutepia digitalizaccedilatildeo ou outros

processos de natureza similar

2 - A compensaccedilatildeo prevista no nuacutemero anterior eacute extensiva aos editores no acircmbito

analoacutegico e repartida em partes iguais

3 - A compensaccedilatildeo equitativa corresponde a uma quantia fixa a incluir pelos fabricantes

importadores e adquirentes intracomunitaacuterios antes da aplicaccedilatildeo de IVA no preccedilo de

venda de todos os equipamentos aparelhos ou quaisquer outros instrumentos teacutecnicos

integrados ou natildeo em multi-funccedilotildees que permitam a reproduccedilatildeo por qualquer teacutecnica ou

processo de obras escritas em suporte de papel ou semelhante nos termos da tabela anexa

ao presente regime

170

4 - Os autores e editores gozam ainda em partes iguais do direito agrave percepccedilatildeo a uma

compensaccedilatildeo equitativa pela comercializaccedilatildeo de reproduccedilotildees em papel ou suporte

semelhante realizadas de modo habitual e para servir o puacuteblico

5 - A compensaccedilatildeo prevista no nuacutemero anterior corresponde a 002 euros por cada paacutegina

antes da aplicaccedilatildeo de IVA e deve ser incluiacuteda no preccedilo de venda ou da disponibilizaccedilatildeo de

reproduccedilotildees de obras protegidas

6 - Da compensaccedilatildeo percebida pelos autores ao abrigo do presente artigo 75 eacute destinada

aos autores de obras cientiacuteficas e escolares

Artigo 4ordm

Compensaccedilatildeo equitativa por outras reproduccedilotildees

1 - A reproduccedilatildeo de obras literaacuterias e artiacutesticas protegidas sonoras e audiovisuais

prestaccedilotildees artiacutesticas fonogramas e videogramas realizada para fins de uso privado

constitui os titulares de direitos autores artistas inteacuterpretes ou executantes produtores de

fonogramas e de videogramas no direito agrave percepccedilatildeo de uma compensaccedilatildeo equitativa

2 ndash A compensaccedilatildeo prevista no nuacutemero anterior eacute determinada em funccedilatildeo da capacidade

de armazenamento dos equipamentos aparelhos dispositivos e suportes que permitem a

referida reproduccedilatildeo e corresponde a uma quantia fixa que acresce ao preccedilo de venda

destes estabelecido pelos fabricantes importadores e adquirentes intracomunitaacuterios antes

da aplicaccedilatildeo de IVA nos termos da lista anexa ao presente regime

3 - O montante global da compensaccedilatildeo equitativa eacute distribuiacutedo pelas entidades

representativas dos titulares de direitos na proporccedilatildeo de 40 para os autores 30 para os

artistas inteacuterpretes ou executantes e 30 para os produtores de fonogramas e de

videogramas

4 - O disposto nos nuacutemeros anteriores natildeo se aplica aos titulares de direitos que faccedilam uso

de medidas eficazes de caraacutecter tecnoloacutegico previstas no artigo 217ordm do Coacutedigo do Direito

de Autor e dos Direitos Conexos

Artigo 5ordm

Inalienabilidade e irrenunciabilidade

A compensaccedilatildeo equitativa de autores e de artistas inteacuterpretes ou executantes eacute inalienaacutevel e

irrenunciaacutevel sendo nula qualquer claacuteusula contratual em contraacuterio

171

Artigo 6ordm

Isenccedilotildees

1 ndash Estatildeo isentos do pagamento das compensaccedilotildees previstas nos artigos 3ordm e 4ordm os

equipamentos e suportes adquiridos por pessoas colectivas puacuteblicas ou privadas nas

seguintes condiccedilotildees

a) Cujo objecto de actividade seja a comunicaccedilatildeo audiovisual ou produccedilatildeo de

fonogramas e de videogramas exclusivamente para as suas proacuteprias produccedilotildees

b) Cujo objecto de actividade seja o apoio a pessoas portadoras de diminuiccedilatildeo fiacutesica

visual ou auditiva

2 - Para os efeitos do disposto no nuacutemero anterior as pessoas colectivas devem apresentar

no acto da compra dos aparelhos e suportes uma declaraccedilatildeo emitida pela entidade gestora

das compensaccedilotildees e cobranccedila indicando e comprovando o respectivo objecto de

actividade

Artigo 7ordm

Acordos

1 ndash Para efeitos do disposto no nordm 4 do artigo 3ordm as pessoas singulares ou colectivas com

ou sem fins lucrativos que procedam agrave venda de reproduccedilotildees em papel ou suporte

semelhante de obras legalmente protegidas nos termos previstos no presente regime

devem celebrar um acordo com a entidade gestora das compensaccedilotildees legalmente

constituiacuteda segundo o modelo a aprovar por portaria do membro do Governo responsaacutevel

pela aacuterea da cultura

2 - Os acordos devem ter por base a previsatildeo do nuacutemero de fotocoacutepias de obras protegidas a

realizar no periacuteodo de tempo correspondente agrave validade do acordo os custos envolvidos os

termos e formas de pagamento das quantias devidas e a indicaccedilatildeo sempre que possiacutevel do

tipo de obras a reproduzir

3 - Os acordos devem ser celebrados no prazo de 45 dias a contar do inicio de actividade

das pessoas singulares ou colectivas responsaacuteveis pelo pagamento da compensaccedilatildeo

equitativa

4 ndash Na falta de acordo devem as partes recorrer ao mecanismo de mediaccedilatildeo e arbitragem

previsto no artigo 10ordm

172

Artigo 8ordm

Gestatildeo e publicidade

1 - A compensaccedilatildeo equitativa torna-se efectiva atraveacutes da entidade gestora das

compensaccedilotildees representativa dos titulares de gestatildeo de direitos que procede agrave cobranccedila

gestatildeo e distribuiccedilatildeo das compensaccedilotildees

2 ndash A entidade gestora das compensaccedilotildees deve publicitar trimestralmente na respectiva

paacutegina electroacutenica os montantes distribuiacutedos a cada um dos associados com a respectiva

identificaccedilatildeo e natureza da compensaccedilatildeo

3 - Os associados da entidade gestora devem publicitar semestralmente os montantes

distribuiacutedos aos beneficiaacuterios da compensaccedilatildeo equitativa

Artigo 9ordm

Responsaacuteveis pela compensaccedilatildeo equitativa

1 - Para efeitos do disposto nos artigos 3ordm e 4ordm satildeo responsaacuteveis pelo pagamento das

compensaccedilotildees incidentes sobre equipamentos aparelhos e suportes os fabricantes e

importadores portugueses destes produtos desde que estes natildeo se destinem a exportaccedilatildeo

ou reexportaccedilatildeo

2 ndash Satildeo solidariamente responsaacuteveis pelo pagamento da remuneraccedilatildeo os distribuidores

grossistas e retalhistas adquirentes sucessivos para venda ao puacuteblico dos equipamentos

aparelhos e suportes salvo se provarem que procederam ao respectivo pagamento

3 - Para os efeitos do disposto nos nuacutemeros anteriores os responsaacuteveis pelo pagamento

submetem agrave entidade gestora das compensaccedilotildees e agrave Inspecccedilatildeo-Geral das Actividades

Culturais (IGAC) uma declaraccedilatildeo de autoliquidaccedilatildeo no mecircs subsequente ao termo de cada

trimestre de cada ano civil onde constem os seguintes elementos

a) Nuacutemero de unidades vendidas no mercado nacional

b) Preccedilo de venda liacutequido de quaisquer descontos de natureza financeira ou comercial

constantes das facturas antes de aplicaccedilatildeo de IVA para o caso dos equipamentos e

aparelhos que permitem a reproduccedilatildeo de obras protegidas

c) Capacidade e caracteriacutesticas teacutecnicas dos suportes materiais e dispositivos de

armazenamento que permitem a reproduccedilatildeo de obras protegidas

d) Nuacutemero de unidades vendidas suportes materiais e dispositivos de

armazenamento em regime de isenccedilatildeo e respectiva capacidade e caracteriacutesticas teacutecnicas

bem como o respectivo preccedilo de venda

e) Nuacutemero de unidades vendidas para paiacuteses da Uniatildeo Europeia e paiacuteses terceiros

173

f) Valor da remuneraccedilatildeo liquidada e a entregar

4 ndash As entidades devedoras e as solidariamente responsaacuteveis devem manter pelo periacuteodo

de 3 anos os elementos contabiliacutesticos que comprovem a liquidaccedilatildeo cobranccedila entrega e o

pagamento da compensaccedilatildeo equitativa devida

5 - Para efeitos do controlo do pagamento da compensaccedilatildeo os responsaacuteveis devem

discriminar separadamente o respectivo valor no documento contabiliacutestico antes da

aplicaccedilatildeo do IVA sob pena de se presumir a falta de liquidaccedilatildeo e cobranccedila

6 - No caso dos responsaacuteveis principais natildeo procederem agrave liquidaccedilatildeo e pagamento da

compensaccedilatildeo equitativa incumbe essa obrigaccedilatildeo aos distribuidores grossistas e retalhistas

devendo proceder agrave discriminaccedilatildeo dos valores cobrados na factura nos termos do nuacutemero

anterior

7 - O pagamento da compensaccedilatildeo liquidada nos termos dos nuacutemeros anteriores deve ser

efectuado no prazo de 45 dias apoacutes o termo de cada trimestre do ano civil

8 - A entidade gestora das compensaccedilotildees representativa dos titulares de direitos pode

solicitar aos responsaacuteveis pelo pagamento da compensaccedilatildeo as informaccedilotildees necessaacuterias agrave

comprovaccedilatildeo do cumprimento efectivo das obrigaccedilotildees enunciadas sem prejuiacutezo dos

princiacutepios da confidencialidade e sigilo comerciais

Artigo 10ordm

Mediaccedilatildeo e Arbitragem

Os litiacutegios emergentes da aplicaccedilatildeo do disposto no presente regime devem ser submetidos

para resoluccedilatildeo agrave mediaccedilatildeo e arbitragem necessaacuteria nos termos da legislaccedilatildeo geral aplicaacutevel

Artigo 11ordm

Entidade Gestora

1 ndash A cobranccedila gestatildeo e distribuiccedilatildeo das compensaccedilotildees previstas no presente regime satildeo

realizadas por uma entidade gestora das compensaccedilotildees colectiva uacutenica criada nos termos

da lei que regula a constituiccedilatildeo das entidades de gestatildeo colectiva

2 - Para aleacutem das obrigaccedilotildees previstas na legislaccedilatildeo geral os estatutos da entidade gestora

das compensaccedilotildees prevista no nuacutemero anterior devem regular

a) Meacutetodos de cobranccedila das compensaccedilotildees fixadas no presente regime

b) Criteacuterios de reparticcedilatildeo distribuiccedilatildeo e pagamento das compensaccedilotildees obtidas aos seus

associados e a outros beneficiaacuterios que natildeo sendo associados da entidade gestora se

presume serem por aquela representados

174

c) Natildeo discriminaccedilatildeo entre titulares nacionais e estrangeiros

d) Publicidade das deliberaccedilotildees sociais

e) Direitos e deveres dos associados

f) Estrutura e organizaccedilatildeo interna contemplando dois departamentos autoacutenomos

respectivamente para a reprografia e para a coacutepia privada

3 - A entidade gestora deve prever mecanismos de integraccedilatildeo de outras entidades

representativas de interesses e direitos a proteger que assim o solicitem em obediecircncia aos

princiacutepios da igualdade representatividade liberdade pluralismo e participaccedilatildeo

4 - Os custos de funcionamento da entidade gestora das compensaccedilotildees natildeo devem exceder

20 do conjunto das receitas globais obtidas com a cobranccedila das compensaccedilotildees

equitativas

5 - O conselho fiscal da entidade gestora das compensaccedilotildees eacute assegurado por um revisor

oficial de contas (ROC)

6 - A entidade gestora das compensaccedilotildees publica anualmente o relatoacuterio e contas do

exerciacutecio no seu sitio electroacutenico

7 - A entidade gestora das compensaccedilotildees pode celebrar com entidades puacuteblicas e privadas

os acordos necessaacuterios agrave plena execuccedilatildeo do disposto no presente regime

8 - A entidade gestora das compensaccedilotildees constituiacuteda para proceder agrave cobranccedila e gestatildeo das

compensaccedilotildees equitativas deve adaptar-se agraves disposiccedilotildees legais que enquadram a actividade

das entidades de gestatildeo colectiva de direitos e que se adaptem agrave sua natureza em tudo o

que natildeo esteja regulado no presente regime

Artigo 12ordm

Fundo Cultural

1 - A entidade gestora das compensaccedilotildees deve afectar 10 do total das receitas liacutequidas

percebidas agrave realizaccedilatildeo de acccedilotildees de natureza cultural ou social de incentivo agrave criaccedilatildeo

cultural e agrave divulgaccedilatildeo e estudo da propriedade intelectual

2 - A entidade gestora das compensaccedilotildees deve afectar ainda 5 do total das receitas

liacutequidas percebidas ao Fundo de Fomento Cultural do Ministeacuterio da Cultura enquanto

receita proacutepria deste consignada ao pagamento do Subsiacutedio de Meacuterito Cultural previsto no

Decreto-Lei nordm 41582 de 7 de Outubro

175

Artigo 13ordm

Fiscalizaccedilatildeo

1 - A fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do disposto no presente regime compete agrave IGAC

2 - Para o efeito previsto no nuacutemero anterior a entidade gestora das compensaccedilotildees deve

proceder ao pagamento de uma taxa correspondente a 10 do valor dos respectivos custos

de funcionamento

Artigo 14ordm

(Contra-Ordenaccedilotildees)

1 - Constituem contra-ordenaccedilatildeo puniacutevel com coima de euro300 a euro3000 no caso de pessoas

singulares e de euro1200 a euro30000 no caso de pessoas colectivas as seguintes infracccedilotildees

a) A venda de equipamentos aparelhos e suportes em violaccedilatildeo do disposto no nordm 3 do artigo

3ordm

b) A inobservacircncia do disposto no nordm 3 do artigo 4ordm

c) O natildeo cumprimento do disposto nos nordms 4 e 5 do artigo 3ordm atraveacutes de um acordo

celebrado nos termos do artigo 7ordm quando natildeo esteja em curso um processo de mediaccedilatildeo

e arbitragem nos termos do artigo 10ordm

d) A aquisiccedilatildeo com isenccedilatildeo de equipamentos e suportes em violaccedilatildeo do disposto do nordm 2 do

artigo 6ordm

e) O incumprimento do disposto nos nordms 2 e 3 do artigo 8ordm

f) O incumprimento do disposto nos nordm 3 a 7 do artigo 9ordm

2 - Em caso de reincidecircncia os limites miacutenimo e maacuteximo da coima satildeo elevados em um

terccedilo do respectivo valor natildeo podendo o montante da coima concretamente aplicada ser

inferior ao valor da coima aplicada pela infracccedilatildeo anterior

3 ndash Os factos praticados com negligecircncia satildeo puniacuteveis sendo os limites miacutenimos e

maacuteximos das respectivas coimas reduzidos a metade

4 - A fiscalizaccedilatildeo do cumprimento das disposiccedilotildees constantes no presente regime a

instruccedilatildeo do processo incluindo a realizaccedilatildeo de exames periciais e a aplicaccedilatildeo das coimas

compete agrave IGAC e a todas as autoridades de natureza policial e administrativa com

competecircncias de fiscalizaccedilatildeo

5 - O produto da aplicaccedilatildeo das coimas previstas no presente artigo constitui receita do

Estado e da entidade aplicadora da coima nas percentagens de 60 e 40

respectivamente

176

Tabela a que se refere o nordm 3 do artigo 3ordm

Compensaccedilatildeo sobre aparelhos equipamentos e instrumentos teacutecnicos de reproduccedilatildeo de obras escritas

MFC JACTO TINTA MFC LASER

VELOCIDADE DE COPIA

ateacute 9 cpm 10-29 cpm 30-49 cpm 50-69 cpm 70 ou + cpm Ateacute 17 kg Ateacute 17 kg

euro 795

euro 1000

euro 1300

euro 12770

euro 16900

euro 19700

euro 22700

cpm - copia por minuto

Equipamentos multifunccedilotildees de secretaacuteria de impressatildeo a jacto de tinta com ecratilde de reproduccedilatildeo cujo peso natildeo supere os 17 quilos

com capacidade para realizar pelo menos duas das seguintes funccedilotildees coacutepia impressatildeo fax ou digitalizaccedilatildeo Quando supere

este peso seraacute considerado como equipamento ou aparelho com capacidade de coacutepia e classificado de acordo com a respectiva

velocidade standard de reproduccedilatildeo

Equipamentos multifunccedilotildees de secretaacuteria de impressatildeo a laser com ecratilde de reproduccedilatildeo cujo peso natildeo supere os 17 quilos com

capacidade para realizar pelo menos duas das seguintes funccedilotildees coacutepia impressatildeo fax ou digitalizaccedilatildeo Quando supere este peso seraacute

considerado como equipamento ou aparelho com capacidade de coacutepia e classificado de acordo com a respectiva velocidade

standard de reproduccedilatildeo

177

Lista a que se refere o nordm 2 do artigo 4ordm Compensaccedilatildeo sobre aparelhos dispositivos e

suportes

EQUIPAMENTOS E APARELHOS

a) Equipamentos e aparelhos analoacutegicos de reproduccedilatildeo de obras protegidas nos termos do presente regime

1 - Gravadores aacuteudio ndash euro 060 unidade

2 - Gravadores viacutedeo ndash euro 060 unidade

b) Equipamentos e aparelhos digitais de reproduccedilatildeo ao de obras protegidas nos termos do presente regime

1 - Gravadores de discos compactos especiacuteficos (CD) - euro2 unidade

2 - Gravadores de discos versaacuteteis especiacuteficos - euro3 unidade 3 - Gravadores mistos de discos compactos (CD e DVD) - euro 4 unidade

SUPORTES E DISPOSITIVOS DE ARMAZENAMENTO

a) Suportes materiais analoacutegicos como cassetes aacuteudio ou similares ndash euro006 hora de

gravaccedilatildeo

b) Suportes materiais analoacutegicos como cassetes viacutedeo ou similares ndash euro008 hora de

gravaccedilatildeo

a) Discos compactos (CD) natildeo regravaacuteveis ndash euro003 por cada GB de capacidade de

armazenamento

b) Discos compactos regravaacuteveis (CD-RW) ndash euro 005 por cada GB de capacidade de armazenamento

c) Discos versaacuteteis natildeo regravaacuteveis - euro 003 por cada GB de capacidade de

armazenamento

d) Discos versaacuteteis regravaacuteveis - euro 005 por cada GB de capacidade de

armazenamento

e) Memoacuterias USB e outros suportes como cartotildees de memoacuteria natildeo integrados noutros dispositivos - euro 006 por cada GB de capacidade de armazenamento

f) Memoacuterias USB e outros suportes como cartotildees de memoacuteria integrados noutros dispositivos - euro 006 por cada GB de capacidade de armazenamento

g) Para suportes ou dispositivos de armazenamento como discos externos

denominados bdquomultimeacutedia‟ ou outros que disponham de uma ou mais saiacutedas e entradas

178

de aacuteudio e ou viacutedeo que permitam o registo de sons e ou imagens

179

animadas sem que seja necessaacuterio utilizar um microcomputador ou quaisquer outros

equipamentos ou aparelhos para desempenhar a funccedilatildeo de reproduccedilatildeo de obras ndash euro006

por cada GB de capacidade de armazenamento

h) Discos riacutegidos ou outros tipos de memoacuterias natildeo volaacuteteis integrados em equipamentos ou aparelhos com capacidade a partir de 150 GB e que permitam o

armazenamento de dados em massa ndash 002 por cada GB de capacidade mais 0005 por cada GB que acresccedila a capacidade de 1TB

i) Outros tipos de suportes ou dispositivos de armazenamento como os discos riacutegidos externos ou SSD com ou sem saiacutedas aacuteudio e ou viacutedeo e que dependam do emprego de um microcomputador ou de outros equipamentos ou aparelhos para desempenhar a funccedilatildeo de reproduccedilatildeo de obras - 002 por cada GB de capacidade mais 0005 por cada GB que acresccedila a capacidade de 1TB

j) Dispositivos de reproduccedilatildeo de fonogramas videogramas ou outros conteuacutedos sonoros visuais ou audiovisuais em formato comprimido integrados ou

natildeo noutros aparelhos ou equipamentos como os telemoacuteveis ndash euro 050 por cada GB de capacidade de armazenamento

Os Deputados

180

ANEXO 3

181

PROJETO DE LEI

Altera e acresce dispositivos agrave Lei nordm 9610

de 19 de fevereiro de 1998 que altera

atualiza e consolida a legislaccedilatildeo sobre

direitos autorais e daacute outras providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA - Faccedilo saber que o Congresso decretou e eu

sanciono a seguinte Lei

Art 1ordm A Lei nordm 9610 de 19 de fevereiro de 1998 passa a vigorar com as seguintes

alteraccedilotildees

ldquoArt1ordm

Paraacutegrafo uacutenico A interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo desta Lei atenderatildeo agraves finalidades de

estimular a criaccedilatildeo intelectual e a diversidade cultural e garantir a liberdade de

expressatildeo e orientar-se-atildeo pelos ditames constitucionais de proteccedilatildeo aos direitos

autorais em equiliacutebrio com os demais direitos fundamentais e os direitos sociaisrdquo (NR)

ldquoArt4ordm Os negoacutecios juriacutedicos relativos aos direitos autorais devem ser

interpretados restritivamente de forma a atender agrave finalidade especiacutefica para a

qual foram celebrados

sect 1ordm Nos contratos realizados com base nesta Lei as partes contratantes satildeo

obrigadas a observar durante a sua execuccedilatildeo bem como em sua conclusatildeo os

princiacutepios da

probidade e da boa-feacute cooperando mutuamente para o cumprimento da funccedilatildeo social do

contrato

e para a satisfaccedilatildeo de sua finalidade e das expectativas comuns e de cada uma das

partes

sect 2o Nos contratos de execuccedilatildeo continuada ou diferida qualquer uma das partes

poderaacute pleitear sua revisatildeo ou resoluccedilatildeo por onerosidade excessiva quando para a

outra parte

decorrer extrema vantagem em virtude de acontecimentos extraordinaacuterios e

imprevisiacuteveis

sect 3o Eacute anulaacutevel o contrato quando o titular de direitos autorais sob premente

necessidade ou por inexperiecircncia tenha se obrigado a prestaccedilatildeo manifestamente

desproporcional

ao valor da prestaccedilatildeo oposta podendo natildeo ser decretada a anulaccedilatildeo do negoacutecio se for

oferecido

suplemento suficiente ou se a parte favorecida concordar com a reduccedilatildeo do proveito

sect 4ordm No contrato de adesatildeo adotar-se-aacute a interpretaccedilatildeo mais favoraacutevel ao autorrdquo

(NR)

ldquoArt 5o

182

III - retransmissatildeo ndash a emissatildeo simultacircnea da transmissatildeo

IV - distribuiccedilatildeo - a oferta ao puacuteblico de original ou coacutepia de obras literaacuterias artiacutesticas

ou cientiacuteficas interpretaccedilotildees ou execuccedilotildees fixadas e fonogramas em um meio tangiacutevel

mediante a venda locaccedilatildeo ou qualquer outra forma de transferecircncia de propriedade ou

posse

VIII-

i) audiovisual ndash a obra que resulta da associaccedilatildeo de imagens com ou sem som que tenha

a finalidade de criar a impressatildeo de movimento independentemente dos processos de

sua captaccedilatildeo do suporte usado inicial ou posteriormente para fixaacute-lo bem como dos

meios utilizados para sua veiculaccedilatildeo

IX ndash fonograma ndash toda fixaccedilatildeo exclusivamente de sons de uma execuccedilatildeo ou

interpretaccedilatildeo ou de outros sons ou de uma representaccedilatildeo de sons

XII ndash radiodifusatildeo ndash a transmissatildeo sem fio realizada por empresa concessionaacuteria

permissionaacuteria ou autorizataacuteria do serviccedilo de radiodifusatildeo cuja recepccedilatildeo do sinal

ou onda radioeleacutetrica pelo puacuteblico ocorra de forma livre e gratuita ressalvados os casos

em que a Lei exige a autorizaccedilatildeo

XIII ndash artistas inteacuterpretes ou executantes ndash todos os atores cantores muacutesicos bailarinos

ou outras pessoas que representem um papel cantem recitem declamem interpretem

ou executem em qualquer forma obras literaacuterias ou artiacutesticas ou expressotildees culturais

tradicionais

XIV ndash licenccedila ndash a autorizaccedilatildeo preacutevia dada pelo autor ou titular de direitos patrimoniais

mediante remuneraccedilatildeo ou natildeo para exercer certos direitos de explorar ou utilizar

a obra intelectual nos termos e condiccedilotildees fixados na licenccedila sem que se caracterize

transferecircncia de titularidade dos direitos

XV - cessatildeo ndash ato por meio do qual se transfere total ou parcialmente com

exclusividade a titularidade de direitos autorais em caraacuteter temporaacuterio ou definitivo

garantido ao cessionaacuterio a prerrogativa de reivindicar para si os direitos patrimoniais

dele decorrentes e agir em defesa do objeto da cessatildeordquo(NR)

ldquoArt 7ordm

X ndash os projetos esboccedilos e obras de artes visuais concernentes agrave geografia

engenharia topografia arquitetura paisagismo cenografia e ciecircncia

XI - as adaptaccedilotildees os arranjos as orquestraccedilotildees as traduccedilotildees e outras

transformaccedilotildees de obras originais apresentadas como criaccedilatildeo intelectual nova

ldquoArt8ordm

VIII - as normas teacutecnicas em si mesmas ressalvada a sua proteccedilatildeo em legislaccedilatildeo

especiacutefica rdquo(NR)

ldquoArt 9ordm

183

A coacutepia de obra de artes visuais feita pelo proacuteprio autor eacute assegurada a

mesma proteccedilatildeo de que goza o originalrdquo (NR)

ldquoArt15ordm

sect 1ordm Natildeo se considera co-autor quem simplesmente auxiliou o autor na produccedilatildeo da

obra literaacuteria artiacutestica ou cientiacutefica revendo-a atualizando-a orientando-a bem

como

fiscalizando ou dirigindo sua ediccedilatildeo ou apresentaccedilatildeo por qualquer meio

ldquoArt 16

Satildeo coautores da obra audiovisual o diretor o roteirista e os autores do

argumento literaacuterio e da composiccedilatildeo musical ou literomusical criados especialmente

para a obra

ldquoArt17ordm

sect 4ordm Ao autor cuja contribuiccedilatildeo possa ser utilizada separadamente satildeo asseguradas

todas as faculdades inerentes agrave sua criaccedilatildeo como obra individual vedada poreacutem a

utilizaccedilatildeo que possa acarretar prejuiacutezo agrave exploraccedilatildeo da obra coletivardquo (NR)

ldquoArt 19ordm

Eacute facultado ao autor registrar a sua obra na forma desta Lei

Paraacutegrafo uacutenico Compete ao Poder Executivo federal dispor sobre a forma e as

condiccedilotildees para o registro da obra especificando os oacutergatildeos ou entidades responsaacuteveis

por esse

registro rdquo(NR)

Art 20 Para os serviccedilos de registro previstos nesta Lei seraacute cobrada retribuiccedilatildeo

cujo valor e processo de recolhimento seratildeo estabelecidos em at o do Mi ni st r o de Est

ado da

Cul t ur ardquo (NR)

ldquoArt24ordm

184

sect 1ordm Por morte do autor transmite-se a seus sucessores o exerciacutecio dos direitos a

que se referem os incisos I II III IV e VII enquanto a obra natildeo cair em domiacutenio

puacuteblico

sect 2ordm Compete aos entes federativos aos oacutergatildeos e agraves entidades relacionadas no art 5

da Lei no 7347 de 24 de julho de 1985 a defesa da integridade e autoria da obra

pertencente ao

domiacutenio puacuteblico

sect 3ordm Nos casos dos incisos V e VI ressalvam-se as indenizaccedilotildees a terceiros quando

couberemrdquo (NR)

ldquoArt25ordm

Paraacutegrafo uacutenico Os direitos previstos nos incisos I II e VII do art 24 poderatildeo ser

exercidos de forma individual pelos coautores sobre suas respectivas participaccedilotildeesrdquo

(NR)

ldquoArt28ordm

Paraacutegrafo uacutenico O objeto fundamental da proteccedilatildeo desta lei do ponto de vista

econocircmico eacute a garantia das vantagens patrimoniais resultantes da exploraccedilatildeo das obras

literaacuterias artiacutesticas ou cientiacuteficas em harmonia com os princiacutepios Constitucionais da

atividade econocircmicardquo (NR)

ldquoArt29ordm

V - a inclusatildeo em fonograma ou produccedilatildeo audiovisual que natildeo se caracterize como

obra intelectual

VI

-

VII - a colocaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico da obra por qualquer meio ou processo

de maneira que qualquer pessoa possa a ela ter acesso no tempo e no lugar que

individualmente

escolher

VIII - a comunicaccedilatildeo ao puacuteblico de obra literaacuteria artiacutestica ou cientiacutefica mediante

d) transmissatildeo ou radiodifusatildeo sonora ou televisiva

e) recepccedilatildeo de transmissatildeo ou radiodifusatildeo em locais de frequecircncia coletiva

j) exposiccedilatildeo de obras de artes visuais

185

X ndash a incorporaccedilatildeo em obra audiovisual

XI - quaisquer outras modalidades de utilizaccedilatildeo existentes ou que venham a ser

inventadas

Paraacutegrafo uacutenico No exerciacutecio do direito previsto no inciso VII o titular dos direitos

autorais poderaacute colocar agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico a obra na forma local e pelo tempo que

desejar a

tiacutetulo oneroso ou gratuitordquo (NR)

ldquoArt 30

Em qualquer modalidade de reproduccedilatildeo a quantidade de coacutepias

realizadas por qualquer meio ou processo seraacute informada e controlada cabendo

a quem

reproduzir a obra a responsabilidade de manter os registros que permitam de forma natildeo

onerosa

ao autor ou quem o represente a fiscalizaccedilatildeo do aproveitamento econocircmico da

exploraccedilatildeo

sect1o

sect2ordm No caso de fixaccedilatildeo ou reproduccedilatildeo efecircmera de obra fonograma ou

interpretaccedilatildeo por um organismo de radiodifusatildeo pelos seus proacuteprios meios e para suas

proacuteprias

emissotildees ao vivo ou suas retransmissotildees natildeo se aplica o direito de exclusividade de

reproduccedilatildeordquo(NR)

ldquoArt 36

O direito de utilizaccedilatildeo econocircmica dos escritos publicados pela imprensa

diaacuteria ou perioacutedica com exceccedilatildeo dos assinados ou que apresentem sinal de reserva

pertence ao editor salvo convenccedilatildeo em contraacuterio sem prejuiacutezo do disposto no artigo

17rdquo (NR)

ldquoArt 37

A aquisiccedilatildeo do original de uma obra ou de sua coacutepia realizada por

qualquer meio ou processo natildeo confere ao adquirente qualquer dos direitos

patrimoniais do autor salvo convenccedilatildeo em contraacuterio entre as partes e os casos previstos

nesta Lei rdquo (NR)

ldquoArt 38

O autor tem o direito irrenunciaacutevel e inalienaacutevel de perceber no miacutenimo

trecircs por cento sobre o preccedilo em cada revenda de obra de arte ou manuscrito sendo

originais que houver alienado

sect 1ordm Caso o autor natildeo perceba o seu direito de sequumlecircncia no ato de revenda o

186

vendedor o agente comercial ou o intermediaacuterio que intervenha na transaccedilatildeo eacute

considerado depositaacuterio da quantia a ele devida pelo prazo prescricional previsto nesta

Lei

sect 2ordm O vendedor o leiloeiro o agente comercial ou outro intermediaacuterio que

intervenha na transaccedilatildeo conforme o caso fica obrigado a guardar pelo prazo de 10

anos da alienaccedilatildeo todos os dados referentes ao negoacutecio juriacutedico fornecendo-os ao

autor seus herdeiros ou sucessores quando solicitadosrdquo (NR)

ldquoArt 39

Os direitos patrimoniais do autor natildeo se comunicam salvo disposiccedilatildeo em contraacuterio

firmada em pacto antenupcial ou contrato escrito

Paraacutegrafo uacutenico Tampouco se comunicam no regime da comunhatildeo parcial

aplicaacutevel ao casamento ou agrave uniatildeo estaacutevel os rendimentos resultantes da exploraccedilatildeo dos

direitos patrimoniais salvo disposiccedilatildeo em contraacuterio firmada em pacto antenupcial ou

contrato escritordquo(NR)

ldquoArt 41

Os direitos patrimoniais do autor duram por toda a sua vida e por mais

setenta anos contados de 1o de janeiro do ano subsequumlente ao de seu falecimento

obedecida a

ordem sucessoacuteria da lei civilrdquo (NR)

ldquoArt 44

O prazo de proteccedilatildeo aos direitos patrimoniais sobre obras audiovisuais

fotograacuteficas e coletivas seraacute de setenta anos a contar de 1o de janeiro do ano

subsequumlente ao de sua publicaccedilatildeo

sect 1ordm Em caso de sua natildeo publicaccedilatildeo no prazo de setenta anos apoacutes a realizaccedilatildeo da

obra conta-se o prazo a partir de sua realizaccedilatildeo

sect 2ordm Decorrido o prazo de proteccedilatildeo previsto neste artigo a utilizaccedilatildeo ou exploraccedilatildeo

por terceiros da obra audiovisual ou da obra coletiva natildeo poderaacute ser impedida pela

eventual proteccedilatildeo de direitos autorais de contribuiccedilotildees que possam ser objeto de

exploraccedilatildeo comercial em separadordquo (NR)

ldquoArt45

I

-

II - as de autor desconhecido ressalvada a proteccedilatildeo legal aplicaacutevel agraves expressotildees

culturais tradicionaisrdquo (NR)

ldquoArt46

187

I - a reproduccedilatildeo por qualquer meio ou processo em uma soacute coacutepia e por pessoa

natural para seu uso privado e natildeo comercial de obra legitimamente obtida exceto por

meio de locaccedilatildeo desde que feita a partir de exemplar de obra publicada legalmente

II - a reproduccedilatildeo por qualquer meio ou processo em uma soacute coacutepia para cada

suporte e por pessoa natural para seu uso privado e natildeo comercial de obra

legitimamente obtida

exceto por meio de locaccedilatildeo ou se o acesso agrave obra foi autorizado por um periacuteodo de

tempo limitado desde que feita a partir de original ou coacutepia de obra publicada

legalmente para o fim especiacutefico de garantir a sua portabilidade ou interoperabilidade

III - a reproduccedilatildeo na imprensa de notiacutecias e relatos de acontecimentos que tenham

caraacuteter meramente informativo publicados em diaacuterios ou perioacutedicos com a menccedilatildeo do

nome do autor se assinados e da publicaccedilatildeo de onde foram transcritos

IV - a utilizaccedilatildeo na imprensa de discursos pronunciados em reuniotildees puacuteblicas de

qualquer natureza

V -

VI - as representaccedilotildees recitaccedilotildees declamaccedilotildees exposiccedilotildees exibiccedilotildees e execuccedilotildees

puacuteblicas realizadas no recesso familiar ou quando usadas como recurso didaacutetico-

pedagoacutegico a tiacutetulo de ilustraccedilatildeo em atividades educativas ou de pesquisa no acircmbito

da educaccedilatildeo formal desde que sejam feitas sem finalidade comercial ou intuito de

lucro direto ou indireto e na medida justificada pelo fim a se atingir

VII -

VIII - a utilizaccedilatildeo em quaisquer obras de trechos de obras preexistentes de

qualquer natureza ou de obra integral quando de artes visuais na medida justificada

para o fim a atingir sempre que a utilizaccedilatildeo em si natildeo seja o objetivo principal da

obra nova e que natildeo prejudique a exploraccedilatildeo normal da obra utilizada nem cause

um prejuiacutezo injustificado aos legiacutetimos interesses dos autores

IX - a reproduccedilatildeo a traduccedilatildeo a adaptaccedilatildeo a distribuiccedilatildeo a comunicaccedilatildeo e a

colocaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico de obras para uso exclusivo de pessoas com

deficiecircncia mediante quaisquer formatos acessiacuteveis sempre que a deficiecircncia gerar

necessidade de alteraccedilatildeo do formato com o intuito de efetivar o pleno acesso agrave fruiccedilatildeo

da obra e desde que natildeo haja intuito de lucro direto ou indireto

X ndash reproduccedilatildeo e colocaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico para inclusatildeo em portfoacutelio ou

curriacuteculo profissional na medida justificada por este fim desde que aquele que pretenda

divulgar as obras por tal meio seja um dos autores ou pessoa retratada e apoacutes a

publicaccedilatildeo da obra por aquele que a encomendou

XI - a utilizaccedilatildeo de retratos ou de outra forma de representaccedilatildeo da imagem feitos

sob encomenda quando realizada pelo proprietaacuterio do objeto encomendado natildeo

havendo a

oposiccedilatildeo da pessoa neles representada ou se morta ou ausente de seu cocircnjuge seus

ascendentes ou descendentes

XII ndash a reproduccedilatildeo de palestras conferecircncias e aulas por aqueles a quem elas se

dirigem vedada a publicaccedilatildeo integral ou parcial independentemente do intuito de

lucro sem autorizaccedilatildeo preacutevia e expressa de quem as ministrou

XIII ndash a reproduccedilatildeo necessaacuteria agrave conservaccedilatildeo preservaccedilatildeo e arquivamento de

qualquer obra sem intuito de lucro desde que realizada para bibliotecas arquivos

188

centros de documentaccedilatildeo museus cinematecas e demais instituiccedilotildees museoloacutegicas

na medida justificada pelo fim a se atingir

XIV ndash a citaccedilatildeo em livros jornais revistas ou qualquer outro meio de

comunicaccedilatildeo de passagens de qualquer obra para fins de estudo criacutetica ou polecircmica

na medida justificada para o fim a atingir indicando-se o nome do autor e a origem da

obra

XV ndash a representaccedilatildeo a recitaccedilatildeo a declamaccedilatildeo a exposiccedilatildeo a exibiccedilatildeo e a

execuccedilatildeo puacuteblicas desde que natildeo tenham intuito de lucro direto ou indireto e sejam

para fins de reabilitaccedilatildeo ou terapia em unidades hospitalares que prestem estes serviccedilos

de forma gratuita e exclusivamente para a finalidade a que se destinam

XVI - A comunicaccedilatildeo e a colocaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico de obras intelectuais

por bibliotecas arquivos centros de documentaccedilatildeo museus cinematecas e demais

instituiccedilotildees museoloacutegicas no interior de suas instalaccedilotildees para fins de pesquisa ou

estudos privados desde que atendidas cumulativamente as seguintes condiccedilotildees

a) que a obra faccedila parte de seu acervo permanente

b) que seja obra rara ou natildeo esteja disponiacutevel para a venda ao puacuteblico em liacutengua

portuguesa nos mercados nacional e internacional por 3 anos contados a partir de

sua uacuteltima publicaccedilatildeo

c) para evitar a deterioraccedilatildeo do exemplar

d) que natildeo seja permitida a duplicaccedilatildeo gravaccedilatildeo impressatildeo ou qualquer outra

forma de reproduccedilatildeo ressalvado o disposto no Capiacutetulo IX do Tiacutetulo IV

XVII ndash a execuccedilatildeo musical exclusivamente no decorrer da atividade lituacutergica e

estritamente no interior dos templos religiosos

XVIII ndash a reproduccedilatildeo de obras de artes visuais para fins de publicidade relacionada

agrave exposiccedilatildeo puacuteblica dessas obras na medida em que seja necessaacuteria para

promover o acontecimento excluiacuteda qualquer utilizaccedilatildeo comercial

XIX ndash a exibiccedilatildeo puacuteblica sem finalidade comercial realizada por associaccedilotildees

cineclubistas assim reconhecidas pelo Ministeacuterio da Cultura feita a partir de coacutepia

legalmente obtida exceto por meio de locaccedilatildeo ou empreacutestimo desde que a associaccedilatildeo

natildeo tenha finalidade lucrativa por si proacutepria ou por viacutenculo com empresas ou entidades

e que a exibiccedilatildeo natildeo concorra com a exploraccedilatildeo comercial da obra

XX ndash a execuccedilatildeo e a exibiccedilatildeo puacuteblicas realizadas por micro empresas quando

feitas a partir de recepccedilatildeo de uma transmissatildeo em um uacutenico aparelho de raacutedio ou

televisatildeo do tipo domeacutestico para cujo uso natildeo haja cobranccedila e que essa transmissatildeo natildeo

seja um meio para a atraccedilatildeo de clientela e

XXI - A reproduccedilatildeo a traduccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo de trechos de obras preexistentes

de qualquer natureza ou de obra integral quando de artes visuais ou pequenas

composiccedilotildees como recurso didaacutetico-pedagoacutegico por docentes a tiacutetulo de ilustraccedilatildeo em

atividades educativas ou de pesquisa no acircmbito da educaccedilatildeo formal e na extensatildeo

necessaacuteria para o fim a se atingir desde que esse uso natildeo tenha finalidade comercial

nem intuito de lucro direto ou indireto e que sejam citados o autor e a fonte vedada a

publicaccedilatildeo em forma de apostilas

sect 1ordm O disposto no inciso XVI aplica-se mutatis mutandis para as obras na liacutengua

originalmente adotada pelo autor

sect 2ordm O Poder Judiciaacuterio poderaacute autorizar a utilizaccedilatildeo de obras em casos anaacutelogos

aos incisos desse artigo desde que atendidas cumulativamente as seguintes condiccedilotildees

I ndash natildeo tenha finalidade comercial nem intuito de lucro direto ou indireto

II ndash natildeo concorra com a exploraccedilatildeo comercial da obra e

III ndash que sejam citados o autor e a fonte sempre que possiacutevelrdquo (NR)

189

ldquoArt 48

As obras de artes visuais e arquitetocircnicas permanentemente situadas em

logradouros puacuteblicos podem ser livremente representadas por qualquer meio ou

processo inclusive fotograacutefico ou audiovisualrdquo (NR)

ldquoArt 49

Os direitos de autor poderatildeo ser total ou parcialmente transferidos a

terceiros por ele ou por seus sucessores por prazo determinado ou em definitivo

a tiacutetulo universal ou singular pessoalmente ou por meio de representantes com poderes

especiais pelos meios admitidos em Direito obedecidas as seguintes regras e

especificaccedilotildees

I ndash a cessatildeo total compreende todos os direitos de autor salvo os de natureza moral

e os expressamente excluiacutedos por leirdquo (NR)

ldquoArt 50

A cessatildeo total ou parcial dos direitos de autor que se faraacute sempre por estipulaccedilatildeo

contratual escrita presume-se onerosa

sect 3O Decorrido o prazo previsto no instrumento os direitos autorais retornam

obrigatoriamente ao controle econocircmico do titular originaacuterio ou de seus

sucessores

independentemente de possiacuteveis diacutevidas ou outras obrigaccedilotildees pendentes entre as

partes contratantesrdquo (NR)

ldquoArt 51

A cessatildeo dos direitos de autor sobre obras futuras abrangeraacute no maacuteximo

o periacuteodo de cinco anos contado a partir da data da entrega da obrardquo (NR)

ldquoArt53

sect 1O O contrato de ediccedilatildeo natildeo poderaacute conter claacuteusulas de cessatildeo dos direitos

patrimoniais do autor as quais deveratildeo ser objeto de instrumento especiacutefico se for o

caso

sect 2ordm Em cada exemplar da obra o editor mencionaraacute

I - o tiacutetulo da obra e seu autor

II - no caso de traduccedilatildeo o tiacutetulo original e o nome do tradutor

III - o ano de publicaccedilatildeo

IV - o seu nome ou marca que o identifique

V - o nuacutemero da ediccedilatildeo e a sua tiragem e

VI - o nuacutemero do exemplar

sect 3O O autor poderaacute requerer a resoluccedilatildeo do contrato quando o editor apoacutes

notificado pelo autor continuar a obstar a circulaccedilatildeo da obra em detrimento dos

legiacutetimos interesses do autor

190

sect 4ordm O editor deveraacute notificar o autor sempre que houver transferecircncia a terceiros

dos direitos relacionados ao contrato de ediccedilatildeo de suas obrasrdquo (NR)

ldquoArt 68

Sem preacutevia e expressa autorizaccedilatildeo do autor ou titular natildeo poderatildeo ser

utilizadas obras teatrais composiccedilotildees musicais ou literomusicais fonogramas e obras

audiovisuais em representaccedilotildees exibiccedilotildees e execuccedilotildees puacuteblicas

sect1o

sect 2O Considera-se execuccedilatildeo puacuteblica a utilizaccedilatildeo de composiccedilotildees musicais ou

liacuteteromusicais mediante a participaccedilatildeo de artistas remunerados ou natildeo ou a

utilizaccedilatildeo de fonogramas em locais de frequumlecircncia coletiva por quaisquer processos

inclusive a radiodifusatildeo ou a transmissatildeo por qualquer modalidade e a exibiccedilatildeo

cinematograacutefica

sect 3O Considera-se exibiccedilatildeo puacuteblica a utilizaccedilatildeo de obras audiovisuais em locais de

frequumlecircncia coletiva por quaisquer processos inclusive a radiodifusatildeo ou transmissatildeo

por qualquer modalidade e a exibiccedilatildeo cinematograacutefica

sect 4O Consideram-se locais de frequumlecircncia coletiva os teatros cinemas salotildees de

baile ou concertos boates bares clubes ou associaccedilotildees de qualquer natureza

lojas estabelecimentos comerciais e industriais estaacutedios circos feiras

restaurantes hoteacuteis moteacuteis cliacutenicas hospitais oacutergatildeos puacuteblicos da administraccedilatildeo

direta ou indireta fundacionais e estatais meios de transporte de passageiros terrestre

mariacutetimo fluvial ou aeacutereo ou espaccedilos similares onde se representem executem

exibam ou transmitam publicamente obras literaacuterias artiacutesticas ou cientiacuteficas

sect 5O Previamente agrave realizaccedilatildeo da execuccedilatildeo ou exibiccedilatildeo puacuteblica o usuaacuterio deveraacute

apresentar agrave entidade responsaacutevel pela arrecadaccedilatildeo dos direitos relativos agrave execuccedilatildeo ou

exibiccedilatildeo

puacuteblica a comprovaccedilatildeo dos recolhimentos relativos aos direitos autorais

sect 6ordm Quando a remuneraccedilatildeo depender da frequumlecircncia do puacuteblico poderaacute o usuaacuterio

por convecircnio com a entidade responsaacutevel pela arrecadaccedilatildeo dos direitos relativos agrave

execuccedilatildeo ou exibiccedilatildeo puacuteblica pagar o preccedilo apoacutes a realizaccedilatildeo da execuccedilatildeo ou exibiccedilatildeo

puacuteblica

sect 7ordm O usuaacuterio entregaraacute agrave entidade responsaacutevel pela arrecadaccedilatildeo dos direitos

relativos agrave execuccedilatildeo ou exibiccedilatildeo puacuteblica imediatamente apoacutes o ato de comunicaccedilatildeo ao

puacuteblico relaccedilatildeo completa das obras e fonogramas utilizados indicando os nomes dos

respectivos autores artistas e produtores e a tornaraacute puacuteblica e de livre acesso aos

interessados juntamente com os valores pagos em seu siacutetio eletrocircnico ou em natildeo

havendo este no local da comunicaccedilatildeo e em sua sede

sect 8ordm As empresas responsaacuteveis pela representaccedilatildeo execuccedilatildeo exibiccedilatildeo radiodifusatildeo

ou transmissatildeo de obras e fonogramas manteratildeo agrave imediata disposiccedilatildeo dos interessados

em sua administraccedilatildeo central coacutepia autecircntica dos contratos ajustes ou acordos

individuais ou coletivos autorizando e disciplinando a remuneraccedilatildeo que estiver a seu

cargo pela comunicaccedilatildeo ao puacuteblico das obras e fonogramas utilizados em seus

programas ou obras audiovisuaisrdquo (NR)

ldquoCAPIacuteTULO III DA UTILIZACcedilAtildeO DA OBRA DE ARTES VISUAISrdquo (NR)

ldquoArt 77

191

Salvo convenccedilatildeo em contraacuterio o autor de obra de artes visuais ao alienar

o objeto em que ela se materializa transmite o direito de expocirc-la mas natildeo transmite ao

adquirente o direito de reproduzi-lardquo (NR)

ldquoArt 78

A autorizaccedilatildeo para reproduzir a obra de artes visuais por qualquer processo deve

se fazer por escrito e se presume onerosardquo (NR)

ldquoArt 79

O autor de obra fotograacutefica tem direito a reproduzi-la e colocaacute-la agrave venda

observadas as restriccedilotildees agrave exposiccedilatildeo reproduccedilatildeo e venda de retratos e sem prejuiacutezo dos

direitos

de autor da obra fotografada se protegidardquo (NR)

ldquoArt 81

A autorizaccedilatildeo do autor e do inteacuterprete de obra literaacuteria artiacutestica ou

cientiacutefica para produccedilatildeo audiovisual implica salvo disposiccedilatildeo em contraacuterio

consentimento para sua utilizaccedilatildeo econocircmica pelo produtor sem prejuiacutezo dos direitos

devidos aos autores e artistas inteacuterpretes em decorrecircncia de cada exibiccedilatildeo puacuteblica da

obra

sect 1

sect 2

Em cada coacutepia da obra audiovisual mencionaraacute o produtor

VII ndash o nome dos dubladores e dos tradutores se for o caso e

VIII - o nome dos autores artistas inteacuterpretes ou executantes de obras musicais ou

litero-musicais e produtores dos fonogramas incorporados agrave obra audiovisual

sect3ordm O produtor responsaacutevel pela primeira fixaccedilatildeo de obra audiovisual teraacute o direito a

uma remuneraccedilatildeo referente a cada exibiccedilatildeo puacuteblica a que se refere o art 68rdquo (NR)

ldquoArt 86

Os direitos autorais decorrentes da exibiccedilatildeo puacuteblica de obras

audiovisuais e da execuccedilatildeo puacuteblica de obras musicais liacuteteromusicais e fonogramas

incorporados em obras audiovisuais seratildeo devidos aos seus titulares pelos

responsaacuteveis dos locais ou estabelecimentos a que alude o sect 4ordm do art 68 desta Lei

que as exibirem ou pelas empresas que as transmitirem

Paraacutegrafo uacutenico Os proventos pecuniaacuterios resultantes de cada exibiccedilatildeo puacuteblica de

obras audiovisuais seratildeo repartidos entre seus autores artistas inteacuterpretes e produtores

na forma convencionada entre eles ou suas associaccedilotildeesrdquo (NR)

ldquoArt 89

As normas relativas aos direitos de autor inclusive as que se referem agraves

limitaccedilotildees aplicam-se no que couber aos direitos dos artistas inteacuterpretes ou

executantes dos

192

produtores e das empresas de radiodifusatildeordquo (NR)

ldquoArt90

I -

II - a reproduccedilatildeo a execuccedilatildeo ou exibiccedilatildeo puacuteblicas e a locaccedilatildeo das suas

interpretaccedilotildees ou execuccedilotildees fixadasrdquo (NR)

ldquoArt 96

Eacute de setenta anos o prazo de proteccedilatildeo aos direitos conexos contados a

partir de 1o de janeiro do ano subsequumlente agrave fixaccedilatildeo para os fonogramas agrave transmissatildeo

para as

empresas de radiodifusatildeo e agrave execuccedilatildeo exibiccedilatildeo ou representaccedilatildeo puacuteblicas para

os demais casosrdquo (NR)

ldquoArt 98

Com o ato de filiaccedilatildeo as associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos

autorais de que trata o art 97 tornam-se mandataacuterias de seus associados para a praacutetica

de todos os atos necessaacuterios agrave defesa judicial ou extrajudicial de seus direitos autorais

bem como para o exerciacutecio da atividade de cobranccedila desses direitos

sect 1ordm Os titulares de direitos autorais poderatildeo praticar pessoalmente os atos

referidos neste artigo mediante comunicaccedilatildeo preacutevia agrave associaccedilatildeo a que estiverem

filiados

sect 2ordm O exerciacutecio da atividade de cobranccedila citada no caput somente seraacute licito para

as associaccedilotildees que obtiverem registro no Ministeacuterio da Cultura nos termos do art 98-A

sect 3ordm A cobranccedila deveraacute ser proporcional agrave utilizaccedilatildeo das obras e fonogramas dos

titulares dos quais a associaccedilatildeo eacute mandataacuteria

sect 4ordm As associaccedilotildees deveratildeo adotar os princiacutepios da isonomia e transparecircncia na

cobranccedila pela utilizaccedilatildeo de qualquer obra ou fonograma sob sua gestatildeo

sect 5ordm As associaccedilotildees por decisatildeo do seu oacutergatildeo maacuteximo de deliberaccedilatildeo e conforme

previsto em seus estatutos poderatildeo destinar ateacute vinte por cento da totalidade ou de

parte dos recursos oriundos de suas atividades em benefiacutecio de seus associados de

forma direta ou por meio de outras entidades na promoccedilatildeo e no fomento agrave produccedilatildeo de

obras capacitaccedilatildeo e formaccedilatildeo bem como outras atividades de finalidade cultural e de

assistecircncia socialrdquo(NR)

ldquoArt 99

As associaccedilotildees que reuacutenam titulares de direitos sobre as obras musicais

literomusicais e fonogramas manteratildeo um uacutenico escritoacuterio central para a

arrecadaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo em comum dos direitos relativos agrave sua execuccedilatildeo puacuteblica

observado o disposto no sect

4ordm do artigo 98 e nos artigos 98-A e 99-A

sect 4ordm O escritoacuterio central e as associaccedilotildees poderatildeo manter fiscais aos quais eacute

193

vedado receber do usuaacuterio numeraacuterio a qualquer tiacutetulo

sect5o

sect 6ordm O escritoacuterio central deveraacute observar as disposiccedilotildees do art 98-B e apresentar ao

Ministeacuterio da Cultura no que couber a documentaccedilatildeo prevista no art 98-Ardquo (NR)

ldquoArt 100 O sindicato ou associaccedilatildeo profissional que congregue filiados de uma

associaccedilatildeo de gestatildeo coletiva de direitos autorais poderaacute uma vez por ano apoacutes

notificaccedilatildeo com oito dias de antecedecircncia fiscalizar por intermeacutedio de auditor a

exatidatildeo das contas prestadas por essa associaccedilatildeo autoral a seus representados rdquo (NR)

ldquoArt 101 As sanccedilotildees civis de que trata este Capiacutetulo aplicam-se sem prejuiacutezo das

sanccedilotildees penais e administrativasrdquo (NR)

ldquoArt 102 O titular cuja obra seja fraudulentamente reproduzida divulgada ou de

qualquer forma utilizada poderaacute requerer a busca e apreensatildeo dos exemplares

reproduzidos ou a suspensatildeo da divulgaccedilatildeo sem prejuiacutezo da indenizaccedilatildeo cabiacutevel rdquo

(NR)

ldquoArt103

Paraacutegrafo uacutenico Natildeo se conhecendo o nuacutemero de exemplares que constituem a

ediccedilatildeo fraudulenta pagaraacute o transgressor o valor de quinhentos ateacute trecircs mil exemplares

aleacutem dos apreendidosrdquo (NR)

ldquoArt 107

sect 1ordm Constitui ato iliacutecito por abuso e exerciacutecio irregular de direito sem prejuiacutezo de

outras penalidades previstas em lei quem por qualquer meio

a) dificultar ou impedir os usos permitidos pelos incisos do artigo 46 desta Lei ou

b) dificultar ou impedir a livre utilizaccedilatildeo de obras emissotildees de radiodifusatildeo e

fonogramas caiacutedos em domiacutenio puacuteblico

sect 2ordm No caso da conduta prevista no sect 1ordm decorrer de obrigaccedilatildeo contratual responde pela

conduta o licenciante

sect 3ordm O disposto no sect 1ordm natildeo se aplica quando a utilizaccedilatildeo pelo titular de sinais

codificados e dispositivos teacutecnicos mencionados neste artigo forem essenciais para a

compra ou o licenciamento de obras em meio digital

sect 4ordm O disposto no caput natildeo se aplica quando as condutas previstas nos incisos I

II e IV relativas aos sinais codificados e dispositivos teacutecnicos forem realizadas para

permitir as utilizaccedilotildees previstas no artigo 46 desta Lei ou quando findo o prazo dos

direitos patrimoniais sobre a obra interpretaccedilatildeo execuccedilatildeo fonograma ou emissatildeo

sect 5ordm Os sinais codificados e dispositivos teacutecnicos mencionados nos incisos I II e IV

devem ter efeito limitado no tempo correspondente ao prazo dos direitos patrimoniais

sobre a obra interpretaccedilatildeo execuccedilatildeo fonograma ou emissatildeordquo (NR)

ldquoArt 109

194

A representaccedilatildeo a execuccedilatildeo ou a exibiccedilatildeo puacuteblicas feitas em desacordo

com os arts 68 97 98 99 e 99-A desta Lei sujeitaratildeo os responsaacuteveis agrave multa de duas

ateacute vinte vezes o valor que deveria ser originariamente pagordquo (NR)

Art 2ordm A Lei no 9610 de 1998 passa a vigorar acrescida dos seguintes

dispositivos

ldquoArt 30-A

Quando a distribuiccedilatildeo for realizada pelo titular dos direitos da obra ou

fonograma ou com o seu consentimento mediante venda em qualquer Estado membro

da OMC exaure-se com a primeira venda o direito patrimonial de distribuiccedilatildeo do

objeto da venda no territoacuterio nacional

Paraacutegrafo uacutenico Natildeo se aplica o disposto no caput aos direitos de locaccedilatildeo de

programas de computador e de obras audiovisuais e ao direito de sequecircncia de que trata

o artigo 38rdquo (NR)

ldquoArt 52-A

O autor ou titular de direitos patrimoniais poderaacute conceder licenccedila aterceiros que se

faraacute sempre por escrito sem que se caracterize cessatildeo de direitos obedecidas

asseguintes regras e especificaccedilotildees

I - O prazo maacuteximo da licenccedila seraacute de cinco anos salvo estipulaccedilatildeo

contratuacontraacuteria

II - A licenccedila seraacute vaacutelida unicamente para o paiacutes em que se firmou o contrato

salvoestipulaccedilatildeo em contraacuterio

III - Natildeo havendo especificaccedilotildees quanto agrave modalidade de utilizaccedilatildeo o contrato

seraacuteinterpretado restritivamente entendendo-se como limitada apenas a uma que

seja aquelaindispensaacutevel ao cumprimento da finalidade do contrato

IV - A licenccedila soacute se operaraacute para modalidades de utilizaccedilatildeo jaacute existentes agrave data

dacelebraccedilatildeo do contrato

V - A licenccedila se presume natildeo exclusiva salvo estipulaccedilatildeo contratual expressa

emcontraacuterio e

VI - Decorrido o prazo previsto no instrumento de licenccedila cessam todas

asprerrogativas concedidas ao licenciado independentemente de possiacuteveis diacutevidas

ou outrasobrigaccedilotildees pendentes entre as partes contratantesrdquo (NR)

ldquoArt 52-B O Poder Judiciaacuterio poderaacute autorizar o uso de obras literaacuterias ou de

artesvisuais sempre que ao exercer seus direitos patrimoniais o herdeiro ou sucessor do

autor da obraexceda manifestamente os limites impostos pelo seu fim econocircmico ou

social pela boa-feacute oupelos bons costumes prejudicando o seu acesso ou fruiccedilatildeo pela

sociedade

sect 1ordm A autorizaccedilatildeo prevista no caput presume-se onerosa cujo valor seraacute arbitradopela

autoridade judicial competente

sect 2ordm Os legitimados para propositura das accedilotildees previstas no art 5ordm da Lei nordm 7347de 24

de julho de 1985 poderatildeo pleitear a autorizaccedilatildeo prevista no caput sempre que houver

lesatildeoou ameaccedila de lesatildeo a direitos difusos coletivos ou individuais homogecircneosrdquo

(NR)

ldquoCAPIacuteTULO VI DA OBRA DECORRENTE DE VIacuteNCULO ESTATUTAacuteRIO OU

CONTRATO DE

TRABALHOrdquo (NR)

195

ldquoArt 52-C

Salvo convenccedilatildeo em contraacuterio o empregador ente puacuteblico ou privadoconsiderar-se-aacute

autorizado com exclusividade a utilizar as obras criadas no estrito cumprimentodas

atribuiccedilotildees e finalidades decorrentes de viacutenculo estatutaacuterio ou contrato de trabalho

sect 1ordm - A exclusividade da autorizaccedilatildeo cessa em dez anos contados da data daprimeira

utilizaccedilatildeo da obra pelo empregador ou na ausecircncia desta da data de conclusatildeo da obra

sect 2ordm O autor poderaacute dispor livremente dos direitos relacionados agraves

demaismodalidades de utilizaccedilatildeo da obra desde que natildeo concorra com o uso realizado

pelo empregador

sect 3ordm - A retribuiccedilatildeo devida pelo uso das obras por parte do empregador esgota-secom a

remuneraccedilatildeo ou com o salaacuterio convencionado salvo disposiccedilatildeo em contraacuterio ou

casosprevistos em Lei

sect 4ordm - O autor teraacute direito de publicar em suas obras completas a obra criada no

estrito cumprimento das atribuiccedilotildees e finalidades decorrentes do viacutenculo estatutaacuterio ou

contrato de trabalho apoacutes dois anos de sua publicaccedilatildeo pelo empregador ou na ausecircncia

desta apoacutes cinco anos de sua conclusatildeo salvo convenccedilatildeo em contraacuterio

sect 5ordm As disposiccedilotildees deste artigo natildeo se aplicam

I ndash aos direitos de comunicaccedilatildeo ao puacuteblico que seratildeo devidos em decorrecircncia de cada

representaccedilatildeo execuccedilatildeo ou exibiccedilatildeo puacuteblicas das obras

II ndash agraves relaccedilotildees que digam respeito agrave utilizaccedilatildeo econocircmica dos artigos publicados pela

imprensa regidas pelo art 36 desta Lei

III ndash agraves relaccedilotildees decorrentes de contrato ou viacutenculo de professores ou pesquisadores

com instituiccedilatildeo que tenha por finalidade o ensino ou a pesquisa

IV ndash aos direitos dos profissionais regidos pela Lei n o 5194 de 24 de dezembro de

1966 e

V ndash aos programas de computador observando-se nesse caso o disposto na Lei n

9609 de 19 de fevereiro de 1998rdquo (NR)

ldquoCAPIacuteTULO VII DA OBRA OacuteRFAtilderdquo (NR)

ldquoArt 52-D

A exploraccedilatildeo de obra que presumivelmente natildeo tenha ingressado em

domiacutenio puacuteblico cuja autorizaccedilatildeo de uso natildeo se puder obter pela impossibilidade de se

identificar

ou localizar o seu autor ou titular deve ser objeto de uma licenccedila natildeo exclusiva a ser

concedida

pelo Ministro da Cultura mediante requerimento de interessado em procedimento

regular que atenda os imperativos do devido processo legal na forma do regulamento e

segundo termos e condiccedilotildees que assegurem adequadamente os interesses morais e

patrimoniais que esta Lei tutela

sect 1ordm O requerente deveraacute comprovar que fez uma busca razoaacutevel e de boa feacute pelo autor

quando identificaacutevel ou apresentar provas da incapacidade de identificaacute-lo

sect 2ordm A licenccedila a ser concedida sujeita-se ao pagamento de remuneraccedilatildeo arbitrada pelo

Poder Puacuteblico observado os usos e costumes

sect 3ordm O licenciado seraacute depositaacuterio do valor referente agrave remuneraccedilatildeo prevista no sect 2ordm

196

e deveraacute repassaacute-lo licenccedila

I - ao autor ou titular quando da sua identificaccedilatildeo e localizaccedilatildeo e

II ndash ao Fundo Nacional de Cultura apoacutes decorridos 10 anos da concessatildeo da

sect 4ordm Eacute vedada a cessatildeo a transferecircncia ou o substabelecimento da licenccedila prevista neste

artigo

sect 5ordm O licenciado ficaraacute investido de todos os poderes para agir em defesa da obra

sect 6ordm Durante o periacuteodo de sua vigecircncia a licenccedila poderaacute ser revogada quando

I ndash o licenciado deixar de cumprir com as condiccedilotildees que o qualificaram

II ndash o autor ou titular for identificado e localizado

III - houver descontinuidade do pagamento da remuneraccedilatildeo prevista no sect 2ordm ou

IV ndash a obra cair em domiacutenio puacuteblico O

sect 7ordm As disposiccedilotildees deste capiacutetulo natildeo se aplicam a programas de computadorrdquo (NR)

ldquoArt 67-A

As regras relativas agrave ediccedilatildeo de que trata este capiacutetulo aplicam-se

a todas as obras protegidas e suscetiacuteveis de serem publicadas ou reproduzidas em

qualquer suporte tais como as traduccedilotildees as fotografias os desenhos as charges e as

caricaturasrdquo (NR)

ldquoArt 86-A

Os responsaacuteveis pelas salas de exibiccedilatildeo cinematograacutefica deveratildeo

deduzir cinquumlenta por cento do montante total dos direitos autorais devidos em razatildeo

do caput do

art 86 do valor a ser pago agraves empresas distribuidoras das obras audiovisuais sendo

vedado a estas o repasse deste encargo total ou parcialmente aos seus produtoresrdquo

(NR)

ldquoCAPIacuteTULO IX DA REPROGRAFIArdquo (NR)

ldquoArt 88-A

A reproduccedilatildeo total ou parcial de obras literaacuterias artiacutesticas ou

cientiacuteficas que natildeo estiverem em domiacutenio puacuteblico realizada por meio de

fotocopiadora ou

processos assemelhados com finalidade comercial ou intuito de lucro somente

poderaacute ser

realizada mediante autorizaccedilatildeo preacutevia dos autores e titulares de direitos das obras

protegidas ou da

associaccedilatildeo de gestatildeo coletiva que os represente observadas as seguintes disposiccedilotildees

I - A reproduccedilatildeo prevista no caput estaraacute sujeita ao pagamento de uma retribuiccedilatildeo

aos titulares dos direitos autorais sobre as obras reproduzidas salvo quando estes

colocarem agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico a obra a tiacutetulo gratuito na forma do paraacutegrafo uacutenico

do art 29 e

II - Caberaacute aos responsaacuteveis pelos estabelecimentos que ofereccedilam serviccedilos de

reproduccedilatildeo reprograacutefica nos termos definidos no caput manter o registro das

reproduccedilotildees em que conste a identificaccedilatildeo e a quantidade de paacuteginas reproduzidas de

cada obra com a finalidade de prestar tais informaccedilotildees regularmente aos autores de

197

forma a permitir-lhes a fiscalizaccedilatildeo e o controle do aproveitamento econocircmico das

reproduccedilotildeesrdquo (NR)

ldquoArt 88-B

O Poder Judiciaacuterio poderaacute autorizar a reprografia de obras literaacuterias

sempre que ao exercer seus direitos patrimoniais o titular dos direitos de

reproduccedilatildeo ou a respectiva associaccedilatildeo de gestatildeo coletiva exceda manifestamente os

limites impostos pelo seu fim econocircmico ou social pela boa-feacute ou pelos bons

costumes ou impeccedila o exerciacutecio do direito constitucional agrave educaccedilatildeo

sect 1ordm A autorizaccedilatildeo prevista no caput presume-se onerosa cujo valor seraacute arbitrado

pela autoridade judicial competente

sect 2ordm Os legitimados para propositura das accedilotildees previstas no art 5ordm da Lei nordm 7347

de 24 de julho de 1985 poderatildeo pleitear a autorizaccedilatildeo prevista no caput sempre que

houver lesatildeo ou ameaccedila de lesatildeo a direitos Difusos coletivos ou individuais

homogecircneosrdquo (NR)

ldquoArt 98-A

O exerciacutecio da atividade de cobranccedila de que trata o art 98 dependeraacute de

registro preacutevio no Ministeacuterio da Cultura conforme disposto em regulamento cujo

processo administrativo observaraacute

I ndash o cumprimento pelos estatutos da entidade solicitante dos requisitos

estabelecidos na legislaccedilatildeo para sua constituiccedilatildeo

II ndash a demonstraccedilatildeo de que a entidade solicitante reuacutene as condiccedilotildees necessaacuterias

para assegurar uma administraccedilatildeo eficaz e transparente dos direitos a ela confiados e

significativa representatividade de obras e titulares cadastrados mediante

comprovaccedilatildeo dos seguintes documentos e informaccedilotildees

a) os cadastros das obras e titulares que representam

b) contratos e convecircnios mantidos com usuaacuterios de obras de seus repertoacuterios

c) estatutos e respectivas alteraccedilotildees

d) atas das assembleacuteias ordinaacuterias ou extraordinaacuterias

e) acordos de representaccedilatildeo reciacuteproca com entidades congecircneres estrangeiras

quando existentes

f) relatoacuterio anual de suas atividades quando aplicaacutevel

g) demonstraccedilotildees contaacutebeis anuais quando aplicaacutevel e

h) relatoacuterio anual de auditoria externa de suas contas desde que demandada pela

maioria de seus associados ou por sindicato ou associaccedilatildeo profissional nos termos do

art 100

III ndash outras informaccedilotildees consideradas relevantes pelo Ministeacuterio da Cultura na

forma do regulamento como as que demonstrem o cumprimento de suas obrigaccedilotildees

internacionais

contratuais que possam ensejar questionamento ao Estado Brasileiro no acircmbito

dos acordos internacionais dos quais eacute parte

sect1ordm Os documentos e informaccedilotildees a que se referem os Incisos II e III deste artigo

deveratildeo ser apresentados anualmente ao Ministeacuterio da Cultura

sect2ordm O registro de que trata o sect 2ordm do art 98 poderaacute ser anulado quando for

constatado viacutecio de legalidade ou cancelado administrativamente pelo Ministeacuterio

da Cultura quando verificado que a associaccedilatildeo natildeo atende ao disposto neste artigo

198

assegurado sempre o contraditoacuterio e a ampla defesa bem como a comunicaccedilatildeo do fato

ao Ministeacuterio Puacuteblico

sect3ordm A ausecircncia de uma associaccedilatildeo que seja mandataacuteria de determinada categoria de

titulares em funccedilatildeo da aplicaccedilatildeo do sect 2ordm deste artigo natildeo isenta os usuaacuterios das

obrigaccedilotildees previstas no art 68 que deveratildeo ser quitadas em relaccedilatildeo ao periacuteodo

compreendido entre o indeferimento do pedido de registro a anulaccedilatildeo ou o

cancelamento do registro e a obtenccedilatildeo de novo registro ou constituiccedilatildeo de entidade

sucessora nos termos do art 98

sect4ordm A associaccedilatildeo cujo registro nos termos do artigo 98-A seja anulado cancelado

inexistente pendente de apreciaccedilatildeo pela autoridade competente ou apresente qualquer

outra forma de irregularidade natildeo poderaacute utilizar tais fatos como impedimento para

distribuiccedilatildeo de eventuais valores jaacute arrecadados sob pena de responsabilizaccedilatildeo direta

de seus dirigentes nos termos do artigo 100-A

sect5ordm As associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos autorais que estejam desde

1ordm de janeiro de 2010 legalmente constituiacutedas e arrecadando e distribuindo os

direitos autorais de obras e fonogramas considerar-se-atildeo para todos os efeitos

registradas para exercerem a atividade econocircmica de cobranccedila devendo obedecer agraves

disposiccedilotildees constantes deste artigordquo (NR)

ldquoArt 98-B

As associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos autorais no desempenho

de suas funccedilotildees deveratildeo

I - Dar publicidade e transparecircncia por meio de siacutetios eletrocircnicos proacuteprios agraves

formas de caacutelculo e criteacuterios de cobranccedila discriminando dentre outras informaccedilotildees o

tipo de

usuaacuterio tempo e lugar de utilizaccedilatildeo bem como os criteacuterios de distribuiccedilatildeo dos valores

dos direitos

autorais arrecadados incluiacutedas as planilhas e demais registros de utilizaccedilatildeo das

obras e fonogramas fornecidas pelos usuaacuterios

II - Dar publicidade e transparecircncia por meio de siacutetios eletrocircnicos proacuteprios

aosestatutos regulamentos de arrecadaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo agraves atas de suas reuniotildees

deliberativas e aoscadastros das obras e titulares que representam bem como o

montante arrecadado e distribuiacutedo e

III ndash Buscar eficiecircncia operacional dentre outros meios pela reduccedilatildeo de

seucustos administrativos e dos prazos de distribuiccedilatildeo dos valores aos titulares de

direitos

Paraacutegrafo uacutenico As informaccedilotildees contidas nos incisos I e II devem ser atualizadas no

miacutenimosemestralmenterdquo (NR)

ldquoArt 98-C

As associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos autorais deveratildeo manteatualizados e

disponiacuteveis aos associados os documentos e as informaccedilotildees previstas nos incisos II III

do art 98-Ardquo (NR)

ldquoArt 98-D

199

As associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos autorais deveratildeo prestacontas dos valores

devidos em caraacuteter regular e de modo direto aos seus associados

Paraacutegrafo uacutenico O direito agrave prestaccedilatildeo de contas poderaacute ser exercido diretamentpor

qualquer associado ou indiretamente por intermeacutedio do Ministeacuterio da Culturardquo (NR)

ldquoArt 99-A

As associaccedilotildees que reuacutenam titulares de direitos sobre as obraaudiovisuais e o

escritoacuterio central a que se refere o art 99 deveratildeo unificar a arrecadaccedilatildeo dodireitos

relativos agrave exibiccedilatildeo e execuccedilatildeo puacuteblica inclusive por meio de radiodifusatildeo ou

transmissatildepor qualquer modalidade quando essa arrecadaccedilatildeo recair sobre um

mesmo usuaacuterio sejdelegando a cobranccedila a uma delas seja constituindo um ente

arrecadador com personalidadejuriacutedica proacutepria

sect 1ordm Ateacute a implantaccedilatildeo da arrecadaccedilatildeo unificada prevista neste artigo a arrecadaccedilatildee

distribuiccedilatildeo dos direitos sobre as obras musicais literomusicais e fonogramas

referentes exibiccedilatildeo audiovisual seraacute feita pelo escritoacuterio central previsto no art 99

quer se trate de obracriadas especialmente para as obras audiovisuais ou obras preacute-

existentes agraves mesmas

sect 2O A organizaccedilatildeo da arrecadaccedilatildeo unificada de que trata o caput deste artigodeveraacute

ser feita de comum acordo entre as associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos

autoraicorrespondentes e o escritoacuterio central inclusive no que concerne agrave definiccedilatildeo

dos criteacuterios dedivisatildeo dos valores arrecadados entre as associaccedilotildees e o escritoacuterio

central

sect 3O Os autores das obras musicais criadas especialmente para as

obraaudiovisuais considerados co-autores da obra audiovisual nos termos do caput do

art 16 poderatildeconfiar o exerciacutecio de seus direitos a associaccedilatildeo de gestatildeo coletiva de

direitos musicais ou associaccedilatildeo de gestatildeo coletiva de direitos sobre obras audiovisuais

sect 4ordm Na ausecircncia de acordo para a organizaccedilatildeo da arrecadaccedilatildeo unificada de quetrata este

artigo o Ministeacuterio da Cultura poderaacute na forma do regulamento e a pedido de

qualquedas partes manifestar-se objetivando a aplicaccedilatildeo do disposto neste artigo ou a

pedido das partesatuar administrativamente na resoluccedilatildeo do conflitordquo (NR)

ldquoArt 99-B

A arrecadaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da remuneraccedilatildeo a que se refere o artigo88-A seraacute feita por

meio das associaccedilotildees de gestatildeo coletiva constituiacutedas para este fim as quaideveratildeo

unificar a arrecadaccedilatildeo seja delegando a cobranccedila a uma delas seja constituindo um

entarrecadador com personalidade juriacutedica proacutepria

sect1ordm - A entidade de gestatildeo coletiva responsaacutevel pela cobranccedila ou o oacutergatildeo

arrecadador criado pelas entidades atuaraacute em juiacutezo e fora dele em seu proacuteprio

nome como substituto processual dos titulares de direitos a ele vinculado

sect 2ordm - A parcela destinada aos autores natildeo poderaacute ser inferior a cinquumlenta por cento

dos valores arrecadados pela entidade arrecadadora prevista no caput deduzida as

despesas de administraccedilatildeordquo (NR)

ldquoArt 100-A

Os dirigentes das associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos autorais e

200

do escritoacuterio central respondem solidariamente com seus bens particulares por

desvio de finalidade ou quanto ao inadimplemento das obrigaccedilotildees para com os

associados por dolo ou culpardquo (NR)

ldquoArt 100-B

Os litiacutegios entre usuaacuterios e titulares de direitos autorais ou seus mandataacuterios em

relaccedilatildeo aos criteacuterios de cobranccedila e valores de arrecadaccedilatildeo e entre titulares e suas

associaccedilotildees em relaccedilatildeo aos valores e criteacuterios de distribuiccedilatildeo poderatildeo ser objeto da

atuaccedilatildeo administrativa do Ministeacuterio da Cultura para a resoluccedilatildeo de conflitos na forma

do regulamento sem prejuiacutezo da apreciaccedilatildeo pelos oacutergatildeos do Sistema Brasileiro de

Defesa da Concorrecircncia quando cabiacutevelrdquo (NR)

ldquoArt 105-A

Os responsaacuteveis pela hospedagem de conteuacutedos na Internet poderatildeo ser

responsabilizados solidariamente nos termos do Artigo 105 por danos

decorrentes da colocaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico de obras e fonogramas por terceiros

sem autorizaccedilatildeo de seus titulares se notificados pelo titular ofendido e natildeo tomarem as

providecircncias para no acircmbito do seu serviccedilo e dentro de prazo razoaacutevel tornar

indisponiacutevel o conteuacutedo apontado como infringente

sect 1ordm Os responsaacuteveis pela hospedagem de conteuacutedos na Internet devem oferecer

de forma ostensiva ao menos um canal eletrocircnico dedicado ao recebimento de

notificaccedilotildees e contranotificaccedilotildees sendo facultada a criaccedilatildeo de mecanismo

automatizado para atender aos procedimentos dispostos nesta Seccedilatildeo

sect 2ordm A notificaccedilatildeo de que trata o caput deste artigo deveraacute conter sob pena de

invalidade

I ndash identificaccedilatildeo do notificante incluindo seu nome completo seus nuacutemeros de

registro civil e fiscal e dados atuais para contato

II ndash data e hora de envio

III ndash identificaccedilatildeo clara e especiacutefica do conteuacutedo apontado como infringente que

permita a localizaccedilatildeo inequiacutevoca do material pelo notificado

IV ndash descriccedilatildeo da relaccedilatildeo entre o notificante e o conteuacutedo apontado como

infringente e

VI ndash justificativa juriacutedica para a remoccedilatildeo

sect 3ordm Ao tornar indisponiacutevel o acesso ao conteuacutedo caberaacute aos responsaacuteveis pela

hospedagem de conteuacutedos na Internet informar o fato ao responsaacutevel pela colocaccedilatildeo agrave

disposiccedilatildeo

do puacuteblico comunicando-lhe o teor da notificaccedilatildeo de remoccedilatildeo e fixando prazo razoaacutevel

para a eliminaccedilatildeo definitiva do conteuacutedo infringente

sect 4ordm Caso o responsaacutevel pelo conteuacutedo infringente natildeo seja identificaacutevel ou natildeo

possa ser localizado e desde que presentes os requisitos de validade da notificaccedilatildeo

cabe aos responsaacuteveis pela hospedagem de conteuacutedos na Internet manter o bloqueio

sect 5ordm Eacute facultado ao responsaacutevel pela colocaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico observados

os requisitos do sect 2ordm contranotificar os responsaacuteveis pela hospedagem de conteuacutedos na

Internet requerendo a manutenccedilatildeo do conteuacutedo e assumindo a responsabilidade

exclusiva pelos eventuais danos causados a terceiros caso em que caberaacute aos

201

responsaacuteveis pela hospedagem de conteuacutedos na Internet o dever de restabelecer o

acesso ao conteuacutedo indisponibilizado e informar ao notificante o restabelecimento

sect 6ordm Qualquer outra pessoa interessada fiacutesica ou juriacutedica observados os requisitos

do sect 2ordm poderaacute contranotificar os responsaacuteveis pela hospedagem de conteuacutedos na

Internet assumindo a responsabilidade pela manutenccedilatildeo do conteuacutedo

sect 7ordm Tanto o notificante quanto o contranotificante respondem nos termos da lei

por informaccedilotildees falsas errocircneas e pelo abuso ou maacute-feacute

sect 8ordm Os usuaacuterios que detenham poderes de moderaccedilatildeo sobre o conteuacutedo de

terceiros se equiparam aos responsaacuteveis pela hospedagem de conteuacutedos na Internet para

efeitos do disposto neste artigoldquo (NR)

ldquoArt 109-A

A prestaccedilatildeo de informaccedilotildees falsas do disposto no sect 7ordm do art 68

sujeitaraacute os responsaacuteveis a multa de dez a trinta por cento do valor originariamente

cobradordquo (NR)

ldquoArt 110-A

O titular de direito autoral ou seu mandataacuterio que ao exercer seu

direito de forma abusiva praticar infraccedilatildeo da ordem econocircmica sujeitar-se-aacute no que

couber agraves disposiccedilotildees da Lei nordm 8884 de 11 de junho de 1994 sem prejuiacutezo das demais

sanccedilotildees cabiacuteveisrdquo (NR)

ldquoArt 110-B

O oferecimento por parte de titular de direitos autorais ou pessoa a

seu serviccedilo de ganho vantagem proveito ou benefiacutecio material direto ou

indireto para os proprietaacuterios diretores funcionaacuterios ou terceiros a serviccedilo de

empresas de radiodifusatildeo ou serviccedilos de televisatildeo por assinatura com o intuito de

aumentar ou diminuir artificiosamente a frequecircncia da execuccedilatildeo ou exibiccedilatildeo puacuteblica

de obras ou fonogramas especiacuteficos caracterizaraacute infraccedilatildeo da ordem econocircmica na

forma da Lei nordm 8884 de 1994 e iliacutecito civil estando sujeito neste caso ao pagamento

de multa no valor de duas ateacute vinte vezes o valor oferecido agrave parte que demonstrar

prejuiacutezo direto ou indireto

sect 1ordm Incorrem nas mesmas infraccedilotildees e sujeitam-se agraves mesmas sanccedilotildees previstas no

caput deste artigo os proprietaacuterios diretores funcionaacuterios ou terceiros a serviccedilo de

empresas de radiodifusatildeo ou serviccedilos de televisatildeo por assinatura que com o intuito de

aumentar ou diminuir artificiosamente a frequecircncia da execuccedilatildeo ou exibiccedilatildeo

puacuteblica de obras ou fonogramas especiacuteficos solicitarem ou receberem para si ou

para outrem direta ou indiretamente ganho vantagem proveito ou benefiacutecio material

sect 2ordm O disposto neste artigo natildeo se aplica se o ato praticado constituir inserccedilatildeo

publicitaacuteria desde que a mesma seja previamente informada ao puacuteblico e que natildeo seja

computada para efeitos de arrecadaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo dos direitos autorais decorrentes

da execuccedilatildeo e exibiccedilatildeo puacuteblicasrdquo (NR)

ldquoArt 110-C

A inobservacircncia do disposto nos incisos I e II do Artigo 98ndashB nos

202

Artigos 98ndashC e 98ndashD bem como no sect 6ordm do art 99 sujeitaraacute os dirigentes das

associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos autorais ou do escritoacuterio central agrave multa de ateacute

R$ 5000000 (cinquenta mil reais) aplicada pelo Ministeacuterio da Cultura mediante

regular processo administrativo assegurado o contraditoacuterio e a ampla defesa conforme

disposto em regulamento

sect 1ordm A multa prevista no caput poderaacute ser aumentada em 50 (cinquumlenta por cento) a

cada nova reincidecircncia

sect 2ordm Os valores referentes agrave aplicaccedilatildeo da multa de que trata este artigo seratildeo

revertidos ao Fundo Nacional de Culturardquo (NR)

ldquoArt 111-A

A accedilatildeo civil por violaccedilatildeo a direitos autorais prescreve em cinco anos

contados da data da violaccedilatildeo do direito

Paraacutegrafo uacutenico Em caso de praacutetica continuada de violaccedilatildeo de direitos autorais de

determinado autor ou titular de direitos pelo mesmo infrator ou grupo de infratores

conta-se a prescriccedilatildeo do uacuteltimo ato de violaccedilatildeordquo (NR)

ldquoArt 113-A Enquanto os serviccedilos de registro de que trata o art 19 desta Lei natildeo

forem organizados pelo Poder Executivo Federal o autor da obra intelectual poderaacute

registraacute-la conforme sua natureza

I - na Fundaccedilatildeo Biblioteca Nacional

II - na Escola de Muacutesica da Universidade Federal do Rio de Janeiro

III - na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro ou

IV - no Conselho Federal de Engenharia Arquitetura e Agronomia

sect 1ordm Se a obra for de natureza que comporte registro em mais de um desses oacutergatildeos

deveraacute ser registrada naquele com que tiver maior afinidade

sect 2ordm Natildeo se aplica o disposto neste artigo para o registro de programas de

computador

sect 3ordm Enquanto o valor e processo de recolhimento de retribuiccedilatildeo natildeo forem

estabelecidos em ato do Ministro da Cultura estes continuam sendo estabelecidos por

ato do titular do oacutergatildeo ou entidade da administraccedilatildeo puacuteblica federal a que estiver

vinculado o registro das obras intelectuais

sect 4ordm Fica o Poder Executivo Federal autorizado a transferir os acervos e

documentos das entidades e oacutergatildeos relacionados neste artigo ao oacutergatildeo ou entidade que

assumir essa atribuiccedilatildeo observado o regulamentordquo (NR)

ldquoArt 113-B Aplicam-se subsidiariamente as normas do Coacutedigo Civil aos negoacutecios

juriacutedicos direitos e deveres previstos nesta Leirdquo (NR)

Art 5o

Ficam revogados

I - o art 17 da Lei nordm 5988 de 14 de dezembro de 1973 e

II - o art 21 as aliacuteneas ldquohrdquo e ldquoirdquo do inciso VIII do art29 e o inciso II do art 49 todos

da Lei nordm 9610 de 19 de fevereiro de 1998

Brasiacutelia de de 2009 188ordm da Independecircncia e 121ordm da

Repuacuteblica

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2

UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE LETRAS

AacuteREA DE LITERATURAS ARTES E CULTURAS

REGULACcedilAtildeO DO CIBERESPACcedilO CONTROLO DOS FLUXOS

INFORMACIONAIS E DIREITOS DE AUTOR

OS CASOS DE PORTUGAL E DO BRASIL

Elisianne Campos de Melo Soares

Dissertaccedilatildeo orientada pelo Professor Doutor Manuel Frias Martins

MESTRADO EM CULTURA E COMUNICACcedilAtildeO

2012

3

A Deus e a mamatildee que tornaram possiacutevel a realizaccedilatildeo deste trabalho

4

5

You never change things by fighting the existing reality To change something

build a new model that makes the existing model obsolete

(Buckminster Fuller)

6

7

IacuteNDICE

AGRADECIMENTOS 9

LISTA DE SIGLAS 11

RESUMO 15

ABSTRACT 17

INTRODUCcedilAtildeO 19

CAPIacuteTULO I

NOVAS TECNOLOGIAS NOVOS PARADIGMAS 25

10 O ideal da Rede como um territoacuterio livre 27

20 O fenocircmeno da desmaterializaccedilatildeo da obra 32

30 Espaccedilo e tempo se comprimem a dromocracia firma-se 35

40 Somos todos criadores a fusatildeo entre autor e consumidor 38

50 A era de ouro do remix 44

60 Tipos de vigilacircncia e tecnologias de controlo quem satildeo e como trabalham os

gatekeepers do ciberespaccedilo 47

CAPIacuteTULO II

DIREITOS DE AUTOR E REGULACcedilAtildeO DO CIBERESPACcedilO BRASIL E PORTUGAL

EM PERSPECTIVA 57

10 Breve retrospectiva histoacuterica do surgimento dos direitos de autor 59

20 Direitos morais e direitos patrimoniais 61

21 Direitos morais 61

22 Direitos patrimoniais 62

30 Direitos de autor e regulaccedilatildeo da Internet no Brasil e em Portugal 64

31 Legislaccedilatildeo autoral brasileira 64

32 Reforma da Lei brasileira do Direito Autoral (LDA) 67

33 O Marco Civil da Internet 69

34 Legislaccedilatildeo autoral portuguesa 73

35 Regulaccedilatildeo da Internet em Portugal 75

40 Salvaguarda dos direitos de autor e combate agrave pirataria no Brasil e em Portugal

Azeredo e Lei da Coacutepia Privada 71

41 O Projeto de Lei Azeredo 71

8

42 A Lei da Coacutepia Privada em Portugal 80

50 Controlo do ciberespaccedilo e acordos aleacutem fronteiras alguns casos-chave 84

51 HADOPI 84

52 Sinde-Wert 85

53 SOPA 86

54 ACTA 87

60 Brasil e Portugal algumas semelhanccedilas e diferenccedilas 88

70 Direitos de autor e regulaccedilatildeo da Internet uma relaccedilatildeo nebulosa 91

CAPIacuteTULO III

HARMONIZACcedilAtildeO DE INTERESSES 97

10 O direito de acesso agrave informaccedilatildeo e agrave comunicaccedilatildeo como um direito humano 99

20 Novos modelos e outras alternativas de conciliaccedilatildeo entre artistas induacutestria e

usuaacuterios de Internet 103

30 Flexibilizaccedilatildeo do regime autoral o Creative Commons 103

31 O Creative Commons Portugal 108

32 As licenccedilas 30 108

33 Parcerias 109

40 A exceccedilatildeo para compartilhamento de arquivos 110

50 Cloud computing 114

60 Licenccedila global 116

70 Mecenato global 117

80 Contribuiccedilatildeo criativa 118

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 121

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 127

ANEXOS 143

9

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo em primeiro lugar a Deus que esteve comigo todo o tempo e que me

deu refrigeacuterio nos momentos de dificuldade A mamatildee que me incentivou sempre

acreditou em mim e em meus objetivos e natildeo mediu esforccedilos para concretizaacute-los Aos

professores e colegas do mestrado com quem aprendi muito nos uacuteltimos dois anos

Aos meus amigos de perto e de longe que de alguma forma conseguiram aplacar a

dor da distacircncia Agradeccedilo especialmente agraves amigas Claacuteudia Caetano Nadeige Thireacute e

Naima Dahmas e ao professor Pedro Coelho que me deram forccedila vital em momentos

criacuteticos sem a qual eu natildeo teria concluiacutedo o curso

Quero dar meu ldquomuito obrigadardquo tambeacutem aos meus familiares principalmente agrave

minha prima Edyane Franco e ao meu tio Eacutelio Campos que tambeacutem apostaram em mim e

me deram todo apoio possiacutevel Tio e prima espero um dia retribuir todo o bem que vocecircs

jaacute fizeram e fazem agrave minha vida Que Deus lhes abenccediloe sempre

Ao meu caro orientador professor Manuel Frias Martins que me deu toda

liberdade de pensamento e de ideias para realizar esse trabalho aleacutem de contribuir

muitiacutessimo com suas orientaccedilotildees sempre concisas e praacuteticas Suas criacuteticas foram todas

construtivas Para aleacutem de grande mestre ficaraacute em minha lembranccedila como ser humano

admiraacutevel e exemplo de professor

Agradeccedilo tambeacutem agraves professoras que tive na Faculdade de Letras da Universidade

de Lisboa fora do departamento de Comunicaccedilatildeo e Cultura Ana Vrajitoru Roxana

Ciolaneanu e Zlatka Timenova-Valtcheva E um ldquoobrigadardquo agrave cara colega Manuela

Zamith

Agraves queridas irmatildes Ceciacutelia Faacutetima Maria Meyre Socorro e ao irmatildeo Eliacutesio que

sempre tiveram meu nome em conta em suas oraccedilotildees Quero partilhar essa vitoacuteria com

vocecircs tambeacutem

10

11

LISTA DE SIGLAS

ACTA - Anti-Counterfeiting Trade Agreement

ADAMI - Socieacuteteacute pour lAdministration des droits des artistes et musiciens

interpregravetes

AGECOP - Associaccedilatildeo para Gestatildeo da Coacutepia Privada

ANACOM - Autoridade Nacional de Comunicaccedilotildees

AOL - America On-Line

APCT - Associaccedilatildeo Portuguesa para o Controlo de Tiragem e Circulaccedilatildeo

ARPANet - Advanced Research Projects Agency Network

BBC - British Broadcasting Corporation

CDA - Coacutedigo do Direito de Autor e dos Direitos Conexos

Cesar - Centro de Estudos e Sistemas Avanccedilados do Recife

CNIL ndash Comission Nationale de lrsquoInformatique et des Liberteacutes

CNPD - Comissatildeo Nacional de Protecccedilatildeo de Dados

CNPJ ndash Cadastro Nacional de Pessoa Juriacutedica

CPF ndash Cadastro de Pessoas Fiacutesicas

CRIS - Communication Rights in the Information Society

DADVSI - loi relative aux Droits drsquoAuteur et aux Droits Voisins dans la Socieacuteteacute de

lrsquoInformation

DRM - Digital Rights Management

DUDH - Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos

ECAD - Escritoacuterio Central de Arrecadaccedilatildeo e Distribuiccedilatildeo

EUA ndash Estados Unidos da Ameacuterica

12

FBI - Federal Bureau of Investigation

FCEE-UCP - Faculdade de Ciecircncias Econocircmicas e Empresarias da Universidade Catoacutelica

Portuguesa

FGV DIREITO RIO - Escola de Direito da Fundaccedilatildeo Getulio Vargas no Rio de Janeiro

FSF - Free Software Foundation

GB ndash Gigabyte

GMT ndash Greenwich Mean Time

HADOPI ndash Haute Autoriteacute pour la Diffusion des Œuvres et la Protection des Droits

sur Internet

IBM - International Business Machines Corporation

ICANN - Internet Corporation for Assigned Names and Numbers

ICS - Instituto da Comunicaccedilatildeo Social

INTELI - empresa de tecnologia Inteligecircncia em Inovaccedilatildeo

ISCTE - Instituto Superior de Ciecircncias do Trabalho e da Empresa

IST - Instituto Superior Teacutecnico

IVA - Imposto sobre o Valor Acrescentado

IVC - Instituto Verificador de Circulaccedilatildeo

LDA ndash Lei do Direito Autoral

MinC ndash Ministeacuterio da Cultura

OMC - Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio

ONU ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

P2P ndash Peer-to-peer

PL118 ndash Projeto de Lei da Coacutepia Privada

13

PLC - Projeto de Lei da Cacircmara dos Deputados

PLS - Projeto de Lei do Senado Federal

PS - Partido Socialista

SALMJ - Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministeacuterio da Justiccedila

SARD ndash Socieacuteteacute drsquoAcceptation et de Reacutepartition des Dons

Serpro - Serviccedilo Federal de Processamento de Dados

SOPA ndash Stop Online Piracy Act

SPA - Sociedade Portuguesa de Autores

SPEDIDAM ndash Socieacuteteacute de Perception et de Distribution des Droits des Artistes-

Interpregravetes

SSD - Solid-state drive

STIM - Svenska Tonsaumlttares Internationella Musikbyraring

TB - Terabyte

TIC - Tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo

UE ndash Uniatildeo Europeia

UMIC - Agecircncia para a Sociedade do Conhecimento

UnB - Universidade de Brasiacutelia

UNESCO - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura

UNL - Universidade Nova de Lisboa

UP - Universidade do Porto

USB ndash Universal Serial Bus

USP - Universidade de Satildeo Paulo

VJ - Video Jockey

14

VOD - Video on demand

WSIS - World Summit on the Information Society

15

RESUMO

As tecnologias digitais foram responsaacuteveis por profundas metamorfoses em nossas

atividades laborais e interaccedilotildees sociais As maacutequinas conectadas em rede nos permitiram

aceder a conteuacutedos produzidos nos mais distantes pontos do planeta e estreitar os laccedilos de

conhecimento com diferentes culturas e povos

A desmaterializaccedilatildeo e reproduccedilatildeo com alto teor de fidelidade de bens culturais

alterou nossos haacutebitos de consumo A gradual eliminaccedilatildeo dos suportes materiais e a

praticidade dos arquivos digitais fez-nos consumir cultura em quantidades e formatos

jamais antes imaginados

O advento do digital pocircs em xeque os tradicionais papeis de artistas e induacutestrias e

levou-nos por um caminho sem alternativa a necessidade de acompanhar as

transformaccedilotildees que se sucederam e de adaptarmo-nos a elas No combate a praacuteticas como

a pirataria as legislaccedilotildees de muitos paiacuteses foram endurecidas e os meios juriacutedicos que

versam sobre o tema enveredaram por caminhos radicais

O presente estudo traz essa problemaacutetica agrave discussatildeo tomando como objetos de

anaacutelise os contextos brasileiro e portuguecircs Discutimos as legislaccedilotildees que versam sobre os

direitos autorais em ambos os paiacuteses para assim nos concentrarmos nas relaccedilotildees entre

tecnologia e Direito bem como nas metamorfoses produzidas pela Internet nessas ligaccedilotildees

desde sempre delicadas Para tal tratamos tambeacutem da questatildeo da regulaccedilatildeo da Rede tema

intimamente ligado agraves mateacuterias anteriormente citadas

Palavras-chave Cibercultura Controlo Direitos de autor Internet Privacidade

Regulaccedilatildeo da Internet

16

17

ABSTRACT

The digital technologies were responsible for profound transformations in our work

activities and social interactions The network connected machines allowed us to gain

access to contents produced in the most remotes parts of the world and to strengthen ties

of knowledge with different cultures and peoples

The dematerialization and reproduction with hi-fi quality of cultural goods has

altered our consumption habits The gradual removal of the material support and the

convenience of digital files made us consume culture in quantities and formats never

imagined before

The advent of the digital put into question the traditional roles of artists and

industries and led us to a path of no return the need to follow up the changes which have

taken place and adapt to them In the combat against practices like piracy the legislation

of many countries was hardened and we saw the legal means dealing with the theme in

radical ways

This study discusses this problem taking as objects of analysis the brazilian and

portuguese contexts We discuss the laws that deal with copyright in both countries in

order to focus on the relations between technology and law and on the transformations

produced by the Internet in these very delicate links To this end we also deal with the Net

regulation which is a theme closely linked to the aforementioned topics

Key-words Cyberculture Control Copyright Internet Privacy Internet regulation

18

19

INTRODUCcedilAtildeO

20

21

O advento da Rede e dos meios eletrocircnicos de comunicaccedilatildeo representou uma

revoluccedilatildeo sem volta no mundo dos negoacutecios e das relaccedilotildees humanas Nascemos vivemos

trabalhamos e morremos sob a eacutegide da automatizaccedilatildeo do tratamento de dados e da maior

parte dos processos executados por instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas Jaacute ningueacutem pode

imaginar o mundo sem a rede de telecomunicaccedilotildees que liga os mais distantes pontos do

planeta A informatizaccedilatildeo penetrou todas as esferas da vida e faz parte das atividades que

desenvolvemos e ateacute de noacutes mesmos ndash o que natildeo nos deixa esquecer o visionaacuterio Marshal

McLuhan e sua teoria dos meios como extensotildees do Homem

Com a Internet surgem o ciberespaccedilo e todas as implicaccedilotildees que um novo lugar

representa abre-se uma nova esfera onde figuramos como indiviacuteduos portadores de uma

identidade e de poderes de accedilatildeo mas natildeo soacute Vimos instituiacuterem-se novas formas de poder

a fim de hierarquizar as relaccedilotildees e criar o miacutenimo de ordem para um bom funcionamento

Essa institucionalizaccedilatildeo passa pelo campo legislativo e representou para o Direito o

grande desafio de legislar em um espaccedilo livre das amarras fiacutesicas e suas limitaccedilotildees

Legislar em um lugar transfronteiriccedilo global e sem barreiras geograacuteficas passou a ser uma

missatildeo ineacutedita e desafiadora poreacutem espinhosa

A Rede abriu novos nichos de mercado mas tambeacutem representou a entrada da

economia tradicional em um caminho de colapso sem volta A necessidade de modificar

certas praacuteticas comerciais vem se impondo de forma cada vez mais exigente E essa

mudanccedila natildeo passa apenas pela missatildeo de desenvolver produtos para serem vendidos em

lojas virtuais Haacute que considerar que os proacuteprios produtos passaram em si mesmos por

uma metamorfose radical a desmaterializaccedilatildeo Na era da informatizaccedilatildeo muitos bens satildeo

constituiacutedos por bits e jaacute natildeo estatildeo fixados em suportes materiais Compra-se muacutesica em

mp3 literatura e livros acadecircmicos em formato e-book filmes em formatos que

permitem a visualizaccedilatildeo em aparelhos moacuteveis por exemplo A miniaturizaccedilatildeo dos

equipamentos favoreceu a compressatildeo dos bens culturais em arquivos cada vez menores e

compactos faacuteceis de serem descarregados e trocados

Se antes encontraacutevamos um amigo e lhe empresaacutevamos um CD hoje podemos

enviar-lhe as mesmas muacutesicas sem sair de casa por e-mail acessiacuteveis atraveacutes de um link

que o redireciona a um site de hospedagem de arquivos ou a um software de partilha

peer-to-peer (P2P) Praacuteticas como esta geraram profundas mudanccedilas na forma como

consumimos cultura A evoluccedilatildeo da tecnologia facilitou a reproduccedilatildeo aleacutem de barateaacute-la

consideravelmente

22

Para combater a troca de arquivos protegidos por direitos de autor vaacuterios paiacuteses

desenvolveram projetos de lei que propotildeem o endurecimento dos diplomas vigentes

visando utilizar a tecnologia para combater a proacutepria tecnologia Esse endurecimento das

legislaccedilotildees nacionais e internacionais propotildee o uso de medidas que causam bastante

polecircmica como taacuteticas de vigilacircncia e controlo do traacutefego de informaccedilotildees na Rede A

situaccedilatildeo levanta duacutevidas sobre as reais motivaccedilotildees de governos e empresas privadas

engajadas nessa luta contra o desrespeito aos direitos de autor Qual o limite dessas

medidas Natildeo haveria outras saiacutedas que evitassem accedilotildees radicais e invasivas

O presente estudo traz essa problemaacutetica agrave discussatildeo tomando como foco um

breve quadro comparativo entre Brasil e Portugal Discutimos as legislaccedilotildees que versam

sobre os direitos autorais em ambos as paiacuteses para assim direcionarmos nosso estudo para

as relaccedilotildees entre tecnologia e Direito e para as metamorfoses produzidas pela rede

mundial de computadores nessas relaccedilotildees desde sempre delicadas Para tal tratamos

tambeacutem da questatildeo da regulaccedilatildeo da Internet tema que natildeo eacute visivelmente relacionado com

os direitos de autor mas que os atravessa em seu nuacutecleo

Dividimos o estudo em trecircs capiacutetulos No primeiro trazemos agrave tona conceitos mais

gerais relacionados com o surgimento e desenvolvimento da Rede como a utoacutepica ideia

de um territoacuterio livre de controlo a desmaterializaccedilatildeo dos bens culturais as novas praacuteticas

de consumo e outras transformaccedilotildees que ela acarretou Ainda nesse capiacutetulo discutimos

algumas situaccedilotildees em que a tecnologia eacute utilizada para exercer vigilacircncia e monitoraccedilatildeo

como nas atividades relacionadas com o emprego e o marketing por exemplo

No segundo capiacutetulo entramos diretamente no campo das ciecircncias juriacutedicas

traccedilando um breve panorama do nascimento dos direitos de autor para em seguida nos

dedicarmos aos nossos dois objetos de estudo Portugal e Brasil Comeccedilamos por delinear

um quadro histoacuterico de ambos os paiacuteses no campo do Direito avanccedilando depois para o

estudo de projetos especiacuteficos de cada paiacutes como o Projeto de Lei Azeredo no Brasil e a

Lei da Coacutepia Privada em Portugal

Eacute ainda no segundo capiacutetulo que damos alguns exemplos de projetos de lei

voltados para o combate agrave pirataria na Rede em proporccedilotildees globais (ou que mesmo locais

satildeo paradigmaacuteticos ou que podem afetar quem estaacute para aleacutem de suas fronteiras de

atuaccedilatildeo) Falamos tambeacutem sobre a regulaccedilatildeo da Internet no Brasil e em Portugal e para

finalizarmos traccedilamos uma ponte entre direitos de autor e regulaccedilatildeo temas

intrinsecamente relacionados apesar de esta relaccedilatildeo nem sempre ser evidente

23

Abrimos o terceiro e uacuteltimo capiacutetulo tratando do direito agrave informaccedilatildeo e agrave

comunicaccedilatildeo como um direito humano Em seguida apresentamos algumas propostas de

conciliaccedilatildeo entre interesses da induacutestria dos autores e dos usuaacuterios da Rede ndash seja atraveacutes

de alternativas aos sistemas fechados de licenciamento de obras intelectuais seja por meio

de novos modelos comerciais que combinem preccedilos atraentes boa oferta e respeito pelos

direitos de autor

Decidimos traduzir todas as citaccedilotildees feitas a partir de obras em liacutengua estrangeira

de maneira a conservar a unidade linguiacutestica do trabalho As expressotildees e termos

estrangeiros foram grafados em negrito enquanto que os sublinhados aspas e itaacutelicos

foram utilizados para grafar nomes proacuteprios e ressaltar ideias que noacutes (ou os autores

citados) consideramos relevantes

Tambeacutem para facilitar a leitura optamos por fazer uma lista com as siglas e

abreviaturas constantes no texto juntamente com seus respectivos equivalentes por

extenso Resolvemos disponibilizar como anexos trecircs textos-chave que utilizamos neste

trabalho o texto brasileiro do Marco Civil da Internet o novo Projeto de Lei da Coacutepia

Privada portuguecircs e o diploma brasileiro com as propostas de reforma da Lei do Direito

Autoral

24

25

CAPIacuteTULO I

NOVAS TECNOLOGIAS NOVOS PARADIGMAS

26

27

10 O ideal da Rede como um territoacuterio livre

O nascimento da Internet foi acompanhado pelo ideal utoacutepico de surgimento de um

espaccedilo de liberdade absoluta A convicccedilatildeo era a de que se podia fazer muito pouco para

controlar o fluxo de informaccedilotildees que ultrapassam as fronteiras geograacuteficas A forma como

a conexatildeo entre as maacutequinas e a proacutepria arquitetura do sistema foram pensadas e

realizadas contribuiacutea para seu caraacuteter descentralizado e independente Criada como

ferramenta militar a antiga ARPANet foi projetada pelos norte-americanos para ser uma

rede de transmissatildeo de informaccedilotildees baseada em pontos como uma teia de aranha Se um

desses pontos fosse sabotado o sistema natildeo se danificaria pois natildeo possui um ceacuterebro

central a ser atingido A queda de um dos noacutes natildeo impossibilita a circulaccedilatildeo de

informaccedilotildees Nicolas Negroponte ressalta o prodiacutegio do sistema descentralizado que eacute a

Rede e compara seu modelo de funcionamento aos patos voando em formaccedilatildeo mesmo na

inexistecircncia de um comando suas peccedilas se ajustam de maneira admiraacutevel (Negroponte

1995 156-157)

A maior contribuiccedilatildeo da Rede agrave humanidade talvez tenha sido a liberaccedilatildeo do poacutelo

da emissatildeo ou da palavra (Lemos 2007b 37) isto eacute qualquer pessoa que tenha acesso a

um computador conectado agrave Internet pode falar e ser ouvida por centenas milhares de

outros utilizadores da Rede Atraveacutes da publicaccedilatildeo de textos viacutedeos etc em blogs e redes

sociais o internauta pode comunicar-se de maneira interativa com outros e propagar suas

ideias

O nascimento das tecnologias digitais construiu uma nova espeacutecie de cultura

marcada por relaccedilotildees sociais econocircmicas e poliacuteticas mediadas pela esfera virtual a

cibercultura O aparecimento da cibercultura tem a ver sobretudo com a transformaccedilatildeo

dos novos aparatos de informaccedilatildeo em recursos de uso ordinaacuterio por parte de pessoas e

instituiccedilotildees nessa nova era a utilizaccedilatildeo de equipamentos como telefones portaacuteteis palms

pages etc e praacuteticas como o voto eletrocircnico e o uso de home bankings se tornaram

rotineiras A palavra cibercultura aparece para dar conta desse e dos demais fenocircmenos

que nasceram agrave volta das noviacutessimas tecnologias de comunicaccedilatildeo das chamadas miacutedias

digitais interativas

Associa-se a criaccedilatildeo da expressatildeo cibercultura agrave engenheira norte-americana Alice

Hilton Fundadora do Instituto de Pesquisas Ciberculturais em 1964 Hilton foi pioneira ao

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usar a expressatildeo com sentido enfaacutetico referindo-se com seu uso a uma exigecircncia eacutetica da

nova era da automaccedilatildeo e das maacutequinas inteligentes (Ruumldiger 2011 08) Para a autora a

revoluccedilatildeo que essa nova era pocircs em marcha coloca agrave sociedade um desafio eacutetico de escala

universal A humanidade deve agora escolher entre a educaccedilatildeo emancipatoacuteria e o lazer

criativos de um lado e a adaptaccedilatildeo mecacircnica e a idiotia apaacutetica de outro Hilton afirmava

que a revoluccedilatildeo ciberneacutetica tornava necessaacuteria uma reestruturaccedilatildeo dos programas e

processos educacionais jaacute que apenas ldquoos seres humanos que aprenderem a usar a

maacutequina com sabedoria seratildeo por ela liberados para alcanccedilar sua excelecircnciardquo (Hilton

1964 146)

Com o aparecimento da Internet surgiram definiccedilotildees mais abrangentes Arturo

Escobar diz que o termo cibercultura refere-se ldquoa um amplo processo de construccedilatildeo

sociocultural (da realidade) posto em marcha no rastro das novas tecnologiasrdquo (Escobar

apud Ruumldiger 2011 09) Jaacute Pierre Leacutevy propocircs um conceito mais direto a cibercultura eacute

ldquoo conjunto de teacutecnicas (materiais e intelectuais) de praacuteticas de atitudes de modos de

pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do

ciberespaccedilordquo (Leacutevy 1999 17) Consideremos o ciberespaccedilo (o novo lugar onde se

desenvolve o mundo virtual e todos os processos que permitem e atuam em seu

funcionamento) como efeito da cibercultura

A cibercultura eacute classificada por Luacutecia Santaella como a sexta e mais recente era

cultural (Santaella 2010 77) Os estaacutegios anteriores seriam oral escrito impresso de

massas e das miacutedias A cultura de massa resultado do aacutepice de desenvolvimento das

induacutestrias culturais ficou marcada pela ideia do Homem como um mero receptor sem

poder de decisatildeo despersonalizado e alienado pela enxurrada de informaccedilotildees generalistas

produzidas em larga escala Isso se deu segundo Joeumll Rosnay porque a estrutura de

distribuiccedilatildeo e difusatildeo dos produtos e serviccedilos culturais baseada em um modelo piramidal

transformou-nos de facto em receptores passivos (Rosnay 1997 295-296) O exemplo

crucial eacute o da televisatildeo natildeo haacute qualquer relaccedilatildeo dinacircmica entre produtores e receptores de

informaccedilatildeo A uacutenica forma de saber o que o puacuteblico pensa eacute realizar inqueacuteritos pesquisas

de audiecircncia ou outros levantamentos do gecircnero ndash mas tudo isso se faz em outro contexto

que natildeo o do momento do visionamento Agrave parte disso soacute recebemos aquilo que nos eacute

dado sem poder interferir nos processos produtivos

A passagem para a cultura das miacutedias se deu com o aparecimento da TV por cabo

do fax das fotocopiadoras do videocassete e de um sortimento maior de possibilidades de

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comunicaccedilatildeo Eacute aiacute que a segmentaccedilatildeo da audiecircncia aparece para quebrar a uniformidade

da oferta

Mas foi na transiccedilatildeo da cultura das miacutedias para a cibercultura que houve a

mudanccedila mais profunda a relaccedilatildeo receptiva de sentido uacutenico com o televisor caminhou

rumo ao modo interativo e bidirecional que eacute exigido pelos computadores Para Francisco

Ruumldiger na nova miacutedia digital a comunicaccedilatildeo eacute interativa em sentido simultaneamente

especiacutefico e ampliado ampliado por um lado porque permite a interaccedilatildeo humana ativa e

em matildeo dupla com os proacuteprios equipamentos e meios que a viabilizam especiacutefico de

outro porque esta circunstacircncia permite ainda a interaccedilatildeo social ativa com outros seres

humanos ao promover o aparecimento de redes participativas que superam a pura e

simples interligaccedilatildeo social como ocorria nas miacutedias precedentes (Ruumldiger 2011 13)

A cibercultura abriu vias alternativas de comunicaccedilatildeo e deu ao puacuteblico uma vasta

gama de opccedilotildees nunca antes possiacutevel Ao contraacuterio das miacutedias precedentes que montavam

suas grades de programaccedilatildeo e de conteuacutedos agrave revelia das muacuteltiplas preferecircncias do

puacuteblico no ciberespaccedilo o utilizador tem infinitas possibilidades de escolha podendo

transitar de um conteuacutedo para outro em apenas alguns cliques criando seu proacuteprio

ambiente informacional e mesclando-o com outros Natildeo que antes natildeo houvesse

possibilidades de acesso e produccedilatildeo underground da informaccedilatildeo (fanzines raacutedios piratas

etc) ndash elas sempre existiram mas com alcance bastante limitado

Na cibercultura a piracircmide produtiva em seu modelo hieraacuterquico no qual os

papeis desempenhados eram fixos comeccedila a ceder Cada um pode torna-se produtor

criador difusor de seus proacuteprios conteuacutedos A sociedade de distribuiccedilatildeo piramidal

comeccedilou a sofrer a concorrecircncia de uma sociedade reticular de integraccedilatildeo em tempo real ndash

eacute essa uma das caracteriacutesticas mais marcantes da nova era midiaacutetica a era da cibercultura

Cada vez mais ela vecirc seu lugar de mediadora social da opiniatildeo puacuteblica ser denunciado e

rejeitado por partes significativas das grandes massas que antes se deixavam de bom

grado representar (Rushkoff 1999 141-142)

No entanto essa mudanccedila natildeo significou a morte daquilo a que Manuel Castells

chamou ldquooligopoacutelios comunicacionaisrdquo (Castells 2005 24) A influecircncia das grandes

induacutestrias de miacutedia e dos conglomerados comunicacionais continua relativamente forte no

ciberespaccedilo persistindo tambeacutem a defesa de seus interesses em detrimento do interesse

puacuteblico Conforme Castells afirma

30

() a sociedade em rede constitui comunicaccedilatildeo socializante para laacute do sistema de mass

media que caracterizava a sociedade industrial Mas natildeo representa o mundo de

liberdade entoada pelos profetas da ideologia libertaacuteria da Internet Ela eacute constituiacuteda

simultaneamente por um sistema oligopolista de negoacutecios multimeacutedia que controlam um cada vez mais inclusivo hipertexto e pela explosatildeo de redes horizontais de

comunicaccedilatildeo localglobal (CASTELLS 2005 24)

Os grandes conglomerados temem perder sua influecircncia e seu prestiacutegio e para

evitar ameaccedilas reagem usando muitos meios que ajudam a manter seu status quo no

universo comunicacional Basta que os interesses das empresas vejam-se ameaccedilados por

iniciativa dos usuaacuterios para o conflito explodir e o confronto aparecer em toda sua

violecircncia (Antoun Lemos amp Pecini 2007 264)

Eacute preciso salientar que o desenvolvimento da informaacutetica expandiu natildeo apenas as

ferramentas libertaacuterias que abriram um maior acesso agrave informaccedilatildeo e agrave cultura mas

tambeacutem os meios de controlo a esse acesso A tecnologia se mostra uma faca de dois

gumes capaz de facilitar o contato de seu usuaacuterio com canais eficientes de interaccedilatildeo e

participaccedilatildeo mas ao mesmo tempo uacutetil aos governos e aos grupos de interesses em sua

empreitada pela vigilacircncia das atividades desse usuaacuterio na Rede Recorrendo mais uma

vez a Castells

Aplicaccedilotildees de software podem configurar-se sobre a Internet permitindo a

identificaccedilatildeo de rotas de comunicaccedilatildeo e conteuacutedos Atraveacutes do uso destas tecnologias pode-se transgredir a privacidade e enquanto se chega a relacionar determinados

indiviacuteduos com processos de comunicaccedilatildeo especiacuteficos em contextos institucionais

concretos eacute possiacutevel utilizar todas as formas tradicionais de controlo poliacutetico e

organizativo contra o indiviacuteduo ligado em rede (CASTELLS 2007 203)

Dispositivos moacuteveis equipamentos informaacuteticos interligados e redes sem fio

constituem o territoacuterio informacional Entenda-se por territoacuterio informacional as zonas de

controlo de informaccedilatildeo resultantes da intersecccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico com o eletrocircnico

Pensar em termos de territoacuterio digital permite visualizar a fronteira do fluxo

informacional colocando-nos questotildees poliacuteticas relacionadas com a privacidade o

controlo e a vigilacircncia Isto porque ldquotodo territoacuterio informacional eacute um lugar social de

vigilacircncia de fronteiras jaacute que lsquoa soberania se exerce nos limites de um territoacuteriorsquo

(Foucault 2006 27) Os territoacuterios informacionais satildeo lugares onde se exercem controles

[]rdquo (Lemos 2007a 208) Em obra posterior Andreacute Lemos afirma ainda o seguinte

31

O territoacuterio informacional natildeo eacute o ciberespaccedilo mas o espaccedilo movente hiacutebrido

formado pela relaccedilatildeo entre o espaccedilo eletrocircnico e o espaccedilo fiacutesico Por exemplo o lugar

de acesso sem fio em um parque por redes wi-fi eacute um territoacuterio informacional distinto

do espaccedilo fiacutesico parque e do espaccedilo eletrocircnico Internet Ao acessar a Internet por essa rede wi-fi o usuaacuterio estaacute em um territoacuterio informacional imbricado no territoacuterio fiacutesico

(e poliacutetico cultura imaginaacuterio etc) do parque [] O territoacuterio informacional cria um

lugar dependente dos espaccedilos fiacutesico e eletrocircnico a que ele se vincula [] O que estaacute

em jogo eacute o controle (territorializaccedilatildeo) informacional e consequentemente uma nova

funccedilatildeo dos espaccedilos (puacuteblicos e privados) (LEMOS 2010 64)

Ainda haacute quem acredite que a Rede eacute um territoacuterio neutro sem governanccedila que

exerccedila algum controlo de entrada e do traacutefego de conteuacutedos em circulaccedilatildeo A situaccedilatildeo natildeo

eacute bem esta desde que a Internet passou a ser mateacuteria de legislaccedilatildeo ndash como em casos de

paiacuteses que jaacute punem judicialmente algueacutem que produza e divulgue via Internet

informaccedilotildees caluniosas sobre outrem cometa fraudes financeiras usando a Rede como

canal fira a propriedade intelectual etc

Vaacuterios autores consideram o ciberespaccedilo como um espaccedilo ilimitado constituiacutedo

por redes informacionais planetaacuterias permitindo a circulaccedilatildeo fora de qualquer

constrangimento Para eles a Rede seria portanto um espaccedilo puro e eteacutereo Os entusiastas

da liberdade absoluta na Internet afirmam que no ciberespaccedilo o territoacuterio rugoso e

resistente eacute apagado apenas subsistindo um espaccedilo fluido feito para circulaccedilatildeo Contudo

embora realmente permita essa circulaccedilatildeo o ciberespaccedilo eacute tambeacutem um espaccedilo estriado

institucionalizado controlado feito por protocolos de acessos a partir de senhas

informacionais organizado por padrotildees tecnoloacutegicos que satildeo geridos pelo ICANN

instituiccedilatildeo do Departamento de Comeacutercio Americano O ciberespaccedilo natildeo eacute um territoacuterio

apenas liso e fluido mas tambeacutem um territoacuterio de controlo e vigilacircncia ou seja um ldquolugar

de territorializaccedilatildeordquo (Lemos 2007b 44-45)

Para Luacutecia Santaella o tratamento criacutetico das chamadas ldquosupervias

informacionaisrdquo e da cibercultura que nelas se gera pode se dividir em duas tendecircncias a

eufoacuterica e a disfoacuterica (Santaella 2010 72-73) Os adeptos eufoacutericos pregam a ideia da

libertaccedilatildeo e das possibilidades utoacutepicas abertas pela comunicaccedilatildeo digital A atmosfera de

zona livre que a Internet aparentava ter nutriu ideais de mudanccedilas das formas de poder

social vigentes Pensou-se a Rede e seu caraacuteter imaterial como um novo espaccedilo livre das

formas tradicionais de propriedade Como diz Sherry Turkle ldquoPessoas que pensam o

mundo em termos burocraacuteticos preconizaram os modos pelos quais as comunidades

eletrocircnicas estariam fadadas a minar as formas tradicionais de organizaccedilatildeo e poder

sociaisrdquo (Turkle 1997 247)

32

No outro extremo estatildeo os adeptos disfoacutericos que transplantam para o ciberespaccedilo

os mesmos criteacuterios utilizados para criticar as outras miacutedias a cultura de massas e a

induacutestria cultural sem considerar as novidades e as especificidades desse novo meio Eacute

preciso considerar que o ciberespaccedilo eacute um fenocircmeno suficientemente complexo para que

natildeo o categorizemos a partir do ponto de vista de qualquer miacutedia previamente existente

Ateacute na discussatildeo referente agrave regulaccedilatildeo1 devemos considerar esse aspecto Mais adiante

voltaremos a falar sobre isso

Henrique Antoun salienta a metamorfose provocada pela comunicaccedilatildeo distribuiacuteda

pelas redes interativas mas critica o cacircntico do cibermundo libertador entoado pelos mais

entusiasmados Apesar do potencial transformador das novas tecnologias de seu poder de

reunir pessoas em prol de objetivos comuns e de seu largo alcance no globo a profusatildeo

em cascata de informaccedilotildees irrelevantes ergue um gigantesco tsunami onde se guarda a

maior parte dos conteuacutedos em circulaccedilatildeo na Internet E isso tudo estaacute longe da

recombinaccedilatildeo criadora e da atitude libertaacuteria preconizada nos mantras entoados pelos

ciberativistas (Antoun 2010 142)

Devemos considerar poreacutem que atraveacutes da apoteose da emissatildeo livre (liberdade de

vozes opiniotildees ideias) o ciberespaccedilo abriu possibilidades de mudanccedila movimento e

linhas de fuga Natildeo eacute agrave toa que atitudes de repressatildeo agrave palavra e agrave conexatildeo livres satildeo

prerrogativas tiacutepicas dos regimes totalitaacuterios

O facto eacute que os poderes judiciaacuterios de vaacuterias naccedilotildees espalhadas pelo planeta

perceberam a necessidade de punir natildeo apenas quem ferisse a moral de outra pessoa

atraveacutes da Rede mas tambeacutem quem atentasse contra outro dos ldquodireito de personalidaderdquo

ndash a saber os direitos de autor - e tambeacutem quem desrespeitasse a propriedade intelectual

Com isso a principal duacutevida que se levanta desde entatildeo eacute como adaptar o quadro juriacutedico

que versa sobre os direitos de autor os direitos conexos e a propriedade intelectual a esse

novo meio o virtual Para tentar responder a essa questatildeo eacute preciso observar algumas

mudanccedilas trazidas natildeo soacute pela Internet mas tambeacutem pelas miacutedias digitais de maneira

geral

20 O fenocircmeno da desmaterializaccedilatildeo da obra

1 Utilizamos aqui o termo regulaccedilatildeo para nos referirmos ao conjunto de medidas legais ou regulamentares

que regem um assunto (no caso um meio a Internet) embora haja especialistas que evoquem o mesmo tema

com os termos regulamentaccedilatildeo governaccedilatildeo ou governanccedila

33

Em seu formato analoacutegico uma informaccedilatildeo ndash agrave maneira de uma onda sonora que

se desloca no ar ou de um sinal eleacutetrico ndash eacute uma grandeza fiacutesica que varia e evolui no

tempo de maneira contiacutenua A digitalizaccedilatildeo consiste em dividir essa grandeza em

pequenas fraccedilotildees mediante o valor que tecircm em intervalos regulares (para a muacutesica de um

CD por exemplo 40000 vezes por segundo) Depois eacute preciso quantificar esse valor

atribuindo-lhe uma identificaccedilatildeo informaacutetica sob formato binaacuterio isto eacute utilizando apenas

dois nuacutemeros 0 e 1 (bits da informaccedilatildeo) O sinal digital eacute portanto um fluxo de bits

estocado em um disco laser e agrupado em pacotes podendo ser tratado por qualquer

computador

A digitalizaccedilatildeo homogeneiacuteza todas as fontes de informaccedilatildeo em cadeias sequenciais

de 0 e 1 Suas maiores vantagens satildeo a compressatildeo de dados e a correccedilatildeo de erros A

compressatildeo baseia-se no facto de que um sinal conteacutem muitas informaccedilotildees inuacuteteis ou

redundantes Atraveacutes da observaccedilatildeo dos bits no tempo no espaccedilo ou em ambos podem-se

remover as repeticcedilotildees comprimindo assim a forma baacutesica do som e da imagem Isso

permite inclusive a compressatildeo e descompressatildeo codificando e decodificando mensagens

em viacutedeo por exemplo A fusatildeo entre aacuteudio viacutedeo e texto em um soacute produto eacute

denominada multimiacutedia Ela refere-se assim ao tratamento digital de todas as

informaccedilotildees (som imagem programas informaacuteticos e texto) com a mesma linguagem

universal aquilo a que Joeumll Rosnay chamou de ldquoesperanto das maacutequinasrdquo (Rosnay 1997

97)

Antes da digitalizaccedilatildeo os suportes eram incompatiacuteveis e isolados cada um com

uma funccedilatildeo especiacutefica fita magneacutetica para viacutedeo ou som papel para texto e peliacutecula para

fotografia ou filme Hoje a transmissatildeo de dados digitais natildeo depende do meio de

transporte (cabos sateacutelite ondas de raacutedio etc) e sua qualidade natildeo eacute afetada por ele

Aleacutem do mais sua estocagem eacute extremamente barata Desde o iniacutecio da informaacutetica as

memoacuterias dos computadores tecircm evoluiacutedo sempre em direccedilatildeo a uma maior capacidade de

armazenamento maior miniaturizaccedilatildeo maior rapidez de acesso e confiabilidade enquanto

seu custo cai constantemente O processamento de dados por parte dos computadores

tambeacutem se desenvolve a passos largos obedecendo agrave previsatildeo de Gordon Moore em 1965

(naquela que ficou conhecida como ldquoLei de Moorerdquo que disse que o poder de

processamento dos computadores dobraria a cada vinte e quatro meses) (Leacutevy 1999 34)

34

Em um uacutenico setor do todo digital foram fundidas as principais formas de comunicaccedilatildeo

humana o documento escrito (imprensa livro etc) o audiovisual (cinema televisatildeo

etc) as telecomunicaccedilotildees (telefone cabo sateacutelites) e a informaacutetica (computadores

softwares etc) Eacute esse o processo comumente denominado ldquoconvergecircncia das miacutediasrdquo

(Santaella 2010 84)

A digitalizaccedilatildeo tambeacutem facilitou os processos de transferecircncia de dados Depois de

serem convertidos em linguagem binaacuteria os dados hiacutebridos podem ser sintetizados em

qualquer lugar e em qualquer tempo para gerar produtos com as mesmas caracteriacutesticas

visuais e sonoras Assim os dados natildeo dependem do tempo nem do espaccedilo podendo ser

reproduzidos de maneira idecircntica natildeo importando qual tenha sido sua origem nem seu

destino Eles satildeo telegrafaacuteveis Para que isso se realize precisam apenas de um modem e

de uma conexatildeo telefocircnica entre terminais de computadores

Foram dois estudantes da Universidade de Chicago que criaram o modem em

1978 Para natildeo percorrerem a longa distacircncia entre suas respectivas casas os estudantes

tentaram desenvolver um sistema de transferecircncia de programas de um computador a

outro via telefone Eles entatildeo inventaram o protocolo Xmodem que permitia que

computadores transferissem arquivos diretamente sem passar por um sistema principal

Modem significa ldquomodulador-desmoduladorrdquo Ele transforma os impulsos eletrocircnicos

produzidos pelo computador (os coacutedigos sob a forma de bits) em impulsos sonoros ou

digitais compactados tornando-os assim capazes de viajar em alta velocidade pelas redes

telefocircnicas Na recepccedilatildeo outro modem reconverte esses impulsos em textos sons ou

imagens Joeumll Rosnay diz que o modem eacute a sinapse universal do sistema nervoso

planetaacuterio (Rosnay 1997 138)

Portanto o que diferencia a informaccedilatildeo distribuiacuteda pela Internet daquela difundida

em formatos tradicionais eacute a natureza ela deixou de se apoiar em suportes fiacutesicos como

um livro ou CD por exemplo para ser convertida em linguagem binaacuteria O efeito nos leva

a pensar em paralelo ao que Karl Marx quis dizer quando afirmou que ldquotudo o que eacute soacutelido

desmancha no arrdquo (Marx apud Berman 1982 85) Essa mudanccedila na forma como a

informaccedilatildeo eacute fixada provocou profundas transformaccedilotildees na maneira como eacute distribuiacuteda

comercializada e reproduzida A desmaterializaccedilatildeo da obra diminuiu os limites entre a

reproduccedilatildeo difusatildeo e sua circulaccedilatildeo Jaacute natildeo existem barreiras fiacutesicas que separem os trecircs

processos Uma obra que antes soacute poderia ser distribuiacuteda pelos serviccedilos postais hoje pode

ser acessada atraveacutes de um download e seu conteuacutedo pode ser visualizado por meio de um

35

servidor de Internet A era da cibercultura faz nascer um novo paradigma a digitalizaccedilatildeo

que por ter vocaccedilatildeo cosmopolita rompe fronteiras barateando os custos da circulaccedilatildeo e

reproduccedilatildeo de artefatos culturais

A aura da obra original agrave qual se referiu Walter Benjamin no claacutessico texto ldquoA

obra de arte na era da sua reprodutibilidade teacutecnicardquo (Benjamin 2012 59) quebra-se

duplamente na era da cibercultura natildeo soacute pela possibilidade de copiaacute-la infinitamente

mas tambeacutem de reproduzi-la e espalhaacute-la sem sequer ser preciso algum suporte fiacutesico

Pierre Sirinelli afirma que o fenocircmeno da digitalizaccedilatildeo de bens culturais ldquopode levar agrave

lsquodessacralizaccedilatildeorsquo da obra de criaccedilatildeo intelectual com a eliminaccedilatildeo de seu suporte fiacutesico

[]rdquo (Sirinelli apud Neto 1997 14) A ausecircncia do exemplar material faz faltar uma das

caracteriacutesticas da obra protegida pelo direito do autor a fixaccedilatildeo (Paesani 2008 48) A

desmaterializaccedilatildeo da obra e suas consequecircncias satildeo pontos centrais na discussatildeo sobre as

mudanccedilas sofridas pelo direito de autor na era da informatizaccedilatildeo

30 Espaccedilo e tempo se comprimem a dromocracia firma-se

As novas tecnologias criaram um novo lugar o mundo virtual que eacute o espaccedilo onde

se desenvolve nossa existecircncia enquanto agentes virtuais capazes de intervir e de ocupar

esse territoacuterio

A noccedilatildeo de territoacuterio eacute polissecircmica e natildeo deve ser entendida apenas pelo aspecto

juriacutedico como espaccedilo fiacutesico delimitado (Lemos 2007a 209) A ideia de territoacuterio evoca o

sentido de controlo sobre fronteiras que podem ser fiacutesicas sociais simboacutelicas ou

subjetivas A criaccedilatildeo de um territoacuterio supotildee a intenccedilatildeo de controlar os processos que se

datildeo no interior das fronteiras Desterritorializar eacute portanto quebrar essas fronteiras criar

linhas de fuga Eacute justamente o que vem acontecendo desde o surgimento da Rede

A transformaccedilatildeo midiaacutetica promovida pela Internet aboliu nossas tradicionais

noccedilotildees de espaccedilo fiacutesico-geograacutefico A rede mundial de computadores trouxe a diminuiccedilatildeo

das distacircncias geograacuteficas de forma ainda mais acentuada que outros meios de

comunicaccedilatildeo veteranos ndash como o telefone por exemplo - atraveacutes de uma instantaneidade

nunca vista antes Ela promoveu a convergecircncia de diversos meios de comunicaccedilatildeo

fazendo-os trabalhar em conjunto e assim possibilitando o surgimento de um espaccedilo

multimiacutedia capaz de unificar tecnologias de texto aacuteudio e viacutedeo em tempo real

36

Com o advento da Internet a informaccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo deixaram de estar

espacialmente localizadas - isto eacute foram transferidas para o espaccedilo virtual ou ciberespaccedilo

possibilitando o contato simultacircneo de inuacutemeras pessoas entre si e com a memoacuteria do

conjunto dos computadores participantes da rede independentemente de sua localizaccedilatildeo

no espaccedilo (Sorj 2003 36) A cibercultura representou a apoteose da ldquoaldeia globalrdquo

imaginada por Marshall McLuhan (1969) agrave maneira de uma aldeia onde as notiacutecias

espalham-se velozmente a comunicaccedilatildeo em escala global se produz de maneira

praticamente instantacircnea

Armand Mattelart argumenta que a Rede tornou nulas as noccedilotildees de centralidade de

territorialidade e de materialidade

As quatro virtudes cardeais da sociedade informacional ndash ldquodescentralizarrdquo ldquoglobalizarrdquo ldquoharmonizarrdquo e ldquodar pleno poder para fazerrdquo (empowerment) ndash estatildeo a

ponto de derrubar o arcaico Leviatatilde Noacutes nos socializaremos em bairros digitais nos

quais o espaccedilo fiacutesico natildeo seraacute mais pertinente O digital suportaraacute cada vez menos a

dependecircncia em relaccedilatildeo a um lugar especiacutefico e a um tempo especiacutefico

(MATELLART 2002 150)

Anteriormente afirma que

A transgressatildeo das fronteiras eacute seu corolaacuterio quer sejam elas fiacutesicas ou funcionais O

local o nacional e o global se interpenetram A concepccedilatildeo a produccedilatildeo e a

comercializaccedilatildeo satildeo pensadas de modo sincrocircnico O recipiente e o conteuacutedo o

hardware e o software se englobam (MATTELART 2002 53)

Andreacute Lemos refere-se ao ciberespaccedilo como ambiente ldquodesterritorializanterdquo

segunda dimensatildeo de lugar que se constitui em uma realidade agrave parte do mundo material

em que vivemos e que apaga as fronteiras existentes no mundo fiacutesico pelo chamado

multiculturalismo (Lemos 2007a 212) A Rede abre espaccedilo para que diferentes culturas

se expressem e se mostrem dando-se a conhecer aos outros

Podemos dizer que a cibercultura serviu como agente difusor por excelecircncia do

multiculturalismo pela possibilidade de contatos transnacionais que promoveu Nossas

raiacutezes culturais natildeo se desprendem de noacutes mas tornam-se moacuteveis flutuantes Se

quisermos descobrir o sufismo por exemplo podemos aceder diretamente a um site

egiacutepcio e mesmo que natildeo saibamos ler em aacuterabe jaacute haacute ferramentas que permitem fazecirc-lo

pois auxiliam na traduccedilatildeo bruta de textos Nem mesmo as liacutenguas estrangeiras representam

37

barreiras Podemos ter liccedilotildees baacutesicas de aacuterabe gratuitamente pela Internet A abertura de

espaccedilos para as diferentes expressotildees culturais e linguiacutesticas manifestarem-se e a

facilidade de aceder a elas atingiu seu apogeu no ciberespaccedilo todo um universo

multicultural de pluralidade estaacute largamente disponiacutevel a alguns cliques de distacircncia

Hoje a Rede permite ao usuaacuterio estar em todos os lugares ao mesmo tempo mas

numa espeacutecie de natildeo-lugar ou de territoacuterio transnacionalizado Atraveacutes da Internet eacute

possiacutevel ouvir uma raacutedio francesa ler um jornal indiano e visitar um site russo Fazemos

coisas assim diariamente com naturalidade e facilidade Podemos conversar com um

amigo que estaacute no Liacutebano atraveacutes do Skype sem nos darmos conta de que vivemos um

processo de desterritorializaccedilatildeo generalizado Acompanhamos o desenrolar da Primavera

Aacuterabe ao vivo atraveacutes da Rede acessamos informaccedilotildees e descobrimos aquilo que natildeo faz

necessariamente parte de nosso territoacuterio fiacutesico Podemos vivenciar processos globais natildeo

enraizados na nossa tradiccedilatildeo cultural Esse fenocircmeno eacute o que Anthony Giddens (2005 15)

chama de ldquodescontextualizaccedilatildeordquo2

Por descontextualizaccedilatildeo refiro-me agrave ldquodesinserccedilatildeordquo das relaccedilotildees sociais dos contextos

locais de interacccedilatildeo e agrave sua reestruturaccedilatildeo atraveacutes de extensotildees indefinidas de espaccedilo-

tempo Os mecanismos de descontextualizaccedilatildeo [] removem as relaccedilotildees sociais da sua

ldquofixaccedilatildeordquo em locais especiacuteficos (GIDDENS 2005 15-37)

A compressatildeo do espaccedilo-tempo institui o ldquotempo realrdquo e a possibilidade de acesso

a informaccedilotildees em todos os recantos do planeta As miacutedias eletrocircnicas criam assim

processos desterritorializantes em niacuteveis poliacutetico econocircmico social cultural e subjetivo

A desterritorializaccedilatildeo informacional afeta a poliacutetica a economia o indiviacuteduo os viacutenculos

identitaacuterios a arte A Internet eacute efetivamente maacutequina desterritorializante sob os aspectos

poliacutetico (acesso e accedilatildeo para aleacutem das fronteiras) econocircmico (circulaccedilatildeo financeira

mundial) cultural (consumo de bens simboacutelicos mundiais) e subjetivo (influecircncia global

na formaccedilatildeo do sujeito) Pode-se afirmar que processos de desencaixe e de compressatildeo

espaccedilo-tempo entraram em accedilatildeo na cibercultura

Isso leva-nos a pensar no conceito de ldquodromologiardquo proposto por Paul Virilio

(2000) e retomado por Eugecircnio Trivinho (2007) Dromologia vem da palavra dromos no

original grego ldquocorridardquo A dromologia seria portanto o estudo da velocidade que

segundo Virilio tornou-se desde a Revoluccedilatildeo Industrial o regime tecnoloacutegico integral que

2 No original em inglecircs disembedding (Giddens 1995)

38

abarca todas as esferas da vida e que se ergueu como sistema social de caraacuteter

transnacional

Trivinho fala em ldquodromocracia ciberculturalrdquo para descrever a atual fase mundial

do capitalismo tardio Integrando comunicaccedilatildeo em rede instantaneidade e cultura digital

ela se traduz em outros termos como o estaacutegio mais avanccedilado da civilizaccedilatildeo midiaacutetica em

tempo real Ela tornou-se a loacutegica exponencial especiacutefica da cibercultura Dizendo de

maneira inversa a cibercultura em sua natureza se mostra como uma sociodromocracia

tecnoloacutegica em sua forma mais definida (Trivinho 2007 23)

Podemos dizer que a cibercultura eacute a era dromocraacutetica por excelecircncia no

ciberespaccedilo a velocidade eacute a grandeza mais significativa e influente

O permanente intento de vitoacuteria cineacutetica sobre o territoacuterio geograacutefico alcanccedila assim paradoxalmente na intermitente linha do tempo histoacuterico o seu ponto-limite a sua

condiccedilatildeo insuperaacutevel de natildeo-retorno com a proliferaccedilatildeo comercial dos meios

eletrocircnicos de comunicaccedilatildeo especificamente no que dizem respeito ao tempo real []

O respectivo ecircxito sobre o territoacuterio geograacutefico significa mais propriamente liquidaccedilatildeo

e superaccedilatildeo do mesmo em favor da loacutegica pura do tempo (TRIVINHO 2007 56-57)

A questatildeo do territoacuterio tem relaccedilatildeo direta com o controlo A noccedilatildeo de territoacuterio

como controlo vem da etologia mostrando como o comportamento dos animais estabelece

zonas efetivas de controlo Toda ideia de territoacuterio tem ligaccedilatildeo direta com a noccedilatildeo de

acesso e controlo no interior das fronteiras Para Lemos as palavras acesso e controlo satildeo

extremamente importantes para que consigamos compreender a sociedade tecnoloacutegica

contemporacircnea (Lemos 2007b 43) O acesso ao universo informacional se daacute atraveacutes de

palavras-passe E na Rede haacute efetivamente um maior controlo sobre o que emitimos e

recebemos ao contraacuterio da praacutetica de consumo de informaccedilatildeo na cultura de massas Na

claacutessica cultura de massas a possibilidade de controlo existia apenas sobre as informaccedilotildees

recebidas escolha de jornais de emissoras de televisatildeo de estaccedilotildees de raacutedio etc mas natildeo

sobre a emissatildeo O territoacuterio informacional eacute uma heterotopia (Foucault 1984) do controlo

e acesso a informaccedilotildees digitais

40 Somos todos criadores a fusatildeo entre autor e consumidor

39

O papel do autor sofreu profundas metamorfoses na era da cibercultura

Hildebrando Neto afirma que ldquoas novas tecnologias afastaram o criador da criaccedilatildeo

pulverizando os mecanismos de defesa da obra no acircmbito das redes de comunicaccedilatildeo

eletrocircnicardquo (Neto 1997 14) A aceleraccedilatildeo tecnoloacutegica tambeacutem cria outro receptor ativo

agitado cada vez mais conectado e produtor de novos valores sentidos e comportamentos

Na cibercultura a produccedilatildeo de informaccedilotildees deixou de obedecer agrave ordem do fluxo um

todos e passou a ser todos todos (Leacutevy 1999 63) Conforme diz Ronaldo Lemos

A grande promessa da Internet era exatamente esta romper com as barreiras entre

produtor e consumidor da cultura entre puacuteblico e artista Criar um territoacuterio neutro aberto que tornasse o indiviacuteduo o centro da informaccedilatildeo Um territoacuterio em que natildeo

necessariamente seria preciso reproduzir o modelo de concentraccedilatildeo da miacutedia que

predominou em todo o seacuteculo XX Em outras palavras tornar a cultura um produto da

interaccedilatildeo entre todos permitindo a qualquer um participar criativamente na sua

constituiccedilatildeo (LEMOS 2005 181)

Andreacute Lemos afirma que a cibercultura reconfigurou a induacutestria cultural pois

instaurou uma estrutura midiaacutetica iacutempar na histoacuteria da humanidade pela primeira vez

qualquer indiviacuteduo pode produzir e publicar informaccedilatildeo em tempo real sob diversos

formatos e modulaccedilotildees adicionar e colaborar em rede com outros etc (Lemos 2007b

39)

No atual contexto da cibercultura o antigo receptor passa a produzir e emitir sua

proacutepria informaccedilatildeo de forma livre multimodal (em vaacuterios formatos midiaacuteticos) e

planetaacuteria Os usuaacuterios estatildeo produzindo viacutedeos fotos muacutesicas escrevendo em blogs

criando foacuteruns e comunidades desenvolvendo softwares e ferramentas da Web 20 A

facilidade de produzir conteuacutedos tambeacutem afeta a forma como se daacute essa tarefa A

revoluccedilatildeo no papel do produtor atinge um ponto-chave no processo criativo a questatildeo do

estilo O estilo pode ser definido como um certo modo de criar proacuteprio de um autor

indicado pelas marcas de autoria (Santaella 2009 104)

Nos seacuteculos precedentes se encarava a atividade de criaccedilatildeo como algo

completamente individual O autor era algueacutem que isoladamente desenvolvia suas

criaccedilotildees artiacutesticas de forma solitaacuteria soacute deixando essa situaccedilatildeo no momento em que

apresentava sua obra publicamente pela primeira vez Conforme diz Henrique Gandelman

[] nesse periacuteodo noacutes temos a obra totalmente individual que se reconhece ateacute pelo estilo Se vocecirc lecirc um texto vecirc uma pintura ouve uma muacutesica no raacutedio vocecirc vai dizer

esse aiacute eacute Bach esse aiacute eacute Mozart esse aiacute eacute Joatildeo Gilberto O estilo eacute o proacuteprio homem a

40

continuaccedilatildeo da sua personalidade Entatildeo noacutes podemos observar que as primeiras leis de

direito autoral satildeo enfocadas centralizadas nesse trabalho individual em que se tinha

claramente o escritor o pintor o compositor o arquiteto que satildeo trabalhos feitos por

uma individualidade na solidatildeo do seu trabalho (GANDELMAN 1997 68)

As consequecircncias que o desenvolvimento tecnoloacutegico teve no estilo natildeo podem ser

deixadas de lado Maacutequinas como o computador alteraram o gesto criativo humano

automatizando-o Elas passam a funcionar como parceiras do indiviacuteduo no ato de criar

Luacutecia Santaella sugere que jaacute que o estilo se define pelas marcas de autor na

contemporaneidade eacute preciso compartilhar essas marcas com as maacutequinas que misturam

personificaccedilatildeo e automatizaccedilatildeo da criaccedilatildeo (Santaella 2009 105)

Outro fator que coloca profundamente em questatildeo a tradicional ideia de autoria

encontra-se no vastamente discutido conceito de interatividade Tecnologias da

inteligecircncia satildeo sine qua non tecnologias interativas E por isso mesmo elas nublam as

fronteiras entre produtores e consumidores emissores e receptores Nas formas literaacuterias

no teatro no cinema na televisatildeo e no viacutedeo haacute sempre uma linha divisoacuteria relativamente

clara entre produtores e receptores o que natildeo acontece mais nas novas formas de

comunicaccedilatildeo e de criaccedilatildeo interativas

Para Julio Plaza a interatividade natildeo eacute somente uma comodidade teacutecnica e

funcional ela implica fiacutesica psicoloacutegica e sensivelmente o espectador em uma praacutetica de

transformaccedilatildeo (Plaza 2001 36) O princiacutepio que rege a interatividade nas redes eacute o da

mutabilidade da efemeridade do vir-a-ser em processos que demandam a reciprocidade a

colaboraccedilatildeo a partilha A interatividade ciberespacial natildeo seria possiacutevel sem a

competecircncia semioacutetica do usuaacuterio para lidar com as interfaces computacionais Essa

competecircncia semioacutetica implica vigilacircncia receptividade escolha colaboraccedilatildeo controlo

desvios reenquadramentos em estados de previsibilidade de acasos desordens

adaptabilidade que satildeo entre outras as condiccedilotildees exigidas para quem prevecirc um sistema

interativo e para quem o experimenta (Santaella 2009 108-109)

Com a liberaccedilatildeo da emissatildeo os usuaacuterios podem produzir e transmitir de forma

planetaacuteria diversos tipos de informaccedilatildeo nos mais variados formatos O advento da Internet

e das maacutequinas interconectadas fomentou o aparecimento de plataformas colaborativas de

construccedilatildeo do saber Segundo Andreacute Lemos ldquoAs formas da arte eletrocircnica colaborativas

mostram diversas accedilotildees coletivas participativas e recombinatoacuterias nas quais pessoas e

grupos cooperam entre si pela via telemaacutetica [] A Internet desde seus primoacuterdios

41

configura-se como lugar de conexatildeo e compartilhamentordquo (Lemos 2007b 40) Desde seu

surgimento o ciberespaccedilo fez crescer as formas de produccedilatildeo e o consumo informacional

pela liberdade produtiva pela circulaccedilatildeo e por processos colaborativos Uma nova

economia poliacutetica comeccedilou a tomar forma produccedilatildeo significa liberaccedilatildeo da emissatildeo e

consumo eacute conexatildeo circulaccedilatildeo distribuiccedilatildeo

Como jaacute dito anteriormente os tradicionais meios de comunicaccedilatildeo unidirecionais

(emissor receptor) sofreram um abalo de proporccedilotildees gigantescas com consequecircncias

irreversiacuteveis Rodrigo Moraes reforccedila essa mudanccedila dizendo que os sistemas de

compartilhamento de arquivos por exemplo foram uma das novas ferramentas que

puseram em xeque o modelo centralizador das miacutedias claacutessicas estruturado num uacutenico

canal de emissatildeo (Moraes 2006 311) A tecnologia digital derruba a noccedilatildeo unilateral de

produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de obras intelectuais pois as novas capacidades dos usuaacuterios

descentralizaram o tradicional monopoacutelio imposto haacute seacuteculos pelas chamadas induacutestrias

culturais

Para Pierre Leacutevy a diferenccedila entre o atual estaacutegio da sociedade de informaccedilatildeo e o

quadro comunicacional anterior agrave informatizaccedilatildeo eacute substancialmente que no ciberespaccedilo

natildeo falamos mais de uma difusatildeo a partir de centros mas sim de um lugar de intensa

interaccedilatildeo O ciberespaccedilo abriga negociaccedilotildees sobre significados processos de

reconhecimento muacutetuo dos indiviacuteduos e dos grupos por meio das atividades de

comunicaccedilatildeo harmonizaccedilatildeo e debate entre os participantes (Leacutevy 1999 224)

A Rede promoveu uma abertura agrave democratizaccedilatildeo do saber O poder reunido na

centralizaccedilatildeo das informaccedilotildees vem sendo quebrado gradativamente e as novas

ferramentas de comunicaccedilatildeo comeccedilam a ser deixadas ao alcance de muitos Essa

transformaccedilatildeo evoca o conceito de inteligecircncia coletiva elaborado por Pierre Leacutevy Na era

da cibercultura assistimos agrave construccedilatildeo coletiva de conhecimentos jaacute que o espectador

tem o poder de ser tambeacutem ele emissor de informaccedilotildees e estar em contato com outros

para partilhaacute-las A inteligecircncia coletiva ldquoEacute uma inteligecircncia distribuiacuteda por toda parte

incessantemente valorizada coordenada em tempo real que resulta em uma mobilizaccedilatildeo

efetiva das competecircnciasrdquo (Leacutevy 2003 28) Partindo do pressuposto de que ldquoNingueacutem

sabe tudo todos sabem alguma coisa todo o saber estaacute na humanidaderdquo (ibidem 29) o

autor diz que o conhecimento se constroacutei na reuniatildeo do saber de cada um sobre

determinado assunto Ele estaacute em constante mutaccedilatildeo pois as diferentes informaccedilotildees vatildeo

se agregando gradativamente durante sua construccedilatildeo de forma que esse conhecimento

42

estaacute sempre inacabado aberto agraves adiccedilotildees ou modificaccedilotildees ao longo do tempo e dos

diferentes contextos sociais

A Internet eacute um espaccedilo privilegiado para a construccedilatildeo da inteligecircncia coletiva

sendo ela mesma fruto desta uacuteltima A eliminaccedilatildeo das barreiras espaccedilo-temporais cria um

lugar de fluxo para o conhecimento em construccedilatildeo jaacute que a troca e a reuniatildeo de

informaccedilotildees que partem de diversas origens satildeo facilitadas pela Rede Nessa perspectiva

o ciberespaccedilo seria o espaccedilo moacutevel das interaccedilotildees entre conhecimentos e conhecedores de

coletivos inteligentes desterritorializados As relaccedilotildees sociais de colaboraccedilatildeo entre os

utilizadores satildeo horizontais diferindo das relaccedilotildees entre produtores e consumidores das

induacutestrias culturais As relaccedilotildees satildeo constituiacutedas a partir da comunicaccedilatildeo entre pessoas e

do compartilhamento simboacutelico que criam viacutenculos e possibilitam a solidariedade As

redes horizontais de produccedilatildeo colaborativa natildeo satildeo prisioneiras dos valores de troca dos

seus produtos As redes horizontais de produccedilatildeo satildeo processos sociais criativos (Lima e

Santini 2006 123)

A interaccedilatildeo entre os diferentes usuaacuterios da Internet na elaboraccedilatildeo de

conhecimentos coletivos colabora para a construccedilatildeo de um senso comunitaacuterio na Rede Ao

inveacutes de ser um espaccedilo caoacutetico onde todos falem tudo ao mesmo tempo a Rede pode ser

um lugar onde todos se reuacutenam e formem uma comunidade organizada em torno de um

objetivo comum a construccedilatildeo coletiva do saber Em um coletivo inteligente a

comunidade assume como objetivo a constante negociaccedilatildeo da ordem estabelecida de sua

linguagem do papel de cada um e finalmente da definiccedilatildeo de seus objetivos Para Pierre

Leacutevy

Interagindo com diversas comunidades os indiviacuteduos que animam o espaccedilo do saber

longe de serem os membros intercambiaacuteveis de castas imutaacuteveis satildeo ao mesmo tempo

singulares muacuteltiplos nocircmades e em vias de metamorfose (ou de aprendizado)

permanente Esse projeto convoca um novo humanismo que inclui e amplia o

ldquoconhece-te a ti mesmordquo para um ldquoaprendamos a nos conhecer para pensar juntosrdquo e

que generaliza o ldquopenso logo existordquo em um ldquoformamos uma inteligecircncia coletiva

logo existimos eminentemente como comunidaderdquo [] Longe de fundir as

inteligecircncias individuais em uma espeacutecie de magma indistinto a inteligecircncia coletiva eacute

um processo de crescimento de diferenciaccedilatildeo e de retomada reciacuteproca das

singularidades (LEacuteVY 2003 31-32)

Na Rede haacute espaccedilo para que todos sejam ouvidos Na construccedilatildeo coletiva do saber

todos tecircm voz Os usuaacuterios valorizam essa oportunidade - trazida pela Internet - de

contribuir com informaccedilotildees na formaccedilatildeo de conhecimentos disponibilizados na Rede o

43

que explica o ecircxito de sites colaborativos como o Wikipedia Na era do conhecimento

deixar de reconhecer o Outro em sua inteligecircncia eacute recusar-lhe sua verdadeira identidade

social eacute alimentar seu ressentimento e sua hostilidade sua humilhaccedilatildeo a frustraccedilatildeo de

onde surge a violecircncia (Leacutevy 2003 32) Em contrapartida quando valorizamos o Outro

de acordo com o leque variado de seus saberes permitimos que ele se identifique de um

modo novo e positivo contribuiacutemos para mobilizaacute-lo para desenvolver nele sentimentos

de reconhecimento que facilitaratildeo consequentemente a implicaccedilatildeo subjetiva de outras

pessoas em projetos coletivos

O espaccedilo de construccedilatildeo coletiva do saber eacute um lugar de participaccedilatildeo democraacutetica

onde todos podem contribuir com alguma informaccedilatildeo teoacuterica eou praacutetica que possuam

sobre determinado assunto A perda de influecircncia dos mediadores culturais tradicionais eacute o

prenuacutencio de uma liberdade de expressatildeo nunca vista antes Apesar do inegaacutevel

movimento de concentraccedilatildeo (vd por exemplo a fusatildeo entre AOL e Time Warner) a

induacutestria da comunicaccedilatildeo natildeo tem capacidade para frear tal movimento de abertura pois o

que se oferece ao consumidor eacute precisamente a mais ampla liberdade de expressatildeo De

facto conforme refere Pierre Leacutevy a diversidade informacional e a liberdade de expressatildeo

continuam a aumentar rapidamente apesar dos movimentos de fusatildeo (Leacutevy 2004 371)

Pierre Leacutevy pertence agrave corrente teoacuterica que vecirc as possibilidades e o futuro do

ciberespaccedilo de forma bastante otimista Para ele o rompimento das barreiras entre centros

produtores de informaccedilotildees e receptores eacute positiva pelo facto de que ldquo[] eacute muito mais

difiacutecil executar manipulaccedilotildees em um espaccedilo onde todos podem emitir mensagens e onde

informaccedilotildees contraditoacuterias podem confrontar-se do que em um sistema onde os centros

emissores satildeo controlados por uma minoriardquo (Leacutevy 2004 225) De facto a Rede abriu

largo espaccedilo para a expressatildeo de opiniotildees diversas (o que obviamente inclui as

contestatoacuterias dos poderes vigentes) mas acontecimentos recentes (como o fechamento do

site de partilha de arquivos Megaupload e a prisatildeo de seu fundador Kim Schmitz na

sequecircncia das discussotildees de projetos de lei como o SOPA e o ACTA em Janeiro de 2012)

provam que o uso de forccedila policial para bloqueio suacutebito de sites eacute uma realidade (apesar

de nesses casos citados as accedilotildees natildeo terem sido justificadas com base nas determinaccedilotildees

de SOPA e ACTA porque ambas natildeo passam de projetos que nem sequer estatildeo em

vigor) apesar de toda oposiccedilatildeo e as ondas de protestos levantadas pela sociedade civil

A descentralizaccedilatildeo da produccedilatildeo de informaccedilotildees foi amplamente sentida no setor

editorial sobretudo na circulaccedilatildeo de jornais Uma pesquisa feita nos EUA e citada por

44

Andrew Keen diz que os lucros e a circulaccedilatildeo despencaram de maneira impressionante

em todas as principais empresas jornaliacutesticas do paiacutes ndash caiacuteram 69 na New York Times

Company 28 na Tribune Company e 11 na Gannet a maior dos EUA (Keen 2008

13) Essa eacute uma tendecircncia em todos os mercados editoriais do mundo No Brasil os

jornais filiados ao Instituto Verificador de Circulaccedilatildeo (IVC) tiveram 48 de queda na

circulaccedilatildeo durante o primeiro semestre de 2009 (Portal Imprensa 2009) Jaacute em Portugal

dados da Associaccedilatildeo Portuguesa para o Controlo de Tiragem e Circulaccedilatildeo (APCT) para o

mesmo periacuteodo apontam queda de 76 (Diaacuterio de Notiacutecias 2009)

Na tentativa de amenizar o impacto da digitalizaccedilatildeo e faacutecil distribuiccedilatildeo de

informaccedilotildees via Internet muitos jornais passam a cobrar pelo acesso ao seu conteuacutedo on-

line como fez em Fevereiro de 2010 o diaacuterio francecircs Le Figaro (Folha de S Paulo 2010)

e como jaacute vem sendo feito pela brasileira Folha Online O presidente do The New York

Times Artur Sulzberger afirmou que a cobranccedila pelo acesso a seu conteuacutedo on-line

iniciada em 2011 eacute uma fonte de receita fundamental para o veiacuteculo (Portal Imprensa

2010)

Vaacuterios estudiosos apontam para uma crise no modelo produtivo e econocircmico da

induacutestria cultural massiva embora isso natildeo provoque necessariamente a sua aniquilaccedilatildeo

(Lemos 2007b 39-40) No que se refere agraves reconfiguraccedilotildees da induacutestria cultural em seu

modelo claacutessico uma das grandes questotildees que atualmente surge eacute a da autoria e da

proteccedilatildeo de obras para a reproduccedilatildeo uso e coacutepia Algumas alternativas jaacute estatildeo surgindo

como opccedilatildeo para a criaccedilatildeo de mecanismos legais de recombinaccedilatildeo conhecidos como

licenccedilas abertas ou Copyleft Um exemplo de sucesso eacute a licenccedila Creative Commons ndash

licenccedila de uso que permite a modificaccedilatildeo a coacutepia e a distribuiccedilatildeo de obras com

especificaccedilotildees bastante flexiacuteveis Mais adiante falaremos sobre ela O facto eacute que a era da

cibercultura tem-se mostrado o aacutepice da crise dos sistemas culturais legais e econocircmicos

pela reconfiguraccedilatildeo da induacutestria cultural claacutessica massiva que implica

50 A era de ouro do remix

A digitalizaccedilatildeo das obras intelectuais facilitou sua transferecircncia e sobretudo sua

transformaccedilatildeo A cibercultura ldquoterritoacuterio recombinanterdquo (Lemos 2007b 35) por

45

excelecircncia deu origem ao que Lawrence Lessig chama de ldquocultura do remixrdquo ou da

colagem em que o processo de criaccedilatildeo usa de forma natildeo soacute indireta mas tambeacutem direta

outras obras como elemento de construccedilatildeo da obra final (Lessig 2005 17) Consideramos

aqui o termo remix exatamente como abordado por Lawrence Lessig natildeo apenas como a

recombinaccedilatildeo e transformaccedilatildeo de muacutesicas mas de toda e qualquer obra do espiacuterito Satildeo

bens culturais utilizados como mateacuterias-primas para a transformaccedilatildeo de si mesmos o que

inevitavelmente resulta em novas obras do espiacuterito Cria-se um horizonte para aleacutem

daquele da apropriaccedilatildeo e mera justaposiccedilatildeo de teacutecnicas antigas ocorre um entrelaccedilamento

de teacutecnicas formando natildeo o novo ou o poacutes mas o recombinado remixado ou sampleado

(Castro e Silva 2007 24) Por sampler entende-se um equipamento que armazena sons e

trechos de muacutesica em sua memoacuteria para reproduzi-los e alteraacute-los Seja em um novo disco

de hip hop no VJ que remixa imagens de TV e filmes em projetos de viacutedeo-arte ou na

simples tarefa de ldquocopiar ndash colarrdquo muitos teoacutericos estatildeo de acordo que o remix eacute a peccedila

central do processo criativo contemporacircneo

A recombinaccedilatildeo de diversos elementos (sejam eles produtivos religiosos ou

artiacutesticos) eacute sempre um traccedilo constitutivo de toda formaccedilatildeo cultural Por outro lado toda

tentativa de fechamento sobre si acarreta empobrecimento homogeneidade e morte Para

manter-se forte e dinacircmica a cultura necessita aceitar e ser de alguma forma permeaacutevel a

outras formas culturais Esse processo estaacute em marcha desde as culturas mais ldquoprimitivasrdquo

ateacute a cultura contemporacircnea e a cibercultura (Lemos 2007b 35-36) Portanto podemos

dizer que a grande novidade natildeo eacute a recombinaccedilatildeo em si mas a forma a velocidade e o

alcance global desse movimento

O uacutenico problema da cultura do remix eacute que ela eacute ilegal Graccedilas ao sistema de

direitos autorais que herdamos do seacuteculo XIX e que continua a ser sistematicamente

ampliado ao longo do tempo (inclusive globalmente atraveacutes da Organizaccedilatildeo Mundial do

Comeacutercio - OMC) cada obra cultural existente na Internet ou em qualquer outro lugar

tem dono E utilizar a obra para qualquer finalidade (copiar distribuir alterar modificar

etc) sem autorizaccedilatildeo expressa eacute uma violaccedilatildeo dos direitos de propriedade do autor ou de

seus intermediaacuterios

A linha entre referecircncias culturais e plaacutegio se mostra bastante tecircnue e nos leva a

pensar se tudo natildeo adveacutem de facto de ideias precedentes de obras jaacute realizadas O

produtor norte-americano Kirby Ferguson criou uma seacuterie de viacutedeos dedicados a essa

questatildeo e no site Everything is a Remix fornece mais evidecircncias de que tudo que eacute

46

ldquonovordquo eacute na verdade inspirado em obras jaacute criadas ou eacute formado por combinaccedilotildees ou

ediccedilotildees de materiais jaacute existentes Em um dos viacutedeos vemos por exemplo sequecircncias do

filme Kill Bill (2003) de Quentin Tarantino exatamente iguais (ou bastante semelhantes)

a cenas de outros longas-metragens como Sanjuro (1962) Lady snowblood (1973) e

Blade Runner (1982)

Lawrence Lessig salienta o problema do ponto de vista legal que a remixagem de

obras produzidas por outras pessoas pode gerar e afirma que as ferramentas tecnoloacutegicas

disponiacuteveis atualmente no mundo permitem a qualquer pessoa possibilidades criativas

jamais sonhadas (Lessig 2005 18) Um nuacutemero gigantesco de pessoas usa cotidianamente

essas ferramentas em seus sites blogs fotologs ou mesmo incluindo textos e imagens em

trabalhos escolares por exemplo Apesar disso do jeito como eacute hoje essas atividades

devem continuar relegadas agrave posiccedilatildeo de mero hobby ou divertimento domeacutestico Isso

porque sempre estamos sob o risco de sermos processados pela violaccedilatildeo da propriedade de

algueacutem Em outras palavras cada vez temos mais acesso a recursos criativos que antes

eram privileacutegio das grandes empresas de miacutedia mas devemos nos abster de usar esse

poder ldquoseriamenterdquo gerando desenvolvimento conhecimento e acesso Importa citar

Lessig

A mesclagem eacute o elemento formador da sociedade cultural em detrimento agrave induacutestria

cultural centralizada O instrumento para retardar essa quebra de barreiras e a

construccedilatildeo de uma sociedade autocircnoma eacute juriacutedico Esse instrumento em formas de

utilizaccedilatildeo estrateacutegica dos institutos da propriedade intelectual que satildeo desvirtuados de

sua funccedilatildeo originaacuteria de promover incentivos agrave criaccedilatildeo e passam a se transformar em

ferramentas de reserva de mercado para que as novas miacutedias digitais sejam ocupadas

pela mesma induacutestria cultural estadunidense que prevaleceu no seacuteculo XX (LESSIG

2005 18)

Para ilustrar a ideia contida na citaccedilatildeo podemos evocar o famoso caso Eldred

mais conhecido como o caso da ldquoLei de Proteccedilatildeo ao Mickey Mouserdquo Esse exemplo

resume bem os embates entre a induacutestria cultural e o restante da sociedade aquela

buscando a proteccedilatildeo perpeacutetua e ilimitada da sua propriedade e esta atraveacutes de diversos

agentes buscando o balanccedilo apropriado entre direitos autorais e domiacutenio puacuteblico O caso

Eldred expandiu por mais 20 anos a proteccedilatildeo dos direitos autorais nos Estados Unidos Em

1998 Mickey Mouse cairia em domiacutenio puacuteblico mas um intenso lobby no congresso

estadunidense culminou na aprovaccedilatildeo do chamado Sony Bono Act apelidado de ldquoLei de

Proteccedilatildeo ao Mickey Mouserdquo Por ela toda e qualquer obra ganhou mais 20 anos de

47

proteccedilatildeo autoral A explicaccedilatildeo para tal expansatildeo eacute incerta Ateacute hoje eacute difiacutecil saber quais

benefiacutecios essa ampliaccedilatildeo trouxe para a sociedade como um todo Se o direito autoral

existe para incentivar os artistas a criarem porquecirc expandir o prazo de proteccedilatildeo de obras

que jaacute foram criadas

Os prejuiacutezos dessa decisatildeo foram poreacutem bem mais extensos Junto com Mickey

Mouse deixaram de cair em domiacutenio puacuteblico muitas outras obras que atualmente jaacute

estariam disponiacuteveis para qualquer pessoa traduzir partilhar e publicar Dentre elas

contos de Scott Fitzgerald poemas de Robert Frost muacutesicas de George Gershwin e filmes

de Buster Keaton O maior problema de se estender o prazo de proteccedilatildeo dos direitos

autorais dessa maneira eacute que ele aumenta a dificuldade de promover a preservaccedilatildeo das

obras que natildeo possuem o mesmo valor comercial de um Mickey Mouse Devemos

considerar que a ampliaccedilatildeo do regime de propriedade prolonga a necessidade de se pedir

autorizaccedilatildeo para praticamente tudo que se queira fazer com a obra Tal situaccedilatildeo afeta

sobretudo as obras de baixo valor comercial (mas de elevado valor artiacutestico) Os recursos

para preservaccedilatildeo de tais obras jaacute satildeo poucos e diminuem ainda mais no labirinto juriacutedico

das autorizaccedilotildees As consequecircncias satildeo danosas milhares de obras que cairiam em

domiacutenio puacuteblico deixam de poder ser reproduzidas digitalizadas e publicadas livremente

e acabam deteriorando-se (juntamente com seu suporte fiacutesico) porque ningueacutem consegue

autorizaccedilatildeo para lidar com elas

60 Tipos de vigilacircncia e tecnologias de controlo quem satildeo e como trabalham os

gatekeepers do ciberespaccedilo

Na deacutecada de 50 David Manning White propocircs o conceito que ficou conhecido na

teoria da comunicaccedilatildeo por gatekeeping (Sousa 2002 39) White tinha o objetivo de

identificar os criteacuterios que faziam com que determinadas notiacutecias fossem ou natildeo

selecionadas para publicaccedilatildeo pelas empresas jornaliacutesticas Observando o funcionamento

das redaccedilotildees de vaacuterios jornais dos Estados Unidos White concluiu que a seleccedilatildeo dos

materiais para publicaccedilatildeo dependia de fatores subjetivos e arbitraacuterios aleacutem de juiacutezos de

valor vivecircncias atitudes e expectativas dos gatekeepers ndash os editores das publicaccedilotildees

O gatekeeper eacute portanto aquele que determina o que atravessa o portatildeo de

entrada no jornal o que seraacute visto pelo leitor Ele eacute um indiviacuteduo de poder no universo

48

midiaacutetico pois controla os fluxos informacionais e decide se um conteuacutedo deve ser

promovido ou ocultado Decidimos utilizar o conceito de gatekeeper para falar sobre as

figuras capazes de controlar o que circula na Rede atraveacutes do uso de ferramentas de

vigilacircncia Esses gatekeepers do ciberespaccedilo se transplantaram dos tradicionais veiacuteculos

de comunicaccedilatildeo sobretudo das grandes empresas e dos organismos governamentais e natildeo-

governamentais para a Rede Eacute sobre eles que trataremos a seguir

David Lyon estabelece trecircs grandes categorias de vigilacircncia no ciberespaccedilo

relacionadas com o emprego a seguranccedila e policiamento e o marketing (Lyon 2004) No

emprego a vigilacircncia caracteriza-se pelo monitoramento dos sites acessados e do correio

eletrocircnico dos funcionaacuterios por parte dos diretores e supervisores com o objetivo de saber

se os empregados visualizam conteuacutedo inadequado (como pornografia por exemplo) ou

utilizam-se do tempo de trabalho para dedicar-se a assuntos off-work Nos Estados

Unidos um estudo puacuteblico realizado em Abril de 2000 indicou que 735 das empresas

americanas efetuam regularmente algum tipo de vigilacircncia do uso da Internet por parte de

seus empregados (Castells 2007 206)

No acircmbito da seguranccedila e do policiamento podemos citar a vigilacircncia proposta

por oacutergatildeos como a Alta Autoridade para a Difusatildeo das Obras e a Proteccedilatildeo dos Direitos na

Internet (HADOPI) na Franccedila que promove a luta contra as redes P2P (peer-to-peer) e a

oferta de downloads gratuitos de muacutesicas filmes e livros protegidos por direitos autorais

no universo virtual atraveacutes do monitoramento das atividades dos usuaacuterios HADOPI

propotildee que os servidores de acesso agrave Internet vigiem a movimentaccedilatildeo dos usuaacuterios e lhe

repassem relatoacuterios com a identificaccedilatildeo daqueles que infringem os direitos de autor na

Rede Apoacutes uma primeira advertecircncia caso haja reincidecircncia o utilizador perde o direito

de acesso agrave Internet a partir do ponto onde o desrespeito foi cometido e mesmo assim

continua a pagar pelo serviccedilo ao servidor contratado

Haacute tambeacutem a vigilacircncia conduzida por serviccedilos policiais como o FBI americano

que em 1995 realizou uma operaccedilatildeo batizada de ldquoOperaccedilatildeo Inocenterdquo accedilatildeo sob disfarce

na America On-Line (AOL) envolvendo a interceptaccedilatildeo de correio eletrocircnico de pessoas

suspeitas de trocar materiais de pornografia infantil pela Rede (Zuidwijk e Steeves apud

Lyon 2004 115) O organismo federal tambeacutem manteacutem o programa Carnivore que

trabalha em colaboraccedilatildeo (voluntaacuteria ou natildeo) com fornecedores de acesso agrave Internet

registrando todo o traacutefego de correio eletrocircnico posteriormente catalogando a informaccedilatildeo

com base em uma amostra e processamento automatizado de palavras-chave

49

Joseacute Terceiro afirma que a recolha de dados na Internet possibilitou o surgimento

de uma nova fonte de lucro as informaccedilotildees pessoais dos usuaacuterios da Rede

A utilizaccedilatildeo das redes de computadores facilita o recolhimento de dados sobre seus usuaacuterios com o que se obteacutem um sub-produto automaacutetico suscetiacutevel de utilizaccedilatildeo e

comercializaccedilatildeo O atentado agrave privacidade das pessoas que supotildee essa recolha de dados

provoca seacuterias preocupaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave sua proteccedilatildeo confiada a teacutecnicas de

encriptaccedilatildeo que ateacute bem pouco tempo pertenciam ao clandestino mundo da espionagem

e hoje satildeo moeda corrente no mundo digital (TERCEIRO 1996 185)

As informaccedilotildees obtidas pela vigilacircncia direcionada ao marketing satildeo massivamente

utilizadas frequentemente de forma indiscriminada para fins comerciais Natildeo eacute novidade

que as empresas procuram ter acesso a informaccedilotildees privadas respeitantes aos usuaacuterios da

Rede tecnologias jaacute foram desenvolvidas unicamente com o intuito de recolher dados que

permitam traccedilar perfis dos internautas Eacute o caso dos cookies (Client-Side Persistent

Information) espeacutecie de marcadores digitais que os sites colocam automaticamente nos

discos riacutegidos dos computadores que a eles acedem Uma vez inserido o cookie em um

computador todos os movimentos on-line realizados a partir dele satildeo gravados

automaticamente pelo servidor do site que o colocou Com o auxiacutelio de tecnologias como

essa empresas de marketing e comunicaccedilatildeo na Internet vendem os dados pessoais dos

seus utilizadores aos seus clientes com fins comerciais ou utilizam-nos eles proacuteprios para

os definirem melhor Portanto vecirc-se que as tecnologias de recolha de dados associam-se

diretamente agrave economia do comeacutercio eletrocircnico As movimentaccedilotildees dos usuaacuterios satildeo

monitoradas na maioria das vezes agrave revelia destes Como diz Rohan Samarajiva

A chamada ldquoclientela de massardquo cria incentivos agrave recolha de dados pessoais para uso no

processo de produccedilatildeo e marketing Os fabricantes ou retalhistas pretendem estabelecer

tipos de serviccedilo no relacionamento com os clientes recolhendo armazenando ou

manipulando informaccedilotildees acerca deles de modo a controlar os seus comportamentos

(SAMARAJIVA apud LYON 2004 113)

As tecnologias que tornam possiacutevel descarregar livros revistas muacutesicas e filmes

em formato digital para o disco riacutegido de um computador permitem agraves editoras e agraves

empresas de lazer registrar e controlar os haacutebitos de navegaccedilatildeo das pessoas para poderem

enviar publicidade especiacutefica a cada um dos seus clientes

Na Uniatildeo Europeia a maior pressatildeo governamental a favor da proteccedilatildeo do

consumidor resultou numa lei da privacidade sob a qual as empresas natildeo estatildeo

50

autorizadas a utilizar os dados pessoais dos seus clientes sem a sua aprovaccedilatildeo expliacutecita

(Castells 2007 209) O problema eacute que muitos sites contecircm em seus longos termos de

uso claacuteusulas que determinam que os dados pessoais fornecidos convertam-se em

propriedade legal das empresas de Internet e dos seus clientes Poucos usuaacuterios leem

integralmente esses termos de uso concordando com algo que desconhecem ndash e muitos

desses sites soacute liberam seus serviccedilos e funcionalidades depois que o utilizador aceita as

regras propostas

As oportunidades de negoacutecio parecem ilimitadas neste novo ramo dedicado a

comercializar o comportamento privado Nas eleiccedilotildees do ano 2000 nos Estados Unidos

uma empresa criou uma base de dados chamada Aristotle que atraveacutes da recolha de

informaccedilotildees e dados de diversas fontes traccedilou um perfil poliacutetico de cerca de 150 milhotildees

de cidadatildeos O objetivo era vender esse banco de dados pelas melhores ofertas possiacuteveis

que geralmente eram feitas pelos escritoacuterios eleitorais dos candidatos (Castells id)

Manuel Castells divide as tecnologias de controlo em trecircs tipos tecnologias de

identificaccedilatildeo de vigilacircncia e de investigaccedilatildeo (Castells 2007) As tecnologias de

identificaccedilatildeo incluem o uso de passwords cookies e processos de autenticaccedilatildeo ndash estes

uacuteltimos utilizam assinaturas digitais que permitem a outros computadores verificar a

origem e as caracteriacutesticas da maacutequina que se liga agrave Rede eacute um protocolo de seguranccedila

vastamente adotado por empresas de comeacutercio eletrocircnico e emissoras de cartotildees de

creacutedito

As tecnologias de vigilacircncia interceptam mensagens e colocam marcadores que

permitem seguir o fluxo de comunicaccedilatildeo a partir de um determinado computador e

controlar permanentemente a atividade da maacutequina Elas podem identificar um servidor

especiacutefico na origem de uma mensagem Valendo-se disso e atraveacutes de persuasatildeo ou de

coaccedilatildeo os governos empresas ou tribunais podem obter do servidor de acesso agrave Internet a

identificaccedilatildeo do usuaacuterio suspeito Eacute o que faz a jaacute anteriormente citada HADOPI As

tecnologias de investigaccedilatildeo por sua vez elaboram bases de dados atraveacutes dos resultados

da vigilacircncia e acumulaccedilatildeo de informaccedilatildeo gravada assiduamente (Garfinkel apud Castells

2007 205) Constroacutei-se um perfil agregado a partir dos vaacuterios dados recolhidos em

formato digital algo semelhante ao que fazem os estudos de mercado

O que James Beniger chama de ldquorevoluccedilatildeo do controlordquo (Beniger 1989) espalha-

se por todas as organizaccedilotildees contemporacircneas Para o autor ela iniciou-se com a

Revoluccedilatildeo Industrial e acentuou-se apoacutes a Segunda Grande Guerra com a gradual

51

integraccedilatildeo da tecnologia em todas as esferas da vida ocorrida desde entatildeo A fusatildeo entre

as teacutecnicas associadas agrave informaccedilatildeo (processamento de dados comunicaccedilatildeo etc) facilitou

o controlo por parte de exeacutercitos e governos criando um ambiente propiacutecio para o

desenvolvimento de novas tecnologias direcionadas agrave vigilacircncia e agrave monitoraccedilatildeo dos

indiviacuteduos Para Beniger a vontade de controlar bens informacionais serviccedilos e

consequentemente pessoas estaacute nas raiacutezes da chamada sociedade da informaccedilatildeo

James Beniger alerta que mais que o controlo em si proacuteprio devemos temer quem

administra e potildee em funcionamento os instrumentos de controlo ndash eacute nas matildeos desses

agentes que o poder se concentra Sendo as comunicaccedilotildees digitais as novas formas de

controlo tambeacutem figuram como um caminho para o poder Para exercer o poder e mantecirc-

lo eacute que os meios digitais tecircm sido utilizados por diversos agentes de interesse Como

afirma David Lyon

Os empregadores tentam reduzir o risco ndash de trabalhadores que usam o horaacuterio ou o

equipamento de trabalho para os seus proacuteprios objectivos [] em situaccedilotildees de emprego

A poliacutecia em conjunto com outras instituiccedilotildees trabalha no sentido de prevenir o risco

da praacutetica de crimes ou mais genericamente de comportamentos ameaccediladores E os

homens de negoacutecios fazem tudo [] para evitarem os riscos de perder oportunidades

nichos de mercado e em uacuteltima instacircncia lucro (LYON 2004 118)

Todos estabelecem procedimentos de recolha de dados para tentarem assinalar

riscos (ou oportunidades) e prever resultados Por conseguinte a vigilacircncia espalha-se

tornando-se constantemente mais rotineira mais intensiva (perfis) e extensiva

(populaccedilotildees) guiada por forccedilas econocircmicas burocraacuteticas e agora tecnoloacutegicas

A vigilacircncia no mundo virtual eacute fruto principalmente da comercializaccedilatildeo da Rede

Na criaccedilatildeo de sistemas de identificaccedilatildeo do usuaacuterio haacute uma fonte potencial de lucro para

empresas de certificaccedilatildeo digital e controlo de acesso A questatildeo comercial desse controlo

tambeacutem envolve os direitos autorais na Internet A implementaccedilatildeo de sistemas de

vigilacircncia eacute interessante para os governos que querem encontrar alguma forma de

instaurar no ambiente virtual ferramentas de controlo semelhantes agraves existentes na esfera

fiacutesica

A necessidade de assegurar e identificar a comunicaccedilatildeo na Internet para poder ganhar

dinheiro graccedilas agrave Rede e a necessidade de proteger os direitos da propriedade

intelectual na mesma resultaram no desenvolvimento de novas arquitecturas de

software (o que Lessig denomina como ldquocoacutedigordquo) que possibilitam o controlo da

comunicaccedilatildeo informaacutetica Os governos de todo o mundo apoacuteiam estas tecnologias de

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vigilacircncia e apressam-se a adoptaacute-las para conseguirem recuperar parte do poder que

corriam o risco de perder (CASTELLS 2007 203)

O monitoramento atraveacutes de autoridades policiais empresas ou outros oacutergatildeos

investidos de autorizaccedilatildeo concedida pelo poder legislativo seriam conforme Andreacute Lemos

ressalta ldquo[] uma forma de lsquoinvasatildeorsquo dos territoacuterios informacionais como entrar na

residecircncia seria uma invasatildeo do territoacuterio residencial As lsquodigital bordersrsquo criam nos

territoacuterios informacionais um continuum entre o mundo fiacutesico e o espaccedilo das

informaccedilotildees eletrocircnicasrdquo (Lemos 2007a 225) A vigilacircncia afeta diretamente alguns

importantes pilares da vida social e pode feri-los se direcionada para fins comerciais por

exemplo ldquoAs praacuteticas de vigilacircncia tecircm implicaccedilotildees na privacidade e em muitos outros

valores importantes na justiccedila na dignidade humana na autodeterminaccedilatildeo na inclusatildeo

social na seguranccedila e por aiacute fora Alguns destes valores podem ser protegidos se a

privacidade estiver salvaguardadardquo (Raab 2008 256)

A vigilacircncia na Rede representa portanto mais um exemplo do que Mireille

Rosello chama de ldquocultura da inseguranccedilardquo de caraacuteter planetaacuterio (Rosello apud Lemos

2010 82) As tecnologias de controlo desenvolvidas e postas em funcionamento no

ciberespaccedilo marcaram o fim da jaacute utoacutepica ideia de um territoacuterio neutro e totalmente livre

imaginado nos primoacuterdios da Internet Poreacutem a informaacutetica pode disponibilizar

ferramentas que funcionariam como um antiacutedoto contra a inseguranccedila que ela proacutepria

possibilitou Isso seria possiacutevel atraveacutes de tecnologias de filtragem de cookies meacutetodos de

encriptaccedilatildeo mais potentes etc (Raab 2008 266) No entanto eacute importante salientar que

as empresas os governos e os fabricantes de tecnologia natildeo tecircm interesse em pocircr em

marcha essas tecnologias de reforccedilo da privacidade Sendo assim os indiviacuteduos que delas

quiserem fazer uso deveratildeo empreender esforccedilos adicionais aleacutem de pagar mais para delas

beneficiarem

A recolha e o armazenamento arbitraacuterios de dados digitais se tornaram regra no

mundo virtual Aiacute se vecircem os efeitos nefastos do progresso tecnoloacutegico (Heuer 2011 85)

O custo do armazenamento de dados em formato digital tornou-se tatildeo baixo que jaacute se

mede em terabytes (a capacidade de armazenamento de um computador portaacutetil corrente

corresponde a pouco mais de metade de um terabyte) Haacute cada vez mais bancos de dados

a registrar nossos movimentos na Rede ndash a Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos

em Washington anunciou recentemente que pretende arquivar todas as mensagens

postadas no Twitter desde seu surgimento em 2006

53

De facto nossa vida esteve sempre sob algum tipo de controlo ndash desde a presenccedila

em registros de cartoacuterios agrave identificaccedilatildeo em bancos de dados de diversos serviccedilos

puacuteblicos O que se alterou com a informatizaccedilatildeo da sociedade e o advento da Internet foi o

posicionamento desses registros no espaccedilo As informaccedilotildees natildeo estatildeo mais fixadas apenas

em suportes materiais livros de atas e papeacuteis de arquivos Elas estatildeo ao alcance de alguns

cliques mundialmente disponiacuteveis suscetiacuteveis a cruzamentos mais sujeitas ao acesso

legal ou natildeo autorizado do que nunca A nova vigilacircncia surgida atraveacutes das tecnologias

digitais eacute mais sutil estaacute em todos os lugares e ao mesmo tempo em lugar nenhum Ela eacute

cada vez menos perceptiacutevel e mais difusa Sua fluidez estaacute na invisibilidade e na

mobilidade das redes

Catarina Frois salienta a mudanccedila trazida pela vigilacircncia onipresente da

informaacutetica

[] na sociedade contemporacircnea a existecircncia de grandes bases de dados informaacuteticas

que centralizam informaccedilatildeo detalhada dos cidadatildeos e que eacute depois cruzada com

informaccedilatildeo constante noutras bases de dados pessoais ameaccedila pocircr em risco o direito agrave

privacidade agrave integridade fiacutesica e moral ou mesmo em uacuteltima anaacutelise o direito agrave

escolha [] O que vemos eacute uma confluecircncia de dispositivos de reconhecimento da

pessoa que abrangem quase todas as esferas da sua vida desde a sua identidade burocraacutetica e administrativa a sua histoacuteria geneacutetica e distintividade biomeacutetrica e os

locais que frequenta quando e com quem [] Parece natildeo bastar saber-se quem a

pessoa eacute urge (quer por parte do Estado quer por parte de interesses comerciais) saber-

se o que quer e o que vai fazer Poderiacuteamos dizer que na sociedade contemporacircnea soacute

identificando eacute possiacutevel conhecer-se e soacute vigiando eacute possiacutevel prever-se (FROIS 2008

130)

Para Gilles Deleuze (1992) a sociedade do controlo eacute anunciada como nosso

futuro proacuteximo o que em termos praacuteticos de vigilacircncia quer dizer que as tecnologias natildeo

satildeo mais visiacuteveis e imoacuteveis mas ubiacutequas pervasives ldquonas coisasrdquo natildeo exigindo do

indiviacuteduo o confinamento mas exatamente o contraacuterio a mobilidade o que permite um

controlo dinacircmico Afinal natildeo podemos esquecer que essas tecnologias tecircm origem

militar Toda miacutedia locativa por seu caraacuteter que associa mobilidade e localizaccedilatildeo pode

ser usada para monitorar movimentos vigiar pessoas e controlar accedilotildees no dia-a-dia

Manuel Castells e diversos outros teoacutericos da informaacutetica e da cibercultura

afirmam que a presenccedila em registros e bancos de dados digitais traz agraves vistas o terriacutevel

temor da sociedade vigilante antecipada por George Orwell em seu 1984 e pode funcionar

como uma forma de repressatildeo agrave liberdade pela possibilidade do controlo constante Natildeo eacute

o Big Brother quem nos vigia mas sim uma multitude de pequenas irmatildes (little sisters)

54

agecircncias de vigilacircncia e processamento de informaccedilatildeo que registraratildeo sempre o nosso

comportamento jaacute que estaremos rodeados de bases de dados ao longo de toda a nossa

vida Nas sociedades democraacuteticas onde se respeitam os direitos civis a transparecircncia das

nossas vidas condicionaraacute as nossas atitudes de forma decisiva Ningueacutem conseguiu viver

jamais numa sociedade transparente Se este sistema de vigilacircncia e controlo da Internet se

desenvolver plenamente natildeo poderemos fazer o que quisermos Natildeo teremos liberdade

nem um lugar para nos escondermos (Castells 2007 215)

Isso nos leva a um tema que tambeacutem estaacute na ordem do dia em vaacuterios paiacuteses

europeus o direito ao esquecimento Um exemplo que ilustra esse direito estaacute na lei

francesa de 6 de Janeiro de 1978 relativa agrave informaacutetica aos arquivos e agraves liberdades que

prevecirc em seu artigo nordm 40

Toda pessoa fiacutesica justificante de sua identidade pode exigir do responsaacutevel pelo

tratamento de dados que as informaccedilotildees pessoais que lhe concernem sejam retificadas

completadas atualizadas ou apagadas [] logo elas sejam inexatas incompletas equivocadas desatualizadas ou cuja coleta utilizaccedilatildeo comunicaccedilatildeo ou conservaccedilatildeo

seja proibida (COMMISSION NATIONALE DE LINFORMATIQUE ET DES

LIBERTEacuteS 1978)

A Comissatildeo Europeia responsaacutevel pela Justiccedila Direitos Fundamentais e Cidadania

examina a possibilidade de rever a diretiva sobre a proteccedilatildeo de dados de forma a incluir o

direito ao esquecimento como foi anunciado em Novembro de 2010 pela sua vice-

presidente Viviane Reding (Heuer 2011 85)

No dia 24 de Janeiro de 2012 Viviane Reding apresentou em Bruxelas um plano

para que os cidadatildeos possam exercer ao maacuteximo seu direito agrave proteccedilatildeo dos dados pessoais

A legislaccedilatildeo europeia em vigor sobre o tema eacute de 1995 eacutepoca em que a Internet natildeo

possuiacutea o alcance e a influecircncia que hoje tem Aleacutem disso pesquisas recentes apontam que

72 dos europeus preocupam-se com o uso que companhias e empresas fazem de seus

dados privados (Reding 2012) O plano proposto por Viviane Reding consagra o direito

ao esquecimento Em entrevista cedida ao jornal espanhol El Paiacutes a comissaacuteria afirmou

que ldquoQuem pocircs informaccedilotildees pessoais na Rede deve ter o direito de recuperaacute-las porque

satildeo suasrdquo (Reding id) Seu plano inclui o reforccedilo das agecircncias nacionais de proteccedilatildeo de

dados e um regulamento de aplicaccedilatildeo da diretiva em escala comunitaacuteria ndash medidas a serem

postas em praacutetica ateacute 2015

55

Na Alemanha governo e parlamento debatem projetos que visam permitir aos

cidadatildeos controlar de forma mais eficaz sua vida digital Na Franccedila por exemplo foi

adotada em Outubro de 2010 uma carta natildeo vinculativa por iniciativa da secretaacuteria de

Estado das Tecnologias agrave eacutepoca Nathalie Kosciusko-Morizet Muitos dos intervenientes

franceses na Rede assinaram o documento ndash agrave exceccedilatildeo de empresas como Facebook e

Google

56

57

CAPIacuteTULO II

DIREITOS DE AUTOR E REGULACcedilAtildeO DO

CIBERESPACcedilO BRASIL E PORTUGAL EM

PERSPECTIVA

58

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Vimos no capiacutetulo anterior que o nascimento da Internet criou duas correntes a dos

adeptos eufoacutericos e a dos adeptos disfoacutericos da informatizaccedilatildeo Por um lado os apoacutestolos

das novas tecnologias conceberam a Rede como um espaccedilo livre do Direito Conforme

afirma o jurista Joseacute de Oliveira Ascensatildeo essa ideia foi favorecida pelo facto de que a

Internet desenvolveu-se inicialmente como uma rede desinteressada veiacuteculo de diaacutelogo e

contato entre universitaacuterios e cientistas que queriam evitar empecilhos juriacutedicos agrave sua

comunicaccedilatildeo (Ascensatildeo 2003 02) No outro extremo os defensores da propriedade

intelectual (particularmente as entidades de gestatildeo coletiva de direitos de autor e conexos)

acreditaram que os novos meios nada modificariam no que diz respeito ao uso das obras

protegidas O Direito existente seria aplicaacutevel tal e qual porque seria capaz de comportar

os novos veiacuteculos que surgissem A Rede era apenas um meio a mais sujeito ao Direito

em vigor como qualquer outro

O movimento subsequente de comercializaccedilatildeo da Internet pocircs em causa essas

opiniotildees A Rede deixou de ser uma confraria desinteressada e tornou-se um poderoso

veiacuteculo de publicidade comeacutercio e fluxo de capitais Essa metamorfose exigia uma

disciplina que protegesse os intervenientes era incompatiacutevel com um espaccedilo livre do

Direito A tese da juridificaccedilatildeo da Internet venceu (ibidem 03)

O objetivo do capiacutetulo que se inicia eacute montar um panorama dos direitos de autor

nos contextos brasileiro e portuguecircs trazendo agrave discussatildeo os aspectos centrais de ambas as

legislaccedilotildees Tambeacutem apresentaremos outros temas pertinentes que cruzam o debate sobre

a propriedade intelectual como o Marco Regulatoacuterio da Internet no Brasil e a Lei da

Coacutepia Privada em Portugal

10 Breve retrospectiva histoacuterica do surgimento dos direitos de autor

Em 1710 na Inglaterra foi publicada a primeira lei regulamentar do direito de

autor e esta expressatildeo aparece pela primeira vez em 1725 utilizada pelo advogado francecircs

Louis DrsquoHeacutericourt num litiacutegio entre os livreiros de Paris e os livreiros da proviacutencia Nesse

litiacutegio ele defendeu a tese de que eram os autores e natildeo os editores ou os impressores os

verdadeiros titulares do direito Para DrsquoHeacutericourt esse direito deveria estar garantido para

evitar os riscos da exploraccedilatildeo comercial ou industrial por meio da concessatildeo de um

60

privileacutegio exclusivo Segundo Luiz Francisco Rebello ateacute entatildeo seria improacuteprio falar em

direito de autor pois a proteccedilatildeo dispensada agraves obras literaacuterias tomava invariavelmente a

forma de um privileacutegio de que beneficiavam os impressores e os editores ou mais

raramente os autores (Rebello 1973 06)

Com a Revoluccedilatildeo Francesa em 1789 surgem os direitos autorais como os

conhecemos hoje A data de 04 de Agosto de 1789 marcou o fim de todos os privileacutegios de

autores e editoras que representavam um entrave agrave liberdade econocircmica defendida pelos

burgueses Luiz Francisco Rebello relembra a declaraccedilatildeo de Laboulaye jurista francecircs que

viveu na eacutepoca da Revoluccedilatildeo ldquoFalai de propriedade todos se inclinam falai de privileacutegio

todos se revoltam O primeiro tiacutetulo representa o que haacute de mais respeitaacutevel o direito o

segundo o que haacute de mais abominaacutevel o monopoacuteliordquo (Rebello apud Moraes 2006 254)

Poreacutem impulsionada pela Sociedade de autores e compositores dramaacuteticos

fundada em 1790 pelo teatroacutelogo Beaumarchais a lei francesa de 19 de Janeiro de 1791

reconhece que ldquoA mais sagrada a mais pessoal de todas as propriedades eacute a obra fruto do

pensamento do escritorrdquo (Moatti 2007 27) Esse texto legislativo foi reforccedilado pela lei de

19 de Julho de 1793 que aumenta a proteccedilatildeo dos criadores O artigo 1 desse documento

determina que

Os autores de escritos em todos os gecircneros os compositores os pintores e os

desenhistas que produzem quadros e desenhos gozaratildeo durante toda sua vida do

direito exclusivo de vender fazer vender distribuir suas obras em todo o territoacuterio da

Repuacuteblica e de ceder a propriedade ao todo ou em parte (MOATTI 2007 27)

Essa lei tambeacutem regulamentou os direitos dos herdeiros e cessionaacuterios que

poderiam gozar dos mesmos benefiacutecios ateacute 10 anos apoacutes a morte do autor (Manso 1992

14-15) Era preciso poreacutem estender as discussotildees sobre os direitos autorais agrave esfera

internacional Como diz Eduardo Manso

O reconhecimento de que a Terra eacute uma pequena aldeia [] levou ao reconhecimento

de que a proteccedilatildeo dos direitos dos autores das obras intelectuais haveria de alcanccedilar

dimensotildees internacionais porque a obra do espiacuterito humano sendo todo o conteuacutedo das

comunicaccedilotildees sociais tem inexoraacutevel vocaccedilatildeo para difusatildeo universal Portanto o

Direito Autoral para atingir mais eficazmente seus objetivos haveria de ser tambeacutem

internacionalizado especialmente para estabelecer equanimemente proteccedilatildeo equitativa

entre os autores dos diversos paiacuteses a despeito das divergecircncias das suas legislaccedilotildees

nacionais E aiacute surgiram as convenccedilotildees internacionais [] (MANSO 1992 15)

61

Apenas em 1886 surgiu um amplo movimento pela regulaccedilatildeo dos direitos autorais

de forma conjunta entre os diversos paiacuteses Representantes de vaacuterias naccedilotildees se reuniram

em Berna na Suiacuteccedila para definir alguns padrotildees miacutenimos de proteccedilatildeo dos direitos do autor

literaacuterio cientiacutefico e artiacutestico Eacute a chamada Convenccedilatildeo de Berna que se tornou um

paracircmetro para a elaboraccedilatildeo de vaacuterias legislaccedilotildees sobre o tema Segundo Rodrigo Moraes

ldquoEssa convenccedilatildeo consiste no primeiro e mais importante instrumento internacional

versando sobre Direito Autoral Assinada na capital da Suiacuteccedila em 1886 ainda estaacute em

vigor nos dias atuaisrdquo (Moraes 2006 255)

20 Direitos morais e direitos patrimoniais

Teoacutericos que tratam sobre direitos autorais geralmente os classificam como

hiacutebridos ou duacuteplices Isso porque eles podem dividir-se em direitos morais e direitos

patrimoniais

21 Direitos morais

Os direitos morais se referem agrave ldquopaternidaderdquo do autor em relaccedilatildeo agrave sua obra satildeo

uma espeacutecie de emanaccedilatildeo da personalidade do autor e que estatildeo conforme dizem Pedro

Paranaguaacute e Seacutergio Banco ldquointimamente ligados agrave relaccedilatildeo do autor com a elaboraccedilatildeo a

divulgaccedilatildeo e a titulaccedilatildeo de sua obrardquo (Paranaguaacute e Branco 2009 42) Segundo Eduardo

Manso os direitos morais ldquo[] satildeo de pertinecircncia estritamente pessoal e visam a dar ao

autor ou a seus herdeiros que neles sejam investidos poderes para zelar por sua qualidade

de criador da obra para promover-lhe o respeito agrave forma que lhe foi dada pelo autorrdquo

(Manso 1992 52)

Geralmente os direitos morais satildeo classificados doutrinariamente como direitos

de personalidade Hildebrando Neto chega a dizer que os direitos morais se encaixam em

ldquocondiccedilotildees personaliacutessimas a possibilitar ao criador o direito de paternidade o direito de

ineacutedito a defesa da integridade da obra aleacutem de possibilitar-lhe o direito de

arrependimentordquo (Neto 1997 17) Sendo assim desfrutam das mesmas caracteriacutesticas dos

demais direitos de personalidade sendo intransferiacuteveis e irrenunciaacuteveis Pedro Paranaguaacute

e Seacutergio Branco ressaltam que

62

Atualmente [] os princiacutepios mais elementares das leis de direitos autorais vedam a

transmissatildeo da autoria da obra independentemente do meio pelo qual se decirc a cessatildeo

Mesmo no caso de obras caiacutedas em domiacutenio puacuteblico o nome do autor se conhecido

deve permanecer a elas vinculado eternamente (PARANAGUAacute E BRANCO 2009

14)

Assim como na legislaccedilatildeo brasileira o diploma portuguecircs determina no Artigo 56deg

que os direitos morais perpetuam-se apoacutes a morte do autor Eles independem dos direitos

patrimoniais e mesmo depois da transmissatildeo ou extinccedilatildeo destes o autor goza dos direitos

morais sobre a sua obra (Assembleia da Repuacuteblica 1985 42) Eacute interessante salientar que

na Antiguidade a praacutetica da compra de autoria era algo comum e bastante frequente

(Moraes 2006 246) Hoje em dia essa conduta eacute proibida visto que o direito moral agrave

paternidade da obra eacute intransferiacutevel

Pedro Paranaguaacute e Seacutergio Branco nos alertam para a necessidade de diferenciar os

direitos autorais dos demais direitos de personalidade Estes uacuteltimos ndash nome imagem

dignidade honra etc ndash nascem com os indiviacuteduos e satildeo desde logo exerciacuteveis Daiacute a

diferenccedila em relaccedilatildeo agrave situaccedilatildeo dos direitos morais que soacute satildeo exerciacuteveis se haacute a criaccedilatildeo

de algo por parte do indiviacuteduo Sendo assim eles nascem aos poucos com as pessoas

permanecendo em condiccedilatildeo suspensiva (Paranaguaacute e Branco 2009 50)

Eacute importante considerar que segundo Eduardo Manso ldquoAs faculdades

proclamadas pelos direitos morais natildeo conferem aos seus titulares nenhum poder de

utilizaccedilatildeo sobre as obras intelectuais salvo de natureza intelectual Nenhum direito moral

possibilita com seu exerciacutecio tirar direto proveito econocircmico da obra intelectualrdquo

(Manso 1992 52) Esta eacute uma atribuiccedilatildeo dos direitos patrimoniais tal como veremos a

seguir

22 Direitos patrimoniais

Consistem basicamente no direito agrave exploraccedilatildeo econocircmica das obras protegidas

Exercendo o direito patrimonial seu titular pode tirar da obra algum proveito econocircmico

de conformidade com sua natureza e com a modalidade de sua exploraccedilatildeo comercial

Os direitos patrimoniais tecircm o objetivo de suprir os meios de sobrevivecircncia do

criador intelectual Eles surgem a partir de uma comercializaccedilatildeo posterior que pode natildeo

acontecer caso o autor escolha manter sua obra ineacutedita (Moraes 2006 271) Segundo

63

Paranaguaacute e Branco (2009 53) eacute preciso salientar que os direitos patrimoniais estatildeo

sujeitos a alguns pontos

a) Temporariedade

Segundo a Lei nordm 961098 atual Lei do Direito Autoral brasileira uma obra

intelectual soacute pode ser protegida se estiver dentro do prazo de proteccedilatildeo que eacute o de vida do

autor mais 70 anos contados a partir de 1ordm de Janeiro do ano subsequente ao de seu

falecimento (Presidecircncia da Repuacuteblica Federativa do Brasil 1998) Apoacutes esse prazo a

obra cai em domiacutenio puacuteblico ndash portanto qualquer pessoa pode tirar dela proveitos

patrimoniais sem autorizaccedilatildeo do titular dos direitos autorais Os 70 anos apoacutes a morte do

autor satildeo os mesmos no Coacutedigo do Direito de Autor e dos Direitos Conexos aprovado

pelo Decreto-Lei nordm 6385 de 14 de Marccedilo de 1985 texto atualmente em vigor em

Portugal O prazo foi instaurado pelo Decreto-Lei ndeg 33497 de 27 de Novembro

b) Autorizaccedilatildeo preacutevia

Enquanto natildeo cair em domiacutenio puacuteblico uma obra soacute poderaacute ser reproduzida

mediante autorizaccedilatildeo do detentor dos direitos autorais

c) Ausecircncia de formalidade ou proteccedilatildeo automaacutetica

Natildeo eacute preciso registrar a obra para que o autor tenha direito agrave proteccedilatildeo Ela

independe do registro

d) Perpetuidade do viacutenculo autor-obra

Decorre dos direitos morais do autor O nome do autor estaraacute perenemente ligado agrave

obra sobre a qual tem direito de paternidade Sendo assim o nome do autor deveraacute

constar obrigatoriamente em qualquer uso que se faccedila da obra

e) Individualidade da proteccedilatildeo

Cada obra deve ser protegida separadamente de forma independente Por exemplo

se um livro inspira a realizaccedilatildeo de sua adaptaccedilatildeo cinematograacutefica ambas as obras que se

diferem pelos suportes estatildeo protegidas Cada uma adaptada ao seu formato inclusive

com diferentes prazos de proteccedilatildeo

f) Independecircncia das utilizaccedilotildees

64

As diferentes modalidades possiacuteveis de utilizaccedilatildeo de uma obra intelectual satildeo

independentes entre si e a autorizaccedilatildeo referente a uma modalidade concedida pelo autor

ou detentor dos direitos natildeo se estende agraves demais

g) Direito de propriedade sobre o bem

Quando se adquire um CD por exemplo se adquire o suporte material sobre o qual

estaacute fixada a obra protegida por propriedade intelectual Sendo assim nosso direito de

propriedade sobre o CD nos permite que o guardemos doemos ou ateacute o destruamos se

quisermos Nossa propriedade estaacute sobre o CD mas natildeo sobre as obras contidas nele

Como foi visto os direitos patrimoniais estatildeo voltados ao fator econocircmico ao

caraacuteter comercial da obra intelectual Ao contraacuterio destes que regulam o poder econocircmico

do autor sobre a utilizaccedilatildeo de sua obra por terceiros estatildeo os direitos morais destinados agrave

defesa da relaccedilatildeo do autor com sua obra

30 Direitos de autor e regulaccedilatildeo da Internet no Brasil e em Portugal

31 Legislaccedilatildeo autoral brasileira

O primeiro registro legal que trata dos direitos autorais no Brasil eacute a Lei de 11 de

Agosto de 1827 (Presidecircncia da Repuacuteblica Federativa do Brasil 1827) Ela instituiu os

cursos juriacutedicos no paiacutes sendo responsaacutevel pela criaccedilatildeo de dois centros de estudos um em

Satildeo Paulo e outro em Olinda Os mestres nomeados para trabalhar nos cursos deveriam

enviar agraves Assembleias Gerais os seus compecircndios relativos agraves mateacuterias que lecionavam

para receber ou natildeo aprovaccedilatildeo Com ela os mestres gozariam durante 10 anos do

privileacutegio de publicaccedilatildeo dos escritos Mas segundo Eduardo Manso ldquoTratava-se no

entanto de um direito aplicaacutevel apenas intra muros nas Faculdades de Direito de Olinda e

de Satildeo Paulo natildeo alcanccedilando os demais autores brasileirosrdquo (Manso 1992 16)

Em 1830 veio a promulgaccedilatildeo do Coacutedigo Criminal e com ela surgiu a primeira

regulaccedilatildeo sobre a mateacuteria Suas normas visavam apenas a proibiccedilatildeo da contrafaccedilatildeo

(reproduccedilatildeo natildeo autorizada) sem conceder verdadeiros direitos autorais civis

65

Foi em 1891 com a primeira Constituiccedilatildeo Republicana que o Brasil editou normas

de direito autoral como garantia constitucional conforme o sect26deg do artigo 72 da

Constituiccedilatildeo Federal nos termos (Manso 1992 17) ldquoAos autores de obras literaacuterias e

artiacutesticas eacute garantido o direito exclusivo de reproduzi-las pela imprensa ou por qualquer

outro processo mecacircnico Os herdeiros dos autores gozaratildeo desse direito pelo tempo que a

lei determinarrdquo Essa lei foi publicada 5 anos mais tarde em 1896 com o nome de

Medeiros Albuquerque Conforme diz Daniel Rocha

Ateacute o advento dessa lei no Brasil a obra intelectual era terra de ningueacutem Tanto era

assim que Pinheiro Chagas escritor portuguecircs reclamava ter no Rio de Janeiro um

ldquoladratildeo habitualrdquo que ainda tinha a audaacutecia de lhe escrever dizendo ldquoTudo que V Exordf

publica eacute admiraacutevel Faccedilo o que posso para o tornar conhecido no Brasil reimprimindo tudordquo O que ocorria eacute que na eacutepoca era comum pensar-se que a obra estrangeira

ainda mais do que a nacional podia ser copiada indiscriminadamente (ROCHA apud

PARANAGUAacute E BRANCO 2009 18)

A lei Medeiros Albuquerque esteve em vigor ateacute a chegada do Coacutedigo Civil em

Janeiro de 1917 Nele o direito autoral brasileiro perdeu sua autonomia legislativa pois

passou a ser considerado simplesmente uma espeacutecie de propriedade ldquoPropriedade

Literaacuteria Cientiacutefica e Artiacutesticardquo (Manso 1992 20) Somente em 1973 o Brasil viu

publicado um estatuto uacutenico e abrangente regulando o direito de autor A lei nordm 5988 de

14 de Dezembro de 1973 vigorou ateacute a aprovaccedilatildeo pelo Congresso Nacional da lei nordm

9610 de 19 de Fevereiro de 1998

A atual Lei do Direito Autoral (LDA)3 brasileira nordm 961098 foi aprovada pelo

Congresso Nacional em 19 de Fevereiro de 1998 e entrou em vigor em 19 de Agosto do

mesmo ano Esse diploma veio alterar atualizar e consolidar a legislaccedilatildeo anterior que

vigorou por 25 anos (Paranaguaacute e Branco 2009 19)

Conforme salienta Faacutebio Barbosa o artigo 7ordm dessa lei confere inicialmente ao

direito autoral dois princiacutepios a proteccedilatildeo agrave criaccedilatildeo de espiacuterito expressas por qualquer

meio e a exclusividade de utilizaccedilatildeo da obra (Barbosa 2006 394) Isso nos remete ao

conceito de direito autoral dado por Isaac Pilati ldquo[] agrave guisa de conceito operacional

entende-se por Direito do Autor ou Direito Autoral aquele que tem o autor de ligar o seu

nome agrave obra do espiacuterito de qualquer modo exteriorizada podendo reproduzi-la e

3 Para tornar a leitura mais simples utilizaremos a sigla LDA para nos referirmos agrave atual Lei brasileira do

Direito Autoral

66

transmiti-lardquo (Pilati apud Barbosa 2006 394) Outros autores como Gustavo Correcirca

fazem conceituaccedilotildees mais teacutecnicas

Os direitos autorais satildeo aqueles que conferem ao autor de obra literaacuteria cientiacutefica ou artiacutestica a prerrogativa de reproduzi-la e exploraacute-la economicamente enquanto viver

transmitindo-a a seus herdeiros e sucessores pelo periacuteodo de setenta anos contados de

1ordm de Janeiro do ano subsequumlente ao de seu falecimento (CORREcircA apud BARBOSA

2006 394)

Agrave eacutepoca de seu surgimento a lei nordm 961098 trouxe uma evoluccedilatildeo no campo

juriacutedico concernente agraves mudanccedilas econocircmicas culturais e sobretudo tecnoloacutegicas pelas

quais passava a sociedade Eacute importante ressaltar que os avanccedilos no campo tecnoloacutegico

afetam diretamente o direito autoral jaacute que eles provocaram uma profunda mudanccedila na

forma de produzir e utilizar obras intelectuais Este eacute um assunto que seraacute tratado em

breve

Com o advento das tecnologias digitais e da Internet foi preciso modernizar a

legislaccedilatildeo para que esta acompanhasse as mutaccedilotildees que se seguiram Segundo Faacutebio

Barbosa naquela altura ela ldquo[] modernizou-se adequando-se para definir e reconhecer

os novos direitos aplicando sanccedilotildees agraves violaccedilotildees desses direitos inclusive no que se refere

agraves alteraccedilotildees supressotildees e inutilizaccedilotildees de dispositivos tecnoloacutegicos de proteccedilatildeo agrave obra

intelectualrdquo (Barbosa 2006 396)

Um dos toacutepicos que sofreram alteraccedilatildeo eacute o que se refere ao direito de reproduccedilatildeo

O artigo 5deg VI ndash Lei 961098 lhe daacute o seguinte conceito

VI ndash reproduccedilatildeo ndash a coacutepia de um ou vaacuterios exemplares de uma obra literaacuteria artiacutestica

ou cientiacutefica ou de um fonograma de qualquer forma tangiacutevel incluindo qualquer

armazenamento permanente ou temporaacuterio por meios eletrocircnicos ou qualquer outro

meio de fixaccedilatildeo que venha a ser desenvolvido (PRESIDEcircNCIA DA REPUacuteBLICA

FEDERATIVA DO BRASIL 1998)

Como pode ser observado o direito de reproduccedilatildeo sofreu mudanccedilas conceituais

considerando a partir de entatildeo ldquoqualquer armazenamento permanente ou temporaacuterio por

meios eletrocircnicos ou qualquer outro meio de fixaccedilatildeo que venha a ser desenvolvidordquo

(Barbosa 2006 397)

Outro conceito atualizado pela lei 961098 foi o do direito de comunicaccedilatildeo ao

puacuteblico O artigo 5deg V ndash Lei 961098 daacute o conceito da seguinte maneira ldquoV ndash

67

comunicaccedilatildeo ao puacuteblico ndash ato mediante o qual a obra eacute colocada ao alcance do puacuteblico

por qualquer meio ou procedimento e que natildeo consista na distribuiccedilatildeo de exemplaresrdquo

Poreacutem apesar de haver uma ampliaccedilatildeo conceitual referente agrave comunicaccedilatildeo puacuteblica

(podendo alcanccedilar a forma digital como ldquoo ato pelo qual a obra eacute colocada ao alcance do

puacuteblicordquo) no Capiacutetulo II intitulado ldquoDa Comunicaccedilatildeo ao Puacuteblicordquo a lei delimita o ato aos

direitos de execuccedilatildeo e representaccedilatildeo puacuteblicas nos artigos 68 e paraacutegrafos que satildeo

espeacutecies do gecircnero do direito de comunicaccedilatildeo ao puacuteblico (ibidem 399)

Um terceiro ponto a ser observado na lei 961098 estaacute no direito de distribuiccedilatildeo

As facilidades trazidas pela Internet promoveram uma discussatildeo em torno da distribuiccedilatildeo

de obras intelectuais na Rede O artigo 5deg IV ndash Lei 961098 traz o conceito da seguinte

forma

IV ndash distribuiccedilatildeo ndash a colocaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico do original ou coacutepia de obras

literaacuterias artiacutesticas ou cientiacuteficas interpretaccedilotildees ou execuccedilotildees fixadas e fonogramas

mediante a venda locaccedilatildeo ou qualquer outra forma de transferecircncia de propriedade ou posse (PRESIDEcircNCIA DA REPUacuteBLICA FEDERATIVA DO BRASIL 1998)

A princiacutepio o direito de distribuiccedilatildeo traz agrave mente a ideia do objeto material a obra

fixada sobre um suporte Poreacutem deve-se salientar que a distribuiccedilatildeo eletrocircnica tambeacutem

pode ser protegida jaacute que o objeto da proteccedilatildeo dos direitos eacute a obra em si que pode ser

digitalizada (Santos apud Barbosa 2006 400) O art 29 VII da Lei do Direito Autoral

alcanccedila a distribuiccedilatildeo eletrocircnica quando fala sobre a distribuiccedilatildeo de obras mediante

recursos de telecomunicaccedilotildees (Barbosa 2006 400)

32 Reforma da Lei brasileira do Direito Autoral (LDA)

A raacutepida evoluccedilatildeo das tecnologias digitais poreacutem fez com que a LDA se tornasse

obsoleta e desatualizada em vaacuterios aspectos Com o objetivo de discutir as mudanccedilas

necessaacuterias e as alternativas possiacuteveis um anteprojeto foi aberto agrave discussatildeo puacuteblica em 14

de Junho de 2010 pelo Ministeacuterio da Cultura (MinC) apoacutes vaacuterias jornadas puacuteblicas de

debate (vd Anexo 03) Foi mesmo criado um site para facilitar a consulta

httpwwwculturagovbrconsultadireitoautoral

Na verdade o anteprojeto propotildee reformar alguns pontos da LDA e natildeo instaurar

um diploma novo O texto manteacutem-se circunscrito ao acircmbito claacutessico dos direitos de autor

68

com apenas algumas referecircncias a elementos digitais Nota-se isso pela ausecircncia de uma

consideraccedilatildeo especiacutefica dos grandes problemas suscitados pelos direitos de autor em

mateacuteria de informaacutetica Haacute referecircncias incidentais mas aspectos baacutesicos da grande

problemaacutetica atual do estatuto da obra na Internet ficam por resolver Na anaacutelise do jurista

Joseacute de Oliveira Ascensatildeo esta foi uma decisatildeo sensata jaacute que a preparaccedilatildeo de uma lei

que regulasse o direito autoral na Internet levaria muito mais tempo e isso prejudicaria os

avanccedilos nas correccedilotildees de deficiecircncias jaacute detectadas - que deveriam ser realizadas mais

rapidamente (Ascensatildeo 2011 160)

No final de 2011 o Ministeacuterio da Cultura concluiu o texto final da nova Lei do

Direito Autoral Em Marccedilo de 2012 o diploma estava na pauta de discussatildeo dos

ministeacuterios envolvidos e depois seguiria para o Congresso Nacional Na eacutepoca em que

passou pelo MinC (gerido jaacute nesta altura pela ministra Ana de Hollanda) o texto sofreu

algumas modificaccedilotildees Ele eacute mais flexiacutevel do que o atual e permitiraacute por exemplo coacutepias

de obras para uso privado educaccedilatildeo ou preservaccedilatildeo (Link 04122011)

Poreacutem o Ministeacuterio da Cultura acrescentou ao texto um mecanismo que faz parte

da legislaccedilatildeo estadunidense o de notice and take down ou notificaccedilatildeo e retirada que

serve para que detentores de direitos autorais consigam retirar conteuacutedo pirata do ar sem a

necessidade de ordem judicial Por exemplo se uma gravadora encontrar um blog

hospedado no Blogger com links para downloads ilegais de discos pode solicitar ao

Google (proprietaacuterio do Blogger) a remoccedilatildeo do conteuacutedo O Google eacute obrigado a cumprir

e notificar o autor Avaliaccedilotildees ficam para depois Cabe ao dono do blog fazer uma

contranotificaccedilatildeo pedindo a manutenccedilatildeo do conteuacutedo e assumindo a responsabilidade por

uma eventual acusaccedilatildeo judicial

Segundo Marcia Regina Barbosa diretora de Direitos Intelectuais do Ministeacuterio da

Cultura o mecanismo foi incluiacutedo na lei ldquopor demanda dos produtores das aacutereas

audiovisual e musicalrdquo A medida segundo ela ldquolegalizaraacute um procedimento que hoje jaacute eacute

muito utilizadordquo (Link 04122011) O problema desse mecanismo eacute o que Pablo

Ortellado diretor do Grupo de Poliacuteticas Puacuteblicas para o Acesso agrave Informaccedilatildeo da

Universidade de Satildeo Paulo (USP) chama de ldquocensura preacuteviardquo (Link id) O proprietaacuterio do

blog soacute pode questionar a retirada depois que ela jaacute foi feita

O Ministeacuterio da Cultura tambeacutem quer criar um registro central de obras Na praacutetica

o sistema (que tem o nome provisoacuterio de I-Registro) eacute uma plataforma que centralizaraacute

dados sobre tudo o que eacute produzido de cultura no Brasil Registrar as obras criadas nessa

69

plataforma seraacute condiccedilatildeo sine qua non para receber os direitos autorais provenientes

delas Esse procedimento eacute questionaacutevel pelo facto de que a Convenccedilatildeo de Berna que

estabelece princiacutepios baacutesicos de direitos autorais e da qual o Brasil eacute signataacuterio afirma que

natildeo eacute necessaacuterio registro para uma obra ser protegida Para Pablo Ortellado a necessidade

de registro eacute ilegal pois segundo ele esse registro obrigatoacuterio ainda impediraacute o autor de

optar por uma modalidade de licenciamento mais flexiacutevel como o Creative Commons

(Link 04122011) Falaremos sobre ele mais adiante

Em audiecircncia puacuteblica na Cacircmara dos Deputados no dia 21 de Marccedilo de 2012 Ana

de Hollanda justificou as alteraccedilotildees feitas pelo Ministeacuterio da Cultura e afirmou que ouviu

as induacutestrias culturais para lanccedilar a uacuteltima versatildeo do texto da Reforma da Lei do Direito

Autoral ldquoConsideramos a consulta puacuteblica mas abrimos para contribuiccedilatildeo Havia uma

demanda enorme dos meios culturais que diziam que natildeo tinham sido ouvidos ou

contemplados no processo anteriorrdquo (Link 21032012) Segundo ela o MinC fez poucas

alteraccedilotildees no texto apoacutes a discussatildeo puacuteblica aberta em Junho de 2010 ldquoO que foi mexido

era uma demanda forte dos setores de todas as aacutereas audiovisual muacutesica livros que natildeo

se sentiam contempladosrdquo (Link id)

Paralelamente agraves discussotildees sobre a reforma da Lei brasileira do Direito Autoral

(LDA) eacute importante salientar que o Ministeacuterio da Justiccedila brasileiro estaacute em vias de

preparar aquilo que foi denominado de ldquoMarco Civil da Internetrdquo que vai apresentar

legislaccedilatildeo especiacutefica sobre a regulaccedilatildeo da Rede no paiacutes aleacutem de tocar (de forma indireta)

na questatildeo integrada dos direitos de autor e a problemaacutetica do digital Os contornos do

Marco Civil estatildeo atualmente sendo estudados por especialistas organismos de pesquisa e

acadecircmicos e eacute um toacutepico do qual trataremos a seguir

33 O Marco Civil da Internet

As discussotildees sobre o projeto de lei de combate ao cibercrime conhecido pelo

nome de seu autor o senador Eduardo Azeredo enfureceu muitos internautas brasileiros

A pressatildeo atraveacutes da mobilizaccedilatildeo virtual fez com que o entatildeo Presidente da Repuacuteblica

Luiz Inaacutecio Lula da Silva solicitasse ao Ministeacuterio da Justiccedila a elaboraccedilatildeo de ldquoum projeto

sobre a Internet que natildeo fosse uma regulaccedilatildeo penal mas um marco civilrdquo (Abramovay

2012) Em 29 de Outubro de 2009 a Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministeacuterio da

Justiccedila (SALMJ) em parceria com a Escola de Direito da Fundaccedilatildeo Getulio Vargas no

70

Rio de Janeiro (FGV DIREITO RIO) lanccedilou o projeto para a construccedilatildeo colaborativa de

um Marco Civil da Internet no Brasil

Os principais objetivos do marco regulatoacuterio satildeo o estabelecimento de princiacutepios

garantias direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil e a determinaccedilatildeo de diretrizes

para atuaccedilatildeo da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios em relaccedilatildeo agrave

mateacuteria A disciplina do uso da Internet no Brasil tem como fundamentos os direitos

humanos e o exerciacutecio da cidadania em meios digitais a pluralidade e a diversidade a

abertura e a colaboraccedilatildeo e finalmente a livre iniciativa a livre concorrecircncia e a defesa do

consumidor Dentre seus princiacutepios estatildeo

I - garantia da liberdade de expressatildeo comunicaccedilatildeo e manifestaccedilatildeo de

pensamento nos termos da Constituiccedilatildeo

II - proteccedilatildeo da privacidade

III - proteccedilatildeo aos dados pessoais na forma da lei

IV - preservaccedilatildeo e garantia da neutralidade da Rede conforme regulamentaccedilatildeo

V - preservaccedilatildeo da estabilidade seguranccedila e funcionalidade da Rede por meio de

medidas teacutecnicas compatiacuteveis com os padrotildees internacionais e pelo estiacutemulo ao uso de

boas praacuteticas

VI - responsabilizaccedilatildeo dos agentes de acordo com suas atividades nos termos da lei e

VII - preservaccedilatildeo da natureza participativa da Rede

(CONGRESSO NACIONAL 2011 01-02)

A ideia de criar um marco regulatoacuterio civil contrapotildee-se agrave tendecircncia de se

estabelecerem restriccedilotildees condenaccedilotildees ou proibiccedilotildees relativas ao uso da Internet E aiacute estaacute

a grande diferenccedila entre o Projeto de Lei Azeredo e o marco proposto Este uacuteltimo tem

como objetivo principal determinar de forma clara direitos e responsabilidades relativas agrave

utilizaccedilatildeo dos meios digitais O foco portanto eacute o estabelecimento de uma legislaccedilatildeo que

garanta direitos e natildeo uma norma que restrinja liberdades

Jaacute que as tecnologias digitais satildeo instrumentos em constantes mutaccedilatildeo e evoluccedilatildeo

o texto do marco civil deveria abranger questotildees essenciais A natureza aberta da Rede

poderia ser prejudicada caso a legislaccedilatildeo fosse de caraacuteter restritivo ldquoQualquer iniciativa

de regulaccedilatildeo da Internet deve portanto observar princiacutepios como a liberdade de

expressatildeo a privacidade do indiviacuteduo o respeito aos direitos humanos e a preservaccedilatildeo da

dinacircmica da Internet como espaccedilo de colaboraccedilatildeordquo (Ministeacuterio da Justiccedila e FGV 2009)

Dentre os temas abordados pelo texto do marco civil estatildeo as responsabilidades

dos provedores e dos usuaacuterios sobre os conteuacutedos disponibilizados na Rede e as medidas

para regulamentar e preservar direitos fundamentais dos internautas (como a privacidade e

71

a liberdade de expressatildeo) Aleacutem disso prevecirc-se a discussatildeo sobre alguns princiacutepios que

garantam o bom funcionamento da Rede como a neutralidade da Internet Os

organizadores do marco civil decidiram natildeo abordar de maneira aprofundada questotildees

como crimes ciberneacuteticos regulaccedilatildeo de telecomunicaccedilotildees e direitos de autor por

considerarem que satildeo temas suficientemente vastos para serem discutidos em foros agrave

parte Mas de alguma forma as premissas do texto do marco tocam essas questotildees

mesmo que de forma natildeo tatildeo evidente Eacute como o caso da relaccedilatildeo entre respeito aos direitos

autorais e preservaccedilatildeo da privacidade do usuaacuterio da Rede

Tomemos quatro principais itens-chave discutidos pelo Marco Civil guarda de

dados neutralidade da Rede privacidade e responsabilidade Quando um crime eacute

cometido utilizando a Internet como meio a uacutenica forma de identificar o criminoso eacute ter

acesso aos registros de conexatildeo Atualmente no Brasil natildeo haacute nenhuma lei de caraacuteter

regulatoacuterio que defina se sites e provedores devem armazenar esses registros ou por

quanto tempo O texto do marco determina que os provedores guardem os registros de

conexatildeo de seus utilizadores mas proiacutebe que colham informaccedilotildees sobre os registros de

acesso a serviccedilos Web Isto eacute os provedores seriam obrigados a armazenar os dados que

permitem determinar quando e por qual computador o indiviacuteduo conectou-se agrave Rede mas

natildeo quais os sites que foram visitados Os proacuteprios sites poderiam fazecirc-lo mas apenas

quando o usuaacuterio consentisse Aqui estaacute um ponto que gera controveacutersias Alguns juristas

afirmam que os registros de acesso satildeo possiacuteveis provas de crimes ndash o que levaria o tema a

ser regulado por uma lei criminal natildeo por um marco civil

A questatildeo da neutralidade da Rede eacute um ponto crucial do projeto e uma polecircmica

de dimensotildees planetaacuterias O princiacutepio da neutralidade da Rede determina que todos os

pacotes de dados que transitam por ela devem ser tratados da mesma forma sem

discriminaccedilatildeo de origem destino ou tipo Manter a neutralidade quer dizer aqui evitar

praacuteticas conhecidas como traffic shaping que permite aos provedores dificultar a

conexatildeo a determinadas paacuteginas Eacute o caso dos fornecedores de acesso agrave Internet que

prejudicam propositalmente a conexatildeo a sites de partilha P2P e serviccedilos voip por

exemplo No Brasil um caso que ilustra essa atitude eacute o da Brasil Telecom e de mais trecircs

operadoras atuantes no mercado nacional que aparecem no ranking mundial dos 108

provedores avaliados pelo software Vuze sob indiacutecios da praacutetica de controlo de fluxo de

dados (Vuze 2008) O Marco prevecirc uma exceccedilatildeo apenas para requisitos teacutecnicos

necessaacuterios agrave prestaccedilatildeo adequada dos serviccedilos (Congresso Nacional 2011 03) como

72

medidas para melhoria do funcionamento da Rede que podem eventualmente prejudicar a

fluidez do traacutefego de informaccedilotildees

Para garantir a privacidade do usuaacuterio o marco determina que seus dados pessoais

soacute podem ser consultados mediante decisatildeo judicial Os criacuteticos da medida contestam esse

toacutepico afirmando que isso poderia dificultar eventuais investigaccedilotildees da poliacutecia Poreacutem

deve-se observar que o texto prevecirc que as autoridades requeiram a conservaccedilatildeo dos dados

dos usuaacuterios investigados sem burocracia impedindo que sejam apagados pelos

servidores

A responsabilidade tem a ver com a atribuiccedilatildeo de conteuacutedos publicados em sites

redes sociais etc Neste ponto o marco segue o mesmo caminho que jaacute vem sendo tomado

pela Justiccedila a responsabilidade recai sobre os proacuteprios usuaacuterios sendo os provedores

punidos apenas quando natildeo retiram o conteuacutedo do ar dentro do prazo legal estabelecido

para fazecirc-lo

O caraacuteter inteiramente colaborativo do processo de construccedilatildeo do marco civil eacute

ineacutedito e constitui seu maior trunfo A formulaccedilatildeo do texto foi executada tendo a Internet

como meio o intuito foi o de incentivar a participaccedilatildeo ativa e direta dos vaacuterios atores

sociais envolvidos no tema (sociedade civil pesquisadores membros do governo

acadecircmicos representantes da iniciativa privada etc) Todos podiam efetuar cadastro em

um site feito especialmente com o objetivo de receber propostas contribuiccedilotildees e opiniotildees

Dividiu-se o processo em duas fases Na primeira com duraccedilatildeo de

aproximadamente 45 dias (iniciada em Outubro de 2009 e fechada em 17 de Dezembro de

2009) foram debatidas ideias sobre os toacutepicos propostos para regulaccedilatildeo a partir de texto-

base produzido pelo Ministeacuterio da Justiccedila O texto-base contextualiza os principais temas

pendentes de regulaccedilatildeo pelo instrumento a ser elaborado coletivamente e aponta possiacuteveis

caminhos a serem seguidos

Cada paraacutegrafo do texto ficou aberto para inserccedilatildeo de comentaacuterios por usuaacuterios

cadastrados no site As postagens de comentaacuterios tinha limite de tamanho e de quantidade

por usuaacuterios a fim de abrir espaccedilo agrave pluralidade de participaccedilotildees Para evitar cerceamento

ao debate a equipe de coordenaccedilatildeo direcionava determinados debates para foros de

discussatildeo hospedados em comunidades especiacuteficas dentro do portal Nesses espaccedilos era

possiacutevel tornar a discussatildeo mais aprofundada Cada participante tambeacutem podia votar

positiva ou negativamente nas contribuiccedilotildees dos demais Esses votos serviam para nortear

a equipe de redaccedilatildeo sobre as preferecircncias opiniotildees e interesses dos participantes

73

contribuindo para a formulaccedilatildeo da proposta No final desta primeira fase todas as

participaccedilotildees foram compiladas e levaram agrave elaboraccedilatildeo de uma minuta de anteprojeto de

lei Nessa primeira fase o site recebeu uma meacutedia de 1300 visitas diaacuterias

Na segunda fase a discussatildeo seguiu o mesmo formato mas teve como paracircmetro a

minuta de anteprojeto de lei elaborado anteriormente Cada artigo paraacutegrafo inciso ou

aliacutenea ficou aberto para apresentaccedilatildeo de comentaacuterios por qualquer interessado A duraccedilatildeo

desta fase foi de aproximadamente 50 dias (de 08 de Abril a 30 de Maio de 2010) Durante

o periacuteodo o site recebeu 455 mil visitas e foram feitos cerca de 900 comentaacuterios agrave minuta

(Agecircncia Brasil 2010) Com o teacutermino da segunda fase foi construiacutedo o texto atualmente

disponiacutevel (vd Anexo 01)

O processo de consulta puacuteblica no qual se baseou a construccedilatildeo do marco foi

elogiado por muitos juristas e ativistas da Internet por ser aberto e democraacutetico e eacute um

modelo cuja eficaacutecia vem sendo internacionalmente reconhecida (Committee to Protect

Journalists 2010 Internet sans frontiegraveres 2010)

34 Legislaccedilatildeo autoral portuguesa

Em Portugal a Carta Constitucional de 1826 no sect24ordm do artigo 145ordm reconhece

aos inventores ldquoa propriedade das suas descobertas ou das suas produccedilotildeesrdquo mas natildeo

assegura a proteccedilatildeo agrave criaccedilatildeo literaacuteria (Monarquia Portuguesa 1826 01)

O escritor Almeida Garrett entusiasta da causa dos direitos de autor em Portugal

escreveu em 1839 sobre a falta de proteccedilatildeo aos autores nacionais

Findo o privileacutegio se era temporaacuterio ou natildeo o havendo entendia-se que toda a obra

impressa entrava no domiacutenio puacuteblico e que vivo ou morto com herdeiros ou sem eles

qualquer um podia reimprimir vender representar se era obra dramaacutetica usar dela

enfim como coisa sua ou coisa de ningueacutem que tanto vale (REBELLO 1973 07)

No ano de 1838 a Constituiccedilatildeo Portuguesa consagrou no sect4ordm do artigo 23ordm o

ldquodireito de propriedade dos inventores sobre as suas descobertas e dos escritores sobre os

seus escritos [] pelo tempo e na forma que a lei determinar []rdquo Faltava poreacutem a lei

que regulasse a mateacuteria nas suas especificidades

Em 1839 Garrett apresentou agrave Cacircmara dos Deputados um projeto de lei sobre

propriedade literaacuteria e artiacutestica Em 1841 o projeto foi aprovado mas natildeo chegou a tornar-

se lei devido agrave desfavoraacutevel conjuntura poliacutetica da eacutepoca O projeto voltou agrave Cacircmara dez

74

anos depois em 1851 quando foi aprovado e em 18 de Julho do mesmo ano foi publicado

o primeiro diploma regulador dos direitos autorias em Portugal Esta lei manteve-se em

vigor ateacute 1867 ano em que a mateacuteria referente ao direito de autor foi inserida no Coacutedigo

Civil elaborado pelo Visconde de Seabra Os artigos 570deg a 612ordm que constituem o

capiacutetulo epigrafado ldquoDo trabalho literaacuterio e artiacutesticordquo retomaram os princiacutepios e as regras

fundamentais do diploma precedente De acordo com o artigo 579ordm do coacutedigo civil o

direito dos herdeiros a publicar ou autorizar a publicaccedilatildeo de uma obra foi elevado de 30

para 50 anos consecutivos agrave morte do autor

Setenta anos depois em 3 de Junho de 1927 o decreto nordm 13725 (tambeacutem

conhecido como Lei Cunha Gonccedilalves) veio estabelecer uma regulaccedilatildeo autocircnoma para

essa mateacuteria em parte pela necessidade de harmonizaccedilatildeo entre a legislaccedilatildeo interna com o

Direito internacional jaacute que Portugal havia assinado o decreto de adesatildeo agrave Convenccedilatildeo de

Berna em 1911 A convenccedilatildeo que instituiu a Uniatildeo Internacional das Naccedilotildees Para a

Proteccedilatildeo das Obras Literaacuterias e Artiacutesticas jaacute contava na altura com a participaccedilatildeo da

Alemanha Beacutelgica Espanha Franccedila Inglaterra Itaacutelia e Suiacuteccedila Luiz Francisco Rebello

aponta que a maior inovaccedilatildeo desse decreto foi o estabelecimento da perpetuidade do

direito de autor ateacute entatildeo protegido apenas durante a vida e ateacute 50 anos apoacutes a sua morte

(ibidem 09) O sistema anterior foi poreacutem restaurado em 1966

Em 6 de Setembro de 1952 eacute assinado em Genebra um outro tratado multilateral a

Convenccedilatildeo Universal sobre o Direito de Autor de iniciativa da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) destinada a ldquo[] assegurar a

proteccedilatildeo suficiente e eficaz dos direitos dos autores e de quaisquer outros titulares dos

mesmos direitos sobre as obras literaacuterias artiacutesticas e cientiacuteficasrdquo (Convenccedilatildeo Universal

sobre Direito de Autor 1952 01) O novo tratado impocircs a necessaacuteria revisatildeo da lei

nacional com o objetivo de adequaacute-la agraves mudanccedilas das tecnologias que surgiam mas

sobretudo de adaptaacute-la ao quadro internacional A comissatildeo incumbida de fazecirc-lo redigiu

um anteprojeto de lei consideravelmente modificado pela Cacircmara Corporativa em 1953

O contra-projeto da Cacircmara Corporativa inspirou em grande parte o texto do Coacutedigo de

Direito de Autor aprovado pelo Decreto-Lei nordm 46980 de 27 de Abril de 1966

O ano de 1985 marca a aprovaccedilatildeo do Coacutedigo do Direito de Autor e dos Direitos

Conexos4 pelo Decreto-Lei nordm 6385 de 14 de Marccedilo O texto original foi alterado pelas

4 Para tornar a leitura mais simples utilizaremos a sigla CDA para nos referirmos agrave atual Lei portuguesa dos

Direitos Autorais

75

Leis ndeg 4585 de 17 de Setembro ndeg 11491 de 3 de Setembro nordm 502004 de 24 de

Agosto e pelos Decretos-Lei ndeg 33297 e 33497 ambos de 27 de Novembro Este eacute o

coacutedigo que atualmente versa sobre a questatildeo em Portugal

Em vigor haacute mais de 25 anos eacute evidente que o CDA natildeo abrange os problemas

suscitados pela informaacutetica e especialmente pela Internet Segundo Alexandre Dias

Pereira a desatualizaccedilatildeo eacute caracteriacutestica das legislaccedilotildees nacionais em geral soacute agora eacute que

elas comeccedilam a abrir suas portas aos novos problemas da teacutecnica E o faratildeo mais vezes

por imposiccedilatildeo vertical dos Tratados Internacionais eou como eacute o caso da Uniatildeo Europeia

por forccedila das Diretivas Comunitaacuterias (Pereira 2002 05) Eacute nesse contexto que se assiste

na Europa a um ldquoassaltordquo ao direito de autor pelas instituiccedilotildees comunitaacuterias Com efeito

foram adotadas diversas medidas de harmonizaccedilatildeo na sequecircncia de um programa de accedilatildeo

traccedilado no famoso Livro Verde de 1988 sobre direitos de autor e os desafios da tecnologia

A legislaccedilatildeo nacional viu ocorrerem vaacuterias mudanccedilas como os programas de computador

serem tratados em igualdade com as obras literaacuterias (Conselho Europeu 1991) e o prazo

de duraccedilatildeo dos direitos subir para os 70 anos apoacutes a morte do autor (Parlamento Europeu e

Conselho 2006)

35 Regulaccedilatildeo da Internet em Portugal

Em 31 de Maio de 2002 os presidentes do Instituto da Comunicaccedilatildeo Social (ICS) e

da Autoridade Nacional de Comunicaccedilotildees (ANACOM) apresentaram ao Governo um

conjunto de propostas de atuaccedilatildeo intitulado ldquoIniciativa Convergecircncia e Regulaccedilatildeordquo O

texto tinha como objetivo definir uma orientaccedilatildeo estrateacutegica para o desenvolvimento dos

setores do audiovisual e das comunicaccedilotildees num ambiente de convergecircncia

A iniciativa recolheu e analisou contributos de representantes dos diferentes

interesses envolvidos na questatildeo entre eles associaccedilotildees de consumidores e profissionais

entidades institucionais e operadores de telecomunicaccedilotildees Tambeacutem ouviu personalidades

de reconhecido meacuterito e experiecircncia nos setores da comunicaccedilatildeo social para aleacutem de abrir

uma consulta puacuteblica Em 3 de Junho de 2002 foi entregue aos Ministros da Presidecircncia e

da Economia o relatoacuterio final contendo um conjunto de recomendaccedilotildees e de propostas de

atuaccedilatildeo Entretanto o projeto estagnou-se e desde 2008 natildeo haacute atualizaccedilotildees a seu respeito

James Slevin afirma que o uso das novas tecnologias de informaccedilatildeo eacute visto por

parte dos EstadosndashNaccedilatildeo como sendo de prioridade para os seus interesses e por isso pede

76

algum tipo de regulaccedilatildeo Isso porque no entender do Estado (hellip) as tecnologias que

podem ser utilizadas para transmitir algum tipo de mensagens para audiecircncias

relativamente alargadas (hellip) possuem uma profunda significacircncia como fator de influecircncia

dos valores e padrotildees morais das sociedades modernasrdquo (Slevin 2000 77) James Slevin

diz ainda que a tentativa de dotar a Internet de um sistema regulatoacuterio que defenda

simultaneamente os interesses dos Estados e dos cidadatildeos provoca um embate entre dois

polos (Slevin apud Cardoso 2002 03) Primeiro o dos governos que tendem a defender

uma abordagem da Internet enquanto tecnologia que facilita a difusatildeo puacuteblica de material

algo proacuteximo do sistema de broadcasting ndash uma atividade para a qual foram ao longo das

uacuteltimas deacutecadas desenvolvidos sistemas de regulaccedilatildeo de conteuacutedos Por outro lado os

indiviacuteduos e organizaccedilotildees da sociedade civil partidaacuterios de uma abordagem da Internet

enquanto tecnologia derivada do sistema telefocircnico ndash o qual foi desde sempre

caracterizado por um sistema de regulaccedilatildeo bastante brando dos seus conteuacutedos

Em texto escrito como contribuiccedilatildeo para a ldquoIniciativa Convergecircncia e Regulaccedilatildeordquo

Gustavo Cardoso afirma poreacutem que ldquoas posiccedilotildees sobre a regulaccedilatildeo da Internet tendem a

ser por vezes simplificadas colocando o Estado como defensor da existecircncia de

regulaccedilatildeo e os cidadatildeos como arautos da auto-regulaccedilatildeordquo (Cardoso 2002 04) Foi com o

objetivo de descobrir a veracidade dessa opiniatildeo na sociedade portuguesa que o Projecto

Ciberfaces do Instituto Superior de Ciecircncias do Trabalho e da Empresa (ISCTE)

analisou no ano 2000 3 mil inqueacuteritos realizados com usuaacuterios da Internet no paiacutes

Questionados sobre as principais vantagens da Internet os inquiridos responderam

quantidade diversidade da informaccedilatildeo disponiacutevel (263) rapidez de comunicaccedilatildeo

(205) e facilidade de contato com outros (182) O item referente agrave ausecircncia de

regulaccedilatildeo figurou na 6ordf posiccedilatildeo (57) numa lista de seis (ISCTE Projecto Ciberfaces

2000) As questotildees mais problemaacuteticas que a Internet enfrenta satildeo para estes inquiridos a

privacidade dos dados a seguranccedila dos pagamentos on-line a desorganizaccedilatildeo e dispersatildeo

dos conteuacutedos e a censura a alguns desses conteuacutedos

Outra dimensatildeo significativa que a pesquisa procurou analisar foi a da relaccedilatildeo

entre direitos de autor e gratuidade de conteuacutedos Agrave questatildeo ldquoA informaccedilatildeo

disponibilizada na Internet deve ser gratuitardquo 914 responderam ldquosimrdquo e 86 ldquonatildeordquo

Perguntados se ldquoOs direitos de autor devem ser respeitados na Internetrdquo 835

concordaram e 165 discordaram Gustavo Cardoso aponta esses resultados como

sintoma do aparente paradoxo entre o acesso gratuito agraves informaccedilotildees e a defesa dos

77

direitos de autor e da necessidade de compatibilizar dois polos de interesse geralmente

considerados opostos (Cardoso 2002 07)

Na questatildeo sobre a quem deve caber a regulaccedilatildeo da Internet 63 declararam-se a

favor de algum tipo de regulaccedilatildeo 33 mostraram-se favoraacuteveis aos utilizadores (portanto

agrave auto-regulaccedilatildeo) e apenas 2 escolheram a ausecircncia de qualquer tipo de regulaccedilatildeo Os

favoraacuteveis agrave regulaccedilatildeo opinaram poreacutem que esta natildeo deveria ser feita nem pelo Governo

nem pelas empresas do setor Ambas as categorias satildeo vistas como pouco crediacuteveis para

assegurar o equiliacutebrio necessaacuterio entre o interesse privado e puacuteblico que os usuaacuterios

conferem agrave Rede Isso ocorre pelo facto de os utilizadores conferirem ao regulador a noccedilatildeo

de entidade sem interesse direto no espaccedilo em causa Assim a escolha recai ou sobre

entidades independentes ou numa combinaccedilatildeo de interesses puacuteblicos privados e

individuais Conforme diz Gustavo Cardoso ldquotratam-se portanto de modelos proacuteximos

daqueles que a legislaccedilatildeo portuguesa a par de outras a niacutevel europeu privilegia nas aacutereas

de atuaccedilatildeo das tecnologias mais tradicionais no sistema dos mediardquo (ibidem 11)

A regulaccedilatildeo da Internet depara-se com trecircs questotildees limitadoras no que se refere

aos conteuacutedos como definir quais satildeo os conteuacutedos aceitaacuteveis e inaceitaacuteveis agrave circulaccedilatildeo

como reunir as capacidades financeira e tecnoloacutegica necessaacuterias agrave aplicaccedilatildeo da regulaccedilatildeo e

como criar uma poliacutetica de cooperaccedilatildeo internacional face a uma tecnologia global como a

Internet Outro aspecto a ser considerado eacute o das formas de filtragem dos conteuacutedos As

tecnologias para fazecirc-lo ainda natildeo estatildeo suficientemente desenvolvidas aleacutem disso

qualquer atitude nesse campo esbarra na tecircnue linha que separa o combate agrave criminalidade

na Rede e o desrespeito agrave privacidade dos usuaacuterios Muito mais que uma questatildeo

tecnoloacutegica o controlo de conteuacutedos na rede mundial de computadores apresenta-se como

um dilema filosoacutefico e socioloacutegico difiacutecil de ser resolvido

40 Salvaguarda dos direitos de autor e combate agrave pirataria no Brasil e em

Portugal Azeredo e Lei da Coacutepia Privada

41 O Projeto de Lei Azeredo

78

O Projeto de Lei 892003 de autoria do senador mineiro Eduardo Azeredo eacute um

substitutivo a trecircs projetos que tramitam em conjunto pelo Congresso Nacional brasileiro

Projeto de Lei da Cacircmara de nordm 89 de 2003 e do Senado de nordm 76 e 137 de 2000 Eles

dispotildeem sobre os crimes cometidos na aacuterea de informaacutetica e suas penalidades O projeto

pretende alterar o Coacutedigo Penal o Coacutedigo de Processo Penal e outras leis ao inveacutes de

atualizaacute-las com novos tipos de crime cometidos atraveacutes das tecnologias da informaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo (TIC) (Rezende 2008)

Eduardo Azeredo (PSDB) foi governador do estado de Minas Gerais e trabalhou

na IBM por mais de 10 anos Ele tambeacutem exerceu vaacuterios cargos puacuteblicos ligados agrave aacuterea da

tecnologia com a colaboraccedilatildeo de seu assessor Joseacute Henrique Portugal que eacute ex-diretor da

empresa puacuteblica Serpro (Serviccedilo Federal de Processamento de Dados) e coautor do

respectivo Projeto de Lei que ficou conhecido como ldquoLei de Crimes de Informaacuteticardquo e

tambeacutem ldquoLei Azeredordquo

O projeto eacute criticado desde seu surgimento por apresentar um texto vago

impreciso ateacute duacutebio com pontos abertos a interpretaccedilotildees mesmo contraditoacuterias Aleacutem

disso os criacuteticos da Lei Azeredo apontam para o facto de que o texto legislativo pode

chegar a criminalizar atividades cotidianas praticadas por usuaacuterios da Rede Em seu blog

o socioacutelogo Seacutergio Amadeu afirma que ldquoao aprovar o Projeto Substitutivo ao Projeto de

Lei da Cacircmara dos Deputados (PLC) 892003 Projeto de Lei do Senado Federal (PLS)

1372000 e PLS 762000 redigido pelo senador Azeredo a Comissatildeo de Constituiccedilatildeo e

Justiccedila da Cacircmara quer transformar milhares de internautas em criminososrdquo (Amadeu

2008)

Pela burocratizaccedilatildeo do acesso que propotildee a lei pode dificultar a democratizaccedilatildeo da

Rede e servir como um entrave e um desincentivo aos usuaacuterios O texto inicial da Lei

Azeredo propotildee a obrigatoriedade da identificaccedilatildeo do usuaacuterio antes de iniciar qualquer

atividade interativa na Rede Sendo assim o envio de e-mails conversas em salas de bate-

papo criaccedilatildeo e publicaccedilatildeo de materiais em blogs e a captura de dados (downloads de

muacutesicas filmes imagens etc) dentre outras atividades ficariam sujeitas agrave preacutevia

identificaccedilatildeo do utilizador

A Lei Azeredo prevecirc a necessidade de identificar-se a cada acesso O usuaacuterio deve

fornecer informaccedilotildees como nome endereccedilo nuacutemero de telefone nuacutemeros do registro

geral (carteira de identidade) e do cadastro de pessoas fiacutesicas (CPF) ou juriacutedicas (CNPJ)

79

A navegaccedilatildeo na Internet sem o fornecimento desses dados seria punida com reclusatildeo de

dois a quatro anos

Os fornecedores de acesso agrave Internet satildeo os responsaacuteveis pela comprovaccedilatildeo da

veracidade das informaccedilotildees prestadas pelos usuaacuterios Cabe a eles verificar se os dados satildeo

ou natildeo reais e se correspondem efetivamente agrave pessoa conectada O acesso soacute seraacute

liberado apoacutes a confirmaccedilatildeo da identidade do indiviacuteduo Para isso eacute preciso obter

fotocoacutepias dos documentos de identificaccedilatildeo Caso os provedores permitam o acesso de

usuaacuterios natildeo cadastrados ficam sujeitos agrave mesma pena ndash dois a quatro anos de prisatildeo

O artigo 2 do projeto propotildee a alteraccedilatildeo do artigo 285 do Coacutedigo Penal com trecircs

apecircndices O 285-A criminaliza o acesso ldquomediante violaccedilatildeo de seguranccedilardquo agrave rede de

computadores dispositivo de comunicaccedilatildeo ou sistema informatizado protegido por

expressa restriccedilatildeo de acesso com pena de um a trecircs anos de reclusatildeo e multa O 285-B

criminaliza a obtenccedilatildeo ou transferecircncia de dado ou informaccedilatildeo disponiacutevel numa tal coisa

em desconformidade com a autorizaccedilatildeo do ldquolegiacutetimo titularrdquo da mesma com pena igual

O texto determina que os fornecedores de acesso agrave Internet guardem durante um

periacuteodo de trecircs anos as informaccedilotildees sobre as conexotildees realizadas por seus usuaacuterios de

maneira a fornececirc-las agraves autoridades responsaacuteveis pela investigaccedilatildeo de infratores

Art 22 O responsaacutevel pelo provimento de acesso agrave rede de computadores mundial

comercial ou do setor puacuteblico eacute obrigado a

I ndash manter em ambiente controlado e de seguranccedila pelo prazo de trecircs anos com o

objetivo de provimento de investigaccedilatildeo puacuteblica formalizada os dados de

endereccedilamento eletrocircnico da origem hora data e a referecircncia GMT da conexatildeo

efetuada por meio de rede de computadores e fornececirc-los exclusivamente agrave autoridade

investigatoacuteria mediante preacutevia requisiccedilatildeo judicial

II ndash preservar imediatamente apoacutes requisiccedilatildeo judicial outras informaccedilotildees requisitadas

em curso de investigaccedilatildeo respondendo civil e penalmente pela sua absoluta confidencialidade e inviolabilidade (SENADO FEDERAL 2003)

No mesmo artigo a lei ainda prevecirc que os prestadores de serviccedilo de acesso agrave rede

mundial de computadores recebam e faccedilam denuacutencias sobre usuaacuterios que pratiquem

atividades tidas como criminosas pelas autoridades competentes Cabe aos fornecedores

um papel de delaccedilatildeo

III ndash informar de maneira sigilosa agrave autoridade competente denuacutencia que tenha

recebido e que contenha indiacutecios da praacutetica de crime sujeito a acionamento penal

puacuteblico incondicionado cuja perpetraccedilatildeo haja ocorrido no acircmbito da rede de computadores sob sua responsabilidade (SENADO FEDERAL 2003)

80

O artigo 22 do Projeto de Lei 892003 eacute talvez o mais polecircmico Os criacuteticos da lei

questionam o motivo pelo qual as denuacutencias deveriam ser feitas aos fornecedores de

acesso agrave Internet e natildeo diretamente agraves autoridades competentes Se natildeo haacute restriccedilotildees nem

criteacuterios para o registro de denuacutencias qualquer interessado pode fazecirc-las aos provedores

criando uma espeacutecie de induacutestria de denuacutencias Aleacutem disso a lei induz as empresas

fornecedoras de acesso a serem conforme diz o Observatoacuterio do Direito agrave Comunicaccedilatildeo

ldquociberagentes policiaisrdquo ldquocibercapatazesrdquo que dispostos a evitar retaliaccedilotildees identificam e

denunciam usuaacuterios sem saber se houve realmente alguma violaccedilatildeo da lei (Observatoacuterio

do Direito agrave Comunicaccedilatildeo 2008) Em entrevista ao Grupo de Pesquisa em Poliacuteticas

Puacuteblicas para o Acesso agrave Informaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) o professor e

pesquisador da Universidade de Brasiacutelia (UnB) Pedro Rezende demonstrou seu temor em

relaccedilatildeo a esse artigo

Receio que tal dispositivo possa por exemplo induzir prestadores inclinados a lucrar

com espionagem ou violaccedilatildeo de privacidade em posiccedilatildeo teacutecnica de poder fazecirc-lo de

forma indetectaacutevel a se abrigarem na sombra desta subjetividade para se desimputarem

de culpabilidade caso efeitos desta inclinaccedilatildeo emerjam (REZENDE 2008)

Em Marccedilo de 2012 o Projeto de Lei Azeredo entrou na pauta de discussatildeo na

Comissatildeo de Seguranccedila Puacuteblica e Combate ao Crime Organizado na Cacircmara dos

Deputados A notiacutecia causou revolta e graccedilas agrave mobilizaccedilatildeo popular atraveacutes das redes

sociais e outros instrumentos de comunicaccedilatildeo pela Internet o debate sobre o texto foi

adiado sem prazo definido

42 A Lei da Coacutepia Privada em Portugal

O Coacutedigo de Direitos de Autor revisado e aprovado em 1985 estabeleceu em seu

81deg artigo a legitimidade da reproduccedilatildeo de obras protegidas sem o consentimento dos

titulares dos direitos quando estas se destinam a fins exclusivamente privados

(Assembleia da Repuacuteblica 1985 27) Em outras palavras a reproduccedilatildeo eacute legal quando eacute

feita por uma soacute pessoa sem fins lucrativos visando apenas satisfazer necessidades

pessoais do utilizador ou dos seus proacuteximos Eacute a isto que se chama coacutepia privada

81

Na tentativa de evitar que os autores ficassem desprotegidos pela autorizaccedilatildeo da

coacutepia em contexto privado a Lei nordm 6298 de 01 de Setembro estabelece uma

compensaccedilatildeo a atribuir pela entidade gestora dos direitos autorais Essa compensaccedilatildeo eacute

obtida da seguinte forma na venda de

[] todos e quaisquer aparelhos mecacircnicos quiacutemicos electroacutenicos ou outros que

permitam a fixaccedilatildeo e reproduccedilatildeo de obras e bem assim de todos e quaisquer suportes

materiais virgens analoacutegicos das fixaccedilotildees e reproduccedilotildees que por qualquer desses meios

possam obter-se incluir-se-aacute uma quantia destinada a beneficiar os autores os artistas

inteacuterpretes ou executantes os editores os produtores fonograacuteficos e os videograacuteficos

(ASSEMBLEIA DA REPUacuteBLICA 1998 01)

Portanto a compensaccedilatildeo obteacutem-se atraveacutes da introduccedilatildeo no preccedilo de venda ao

puacuteblico de uma determinada taxa

Em Dezembro de 1998 foi constituiacuteda a Associaccedilatildeo para Gestatildeo da Coacutepia Privada

(AGECOP) em cumprimento ao artigo 6ordm da Lei nordm 6298 de 01 de Setembro que previa

a criaccedilatildeo de ldquo[] uma pessoa colectiva sem fins lucrativos de natureza associativa ou

cooperativa que tem por objecto a cobranccedila e gestatildeo das quantias previstas na presente

leirdquo (Assembleia da Repuacuteblica 1998 02) A entidade atualmente presidida pela

Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) cobra pela coacutepia privada e distribui os valores agraves

sociedades de gestatildeo e aos detentores dos direitos de autor

A lei nordm 502004 de 24 de Agosto referente agrave Harmonizaccedilatildeo de certos aspectos

dos direitos de autor e dos direitos conexos na sociedade da informaccedilatildeo finalmente

especificou a quais aparelhos e suportes se aplicariam as taxas pela coacutepia privada Desde

entatildeo todos os equipamentos analoacutegicos que permitem gravar armazenar e reproduzir

passaram a ser taxados em 3 assim como cassetes aacuteudio viacutedeo CD-R aacuteudio DVD-R

DVD RAM etc que satildeo taxados em valores individuais que rondam os 014 e o 100

euros cada A soma incide sobre o preccedilo de venda ao puacuteblico antes da aplicaccedilatildeo do

Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) estabelecido pelos respectivos fabricantes e

importadores (Assembleia da Repuacuteblica 2004)

A ex-ministra da Cultura e atual deputada do Partido Socialista (PS) Gabriela

Canavilhas eacute a responsaacutevel pela autoria e apresentaccedilatildeo do Projeto de Lei nordm 118 tambeacutem

conhecido como Projeto de Lei da Coacutepia Privada5 agrave Assembleia da Repuacuteblica O objetivo

5 Para tornar a leitura mais simples utilizaremos a sigla PL118 para nos referirmos ao Projeto de Lei da

Coacutepia Privada

82

do texto eacute basicamente alargar o regime de taxas aos equipamentos digitais surgidos e

popularizados recentemente como aparelhos leitores de mp3 e pens USB por exemplo A

proposta sugere que o valor da taxa deixe de ser de 3 e seja proporcional agrave capacidade

do dispositivo A soma deve ser incluiacuteda no valor cobrado ao consumidor final e seraacute

obrigatoacuteria mesmo que o consumidor compre o aparelho para armazenar conteuacutedos de sua

autoria

Em artigo publicado no jornal Diaacuterio de Notiacutecias Canavilhas afirma que a ideia

inspira-se nas recentes decisotildees da Uniatildeo Europeia que tem manifestado grande

preocupaccedilatildeo para com este assunto (Canavilhas 30012012) Essa preocupaccedilatildeo foi

expressa pela Diretiva Comunitaacuteria 201129CE e mais recentemente pela Comunicaccedilatildeo

da Comissatildeo Europeia ldquoUm Mercado Uacutenico para os Direitos de Propriedade Intelectualrdquo

de Maio de 2011

Gabriela Canavilhas afirmou que os valores propostos no diploma do PS satildeo

equivalentes aos praticados atualmente em outros paiacuteses Segundo ela em 2009 entre 30

paiacuteses europeus Portugal estava em 17ordm lugar no ranking da contribuiccedilatildeo per capita para

pagamento de direitos autorais euro 030 euros por habitanteano Na Franccedila paiacutes topo da

lista cada cidadatildeo pagava 260 eurosano na Espanha 170 euros e na Holanda 090

euros Para a deputada optar por comprar equipamentos informaacuteticos em outros paiacuteses da

EU significa pagar direitos de autor aos cidadatildeos de outros paiacuteses ao inveacutes de investir nos

autores nacionais (Canavilhas id)

As memoacuterias USB aparelhos destinados agrave reproduccedilatildeo e outros suportes como

cartotildees de memoacuteria passaratildeo a custar mais 006 euro por cada gigabyte (GB) de capacidade

de armazenamento Os discos riacutegidos e outros tipos de memoacuterias natildeo volaacuteteis integrados

em equipamentos ou aparelhos com capacidade a partir de 150 GB e que permitam o

armazenamento de dados em massa seratildeo taxados a 002 euro por cada GB de capacidade

mais 0005 euro por cada GB que acresccedila a capacidade de 1 terabyte (TB) Discos riacutegidos

externos ou cartotildees SSD custaratildeo 002 euro por cada GB de capacidade e mais 0005 euro por

cada GB que acresccedila a capacidade de 1TB (Canavilhas 01022012)

Os telemoacuteveis e tablets por exemplo tambeacutem seratildeo taxados Os dispositivos de

reproduccedilatildeo de fonogramas videogramas ou outros conteuacutedos sonoros visuais ou

audiovisuais custaratildeo mais 050 euro por cada GB de capacidade de armazenamento Cada

dispositivo eacute taxado com valores especiacuteficos pelo PL118 (vd Anexo 02)

83

Em 21 de Marccedilo de 2012 o PS retirou o Projeto de Lei de discussatildeo e disse que

pretende apresentar um novo texto em breve Segundo o porta-voz do grupo parlamentar

do partido Ricardo Pires o PS decidiu pela retirada apoacutes audiccedilotildees agrave sociedade civil Ele

afirmou que o partido ldquoprocurou consensualizar uma soluccedilatildeo viaacutevel de alteraccedilatildeo

do Projeto de Lei sobre a Coacutepia Privadardquo referindo que ldquoface aos sinais puacuteblicos

designadamente de natildeo viabilizaccedilatildeo desse caminho pelo PSD o PS decidiu retirarrdquo o

documento e ldquoem breve iraacute entregar um novo projeto com alteraccedilotildees introduzidasrdquo

(IOnline 2012)

Em declaraccedilotildees dadas agrave imprensa a deputada Gabriela Canavilhas comentou as

alteraccedilotildees ao texto e afirmou que se aguardava autorizaccedilatildeo da presidente da Assembleia

da Repuacuteblica para introduzi-las A ldquodefiniccedilatildeo de equipamentos e taxas a aplicar a ser feita

por portaria governamental em cada dois anos de modo a permitir mais ceacutelere adaptaccedilatildeo

dos valores e dos produtos acompanhando a evoluccedilatildeo tecnoloacutegicardquo era uma das

modificaccedilotildees feitas (IOnline id) Outra das alteraccedilotildees introduzidas eacute a definiccedilatildeo de um

teto maacuteximo como valor limite para a taxa que sendo progressiva consoante a capacidade

de armazenamento (dos equipamentos) natildeo poderaacute exceder os 6 sobre o produto antes

do IVA

A deputada socialista disse ainda que entre as alteraccedilotildees agrave proposta inicial estaacute o

ldquoalargamento das isenccedilotildees de pagamento de taxas a profissionais em nome individual do

setor audiovisual fonograacutefico e fotograacutefico cujos equipamentos sejam adquiridos para a

sua atividade criativa bem como a instituiccedilotildees com centros de documentaccedilatildeo natildeo

comercial tais como bibliotecas museus e arquivosrdquo (IOnline id)

O texto atualmente em vigor da Lei nordm 6298 de 01 de Setembro jaacute prevecirc a isenccedilatildeo

[] quando os equipamentos ou os suportes sejam adquiridos por organismos de

comunicaccedilatildeo audiovisual ou produtores de fonogramas e de videogramas exclusivamente para as suas proacuteprias produccedilotildees ou por organismos que os utilizem para

fins exclusivos de auxiacutelio a pessoas portadoras de diminuiccedilatildeo fiacutesica visual ou auditiva

bem como nos termos de despacho conjunto dos Ministros das Financcedilas e da Cultura

por entidades de caraacutecter cultural sem fins lucrativos para uso em projectos de relevante

interesse puacuteblico (ASSEMBLEIA DA REPUacuteBLICA 1998 01)

Para beneficiar-se de tal isenccedilatildeo os organismos abrangidos devem apresentar no

ato da compra dos aparelhos e suportes uma declaraccedilatildeo emitida pela entidade gestora das

compensaccedilotildees e cobranccedila indicando e comprovando o respectivo objeto de atividade

84

O projeto de lei foi alvo de criacuteticas e deu origem a uma peticcedilatildeo em circulaccedilatildeo na

Internet que reuniu mais de oito mil assinaturas (Peticcedilatildeo puacuteblica contra o PL118 2012)

Um dos argumentos mais frequentes contra o PL118 eacute o de que os equipamentos podem

ser usados para armazenar muitos outros tipos de conteuacutedos que natildeo sejam coacutepias de obras

protegidas

50 Controlo do ciberespaccedilo e acordos aleacutem-fronteiras alguns casos-chave

51 HADOPI

Devido agrave intensa pressatildeo exercida por representantes da induacutestria cultural ndash

grandes produtores de muacutesica cinema e publicaccedilotildees impressas - o governo francecircs

decidiu comeccedilar em 2007 uma luta efetiva contra as redes P2P (peer-to-peer) e a

partilha gratuita de arquivos de muacutesicas filmes etc protegidos por direitos de autor

Formulou-se entatildeo o texto da lei HADOPI (Alta Autoridade para a Difusatildeo das Obras e a

Proteccedilatildeo dos Direitos na Internet em francecircs Haute Autoriteacute pour la Diffusion des

Œuvres et la Protection des Droits sur Internet) tambeacutem chamada de Lei ldquoCriaccedilatildeo e

Internetrdquo que sugeriu a criaccedilatildeo de uma administraccedilatildeo capaz de vigiar e punir atividades de

download e troca de arquivos ilegais na Rede Segundo o texto inicial da lei HADOPI o

mote para o surgimento desta nova administraccedilatildeo foi a necessidade de

Fazer cessar a hemorragia de obras culturais na Internet e criar a situaccedilatildeo

juriacutedica indispensaacutevel ao desenvolvimento da oferta legal de muacutesicas filmes

obras e programas audiovisuais como tambeacutem de obras literaacuterias sobre as

novas redes de comunicaccedilatildeo (REacutePUBLIQUE FRANCcedilAISE ET MINISTEgraveRE

DE LA CULTURE ET DE LA COMMUNICATION 2008 01)

O texto inicial de HADOPI propotildee que os detentores de direitos autorais (artistas

produtores e editores) colaborem com os agentes puacuteblicos fiscalizadores habilitados pela

Alta Autoridade na atividade de combate agrave contravenccedilatildeo identificando na Rede o uso de

ferramentas para a transmissatildeo iliacutecita de bens culturais protegidos por direitos de autor

(como por exemplo programas peer-to-peer e o acesso a sites de hospedagem de

arquivos) Para isso os proprietaacuterios dos direitos recorrem a sociedades especializadas no

85

reconhecimento de endereccedilos IP das maacutequinas que partilham os conteuacutedos ilegalmente na

Rede

HADOPI determina que seus agentes fiscalizadores obtenham junto aos

operadores de comunicaccedilotildees eletrocircnicas informaccedilotildees como a identidade o endereccedilo

postal o endereccedilo eletrocircnico e os contatos telefocircnicos dos usuaacuterios cadastrados em seus

bancos de dados (Reacutepublique Franccedilaise et Ministegravere de la Culture et de la Communication

2008 19) O acesso a essas informaccedilotildees permitiria entatildeo que HADOPI enviasse aos

usuaacuterios que fazem downloads iliacutecitos uma espeacutecie de aviso preacutevio advertindo-os sobre o

caraacuteter ilegal de seus atos e alertando-os sobre as sanccedilotildees que podem sofrer caso

continuem com as descargas A intercomunicaccedilatildeo entre a fiscalizaccedilatildeo de HADOPI e a

vigilacircncia dos fornecedores de acesso agrave Internet com o posterior envio de mensagens de

advertecircncia aos assinantes eacute chamada de resposta gradual

Caso o usuaacuterio volte a fazer downloads ilegalmente num prazo de seis meses

contados a partir da data de envio do primeiro aviso a comissatildeo decide pelo envio de

outro comunicado desta vez de maneira que permita estabelecer uma prova da data de

envio e sobretudo da recepccedilatildeo sob assinatura do destinataacuterio Se o usuaacuterio reincidir

HADOPI prevecirc uma sanccedilatildeo polecircmica a suspensatildeo do acesso agrave Internet

Aleacutem de ter o acesso agrave Rede interrompido HADOPI determina tambeacutem que o

assinante continue a pagar por ele ldquoArt L 331-28 ndash A suspensatildeo do acesso mencionada

nos artigos L 331-25 e L 331-26 natildeo afeta por si mesma o pagamento do preccedilo da

assinatura ao fornecedor do serviccedilordquo (Reacutepublique Franccedilaise et Ministegravere de la Culture et

de la Communication 2008 22)

A identificaccedilatildeo dos usuaacuterios infratores aparece em uma lista produzida pela

comissatildeo de proteccedilatildeo dos direitos de autor e fica agrave disposiccedilatildeo para consulta pelas

empresas fornecedoras de acesso agrave Internet Caso o servidor de acesso natildeo proceda agrave

consulta desse repertoacuterio ou caso aceite firmar contrato com o infrator mesmo

conhecendo sua situaccedilatildeo perante HADOPI ele fica sujeito ao pagamento de multa

52 Sinde-Wert

Desde Marccedilo de 2012 estaacute em vigor na Espanha a lei batizada Sinde-Wert (em

referecircncia a Aacutengeles Gonzaacuteles-Sinde antiga ministra da Cultura e Joseacute Ignacio Wert seu

sucessor) Esta lei permite ao governo fechar ou tirar sites do ar sem ordem judicial

86

A lei enfrenta uma forte oposiccedilatildeo tanto de ativistas quanto das empresas A Rede

de Empresas de Internet e a Associaccedilatildeo Espanhola de Economia Digital entraram com um

recurso no Supremo Tribunal contra a lei ndash mais especificamente contra o ldquoprocedimento

de garantia dos direitos de propriedade intelectualrdquo (Link 15022012) Segundo as

empresas o artigo traz inseguranccedila juriacutedica para as empresas de tecnologia operarem e se

desenvolverem Para elas Sinde-Wert dificulta a atuaccedilatildeo das empresas de Internet que jaacute

pensam duas vezes antes de comeccedilar um novo projeto

A lei comeccedilou a ser discutida em 2009 Gerou uma onda de protestos por todo o

paiacutes mas apesar de toda oposiccedilatildeo foi aprovada pelo governo no iniacutecio de 2012

53 SOPA

SOPA eacute a sigla inglesa para Stop Online Piracy Act Trata-se de um projeto de lei

em discussatildeo no Congresso dos Estados Unidos e que jaacute provocou manifestaccedilotildees e

interrupccedilotildees de serviccedilos de sites importantes como Google Wikipedia e Craigslist

O texto do SOPA propotildee penas ateacute 5 anos de prisatildeo para os condenados por

compartilhar conteuacutedo pirata por 10 ou mais vezes ao longo de 6 meses Os sites tambeacutem

poderiam ser punidos pela acusaccedilatildeo de permitir ou facilitar a pirataria A puniccedilatildeo seria o

encerramento dos serviccedilos e banimento de provedores de Internet sistemas de pagamento

e anunciantes em niacutevel internacional Pela lei qualquer site pode ser fechado apenas por

ter conexatildeo com outro site suspeito de pirataria a pedido do governo dos EUA ou dos

geradores de conteuacutedo Ferramentas de busca como o Google por exemplo teriam que

remover dos resultados das pesquisas endereccedilos que compartilhem conteuacutedo pirata

correndo o risco de tambeacutem serem punidos

As propostas contam com o apoio de emissoras de TV gravadoras estuacutedios de

cinema e editoras de livros que se sentem lesadas com a livre distribuiccedilatildeo de filmes e

muacutesicas na Internet principalmente em servidores internacionais Disney Universal

Paramount Sony e Warner Bros satildeo alguns dos grandes nomes da induacutestria que apoiam

esse projeto

Por outro lado empresas de tecnologia como Google Facebook Wikipedia

Craigslist WordPress entre outros satildeo contra o projeto de lei alegando que caso este

seja aprovado a liberdade na Internet seria drasticamente reduzida Aleacutem disso SOPA daacute

87

poderes em excesso para quem quiser tirar os endereccedilos do ar prejudicando o

funcionamento da Rede em escala global

Com a intensa pressatildeo popular a Casa Branca declarou ser contra o projeto Em

mensagem publicada em seu blog a Casa Branca afirmou que natildeo pode apoiar ldquoum

projeto de lei que reduz a liberdade de expressatildeo amplia os riscos de seguranccedila na

computaccedilatildeo ou abala o dinamismo e inovaccedilatildeo da Internet globalrdquo (G1 18012012) Sem o

apoio ele pode ser alterado ou ateacute dissipado do Congresso e do Senado americanos

54 ACTA

O ACTA (Acordo Comercial Anticontrafaccedilatildeo em inglecircs Anti-Counterfeiting

Trade Agreement) tratado comercial de escala planetaacuteria estaacute sendo discutido desde

2007 As negociaccedilotildees formais arrancaram em Junho de 2008 e desde entatildeo foram

realizadas sete rondas negociais O ACTA tem como objetivo estabelecer padrotildees

internacionais para o cumprimento da legislaccedilatildeo de propriedade intelectual O pacto goza

de amplo apoio dos produtores de muacutesica filmes e uma gama de outros produtos que

desfrutam da proteccedilatildeo de direitos de autor e propriedade intelectual como marcas

comerciais patentes desenhos e indicaccedilotildees geograacuteficas O acordo de longo alcance

cobriria tudo desde a falsificaccedilatildeo de medicamentos agrave pirataria on-line

Os Estados Unidos assinaram o ACTA em Outubro de 2011 ao lado de outros sete

paiacuteses Austraacutelia Canadaacute Coreacuteia do Sul Japatildeo Nova Zelacircndia Marrocos e Singapura A

Uniatildeo Europeia assinou o ACTA em 26 de Janeiro de 2012 em Toacutequio O acordo prevecirc

disposiccedilotildees em mateacuteria de execuccedilatildeo penal um domiacutenio que eacute considerado de competecircncia

partilhada entre a UE e os Estados-Membros Por este motivo teve de ser assinado e

ratificado pela UE e por seus 27 integrantes

Apoacutes a assinatura do ACTA pela UE e os seus Estados-Membros o Parlamento

Europeu foi formalmente notificado para dar iniacutecio ao procedimento de consentimento

Esse procedimento inclui debates nas diferentes comissotildees (Comeacutercio Internacional

Liberdades Civis Justiccedila e Assuntos Internos e Assuntos Juriacutedicos) e possivelmente uma

audiecircncia puacuteblica Eacute provaacutevel que o consentimento seja votado no fim do veratildeo de 2012

Depois de o Parlamento Europeu ter dado o seu consentimento e uma vez

concluiacutedos os procedimentos nacionais de ratificaccedilatildeo nos Estados-Membros o Conselho

88

da Uniatildeo Europeia adotaraacute uma decisatildeo final para celebrar o acordo Este facto seraacute entatildeo

comunicado aos demais signataacuterios do ACTA e o acordo entraraacute em vigor na UE

Em comunicado publicado no site oficial da Comissatildeo Europeia no dia 22 de

Fevereiro de 2012 o Comissaacuterio Europeu do Comeacutercio Karel De Gucht anunciou com

satisfaccedilatildeo ldquoApraz-me dizer que esta manhatilde os meus colegas da Comissatildeo discutiram e

concordaram em termos gerais com a minha proposta de enviar o ACTA para o Tribunal

Europeu da Justiccedilardquo que eacute a mais alta instacircncia judicial da Uniatildeo Europeia (Puacuteblico

22022012) De Gucht afirmou ainda que o objetivo da decisatildeo eacute tambeacutem perceber se o

acordo internacional para a proteccedilatildeo dos direitos de autor eacute incompatiacutevel ndash seja em que

sentido for ndash com os direitos fundamentais e de liberdade da Uniatildeo Europeia tais como a

liberdade de expressatildeo e de informaccedilatildeo ou a proteccedilatildeo de dados e o direito agrave propriedade

no caso especiacutefico da propriedade intelectual

Em palestra organizada pela Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa

em Marccedilo de 2012 a advogada Teresa Nobre responsaacutevel pela adaptaccedilatildeo das licenccedilas

Creative Commons agrave legislaccedilatildeo portuguesa afirmou que o risco de acordos como o ACTA

estaacute no caraacuteter vago do texto suscetiacutevel de diversas interpretaccedilotildees ldquoACTA representa um

risco real pois abre a porta agrave discussatildeo de leis como SOPA nos EUA e HADOPI em

Franccedilardquo (Nobre 2012)

Jaacute para Lucas Serra responsaacutevel pela assessoria juriacutedica da Sociedade Portuguesa

de Autores (SPA) eacute cedo para prever os resultados de um acordo como o ACTA em

aplicaccedilatildeo ldquoHaacute que ver no que vai dar O facto eacute que precisa haver portagens que

detenham a pirataria Eacute um problema grave que afeta a todos noacutes e mais ainda aos

autoresrdquo (Serra 2012)

60 Brasil e Portugal algumas semelhanccedilas e diferenccedilas

Apesar da grande diversidade e dos muitos quilocircmetros que separam

territorialmente Brasil e Portugal as semelhanccedilas entre os dois paiacuteses satildeo muitas Aleacutem de

terem culturas muito proacuteximas partilham a mesma liacutengua e as semelhanccedilas estendem-se

tambeacutem ao Direito A matriz comum manteve-se mesmo apoacutes a independecircncia do Brasil e

a consequente separaccedilatildeo legislativa Os direitos de autor natildeo escaparam dessa

89

conformidade Conforme afirma Joseacute de Oliveira Ascensatildeo a lei brasileira nordm 5988 de 14

de Dezembro de 1973 que regulou autonomamente os direitos de autor foi preparada

pouco tempo depois da entrada em vigor do Coacutedigo do Direito de Autor portuguecircs de

1966 e baseou-se neste uacuteltimo para firmar vaacuterios de seus preceitos (Ascensatildeo 2012 40)

No entanto os dois paiacuteses sofrem influecircncias diferentes apesar da legislaccedilatildeo de

base romaniacutestica o Brasil estaacute sob a atraccedilatildeo exercida pelos Estados Unidos da Ameacuterica

enquanto que Portugal segue as diretrizes impostas pela Uniatildeo Europeia (UE) Apesar de

transpor com atraso as instruccedilotildees europeias Portugal acolheu mais cedo as questotildees

relacionadas ao direito de autor no ambiente da Internet sob pressatildeo das pautas e

calendaacuterios da UE Nesse aspecto ficou agrave frente do Brasil A atual Lei do Direito Autoral

(LDA) nordm 9610 data de 19 de Fevereiro de 1998 e natildeo trata especificamente da Internet

nem das questotildees que ela impotildee Estaacute portanto bastante defasada visto que desde entatildeo

a tecnologia jaacute se desenvolveu bastante e criou novos dispositivos sobre os quais a lei natildeo

tem nenhum conhecimento

A decisatildeo pela reforma da LDA pretende tirar esse atraso do qual Portugal natildeo

sofre por estar submetido agraves diretrizes europeias em atualizaccedilotildees mais frequentes Poreacutem

a problemaacutetica da Internet parece continuar agrave margem da discussatildeo da reforma da lei

brasileira Uma proposta do Ministeacuterio da Justiccedila deveraacute suprir essa falta o Marco Civil

da Internet diploma que pretende versar sobre aspectos baacutesicos do acesso e uso da Rede

Ao mesmo tempo em que os planos para o Marco Civil foram lanccedilados o Ministeacuterio da

Cultura (MinC) resolveu iniciar o processo de reforma da LDA

Infelizmente parece que esse vazio das questotildees da Rede natildeo seraacute totalmente

preenchido com as mudanccedilas mas tal situaccedilatildeo eacute compreensiacutevel Para discutir a fundo essa

problemaacutetica seria necessaacuterio muito tempo o que atrasaria ainda mais a jaacute urgente reforma

da LDA Mesmo natildeo propondo princiacutepios de regulaccedilatildeo da Internet por si mesmo o

rascunho do texto da nova LDA jaacute cria algumas ligaccedilotildees com esse tema Associando o

texto do Marco Civil com a nova LDA seraacute possiacutevel estabelecer pontes entre os domiacutenios

da regulaccedilatildeo da Internet e a defesa dos direitos de autor

O jurista Joseacute de Oliveira Ascensatildeo afirma que com isso evidencia-se a

insuficiecircncia do direito autoral claacutessico para lidar com as questotildees relacionadas com a

Internet (Ascensatildeo 2012 42) A separaccedilatildeo que o Brasil propocircs passa por especificar as

soluccedilotildees Ao lermos os textos do Marco Civil e da reforma da LDA percebemos que o

90

primeiro tem contribuiccedilotildees muito mais significativas no domiacutenio do Direito da Internet

que o uacuteltimo

Um aspecto notaacutevel nas discussotildees pela reforma da LDA eacute o caraacuteter puacuteblico da

consulta O mesmo se deu com o Marco Civil da Internet Essa abertura agrave participaccedilatildeo da

sociedade civil mundo acadecircmico representantes das induacutestrias e criadores marcou

positivamente ambos os processos e fez do Brasil um paradigma internacional no tema

Sob o aspecto da regulaccedilatildeo da Rede em Portugal a iniciativa da Comissatildeo

Europeia e-europe 2002 mostra-se remarcaacutevel O texto definiu num quadro de agrave eacutepoca

quinze paiacuteses quais as preocupaccedilotildees comuns quanto agrave regulaccedilatildeo da Internet Desde entatildeo

o documento foi atualizado e culminou com a iniciativa i2010 O quadro regulamentar

portuguecircs para as comunicaccedilotildees eletrocircnicas aplicado no paiacutes pela Autoridade Nacional de

Comunicaccedilotildees (ANACOM) transpotildee as determinaccedilotildees da Uniatildeo Europeia transferindo-

as para os ordenamentos juriacutedicos nacionais O texto poreacutem dedica-se aos aspectos

teacutecnicos dos serviccedilos e natildeo discute em profundidade o caraacuteter mais social do sistema as

questotildees voltadas para a governaccedilatildeo da Internet etc

Para Gustavo Cardoso a regulaccedilatildeo deve ser fruto de uma anaacutelise das apropriaccedilotildees

realizadas pelos usuaacuterios da Rede e das interaccedilotildees entre os atores presentes nos sistemas

dos media e natildeo apenas baseada na tecnologia em si (Cardoso 2002 16) Aleacutem disso

precisa ter um caraacuteter proacuteprio natildeo espelhado nos quadros regulamentares de outros meios

de comunicaccedilatildeo como a TV por exemplo Isso porque a Internet jaacute eacute um meio complexo

o bastante para que sejam criadas regras especiacuteficas para sua esfera de atuaccedilatildeo No caso

portuguecircs pode-se propor uma atuaccedilatildeo mais conjugada entre as preocupaccedilotildees dedicadas agrave

gestatildeo do acesso e disponibilizaccedilatildeo de conteuacutedos e aquelas voltadas ao controlo da

dimensatildeo econocircmica da prestaccedilatildeo de serviccedilos de acesso agrave Internet A preocupaccedilatildeo com a

quebra de privacidade e do exerciacutecio da vigilacircncia deve ser transversal e estender sua

presenccedila a todos os acircmbitos da regulaccedilatildeo Esta tarefa cabe agrave articulaccedilatildeo de medidas

conjuntas e agrave uniatildeo de esforccedilos entre a ANACOM e a Comissatildeo Nacional de Protecccedilatildeo de

Dados (CNPD)

Em relaccedilatildeo aos conteuacutedos iliacutecitos disponibilizados na Rede Brasil e Portugal tecircm

uma diferenccedila sensiacutevel Eacute importante salientar que a mateacuteria natildeo eacute restrita aos direitos

autorais mas tambeacutem se relaciona com outros direitos que tambeacutem podem ser infringidos

pela Internet como a honra por exemplo A questatildeo eacute tratada pelo texto do Marco Civil

brasileiro em discussatildeo Em uma versatildeo anterior do texto foi incluiacutedo um mecanismo

91

semelhante ao dispositivo notice and take down de clara influecircncia do sistema norte-

americano

O diploma indicava que os materiais ofensivos colocados agrave disposiccedilatildeo na Rede

podiam ser retirados pelos responsaacuteveis pela hospedagem logo que o titular ofendido

manifestasse o dano O hospedeiro notificaria o usuaacuterio responsaacutevel pela publicaccedilatildeo Este

poderia responder ao hospedeiro pedindo a manutenccedilatildeo do conteuacutedo e assumindo a

responsabilidade exclusiva pelos danos causados a terceiros O hospedeiro entatildeo

disponibilizaria novamente o material e avisaria o titular sobre a resposta do responsaacutevel

pela publicaccedilatildeo Tal medida sofreu duras criacuteticas e o texto foi modificado (vd Anexo 01

Art 20) Agora propotildee-se que o provedor de serviccedilos seja obrigado a tornar indisponiacutevel o

acesso ao conteuacutedo apenas apoacutes ordem judicial Com a ordem deveraacute notificar o usuaacuterio

responsaacutevel pela publicaccedilatildeo comunicando-lhe o teor da intimaccedilatildeo

No que se refere ao regime da responsabilidade do provedor o sistema portuguecircs

estaacute baseado na Diretriz nordm 200031 sobre o comeacutercio eletrocircnico E eacute fundamentalmente

diferente do diploma brasileiro O Art 161 do Decreto-Lei nordm 72004 de 07 de Janeiro

(que transpocircs a diretriz sobre comeacutercio eletrocircnico) diz que o responsaacutevel pela

hospedagem estaacute obrigado a retirar ou impossibilitar o acesso agrave atividade ou informaccedilatildeo

cuja ilicitude for manifesta (ANACOM 2004 275) Esta previsatildeo natildeo aparece em

nenhum diploma brasileiro

A tiacutetulo de balanccedilo geral nota-se que as legislaccedilotildees de ambos os paiacuteses possuem

muitos pontos em comum mas suas diferentes influecircncias traccedilam suas assimetrias mais

marcantes e as justificam A preocupaccedilatildeo anglo-saxocircnica de bem proteger os interesses

comerciais e privados faz-se notar nos textos brasileiros enquanto um posicionamento de

maior equiliacutebrio transparece nos diplomas portugueses Poreacutem haacute que salientar que ambos

estatildeo passiacuteveis de sofrer sob polos de atraccedilatildeo que convergem para os mesmos objetivos

nem Brasil nem Portugal (e obviamente a UE) ficaratildeo indiferentes a projetos globais de

combate agrave pirataria No Brasil pela inegaacutevel influecircncia norte-americana e em Portugal

pelo alcance universal que eles possuem (e obviamente por Portugal estar inserido na

UE) Prever o niacutevel dessa influecircncia ainda natildeo eacute possiacutevel mas certamente a transformaccedilatildeo

afetaraacute todos direta ou indiretamente

70 Direitos de autor e regulaccedilatildeo da Internet uma relaccedilatildeo nebulosa

92

A temaacutetica dos direitos de autor natildeo guarda uma relaccedilatildeo imediata e de faacutecil

percepccedilatildeo com a questatildeo da regulaccedilatildeo da Internet esta poreacutem existe e a constante

evoluccedilatildeo das tecnologias digitais torna seu debate cada vez mais pertinente e necessaacuterio

Se considerarmos a defesa da propriedade intelectual (que envolve os direitos de

autor e outros toacutepicos como as patentes e as marcas registradas por exemplo) como

instrumento capaz de impedir o acesso dos utilizadores da Rede a determinados conteuacutedos

tocamos em uma questatildeo delicada e que pode dar resultados negativos Em siacutentese a ideia

eacute a de que as tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo tecircm enorme capacidade de ampliar

o acesso agrave informaccedilatildeo e conhecimento de modo que a falta de acesso agraves proacuteprias

tecnologias seria prejudicial em questotildees de desenvolvimento

Portanto nesse caso falar de governanccedila (ou regulaccedilatildeo) da Internet eacute natildeo limitar-

se a discutir aspectos teacutecnicos da estrutura e funcionamento das redes De acordo com a

Declaraccedilatildeo de Princiacutepios de Genebra elaborada durante a Cimeira Mundial sobre a

Sociedade da Informaccedilatildeo (WSIS) evento organizado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

(ONU) a administraccedilatildeo da Internet engloba natildeo apenas problemas estritamente teacutecnicos

mas tambeacutem a discussatildeo de qualquer poliacutetica puacuteblica relevante agrave gestatildeo da Rede como

recurso globalmente disponiacutevel (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas 2004)

Para Pedro Mizukami e Carlos Souza agrave medida que as tecnologias da informaccedilatildeo e

da comunicaccedilatildeo ampliam a possibilidade de acesso a conteuacutedos e tambeacutem de acesso agraves

ferramentas para a produccedilatildeo de conteuacutedos regimes de exceccedilotildees e limitaccedilotildees aos direitos

de autor surgem como umas das preocupaccedilotildees fundamentais de governanccedila

Se por um lado se assegura direitos exclusivos a autores (e agravequeles a quem satildeo

transferidos esses direitos) como forma de incentivo agrave criaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de obras intelectuais por outro haacute interesses de acesso e uso de conteuacutedo que precisam ser

sopesados em relaccedilatildeo aos incentivos que teoricamente as normas de direitos autorais

proporcionam (MIZUKAMI E SOUZA 2008 06)

Quando associamos a ideia de regulaccedilatildeo do ciberespaccedilo aos direitos autorais a

principal preocupaccedilatildeo que temos eacute o tecircnue equiliacutebrio a ser construiacutedo entre os interesses

dos diversos agentes envolvidos na questatildeo O desafio estaacute em preservar um ambiente de

harmonia entre autores editores e usuaacuterios de conteuacutedos sem que se coloquem entraves agraves

novas possibilidades proporcionadas pela Rede seja em relaccedilatildeo a novos modelos de

93

negoacutecios seja em relaccedilatildeo agrave democratizaccedilatildeo do acesso agraves ferramentas de produccedilatildeo e

distribuiccedilatildeo de informaccedilotildees Equilibrar os interesses no ciberespaccedilo sem sacrificar os

potenciais de inovaccedilatildeo e acesso ao conhecimento que ele possui

Limitaccedilotildees e exceccedilotildees aos direitos de autor satildeo toacutepicos geralmente subestimados

quando se discute o tema Pouco se debatem por exemplo os efeitos negativos dos

regimes de proteccedilatildeo da propriedade intelectual demasiado riacutegidos e inflexiacuteveis sobre a

educaccedilatildeo ou sobre a proacutepria produccedilatildeo de conteuacutedos que os direitos exclusivos procuram

fomentar O boom da Internet e o desenvolvimento acelerado das tecnologias tiraram das

sombras questotildees como a do acesso ao conhecimento mas tambeacutem fizeram ressurgir - ou

mesmo originaram - uma seacuterie de outros direitos que antes tinham presenccedila reduzida na

avaliaccedilatildeo criacutetica dos regimes tradicionais

Para Pedro Mizukami e Carlos Souza o entrave agrave discussatildeo sobre os limites e as

exceccedilotildees aos direitos de autor eacute mais visiacutevel em paiacuteses de tradiccedilatildeo juriacutedica romano-

germacircnica caracterizada por um discurso de fundamentaccedilatildeo jusnaturalista muito forte

(ibidem 07) Eles afirmam que esse discurso elimina a variedade de pontos de vista na

literatura juriacutedica Isto porque se considera que os direitos autorais satildeo necessaacuterios para a

proteccedilatildeo da propriedade e personalidade do autor (agraves vezes para a proteccedilatildeo da

personalidade via proteccedilatildeo da propriedade) mas natildeo se colocam em jogo os interesses da

coletividade e outros interesses e direitos individuais que se veem afetados pela

exclusividade dos direitos autorais

Quem de facto compete com os autores em mateacuteria de benefiacutecios financeiros natildeo

satildeo os utilizadores da Internet mas sim os ldquoempresaacuterios culturaisrdquo (Ascensatildeo 2003 17)

Eles jaacute satildeo equiparados aos autores nas justificaccedilotildees oficiais fala-se tambeacutem na

necessidade de proteger o investimento Os direitos morais estatildeo cada vez mais ausentes

nos textos dos novos instrumentos internacionais

Para Joseacute de Oliveira Ascensatildeo o protagonismo do empresaacuterio eacute uma anomalia O

jurista afirma que natildeo se explica que se crie um Direito altamente protecionista com

fundamento na dignidade da criaccedilatildeo intelectual para o pocircr afinal ao serviccedilo da proteccedilatildeo

dos investimentos (Ascensatildeo 2003 18) Os investimentos podem e devem ser protegidos

mas por meios adequados e proporcionais a esse objetivo Natildeo faz sentido que sejam

salvaguardados pelos direitos de autor que tecircm outra finalidade Se o foco da proteccedilatildeo nas

leis de direitos de autor satildeo os investimentos apenas eles interessam e suplantam a

qualidade e ateacute mesmo a existecircncia de uma obra

94

Lucas Serra acredita que o problema estaacute na cadeia produtiva do sistema

capitalista que aprisiona o autor em um ciclo de dependecircncia de editores e intermediaacuterios

ldquoA SPA eacute consciente de que os atuais modelos de mercado natildeo satildeo tatildeo beneacuteficos para os

autores mas tambeacutem se sabe que eacute difiacutecil deixar esses modelos para traacutes E isso natildeo

depende apenas dos autoresrdquo (Serra 2012)

O que vemos eacute uma hiperproteccedilatildeo do empresaacuterio no domiacutenio das induacutestrias de

Copyright o que tem graves consequecircncias As induacutestrias a defendem e afirmam que satildeo

capazes de fomentar a cultura sendo que os efeitos apontam justamente o contraacuterio A

hiperproteccedilatildeo cria todas as condiccedilotildees para tornar o acesso agrave cultura mais difiacutecil pelos altos

custos que impotildee Aleacutem disso haacute implicaccedilotildees tambeacutem em mateacuteria de concorrecircncia a

hiperproteccedilatildeo fortalece os grandes grupos nos paiacuteses exportadores de produtos de

Copyright e tambeacutem a niacutevel planetaacuterio A concentraccedilatildeo das empresas de conteuacutedos

culturais que o Direito ajudou a promover eacute tal que eacute praticamente impossiacutevel agraves novas

empresas atingir os mesmos niacuteveis A hiperproteccedilatildeo atraveacutes dos direitos exclusivos

eliminou a concorrecircncia e implantou um oligopoacutelio de dimensotildees grandiosas

Projetos de leis como SOPA e ACTA apontam para uma guerra desproporcionada

entre as induacutestrias culturais e os usuaacuterios da Rede No meio ficam os autores que natildeo tecircm

seus interesses representados ndash antes assistem aos empresaacuterios partindo em defesa de

lucros dos quais eles pouco partilham Um caso que serve para ilustrar essa questatildeo eacute o do

Napster programa de compartilhamento de arquivos em rede P2P que protagonizou o

primeiro grande episoacutedio na luta juriacutedica entre a induacutestria fonograacutefica e as redes de

compartilhamento de muacutesica na Internet

A principal questatildeo era apurar se a reproduccedilatildeo dos arquivos protegidos por

Copyright representava ou natildeo um ato de uso privado De facto o Napster natildeo procedia

ele proacuteprio agrave reproduccedilatildeo Utilizava programas que lhe permitiam detectar onde se

encontrava em rede disponiacutevel para reproduccedilatildeo o arquivo desejado Apontando-o ao

interessado era este quem realizava depois o download do ficheiro Em relaccedilatildeo agraves obras

audiovisuais o esquema era ainda mais radical Napster nem sequer localizava os arquivos

disponiacuteveis em rede Limitava-se a fornecer aos interessados um programa que permitia

que eles o fizessem Eram pois os utilizadores que procediam quer agrave localizaccedilatildeo quer ao

download

Apoacutes intensos conflitos judiciais Napster procurou adaptar-se agrave nova situaccedilatildeo

atribuindo remuneraccedilotildees aos titulares de direitos mas natildeo teve sucesso Acabou sendo

95

vendido e os novos gestores agora negociam arquivos de muacutesica digital que respeitem os

direitos autorais

O caso Napster eacute emblemaacutetico por vaacuterias questotildees mas aqui destacamos duas se

jaacute eacute difiacutecil responsabilizar empresas intermediaacuterias em situaccedilotildees desse tipo o que dizer

dos utilizadores que fazem uso privado Outro ponto marcante desse processo eacute o manejo

dos direitos de autor como instrumento redutor das possibilidades tecnoloacutegicas permitidas

pela Rede O difiacutecil equiliacutebrio a buscar encontra-se numa posiccedilatildeo intermediaacuteria em que a

renuacutencia agrave gratuidade tem de ter como contrapartida condiccedilotildees de aquisiccedilatildeo mais

atraentes em qualquer caso que natildeo impliquem a repressatildeo das potencialidades

tecnoloacutegicas positivas que a Rede disponibiliza

Para Joseacute de Oliveira Ascensatildeo situaccedilotildees como esta estatildeo conduzindo a

propriedade intelectual a uma fase extrema a dos direitos de autor sem autor Isso natildeo

significa o desaparecimento do autor mas sua transformaccedilatildeo em uma figura dispensaacutevel

ou mesmo marginal (Ascensatildeo 2003 21) A criatividade perde gradualmente seu espaccedilo

tornando-se um requisito levado bem mais em conta pelas inovaccedilotildees industriais que pelos

direitos de autor Se a proteccedilatildeo dos investimentos eacute o que haacute de mais precioso a

criatividade (e consequentemente o ato de criar marca do autor) passa a outro plano

inferior

Certos acreacutescimos de proteccedilatildeo natildeo fazem outra coisa senatildeo proteger as empresas e

seus interesses Eacute o caso do aumento dos prazos de proteccedilatildeo que na realidade eacute irrelevante

para os autores Para a induacutestria isto significa mais tempo de exploraccedilatildeo econocircmica

exclusiva Joseacute de Oliveira Ascensatildeo fala ainda nos direitos de autor sem obra se o que se

protege eacute a atividade empresarial eacute indiferente que o objeto protegido tenha o caraacuteter de

obra Soacute interessa a mercadoria intelectual seja ela qual for (ibidem 23)

96

97

CAPIacuteTULO III

HARMONIZACcedilAtildeO DE INTERESSES

98

99

10 O direito de acesso agrave informaccedilatildeo e agrave comunicaccedilatildeo como um direito humano

Tomar a questatildeo do acesso agrave informaccedilatildeo e agrave comunicaccedilatildeo sob o prisma dos direitos

humanos foi uma escolha instantacircnea Optamos por essa via ndash em detrimento de vaacuterias

outras possiacuteveis como a dos acordos comerciais ou a das convenccedilotildees teacutecnicas - pelo facto

de acreditarmos que a questatildeo afeta as pessoas de forma direta em vaacuterios niacuteveis da vida

em sociedade Sendo as comunicaccedilotildees eletrocircnicas elementos fundamentais do fluxo

comunicacional contemporacircneo eacute impossiacutevel natildeo considerar o acesso agrave informaccedilatildeo e agrave

comunicaccedilatildeo atraveacutes da Rede como cruciais para os indiviacuteduos enquanto agentes da

coletividade O futuro da sociedade informacional desenharaacute o ambiente onde os

indiviacuteduos trabalharatildeo e desenvolveratildeo suas existecircncias e o ciberespaccedilo faz parte do

caminho para esse futuro Portanto partindo da premissa de que informaccedilatildeo eacute poder e

considerando que o acesso agrave comunicaccedilatildeo eacute condiccedilatildeo sine qua non para a inserccedilatildeo e

participaccedilatildeo social iremos concentrar nossa atenccedilatildeo na relaccedilatildeo entre informaccedilatildeo e direitos

humanos

No cerne das criacuteticas agraves leis de combate agrave pirataria estatildeo evidentemente as

sanccedilotildees riacutegidas e as accedilotildees de vigilacircncia como as que preveem o controlo das atividades do

usuaacuterio na Rede e o corte de acesso ao assinante que realizar downloads de materiais

protegidos por direitos de autor Aleacutem disso o traffic shaping e outras medidas que

dificultam o acesso do utilizador agrave Internet provocam polecircmica e trazem agrave discussatildeo a

legitimidade de leis que impeccedilam as pessoas de utilizarem em plenitude as ferramentas

tecnoloacutegicas Tais restriccedilotildees em nome da defesa dos direitos de autor natildeo estariam a

passar por cima de algo mais precioso como o direito de aceder a canais de comunicaccedilatildeo

e interaccedilatildeo hoje em dia indispensaacuteveis

Um estudo que ouviu 27 mil pessoas em 26 paiacuteses para o Serviccedilo Mundial da BBC

apontou que quatro entre cinco adultos no mundo consideram o acesso agrave Internet um

direito fundamental do ser humano A mesma pesquisa mostrou tambeacutem que 53 dos

entrevistados creem que a Internet natildeo deveria ser regulada pelos governos (BBC Brasil

2010)

O direito de acesso agrave comunicaccedilatildeo digital tende a se solidificar gradualmente

como um direito humano Segundo Ciciacutelia Peruzzo

100

[] mundialmente a inclusatildeo digital passa a ser vista como um direito humano no

mesmo patamar do direito ao acesso de qualquer cidadatildeo a outras miacutedias e a condiccedilotildees

dignas de existecircncia Vaacuterias entidades estudiosos e ativistas tecircm se posicionado

publicamente a favor do direito agrave comunicaccedilatildeo tomando-o como mecanismo de se

efetivar a democratizaccedilatildeo dos meios de comunicaccedilatildeo (PERUZZO 2005 275)

Ainda segundo Peruzzo as discussotildees sobre o direito agrave informaccedilatildeo e agrave

comunicaccedilatildeo na sociedade informacional englobam tambeacutem os direitos de domiacutenio

puacuteblico software livre e propriedade intelectual aleacutem do acesso global a todas as

tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (Peruzzo 2005 276)

A Campanha CRIS (Direito agrave Comunicaccedilatildeo na Sociedade da Informaccedilatildeo em

inglecircs Communication Rights in the Information Society) movimento lanccedilado em

2001 liderado por organizaccedilotildees natildeo governamentais dos campos da comunicaccedilatildeo e dos

direitos humanos de diversos paiacuteses listou em uma de suas publicaccedilotildees alguns debates

importantes ligados agrave questatildeo do direito de acesso agrave informaccedilatildeo Dentre os toacutepicos estaacute a

tentativa de acabar com a vigilacircncia e a censura na Rede por parte de governos ou

empresas Para a Campanha CRIS ldquoo direito de comunicar constitui um direito humano

universal que assume e estaacute a serviccedilo de outros Direitos Humanosrdquo (CRIS apud Pasquali

2005 31)

Sob o ponto de vista teoacuterico o direito agrave comunicaccedilatildeo tende a ser tomado

tradicionalmente como direito agrave liberdade de informaccedilatildeo e de expressatildeo Essa concepccedilatildeo

eacute expressa nos ordenamentos juriacutedicos que tratam do tema Por exemplo a Declaraccedilatildeo

Universal dos Direitos Humanos (DUDH) de 1948 em seu Artigo 19ordm assegura que

ldquoToda pessoa tem direito agrave liberdade de opiniatildeo e expressatildeo este direito inclui a liberdade

de sem interferecircncia ter opiniotildees e de procurar receber e transmitir informaccedilotildees e ideias

por quaisquer meios e independentemente de fronteirasrdquo (Assembleia Geral das Naccedilotildees

Unidas 1948) A Convenccedilatildeo Americana de Direitos Humanos de 1969 estabelece que

ldquoToda pessoa tem o direito agrave liberdade de pensamento e de expressatildeo Este direito inclui a

liberdade de procurar receber e difundir informaccedilotildees e ideias de qualquer natureza sem

consideraccedilotildees de fronteiras verbalmente ou por escrito ou em forma impressa ou artiacutestica

ou por qualquer meio de sua escolhardquo (Conferecircncia Especializada Interamericana sobre

Direitos Humanos 1969) Conforme salienta Osvaldo Leoacuten

101

[] o direito agrave comunicaccedilatildeo se apresenta agora como aspiraccedilatildeo que se inscreve no

dever histoacuterico que comeccedilou com o reconhecimento de direitos aos proprietaacuterios dos

meios de informaccedilatildeo logo aos que trabalham sob relaccedilotildees de dependecircncia com eles e

finalmente a todas as pessoas que a Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos [] consignou como direito agrave informaccedilatildeo e agrave liberdade de expressatildeo e de opiniatildeo Esta eacute a parte de

uma concepccedilatildeo mais global [] que incorpora de maneira peculiar os novos direitos

relacionados com as mudanccedilas de cenaacuterio da comunicaccedilatildeo e um enfoque mais

interativo da comunicaccedilatildeo no qual os atores sociais satildeo sujeitos da produccedilatildeo

informativa e natildeo simplesmente receptores passivos de informaccedilatildeo (LEOacuteN 2002 03)

O direito de acesso agrave tecnologia eacute outro ponto que tambeacutem pode ser invocado

quando tratamos do contexto do ciberespaccedilo Esse direito eacute disposto no ponto 1 do artigo

27ordm da Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos onde se afirma que ldquoToda pessoa tem

o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade de fruir as artes e de

participar do processo cientiacutefico e de seus benefiacuteciosrdquo (Assembleia Geral das Naccedilotildees

Unidas 1948) Segundo Ciciacutelia Peruzzo este direito eacute inspirado pelo princiacutepio moral

baacutesico da equidade e pela noccedilatildeo de que ciecircncia e tecnologia pertencem agrave heranccedila comum

da humanidade (Peruzzo 2005 107)

O pesquisador Cees J Hamelink vecirc a discussatildeo sob o prisma de uma nova

abordagem ele alerta para a necessidade urgente de adoccedilatildeo de uma declaraccedilatildeo universal

do direito de comunicar Este direito natildeo existe atualmente em nenhuma claacuteusula da lei

internacional Em 1969 Jean DrsquoArcy apresentou o direito de comunicar por escrito ldquoO

tempo viraacute quando a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos teraacute que abranger um

direito mais extensivo que o direito do Homem agrave informaccedilatildeo isto eacute o direito de os

Homens comunicaremrdquo (DrsquoArcy apud Hamelink 2004 268) Segundo Hamelink a forccedila

motivadora desta nova abordagem foi a observaccedilatildeo de que o articulado da lei dos direitos

humanos existente (como na Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos ou no

Compromisso sobre Direitos Poliacuteticos e Civis) era inadequado para lidar com a

comunicaccedilatildeo como um processo interativo

Dentre vaacuterias propostas Hamelink sugere que o direito de comunicar deveria

englobar direitos de informaccedilatildeo tais como o direito de acesso agrave informaccedilatildeo em mateacuterias

de interesse puacuteblico (detidas por fontes puacuteblicas ou privadas) e o direito de aceder a meios

puacuteblicos de distribuiccedilatildeo de informaccedilatildeo ideias e opiniotildees Para o autor parte do direito de

comunicar tambeacutem seria composta por direitos culturais Entre eles o direito de fruir das

artes e dos benefiacutecios do progresso cientiacutefico e suas aplicaccedilotildees e o direito de criatividade e

independecircncia artiacutestica literaacuteria e acadecircmica (Hamelink 2004 268-269)

102

Mas o direito de comunicar implica no universo das comunicaccedilotildees eletrocircnicas a

necessidade de salvaguardar a privacidade dos utilizadores Dentre os direitos ditos ldquode

proteccedilatildeordquo por Hamelink estatildeo o direito de o puacuteblico ser protegido contra a interferecircncia

na sua privacidade pelos media ou pela comunicaccedilatildeo de massa ou por agecircncias puacuteblicas

ou privadas envolvidas na colheita de dados a proteccedilatildeo das comunicaccedilotildees privadas das

pessoas contra a interferecircncia de grupos puacuteblicos ou privados (ibidem 269)

Como jaacute tratamos no primeiro capiacutetulo o surgimento da Internet trouxe consigo a

ilusatildeo do tracircnsito de informaccedilotildees e ideias em total liberdade Hoje a noccedilatildeo de livre fluxo

da informaccedilatildeo tem implicaccedilotildees mais complexas e sutis e envolve o duplo estatuto dos

meios digitais por um lado ampliaram as liberdades pessoais dos indiviacuteduos por outro

abriram as portas ao roubo informacional sistemaacutetico por meio do monitoramento das

comunicaccedilotildees eletrocircnicas Vivemos naquilo que Antonio Pasquali chama de liberdade

globalmente vigiada (Pasquali 2005 35) O autor ressalta a beleza do conceito de livre

fluxo informacional e a necessidade de defendecirc-lo mas afirma que natildeo estaremos

proacuteximos o suficiente dele enquanto houver aquilo a que o Precircmio Nobel de economia J

E Stiglitz denominou de assimetria de informaccedilatildeo causada por agentes econocircmicos que

de forma fraudulenta acumulam mais informaccedilotildees do que outros Conforme afirma

Pasquali

Uma liberdade que natildeo liberta eacute egoiacutesmo e privileacutegio O duplo padratildeo de se ter livre

informaccedilatildeo como um conceito abstrato enquanto a informaccedilatildeo no mundo concreto eacute

gerenciada sob princiacutepios mercantis que tornam possiacutevel a eliminaccedilatildeo de outras

alternativas eacute relacionalmente e comunicacionalmente desonesto (PASQUALI 2005

37)

Para Leacuteo Scheer o direito de acesso agrave informaccedilatildeo e agrave comunicaccedilatildeo estaacute

intimamente ligado a uma nova forma de democracia que surgiu para ser exercida no

ciberespaccedilo Segundo o autor essa eacute a democracia da simples expressatildeo da enunciaccedilatildeo

por parte de cada um das narrativas das quais eacute portador sem necessidade de canalizaccedilatildeo

ou de conformaccedilatildeo dos sinais postos assim em circulaccedilatildeo (Scheer 1997 121) Privar o

utilizador do acesso agrave Rede (ou dificultaacute-lo) eacute portanto uma ameaccedila a essa nova

democracia e um atentado ao seu direito de desfrutar dos benefiacutecios que a tecnologia das

redes pode proporcionar agrave sua formaccedilatildeo enquanto indiviacuteduo inserido e atuante na

sociedade de informaccedilatildeo

103

20 Novos modelos e outras alternativas de conciliaccedilatildeo entre artistas induacutestria e

usuaacuterios de Internet

No final de Maio de 2012 a comissatildeo de juristas que discute a reforma do Coacutedigo

Penal no Senado brasileiro aprovou a liberaccedilatildeo de coacutepias integrais de livros CDrsquos e

DVDrsquos desde que para uso pessoal e sem fins comerciais Caso a sugestatildeo dos juristas

seja acatada pelo Congresso Nacional poderatildeo ser feitas coacutepias integrais sem que seja

caracterizado crime Para isso a coacutepia deve ser uacutenica feita a partir de uma obra original e

ser de uso privado e exclusivo de quem faz a reproduccedilatildeo sem que exista o objetivo de

lucro A proposta deve ser entregue para votaccedilatildeo ateacute o final de Junho de 2012 O texto

passa a valer apenas apoacutes a aprovaccedilatildeo no Senado e na Cacircmara e por uacuteltimo apoacutes

confirmaccedilatildeo presidencial

A comissatildeo aprovou ainda a criaccedilatildeo de um regime especiacutefico que pune o plaacutegio de

obras intelectuais Atualmente ele eacute considerado uma violaccedilatildeo aos direitos de autor com

pena prevista de 6 meses a um ano de prisatildeo Poreacutem na praacutetica essa penalizaccedilatildeo eacute

raramente aplicada Pelo texto aprovado pelos juristas quem apresentar utilizar ou

reivindicar publicamente como proacutepria obra ou trabalho intelectual de outra pessoa no

todo ou em parte pode ter que cumprir pena de seis meses a dois anos de prisatildeo (Folha

de S Paulo 2012)

Decisotildees como esta apontam para o rumo que os direitos de autor devem tomar

inevitavelmente o da mudanccedila para adaptaccedilatildeo aos novos tempos A abertura a sistemas

alternativos de licenciamento distribuiccedilatildeo e partilha de bens culturais mostra-se uma via

potencialmente importante e a flexibilizaccedilatildeo dos regimes de lucro e produccedilatildeo eacute condiccedilatildeo

indispensaacutevel agrave sobrevivecircncia das induacutestrias da cultura A seguir trataremos sobre algumas

das novas possibilidades que surgiram para fazer face agrave rigidez do Copyright e das

legislaccedilotildees que tratam dos direitos autorais e da propriedade intelectual

30 Fexibilizaccedilatildeo do regime autoral o Creative Commons

104

Uma interessante ferramenta que concilia a defesa dos direitos de autor e a

possibilidade de partilha e construccedilatildeo coletiva do conhecimento eacute o modelo de licenccedila

intelectual Creative Commons (CC)6

O Creative Commons foi criado em 2001 pelo professor da Universidade de

Standford Lawrence Lessig com a finalidade de desenvolver licenccedilas que possam ser

utilizadas por qualquer indiviacuteduo ou entidade de forma a disponibilizar seus trabalhos de

maneira aberta O CC funciona como um meio termo legal entre os tradicionais contratos

de direitos autorais como o Copyright e o domiacutenio puacuteblico onde nenhum direito eacute

reservado Ele transporta para as produccedilotildees culturais a ideia central dos softwares livres

que consistem em programas de computador com coacutedigos-fonte abertos permitindo a

modificaccedilatildeo do software para aprimoramento ou melhor adaptaccedilatildeo agraves necessidades dos

usuaacuterios

O software livre cujo grande siacutembolo estaacute no sistema operacional Linux floresce

no Brasil Conforme apontam Cloacutevis Lima e Rose Marie Santini o destaque do paiacutes no

exterior em mateacuteria de utilizaccedilatildeo de programas abertos foi reconhecido pela revista Wired

uma das mais respeitadas em mateacuteria de tecnologia Em sua ediccedilatildeo de Novembro de 2004

ela retratou o Brasil como uma ldquoNaccedilatildeo Open Sourcerdquo (Lima e Santini 2006 125)

O crescente ecircxito dos softwares livres no paiacutes se reflete tambeacutem na boa acolhida

do projeto Creative Commons O modelo de licenciamento vem sendo adaptado no Brasil

por estudiosos da Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas (FGV)

desde 2003 O ex-ministro da Cultura Gilberto Gil apelidou a flexibilizaccedilatildeo dos direitos

autorais proposta pelo CC metaforicamente de ldquoreforma agraacuteria da propriedade

6 Para tornar a leitura mais simples utilizaremos a sigla CC para nos referirmos ao Creative Commons

Figura 1 O modelo Creative Commons se mostra

como um meio termo que promove o equiliacutebrio entre o

total fechamento do Copyright e a total abertura do

domiacutenio puacuteblico Fonte Creative Commons URL

lthttpwwwcreativecommonsorgbrgt

105

intelectualrdquo (Moraes 2006 243) Cloacutevis Lima e Rose Marie Santini tambeacutem afirmam o

seguinte

O licenciamento Creative Commons surge sem a intervenccedilatildeo estatal ou a mudanccedila do arcabouccedilo juriacutedico-normativo Trata-se de um uso da proacutepria ideia e conceitos do

direito autoral para modificar sua estrutura caso a caso gerando autorizaccedilotildees

caracterizadas pelo termo ldquoCopyleftrdquo A ideia eacute permitir a criaccedilatildeo de coletividades de

obras culturais publicamente acessiacuteveis [] materializando as promessas da Internet e

das tecnologias digitais de maximizarem o potencial criativo humano (LIMA E

SANTINI 2006 121)

O modelo de licenciamento CC tem como finalidade simplificar para os criadores

a expressatildeo de sua concessatildeo de uso A uacutenica coisa que ele demanda eacute que a utilizaccedilatildeo das

obras disponibilizadas natildeo tenha fins lucrativos e que os autores sejam devidamente

citados O CC modifica a expressatildeo tradicional do Copyright de ldquoTodos os direitos

reservadosrdquo para ldquoAlguns direitos reservadosrdquo (Moraes 2006 321)

Atraveacutes do portal do CC na Internet criou-se um mecanismo de buscas por

materiais como fotografias muacutesicas textos etc registrados sob esse modelo de

licenciamento Assim uma rede onde artistas autores e outros criadores de conteuacutedos

podem compartilhar seus trabalhos pela Internet sem violar leis de direitos autorais vai

crescendo a cada dia

Eacute importante ressaltar que o CC eacute um modelo que permite o contato direto do

criador com o puacuteblico e uma eficiente maneira de manifestar o desejo de ter sua obra

difundida pela Rede Haacute artistas que querem que as pessoas tenham acesso agraves suas

produccedilotildees e eventualmente permitem que elas continuem seu trabalho atraveacutes da

reinterpretaccedilatildeo ou recriaccedilatildeo da obra Antes do surgimento da Internet da tecnologia

digital e de modelos como o Creative Commons natildeo havia meios eficientes para que esses

autores pudessem indicar agrave sociedade que eles se interessavam pela ampla liberdade de

acesso e interpretaccedilatildeo de suas produccedilotildees pelo puacuteblico Segundo Cloacutevis Lima e Rose Marie

Santini ldquoUm modelo de licenciamento como este cria meios para que autores criadores e

outros detentores de direitos possam indicar a todos seus interesses em relaccedilatildeo ao uso de

suas obras atraveacutes da opccedilatildeo por uma licenccedila especiacuteficardquo (Lima e Santini 2006 129)

Os tipos de licenccedilas CC satildeo os seguintes

a) Atribuiccedilatildeo ndash Uso natildeo comercial ndash Natildeo a obras derivadas (by-nc-nd)

106

Esta eacute a mais restritiva dentre as seis principais licenccedilas permitindo

redistribuiccedilatildeo Comumente chamada de ldquopropaganda graacutetisrdquo ela permite o download e

compartilhamento da obra por outras pessoas contanto que mencionem e faccedilam o link

para o autor Proiacutebe qualquer modificaccedilatildeo na estrutura da obra e tambeacutem veta sua

comercializaccedilatildeo

b) Atribuiccedilatildeo ndash Uso natildeo comercial ndash Compartilhamento pela mesma licenccedila

(by-nc-as)

Esta licenccedila permite a remixagem adaptaccedilatildeo e criaccedilatildeo de obras derivadas por

outras pessoas com finalidade natildeo comercial contanto que atribuam o creacutedito da obra

original ao autor e licenciem as novas obras sob o mesmo paracircmetro

c) Atribuiccedilatildeo ndash Uso natildeo comercial (by-nc)

Neste modelo outras pessoas podem remixar adaptar e criar obras derivadas

da original sendo vedado o uso comercial As novas criaccedilotildees devem ter em seus creacuteditos o

autor da obra original e tambeacutem natildeo podem ser exploradas comercialmente A diferenccedila

da licenccedila anterior eacute que nesta natildeo eacute obrigatoacuterio o registro das novas obras sob o mesmo

paracircmetro da original

d) Atribuiccedilatildeo ndash Natildeo a obras derivadas (by-nd)

Este modelo permite a distribuiccedilatildeo e o uso da obra para fins comerciais e natildeo

comerciais mas determina que a obra seja distribuiacuteda completa e sem modificaccedilotildees

atribuindo os devidos creacuteditos do autor

e) Atribuiccedilatildeo ndash Compartilhamento pela mesma licenccedila (by-as)

Esta licenccedila permite que outras pessoas remixem adaptem e criem obras

derivadas da original para fins comerciais contanto que atribuam os creacuteditos do autor e

que as novas obras sejam licenciadas sob o mesmo paracircmetro Esta licenccedila eacute comumente

comparada agraves de softwares livres

f) Atribuiccedilatildeo (by)

107

Este eacute o modelo menos restritivo e o mais aberto de todos Ele permite que

outras pessoas distribuam remixem adaptem ou criem obras derivadas com finalidade

comercial desde que creditem a criaccedilatildeo original

O CC disponibiliza ainda diversos outros tipos de licenccedilas como a ldquoSamplingrdquo

que permite a remixagem de apenas trechos da obra original e a ldquoNaccedilotildees em

Desenvolvimentordquo que propotildee condiccedilotildees menos restritivas para a disponibilizaccedilatildeo da

obra em paiacuteses que natildeo sejam considerados como de alta renda pelo Banco Mundial

Atraveacutes de suas licenccedilas o CC manteacutem o senso da inteligecircncia coletiva e da

construccedilatildeo coletiva do saber Ele propotildee um novo modo de produccedilatildeo cultural que rompe

com as formas tradicionais de organizaccedilatildeo das forccedilas produtivas em bases mercantis e

empresariais e reaproxima o autor de sua obra na medida em que lhe confere o poder de

distribuiacute-la como bem entender

As licenccedilas CC nasceram na era da Internet e satildeo perfeitamente adaptaacuteveis agrave

necessidade de conciliar o reconhecimento da autoria e a expansatildeo do acesso ao

conhecimento Eacute uma alternativa de equiliacutebrio entre a reserva total dos direitos

(Copyright) e a completa cessatildeo destes (domiacutenio puacuteblico) O mundo digital precisa de

normas flexiacuteveis com liberdades diferentes expressa de forma tal que as pessoas possam

utilizaacute-las com facilidade sem a mediaccedilatildeo da induacutestria ou de advogados

Conforme salientam Cloacutevis Lima e Rose Marie Santini ldquoAs licenccedilas criativas

convidam agrave participaccedilatildeo no processo e natildeo agrave escolha entre produtos no supermercado de

bens culturaisrdquo (Lima e Santini id) As licenccedilas Creative Commons fomentam a

criatividade dos indiviacuteduos pois incrementam o domiacutenio puacuteblico dos bens culturais e

concretizam as promessas das novas tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo de

maximizarem o potencial criativo humano e das sociedades Atraveacutes da possibilidade legal

de recriaccedilatildeo das obras intelectuais disponibilizadas sob seu registro o CC se torna uma

potencial ferramenta colaborativa de construccedilatildeo e aperfeiccediloamento de conhecimentos

aleacutem de meio de democratizaccedilatildeo do acesso agraves informaccedilotildees pela desburocratizaccedilatildeo da

reproduccedilatildeo transmissatildeo e armazenamento de conteuacutedos

Segundo o site da organizaccedilatildeo em 2009 jaacute havia 350 milhotildees de obras licenciadas

no CC dentre filmes muacutesicas livros e trabalhos acadecircmicos (Creative Commons 2009)

No Brasil a tendecircncia eacute que o modelo CC se torne cada vez mais conhecido jaacute que a

visita de Lawrence Lessig ao paiacutes para lanccedilar uma nova versatildeo do licenciamento durante a

108

feira tecnoloacutegica Campus Party em Fevereiro de 2010 teve repercussatildeo em vaacuterios meios

tradicionais de comunicaccedilatildeo e sobretudo na Rede

31 O Creative Commons Portugal

Em Portugal o modelo Creative Commons eacute recente Chegando ao paiacutes em 2006 a

licenccedila foi traduzida e adaptada agrave legislaccedilatildeo portuguesa e pode ser encontrada desde entatildeo

no site oficial do CC (clicando-se no item Internacional depois na bandeira do paiacutes onde

se poderaacute verificar a licenccedila juriacutedica) Este projeto foi liderado pelo professor Pedro

Oliveira da Faculdade de Ciecircncias Econocircmicas e Empresariais da Universidade Catoacutelica

Portuguesa (UCP) aleacutem de Joseacute Rui Felizardo e Pedro Ferreira sendo Filipa Salazar Leite

a responsaacutevel pela traduccedilatildeo da primeira versatildeo das licenccedilas

As entidades responsaacuteveis pela implementaccedilatildeo do CC em Portugal foram a

Faculdade de Ciecircncias Econocircmicas e Empresarias da Universidade Catoacutelica Portuguesa

(FCEE-UCP) - como afiliada portuguesa do Creative Commons - a empresa de tecnologia

Inteligecircncia em Inovaccedilatildeo (INTELI) e a Agecircncia para a Sociedade do Conhecimento

(UMIC) na qualidade de parceiros Atualmente apenas a INTELI se manteacutem como

parceira da FCEE-UCP neste projeto

Eacute tatildeo grande a importacircncia desta nova ferramenta que ateacute Dezembro de 2010 jaacute

eram 311314 mil obras licenciadas sob o CC em Portugal pondo o paiacutes na 21ordf posiccedilatildeo do

ranking mundial Para a advogada Teresa Nobre responsaacutevel pela adaptaccedilatildeo das licenccedilas

Creative Commons agrave legislaccedilatildeo portuguesa o dado eacute bastante positivo visto que eacute um paiacutes

de populaccedilatildeo e extensatildeo territorial modestos (Nobre 2012)

32 As licenccedilas 30

No dia 15 de Janeiro de 2011 Teresa Nobre e Clara Boavida fizeram o lanccedilamento

da versatildeo 30 das licenccedilas Creative Commons em Portugal durante o evento

comemorativo pelos dez anos da enciclopeacutedia colaborativa eletrocircnica Wikipedia realizado

no Instituto Superior Teacutecnico (IST) em Lisboa A discussatildeo puacuteblica do projeto da versatildeo

30 da licenccedila de jurisdiccedilatildeo Creative Commons Portugal esteve aberta de 24 de Novembro

a 31 de Dezembro de 2010 e convidou ao debate a sociedade civil em geral advogados

109

utilizadores de licenccedila ativos linguistas e tradutores Todos puderam opinar sobre o novo

texto atraveacutes de um foacuterum aberto no site portuguecircs do projeto

Em relaccedilatildeo agrave versatildeo anteriormente utilizada (25) a nova redaccedilatildeo trouxe alteraccedilotildees

pequenas poreacutem significativas e que ajudaram a tornar mais claros os termos da licenccedila

Aleacutem disso propocircs novas claacuteusulas referentes aos direitos morais ou agrave gestatildeo coletiva dos

direitos de autor ou dos direitos conexos Eacute importante salientar que o processo de

lanccedilamento de uma nova versatildeo das licenccedilas CC natildeo envolve apenas questotildees de traduccedilatildeo

e adaptaccedilatildeo do texto original em inglecircs para o portuguecircs mas refere-se sobretudo agrave sua

adaptaccedilatildeo agraves legislaccedilotildees portuguesas de propriedade intelectual e de direitos de autor

Sendo assim apesar das semelhanccedilas entre as versotildees brasileira e portuguesa das licenccedilas

30 elas diferem-se substancialmente no que se refere ao quesito juriacutedico

Alguns dos conceitos utilizados nas licenccedilas (eg coleccedilatildeo licenciante e titular

originaacuterio) foram aperfeiccediloados e novas claacuteusulas (como as referentes aos direitos morais

ou agrave gestatildeo coletiva do direito de autor ou dos direitos conexos) foram introduzidas As

mudanccedila afetaram sobretudo o tipo de licenccedila ldquoAtribuiccedilatildeo ndash Uso natildeo comercial ndash

Compartilhamento pela mesma licenccedilardquo (by-nc-as) O termo ldquoobrardquo foi substituiacutedo por

ldquotrabalho criativordquo A expressatildeo ldquoexibiccedilatildeo e execuccedilatildeo puacuteblicardquo foi modificada por

ldquoapresentar ao puacuteblicordquo ldquoObras coletivasrdquo tornaram-se ldquocoleccedilotildeesrdquo e ldquoobras derivadasrdquo

passaram a ser designadas por ldquotrabalhos derivadosrdquo

A versatildeo 30 das licenccedilas Creative Commons da jurisdiccedilatildeo portuguesa quando

comparada com a versatildeo 25 apresenta para aleacutem das alteraccedilotildees citadas melhoramentos

ao niacutevel de praticamente todos os conceitos que se encontram definidos nas licenccedilas e uma

nova claacuteusula que prevecirc expressamente o direito moral do autor de retirar sua obra de

circulaccedilatildeo

Em Abril de 2012 foram abertas as discussotildees da versatildeo 40 do conjunto de

licenccedilas Creative Commons como resultado dos debates levantados durante o CC Global

Summit em Setembro de 2011 na Polocircnia Ateacute o final do ano os trabalhos relacionados ao

novo texto devem ser fechados posteriormente a versatildeo final seraacute localmente discutida e

adaptada para a liacutengua e a legislaccedilatildeo nacional de cada paiacutes

33 Parcerias

110

O CC Portugal manteacutem parcerias com diversos repositoacuterios institucionais que

disponibilizam obras intelectuais do domiacutenio cientiacutefico sob suas licenccedilas Eacute o caso da

Universidade do Porto (UP) e da Universidade Nova de Lisboa (UNL) Segundo Teresa

Nobre jaacute existe uma parceria (mesmo que ainda tiacutemida) entre o CC Portugal e o poder

puacuteblico portuguecircs Eacute o caso do Portal das Escolas mantido pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

portuguecircs que publica todos os seus materiais sob licenccedilas CC (Nobre 2012)

Teresa Nobre afirma que um dos problemas que dificultam a popularizaccedilatildeo das

licenccedilas Creative Commons em Portugal eacute o desconhecimento puacuteblico acerca de sua

existecircncia Na tentativa de tornar o projeto mais conhecido no paiacutes ela diz que um dos

objetivos do CC Portugal para 2012 eacute investir de forma mais eficiente nos canais proacuteprios

de comunicaccedilatildeo como o perfil do projeto em redes sociais como Facebook e Twitter e no

site wwwcreativecommonspt Esta eacute a mesma estrateacutegia utilizada para chegar ao

conhecimento das classes artiacutesticas nacionais

Todos os filiados ao CC cooperam entre si e com o Creative Commons com vista agrave

discussatildeo de temas de interesse comum e ao desenvolvimento e aperfeiccediloamento contiacutenuo

das licenccedilas Segundo Teresa Nobre

O Creative Commons Brasil tem sido um parceiro importante do Creative Commons

Portugal na medida em que por circunstacircncias diversas tem conseguido completar o

processo de adaptaccedilatildeo das licenccedilas para o Brasil antes da Creative Commons Portugal

disponibilizando assim uma primeira base de trabalho em portuguecircs que eacute sem duacutevida

uma mais-valia natildeo obstante as diferenccedilas entre as legislaccedilotildees dos dois paiacuteses

(NOBRE 2012)

Neste momento o Creative Commons Portugal impulsiona um processo de

harmonizaccedilatildeo dos conceitos-chave em portuguecircs tendo entrado em contato com o CC

Brasil e com o CC Macau com o objetivo de levantar a discussatildeo com os mesmos Um dos

objetivos do CC Portugal para o futuro eacute conseguir incentivar e auxiliar outros paiacuteses de

liacutengua portuguesa a adotarem as licenccedilas CC pretendendo envolver nessa empreitada

tanto quanto possiacutevel o CC Brasil

40 A exceccedilatildeo para compartilhamento de arquivos

111

O principal argumento dos detentores de direitos favoraacuteveis ao arsenal juriacutedico

repressor eacute o de que as puniccedilotildees e proibiccedilotildees de downloads gratuitos aumentam as

oportunidades de vendas para obras protegidas Poreacutem haacute que considerar que na ausecircncia

de serviccedilos on-line de acesso a conteuacutedos com preccedilos e funcionalidades atraentes para os

utilizadores a repressatildeo natildeo produz efeitos consideraacuteveis Conforme afirma Volker

Grassmuck o bloqueio natildeo significa diminuiccedilatildeo da partilha e subida das vendas mas sim

uma migraccedilatildeo para plataformas mais clandestinas onde se torna ainda mais difiacutecil

monitorizar as reproduccedilotildees e as transferecircncias (Grassmuck 2009)

Vaacuterios estudos indicam que o impacto dos downloads natildeo pagos na economia das

induacutestrias da cultura eacute menor que o anunciado por estas Baseados na meacutedia obtida a partir

de oito pesquisas consideradas relevantes Felix Oberholzer-Gee e Koleman Strumpf

afirmam que a partilha de arquivos eacute responsaacutevel por uma parte pequena ndash ldquonatildeo mais do

que 20rdquo ndash do decliacutenio das vendas de muacutesica registrado nos EUA ao longo da deacutecada

passada (Oberholzer-Gee e Strumpf 2010 01) Alguns levantamentos apontam mesmo

para a tese do outro extremo a de que as descargas gratuitas impulsionam as vendas

legais Eacute o caso de uma pesquisa realizada pela Universidade do Estado da Carolina do

Norte que usou uma grande amostra de estatiacutesticas de downloads vindas de um servidor

BitTorrent A partir desses dados o economista Robert Hammond professor daquela

universidade preparou o estudo intitulado ldquoVazamento de lucros Compartilhamento de

arquivos antes do lanccedilamento e a induacutestria musicalrdquo (Link 17052012)

Hammond reuniu dados de 1095 novos aacutelbuns de 1075 artistas no maior servidor

do BitTorrent dedicado agrave muacutesica no periacuteodo entre Maio de 2010 e Janeiro de 2011

Depois combinou esses dados com nuacutemeros de vendas para construir um modelo que faz

uma previsatildeo do efeito da pirataria nas vendas de muacutesica A pesquisa dedicou-se aos

aacutelbuns que ldquovazaramrdquo na Rede antes de seu lanccedilamento oficial A induacutestria fonograacutefica

prioriza a caccedila a estes discos

O resultado aponta que as vendas aumentaram O economista chegou a essa

conclusatildeo ao ldquoisolarrdquo o efeito do compartilhamento nas vendas de um aacutelbum mapeando o

alcance do disco nas redes antes de ser lanccedilado O estudo afirma que a disseminaccedilatildeo de

um aacutelbum ldquovazadordquo transforma-se em propaganda do mesmo A pesquisa chega ateacute a

indicar que perseguir discos divulgados antes da data oficial pode atrapalhar as vendas

ldquoUsando meu modelo natildeo encontrei prova de nenhum efeito negativo em nenhum

aspectordquo concluiu Hammond sobre o compartilhamento de torrents de aacutelbuns (Link id)

112

No contexto da entrada em vigor de HADOPI na Franccedila e para tentar medir o

impacto da nova lei no paiacutes a Universidade de Rennes 1 realizou um levantamento entre

16 de Novembro e 23 de Dezembro de 2009 com 2 mil usuaacuterios de Internet na regiatildeo da

Bretanha A pesquisa concluiu que os downloads ilegais de produtos culturais como

muacutesicas filmes etc natildeo satildeo uma potencial ameaccedila agrave induacutestria isto porque 47 dos

usuaacuterios puniacuteveis por HADOPI representam a maioria dos compradores desses mesmos

produtos de forma legal na Internet Sendo assim os pesquisadores remataram que ldquoO

consumo de conteuacutedo ilegal parece estar acompanhado de uma disposiccedilatildeo a pagar pelo

conteuacutedo legalrdquo (Dejean et al 2010 09)

Ao contraacuterio do que as grandes produtoras alegam o levantamento realizado pela

Universidade de Rennes 1 aponta que se o acesso de usuaacuterios de redes P2P fosse cortado

o mercado legal de muacutesicas e viacutedeos perderia 27 de seus consumidores Se a legislaccedilatildeo

punisse todos os tipos de piratas (natildeo apenas os que fazem downloads por P2P mas

tambeacutem atraveacutes de sites streaming e endereccedilos de hospedagem de arquivos como

Rapidshare e Megaupload) a venda legal de muacutesicas e viacutedeos pela Rede perderia metade

de sua clientela Portanto segundo Sylvain Dejean a premissa de HADOPI de realizar o

corte do acesso agrave Internet dos piratas ldquoarrisca reduzir o tamanho do mercado de bens

culturais digitaisrdquo na Franccedila (ibidem 13)

A discrepacircncia entre o direito autoral e a praacutetica amplamente difundida do

compartilhamento de arquivos eacute evidente Ateacute hoje as tentativas de resolver essa

desarmonia passaram por medidas repressivas que tentaram adequar as praacuteticas culturais agrave

lei atraveacutes de dispositivos tecnoloacutegicos de proteccedilatildeo (como o DRM do inglecircs Digital

Rights Management) processos civis e penais em larga escala etc Nenhuma delas teve

impactos consideraacuteveis sobre as atividades de download ilegal Apesar do fracasso nem as

induacutestrias e nem os governos reconheceram as falhas das estrateacutegias adotadas tampouco

mudaram de abordagem Continuam a operar com as mesmas ferramentas produzindo

formas cada vez mais extremistas de repressatildeo

Uma alternativa de mudanccedila mais profunda do regime juriacutedico internacional da

propriedade intelectual eacute a proposta feita pelo advogado Bennett Lincoff e pela

Associaccedilatildeo de Compositores do Canadaacute Eles sugeriram a criaccedilatildeo de novos direitos

especificamente destinados a legalizar a partilha sem fins lucrativos de obras protegidas

por direitos de autor (Caetano e Cardoso 2012 08) Em tal modelo programas P2P e

outros dispositivos e sites que permitem o compartilhamento de bens culturais sairiam das

113

sombras da clandestinidade e passariam a ser legais Para que isso seja possiacutevel eacute

necessaacuterio pocircr em funcionamento um novo modelo de compensaccedilatildeo aos autores

O uso intenso de redes P2P para partilha de arquivos de filmes livros muacutesicas etc

demanda aquilo a que Volker Grassmuck chama de exceccedilatildeo para compartilhamento de

arquivos (Grassmuck 2010 04) a saber um regime de recolha e distribuiccedilatildeo de direitos

de autor adaptado aos downloads feitos a partir de redes peer-to-peer e outros sistemas

semelhantes Esse modelo de compensaccedilatildeo eacute discutido em vaacuterios paiacuteses sob diferentes

nomenclaturas ldquosistema de compensaccedilatildeo alternativordquo ldquotaxa fixa da culturardquo ldquolicenccedila

globalrdquo e ldquocontribuiccedilatildeo criativardquo dentre outros Eles variam em alguns detalhes mas satildeo

essencialmente baseados em uma mesma ideia reunir artistas induacutestria e usuaacuterios em

torno de um sistema que contemple simultaneamente os interesses de todos os envolvidos

na cadeia de consumo de bens artiacutestico-culturais Isso atraveacutes de ldquouma permissatildeo legal

para o compartilhamento privado de obras publicadas e protegidas pelo direito autoral para

fins natildeo comerciais sujeita a uma taxa administrada por meio de gestatildeo coletivardquo (ibidem

05)

Vaacuterias pesquisas apontam que os utilizadores estatildeo dispostos a pagar pelos

conteuacutedos que acessam e descarregam pela Internet A sociedade sueca de gestatildeo coletiva

de direitos de muacutesica STIM em uma pesquisa publicada em Fevereiro de 2009 apurou

que 862 dos usuaacuterios de Internet que responderam agrave pesquisa desejam pagar uma taxa

mensal de direito autoral que lhes permita compartilhar arquivos (ibidem 07)

Grupos musicais como Nine Inch Nails e Radiohead liberaram seus discos para

download na Internet dando ao internauta a liberdade de decidir se pagaria ou natildeo por

eles e quanto A gravadora independente on-line Magnatunecom libera todos os seus

aacutelbuns em uma licenccedila Creative Commons que permite expressamente seu uso em

compartilhamento de arquivos o que torna o pagamento efetivamente voluntaacuterio O

Magnatune tambeacutem oferece a seus consumidores a possibilidade de pagar um preccedilo agrave sua

escolha dentro da escala de 4 a 14 euros O preccedilo meacutedio pago pelos utilizadores varia entre

8 e 9 euros indicando claramente que eles desejam pagar aos criadores o preccedilo que lhes

parece justo

Diferentemente do que alegam as induacutestrias os internautas natildeo consideram o que eacute

gratuito como algo sem valor As pessoas habituadas agrave cultura do compartilhamento e da

liberdade satildeo conscientes de que os criadores devem ser remunerados e mostram-se

dispostas a desenvolver comportamentos de consumo compatiacuteveis com essa necessidade

114

Para isso eacute preciso desenvolver e pocircr agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico sistemas equitativos de

distribuiccedilatildeo de bens culturais e recolha dos direitos devidos aos autores

A seguir trataremos brevemente de trecircs propostas de exceccedilatildeo para

compartilhamento de arquivos licenccedila global mecenato global e contribuiccedilatildeo criativa

Existem muitas alternativas possiacuteveis resolvemos nos concentrar nestas por serem

modelos sobre os quais jaacute haacute alguma discussatildeo em marcha ndash tanto no mundo acadecircmico

quanto nos universos juriacutedico e comercial Antes poreacutem falaremos sobre a ldquocomputaccedilatildeo

na nuvemrdquo (cloud computing) tendecircncia a ganhar terreno no ciberespaccedilo e que se

mostra tambeacutem um importante modelo legal de acesso a bens culturais na Rede

50 Cloud computing

A ldquocomputaccedilatildeo na nuvemrdquo eacute uma expressatildeo que surge com muita frequecircncia no

vocabulaacuterio das novas utilizaccedilotildees da Internet Falar em nuvem eacute referir-se agrave proacutepria Rede

ou seja aos seus inuacutemeros servidores espalhados por todo o planeta Quando dizemos que

um ficheiro estaacute na ldquonuvemrdquo significa que o documento ou programa estaacute armazenado em

um servidor Esse ficheiro pode ser acessado simplesmente atraveacutes de uma ligaccedilatildeo agrave

Internet e natildeo depende da armazenagem em aparelhos locais como um computador ou

um smartphone O arquivo natildeo eacute guardado na proacutepria maacutequina do usuaacuterio mas nos

bancos de dados virtuais dos fornecedores de acesso agrave Rede podendo ser visualizado

atraveacutes de um navegador como Explorer ou Chrome por exemplo

Essa tecnologia natildeo eacute recente A novidade estaacute na queda dos custos de

armazenagem de grandes volumes de dados As conexotildees agrave Internet satildeo cada vez mais

velozes e atingem gradativamente um nuacutemero maior de pessoas Os arquivos

armazenados na nuvem podem ser acedidos e utilizados simultaneamente por inuacutemeros

usuaacuterios natildeo importando onde eles estejam espacialmente localizados

A isso se junta a constante diminuiccedilatildeo dos aparelhos informaacuteticos ndash os notebooks

satildeo cada vez menores e para pouparem espaccedilo utilizam discos riacutegidos pequenos e com

pouca capacidade de arquivamento de fotos viacutedeos etc Com todos os arquivos e

programa de que necessita estocados em uma nuvem o utilizador pode deixar seus

115

proacuteprios discos externos smartphones e demais equipamentos portaacuteteis para traacutes para

aceder ao que deseja basta utilizar um equipamento qualquer ligado agrave Internet

Poreacutem o ecircxito do serviccedilo depende completamente da Rede Sem conexatildeo agrave

Internet todo o sistema desmorona Outro problema que se levanta nesse meacutetodo eacute o da

confidencialidade dos dados Por mais seguros que sejam os serviccedilos de cloud

computing estatildeo sujeitos ao ataque de hackers Armazenar informaccedilotildees sigilosas tais

como dados pessoais e senhas de contas bancaacuterias por exemplo pode ser arriscado

Para Richard Stallman criador da Fundaccedilatildeo para o Software Livre (FSF) a cloud

computing eacute uma ameaccedila invisiacutevel Stallman afirma que os dados dos utilizadores da

Rede satildeo ferramentas indispensaacuteveis para determinar perfis de consumo e por isso

tornam-se mera mercadoria nas matildeos dos servidores

Haacute uma campanha para convencer os utilizadores a confiar os seus dados a empresas

nas quais natildeo deveriam de todo confiar A computaccedilatildeo na nuvem soacute pode significar

ldquoMeia bola e forccedila E natildeo pensesrdquo Natildeo eacute que natildeo possamos ter vida privada na Internet Nem que os utilizadores jaacute natildeo possam controlar os seus dados Devemos eacute

ousar remar contra a mareacute (STALLMAN 2012 56)

Estando os arquivos armazenados em um servidor o usuaacuterio jaacute natildeo possui controlo

absoluto sobre seu acesso e utilizaccedilatildeo O recente caso do fechamento do Megaupload

ilustra bem o que pode acontecer na cloud computing Tudo o que estava armazenado nos

servidores do site foi retirado do ar pela Justiccedila norte-americana (sob acusaccedilatildeo de

incentivo agrave pirataria como referido no primeiro capiacutetulo deste trabalho) impossibilitando

o acesso ateacute mesmo dos clientes que haviam pago assinatura e mantinham hospedados

materiais legais (muitos de sua proacutepria autoria)

O sucesso da cloud computing representaria a perda completa do controlo dos

proacuteprios ldquopertences virtuaisrdquo por parte do utilizador na medida em que a armazenagem

destes natildeo estaacute sob sua responsabilidade Um ambiente onde os arquivos estatildeo guardados

em servidores eacute como uma biblioteca cujas chaves estatildeo nas matildeos de poucos assim que

estes queiram restringir o acesso ao acervo poderatildeo realizaacute-lo sem grande dificuldade

fazendo o que quiserem com os livros que estatildeo laacute dentro Aleacutem disso o controlo de

plataformas ldquona nuvemrdquo eacute passiacutevel de ser tomado por oacutergatildeos governamentais empresas

privadas e demais grupos de interesses (com objetivos comerciais ou de filtragem e

monitoramento de conteuacutedos) prejudicando a fiabilidade de seu sistema

116

A cloud computing eacute a base estrutural de muitos sites de venda e reproduccedilatildeo legal

de muacutesicas filmes etc Serviccedilos como o VOD (sigla para a expressatildeo inglesa Video on

demand) plataforma de visualizaccedilatildeo de filmes on-line jaacute satildeo vastamente utilizados por

todo o mundo A Franccedila por exemplo manteacutem um serviccedilo deste tipo ligado a um de seus

canais de TV puacuteblica o France Arte (httpwwwartevodcomAccueilhtml) que

disponibiliza o acesso sob assinatura a gravaccedilotildees de filmes documentaacuterios e espetaacuteculos

de teatro e danccedila em linha O mesmo acontece com sites de muacutesica como o Terra Sonora

(httpsonoraterracombr) no Brasil O portal libera sob cadastro a escuta gratuita on-

line Tornando-se assinante do serviccedilo o utilizador pode criar uma pasta de armazenagem

das muacutesicas favoritas Poreacutem apesar de pagar pelo material o internauta natildeo pode

arquivar as muacutesicas em um CD-R por exemplo pois as faixas satildeo protegidas pela

tecnologia DRM que impede a gravaccedilatildeo Aleacutem disso ele tem um nuacutemero limitado de

vezes para reproduzir os arquivos de aacuteudio Poliacuteticas como esta fadam esse modelo de

negoacutecio ao fracasso e a instabilidade da nuvem apresenta riscos que fazem com que os

internautas natildeo adiram agrave alternativa

60 Licenccedila global

Na lista de tentativas de promoccedilatildeo dos interesses dos artistas e fomento do

consumo legal de bens culturais por parte dos utilizadores da Rede estaacute o modelo

conhecido por licenccedila global O conceito nasceu na Franccedila em 2001 fruto da parceria

entre a Sociedade de Percepccedilatildeo e de Distribuiccedilatildeo dos Direitos dos Artistas Inteacuterpretes

(SPEDIDAM) e a Sociedade Civil para a Administraccedilatildeo dos Direitos dos Artistas e

Muacutesicos Inteacuterpretes (ADAMI)

Trata-se de uma autorizaccedilatildeo dada aos internautas para acederem a conteuacutedos

culturais pela Rede e poder partilhaacute-los com outros para fins natildeo comerciais em troca de

uma taxa destinada a artistas paga juntamente com a mensalidade cobrada pelos

servidores de acesso agrave Internet Na Franccedila a SPEDIDAM e a ADAMI propuseram que

essa taxa fosse opcional Para ambas as organizaccedilotildees criadoras a licenccedila global eacute uma

alternativa interessante por criar o que chamam de ldquoespaccedilo de seguranccedila juriacutedicardquo isto eacute a

descarga e a troca de ficheiros natildeo satildeo criminalmente imputaacuteveis pois satildeo realizadas de

forma que respeita os direitos de autor SPEDIDAM e ADAMI natildeo propuseram um valor

117

exato para o pagamento mensal da licenccedila global mas sugeriram que o montante cobrado

fosse de 4 a 7 euros por assinatura (Alliance Public-Artistes 2010)

Em Dezembro de 2005 alguns deputados sugeriram que a licenccedila global fosse

incluiacuteda no texto do Projeto de Lei relativa aos Direitos de Autor e Direitos Conexos na

Sociedade de Informaccedilatildeo (DADVSI) DADVSI foi discutida em sessatildeo na Assembleia

Nacional francesa em Marccedilo de 2006 poreacutem a licenccedila global natildeo foi incluiacuteda na pauta

Agrave eacutepoca em que HADOPI comeccedilou a ser discutida na Franccedila a licenccedila global

mostrou-se uma alternativa de equiliacutebrio entre os interesses dos consumidores e dos

artistas O modelo eacute interessante pelo facto de remunerar os autores ao mesmo tempo em

que apresenta condiccedilotildees sedutoras de consumo legalizado Poreacutem haacute que discutir detalhes

importantes para o funcionamento do sistema como se o modelo de licenccedila global deve

ser obrigatoacuterio ou opcional visto que se opcional o usuaacuterio poderia decidir natildeo aderir a

ele o que natildeo o impediria de fazer downloads ilegais A aplicaccedilatildeo obrigatoacuteria parece ser a

mais simples mas devemos considerar tambeacutem o caso dos internautas que natildeo fazem

download nenhum e que teriam que pagar por algo que natildeo utilizam Aleacutem do mais eacute

preciso definir se a taxa a ser paga deve ser fixa ou variar conforme a quantidade e a

frequecircncia de downloads que o utilizador realizar

Jaacute haacute propostas e experimentos locais em atividade como eacute o caso do estudo

realizado por Matt Earp e Andrew Mcdiarmid da Escola de Informaccedilatildeo da Universidade

da Califoacuternia Berkeley Os pesquisadores propuseram a implementaccedilatildeo de uma licenccedila

voluntaacuteria global no interior da rede do campus de Berkeley que daria direito aos

estudantes de fazerem downloads ilimitados de muacutesicas mediante o pagamento de 20

doacutelares por semestre (Caetano 2008) Ao realizarem um levantamento junto a 103

estudantes da universidade Earp e Mcdiarmid descobriram que 64 dos inquiridos

estavam dispostos a pagar uma licenccedila global para a partilha de arquivos Haacute que

considerar que de tentativas locais exitosas o sistema pode expandir-se para alcanccedilar

mais utilizadores no futuro

70 Mecenato global

118

O pesquisador francecircs Francis Muguet e o programador norte-americano Richard

Stallman satildeo os idealizadores do mecenato global sistema de financiamento equitativo das

artes e da cultura Esse modelo surgiu em 2009 eacutepoca em que na Franccedila fervilhavam as

discussotildees sobre a lei HADOPI e debatia-se se a soluccedilatildeo para o problema do apoio agrave

criatividade na era digital natildeo passaria pelo incentivo agraves doaccedilotildees voluntaacuterias aos artistas ao

inveacutes do endurecimento das leis (Meacuteceacutenat Global 2009)

O mecenato global sugere a criaccedilatildeo de uma Sociedade de Aceitaccedilatildeo e Reparticcedilatildeo

de Doaccedilotildees (SARD) entidade que receberia as doaccedilotildees dos internautas e atraveacutes dos

votos destes indicaria quais obras seriam remuneradas e quais os valores dessas

remuneraccedilotildees A adesatildeo tanto dos utilizadores quanto dos artistas agrave SARD seria

obviamente livre e o envolvimento dos autores com a entidade natildeo implicaria o abandono

automaacutetico da sua sociedade de gestatildeo coletiva tradicional O sistema se aplicaria tanto

aos artistas que disponibilizassem suas obras segundo licenccedilas livres quanto agravequeles que

pretendessem conservar os seus direitos exclusivos O uacutenico preacute-requisito seria residir em

um paiacutes francoacutefono

Aleacutem da adesatildeo livre para utilizadores e artistas o mecenato global tambeacutem propotildee

que os fornecedores de acesso agrave Internet possam escolher participar ou natildeo Para Miguel

Afonso Caetano a melhor opccedilatildeo de aplicaccedilatildeo do sistema seria atraveacutes da participaccedilatildeo

obrigatoacuteria para os detentores de direitos e fornecedores de acesso poreacutem opcional para

os utilizadores haja vista que nem todos efetuam descargas de conteuacutedos protegidos por

direitos de autor Poreacutem o autor afirma que para pocircr em marcha tal projeto seria

necessaacuterio rever a Convenccedilatildeo de Berna senatildeo tudo natildeo passaria de um esforccedilo limitado a

proporccedilotildees locais sem possibilidades de aplicaccedilatildeo em escala internacional (Caetano

2009) O mesmo se aplica agrave licenccedila global

80 Contribuiccedilatildeo criativa

A contribuiccedilatildeo criativa criada por Philippe Aigrain como uma espeacutecie de

ldquobandeira brancardquo na guerra entre o Copyright e a livre partilha na Rede eacute um modelo que

procura legalizar o uso dos dispositivos P2P ao mesmo tempo em que propotildee uma forma

119

alternativa de retribuiccedilatildeo aos autores sem criar conflitos com outras fontes importantes de

remuneraccedilatildeo e de financiamento da criaccedilatildeo

O modelo prevecirc a retribuiccedilatildeo aos autores segundo a quantidade de downloads que

forem feitos de suas obras Quanto mais descargas mais repasse de direitos Esse modelo

evolui gradualmente e Aigrain jaacute chegou mesmo a propor que a propriedade intelectual no

ambiente digital saiacutesse do acircmbito claacutessico dos direitos de autor para ser objeto de um

diploma agrave parte especiacutefico (Aigrain 2008 71)

Philippe Aigrain aponta o pagamento opcional proposto pela licenccedila global e pelo

mecenato global como ponto falho dos sistemas Para o funcionamento do modelo de

contribuiccedilatildeo criativa o autor salienta a necessidade do pagamento obrigatoacuterio por parte de

todo indiviacuteduo que possua uma assinatura de serviccedilo de Internet Aigrain afirma que pode

haver exceccedilotildees relacionadas a criteacuterios sociais mas que estas devem ser compensadas pelo

orccedilamento puacuteblico ou repartidas entre os demais pagantes Ele sugere que o montante a

ser aplicado na Franccedila gire em torno dos 5 ou 7 eurosmecircs e que abarque produccedilotildees de

muacutesica audiovisual e novas miacutedias digitais (ibidem 85) Jaacute Volker Grassmuck sugere que

o valor deveria variar conforme a velocidade da conexatildeo agrave Internet Para este autor o

acesso discado (que inviabiliza outros usos que exigem capacidade de banda) por

exemplo deveria ser isento (Grassmuck 2010 08) Tanto para Aigrain como para

Grassmuck a aplicaccedilatildeo de tal taxa seria tatildeo legiacutetima e se justificaria tanto quanto as taxas

cobradas por sistemas semelhantes como os que sustentam serviccedilos de TV e radiodifusatildeo

puacuteblicos em vaacuterios paiacuteses

Philippe Aigrain afirma que eacute preciso medir a quantidade de downloads das obras

dos artistas de forma natildeo intrusiva ndash um desafio a ser enfrentado pelos proprietaacuterios de

direitos visto que

As induacutestrias de ediccedilatildeo centralizada integraram-se tanto agrave ideia de que os consumidores

de seus produtos satildeo inimigos a controlar e a vigiar que natildeo podem nem mesmo

imaginar que eles poderiam ser os melhores aliados na reparticcedilatildeo justa de uma

remuneraccedilatildeo associada ao uso das obras (AIGRAIN 2008 02)

A apuraccedilatildeo da quantidade de downloads efetuados eacute extremamente precisa nos

meios digitais Ao contraacuterio do universo analoacutegico onde as estatiacutesticas de execuccedilatildeo e

reproduccedilatildeo de muacutesicas filmes etc eram nebulosas geralmente baseadas em dados

ldquoarredondadosrdquo (e que sempre favoreciam os artistas ldquocabeccedilas-de-listardquo) o atual estaacutegio

da tecnologia permite informar com exatidatildeo quantas vezes um dado foi acessado A

120

precisatildeo das mediccedilotildees empiacutericas geram abrangecircncia justiccedila e diversidade pois garantem

o pagamento mesmo para artistas que estejam muito afastados do topo da lista de sucessos

Uma vez que os programas de P2P sejam legalizados o processo de instauraccedilatildeo de

sistemas como a licenccedila global poderaacute contar com a ajuda dos fornecedores de acesso agrave

Internet e das proacuteprias aplicaccedilotildees utilizadas para realizar as descargas (como BitTorrent

etc) A partir do registro de metadados de cada trabalho descarregado pelo utilizador

podem ser produzidos relatoacuterios mensais anocircnimos para um site administrativo que calcule

o nuacutemero total de downloads em um determinado lugar Mecanismos semelhantes jaacute

existem e estatildeo em funcionamento eacute o caso do Audioscrobbler dispositivo que produz

relatoacuterios voluntaacuterios sobre as muacutesicas ouvidas na plataforma Lastfm

Tanto a licenccedila global como o mecenato global e como a contribuiccedilatildeo criativa pode

facilitar o processo de detecccedilatildeo recolhimento e repasse de direitos quase em uma ponte

direta entre artistas e utilizadores da Rede O papel das sociedades gestoras de direitos

seria transformado e a digitalizaccedilatildeo dos processos representaria uma reduccedilatildeo draacutestica dos

custos ndash o que se converteria em benefiacutecio para os artistas pois qualquer economia

significaria maior repasse de direitos

Em um estudo recente Volker Grassmuck traccedilou um quadro comparativo entre os

modelos de gestatildeo de direitos alematildeo e brasileiro Nele descobrimos que na Alemanha as

treze organizaccedilotildees de gestatildeo coletiva existentes pagam no miacutenimo 50 e no maacuteximo

100 de suas receitas para os autores sendo que o restante vai para os exploradores

(editoras ou gravadoras) No caso do Escritoacuterio Central de Arrecadaccedilatildeo e Distribuiccedilatildeo

(ECAD) entidade que gere os direitos de autor no Brasil a situaccedilatildeo eacute mais confusa

porque seus membros natildeo satildeo diretamente autores muacutesicos e exploradores mas dez

associaccedilotildees desses grupos Essa estrutura de dois niacuteveis cria um ofuscamento adicional em

relaccedilatildeo ao fluxo de dinheiro e gera gastos administrativos totais em valores proacuteximos a

30 que aparentam estar entre os maiores do mundo (Grassmuck 2010 11-12) No

universo on-line a administraccedilatildeo digital de direitos seraacute automatizada ao niacutevel maacuteximo

garantindo que a maior quantia possiacutevel chegue agravequeles que realmente criam os bens

culturais evitando assim que os lucros sejam ldquoengolidosrdquo pelo funcionamento do

aparelho destinado a coletaacute-los

121

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

122

123

No momento do remate deste estudo o Parlamento Europeu rejeitou

definitivamente o ACTA em seccedilatildeo plenaacuteria Foram 478 votos contra o acordo 39 a favor e

165 abstenccedilotildees Com o voto contraacuterio do Parlamento ao menos 22 dos 27 paiacuteses membros

da Uniatildeo Europeia natildeo podem ratificar o tratado em sua legislaccedilatildeo local Tal decisatildeo

mostra o poder da mobilizaccedilatildeo popular aleacutem de manifestaccedilotildees nas ruas muitos cidadatildeos

europeus protestaram atraveacutes das redes sociais e demais instrumentos de comunicaccedilatildeo

conectados em rede Foram muitos os que tambeacutem contataram os membros do Parlamento

por telefone ou e-mail e a intensa pressatildeo acabou por resultar

O conceito de sociedade da informaccedilatildeo natildeo eacute neutro Informaccedilatildeo natildeo eacute o mesmo

que comunicaccedilatildeo A informaccedilatildeo eacute uma fonte de poder e o domiacutenio dos seus meios de

produccedilatildeo controlo e disseminaccedilatildeo pode ser um fator de aumento da desigualdade de

distribuiccedilatildeo de poderes em uma sociedade jaacute marcada por disparidades A democracia em

sua forma mais baacutesica requer que o poder seja distribuiacutedo ndash sendo a informaccedilatildeo uma fonte

de poder uma sociedade mais igualitaacuteria passa pelo livre acesso das pessoas a ela

No mundo em que vivemos o poder estaacute concentrado em diversas formas e

manifestaccedilotildees tais como o ideoloacutegico econocircmico tecnoloacutegico cientiacutefico ou

informacional Apoiar os direitos humanos eacute posicionar-se contra os que ameaccedilam ou

desrespeitam esses direitos Incluir o direito de acesso agrave informaccedilatildeo e agrave comunicaccedilatildeo

nessa luta eacute assumir a centralidade do ser humano como agente nos processos vitais para a

manutenccedilatildeo da vida em sociedade O acesso agrave informaccedilatildeo eacute condiccedilatildeo indispensaacutevel para a

formaccedilatildeo do indiviacuteduo enquanto ser criacutetico que questiona e interveacutem e que constroacutei os

meios que lhe permitem ser livre

Grandes corporaccedilotildees tecircm nas matildeos a infraestrutura global da Internet A quase

totalidade da Rede depende de operadores multinacionais estando a maioria deles sediada

nos EUA Muitos governos controlam e vigiam o acesso de seus cidadatildeos agrave Rede Quando

eacute de seu interesse conseguem comprometer o funcionamento das conexotildees via Internet

com o exterior como fez o governo egiacutepcio durante o movimento que ficou conhecido por

Primavera Aacuterabe no iniacutecio de 2011 que levou agrave queda do ditador Hosni Mubarak naquele

paiacutes (Sapo Notiacutecias 2011)

Numa decisatildeo histoacuterica o Conselho dos Direitos Humanos da ONU composto por

47 paiacuteses reconheceu pela primeira vez o direito agrave liberdade de expressatildeo na Internet e

tambeacutem a garantia de acesso agrave Rede O reconhecimento se deu dois dias apoacutes a decisatildeo do

Parlamento Europeu de eliminar o ACTA em Julho de 2012 Apesar da resistecircncia de

124

paiacuteses como a China e Cuba o texto do acordo foi finalizado em concordacircncia de que este

direito deveraacute ser protegido por todos os paiacuteses Esta eacute a primeira resoluccedilatildeo da ONU que

afirma que os direitos humanos devem ser protegidos no acircmbito digital e promovidos na

mesma medida e com o mesmo compromisso que os direitos humanos no mundo fiacutesico

Tanto a China quanto Cuba poreacutem fizeram ressalvas em relaccedilatildeo ao acordo o

embaixador chinecircs Xia Jingge argumentou por exemplo que ldquoos jovens precisam de ser

protegidosrdquo de sites maleacuteficos como os dedicados ao jogo agrave pornografia agrave violecircncia agrave

fraude e agrave pirataria ldquoAcreditamos que o livre fluxo de informaccedilatildeo na Internet e o fluxo

seguro de informaccedilatildeo na Internet satildeo interdependentesrdquo (Puacuteblico 06072012) Jaacute o

embaixador cubano Juan Antonio Quintanilla numa referecircncia impliacutecita aos EUA fez a

ressalva de que o texto natildeo aborda a questatildeo da ldquogovernaccedilatildeo da Internetrdquo quando ldquotodos

sabemos que esta ferramenta eacute controlada por um uacutenico paiacutes a niacutevel mundialrdquo (Puacuteblico

id)

A liberdade na Internet e a forccedila do compartilhamento de informaccedilotildees tambeacutem

foram os temas centrais do Foacuterum de Empreendedorismo Social na Nova Economia

evento realizado em Junho de 2012 paralelo agrave Rio+20 no Rio de Janeiro Em um dos

paineacuteis Silvio Meira presidente do Conselho Administrativo do Porto Digital e cientista-

chefe do Centro de Estudos e Sistemas Avanccedilados do Recife (Cesar) chamou a atenccedilatildeo

para a necessidade de ldquoprogramarmos para natildeo sermos programadosrdquo Para ele eacute preciso

tomarmos o controlo de nossas vidas no ciberespaccedilo ldquoTer propriedade pessoal dos nossos

dados seraacute absolutamente essencial Estamos sendo vendidos como mercadoria na

Internetrdquo (G1 17062012)

A regulaccedilatildeo eacute fundamental para frear as praacuteticas de uso indiscriminado de dados

dos usuaacuterios na Internet Eacute tambeacutem preciso garantir o bom funcionamento teacutecnico do

sistema com velocidade de banda a preccedilos justos boa qualidade de prestaccedilatildeo de serviccedilos

e proibiccedilatildeo de praacuteticas que prejudicam a neutralidade na Rede como o traffic shaping

mas natildeo soacute A regulaccedilatildeo natildeo deve tratar apenas do acesso agrave tecnologia mas tambeacutem da

garantia do pluralismo de informaccedilotildees em circulaccedilatildeo e de direitos e deveres na Rede Ao

mesmo tempo a proteccedilatildeo da privacidade eacute um ponto-chave que se coloca como

fundamental em qualquer tipo de regulaccedilatildeo que se aplique A salvaguarda dos dados

pessoais dos usuaacuterios mostra-se como a dimensatildeo da regulaccedilatildeo que atravessa todos os

espaccedilos de interaccedilatildeo da Internet

125

O combate ao uso de softwares como os P2Prsquos ilustra o desejo das induacutestrias de

derrubar certas tecnologias mais eficientes mas que ameaccedilam seu poderio A tecnologia

natildeo pode nem deve ser usada contra seus proacuteprios avanccedilos Antes esses avanccedilos devem

ser adaptados agraves novas necessidades de mercado que as plataformas digitais criaram

Softwares P2P podem perfeitamente ser utilizados para consumo de muacutesicas filmes etc

de maneira que respeite os direitos de autor Basta que tais mecanismos sejam implantados

dentro de um novo sistema de vendas mais justo e equilibrado que combine larga oferta

legal e preccedilos que estejam ao alcance das pessoas

O remix mesmo que feito com autorizaccedilatildeo e devida identificaccedilatildeo das fontes

utilizadas tambeacutem eacute uma praacutetica condenada pela induacutestria e pelas sociedades de gestatildeo

coletivas de direitos Poreacutem haacute que reconhecer como afirma Ronaldo Lemos que a

premissa lavoisiana de que ldquonada se cria tudo se transformardquo eacute a essecircncia da nossa

natureza cultural Poder citar e incorporar outras criaccedilotildees em uma nova eacute requisito para a

criatividade e para que o conhecimento e a cultura avancem (Lemos 2012)

Infelizmente o mundo da criaccedilatildeo eacute refeacutem de um impeacuterio legislativo de

autorizaccedilotildees mesmo quando o autor libera o uso de suas obras A burocracia para se

conseguir permissatildeo para o uso de uma obra intelectual ainda eacute uma via crucis Esta

situaccedilatildeo eacute antinatural e sistemas legislativos que funcionam assim natildeo fomentam a

criatividade tem exatamente o efeito inverso Eacute preciso desburocratizar os sistemas de

gestatildeo de patentes e de propriedade intelectual formulando regimes de exceccedilatildeo para

paiacuteses subdesenvolvidos para que estes tambeacutem tenham condiccedilotildees de avanccedilar em mateacuteria

de inovaccedilatildeo

Agrave eacutepoca da abertura das discussotildees para a reforma da Lei do Direito Autoral

(LDA) no Brasil acadecircmicos artistas escritores e membros da sociedade civil de diversos

ramos de atuaccedilatildeo profissional fizeram circular na Internet a ldquoCarta de Satildeo Paulo pelo

Acesso a Bens Culturaisrdquo um abaixo-assinado de apoio agrave reforma legislativa No texto

condena-se a vigilacircncia e o controlo das atividades dos usuaacuterios na Internet ndash o que

representa uma agressatildeo agrave privacidade e ao direito de acesso agrave informaccedilatildeo e agrave

comunicaccedilatildeo atraveacutes da Rede Antes aponta-se que eacute preciso reformar a legislaccedilatildeo autoral

em vigor de maneira a adaptaacute-la agraves accedilotildees de democratizaccedilatildeo do saber possibilitadas pela

Internet

126

[] tem-se defendido que o controlo da troca de arquivos na Internet seja feito por

meio do monitoramento do cidadatildeo no seu acesso agrave Rede Isso somente poderia ocorrer

atraveacutes da violaccedilatildeo do direito agrave privacidade e com severas ameaccedilas agrave liberdade de

expressatildeo e de comunicaccedilatildeo Entendemos que esse natildeo eacute o melhor caminho e que a reforma da lei deve ser realista face agraves novas tecnologias e praacuteticas sociais (CARTA

DE SAtildeO PAULO PELO ACESSO A BENS CULTURAIS 2010)

O Direito precisa acompanhar a evoluccedilatildeo da tecnologia Em um contexto em que

boa parte da populaccedilatildeo age de forma contraacuteria ao que diz a lei eacute necessaacuterio discutir o

descompasso entre o Direito e a sociedade para realizar as transformaccedilotildees necessaacuterias nos

diplomas juriacutedicos As puniccedilotildees severas e o endurecimento das leis natildeo vatildeo acabar com a

praacutetica da partilha de bens culturais em rede Haacute uma relaccedilatildeo direta entre o aumento da

oferta de conteuacutedo legal a preccedilos acessiacuteveis e a diminuiccedilatildeo da pirataria Portanto eacute preciso

rediscutir os modelos de negoacutecio solidificados ndash uma atitude que contraria os interesses

das induacutestrias mas eacute necessaacuteria para sua proacutepria sobrevivecircncia

A luta contra quaisquer usos comerciais da obra sem autorizaccedilatildeo de seu titular de

direitos eacute perfeitamente legiacutetima O que precisa ser feito eacute reequilibrar a posiccedilatildeo do autor

face aos intermediaacuterios culturais de forma a potencializar as alternativas de produzir

distribuir e comercializar suas obras diretamente atraveacutes das novas tecnologias Este

equiliacutebrio conferiria maior autonomia e independecircncia econocircmica aos autores permitindo

alargar as fronteiras ainda muito limitadas do mercado de bens culturais Eacute necessaacuterio criar

e aplicar sistemas que devolvam aos autores o poder sobre suas proacuteprias obras para que

estas sejam licenciadas reproduzidas e comercializadas como eles desejarem O futuro dos

direitos de autor estaacute na promoccedilatildeo de ligaccedilotildees mais diretas entre autor e puacuteblico e na

transformaccedilatildeo do papel dos intermediaacuterios na economia criativa

127

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ldquoEgipto o dia em que a Internet foi parcialmente desligadardquo Sapo Notiacutecias 28 de Janeiro

de 2011

URLlthttplivetvblogssapopt731616htmlgt

137

Acedido em 06 de Julho de 2012

ldquoEntenda o SOPA e o PIPA projetos de lei que motivam protestos de sitesrdquo G1 18 de

Janeiro de 2012

URLlthttpg1globocomtecnologianoticia201201entenda-o-projeto-de-lei-

dos-eua-que-motiva-protestos-de-siteshtmlgt

Acedido em 21 de Abril de 2012

ldquoIs Brazil the censorship capital of the Internet Not yetrdquo Committee to Protect

Journalists 28 de Abril de 2010

URLlthttpcpjorgblog201004is-brazil-the-censorship-capital-of-the-

internetphpgt

Acedido em 07 de Marccedilo de 2012

ISCTE Projecto Ciberfaces 2000 Resultados do 1ordm inqueacuterito nacional sobre a Internet

em Portugal

URLlthttpciberfacesiscteptptdocumentosinq1-res1indexhtmlgt

Acedido em 11 de Abril de 2012

ldquoJornal francecircs lsquoLe Figarorsquo passa a cobrar por conteuacutedo on-linerdquo Folha de S Paulo 16 de

Fevereiro de 2010

URLlthttpwww1folhauolcombrfolhainformaticault124u694818shtmlgt

Acedido em 03 de Fevereiro de 2012

ldquoJusticcedila prorroga prazo para debate sobre Marco Civil na Internetrdquo Agecircncia Brasil 23 de

Maio de 2010

URLlthttpultimainstanciauolcombrconteudonoticias46764justica+prorrog

a+prazo+para+debate+sobre+marco+civil+na+internetshtmlgt

Acedido em 05 de Marccedilo de 2012

ldquoLei Sinde entraraacute em vigor em Marccedilordquo Link 15 de Fevereiro de 2012

URLlthttpblogsestadaocombrlinklei-sinde-entrara-em-vigor-em-marcogt

Acedido em 12 de Marccedilo de 2012

Meacuteceacutenat Global 2009 Introduction

URLlthttpmecenatglobalorgindex-frhtmlgt

Acedido em 12 de Junho de 2012

ldquoNaccedilotildees Unidas reconhecem o direito agrave liberdade de expressatildeo na Internetrdquo Puacuteblico 06

de Julho de 2012

URLlthttpwwwpublicoptTecnologianacoes-unidas-reconhecem-o-direito-a-

liberdade-de-expressao-na-internet-1553694gt

Acedido em 06 de Julho de 2012

ldquoNova lei de direitos autorais retrocessordquo Link 04 de Dezembro de 2011

URLlthttpblogsestadaocombrlinkretrocessogt

Acedido em 22 de Marccedilo de 2012

138

ldquo lsquoOu aprendemos a programar ou seremos programadosrsquo diz cientistardquo G1 17 de Junho

de 2012

URLlthttpg1globocomnaturezario20noticia201206ou-aprendemos-

programar-ou-seremos-programados-diz-cientistahtmlgt

Acedido em 04 de Julho de 2012

ldquoPara 4 em cada 5 pessoas Internet eacute direito fundamental diz pesquisardquo BBC Brasil 08

de Marccedilo de 2010

URLlthttpwwwbbccoukportugueselgnoticias201003100307_pesquisabbc

_internetmlshtmlsgt

Acedido em 07 de Junho de 2012

ldquoPirataria pode lsquomatar a culturarsquo diz MinCrdquo Link 21 de Marccedilo de 2012

URLlthttpblogsestadaocombrlinkpirataria-pode-matar-a-cultura-brasileira-

diz-mincgt

Acedido em 21 de Marccedilo de 2012

Peticcedilatildeo puacuteblica contra o PL118

URLlthttpwwwpeticaopublicacomPeticaoVeraspxpi=pl118naogt

Acedido em 10 de Fevereiro de 2012

ldquoSociedade civil mobiliza-se contra a Lei Azeredordquo 2008 Observatoacuterio do Direito agrave

Comunicaccedilatildeo 30 de Julho de 2008

URLlthttpwwwdireitoacomunicacaoorgbrcontentphpoption=com_content

amptask=viewampid=3791gt

Acedido em 21 de Abril de 2012

ldquoVendas de jornais diaacuterios caem 76rdquo Diaacuterio de Notiacutecias 01 de Setembro de 2009

URLlthttpwwwdnptiniciotvinterioraspxcontent_id=1349762ampseccao=Me

diagt Acedido em 23 de Janeiro de 2012

Vuze 2008 First Results from Vuze Network Monitoring Tool

Released April 18th 2008

URLlthttptorrentfreakcomimagesvuze-plug-in-resultspdfgt

Acedido em 18 de Marccedilo de 2012

Legislaccedilotildees e outros documentos oficiais

Assembleia da Repuacuteblica 1985 Coacutedigo do Direito de Autor e dos Direitos Conexos

Decreto-Lei nordm 6385 de 14 de Marccedilo

URLlthttpwwwspautoresptassets_live165codigododireitodeautorcdadclei16

2008pdfgt

Acedido em 21 de Abril de 2012

Assembleia da Repuacuteblica 1998 Lei nordm 6298 de 1 de Setembro Regula o disposto no

artigo 82ordm do Coacutedigo do Direito de Autor e dos Direitos Conexos sobre a

compensaccedilatildeo devida pela reproduccedilatildeo ou gravaccedilatildeo de obras

139

URLlthttpwwwspautoresptassets_live115lei62-98leidacopiaprivadapdfgt

Acedido em 07 de Abril de 2012

Assembleia da Repuacuteblica 2004 Lei nordm 502004 de 24 de Agosto Transpotildee para a ordem

juriacutedica nacional a Directiva nordm 200129CE do Parlamento Europeu e do

Conselho de 22 de Maio relativa agrave harmonizaccedilatildeo de certos aspectos do direito

de autor e dos direitos conexos na sociedade de informaccedilatildeo (quinta alteraccedilatildeo ao

Coacutedigo do Direito de Autor e dos Direitos Conexos e primeira alteraccedilatildeo agrave Lei nordm

6298 de 1 de Setembro)

URLlthttpappparlamentoptwebutilsdocsdocpdfpath=6148523063446f764

c3246795a5868774d546f334e7a67774c325276593342734c58526c65485242634

84a76646938794d4441304c3078664e5442664d6a41774e4335775a47593dampfich

=L_50_2004pdfampInline=truegt

Acedido em 16 de Abril de 2012

Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas 1948 Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos

URLlthttpportalmjgovbrsedhctlegis_internddh_bib_inter_universalhtmgt

Acedido em 07 de Junho de 2012

Autoridade Nacional de Comunicaccedilotildees (ANACOM) 2004 O comeacutercio electroacutenico em

Portugal o quadro legal e o negoacutecio

URLlthttpwwwanacomptstreamingmanual_comercio_elecpdfcategoryId=

103880ampcontentId=178219ampfield=ATTACHED_FILEgt

Acedido em 03 de Julho de 2012

Commission nationale de linformatique et des liberteacutes (CNIL) 1978 Loi du 6 janvier

1978 relative agrave lrsquoinformatique aux archives et aux liberteacutes

URLlthttpwwwcnilfrfileadmindocumentsapprofondirtextesCNIL-78-

17_definitive-annoteepdfgt

Acedido em 03 de Fevereiro de 2012

Conferecircncia Especializada Interamericana sobre Direitos Humanos 1969 Convenccedilatildeo

Americana de Direitos Humanos

URLlthttpwwwpgespgovbrcentrodeestudosbibliotecavirtualinstrumentoss

anjosehtmgt

Acedido em 07 de Junho e 2012

Congresso Nacional 2011 Projeto de Lei 21262011 Estabelece princiacutepios garantias

direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil

URLlthttpwwwcamaragovbrproposicoeswebfichadetramitacaoidProposica

o=517255gt

Acedido em 21 de Abril de 2012

Conselho Europeu 1991 Directiva ndeg 91250CEE do Conselho de 14 de Maio de 1991

relativa agrave protecccedilatildeo juriacutedica dos programas de computador

URLlthttpeur-

lexeuropaeuLexUriServLexUriServdouri=CELEX31991L0250PTHTMLgt

Acedido em 17 de Fevereiro de 2012

140

Convenccedilatildeo Universal sobre Direito de Autor 1952

URLlthttpwwwculturagovbrsitewp-

contentuploads200802convencao_universalpdfgt

Acedido em 21 de Abril de 2012

Ministeacuterio da Justiccedila do Brasil e Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas (FGV) 2009 Marco Civil da

Internet seus direitos e deveres em discussatildeo

URL lthttpculturadigitalbrmarcocivilgt

Acedido em 03 de Marccedilo de 2012

Monarquia Portuguesa 1826 Carta Constitucional de 29 de Abril de 1826

URLlthttpwwwfdunlptAnexosInvestigacao1557pdfgt

Acedido em 08 de Fevereiro de 2012

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas 2004 Cimeira Mundial sobre a Sociedade da

Informaccedilatildeo (WSIS)

URLlthttpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=enampid=1161|1160

gt

Acedido em 21 de Abril de 2012

Parlamento Europeu e Conselho 2006 Directiva nordm 9398CEE do Conselho de 29 de

Outubro de 1993 relativa agrave harmonizaccedilatildeo do prazo de protecccedilatildeo dos direitos de

autor e de certos direitos conexos

URLlthttpeur-

lexeuropaeuLexUriServLexUriServdouri=CELEX32006L0116PTHTMLgt

Acedido em 17 de Fevereiro de 2012

Presidecircncia da Repuacuteblica Federativa do Brasil 1827 Lei de 11 de Agosto de 1827 Crecirca

dous Cursos de sciencias Juridicas e Sociaes um na cidade de S Paulo e outro

na de Olinda

URLlthttpwwwplanaltogovbrccivil_03revistaRev_63Lei_1827htmgt

Acedido em 03 de Marccedilo de 2012

Presidecircncia da Repuacuteblica Federativa do Brasil 1998 Lei 9610 de 19 de Fevereiro de

1998 Altera atualiza e consolida a legislaccedilatildeo sobre direitos autorais e daacute outras

providecircncias

URLlthttpwwwculturagovbrsite20080202lei-no-9610-de-19-de-fevereiro-

de-1998gt

Acedido em 21 de Abril de 2012

Reacutepublique Franccedilaise et Ministegravere de la Culture et de la Communication 2008 Projet de

Loi Favorisant la Diffusion et la Protection de la Creacuteation sur Internet

URLlthttpwwwculturegouvfrcultureactualitesdossiersinternet-

creation08620-20Projet20de20loipdfgt

Acedido em 26 de Marccedilo de 2012

Senado Federal 2003 Projeto de Lei Substitutivo ao PL da Cacircmara nordm 89 de 2003 e

Projetos de Lei do Senado nordm 137 de 2000 e nordm 76 de 2000 todos referentes a

crimes na aacuterea de informaacutetica

URLlthttpwwwsafernetorgbrsiteinstitucionalprojetosobslegpl-azeredogt

141

Acedido em 21 de Abril de 2012

142

143

ANEXOS

144

145

ANEXO 1

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

146

M I N U T A D E A N T E P R O J E T O D E L E I P A R A D E B A T E C O L A B O R A T I V O S E Ccedil Atilde O I V R E V IS A D A

Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministeacuterio da Justiccedila

Esplanada dos Ministeacuterios Edifiacutecio Sede Sala 434 Brasiacutelia shy DF

httpculturadigitalbrmarcocivil

marcocivildainternetmjgovbr

identica twitter marcocivil

1

147

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

Brasiacutelia maio de 2010

2

148

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

APRESENTACcedilAtildeO

O debate sobre o marco civil eacute um debate aberto e colaborativo As opiniotildees dos

usuaacuterios satildeo levadas em consideraccedilatildeo natildeo soacute com o intuito de identificar as tendecircncias dos interesses da sociedade como tambeacutem em busca de refinamento das ideacuteias mecanismos e redaccedilotildees propostas O processo eacute incremental enriqueceshyse e aperfeiccediloashyse com a contribuiccedilatildeo de cada usuaacuterio refletindo a diversidade de interesses e perspectivas

Mais de 1500 comentaacuterios e contribuiccedilotildees foram recebidos ao longo das uacuteltimos

cinco meses E com o intuito de organizar ideacuteias e facilitar a necessaacuteria participaccedilatildeo nesta uacuteltima fase do processo o Marco Civil apresenta seu primeiro ldquobalanccedilordquo trazendo as principais propostas de alteraccedilatildeo do texto inicial

Ateacute o momento a necessidade de ajustes pontuais ndash seja na redaccedilatildeo seja nos conceitos ndash foi muito bem apontada pelos usuaacuterios as adequaccedilotildees pertinentes seratildeo gradualmente integradas agrave minuta em debate Temas como o tempo de guarda de registros de conexatildeo e a inclusatildeo de diretrizes relativas agrave educaccedilatildeo digital tambeacutem permearam as manifestaccedilotildees e serviratildeo para a maturaccedilatildeo do texto final

Os toacutepicos mais debatidos poreacutem dizem respeito agrave proposta de mecanismo voluntaacuterio que permite que os provedores de serviccedilos de internet sejam isentos de responsabilidade quanto a conteuacutedo publicado por terceiros No desenho apresentado a proposta inicial coloca como condiccedilatildeo para esta isenccedilatildeo a adoccedilatildeo voluntaacuteria de um mecanismo de resposta a notificaccedilotildees extrajudiciais ndash tanto daquele que se sente prejudicado quanto daquele que deseja identificandoshyse garantir a permanecircncia de seu conteuacutedo publicado

No entanto variadas manifestaccedilotildees ndash tanto no espaccedilo de debate aberto deste

site quanto em diversos espaccedilos fora dele ndash apontaram as dificuldades de implementaccedilatildeo de um mecanismo desta natureza em particular sobre os eventuais riscos a direitos constitucionalmente garantidos Tais manifestaccedilotildees sem duacutevida possuem fundamento e foram levadas em consideraccedilatildeo

Diante disso e com o intuito de dar um passo adiante no debate apresentamos novas

propostas de redaccedilatildeo para os artigos 20 a 24 que versam sobre a remoccedilatildeo de conteuacutedo gerado por terceiro

3

149

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

Minuta de anteprojeto de lei para debate colaborativo

SECcedilAtildeO IV REVISADA

Estabelece o Marco Civil da Internet no Brasil

O C O N G R E SS O N A C I O N A L decreta

C A P Iacute T U L O I D ISP O SI Ccedil Otilde E S P R E L I M I N A R E S

A r t 1ordm

Esta Lei estabelece direitos e deveres relativos ao uso da Internet no Brasil e determina

as diretrizes para atuaccedilatildeo da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios

em relaccedilatildeo agrave mateacuteria

A r t 2ordm

A disciplina do uso da Internet no Brasil tem como fundamentos o reconhecimento da

escala mundial da rede o exerciacutecio da cidadania em meios digitais os direitos humanos

a pluralidade a diversidade a abertura a livre iniciativa a livre concorrecircncia e a

colaboraccedilatildeo e observaraacute os seguintes princiacutepios

I ndash garantia da liberdade de expressatildeo comunicaccedilatildeo e manifestaccedilatildeo de pensamento

II ndash proteccedilatildeo da privacidade

III ndash proteccedilatildeo aos dados pessoais na forma da lei

IV ndash preservaccedilatildeo e garantia da neutralidade da rede

V ndash preservaccedilatildeo da estabilidade seguranccedila e funcionalidade da rede por meio de

medidas teacutecnicas compatiacuteveis com os padrotildees internacionais e pelo estiacutemulo ao uso de

boas praacuteticas e

VI ndash preservaccedilatildeo da natureza participativa da rede

Paraacutegrafo uacutenico Os princiacutepios expressos nesta Lei natildeo excluem outros previstos no

ordenamento juriacutedico paacutetrio relacionados agrave mateacuteria ou nos tratados internacionais em

que a Repuacuteblica Federativa do Brasil seja parte

A r t 3ordm

4

150

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

A disciplina do uso da Internet no Brasil tem os seguintes objetivos

I ndash garantir a todos os cidadatildeos o acesso agrave Internet

II ndash promover o acesso agrave informaccedilatildeo ao conhecimento e agrave participaccedilatildeo na vida cultural

III ndash fortalecer a livre iniciativa e a livre concorrecircncia

IV ndash promover a inovaccedilatildeo e fomentar a ampla difusatildeo de novas tecnologias e modelos

de uso e acesso e

V ndash promover a padronizaccedilatildeo a acessibilidade e a interoperabilidade a partir do uso de

padrotildees abertos

A r t 4ordm

Para os efeitos desta Lei considera-se

I ndash Internet o conjunto de meios de transmissatildeo comutaccedilatildeo e roteamento de dados

estruturados em escala mundial bem como os protocolos necessaacuterios agrave comunicaccedilatildeo

entre terminais incluiacutedos ainda os programas de computador especiacuteficos para esse fim

II ndash terminal computador ou dispositivo anaacutelogo que se conecte agrave Internet

III ndash administrador de sistema autocircnomo pessoa juriacutedica devidamente cadastrada junto

ao Registro de Endereccedilamento da Internet para Ameacuterica Latina e Caribe (LACNIC)

responsaacutevel por blocos especiacuteficos de nuacutemero IP (Internet protocol) e por um conjunto

de roteadores redes e linhas de comunicaccedilatildeo pela Internet que formem uma

infraestrutura delimitada por protocolos e meacutetricas comuns

IV ndash conexatildeo agrave Internet autenticaccedilatildeo de um terminal para envio e recebimento de

pacotes de dados pela Internet mediante a atribuiccedilatildeo de um nuacutemero IP

V ndash registro de conexatildeo o conjunto de informaccedilotildees referentes agrave data e hora de iniacutecio e

teacutermino de uma conexatildeo agrave Internet sua duraccedilatildeo e o nuacutemero IP utilizado pelo terminal

para o recebimento de pacotes de dados

VI ndash serviccedilos de Internet conjunto de serviccedilos diversos que podem ser acessados por

meio de um terminal conectado agrave Internet como por exemplo navegaccedilatildeo comunicaccedilatildeo

5

151

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

instantacircnea envio e recebimento de correspondecircncia eletrocircnica publicaccedilatildeo de obras

textuais ou audiovisuais em formato digital entre outros

VII ndash registros de acesso a serviccedilos de Internet o conjunto de informaccedilotildees referentes agrave

data e hora de uso de um determinado serviccedilo de Internet a partir de um determinado

nuacutemero IP

A r t 5ordm

Na interpretaccedilatildeo desta Lei levar-se-atildeo em conta aleacutem dos fundamentos princiacutepios e

objetivos previstos a natureza da Internet seus usos e costumes particulares e sua

importacircncia para a promoccedilatildeo do desenvolvimento humano econocircmico social e

cultural as exigecircncias do bem comum e os direitos e deveres individuais e

transindividuais

C A P Iacute T U L O I I

D O S D I R E I T O S E G A R A N T I A S D O S USU Aacute R I O S A r t 6ordm O acesso agrave Internet eacute direito do cidadatildeo fundamental ao exerciacutecio da cidadania agraves

liberdades de manifestaccedilatildeo do pensamento e de expressatildeo e agrave garantia do acesso agrave

informaccedilatildeo

A r t 7ordm

O usuaacuterio de Internet tem direito

I ndash agrave inviolabilidade e ao sigilo de suas comunicaccedilotildees salvo por ordem judicial nas

hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigaccedilatildeo criminal ou

instruccedilatildeo processual penal

II ndash agrave natildeo suspensatildeo ou degradaccedilatildeo da qualidade contratada da conexatildeo agrave Internet nos

termos do art 12 salvo por deacutebito diretamente decorrente de sua utilizaccedilatildeo

III ndash a informaccedilotildees claras e completas constantes dos contratos de prestaccedilatildeo de serviccedilos

estabelecendo o regime de proteccedilatildeo aos seus dados pessoais registros de conexatildeo e

registros de acesso a serviccedilos de Internet bem como sobre praacuteticas de gerenciamento da

rede que possam afetar a qualidade do serviccedilo oferecido e

6

152

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

IV ndash agrave natildeo divulgaccedilatildeo ou uso de seus registros de conexatildeo e registros de acesso a

serviccedilos de Internet salvo mediante seu consentimento expresso ou em decorrecircncia de

determinaccedilatildeo judicial

A r t 8ordm

A garantia do direito agrave privacidade e agrave liberdade de expressatildeo nas comunicaccedilotildees eacute

condiccedilatildeo para o pleno exerciacutecio do direito de acesso agrave Internet

Paraacutegrafo uacutenico O exerciacutecio do direito agrave privacidade e agrave liberdade de expressatildeo autoriza

aos usuaacuterios da Internet a livre opccedilatildeo por medidas de seguranccedila direcionadas a

salvaguardar a proteccedilatildeo de dados pessoais e o sigilo das comunicaccedilotildees

C A P Iacute T U L O I I I

A P R O V IS Atilde O D E C O N E X Atilde O E D E S E R V I Ccedil O S D E I N T E R N E T Seccedilatildeo I

D isposiccedilotildees G e r ais

A r t 9ordm

A provisatildeo de conexatildeo agrave Internet impotildee a obrigaccedilatildeo de guardar apenas os registros de

conexatildeo nos termos da Subseccedilatildeo I da Seccedilatildeo III deste Capiacutetulo ficando vedada a guarda

de registros de acesso a serviccedilos de Internet pelo provedor

Paraacutegrafo uacutenico O provedor de conexatildeo a Internet fica impedido de monitorar filtrar

analisar ou fiscalizar o conteuacutedo dos pacotes de dados salvo para administraccedilatildeo teacutecnica

de traacutefego nos termos do art 12

A r t 10

A provisatildeo de serviccedilos de Internet onerosa ou gratuita natildeo impotildee ao provedor a

obrigaccedilatildeo de monitorar filtrar analisar ou fiscalizar o conteuacutedo dos pacotes de dados

tampouco de guardar registros de acesso a serviccedilos de Internet salvo em qualquer dos

casos por ordem judicial especiacutefica observado o disposto no art 18

Paraacutegrafo uacutenico Para efeitos deste dispositivo os usuaacuterios que detenham poderes de

moderaccedilatildeo sobre o conteuacutedo de terceiros se equiparam aos provedores de serviccedilos de

Internet

A r t 11

7

153

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

A responsabilizaccedilatildeo do provedor de serviccedilos de Internet por danos decorrentes de

conteuacutedo gerado por terceiros fica condicionada ao descumprimento dos procedimentos

previstos na Seccedilatildeo IV deste Capiacutetulo

Seccedilatildeo I I

Do t r aacutefego de dados

A r t 12

O responsaacutevel pela transmissatildeo comutaccedilatildeo ou roteamento tem o dever de tratar de

forma isonocircmica quaisquer pacotes de dados conteuacutedo serviccedilo terminal ou aplicativo

sendo vedado estabelecer qualquer discriminaccedilatildeo ou degradaccedilatildeo do traacutefego que natildeo

decorra de requisitos teacutecnicos destinados a preservar a qualidade contratual do serviccedilo

Seccedilatildeo I I I

Dos r egist ros de dados

Subseccedilatildeo I

D a gua r da de r egist ros de conexatildeo

A r t 13

A guarda e a disponibilizaccedilatildeo dos registros de conexatildeo a que esta lei faz referecircncia

devem atender agrave preservaccedilatildeo da intimidade vida privada honra e imagem das partes

direta ou indiretamente envolvidas

A r t 14

A provisatildeo de conexatildeo agrave Internet impotildee ao administrador do sistema autocircnomo

respectivo o dever de manter os registros de conexatildeo sob sigilo em ambiente

controlado e de seguranccedila pelo prazo maacuteximo de 6 (seis) meses nos termos do

regulamento

Paraacutegrafo uacutenico O dever de manter os registros de conexatildeo natildeo poderaacute ser transferido

A r t 15

8

154

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

Na guarda de registros de conexatildeo

I ndash os registros de conexatildeo somente poderatildeo ser fornecidos a terceiros mediante ordem

judicial ou por autorizaccedilatildeo preacutevia e expressa do respectivo usuaacuterio

II ndash os dados cadastrais somente poderatildeo ser disponibilizados de maneira vinculada aos

registros de conexatildeo mediante ordem judicial e

III ndash as medidas e procedimentos de seguranccedila e sigilo dos registros de conexatildeo e dos

dados cadastrais devem ser informados de forma clara aos usuaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Os procedimentos de seguranccedila necessaacuterios agrave preservaccedilatildeo do sigilo e

da integridade dos registros de conexatildeo e dos dados cadastrais referidos neste artigo

deveratildeo atender a padrotildees adequados a serem definidos por meio de regulamento

Subseccedilatildeo I I

D a gua r da de r egist ros de acesso a se r viccedilos de I nte r net

A r t 16

A guarda de registros de acesso a serviccedilos de Internet dependeraacute de autorizaccedilatildeo

expressa do usuaacuterio e deveraacute obedecer ao que segue sem prejuiacutezo agraves demais normas e

diretrizes relativas agrave proteccedilatildeo de dados pessoais

I ndash informaccedilatildeo preacutevia ao usuaacuterio sobre a natureza finalidade periacuteodo de conservaccedilatildeo

poliacuteticas de seguranccedila e destinaccedilatildeo das informaccedilotildees guardadas facultando-lhe o acesso

retificaccedilatildeo e atualizaccedilatildeo sempre que solicitado

II ndash consentimento livre e informado do usuaacuterio previamente ao tratamento agrave

distribuiccedilatildeo a terceiros ou agrave publicaccedilatildeo das informaccedilotildees coletadas e

III ndash os dados que permitam a identificaccedilatildeo do usuaacuterio somente poderatildeo ser

disponibilizados de maneira vinculada aos registros de acesso a serviccedilos de Internet

mediante ordem judicial

A r t 17

Os danos causados aos titulares de dados pessoais devem ser reparados nos termos da

lei

Subseccedilatildeo I I I

D a p roteccedilatildeo ao sigilo das comunicaccedilotildees pela I nte r net

9

155

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

A r t 18

Os procedimentos de interceptaccedilatildeo escuta ou disponibilizaccedilatildeo de conteuacutedo das

comunicaccedilotildees pela Internet somente poderatildeo ocorrer para fins de persecuccedilatildeo penal e

seratildeo regulados pela lei que trata da interceptaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo telefocircnica e dados

telemaacuteticos

Seccedilatildeo I V

D a r emoccedilatildeo de conteuacutedo

A r t 19

O provedor de conexatildeo agrave Internet natildeo seraacute responsabilizado por danos decorrentes de

conteuacutedo gerado por terceiros

A r t 20

O provedor de serviccedilo de Internet somente poderaacute ser responsabilizado por danos

decorrentes de conteuacutedo gerado por terceiros se for notificado pelo ofendido e natildeo

tomar as providecircncias para no acircmbito do seu serviccedilo e dentro de prazo razoaacutevel tornar

indisponiacutevel o conteuacutedo apontado como infringente

sect 1ordm Os provedores de serviccedilos de Internet devem oferecer de forma ostensiva ao

menos um canal eletrocircnico dedicado ao recebimento de notificaccedilotildees e

contranotificaccedilotildees

sect 2ordm Eacute facultado ao provedor de serviccedilos de Internet criar mecanismo automatizado

para atender aos procedimentos dispostos nesta Seccedilatildeo

P R O P O S T A D E N O V A R E D A Ccedil Atilde O

O provedor de serviccedilo de internet somente poderaacute ser responsabilizado por danos

decorrentes de conteuacutedo gerado por terceiros se apoacutes intimado para cumprir ordem

judicial a respeito natildeo tomar as providecircncias para no acircmbito do seu serviccedilo e dentro do

prazo assinalado tornar indisponiacutevel o conteuacutedo apontado como infringente

A r t 21

1

156

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

A notificaccedilatildeo de que trata o art 20 deveraacute conter sob pena de invalidade

I ndash identificaccedilatildeo do notificante incluindo seu nome completo seus nuacutemeros de registro

civil e fiscal e dados atuais para contato

II ndash data e hora de envio

III ndash identificaccedilatildeo clara e especiacutefica do conteuacutedo apontado como infringente que

permita a localizaccedilatildeo inequiacutevoca do material pelo notificado

IV ndash descriccedilatildeo da relaccedilatildeo entre o notificante e o conteuacutedo apontado como infringente e

V ndash justificativa juriacutedica para a remoccedilatildeo

P R O P O S T A D E N O V A R E D A Ccedil Atilde O

A intimaccedilatildeo de que trata o art 20 deveraacute conter sob pena de invalidade

I ndash identificaccedilatildeo da parte que solicitou a remoccedilatildeo do conteuacutedo incluindo seu nome

completo seus nuacutemeros de registro civil e fiscal e dados atuais para contato

II ndash identificaccedilatildeo clara e especiacutefica do conteuacutedo apontado como infringente que permita

a localizaccedilatildeo inequiacutevoca do material

III ndash descriccedilatildeo da relaccedilatildeo existente entre a parte solicitante e o conteuacutedo apontado como

infringente

IV ndash justificativa juriacutedica para a remoccedilatildeo

A r t 22

Ao tornar indisponiacutevel o acesso ao conteuacutedo caberaacute ao provedor do serviccedilo informar o

fato ao usuaacuterio responsaacutevel pela publicaccedilatildeo comunicando-lhe o teor da notificaccedilatildeo de

remoccedilatildeo e fixando prazo razoaacutevel para a eliminaccedilatildeo definitiva do conteuacutedo

Paraacutegrafo uacutenico Caso o usuaacuterio responsaacutevel pelo conteuacutedo infringente natildeo seja

identificaacutevel ou natildeo possa ser localizado e desde que presentes os requisitos de

validade da notificaccedilatildeo cabe ao provedor de serviccedilo manter o bloqueio

P R O P O S T A D E N O V A R E D A Ccedil Atilde O

Ao tornar indisponiacutevel o acesso ao conteuacutedo caberaacute ao provedor do serviccedilo informar o

fato ao usuaacuterio responsaacutevel pela publicaccedilatildeo comunicando-lhe o teor da intimaccedilatildeo nos

1

157

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

casos em que o usuaacuterio responsaacutevel seja identificaacutevel

A r t 23

Eacute facultado ao usuaacuterio responsaacutevel pela publicaccedilatildeo observados os requisitos do art 21

contranotificar o provedor de serviccedilo requerendo a manutenccedilatildeo do conteuacutedo e

assumindo a responsabilidade exclusiva pelos eventuais danos causados a terceiros

caso em que caberaacute ao provedor de serviccedilo o dever de restabelecer o acesso ao conteuacutedo

indisponibilizado e informar ao notificante o restabelecimento

Paraacutegrafo uacutenico Qualquer outra pessoa interessada fiacutesica ou juriacutedica observados os

requisitos do art 21 poderaacute contranotificar o prestador de serviccedilo assumindo a

responsabilidade pela manutenccedilatildeo do conteuacutedo

P R O P O S T A D E N O V A R E D A Ccedil Atilde O

Os usuaacuterios que detenham poderes de moderaccedilatildeo sobre o conteuacutedo de terceiros se

equiparam aos provedores de serviccedilos de Internet para efeitos do disposto nesta Seccedilatildeo

A r t 24

Tanto o notificante quanto o contranotificante respondem nos termos da lei por

informaccedilotildees falsas errocircneas e pelo abuso ou maacute-feacute

P R O P O S T A D E SU P R E SS Atilde O

A r t 25

Os usuaacuterios que detenham poderes de moderaccedilatildeo sobre o conteuacutedo de terceiros se

equiparam aos provedores de serviccedilos de Internet para efeitos do disposto nesta Seccedilatildeo

Seccedilatildeo V

D a r equisiccedilatildeo j udicial de r egist ros

1

158

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

A r t 26

A parte interessada poderaacute para o exclusivo propoacutesito de formar conjunto probatoacuterio

em processo judicial requerer ao juiz a expediccedilatildeo de requisiccedilatildeo solicitando ao

responsaacutevel pela guarda o fornecimento de registros de conexatildeo ou de acesso a serviccedilo

de Internet

Paraacutegrafo uacutenico No requerimento de requisiccedilatildeo judicial a parte deveraacute fazer constar

I ndash a descriccedilatildeo pormenorizada de indiacutecios razoaacuteveis da ocorrecircncia do iliacutecito

II ndash a justificativa motivada da utilidade dos registros solicitados para fins de

investigaccedilatildeo do iliacutecito e

III ndash periacuteodo ao qual se referem os registros

A r t 27

A requisiccedilatildeo judicial de fornecimento de registros obedeceraacute aos ritos processuais

cabiacuteveis observado o que segue

sect 1ordm A requisiccedilatildeo de fornecimento de registros de acesso a serviccedilos de Internet fica

sujeita agrave comprovaccedilatildeo de que o responsaacutevel manteacutem a guarda com a autorizaccedilatildeo

expressa dos usuaacuterios obedecido o disposto no art 16

sect 2ordm Caso o fornecimento dos registros de acesso a serviccedilos de Internet natildeo seja

necessaacuterio para os fins da investigaccedilatildeo cabe ao juiz limitar a requisiccedilatildeo apenas ao

fornecimento dos registros de conexatildeo

sect 3ordm Cabe ao juiz tomar as providecircncias necessaacuterias agrave garantia do sigilo do conteuacutedo

das comunicaccedilotildees e agrave preservaccedilatildeo da intimidade vida privada honra e imagem do

usuaacuterio podendo inclusive determinar o segredo de justiccedila em relaccedilatildeo agraves informaccedilotildees

recebidas

C A P Iacute T U L O I V

D A A T U A Ccedil Atilde O D O P O D E R P Uacute B L I C O A r t 28 Constituem diretrizes para a atuaccedilatildeo da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos

Municiacutepios no desenvolvimento da Internet no Brasil

I ndash estabelecimento de mecanismos de governanccedila transparentes colaborativos e

democraacuteticos com a participaccedilatildeo dos vaacuterios setores da sociedade

II ndash promoccedilatildeo da racionalizaccedilatildeo e da interoperabilidade tecnoloacutegica dos serviccedilos de

1

159

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

governo eletrocircnico nos diferentes niacuteveis da federaccedilatildeo para permitir o intercacircmbio de

informaccedilotildees e a agilizaccedilatildeo de procedimentos

III ndash promoccedilatildeo da interoperabilidade entre sistemas e terminais diversos inclusive entre

os diferentes niacuteveis federativos e diversos setores da sociedade

IV ndash adoccedilatildeo preferencial de tecnologias padrotildees e formatos abertos

V ndash publicizaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de dados e informaccedilotildees puacuteblicos de forma aberta e

estruturada

VI ndash otimizaccedilatildeo da infraestrutura das redes promovendo a qualidade teacutecnica a

inovaccedilatildeo e a disseminaccedilatildeo dos serviccedilos de Internet sem prejuiacutezo agrave abertura

neutralidade e natureza participativa

VII ndash desenvolvimento de accedilotildees e programas de capacitaccedilatildeo para uso da internet

VIII ndash promoccedilatildeo da cultura e da cidadania inclusive pela prestaccedilatildeo mais dinacircmica e

eficiente de serviccedilos puacuteblicos

IX ndash uso eficiente de recursos puacuteblicos e dos serviccedilos finaliacutesticos disponibilizados ao

cidadatildeo e

X ndash prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos de atendimento ao cidadatildeo de forma integrada

simplificada e por muacuteltiplos canais de acesso

A r t 29

Os siacutetios e portais de entes do Poder Puacuteblico devem buscar

I ndash compatibilidade dos serviccedilos de governo eletrocircnico com diversos terminais sistemas

operacionais e aplicativos para seu acesso

II ndash acessibilidade a todos os interessados independentemente de suas capacidades

fiacutesico-motoras perceptivas culturais e sociais resguardados os aspectos de sigilo e

restriccedilotildees administrativas e legais

III ndash compatibilidade tanto agrave leitura humana como ao tratamento por maacutequinas

IV ndash facilidade de uso dos serviccedilos de governo eletrocircnico e

V ndash fortalecimento da democracia participativa

A r t 30

O cumprimento do dever constitucional do Estado na prestaccedilatildeo da educaccedilatildeo em todos

os niacuteveis de ensino abarca a capacitaccedilatildeo para o uso da Internet como ferramenta de

exerciacutecio de cidadania promoccedilatildeo de cultura e desenvolvimento tecnoloacutegico

sect 1ordm Sem prejuiacutezo das atribuiccedilotildees do poder puacuteblico o Estado fomentaraacute iniciativas

privadas que promovam a Internet como ferramenta educacional

sect 2ordm A capacitaccedilatildeo para o uso da Internet deve ocorrer integrada a outras praacuteticas

educacionais

1

160

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

A r t 31 As iniciativas puacuteblicas de fomento agrave cultura digital e de promoccedilatildeo da Internet como

ferramenta social devem

I ndash buscar minimizar as desigualdades sobretudo as regionais no acesso agrave informaccedilatildeo

e

II ndash promover a inclusatildeo digital de toda a populaccedilatildeo especialmente a de baixa renda

A r t 32

O Estado deve buscar formular e fomentar estudos perioacutedicos regulares e

periodicamente fixar metas estrateacutegias planos e cronogramas referentes ao uso e

desenvolvimento da Internet no paiacutes

C A P Iacute T U L O V

D ISP O SI Ccedil Otilde E S F I N A IS A r t 33 A defesa dos interesses e direitos dos usuaacuterios da Internet poderaacute ser exercida em juiacutezo

individualmente ou a tiacutetulo coletivo na forma do disposto nos artigos 81 e 82 da Lei

8078 de 11 de setembro de 1990

A r t 34

Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

1

161

ANEXO 2

162

PROJECTO DE LEI Nordm 118XII

ldquoAprova o regime juriacutedico da Coacutepia Privada e altera o artigo 47ordm do Coacutedigo do

Direito de Autor e dos Direitos Conexos ndash Seacutetima alteraccedilatildeo ao Decreto-Lei nordm

6385 de 14 de Marccedilordquo

Exposiccedilatildeo de motivos

O presente projecto de lei visa reforccedilar o legiacutetimo interesse dos diversos titulares de

direitos abrangidos pelo regime normalmente designado por ldquocoacutepia privadardquo mediante a

criaccedilatildeo de condiccedilotildees que garantam a percepccedilatildeo de uma compensaccedilatildeo equitativa pela

reproduccedilatildeo de obras intelectuais prestaccedilotildees e produtos legalmente protegidos procedendo agrave

regulamentaccedilatildeo do artigo 82ordm do Coacutedigo do Direito de Autor e Direitos Conexos

(CDADC)

O regime da coacutepia privada actualmente em vigor consta da Lei nordm 6298 de 1 de

Setembro alterada pela Lei nordm 502004 de 24 de Agosto e decorridos 6 anos a

experiecircncia mostra que eacute tempo de o rever com alguma profundidade

Como eacute sabido tradicionalmente o uso privado de obras intelectuais por diversas razotildees

tem estado fora do exclusivo reconhecido aos titulares de direitos em sede de propriedade

intelectual

O surgimento na segunda metade do seacuteculo XX de equipamentos e aparelhos capazes de

assegurar a reproduccedilatildeo em massa de obras de uma forma incontrolada pocircs em causa o

direito de reproduccedilatildeo de obras protegidas reconhecido aos autores no acircmbito do

monopoacutelio que lhes eacute legalmente outorgado no domiacutenio das suas faculdades de direito

163

patrimonial e obrigou os legisladores a intervir E ainda que possa ser objecto de criacutetica

cientiacutefica o recurso agrave menccedilatildeo de coacutepia privada para delimitar a presente iniciativa

legislativa optou-se por essa terminologia por ser de utilizaccedilatildeo comum e corresponder agrave

formulaccedilatildeo adoptada na Directiva 200129CE de 22 de Maio de 2001 relativa agrave

harmonizaccedilatildeo de certos aspectos do direito de autor e dos direitos conexos na sociedade de

informaccedilatildeo

A remuneraccedilatildeo compensatoacuteria por coacutepia privada constitui um instrumento que visa

conciliar de um lado o interesse patrimonial do autor detentor do exclusivo das

faculdades de exploraccedilatildeo econoacutemica da obra em qualquer suporte e em particular o

direito de reproduccedilatildeo por outro lado adequa agrave realidade tecnoloacutegica actual que coloca ao

alcance da larga maioria dos cidadatildeos sem possibilidade de um controlo individualizado a

obtenccedilatildeo de coacutepias de obras protegidas para seu uso privado

O modo concreto de permitir a efectivaccedilatildeo de uma compensaccedilatildeo equitativa a favor dos

titulares de direitos eacute o de fazer incidir taxas sobre o preccedilo de venda ao puacuteblico dos

equipamentos e suportes que permitem a reproduccedilatildeo de obras protegidas

O regime instituiacutedo segue o modelo e as melhores praacuteticas vigentes nos Estados da Uniatildeo

Europeia (UE) em especial da Espanha Franccedila Beacutelgica Alemanha Holanda Itaacutelia e

Finlacircndia devidamente adaptado agrave situaccedilatildeo sociocultural e econoacutemica portuguesa

Introduzem-se igualmente inovaccedilotildees julgadas pertinentes e que dotam o nosso paiacutes de uma

legislaccedilatildeo actual e efectivamente protectora dos legiacutetimos direitos e interesses dos titulares

de direitos

Por outro lado a coacutepia privada natildeo eacute objecto de normaccedilatildeo nos principais tratados e

convenccedilotildees multilaterais pelo que cabe um amplo espaccedilo de liberdade aos Estados na

criaccedilatildeo do respectivo regime juriacutedico na ordem interna enquadrado pelo princiacutepio da

reciprocidade nas relaccedilotildees bilaterais No caso da UE a coacutepia privada como compensaccedilatildeo

equitativa consta das aliacuteneas a) e b) do nordm 2 do artigo 5ordm Directiva 200129CE de 22 de

Maio de 2001 sobre o direito de autor na sociedade da informaccedilatildeo

164

No texto do presente projecto lei eacute utilizada a noccedilatildeo de compensaccedilatildeo equitativa em vez da

noccedilatildeo de remuneraccedilatildeo equitativa ateacute agora mais usada na legislaccedilatildeo portuguesa Para esta

mudanccedila teve-se em devida conta o disposto no recente acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila da

Uniatildeo Europeia (TJUE) (processo C-46708 Padawan SL c SGAE Terceira Secccedilatildeo de

21 de Outubro de 2010) que considerou harmonizada no espaccedilo territorial da UE aquela

noccedilatildeo

De forma a acompanhar a realidade e as incessantes inovaccedilotildees do mercado tecnoloacutegico o

presente projecto considera que o regime deve abranger natildeo soacute os aparelhos e suportes

analoacutegicos mas tambeacutem os digitais garantindo-se assim aos titulares de direitos uma

razoaacutevel e justa compensaccedilatildeo pelos danos sofridos pela praacutetica social da coacutepia privada que

natildeo eacute assegurada pelo regime actualmente em vigor

Por outro lado a garantia de uma razoaacutevel e justa compensaccedilatildeo eacute tambeacutem obtida atraveacutes

da alteraccedilatildeo dos criteacuterios definidores da aplicaccedilatildeo da compensaccedilatildeo equitativa agora fixados

tendo em conta as linhas de orientaccedilatildeo indicadas no considerando 35 da directiva

comunitaacuteria 200129CE de 22 de Maio de 2001 relativa ao direito de autor na sociedade

da informaccedilatildeo

Por outro lado e por se considerar mais adequado no plano sistemaacutetico o texto do

projecto de lei procede a um tratamento diferenciado entre a designada reprografia e a

coacutepia privada stricto sensu agrave semelhanccedila do que consta na directiva europeia No caso da

reprografia mantecircm-se o direito reconhecido na legislaccedilatildeo portuguesa aos editores

conquanto limitado ao mundo analoacutegico conforme estipula a aliacutenea b) do nordm 1 do artigo

76ordm do CDADC O texto do projecto lei actualiza ainda a noccedilatildeo de reprografia adaptando

a normaccedilatildeo agraves novas realidades tecnoloacutegicas criadas com o ambiente digital

Para a reprografia e no seguimento da referida alteraccedilatildeo dos criteacuterios definidores da

aplicaccedilatildeo da compensaccedilatildeo equitativa altera-se a taxa de 3 sobre o preccedilo de venda dos

equipamentos que permitem a reproduccedilatildeo ateacute agora vigente adoptando-se um modelo

assente na indicaccedilatildeo do montante pecuniaacuterio concreto aplicaacutevel a cada equipamento em

funccedilatildeo das respectivas caracteriacutesticas e preccedilo Trata-se de uma modalidade que se julga

melhor adaptada ao funcionamento do mercado sendo o novo texto mais claro ao prever

uma incidecircncia universal sobre os aparelhos que realizam essa funccedilatildeo

165

Os equipamentos e suportes analoacutegicos e digitais abrangidos pelo regime satildeo identificados

em anexo agrave proposta As taxas propostas de acordo com a capacidade de reproduccedilatildeo e

armazenagem dos suportes correspondem a valores justos e razoaacuteveis na busca sempre

difiacutecil de obtenccedilatildeo de um justo equiliacutebrio entre os interesses contraditoacuterios em presenccedila

Nestes casos os devedores principais do pagamento das compensaccedilotildees equitativas satildeo os

fabricantes e importadores de equipamentos e suportes de reproduccedilatildeo de obras

intelectuais A tiacutetulo subsidiaacuterio e no sentido de moralizar o sistema evitando-se fugas

regulares ao cumprimento das obrigaccedilotildees institui-se tambeacutem como devedores os

distribuidores grossistas e retalhistas dos indicados aparelhos

Quanto ao valor da taxa a aplicar sobre o preccedilo das fotocoacutepias relativas a obras protegidas

tambeacutem este deixa de ser definido com base numa taxa de 3 passando a ser fixada em

002 euros por coacutepia O valor indicado teve em conta que o preccedilo habitual no mercado de

uma coacutepia varia entre 006 e 008 euros pelo que parece justo que cerca de 14 dessa

quantia reverta a favor de autores e editores O objectivo desta soluccedilatildeo relativamente

inovadora mesmo na Uniatildeo Europeia eacute o de alcanccedilar um modo que garanta aos autores e

editores uma efectiva percepccedilatildeo de uma compensaccedilatildeo equitativa realmente operativa o que

natildeo aconteceu ateacute hoje

Este modelo eacute ainda complementado com integraccedilatildeo dos respectivos procedimentos num

regime de celebraccedilatildeo de acordos entre os estabelecimentos que se dedicam agrave reprografia e a

entidade gestora das compensaccedilotildees que se julga mais simples e adequado para todos os

intervenientes Em ordem a facilitar a celebraccedilatildeo destes acordos prevecirc-se que seja definido

por portaria um modelo de acordo a utilizar pelos intervenientes no acircmbito das suas

negociaccedilotildees

Prevecirc-se numa outra medida inovadora de largo alcance que as compensaccedilotildees de autores e

de artistas natildeo possam ser renunciaacuteveis e objecto de alienaccedilatildeo assim indo ao encontro

tambeacutem dos que reclamam uma maior e mais efectiva protecccedilatildeo para os criadores e para a

criaccedilatildeo cultural Conquanto naturalmente se reconheccedila que as faculdades patrimoniais na

propriedade intelectual possam na generalidade ser cedidas ou transmitidas a verdade eacute que

166

existem jaacute hoje excepccedilotildees sendo que nada impede que o regime da coacutepia privada possa

contemplar essa previsatildeo

Prevecirc-se ainda que na reparticcedilatildeo das remuneraccedilotildees atribuiacutedas aos autores no domiacutenio da

reprografia os autores de obras cientiacuteficas e escolares sejam contemplados com 75 das

receitas liacutequidas obtidas o que se considera justo uma vez que a reprografia tem uma

especial incidecircncia neste tipo de obras

A presente proposta manteacutem a tradiccedilatildeo de a cobranccedila gestatildeo e distribuiccedilatildeo das

compensaccedilotildees equitativas ser assegurada mediante a gestatildeo colectiva obrigatoacuteria o que eacute

comum na UE

No sentido de garantir um regime de rigor e de maior transparecircncia no exerciacutecio da gestatildeo

colectiva contempla-se a previsatildeo de que a pessoa colectiva gestora da reprografia e da

coacutepia privada natildeo deve gastar nas despesas de funcionamento mais do que 20 do volume

global de receitas obtidas em cada exerciacutecio anual

Prevecirc-se que a reprografia e a coacutepia privada sejam geridas por uma uacutenica pessoa colectiva e

natildeo duas Haacute a percepccedilatildeo de que no mercado nacional muito dificilmente seraacute possiacutevel

garantir com viabilidade econoacutemica duas entidades ainda por cima num contexto

econoacutemico deprimido nos proacuteximos tempos Por outro lado importa considerar os

dinamismos existentes agrave escala europeia que vatildeo no sentido da concentraccedilatildeocentralizaccedilatildeo

da gestatildeo colectiva aspecto reclamado por titulares de direitos e utilizadoresconsumidores

de obras protegidas

Prevecirc-se ainda o recurso agrave mediaccedilatildeo e arbitragem em caso de emergecircncia de litiacutegios por se

considerar este meio bastante mais ceacutelere do que o tribunal sendo apropriado agrave resoluccedilatildeo

das controveacutersias que surjam neste domiacutenio de actividade

Por fim mas natildeo menos importantes e embora natildeo directamente abrangido pelo regime da

coacutepia privada aproveita-se a oportunidade para dar nova redacccedilatildeo ao artigo 47ordm do Coacutedigo

de Direitos de Autor e dos Direitos Conexos visando aplicar agraves penhoras que incidam

sobre rendimentos dos autores o regime aplicaacutevel aos rendimentos auferidos no acircmbito de

contratos de trabalho clarificando-se uma situaccedilatildeo que ateacute agora suscitava dificuldades

167

interpretativas nos tribunais geradoras nalguns casos de decisotildees lesivas de justas

expectativas dos criadores intelectuais Trata-se de uma medida justa particularmente no

actual contexto de crise econoacutemica reclamada pelos autores e inclusivamente jaacute

recomendada pelo Provedor de Justiccedila

Assim nos termos constitucionais legais e regimentais aplicaacuteveis os deputados do Partido

Socialista abaixo-assinados apresentam o presente

PROJECTO DE LEI

Artigo 1ordm

Regime juriacutedico da coacutepia privada

Eacute aprovado o regime juriacutedico da coacutepia privada que se publica em anexo agrave presente lei e dela

faz parte integrante

Artigo 2ordm

Alteraccedilatildeo ao Coacutedigo do Direito de Autor e dos Direitos Conexos

O artigo 47ordm do Coacutedigo do Direito de Autor e dos Direitos Conexos aprovado pelo

Decreto-Lei nordm 6385 de 14 de Marccedilo na redacccedilatildeo dada pelas Leis nordms 4585 de 17 de

Setembro e 11491 de 3 de Setembro pelos Decretos-Lei nordms 33297 e 33497 ambos

de 27 de Novembro e pelas Leis nordm 502004 de 24 de Agosto e nordm 162008 de 1 de

Abril passa a ter a seguinte redacccedilatildeo

1-[Anterior nuacutemero uacutenico]

laquoArtigo 47ordm

[hellip]

2ndash Em caso de penhora do direito patrimonial do criador da obra aplica-se o regime fixado

para os rendimentos provenientes do trabalho por conta de outremraquo

Artigo 3ordm

Revogaccedilatildeo

Eacute revogada a Lei nordm 6298 de 1 de Setembro

168

Artigo 4ordm

Disposiccedilatildeo transitoacuteria

1 ndash A entidade gestora das compensaccedilotildees mandatada e legitimada para proceder agrave

cobranccedila gestatildeo e distribuiccedilatildeo das compensaccedilotildees agrave data da entrada em vigor da presente

lei manteacutem-se em actividade devendo rever os respectivos estatutos no prazo de 45 dias

apoacutes a entrada em vigor da presente lei

2 ndash As licenccedilas ou acordos celebrados nos termos da Lei nordm 6298 de 1 de Setembro

mantecircm-se em vigor devendo ser adaptados ao disposto no artigo 7ordm do regime juriacutedico da

coacutepia privada anexo agrave presente lei no prazo de 90 dias apoacutes a entrada em vigor da presente

lei

3 - As entidades abrangidas pelo artigo 7ordm do regime juriacutedico da coacutepia privada anexo agrave

presente lei cujo inicio de actividade se iniciou em data anterior agrave entrada em vigor da

presente lei e que natildeo celebraram acordo ou licenccedila ao abrigo da Lei nordm 6298 de 1 de

Setembro devem celebrar os acordos no prazo de 90 dias apoacutes a entrada em vigor da

presente lei

Artigo 5ordm Entrada em vigor

A presente lei entra em vigor trinta dias apoacutes a data da sua publicaccedilatildeo

169

ANEXO

REGIME JURIacuteDICO DA COacutePIA PRIVADA

Artigo 1ordm

(Objecto)

1 - O presente regime regula o artigo 82ordm do Coacutedigo do Direito de Autor e dos Direitos

Conexos aprovado pelo Decreto-Lei nordm 6385 de 14 de Marccedilo na redacccedilatildeo dada pelas

Leis nordms 4585 de 17 de Setembro e 11491 de 3 de Setembro pelos Decretos-Lei nordms

33297 e 33497 ambos de 27 de Novembro e pelas Leis nordm 502004 de 24 de Agosto e

nordm 162008 de 1 de Abril

2 - O disposto no presente regime natildeo se aplica aos programas de computador nem agraves

bases de dados constituiacutedas por meios electroacutenicos

Artigo 2ordm

Compensaccedilatildeo equitativa

Os titulares de direitos autores editores artistas inteacuterpretes ou executantes produtores de

fonogramas e de videogramas gozam do direito agrave percepccedilatildeo de uma compensaccedilatildeo

equitativa pela reproduccedilatildeo de obras protegidas para fins de uso privado nos termos

previstos no presente regime

Artigo 3ordm

(Compensaccedilatildeo equitativa pela reprografia de obras)

1 - Os autores gozam do direito agrave percepccedilatildeo de uma compensaccedilatildeo equitativa pela

reproduccedilatildeo de obras escritas em papel ou suporte semelhante realizada por qualquer tipo

de teacutecnica designadamente por meio de microfilmagem fotocoacutepia digitalizaccedilatildeo ou outros

processos de natureza similar

2 - A compensaccedilatildeo prevista no nuacutemero anterior eacute extensiva aos editores no acircmbito

analoacutegico e repartida em partes iguais

3 - A compensaccedilatildeo equitativa corresponde a uma quantia fixa a incluir pelos fabricantes

importadores e adquirentes intracomunitaacuterios antes da aplicaccedilatildeo de IVA no preccedilo de

venda de todos os equipamentos aparelhos ou quaisquer outros instrumentos teacutecnicos

integrados ou natildeo em multi-funccedilotildees que permitam a reproduccedilatildeo por qualquer teacutecnica ou

processo de obras escritas em suporte de papel ou semelhante nos termos da tabela anexa

ao presente regime

170

4 - Os autores e editores gozam ainda em partes iguais do direito agrave percepccedilatildeo a uma

compensaccedilatildeo equitativa pela comercializaccedilatildeo de reproduccedilotildees em papel ou suporte

semelhante realizadas de modo habitual e para servir o puacuteblico

5 - A compensaccedilatildeo prevista no nuacutemero anterior corresponde a 002 euros por cada paacutegina

antes da aplicaccedilatildeo de IVA e deve ser incluiacuteda no preccedilo de venda ou da disponibilizaccedilatildeo de

reproduccedilotildees de obras protegidas

6 - Da compensaccedilatildeo percebida pelos autores ao abrigo do presente artigo 75 eacute destinada

aos autores de obras cientiacuteficas e escolares

Artigo 4ordm

Compensaccedilatildeo equitativa por outras reproduccedilotildees

1 - A reproduccedilatildeo de obras literaacuterias e artiacutesticas protegidas sonoras e audiovisuais

prestaccedilotildees artiacutesticas fonogramas e videogramas realizada para fins de uso privado

constitui os titulares de direitos autores artistas inteacuterpretes ou executantes produtores de

fonogramas e de videogramas no direito agrave percepccedilatildeo de uma compensaccedilatildeo equitativa

2 ndash A compensaccedilatildeo prevista no nuacutemero anterior eacute determinada em funccedilatildeo da capacidade

de armazenamento dos equipamentos aparelhos dispositivos e suportes que permitem a

referida reproduccedilatildeo e corresponde a uma quantia fixa que acresce ao preccedilo de venda

destes estabelecido pelos fabricantes importadores e adquirentes intracomunitaacuterios antes

da aplicaccedilatildeo de IVA nos termos da lista anexa ao presente regime

3 - O montante global da compensaccedilatildeo equitativa eacute distribuiacutedo pelas entidades

representativas dos titulares de direitos na proporccedilatildeo de 40 para os autores 30 para os

artistas inteacuterpretes ou executantes e 30 para os produtores de fonogramas e de

videogramas

4 - O disposto nos nuacutemeros anteriores natildeo se aplica aos titulares de direitos que faccedilam uso

de medidas eficazes de caraacutecter tecnoloacutegico previstas no artigo 217ordm do Coacutedigo do Direito

de Autor e dos Direitos Conexos

Artigo 5ordm

Inalienabilidade e irrenunciabilidade

A compensaccedilatildeo equitativa de autores e de artistas inteacuterpretes ou executantes eacute inalienaacutevel e

irrenunciaacutevel sendo nula qualquer claacuteusula contratual em contraacuterio

171

Artigo 6ordm

Isenccedilotildees

1 ndash Estatildeo isentos do pagamento das compensaccedilotildees previstas nos artigos 3ordm e 4ordm os

equipamentos e suportes adquiridos por pessoas colectivas puacuteblicas ou privadas nas

seguintes condiccedilotildees

a) Cujo objecto de actividade seja a comunicaccedilatildeo audiovisual ou produccedilatildeo de

fonogramas e de videogramas exclusivamente para as suas proacuteprias produccedilotildees

b) Cujo objecto de actividade seja o apoio a pessoas portadoras de diminuiccedilatildeo fiacutesica

visual ou auditiva

2 - Para os efeitos do disposto no nuacutemero anterior as pessoas colectivas devem apresentar

no acto da compra dos aparelhos e suportes uma declaraccedilatildeo emitida pela entidade gestora

das compensaccedilotildees e cobranccedila indicando e comprovando o respectivo objecto de

actividade

Artigo 7ordm

Acordos

1 ndash Para efeitos do disposto no nordm 4 do artigo 3ordm as pessoas singulares ou colectivas com

ou sem fins lucrativos que procedam agrave venda de reproduccedilotildees em papel ou suporte

semelhante de obras legalmente protegidas nos termos previstos no presente regime

devem celebrar um acordo com a entidade gestora das compensaccedilotildees legalmente

constituiacuteda segundo o modelo a aprovar por portaria do membro do Governo responsaacutevel

pela aacuterea da cultura

2 - Os acordos devem ter por base a previsatildeo do nuacutemero de fotocoacutepias de obras protegidas a

realizar no periacuteodo de tempo correspondente agrave validade do acordo os custos envolvidos os

termos e formas de pagamento das quantias devidas e a indicaccedilatildeo sempre que possiacutevel do

tipo de obras a reproduzir

3 - Os acordos devem ser celebrados no prazo de 45 dias a contar do inicio de actividade

das pessoas singulares ou colectivas responsaacuteveis pelo pagamento da compensaccedilatildeo

equitativa

4 ndash Na falta de acordo devem as partes recorrer ao mecanismo de mediaccedilatildeo e arbitragem

previsto no artigo 10ordm

172

Artigo 8ordm

Gestatildeo e publicidade

1 - A compensaccedilatildeo equitativa torna-se efectiva atraveacutes da entidade gestora das

compensaccedilotildees representativa dos titulares de gestatildeo de direitos que procede agrave cobranccedila

gestatildeo e distribuiccedilatildeo das compensaccedilotildees

2 ndash A entidade gestora das compensaccedilotildees deve publicitar trimestralmente na respectiva

paacutegina electroacutenica os montantes distribuiacutedos a cada um dos associados com a respectiva

identificaccedilatildeo e natureza da compensaccedilatildeo

3 - Os associados da entidade gestora devem publicitar semestralmente os montantes

distribuiacutedos aos beneficiaacuterios da compensaccedilatildeo equitativa

Artigo 9ordm

Responsaacuteveis pela compensaccedilatildeo equitativa

1 - Para efeitos do disposto nos artigos 3ordm e 4ordm satildeo responsaacuteveis pelo pagamento das

compensaccedilotildees incidentes sobre equipamentos aparelhos e suportes os fabricantes e

importadores portugueses destes produtos desde que estes natildeo se destinem a exportaccedilatildeo

ou reexportaccedilatildeo

2 ndash Satildeo solidariamente responsaacuteveis pelo pagamento da remuneraccedilatildeo os distribuidores

grossistas e retalhistas adquirentes sucessivos para venda ao puacuteblico dos equipamentos

aparelhos e suportes salvo se provarem que procederam ao respectivo pagamento

3 - Para os efeitos do disposto nos nuacutemeros anteriores os responsaacuteveis pelo pagamento

submetem agrave entidade gestora das compensaccedilotildees e agrave Inspecccedilatildeo-Geral das Actividades

Culturais (IGAC) uma declaraccedilatildeo de autoliquidaccedilatildeo no mecircs subsequente ao termo de cada

trimestre de cada ano civil onde constem os seguintes elementos

a) Nuacutemero de unidades vendidas no mercado nacional

b) Preccedilo de venda liacutequido de quaisquer descontos de natureza financeira ou comercial

constantes das facturas antes de aplicaccedilatildeo de IVA para o caso dos equipamentos e

aparelhos que permitem a reproduccedilatildeo de obras protegidas

c) Capacidade e caracteriacutesticas teacutecnicas dos suportes materiais e dispositivos de

armazenamento que permitem a reproduccedilatildeo de obras protegidas

d) Nuacutemero de unidades vendidas suportes materiais e dispositivos de

armazenamento em regime de isenccedilatildeo e respectiva capacidade e caracteriacutesticas teacutecnicas

bem como o respectivo preccedilo de venda

e) Nuacutemero de unidades vendidas para paiacuteses da Uniatildeo Europeia e paiacuteses terceiros

173

f) Valor da remuneraccedilatildeo liquidada e a entregar

4 ndash As entidades devedoras e as solidariamente responsaacuteveis devem manter pelo periacuteodo

de 3 anos os elementos contabiliacutesticos que comprovem a liquidaccedilatildeo cobranccedila entrega e o

pagamento da compensaccedilatildeo equitativa devida

5 - Para efeitos do controlo do pagamento da compensaccedilatildeo os responsaacuteveis devem

discriminar separadamente o respectivo valor no documento contabiliacutestico antes da

aplicaccedilatildeo do IVA sob pena de se presumir a falta de liquidaccedilatildeo e cobranccedila

6 - No caso dos responsaacuteveis principais natildeo procederem agrave liquidaccedilatildeo e pagamento da

compensaccedilatildeo equitativa incumbe essa obrigaccedilatildeo aos distribuidores grossistas e retalhistas

devendo proceder agrave discriminaccedilatildeo dos valores cobrados na factura nos termos do nuacutemero

anterior

7 - O pagamento da compensaccedilatildeo liquidada nos termos dos nuacutemeros anteriores deve ser

efectuado no prazo de 45 dias apoacutes o termo de cada trimestre do ano civil

8 - A entidade gestora das compensaccedilotildees representativa dos titulares de direitos pode

solicitar aos responsaacuteveis pelo pagamento da compensaccedilatildeo as informaccedilotildees necessaacuterias agrave

comprovaccedilatildeo do cumprimento efectivo das obrigaccedilotildees enunciadas sem prejuiacutezo dos

princiacutepios da confidencialidade e sigilo comerciais

Artigo 10ordm

Mediaccedilatildeo e Arbitragem

Os litiacutegios emergentes da aplicaccedilatildeo do disposto no presente regime devem ser submetidos

para resoluccedilatildeo agrave mediaccedilatildeo e arbitragem necessaacuteria nos termos da legislaccedilatildeo geral aplicaacutevel

Artigo 11ordm

Entidade Gestora

1 ndash A cobranccedila gestatildeo e distribuiccedilatildeo das compensaccedilotildees previstas no presente regime satildeo

realizadas por uma entidade gestora das compensaccedilotildees colectiva uacutenica criada nos termos

da lei que regula a constituiccedilatildeo das entidades de gestatildeo colectiva

2 - Para aleacutem das obrigaccedilotildees previstas na legislaccedilatildeo geral os estatutos da entidade gestora

das compensaccedilotildees prevista no nuacutemero anterior devem regular

a) Meacutetodos de cobranccedila das compensaccedilotildees fixadas no presente regime

b) Criteacuterios de reparticcedilatildeo distribuiccedilatildeo e pagamento das compensaccedilotildees obtidas aos seus

associados e a outros beneficiaacuterios que natildeo sendo associados da entidade gestora se

presume serem por aquela representados

174

c) Natildeo discriminaccedilatildeo entre titulares nacionais e estrangeiros

d) Publicidade das deliberaccedilotildees sociais

e) Direitos e deveres dos associados

f) Estrutura e organizaccedilatildeo interna contemplando dois departamentos autoacutenomos

respectivamente para a reprografia e para a coacutepia privada

3 - A entidade gestora deve prever mecanismos de integraccedilatildeo de outras entidades

representativas de interesses e direitos a proteger que assim o solicitem em obediecircncia aos

princiacutepios da igualdade representatividade liberdade pluralismo e participaccedilatildeo

4 - Os custos de funcionamento da entidade gestora das compensaccedilotildees natildeo devem exceder

20 do conjunto das receitas globais obtidas com a cobranccedila das compensaccedilotildees

equitativas

5 - O conselho fiscal da entidade gestora das compensaccedilotildees eacute assegurado por um revisor

oficial de contas (ROC)

6 - A entidade gestora das compensaccedilotildees publica anualmente o relatoacuterio e contas do

exerciacutecio no seu sitio electroacutenico

7 - A entidade gestora das compensaccedilotildees pode celebrar com entidades puacuteblicas e privadas

os acordos necessaacuterios agrave plena execuccedilatildeo do disposto no presente regime

8 - A entidade gestora das compensaccedilotildees constituiacuteda para proceder agrave cobranccedila e gestatildeo das

compensaccedilotildees equitativas deve adaptar-se agraves disposiccedilotildees legais que enquadram a actividade

das entidades de gestatildeo colectiva de direitos e que se adaptem agrave sua natureza em tudo o

que natildeo esteja regulado no presente regime

Artigo 12ordm

Fundo Cultural

1 - A entidade gestora das compensaccedilotildees deve afectar 10 do total das receitas liacutequidas

percebidas agrave realizaccedilatildeo de acccedilotildees de natureza cultural ou social de incentivo agrave criaccedilatildeo

cultural e agrave divulgaccedilatildeo e estudo da propriedade intelectual

2 - A entidade gestora das compensaccedilotildees deve afectar ainda 5 do total das receitas

liacutequidas percebidas ao Fundo de Fomento Cultural do Ministeacuterio da Cultura enquanto

receita proacutepria deste consignada ao pagamento do Subsiacutedio de Meacuterito Cultural previsto no

Decreto-Lei nordm 41582 de 7 de Outubro

175

Artigo 13ordm

Fiscalizaccedilatildeo

1 - A fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do disposto no presente regime compete agrave IGAC

2 - Para o efeito previsto no nuacutemero anterior a entidade gestora das compensaccedilotildees deve

proceder ao pagamento de uma taxa correspondente a 10 do valor dos respectivos custos

de funcionamento

Artigo 14ordm

(Contra-Ordenaccedilotildees)

1 - Constituem contra-ordenaccedilatildeo puniacutevel com coima de euro300 a euro3000 no caso de pessoas

singulares e de euro1200 a euro30000 no caso de pessoas colectivas as seguintes infracccedilotildees

a) A venda de equipamentos aparelhos e suportes em violaccedilatildeo do disposto no nordm 3 do artigo

3ordm

b) A inobservacircncia do disposto no nordm 3 do artigo 4ordm

c) O natildeo cumprimento do disposto nos nordms 4 e 5 do artigo 3ordm atraveacutes de um acordo

celebrado nos termos do artigo 7ordm quando natildeo esteja em curso um processo de mediaccedilatildeo

e arbitragem nos termos do artigo 10ordm

d) A aquisiccedilatildeo com isenccedilatildeo de equipamentos e suportes em violaccedilatildeo do disposto do nordm 2 do

artigo 6ordm

e) O incumprimento do disposto nos nordms 2 e 3 do artigo 8ordm

f) O incumprimento do disposto nos nordm 3 a 7 do artigo 9ordm

2 - Em caso de reincidecircncia os limites miacutenimo e maacuteximo da coima satildeo elevados em um

terccedilo do respectivo valor natildeo podendo o montante da coima concretamente aplicada ser

inferior ao valor da coima aplicada pela infracccedilatildeo anterior

3 ndash Os factos praticados com negligecircncia satildeo puniacuteveis sendo os limites miacutenimos e

maacuteximos das respectivas coimas reduzidos a metade

4 - A fiscalizaccedilatildeo do cumprimento das disposiccedilotildees constantes no presente regime a

instruccedilatildeo do processo incluindo a realizaccedilatildeo de exames periciais e a aplicaccedilatildeo das coimas

compete agrave IGAC e a todas as autoridades de natureza policial e administrativa com

competecircncias de fiscalizaccedilatildeo

5 - O produto da aplicaccedilatildeo das coimas previstas no presente artigo constitui receita do

Estado e da entidade aplicadora da coima nas percentagens de 60 e 40

respectivamente

176

Tabela a que se refere o nordm 3 do artigo 3ordm

Compensaccedilatildeo sobre aparelhos equipamentos e instrumentos teacutecnicos de reproduccedilatildeo de obras escritas

MFC JACTO TINTA MFC LASER

VELOCIDADE DE COPIA

ateacute 9 cpm 10-29 cpm 30-49 cpm 50-69 cpm 70 ou + cpm Ateacute 17 kg Ateacute 17 kg

euro 795

euro 1000

euro 1300

euro 12770

euro 16900

euro 19700

euro 22700

cpm - copia por minuto

Equipamentos multifunccedilotildees de secretaacuteria de impressatildeo a jacto de tinta com ecratilde de reproduccedilatildeo cujo peso natildeo supere os 17 quilos

com capacidade para realizar pelo menos duas das seguintes funccedilotildees coacutepia impressatildeo fax ou digitalizaccedilatildeo Quando supere

este peso seraacute considerado como equipamento ou aparelho com capacidade de coacutepia e classificado de acordo com a respectiva

velocidade standard de reproduccedilatildeo

Equipamentos multifunccedilotildees de secretaacuteria de impressatildeo a laser com ecratilde de reproduccedilatildeo cujo peso natildeo supere os 17 quilos com

capacidade para realizar pelo menos duas das seguintes funccedilotildees coacutepia impressatildeo fax ou digitalizaccedilatildeo Quando supere este peso seraacute

considerado como equipamento ou aparelho com capacidade de coacutepia e classificado de acordo com a respectiva velocidade

standard de reproduccedilatildeo

177

Lista a que se refere o nordm 2 do artigo 4ordm Compensaccedilatildeo sobre aparelhos dispositivos e

suportes

EQUIPAMENTOS E APARELHOS

a) Equipamentos e aparelhos analoacutegicos de reproduccedilatildeo de obras protegidas nos termos do presente regime

1 - Gravadores aacuteudio ndash euro 060 unidade

2 - Gravadores viacutedeo ndash euro 060 unidade

b) Equipamentos e aparelhos digitais de reproduccedilatildeo ao de obras protegidas nos termos do presente regime

1 - Gravadores de discos compactos especiacuteficos (CD) - euro2 unidade

2 - Gravadores de discos versaacuteteis especiacuteficos - euro3 unidade 3 - Gravadores mistos de discos compactos (CD e DVD) - euro 4 unidade

SUPORTES E DISPOSITIVOS DE ARMAZENAMENTO

a) Suportes materiais analoacutegicos como cassetes aacuteudio ou similares ndash euro006 hora de

gravaccedilatildeo

b) Suportes materiais analoacutegicos como cassetes viacutedeo ou similares ndash euro008 hora de

gravaccedilatildeo

a) Discos compactos (CD) natildeo regravaacuteveis ndash euro003 por cada GB de capacidade de

armazenamento

b) Discos compactos regravaacuteveis (CD-RW) ndash euro 005 por cada GB de capacidade de armazenamento

c) Discos versaacuteteis natildeo regravaacuteveis - euro 003 por cada GB de capacidade de

armazenamento

d) Discos versaacuteteis regravaacuteveis - euro 005 por cada GB de capacidade de

armazenamento

e) Memoacuterias USB e outros suportes como cartotildees de memoacuteria natildeo integrados noutros dispositivos - euro 006 por cada GB de capacidade de armazenamento

f) Memoacuterias USB e outros suportes como cartotildees de memoacuteria integrados noutros dispositivos - euro 006 por cada GB de capacidade de armazenamento

g) Para suportes ou dispositivos de armazenamento como discos externos

denominados bdquomultimeacutedia‟ ou outros que disponham de uma ou mais saiacutedas e entradas

178

de aacuteudio e ou viacutedeo que permitam o registo de sons e ou imagens

179

animadas sem que seja necessaacuterio utilizar um microcomputador ou quaisquer outros

equipamentos ou aparelhos para desempenhar a funccedilatildeo de reproduccedilatildeo de obras ndash euro006

por cada GB de capacidade de armazenamento

h) Discos riacutegidos ou outros tipos de memoacuterias natildeo volaacuteteis integrados em equipamentos ou aparelhos com capacidade a partir de 150 GB e que permitam o

armazenamento de dados em massa ndash 002 por cada GB de capacidade mais 0005 por cada GB que acresccedila a capacidade de 1TB

i) Outros tipos de suportes ou dispositivos de armazenamento como os discos riacutegidos externos ou SSD com ou sem saiacutedas aacuteudio e ou viacutedeo e que dependam do emprego de um microcomputador ou de outros equipamentos ou aparelhos para desempenhar a funccedilatildeo de reproduccedilatildeo de obras - 002 por cada GB de capacidade mais 0005 por cada GB que acresccedila a capacidade de 1TB

j) Dispositivos de reproduccedilatildeo de fonogramas videogramas ou outros conteuacutedos sonoros visuais ou audiovisuais em formato comprimido integrados ou

natildeo noutros aparelhos ou equipamentos como os telemoacuteveis ndash euro 050 por cada GB de capacidade de armazenamento

Os Deputados

180

ANEXO 3

181

PROJETO DE LEI

Altera e acresce dispositivos agrave Lei nordm 9610

de 19 de fevereiro de 1998 que altera

atualiza e consolida a legislaccedilatildeo sobre

direitos autorais e daacute outras providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA - Faccedilo saber que o Congresso decretou e eu

sanciono a seguinte Lei

Art 1ordm A Lei nordm 9610 de 19 de fevereiro de 1998 passa a vigorar com as seguintes

alteraccedilotildees

ldquoArt1ordm

Paraacutegrafo uacutenico A interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo desta Lei atenderatildeo agraves finalidades de

estimular a criaccedilatildeo intelectual e a diversidade cultural e garantir a liberdade de

expressatildeo e orientar-se-atildeo pelos ditames constitucionais de proteccedilatildeo aos direitos

autorais em equiliacutebrio com os demais direitos fundamentais e os direitos sociaisrdquo (NR)

ldquoArt4ordm Os negoacutecios juriacutedicos relativos aos direitos autorais devem ser

interpretados restritivamente de forma a atender agrave finalidade especiacutefica para a

qual foram celebrados

sect 1ordm Nos contratos realizados com base nesta Lei as partes contratantes satildeo

obrigadas a observar durante a sua execuccedilatildeo bem como em sua conclusatildeo os

princiacutepios da

probidade e da boa-feacute cooperando mutuamente para o cumprimento da funccedilatildeo social do

contrato

e para a satisfaccedilatildeo de sua finalidade e das expectativas comuns e de cada uma das

partes

sect 2o Nos contratos de execuccedilatildeo continuada ou diferida qualquer uma das partes

poderaacute pleitear sua revisatildeo ou resoluccedilatildeo por onerosidade excessiva quando para a

outra parte

decorrer extrema vantagem em virtude de acontecimentos extraordinaacuterios e

imprevisiacuteveis

sect 3o Eacute anulaacutevel o contrato quando o titular de direitos autorais sob premente

necessidade ou por inexperiecircncia tenha se obrigado a prestaccedilatildeo manifestamente

desproporcional

ao valor da prestaccedilatildeo oposta podendo natildeo ser decretada a anulaccedilatildeo do negoacutecio se for

oferecido

suplemento suficiente ou se a parte favorecida concordar com a reduccedilatildeo do proveito

sect 4ordm No contrato de adesatildeo adotar-se-aacute a interpretaccedilatildeo mais favoraacutevel ao autorrdquo

(NR)

ldquoArt 5o

182

III - retransmissatildeo ndash a emissatildeo simultacircnea da transmissatildeo

IV - distribuiccedilatildeo - a oferta ao puacuteblico de original ou coacutepia de obras literaacuterias artiacutesticas

ou cientiacuteficas interpretaccedilotildees ou execuccedilotildees fixadas e fonogramas em um meio tangiacutevel

mediante a venda locaccedilatildeo ou qualquer outra forma de transferecircncia de propriedade ou

posse

VIII-

i) audiovisual ndash a obra que resulta da associaccedilatildeo de imagens com ou sem som que tenha

a finalidade de criar a impressatildeo de movimento independentemente dos processos de

sua captaccedilatildeo do suporte usado inicial ou posteriormente para fixaacute-lo bem como dos

meios utilizados para sua veiculaccedilatildeo

IX ndash fonograma ndash toda fixaccedilatildeo exclusivamente de sons de uma execuccedilatildeo ou

interpretaccedilatildeo ou de outros sons ou de uma representaccedilatildeo de sons

XII ndash radiodifusatildeo ndash a transmissatildeo sem fio realizada por empresa concessionaacuteria

permissionaacuteria ou autorizataacuteria do serviccedilo de radiodifusatildeo cuja recepccedilatildeo do sinal

ou onda radioeleacutetrica pelo puacuteblico ocorra de forma livre e gratuita ressalvados os casos

em que a Lei exige a autorizaccedilatildeo

XIII ndash artistas inteacuterpretes ou executantes ndash todos os atores cantores muacutesicos bailarinos

ou outras pessoas que representem um papel cantem recitem declamem interpretem

ou executem em qualquer forma obras literaacuterias ou artiacutesticas ou expressotildees culturais

tradicionais

XIV ndash licenccedila ndash a autorizaccedilatildeo preacutevia dada pelo autor ou titular de direitos patrimoniais

mediante remuneraccedilatildeo ou natildeo para exercer certos direitos de explorar ou utilizar

a obra intelectual nos termos e condiccedilotildees fixados na licenccedila sem que se caracterize

transferecircncia de titularidade dos direitos

XV - cessatildeo ndash ato por meio do qual se transfere total ou parcialmente com

exclusividade a titularidade de direitos autorais em caraacuteter temporaacuterio ou definitivo

garantido ao cessionaacuterio a prerrogativa de reivindicar para si os direitos patrimoniais

dele decorrentes e agir em defesa do objeto da cessatildeordquo(NR)

ldquoArt 7ordm

X ndash os projetos esboccedilos e obras de artes visuais concernentes agrave geografia

engenharia topografia arquitetura paisagismo cenografia e ciecircncia

XI - as adaptaccedilotildees os arranjos as orquestraccedilotildees as traduccedilotildees e outras

transformaccedilotildees de obras originais apresentadas como criaccedilatildeo intelectual nova

ldquoArt8ordm

VIII - as normas teacutecnicas em si mesmas ressalvada a sua proteccedilatildeo em legislaccedilatildeo

especiacutefica rdquo(NR)

ldquoArt 9ordm

183

A coacutepia de obra de artes visuais feita pelo proacuteprio autor eacute assegurada a

mesma proteccedilatildeo de que goza o originalrdquo (NR)

ldquoArt15ordm

sect 1ordm Natildeo se considera co-autor quem simplesmente auxiliou o autor na produccedilatildeo da

obra literaacuteria artiacutestica ou cientiacutefica revendo-a atualizando-a orientando-a bem

como

fiscalizando ou dirigindo sua ediccedilatildeo ou apresentaccedilatildeo por qualquer meio

ldquoArt 16

Satildeo coautores da obra audiovisual o diretor o roteirista e os autores do

argumento literaacuterio e da composiccedilatildeo musical ou literomusical criados especialmente

para a obra

ldquoArt17ordm

sect 4ordm Ao autor cuja contribuiccedilatildeo possa ser utilizada separadamente satildeo asseguradas

todas as faculdades inerentes agrave sua criaccedilatildeo como obra individual vedada poreacutem a

utilizaccedilatildeo que possa acarretar prejuiacutezo agrave exploraccedilatildeo da obra coletivardquo (NR)

ldquoArt 19ordm

Eacute facultado ao autor registrar a sua obra na forma desta Lei

Paraacutegrafo uacutenico Compete ao Poder Executivo federal dispor sobre a forma e as

condiccedilotildees para o registro da obra especificando os oacutergatildeos ou entidades responsaacuteveis

por esse

registro rdquo(NR)

Art 20 Para os serviccedilos de registro previstos nesta Lei seraacute cobrada retribuiccedilatildeo

cujo valor e processo de recolhimento seratildeo estabelecidos em at o do Mi ni st r o de Est

ado da

Cul t ur ardquo (NR)

ldquoArt24ordm

184

sect 1ordm Por morte do autor transmite-se a seus sucessores o exerciacutecio dos direitos a

que se referem os incisos I II III IV e VII enquanto a obra natildeo cair em domiacutenio

puacuteblico

sect 2ordm Compete aos entes federativos aos oacutergatildeos e agraves entidades relacionadas no art 5

da Lei no 7347 de 24 de julho de 1985 a defesa da integridade e autoria da obra

pertencente ao

domiacutenio puacuteblico

sect 3ordm Nos casos dos incisos V e VI ressalvam-se as indenizaccedilotildees a terceiros quando

couberemrdquo (NR)

ldquoArt25ordm

Paraacutegrafo uacutenico Os direitos previstos nos incisos I II e VII do art 24 poderatildeo ser

exercidos de forma individual pelos coautores sobre suas respectivas participaccedilotildeesrdquo

(NR)

ldquoArt28ordm

Paraacutegrafo uacutenico O objeto fundamental da proteccedilatildeo desta lei do ponto de vista

econocircmico eacute a garantia das vantagens patrimoniais resultantes da exploraccedilatildeo das obras

literaacuterias artiacutesticas ou cientiacuteficas em harmonia com os princiacutepios Constitucionais da

atividade econocircmicardquo (NR)

ldquoArt29ordm

V - a inclusatildeo em fonograma ou produccedilatildeo audiovisual que natildeo se caracterize como

obra intelectual

VI

-

VII - a colocaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico da obra por qualquer meio ou processo

de maneira que qualquer pessoa possa a ela ter acesso no tempo e no lugar que

individualmente

escolher

VIII - a comunicaccedilatildeo ao puacuteblico de obra literaacuteria artiacutestica ou cientiacutefica mediante

d) transmissatildeo ou radiodifusatildeo sonora ou televisiva

e) recepccedilatildeo de transmissatildeo ou radiodifusatildeo em locais de frequecircncia coletiva

j) exposiccedilatildeo de obras de artes visuais

185

X ndash a incorporaccedilatildeo em obra audiovisual

XI - quaisquer outras modalidades de utilizaccedilatildeo existentes ou que venham a ser

inventadas

Paraacutegrafo uacutenico No exerciacutecio do direito previsto no inciso VII o titular dos direitos

autorais poderaacute colocar agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico a obra na forma local e pelo tempo que

desejar a

tiacutetulo oneroso ou gratuitordquo (NR)

ldquoArt 30

Em qualquer modalidade de reproduccedilatildeo a quantidade de coacutepias

realizadas por qualquer meio ou processo seraacute informada e controlada cabendo

a quem

reproduzir a obra a responsabilidade de manter os registros que permitam de forma natildeo

onerosa

ao autor ou quem o represente a fiscalizaccedilatildeo do aproveitamento econocircmico da

exploraccedilatildeo

sect1o

sect2ordm No caso de fixaccedilatildeo ou reproduccedilatildeo efecircmera de obra fonograma ou

interpretaccedilatildeo por um organismo de radiodifusatildeo pelos seus proacuteprios meios e para suas

proacuteprias

emissotildees ao vivo ou suas retransmissotildees natildeo se aplica o direito de exclusividade de

reproduccedilatildeordquo(NR)

ldquoArt 36

O direito de utilizaccedilatildeo econocircmica dos escritos publicados pela imprensa

diaacuteria ou perioacutedica com exceccedilatildeo dos assinados ou que apresentem sinal de reserva

pertence ao editor salvo convenccedilatildeo em contraacuterio sem prejuiacutezo do disposto no artigo

17rdquo (NR)

ldquoArt 37

A aquisiccedilatildeo do original de uma obra ou de sua coacutepia realizada por

qualquer meio ou processo natildeo confere ao adquirente qualquer dos direitos

patrimoniais do autor salvo convenccedilatildeo em contraacuterio entre as partes e os casos previstos

nesta Lei rdquo (NR)

ldquoArt 38

O autor tem o direito irrenunciaacutevel e inalienaacutevel de perceber no miacutenimo

trecircs por cento sobre o preccedilo em cada revenda de obra de arte ou manuscrito sendo

originais que houver alienado

sect 1ordm Caso o autor natildeo perceba o seu direito de sequumlecircncia no ato de revenda o

186

vendedor o agente comercial ou o intermediaacuterio que intervenha na transaccedilatildeo eacute

considerado depositaacuterio da quantia a ele devida pelo prazo prescricional previsto nesta

Lei

sect 2ordm O vendedor o leiloeiro o agente comercial ou outro intermediaacuterio que

intervenha na transaccedilatildeo conforme o caso fica obrigado a guardar pelo prazo de 10

anos da alienaccedilatildeo todos os dados referentes ao negoacutecio juriacutedico fornecendo-os ao

autor seus herdeiros ou sucessores quando solicitadosrdquo (NR)

ldquoArt 39

Os direitos patrimoniais do autor natildeo se comunicam salvo disposiccedilatildeo em contraacuterio

firmada em pacto antenupcial ou contrato escrito

Paraacutegrafo uacutenico Tampouco se comunicam no regime da comunhatildeo parcial

aplicaacutevel ao casamento ou agrave uniatildeo estaacutevel os rendimentos resultantes da exploraccedilatildeo dos

direitos patrimoniais salvo disposiccedilatildeo em contraacuterio firmada em pacto antenupcial ou

contrato escritordquo(NR)

ldquoArt 41

Os direitos patrimoniais do autor duram por toda a sua vida e por mais

setenta anos contados de 1o de janeiro do ano subsequumlente ao de seu falecimento

obedecida a

ordem sucessoacuteria da lei civilrdquo (NR)

ldquoArt 44

O prazo de proteccedilatildeo aos direitos patrimoniais sobre obras audiovisuais

fotograacuteficas e coletivas seraacute de setenta anos a contar de 1o de janeiro do ano

subsequumlente ao de sua publicaccedilatildeo

sect 1ordm Em caso de sua natildeo publicaccedilatildeo no prazo de setenta anos apoacutes a realizaccedilatildeo da

obra conta-se o prazo a partir de sua realizaccedilatildeo

sect 2ordm Decorrido o prazo de proteccedilatildeo previsto neste artigo a utilizaccedilatildeo ou exploraccedilatildeo

por terceiros da obra audiovisual ou da obra coletiva natildeo poderaacute ser impedida pela

eventual proteccedilatildeo de direitos autorais de contribuiccedilotildees que possam ser objeto de

exploraccedilatildeo comercial em separadordquo (NR)

ldquoArt45

I

-

II - as de autor desconhecido ressalvada a proteccedilatildeo legal aplicaacutevel agraves expressotildees

culturais tradicionaisrdquo (NR)

ldquoArt46

187

I - a reproduccedilatildeo por qualquer meio ou processo em uma soacute coacutepia e por pessoa

natural para seu uso privado e natildeo comercial de obra legitimamente obtida exceto por

meio de locaccedilatildeo desde que feita a partir de exemplar de obra publicada legalmente

II - a reproduccedilatildeo por qualquer meio ou processo em uma soacute coacutepia para cada

suporte e por pessoa natural para seu uso privado e natildeo comercial de obra

legitimamente obtida

exceto por meio de locaccedilatildeo ou se o acesso agrave obra foi autorizado por um periacuteodo de

tempo limitado desde que feita a partir de original ou coacutepia de obra publicada

legalmente para o fim especiacutefico de garantir a sua portabilidade ou interoperabilidade

III - a reproduccedilatildeo na imprensa de notiacutecias e relatos de acontecimentos que tenham

caraacuteter meramente informativo publicados em diaacuterios ou perioacutedicos com a menccedilatildeo do

nome do autor se assinados e da publicaccedilatildeo de onde foram transcritos

IV - a utilizaccedilatildeo na imprensa de discursos pronunciados em reuniotildees puacuteblicas de

qualquer natureza

V -

VI - as representaccedilotildees recitaccedilotildees declamaccedilotildees exposiccedilotildees exibiccedilotildees e execuccedilotildees

puacuteblicas realizadas no recesso familiar ou quando usadas como recurso didaacutetico-

pedagoacutegico a tiacutetulo de ilustraccedilatildeo em atividades educativas ou de pesquisa no acircmbito

da educaccedilatildeo formal desde que sejam feitas sem finalidade comercial ou intuito de

lucro direto ou indireto e na medida justificada pelo fim a se atingir

VII -

VIII - a utilizaccedilatildeo em quaisquer obras de trechos de obras preexistentes de

qualquer natureza ou de obra integral quando de artes visuais na medida justificada

para o fim a atingir sempre que a utilizaccedilatildeo em si natildeo seja o objetivo principal da

obra nova e que natildeo prejudique a exploraccedilatildeo normal da obra utilizada nem cause

um prejuiacutezo injustificado aos legiacutetimos interesses dos autores

IX - a reproduccedilatildeo a traduccedilatildeo a adaptaccedilatildeo a distribuiccedilatildeo a comunicaccedilatildeo e a

colocaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico de obras para uso exclusivo de pessoas com

deficiecircncia mediante quaisquer formatos acessiacuteveis sempre que a deficiecircncia gerar

necessidade de alteraccedilatildeo do formato com o intuito de efetivar o pleno acesso agrave fruiccedilatildeo

da obra e desde que natildeo haja intuito de lucro direto ou indireto

X ndash reproduccedilatildeo e colocaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico para inclusatildeo em portfoacutelio ou

curriacuteculo profissional na medida justificada por este fim desde que aquele que pretenda

divulgar as obras por tal meio seja um dos autores ou pessoa retratada e apoacutes a

publicaccedilatildeo da obra por aquele que a encomendou

XI - a utilizaccedilatildeo de retratos ou de outra forma de representaccedilatildeo da imagem feitos

sob encomenda quando realizada pelo proprietaacuterio do objeto encomendado natildeo

havendo a

oposiccedilatildeo da pessoa neles representada ou se morta ou ausente de seu cocircnjuge seus

ascendentes ou descendentes

XII ndash a reproduccedilatildeo de palestras conferecircncias e aulas por aqueles a quem elas se

dirigem vedada a publicaccedilatildeo integral ou parcial independentemente do intuito de

lucro sem autorizaccedilatildeo preacutevia e expressa de quem as ministrou

XIII ndash a reproduccedilatildeo necessaacuteria agrave conservaccedilatildeo preservaccedilatildeo e arquivamento de

qualquer obra sem intuito de lucro desde que realizada para bibliotecas arquivos

188

centros de documentaccedilatildeo museus cinematecas e demais instituiccedilotildees museoloacutegicas

na medida justificada pelo fim a se atingir

XIV ndash a citaccedilatildeo em livros jornais revistas ou qualquer outro meio de

comunicaccedilatildeo de passagens de qualquer obra para fins de estudo criacutetica ou polecircmica

na medida justificada para o fim a atingir indicando-se o nome do autor e a origem da

obra

XV ndash a representaccedilatildeo a recitaccedilatildeo a declamaccedilatildeo a exposiccedilatildeo a exibiccedilatildeo e a

execuccedilatildeo puacuteblicas desde que natildeo tenham intuito de lucro direto ou indireto e sejam

para fins de reabilitaccedilatildeo ou terapia em unidades hospitalares que prestem estes serviccedilos

de forma gratuita e exclusivamente para a finalidade a que se destinam

XVI - A comunicaccedilatildeo e a colocaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico de obras intelectuais

por bibliotecas arquivos centros de documentaccedilatildeo museus cinematecas e demais

instituiccedilotildees museoloacutegicas no interior de suas instalaccedilotildees para fins de pesquisa ou

estudos privados desde que atendidas cumulativamente as seguintes condiccedilotildees

a) que a obra faccedila parte de seu acervo permanente

b) que seja obra rara ou natildeo esteja disponiacutevel para a venda ao puacuteblico em liacutengua

portuguesa nos mercados nacional e internacional por 3 anos contados a partir de

sua uacuteltima publicaccedilatildeo

c) para evitar a deterioraccedilatildeo do exemplar

d) que natildeo seja permitida a duplicaccedilatildeo gravaccedilatildeo impressatildeo ou qualquer outra

forma de reproduccedilatildeo ressalvado o disposto no Capiacutetulo IX do Tiacutetulo IV

XVII ndash a execuccedilatildeo musical exclusivamente no decorrer da atividade lituacutergica e

estritamente no interior dos templos religiosos

XVIII ndash a reproduccedilatildeo de obras de artes visuais para fins de publicidade relacionada

agrave exposiccedilatildeo puacuteblica dessas obras na medida em que seja necessaacuteria para

promover o acontecimento excluiacuteda qualquer utilizaccedilatildeo comercial

XIX ndash a exibiccedilatildeo puacuteblica sem finalidade comercial realizada por associaccedilotildees

cineclubistas assim reconhecidas pelo Ministeacuterio da Cultura feita a partir de coacutepia

legalmente obtida exceto por meio de locaccedilatildeo ou empreacutestimo desde que a associaccedilatildeo

natildeo tenha finalidade lucrativa por si proacutepria ou por viacutenculo com empresas ou entidades

e que a exibiccedilatildeo natildeo concorra com a exploraccedilatildeo comercial da obra

XX ndash a execuccedilatildeo e a exibiccedilatildeo puacuteblicas realizadas por micro empresas quando

feitas a partir de recepccedilatildeo de uma transmissatildeo em um uacutenico aparelho de raacutedio ou

televisatildeo do tipo domeacutestico para cujo uso natildeo haja cobranccedila e que essa transmissatildeo natildeo

seja um meio para a atraccedilatildeo de clientela e

XXI - A reproduccedilatildeo a traduccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo de trechos de obras preexistentes

de qualquer natureza ou de obra integral quando de artes visuais ou pequenas

composiccedilotildees como recurso didaacutetico-pedagoacutegico por docentes a tiacutetulo de ilustraccedilatildeo em

atividades educativas ou de pesquisa no acircmbito da educaccedilatildeo formal e na extensatildeo

necessaacuteria para o fim a se atingir desde que esse uso natildeo tenha finalidade comercial

nem intuito de lucro direto ou indireto e que sejam citados o autor e a fonte vedada a

publicaccedilatildeo em forma de apostilas

sect 1ordm O disposto no inciso XVI aplica-se mutatis mutandis para as obras na liacutengua

originalmente adotada pelo autor

sect 2ordm O Poder Judiciaacuterio poderaacute autorizar a utilizaccedilatildeo de obras em casos anaacutelogos

aos incisos desse artigo desde que atendidas cumulativamente as seguintes condiccedilotildees

I ndash natildeo tenha finalidade comercial nem intuito de lucro direto ou indireto

II ndash natildeo concorra com a exploraccedilatildeo comercial da obra e

III ndash que sejam citados o autor e a fonte sempre que possiacutevelrdquo (NR)

189

ldquoArt 48

As obras de artes visuais e arquitetocircnicas permanentemente situadas em

logradouros puacuteblicos podem ser livremente representadas por qualquer meio ou

processo inclusive fotograacutefico ou audiovisualrdquo (NR)

ldquoArt 49

Os direitos de autor poderatildeo ser total ou parcialmente transferidos a

terceiros por ele ou por seus sucessores por prazo determinado ou em definitivo

a tiacutetulo universal ou singular pessoalmente ou por meio de representantes com poderes

especiais pelos meios admitidos em Direito obedecidas as seguintes regras e

especificaccedilotildees

I ndash a cessatildeo total compreende todos os direitos de autor salvo os de natureza moral

e os expressamente excluiacutedos por leirdquo (NR)

ldquoArt 50

A cessatildeo total ou parcial dos direitos de autor que se faraacute sempre por estipulaccedilatildeo

contratual escrita presume-se onerosa

sect 3O Decorrido o prazo previsto no instrumento os direitos autorais retornam

obrigatoriamente ao controle econocircmico do titular originaacuterio ou de seus

sucessores

independentemente de possiacuteveis diacutevidas ou outras obrigaccedilotildees pendentes entre as

partes contratantesrdquo (NR)

ldquoArt 51

A cessatildeo dos direitos de autor sobre obras futuras abrangeraacute no maacuteximo

o periacuteodo de cinco anos contado a partir da data da entrega da obrardquo (NR)

ldquoArt53

sect 1O O contrato de ediccedilatildeo natildeo poderaacute conter claacuteusulas de cessatildeo dos direitos

patrimoniais do autor as quais deveratildeo ser objeto de instrumento especiacutefico se for o

caso

sect 2ordm Em cada exemplar da obra o editor mencionaraacute

I - o tiacutetulo da obra e seu autor

II - no caso de traduccedilatildeo o tiacutetulo original e o nome do tradutor

III - o ano de publicaccedilatildeo

IV - o seu nome ou marca que o identifique

V - o nuacutemero da ediccedilatildeo e a sua tiragem e

VI - o nuacutemero do exemplar

sect 3O O autor poderaacute requerer a resoluccedilatildeo do contrato quando o editor apoacutes

notificado pelo autor continuar a obstar a circulaccedilatildeo da obra em detrimento dos

legiacutetimos interesses do autor

190

sect 4ordm O editor deveraacute notificar o autor sempre que houver transferecircncia a terceiros

dos direitos relacionados ao contrato de ediccedilatildeo de suas obrasrdquo (NR)

ldquoArt 68

Sem preacutevia e expressa autorizaccedilatildeo do autor ou titular natildeo poderatildeo ser

utilizadas obras teatrais composiccedilotildees musicais ou literomusicais fonogramas e obras

audiovisuais em representaccedilotildees exibiccedilotildees e execuccedilotildees puacuteblicas

sect1o

sect 2O Considera-se execuccedilatildeo puacuteblica a utilizaccedilatildeo de composiccedilotildees musicais ou

liacuteteromusicais mediante a participaccedilatildeo de artistas remunerados ou natildeo ou a

utilizaccedilatildeo de fonogramas em locais de frequumlecircncia coletiva por quaisquer processos

inclusive a radiodifusatildeo ou a transmissatildeo por qualquer modalidade e a exibiccedilatildeo

cinematograacutefica

sect 3O Considera-se exibiccedilatildeo puacuteblica a utilizaccedilatildeo de obras audiovisuais em locais de

frequumlecircncia coletiva por quaisquer processos inclusive a radiodifusatildeo ou transmissatildeo

por qualquer modalidade e a exibiccedilatildeo cinematograacutefica

sect 4O Consideram-se locais de frequumlecircncia coletiva os teatros cinemas salotildees de

baile ou concertos boates bares clubes ou associaccedilotildees de qualquer natureza

lojas estabelecimentos comerciais e industriais estaacutedios circos feiras

restaurantes hoteacuteis moteacuteis cliacutenicas hospitais oacutergatildeos puacuteblicos da administraccedilatildeo

direta ou indireta fundacionais e estatais meios de transporte de passageiros terrestre

mariacutetimo fluvial ou aeacutereo ou espaccedilos similares onde se representem executem

exibam ou transmitam publicamente obras literaacuterias artiacutesticas ou cientiacuteficas

sect 5O Previamente agrave realizaccedilatildeo da execuccedilatildeo ou exibiccedilatildeo puacuteblica o usuaacuterio deveraacute

apresentar agrave entidade responsaacutevel pela arrecadaccedilatildeo dos direitos relativos agrave execuccedilatildeo ou

exibiccedilatildeo

puacuteblica a comprovaccedilatildeo dos recolhimentos relativos aos direitos autorais

sect 6ordm Quando a remuneraccedilatildeo depender da frequumlecircncia do puacuteblico poderaacute o usuaacuterio

por convecircnio com a entidade responsaacutevel pela arrecadaccedilatildeo dos direitos relativos agrave

execuccedilatildeo ou exibiccedilatildeo puacuteblica pagar o preccedilo apoacutes a realizaccedilatildeo da execuccedilatildeo ou exibiccedilatildeo

puacuteblica

sect 7ordm O usuaacuterio entregaraacute agrave entidade responsaacutevel pela arrecadaccedilatildeo dos direitos

relativos agrave execuccedilatildeo ou exibiccedilatildeo puacuteblica imediatamente apoacutes o ato de comunicaccedilatildeo ao

puacuteblico relaccedilatildeo completa das obras e fonogramas utilizados indicando os nomes dos

respectivos autores artistas e produtores e a tornaraacute puacuteblica e de livre acesso aos

interessados juntamente com os valores pagos em seu siacutetio eletrocircnico ou em natildeo

havendo este no local da comunicaccedilatildeo e em sua sede

sect 8ordm As empresas responsaacuteveis pela representaccedilatildeo execuccedilatildeo exibiccedilatildeo radiodifusatildeo

ou transmissatildeo de obras e fonogramas manteratildeo agrave imediata disposiccedilatildeo dos interessados

em sua administraccedilatildeo central coacutepia autecircntica dos contratos ajustes ou acordos

individuais ou coletivos autorizando e disciplinando a remuneraccedilatildeo que estiver a seu

cargo pela comunicaccedilatildeo ao puacuteblico das obras e fonogramas utilizados em seus

programas ou obras audiovisuaisrdquo (NR)

ldquoCAPIacuteTULO III DA UTILIZACcedilAtildeO DA OBRA DE ARTES VISUAISrdquo (NR)

ldquoArt 77

191

Salvo convenccedilatildeo em contraacuterio o autor de obra de artes visuais ao alienar

o objeto em que ela se materializa transmite o direito de expocirc-la mas natildeo transmite ao

adquirente o direito de reproduzi-lardquo (NR)

ldquoArt 78

A autorizaccedilatildeo para reproduzir a obra de artes visuais por qualquer processo deve

se fazer por escrito e se presume onerosardquo (NR)

ldquoArt 79

O autor de obra fotograacutefica tem direito a reproduzi-la e colocaacute-la agrave venda

observadas as restriccedilotildees agrave exposiccedilatildeo reproduccedilatildeo e venda de retratos e sem prejuiacutezo dos

direitos

de autor da obra fotografada se protegidardquo (NR)

ldquoArt 81

A autorizaccedilatildeo do autor e do inteacuterprete de obra literaacuteria artiacutestica ou

cientiacutefica para produccedilatildeo audiovisual implica salvo disposiccedilatildeo em contraacuterio

consentimento para sua utilizaccedilatildeo econocircmica pelo produtor sem prejuiacutezo dos direitos

devidos aos autores e artistas inteacuterpretes em decorrecircncia de cada exibiccedilatildeo puacuteblica da

obra

sect 1

sect 2

Em cada coacutepia da obra audiovisual mencionaraacute o produtor

VII ndash o nome dos dubladores e dos tradutores se for o caso e

VIII - o nome dos autores artistas inteacuterpretes ou executantes de obras musicais ou

litero-musicais e produtores dos fonogramas incorporados agrave obra audiovisual

sect3ordm O produtor responsaacutevel pela primeira fixaccedilatildeo de obra audiovisual teraacute o direito a

uma remuneraccedilatildeo referente a cada exibiccedilatildeo puacuteblica a que se refere o art 68rdquo (NR)

ldquoArt 86

Os direitos autorais decorrentes da exibiccedilatildeo puacuteblica de obras

audiovisuais e da execuccedilatildeo puacuteblica de obras musicais liacuteteromusicais e fonogramas

incorporados em obras audiovisuais seratildeo devidos aos seus titulares pelos

responsaacuteveis dos locais ou estabelecimentos a que alude o sect 4ordm do art 68 desta Lei

que as exibirem ou pelas empresas que as transmitirem

Paraacutegrafo uacutenico Os proventos pecuniaacuterios resultantes de cada exibiccedilatildeo puacuteblica de

obras audiovisuais seratildeo repartidos entre seus autores artistas inteacuterpretes e produtores

na forma convencionada entre eles ou suas associaccedilotildeesrdquo (NR)

ldquoArt 89

As normas relativas aos direitos de autor inclusive as que se referem agraves

limitaccedilotildees aplicam-se no que couber aos direitos dos artistas inteacuterpretes ou

executantes dos

192

produtores e das empresas de radiodifusatildeordquo (NR)

ldquoArt90

I -

II - a reproduccedilatildeo a execuccedilatildeo ou exibiccedilatildeo puacuteblicas e a locaccedilatildeo das suas

interpretaccedilotildees ou execuccedilotildees fixadasrdquo (NR)

ldquoArt 96

Eacute de setenta anos o prazo de proteccedilatildeo aos direitos conexos contados a

partir de 1o de janeiro do ano subsequumlente agrave fixaccedilatildeo para os fonogramas agrave transmissatildeo

para as

empresas de radiodifusatildeo e agrave execuccedilatildeo exibiccedilatildeo ou representaccedilatildeo puacuteblicas para

os demais casosrdquo (NR)

ldquoArt 98

Com o ato de filiaccedilatildeo as associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos

autorais de que trata o art 97 tornam-se mandataacuterias de seus associados para a praacutetica

de todos os atos necessaacuterios agrave defesa judicial ou extrajudicial de seus direitos autorais

bem como para o exerciacutecio da atividade de cobranccedila desses direitos

sect 1ordm Os titulares de direitos autorais poderatildeo praticar pessoalmente os atos

referidos neste artigo mediante comunicaccedilatildeo preacutevia agrave associaccedilatildeo a que estiverem

filiados

sect 2ordm O exerciacutecio da atividade de cobranccedila citada no caput somente seraacute licito para

as associaccedilotildees que obtiverem registro no Ministeacuterio da Cultura nos termos do art 98-A

sect 3ordm A cobranccedila deveraacute ser proporcional agrave utilizaccedilatildeo das obras e fonogramas dos

titulares dos quais a associaccedilatildeo eacute mandataacuteria

sect 4ordm As associaccedilotildees deveratildeo adotar os princiacutepios da isonomia e transparecircncia na

cobranccedila pela utilizaccedilatildeo de qualquer obra ou fonograma sob sua gestatildeo

sect 5ordm As associaccedilotildees por decisatildeo do seu oacutergatildeo maacuteximo de deliberaccedilatildeo e conforme

previsto em seus estatutos poderatildeo destinar ateacute vinte por cento da totalidade ou de

parte dos recursos oriundos de suas atividades em benefiacutecio de seus associados de

forma direta ou por meio de outras entidades na promoccedilatildeo e no fomento agrave produccedilatildeo de

obras capacitaccedilatildeo e formaccedilatildeo bem como outras atividades de finalidade cultural e de

assistecircncia socialrdquo(NR)

ldquoArt 99

As associaccedilotildees que reuacutenam titulares de direitos sobre as obras musicais

literomusicais e fonogramas manteratildeo um uacutenico escritoacuterio central para a

arrecadaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo em comum dos direitos relativos agrave sua execuccedilatildeo puacuteblica

observado o disposto no sect

4ordm do artigo 98 e nos artigos 98-A e 99-A

sect 4ordm O escritoacuterio central e as associaccedilotildees poderatildeo manter fiscais aos quais eacute

193

vedado receber do usuaacuterio numeraacuterio a qualquer tiacutetulo

sect5o

sect 6ordm O escritoacuterio central deveraacute observar as disposiccedilotildees do art 98-B e apresentar ao

Ministeacuterio da Cultura no que couber a documentaccedilatildeo prevista no art 98-Ardquo (NR)

ldquoArt 100 O sindicato ou associaccedilatildeo profissional que congregue filiados de uma

associaccedilatildeo de gestatildeo coletiva de direitos autorais poderaacute uma vez por ano apoacutes

notificaccedilatildeo com oito dias de antecedecircncia fiscalizar por intermeacutedio de auditor a

exatidatildeo das contas prestadas por essa associaccedilatildeo autoral a seus representados rdquo (NR)

ldquoArt 101 As sanccedilotildees civis de que trata este Capiacutetulo aplicam-se sem prejuiacutezo das

sanccedilotildees penais e administrativasrdquo (NR)

ldquoArt 102 O titular cuja obra seja fraudulentamente reproduzida divulgada ou de

qualquer forma utilizada poderaacute requerer a busca e apreensatildeo dos exemplares

reproduzidos ou a suspensatildeo da divulgaccedilatildeo sem prejuiacutezo da indenizaccedilatildeo cabiacutevel rdquo

(NR)

ldquoArt103

Paraacutegrafo uacutenico Natildeo se conhecendo o nuacutemero de exemplares que constituem a

ediccedilatildeo fraudulenta pagaraacute o transgressor o valor de quinhentos ateacute trecircs mil exemplares

aleacutem dos apreendidosrdquo (NR)

ldquoArt 107

sect 1ordm Constitui ato iliacutecito por abuso e exerciacutecio irregular de direito sem prejuiacutezo de

outras penalidades previstas em lei quem por qualquer meio

a) dificultar ou impedir os usos permitidos pelos incisos do artigo 46 desta Lei ou

b) dificultar ou impedir a livre utilizaccedilatildeo de obras emissotildees de radiodifusatildeo e

fonogramas caiacutedos em domiacutenio puacuteblico

sect 2ordm No caso da conduta prevista no sect 1ordm decorrer de obrigaccedilatildeo contratual responde pela

conduta o licenciante

sect 3ordm O disposto no sect 1ordm natildeo se aplica quando a utilizaccedilatildeo pelo titular de sinais

codificados e dispositivos teacutecnicos mencionados neste artigo forem essenciais para a

compra ou o licenciamento de obras em meio digital

sect 4ordm O disposto no caput natildeo se aplica quando as condutas previstas nos incisos I

II e IV relativas aos sinais codificados e dispositivos teacutecnicos forem realizadas para

permitir as utilizaccedilotildees previstas no artigo 46 desta Lei ou quando findo o prazo dos

direitos patrimoniais sobre a obra interpretaccedilatildeo execuccedilatildeo fonograma ou emissatildeo

sect 5ordm Os sinais codificados e dispositivos teacutecnicos mencionados nos incisos I II e IV

devem ter efeito limitado no tempo correspondente ao prazo dos direitos patrimoniais

sobre a obra interpretaccedilatildeo execuccedilatildeo fonograma ou emissatildeordquo (NR)

ldquoArt 109

194

A representaccedilatildeo a execuccedilatildeo ou a exibiccedilatildeo puacuteblicas feitas em desacordo

com os arts 68 97 98 99 e 99-A desta Lei sujeitaratildeo os responsaacuteveis agrave multa de duas

ateacute vinte vezes o valor que deveria ser originariamente pagordquo (NR)

Art 2ordm A Lei no 9610 de 1998 passa a vigorar acrescida dos seguintes

dispositivos

ldquoArt 30-A

Quando a distribuiccedilatildeo for realizada pelo titular dos direitos da obra ou

fonograma ou com o seu consentimento mediante venda em qualquer Estado membro

da OMC exaure-se com a primeira venda o direito patrimonial de distribuiccedilatildeo do

objeto da venda no territoacuterio nacional

Paraacutegrafo uacutenico Natildeo se aplica o disposto no caput aos direitos de locaccedilatildeo de

programas de computador e de obras audiovisuais e ao direito de sequecircncia de que trata

o artigo 38rdquo (NR)

ldquoArt 52-A

O autor ou titular de direitos patrimoniais poderaacute conceder licenccedila aterceiros que se

faraacute sempre por escrito sem que se caracterize cessatildeo de direitos obedecidas

asseguintes regras e especificaccedilotildees

I - O prazo maacuteximo da licenccedila seraacute de cinco anos salvo estipulaccedilatildeo

contratuacontraacuteria

II - A licenccedila seraacute vaacutelida unicamente para o paiacutes em que se firmou o contrato

salvoestipulaccedilatildeo em contraacuterio

III - Natildeo havendo especificaccedilotildees quanto agrave modalidade de utilizaccedilatildeo o contrato

seraacuteinterpretado restritivamente entendendo-se como limitada apenas a uma que

seja aquelaindispensaacutevel ao cumprimento da finalidade do contrato

IV - A licenccedila soacute se operaraacute para modalidades de utilizaccedilatildeo jaacute existentes agrave data

dacelebraccedilatildeo do contrato

V - A licenccedila se presume natildeo exclusiva salvo estipulaccedilatildeo contratual expressa

emcontraacuterio e

VI - Decorrido o prazo previsto no instrumento de licenccedila cessam todas

asprerrogativas concedidas ao licenciado independentemente de possiacuteveis diacutevidas

ou outrasobrigaccedilotildees pendentes entre as partes contratantesrdquo (NR)

ldquoArt 52-B O Poder Judiciaacuterio poderaacute autorizar o uso de obras literaacuterias ou de

artesvisuais sempre que ao exercer seus direitos patrimoniais o herdeiro ou sucessor do

autor da obraexceda manifestamente os limites impostos pelo seu fim econocircmico ou

social pela boa-feacute oupelos bons costumes prejudicando o seu acesso ou fruiccedilatildeo pela

sociedade

sect 1ordm A autorizaccedilatildeo prevista no caput presume-se onerosa cujo valor seraacute arbitradopela

autoridade judicial competente

sect 2ordm Os legitimados para propositura das accedilotildees previstas no art 5ordm da Lei nordm 7347de 24

de julho de 1985 poderatildeo pleitear a autorizaccedilatildeo prevista no caput sempre que houver

lesatildeoou ameaccedila de lesatildeo a direitos difusos coletivos ou individuais homogecircneosrdquo

(NR)

ldquoCAPIacuteTULO VI DA OBRA DECORRENTE DE VIacuteNCULO ESTATUTAacuteRIO OU

CONTRATO DE

TRABALHOrdquo (NR)

195

ldquoArt 52-C

Salvo convenccedilatildeo em contraacuterio o empregador ente puacuteblico ou privadoconsiderar-se-aacute

autorizado com exclusividade a utilizar as obras criadas no estrito cumprimentodas

atribuiccedilotildees e finalidades decorrentes de viacutenculo estatutaacuterio ou contrato de trabalho

sect 1ordm - A exclusividade da autorizaccedilatildeo cessa em dez anos contados da data daprimeira

utilizaccedilatildeo da obra pelo empregador ou na ausecircncia desta da data de conclusatildeo da obra

sect 2ordm O autor poderaacute dispor livremente dos direitos relacionados agraves

demaismodalidades de utilizaccedilatildeo da obra desde que natildeo concorra com o uso realizado

pelo empregador

sect 3ordm - A retribuiccedilatildeo devida pelo uso das obras por parte do empregador esgota-secom a

remuneraccedilatildeo ou com o salaacuterio convencionado salvo disposiccedilatildeo em contraacuterio ou

casosprevistos em Lei

sect 4ordm - O autor teraacute direito de publicar em suas obras completas a obra criada no

estrito cumprimento das atribuiccedilotildees e finalidades decorrentes do viacutenculo estatutaacuterio ou

contrato de trabalho apoacutes dois anos de sua publicaccedilatildeo pelo empregador ou na ausecircncia

desta apoacutes cinco anos de sua conclusatildeo salvo convenccedilatildeo em contraacuterio

sect 5ordm As disposiccedilotildees deste artigo natildeo se aplicam

I ndash aos direitos de comunicaccedilatildeo ao puacuteblico que seratildeo devidos em decorrecircncia de cada

representaccedilatildeo execuccedilatildeo ou exibiccedilatildeo puacuteblicas das obras

II ndash agraves relaccedilotildees que digam respeito agrave utilizaccedilatildeo econocircmica dos artigos publicados pela

imprensa regidas pelo art 36 desta Lei

III ndash agraves relaccedilotildees decorrentes de contrato ou viacutenculo de professores ou pesquisadores

com instituiccedilatildeo que tenha por finalidade o ensino ou a pesquisa

IV ndash aos direitos dos profissionais regidos pela Lei n o 5194 de 24 de dezembro de

1966 e

V ndash aos programas de computador observando-se nesse caso o disposto na Lei n

9609 de 19 de fevereiro de 1998rdquo (NR)

ldquoCAPIacuteTULO VII DA OBRA OacuteRFAtilderdquo (NR)

ldquoArt 52-D

A exploraccedilatildeo de obra que presumivelmente natildeo tenha ingressado em

domiacutenio puacuteblico cuja autorizaccedilatildeo de uso natildeo se puder obter pela impossibilidade de se

identificar

ou localizar o seu autor ou titular deve ser objeto de uma licenccedila natildeo exclusiva a ser

concedida

pelo Ministro da Cultura mediante requerimento de interessado em procedimento

regular que atenda os imperativos do devido processo legal na forma do regulamento e

segundo termos e condiccedilotildees que assegurem adequadamente os interesses morais e

patrimoniais que esta Lei tutela

sect 1ordm O requerente deveraacute comprovar que fez uma busca razoaacutevel e de boa feacute pelo autor

quando identificaacutevel ou apresentar provas da incapacidade de identificaacute-lo

sect 2ordm A licenccedila a ser concedida sujeita-se ao pagamento de remuneraccedilatildeo arbitrada pelo

Poder Puacuteblico observado os usos e costumes

sect 3ordm O licenciado seraacute depositaacuterio do valor referente agrave remuneraccedilatildeo prevista no sect 2ordm

196

e deveraacute repassaacute-lo licenccedila

I - ao autor ou titular quando da sua identificaccedilatildeo e localizaccedilatildeo e

II ndash ao Fundo Nacional de Cultura apoacutes decorridos 10 anos da concessatildeo da

sect 4ordm Eacute vedada a cessatildeo a transferecircncia ou o substabelecimento da licenccedila prevista neste

artigo

sect 5ordm O licenciado ficaraacute investido de todos os poderes para agir em defesa da obra

sect 6ordm Durante o periacuteodo de sua vigecircncia a licenccedila poderaacute ser revogada quando

I ndash o licenciado deixar de cumprir com as condiccedilotildees que o qualificaram

II ndash o autor ou titular for identificado e localizado

III - houver descontinuidade do pagamento da remuneraccedilatildeo prevista no sect 2ordm ou

IV ndash a obra cair em domiacutenio puacuteblico O

sect 7ordm As disposiccedilotildees deste capiacutetulo natildeo se aplicam a programas de computadorrdquo (NR)

ldquoArt 67-A

As regras relativas agrave ediccedilatildeo de que trata este capiacutetulo aplicam-se

a todas as obras protegidas e suscetiacuteveis de serem publicadas ou reproduzidas em

qualquer suporte tais como as traduccedilotildees as fotografias os desenhos as charges e as

caricaturasrdquo (NR)

ldquoArt 86-A

Os responsaacuteveis pelas salas de exibiccedilatildeo cinematograacutefica deveratildeo

deduzir cinquumlenta por cento do montante total dos direitos autorais devidos em razatildeo

do caput do

art 86 do valor a ser pago agraves empresas distribuidoras das obras audiovisuais sendo

vedado a estas o repasse deste encargo total ou parcialmente aos seus produtoresrdquo

(NR)

ldquoCAPIacuteTULO IX DA REPROGRAFIArdquo (NR)

ldquoArt 88-A

A reproduccedilatildeo total ou parcial de obras literaacuterias artiacutesticas ou

cientiacuteficas que natildeo estiverem em domiacutenio puacuteblico realizada por meio de

fotocopiadora ou

processos assemelhados com finalidade comercial ou intuito de lucro somente

poderaacute ser

realizada mediante autorizaccedilatildeo preacutevia dos autores e titulares de direitos das obras

protegidas ou da

associaccedilatildeo de gestatildeo coletiva que os represente observadas as seguintes disposiccedilotildees

I - A reproduccedilatildeo prevista no caput estaraacute sujeita ao pagamento de uma retribuiccedilatildeo

aos titulares dos direitos autorais sobre as obras reproduzidas salvo quando estes

colocarem agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico a obra a tiacutetulo gratuito na forma do paraacutegrafo uacutenico

do art 29 e

II - Caberaacute aos responsaacuteveis pelos estabelecimentos que ofereccedilam serviccedilos de

reproduccedilatildeo reprograacutefica nos termos definidos no caput manter o registro das

reproduccedilotildees em que conste a identificaccedilatildeo e a quantidade de paacuteginas reproduzidas de

cada obra com a finalidade de prestar tais informaccedilotildees regularmente aos autores de

197

forma a permitir-lhes a fiscalizaccedilatildeo e o controle do aproveitamento econocircmico das

reproduccedilotildeesrdquo (NR)

ldquoArt 88-B

O Poder Judiciaacuterio poderaacute autorizar a reprografia de obras literaacuterias

sempre que ao exercer seus direitos patrimoniais o titular dos direitos de

reproduccedilatildeo ou a respectiva associaccedilatildeo de gestatildeo coletiva exceda manifestamente os

limites impostos pelo seu fim econocircmico ou social pela boa-feacute ou pelos bons

costumes ou impeccedila o exerciacutecio do direito constitucional agrave educaccedilatildeo

sect 1ordm A autorizaccedilatildeo prevista no caput presume-se onerosa cujo valor seraacute arbitrado

pela autoridade judicial competente

sect 2ordm Os legitimados para propositura das accedilotildees previstas no art 5ordm da Lei nordm 7347

de 24 de julho de 1985 poderatildeo pleitear a autorizaccedilatildeo prevista no caput sempre que

houver lesatildeo ou ameaccedila de lesatildeo a direitos Difusos coletivos ou individuais

homogecircneosrdquo (NR)

ldquoArt 98-A

O exerciacutecio da atividade de cobranccedila de que trata o art 98 dependeraacute de

registro preacutevio no Ministeacuterio da Cultura conforme disposto em regulamento cujo

processo administrativo observaraacute

I ndash o cumprimento pelos estatutos da entidade solicitante dos requisitos

estabelecidos na legislaccedilatildeo para sua constituiccedilatildeo

II ndash a demonstraccedilatildeo de que a entidade solicitante reuacutene as condiccedilotildees necessaacuterias

para assegurar uma administraccedilatildeo eficaz e transparente dos direitos a ela confiados e

significativa representatividade de obras e titulares cadastrados mediante

comprovaccedilatildeo dos seguintes documentos e informaccedilotildees

a) os cadastros das obras e titulares que representam

b) contratos e convecircnios mantidos com usuaacuterios de obras de seus repertoacuterios

c) estatutos e respectivas alteraccedilotildees

d) atas das assembleacuteias ordinaacuterias ou extraordinaacuterias

e) acordos de representaccedilatildeo reciacuteproca com entidades congecircneres estrangeiras

quando existentes

f) relatoacuterio anual de suas atividades quando aplicaacutevel

g) demonstraccedilotildees contaacutebeis anuais quando aplicaacutevel e

h) relatoacuterio anual de auditoria externa de suas contas desde que demandada pela

maioria de seus associados ou por sindicato ou associaccedilatildeo profissional nos termos do

art 100

III ndash outras informaccedilotildees consideradas relevantes pelo Ministeacuterio da Cultura na

forma do regulamento como as que demonstrem o cumprimento de suas obrigaccedilotildees

internacionais

contratuais que possam ensejar questionamento ao Estado Brasileiro no acircmbito

dos acordos internacionais dos quais eacute parte

sect1ordm Os documentos e informaccedilotildees a que se referem os Incisos II e III deste artigo

deveratildeo ser apresentados anualmente ao Ministeacuterio da Cultura

sect2ordm O registro de que trata o sect 2ordm do art 98 poderaacute ser anulado quando for

constatado viacutecio de legalidade ou cancelado administrativamente pelo Ministeacuterio

da Cultura quando verificado que a associaccedilatildeo natildeo atende ao disposto neste artigo

198

assegurado sempre o contraditoacuterio e a ampla defesa bem como a comunicaccedilatildeo do fato

ao Ministeacuterio Puacuteblico

sect3ordm A ausecircncia de uma associaccedilatildeo que seja mandataacuteria de determinada categoria de

titulares em funccedilatildeo da aplicaccedilatildeo do sect 2ordm deste artigo natildeo isenta os usuaacuterios das

obrigaccedilotildees previstas no art 68 que deveratildeo ser quitadas em relaccedilatildeo ao periacuteodo

compreendido entre o indeferimento do pedido de registro a anulaccedilatildeo ou o

cancelamento do registro e a obtenccedilatildeo de novo registro ou constituiccedilatildeo de entidade

sucessora nos termos do art 98

sect4ordm A associaccedilatildeo cujo registro nos termos do artigo 98-A seja anulado cancelado

inexistente pendente de apreciaccedilatildeo pela autoridade competente ou apresente qualquer

outra forma de irregularidade natildeo poderaacute utilizar tais fatos como impedimento para

distribuiccedilatildeo de eventuais valores jaacute arrecadados sob pena de responsabilizaccedilatildeo direta

de seus dirigentes nos termos do artigo 100-A

sect5ordm As associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos autorais que estejam desde

1ordm de janeiro de 2010 legalmente constituiacutedas e arrecadando e distribuindo os

direitos autorais de obras e fonogramas considerar-se-atildeo para todos os efeitos

registradas para exercerem a atividade econocircmica de cobranccedila devendo obedecer agraves

disposiccedilotildees constantes deste artigordquo (NR)

ldquoArt 98-B

As associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos autorais no desempenho

de suas funccedilotildees deveratildeo

I - Dar publicidade e transparecircncia por meio de siacutetios eletrocircnicos proacuteprios agraves

formas de caacutelculo e criteacuterios de cobranccedila discriminando dentre outras informaccedilotildees o

tipo de

usuaacuterio tempo e lugar de utilizaccedilatildeo bem como os criteacuterios de distribuiccedilatildeo dos valores

dos direitos

autorais arrecadados incluiacutedas as planilhas e demais registros de utilizaccedilatildeo das

obras e fonogramas fornecidas pelos usuaacuterios

II - Dar publicidade e transparecircncia por meio de siacutetios eletrocircnicos proacuteprios

aosestatutos regulamentos de arrecadaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo agraves atas de suas reuniotildees

deliberativas e aoscadastros das obras e titulares que representam bem como o

montante arrecadado e distribuiacutedo e

III ndash Buscar eficiecircncia operacional dentre outros meios pela reduccedilatildeo de

seucustos administrativos e dos prazos de distribuiccedilatildeo dos valores aos titulares de

direitos

Paraacutegrafo uacutenico As informaccedilotildees contidas nos incisos I e II devem ser atualizadas no

miacutenimosemestralmenterdquo (NR)

ldquoArt 98-C

As associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos autorais deveratildeo manteatualizados e

disponiacuteveis aos associados os documentos e as informaccedilotildees previstas nos incisos II III

do art 98-Ardquo (NR)

ldquoArt 98-D

199

As associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos autorais deveratildeo prestacontas dos valores

devidos em caraacuteter regular e de modo direto aos seus associados

Paraacutegrafo uacutenico O direito agrave prestaccedilatildeo de contas poderaacute ser exercido diretamentpor

qualquer associado ou indiretamente por intermeacutedio do Ministeacuterio da Culturardquo (NR)

ldquoArt 99-A

As associaccedilotildees que reuacutenam titulares de direitos sobre as obraaudiovisuais e o

escritoacuterio central a que se refere o art 99 deveratildeo unificar a arrecadaccedilatildeo dodireitos

relativos agrave exibiccedilatildeo e execuccedilatildeo puacuteblica inclusive por meio de radiodifusatildeo ou

transmissatildepor qualquer modalidade quando essa arrecadaccedilatildeo recair sobre um

mesmo usuaacuterio sejdelegando a cobranccedila a uma delas seja constituindo um ente

arrecadador com personalidadejuriacutedica proacutepria

sect 1ordm Ateacute a implantaccedilatildeo da arrecadaccedilatildeo unificada prevista neste artigo a arrecadaccedilatildee

distribuiccedilatildeo dos direitos sobre as obras musicais literomusicais e fonogramas

referentes exibiccedilatildeo audiovisual seraacute feita pelo escritoacuterio central previsto no art 99

quer se trate de obracriadas especialmente para as obras audiovisuais ou obras preacute-

existentes agraves mesmas

sect 2O A organizaccedilatildeo da arrecadaccedilatildeo unificada de que trata o caput deste artigodeveraacute

ser feita de comum acordo entre as associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos

autoraicorrespondentes e o escritoacuterio central inclusive no que concerne agrave definiccedilatildeo

dos criteacuterios dedivisatildeo dos valores arrecadados entre as associaccedilotildees e o escritoacuterio

central

sect 3O Os autores das obras musicais criadas especialmente para as

obraaudiovisuais considerados co-autores da obra audiovisual nos termos do caput do

art 16 poderatildeconfiar o exerciacutecio de seus direitos a associaccedilatildeo de gestatildeo coletiva de

direitos musicais ou associaccedilatildeo de gestatildeo coletiva de direitos sobre obras audiovisuais

sect 4ordm Na ausecircncia de acordo para a organizaccedilatildeo da arrecadaccedilatildeo unificada de quetrata este

artigo o Ministeacuterio da Cultura poderaacute na forma do regulamento e a pedido de

qualquedas partes manifestar-se objetivando a aplicaccedilatildeo do disposto neste artigo ou a

pedido das partesatuar administrativamente na resoluccedilatildeo do conflitordquo (NR)

ldquoArt 99-B

A arrecadaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da remuneraccedilatildeo a que se refere o artigo88-A seraacute feita por

meio das associaccedilotildees de gestatildeo coletiva constituiacutedas para este fim as quaideveratildeo

unificar a arrecadaccedilatildeo seja delegando a cobranccedila a uma delas seja constituindo um

entarrecadador com personalidade juriacutedica proacutepria

sect1ordm - A entidade de gestatildeo coletiva responsaacutevel pela cobranccedila ou o oacutergatildeo

arrecadador criado pelas entidades atuaraacute em juiacutezo e fora dele em seu proacuteprio

nome como substituto processual dos titulares de direitos a ele vinculado

sect 2ordm - A parcela destinada aos autores natildeo poderaacute ser inferior a cinquumlenta por cento

dos valores arrecadados pela entidade arrecadadora prevista no caput deduzida as

despesas de administraccedilatildeordquo (NR)

ldquoArt 100-A

Os dirigentes das associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos autorais e

200

do escritoacuterio central respondem solidariamente com seus bens particulares por

desvio de finalidade ou quanto ao inadimplemento das obrigaccedilotildees para com os

associados por dolo ou culpardquo (NR)

ldquoArt 100-B

Os litiacutegios entre usuaacuterios e titulares de direitos autorais ou seus mandataacuterios em

relaccedilatildeo aos criteacuterios de cobranccedila e valores de arrecadaccedilatildeo e entre titulares e suas

associaccedilotildees em relaccedilatildeo aos valores e criteacuterios de distribuiccedilatildeo poderatildeo ser objeto da

atuaccedilatildeo administrativa do Ministeacuterio da Cultura para a resoluccedilatildeo de conflitos na forma

do regulamento sem prejuiacutezo da apreciaccedilatildeo pelos oacutergatildeos do Sistema Brasileiro de

Defesa da Concorrecircncia quando cabiacutevelrdquo (NR)

ldquoArt 105-A

Os responsaacuteveis pela hospedagem de conteuacutedos na Internet poderatildeo ser

responsabilizados solidariamente nos termos do Artigo 105 por danos

decorrentes da colocaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico de obras e fonogramas por terceiros

sem autorizaccedilatildeo de seus titulares se notificados pelo titular ofendido e natildeo tomarem as

providecircncias para no acircmbito do seu serviccedilo e dentro de prazo razoaacutevel tornar

indisponiacutevel o conteuacutedo apontado como infringente

sect 1ordm Os responsaacuteveis pela hospedagem de conteuacutedos na Internet devem oferecer

de forma ostensiva ao menos um canal eletrocircnico dedicado ao recebimento de

notificaccedilotildees e contranotificaccedilotildees sendo facultada a criaccedilatildeo de mecanismo

automatizado para atender aos procedimentos dispostos nesta Seccedilatildeo

sect 2ordm A notificaccedilatildeo de que trata o caput deste artigo deveraacute conter sob pena de

invalidade

I ndash identificaccedilatildeo do notificante incluindo seu nome completo seus nuacutemeros de

registro civil e fiscal e dados atuais para contato

II ndash data e hora de envio

III ndash identificaccedilatildeo clara e especiacutefica do conteuacutedo apontado como infringente que

permita a localizaccedilatildeo inequiacutevoca do material pelo notificado

IV ndash descriccedilatildeo da relaccedilatildeo entre o notificante e o conteuacutedo apontado como

infringente e

VI ndash justificativa juriacutedica para a remoccedilatildeo

sect 3ordm Ao tornar indisponiacutevel o acesso ao conteuacutedo caberaacute aos responsaacuteveis pela

hospedagem de conteuacutedos na Internet informar o fato ao responsaacutevel pela colocaccedilatildeo agrave

disposiccedilatildeo

do puacuteblico comunicando-lhe o teor da notificaccedilatildeo de remoccedilatildeo e fixando prazo razoaacutevel

para a eliminaccedilatildeo definitiva do conteuacutedo infringente

sect 4ordm Caso o responsaacutevel pelo conteuacutedo infringente natildeo seja identificaacutevel ou natildeo

possa ser localizado e desde que presentes os requisitos de validade da notificaccedilatildeo

cabe aos responsaacuteveis pela hospedagem de conteuacutedos na Internet manter o bloqueio

sect 5ordm Eacute facultado ao responsaacutevel pela colocaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico observados

os requisitos do sect 2ordm contranotificar os responsaacuteveis pela hospedagem de conteuacutedos na

Internet requerendo a manutenccedilatildeo do conteuacutedo e assumindo a responsabilidade

exclusiva pelos eventuais danos causados a terceiros caso em que caberaacute aos

201

responsaacuteveis pela hospedagem de conteuacutedos na Internet o dever de restabelecer o

acesso ao conteuacutedo indisponibilizado e informar ao notificante o restabelecimento

sect 6ordm Qualquer outra pessoa interessada fiacutesica ou juriacutedica observados os requisitos

do sect 2ordm poderaacute contranotificar os responsaacuteveis pela hospedagem de conteuacutedos na

Internet assumindo a responsabilidade pela manutenccedilatildeo do conteuacutedo

sect 7ordm Tanto o notificante quanto o contranotificante respondem nos termos da lei

por informaccedilotildees falsas errocircneas e pelo abuso ou maacute-feacute

sect 8ordm Os usuaacuterios que detenham poderes de moderaccedilatildeo sobre o conteuacutedo de

terceiros se equiparam aos responsaacuteveis pela hospedagem de conteuacutedos na Internet para

efeitos do disposto neste artigoldquo (NR)

ldquoArt 109-A

A prestaccedilatildeo de informaccedilotildees falsas do disposto no sect 7ordm do art 68

sujeitaraacute os responsaacuteveis a multa de dez a trinta por cento do valor originariamente

cobradordquo (NR)

ldquoArt 110-A

O titular de direito autoral ou seu mandataacuterio que ao exercer seu

direito de forma abusiva praticar infraccedilatildeo da ordem econocircmica sujeitar-se-aacute no que

couber agraves disposiccedilotildees da Lei nordm 8884 de 11 de junho de 1994 sem prejuiacutezo das demais

sanccedilotildees cabiacuteveisrdquo (NR)

ldquoArt 110-B

O oferecimento por parte de titular de direitos autorais ou pessoa a

seu serviccedilo de ganho vantagem proveito ou benefiacutecio material direto ou

indireto para os proprietaacuterios diretores funcionaacuterios ou terceiros a serviccedilo de

empresas de radiodifusatildeo ou serviccedilos de televisatildeo por assinatura com o intuito de

aumentar ou diminuir artificiosamente a frequecircncia da execuccedilatildeo ou exibiccedilatildeo puacuteblica

de obras ou fonogramas especiacuteficos caracterizaraacute infraccedilatildeo da ordem econocircmica na

forma da Lei nordm 8884 de 1994 e iliacutecito civil estando sujeito neste caso ao pagamento

de multa no valor de duas ateacute vinte vezes o valor oferecido agrave parte que demonstrar

prejuiacutezo direto ou indireto

sect 1ordm Incorrem nas mesmas infraccedilotildees e sujeitam-se agraves mesmas sanccedilotildees previstas no

caput deste artigo os proprietaacuterios diretores funcionaacuterios ou terceiros a serviccedilo de

empresas de radiodifusatildeo ou serviccedilos de televisatildeo por assinatura que com o intuito de

aumentar ou diminuir artificiosamente a frequecircncia da execuccedilatildeo ou exibiccedilatildeo

puacuteblica de obras ou fonogramas especiacuteficos solicitarem ou receberem para si ou

para outrem direta ou indiretamente ganho vantagem proveito ou benefiacutecio material

sect 2ordm O disposto neste artigo natildeo se aplica se o ato praticado constituir inserccedilatildeo

publicitaacuteria desde que a mesma seja previamente informada ao puacuteblico e que natildeo seja

computada para efeitos de arrecadaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo dos direitos autorais decorrentes

da execuccedilatildeo e exibiccedilatildeo puacuteblicasrdquo (NR)

ldquoArt 110-C

A inobservacircncia do disposto nos incisos I e II do Artigo 98ndashB nos

202

Artigos 98ndashC e 98ndashD bem como no sect 6ordm do art 99 sujeitaraacute os dirigentes das

associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos autorais ou do escritoacuterio central agrave multa de ateacute

R$ 5000000 (cinquenta mil reais) aplicada pelo Ministeacuterio da Cultura mediante

regular processo administrativo assegurado o contraditoacuterio e a ampla defesa conforme

disposto em regulamento

sect 1ordm A multa prevista no caput poderaacute ser aumentada em 50 (cinquumlenta por cento) a

cada nova reincidecircncia

sect 2ordm Os valores referentes agrave aplicaccedilatildeo da multa de que trata este artigo seratildeo

revertidos ao Fundo Nacional de Culturardquo (NR)

ldquoArt 111-A

A accedilatildeo civil por violaccedilatildeo a direitos autorais prescreve em cinco anos

contados da data da violaccedilatildeo do direito

Paraacutegrafo uacutenico Em caso de praacutetica continuada de violaccedilatildeo de direitos autorais de

determinado autor ou titular de direitos pelo mesmo infrator ou grupo de infratores

conta-se a prescriccedilatildeo do uacuteltimo ato de violaccedilatildeordquo (NR)

ldquoArt 113-A Enquanto os serviccedilos de registro de que trata o art 19 desta Lei natildeo

forem organizados pelo Poder Executivo Federal o autor da obra intelectual poderaacute

registraacute-la conforme sua natureza

I - na Fundaccedilatildeo Biblioteca Nacional

II - na Escola de Muacutesica da Universidade Federal do Rio de Janeiro

III - na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro ou

IV - no Conselho Federal de Engenharia Arquitetura e Agronomia

sect 1ordm Se a obra for de natureza que comporte registro em mais de um desses oacutergatildeos

deveraacute ser registrada naquele com que tiver maior afinidade

sect 2ordm Natildeo se aplica o disposto neste artigo para o registro de programas de

computador

sect 3ordm Enquanto o valor e processo de recolhimento de retribuiccedilatildeo natildeo forem

estabelecidos em ato do Ministro da Cultura estes continuam sendo estabelecidos por

ato do titular do oacutergatildeo ou entidade da administraccedilatildeo puacuteblica federal a que estiver

vinculado o registro das obras intelectuais

sect 4ordm Fica o Poder Executivo Federal autorizado a transferir os acervos e

documentos das entidades e oacutergatildeos relacionados neste artigo ao oacutergatildeo ou entidade que

assumir essa atribuiccedilatildeo observado o regulamentordquo (NR)

ldquoArt 113-B Aplicam-se subsidiariamente as normas do Coacutedigo Civil aos negoacutecios

juriacutedicos direitos e deveres previstos nesta Leirdquo (NR)

Art 5o

Ficam revogados

I - o art 17 da Lei nordm 5988 de 14 de dezembro de 1973 e

II - o art 21 as aliacuteneas ldquohrdquo e ldquoirdquo do inciso VIII do art29 e o inciso II do art 49 todos

da Lei nordm 9610 de 19 de fevereiro de 1998

Brasiacutelia de de 2009 188ordm da Independecircncia e 121ordm da

Repuacuteblica

Page 3: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRASrepositorio.ul.pt/bitstream/10451/7438/1/ulfl126977_tm.pdf · of knowledge with different cultures and peoples. The dematerialization and

3

A Deus e a mamatildee que tornaram possiacutevel a realizaccedilatildeo deste trabalho

4

5

You never change things by fighting the existing reality To change something

build a new model that makes the existing model obsolete

(Buckminster Fuller)

6

7

IacuteNDICE

AGRADECIMENTOS 9

LISTA DE SIGLAS 11

RESUMO 15

ABSTRACT 17

INTRODUCcedilAtildeO 19

CAPIacuteTULO I

NOVAS TECNOLOGIAS NOVOS PARADIGMAS 25

10 O ideal da Rede como um territoacuterio livre 27

20 O fenocircmeno da desmaterializaccedilatildeo da obra 32

30 Espaccedilo e tempo se comprimem a dromocracia firma-se 35

40 Somos todos criadores a fusatildeo entre autor e consumidor 38

50 A era de ouro do remix 44

60 Tipos de vigilacircncia e tecnologias de controlo quem satildeo e como trabalham os

gatekeepers do ciberespaccedilo 47

CAPIacuteTULO II

DIREITOS DE AUTOR E REGULACcedilAtildeO DO CIBERESPACcedilO BRASIL E PORTUGAL

EM PERSPECTIVA 57

10 Breve retrospectiva histoacuterica do surgimento dos direitos de autor 59

20 Direitos morais e direitos patrimoniais 61

21 Direitos morais 61

22 Direitos patrimoniais 62

30 Direitos de autor e regulaccedilatildeo da Internet no Brasil e em Portugal 64

31 Legislaccedilatildeo autoral brasileira 64

32 Reforma da Lei brasileira do Direito Autoral (LDA) 67

33 O Marco Civil da Internet 69

34 Legislaccedilatildeo autoral portuguesa 73

35 Regulaccedilatildeo da Internet em Portugal 75

40 Salvaguarda dos direitos de autor e combate agrave pirataria no Brasil e em Portugal

Azeredo e Lei da Coacutepia Privada 71

41 O Projeto de Lei Azeredo 71

8

42 A Lei da Coacutepia Privada em Portugal 80

50 Controlo do ciberespaccedilo e acordos aleacutem fronteiras alguns casos-chave 84

51 HADOPI 84

52 Sinde-Wert 85

53 SOPA 86

54 ACTA 87

60 Brasil e Portugal algumas semelhanccedilas e diferenccedilas 88

70 Direitos de autor e regulaccedilatildeo da Internet uma relaccedilatildeo nebulosa 91

CAPIacuteTULO III

HARMONIZACcedilAtildeO DE INTERESSES 97

10 O direito de acesso agrave informaccedilatildeo e agrave comunicaccedilatildeo como um direito humano 99

20 Novos modelos e outras alternativas de conciliaccedilatildeo entre artistas induacutestria e

usuaacuterios de Internet 103

30 Flexibilizaccedilatildeo do regime autoral o Creative Commons 103

31 O Creative Commons Portugal 108

32 As licenccedilas 30 108

33 Parcerias 109

40 A exceccedilatildeo para compartilhamento de arquivos 110

50 Cloud computing 114

60 Licenccedila global 116

70 Mecenato global 117

80 Contribuiccedilatildeo criativa 118

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 121

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 127

ANEXOS 143

9

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo em primeiro lugar a Deus que esteve comigo todo o tempo e que me

deu refrigeacuterio nos momentos de dificuldade A mamatildee que me incentivou sempre

acreditou em mim e em meus objetivos e natildeo mediu esforccedilos para concretizaacute-los Aos

professores e colegas do mestrado com quem aprendi muito nos uacuteltimos dois anos

Aos meus amigos de perto e de longe que de alguma forma conseguiram aplacar a

dor da distacircncia Agradeccedilo especialmente agraves amigas Claacuteudia Caetano Nadeige Thireacute e

Naima Dahmas e ao professor Pedro Coelho que me deram forccedila vital em momentos

criacuteticos sem a qual eu natildeo teria concluiacutedo o curso

Quero dar meu ldquomuito obrigadardquo tambeacutem aos meus familiares principalmente agrave

minha prima Edyane Franco e ao meu tio Eacutelio Campos que tambeacutem apostaram em mim e

me deram todo apoio possiacutevel Tio e prima espero um dia retribuir todo o bem que vocecircs

jaacute fizeram e fazem agrave minha vida Que Deus lhes abenccediloe sempre

Ao meu caro orientador professor Manuel Frias Martins que me deu toda

liberdade de pensamento e de ideias para realizar esse trabalho aleacutem de contribuir

muitiacutessimo com suas orientaccedilotildees sempre concisas e praacuteticas Suas criacuteticas foram todas

construtivas Para aleacutem de grande mestre ficaraacute em minha lembranccedila como ser humano

admiraacutevel e exemplo de professor

Agradeccedilo tambeacutem agraves professoras que tive na Faculdade de Letras da Universidade

de Lisboa fora do departamento de Comunicaccedilatildeo e Cultura Ana Vrajitoru Roxana

Ciolaneanu e Zlatka Timenova-Valtcheva E um ldquoobrigadardquo agrave cara colega Manuela

Zamith

Agraves queridas irmatildes Ceciacutelia Faacutetima Maria Meyre Socorro e ao irmatildeo Eliacutesio que

sempre tiveram meu nome em conta em suas oraccedilotildees Quero partilhar essa vitoacuteria com

vocecircs tambeacutem

10

11

LISTA DE SIGLAS

ACTA - Anti-Counterfeiting Trade Agreement

ADAMI - Socieacuteteacute pour lAdministration des droits des artistes et musiciens

interpregravetes

AGECOP - Associaccedilatildeo para Gestatildeo da Coacutepia Privada

ANACOM - Autoridade Nacional de Comunicaccedilotildees

AOL - America On-Line

APCT - Associaccedilatildeo Portuguesa para o Controlo de Tiragem e Circulaccedilatildeo

ARPANet - Advanced Research Projects Agency Network

BBC - British Broadcasting Corporation

CDA - Coacutedigo do Direito de Autor e dos Direitos Conexos

Cesar - Centro de Estudos e Sistemas Avanccedilados do Recife

CNIL ndash Comission Nationale de lrsquoInformatique et des Liberteacutes

CNPD - Comissatildeo Nacional de Protecccedilatildeo de Dados

CNPJ ndash Cadastro Nacional de Pessoa Juriacutedica

CPF ndash Cadastro de Pessoas Fiacutesicas

CRIS - Communication Rights in the Information Society

DADVSI - loi relative aux Droits drsquoAuteur et aux Droits Voisins dans la Socieacuteteacute de

lrsquoInformation

DRM - Digital Rights Management

DUDH - Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos

ECAD - Escritoacuterio Central de Arrecadaccedilatildeo e Distribuiccedilatildeo

EUA ndash Estados Unidos da Ameacuterica

12

FBI - Federal Bureau of Investigation

FCEE-UCP - Faculdade de Ciecircncias Econocircmicas e Empresarias da Universidade Catoacutelica

Portuguesa

FGV DIREITO RIO - Escola de Direito da Fundaccedilatildeo Getulio Vargas no Rio de Janeiro

FSF - Free Software Foundation

GB ndash Gigabyte

GMT ndash Greenwich Mean Time

HADOPI ndash Haute Autoriteacute pour la Diffusion des Œuvres et la Protection des Droits

sur Internet

IBM - International Business Machines Corporation

ICANN - Internet Corporation for Assigned Names and Numbers

ICS - Instituto da Comunicaccedilatildeo Social

INTELI - empresa de tecnologia Inteligecircncia em Inovaccedilatildeo

ISCTE - Instituto Superior de Ciecircncias do Trabalho e da Empresa

IST - Instituto Superior Teacutecnico

IVA - Imposto sobre o Valor Acrescentado

IVC - Instituto Verificador de Circulaccedilatildeo

LDA ndash Lei do Direito Autoral

MinC ndash Ministeacuterio da Cultura

OMC - Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio

ONU ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

P2P ndash Peer-to-peer

PL118 ndash Projeto de Lei da Coacutepia Privada

13

PLC - Projeto de Lei da Cacircmara dos Deputados

PLS - Projeto de Lei do Senado Federal

PS - Partido Socialista

SALMJ - Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministeacuterio da Justiccedila

SARD ndash Socieacuteteacute drsquoAcceptation et de Reacutepartition des Dons

Serpro - Serviccedilo Federal de Processamento de Dados

SOPA ndash Stop Online Piracy Act

SPA - Sociedade Portuguesa de Autores

SPEDIDAM ndash Socieacuteteacute de Perception et de Distribution des Droits des Artistes-

Interpregravetes

SSD - Solid-state drive

STIM - Svenska Tonsaumlttares Internationella Musikbyraring

TB - Terabyte

TIC - Tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo

UE ndash Uniatildeo Europeia

UMIC - Agecircncia para a Sociedade do Conhecimento

UnB - Universidade de Brasiacutelia

UNESCO - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura

UNL - Universidade Nova de Lisboa

UP - Universidade do Porto

USB ndash Universal Serial Bus

USP - Universidade de Satildeo Paulo

VJ - Video Jockey

14

VOD - Video on demand

WSIS - World Summit on the Information Society

15

RESUMO

As tecnologias digitais foram responsaacuteveis por profundas metamorfoses em nossas

atividades laborais e interaccedilotildees sociais As maacutequinas conectadas em rede nos permitiram

aceder a conteuacutedos produzidos nos mais distantes pontos do planeta e estreitar os laccedilos de

conhecimento com diferentes culturas e povos

A desmaterializaccedilatildeo e reproduccedilatildeo com alto teor de fidelidade de bens culturais

alterou nossos haacutebitos de consumo A gradual eliminaccedilatildeo dos suportes materiais e a

praticidade dos arquivos digitais fez-nos consumir cultura em quantidades e formatos

jamais antes imaginados

O advento do digital pocircs em xeque os tradicionais papeis de artistas e induacutestrias e

levou-nos por um caminho sem alternativa a necessidade de acompanhar as

transformaccedilotildees que se sucederam e de adaptarmo-nos a elas No combate a praacuteticas como

a pirataria as legislaccedilotildees de muitos paiacuteses foram endurecidas e os meios juriacutedicos que

versam sobre o tema enveredaram por caminhos radicais

O presente estudo traz essa problemaacutetica agrave discussatildeo tomando como objetos de

anaacutelise os contextos brasileiro e portuguecircs Discutimos as legislaccedilotildees que versam sobre os

direitos autorais em ambos os paiacuteses para assim nos concentrarmos nas relaccedilotildees entre

tecnologia e Direito bem como nas metamorfoses produzidas pela Internet nessas ligaccedilotildees

desde sempre delicadas Para tal tratamos tambeacutem da questatildeo da regulaccedilatildeo da Rede tema

intimamente ligado agraves mateacuterias anteriormente citadas

Palavras-chave Cibercultura Controlo Direitos de autor Internet Privacidade

Regulaccedilatildeo da Internet

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17

ABSTRACT

The digital technologies were responsible for profound transformations in our work

activities and social interactions The network connected machines allowed us to gain

access to contents produced in the most remotes parts of the world and to strengthen ties

of knowledge with different cultures and peoples

The dematerialization and reproduction with hi-fi quality of cultural goods has

altered our consumption habits The gradual removal of the material support and the

convenience of digital files made us consume culture in quantities and formats never

imagined before

The advent of the digital put into question the traditional roles of artists and

industries and led us to a path of no return the need to follow up the changes which have

taken place and adapt to them In the combat against practices like piracy the legislation

of many countries was hardened and we saw the legal means dealing with the theme in

radical ways

This study discusses this problem taking as objects of analysis the brazilian and

portuguese contexts We discuss the laws that deal with copyright in both countries in

order to focus on the relations between technology and law and on the transformations

produced by the Internet in these very delicate links To this end we also deal with the Net

regulation which is a theme closely linked to the aforementioned topics

Key-words Cyberculture Control Copyright Internet Privacy Internet regulation

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INTRODUCcedilAtildeO

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21

O advento da Rede e dos meios eletrocircnicos de comunicaccedilatildeo representou uma

revoluccedilatildeo sem volta no mundo dos negoacutecios e das relaccedilotildees humanas Nascemos vivemos

trabalhamos e morremos sob a eacutegide da automatizaccedilatildeo do tratamento de dados e da maior

parte dos processos executados por instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas Jaacute ningueacutem pode

imaginar o mundo sem a rede de telecomunicaccedilotildees que liga os mais distantes pontos do

planeta A informatizaccedilatildeo penetrou todas as esferas da vida e faz parte das atividades que

desenvolvemos e ateacute de noacutes mesmos ndash o que natildeo nos deixa esquecer o visionaacuterio Marshal

McLuhan e sua teoria dos meios como extensotildees do Homem

Com a Internet surgem o ciberespaccedilo e todas as implicaccedilotildees que um novo lugar

representa abre-se uma nova esfera onde figuramos como indiviacuteduos portadores de uma

identidade e de poderes de accedilatildeo mas natildeo soacute Vimos instituiacuterem-se novas formas de poder

a fim de hierarquizar as relaccedilotildees e criar o miacutenimo de ordem para um bom funcionamento

Essa institucionalizaccedilatildeo passa pelo campo legislativo e representou para o Direito o

grande desafio de legislar em um espaccedilo livre das amarras fiacutesicas e suas limitaccedilotildees

Legislar em um lugar transfronteiriccedilo global e sem barreiras geograacuteficas passou a ser uma

missatildeo ineacutedita e desafiadora poreacutem espinhosa

A Rede abriu novos nichos de mercado mas tambeacutem representou a entrada da

economia tradicional em um caminho de colapso sem volta A necessidade de modificar

certas praacuteticas comerciais vem se impondo de forma cada vez mais exigente E essa

mudanccedila natildeo passa apenas pela missatildeo de desenvolver produtos para serem vendidos em

lojas virtuais Haacute que considerar que os proacuteprios produtos passaram em si mesmos por

uma metamorfose radical a desmaterializaccedilatildeo Na era da informatizaccedilatildeo muitos bens satildeo

constituiacutedos por bits e jaacute natildeo estatildeo fixados em suportes materiais Compra-se muacutesica em

mp3 literatura e livros acadecircmicos em formato e-book filmes em formatos que

permitem a visualizaccedilatildeo em aparelhos moacuteveis por exemplo A miniaturizaccedilatildeo dos

equipamentos favoreceu a compressatildeo dos bens culturais em arquivos cada vez menores e

compactos faacuteceis de serem descarregados e trocados

Se antes encontraacutevamos um amigo e lhe empresaacutevamos um CD hoje podemos

enviar-lhe as mesmas muacutesicas sem sair de casa por e-mail acessiacuteveis atraveacutes de um link

que o redireciona a um site de hospedagem de arquivos ou a um software de partilha

peer-to-peer (P2P) Praacuteticas como esta geraram profundas mudanccedilas na forma como

consumimos cultura A evoluccedilatildeo da tecnologia facilitou a reproduccedilatildeo aleacutem de barateaacute-la

consideravelmente

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Para combater a troca de arquivos protegidos por direitos de autor vaacuterios paiacuteses

desenvolveram projetos de lei que propotildeem o endurecimento dos diplomas vigentes

visando utilizar a tecnologia para combater a proacutepria tecnologia Esse endurecimento das

legislaccedilotildees nacionais e internacionais propotildee o uso de medidas que causam bastante

polecircmica como taacuteticas de vigilacircncia e controlo do traacutefego de informaccedilotildees na Rede A

situaccedilatildeo levanta duacutevidas sobre as reais motivaccedilotildees de governos e empresas privadas

engajadas nessa luta contra o desrespeito aos direitos de autor Qual o limite dessas

medidas Natildeo haveria outras saiacutedas que evitassem accedilotildees radicais e invasivas

O presente estudo traz essa problemaacutetica agrave discussatildeo tomando como foco um

breve quadro comparativo entre Brasil e Portugal Discutimos as legislaccedilotildees que versam

sobre os direitos autorais em ambos as paiacuteses para assim direcionarmos nosso estudo para

as relaccedilotildees entre tecnologia e Direito e para as metamorfoses produzidas pela rede

mundial de computadores nessas relaccedilotildees desde sempre delicadas Para tal tratamos

tambeacutem da questatildeo da regulaccedilatildeo da Internet tema que natildeo eacute visivelmente relacionado com

os direitos de autor mas que os atravessa em seu nuacutecleo

Dividimos o estudo em trecircs capiacutetulos No primeiro trazemos agrave tona conceitos mais

gerais relacionados com o surgimento e desenvolvimento da Rede como a utoacutepica ideia

de um territoacuterio livre de controlo a desmaterializaccedilatildeo dos bens culturais as novas praacuteticas

de consumo e outras transformaccedilotildees que ela acarretou Ainda nesse capiacutetulo discutimos

algumas situaccedilotildees em que a tecnologia eacute utilizada para exercer vigilacircncia e monitoraccedilatildeo

como nas atividades relacionadas com o emprego e o marketing por exemplo

No segundo capiacutetulo entramos diretamente no campo das ciecircncias juriacutedicas

traccedilando um breve panorama do nascimento dos direitos de autor para em seguida nos

dedicarmos aos nossos dois objetos de estudo Portugal e Brasil Comeccedilamos por delinear

um quadro histoacuterico de ambos os paiacuteses no campo do Direito avanccedilando depois para o

estudo de projetos especiacuteficos de cada paiacutes como o Projeto de Lei Azeredo no Brasil e a

Lei da Coacutepia Privada em Portugal

Eacute ainda no segundo capiacutetulo que damos alguns exemplos de projetos de lei

voltados para o combate agrave pirataria na Rede em proporccedilotildees globais (ou que mesmo locais

satildeo paradigmaacuteticos ou que podem afetar quem estaacute para aleacutem de suas fronteiras de

atuaccedilatildeo) Falamos tambeacutem sobre a regulaccedilatildeo da Internet no Brasil e em Portugal e para

finalizarmos traccedilamos uma ponte entre direitos de autor e regulaccedilatildeo temas

intrinsecamente relacionados apesar de esta relaccedilatildeo nem sempre ser evidente

23

Abrimos o terceiro e uacuteltimo capiacutetulo tratando do direito agrave informaccedilatildeo e agrave

comunicaccedilatildeo como um direito humano Em seguida apresentamos algumas propostas de

conciliaccedilatildeo entre interesses da induacutestria dos autores e dos usuaacuterios da Rede ndash seja atraveacutes

de alternativas aos sistemas fechados de licenciamento de obras intelectuais seja por meio

de novos modelos comerciais que combinem preccedilos atraentes boa oferta e respeito pelos

direitos de autor

Decidimos traduzir todas as citaccedilotildees feitas a partir de obras em liacutengua estrangeira

de maneira a conservar a unidade linguiacutestica do trabalho As expressotildees e termos

estrangeiros foram grafados em negrito enquanto que os sublinhados aspas e itaacutelicos

foram utilizados para grafar nomes proacuteprios e ressaltar ideias que noacutes (ou os autores

citados) consideramos relevantes

Tambeacutem para facilitar a leitura optamos por fazer uma lista com as siglas e

abreviaturas constantes no texto juntamente com seus respectivos equivalentes por

extenso Resolvemos disponibilizar como anexos trecircs textos-chave que utilizamos neste

trabalho o texto brasileiro do Marco Civil da Internet o novo Projeto de Lei da Coacutepia

Privada portuguecircs e o diploma brasileiro com as propostas de reforma da Lei do Direito

Autoral

24

25

CAPIacuteTULO I

NOVAS TECNOLOGIAS NOVOS PARADIGMAS

26

27

10 O ideal da Rede como um territoacuterio livre

O nascimento da Internet foi acompanhado pelo ideal utoacutepico de surgimento de um

espaccedilo de liberdade absoluta A convicccedilatildeo era a de que se podia fazer muito pouco para

controlar o fluxo de informaccedilotildees que ultrapassam as fronteiras geograacuteficas A forma como

a conexatildeo entre as maacutequinas e a proacutepria arquitetura do sistema foram pensadas e

realizadas contribuiacutea para seu caraacuteter descentralizado e independente Criada como

ferramenta militar a antiga ARPANet foi projetada pelos norte-americanos para ser uma

rede de transmissatildeo de informaccedilotildees baseada em pontos como uma teia de aranha Se um

desses pontos fosse sabotado o sistema natildeo se danificaria pois natildeo possui um ceacuterebro

central a ser atingido A queda de um dos noacutes natildeo impossibilita a circulaccedilatildeo de

informaccedilotildees Nicolas Negroponte ressalta o prodiacutegio do sistema descentralizado que eacute a

Rede e compara seu modelo de funcionamento aos patos voando em formaccedilatildeo mesmo na

inexistecircncia de um comando suas peccedilas se ajustam de maneira admiraacutevel (Negroponte

1995 156-157)

A maior contribuiccedilatildeo da Rede agrave humanidade talvez tenha sido a liberaccedilatildeo do poacutelo

da emissatildeo ou da palavra (Lemos 2007b 37) isto eacute qualquer pessoa que tenha acesso a

um computador conectado agrave Internet pode falar e ser ouvida por centenas milhares de

outros utilizadores da Rede Atraveacutes da publicaccedilatildeo de textos viacutedeos etc em blogs e redes

sociais o internauta pode comunicar-se de maneira interativa com outros e propagar suas

ideias

O nascimento das tecnologias digitais construiu uma nova espeacutecie de cultura

marcada por relaccedilotildees sociais econocircmicas e poliacuteticas mediadas pela esfera virtual a

cibercultura O aparecimento da cibercultura tem a ver sobretudo com a transformaccedilatildeo

dos novos aparatos de informaccedilatildeo em recursos de uso ordinaacuterio por parte de pessoas e

instituiccedilotildees nessa nova era a utilizaccedilatildeo de equipamentos como telefones portaacuteteis palms

pages etc e praacuteticas como o voto eletrocircnico e o uso de home bankings se tornaram

rotineiras A palavra cibercultura aparece para dar conta desse e dos demais fenocircmenos

que nasceram agrave volta das noviacutessimas tecnologias de comunicaccedilatildeo das chamadas miacutedias

digitais interativas

Associa-se a criaccedilatildeo da expressatildeo cibercultura agrave engenheira norte-americana Alice

Hilton Fundadora do Instituto de Pesquisas Ciberculturais em 1964 Hilton foi pioneira ao

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usar a expressatildeo com sentido enfaacutetico referindo-se com seu uso a uma exigecircncia eacutetica da

nova era da automaccedilatildeo e das maacutequinas inteligentes (Ruumldiger 2011 08) Para a autora a

revoluccedilatildeo que essa nova era pocircs em marcha coloca agrave sociedade um desafio eacutetico de escala

universal A humanidade deve agora escolher entre a educaccedilatildeo emancipatoacuteria e o lazer

criativos de um lado e a adaptaccedilatildeo mecacircnica e a idiotia apaacutetica de outro Hilton afirmava

que a revoluccedilatildeo ciberneacutetica tornava necessaacuteria uma reestruturaccedilatildeo dos programas e

processos educacionais jaacute que apenas ldquoos seres humanos que aprenderem a usar a

maacutequina com sabedoria seratildeo por ela liberados para alcanccedilar sua excelecircnciardquo (Hilton

1964 146)

Com o aparecimento da Internet surgiram definiccedilotildees mais abrangentes Arturo

Escobar diz que o termo cibercultura refere-se ldquoa um amplo processo de construccedilatildeo

sociocultural (da realidade) posto em marcha no rastro das novas tecnologiasrdquo (Escobar

apud Ruumldiger 2011 09) Jaacute Pierre Leacutevy propocircs um conceito mais direto a cibercultura eacute

ldquoo conjunto de teacutecnicas (materiais e intelectuais) de praacuteticas de atitudes de modos de

pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do

ciberespaccedilordquo (Leacutevy 1999 17) Consideremos o ciberespaccedilo (o novo lugar onde se

desenvolve o mundo virtual e todos os processos que permitem e atuam em seu

funcionamento) como efeito da cibercultura

A cibercultura eacute classificada por Luacutecia Santaella como a sexta e mais recente era

cultural (Santaella 2010 77) Os estaacutegios anteriores seriam oral escrito impresso de

massas e das miacutedias A cultura de massa resultado do aacutepice de desenvolvimento das

induacutestrias culturais ficou marcada pela ideia do Homem como um mero receptor sem

poder de decisatildeo despersonalizado e alienado pela enxurrada de informaccedilotildees generalistas

produzidas em larga escala Isso se deu segundo Joeumll Rosnay porque a estrutura de

distribuiccedilatildeo e difusatildeo dos produtos e serviccedilos culturais baseada em um modelo piramidal

transformou-nos de facto em receptores passivos (Rosnay 1997 295-296) O exemplo

crucial eacute o da televisatildeo natildeo haacute qualquer relaccedilatildeo dinacircmica entre produtores e receptores de

informaccedilatildeo A uacutenica forma de saber o que o puacuteblico pensa eacute realizar inqueacuteritos pesquisas

de audiecircncia ou outros levantamentos do gecircnero ndash mas tudo isso se faz em outro contexto

que natildeo o do momento do visionamento Agrave parte disso soacute recebemos aquilo que nos eacute

dado sem poder interferir nos processos produtivos

A passagem para a cultura das miacutedias se deu com o aparecimento da TV por cabo

do fax das fotocopiadoras do videocassete e de um sortimento maior de possibilidades de

29

comunicaccedilatildeo Eacute aiacute que a segmentaccedilatildeo da audiecircncia aparece para quebrar a uniformidade

da oferta

Mas foi na transiccedilatildeo da cultura das miacutedias para a cibercultura que houve a

mudanccedila mais profunda a relaccedilatildeo receptiva de sentido uacutenico com o televisor caminhou

rumo ao modo interativo e bidirecional que eacute exigido pelos computadores Para Francisco

Ruumldiger na nova miacutedia digital a comunicaccedilatildeo eacute interativa em sentido simultaneamente

especiacutefico e ampliado ampliado por um lado porque permite a interaccedilatildeo humana ativa e

em matildeo dupla com os proacuteprios equipamentos e meios que a viabilizam especiacutefico de

outro porque esta circunstacircncia permite ainda a interaccedilatildeo social ativa com outros seres

humanos ao promover o aparecimento de redes participativas que superam a pura e

simples interligaccedilatildeo social como ocorria nas miacutedias precedentes (Ruumldiger 2011 13)

A cibercultura abriu vias alternativas de comunicaccedilatildeo e deu ao puacuteblico uma vasta

gama de opccedilotildees nunca antes possiacutevel Ao contraacuterio das miacutedias precedentes que montavam

suas grades de programaccedilatildeo e de conteuacutedos agrave revelia das muacuteltiplas preferecircncias do

puacuteblico no ciberespaccedilo o utilizador tem infinitas possibilidades de escolha podendo

transitar de um conteuacutedo para outro em apenas alguns cliques criando seu proacuteprio

ambiente informacional e mesclando-o com outros Natildeo que antes natildeo houvesse

possibilidades de acesso e produccedilatildeo underground da informaccedilatildeo (fanzines raacutedios piratas

etc) ndash elas sempre existiram mas com alcance bastante limitado

Na cibercultura a piracircmide produtiva em seu modelo hieraacuterquico no qual os

papeis desempenhados eram fixos comeccedila a ceder Cada um pode torna-se produtor

criador difusor de seus proacuteprios conteuacutedos A sociedade de distribuiccedilatildeo piramidal

comeccedilou a sofrer a concorrecircncia de uma sociedade reticular de integraccedilatildeo em tempo real ndash

eacute essa uma das caracteriacutesticas mais marcantes da nova era midiaacutetica a era da cibercultura

Cada vez mais ela vecirc seu lugar de mediadora social da opiniatildeo puacuteblica ser denunciado e

rejeitado por partes significativas das grandes massas que antes se deixavam de bom

grado representar (Rushkoff 1999 141-142)

No entanto essa mudanccedila natildeo significou a morte daquilo a que Manuel Castells

chamou ldquooligopoacutelios comunicacionaisrdquo (Castells 2005 24) A influecircncia das grandes

induacutestrias de miacutedia e dos conglomerados comunicacionais continua relativamente forte no

ciberespaccedilo persistindo tambeacutem a defesa de seus interesses em detrimento do interesse

puacuteblico Conforme Castells afirma

30

() a sociedade em rede constitui comunicaccedilatildeo socializante para laacute do sistema de mass

media que caracterizava a sociedade industrial Mas natildeo representa o mundo de

liberdade entoada pelos profetas da ideologia libertaacuteria da Internet Ela eacute constituiacuteda

simultaneamente por um sistema oligopolista de negoacutecios multimeacutedia que controlam um cada vez mais inclusivo hipertexto e pela explosatildeo de redes horizontais de

comunicaccedilatildeo localglobal (CASTELLS 2005 24)

Os grandes conglomerados temem perder sua influecircncia e seu prestiacutegio e para

evitar ameaccedilas reagem usando muitos meios que ajudam a manter seu status quo no

universo comunicacional Basta que os interesses das empresas vejam-se ameaccedilados por

iniciativa dos usuaacuterios para o conflito explodir e o confronto aparecer em toda sua

violecircncia (Antoun Lemos amp Pecini 2007 264)

Eacute preciso salientar que o desenvolvimento da informaacutetica expandiu natildeo apenas as

ferramentas libertaacuterias que abriram um maior acesso agrave informaccedilatildeo e agrave cultura mas

tambeacutem os meios de controlo a esse acesso A tecnologia se mostra uma faca de dois

gumes capaz de facilitar o contato de seu usuaacuterio com canais eficientes de interaccedilatildeo e

participaccedilatildeo mas ao mesmo tempo uacutetil aos governos e aos grupos de interesses em sua

empreitada pela vigilacircncia das atividades desse usuaacuterio na Rede Recorrendo mais uma

vez a Castells

Aplicaccedilotildees de software podem configurar-se sobre a Internet permitindo a

identificaccedilatildeo de rotas de comunicaccedilatildeo e conteuacutedos Atraveacutes do uso destas tecnologias pode-se transgredir a privacidade e enquanto se chega a relacionar determinados

indiviacuteduos com processos de comunicaccedilatildeo especiacuteficos em contextos institucionais

concretos eacute possiacutevel utilizar todas as formas tradicionais de controlo poliacutetico e

organizativo contra o indiviacuteduo ligado em rede (CASTELLS 2007 203)

Dispositivos moacuteveis equipamentos informaacuteticos interligados e redes sem fio

constituem o territoacuterio informacional Entenda-se por territoacuterio informacional as zonas de

controlo de informaccedilatildeo resultantes da intersecccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico com o eletrocircnico

Pensar em termos de territoacuterio digital permite visualizar a fronteira do fluxo

informacional colocando-nos questotildees poliacuteticas relacionadas com a privacidade o

controlo e a vigilacircncia Isto porque ldquotodo territoacuterio informacional eacute um lugar social de

vigilacircncia de fronteiras jaacute que lsquoa soberania se exerce nos limites de um territoacuteriorsquo

(Foucault 2006 27) Os territoacuterios informacionais satildeo lugares onde se exercem controles

[]rdquo (Lemos 2007a 208) Em obra posterior Andreacute Lemos afirma ainda o seguinte

31

O territoacuterio informacional natildeo eacute o ciberespaccedilo mas o espaccedilo movente hiacutebrido

formado pela relaccedilatildeo entre o espaccedilo eletrocircnico e o espaccedilo fiacutesico Por exemplo o lugar

de acesso sem fio em um parque por redes wi-fi eacute um territoacuterio informacional distinto

do espaccedilo fiacutesico parque e do espaccedilo eletrocircnico Internet Ao acessar a Internet por essa rede wi-fi o usuaacuterio estaacute em um territoacuterio informacional imbricado no territoacuterio fiacutesico

(e poliacutetico cultura imaginaacuterio etc) do parque [] O territoacuterio informacional cria um

lugar dependente dos espaccedilos fiacutesico e eletrocircnico a que ele se vincula [] O que estaacute

em jogo eacute o controle (territorializaccedilatildeo) informacional e consequentemente uma nova

funccedilatildeo dos espaccedilos (puacuteblicos e privados) (LEMOS 2010 64)

Ainda haacute quem acredite que a Rede eacute um territoacuterio neutro sem governanccedila que

exerccedila algum controlo de entrada e do traacutefego de conteuacutedos em circulaccedilatildeo A situaccedilatildeo natildeo

eacute bem esta desde que a Internet passou a ser mateacuteria de legislaccedilatildeo ndash como em casos de

paiacuteses que jaacute punem judicialmente algueacutem que produza e divulgue via Internet

informaccedilotildees caluniosas sobre outrem cometa fraudes financeiras usando a Rede como

canal fira a propriedade intelectual etc

Vaacuterios autores consideram o ciberespaccedilo como um espaccedilo ilimitado constituiacutedo

por redes informacionais planetaacuterias permitindo a circulaccedilatildeo fora de qualquer

constrangimento Para eles a Rede seria portanto um espaccedilo puro e eteacutereo Os entusiastas

da liberdade absoluta na Internet afirmam que no ciberespaccedilo o territoacuterio rugoso e

resistente eacute apagado apenas subsistindo um espaccedilo fluido feito para circulaccedilatildeo Contudo

embora realmente permita essa circulaccedilatildeo o ciberespaccedilo eacute tambeacutem um espaccedilo estriado

institucionalizado controlado feito por protocolos de acessos a partir de senhas

informacionais organizado por padrotildees tecnoloacutegicos que satildeo geridos pelo ICANN

instituiccedilatildeo do Departamento de Comeacutercio Americano O ciberespaccedilo natildeo eacute um territoacuterio

apenas liso e fluido mas tambeacutem um territoacuterio de controlo e vigilacircncia ou seja um ldquolugar

de territorializaccedilatildeordquo (Lemos 2007b 44-45)

Para Luacutecia Santaella o tratamento criacutetico das chamadas ldquosupervias

informacionaisrdquo e da cibercultura que nelas se gera pode se dividir em duas tendecircncias a

eufoacuterica e a disfoacuterica (Santaella 2010 72-73) Os adeptos eufoacutericos pregam a ideia da

libertaccedilatildeo e das possibilidades utoacutepicas abertas pela comunicaccedilatildeo digital A atmosfera de

zona livre que a Internet aparentava ter nutriu ideais de mudanccedilas das formas de poder

social vigentes Pensou-se a Rede e seu caraacuteter imaterial como um novo espaccedilo livre das

formas tradicionais de propriedade Como diz Sherry Turkle ldquoPessoas que pensam o

mundo em termos burocraacuteticos preconizaram os modos pelos quais as comunidades

eletrocircnicas estariam fadadas a minar as formas tradicionais de organizaccedilatildeo e poder

sociaisrdquo (Turkle 1997 247)

32

No outro extremo estatildeo os adeptos disfoacutericos que transplantam para o ciberespaccedilo

os mesmos criteacuterios utilizados para criticar as outras miacutedias a cultura de massas e a

induacutestria cultural sem considerar as novidades e as especificidades desse novo meio Eacute

preciso considerar que o ciberespaccedilo eacute um fenocircmeno suficientemente complexo para que

natildeo o categorizemos a partir do ponto de vista de qualquer miacutedia previamente existente

Ateacute na discussatildeo referente agrave regulaccedilatildeo1 devemos considerar esse aspecto Mais adiante

voltaremos a falar sobre isso

Henrique Antoun salienta a metamorfose provocada pela comunicaccedilatildeo distribuiacuteda

pelas redes interativas mas critica o cacircntico do cibermundo libertador entoado pelos mais

entusiasmados Apesar do potencial transformador das novas tecnologias de seu poder de

reunir pessoas em prol de objetivos comuns e de seu largo alcance no globo a profusatildeo

em cascata de informaccedilotildees irrelevantes ergue um gigantesco tsunami onde se guarda a

maior parte dos conteuacutedos em circulaccedilatildeo na Internet E isso tudo estaacute longe da

recombinaccedilatildeo criadora e da atitude libertaacuteria preconizada nos mantras entoados pelos

ciberativistas (Antoun 2010 142)

Devemos considerar poreacutem que atraveacutes da apoteose da emissatildeo livre (liberdade de

vozes opiniotildees ideias) o ciberespaccedilo abriu possibilidades de mudanccedila movimento e

linhas de fuga Natildeo eacute agrave toa que atitudes de repressatildeo agrave palavra e agrave conexatildeo livres satildeo

prerrogativas tiacutepicas dos regimes totalitaacuterios

O facto eacute que os poderes judiciaacuterios de vaacuterias naccedilotildees espalhadas pelo planeta

perceberam a necessidade de punir natildeo apenas quem ferisse a moral de outra pessoa

atraveacutes da Rede mas tambeacutem quem atentasse contra outro dos ldquodireito de personalidaderdquo

ndash a saber os direitos de autor - e tambeacutem quem desrespeitasse a propriedade intelectual

Com isso a principal duacutevida que se levanta desde entatildeo eacute como adaptar o quadro juriacutedico

que versa sobre os direitos de autor os direitos conexos e a propriedade intelectual a esse

novo meio o virtual Para tentar responder a essa questatildeo eacute preciso observar algumas

mudanccedilas trazidas natildeo soacute pela Internet mas tambeacutem pelas miacutedias digitais de maneira

geral

20 O fenocircmeno da desmaterializaccedilatildeo da obra

1 Utilizamos aqui o termo regulaccedilatildeo para nos referirmos ao conjunto de medidas legais ou regulamentares

que regem um assunto (no caso um meio a Internet) embora haja especialistas que evoquem o mesmo tema

com os termos regulamentaccedilatildeo governaccedilatildeo ou governanccedila

33

Em seu formato analoacutegico uma informaccedilatildeo ndash agrave maneira de uma onda sonora que

se desloca no ar ou de um sinal eleacutetrico ndash eacute uma grandeza fiacutesica que varia e evolui no

tempo de maneira contiacutenua A digitalizaccedilatildeo consiste em dividir essa grandeza em

pequenas fraccedilotildees mediante o valor que tecircm em intervalos regulares (para a muacutesica de um

CD por exemplo 40000 vezes por segundo) Depois eacute preciso quantificar esse valor

atribuindo-lhe uma identificaccedilatildeo informaacutetica sob formato binaacuterio isto eacute utilizando apenas

dois nuacutemeros 0 e 1 (bits da informaccedilatildeo) O sinal digital eacute portanto um fluxo de bits

estocado em um disco laser e agrupado em pacotes podendo ser tratado por qualquer

computador

A digitalizaccedilatildeo homogeneiacuteza todas as fontes de informaccedilatildeo em cadeias sequenciais

de 0 e 1 Suas maiores vantagens satildeo a compressatildeo de dados e a correccedilatildeo de erros A

compressatildeo baseia-se no facto de que um sinal conteacutem muitas informaccedilotildees inuacuteteis ou

redundantes Atraveacutes da observaccedilatildeo dos bits no tempo no espaccedilo ou em ambos podem-se

remover as repeticcedilotildees comprimindo assim a forma baacutesica do som e da imagem Isso

permite inclusive a compressatildeo e descompressatildeo codificando e decodificando mensagens

em viacutedeo por exemplo A fusatildeo entre aacuteudio viacutedeo e texto em um soacute produto eacute

denominada multimiacutedia Ela refere-se assim ao tratamento digital de todas as

informaccedilotildees (som imagem programas informaacuteticos e texto) com a mesma linguagem

universal aquilo a que Joeumll Rosnay chamou de ldquoesperanto das maacutequinasrdquo (Rosnay 1997

97)

Antes da digitalizaccedilatildeo os suportes eram incompatiacuteveis e isolados cada um com

uma funccedilatildeo especiacutefica fita magneacutetica para viacutedeo ou som papel para texto e peliacutecula para

fotografia ou filme Hoje a transmissatildeo de dados digitais natildeo depende do meio de

transporte (cabos sateacutelite ondas de raacutedio etc) e sua qualidade natildeo eacute afetada por ele

Aleacutem do mais sua estocagem eacute extremamente barata Desde o iniacutecio da informaacutetica as

memoacuterias dos computadores tecircm evoluiacutedo sempre em direccedilatildeo a uma maior capacidade de

armazenamento maior miniaturizaccedilatildeo maior rapidez de acesso e confiabilidade enquanto

seu custo cai constantemente O processamento de dados por parte dos computadores

tambeacutem se desenvolve a passos largos obedecendo agrave previsatildeo de Gordon Moore em 1965

(naquela que ficou conhecida como ldquoLei de Moorerdquo que disse que o poder de

processamento dos computadores dobraria a cada vinte e quatro meses) (Leacutevy 1999 34)

34

Em um uacutenico setor do todo digital foram fundidas as principais formas de comunicaccedilatildeo

humana o documento escrito (imprensa livro etc) o audiovisual (cinema televisatildeo

etc) as telecomunicaccedilotildees (telefone cabo sateacutelites) e a informaacutetica (computadores

softwares etc) Eacute esse o processo comumente denominado ldquoconvergecircncia das miacutediasrdquo

(Santaella 2010 84)

A digitalizaccedilatildeo tambeacutem facilitou os processos de transferecircncia de dados Depois de

serem convertidos em linguagem binaacuteria os dados hiacutebridos podem ser sintetizados em

qualquer lugar e em qualquer tempo para gerar produtos com as mesmas caracteriacutesticas

visuais e sonoras Assim os dados natildeo dependem do tempo nem do espaccedilo podendo ser

reproduzidos de maneira idecircntica natildeo importando qual tenha sido sua origem nem seu

destino Eles satildeo telegrafaacuteveis Para que isso se realize precisam apenas de um modem e

de uma conexatildeo telefocircnica entre terminais de computadores

Foram dois estudantes da Universidade de Chicago que criaram o modem em

1978 Para natildeo percorrerem a longa distacircncia entre suas respectivas casas os estudantes

tentaram desenvolver um sistema de transferecircncia de programas de um computador a

outro via telefone Eles entatildeo inventaram o protocolo Xmodem que permitia que

computadores transferissem arquivos diretamente sem passar por um sistema principal

Modem significa ldquomodulador-desmoduladorrdquo Ele transforma os impulsos eletrocircnicos

produzidos pelo computador (os coacutedigos sob a forma de bits) em impulsos sonoros ou

digitais compactados tornando-os assim capazes de viajar em alta velocidade pelas redes

telefocircnicas Na recepccedilatildeo outro modem reconverte esses impulsos em textos sons ou

imagens Joeumll Rosnay diz que o modem eacute a sinapse universal do sistema nervoso

planetaacuterio (Rosnay 1997 138)

Portanto o que diferencia a informaccedilatildeo distribuiacuteda pela Internet daquela difundida

em formatos tradicionais eacute a natureza ela deixou de se apoiar em suportes fiacutesicos como

um livro ou CD por exemplo para ser convertida em linguagem binaacuteria O efeito nos leva

a pensar em paralelo ao que Karl Marx quis dizer quando afirmou que ldquotudo o que eacute soacutelido

desmancha no arrdquo (Marx apud Berman 1982 85) Essa mudanccedila na forma como a

informaccedilatildeo eacute fixada provocou profundas transformaccedilotildees na maneira como eacute distribuiacuteda

comercializada e reproduzida A desmaterializaccedilatildeo da obra diminuiu os limites entre a

reproduccedilatildeo difusatildeo e sua circulaccedilatildeo Jaacute natildeo existem barreiras fiacutesicas que separem os trecircs

processos Uma obra que antes soacute poderia ser distribuiacuteda pelos serviccedilos postais hoje pode

ser acessada atraveacutes de um download e seu conteuacutedo pode ser visualizado por meio de um

35

servidor de Internet A era da cibercultura faz nascer um novo paradigma a digitalizaccedilatildeo

que por ter vocaccedilatildeo cosmopolita rompe fronteiras barateando os custos da circulaccedilatildeo e

reproduccedilatildeo de artefatos culturais

A aura da obra original agrave qual se referiu Walter Benjamin no claacutessico texto ldquoA

obra de arte na era da sua reprodutibilidade teacutecnicardquo (Benjamin 2012 59) quebra-se

duplamente na era da cibercultura natildeo soacute pela possibilidade de copiaacute-la infinitamente

mas tambeacutem de reproduzi-la e espalhaacute-la sem sequer ser preciso algum suporte fiacutesico

Pierre Sirinelli afirma que o fenocircmeno da digitalizaccedilatildeo de bens culturais ldquopode levar agrave

lsquodessacralizaccedilatildeorsquo da obra de criaccedilatildeo intelectual com a eliminaccedilatildeo de seu suporte fiacutesico

[]rdquo (Sirinelli apud Neto 1997 14) A ausecircncia do exemplar material faz faltar uma das

caracteriacutesticas da obra protegida pelo direito do autor a fixaccedilatildeo (Paesani 2008 48) A

desmaterializaccedilatildeo da obra e suas consequecircncias satildeo pontos centrais na discussatildeo sobre as

mudanccedilas sofridas pelo direito de autor na era da informatizaccedilatildeo

30 Espaccedilo e tempo se comprimem a dromocracia firma-se

As novas tecnologias criaram um novo lugar o mundo virtual que eacute o espaccedilo onde

se desenvolve nossa existecircncia enquanto agentes virtuais capazes de intervir e de ocupar

esse territoacuterio

A noccedilatildeo de territoacuterio eacute polissecircmica e natildeo deve ser entendida apenas pelo aspecto

juriacutedico como espaccedilo fiacutesico delimitado (Lemos 2007a 209) A ideia de territoacuterio evoca o

sentido de controlo sobre fronteiras que podem ser fiacutesicas sociais simboacutelicas ou

subjetivas A criaccedilatildeo de um territoacuterio supotildee a intenccedilatildeo de controlar os processos que se

datildeo no interior das fronteiras Desterritorializar eacute portanto quebrar essas fronteiras criar

linhas de fuga Eacute justamente o que vem acontecendo desde o surgimento da Rede

A transformaccedilatildeo midiaacutetica promovida pela Internet aboliu nossas tradicionais

noccedilotildees de espaccedilo fiacutesico-geograacutefico A rede mundial de computadores trouxe a diminuiccedilatildeo

das distacircncias geograacuteficas de forma ainda mais acentuada que outros meios de

comunicaccedilatildeo veteranos ndash como o telefone por exemplo - atraveacutes de uma instantaneidade

nunca vista antes Ela promoveu a convergecircncia de diversos meios de comunicaccedilatildeo

fazendo-os trabalhar em conjunto e assim possibilitando o surgimento de um espaccedilo

multimiacutedia capaz de unificar tecnologias de texto aacuteudio e viacutedeo em tempo real

36

Com o advento da Internet a informaccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo deixaram de estar

espacialmente localizadas - isto eacute foram transferidas para o espaccedilo virtual ou ciberespaccedilo

possibilitando o contato simultacircneo de inuacutemeras pessoas entre si e com a memoacuteria do

conjunto dos computadores participantes da rede independentemente de sua localizaccedilatildeo

no espaccedilo (Sorj 2003 36) A cibercultura representou a apoteose da ldquoaldeia globalrdquo

imaginada por Marshall McLuhan (1969) agrave maneira de uma aldeia onde as notiacutecias

espalham-se velozmente a comunicaccedilatildeo em escala global se produz de maneira

praticamente instantacircnea

Armand Mattelart argumenta que a Rede tornou nulas as noccedilotildees de centralidade de

territorialidade e de materialidade

As quatro virtudes cardeais da sociedade informacional ndash ldquodescentralizarrdquo ldquoglobalizarrdquo ldquoharmonizarrdquo e ldquodar pleno poder para fazerrdquo (empowerment) ndash estatildeo a

ponto de derrubar o arcaico Leviatatilde Noacutes nos socializaremos em bairros digitais nos

quais o espaccedilo fiacutesico natildeo seraacute mais pertinente O digital suportaraacute cada vez menos a

dependecircncia em relaccedilatildeo a um lugar especiacutefico e a um tempo especiacutefico

(MATELLART 2002 150)

Anteriormente afirma que

A transgressatildeo das fronteiras eacute seu corolaacuterio quer sejam elas fiacutesicas ou funcionais O

local o nacional e o global se interpenetram A concepccedilatildeo a produccedilatildeo e a

comercializaccedilatildeo satildeo pensadas de modo sincrocircnico O recipiente e o conteuacutedo o

hardware e o software se englobam (MATTELART 2002 53)

Andreacute Lemos refere-se ao ciberespaccedilo como ambiente ldquodesterritorializanterdquo

segunda dimensatildeo de lugar que se constitui em uma realidade agrave parte do mundo material

em que vivemos e que apaga as fronteiras existentes no mundo fiacutesico pelo chamado

multiculturalismo (Lemos 2007a 212) A Rede abre espaccedilo para que diferentes culturas

se expressem e se mostrem dando-se a conhecer aos outros

Podemos dizer que a cibercultura serviu como agente difusor por excelecircncia do

multiculturalismo pela possibilidade de contatos transnacionais que promoveu Nossas

raiacutezes culturais natildeo se desprendem de noacutes mas tornam-se moacuteveis flutuantes Se

quisermos descobrir o sufismo por exemplo podemos aceder diretamente a um site

egiacutepcio e mesmo que natildeo saibamos ler em aacuterabe jaacute haacute ferramentas que permitem fazecirc-lo

pois auxiliam na traduccedilatildeo bruta de textos Nem mesmo as liacutenguas estrangeiras representam

37

barreiras Podemos ter liccedilotildees baacutesicas de aacuterabe gratuitamente pela Internet A abertura de

espaccedilos para as diferentes expressotildees culturais e linguiacutesticas manifestarem-se e a

facilidade de aceder a elas atingiu seu apogeu no ciberespaccedilo todo um universo

multicultural de pluralidade estaacute largamente disponiacutevel a alguns cliques de distacircncia

Hoje a Rede permite ao usuaacuterio estar em todos os lugares ao mesmo tempo mas

numa espeacutecie de natildeo-lugar ou de territoacuterio transnacionalizado Atraveacutes da Internet eacute

possiacutevel ouvir uma raacutedio francesa ler um jornal indiano e visitar um site russo Fazemos

coisas assim diariamente com naturalidade e facilidade Podemos conversar com um

amigo que estaacute no Liacutebano atraveacutes do Skype sem nos darmos conta de que vivemos um

processo de desterritorializaccedilatildeo generalizado Acompanhamos o desenrolar da Primavera

Aacuterabe ao vivo atraveacutes da Rede acessamos informaccedilotildees e descobrimos aquilo que natildeo faz

necessariamente parte de nosso territoacuterio fiacutesico Podemos vivenciar processos globais natildeo

enraizados na nossa tradiccedilatildeo cultural Esse fenocircmeno eacute o que Anthony Giddens (2005 15)

chama de ldquodescontextualizaccedilatildeordquo2

Por descontextualizaccedilatildeo refiro-me agrave ldquodesinserccedilatildeordquo das relaccedilotildees sociais dos contextos

locais de interacccedilatildeo e agrave sua reestruturaccedilatildeo atraveacutes de extensotildees indefinidas de espaccedilo-

tempo Os mecanismos de descontextualizaccedilatildeo [] removem as relaccedilotildees sociais da sua

ldquofixaccedilatildeordquo em locais especiacuteficos (GIDDENS 2005 15-37)

A compressatildeo do espaccedilo-tempo institui o ldquotempo realrdquo e a possibilidade de acesso

a informaccedilotildees em todos os recantos do planeta As miacutedias eletrocircnicas criam assim

processos desterritorializantes em niacuteveis poliacutetico econocircmico social cultural e subjetivo

A desterritorializaccedilatildeo informacional afeta a poliacutetica a economia o indiviacuteduo os viacutenculos

identitaacuterios a arte A Internet eacute efetivamente maacutequina desterritorializante sob os aspectos

poliacutetico (acesso e accedilatildeo para aleacutem das fronteiras) econocircmico (circulaccedilatildeo financeira

mundial) cultural (consumo de bens simboacutelicos mundiais) e subjetivo (influecircncia global

na formaccedilatildeo do sujeito) Pode-se afirmar que processos de desencaixe e de compressatildeo

espaccedilo-tempo entraram em accedilatildeo na cibercultura

Isso leva-nos a pensar no conceito de ldquodromologiardquo proposto por Paul Virilio

(2000) e retomado por Eugecircnio Trivinho (2007) Dromologia vem da palavra dromos no

original grego ldquocorridardquo A dromologia seria portanto o estudo da velocidade que

segundo Virilio tornou-se desde a Revoluccedilatildeo Industrial o regime tecnoloacutegico integral que

2 No original em inglecircs disembedding (Giddens 1995)

38

abarca todas as esferas da vida e que se ergueu como sistema social de caraacuteter

transnacional

Trivinho fala em ldquodromocracia ciberculturalrdquo para descrever a atual fase mundial

do capitalismo tardio Integrando comunicaccedilatildeo em rede instantaneidade e cultura digital

ela se traduz em outros termos como o estaacutegio mais avanccedilado da civilizaccedilatildeo midiaacutetica em

tempo real Ela tornou-se a loacutegica exponencial especiacutefica da cibercultura Dizendo de

maneira inversa a cibercultura em sua natureza se mostra como uma sociodromocracia

tecnoloacutegica em sua forma mais definida (Trivinho 2007 23)

Podemos dizer que a cibercultura eacute a era dromocraacutetica por excelecircncia no

ciberespaccedilo a velocidade eacute a grandeza mais significativa e influente

O permanente intento de vitoacuteria cineacutetica sobre o territoacuterio geograacutefico alcanccedila assim paradoxalmente na intermitente linha do tempo histoacuterico o seu ponto-limite a sua

condiccedilatildeo insuperaacutevel de natildeo-retorno com a proliferaccedilatildeo comercial dos meios

eletrocircnicos de comunicaccedilatildeo especificamente no que dizem respeito ao tempo real []

O respectivo ecircxito sobre o territoacuterio geograacutefico significa mais propriamente liquidaccedilatildeo

e superaccedilatildeo do mesmo em favor da loacutegica pura do tempo (TRIVINHO 2007 56-57)

A questatildeo do territoacuterio tem relaccedilatildeo direta com o controlo A noccedilatildeo de territoacuterio

como controlo vem da etologia mostrando como o comportamento dos animais estabelece

zonas efetivas de controlo Toda ideia de territoacuterio tem ligaccedilatildeo direta com a noccedilatildeo de

acesso e controlo no interior das fronteiras Para Lemos as palavras acesso e controlo satildeo

extremamente importantes para que consigamos compreender a sociedade tecnoloacutegica

contemporacircnea (Lemos 2007b 43) O acesso ao universo informacional se daacute atraveacutes de

palavras-passe E na Rede haacute efetivamente um maior controlo sobre o que emitimos e

recebemos ao contraacuterio da praacutetica de consumo de informaccedilatildeo na cultura de massas Na

claacutessica cultura de massas a possibilidade de controlo existia apenas sobre as informaccedilotildees

recebidas escolha de jornais de emissoras de televisatildeo de estaccedilotildees de raacutedio etc mas natildeo

sobre a emissatildeo O territoacuterio informacional eacute uma heterotopia (Foucault 1984) do controlo

e acesso a informaccedilotildees digitais

40 Somos todos criadores a fusatildeo entre autor e consumidor

39

O papel do autor sofreu profundas metamorfoses na era da cibercultura

Hildebrando Neto afirma que ldquoas novas tecnologias afastaram o criador da criaccedilatildeo

pulverizando os mecanismos de defesa da obra no acircmbito das redes de comunicaccedilatildeo

eletrocircnicardquo (Neto 1997 14) A aceleraccedilatildeo tecnoloacutegica tambeacutem cria outro receptor ativo

agitado cada vez mais conectado e produtor de novos valores sentidos e comportamentos

Na cibercultura a produccedilatildeo de informaccedilotildees deixou de obedecer agrave ordem do fluxo um

todos e passou a ser todos todos (Leacutevy 1999 63) Conforme diz Ronaldo Lemos

A grande promessa da Internet era exatamente esta romper com as barreiras entre

produtor e consumidor da cultura entre puacuteblico e artista Criar um territoacuterio neutro aberto que tornasse o indiviacuteduo o centro da informaccedilatildeo Um territoacuterio em que natildeo

necessariamente seria preciso reproduzir o modelo de concentraccedilatildeo da miacutedia que

predominou em todo o seacuteculo XX Em outras palavras tornar a cultura um produto da

interaccedilatildeo entre todos permitindo a qualquer um participar criativamente na sua

constituiccedilatildeo (LEMOS 2005 181)

Andreacute Lemos afirma que a cibercultura reconfigurou a induacutestria cultural pois

instaurou uma estrutura midiaacutetica iacutempar na histoacuteria da humanidade pela primeira vez

qualquer indiviacuteduo pode produzir e publicar informaccedilatildeo em tempo real sob diversos

formatos e modulaccedilotildees adicionar e colaborar em rede com outros etc (Lemos 2007b

39)

No atual contexto da cibercultura o antigo receptor passa a produzir e emitir sua

proacutepria informaccedilatildeo de forma livre multimodal (em vaacuterios formatos midiaacuteticos) e

planetaacuteria Os usuaacuterios estatildeo produzindo viacutedeos fotos muacutesicas escrevendo em blogs

criando foacuteruns e comunidades desenvolvendo softwares e ferramentas da Web 20 A

facilidade de produzir conteuacutedos tambeacutem afeta a forma como se daacute essa tarefa A

revoluccedilatildeo no papel do produtor atinge um ponto-chave no processo criativo a questatildeo do

estilo O estilo pode ser definido como um certo modo de criar proacuteprio de um autor

indicado pelas marcas de autoria (Santaella 2009 104)

Nos seacuteculos precedentes se encarava a atividade de criaccedilatildeo como algo

completamente individual O autor era algueacutem que isoladamente desenvolvia suas

criaccedilotildees artiacutesticas de forma solitaacuteria soacute deixando essa situaccedilatildeo no momento em que

apresentava sua obra publicamente pela primeira vez Conforme diz Henrique Gandelman

[] nesse periacuteodo noacutes temos a obra totalmente individual que se reconhece ateacute pelo estilo Se vocecirc lecirc um texto vecirc uma pintura ouve uma muacutesica no raacutedio vocecirc vai dizer

esse aiacute eacute Bach esse aiacute eacute Mozart esse aiacute eacute Joatildeo Gilberto O estilo eacute o proacuteprio homem a

40

continuaccedilatildeo da sua personalidade Entatildeo noacutes podemos observar que as primeiras leis de

direito autoral satildeo enfocadas centralizadas nesse trabalho individual em que se tinha

claramente o escritor o pintor o compositor o arquiteto que satildeo trabalhos feitos por

uma individualidade na solidatildeo do seu trabalho (GANDELMAN 1997 68)

As consequecircncias que o desenvolvimento tecnoloacutegico teve no estilo natildeo podem ser

deixadas de lado Maacutequinas como o computador alteraram o gesto criativo humano

automatizando-o Elas passam a funcionar como parceiras do indiviacuteduo no ato de criar

Luacutecia Santaella sugere que jaacute que o estilo se define pelas marcas de autor na

contemporaneidade eacute preciso compartilhar essas marcas com as maacutequinas que misturam

personificaccedilatildeo e automatizaccedilatildeo da criaccedilatildeo (Santaella 2009 105)

Outro fator que coloca profundamente em questatildeo a tradicional ideia de autoria

encontra-se no vastamente discutido conceito de interatividade Tecnologias da

inteligecircncia satildeo sine qua non tecnologias interativas E por isso mesmo elas nublam as

fronteiras entre produtores e consumidores emissores e receptores Nas formas literaacuterias

no teatro no cinema na televisatildeo e no viacutedeo haacute sempre uma linha divisoacuteria relativamente

clara entre produtores e receptores o que natildeo acontece mais nas novas formas de

comunicaccedilatildeo e de criaccedilatildeo interativas

Para Julio Plaza a interatividade natildeo eacute somente uma comodidade teacutecnica e

funcional ela implica fiacutesica psicoloacutegica e sensivelmente o espectador em uma praacutetica de

transformaccedilatildeo (Plaza 2001 36) O princiacutepio que rege a interatividade nas redes eacute o da

mutabilidade da efemeridade do vir-a-ser em processos que demandam a reciprocidade a

colaboraccedilatildeo a partilha A interatividade ciberespacial natildeo seria possiacutevel sem a

competecircncia semioacutetica do usuaacuterio para lidar com as interfaces computacionais Essa

competecircncia semioacutetica implica vigilacircncia receptividade escolha colaboraccedilatildeo controlo

desvios reenquadramentos em estados de previsibilidade de acasos desordens

adaptabilidade que satildeo entre outras as condiccedilotildees exigidas para quem prevecirc um sistema

interativo e para quem o experimenta (Santaella 2009 108-109)

Com a liberaccedilatildeo da emissatildeo os usuaacuterios podem produzir e transmitir de forma

planetaacuteria diversos tipos de informaccedilatildeo nos mais variados formatos O advento da Internet

e das maacutequinas interconectadas fomentou o aparecimento de plataformas colaborativas de

construccedilatildeo do saber Segundo Andreacute Lemos ldquoAs formas da arte eletrocircnica colaborativas

mostram diversas accedilotildees coletivas participativas e recombinatoacuterias nas quais pessoas e

grupos cooperam entre si pela via telemaacutetica [] A Internet desde seus primoacuterdios

41

configura-se como lugar de conexatildeo e compartilhamentordquo (Lemos 2007b 40) Desde seu

surgimento o ciberespaccedilo fez crescer as formas de produccedilatildeo e o consumo informacional

pela liberdade produtiva pela circulaccedilatildeo e por processos colaborativos Uma nova

economia poliacutetica comeccedilou a tomar forma produccedilatildeo significa liberaccedilatildeo da emissatildeo e

consumo eacute conexatildeo circulaccedilatildeo distribuiccedilatildeo

Como jaacute dito anteriormente os tradicionais meios de comunicaccedilatildeo unidirecionais

(emissor receptor) sofreram um abalo de proporccedilotildees gigantescas com consequecircncias

irreversiacuteveis Rodrigo Moraes reforccedila essa mudanccedila dizendo que os sistemas de

compartilhamento de arquivos por exemplo foram uma das novas ferramentas que

puseram em xeque o modelo centralizador das miacutedias claacutessicas estruturado num uacutenico

canal de emissatildeo (Moraes 2006 311) A tecnologia digital derruba a noccedilatildeo unilateral de

produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de obras intelectuais pois as novas capacidades dos usuaacuterios

descentralizaram o tradicional monopoacutelio imposto haacute seacuteculos pelas chamadas induacutestrias

culturais

Para Pierre Leacutevy a diferenccedila entre o atual estaacutegio da sociedade de informaccedilatildeo e o

quadro comunicacional anterior agrave informatizaccedilatildeo eacute substancialmente que no ciberespaccedilo

natildeo falamos mais de uma difusatildeo a partir de centros mas sim de um lugar de intensa

interaccedilatildeo O ciberespaccedilo abriga negociaccedilotildees sobre significados processos de

reconhecimento muacutetuo dos indiviacuteduos e dos grupos por meio das atividades de

comunicaccedilatildeo harmonizaccedilatildeo e debate entre os participantes (Leacutevy 1999 224)

A Rede promoveu uma abertura agrave democratizaccedilatildeo do saber O poder reunido na

centralizaccedilatildeo das informaccedilotildees vem sendo quebrado gradativamente e as novas

ferramentas de comunicaccedilatildeo comeccedilam a ser deixadas ao alcance de muitos Essa

transformaccedilatildeo evoca o conceito de inteligecircncia coletiva elaborado por Pierre Leacutevy Na era

da cibercultura assistimos agrave construccedilatildeo coletiva de conhecimentos jaacute que o espectador

tem o poder de ser tambeacutem ele emissor de informaccedilotildees e estar em contato com outros

para partilhaacute-las A inteligecircncia coletiva ldquoEacute uma inteligecircncia distribuiacuteda por toda parte

incessantemente valorizada coordenada em tempo real que resulta em uma mobilizaccedilatildeo

efetiva das competecircnciasrdquo (Leacutevy 2003 28) Partindo do pressuposto de que ldquoNingueacutem

sabe tudo todos sabem alguma coisa todo o saber estaacute na humanidaderdquo (ibidem 29) o

autor diz que o conhecimento se constroacutei na reuniatildeo do saber de cada um sobre

determinado assunto Ele estaacute em constante mutaccedilatildeo pois as diferentes informaccedilotildees vatildeo

se agregando gradativamente durante sua construccedilatildeo de forma que esse conhecimento

42

estaacute sempre inacabado aberto agraves adiccedilotildees ou modificaccedilotildees ao longo do tempo e dos

diferentes contextos sociais

A Internet eacute um espaccedilo privilegiado para a construccedilatildeo da inteligecircncia coletiva

sendo ela mesma fruto desta uacuteltima A eliminaccedilatildeo das barreiras espaccedilo-temporais cria um

lugar de fluxo para o conhecimento em construccedilatildeo jaacute que a troca e a reuniatildeo de

informaccedilotildees que partem de diversas origens satildeo facilitadas pela Rede Nessa perspectiva

o ciberespaccedilo seria o espaccedilo moacutevel das interaccedilotildees entre conhecimentos e conhecedores de

coletivos inteligentes desterritorializados As relaccedilotildees sociais de colaboraccedilatildeo entre os

utilizadores satildeo horizontais diferindo das relaccedilotildees entre produtores e consumidores das

induacutestrias culturais As relaccedilotildees satildeo constituiacutedas a partir da comunicaccedilatildeo entre pessoas e

do compartilhamento simboacutelico que criam viacutenculos e possibilitam a solidariedade As

redes horizontais de produccedilatildeo colaborativa natildeo satildeo prisioneiras dos valores de troca dos

seus produtos As redes horizontais de produccedilatildeo satildeo processos sociais criativos (Lima e

Santini 2006 123)

A interaccedilatildeo entre os diferentes usuaacuterios da Internet na elaboraccedilatildeo de

conhecimentos coletivos colabora para a construccedilatildeo de um senso comunitaacuterio na Rede Ao

inveacutes de ser um espaccedilo caoacutetico onde todos falem tudo ao mesmo tempo a Rede pode ser

um lugar onde todos se reuacutenam e formem uma comunidade organizada em torno de um

objetivo comum a construccedilatildeo coletiva do saber Em um coletivo inteligente a

comunidade assume como objetivo a constante negociaccedilatildeo da ordem estabelecida de sua

linguagem do papel de cada um e finalmente da definiccedilatildeo de seus objetivos Para Pierre

Leacutevy

Interagindo com diversas comunidades os indiviacuteduos que animam o espaccedilo do saber

longe de serem os membros intercambiaacuteveis de castas imutaacuteveis satildeo ao mesmo tempo

singulares muacuteltiplos nocircmades e em vias de metamorfose (ou de aprendizado)

permanente Esse projeto convoca um novo humanismo que inclui e amplia o

ldquoconhece-te a ti mesmordquo para um ldquoaprendamos a nos conhecer para pensar juntosrdquo e

que generaliza o ldquopenso logo existordquo em um ldquoformamos uma inteligecircncia coletiva

logo existimos eminentemente como comunidaderdquo [] Longe de fundir as

inteligecircncias individuais em uma espeacutecie de magma indistinto a inteligecircncia coletiva eacute

um processo de crescimento de diferenciaccedilatildeo e de retomada reciacuteproca das

singularidades (LEacuteVY 2003 31-32)

Na Rede haacute espaccedilo para que todos sejam ouvidos Na construccedilatildeo coletiva do saber

todos tecircm voz Os usuaacuterios valorizam essa oportunidade - trazida pela Internet - de

contribuir com informaccedilotildees na formaccedilatildeo de conhecimentos disponibilizados na Rede o

43

que explica o ecircxito de sites colaborativos como o Wikipedia Na era do conhecimento

deixar de reconhecer o Outro em sua inteligecircncia eacute recusar-lhe sua verdadeira identidade

social eacute alimentar seu ressentimento e sua hostilidade sua humilhaccedilatildeo a frustraccedilatildeo de

onde surge a violecircncia (Leacutevy 2003 32) Em contrapartida quando valorizamos o Outro

de acordo com o leque variado de seus saberes permitimos que ele se identifique de um

modo novo e positivo contribuiacutemos para mobilizaacute-lo para desenvolver nele sentimentos

de reconhecimento que facilitaratildeo consequentemente a implicaccedilatildeo subjetiva de outras

pessoas em projetos coletivos

O espaccedilo de construccedilatildeo coletiva do saber eacute um lugar de participaccedilatildeo democraacutetica

onde todos podem contribuir com alguma informaccedilatildeo teoacuterica eou praacutetica que possuam

sobre determinado assunto A perda de influecircncia dos mediadores culturais tradicionais eacute o

prenuacutencio de uma liberdade de expressatildeo nunca vista antes Apesar do inegaacutevel

movimento de concentraccedilatildeo (vd por exemplo a fusatildeo entre AOL e Time Warner) a

induacutestria da comunicaccedilatildeo natildeo tem capacidade para frear tal movimento de abertura pois o

que se oferece ao consumidor eacute precisamente a mais ampla liberdade de expressatildeo De

facto conforme refere Pierre Leacutevy a diversidade informacional e a liberdade de expressatildeo

continuam a aumentar rapidamente apesar dos movimentos de fusatildeo (Leacutevy 2004 371)

Pierre Leacutevy pertence agrave corrente teoacuterica que vecirc as possibilidades e o futuro do

ciberespaccedilo de forma bastante otimista Para ele o rompimento das barreiras entre centros

produtores de informaccedilotildees e receptores eacute positiva pelo facto de que ldquo[] eacute muito mais

difiacutecil executar manipulaccedilotildees em um espaccedilo onde todos podem emitir mensagens e onde

informaccedilotildees contraditoacuterias podem confrontar-se do que em um sistema onde os centros

emissores satildeo controlados por uma minoriardquo (Leacutevy 2004 225) De facto a Rede abriu

largo espaccedilo para a expressatildeo de opiniotildees diversas (o que obviamente inclui as

contestatoacuterias dos poderes vigentes) mas acontecimentos recentes (como o fechamento do

site de partilha de arquivos Megaupload e a prisatildeo de seu fundador Kim Schmitz na

sequecircncia das discussotildees de projetos de lei como o SOPA e o ACTA em Janeiro de 2012)

provam que o uso de forccedila policial para bloqueio suacutebito de sites eacute uma realidade (apesar

de nesses casos citados as accedilotildees natildeo terem sido justificadas com base nas determinaccedilotildees

de SOPA e ACTA porque ambas natildeo passam de projetos que nem sequer estatildeo em

vigor) apesar de toda oposiccedilatildeo e as ondas de protestos levantadas pela sociedade civil

A descentralizaccedilatildeo da produccedilatildeo de informaccedilotildees foi amplamente sentida no setor

editorial sobretudo na circulaccedilatildeo de jornais Uma pesquisa feita nos EUA e citada por

44

Andrew Keen diz que os lucros e a circulaccedilatildeo despencaram de maneira impressionante

em todas as principais empresas jornaliacutesticas do paiacutes ndash caiacuteram 69 na New York Times

Company 28 na Tribune Company e 11 na Gannet a maior dos EUA (Keen 2008

13) Essa eacute uma tendecircncia em todos os mercados editoriais do mundo No Brasil os

jornais filiados ao Instituto Verificador de Circulaccedilatildeo (IVC) tiveram 48 de queda na

circulaccedilatildeo durante o primeiro semestre de 2009 (Portal Imprensa 2009) Jaacute em Portugal

dados da Associaccedilatildeo Portuguesa para o Controlo de Tiragem e Circulaccedilatildeo (APCT) para o

mesmo periacuteodo apontam queda de 76 (Diaacuterio de Notiacutecias 2009)

Na tentativa de amenizar o impacto da digitalizaccedilatildeo e faacutecil distribuiccedilatildeo de

informaccedilotildees via Internet muitos jornais passam a cobrar pelo acesso ao seu conteuacutedo on-

line como fez em Fevereiro de 2010 o diaacuterio francecircs Le Figaro (Folha de S Paulo 2010)

e como jaacute vem sendo feito pela brasileira Folha Online O presidente do The New York

Times Artur Sulzberger afirmou que a cobranccedila pelo acesso a seu conteuacutedo on-line

iniciada em 2011 eacute uma fonte de receita fundamental para o veiacuteculo (Portal Imprensa

2010)

Vaacuterios estudiosos apontam para uma crise no modelo produtivo e econocircmico da

induacutestria cultural massiva embora isso natildeo provoque necessariamente a sua aniquilaccedilatildeo

(Lemos 2007b 39-40) No que se refere agraves reconfiguraccedilotildees da induacutestria cultural em seu

modelo claacutessico uma das grandes questotildees que atualmente surge eacute a da autoria e da

proteccedilatildeo de obras para a reproduccedilatildeo uso e coacutepia Algumas alternativas jaacute estatildeo surgindo

como opccedilatildeo para a criaccedilatildeo de mecanismos legais de recombinaccedilatildeo conhecidos como

licenccedilas abertas ou Copyleft Um exemplo de sucesso eacute a licenccedila Creative Commons ndash

licenccedila de uso que permite a modificaccedilatildeo a coacutepia e a distribuiccedilatildeo de obras com

especificaccedilotildees bastante flexiacuteveis Mais adiante falaremos sobre ela O facto eacute que a era da

cibercultura tem-se mostrado o aacutepice da crise dos sistemas culturais legais e econocircmicos

pela reconfiguraccedilatildeo da induacutestria cultural claacutessica massiva que implica

50 A era de ouro do remix

A digitalizaccedilatildeo das obras intelectuais facilitou sua transferecircncia e sobretudo sua

transformaccedilatildeo A cibercultura ldquoterritoacuterio recombinanterdquo (Lemos 2007b 35) por

45

excelecircncia deu origem ao que Lawrence Lessig chama de ldquocultura do remixrdquo ou da

colagem em que o processo de criaccedilatildeo usa de forma natildeo soacute indireta mas tambeacutem direta

outras obras como elemento de construccedilatildeo da obra final (Lessig 2005 17) Consideramos

aqui o termo remix exatamente como abordado por Lawrence Lessig natildeo apenas como a

recombinaccedilatildeo e transformaccedilatildeo de muacutesicas mas de toda e qualquer obra do espiacuterito Satildeo

bens culturais utilizados como mateacuterias-primas para a transformaccedilatildeo de si mesmos o que

inevitavelmente resulta em novas obras do espiacuterito Cria-se um horizonte para aleacutem

daquele da apropriaccedilatildeo e mera justaposiccedilatildeo de teacutecnicas antigas ocorre um entrelaccedilamento

de teacutecnicas formando natildeo o novo ou o poacutes mas o recombinado remixado ou sampleado

(Castro e Silva 2007 24) Por sampler entende-se um equipamento que armazena sons e

trechos de muacutesica em sua memoacuteria para reproduzi-los e alteraacute-los Seja em um novo disco

de hip hop no VJ que remixa imagens de TV e filmes em projetos de viacutedeo-arte ou na

simples tarefa de ldquocopiar ndash colarrdquo muitos teoacutericos estatildeo de acordo que o remix eacute a peccedila

central do processo criativo contemporacircneo

A recombinaccedilatildeo de diversos elementos (sejam eles produtivos religiosos ou

artiacutesticos) eacute sempre um traccedilo constitutivo de toda formaccedilatildeo cultural Por outro lado toda

tentativa de fechamento sobre si acarreta empobrecimento homogeneidade e morte Para

manter-se forte e dinacircmica a cultura necessita aceitar e ser de alguma forma permeaacutevel a

outras formas culturais Esse processo estaacute em marcha desde as culturas mais ldquoprimitivasrdquo

ateacute a cultura contemporacircnea e a cibercultura (Lemos 2007b 35-36) Portanto podemos

dizer que a grande novidade natildeo eacute a recombinaccedilatildeo em si mas a forma a velocidade e o

alcance global desse movimento

O uacutenico problema da cultura do remix eacute que ela eacute ilegal Graccedilas ao sistema de

direitos autorais que herdamos do seacuteculo XIX e que continua a ser sistematicamente

ampliado ao longo do tempo (inclusive globalmente atraveacutes da Organizaccedilatildeo Mundial do

Comeacutercio - OMC) cada obra cultural existente na Internet ou em qualquer outro lugar

tem dono E utilizar a obra para qualquer finalidade (copiar distribuir alterar modificar

etc) sem autorizaccedilatildeo expressa eacute uma violaccedilatildeo dos direitos de propriedade do autor ou de

seus intermediaacuterios

A linha entre referecircncias culturais e plaacutegio se mostra bastante tecircnue e nos leva a

pensar se tudo natildeo adveacutem de facto de ideias precedentes de obras jaacute realizadas O

produtor norte-americano Kirby Ferguson criou uma seacuterie de viacutedeos dedicados a essa

questatildeo e no site Everything is a Remix fornece mais evidecircncias de que tudo que eacute

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ldquonovordquo eacute na verdade inspirado em obras jaacute criadas ou eacute formado por combinaccedilotildees ou

ediccedilotildees de materiais jaacute existentes Em um dos viacutedeos vemos por exemplo sequecircncias do

filme Kill Bill (2003) de Quentin Tarantino exatamente iguais (ou bastante semelhantes)

a cenas de outros longas-metragens como Sanjuro (1962) Lady snowblood (1973) e

Blade Runner (1982)

Lawrence Lessig salienta o problema do ponto de vista legal que a remixagem de

obras produzidas por outras pessoas pode gerar e afirma que as ferramentas tecnoloacutegicas

disponiacuteveis atualmente no mundo permitem a qualquer pessoa possibilidades criativas

jamais sonhadas (Lessig 2005 18) Um nuacutemero gigantesco de pessoas usa cotidianamente

essas ferramentas em seus sites blogs fotologs ou mesmo incluindo textos e imagens em

trabalhos escolares por exemplo Apesar disso do jeito como eacute hoje essas atividades

devem continuar relegadas agrave posiccedilatildeo de mero hobby ou divertimento domeacutestico Isso

porque sempre estamos sob o risco de sermos processados pela violaccedilatildeo da propriedade de

algueacutem Em outras palavras cada vez temos mais acesso a recursos criativos que antes

eram privileacutegio das grandes empresas de miacutedia mas devemos nos abster de usar esse

poder ldquoseriamenterdquo gerando desenvolvimento conhecimento e acesso Importa citar

Lessig

A mesclagem eacute o elemento formador da sociedade cultural em detrimento agrave induacutestria

cultural centralizada O instrumento para retardar essa quebra de barreiras e a

construccedilatildeo de uma sociedade autocircnoma eacute juriacutedico Esse instrumento em formas de

utilizaccedilatildeo estrateacutegica dos institutos da propriedade intelectual que satildeo desvirtuados de

sua funccedilatildeo originaacuteria de promover incentivos agrave criaccedilatildeo e passam a se transformar em

ferramentas de reserva de mercado para que as novas miacutedias digitais sejam ocupadas

pela mesma induacutestria cultural estadunidense que prevaleceu no seacuteculo XX (LESSIG

2005 18)

Para ilustrar a ideia contida na citaccedilatildeo podemos evocar o famoso caso Eldred

mais conhecido como o caso da ldquoLei de Proteccedilatildeo ao Mickey Mouserdquo Esse exemplo

resume bem os embates entre a induacutestria cultural e o restante da sociedade aquela

buscando a proteccedilatildeo perpeacutetua e ilimitada da sua propriedade e esta atraveacutes de diversos

agentes buscando o balanccedilo apropriado entre direitos autorais e domiacutenio puacuteblico O caso

Eldred expandiu por mais 20 anos a proteccedilatildeo dos direitos autorais nos Estados Unidos Em

1998 Mickey Mouse cairia em domiacutenio puacuteblico mas um intenso lobby no congresso

estadunidense culminou na aprovaccedilatildeo do chamado Sony Bono Act apelidado de ldquoLei de

Proteccedilatildeo ao Mickey Mouserdquo Por ela toda e qualquer obra ganhou mais 20 anos de

47

proteccedilatildeo autoral A explicaccedilatildeo para tal expansatildeo eacute incerta Ateacute hoje eacute difiacutecil saber quais

benefiacutecios essa ampliaccedilatildeo trouxe para a sociedade como um todo Se o direito autoral

existe para incentivar os artistas a criarem porquecirc expandir o prazo de proteccedilatildeo de obras

que jaacute foram criadas

Os prejuiacutezos dessa decisatildeo foram poreacutem bem mais extensos Junto com Mickey

Mouse deixaram de cair em domiacutenio puacuteblico muitas outras obras que atualmente jaacute

estariam disponiacuteveis para qualquer pessoa traduzir partilhar e publicar Dentre elas

contos de Scott Fitzgerald poemas de Robert Frost muacutesicas de George Gershwin e filmes

de Buster Keaton O maior problema de se estender o prazo de proteccedilatildeo dos direitos

autorais dessa maneira eacute que ele aumenta a dificuldade de promover a preservaccedilatildeo das

obras que natildeo possuem o mesmo valor comercial de um Mickey Mouse Devemos

considerar que a ampliaccedilatildeo do regime de propriedade prolonga a necessidade de se pedir

autorizaccedilatildeo para praticamente tudo que se queira fazer com a obra Tal situaccedilatildeo afeta

sobretudo as obras de baixo valor comercial (mas de elevado valor artiacutestico) Os recursos

para preservaccedilatildeo de tais obras jaacute satildeo poucos e diminuem ainda mais no labirinto juriacutedico

das autorizaccedilotildees As consequecircncias satildeo danosas milhares de obras que cairiam em

domiacutenio puacuteblico deixam de poder ser reproduzidas digitalizadas e publicadas livremente

e acabam deteriorando-se (juntamente com seu suporte fiacutesico) porque ningueacutem consegue

autorizaccedilatildeo para lidar com elas

60 Tipos de vigilacircncia e tecnologias de controlo quem satildeo e como trabalham os

gatekeepers do ciberespaccedilo

Na deacutecada de 50 David Manning White propocircs o conceito que ficou conhecido na

teoria da comunicaccedilatildeo por gatekeeping (Sousa 2002 39) White tinha o objetivo de

identificar os criteacuterios que faziam com que determinadas notiacutecias fossem ou natildeo

selecionadas para publicaccedilatildeo pelas empresas jornaliacutesticas Observando o funcionamento

das redaccedilotildees de vaacuterios jornais dos Estados Unidos White concluiu que a seleccedilatildeo dos

materiais para publicaccedilatildeo dependia de fatores subjetivos e arbitraacuterios aleacutem de juiacutezos de

valor vivecircncias atitudes e expectativas dos gatekeepers ndash os editores das publicaccedilotildees

O gatekeeper eacute portanto aquele que determina o que atravessa o portatildeo de

entrada no jornal o que seraacute visto pelo leitor Ele eacute um indiviacuteduo de poder no universo

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midiaacutetico pois controla os fluxos informacionais e decide se um conteuacutedo deve ser

promovido ou ocultado Decidimos utilizar o conceito de gatekeeper para falar sobre as

figuras capazes de controlar o que circula na Rede atraveacutes do uso de ferramentas de

vigilacircncia Esses gatekeepers do ciberespaccedilo se transplantaram dos tradicionais veiacuteculos

de comunicaccedilatildeo sobretudo das grandes empresas e dos organismos governamentais e natildeo-

governamentais para a Rede Eacute sobre eles que trataremos a seguir

David Lyon estabelece trecircs grandes categorias de vigilacircncia no ciberespaccedilo

relacionadas com o emprego a seguranccedila e policiamento e o marketing (Lyon 2004) No

emprego a vigilacircncia caracteriza-se pelo monitoramento dos sites acessados e do correio

eletrocircnico dos funcionaacuterios por parte dos diretores e supervisores com o objetivo de saber

se os empregados visualizam conteuacutedo inadequado (como pornografia por exemplo) ou

utilizam-se do tempo de trabalho para dedicar-se a assuntos off-work Nos Estados

Unidos um estudo puacuteblico realizado em Abril de 2000 indicou que 735 das empresas

americanas efetuam regularmente algum tipo de vigilacircncia do uso da Internet por parte de

seus empregados (Castells 2007 206)

No acircmbito da seguranccedila e do policiamento podemos citar a vigilacircncia proposta

por oacutergatildeos como a Alta Autoridade para a Difusatildeo das Obras e a Proteccedilatildeo dos Direitos na

Internet (HADOPI) na Franccedila que promove a luta contra as redes P2P (peer-to-peer) e a

oferta de downloads gratuitos de muacutesicas filmes e livros protegidos por direitos autorais

no universo virtual atraveacutes do monitoramento das atividades dos usuaacuterios HADOPI

propotildee que os servidores de acesso agrave Internet vigiem a movimentaccedilatildeo dos usuaacuterios e lhe

repassem relatoacuterios com a identificaccedilatildeo daqueles que infringem os direitos de autor na

Rede Apoacutes uma primeira advertecircncia caso haja reincidecircncia o utilizador perde o direito

de acesso agrave Internet a partir do ponto onde o desrespeito foi cometido e mesmo assim

continua a pagar pelo serviccedilo ao servidor contratado

Haacute tambeacutem a vigilacircncia conduzida por serviccedilos policiais como o FBI americano

que em 1995 realizou uma operaccedilatildeo batizada de ldquoOperaccedilatildeo Inocenterdquo accedilatildeo sob disfarce

na America On-Line (AOL) envolvendo a interceptaccedilatildeo de correio eletrocircnico de pessoas

suspeitas de trocar materiais de pornografia infantil pela Rede (Zuidwijk e Steeves apud

Lyon 2004 115) O organismo federal tambeacutem manteacutem o programa Carnivore que

trabalha em colaboraccedilatildeo (voluntaacuteria ou natildeo) com fornecedores de acesso agrave Internet

registrando todo o traacutefego de correio eletrocircnico posteriormente catalogando a informaccedilatildeo

com base em uma amostra e processamento automatizado de palavras-chave

49

Joseacute Terceiro afirma que a recolha de dados na Internet possibilitou o surgimento

de uma nova fonte de lucro as informaccedilotildees pessoais dos usuaacuterios da Rede

A utilizaccedilatildeo das redes de computadores facilita o recolhimento de dados sobre seus usuaacuterios com o que se obteacutem um sub-produto automaacutetico suscetiacutevel de utilizaccedilatildeo e

comercializaccedilatildeo O atentado agrave privacidade das pessoas que supotildee essa recolha de dados

provoca seacuterias preocupaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave sua proteccedilatildeo confiada a teacutecnicas de

encriptaccedilatildeo que ateacute bem pouco tempo pertenciam ao clandestino mundo da espionagem

e hoje satildeo moeda corrente no mundo digital (TERCEIRO 1996 185)

As informaccedilotildees obtidas pela vigilacircncia direcionada ao marketing satildeo massivamente

utilizadas frequentemente de forma indiscriminada para fins comerciais Natildeo eacute novidade

que as empresas procuram ter acesso a informaccedilotildees privadas respeitantes aos usuaacuterios da

Rede tecnologias jaacute foram desenvolvidas unicamente com o intuito de recolher dados que

permitam traccedilar perfis dos internautas Eacute o caso dos cookies (Client-Side Persistent

Information) espeacutecie de marcadores digitais que os sites colocam automaticamente nos

discos riacutegidos dos computadores que a eles acedem Uma vez inserido o cookie em um

computador todos os movimentos on-line realizados a partir dele satildeo gravados

automaticamente pelo servidor do site que o colocou Com o auxiacutelio de tecnologias como

essa empresas de marketing e comunicaccedilatildeo na Internet vendem os dados pessoais dos

seus utilizadores aos seus clientes com fins comerciais ou utilizam-nos eles proacuteprios para

os definirem melhor Portanto vecirc-se que as tecnologias de recolha de dados associam-se

diretamente agrave economia do comeacutercio eletrocircnico As movimentaccedilotildees dos usuaacuterios satildeo

monitoradas na maioria das vezes agrave revelia destes Como diz Rohan Samarajiva

A chamada ldquoclientela de massardquo cria incentivos agrave recolha de dados pessoais para uso no

processo de produccedilatildeo e marketing Os fabricantes ou retalhistas pretendem estabelecer

tipos de serviccedilo no relacionamento com os clientes recolhendo armazenando ou

manipulando informaccedilotildees acerca deles de modo a controlar os seus comportamentos

(SAMARAJIVA apud LYON 2004 113)

As tecnologias que tornam possiacutevel descarregar livros revistas muacutesicas e filmes

em formato digital para o disco riacutegido de um computador permitem agraves editoras e agraves

empresas de lazer registrar e controlar os haacutebitos de navegaccedilatildeo das pessoas para poderem

enviar publicidade especiacutefica a cada um dos seus clientes

Na Uniatildeo Europeia a maior pressatildeo governamental a favor da proteccedilatildeo do

consumidor resultou numa lei da privacidade sob a qual as empresas natildeo estatildeo

50

autorizadas a utilizar os dados pessoais dos seus clientes sem a sua aprovaccedilatildeo expliacutecita

(Castells 2007 209) O problema eacute que muitos sites contecircm em seus longos termos de

uso claacuteusulas que determinam que os dados pessoais fornecidos convertam-se em

propriedade legal das empresas de Internet e dos seus clientes Poucos usuaacuterios leem

integralmente esses termos de uso concordando com algo que desconhecem ndash e muitos

desses sites soacute liberam seus serviccedilos e funcionalidades depois que o utilizador aceita as

regras propostas

As oportunidades de negoacutecio parecem ilimitadas neste novo ramo dedicado a

comercializar o comportamento privado Nas eleiccedilotildees do ano 2000 nos Estados Unidos

uma empresa criou uma base de dados chamada Aristotle que atraveacutes da recolha de

informaccedilotildees e dados de diversas fontes traccedilou um perfil poliacutetico de cerca de 150 milhotildees

de cidadatildeos O objetivo era vender esse banco de dados pelas melhores ofertas possiacuteveis

que geralmente eram feitas pelos escritoacuterios eleitorais dos candidatos (Castells id)

Manuel Castells divide as tecnologias de controlo em trecircs tipos tecnologias de

identificaccedilatildeo de vigilacircncia e de investigaccedilatildeo (Castells 2007) As tecnologias de

identificaccedilatildeo incluem o uso de passwords cookies e processos de autenticaccedilatildeo ndash estes

uacuteltimos utilizam assinaturas digitais que permitem a outros computadores verificar a

origem e as caracteriacutesticas da maacutequina que se liga agrave Rede eacute um protocolo de seguranccedila

vastamente adotado por empresas de comeacutercio eletrocircnico e emissoras de cartotildees de

creacutedito

As tecnologias de vigilacircncia interceptam mensagens e colocam marcadores que

permitem seguir o fluxo de comunicaccedilatildeo a partir de um determinado computador e

controlar permanentemente a atividade da maacutequina Elas podem identificar um servidor

especiacutefico na origem de uma mensagem Valendo-se disso e atraveacutes de persuasatildeo ou de

coaccedilatildeo os governos empresas ou tribunais podem obter do servidor de acesso agrave Internet a

identificaccedilatildeo do usuaacuterio suspeito Eacute o que faz a jaacute anteriormente citada HADOPI As

tecnologias de investigaccedilatildeo por sua vez elaboram bases de dados atraveacutes dos resultados

da vigilacircncia e acumulaccedilatildeo de informaccedilatildeo gravada assiduamente (Garfinkel apud Castells

2007 205) Constroacutei-se um perfil agregado a partir dos vaacuterios dados recolhidos em

formato digital algo semelhante ao que fazem os estudos de mercado

O que James Beniger chama de ldquorevoluccedilatildeo do controlordquo (Beniger 1989) espalha-

se por todas as organizaccedilotildees contemporacircneas Para o autor ela iniciou-se com a

Revoluccedilatildeo Industrial e acentuou-se apoacutes a Segunda Grande Guerra com a gradual

51

integraccedilatildeo da tecnologia em todas as esferas da vida ocorrida desde entatildeo A fusatildeo entre

as teacutecnicas associadas agrave informaccedilatildeo (processamento de dados comunicaccedilatildeo etc) facilitou

o controlo por parte de exeacutercitos e governos criando um ambiente propiacutecio para o

desenvolvimento de novas tecnologias direcionadas agrave vigilacircncia e agrave monitoraccedilatildeo dos

indiviacuteduos Para Beniger a vontade de controlar bens informacionais serviccedilos e

consequentemente pessoas estaacute nas raiacutezes da chamada sociedade da informaccedilatildeo

James Beniger alerta que mais que o controlo em si proacuteprio devemos temer quem

administra e potildee em funcionamento os instrumentos de controlo ndash eacute nas matildeos desses

agentes que o poder se concentra Sendo as comunicaccedilotildees digitais as novas formas de

controlo tambeacutem figuram como um caminho para o poder Para exercer o poder e mantecirc-

lo eacute que os meios digitais tecircm sido utilizados por diversos agentes de interesse Como

afirma David Lyon

Os empregadores tentam reduzir o risco ndash de trabalhadores que usam o horaacuterio ou o

equipamento de trabalho para os seus proacuteprios objectivos [] em situaccedilotildees de emprego

A poliacutecia em conjunto com outras instituiccedilotildees trabalha no sentido de prevenir o risco

da praacutetica de crimes ou mais genericamente de comportamentos ameaccediladores E os

homens de negoacutecios fazem tudo [] para evitarem os riscos de perder oportunidades

nichos de mercado e em uacuteltima instacircncia lucro (LYON 2004 118)

Todos estabelecem procedimentos de recolha de dados para tentarem assinalar

riscos (ou oportunidades) e prever resultados Por conseguinte a vigilacircncia espalha-se

tornando-se constantemente mais rotineira mais intensiva (perfis) e extensiva

(populaccedilotildees) guiada por forccedilas econocircmicas burocraacuteticas e agora tecnoloacutegicas

A vigilacircncia no mundo virtual eacute fruto principalmente da comercializaccedilatildeo da Rede

Na criaccedilatildeo de sistemas de identificaccedilatildeo do usuaacuterio haacute uma fonte potencial de lucro para

empresas de certificaccedilatildeo digital e controlo de acesso A questatildeo comercial desse controlo

tambeacutem envolve os direitos autorais na Internet A implementaccedilatildeo de sistemas de

vigilacircncia eacute interessante para os governos que querem encontrar alguma forma de

instaurar no ambiente virtual ferramentas de controlo semelhantes agraves existentes na esfera

fiacutesica

A necessidade de assegurar e identificar a comunicaccedilatildeo na Internet para poder ganhar

dinheiro graccedilas agrave Rede e a necessidade de proteger os direitos da propriedade

intelectual na mesma resultaram no desenvolvimento de novas arquitecturas de

software (o que Lessig denomina como ldquocoacutedigordquo) que possibilitam o controlo da

comunicaccedilatildeo informaacutetica Os governos de todo o mundo apoacuteiam estas tecnologias de

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vigilacircncia e apressam-se a adoptaacute-las para conseguirem recuperar parte do poder que

corriam o risco de perder (CASTELLS 2007 203)

O monitoramento atraveacutes de autoridades policiais empresas ou outros oacutergatildeos

investidos de autorizaccedilatildeo concedida pelo poder legislativo seriam conforme Andreacute Lemos

ressalta ldquo[] uma forma de lsquoinvasatildeorsquo dos territoacuterios informacionais como entrar na

residecircncia seria uma invasatildeo do territoacuterio residencial As lsquodigital bordersrsquo criam nos

territoacuterios informacionais um continuum entre o mundo fiacutesico e o espaccedilo das

informaccedilotildees eletrocircnicasrdquo (Lemos 2007a 225) A vigilacircncia afeta diretamente alguns

importantes pilares da vida social e pode feri-los se direcionada para fins comerciais por

exemplo ldquoAs praacuteticas de vigilacircncia tecircm implicaccedilotildees na privacidade e em muitos outros

valores importantes na justiccedila na dignidade humana na autodeterminaccedilatildeo na inclusatildeo

social na seguranccedila e por aiacute fora Alguns destes valores podem ser protegidos se a

privacidade estiver salvaguardadardquo (Raab 2008 256)

A vigilacircncia na Rede representa portanto mais um exemplo do que Mireille

Rosello chama de ldquocultura da inseguranccedilardquo de caraacuteter planetaacuterio (Rosello apud Lemos

2010 82) As tecnologias de controlo desenvolvidas e postas em funcionamento no

ciberespaccedilo marcaram o fim da jaacute utoacutepica ideia de um territoacuterio neutro e totalmente livre

imaginado nos primoacuterdios da Internet Poreacutem a informaacutetica pode disponibilizar

ferramentas que funcionariam como um antiacutedoto contra a inseguranccedila que ela proacutepria

possibilitou Isso seria possiacutevel atraveacutes de tecnologias de filtragem de cookies meacutetodos de

encriptaccedilatildeo mais potentes etc (Raab 2008 266) No entanto eacute importante salientar que

as empresas os governos e os fabricantes de tecnologia natildeo tecircm interesse em pocircr em

marcha essas tecnologias de reforccedilo da privacidade Sendo assim os indiviacuteduos que delas

quiserem fazer uso deveratildeo empreender esforccedilos adicionais aleacutem de pagar mais para delas

beneficiarem

A recolha e o armazenamento arbitraacuterios de dados digitais se tornaram regra no

mundo virtual Aiacute se vecircem os efeitos nefastos do progresso tecnoloacutegico (Heuer 2011 85)

O custo do armazenamento de dados em formato digital tornou-se tatildeo baixo que jaacute se

mede em terabytes (a capacidade de armazenamento de um computador portaacutetil corrente

corresponde a pouco mais de metade de um terabyte) Haacute cada vez mais bancos de dados

a registrar nossos movimentos na Rede ndash a Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos

em Washington anunciou recentemente que pretende arquivar todas as mensagens

postadas no Twitter desde seu surgimento em 2006

53

De facto nossa vida esteve sempre sob algum tipo de controlo ndash desde a presenccedila

em registros de cartoacuterios agrave identificaccedilatildeo em bancos de dados de diversos serviccedilos

puacuteblicos O que se alterou com a informatizaccedilatildeo da sociedade e o advento da Internet foi o

posicionamento desses registros no espaccedilo As informaccedilotildees natildeo estatildeo mais fixadas apenas

em suportes materiais livros de atas e papeacuteis de arquivos Elas estatildeo ao alcance de alguns

cliques mundialmente disponiacuteveis suscetiacuteveis a cruzamentos mais sujeitas ao acesso

legal ou natildeo autorizado do que nunca A nova vigilacircncia surgida atraveacutes das tecnologias

digitais eacute mais sutil estaacute em todos os lugares e ao mesmo tempo em lugar nenhum Ela eacute

cada vez menos perceptiacutevel e mais difusa Sua fluidez estaacute na invisibilidade e na

mobilidade das redes

Catarina Frois salienta a mudanccedila trazida pela vigilacircncia onipresente da

informaacutetica

[] na sociedade contemporacircnea a existecircncia de grandes bases de dados informaacuteticas

que centralizam informaccedilatildeo detalhada dos cidadatildeos e que eacute depois cruzada com

informaccedilatildeo constante noutras bases de dados pessoais ameaccedila pocircr em risco o direito agrave

privacidade agrave integridade fiacutesica e moral ou mesmo em uacuteltima anaacutelise o direito agrave

escolha [] O que vemos eacute uma confluecircncia de dispositivos de reconhecimento da

pessoa que abrangem quase todas as esferas da sua vida desde a sua identidade burocraacutetica e administrativa a sua histoacuteria geneacutetica e distintividade biomeacutetrica e os

locais que frequenta quando e com quem [] Parece natildeo bastar saber-se quem a

pessoa eacute urge (quer por parte do Estado quer por parte de interesses comerciais) saber-

se o que quer e o que vai fazer Poderiacuteamos dizer que na sociedade contemporacircnea soacute

identificando eacute possiacutevel conhecer-se e soacute vigiando eacute possiacutevel prever-se (FROIS 2008

130)

Para Gilles Deleuze (1992) a sociedade do controlo eacute anunciada como nosso

futuro proacuteximo o que em termos praacuteticos de vigilacircncia quer dizer que as tecnologias natildeo

satildeo mais visiacuteveis e imoacuteveis mas ubiacutequas pervasives ldquonas coisasrdquo natildeo exigindo do

indiviacuteduo o confinamento mas exatamente o contraacuterio a mobilidade o que permite um

controlo dinacircmico Afinal natildeo podemos esquecer que essas tecnologias tecircm origem

militar Toda miacutedia locativa por seu caraacuteter que associa mobilidade e localizaccedilatildeo pode

ser usada para monitorar movimentos vigiar pessoas e controlar accedilotildees no dia-a-dia

Manuel Castells e diversos outros teoacutericos da informaacutetica e da cibercultura

afirmam que a presenccedila em registros e bancos de dados digitais traz agraves vistas o terriacutevel

temor da sociedade vigilante antecipada por George Orwell em seu 1984 e pode funcionar

como uma forma de repressatildeo agrave liberdade pela possibilidade do controlo constante Natildeo eacute

o Big Brother quem nos vigia mas sim uma multitude de pequenas irmatildes (little sisters)

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agecircncias de vigilacircncia e processamento de informaccedilatildeo que registraratildeo sempre o nosso

comportamento jaacute que estaremos rodeados de bases de dados ao longo de toda a nossa

vida Nas sociedades democraacuteticas onde se respeitam os direitos civis a transparecircncia das

nossas vidas condicionaraacute as nossas atitudes de forma decisiva Ningueacutem conseguiu viver

jamais numa sociedade transparente Se este sistema de vigilacircncia e controlo da Internet se

desenvolver plenamente natildeo poderemos fazer o que quisermos Natildeo teremos liberdade

nem um lugar para nos escondermos (Castells 2007 215)

Isso nos leva a um tema que tambeacutem estaacute na ordem do dia em vaacuterios paiacuteses

europeus o direito ao esquecimento Um exemplo que ilustra esse direito estaacute na lei

francesa de 6 de Janeiro de 1978 relativa agrave informaacutetica aos arquivos e agraves liberdades que

prevecirc em seu artigo nordm 40

Toda pessoa fiacutesica justificante de sua identidade pode exigir do responsaacutevel pelo

tratamento de dados que as informaccedilotildees pessoais que lhe concernem sejam retificadas

completadas atualizadas ou apagadas [] logo elas sejam inexatas incompletas equivocadas desatualizadas ou cuja coleta utilizaccedilatildeo comunicaccedilatildeo ou conservaccedilatildeo

seja proibida (COMMISSION NATIONALE DE LINFORMATIQUE ET DES

LIBERTEacuteS 1978)

A Comissatildeo Europeia responsaacutevel pela Justiccedila Direitos Fundamentais e Cidadania

examina a possibilidade de rever a diretiva sobre a proteccedilatildeo de dados de forma a incluir o

direito ao esquecimento como foi anunciado em Novembro de 2010 pela sua vice-

presidente Viviane Reding (Heuer 2011 85)

No dia 24 de Janeiro de 2012 Viviane Reding apresentou em Bruxelas um plano

para que os cidadatildeos possam exercer ao maacuteximo seu direito agrave proteccedilatildeo dos dados pessoais

A legislaccedilatildeo europeia em vigor sobre o tema eacute de 1995 eacutepoca em que a Internet natildeo

possuiacutea o alcance e a influecircncia que hoje tem Aleacutem disso pesquisas recentes apontam que

72 dos europeus preocupam-se com o uso que companhias e empresas fazem de seus

dados privados (Reding 2012) O plano proposto por Viviane Reding consagra o direito

ao esquecimento Em entrevista cedida ao jornal espanhol El Paiacutes a comissaacuteria afirmou

que ldquoQuem pocircs informaccedilotildees pessoais na Rede deve ter o direito de recuperaacute-las porque

satildeo suasrdquo (Reding id) Seu plano inclui o reforccedilo das agecircncias nacionais de proteccedilatildeo de

dados e um regulamento de aplicaccedilatildeo da diretiva em escala comunitaacuteria ndash medidas a serem

postas em praacutetica ateacute 2015

55

Na Alemanha governo e parlamento debatem projetos que visam permitir aos

cidadatildeos controlar de forma mais eficaz sua vida digital Na Franccedila por exemplo foi

adotada em Outubro de 2010 uma carta natildeo vinculativa por iniciativa da secretaacuteria de

Estado das Tecnologias agrave eacutepoca Nathalie Kosciusko-Morizet Muitos dos intervenientes

franceses na Rede assinaram o documento ndash agrave exceccedilatildeo de empresas como Facebook e

Google

56

57

CAPIacuteTULO II

DIREITOS DE AUTOR E REGULACcedilAtildeO DO

CIBERESPACcedilO BRASIL E PORTUGAL EM

PERSPECTIVA

58

59

Vimos no capiacutetulo anterior que o nascimento da Internet criou duas correntes a dos

adeptos eufoacutericos e a dos adeptos disfoacutericos da informatizaccedilatildeo Por um lado os apoacutestolos

das novas tecnologias conceberam a Rede como um espaccedilo livre do Direito Conforme

afirma o jurista Joseacute de Oliveira Ascensatildeo essa ideia foi favorecida pelo facto de que a

Internet desenvolveu-se inicialmente como uma rede desinteressada veiacuteculo de diaacutelogo e

contato entre universitaacuterios e cientistas que queriam evitar empecilhos juriacutedicos agrave sua

comunicaccedilatildeo (Ascensatildeo 2003 02) No outro extremo os defensores da propriedade

intelectual (particularmente as entidades de gestatildeo coletiva de direitos de autor e conexos)

acreditaram que os novos meios nada modificariam no que diz respeito ao uso das obras

protegidas O Direito existente seria aplicaacutevel tal e qual porque seria capaz de comportar

os novos veiacuteculos que surgissem A Rede era apenas um meio a mais sujeito ao Direito

em vigor como qualquer outro

O movimento subsequente de comercializaccedilatildeo da Internet pocircs em causa essas

opiniotildees A Rede deixou de ser uma confraria desinteressada e tornou-se um poderoso

veiacuteculo de publicidade comeacutercio e fluxo de capitais Essa metamorfose exigia uma

disciplina que protegesse os intervenientes era incompatiacutevel com um espaccedilo livre do

Direito A tese da juridificaccedilatildeo da Internet venceu (ibidem 03)

O objetivo do capiacutetulo que se inicia eacute montar um panorama dos direitos de autor

nos contextos brasileiro e portuguecircs trazendo agrave discussatildeo os aspectos centrais de ambas as

legislaccedilotildees Tambeacutem apresentaremos outros temas pertinentes que cruzam o debate sobre

a propriedade intelectual como o Marco Regulatoacuterio da Internet no Brasil e a Lei da

Coacutepia Privada em Portugal

10 Breve retrospectiva histoacuterica do surgimento dos direitos de autor

Em 1710 na Inglaterra foi publicada a primeira lei regulamentar do direito de

autor e esta expressatildeo aparece pela primeira vez em 1725 utilizada pelo advogado francecircs

Louis DrsquoHeacutericourt num litiacutegio entre os livreiros de Paris e os livreiros da proviacutencia Nesse

litiacutegio ele defendeu a tese de que eram os autores e natildeo os editores ou os impressores os

verdadeiros titulares do direito Para DrsquoHeacutericourt esse direito deveria estar garantido para

evitar os riscos da exploraccedilatildeo comercial ou industrial por meio da concessatildeo de um

60

privileacutegio exclusivo Segundo Luiz Francisco Rebello ateacute entatildeo seria improacuteprio falar em

direito de autor pois a proteccedilatildeo dispensada agraves obras literaacuterias tomava invariavelmente a

forma de um privileacutegio de que beneficiavam os impressores e os editores ou mais

raramente os autores (Rebello 1973 06)

Com a Revoluccedilatildeo Francesa em 1789 surgem os direitos autorais como os

conhecemos hoje A data de 04 de Agosto de 1789 marcou o fim de todos os privileacutegios de

autores e editoras que representavam um entrave agrave liberdade econocircmica defendida pelos

burgueses Luiz Francisco Rebello relembra a declaraccedilatildeo de Laboulaye jurista francecircs que

viveu na eacutepoca da Revoluccedilatildeo ldquoFalai de propriedade todos se inclinam falai de privileacutegio

todos se revoltam O primeiro tiacutetulo representa o que haacute de mais respeitaacutevel o direito o

segundo o que haacute de mais abominaacutevel o monopoacuteliordquo (Rebello apud Moraes 2006 254)

Poreacutem impulsionada pela Sociedade de autores e compositores dramaacuteticos

fundada em 1790 pelo teatroacutelogo Beaumarchais a lei francesa de 19 de Janeiro de 1791

reconhece que ldquoA mais sagrada a mais pessoal de todas as propriedades eacute a obra fruto do

pensamento do escritorrdquo (Moatti 2007 27) Esse texto legislativo foi reforccedilado pela lei de

19 de Julho de 1793 que aumenta a proteccedilatildeo dos criadores O artigo 1 desse documento

determina que

Os autores de escritos em todos os gecircneros os compositores os pintores e os

desenhistas que produzem quadros e desenhos gozaratildeo durante toda sua vida do

direito exclusivo de vender fazer vender distribuir suas obras em todo o territoacuterio da

Repuacuteblica e de ceder a propriedade ao todo ou em parte (MOATTI 2007 27)

Essa lei tambeacutem regulamentou os direitos dos herdeiros e cessionaacuterios que

poderiam gozar dos mesmos benefiacutecios ateacute 10 anos apoacutes a morte do autor (Manso 1992

14-15) Era preciso poreacutem estender as discussotildees sobre os direitos autorais agrave esfera

internacional Como diz Eduardo Manso

O reconhecimento de que a Terra eacute uma pequena aldeia [] levou ao reconhecimento

de que a proteccedilatildeo dos direitos dos autores das obras intelectuais haveria de alcanccedilar

dimensotildees internacionais porque a obra do espiacuterito humano sendo todo o conteuacutedo das

comunicaccedilotildees sociais tem inexoraacutevel vocaccedilatildeo para difusatildeo universal Portanto o

Direito Autoral para atingir mais eficazmente seus objetivos haveria de ser tambeacutem

internacionalizado especialmente para estabelecer equanimemente proteccedilatildeo equitativa

entre os autores dos diversos paiacuteses a despeito das divergecircncias das suas legislaccedilotildees

nacionais E aiacute surgiram as convenccedilotildees internacionais [] (MANSO 1992 15)

61

Apenas em 1886 surgiu um amplo movimento pela regulaccedilatildeo dos direitos autorais

de forma conjunta entre os diversos paiacuteses Representantes de vaacuterias naccedilotildees se reuniram

em Berna na Suiacuteccedila para definir alguns padrotildees miacutenimos de proteccedilatildeo dos direitos do autor

literaacuterio cientiacutefico e artiacutestico Eacute a chamada Convenccedilatildeo de Berna que se tornou um

paracircmetro para a elaboraccedilatildeo de vaacuterias legislaccedilotildees sobre o tema Segundo Rodrigo Moraes

ldquoEssa convenccedilatildeo consiste no primeiro e mais importante instrumento internacional

versando sobre Direito Autoral Assinada na capital da Suiacuteccedila em 1886 ainda estaacute em

vigor nos dias atuaisrdquo (Moraes 2006 255)

20 Direitos morais e direitos patrimoniais

Teoacutericos que tratam sobre direitos autorais geralmente os classificam como

hiacutebridos ou duacuteplices Isso porque eles podem dividir-se em direitos morais e direitos

patrimoniais

21 Direitos morais

Os direitos morais se referem agrave ldquopaternidaderdquo do autor em relaccedilatildeo agrave sua obra satildeo

uma espeacutecie de emanaccedilatildeo da personalidade do autor e que estatildeo conforme dizem Pedro

Paranaguaacute e Seacutergio Banco ldquointimamente ligados agrave relaccedilatildeo do autor com a elaboraccedilatildeo a

divulgaccedilatildeo e a titulaccedilatildeo de sua obrardquo (Paranaguaacute e Branco 2009 42) Segundo Eduardo

Manso os direitos morais ldquo[] satildeo de pertinecircncia estritamente pessoal e visam a dar ao

autor ou a seus herdeiros que neles sejam investidos poderes para zelar por sua qualidade

de criador da obra para promover-lhe o respeito agrave forma que lhe foi dada pelo autorrdquo

(Manso 1992 52)

Geralmente os direitos morais satildeo classificados doutrinariamente como direitos

de personalidade Hildebrando Neto chega a dizer que os direitos morais se encaixam em

ldquocondiccedilotildees personaliacutessimas a possibilitar ao criador o direito de paternidade o direito de

ineacutedito a defesa da integridade da obra aleacutem de possibilitar-lhe o direito de

arrependimentordquo (Neto 1997 17) Sendo assim desfrutam das mesmas caracteriacutesticas dos

demais direitos de personalidade sendo intransferiacuteveis e irrenunciaacuteveis Pedro Paranaguaacute

e Seacutergio Branco ressaltam que

62

Atualmente [] os princiacutepios mais elementares das leis de direitos autorais vedam a

transmissatildeo da autoria da obra independentemente do meio pelo qual se decirc a cessatildeo

Mesmo no caso de obras caiacutedas em domiacutenio puacuteblico o nome do autor se conhecido

deve permanecer a elas vinculado eternamente (PARANAGUAacute E BRANCO 2009

14)

Assim como na legislaccedilatildeo brasileira o diploma portuguecircs determina no Artigo 56deg

que os direitos morais perpetuam-se apoacutes a morte do autor Eles independem dos direitos

patrimoniais e mesmo depois da transmissatildeo ou extinccedilatildeo destes o autor goza dos direitos

morais sobre a sua obra (Assembleia da Repuacuteblica 1985 42) Eacute interessante salientar que

na Antiguidade a praacutetica da compra de autoria era algo comum e bastante frequente

(Moraes 2006 246) Hoje em dia essa conduta eacute proibida visto que o direito moral agrave

paternidade da obra eacute intransferiacutevel

Pedro Paranaguaacute e Seacutergio Branco nos alertam para a necessidade de diferenciar os

direitos autorais dos demais direitos de personalidade Estes uacuteltimos ndash nome imagem

dignidade honra etc ndash nascem com os indiviacuteduos e satildeo desde logo exerciacuteveis Daiacute a

diferenccedila em relaccedilatildeo agrave situaccedilatildeo dos direitos morais que soacute satildeo exerciacuteveis se haacute a criaccedilatildeo

de algo por parte do indiviacuteduo Sendo assim eles nascem aos poucos com as pessoas

permanecendo em condiccedilatildeo suspensiva (Paranaguaacute e Branco 2009 50)

Eacute importante considerar que segundo Eduardo Manso ldquoAs faculdades

proclamadas pelos direitos morais natildeo conferem aos seus titulares nenhum poder de

utilizaccedilatildeo sobre as obras intelectuais salvo de natureza intelectual Nenhum direito moral

possibilita com seu exerciacutecio tirar direto proveito econocircmico da obra intelectualrdquo

(Manso 1992 52) Esta eacute uma atribuiccedilatildeo dos direitos patrimoniais tal como veremos a

seguir

22 Direitos patrimoniais

Consistem basicamente no direito agrave exploraccedilatildeo econocircmica das obras protegidas

Exercendo o direito patrimonial seu titular pode tirar da obra algum proveito econocircmico

de conformidade com sua natureza e com a modalidade de sua exploraccedilatildeo comercial

Os direitos patrimoniais tecircm o objetivo de suprir os meios de sobrevivecircncia do

criador intelectual Eles surgem a partir de uma comercializaccedilatildeo posterior que pode natildeo

acontecer caso o autor escolha manter sua obra ineacutedita (Moraes 2006 271) Segundo

63

Paranaguaacute e Branco (2009 53) eacute preciso salientar que os direitos patrimoniais estatildeo

sujeitos a alguns pontos

a) Temporariedade

Segundo a Lei nordm 961098 atual Lei do Direito Autoral brasileira uma obra

intelectual soacute pode ser protegida se estiver dentro do prazo de proteccedilatildeo que eacute o de vida do

autor mais 70 anos contados a partir de 1ordm de Janeiro do ano subsequente ao de seu

falecimento (Presidecircncia da Repuacuteblica Federativa do Brasil 1998) Apoacutes esse prazo a

obra cai em domiacutenio puacuteblico ndash portanto qualquer pessoa pode tirar dela proveitos

patrimoniais sem autorizaccedilatildeo do titular dos direitos autorais Os 70 anos apoacutes a morte do

autor satildeo os mesmos no Coacutedigo do Direito de Autor e dos Direitos Conexos aprovado

pelo Decreto-Lei nordm 6385 de 14 de Marccedilo de 1985 texto atualmente em vigor em

Portugal O prazo foi instaurado pelo Decreto-Lei ndeg 33497 de 27 de Novembro

b) Autorizaccedilatildeo preacutevia

Enquanto natildeo cair em domiacutenio puacuteblico uma obra soacute poderaacute ser reproduzida

mediante autorizaccedilatildeo do detentor dos direitos autorais

c) Ausecircncia de formalidade ou proteccedilatildeo automaacutetica

Natildeo eacute preciso registrar a obra para que o autor tenha direito agrave proteccedilatildeo Ela

independe do registro

d) Perpetuidade do viacutenculo autor-obra

Decorre dos direitos morais do autor O nome do autor estaraacute perenemente ligado agrave

obra sobre a qual tem direito de paternidade Sendo assim o nome do autor deveraacute

constar obrigatoriamente em qualquer uso que se faccedila da obra

e) Individualidade da proteccedilatildeo

Cada obra deve ser protegida separadamente de forma independente Por exemplo

se um livro inspira a realizaccedilatildeo de sua adaptaccedilatildeo cinematograacutefica ambas as obras que se

diferem pelos suportes estatildeo protegidas Cada uma adaptada ao seu formato inclusive

com diferentes prazos de proteccedilatildeo

f) Independecircncia das utilizaccedilotildees

64

As diferentes modalidades possiacuteveis de utilizaccedilatildeo de uma obra intelectual satildeo

independentes entre si e a autorizaccedilatildeo referente a uma modalidade concedida pelo autor

ou detentor dos direitos natildeo se estende agraves demais

g) Direito de propriedade sobre o bem

Quando se adquire um CD por exemplo se adquire o suporte material sobre o qual

estaacute fixada a obra protegida por propriedade intelectual Sendo assim nosso direito de

propriedade sobre o CD nos permite que o guardemos doemos ou ateacute o destruamos se

quisermos Nossa propriedade estaacute sobre o CD mas natildeo sobre as obras contidas nele

Como foi visto os direitos patrimoniais estatildeo voltados ao fator econocircmico ao

caraacuteter comercial da obra intelectual Ao contraacuterio destes que regulam o poder econocircmico

do autor sobre a utilizaccedilatildeo de sua obra por terceiros estatildeo os direitos morais destinados agrave

defesa da relaccedilatildeo do autor com sua obra

30 Direitos de autor e regulaccedilatildeo da Internet no Brasil e em Portugal

31 Legislaccedilatildeo autoral brasileira

O primeiro registro legal que trata dos direitos autorais no Brasil eacute a Lei de 11 de

Agosto de 1827 (Presidecircncia da Repuacuteblica Federativa do Brasil 1827) Ela instituiu os

cursos juriacutedicos no paiacutes sendo responsaacutevel pela criaccedilatildeo de dois centros de estudos um em

Satildeo Paulo e outro em Olinda Os mestres nomeados para trabalhar nos cursos deveriam

enviar agraves Assembleias Gerais os seus compecircndios relativos agraves mateacuterias que lecionavam

para receber ou natildeo aprovaccedilatildeo Com ela os mestres gozariam durante 10 anos do

privileacutegio de publicaccedilatildeo dos escritos Mas segundo Eduardo Manso ldquoTratava-se no

entanto de um direito aplicaacutevel apenas intra muros nas Faculdades de Direito de Olinda e

de Satildeo Paulo natildeo alcanccedilando os demais autores brasileirosrdquo (Manso 1992 16)

Em 1830 veio a promulgaccedilatildeo do Coacutedigo Criminal e com ela surgiu a primeira

regulaccedilatildeo sobre a mateacuteria Suas normas visavam apenas a proibiccedilatildeo da contrafaccedilatildeo

(reproduccedilatildeo natildeo autorizada) sem conceder verdadeiros direitos autorais civis

65

Foi em 1891 com a primeira Constituiccedilatildeo Republicana que o Brasil editou normas

de direito autoral como garantia constitucional conforme o sect26deg do artigo 72 da

Constituiccedilatildeo Federal nos termos (Manso 1992 17) ldquoAos autores de obras literaacuterias e

artiacutesticas eacute garantido o direito exclusivo de reproduzi-las pela imprensa ou por qualquer

outro processo mecacircnico Os herdeiros dos autores gozaratildeo desse direito pelo tempo que a

lei determinarrdquo Essa lei foi publicada 5 anos mais tarde em 1896 com o nome de

Medeiros Albuquerque Conforme diz Daniel Rocha

Ateacute o advento dessa lei no Brasil a obra intelectual era terra de ningueacutem Tanto era

assim que Pinheiro Chagas escritor portuguecircs reclamava ter no Rio de Janeiro um

ldquoladratildeo habitualrdquo que ainda tinha a audaacutecia de lhe escrever dizendo ldquoTudo que V Exordf

publica eacute admiraacutevel Faccedilo o que posso para o tornar conhecido no Brasil reimprimindo tudordquo O que ocorria eacute que na eacutepoca era comum pensar-se que a obra estrangeira

ainda mais do que a nacional podia ser copiada indiscriminadamente (ROCHA apud

PARANAGUAacute E BRANCO 2009 18)

A lei Medeiros Albuquerque esteve em vigor ateacute a chegada do Coacutedigo Civil em

Janeiro de 1917 Nele o direito autoral brasileiro perdeu sua autonomia legislativa pois

passou a ser considerado simplesmente uma espeacutecie de propriedade ldquoPropriedade

Literaacuteria Cientiacutefica e Artiacutesticardquo (Manso 1992 20) Somente em 1973 o Brasil viu

publicado um estatuto uacutenico e abrangente regulando o direito de autor A lei nordm 5988 de

14 de Dezembro de 1973 vigorou ateacute a aprovaccedilatildeo pelo Congresso Nacional da lei nordm

9610 de 19 de Fevereiro de 1998

A atual Lei do Direito Autoral (LDA)3 brasileira nordm 961098 foi aprovada pelo

Congresso Nacional em 19 de Fevereiro de 1998 e entrou em vigor em 19 de Agosto do

mesmo ano Esse diploma veio alterar atualizar e consolidar a legislaccedilatildeo anterior que

vigorou por 25 anos (Paranaguaacute e Branco 2009 19)

Conforme salienta Faacutebio Barbosa o artigo 7ordm dessa lei confere inicialmente ao

direito autoral dois princiacutepios a proteccedilatildeo agrave criaccedilatildeo de espiacuterito expressas por qualquer

meio e a exclusividade de utilizaccedilatildeo da obra (Barbosa 2006 394) Isso nos remete ao

conceito de direito autoral dado por Isaac Pilati ldquo[] agrave guisa de conceito operacional

entende-se por Direito do Autor ou Direito Autoral aquele que tem o autor de ligar o seu

nome agrave obra do espiacuterito de qualquer modo exteriorizada podendo reproduzi-la e

3 Para tornar a leitura mais simples utilizaremos a sigla LDA para nos referirmos agrave atual Lei brasileira do

Direito Autoral

66

transmiti-lardquo (Pilati apud Barbosa 2006 394) Outros autores como Gustavo Correcirca

fazem conceituaccedilotildees mais teacutecnicas

Os direitos autorais satildeo aqueles que conferem ao autor de obra literaacuteria cientiacutefica ou artiacutestica a prerrogativa de reproduzi-la e exploraacute-la economicamente enquanto viver

transmitindo-a a seus herdeiros e sucessores pelo periacuteodo de setenta anos contados de

1ordm de Janeiro do ano subsequumlente ao de seu falecimento (CORREcircA apud BARBOSA

2006 394)

Agrave eacutepoca de seu surgimento a lei nordm 961098 trouxe uma evoluccedilatildeo no campo

juriacutedico concernente agraves mudanccedilas econocircmicas culturais e sobretudo tecnoloacutegicas pelas

quais passava a sociedade Eacute importante ressaltar que os avanccedilos no campo tecnoloacutegico

afetam diretamente o direito autoral jaacute que eles provocaram uma profunda mudanccedila na

forma de produzir e utilizar obras intelectuais Este eacute um assunto que seraacute tratado em

breve

Com o advento das tecnologias digitais e da Internet foi preciso modernizar a

legislaccedilatildeo para que esta acompanhasse as mutaccedilotildees que se seguiram Segundo Faacutebio

Barbosa naquela altura ela ldquo[] modernizou-se adequando-se para definir e reconhecer

os novos direitos aplicando sanccedilotildees agraves violaccedilotildees desses direitos inclusive no que se refere

agraves alteraccedilotildees supressotildees e inutilizaccedilotildees de dispositivos tecnoloacutegicos de proteccedilatildeo agrave obra

intelectualrdquo (Barbosa 2006 396)

Um dos toacutepicos que sofreram alteraccedilatildeo eacute o que se refere ao direito de reproduccedilatildeo

O artigo 5deg VI ndash Lei 961098 lhe daacute o seguinte conceito

VI ndash reproduccedilatildeo ndash a coacutepia de um ou vaacuterios exemplares de uma obra literaacuteria artiacutestica

ou cientiacutefica ou de um fonograma de qualquer forma tangiacutevel incluindo qualquer

armazenamento permanente ou temporaacuterio por meios eletrocircnicos ou qualquer outro

meio de fixaccedilatildeo que venha a ser desenvolvido (PRESIDEcircNCIA DA REPUacuteBLICA

FEDERATIVA DO BRASIL 1998)

Como pode ser observado o direito de reproduccedilatildeo sofreu mudanccedilas conceituais

considerando a partir de entatildeo ldquoqualquer armazenamento permanente ou temporaacuterio por

meios eletrocircnicos ou qualquer outro meio de fixaccedilatildeo que venha a ser desenvolvidordquo

(Barbosa 2006 397)

Outro conceito atualizado pela lei 961098 foi o do direito de comunicaccedilatildeo ao

puacuteblico O artigo 5deg V ndash Lei 961098 daacute o conceito da seguinte maneira ldquoV ndash

67

comunicaccedilatildeo ao puacuteblico ndash ato mediante o qual a obra eacute colocada ao alcance do puacuteblico

por qualquer meio ou procedimento e que natildeo consista na distribuiccedilatildeo de exemplaresrdquo

Poreacutem apesar de haver uma ampliaccedilatildeo conceitual referente agrave comunicaccedilatildeo puacuteblica

(podendo alcanccedilar a forma digital como ldquoo ato pelo qual a obra eacute colocada ao alcance do

puacuteblicordquo) no Capiacutetulo II intitulado ldquoDa Comunicaccedilatildeo ao Puacuteblicordquo a lei delimita o ato aos

direitos de execuccedilatildeo e representaccedilatildeo puacuteblicas nos artigos 68 e paraacutegrafos que satildeo

espeacutecies do gecircnero do direito de comunicaccedilatildeo ao puacuteblico (ibidem 399)

Um terceiro ponto a ser observado na lei 961098 estaacute no direito de distribuiccedilatildeo

As facilidades trazidas pela Internet promoveram uma discussatildeo em torno da distribuiccedilatildeo

de obras intelectuais na Rede O artigo 5deg IV ndash Lei 961098 traz o conceito da seguinte

forma

IV ndash distribuiccedilatildeo ndash a colocaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico do original ou coacutepia de obras

literaacuterias artiacutesticas ou cientiacuteficas interpretaccedilotildees ou execuccedilotildees fixadas e fonogramas

mediante a venda locaccedilatildeo ou qualquer outra forma de transferecircncia de propriedade ou posse (PRESIDEcircNCIA DA REPUacuteBLICA FEDERATIVA DO BRASIL 1998)

A princiacutepio o direito de distribuiccedilatildeo traz agrave mente a ideia do objeto material a obra

fixada sobre um suporte Poreacutem deve-se salientar que a distribuiccedilatildeo eletrocircnica tambeacutem

pode ser protegida jaacute que o objeto da proteccedilatildeo dos direitos eacute a obra em si que pode ser

digitalizada (Santos apud Barbosa 2006 400) O art 29 VII da Lei do Direito Autoral

alcanccedila a distribuiccedilatildeo eletrocircnica quando fala sobre a distribuiccedilatildeo de obras mediante

recursos de telecomunicaccedilotildees (Barbosa 2006 400)

32 Reforma da Lei brasileira do Direito Autoral (LDA)

A raacutepida evoluccedilatildeo das tecnologias digitais poreacutem fez com que a LDA se tornasse

obsoleta e desatualizada em vaacuterios aspectos Com o objetivo de discutir as mudanccedilas

necessaacuterias e as alternativas possiacuteveis um anteprojeto foi aberto agrave discussatildeo puacuteblica em 14

de Junho de 2010 pelo Ministeacuterio da Cultura (MinC) apoacutes vaacuterias jornadas puacuteblicas de

debate (vd Anexo 03) Foi mesmo criado um site para facilitar a consulta

httpwwwculturagovbrconsultadireitoautoral

Na verdade o anteprojeto propotildee reformar alguns pontos da LDA e natildeo instaurar

um diploma novo O texto manteacutem-se circunscrito ao acircmbito claacutessico dos direitos de autor

68

com apenas algumas referecircncias a elementos digitais Nota-se isso pela ausecircncia de uma

consideraccedilatildeo especiacutefica dos grandes problemas suscitados pelos direitos de autor em

mateacuteria de informaacutetica Haacute referecircncias incidentais mas aspectos baacutesicos da grande

problemaacutetica atual do estatuto da obra na Internet ficam por resolver Na anaacutelise do jurista

Joseacute de Oliveira Ascensatildeo esta foi uma decisatildeo sensata jaacute que a preparaccedilatildeo de uma lei

que regulasse o direito autoral na Internet levaria muito mais tempo e isso prejudicaria os

avanccedilos nas correccedilotildees de deficiecircncias jaacute detectadas - que deveriam ser realizadas mais

rapidamente (Ascensatildeo 2011 160)

No final de 2011 o Ministeacuterio da Cultura concluiu o texto final da nova Lei do

Direito Autoral Em Marccedilo de 2012 o diploma estava na pauta de discussatildeo dos

ministeacuterios envolvidos e depois seguiria para o Congresso Nacional Na eacutepoca em que

passou pelo MinC (gerido jaacute nesta altura pela ministra Ana de Hollanda) o texto sofreu

algumas modificaccedilotildees Ele eacute mais flexiacutevel do que o atual e permitiraacute por exemplo coacutepias

de obras para uso privado educaccedilatildeo ou preservaccedilatildeo (Link 04122011)

Poreacutem o Ministeacuterio da Cultura acrescentou ao texto um mecanismo que faz parte

da legislaccedilatildeo estadunidense o de notice and take down ou notificaccedilatildeo e retirada que

serve para que detentores de direitos autorais consigam retirar conteuacutedo pirata do ar sem a

necessidade de ordem judicial Por exemplo se uma gravadora encontrar um blog

hospedado no Blogger com links para downloads ilegais de discos pode solicitar ao

Google (proprietaacuterio do Blogger) a remoccedilatildeo do conteuacutedo O Google eacute obrigado a cumprir

e notificar o autor Avaliaccedilotildees ficam para depois Cabe ao dono do blog fazer uma

contranotificaccedilatildeo pedindo a manutenccedilatildeo do conteuacutedo e assumindo a responsabilidade por

uma eventual acusaccedilatildeo judicial

Segundo Marcia Regina Barbosa diretora de Direitos Intelectuais do Ministeacuterio da

Cultura o mecanismo foi incluiacutedo na lei ldquopor demanda dos produtores das aacutereas

audiovisual e musicalrdquo A medida segundo ela ldquolegalizaraacute um procedimento que hoje jaacute eacute

muito utilizadordquo (Link 04122011) O problema desse mecanismo eacute o que Pablo

Ortellado diretor do Grupo de Poliacuteticas Puacuteblicas para o Acesso agrave Informaccedilatildeo da

Universidade de Satildeo Paulo (USP) chama de ldquocensura preacuteviardquo (Link id) O proprietaacuterio do

blog soacute pode questionar a retirada depois que ela jaacute foi feita

O Ministeacuterio da Cultura tambeacutem quer criar um registro central de obras Na praacutetica

o sistema (que tem o nome provisoacuterio de I-Registro) eacute uma plataforma que centralizaraacute

dados sobre tudo o que eacute produzido de cultura no Brasil Registrar as obras criadas nessa

69

plataforma seraacute condiccedilatildeo sine qua non para receber os direitos autorais provenientes

delas Esse procedimento eacute questionaacutevel pelo facto de que a Convenccedilatildeo de Berna que

estabelece princiacutepios baacutesicos de direitos autorais e da qual o Brasil eacute signataacuterio afirma que

natildeo eacute necessaacuterio registro para uma obra ser protegida Para Pablo Ortellado a necessidade

de registro eacute ilegal pois segundo ele esse registro obrigatoacuterio ainda impediraacute o autor de

optar por uma modalidade de licenciamento mais flexiacutevel como o Creative Commons

(Link 04122011) Falaremos sobre ele mais adiante

Em audiecircncia puacuteblica na Cacircmara dos Deputados no dia 21 de Marccedilo de 2012 Ana

de Hollanda justificou as alteraccedilotildees feitas pelo Ministeacuterio da Cultura e afirmou que ouviu

as induacutestrias culturais para lanccedilar a uacuteltima versatildeo do texto da Reforma da Lei do Direito

Autoral ldquoConsideramos a consulta puacuteblica mas abrimos para contribuiccedilatildeo Havia uma

demanda enorme dos meios culturais que diziam que natildeo tinham sido ouvidos ou

contemplados no processo anteriorrdquo (Link 21032012) Segundo ela o MinC fez poucas

alteraccedilotildees no texto apoacutes a discussatildeo puacuteblica aberta em Junho de 2010 ldquoO que foi mexido

era uma demanda forte dos setores de todas as aacutereas audiovisual muacutesica livros que natildeo

se sentiam contempladosrdquo (Link id)

Paralelamente agraves discussotildees sobre a reforma da Lei brasileira do Direito Autoral

(LDA) eacute importante salientar que o Ministeacuterio da Justiccedila brasileiro estaacute em vias de

preparar aquilo que foi denominado de ldquoMarco Civil da Internetrdquo que vai apresentar

legislaccedilatildeo especiacutefica sobre a regulaccedilatildeo da Rede no paiacutes aleacutem de tocar (de forma indireta)

na questatildeo integrada dos direitos de autor e a problemaacutetica do digital Os contornos do

Marco Civil estatildeo atualmente sendo estudados por especialistas organismos de pesquisa e

acadecircmicos e eacute um toacutepico do qual trataremos a seguir

33 O Marco Civil da Internet

As discussotildees sobre o projeto de lei de combate ao cibercrime conhecido pelo

nome de seu autor o senador Eduardo Azeredo enfureceu muitos internautas brasileiros

A pressatildeo atraveacutes da mobilizaccedilatildeo virtual fez com que o entatildeo Presidente da Repuacuteblica

Luiz Inaacutecio Lula da Silva solicitasse ao Ministeacuterio da Justiccedila a elaboraccedilatildeo de ldquoum projeto

sobre a Internet que natildeo fosse uma regulaccedilatildeo penal mas um marco civilrdquo (Abramovay

2012) Em 29 de Outubro de 2009 a Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministeacuterio da

Justiccedila (SALMJ) em parceria com a Escola de Direito da Fundaccedilatildeo Getulio Vargas no

70

Rio de Janeiro (FGV DIREITO RIO) lanccedilou o projeto para a construccedilatildeo colaborativa de

um Marco Civil da Internet no Brasil

Os principais objetivos do marco regulatoacuterio satildeo o estabelecimento de princiacutepios

garantias direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil e a determinaccedilatildeo de diretrizes

para atuaccedilatildeo da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios em relaccedilatildeo agrave

mateacuteria A disciplina do uso da Internet no Brasil tem como fundamentos os direitos

humanos e o exerciacutecio da cidadania em meios digitais a pluralidade e a diversidade a

abertura e a colaboraccedilatildeo e finalmente a livre iniciativa a livre concorrecircncia e a defesa do

consumidor Dentre seus princiacutepios estatildeo

I - garantia da liberdade de expressatildeo comunicaccedilatildeo e manifestaccedilatildeo de

pensamento nos termos da Constituiccedilatildeo

II - proteccedilatildeo da privacidade

III - proteccedilatildeo aos dados pessoais na forma da lei

IV - preservaccedilatildeo e garantia da neutralidade da Rede conforme regulamentaccedilatildeo

V - preservaccedilatildeo da estabilidade seguranccedila e funcionalidade da Rede por meio de

medidas teacutecnicas compatiacuteveis com os padrotildees internacionais e pelo estiacutemulo ao uso de

boas praacuteticas

VI - responsabilizaccedilatildeo dos agentes de acordo com suas atividades nos termos da lei e

VII - preservaccedilatildeo da natureza participativa da Rede

(CONGRESSO NACIONAL 2011 01-02)

A ideia de criar um marco regulatoacuterio civil contrapotildee-se agrave tendecircncia de se

estabelecerem restriccedilotildees condenaccedilotildees ou proibiccedilotildees relativas ao uso da Internet E aiacute estaacute

a grande diferenccedila entre o Projeto de Lei Azeredo e o marco proposto Este uacuteltimo tem

como objetivo principal determinar de forma clara direitos e responsabilidades relativas agrave

utilizaccedilatildeo dos meios digitais O foco portanto eacute o estabelecimento de uma legislaccedilatildeo que

garanta direitos e natildeo uma norma que restrinja liberdades

Jaacute que as tecnologias digitais satildeo instrumentos em constantes mutaccedilatildeo e evoluccedilatildeo

o texto do marco civil deveria abranger questotildees essenciais A natureza aberta da Rede

poderia ser prejudicada caso a legislaccedilatildeo fosse de caraacuteter restritivo ldquoQualquer iniciativa

de regulaccedilatildeo da Internet deve portanto observar princiacutepios como a liberdade de

expressatildeo a privacidade do indiviacuteduo o respeito aos direitos humanos e a preservaccedilatildeo da

dinacircmica da Internet como espaccedilo de colaboraccedilatildeordquo (Ministeacuterio da Justiccedila e FGV 2009)

Dentre os temas abordados pelo texto do marco civil estatildeo as responsabilidades

dos provedores e dos usuaacuterios sobre os conteuacutedos disponibilizados na Rede e as medidas

para regulamentar e preservar direitos fundamentais dos internautas (como a privacidade e

71

a liberdade de expressatildeo) Aleacutem disso prevecirc-se a discussatildeo sobre alguns princiacutepios que

garantam o bom funcionamento da Rede como a neutralidade da Internet Os

organizadores do marco civil decidiram natildeo abordar de maneira aprofundada questotildees

como crimes ciberneacuteticos regulaccedilatildeo de telecomunicaccedilotildees e direitos de autor por

considerarem que satildeo temas suficientemente vastos para serem discutidos em foros agrave

parte Mas de alguma forma as premissas do texto do marco tocam essas questotildees

mesmo que de forma natildeo tatildeo evidente Eacute como o caso da relaccedilatildeo entre respeito aos direitos

autorais e preservaccedilatildeo da privacidade do usuaacuterio da Rede

Tomemos quatro principais itens-chave discutidos pelo Marco Civil guarda de

dados neutralidade da Rede privacidade e responsabilidade Quando um crime eacute

cometido utilizando a Internet como meio a uacutenica forma de identificar o criminoso eacute ter

acesso aos registros de conexatildeo Atualmente no Brasil natildeo haacute nenhuma lei de caraacuteter

regulatoacuterio que defina se sites e provedores devem armazenar esses registros ou por

quanto tempo O texto do marco determina que os provedores guardem os registros de

conexatildeo de seus utilizadores mas proiacutebe que colham informaccedilotildees sobre os registros de

acesso a serviccedilos Web Isto eacute os provedores seriam obrigados a armazenar os dados que

permitem determinar quando e por qual computador o indiviacuteduo conectou-se agrave Rede mas

natildeo quais os sites que foram visitados Os proacuteprios sites poderiam fazecirc-lo mas apenas

quando o usuaacuterio consentisse Aqui estaacute um ponto que gera controveacutersias Alguns juristas

afirmam que os registros de acesso satildeo possiacuteveis provas de crimes ndash o que levaria o tema a

ser regulado por uma lei criminal natildeo por um marco civil

A questatildeo da neutralidade da Rede eacute um ponto crucial do projeto e uma polecircmica

de dimensotildees planetaacuterias O princiacutepio da neutralidade da Rede determina que todos os

pacotes de dados que transitam por ela devem ser tratados da mesma forma sem

discriminaccedilatildeo de origem destino ou tipo Manter a neutralidade quer dizer aqui evitar

praacuteticas conhecidas como traffic shaping que permite aos provedores dificultar a

conexatildeo a determinadas paacuteginas Eacute o caso dos fornecedores de acesso agrave Internet que

prejudicam propositalmente a conexatildeo a sites de partilha P2P e serviccedilos voip por

exemplo No Brasil um caso que ilustra essa atitude eacute o da Brasil Telecom e de mais trecircs

operadoras atuantes no mercado nacional que aparecem no ranking mundial dos 108

provedores avaliados pelo software Vuze sob indiacutecios da praacutetica de controlo de fluxo de

dados (Vuze 2008) O Marco prevecirc uma exceccedilatildeo apenas para requisitos teacutecnicos

necessaacuterios agrave prestaccedilatildeo adequada dos serviccedilos (Congresso Nacional 2011 03) como

72

medidas para melhoria do funcionamento da Rede que podem eventualmente prejudicar a

fluidez do traacutefego de informaccedilotildees

Para garantir a privacidade do usuaacuterio o marco determina que seus dados pessoais

soacute podem ser consultados mediante decisatildeo judicial Os criacuteticos da medida contestam esse

toacutepico afirmando que isso poderia dificultar eventuais investigaccedilotildees da poliacutecia Poreacutem

deve-se observar que o texto prevecirc que as autoridades requeiram a conservaccedilatildeo dos dados

dos usuaacuterios investigados sem burocracia impedindo que sejam apagados pelos

servidores

A responsabilidade tem a ver com a atribuiccedilatildeo de conteuacutedos publicados em sites

redes sociais etc Neste ponto o marco segue o mesmo caminho que jaacute vem sendo tomado

pela Justiccedila a responsabilidade recai sobre os proacuteprios usuaacuterios sendo os provedores

punidos apenas quando natildeo retiram o conteuacutedo do ar dentro do prazo legal estabelecido

para fazecirc-lo

O caraacuteter inteiramente colaborativo do processo de construccedilatildeo do marco civil eacute

ineacutedito e constitui seu maior trunfo A formulaccedilatildeo do texto foi executada tendo a Internet

como meio o intuito foi o de incentivar a participaccedilatildeo ativa e direta dos vaacuterios atores

sociais envolvidos no tema (sociedade civil pesquisadores membros do governo

acadecircmicos representantes da iniciativa privada etc) Todos podiam efetuar cadastro em

um site feito especialmente com o objetivo de receber propostas contribuiccedilotildees e opiniotildees

Dividiu-se o processo em duas fases Na primeira com duraccedilatildeo de

aproximadamente 45 dias (iniciada em Outubro de 2009 e fechada em 17 de Dezembro de

2009) foram debatidas ideias sobre os toacutepicos propostos para regulaccedilatildeo a partir de texto-

base produzido pelo Ministeacuterio da Justiccedila O texto-base contextualiza os principais temas

pendentes de regulaccedilatildeo pelo instrumento a ser elaborado coletivamente e aponta possiacuteveis

caminhos a serem seguidos

Cada paraacutegrafo do texto ficou aberto para inserccedilatildeo de comentaacuterios por usuaacuterios

cadastrados no site As postagens de comentaacuterios tinha limite de tamanho e de quantidade

por usuaacuterios a fim de abrir espaccedilo agrave pluralidade de participaccedilotildees Para evitar cerceamento

ao debate a equipe de coordenaccedilatildeo direcionava determinados debates para foros de

discussatildeo hospedados em comunidades especiacuteficas dentro do portal Nesses espaccedilos era

possiacutevel tornar a discussatildeo mais aprofundada Cada participante tambeacutem podia votar

positiva ou negativamente nas contribuiccedilotildees dos demais Esses votos serviam para nortear

a equipe de redaccedilatildeo sobre as preferecircncias opiniotildees e interesses dos participantes

73

contribuindo para a formulaccedilatildeo da proposta No final desta primeira fase todas as

participaccedilotildees foram compiladas e levaram agrave elaboraccedilatildeo de uma minuta de anteprojeto de

lei Nessa primeira fase o site recebeu uma meacutedia de 1300 visitas diaacuterias

Na segunda fase a discussatildeo seguiu o mesmo formato mas teve como paracircmetro a

minuta de anteprojeto de lei elaborado anteriormente Cada artigo paraacutegrafo inciso ou

aliacutenea ficou aberto para apresentaccedilatildeo de comentaacuterios por qualquer interessado A duraccedilatildeo

desta fase foi de aproximadamente 50 dias (de 08 de Abril a 30 de Maio de 2010) Durante

o periacuteodo o site recebeu 455 mil visitas e foram feitos cerca de 900 comentaacuterios agrave minuta

(Agecircncia Brasil 2010) Com o teacutermino da segunda fase foi construiacutedo o texto atualmente

disponiacutevel (vd Anexo 01)

O processo de consulta puacuteblica no qual se baseou a construccedilatildeo do marco foi

elogiado por muitos juristas e ativistas da Internet por ser aberto e democraacutetico e eacute um

modelo cuja eficaacutecia vem sendo internacionalmente reconhecida (Committee to Protect

Journalists 2010 Internet sans frontiegraveres 2010)

34 Legislaccedilatildeo autoral portuguesa

Em Portugal a Carta Constitucional de 1826 no sect24ordm do artigo 145ordm reconhece

aos inventores ldquoa propriedade das suas descobertas ou das suas produccedilotildeesrdquo mas natildeo

assegura a proteccedilatildeo agrave criaccedilatildeo literaacuteria (Monarquia Portuguesa 1826 01)

O escritor Almeida Garrett entusiasta da causa dos direitos de autor em Portugal

escreveu em 1839 sobre a falta de proteccedilatildeo aos autores nacionais

Findo o privileacutegio se era temporaacuterio ou natildeo o havendo entendia-se que toda a obra

impressa entrava no domiacutenio puacuteblico e que vivo ou morto com herdeiros ou sem eles

qualquer um podia reimprimir vender representar se era obra dramaacutetica usar dela

enfim como coisa sua ou coisa de ningueacutem que tanto vale (REBELLO 1973 07)

No ano de 1838 a Constituiccedilatildeo Portuguesa consagrou no sect4ordm do artigo 23ordm o

ldquodireito de propriedade dos inventores sobre as suas descobertas e dos escritores sobre os

seus escritos [] pelo tempo e na forma que a lei determinar []rdquo Faltava poreacutem a lei

que regulasse a mateacuteria nas suas especificidades

Em 1839 Garrett apresentou agrave Cacircmara dos Deputados um projeto de lei sobre

propriedade literaacuteria e artiacutestica Em 1841 o projeto foi aprovado mas natildeo chegou a tornar-

se lei devido agrave desfavoraacutevel conjuntura poliacutetica da eacutepoca O projeto voltou agrave Cacircmara dez

74

anos depois em 1851 quando foi aprovado e em 18 de Julho do mesmo ano foi publicado

o primeiro diploma regulador dos direitos autorias em Portugal Esta lei manteve-se em

vigor ateacute 1867 ano em que a mateacuteria referente ao direito de autor foi inserida no Coacutedigo

Civil elaborado pelo Visconde de Seabra Os artigos 570deg a 612ordm que constituem o

capiacutetulo epigrafado ldquoDo trabalho literaacuterio e artiacutesticordquo retomaram os princiacutepios e as regras

fundamentais do diploma precedente De acordo com o artigo 579ordm do coacutedigo civil o

direito dos herdeiros a publicar ou autorizar a publicaccedilatildeo de uma obra foi elevado de 30

para 50 anos consecutivos agrave morte do autor

Setenta anos depois em 3 de Junho de 1927 o decreto nordm 13725 (tambeacutem

conhecido como Lei Cunha Gonccedilalves) veio estabelecer uma regulaccedilatildeo autocircnoma para

essa mateacuteria em parte pela necessidade de harmonizaccedilatildeo entre a legislaccedilatildeo interna com o

Direito internacional jaacute que Portugal havia assinado o decreto de adesatildeo agrave Convenccedilatildeo de

Berna em 1911 A convenccedilatildeo que instituiu a Uniatildeo Internacional das Naccedilotildees Para a

Proteccedilatildeo das Obras Literaacuterias e Artiacutesticas jaacute contava na altura com a participaccedilatildeo da

Alemanha Beacutelgica Espanha Franccedila Inglaterra Itaacutelia e Suiacuteccedila Luiz Francisco Rebello

aponta que a maior inovaccedilatildeo desse decreto foi o estabelecimento da perpetuidade do

direito de autor ateacute entatildeo protegido apenas durante a vida e ateacute 50 anos apoacutes a sua morte

(ibidem 09) O sistema anterior foi poreacutem restaurado em 1966

Em 6 de Setembro de 1952 eacute assinado em Genebra um outro tratado multilateral a

Convenccedilatildeo Universal sobre o Direito de Autor de iniciativa da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) destinada a ldquo[] assegurar a

proteccedilatildeo suficiente e eficaz dos direitos dos autores e de quaisquer outros titulares dos

mesmos direitos sobre as obras literaacuterias artiacutesticas e cientiacuteficasrdquo (Convenccedilatildeo Universal

sobre Direito de Autor 1952 01) O novo tratado impocircs a necessaacuteria revisatildeo da lei

nacional com o objetivo de adequaacute-la agraves mudanccedilas das tecnologias que surgiam mas

sobretudo de adaptaacute-la ao quadro internacional A comissatildeo incumbida de fazecirc-lo redigiu

um anteprojeto de lei consideravelmente modificado pela Cacircmara Corporativa em 1953

O contra-projeto da Cacircmara Corporativa inspirou em grande parte o texto do Coacutedigo de

Direito de Autor aprovado pelo Decreto-Lei nordm 46980 de 27 de Abril de 1966

O ano de 1985 marca a aprovaccedilatildeo do Coacutedigo do Direito de Autor e dos Direitos

Conexos4 pelo Decreto-Lei nordm 6385 de 14 de Marccedilo O texto original foi alterado pelas

4 Para tornar a leitura mais simples utilizaremos a sigla CDA para nos referirmos agrave atual Lei portuguesa dos

Direitos Autorais

75

Leis ndeg 4585 de 17 de Setembro ndeg 11491 de 3 de Setembro nordm 502004 de 24 de

Agosto e pelos Decretos-Lei ndeg 33297 e 33497 ambos de 27 de Novembro Este eacute o

coacutedigo que atualmente versa sobre a questatildeo em Portugal

Em vigor haacute mais de 25 anos eacute evidente que o CDA natildeo abrange os problemas

suscitados pela informaacutetica e especialmente pela Internet Segundo Alexandre Dias

Pereira a desatualizaccedilatildeo eacute caracteriacutestica das legislaccedilotildees nacionais em geral soacute agora eacute que

elas comeccedilam a abrir suas portas aos novos problemas da teacutecnica E o faratildeo mais vezes

por imposiccedilatildeo vertical dos Tratados Internacionais eou como eacute o caso da Uniatildeo Europeia

por forccedila das Diretivas Comunitaacuterias (Pereira 2002 05) Eacute nesse contexto que se assiste

na Europa a um ldquoassaltordquo ao direito de autor pelas instituiccedilotildees comunitaacuterias Com efeito

foram adotadas diversas medidas de harmonizaccedilatildeo na sequecircncia de um programa de accedilatildeo

traccedilado no famoso Livro Verde de 1988 sobre direitos de autor e os desafios da tecnologia

A legislaccedilatildeo nacional viu ocorrerem vaacuterias mudanccedilas como os programas de computador

serem tratados em igualdade com as obras literaacuterias (Conselho Europeu 1991) e o prazo

de duraccedilatildeo dos direitos subir para os 70 anos apoacutes a morte do autor (Parlamento Europeu e

Conselho 2006)

35 Regulaccedilatildeo da Internet em Portugal

Em 31 de Maio de 2002 os presidentes do Instituto da Comunicaccedilatildeo Social (ICS) e

da Autoridade Nacional de Comunicaccedilotildees (ANACOM) apresentaram ao Governo um

conjunto de propostas de atuaccedilatildeo intitulado ldquoIniciativa Convergecircncia e Regulaccedilatildeordquo O

texto tinha como objetivo definir uma orientaccedilatildeo estrateacutegica para o desenvolvimento dos

setores do audiovisual e das comunicaccedilotildees num ambiente de convergecircncia

A iniciativa recolheu e analisou contributos de representantes dos diferentes

interesses envolvidos na questatildeo entre eles associaccedilotildees de consumidores e profissionais

entidades institucionais e operadores de telecomunicaccedilotildees Tambeacutem ouviu personalidades

de reconhecido meacuterito e experiecircncia nos setores da comunicaccedilatildeo social para aleacutem de abrir

uma consulta puacuteblica Em 3 de Junho de 2002 foi entregue aos Ministros da Presidecircncia e

da Economia o relatoacuterio final contendo um conjunto de recomendaccedilotildees e de propostas de

atuaccedilatildeo Entretanto o projeto estagnou-se e desde 2008 natildeo haacute atualizaccedilotildees a seu respeito

James Slevin afirma que o uso das novas tecnologias de informaccedilatildeo eacute visto por

parte dos EstadosndashNaccedilatildeo como sendo de prioridade para os seus interesses e por isso pede

76

algum tipo de regulaccedilatildeo Isso porque no entender do Estado (hellip) as tecnologias que

podem ser utilizadas para transmitir algum tipo de mensagens para audiecircncias

relativamente alargadas (hellip) possuem uma profunda significacircncia como fator de influecircncia

dos valores e padrotildees morais das sociedades modernasrdquo (Slevin 2000 77) James Slevin

diz ainda que a tentativa de dotar a Internet de um sistema regulatoacuterio que defenda

simultaneamente os interesses dos Estados e dos cidadatildeos provoca um embate entre dois

polos (Slevin apud Cardoso 2002 03) Primeiro o dos governos que tendem a defender

uma abordagem da Internet enquanto tecnologia que facilita a difusatildeo puacuteblica de material

algo proacuteximo do sistema de broadcasting ndash uma atividade para a qual foram ao longo das

uacuteltimas deacutecadas desenvolvidos sistemas de regulaccedilatildeo de conteuacutedos Por outro lado os

indiviacuteduos e organizaccedilotildees da sociedade civil partidaacuterios de uma abordagem da Internet

enquanto tecnologia derivada do sistema telefocircnico ndash o qual foi desde sempre

caracterizado por um sistema de regulaccedilatildeo bastante brando dos seus conteuacutedos

Em texto escrito como contribuiccedilatildeo para a ldquoIniciativa Convergecircncia e Regulaccedilatildeordquo

Gustavo Cardoso afirma poreacutem que ldquoas posiccedilotildees sobre a regulaccedilatildeo da Internet tendem a

ser por vezes simplificadas colocando o Estado como defensor da existecircncia de

regulaccedilatildeo e os cidadatildeos como arautos da auto-regulaccedilatildeordquo (Cardoso 2002 04) Foi com o

objetivo de descobrir a veracidade dessa opiniatildeo na sociedade portuguesa que o Projecto

Ciberfaces do Instituto Superior de Ciecircncias do Trabalho e da Empresa (ISCTE)

analisou no ano 2000 3 mil inqueacuteritos realizados com usuaacuterios da Internet no paiacutes

Questionados sobre as principais vantagens da Internet os inquiridos responderam

quantidade diversidade da informaccedilatildeo disponiacutevel (263) rapidez de comunicaccedilatildeo

(205) e facilidade de contato com outros (182) O item referente agrave ausecircncia de

regulaccedilatildeo figurou na 6ordf posiccedilatildeo (57) numa lista de seis (ISCTE Projecto Ciberfaces

2000) As questotildees mais problemaacuteticas que a Internet enfrenta satildeo para estes inquiridos a

privacidade dos dados a seguranccedila dos pagamentos on-line a desorganizaccedilatildeo e dispersatildeo

dos conteuacutedos e a censura a alguns desses conteuacutedos

Outra dimensatildeo significativa que a pesquisa procurou analisar foi a da relaccedilatildeo

entre direitos de autor e gratuidade de conteuacutedos Agrave questatildeo ldquoA informaccedilatildeo

disponibilizada na Internet deve ser gratuitardquo 914 responderam ldquosimrdquo e 86 ldquonatildeordquo

Perguntados se ldquoOs direitos de autor devem ser respeitados na Internetrdquo 835

concordaram e 165 discordaram Gustavo Cardoso aponta esses resultados como

sintoma do aparente paradoxo entre o acesso gratuito agraves informaccedilotildees e a defesa dos

77

direitos de autor e da necessidade de compatibilizar dois polos de interesse geralmente

considerados opostos (Cardoso 2002 07)

Na questatildeo sobre a quem deve caber a regulaccedilatildeo da Internet 63 declararam-se a

favor de algum tipo de regulaccedilatildeo 33 mostraram-se favoraacuteveis aos utilizadores (portanto

agrave auto-regulaccedilatildeo) e apenas 2 escolheram a ausecircncia de qualquer tipo de regulaccedilatildeo Os

favoraacuteveis agrave regulaccedilatildeo opinaram poreacutem que esta natildeo deveria ser feita nem pelo Governo

nem pelas empresas do setor Ambas as categorias satildeo vistas como pouco crediacuteveis para

assegurar o equiliacutebrio necessaacuterio entre o interesse privado e puacuteblico que os usuaacuterios

conferem agrave Rede Isso ocorre pelo facto de os utilizadores conferirem ao regulador a noccedilatildeo

de entidade sem interesse direto no espaccedilo em causa Assim a escolha recai ou sobre

entidades independentes ou numa combinaccedilatildeo de interesses puacuteblicos privados e

individuais Conforme diz Gustavo Cardoso ldquotratam-se portanto de modelos proacuteximos

daqueles que a legislaccedilatildeo portuguesa a par de outras a niacutevel europeu privilegia nas aacutereas

de atuaccedilatildeo das tecnologias mais tradicionais no sistema dos mediardquo (ibidem 11)

A regulaccedilatildeo da Internet depara-se com trecircs questotildees limitadoras no que se refere

aos conteuacutedos como definir quais satildeo os conteuacutedos aceitaacuteveis e inaceitaacuteveis agrave circulaccedilatildeo

como reunir as capacidades financeira e tecnoloacutegica necessaacuterias agrave aplicaccedilatildeo da regulaccedilatildeo e

como criar uma poliacutetica de cooperaccedilatildeo internacional face a uma tecnologia global como a

Internet Outro aspecto a ser considerado eacute o das formas de filtragem dos conteuacutedos As

tecnologias para fazecirc-lo ainda natildeo estatildeo suficientemente desenvolvidas aleacutem disso

qualquer atitude nesse campo esbarra na tecircnue linha que separa o combate agrave criminalidade

na Rede e o desrespeito agrave privacidade dos usuaacuterios Muito mais que uma questatildeo

tecnoloacutegica o controlo de conteuacutedos na rede mundial de computadores apresenta-se como

um dilema filosoacutefico e socioloacutegico difiacutecil de ser resolvido

40 Salvaguarda dos direitos de autor e combate agrave pirataria no Brasil e em

Portugal Azeredo e Lei da Coacutepia Privada

41 O Projeto de Lei Azeredo

78

O Projeto de Lei 892003 de autoria do senador mineiro Eduardo Azeredo eacute um

substitutivo a trecircs projetos que tramitam em conjunto pelo Congresso Nacional brasileiro

Projeto de Lei da Cacircmara de nordm 89 de 2003 e do Senado de nordm 76 e 137 de 2000 Eles

dispotildeem sobre os crimes cometidos na aacuterea de informaacutetica e suas penalidades O projeto

pretende alterar o Coacutedigo Penal o Coacutedigo de Processo Penal e outras leis ao inveacutes de

atualizaacute-las com novos tipos de crime cometidos atraveacutes das tecnologias da informaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo (TIC) (Rezende 2008)

Eduardo Azeredo (PSDB) foi governador do estado de Minas Gerais e trabalhou

na IBM por mais de 10 anos Ele tambeacutem exerceu vaacuterios cargos puacuteblicos ligados agrave aacuterea da

tecnologia com a colaboraccedilatildeo de seu assessor Joseacute Henrique Portugal que eacute ex-diretor da

empresa puacuteblica Serpro (Serviccedilo Federal de Processamento de Dados) e coautor do

respectivo Projeto de Lei que ficou conhecido como ldquoLei de Crimes de Informaacuteticardquo e

tambeacutem ldquoLei Azeredordquo

O projeto eacute criticado desde seu surgimento por apresentar um texto vago

impreciso ateacute duacutebio com pontos abertos a interpretaccedilotildees mesmo contraditoacuterias Aleacutem

disso os criacuteticos da Lei Azeredo apontam para o facto de que o texto legislativo pode

chegar a criminalizar atividades cotidianas praticadas por usuaacuterios da Rede Em seu blog

o socioacutelogo Seacutergio Amadeu afirma que ldquoao aprovar o Projeto Substitutivo ao Projeto de

Lei da Cacircmara dos Deputados (PLC) 892003 Projeto de Lei do Senado Federal (PLS)

1372000 e PLS 762000 redigido pelo senador Azeredo a Comissatildeo de Constituiccedilatildeo e

Justiccedila da Cacircmara quer transformar milhares de internautas em criminososrdquo (Amadeu

2008)

Pela burocratizaccedilatildeo do acesso que propotildee a lei pode dificultar a democratizaccedilatildeo da

Rede e servir como um entrave e um desincentivo aos usuaacuterios O texto inicial da Lei

Azeredo propotildee a obrigatoriedade da identificaccedilatildeo do usuaacuterio antes de iniciar qualquer

atividade interativa na Rede Sendo assim o envio de e-mails conversas em salas de bate-

papo criaccedilatildeo e publicaccedilatildeo de materiais em blogs e a captura de dados (downloads de

muacutesicas filmes imagens etc) dentre outras atividades ficariam sujeitas agrave preacutevia

identificaccedilatildeo do utilizador

A Lei Azeredo prevecirc a necessidade de identificar-se a cada acesso O usuaacuterio deve

fornecer informaccedilotildees como nome endereccedilo nuacutemero de telefone nuacutemeros do registro

geral (carteira de identidade) e do cadastro de pessoas fiacutesicas (CPF) ou juriacutedicas (CNPJ)

79

A navegaccedilatildeo na Internet sem o fornecimento desses dados seria punida com reclusatildeo de

dois a quatro anos

Os fornecedores de acesso agrave Internet satildeo os responsaacuteveis pela comprovaccedilatildeo da

veracidade das informaccedilotildees prestadas pelos usuaacuterios Cabe a eles verificar se os dados satildeo

ou natildeo reais e se correspondem efetivamente agrave pessoa conectada O acesso soacute seraacute

liberado apoacutes a confirmaccedilatildeo da identidade do indiviacuteduo Para isso eacute preciso obter

fotocoacutepias dos documentos de identificaccedilatildeo Caso os provedores permitam o acesso de

usuaacuterios natildeo cadastrados ficam sujeitos agrave mesma pena ndash dois a quatro anos de prisatildeo

O artigo 2 do projeto propotildee a alteraccedilatildeo do artigo 285 do Coacutedigo Penal com trecircs

apecircndices O 285-A criminaliza o acesso ldquomediante violaccedilatildeo de seguranccedilardquo agrave rede de

computadores dispositivo de comunicaccedilatildeo ou sistema informatizado protegido por

expressa restriccedilatildeo de acesso com pena de um a trecircs anos de reclusatildeo e multa O 285-B

criminaliza a obtenccedilatildeo ou transferecircncia de dado ou informaccedilatildeo disponiacutevel numa tal coisa

em desconformidade com a autorizaccedilatildeo do ldquolegiacutetimo titularrdquo da mesma com pena igual

O texto determina que os fornecedores de acesso agrave Internet guardem durante um

periacuteodo de trecircs anos as informaccedilotildees sobre as conexotildees realizadas por seus usuaacuterios de

maneira a fornececirc-las agraves autoridades responsaacuteveis pela investigaccedilatildeo de infratores

Art 22 O responsaacutevel pelo provimento de acesso agrave rede de computadores mundial

comercial ou do setor puacuteblico eacute obrigado a

I ndash manter em ambiente controlado e de seguranccedila pelo prazo de trecircs anos com o

objetivo de provimento de investigaccedilatildeo puacuteblica formalizada os dados de

endereccedilamento eletrocircnico da origem hora data e a referecircncia GMT da conexatildeo

efetuada por meio de rede de computadores e fornececirc-los exclusivamente agrave autoridade

investigatoacuteria mediante preacutevia requisiccedilatildeo judicial

II ndash preservar imediatamente apoacutes requisiccedilatildeo judicial outras informaccedilotildees requisitadas

em curso de investigaccedilatildeo respondendo civil e penalmente pela sua absoluta confidencialidade e inviolabilidade (SENADO FEDERAL 2003)

No mesmo artigo a lei ainda prevecirc que os prestadores de serviccedilo de acesso agrave rede

mundial de computadores recebam e faccedilam denuacutencias sobre usuaacuterios que pratiquem

atividades tidas como criminosas pelas autoridades competentes Cabe aos fornecedores

um papel de delaccedilatildeo

III ndash informar de maneira sigilosa agrave autoridade competente denuacutencia que tenha

recebido e que contenha indiacutecios da praacutetica de crime sujeito a acionamento penal

puacuteblico incondicionado cuja perpetraccedilatildeo haja ocorrido no acircmbito da rede de computadores sob sua responsabilidade (SENADO FEDERAL 2003)

80

O artigo 22 do Projeto de Lei 892003 eacute talvez o mais polecircmico Os criacuteticos da lei

questionam o motivo pelo qual as denuacutencias deveriam ser feitas aos fornecedores de

acesso agrave Internet e natildeo diretamente agraves autoridades competentes Se natildeo haacute restriccedilotildees nem

criteacuterios para o registro de denuacutencias qualquer interessado pode fazecirc-las aos provedores

criando uma espeacutecie de induacutestria de denuacutencias Aleacutem disso a lei induz as empresas

fornecedoras de acesso a serem conforme diz o Observatoacuterio do Direito agrave Comunicaccedilatildeo

ldquociberagentes policiaisrdquo ldquocibercapatazesrdquo que dispostos a evitar retaliaccedilotildees identificam e

denunciam usuaacuterios sem saber se houve realmente alguma violaccedilatildeo da lei (Observatoacuterio

do Direito agrave Comunicaccedilatildeo 2008) Em entrevista ao Grupo de Pesquisa em Poliacuteticas

Puacuteblicas para o Acesso agrave Informaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) o professor e

pesquisador da Universidade de Brasiacutelia (UnB) Pedro Rezende demonstrou seu temor em

relaccedilatildeo a esse artigo

Receio que tal dispositivo possa por exemplo induzir prestadores inclinados a lucrar

com espionagem ou violaccedilatildeo de privacidade em posiccedilatildeo teacutecnica de poder fazecirc-lo de

forma indetectaacutevel a se abrigarem na sombra desta subjetividade para se desimputarem

de culpabilidade caso efeitos desta inclinaccedilatildeo emerjam (REZENDE 2008)

Em Marccedilo de 2012 o Projeto de Lei Azeredo entrou na pauta de discussatildeo na

Comissatildeo de Seguranccedila Puacuteblica e Combate ao Crime Organizado na Cacircmara dos

Deputados A notiacutecia causou revolta e graccedilas agrave mobilizaccedilatildeo popular atraveacutes das redes

sociais e outros instrumentos de comunicaccedilatildeo pela Internet o debate sobre o texto foi

adiado sem prazo definido

42 A Lei da Coacutepia Privada em Portugal

O Coacutedigo de Direitos de Autor revisado e aprovado em 1985 estabeleceu em seu

81deg artigo a legitimidade da reproduccedilatildeo de obras protegidas sem o consentimento dos

titulares dos direitos quando estas se destinam a fins exclusivamente privados

(Assembleia da Repuacuteblica 1985 27) Em outras palavras a reproduccedilatildeo eacute legal quando eacute

feita por uma soacute pessoa sem fins lucrativos visando apenas satisfazer necessidades

pessoais do utilizador ou dos seus proacuteximos Eacute a isto que se chama coacutepia privada

81

Na tentativa de evitar que os autores ficassem desprotegidos pela autorizaccedilatildeo da

coacutepia em contexto privado a Lei nordm 6298 de 01 de Setembro estabelece uma

compensaccedilatildeo a atribuir pela entidade gestora dos direitos autorais Essa compensaccedilatildeo eacute

obtida da seguinte forma na venda de

[] todos e quaisquer aparelhos mecacircnicos quiacutemicos electroacutenicos ou outros que

permitam a fixaccedilatildeo e reproduccedilatildeo de obras e bem assim de todos e quaisquer suportes

materiais virgens analoacutegicos das fixaccedilotildees e reproduccedilotildees que por qualquer desses meios

possam obter-se incluir-se-aacute uma quantia destinada a beneficiar os autores os artistas

inteacuterpretes ou executantes os editores os produtores fonograacuteficos e os videograacuteficos

(ASSEMBLEIA DA REPUacuteBLICA 1998 01)

Portanto a compensaccedilatildeo obteacutem-se atraveacutes da introduccedilatildeo no preccedilo de venda ao

puacuteblico de uma determinada taxa

Em Dezembro de 1998 foi constituiacuteda a Associaccedilatildeo para Gestatildeo da Coacutepia Privada

(AGECOP) em cumprimento ao artigo 6ordm da Lei nordm 6298 de 01 de Setembro que previa

a criaccedilatildeo de ldquo[] uma pessoa colectiva sem fins lucrativos de natureza associativa ou

cooperativa que tem por objecto a cobranccedila e gestatildeo das quantias previstas na presente

leirdquo (Assembleia da Repuacuteblica 1998 02) A entidade atualmente presidida pela

Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) cobra pela coacutepia privada e distribui os valores agraves

sociedades de gestatildeo e aos detentores dos direitos de autor

A lei nordm 502004 de 24 de Agosto referente agrave Harmonizaccedilatildeo de certos aspectos

dos direitos de autor e dos direitos conexos na sociedade da informaccedilatildeo finalmente

especificou a quais aparelhos e suportes se aplicariam as taxas pela coacutepia privada Desde

entatildeo todos os equipamentos analoacutegicos que permitem gravar armazenar e reproduzir

passaram a ser taxados em 3 assim como cassetes aacuteudio viacutedeo CD-R aacuteudio DVD-R

DVD RAM etc que satildeo taxados em valores individuais que rondam os 014 e o 100

euros cada A soma incide sobre o preccedilo de venda ao puacuteblico antes da aplicaccedilatildeo do

Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) estabelecido pelos respectivos fabricantes e

importadores (Assembleia da Repuacuteblica 2004)

A ex-ministra da Cultura e atual deputada do Partido Socialista (PS) Gabriela

Canavilhas eacute a responsaacutevel pela autoria e apresentaccedilatildeo do Projeto de Lei nordm 118 tambeacutem

conhecido como Projeto de Lei da Coacutepia Privada5 agrave Assembleia da Repuacuteblica O objetivo

5 Para tornar a leitura mais simples utilizaremos a sigla PL118 para nos referirmos ao Projeto de Lei da

Coacutepia Privada

82

do texto eacute basicamente alargar o regime de taxas aos equipamentos digitais surgidos e

popularizados recentemente como aparelhos leitores de mp3 e pens USB por exemplo A

proposta sugere que o valor da taxa deixe de ser de 3 e seja proporcional agrave capacidade

do dispositivo A soma deve ser incluiacuteda no valor cobrado ao consumidor final e seraacute

obrigatoacuteria mesmo que o consumidor compre o aparelho para armazenar conteuacutedos de sua

autoria

Em artigo publicado no jornal Diaacuterio de Notiacutecias Canavilhas afirma que a ideia

inspira-se nas recentes decisotildees da Uniatildeo Europeia que tem manifestado grande

preocupaccedilatildeo para com este assunto (Canavilhas 30012012) Essa preocupaccedilatildeo foi

expressa pela Diretiva Comunitaacuteria 201129CE e mais recentemente pela Comunicaccedilatildeo

da Comissatildeo Europeia ldquoUm Mercado Uacutenico para os Direitos de Propriedade Intelectualrdquo

de Maio de 2011

Gabriela Canavilhas afirmou que os valores propostos no diploma do PS satildeo

equivalentes aos praticados atualmente em outros paiacuteses Segundo ela em 2009 entre 30

paiacuteses europeus Portugal estava em 17ordm lugar no ranking da contribuiccedilatildeo per capita para

pagamento de direitos autorais euro 030 euros por habitanteano Na Franccedila paiacutes topo da

lista cada cidadatildeo pagava 260 eurosano na Espanha 170 euros e na Holanda 090

euros Para a deputada optar por comprar equipamentos informaacuteticos em outros paiacuteses da

EU significa pagar direitos de autor aos cidadatildeos de outros paiacuteses ao inveacutes de investir nos

autores nacionais (Canavilhas id)

As memoacuterias USB aparelhos destinados agrave reproduccedilatildeo e outros suportes como

cartotildees de memoacuteria passaratildeo a custar mais 006 euro por cada gigabyte (GB) de capacidade

de armazenamento Os discos riacutegidos e outros tipos de memoacuterias natildeo volaacuteteis integrados

em equipamentos ou aparelhos com capacidade a partir de 150 GB e que permitam o

armazenamento de dados em massa seratildeo taxados a 002 euro por cada GB de capacidade

mais 0005 euro por cada GB que acresccedila a capacidade de 1 terabyte (TB) Discos riacutegidos

externos ou cartotildees SSD custaratildeo 002 euro por cada GB de capacidade e mais 0005 euro por

cada GB que acresccedila a capacidade de 1TB (Canavilhas 01022012)

Os telemoacuteveis e tablets por exemplo tambeacutem seratildeo taxados Os dispositivos de

reproduccedilatildeo de fonogramas videogramas ou outros conteuacutedos sonoros visuais ou

audiovisuais custaratildeo mais 050 euro por cada GB de capacidade de armazenamento Cada

dispositivo eacute taxado com valores especiacuteficos pelo PL118 (vd Anexo 02)

83

Em 21 de Marccedilo de 2012 o PS retirou o Projeto de Lei de discussatildeo e disse que

pretende apresentar um novo texto em breve Segundo o porta-voz do grupo parlamentar

do partido Ricardo Pires o PS decidiu pela retirada apoacutes audiccedilotildees agrave sociedade civil Ele

afirmou que o partido ldquoprocurou consensualizar uma soluccedilatildeo viaacutevel de alteraccedilatildeo

do Projeto de Lei sobre a Coacutepia Privadardquo referindo que ldquoface aos sinais puacuteblicos

designadamente de natildeo viabilizaccedilatildeo desse caminho pelo PSD o PS decidiu retirarrdquo o

documento e ldquoem breve iraacute entregar um novo projeto com alteraccedilotildees introduzidasrdquo

(IOnline 2012)

Em declaraccedilotildees dadas agrave imprensa a deputada Gabriela Canavilhas comentou as

alteraccedilotildees ao texto e afirmou que se aguardava autorizaccedilatildeo da presidente da Assembleia

da Repuacuteblica para introduzi-las A ldquodefiniccedilatildeo de equipamentos e taxas a aplicar a ser feita

por portaria governamental em cada dois anos de modo a permitir mais ceacutelere adaptaccedilatildeo

dos valores e dos produtos acompanhando a evoluccedilatildeo tecnoloacutegicardquo era uma das

modificaccedilotildees feitas (IOnline id) Outra das alteraccedilotildees introduzidas eacute a definiccedilatildeo de um

teto maacuteximo como valor limite para a taxa que sendo progressiva consoante a capacidade

de armazenamento (dos equipamentos) natildeo poderaacute exceder os 6 sobre o produto antes

do IVA

A deputada socialista disse ainda que entre as alteraccedilotildees agrave proposta inicial estaacute o

ldquoalargamento das isenccedilotildees de pagamento de taxas a profissionais em nome individual do

setor audiovisual fonograacutefico e fotograacutefico cujos equipamentos sejam adquiridos para a

sua atividade criativa bem como a instituiccedilotildees com centros de documentaccedilatildeo natildeo

comercial tais como bibliotecas museus e arquivosrdquo (IOnline id)

O texto atualmente em vigor da Lei nordm 6298 de 01 de Setembro jaacute prevecirc a isenccedilatildeo

[] quando os equipamentos ou os suportes sejam adquiridos por organismos de

comunicaccedilatildeo audiovisual ou produtores de fonogramas e de videogramas exclusivamente para as suas proacuteprias produccedilotildees ou por organismos que os utilizem para

fins exclusivos de auxiacutelio a pessoas portadoras de diminuiccedilatildeo fiacutesica visual ou auditiva

bem como nos termos de despacho conjunto dos Ministros das Financcedilas e da Cultura

por entidades de caraacutecter cultural sem fins lucrativos para uso em projectos de relevante

interesse puacuteblico (ASSEMBLEIA DA REPUacuteBLICA 1998 01)

Para beneficiar-se de tal isenccedilatildeo os organismos abrangidos devem apresentar no

ato da compra dos aparelhos e suportes uma declaraccedilatildeo emitida pela entidade gestora das

compensaccedilotildees e cobranccedila indicando e comprovando o respectivo objeto de atividade

84

O projeto de lei foi alvo de criacuteticas e deu origem a uma peticcedilatildeo em circulaccedilatildeo na

Internet que reuniu mais de oito mil assinaturas (Peticcedilatildeo puacuteblica contra o PL118 2012)

Um dos argumentos mais frequentes contra o PL118 eacute o de que os equipamentos podem

ser usados para armazenar muitos outros tipos de conteuacutedos que natildeo sejam coacutepias de obras

protegidas

50 Controlo do ciberespaccedilo e acordos aleacutem-fronteiras alguns casos-chave

51 HADOPI

Devido agrave intensa pressatildeo exercida por representantes da induacutestria cultural ndash

grandes produtores de muacutesica cinema e publicaccedilotildees impressas - o governo francecircs

decidiu comeccedilar em 2007 uma luta efetiva contra as redes P2P (peer-to-peer) e a

partilha gratuita de arquivos de muacutesicas filmes etc protegidos por direitos de autor

Formulou-se entatildeo o texto da lei HADOPI (Alta Autoridade para a Difusatildeo das Obras e a

Proteccedilatildeo dos Direitos na Internet em francecircs Haute Autoriteacute pour la Diffusion des

Œuvres et la Protection des Droits sur Internet) tambeacutem chamada de Lei ldquoCriaccedilatildeo e

Internetrdquo que sugeriu a criaccedilatildeo de uma administraccedilatildeo capaz de vigiar e punir atividades de

download e troca de arquivos ilegais na Rede Segundo o texto inicial da lei HADOPI o

mote para o surgimento desta nova administraccedilatildeo foi a necessidade de

Fazer cessar a hemorragia de obras culturais na Internet e criar a situaccedilatildeo

juriacutedica indispensaacutevel ao desenvolvimento da oferta legal de muacutesicas filmes

obras e programas audiovisuais como tambeacutem de obras literaacuterias sobre as

novas redes de comunicaccedilatildeo (REacutePUBLIQUE FRANCcedilAISE ET MINISTEgraveRE

DE LA CULTURE ET DE LA COMMUNICATION 2008 01)

O texto inicial de HADOPI propotildee que os detentores de direitos autorais (artistas

produtores e editores) colaborem com os agentes puacuteblicos fiscalizadores habilitados pela

Alta Autoridade na atividade de combate agrave contravenccedilatildeo identificando na Rede o uso de

ferramentas para a transmissatildeo iliacutecita de bens culturais protegidos por direitos de autor

(como por exemplo programas peer-to-peer e o acesso a sites de hospedagem de

arquivos) Para isso os proprietaacuterios dos direitos recorrem a sociedades especializadas no

85

reconhecimento de endereccedilos IP das maacutequinas que partilham os conteuacutedos ilegalmente na

Rede

HADOPI determina que seus agentes fiscalizadores obtenham junto aos

operadores de comunicaccedilotildees eletrocircnicas informaccedilotildees como a identidade o endereccedilo

postal o endereccedilo eletrocircnico e os contatos telefocircnicos dos usuaacuterios cadastrados em seus

bancos de dados (Reacutepublique Franccedilaise et Ministegravere de la Culture et de la Communication

2008 19) O acesso a essas informaccedilotildees permitiria entatildeo que HADOPI enviasse aos

usuaacuterios que fazem downloads iliacutecitos uma espeacutecie de aviso preacutevio advertindo-os sobre o

caraacuteter ilegal de seus atos e alertando-os sobre as sanccedilotildees que podem sofrer caso

continuem com as descargas A intercomunicaccedilatildeo entre a fiscalizaccedilatildeo de HADOPI e a

vigilacircncia dos fornecedores de acesso agrave Internet com o posterior envio de mensagens de

advertecircncia aos assinantes eacute chamada de resposta gradual

Caso o usuaacuterio volte a fazer downloads ilegalmente num prazo de seis meses

contados a partir da data de envio do primeiro aviso a comissatildeo decide pelo envio de

outro comunicado desta vez de maneira que permita estabelecer uma prova da data de

envio e sobretudo da recepccedilatildeo sob assinatura do destinataacuterio Se o usuaacuterio reincidir

HADOPI prevecirc uma sanccedilatildeo polecircmica a suspensatildeo do acesso agrave Internet

Aleacutem de ter o acesso agrave Rede interrompido HADOPI determina tambeacutem que o

assinante continue a pagar por ele ldquoArt L 331-28 ndash A suspensatildeo do acesso mencionada

nos artigos L 331-25 e L 331-26 natildeo afeta por si mesma o pagamento do preccedilo da

assinatura ao fornecedor do serviccedilordquo (Reacutepublique Franccedilaise et Ministegravere de la Culture et

de la Communication 2008 22)

A identificaccedilatildeo dos usuaacuterios infratores aparece em uma lista produzida pela

comissatildeo de proteccedilatildeo dos direitos de autor e fica agrave disposiccedilatildeo para consulta pelas

empresas fornecedoras de acesso agrave Internet Caso o servidor de acesso natildeo proceda agrave

consulta desse repertoacuterio ou caso aceite firmar contrato com o infrator mesmo

conhecendo sua situaccedilatildeo perante HADOPI ele fica sujeito ao pagamento de multa

52 Sinde-Wert

Desde Marccedilo de 2012 estaacute em vigor na Espanha a lei batizada Sinde-Wert (em

referecircncia a Aacutengeles Gonzaacuteles-Sinde antiga ministra da Cultura e Joseacute Ignacio Wert seu

sucessor) Esta lei permite ao governo fechar ou tirar sites do ar sem ordem judicial

86

A lei enfrenta uma forte oposiccedilatildeo tanto de ativistas quanto das empresas A Rede

de Empresas de Internet e a Associaccedilatildeo Espanhola de Economia Digital entraram com um

recurso no Supremo Tribunal contra a lei ndash mais especificamente contra o ldquoprocedimento

de garantia dos direitos de propriedade intelectualrdquo (Link 15022012) Segundo as

empresas o artigo traz inseguranccedila juriacutedica para as empresas de tecnologia operarem e se

desenvolverem Para elas Sinde-Wert dificulta a atuaccedilatildeo das empresas de Internet que jaacute

pensam duas vezes antes de comeccedilar um novo projeto

A lei comeccedilou a ser discutida em 2009 Gerou uma onda de protestos por todo o

paiacutes mas apesar de toda oposiccedilatildeo foi aprovada pelo governo no iniacutecio de 2012

53 SOPA

SOPA eacute a sigla inglesa para Stop Online Piracy Act Trata-se de um projeto de lei

em discussatildeo no Congresso dos Estados Unidos e que jaacute provocou manifestaccedilotildees e

interrupccedilotildees de serviccedilos de sites importantes como Google Wikipedia e Craigslist

O texto do SOPA propotildee penas ateacute 5 anos de prisatildeo para os condenados por

compartilhar conteuacutedo pirata por 10 ou mais vezes ao longo de 6 meses Os sites tambeacutem

poderiam ser punidos pela acusaccedilatildeo de permitir ou facilitar a pirataria A puniccedilatildeo seria o

encerramento dos serviccedilos e banimento de provedores de Internet sistemas de pagamento

e anunciantes em niacutevel internacional Pela lei qualquer site pode ser fechado apenas por

ter conexatildeo com outro site suspeito de pirataria a pedido do governo dos EUA ou dos

geradores de conteuacutedo Ferramentas de busca como o Google por exemplo teriam que

remover dos resultados das pesquisas endereccedilos que compartilhem conteuacutedo pirata

correndo o risco de tambeacutem serem punidos

As propostas contam com o apoio de emissoras de TV gravadoras estuacutedios de

cinema e editoras de livros que se sentem lesadas com a livre distribuiccedilatildeo de filmes e

muacutesicas na Internet principalmente em servidores internacionais Disney Universal

Paramount Sony e Warner Bros satildeo alguns dos grandes nomes da induacutestria que apoiam

esse projeto

Por outro lado empresas de tecnologia como Google Facebook Wikipedia

Craigslist WordPress entre outros satildeo contra o projeto de lei alegando que caso este

seja aprovado a liberdade na Internet seria drasticamente reduzida Aleacutem disso SOPA daacute

87

poderes em excesso para quem quiser tirar os endereccedilos do ar prejudicando o

funcionamento da Rede em escala global

Com a intensa pressatildeo popular a Casa Branca declarou ser contra o projeto Em

mensagem publicada em seu blog a Casa Branca afirmou que natildeo pode apoiar ldquoum

projeto de lei que reduz a liberdade de expressatildeo amplia os riscos de seguranccedila na

computaccedilatildeo ou abala o dinamismo e inovaccedilatildeo da Internet globalrdquo (G1 18012012) Sem o

apoio ele pode ser alterado ou ateacute dissipado do Congresso e do Senado americanos

54 ACTA

O ACTA (Acordo Comercial Anticontrafaccedilatildeo em inglecircs Anti-Counterfeiting

Trade Agreement) tratado comercial de escala planetaacuteria estaacute sendo discutido desde

2007 As negociaccedilotildees formais arrancaram em Junho de 2008 e desde entatildeo foram

realizadas sete rondas negociais O ACTA tem como objetivo estabelecer padrotildees

internacionais para o cumprimento da legislaccedilatildeo de propriedade intelectual O pacto goza

de amplo apoio dos produtores de muacutesica filmes e uma gama de outros produtos que

desfrutam da proteccedilatildeo de direitos de autor e propriedade intelectual como marcas

comerciais patentes desenhos e indicaccedilotildees geograacuteficas O acordo de longo alcance

cobriria tudo desde a falsificaccedilatildeo de medicamentos agrave pirataria on-line

Os Estados Unidos assinaram o ACTA em Outubro de 2011 ao lado de outros sete

paiacuteses Austraacutelia Canadaacute Coreacuteia do Sul Japatildeo Nova Zelacircndia Marrocos e Singapura A

Uniatildeo Europeia assinou o ACTA em 26 de Janeiro de 2012 em Toacutequio O acordo prevecirc

disposiccedilotildees em mateacuteria de execuccedilatildeo penal um domiacutenio que eacute considerado de competecircncia

partilhada entre a UE e os Estados-Membros Por este motivo teve de ser assinado e

ratificado pela UE e por seus 27 integrantes

Apoacutes a assinatura do ACTA pela UE e os seus Estados-Membros o Parlamento

Europeu foi formalmente notificado para dar iniacutecio ao procedimento de consentimento

Esse procedimento inclui debates nas diferentes comissotildees (Comeacutercio Internacional

Liberdades Civis Justiccedila e Assuntos Internos e Assuntos Juriacutedicos) e possivelmente uma

audiecircncia puacuteblica Eacute provaacutevel que o consentimento seja votado no fim do veratildeo de 2012

Depois de o Parlamento Europeu ter dado o seu consentimento e uma vez

concluiacutedos os procedimentos nacionais de ratificaccedilatildeo nos Estados-Membros o Conselho

88

da Uniatildeo Europeia adotaraacute uma decisatildeo final para celebrar o acordo Este facto seraacute entatildeo

comunicado aos demais signataacuterios do ACTA e o acordo entraraacute em vigor na UE

Em comunicado publicado no site oficial da Comissatildeo Europeia no dia 22 de

Fevereiro de 2012 o Comissaacuterio Europeu do Comeacutercio Karel De Gucht anunciou com

satisfaccedilatildeo ldquoApraz-me dizer que esta manhatilde os meus colegas da Comissatildeo discutiram e

concordaram em termos gerais com a minha proposta de enviar o ACTA para o Tribunal

Europeu da Justiccedilardquo que eacute a mais alta instacircncia judicial da Uniatildeo Europeia (Puacuteblico

22022012) De Gucht afirmou ainda que o objetivo da decisatildeo eacute tambeacutem perceber se o

acordo internacional para a proteccedilatildeo dos direitos de autor eacute incompatiacutevel ndash seja em que

sentido for ndash com os direitos fundamentais e de liberdade da Uniatildeo Europeia tais como a

liberdade de expressatildeo e de informaccedilatildeo ou a proteccedilatildeo de dados e o direito agrave propriedade

no caso especiacutefico da propriedade intelectual

Em palestra organizada pela Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa

em Marccedilo de 2012 a advogada Teresa Nobre responsaacutevel pela adaptaccedilatildeo das licenccedilas

Creative Commons agrave legislaccedilatildeo portuguesa afirmou que o risco de acordos como o ACTA

estaacute no caraacuteter vago do texto suscetiacutevel de diversas interpretaccedilotildees ldquoACTA representa um

risco real pois abre a porta agrave discussatildeo de leis como SOPA nos EUA e HADOPI em

Franccedilardquo (Nobre 2012)

Jaacute para Lucas Serra responsaacutevel pela assessoria juriacutedica da Sociedade Portuguesa

de Autores (SPA) eacute cedo para prever os resultados de um acordo como o ACTA em

aplicaccedilatildeo ldquoHaacute que ver no que vai dar O facto eacute que precisa haver portagens que

detenham a pirataria Eacute um problema grave que afeta a todos noacutes e mais ainda aos

autoresrdquo (Serra 2012)

60 Brasil e Portugal algumas semelhanccedilas e diferenccedilas

Apesar da grande diversidade e dos muitos quilocircmetros que separam

territorialmente Brasil e Portugal as semelhanccedilas entre os dois paiacuteses satildeo muitas Aleacutem de

terem culturas muito proacuteximas partilham a mesma liacutengua e as semelhanccedilas estendem-se

tambeacutem ao Direito A matriz comum manteve-se mesmo apoacutes a independecircncia do Brasil e

a consequente separaccedilatildeo legislativa Os direitos de autor natildeo escaparam dessa

89

conformidade Conforme afirma Joseacute de Oliveira Ascensatildeo a lei brasileira nordm 5988 de 14

de Dezembro de 1973 que regulou autonomamente os direitos de autor foi preparada

pouco tempo depois da entrada em vigor do Coacutedigo do Direito de Autor portuguecircs de

1966 e baseou-se neste uacuteltimo para firmar vaacuterios de seus preceitos (Ascensatildeo 2012 40)

No entanto os dois paiacuteses sofrem influecircncias diferentes apesar da legislaccedilatildeo de

base romaniacutestica o Brasil estaacute sob a atraccedilatildeo exercida pelos Estados Unidos da Ameacuterica

enquanto que Portugal segue as diretrizes impostas pela Uniatildeo Europeia (UE) Apesar de

transpor com atraso as instruccedilotildees europeias Portugal acolheu mais cedo as questotildees

relacionadas ao direito de autor no ambiente da Internet sob pressatildeo das pautas e

calendaacuterios da UE Nesse aspecto ficou agrave frente do Brasil A atual Lei do Direito Autoral

(LDA) nordm 9610 data de 19 de Fevereiro de 1998 e natildeo trata especificamente da Internet

nem das questotildees que ela impotildee Estaacute portanto bastante defasada visto que desde entatildeo

a tecnologia jaacute se desenvolveu bastante e criou novos dispositivos sobre os quais a lei natildeo

tem nenhum conhecimento

A decisatildeo pela reforma da LDA pretende tirar esse atraso do qual Portugal natildeo

sofre por estar submetido agraves diretrizes europeias em atualizaccedilotildees mais frequentes Poreacutem

a problemaacutetica da Internet parece continuar agrave margem da discussatildeo da reforma da lei

brasileira Uma proposta do Ministeacuterio da Justiccedila deveraacute suprir essa falta o Marco Civil

da Internet diploma que pretende versar sobre aspectos baacutesicos do acesso e uso da Rede

Ao mesmo tempo em que os planos para o Marco Civil foram lanccedilados o Ministeacuterio da

Cultura (MinC) resolveu iniciar o processo de reforma da LDA

Infelizmente parece que esse vazio das questotildees da Rede natildeo seraacute totalmente

preenchido com as mudanccedilas mas tal situaccedilatildeo eacute compreensiacutevel Para discutir a fundo essa

problemaacutetica seria necessaacuterio muito tempo o que atrasaria ainda mais a jaacute urgente reforma

da LDA Mesmo natildeo propondo princiacutepios de regulaccedilatildeo da Internet por si mesmo o

rascunho do texto da nova LDA jaacute cria algumas ligaccedilotildees com esse tema Associando o

texto do Marco Civil com a nova LDA seraacute possiacutevel estabelecer pontes entre os domiacutenios

da regulaccedilatildeo da Internet e a defesa dos direitos de autor

O jurista Joseacute de Oliveira Ascensatildeo afirma que com isso evidencia-se a

insuficiecircncia do direito autoral claacutessico para lidar com as questotildees relacionadas com a

Internet (Ascensatildeo 2012 42) A separaccedilatildeo que o Brasil propocircs passa por especificar as

soluccedilotildees Ao lermos os textos do Marco Civil e da reforma da LDA percebemos que o

90

primeiro tem contribuiccedilotildees muito mais significativas no domiacutenio do Direito da Internet

que o uacuteltimo

Um aspecto notaacutevel nas discussotildees pela reforma da LDA eacute o caraacuteter puacuteblico da

consulta O mesmo se deu com o Marco Civil da Internet Essa abertura agrave participaccedilatildeo da

sociedade civil mundo acadecircmico representantes das induacutestrias e criadores marcou

positivamente ambos os processos e fez do Brasil um paradigma internacional no tema

Sob o aspecto da regulaccedilatildeo da Rede em Portugal a iniciativa da Comissatildeo

Europeia e-europe 2002 mostra-se remarcaacutevel O texto definiu num quadro de agrave eacutepoca

quinze paiacuteses quais as preocupaccedilotildees comuns quanto agrave regulaccedilatildeo da Internet Desde entatildeo

o documento foi atualizado e culminou com a iniciativa i2010 O quadro regulamentar

portuguecircs para as comunicaccedilotildees eletrocircnicas aplicado no paiacutes pela Autoridade Nacional de

Comunicaccedilotildees (ANACOM) transpotildee as determinaccedilotildees da Uniatildeo Europeia transferindo-

as para os ordenamentos juriacutedicos nacionais O texto poreacutem dedica-se aos aspectos

teacutecnicos dos serviccedilos e natildeo discute em profundidade o caraacuteter mais social do sistema as

questotildees voltadas para a governaccedilatildeo da Internet etc

Para Gustavo Cardoso a regulaccedilatildeo deve ser fruto de uma anaacutelise das apropriaccedilotildees

realizadas pelos usuaacuterios da Rede e das interaccedilotildees entre os atores presentes nos sistemas

dos media e natildeo apenas baseada na tecnologia em si (Cardoso 2002 16) Aleacutem disso

precisa ter um caraacuteter proacuteprio natildeo espelhado nos quadros regulamentares de outros meios

de comunicaccedilatildeo como a TV por exemplo Isso porque a Internet jaacute eacute um meio complexo

o bastante para que sejam criadas regras especiacuteficas para sua esfera de atuaccedilatildeo No caso

portuguecircs pode-se propor uma atuaccedilatildeo mais conjugada entre as preocupaccedilotildees dedicadas agrave

gestatildeo do acesso e disponibilizaccedilatildeo de conteuacutedos e aquelas voltadas ao controlo da

dimensatildeo econocircmica da prestaccedilatildeo de serviccedilos de acesso agrave Internet A preocupaccedilatildeo com a

quebra de privacidade e do exerciacutecio da vigilacircncia deve ser transversal e estender sua

presenccedila a todos os acircmbitos da regulaccedilatildeo Esta tarefa cabe agrave articulaccedilatildeo de medidas

conjuntas e agrave uniatildeo de esforccedilos entre a ANACOM e a Comissatildeo Nacional de Protecccedilatildeo de

Dados (CNPD)

Em relaccedilatildeo aos conteuacutedos iliacutecitos disponibilizados na Rede Brasil e Portugal tecircm

uma diferenccedila sensiacutevel Eacute importante salientar que a mateacuteria natildeo eacute restrita aos direitos

autorais mas tambeacutem se relaciona com outros direitos que tambeacutem podem ser infringidos

pela Internet como a honra por exemplo A questatildeo eacute tratada pelo texto do Marco Civil

brasileiro em discussatildeo Em uma versatildeo anterior do texto foi incluiacutedo um mecanismo

91

semelhante ao dispositivo notice and take down de clara influecircncia do sistema norte-

americano

O diploma indicava que os materiais ofensivos colocados agrave disposiccedilatildeo na Rede

podiam ser retirados pelos responsaacuteveis pela hospedagem logo que o titular ofendido

manifestasse o dano O hospedeiro notificaria o usuaacuterio responsaacutevel pela publicaccedilatildeo Este

poderia responder ao hospedeiro pedindo a manutenccedilatildeo do conteuacutedo e assumindo a

responsabilidade exclusiva pelos danos causados a terceiros O hospedeiro entatildeo

disponibilizaria novamente o material e avisaria o titular sobre a resposta do responsaacutevel

pela publicaccedilatildeo Tal medida sofreu duras criacuteticas e o texto foi modificado (vd Anexo 01

Art 20) Agora propotildee-se que o provedor de serviccedilos seja obrigado a tornar indisponiacutevel o

acesso ao conteuacutedo apenas apoacutes ordem judicial Com a ordem deveraacute notificar o usuaacuterio

responsaacutevel pela publicaccedilatildeo comunicando-lhe o teor da intimaccedilatildeo

No que se refere ao regime da responsabilidade do provedor o sistema portuguecircs

estaacute baseado na Diretriz nordm 200031 sobre o comeacutercio eletrocircnico E eacute fundamentalmente

diferente do diploma brasileiro O Art 161 do Decreto-Lei nordm 72004 de 07 de Janeiro

(que transpocircs a diretriz sobre comeacutercio eletrocircnico) diz que o responsaacutevel pela

hospedagem estaacute obrigado a retirar ou impossibilitar o acesso agrave atividade ou informaccedilatildeo

cuja ilicitude for manifesta (ANACOM 2004 275) Esta previsatildeo natildeo aparece em

nenhum diploma brasileiro

A tiacutetulo de balanccedilo geral nota-se que as legislaccedilotildees de ambos os paiacuteses possuem

muitos pontos em comum mas suas diferentes influecircncias traccedilam suas assimetrias mais

marcantes e as justificam A preocupaccedilatildeo anglo-saxocircnica de bem proteger os interesses

comerciais e privados faz-se notar nos textos brasileiros enquanto um posicionamento de

maior equiliacutebrio transparece nos diplomas portugueses Poreacutem haacute que salientar que ambos

estatildeo passiacuteveis de sofrer sob polos de atraccedilatildeo que convergem para os mesmos objetivos

nem Brasil nem Portugal (e obviamente a UE) ficaratildeo indiferentes a projetos globais de

combate agrave pirataria No Brasil pela inegaacutevel influecircncia norte-americana e em Portugal

pelo alcance universal que eles possuem (e obviamente por Portugal estar inserido na

UE) Prever o niacutevel dessa influecircncia ainda natildeo eacute possiacutevel mas certamente a transformaccedilatildeo

afetaraacute todos direta ou indiretamente

70 Direitos de autor e regulaccedilatildeo da Internet uma relaccedilatildeo nebulosa

92

A temaacutetica dos direitos de autor natildeo guarda uma relaccedilatildeo imediata e de faacutecil

percepccedilatildeo com a questatildeo da regulaccedilatildeo da Internet esta poreacutem existe e a constante

evoluccedilatildeo das tecnologias digitais torna seu debate cada vez mais pertinente e necessaacuterio

Se considerarmos a defesa da propriedade intelectual (que envolve os direitos de

autor e outros toacutepicos como as patentes e as marcas registradas por exemplo) como

instrumento capaz de impedir o acesso dos utilizadores da Rede a determinados conteuacutedos

tocamos em uma questatildeo delicada e que pode dar resultados negativos Em siacutentese a ideia

eacute a de que as tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo tecircm enorme capacidade de ampliar

o acesso agrave informaccedilatildeo e conhecimento de modo que a falta de acesso agraves proacuteprias

tecnologias seria prejudicial em questotildees de desenvolvimento

Portanto nesse caso falar de governanccedila (ou regulaccedilatildeo) da Internet eacute natildeo limitar-

se a discutir aspectos teacutecnicos da estrutura e funcionamento das redes De acordo com a

Declaraccedilatildeo de Princiacutepios de Genebra elaborada durante a Cimeira Mundial sobre a

Sociedade da Informaccedilatildeo (WSIS) evento organizado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

(ONU) a administraccedilatildeo da Internet engloba natildeo apenas problemas estritamente teacutecnicos

mas tambeacutem a discussatildeo de qualquer poliacutetica puacuteblica relevante agrave gestatildeo da Rede como

recurso globalmente disponiacutevel (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas 2004)

Para Pedro Mizukami e Carlos Souza agrave medida que as tecnologias da informaccedilatildeo e

da comunicaccedilatildeo ampliam a possibilidade de acesso a conteuacutedos e tambeacutem de acesso agraves

ferramentas para a produccedilatildeo de conteuacutedos regimes de exceccedilotildees e limitaccedilotildees aos direitos

de autor surgem como umas das preocupaccedilotildees fundamentais de governanccedila

Se por um lado se assegura direitos exclusivos a autores (e agravequeles a quem satildeo

transferidos esses direitos) como forma de incentivo agrave criaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de obras intelectuais por outro haacute interesses de acesso e uso de conteuacutedo que precisam ser

sopesados em relaccedilatildeo aos incentivos que teoricamente as normas de direitos autorais

proporcionam (MIZUKAMI E SOUZA 2008 06)

Quando associamos a ideia de regulaccedilatildeo do ciberespaccedilo aos direitos autorais a

principal preocupaccedilatildeo que temos eacute o tecircnue equiliacutebrio a ser construiacutedo entre os interesses

dos diversos agentes envolvidos na questatildeo O desafio estaacute em preservar um ambiente de

harmonia entre autores editores e usuaacuterios de conteuacutedos sem que se coloquem entraves agraves

novas possibilidades proporcionadas pela Rede seja em relaccedilatildeo a novos modelos de

93

negoacutecios seja em relaccedilatildeo agrave democratizaccedilatildeo do acesso agraves ferramentas de produccedilatildeo e

distribuiccedilatildeo de informaccedilotildees Equilibrar os interesses no ciberespaccedilo sem sacrificar os

potenciais de inovaccedilatildeo e acesso ao conhecimento que ele possui

Limitaccedilotildees e exceccedilotildees aos direitos de autor satildeo toacutepicos geralmente subestimados

quando se discute o tema Pouco se debatem por exemplo os efeitos negativos dos

regimes de proteccedilatildeo da propriedade intelectual demasiado riacutegidos e inflexiacuteveis sobre a

educaccedilatildeo ou sobre a proacutepria produccedilatildeo de conteuacutedos que os direitos exclusivos procuram

fomentar O boom da Internet e o desenvolvimento acelerado das tecnologias tiraram das

sombras questotildees como a do acesso ao conhecimento mas tambeacutem fizeram ressurgir - ou

mesmo originaram - uma seacuterie de outros direitos que antes tinham presenccedila reduzida na

avaliaccedilatildeo criacutetica dos regimes tradicionais

Para Pedro Mizukami e Carlos Souza o entrave agrave discussatildeo sobre os limites e as

exceccedilotildees aos direitos de autor eacute mais visiacutevel em paiacuteses de tradiccedilatildeo juriacutedica romano-

germacircnica caracterizada por um discurso de fundamentaccedilatildeo jusnaturalista muito forte

(ibidem 07) Eles afirmam que esse discurso elimina a variedade de pontos de vista na

literatura juriacutedica Isto porque se considera que os direitos autorais satildeo necessaacuterios para a

proteccedilatildeo da propriedade e personalidade do autor (agraves vezes para a proteccedilatildeo da

personalidade via proteccedilatildeo da propriedade) mas natildeo se colocam em jogo os interesses da

coletividade e outros interesses e direitos individuais que se veem afetados pela

exclusividade dos direitos autorais

Quem de facto compete com os autores em mateacuteria de benefiacutecios financeiros natildeo

satildeo os utilizadores da Internet mas sim os ldquoempresaacuterios culturaisrdquo (Ascensatildeo 2003 17)

Eles jaacute satildeo equiparados aos autores nas justificaccedilotildees oficiais fala-se tambeacutem na

necessidade de proteger o investimento Os direitos morais estatildeo cada vez mais ausentes

nos textos dos novos instrumentos internacionais

Para Joseacute de Oliveira Ascensatildeo o protagonismo do empresaacuterio eacute uma anomalia O

jurista afirma que natildeo se explica que se crie um Direito altamente protecionista com

fundamento na dignidade da criaccedilatildeo intelectual para o pocircr afinal ao serviccedilo da proteccedilatildeo

dos investimentos (Ascensatildeo 2003 18) Os investimentos podem e devem ser protegidos

mas por meios adequados e proporcionais a esse objetivo Natildeo faz sentido que sejam

salvaguardados pelos direitos de autor que tecircm outra finalidade Se o foco da proteccedilatildeo nas

leis de direitos de autor satildeo os investimentos apenas eles interessam e suplantam a

qualidade e ateacute mesmo a existecircncia de uma obra

94

Lucas Serra acredita que o problema estaacute na cadeia produtiva do sistema

capitalista que aprisiona o autor em um ciclo de dependecircncia de editores e intermediaacuterios

ldquoA SPA eacute consciente de que os atuais modelos de mercado natildeo satildeo tatildeo beneacuteficos para os

autores mas tambeacutem se sabe que eacute difiacutecil deixar esses modelos para traacutes E isso natildeo

depende apenas dos autoresrdquo (Serra 2012)

O que vemos eacute uma hiperproteccedilatildeo do empresaacuterio no domiacutenio das induacutestrias de

Copyright o que tem graves consequecircncias As induacutestrias a defendem e afirmam que satildeo

capazes de fomentar a cultura sendo que os efeitos apontam justamente o contraacuterio A

hiperproteccedilatildeo cria todas as condiccedilotildees para tornar o acesso agrave cultura mais difiacutecil pelos altos

custos que impotildee Aleacutem disso haacute implicaccedilotildees tambeacutem em mateacuteria de concorrecircncia a

hiperproteccedilatildeo fortalece os grandes grupos nos paiacuteses exportadores de produtos de

Copyright e tambeacutem a niacutevel planetaacuterio A concentraccedilatildeo das empresas de conteuacutedos

culturais que o Direito ajudou a promover eacute tal que eacute praticamente impossiacutevel agraves novas

empresas atingir os mesmos niacuteveis A hiperproteccedilatildeo atraveacutes dos direitos exclusivos

eliminou a concorrecircncia e implantou um oligopoacutelio de dimensotildees grandiosas

Projetos de leis como SOPA e ACTA apontam para uma guerra desproporcionada

entre as induacutestrias culturais e os usuaacuterios da Rede No meio ficam os autores que natildeo tecircm

seus interesses representados ndash antes assistem aos empresaacuterios partindo em defesa de

lucros dos quais eles pouco partilham Um caso que serve para ilustrar essa questatildeo eacute o do

Napster programa de compartilhamento de arquivos em rede P2P que protagonizou o

primeiro grande episoacutedio na luta juriacutedica entre a induacutestria fonograacutefica e as redes de

compartilhamento de muacutesica na Internet

A principal questatildeo era apurar se a reproduccedilatildeo dos arquivos protegidos por

Copyright representava ou natildeo um ato de uso privado De facto o Napster natildeo procedia

ele proacuteprio agrave reproduccedilatildeo Utilizava programas que lhe permitiam detectar onde se

encontrava em rede disponiacutevel para reproduccedilatildeo o arquivo desejado Apontando-o ao

interessado era este quem realizava depois o download do ficheiro Em relaccedilatildeo agraves obras

audiovisuais o esquema era ainda mais radical Napster nem sequer localizava os arquivos

disponiacuteveis em rede Limitava-se a fornecer aos interessados um programa que permitia

que eles o fizessem Eram pois os utilizadores que procediam quer agrave localizaccedilatildeo quer ao

download

Apoacutes intensos conflitos judiciais Napster procurou adaptar-se agrave nova situaccedilatildeo

atribuindo remuneraccedilotildees aos titulares de direitos mas natildeo teve sucesso Acabou sendo

95

vendido e os novos gestores agora negociam arquivos de muacutesica digital que respeitem os

direitos autorais

O caso Napster eacute emblemaacutetico por vaacuterias questotildees mas aqui destacamos duas se

jaacute eacute difiacutecil responsabilizar empresas intermediaacuterias em situaccedilotildees desse tipo o que dizer

dos utilizadores que fazem uso privado Outro ponto marcante desse processo eacute o manejo

dos direitos de autor como instrumento redutor das possibilidades tecnoloacutegicas permitidas

pela Rede O difiacutecil equiliacutebrio a buscar encontra-se numa posiccedilatildeo intermediaacuteria em que a

renuacutencia agrave gratuidade tem de ter como contrapartida condiccedilotildees de aquisiccedilatildeo mais

atraentes em qualquer caso que natildeo impliquem a repressatildeo das potencialidades

tecnoloacutegicas positivas que a Rede disponibiliza

Para Joseacute de Oliveira Ascensatildeo situaccedilotildees como esta estatildeo conduzindo a

propriedade intelectual a uma fase extrema a dos direitos de autor sem autor Isso natildeo

significa o desaparecimento do autor mas sua transformaccedilatildeo em uma figura dispensaacutevel

ou mesmo marginal (Ascensatildeo 2003 21) A criatividade perde gradualmente seu espaccedilo

tornando-se um requisito levado bem mais em conta pelas inovaccedilotildees industriais que pelos

direitos de autor Se a proteccedilatildeo dos investimentos eacute o que haacute de mais precioso a

criatividade (e consequentemente o ato de criar marca do autor) passa a outro plano

inferior

Certos acreacutescimos de proteccedilatildeo natildeo fazem outra coisa senatildeo proteger as empresas e

seus interesses Eacute o caso do aumento dos prazos de proteccedilatildeo que na realidade eacute irrelevante

para os autores Para a induacutestria isto significa mais tempo de exploraccedilatildeo econocircmica

exclusiva Joseacute de Oliveira Ascensatildeo fala ainda nos direitos de autor sem obra se o que se

protege eacute a atividade empresarial eacute indiferente que o objeto protegido tenha o caraacuteter de

obra Soacute interessa a mercadoria intelectual seja ela qual for (ibidem 23)

96

97

CAPIacuteTULO III

HARMONIZACcedilAtildeO DE INTERESSES

98

99

10 O direito de acesso agrave informaccedilatildeo e agrave comunicaccedilatildeo como um direito humano

Tomar a questatildeo do acesso agrave informaccedilatildeo e agrave comunicaccedilatildeo sob o prisma dos direitos

humanos foi uma escolha instantacircnea Optamos por essa via ndash em detrimento de vaacuterias

outras possiacuteveis como a dos acordos comerciais ou a das convenccedilotildees teacutecnicas - pelo facto

de acreditarmos que a questatildeo afeta as pessoas de forma direta em vaacuterios niacuteveis da vida

em sociedade Sendo as comunicaccedilotildees eletrocircnicas elementos fundamentais do fluxo

comunicacional contemporacircneo eacute impossiacutevel natildeo considerar o acesso agrave informaccedilatildeo e agrave

comunicaccedilatildeo atraveacutes da Rede como cruciais para os indiviacuteduos enquanto agentes da

coletividade O futuro da sociedade informacional desenharaacute o ambiente onde os

indiviacuteduos trabalharatildeo e desenvolveratildeo suas existecircncias e o ciberespaccedilo faz parte do

caminho para esse futuro Portanto partindo da premissa de que informaccedilatildeo eacute poder e

considerando que o acesso agrave comunicaccedilatildeo eacute condiccedilatildeo sine qua non para a inserccedilatildeo e

participaccedilatildeo social iremos concentrar nossa atenccedilatildeo na relaccedilatildeo entre informaccedilatildeo e direitos

humanos

No cerne das criacuteticas agraves leis de combate agrave pirataria estatildeo evidentemente as

sanccedilotildees riacutegidas e as accedilotildees de vigilacircncia como as que preveem o controlo das atividades do

usuaacuterio na Rede e o corte de acesso ao assinante que realizar downloads de materiais

protegidos por direitos de autor Aleacutem disso o traffic shaping e outras medidas que

dificultam o acesso do utilizador agrave Internet provocam polecircmica e trazem agrave discussatildeo a

legitimidade de leis que impeccedilam as pessoas de utilizarem em plenitude as ferramentas

tecnoloacutegicas Tais restriccedilotildees em nome da defesa dos direitos de autor natildeo estariam a

passar por cima de algo mais precioso como o direito de aceder a canais de comunicaccedilatildeo

e interaccedilatildeo hoje em dia indispensaacuteveis

Um estudo que ouviu 27 mil pessoas em 26 paiacuteses para o Serviccedilo Mundial da BBC

apontou que quatro entre cinco adultos no mundo consideram o acesso agrave Internet um

direito fundamental do ser humano A mesma pesquisa mostrou tambeacutem que 53 dos

entrevistados creem que a Internet natildeo deveria ser regulada pelos governos (BBC Brasil

2010)

O direito de acesso agrave comunicaccedilatildeo digital tende a se solidificar gradualmente

como um direito humano Segundo Ciciacutelia Peruzzo

100

[] mundialmente a inclusatildeo digital passa a ser vista como um direito humano no

mesmo patamar do direito ao acesso de qualquer cidadatildeo a outras miacutedias e a condiccedilotildees

dignas de existecircncia Vaacuterias entidades estudiosos e ativistas tecircm se posicionado

publicamente a favor do direito agrave comunicaccedilatildeo tomando-o como mecanismo de se

efetivar a democratizaccedilatildeo dos meios de comunicaccedilatildeo (PERUZZO 2005 275)

Ainda segundo Peruzzo as discussotildees sobre o direito agrave informaccedilatildeo e agrave

comunicaccedilatildeo na sociedade informacional englobam tambeacutem os direitos de domiacutenio

puacuteblico software livre e propriedade intelectual aleacutem do acesso global a todas as

tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (Peruzzo 2005 276)

A Campanha CRIS (Direito agrave Comunicaccedilatildeo na Sociedade da Informaccedilatildeo em

inglecircs Communication Rights in the Information Society) movimento lanccedilado em

2001 liderado por organizaccedilotildees natildeo governamentais dos campos da comunicaccedilatildeo e dos

direitos humanos de diversos paiacuteses listou em uma de suas publicaccedilotildees alguns debates

importantes ligados agrave questatildeo do direito de acesso agrave informaccedilatildeo Dentre os toacutepicos estaacute a

tentativa de acabar com a vigilacircncia e a censura na Rede por parte de governos ou

empresas Para a Campanha CRIS ldquoo direito de comunicar constitui um direito humano

universal que assume e estaacute a serviccedilo de outros Direitos Humanosrdquo (CRIS apud Pasquali

2005 31)

Sob o ponto de vista teoacuterico o direito agrave comunicaccedilatildeo tende a ser tomado

tradicionalmente como direito agrave liberdade de informaccedilatildeo e de expressatildeo Essa concepccedilatildeo

eacute expressa nos ordenamentos juriacutedicos que tratam do tema Por exemplo a Declaraccedilatildeo

Universal dos Direitos Humanos (DUDH) de 1948 em seu Artigo 19ordm assegura que

ldquoToda pessoa tem direito agrave liberdade de opiniatildeo e expressatildeo este direito inclui a liberdade

de sem interferecircncia ter opiniotildees e de procurar receber e transmitir informaccedilotildees e ideias

por quaisquer meios e independentemente de fronteirasrdquo (Assembleia Geral das Naccedilotildees

Unidas 1948) A Convenccedilatildeo Americana de Direitos Humanos de 1969 estabelece que

ldquoToda pessoa tem o direito agrave liberdade de pensamento e de expressatildeo Este direito inclui a

liberdade de procurar receber e difundir informaccedilotildees e ideias de qualquer natureza sem

consideraccedilotildees de fronteiras verbalmente ou por escrito ou em forma impressa ou artiacutestica

ou por qualquer meio de sua escolhardquo (Conferecircncia Especializada Interamericana sobre

Direitos Humanos 1969) Conforme salienta Osvaldo Leoacuten

101

[] o direito agrave comunicaccedilatildeo se apresenta agora como aspiraccedilatildeo que se inscreve no

dever histoacuterico que comeccedilou com o reconhecimento de direitos aos proprietaacuterios dos

meios de informaccedilatildeo logo aos que trabalham sob relaccedilotildees de dependecircncia com eles e

finalmente a todas as pessoas que a Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos [] consignou como direito agrave informaccedilatildeo e agrave liberdade de expressatildeo e de opiniatildeo Esta eacute a parte de

uma concepccedilatildeo mais global [] que incorpora de maneira peculiar os novos direitos

relacionados com as mudanccedilas de cenaacuterio da comunicaccedilatildeo e um enfoque mais

interativo da comunicaccedilatildeo no qual os atores sociais satildeo sujeitos da produccedilatildeo

informativa e natildeo simplesmente receptores passivos de informaccedilatildeo (LEOacuteN 2002 03)

O direito de acesso agrave tecnologia eacute outro ponto que tambeacutem pode ser invocado

quando tratamos do contexto do ciberespaccedilo Esse direito eacute disposto no ponto 1 do artigo

27ordm da Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos onde se afirma que ldquoToda pessoa tem

o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade de fruir as artes e de

participar do processo cientiacutefico e de seus benefiacuteciosrdquo (Assembleia Geral das Naccedilotildees

Unidas 1948) Segundo Ciciacutelia Peruzzo este direito eacute inspirado pelo princiacutepio moral

baacutesico da equidade e pela noccedilatildeo de que ciecircncia e tecnologia pertencem agrave heranccedila comum

da humanidade (Peruzzo 2005 107)

O pesquisador Cees J Hamelink vecirc a discussatildeo sob o prisma de uma nova

abordagem ele alerta para a necessidade urgente de adoccedilatildeo de uma declaraccedilatildeo universal

do direito de comunicar Este direito natildeo existe atualmente em nenhuma claacuteusula da lei

internacional Em 1969 Jean DrsquoArcy apresentou o direito de comunicar por escrito ldquoO

tempo viraacute quando a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos teraacute que abranger um

direito mais extensivo que o direito do Homem agrave informaccedilatildeo isto eacute o direito de os

Homens comunicaremrdquo (DrsquoArcy apud Hamelink 2004 268) Segundo Hamelink a forccedila

motivadora desta nova abordagem foi a observaccedilatildeo de que o articulado da lei dos direitos

humanos existente (como na Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos ou no

Compromisso sobre Direitos Poliacuteticos e Civis) era inadequado para lidar com a

comunicaccedilatildeo como um processo interativo

Dentre vaacuterias propostas Hamelink sugere que o direito de comunicar deveria

englobar direitos de informaccedilatildeo tais como o direito de acesso agrave informaccedilatildeo em mateacuterias

de interesse puacuteblico (detidas por fontes puacuteblicas ou privadas) e o direito de aceder a meios

puacuteblicos de distribuiccedilatildeo de informaccedilatildeo ideias e opiniotildees Para o autor parte do direito de

comunicar tambeacutem seria composta por direitos culturais Entre eles o direito de fruir das

artes e dos benefiacutecios do progresso cientiacutefico e suas aplicaccedilotildees e o direito de criatividade e

independecircncia artiacutestica literaacuteria e acadecircmica (Hamelink 2004 268-269)

102

Mas o direito de comunicar implica no universo das comunicaccedilotildees eletrocircnicas a

necessidade de salvaguardar a privacidade dos utilizadores Dentre os direitos ditos ldquode

proteccedilatildeordquo por Hamelink estatildeo o direito de o puacuteblico ser protegido contra a interferecircncia

na sua privacidade pelos media ou pela comunicaccedilatildeo de massa ou por agecircncias puacuteblicas

ou privadas envolvidas na colheita de dados a proteccedilatildeo das comunicaccedilotildees privadas das

pessoas contra a interferecircncia de grupos puacuteblicos ou privados (ibidem 269)

Como jaacute tratamos no primeiro capiacutetulo o surgimento da Internet trouxe consigo a

ilusatildeo do tracircnsito de informaccedilotildees e ideias em total liberdade Hoje a noccedilatildeo de livre fluxo

da informaccedilatildeo tem implicaccedilotildees mais complexas e sutis e envolve o duplo estatuto dos

meios digitais por um lado ampliaram as liberdades pessoais dos indiviacuteduos por outro

abriram as portas ao roubo informacional sistemaacutetico por meio do monitoramento das

comunicaccedilotildees eletrocircnicas Vivemos naquilo que Antonio Pasquali chama de liberdade

globalmente vigiada (Pasquali 2005 35) O autor ressalta a beleza do conceito de livre

fluxo informacional e a necessidade de defendecirc-lo mas afirma que natildeo estaremos

proacuteximos o suficiente dele enquanto houver aquilo a que o Precircmio Nobel de economia J

E Stiglitz denominou de assimetria de informaccedilatildeo causada por agentes econocircmicos que

de forma fraudulenta acumulam mais informaccedilotildees do que outros Conforme afirma

Pasquali

Uma liberdade que natildeo liberta eacute egoiacutesmo e privileacutegio O duplo padratildeo de se ter livre

informaccedilatildeo como um conceito abstrato enquanto a informaccedilatildeo no mundo concreto eacute

gerenciada sob princiacutepios mercantis que tornam possiacutevel a eliminaccedilatildeo de outras

alternativas eacute relacionalmente e comunicacionalmente desonesto (PASQUALI 2005

37)

Para Leacuteo Scheer o direito de acesso agrave informaccedilatildeo e agrave comunicaccedilatildeo estaacute

intimamente ligado a uma nova forma de democracia que surgiu para ser exercida no

ciberespaccedilo Segundo o autor essa eacute a democracia da simples expressatildeo da enunciaccedilatildeo

por parte de cada um das narrativas das quais eacute portador sem necessidade de canalizaccedilatildeo

ou de conformaccedilatildeo dos sinais postos assim em circulaccedilatildeo (Scheer 1997 121) Privar o

utilizador do acesso agrave Rede (ou dificultaacute-lo) eacute portanto uma ameaccedila a essa nova

democracia e um atentado ao seu direito de desfrutar dos benefiacutecios que a tecnologia das

redes pode proporcionar agrave sua formaccedilatildeo enquanto indiviacuteduo inserido e atuante na

sociedade de informaccedilatildeo

103

20 Novos modelos e outras alternativas de conciliaccedilatildeo entre artistas induacutestria e

usuaacuterios de Internet

No final de Maio de 2012 a comissatildeo de juristas que discute a reforma do Coacutedigo

Penal no Senado brasileiro aprovou a liberaccedilatildeo de coacutepias integrais de livros CDrsquos e

DVDrsquos desde que para uso pessoal e sem fins comerciais Caso a sugestatildeo dos juristas

seja acatada pelo Congresso Nacional poderatildeo ser feitas coacutepias integrais sem que seja

caracterizado crime Para isso a coacutepia deve ser uacutenica feita a partir de uma obra original e

ser de uso privado e exclusivo de quem faz a reproduccedilatildeo sem que exista o objetivo de

lucro A proposta deve ser entregue para votaccedilatildeo ateacute o final de Junho de 2012 O texto

passa a valer apenas apoacutes a aprovaccedilatildeo no Senado e na Cacircmara e por uacuteltimo apoacutes

confirmaccedilatildeo presidencial

A comissatildeo aprovou ainda a criaccedilatildeo de um regime especiacutefico que pune o plaacutegio de

obras intelectuais Atualmente ele eacute considerado uma violaccedilatildeo aos direitos de autor com

pena prevista de 6 meses a um ano de prisatildeo Poreacutem na praacutetica essa penalizaccedilatildeo eacute

raramente aplicada Pelo texto aprovado pelos juristas quem apresentar utilizar ou

reivindicar publicamente como proacutepria obra ou trabalho intelectual de outra pessoa no

todo ou em parte pode ter que cumprir pena de seis meses a dois anos de prisatildeo (Folha

de S Paulo 2012)

Decisotildees como esta apontam para o rumo que os direitos de autor devem tomar

inevitavelmente o da mudanccedila para adaptaccedilatildeo aos novos tempos A abertura a sistemas

alternativos de licenciamento distribuiccedilatildeo e partilha de bens culturais mostra-se uma via

potencialmente importante e a flexibilizaccedilatildeo dos regimes de lucro e produccedilatildeo eacute condiccedilatildeo

indispensaacutevel agrave sobrevivecircncia das induacutestrias da cultura A seguir trataremos sobre algumas

das novas possibilidades que surgiram para fazer face agrave rigidez do Copyright e das

legislaccedilotildees que tratam dos direitos autorais e da propriedade intelectual

30 Fexibilizaccedilatildeo do regime autoral o Creative Commons

104

Uma interessante ferramenta que concilia a defesa dos direitos de autor e a

possibilidade de partilha e construccedilatildeo coletiva do conhecimento eacute o modelo de licenccedila

intelectual Creative Commons (CC)6

O Creative Commons foi criado em 2001 pelo professor da Universidade de

Standford Lawrence Lessig com a finalidade de desenvolver licenccedilas que possam ser

utilizadas por qualquer indiviacuteduo ou entidade de forma a disponibilizar seus trabalhos de

maneira aberta O CC funciona como um meio termo legal entre os tradicionais contratos

de direitos autorais como o Copyright e o domiacutenio puacuteblico onde nenhum direito eacute

reservado Ele transporta para as produccedilotildees culturais a ideia central dos softwares livres

que consistem em programas de computador com coacutedigos-fonte abertos permitindo a

modificaccedilatildeo do software para aprimoramento ou melhor adaptaccedilatildeo agraves necessidades dos

usuaacuterios

O software livre cujo grande siacutembolo estaacute no sistema operacional Linux floresce

no Brasil Conforme apontam Cloacutevis Lima e Rose Marie Santini o destaque do paiacutes no

exterior em mateacuteria de utilizaccedilatildeo de programas abertos foi reconhecido pela revista Wired

uma das mais respeitadas em mateacuteria de tecnologia Em sua ediccedilatildeo de Novembro de 2004

ela retratou o Brasil como uma ldquoNaccedilatildeo Open Sourcerdquo (Lima e Santini 2006 125)

O crescente ecircxito dos softwares livres no paiacutes se reflete tambeacutem na boa acolhida

do projeto Creative Commons O modelo de licenciamento vem sendo adaptado no Brasil

por estudiosos da Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas (FGV)

desde 2003 O ex-ministro da Cultura Gilberto Gil apelidou a flexibilizaccedilatildeo dos direitos

autorais proposta pelo CC metaforicamente de ldquoreforma agraacuteria da propriedade

6 Para tornar a leitura mais simples utilizaremos a sigla CC para nos referirmos ao Creative Commons

Figura 1 O modelo Creative Commons se mostra

como um meio termo que promove o equiliacutebrio entre o

total fechamento do Copyright e a total abertura do

domiacutenio puacuteblico Fonte Creative Commons URL

lthttpwwwcreativecommonsorgbrgt

105

intelectualrdquo (Moraes 2006 243) Cloacutevis Lima e Rose Marie Santini tambeacutem afirmam o

seguinte

O licenciamento Creative Commons surge sem a intervenccedilatildeo estatal ou a mudanccedila do arcabouccedilo juriacutedico-normativo Trata-se de um uso da proacutepria ideia e conceitos do

direito autoral para modificar sua estrutura caso a caso gerando autorizaccedilotildees

caracterizadas pelo termo ldquoCopyleftrdquo A ideia eacute permitir a criaccedilatildeo de coletividades de

obras culturais publicamente acessiacuteveis [] materializando as promessas da Internet e

das tecnologias digitais de maximizarem o potencial criativo humano (LIMA E

SANTINI 2006 121)

O modelo de licenciamento CC tem como finalidade simplificar para os criadores

a expressatildeo de sua concessatildeo de uso A uacutenica coisa que ele demanda eacute que a utilizaccedilatildeo das

obras disponibilizadas natildeo tenha fins lucrativos e que os autores sejam devidamente

citados O CC modifica a expressatildeo tradicional do Copyright de ldquoTodos os direitos

reservadosrdquo para ldquoAlguns direitos reservadosrdquo (Moraes 2006 321)

Atraveacutes do portal do CC na Internet criou-se um mecanismo de buscas por

materiais como fotografias muacutesicas textos etc registrados sob esse modelo de

licenciamento Assim uma rede onde artistas autores e outros criadores de conteuacutedos

podem compartilhar seus trabalhos pela Internet sem violar leis de direitos autorais vai

crescendo a cada dia

Eacute importante ressaltar que o CC eacute um modelo que permite o contato direto do

criador com o puacuteblico e uma eficiente maneira de manifestar o desejo de ter sua obra

difundida pela Rede Haacute artistas que querem que as pessoas tenham acesso agraves suas

produccedilotildees e eventualmente permitem que elas continuem seu trabalho atraveacutes da

reinterpretaccedilatildeo ou recriaccedilatildeo da obra Antes do surgimento da Internet da tecnologia

digital e de modelos como o Creative Commons natildeo havia meios eficientes para que esses

autores pudessem indicar agrave sociedade que eles se interessavam pela ampla liberdade de

acesso e interpretaccedilatildeo de suas produccedilotildees pelo puacuteblico Segundo Cloacutevis Lima e Rose Marie

Santini ldquoUm modelo de licenciamento como este cria meios para que autores criadores e

outros detentores de direitos possam indicar a todos seus interesses em relaccedilatildeo ao uso de

suas obras atraveacutes da opccedilatildeo por uma licenccedila especiacuteficardquo (Lima e Santini 2006 129)

Os tipos de licenccedilas CC satildeo os seguintes

a) Atribuiccedilatildeo ndash Uso natildeo comercial ndash Natildeo a obras derivadas (by-nc-nd)

106

Esta eacute a mais restritiva dentre as seis principais licenccedilas permitindo

redistribuiccedilatildeo Comumente chamada de ldquopropaganda graacutetisrdquo ela permite o download e

compartilhamento da obra por outras pessoas contanto que mencionem e faccedilam o link

para o autor Proiacutebe qualquer modificaccedilatildeo na estrutura da obra e tambeacutem veta sua

comercializaccedilatildeo

b) Atribuiccedilatildeo ndash Uso natildeo comercial ndash Compartilhamento pela mesma licenccedila

(by-nc-as)

Esta licenccedila permite a remixagem adaptaccedilatildeo e criaccedilatildeo de obras derivadas por

outras pessoas com finalidade natildeo comercial contanto que atribuam o creacutedito da obra

original ao autor e licenciem as novas obras sob o mesmo paracircmetro

c) Atribuiccedilatildeo ndash Uso natildeo comercial (by-nc)

Neste modelo outras pessoas podem remixar adaptar e criar obras derivadas

da original sendo vedado o uso comercial As novas criaccedilotildees devem ter em seus creacuteditos o

autor da obra original e tambeacutem natildeo podem ser exploradas comercialmente A diferenccedila

da licenccedila anterior eacute que nesta natildeo eacute obrigatoacuterio o registro das novas obras sob o mesmo

paracircmetro da original

d) Atribuiccedilatildeo ndash Natildeo a obras derivadas (by-nd)

Este modelo permite a distribuiccedilatildeo e o uso da obra para fins comerciais e natildeo

comerciais mas determina que a obra seja distribuiacuteda completa e sem modificaccedilotildees

atribuindo os devidos creacuteditos do autor

e) Atribuiccedilatildeo ndash Compartilhamento pela mesma licenccedila (by-as)

Esta licenccedila permite que outras pessoas remixem adaptem e criem obras

derivadas da original para fins comerciais contanto que atribuam os creacuteditos do autor e

que as novas obras sejam licenciadas sob o mesmo paracircmetro Esta licenccedila eacute comumente

comparada agraves de softwares livres

f) Atribuiccedilatildeo (by)

107

Este eacute o modelo menos restritivo e o mais aberto de todos Ele permite que

outras pessoas distribuam remixem adaptem ou criem obras derivadas com finalidade

comercial desde que creditem a criaccedilatildeo original

O CC disponibiliza ainda diversos outros tipos de licenccedilas como a ldquoSamplingrdquo

que permite a remixagem de apenas trechos da obra original e a ldquoNaccedilotildees em

Desenvolvimentordquo que propotildee condiccedilotildees menos restritivas para a disponibilizaccedilatildeo da

obra em paiacuteses que natildeo sejam considerados como de alta renda pelo Banco Mundial

Atraveacutes de suas licenccedilas o CC manteacutem o senso da inteligecircncia coletiva e da

construccedilatildeo coletiva do saber Ele propotildee um novo modo de produccedilatildeo cultural que rompe

com as formas tradicionais de organizaccedilatildeo das forccedilas produtivas em bases mercantis e

empresariais e reaproxima o autor de sua obra na medida em que lhe confere o poder de

distribuiacute-la como bem entender

As licenccedilas CC nasceram na era da Internet e satildeo perfeitamente adaptaacuteveis agrave

necessidade de conciliar o reconhecimento da autoria e a expansatildeo do acesso ao

conhecimento Eacute uma alternativa de equiliacutebrio entre a reserva total dos direitos

(Copyright) e a completa cessatildeo destes (domiacutenio puacuteblico) O mundo digital precisa de

normas flexiacuteveis com liberdades diferentes expressa de forma tal que as pessoas possam

utilizaacute-las com facilidade sem a mediaccedilatildeo da induacutestria ou de advogados

Conforme salientam Cloacutevis Lima e Rose Marie Santini ldquoAs licenccedilas criativas

convidam agrave participaccedilatildeo no processo e natildeo agrave escolha entre produtos no supermercado de

bens culturaisrdquo (Lima e Santini id) As licenccedilas Creative Commons fomentam a

criatividade dos indiviacuteduos pois incrementam o domiacutenio puacuteblico dos bens culturais e

concretizam as promessas das novas tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo de

maximizarem o potencial criativo humano e das sociedades Atraveacutes da possibilidade legal

de recriaccedilatildeo das obras intelectuais disponibilizadas sob seu registro o CC se torna uma

potencial ferramenta colaborativa de construccedilatildeo e aperfeiccediloamento de conhecimentos

aleacutem de meio de democratizaccedilatildeo do acesso agraves informaccedilotildees pela desburocratizaccedilatildeo da

reproduccedilatildeo transmissatildeo e armazenamento de conteuacutedos

Segundo o site da organizaccedilatildeo em 2009 jaacute havia 350 milhotildees de obras licenciadas

no CC dentre filmes muacutesicas livros e trabalhos acadecircmicos (Creative Commons 2009)

No Brasil a tendecircncia eacute que o modelo CC se torne cada vez mais conhecido jaacute que a

visita de Lawrence Lessig ao paiacutes para lanccedilar uma nova versatildeo do licenciamento durante a

108

feira tecnoloacutegica Campus Party em Fevereiro de 2010 teve repercussatildeo em vaacuterios meios

tradicionais de comunicaccedilatildeo e sobretudo na Rede

31 O Creative Commons Portugal

Em Portugal o modelo Creative Commons eacute recente Chegando ao paiacutes em 2006 a

licenccedila foi traduzida e adaptada agrave legislaccedilatildeo portuguesa e pode ser encontrada desde entatildeo

no site oficial do CC (clicando-se no item Internacional depois na bandeira do paiacutes onde

se poderaacute verificar a licenccedila juriacutedica) Este projeto foi liderado pelo professor Pedro

Oliveira da Faculdade de Ciecircncias Econocircmicas e Empresariais da Universidade Catoacutelica

Portuguesa (UCP) aleacutem de Joseacute Rui Felizardo e Pedro Ferreira sendo Filipa Salazar Leite

a responsaacutevel pela traduccedilatildeo da primeira versatildeo das licenccedilas

As entidades responsaacuteveis pela implementaccedilatildeo do CC em Portugal foram a

Faculdade de Ciecircncias Econocircmicas e Empresarias da Universidade Catoacutelica Portuguesa

(FCEE-UCP) - como afiliada portuguesa do Creative Commons - a empresa de tecnologia

Inteligecircncia em Inovaccedilatildeo (INTELI) e a Agecircncia para a Sociedade do Conhecimento

(UMIC) na qualidade de parceiros Atualmente apenas a INTELI se manteacutem como

parceira da FCEE-UCP neste projeto

Eacute tatildeo grande a importacircncia desta nova ferramenta que ateacute Dezembro de 2010 jaacute

eram 311314 mil obras licenciadas sob o CC em Portugal pondo o paiacutes na 21ordf posiccedilatildeo do

ranking mundial Para a advogada Teresa Nobre responsaacutevel pela adaptaccedilatildeo das licenccedilas

Creative Commons agrave legislaccedilatildeo portuguesa o dado eacute bastante positivo visto que eacute um paiacutes

de populaccedilatildeo e extensatildeo territorial modestos (Nobre 2012)

32 As licenccedilas 30

No dia 15 de Janeiro de 2011 Teresa Nobre e Clara Boavida fizeram o lanccedilamento

da versatildeo 30 das licenccedilas Creative Commons em Portugal durante o evento

comemorativo pelos dez anos da enciclopeacutedia colaborativa eletrocircnica Wikipedia realizado

no Instituto Superior Teacutecnico (IST) em Lisboa A discussatildeo puacuteblica do projeto da versatildeo

30 da licenccedila de jurisdiccedilatildeo Creative Commons Portugal esteve aberta de 24 de Novembro

a 31 de Dezembro de 2010 e convidou ao debate a sociedade civil em geral advogados

109

utilizadores de licenccedila ativos linguistas e tradutores Todos puderam opinar sobre o novo

texto atraveacutes de um foacuterum aberto no site portuguecircs do projeto

Em relaccedilatildeo agrave versatildeo anteriormente utilizada (25) a nova redaccedilatildeo trouxe alteraccedilotildees

pequenas poreacutem significativas e que ajudaram a tornar mais claros os termos da licenccedila

Aleacutem disso propocircs novas claacuteusulas referentes aos direitos morais ou agrave gestatildeo coletiva dos

direitos de autor ou dos direitos conexos Eacute importante salientar que o processo de

lanccedilamento de uma nova versatildeo das licenccedilas CC natildeo envolve apenas questotildees de traduccedilatildeo

e adaptaccedilatildeo do texto original em inglecircs para o portuguecircs mas refere-se sobretudo agrave sua

adaptaccedilatildeo agraves legislaccedilotildees portuguesas de propriedade intelectual e de direitos de autor

Sendo assim apesar das semelhanccedilas entre as versotildees brasileira e portuguesa das licenccedilas

30 elas diferem-se substancialmente no que se refere ao quesito juriacutedico

Alguns dos conceitos utilizados nas licenccedilas (eg coleccedilatildeo licenciante e titular

originaacuterio) foram aperfeiccediloados e novas claacuteusulas (como as referentes aos direitos morais

ou agrave gestatildeo coletiva do direito de autor ou dos direitos conexos) foram introduzidas As

mudanccedila afetaram sobretudo o tipo de licenccedila ldquoAtribuiccedilatildeo ndash Uso natildeo comercial ndash

Compartilhamento pela mesma licenccedilardquo (by-nc-as) O termo ldquoobrardquo foi substituiacutedo por

ldquotrabalho criativordquo A expressatildeo ldquoexibiccedilatildeo e execuccedilatildeo puacuteblicardquo foi modificada por

ldquoapresentar ao puacuteblicordquo ldquoObras coletivasrdquo tornaram-se ldquocoleccedilotildeesrdquo e ldquoobras derivadasrdquo

passaram a ser designadas por ldquotrabalhos derivadosrdquo

A versatildeo 30 das licenccedilas Creative Commons da jurisdiccedilatildeo portuguesa quando

comparada com a versatildeo 25 apresenta para aleacutem das alteraccedilotildees citadas melhoramentos

ao niacutevel de praticamente todos os conceitos que se encontram definidos nas licenccedilas e uma

nova claacuteusula que prevecirc expressamente o direito moral do autor de retirar sua obra de

circulaccedilatildeo

Em Abril de 2012 foram abertas as discussotildees da versatildeo 40 do conjunto de

licenccedilas Creative Commons como resultado dos debates levantados durante o CC Global

Summit em Setembro de 2011 na Polocircnia Ateacute o final do ano os trabalhos relacionados ao

novo texto devem ser fechados posteriormente a versatildeo final seraacute localmente discutida e

adaptada para a liacutengua e a legislaccedilatildeo nacional de cada paiacutes

33 Parcerias

110

O CC Portugal manteacutem parcerias com diversos repositoacuterios institucionais que

disponibilizam obras intelectuais do domiacutenio cientiacutefico sob suas licenccedilas Eacute o caso da

Universidade do Porto (UP) e da Universidade Nova de Lisboa (UNL) Segundo Teresa

Nobre jaacute existe uma parceria (mesmo que ainda tiacutemida) entre o CC Portugal e o poder

puacuteblico portuguecircs Eacute o caso do Portal das Escolas mantido pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

portuguecircs que publica todos os seus materiais sob licenccedilas CC (Nobre 2012)

Teresa Nobre afirma que um dos problemas que dificultam a popularizaccedilatildeo das

licenccedilas Creative Commons em Portugal eacute o desconhecimento puacuteblico acerca de sua

existecircncia Na tentativa de tornar o projeto mais conhecido no paiacutes ela diz que um dos

objetivos do CC Portugal para 2012 eacute investir de forma mais eficiente nos canais proacuteprios

de comunicaccedilatildeo como o perfil do projeto em redes sociais como Facebook e Twitter e no

site wwwcreativecommonspt Esta eacute a mesma estrateacutegia utilizada para chegar ao

conhecimento das classes artiacutesticas nacionais

Todos os filiados ao CC cooperam entre si e com o Creative Commons com vista agrave

discussatildeo de temas de interesse comum e ao desenvolvimento e aperfeiccediloamento contiacutenuo

das licenccedilas Segundo Teresa Nobre

O Creative Commons Brasil tem sido um parceiro importante do Creative Commons

Portugal na medida em que por circunstacircncias diversas tem conseguido completar o

processo de adaptaccedilatildeo das licenccedilas para o Brasil antes da Creative Commons Portugal

disponibilizando assim uma primeira base de trabalho em portuguecircs que eacute sem duacutevida

uma mais-valia natildeo obstante as diferenccedilas entre as legislaccedilotildees dos dois paiacuteses

(NOBRE 2012)

Neste momento o Creative Commons Portugal impulsiona um processo de

harmonizaccedilatildeo dos conceitos-chave em portuguecircs tendo entrado em contato com o CC

Brasil e com o CC Macau com o objetivo de levantar a discussatildeo com os mesmos Um dos

objetivos do CC Portugal para o futuro eacute conseguir incentivar e auxiliar outros paiacuteses de

liacutengua portuguesa a adotarem as licenccedilas CC pretendendo envolver nessa empreitada

tanto quanto possiacutevel o CC Brasil

40 A exceccedilatildeo para compartilhamento de arquivos

111

O principal argumento dos detentores de direitos favoraacuteveis ao arsenal juriacutedico

repressor eacute o de que as puniccedilotildees e proibiccedilotildees de downloads gratuitos aumentam as

oportunidades de vendas para obras protegidas Poreacutem haacute que considerar que na ausecircncia

de serviccedilos on-line de acesso a conteuacutedos com preccedilos e funcionalidades atraentes para os

utilizadores a repressatildeo natildeo produz efeitos consideraacuteveis Conforme afirma Volker

Grassmuck o bloqueio natildeo significa diminuiccedilatildeo da partilha e subida das vendas mas sim

uma migraccedilatildeo para plataformas mais clandestinas onde se torna ainda mais difiacutecil

monitorizar as reproduccedilotildees e as transferecircncias (Grassmuck 2009)

Vaacuterios estudos indicam que o impacto dos downloads natildeo pagos na economia das

induacutestrias da cultura eacute menor que o anunciado por estas Baseados na meacutedia obtida a partir

de oito pesquisas consideradas relevantes Felix Oberholzer-Gee e Koleman Strumpf

afirmam que a partilha de arquivos eacute responsaacutevel por uma parte pequena ndash ldquonatildeo mais do

que 20rdquo ndash do decliacutenio das vendas de muacutesica registrado nos EUA ao longo da deacutecada

passada (Oberholzer-Gee e Strumpf 2010 01) Alguns levantamentos apontam mesmo

para a tese do outro extremo a de que as descargas gratuitas impulsionam as vendas

legais Eacute o caso de uma pesquisa realizada pela Universidade do Estado da Carolina do

Norte que usou uma grande amostra de estatiacutesticas de downloads vindas de um servidor

BitTorrent A partir desses dados o economista Robert Hammond professor daquela

universidade preparou o estudo intitulado ldquoVazamento de lucros Compartilhamento de

arquivos antes do lanccedilamento e a induacutestria musicalrdquo (Link 17052012)

Hammond reuniu dados de 1095 novos aacutelbuns de 1075 artistas no maior servidor

do BitTorrent dedicado agrave muacutesica no periacuteodo entre Maio de 2010 e Janeiro de 2011

Depois combinou esses dados com nuacutemeros de vendas para construir um modelo que faz

uma previsatildeo do efeito da pirataria nas vendas de muacutesica A pesquisa dedicou-se aos

aacutelbuns que ldquovazaramrdquo na Rede antes de seu lanccedilamento oficial A induacutestria fonograacutefica

prioriza a caccedila a estes discos

O resultado aponta que as vendas aumentaram O economista chegou a essa

conclusatildeo ao ldquoisolarrdquo o efeito do compartilhamento nas vendas de um aacutelbum mapeando o

alcance do disco nas redes antes de ser lanccedilado O estudo afirma que a disseminaccedilatildeo de

um aacutelbum ldquovazadordquo transforma-se em propaganda do mesmo A pesquisa chega ateacute a

indicar que perseguir discos divulgados antes da data oficial pode atrapalhar as vendas

ldquoUsando meu modelo natildeo encontrei prova de nenhum efeito negativo em nenhum

aspectordquo concluiu Hammond sobre o compartilhamento de torrents de aacutelbuns (Link id)

112

No contexto da entrada em vigor de HADOPI na Franccedila e para tentar medir o

impacto da nova lei no paiacutes a Universidade de Rennes 1 realizou um levantamento entre

16 de Novembro e 23 de Dezembro de 2009 com 2 mil usuaacuterios de Internet na regiatildeo da

Bretanha A pesquisa concluiu que os downloads ilegais de produtos culturais como

muacutesicas filmes etc natildeo satildeo uma potencial ameaccedila agrave induacutestria isto porque 47 dos

usuaacuterios puniacuteveis por HADOPI representam a maioria dos compradores desses mesmos

produtos de forma legal na Internet Sendo assim os pesquisadores remataram que ldquoO

consumo de conteuacutedo ilegal parece estar acompanhado de uma disposiccedilatildeo a pagar pelo

conteuacutedo legalrdquo (Dejean et al 2010 09)

Ao contraacuterio do que as grandes produtoras alegam o levantamento realizado pela

Universidade de Rennes 1 aponta que se o acesso de usuaacuterios de redes P2P fosse cortado

o mercado legal de muacutesicas e viacutedeos perderia 27 de seus consumidores Se a legislaccedilatildeo

punisse todos os tipos de piratas (natildeo apenas os que fazem downloads por P2P mas

tambeacutem atraveacutes de sites streaming e endereccedilos de hospedagem de arquivos como

Rapidshare e Megaupload) a venda legal de muacutesicas e viacutedeos pela Rede perderia metade

de sua clientela Portanto segundo Sylvain Dejean a premissa de HADOPI de realizar o

corte do acesso agrave Internet dos piratas ldquoarrisca reduzir o tamanho do mercado de bens

culturais digitaisrdquo na Franccedila (ibidem 13)

A discrepacircncia entre o direito autoral e a praacutetica amplamente difundida do

compartilhamento de arquivos eacute evidente Ateacute hoje as tentativas de resolver essa

desarmonia passaram por medidas repressivas que tentaram adequar as praacuteticas culturais agrave

lei atraveacutes de dispositivos tecnoloacutegicos de proteccedilatildeo (como o DRM do inglecircs Digital

Rights Management) processos civis e penais em larga escala etc Nenhuma delas teve

impactos consideraacuteveis sobre as atividades de download ilegal Apesar do fracasso nem as

induacutestrias e nem os governos reconheceram as falhas das estrateacutegias adotadas tampouco

mudaram de abordagem Continuam a operar com as mesmas ferramentas produzindo

formas cada vez mais extremistas de repressatildeo

Uma alternativa de mudanccedila mais profunda do regime juriacutedico internacional da

propriedade intelectual eacute a proposta feita pelo advogado Bennett Lincoff e pela

Associaccedilatildeo de Compositores do Canadaacute Eles sugeriram a criaccedilatildeo de novos direitos

especificamente destinados a legalizar a partilha sem fins lucrativos de obras protegidas

por direitos de autor (Caetano e Cardoso 2012 08) Em tal modelo programas P2P e

outros dispositivos e sites que permitem o compartilhamento de bens culturais sairiam das

113

sombras da clandestinidade e passariam a ser legais Para que isso seja possiacutevel eacute

necessaacuterio pocircr em funcionamento um novo modelo de compensaccedilatildeo aos autores

O uso intenso de redes P2P para partilha de arquivos de filmes livros muacutesicas etc

demanda aquilo a que Volker Grassmuck chama de exceccedilatildeo para compartilhamento de

arquivos (Grassmuck 2010 04) a saber um regime de recolha e distribuiccedilatildeo de direitos

de autor adaptado aos downloads feitos a partir de redes peer-to-peer e outros sistemas

semelhantes Esse modelo de compensaccedilatildeo eacute discutido em vaacuterios paiacuteses sob diferentes

nomenclaturas ldquosistema de compensaccedilatildeo alternativordquo ldquotaxa fixa da culturardquo ldquolicenccedila

globalrdquo e ldquocontribuiccedilatildeo criativardquo dentre outros Eles variam em alguns detalhes mas satildeo

essencialmente baseados em uma mesma ideia reunir artistas induacutestria e usuaacuterios em

torno de um sistema que contemple simultaneamente os interesses de todos os envolvidos

na cadeia de consumo de bens artiacutestico-culturais Isso atraveacutes de ldquouma permissatildeo legal

para o compartilhamento privado de obras publicadas e protegidas pelo direito autoral para

fins natildeo comerciais sujeita a uma taxa administrada por meio de gestatildeo coletivardquo (ibidem

05)

Vaacuterias pesquisas apontam que os utilizadores estatildeo dispostos a pagar pelos

conteuacutedos que acessam e descarregam pela Internet A sociedade sueca de gestatildeo coletiva

de direitos de muacutesica STIM em uma pesquisa publicada em Fevereiro de 2009 apurou

que 862 dos usuaacuterios de Internet que responderam agrave pesquisa desejam pagar uma taxa

mensal de direito autoral que lhes permita compartilhar arquivos (ibidem 07)

Grupos musicais como Nine Inch Nails e Radiohead liberaram seus discos para

download na Internet dando ao internauta a liberdade de decidir se pagaria ou natildeo por

eles e quanto A gravadora independente on-line Magnatunecom libera todos os seus

aacutelbuns em uma licenccedila Creative Commons que permite expressamente seu uso em

compartilhamento de arquivos o que torna o pagamento efetivamente voluntaacuterio O

Magnatune tambeacutem oferece a seus consumidores a possibilidade de pagar um preccedilo agrave sua

escolha dentro da escala de 4 a 14 euros O preccedilo meacutedio pago pelos utilizadores varia entre

8 e 9 euros indicando claramente que eles desejam pagar aos criadores o preccedilo que lhes

parece justo

Diferentemente do que alegam as induacutestrias os internautas natildeo consideram o que eacute

gratuito como algo sem valor As pessoas habituadas agrave cultura do compartilhamento e da

liberdade satildeo conscientes de que os criadores devem ser remunerados e mostram-se

dispostas a desenvolver comportamentos de consumo compatiacuteveis com essa necessidade

114

Para isso eacute preciso desenvolver e pocircr agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico sistemas equitativos de

distribuiccedilatildeo de bens culturais e recolha dos direitos devidos aos autores

A seguir trataremos brevemente de trecircs propostas de exceccedilatildeo para

compartilhamento de arquivos licenccedila global mecenato global e contribuiccedilatildeo criativa

Existem muitas alternativas possiacuteveis resolvemos nos concentrar nestas por serem

modelos sobre os quais jaacute haacute alguma discussatildeo em marcha ndash tanto no mundo acadecircmico

quanto nos universos juriacutedico e comercial Antes poreacutem falaremos sobre a ldquocomputaccedilatildeo

na nuvemrdquo (cloud computing) tendecircncia a ganhar terreno no ciberespaccedilo e que se

mostra tambeacutem um importante modelo legal de acesso a bens culturais na Rede

50 Cloud computing

A ldquocomputaccedilatildeo na nuvemrdquo eacute uma expressatildeo que surge com muita frequecircncia no

vocabulaacuterio das novas utilizaccedilotildees da Internet Falar em nuvem eacute referir-se agrave proacutepria Rede

ou seja aos seus inuacutemeros servidores espalhados por todo o planeta Quando dizemos que

um ficheiro estaacute na ldquonuvemrdquo significa que o documento ou programa estaacute armazenado em

um servidor Esse ficheiro pode ser acessado simplesmente atraveacutes de uma ligaccedilatildeo agrave

Internet e natildeo depende da armazenagem em aparelhos locais como um computador ou

um smartphone O arquivo natildeo eacute guardado na proacutepria maacutequina do usuaacuterio mas nos

bancos de dados virtuais dos fornecedores de acesso agrave Rede podendo ser visualizado

atraveacutes de um navegador como Explorer ou Chrome por exemplo

Essa tecnologia natildeo eacute recente A novidade estaacute na queda dos custos de

armazenagem de grandes volumes de dados As conexotildees agrave Internet satildeo cada vez mais

velozes e atingem gradativamente um nuacutemero maior de pessoas Os arquivos

armazenados na nuvem podem ser acedidos e utilizados simultaneamente por inuacutemeros

usuaacuterios natildeo importando onde eles estejam espacialmente localizados

A isso se junta a constante diminuiccedilatildeo dos aparelhos informaacuteticos ndash os notebooks

satildeo cada vez menores e para pouparem espaccedilo utilizam discos riacutegidos pequenos e com

pouca capacidade de arquivamento de fotos viacutedeos etc Com todos os arquivos e

programa de que necessita estocados em uma nuvem o utilizador pode deixar seus

115

proacuteprios discos externos smartphones e demais equipamentos portaacuteteis para traacutes para

aceder ao que deseja basta utilizar um equipamento qualquer ligado agrave Internet

Poreacutem o ecircxito do serviccedilo depende completamente da Rede Sem conexatildeo agrave

Internet todo o sistema desmorona Outro problema que se levanta nesse meacutetodo eacute o da

confidencialidade dos dados Por mais seguros que sejam os serviccedilos de cloud

computing estatildeo sujeitos ao ataque de hackers Armazenar informaccedilotildees sigilosas tais

como dados pessoais e senhas de contas bancaacuterias por exemplo pode ser arriscado

Para Richard Stallman criador da Fundaccedilatildeo para o Software Livre (FSF) a cloud

computing eacute uma ameaccedila invisiacutevel Stallman afirma que os dados dos utilizadores da

Rede satildeo ferramentas indispensaacuteveis para determinar perfis de consumo e por isso

tornam-se mera mercadoria nas matildeos dos servidores

Haacute uma campanha para convencer os utilizadores a confiar os seus dados a empresas

nas quais natildeo deveriam de todo confiar A computaccedilatildeo na nuvem soacute pode significar

ldquoMeia bola e forccedila E natildeo pensesrdquo Natildeo eacute que natildeo possamos ter vida privada na Internet Nem que os utilizadores jaacute natildeo possam controlar os seus dados Devemos eacute

ousar remar contra a mareacute (STALLMAN 2012 56)

Estando os arquivos armazenados em um servidor o usuaacuterio jaacute natildeo possui controlo

absoluto sobre seu acesso e utilizaccedilatildeo O recente caso do fechamento do Megaupload

ilustra bem o que pode acontecer na cloud computing Tudo o que estava armazenado nos

servidores do site foi retirado do ar pela Justiccedila norte-americana (sob acusaccedilatildeo de

incentivo agrave pirataria como referido no primeiro capiacutetulo deste trabalho) impossibilitando

o acesso ateacute mesmo dos clientes que haviam pago assinatura e mantinham hospedados

materiais legais (muitos de sua proacutepria autoria)

O sucesso da cloud computing representaria a perda completa do controlo dos

proacuteprios ldquopertences virtuaisrdquo por parte do utilizador na medida em que a armazenagem

destes natildeo estaacute sob sua responsabilidade Um ambiente onde os arquivos estatildeo guardados

em servidores eacute como uma biblioteca cujas chaves estatildeo nas matildeos de poucos assim que

estes queiram restringir o acesso ao acervo poderatildeo realizaacute-lo sem grande dificuldade

fazendo o que quiserem com os livros que estatildeo laacute dentro Aleacutem disso o controlo de

plataformas ldquona nuvemrdquo eacute passiacutevel de ser tomado por oacutergatildeos governamentais empresas

privadas e demais grupos de interesses (com objetivos comerciais ou de filtragem e

monitoramento de conteuacutedos) prejudicando a fiabilidade de seu sistema

116

A cloud computing eacute a base estrutural de muitos sites de venda e reproduccedilatildeo legal

de muacutesicas filmes etc Serviccedilos como o VOD (sigla para a expressatildeo inglesa Video on

demand) plataforma de visualizaccedilatildeo de filmes on-line jaacute satildeo vastamente utilizados por

todo o mundo A Franccedila por exemplo manteacutem um serviccedilo deste tipo ligado a um de seus

canais de TV puacuteblica o France Arte (httpwwwartevodcomAccueilhtml) que

disponibiliza o acesso sob assinatura a gravaccedilotildees de filmes documentaacuterios e espetaacuteculos

de teatro e danccedila em linha O mesmo acontece com sites de muacutesica como o Terra Sonora

(httpsonoraterracombr) no Brasil O portal libera sob cadastro a escuta gratuita on-

line Tornando-se assinante do serviccedilo o utilizador pode criar uma pasta de armazenagem

das muacutesicas favoritas Poreacutem apesar de pagar pelo material o internauta natildeo pode

arquivar as muacutesicas em um CD-R por exemplo pois as faixas satildeo protegidas pela

tecnologia DRM que impede a gravaccedilatildeo Aleacutem disso ele tem um nuacutemero limitado de

vezes para reproduzir os arquivos de aacuteudio Poliacuteticas como esta fadam esse modelo de

negoacutecio ao fracasso e a instabilidade da nuvem apresenta riscos que fazem com que os

internautas natildeo adiram agrave alternativa

60 Licenccedila global

Na lista de tentativas de promoccedilatildeo dos interesses dos artistas e fomento do

consumo legal de bens culturais por parte dos utilizadores da Rede estaacute o modelo

conhecido por licenccedila global O conceito nasceu na Franccedila em 2001 fruto da parceria

entre a Sociedade de Percepccedilatildeo e de Distribuiccedilatildeo dos Direitos dos Artistas Inteacuterpretes

(SPEDIDAM) e a Sociedade Civil para a Administraccedilatildeo dos Direitos dos Artistas e

Muacutesicos Inteacuterpretes (ADAMI)

Trata-se de uma autorizaccedilatildeo dada aos internautas para acederem a conteuacutedos

culturais pela Rede e poder partilhaacute-los com outros para fins natildeo comerciais em troca de

uma taxa destinada a artistas paga juntamente com a mensalidade cobrada pelos

servidores de acesso agrave Internet Na Franccedila a SPEDIDAM e a ADAMI propuseram que

essa taxa fosse opcional Para ambas as organizaccedilotildees criadoras a licenccedila global eacute uma

alternativa interessante por criar o que chamam de ldquoespaccedilo de seguranccedila juriacutedicardquo isto eacute a

descarga e a troca de ficheiros natildeo satildeo criminalmente imputaacuteveis pois satildeo realizadas de

forma que respeita os direitos de autor SPEDIDAM e ADAMI natildeo propuseram um valor

117

exato para o pagamento mensal da licenccedila global mas sugeriram que o montante cobrado

fosse de 4 a 7 euros por assinatura (Alliance Public-Artistes 2010)

Em Dezembro de 2005 alguns deputados sugeriram que a licenccedila global fosse

incluiacuteda no texto do Projeto de Lei relativa aos Direitos de Autor e Direitos Conexos na

Sociedade de Informaccedilatildeo (DADVSI) DADVSI foi discutida em sessatildeo na Assembleia

Nacional francesa em Marccedilo de 2006 poreacutem a licenccedila global natildeo foi incluiacuteda na pauta

Agrave eacutepoca em que HADOPI comeccedilou a ser discutida na Franccedila a licenccedila global

mostrou-se uma alternativa de equiliacutebrio entre os interesses dos consumidores e dos

artistas O modelo eacute interessante pelo facto de remunerar os autores ao mesmo tempo em

que apresenta condiccedilotildees sedutoras de consumo legalizado Poreacutem haacute que discutir detalhes

importantes para o funcionamento do sistema como se o modelo de licenccedila global deve

ser obrigatoacuterio ou opcional visto que se opcional o usuaacuterio poderia decidir natildeo aderir a

ele o que natildeo o impediria de fazer downloads ilegais A aplicaccedilatildeo obrigatoacuteria parece ser a

mais simples mas devemos considerar tambeacutem o caso dos internautas que natildeo fazem

download nenhum e que teriam que pagar por algo que natildeo utilizam Aleacutem do mais eacute

preciso definir se a taxa a ser paga deve ser fixa ou variar conforme a quantidade e a

frequecircncia de downloads que o utilizador realizar

Jaacute haacute propostas e experimentos locais em atividade como eacute o caso do estudo

realizado por Matt Earp e Andrew Mcdiarmid da Escola de Informaccedilatildeo da Universidade

da Califoacuternia Berkeley Os pesquisadores propuseram a implementaccedilatildeo de uma licenccedila

voluntaacuteria global no interior da rede do campus de Berkeley que daria direito aos

estudantes de fazerem downloads ilimitados de muacutesicas mediante o pagamento de 20

doacutelares por semestre (Caetano 2008) Ao realizarem um levantamento junto a 103

estudantes da universidade Earp e Mcdiarmid descobriram que 64 dos inquiridos

estavam dispostos a pagar uma licenccedila global para a partilha de arquivos Haacute que

considerar que de tentativas locais exitosas o sistema pode expandir-se para alcanccedilar

mais utilizadores no futuro

70 Mecenato global

118

O pesquisador francecircs Francis Muguet e o programador norte-americano Richard

Stallman satildeo os idealizadores do mecenato global sistema de financiamento equitativo das

artes e da cultura Esse modelo surgiu em 2009 eacutepoca em que na Franccedila fervilhavam as

discussotildees sobre a lei HADOPI e debatia-se se a soluccedilatildeo para o problema do apoio agrave

criatividade na era digital natildeo passaria pelo incentivo agraves doaccedilotildees voluntaacuterias aos artistas ao

inveacutes do endurecimento das leis (Meacuteceacutenat Global 2009)

O mecenato global sugere a criaccedilatildeo de uma Sociedade de Aceitaccedilatildeo e Reparticcedilatildeo

de Doaccedilotildees (SARD) entidade que receberia as doaccedilotildees dos internautas e atraveacutes dos

votos destes indicaria quais obras seriam remuneradas e quais os valores dessas

remuneraccedilotildees A adesatildeo tanto dos utilizadores quanto dos artistas agrave SARD seria

obviamente livre e o envolvimento dos autores com a entidade natildeo implicaria o abandono

automaacutetico da sua sociedade de gestatildeo coletiva tradicional O sistema se aplicaria tanto

aos artistas que disponibilizassem suas obras segundo licenccedilas livres quanto agravequeles que

pretendessem conservar os seus direitos exclusivos O uacutenico preacute-requisito seria residir em

um paiacutes francoacutefono

Aleacutem da adesatildeo livre para utilizadores e artistas o mecenato global tambeacutem propotildee

que os fornecedores de acesso agrave Internet possam escolher participar ou natildeo Para Miguel

Afonso Caetano a melhor opccedilatildeo de aplicaccedilatildeo do sistema seria atraveacutes da participaccedilatildeo

obrigatoacuteria para os detentores de direitos e fornecedores de acesso poreacutem opcional para

os utilizadores haja vista que nem todos efetuam descargas de conteuacutedos protegidos por

direitos de autor Poreacutem o autor afirma que para pocircr em marcha tal projeto seria

necessaacuterio rever a Convenccedilatildeo de Berna senatildeo tudo natildeo passaria de um esforccedilo limitado a

proporccedilotildees locais sem possibilidades de aplicaccedilatildeo em escala internacional (Caetano

2009) O mesmo se aplica agrave licenccedila global

80 Contribuiccedilatildeo criativa

A contribuiccedilatildeo criativa criada por Philippe Aigrain como uma espeacutecie de

ldquobandeira brancardquo na guerra entre o Copyright e a livre partilha na Rede eacute um modelo que

procura legalizar o uso dos dispositivos P2P ao mesmo tempo em que propotildee uma forma

119

alternativa de retribuiccedilatildeo aos autores sem criar conflitos com outras fontes importantes de

remuneraccedilatildeo e de financiamento da criaccedilatildeo

O modelo prevecirc a retribuiccedilatildeo aos autores segundo a quantidade de downloads que

forem feitos de suas obras Quanto mais descargas mais repasse de direitos Esse modelo

evolui gradualmente e Aigrain jaacute chegou mesmo a propor que a propriedade intelectual no

ambiente digital saiacutesse do acircmbito claacutessico dos direitos de autor para ser objeto de um

diploma agrave parte especiacutefico (Aigrain 2008 71)

Philippe Aigrain aponta o pagamento opcional proposto pela licenccedila global e pelo

mecenato global como ponto falho dos sistemas Para o funcionamento do modelo de

contribuiccedilatildeo criativa o autor salienta a necessidade do pagamento obrigatoacuterio por parte de

todo indiviacuteduo que possua uma assinatura de serviccedilo de Internet Aigrain afirma que pode

haver exceccedilotildees relacionadas a criteacuterios sociais mas que estas devem ser compensadas pelo

orccedilamento puacuteblico ou repartidas entre os demais pagantes Ele sugere que o montante a

ser aplicado na Franccedila gire em torno dos 5 ou 7 eurosmecircs e que abarque produccedilotildees de

muacutesica audiovisual e novas miacutedias digitais (ibidem 85) Jaacute Volker Grassmuck sugere que

o valor deveria variar conforme a velocidade da conexatildeo agrave Internet Para este autor o

acesso discado (que inviabiliza outros usos que exigem capacidade de banda) por

exemplo deveria ser isento (Grassmuck 2010 08) Tanto para Aigrain como para

Grassmuck a aplicaccedilatildeo de tal taxa seria tatildeo legiacutetima e se justificaria tanto quanto as taxas

cobradas por sistemas semelhantes como os que sustentam serviccedilos de TV e radiodifusatildeo

puacuteblicos em vaacuterios paiacuteses

Philippe Aigrain afirma que eacute preciso medir a quantidade de downloads das obras

dos artistas de forma natildeo intrusiva ndash um desafio a ser enfrentado pelos proprietaacuterios de

direitos visto que

As induacutestrias de ediccedilatildeo centralizada integraram-se tanto agrave ideia de que os consumidores

de seus produtos satildeo inimigos a controlar e a vigiar que natildeo podem nem mesmo

imaginar que eles poderiam ser os melhores aliados na reparticcedilatildeo justa de uma

remuneraccedilatildeo associada ao uso das obras (AIGRAIN 2008 02)

A apuraccedilatildeo da quantidade de downloads efetuados eacute extremamente precisa nos

meios digitais Ao contraacuterio do universo analoacutegico onde as estatiacutesticas de execuccedilatildeo e

reproduccedilatildeo de muacutesicas filmes etc eram nebulosas geralmente baseadas em dados

ldquoarredondadosrdquo (e que sempre favoreciam os artistas ldquocabeccedilas-de-listardquo) o atual estaacutegio

da tecnologia permite informar com exatidatildeo quantas vezes um dado foi acessado A

120

precisatildeo das mediccedilotildees empiacutericas geram abrangecircncia justiccedila e diversidade pois garantem

o pagamento mesmo para artistas que estejam muito afastados do topo da lista de sucessos

Uma vez que os programas de P2P sejam legalizados o processo de instauraccedilatildeo de

sistemas como a licenccedila global poderaacute contar com a ajuda dos fornecedores de acesso agrave

Internet e das proacuteprias aplicaccedilotildees utilizadas para realizar as descargas (como BitTorrent

etc) A partir do registro de metadados de cada trabalho descarregado pelo utilizador

podem ser produzidos relatoacuterios mensais anocircnimos para um site administrativo que calcule

o nuacutemero total de downloads em um determinado lugar Mecanismos semelhantes jaacute

existem e estatildeo em funcionamento eacute o caso do Audioscrobbler dispositivo que produz

relatoacuterios voluntaacuterios sobre as muacutesicas ouvidas na plataforma Lastfm

Tanto a licenccedila global como o mecenato global e como a contribuiccedilatildeo criativa pode

facilitar o processo de detecccedilatildeo recolhimento e repasse de direitos quase em uma ponte

direta entre artistas e utilizadores da Rede O papel das sociedades gestoras de direitos

seria transformado e a digitalizaccedilatildeo dos processos representaria uma reduccedilatildeo draacutestica dos

custos ndash o que se converteria em benefiacutecio para os artistas pois qualquer economia

significaria maior repasse de direitos

Em um estudo recente Volker Grassmuck traccedilou um quadro comparativo entre os

modelos de gestatildeo de direitos alematildeo e brasileiro Nele descobrimos que na Alemanha as

treze organizaccedilotildees de gestatildeo coletiva existentes pagam no miacutenimo 50 e no maacuteximo

100 de suas receitas para os autores sendo que o restante vai para os exploradores

(editoras ou gravadoras) No caso do Escritoacuterio Central de Arrecadaccedilatildeo e Distribuiccedilatildeo

(ECAD) entidade que gere os direitos de autor no Brasil a situaccedilatildeo eacute mais confusa

porque seus membros natildeo satildeo diretamente autores muacutesicos e exploradores mas dez

associaccedilotildees desses grupos Essa estrutura de dois niacuteveis cria um ofuscamento adicional em

relaccedilatildeo ao fluxo de dinheiro e gera gastos administrativos totais em valores proacuteximos a

30 que aparentam estar entre os maiores do mundo (Grassmuck 2010 11-12) No

universo on-line a administraccedilatildeo digital de direitos seraacute automatizada ao niacutevel maacuteximo

garantindo que a maior quantia possiacutevel chegue agravequeles que realmente criam os bens

culturais evitando assim que os lucros sejam ldquoengolidosrdquo pelo funcionamento do

aparelho destinado a coletaacute-los

121

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

122

123

No momento do remate deste estudo o Parlamento Europeu rejeitou

definitivamente o ACTA em seccedilatildeo plenaacuteria Foram 478 votos contra o acordo 39 a favor e

165 abstenccedilotildees Com o voto contraacuterio do Parlamento ao menos 22 dos 27 paiacuteses membros

da Uniatildeo Europeia natildeo podem ratificar o tratado em sua legislaccedilatildeo local Tal decisatildeo

mostra o poder da mobilizaccedilatildeo popular aleacutem de manifestaccedilotildees nas ruas muitos cidadatildeos

europeus protestaram atraveacutes das redes sociais e demais instrumentos de comunicaccedilatildeo

conectados em rede Foram muitos os que tambeacutem contataram os membros do Parlamento

por telefone ou e-mail e a intensa pressatildeo acabou por resultar

O conceito de sociedade da informaccedilatildeo natildeo eacute neutro Informaccedilatildeo natildeo eacute o mesmo

que comunicaccedilatildeo A informaccedilatildeo eacute uma fonte de poder e o domiacutenio dos seus meios de

produccedilatildeo controlo e disseminaccedilatildeo pode ser um fator de aumento da desigualdade de

distribuiccedilatildeo de poderes em uma sociedade jaacute marcada por disparidades A democracia em

sua forma mais baacutesica requer que o poder seja distribuiacutedo ndash sendo a informaccedilatildeo uma fonte

de poder uma sociedade mais igualitaacuteria passa pelo livre acesso das pessoas a ela

No mundo em que vivemos o poder estaacute concentrado em diversas formas e

manifestaccedilotildees tais como o ideoloacutegico econocircmico tecnoloacutegico cientiacutefico ou

informacional Apoiar os direitos humanos eacute posicionar-se contra os que ameaccedilam ou

desrespeitam esses direitos Incluir o direito de acesso agrave informaccedilatildeo e agrave comunicaccedilatildeo

nessa luta eacute assumir a centralidade do ser humano como agente nos processos vitais para a

manutenccedilatildeo da vida em sociedade O acesso agrave informaccedilatildeo eacute condiccedilatildeo indispensaacutevel para a

formaccedilatildeo do indiviacuteduo enquanto ser criacutetico que questiona e interveacutem e que constroacutei os

meios que lhe permitem ser livre

Grandes corporaccedilotildees tecircm nas matildeos a infraestrutura global da Internet A quase

totalidade da Rede depende de operadores multinacionais estando a maioria deles sediada

nos EUA Muitos governos controlam e vigiam o acesso de seus cidadatildeos agrave Rede Quando

eacute de seu interesse conseguem comprometer o funcionamento das conexotildees via Internet

com o exterior como fez o governo egiacutepcio durante o movimento que ficou conhecido por

Primavera Aacuterabe no iniacutecio de 2011 que levou agrave queda do ditador Hosni Mubarak naquele

paiacutes (Sapo Notiacutecias 2011)

Numa decisatildeo histoacuterica o Conselho dos Direitos Humanos da ONU composto por

47 paiacuteses reconheceu pela primeira vez o direito agrave liberdade de expressatildeo na Internet e

tambeacutem a garantia de acesso agrave Rede O reconhecimento se deu dois dias apoacutes a decisatildeo do

Parlamento Europeu de eliminar o ACTA em Julho de 2012 Apesar da resistecircncia de

124

paiacuteses como a China e Cuba o texto do acordo foi finalizado em concordacircncia de que este

direito deveraacute ser protegido por todos os paiacuteses Esta eacute a primeira resoluccedilatildeo da ONU que

afirma que os direitos humanos devem ser protegidos no acircmbito digital e promovidos na

mesma medida e com o mesmo compromisso que os direitos humanos no mundo fiacutesico

Tanto a China quanto Cuba poreacutem fizeram ressalvas em relaccedilatildeo ao acordo o

embaixador chinecircs Xia Jingge argumentou por exemplo que ldquoos jovens precisam de ser

protegidosrdquo de sites maleacuteficos como os dedicados ao jogo agrave pornografia agrave violecircncia agrave

fraude e agrave pirataria ldquoAcreditamos que o livre fluxo de informaccedilatildeo na Internet e o fluxo

seguro de informaccedilatildeo na Internet satildeo interdependentesrdquo (Puacuteblico 06072012) Jaacute o

embaixador cubano Juan Antonio Quintanilla numa referecircncia impliacutecita aos EUA fez a

ressalva de que o texto natildeo aborda a questatildeo da ldquogovernaccedilatildeo da Internetrdquo quando ldquotodos

sabemos que esta ferramenta eacute controlada por um uacutenico paiacutes a niacutevel mundialrdquo (Puacuteblico

id)

A liberdade na Internet e a forccedila do compartilhamento de informaccedilotildees tambeacutem

foram os temas centrais do Foacuterum de Empreendedorismo Social na Nova Economia

evento realizado em Junho de 2012 paralelo agrave Rio+20 no Rio de Janeiro Em um dos

paineacuteis Silvio Meira presidente do Conselho Administrativo do Porto Digital e cientista-

chefe do Centro de Estudos e Sistemas Avanccedilados do Recife (Cesar) chamou a atenccedilatildeo

para a necessidade de ldquoprogramarmos para natildeo sermos programadosrdquo Para ele eacute preciso

tomarmos o controlo de nossas vidas no ciberespaccedilo ldquoTer propriedade pessoal dos nossos

dados seraacute absolutamente essencial Estamos sendo vendidos como mercadoria na

Internetrdquo (G1 17062012)

A regulaccedilatildeo eacute fundamental para frear as praacuteticas de uso indiscriminado de dados

dos usuaacuterios na Internet Eacute tambeacutem preciso garantir o bom funcionamento teacutecnico do

sistema com velocidade de banda a preccedilos justos boa qualidade de prestaccedilatildeo de serviccedilos

e proibiccedilatildeo de praacuteticas que prejudicam a neutralidade na Rede como o traffic shaping

mas natildeo soacute A regulaccedilatildeo natildeo deve tratar apenas do acesso agrave tecnologia mas tambeacutem da

garantia do pluralismo de informaccedilotildees em circulaccedilatildeo e de direitos e deveres na Rede Ao

mesmo tempo a proteccedilatildeo da privacidade eacute um ponto-chave que se coloca como

fundamental em qualquer tipo de regulaccedilatildeo que se aplique A salvaguarda dos dados

pessoais dos usuaacuterios mostra-se como a dimensatildeo da regulaccedilatildeo que atravessa todos os

espaccedilos de interaccedilatildeo da Internet

125

O combate ao uso de softwares como os P2Prsquos ilustra o desejo das induacutestrias de

derrubar certas tecnologias mais eficientes mas que ameaccedilam seu poderio A tecnologia

natildeo pode nem deve ser usada contra seus proacuteprios avanccedilos Antes esses avanccedilos devem

ser adaptados agraves novas necessidades de mercado que as plataformas digitais criaram

Softwares P2P podem perfeitamente ser utilizados para consumo de muacutesicas filmes etc

de maneira que respeite os direitos de autor Basta que tais mecanismos sejam implantados

dentro de um novo sistema de vendas mais justo e equilibrado que combine larga oferta

legal e preccedilos que estejam ao alcance das pessoas

O remix mesmo que feito com autorizaccedilatildeo e devida identificaccedilatildeo das fontes

utilizadas tambeacutem eacute uma praacutetica condenada pela induacutestria e pelas sociedades de gestatildeo

coletivas de direitos Poreacutem haacute que reconhecer como afirma Ronaldo Lemos que a

premissa lavoisiana de que ldquonada se cria tudo se transformardquo eacute a essecircncia da nossa

natureza cultural Poder citar e incorporar outras criaccedilotildees em uma nova eacute requisito para a

criatividade e para que o conhecimento e a cultura avancem (Lemos 2012)

Infelizmente o mundo da criaccedilatildeo eacute refeacutem de um impeacuterio legislativo de

autorizaccedilotildees mesmo quando o autor libera o uso de suas obras A burocracia para se

conseguir permissatildeo para o uso de uma obra intelectual ainda eacute uma via crucis Esta

situaccedilatildeo eacute antinatural e sistemas legislativos que funcionam assim natildeo fomentam a

criatividade tem exatamente o efeito inverso Eacute preciso desburocratizar os sistemas de

gestatildeo de patentes e de propriedade intelectual formulando regimes de exceccedilatildeo para

paiacuteses subdesenvolvidos para que estes tambeacutem tenham condiccedilotildees de avanccedilar em mateacuteria

de inovaccedilatildeo

Agrave eacutepoca da abertura das discussotildees para a reforma da Lei do Direito Autoral

(LDA) no Brasil acadecircmicos artistas escritores e membros da sociedade civil de diversos

ramos de atuaccedilatildeo profissional fizeram circular na Internet a ldquoCarta de Satildeo Paulo pelo

Acesso a Bens Culturaisrdquo um abaixo-assinado de apoio agrave reforma legislativa No texto

condena-se a vigilacircncia e o controlo das atividades dos usuaacuterios na Internet ndash o que

representa uma agressatildeo agrave privacidade e ao direito de acesso agrave informaccedilatildeo e agrave

comunicaccedilatildeo atraveacutes da Rede Antes aponta-se que eacute preciso reformar a legislaccedilatildeo autoral

em vigor de maneira a adaptaacute-la agraves accedilotildees de democratizaccedilatildeo do saber possibilitadas pela

Internet

126

[] tem-se defendido que o controlo da troca de arquivos na Internet seja feito por

meio do monitoramento do cidadatildeo no seu acesso agrave Rede Isso somente poderia ocorrer

atraveacutes da violaccedilatildeo do direito agrave privacidade e com severas ameaccedilas agrave liberdade de

expressatildeo e de comunicaccedilatildeo Entendemos que esse natildeo eacute o melhor caminho e que a reforma da lei deve ser realista face agraves novas tecnologias e praacuteticas sociais (CARTA

DE SAtildeO PAULO PELO ACESSO A BENS CULTURAIS 2010)

O Direito precisa acompanhar a evoluccedilatildeo da tecnologia Em um contexto em que

boa parte da populaccedilatildeo age de forma contraacuteria ao que diz a lei eacute necessaacuterio discutir o

descompasso entre o Direito e a sociedade para realizar as transformaccedilotildees necessaacuterias nos

diplomas juriacutedicos As puniccedilotildees severas e o endurecimento das leis natildeo vatildeo acabar com a

praacutetica da partilha de bens culturais em rede Haacute uma relaccedilatildeo direta entre o aumento da

oferta de conteuacutedo legal a preccedilos acessiacuteveis e a diminuiccedilatildeo da pirataria Portanto eacute preciso

rediscutir os modelos de negoacutecio solidificados ndash uma atitude que contraria os interesses

das induacutestrias mas eacute necessaacuteria para sua proacutepria sobrevivecircncia

A luta contra quaisquer usos comerciais da obra sem autorizaccedilatildeo de seu titular de

direitos eacute perfeitamente legiacutetima O que precisa ser feito eacute reequilibrar a posiccedilatildeo do autor

face aos intermediaacuterios culturais de forma a potencializar as alternativas de produzir

distribuir e comercializar suas obras diretamente atraveacutes das novas tecnologias Este

equiliacutebrio conferiria maior autonomia e independecircncia econocircmica aos autores permitindo

alargar as fronteiras ainda muito limitadas do mercado de bens culturais Eacute necessaacuterio criar

e aplicar sistemas que devolvam aos autores o poder sobre suas proacuteprias obras para que

estas sejam licenciadas reproduzidas e comercializadas como eles desejarem O futuro dos

direitos de autor estaacute na promoccedilatildeo de ligaccedilotildees mais diretas entre autor e puacuteblico e na

transformaccedilatildeo do papel dos intermediaacuterios na economia criativa

127

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ldquoBitTorrent ajuda vendas de muacutesica diz estudordquo Link 17 de Maio de 2012

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ldquoBreacutesil um cadre de loi exemplairerdquo Internet sans frontiegraveres 21 de Abril de 2010

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ldquoCirculaccedilatildeo de jornais brasileiros cai quase 5 no primeiro semestre aponta pesquisardquo

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ldquoCobranccedila por conteuacutedo online seraacute fundamental para NYT segundo chairman do jornalrdquo

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ldquoCoacutepia Privada PS retira projecto lei e promete apresentar outro em breverdquo IOnline 21

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promete-apresentar-outro-brevegt

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ldquoEntenda o SOPA e o PIPA projetos de lei que motivam protestos de sitesrdquo G1 18 de

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dos-eua-que-motiva-protestos-de-siteshtmlgt

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a+prazo+para+debate+sobre+marco+civil+na+internetshtmlgt

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diz-mincgt

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Vuze 2008 First Results from Vuze Network Monitoring Tool

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c3246795a5868774d546f334e7a67774c325276593342734c58526c65485242634

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URLlthttpwwwcamaragovbrproposicoeswebfichadetramitacaoidProposica

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Conselho Europeu 1991 Directiva ndeg 91250CEE do Conselho de 14 de Maio de 1991

relativa agrave protecccedilatildeo juriacutedica dos programas de computador

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lexeuropaeuLexUriServLexUriServdouri=CELEX31991L0250PTHTMLgt

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Convenccedilatildeo Universal sobre Direito de Autor 1952

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Ministeacuterio da Justiccedila do Brasil e Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas (FGV) 2009 Marco Civil da

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Monarquia Portuguesa 1826 Carta Constitucional de 29 de Abril de 1826

URLlthttpwwwfdunlptAnexosInvestigacao1557pdfgt

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Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas 2004 Cimeira Mundial sobre a Sociedade da

Informaccedilatildeo (WSIS)

URLlthttpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=enampid=1161|1160

gt

Acedido em 21 de Abril de 2012

Parlamento Europeu e Conselho 2006 Directiva nordm 9398CEE do Conselho de 29 de

Outubro de 1993 relativa agrave harmonizaccedilatildeo do prazo de protecccedilatildeo dos direitos de

autor e de certos direitos conexos

URLlthttpeur-

lexeuropaeuLexUriServLexUriServdouri=CELEX32006L0116PTHTMLgt

Acedido em 17 de Fevereiro de 2012

Presidecircncia da Repuacuteblica Federativa do Brasil 1827 Lei de 11 de Agosto de 1827 Crecirca

dous Cursos de sciencias Juridicas e Sociaes um na cidade de S Paulo e outro

na de Olinda

URLlthttpwwwplanaltogovbrccivil_03revistaRev_63Lei_1827htmgt

Acedido em 03 de Marccedilo de 2012

Presidecircncia da Repuacuteblica Federativa do Brasil 1998 Lei 9610 de 19 de Fevereiro de

1998 Altera atualiza e consolida a legislaccedilatildeo sobre direitos autorais e daacute outras

providecircncias

URLlthttpwwwculturagovbrsite20080202lei-no-9610-de-19-de-fevereiro-

de-1998gt

Acedido em 21 de Abril de 2012

Reacutepublique Franccedilaise et Ministegravere de la Culture et de la Communication 2008 Projet de

Loi Favorisant la Diffusion et la Protection de la Creacuteation sur Internet

URLlthttpwwwculturegouvfrcultureactualitesdossiersinternet-

creation08620-20Projet20de20loipdfgt

Acedido em 26 de Marccedilo de 2012

Senado Federal 2003 Projeto de Lei Substitutivo ao PL da Cacircmara nordm 89 de 2003 e

Projetos de Lei do Senado nordm 137 de 2000 e nordm 76 de 2000 todos referentes a

crimes na aacuterea de informaacutetica

URLlthttpwwwsafernetorgbrsiteinstitucionalprojetosobslegpl-azeredogt

141

Acedido em 21 de Abril de 2012

142

143

ANEXOS

144

145

ANEXO 1

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

146

M I N U T A D E A N T E P R O J E T O D E L E I P A R A D E B A T E C O L A B O R A T I V O S E Ccedil Atilde O I V R E V IS A D A

Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministeacuterio da Justiccedila

Esplanada dos Ministeacuterios Edifiacutecio Sede Sala 434 Brasiacutelia shy DF

httpculturadigitalbrmarcocivil

marcocivildainternetmjgovbr

identica twitter marcocivil

1

147

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

Brasiacutelia maio de 2010

2

148

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

APRESENTACcedilAtildeO

O debate sobre o marco civil eacute um debate aberto e colaborativo As opiniotildees dos

usuaacuterios satildeo levadas em consideraccedilatildeo natildeo soacute com o intuito de identificar as tendecircncias dos interesses da sociedade como tambeacutem em busca de refinamento das ideacuteias mecanismos e redaccedilotildees propostas O processo eacute incremental enriqueceshyse e aperfeiccediloashyse com a contribuiccedilatildeo de cada usuaacuterio refletindo a diversidade de interesses e perspectivas

Mais de 1500 comentaacuterios e contribuiccedilotildees foram recebidos ao longo das uacuteltimos

cinco meses E com o intuito de organizar ideacuteias e facilitar a necessaacuteria participaccedilatildeo nesta uacuteltima fase do processo o Marco Civil apresenta seu primeiro ldquobalanccedilordquo trazendo as principais propostas de alteraccedilatildeo do texto inicial

Ateacute o momento a necessidade de ajustes pontuais ndash seja na redaccedilatildeo seja nos conceitos ndash foi muito bem apontada pelos usuaacuterios as adequaccedilotildees pertinentes seratildeo gradualmente integradas agrave minuta em debate Temas como o tempo de guarda de registros de conexatildeo e a inclusatildeo de diretrizes relativas agrave educaccedilatildeo digital tambeacutem permearam as manifestaccedilotildees e serviratildeo para a maturaccedilatildeo do texto final

Os toacutepicos mais debatidos poreacutem dizem respeito agrave proposta de mecanismo voluntaacuterio que permite que os provedores de serviccedilos de internet sejam isentos de responsabilidade quanto a conteuacutedo publicado por terceiros No desenho apresentado a proposta inicial coloca como condiccedilatildeo para esta isenccedilatildeo a adoccedilatildeo voluntaacuteria de um mecanismo de resposta a notificaccedilotildees extrajudiciais ndash tanto daquele que se sente prejudicado quanto daquele que deseja identificandoshyse garantir a permanecircncia de seu conteuacutedo publicado

No entanto variadas manifestaccedilotildees ndash tanto no espaccedilo de debate aberto deste

site quanto em diversos espaccedilos fora dele ndash apontaram as dificuldades de implementaccedilatildeo de um mecanismo desta natureza em particular sobre os eventuais riscos a direitos constitucionalmente garantidos Tais manifestaccedilotildees sem duacutevida possuem fundamento e foram levadas em consideraccedilatildeo

Diante disso e com o intuito de dar um passo adiante no debate apresentamos novas

propostas de redaccedilatildeo para os artigos 20 a 24 que versam sobre a remoccedilatildeo de conteuacutedo gerado por terceiro

3

149

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

Minuta de anteprojeto de lei para debate colaborativo

SECcedilAtildeO IV REVISADA

Estabelece o Marco Civil da Internet no Brasil

O C O N G R E SS O N A C I O N A L decreta

C A P Iacute T U L O I D ISP O SI Ccedil Otilde E S P R E L I M I N A R E S

A r t 1ordm

Esta Lei estabelece direitos e deveres relativos ao uso da Internet no Brasil e determina

as diretrizes para atuaccedilatildeo da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios

em relaccedilatildeo agrave mateacuteria

A r t 2ordm

A disciplina do uso da Internet no Brasil tem como fundamentos o reconhecimento da

escala mundial da rede o exerciacutecio da cidadania em meios digitais os direitos humanos

a pluralidade a diversidade a abertura a livre iniciativa a livre concorrecircncia e a

colaboraccedilatildeo e observaraacute os seguintes princiacutepios

I ndash garantia da liberdade de expressatildeo comunicaccedilatildeo e manifestaccedilatildeo de pensamento

II ndash proteccedilatildeo da privacidade

III ndash proteccedilatildeo aos dados pessoais na forma da lei

IV ndash preservaccedilatildeo e garantia da neutralidade da rede

V ndash preservaccedilatildeo da estabilidade seguranccedila e funcionalidade da rede por meio de

medidas teacutecnicas compatiacuteveis com os padrotildees internacionais e pelo estiacutemulo ao uso de

boas praacuteticas e

VI ndash preservaccedilatildeo da natureza participativa da rede

Paraacutegrafo uacutenico Os princiacutepios expressos nesta Lei natildeo excluem outros previstos no

ordenamento juriacutedico paacutetrio relacionados agrave mateacuteria ou nos tratados internacionais em

que a Repuacuteblica Federativa do Brasil seja parte

A r t 3ordm

4

150

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

A disciplina do uso da Internet no Brasil tem os seguintes objetivos

I ndash garantir a todos os cidadatildeos o acesso agrave Internet

II ndash promover o acesso agrave informaccedilatildeo ao conhecimento e agrave participaccedilatildeo na vida cultural

III ndash fortalecer a livre iniciativa e a livre concorrecircncia

IV ndash promover a inovaccedilatildeo e fomentar a ampla difusatildeo de novas tecnologias e modelos

de uso e acesso e

V ndash promover a padronizaccedilatildeo a acessibilidade e a interoperabilidade a partir do uso de

padrotildees abertos

A r t 4ordm

Para os efeitos desta Lei considera-se

I ndash Internet o conjunto de meios de transmissatildeo comutaccedilatildeo e roteamento de dados

estruturados em escala mundial bem como os protocolos necessaacuterios agrave comunicaccedilatildeo

entre terminais incluiacutedos ainda os programas de computador especiacuteficos para esse fim

II ndash terminal computador ou dispositivo anaacutelogo que se conecte agrave Internet

III ndash administrador de sistema autocircnomo pessoa juriacutedica devidamente cadastrada junto

ao Registro de Endereccedilamento da Internet para Ameacuterica Latina e Caribe (LACNIC)

responsaacutevel por blocos especiacuteficos de nuacutemero IP (Internet protocol) e por um conjunto

de roteadores redes e linhas de comunicaccedilatildeo pela Internet que formem uma

infraestrutura delimitada por protocolos e meacutetricas comuns

IV ndash conexatildeo agrave Internet autenticaccedilatildeo de um terminal para envio e recebimento de

pacotes de dados pela Internet mediante a atribuiccedilatildeo de um nuacutemero IP

V ndash registro de conexatildeo o conjunto de informaccedilotildees referentes agrave data e hora de iniacutecio e

teacutermino de uma conexatildeo agrave Internet sua duraccedilatildeo e o nuacutemero IP utilizado pelo terminal

para o recebimento de pacotes de dados

VI ndash serviccedilos de Internet conjunto de serviccedilos diversos que podem ser acessados por

meio de um terminal conectado agrave Internet como por exemplo navegaccedilatildeo comunicaccedilatildeo

5

151

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

instantacircnea envio e recebimento de correspondecircncia eletrocircnica publicaccedilatildeo de obras

textuais ou audiovisuais em formato digital entre outros

VII ndash registros de acesso a serviccedilos de Internet o conjunto de informaccedilotildees referentes agrave

data e hora de uso de um determinado serviccedilo de Internet a partir de um determinado

nuacutemero IP

A r t 5ordm

Na interpretaccedilatildeo desta Lei levar-se-atildeo em conta aleacutem dos fundamentos princiacutepios e

objetivos previstos a natureza da Internet seus usos e costumes particulares e sua

importacircncia para a promoccedilatildeo do desenvolvimento humano econocircmico social e

cultural as exigecircncias do bem comum e os direitos e deveres individuais e

transindividuais

C A P Iacute T U L O I I

D O S D I R E I T O S E G A R A N T I A S D O S USU Aacute R I O S A r t 6ordm O acesso agrave Internet eacute direito do cidadatildeo fundamental ao exerciacutecio da cidadania agraves

liberdades de manifestaccedilatildeo do pensamento e de expressatildeo e agrave garantia do acesso agrave

informaccedilatildeo

A r t 7ordm

O usuaacuterio de Internet tem direito

I ndash agrave inviolabilidade e ao sigilo de suas comunicaccedilotildees salvo por ordem judicial nas

hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigaccedilatildeo criminal ou

instruccedilatildeo processual penal

II ndash agrave natildeo suspensatildeo ou degradaccedilatildeo da qualidade contratada da conexatildeo agrave Internet nos

termos do art 12 salvo por deacutebito diretamente decorrente de sua utilizaccedilatildeo

III ndash a informaccedilotildees claras e completas constantes dos contratos de prestaccedilatildeo de serviccedilos

estabelecendo o regime de proteccedilatildeo aos seus dados pessoais registros de conexatildeo e

registros de acesso a serviccedilos de Internet bem como sobre praacuteticas de gerenciamento da

rede que possam afetar a qualidade do serviccedilo oferecido e

6

152

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

IV ndash agrave natildeo divulgaccedilatildeo ou uso de seus registros de conexatildeo e registros de acesso a

serviccedilos de Internet salvo mediante seu consentimento expresso ou em decorrecircncia de

determinaccedilatildeo judicial

A r t 8ordm

A garantia do direito agrave privacidade e agrave liberdade de expressatildeo nas comunicaccedilotildees eacute

condiccedilatildeo para o pleno exerciacutecio do direito de acesso agrave Internet

Paraacutegrafo uacutenico O exerciacutecio do direito agrave privacidade e agrave liberdade de expressatildeo autoriza

aos usuaacuterios da Internet a livre opccedilatildeo por medidas de seguranccedila direcionadas a

salvaguardar a proteccedilatildeo de dados pessoais e o sigilo das comunicaccedilotildees

C A P Iacute T U L O I I I

A P R O V IS Atilde O D E C O N E X Atilde O E D E S E R V I Ccedil O S D E I N T E R N E T Seccedilatildeo I

D isposiccedilotildees G e r ais

A r t 9ordm

A provisatildeo de conexatildeo agrave Internet impotildee a obrigaccedilatildeo de guardar apenas os registros de

conexatildeo nos termos da Subseccedilatildeo I da Seccedilatildeo III deste Capiacutetulo ficando vedada a guarda

de registros de acesso a serviccedilos de Internet pelo provedor

Paraacutegrafo uacutenico O provedor de conexatildeo a Internet fica impedido de monitorar filtrar

analisar ou fiscalizar o conteuacutedo dos pacotes de dados salvo para administraccedilatildeo teacutecnica

de traacutefego nos termos do art 12

A r t 10

A provisatildeo de serviccedilos de Internet onerosa ou gratuita natildeo impotildee ao provedor a

obrigaccedilatildeo de monitorar filtrar analisar ou fiscalizar o conteuacutedo dos pacotes de dados

tampouco de guardar registros de acesso a serviccedilos de Internet salvo em qualquer dos

casos por ordem judicial especiacutefica observado o disposto no art 18

Paraacutegrafo uacutenico Para efeitos deste dispositivo os usuaacuterios que detenham poderes de

moderaccedilatildeo sobre o conteuacutedo de terceiros se equiparam aos provedores de serviccedilos de

Internet

A r t 11

7

153

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

A responsabilizaccedilatildeo do provedor de serviccedilos de Internet por danos decorrentes de

conteuacutedo gerado por terceiros fica condicionada ao descumprimento dos procedimentos

previstos na Seccedilatildeo IV deste Capiacutetulo

Seccedilatildeo I I

Do t r aacutefego de dados

A r t 12

O responsaacutevel pela transmissatildeo comutaccedilatildeo ou roteamento tem o dever de tratar de

forma isonocircmica quaisquer pacotes de dados conteuacutedo serviccedilo terminal ou aplicativo

sendo vedado estabelecer qualquer discriminaccedilatildeo ou degradaccedilatildeo do traacutefego que natildeo

decorra de requisitos teacutecnicos destinados a preservar a qualidade contratual do serviccedilo

Seccedilatildeo I I I

Dos r egist ros de dados

Subseccedilatildeo I

D a gua r da de r egist ros de conexatildeo

A r t 13

A guarda e a disponibilizaccedilatildeo dos registros de conexatildeo a que esta lei faz referecircncia

devem atender agrave preservaccedilatildeo da intimidade vida privada honra e imagem das partes

direta ou indiretamente envolvidas

A r t 14

A provisatildeo de conexatildeo agrave Internet impotildee ao administrador do sistema autocircnomo

respectivo o dever de manter os registros de conexatildeo sob sigilo em ambiente

controlado e de seguranccedila pelo prazo maacuteximo de 6 (seis) meses nos termos do

regulamento

Paraacutegrafo uacutenico O dever de manter os registros de conexatildeo natildeo poderaacute ser transferido

A r t 15

8

154

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

Na guarda de registros de conexatildeo

I ndash os registros de conexatildeo somente poderatildeo ser fornecidos a terceiros mediante ordem

judicial ou por autorizaccedilatildeo preacutevia e expressa do respectivo usuaacuterio

II ndash os dados cadastrais somente poderatildeo ser disponibilizados de maneira vinculada aos

registros de conexatildeo mediante ordem judicial e

III ndash as medidas e procedimentos de seguranccedila e sigilo dos registros de conexatildeo e dos

dados cadastrais devem ser informados de forma clara aos usuaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Os procedimentos de seguranccedila necessaacuterios agrave preservaccedilatildeo do sigilo e

da integridade dos registros de conexatildeo e dos dados cadastrais referidos neste artigo

deveratildeo atender a padrotildees adequados a serem definidos por meio de regulamento

Subseccedilatildeo I I

D a gua r da de r egist ros de acesso a se r viccedilos de I nte r net

A r t 16

A guarda de registros de acesso a serviccedilos de Internet dependeraacute de autorizaccedilatildeo

expressa do usuaacuterio e deveraacute obedecer ao que segue sem prejuiacutezo agraves demais normas e

diretrizes relativas agrave proteccedilatildeo de dados pessoais

I ndash informaccedilatildeo preacutevia ao usuaacuterio sobre a natureza finalidade periacuteodo de conservaccedilatildeo

poliacuteticas de seguranccedila e destinaccedilatildeo das informaccedilotildees guardadas facultando-lhe o acesso

retificaccedilatildeo e atualizaccedilatildeo sempre que solicitado

II ndash consentimento livre e informado do usuaacuterio previamente ao tratamento agrave

distribuiccedilatildeo a terceiros ou agrave publicaccedilatildeo das informaccedilotildees coletadas e

III ndash os dados que permitam a identificaccedilatildeo do usuaacuterio somente poderatildeo ser

disponibilizados de maneira vinculada aos registros de acesso a serviccedilos de Internet

mediante ordem judicial

A r t 17

Os danos causados aos titulares de dados pessoais devem ser reparados nos termos da

lei

Subseccedilatildeo I I I

D a p roteccedilatildeo ao sigilo das comunicaccedilotildees pela I nte r net

9

155

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

A r t 18

Os procedimentos de interceptaccedilatildeo escuta ou disponibilizaccedilatildeo de conteuacutedo das

comunicaccedilotildees pela Internet somente poderatildeo ocorrer para fins de persecuccedilatildeo penal e

seratildeo regulados pela lei que trata da interceptaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo telefocircnica e dados

telemaacuteticos

Seccedilatildeo I V

D a r emoccedilatildeo de conteuacutedo

A r t 19

O provedor de conexatildeo agrave Internet natildeo seraacute responsabilizado por danos decorrentes de

conteuacutedo gerado por terceiros

A r t 20

O provedor de serviccedilo de Internet somente poderaacute ser responsabilizado por danos

decorrentes de conteuacutedo gerado por terceiros se for notificado pelo ofendido e natildeo

tomar as providecircncias para no acircmbito do seu serviccedilo e dentro de prazo razoaacutevel tornar

indisponiacutevel o conteuacutedo apontado como infringente

sect 1ordm Os provedores de serviccedilos de Internet devem oferecer de forma ostensiva ao

menos um canal eletrocircnico dedicado ao recebimento de notificaccedilotildees e

contranotificaccedilotildees

sect 2ordm Eacute facultado ao provedor de serviccedilos de Internet criar mecanismo automatizado

para atender aos procedimentos dispostos nesta Seccedilatildeo

P R O P O S T A D E N O V A R E D A Ccedil Atilde O

O provedor de serviccedilo de internet somente poderaacute ser responsabilizado por danos

decorrentes de conteuacutedo gerado por terceiros se apoacutes intimado para cumprir ordem

judicial a respeito natildeo tomar as providecircncias para no acircmbito do seu serviccedilo e dentro do

prazo assinalado tornar indisponiacutevel o conteuacutedo apontado como infringente

A r t 21

1

156

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

A notificaccedilatildeo de que trata o art 20 deveraacute conter sob pena de invalidade

I ndash identificaccedilatildeo do notificante incluindo seu nome completo seus nuacutemeros de registro

civil e fiscal e dados atuais para contato

II ndash data e hora de envio

III ndash identificaccedilatildeo clara e especiacutefica do conteuacutedo apontado como infringente que

permita a localizaccedilatildeo inequiacutevoca do material pelo notificado

IV ndash descriccedilatildeo da relaccedilatildeo entre o notificante e o conteuacutedo apontado como infringente e

V ndash justificativa juriacutedica para a remoccedilatildeo

P R O P O S T A D E N O V A R E D A Ccedil Atilde O

A intimaccedilatildeo de que trata o art 20 deveraacute conter sob pena de invalidade

I ndash identificaccedilatildeo da parte que solicitou a remoccedilatildeo do conteuacutedo incluindo seu nome

completo seus nuacutemeros de registro civil e fiscal e dados atuais para contato

II ndash identificaccedilatildeo clara e especiacutefica do conteuacutedo apontado como infringente que permita

a localizaccedilatildeo inequiacutevoca do material

III ndash descriccedilatildeo da relaccedilatildeo existente entre a parte solicitante e o conteuacutedo apontado como

infringente

IV ndash justificativa juriacutedica para a remoccedilatildeo

A r t 22

Ao tornar indisponiacutevel o acesso ao conteuacutedo caberaacute ao provedor do serviccedilo informar o

fato ao usuaacuterio responsaacutevel pela publicaccedilatildeo comunicando-lhe o teor da notificaccedilatildeo de

remoccedilatildeo e fixando prazo razoaacutevel para a eliminaccedilatildeo definitiva do conteuacutedo

Paraacutegrafo uacutenico Caso o usuaacuterio responsaacutevel pelo conteuacutedo infringente natildeo seja

identificaacutevel ou natildeo possa ser localizado e desde que presentes os requisitos de

validade da notificaccedilatildeo cabe ao provedor de serviccedilo manter o bloqueio

P R O P O S T A D E N O V A R E D A Ccedil Atilde O

Ao tornar indisponiacutevel o acesso ao conteuacutedo caberaacute ao provedor do serviccedilo informar o

fato ao usuaacuterio responsaacutevel pela publicaccedilatildeo comunicando-lhe o teor da intimaccedilatildeo nos

1

157

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

casos em que o usuaacuterio responsaacutevel seja identificaacutevel

A r t 23

Eacute facultado ao usuaacuterio responsaacutevel pela publicaccedilatildeo observados os requisitos do art 21

contranotificar o provedor de serviccedilo requerendo a manutenccedilatildeo do conteuacutedo e

assumindo a responsabilidade exclusiva pelos eventuais danos causados a terceiros

caso em que caberaacute ao provedor de serviccedilo o dever de restabelecer o acesso ao conteuacutedo

indisponibilizado e informar ao notificante o restabelecimento

Paraacutegrafo uacutenico Qualquer outra pessoa interessada fiacutesica ou juriacutedica observados os

requisitos do art 21 poderaacute contranotificar o prestador de serviccedilo assumindo a

responsabilidade pela manutenccedilatildeo do conteuacutedo

P R O P O S T A D E N O V A R E D A Ccedil Atilde O

Os usuaacuterios que detenham poderes de moderaccedilatildeo sobre o conteuacutedo de terceiros se

equiparam aos provedores de serviccedilos de Internet para efeitos do disposto nesta Seccedilatildeo

A r t 24

Tanto o notificante quanto o contranotificante respondem nos termos da lei por

informaccedilotildees falsas errocircneas e pelo abuso ou maacute-feacute

P R O P O S T A D E SU P R E SS Atilde O

A r t 25

Os usuaacuterios que detenham poderes de moderaccedilatildeo sobre o conteuacutedo de terceiros se

equiparam aos provedores de serviccedilos de Internet para efeitos do disposto nesta Seccedilatildeo

Seccedilatildeo V

D a r equisiccedilatildeo j udicial de r egist ros

1

158

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

A r t 26

A parte interessada poderaacute para o exclusivo propoacutesito de formar conjunto probatoacuterio

em processo judicial requerer ao juiz a expediccedilatildeo de requisiccedilatildeo solicitando ao

responsaacutevel pela guarda o fornecimento de registros de conexatildeo ou de acesso a serviccedilo

de Internet

Paraacutegrafo uacutenico No requerimento de requisiccedilatildeo judicial a parte deveraacute fazer constar

I ndash a descriccedilatildeo pormenorizada de indiacutecios razoaacuteveis da ocorrecircncia do iliacutecito

II ndash a justificativa motivada da utilidade dos registros solicitados para fins de

investigaccedilatildeo do iliacutecito e

III ndash periacuteodo ao qual se referem os registros

A r t 27

A requisiccedilatildeo judicial de fornecimento de registros obedeceraacute aos ritos processuais

cabiacuteveis observado o que segue

sect 1ordm A requisiccedilatildeo de fornecimento de registros de acesso a serviccedilos de Internet fica

sujeita agrave comprovaccedilatildeo de que o responsaacutevel manteacutem a guarda com a autorizaccedilatildeo

expressa dos usuaacuterios obedecido o disposto no art 16

sect 2ordm Caso o fornecimento dos registros de acesso a serviccedilos de Internet natildeo seja

necessaacuterio para os fins da investigaccedilatildeo cabe ao juiz limitar a requisiccedilatildeo apenas ao

fornecimento dos registros de conexatildeo

sect 3ordm Cabe ao juiz tomar as providecircncias necessaacuterias agrave garantia do sigilo do conteuacutedo

das comunicaccedilotildees e agrave preservaccedilatildeo da intimidade vida privada honra e imagem do

usuaacuterio podendo inclusive determinar o segredo de justiccedila em relaccedilatildeo agraves informaccedilotildees

recebidas

C A P Iacute T U L O I V

D A A T U A Ccedil Atilde O D O P O D E R P Uacute B L I C O A r t 28 Constituem diretrizes para a atuaccedilatildeo da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos

Municiacutepios no desenvolvimento da Internet no Brasil

I ndash estabelecimento de mecanismos de governanccedila transparentes colaborativos e

democraacuteticos com a participaccedilatildeo dos vaacuterios setores da sociedade

II ndash promoccedilatildeo da racionalizaccedilatildeo e da interoperabilidade tecnoloacutegica dos serviccedilos de

1

159

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

governo eletrocircnico nos diferentes niacuteveis da federaccedilatildeo para permitir o intercacircmbio de

informaccedilotildees e a agilizaccedilatildeo de procedimentos

III ndash promoccedilatildeo da interoperabilidade entre sistemas e terminais diversos inclusive entre

os diferentes niacuteveis federativos e diversos setores da sociedade

IV ndash adoccedilatildeo preferencial de tecnologias padrotildees e formatos abertos

V ndash publicizaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de dados e informaccedilotildees puacuteblicos de forma aberta e

estruturada

VI ndash otimizaccedilatildeo da infraestrutura das redes promovendo a qualidade teacutecnica a

inovaccedilatildeo e a disseminaccedilatildeo dos serviccedilos de Internet sem prejuiacutezo agrave abertura

neutralidade e natureza participativa

VII ndash desenvolvimento de accedilotildees e programas de capacitaccedilatildeo para uso da internet

VIII ndash promoccedilatildeo da cultura e da cidadania inclusive pela prestaccedilatildeo mais dinacircmica e

eficiente de serviccedilos puacuteblicos

IX ndash uso eficiente de recursos puacuteblicos e dos serviccedilos finaliacutesticos disponibilizados ao

cidadatildeo e

X ndash prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos de atendimento ao cidadatildeo de forma integrada

simplificada e por muacuteltiplos canais de acesso

A r t 29

Os siacutetios e portais de entes do Poder Puacuteblico devem buscar

I ndash compatibilidade dos serviccedilos de governo eletrocircnico com diversos terminais sistemas

operacionais e aplicativos para seu acesso

II ndash acessibilidade a todos os interessados independentemente de suas capacidades

fiacutesico-motoras perceptivas culturais e sociais resguardados os aspectos de sigilo e

restriccedilotildees administrativas e legais

III ndash compatibilidade tanto agrave leitura humana como ao tratamento por maacutequinas

IV ndash facilidade de uso dos serviccedilos de governo eletrocircnico e

V ndash fortalecimento da democracia participativa

A r t 30

O cumprimento do dever constitucional do Estado na prestaccedilatildeo da educaccedilatildeo em todos

os niacuteveis de ensino abarca a capacitaccedilatildeo para o uso da Internet como ferramenta de

exerciacutecio de cidadania promoccedilatildeo de cultura e desenvolvimento tecnoloacutegico

sect 1ordm Sem prejuiacutezo das atribuiccedilotildees do poder puacuteblico o Estado fomentaraacute iniciativas

privadas que promovam a Internet como ferramenta educacional

sect 2ordm A capacitaccedilatildeo para o uso da Internet deve ocorrer integrada a outras praacuteticas

educacionais

1

160

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

A r t 31 As iniciativas puacuteblicas de fomento agrave cultura digital e de promoccedilatildeo da Internet como

ferramenta social devem

I ndash buscar minimizar as desigualdades sobretudo as regionais no acesso agrave informaccedilatildeo

e

II ndash promover a inclusatildeo digital de toda a populaccedilatildeo especialmente a de baixa renda

A r t 32

O Estado deve buscar formular e fomentar estudos perioacutedicos regulares e

periodicamente fixar metas estrateacutegias planos e cronogramas referentes ao uso e

desenvolvimento da Internet no paiacutes

C A P Iacute T U L O V

D ISP O SI Ccedil Otilde E S F I N A IS A r t 33 A defesa dos interesses e direitos dos usuaacuterios da Internet poderaacute ser exercida em juiacutezo

individualmente ou a tiacutetulo coletivo na forma do disposto nos artigos 81 e 82 da Lei

8078 de 11 de setembro de 1990

A r t 34

Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

1

161

ANEXO 2

162

PROJECTO DE LEI Nordm 118XII

ldquoAprova o regime juriacutedico da Coacutepia Privada e altera o artigo 47ordm do Coacutedigo do

Direito de Autor e dos Direitos Conexos ndash Seacutetima alteraccedilatildeo ao Decreto-Lei nordm

6385 de 14 de Marccedilordquo

Exposiccedilatildeo de motivos

O presente projecto de lei visa reforccedilar o legiacutetimo interesse dos diversos titulares de

direitos abrangidos pelo regime normalmente designado por ldquocoacutepia privadardquo mediante a

criaccedilatildeo de condiccedilotildees que garantam a percepccedilatildeo de uma compensaccedilatildeo equitativa pela

reproduccedilatildeo de obras intelectuais prestaccedilotildees e produtos legalmente protegidos procedendo agrave

regulamentaccedilatildeo do artigo 82ordm do Coacutedigo do Direito de Autor e Direitos Conexos

(CDADC)

O regime da coacutepia privada actualmente em vigor consta da Lei nordm 6298 de 1 de

Setembro alterada pela Lei nordm 502004 de 24 de Agosto e decorridos 6 anos a

experiecircncia mostra que eacute tempo de o rever com alguma profundidade

Como eacute sabido tradicionalmente o uso privado de obras intelectuais por diversas razotildees

tem estado fora do exclusivo reconhecido aos titulares de direitos em sede de propriedade

intelectual

O surgimento na segunda metade do seacuteculo XX de equipamentos e aparelhos capazes de

assegurar a reproduccedilatildeo em massa de obras de uma forma incontrolada pocircs em causa o

direito de reproduccedilatildeo de obras protegidas reconhecido aos autores no acircmbito do

monopoacutelio que lhes eacute legalmente outorgado no domiacutenio das suas faculdades de direito

163

patrimonial e obrigou os legisladores a intervir E ainda que possa ser objecto de criacutetica

cientiacutefica o recurso agrave menccedilatildeo de coacutepia privada para delimitar a presente iniciativa

legislativa optou-se por essa terminologia por ser de utilizaccedilatildeo comum e corresponder agrave

formulaccedilatildeo adoptada na Directiva 200129CE de 22 de Maio de 2001 relativa agrave

harmonizaccedilatildeo de certos aspectos do direito de autor e dos direitos conexos na sociedade de

informaccedilatildeo

A remuneraccedilatildeo compensatoacuteria por coacutepia privada constitui um instrumento que visa

conciliar de um lado o interesse patrimonial do autor detentor do exclusivo das

faculdades de exploraccedilatildeo econoacutemica da obra em qualquer suporte e em particular o

direito de reproduccedilatildeo por outro lado adequa agrave realidade tecnoloacutegica actual que coloca ao

alcance da larga maioria dos cidadatildeos sem possibilidade de um controlo individualizado a

obtenccedilatildeo de coacutepias de obras protegidas para seu uso privado

O modo concreto de permitir a efectivaccedilatildeo de uma compensaccedilatildeo equitativa a favor dos

titulares de direitos eacute o de fazer incidir taxas sobre o preccedilo de venda ao puacuteblico dos

equipamentos e suportes que permitem a reproduccedilatildeo de obras protegidas

O regime instituiacutedo segue o modelo e as melhores praacuteticas vigentes nos Estados da Uniatildeo

Europeia (UE) em especial da Espanha Franccedila Beacutelgica Alemanha Holanda Itaacutelia e

Finlacircndia devidamente adaptado agrave situaccedilatildeo sociocultural e econoacutemica portuguesa

Introduzem-se igualmente inovaccedilotildees julgadas pertinentes e que dotam o nosso paiacutes de uma

legislaccedilatildeo actual e efectivamente protectora dos legiacutetimos direitos e interesses dos titulares

de direitos

Por outro lado a coacutepia privada natildeo eacute objecto de normaccedilatildeo nos principais tratados e

convenccedilotildees multilaterais pelo que cabe um amplo espaccedilo de liberdade aos Estados na

criaccedilatildeo do respectivo regime juriacutedico na ordem interna enquadrado pelo princiacutepio da

reciprocidade nas relaccedilotildees bilaterais No caso da UE a coacutepia privada como compensaccedilatildeo

equitativa consta das aliacuteneas a) e b) do nordm 2 do artigo 5ordm Directiva 200129CE de 22 de

Maio de 2001 sobre o direito de autor na sociedade da informaccedilatildeo

164

No texto do presente projecto lei eacute utilizada a noccedilatildeo de compensaccedilatildeo equitativa em vez da

noccedilatildeo de remuneraccedilatildeo equitativa ateacute agora mais usada na legislaccedilatildeo portuguesa Para esta

mudanccedila teve-se em devida conta o disposto no recente acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila da

Uniatildeo Europeia (TJUE) (processo C-46708 Padawan SL c SGAE Terceira Secccedilatildeo de

21 de Outubro de 2010) que considerou harmonizada no espaccedilo territorial da UE aquela

noccedilatildeo

De forma a acompanhar a realidade e as incessantes inovaccedilotildees do mercado tecnoloacutegico o

presente projecto considera que o regime deve abranger natildeo soacute os aparelhos e suportes

analoacutegicos mas tambeacutem os digitais garantindo-se assim aos titulares de direitos uma

razoaacutevel e justa compensaccedilatildeo pelos danos sofridos pela praacutetica social da coacutepia privada que

natildeo eacute assegurada pelo regime actualmente em vigor

Por outro lado a garantia de uma razoaacutevel e justa compensaccedilatildeo eacute tambeacutem obtida atraveacutes

da alteraccedilatildeo dos criteacuterios definidores da aplicaccedilatildeo da compensaccedilatildeo equitativa agora fixados

tendo em conta as linhas de orientaccedilatildeo indicadas no considerando 35 da directiva

comunitaacuteria 200129CE de 22 de Maio de 2001 relativa ao direito de autor na sociedade

da informaccedilatildeo

Por outro lado e por se considerar mais adequado no plano sistemaacutetico o texto do

projecto de lei procede a um tratamento diferenciado entre a designada reprografia e a

coacutepia privada stricto sensu agrave semelhanccedila do que consta na directiva europeia No caso da

reprografia mantecircm-se o direito reconhecido na legislaccedilatildeo portuguesa aos editores

conquanto limitado ao mundo analoacutegico conforme estipula a aliacutenea b) do nordm 1 do artigo

76ordm do CDADC O texto do projecto lei actualiza ainda a noccedilatildeo de reprografia adaptando

a normaccedilatildeo agraves novas realidades tecnoloacutegicas criadas com o ambiente digital

Para a reprografia e no seguimento da referida alteraccedilatildeo dos criteacuterios definidores da

aplicaccedilatildeo da compensaccedilatildeo equitativa altera-se a taxa de 3 sobre o preccedilo de venda dos

equipamentos que permitem a reproduccedilatildeo ateacute agora vigente adoptando-se um modelo

assente na indicaccedilatildeo do montante pecuniaacuterio concreto aplicaacutevel a cada equipamento em

funccedilatildeo das respectivas caracteriacutesticas e preccedilo Trata-se de uma modalidade que se julga

melhor adaptada ao funcionamento do mercado sendo o novo texto mais claro ao prever

uma incidecircncia universal sobre os aparelhos que realizam essa funccedilatildeo

165

Os equipamentos e suportes analoacutegicos e digitais abrangidos pelo regime satildeo identificados

em anexo agrave proposta As taxas propostas de acordo com a capacidade de reproduccedilatildeo e

armazenagem dos suportes correspondem a valores justos e razoaacuteveis na busca sempre

difiacutecil de obtenccedilatildeo de um justo equiliacutebrio entre os interesses contraditoacuterios em presenccedila

Nestes casos os devedores principais do pagamento das compensaccedilotildees equitativas satildeo os

fabricantes e importadores de equipamentos e suportes de reproduccedilatildeo de obras

intelectuais A tiacutetulo subsidiaacuterio e no sentido de moralizar o sistema evitando-se fugas

regulares ao cumprimento das obrigaccedilotildees institui-se tambeacutem como devedores os

distribuidores grossistas e retalhistas dos indicados aparelhos

Quanto ao valor da taxa a aplicar sobre o preccedilo das fotocoacutepias relativas a obras protegidas

tambeacutem este deixa de ser definido com base numa taxa de 3 passando a ser fixada em

002 euros por coacutepia O valor indicado teve em conta que o preccedilo habitual no mercado de

uma coacutepia varia entre 006 e 008 euros pelo que parece justo que cerca de 14 dessa

quantia reverta a favor de autores e editores O objectivo desta soluccedilatildeo relativamente

inovadora mesmo na Uniatildeo Europeia eacute o de alcanccedilar um modo que garanta aos autores e

editores uma efectiva percepccedilatildeo de uma compensaccedilatildeo equitativa realmente operativa o que

natildeo aconteceu ateacute hoje

Este modelo eacute ainda complementado com integraccedilatildeo dos respectivos procedimentos num

regime de celebraccedilatildeo de acordos entre os estabelecimentos que se dedicam agrave reprografia e a

entidade gestora das compensaccedilotildees que se julga mais simples e adequado para todos os

intervenientes Em ordem a facilitar a celebraccedilatildeo destes acordos prevecirc-se que seja definido

por portaria um modelo de acordo a utilizar pelos intervenientes no acircmbito das suas

negociaccedilotildees

Prevecirc-se numa outra medida inovadora de largo alcance que as compensaccedilotildees de autores e

de artistas natildeo possam ser renunciaacuteveis e objecto de alienaccedilatildeo assim indo ao encontro

tambeacutem dos que reclamam uma maior e mais efectiva protecccedilatildeo para os criadores e para a

criaccedilatildeo cultural Conquanto naturalmente se reconheccedila que as faculdades patrimoniais na

propriedade intelectual possam na generalidade ser cedidas ou transmitidas a verdade eacute que

166

existem jaacute hoje excepccedilotildees sendo que nada impede que o regime da coacutepia privada possa

contemplar essa previsatildeo

Prevecirc-se ainda que na reparticcedilatildeo das remuneraccedilotildees atribuiacutedas aos autores no domiacutenio da

reprografia os autores de obras cientiacuteficas e escolares sejam contemplados com 75 das

receitas liacutequidas obtidas o que se considera justo uma vez que a reprografia tem uma

especial incidecircncia neste tipo de obras

A presente proposta manteacutem a tradiccedilatildeo de a cobranccedila gestatildeo e distribuiccedilatildeo das

compensaccedilotildees equitativas ser assegurada mediante a gestatildeo colectiva obrigatoacuteria o que eacute

comum na UE

No sentido de garantir um regime de rigor e de maior transparecircncia no exerciacutecio da gestatildeo

colectiva contempla-se a previsatildeo de que a pessoa colectiva gestora da reprografia e da

coacutepia privada natildeo deve gastar nas despesas de funcionamento mais do que 20 do volume

global de receitas obtidas em cada exerciacutecio anual

Prevecirc-se que a reprografia e a coacutepia privada sejam geridas por uma uacutenica pessoa colectiva e

natildeo duas Haacute a percepccedilatildeo de que no mercado nacional muito dificilmente seraacute possiacutevel

garantir com viabilidade econoacutemica duas entidades ainda por cima num contexto

econoacutemico deprimido nos proacuteximos tempos Por outro lado importa considerar os

dinamismos existentes agrave escala europeia que vatildeo no sentido da concentraccedilatildeocentralizaccedilatildeo

da gestatildeo colectiva aspecto reclamado por titulares de direitos e utilizadoresconsumidores

de obras protegidas

Prevecirc-se ainda o recurso agrave mediaccedilatildeo e arbitragem em caso de emergecircncia de litiacutegios por se

considerar este meio bastante mais ceacutelere do que o tribunal sendo apropriado agrave resoluccedilatildeo

das controveacutersias que surjam neste domiacutenio de actividade

Por fim mas natildeo menos importantes e embora natildeo directamente abrangido pelo regime da

coacutepia privada aproveita-se a oportunidade para dar nova redacccedilatildeo ao artigo 47ordm do Coacutedigo

de Direitos de Autor e dos Direitos Conexos visando aplicar agraves penhoras que incidam

sobre rendimentos dos autores o regime aplicaacutevel aos rendimentos auferidos no acircmbito de

contratos de trabalho clarificando-se uma situaccedilatildeo que ateacute agora suscitava dificuldades

167

interpretativas nos tribunais geradoras nalguns casos de decisotildees lesivas de justas

expectativas dos criadores intelectuais Trata-se de uma medida justa particularmente no

actual contexto de crise econoacutemica reclamada pelos autores e inclusivamente jaacute

recomendada pelo Provedor de Justiccedila

Assim nos termos constitucionais legais e regimentais aplicaacuteveis os deputados do Partido

Socialista abaixo-assinados apresentam o presente

PROJECTO DE LEI

Artigo 1ordm

Regime juriacutedico da coacutepia privada

Eacute aprovado o regime juriacutedico da coacutepia privada que se publica em anexo agrave presente lei e dela

faz parte integrante

Artigo 2ordm

Alteraccedilatildeo ao Coacutedigo do Direito de Autor e dos Direitos Conexos

O artigo 47ordm do Coacutedigo do Direito de Autor e dos Direitos Conexos aprovado pelo

Decreto-Lei nordm 6385 de 14 de Marccedilo na redacccedilatildeo dada pelas Leis nordms 4585 de 17 de

Setembro e 11491 de 3 de Setembro pelos Decretos-Lei nordms 33297 e 33497 ambos

de 27 de Novembro e pelas Leis nordm 502004 de 24 de Agosto e nordm 162008 de 1 de

Abril passa a ter a seguinte redacccedilatildeo

1-[Anterior nuacutemero uacutenico]

laquoArtigo 47ordm

[hellip]

2ndash Em caso de penhora do direito patrimonial do criador da obra aplica-se o regime fixado

para os rendimentos provenientes do trabalho por conta de outremraquo

Artigo 3ordm

Revogaccedilatildeo

Eacute revogada a Lei nordm 6298 de 1 de Setembro

168

Artigo 4ordm

Disposiccedilatildeo transitoacuteria

1 ndash A entidade gestora das compensaccedilotildees mandatada e legitimada para proceder agrave

cobranccedila gestatildeo e distribuiccedilatildeo das compensaccedilotildees agrave data da entrada em vigor da presente

lei manteacutem-se em actividade devendo rever os respectivos estatutos no prazo de 45 dias

apoacutes a entrada em vigor da presente lei

2 ndash As licenccedilas ou acordos celebrados nos termos da Lei nordm 6298 de 1 de Setembro

mantecircm-se em vigor devendo ser adaptados ao disposto no artigo 7ordm do regime juriacutedico da

coacutepia privada anexo agrave presente lei no prazo de 90 dias apoacutes a entrada em vigor da presente

lei

3 - As entidades abrangidas pelo artigo 7ordm do regime juriacutedico da coacutepia privada anexo agrave

presente lei cujo inicio de actividade se iniciou em data anterior agrave entrada em vigor da

presente lei e que natildeo celebraram acordo ou licenccedila ao abrigo da Lei nordm 6298 de 1 de

Setembro devem celebrar os acordos no prazo de 90 dias apoacutes a entrada em vigor da

presente lei

Artigo 5ordm Entrada em vigor

A presente lei entra em vigor trinta dias apoacutes a data da sua publicaccedilatildeo

169

ANEXO

REGIME JURIacuteDICO DA COacutePIA PRIVADA

Artigo 1ordm

(Objecto)

1 - O presente regime regula o artigo 82ordm do Coacutedigo do Direito de Autor e dos Direitos

Conexos aprovado pelo Decreto-Lei nordm 6385 de 14 de Marccedilo na redacccedilatildeo dada pelas

Leis nordms 4585 de 17 de Setembro e 11491 de 3 de Setembro pelos Decretos-Lei nordms

33297 e 33497 ambos de 27 de Novembro e pelas Leis nordm 502004 de 24 de Agosto e

nordm 162008 de 1 de Abril

2 - O disposto no presente regime natildeo se aplica aos programas de computador nem agraves

bases de dados constituiacutedas por meios electroacutenicos

Artigo 2ordm

Compensaccedilatildeo equitativa

Os titulares de direitos autores editores artistas inteacuterpretes ou executantes produtores de

fonogramas e de videogramas gozam do direito agrave percepccedilatildeo de uma compensaccedilatildeo

equitativa pela reproduccedilatildeo de obras protegidas para fins de uso privado nos termos

previstos no presente regime

Artigo 3ordm

(Compensaccedilatildeo equitativa pela reprografia de obras)

1 - Os autores gozam do direito agrave percepccedilatildeo de uma compensaccedilatildeo equitativa pela

reproduccedilatildeo de obras escritas em papel ou suporte semelhante realizada por qualquer tipo

de teacutecnica designadamente por meio de microfilmagem fotocoacutepia digitalizaccedilatildeo ou outros

processos de natureza similar

2 - A compensaccedilatildeo prevista no nuacutemero anterior eacute extensiva aos editores no acircmbito

analoacutegico e repartida em partes iguais

3 - A compensaccedilatildeo equitativa corresponde a uma quantia fixa a incluir pelos fabricantes

importadores e adquirentes intracomunitaacuterios antes da aplicaccedilatildeo de IVA no preccedilo de

venda de todos os equipamentos aparelhos ou quaisquer outros instrumentos teacutecnicos

integrados ou natildeo em multi-funccedilotildees que permitam a reproduccedilatildeo por qualquer teacutecnica ou

processo de obras escritas em suporte de papel ou semelhante nos termos da tabela anexa

ao presente regime

170

4 - Os autores e editores gozam ainda em partes iguais do direito agrave percepccedilatildeo a uma

compensaccedilatildeo equitativa pela comercializaccedilatildeo de reproduccedilotildees em papel ou suporte

semelhante realizadas de modo habitual e para servir o puacuteblico

5 - A compensaccedilatildeo prevista no nuacutemero anterior corresponde a 002 euros por cada paacutegina

antes da aplicaccedilatildeo de IVA e deve ser incluiacuteda no preccedilo de venda ou da disponibilizaccedilatildeo de

reproduccedilotildees de obras protegidas

6 - Da compensaccedilatildeo percebida pelos autores ao abrigo do presente artigo 75 eacute destinada

aos autores de obras cientiacuteficas e escolares

Artigo 4ordm

Compensaccedilatildeo equitativa por outras reproduccedilotildees

1 - A reproduccedilatildeo de obras literaacuterias e artiacutesticas protegidas sonoras e audiovisuais

prestaccedilotildees artiacutesticas fonogramas e videogramas realizada para fins de uso privado

constitui os titulares de direitos autores artistas inteacuterpretes ou executantes produtores de

fonogramas e de videogramas no direito agrave percepccedilatildeo de uma compensaccedilatildeo equitativa

2 ndash A compensaccedilatildeo prevista no nuacutemero anterior eacute determinada em funccedilatildeo da capacidade

de armazenamento dos equipamentos aparelhos dispositivos e suportes que permitem a

referida reproduccedilatildeo e corresponde a uma quantia fixa que acresce ao preccedilo de venda

destes estabelecido pelos fabricantes importadores e adquirentes intracomunitaacuterios antes

da aplicaccedilatildeo de IVA nos termos da lista anexa ao presente regime

3 - O montante global da compensaccedilatildeo equitativa eacute distribuiacutedo pelas entidades

representativas dos titulares de direitos na proporccedilatildeo de 40 para os autores 30 para os

artistas inteacuterpretes ou executantes e 30 para os produtores de fonogramas e de

videogramas

4 - O disposto nos nuacutemeros anteriores natildeo se aplica aos titulares de direitos que faccedilam uso

de medidas eficazes de caraacutecter tecnoloacutegico previstas no artigo 217ordm do Coacutedigo do Direito

de Autor e dos Direitos Conexos

Artigo 5ordm

Inalienabilidade e irrenunciabilidade

A compensaccedilatildeo equitativa de autores e de artistas inteacuterpretes ou executantes eacute inalienaacutevel e

irrenunciaacutevel sendo nula qualquer claacuteusula contratual em contraacuterio

171

Artigo 6ordm

Isenccedilotildees

1 ndash Estatildeo isentos do pagamento das compensaccedilotildees previstas nos artigos 3ordm e 4ordm os

equipamentos e suportes adquiridos por pessoas colectivas puacuteblicas ou privadas nas

seguintes condiccedilotildees

a) Cujo objecto de actividade seja a comunicaccedilatildeo audiovisual ou produccedilatildeo de

fonogramas e de videogramas exclusivamente para as suas proacuteprias produccedilotildees

b) Cujo objecto de actividade seja o apoio a pessoas portadoras de diminuiccedilatildeo fiacutesica

visual ou auditiva

2 - Para os efeitos do disposto no nuacutemero anterior as pessoas colectivas devem apresentar

no acto da compra dos aparelhos e suportes uma declaraccedilatildeo emitida pela entidade gestora

das compensaccedilotildees e cobranccedila indicando e comprovando o respectivo objecto de

actividade

Artigo 7ordm

Acordos

1 ndash Para efeitos do disposto no nordm 4 do artigo 3ordm as pessoas singulares ou colectivas com

ou sem fins lucrativos que procedam agrave venda de reproduccedilotildees em papel ou suporte

semelhante de obras legalmente protegidas nos termos previstos no presente regime

devem celebrar um acordo com a entidade gestora das compensaccedilotildees legalmente

constituiacuteda segundo o modelo a aprovar por portaria do membro do Governo responsaacutevel

pela aacuterea da cultura

2 - Os acordos devem ter por base a previsatildeo do nuacutemero de fotocoacutepias de obras protegidas a

realizar no periacuteodo de tempo correspondente agrave validade do acordo os custos envolvidos os

termos e formas de pagamento das quantias devidas e a indicaccedilatildeo sempre que possiacutevel do

tipo de obras a reproduzir

3 - Os acordos devem ser celebrados no prazo de 45 dias a contar do inicio de actividade

das pessoas singulares ou colectivas responsaacuteveis pelo pagamento da compensaccedilatildeo

equitativa

4 ndash Na falta de acordo devem as partes recorrer ao mecanismo de mediaccedilatildeo e arbitragem

previsto no artigo 10ordm

172

Artigo 8ordm

Gestatildeo e publicidade

1 - A compensaccedilatildeo equitativa torna-se efectiva atraveacutes da entidade gestora das

compensaccedilotildees representativa dos titulares de gestatildeo de direitos que procede agrave cobranccedila

gestatildeo e distribuiccedilatildeo das compensaccedilotildees

2 ndash A entidade gestora das compensaccedilotildees deve publicitar trimestralmente na respectiva

paacutegina electroacutenica os montantes distribuiacutedos a cada um dos associados com a respectiva

identificaccedilatildeo e natureza da compensaccedilatildeo

3 - Os associados da entidade gestora devem publicitar semestralmente os montantes

distribuiacutedos aos beneficiaacuterios da compensaccedilatildeo equitativa

Artigo 9ordm

Responsaacuteveis pela compensaccedilatildeo equitativa

1 - Para efeitos do disposto nos artigos 3ordm e 4ordm satildeo responsaacuteveis pelo pagamento das

compensaccedilotildees incidentes sobre equipamentos aparelhos e suportes os fabricantes e

importadores portugueses destes produtos desde que estes natildeo se destinem a exportaccedilatildeo

ou reexportaccedilatildeo

2 ndash Satildeo solidariamente responsaacuteveis pelo pagamento da remuneraccedilatildeo os distribuidores

grossistas e retalhistas adquirentes sucessivos para venda ao puacuteblico dos equipamentos

aparelhos e suportes salvo se provarem que procederam ao respectivo pagamento

3 - Para os efeitos do disposto nos nuacutemeros anteriores os responsaacuteveis pelo pagamento

submetem agrave entidade gestora das compensaccedilotildees e agrave Inspecccedilatildeo-Geral das Actividades

Culturais (IGAC) uma declaraccedilatildeo de autoliquidaccedilatildeo no mecircs subsequente ao termo de cada

trimestre de cada ano civil onde constem os seguintes elementos

a) Nuacutemero de unidades vendidas no mercado nacional

b) Preccedilo de venda liacutequido de quaisquer descontos de natureza financeira ou comercial

constantes das facturas antes de aplicaccedilatildeo de IVA para o caso dos equipamentos e

aparelhos que permitem a reproduccedilatildeo de obras protegidas

c) Capacidade e caracteriacutesticas teacutecnicas dos suportes materiais e dispositivos de

armazenamento que permitem a reproduccedilatildeo de obras protegidas

d) Nuacutemero de unidades vendidas suportes materiais e dispositivos de

armazenamento em regime de isenccedilatildeo e respectiva capacidade e caracteriacutesticas teacutecnicas

bem como o respectivo preccedilo de venda

e) Nuacutemero de unidades vendidas para paiacuteses da Uniatildeo Europeia e paiacuteses terceiros

173

f) Valor da remuneraccedilatildeo liquidada e a entregar

4 ndash As entidades devedoras e as solidariamente responsaacuteveis devem manter pelo periacuteodo

de 3 anos os elementos contabiliacutesticos que comprovem a liquidaccedilatildeo cobranccedila entrega e o

pagamento da compensaccedilatildeo equitativa devida

5 - Para efeitos do controlo do pagamento da compensaccedilatildeo os responsaacuteveis devem

discriminar separadamente o respectivo valor no documento contabiliacutestico antes da

aplicaccedilatildeo do IVA sob pena de se presumir a falta de liquidaccedilatildeo e cobranccedila

6 - No caso dos responsaacuteveis principais natildeo procederem agrave liquidaccedilatildeo e pagamento da

compensaccedilatildeo equitativa incumbe essa obrigaccedilatildeo aos distribuidores grossistas e retalhistas

devendo proceder agrave discriminaccedilatildeo dos valores cobrados na factura nos termos do nuacutemero

anterior

7 - O pagamento da compensaccedilatildeo liquidada nos termos dos nuacutemeros anteriores deve ser

efectuado no prazo de 45 dias apoacutes o termo de cada trimestre do ano civil

8 - A entidade gestora das compensaccedilotildees representativa dos titulares de direitos pode

solicitar aos responsaacuteveis pelo pagamento da compensaccedilatildeo as informaccedilotildees necessaacuterias agrave

comprovaccedilatildeo do cumprimento efectivo das obrigaccedilotildees enunciadas sem prejuiacutezo dos

princiacutepios da confidencialidade e sigilo comerciais

Artigo 10ordm

Mediaccedilatildeo e Arbitragem

Os litiacutegios emergentes da aplicaccedilatildeo do disposto no presente regime devem ser submetidos

para resoluccedilatildeo agrave mediaccedilatildeo e arbitragem necessaacuteria nos termos da legislaccedilatildeo geral aplicaacutevel

Artigo 11ordm

Entidade Gestora

1 ndash A cobranccedila gestatildeo e distribuiccedilatildeo das compensaccedilotildees previstas no presente regime satildeo

realizadas por uma entidade gestora das compensaccedilotildees colectiva uacutenica criada nos termos

da lei que regula a constituiccedilatildeo das entidades de gestatildeo colectiva

2 - Para aleacutem das obrigaccedilotildees previstas na legislaccedilatildeo geral os estatutos da entidade gestora

das compensaccedilotildees prevista no nuacutemero anterior devem regular

a) Meacutetodos de cobranccedila das compensaccedilotildees fixadas no presente regime

b) Criteacuterios de reparticcedilatildeo distribuiccedilatildeo e pagamento das compensaccedilotildees obtidas aos seus

associados e a outros beneficiaacuterios que natildeo sendo associados da entidade gestora se

presume serem por aquela representados

174

c) Natildeo discriminaccedilatildeo entre titulares nacionais e estrangeiros

d) Publicidade das deliberaccedilotildees sociais

e) Direitos e deveres dos associados

f) Estrutura e organizaccedilatildeo interna contemplando dois departamentos autoacutenomos

respectivamente para a reprografia e para a coacutepia privada

3 - A entidade gestora deve prever mecanismos de integraccedilatildeo de outras entidades

representativas de interesses e direitos a proteger que assim o solicitem em obediecircncia aos

princiacutepios da igualdade representatividade liberdade pluralismo e participaccedilatildeo

4 - Os custos de funcionamento da entidade gestora das compensaccedilotildees natildeo devem exceder

20 do conjunto das receitas globais obtidas com a cobranccedila das compensaccedilotildees

equitativas

5 - O conselho fiscal da entidade gestora das compensaccedilotildees eacute assegurado por um revisor

oficial de contas (ROC)

6 - A entidade gestora das compensaccedilotildees publica anualmente o relatoacuterio e contas do

exerciacutecio no seu sitio electroacutenico

7 - A entidade gestora das compensaccedilotildees pode celebrar com entidades puacuteblicas e privadas

os acordos necessaacuterios agrave plena execuccedilatildeo do disposto no presente regime

8 - A entidade gestora das compensaccedilotildees constituiacuteda para proceder agrave cobranccedila e gestatildeo das

compensaccedilotildees equitativas deve adaptar-se agraves disposiccedilotildees legais que enquadram a actividade

das entidades de gestatildeo colectiva de direitos e que se adaptem agrave sua natureza em tudo o

que natildeo esteja regulado no presente regime

Artigo 12ordm

Fundo Cultural

1 - A entidade gestora das compensaccedilotildees deve afectar 10 do total das receitas liacutequidas

percebidas agrave realizaccedilatildeo de acccedilotildees de natureza cultural ou social de incentivo agrave criaccedilatildeo

cultural e agrave divulgaccedilatildeo e estudo da propriedade intelectual

2 - A entidade gestora das compensaccedilotildees deve afectar ainda 5 do total das receitas

liacutequidas percebidas ao Fundo de Fomento Cultural do Ministeacuterio da Cultura enquanto

receita proacutepria deste consignada ao pagamento do Subsiacutedio de Meacuterito Cultural previsto no

Decreto-Lei nordm 41582 de 7 de Outubro

175

Artigo 13ordm

Fiscalizaccedilatildeo

1 - A fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do disposto no presente regime compete agrave IGAC

2 - Para o efeito previsto no nuacutemero anterior a entidade gestora das compensaccedilotildees deve

proceder ao pagamento de uma taxa correspondente a 10 do valor dos respectivos custos

de funcionamento

Artigo 14ordm

(Contra-Ordenaccedilotildees)

1 - Constituem contra-ordenaccedilatildeo puniacutevel com coima de euro300 a euro3000 no caso de pessoas

singulares e de euro1200 a euro30000 no caso de pessoas colectivas as seguintes infracccedilotildees

a) A venda de equipamentos aparelhos e suportes em violaccedilatildeo do disposto no nordm 3 do artigo

3ordm

b) A inobservacircncia do disposto no nordm 3 do artigo 4ordm

c) O natildeo cumprimento do disposto nos nordms 4 e 5 do artigo 3ordm atraveacutes de um acordo

celebrado nos termos do artigo 7ordm quando natildeo esteja em curso um processo de mediaccedilatildeo

e arbitragem nos termos do artigo 10ordm

d) A aquisiccedilatildeo com isenccedilatildeo de equipamentos e suportes em violaccedilatildeo do disposto do nordm 2 do

artigo 6ordm

e) O incumprimento do disposto nos nordms 2 e 3 do artigo 8ordm

f) O incumprimento do disposto nos nordm 3 a 7 do artigo 9ordm

2 - Em caso de reincidecircncia os limites miacutenimo e maacuteximo da coima satildeo elevados em um

terccedilo do respectivo valor natildeo podendo o montante da coima concretamente aplicada ser

inferior ao valor da coima aplicada pela infracccedilatildeo anterior

3 ndash Os factos praticados com negligecircncia satildeo puniacuteveis sendo os limites miacutenimos e

maacuteximos das respectivas coimas reduzidos a metade

4 - A fiscalizaccedilatildeo do cumprimento das disposiccedilotildees constantes no presente regime a

instruccedilatildeo do processo incluindo a realizaccedilatildeo de exames periciais e a aplicaccedilatildeo das coimas

compete agrave IGAC e a todas as autoridades de natureza policial e administrativa com

competecircncias de fiscalizaccedilatildeo

5 - O produto da aplicaccedilatildeo das coimas previstas no presente artigo constitui receita do

Estado e da entidade aplicadora da coima nas percentagens de 60 e 40

respectivamente

176

Tabela a que se refere o nordm 3 do artigo 3ordm

Compensaccedilatildeo sobre aparelhos equipamentos e instrumentos teacutecnicos de reproduccedilatildeo de obras escritas

MFC JACTO TINTA MFC LASER

VELOCIDADE DE COPIA

ateacute 9 cpm 10-29 cpm 30-49 cpm 50-69 cpm 70 ou + cpm Ateacute 17 kg Ateacute 17 kg

euro 795

euro 1000

euro 1300

euro 12770

euro 16900

euro 19700

euro 22700

cpm - copia por minuto

Equipamentos multifunccedilotildees de secretaacuteria de impressatildeo a jacto de tinta com ecratilde de reproduccedilatildeo cujo peso natildeo supere os 17 quilos

com capacidade para realizar pelo menos duas das seguintes funccedilotildees coacutepia impressatildeo fax ou digitalizaccedilatildeo Quando supere

este peso seraacute considerado como equipamento ou aparelho com capacidade de coacutepia e classificado de acordo com a respectiva

velocidade standard de reproduccedilatildeo

Equipamentos multifunccedilotildees de secretaacuteria de impressatildeo a laser com ecratilde de reproduccedilatildeo cujo peso natildeo supere os 17 quilos com

capacidade para realizar pelo menos duas das seguintes funccedilotildees coacutepia impressatildeo fax ou digitalizaccedilatildeo Quando supere este peso seraacute

considerado como equipamento ou aparelho com capacidade de coacutepia e classificado de acordo com a respectiva velocidade

standard de reproduccedilatildeo

177

Lista a que se refere o nordm 2 do artigo 4ordm Compensaccedilatildeo sobre aparelhos dispositivos e

suportes

EQUIPAMENTOS E APARELHOS

a) Equipamentos e aparelhos analoacutegicos de reproduccedilatildeo de obras protegidas nos termos do presente regime

1 - Gravadores aacuteudio ndash euro 060 unidade

2 - Gravadores viacutedeo ndash euro 060 unidade

b) Equipamentos e aparelhos digitais de reproduccedilatildeo ao de obras protegidas nos termos do presente regime

1 - Gravadores de discos compactos especiacuteficos (CD) - euro2 unidade

2 - Gravadores de discos versaacuteteis especiacuteficos - euro3 unidade 3 - Gravadores mistos de discos compactos (CD e DVD) - euro 4 unidade

SUPORTES E DISPOSITIVOS DE ARMAZENAMENTO

a) Suportes materiais analoacutegicos como cassetes aacuteudio ou similares ndash euro006 hora de

gravaccedilatildeo

b) Suportes materiais analoacutegicos como cassetes viacutedeo ou similares ndash euro008 hora de

gravaccedilatildeo

a) Discos compactos (CD) natildeo regravaacuteveis ndash euro003 por cada GB de capacidade de

armazenamento

b) Discos compactos regravaacuteveis (CD-RW) ndash euro 005 por cada GB de capacidade de armazenamento

c) Discos versaacuteteis natildeo regravaacuteveis - euro 003 por cada GB de capacidade de

armazenamento

d) Discos versaacuteteis regravaacuteveis - euro 005 por cada GB de capacidade de

armazenamento

e) Memoacuterias USB e outros suportes como cartotildees de memoacuteria natildeo integrados noutros dispositivos - euro 006 por cada GB de capacidade de armazenamento

f) Memoacuterias USB e outros suportes como cartotildees de memoacuteria integrados noutros dispositivos - euro 006 por cada GB de capacidade de armazenamento

g) Para suportes ou dispositivos de armazenamento como discos externos

denominados bdquomultimeacutedia‟ ou outros que disponham de uma ou mais saiacutedas e entradas

178

de aacuteudio e ou viacutedeo que permitam o registo de sons e ou imagens

179

animadas sem que seja necessaacuterio utilizar um microcomputador ou quaisquer outros

equipamentos ou aparelhos para desempenhar a funccedilatildeo de reproduccedilatildeo de obras ndash euro006

por cada GB de capacidade de armazenamento

h) Discos riacutegidos ou outros tipos de memoacuterias natildeo volaacuteteis integrados em equipamentos ou aparelhos com capacidade a partir de 150 GB e que permitam o

armazenamento de dados em massa ndash 002 por cada GB de capacidade mais 0005 por cada GB que acresccedila a capacidade de 1TB

i) Outros tipos de suportes ou dispositivos de armazenamento como os discos riacutegidos externos ou SSD com ou sem saiacutedas aacuteudio e ou viacutedeo e que dependam do emprego de um microcomputador ou de outros equipamentos ou aparelhos para desempenhar a funccedilatildeo de reproduccedilatildeo de obras - 002 por cada GB de capacidade mais 0005 por cada GB que acresccedila a capacidade de 1TB

j) Dispositivos de reproduccedilatildeo de fonogramas videogramas ou outros conteuacutedos sonoros visuais ou audiovisuais em formato comprimido integrados ou

natildeo noutros aparelhos ou equipamentos como os telemoacuteveis ndash euro 050 por cada GB de capacidade de armazenamento

Os Deputados

180

ANEXO 3

181

PROJETO DE LEI

Altera e acresce dispositivos agrave Lei nordm 9610

de 19 de fevereiro de 1998 que altera

atualiza e consolida a legislaccedilatildeo sobre

direitos autorais e daacute outras providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA - Faccedilo saber que o Congresso decretou e eu

sanciono a seguinte Lei

Art 1ordm A Lei nordm 9610 de 19 de fevereiro de 1998 passa a vigorar com as seguintes

alteraccedilotildees

ldquoArt1ordm

Paraacutegrafo uacutenico A interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo desta Lei atenderatildeo agraves finalidades de

estimular a criaccedilatildeo intelectual e a diversidade cultural e garantir a liberdade de

expressatildeo e orientar-se-atildeo pelos ditames constitucionais de proteccedilatildeo aos direitos

autorais em equiliacutebrio com os demais direitos fundamentais e os direitos sociaisrdquo (NR)

ldquoArt4ordm Os negoacutecios juriacutedicos relativos aos direitos autorais devem ser

interpretados restritivamente de forma a atender agrave finalidade especiacutefica para a

qual foram celebrados

sect 1ordm Nos contratos realizados com base nesta Lei as partes contratantes satildeo

obrigadas a observar durante a sua execuccedilatildeo bem como em sua conclusatildeo os

princiacutepios da

probidade e da boa-feacute cooperando mutuamente para o cumprimento da funccedilatildeo social do

contrato

e para a satisfaccedilatildeo de sua finalidade e das expectativas comuns e de cada uma das

partes

sect 2o Nos contratos de execuccedilatildeo continuada ou diferida qualquer uma das partes

poderaacute pleitear sua revisatildeo ou resoluccedilatildeo por onerosidade excessiva quando para a

outra parte

decorrer extrema vantagem em virtude de acontecimentos extraordinaacuterios e

imprevisiacuteveis

sect 3o Eacute anulaacutevel o contrato quando o titular de direitos autorais sob premente

necessidade ou por inexperiecircncia tenha se obrigado a prestaccedilatildeo manifestamente

desproporcional

ao valor da prestaccedilatildeo oposta podendo natildeo ser decretada a anulaccedilatildeo do negoacutecio se for

oferecido

suplemento suficiente ou se a parte favorecida concordar com a reduccedilatildeo do proveito

sect 4ordm No contrato de adesatildeo adotar-se-aacute a interpretaccedilatildeo mais favoraacutevel ao autorrdquo

(NR)

ldquoArt 5o

182

III - retransmissatildeo ndash a emissatildeo simultacircnea da transmissatildeo

IV - distribuiccedilatildeo - a oferta ao puacuteblico de original ou coacutepia de obras literaacuterias artiacutesticas

ou cientiacuteficas interpretaccedilotildees ou execuccedilotildees fixadas e fonogramas em um meio tangiacutevel

mediante a venda locaccedilatildeo ou qualquer outra forma de transferecircncia de propriedade ou

posse

VIII-

i) audiovisual ndash a obra que resulta da associaccedilatildeo de imagens com ou sem som que tenha

a finalidade de criar a impressatildeo de movimento independentemente dos processos de

sua captaccedilatildeo do suporte usado inicial ou posteriormente para fixaacute-lo bem como dos

meios utilizados para sua veiculaccedilatildeo

IX ndash fonograma ndash toda fixaccedilatildeo exclusivamente de sons de uma execuccedilatildeo ou

interpretaccedilatildeo ou de outros sons ou de uma representaccedilatildeo de sons

XII ndash radiodifusatildeo ndash a transmissatildeo sem fio realizada por empresa concessionaacuteria

permissionaacuteria ou autorizataacuteria do serviccedilo de radiodifusatildeo cuja recepccedilatildeo do sinal

ou onda radioeleacutetrica pelo puacuteblico ocorra de forma livre e gratuita ressalvados os casos

em que a Lei exige a autorizaccedilatildeo

XIII ndash artistas inteacuterpretes ou executantes ndash todos os atores cantores muacutesicos bailarinos

ou outras pessoas que representem um papel cantem recitem declamem interpretem

ou executem em qualquer forma obras literaacuterias ou artiacutesticas ou expressotildees culturais

tradicionais

XIV ndash licenccedila ndash a autorizaccedilatildeo preacutevia dada pelo autor ou titular de direitos patrimoniais

mediante remuneraccedilatildeo ou natildeo para exercer certos direitos de explorar ou utilizar

a obra intelectual nos termos e condiccedilotildees fixados na licenccedila sem que se caracterize

transferecircncia de titularidade dos direitos

XV - cessatildeo ndash ato por meio do qual se transfere total ou parcialmente com

exclusividade a titularidade de direitos autorais em caraacuteter temporaacuterio ou definitivo

garantido ao cessionaacuterio a prerrogativa de reivindicar para si os direitos patrimoniais

dele decorrentes e agir em defesa do objeto da cessatildeordquo(NR)

ldquoArt 7ordm

X ndash os projetos esboccedilos e obras de artes visuais concernentes agrave geografia

engenharia topografia arquitetura paisagismo cenografia e ciecircncia

XI - as adaptaccedilotildees os arranjos as orquestraccedilotildees as traduccedilotildees e outras

transformaccedilotildees de obras originais apresentadas como criaccedilatildeo intelectual nova

ldquoArt8ordm

VIII - as normas teacutecnicas em si mesmas ressalvada a sua proteccedilatildeo em legislaccedilatildeo

especiacutefica rdquo(NR)

ldquoArt 9ordm

183

A coacutepia de obra de artes visuais feita pelo proacuteprio autor eacute assegurada a

mesma proteccedilatildeo de que goza o originalrdquo (NR)

ldquoArt15ordm

sect 1ordm Natildeo se considera co-autor quem simplesmente auxiliou o autor na produccedilatildeo da

obra literaacuteria artiacutestica ou cientiacutefica revendo-a atualizando-a orientando-a bem

como

fiscalizando ou dirigindo sua ediccedilatildeo ou apresentaccedilatildeo por qualquer meio

ldquoArt 16

Satildeo coautores da obra audiovisual o diretor o roteirista e os autores do

argumento literaacuterio e da composiccedilatildeo musical ou literomusical criados especialmente

para a obra

ldquoArt17ordm

sect 4ordm Ao autor cuja contribuiccedilatildeo possa ser utilizada separadamente satildeo asseguradas

todas as faculdades inerentes agrave sua criaccedilatildeo como obra individual vedada poreacutem a

utilizaccedilatildeo que possa acarretar prejuiacutezo agrave exploraccedilatildeo da obra coletivardquo (NR)

ldquoArt 19ordm

Eacute facultado ao autor registrar a sua obra na forma desta Lei

Paraacutegrafo uacutenico Compete ao Poder Executivo federal dispor sobre a forma e as

condiccedilotildees para o registro da obra especificando os oacutergatildeos ou entidades responsaacuteveis

por esse

registro rdquo(NR)

Art 20 Para os serviccedilos de registro previstos nesta Lei seraacute cobrada retribuiccedilatildeo

cujo valor e processo de recolhimento seratildeo estabelecidos em at o do Mi ni st r o de Est

ado da

Cul t ur ardquo (NR)

ldquoArt24ordm

184

sect 1ordm Por morte do autor transmite-se a seus sucessores o exerciacutecio dos direitos a

que se referem os incisos I II III IV e VII enquanto a obra natildeo cair em domiacutenio

puacuteblico

sect 2ordm Compete aos entes federativos aos oacutergatildeos e agraves entidades relacionadas no art 5

da Lei no 7347 de 24 de julho de 1985 a defesa da integridade e autoria da obra

pertencente ao

domiacutenio puacuteblico

sect 3ordm Nos casos dos incisos V e VI ressalvam-se as indenizaccedilotildees a terceiros quando

couberemrdquo (NR)

ldquoArt25ordm

Paraacutegrafo uacutenico Os direitos previstos nos incisos I II e VII do art 24 poderatildeo ser

exercidos de forma individual pelos coautores sobre suas respectivas participaccedilotildeesrdquo

(NR)

ldquoArt28ordm

Paraacutegrafo uacutenico O objeto fundamental da proteccedilatildeo desta lei do ponto de vista

econocircmico eacute a garantia das vantagens patrimoniais resultantes da exploraccedilatildeo das obras

literaacuterias artiacutesticas ou cientiacuteficas em harmonia com os princiacutepios Constitucionais da

atividade econocircmicardquo (NR)

ldquoArt29ordm

V - a inclusatildeo em fonograma ou produccedilatildeo audiovisual que natildeo se caracterize como

obra intelectual

VI

-

VII - a colocaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico da obra por qualquer meio ou processo

de maneira que qualquer pessoa possa a ela ter acesso no tempo e no lugar que

individualmente

escolher

VIII - a comunicaccedilatildeo ao puacuteblico de obra literaacuteria artiacutestica ou cientiacutefica mediante

d) transmissatildeo ou radiodifusatildeo sonora ou televisiva

e) recepccedilatildeo de transmissatildeo ou radiodifusatildeo em locais de frequecircncia coletiva

j) exposiccedilatildeo de obras de artes visuais

185

X ndash a incorporaccedilatildeo em obra audiovisual

XI - quaisquer outras modalidades de utilizaccedilatildeo existentes ou que venham a ser

inventadas

Paraacutegrafo uacutenico No exerciacutecio do direito previsto no inciso VII o titular dos direitos

autorais poderaacute colocar agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico a obra na forma local e pelo tempo que

desejar a

tiacutetulo oneroso ou gratuitordquo (NR)

ldquoArt 30

Em qualquer modalidade de reproduccedilatildeo a quantidade de coacutepias

realizadas por qualquer meio ou processo seraacute informada e controlada cabendo

a quem

reproduzir a obra a responsabilidade de manter os registros que permitam de forma natildeo

onerosa

ao autor ou quem o represente a fiscalizaccedilatildeo do aproveitamento econocircmico da

exploraccedilatildeo

sect1o

sect2ordm No caso de fixaccedilatildeo ou reproduccedilatildeo efecircmera de obra fonograma ou

interpretaccedilatildeo por um organismo de radiodifusatildeo pelos seus proacuteprios meios e para suas

proacuteprias

emissotildees ao vivo ou suas retransmissotildees natildeo se aplica o direito de exclusividade de

reproduccedilatildeordquo(NR)

ldquoArt 36

O direito de utilizaccedilatildeo econocircmica dos escritos publicados pela imprensa

diaacuteria ou perioacutedica com exceccedilatildeo dos assinados ou que apresentem sinal de reserva

pertence ao editor salvo convenccedilatildeo em contraacuterio sem prejuiacutezo do disposto no artigo

17rdquo (NR)

ldquoArt 37

A aquisiccedilatildeo do original de uma obra ou de sua coacutepia realizada por

qualquer meio ou processo natildeo confere ao adquirente qualquer dos direitos

patrimoniais do autor salvo convenccedilatildeo em contraacuterio entre as partes e os casos previstos

nesta Lei rdquo (NR)

ldquoArt 38

O autor tem o direito irrenunciaacutevel e inalienaacutevel de perceber no miacutenimo

trecircs por cento sobre o preccedilo em cada revenda de obra de arte ou manuscrito sendo

originais que houver alienado

sect 1ordm Caso o autor natildeo perceba o seu direito de sequumlecircncia no ato de revenda o

186

vendedor o agente comercial ou o intermediaacuterio que intervenha na transaccedilatildeo eacute

considerado depositaacuterio da quantia a ele devida pelo prazo prescricional previsto nesta

Lei

sect 2ordm O vendedor o leiloeiro o agente comercial ou outro intermediaacuterio que

intervenha na transaccedilatildeo conforme o caso fica obrigado a guardar pelo prazo de 10

anos da alienaccedilatildeo todos os dados referentes ao negoacutecio juriacutedico fornecendo-os ao

autor seus herdeiros ou sucessores quando solicitadosrdquo (NR)

ldquoArt 39

Os direitos patrimoniais do autor natildeo se comunicam salvo disposiccedilatildeo em contraacuterio

firmada em pacto antenupcial ou contrato escrito

Paraacutegrafo uacutenico Tampouco se comunicam no regime da comunhatildeo parcial

aplicaacutevel ao casamento ou agrave uniatildeo estaacutevel os rendimentos resultantes da exploraccedilatildeo dos

direitos patrimoniais salvo disposiccedilatildeo em contraacuterio firmada em pacto antenupcial ou

contrato escritordquo(NR)

ldquoArt 41

Os direitos patrimoniais do autor duram por toda a sua vida e por mais

setenta anos contados de 1o de janeiro do ano subsequumlente ao de seu falecimento

obedecida a

ordem sucessoacuteria da lei civilrdquo (NR)

ldquoArt 44

O prazo de proteccedilatildeo aos direitos patrimoniais sobre obras audiovisuais

fotograacuteficas e coletivas seraacute de setenta anos a contar de 1o de janeiro do ano

subsequumlente ao de sua publicaccedilatildeo

sect 1ordm Em caso de sua natildeo publicaccedilatildeo no prazo de setenta anos apoacutes a realizaccedilatildeo da

obra conta-se o prazo a partir de sua realizaccedilatildeo

sect 2ordm Decorrido o prazo de proteccedilatildeo previsto neste artigo a utilizaccedilatildeo ou exploraccedilatildeo

por terceiros da obra audiovisual ou da obra coletiva natildeo poderaacute ser impedida pela

eventual proteccedilatildeo de direitos autorais de contribuiccedilotildees que possam ser objeto de

exploraccedilatildeo comercial em separadordquo (NR)

ldquoArt45

I

-

II - as de autor desconhecido ressalvada a proteccedilatildeo legal aplicaacutevel agraves expressotildees

culturais tradicionaisrdquo (NR)

ldquoArt46

187

I - a reproduccedilatildeo por qualquer meio ou processo em uma soacute coacutepia e por pessoa

natural para seu uso privado e natildeo comercial de obra legitimamente obtida exceto por

meio de locaccedilatildeo desde que feita a partir de exemplar de obra publicada legalmente

II - a reproduccedilatildeo por qualquer meio ou processo em uma soacute coacutepia para cada

suporte e por pessoa natural para seu uso privado e natildeo comercial de obra

legitimamente obtida

exceto por meio de locaccedilatildeo ou se o acesso agrave obra foi autorizado por um periacuteodo de

tempo limitado desde que feita a partir de original ou coacutepia de obra publicada

legalmente para o fim especiacutefico de garantir a sua portabilidade ou interoperabilidade

III - a reproduccedilatildeo na imprensa de notiacutecias e relatos de acontecimentos que tenham

caraacuteter meramente informativo publicados em diaacuterios ou perioacutedicos com a menccedilatildeo do

nome do autor se assinados e da publicaccedilatildeo de onde foram transcritos

IV - a utilizaccedilatildeo na imprensa de discursos pronunciados em reuniotildees puacuteblicas de

qualquer natureza

V -

VI - as representaccedilotildees recitaccedilotildees declamaccedilotildees exposiccedilotildees exibiccedilotildees e execuccedilotildees

puacuteblicas realizadas no recesso familiar ou quando usadas como recurso didaacutetico-

pedagoacutegico a tiacutetulo de ilustraccedilatildeo em atividades educativas ou de pesquisa no acircmbito

da educaccedilatildeo formal desde que sejam feitas sem finalidade comercial ou intuito de

lucro direto ou indireto e na medida justificada pelo fim a se atingir

VII -

VIII - a utilizaccedilatildeo em quaisquer obras de trechos de obras preexistentes de

qualquer natureza ou de obra integral quando de artes visuais na medida justificada

para o fim a atingir sempre que a utilizaccedilatildeo em si natildeo seja o objetivo principal da

obra nova e que natildeo prejudique a exploraccedilatildeo normal da obra utilizada nem cause

um prejuiacutezo injustificado aos legiacutetimos interesses dos autores

IX - a reproduccedilatildeo a traduccedilatildeo a adaptaccedilatildeo a distribuiccedilatildeo a comunicaccedilatildeo e a

colocaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico de obras para uso exclusivo de pessoas com

deficiecircncia mediante quaisquer formatos acessiacuteveis sempre que a deficiecircncia gerar

necessidade de alteraccedilatildeo do formato com o intuito de efetivar o pleno acesso agrave fruiccedilatildeo

da obra e desde que natildeo haja intuito de lucro direto ou indireto

X ndash reproduccedilatildeo e colocaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico para inclusatildeo em portfoacutelio ou

curriacuteculo profissional na medida justificada por este fim desde que aquele que pretenda

divulgar as obras por tal meio seja um dos autores ou pessoa retratada e apoacutes a

publicaccedilatildeo da obra por aquele que a encomendou

XI - a utilizaccedilatildeo de retratos ou de outra forma de representaccedilatildeo da imagem feitos

sob encomenda quando realizada pelo proprietaacuterio do objeto encomendado natildeo

havendo a

oposiccedilatildeo da pessoa neles representada ou se morta ou ausente de seu cocircnjuge seus

ascendentes ou descendentes

XII ndash a reproduccedilatildeo de palestras conferecircncias e aulas por aqueles a quem elas se

dirigem vedada a publicaccedilatildeo integral ou parcial independentemente do intuito de

lucro sem autorizaccedilatildeo preacutevia e expressa de quem as ministrou

XIII ndash a reproduccedilatildeo necessaacuteria agrave conservaccedilatildeo preservaccedilatildeo e arquivamento de

qualquer obra sem intuito de lucro desde que realizada para bibliotecas arquivos

188

centros de documentaccedilatildeo museus cinematecas e demais instituiccedilotildees museoloacutegicas

na medida justificada pelo fim a se atingir

XIV ndash a citaccedilatildeo em livros jornais revistas ou qualquer outro meio de

comunicaccedilatildeo de passagens de qualquer obra para fins de estudo criacutetica ou polecircmica

na medida justificada para o fim a atingir indicando-se o nome do autor e a origem da

obra

XV ndash a representaccedilatildeo a recitaccedilatildeo a declamaccedilatildeo a exposiccedilatildeo a exibiccedilatildeo e a

execuccedilatildeo puacuteblicas desde que natildeo tenham intuito de lucro direto ou indireto e sejam

para fins de reabilitaccedilatildeo ou terapia em unidades hospitalares que prestem estes serviccedilos

de forma gratuita e exclusivamente para a finalidade a que se destinam

XVI - A comunicaccedilatildeo e a colocaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico de obras intelectuais

por bibliotecas arquivos centros de documentaccedilatildeo museus cinematecas e demais

instituiccedilotildees museoloacutegicas no interior de suas instalaccedilotildees para fins de pesquisa ou

estudos privados desde que atendidas cumulativamente as seguintes condiccedilotildees

a) que a obra faccedila parte de seu acervo permanente

b) que seja obra rara ou natildeo esteja disponiacutevel para a venda ao puacuteblico em liacutengua

portuguesa nos mercados nacional e internacional por 3 anos contados a partir de

sua uacuteltima publicaccedilatildeo

c) para evitar a deterioraccedilatildeo do exemplar

d) que natildeo seja permitida a duplicaccedilatildeo gravaccedilatildeo impressatildeo ou qualquer outra

forma de reproduccedilatildeo ressalvado o disposto no Capiacutetulo IX do Tiacutetulo IV

XVII ndash a execuccedilatildeo musical exclusivamente no decorrer da atividade lituacutergica e

estritamente no interior dos templos religiosos

XVIII ndash a reproduccedilatildeo de obras de artes visuais para fins de publicidade relacionada

agrave exposiccedilatildeo puacuteblica dessas obras na medida em que seja necessaacuteria para

promover o acontecimento excluiacuteda qualquer utilizaccedilatildeo comercial

XIX ndash a exibiccedilatildeo puacuteblica sem finalidade comercial realizada por associaccedilotildees

cineclubistas assim reconhecidas pelo Ministeacuterio da Cultura feita a partir de coacutepia

legalmente obtida exceto por meio de locaccedilatildeo ou empreacutestimo desde que a associaccedilatildeo

natildeo tenha finalidade lucrativa por si proacutepria ou por viacutenculo com empresas ou entidades

e que a exibiccedilatildeo natildeo concorra com a exploraccedilatildeo comercial da obra

XX ndash a execuccedilatildeo e a exibiccedilatildeo puacuteblicas realizadas por micro empresas quando

feitas a partir de recepccedilatildeo de uma transmissatildeo em um uacutenico aparelho de raacutedio ou

televisatildeo do tipo domeacutestico para cujo uso natildeo haja cobranccedila e que essa transmissatildeo natildeo

seja um meio para a atraccedilatildeo de clientela e

XXI - A reproduccedilatildeo a traduccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo de trechos de obras preexistentes

de qualquer natureza ou de obra integral quando de artes visuais ou pequenas

composiccedilotildees como recurso didaacutetico-pedagoacutegico por docentes a tiacutetulo de ilustraccedilatildeo em

atividades educativas ou de pesquisa no acircmbito da educaccedilatildeo formal e na extensatildeo

necessaacuteria para o fim a se atingir desde que esse uso natildeo tenha finalidade comercial

nem intuito de lucro direto ou indireto e que sejam citados o autor e a fonte vedada a

publicaccedilatildeo em forma de apostilas

sect 1ordm O disposto no inciso XVI aplica-se mutatis mutandis para as obras na liacutengua

originalmente adotada pelo autor

sect 2ordm O Poder Judiciaacuterio poderaacute autorizar a utilizaccedilatildeo de obras em casos anaacutelogos

aos incisos desse artigo desde que atendidas cumulativamente as seguintes condiccedilotildees

I ndash natildeo tenha finalidade comercial nem intuito de lucro direto ou indireto

II ndash natildeo concorra com a exploraccedilatildeo comercial da obra e

III ndash que sejam citados o autor e a fonte sempre que possiacutevelrdquo (NR)

189

ldquoArt 48

As obras de artes visuais e arquitetocircnicas permanentemente situadas em

logradouros puacuteblicos podem ser livremente representadas por qualquer meio ou

processo inclusive fotograacutefico ou audiovisualrdquo (NR)

ldquoArt 49

Os direitos de autor poderatildeo ser total ou parcialmente transferidos a

terceiros por ele ou por seus sucessores por prazo determinado ou em definitivo

a tiacutetulo universal ou singular pessoalmente ou por meio de representantes com poderes

especiais pelos meios admitidos em Direito obedecidas as seguintes regras e

especificaccedilotildees

I ndash a cessatildeo total compreende todos os direitos de autor salvo os de natureza moral

e os expressamente excluiacutedos por leirdquo (NR)

ldquoArt 50

A cessatildeo total ou parcial dos direitos de autor que se faraacute sempre por estipulaccedilatildeo

contratual escrita presume-se onerosa

sect 3O Decorrido o prazo previsto no instrumento os direitos autorais retornam

obrigatoriamente ao controle econocircmico do titular originaacuterio ou de seus

sucessores

independentemente de possiacuteveis diacutevidas ou outras obrigaccedilotildees pendentes entre as

partes contratantesrdquo (NR)

ldquoArt 51

A cessatildeo dos direitos de autor sobre obras futuras abrangeraacute no maacuteximo

o periacuteodo de cinco anos contado a partir da data da entrega da obrardquo (NR)

ldquoArt53

sect 1O O contrato de ediccedilatildeo natildeo poderaacute conter claacuteusulas de cessatildeo dos direitos

patrimoniais do autor as quais deveratildeo ser objeto de instrumento especiacutefico se for o

caso

sect 2ordm Em cada exemplar da obra o editor mencionaraacute

I - o tiacutetulo da obra e seu autor

II - no caso de traduccedilatildeo o tiacutetulo original e o nome do tradutor

III - o ano de publicaccedilatildeo

IV - o seu nome ou marca que o identifique

V - o nuacutemero da ediccedilatildeo e a sua tiragem e

VI - o nuacutemero do exemplar

sect 3O O autor poderaacute requerer a resoluccedilatildeo do contrato quando o editor apoacutes

notificado pelo autor continuar a obstar a circulaccedilatildeo da obra em detrimento dos

legiacutetimos interesses do autor

190

sect 4ordm O editor deveraacute notificar o autor sempre que houver transferecircncia a terceiros

dos direitos relacionados ao contrato de ediccedilatildeo de suas obrasrdquo (NR)

ldquoArt 68

Sem preacutevia e expressa autorizaccedilatildeo do autor ou titular natildeo poderatildeo ser

utilizadas obras teatrais composiccedilotildees musicais ou literomusicais fonogramas e obras

audiovisuais em representaccedilotildees exibiccedilotildees e execuccedilotildees puacuteblicas

sect1o

sect 2O Considera-se execuccedilatildeo puacuteblica a utilizaccedilatildeo de composiccedilotildees musicais ou

liacuteteromusicais mediante a participaccedilatildeo de artistas remunerados ou natildeo ou a

utilizaccedilatildeo de fonogramas em locais de frequumlecircncia coletiva por quaisquer processos

inclusive a radiodifusatildeo ou a transmissatildeo por qualquer modalidade e a exibiccedilatildeo

cinematograacutefica

sect 3O Considera-se exibiccedilatildeo puacuteblica a utilizaccedilatildeo de obras audiovisuais em locais de

frequumlecircncia coletiva por quaisquer processos inclusive a radiodifusatildeo ou transmissatildeo

por qualquer modalidade e a exibiccedilatildeo cinematograacutefica

sect 4O Consideram-se locais de frequumlecircncia coletiva os teatros cinemas salotildees de

baile ou concertos boates bares clubes ou associaccedilotildees de qualquer natureza

lojas estabelecimentos comerciais e industriais estaacutedios circos feiras

restaurantes hoteacuteis moteacuteis cliacutenicas hospitais oacutergatildeos puacuteblicos da administraccedilatildeo

direta ou indireta fundacionais e estatais meios de transporte de passageiros terrestre

mariacutetimo fluvial ou aeacutereo ou espaccedilos similares onde se representem executem

exibam ou transmitam publicamente obras literaacuterias artiacutesticas ou cientiacuteficas

sect 5O Previamente agrave realizaccedilatildeo da execuccedilatildeo ou exibiccedilatildeo puacuteblica o usuaacuterio deveraacute

apresentar agrave entidade responsaacutevel pela arrecadaccedilatildeo dos direitos relativos agrave execuccedilatildeo ou

exibiccedilatildeo

puacuteblica a comprovaccedilatildeo dos recolhimentos relativos aos direitos autorais

sect 6ordm Quando a remuneraccedilatildeo depender da frequumlecircncia do puacuteblico poderaacute o usuaacuterio

por convecircnio com a entidade responsaacutevel pela arrecadaccedilatildeo dos direitos relativos agrave

execuccedilatildeo ou exibiccedilatildeo puacuteblica pagar o preccedilo apoacutes a realizaccedilatildeo da execuccedilatildeo ou exibiccedilatildeo

puacuteblica

sect 7ordm O usuaacuterio entregaraacute agrave entidade responsaacutevel pela arrecadaccedilatildeo dos direitos

relativos agrave execuccedilatildeo ou exibiccedilatildeo puacuteblica imediatamente apoacutes o ato de comunicaccedilatildeo ao

puacuteblico relaccedilatildeo completa das obras e fonogramas utilizados indicando os nomes dos

respectivos autores artistas e produtores e a tornaraacute puacuteblica e de livre acesso aos

interessados juntamente com os valores pagos em seu siacutetio eletrocircnico ou em natildeo

havendo este no local da comunicaccedilatildeo e em sua sede

sect 8ordm As empresas responsaacuteveis pela representaccedilatildeo execuccedilatildeo exibiccedilatildeo radiodifusatildeo

ou transmissatildeo de obras e fonogramas manteratildeo agrave imediata disposiccedilatildeo dos interessados

em sua administraccedilatildeo central coacutepia autecircntica dos contratos ajustes ou acordos

individuais ou coletivos autorizando e disciplinando a remuneraccedilatildeo que estiver a seu

cargo pela comunicaccedilatildeo ao puacuteblico das obras e fonogramas utilizados em seus

programas ou obras audiovisuaisrdquo (NR)

ldquoCAPIacuteTULO III DA UTILIZACcedilAtildeO DA OBRA DE ARTES VISUAISrdquo (NR)

ldquoArt 77

191

Salvo convenccedilatildeo em contraacuterio o autor de obra de artes visuais ao alienar

o objeto em que ela se materializa transmite o direito de expocirc-la mas natildeo transmite ao

adquirente o direito de reproduzi-lardquo (NR)

ldquoArt 78

A autorizaccedilatildeo para reproduzir a obra de artes visuais por qualquer processo deve

se fazer por escrito e se presume onerosardquo (NR)

ldquoArt 79

O autor de obra fotograacutefica tem direito a reproduzi-la e colocaacute-la agrave venda

observadas as restriccedilotildees agrave exposiccedilatildeo reproduccedilatildeo e venda de retratos e sem prejuiacutezo dos

direitos

de autor da obra fotografada se protegidardquo (NR)

ldquoArt 81

A autorizaccedilatildeo do autor e do inteacuterprete de obra literaacuteria artiacutestica ou

cientiacutefica para produccedilatildeo audiovisual implica salvo disposiccedilatildeo em contraacuterio

consentimento para sua utilizaccedilatildeo econocircmica pelo produtor sem prejuiacutezo dos direitos

devidos aos autores e artistas inteacuterpretes em decorrecircncia de cada exibiccedilatildeo puacuteblica da

obra

sect 1

sect 2

Em cada coacutepia da obra audiovisual mencionaraacute o produtor

VII ndash o nome dos dubladores e dos tradutores se for o caso e

VIII - o nome dos autores artistas inteacuterpretes ou executantes de obras musicais ou

litero-musicais e produtores dos fonogramas incorporados agrave obra audiovisual

sect3ordm O produtor responsaacutevel pela primeira fixaccedilatildeo de obra audiovisual teraacute o direito a

uma remuneraccedilatildeo referente a cada exibiccedilatildeo puacuteblica a que se refere o art 68rdquo (NR)

ldquoArt 86

Os direitos autorais decorrentes da exibiccedilatildeo puacuteblica de obras

audiovisuais e da execuccedilatildeo puacuteblica de obras musicais liacuteteromusicais e fonogramas

incorporados em obras audiovisuais seratildeo devidos aos seus titulares pelos

responsaacuteveis dos locais ou estabelecimentos a que alude o sect 4ordm do art 68 desta Lei

que as exibirem ou pelas empresas que as transmitirem

Paraacutegrafo uacutenico Os proventos pecuniaacuterios resultantes de cada exibiccedilatildeo puacuteblica de

obras audiovisuais seratildeo repartidos entre seus autores artistas inteacuterpretes e produtores

na forma convencionada entre eles ou suas associaccedilotildeesrdquo (NR)

ldquoArt 89

As normas relativas aos direitos de autor inclusive as que se referem agraves

limitaccedilotildees aplicam-se no que couber aos direitos dos artistas inteacuterpretes ou

executantes dos

192

produtores e das empresas de radiodifusatildeordquo (NR)

ldquoArt90

I -

II - a reproduccedilatildeo a execuccedilatildeo ou exibiccedilatildeo puacuteblicas e a locaccedilatildeo das suas

interpretaccedilotildees ou execuccedilotildees fixadasrdquo (NR)

ldquoArt 96

Eacute de setenta anos o prazo de proteccedilatildeo aos direitos conexos contados a

partir de 1o de janeiro do ano subsequumlente agrave fixaccedilatildeo para os fonogramas agrave transmissatildeo

para as

empresas de radiodifusatildeo e agrave execuccedilatildeo exibiccedilatildeo ou representaccedilatildeo puacuteblicas para

os demais casosrdquo (NR)

ldquoArt 98

Com o ato de filiaccedilatildeo as associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos

autorais de que trata o art 97 tornam-se mandataacuterias de seus associados para a praacutetica

de todos os atos necessaacuterios agrave defesa judicial ou extrajudicial de seus direitos autorais

bem como para o exerciacutecio da atividade de cobranccedila desses direitos

sect 1ordm Os titulares de direitos autorais poderatildeo praticar pessoalmente os atos

referidos neste artigo mediante comunicaccedilatildeo preacutevia agrave associaccedilatildeo a que estiverem

filiados

sect 2ordm O exerciacutecio da atividade de cobranccedila citada no caput somente seraacute licito para

as associaccedilotildees que obtiverem registro no Ministeacuterio da Cultura nos termos do art 98-A

sect 3ordm A cobranccedila deveraacute ser proporcional agrave utilizaccedilatildeo das obras e fonogramas dos

titulares dos quais a associaccedilatildeo eacute mandataacuteria

sect 4ordm As associaccedilotildees deveratildeo adotar os princiacutepios da isonomia e transparecircncia na

cobranccedila pela utilizaccedilatildeo de qualquer obra ou fonograma sob sua gestatildeo

sect 5ordm As associaccedilotildees por decisatildeo do seu oacutergatildeo maacuteximo de deliberaccedilatildeo e conforme

previsto em seus estatutos poderatildeo destinar ateacute vinte por cento da totalidade ou de

parte dos recursos oriundos de suas atividades em benefiacutecio de seus associados de

forma direta ou por meio de outras entidades na promoccedilatildeo e no fomento agrave produccedilatildeo de

obras capacitaccedilatildeo e formaccedilatildeo bem como outras atividades de finalidade cultural e de

assistecircncia socialrdquo(NR)

ldquoArt 99

As associaccedilotildees que reuacutenam titulares de direitos sobre as obras musicais

literomusicais e fonogramas manteratildeo um uacutenico escritoacuterio central para a

arrecadaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo em comum dos direitos relativos agrave sua execuccedilatildeo puacuteblica

observado o disposto no sect

4ordm do artigo 98 e nos artigos 98-A e 99-A

sect 4ordm O escritoacuterio central e as associaccedilotildees poderatildeo manter fiscais aos quais eacute

193

vedado receber do usuaacuterio numeraacuterio a qualquer tiacutetulo

sect5o

sect 6ordm O escritoacuterio central deveraacute observar as disposiccedilotildees do art 98-B e apresentar ao

Ministeacuterio da Cultura no que couber a documentaccedilatildeo prevista no art 98-Ardquo (NR)

ldquoArt 100 O sindicato ou associaccedilatildeo profissional que congregue filiados de uma

associaccedilatildeo de gestatildeo coletiva de direitos autorais poderaacute uma vez por ano apoacutes

notificaccedilatildeo com oito dias de antecedecircncia fiscalizar por intermeacutedio de auditor a

exatidatildeo das contas prestadas por essa associaccedilatildeo autoral a seus representados rdquo (NR)

ldquoArt 101 As sanccedilotildees civis de que trata este Capiacutetulo aplicam-se sem prejuiacutezo das

sanccedilotildees penais e administrativasrdquo (NR)

ldquoArt 102 O titular cuja obra seja fraudulentamente reproduzida divulgada ou de

qualquer forma utilizada poderaacute requerer a busca e apreensatildeo dos exemplares

reproduzidos ou a suspensatildeo da divulgaccedilatildeo sem prejuiacutezo da indenizaccedilatildeo cabiacutevel rdquo

(NR)

ldquoArt103

Paraacutegrafo uacutenico Natildeo se conhecendo o nuacutemero de exemplares que constituem a

ediccedilatildeo fraudulenta pagaraacute o transgressor o valor de quinhentos ateacute trecircs mil exemplares

aleacutem dos apreendidosrdquo (NR)

ldquoArt 107

sect 1ordm Constitui ato iliacutecito por abuso e exerciacutecio irregular de direito sem prejuiacutezo de

outras penalidades previstas em lei quem por qualquer meio

a) dificultar ou impedir os usos permitidos pelos incisos do artigo 46 desta Lei ou

b) dificultar ou impedir a livre utilizaccedilatildeo de obras emissotildees de radiodifusatildeo e

fonogramas caiacutedos em domiacutenio puacuteblico

sect 2ordm No caso da conduta prevista no sect 1ordm decorrer de obrigaccedilatildeo contratual responde pela

conduta o licenciante

sect 3ordm O disposto no sect 1ordm natildeo se aplica quando a utilizaccedilatildeo pelo titular de sinais

codificados e dispositivos teacutecnicos mencionados neste artigo forem essenciais para a

compra ou o licenciamento de obras em meio digital

sect 4ordm O disposto no caput natildeo se aplica quando as condutas previstas nos incisos I

II e IV relativas aos sinais codificados e dispositivos teacutecnicos forem realizadas para

permitir as utilizaccedilotildees previstas no artigo 46 desta Lei ou quando findo o prazo dos

direitos patrimoniais sobre a obra interpretaccedilatildeo execuccedilatildeo fonograma ou emissatildeo

sect 5ordm Os sinais codificados e dispositivos teacutecnicos mencionados nos incisos I II e IV

devem ter efeito limitado no tempo correspondente ao prazo dos direitos patrimoniais

sobre a obra interpretaccedilatildeo execuccedilatildeo fonograma ou emissatildeordquo (NR)

ldquoArt 109

194

A representaccedilatildeo a execuccedilatildeo ou a exibiccedilatildeo puacuteblicas feitas em desacordo

com os arts 68 97 98 99 e 99-A desta Lei sujeitaratildeo os responsaacuteveis agrave multa de duas

ateacute vinte vezes o valor que deveria ser originariamente pagordquo (NR)

Art 2ordm A Lei no 9610 de 1998 passa a vigorar acrescida dos seguintes

dispositivos

ldquoArt 30-A

Quando a distribuiccedilatildeo for realizada pelo titular dos direitos da obra ou

fonograma ou com o seu consentimento mediante venda em qualquer Estado membro

da OMC exaure-se com a primeira venda o direito patrimonial de distribuiccedilatildeo do

objeto da venda no territoacuterio nacional

Paraacutegrafo uacutenico Natildeo se aplica o disposto no caput aos direitos de locaccedilatildeo de

programas de computador e de obras audiovisuais e ao direito de sequecircncia de que trata

o artigo 38rdquo (NR)

ldquoArt 52-A

O autor ou titular de direitos patrimoniais poderaacute conceder licenccedila aterceiros que se

faraacute sempre por escrito sem que se caracterize cessatildeo de direitos obedecidas

asseguintes regras e especificaccedilotildees

I - O prazo maacuteximo da licenccedila seraacute de cinco anos salvo estipulaccedilatildeo

contratuacontraacuteria

II - A licenccedila seraacute vaacutelida unicamente para o paiacutes em que se firmou o contrato

salvoestipulaccedilatildeo em contraacuterio

III - Natildeo havendo especificaccedilotildees quanto agrave modalidade de utilizaccedilatildeo o contrato

seraacuteinterpretado restritivamente entendendo-se como limitada apenas a uma que

seja aquelaindispensaacutevel ao cumprimento da finalidade do contrato

IV - A licenccedila soacute se operaraacute para modalidades de utilizaccedilatildeo jaacute existentes agrave data

dacelebraccedilatildeo do contrato

V - A licenccedila se presume natildeo exclusiva salvo estipulaccedilatildeo contratual expressa

emcontraacuterio e

VI - Decorrido o prazo previsto no instrumento de licenccedila cessam todas

asprerrogativas concedidas ao licenciado independentemente de possiacuteveis diacutevidas

ou outrasobrigaccedilotildees pendentes entre as partes contratantesrdquo (NR)

ldquoArt 52-B O Poder Judiciaacuterio poderaacute autorizar o uso de obras literaacuterias ou de

artesvisuais sempre que ao exercer seus direitos patrimoniais o herdeiro ou sucessor do

autor da obraexceda manifestamente os limites impostos pelo seu fim econocircmico ou

social pela boa-feacute oupelos bons costumes prejudicando o seu acesso ou fruiccedilatildeo pela

sociedade

sect 1ordm A autorizaccedilatildeo prevista no caput presume-se onerosa cujo valor seraacute arbitradopela

autoridade judicial competente

sect 2ordm Os legitimados para propositura das accedilotildees previstas no art 5ordm da Lei nordm 7347de 24

de julho de 1985 poderatildeo pleitear a autorizaccedilatildeo prevista no caput sempre que houver

lesatildeoou ameaccedila de lesatildeo a direitos difusos coletivos ou individuais homogecircneosrdquo

(NR)

ldquoCAPIacuteTULO VI DA OBRA DECORRENTE DE VIacuteNCULO ESTATUTAacuteRIO OU

CONTRATO DE

TRABALHOrdquo (NR)

195

ldquoArt 52-C

Salvo convenccedilatildeo em contraacuterio o empregador ente puacuteblico ou privadoconsiderar-se-aacute

autorizado com exclusividade a utilizar as obras criadas no estrito cumprimentodas

atribuiccedilotildees e finalidades decorrentes de viacutenculo estatutaacuterio ou contrato de trabalho

sect 1ordm - A exclusividade da autorizaccedilatildeo cessa em dez anos contados da data daprimeira

utilizaccedilatildeo da obra pelo empregador ou na ausecircncia desta da data de conclusatildeo da obra

sect 2ordm O autor poderaacute dispor livremente dos direitos relacionados agraves

demaismodalidades de utilizaccedilatildeo da obra desde que natildeo concorra com o uso realizado

pelo empregador

sect 3ordm - A retribuiccedilatildeo devida pelo uso das obras por parte do empregador esgota-secom a

remuneraccedilatildeo ou com o salaacuterio convencionado salvo disposiccedilatildeo em contraacuterio ou

casosprevistos em Lei

sect 4ordm - O autor teraacute direito de publicar em suas obras completas a obra criada no

estrito cumprimento das atribuiccedilotildees e finalidades decorrentes do viacutenculo estatutaacuterio ou

contrato de trabalho apoacutes dois anos de sua publicaccedilatildeo pelo empregador ou na ausecircncia

desta apoacutes cinco anos de sua conclusatildeo salvo convenccedilatildeo em contraacuterio

sect 5ordm As disposiccedilotildees deste artigo natildeo se aplicam

I ndash aos direitos de comunicaccedilatildeo ao puacuteblico que seratildeo devidos em decorrecircncia de cada

representaccedilatildeo execuccedilatildeo ou exibiccedilatildeo puacuteblicas das obras

II ndash agraves relaccedilotildees que digam respeito agrave utilizaccedilatildeo econocircmica dos artigos publicados pela

imprensa regidas pelo art 36 desta Lei

III ndash agraves relaccedilotildees decorrentes de contrato ou viacutenculo de professores ou pesquisadores

com instituiccedilatildeo que tenha por finalidade o ensino ou a pesquisa

IV ndash aos direitos dos profissionais regidos pela Lei n o 5194 de 24 de dezembro de

1966 e

V ndash aos programas de computador observando-se nesse caso o disposto na Lei n

9609 de 19 de fevereiro de 1998rdquo (NR)

ldquoCAPIacuteTULO VII DA OBRA OacuteRFAtilderdquo (NR)

ldquoArt 52-D

A exploraccedilatildeo de obra que presumivelmente natildeo tenha ingressado em

domiacutenio puacuteblico cuja autorizaccedilatildeo de uso natildeo se puder obter pela impossibilidade de se

identificar

ou localizar o seu autor ou titular deve ser objeto de uma licenccedila natildeo exclusiva a ser

concedida

pelo Ministro da Cultura mediante requerimento de interessado em procedimento

regular que atenda os imperativos do devido processo legal na forma do regulamento e

segundo termos e condiccedilotildees que assegurem adequadamente os interesses morais e

patrimoniais que esta Lei tutela

sect 1ordm O requerente deveraacute comprovar que fez uma busca razoaacutevel e de boa feacute pelo autor

quando identificaacutevel ou apresentar provas da incapacidade de identificaacute-lo

sect 2ordm A licenccedila a ser concedida sujeita-se ao pagamento de remuneraccedilatildeo arbitrada pelo

Poder Puacuteblico observado os usos e costumes

sect 3ordm O licenciado seraacute depositaacuterio do valor referente agrave remuneraccedilatildeo prevista no sect 2ordm

196

e deveraacute repassaacute-lo licenccedila

I - ao autor ou titular quando da sua identificaccedilatildeo e localizaccedilatildeo e

II ndash ao Fundo Nacional de Cultura apoacutes decorridos 10 anos da concessatildeo da

sect 4ordm Eacute vedada a cessatildeo a transferecircncia ou o substabelecimento da licenccedila prevista neste

artigo

sect 5ordm O licenciado ficaraacute investido de todos os poderes para agir em defesa da obra

sect 6ordm Durante o periacuteodo de sua vigecircncia a licenccedila poderaacute ser revogada quando

I ndash o licenciado deixar de cumprir com as condiccedilotildees que o qualificaram

II ndash o autor ou titular for identificado e localizado

III - houver descontinuidade do pagamento da remuneraccedilatildeo prevista no sect 2ordm ou

IV ndash a obra cair em domiacutenio puacuteblico O

sect 7ordm As disposiccedilotildees deste capiacutetulo natildeo se aplicam a programas de computadorrdquo (NR)

ldquoArt 67-A

As regras relativas agrave ediccedilatildeo de que trata este capiacutetulo aplicam-se

a todas as obras protegidas e suscetiacuteveis de serem publicadas ou reproduzidas em

qualquer suporte tais como as traduccedilotildees as fotografias os desenhos as charges e as

caricaturasrdquo (NR)

ldquoArt 86-A

Os responsaacuteveis pelas salas de exibiccedilatildeo cinematograacutefica deveratildeo

deduzir cinquumlenta por cento do montante total dos direitos autorais devidos em razatildeo

do caput do

art 86 do valor a ser pago agraves empresas distribuidoras das obras audiovisuais sendo

vedado a estas o repasse deste encargo total ou parcialmente aos seus produtoresrdquo

(NR)

ldquoCAPIacuteTULO IX DA REPROGRAFIArdquo (NR)

ldquoArt 88-A

A reproduccedilatildeo total ou parcial de obras literaacuterias artiacutesticas ou

cientiacuteficas que natildeo estiverem em domiacutenio puacuteblico realizada por meio de

fotocopiadora ou

processos assemelhados com finalidade comercial ou intuito de lucro somente

poderaacute ser

realizada mediante autorizaccedilatildeo preacutevia dos autores e titulares de direitos das obras

protegidas ou da

associaccedilatildeo de gestatildeo coletiva que os represente observadas as seguintes disposiccedilotildees

I - A reproduccedilatildeo prevista no caput estaraacute sujeita ao pagamento de uma retribuiccedilatildeo

aos titulares dos direitos autorais sobre as obras reproduzidas salvo quando estes

colocarem agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico a obra a tiacutetulo gratuito na forma do paraacutegrafo uacutenico

do art 29 e

II - Caberaacute aos responsaacuteveis pelos estabelecimentos que ofereccedilam serviccedilos de

reproduccedilatildeo reprograacutefica nos termos definidos no caput manter o registro das

reproduccedilotildees em que conste a identificaccedilatildeo e a quantidade de paacuteginas reproduzidas de

cada obra com a finalidade de prestar tais informaccedilotildees regularmente aos autores de

197

forma a permitir-lhes a fiscalizaccedilatildeo e o controle do aproveitamento econocircmico das

reproduccedilotildeesrdquo (NR)

ldquoArt 88-B

O Poder Judiciaacuterio poderaacute autorizar a reprografia de obras literaacuterias

sempre que ao exercer seus direitos patrimoniais o titular dos direitos de

reproduccedilatildeo ou a respectiva associaccedilatildeo de gestatildeo coletiva exceda manifestamente os

limites impostos pelo seu fim econocircmico ou social pela boa-feacute ou pelos bons

costumes ou impeccedila o exerciacutecio do direito constitucional agrave educaccedilatildeo

sect 1ordm A autorizaccedilatildeo prevista no caput presume-se onerosa cujo valor seraacute arbitrado

pela autoridade judicial competente

sect 2ordm Os legitimados para propositura das accedilotildees previstas no art 5ordm da Lei nordm 7347

de 24 de julho de 1985 poderatildeo pleitear a autorizaccedilatildeo prevista no caput sempre que

houver lesatildeo ou ameaccedila de lesatildeo a direitos Difusos coletivos ou individuais

homogecircneosrdquo (NR)

ldquoArt 98-A

O exerciacutecio da atividade de cobranccedila de que trata o art 98 dependeraacute de

registro preacutevio no Ministeacuterio da Cultura conforme disposto em regulamento cujo

processo administrativo observaraacute

I ndash o cumprimento pelos estatutos da entidade solicitante dos requisitos

estabelecidos na legislaccedilatildeo para sua constituiccedilatildeo

II ndash a demonstraccedilatildeo de que a entidade solicitante reuacutene as condiccedilotildees necessaacuterias

para assegurar uma administraccedilatildeo eficaz e transparente dos direitos a ela confiados e

significativa representatividade de obras e titulares cadastrados mediante

comprovaccedilatildeo dos seguintes documentos e informaccedilotildees

a) os cadastros das obras e titulares que representam

b) contratos e convecircnios mantidos com usuaacuterios de obras de seus repertoacuterios

c) estatutos e respectivas alteraccedilotildees

d) atas das assembleacuteias ordinaacuterias ou extraordinaacuterias

e) acordos de representaccedilatildeo reciacuteproca com entidades congecircneres estrangeiras

quando existentes

f) relatoacuterio anual de suas atividades quando aplicaacutevel

g) demonstraccedilotildees contaacutebeis anuais quando aplicaacutevel e

h) relatoacuterio anual de auditoria externa de suas contas desde que demandada pela

maioria de seus associados ou por sindicato ou associaccedilatildeo profissional nos termos do

art 100

III ndash outras informaccedilotildees consideradas relevantes pelo Ministeacuterio da Cultura na

forma do regulamento como as que demonstrem o cumprimento de suas obrigaccedilotildees

internacionais

contratuais que possam ensejar questionamento ao Estado Brasileiro no acircmbito

dos acordos internacionais dos quais eacute parte

sect1ordm Os documentos e informaccedilotildees a que se referem os Incisos II e III deste artigo

deveratildeo ser apresentados anualmente ao Ministeacuterio da Cultura

sect2ordm O registro de que trata o sect 2ordm do art 98 poderaacute ser anulado quando for

constatado viacutecio de legalidade ou cancelado administrativamente pelo Ministeacuterio

da Cultura quando verificado que a associaccedilatildeo natildeo atende ao disposto neste artigo

198

assegurado sempre o contraditoacuterio e a ampla defesa bem como a comunicaccedilatildeo do fato

ao Ministeacuterio Puacuteblico

sect3ordm A ausecircncia de uma associaccedilatildeo que seja mandataacuteria de determinada categoria de

titulares em funccedilatildeo da aplicaccedilatildeo do sect 2ordm deste artigo natildeo isenta os usuaacuterios das

obrigaccedilotildees previstas no art 68 que deveratildeo ser quitadas em relaccedilatildeo ao periacuteodo

compreendido entre o indeferimento do pedido de registro a anulaccedilatildeo ou o

cancelamento do registro e a obtenccedilatildeo de novo registro ou constituiccedilatildeo de entidade

sucessora nos termos do art 98

sect4ordm A associaccedilatildeo cujo registro nos termos do artigo 98-A seja anulado cancelado

inexistente pendente de apreciaccedilatildeo pela autoridade competente ou apresente qualquer

outra forma de irregularidade natildeo poderaacute utilizar tais fatos como impedimento para

distribuiccedilatildeo de eventuais valores jaacute arrecadados sob pena de responsabilizaccedilatildeo direta

de seus dirigentes nos termos do artigo 100-A

sect5ordm As associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos autorais que estejam desde

1ordm de janeiro de 2010 legalmente constituiacutedas e arrecadando e distribuindo os

direitos autorais de obras e fonogramas considerar-se-atildeo para todos os efeitos

registradas para exercerem a atividade econocircmica de cobranccedila devendo obedecer agraves

disposiccedilotildees constantes deste artigordquo (NR)

ldquoArt 98-B

As associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos autorais no desempenho

de suas funccedilotildees deveratildeo

I - Dar publicidade e transparecircncia por meio de siacutetios eletrocircnicos proacuteprios agraves

formas de caacutelculo e criteacuterios de cobranccedila discriminando dentre outras informaccedilotildees o

tipo de

usuaacuterio tempo e lugar de utilizaccedilatildeo bem como os criteacuterios de distribuiccedilatildeo dos valores

dos direitos

autorais arrecadados incluiacutedas as planilhas e demais registros de utilizaccedilatildeo das

obras e fonogramas fornecidas pelos usuaacuterios

II - Dar publicidade e transparecircncia por meio de siacutetios eletrocircnicos proacuteprios

aosestatutos regulamentos de arrecadaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo agraves atas de suas reuniotildees

deliberativas e aoscadastros das obras e titulares que representam bem como o

montante arrecadado e distribuiacutedo e

III ndash Buscar eficiecircncia operacional dentre outros meios pela reduccedilatildeo de

seucustos administrativos e dos prazos de distribuiccedilatildeo dos valores aos titulares de

direitos

Paraacutegrafo uacutenico As informaccedilotildees contidas nos incisos I e II devem ser atualizadas no

miacutenimosemestralmenterdquo (NR)

ldquoArt 98-C

As associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos autorais deveratildeo manteatualizados e

disponiacuteveis aos associados os documentos e as informaccedilotildees previstas nos incisos II III

do art 98-Ardquo (NR)

ldquoArt 98-D

199

As associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos autorais deveratildeo prestacontas dos valores

devidos em caraacuteter regular e de modo direto aos seus associados

Paraacutegrafo uacutenico O direito agrave prestaccedilatildeo de contas poderaacute ser exercido diretamentpor

qualquer associado ou indiretamente por intermeacutedio do Ministeacuterio da Culturardquo (NR)

ldquoArt 99-A

As associaccedilotildees que reuacutenam titulares de direitos sobre as obraaudiovisuais e o

escritoacuterio central a que se refere o art 99 deveratildeo unificar a arrecadaccedilatildeo dodireitos

relativos agrave exibiccedilatildeo e execuccedilatildeo puacuteblica inclusive por meio de radiodifusatildeo ou

transmissatildepor qualquer modalidade quando essa arrecadaccedilatildeo recair sobre um

mesmo usuaacuterio sejdelegando a cobranccedila a uma delas seja constituindo um ente

arrecadador com personalidadejuriacutedica proacutepria

sect 1ordm Ateacute a implantaccedilatildeo da arrecadaccedilatildeo unificada prevista neste artigo a arrecadaccedilatildee

distribuiccedilatildeo dos direitos sobre as obras musicais literomusicais e fonogramas

referentes exibiccedilatildeo audiovisual seraacute feita pelo escritoacuterio central previsto no art 99

quer se trate de obracriadas especialmente para as obras audiovisuais ou obras preacute-

existentes agraves mesmas

sect 2O A organizaccedilatildeo da arrecadaccedilatildeo unificada de que trata o caput deste artigodeveraacute

ser feita de comum acordo entre as associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos

autoraicorrespondentes e o escritoacuterio central inclusive no que concerne agrave definiccedilatildeo

dos criteacuterios dedivisatildeo dos valores arrecadados entre as associaccedilotildees e o escritoacuterio

central

sect 3O Os autores das obras musicais criadas especialmente para as

obraaudiovisuais considerados co-autores da obra audiovisual nos termos do caput do

art 16 poderatildeconfiar o exerciacutecio de seus direitos a associaccedilatildeo de gestatildeo coletiva de

direitos musicais ou associaccedilatildeo de gestatildeo coletiva de direitos sobre obras audiovisuais

sect 4ordm Na ausecircncia de acordo para a organizaccedilatildeo da arrecadaccedilatildeo unificada de quetrata este

artigo o Ministeacuterio da Cultura poderaacute na forma do regulamento e a pedido de

qualquedas partes manifestar-se objetivando a aplicaccedilatildeo do disposto neste artigo ou a

pedido das partesatuar administrativamente na resoluccedilatildeo do conflitordquo (NR)

ldquoArt 99-B

A arrecadaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da remuneraccedilatildeo a que se refere o artigo88-A seraacute feita por

meio das associaccedilotildees de gestatildeo coletiva constituiacutedas para este fim as quaideveratildeo

unificar a arrecadaccedilatildeo seja delegando a cobranccedila a uma delas seja constituindo um

entarrecadador com personalidade juriacutedica proacutepria

sect1ordm - A entidade de gestatildeo coletiva responsaacutevel pela cobranccedila ou o oacutergatildeo

arrecadador criado pelas entidades atuaraacute em juiacutezo e fora dele em seu proacuteprio

nome como substituto processual dos titulares de direitos a ele vinculado

sect 2ordm - A parcela destinada aos autores natildeo poderaacute ser inferior a cinquumlenta por cento

dos valores arrecadados pela entidade arrecadadora prevista no caput deduzida as

despesas de administraccedilatildeordquo (NR)

ldquoArt 100-A

Os dirigentes das associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos autorais e

200

do escritoacuterio central respondem solidariamente com seus bens particulares por

desvio de finalidade ou quanto ao inadimplemento das obrigaccedilotildees para com os

associados por dolo ou culpardquo (NR)

ldquoArt 100-B

Os litiacutegios entre usuaacuterios e titulares de direitos autorais ou seus mandataacuterios em

relaccedilatildeo aos criteacuterios de cobranccedila e valores de arrecadaccedilatildeo e entre titulares e suas

associaccedilotildees em relaccedilatildeo aos valores e criteacuterios de distribuiccedilatildeo poderatildeo ser objeto da

atuaccedilatildeo administrativa do Ministeacuterio da Cultura para a resoluccedilatildeo de conflitos na forma

do regulamento sem prejuiacutezo da apreciaccedilatildeo pelos oacutergatildeos do Sistema Brasileiro de

Defesa da Concorrecircncia quando cabiacutevelrdquo (NR)

ldquoArt 105-A

Os responsaacuteveis pela hospedagem de conteuacutedos na Internet poderatildeo ser

responsabilizados solidariamente nos termos do Artigo 105 por danos

decorrentes da colocaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico de obras e fonogramas por terceiros

sem autorizaccedilatildeo de seus titulares se notificados pelo titular ofendido e natildeo tomarem as

providecircncias para no acircmbito do seu serviccedilo e dentro de prazo razoaacutevel tornar

indisponiacutevel o conteuacutedo apontado como infringente

sect 1ordm Os responsaacuteveis pela hospedagem de conteuacutedos na Internet devem oferecer

de forma ostensiva ao menos um canal eletrocircnico dedicado ao recebimento de

notificaccedilotildees e contranotificaccedilotildees sendo facultada a criaccedilatildeo de mecanismo

automatizado para atender aos procedimentos dispostos nesta Seccedilatildeo

sect 2ordm A notificaccedilatildeo de que trata o caput deste artigo deveraacute conter sob pena de

invalidade

I ndash identificaccedilatildeo do notificante incluindo seu nome completo seus nuacutemeros de

registro civil e fiscal e dados atuais para contato

II ndash data e hora de envio

III ndash identificaccedilatildeo clara e especiacutefica do conteuacutedo apontado como infringente que

permita a localizaccedilatildeo inequiacutevoca do material pelo notificado

IV ndash descriccedilatildeo da relaccedilatildeo entre o notificante e o conteuacutedo apontado como

infringente e

VI ndash justificativa juriacutedica para a remoccedilatildeo

sect 3ordm Ao tornar indisponiacutevel o acesso ao conteuacutedo caberaacute aos responsaacuteveis pela

hospedagem de conteuacutedos na Internet informar o fato ao responsaacutevel pela colocaccedilatildeo agrave

disposiccedilatildeo

do puacuteblico comunicando-lhe o teor da notificaccedilatildeo de remoccedilatildeo e fixando prazo razoaacutevel

para a eliminaccedilatildeo definitiva do conteuacutedo infringente

sect 4ordm Caso o responsaacutevel pelo conteuacutedo infringente natildeo seja identificaacutevel ou natildeo

possa ser localizado e desde que presentes os requisitos de validade da notificaccedilatildeo

cabe aos responsaacuteveis pela hospedagem de conteuacutedos na Internet manter o bloqueio

sect 5ordm Eacute facultado ao responsaacutevel pela colocaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico observados

os requisitos do sect 2ordm contranotificar os responsaacuteveis pela hospedagem de conteuacutedos na

Internet requerendo a manutenccedilatildeo do conteuacutedo e assumindo a responsabilidade

exclusiva pelos eventuais danos causados a terceiros caso em que caberaacute aos

201

responsaacuteveis pela hospedagem de conteuacutedos na Internet o dever de restabelecer o

acesso ao conteuacutedo indisponibilizado e informar ao notificante o restabelecimento

sect 6ordm Qualquer outra pessoa interessada fiacutesica ou juriacutedica observados os requisitos

do sect 2ordm poderaacute contranotificar os responsaacuteveis pela hospedagem de conteuacutedos na

Internet assumindo a responsabilidade pela manutenccedilatildeo do conteuacutedo

sect 7ordm Tanto o notificante quanto o contranotificante respondem nos termos da lei

por informaccedilotildees falsas errocircneas e pelo abuso ou maacute-feacute

sect 8ordm Os usuaacuterios que detenham poderes de moderaccedilatildeo sobre o conteuacutedo de

terceiros se equiparam aos responsaacuteveis pela hospedagem de conteuacutedos na Internet para

efeitos do disposto neste artigoldquo (NR)

ldquoArt 109-A

A prestaccedilatildeo de informaccedilotildees falsas do disposto no sect 7ordm do art 68

sujeitaraacute os responsaacuteveis a multa de dez a trinta por cento do valor originariamente

cobradordquo (NR)

ldquoArt 110-A

O titular de direito autoral ou seu mandataacuterio que ao exercer seu

direito de forma abusiva praticar infraccedilatildeo da ordem econocircmica sujeitar-se-aacute no que

couber agraves disposiccedilotildees da Lei nordm 8884 de 11 de junho de 1994 sem prejuiacutezo das demais

sanccedilotildees cabiacuteveisrdquo (NR)

ldquoArt 110-B

O oferecimento por parte de titular de direitos autorais ou pessoa a

seu serviccedilo de ganho vantagem proveito ou benefiacutecio material direto ou

indireto para os proprietaacuterios diretores funcionaacuterios ou terceiros a serviccedilo de

empresas de radiodifusatildeo ou serviccedilos de televisatildeo por assinatura com o intuito de

aumentar ou diminuir artificiosamente a frequecircncia da execuccedilatildeo ou exibiccedilatildeo puacuteblica

de obras ou fonogramas especiacuteficos caracterizaraacute infraccedilatildeo da ordem econocircmica na

forma da Lei nordm 8884 de 1994 e iliacutecito civil estando sujeito neste caso ao pagamento

de multa no valor de duas ateacute vinte vezes o valor oferecido agrave parte que demonstrar

prejuiacutezo direto ou indireto

sect 1ordm Incorrem nas mesmas infraccedilotildees e sujeitam-se agraves mesmas sanccedilotildees previstas no

caput deste artigo os proprietaacuterios diretores funcionaacuterios ou terceiros a serviccedilo de

empresas de radiodifusatildeo ou serviccedilos de televisatildeo por assinatura que com o intuito de

aumentar ou diminuir artificiosamente a frequecircncia da execuccedilatildeo ou exibiccedilatildeo

puacuteblica de obras ou fonogramas especiacuteficos solicitarem ou receberem para si ou

para outrem direta ou indiretamente ganho vantagem proveito ou benefiacutecio material

sect 2ordm O disposto neste artigo natildeo se aplica se o ato praticado constituir inserccedilatildeo

publicitaacuteria desde que a mesma seja previamente informada ao puacuteblico e que natildeo seja

computada para efeitos de arrecadaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo dos direitos autorais decorrentes

da execuccedilatildeo e exibiccedilatildeo puacuteblicasrdquo (NR)

ldquoArt 110-C

A inobservacircncia do disposto nos incisos I e II do Artigo 98ndashB nos

202

Artigos 98ndashC e 98ndashD bem como no sect 6ordm do art 99 sujeitaraacute os dirigentes das

associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos autorais ou do escritoacuterio central agrave multa de ateacute

R$ 5000000 (cinquenta mil reais) aplicada pelo Ministeacuterio da Cultura mediante

regular processo administrativo assegurado o contraditoacuterio e a ampla defesa conforme

disposto em regulamento

sect 1ordm A multa prevista no caput poderaacute ser aumentada em 50 (cinquumlenta por cento) a

cada nova reincidecircncia

sect 2ordm Os valores referentes agrave aplicaccedilatildeo da multa de que trata este artigo seratildeo

revertidos ao Fundo Nacional de Culturardquo (NR)

ldquoArt 111-A

A accedilatildeo civil por violaccedilatildeo a direitos autorais prescreve em cinco anos

contados da data da violaccedilatildeo do direito

Paraacutegrafo uacutenico Em caso de praacutetica continuada de violaccedilatildeo de direitos autorais de

determinado autor ou titular de direitos pelo mesmo infrator ou grupo de infratores

conta-se a prescriccedilatildeo do uacuteltimo ato de violaccedilatildeordquo (NR)

ldquoArt 113-A Enquanto os serviccedilos de registro de que trata o art 19 desta Lei natildeo

forem organizados pelo Poder Executivo Federal o autor da obra intelectual poderaacute

registraacute-la conforme sua natureza

I - na Fundaccedilatildeo Biblioteca Nacional

II - na Escola de Muacutesica da Universidade Federal do Rio de Janeiro

III - na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro ou

IV - no Conselho Federal de Engenharia Arquitetura e Agronomia

sect 1ordm Se a obra for de natureza que comporte registro em mais de um desses oacutergatildeos

deveraacute ser registrada naquele com que tiver maior afinidade

sect 2ordm Natildeo se aplica o disposto neste artigo para o registro de programas de

computador

sect 3ordm Enquanto o valor e processo de recolhimento de retribuiccedilatildeo natildeo forem

estabelecidos em ato do Ministro da Cultura estes continuam sendo estabelecidos por

ato do titular do oacutergatildeo ou entidade da administraccedilatildeo puacuteblica federal a que estiver

vinculado o registro das obras intelectuais

sect 4ordm Fica o Poder Executivo Federal autorizado a transferir os acervos e

documentos das entidades e oacutergatildeos relacionados neste artigo ao oacutergatildeo ou entidade que

assumir essa atribuiccedilatildeo observado o regulamentordquo (NR)

ldquoArt 113-B Aplicam-se subsidiariamente as normas do Coacutedigo Civil aos negoacutecios

juriacutedicos direitos e deveres previstos nesta Leirdquo (NR)

Art 5o

Ficam revogados

I - o art 17 da Lei nordm 5988 de 14 de dezembro de 1973 e

II - o art 21 as aliacuteneas ldquohrdquo e ldquoirdquo do inciso VIII do art29 e o inciso II do art 49 todos

da Lei nordm 9610 de 19 de fevereiro de 1998

Brasiacutelia de de 2009 188ordm da Independecircncia e 121ordm da

Repuacuteblica

Page 4: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRASrepositorio.ul.pt/bitstream/10451/7438/1/ulfl126977_tm.pdf · of knowledge with different cultures and peoples. The dematerialization and

4

5

You never change things by fighting the existing reality To change something

build a new model that makes the existing model obsolete

(Buckminster Fuller)

6

7

IacuteNDICE

AGRADECIMENTOS 9

LISTA DE SIGLAS 11

RESUMO 15

ABSTRACT 17

INTRODUCcedilAtildeO 19

CAPIacuteTULO I

NOVAS TECNOLOGIAS NOVOS PARADIGMAS 25

10 O ideal da Rede como um territoacuterio livre 27

20 O fenocircmeno da desmaterializaccedilatildeo da obra 32

30 Espaccedilo e tempo se comprimem a dromocracia firma-se 35

40 Somos todos criadores a fusatildeo entre autor e consumidor 38

50 A era de ouro do remix 44

60 Tipos de vigilacircncia e tecnologias de controlo quem satildeo e como trabalham os

gatekeepers do ciberespaccedilo 47

CAPIacuteTULO II

DIREITOS DE AUTOR E REGULACcedilAtildeO DO CIBERESPACcedilO BRASIL E PORTUGAL

EM PERSPECTIVA 57

10 Breve retrospectiva histoacuterica do surgimento dos direitos de autor 59

20 Direitos morais e direitos patrimoniais 61

21 Direitos morais 61

22 Direitos patrimoniais 62

30 Direitos de autor e regulaccedilatildeo da Internet no Brasil e em Portugal 64

31 Legislaccedilatildeo autoral brasileira 64

32 Reforma da Lei brasileira do Direito Autoral (LDA) 67

33 O Marco Civil da Internet 69

34 Legislaccedilatildeo autoral portuguesa 73

35 Regulaccedilatildeo da Internet em Portugal 75

40 Salvaguarda dos direitos de autor e combate agrave pirataria no Brasil e em Portugal

Azeredo e Lei da Coacutepia Privada 71

41 O Projeto de Lei Azeredo 71

8

42 A Lei da Coacutepia Privada em Portugal 80

50 Controlo do ciberespaccedilo e acordos aleacutem fronteiras alguns casos-chave 84

51 HADOPI 84

52 Sinde-Wert 85

53 SOPA 86

54 ACTA 87

60 Brasil e Portugal algumas semelhanccedilas e diferenccedilas 88

70 Direitos de autor e regulaccedilatildeo da Internet uma relaccedilatildeo nebulosa 91

CAPIacuteTULO III

HARMONIZACcedilAtildeO DE INTERESSES 97

10 O direito de acesso agrave informaccedilatildeo e agrave comunicaccedilatildeo como um direito humano 99

20 Novos modelos e outras alternativas de conciliaccedilatildeo entre artistas induacutestria e

usuaacuterios de Internet 103

30 Flexibilizaccedilatildeo do regime autoral o Creative Commons 103

31 O Creative Commons Portugal 108

32 As licenccedilas 30 108

33 Parcerias 109

40 A exceccedilatildeo para compartilhamento de arquivos 110

50 Cloud computing 114

60 Licenccedila global 116

70 Mecenato global 117

80 Contribuiccedilatildeo criativa 118

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 121

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 127

ANEXOS 143

9

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo em primeiro lugar a Deus que esteve comigo todo o tempo e que me

deu refrigeacuterio nos momentos de dificuldade A mamatildee que me incentivou sempre

acreditou em mim e em meus objetivos e natildeo mediu esforccedilos para concretizaacute-los Aos

professores e colegas do mestrado com quem aprendi muito nos uacuteltimos dois anos

Aos meus amigos de perto e de longe que de alguma forma conseguiram aplacar a

dor da distacircncia Agradeccedilo especialmente agraves amigas Claacuteudia Caetano Nadeige Thireacute e

Naima Dahmas e ao professor Pedro Coelho que me deram forccedila vital em momentos

criacuteticos sem a qual eu natildeo teria concluiacutedo o curso

Quero dar meu ldquomuito obrigadardquo tambeacutem aos meus familiares principalmente agrave

minha prima Edyane Franco e ao meu tio Eacutelio Campos que tambeacutem apostaram em mim e

me deram todo apoio possiacutevel Tio e prima espero um dia retribuir todo o bem que vocecircs

jaacute fizeram e fazem agrave minha vida Que Deus lhes abenccediloe sempre

Ao meu caro orientador professor Manuel Frias Martins que me deu toda

liberdade de pensamento e de ideias para realizar esse trabalho aleacutem de contribuir

muitiacutessimo com suas orientaccedilotildees sempre concisas e praacuteticas Suas criacuteticas foram todas

construtivas Para aleacutem de grande mestre ficaraacute em minha lembranccedila como ser humano

admiraacutevel e exemplo de professor

Agradeccedilo tambeacutem agraves professoras que tive na Faculdade de Letras da Universidade

de Lisboa fora do departamento de Comunicaccedilatildeo e Cultura Ana Vrajitoru Roxana

Ciolaneanu e Zlatka Timenova-Valtcheva E um ldquoobrigadardquo agrave cara colega Manuela

Zamith

Agraves queridas irmatildes Ceciacutelia Faacutetima Maria Meyre Socorro e ao irmatildeo Eliacutesio que

sempre tiveram meu nome em conta em suas oraccedilotildees Quero partilhar essa vitoacuteria com

vocecircs tambeacutem

10

11

LISTA DE SIGLAS

ACTA - Anti-Counterfeiting Trade Agreement

ADAMI - Socieacuteteacute pour lAdministration des droits des artistes et musiciens

interpregravetes

AGECOP - Associaccedilatildeo para Gestatildeo da Coacutepia Privada

ANACOM - Autoridade Nacional de Comunicaccedilotildees

AOL - America On-Line

APCT - Associaccedilatildeo Portuguesa para o Controlo de Tiragem e Circulaccedilatildeo

ARPANet - Advanced Research Projects Agency Network

BBC - British Broadcasting Corporation

CDA - Coacutedigo do Direito de Autor e dos Direitos Conexos

Cesar - Centro de Estudos e Sistemas Avanccedilados do Recife

CNIL ndash Comission Nationale de lrsquoInformatique et des Liberteacutes

CNPD - Comissatildeo Nacional de Protecccedilatildeo de Dados

CNPJ ndash Cadastro Nacional de Pessoa Juriacutedica

CPF ndash Cadastro de Pessoas Fiacutesicas

CRIS - Communication Rights in the Information Society

DADVSI - loi relative aux Droits drsquoAuteur et aux Droits Voisins dans la Socieacuteteacute de

lrsquoInformation

DRM - Digital Rights Management

DUDH - Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos

ECAD - Escritoacuterio Central de Arrecadaccedilatildeo e Distribuiccedilatildeo

EUA ndash Estados Unidos da Ameacuterica

12

FBI - Federal Bureau of Investigation

FCEE-UCP - Faculdade de Ciecircncias Econocircmicas e Empresarias da Universidade Catoacutelica

Portuguesa

FGV DIREITO RIO - Escola de Direito da Fundaccedilatildeo Getulio Vargas no Rio de Janeiro

FSF - Free Software Foundation

GB ndash Gigabyte

GMT ndash Greenwich Mean Time

HADOPI ndash Haute Autoriteacute pour la Diffusion des Œuvres et la Protection des Droits

sur Internet

IBM - International Business Machines Corporation

ICANN - Internet Corporation for Assigned Names and Numbers

ICS - Instituto da Comunicaccedilatildeo Social

INTELI - empresa de tecnologia Inteligecircncia em Inovaccedilatildeo

ISCTE - Instituto Superior de Ciecircncias do Trabalho e da Empresa

IST - Instituto Superior Teacutecnico

IVA - Imposto sobre o Valor Acrescentado

IVC - Instituto Verificador de Circulaccedilatildeo

LDA ndash Lei do Direito Autoral

MinC ndash Ministeacuterio da Cultura

OMC - Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio

ONU ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

P2P ndash Peer-to-peer

PL118 ndash Projeto de Lei da Coacutepia Privada

13

PLC - Projeto de Lei da Cacircmara dos Deputados

PLS - Projeto de Lei do Senado Federal

PS - Partido Socialista

SALMJ - Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministeacuterio da Justiccedila

SARD ndash Socieacuteteacute drsquoAcceptation et de Reacutepartition des Dons

Serpro - Serviccedilo Federal de Processamento de Dados

SOPA ndash Stop Online Piracy Act

SPA - Sociedade Portuguesa de Autores

SPEDIDAM ndash Socieacuteteacute de Perception et de Distribution des Droits des Artistes-

Interpregravetes

SSD - Solid-state drive

STIM - Svenska Tonsaumlttares Internationella Musikbyraring

TB - Terabyte

TIC - Tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo

UE ndash Uniatildeo Europeia

UMIC - Agecircncia para a Sociedade do Conhecimento

UnB - Universidade de Brasiacutelia

UNESCO - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura

UNL - Universidade Nova de Lisboa

UP - Universidade do Porto

USB ndash Universal Serial Bus

USP - Universidade de Satildeo Paulo

VJ - Video Jockey

14

VOD - Video on demand

WSIS - World Summit on the Information Society

15

RESUMO

As tecnologias digitais foram responsaacuteveis por profundas metamorfoses em nossas

atividades laborais e interaccedilotildees sociais As maacutequinas conectadas em rede nos permitiram

aceder a conteuacutedos produzidos nos mais distantes pontos do planeta e estreitar os laccedilos de

conhecimento com diferentes culturas e povos

A desmaterializaccedilatildeo e reproduccedilatildeo com alto teor de fidelidade de bens culturais

alterou nossos haacutebitos de consumo A gradual eliminaccedilatildeo dos suportes materiais e a

praticidade dos arquivos digitais fez-nos consumir cultura em quantidades e formatos

jamais antes imaginados

O advento do digital pocircs em xeque os tradicionais papeis de artistas e induacutestrias e

levou-nos por um caminho sem alternativa a necessidade de acompanhar as

transformaccedilotildees que se sucederam e de adaptarmo-nos a elas No combate a praacuteticas como

a pirataria as legislaccedilotildees de muitos paiacuteses foram endurecidas e os meios juriacutedicos que

versam sobre o tema enveredaram por caminhos radicais

O presente estudo traz essa problemaacutetica agrave discussatildeo tomando como objetos de

anaacutelise os contextos brasileiro e portuguecircs Discutimos as legislaccedilotildees que versam sobre os

direitos autorais em ambos os paiacuteses para assim nos concentrarmos nas relaccedilotildees entre

tecnologia e Direito bem como nas metamorfoses produzidas pela Internet nessas ligaccedilotildees

desde sempre delicadas Para tal tratamos tambeacutem da questatildeo da regulaccedilatildeo da Rede tema

intimamente ligado agraves mateacuterias anteriormente citadas

Palavras-chave Cibercultura Controlo Direitos de autor Internet Privacidade

Regulaccedilatildeo da Internet

16

17

ABSTRACT

The digital technologies were responsible for profound transformations in our work

activities and social interactions The network connected machines allowed us to gain

access to contents produced in the most remotes parts of the world and to strengthen ties

of knowledge with different cultures and peoples

The dematerialization and reproduction with hi-fi quality of cultural goods has

altered our consumption habits The gradual removal of the material support and the

convenience of digital files made us consume culture in quantities and formats never

imagined before

The advent of the digital put into question the traditional roles of artists and

industries and led us to a path of no return the need to follow up the changes which have

taken place and adapt to them In the combat against practices like piracy the legislation

of many countries was hardened and we saw the legal means dealing with the theme in

radical ways

This study discusses this problem taking as objects of analysis the brazilian and

portuguese contexts We discuss the laws that deal with copyright in both countries in

order to focus on the relations between technology and law and on the transformations

produced by the Internet in these very delicate links To this end we also deal with the Net

regulation which is a theme closely linked to the aforementioned topics

Key-words Cyberculture Control Copyright Internet Privacy Internet regulation

18

19

INTRODUCcedilAtildeO

20

21

O advento da Rede e dos meios eletrocircnicos de comunicaccedilatildeo representou uma

revoluccedilatildeo sem volta no mundo dos negoacutecios e das relaccedilotildees humanas Nascemos vivemos

trabalhamos e morremos sob a eacutegide da automatizaccedilatildeo do tratamento de dados e da maior

parte dos processos executados por instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas Jaacute ningueacutem pode

imaginar o mundo sem a rede de telecomunicaccedilotildees que liga os mais distantes pontos do

planeta A informatizaccedilatildeo penetrou todas as esferas da vida e faz parte das atividades que

desenvolvemos e ateacute de noacutes mesmos ndash o que natildeo nos deixa esquecer o visionaacuterio Marshal

McLuhan e sua teoria dos meios como extensotildees do Homem

Com a Internet surgem o ciberespaccedilo e todas as implicaccedilotildees que um novo lugar

representa abre-se uma nova esfera onde figuramos como indiviacuteduos portadores de uma

identidade e de poderes de accedilatildeo mas natildeo soacute Vimos instituiacuterem-se novas formas de poder

a fim de hierarquizar as relaccedilotildees e criar o miacutenimo de ordem para um bom funcionamento

Essa institucionalizaccedilatildeo passa pelo campo legislativo e representou para o Direito o

grande desafio de legislar em um espaccedilo livre das amarras fiacutesicas e suas limitaccedilotildees

Legislar em um lugar transfronteiriccedilo global e sem barreiras geograacuteficas passou a ser uma

missatildeo ineacutedita e desafiadora poreacutem espinhosa

A Rede abriu novos nichos de mercado mas tambeacutem representou a entrada da

economia tradicional em um caminho de colapso sem volta A necessidade de modificar

certas praacuteticas comerciais vem se impondo de forma cada vez mais exigente E essa

mudanccedila natildeo passa apenas pela missatildeo de desenvolver produtos para serem vendidos em

lojas virtuais Haacute que considerar que os proacuteprios produtos passaram em si mesmos por

uma metamorfose radical a desmaterializaccedilatildeo Na era da informatizaccedilatildeo muitos bens satildeo

constituiacutedos por bits e jaacute natildeo estatildeo fixados em suportes materiais Compra-se muacutesica em

mp3 literatura e livros acadecircmicos em formato e-book filmes em formatos que

permitem a visualizaccedilatildeo em aparelhos moacuteveis por exemplo A miniaturizaccedilatildeo dos

equipamentos favoreceu a compressatildeo dos bens culturais em arquivos cada vez menores e

compactos faacuteceis de serem descarregados e trocados

Se antes encontraacutevamos um amigo e lhe empresaacutevamos um CD hoje podemos

enviar-lhe as mesmas muacutesicas sem sair de casa por e-mail acessiacuteveis atraveacutes de um link

que o redireciona a um site de hospedagem de arquivos ou a um software de partilha

peer-to-peer (P2P) Praacuteticas como esta geraram profundas mudanccedilas na forma como

consumimos cultura A evoluccedilatildeo da tecnologia facilitou a reproduccedilatildeo aleacutem de barateaacute-la

consideravelmente

22

Para combater a troca de arquivos protegidos por direitos de autor vaacuterios paiacuteses

desenvolveram projetos de lei que propotildeem o endurecimento dos diplomas vigentes

visando utilizar a tecnologia para combater a proacutepria tecnologia Esse endurecimento das

legislaccedilotildees nacionais e internacionais propotildee o uso de medidas que causam bastante

polecircmica como taacuteticas de vigilacircncia e controlo do traacutefego de informaccedilotildees na Rede A

situaccedilatildeo levanta duacutevidas sobre as reais motivaccedilotildees de governos e empresas privadas

engajadas nessa luta contra o desrespeito aos direitos de autor Qual o limite dessas

medidas Natildeo haveria outras saiacutedas que evitassem accedilotildees radicais e invasivas

O presente estudo traz essa problemaacutetica agrave discussatildeo tomando como foco um

breve quadro comparativo entre Brasil e Portugal Discutimos as legislaccedilotildees que versam

sobre os direitos autorais em ambos as paiacuteses para assim direcionarmos nosso estudo para

as relaccedilotildees entre tecnologia e Direito e para as metamorfoses produzidas pela rede

mundial de computadores nessas relaccedilotildees desde sempre delicadas Para tal tratamos

tambeacutem da questatildeo da regulaccedilatildeo da Internet tema que natildeo eacute visivelmente relacionado com

os direitos de autor mas que os atravessa em seu nuacutecleo

Dividimos o estudo em trecircs capiacutetulos No primeiro trazemos agrave tona conceitos mais

gerais relacionados com o surgimento e desenvolvimento da Rede como a utoacutepica ideia

de um territoacuterio livre de controlo a desmaterializaccedilatildeo dos bens culturais as novas praacuteticas

de consumo e outras transformaccedilotildees que ela acarretou Ainda nesse capiacutetulo discutimos

algumas situaccedilotildees em que a tecnologia eacute utilizada para exercer vigilacircncia e monitoraccedilatildeo

como nas atividades relacionadas com o emprego e o marketing por exemplo

No segundo capiacutetulo entramos diretamente no campo das ciecircncias juriacutedicas

traccedilando um breve panorama do nascimento dos direitos de autor para em seguida nos

dedicarmos aos nossos dois objetos de estudo Portugal e Brasil Comeccedilamos por delinear

um quadro histoacuterico de ambos os paiacuteses no campo do Direito avanccedilando depois para o

estudo de projetos especiacuteficos de cada paiacutes como o Projeto de Lei Azeredo no Brasil e a

Lei da Coacutepia Privada em Portugal

Eacute ainda no segundo capiacutetulo que damos alguns exemplos de projetos de lei

voltados para o combate agrave pirataria na Rede em proporccedilotildees globais (ou que mesmo locais

satildeo paradigmaacuteticos ou que podem afetar quem estaacute para aleacutem de suas fronteiras de

atuaccedilatildeo) Falamos tambeacutem sobre a regulaccedilatildeo da Internet no Brasil e em Portugal e para

finalizarmos traccedilamos uma ponte entre direitos de autor e regulaccedilatildeo temas

intrinsecamente relacionados apesar de esta relaccedilatildeo nem sempre ser evidente

23

Abrimos o terceiro e uacuteltimo capiacutetulo tratando do direito agrave informaccedilatildeo e agrave

comunicaccedilatildeo como um direito humano Em seguida apresentamos algumas propostas de

conciliaccedilatildeo entre interesses da induacutestria dos autores e dos usuaacuterios da Rede ndash seja atraveacutes

de alternativas aos sistemas fechados de licenciamento de obras intelectuais seja por meio

de novos modelos comerciais que combinem preccedilos atraentes boa oferta e respeito pelos

direitos de autor

Decidimos traduzir todas as citaccedilotildees feitas a partir de obras em liacutengua estrangeira

de maneira a conservar a unidade linguiacutestica do trabalho As expressotildees e termos

estrangeiros foram grafados em negrito enquanto que os sublinhados aspas e itaacutelicos

foram utilizados para grafar nomes proacuteprios e ressaltar ideias que noacutes (ou os autores

citados) consideramos relevantes

Tambeacutem para facilitar a leitura optamos por fazer uma lista com as siglas e

abreviaturas constantes no texto juntamente com seus respectivos equivalentes por

extenso Resolvemos disponibilizar como anexos trecircs textos-chave que utilizamos neste

trabalho o texto brasileiro do Marco Civil da Internet o novo Projeto de Lei da Coacutepia

Privada portuguecircs e o diploma brasileiro com as propostas de reforma da Lei do Direito

Autoral

24

25

CAPIacuteTULO I

NOVAS TECNOLOGIAS NOVOS PARADIGMAS

26

27

10 O ideal da Rede como um territoacuterio livre

O nascimento da Internet foi acompanhado pelo ideal utoacutepico de surgimento de um

espaccedilo de liberdade absoluta A convicccedilatildeo era a de que se podia fazer muito pouco para

controlar o fluxo de informaccedilotildees que ultrapassam as fronteiras geograacuteficas A forma como

a conexatildeo entre as maacutequinas e a proacutepria arquitetura do sistema foram pensadas e

realizadas contribuiacutea para seu caraacuteter descentralizado e independente Criada como

ferramenta militar a antiga ARPANet foi projetada pelos norte-americanos para ser uma

rede de transmissatildeo de informaccedilotildees baseada em pontos como uma teia de aranha Se um

desses pontos fosse sabotado o sistema natildeo se danificaria pois natildeo possui um ceacuterebro

central a ser atingido A queda de um dos noacutes natildeo impossibilita a circulaccedilatildeo de

informaccedilotildees Nicolas Negroponte ressalta o prodiacutegio do sistema descentralizado que eacute a

Rede e compara seu modelo de funcionamento aos patos voando em formaccedilatildeo mesmo na

inexistecircncia de um comando suas peccedilas se ajustam de maneira admiraacutevel (Negroponte

1995 156-157)

A maior contribuiccedilatildeo da Rede agrave humanidade talvez tenha sido a liberaccedilatildeo do poacutelo

da emissatildeo ou da palavra (Lemos 2007b 37) isto eacute qualquer pessoa que tenha acesso a

um computador conectado agrave Internet pode falar e ser ouvida por centenas milhares de

outros utilizadores da Rede Atraveacutes da publicaccedilatildeo de textos viacutedeos etc em blogs e redes

sociais o internauta pode comunicar-se de maneira interativa com outros e propagar suas

ideias

O nascimento das tecnologias digitais construiu uma nova espeacutecie de cultura

marcada por relaccedilotildees sociais econocircmicas e poliacuteticas mediadas pela esfera virtual a

cibercultura O aparecimento da cibercultura tem a ver sobretudo com a transformaccedilatildeo

dos novos aparatos de informaccedilatildeo em recursos de uso ordinaacuterio por parte de pessoas e

instituiccedilotildees nessa nova era a utilizaccedilatildeo de equipamentos como telefones portaacuteteis palms

pages etc e praacuteticas como o voto eletrocircnico e o uso de home bankings se tornaram

rotineiras A palavra cibercultura aparece para dar conta desse e dos demais fenocircmenos

que nasceram agrave volta das noviacutessimas tecnologias de comunicaccedilatildeo das chamadas miacutedias

digitais interativas

Associa-se a criaccedilatildeo da expressatildeo cibercultura agrave engenheira norte-americana Alice

Hilton Fundadora do Instituto de Pesquisas Ciberculturais em 1964 Hilton foi pioneira ao

28

usar a expressatildeo com sentido enfaacutetico referindo-se com seu uso a uma exigecircncia eacutetica da

nova era da automaccedilatildeo e das maacutequinas inteligentes (Ruumldiger 2011 08) Para a autora a

revoluccedilatildeo que essa nova era pocircs em marcha coloca agrave sociedade um desafio eacutetico de escala

universal A humanidade deve agora escolher entre a educaccedilatildeo emancipatoacuteria e o lazer

criativos de um lado e a adaptaccedilatildeo mecacircnica e a idiotia apaacutetica de outro Hilton afirmava

que a revoluccedilatildeo ciberneacutetica tornava necessaacuteria uma reestruturaccedilatildeo dos programas e

processos educacionais jaacute que apenas ldquoos seres humanos que aprenderem a usar a

maacutequina com sabedoria seratildeo por ela liberados para alcanccedilar sua excelecircnciardquo (Hilton

1964 146)

Com o aparecimento da Internet surgiram definiccedilotildees mais abrangentes Arturo

Escobar diz que o termo cibercultura refere-se ldquoa um amplo processo de construccedilatildeo

sociocultural (da realidade) posto em marcha no rastro das novas tecnologiasrdquo (Escobar

apud Ruumldiger 2011 09) Jaacute Pierre Leacutevy propocircs um conceito mais direto a cibercultura eacute

ldquoo conjunto de teacutecnicas (materiais e intelectuais) de praacuteticas de atitudes de modos de

pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do

ciberespaccedilordquo (Leacutevy 1999 17) Consideremos o ciberespaccedilo (o novo lugar onde se

desenvolve o mundo virtual e todos os processos que permitem e atuam em seu

funcionamento) como efeito da cibercultura

A cibercultura eacute classificada por Luacutecia Santaella como a sexta e mais recente era

cultural (Santaella 2010 77) Os estaacutegios anteriores seriam oral escrito impresso de

massas e das miacutedias A cultura de massa resultado do aacutepice de desenvolvimento das

induacutestrias culturais ficou marcada pela ideia do Homem como um mero receptor sem

poder de decisatildeo despersonalizado e alienado pela enxurrada de informaccedilotildees generalistas

produzidas em larga escala Isso se deu segundo Joeumll Rosnay porque a estrutura de

distribuiccedilatildeo e difusatildeo dos produtos e serviccedilos culturais baseada em um modelo piramidal

transformou-nos de facto em receptores passivos (Rosnay 1997 295-296) O exemplo

crucial eacute o da televisatildeo natildeo haacute qualquer relaccedilatildeo dinacircmica entre produtores e receptores de

informaccedilatildeo A uacutenica forma de saber o que o puacuteblico pensa eacute realizar inqueacuteritos pesquisas

de audiecircncia ou outros levantamentos do gecircnero ndash mas tudo isso se faz em outro contexto

que natildeo o do momento do visionamento Agrave parte disso soacute recebemos aquilo que nos eacute

dado sem poder interferir nos processos produtivos

A passagem para a cultura das miacutedias se deu com o aparecimento da TV por cabo

do fax das fotocopiadoras do videocassete e de um sortimento maior de possibilidades de

29

comunicaccedilatildeo Eacute aiacute que a segmentaccedilatildeo da audiecircncia aparece para quebrar a uniformidade

da oferta

Mas foi na transiccedilatildeo da cultura das miacutedias para a cibercultura que houve a

mudanccedila mais profunda a relaccedilatildeo receptiva de sentido uacutenico com o televisor caminhou

rumo ao modo interativo e bidirecional que eacute exigido pelos computadores Para Francisco

Ruumldiger na nova miacutedia digital a comunicaccedilatildeo eacute interativa em sentido simultaneamente

especiacutefico e ampliado ampliado por um lado porque permite a interaccedilatildeo humana ativa e

em matildeo dupla com os proacuteprios equipamentos e meios que a viabilizam especiacutefico de

outro porque esta circunstacircncia permite ainda a interaccedilatildeo social ativa com outros seres

humanos ao promover o aparecimento de redes participativas que superam a pura e

simples interligaccedilatildeo social como ocorria nas miacutedias precedentes (Ruumldiger 2011 13)

A cibercultura abriu vias alternativas de comunicaccedilatildeo e deu ao puacuteblico uma vasta

gama de opccedilotildees nunca antes possiacutevel Ao contraacuterio das miacutedias precedentes que montavam

suas grades de programaccedilatildeo e de conteuacutedos agrave revelia das muacuteltiplas preferecircncias do

puacuteblico no ciberespaccedilo o utilizador tem infinitas possibilidades de escolha podendo

transitar de um conteuacutedo para outro em apenas alguns cliques criando seu proacuteprio

ambiente informacional e mesclando-o com outros Natildeo que antes natildeo houvesse

possibilidades de acesso e produccedilatildeo underground da informaccedilatildeo (fanzines raacutedios piratas

etc) ndash elas sempre existiram mas com alcance bastante limitado

Na cibercultura a piracircmide produtiva em seu modelo hieraacuterquico no qual os

papeis desempenhados eram fixos comeccedila a ceder Cada um pode torna-se produtor

criador difusor de seus proacuteprios conteuacutedos A sociedade de distribuiccedilatildeo piramidal

comeccedilou a sofrer a concorrecircncia de uma sociedade reticular de integraccedilatildeo em tempo real ndash

eacute essa uma das caracteriacutesticas mais marcantes da nova era midiaacutetica a era da cibercultura

Cada vez mais ela vecirc seu lugar de mediadora social da opiniatildeo puacuteblica ser denunciado e

rejeitado por partes significativas das grandes massas que antes se deixavam de bom

grado representar (Rushkoff 1999 141-142)

No entanto essa mudanccedila natildeo significou a morte daquilo a que Manuel Castells

chamou ldquooligopoacutelios comunicacionaisrdquo (Castells 2005 24) A influecircncia das grandes

induacutestrias de miacutedia e dos conglomerados comunicacionais continua relativamente forte no

ciberespaccedilo persistindo tambeacutem a defesa de seus interesses em detrimento do interesse

puacuteblico Conforme Castells afirma

30

() a sociedade em rede constitui comunicaccedilatildeo socializante para laacute do sistema de mass

media que caracterizava a sociedade industrial Mas natildeo representa o mundo de

liberdade entoada pelos profetas da ideologia libertaacuteria da Internet Ela eacute constituiacuteda

simultaneamente por um sistema oligopolista de negoacutecios multimeacutedia que controlam um cada vez mais inclusivo hipertexto e pela explosatildeo de redes horizontais de

comunicaccedilatildeo localglobal (CASTELLS 2005 24)

Os grandes conglomerados temem perder sua influecircncia e seu prestiacutegio e para

evitar ameaccedilas reagem usando muitos meios que ajudam a manter seu status quo no

universo comunicacional Basta que os interesses das empresas vejam-se ameaccedilados por

iniciativa dos usuaacuterios para o conflito explodir e o confronto aparecer em toda sua

violecircncia (Antoun Lemos amp Pecini 2007 264)

Eacute preciso salientar que o desenvolvimento da informaacutetica expandiu natildeo apenas as

ferramentas libertaacuterias que abriram um maior acesso agrave informaccedilatildeo e agrave cultura mas

tambeacutem os meios de controlo a esse acesso A tecnologia se mostra uma faca de dois

gumes capaz de facilitar o contato de seu usuaacuterio com canais eficientes de interaccedilatildeo e

participaccedilatildeo mas ao mesmo tempo uacutetil aos governos e aos grupos de interesses em sua

empreitada pela vigilacircncia das atividades desse usuaacuterio na Rede Recorrendo mais uma

vez a Castells

Aplicaccedilotildees de software podem configurar-se sobre a Internet permitindo a

identificaccedilatildeo de rotas de comunicaccedilatildeo e conteuacutedos Atraveacutes do uso destas tecnologias pode-se transgredir a privacidade e enquanto se chega a relacionar determinados

indiviacuteduos com processos de comunicaccedilatildeo especiacuteficos em contextos institucionais

concretos eacute possiacutevel utilizar todas as formas tradicionais de controlo poliacutetico e

organizativo contra o indiviacuteduo ligado em rede (CASTELLS 2007 203)

Dispositivos moacuteveis equipamentos informaacuteticos interligados e redes sem fio

constituem o territoacuterio informacional Entenda-se por territoacuterio informacional as zonas de

controlo de informaccedilatildeo resultantes da intersecccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico com o eletrocircnico

Pensar em termos de territoacuterio digital permite visualizar a fronteira do fluxo

informacional colocando-nos questotildees poliacuteticas relacionadas com a privacidade o

controlo e a vigilacircncia Isto porque ldquotodo territoacuterio informacional eacute um lugar social de

vigilacircncia de fronteiras jaacute que lsquoa soberania se exerce nos limites de um territoacuteriorsquo

(Foucault 2006 27) Os territoacuterios informacionais satildeo lugares onde se exercem controles

[]rdquo (Lemos 2007a 208) Em obra posterior Andreacute Lemos afirma ainda o seguinte

31

O territoacuterio informacional natildeo eacute o ciberespaccedilo mas o espaccedilo movente hiacutebrido

formado pela relaccedilatildeo entre o espaccedilo eletrocircnico e o espaccedilo fiacutesico Por exemplo o lugar

de acesso sem fio em um parque por redes wi-fi eacute um territoacuterio informacional distinto

do espaccedilo fiacutesico parque e do espaccedilo eletrocircnico Internet Ao acessar a Internet por essa rede wi-fi o usuaacuterio estaacute em um territoacuterio informacional imbricado no territoacuterio fiacutesico

(e poliacutetico cultura imaginaacuterio etc) do parque [] O territoacuterio informacional cria um

lugar dependente dos espaccedilos fiacutesico e eletrocircnico a que ele se vincula [] O que estaacute

em jogo eacute o controle (territorializaccedilatildeo) informacional e consequentemente uma nova

funccedilatildeo dos espaccedilos (puacuteblicos e privados) (LEMOS 2010 64)

Ainda haacute quem acredite que a Rede eacute um territoacuterio neutro sem governanccedila que

exerccedila algum controlo de entrada e do traacutefego de conteuacutedos em circulaccedilatildeo A situaccedilatildeo natildeo

eacute bem esta desde que a Internet passou a ser mateacuteria de legislaccedilatildeo ndash como em casos de

paiacuteses que jaacute punem judicialmente algueacutem que produza e divulgue via Internet

informaccedilotildees caluniosas sobre outrem cometa fraudes financeiras usando a Rede como

canal fira a propriedade intelectual etc

Vaacuterios autores consideram o ciberespaccedilo como um espaccedilo ilimitado constituiacutedo

por redes informacionais planetaacuterias permitindo a circulaccedilatildeo fora de qualquer

constrangimento Para eles a Rede seria portanto um espaccedilo puro e eteacutereo Os entusiastas

da liberdade absoluta na Internet afirmam que no ciberespaccedilo o territoacuterio rugoso e

resistente eacute apagado apenas subsistindo um espaccedilo fluido feito para circulaccedilatildeo Contudo

embora realmente permita essa circulaccedilatildeo o ciberespaccedilo eacute tambeacutem um espaccedilo estriado

institucionalizado controlado feito por protocolos de acessos a partir de senhas

informacionais organizado por padrotildees tecnoloacutegicos que satildeo geridos pelo ICANN

instituiccedilatildeo do Departamento de Comeacutercio Americano O ciberespaccedilo natildeo eacute um territoacuterio

apenas liso e fluido mas tambeacutem um territoacuterio de controlo e vigilacircncia ou seja um ldquolugar

de territorializaccedilatildeordquo (Lemos 2007b 44-45)

Para Luacutecia Santaella o tratamento criacutetico das chamadas ldquosupervias

informacionaisrdquo e da cibercultura que nelas se gera pode se dividir em duas tendecircncias a

eufoacuterica e a disfoacuterica (Santaella 2010 72-73) Os adeptos eufoacutericos pregam a ideia da

libertaccedilatildeo e das possibilidades utoacutepicas abertas pela comunicaccedilatildeo digital A atmosfera de

zona livre que a Internet aparentava ter nutriu ideais de mudanccedilas das formas de poder

social vigentes Pensou-se a Rede e seu caraacuteter imaterial como um novo espaccedilo livre das

formas tradicionais de propriedade Como diz Sherry Turkle ldquoPessoas que pensam o

mundo em termos burocraacuteticos preconizaram os modos pelos quais as comunidades

eletrocircnicas estariam fadadas a minar as formas tradicionais de organizaccedilatildeo e poder

sociaisrdquo (Turkle 1997 247)

32

No outro extremo estatildeo os adeptos disfoacutericos que transplantam para o ciberespaccedilo

os mesmos criteacuterios utilizados para criticar as outras miacutedias a cultura de massas e a

induacutestria cultural sem considerar as novidades e as especificidades desse novo meio Eacute

preciso considerar que o ciberespaccedilo eacute um fenocircmeno suficientemente complexo para que

natildeo o categorizemos a partir do ponto de vista de qualquer miacutedia previamente existente

Ateacute na discussatildeo referente agrave regulaccedilatildeo1 devemos considerar esse aspecto Mais adiante

voltaremos a falar sobre isso

Henrique Antoun salienta a metamorfose provocada pela comunicaccedilatildeo distribuiacuteda

pelas redes interativas mas critica o cacircntico do cibermundo libertador entoado pelos mais

entusiasmados Apesar do potencial transformador das novas tecnologias de seu poder de

reunir pessoas em prol de objetivos comuns e de seu largo alcance no globo a profusatildeo

em cascata de informaccedilotildees irrelevantes ergue um gigantesco tsunami onde se guarda a

maior parte dos conteuacutedos em circulaccedilatildeo na Internet E isso tudo estaacute longe da

recombinaccedilatildeo criadora e da atitude libertaacuteria preconizada nos mantras entoados pelos

ciberativistas (Antoun 2010 142)

Devemos considerar poreacutem que atraveacutes da apoteose da emissatildeo livre (liberdade de

vozes opiniotildees ideias) o ciberespaccedilo abriu possibilidades de mudanccedila movimento e

linhas de fuga Natildeo eacute agrave toa que atitudes de repressatildeo agrave palavra e agrave conexatildeo livres satildeo

prerrogativas tiacutepicas dos regimes totalitaacuterios

O facto eacute que os poderes judiciaacuterios de vaacuterias naccedilotildees espalhadas pelo planeta

perceberam a necessidade de punir natildeo apenas quem ferisse a moral de outra pessoa

atraveacutes da Rede mas tambeacutem quem atentasse contra outro dos ldquodireito de personalidaderdquo

ndash a saber os direitos de autor - e tambeacutem quem desrespeitasse a propriedade intelectual

Com isso a principal duacutevida que se levanta desde entatildeo eacute como adaptar o quadro juriacutedico

que versa sobre os direitos de autor os direitos conexos e a propriedade intelectual a esse

novo meio o virtual Para tentar responder a essa questatildeo eacute preciso observar algumas

mudanccedilas trazidas natildeo soacute pela Internet mas tambeacutem pelas miacutedias digitais de maneira

geral

20 O fenocircmeno da desmaterializaccedilatildeo da obra

1 Utilizamos aqui o termo regulaccedilatildeo para nos referirmos ao conjunto de medidas legais ou regulamentares

que regem um assunto (no caso um meio a Internet) embora haja especialistas que evoquem o mesmo tema

com os termos regulamentaccedilatildeo governaccedilatildeo ou governanccedila

33

Em seu formato analoacutegico uma informaccedilatildeo ndash agrave maneira de uma onda sonora que

se desloca no ar ou de um sinal eleacutetrico ndash eacute uma grandeza fiacutesica que varia e evolui no

tempo de maneira contiacutenua A digitalizaccedilatildeo consiste em dividir essa grandeza em

pequenas fraccedilotildees mediante o valor que tecircm em intervalos regulares (para a muacutesica de um

CD por exemplo 40000 vezes por segundo) Depois eacute preciso quantificar esse valor

atribuindo-lhe uma identificaccedilatildeo informaacutetica sob formato binaacuterio isto eacute utilizando apenas

dois nuacutemeros 0 e 1 (bits da informaccedilatildeo) O sinal digital eacute portanto um fluxo de bits

estocado em um disco laser e agrupado em pacotes podendo ser tratado por qualquer

computador

A digitalizaccedilatildeo homogeneiacuteza todas as fontes de informaccedilatildeo em cadeias sequenciais

de 0 e 1 Suas maiores vantagens satildeo a compressatildeo de dados e a correccedilatildeo de erros A

compressatildeo baseia-se no facto de que um sinal conteacutem muitas informaccedilotildees inuacuteteis ou

redundantes Atraveacutes da observaccedilatildeo dos bits no tempo no espaccedilo ou em ambos podem-se

remover as repeticcedilotildees comprimindo assim a forma baacutesica do som e da imagem Isso

permite inclusive a compressatildeo e descompressatildeo codificando e decodificando mensagens

em viacutedeo por exemplo A fusatildeo entre aacuteudio viacutedeo e texto em um soacute produto eacute

denominada multimiacutedia Ela refere-se assim ao tratamento digital de todas as

informaccedilotildees (som imagem programas informaacuteticos e texto) com a mesma linguagem

universal aquilo a que Joeumll Rosnay chamou de ldquoesperanto das maacutequinasrdquo (Rosnay 1997

97)

Antes da digitalizaccedilatildeo os suportes eram incompatiacuteveis e isolados cada um com

uma funccedilatildeo especiacutefica fita magneacutetica para viacutedeo ou som papel para texto e peliacutecula para

fotografia ou filme Hoje a transmissatildeo de dados digitais natildeo depende do meio de

transporte (cabos sateacutelite ondas de raacutedio etc) e sua qualidade natildeo eacute afetada por ele

Aleacutem do mais sua estocagem eacute extremamente barata Desde o iniacutecio da informaacutetica as

memoacuterias dos computadores tecircm evoluiacutedo sempre em direccedilatildeo a uma maior capacidade de

armazenamento maior miniaturizaccedilatildeo maior rapidez de acesso e confiabilidade enquanto

seu custo cai constantemente O processamento de dados por parte dos computadores

tambeacutem se desenvolve a passos largos obedecendo agrave previsatildeo de Gordon Moore em 1965

(naquela que ficou conhecida como ldquoLei de Moorerdquo que disse que o poder de

processamento dos computadores dobraria a cada vinte e quatro meses) (Leacutevy 1999 34)

34

Em um uacutenico setor do todo digital foram fundidas as principais formas de comunicaccedilatildeo

humana o documento escrito (imprensa livro etc) o audiovisual (cinema televisatildeo

etc) as telecomunicaccedilotildees (telefone cabo sateacutelites) e a informaacutetica (computadores

softwares etc) Eacute esse o processo comumente denominado ldquoconvergecircncia das miacutediasrdquo

(Santaella 2010 84)

A digitalizaccedilatildeo tambeacutem facilitou os processos de transferecircncia de dados Depois de

serem convertidos em linguagem binaacuteria os dados hiacutebridos podem ser sintetizados em

qualquer lugar e em qualquer tempo para gerar produtos com as mesmas caracteriacutesticas

visuais e sonoras Assim os dados natildeo dependem do tempo nem do espaccedilo podendo ser

reproduzidos de maneira idecircntica natildeo importando qual tenha sido sua origem nem seu

destino Eles satildeo telegrafaacuteveis Para que isso se realize precisam apenas de um modem e

de uma conexatildeo telefocircnica entre terminais de computadores

Foram dois estudantes da Universidade de Chicago que criaram o modem em

1978 Para natildeo percorrerem a longa distacircncia entre suas respectivas casas os estudantes

tentaram desenvolver um sistema de transferecircncia de programas de um computador a

outro via telefone Eles entatildeo inventaram o protocolo Xmodem que permitia que

computadores transferissem arquivos diretamente sem passar por um sistema principal

Modem significa ldquomodulador-desmoduladorrdquo Ele transforma os impulsos eletrocircnicos

produzidos pelo computador (os coacutedigos sob a forma de bits) em impulsos sonoros ou

digitais compactados tornando-os assim capazes de viajar em alta velocidade pelas redes

telefocircnicas Na recepccedilatildeo outro modem reconverte esses impulsos em textos sons ou

imagens Joeumll Rosnay diz que o modem eacute a sinapse universal do sistema nervoso

planetaacuterio (Rosnay 1997 138)

Portanto o que diferencia a informaccedilatildeo distribuiacuteda pela Internet daquela difundida

em formatos tradicionais eacute a natureza ela deixou de se apoiar em suportes fiacutesicos como

um livro ou CD por exemplo para ser convertida em linguagem binaacuteria O efeito nos leva

a pensar em paralelo ao que Karl Marx quis dizer quando afirmou que ldquotudo o que eacute soacutelido

desmancha no arrdquo (Marx apud Berman 1982 85) Essa mudanccedila na forma como a

informaccedilatildeo eacute fixada provocou profundas transformaccedilotildees na maneira como eacute distribuiacuteda

comercializada e reproduzida A desmaterializaccedilatildeo da obra diminuiu os limites entre a

reproduccedilatildeo difusatildeo e sua circulaccedilatildeo Jaacute natildeo existem barreiras fiacutesicas que separem os trecircs

processos Uma obra que antes soacute poderia ser distribuiacuteda pelos serviccedilos postais hoje pode

ser acessada atraveacutes de um download e seu conteuacutedo pode ser visualizado por meio de um

35

servidor de Internet A era da cibercultura faz nascer um novo paradigma a digitalizaccedilatildeo

que por ter vocaccedilatildeo cosmopolita rompe fronteiras barateando os custos da circulaccedilatildeo e

reproduccedilatildeo de artefatos culturais

A aura da obra original agrave qual se referiu Walter Benjamin no claacutessico texto ldquoA

obra de arte na era da sua reprodutibilidade teacutecnicardquo (Benjamin 2012 59) quebra-se

duplamente na era da cibercultura natildeo soacute pela possibilidade de copiaacute-la infinitamente

mas tambeacutem de reproduzi-la e espalhaacute-la sem sequer ser preciso algum suporte fiacutesico

Pierre Sirinelli afirma que o fenocircmeno da digitalizaccedilatildeo de bens culturais ldquopode levar agrave

lsquodessacralizaccedilatildeorsquo da obra de criaccedilatildeo intelectual com a eliminaccedilatildeo de seu suporte fiacutesico

[]rdquo (Sirinelli apud Neto 1997 14) A ausecircncia do exemplar material faz faltar uma das

caracteriacutesticas da obra protegida pelo direito do autor a fixaccedilatildeo (Paesani 2008 48) A

desmaterializaccedilatildeo da obra e suas consequecircncias satildeo pontos centrais na discussatildeo sobre as

mudanccedilas sofridas pelo direito de autor na era da informatizaccedilatildeo

30 Espaccedilo e tempo se comprimem a dromocracia firma-se

As novas tecnologias criaram um novo lugar o mundo virtual que eacute o espaccedilo onde

se desenvolve nossa existecircncia enquanto agentes virtuais capazes de intervir e de ocupar

esse territoacuterio

A noccedilatildeo de territoacuterio eacute polissecircmica e natildeo deve ser entendida apenas pelo aspecto

juriacutedico como espaccedilo fiacutesico delimitado (Lemos 2007a 209) A ideia de territoacuterio evoca o

sentido de controlo sobre fronteiras que podem ser fiacutesicas sociais simboacutelicas ou

subjetivas A criaccedilatildeo de um territoacuterio supotildee a intenccedilatildeo de controlar os processos que se

datildeo no interior das fronteiras Desterritorializar eacute portanto quebrar essas fronteiras criar

linhas de fuga Eacute justamente o que vem acontecendo desde o surgimento da Rede

A transformaccedilatildeo midiaacutetica promovida pela Internet aboliu nossas tradicionais

noccedilotildees de espaccedilo fiacutesico-geograacutefico A rede mundial de computadores trouxe a diminuiccedilatildeo

das distacircncias geograacuteficas de forma ainda mais acentuada que outros meios de

comunicaccedilatildeo veteranos ndash como o telefone por exemplo - atraveacutes de uma instantaneidade

nunca vista antes Ela promoveu a convergecircncia de diversos meios de comunicaccedilatildeo

fazendo-os trabalhar em conjunto e assim possibilitando o surgimento de um espaccedilo

multimiacutedia capaz de unificar tecnologias de texto aacuteudio e viacutedeo em tempo real

36

Com o advento da Internet a informaccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo deixaram de estar

espacialmente localizadas - isto eacute foram transferidas para o espaccedilo virtual ou ciberespaccedilo

possibilitando o contato simultacircneo de inuacutemeras pessoas entre si e com a memoacuteria do

conjunto dos computadores participantes da rede independentemente de sua localizaccedilatildeo

no espaccedilo (Sorj 2003 36) A cibercultura representou a apoteose da ldquoaldeia globalrdquo

imaginada por Marshall McLuhan (1969) agrave maneira de uma aldeia onde as notiacutecias

espalham-se velozmente a comunicaccedilatildeo em escala global se produz de maneira

praticamente instantacircnea

Armand Mattelart argumenta que a Rede tornou nulas as noccedilotildees de centralidade de

territorialidade e de materialidade

As quatro virtudes cardeais da sociedade informacional ndash ldquodescentralizarrdquo ldquoglobalizarrdquo ldquoharmonizarrdquo e ldquodar pleno poder para fazerrdquo (empowerment) ndash estatildeo a

ponto de derrubar o arcaico Leviatatilde Noacutes nos socializaremos em bairros digitais nos

quais o espaccedilo fiacutesico natildeo seraacute mais pertinente O digital suportaraacute cada vez menos a

dependecircncia em relaccedilatildeo a um lugar especiacutefico e a um tempo especiacutefico

(MATELLART 2002 150)

Anteriormente afirma que

A transgressatildeo das fronteiras eacute seu corolaacuterio quer sejam elas fiacutesicas ou funcionais O

local o nacional e o global se interpenetram A concepccedilatildeo a produccedilatildeo e a

comercializaccedilatildeo satildeo pensadas de modo sincrocircnico O recipiente e o conteuacutedo o

hardware e o software se englobam (MATTELART 2002 53)

Andreacute Lemos refere-se ao ciberespaccedilo como ambiente ldquodesterritorializanterdquo

segunda dimensatildeo de lugar que se constitui em uma realidade agrave parte do mundo material

em que vivemos e que apaga as fronteiras existentes no mundo fiacutesico pelo chamado

multiculturalismo (Lemos 2007a 212) A Rede abre espaccedilo para que diferentes culturas

se expressem e se mostrem dando-se a conhecer aos outros

Podemos dizer que a cibercultura serviu como agente difusor por excelecircncia do

multiculturalismo pela possibilidade de contatos transnacionais que promoveu Nossas

raiacutezes culturais natildeo se desprendem de noacutes mas tornam-se moacuteveis flutuantes Se

quisermos descobrir o sufismo por exemplo podemos aceder diretamente a um site

egiacutepcio e mesmo que natildeo saibamos ler em aacuterabe jaacute haacute ferramentas que permitem fazecirc-lo

pois auxiliam na traduccedilatildeo bruta de textos Nem mesmo as liacutenguas estrangeiras representam

37

barreiras Podemos ter liccedilotildees baacutesicas de aacuterabe gratuitamente pela Internet A abertura de

espaccedilos para as diferentes expressotildees culturais e linguiacutesticas manifestarem-se e a

facilidade de aceder a elas atingiu seu apogeu no ciberespaccedilo todo um universo

multicultural de pluralidade estaacute largamente disponiacutevel a alguns cliques de distacircncia

Hoje a Rede permite ao usuaacuterio estar em todos os lugares ao mesmo tempo mas

numa espeacutecie de natildeo-lugar ou de territoacuterio transnacionalizado Atraveacutes da Internet eacute

possiacutevel ouvir uma raacutedio francesa ler um jornal indiano e visitar um site russo Fazemos

coisas assim diariamente com naturalidade e facilidade Podemos conversar com um

amigo que estaacute no Liacutebano atraveacutes do Skype sem nos darmos conta de que vivemos um

processo de desterritorializaccedilatildeo generalizado Acompanhamos o desenrolar da Primavera

Aacuterabe ao vivo atraveacutes da Rede acessamos informaccedilotildees e descobrimos aquilo que natildeo faz

necessariamente parte de nosso territoacuterio fiacutesico Podemos vivenciar processos globais natildeo

enraizados na nossa tradiccedilatildeo cultural Esse fenocircmeno eacute o que Anthony Giddens (2005 15)

chama de ldquodescontextualizaccedilatildeordquo2

Por descontextualizaccedilatildeo refiro-me agrave ldquodesinserccedilatildeordquo das relaccedilotildees sociais dos contextos

locais de interacccedilatildeo e agrave sua reestruturaccedilatildeo atraveacutes de extensotildees indefinidas de espaccedilo-

tempo Os mecanismos de descontextualizaccedilatildeo [] removem as relaccedilotildees sociais da sua

ldquofixaccedilatildeordquo em locais especiacuteficos (GIDDENS 2005 15-37)

A compressatildeo do espaccedilo-tempo institui o ldquotempo realrdquo e a possibilidade de acesso

a informaccedilotildees em todos os recantos do planeta As miacutedias eletrocircnicas criam assim

processos desterritorializantes em niacuteveis poliacutetico econocircmico social cultural e subjetivo

A desterritorializaccedilatildeo informacional afeta a poliacutetica a economia o indiviacuteduo os viacutenculos

identitaacuterios a arte A Internet eacute efetivamente maacutequina desterritorializante sob os aspectos

poliacutetico (acesso e accedilatildeo para aleacutem das fronteiras) econocircmico (circulaccedilatildeo financeira

mundial) cultural (consumo de bens simboacutelicos mundiais) e subjetivo (influecircncia global

na formaccedilatildeo do sujeito) Pode-se afirmar que processos de desencaixe e de compressatildeo

espaccedilo-tempo entraram em accedilatildeo na cibercultura

Isso leva-nos a pensar no conceito de ldquodromologiardquo proposto por Paul Virilio

(2000) e retomado por Eugecircnio Trivinho (2007) Dromologia vem da palavra dromos no

original grego ldquocorridardquo A dromologia seria portanto o estudo da velocidade que

segundo Virilio tornou-se desde a Revoluccedilatildeo Industrial o regime tecnoloacutegico integral que

2 No original em inglecircs disembedding (Giddens 1995)

38

abarca todas as esferas da vida e que se ergueu como sistema social de caraacuteter

transnacional

Trivinho fala em ldquodromocracia ciberculturalrdquo para descrever a atual fase mundial

do capitalismo tardio Integrando comunicaccedilatildeo em rede instantaneidade e cultura digital

ela se traduz em outros termos como o estaacutegio mais avanccedilado da civilizaccedilatildeo midiaacutetica em

tempo real Ela tornou-se a loacutegica exponencial especiacutefica da cibercultura Dizendo de

maneira inversa a cibercultura em sua natureza se mostra como uma sociodromocracia

tecnoloacutegica em sua forma mais definida (Trivinho 2007 23)

Podemos dizer que a cibercultura eacute a era dromocraacutetica por excelecircncia no

ciberespaccedilo a velocidade eacute a grandeza mais significativa e influente

O permanente intento de vitoacuteria cineacutetica sobre o territoacuterio geograacutefico alcanccedila assim paradoxalmente na intermitente linha do tempo histoacuterico o seu ponto-limite a sua

condiccedilatildeo insuperaacutevel de natildeo-retorno com a proliferaccedilatildeo comercial dos meios

eletrocircnicos de comunicaccedilatildeo especificamente no que dizem respeito ao tempo real []

O respectivo ecircxito sobre o territoacuterio geograacutefico significa mais propriamente liquidaccedilatildeo

e superaccedilatildeo do mesmo em favor da loacutegica pura do tempo (TRIVINHO 2007 56-57)

A questatildeo do territoacuterio tem relaccedilatildeo direta com o controlo A noccedilatildeo de territoacuterio

como controlo vem da etologia mostrando como o comportamento dos animais estabelece

zonas efetivas de controlo Toda ideia de territoacuterio tem ligaccedilatildeo direta com a noccedilatildeo de

acesso e controlo no interior das fronteiras Para Lemos as palavras acesso e controlo satildeo

extremamente importantes para que consigamos compreender a sociedade tecnoloacutegica

contemporacircnea (Lemos 2007b 43) O acesso ao universo informacional se daacute atraveacutes de

palavras-passe E na Rede haacute efetivamente um maior controlo sobre o que emitimos e

recebemos ao contraacuterio da praacutetica de consumo de informaccedilatildeo na cultura de massas Na

claacutessica cultura de massas a possibilidade de controlo existia apenas sobre as informaccedilotildees

recebidas escolha de jornais de emissoras de televisatildeo de estaccedilotildees de raacutedio etc mas natildeo

sobre a emissatildeo O territoacuterio informacional eacute uma heterotopia (Foucault 1984) do controlo

e acesso a informaccedilotildees digitais

40 Somos todos criadores a fusatildeo entre autor e consumidor

39

O papel do autor sofreu profundas metamorfoses na era da cibercultura

Hildebrando Neto afirma que ldquoas novas tecnologias afastaram o criador da criaccedilatildeo

pulverizando os mecanismos de defesa da obra no acircmbito das redes de comunicaccedilatildeo

eletrocircnicardquo (Neto 1997 14) A aceleraccedilatildeo tecnoloacutegica tambeacutem cria outro receptor ativo

agitado cada vez mais conectado e produtor de novos valores sentidos e comportamentos

Na cibercultura a produccedilatildeo de informaccedilotildees deixou de obedecer agrave ordem do fluxo um

todos e passou a ser todos todos (Leacutevy 1999 63) Conforme diz Ronaldo Lemos

A grande promessa da Internet era exatamente esta romper com as barreiras entre

produtor e consumidor da cultura entre puacuteblico e artista Criar um territoacuterio neutro aberto que tornasse o indiviacuteduo o centro da informaccedilatildeo Um territoacuterio em que natildeo

necessariamente seria preciso reproduzir o modelo de concentraccedilatildeo da miacutedia que

predominou em todo o seacuteculo XX Em outras palavras tornar a cultura um produto da

interaccedilatildeo entre todos permitindo a qualquer um participar criativamente na sua

constituiccedilatildeo (LEMOS 2005 181)

Andreacute Lemos afirma que a cibercultura reconfigurou a induacutestria cultural pois

instaurou uma estrutura midiaacutetica iacutempar na histoacuteria da humanidade pela primeira vez

qualquer indiviacuteduo pode produzir e publicar informaccedilatildeo em tempo real sob diversos

formatos e modulaccedilotildees adicionar e colaborar em rede com outros etc (Lemos 2007b

39)

No atual contexto da cibercultura o antigo receptor passa a produzir e emitir sua

proacutepria informaccedilatildeo de forma livre multimodal (em vaacuterios formatos midiaacuteticos) e

planetaacuteria Os usuaacuterios estatildeo produzindo viacutedeos fotos muacutesicas escrevendo em blogs

criando foacuteruns e comunidades desenvolvendo softwares e ferramentas da Web 20 A

facilidade de produzir conteuacutedos tambeacutem afeta a forma como se daacute essa tarefa A

revoluccedilatildeo no papel do produtor atinge um ponto-chave no processo criativo a questatildeo do

estilo O estilo pode ser definido como um certo modo de criar proacuteprio de um autor

indicado pelas marcas de autoria (Santaella 2009 104)

Nos seacuteculos precedentes se encarava a atividade de criaccedilatildeo como algo

completamente individual O autor era algueacutem que isoladamente desenvolvia suas

criaccedilotildees artiacutesticas de forma solitaacuteria soacute deixando essa situaccedilatildeo no momento em que

apresentava sua obra publicamente pela primeira vez Conforme diz Henrique Gandelman

[] nesse periacuteodo noacutes temos a obra totalmente individual que se reconhece ateacute pelo estilo Se vocecirc lecirc um texto vecirc uma pintura ouve uma muacutesica no raacutedio vocecirc vai dizer

esse aiacute eacute Bach esse aiacute eacute Mozart esse aiacute eacute Joatildeo Gilberto O estilo eacute o proacuteprio homem a

40

continuaccedilatildeo da sua personalidade Entatildeo noacutes podemos observar que as primeiras leis de

direito autoral satildeo enfocadas centralizadas nesse trabalho individual em que se tinha

claramente o escritor o pintor o compositor o arquiteto que satildeo trabalhos feitos por

uma individualidade na solidatildeo do seu trabalho (GANDELMAN 1997 68)

As consequecircncias que o desenvolvimento tecnoloacutegico teve no estilo natildeo podem ser

deixadas de lado Maacutequinas como o computador alteraram o gesto criativo humano

automatizando-o Elas passam a funcionar como parceiras do indiviacuteduo no ato de criar

Luacutecia Santaella sugere que jaacute que o estilo se define pelas marcas de autor na

contemporaneidade eacute preciso compartilhar essas marcas com as maacutequinas que misturam

personificaccedilatildeo e automatizaccedilatildeo da criaccedilatildeo (Santaella 2009 105)

Outro fator que coloca profundamente em questatildeo a tradicional ideia de autoria

encontra-se no vastamente discutido conceito de interatividade Tecnologias da

inteligecircncia satildeo sine qua non tecnologias interativas E por isso mesmo elas nublam as

fronteiras entre produtores e consumidores emissores e receptores Nas formas literaacuterias

no teatro no cinema na televisatildeo e no viacutedeo haacute sempre uma linha divisoacuteria relativamente

clara entre produtores e receptores o que natildeo acontece mais nas novas formas de

comunicaccedilatildeo e de criaccedilatildeo interativas

Para Julio Plaza a interatividade natildeo eacute somente uma comodidade teacutecnica e

funcional ela implica fiacutesica psicoloacutegica e sensivelmente o espectador em uma praacutetica de

transformaccedilatildeo (Plaza 2001 36) O princiacutepio que rege a interatividade nas redes eacute o da

mutabilidade da efemeridade do vir-a-ser em processos que demandam a reciprocidade a

colaboraccedilatildeo a partilha A interatividade ciberespacial natildeo seria possiacutevel sem a

competecircncia semioacutetica do usuaacuterio para lidar com as interfaces computacionais Essa

competecircncia semioacutetica implica vigilacircncia receptividade escolha colaboraccedilatildeo controlo

desvios reenquadramentos em estados de previsibilidade de acasos desordens

adaptabilidade que satildeo entre outras as condiccedilotildees exigidas para quem prevecirc um sistema

interativo e para quem o experimenta (Santaella 2009 108-109)

Com a liberaccedilatildeo da emissatildeo os usuaacuterios podem produzir e transmitir de forma

planetaacuteria diversos tipos de informaccedilatildeo nos mais variados formatos O advento da Internet

e das maacutequinas interconectadas fomentou o aparecimento de plataformas colaborativas de

construccedilatildeo do saber Segundo Andreacute Lemos ldquoAs formas da arte eletrocircnica colaborativas

mostram diversas accedilotildees coletivas participativas e recombinatoacuterias nas quais pessoas e

grupos cooperam entre si pela via telemaacutetica [] A Internet desde seus primoacuterdios

41

configura-se como lugar de conexatildeo e compartilhamentordquo (Lemos 2007b 40) Desde seu

surgimento o ciberespaccedilo fez crescer as formas de produccedilatildeo e o consumo informacional

pela liberdade produtiva pela circulaccedilatildeo e por processos colaborativos Uma nova

economia poliacutetica comeccedilou a tomar forma produccedilatildeo significa liberaccedilatildeo da emissatildeo e

consumo eacute conexatildeo circulaccedilatildeo distribuiccedilatildeo

Como jaacute dito anteriormente os tradicionais meios de comunicaccedilatildeo unidirecionais

(emissor receptor) sofreram um abalo de proporccedilotildees gigantescas com consequecircncias

irreversiacuteveis Rodrigo Moraes reforccedila essa mudanccedila dizendo que os sistemas de

compartilhamento de arquivos por exemplo foram uma das novas ferramentas que

puseram em xeque o modelo centralizador das miacutedias claacutessicas estruturado num uacutenico

canal de emissatildeo (Moraes 2006 311) A tecnologia digital derruba a noccedilatildeo unilateral de

produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de obras intelectuais pois as novas capacidades dos usuaacuterios

descentralizaram o tradicional monopoacutelio imposto haacute seacuteculos pelas chamadas induacutestrias

culturais

Para Pierre Leacutevy a diferenccedila entre o atual estaacutegio da sociedade de informaccedilatildeo e o

quadro comunicacional anterior agrave informatizaccedilatildeo eacute substancialmente que no ciberespaccedilo

natildeo falamos mais de uma difusatildeo a partir de centros mas sim de um lugar de intensa

interaccedilatildeo O ciberespaccedilo abriga negociaccedilotildees sobre significados processos de

reconhecimento muacutetuo dos indiviacuteduos e dos grupos por meio das atividades de

comunicaccedilatildeo harmonizaccedilatildeo e debate entre os participantes (Leacutevy 1999 224)

A Rede promoveu uma abertura agrave democratizaccedilatildeo do saber O poder reunido na

centralizaccedilatildeo das informaccedilotildees vem sendo quebrado gradativamente e as novas

ferramentas de comunicaccedilatildeo comeccedilam a ser deixadas ao alcance de muitos Essa

transformaccedilatildeo evoca o conceito de inteligecircncia coletiva elaborado por Pierre Leacutevy Na era

da cibercultura assistimos agrave construccedilatildeo coletiva de conhecimentos jaacute que o espectador

tem o poder de ser tambeacutem ele emissor de informaccedilotildees e estar em contato com outros

para partilhaacute-las A inteligecircncia coletiva ldquoEacute uma inteligecircncia distribuiacuteda por toda parte

incessantemente valorizada coordenada em tempo real que resulta em uma mobilizaccedilatildeo

efetiva das competecircnciasrdquo (Leacutevy 2003 28) Partindo do pressuposto de que ldquoNingueacutem

sabe tudo todos sabem alguma coisa todo o saber estaacute na humanidaderdquo (ibidem 29) o

autor diz que o conhecimento se constroacutei na reuniatildeo do saber de cada um sobre

determinado assunto Ele estaacute em constante mutaccedilatildeo pois as diferentes informaccedilotildees vatildeo

se agregando gradativamente durante sua construccedilatildeo de forma que esse conhecimento

42

estaacute sempre inacabado aberto agraves adiccedilotildees ou modificaccedilotildees ao longo do tempo e dos

diferentes contextos sociais

A Internet eacute um espaccedilo privilegiado para a construccedilatildeo da inteligecircncia coletiva

sendo ela mesma fruto desta uacuteltima A eliminaccedilatildeo das barreiras espaccedilo-temporais cria um

lugar de fluxo para o conhecimento em construccedilatildeo jaacute que a troca e a reuniatildeo de

informaccedilotildees que partem de diversas origens satildeo facilitadas pela Rede Nessa perspectiva

o ciberespaccedilo seria o espaccedilo moacutevel das interaccedilotildees entre conhecimentos e conhecedores de

coletivos inteligentes desterritorializados As relaccedilotildees sociais de colaboraccedilatildeo entre os

utilizadores satildeo horizontais diferindo das relaccedilotildees entre produtores e consumidores das

induacutestrias culturais As relaccedilotildees satildeo constituiacutedas a partir da comunicaccedilatildeo entre pessoas e

do compartilhamento simboacutelico que criam viacutenculos e possibilitam a solidariedade As

redes horizontais de produccedilatildeo colaborativa natildeo satildeo prisioneiras dos valores de troca dos

seus produtos As redes horizontais de produccedilatildeo satildeo processos sociais criativos (Lima e

Santini 2006 123)

A interaccedilatildeo entre os diferentes usuaacuterios da Internet na elaboraccedilatildeo de

conhecimentos coletivos colabora para a construccedilatildeo de um senso comunitaacuterio na Rede Ao

inveacutes de ser um espaccedilo caoacutetico onde todos falem tudo ao mesmo tempo a Rede pode ser

um lugar onde todos se reuacutenam e formem uma comunidade organizada em torno de um

objetivo comum a construccedilatildeo coletiva do saber Em um coletivo inteligente a

comunidade assume como objetivo a constante negociaccedilatildeo da ordem estabelecida de sua

linguagem do papel de cada um e finalmente da definiccedilatildeo de seus objetivos Para Pierre

Leacutevy

Interagindo com diversas comunidades os indiviacuteduos que animam o espaccedilo do saber

longe de serem os membros intercambiaacuteveis de castas imutaacuteveis satildeo ao mesmo tempo

singulares muacuteltiplos nocircmades e em vias de metamorfose (ou de aprendizado)

permanente Esse projeto convoca um novo humanismo que inclui e amplia o

ldquoconhece-te a ti mesmordquo para um ldquoaprendamos a nos conhecer para pensar juntosrdquo e

que generaliza o ldquopenso logo existordquo em um ldquoformamos uma inteligecircncia coletiva

logo existimos eminentemente como comunidaderdquo [] Longe de fundir as

inteligecircncias individuais em uma espeacutecie de magma indistinto a inteligecircncia coletiva eacute

um processo de crescimento de diferenciaccedilatildeo e de retomada reciacuteproca das

singularidades (LEacuteVY 2003 31-32)

Na Rede haacute espaccedilo para que todos sejam ouvidos Na construccedilatildeo coletiva do saber

todos tecircm voz Os usuaacuterios valorizam essa oportunidade - trazida pela Internet - de

contribuir com informaccedilotildees na formaccedilatildeo de conhecimentos disponibilizados na Rede o

43

que explica o ecircxito de sites colaborativos como o Wikipedia Na era do conhecimento

deixar de reconhecer o Outro em sua inteligecircncia eacute recusar-lhe sua verdadeira identidade

social eacute alimentar seu ressentimento e sua hostilidade sua humilhaccedilatildeo a frustraccedilatildeo de

onde surge a violecircncia (Leacutevy 2003 32) Em contrapartida quando valorizamos o Outro

de acordo com o leque variado de seus saberes permitimos que ele se identifique de um

modo novo e positivo contribuiacutemos para mobilizaacute-lo para desenvolver nele sentimentos

de reconhecimento que facilitaratildeo consequentemente a implicaccedilatildeo subjetiva de outras

pessoas em projetos coletivos

O espaccedilo de construccedilatildeo coletiva do saber eacute um lugar de participaccedilatildeo democraacutetica

onde todos podem contribuir com alguma informaccedilatildeo teoacuterica eou praacutetica que possuam

sobre determinado assunto A perda de influecircncia dos mediadores culturais tradicionais eacute o

prenuacutencio de uma liberdade de expressatildeo nunca vista antes Apesar do inegaacutevel

movimento de concentraccedilatildeo (vd por exemplo a fusatildeo entre AOL e Time Warner) a

induacutestria da comunicaccedilatildeo natildeo tem capacidade para frear tal movimento de abertura pois o

que se oferece ao consumidor eacute precisamente a mais ampla liberdade de expressatildeo De

facto conforme refere Pierre Leacutevy a diversidade informacional e a liberdade de expressatildeo

continuam a aumentar rapidamente apesar dos movimentos de fusatildeo (Leacutevy 2004 371)

Pierre Leacutevy pertence agrave corrente teoacuterica que vecirc as possibilidades e o futuro do

ciberespaccedilo de forma bastante otimista Para ele o rompimento das barreiras entre centros

produtores de informaccedilotildees e receptores eacute positiva pelo facto de que ldquo[] eacute muito mais

difiacutecil executar manipulaccedilotildees em um espaccedilo onde todos podem emitir mensagens e onde

informaccedilotildees contraditoacuterias podem confrontar-se do que em um sistema onde os centros

emissores satildeo controlados por uma minoriardquo (Leacutevy 2004 225) De facto a Rede abriu

largo espaccedilo para a expressatildeo de opiniotildees diversas (o que obviamente inclui as

contestatoacuterias dos poderes vigentes) mas acontecimentos recentes (como o fechamento do

site de partilha de arquivos Megaupload e a prisatildeo de seu fundador Kim Schmitz na

sequecircncia das discussotildees de projetos de lei como o SOPA e o ACTA em Janeiro de 2012)

provam que o uso de forccedila policial para bloqueio suacutebito de sites eacute uma realidade (apesar

de nesses casos citados as accedilotildees natildeo terem sido justificadas com base nas determinaccedilotildees

de SOPA e ACTA porque ambas natildeo passam de projetos que nem sequer estatildeo em

vigor) apesar de toda oposiccedilatildeo e as ondas de protestos levantadas pela sociedade civil

A descentralizaccedilatildeo da produccedilatildeo de informaccedilotildees foi amplamente sentida no setor

editorial sobretudo na circulaccedilatildeo de jornais Uma pesquisa feita nos EUA e citada por

44

Andrew Keen diz que os lucros e a circulaccedilatildeo despencaram de maneira impressionante

em todas as principais empresas jornaliacutesticas do paiacutes ndash caiacuteram 69 na New York Times

Company 28 na Tribune Company e 11 na Gannet a maior dos EUA (Keen 2008

13) Essa eacute uma tendecircncia em todos os mercados editoriais do mundo No Brasil os

jornais filiados ao Instituto Verificador de Circulaccedilatildeo (IVC) tiveram 48 de queda na

circulaccedilatildeo durante o primeiro semestre de 2009 (Portal Imprensa 2009) Jaacute em Portugal

dados da Associaccedilatildeo Portuguesa para o Controlo de Tiragem e Circulaccedilatildeo (APCT) para o

mesmo periacuteodo apontam queda de 76 (Diaacuterio de Notiacutecias 2009)

Na tentativa de amenizar o impacto da digitalizaccedilatildeo e faacutecil distribuiccedilatildeo de

informaccedilotildees via Internet muitos jornais passam a cobrar pelo acesso ao seu conteuacutedo on-

line como fez em Fevereiro de 2010 o diaacuterio francecircs Le Figaro (Folha de S Paulo 2010)

e como jaacute vem sendo feito pela brasileira Folha Online O presidente do The New York

Times Artur Sulzberger afirmou que a cobranccedila pelo acesso a seu conteuacutedo on-line

iniciada em 2011 eacute uma fonte de receita fundamental para o veiacuteculo (Portal Imprensa

2010)

Vaacuterios estudiosos apontam para uma crise no modelo produtivo e econocircmico da

induacutestria cultural massiva embora isso natildeo provoque necessariamente a sua aniquilaccedilatildeo

(Lemos 2007b 39-40) No que se refere agraves reconfiguraccedilotildees da induacutestria cultural em seu

modelo claacutessico uma das grandes questotildees que atualmente surge eacute a da autoria e da

proteccedilatildeo de obras para a reproduccedilatildeo uso e coacutepia Algumas alternativas jaacute estatildeo surgindo

como opccedilatildeo para a criaccedilatildeo de mecanismos legais de recombinaccedilatildeo conhecidos como

licenccedilas abertas ou Copyleft Um exemplo de sucesso eacute a licenccedila Creative Commons ndash

licenccedila de uso que permite a modificaccedilatildeo a coacutepia e a distribuiccedilatildeo de obras com

especificaccedilotildees bastante flexiacuteveis Mais adiante falaremos sobre ela O facto eacute que a era da

cibercultura tem-se mostrado o aacutepice da crise dos sistemas culturais legais e econocircmicos

pela reconfiguraccedilatildeo da induacutestria cultural claacutessica massiva que implica

50 A era de ouro do remix

A digitalizaccedilatildeo das obras intelectuais facilitou sua transferecircncia e sobretudo sua

transformaccedilatildeo A cibercultura ldquoterritoacuterio recombinanterdquo (Lemos 2007b 35) por

45

excelecircncia deu origem ao que Lawrence Lessig chama de ldquocultura do remixrdquo ou da

colagem em que o processo de criaccedilatildeo usa de forma natildeo soacute indireta mas tambeacutem direta

outras obras como elemento de construccedilatildeo da obra final (Lessig 2005 17) Consideramos

aqui o termo remix exatamente como abordado por Lawrence Lessig natildeo apenas como a

recombinaccedilatildeo e transformaccedilatildeo de muacutesicas mas de toda e qualquer obra do espiacuterito Satildeo

bens culturais utilizados como mateacuterias-primas para a transformaccedilatildeo de si mesmos o que

inevitavelmente resulta em novas obras do espiacuterito Cria-se um horizonte para aleacutem

daquele da apropriaccedilatildeo e mera justaposiccedilatildeo de teacutecnicas antigas ocorre um entrelaccedilamento

de teacutecnicas formando natildeo o novo ou o poacutes mas o recombinado remixado ou sampleado

(Castro e Silva 2007 24) Por sampler entende-se um equipamento que armazena sons e

trechos de muacutesica em sua memoacuteria para reproduzi-los e alteraacute-los Seja em um novo disco

de hip hop no VJ que remixa imagens de TV e filmes em projetos de viacutedeo-arte ou na

simples tarefa de ldquocopiar ndash colarrdquo muitos teoacutericos estatildeo de acordo que o remix eacute a peccedila

central do processo criativo contemporacircneo

A recombinaccedilatildeo de diversos elementos (sejam eles produtivos religiosos ou

artiacutesticos) eacute sempre um traccedilo constitutivo de toda formaccedilatildeo cultural Por outro lado toda

tentativa de fechamento sobre si acarreta empobrecimento homogeneidade e morte Para

manter-se forte e dinacircmica a cultura necessita aceitar e ser de alguma forma permeaacutevel a

outras formas culturais Esse processo estaacute em marcha desde as culturas mais ldquoprimitivasrdquo

ateacute a cultura contemporacircnea e a cibercultura (Lemos 2007b 35-36) Portanto podemos

dizer que a grande novidade natildeo eacute a recombinaccedilatildeo em si mas a forma a velocidade e o

alcance global desse movimento

O uacutenico problema da cultura do remix eacute que ela eacute ilegal Graccedilas ao sistema de

direitos autorais que herdamos do seacuteculo XIX e que continua a ser sistematicamente

ampliado ao longo do tempo (inclusive globalmente atraveacutes da Organizaccedilatildeo Mundial do

Comeacutercio - OMC) cada obra cultural existente na Internet ou em qualquer outro lugar

tem dono E utilizar a obra para qualquer finalidade (copiar distribuir alterar modificar

etc) sem autorizaccedilatildeo expressa eacute uma violaccedilatildeo dos direitos de propriedade do autor ou de

seus intermediaacuterios

A linha entre referecircncias culturais e plaacutegio se mostra bastante tecircnue e nos leva a

pensar se tudo natildeo adveacutem de facto de ideias precedentes de obras jaacute realizadas O

produtor norte-americano Kirby Ferguson criou uma seacuterie de viacutedeos dedicados a essa

questatildeo e no site Everything is a Remix fornece mais evidecircncias de que tudo que eacute

46

ldquonovordquo eacute na verdade inspirado em obras jaacute criadas ou eacute formado por combinaccedilotildees ou

ediccedilotildees de materiais jaacute existentes Em um dos viacutedeos vemos por exemplo sequecircncias do

filme Kill Bill (2003) de Quentin Tarantino exatamente iguais (ou bastante semelhantes)

a cenas de outros longas-metragens como Sanjuro (1962) Lady snowblood (1973) e

Blade Runner (1982)

Lawrence Lessig salienta o problema do ponto de vista legal que a remixagem de

obras produzidas por outras pessoas pode gerar e afirma que as ferramentas tecnoloacutegicas

disponiacuteveis atualmente no mundo permitem a qualquer pessoa possibilidades criativas

jamais sonhadas (Lessig 2005 18) Um nuacutemero gigantesco de pessoas usa cotidianamente

essas ferramentas em seus sites blogs fotologs ou mesmo incluindo textos e imagens em

trabalhos escolares por exemplo Apesar disso do jeito como eacute hoje essas atividades

devem continuar relegadas agrave posiccedilatildeo de mero hobby ou divertimento domeacutestico Isso

porque sempre estamos sob o risco de sermos processados pela violaccedilatildeo da propriedade de

algueacutem Em outras palavras cada vez temos mais acesso a recursos criativos que antes

eram privileacutegio das grandes empresas de miacutedia mas devemos nos abster de usar esse

poder ldquoseriamenterdquo gerando desenvolvimento conhecimento e acesso Importa citar

Lessig

A mesclagem eacute o elemento formador da sociedade cultural em detrimento agrave induacutestria

cultural centralizada O instrumento para retardar essa quebra de barreiras e a

construccedilatildeo de uma sociedade autocircnoma eacute juriacutedico Esse instrumento em formas de

utilizaccedilatildeo estrateacutegica dos institutos da propriedade intelectual que satildeo desvirtuados de

sua funccedilatildeo originaacuteria de promover incentivos agrave criaccedilatildeo e passam a se transformar em

ferramentas de reserva de mercado para que as novas miacutedias digitais sejam ocupadas

pela mesma induacutestria cultural estadunidense que prevaleceu no seacuteculo XX (LESSIG

2005 18)

Para ilustrar a ideia contida na citaccedilatildeo podemos evocar o famoso caso Eldred

mais conhecido como o caso da ldquoLei de Proteccedilatildeo ao Mickey Mouserdquo Esse exemplo

resume bem os embates entre a induacutestria cultural e o restante da sociedade aquela

buscando a proteccedilatildeo perpeacutetua e ilimitada da sua propriedade e esta atraveacutes de diversos

agentes buscando o balanccedilo apropriado entre direitos autorais e domiacutenio puacuteblico O caso

Eldred expandiu por mais 20 anos a proteccedilatildeo dos direitos autorais nos Estados Unidos Em

1998 Mickey Mouse cairia em domiacutenio puacuteblico mas um intenso lobby no congresso

estadunidense culminou na aprovaccedilatildeo do chamado Sony Bono Act apelidado de ldquoLei de

Proteccedilatildeo ao Mickey Mouserdquo Por ela toda e qualquer obra ganhou mais 20 anos de

47

proteccedilatildeo autoral A explicaccedilatildeo para tal expansatildeo eacute incerta Ateacute hoje eacute difiacutecil saber quais

benefiacutecios essa ampliaccedilatildeo trouxe para a sociedade como um todo Se o direito autoral

existe para incentivar os artistas a criarem porquecirc expandir o prazo de proteccedilatildeo de obras

que jaacute foram criadas

Os prejuiacutezos dessa decisatildeo foram poreacutem bem mais extensos Junto com Mickey

Mouse deixaram de cair em domiacutenio puacuteblico muitas outras obras que atualmente jaacute

estariam disponiacuteveis para qualquer pessoa traduzir partilhar e publicar Dentre elas

contos de Scott Fitzgerald poemas de Robert Frost muacutesicas de George Gershwin e filmes

de Buster Keaton O maior problema de se estender o prazo de proteccedilatildeo dos direitos

autorais dessa maneira eacute que ele aumenta a dificuldade de promover a preservaccedilatildeo das

obras que natildeo possuem o mesmo valor comercial de um Mickey Mouse Devemos

considerar que a ampliaccedilatildeo do regime de propriedade prolonga a necessidade de se pedir

autorizaccedilatildeo para praticamente tudo que se queira fazer com a obra Tal situaccedilatildeo afeta

sobretudo as obras de baixo valor comercial (mas de elevado valor artiacutestico) Os recursos

para preservaccedilatildeo de tais obras jaacute satildeo poucos e diminuem ainda mais no labirinto juriacutedico

das autorizaccedilotildees As consequecircncias satildeo danosas milhares de obras que cairiam em

domiacutenio puacuteblico deixam de poder ser reproduzidas digitalizadas e publicadas livremente

e acabam deteriorando-se (juntamente com seu suporte fiacutesico) porque ningueacutem consegue

autorizaccedilatildeo para lidar com elas

60 Tipos de vigilacircncia e tecnologias de controlo quem satildeo e como trabalham os

gatekeepers do ciberespaccedilo

Na deacutecada de 50 David Manning White propocircs o conceito que ficou conhecido na

teoria da comunicaccedilatildeo por gatekeeping (Sousa 2002 39) White tinha o objetivo de

identificar os criteacuterios que faziam com que determinadas notiacutecias fossem ou natildeo

selecionadas para publicaccedilatildeo pelas empresas jornaliacutesticas Observando o funcionamento

das redaccedilotildees de vaacuterios jornais dos Estados Unidos White concluiu que a seleccedilatildeo dos

materiais para publicaccedilatildeo dependia de fatores subjetivos e arbitraacuterios aleacutem de juiacutezos de

valor vivecircncias atitudes e expectativas dos gatekeepers ndash os editores das publicaccedilotildees

O gatekeeper eacute portanto aquele que determina o que atravessa o portatildeo de

entrada no jornal o que seraacute visto pelo leitor Ele eacute um indiviacuteduo de poder no universo

48

midiaacutetico pois controla os fluxos informacionais e decide se um conteuacutedo deve ser

promovido ou ocultado Decidimos utilizar o conceito de gatekeeper para falar sobre as

figuras capazes de controlar o que circula na Rede atraveacutes do uso de ferramentas de

vigilacircncia Esses gatekeepers do ciberespaccedilo se transplantaram dos tradicionais veiacuteculos

de comunicaccedilatildeo sobretudo das grandes empresas e dos organismos governamentais e natildeo-

governamentais para a Rede Eacute sobre eles que trataremos a seguir

David Lyon estabelece trecircs grandes categorias de vigilacircncia no ciberespaccedilo

relacionadas com o emprego a seguranccedila e policiamento e o marketing (Lyon 2004) No

emprego a vigilacircncia caracteriza-se pelo monitoramento dos sites acessados e do correio

eletrocircnico dos funcionaacuterios por parte dos diretores e supervisores com o objetivo de saber

se os empregados visualizam conteuacutedo inadequado (como pornografia por exemplo) ou

utilizam-se do tempo de trabalho para dedicar-se a assuntos off-work Nos Estados

Unidos um estudo puacuteblico realizado em Abril de 2000 indicou que 735 das empresas

americanas efetuam regularmente algum tipo de vigilacircncia do uso da Internet por parte de

seus empregados (Castells 2007 206)

No acircmbito da seguranccedila e do policiamento podemos citar a vigilacircncia proposta

por oacutergatildeos como a Alta Autoridade para a Difusatildeo das Obras e a Proteccedilatildeo dos Direitos na

Internet (HADOPI) na Franccedila que promove a luta contra as redes P2P (peer-to-peer) e a

oferta de downloads gratuitos de muacutesicas filmes e livros protegidos por direitos autorais

no universo virtual atraveacutes do monitoramento das atividades dos usuaacuterios HADOPI

propotildee que os servidores de acesso agrave Internet vigiem a movimentaccedilatildeo dos usuaacuterios e lhe

repassem relatoacuterios com a identificaccedilatildeo daqueles que infringem os direitos de autor na

Rede Apoacutes uma primeira advertecircncia caso haja reincidecircncia o utilizador perde o direito

de acesso agrave Internet a partir do ponto onde o desrespeito foi cometido e mesmo assim

continua a pagar pelo serviccedilo ao servidor contratado

Haacute tambeacutem a vigilacircncia conduzida por serviccedilos policiais como o FBI americano

que em 1995 realizou uma operaccedilatildeo batizada de ldquoOperaccedilatildeo Inocenterdquo accedilatildeo sob disfarce

na America On-Line (AOL) envolvendo a interceptaccedilatildeo de correio eletrocircnico de pessoas

suspeitas de trocar materiais de pornografia infantil pela Rede (Zuidwijk e Steeves apud

Lyon 2004 115) O organismo federal tambeacutem manteacutem o programa Carnivore que

trabalha em colaboraccedilatildeo (voluntaacuteria ou natildeo) com fornecedores de acesso agrave Internet

registrando todo o traacutefego de correio eletrocircnico posteriormente catalogando a informaccedilatildeo

com base em uma amostra e processamento automatizado de palavras-chave

49

Joseacute Terceiro afirma que a recolha de dados na Internet possibilitou o surgimento

de uma nova fonte de lucro as informaccedilotildees pessoais dos usuaacuterios da Rede

A utilizaccedilatildeo das redes de computadores facilita o recolhimento de dados sobre seus usuaacuterios com o que se obteacutem um sub-produto automaacutetico suscetiacutevel de utilizaccedilatildeo e

comercializaccedilatildeo O atentado agrave privacidade das pessoas que supotildee essa recolha de dados

provoca seacuterias preocupaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave sua proteccedilatildeo confiada a teacutecnicas de

encriptaccedilatildeo que ateacute bem pouco tempo pertenciam ao clandestino mundo da espionagem

e hoje satildeo moeda corrente no mundo digital (TERCEIRO 1996 185)

As informaccedilotildees obtidas pela vigilacircncia direcionada ao marketing satildeo massivamente

utilizadas frequentemente de forma indiscriminada para fins comerciais Natildeo eacute novidade

que as empresas procuram ter acesso a informaccedilotildees privadas respeitantes aos usuaacuterios da

Rede tecnologias jaacute foram desenvolvidas unicamente com o intuito de recolher dados que

permitam traccedilar perfis dos internautas Eacute o caso dos cookies (Client-Side Persistent

Information) espeacutecie de marcadores digitais que os sites colocam automaticamente nos

discos riacutegidos dos computadores que a eles acedem Uma vez inserido o cookie em um

computador todos os movimentos on-line realizados a partir dele satildeo gravados

automaticamente pelo servidor do site que o colocou Com o auxiacutelio de tecnologias como

essa empresas de marketing e comunicaccedilatildeo na Internet vendem os dados pessoais dos

seus utilizadores aos seus clientes com fins comerciais ou utilizam-nos eles proacuteprios para

os definirem melhor Portanto vecirc-se que as tecnologias de recolha de dados associam-se

diretamente agrave economia do comeacutercio eletrocircnico As movimentaccedilotildees dos usuaacuterios satildeo

monitoradas na maioria das vezes agrave revelia destes Como diz Rohan Samarajiva

A chamada ldquoclientela de massardquo cria incentivos agrave recolha de dados pessoais para uso no

processo de produccedilatildeo e marketing Os fabricantes ou retalhistas pretendem estabelecer

tipos de serviccedilo no relacionamento com os clientes recolhendo armazenando ou

manipulando informaccedilotildees acerca deles de modo a controlar os seus comportamentos

(SAMARAJIVA apud LYON 2004 113)

As tecnologias que tornam possiacutevel descarregar livros revistas muacutesicas e filmes

em formato digital para o disco riacutegido de um computador permitem agraves editoras e agraves

empresas de lazer registrar e controlar os haacutebitos de navegaccedilatildeo das pessoas para poderem

enviar publicidade especiacutefica a cada um dos seus clientes

Na Uniatildeo Europeia a maior pressatildeo governamental a favor da proteccedilatildeo do

consumidor resultou numa lei da privacidade sob a qual as empresas natildeo estatildeo

50

autorizadas a utilizar os dados pessoais dos seus clientes sem a sua aprovaccedilatildeo expliacutecita

(Castells 2007 209) O problema eacute que muitos sites contecircm em seus longos termos de

uso claacuteusulas que determinam que os dados pessoais fornecidos convertam-se em

propriedade legal das empresas de Internet e dos seus clientes Poucos usuaacuterios leem

integralmente esses termos de uso concordando com algo que desconhecem ndash e muitos

desses sites soacute liberam seus serviccedilos e funcionalidades depois que o utilizador aceita as

regras propostas

As oportunidades de negoacutecio parecem ilimitadas neste novo ramo dedicado a

comercializar o comportamento privado Nas eleiccedilotildees do ano 2000 nos Estados Unidos

uma empresa criou uma base de dados chamada Aristotle que atraveacutes da recolha de

informaccedilotildees e dados de diversas fontes traccedilou um perfil poliacutetico de cerca de 150 milhotildees

de cidadatildeos O objetivo era vender esse banco de dados pelas melhores ofertas possiacuteveis

que geralmente eram feitas pelos escritoacuterios eleitorais dos candidatos (Castells id)

Manuel Castells divide as tecnologias de controlo em trecircs tipos tecnologias de

identificaccedilatildeo de vigilacircncia e de investigaccedilatildeo (Castells 2007) As tecnologias de

identificaccedilatildeo incluem o uso de passwords cookies e processos de autenticaccedilatildeo ndash estes

uacuteltimos utilizam assinaturas digitais que permitem a outros computadores verificar a

origem e as caracteriacutesticas da maacutequina que se liga agrave Rede eacute um protocolo de seguranccedila

vastamente adotado por empresas de comeacutercio eletrocircnico e emissoras de cartotildees de

creacutedito

As tecnologias de vigilacircncia interceptam mensagens e colocam marcadores que

permitem seguir o fluxo de comunicaccedilatildeo a partir de um determinado computador e

controlar permanentemente a atividade da maacutequina Elas podem identificar um servidor

especiacutefico na origem de uma mensagem Valendo-se disso e atraveacutes de persuasatildeo ou de

coaccedilatildeo os governos empresas ou tribunais podem obter do servidor de acesso agrave Internet a

identificaccedilatildeo do usuaacuterio suspeito Eacute o que faz a jaacute anteriormente citada HADOPI As

tecnologias de investigaccedilatildeo por sua vez elaboram bases de dados atraveacutes dos resultados

da vigilacircncia e acumulaccedilatildeo de informaccedilatildeo gravada assiduamente (Garfinkel apud Castells

2007 205) Constroacutei-se um perfil agregado a partir dos vaacuterios dados recolhidos em

formato digital algo semelhante ao que fazem os estudos de mercado

O que James Beniger chama de ldquorevoluccedilatildeo do controlordquo (Beniger 1989) espalha-

se por todas as organizaccedilotildees contemporacircneas Para o autor ela iniciou-se com a

Revoluccedilatildeo Industrial e acentuou-se apoacutes a Segunda Grande Guerra com a gradual

51

integraccedilatildeo da tecnologia em todas as esferas da vida ocorrida desde entatildeo A fusatildeo entre

as teacutecnicas associadas agrave informaccedilatildeo (processamento de dados comunicaccedilatildeo etc) facilitou

o controlo por parte de exeacutercitos e governos criando um ambiente propiacutecio para o

desenvolvimento de novas tecnologias direcionadas agrave vigilacircncia e agrave monitoraccedilatildeo dos

indiviacuteduos Para Beniger a vontade de controlar bens informacionais serviccedilos e

consequentemente pessoas estaacute nas raiacutezes da chamada sociedade da informaccedilatildeo

James Beniger alerta que mais que o controlo em si proacuteprio devemos temer quem

administra e potildee em funcionamento os instrumentos de controlo ndash eacute nas matildeos desses

agentes que o poder se concentra Sendo as comunicaccedilotildees digitais as novas formas de

controlo tambeacutem figuram como um caminho para o poder Para exercer o poder e mantecirc-

lo eacute que os meios digitais tecircm sido utilizados por diversos agentes de interesse Como

afirma David Lyon

Os empregadores tentam reduzir o risco ndash de trabalhadores que usam o horaacuterio ou o

equipamento de trabalho para os seus proacuteprios objectivos [] em situaccedilotildees de emprego

A poliacutecia em conjunto com outras instituiccedilotildees trabalha no sentido de prevenir o risco

da praacutetica de crimes ou mais genericamente de comportamentos ameaccediladores E os

homens de negoacutecios fazem tudo [] para evitarem os riscos de perder oportunidades

nichos de mercado e em uacuteltima instacircncia lucro (LYON 2004 118)

Todos estabelecem procedimentos de recolha de dados para tentarem assinalar

riscos (ou oportunidades) e prever resultados Por conseguinte a vigilacircncia espalha-se

tornando-se constantemente mais rotineira mais intensiva (perfis) e extensiva

(populaccedilotildees) guiada por forccedilas econocircmicas burocraacuteticas e agora tecnoloacutegicas

A vigilacircncia no mundo virtual eacute fruto principalmente da comercializaccedilatildeo da Rede

Na criaccedilatildeo de sistemas de identificaccedilatildeo do usuaacuterio haacute uma fonte potencial de lucro para

empresas de certificaccedilatildeo digital e controlo de acesso A questatildeo comercial desse controlo

tambeacutem envolve os direitos autorais na Internet A implementaccedilatildeo de sistemas de

vigilacircncia eacute interessante para os governos que querem encontrar alguma forma de

instaurar no ambiente virtual ferramentas de controlo semelhantes agraves existentes na esfera

fiacutesica

A necessidade de assegurar e identificar a comunicaccedilatildeo na Internet para poder ganhar

dinheiro graccedilas agrave Rede e a necessidade de proteger os direitos da propriedade

intelectual na mesma resultaram no desenvolvimento de novas arquitecturas de

software (o que Lessig denomina como ldquocoacutedigordquo) que possibilitam o controlo da

comunicaccedilatildeo informaacutetica Os governos de todo o mundo apoacuteiam estas tecnologias de

52

vigilacircncia e apressam-se a adoptaacute-las para conseguirem recuperar parte do poder que

corriam o risco de perder (CASTELLS 2007 203)

O monitoramento atraveacutes de autoridades policiais empresas ou outros oacutergatildeos

investidos de autorizaccedilatildeo concedida pelo poder legislativo seriam conforme Andreacute Lemos

ressalta ldquo[] uma forma de lsquoinvasatildeorsquo dos territoacuterios informacionais como entrar na

residecircncia seria uma invasatildeo do territoacuterio residencial As lsquodigital bordersrsquo criam nos

territoacuterios informacionais um continuum entre o mundo fiacutesico e o espaccedilo das

informaccedilotildees eletrocircnicasrdquo (Lemos 2007a 225) A vigilacircncia afeta diretamente alguns

importantes pilares da vida social e pode feri-los se direcionada para fins comerciais por

exemplo ldquoAs praacuteticas de vigilacircncia tecircm implicaccedilotildees na privacidade e em muitos outros

valores importantes na justiccedila na dignidade humana na autodeterminaccedilatildeo na inclusatildeo

social na seguranccedila e por aiacute fora Alguns destes valores podem ser protegidos se a

privacidade estiver salvaguardadardquo (Raab 2008 256)

A vigilacircncia na Rede representa portanto mais um exemplo do que Mireille

Rosello chama de ldquocultura da inseguranccedilardquo de caraacuteter planetaacuterio (Rosello apud Lemos

2010 82) As tecnologias de controlo desenvolvidas e postas em funcionamento no

ciberespaccedilo marcaram o fim da jaacute utoacutepica ideia de um territoacuterio neutro e totalmente livre

imaginado nos primoacuterdios da Internet Poreacutem a informaacutetica pode disponibilizar

ferramentas que funcionariam como um antiacutedoto contra a inseguranccedila que ela proacutepria

possibilitou Isso seria possiacutevel atraveacutes de tecnologias de filtragem de cookies meacutetodos de

encriptaccedilatildeo mais potentes etc (Raab 2008 266) No entanto eacute importante salientar que

as empresas os governos e os fabricantes de tecnologia natildeo tecircm interesse em pocircr em

marcha essas tecnologias de reforccedilo da privacidade Sendo assim os indiviacuteduos que delas

quiserem fazer uso deveratildeo empreender esforccedilos adicionais aleacutem de pagar mais para delas

beneficiarem

A recolha e o armazenamento arbitraacuterios de dados digitais se tornaram regra no

mundo virtual Aiacute se vecircem os efeitos nefastos do progresso tecnoloacutegico (Heuer 2011 85)

O custo do armazenamento de dados em formato digital tornou-se tatildeo baixo que jaacute se

mede em terabytes (a capacidade de armazenamento de um computador portaacutetil corrente

corresponde a pouco mais de metade de um terabyte) Haacute cada vez mais bancos de dados

a registrar nossos movimentos na Rede ndash a Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos

em Washington anunciou recentemente que pretende arquivar todas as mensagens

postadas no Twitter desde seu surgimento em 2006

53

De facto nossa vida esteve sempre sob algum tipo de controlo ndash desde a presenccedila

em registros de cartoacuterios agrave identificaccedilatildeo em bancos de dados de diversos serviccedilos

puacuteblicos O que se alterou com a informatizaccedilatildeo da sociedade e o advento da Internet foi o

posicionamento desses registros no espaccedilo As informaccedilotildees natildeo estatildeo mais fixadas apenas

em suportes materiais livros de atas e papeacuteis de arquivos Elas estatildeo ao alcance de alguns

cliques mundialmente disponiacuteveis suscetiacuteveis a cruzamentos mais sujeitas ao acesso

legal ou natildeo autorizado do que nunca A nova vigilacircncia surgida atraveacutes das tecnologias

digitais eacute mais sutil estaacute em todos os lugares e ao mesmo tempo em lugar nenhum Ela eacute

cada vez menos perceptiacutevel e mais difusa Sua fluidez estaacute na invisibilidade e na

mobilidade das redes

Catarina Frois salienta a mudanccedila trazida pela vigilacircncia onipresente da

informaacutetica

[] na sociedade contemporacircnea a existecircncia de grandes bases de dados informaacuteticas

que centralizam informaccedilatildeo detalhada dos cidadatildeos e que eacute depois cruzada com

informaccedilatildeo constante noutras bases de dados pessoais ameaccedila pocircr em risco o direito agrave

privacidade agrave integridade fiacutesica e moral ou mesmo em uacuteltima anaacutelise o direito agrave

escolha [] O que vemos eacute uma confluecircncia de dispositivos de reconhecimento da

pessoa que abrangem quase todas as esferas da sua vida desde a sua identidade burocraacutetica e administrativa a sua histoacuteria geneacutetica e distintividade biomeacutetrica e os

locais que frequenta quando e com quem [] Parece natildeo bastar saber-se quem a

pessoa eacute urge (quer por parte do Estado quer por parte de interesses comerciais) saber-

se o que quer e o que vai fazer Poderiacuteamos dizer que na sociedade contemporacircnea soacute

identificando eacute possiacutevel conhecer-se e soacute vigiando eacute possiacutevel prever-se (FROIS 2008

130)

Para Gilles Deleuze (1992) a sociedade do controlo eacute anunciada como nosso

futuro proacuteximo o que em termos praacuteticos de vigilacircncia quer dizer que as tecnologias natildeo

satildeo mais visiacuteveis e imoacuteveis mas ubiacutequas pervasives ldquonas coisasrdquo natildeo exigindo do

indiviacuteduo o confinamento mas exatamente o contraacuterio a mobilidade o que permite um

controlo dinacircmico Afinal natildeo podemos esquecer que essas tecnologias tecircm origem

militar Toda miacutedia locativa por seu caraacuteter que associa mobilidade e localizaccedilatildeo pode

ser usada para monitorar movimentos vigiar pessoas e controlar accedilotildees no dia-a-dia

Manuel Castells e diversos outros teoacutericos da informaacutetica e da cibercultura

afirmam que a presenccedila em registros e bancos de dados digitais traz agraves vistas o terriacutevel

temor da sociedade vigilante antecipada por George Orwell em seu 1984 e pode funcionar

como uma forma de repressatildeo agrave liberdade pela possibilidade do controlo constante Natildeo eacute

o Big Brother quem nos vigia mas sim uma multitude de pequenas irmatildes (little sisters)

54

agecircncias de vigilacircncia e processamento de informaccedilatildeo que registraratildeo sempre o nosso

comportamento jaacute que estaremos rodeados de bases de dados ao longo de toda a nossa

vida Nas sociedades democraacuteticas onde se respeitam os direitos civis a transparecircncia das

nossas vidas condicionaraacute as nossas atitudes de forma decisiva Ningueacutem conseguiu viver

jamais numa sociedade transparente Se este sistema de vigilacircncia e controlo da Internet se

desenvolver plenamente natildeo poderemos fazer o que quisermos Natildeo teremos liberdade

nem um lugar para nos escondermos (Castells 2007 215)

Isso nos leva a um tema que tambeacutem estaacute na ordem do dia em vaacuterios paiacuteses

europeus o direito ao esquecimento Um exemplo que ilustra esse direito estaacute na lei

francesa de 6 de Janeiro de 1978 relativa agrave informaacutetica aos arquivos e agraves liberdades que

prevecirc em seu artigo nordm 40

Toda pessoa fiacutesica justificante de sua identidade pode exigir do responsaacutevel pelo

tratamento de dados que as informaccedilotildees pessoais que lhe concernem sejam retificadas

completadas atualizadas ou apagadas [] logo elas sejam inexatas incompletas equivocadas desatualizadas ou cuja coleta utilizaccedilatildeo comunicaccedilatildeo ou conservaccedilatildeo

seja proibida (COMMISSION NATIONALE DE LINFORMATIQUE ET DES

LIBERTEacuteS 1978)

A Comissatildeo Europeia responsaacutevel pela Justiccedila Direitos Fundamentais e Cidadania

examina a possibilidade de rever a diretiva sobre a proteccedilatildeo de dados de forma a incluir o

direito ao esquecimento como foi anunciado em Novembro de 2010 pela sua vice-

presidente Viviane Reding (Heuer 2011 85)

No dia 24 de Janeiro de 2012 Viviane Reding apresentou em Bruxelas um plano

para que os cidadatildeos possam exercer ao maacuteximo seu direito agrave proteccedilatildeo dos dados pessoais

A legislaccedilatildeo europeia em vigor sobre o tema eacute de 1995 eacutepoca em que a Internet natildeo

possuiacutea o alcance e a influecircncia que hoje tem Aleacutem disso pesquisas recentes apontam que

72 dos europeus preocupam-se com o uso que companhias e empresas fazem de seus

dados privados (Reding 2012) O plano proposto por Viviane Reding consagra o direito

ao esquecimento Em entrevista cedida ao jornal espanhol El Paiacutes a comissaacuteria afirmou

que ldquoQuem pocircs informaccedilotildees pessoais na Rede deve ter o direito de recuperaacute-las porque

satildeo suasrdquo (Reding id) Seu plano inclui o reforccedilo das agecircncias nacionais de proteccedilatildeo de

dados e um regulamento de aplicaccedilatildeo da diretiva em escala comunitaacuteria ndash medidas a serem

postas em praacutetica ateacute 2015

55

Na Alemanha governo e parlamento debatem projetos que visam permitir aos

cidadatildeos controlar de forma mais eficaz sua vida digital Na Franccedila por exemplo foi

adotada em Outubro de 2010 uma carta natildeo vinculativa por iniciativa da secretaacuteria de

Estado das Tecnologias agrave eacutepoca Nathalie Kosciusko-Morizet Muitos dos intervenientes

franceses na Rede assinaram o documento ndash agrave exceccedilatildeo de empresas como Facebook e

Google

56

57

CAPIacuteTULO II

DIREITOS DE AUTOR E REGULACcedilAtildeO DO

CIBERESPACcedilO BRASIL E PORTUGAL EM

PERSPECTIVA

58

59

Vimos no capiacutetulo anterior que o nascimento da Internet criou duas correntes a dos

adeptos eufoacutericos e a dos adeptos disfoacutericos da informatizaccedilatildeo Por um lado os apoacutestolos

das novas tecnologias conceberam a Rede como um espaccedilo livre do Direito Conforme

afirma o jurista Joseacute de Oliveira Ascensatildeo essa ideia foi favorecida pelo facto de que a

Internet desenvolveu-se inicialmente como uma rede desinteressada veiacuteculo de diaacutelogo e

contato entre universitaacuterios e cientistas que queriam evitar empecilhos juriacutedicos agrave sua

comunicaccedilatildeo (Ascensatildeo 2003 02) No outro extremo os defensores da propriedade

intelectual (particularmente as entidades de gestatildeo coletiva de direitos de autor e conexos)

acreditaram que os novos meios nada modificariam no que diz respeito ao uso das obras

protegidas O Direito existente seria aplicaacutevel tal e qual porque seria capaz de comportar

os novos veiacuteculos que surgissem A Rede era apenas um meio a mais sujeito ao Direito

em vigor como qualquer outro

O movimento subsequente de comercializaccedilatildeo da Internet pocircs em causa essas

opiniotildees A Rede deixou de ser uma confraria desinteressada e tornou-se um poderoso

veiacuteculo de publicidade comeacutercio e fluxo de capitais Essa metamorfose exigia uma

disciplina que protegesse os intervenientes era incompatiacutevel com um espaccedilo livre do

Direito A tese da juridificaccedilatildeo da Internet venceu (ibidem 03)

O objetivo do capiacutetulo que se inicia eacute montar um panorama dos direitos de autor

nos contextos brasileiro e portuguecircs trazendo agrave discussatildeo os aspectos centrais de ambas as

legislaccedilotildees Tambeacutem apresentaremos outros temas pertinentes que cruzam o debate sobre

a propriedade intelectual como o Marco Regulatoacuterio da Internet no Brasil e a Lei da

Coacutepia Privada em Portugal

10 Breve retrospectiva histoacuterica do surgimento dos direitos de autor

Em 1710 na Inglaterra foi publicada a primeira lei regulamentar do direito de

autor e esta expressatildeo aparece pela primeira vez em 1725 utilizada pelo advogado francecircs

Louis DrsquoHeacutericourt num litiacutegio entre os livreiros de Paris e os livreiros da proviacutencia Nesse

litiacutegio ele defendeu a tese de que eram os autores e natildeo os editores ou os impressores os

verdadeiros titulares do direito Para DrsquoHeacutericourt esse direito deveria estar garantido para

evitar os riscos da exploraccedilatildeo comercial ou industrial por meio da concessatildeo de um

60

privileacutegio exclusivo Segundo Luiz Francisco Rebello ateacute entatildeo seria improacuteprio falar em

direito de autor pois a proteccedilatildeo dispensada agraves obras literaacuterias tomava invariavelmente a

forma de um privileacutegio de que beneficiavam os impressores e os editores ou mais

raramente os autores (Rebello 1973 06)

Com a Revoluccedilatildeo Francesa em 1789 surgem os direitos autorais como os

conhecemos hoje A data de 04 de Agosto de 1789 marcou o fim de todos os privileacutegios de

autores e editoras que representavam um entrave agrave liberdade econocircmica defendida pelos

burgueses Luiz Francisco Rebello relembra a declaraccedilatildeo de Laboulaye jurista francecircs que

viveu na eacutepoca da Revoluccedilatildeo ldquoFalai de propriedade todos se inclinam falai de privileacutegio

todos se revoltam O primeiro tiacutetulo representa o que haacute de mais respeitaacutevel o direito o

segundo o que haacute de mais abominaacutevel o monopoacuteliordquo (Rebello apud Moraes 2006 254)

Poreacutem impulsionada pela Sociedade de autores e compositores dramaacuteticos

fundada em 1790 pelo teatroacutelogo Beaumarchais a lei francesa de 19 de Janeiro de 1791

reconhece que ldquoA mais sagrada a mais pessoal de todas as propriedades eacute a obra fruto do

pensamento do escritorrdquo (Moatti 2007 27) Esse texto legislativo foi reforccedilado pela lei de

19 de Julho de 1793 que aumenta a proteccedilatildeo dos criadores O artigo 1 desse documento

determina que

Os autores de escritos em todos os gecircneros os compositores os pintores e os

desenhistas que produzem quadros e desenhos gozaratildeo durante toda sua vida do

direito exclusivo de vender fazer vender distribuir suas obras em todo o territoacuterio da

Repuacuteblica e de ceder a propriedade ao todo ou em parte (MOATTI 2007 27)

Essa lei tambeacutem regulamentou os direitos dos herdeiros e cessionaacuterios que

poderiam gozar dos mesmos benefiacutecios ateacute 10 anos apoacutes a morte do autor (Manso 1992

14-15) Era preciso poreacutem estender as discussotildees sobre os direitos autorais agrave esfera

internacional Como diz Eduardo Manso

O reconhecimento de que a Terra eacute uma pequena aldeia [] levou ao reconhecimento

de que a proteccedilatildeo dos direitos dos autores das obras intelectuais haveria de alcanccedilar

dimensotildees internacionais porque a obra do espiacuterito humano sendo todo o conteuacutedo das

comunicaccedilotildees sociais tem inexoraacutevel vocaccedilatildeo para difusatildeo universal Portanto o

Direito Autoral para atingir mais eficazmente seus objetivos haveria de ser tambeacutem

internacionalizado especialmente para estabelecer equanimemente proteccedilatildeo equitativa

entre os autores dos diversos paiacuteses a despeito das divergecircncias das suas legislaccedilotildees

nacionais E aiacute surgiram as convenccedilotildees internacionais [] (MANSO 1992 15)

61

Apenas em 1886 surgiu um amplo movimento pela regulaccedilatildeo dos direitos autorais

de forma conjunta entre os diversos paiacuteses Representantes de vaacuterias naccedilotildees se reuniram

em Berna na Suiacuteccedila para definir alguns padrotildees miacutenimos de proteccedilatildeo dos direitos do autor

literaacuterio cientiacutefico e artiacutestico Eacute a chamada Convenccedilatildeo de Berna que se tornou um

paracircmetro para a elaboraccedilatildeo de vaacuterias legislaccedilotildees sobre o tema Segundo Rodrigo Moraes

ldquoEssa convenccedilatildeo consiste no primeiro e mais importante instrumento internacional

versando sobre Direito Autoral Assinada na capital da Suiacuteccedila em 1886 ainda estaacute em

vigor nos dias atuaisrdquo (Moraes 2006 255)

20 Direitos morais e direitos patrimoniais

Teoacutericos que tratam sobre direitos autorais geralmente os classificam como

hiacutebridos ou duacuteplices Isso porque eles podem dividir-se em direitos morais e direitos

patrimoniais

21 Direitos morais

Os direitos morais se referem agrave ldquopaternidaderdquo do autor em relaccedilatildeo agrave sua obra satildeo

uma espeacutecie de emanaccedilatildeo da personalidade do autor e que estatildeo conforme dizem Pedro

Paranaguaacute e Seacutergio Banco ldquointimamente ligados agrave relaccedilatildeo do autor com a elaboraccedilatildeo a

divulgaccedilatildeo e a titulaccedilatildeo de sua obrardquo (Paranaguaacute e Branco 2009 42) Segundo Eduardo

Manso os direitos morais ldquo[] satildeo de pertinecircncia estritamente pessoal e visam a dar ao

autor ou a seus herdeiros que neles sejam investidos poderes para zelar por sua qualidade

de criador da obra para promover-lhe o respeito agrave forma que lhe foi dada pelo autorrdquo

(Manso 1992 52)

Geralmente os direitos morais satildeo classificados doutrinariamente como direitos

de personalidade Hildebrando Neto chega a dizer que os direitos morais se encaixam em

ldquocondiccedilotildees personaliacutessimas a possibilitar ao criador o direito de paternidade o direito de

ineacutedito a defesa da integridade da obra aleacutem de possibilitar-lhe o direito de

arrependimentordquo (Neto 1997 17) Sendo assim desfrutam das mesmas caracteriacutesticas dos

demais direitos de personalidade sendo intransferiacuteveis e irrenunciaacuteveis Pedro Paranaguaacute

e Seacutergio Branco ressaltam que

62

Atualmente [] os princiacutepios mais elementares das leis de direitos autorais vedam a

transmissatildeo da autoria da obra independentemente do meio pelo qual se decirc a cessatildeo

Mesmo no caso de obras caiacutedas em domiacutenio puacuteblico o nome do autor se conhecido

deve permanecer a elas vinculado eternamente (PARANAGUAacute E BRANCO 2009

14)

Assim como na legislaccedilatildeo brasileira o diploma portuguecircs determina no Artigo 56deg

que os direitos morais perpetuam-se apoacutes a morte do autor Eles independem dos direitos

patrimoniais e mesmo depois da transmissatildeo ou extinccedilatildeo destes o autor goza dos direitos

morais sobre a sua obra (Assembleia da Repuacuteblica 1985 42) Eacute interessante salientar que

na Antiguidade a praacutetica da compra de autoria era algo comum e bastante frequente

(Moraes 2006 246) Hoje em dia essa conduta eacute proibida visto que o direito moral agrave

paternidade da obra eacute intransferiacutevel

Pedro Paranaguaacute e Seacutergio Branco nos alertam para a necessidade de diferenciar os

direitos autorais dos demais direitos de personalidade Estes uacuteltimos ndash nome imagem

dignidade honra etc ndash nascem com os indiviacuteduos e satildeo desde logo exerciacuteveis Daiacute a

diferenccedila em relaccedilatildeo agrave situaccedilatildeo dos direitos morais que soacute satildeo exerciacuteveis se haacute a criaccedilatildeo

de algo por parte do indiviacuteduo Sendo assim eles nascem aos poucos com as pessoas

permanecendo em condiccedilatildeo suspensiva (Paranaguaacute e Branco 2009 50)

Eacute importante considerar que segundo Eduardo Manso ldquoAs faculdades

proclamadas pelos direitos morais natildeo conferem aos seus titulares nenhum poder de

utilizaccedilatildeo sobre as obras intelectuais salvo de natureza intelectual Nenhum direito moral

possibilita com seu exerciacutecio tirar direto proveito econocircmico da obra intelectualrdquo

(Manso 1992 52) Esta eacute uma atribuiccedilatildeo dos direitos patrimoniais tal como veremos a

seguir

22 Direitos patrimoniais

Consistem basicamente no direito agrave exploraccedilatildeo econocircmica das obras protegidas

Exercendo o direito patrimonial seu titular pode tirar da obra algum proveito econocircmico

de conformidade com sua natureza e com a modalidade de sua exploraccedilatildeo comercial

Os direitos patrimoniais tecircm o objetivo de suprir os meios de sobrevivecircncia do

criador intelectual Eles surgem a partir de uma comercializaccedilatildeo posterior que pode natildeo

acontecer caso o autor escolha manter sua obra ineacutedita (Moraes 2006 271) Segundo

63

Paranaguaacute e Branco (2009 53) eacute preciso salientar que os direitos patrimoniais estatildeo

sujeitos a alguns pontos

a) Temporariedade

Segundo a Lei nordm 961098 atual Lei do Direito Autoral brasileira uma obra

intelectual soacute pode ser protegida se estiver dentro do prazo de proteccedilatildeo que eacute o de vida do

autor mais 70 anos contados a partir de 1ordm de Janeiro do ano subsequente ao de seu

falecimento (Presidecircncia da Repuacuteblica Federativa do Brasil 1998) Apoacutes esse prazo a

obra cai em domiacutenio puacuteblico ndash portanto qualquer pessoa pode tirar dela proveitos

patrimoniais sem autorizaccedilatildeo do titular dos direitos autorais Os 70 anos apoacutes a morte do

autor satildeo os mesmos no Coacutedigo do Direito de Autor e dos Direitos Conexos aprovado

pelo Decreto-Lei nordm 6385 de 14 de Marccedilo de 1985 texto atualmente em vigor em

Portugal O prazo foi instaurado pelo Decreto-Lei ndeg 33497 de 27 de Novembro

b) Autorizaccedilatildeo preacutevia

Enquanto natildeo cair em domiacutenio puacuteblico uma obra soacute poderaacute ser reproduzida

mediante autorizaccedilatildeo do detentor dos direitos autorais

c) Ausecircncia de formalidade ou proteccedilatildeo automaacutetica

Natildeo eacute preciso registrar a obra para que o autor tenha direito agrave proteccedilatildeo Ela

independe do registro

d) Perpetuidade do viacutenculo autor-obra

Decorre dos direitos morais do autor O nome do autor estaraacute perenemente ligado agrave

obra sobre a qual tem direito de paternidade Sendo assim o nome do autor deveraacute

constar obrigatoriamente em qualquer uso que se faccedila da obra

e) Individualidade da proteccedilatildeo

Cada obra deve ser protegida separadamente de forma independente Por exemplo

se um livro inspira a realizaccedilatildeo de sua adaptaccedilatildeo cinematograacutefica ambas as obras que se

diferem pelos suportes estatildeo protegidas Cada uma adaptada ao seu formato inclusive

com diferentes prazos de proteccedilatildeo

f) Independecircncia das utilizaccedilotildees

64

As diferentes modalidades possiacuteveis de utilizaccedilatildeo de uma obra intelectual satildeo

independentes entre si e a autorizaccedilatildeo referente a uma modalidade concedida pelo autor

ou detentor dos direitos natildeo se estende agraves demais

g) Direito de propriedade sobre o bem

Quando se adquire um CD por exemplo se adquire o suporte material sobre o qual

estaacute fixada a obra protegida por propriedade intelectual Sendo assim nosso direito de

propriedade sobre o CD nos permite que o guardemos doemos ou ateacute o destruamos se

quisermos Nossa propriedade estaacute sobre o CD mas natildeo sobre as obras contidas nele

Como foi visto os direitos patrimoniais estatildeo voltados ao fator econocircmico ao

caraacuteter comercial da obra intelectual Ao contraacuterio destes que regulam o poder econocircmico

do autor sobre a utilizaccedilatildeo de sua obra por terceiros estatildeo os direitos morais destinados agrave

defesa da relaccedilatildeo do autor com sua obra

30 Direitos de autor e regulaccedilatildeo da Internet no Brasil e em Portugal

31 Legislaccedilatildeo autoral brasileira

O primeiro registro legal que trata dos direitos autorais no Brasil eacute a Lei de 11 de

Agosto de 1827 (Presidecircncia da Repuacuteblica Federativa do Brasil 1827) Ela instituiu os

cursos juriacutedicos no paiacutes sendo responsaacutevel pela criaccedilatildeo de dois centros de estudos um em

Satildeo Paulo e outro em Olinda Os mestres nomeados para trabalhar nos cursos deveriam

enviar agraves Assembleias Gerais os seus compecircndios relativos agraves mateacuterias que lecionavam

para receber ou natildeo aprovaccedilatildeo Com ela os mestres gozariam durante 10 anos do

privileacutegio de publicaccedilatildeo dos escritos Mas segundo Eduardo Manso ldquoTratava-se no

entanto de um direito aplicaacutevel apenas intra muros nas Faculdades de Direito de Olinda e

de Satildeo Paulo natildeo alcanccedilando os demais autores brasileirosrdquo (Manso 1992 16)

Em 1830 veio a promulgaccedilatildeo do Coacutedigo Criminal e com ela surgiu a primeira

regulaccedilatildeo sobre a mateacuteria Suas normas visavam apenas a proibiccedilatildeo da contrafaccedilatildeo

(reproduccedilatildeo natildeo autorizada) sem conceder verdadeiros direitos autorais civis

65

Foi em 1891 com a primeira Constituiccedilatildeo Republicana que o Brasil editou normas

de direito autoral como garantia constitucional conforme o sect26deg do artigo 72 da

Constituiccedilatildeo Federal nos termos (Manso 1992 17) ldquoAos autores de obras literaacuterias e

artiacutesticas eacute garantido o direito exclusivo de reproduzi-las pela imprensa ou por qualquer

outro processo mecacircnico Os herdeiros dos autores gozaratildeo desse direito pelo tempo que a

lei determinarrdquo Essa lei foi publicada 5 anos mais tarde em 1896 com o nome de

Medeiros Albuquerque Conforme diz Daniel Rocha

Ateacute o advento dessa lei no Brasil a obra intelectual era terra de ningueacutem Tanto era

assim que Pinheiro Chagas escritor portuguecircs reclamava ter no Rio de Janeiro um

ldquoladratildeo habitualrdquo que ainda tinha a audaacutecia de lhe escrever dizendo ldquoTudo que V Exordf

publica eacute admiraacutevel Faccedilo o que posso para o tornar conhecido no Brasil reimprimindo tudordquo O que ocorria eacute que na eacutepoca era comum pensar-se que a obra estrangeira

ainda mais do que a nacional podia ser copiada indiscriminadamente (ROCHA apud

PARANAGUAacute E BRANCO 2009 18)

A lei Medeiros Albuquerque esteve em vigor ateacute a chegada do Coacutedigo Civil em

Janeiro de 1917 Nele o direito autoral brasileiro perdeu sua autonomia legislativa pois

passou a ser considerado simplesmente uma espeacutecie de propriedade ldquoPropriedade

Literaacuteria Cientiacutefica e Artiacutesticardquo (Manso 1992 20) Somente em 1973 o Brasil viu

publicado um estatuto uacutenico e abrangente regulando o direito de autor A lei nordm 5988 de

14 de Dezembro de 1973 vigorou ateacute a aprovaccedilatildeo pelo Congresso Nacional da lei nordm

9610 de 19 de Fevereiro de 1998

A atual Lei do Direito Autoral (LDA)3 brasileira nordm 961098 foi aprovada pelo

Congresso Nacional em 19 de Fevereiro de 1998 e entrou em vigor em 19 de Agosto do

mesmo ano Esse diploma veio alterar atualizar e consolidar a legislaccedilatildeo anterior que

vigorou por 25 anos (Paranaguaacute e Branco 2009 19)

Conforme salienta Faacutebio Barbosa o artigo 7ordm dessa lei confere inicialmente ao

direito autoral dois princiacutepios a proteccedilatildeo agrave criaccedilatildeo de espiacuterito expressas por qualquer

meio e a exclusividade de utilizaccedilatildeo da obra (Barbosa 2006 394) Isso nos remete ao

conceito de direito autoral dado por Isaac Pilati ldquo[] agrave guisa de conceito operacional

entende-se por Direito do Autor ou Direito Autoral aquele que tem o autor de ligar o seu

nome agrave obra do espiacuterito de qualquer modo exteriorizada podendo reproduzi-la e

3 Para tornar a leitura mais simples utilizaremos a sigla LDA para nos referirmos agrave atual Lei brasileira do

Direito Autoral

66

transmiti-lardquo (Pilati apud Barbosa 2006 394) Outros autores como Gustavo Correcirca

fazem conceituaccedilotildees mais teacutecnicas

Os direitos autorais satildeo aqueles que conferem ao autor de obra literaacuteria cientiacutefica ou artiacutestica a prerrogativa de reproduzi-la e exploraacute-la economicamente enquanto viver

transmitindo-a a seus herdeiros e sucessores pelo periacuteodo de setenta anos contados de

1ordm de Janeiro do ano subsequumlente ao de seu falecimento (CORREcircA apud BARBOSA

2006 394)

Agrave eacutepoca de seu surgimento a lei nordm 961098 trouxe uma evoluccedilatildeo no campo

juriacutedico concernente agraves mudanccedilas econocircmicas culturais e sobretudo tecnoloacutegicas pelas

quais passava a sociedade Eacute importante ressaltar que os avanccedilos no campo tecnoloacutegico

afetam diretamente o direito autoral jaacute que eles provocaram uma profunda mudanccedila na

forma de produzir e utilizar obras intelectuais Este eacute um assunto que seraacute tratado em

breve

Com o advento das tecnologias digitais e da Internet foi preciso modernizar a

legislaccedilatildeo para que esta acompanhasse as mutaccedilotildees que se seguiram Segundo Faacutebio

Barbosa naquela altura ela ldquo[] modernizou-se adequando-se para definir e reconhecer

os novos direitos aplicando sanccedilotildees agraves violaccedilotildees desses direitos inclusive no que se refere

agraves alteraccedilotildees supressotildees e inutilizaccedilotildees de dispositivos tecnoloacutegicos de proteccedilatildeo agrave obra

intelectualrdquo (Barbosa 2006 396)

Um dos toacutepicos que sofreram alteraccedilatildeo eacute o que se refere ao direito de reproduccedilatildeo

O artigo 5deg VI ndash Lei 961098 lhe daacute o seguinte conceito

VI ndash reproduccedilatildeo ndash a coacutepia de um ou vaacuterios exemplares de uma obra literaacuteria artiacutestica

ou cientiacutefica ou de um fonograma de qualquer forma tangiacutevel incluindo qualquer

armazenamento permanente ou temporaacuterio por meios eletrocircnicos ou qualquer outro

meio de fixaccedilatildeo que venha a ser desenvolvido (PRESIDEcircNCIA DA REPUacuteBLICA

FEDERATIVA DO BRASIL 1998)

Como pode ser observado o direito de reproduccedilatildeo sofreu mudanccedilas conceituais

considerando a partir de entatildeo ldquoqualquer armazenamento permanente ou temporaacuterio por

meios eletrocircnicos ou qualquer outro meio de fixaccedilatildeo que venha a ser desenvolvidordquo

(Barbosa 2006 397)

Outro conceito atualizado pela lei 961098 foi o do direito de comunicaccedilatildeo ao

puacuteblico O artigo 5deg V ndash Lei 961098 daacute o conceito da seguinte maneira ldquoV ndash

67

comunicaccedilatildeo ao puacuteblico ndash ato mediante o qual a obra eacute colocada ao alcance do puacuteblico

por qualquer meio ou procedimento e que natildeo consista na distribuiccedilatildeo de exemplaresrdquo

Poreacutem apesar de haver uma ampliaccedilatildeo conceitual referente agrave comunicaccedilatildeo puacuteblica

(podendo alcanccedilar a forma digital como ldquoo ato pelo qual a obra eacute colocada ao alcance do

puacuteblicordquo) no Capiacutetulo II intitulado ldquoDa Comunicaccedilatildeo ao Puacuteblicordquo a lei delimita o ato aos

direitos de execuccedilatildeo e representaccedilatildeo puacuteblicas nos artigos 68 e paraacutegrafos que satildeo

espeacutecies do gecircnero do direito de comunicaccedilatildeo ao puacuteblico (ibidem 399)

Um terceiro ponto a ser observado na lei 961098 estaacute no direito de distribuiccedilatildeo

As facilidades trazidas pela Internet promoveram uma discussatildeo em torno da distribuiccedilatildeo

de obras intelectuais na Rede O artigo 5deg IV ndash Lei 961098 traz o conceito da seguinte

forma

IV ndash distribuiccedilatildeo ndash a colocaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico do original ou coacutepia de obras

literaacuterias artiacutesticas ou cientiacuteficas interpretaccedilotildees ou execuccedilotildees fixadas e fonogramas

mediante a venda locaccedilatildeo ou qualquer outra forma de transferecircncia de propriedade ou posse (PRESIDEcircNCIA DA REPUacuteBLICA FEDERATIVA DO BRASIL 1998)

A princiacutepio o direito de distribuiccedilatildeo traz agrave mente a ideia do objeto material a obra

fixada sobre um suporte Poreacutem deve-se salientar que a distribuiccedilatildeo eletrocircnica tambeacutem

pode ser protegida jaacute que o objeto da proteccedilatildeo dos direitos eacute a obra em si que pode ser

digitalizada (Santos apud Barbosa 2006 400) O art 29 VII da Lei do Direito Autoral

alcanccedila a distribuiccedilatildeo eletrocircnica quando fala sobre a distribuiccedilatildeo de obras mediante

recursos de telecomunicaccedilotildees (Barbosa 2006 400)

32 Reforma da Lei brasileira do Direito Autoral (LDA)

A raacutepida evoluccedilatildeo das tecnologias digitais poreacutem fez com que a LDA se tornasse

obsoleta e desatualizada em vaacuterios aspectos Com o objetivo de discutir as mudanccedilas

necessaacuterias e as alternativas possiacuteveis um anteprojeto foi aberto agrave discussatildeo puacuteblica em 14

de Junho de 2010 pelo Ministeacuterio da Cultura (MinC) apoacutes vaacuterias jornadas puacuteblicas de

debate (vd Anexo 03) Foi mesmo criado um site para facilitar a consulta

httpwwwculturagovbrconsultadireitoautoral

Na verdade o anteprojeto propotildee reformar alguns pontos da LDA e natildeo instaurar

um diploma novo O texto manteacutem-se circunscrito ao acircmbito claacutessico dos direitos de autor

68

com apenas algumas referecircncias a elementos digitais Nota-se isso pela ausecircncia de uma

consideraccedilatildeo especiacutefica dos grandes problemas suscitados pelos direitos de autor em

mateacuteria de informaacutetica Haacute referecircncias incidentais mas aspectos baacutesicos da grande

problemaacutetica atual do estatuto da obra na Internet ficam por resolver Na anaacutelise do jurista

Joseacute de Oliveira Ascensatildeo esta foi uma decisatildeo sensata jaacute que a preparaccedilatildeo de uma lei

que regulasse o direito autoral na Internet levaria muito mais tempo e isso prejudicaria os

avanccedilos nas correccedilotildees de deficiecircncias jaacute detectadas - que deveriam ser realizadas mais

rapidamente (Ascensatildeo 2011 160)

No final de 2011 o Ministeacuterio da Cultura concluiu o texto final da nova Lei do

Direito Autoral Em Marccedilo de 2012 o diploma estava na pauta de discussatildeo dos

ministeacuterios envolvidos e depois seguiria para o Congresso Nacional Na eacutepoca em que

passou pelo MinC (gerido jaacute nesta altura pela ministra Ana de Hollanda) o texto sofreu

algumas modificaccedilotildees Ele eacute mais flexiacutevel do que o atual e permitiraacute por exemplo coacutepias

de obras para uso privado educaccedilatildeo ou preservaccedilatildeo (Link 04122011)

Poreacutem o Ministeacuterio da Cultura acrescentou ao texto um mecanismo que faz parte

da legislaccedilatildeo estadunidense o de notice and take down ou notificaccedilatildeo e retirada que

serve para que detentores de direitos autorais consigam retirar conteuacutedo pirata do ar sem a

necessidade de ordem judicial Por exemplo se uma gravadora encontrar um blog

hospedado no Blogger com links para downloads ilegais de discos pode solicitar ao

Google (proprietaacuterio do Blogger) a remoccedilatildeo do conteuacutedo O Google eacute obrigado a cumprir

e notificar o autor Avaliaccedilotildees ficam para depois Cabe ao dono do blog fazer uma

contranotificaccedilatildeo pedindo a manutenccedilatildeo do conteuacutedo e assumindo a responsabilidade por

uma eventual acusaccedilatildeo judicial

Segundo Marcia Regina Barbosa diretora de Direitos Intelectuais do Ministeacuterio da

Cultura o mecanismo foi incluiacutedo na lei ldquopor demanda dos produtores das aacutereas

audiovisual e musicalrdquo A medida segundo ela ldquolegalizaraacute um procedimento que hoje jaacute eacute

muito utilizadordquo (Link 04122011) O problema desse mecanismo eacute o que Pablo

Ortellado diretor do Grupo de Poliacuteticas Puacuteblicas para o Acesso agrave Informaccedilatildeo da

Universidade de Satildeo Paulo (USP) chama de ldquocensura preacuteviardquo (Link id) O proprietaacuterio do

blog soacute pode questionar a retirada depois que ela jaacute foi feita

O Ministeacuterio da Cultura tambeacutem quer criar um registro central de obras Na praacutetica

o sistema (que tem o nome provisoacuterio de I-Registro) eacute uma plataforma que centralizaraacute

dados sobre tudo o que eacute produzido de cultura no Brasil Registrar as obras criadas nessa

69

plataforma seraacute condiccedilatildeo sine qua non para receber os direitos autorais provenientes

delas Esse procedimento eacute questionaacutevel pelo facto de que a Convenccedilatildeo de Berna que

estabelece princiacutepios baacutesicos de direitos autorais e da qual o Brasil eacute signataacuterio afirma que

natildeo eacute necessaacuterio registro para uma obra ser protegida Para Pablo Ortellado a necessidade

de registro eacute ilegal pois segundo ele esse registro obrigatoacuterio ainda impediraacute o autor de

optar por uma modalidade de licenciamento mais flexiacutevel como o Creative Commons

(Link 04122011) Falaremos sobre ele mais adiante

Em audiecircncia puacuteblica na Cacircmara dos Deputados no dia 21 de Marccedilo de 2012 Ana

de Hollanda justificou as alteraccedilotildees feitas pelo Ministeacuterio da Cultura e afirmou que ouviu

as induacutestrias culturais para lanccedilar a uacuteltima versatildeo do texto da Reforma da Lei do Direito

Autoral ldquoConsideramos a consulta puacuteblica mas abrimos para contribuiccedilatildeo Havia uma

demanda enorme dos meios culturais que diziam que natildeo tinham sido ouvidos ou

contemplados no processo anteriorrdquo (Link 21032012) Segundo ela o MinC fez poucas

alteraccedilotildees no texto apoacutes a discussatildeo puacuteblica aberta em Junho de 2010 ldquoO que foi mexido

era uma demanda forte dos setores de todas as aacutereas audiovisual muacutesica livros que natildeo

se sentiam contempladosrdquo (Link id)

Paralelamente agraves discussotildees sobre a reforma da Lei brasileira do Direito Autoral

(LDA) eacute importante salientar que o Ministeacuterio da Justiccedila brasileiro estaacute em vias de

preparar aquilo que foi denominado de ldquoMarco Civil da Internetrdquo que vai apresentar

legislaccedilatildeo especiacutefica sobre a regulaccedilatildeo da Rede no paiacutes aleacutem de tocar (de forma indireta)

na questatildeo integrada dos direitos de autor e a problemaacutetica do digital Os contornos do

Marco Civil estatildeo atualmente sendo estudados por especialistas organismos de pesquisa e

acadecircmicos e eacute um toacutepico do qual trataremos a seguir

33 O Marco Civil da Internet

As discussotildees sobre o projeto de lei de combate ao cibercrime conhecido pelo

nome de seu autor o senador Eduardo Azeredo enfureceu muitos internautas brasileiros

A pressatildeo atraveacutes da mobilizaccedilatildeo virtual fez com que o entatildeo Presidente da Repuacuteblica

Luiz Inaacutecio Lula da Silva solicitasse ao Ministeacuterio da Justiccedila a elaboraccedilatildeo de ldquoum projeto

sobre a Internet que natildeo fosse uma regulaccedilatildeo penal mas um marco civilrdquo (Abramovay

2012) Em 29 de Outubro de 2009 a Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministeacuterio da

Justiccedila (SALMJ) em parceria com a Escola de Direito da Fundaccedilatildeo Getulio Vargas no

70

Rio de Janeiro (FGV DIREITO RIO) lanccedilou o projeto para a construccedilatildeo colaborativa de

um Marco Civil da Internet no Brasil

Os principais objetivos do marco regulatoacuterio satildeo o estabelecimento de princiacutepios

garantias direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil e a determinaccedilatildeo de diretrizes

para atuaccedilatildeo da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios em relaccedilatildeo agrave

mateacuteria A disciplina do uso da Internet no Brasil tem como fundamentos os direitos

humanos e o exerciacutecio da cidadania em meios digitais a pluralidade e a diversidade a

abertura e a colaboraccedilatildeo e finalmente a livre iniciativa a livre concorrecircncia e a defesa do

consumidor Dentre seus princiacutepios estatildeo

I - garantia da liberdade de expressatildeo comunicaccedilatildeo e manifestaccedilatildeo de

pensamento nos termos da Constituiccedilatildeo

II - proteccedilatildeo da privacidade

III - proteccedilatildeo aos dados pessoais na forma da lei

IV - preservaccedilatildeo e garantia da neutralidade da Rede conforme regulamentaccedilatildeo

V - preservaccedilatildeo da estabilidade seguranccedila e funcionalidade da Rede por meio de

medidas teacutecnicas compatiacuteveis com os padrotildees internacionais e pelo estiacutemulo ao uso de

boas praacuteticas

VI - responsabilizaccedilatildeo dos agentes de acordo com suas atividades nos termos da lei e

VII - preservaccedilatildeo da natureza participativa da Rede

(CONGRESSO NACIONAL 2011 01-02)

A ideia de criar um marco regulatoacuterio civil contrapotildee-se agrave tendecircncia de se

estabelecerem restriccedilotildees condenaccedilotildees ou proibiccedilotildees relativas ao uso da Internet E aiacute estaacute

a grande diferenccedila entre o Projeto de Lei Azeredo e o marco proposto Este uacuteltimo tem

como objetivo principal determinar de forma clara direitos e responsabilidades relativas agrave

utilizaccedilatildeo dos meios digitais O foco portanto eacute o estabelecimento de uma legislaccedilatildeo que

garanta direitos e natildeo uma norma que restrinja liberdades

Jaacute que as tecnologias digitais satildeo instrumentos em constantes mutaccedilatildeo e evoluccedilatildeo

o texto do marco civil deveria abranger questotildees essenciais A natureza aberta da Rede

poderia ser prejudicada caso a legislaccedilatildeo fosse de caraacuteter restritivo ldquoQualquer iniciativa

de regulaccedilatildeo da Internet deve portanto observar princiacutepios como a liberdade de

expressatildeo a privacidade do indiviacuteduo o respeito aos direitos humanos e a preservaccedilatildeo da

dinacircmica da Internet como espaccedilo de colaboraccedilatildeordquo (Ministeacuterio da Justiccedila e FGV 2009)

Dentre os temas abordados pelo texto do marco civil estatildeo as responsabilidades

dos provedores e dos usuaacuterios sobre os conteuacutedos disponibilizados na Rede e as medidas

para regulamentar e preservar direitos fundamentais dos internautas (como a privacidade e

71

a liberdade de expressatildeo) Aleacutem disso prevecirc-se a discussatildeo sobre alguns princiacutepios que

garantam o bom funcionamento da Rede como a neutralidade da Internet Os

organizadores do marco civil decidiram natildeo abordar de maneira aprofundada questotildees

como crimes ciberneacuteticos regulaccedilatildeo de telecomunicaccedilotildees e direitos de autor por

considerarem que satildeo temas suficientemente vastos para serem discutidos em foros agrave

parte Mas de alguma forma as premissas do texto do marco tocam essas questotildees

mesmo que de forma natildeo tatildeo evidente Eacute como o caso da relaccedilatildeo entre respeito aos direitos

autorais e preservaccedilatildeo da privacidade do usuaacuterio da Rede

Tomemos quatro principais itens-chave discutidos pelo Marco Civil guarda de

dados neutralidade da Rede privacidade e responsabilidade Quando um crime eacute

cometido utilizando a Internet como meio a uacutenica forma de identificar o criminoso eacute ter

acesso aos registros de conexatildeo Atualmente no Brasil natildeo haacute nenhuma lei de caraacuteter

regulatoacuterio que defina se sites e provedores devem armazenar esses registros ou por

quanto tempo O texto do marco determina que os provedores guardem os registros de

conexatildeo de seus utilizadores mas proiacutebe que colham informaccedilotildees sobre os registros de

acesso a serviccedilos Web Isto eacute os provedores seriam obrigados a armazenar os dados que

permitem determinar quando e por qual computador o indiviacuteduo conectou-se agrave Rede mas

natildeo quais os sites que foram visitados Os proacuteprios sites poderiam fazecirc-lo mas apenas

quando o usuaacuterio consentisse Aqui estaacute um ponto que gera controveacutersias Alguns juristas

afirmam que os registros de acesso satildeo possiacuteveis provas de crimes ndash o que levaria o tema a

ser regulado por uma lei criminal natildeo por um marco civil

A questatildeo da neutralidade da Rede eacute um ponto crucial do projeto e uma polecircmica

de dimensotildees planetaacuterias O princiacutepio da neutralidade da Rede determina que todos os

pacotes de dados que transitam por ela devem ser tratados da mesma forma sem

discriminaccedilatildeo de origem destino ou tipo Manter a neutralidade quer dizer aqui evitar

praacuteticas conhecidas como traffic shaping que permite aos provedores dificultar a

conexatildeo a determinadas paacuteginas Eacute o caso dos fornecedores de acesso agrave Internet que

prejudicam propositalmente a conexatildeo a sites de partilha P2P e serviccedilos voip por

exemplo No Brasil um caso que ilustra essa atitude eacute o da Brasil Telecom e de mais trecircs

operadoras atuantes no mercado nacional que aparecem no ranking mundial dos 108

provedores avaliados pelo software Vuze sob indiacutecios da praacutetica de controlo de fluxo de

dados (Vuze 2008) O Marco prevecirc uma exceccedilatildeo apenas para requisitos teacutecnicos

necessaacuterios agrave prestaccedilatildeo adequada dos serviccedilos (Congresso Nacional 2011 03) como

72

medidas para melhoria do funcionamento da Rede que podem eventualmente prejudicar a

fluidez do traacutefego de informaccedilotildees

Para garantir a privacidade do usuaacuterio o marco determina que seus dados pessoais

soacute podem ser consultados mediante decisatildeo judicial Os criacuteticos da medida contestam esse

toacutepico afirmando que isso poderia dificultar eventuais investigaccedilotildees da poliacutecia Poreacutem

deve-se observar que o texto prevecirc que as autoridades requeiram a conservaccedilatildeo dos dados

dos usuaacuterios investigados sem burocracia impedindo que sejam apagados pelos

servidores

A responsabilidade tem a ver com a atribuiccedilatildeo de conteuacutedos publicados em sites

redes sociais etc Neste ponto o marco segue o mesmo caminho que jaacute vem sendo tomado

pela Justiccedila a responsabilidade recai sobre os proacuteprios usuaacuterios sendo os provedores

punidos apenas quando natildeo retiram o conteuacutedo do ar dentro do prazo legal estabelecido

para fazecirc-lo

O caraacuteter inteiramente colaborativo do processo de construccedilatildeo do marco civil eacute

ineacutedito e constitui seu maior trunfo A formulaccedilatildeo do texto foi executada tendo a Internet

como meio o intuito foi o de incentivar a participaccedilatildeo ativa e direta dos vaacuterios atores

sociais envolvidos no tema (sociedade civil pesquisadores membros do governo

acadecircmicos representantes da iniciativa privada etc) Todos podiam efetuar cadastro em

um site feito especialmente com o objetivo de receber propostas contribuiccedilotildees e opiniotildees

Dividiu-se o processo em duas fases Na primeira com duraccedilatildeo de

aproximadamente 45 dias (iniciada em Outubro de 2009 e fechada em 17 de Dezembro de

2009) foram debatidas ideias sobre os toacutepicos propostos para regulaccedilatildeo a partir de texto-

base produzido pelo Ministeacuterio da Justiccedila O texto-base contextualiza os principais temas

pendentes de regulaccedilatildeo pelo instrumento a ser elaborado coletivamente e aponta possiacuteveis

caminhos a serem seguidos

Cada paraacutegrafo do texto ficou aberto para inserccedilatildeo de comentaacuterios por usuaacuterios

cadastrados no site As postagens de comentaacuterios tinha limite de tamanho e de quantidade

por usuaacuterios a fim de abrir espaccedilo agrave pluralidade de participaccedilotildees Para evitar cerceamento

ao debate a equipe de coordenaccedilatildeo direcionava determinados debates para foros de

discussatildeo hospedados em comunidades especiacuteficas dentro do portal Nesses espaccedilos era

possiacutevel tornar a discussatildeo mais aprofundada Cada participante tambeacutem podia votar

positiva ou negativamente nas contribuiccedilotildees dos demais Esses votos serviam para nortear

a equipe de redaccedilatildeo sobre as preferecircncias opiniotildees e interesses dos participantes

73

contribuindo para a formulaccedilatildeo da proposta No final desta primeira fase todas as

participaccedilotildees foram compiladas e levaram agrave elaboraccedilatildeo de uma minuta de anteprojeto de

lei Nessa primeira fase o site recebeu uma meacutedia de 1300 visitas diaacuterias

Na segunda fase a discussatildeo seguiu o mesmo formato mas teve como paracircmetro a

minuta de anteprojeto de lei elaborado anteriormente Cada artigo paraacutegrafo inciso ou

aliacutenea ficou aberto para apresentaccedilatildeo de comentaacuterios por qualquer interessado A duraccedilatildeo

desta fase foi de aproximadamente 50 dias (de 08 de Abril a 30 de Maio de 2010) Durante

o periacuteodo o site recebeu 455 mil visitas e foram feitos cerca de 900 comentaacuterios agrave minuta

(Agecircncia Brasil 2010) Com o teacutermino da segunda fase foi construiacutedo o texto atualmente

disponiacutevel (vd Anexo 01)

O processo de consulta puacuteblica no qual se baseou a construccedilatildeo do marco foi

elogiado por muitos juristas e ativistas da Internet por ser aberto e democraacutetico e eacute um

modelo cuja eficaacutecia vem sendo internacionalmente reconhecida (Committee to Protect

Journalists 2010 Internet sans frontiegraveres 2010)

34 Legislaccedilatildeo autoral portuguesa

Em Portugal a Carta Constitucional de 1826 no sect24ordm do artigo 145ordm reconhece

aos inventores ldquoa propriedade das suas descobertas ou das suas produccedilotildeesrdquo mas natildeo

assegura a proteccedilatildeo agrave criaccedilatildeo literaacuteria (Monarquia Portuguesa 1826 01)

O escritor Almeida Garrett entusiasta da causa dos direitos de autor em Portugal

escreveu em 1839 sobre a falta de proteccedilatildeo aos autores nacionais

Findo o privileacutegio se era temporaacuterio ou natildeo o havendo entendia-se que toda a obra

impressa entrava no domiacutenio puacuteblico e que vivo ou morto com herdeiros ou sem eles

qualquer um podia reimprimir vender representar se era obra dramaacutetica usar dela

enfim como coisa sua ou coisa de ningueacutem que tanto vale (REBELLO 1973 07)

No ano de 1838 a Constituiccedilatildeo Portuguesa consagrou no sect4ordm do artigo 23ordm o

ldquodireito de propriedade dos inventores sobre as suas descobertas e dos escritores sobre os

seus escritos [] pelo tempo e na forma que a lei determinar []rdquo Faltava poreacutem a lei

que regulasse a mateacuteria nas suas especificidades

Em 1839 Garrett apresentou agrave Cacircmara dos Deputados um projeto de lei sobre

propriedade literaacuteria e artiacutestica Em 1841 o projeto foi aprovado mas natildeo chegou a tornar-

se lei devido agrave desfavoraacutevel conjuntura poliacutetica da eacutepoca O projeto voltou agrave Cacircmara dez

74

anos depois em 1851 quando foi aprovado e em 18 de Julho do mesmo ano foi publicado

o primeiro diploma regulador dos direitos autorias em Portugal Esta lei manteve-se em

vigor ateacute 1867 ano em que a mateacuteria referente ao direito de autor foi inserida no Coacutedigo

Civil elaborado pelo Visconde de Seabra Os artigos 570deg a 612ordm que constituem o

capiacutetulo epigrafado ldquoDo trabalho literaacuterio e artiacutesticordquo retomaram os princiacutepios e as regras

fundamentais do diploma precedente De acordo com o artigo 579ordm do coacutedigo civil o

direito dos herdeiros a publicar ou autorizar a publicaccedilatildeo de uma obra foi elevado de 30

para 50 anos consecutivos agrave morte do autor

Setenta anos depois em 3 de Junho de 1927 o decreto nordm 13725 (tambeacutem

conhecido como Lei Cunha Gonccedilalves) veio estabelecer uma regulaccedilatildeo autocircnoma para

essa mateacuteria em parte pela necessidade de harmonizaccedilatildeo entre a legislaccedilatildeo interna com o

Direito internacional jaacute que Portugal havia assinado o decreto de adesatildeo agrave Convenccedilatildeo de

Berna em 1911 A convenccedilatildeo que instituiu a Uniatildeo Internacional das Naccedilotildees Para a

Proteccedilatildeo das Obras Literaacuterias e Artiacutesticas jaacute contava na altura com a participaccedilatildeo da

Alemanha Beacutelgica Espanha Franccedila Inglaterra Itaacutelia e Suiacuteccedila Luiz Francisco Rebello

aponta que a maior inovaccedilatildeo desse decreto foi o estabelecimento da perpetuidade do

direito de autor ateacute entatildeo protegido apenas durante a vida e ateacute 50 anos apoacutes a sua morte

(ibidem 09) O sistema anterior foi poreacutem restaurado em 1966

Em 6 de Setembro de 1952 eacute assinado em Genebra um outro tratado multilateral a

Convenccedilatildeo Universal sobre o Direito de Autor de iniciativa da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) destinada a ldquo[] assegurar a

proteccedilatildeo suficiente e eficaz dos direitos dos autores e de quaisquer outros titulares dos

mesmos direitos sobre as obras literaacuterias artiacutesticas e cientiacuteficasrdquo (Convenccedilatildeo Universal

sobre Direito de Autor 1952 01) O novo tratado impocircs a necessaacuteria revisatildeo da lei

nacional com o objetivo de adequaacute-la agraves mudanccedilas das tecnologias que surgiam mas

sobretudo de adaptaacute-la ao quadro internacional A comissatildeo incumbida de fazecirc-lo redigiu

um anteprojeto de lei consideravelmente modificado pela Cacircmara Corporativa em 1953

O contra-projeto da Cacircmara Corporativa inspirou em grande parte o texto do Coacutedigo de

Direito de Autor aprovado pelo Decreto-Lei nordm 46980 de 27 de Abril de 1966

O ano de 1985 marca a aprovaccedilatildeo do Coacutedigo do Direito de Autor e dos Direitos

Conexos4 pelo Decreto-Lei nordm 6385 de 14 de Marccedilo O texto original foi alterado pelas

4 Para tornar a leitura mais simples utilizaremos a sigla CDA para nos referirmos agrave atual Lei portuguesa dos

Direitos Autorais

75

Leis ndeg 4585 de 17 de Setembro ndeg 11491 de 3 de Setembro nordm 502004 de 24 de

Agosto e pelos Decretos-Lei ndeg 33297 e 33497 ambos de 27 de Novembro Este eacute o

coacutedigo que atualmente versa sobre a questatildeo em Portugal

Em vigor haacute mais de 25 anos eacute evidente que o CDA natildeo abrange os problemas

suscitados pela informaacutetica e especialmente pela Internet Segundo Alexandre Dias

Pereira a desatualizaccedilatildeo eacute caracteriacutestica das legislaccedilotildees nacionais em geral soacute agora eacute que

elas comeccedilam a abrir suas portas aos novos problemas da teacutecnica E o faratildeo mais vezes

por imposiccedilatildeo vertical dos Tratados Internacionais eou como eacute o caso da Uniatildeo Europeia

por forccedila das Diretivas Comunitaacuterias (Pereira 2002 05) Eacute nesse contexto que se assiste

na Europa a um ldquoassaltordquo ao direito de autor pelas instituiccedilotildees comunitaacuterias Com efeito

foram adotadas diversas medidas de harmonizaccedilatildeo na sequecircncia de um programa de accedilatildeo

traccedilado no famoso Livro Verde de 1988 sobre direitos de autor e os desafios da tecnologia

A legislaccedilatildeo nacional viu ocorrerem vaacuterias mudanccedilas como os programas de computador

serem tratados em igualdade com as obras literaacuterias (Conselho Europeu 1991) e o prazo

de duraccedilatildeo dos direitos subir para os 70 anos apoacutes a morte do autor (Parlamento Europeu e

Conselho 2006)

35 Regulaccedilatildeo da Internet em Portugal

Em 31 de Maio de 2002 os presidentes do Instituto da Comunicaccedilatildeo Social (ICS) e

da Autoridade Nacional de Comunicaccedilotildees (ANACOM) apresentaram ao Governo um

conjunto de propostas de atuaccedilatildeo intitulado ldquoIniciativa Convergecircncia e Regulaccedilatildeordquo O

texto tinha como objetivo definir uma orientaccedilatildeo estrateacutegica para o desenvolvimento dos

setores do audiovisual e das comunicaccedilotildees num ambiente de convergecircncia

A iniciativa recolheu e analisou contributos de representantes dos diferentes

interesses envolvidos na questatildeo entre eles associaccedilotildees de consumidores e profissionais

entidades institucionais e operadores de telecomunicaccedilotildees Tambeacutem ouviu personalidades

de reconhecido meacuterito e experiecircncia nos setores da comunicaccedilatildeo social para aleacutem de abrir

uma consulta puacuteblica Em 3 de Junho de 2002 foi entregue aos Ministros da Presidecircncia e

da Economia o relatoacuterio final contendo um conjunto de recomendaccedilotildees e de propostas de

atuaccedilatildeo Entretanto o projeto estagnou-se e desde 2008 natildeo haacute atualizaccedilotildees a seu respeito

James Slevin afirma que o uso das novas tecnologias de informaccedilatildeo eacute visto por

parte dos EstadosndashNaccedilatildeo como sendo de prioridade para os seus interesses e por isso pede

76

algum tipo de regulaccedilatildeo Isso porque no entender do Estado (hellip) as tecnologias que

podem ser utilizadas para transmitir algum tipo de mensagens para audiecircncias

relativamente alargadas (hellip) possuem uma profunda significacircncia como fator de influecircncia

dos valores e padrotildees morais das sociedades modernasrdquo (Slevin 2000 77) James Slevin

diz ainda que a tentativa de dotar a Internet de um sistema regulatoacuterio que defenda

simultaneamente os interesses dos Estados e dos cidadatildeos provoca um embate entre dois

polos (Slevin apud Cardoso 2002 03) Primeiro o dos governos que tendem a defender

uma abordagem da Internet enquanto tecnologia que facilita a difusatildeo puacuteblica de material

algo proacuteximo do sistema de broadcasting ndash uma atividade para a qual foram ao longo das

uacuteltimas deacutecadas desenvolvidos sistemas de regulaccedilatildeo de conteuacutedos Por outro lado os

indiviacuteduos e organizaccedilotildees da sociedade civil partidaacuterios de uma abordagem da Internet

enquanto tecnologia derivada do sistema telefocircnico ndash o qual foi desde sempre

caracterizado por um sistema de regulaccedilatildeo bastante brando dos seus conteuacutedos

Em texto escrito como contribuiccedilatildeo para a ldquoIniciativa Convergecircncia e Regulaccedilatildeordquo

Gustavo Cardoso afirma poreacutem que ldquoas posiccedilotildees sobre a regulaccedilatildeo da Internet tendem a

ser por vezes simplificadas colocando o Estado como defensor da existecircncia de

regulaccedilatildeo e os cidadatildeos como arautos da auto-regulaccedilatildeordquo (Cardoso 2002 04) Foi com o

objetivo de descobrir a veracidade dessa opiniatildeo na sociedade portuguesa que o Projecto

Ciberfaces do Instituto Superior de Ciecircncias do Trabalho e da Empresa (ISCTE)

analisou no ano 2000 3 mil inqueacuteritos realizados com usuaacuterios da Internet no paiacutes

Questionados sobre as principais vantagens da Internet os inquiridos responderam

quantidade diversidade da informaccedilatildeo disponiacutevel (263) rapidez de comunicaccedilatildeo

(205) e facilidade de contato com outros (182) O item referente agrave ausecircncia de

regulaccedilatildeo figurou na 6ordf posiccedilatildeo (57) numa lista de seis (ISCTE Projecto Ciberfaces

2000) As questotildees mais problemaacuteticas que a Internet enfrenta satildeo para estes inquiridos a

privacidade dos dados a seguranccedila dos pagamentos on-line a desorganizaccedilatildeo e dispersatildeo

dos conteuacutedos e a censura a alguns desses conteuacutedos

Outra dimensatildeo significativa que a pesquisa procurou analisar foi a da relaccedilatildeo

entre direitos de autor e gratuidade de conteuacutedos Agrave questatildeo ldquoA informaccedilatildeo

disponibilizada na Internet deve ser gratuitardquo 914 responderam ldquosimrdquo e 86 ldquonatildeordquo

Perguntados se ldquoOs direitos de autor devem ser respeitados na Internetrdquo 835

concordaram e 165 discordaram Gustavo Cardoso aponta esses resultados como

sintoma do aparente paradoxo entre o acesso gratuito agraves informaccedilotildees e a defesa dos

77

direitos de autor e da necessidade de compatibilizar dois polos de interesse geralmente

considerados opostos (Cardoso 2002 07)

Na questatildeo sobre a quem deve caber a regulaccedilatildeo da Internet 63 declararam-se a

favor de algum tipo de regulaccedilatildeo 33 mostraram-se favoraacuteveis aos utilizadores (portanto

agrave auto-regulaccedilatildeo) e apenas 2 escolheram a ausecircncia de qualquer tipo de regulaccedilatildeo Os

favoraacuteveis agrave regulaccedilatildeo opinaram poreacutem que esta natildeo deveria ser feita nem pelo Governo

nem pelas empresas do setor Ambas as categorias satildeo vistas como pouco crediacuteveis para

assegurar o equiliacutebrio necessaacuterio entre o interesse privado e puacuteblico que os usuaacuterios

conferem agrave Rede Isso ocorre pelo facto de os utilizadores conferirem ao regulador a noccedilatildeo

de entidade sem interesse direto no espaccedilo em causa Assim a escolha recai ou sobre

entidades independentes ou numa combinaccedilatildeo de interesses puacuteblicos privados e

individuais Conforme diz Gustavo Cardoso ldquotratam-se portanto de modelos proacuteximos

daqueles que a legislaccedilatildeo portuguesa a par de outras a niacutevel europeu privilegia nas aacutereas

de atuaccedilatildeo das tecnologias mais tradicionais no sistema dos mediardquo (ibidem 11)

A regulaccedilatildeo da Internet depara-se com trecircs questotildees limitadoras no que se refere

aos conteuacutedos como definir quais satildeo os conteuacutedos aceitaacuteveis e inaceitaacuteveis agrave circulaccedilatildeo

como reunir as capacidades financeira e tecnoloacutegica necessaacuterias agrave aplicaccedilatildeo da regulaccedilatildeo e

como criar uma poliacutetica de cooperaccedilatildeo internacional face a uma tecnologia global como a

Internet Outro aspecto a ser considerado eacute o das formas de filtragem dos conteuacutedos As

tecnologias para fazecirc-lo ainda natildeo estatildeo suficientemente desenvolvidas aleacutem disso

qualquer atitude nesse campo esbarra na tecircnue linha que separa o combate agrave criminalidade

na Rede e o desrespeito agrave privacidade dos usuaacuterios Muito mais que uma questatildeo

tecnoloacutegica o controlo de conteuacutedos na rede mundial de computadores apresenta-se como

um dilema filosoacutefico e socioloacutegico difiacutecil de ser resolvido

40 Salvaguarda dos direitos de autor e combate agrave pirataria no Brasil e em

Portugal Azeredo e Lei da Coacutepia Privada

41 O Projeto de Lei Azeredo

78

O Projeto de Lei 892003 de autoria do senador mineiro Eduardo Azeredo eacute um

substitutivo a trecircs projetos que tramitam em conjunto pelo Congresso Nacional brasileiro

Projeto de Lei da Cacircmara de nordm 89 de 2003 e do Senado de nordm 76 e 137 de 2000 Eles

dispotildeem sobre os crimes cometidos na aacuterea de informaacutetica e suas penalidades O projeto

pretende alterar o Coacutedigo Penal o Coacutedigo de Processo Penal e outras leis ao inveacutes de

atualizaacute-las com novos tipos de crime cometidos atraveacutes das tecnologias da informaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo (TIC) (Rezende 2008)

Eduardo Azeredo (PSDB) foi governador do estado de Minas Gerais e trabalhou

na IBM por mais de 10 anos Ele tambeacutem exerceu vaacuterios cargos puacuteblicos ligados agrave aacuterea da

tecnologia com a colaboraccedilatildeo de seu assessor Joseacute Henrique Portugal que eacute ex-diretor da

empresa puacuteblica Serpro (Serviccedilo Federal de Processamento de Dados) e coautor do

respectivo Projeto de Lei que ficou conhecido como ldquoLei de Crimes de Informaacuteticardquo e

tambeacutem ldquoLei Azeredordquo

O projeto eacute criticado desde seu surgimento por apresentar um texto vago

impreciso ateacute duacutebio com pontos abertos a interpretaccedilotildees mesmo contraditoacuterias Aleacutem

disso os criacuteticos da Lei Azeredo apontam para o facto de que o texto legislativo pode

chegar a criminalizar atividades cotidianas praticadas por usuaacuterios da Rede Em seu blog

o socioacutelogo Seacutergio Amadeu afirma que ldquoao aprovar o Projeto Substitutivo ao Projeto de

Lei da Cacircmara dos Deputados (PLC) 892003 Projeto de Lei do Senado Federal (PLS)

1372000 e PLS 762000 redigido pelo senador Azeredo a Comissatildeo de Constituiccedilatildeo e

Justiccedila da Cacircmara quer transformar milhares de internautas em criminososrdquo (Amadeu

2008)

Pela burocratizaccedilatildeo do acesso que propotildee a lei pode dificultar a democratizaccedilatildeo da

Rede e servir como um entrave e um desincentivo aos usuaacuterios O texto inicial da Lei

Azeredo propotildee a obrigatoriedade da identificaccedilatildeo do usuaacuterio antes de iniciar qualquer

atividade interativa na Rede Sendo assim o envio de e-mails conversas em salas de bate-

papo criaccedilatildeo e publicaccedilatildeo de materiais em blogs e a captura de dados (downloads de

muacutesicas filmes imagens etc) dentre outras atividades ficariam sujeitas agrave preacutevia

identificaccedilatildeo do utilizador

A Lei Azeredo prevecirc a necessidade de identificar-se a cada acesso O usuaacuterio deve

fornecer informaccedilotildees como nome endereccedilo nuacutemero de telefone nuacutemeros do registro

geral (carteira de identidade) e do cadastro de pessoas fiacutesicas (CPF) ou juriacutedicas (CNPJ)

79

A navegaccedilatildeo na Internet sem o fornecimento desses dados seria punida com reclusatildeo de

dois a quatro anos

Os fornecedores de acesso agrave Internet satildeo os responsaacuteveis pela comprovaccedilatildeo da

veracidade das informaccedilotildees prestadas pelos usuaacuterios Cabe a eles verificar se os dados satildeo

ou natildeo reais e se correspondem efetivamente agrave pessoa conectada O acesso soacute seraacute

liberado apoacutes a confirmaccedilatildeo da identidade do indiviacuteduo Para isso eacute preciso obter

fotocoacutepias dos documentos de identificaccedilatildeo Caso os provedores permitam o acesso de

usuaacuterios natildeo cadastrados ficam sujeitos agrave mesma pena ndash dois a quatro anos de prisatildeo

O artigo 2 do projeto propotildee a alteraccedilatildeo do artigo 285 do Coacutedigo Penal com trecircs

apecircndices O 285-A criminaliza o acesso ldquomediante violaccedilatildeo de seguranccedilardquo agrave rede de

computadores dispositivo de comunicaccedilatildeo ou sistema informatizado protegido por

expressa restriccedilatildeo de acesso com pena de um a trecircs anos de reclusatildeo e multa O 285-B

criminaliza a obtenccedilatildeo ou transferecircncia de dado ou informaccedilatildeo disponiacutevel numa tal coisa

em desconformidade com a autorizaccedilatildeo do ldquolegiacutetimo titularrdquo da mesma com pena igual

O texto determina que os fornecedores de acesso agrave Internet guardem durante um

periacuteodo de trecircs anos as informaccedilotildees sobre as conexotildees realizadas por seus usuaacuterios de

maneira a fornececirc-las agraves autoridades responsaacuteveis pela investigaccedilatildeo de infratores

Art 22 O responsaacutevel pelo provimento de acesso agrave rede de computadores mundial

comercial ou do setor puacuteblico eacute obrigado a

I ndash manter em ambiente controlado e de seguranccedila pelo prazo de trecircs anos com o

objetivo de provimento de investigaccedilatildeo puacuteblica formalizada os dados de

endereccedilamento eletrocircnico da origem hora data e a referecircncia GMT da conexatildeo

efetuada por meio de rede de computadores e fornececirc-los exclusivamente agrave autoridade

investigatoacuteria mediante preacutevia requisiccedilatildeo judicial

II ndash preservar imediatamente apoacutes requisiccedilatildeo judicial outras informaccedilotildees requisitadas

em curso de investigaccedilatildeo respondendo civil e penalmente pela sua absoluta confidencialidade e inviolabilidade (SENADO FEDERAL 2003)

No mesmo artigo a lei ainda prevecirc que os prestadores de serviccedilo de acesso agrave rede

mundial de computadores recebam e faccedilam denuacutencias sobre usuaacuterios que pratiquem

atividades tidas como criminosas pelas autoridades competentes Cabe aos fornecedores

um papel de delaccedilatildeo

III ndash informar de maneira sigilosa agrave autoridade competente denuacutencia que tenha

recebido e que contenha indiacutecios da praacutetica de crime sujeito a acionamento penal

puacuteblico incondicionado cuja perpetraccedilatildeo haja ocorrido no acircmbito da rede de computadores sob sua responsabilidade (SENADO FEDERAL 2003)

80

O artigo 22 do Projeto de Lei 892003 eacute talvez o mais polecircmico Os criacuteticos da lei

questionam o motivo pelo qual as denuacutencias deveriam ser feitas aos fornecedores de

acesso agrave Internet e natildeo diretamente agraves autoridades competentes Se natildeo haacute restriccedilotildees nem

criteacuterios para o registro de denuacutencias qualquer interessado pode fazecirc-las aos provedores

criando uma espeacutecie de induacutestria de denuacutencias Aleacutem disso a lei induz as empresas

fornecedoras de acesso a serem conforme diz o Observatoacuterio do Direito agrave Comunicaccedilatildeo

ldquociberagentes policiaisrdquo ldquocibercapatazesrdquo que dispostos a evitar retaliaccedilotildees identificam e

denunciam usuaacuterios sem saber se houve realmente alguma violaccedilatildeo da lei (Observatoacuterio

do Direito agrave Comunicaccedilatildeo 2008) Em entrevista ao Grupo de Pesquisa em Poliacuteticas

Puacuteblicas para o Acesso agrave Informaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) o professor e

pesquisador da Universidade de Brasiacutelia (UnB) Pedro Rezende demonstrou seu temor em

relaccedilatildeo a esse artigo

Receio que tal dispositivo possa por exemplo induzir prestadores inclinados a lucrar

com espionagem ou violaccedilatildeo de privacidade em posiccedilatildeo teacutecnica de poder fazecirc-lo de

forma indetectaacutevel a se abrigarem na sombra desta subjetividade para se desimputarem

de culpabilidade caso efeitos desta inclinaccedilatildeo emerjam (REZENDE 2008)

Em Marccedilo de 2012 o Projeto de Lei Azeredo entrou na pauta de discussatildeo na

Comissatildeo de Seguranccedila Puacuteblica e Combate ao Crime Organizado na Cacircmara dos

Deputados A notiacutecia causou revolta e graccedilas agrave mobilizaccedilatildeo popular atraveacutes das redes

sociais e outros instrumentos de comunicaccedilatildeo pela Internet o debate sobre o texto foi

adiado sem prazo definido

42 A Lei da Coacutepia Privada em Portugal

O Coacutedigo de Direitos de Autor revisado e aprovado em 1985 estabeleceu em seu

81deg artigo a legitimidade da reproduccedilatildeo de obras protegidas sem o consentimento dos

titulares dos direitos quando estas se destinam a fins exclusivamente privados

(Assembleia da Repuacuteblica 1985 27) Em outras palavras a reproduccedilatildeo eacute legal quando eacute

feita por uma soacute pessoa sem fins lucrativos visando apenas satisfazer necessidades

pessoais do utilizador ou dos seus proacuteximos Eacute a isto que se chama coacutepia privada

81

Na tentativa de evitar que os autores ficassem desprotegidos pela autorizaccedilatildeo da

coacutepia em contexto privado a Lei nordm 6298 de 01 de Setembro estabelece uma

compensaccedilatildeo a atribuir pela entidade gestora dos direitos autorais Essa compensaccedilatildeo eacute

obtida da seguinte forma na venda de

[] todos e quaisquer aparelhos mecacircnicos quiacutemicos electroacutenicos ou outros que

permitam a fixaccedilatildeo e reproduccedilatildeo de obras e bem assim de todos e quaisquer suportes

materiais virgens analoacutegicos das fixaccedilotildees e reproduccedilotildees que por qualquer desses meios

possam obter-se incluir-se-aacute uma quantia destinada a beneficiar os autores os artistas

inteacuterpretes ou executantes os editores os produtores fonograacuteficos e os videograacuteficos

(ASSEMBLEIA DA REPUacuteBLICA 1998 01)

Portanto a compensaccedilatildeo obteacutem-se atraveacutes da introduccedilatildeo no preccedilo de venda ao

puacuteblico de uma determinada taxa

Em Dezembro de 1998 foi constituiacuteda a Associaccedilatildeo para Gestatildeo da Coacutepia Privada

(AGECOP) em cumprimento ao artigo 6ordm da Lei nordm 6298 de 01 de Setembro que previa

a criaccedilatildeo de ldquo[] uma pessoa colectiva sem fins lucrativos de natureza associativa ou

cooperativa que tem por objecto a cobranccedila e gestatildeo das quantias previstas na presente

leirdquo (Assembleia da Repuacuteblica 1998 02) A entidade atualmente presidida pela

Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) cobra pela coacutepia privada e distribui os valores agraves

sociedades de gestatildeo e aos detentores dos direitos de autor

A lei nordm 502004 de 24 de Agosto referente agrave Harmonizaccedilatildeo de certos aspectos

dos direitos de autor e dos direitos conexos na sociedade da informaccedilatildeo finalmente

especificou a quais aparelhos e suportes se aplicariam as taxas pela coacutepia privada Desde

entatildeo todos os equipamentos analoacutegicos que permitem gravar armazenar e reproduzir

passaram a ser taxados em 3 assim como cassetes aacuteudio viacutedeo CD-R aacuteudio DVD-R

DVD RAM etc que satildeo taxados em valores individuais que rondam os 014 e o 100

euros cada A soma incide sobre o preccedilo de venda ao puacuteblico antes da aplicaccedilatildeo do

Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) estabelecido pelos respectivos fabricantes e

importadores (Assembleia da Repuacuteblica 2004)

A ex-ministra da Cultura e atual deputada do Partido Socialista (PS) Gabriela

Canavilhas eacute a responsaacutevel pela autoria e apresentaccedilatildeo do Projeto de Lei nordm 118 tambeacutem

conhecido como Projeto de Lei da Coacutepia Privada5 agrave Assembleia da Repuacuteblica O objetivo

5 Para tornar a leitura mais simples utilizaremos a sigla PL118 para nos referirmos ao Projeto de Lei da

Coacutepia Privada

82

do texto eacute basicamente alargar o regime de taxas aos equipamentos digitais surgidos e

popularizados recentemente como aparelhos leitores de mp3 e pens USB por exemplo A

proposta sugere que o valor da taxa deixe de ser de 3 e seja proporcional agrave capacidade

do dispositivo A soma deve ser incluiacuteda no valor cobrado ao consumidor final e seraacute

obrigatoacuteria mesmo que o consumidor compre o aparelho para armazenar conteuacutedos de sua

autoria

Em artigo publicado no jornal Diaacuterio de Notiacutecias Canavilhas afirma que a ideia

inspira-se nas recentes decisotildees da Uniatildeo Europeia que tem manifestado grande

preocupaccedilatildeo para com este assunto (Canavilhas 30012012) Essa preocupaccedilatildeo foi

expressa pela Diretiva Comunitaacuteria 201129CE e mais recentemente pela Comunicaccedilatildeo

da Comissatildeo Europeia ldquoUm Mercado Uacutenico para os Direitos de Propriedade Intelectualrdquo

de Maio de 2011

Gabriela Canavilhas afirmou que os valores propostos no diploma do PS satildeo

equivalentes aos praticados atualmente em outros paiacuteses Segundo ela em 2009 entre 30

paiacuteses europeus Portugal estava em 17ordm lugar no ranking da contribuiccedilatildeo per capita para

pagamento de direitos autorais euro 030 euros por habitanteano Na Franccedila paiacutes topo da

lista cada cidadatildeo pagava 260 eurosano na Espanha 170 euros e na Holanda 090

euros Para a deputada optar por comprar equipamentos informaacuteticos em outros paiacuteses da

EU significa pagar direitos de autor aos cidadatildeos de outros paiacuteses ao inveacutes de investir nos

autores nacionais (Canavilhas id)

As memoacuterias USB aparelhos destinados agrave reproduccedilatildeo e outros suportes como

cartotildees de memoacuteria passaratildeo a custar mais 006 euro por cada gigabyte (GB) de capacidade

de armazenamento Os discos riacutegidos e outros tipos de memoacuterias natildeo volaacuteteis integrados

em equipamentos ou aparelhos com capacidade a partir de 150 GB e que permitam o

armazenamento de dados em massa seratildeo taxados a 002 euro por cada GB de capacidade

mais 0005 euro por cada GB que acresccedila a capacidade de 1 terabyte (TB) Discos riacutegidos

externos ou cartotildees SSD custaratildeo 002 euro por cada GB de capacidade e mais 0005 euro por

cada GB que acresccedila a capacidade de 1TB (Canavilhas 01022012)

Os telemoacuteveis e tablets por exemplo tambeacutem seratildeo taxados Os dispositivos de

reproduccedilatildeo de fonogramas videogramas ou outros conteuacutedos sonoros visuais ou

audiovisuais custaratildeo mais 050 euro por cada GB de capacidade de armazenamento Cada

dispositivo eacute taxado com valores especiacuteficos pelo PL118 (vd Anexo 02)

83

Em 21 de Marccedilo de 2012 o PS retirou o Projeto de Lei de discussatildeo e disse que

pretende apresentar um novo texto em breve Segundo o porta-voz do grupo parlamentar

do partido Ricardo Pires o PS decidiu pela retirada apoacutes audiccedilotildees agrave sociedade civil Ele

afirmou que o partido ldquoprocurou consensualizar uma soluccedilatildeo viaacutevel de alteraccedilatildeo

do Projeto de Lei sobre a Coacutepia Privadardquo referindo que ldquoface aos sinais puacuteblicos

designadamente de natildeo viabilizaccedilatildeo desse caminho pelo PSD o PS decidiu retirarrdquo o

documento e ldquoem breve iraacute entregar um novo projeto com alteraccedilotildees introduzidasrdquo

(IOnline 2012)

Em declaraccedilotildees dadas agrave imprensa a deputada Gabriela Canavilhas comentou as

alteraccedilotildees ao texto e afirmou que se aguardava autorizaccedilatildeo da presidente da Assembleia

da Repuacuteblica para introduzi-las A ldquodefiniccedilatildeo de equipamentos e taxas a aplicar a ser feita

por portaria governamental em cada dois anos de modo a permitir mais ceacutelere adaptaccedilatildeo

dos valores e dos produtos acompanhando a evoluccedilatildeo tecnoloacutegicardquo era uma das

modificaccedilotildees feitas (IOnline id) Outra das alteraccedilotildees introduzidas eacute a definiccedilatildeo de um

teto maacuteximo como valor limite para a taxa que sendo progressiva consoante a capacidade

de armazenamento (dos equipamentos) natildeo poderaacute exceder os 6 sobre o produto antes

do IVA

A deputada socialista disse ainda que entre as alteraccedilotildees agrave proposta inicial estaacute o

ldquoalargamento das isenccedilotildees de pagamento de taxas a profissionais em nome individual do

setor audiovisual fonograacutefico e fotograacutefico cujos equipamentos sejam adquiridos para a

sua atividade criativa bem como a instituiccedilotildees com centros de documentaccedilatildeo natildeo

comercial tais como bibliotecas museus e arquivosrdquo (IOnline id)

O texto atualmente em vigor da Lei nordm 6298 de 01 de Setembro jaacute prevecirc a isenccedilatildeo

[] quando os equipamentos ou os suportes sejam adquiridos por organismos de

comunicaccedilatildeo audiovisual ou produtores de fonogramas e de videogramas exclusivamente para as suas proacuteprias produccedilotildees ou por organismos que os utilizem para

fins exclusivos de auxiacutelio a pessoas portadoras de diminuiccedilatildeo fiacutesica visual ou auditiva

bem como nos termos de despacho conjunto dos Ministros das Financcedilas e da Cultura

por entidades de caraacutecter cultural sem fins lucrativos para uso em projectos de relevante

interesse puacuteblico (ASSEMBLEIA DA REPUacuteBLICA 1998 01)

Para beneficiar-se de tal isenccedilatildeo os organismos abrangidos devem apresentar no

ato da compra dos aparelhos e suportes uma declaraccedilatildeo emitida pela entidade gestora das

compensaccedilotildees e cobranccedila indicando e comprovando o respectivo objeto de atividade

84

O projeto de lei foi alvo de criacuteticas e deu origem a uma peticcedilatildeo em circulaccedilatildeo na

Internet que reuniu mais de oito mil assinaturas (Peticcedilatildeo puacuteblica contra o PL118 2012)

Um dos argumentos mais frequentes contra o PL118 eacute o de que os equipamentos podem

ser usados para armazenar muitos outros tipos de conteuacutedos que natildeo sejam coacutepias de obras

protegidas

50 Controlo do ciberespaccedilo e acordos aleacutem-fronteiras alguns casos-chave

51 HADOPI

Devido agrave intensa pressatildeo exercida por representantes da induacutestria cultural ndash

grandes produtores de muacutesica cinema e publicaccedilotildees impressas - o governo francecircs

decidiu comeccedilar em 2007 uma luta efetiva contra as redes P2P (peer-to-peer) e a

partilha gratuita de arquivos de muacutesicas filmes etc protegidos por direitos de autor

Formulou-se entatildeo o texto da lei HADOPI (Alta Autoridade para a Difusatildeo das Obras e a

Proteccedilatildeo dos Direitos na Internet em francecircs Haute Autoriteacute pour la Diffusion des

Œuvres et la Protection des Droits sur Internet) tambeacutem chamada de Lei ldquoCriaccedilatildeo e

Internetrdquo que sugeriu a criaccedilatildeo de uma administraccedilatildeo capaz de vigiar e punir atividades de

download e troca de arquivos ilegais na Rede Segundo o texto inicial da lei HADOPI o

mote para o surgimento desta nova administraccedilatildeo foi a necessidade de

Fazer cessar a hemorragia de obras culturais na Internet e criar a situaccedilatildeo

juriacutedica indispensaacutevel ao desenvolvimento da oferta legal de muacutesicas filmes

obras e programas audiovisuais como tambeacutem de obras literaacuterias sobre as

novas redes de comunicaccedilatildeo (REacutePUBLIQUE FRANCcedilAISE ET MINISTEgraveRE

DE LA CULTURE ET DE LA COMMUNICATION 2008 01)

O texto inicial de HADOPI propotildee que os detentores de direitos autorais (artistas

produtores e editores) colaborem com os agentes puacuteblicos fiscalizadores habilitados pela

Alta Autoridade na atividade de combate agrave contravenccedilatildeo identificando na Rede o uso de

ferramentas para a transmissatildeo iliacutecita de bens culturais protegidos por direitos de autor

(como por exemplo programas peer-to-peer e o acesso a sites de hospedagem de

arquivos) Para isso os proprietaacuterios dos direitos recorrem a sociedades especializadas no

85

reconhecimento de endereccedilos IP das maacutequinas que partilham os conteuacutedos ilegalmente na

Rede

HADOPI determina que seus agentes fiscalizadores obtenham junto aos

operadores de comunicaccedilotildees eletrocircnicas informaccedilotildees como a identidade o endereccedilo

postal o endereccedilo eletrocircnico e os contatos telefocircnicos dos usuaacuterios cadastrados em seus

bancos de dados (Reacutepublique Franccedilaise et Ministegravere de la Culture et de la Communication

2008 19) O acesso a essas informaccedilotildees permitiria entatildeo que HADOPI enviasse aos

usuaacuterios que fazem downloads iliacutecitos uma espeacutecie de aviso preacutevio advertindo-os sobre o

caraacuteter ilegal de seus atos e alertando-os sobre as sanccedilotildees que podem sofrer caso

continuem com as descargas A intercomunicaccedilatildeo entre a fiscalizaccedilatildeo de HADOPI e a

vigilacircncia dos fornecedores de acesso agrave Internet com o posterior envio de mensagens de

advertecircncia aos assinantes eacute chamada de resposta gradual

Caso o usuaacuterio volte a fazer downloads ilegalmente num prazo de seis meses

contados a partir da data de envio do primeiro aviso a comissatildeo decide pelo envio de

outro comunicado desta vez de maneira que permita estabelecer uma prova da data de

envio e sobretudo da recepccedilatildeo sob assinatura do destinataacuterio Se o usuaacuterio reincidir

HADOPI prevecirc uma sanccedilatildeo polecircmica a suspensatildeo do acesso agrave Internet

Aleacutem de ter o acesso agrave Rede interrompido HADOPI determina tambeacutem que o

assinante continue a pagar por ele ldquoArt L 331-28 ndash A suspensatildeo do acesso mencionada

nos artigos L 331-25 e L 331-26 natildeo afeta por si mesma o pagamento do preccedilo da

assinatura ao fornecedor do serviccedilordquo (Reacutepublique Franccedilaise et Ministegravere de la Culture et

de la Communication 2008 22)

A identificaccedilatildeo dos usuaacuterios infratores aparece em uma lista produzida pela

comissatildeo de proteccedilatildeo dos direitos de autor e fica agrave disposiccedilatildeo para consulta pelas

empresas fornecedoras de acesso agrave Internet Caso o servidor de acesso natildeo proceda agrave

consulta desse repertoacuterio ou caso aceite firmar contrato com o infrator mesmo

conhecendo sua situaccedilatildeo perante HADOPI ele fica sujeito ao pagamento de multa

52 Sinde-Wert

Desde Marccedilo de 2012 estaacute em vigor na Espanha a lei batizada Sinde-Wert (em

referecircncia a Aacutengeles Gonzaacuteles-Sinde antiga ministra da Cultura e Joseacute Ignacio Wert seu

sucessor) Esta lei permite ao governo fechar ou tirar sites do ar sem ordem judicial

86

A lei enfrenta uma forte oposiccedilatildeo tanto de ativistas quanto das empresas A Rede

de Empresas de Internet e a Associaccedilatildeo Espanhola de Economia Digital entraram com um

recurso no Supremo Tribunal contra a lei ndash mais especificamente contra o ldquoprocedimento

de garantia dos direitos de propriedade intelectualrdquo (Link 15022012) Segundo as

empresas o artigo traz inseguranccedila juriacutedica para as empresas de tecnologia operarem e se

desenvolverem Para elas Sinde-Wert dificulta a atuaccedilatildeo das empresas de Internet que jaacute

pensam duas vezes antes de comeccedilar um novo projeto

A lei comeccedilou a ser discutida em 2009 Gerou uma onda de protestos por todo o

paiacutes mas apesar de toda oposiccedilatildeo foi aprovada pelo governo no iniacutecio de 2012

53 SOPA

SOPA eacute a sigla inglesa para Stop Online Piracy Act Trata-se de um projeto de lei

em discussatildeo no Congresso dos Estados Unidos e que jaacute provocou manifestaccedilotildees e

interrupccedilotildees de serviccedilos de sites importantes como Google Wikipedia e Craigslist

O texto do SOPA propotildee penas ateacute 5 anos de prisatildeo para os condenados por

compartilhar conteuacutedo pirata por 10 ou mais vezes ao longo de 6 meses Os sites tambeacutem

poderiam ser punidos pela acusaccedilatildeo de permitir ou facilitar a pirataria A puniccedilatildeo seria o

encerramento dos serviccedilos e banimento de provedores de Internet sistemas de pagamento

e anunciantes em niacutevel internacional Pela lei qualquer site pode ser fechado apenas por

ter conexatildeo com outro site suspeito de pirataria a pedido do governo dos EUA ou dos

geradores de conteuacutedo Ferramentas de busca como o Google por exemplo teriam que

remover dos resultados das pesquisas endereccedilos que compartilhem conteuacutedo pirata

correndo o risco de tambeacutem serem punidos

As propostas contam com o apoio de emissoras de TV gravadoras estuacutedios de

cinema e editoras de livros que se sentem lesadas com a livre distribuiccedilatildeo de filmes e

muacutesicas na Internet principalmente em servidores internacionais Disney Universal

Paramount Sony e Warner Bros satildeo alguns dos grandes nomes da induacutestria que apoiam

esse projeto

Por outro lado empresas de tecnologia como Google Facebook Wikipedia

Craigslist WordPress entre outros satildeo contra o projeto de lei alegando que caso este

seja aprovado a liberdade na Internet seria drasticamente reduzida Aleacutem disso SOPA daacute

87

poderes em excesso para quem quiser tirar os endereccedilos do ar prejudicando o

funcionamento da Rede em escala global

Com a intensa pressatildeo popular a Casa Branca declarou ser contra o projeto Em

mensagem publicada em seu blog a Casa Branca afirmou que natildeo pode apoiar ldquoum

projeto de lei que reduz a liberdade de expressatildeo amplia os riscos de seguranccedila na

computaccedilatildeo ou abala o dinamismo e inovaccedilatildeo da Internet globalrdquo (G1 18012012) Sem o

apoio ele pode ser alterado ou ateacute dissipado do Congresso e do Senado americanos

54 ACTA

O ACTA (Acordo Comercial Anticontrafaccedilatildeo em inglecircs Anti-Counterfeiting

Trade Agreement) tratado comercial de escala planetaacuteria estaacute sendo discutido desde

2007 As negociaccedilotildees formais arrancaram em Junho de 2008 e desde entatildeo foram

realizadas sete rondas negociais O ACTA tem como objetivo estabelecer padrotildees

internacionais para o cumprimento da legislaccedilatildeo de propriedade intelectual O pacto goza

de amplo apoio dos produtores de muacutesica filmes e uma gama de outros produtos que

desfrutam da proteccedilatildeo de direitos de autor e propriedade intelectual como marcas

comerciais patentes desenhos e indicaccedilotildees geograacuteficas O acordo de longo alcance

cobriria tudo desde a falsificaccedilatildeo de medicamentos agrave pirataria on-line

Os Estados Unidos assinaram o ACTA em Outubro de 2011 ao lado de outros sete

paiacuteses Austraacutelia Canadaacute Coreacuteia do Sul Japatildeo Nova Zelacircndia Marrocos e Singapura A

Uniatildeo Europeia assinou o ACTA em 26 de Janeiro de 2012 em Toacutequio O acordo prevecirc

disposiccedilotildees em mateacuteria de execuccedilatildeo penal um domiacutenio que eacute considerado de competecircncia

partilhada entre a UE e os Estados-Membros Por este motivo teve de ser assinado e

ratificado pela UE e por seus 27 integrantes

Apoacutes a assinatura do ACTA pela UE e os seus Estados-Membros o Parlamento

Europeu foi formalmente notificado para dar iniacutecio ao procedimento de consentimento

Esse procedimento inclui debates nas diferentes comissotildees (Comeacutercio Internacional

Liberdades Civis Justiccedila e Assuntos Internos e Assuntos Juriacutedicos) e possivelmente uma

audiecircncia puacuteblica Eacute provaacutevel que o consentimento seja votado no fim do veratildeo de 2012

Depois de o Parlamento Europeu ter dado o seu consentimento e uma vez

concluiacutedos os procedimentos nacionais de ratificaccedilatildeo nos Estados-Membros o Conselho

88

da Uniatildeo Europeia adotaraacute uma decisatildeo final para celebrar o acordo Este facto seraacute entatildeo

comunicado aos demais signataacuterios do ACTA e o acordo entraraacute em vigor na UE

Em comunicado publicado no site oficial da Comissatildeo Europeia no dia 22 de

Fevereiro de 2012 o Comissaacuterio Europeu do Comeacutercio Karel De Gucht anunciou com

satisfaccedilatildeo ldquoApraz-me dizer que esta manhatilde os meus colegas da Comissatildeo discutiram e

concordaram em termos gerais com a minha proposta de enviar o ACTA para o Tribunal

Europeu da Justiccedilardquo que eacute a mais alta instacircncia judicial da Uniatildeo Europeia (Puacuteblico

22022012) De Gucht afirmou ainda que o objetivo da decisatildeo eacute tambeacutem perceber se o

acordo internacional para a proteccedilatildeo dos direitos de autor eacute incompatiacutevel ndash seja em que

sentido for ndash com os direitos fundamentais e de liberdade da Uniatildeo Europeia tais como a

liberdade de expressatildeo e de informaccedilatildeo ou a proteccedilatildeo de dados e o direito agrave propriedade

no caso especiacutefico da propriedade intelectual

Em palestra organizada pela Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa

em Marccedilo de 2012 a advogada Teresa Nobre responsaacutevel pela adaptaccedilatildeo das licenccedilas

Creative Commons agrave legislaccedilatildeo portuguesa afirmou que o risco de acordos como o ACTA

estaacute no caraacuteter vago do texto suscetiacutevel de diversas interpretaccedilotildees ldquoACTA representa um

risco real pois abre a porta agrave discussatildeo de leis como SOPA nos EUA e HADOPI em

Franccedilardquo (Nobre 2012)

Jaacute para Lucas Serra responsaacutevel pela assessoria juriacutedica da Sociedade Portuguesa

de Autores (SPA) eacute cedo para prever os resultados de um acordo como o ACTA em

aplicaccedilatildeo ldquoHaacute que ver no que vai dar O facto eacute que precisa haver portagens que

detenham a pirataria Eacute um problema grave que afeta a todos noacutes e mais ainda aos

autoresrdquo (Serra 2012)

60 Brasil e Portugal algumas semelhanccedilas e diferenccedilas

Apesar da grande diversidade e dos muitos quilocircmetros que separam

territorialmente Brasil e Portugal as semelhanccedilas entre os dois paiacuteses satildeo muitas Aleacutem de

terem culturas muito proacuteximas partilham a mesma liacutengua e as semelhanccedilas estendem-se

tambeacutem ao Direito A matriz comum manteve-se mesmo apoacutes a independecircncia do Brasil e

a consequente separaccedilatildeo legislativa Os direitos de autor natildeo escaparam dessa

89

conformidade Conforme afirma Joseacute de Oliveira Ascensatildeo a lei brasileira nordm 5988 de 14

de Dezembro de 1973 que regulou autonomamente os direitos de autor foi preparada

pouco tempo depois da entrada em vigor do Coacutedigo do Direito de Autor portuguecircs de

1966 e baseou-se neste uacuteltimo para firmar vaacuterios de seus preceitos (Ascensatildeo 2012 40)

No entanto os dois paiacuteses sofrem influecircncias diferentes apesar da legislaccedilatildeo de

base romaniacutestica o Brasil estaacute sob a atraccedilatildeo exercida pelos Estados Unidos da Ameacuterica

enquanto que Portugal segue as diretrizes impostas pela Uniatildeo Europeia (UE) Apesar de

transpor com atraso as instruccedilotildees europeias Portugal acolheu mais cedo as questotildees

relacionadas ao direito de autor no ambiente da Internet sob pressatildeo das pautas e

calendaacuterios da UE Nesse aspecto ficou agrave frente do Brasil A atual Lei do Direito Autoral

(LDA) nordm 9610 data de 19 de Fevereiro de 1998 e natildeo trata especificamente da Internet

nem das questotildees que ela impotildee Estaacute portanto bastante defasada visto que desde entatildeo

a tecnologia jaacute se desenvolveu bastante e criou novos dispositivos sobre os quais a lei natildeo

tem nenhum conhecimento

A decisatildeo pela reforma da LDA pretende tirar esse atraso do qual Portugal natildeo

sofre por estar submetido agraves diretrizes europeias em atualizaccedilotildees mais frequentes Poreacutem

a problemaacutetica da Internet parece continuar agrave margem da discussatildeo da reforma da lei

brasileira Uma proposta do Ministeacuterio da Justiccedila deveraacute suprir essa falta o Marco Civil

da Internet diploma que pretende versar sobre aspectos baacutesicos do acesso e uso da Rede

Ao mesmo tempo em que os planos para o Marco Civil foram lanccedilados o Ministeacuterio da

Cultura (MinC) resolveu iniciar o processo de reforma da LDA

Infelizmente parece que esse vazio das questotildees da Rede natildeo seraacute totalmente

preenchido com as mudanccedilas mas tal situaccedilatildeo eacute compreensiacutevel Para discutir a fundo essa

problemaacutetica seria necessaacuterio muito tempo o que atrasaria ainda mais a jaacute urgente reforma

da LDA Mesmo natildeo propondo princiacutepios de regulaccedilatildeo da Internet por si mesmo o

rascunho do texto da nova LDA jaacute cria algumas ligaccedilotildees com esse tema Associando o

texto do Marco Civil com a nova LDA seraacute possiacutevel estabelecer pontes entre os domiacutenios

da regulaccedilatildeo da Internet e a defesa dos direitos de autor

O jurista Joseacute de Oliveira Ascensatildeo afirma que com isso evidencia-se a

insuficiecircncia do direito autoral claacutessico para lidar com as questotildees relacionadas com a

Internet (Ascensatildeo 2012 42) A separaccedilatildeo que o Brasil propocircs passa por especificar as

soluccedilotildees Ao lermos os textos do Marco Civil e da reforma da LDA percebemos que o

90

primeiro tem contribuiccedilotildees muito mais significativas no domiacutenio do Direito da Internet

que o uacuteltimo

Um aspecto notaacutevel nas discussotildees pela reforma da LDA eacute o caraacuteter puacuteblico da

consulta O mesmo se deu com o Marco Civil da Internet Essa abertura agrave participaccedilatildeo da

sociedade civil mundo acadecircmico representantes das induacutestrias e criadores marcou

positivamente ambos os processos e fez do Brasil um paradigma internacional no tema

Sob o aspecto da regulaccedilatildeo da Rede em Portugal a iniciativa da Comissatildeo

Europeia e-europe 2002 mostra-se remarcaacutevel O texto definiu num quadro de agrave eacutepoca

quinze paiacuteses quais as preocupaccedilotildees comuns quanto agrave regulaccedilatildeo da Internet Desde entatildeo

o documento foi atualizado e culminou com a iniciativa i2010 O quadro regulamentar

portuguecircs para as comunicaccedilotildees eletrocircnicas aplicado no paiacutes pela Autoridade Nacional de

Comunicaccedilotildees (ANACOM) transpotildee as determinaccedilotildees da Uniatildeo Europeia transferindo-

as para os ordenamentos juriacutedicos nacionais O texto poreacutem dedica-se aos aspectos

teacutecnicos dos serviccedilos e natildeo discute em profundidade o caraacuteter mais social do sistema as

questotildees voltadas para a governaccedilatildeo da Internet etc

Para Gustavo Cardoso a regulaccedilatildeo deve ser fruto de uma anaacutelise das apropriaccedilotildees

realizadas pelos usuaacuterios da Rede e das interaccedilotildees entre os atores presentes nos sistemas

dos media e natildeo apenas baseada na tecnologia em si (Cardoso 2002 16) Aleacutem disso

precisa ter um caraacuteter proacuteprio natildeo espelhado nos quadros regulamentares de outros meios

de comunicaccedilatildeo como a TV por exemplo Isso porque a Internet jaacute eacute um meio complexo

o bastante para que sejam criadas regras especiacuteficas para sua esfera de atuaccedilatildeo No caso

portuguecircs pode-se propor uma atuaccedilatildeo mais conjugada entre as preocupaccedilotildees dedicadas agrave

gestatildeo do acesso e disponibilizaccedilatildeo de conteuacutedos e aquelas voltadas ao controlo da

dimensatildeo econocircmica da prestaccedilatildeo de serviccedilos de acesso agrave Internet A preocupaccedilatildeo com a

quebra de privacidade e do exerciacutecio da vigilacircncia deve ser transversal e estender sua

presenccedila a todos os acircmbitos da regulaccedilatildeo Esta tarefa cabe agrave articulaccedilatildeo de medidas

conjuntas e agrave uniatildeo de esforccedilos entre a ANACOM e a Comissatildeo Nacional de Protecccedilatildeo de

Dados (CNPD)

Em relaccedilatildeo aos conteuacutedos iliacutecitos disponibilizados na Rede Brasil e Portugal tecircm

uma diferenccedila sensiacutevel Eacute importante salientar que a mateacuteria natildeo eacute restrita aos direitos

autorais mas tambeacutem se relaciona com outros direitos que tambeacutem podem ser infringidos

pela Internet como a honra por exemplo A questatildeo eacute tratada pelo texto do Marco Civil

brasileiro em discussatildeo Em uma versatildeo anterior do texto foi incluiacutedo um mecanismo

91

semelhante ao dispositivo notice and take down de clara influecircncia do sistema norte-

americano

O diploma indicava que os materiais ofensivos colocados agrave disposiccedilatildeo na Rede

podiam ser retirados pelos responsaacuteveis pela hospedagem logo que o titular ofendido

manifestasse o dano O hospedeiro notificaria o usuaacuterio responsaacutevel pela publicaccedilatildeo Este

poderia responder ao hospedeiro pedindo a manutenccedilatildeo do conteuacutedo e assumindo a

responsabilidade exclusiva pelos danos causados a terceiros O hospedeiro entatildeo

disponibilizaria novamente o material e avisaria o titular sobre a resposta do responsaacutevel

pela publicaccedilatildeo Tal medida sofreu duras criacuteticas e o texto foi modificado (vd Anexo 01

Art 20) Agora propotildee-se que o provedor de serviccedilos seja obrigado a tornar indisponiacutevel o

acesso ao conteuacutedo apenas apoacutes ordem judicial Com a ordem deveraacute notificar o usuaacuterio

responsaacutevel pela publicaccedilatildeo comunicando-lhe o teor da intimaccedilatildeo

No que se refere ao regime da responsabilidade do provedor o sistema portuguecircs

estaacute baseado na Diretriz nordm 200031 sobre o comeacutercio eletrocircnico E eacute fundamentalmente

diferente do diploma brasileiro O Art 161 do Decreto-Lei nordm 72004 de 07 de Janeiro

(que transpocircs a diretriz sobre comeacutercio eletrocircnico) diz que o responsaacutevel pela

hospedagem estaacute obrigado a retirar ou impossibilitar o acesso agrave atividade ou informaccedilatildeo

cuja ilicitude for manifesta (ANACOM 2004 275) Esta previsatildeo natildeo aparece em

nenhum diploma brasileiro

A tiacutetulo de balanccedilo geral nota-se que as legislaccedilotildees de ambos os paiacuteses possuem

muitos pontos em comum mas suas diferentes influecircncias traccedilam suas assimetrias mais

marcantes e as justificam A preocupaccedilatildeo anglo-saxocircnica de bem proteger os interesses

comerciais e privados faz-se notar nos textos brasileiros enquanto um posicionamento de

maior equiliacutebrio transparece nos diplomas portugueses Poreacutem haacute que salientar que ambos

estatildeo passiacuteveis de sofrer sob polos de atraccedilatildeo que convergem para os mesmos objetivos

nem Brasil nem Portugal (e obviamente a UE) ficaratildeo indiferentes a projetos globais de

combate agrave pirataria No Brasil pela inegaacutevel influecircncia norte-americana e em Portugal

pelo alcance universal que eles possuem (e obviamente por Portugal estar inserido na

UE) Prever o niacutevel dessa influecircncia ainda natildeo eacute possiacutevel mas certamente a transformaccedilatildeo

afetaraacute todos direta ou indiretamente

70 Direitos de autor e regulaccedilatildeo da Internet uma relaccedilatildeo nebulosa

92

A temaacutetica dos direitos de autor natildeo guarda uma relaccedilatildeo imediata e de faacutecil

percepccedilatildeo com a questatildeo da regulaccedilatildeo da Internet esta poreacutem existe e a constante

evoluccedilatildeo das tecnologias digitais torna seu debate cada vez mais pertinente e necessaacuterio

Se considerarmos a defesa da propriedade intelectual (que envolve os direitos de

autor e outros toacutepicos como as patentes e as marcas registradas por exemplo) como

instrumento capaz de impedir o acesso dos utilizadores da Rede a determinados conteuacutedos

tocamos em uma questatildeo delicada e que pode dar resultados negativos Em siacutentese a ideia

eacute a de que as tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo tecircm enorme capacidade de ampliar

o acesso agrave informaccedilatildeo e conhecimento de modo que a falta de acesso agraves proacuteprias

tecnologias seria prejudicial em questotildees de desenvolvimento

Portanto nesse caso falar de governanccedila (ou regulaccedilatildeo) da Internet eacute natildeo limitar-

se a discutir aspectos teacutecnicos da estrutura e funcionamento das redes De acordo com a

Declaraccedilatildeo de Princiacutepios de Genebra elaborada durante a Cimeira Mundial sobre a

Sociedade da Informaccedilatildeo (WSIS) evento organizado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

(ONU) a administraccedilatildeo da Internet engloba natildeo apenas problemas estritamente teacutecnicos

mas tambeacutem a discussatildeo de qualquer poliacutetica puacuteblica relevante agrave gestatildeo da Rede como

recurso globalmente disponiacutevel (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas 2004)

Para Pedro Mizukami e Carlos Souza agrave medida que as tecnologias da informaccedilatildeo e

da comunicaccedilatildeo ampliam a possibilidade de acesso a conteuacutedos e tambeacutem de acesso agraves

ferramentas para a produccedilatildeo de conteuacutedos regimes de exceccedilotildees e limitaccedilotildees aos direitos

de autor surgem como umas das preocupaccedilotildees fundamentais de governanccedila

Se por um lado se assegura direitos exclusivos a autores (e agravequeles a quem satildeo

transferidos esses direitos) como forma de incentivo agrave criaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de obras intelectuais por outro haacute interesses de acesso e uso de conteuacutedo que precisam ser

sopesados em relaccedilatildeo aos incentivos que teoricamente as normas de direitos autorais

proporcionam (MIZUKAMI E SOUZA 2008 06)

Quando associamos a ideia de regulaccedilatildeo do ciberespaccedilo aos direitos autorais a

principal preocupaccedilatildeo que temos eacute o tecircnue equiliacutebrio a ser construiacutedo entre os interesses

dos diversos agentes envolvidos na questatildeo O desafio estaacute em preservar um ambiente de

harmonia entre autores editores e usuaacuterios de conteuacutedos sem que se coloquem entraves agraves

novas possibilidades proporcionadas pela Rede seja em relaccedilatildeo a novos modelos de

93

negoacutecios seja em relaccedilatildeo agrave democratizaccedilatildeo do acesso agraves ferramentas de produccedilatildeo e

distribuiccedilatildeo de informaccedilotildees Equilibrar os interesses no ciberespaccedilo sem sacrificar os

potenciais de inovaccedilatildeo e acesso ao conhecimento que ele possui

Limitaccedilotildees e exceccedilotildees aos direitos de autor satildeo toacutepicos geralmente subestimados

quando se discute o tema Pouco se debatem por exemplo os efeitos negativos dos

regimes de proteccedilatildeo da propriedade intelectual demasiado riacutegidos e inflexiacuteveis sobre a

educaccedilatildeo ou sobre a proacutepria produccedilatildeo de conteuacutedos que os direitos exclusivos procuram

fomentar O boom da Internet e o desenvolvimento acelerado das tecnologias tiraram das

sombras questotildees como a do acesso ao conhecimento mas tambeacutem fizeram ressurgir - ou

mesmo originaram - uma seacuterie de outros direitos que antes tinham presenccedila reduzida na

avaliaccedilatildeo criacutetica dos regimes tradicionais

Para Pedro Mizukami e Carlos Souza o entrave agrave discussatildeo sobre os limites e as

exceccedilotildees aos direitos de autor eacute mais visiacutevel em paiacuteses de tradiccedilatildeo juriacutedica romano-

germacircnica caracterizada por um discurso de fundamentaccedilatildeo jusnaturalista muito forte

(ibidem 07) Eles afirmam que esse discurso elimina a variedade de pontos de vista na

literatura juriacutedica Isto porque se considera que os direitos autorais satildeo necessaacuterios para a

proteccedilatildeo da propriedade e personalidade do autor (agraves vezes para a proteccedilatildeo da

personalidade via proteccedilatildeo da propriedade) mas natildeo se colocam em jogo os interesses da

coletividade e outros interesses e direitos individuais que se veem afetados pela

exclusividade dos direitos autorais

Quem de facto compete com os autores em mateacuteria de benefiacutecios financeiros natildeo

satildeo os utilizadores da Internet mas sim os ldquoempresaacuterios culturaisrdquo (Ascensatildeo 2003 17)

Eles jaacute satildeo equiparados aos autores nas justificaccedilotildees oficiais fala-se tambeacutem na

necessidade de proteger o investimento Os direitos morais estatildeo cada vez mais ausentes

nos textos dos novos instrumentos internacionais

Para Joseacute de Oliveira Ascensatildeo o protagonismo do empresaacuterio eacute uma anomalia O

jurista afirma que natildeo se explica que se crie um Direito altamente protecionista com

fundamento na dignidade da criaccedilatildeo intelectual para o pocircr afinal ao serviccedilo da proteccedilatildeo

dos investimentos (Ascensatildeo 2003 18) Os investimentos podem e devem ser protegidos

mas por meios adequados e proporcionais a esse objetivo Natildeo faz sentido que sejam

salvaguardados pelos direitos de autor que tecircm outra finalidade Se o foco da proteccedilatildeo nas

leis de direitos de autor satildeo os investimentos apenas eles interessam e suplantam a

qualidade e ateacute mesmo a existecircncia de uma obra

94

Lucas Serra acredita que o problema estaacute na cadeia produtiva do sistema

capitalista que aprisiona o autor em um ciclo de dependecircncia de editores e intermediaacuterios

ldquoA SPA eacute consciente de que os atuais modelos de mercado natildeo satildeo tatildeo beneacuteficos para os

autores mas tambeacutem se sabe que eacute difiacutecil deixar esses modelos para traacutes E isso natildeo

depende apenas dos autoresrdquo (Serra 2012)

O que vemos eacute uma hiperproteccedilatildeo do empresaacuterio no domiacutenio das induacutestrias de

Copyright o que tem graves consequecircncias As induacutestrias a defendem e afirmam que satildeo

capazes de fomentar a cultura sendo que os efeitos apontam justamente o contraacuterio A

hiperproteccedilatildeo cria todas as condiccedilotildees para tornar o acesso agrave cultura mais difiacutecil pelos altos

custos que impotildee Aleacutem disso haacute implicaccedilotildees tambeacutem em mateacuteria de concorrecircncia a

hiperproteccedilatildeo fortalece os grandes grupos nos paiacuteses exportadores de produtos de

Copyright e tambeacutem a niacutevel planetaacuterio A concentraccedilatildeo das empresas de conteuacutedos

culturais que o Direito ajudou a promover eacute tal que eacute praticamente impossiacutevel agraves novas

empresas atingir os mesmos niacuteveis A hiperproteccedilatildeo atraveacutes dos direitos exclusivos

eliminou a concorrecircncia e implantou um oligopoacutelio de dimensotildees grandiosas

Projetos de leis como SOPA e ACTA apontam para uma guerra desproporcionada

entre as induacutestrias culturais e os usuaacuterios da Rede No meio ficam os autores que natildeo tecircm

seus interesses representados ndash antes assistem aos empresaacuterios partindo em defesa de

lucros dos quais eles pouco partilham Um caso que serve para ilustrar essa questatildeo eacute o do

Napster programa de compartilhamento de arquivos em rede P2P que protagonizou o

primeiro grande episoacutedio na luta juriacutedica entre a induacutestria fonograacutefica e as redes de

compartilhamento de muacutesica na Internet

A principal questatildeo era apurar se a reproduccedilatildeo dos arquivos protegidos por

Copyright representava ou natildeo um ato de uso privado De facto o Napster natildeo procedia

ele proacuteprio agrave reproduccedilatildeo Utilizava programas que lhe permitiam detectar onde se

encontrava em rede disponiacutevel para reproduccedilatildeo o arquivo desejado Apontando-o ao

interessado era este quem realizava depois o download do ficheiro Em relaccedilatildeo agraves obras

audiovisuais o esquema era ainda mais radical Napster nem sequer localizava os arquivos

disponiacuteveis em rede Limitava-se a fornecer aos interessados um programa que permitia

que eles o fizessem Eram pois os utilizadores que procediam quer agrave localizaccedilatildeo quer ao

download

Apoacutes intensos conflitos judiciais Napster procurou adaptar-se agrave nova situaccedilatildeo

atribuindo remuneraccedilotildees aos titulares de direitos mas natildeo teve sucesso Acabou sendo

95

vendido e os novos gestores agora negociam arquivos de muacutesica digital que respeitem os

direitos autorais

O caso Napster eacute emblemaacutetico por vaacuterias questotildees mas aqui destacamos duas se

jaacute eacute difiacutecil responsabilizar empresas intermediaacuterias em situaccedilotildees desse tipo o que dizer

dos utilizadores que fazem uso privado Outro ponto marcante desse processo eacute o manejo

dos direitos de autor como instrumento redutor das possibilidades tecnoloacutegicas permitidas

pela Rede O difiacutecil equiliacutebrio a buscar encontra-se numa posiccedilatildeo intermediaacuteria em que a

renuacutencia agrave gratuidade tem de ter como contrapartida condiccedilotildees de aquisiccedilatildeo mais

atraentes em qualquer caso que natildeo impliquem a repressatildeo das potencialidades

tecnoloacutegicas positivas que a Rede disponibiliza

Para Joseacute de Oliveira Ascensatildeo situaccedilotildees como esta estatildeo conduzindo a

propriedade intelectual a uma fase extrema a dos direitos de autor sem autor Isso natildeo

significa o desaparecimento do autor mas sua transformaccedilatildeo em uma figura dispensaacutevel

ou mesmo marginal (Ascensatildeo 2003 21) A criatividade perde gradualmente seu espaccedilo

tornando-se um requisito levado bem mais em conta pelas inovaccedilotildees industriais que pelos

direitos de autor Se a proteccedilatildeo dos investimentos eacute o que haacute de mais precioso a

criatividade (e consequentemente o ato de criar marca do autor) passa a outro plano

inferior

Certos acreacutescimos de proteccedilatildeo natildeo fazem outra coisa senatildeo proteger as empresas e

seus interesses Eacute o caso do aumento dos prazos de proteccedilatildeo que na realidade eacute irrelevante

para os autores Para a induacutestria isto significa mais tempo de exploraccedilatildeo econocircmica

exclusiva Joseacute de Oliveira Ascensatildeo fala ainda nos direitos de autor sem obra se o que se

protege eacute a atividade empresarial eacute indiferente que o objeto protegido tenha o caraacuteter de

obra Soacute interessa a mercadoria intelectual seja ela qual for (ibidem 23)

96

97

CAPIacuteTULO III

HARMONIZACcedilAtildeO DE INTERESSES

98

99

10 O direito de acesso agrave informaccedilatildeo e agrave comunicaccedilatildeo como um direito humano

Tomar a questatildeo do acesso agrave informaccedilatildeo e agrave comunicaccedilatildeo sob o prisma dos direitos

humanos foi uma escolha instantacircnea Optamos por essa via ndash em detrimento de vaacuterias

outras possiacuteveis como a dos acordos comerciais ou a das convenccedilotildees teacutecnicas - pelo facto

de acreditarmos que a questatildeo afeta as pessoas de forma direta em vaacuterios niacuteveis da vida

em sociedade Sendo as comunicaccedilotildees eletrocircnicas elementos fundamentais do fluxo

comunicacional contemporacircneo eacute impossiacutevel natildeo considerar o acesso agrave informaccedilatildeo e agrave

comunicaccedilatildeo atraveacutes da Rede como cruciais para os indiviacuteduos enquanto agentes da

coletividade O futuro da sociedade informacional desenharaacute o ambiente onde os

indiviacuteduos trabalharatildeo e desenvolveratildeo suas existecircncias e o ciberespaccedilo faz parte do

caminho para esse futuro Portanto partindo da premissa de que informaccedilatildeo eacute poder e

considerando que o acesso agrave comunicaccedilatildeo eacute condiccedilatildeo sine qua non para a inserccedilatildeo e

participaccedilatildeo social iremos concentrar nossa atenccedilatildeo na relaccedilatildeo entre informaccedilatildeo e direitos

humanos

No cerne das criacuteticas agraves leis de combate agrave pirataria estatildeo evidentemente as

sanccedilotildees riacutegidas e as accedilotildees de vigilacircncia como as que preveem o controlo das atividades do

usuaacuterio na Rede e o corte de acesso ao assinante que realizar downloads de materiais

protegidos por direitos de autor Aleacutem disso o traffic shaping e outras medidas que

dificultam o acesso do utilizador agrave Internet provocam polecircmica e trazem agrave discussatildeo a

legitimidade de leis que impeccedilam as pessoas de utilizarem em plenitude as ferramentas

tecnoloacutegicas Tais restriccedilotildees em nome da defesa dos direitos de autor natildeo estariam a

passar por cima de algo mais precioso como o direito de aceder a canais de comunicaccedilatildeo

e interaccedilatildeo hoje em dia indispensaacuteveis

Um estudo que ouviu 27 mil pessoas em 26 paiacuteses para o Serviccedilo Mundial da BBC

apontou que quatro entre cinco adultos no mundo consideram o acesso agrave Internet um

direito fundamental do ser humano A mesma pesquisa mostrou tambeacutem que 53 dos

entrevistados creem que a Internet natildeo deveria ser regulada pelos governos (BBC Brasil

2010)

O direito de acesso agrave comunicaccedilatildeo digital tende a se solidificar gradualmente

como um direito humano Segundo Ciciacutelia Peruzzo

100

[] mundialmente a inclusatildeo digital passa a ser vista como um direito humano no

mesmo patamar do direito ao acesso de qualquer cidadatildeo a outras miacutedias e a condiccedilotildees

dignas de existecircncia Vaacuterias entidades estudiosos e ativistas tecircm se posicionado

publicamente a favor do direito agrave comunicaccedilatildeo tomando-o como mecanismo de se

efetivar a democratizaccedilatildeo dos meios de comunicaccedilatildeo (PERUZZO 2005 275)

Ainda segundo Peruzzo as discussotildees sobre o direito agrave informaccedilatildeo e agrave

comunicaccedilatildeo na sociedade informacional englobam tambeacutem os direitos de domiacutenio

puacuteblico software livre e propriedade intelectual aleacutem do acesso global a todas as

tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (Peruzzo 2005 276)

A Campanha CRIS (Direito agrave Comunicaccedilatildeo na Sociedade da Informaccedilatildeo em

inglecircs Communication Rights in the Information Society) movimento lanccedilado em

2001 liderado por organizaccedilotildees natildeo governamentais dos campos da comunicaccedilatildeo e dos

direitos humanos de diversos paiacuteses listou em uma de suas publicaccedilotildees alguns debates

importantes ligados agrave questatildeo do direito de acesso agrave informaccedilatildeo Dentre os toacutepicos estaacute a

tentativa de acabar com a vigilacircncia e a censura na Rede por parte de governos ou

empresas Para a Campanha CRIS ldquoo direito de comunicar constitui um direito humano

universal que assume e estaacute a serviccedilo de outros Direitos Humanosrdquo (CRIS apud Pasquali

2005 31)

Sob o ponto de vista teoacuterico o direito agrave comunicaccedilatildeo tende a ser tomado

tradicionalmente como direito agrave liberdade de informaccedilatildeo e de expressatildeo Essa concepccedilatildeo

eacute expressa nos ordenamentos juriacutedicos que tratam do tema Por exemplo a Declaraccedilatildeo

Universal dos Direitos Humanos (DUDH) de 1948 em seu Artigo 19ordm assegura que

ldquoToda pessoa tem direito agrave liberdade de opiniatildeo e expressatildeo este direito inclui a liberdade

de sem interferecircncia ter opiniotildees e de procurar receber e transmitir informaccedilotildees e ideias

por quaisquer meios e independentemente de fronteirasrdquo (Assembleia Geral das Naccedilotildees

Unidas 1948) A Convenccedilatildeo Americana de Direitos Humanos de 1969 estabelece que

ldquoToda pessoa tem o direito agrave liberdade de pensamento e de expressatildeo Este direito inclui a

liberdade de procurar receber e difundir informaccedilotildees e ideias de qualquer natureza sem

consideraccedilotildees de fronteiras verbalmente ou por escrito ou em forma impressa ou artiacutestica

ou por qualquer meio de sua escolhardquo (Conferecircncia Especializada Interamericana sobre

Direitos Humanos 1969) Conforme salienta Osvaldo Leoacuten

101

[] o direito agrave comunicaccedilatildeo se apresenta agora como aspiraccedilatildeo que se inscreve no

dever histoacuterico que comeccedilou com o reconhecimento de direitos aos proprietaacuterios dos

meios de informaccedilatildeo logo aos que trabalham sob relaccedilotildees de dependecircncia com eles e

finalmente a todas as pessoas que a Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos [] consignou como direito agrave informaccedilatildeo e agrave liberdade de expressatildeo e de opiniatildeo Esta eacute a parte de

uma concepccedilatildeo mais global [] que incorpora de maneira peculiar os novos direitos

relacionados com as mudanccedilas de cenaacuterio da comunicaccedilatildeo e um enfoque mais

interativo da comunicaccedilatildeo no qual os atores sociais satildeo sujeitos da produccedilatildeo

informativa e natildeo simplesmente receptores passivos de informaccedilatildeo (LEOacuteN 2002 03)

O direito de acesso agrave tecnologia eacute outro ponto que tambeacutem pode ser invocado

quando tratamos do contexto do ciberespaccedilo Esse direito eacute disposto no ponto 1 do artigo

27ordm da Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos onde se afirma que ldquoToda pessoa tem

o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade de fruir as artes e de

participar do processo cientiacutefico e de seus benefiacuteciosrdquo (Assembleia Geral das Naccedilotildees

Unidas 1948) Segundo Ciciacutelia Peruzzo este direito eacute inspirado pelo princiacutepio moral

baacutesico da equidade e pela noccedilatildeo de que ciecircncia e tecnologia pertencem agrave heranccedila comum

da humanidade (Peruzzo 2005 107)

O pesquisador Cees J Hamelink vecirc a discussatildeo sob o prisma de uma nova

abordagem ele alerta para a necessidade urgente de adoccedilatildeo de uma declaraccedilatildeo universal

do direito de comunicar Este direito natildeo existe atualmente em nenhuma claacuteusula da lei

internacional Em 1969 Jean DrsquoArcy apresentou o direito de comunicar por escrito ldquoO

tempo viraacute quando a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos teraacute que abranger um

direito mais extensivo que o direito do Homem agrave informaccedilatildeo isto eacute o direito de os

Homens comunicaremrdquo (DrsquoArcy apud Hamelink 2004 268) Segundo Hamelink a forccedila

motivadora desta nova abordagem foi a observaccedilatildeo de que o articulado da lei dos direitos

humanos existente (como na Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos ou no

Compromisso sobre Direitos Poliacuteticos e Civis) era inadequado para lidar com a

comunicaccedilatildeo como um processo interativo

Dentre vaacuterias propostas Hamelink sugere que o direito de comunicar deveria

englobar direitos de informaccedilatildeo tais como o direito de acesso agrave informaccedilatildeo em mateacuterias

de interesse puacuteblico (detidas por fontes puacuteblicas ou privadas) e o direito de aceder a meios

puacuteblicos de distribuiccedilatildeo de informaccedilatildeo ideias e opiniotildees Para o autor parte do direito de

comunicar tambeacutem seria composta por direitos culturais Entre eles o direito de fruir das

artes e dos benefiacutecios do progresso cientiacutefico e suas aplicaccedilotildees e o direito de criatividade e

independecircncia artiacutestica literaacuteria e acadecircmica (Hamelink 2004 268-269)

102

Mas o direito de comunicar implica no universo das comunicaccedilotildees eletrocircnicas a

necessidade de salvaguardar a privacidade dos utilizadores Dentre os direitos ditos ldquode

proteccedilatildeordquo por Hamelink estatildeo o direito de o puacuteblico ser protegido contra a interferecircncia

na sua privacidade pelos media ou pela comunicaccedilatildeo de massa ou por agecircncias puacuteblicas

ou privadas envolvidas na colheita de dados a proteccedilatildeo das comunicaccedilotildees privadas das

pessoas contra a interferecircncia de grupos puacuteblicos ou privados (ibidem 269)

Como jaacute tratamos no primeiro capiacutetulo o surgimento da Internet trouxe consigo a

ilusatildeo do tracircnsito de informaccedilotildees e ideias em total liberdade Hoje a noccedilatildeo de livre fluxo

da informaccedilatildeo tem implicaccedilotildees mais complexas e sutis e envolve o duplo estatuto dos

meios digitais por um lado ampliaram as liberdades pessoais dos indiviacuteduos por outro

abriram as portas ao roubo informacional sistemaacutetico por meio do monitoramento das

comunicaccedilotildees eletrocircnicas Vivemos naquilo que Antonio Pasquali chama de liberdade

globalmente vigiada (Pasquali 2005 35) O autor ressalta a beleza do conceito de livre

fluxo informacional e a necessidade de defendecirc-lo mas afirma que natildeo estaremos

proacuteximos o suficiente dele enquanto houver aquilo a que o Precircmio Nobel de economia J

E Stiglitz denominou de assimetria de informaccedilatildeo causada por agentes econocircmicos que

de forma fraudulenta acumulam mais informaccedilotildees do que outros Conforme afirma

Pasquali

Uma liberdade que natildeo liberta eacute egoiacutesmo e privileacutegio O duplo padratildeo de se ter livre

informaccedilatildeo como um conceito abstrato enquanto a informaccedilatildeo no mundo concreto eacute

gerenciada sob princiacutepios mercantis que tornam possiacutevel a eliminaccedilatildeo de outras

alternativas eacute relacionalmente e comunicacionalmente desonesto (PASQUALI 2005

37)

Para Leacuteo Scheer o direito de acesso agrave informaccedilatildeo e agrave comunicaccedilatildeo estaacute

intimamente ligado a uma nova forma de democracia que surgiu para ser exercida no

ciberespaccedilo Segundo o autor essa eacute a democracia da simples expressatildeo da enunciaccedilatildeo

por parte de cada um das narrativas das quais eacute portador sem necessidade de canalizaccedilatildeo

ou de conformaccedilatildeo dos sinais postos assim em circulaccedilatildeo (Scheer 1997 121) Privar o

utilizador do acesso agrave Rede (ou dificultaacute-lo) eacute portanto uma ameaccedila a essa nova

democracia e um atentado ao seu direito de desfrutar dos benefiacutecios que a tecnologia das

redes pode proporcionar agrave sua formaccedilatildeo enquanto indiviacuteduo inserido e atuante na

sociedade de informaccedilatildeo

103

20 Novos modelos e outras alternativas de conciliaccedilatildeo entre artistas induacutestria e

usuaacuterios de Internet

No final de Maio de 2012 a comissatildeo de juristas que discute a reforma do Coacutedigo

Penal no Senado brasileiro aprovou a liberaccedilatildeo de coacutepias integrais de livros CDrsquos e

DVDrsquos desde que para uso pessoal e sem fins comerciais Caso a sugestatildeo dos juristas

seja acatada pelo Congresso Nacional poderatildeo ser feitas coacutepias integrais sem que seja

caracterizado crime Para isso a coacutepia deve ser uacutenica feita a partir de uma obra original e

ser de uso privado e exclusivo de quem faz a reproduccedilatildeo sem que exista o objetivo de

lucro A proposta deve ser entregue para votaccedilatildeo ateacute o final de Junho de 2012 O texto

passa a valer apenas apoacutes a aprovaccedilatildeo no Senado e na Cacircmara e por uacuteltimo apoacutes

confirmaccedilatildeo presidencial

A comissatildeo aprovou ainda a criaccedilatildeo de um regime especiacutefico que pune o plaacutegio de

obras intelectuais Atualmente ele eacute considerado uma violaccedilatildeo aos direitos de autor com

pena prevista de 6 meses a um ano de prisatildeo Poreacutem na praacutetica essa penalizaccedilatildeo eacute

raramente aplicada Pelo texto aprovado pelos juristas quem apresentar utilizar ou

reivindicar publicamente como proacutepria obra ou trabalho intelectual de outra pessoa no

todo ou em parte pode ter que cumprir pena de seis meses a dois anos de prisatildeo (Folha

de S Paulo 2012)

Decisotildees como esta apontam para o rumo que os direitos de autor devem tomar

inevitavelmente o da mudanccedila para adaptaccedilatildeo aos novos tempos A abertura a sistemas

alternativos de licenciamento distribuiccedilatildeo e partilha de bens culturais mostra-se uma via

potencialmente importante e a flexibilizaccedilatildeo dos regimes de lucro e produccedilatildeo eacute condiccedilatildeo

indispensaacutevel agrave sobrevivecircncia das induacutestrias da cultura A seguir trataremos sobre algumas

das novas possibilidades que surgiram para fazer face agrave rigidez do Copyright e das

legislaccedilotildees que tratam dos direitos autorais e da propriedade intelectual

30 Fexibilizaccedilatildeo do regime autoral o Creative Commons

104

Uma interessante ferramenta que concilia a defesa dos direitos de autor e a

possibilidade de partilha e construccedilatildeo coletiva do conhecimento eacute o modelo de licenccedila

intelectual Creative Commons (CC)6

O Creative Commons foi criado em 2001 pelo professor da Universidade de

Standford Lawrence Lessig com a finalidade de desenvolver licenccedilas que possam ser

utilizadas por qualquer indiviacuteduo ou entidade de forma a disponibilizar seus trabalhos de

maneira aberta O CC funciona como um meio termo legal entre os tradicionais contratos

de direitos autorais como o Copyright e o domiacutenio puacuteblico onde nenhum direito eacute

reservado Ele transporta para as produccedilotildees culturais a ideia central dos softwares livres

que consistem em programas de computador com coacutedigos-fonte abertos permitindo a

modificaccedilatildeo do software para aprimoramento ou melhor adaptaccedilatildeo agraves necessidades dos

usuaacuterios

O software livre cujo grande siacutembolo estaacute no sistema operacional Linux floresce

no Brasil Conforme apontam Cloacutevis Lima e Rose Marie Santini o destaque do paiacutes no

exterior em mateacuteria de utilizaccedilatildeo de programas abertos foi reconhecido pela revista Wired

uma das mais respeitadas em mateacuteria de tecnologia Em sua ediccedilatildeo de Novembro de 2004

ela retratou o Brasil como uma ldquoNaccedilatildeo Open Sourcerdquo (Lima e Santini 2006 125)

O crescente ecircxito dos softwares livres no paiacutes se reflete tambeacutem na boa acolhida

do projeto Creative Commons O modelo de licenciamento vem sendo adaptado no Brasil

por estudiosos da Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas (FGV)

desde 2003 O ex-ministro da Cultura Gilberto Gil apelidou a flexibilizaccedilatildeo dos direitos

autorais proposta pelo CC metaforicamente de ldquoreforma agraacuteria da propriedade

6 Para tornar a leitura mais simples utilizaremos a sigla CC para nos referirmos ao Creative Commons

Figura 1 O modelo Creative Commons se mostra

como um meio termo que promove o equiliacutebrio entre o

total fechamento do Copyright e a total abertura do

domiacutenio puacuteblico Fonte Creative Commons URL

lthttpwwwcreativecommonsorgbrgt

105

intelectualrdquo (Moraes 2006 243) Cloacutevis Lima e Rose Marie Santini tambeacutem afirmam o

seguinte

O licenciamento Creative Commons surge sem a intervenccedilatildeo estatal ou a mudanccedila do arcabouccedilo juriacutedico-normativo Trata-se de um uso da proacutepria ideia e conceitos do

direito autoral para modificar sua estrutura caso a caso gerando autorizaccedilotildees

caracterizadas pelo termo ldquoCopyleftrdquo A ideia eacute permitir a criaccedilatildeo de coletividades de

obras culturais publicamente acessiacuteveis [] materializando as promessas da Internet e

das tecnologias digitais de maximizarem o potencial criativo humano (LIMA E

SANTINI 2006 121)

O modelo de licenciamento CC tem como finalidade simplificar para os criadores

a expressatildeo de sua concessatildeo de uso A uacutenica coisa que ele demanda eacute que a utilizaccedilatildeo das

obras disponibilizadas natildeo tenha fins lucrativos e que os autores sejam devidamente

citados O CC modifica a expressatildeo tradicional do Copyright de ldquoTodos os direitos

reservadosrdquo para ldquoAlguns direitos reservadosrdquo (Moraes 2006 321)

Atraveacutes do portal do CC na Internet criou-se um mecanismo de buscas por

materiais como fotografias muacutesicas textos etc registrados sob esse modelo de

licenciamento Assim uma rede onde artistas autores e outros criadores de conteuacutedos

podem compartilhar seus trabalhos pela Internet sem violar leis de direitos autorais vai

crescendo a cada dia

Eacute importante ressaltar que o CC eacute um modelo que permite o contato direto do

criador com o puacuteblico e uma eficiente maneira de manifestar o desejo de ter sua obra

difundida pela Rede Haacute artistas que querem que as pessoas tenham acesso agraves suas

produccedilotildees e eventualmente permitem que elas continuem seu trabalho atraveacutes da

reinterpretaccedilatildeo ou recriaccedilatildeo da obra Antes do surgimento da Internet da tecnologia

digital e de modelos como o Creative Commons natildeo havia meios eficientes para que esses

autores pudessem indicar agrave sociedade que eles se interessavam pela ampla liberdade de

acesso e interpretaccedilatildeo de suas produccedilotildees pelo puacuteblico Segundo Cloacutevis Lima e Rose Marie

Santini ldquoUm modelo de licenciamento como este cria meios para que autores criadores e

outros detentores de direitos possam indicar a todos seus interesses em relaccedilatildeo ao uso de

suas obras atraveacutes da opccedilatildeo por uma licenccedila especiacuteficardquo (Lima e Santini 2006 129)

Os tipos de licenccedilas CC satildeo os seguintes

a) Atribuiccedilatildeo ndash Uso natildeo comercial ndash Natildeo a obras derivadas (by-nc-nd)

106

Esta eacute a mais restritiva dentre as seis principais licenccedilas permitindo

redistribuiccedilatildeo Comumente chamada de ldquopropaganda graacutetisrdquo ela permite o download e

compartilhamento da obra por outras pessoas contanto que mencionem e faccedilam o link

para o autor Proiacutebe qualquer modificaccedilatildeo na estrutura da obra e tambeacutem veta sua

comercializaccedilatildeo

b) Atribuiccedilatildeo ndash Uso natildeo comercial ndash Compartilhamento pela mesma licenccedila

(by-nc-as)

Esta licenccedila permite a remixagem adaptaccedilatildeo e criaccedilatildeo de obras derivadas por

outras pessoas com finalidade natildeo comercial contanto que atribuam o creacutedito da obra

original ao autor e licenciem as novas obras sob o mesmo paracircmetro

c) Atribuiccedilatildeo ndash Uso natildeo comercial (by-nc)

Neste modelo outras pessoas podem remixar adaptar e criar obras derivadas

da original sendo vedado o uso comercial As novas criaccedilotildees devem ter em seus creacuteditos o

autor da obra original e tambeacutem natildeo podem ser exploradas comercialmente A diferenccedila

da licenccedila anterior eacute que nesta natildeo eacute obrigatoacuterio o registro das novas obras sob o mesmo

paracircmetro da original

d) Atribuiccedilatildeo ndash Natildeo a obras derivadas (by-nd)

Este modelo permite a distribuiccedilatildeo e o uso da obra para fins comerciais e natildeo

comerciais mas determina que a obra seja distribuiacuteda completa e sem modificaccedilotildees

atribuindo os devidos creacuteditos do autor

e) Atribuiccedilatildeo ndash Compartilhamento pela mesma licenccedila (by-as)

Esta licenccedila permite que outras pessoas remixem adaptem e criem obras

derivadas da original para fins comerciais contanto que atribuam os creacuteditos do autor e

que as novas obras sejam licenciadas sob o mesmo paracircmetro Esta licenccedila eacute comumente

comparada agraves de softwares livres

f) Atribuiccedilatildeo (by)

107

Este eacute o modelo menos restritivo e o mais aberto de todos Ele permite que

outras pessoas distribuam remixem adaptem ou criem obras derivadas com finalidade

comercial desde que creditem a criaccedilatildeo original

O CC disponibiliza ainda diversos outros tipos de licenccedilas como a ldquoSamplingrdquo

que permite a remixagem de apenas trechos da obra original e a ldquoNaccedilotildees em

Desenvolvimentordquo que propotildee condiccedilotildees menos restritivas para a disponibilizaccedilatildeo da

obra em paiacuteses que natildeo sejam considerados como de alta renda pelo Banco Mundial

Atraveacutes de suas licenccedilas o CC manteacutem o senso da inteligecircncia coletiva e da

construccedilatildeo coletiva do saber Ele propotildee um novo modo de produccedilatildeo cultural que rompe

com as formas tradicionais de organizaccedilatildeo das forccedilas produtivas em bases mercantis e

empresariais e reaproxima o autor de sua obra na medida em que lhe confere o poder de

distribuiacute-la como bem entender

As licenccedilas CC nasceram na era da Internet e satildeo perfeitamente adaptaacuteveis agrave

necessidade de conciliar o reconhecimento da autoria e a expansatildeo do acesso ao

conhecimento Eacute uma alternativa de equiliacutebrio entre a reserva total dos direitos

(Copyright) e a completa cessatildeo destes (domiacutenio puacuteblico) O mundo digital precisa de

normas flexiacuteveis com liberdades diferentes expressa de forma tal que as pessoas possam

utilizaacute-las com facilidade sem a mediaccedilatildeo da induacutestria ou de advogados

Conforme salientam Cloacutevis Lima e Rose Marie Santini ldquoAs licenccedilas criativas

convidam agrave participaccedilatildeo no processo e natildeo agrave escolha entre produtos no supermercado de

bens culturaisrdquo (Lima e Santini id) As licenccedilas Creative Commons fomentam a

criatividade dos indiviacuteduos pois incrementam o domiacutenio puacuteblico dos bens culturais e

concretizam as promessas das novas tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo de

maximizarem o potencial criativo humano e das sociedades Atraveacutes da possibilidade legal

de recriaccedilatildeo das obras intelectuais disponibilizadas sob seu registro o CC se torna uma

potencial ferramenta colaborativa de construccedilatildeo e aperfeiccediloamento de conhecimentos

aleacutem de meio de democratizaccedilatildeo do acesso agraves informaccedilotildees pela desburocratizaccedilatildeo da

reproduccedilatildeo transmissatildeo e armazenamento de conteuacutedos

Segundo o site da organizaccedilatildeo em 2009 jaacute havia 350 milhotildees de obras licenciadas

no CC dentre filmes muacutesicas livros e trabalhos acadecircmicos (Creative Commons 2009)

No Brasil a tendecircncia eacute que o modelo CC se torne cada vez mais conhecido jaacute que a

visita de Lawrence Lessig ao paiacutes para lanccedilar uma nova versatildeo do licenciamento durante a

108

feira tecnoloacutegica Campus Party em Fevereiro de 2010 teve repercussatildeo em vaacuterios meios

tradicionais de comunicaccedilatildeo e sobretudo na Rede

31 O Creative Commons Portugal

Em Portugal o modelo Creative Commons eacute recente Chegando ao paiacutes em 2006 a

licenccedila foi traduzida e adaptada agrave legislaccedilatildeo portuguesa e pode ser encontrada desde entatildeo

no site oficial do CC (clicando-se no item Internacional depois na bandeira do paiacutes onde

se poderaacute verificar a licenccedila juriacutedica) Este projeto foi liderado pelo professor Pedro

Oliveira da Faculdade de Ciecircncias Econocircmicas e Empresariais da Universidade Catoacutelica

Portuguesa (UCP) aleacutem de Joseacute Rui Felizardo e Pedro Ferreira sendo Filipa Salazar Leite

a responsaacutevel pela traduccedilatildeo da primeira versatildeo das licenccedilas

As entidades responsaacuteveis pela implementaccedilatildeo do CC em Portugal foram a

Faculdade de Ciecircncias Econocircmicas e Empresarias da Universidade Catoacutelica Portuguesa

(FCEE-UCP) - como afiliada portuguesa do Creative Commons - a empresa de tecnologia

Inteligecircncia em Inovaccedilatildeo (INTELI) e a Agecircncia para a Sociedade do Conhecimento

(UMIC) na qualidade de parceiros Atualmente apenas a INTELI se manteacutem como

parceira da FCEE-UCP neste projeto

Eacute tatildeo grande a importacircncia desta nova ferramenta que ateacute Dezembro de 2010 jaacute

eram 311314 mil obras licenciadas sob o CC em Portugal pondo o paiacutes na 21ordf posiccedilatildeo do

ranking mundial Para a advogada Teresa Nobre responsaacutevel pela adaptaccedilatildeo das licenccedilas

Creative Commons agrave legislaccedilatildeo portuguesa o dado eacute bastante positivo visto que eacute um paiacutes

de populaccedilatildeo e extensatildeo territorial modestos (Nobre 2012)

32 As licenccedilas 30

No dia 15 de Janeiro de 2011 Teresa Nobre e Clara Boavida fizeram o lanccedilamento

da versatildeo 30 das licenccedilas Creative Commons em Portugal durante o evento

comemorativo pelos dez anos da enciclopeacutedia colaborativa eletrocircnica Wikipedia realizado

no Instituto Superior Teacutecnico (IST) em Lisboa A discussatildeo puacuteblica do projeto da versatildeo

30 da licenccedila de jurisdiccedilatildeo Creative Commons Portugal esteve aberta de 24 de Novembro

a 31 de Dezembro de 2010 e convidou ao debate a sociedade civil em geral advogados

109

utilizadores de licenccedila ativos linguistas e tradutores Todos puderam opinar sobre o novo

texto atraveacutes de um foacuterum aberto no site portuguecircs do projeto

Em relaccedilatildeo agrave versatildeo anteriormente utilizada (25) a nova redaccedilatildeo trouxe alteraccedilotildees

pequenas poreacutem significativas e que ajudaram a tornar mais claros os termos da licenccedila

Aleacutem disso propocircs novas claacuteusulas referentes aos direitos morais ou agrave gestatildeo coletiva dos

direitos de autor ou dos direitos conexos Eacute importante salientar que o processo de

lanccedilamento de uma nova versatildeo das licenccedilas CC natildeo envolve apenas questotildees de traduccedilatildeo

e adaptaccedilatildeo do texto original em inglecircs para o portuguecircs mas refere-se sobretudo agrave sua

adaptaccedilatildeo agraves legislaccedilotildees portuguesas de propriedade intelectual e de direitos de autor

Sendo assim apesar das semelhanccedilas entre as versotildees brasileira e portuguesa das licenccedilas

30 elas diferem-se substancialmente no que se refere ao quesito juriacutedico

Alguns dos conceitos utilizados nas licenccedilas (eg coleccedilatildeo licenciante e titular

originaacuterio) foram aperfeiccediloados e novas claacuteusulas (como as referentes aos direitos morais

ou agrave gestatildeo coletiva do direito de autor ou dos direitos conexos) foram introduzidas As

mudanccedila afetaram sobretudo o tipo de licenccedila ldquoAtribuiccedilatildeo ndash Uso natildeo comercial ndash

Compartilhamento pela mesma licenccedilardquo (by-nc-as) O termo ldquoobrardquo foi substituiacutedo por

ldquotrabalho criativordquo A expressatildeo ldquoexibiccedilatildeo e execuccedilatildeo puacuteblicardquo foi modificada por

ldquoapresentar ao puacuteblicordquo ldquoObras coletivasrdquo tornaram-se ldquocoleccedilotildeesrdquo e ldquoobras derivadasrdquo

passaram a ser designadas por ldquotrabalhos derivadosrdquo

A versatildeo 30 das licenccedilas Creative Commons da jurisdiccedilatildeo portuguesa quando

comparada com a versatildeo 25 apresenta para aleacutem das alteraccedilotildees citadas melhoramentos

ao niacutevel de praticamente todos os conceitos que se encontram definidos nas licenccedilas e uma

nova claacuteusula que prevecirc expressamente o direito moral do autor de retirar sua obra de

circulaccedilatildeo

Em Abril de 2012 foram abertas as discussotildees da versatildeo 40 do conjunto de

licenccedilas Creative Commons como resultado dos debates levantados durante o CC Global

Summit em Setembro de 2011 na Polocircnia Ateacute o final do ano os trabalhos relacionados ao

novo texto devem ser fechados posteriormente a versatildeo final seraacute localmente discutida e

adaptada para a liacutengua e a legislaccedilatildeo nacional de cada paiacutes

33 Parcerias

110

O CC Portugal manteacutem parcerias com diversos repositoacuterios institucionais que

disponibilizam obras intelectuais do domiacutenio cientiacutefico sob suas licenccedilas Eacute o caso da

Universidade do Porto (UP) e da Universidade Nova de Lisboa (UNL) Segundo Teresa

Nobre jaacute existe uma parceria (mesmo que ainda tiacutemida) entre o CC Portugal e o poder

puacuteblico portuguecircs Eacute o caso do Portal das Escolas mantido pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

portuguecircs que publica todos os seus materiais sob licenccedilas CC (Nobre 2012)

Teresa Nobre afirma que um dos problemas que dificultam a popularizaccedilatildeo das

licenccedilas Creative Commons em Portugal eacute o desconhecimento puacuteblico acerca de sua

existecircncia Na tentativa de tornar o projeto mais conhecido no paiacutes ela diz que um dos

objetivos do CC Portugal para 2012 eacute investir de forma mais eficiente nos canais proacuteprios

de comunicaccedilatildeo como o perfil do projeto em redes sociais como Facebook e Twitter e no

site wwwcreativecommonspt Esta eacute a mesma estrateacutegia utilizada para chegar ao

conhecimento das classes artiacutesticas nacionais

Todos os filiados ao CC cooperam entre si e com o Creative Commons com vista agrave

discussatildeo de temas de interesse comum e ao desenvolvimento e aperfeiccediloamento contiacutenuo

das licenccedilas Segundo Teresa Nobre

O Creative Commons Brasil tem sido um parceiro importante do Creative Commons

Portugal na medida em que por circunstacircncias diversas tem conseguido completar o

processo de adaptaccedilatildeo das licenccedilas para o Brasil antes da Creative Commons Portugal

disponibilizando assim uma primeira base de trabalho em portuguecircs que eacute sem duacutevida

uma mais-valia natildeo obstante as diferenccedilas entre as legislaccedilotildees dos dois paiacuteses

(NOBRE 2012)

Neste momento o Creative Commons Portugal impulsiona um processo de

harmonizaccedilatildeo dos conceitos-chave em portuguecircs tendo entrado em contato com o CC

Brasil e com o CC Macau com o objetivo de levantar a discussatildeo com os mesmos Um dos

objetivos do CC Portugal para o futuro eacute conseguir incentivar e auxiliar outros paiacuteses de

liacutengua portuguesa a adotarem as licenccedilas CC pretendendo envolver nessa empreitada

tanto quanto possiacutevel o CC Brasil

40 A exceccedilatildeo para compartilhamento de arquivos

111

O principal argumento dos detentores de direitos favoraacuteveis ao arsenal juriacutedico

repressor eacute o de que as puniccedilotildees e proibiccedilotildees de downloads gratuitos aumentam as

oportunidades de vendas para obras protegidas Poreacutem haacute que considerar que na ausecircncia

de serviccedilos on-line de acesso a conteuacutedos com preccedilos e funcionalidades atraentes para os

utilizadores a repressatildeo natildeo produz efeitos consideraacuteveis Conforme afirma Volker

Grassmuck o bloqueio natildeo significa diminuiccedilatildeo da partilha e subida das vendas mas sim

uma migraccedilatildeo para plataformas mais clandestinas onde se torna ainda mais difiacutecil

monitorizar as reproduccedilotildees e as transferecircncias (Grassmuck 2009)

Vaacuterios estudos indicam que o impacto dos downloads natildeo pagos na economia das

induacutestrias da cultura eacute menor que o anunciado por estas Baseados na meacutedia obtida a partir

de oito pesquisas consideradas relevantes Felix Oberholzer-Gee e Koleman Strumpf

afirmam que a partilha de arquivos eacute responsaacutevel por uma parte pequena ndash ldquonatildeo mais do

que 20rdquo ndash do decliacutenio das vendas de muacutesica registrado nos EUA ao longo da deacutecada

passada (Oberholzer-Gee e Strumpf 2010 01) Alguns levantamentos apontam mesmo

para a tese do outro extremo a de que as descargas gratuitas impulsionam as vendas

legais Eacute o caso de uma pesquisa realizada pela Universidade do Estado da Carolina do

Norte que usou uma grande amostra de estatiacutesticas de downloads vindas de um servidor

BitTorrent A partir desses dados o economista Robert Hammond professor daquela

universidade preparou o estudo intitulado ldquoVazamento de lucros Compartilhamento de

arquivos antes do lanccedilamento e a induacutestria musicalrdquo (Link 17052012)

Hammond reuniu dados de 1095 novos aacutelbuns de 1075 artistas no maior servidor

do BitTorrent dedicado agrave muacutesica no periacuteodo entre Maio de 2010 e Janeiro de 2011

Depois combinou esses dados com nuacutemeros de vendas para construir um modelo que faz

uma previsatildeo do efeito da pirataria nas vendas de muacutesica A pesquisa dedicou-se aos

aacutelbuns que ldquovazaramrdquo na Rede antes de seu lanccedilamento oficial A induacutestria fonograacutefica

prioriza a caccedila a estes discos

O resultado aponta que as vendas aumentaram O economista chegou a essa

conclusatildeo ao ldquoisolarrdquo o efeito do compartilhamento nas vendas de um aacutelbum mapeando o

alcance do disco nas redes antes de ser lanccedilado O estudo afirma que a disseminaccedilatildeo de

um aacutelbum ldquovazadordquo transforma-se em propaganda do mesmo A pesquisa chega ateacute a

indicar que perseguir discos divulgados antes da data oficial pode atrapalhar as vendas

ldquoUsando meu modelo natildeo encontrei prova de nenhum efeito negativo em nenhum

aspectordquo concluiu Hammond sobre o compartilhamento de torrents de aacutelbuns (Link id)

112

No contexto da entrada em vigor de HADOPI na Franccedila e para tentar medir o

impacto da nova lei no paiacutes a Universidade de Rennes 1 realizou um levantamento entre

16 de Novembro e 23 de Dezembro de 2009 com 2 mil usuaacuterios de Internet na regiatildeo da

Bretanha A pesquisa concluiu que os downloads ilegais de produtos culturais como

muacutesicas filmes etc natildeo satildeo uma potencial ameaccedila agrave induacutestria isto porque 47 dos

usuaacuterios puniacuteveis por HADOPI representam a maioria dos compradores desses mesmos

produtos de forma legal na Internet Sendo assim os pesquisadores remataram que ldquoO

consumo de conteuacutedo ilegal parece estar acompanhado de uma disposiccedilatildeo a pagar pelo

conteuacutedo legalrdquo (Dejean et al 2010 09)

Ao contraacuterio do que as grandes produtoras alegam o levantamento realizado pela

Universidade de Rennes 1 aponta que se o acesso de usuaacuterios de redes P2P fosse cortado

o mercado legal de muacutesicas e viacutedeos perderia 27 de seus consumidores Se a legislaccedilatildeo

punisse todos os tipos de piratas (natildeo apenas os que fazem downloads por P2P mas

tambeacutem atraveacutes de sites streaming e endereccedilos de hospedagem de arquivos como

Rapidshare e Megaupload) a venda legal de muacutesicas e viacutedeos pela Rede perderia metade

de sua clientela Portanto segundo Sylvain Dejean a premissa de HADOPI de realizar o

corte do acesso agrave Internet dos piratas ldquoarrisca reduzir o tamanho do mercado de bens

culturais digitaisrdquo na Franccedila (ibidem 13)

A discrepacircncia entre o direito autoral e a praacutetica amplamente difundida do

compartilhamento de arquivos eacute evidente Ateacute hoje as tentativas de resolver essa

desarmonia passaram por medidas repressivas que tentaram adequar as praacuteticas culturais agrave

lei atraveacutes de dispositivos tecnoloacutegicos de proteccedilatildeo (como o DRM do inglecircs Digital

Rights Management) processos civis e penais em larga escala etc Nenhuma delas teve

impactos consideraacuteveis sobre as atividades de download ilegal Apesar do fracasso nem as

induacutestrias e nem os governos reconheceram as falhas das estrateacutegias adotadas tampouco

mudaram de abordagem Continuam a operar com as mesmas ferramentas produzindo

formas cada vez mais extremistas de repressatildeo

Uma alternativa de mudanccedila mais profunda do regime juriacutedico internacional da

propriedade intelectual eacute a proposta feita pelo advogado Bennett Lincoff e pela

Associaccedilatildeo de Compositores do Canadaacute Eles sugeriram a criaccedilatildeo de novos direitos

especificamente destinados a legalizar a partilha sem fins lucrativos de obras protegidas

por direitos de autor (Caetano e Cardoso 2012 08) Em tal modelo programas P2P e

outros dispositivos e sites que permitem o compartilhamento de bens culturais sairiam das

113

sombras da clandestinidade e passariam a ser legais Para que isso seja possiacutevel eacute

necessaacuterio pocircr em funcionamento um novo modelo de compensaccedilatildeo aos autores

O uso intenso de redes P2P para partilha de arquivos de filmes livros muacutesicas etc

demanda aquilo a que Volker Grassmuck chama de exceccedilatildeo para compartilhamento de

arquivos (Grassmuck 2010 04) a saber um regime de recolha e distribuiccedilatildeo de direitos

de autor adaptado aos downloads feitos a partir de redes peer-to-peer e outros sistemas

semelhantes Esse modelo de compensaccedilatildeo eacute discutido em vaacuterios paiacuteses sob diferentes

nomenclaturas ldquosistema de compensaccedilatildeo alternativordquo ldquotaxa fixa da culturardquo ldquolicenccedila

globalrdquo e ldquocontribuiccedilatildeo criativardquo dentre outros Eles variam em alguns detalhes mas satildeo

essencialmente baseados em uma mesma ideia reunir artistas induacutestria e usuaacuterios em

torno de um sistema que contemple simultaneamente os interesses de todos os envolvidos

na cadeia de consumo de bens artiacutestico-culturais Isso atraveacutes de ldquouma permissatildeo legal

para o compartilhamento privado de obras publicadas e protegidas pelo direito autoral para

fins natildeo comerciais sujeita a uma taxa administrada por meio de gestatildeo coletivardquo (ibidem

05)

Vaacuterias pesquisas apontam que os utilizadores estatildeo dispostos a pagar pelos

conteuacutedos que acessam e descarregam pela Internet A sociedade sueca de gestatildeo coletiva

de direitos de muacutesica STIM em uma pesquisa publicada em Fevereiro de 2009 apurou

que 862 dos usuaacuterios de Internet que responderam agrave pesquisa desejam pagar uma taxa

mensal de direito autoral que lhes permita compartilhar arquivos (ibidem 07)

Grupos musicais como Nine Inch Nails e Radiohead liberaram seus discos para

download na Internet dando ao internauta a liberdade de decidir se pagaria ou natildeo por

eles e quanto A gravadora independente on-line Magnatunecom libera todos os seus

aacutelbuns em uma licenccedila Creative Commons que permite expressamente seu uso em

compartilhamento de arquivos o que torna o pagamento efetivamente voluntaacuterio O

Magnatune tambeacutem oferece a seus consumidores a possibilidade de pagar um preccedilo agrave sua

escolha dentro da escala de 4 a 14 euros O preccedilo meacutedio pago pelos utilizadores varia entre

8 e 9 euros indicando claramente que eles desejam pagar aos criadores o preccedilo que lhes

parece justo

Diferentemente do que alegam as induacutestrias os internautas natildeo consideram o que eacute

gratuito como algo sem valor As pessoas habituadas agrave cultura do compartilhamento e da

liberdade satildeo conscientes de que os criadores devem ser remunerados e mostram-se

dispostas a desenvolver comportamentos de consumo compatiacuteveis com essa necessidade

114

Para isso eacute preciso desenvolver e pocircr agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico sistemas equitativos de

distribuiccedilatildeo de bens culturais e recolha dos direitos devidos aos autores

A seguir trataremos brevemente de trecircs propostas de exceccedilatildeo para

compartilhamento de arquivos licenccedila global mecenato global e contribuiccedilatildeo criativa

Existem muitas alternativas possiacuteveis resolvemos nos concentrar nestas por serem

modelos sobre os quais jaacute haacute alguma discussatildeo em marcha ndash tanto no mundo acadecircmico

quanto nos universos juriacutedico e comercial Antes poreacutem falaremos sobre a ldquocomputaccedilatildeo

na nuvemrdquo (cloud computing) tendecircncia a ganhar terreno no ciberespaccedilo e que se

mostra tambeacutem um importante modelo legal de acesso a bens culturais na Rede

50 Cloud computing

A ldquocomputaccedilatildeo na nuvemrdquo eacute uma expressatildeo que surge com muita frequecircncia no

vocabulaacuterio das novas utilizaccedilotildees da Internet Falar em nuvem eacute referir-se agrave proacutepria Rede

ou seja aos seus inuacutemeros servidores espalhados por todo o planeta Quando dizemos que

um ficheiro estaacute na ldquonuvemrdquo significa que o documento ou programa estaacute armazenado em

um servidor Esse ficheiro pode ser acessado simplesmente atraveacutes de uma ligaccedilatildeo agrave

Internet e natildeo depende da armazenagem em aparelhos locais como um computador ou

um smartphone O arquivo natildeo eacute guardado na proacutepria maacutequina do usuaacuterio mas nos

bancos de dados virtuais dos fornecedores de acesso agrave Rede podendo ser visualizado

atraveacutes de um navegador como Explorer ou Chrome por exemplo

Essa tecnologia natildeo eacute recente A novidade estaacute na queda dos custos de

armazenagem de grandes volumes de dados As conexotildees agrave Internet satildeo cada vez mais

velozes e atingem gradativamente um nuacutemero maior de pessoas Os arquivos

armazenados na nuvem podem ser acedidos e utilizados simultaneamente por inuacutemeros

usuaacuterios natildeo importando onde eles estejam espacialmente localizados

A isso se junta a constante diminuiccedilatildeo dos aparelhos informaacuteticos ndash os notebooks

satildeo cada vez menores e para pouparem espaccedilo utilizam discos riacutegidos pequenos e com

pouca capacidade de arquivamento de fotos viacutedeos etc Com todos os arquivos e

programa de que necessita estocados em uma nuvem o utilizador pode deixar seus

115

proacuteprios discos externos smartphones e demais equipamentos portaacuteteis para traacutes para

aceder ao que deseja basta utilizar um equipamento qualquer ligado agrave Internet

Poreacutem o ecircxito do serviccedilo depende completamente da Rede Sem conexatildeo agrave

Internet todo o sistema desmorona Outro problema que se levanta nesse meacutetodo eacute o da

confidencialidade dos dados Por mais seguros que sejam os serviccedilos de cloud

computing estatildeo sujeitos ao ataque de hackers Armazenar informaccedilotildees sigilosas tais

como dados pessoais e senhas de contas bancaacuterias por exemplo pode ser arriscado

Para Richard Stallman criador da Fundaccedilatildeo para o Software Livre (FSF) a cloud

computing eacute uma ameaccedila invisiacutevel Stallman afirma que os dados dos utilizadores da

Rede satildeo ferramentas indispensaacuteveis para determinar perfis de consumo e por isso

tornam-se mera mercadoria nas matildeos dos servidores

Haacute uma campanha para convencer os utilizadores a confiar os seus dados a empresas

nas quais natildeo deveriam de todo confiar A computaccedilatildeo na nuvem soacute pode significar

ldquoMeia bola e forccedila E natildeo pensesrdquo Natildeo eacute que natildeo possamos ter vida privada na Internet Nem que os utilizadores jaacute natildeo possam controlar os seus dados Devemos eacute

ousar remar contra a mareacute (STALLMAN 2012 56)

Estando os arquivos armazenados em um servidor o usuaacuterio jaacute natildeo possui controlo

absoluto sobre seu acesso e utilizaccedilatildeo O recente caso do fechamento do Megaupload

ilustra bem o que pode acontecer na cloud computing Tudo o que estava armazenado nos

servidores do site foi retirado do ar pela Justiccedila norte-americana (sob acusaccedilatildeo de

incentivo agrave pirataria como referido no primeiro capiacutetulo deste trabalho) impossibilitando

o acesso ateacute mesmo dos clientes que haviam pago assinatura e mantinham hospedados

materiais legais (muitos de sua proacutepria autoria)

O sucesso da cloud computing representaria a perda completa do controlo dos

proacuteprios ldquopertences virtuaisrdquo por parte do utilizador na medida em que a armazenagem

destes natildeo estaacute sob sua responsabilidade Um ambiente onde os arquivos estatildeo guardados

em servidores eacute como uma biblioteca cujas chaves estatildeo nas matildeos de poucos assim que

estes queiram restringir o acesso ao acervo poderatildeo realizaacute-lo sem grande dificuldade

fazendo o que quiserem com os livros que estatildeo laacute dentro Aleacutem disso o controlo de

plataformas ldquona nuvemrdquo eacute passiacutevel de ser tomado por oacutergatildeos governamentais empresas

privadas e demais grupos de interesses (com objetivos comerciais ou de filtragem e

monitoramento de conteuacutedos) prejudicando a fiabilidade de seu sistema

116

A cloud computing eacute a base estrutural de muitos sites de venda e reproduccedilatildeo legal

de muacutesicas filmes etc Serviccedilos como o VOD (sigla para a expressatildeo inglesa Video on

demand) plataforma de visualizaccedilatildeo de filmes on-line jaacute satildeo vastamente utilizados por

todo o mundo A Franccedila por exemplo manteacutem um serviccedilo deste tipo ligado a um de seus

canais de TV puacuteblica o France Arte (httpwwwartevodcomAccueilhtml) que

disponibiliza o acesso sob assinatura a gravaccedilotildees de filmes documentaacuterios e espetaacuteculos

de teatro e danccedila em linha O mesmo acontece com sites de muacutesica como o Terra Sonora

(httpsonoraterracombr) no Brasil O portal libera sob cadastro a escuta gratuita on-

line Tornando-se assinante do serviccedilo o utilizador pode criar uma pasta de armazenagem

das muacutesicas favoritas Poreacutem apesar de pagar pelo material o internauta natildeo pode

arquivar as muacutesicas em um CD-R por exemplo pois as faixas satildeo protegidas pela

tecnologia DRM que impede a gravaccedilatildeo Aleacutem disso ele tem um nuacutemero limitado de

vezes para reproduzir os arquivos de aacuteudio Poliacuteticas como esta fadam esse modelo de

negoacutecio ao fracasso e a instabilidade da nuvem apresenta riscos que fazem com que os

internautas natildeo adiram agrave alternativa

60 Licenccedila global

Na lista de tentativas de promoccedilatildeo dos interesses dos artistas e fomento do

consumo legal de bens culturais por parte dos utilizadores da Rede estaacute o modelo

conhecido por licenccedila global O conceito nasceu na Franccedila em 2001 fruto da parceria

entre a Sociedade de Percepccedilatildeo e de Distribuiccedilatildeo dos Direitos dos Artistas Inteacuterpretes

(SPEDIDAM) e a Sociedade Civil para a Administraccedilatildeo dos Direitos dos Artistas e

Muacutesicos Inteacuterpretes (ADAMI)

Trata-se de uma autorizaccedilatildeo dada aos internautas para acederem a conteuacutedos

culturais pela Rede e poder partilhaacute-los com outros para fins natildeo comerciais em troca de

uma taxa destinada a artistas paga juntamente com a mensalidade cobrada pelos

servidores de acesso agrave Internet Na Franccedila a SPEDIDAM e a ADAMI propuseram que

essa taxa fosse opcional Para ambas as organizaccedilotildees criadoras a licenccedila global eacute uma

alternativa interessante por criar o que chamam de ldquoespaccedilo de seguranccedila juriacutedicardquo isto eacute a

descarga e a troca de ficheiros natildeo satildeo criminalmente imputaacuteveis pois satildeo realizadas de

forma que respeita os direitos de autor SPEDIDAM e ADAMI natildeo propuseram um valor

117

exato para o pagamento mensal da licenccedila global mas sugeriram que o montante cobrado

fosse de 4 a 7 euros por assinatura (Alliance Public-Artistes 2010)

Em Dezembro de 2005 alguns deputados sugeriram que a licenccedila global fosse

incluiacuteda no texto do Projeto de Lei relativa aos Direitos de Autor e Direitos Conexos na

Sociedade de Informaccedilatildeo (DADVSI) DADVSI foi discutida em sessatildeo na Assembleia

Nacional francesa em Marccedilo de 2006 poreacutem a licenccedila global natildeo foi incluiacuteda na pauta

Agrave eacutepoca em que HADOPI comeccedilou a ser discutida na Franccedila a licenccedila global

mostrou-se uma alternativa de equiliacutebrio entre os interesses dos consumidores e dos

artistas O modelo eacute interessante pelo facto de remunerar os autores ao mesmo tempo em

que apresenta condiccedilotildees sedutoras de consumo legalizado Poreacutem haacute que discutir detalhes

importantes para o funcionamento do sistema como se o modelo de licenccedila global deve

ser obrigatoacuterio ou opcional visto que se opcional o usuaacuterio poderia decidir natildeo aderir a

ele o que natildeo o impediria de fazer downloads ilegais A aplicaccedilatildeo obrigatoacuteria parece ser a

mais simples mas devemos considerar tambeacutem o caso dos internautas que natildeo fazem

download nenhum e que teriam que pagar por algo que natildeo utilizam Aleacutem do mais eacute

preciso definir se a taxa a ser paga deve ser fixa ou variar conforme a quantidade e a

frequecircncia de downloads que o utilizador realizar

Jaacute haacute propostas e experimentos locais em atividade como eacute o caso do estudo

realizado por Matt Earp e Andrew Mcdiarmid da Escola de Informaccedilatildeo da Universidade

da Califoacuternia Berkeley Os pesquisadores propuseram a implementaccedilatildeo de uma licenccedila

voluntaacuteria global no interior da rede do campus de Berkeley que daria direito aos

estudantes de fazerem downloads ilimitados de muacutesicas mediante o pagamento de 20

doacutelares por semestre (Caetano 2008) Ao realizarem um levantamento junto a 103

estudantes da universidade Earp e Mcdiarmid descobriram que 64 dos inquiridos

estavam dispostos a pagar uma licenccedila global para a partilha de arquivos Haacute que

considerar que de tentativas locais exitosas o sistema pode expandir-se para alcanccedilar

mais utilizadores no futuro

70 Mecenato global

118

O pesquisador francecircs Francis Muguet e o programador norte-americano Richard

Stallman satildeo os idealizadores do mecenato global sistema de financiamento equitativo das

artes e da cultura Esse modelo surgiu em 2009 eacutepoca em que na Franccedila fervilhavam as

discussotildees sobre a lei HADOPI e debatia-se se a soluccedilatildeo para o problema do apoio agrave

criatividade na era digital natildeo passaria pelo incentivo agraves doaccedilotildees voluntaacuterias aos artistas ao

inveacutes do endurecimento das leis (Meacuteceacutenat Global 2009)

O mecenato global sugere a criaccedilatildeo de uma Sociedade de Aceitaccedilatildeo e Reparticcedilatildeo

de Doaccedilotildees (SARD) entidade que receberia as doaccedilotildees dos internautas e atraveacutes dos

votos destes indicaria quais obras seriam remuneradas e quais os valores dessas

remuneraccedilotildees A adesatildeo tanto dos utilizadores quanto dos artistas agrave SARD seria

obviamente livre e o envolvimento dos autores com a entidade natildeo implicaria o abandono

automaacutetico da sua sociedade de gestatildeo coletiva tradicional O sistema se aplicaria tanto

aos artistas que disponibilizassem suas obras segundo licenccedilas livres quanto agravequeles que

pretendessem conservar os seus direitos exclusivos O uacutenico preacute-requisito seria residir em

um paiacutes francoacutefono

Aleacutem da adesatildeo livre para utilizadores e artistas o mecenato global tambeacutem propotildee

que os fornecedores de acesso agrave Internet possam escolher participar ou natildeo Para Miguel

Afonso Caetano a melhor opccedilatildeo de aplicaccedilatildeo do sistema seria atraveacutes da participaccedilatildeo

obrigatoacuteria para os detentores de direitos e fornecedores de acesso poreacutem opcional para

os utilizadores haja vista que nem todos efetuam descargas de conteuacutedos protegidos por

direitos de autor Poreacutem o autor afirma que para pocircr em marcha tal projeto seria

necessaacuterio rever a Convenccedilatildeo de Berna senatildeo tudo natildeo passaria de um esforccedilo limitado a

proporccedilotildees locais sem possibilidades de aplicaccedilatildeo em escala internacional (Caetano

2009) O mesmo se aplica agrave licenccedila global

80 Contribuiccedilatildeo criativa

A contribuiccedilatildeo criativa criada por Philippe Aigrain como uma espeacutecie de

ldquobandeira brancardquo na guerra entre o Copyright e a livre partilha na Rede eacute um modelo que

procura legalizar o uso dos dispositivos P2P ao mesmo tempo em que propotildee uma forma

119

alternativa de retribuiccedilatildeo aos autores sem criar conflitos com outras fontes importantes de

remuneraccedilatildeo e de financiamento da criaccedilatildeo

O modelo prevecirc a retribuiccedilatildeo aos autores segundo a quantidade de downloads que

forem feitos de suas obras Quanto mais descargas mais repasse de direitos Esse modelo

evolui gradualmente e Aigrain jaacute chegou mesmo a propor que a propriedade intelectual no

ambiente digital saiacutesse do acircmbito claacutessico dos direitos de autor para ser objeto de um

diploma agrave parte especiacutefico (Aigrain 2008 71)

Philippe Aigrain aponta o pagamento opcional proposto pela licenccedila global e pelo

mecenato global como ponto falho dos sistemas Para o funcionamento do modelo de

contribuiccedilatildeo criativa o autor salienta a necessidade do pagamento obrigatoacuterio por parte de

todo indiviacuteduo que possua uma assinatura de serviccedilo de Internet Aigrain afirma que pode

haver exceccedilotildees relacionadas a criteacuterios sociais mas que estas devem ser compensadas pelo

orccedilamento puacuteblico ou repartidas entre os demais pagantes Ele sugere que o montante a

ser aplicado na Franccedila gire em torno dos 5 ou 7 eurosmecircs e que abarque produccedilotildees de

muacutesica audiovisual e novas miacutedias digitais (ibidem 85) Jaacute Volker Grassmuck sugere que

o valor deveria variar conforme a velocidade da conexatildeo agrave Internet Para este autor o

acesso discado (que inviabiliza outros usos que exigem capacidade de banda) por

exemplo deveria ser isento (Grassmuck 2010 08) Tanto para Aigrain como para

Grassmuck a aplicaccedilatildeo de tal taxa seria tatildeo legiacutetima e se justificaria tanto quanto as taxas

cobradas por sistemas semelhantes como os que sustentam serviccedilos de TV e radiodifusatildeo

puacuteblicos em vaacuterios paiacuteses

Philippe Aigrain afirma que eacute preciso medir a quantidade de downloads das obras

dos artistas de forma natildeo intrusiva ndash um desafio a ser enfrentado pelos proprietaacuterios de

direitos visto que

As induacutestrias de ediccedilatildeo centralizada integraram-se tanto agrave ideia de que os consumidores

de seus produtos satildeo inimigos a controlar e a vigiar que natildeo podem nem mesmo

imaginar que eles poderiam ser os melhores aliados na reparticcedilatildeo justa de uma

remuneraccedilatildeo associada ao uso das obras (AIGRAIN 2008 02)

A apuraccedilatildeo da quantidade de downloads efetuados eacute extremamente precisa nos

meios digitais Ao contraacuterio do universo analoacutegico onde as estatiacutesticas de execuccedilatildeo e

reproduccedilatildeo de muacutesicas filmes etc eram nebulosas geralmente baseadas em dados

ldquoarredondadosrdquo (e que sempre favoreciam os artistas ldquocabeccedilas-de-listardquo) o atual estaacutegio

da tecnologia permite informar com exatidatildeo quantas vezes um dado foi acessado A

120

precisatildeo das mediccedilotildees empiacutericas geram abrangecircncia justiccedila e diversidade pois garantem

o pagamento mesmo para artistas que estejam muito afastados do topo da lista de sucessos

Uma vez que os programas de P2P sejam legalizados o processo de instauraccedilatildeo de

sistemas como a licenccedila global poderaacute contar com a ajuda dos fornecedores de acesso agrave

Internet e das proacuteprias aplicaccedilotildees utilizadas para realizar as descargas (como BitTorrent

etc) A partir do registro de metadados de cada trabalho descarregado pelo utilizador

podem ser produzidos relatoacuterios mensais anocircnimos para um site administrativo que calcule

o nuacutemero total de downloads em um determinado lugar Mecanismos semelhantes jaacute

existem e estatildeo em funcionamento eacute o caso do Audioscrobbler dispositivo que produz

relatoacuterios voluntaacuterios sobre as muacutesicas ouvidas na plataforma Lastfm

Tanto a licenccedila global como o mecenato global e como a contribuiccedilatildeo criativa pode

facilitar o processo de detecccedilatildeo recolhimento e repasse de direitos quase em uma ponte

direta entre artistas e utilizadores da Rede O papel das sociedades gestoras de direitos

seria transformado e a digitalizaccedilatildeo dos processos representaria uma reduccedilatildeo draacutestica dos

custos ndash o que se converteria em benefiacutecio para os artistas pois qualquer economia

significaria maior repasse de direitos

Em um estudo recente Volker Grassmuck traccedilou um quadro comparativo entre os

modelos de gestatildeo de direitos alematildeo e brasileiro Nele descobrimos que na Alemanha as

treze organizaccedilotildees de gestatildeo coletiva existentes pagam no miacutenimo 50 e no maacuteximo

100 de suas receitas para os autores sendo que o restante vai para os exploradores

(editoras ou gravadoras) No caso do Escritoacuterio Central de Arrecadaccedilatildeo e Distribuiccedilatildeo

(ECAD) entidade que gere os direitos de autor no Brasil a situaccedilatildeo eacute mais confusa

porque seus membros natildeo satildeo diretamente autores muacutesicos e exploradores mas dez

associaccedilotildees desses grupos Essa estrutura de dois niacuteveis cria um ofuscamento adicional em

relaccedilatildeo ao fluxo de dinheiro e gera gastos administrativos totais em valores proacuteximos a

30 que aparentam estar entre os maiores do mundo (Grassmuck 2010 11-12) No

universo on-line a administraccedilatildeo digital de direitos seraacute automatizada ao niacutevel maacuteximo

garantindo que a maior quantia possiacutevel chegue agravequeles que realmente criam os bens

culturais evitando assim que os lucros sejam ldquoengolidosrdquo pelo funcionamento do

aparelho destinado a coletaacute-los

121

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

122

123

No momento do remate deste estudo o Parlamento Europeu rejeitou

definitivamente o ACTA em seccedilatildeo plenaacuteria Foram 478 votos contra o acordo 39 a favor e

165 abstenccedilotildees Com o voto contraacuterio do Parlamento ao menos 22 dos 27 paiacuteses membros

da Uniatildeo Europeia natildeo podem ratificar o tratado em sua legislaccedilatildeo local Tal decisatildeo

mostra o poder da mobilizaccedilatildeo popular aleacutem de manifestaccedilotildees nas ruas muitos cidadatildeos

europeus protestaram atraveacutes das redes sociais e demais instrumentos de comunicaccedilatildeo

conectados em rede Foram muitos os que tambeacutem contataram os membros do Parlamento

por telefone ou e-mail e a intensa pressatildeo acabou por resultar

O conceito de sociedade da informaccedilatildeo natildeo eacute neutro Informaccedilatildeo natildeo eacute o mesmo

que comunicaccedilatildeo A informaccedilatildeo eacute uma fonte de poder e o domiacutenio dos seus meios de

produccedilatildeo controlo e disseminaccedilatildeo pode ser um fator de aumento da desigualdade de

distribuiccedilatildeo de poderes em uma sociedade jaacute marcada por disparidades A democracia em

sua forma mais baacutesica requer que o poder seja distribuiacutedo ndash sendo a informaccedilatildeo uma fonte

de poder uma sociedade mais igualitaacuteria passa pelo livre acesso das pessoas a ela

No mundo em que vivemos o poder estaacute concentrado em diversas formas e

manifestaccedilotildees tais como o ideoloacutegico econocircmico tecnoloacutegico cientiacutefico ou

informacional Apoiar os direitos humanos eacute posicionar-se contra os que ameaccedilam ou

desrespeitam esses direitos Incluir o direito de acesso agrave informaccedilatildeo e agrave comunicaccedilatildeo

nessa luta eacute assumir a centralidade do ser humano como agente nos processos vitais para a

manutenccedilatildeo da vida em sociedade O acesso agrave informaccedilatildeo eacute condiccedilatildeo indispensaacutevel para a

formaccedilatildeo do indiviacuteduo enquanto ser criacutetico que questiona e interveacutem e que constroacutei os

meios que lhe permitem ser livre

Grandes corporaccedilotildees tecircm nas matildeos a infraestrutura global da Internet A quase

totalidade da Rede depende de operadores multinacionais estando a maioria deles sediada

nos EUA Muitos governos controlam e vigiam o acesso de seus cidadatildeos agrave Rede Quando

eacute de seu interesse conseguem comprometer o funcionamento das conexotildees via Internet

com o exterior como fez o governo egiacutepcio durante o movimento que ficou conhecido por

Primavera Aacuterabe no iniacutecio de 2011 que levou agrave queda do ditador Hosni Mubarak naquele

paiacutes (Sapo Notiacutecias 2011)

Numa decisatildeo histoacuterica o Conselho dos Direitos Humanos da ONU composto por

47 paiacuteses reconheceu pela primeira vez o direito agrave liberdade de expressatildeo na Internet e

tambeacutem a garantia de acesso agrave Rede O reconhecimento se deu dois dias apoacutes a decisatildeo do

Parlamento Europeu de eliminar o ACTA em Julho de 2012 Apesar da resistecircncia de

124

paiacuteses como a China e Cuba o texto do acordo foi finalizado em concordacircncia de que este

direito deveraacute ser protegido por todos os paiacuteses Esta eacute a primeira resoluccedilatildeo da ONU que

afirma que os direitos humanos devem ser protegidos no acircmbito digital e promovidos na

mesma medida e com o mesmo compromisso que os direitos humanos no mundo fiacutesico

Tanto a China quanto Cuba poreacutem fizeram ressalvas em relaccedilatildeo ao acordo o

embaixador chinecircs Xia Jingge argumentou por exemplo que ldquoos jovens precisam de ser

protegidosrdquo de sites maleacuteficos como os dedicados ao jogo agrave pornografia agrave violecircncia agrave

fraude e agrave pirataria ldquoAcreditamos que o livre fluxo de informaccedilatildeo na Internet e o fluxo

seguro de informaccedilatildeo na Internet satildeo interdependentesrdquo (Puacuteblico 06072012) Jaacute o

embaixador cubano Juan Antonio Quintanilla numa referecircncia impliacutecita aos EUA fez a

ressalva de que o texto natildeo aborda a questatildeo da ldquogovernaccedilatildeo da Internetrdquo quando ldquotodos

sabemos que esta ferramenta eacute controlada por um uacutenico paiacutes a niacutevel mundialrdquo (Puacuteblico

id)

A liberdade na Internet e a forccedila do compartilhamento de informaccedilotildees tambeacutem

foram os temas centrais do Foacuterum de Empreendedorismo Social na Nova Economia

evento realizado em Junho de 2012 paralelo agrave Rio+20 no Rio de Janeiro Em um dos

paineacuteis Silvio Meira presidente do Conselho Administrativo do Porto Digital e cientista-

chefe do Centro de Estudos e Sistemas Avanccedilados do Recife (Cesar) chamou a atenccedilatildeo

para a necessidade de ldquoprogramarmos para natildeo sermos programadosrdquo Para ele eacute preciso

tomarmos o controlo de nossas vidas no ciberespaccedilo ldquoTer propriedade pessoal dos nossos

dados seraacute absolutamente essencial Estamos sendo vendidos como mercadoria na

Internetrdquo (G1 17062012)

A regulaccedilatildeo eacute fundamental para frear as praacuteticas de uso indiscriminado de dados

dos usuaacuterios na Internet Eacute tambeacutem preciso garantir o bom funcionamento teacutecnico do

sistema com velocidade de banda a preccedilos justos boa qualidade de prestaccedilatildeo de serviccedilos

e proibiccedilatildeo de praacuteticas que prejudicam a neutralidade na Rede como o traffic shaping

mas natildeo soacute A regulaccedilatildeo natildeo deve tratar apenas do acesso agrave tecnologia mas tambeacutem da

garantia do pluralismo de informaccedilotildees em circulaccedilatildeo e de direitos e deveres na Rede Ao

mesmo tempo a proteccedilatildeo da privacidade eacute um ponto-chave que se coloca como

fundamental em qualquer tipo de regulaccedilatildeo que se aplique A salvaguarda dos dados

pessoais dos usuaacuterios mostra-se como a dimensatildeo da regulaccedilatildeo que atravessa todos os

espaccedilos de interaccedilatildeo da Internet

125

O combate ao uso de softwares como os P2Prsquos ilustra o desejo das induacutestrias de

derrubar certas tecnologias mais eficientes mas que ameaccedilam seu poderio A tecnologia

natildeo pode nem deve ser usada contra seus proacuteprios avanccedilos Antes esses avanccedilos devem

ser adaptados agraves novas necessidades de mercado que as plataformas digitais criaram

Softwares P2P podem perfeitamente ser utilizados para consumo de muacutesicas filmes etc

de maneira que respeite os direitos de autor Basta que tais mecanismos sejam implantados

dentro de um novo sistema de vendas mais justo e equilibrado que combine larga oferta

legal e preccedilos que estejam ao alcance das pessoas

O remix mesmo que feito com autorizaccedilatildeo e devida identificaccedilatildeo das fontes

utilizadas tambeacutem eacute uma praacutetica condenada pela induacutestria e pelas sociedades de gestatildeo

coletivas de direitos Poreacutem haacute que reconhecer como afirma Ronaldo Lemos que a

premissa lavoisiana de que ldquonada se cria tudo se transformardquo eacute a essecircncia da nossa

natureza cultural Poder citar e incorporar outras criaccedilotildees em uma nova eacute requisito para a

criatividade e para que o conhecimento e a cultura avancem (Lemos 2012)

Infelizmente o mundo da criaccedilatildeo eacute refeacutem de um impeacuterio legislativo de

autorizaccedilotildees mesmo quando o autor libera o uso de suas obras A burocracia para se

conseguir permissatildeo para o uso de uma obra intelectual ainda eacute uma via crucis Esta

situaccedilatildeo eacute antinatural e sistemas legislativos que funcionam assim natildeo fomentam a

criatividade tem exatamente o efeito inverso Eacute preciso desburocratizar os sistemas de

gestatildeo de patentes e de propriedade intelectual formulando regimes de exceccedilatildeo para

paiacuteses subdesenvolvidos para que estes tambeacutem tenham condiccedilotildees de avanccedilar em mateacuteria

de inovaccedilatildeo

Agrave eacutepoca da abertura das discussotildees para a reforma da Lei do Direito Autoral

(LDA) no Brasil acadecircmicos artistas escritores e membros da sociedade civil de diversos

ramos de atuaccedilatildeo profissional fizeram circular na Internet a ldquoCarta de Satildeo Paulo pelo

Acesso a Bens Culturaisrdquo um abaixo-assinado de apoio agrave reforma legislativa No texto

condena-se a vigilacircncia e o controlo das atividades dos usuaacuterios na Internet ndash o que

representa uma agressatildeo agrave privacidade e ao direito de acesso agrave informaccedilatildeo e agrave

comunicaccedilatildeo atraveacutes da Rede Antes aponta-se que eacute preciso reformar a legislaccedilatildeo autoral

em vigor de maneira a adaptaacute-la agraves accedilotildees de democratizaccedilatildeo do saber possibilitadas pela

Internet

126

[] tem-se defendido que o controlo da troca de arquivos na Internet seja feito por

meio do monitoramento do cidadatildeo no seu acesso agrave Rede Isso somente poderia ocorrer

atraveacutes da violaccedilatildeo do direito agrave privacidade e com severas ameaccedilas agrave liberdade de

expressatildeo e de comunicaccedilatildeo Entendemos que esse natildeo eacute o melhor caminho e que a reforma da lei deve ser realista face agraves novas tecnologias e praacuteticas sociais (CARTA

DE SAtildeO PAULO PELO ACESSO A BENS CULTURAIS 2010)

O Direito precisa acompanhar a evoluccedilatildeo da tecnologia Em um contexto em que

boa parte da populaccedilatildeo age de forma contraacuteria ao que diz a lei eacute necessaacuterio discutir o

descompasso entre o Direito e a sociedade para realizar as transformaccedilotildees necessaacuterias nos

diplomas juriacutedicos As puniccedilotildees severas e o endurecimento das leis natildeo vatildeo acabar com a

praacutetica da partilha de bens culturais em rede Haacute uma relaccedilatildeo direta entre o aumento da

oferta de conteuacutedo legal a preccedilos acessiacuteveis e a diminuiccedilatildeo da pirataria Portanto eacute preciso

rediscutir os modelos de negoacutecio solidificados ndash uma atitude que contraria os interesses

das induacutestrias mas eacute necessaacuteria para sua proacutepria sobrevivecircncia

A luta contra quaisquer usos comerciais da obra sem autorizaccedilatildeo de seu titular de

direitos eacute perfeitamente legiacutetima O que precisa ser feito eacute reequilibrar a posiccedilatildeo do autor

face aos intermediaacuterios culturais de forma a potencializar as alternativas de produzir

distribuir e comercializar suas obras diretamente atraveacutes das novas tecnologias Este

equiliacutebrio conferiria maior autonomia e independecircncia econocircmica aos autores permitindo

alargar as fronteiras ainda muito limitadas do mercado de bens culturais Eacute necessaacuterio criar

e aplicar sistemas que devolvam aos autores o poder sobre suas proacuteprias obras para que

estas sejam licenciadas reproduzidas e comercializadas como eles desejarem O futuro dos

direitos de autor estaacute na promoccedilatildeo de ligaccedilotildees mais diretas entre autor e puacuteblico e na

transformaccedilatildeo do papel dos intermediaacuterios na economia criativa

127

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

128

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gt

Acedido em 21 de Abril de 2012

Parlamento Europeu e Conselho 2006 Directiva nordm 9398CEE do Conselho de 29 de

Outubro de 1993 relativa agrave harmonizaccedilatildeo do prazo de protecccedilatildeo dos direitos de

autor e de certos direitos conexos

URLlthttpeur-

lexeuropaeuLexUriServLexUriServdouri=CELEX32006L0116PTHTMLgt

Acedido em 17 de Fevereiro de 2012

Presidecircncia da Repuacuteblica Federativa do Brasil 1827 Lei de 11 de Agosto de 1827 Crecirca

dous Cursos de sciencias Juridicas e Sociaes um na cidade de S Paulo e outro

na de Olinda

URLlthttpwwwplanaltogovbrccivil_03revistaRev_63Lei_1827htmgt

Acedido em 03 de Marccedilo de 2012

Presidecircncia da Repuacuteblica Federativa do Brasil 1998 Lei 9610 de 19 de Fevereiro de

1998 Altera atualiza e consolida a legislaccedilatildeo sobre direitos autorais e daacute outras

providecircncias

URLlthttpwwwculturagovbrsite20080202lei-no-9610-de-19-de-fevereiro-

de-1998gt

Acedido em 21 de Abril de 2012

Reacutepublique Franccedilaise et Ministegravere de la Culture et de la Communication 2008 Projet de

Loi Favorisant la Diffusion et la Protection de la Creacuteation sur Internet

URLlthttpwwwculturegouvfrcultureactualitesdossiersinternet-

creation08620-20Projet20de20loipdfgt

Acedido em 26 de Marccedilo de 2012

Senado Federal 2003 Projeto de Lei Substitutivo ao PL da Cacircmara nordm 89 de 2003 e

Projetos de Lei do Senado nordm 137 de 2000 e nordm 76 de 2000 todos referentes a

crimes na aacuterea de informaacutetica

URLlthttpwwwsafernetorgbrsiteinstitucionalprojetosobslegpl-azeredogt

141

Acedido em 21 de Abril de 2012

142

143

ANEXOS

144

145

ANEXO 1

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

146

M I N U T A D E A N T E P R O J E T O D E L E I P A R A D E B A T E C O L A B O R A T I V O S E Ccedil Atilde O I V R E V IS A D A

Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministeacuterio da Justiccedila

Esplanada dos Ministeacuterios Edifiacutecio Sede Sala 434 Brasiacutelia shy DF

httpculturadigitalbrmarcocivil

marcocivildainternetmjgovbr

identica twitter marcocivil

1

147

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

Brasiacutelia maio de 2010

2

148

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

APRESENTACcedilAtildeO

O debate sobre o marco civil eacute um debate aberto e colaborativo As opiniotildees dos

usuaacuterios satildeo levadas em consideraccedilatildeo natildeo soacute com o intuito de identificar as tendecircncias dos interesses da sociedade como tambeacutem em busca de refinamento das ideacuteias mecanismos e redaccedilotildees propostas O processo eacute incremental enriqueceshyse e aperfeiccediloashyse com a contribuiccedilatildeo de cada usuaacuterio refletindo a diversidade de interesses e perspectivas

Mais de 1500 comentaacuterios e contribuiccedilotildees foram recebidos ao longo das uacuteltimos

cinco meses E com o intuito de organizar ideacuteias e facilitar a necessaacuteria participaccedilatildeo nesta uacuteltima fase do processo o Marco Civil apresenta seu primeiro ldquobalanccedilordquo trazendo as principais propostas de alteraccedilatildeo do texto inicial

Ateacute o momento a necessidade de ajustes pontuais ndash seja na redaccedilatildeo seja nos conceitos ndash foi muito bem apontada pelos usuaacuterios as adequaccedilotildees pertinentes seratildeo gradualmente integradas agrave minuta em debate Temas como o tempo de guarda de registros de conexatildeo e a inclusatildeo de diretrizes relativas agrave educaccedilatildeo digital tambeacutem permearam as manifestaccedilotildees e serviratildeo para a maturaccedilatildeo do texto final

Os toacutepicos mais debatidos poreacutem dizem respeito agrave proposta de mecanismo voluntaacuterio que permite que os provedores de serviccedilos de internet sejam isentos de responsabilidade quanto a conteuacutedo publicado por terceiros No desenho apresentado a proposta inicial coloca como condiccedilatildeo para esta isenccedilatildeo a adoccedilatildeo voluntaacuteria de um mecanismo de resposta a notificaccedilotildees extrajudiciais ndash tanto daquele que se sente prejudicado quanto daquele que deseja identificandoshyse garantir a permanecircncia de seu conteuacutedo publicado

No entanto variadas manifestaccedilotildees ndash tanto no espaccedilo de debate aberto deste

site quanto em diversos espaccedilos fora dele ndash apontaram as dificuldades de implementaccedilatildeo de um mecanismo desta natureza em particular sobre os eventuais riscos a direitos constitucionalmente garantidos Tais manifestaccedilotildees sem duacutevida possuem fundamento e foram levadas em consideraccedilatildeo

Diante disso e com o intuito de dar um passo adiante no debate apresentamos novas

propostas de redaccedilatildeo para os artigos 20 a 24 que versam sobre a remoccedilatildeo de conteuacutedo gerado por terceiro

3

149

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

Minuta de anteprojeto de lei para debate colaborativo

SECcedilAtildeO IV REVISADA

Estabelece o Marco Civil da Internet no Brasil

O C O N G R E SS O N A C I O N A L decreta

C A P Iacute T U L O I D ISP O SI Ccedil Otilde E S P R E L I M I N A R E S

A r t 1ordm

Esta Lei estabelece direitos e deveres relativos ao uso da Internet no Brasil e determina

as diretrizes para atuaccedilatildeo da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios

em relaccedilatildeo agrave mateacuteria

A r t 2ordm

A disciplina do uso da Internet no Brasil tem como fundamentos o reconhecimento da

escala mundial da rede o exerciacutecio da cidadania em meios digitais os direitos humanos

a pluralidade a diversidade a abertura a livre iniciativa a livre concorrecircncia e a

colaboraccedilatildeo e observaraacute os seguintes princiacutepios

I ndash garantia da liberdade de expressatildeo comunicaccedilatildeo e manifestaccedilatildeo de pensamento

II ndash proteccedilatildeo da privacidade

III ndash proteccedilatildeo aos dados pessoais na forma da lei

IV ndash preservaccedilatildeo e garantia da neutralidade da rede

V ndash preservaccedilatildeo da estabilidade seguranccedila e funcionalidade da rede por meio de

medidas teacutecnicas compatiacuteveis com os padrotildees internacionais e pelo estiacutemulo ao uso de

boas praacuteticas e

VI ndash preservaccedilatildeo da natureza participativa da rede

Paraacutegrafo uacutenico Os princiacutepios expressos nesta Lei natildeo excluem outros previstos no

ordenamento juriacutedico paacutetrio relacionados agrave mateacuteria ou nos tratados internacionais em

que a Repuacuteblica Federativa do Brasil seja parte

A r t 3ordm

4

150

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

A disciplina do uso da Internet no Brasil tem os seguintes objetivos

I ndash garantir a todos os cidadatildeos o acesso agrave Internet

II ndash promover o acesso agrave informaccedilatildeo ao conhecimento e agrave participaccedilatildeo na vida cultural

III ndash fortalecer a livre iniciativa e a livre concorrecircncia

IV ndash promover a inovaccedilatildeo e fomentar a ampla difusatildeo de novas tecnologias e modelos

de uso e acesso e

V ndash promover a padronizaccedilatildeo a acessibilidade e a interoperabilidade a partir do uso de

padrotildees abertos

A r t 4ordm

Para os efeitos desta Lei considera-se

I ndash Internet o conjunto de meios de transmissatildeo comutaccedilatildeo e roteamento de dados

estruturados em escala mundial bem como os protocolos necessaacuterios agrave comunicaccedilatildeo

entre terminais incluiacutedos ainda os programas de computador especiacuteficos para esse fim

II ndash terminal computador ou dispositivo anaacutelogo que se conecte agrave Internet

III ndash administrador de sistema autocircnomo pessoa juriacutedica devidamente cadastrada junto

ao Registro de Endereccedilamento da Internet para Ameacuterica Latina e Caribe (LACNIC)

responsaacutevel por blocos especiacuteficos de nuacutemero IP (Internet protocol) e por um conjunto

de roteadores redes e linhas de comunicaccedilatildeo pela Internet que formem uma

infraestrutura delimitada por protocolos e meacutetricas comuns

IV ndash conexatildeo agrave Internet autenticaccedilatildeo de um terminal para envio e recebimento de

pacotes de dados pela Internet mediante a atribuiccedilatildeo de um nuacutemero IP

V ndash registro de conexatildeo o conjunto de informaccedilotildees referentes agrave data e hora de iniacutecio e

teacutermino de uma conexatildeo agrave Internet sua duraccedilatildeo e o nuacutemero IP utilizado pelo terminal

para o recebimento de pacotes de dados

VI ndash serviccedilos de Internet conjunto de serviccedilos diversos que podem ser acessados por

meio de um terminal conectado agrave Internet como por exemplo navegaccedilatildeo comunicaccedilatildeo

5

151

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

instantacircnea envio e recebimento de correspondecircncia eletrocircnica publicaccedilatildeo de obras

textuais ou audiovisuais em formato digital entre outros

VII ndash registros de acesso a serviccedilos de Internet o conjunto de informaccedilotildees referentes agrave

data e hora de uso de um determinado serviccedilo de Internet a partir de um determinado

nuacutemero IP

A r t 5ordm

Na interpretaccedilatildeo desta Lei levar-se-atildeo em conta aleacutem dos fundamentos princiacutepios e

objetivos previstos a natureza da Internet seus usos e costumes particulares e sua

importacircncia para a promoccedilatildeo do desenvolvimento humano econocircmico social e

cultural as exigecircncias do bem comum e os direitos e deveres individuais e

transindividuais

C A P Iacute T U L O I I

D O S D I R E I T O S E G A R A N T I A S D O S USU Aacute R I O S A r t 6ordm O acesso agrave Internet eacute direito do cidadatildeo fundamental ao exerciacutecio da cidadania agraves

liberdades de manifestaccedilatildeo do pensamento e de expressatildeo e agrave garantia do acesso agrave

informaccedilatildeo

A r t 7ordm

O usuaacuterio de Internet tem direito

I ndash agrave inviolabilidade e ao sigilo de suas comunicaccedilotildees salvo por ordem judicial nas

hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigaccedilatildeo criminal ou

instruccedilatildeo processual penal

II ndash agrave natildeo suspensatildeo ou degradaccedilatildeo da qualidade contratada da conexatildeo agrave Internet nos

termos do art 12 salvo por deacutebito diretamente decorrente de sua utilizaccedilatildeo

III ndash a informaccedilotildees claras e completas constantes dos contratos de prestaccedilatildeo de serviccedilos

estabelecendo o regime de proteccedilatildeo aos seus dados pessoais registros de conexatildeo e

registros de acesso a serviccedilos de Internet bem como sobre praacuteticas de gerenciamento da

rede que possam afetar a qualidade do serviccedilo oferecido e

6

152

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

IV ndash agrave natildeo divulgaccedilatildeo ou uso de seus registros de conexatildeo e registros de acesso a

serviccedilos de Internet salvo mediante seu consentimento expresso ou em decorrecircncia de

determinaccedilatildeo judicial

A r t 8ordm

A garantia do direito agrave privacidade e agrave liberdade de expressatildeo nas comunicaccedilotildees eacute

condiccedilatildeo para o pleno exerciacutecio do direito de acesso agrave Internet

Paraacutegrafo uacutenico O exerciacutecio do direito agrave privacidade e agrave liberdade de expressatildeo autoriza

aos usuaacuterios da Internet a livre opccedilatildeo por medidas de seguranccedila direcionadas a

salvaguardar a proteccedilatildeo de dados pessoais e o sigilo das comunicaccedilotildees

C A P Iacute T U L O I I I

A P R O V IS Atilde O D E C O N E X Atilde O E D E S E R V I Ccedil O S D E I N T E R N E T Seccedilatildeo I

D isposiccedilotildees G e r ais

A r t 9ordm

A provisatildeo de conexatildeo agrave Internet impotildee a obrigaccedilatildeo de guardar apenas os registros de

conexatildeo nos termos da Subseccedilatildeo I da Seccedilatildeo III deste Capiacutetulo ficando vedada a guarda

de registros de acesso a serviccedilos de Internet pelo provedor

Paraacutegrafo uacutenico O provedor de conexatildeo a Internet fica impedido de monitorar filtrar

analisar ou fiscalizar o conteuacutedo dos pacotes de dados salvo para administraccedilatildeo teacutecnica

de traacutefego nos termos do art 12

A r t 10

A provisatildeo de serviccedilos de Internet onerosa ou gratuita natildeo impotildee ao provedor a

obrigaccedilatildeo de monitorar filtrar analisar ou fiscalizar o conteuacutedo dos pacotes de dados

tampouco de guardar registros de acesso a serviccedilos de Internet salvo em qualquer dos

casos por ordem judicial especiacutefica observado o disposto no art 18

Paraacutegrafo uacutenico Para efeitos deste dispositivo os usuaacuterios que detenham poderes de

moderaccedilatildeo sobre o conteuacutedo de terceiros se equiparam aos provedores de serviccedilos de

Internet

A r t 11

7

153

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

A responsabilizaccedilatildeo do provedor de serviccedilos de Internet por danos decorrentes de

conteuacutedo gerado por terceiros fica condicionada ao descumprimento dos procedimentos

previstos na Seccedilatildeo IV deste Capiacutetulo

Seccedilatildeo I I

Do t r aacutefego de dados

A r t 12

O responsaacutevel pela transmissatildeo comutaccedilatildeo ou roteamento tem o dever de tratar de

forma isonocircmica quaisquer pacotes de dados conteuacutedo serviccedilo terminal ou aplicativo

sendo vedado estabelecer qualquer discriminaccedilatildeo ou degradaccedilatildeo do traacutefego que natildeo

decorra de requisitos teacutecnicos destinados a preservar a qualidade contratual do serviccedilo

Seccedilatildeo I I I

Dos r egist ros de dados

Subseccedilatildeo I

D a gua r da de r egist ros de conexatildeo

A r t 13

A guarda e a disponibilizaccedilatildeo dos registros de conexatildeo a que esta lei faz referecircncia

devem atender agrave preservaccedilatildeo da intimidade vida privada honra e imagem das partes

direta ou indiretamente envolvidas

A r t 14

A provisatildeo de conexatildeo agrave Internet impotildee ao administrador do sistema autocircnomo

respectivo o dever de manter os registros de conexatildeo sob sigilo em ambiente

controlado e de seguranccedila pelo prazo maacuteximo de 6 (seis) meses nos termos do

regulamento

Paraacutegrafo uacutenico O dever de manter os registros de conexatildeo natildeo poderaacute ser transferido

A r t 15

8

154

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

Na guarda de registros de conexatildeo

I ndash os registros de conexatildeo somente poderatildeo ser fornecidos a terceiros mediante ordem

judicial ou por autorizaccedilatildeo preacutevia e expressa do respectivo usuaacuterio

II ndash os dados cadastrais somente poderatildeo ser disponibilizados de maneira vinculada aos

registros de conexatildeo mediante ordem judicial e

III ndash as medidas e procedimentos de seguranccedila e sigilo dos registros de conexatildeo e dos

dados cadastrais devem ser informados de forma clara aos usuaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Os procedimentos de seguranccedila necessaacuterios agrave preservaccedilatildeo do sigilo e

da integridade dos registros de conexatildeo e dos dados cadastrais referidos neste artigo

deveratildeo atender a padrotildees adequados a serem definidos por meio de regulamento

Subseccedilatildeo I I

D a gua r da de r egist ros de acesso a se r viccedilos de I nte r net

A r t 16

A guarda de registros de acesso a serviccedilos de Internet dependeraacute de autorizaccedilatildeo

expressa do usuaacuterio e deveraacute obedecer ao que segue sem prejuiacutezo agraves demais normas e

diretrizes relativas agrave proteccedilatildeo de dados pessoais

I ndash informaccedilatildeo preacutevia ao usuaacuterio sobre a natureza finalidade periacuteodo de conservaccedilatildeo

poliacuteticas de seguranccedila e destinaccedilatildeo das informaccedilotildees guardadas facultando-lhe o acesso

retificaccedilatildeo e atualizaccedilatildeo sempre que solicitado

II ndash consentimento livre e informado do usuaacuterio previamente ao tratamento agrave

distribuiccedilatildeo a terceiros ou agrave publicaccedilatildeo das informaccedilotildees coletadas e

III ndash os dados que permitam a identificaccedilatildeo do usuaacuterio somente poderatildeo ser

disponibilizados de maneira vinculada aos registros de acesso a serviccedilos de Internet

mediante ordem judicial

A r t 17

Os danos causados aos titulares de dados pessoais devem ser reparados nos termos da

lei

Subseccedilatildeo I I I

D a p roteccedilatildeo ao sigilo das comunicaccedilotildees pela I nte r net

9

155

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

A r t 18

Os procedimentos de interceptaccedilatildeo escuta ou disponibilizaccedilatildeo de conteuacutedo das

comunicaccedilotildees pela Internet somente poderatildeo ocorrer para fins de persecuccedilatildeo penal e

seratildeo regulados pela lei que trata da interceptaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo telefocircnica e dados

telemaacuteticos

Seccedilatildeo I V

D a r emoccedilatildeo de conteuacutedo

A r t 19

O provedor de conexatildeo agrave Internet natildeo seraacute responsabilizado por danos decorrentes de

conteuacutedo gerado por terceiros

A r t 20

O provedor de serviccedilo de Internet somente poderaacute ser responsabilizado por danos

decorrentes de conteuacutedo gerado por terceiros se for notificado pelo ofendido e natildeo

tomar as providecircncias para no acircmbito do seu serviccedilo e dentro de prazo razoaacutevel tornar

indisponiacutevel o conteuacutedo apontado como infringente

sect 1ordm Os provedores de serviccedilos de Internet devem oferecer de forma ostensiva ao

menos um canal eletrocircnico dedicado ao recebimento de notificaccedilotildees e

contranotificaccedilotildees

sect 2ordm Eacute facultado ao provedor de serviccedilos de Internet criar mecanismo automatizado

para atender aos procedimentos dispostos nesta Seccedilatildeo

P R O P O S T A D E N O V A R E D A Ccedil Atilde O

O provedor de serviccedilo de internet somente poderaacute ser responsabilizado por danos

decorrentes de conteuacutedo gerado por terceiros se apoacutes intimado para cumprir ordem

judicial a respeito natildeo tomar as providecircncias para no acircmbito do seu serviccedilo e dentro do

prazo assinalado tornar indisponiacutevel o conteuacutedo apontado como infringente

A r t 21

1

156

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

A notificaccedilatildeo de que trata o art 20 deveraacute conter sob pena de invalidade

I ndash identificaccedilatildeo do notificante incluindo seu nome completo seus nuacutemeros de registro

civil e fiscal e dados atuais para contato

II ndash data e hora de envio

III ndash identificaccedilatildeo clara e especiacutefica do conteuacutedo apontado como infringente que

permita a localizaccedilatildeo inequiacutevoca do material pelo notificado

IV ndash descriccedilatildeo da relaccedilatildeo entre o notificante e o conteuacutedo apontado como infringente e

V ndash justificativa juriacutedica para a remoccedilatildeo

P R O P O S T A D E N O V A R E D A Ccedil Atilde O

A intimaccedilatildeo de que trata o art 20 deveraacute conter sob pena de invalidade

I ndash identificaccedilatildeo da parte que solicitou a remoccedilatildeo do conteuacutedo incluindo seu nome

completo seus nuacutemeros de registro civil e fiscal e dados atuais para contato

II ndash identificaccedilatildeo clara e especiacutefica do conteuacutedo apontado como infringente que permita

a localizaccedilatildeo inequiacutevoca do material

III ndash descriccedilatildeo da relaccedilatildeo existente entre a parte solicitante e o conteuacutedo apontado como

infringente

IV ndash justificativa juriacutedica para a remoccedilatildeo

A r t 22

Ao tornar indisponiacutevel o acesso ao conteuacutedo caberaacute ao provedor do serviccedilo informar o

fato ao usuaacuterio responsaacutevel pela publicaccedilatildeo comunicando-lhe o teor da notificaccedilatildeo de

remoccedilatildeo e fixando prazo razoaacutevel para a eliminaccedilatildeo definitiva do conteuacutedo

Paraacutegrafo uacutenico Caso o usuaacuterio responsaacutevel pelo conteuacutedo infringente natildeo seja

identificaacutevel ou natildeo possa ser localizado e desde que presentes os requisitos de

validade da notificaccedilatildeo cabe ao provedor de serviccedilo manter o bloqueio

P R O P O S T A D E N O V A R E D A Ccedil Atilde O

Ao tornar indisponiacutevel o acesso ao conteuacutedo caberaacute ao provedor do serviccedilo informar o

fato ao usuaacuterio responsaacutevel pela publicaccedilatildeo comunicando-lhe o teor da intimaccedilatildeo nos

1

157

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

casos em que o usuaacuterio responsaacutevel seja identificaacutevel

A r t 23

Eacute facultado ao usuaacuterio responsaacutevel pela publicaccedilatildeo observados os requisitos do art 21

contranotificar o provedor de serviccedilo requerendo a manutenccedilatildeo do conteuacutedo e

assumindo a responsabilidade exclusiva pelos eventuais danos causados a terceiros

caso em que caberaacute ao provedor de serviccedilo o dever de restabelecer o acesso ao conteuacutedo

indisponibilizado e informar ao notificante o restabelecimento

Paraacutegrafo uacutenico Qualquer outra pessoa interessada fiacutesica ou juriacutedica observados os

requisitos do art 21 poderaacute contranotificar o prestador de serviccedilo assumindo a

responsabilidade pela manutenccedilatildeo do conteuacutedo

P R O P O S T A D E N O V A R E D A Ccedil Atilde O

Os usuaacuterios que detenham poderes de moderaccedilatildeo sobre o conteuacutedo de terceiros se

equiparam aos provedores de serviccedilos de Internet para efeitos do disposto nesta Seccedilatildeo

A r t 24

Tanto o notificante quanto o contranotificante respondem nos termos da lei por

informaccedilotildees falsas errocircneas e pelo abuso ou maacute-feacute

P R O P O S T A D E SU P R E SS Atilde O

A r t 25

Os usuaacuterios que detenham poderes de moderaccedilatildeo sobre o conteuacutedo de terceiros se

equiparam aos provedores de serviccedilos de Internet para efeitos do disposto nesta Seccedilatildeo

Seccedilatildeo V

D a r equisiccedilatildeo j udicial de r egist ros

1

158

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

A r t 26

A parte interessada poderaacute para o exclusivo propoacutesito de formar conjunto probatoacuterio

em processo judicial requerer ao juiz a expediccedilatildeo de requisiccedilatildeo solicitando ao

responsaacutevel pela guarda o fornecimento de registros de conexatildeo ou de acesso a serviccedilo

de Internet

Paraacutegrafo uacutenico No requerimento de requisiccedilatildeo judicial a parte deveraacute fazer constar

I ndash a descriccedilatildeo pormenorizada de indiacutecios razoaacuteveis da ocorrecircncia do iliacutecito

II ndash a justificativa motivada da utilidade dos registros solicitados para fins de

investigaccedilatildeo do iliacutecito e

III ndash periacuteodo ao qual se referem os registros

A r t 27

A requisiccedilatildeo judicial de fornecimento de registros obedeceraacute aos ritos processuais

cabiacuteveis observado o que segue

sect 1ordm A requisiccedilatildeo de fornecimento de registros de acesso a serviccedilos de Internet fica

sujeita agrave comprovaccedilatildeo de que o responsaacutevel manteacutem a guarda com a autorizaccedilatildeo

expressa dos usuaacuterios obedecido o disposto no art 16

sect 2ordm Caso o fornecimento dos registros de acesso a serviccedilos de Internet natildeo seja

necessaacuterio para os fins da investigaccedilatildeo cabe ao juiz limitar a requisiccedilatildeo apenas ao

fornecimento dos registros de conexatildeo

sect 3ordm Cabe ao juiz tomar as providecircncias necessaacuterias agrave garantia do sigilo do conteuacutedo

das comunicaccedilotildees e agrave preservaccedilatildeo da intimidade vida privada honra e imagem do

usuaacuterio podendo inclusive determinar o segredo de justiccedila em relaccedilatildeo agraves informaccedilotildees

recebidas

C A P Iacute T U L O I V

D A A T U A Ccedil Atilde O D O P O D E R P Uacute B L I C O A r t 28 Constituem diretrizes para a atuaccedilatildeo da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos

Municiacutepios no desenvolvimento da Internet no Brasil

I ndash estabelecimento de mecanismos de governanccedila transparentes colaborativos e

democraacuteticos com a participaccedilatildeo dos vaacuterios setores da sociedade

II ndash promoccedilatildeo da racionalizaccedilatildeo e da interoperabilidade tecnoloacutegica dos serviccedilos de

1

159

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

governo eletrocircnico nos diferentes niacuteveis da federaccedilatildeo para permitir o intercacircmbio de

informaccedilotildees e a agilizaccedilatildeo de procedimentos

III ndash promoccedilatildeo da interoperabilidade entre sistemas e terminais diversos inclusive entre

os diferentes niacuteveis federativos e diversos setores da sociedade

IV ndash adoccedilatildeo preferencial de tecnologias padrotildees e formatos abertos

V ndash publicizaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de dados e informaccedilotildees puacuteblicos de forma aberta e

estruturada

VI ndash otimizaccedilatildeo da infraestrutura das redes promovendo a qualidade teacutecnica a

inovaccedilatildeo e a disseminaccedilatildeo dos serviccedilos de Internet sem prejuiacutezo agrave abertura

neutralidade e natureza participativa

VII ndash desenvolvimento de accedilotildees e programas de capacitaccedilatildeo para uso da internet

VIII ndash promoccedilatildeo da cultura e da cidadania inclusive pela prestaccedilatildeo mais dinacircmica e

eficiente de serviccedilos puacuteblicos

IX ndash uso eficiente de recursos puacuteblicos e dos serviccedilos finaliacutesticos disponibilizados ao

cidadatildeo e

X ndash prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos de atendimento ao cidadatildeo de forma integrada

simplificada e por muacuteltiplos canais de acesso

A r t 29

Os siacutetios e portais de entes do Poder Puacuteblico devem buscar

I ndash compatibilidade dos serviccedilos de governo eletrocircnico com diversos terminais sistemas

operacionais e aplicativos para seu acesso

II ndash acessibilidade a todos os interessados independentemente de suas capacidades

fiacutesico-motoras perceptivas culturais e sociais resguardados os aspectos de sigilo e

restriccedilotildees administrativas e legais

III ndash compatibilidade tanto agrave leitura humana como ao tratamento por maacutequinas

IV ndash facilidade de uso dos serviccedilos de governo eletrocircnico e

V ndash fortalecimento da democracia participativa

A r t 30

O cumprimento do dever constitucional do Estado na prestaccedilatildeo da educaccedilatildeo em todos

os niacuteveis de ensino abarca a capacitaccedilatildeo para o uso da Internet como ferramenta de

exerciacutecio de cidadania promoccedilatildeo de cultura e desenvolvimento tecnoloacutegico

sect 1ordm Sem prejuiacutezo das atribuiccedilotildees do poder puacuteblico o Estado fomentaraacute iniciativas

privadas que promovam a Internet como ferramenta educacional

sect 2ordm A capacitaccedilatildeo para o uso da Internet deve ocorrer integrada a outras praacuteticas

educacionais

1

160

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

A r t 31 As iniciativas puacuteblicas de fomento agrave cultura digital e de promoccedilatildeo da Internet como

ferramenta social devem

I ndash buscar minimizar as desigualdades sobretudo as regionais no acesso agrave informaccedilatildeo

e

II ndash promover a inclusatildeo digital de toda a populaccedilatildeo especialmente a de baixa renda

A r t 32

O Estado deve buscar formular e fomentar estudos perioacutedicos regulares e

periodicamente fixar metas estrateacutegias planos e cronogramas referentes ao uso e

desenvolvimento da Internet no paiacutes

C A P Iacute T U L O V

D ISP O SI Ccedil Otilde E S F I N A IS A r t 33 A defesa dos interesses e direitos dos usuaacuterios da Internet poderaacute ser exercida em juiacutezo

individualmente ou a tiacutetulo coletivo na forma do disposto nos artigos 81 e 82 da Lei

8078 de 11 de setembro de 1990

A r t 34

Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

1

161

ANEXO 2

162

PROJECTO DE LEI Nordm 118XII

ldquoAprova o regime juriacutedico da Coacutepia Privada e altera o artigo 47ordm do Coacutedigo do

Direito de Autor e dos Direitos Conexos ndash Seacutetima alteraccedilatildeo ao Decreto-Lei nordm

6385 de 14 de Marccedilordquo

Exposiccedilatildeo de motivos

O presente projecto de lei visa reforccedilar o legiacutetimo interesse dos diversos titulares de

direitos abrangidos pelo regime normalmente designado por ldquocoacutepia privadardquo mediante a

criaccedilatildeo de condiccedilotildees que garantam a percepccedilatildeo de uma compensaccedilatildeo equitativa pela

reproduccedilatildeo de obras intelectuais prestaccedilotildees e produtos legalmente protegidos procedendo agrave

regulamentaccedilatildeo do artigo 82ordm do Coacutedigo do Direito de Autor e Direitos Conexos

(CDADC)

O regime da coacutepia privada actualmente em vigor consta da Lei nordm 6298 de 1 de

Setembro alterada pela Lei nordm 502004 de 24 de Agosto e decorridos 6 anos a

experiecircncia mostra que eacute tempo de o rever com alguma profundidade

Como eacute sabido tradicionalmente o uso privado de obras intelectuais por diversas razotildees

tem estado fora do exclusivo reconhecido aos titulares de direitos em sede de propriedade

intelectual

O surgimento na segunda metade do seacuteculo XX de equipamentos e aparelhos capazes de

assegurar a reproduccedilatildeo em massa de obras de uma forma incontrolada pocircs em causa o

direito de reproduccedilatildeo de obras protegidas reconhecido aos autores no acircmbito do

monopoacutelio que lhes eacute legalmente outorgado no domiacutenio das suas faculdades de direito

163

patrimonial e obrigou os legisladores a intervir E ainda que possa ser objecto de criacutetica

cientiacutefica o recurso agrave menccedilatildeo de coacutepia privada para delimitar a presente iniciativa

legislativa optou-se por essa terminologia por ser de utilizaccedilatildeo comum e corresponder agrave

formulaccedilatildeo adoptada na Directiva 200129CE de 22 de Maio de 2001 relativa agrave

harmonizaccedilatildeo de certos aspectos do direito de autor e dos direitos conexos na sociedade de

informaccedilatildeo

A remuneraccedilatildeo compensatoacuteria por coacutepia privada constitui um instrumento que visa

conciliar de um lado o interesse patrimonial do autor detentor do exclusivo das

faculdades de exploraccedilatildeo econoacutemica da obra em qualquer suporte e em particular o

direito de reproduccedilatildeo por outro lado adequa agrave realidade tecnoloacutegica actual que coloca ao

alcance da larga maioria dos cidadatildeos sem possibilidade de um controlo individualizado a

obtenccedilatildeo de coacutepias de obras protegidas para seu uso privado

O modo concreto de permitir a efectivaccedilatildeo de uma compensaccedilatildeo equitativa a favor dos

titulares de direitos eacute o de fazer incidir taxas sobre o preccedilo de venda ao puacuteblico dos

equipamentos e suportes que permitem a reproduccedilatildeo de obras protegidas

O regime instituiacutedo segue o modelo e as melhores praacuteticas vigentes nos Estados da Uniatildeo

Europeia (UE) em especial da Espanha Franccedila Beacutelgica Alemanha Holanda Itaacutelia e

Finlacircndia devidamente adaptado agrave situaccedilatildeo sociocultural e econoacutemica portuguesa

Introduzem-se igualmente inovaccedilotildees julgadas pertinentes e que dotam o nosso paiacutes de uma

legislaccedilatildeo actual e efectivamente protectora dos legiacutetimos direitos e interesses dos titulares

de direitos

Por outro lado a coacutepia privada natildeo eacute objecto de normaccedilatildeo nos principais tratados e

convenccedilotildees multilaterais pelo que cabe um amplo espaccedilo de liberdade aos Estados na

criaccedilatildeo do respectivo regime juriacutedico na ordem interna enquadrado pelo princiacutepio da

reciprocidade nas relaccedilotildees bilaterais No caso da UE a coacutepia privada como compensaccedilatildeo

equitativa consta das aliacuteneas a) e b) do nordm 2 do artigo 5ordm Directiva 200129CE de 22 de

Maio de 2001 sobre o direito de autor na sociedade da informaccedilatildeo

164

No texto do presente projecto lei eacute utilizada a noccedilatildeo de compensaccedilatildeo equitativa em vez da

noccedilatildeo de remuneraccedilatildeo equitativa ateacute agora mais usada na legislaccedilatildeo portuguesa Para esta

mudanccedila teve-se em devida conta o disposto no recente acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila da

Uniatildeo Europeia (TJUE) (processo C-46708 Padawan SL c SGAE Terceira Secccedilatildeo de

21 de Outubro de 2010) que considerou harmonizada no espaccedilo territorial da UE aquela

noccedilatildeo

De forma a acompanhar a realidade e as incessantes inovaccedilotildees do mercado tecnoloacutegico o

presente projecto considera que o regime deve abranger natildeo soacute os aparelhos e suportes

analoacutegicos mas tambeacutem os digitais garantindo-se assim aos titulares de direitos uma

razoaacutevel e justa compensaccedilatildeo pelos danos sofridos pela praacutetica social da coacutepia privada que

natildeo eacute assegurada pelo regime actualmente em vigor

Por outro lado a garantia de uma razoaacutevel e justa compensaccedilatildeo eacute tambeacutem obtida atraveacutes

da alteraccedilatildeo dos criteacuterios definidores da aplicaccedilatildeo da compensaccedilatildeo equitativa agora fixados

tendo em conta as linhas de orientaccedilatildeo indicadas no considerando 35 da directiva

comunitaacuteria 200129CE de 22 de Maio de 2001 relativa ao direito de autor na sociedade

da informaccedilatildeo

Por outro lado e por se considerar mais adequado no plano sistemaacutetico o texto do

projecto de lei procede a um tratamento diferenciado entre a designada reprografia e a

coacutepia privada stricto sensu agrave semelhanccedila do que consta na directiva europeia No caso da

reprografia mantecircm-se o direito reconhecido na legislaccedilatildeo portuguesa aos editores

conquanto limitado ao mundo analoacutegico conforme estipula a aliacutenea b) do nordm 1 do artigo

76ordm do CDADC O texto do projecto lei actualiza ainda a noccedilatildeo de reprografia adaptando

a normaccedilatildeo agraves novas realidades tecnoloacutegicas criadas com o ambiente digital

Para a reprografia e no seguimento da referida alteraccedilatildeo dos criteacuterios definidores da

aplicaccedilatildeo da compensaccedilatildeo equitativa altera-se a taxa de 3 sobre o preccedilo de venda dos

equipamentos que permitem a reproduccedilatildeo ateacute agora vigente adoptando-se um modelo

assente na indicaccedilatildeo do montante pecuniaacuterio concreto aplicaacutevel a cada equipamento em

funccedilatildeo das respectivas caracteriacutesticas e preccedilo Trata-se de uma modalidade que se julga

melhor adaptada ao funcionamento do mercado sendo o novo texto mais claro ao prever

uma incidecircncia universal sobre os aparelhos que realizam essa funccedilatildeo

165

Os equipamentos e suportes analoacutegicos e digitais abrangidos pelo regime satildeo identificados

em anexo agrave proposta As taxas propostas de acordo com a capacidade de reproduccedilatildeo e

armazenagem dos suportes correspondem a valores justos e razoaacuteveis na busca sempre

difiacutecil de obtenccedilatildeo de um justo equiliacutebrio entre os interesses contraditoacuterios em presenccedila

Nestes casos os devedores principais do pagamento das compensaccedilotildees equitativas satildeo os

fabricantes e importadores de equipamentos e suportes de reproduccedilatildeo de obras

intelectuais A tiacutetulo subsidiaacuterio e no sentido de moralizar o sistema evitando-se fugas

regulares ao cumprimento das obrigaccedilotildees institui-se tambeacutem como devedores os

distribuidores grossistas e retalhistas dos indicados aparelhos

Quanto ao valor da taxa a aplicar sobre o preccedilo das fotocoacutepias relativas a obras protegidas

tambeacutem este deixa de ser definido com base numa taxa de 3 passando a ser fixada em

002 euros por coacutepia O valor indicado teve em conta que o preccedilo habitual no mercado de

uma coacutepia varia entre 006 e 008 euros pelo que parece justo que cerca de 14 dessa

quantia reverta a favor de autores e editores O objectivo desta soluccedilatildeo relativamente

inovadora mesmo na Uniatildeo Europeia eacute o de alcanccedilar um modo que garanta aos autores e

editores uma efectiva percepccedilatildeo de uma compensaccedilatildeo equitativa realmente operativa o que

natildeo aconteceu ateacute hoje

Este modelo eacute ainda complementado com integraccedilatildeo dos respectivos procedimentos num

regime de celebraccedilatildeo de acordos entre os estabelecimentos que se dedicam agrave reprografia e a

entidade gestora das compensaccedilotildees que se julga mais simples e adequado para todos os

intervenientes Em ordem a facilitar a celebraccedilatildeo destes acordos prevecirc-se que seja definido

por portaria um modelo de acordo a utilizar pelos intervenientes no acircmbito das suas

negociaccedilotildees

Prevecirc-se numa outra medida inovadora de largo alcance que as compensaccedilotildees de autores e

de artistas natildeo possam ser renunciaacuteveis e objecto de alienaccedilatildeo assim indo ao encontro

tambeacutem dos que reclamam uma maior e mais efectiva protecccedilatildeo para os criadores e para a

criaccedilatildeo cultural Conquanto naturalmente se reconheccedila que as faculdades patrimoniais na

propriedade intelectual possam na generalidade ser cedidas ou transmitidas a verdade eacute que

166

existem jaacute hoje excepccedilotildees sendo que nada impede que o regime da coacutepia privada possa

contemplar essa previsatildeo

Prevecirc-se ainda que na reparticcedilatildeo das remuneraccedilotildees atribuiacutedas aos autores no domiacutenio da

reprografia os autores de obras cientiacuteficas e escolares sejam contemplados com 75 das

receitas liacutequidas obtidas o que se considera justo uma vez que a reprografia tem uma

especial incidecircncia neste tipo de obras

A presente proposta manteacutem a tradiccedilatildeo de a cobranccedila gestatildeo e distribuiccedilatildeo das

compensaccedilotildees equitativas ser assegurada mediante a gestatildeo colectiva obrigatoacuteria o que eacute

comum na UE

No sentido de garantir um regime de rigor e de maior transparecircncia no exerciacutecio da gestatildeo

colectiva contempla-se a previsatildeo de que a pessoa colectiva gestora da reprografia e da

coacutepia privada natildeo deve gastar nas despesas de funcionamento mais do que 20 do volume

global de receitas obtidas em cada exerciacutecio anual

Prevecirc-se que a reprografia e a coacutepia privada sejam geridas por uma uacutenica pessoa colectiva e

natildeo duas Haacute a percepccedilatildeo de que no mercado nacional muito dificilmente seraacute possiacutevel

garantir com viabilidade econoacutemica duas entidades ainda por cima num contexto

econoacutemico deprimido nos proacuteximos tempos Por outro lado importa considerar os

dinamismos existentes agrave escala europeia que vatildeo no sentido da concentraccedilatildeocentralizaccedilatildeo

da gestatildeo colectiva aspecto reclamado por titulares de direitos e utilizadoresconsumidores

de obras protegidas

Prevecirc-se ainda o recurso agrave mediaccedilatildeo e arbitragem em caso de emergecircncia de litiacutegios por se

considerar este meio bastante mais ceacutelere do que o tribunal sendo apropriado agrave resoluccedilatildeo

das controveacutersias que surjam neste domiacutenio de actividade

Por fim mas natildeo menos importantes e embora natildeo directamente abrangido pelo regime da

coacutepia privada aproveita-se a oportunidade para dar nova redacccedilatildeo ao artigo 47ordm do Coacutedigo

de Direitos de Autor e dos Direitos Conexos visando aplicar agraves penhoras que incidam

sobre rendimentos dos autores o regime aplicaacutevel aos rendimentos auferidos no acircmbito de

contratos de trabalho clarificando-se uma situaccedilatildeo que ateacute agora suscitava dificuldades

167

interpretativas nos tribunais geradoras nalguns casos de decisotildees lesivas de justas

expectativas dos criadores intelectuais Trata-se de uma medida justa particularmente no

actual contexto de crise econoacutemica reclamada pelos autores e inclusivamente jaacute

recomendada pelo Provedor de Justiccedila

Assim nos termos constitucionais legais e regimentais aplicaacuteveis os deputados do Partido

Socialista abaixo-assinados apresentam o presente

PROJECTO DE LEI

Artigo 1ordm

Regime juriacutedico da coacutepia privada

Eacute aprovado o regime juriacutedico da coacutepia privada que se publica em anexo agrave presente lei e dela

faz parte integrante

Artigo 2ordm

Alteraccedilatildeo ao Coacutedigo do Direito de Autor e dos Direitos Conexos

O artigo 47ordm do Coacutedigo do Direito de Autor e dos Direitos Conexos aprovado pelo

Decreto-Lei nordm 6385 de 14 de Marccedilo na redacccedilatildeo dada pelas Leis nordms 4585 de 17 de

Setembro e 11491 de 3 de Setembro pelos Decretos-Lei nordms 33297 e 33497 ambos

de 27 de Novembro e pelas Leis nordm 502004 de 24 de Agosto e nordm 162008 de 1 de

Abril passa a ter a seguinte redacccedilatildeo

1-[Anterior nuacutemero uacutenico]

laquoArtigo 47ordm

[hellip]

2ndash Em caso de penhora do direito patrimonial do criador da obra aplica-se o regime fixado

para os rendimentos provenientes do trabalho por conta de outremraquo

Artigo 3ordm

Revogaccedilatildeo

Eacute revogada a Lei nordm 6298 de 1 de Setembro

168

Artigo 4ordm

Disposiccedilatildeo transitoacuteria

1 ndash A entidade gestora das compensaccedilotildees mandatada e legitimada para proceder agrave

cobranccedila gestatildeo e distribuiccedilatildeo das compensaccedilotildees agrave data da entrada em vigor da presente

lei manteacutem-se em actividade devendo rever os respectivos estatutos no prazo de 45 dias

apoacutes a entrada em vigor da presente lei

2 ndash As licenccedilas ou acordos celebrados nos termos da Lei nordm 6298 de 1 de Setembro

mantecircm-se em vigor devendo ser adaptados ao disposto no artigo 7ordm do regime juriacutedico da

coacutepia privada anexo agrave presente lei no prazo de 90 dias apoacutes a entrada em vigor da presente

lei

3 - As entidades abrangidas pelo artigo 7ordm do regime juriacutedico da coacutepia privada anexo agrave

presente lei cujo inicio de actividade se iniciou em data anterior agrave entrada em vigor da

presente lei e que natildeo celebraram acordo ou licenccedila ao abrigo da Lei nordm 6298 de 1 de

Setembro devem celebrar os acordos no prazo de 90 dias apoacutes a entrada em vigor da

presente lei

Artigo 5ordm Entrada em vigor

A presente lei entra em vigor trinta dias apoacutes a data da sua publicaccedilatildeo

169

ANEXO

REGIME JURIacuteDICO DA COacutePIA PRIVADA

Artigo 1ordm

(Objecto)

1 - O presente regime regula o artigo 82ordm do Coacutedigo do Direito de Autor e dos Direitos

Conexos aprovado pelo Decreto-Lei nordm 6385 de 14 de Marccedilo na redacccedilatildeo dada pelas

Leis nordms 4585 de 17 de Setembro e 11491 de 3 de Setembro pelos Decretos-Lei nordms

33297 e 33497 ambos de 27 de Novembro e pelas Leis nordm 502004 de 24 de Agosto e

nordm 162008 de 1 de Abril

2 - O disposto no presente regime natildeo se aplica aos programas de computador nem agraves

bases de dados constituiacutedas por meios electroacutenicos

Artigo 2ordm

Compensaccedilatildeo equitativa

Os titulares de direitos autores editores artistas inteacuterpretes ou executantes produtores de

fonogramas e de videogramas gozam do direito agrave percepccedilatildeo de uma compensaccedilatildeo

equitativa pela reproduccedilatildeo de obras protegidas para fins de uso privado nos termos

previstos no presente regime

Artigo 3ordm

(Compensaccedilatildeo equitativa pela reprografia de obras)

1 - Os autores gozam do direito agrave percepccedilatildeo de uma compensaccedilatildeo equitativa pela

reproduccedilatildeo de obras escritas em papel ou suporte semelhante realizada por qualquer tipo

de teacutecnica designadamente por meio de microfilmagem fotocoacutepia digitalizaccedilatildeo ou outros

processos de natureza similar

2 - A compensaccedilatildeo prevista no nuacutemero anterior eacute extensiva aos editores no acircmbito

analoacutegico e repartida em partes iguais

3 - A compensaccedilatildeo equitativa corresponde a uma quantia fixa a incluir pelos fabricantes

importadores e adquirentes intracomunitaacuterios antes da aplicaccedilatildeo de IVA no preccedilo de

venda de todos os equipamentos aparelhos ou quaisquer outros instrumentos teacutecnicos

integrados ou natildeo em multi-funccedilotildees que permitam a reproduccedilatildeo por qualquer teacutecnica ou

processo de obras escritas em suporte de papel ou semelhante nos termos da tabela anexa

ao presente regime

170

4 - Os autores e editores gozam ainda em partes iguais do direito agrave percepccedilatildeo a uma

compensaccedilatildeo equitativa pela comercializaccedilatildeo de reproduccedilotildees em papel ou suporte

semelhante realizadas de modo habitual e para servir o puacuteblico

5 - A compensaccedilatildeo prevista no nuacutemero anterior corresponde a 002 euros por cada paacutegina

antes da aplicaccedilatildeo de IVA e deve ser incluiacuteda no preccedilo de venda ou da disponibilizaccedilatildeo de

reproduccedilotildees de obras protegidas

6 - Da compensaccedilatildeo percebida pelos autores ao abrigo do presente artigo 75 eacute destinada

aos autores de obras cientiacuteficas e escolares

Artigo 4ordm

Compensaccedilatildeo equitativa por outras reproduccedilotildees

1 - A reproduccedilatildeo de obras literaacuterias e artiacutesticas protegidas sonoras e audiovisuais

prestaccedilotildees artiacutesticas fonogramas e videogramas realizada para fins de uso privado

constitui os titulares de direitos autores artistas inteacuterpretes ou executantes produtores de

fonogramas e de videogramas no direito agrave percepccedilatildeo de uma compensaccedilatildeo equitativa

2 ndash A compensaccedilatildeo prevista no nuacutemero anterior eacute determinada em funccedilatildeo da capacidade

de armazenamento dos equipamentos aparelhos dispositivos e suportes que permitem a

referida reproduccedilatildeo e corresponde a uma quantia fixa que acresce ao preccedilo de venda

destes estabelecido pelos fabricantes importadores e adquirentes intracomunitaacuterios antes

da aplicaccedilatildeo de IVA nos termos da lista anexa ao presente regime

3 - O montante global da compensaccedilatildeo equitativa eacute distribuiacutedo pelas entidades

representativas dos titulares de direitos na proporccedilatildeo de 40 para os autores 30 para os

artistas inteacuterpretes ou executantes e 30 para os produtores de fonogramas e de

videogramas

4 - O disposto nos nuacutemeros anteriores natildeo se aplica aos titulares de direitos que faccedilam uso

de medidas eficazes de caraacutecter tecnoloacutegico previstas no artigo 217ordm do Coacutedigo do Direito

de Autor e dos Direitos Conexos

Artigo 5ordm

Inalienabilidade e irrenunciabilidade

A compensaccedilatildeo equitativa de autores e de artistas inteacuterpretes ou executantes eacute inalienaacutevel e

irrenunciaacutevel sendo nula qualquer claacuteusula contratual em contraacuterio

171

Artigo 6ordm

Isenccedilotildees

1 ndash Estatildeo isentos do pagamento das compensaccedilotildees previstas nos artigos 3ordm e 4ordm os

equipamentos e suportes adquiridos por pessoas colectivas puacuteblicas ou privadas nas

seguintes condiccedilotildees

a) Cujo objecto de actividade seja a comunicaccedilatildeo audiovisual ou produccedilatildeo de

fonogramas e de videogramas exclusivamente para as suas proacuteprias produccedilotildees

b) Cujo objecto de actividade seja o apoio a pessoas portadoras de diminuiccedilatildeo fiacutesica

visual ou auditiva

2 - Para os efeitos do disposto no nuacutemero anterior as pessoas colectivas devem apresentar

no acto da compra dos aparelhos e suportes uma declaraccedilatildeo emitida pela entidade gestora

das compensaccedilotildees e cobranccedila indicando e comprovando o respectivo objecto de

actividade

Artigo 7ordm

Acordos

1 ndash Para efeitos do disposto no nordm 4 do artigo 3ordm as pessoas singulares ou colectivas com

ou sem fins lucrativos que procedam agrave venda de reproduccedilotildees em papel ou suporte

semelhante de obras legalmente protegidas nos termos previstos no presente regime

devem celebrar um acordo com a entidade gestora das compensaccedilotildees legalmente

constituiacuteda segundo o modelo a aprovar por portaria do membro do Governo responsaacutevel

pela aacuterea da cultura

2 - Os acordos devem ter por base a previsatildeo do nuacutemero de fotocoacutepias de obras protegidas a

realizar no periacuteodo de tempo correspondente agrave validade do acordo os custos envolvidos os

termos e formas de pagamento das quantias devidas e a indicaccedilatildeo sempre que possiacutevel do

tipo de obras a reproduzir

3 - Os acordos devem ser celebrados no prazo de 45 dias a contar do inicio de actividade

das pessoas singulares ou colectivas responsaacuteveis pelo pagamento da compensaccedilatildeo

equitativa

4 ndash Na falta de acordo devem as partes recorrer ao mecanismo de mediaccedilatildeo e arbitragem

previsto no artigo 10ordm

172

Artigo 8ordm

Gestatildeo e publicidade

1 - A compensaccedilatildeo equitativa torna-se efectiva atraveacutes da entidade gestora das

compensaccedilotildees representativa dos titulares de gestatildeo de direitos que procede agrave cobranccedila

gestatildeo e distribuiccedilatildeo das compensaccedilotildees

2 ndash A entidade gestora das compensaccedilotildees deve publicitar trimestralmente na respectiva

paacutegina electroacutenica os montantes distribuiacutedos a cada um dos associados com a respectiva

identificaccedilatildeo e natureza da compensaccedilatildeo

3 - Os associados da entidade gestora devem publicitar semestralmente os montantes

distribuiacutedos aos beneficiaacuterios da compensaccedilatildeo equitativa

Artigo 9ordm

Responsaacuteveis pela compensaccedilatildeo equitativa

1 - Para efeitos do disposto nos artigos 3ordm e 4ordm satildeo responsaacuteveis pelo pagamento das

compensaccedilotildees incidentes sobre equipamentos aparelhos e suportes os fabricantes e

importadores portugueses destes produtos desde que estes natildeo se destinem a exportaccedilatildeo

ou reexportaccedilatildeo

2 ndash Satildeo solidariamente responsaacuteveis pelo pagamento da remuneraccedilatildeo os distribuidores

grossistas e retalhistas adquirentes sucessivos para venda ao puacuteblico dos equipamentos

aparelhos e suportes salvo se provarem que procederam ao respectivo pagamento

3 - Para os efeitos do disposto nos nuacutemeros anteriores os responsaacuteveis pelo pagamento

submetem agrave entidade gestora das compensaccedilotildees e agrave Inspecccedilatildeo-Geral das Actividades

Culturais (IGAC) uma declaraccedilatildeo de autoliquidaccedilatildeo no mecircs subsequente ao termo de cada

trimestre de cada ano civil onde constem os seguintes elementos

a) Nuacutemero de unidades vendidas no mercado nacional

b) Preccedilo de venda liacutequido de quaisquer descontos de natureza financeira ou comercial

constantes das facturas antes de aplicaccedilatildeo de IVA para o caso dos equipamentos e

aparelhos que permitem a reproduccedilatildeo de obras protegidas

c) Capacidade e caracteriacutesticas teacutecnicas dos suportes materiais e dispositivos de

armazenamento que permitem a reproduccedilatildeo de obras protegidas

d) Nuacutemero de unidades vendidas suportes materiais e dispositivos de

armazenamento em regime de isenccedilatildeo e respectiva capacidade e caracteriacutesticas teacutecnicas

bem como o respectivo preccedilo de venda

e) Nuacutemero de unidades vendidas para paiacuteses da Uniatildeo Europeia e paiacuteses terceiros

173

f) Valor da remuneraccedilatildeo liquidada e a entregar

4 ndash As entidades devedoras e as solidariamente responsaacuteveis devem manter pelo periacuteodo

de 3 anos os elementos contabiliacutesticos que comprovem a liquidaccedilatildeo cobranccedila entrega e o

pagamento da compensaccedilatildeo equitativa devida

5 - Para efeitos do controlo do pagamento da compensaccedilatildeo os responsaacuteveis devem

discriminar separadamente o respectivo valor no documento contabiliacutestico antes da

aplicaccedilatildeo do IVA sob pena de se presumir a falta de liquidaccedilatildeo e cobranccedila

6 - No caso dos responsaacuteveis principais natildeo procederem agrave liquidaccedilatildeo e pagamento da

compensaccedilatildeo equitativa incumbe essa obrigaccedilatildeo aos distribuidores grossistas e retalhistas

devendo proceder agrave discriminaccedilatildeo dos valores cobrados na factura nos termos do nuacutemero

anterior

7 - O pagamento da compensaccedilatildeo liquidada nos termos dos nuacutemeros anteriores deve ser

efectuado no prazo de 45 dias apoacutes o termo de cada trimestre do ano civil

8 - A entidade gestora das compensaccedilotildees representativa dos titulares de direitos pode

solicitar aos responsaacuteveis pelo pagamento da compensaccedilatildeo as informaccedilotildees necessaacuterias agrave

comprovaccedilatildeo do cumprimento efectivo das obrigaccedilotildees enunciadas sem prejuiacutezo dos

princiacutepios da confidencialidade e sigilo comerciais

Artigo 10ordm

Mediaccedilatildeo e Arbitragem

Os litiacutegios emergentes da aplicaccedilatildeo do disposto no presente regime devem ser submetidos

para resoluccedilatildeo agrave mediaccedilatildeo e arbitragem necessaacuteria nos termos da legislaccedilatildeo geral aplicaacutevel

Artigo 11ordm

Entidade Gestora

1 ndash A cobranccedila gestatildeo e distribuiccedilatildeo das compensaccedilotildees previstas no presente regime satildeo

realizadas por uma entidade gestora das compensaccedilotildees colectiva uacutenica criada nos termos

da lei que regula a constituiccedilatildeo das entidades de gestatildeo colectiva

2 - Para aleacutem das obrigaccedilotildees previstas na legislaccedilatildeo geral os estatutos da entidade gestora

das compensaccedilotildees prevista no nuacutemero anterior devem regular

a) Meacutetodos de cobranccedila das compensaccedilotildees fixadas no presente regime

b) Criteacuterios de reparticcedilatildeo distribuiccedilatildeo e pagamento das compensaccedilotildees obtidas aos seus

associados e a outros beneficiaacuterios que natildeo sendo associados da entidade gestora se

presume serem por aquela representados

174

c) Natildeo discriminaccedilatildeo entre titulares nacionais e estrangeiros

d) Publicidade das deliberaccedilotildees sociais

e) Direitos e deveres dos associados

f) Estrutura e organizaccedilatildeo interna contemplando dois departamentos autoacutenomos

respectivamente para a reprografia e para a coacutepia privada

3 - A entidade gestora deve prever mecanismos de integraccedilatildeo de outras entidades

representativas de interesses e direitos a proteger que assim o solicitem em obediecircncia aos

princiacutepios da igualdade representatividade liberdade pluralismo e participaccedilatildeo

4 - Os custos de funcionamento da entidade gestora das compensaccedilotildees natildeo devem exceder

20 do conjunto das receitas globais obtidas com a cobranccedila das compensaccedilotildees

equitativas

5 - O conselho fiscal da entidade gestora das compensaccedilotildees eacute assegurado por um revisor

oficial de contas (ROC)

6 - A entidade gestora das compensaccedilotildees publica anualmente o relatoacuterio e contas do

exerciacutecio no seu sitio electroacutenico

7 - A entidade gestora das compensaccedilotildees pode celebrar com entidades puacuteblicas e privadas

os acordos necessaacuterios agrave plena execuccedilatildeo do disposto no presente regime

8 - A entidade gestora das compensaccedilotildees constituiacuteda para proceder agrave cobranccedila e gestatildeo das

compensaccedilotildees equitativas deve adaptar-se agraves disposiccedilotildees legais que enquadram a actividade

das entidades de gestatildeo colectiva de direitos e que se adaptem agrave sua natureza em tudo o

que natildeo esteja regulado no presente regime

Artigo 12ordm

Fundo Cultural

1 - A entidade gestora das compensaccedilotildees deve afectar 10 do total das receitas liacutequidas

percebidas agrave realizaccedilatildeo de acccedilotildees de natureza cultural ou social de incentivo agrave criaccedilatildeo

cultural e agrave divulgaccedilatildeo e estudo da propriedade intelectual

2 - A entidade gestora das compensaccedilotildees deve afectar ainda 5 do total das receitas

liacutequidas percebidas ao Fundo de Fomento Cultural do Ministeacuterio da Cultura enquanto

receita proacutepria deste consignada ao pagamento do Subsiacutedio de Meacuterito Cultural previsto no

Decreto-Lei nordm 41582 de 7 de Outubro

175

Artigo 13ordm

Fiscalizaccedilatildeo

1 - A fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do disposto no presente regime compete agrave IGAC

2 - Para o efeito previsto no nuacutemero anterior a entidade gestora das compensaccedilotildees deve

proceder ao pagamento de uma taxa correspondente a 10 do valor dos respectivos custos

de funcionamento

Artigo 14ordm

(Contra-Ordenaccedilotildees)

1 - Constituem contra-ordenaccedilatildeo puniacutevel com coima de euro300 a euro3000 no caso de pessoas

singulares e de euro1200 a euro30000 no caso de pessoas colectivas as seguintes infracccedilotildees

a) A venda de equipamentos aparelhos e suportes em violaccedilatildeo do disposto no nordm 3 do artigo

3ordm

b) A inobservacircncia do disposto no nordm 3 do artigo 4ordm

c) O natildeo cumprimento do disposto nos nordms 4 e 5 do artigo 3ordm atraveacutes de um acordo

celebrado nos termos do artigo 7ordm quando natildeo esteja em curso um processo de mediaccedilatildeo

e arbitragem nos termos do artigo 10ordm

d) A aquisiccedilatildeo com isenccedilatildeo de equipamentos e suportes em violaccedilatildeo do disposto do nordm 2 do

artigo 6ordm

e) O incumprimento do disposto nos nordms 2 e 3 do artigo 8ordm

f) O incumprimento do disposto nos nordm 3 a 7 do artigo 9ordm

2 - Em caso de reincidecircncia os limites miacutenimo e maacuteximo da coima satildeo elevados em um

terccedilo do respectivo valor natildeo podendo o montante da coima concretamente aplicada ser

inferior ao valor da coima aplicada pela infracccedilatildeo anterior

3 ndash Os factos praticados com negligecircncia satildeo puniacuteveis sendo os limites miacutenimos e

maacuteximos das respectivas coimas reduzidos a metade

4 - A fiscalizaccedilatildeo do cumprimento das disposiccedilotildees constantes no presente regime a

instruccedilatildeo do processo incluindo a realizaccedilatildeo de exames periciais e a aplicaccedilatildeo das coimas

compete agrave IGAC e a todas as autoridades de natureza policial e administrativa com

competecircncias de fiscalizaccedilatildeo

5 - O produto da aplicaccedilatildeo das coimas previstas no presente artigo constitui receita do

Estado e da entidade aplicadora da coima nas percentagens de 60 e 40

respectivamente

176

Tabela a que se refere o nordm 3 do artigo 3ordm

Compensaccedilatildeo sobre aparelhos equipamentos e instrumentos teacutecnicos de reproduccedilatildeo de obras escritas

MFC JACTO TINTA MFC LASER

VELOCIDADE DE COPIA

ateacute 9 cpm 10-29 cpm 30-49 cpm 50-69 cpm 70 ou + cpm Ateacute 17 kg Ateacute 17 kg

euro 795

euro 1000

euro 1300

euro 12770

euro 16900

euro 19700

euro 22700

cpm - copia por minuto

Equipamentos multifunccedilotildees de secretaacuteria de impressatildeo a jacto de tinta com ecratilde de reproduccedilatildeo cujo peso natildeo supere os 17 quilos

com capacidade para realizar pelo menos duas das seguintes funccedilotildees coacutepia impressatildeo fax ou digitalizaccedilatildeo Quando supere

este peso seraacute considerado como equipamento ou aparelho com capacidade de coacutepia e classificado de acordo com a respectiva

velocidade standard de reproduccedilatildeo

Equipamentos multifunccedilotildees de secretaacuteria de impressatildeo a laser com ecratilde de reproduccedilatildeo cujo peso natildeo supere os 17 quilos com

capacidade para realizar pelo menos duas das seguintes funccedilotildees coacutepia impressatildeo fax ou digitalizaccedilatildeo Quando supere este peso seraacute

considerado como equipamento ou aparelho com capacidade de coacutepia e classificado de acordo com a respectiva velocidade

standard de reproduccedilatildeo

177

Lista a que se refere o nordm 2 do artigo 4ordm Compensaccedilatildeo sobre aparelhos dispositivos e

suportes

EQUIPAMENTOS E APARELHOS

a) Equipamentos e aparelhos analoacutegicos de reproduccedilatildeo de obras protegidas nos termos do presente regime

1 - Gravadores aacuteudio ndash euro 060 unidade

2 - Gravadores viacutedeo ndash euro 060 unidade

b) Equipamentos e aparelhos digitais de reproduccedilatildeo ao de obras protegidas nos termos do presente regime

1 - Gravadores de discos compactos especiacuteficos (CD) - euro2 unidade

2 - Gravadores de discos versaacuteteis especiacuteficos - euro3 unidade 3 - Gravadores mistos de discos compactos (CD e DVD) - euro 4 unidade

SUPORTES E DISPOSITIVOS DE ARMAZENAMENTO

a) Suportes materiais analoacutegicos como cassetes aacuteudio ou similares ndash euro006 hora de

gravaccedilatildeo

b) Suportes materiais analoacutegicos como cassetes viacutedeo ou similares ndash euro008 hora de

gravaccedilatildeo

a) Discos compactos (CD) natildeo regravaacuteveis ndash euro003 por cada GB de capacidade de

armazenamento

b) Discos compactos regravaacuteveis (CD-RW) ndash euro 005 por cada GB de capacidade de armazenamento

c) Discos versaacuteteis natildeo regravaacuteveis - euro 003 por cada GB de capacidade de

armazenamento

d) Discos versaacuteteis regravaacuteveis - euro 005 por cada GB de capacidade de

armazenamento

e) Memoacuterias USB e outros suportes como cartotildees de memoacuteria natildeo integrados noutros dispositivos - euro 006 por cada GB de capacidade de armazenamento

f) Memoacuterias USB e outros suportes como cartotildees de memoacuteria integrados noutros dispositivos - euro 006 por cada GB de capacidade de armazenamento

g) Para suportes ou dispositivos de armazenamento como discos externos

denominados bdquomultimeacutedia‟ ou outros que disponham de uma ou mais saiacutedas e entradas

178

de aacuteudio e ou viacutedeo que permitam o registo de sons e ou imagens

179

animadas sem que seja necessaacuterio utilizar um microcomputador ou quaisquer outros

equipamentos ou aparelhos para desempenhar a funccedilatildeo de reproduccedilatildeo de obras ndash euro006

por cada GB de capacidade de armazenamento

h) Discos riacutegidos ou outros tipos de memoacuterias natildeo volaacuteteis integrados em equipamentos ou aparelhos com capacidade a partir de 150 GB e que permitam o

armazenamento de dados em massa ndash 002 por cada GB de capacidade mais 0005 por cada GB que acresccedila a capacidade de 1TB

i) Outros tipos de suportes ou dispositivos de armazenamento como os discos riacutegidos externos ou SSD com ou sem saiacutedas aacuteudio e ou viacutedeo e que dependam do emprego de um microcomputador ou de outros equipamentos ou aparelhos para desempenhar a funccedilatildeo de reproduccedilatildeo de obras - 002 por cada GB de capacidade mais 0005 por cada GB que acresccedila a capacidade de 1TB

j) Dispositivos de reproduccedilatildeo de fonogramas videogramas ou outros conteuacutedos sonoros visuais ou audiovisuais em formato comprimido integrados ou

natildeo noutros aparelhos ou equipamentos como os telemoacuteveis ndash euro 050 por cada GB de capacidade de armazenamento

Os Deputados

180

ANEXO 3

181

PROJETO DE LEI

Altera e acresce dispositivos agrave Lei nordm 9610

de 19 de fevereiro de 1998 que altera

atualiza e consolida a legislaccedilatildeo sobre

direitos autorais e daacute outras providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA - Faccedilo saber que o Congresso decretou e eu

sanciono a seguinte Lei

Art 1ordm A Lei nordm 9610 de 19 de fevereiro de 1998 passa a vigorar com as seguintes

alteraccedilotildees

ldquoArt1ordm

Paraacutegrafo uacutenico A interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo desta Lei atenderatildeo agraves finalidades de

estimular a criaccedilatildeo intelectual e a diversidade cultural e garantir a liberdade de

expressatildeo e orientar-se-atildeo pelos ditames constitucionais de proteccedilatildeo aos direitos

autorais em equiliacutebrio com os demais direitos fundamentais e os direitos sociaisrdquo (NR)

ldquoArt4ordm Os negoacutecios juriacutedicos relativos aos direitos autorais devem ser

interpretados restritivamente de forma a atender agrave finalidade especiacutefica para a

qual foram celebrados

sect 1ordm Nos contratos realizados com base nesta Lei as partes contratantes satildeo

obrigadas a observar durante a sua execuccedilatildeo bem como em sua conclusatildeo os

princiacutepios da

probidade e da boa-feacute cooperando mutuamente para o cumprimento da funccedilatildeo social do

contrato

e para a satisfaccedilatildeo de sua finalidade e das expectativas comuns e de cada uma das

partes

sect 2o Nos contratos de execuccedilatildeo continuada ou diferida qualquer uma das partes

poderaacute pleitear sua revisatildeo ou resoluccedilatildeo por onerosidade excessiva quando para a

outra parte

decorrer extrema vantagem em virtude de acontecimentos extraordinaacuterios e

imprevisiacuteveis

sect 3o Eacute anulaacutevel o contrato quando o titular de direitos autorais sob premente

necessidade ou por inexperiecircncia tenha se obrigado a prestaccedilatildeo manifestamente

desproporcional

ao valor da prestaccedilatildeo oposta podendo natildeo ser decretada a anulaccedilatildeo do negoacutecio se for

oferecido

suplemento suficiente ou se a parte favorecida concordar com a reduccedilatildeo do proveito

sect 4ordm No contrato de adesatildeo adotar-se-aacute a interpretaccedilatildeo mais favoraacutevel ao autorrdquo

(NR)

ldquoArt 5o

182

III - retransmissatildeo ndash a emissatildeo simultacircnea da transmissatildeo

IV - distribuiccedilatildeo - a oferta ao puacuteblico de original ou coacutepia de obras literaacuterias artiacutesticas

ou cientiacuteficas interpretaccedilotildees ou execuccedilotildees fixadas e fonogramas em um meio tangiacutevel

mediante a venda locaccedilatildeo ou qualquer outra forma de transferecircncia de propriedade ou

posse

VIII-

i) audiovisual ndash a obra que resulta da associaccedilatildeo de imagens com ou sem som que tenha

a finalidade de criar a impressatildeo de movimento independentemente dos processos de

sua captaccedilatildeo do suporte usado inicial ou posteriormente para fixaacute-lo bem como dos

meios utilizados para sua veiculaccedilatildeo

IX ndash fonograma ndash toda fixaccedilatildeo exclusivamente de sons de uma execuccedilatildeo ou

interpretaccedilatildeo ou de outros sons ou de uma representaccedilatildeo de sons

XII ndash radiodifusatildeo ndash a transmissatildeo sem fio realizada por empresa concessionaacuteria

permissionaacuteria ou autorizataacuteria do serviccedilo de radiodifusatildeo cuja recepccedilatildeo do sinal

ou onda radioeleacutetrica pelo puacuteblico ocorra de forma livre e gratuita ressalvados os casos

em que a Lei exige a autorizaccedilatildeo

XIII ndash artistas inteacuterpretes ou executantes ndash todos os atores cantores muacutesicos bailarinos

ou outras pessoas que representem um papel cantem recitem declamem interpretem

ou executem em qualquer forma obras literaacuterias ou artiacutesticas ou expressotildees culturais

tradicionais

XIV ndash licenccedila ndash a autorizaccedilatildeo preacutevia dada pelo autor ou titular de direitos patrimoniais

mediante remuneraccedilatildeo ou natildeo para exercer certos direitos de explorar ou utilizar

a obra intelectual nos termos e condiccedilotildees fixados na licenccedila sem que se caracterize

transferecircncia de titularidade dos direitos

XV - cessatildeo ndash ato por meio do qual se transfere total ou parcialmente com

exclusividade a titularidade de direitos autorais em caraacuteter temporaacuterio ou definitivo

garantido ao cessionaacuterio a prerrogativa de reivindicar para si os direitos patrimoniais

dele decorrentes e agir em defesa do objeto da cessatildeordquo(NR)

ldquoArt 7ordm

X ndash os projetos esboccedilos e obras de artes visuais concernentes agrave geografia

engenharia topografia arquitetura paisagismo cenografia e ciecircncia

XI - as adaptaccedilotildees os arranjos as orquestraccedilotildees as traduccedilotildees e outras

transformaccedilotildees de obras originais apresentadas como criaccedilatildeo intelectual nova

ldquoArt8ordm

VIII - as normas teacutecnicas em si mesmas ressalvada a sua proteccedilatildeo em legislaccedilatildeo

especiacutefica rdquo(NR)

ldquoArt 9ordm

183

A coacutepia de obra de artes visuais feita pelo proacuteprio autor eacute assegurada a

mesma proteccedilatildeo de que goza o originalrdquo (NR)

ldquoArt15ordm

sect 1ordm Natildeo se considera co-autor quem simplesmente auxiliou o autor na produccedilatildeo da

obra literaacuteria artiacutestica ou cientiacutefica revendo-a atualizando-a orientando-a bem

como

fiscalizando ou dirigindo sua ediccedilatildeo ou apresentaccedilatildeo por qualquer meio

ldquoArt 16

Satildeo coautores da obra audiovisual o diretor o roteirista e os autores do

argumento literaacuterio e da composiccedilatildeo musical ou literomusical criados especialmente

para a obra

ldquoArt17ordm

sect 4ordm Ao autor cuja contribuiccedilatildeo possa ser utilizada separadamente satildeo asseguradas

todas as faculdades inerentes agrave sua criaccedilatildeo como obra individual vedada poreacutem a

utilizaccedilatildeo que possa acarretar prejuiacutezo agrave exploraccedilatildeo da obra coletivardquo (NR)

ldquoArt 19ordm

Eacute facultado ao autor registrar a sua obra na forma desta Lei

Paraacutegrafo uacutenico Compete ao Poder Executivo federal dispor sobre a forma e as

condiccedilotildees para o registro da obra especificando os oacutergatildeos ou entidades responsaacuteveis

por esse

registro rdquo(NR)

Art 20 Para os serviccedilos de registro previstos nesta Lei seraacute cobrada retribuiccedilatildeo

cujo valor e processo de recolhimento seratildeo estabelecidos em at o do Mi ni st r o de Est

ado da

Cul t ur ardquo (NR)

ldquoArt24ordm

184

sect 1ordm Por morte do autor transmite-se a seus sucessores o exerciacutecio dos direitos a

que se referem os incisos I II III IV e VII enquanto a obra natildeo cair em domiacutenio

puacuteblico

sect 2ordm Compete aos entes federativos aos oacutergatildeos e agraves entidades relacionadas no art 5

da Lei no 7347 de 24 de julho de 1985 a defesa da integridade e autoria da obra

pertencente ao

domiacutenio puacuteblico

sect 3ordm Nos casos dos incisos V e VI ressalvam-se as indenizaccedilotildees a terceiros quando

couberemrdquo (NR)

ldquoArt25ordm

Paraacutegrafo uacutenico Os direitos previstos nos incisos I II e VII do art 24 poderatildeo ser

exercidos de forma individual pelos coautores sobre suas respectivas participaccedilotildeesrdquo

(NR)

ldquoArt28ordm

Paraacutegrafo uacutenico O objeto fundamental da proteccedilatildeo desta lei do ponto de vista

econocircmico eacute a garantia das vantagens patrimoniais resultantes da exploraccedilatildeo das obras

literaacuterias artiacutesticas ou cientiacuteficas em harmonia com os princiacutepios Constitucionais da

atividade econocircmicardquo (NR)

ldquoArt29ordm

V - a inclusatildeo em fonograma ou produccedilatildeo audiovisual que natildeo se caracterize como

obra intelectual

VI

-

VII - a colocaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico da obra por qualquer meio ou processo

de maneira que qualquer pessoa possa a ela ter acesso no tempo e no lugar que

individualmente

escolher

VIII - a comunicaccedilatildeo ao puacuteblico de obra literaacuteria artiacutestica ou cientiacutefica mediante

d) transmissatildeo ou radiodifusatildeo sonora ou televisiva

e) recepccedilatildeo de transmissatildeo ou radiodifusatildeo em locais de frequecircncia coletiva

j) exposiccedilatildeo de obras de artes visuais

185

X ndash a incorporaccedilatildeo em obra audiovisual

XI - quaisquer outras modalidades de utilizaccedilatildeo existentes ou que venham a ser

inventadas

Paraacutegrafo uacutenico No exerciacutecio do direito previsto no inciso VII o titular dos direitos

autorais poderaacute colocar agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico a obra na forma local e pelo tempo que

desejar a

tiacutetulo oneroso ou gratuitordquo (NR)

ldquoArt 30

Em qualquer modalidade de reproduccedilatildeo a quantidade de coacutepias

realizadas por qualquer meio ou processo seraacute informada e controlada cabendo

a quem

reproduzir a obra a responsabilidade de manter os registros que permitam de forma natildeo

onerosa

ao autor ou quem o represente a fiscalizaccedilatildeo do aproveitamento econocircmico da

exploraccedilatildeo

sect1o

sect2ordm No caso de fixaccedilatildeo ou reproduccedilatildeo efecircmera de obra fonograma ou

interpretaccedilatildeo por um organismo de radiodifusatildeo pelos seus proacuteprios meios e para suas

proacuteprias

emissotildees ao vivo ou suas retransmissotildees natildeo se aplica o direito de exclusividade de

reproduccedilatildeordquo(NR)

ldquoArt 36

O direito de utilizaccedilatildeo econocircmica dos escritos publicados pela imprensa

diaacuteria ou perioacutedica com exceccedilatildeo dos assinados ou que apresentem sinal de reserva

pertence ao editor salvo convenccedilatildeo em contraacuterio sem prejuiacutezo do disposto no artigo

17rdquo (NR)

ldquoArt 37

A aquisiccedilatildeo do original de uma obra ou de sua coacutepia realizada por

qualquer meio ou processo natildeo confere ao adquirente qualquer dos direitos

patrimoniais do autor salvo convenccedilatildeo em contraacuterio entre as partes e os casos previstos

nesta Lei rdquo (NR)

ldquoArt 38

O autor tem o direito irrenunciaacutevel e inalienaacutevel de perceber no miacutenimo

trecircs por cento sobre o preccedilo em cada revenda de obra de arte ou manuscrito sendo

originais que houver alienado

sect 1ordm Caso o autor natildeo perceba o seu direito de sequumlecircncia no ato de revenda o

186

vendedor o agente comercial ou o intermediaacuterio que intervenha na transaccedilatildeo eacute

considerado depositaacuterio da quantia a ele devida pelo prazo prescricional previsto nesta

Lei

sect 2ordm O vendedor o leiloeiro o agente comercial ou outro intermediaacuterio que

intervenha na transaccedilatildeo conforme o caso fica obrigado a guardar pelo prazo de 10

anos da alienaccedilatildeo todos os dados referentes ao negoacutecio juriacutedico fornecendo-os ao

autor seus herdeiros ou sucessores quando solicitadosrdquo (NR)

ldquoArt 39

Os direitos patrimoniais do autor natildeo se comunicam salvo disposiccedilatildeo em contraacuterio

firmada em pacto antenupcial ou contrato escrito

Paraacutegrafo uacutenico Tampouco se comunicam no regime da comunhatildeo parcial

aplicaacutevel ao casamento ou agrave uniatildeo estaacutevel os rendimentos resultantes da exploraccedilatildeo dos

direitos patrimoniais salvo disposiccedilatildeo em contraacuterio firmada em pacto antenupcial ou

contrato escritordquo(NR)

ldquoArt 41

Os direitos patrimoniais do autor duram por toda a sua vida e por mais

setenta anos contados de 1o de janeiro do ano subsequumlente ao de seu falecimento

obedecida a

ordem sucessoacuteria da lei civilrdquo (NR)

ldquoArt 44

O prazo de proteccedilatildeo aos direitos patrimoniais sobre obras audiovisuais

fotograacuteficas e coletivas seraacute de setenta anos a contar de 1o de janeiro do ano

subsequumlente ao de sua publicaccedilatildeo

sect 1ordm Em caso de sua natildeo publicaccedilatildeo no prazo de setenta anos apoacutes a realizaccedilatildeo da

obra conta-se o prazo a partir de sua realizaccedilatildeo

sect 2ordm Decorrido o prazo de proteccedilatildeo previsto neste artigo a utilizaccedilatildeo ou exploraccedilatildeo

por terceiros da obra audiovisual ou da obra coletiva natildeo poderaacute ser impedida pela

eventual proteccedilatildeo de direitos autorais de contribuiccedilotildees que possam ser objeto de

exploraccedilatildeo comercial em separadordquo (NR)

ldquoArt45

I

-

II - as de autor desconhecido ressalvada a proteccedilatildeo legal aplicaacutevel agraves expressotildees

culturais tradicionaisrdquo (NR)

ldquoArt46

187

I - a reproduccedilatildeo por qualquer meio ou processo em uma soacute coacutepia e por pessoa

natural para seu uso privado e natildeo comercial de obra legitimamente obtida exceto por

meio de locaccedilatildeo desde que feita a partir de exemplar de obra publicada legalmente

II - a reproduccedilatildeo por qualquer meio ou processo em uma soacute coacutepia para cada

suporte e por pessoa natural para seu uso privado e natildeo comercial de obra

legitimamente obtida

exceto por meio de locaccedilatildeo ou se o acesso agrave obra foi autorizado por um periacuteodo de

tempo limitado desde que feita a partir de original ou coacutepia de obra publicada

legalmente para o fim especiacutefico de garantir a sua portabilidade ou interoperabilidade

III - a reproduccedilatildeo na imprensa de notiacutecias e relatos de acontecimentos que tenham

caraacuteter meramente informativo publicados em diaacuterios ou perioacutedicos com a menccedilatildeo do

nome do autor se assinados e da publicaccedilatildeo de onde foram transcritos

IV - a utilizaccedilatildeo na imprensa de discursos pronunciados em reuniotildees puacuteblicas de

qualquer natureza

V -

VI - as representaccedilotildees recitaccedilotildees declamaccedilotildees exposiccedilotildees exibiccedilotildees e execuccedilotildees

puacuteblicas realizadas no recesso familiar ou quando usadas como recurso didaacutetico-

pedagoacutegico a tiacutetulo de ilustraccedilatildeo em atividades educativas ou de pesquisa no acircmbito

da educaccedilatildeo formal desde que sejam feitas sem finalidade comercial ou intuito de

lucro direto ou indireto e na medida justificada pelo fim a se atingir

VII -

VIII - a utilizaccedilatildeo em quaisquer obras de trechos de obras preexistentes de

qualquer natureza ou de obra integral quando de artes visuais na medida justificada

para o fim a atingir sempre que a utilizaccedilatildeo em si natildeo seja o objetivo principal da

obra nova e que natildeo prejudique a exploraccedilatildeo normal da obra utilizada nem cause

um prejuiacutezo injustificado aos legiacutetimos interesses dos autores

IX - a reproduccedilatildeo a traduccedilatildeo a adaptaccedilatildeo a distribuiccedilatildeo a comunicaccedilatildeo e a

colocaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico de obras para uso exclusivo de pessoas com

deficiecircncia mediante quaisquer formatos acessiacuteveis sempre que a deficiecircncia gerar

necessidade de alteraccedilatildeo do formato com o intuito de efetivar o pleno acesso agrave fruiccedilatildeo

da obra e desde que natildeo haja intuito de lucro direto ou indireto

X ndash reproduccedilatildeo e colocaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico para inclusatildeo em portfoacutelio ou

curriacuteculo profissional na medida justificada por este fim desde que aquele que pretenda

divulgar as obras por tal meio seja um dos autores ou pessoa retratada e apoacutes a

publicaccedilatildeo da obra por aquele que a encomendou

XI - a utilizaccedilatildeo de retratos ou de outra forma de representaccedilatildeo da imagem feitos

sob encomenda quando realizada pelo proprietaacuterio do objeto encomendado natildeo

havendo a

oposiccedilatildeo da pessoa neles representada ou se morta ou ausente de seu cocircnjuge seus

ascendentes ou descendentes

XII ndash a reproduccedilatildeo de palestras conferecircncias e aulas por aqueles a quem elas se

dirigem vedada a publicaccedilatildeo integral ou parcial independentemente do intuito de

lucro sem autorizaccedilatildeo preacutevia e expressa de quem as ministrou

XIII ndash a reproduccedilatildeo necessaacuteria agrave conservaccedilatildeo preservaccedilatildeo e arquivamento de

qualquer obra sem intuito de lucro desde que realizada para bibliotecas arquivos

188

centros de documentaccedilatildeo museus cinematecas e demais instituiccedilotildees museoloacutegicas

na medida justificada pelo fim a se atingir

XIV ndash a citaccedilatildeo em livros jornais revistas ou qualquer outro meio de

comunicaccedilatildeo de passagens de qualquer obra para fins de estudo criacutetica ou polecircmica

na medida justificada para o fim a atingir indicando-se o nome do autor e a origem da

obra

XV ndash a representaccedilatildeo a recitaccedilatildeo a declamaccedilatildeo a exposiccedilatildeo a exibiccedilatildeo e a

execuccedilatildeo puacuteblicas desde que natildeo tenham intuito de lucro direto ou indireto e sejam

para fins de reabilitaccedilatildeo ou terapia em unidades hospitalares que prestem estes serviccedilos

de forma gratuita e exclusivamente para a finalidade a que se destinam

XVI - A comunicaccedilatildeo e a colocaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico de obras intelectuais

por bibliotecas arquivos centros de documentaccedilatildeo museus cinematecas e demais

instituiccedilotildees museoloacutegicas no interior de suas instalaccedilotildees para fins de pesquisa ou

estudos privados desde que atendidas cumulativamente as seguintes condiccedilotildees

a) que a obra faccedila parte de seu acervo permanente

b) que seja obra rara ou natildeo esteja disponiacutevel para a venda ao puacuteblico em liacutengua

portuguesa nos mercados nacional e internacional por 3 anos contados a partir de

sua uacuteltima publicaccedilatildeo

c) para evitar a deterioraccedilatildeo do exemplar

d) que natildeo seja permitida a duplicaccedilatildeo gravaccedilatildeo impressatildeo ou qualquer outra

forma de reproduccedilatildeo ressalvado o disposto no Capiacutetulo IX do Tiacutetulo IV

XVII ndash a execuccedilatildeo musical exclusivamente no decorrer da atividade lituacutergica e

estritamente no interior dos templos religiosos

XVIII ndash a reproduccedilatildeo de obras de artes visuais para fins de publicidade relacionada

agrave exposiccedilatildeo puacuteblica dessas obras na medida em que seja necessaacuteria para

promover o acontecimento excluiacuteda qualquer utilizaccedilatildeo comercial

XIX ndash a exibiccedilatildeo puacuteblica sem finalidade comercial realizada por associaccedilotildees

cineclubistas assim reconhecidas pelo Ministeacuterio da Cultura feita a partir de coacutepia

legalmente obtida exceto por meio de locaccedilatildeo ou empreacutestimo desde que a associaccedilatildeo

natildeo tenha finalidade lucrativa por si proacutepria ou por viacutenculo com empresas ou entidades

e que a exibiccedilatildeo natildeo concorra com a exploraccedilatildeo comercial da obra

XX ndash a execuccedilatildeo e a exibiccedilatildeo puacuteblicas realizadas por micro empresas quando

feitas a partir de recepccedilatildeo de uma transmissatildeo em um uacutenico aparelho de raacutedio ou

televisatildeo do tipo domeacutestico para cujo uso natildeo haja cobranccedila e que essa transmissatildeo natildeo

seja um meio para a atraccedilatildeo de clientela e

XXI - A reproduccedilatildeo a traduccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo de trechos de obras preexistentes

de qualquer natureza ou de obra integral quando de artes visuais ou pequenas

composiccedilotildees como recurso didaacutetico-pedagoacutegico por docentes a tiacutetulo de ilustraccedilatildeo em

atividades educativas ou de pesquisa no acircmbito da educaccedilatildeo formal e na extensatildeo

necessaacuteria para o fim a se atingir desde que esse uso natildeo tenha finalidade comercial

nem intuito de lucro direto ou indireto e que sejam citados o autor e a fonte vedada a

publicaccedilatildeo em forma de apostilas

sect 1ordm O disposto no inciso XVI aplica-se mutatis mutandis para as obras na liacutengua

originalmente adotada pelo autor

sect 2ordm O Poder Judiciaacuterio poderaacute autorizar a utilizaccedilatildeo de obras em casos anaacutelogos

aos incisos desse artigo desde que atendidas cumulativamente as seguintes condiccedilotildees

I ndash natildeo tenha finalidade comercial nem intuito de lucro direto ou indireto

II ndash natildeo concorra com a exploraccedilatildeo comercial da obra e

III ndash que sejam citados o autor e a fonte sempre que possiacutevelrdquo (NR)

189

ldquoArt 48

As obras de artes visuais e arquitetocircnicas permanentemente situadas em

logradouros puacuteblicos podem ser livremente representadas por qualquer meio ou

processo inclusive fotograacutefico ou audiovisualrdquo (NR)

ldquoArt 49

Os direitos de autor poderatildeo ser total ou parcialmente transferidos a

terceiros por ele ou por seus sucessores por prazo determinado ou em definitivo

a tiacutetulo universal ou singular pessoalmente ou por meio de representantes com poderes

especiais pelos meios admitidos em Direito obedecidas as seguintes regras e

especificaccedilotildees

I ndash a cessatildeo total compreende todos os direitos de autor salvo os de natureza moral

e os expressamente excluiacutedos por leirdquo (NR)

ldquoArt 50

A cessatildeo total ou parcial dos direitos de autor que se faraacute sempre por estipulaccedilatildeo

contratual escrita presume-se onerosa

sect 3O Decorrido o prazo previsto no instrumento os direitos autorais retornam

obrigatoriamente ao controle econocircmico do titular originaacuterio ou de seus

sucessores

independentemente de possiacuteveis diacutevidas ou outras obrigaccedilotildees pendentes entre as

partes contratantesrdquo (NR)

ldquoArt 51

A cessatildeo dos direitos de autor sobre obras futuras abrangeraacute no maacuteximo

o periacuteodo de cinco anos contado a partir da data da entrega da obrardquo (NR)

ldquoArt53

sect 1O O contrato de ediccedilatildeo natildeo poderaacute conter claacuteusulas de cessatildeo dos direitos

patrimoniais do autor as quais deveratildeo ser objeto de instrumento especiacutefico se for o

caso

sect 2ordm Em cada exemplar da obra o editor mencionaraacute

I - o tiacutetulo da obra e seu autor

II - no caso de traduccedilatildeo o tiacutetulo original e o nome do tradutor

III - o ano de publicaccedilatildeo

IV - o seu nome ou marca que o identifique

V - o nuacutemero da ediccedilatildeo e a sua tiragem e

VI - o nuacutemero do exemplar

sect 3O O autor poderaacute requerer a resoluccedilatildeo do contrato quando o editor apoacutes

notificado pelo autor continuar a obstar a circulaccedilatildeo da obra em detrimento dos

legiacutetimos interesses do autor

190

sect 4ordm O editor deveraacute notificar o autor sempre que houver transferecircncia a terceiros

dos direitos relacionados ao contrato de ediccedilatildeo de suas obrasrdquo (NR)

ldquoArt 68

Sem preacutevia e expressa autorizaccedilatildeo do autor ou titular natildeo poderatildeo ser

utilizadas obras teatrais composiccedilotildees musicais ou literomusicais fonogramas e obras

audiovisuais em representaccedilotildees exibiccedilotildees e execuccedilotildees puacuteblicas

sect1o

sect 2O Considera-se execuccedilatildeo puacuteblica a utilizaccedilatildeo de composiccedilotildees musicais ou

liacuteteromusicais mediante a participaccedilatildeo de artistas remunerados ou natildeo ou a

utilizaccedilatildeo de fonogramas em locais de frequumlecircncia coletiva por quaisquer processos

inclusive a radiodifusatildeo ou a transmissatildeo por qualquer modalidade e a exibiccedilatildeo

cinematograacutefica

sect 3O Considera-se exibiccedilatildeo puacuteblica a utilizaccedilatildeo de obras audiovisuais em locais de

frequumlecircncia coletiva por quaisquer processos inclusive a radiodifusatildeo ou transmissatildeo

por qualquer modalidade e a exibiccedilatildeo cinematograacutefica

sect 4O Consideram-se locais de frequumlecircncia coletiva os teatros cinemas salotildees de

baile ou concertos boates bares clubes ou associaccedilotildees de qualquer natureza

lojas estabelecimentos comerciais e industriais estaacutedios circos feiras

restaurantes hoteacuteis moteacuteis cliacutenicas hospitais oacutergatildeos puacuteblicos da administraccedilatildeo

direta ou indireta fundacionais e estatais meios de transporte de passageiros terrestre

mariacutetimo fluvial ou aeacutereo ou espaccedilos similares onde se representem executem

exibam ou transmitam publicamente obras literaacuterias artiacutesticas ou cientiacuteficas

sect 5O Previamente agrave realizaccedilatildeo da execuccedilatildeo ou exibiccedilatildeo puacuteblica o usuaacuterio deveraacute

apresentar agrave entidade responsaacutevel pela arrecadaccedilatildeo dos direitos relativos agrave execuccedilatildeo ou

exibiccedilatildeo

puacuteblica a comprovaccedilatildeo dos recolhimentos relativos aos direitos autorais

sect 6ordm Quando a remuneraccedilatildeo depender da frequumlecircncia do puacuteblico poderaacute o usuaacuterio

por convecircnio com a entidade responsaacutevel pela arrecadaccedilatildeo dos direitos relativos agrave

execuccedilatildeo ou exibiccedilatildeo puacuteblica pagar o preccedilo apoacutes a realizaccedilatildeo da execuccedilatildeo ou exibiccedilatildeo

puacuteblica

sect 7ordm O usuaacuterio entregaraacute agrave entidade responsaacutevel pela arrecadaccedilatildeo dos direitos

relativos agrave execuccedilatildeo ou exibiccedilatildeo puacuteblica imediatamente apoacutes o ato de comunicaccedilatildeo ao

puacuteblico relaccedilatildeo completa das obras e fonogramas utilizados indicando os nomes dos

respectivos autores artistas e produtores e a tornaraacute puacuteblica e de livre acesso aos

interessados juntamente com os valores pagos em seu siacutetio eletrocircnico ou em natildeo

havendo este no local da comunicaccedilatildeo e em sua sede

sect 8ordm As empresas responsaacuteveis pela representaccedilatildeo execuccedilatildeo exibiccedilatildeo radiodifusatildeo

ou transmissatildeo de obras e fonogramas manteratildeo agrave imediata disposiccedilatildeo dos interessados

em sua administraccedilatildeo central coacutepia autecircntica dos contratos ajustes ou acordos

individuais ou coletivos autorizando e disciplinando a remuneraccedilatildeo que estiver a seu

cargo pela comunicaccedilatildeo ao puacuteblico das obras e fonogramas utilizados em seus

programas ou obras audiovisuaisrdquo (NR)

ldquoCAPIacuteTULO III DA UTILIZACcedilAtildeO DA OBRA DE ARTES VISUAISrdquo (NR)

ldquoArt 77

191

Salvo convenccedilatildeo em contraacuterio o autor de obra de artes visuais ao alienar

o objeto em que ela se materializa transmite o direito de expocirc-la mas natildeo transmite ao

adquirente o direito de reproduzi-lardquo (NR)

ldquoArt 78

A autorizaccedilatildeo para reproduzir a obra de artes visuais por qualquer processo deve

se fazer por escrito e se presume onerosardquo (NR)

ldquoArt 79

O autor de obra fotograacutefica tem direito a reproduzi-la e colocaacute-la agrave venda

observadas as restriccedilotildees agrave exposiccedilatildeo reproduccedilatildeo e venda de retratos e sem prejuiacutezo dos

direitos

de autor da obra fotografada se protegidardquo (NR)

ldquoArt 81

A autorizaccedilatildeo do autor e do inteacuterprete de obra literaacuteria artiacutestica ou

cientiacutefica para produccedilatildeo audiovisual implica salvo disposiccedilatildeo em contraacuterio

consentimento para sua utilizaccedilatildeo econocircmica pelo produtor sem prejuiacutezo dos direitos

devidos aos autores e artistas inteacuterpretes em decorrecircncia de cada exibiccedilatildeo puacuteblica da

obra

sect 1

sect 2

Em cada coacutepia da obra audiovisual mencionaraacute o produtor

VII ndash o nome dos dubladores e dos tradutores se for o caso e

VIII - o nome dos autores artistas inteacuterpretes ou executantes de obras musicais ou

litero-musicais e produtores dos fonogramas incorporados agrave obra audiovisual

sect3ordm O produtor responsaacutevel pela primeira fixaccedilatildeo de obra audiovisual teraacute o direito a

uma remuneraccedilatildeo referente a cada exibiccedilatildeo puacuteblica a que se refere o art 68rdquo (NR)

ldquoArt 86

Os direitos autorais decorrentes da exibiccedilatildeo puacuteblica de obras

audiovisuais e da execuccedilatildeo puacuteblica de obras musicais liacuteteromusicais e fonogramas

incorporados em obras audiovisuais seratildeo devidos aos seus titulares pelos

responsaacuteveis dos locais ou estabelecimentos a que alude o sect 4ordm do art 68 desta Lei

que as exibirem ou pelas empresas que as transmitirem

Paraacutegrafo uacutenico Os proventos pecuniaacuterios resultantes de cada exibiccedilatildeo puacuteblica de

obras audiovisuais seratildeo repartidos entre seus autores artistas inteacuterpretes e produtores

na forma convencionada entre eles ou suas associaccedilotildeesrdquo (NR)

ldquoArt 89

As normas relativas aos direitos de autor inclusive as que se referem agraves

limitaccedilotildees aplicam-se no que couber aos direitos dos artistas inteacuterpretes ou

executantes dos

192

produtores e das empresas de radiodifusatildeordquo (NR)

ldquoArt90

I -

II - a reproduccedilatildeo a execuccedilatildeo ou exibiccedilatildeo puacuteblicas e a locaccedilatildeo das suas

interpretaccedilotildees ou execuccedilotildees fixadasrdquo (NR)

ldquoArt 96

Eacute de setenta anos o prazo de proteccedilatildeo aos direitos conexos contados a

partir de 1o de janeiro do ano subsequumlente agrave fixaccedilatildeo para os fonogramas agrave transmissatildeo

para as

empresas de radiodifusatildeo e agrave execuccedilatildeo exibiccedilatildeo ou representaccedilatildeo puacuteblicas para

os demais casosrdquo (NR)

ldquoArt 98

Com o ato de filiaccedilatildeo as associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos

autorais de que trata o art 97 tornam-se mandataacuterias de seus associados para a praacutetica

de todos os atos necessaacuterios agrave defesa judicial ou extrajudicial de seus direitos autorais

bem como para o exerciacutecio da atividade de cobranccedila desses direitos

sect 1ordm Os titulares de direitos autorais poderatildeo praticar pessoalmente os atos

referidos neste artigo mediante comunicaccedilatildeo preacutevia agrave associaccedilatildeo a que estiverem

filiados

sect 2ordm O exerciacutecio da atividade de cobranccedila citada no caput somente seraacute licito para

as associaccedilotildees que obtiverem registro no Ministeacuterio da Cultura nos termos do art 98-A

sect 3ordm A cobranccedila deveraacute ser proporcional agrave utilizaccedilatildeo das obras e fonogramas dos

titulares dos quais a associaccedilatildeo eacute mandataacuteria

sect 4ordm As associaccedilotildees deveratildeo adotar os princiacutepios da isonomia e transparecircncia na

cobranccedila pela utilizaccedilatildeo de qualquer obra ou fonograma sob sua gestatildeo

sect 5ordm As associaccedilotildees por decisatildeo do seu oacutergatildeo maacuteximo de deliberaccedilatildeo e conforme

previsto em seus estatutos poderatildeo destinar ateacute vinte por cento da totalidade ou de

parte dos recursos oriundos de suas atividades em benefiacutecio de seus associados de

forma direta ou por meio de outras entidades na promoccedilatildeo e no fomento agrave produccedilatildeo de

obras capacitaccedilatildeo e formaccedilatildeo bem como outras atividades de finalidade cultural e de

assistecircncia socialrdquo(NR)

ldquoArt 99

As associaccedilotildees que reuacutenam titulares de direitos sobre as obras musicais

literomusicais e fonogramas manteratildeo um uacutenico escritoacuterio central para a

arrecadaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo em comum dos direitos relativos agrave sua execuccedilatildeo puacuteblica

observado o disposto no sect

4ordm do artigo 98 e nos artigos 98-A e 99-A

sect 4ordm O escritoacuterio central e as associaccedilotildees poderatildeo manter fiscais aos quais eacute

193

vedado receber do usuaacuterio numeraacuterio a qualquer tiacutetulo

sect5o

sect 6ordm O escritoacuterio central deveraacute observar as disposiccedilotildees do art 98-B e apresentar ao

Ministeacuterio da Cultura no que couber a documentaccedilatildeo prevista no art 98-Ardquo (NR)

ldquoArt 100 O sindicato ou associaccedilatildeo profissional que congregue filiados de uma

associaccedilatildeo de gestatildeo coletiva de direitos autorais poderaacute uma vez por ano apoacutes

notificaccedilatildeo com oito dias de antecedecircncia fiscalizar por intermeacutedio de auditor a

exatidatildeo das contas prestadas por essa associaccedilatildeo autoral a seus representados rdquo (NR)

ldquoArt 101 As sanccedilotildees civis de que trata este Capiacutetulo aplicam-se sem prejuiacutezo das

sanccedilotildees penais e administrativasrdquo (NR)

ldquoArt 102 O titular cuja obra seja fraudulentamente reproduzida divulgada ou de

qualquer forma utilizada poderaacute requerer a busca e apreensatildeo dos exemplares

reproduzidos ou a suspensatildeo da divulgaccedilatildeo sem prejuiacutezo da indenizaccedilatildeo cabiacutevel rdquo

(NR)

ldquoArt103

Paraacutegrafo uacutenico Natildeo se conhecendo o nuacutemero de exemplares que constituem a

ediccedilatildeo fraudulenta pagaraacute o transgressor o valor de quinhentos ateacute trecircs mil exemplares

aleacutem dos apreendidosrdquo (NR)

ldquoArt 107

sect 1ordm Constitui ato iliacutecito por abuso e exerciacutecio irregular de direito sem prejuiacutezo de

outras penalidades previstas em lei quem por qualquer meio

a) dificultar ou impedir os usos permitidos pelos incisos do artigo 46 desta Lei ou

b) dificultar ou impedir a livre utilizaccedilatildeo de obras emissotildees de radiodifusatildeo e

fonogramas caiacutedos em domiacutenio puacuteblico

sect 2ordm No caso da conduta prevista no sect 1ordm decorrer de obrigaccedilatildeo contratual responde pela

conduta o licenciante

sect 3ordm O disposto no sect 1ordm natildeo se aplica quando a utilizaccedilatildeo pelo titular de sinais

codificados e dispositivos teacutecnicos mencionados neste artigo forem essenciais para a

compra ou o licenciamento de obras em meio digital

sect 4ordm O disposto no caput natildeo se aplica quando as condutas previstas nos incisos I

II e IV relativas aos sinais codificados e dispositivos teacutecnicos forem realizadas para

permitir as utilizaccedilotildees previstas no artigo 46 desta Lei ou quando findo o prazo dos

direitos patrimoniais sobre a obra interpretaccedilatildeo execuccedilatildeo fonograma ou emissatildeo

sect 5ordm Os sinais codificados e dispositivos teacutecnicos mencionados nos incisos I II e IV

devem ter efeito limitado no tempo correspondente ao prazo dos direitos patrimoniais

sobre a obra interpretaccedilatildeo execuccedilatildeo fonograma ou emissatildeordquo (NR)

ldquoArt 109

194

A representaccedilatildeo a execuccedilatildeo ou a exibiccedilatildeo puacuteblicas feitas em desacordo

com os arts 68 97 98 99 e 99-A desta Lei sujeitaratildeo os responsaacuteveis agrave multa de duas

ateacute vinte vezes o valor que deveria ser originariamente pagordquo (NR)

Art 2ordm A Lei no 9610 de 1998 passa a vigorar acrescida dos seguintes

dispositivos

ldquoArt 30-A

Quando a distribuiccedilatildeo for realizada pelo titular dos direitos da obra ou

fonograma ou com o seu consentimento mediante venda em qualquer Estado membro

da OMC exaure-se com a primeira venda o direito patrimonial de distribuiccedilatildeo do

objeto da venda no territoacuterio nacional

Paraacutegrafo uacutenico Natildeo se aplica o disposto no caput aos direitos de locaccedilatildeo de

programas de computador e de obras audiovisuais e ao direito de sequecircncia de que trata

o artigo 38rdquo (NR)

ldquoArt 52-A

O autor ou titular de direitos patrimoniais poderaacute conceder licenccedila aterceiros que se

faraacute sempre por escrito sem que se caracterize cessatildeo de direitos obedecidas

asseguintes regras e especificaccedilotildees

I - O prazo maacuteximo da licenccedila seraacute de cinco anos salvo estipulaccedilatildeo

contratuacontraacuteria

II - A licenccedila seraacute vaacutelida unicamente para o paiacutes em que se firmou o contrato

salvoestipulaccedilatildeo em contraacuterio

III - Natildeo havendo especificaccedilotildees quanto agrave modalidade de utilizaccedilatildeo o contrato

seraacuteinterpretado restritivamente entendendo-se como limitada apenas a uma que

seja aquelaindispensaacutevel ao cumprimento da finalidade do contrato

IV - A licenccedila soacute se operaraacute para modalidades de utilizaccedilatildeo jaacute existentes agrave data

dacelebraccedilatildeo do contrato

V - A licenccedila se presume natildeo exclusiva salvo estipulaccedilatildeo contratual expressa

emcontraacuterio e

VI - Decorrido o prazo previsto no instrumento de licenccedila cessam todas

asprerrogativas concedidas ao licenciado independentemente de possiacuteveis diacutevidas

ou outrasobrigaccedilotildees pendentes entre as partes contratantesrdquo (NR)

ldquoArt 52-B O Poder Judiciaacuterio poderaacute autorizar o uso de obras literaacuterias ou de

artesvisuais sempre que ao exercer seus direitos patrimoniais o herdeiro ou sucessor do

autor da obraexceda manifestamente os limites impostos pelo seu fim econocircmico ou

social pela boa-feacute oupelos bons costumes prejudicando o seu acesso ou fruiccedilatildeo pela

sociedade

sect 1ordm A autorizaccedilatildeo prevista no caput presume-se onerosa cujo valor seraacute arbitradopela

autoridade judicial competente

sect 2ordm Os legitimados para propositura das accedilotildees previstas no art 5ordm da Lei nordm 7347de 24

de julho de 1985 poderatildeo pleitear a autorizaccedilatildeo prevista no caput sempre que houver

lesatildeoou ameaccedila de lesatildeo a direitos difusos coletivos ou individuais homogecircneosrdquo

(NR)

ldquoCAPIacuteTULO VI DA OBRA DECORRENTE DE VIacuteNCULO ESTATUTAacuteRIO OU

CONTRATO DE

TRABALHOrdquo (NR)

195

ldquoArt 52-C

Salvo convenccedilatildeo em contraacuterio o empregador ente puacuteblico ou privadoconsiderar-se-aacute

autorizado com exclusividade a utilizar as obras criadas no estrito cumprimentodas

atribuiccedilotildees e finalidades decorrentes de viacutenculo estatutaacuterio ou contrato de trabalho

sect 1ordm - A exclusividade da autorizaccedilatildeo cessa em dez anos contados da data daprimeira

utilizaccedilatildeo da obra pelo empregador ou na ausecircncia desta da data de conclusatildeo da obra

sect 2ordm O autor poderaacute dispor livremente dos direitos relacionados agraves

demaismodalidades de utilizaccedilatildeo da obra desde que natildeo concorra com o uso realizado

pelo empregador

sect 3ordm - A retribuiccedilatildeo devida pelo uso das obras por parte do empregador esgota-secom a

remuneraccedilatildeo ou com o salaacuterio convencionado salvo disposiccedilatildeo em contraacuterio ou

casosprevistos em Lei

sect 4ordm - O autor teraacute direito de publicar em suas obras completas a obra criada no

estrito cumprimento das atribuiccedilotildees e finalidades decorrentes do viacutenculo estatutaacuterio ou

contrato de trabalho apoacutes dois anos de sua publicaccedilatildeo pelo empregador ou na ausecircncia

desta apoacutes cinco anos de sua conclusatildeo salvo convenccedilatildeo em contraacuterio

sect 5ordm As disposiccedilotildees deste artigo natildeo se aplicam

I ndash aos direitos de comunicaccedilatildeo ao puacuteblico que seratildeo devidos em decorrecircncia de cada

representaccedilatildeo execuccedilatildeo ou exibiccedilatildeo puacuteblicas das obras

II ndash agraves relaccedilotildees que digam respeito agrave utilizaccedilatildeo econocircmica dos artigos publicados pela

imprensa regidas pelo art 36 desta Lei

III ndash agraves relaccedilotildees decorrentes de contrato ou viacutenculo de professores ou pesquisadores

com instituiccedilatildeo que tenha por finalidade o ensino ou a pesquisa

IV ndash aos direitos dos profissionais regidos pela Lei n o 5194 de 24 de dezembro de

1966 e

V ndash aos programas de computador observando-se nesse caso o disposto na Lei n

9609 de 19 de fevereiro de 1998rdquo (NR)

ldquoCAPIacuteTULO VII DA OBRA OacuteRFAtilderdquo (NR)

ldquoArt 52-D

A exploraccedilatildeo de obra que presumivelmente natildeo tenha ingressado em

domiacutenio puacuteblico cuja autorizaccedilatildeo de uso natildeo se puder obter pela impossibilidade de se

identificar

ou localizar o seu autor ou titular deve ser objeto de uma licenccedila natildeo exclusiva a ser

concedida

pelo Ministro da Cultura mediante requerimento de interessado em procedimento

regular que atenda os imperativos do devido processo legal na forma do regulamento e

segundo termos e condiccedilotildees que assegurem adequadamente os interesses morais e

patrimoniais que esta Lei tutela

sect 1ordm O requerente deveraacute comprovar que fez uma busca razoaacutevel e de boa feacute pelo autor

quando identificaacutevel ou apresentar provas da incapacidade de identificaacute-lo

sect 2ordm A licenccedila a ser concedida sujeita-se ao pagamento de remuneraccedilatildeo arbitrada pelo

Poder Puacuteblico observado os usos e costumes

sect 3ordm O licenciado seraacute depositaacuterio do valor referente agrave remuneraccedilatildeo prevista no sect 2ordm

196

e deveraacute repassaacute-lo licenccedila

I - ao autor ou titular quando da sua identificaccedilatildeo e localizaccedilatildeo e

II ndash ao Fundo Nacional de Cultura apoacutes decorridos 10 anos da concessatildeo da

sect 4ordm Eacute vedada a cessatildeo a transferecircncia ou o substabelecimento da licenccedila prevista neste

artigo

sect 5ordm O licenciado ficaraacute investido de todos os poderes para agir em defesa da obra

sect 6ordm Durante o periacuteodo de sua vigecircncia a licenccedila poderaacute ser revogada quando

I ndash o licenciado deixar de cumprir com as condiccedilotildees que o qualificaram

II ndash o autor ou titular for identificado e localizado

III - houver descontinuidade do pagamento da remuneraccedilatildeo prevista no sect 2ordm ou

IV ndash a obra cair em domiacutenio puacuteblico O

sect 7ordm As disposiccedilotildees deste capiacutetulo natildeo se aplicam a programas de computadorrdquo (NR)

ldquoArt 67-A

As regras relativas agrave ediccedilatildeo de que trata este capiacutetulo aplicam-se

a todas as obras protegidas e suscetiacuteveis de serem publicadas ou reproduzidas em

qualquer suporte tais como as traduccedilotildees as fotografias os desenhos as charges e as

caricaturasrdquo (NR)

ldquoArt 86-A

Os responsaacuteveis pelas salas de exibiccedilatildeo cinematograacutefica deveratildeo

deduzir cinquumlenta por cento do montante total dos direitos autorais devidos em razatildeo

do caput do

art 86 do valor a ser pago agraves empresas distribuidoras das obras audiovisuais sendo

vedado a estas o repasse deste encargo total ou parcialmente aos seus produtoresrdquo

(NR)

ldquoCAPIacuteTULO IX DA REPROGRAFIArdquo (NR)

ldquoArt 88-A

A reproduccedilatildeo total ou parcial de obras literaacuterias artiacutesticas ou

cientiacuteficas que natildeo estiverem em domiacutenio puacuteblico realizada por meio de

fotocopiadora ou

processos assemelhados com finalidade comercial ou intuito de lucro somente

poderaacute ser

realizada mediante autorizaccedilatildeo preacutevia dos autores e titulares de direitos das obras

protegidas ou da

associaccedilatildeo de gestatildeo coletiva que os represente observadas as seguintes disposiccedilotildees

I - A reproduccedilatildeo prevista no caput estaraacute sujeita ao pagamento de uma retribuiccedilatildeo

aos titulares dos direitos autorais sobre as obras reproduzidas salvo quando estes

colocarem agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico a obra a tiacutetulo gratuito na forma do paraacutegrafo uacutenico

do art 29 e

II - Caberaacute aos responsaacuteveis pelos estabelecimentos que ofereccedilam serviccedilos de

reproduccedilatildeo reprograacutefica nos termos definidos no caput manter o registro das

reproduccedilotildees em que conste a identificaccedilatildeo e a quantidade de paacuteginas reproduzidas de

cada obra com a finalidade de prestar tais informaccedilotildees regularmente aos autores de

197

forma a permitir-lhes a fiscalizaccedilatildeo e o controle do aproveitamento econocircmico das

reproduccedilotildeesrdquo (NR)

ldquoArt 88-B

O Poder Judiciaacuterio poderaacute autorizar a reprografia de obras literaacuterias

sempre que ao exercer seus direitos patrimoniais o titular dos direitos de

reproduccedilatildeo ou a respectiva associaccedilatildeo de gestatildeo coletiva exceda manifestamente os

limites impostos pelo seu fim econocircmico ou social pela boa-feacute ou pelos bons

costumes ou impeccedila o exerciacutecio do direito constitucional agrave educaccedilatildeo

sect 1ordm A autorizaccedilatildeo prevista no caput presume-se onerosa cujo valor seraacute arbitrado

pela autoridade judicial competente

sect 2ordm Os legitimados para propositura das accedilotildees previstas no art 5ordm da Lei nordm 7347

de 24 de julho de 1985 poderatildeo pleitear a autorizaccedilatildeo prevista no caput sempre que

houver lesatildeo ou ameaccedila de lesatildeo a direitos Difusos coletivos ou individuais

homogecircneosrdquo (NR)

ldquoArt 98-A

O exerciacutecio da atividade de cobranccedila de que trata o art 98 dependeraacute de

registro preacutevio no Ministeacuterio da Cultura conforme disposto em regulamento cujo

processo administrativo observaraacute

I ndash o cumprimento pelos estatutos da entidade solicitante dos requisitos

estabelecidos na legislaccedilatildeo para sua constituiccedilatildeo

II ndash a demonstraccedilatildeo de que a entidade solicitante reuacutene as condiccedilotildees necessaacuterias

para assegurar uma administraccedilatildeo eficaz e transparente dos direitos a ela confiados e

significativa representatividade de obras e titulares cadastrados mediante

comprovaccedilatildeo dos seguintes documentos e informaccedilotildees

a) os cadastros das obras e titulares que representam

b) contratos e convecircnios mantidos com usuaacuterios de obras de seus repertoacuterios

c) estatutos e respectivas alteraccedilotildees

d) atas das assembleacuteias ordinaacuterias ou extraordinaacuterias

e) acordos de representaccedilatildeo reciacuteproca com entidades congecircneres estrangeiras

quando existentes

f) relatoacuterio anual de suas atividades quando aplicaacutevel

g) demonstraccedilotildees contaacutebeis anuais quando aplicaacutevel e

h) relatoacuterio anual de auditoria externa de suas contas desde que demandada pela

maioria de seus associados ou por sindicato ou associaccedilatildeo profissional nos termos do

art 100

III ndash outras informaccedilotildees consideradas relevantes pelo Ministeacuterio da Cultura na

forma do regulamento como as que demonstrem o cumprimento de suas obrigaccedilotildees

internacionais

contratuais que possam ensejar questionamento ao Estado Brasileiro no acircmbito

dos acordos internacionais dos quais eacute parte

sect1ordm Os documentos e informaccedilotildees a que se referem os Incisos II e III deste artigo

deveratildeo ser apresentados anualmente ao Ministeacuterio da Cultura

sect2ordm O registro de que trata o sect 2ordm do art 98 poderaacute ser anulado quando for

constatado viacutecio de legalidade ou cancelado administrativamente pelo Ministeacuterio

da Cultura quando verificado que a associaccedilatildeo natildeo atende ao disposto neste artigo

198

assegurado sempre o contraditoacuterio e a ampla defesa bem como a comunicaccedilatildeo do fato

ao Ministeacuterio Puacuteblico

sect3ordm A ausecircncia de uma associaccedilatildeo que seja mandataacuteria de determinada categoria de

titulares em funccedilatildeo da aplicaccedilatildeo do sect 2ordm deste artigo natildeo isenta os usuaacuterios das

obrigaccedilotildees previstas no art 68 que deveratildeo ser quitadas em relaccedilatildeo ao periacuteodo

compreendido entre o indeferimento do pedido de registro a anulaccedilatildeo ou o

cancelamento do registro e a obtenccedilatildeo de novo registro ou constituiccedilatildeo de entidade

sucessora nos termos do art 98

sect4ordm A associaccedilatildeo cujo registro nos termos do artigo 98-A seja anulado cancelado

inexistente pendente de apreciaccedilatildeo pela autoridade competente ou apresente qualquer

outra forma de irregularidade natildeo poderaacute utilizar tais fatos como impedimento para

distribuiccedilatildeo de eventuais valores jaacute arrecadados sob pena de responsabilizaccedilatildeo direta

de seus dirigentes nos termos do artigo 100-A

sect5ordm As associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos autorais que estejam desde

1ordm de janeiro de 2010 legalmente constituiacutedas e arrecadando e distribuindo os

direitos autorais de obras e fonogramas considerar-se-atildeo para todos os efeitos

registradas para exercerem a atividade econocircmica de cobranccedila devendo obedecer agraves

disposiccedilotildees constantes deste artigordquo (NR)

ldquoArt 98-B

As associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos autorais no desempenho

de suas funccedilotildees deveratildeo

I - Dar publicidade e transparecircncia por meio de siacutetios eletrocircnicos proacuteprios agraves

formas de caacutelculo e criteacuterios de cobranccedila discriminando dentre outras informaccedilotildees o

tipo de

usuaacuterio tempo e lugar de utilizaccedilatildeo bem como os criteacuterios de distribuiccedilatildeo dos valores

dos direitos

autorais arrecadados incluiacutedas as planilhas e demais registros de utilizaccedilatildeo das

obras e fonogramas fornecidas pelos usuaacuterios

II - Dar publicidade e transparecircncia por meio de siacutetios eletrocircnicos proacuteprios

aosestatutos regulamentos de arrecadaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo agraves atas de suas reuniotildees

deliberativas e aoscadastros das obras e titulares que representam bem como o

montante arrecadado e distribuiacutedo e

III ndash Buscar eficiecircncia operacional dentre outros meios pela reduccedilatildeo de

seucustos administrativos e dos prazos de distribuiccedilatildeo dos valores aos titulares de

direitos

Paraacutegrafo uacutenico As informaccedilotildees contidas nos incisos I e II devem ser atualizadas no

miacutenimosemestralmenterdquo (NR)

ldquoArt 98-C

As associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos autorais deveratildeo manteatualizados e

disponiacuteveis aos associados os documentos e as informaccedilotildees previstas nos incisos II III

do art 98-Ardquo (NR)

ldquoArt 98-D

199

As associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos autorais deveratildeo prestacontas dos valores

devidos em caraacuteter regular e de modo direto aos seus associados

Paraacutegrafo uacutenico O direito agrave prestaccedilatildeo de contas poderaacute ser exercido diretamentpor

qualquer associado ou indiretamente por intermeacutedio do Ministeacuterio da Culturardquo (NR)

ldquoArt 99-A

As associaccedilotildees que reuacutenam titulares de direitos sobre as obraaudiovisuais e o

escritoacuterio central a que se refere o art 99 deveratildeo unificar a arrecadaccedilatildeo dodireitos

relativos agrave exibiccedilatildeo e execuccedilatildeo puacuteblica inclusive por meio de radiodifusatildeo ou

transmissatildepor qualquer modalidade quando essa arrecadaccedilatildeo recair sobre um

mesmo usuaacuterio sejdelegando a cobranccedila a uma delas seja constituindo um ente

arrecadador com personalidadejuriacutedica proacutepria

sect 1ordm Ateacute a implantaccedilatildeo da arrecadaccedilatildeo unificada prevista neste artigo a arrecadaccedilatildee

distribuiccedilatildeo dos direitos sobre as obras musicais literomusicais e fonogramas

referentes exibiccedilatildeo audiovisual seraacute feita pelo escritoacuterio central previsto no art 99

quer se trate de obracriadas especialmente para as obras audiovisuais ou obras preacute-

existentes agraves mesmas

sect 2O A organizaccedilatildeo da arrecadaccedilatildeo unificada de que trata o caput deste artigodeveraacute

ser feita de comum acordo entre as associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos

autoraicorrespondentes e o escritoacuterio central inclusive no que concerne agrave definiccedilatildeo

dos criteacuterios dedivisatildeo dos valores arrecadados entre as associaccedilotildees e o escritoacuterio

central

sect 3O Os autores das obras musicais criadas especialmente para as

obraaudiovisuais considerados co-autores da obra audiovisual nos termos do caput do

art 16 poderatildeconfiar o exerciacutecio de seus direitos a associaccedilatildeo de gestatildeo coletiva de

direitos musicais ou associaccedilatildeo de gestatildeo coletiva de direitos sobre obras audiovisuais

sect 4ordm Na ausecircncia de acordo para a organizaccedilatildeo da arrecadaccedilatildeo unificada de quetrata este

artigo o Ministeacuterio da Cultura poderaacute na forma do regulamento e a pedido de

qualquedas partes manifestar-se objetivando a aplicaccedilatildeo do disposto neste artigo ou a

pedido das partesatuar administrativamente na resoluccedilatildeo do conflitordquo (NR)

ldquoArt 99-B

A arrecadaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da remuneraccedilatildeo a que se refere o artigo88-A seraacute feita por

meio das associaccedilotildees de gestatildeo coletiva constituiacutedas para este fim as quaideveratildeo

unificar a arrecadaccedilatildeo seja delegando a cobranccedila a uma delas seja constituindo um

entarrecadador com personalidade juriacutedica proacutepria

sect1ordm - A entidade de gestatildeo coletiva responsaacutevel pela cobranccedila ou o oacutergatildeo

arrecadador criado pelas entidades atuaraacute em juiacutezo e fora dele em seu proacuteprio

nome como substituto processual dos titulares de direitos a ele vinculado

sect 2ordm - A parcela destinada aos autores natildeo poderaacute ser inferior a cinquumlenta por cento

dos valores arrecadados pela entidade arrecadadora prevista no caput deduzida as

despesas de administraccedilatildeordquo (NR)

ldquoArt 100-A

Os dirigentes das associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos autorais e

200

do escritoacuterio central respondem solidariamente com seus bens particulares por

desvio de finalidade ou quanto ao inadimplemento das obrigaccedilotildees para com os

associados por dolo ou culpardquo (NR)

ldquoArt 100-B

Os litiacutegios entre usuaacuterios e titulares de direitos autorais ou seus mandataacuterios em

relaccedilatildeo aos criteacuterios de cobranccedila e valores de arrecadaccedilatildeo e entre titulares e suas

associaccedilotildees em relaccedilatildeo aos valores e criteacuterios de distribuiccedilatildeo poderatildeo ser objeto da

atuaccedilatildeo administrativa do Ministeacuterio da Cultura para a resoluccedilatildeo de conflitos na forma

do regulamento sem prejuiacutezo da apreciaccedilatildeo pelos oacutergatildeos do Sistema Brasileiro de

Defesa da Concorrecircncia quando cabiacutevelrdquo (NR)

ldquoArt 105-A

Os responsaacuteveis pela hospedagem de conteuacutedos na Internet poderatildeo ser

responsabilizados solidariamente nos termos do Artigo 105 por danos

decorrentes da colocaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico de obras e fonogramas por terceiros

sem autorizaccedilatildeo de seus titulares se notificados pelo titular ofendido e natildeo tomarem as

providecircncias para no acircmbito do seu serviccedilo e dentro de prazo razoaacutevel tornar

indisponiacutevel o conteuacutedo apontado como infringente

sect 1ordm Os responsaacuteveis pela hospedagem de conteuacutedos na Internet devem oferecer

de forma ostensiva ao menos um canal eletrocircnico dedicado ao recebimento de

notificaccedilotildees e contranotificaccedilotildees sendo facultada a criaccedilatildeo de mecanismo

automatizado para atender aos procedimentos dispostos nesta Seccedilatildeo

sect 2ordm A notificaccedilatildeo de que trata o caput deste artigo deveraacute conter sob pena de

invalidade

I ndash identificaccedilatildeo do notificante incluindo seu nome completo seus nuacutemeros de

registro civil e fiscal e dados atuais para contato

II ndash data e hora de envio

III ndash identificaccedilatildeo clara e especiacutefica do conteuacutedo apontado como infringente que

permita a localizaccedilatildeo inequiacutevoca do material pelo notificado

IV ndash descriccedilatildeo da relaccedilatildeo entre o notificante e o conteuacutedo apontado como

infringente e

VI ndash justificativa juriacutedica para a remoccedilatildeo

sect 3ordm Ao tornar indisponiacutevel o acesso ao conteuacutedo caberaacute aos responsaacuteveis pela

hospedagem de conteuacutedos na Internet informar o fato ao responsaacutevel pela colocaccedilatildeo agrave

disposiccedilatildeo

do puacuteblico comunicando-lhe o teor da notificaccedilatildeo de remoccedilatildeo e fixando prazo razoaacutevel

para a eliminaccedilatildeo definitiva do conteuacutedo infringente

sect 4ordm Caso o responsaacutevel pelo conteuacutedo infringente natildeo seja identificaacutevel ou natildeo

possa ser localizado e desde que presentes os requisitos de validade da notificaccedilatildeo

cabe aos responsaacuteveis pela hospedagem de conteuacutedos na Internet manter o bloqueio

sect 5ordm Eacute facultado ao responsaacutevel pela colocaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico observados

os requisitos do sect 2ordm contranotificar os responsaacuteveis pela hospedagem de conteuacutedos na

Internet requerendo a manutenccedilatildeo do conteuacutedo e assumindo a responsabilidade

exclusiva pelos eventuais danos causados a terceiros caso em que caberaacute aos

201

responsaacuteveis pela hospedagem de conteuacutedos na Internet o dever de restabelecer o

acesso ao conteuacutedo indisponibilizado e informar ao notificante o restabelecimento

sect 6ordm Qualquer outra pessoa interessada fiacutesica ou juriacutedica observados os requisitos

do sect 2ordm poderaacute contranotificar os responsaacuteveis pela hospedagem de conteuacutedos na

Internet assumindo a responsabilidade pela manutenccedilatildeo do conteuacutedo

sect 7ordm Tanto o notificante quanto o contranotificante respondem nos termos da lei

por informaccedilotildees falsas errocircneas e pelo abuso ou maacute-feacute

sect 8ordm Os usuaacuterios que detenham poderes de moderaccedilatildeo sobre o conteuacutedo de

terceiros se equiparam aos responsaacuteveis pela hospedagem de conteuacutedos na Internet para

efeitos do disposto neste artigoldquo (NR)

ldquoArt 109-A

A prestaccedilatildeo de informaccedilotildees falsas do disposto no sect 7ordm do art 68

sujeitaraacute os responsaacuteveis a multa de dez a trinta por cento do valor originariamente

cobradordquo (NR)

ldquoArt 110-A

O titular de direito autoral ou seu mandataacuterio que ao exercer seu

direito de forma abusiva praticar infraccedilatildeo da ordem econocircmica sujeitar-se-aacute no que

couber agraves disposiccedilotildees da Lei nordm 8884 de 11 de junho de 1994 sem prejuiacutezo das demais

sanccedilotildees cabiacuteveisrdquo (NR)

ldquoArt 110-B

O oferecimento por parte de titular de direitos autorais ou pessoa a

seu serviccedilo de ganho vantagem proveito ou benefiacutecio material direto ou

indireto para os proprietaacuterios diretores funcionaacuterios ou terceiros a serviccedilo de

empresas de radiodifusatildeo ou serviccedilos de televisatildeo por assinatura com o intuito de

aumentar ou diminuir artificiosamente a frequecircncia da execuccedilatildeo ou exibiccedilatildeo puacuteblica

de obras ou fonogramas especiacuteficos caracterizaraacute infraccedilatildeo da ordem econocircmica na

forma da Lei nordm 8884 de 1994 e iliacutecito civil estando sujeito neste caso ao pagamento

de multa no valor de duas ateacute vinte vezes o valor oferecido agrave parte que demonstrar

prejuiacutezo direto ou indireto

sect 1ordm Incorrem nas mesmas infraccedilotildees e sujeitam-se agraves mesmas sanccedilotildees previstas no

caput deste artigo os proprietaacuterios diretores funcionaacuterios ou terceiros a serviccedilo de

empresas de radiodifusatildeo ou serviccedilos de televisatildeo por assinatura que com o intuito de

aumentar ou diminuir artificiosamente a frequecircncia da execuccedilatildeo ou exibiccedilatildeo

puacuteblica de obras ou fonogramas especiacuteficos solicitarem ou receberem para si ou

para outrem direta ou indiretamente ganho vantagem proveito ou benefiacutecio material

sect 2ordm O disposto neste artigo natildeo se aplica se o ato praticado constituir inserccedilatildeo

publicitaacuteria desde que a mesma seja previamente informada ao puacuteblico e que natildeo seja

computada para efeitos de arrecadaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo dos direitos autorais decorrentes

da execuccedilatildeo e exibiccedilatildeo puacuteblicasrdquo (NR)

ldquoArt 110-C

A inobservacircncia do disposto nos incisos I e II do Artigo 98ndashB nos

202

Artigos 98ndashC e 98ndashD bem como no sect 6ordm do art 99 sujeitaraacute os dirigentes das

associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos autorais ou do escritoacuterio central agrave multa de ateacute

R$ 5000000 (cinquenta mil reais) aplicada pelo Ministeacuterio da Cultura mediante

regular processo administrativo assegurado o contraditoacuterio e a ampla defesa conforme

disposto em regulamento

sect 1ordm A multa prevista no caput poderaacute ser aumentada em 50 (cinquumlenta por cento) a

cada nova reincidecircncia

sect 2ordm Os valores referentes agrave aplicaccedilatildeo da multa de que trata este artigo seratildeo

revertidos ao Fundo Nacional de Culturardquo (NR)

ldquoArt 111-A

A accedilatildeo civil por violaccedilatildeo a direitos autorais prescreve em cinco anos

contados da data da violaccedilatildeo do direito

Paraacutegrafo uacutenico Em caso de praacutetica continuada de violaccedilatildeo de direitos autorais de

determinado autor ou titular de direitos pelo mesmo infrator ou grupo de infratores

conta-se a prescriccedilatildeo do uacuteltimo ato de violaccedilatildeordquo (NR)

ldquoArt 113-A Enquanto os serviccedilos de registro de que trata o art 19 desta Lei natildeo

forem organizados pelo Poder Executivo Federal o autor da obra intelectual poderaacute

registraacute-la conforme sua natureza

I - na Fundaccedilatildeo Biblioteca Nacional

II - na Escola de Muacutesica da Universidade Federal do Rio de Janeiro

III - na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro ou

IV - no Conselho Federal de Engenharia Arquitetura e Agronomia

sect 1ordm Se a obra for de natureza que comporte registro em mais de um desses oacutergatildeos

deveraacute ser registrada naquele com que tiver maior afinidade

sect 2ordm Natildeo se aplica o disposto neste artigo para o registro de programas de

computador

sect 3ordm Enquanto o valor e processo de recolhimento de retribuiccedilatildeo natildeo forem

estabelecidos em ato do Ministro da Cultura estes continuam sendo estabelecidos por

ato do titular do oacutergatildeo ou entidade da administraccedilatildeo puacuteblica federal a que estiver

vinculado o registro das obras intelectuais

sect 4ordm Fica o Poder Executivo Federal autorizado a transferir os acervos e

documentos das entidades e oacutergatildeos relacionados neste artigo ao oacutergatildeo ou entidade que

assumir essa atribuiccedilatildeo observado o regulamentordquo (NR)

ldquoArt 113-B Aplicam-se subsidiariamente as normas do Coacutedigo Civil aos negoacutecios

juriacutedicos direitos e deveres previstos nesta Leirdquo (NR)

Art 5o

Ficam revogados

I - o art 17 da Lei nordm 5988 de 14 de dezembro de 1973 e

II - o art 21 as aliacuteneas ldquohrdquo e ldquoirdquo do inciso VIII do art29 e o inciso II do art 49 todos

da Lei nordm 9610 de 19 de fevereiro de 1998

Brasiacutelia de de 2009 188ordm da Independecircncia e 121ordm da

Repuacuteblica

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5

You never change things by fighting the existing reality To change something

build a new model that makes the existing model obsolete

(Buckminster Fuller)

6

7

IacuteNDICE

AGRADECIMENTOS 9

LISTA DE SIGLAS 11

RESUMO 15

ABSTRACT 17

INTRODUCcedilAtildeO 19

CAPIacuteTULO I

NOVAS TECNOLOGIAS NOVOS PARADIGMAS 25

10 O ideal da Rede como um territoacuterio livre 27

20 O fenocircmeno da desmaterializaccedilatildeo da obra 32

30 Espaccedilo e tempo se comprimem a dromocracia firma-se 35

40 Somos todos criadores a fusatildeo entre autor e consumidor 38

50 A era de ouro do remix 44

60 Tipos de vigilacircncia e tecnologias de controlo quem satildeo e como trabalham os

gatekeepers do ciberespaccedilo 47

CAPIacuteTULO II

DIREITOS DE AUTOR E REGULACcedilAtildeO DO CIBERESPACcedilO BRASIL E PORTUGAL

EM PERSPECTIVA 57

10 Breve retrospectiva histoacuterica do surgimento dos direitos de autor 59

20 Direitos morais e direitos patrimoniais 61

21 Direitos morais 61

22 Direitos patrimoniais 62

30 Direitos de autor e regulaccedilatildeo da Internet no Brasil e em Portugal 64

31 Legislaccedilatildeo autoral brasileira 64

32 Reforma da Lei brasileira do Direito Autoral (LDA) 67

33 O Marco Civil da Internet 69

34 Legislaccedilatildeo autoral portuguesa 73

35 Regulaccedilatildeo da Internet em Portugal 75

40 Salvaguarda dos direitos de autor e combate agrave pirataria no Brasil e em Portugal

Azeredo e Lei da Coacutepia Privada 71

41 O Projeto de Lei Azeredo 71

8

42 A Lei da Coacutepia Privada em Portugal 80

50 Controlo do ciberespaccedilo e acordos aleacutem fronteiras alguns casos-chave 84

51 HADOPI 84

52 Sinde-Wert 85

53 SOPA 86

54 ACTA 87

60 Brasil e Portugal algumas semelhanccedilas e diferenccedilas 88

70 Direitos de autor e regulaccedilatildeo da Internet uma relaccedilatildeo nebulosa 91

CAPIacuteTULO III

HARMONIZACcedilAtildeO DE INTERESSES 97

10 O direito de acesso agrave informaccedilatildeo e agrave comunicaccedilatildeo como um direito humano 99

20 Novos modelos e outras alternativas de conciliaccedilatildeo entre artistas induacutestria e

usuaacuterios de Internet 103

30 Flexibilizaccedilatildeo do regime autoral o Creative Commons 103

31 O Creative Commons Portugal 108

32 As licenccedilas 30 108

33 Parcerias 109

40 A exceccedilatildeo para compartilhamento de arquivos 110

50 Cloud computing 114

60 Licenccedila global 116

70 Mecenato global 117

80 Contribuiccedilatildeo criativa 118

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 121

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 127

ANEXOS 143

9

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo em primeiro lugar a Deus que esteve comigo todo o tempo e que me

deu refrigeacuterio nos momentos de dificuldade A mamatildee que me incentivou sempre

acreditou em mim e em meus objetivos e natildeo mediu esforccedilos para concretizaacute-los Aos

professores e colegas do mestrado com quem aprendi muito nos uacuteltimos dois anos

Aos meus amigos de perto e de longe que de alguma forma conseguiram aplacar a

dor da distacircncia Agradeccedilo especialmente agraves amigas Claacuteudia Caetano Nadeige Thireacute e

Naima Dahmas e ao professor Pedro Coelho que me deram forccedila vital em momentos

criacuteticos sem a qual eu natildeo teria concluiacutedo o curso

Quero dar meu ldquomuito obrigadardquo tambeacutem aos meus familiares principalmente agrave

minha prima Edyane Franco e ao meu tio Eacutelio Campos que tambeacutem apostaram em mim e

me deram todo apoio possiacutevel Tio e prima espero um dia retribuir todo o bem que vocecircs

jaacute fizeram e fazem agrave minha vida Que Deus lhes abenccediloe sempre

Ao meu caro orientador professor Manuel Frias Martins que me deu toda

liberdade de pensamento e de ideias para realizar esse trabalho aleacutem de contribuir

muitiacutessimo com suas orientaccedilotildees sempre concisas e praacuteticas Suas criacuteticas foram todas

construtivas Para aleacutem de grande mestre ficaraacute em minha lembranccedila como ser humano

admiraacutevel e exemplo de professor

Agradeccedilo tambeacutem agraves professoras que tive na Faculdade de Letras da Universidade

de Lisboa fora do departamento de Comunicaccedilatildeo e Cultura Ana Vrajitoru Roxana

Ciolaneanu e Zlatka Timenova-Valtcheva E um ldquoobrigadardquo agrave cara colega Manuela

Zamith

Agraves queridas irmatildes Ceciacutelia Faacutetima Maria Meyre Socorro e ao irmatildeo Eliacutesio que

sempre tiveram meu nome em conta em suas oraccedilotildees Quero partilhar essa vitoacuteria com

vocecircs tambeacutem

10

11

LISTA DE SIGLAS

ACTA - Anti-Counterfeiting Trade Agreement

ADAMI - Socieacuteteacute pour lAdministration des droits des artistes et musiciens

interpregravetes

AGECOP - Associaccedilatildeo para Gestatildeo da Coacutepia Privada

ANACOM - Autoridade Nacional de Comunicaccedilotildees

AOL - America On-Line

APCT - Associaccedilatildeo Portuguesa para o Controlo de Tiragem e Circulaccedilatildeo

ARPANet - Advanced Research Projects Agency Network

BBC - British Broadcasting Corporation

CDA - Coacutedigo do Direito de Autor e dos Direitos Conexos

Cesar - Centro de Estudos e Sistemas Avanccedilados do Recife

CNIL ndash Comission Nationale de lrsquoInformatique et des Liberteacutes

CNPD - Comissatildeo Nacional de Protecccedilatildeo de Dados

CNPJ ndash Cadastro Nacional de Pessoa Juriacutedica

CPF ndash Cadastro de Pessoas Fiacutesicas

CRIS - Communication Rights in the Information Society

DADVSI - loi relative aux Droits drsquoAuteur et aux Droits Voisins dans la Socieacuteteacute de

lrsquoInformation

DRM - Digital Rights Management

DUDH - Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos

ECAD - Escritoacuterio Central de Arrecadaccedilatildeo e Distribuiccedilatildeo

EUA ndash Estados Unidos da Ameacuterica

12

FBI - Federal Bureau of Investigation

FCEE-UCP - Faculdade de Ciecircncias Econocircmicas e Empresarias da Universidade Catoacutelica

Portuguesa

FGV DIREITO RIO - Escola de Direito da Fundaccedilatildeo Getulio Vargas no Rio de Janeiro

FSF - Free Software Foundation

GB ndash Gigabyte

GMT ndash Greenwich Mean Time

HADOPI ndash Haute Autoriteacute pour la Diffusion des Œuvres et la Protection des Droits

sur Internet

IBM - International Business Machines Corporation

ICANN - Internet Corporation for Assigned Names and Numbers

ICS - Instituto da Comunicaccedilatildeo Social

INTELI - empresa de tecnologia Inteligecircncia em Inovaccedilatildeo

ISCTE - Instituto Superior de Ciecircncias do Trabalho e da Empresa

IST - Instituto Superior Teacutecnico

IVA - Imposto sobre o Valor Acrescentado

IVC - Instituto Verificador de Circulaccedilatildeo

LDA ndash Lei do Direito Autoral

MinC ndash Ministeacuterio da Cultura

OMC - Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio

ONU ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

P2P ndash Peer-to-peer

PL118 ndash Projeto de Lei da Coacutepia Privada

13

PLC - Projeto de Lei da Cacircmara dos Deputados

PLS - Projeto de Lei do Senado Federal

PS - Partido Socialista

SALMJ - Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministeacuterio da Justiccedila

SARD ndash Socieacuteteacute drsquoAcceptation et de Reacutepartition des Dons

Serpro - Serviccedilo Federal de Processamento de Dados

SOPA ndash Stop Online Piracy Act

SPA - Sociedade Portuguesa de Autores

SPEDIDAM ndash Socieacuteteacute de Perception et de Distribution des Droits des Artistes-

Interpregravetes

SSD - Solid-state drive

STIM - Svenska Tonsaumlttares Internationella Musikbyraring

TB - Terabyte

TIC - Tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo

UE ndash Uniatildeo Europeia

UMIC - Agecircncia para a Sociedade do Conhecimento

UnB - Universidade de Brasiacutelia

UNESCO - Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura

UNL - Universidade Nova de Lisboa

UP - Universidade do Porto

USB ndash Universal Serial Bus

USP - Universidade de Satildeo Paulo

VJ - Video Jockey

14

VOD - Video on demand

WSIS - World Summit on the Information Society

15

RESUMO

As tecnologias digitais foram responsaacuteveis por profundas metamorfoses em nossas

atividades laborais e interaccedilotildees sociais As maacutequinas conectadas em rede nos permitiram

aceder a conteuacutedos produzidos nos mais distantes pontos do planeta e estreitar os laccedilos de

conhecimento com diferentes culturas e povos

A desmaterializaccedilatildeo e reproduccedilatildeo com alto teor de fidelidade de bens culturais

alterou nossos haacutebitos de consumo A gradual eliminaccedilatildeo dos suportes materiais e a

praticidade dos arquivos digitais fez-nos consumir cultura em quantidades e formatos

jamais antes imaginados

O advento do digital pocircs em xeque os tradicionais papeis de artistas e induacutestrias e

levou-nos por um caminho sem alternativa a necessidade de acompanhar as

transformaccedilotildees que se sucederam e de adaptarmo-nos a elas No combate a praacuteticas como

a pirataria as legislaccedilotildees de muitos paiacuteses foram endurecidas e os meios juriacutedicos que

versam sobre o tema enveredaram por caminhos radicais

O presente estudo traz essa problemaacutetica agrave discussatildeo tomando como objetos de

anaacutelise os contextos brasileiro e portuguecircs Discutimos as legislaccedilotildees que versam sobre os

direitos autorais em ambos os paiacuteses para assim nos concentrarmos nas relaccedilotildees entre

tecnologia e Direito bem como nas metamorfoses produzidas pela Internet nessas ligaccedilotildees

desde sempre delicadas Para tal tratamos tambeacutem da questatildeo da regulaccedilatildeo da Rede tema

intimamente ligado agraves mateacuterias anteriormente citadas

Palavras-chave Cibercultura Controlo Direitos de autor Internet Privacidade

Regulaccedilatildeo da Internet

16

17

ABSTRACT

The digital technologies were responsible for profound transformations in our work

activities and social interactions The network connected machines allowed us to gain

access to contents produced in the most remotes parts of the world and to strengthen ties

of knowledge with different cultures and peoples

The dematerialization and reproduction with hi-fi quality of cultural goods has

altered our consumption habits The gradual removal of the material support and the

convenience of digital files made us consume culture in quantities and formats never

imagined before

The advent of the digital put into question the traditional roles of artists and

industries and led us to a path of no return the need to follow up the changes which have

taken place and adapt to them In the combat against practices like piracy the legislation

of many countries was hardened and we saw the legal means dealing with the theme in

radical ways

This study discusses this problem taking as objects of analysis the brazilian and

portuguese contexts We discuss the laws that deal with copyright in both countries in

order to focus on the relations between technology and law and on the transformations

produced by the Internet in these very delicate links To this end we also deal with the Net

regulation which is a theme closely linked to the aforementioned topics

Key-words Cyberculture Control Copyright Internet Privacy Internet regulation

18

19

INTRODUCcedilAtildeO

20

21

O advento da Rede e dos meios eletrocircnicos de comunicaccedilatildeo representou uma

revoluccedilatildeo sem volta no mundo dos negoacutecios e das relaccedilotildees humanas Nascemos vivemos

trabalhamos e morremos sob a eacutegide da automatizaccedilatildeo do tratamento de dados e da maior

parte dos processos executados por instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas Jaacute ningueacutem pode

imaginar o mundo sem a rede de telecomunicaccedilotildees que liga os mais distantes pontos do

planeta A informatizaccedilatildeo penetrou todas as esferas da vida e faz parte das atividades que

desenvolvemos e ateacute de noacutes mesmos ndash o que natildeo nos deixa esquecer o visionaacuterio Marshal

McLuhan e sua teoria dos meios como extensotildees do Homem

Com a Internet surgem o ciberespaccedilo e todas as implicaccedilotildees que um novo lugar

representa abre-se uma nova esfera onde figuramos como indiviacuteduos portadores de uma

identidade e de poderes de accedilatildeo mas natildeo soacute Vimos instituiacuterem-se novas formas de poder

a fim de hierarquizar as relaccedilotildees e criar o miacutenimo de ordem para um bom funcionamento

Essa institucionalizaccedilatildeo passa pelo campo legislativo e representou para o Direito o

grande desafio de legislar em um espaccedilo livre das amarras fiacutesicas e suas limitaccedilotildees

Legislar em um lugar transfronteiriccedilo global e sem barreiras geograacuteficas passou a ser uma

missatildeo ineacutedita e desafiadora poreacutem espinhosa

A Rede abriu novos nichos de mercado mas tambeacutem representou a entrada da

economia tradicional em um caminho de colapso sem volta A necessidade de modificar

certas praacuteticas comerciais vem se impondo de forma cada vez mais exigente E essa

mudanccedila natildeo passa apenas pela missatildeo de desenvolver produtos para serem vendidos em

lojas virtuais Haacute que considerar que os proacuteprios produtos passaram em si mesmos por

uma metamorfose radical a desmaterializaccedilatildeo Na era da informatizaccedilatildeo muitos bens satildeo

constituiacutedos por bits e jaacute natildeo estatildeo fixados em suportes materiais Compra-se muacutesica em

mp3 literatura e livros acadecircmicos em formato e-book filmes em formatos que

permitem a visualizaccedilatildeo em aparelhos moacuteveis por exemplo A miniaturizaccedilatildeo dos

equipamentos favoreceu a compressatildeo dos bens culturais em arquivos cada vez menores e

compactos faacuteceis de serem descarregados e trocados

Se antes encontraacutevamos um amigo e lhe empresaacutevamos um CD hoje podemos

enviar-lhe as mesmas muacutesicas sem sair de casa por e-mail acessiacuteveis atraveacutes de um link

que o redireciona a um site de hospedagem de arquivos ou a um software de partilha

peer-to-peer (P2P) Praacuteticas como esta geraram profundas mudanccedilas na forma como

consumimos cultura A evoluccedilatildeo da tecnologia facilitou a reproduccedilatildeo aleacutem de barateaacute-la

consideravelmente

22

Para combater a troca de arquivos protegidos por direitos de autor vaacuterios paiacuteses

desenvolveram projetos de lei que propotildeem o endurecimento dos diplomas vigentes

visando utilizar a tecnologia para combater a proacutepria tecnologia Esse endurecimento das

legislaccedilotildees nacionais e internacionais propotildee o uso de medidas que causam bastante

polecircmica como taacuteticas de vigilacircncia e controlo do traacutefego de informaccedilotildees na Rede A

situaccedilatildeo levanta duacutevidas sobre as reais motivaccedilotildees de governos e empresas privadas

engajadas nessa luta contra o desrespeito aos direitos de autor Qual o limite dessas

medidas Natildeo haveria outras saiacutedas que evitassem accedilotildees radicais e invasivas

O presente estudo traz essa problemaacutetica agrave discussatildeo tomando como foco um

breve quadro comparativo entre Brasil e Portugal Discutimos as legislaccedilotildees que versam

sobre os direitos autorais em ambos as paiacuteses para assim direcionarmos nosso estudo para

as relaccedilotildees entre tecnologia e Direito e para as metamorfoses produzidas pela rede

mundial de computadores nessas relaccedilotildees desde sempre delicadas Para tal tratamos

tambeacutem da questatildeo da regulaccedilatildeo da Internet tema que natildeo eacute visivelmente relacionado com

os direitos de autor mas que os atravessa em seu nuacutecleo

Dividimos o estudo em trecircs capiacutetulos No primeiro trazemos agrave tona conceitos mais

gerais relacionados com o surgimento e desenvolvimento da Rede como a utoacutepica ideia

de um territoacuterio livre de controlo a desmaterializaccedilatildeo dos bens culturais as novas praacuteticas

de consumo e outras transformaccedilotildees que ela acarretou Ainda nesse capiacutetulo discutimos

algumas situaccedilotildees em que a tecnologia eacute utilizada para exercer vigilacircncia e monitoraccedilatildeo

como nas atividades relacionadas com o emprego e o marketing por exemplo

No segundo capiacutetulo entramos diretamente no campo das ciecircncias juriacutedicas

traccedilando um breve panorama do nascimento dos direitos de autor para em seguida nos

dedicarmos aos nossos dois objetos de estudo Portugal e Brasil Comeccedilamos por delinear

um quadro histoacuterico de ambos os paiacuteses no campo do Direito avanccedilando depois para o

estudo de projetos especiacuteficos de cada paiacutes como o Projeto de Lei Azeredo no Brasil e a

Lei da Coacutepia Privada em Portugal

Eacute ainda no segundo capiacutetulo que damos alguns exemplos de projetos de lei

voltados para o combate agrave pirataria na Rede em proporccedilotildees globais (ou que mesmo locais

satildeo paradigmaacuteticos ou que podem afetar quem estaacute para aleacutem de suas fronteiras de

atuaccedilatildeo) Falamos tambeacutem sobre a regulaccedilatildeo da Internet no Brasil e em Portugal e para

finalizarmos traccedilamos uma ponte entre direitos de autor e regulaccedilatildeo temas

intrinsecamente relacionados apesar de esta relaccedilatildeo nem sempre ser evidente

23

Abrimos o terceiro e uacuteltimo capiacutetulo tratando do direito agrave informaccedilatildeo e agrave

comunicaccedilatildeo como um direito humano Em seguida apresentamos algumas propostas de

conciliaccedilatildeo entre interesses da induacutestria dos autores e dos usuaacuterios da Rede ndash seja atraveacutes

de alternativas aos sistemas fechados de licenciamento de obras intelectuais seja por meio

de novos modelos comerciais que combinem preccedilos atraentes boa oferta e respeito pelos

direitos de autor

Decidimos traduzir todas as citaccedilotildees feitas a partir de obras em liacutengua estrangeira

de maneira a conservar a unidade linguiacutestica do trabalho As expressotildees e termos

estrangeiros foram grafados em negrito enquanto que os sublinhados aspas e itaacutelicos

foram utilizados para grafar nomes proacuteprios e ressaltar ideias que noacutes (ou os autores

citados) consideramos relevantes

Tambeacutem para facilitar a leitura optamos por fazer uma lista com as siglas e

abreviaturas constantes no texto juntamente com seus respectivos equivalentes por

extenso Resolvemos disponibilizar como anexos trecircs textos-chave que utilizamos neste

trabalho o texto brasileiro do Marco Civil da Internet o novo Projeto de Lei da Coacutepia

Privada portuguecircs e o diploma brasileiro com as propostas de reforma da Lei do Direito

Autoral

24

25

CAPIacuteTULO I

NOVAS TECNOLOGIAS NOVOS PARADIGMAS

26

27

10 O ideal da Rede como um territoacuterio livre

O nascimento da Internet foi acompanhado pelo ideal utoacutepico de surgimento de um

espaccedilo de liberdade absoluta A convicccedilatildeo era a de que se podia fazer muito pouco para

controlar o fluxo de informaccedilotildees que ultrapassam as fronteiras geograacuteficas A forma como

a conexatildeo entre as maacutequinas e a proacutepria arquitetura do sistema foram pensadas e

realizadas contribuiacutea para seu caraacuteter descentralizado e independente Criada como

ferramenta militar a antiga ARPANet foi projetada pelos norte-americanos para ser uma

rede de transmissatildeo de informaccedilotildees baseada em pontos como uma teia de aranha Se um

desses pontos fosse sabotado o sistema natildeo se danificaria pois natildeo possui um ceacuterebro

central a ser atingido A queda de um dos noacutes natildeo impossibilita a circulaccedilatildeo de

informaccedilotildees Nicolas Negroponte ressalta o prodiacutegio do sistema descentralizado que eacute a

Rede e compara seu modelo de funcionamento aos patos voando em formaccedilatildeo mesmo na

inexistecircncia de um comando suas peccedilas se ajustam de maneira admiraacutevel (Negroponte

1995 156-157)

A maior contribuiccedilatildeo da Rede agrave humanidade talvez tenha sido a liberaccedilatildeo do poacutelo

da emissatildeo ou da palavra (Lemos 2007b 37) isto eacute qualquer pessoa que tenha acesso a

um computador conectado agrave Internet pode falar e ser ouvida por centenas milhares de

outros utilizadores da Rede Atraveacutes da publicaccedilatildeo de textos viacutedeos etc em blogs e redes

sociais o internauta pode comunicar-se de maneira interativa com outros e propagar suas

ideias

O nascimento das tecnologias digitais construiu uma nova espeacutecie de cultura

marcada por relaccedilotildees sociais econocircmicas e poliacuteticas mediadas pela esfera virtual a

cibercultura O aparecimento da cibercultura tem a ver sobretudo com a transformaccedilatildeo

dos novos aparatos de informaccedilatildeo em recursos de uso ordinaacuterio por parte de pessoas e

instituiccedilotildees nessa nova era a utilizaccedilatildeo de equipamentos como telefones portaacuteteis palms

pages etc e praacuteticas como o voto eletrocircnico e o uso de home bankings se tornaram

rotineiras A palavra cibercultura aparece para dar conta desse e dos demais fenocircmenos

que nasceram agrave volta das noviacutessimas tecnologias de comunicaccedilatildeo das chamadas miacutedias

digitais interativas

Associa-se a criaccedilatildeo da expressatildeo cibercultura agrave engenheira norte-americana Alice

Hilton Fundadora do Instituto de Pesquisas Ciberculturais em 1964 Hilton foi pioneira ao

28

usar a expressatildeo com sentido enfaacutetico referindo-se com seu uso a uma exigecircncia eacutetica da

nova era da automaccedilatildeo e das maacutequinas inteligentes (Ruumldiger 2011 08) Para a autora a

revoluccedilatildeo que essa nova era pocircs em marcha coloca agrave sociedade um desafio eacutetico de escala

universal A humanidade deve agora escolher entre a educaccedilatildeo emancipatoacuteria e o lazer

criativos de um lado e a adaptaccedilatildeo mecacircnica e a idiotia apaacutetica de outro Hilton afirmava

que a revoluccedilatildeo ciberneacutetica tornava necessaacuteria uma reestruturaccedilatildeo dos programas e

processos educacionais jaacute que apenas ldquoos seres humanos que aprenderem a usar a

maacutequina com sabedoria seratildeo por ela liberados para alcanccedilar sua excelecircnciardquo (Hilton

1964 146)

Com o aparecimento da Internet surgiram definiccedilotildees mais abrangentes Arturo

Escobar diz que o termo cibercultura refere-se ldquoa um amplo processo de construccedilatildeo

sociocultural (da realidade) posto em marcha no rastro das novas tecnologiasrdquo (Escobar

apud Ruumldiger 2011 09) Jaacute Pierre Leacutevy propocircs um conceito mais direto a cibercultura eacute

ldquoo conjunto de teacutecnicas (materiais e intelectuais) de praacuteticas de atitudes de modos de

pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do

ciberespaccedilordquo (Leacutevy 1999 17) Consideremos o ciberespaccedilo (o novo lugar onde se

desenvolve o mundo virtual e todos os processos que permitem e atuam em seu

funcionamento) como efeito da cibercultura

A cibercultura eacute classificada por Luacutecia Santaella como a sexta e mais recente era

cultural (Santaella 2010 77) Os estaacutegios anteriores seriam oral escrito impresso de

massas e das miacutedias A cultura de massa resultado do aacutepice de desenvolvimento das

induacutestrias culturais ficou marcada pela ideia do Homem como um mero receptor sem

poder de decisatildeo despersonalizado e alienado pela enxurrada de informaccedilotildees generalistas

produzidas em larga escala Isso se deu segundo Joeumll Rosnay porque a estrutura de

distribuiccedilatildeo e difusatildeo dos produtos e serviccedilos culturais baseada em um modelo piramidal

transformou-nos de facto em receptores passivos (Rosnay 1997 295-296) O exemplo

crucial eacute o da televisatildeo natildeo haacute qualquer relaccedilatildeo dinacircmica entre produtores e receptores de

informaccedilatildeo A uacutenica forma de saber o que o puacuteblico pensa eacute realizar inqueacuteritos pesquisas

de audiecircncia ou outros levantamentos do gecircnero ndash mas tudo isso se faz em outro contexto

que natildeo o do momento do visionamento Agrave parte disso soacute recebemos aquilo que nos eacute

dado sem poder interferir nos processos produtivos

A passagem para a cultura das miacutedias se deu com o aparecimento da TV por cabo

do fax das fotocopiadoras do videocassete e de um sortimento maior de possibilidades de

29

comunicaccedilatildeo Eacute aiacute que a segmentaccedilatildeo da audiecircncia aparece para quebrar a uniformidade

da oferta

Mas foi na transiccedilatildeo da cultura das miacutedias para a cibercultura que houve a

mudanccedila mais profunda a relaccedilatildeo receptiva de sentido uacutenico com o televisor caminhou

rumo ao modo interativo e bidirecional que eacute exigido pelos computadores Para Francisco

Ruumldiger na nova miacutedia digital a comunicaccedilatildeo eacute interativa em sentido simultaneamente

especiacutefico e ampliado ampliado por um lado porque permite a interaccedilatildeo humana ativa e

em matildeo dupla com os proacuteprios equipamentos e meios que a viabilizam especiacutefico de

outro porque esta circunstacircncia permite ainda a interaccedilatildeo social ativa com outros seres

humanos ao promover o aparecimento de redes participativas que superam a pura e

simples interligaccedilatildeo social como ocorria nas miacutedias precedentes (Ruumldiger 2011 13)

A cibercultura abriu vias alternativas de comunicaccedilatildeo e deu ao puacuteblico uma vasta

gama de opccedilotildees nunca antes possiacutevel Ao contraacuterio das miacutedias precedentes que montavam

suas grades de programaccedilatildeo e de conteuacutedos agrave revelia das muacuteltiplas preferecircncias do

puacuteblico no ciberespaccedilo o utilizador tem infinitas possibilidades de escolha podendo

transitar de um conteuacutedo para outro em apenas alguns cliques criando seu proacuteprio

ambiente informacional e mesclando-o com outros Natildeo que antes natildeo houvesse

possibilidades de acesso e produccedilatildeo underground da informaccedilatildeo (fanzines raacutedios piratas

etc) ndash elas sempre existiram mas com alcance bastante limitado

Na cibercultura a piracircmide produtiva em seu modelo hieraacuterquico no qual os

papeis desempenhados eram fixos comeccedila a ceder Cada um pode torna-se produtor

criador difusor de seus proacuteprios conteuacutedos A sociedade de distribuiccedilatildeo piramidal

comeccedilou a sofrer a concorrecircncia de uma sociedade reticular de integraccedilatildeo em tempo real ndash

eacute essa uma das caracteriacutesticas mais marcantes da nova era midiaacutetica a era da cibercultura

Cada vez mais ela vecirc seu lugar de mediadora social da opiniatildeo puacuteblica ser denunciado e

rejeitado por partes significativas das grandes massas que antes se deixavam de bom

grado representar (Rushkoff 1999 141-142)

No entanto essa mudanccedila natildeo significou a morte daquilo a que Manuel Castells

chamou ldquooligopoacutelios comunicacionaisrdquo (Castells 2005 24) A influecircncia das grandes

induacutestrias de miacutedia e dos conglomerados comunicacionais continua relativamente forte no

ciberespaccedilo persistindo tambeacutem a defesa de seus interesses em detrimento do interesse

puacuteblico Conforme Castells afirma

30

() a sociedade em rede constitui comunicaccedilatildeo socializante para laacute do sistema de mass

media que caracterizava a sociedade industrial Mas natildeo representa o mundo de

liberdade entoada pelos profetas da ideologia libertaacuteria da Internet Ela eacute constituiacuteda

simultaneamente por um sistema oligopolista de negoacutecios multimeacutedia que controlam um cada vez mais inclusivo hipertexto e pela explosatildeo de redes horizontais de

comunicaccedilatildeo localglobal (CASTELLS 2005 24)

Os grandes conglomerados temem perder sua influecircncia e seu prestiacutegio e para

evitar ameaccedilas reagem usando muitos meios que ajudam a manter seu status quo no

universo comunicacional Basta que os interesses das empresas vejam-se ameaccedilados por

iniciativa dos usuaacuterios para o conflito explodir e o confronto aparecer em toda sua

violecircncia (Antoun Lemos amp Pecini 2007 264)

Eacute preciso salientar que o desenvolvimento da informaacutetica expandiu natildeo apenas as

ferramentas libertaacuterias que abriram um maior acesso agrave informaccedilatildeo e agrave cultura mas

tambeacutem os meios de controlo a esse acesso A tecnologia se mostra uma faca de dois

gumes capaz de facilitar o contato de seu usuaacuterio com canais eficientes de interaccedilatildeo e

participaccedilatildeo mas ao mesmo tempo uacutetil aos governos e aos grupos de interesses em sua

empreitada pela vigilacircncia das atividades desse usuaacuterio na Rede Recorrendo mais uma

vez a Castells

Aplicaccedilotildees de software podem configurar-se sobre a Internet permitindo a

identificaccedilatildeo de rotas de comunicaccedilatildeo e conteuacutedos Atraveacutes do uso destas tecnologias pode-se transgredir a privacidade e enquanto se chega a relacionar determinados

indiviacuteduos com processos de comunicaccedilatildeo especiacuteficos em contextos institucionais

concretos eacute possiacutevel utilizar todas as formas tradicionais de controlo poliacutetico e

organizativo contra o indiviacuteduo ligado em rede (CASTELLS 2007 203)

Dispositivos moacuteveis equipamentos informaacuteticos interligados e redes sem fio

constituem o territoacuterio informacional Entenda-se por territoacuterio informacional as zonas de

controlo de informaccedilatildeo resultantes da intersecccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico com o eletrocircnico

Pensar em termos de territoacuterio digital permite visualizar a fronteira do fluxo

informacional colocando-nos questotildees poliacuteticas relacionadas com a privacidade o

controlo e a vigilacircncia Isto porque ldquotodo territoacuterio informacional eacute um lugar social de

vigilacircncia de fronteiras jaacute que lsquoa soberania se exerce nos limites de um territoacuteriorsquo

(Foucault 2006 27) Os territoacuterios informacionais satildeo lugares onde se exercem controles

[]rdquo (Lemos 2007a 208) Em obra posterior Andreacute Lemos afirma ainda o seguinte

31

O territoacuterio informacional natildeo eacute o ciberespaccedilo mas o espaccedilo movente hiacutebrido

formado pela relaccedilatildeo entre o espaccedilo eletrocircnico e o espaccedilo fiacutesico Por exemplo o lugar

de acesso sem fio em um parque por redes wi-fi eacute um territoacuterio informacional distinto

do espaccedilo fiacutesico parque e do espaccedilo eletrocircnico Internet Ao acessar a Internet por essa rede wi-fi o usuaacuterio estaacute em um territoacuterio informacional imbricado no territoacuterio fiacutesico

(e poliacutetico cultura imaginaacuterio etc) do parque [] O territoacuterio informacional cria um

lugar dependente dos espaccedilos fiacutesico e eletrocircnico a que ele se vincula [] O que estaacute

em jogo eacute o controle (territorializaccedilatildeo) informacional e consequentemente uma nova

funccedilatildeo dos espaccedilos (puacuteblicos e privados) (LEMOS 2010 64)

Ainda haacute quem acredite que a Rede eacute um territoacuterio neutro sem governanccedila que

exerccedila algum controlo de entrada e do traacutefego de conteuacutedos em circulaccedilatildeo A situaccedilatildeo natildeo

eacute bem esta desde que a Internet passou a ser mateacuteria de legislaccedilatildeo ndash como em casos de

paiacuteses que jaacute punem judicialmente algueacutem que produza e divulgue via Internet

informaccedilotildees caluniosas sobre outrem cometa fraudes financeiras usando a Rede como

canal fira a propriedade intelectual etc

Vaacuterios autores consideram o ciberespaccedilo como um espaccedilo ilimitado constituiacutedo

por redes informacionais planetaacuterias permitindo a circulaccedilatildeo fora de qualquer

constrangimento Para eles a Rede seria portanto um espaccedilo puro e eteacutereo Os entusiastas

da liberdade absoluta na Internet afirmam que no ciberespaccedilo o territoacuterio rugoso e

resistente eacute apagado apenas subsistindo um espaccedilo fluido feito para circulaccedilatildeo Contudo

embora realmente permita essa circulaccedilatildeo o ciberespaccedilo eacute tambeacutem um espaccedilo estriado

institucionalizado controlado feito por protocolos de acessos a partir de senhas

informacionais organizado por padrotildees tecnoloacutegicos que satildeo geridos pelo ICANN

instituiccedilatildeo do Departamento de Comeacutercio Americano O ciberespaccedilo natildeo eacute um territoacuterio

apenas liso e fluido mas tambeacutem um territoacuterio de controlo e vigilacircncia ou seja um ldquolugar

de territorializaccedilatildeordquo (Lemos 2007b 44-45)

Para Luacutecia Santaella o tratamento criacutetico das chamadas ldquosupervias

informacionaisrdquo e da cibercultura que nelas se gera pode se dividir em duas tendecircncias a

eufoacuterica e a disfoacuterica (Santaella 2010 72-73) Os adeptos eufoacutericos pregam a ideia da

libertaccedilatildeo e das possibilidades utoacutepicas abertas pela comunicaccedilatildeo digital A atmosfera de

zona livre que a Internet aparentava ter nutriu ideais de mudanccedilas das formas de poder

social vigentes Pensou-se a Rede e seu caraacuteter imaterial como um novo espaccedilo livre das

formas tradicionais de propriedade Como diz Sherry Turkle ldquoPessoas que pensam o

mundo em termos burocraacuteticos preconizaram os modos pelos quais as comunidades

eletrocircnicas estariam fadadas a minar as formas tradicionais de organizaccedilatildeo e poder

sociaisrdquo (Turkle 1997 247)

32

No outro extremo estatildeo os adeptos disfoacutericos que transplantam para o ciberespaccedilo

os mesmos criteacuterios utilizados para criticar as outras miacutedias a cultura de massas e a

induacutestria cultural sem considerar as novidades e as especificidades desse novo meio Eacute

preciso considerar que o ciberespaccedilo eacute um fenocircmeno suficientemente complexo para que

natildeo o categorizemos a partir do ponto de vista de qualquer miacutedia previamente existente

Ateacute na discussatildeo referente agrave regulaccedilatildeo1 devemos considerar esse aspecto Mais adiante

voltaremos a falar sobre isso

Henrique Antoun salienta a metamorfose provocada pela comunicaccedilatildeo distribuiacuteda

pelas redes interativas mas critica o cacircntico do cibermundo libertador entoado pelos mais

entusiasmados Apesar do potencial transformador das novas tecnologias de seu poder de

reunir pessoas em prol de objetivos comuns e de seu largo alcance no globo a profusatildeo

em cascata de informaccedilotildees irrelevantes ergue um gigantesco tsunami onde se guarda a

maior parte dos conteuacutedos em circulaccedilatildeo na Internet E isso tudo estaacute longe da

recombinaccedilatildeo criadora e da atitude libertaacuteria preconizada nos mantras entoados pelos

ciberativistas (Antoun 2010 142)

Devemos considerar poreacutem que atraveacutes da apoteose da emissatildeo livre (liberdade de

vozes opiniotildees ideias) o ciberespaccedilo abriu possibilidades de mudanccedila movimento e

linhas de fuga Natildeo eacute agrave toa que atitudes de repressatildeo agrave palavra e agrave conexatildeo livres satildeo

prerrogativas tiacutepicas dos regimes totalitaacuterios

O facto eacute que os poderes judiciaacuterios de vaacuterias naccedilotildees espalhadas pelo planeta

perceberam a necessidade de punir natildeo apenas quem ferisse a moral de outra pessoa

atraveacutes da Rede mas tambeacutem quem atentasse contra outro dos ldquodireito de personalidaderdquo

ndash a saber os direitos de autor - e tambeacutem quem desrespeitasse a propriedade intelectual

Com isso a principal duacutevida que se levanta desde entatildeo eacute como adaptar o quadro juriacutedico

que versa sobre os direitos de autor os direitos conexos e a propriedade intelectual a esse

novo meio o virtual Para tentar responder a essa questatildeo eacute preciso observar algumas

mudanccedilas trazidas natildeo soacute pela Internet mas tambeacutem pelas miacutedias digitais de maneira

geral

20 O fenocircmeno da desmaterializaccedilatildeo da obra

1 Utilizamos aqui o termo regulaccedilatildeo para nos referirmos ao conjunto de medidas legais ou regulamentares

que regem um assunto (no caso um meio a Internet) embora haja especialistas que evoquem o mesmo tema

com os termos regulamentaccedilatildeo governaccedilatildeo ou governanccedila

33

Em seu formato analoacutegico uma informaccedilatildeo ndash agrave maneira de uma onda sonora que

se desloca no ar ou de um sinal eleacutetrico ndash eacute uma grandeza fiacutesica que varia e evolui no

tempo de maneira contiacutenua A digitalizaccedilatildeo consiste em dividir essa grandeza em

pequenas fraccedilotildees mediante o valor que tecircm em intervalos regulares (para a muacutesica de um

CD por exemplo 40000 vezes por segundo) Depois eacute preciso quantificar esse valor

atribuindo-lhe uma identificaccedilatildeo informaacutetica sob formato binaacuterio isto eacute utilizando apenas

dois nuacutemeros 0 e 1 (bits da informaccedilatildeo) O sinal digital eacute portanto um fluxo de bits

estocado em um disco laser e agrupado em pacotes podendo ser tratado por qualquer

computador

A digitalizaccedilatildeo homogeneiacuteza todas as fontes de informaccedilatildeo em cadeias sequenciais

de 0 e 1 Suas maiores vantagens satildeo a compressatildeo de dados e a correccedilatildeo de erros A

compressatildeo baseia-se no facto de que um sinal conteacutem muitas informaccedilotildees inuacuteteis ou

redundantes Atraveacutes da observaccedilatildeo dos bits no tempo no espaccedilo ou em ambos podem-se

remover as repeticcedilotildees comprimindo assim a forma baacutesica do som e da imagem Isso

permite inclusive a compressatildeo e descompressatildeo codificando e decodificando mensagens

em viacutedeo por exemplo A fusatildeo entre aacuteudio viacutedeo e texto em um soacute produto eacute

denominada multimiacutedia Ela refere-se assim ao tratamento digital de todas as

informaccedilotildees (som imagem programas informaacuteticos e texto) com a mesma linguagem

universal aquilo a que Joeumll Rosnay chamou de ldquoesperanto das maacutequinasrdquo (Rosnay 1997

97)

Antes da digitalizaccedilatildeo os suportes eram incompatiacuteveis e isolados cada um com

uma funccedilatildeo especiacutefica fita magneacutetica para viacutedeo ou som papel para texto e peliacutecula para

fotografia ou filme Hoje a transmissatildeo de dados digitais natildeo depende do meio de

transporte (cabos sateacutelite ondas de raacutedio etc) e sua qualidade natildeo eacute afetada por ele

Aleacutem do mais sua estocagem eacute extremamente barata Desde o iniacutecio da informaacutetica as

memoacuterias dos computadores tecircm evoluiacutedo sempre em direccedilatildeo a uma maior capacidade de

armazenamento maior miniaturizaccedilatildeo maior rapidez de acesso e confiabilidade enquanto

seu custo cai constantemente O processamento de dados por parte dos computadores

tambeacutem se desenvolve a passos largos obedecendo agrave previsatildeo de Gordon Moore em 1965

(naquela que ficou conhecida como ldquoLei de Moorerdquo que disse que o poder de

processamento dos computadores dobraria a cada vinte e quatro meses) (Leacutevy 1999 34)

34

Em um uacutenico setor do todo digital foram fundidas as principais formas de comunicaccedilatildeo

humana o documento escrito (imprensa livro etc) o audiovisual (cinema televisatildeo

etc) as telecomunicaccedilotildees (telefone cabo sateacutelites) e a informaacutetica (computadores

softwares etc) Eacute esse o processo comumente denominado ldquoconvergecircncia das miacutediasrdquo

(Santaella 2010 84)

A digitalizaccedilatildeo tambeacutem facilitou os processos de transferecircncia de dados Depois de

serem convertidos em linguagem binaacuteria os dados hiacutebridos podem ser sintetizados em

qualquer lugar e em qualquer tempo para gerar produtos com as mesmas caracteriacutesticas

visuais e sonoras Assim os dados natildeo dependem do tempo nem do espaccedilo podendo ser

reproduzidos de maneira idecircntica natildeo importando qual tenha sido sua origem nem seu

destino Eles satildeo telegrafaacuteveis Para que isso se realize precisam apenas de um modem e

de uma conexatildeo telefocircnica entre terminais de computadores

Foram dois estudantes da Universidade de Chicago que criaram o modem em

1978 Para natildeo percorrerem a longa distacircncia entre suas respectivas casas os estudantes

tentaram desenvolver um sistema de transferecircncia de programas de um computador a

outro via telefone Eles entatildeo inventaram o protocolo Xmodem que permitia que

computadores transferissem arquivos diretamente sem passar por um sistema principal

Modem significa ldquomodulador-desmoduladorrdquo Ele transforma os impulsos eletrocircnicos

produzidos pelo computador (os coacutedigos sob a forma de bits) em impulsos sonoros ou

digitais compactados tornando-os assim capazes de viajar em alta velocidade pelas redes

telefocircnicas Na recepccedilatildeo outro modem reconverte esses impulsos em textos sons ou

imagens Joeumll Rosnay diz que o modem eacute a sinapse universal do sistema nervoso

planetaacuterio (Rosnay 1997 138)

Portanto o que diferencia a informaccedilatildeo distribuiacuteda pela Internet daquela difundida

em formatos tradicionais eacute a natureza ela deixou de se apoiar em suportes fiacutesicos como

um livro ou CD por exemplo para ser convertida em linguagem binaacuteria O efeito nos leva

a pensar em paralelo ao que Karl Marx quis dizer quando afirmou que ldquotudo o que eacute soacutelido

desmancha no arrdquo (Marx apud Berman 1982 85) Essa mudanccedila na forma como a

informaccedilatildeo eacute fixada provocou profundas transformaccedilotildees na maneira como eacute distribuiacuteda

comercializada e reproduzida A desmaterializaccedilatildeo da obra diminuiu os limites entre a

reproduccedilatildeo difusatildeo e sua circulaccedilatildeo Jaacute natildeo existem barreiras fiacutesicas que separem os trecircs

processos Uma obra que antes soacute poderia ser distribuiacuteda pelos serviccedilos postais hoje pode

ser acessada atraveacutes de um download e seu conteuacutedo pode ser visualizado por meio de um

35

servidor de Internet A era da cibercultura faz nascer um novo paradigma a digitalizaccedilatildeo

que por ter vocaccedilatildeo cosmopolita rompe fronteiras barateando os custos da circulaccedilatildeo e

reproduccedilatildeo de artefatos culturais

A aura da obra original agrave qual se referiu Walter Benjamin no claacutessico texto ldquoA

obra de arte na era da sua reprodutibilidade teacutecnicardquo (Benjamin 2012 59) quebra-se

duplamente na era da cibercultura natildeo soacute pela possibilidade de copiaacute-la infinitamente

mas tambeacutem de reproduzi-la e espalhaacute-la sem sequer ser preciso algum suporte fiacutesico

Pierre Sirinelli afirma que o fenocircmeno da digitalizaccedilatildeo de bens culturais ldquopode levar agrave

lsquodessacralizaccedilatildeorsquo da obra de criaccedilatildeo intelectual com a eliminaccedilatildeo de seu suporte fiacutesico

[]rdquo (Sirinelli apud Neto 1997 14) A ausecircncia do exemplar material faz faltar uma das

caracteriacutesticas da obra protegida pelo direito do autor a fixaccedilatildeo (Paesani 2008 48) A

desmaterializaccedilatildeo da obra e suas consequecircncias satildeo pontos centrais na discussatildeo sobre as

mudanccedilas sofridas pelo direito de autor na era da informatizaccedilatildeo

30 Espaccedilo e tempo se comprimem a dromocracia firma-se

As novas tecnologias criaram um novo lugar o mundo virtual que eacute o espaccedilo onde

se desenvolve nossa existecircncia enquanto agentes virtuais capazes de intervir e de ocupar

esse territoacuterio

A noccedilatildeo de territoacuterio eacute polissecircmica e natildeo deve ser entendida apenas pelo aspecto

juriacutedico como espaccedilo fiacutesico delimitado (Lemos 2007a 209) A ideia de territoacuterio evoca o

sentido de controlo sobre fronteiras que podem ser fiacutesicas sociais simboacutelicas ou

subjetivas A criaccedilatildeo de um territoacuterio supotildee a intenccedilatildeo de controlar os processos que se

datildeo no interior das fronteiras Desterritorializar eacute portanto quebrar essas fronteiras criar

linhas de fuga Eacute justamente o que vem acontecendo desde o surgimento da Rede

A transformaccedilatildeo midiaacutetica promovida pela Internet aboliu nossas tradicionais

noccedilotildees de espaccedilo fiacutesico-geograacutefico A rede mundial de computadores trouxe a diminuiccedilatildeo

das distacircncias geograacuteficas de forma ainda mais acentuada que outros meios de

comunicaccedilatildeo veteranos ndash como o telefone por exemplo - atraveacutes de uma instantaneidade

nunca vista antes Ela promoveu a convergecircncia de diversos meios de comunicaccedilatildeo

fazendo-os trabalhar em conjunto e assim possibilitando o surgimento de um espaccedilo

multimiacutedia capaz de unificar tecnologias de texto aacuteudio e viacutedeo em tempo real

36

Com o advento da Internet a informaccedilatildeo e a comunicaccedilatildeo deixaram de estar

espacialmente localizadas - isto eacute foram transferidas para o espaccedilo virtual ou ciberespaccedilo

possibilitando o contato simultacircneo de inuacutemeras pessoas entre si e com a memoacuteria do

conjunto dos computadores participantes da rede independentemente de sua localizaccedilatildeo

no espaccedilo (Sorj 2003 36) A cibercultura representou a apoteose da ldquoaldeia globalrdquo

imaginada por Marshall McLuhan (1969) agrave maneira de uma aldeia onde as notiacutecias

espalham-se velozmente a comunicaccedilatildeo em escala global se produz de maneira

praticamente instantacircnea

Armand Mattelart argumenta que a Rede tornou nulas as noccedilotildees de centralidade de

territorialidade e de materialidade

As quatro virtudes cardeais da sociedade informacional ndash ldquodescentralizarrdquo ldquoglobalizarrdquo ldquoharmonizarrdquo e ldquodar pleno poder para fazerrdquo (empowerment) ndash estatildeo a

ponto de derrubar o arcaico Leviatatilde Noacutes nos socializaremos em bairros digitais nos

quais o espaccedilo fiacutesico natildeo seraacute mais pertinente O digital suportaraacute cada vez menos a

dependecircncia em relaccedilatildeo a um lugar especiacutefico e a um tempo especiacutefico

(MATELLART 2002 150)

Anteriormente afirma que

A transgressatildeo das fronteiras eacute seu corolaacuterio quer sejam elas fiacutesicas ou funcionais O

local o nacional e o global se interpenetram A concepccedilatildeo a produccedilatildeo e a

comercializaccedilatildeo satildeo pensadas de modo sincrocircnico O recipiente e o conteuacutedo o

hardware e o software se englobam (MATTELART 2002 53)

Andreacute Lemos refere-se ao ciberespaccedilo como ambiente ldquodesterritorializanterdquo

segunda dimensatildeo de lugar que se constitui em uma realidade agrave parte do mundo material

em que vivemos e que apaga as fronteiras existentes no mundo fiacutesico pelo chamado

multiculturalismo (Lemos 2007a 212) A Rede abre espaccedilo para que diferentes culturas

se expressem e se mostrem dando-se a conhecer aos outros

Podemos dizer que a cibercultura serviu como agente difusor por excelecircncia do

multiculturalismo pela possibilidade de contatos transnacionais que promoveu Nossas

raiacutezes culturais natildeo se desprendem de noacutes mas tornam-se moacuteveis flutuantes Se

quisermos descobrir o sufismo por exemplo podemos aceder diretamente a um site

egiacutepcio e mesmo que natildeo saibamos ler em aacuterabe jaacute haacute ferramentas que permitem fazecirc-lo

pois auxiliam na traduccedilatildeo bruta de textos Nem mesmo as liacutenguas estrangeiras representam

37

barreiras Podemos ter liccedilotildees baacutesicas de aacuterabe gratuitamente pela Internet A abertura de

espaccedilos para as diferentes expressotildees culturais e linguiacutesticas manifestarem-se e a

facilidade de aceder a elas atingiu seu apogeu no ciberespaccedilo todo um universo

multicultural de pluralidade estaacute largamente disponiacutevel a alguns cliques de distacircncia

Hoje a Rede permite ao usuaacuterio estar em todos os lugares ao mesmo tempo mas

numa espeacutecie de natildeo-lugar ou de territoacuterio transnacionalizado Atraveacutes da Internet eacute

possiacutevel ouvir uma raacutedio francesa ler um jornal indiano e visitar um site russo Fazemos

coisas assim diariamente com naturalidade e facilidade Podemos conversar com um

amigo que estaacute no Liacutebano atraveacutes do Skype sem nos darmos conta de que vivemos um

processo de desterritorializaccedilatildeo generalizado Acompanhamos o desenrolar da Primavera

Aacuterabe ao vivo atraveacutes da Rede acessamos informaccedilotildees e descobrimos aquilo que natildeo faz

necessariamente parte de nosso territoacuterio fiacutesico Podemos vivenciar processos globais natildeo

enraizados na nossa tradiccedilatildeo cultural Esse fenocircmeno eacute o que Anthony Giddens (2005 15)

chama de ldquodescontextualizaccedilatildeordquo2

Por descontextualizaccedilatildeo refiro-me agrave ldquodesinserccedilatildeordquo das relaccedilotildees sociais dos contextos

locais de interacccedilatildeo e agrave sua reestruturaccedilatildeo atraveacutes de extensotildees indefinidas de espaccedilo-

tempo Os mecanismos de descontextualizaccedilatildeo [] removem as relaccedilotildees sociais da sua

ldquofixaccedilatildeordquo em locais especiacuteficos (GIDDENS 2005 15-37)

A compressatildeo do espaccedilo-tempo institui o ldquotempo realrdquo e a possibilidade de acesso

a informaccedilotildees em todos os recantos do planeta As miacutedias eletrocircnicas criam assim

processos desterritorializantes em niacuteveis poliacutetico econocircmico social cultural e subjetivo

A desterritorializaccedilatildeo informacional afeta a poliacutetica a economia o indiviacuteduo os viacutenculos

identitaacuterios a arte A Internet eacute efetivamente maacutequina desterritorializante sob os aspectos

poliacutetico (acesso e accedilatildeo para aleacutem das fronteiras) econocircmico (circulaccedilatildeo financeira

mundial) cultural (consumo de bens simboacutelicos mundiais) e subjetivo (influecircncia global

na formaccedilatildeo do sujeito) Pode-se afirmar que processos de desencaixe e de compressatildeo

espaccedilo-tempo entraram em accedilatildeo na cibercultura

Isso leva-nos a pensar no conceito de ldquodromologiardquo proposto por Paul Virilio

(2000) e retomado por Eugecircnio Trivinho (2007) Dromologia vem da palavra dromos no

original grego ldquocorridardquo A dromologia seria portanto o estudo da velocidade que

segundo Virilio tornou-se desde a Revoluccedilatildeo Industrial o regime tecnoloacutegico integral que

2 No original em inglecircs disembedding (Giddens 1995)

38

abarca todas as esferas da vida e que se ergueu como sistema social de caraacuteter

transnacional

Trivinho fala em ldquodromocracia ciberculturalrdquo para descrever a atual fase mundial

do capitalismo tardio Integrando comunicaccedilatildeo em rede instantaneidade e cultura digital

ela se traduz em outros termos como o estaacutegio mais avanccedilado da civilizaccedilatildeo midiaacutetica em

tempo real Ela tornou-se a loacutegica exponencial especiacutefica da cibercultura Dizendo de

maneira inversa a cibercultura em sua natureza se mostra como uma sociodromocracia

tecnoloacutegica em sua forma mais definida (Trivinho 2007 23)

Podemos dizer que a cibercultura eacute a era dromocraacutetica por excelecircncia no

ciberespaccedilo a velocidade eacute a grandeza mais significativa e influente

O permanente intento de vitoacuteria cineacutetica sobre o territoacuterio geograacutefico alcanccedila assim paradoxalmente na intermitente linha do tempo histoacuterico o seu ponto-limite a sua

condiccedilatildeo insuperaacutevel de natildeo-retorno com a proliferaccedilatildeo comercial dos meios

eletrocircnicos de comunicaccedilatildeo especificamente no que dizem respeito ao tempo real []

O respectivo ecircxito sobre o territoacuterio geograacutefico significa mais propriamente liquidaccedilatildeo

e superaccedilatildeo do mesmo em favor da loacutegica pura do tempo (TRIVINHO 2007 56-57)

A questatildeo do territoacuterio tem relaccedilatildeo direta com o controlo A noccedilatildeo de territoacuterio

como controlo vem da etologia mostrando como o comportamento dos animais estabelece

zonas efetivas de controlo Toda ideia de territoacuterio tem ligaccedilatildeo direta com a noccedilatildeo de

acesso e controlo no interior das fronteiras Para Lemos as palavras acesso e controlo satildeo

extremamente importantes para que consigamos compreender a sociedade tecnoloacutegica

contemporacircnea (Lemos 2007b 43) O acesso ao universo informacional se daacute atraveacutes de

palavras-passe E na Rede haacute efetivamente um maior controlo sobre o que emitimos e

recebemos ao contraacuterio da praacutetica de consumo de informaccedilatildeo na cultura de massas Na

claacutessica cultura de massas a possibilidade de controlo existia apenas sobre as informaccedilotildees

recebidas escolha de jornais de emissoras de televisatildeo de estaccedilotildees de raacutedio etc mas natildeo

sobre a emissatildeo O territoacuterio informacional eacute uma heterotopia (Foucault 1984) do controlo

e acesso a informaccedilotildees digitais

40 Somos todos criadores a fusatildeo entre autor e consumidor

39

O papel do autor sofreu profundas metamorfoses na era da cibercultura

Hildebrando Neto afirma que ldquoas novas tecnologias afastaram o criador da criaccedilatildeo

pulverizando os mecanismos de defesa da obra no acircmbito das redes de comunicaccedilatildeo

eletrocircnicardquo (Neto 1997 14) A aceleraccedilatildeo tecnoloacutegica tambeacutem cria outro receptor ativo

agitado cada vez mais conectado e produtor de novos valores sentidos e comportamentos

Na cibercultura a produccedilatildeo de informaccedilotildees deixou de obedecer agrave ordem do fluxo um

todos e passou a ser todos todos (Leacutevy 1999 63) Conforme diz Ronaldo Lemos

A grande promessa da Internet era exatamente esta romper com as barreiras entre

produtor e consumidor da cultura entre puacuteblico e artista Criar um territoacuterio neutro aberto que tornasse o indiviacuteduo o centro da informaccedilatildeo Um territoacuterio em que natildeo

necessariamente seria preciso reproduzir o modelo de concentraccedilatildeo da miacutedia que

predominou em todo o seacuteculo XX Em outras palavras tornar a cultura um produto da

interaccedilatildeo entre todos permitindo a qualquer um participar criativamente na sua

constituiccedilatildeo (LEMOS 2005 181)

Andreacute Lemos afirma que a cibercultura reconfigurou a induacutestria cultural pois

instaurou uma estrutura midiaacutetica iacutempar na histoacuteria da humanidade pela primeira vez

qualquer indiviacuteduo pode produzir e publicar informaccedilatildeo em tempo real sob diversos

formatos e modulaccedilotildees adicionar e colaborar em rede com outros etc (Lemos 2007b

39)

No atual contexto da cibercultura o antigo receptor passa a produzir e emitir sua

proacutepria informaccedilatildeo de forma livre multimodal (em vaacuterios formatos midiaacuteticos) e

planetaacuteria Os usuaacuterios estatildeo produzindo viacutedeos fotos muacutesicas escrevendo em blogs

criando foacuteruns e comunidades desenvolvendo softwares e ferramentas da Web 20 A

facilidade de produzir conteuacutedos tambeacutem afeta a forma como se daacute essa tarefa A

revoluccedilatildeo no papel do produtor atinge um ponto-chave no processo criativo a questatildeo do

estilo O estilo pode ser definido como um certo modo de criar proacuteprio de um autor

indicado pelas marcas de autoria (Santaella 2009 104)

Nos seacuteculos precedentes se encarava a atividade de criaccedilatildeo como algo

completamente individual O autor era algueacutem que isoladamente desenvolvia suas

criaccedilotildees artiacutesticas de forma solitaacuteria soacute deixando essa situaccedilatildeo no momento em que

apresentava sua obra publicamente pela primeira vez Conforme diz Henrique Gandelman

[] nesse periacuteodo noacutes temos a obra totalmente individual que se reconhece ateacute pelo estilo Se vocecirc lecirc um texto vecirc uma pintura ouve uma muacutesica no raacutedio vocecirc vai dizer

esse aiacute eacute Bach esse aiacute eacute Mozart esse aiacute eacute Joatildeo Gilberto O estilo eacute o proacuteprio homem a

40

continuaccedilatildeo da sua personalidade Entatildeo noacutes podemos observar que as primeiras leis de

direito autoral satildeo enfocadas centralizadas nesse trabalho individual em que se tinha

claramente o escritor o pintor o compositor o arquiteto que satildeo trabalhos feitos por

uma individualidade na solidatildeo do seu trabalho (GANDELMAN 1997 68)

As consequecircncias que o desenvolvimento tecnoloacutegico teve no estilo natildeo podem ser

deixadas de lado Maacutequinas como o computador alteraram o gesto criativo humano

automatizando-o Elas passam a funcionar como parceiras do indiviacuteduo no ato de criar

Luacutecia Santaella sugere que jaacute que o estilo se define pelas marcas de autor na

contemporaneidade eacute preciso compartilhar essas marcas com as maacutequinas que misturam

personificaccedilatildeo e automatizaccedilatildeo da criaccedilatildeo (Santaella 2009 105)

Outro fator que coloca profundamente em questatildeo a tradicional ideia de autoria

encontra-se no vastamente discutido conceito de interatividade Tecnologias da

inteligecircncia satildeo sine qua non tecnologias interativas E por isso mesmo elas nublam as

fronteiras entre produtores e consumidores emissores e receptores Nas formas literaacuterias

no teatro no cinema na televisatildeo e no viacutedeo haacute sempre uma linha divisoacuteria relativamente

clara entre produtores e receptores o que natildeo acontece mais nas novas formas de

comunicaccedilatildeo e de criaccedilatildeo interativas

Para Julio Plaza a interatividade natildeo eacute somente uma comodidade teacutecnica e

funcional ela implica fiacutesica psicoloacutegica e sensivelmente o espectador em uma praacutetica de

transformaccedilatildeo (Plaza 2001 36) O princiacutepio que rege a interatividade nas redes eacute o da

mutabilidade da efemeridade do vir-a-ser em processos que demandam a reciprocidade a

colaboraccedilatildeo a partilha A interatividade ciberespacial natildeo seria possiacutevel sem a

competecircncia semioacutetica do usuaacuterio para lidar com as interfaces computacionais Essa

competecircncia semioacutetica implica vigilacircncia receptividade escolha colaboraccedilatildeo controlo

desvios reenquadramentos em estados de previsibilidade de acasos desordens

adaptabilidade que satildeo entre outras as condiccedilotildees exigidas para quem prevecirc um sistema

interativo e para quem o experimenta (Santaella 2009 108-109)

Com a liberaccedilatildeo da emissatildeo os usuaacuterios podem produzir e transmitir de forma

planetaacuteria diversos tipos de informaccedilatildeo nos mais variados formatos O advento da Internet

e das maacutequinas interconectadas fomentou o aparecimento de plataformas colaborativas de

construccedilatildeo do saber Segundo Andreacute Lemos ldquoAs formas da arte eletrocircnica colaborativas

mostram diversas accedilotildees coletivas participativas e recombinatoacuterias nas quais pessoas e

grupos cooperam entre si pela via telemaacutetica [] A Internet desde seus primoacuterdios

41

configura-se como lugar de conexatildeo e compartilhamentordquo (Lemos 2007b 40) Desde seu

surgimento o ciberespaccedilo fez crescer as formas de produccedilatildeo e o consumo informacional

pela liberdade produtiva pela circulaccedilatildeo e por processos colaborativos Uma nova

economia poliacutetica comeccedilou a tomar forma produccedilatildeo significa liberaccedilatildeo da emissatildeo e

consumo eacute conexatildeo circulaccedilatildeo distribuiccedilatildeo

Como jaacute dito anteriormente os tradicionais meios de comunicaccedilatildeo unidirecionais

(emissor receptor) sofreram um abalo de proporccedilotildees gigantescas com consequecircncias

irreversiacuteveis Rodrigo Moraes reforccedila essa mudanccedila dizendo que os sistemas de

compartilhamento de arquivos por exemplo foram uma das novas ferramentas que

puseram em xeque o modelo centralizador das miacutedias claacutessicas estruturado num uacutenico

canal de emissatildeo (Moraes 2006 311) A tecnologia digital derruba a noccedilatildeo unilateral de

produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de obras intelectuais pois as novas capacidades dos usuaacuterios

descentralizaram o tradicional monopoacutelio imposto haacute seacuteculos pelas chamadas induacutestrias

culturais

Para Pierre Leacutevy a diferenccedila entre o atual estaacutegio da sociedade de informaccedilatildeo e o

quadro comunicacional anterior agrave informatizaccedilatildeo eacute substancialmente que no ciberespaccedilo

natildeo falamos mais de uma difusatildeo a partir de centros mas sim de um lugar de intensa

interaccedilatildeo O ciberespaccedilo abriga negociaccedilotildees sobre significados processos de

reconhecimento muacutetuo dos indiviacuteduos e dos grupos por meio das atividades de

comunicaccedilatildeo harmonizaccedilatildeo e debate entre os participantes (Leacutevy 1999 224)

A Rede promoveu uma abertura agrave democratizaccedilatildeo do saber O poder reunido na

centralizaccedilatildeo das informaccedilotildees vem sendo quebrado gradativamente e as novas

ferramentas de comunicaccedilatildeo comeccedilam a ser deixadas ao alcance de muitos Essa

transformaccedilatildeo evoca o conceito de inteligecircncia coletiva elaborado por Pierre Leacutevy Na era

da cibercultura assistimos agrave construccedilatildeo coletiva de conhecimentos jaacute que o espectador

tem o poder de ser tambeacutem ele emissor de informaccedilotildees e estar em contato com outros

para partilhaacute-las A inteligecircncia coletiva ldquoEacute uma inteligecircncia distribuiacuteda por toda parte

incessantemente valorizada coordenada em tempo real que resulta em uma mobilizaccedilatildeo

efetiva das competecircnciasrdquo (Leacutevy 2003 28) Partindo do pressuposto de que ldquoNingueacutem

sabe tudo todos sabem alguma coisa todo o saber estaacute na humanidaderdquo (ibidem 29) o

autor diz que o conhecimento se constroacutei na reuniatildeo do saber de cada um sobre

determinado assunto Ele estaacute em constante mutaccedilatildeo pois as diferentes informaccedilotildees vatildeo

se agregando gradativamente durante sua construccedilatildeo de forma que esse conhecimento

42

estaacute sempre inacabado aberto agraves adiccedilotildees ou modificaccedilotildees ao longo do tempo e dos

diferentes contextos sociais

A Internet eacute um espaccedilo privilegiado para a construccedilatildeo da inteligecircncia coletiva

sendo ela mesma fruto desta uacuteltima A eliminaccedilatildeo das barreiras espaccedilo-temporais cria um

lugar de fluxo para o conhecimento em construccedilatildeo jaacute que a troca e a reuniatildeo de

informaccedilotildees que partem de diversas origens satildeo facilitadas pela Rede Nessa perspectiva

o ciberespaccedilo seria o espaccedilo moacutevel das interaccedilotildees entre conhecimentos e conhecedores de

coletivos inteligentes desterritorializados As relaccedilotildees sociais de colaboraccedilatildeo entre os

utilizadores satildeo horizontais diferindo das relaccedilotildees entre produtores e consumidores das

induacutestrias culturais As relaccedilotildees satildeo constituiacutedas a partir da comunicaccedilatildeo entre pessoas e

do compartilhamento simboacutelico que criam viacutenculos e possibilitam a solidariedade As

redes horizontais de produccedilatildeo colaborativa natildeo satildeo prisioneiras dos valores de troca dos

seus produtos As redes horizontais de produccedilatildeo satildeo processos sociais criativos (Lima e

Santini 2006 123)

A interaccedilatildeo entre os diferentes usuaacuterios da Internet na elaboraccedilatildeo de

conhecimentos coletivos colabora para a construccedilatildeo de um senso comunitaacuterio na Rede Ao

inveacutes de ser um espaccedilo caoacutetico onde todos falem tudo ao mesmo tempo a Rede pode ser

um lugar onde todos se reuacutenam e formem uma comunidade organizada em torno de um

objetivo comum a construccedilatildeo coletiva do saber Em um coletivo inteligente a

comunidade assume como objetivo a constante negociaccedilatildeo da ordem estabelecida de sua

linguagem do papel de cada um e finalmente da definiccedilatildeo de seus objetivos Para Pierre

Leacutevy

Interagindo com diversas comunidades os indiviacuteduos que animam o espaccedilo do saber

longe de serem os membros intercambiaacuteveis de castas imutaacuteveis satildeo ao mesmo tempo

singulares muacuteltiplos nocircmades e em vias de metamorfose (ou de aprendizado)

permanente Esse projeto convoca um novo humanismo que inclui e amplia o

ldquoconhece-te a ti mesmordquo para um ldquoaprendamos a nos conhecer para pensar juntosrdquo e

que generaliza o ldquopenso logo existordquo em um ldquoformamos uma inteligecircncia coletiva

logo existimos eminentemente como comunidaderdquo [] Longe de fundir as

inteligecircncias individuais em uma espeacutecie de magma indistinto a inteligecircncia coletiva eacute

um processo de crescimento de diferenciaccedilatildeo e de retomada reciacuteproca das

singularidades (LEacuteVY 2003 31-32)

Na Rede haacute espaccedilo para que todos sejam ouvidos Na construccedilatildeo coletiva do saber

todos tecircm voz Os usuaacuterios valorizam essa oportunidade - trazida pela Internet - de

contribuir com informaccedilotildees na formaccedilatildeo de conhecimentos disponibilizados na Rede o

43

que explica o ecircxito de sites colaborativos como o Wikipedia Na era do conhecimento

deixar de reconhecer o Outro em sua inteligecircncia eacute recusar-lhe sua verdadeira identidade

social eacute alimentar seu ressentimento e sua hostilidade sua humilhaccedilatildeo a frustraccedilatildeo de

onde surge a violecircncia (Leacutevy 2003 32) Em contrapartida quando valorizamos o Outro

de acordo com o leque variado de seus saberes permitimos que ele se identifique de um

modo novo e positivo contribuiacutemos para mobilizaacute-lo para desenvolver nele sentimentos

de reconhecimento que facilitaratildeo consequentemente a implicaccedilatildeo subjetiva de outras

pessoas em projetos coletivos

O espaccedilo de construccedilatildeo coletiva do saber eacute um lugar de participaccedilatildeo democraacutetica

onde todos podem contribuir com alguma informaccedilatildeo teoacuterica eou praacutetica que possuam

sobre determinado assunto A perda de influecircncia dos mediadores culturais tradicionais eacute o

prenuacutencio de uma liberdade de expressatildeo nunca vista antes Apesar do inegaacutevel

movimento de concentraccedilatildeo (vd por exemplo a fusatildeo entre AOL e Time Warner) a

induacutestria da comunicaccedilatildeo natildeo tem capacidade para frear tal movimento de abertura pois o

que se oferece ao consumidor eacute precisamente a mais ampla liberdade de expressatildeo De

facto conforme refere Pierre Leacutevy a diversidade informacional e a liberdade de expressatildeo

continuam a aumentar rapidamente apesar dos movimentos de fusatildeo (Leacutevy 2004 371)

Pierre Leacutevy pertence agrave corrente teoacuterica que vecirc as possibilidades e o futuro do

ciberespaccedilo de forma bastante otimista Para ele o rompimento das barreiras entre centros

produtores de informaccedilotildees e receptores eacute positiva pelo facto de que ldquo[] eacute muito mais

difiacutecil executar manipulaccedilotildees em um espaccedilo onde todos podem emitir mensagens e onde

informaccedilotildees contraditoacuterias podem confrontar-se do que em um sistema onde os centros

emissores satildeo controlados por uma minoriardquo (Leacutevy 2004 225) De facto a Rede abriu

largo espaccedilo para a expressatildeo de opiniotildees diversas (o que obviamente inclui as

contestatoacuterias dos poderes vigentes) mas acontecimentos recentes (como o fechamento do

site de partilha de arquivos Megaupload e a prisatildeo de seu fundador Kim Schmitz na

sequecircncia das discussotildees de projetos de lei como o SOPA e o ACTA em Janeiro de 2012)

provam que o uso de forccedila policial para bloqueio suacutebito de sites eacute uma realidade (apesar

de nesses casos citados as accedilotildees natildeo terem sido justificadas com base nas determinaccedilotildees

de SOPA e ACTA porque ambas natildeo passam de projetos que nem sequer estatildeo em

vigor) apesar de toda oposiccedilatildeo e as ondas de protestos levantadas pela sociedade civil

A descentralizaccedilatildeo da produccedilatildeo de informaccedilotildees foi amplamente sentida no setor

editorial sobretudo na circulaccedilatildeo de jornais Uma pesquisa feita nos EUA e citada por

44

Andrew Keen diz que os lucros e a circulaccedilatildeo despencaram de maneira impressionante

em todas as principais empresas jornaliacutesticas do paiacutes ndash caiacuteram 69 na New York Times

Company 28 na Tribune Company e 11 na Gannet a maior dos EUA (Keen 2008

13) Essa eacute uma tendecircncia em todos os mercados editoriais do mundo No Brasil os

jornais filiados ao Instituto Verificador de Circulaccedilatildeo (IVC) tiveram 48 de queda na

circulaccedilatildeo durante o primeiro semestre de 2009 (Portal Imprensa 2009) Jaacute em Portugal

dados da Associaccedilatildeo Portuguesa para o Controlo de Tiragem e Circulaccedilatildeo (APCT) para o

mesmo periacuteodo apontam queda de 76 (Diaacuterio de Notiacutecias 2009)

Na tentativa de amenizar o impacto da digitalizaccedilatildeo e faacutecil distribuiccedilatildeo de

informaccedilotildees via Internet muitos jornais passam a cobrar pelo acesso ao seu conteuacutedo on-

line como fez em Fevereiro de 2010 o diaacuterio francecircs Le Figaro (Folha de S Paulo 2010)

e como jaacute vem sendo feito pela brasileira Folha Online O presidente do The New York

Times Artur Sulzberger afirmou que a cobranccedila pelo acesso a seu conteuacutedo on-line

iniciada em 2011 eacute uma fonte de receita fundamental para o veiacuteculo (Portal Imprensa

2010)

Vaacuterios estudiosos apontam para uma crise no modelo produtivo e econocircmico da

induacutestria cultural massiva embora isso natildeo provoque necessariamente a sua aniquilaccedilatildeo

(Lemos 2007b 39-40) No que se refere agraves reconfiguraccedilotildees da induacutestria cultural em seu

modelo claacutessico uma das grandes questotildees que atualmente surge eacute a da autoria e da

proteccedilatildeo de obras para a reproduccedilatildeo uso e coacutepia Algumas alternativas jaacute estatildeo surgindo

como opccedilatildeo para a criaccedilatildeo de mecanismos legais de recombinaccedilatildeo conhecidos como

licenccedilas abertas ou Copyleft Um exemplo de sucesso eacute a licenccedila Creative Commons ndash

licenccedila de uso que permite a modificaccedilatildeo a coacutepia e a distribuiccedilatildeo de obras com

especificaccedilotildees bastante flexiacuteveis Mais adiante falaremos sobre ela O facto eacute que a era da

cibercultura tem-se mostrado o aacutepice da crise dos sistemas culturais legais e econocircmicos

pela reconfiguraccedilatildeo da induacutestria cultural claacutessica massiva que implica

50 A era de ouro do remix

A digitalizaccedilatildeo das obras intelectuais facilitou sua transferecircncia e sobretudo sua

transformaccedilatildeo A cibercultura ldquoterritoacuterio recombinanterdquo (Lemos 2007b 35) por

45

excelecircncia deu origem ao que Lawrence Lessig chama de ldquocultura do remixrdquo ou da

colagem em que o processo de criaccedilatildeo usa de forma natildeo soacute indireta mas tambeacutem direta

outras obras como elemento de construccedilatildeo da obra final (Lessig 2005 17) Consideramos

aqui o termo remix exatamente como abordado por Lawrence Lessig natildeo apenas como a

recombinaccedilatildeo e transformaccedilatildeo de muacutesicas mas de toda e qualquer obra do espiacuterito Satildeo

bens culturais utilizados como mateacuterias-primas para a transformaccedilatildeo de si mesmos o que

inevitavelmente resulta em novas obras do espiacuterito Cria-se um horizonte para aleacutem

daquele da apropriaccedilatildeo e mera justaposiccedilatildeo de teacutecnicas antigas ocorre um entrelaccedilamento

de teacutecnicas formando natildeo o novo ou o poacutes mas o recombinado remixado ou sampleado

(Castro e Silva 2007 24) Por sampler entende-se um equipamento que armazena sons e

trechos de muacutesica em sua memoacuteria para reproduzi-los e alteraacute-los Seja em um novo disco

de hip hop no VJ que remixa imagens de TV e filmes em projetos de viacutedeo-arte ou na

simples tarefa de ldquocopiar ndash colarrdquo muitos teoacutericos estatildeo de acordo que o remix eacute a peccedila

central do processo criativo contemporacircneo

A recombinaccedilatildeo de diversos elementos (sejam eles produtivos religiosos ou

artiacutesticos) eacute sempre um traccedilo constitutivo de toda formaccedilatildeo cultural Por outro lado toda

tentativa de fechamento sobre si acarreta empobrecimento homogeneidade e morte Para

manter-se forte e dinacircmica a cultura necessita aceitar e ser de alguma forma permeaacutevel a

outras formas culturais Esse processo estaacute em marcha desde as culturas mais ldquoprimitivasrdquo

ateacute a cultura contemporacircnea e a cibercultura (Lemos 2007b 35-36) Portanto podemos

dizer que a grande novidade natildeo eacute a recombinaccedilatildeo em si mas a forma a velocidade e o

alcance global desse movimento

O uacutenico problema da cultura do remix eacute que ela eacute ilegal Graccedilas ao sistema de

direitos autorais que herdamos do seacuteculo XIX e que continua a ser sistematicamente

ampliado ao longo do tempo (inclusive globalmente atraveacutes da Organizaccedilatildeo Mundial do

Comeacutercio - OMC) cada obra cultural existente na Internet ou em qualquer outro lugar

tem dono E utilizar a obra para qualquer finalidade (copiar distribuir alterar modificar

etc) sem autorizaccedilatildeo expressa eacute uma violaccedilatildeo dos direitos de propriedade do autor ou de

seus intermediaacuterios

A linha entre referecircncias culturais e plaacutegio se mostra bastante tecircnue e nos leva a

pensar se tudo natildeo adveacutem de facto de ideias precedentes de obras jaacute realizadas O

produtor norte-americano Kirby Ferguson criou uma seacuterie de viacutedeos dedicados a essa

questatildeo e no site Everything is a Remix fornece mais evidecircncias de que tudo que eacute

46

ldquonovordquo eacute na verdade inspirado em obras jaacute criadas ou eacute formado por combinaccedilotildees ou

ediccedilotildees de materiais jaacute existentes Em um dos viacutedeos vemos por exemplo sequecircncias do

filme Kill Bill (2003) de Quentin Tarantino exatamente iguais (ou bastante semelhantes)

a cenas de outros longas-metragens como Sanjuro (1962) Lady snowblood (1973) e

Blade Runner (1982)

Lawrence Lessig salienta o problema do ponto de vista legal que a remixagem de

obras produzidas por outras pessoas pode gerar e afirma que as ferramentas tecnoloacutegicas

disponiacuteveis atualmente no mundo permitem a qualquer pessoa possibilidades criativas

jamais sonhadas (Lessig 2005 18) Um nuacutemero gigantesco de pessoas usa cotidianamente

essas ferramentas em seus sites blogs fotologs ou mesmo incluindo textos e imagens em

trabalhos escolares por exemplo Apesar disso do jeito como eacute hoje essas atividades

devem continuar relegadas agrave posiccedilatildeo de mero hobby ou divertimento domeacutestico Isso

porque sempre estamos sob o risco de sermos processados pela violaccedilatildeo da propriedade de

algueacutem Em outras palavras cada vez temos mais acesso a recursos criativos que antes

eram privileacutegio das grandes empresas de miacutedia mas devemos nos abster de usar esse

poder ldquoseriamenterdquo gerando desenvolvimento conhecimento e acesso Importa citar

Lessig

A mesclagem eacute o elemento formador da sociedade cultural em detrimento agrave induacutestria

cultural centralizada O instrumento para retardar essa quebra de barreiras e a

construccedilatildeo de uma sociedade autocircnoma eacute juriacutedico Esse instrumento em formas de

utilizaccedilatildeo estrateacutegica dos institutos da propriedade intelectual que satildeo desvirtuados de

sua funccedilatildeo originaacuteria de promover incentivos agrave criaccedilatildeo e passam a se transformar em

ferramentas de reserva de mercado para que as novas miacutedias digitais sejam ocupadas

pela mesma induacutestria cultural estadunidense que prevaleceu no seacuteculo XX (LESSIG

2005 18)

Para ilustrar a ideia contida na citaccedilatildeo podemos evocar o famoso caso Eldred

mais conhecido como o caso da ldquoLei de Proteccedilatildeo ao Mickey Mouserdquo Esse exemplo

resume bem os embates entre a induacutestria cultural e o restante da sociedade aquela

buscando a proteccedilatildeo perpeacutetua e ilimitada da sua propriedade e esta atraveacutes de diversos

agentes buscando o balanccedilo apropriado entre direitos autorais e domiacutenio puacuteblico O caso

Eldred expandiu por mais 20 anos a proteccedilatildeo dos direitos autorais nos Estados Unidos Em

1998 Mickey Mouse cairia em domiacutenio puacuteblico mas um intenso lobby no congresso

estadunidense culminou na aprovaccedilatildeo do chamado Sony Bono Act apelidado de ldquoLei de

Proteccedilatildeo ao Mickey Mouserdquo Por ela toda e qualquer obra ganhou mais 20 anos de

47

proteccedilatildeo autoral A explicaccedilatildeo para tal expansatildeo eacute incerta Ateacute hoje eacute difiacutecil saber quais

benefiacutecios essa ampliaccedilatildeo trouxe para a sociedade como um todo Se o direito autoral

existe para incentivar os artistas a criarem porquecirc expandir o prazo de proteccedilatildeo de obras

que jaacute foram criadas

Os prejuiacutezos dessa decisatildeo foram poreacutem bem mais extensos Junto com Mickey

Mouse deixaram de cair em domiacutenio puacuteblico muitas outras obras que atualmente jaacute

estariam disponiacuteveis para qualquer pessoa traduzir partilhar e publicar Dentre elas

contos de Scott Fitzgerald poemas de Robert Frost muacutesicas de George Gershwin e filmes

de Buster Keaton O maior problema de se estender o prazo de proteccedilatildeo dos direitos

autorais dessa maneira eacute que ele aumenta a dificuldade de promover a preservaccedilatildeo das

obras que natildeo possuem o mesmo valor comercial de um Mickey Mouse Devemos

considerar que a ampliaccedilatildeo do regime de propriedade prolonga a necessidade de se pedir

autorizaccedilatildeo para praticamente tudo que se queira fazer com a obra Tal situaccedilatildeo afeta

sobretudo as obras de baixo valor comercial (mas de elevado valor artiacutestico) Os recursos

para preservaccedilatildeo de tais obras jaacute satildeo poucos e diminuem ainda mais no labirinto juriacutedico

das autorizaccedilotildees As consequecircncias satildeo danosas milhares de obras que cairiam em

domiacutenio puacuteblico deixam de poder ser reproduzidas digitalizadas e publicadas livremente

e acabam deteriorando-se (juntamente com seu suporte fiacutesico) porque ningueacutem consegue

autorizaccedilatildeo para lidar com elas

60 Tipos de vigilacircncia e tecnologias de controlo quem satildeo e como trabalham os

gatekeepers do ciberespaccedilo

Na deacutecada de 50 David Manning White propocircs o conceito que ficou conhecido na

teoria da comunicaccedilatildeo por gatekeeping (Sousa 2002 39) White tinha o objetivo de

identificar os criteacuterios que faziam com que determinadas notiacutecias fossem ou natildeo

selecionadas para publicaccedilatildeo pelas empresas jornaliacutesticas Observando o funcionamento

das redaccedilotildees de vaacuterios jornais dos Estados Unidos White concluiu que a seleccedilatildeo dos

materiais para publicaccedilatildeo dependia de fatores subjetivos e arbitraacuterios aleacutem de juiacutezos de

valor vivecircncias atitudes e expectativas dos gatekeepers ndash os editores das publicaccedilotildees

O gatekeeper eacute portanto aquele que determina o que atravessa o portatildeo de

entrada no jornal o que seraacute visto pelo leitor Ele eacute um indiviacuteduo de poder no universo

48

midiaacutetico pois controla os fluxos informacionais e decide se um conteuacutedo deve ser

promovido ou ocultado Decidimos utilizar o conceito de gatekeeper para falar sobre as

figuras capazes de controlar o que circula na Rede atraveacutes do uso de ferramentas de

vigilacircncia Esses gatekeepers do ciberespaccedilo se transplantaram dos tradicionais veiacuteculos

de comunicaccedilatildeo sobretudo das grandes empresas e dos organismos governamentais e natildeo-

governamentais para a Rede Eacute sobre eles que trataremos a seguir

David Lyon estabelece trecircs grandes categorias de vigilacircncia no ciberespaccedilo

relacionadas com o emprego a seguranccedila e policiamento e o marketing (Lyon 2004) No

emprego a vigilacircncia caracteriza-se pelo monitoramento dos sites acessados e do correio

eletrocircnico dos funcionaacuterios por parte dos diretores e supervisores com o objetivo de saber

se os empregados visualizam conteuacutedo inadequado (como pornografia por exemplo) ou

utilizam-se do tempo de trabalho para dedicar-se a assuntos off-work Nos Estados

Unidos um estudo puacuteblico realizado em Abril de 2000 indicou que 735 das empresas

americanas efetuam regularmente algum tipo de vigilacircncia do uso da Internet por parte de

seus empregados (Castells 2007 206)

No acircmbito da seguranccedila e do policiamento podemos citar a vigilacircncia proposta

por oacutergatildeos como a Alta Autoridade para a Difusatildeo das Obras e a Proteccedilatildeo dos Direitos na

Internet (HADOPI) na Franccedila que promove a luta contra as redes P2P (peer-to-peer) e a

oferta de downloads gratuitos de muacutesicas filmes e livros protegidos por direitos autorais

no universo virtual atraveacutes do monitoramento das atividades dos usuaacuterios HADOPI

propotildee que os servidores de acesso agrave Internet vigiem a movimentaccedilatildeo dos usuaacuterios e lhe

repassem relatoacuterios com a identificaccedilatildeo daqueles que infringem os direitos de autor na

Rede Apoacutes uma primeira advertecircncia caso haja reincidecircncia o utilizador perde o direito

de acesso agrave Internet a partir do ponto onde o desrespeito foi cometido e mesmo assim

continua a pagar pelo serviccedilo ao servidor contratado

Haacute tambeacutem a vigilacircncia conduzida por serviccedilos policiais como o FBI americano

que em 1995 realizou uma operaccedilatildeo batizada de ldquoOperaccedilatildeo Inocenterdquo accedilatildeo sob disfarce

na America On-Line (AOL) envolvendo a interceptaccedilatildeo de correio eletrocircnico de pessoas

suspeitas de trocar materiais de pornografia infantil pela Rede (Zuidwijk e Steeves apud

Lyon 2004 115) O organismo federal tambeacutem manteacutem o programa Carnivore que

trabalha em colaboraccedilatildeo (voluntaacuteria ou natildeo) com fornecedores de acesso agrave Internet

registrando todo o traacutefego de correio eletrocircnico posteriormente catalogando a informaccedilatildeo

com base em uma amostra e processamento automatizado de palavras-chave

49

Joseacute Terceiro afirma que a recolha de dados na Internet possibilitou o surgimento

de uma nova fonte de lucro as informaccedilotildees pessoais dos usuaacuterios da Rede

A utilizaccedilatildeo das redes de computadores facilita o recolhimento de dados sobre seus usuaacuterios com o que se obteacutem um sub-produto automaacutetico suscetiacutevel de utilizaccedilatildeo e

comercializaccedilatildeo O atentado agrave privacidade das pessoas que supotildee essa recolha de dados

provoca seacuterias preocupaccedilotildees em relaccedilatildeo agrave sua proteccedilatildeo confiada a teacutecnicas de

encriptaccedilatildeo que ateacute bem pouco tempo pertenciam ao clandestino mundo da espionagem

e hoje satildeo moeda corrente no mundo digital (TERCEIRO 1996 185)

As informaccedilotildees obtidas pela vigilacircncia direcionada ao marketing satildeo massivamente

utilizadas frequentemente de forma indiscriminada para fins comerciais Natildeo eacute novidade

que as empresas procuram ter acesso a informaccedilotildees privadas respeitantes aos usuaacuterios da

Rede tecnologias jaacute foram desenvolvidas unicamente com o intuito de recolher dados que

permitam traccedilar perfis dos internautas Eacute o caso dos cookies (Client-Side Persistent

Information) espeacutecie de marcadores digitais que os sites colocam automaticamente nos

discos riacutegidos dos computadores que a eles acedem Uma vez inserido o cookie em um

computador todos os movimentos on-line realizados a partir dele satildeo gravados

automaticamente pelo servidor do site que o colocou Com o auxiacutelio de tecnologias como

essa empresas de marketing e comunicaccedilatildeo na Internet vendem os dados pessoais dos

seus utilizadores aos seus clientes com fins comerciais ou utilizam-nos eles proacuteprios para

os definirem melhor Portanto vecirc-se que as tecnologias de recolha de dados associam-se

diretamente agrave economia do comeacutercio eletrocircnico As movimentaccedilotildees dos usuaacuterios satildeo

monitoradas na maioria das vezes agrave revelia destes Como diz Rohan Samarajiva

A chamada ldquoclientela de massardquo cria incentivos agrave recolha de dados pessoais para uso no

processo de produccedilatildeo e marketing Os fabricantes ou retalhistas pretendem estabelecer

tipos de serviccedilo no relacionamento com os clientes recolhendo armazenando ou

manipulando informaccedilotildees acerca deles de modo a controlar os seus comportamentos

(SAMARAJIVA apud LYON 2004 113)

As tecnologias que tornam possiacutevel descarregar livros revistas muacutesicas e filmes

em formato digital para o disco riacutegido de um computador permitem agraves editoras e agraves

empresas de lazer registrar e controlar os haacutebitos de navegaccedilatildeo das pessoas para poderem

enviar publicidade especiacutefica a cada um dos seus clientes

Na Uniatildeo Europeia a maior pressatildeo governamental a favor da proteccedilatildeo do

consumidor resultou numa lei da privacidade sob a qual as empresas natildeo estatildeo

50

autorizadas a utilizar os dados pessoais dos seus clientes sem a sua aprovaccedilatildeo expliacutecita

(Castells 2007 209) O problema eacute que muitos sites contecircm em seus longos termos de

uso claacuteusulas que determinam que os dados pessoais fornecidos convertam-se em

propriedade legal das empresas de Internet e dos seus clientes Poucos usuaacuterios leem

integralmente esses termos de uso concordando com algo que desconhecem ndash e muitos

desses sites soacute liberam seus serviccedilos e funcionalidades depois que o utilizador aceita as

regras propostas

As oportunidades de negoacutecio parecem ilimitadas neste novo ramo dedicado a

comercializar o comportamento privado Nas eleiccedilotildees do ano 2000 nos Estados Unidos

uma empresa criou uma base de dados chamada Aristotle que atraveacutes da recolha de

informaccedilotildees e dados de diversas fontes traccedilou um perfil poliacutetico de cerca de 150 milhotildees

de cidadatildeos O objetivo era vender esse banco de dados pelas melhores ofertas possiacuteveis

que geralmente eram feitas pelos escritoacuterios eleitorais dos candidatos (Castells id)

Manuel Castells divide as tecnologias de controlo em trecircs tipos tecnologias de

identificaccedilatildeo de vigilacircncia e de investigaccedilatildeo (Castells 2007) As tecnologias de

identificaccedilatildeo incluem o uso de passwords cookies e processos de autenticaccedilatildeo ndash estes

uacuteltimos utilizam assinaturas digitais que permitem a outros computadores verificar a

origem e as caracteriacutesticas da maacutequina que se liga agrave Rede eacute um protocolo de seguranccedila

vastamente adotado por empresas de comeacutercio eletrocircnico e emissoras de cartotildees de

creacutedito

As tecnologias de vigilacircncia interceptam mensagens e colocam marcadores que

permitem seguir o fluxo de comunicaccedilatildeo a partir de um determinado computador e

controlar permanentemente a atividade da maacutequina Elas podem identificar um servidor

especiacutefico na origem de uma mensagem Valendo-se disso e atraveacutes de persuasatildeo ou de

coaccedilatildeo os governos empresas ou tribunais podem obter do servidor de acesso agrave Internet a

identificaccedilatildeo do usuaacuterio suspeito Eacute o que faz a jaacute anteriormente citada HADOPI As

tecnologias de investigaccedilatildeo por sua vez elaboram bases de dados atraveacutes dos resultados

da vigilacircncia e acumulaccedilatildeo de informaccedilatildeo gravada assiduamente (Garfinkel apud Castells

2007 205) Constroacutei-se um perfil agregado a partir dos vaacuterios dados recolhidos em

formato digital algo semelhante ao que fazem os estudos de mercado

O que James Beniger chama de ldquorevoluccedilatildeo do controlordquo (Beniger 1989) espalha-

se por todas as organizaccedilotildees contemporacircneas Para o autor ela iniciou-se com a

Revoluccedilatildeo Industrial e acentuou-se apoacutes a Segunda Grande Guerra com a gradual

51

integraccedilatildeo da tecnologia em todas as esferas da vida ocorrida desde entatildeo A fusatildeo entre

as teacutecnicas associadas agrave informaccedilatildeo (processamento de dados comunicaccedilatildeo etc) facilitou

o controlo por parte de exeacutercitos e governos criando um ambiente propiacutecio para o

desenvolvimento de novas tecnologias direcionadas agrave vigilacircncia e agrave monitoraccedilatildeo dos

indiviacuteduos Para Beniger a vontade de controlar bens informacionais serviccedilos e

consequentemente pessoas estaacute nas raiacutezes da chamada sociedade da informaccedilatildeo

James Beniger alerta que mais que o controlo em si proacuteprio devemos temer quem

administra e potildee em funcionamento os instrumentos de controlo ndash eacute nas matildeos desses

agentes que o poder se concentra Sendo as comunicaccedilotildees digitais as novas formas de

controlo tambeacutem figuram como um caminho para o poder Para exercer o poder e mantecirc-

lo eacute que os meios digitais tecircm sido utilizados por diversos agentes de interesse Como

afirma David Lyon

Os empregadores tentam reduzir o risco ndash de trabalhadores que usam o horaacuterio ou o

equipamento de trabalho para os seus proacuteprios objectivos [] em situaccedilotildees de emprego

A poliacutecia em conjunto com outras instituiccedilotildees trabalha no sentido de prevenir o risco

da praacutetica de crimes ou mais genericamente de comportamentos ameaccediladores E os

homens de negoacutecios fazem tudo [] para evitarem os riscos de perder oportunidades

nichos de mercado e em uacuteltima instacircncia lucro (LYON 2004 118)

Todos estabelecem procedimentos de recolha de dados para tentarem assinalar

riscos (ou oportunidades) e prever resultados Por conseguinte a vigilacircncia espalha-se

tornando-se constantemente mais rotineira mais intensiva (perfis) e extensiva

(populaccedilotildees) guiada por forccedilas econocircmicas burocraacuteticas e agora tecnoloacutegicas

A vigilacircncia no mundo virtual eacute fruto principalmente da comercializaccedilatildeo da Rede

Na criaccedilatildeo de sistemas de identificaccedilatildeo do usuaacuterio haacute uma fonte potencial de lucro para

empresas de certificaccedilatildeo digital e controlo de acesso A questatildeo comercial desse controlo

tambeacutem envolve os direitos autorais na Internet A implementaccedilatildeo de sistemas de

vigilacircncia eacute interessante para os governos que querem encontrar alguma forma de

instaurar no ambiente virtual ferramentas de controlo semelhantes agraves existentes na esfera

fiacutesica

A necessidade de assegurar e identificar a comunicaccedilatildeo na Internet para poder ganhar

dinheiro graccedilas agrave Rede e a necessidade de proteger os direitos da propriedade

intelectual na mesma resultaram no desenvolvimento de novas arquitecturas de

software (o que Lessig denomina como ldquocoacutedigordquo) que possibilitam o controlo da

comunicaccedilatildeo informaacutetica Os governos de todo o mundo apoacuteiam estas tecnologias de

52

vigilacircncia e apressam-se a adoptaacute-las para conseguirem recuperar parte do poder que

corriam o risco de perder (CASTELLS 2007 203)

O monitoramento atraveacutes de autoridades policiais empresas ou outros oacutergatildeos

investidos de autorizaccedilatildeo concedida pelo poder legislativo seriam conforme Andreacute Lemos

ressalta ldquo[] uma forma de lsquoinvasatildeorsquo dos territoacuterios informacionais como entrar na

residecircncia seria uma invasatildeo do territoacuterio residencial As lsquodigital bordersrsquo criam nos

territoacuterios informacionais um continuum entre o mundo fiacutesico e o espaccedilo das

informaccedilotildees eletrocircnicasrdquo (Lemos 2007a 225) A vigilacircncia afeta diretamente alguns

importantes pilares da vida social e pode feri-los se direcionada para fins comerciais por

exemplo ldquoAs praacuteticas de vigilacircncia tecircm implicaccedilotildees na privacidade e em muitos outros

valores importantes na justiccedila na dignidade humana na autodeterminaccedilatildeo na inclusatildeo

social na seguranccedila e por aiacute fora Alguns destes valores podem ser protegidos se a

privacidade estiver salvaguardadardquo (Raab 2008 256)

A vigilacircncia na Rede representa portanto mais um exemplo do que Mireille

Rosello chama de ldquocultura da inseguranccedilardquo de caraacuteter planetaacuterio (Rosello apud Lemos

2010 82) As tecnologias de controlo desenvolvidas e postas em funcionamento no

ciberespaccedilo marcaram o fim da jaacute utoacutepica ideia de um territoacuterio neutro e totalmente livre

imaginado nos primoacuterdios da Internet Poreacutem a informaacutetica pode disponibilizar

ferramentas que funcionariam como um antiacutedoto contra a inseguranccedila que ela proacutepria

possibilitou Isso seria possiacutevel atraveacutes de tecnologias de filtragem de cookies meacutetodos de

encriptaccedilatildeo mais potentes etc (Raab 2008 266) No entanto eacute importante salientar que

as empresas os governos e os fabricantes de tecnologia natildeo tecircm interesse em pocircr em

marcha essas tecnologias de reforccedilo da privacidade Sendo assim os indiviacuteduos que delas

quiserem fazer uso deveratildeo empreender esforccedilos adicionais aleacutem de pagar mais para delas

beneficiarem

A recolha e o armazenamento arbitraacuterios de dados digitais se tornaram regra no

mundo virtual Aiacute se vecircem os efeitos nefastos do progresso tecnoloacutegico (Heuer 2011 85)

O custo do armazenamento de dados em formato digital tornou-se tatildeo baixo que jaacute se

mede em terabytes (a capacidade de armazenamento de um computador portaacutetil corrente

corresponde a pouco mais de metade de um terabyte) Haacute cada vez mais bancos de dados

a registrar nossos movimentos na Rede ndash a Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos

em Washington anunciou recentemente que pretende arquivar todas as mensagens

postadas no Twitter desde seu surgimento em 2006

53

De facto nossa vida esteve sempre sob algum tipo de controlo ndash desde a presenccedila

em registros de cartoacuterios agrave identificaccedilatildeo em bancos de dados de diversos serviccedilos

puacuteblicos O que se alterou com a informatizaccedilatildeo da sociedade e o advento da Internet foi o

posicionamento desses registros no espaccedilo As informaccedilotildees natildeo estatildeo mais fixadas apenas

em suportes materiais livros de atas e papeacuteis de arquivos Elas estatildeo ao alcance de alguns

cliques mundialmente disponiacuteveis suscetiacuteveis a cruzamentos mais sujeitas ao acesso

legal ou natildeo autorizado do que nunca A nova vigilacircncia surgida atraveacutes das tecnologias

digitais eacute mais sutil estaacute em todos os lugares e ao mesmo tempo em lugar nenhum Ela eacute

cada vez menos perceptiacutevel e mais difusa Sua fluidez estaacute na invisibilidade e na

mobilidade das redes

Catarina Frois salienta a mudanccedila trazida pela vigilacircncia onipresente da

informaacutetica

[] na sociedade contemporacircnea a existecircncia de grandes bases de dados informaacuteticas

que centralizam informaccedilatildeo detalhada dos cidadatildeos e que eacute depois cruzada com

informaccedilatildeo constante noutras bases de dados pessoais ameaccedila pocircr em risco o direito agrave

privacidade agrave integridade fiacutesica e moral ou mesmo em uacuteltima anaacutelise o direito agrave

escolha [] O que vemos eacute uma confluecircncia de dispositivos de reconhecimento da

pessoa que abrangem quase todas as esferas da sua vida desde a sua identidade burocraacutetica e administrativa a sua histoacuteria geneacutetica e distintividade biomeacutetrica e os

locais que frequenta quando e com quem [] Parece natildeo bastar saber-se quem a

pessoa eacute urge (quer por parte do Estado quer por parte de interesses comerciais) saber-

se o que quer e o que vai fazer Poderiacuteamos dizer que na sociedade contemporacircnea soacute

identificando eacute possiacutevel conhecer-se e soacute vigiando eacute possiacutevel prever-se (FROIS 2008

130)

Para Gilles Deleuze (1992) a sociedade do controlo eacute anunciada como nosso

futuro proacuteximo o que em termos praacuteticos de vigilacircncia quer dizer que as tecnologias natildeo

satildeo mais visiacuteveis e imoacuteveis mas ubiacutequas pervasives ldquonas coisasrdquo natildeo exigindo do

indiviacuteduo o confinamento mas exatamente o contraacuterio a mobilidade o que permite um

controlo dinacircmico Afinal natildeo podemos esquecer que essas tecnologias tecircm origem

militar Toda miacutedia locativa por seu caraacuteter que associa mobilidade e localizaccedilatildeo pode

ser usada para monitorar movimentos vigiar pessoas e controlar accedilotildees no dia-a-dia

Manuel Castells e diversos outros teoacutericos da informaacutetica e da cibercultura

afirmam que a presenccedila em registros e bancos de dados digitais traz agraves vistas o terriacutevel

temor da sociedade vigilante antecipada por George Orwell em seu 1984 e pode funcionar

como uma forma de repressatildeo agrave liberdade pela possibilidade do controlo constante Natildeo eacute

o Big Brother quem nos vigia mas sim uma multitude de pequenas irmatildes (little sisters)

54

agecircncias de vigilacircncia e processamento de informaccedilatildeo que registraratildeo sempre o nosso

comportamento jaacute que estaremos rodeados de bases de dados ao longo de toda a nossa

vida Nas sociedades democraacuteticas onde se respeitam os direitos civis a transparecircncia das

nossas vidas condicionaraacute as nossas atitudes de forma decisiva Ningueacutem conseguiu viver

jamais numa sociedade transparente Se este sistema de vigilacircncia e controlo da Internet se

desenvolver plenamente natildeo poderemos fazer o que quisermos Natildeo teremos liberdade

nem um lugar para nos escondermos (Castells 2007 215)

Isso nos leva a um tema que tambeacutem estaacute na ordem do dia em vaacuterios paiacuteses

europeus o direito ao esquecimento Um exemplo que ilustra esse direito estaacute na lei

francesa de 6 de Janeiro de 1978 relativa agrave informaacutetica aos arquivos e agraves liberdades que

prevecirc em seu artigo nordm 40

Toda pessoa fiacutesica justificante de sua identidade pode exigir do responsaacutevel pelo

tratamento de dados que as informaccedilotildees pessoais que lhe concernem sejam retificadas

completadas atualizadas ou apagadas [] logo elas sejam inexatas incompletas equivocadas desatualizadas ou cuja coleta utilizaccedilatildeo comunicaccedilatildeo ou conservaccedilatildeo

seja proibida (COMMISSION NATIONALE DE LINFORMATIQUE ET DES

LIBERTEacuteS 1978)

A Comissatildeo Europeia responsaacutevel pela Justiccedila Direitos Fundamentais e Cidadania

examina a possibilidade de rever a diretiva sobre a proteccedilatildeo de dados de forma a incluir o

direito ao esquecimento como foi anunciado em Novembro de 2010 pela sua vice-

presidente Viviane Reding (Heuer 2011 85)

No dia 24 de Janeiro de 2012 Viviane Reding apresentou em Bruxelas um plano

para que os cidadatildeos possam exercer ao maacuteximo seu direito agrave proteccedilatildeo dos dados pessoais

A legislaccedilatildeo europeia em vigor sobre o tema eacute de 1995 eacutepoca em que a Internet natildeo

possuiacutea o alcance e a influecircncia que hoje tem Aleacutem disso pesquisas recentes apontam que

72 dos europeus preocupam-se com o uso que companhias e empresas fazem de seus

dados privados (Reding 2012) O plano proposto por Viviane Reding consagra o direito

ao esquecimento Em entrevista cedida ao jornal espanhol El Paiacutes a comissaacuteria afirmou

que ldquoQuem pocircs informaccedilotildees pessoais na Rede deve ter o direito de recuperaacute-las porque

satildeo suasrdquo (Reding id) Seu plano inclui o reforccedilo das agecircncias nacionais de proteccedilatildeo de

dados e um regulamento de aplicaccedilatildeo da diretiva em escala comunitaacuteria ndash medidas a serem

postas em praacutetica ateacute 2015

55

Na Alemanha governo e parlamento debatem projetos que visam permitir aos

cidadatildeos controlar de forma mais eficaz sua vida digital Na Franccedila por exemplo foi

adotada em Outubro de 2010 uma carta natildeo vinculativa por iniciativa da secretaacuteria de

Estado das Tecnologias agrave eacutepoca Nathalie Kosciusko-Morizet Muitos dos intervenientes

franceses na Rede assinaram o documento ndash agrave exceccedilatildeo de empresas como Facebook e

Google

56

57

CAPIacuteTULO II

DIREITOS DE AUTOR E REGULACcedilAtildeO DO

CIBERESPACcedilO BRASIL E PORTUGAL EM

PERSPECTIVA

58

59

Vimos no capiacutetulo anterior que o nascimento da Internet criou duas correntes a dos

adeptos eufoacutericos e a dos adeptos disfoacutericos da informatizaccedilatildeo Por um lado os apoacutestolos

das novas tecnologias conceberam a Rede como um espaccedilo livre do Direito Conforme

afirma o jurista Joseacute de Oliveira Ascensatildeo essa ideia foi favorecida pelo facto de que a

Internet desenvolveu-se inicialmente como uma rede desinteressada veiacuteculo de diaacutelogo e

contato entre universitaacuterios e cientistas que queriam evitar empecilhos juriacutedicos agrave sua

comunicaccedilatildeo (Ascensatildeo 2003 02) No outro extremo os defensores da propriedade

intelectual (particularmente as entidades de gestatildeo coletiva de direitos de autor e conexos)

acreditaram que os novos meios nada modificariam no que diz respeito ao uso das obras

protegidas O Direito existente seria aplicaacutevel tal e qual porque seria capaz de comportar

os novos veiacuteculos que surgissem A Rede era apenas um meio a mais sujeito ao Direito

em vigor como qualquer outro

O movimento subsequente de comercializaccedilatildeo da Internet pocircs em causa essas

opiniotildees A Rede deixou de ser uma confraria desinteressada e tornou-se um poderoso

veiacuteculo de publicidade comeacutercio e fluxo de capitais Essa metamorfose exigia uma

disciplina que protegesse os intervenientes era incompatiacutevel com um espaccedilo livre do

Direito A tese da juridificaccedilatildeo da Internet venceu (ibidem 03)

O objetivo do capiacutetulo que se inicia eacute montar um panorama dos direitos de autor

nos contextos brasileiro e portuguecircs trazendo agrave discussatildeo os aspectos centrais de ambas as

legislaccedilotildees Tambeacutem apresentaremos outros temas pertinentes que cruzam o debate sobre

a propriedade intelectual como o Marco Regulatoacuterio da Internet no Brasil e a Lei da

Coacutepia Privada em Portugal

10 Breve retrospectiva histoacuterica do surgimento dos direitos de autor

Em 1710 na Inglaterra foi publicada a primeira lei regulamentar do direito de

autor e esta expressatildeo aparece pela primeira vez em 1725 utilizada pelo advogado francecircs

Louis DrsquoHeacutericourt num litiacutegio entre os livreiros de Paris e os livreiros da proviacutencia Nesse

litiacutegio ele defendeu a tese de que eram os autores e natildeo os editores ou os impressores os

verdadeiros titulares do direito Para DrsquoHeacutericourt esse direito deveria estar garantido para

evitar os riscos da exploraccedilatildeo comercial ou industrial por meio da concessatildeo de um

60

privileacutegio exclusivo Segundo Luiz Francisco Rebello ateacute entatildeo seria improacuteprio falar em

direito de autor pois a proteccedilatildeo dispensada agraves obras literaacuterias tomava invariavelmente a

forma de um privileacutegio de que beneficiavam os impressores e os editores ou mais

raramente os autores (Rebello 1973 06)

Com a Revoluccedilatildeo Francesa em 1789 surgem os direitos autorais como os

conhecemos hoje A data de 04 de Agosto de 1789 marcou o fim de todos os privileacutegios de

autores e editoras que representavam um entrave agrave liberdade econocircmica defendida pelos

burgueses Luiz Francisco Rebello relembra a declaraccedilatildeo de Laboulaye jurista francecircs que

viveu na eacutepoca da Revoluccedilatildeo ldquoFalai de propriedade todos se inclinam falai de privileacutegio

todos se revoltam O primeiro tiacutetulo representa o que haacute de mais respeitaacutevel o direito o

segundo o que haacute de mais abominaacutevel o monopoacuteliordquo (Rebello apud Moraes 2006 254)

Poreacutem impulsionada pela Sociedade de autores e compositores dramaacuteticos

fundada em 1790 pelo teatroacutelogo Beaumarchais a lei francesa de 19 de Janeiro de 1791

reconhece que ldquoA mais sagrada a mais pessoal de todas as propriedades eacute a obra fruto do

pensamento do escritorrdquo (Moatti 2007 27) Esse texto legislativo foi reforccedilado pela lei de

19 de Julho de 1793 que aumenta a proteccedilatildeo dos criadores O artigo 1 desse documento

determina que

Os autores de escritos em todos os gecircneros os compositores os pintores e os

desenhistas que produzem quadros e desenhos gozaratildeo durante toda sua vida do

direito exclusivo de vender fazer vender distribuir suas obras em todo o territoacuterio da

Repuacuteblica e de ceder a propriedade ao todo ou em parte (MOATTI 2007 27)

Essa lei tambeacutem regulamentou os direitos dos herdeiros e cessionaacuterios que

poderiam gozar dos mesmos benefiacutecios ateacute 10 anos apoacutes a morte do autor (Manso 1992

14-15) Era preciso poreacutem estender as discussotildees sobre os direitos autorais agrave esfera

internacional Como diz Eduardo Manso

O reconhecimento de que a Terra eacute uma pequena aldeia [] levou ao reconhecimento

de que a proteccedilatildeo dos direitos dos autores das obras intelectuais haveria de alcanccedilar

dimensotildees internacionais porque a obra do espiacuterito humano sendo todo o conteuacutedo das

comunicaccedilotildees sociais tem inexoraacutevel vocaccedilatildeo para difusatildeo universal Portanto o

Direito Autoral para atingir mais eficazmente seus objetivos haveria de ser tambeacutem

internacionalizado especialmente para estabelecer equanimemente proteccedilatildeo equitativa

entre os autores dos diversos paiacuteses a despeito das divergecircncias das suas legislaccedilotildees

nacionais E aiacute surgiram as convenccedilotildees internacionais [] (MANSO 1992 15)

61

Apenas em 1886 surgiu um amplo movimento pela regulaccedilatildeo dos direitos autorais

de forma conjunta entre os diversos paiacuteses Representantes de vaacuterias naccedilotildees se reuniram

em Berna na Suiacuteccedila para definir alguns padrotildees miacutenimos de proteccedilatildeo dos direitos do autor

literaacuterio cientiacutefico e artiacutestico Eacute a chamada Convenccedilatildeo de Berna que se tornou um

paracircmetro para a elaboraccedilatildeo de vaacuterias legislaccedilotildees sobre o tema Segundo Rodrigo Moraes

ldquoEssa convenccedilatildeo consiste no primeiro e mais importante instrumento internacional

versando sobre Direito Autoral Assinada na capital da Suiacuteccedila em 1886 ainda estaacute em

vigor nos dias atuaisrdquo (Moraes 2006 255)

20 Direitos morais e direitos patrimoniais

Teoacutericos que tratam sobre direitos autorais geralmente os classificam como

hiacutebridos ou duacuteplices Isso porque eles podem dividir-se em direitos morais e direitos

patrimoniais

21 Direitos morais

Os direitos morais se referem agrave ldquopaternidaderdquo do autor em relaccedilatildeo agrave sua obra satildeo

uma espeacutecie de emanaccedilatildeo da personalidade do autor e que estatildeo conforme dizem Pedro

Paranaguaacute e Seacutergio Banco ldquointimamente ligados agrave relaccedilatildeo do autor com a elaboraccedilatildeo a

divulgaccedilatildeo e a titulaccedilatildeo de sua obrardquo (Paranaguaacute e Branco 2009 42) Segundo Eduardo

Manso os direitos morais ldquo[] satildeo de pertinecircncia estritamente pessoal e visam a dar ao

autor ou a seus herdeiros que neles sejam investidos poderes para zelar por sua qualidade

de criador da obra para promover-lhe o respeito agrave forma que lhe foi dada pelo autorrdquo

(Manso 1992 52)

Geralmente os direitos morais satildeo classificados doutrinariamente como direitos

de personalidade Hildebrando Neto chega a dizer que os direitos morais se encaixam em

ldquocondiccedilotildees personaliacutessimas a possibilitar ao criador o direito de paternidade o direito de

ineacutedito a defesa da integridade da obra aleacutem de possibilitar-lhe o direito de

arrependimentordquo (Neto 1997 17) Sendo assim desfrutam das mesmas caracteriacutesticas dos

demais direitos de personalidade sendo intransferiacuteveis e irrenunciaacuteveis Pedro Paranaguaacute

e Seacutergio Branco ressaltam que

62

Atualmente [] os princiacutepios mais elementares das leis de direitos autorais vedam a

transmissatildeo da autoria da obra independentemente do meio pelo qual se decirc a cessatildeo

Mesmo no caso de obras caiacutedas em domiacutenio puacuteblico o nome do autor se conhecido

deve permanecer a elas vinculado eternamente (PARANAGUAacute E BRANCO 2009

14)

Assim como na legislaccedilatildeo brasileira o diploma portuguecircs determina no Artigo 56deg

que os direitos morais perpetuam-se apoacutes a morte do autor Eles independem dos direitos

patrimoniais e mesmo depois da transmissatildeo ou extinccedilatildeo destes o autor goza dos direitos

morais sobre a sua obra (Assembleia da Repuacuteblica 1985 42) Eacute interessante salientar que

na Antiguidade a praacutetica da compra de autoria era algo comum e bastante frequente

(Moraes 2006 246) Hoje em dia essa conduta eacute proibida visto que o direito moral agrave

paternidade da obra eacute intransferiacutevel

Pedro Paranaguaacute e Seacutergio Branco nos alertam para a necessidade de diferenciar os

direitos autorais dos demais direitos de personalidade Estes uacuteltimos ndash nome imagem

dignidade honra etc ndash nascem com os indiviacuteduos e satildeo desde logo exerciacuteveis Daiacute a

diferenccedila em relaccedilatildeo agrave situaccedilatildeo dos direitos morais que soacute satildeo exerciacuteveis se haacute a criaccedilatildeo

de algo por parte do indiviacuteduo Sendo assim eles nascem aos poucos com as pessoas

permanecendo em condiccedilatildeo suspensiva (Paranaguaacute e Branco 2009 50)

Eacute importante considerar que segundo Eduardo Manso ldquoAs faculdades

proclamadas pelos direitos morais natildeo conferem aos seus titulares nenhum poder de

utilizaccedilatildeo sobre as obras intelectuais salvo de natureza intelectual Nenhum direito moral

possibilita com seu exerciacutecio tirar direto proveito econocircmico da obra intelectualrdquo

(Manso 1992 52) Esta eacute uma atribuiccedilatildeo dos direitos patrimoniais tal como veremos a

seguir

22 Direitos patrimoniais

Consistem basicamente no direito agrave exploraccedilatildeo econocircmica das obras protegidas

Exercendo o direito patrimonial seu titular pode tirar da obra algum proveito econocircmico

de conformidade com sua natureza e com a modalidade de sua exploraccedilatildeo comercial

Os direitos patrimoniais tecircm o objetivo de suprir os meios de sobrevivecircncia do

criador intelectual Eles surgem a partir de uma comercializaccedilatildeo posterior que pode natildeo

acontecer caso o autor escolha manter sua obra ineacutedita (Moraes 2006 271) Segundo

63

Paranaguaacute e Branco (2009 53) eacute preciso salientar que os direitos patrimoniais estatildeo

sujeitos a alguns pontos

a) Temporariedade

Segundo a Lei nordm 961098 atual Lei do Direito Autoral brasileira uma obra

intelectual soacute pode ser protegida se estiver dentro do prazo de proteccedilatildeo que eacute o de vida do

autor mais 70 anos contados a partir de 1ordm de Janeiro do ano subsequente ao de seu

falecimento (Presidecircncia da Repuacuteblica Federativa do Brasil 1998) Apoacutes esse prazo a

obra cai em domiacutenio puacuteblico ndash portanto qualquer pessoa pode tirar dela proveitos

patrimoniais sem autorizaccedilatildeo do titular dos direitos autorais Os 70 anos apoacutes a morte do

autor satildeo os mesmos no Coacutedigo do Direito de Autor e dos Direitos Conexos aprovado

pelo Decreto-Lei nordm 6385 de 14 de Marccedilo de 1985 texto atualmente em vigor em

Portugal O prazo foi instaurado pelo Decreto-Lei ndeg 33497 de 27 de Novembro

b) Autorizaccedilatildeo preacutevia

Enquanto natildeo cair em domiacutenio puacuteblico uma obra soacute poderaacute ser reproduzida

mediante autorizaccedilatildeo do detentor dos direitos autorais

c) Ausecircncia de formalidade ou proteccedilatildeo automaacutetica

Natildeo eacute preciso registrar a obra para que o autor tenha direito agrave proteccedilatildeo Ela

independe do registro

d) Perpetuidade do viacutenculo autor-obra

Decorre dos direitos morais do autor O nome do autor estaraacute perenemente ligado agrave

obra sobre a qual tem direito de paternidade Sendo assim o nome do autor deveraacute

constar obrigatoriamente em qualquer uso que se faccedila da obra

e) Individualidade da proteccedilatildeo

Cada obra deve ser protegida separadamente de forma independente Por exemplo

se um livro inspira a realizaccedilatildeo de sua adaptaccedilatildeo cinematograacutefica ambas as obras que se

diferem pelos suportes estatildeo protegidas Cada uma adaptada ao seu formato inclusive

com diferentes prazos de proteccedilatildeo

f) Independecircncia das utilizaccedilotildees

64

As diferentes modalidades possiacuteveis de utilizaccedilatildeo de uma obra intelectual satildeo

independentes entre si e a autorizaccedilatildeo referente a uma modalidade concedida pelo autor

ou detentor dos direitos natildeo se estende agraves demais

g) Direito de propriedade sobre o bem

Quando se adquire um CD por exemplo se adquire o suporte material sobre o qual

estaacute fixada a obra protegida por propriedade intelectual Sendo assim nosso direito de

propriedade sobre o CD nos permite que o guardemos doemos ou ateacute o destruamos se

quisermos Nossa propriedade estaacute sobre o CD mas natildeo sobre as obras contidas nele

Como foi visto os direitos patrimoniais estatildeo voltados ao fator econocircmico ao

caraacuteter comercial da obra intelectual Ao contraacuterio destes que regulam o poder econocircmico

do autor sobre a utilizaccedilatildeo de sua obra por terceiros estatildeo os direitos morais destinados agrave

defesa da relaccedilatildeo do autor com sua obra

30 Direitos de autor e regulaccedilatildeo da Internet no Brasil e em Portugal

31 Legislaccedilatildeo autoral brasileira

O primeiro registro legal que trata dos direitos autorais no Brasil eacute a Lei de 11 de

Agosto de 1827 (Presidecircncia da Repuacuteblica Federativa do Brasil 1827) Ela instituiu os

cursos juriacutedicos no paiacutes sendo responsaacutevel pela criaccedilatildeo de dois centros de estudos um em

Satildeo Paulo e outro em Olinda Os mestres nomeados para trabalhar nos cursos deveriam

enviar agraves Assembleias Gerais os seus compecircndios relativos agraves mateacuterias que lecionavam

para receber ou natildeo aprovaccedilatildeo Com ela os mestres gozariam durante 10 anos do

privileacutegio de publicaccedilatildeo dos escritos Mas segundo Eduardo Manso ldquoTratava-se no

entanto de um direito aplicaacutevel apenas intra muros nas Faculdades de Direito de Olinda e

de Satildeo Paulo natildeo alcanccedilando os demais autores brasileirosrdquo (Manso 1992 16)

Em 1830 veio a promulgaccedilatildeo do Coacutedigo Criminal e com ela surgiu a primeira

regulaccedilatildeo sobre a mateacuteria Suas normas visavam apenas a proibiccedilatildeo da contrafaccedilatildeo

(reproduccedilatildeo natildeo autorizada) sem conceder verdadeiros direitos autorais civis

65

Foi em 1891 com a primeira Constituiccedilatildeo Republicana que o Brasil editou normas

de direito autoral como garantia constitucional conforme o sect26deg do artigo 72 da

Constituiccedilatildeo Federal nos termos (Manso 1992 17) ldquoAos autores de obras literaacuterias e

artiacutesticas eacute garantido o direito exclusivo de reproduzi-las pela imprensa ou por qualquer

outro processo mecacircnico Os herdeiros dos autores gozaratildeo desse direito pelo tempo que a

lei determinarrdquo Essa lei foi publicada 5 anos mais tarde em 1896 com o nome de

Medeiros Albuquerque Conforme diz Daniel Rocha

Ateacute o advento dessa lei no Brasil a obra intelectual era terra de ningueacutem Tanto era

assim que Pinheiro Chagas escritor portuguecircs reclamava ter no Rio de Janeiro um

ldquoladratildeo habitualrdquo que ainda tinha a audaacutecia de lhe escrever dizendo ldquoTudo que V Exordf

publica eacute admiraacutevel Faccedilo o que posso para o tornar conhecido no Brasil reimprimindo tudordquo O que ocorria eacute que na eacutepoca era comum pensar-se que a obra estrangeira

ainda mais do que a nacional podia ser copiada indiscriminadamente (ROCHA apud

PARANAGUAacute E BRANCO 2009 18)

A lei Medeiros Albuquerque esteve em vigor ateacute a chegada do Coacutedigo Civil em

Janeiro de 1917 Nele o direito autoral brasileiro perdeu sua autonomia legislativa pois

passou a ser considerado simplesmente uma espeacutecie de propriedade ldquoPropriedade

Literaacuteria Cientiacutefica e Artiacutesticardquo (Manso 1992 20) Somente em 1973 o Brasil viu

publicado um estatuto uacutenico e abrangente regulando o direito de autor A lei nordm 5988 de

14 de Dezembro de 1973 vigorou ateacute a aprovaccedilatildeo pelo Congresso Nacional da lei nordm

9610 de 19 de Fevereiro de 1998

A atual Lei do Direito Autoral (LDA)3 brasileira nordm 961098 foi aprovada pelo

Congresso Nacional em 19 de Fevereiro de 1998 e entrou em vigor em 19 de Agosto do

mesmo ano Esse diploma veio alterar atualizar e consolidar a legislaccedilatildeo anterior que

vigorou por 25 anos (Paranaguaacute e Branco 2009 19)

Conforme salienta Faacutebio Barbosa o artigo 7ordm dessa lei confere inicialmente ao

direito autoral dois princiacutepios a proteccedilatildeo agrave criaccedilatildeo de espiacuterito expressas por qualquer

meio e a exclusividade de utilizaccedilatildeo da obra (Barbosa 2006 394) Isso nos remete ao

conceito de direito autoral dado por Isaac Pilati ldquo[] agrave guisa de conceito operacional

entende-se por Direito do Autor ou Direito Autoral aquele que tem o autor de ligar o seu

nome agrave obra do espiacuterito de qualquer modo exteriorizada podendo reproduzi-la e

3 Para tornar a leitura mais simples utilizaremos a sigla LDA para nos referirmos agrave atual Lei brasileira do

Direito Autoral

66

transmiti-lardquo (Pilati apud Barbosa 2006 394) Outros autores como Gustavo Correcirca

fazem conceituaccedilotildees mais teacutecnicas

Os direitos autorais satildeo aqueles que conferem ao autor de obra literaacuteria cientiacutefica ou artiacutestica a prerrogativa de reproduzi-la e exploraacute-la economicamente enquanto viver

transmitindo-a a seus herdeiros e sucessores pelo periacuteodo de setenta anos contados de

1ordm de Janeiro do ano subsequumlente ao de seu falecimento (CORREcircA apud BARBOSA

2006 394)

Agrave eacutepoca de seu surgimento a lei nordm 961098 trouxe uma evoluccedilatildeo no campo

juriacutedico concernente agraves mudanccedilas econocircmicas culturais e sobretudo tecnoloacutegicas pelas

quais passava a sociedade Eacute importante ressaltar que os avanccedilos no campo tecnoloacutegico

afetam diretamente o direito autoral jaacute que eles provocaram uma profunda mudanccedila na

forma de produzir e utilizar obras intelectuais Este eacute um assunto que seraacute tratado em

breve

Com o advento das tecnologias digitais e da Internet foi preciso modernizar a

legislaccedilatildeo para que esta acompanhasse as mutaccedilotildees que se seguiram Segundo Faacutebio

Barbosa naquela altura ela ldquo[] modernizou-se adequando-se para definir e reconhecer

os novos direitos aplicando sanccedilotildees agraves violaccedilotildees desses direitos inclusive no que se refere

agraves alteraccedilotildees supressotildees e inutilizaccedilotildees de dispositivos tecnoloacutegicos de proteccedilatildeo agrave obra

intelectualrdquo (Barbosa 2006 396)

Um dos toacutepicos que sofreram alteraccedilatildeo eacute o que se refere ao direito de reproduccedilatildeo

O artigo 5deg VI ndash Lei 961098 lhe daacute o seguinte conceito

VI ndash reproduccedilatildeo ndash a coacutepia de um ou vaacuterios exemplares de uma obra literaacuteria artiacutestica

ou cientiacutefica ou de um fonograma de qualquer forma tangiacutevel incluindo qualquer

armazenamento permanente ou temporaacuterio por meios eletrocircnicos ou qualquer outro

meio de fixaccedilatildeo que venha a ser desenvolvido (PRESIDEcircNCIA DA REPUacuteBLICA

FEDERATIVA DO BRASIL 1998)

Como pode ser observado o direito de reproduccedilatildeo sofreu mudanccedilas conceituais

considerando a partir de entatildeo ldquoqualquer armazenamento permanente ou temporaacuterio por

meios eletrocircnicos ou qualquer outro meio de fixaccedilatildeo que venha a ser desenvolvidordquo

(Barbosa 2006 397)

Outro conceito atualizado pela lei 961098 foi o do direito de comunicaccedilatildeo ao

puacuteblico O artigo 5deg V ndash Lei 961098 daacute o conceito da seguinte maneira ldquoV ndash

67

comunicaccedilatildeo ao puacuteblico ndash ato mediante o qual a obra eacute colocada ao alcance do puacuteblico

por qualquer meio ou procedimento e que natildeo consista na distribuiccedilatildeo de exemplaresrdquo

Poreacutem apesar de haver uma ampliaccedilatildeo conceitual referente agrave comunicaccedilatildeo puacuteblica

(podendo alcanccedilar a forma digital como ldquoo ato pelo qual a obra eacute colocada ao alcance do

puacuteblicordquo) no Capiacutetulo II intitulado ldquoDa Comunicaccedilatildeo ao Puacuteblicordquo a lei delimita o ato aos

direitos de execuccedilatildeo e representaccedilatildeo puacuteblicas nos artigos 68 e paraacutegrafos que satildeo

espeacutecies do gecircnero do direito de comunicaccedilatildeo ao puacuteblico (ibidem 399)

Um terceiro ponto a ser observado na lei 961098 estaacute no direito de distribuiccedilatildeo

As facilidades trazidas pela Internet promoveram uma discussatildeo em torno da distribuiccedilatildeo

de obras intelectuais na Rede O artigo 5deg IV ndash Lei 961098 traz o conceito da seguinte

forma

IV ndash distribuiccedilatildeo ndash a colocaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico do original ou coacutepia de obras

literaacuterias artiacutesticas ou cientiacuteficas interpretaccedilotildees ou execuccedilotildees fixadas e fonogramas

mediante a venda locaccedilatildeo ou qualquer outra forma de transferecircncia de propriedade ou posse (PRESIDEcircNCIA DA REPUacuteBLICA FEDERATIVA DO BRASIL 1998)

A princiacutepio o direito de distribuiccedilatildeo traz agrave mente a ideia do objeto material a obra

fixada sobre um suporte Poreacutem deve-se salientar que a distribuiccedilatildeo eletrocircnica tambeacutem

pode ser protegida jaacute que o objeto da proteccedilatildeo dos direitos eacute a obra em si que pode ser

digitalizada (Santos apud Barbosa 2006 400) O art 29 VII da Lei do Direito Autoral

alcanccedila a distribuiccedilatildeo eletrocircnica quando fala sobre a distribuiccedilatildeo de obras mediante

recursos de telecomunicaccedilotildees (Barbosa 2006 400)

32 Reforma da Lei brasileira do Direito Autoral (LDA)

A raacutepida evoluccedilatildeo das tecnologias digitais poreacutem fez com que a LDA se tornasse

obsoleta e desatualizada em vaacuterios aspectos Com o objetivo de discutir as mudanccedilas

necessaacuterias e as alternativas possiacuteveis um anteprojeto foi aberto agrave discussatildeo puacuteblica em 14

de Junho de 2010 pelo Ministeacuterio da Cultura (MinC) apoacutes vaacuterias jornadas puacuteblicas de

debate (vd Anexo 03) Foi mesmo criado um site para facilitar a consulta

httpwwwculturagovbrconsultadireitoautoral

Na verdade o anteprojeto propotildee reformar alguns pontos da LDA e natildeo instaurar

um diploma novo O texto manteacutem-se circunscrito ao acircmbito claacutessico dos direitos de autor

68

com apenas algumas referecircncias a elementos digitais Nota-se isso pela ausecircncia de uma

consideraccedilatildeo especiacutefica dos grandes problemas suscitados pelos direitos de autor em

mateacuteria de informaacutetica Haacute referecircncias incidentais mas aspectos baacutesicos da grande

problemaacutetica atual do estatuto da obra na Internet ficam por resolver Na anaacutelise do jurista

Joseacute de Oliveira Ascensatildeo esta foi uma decisatildeo sensata jaacute que a preparaccedilatildeo de uma lei

que regulasse o direito autoral na Internet levaria muito mais tempo e isso prejudicaria os

avanccedilos nas correccedilotildees de deficiecircncias jaacute detectadas - que deveriam ser realizadas mais

rapidamente (Ascensatildeo 2011 160)

No final de 2011 o Ministeacuterio da Cultura concluiu o texto final da nova Lei do

Direito Autoral Em Marccedilo de 2012 o diploma estava na pauta de discussatildeo dos

ministeacuterios envolvidos e depois seguiria para o Congresso Nacional Na eacutepoca em que

passou pelo MinC (gerido jaacute nesta altura pela ministra Ana de Hollanda) o texto sofreu

algumas modificaccedilotildees Ele eacute mais flexiacutevel do que o atual e permitiraacute por exemplo coacutepias

de obras para uso privado educaccedilatildeo ou preservaccedilatildeo (Link 04122011)

Poreacutem o Ministeacuterio da Cultura acrescentou ao texto um mecanismo que faz parte

da legislaccedilatildeo estadunidense o de notice and take down ou notificaccedilatildeo e retirada que

serve para que detentores de direitos autorais consigam retirar conteuacutedo pirata do ar sem a

necessidade de ordem judicial Por exemplo se uma gravadora encontrar um blog

hospedado no Blogger com links para downloads ilegais de discos pode solicitar ao

Google (proprietaacuterio do Blogger) a remoccedilatildeo do conteuacutedo O Google eacute obrigado a cumprir

e notificar o autor Avaliaccedilotildees ficam para depois Cabe ao dono do blog fazer uma

contranotificaccedilatildeo pedindo a manutenccedilatildeo do conteuacutedo e assumindo a responsabilidade por

uma eventual acusaccedilatildeo judicial

Segundo Marcia Regina Barbosa diretora de Direitos Intelectuais do Ministeacuterio da

Cultura o mecanismo foi incluiacutedo na lei ldquopor demanda dos produtores das aacutereas

audiovisual e musicalrdquo A medida segundo ela ldquolegalizaraacute um procedimento que hoje jaacute eacute

muito utilizadordquo (Link 04122011) O problema desse mecanismo eacute o que Pablo

Ortellado diretor do Grupo de Poliacuteticas Puacuteblicas para o Acesso agrave Informaccedilatildeo da

Universidade de Satildeo Paulo (USP) chama de ldquocensura preacuteviardquo (Link id) O proprietaacuterio do

blog soacute pode questionar a retirada depois que ela jaacute foi feita

O Ministeacuterio da Cultura tambeacutem quer criar um registro central de obras Na praacutetica

o sistema (que tem o nome provisoacuterio de I-Registro) eacute uma plataforma que centralizaraacute

dados sobre tudo o que eacute produzido de cultura no Brasil Registrar as obras criadas nessa

69

plataforma seraacute condiccedilatildeo sine qua non para receber os direitos autorais provenientes

delas Esse procedimento eacute questionaacutevel pelo facto de que a Convenccedilatildeo de Berna que

estabelece princiacutepios baacutesicos de direitos autorais e da qual o Brasil eacute signataacuterio afirma que

natildeo eacute necessaacuterio registro para uma obra ser protegida Para Pablo Ortellado a necessidade

de registro eacute ilegal pois segundo ele esse registro obrigatoacuterio ainda impediraacute o autor de

optar por uma modalidade de licenciamento mais flexiacutevel como o Creative Commons

(Link 04122011) Falaremos sobre ele mais adiante

Em audiecircncia puacuteblica na Cacircmara dos Deputados no dia 21 de Marccedilo de 2012 Ana

de Hollanda justificou as alteraccedilotildees feitas pelo Ministeacuterio da Cultura e afirmou que ouviu

as induacutestrias culturais para lanccedilar a uacuteltima versatildeo do texto da Reforma da Lei do Direito

Autoral ldquoConsideramos a consulta puacuteblica mas abrimos para contribuiccedilatildeo Havia uma

demanda enorme dos meios culturais que diziam que natildeo tinham sido ouvidos ou

contemplados no processo anteriorrdquo (Link 21032012) Segundo ela o MinC fez poucas

alteraccedilotildees no texto apoacutes a discussatildeo puacuteblica aberta em Junho de 2010 ldquoO que foi mexido

era uma demanda forte dos setores de todas as aacutereas audiovisual muacutesica livros que natildeo

se sentiam contempladosrdquo (Link id)

Paralelamente agraves discussotildees sobre a reforma da Lei brasileira do Direito Autoral

(LDA) eacute importante salientar que o Ministeacuterio da Justiccedila brasileiro estaacute em vias de

preparar aquilo que foi denominado de ldquoMarco Civil da Internetrdquo que vai apresentar

legislaccedilatildeo especiacutefica sobre a regulaccedilatildeo da Rede no paiacutes aleacutem de tocar (de forma indireta)

na questatildeo integrada dos direitos de autor e a problemaacutetica do digital Os contornos do

Marco Civil estatildeo atualmente sendo estudados por especialistas organismos de pesquisa e

acadecircmicos e eacute um toacutepico do qual trataremos a seguir

33 O Marco Civil da Internet

As discussotildees sobre o projeto de lei de combate ao cibercrime conhecido pelo

nome de seu autor o senador Eduardo Azeredo enfureceu muitos internautas brasileiros

A pressatildeo atraveacutes da mobilizaccedilatildeo virtual fez com que o entatildeo Presidente da Repuacuteblica

Luiz Inaacutecio Lula da Silva solicitasse ao Ministeacuterio da Justiccedila a elaboraccedilatildeo de ldquoum projeto

sobre a Internet que natildeo fosse uma regulaccedilatildeo penal mas um marco civilrdquo (Abramovay

2012) Em 29 de Outubro de 2009 a Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministeacuterio da

Justiccedila (SALMJ) em parceria com a Escola de Direito da Fundaccedilatildeo Getulio Vargas no

70

Rio de Janeiro (FGV DIREITO RIO) lanccedilou o projeto para a construccedilatildeo colaborativa de

um Marco Civil da Internet no Brasil

Os principais objetivos do marco regulatoacuterio satildeo o estabelecimento de princiacutepios

garantias direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil e a determinaccedilatildeo de diretrizes

para atuaccedilatildeo da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios em relaccedilatildeo agrave

mateacuteria A disciplina do uso da Internet no Brasil tem como fundamentos os direitos

humanos e o exerciacutecio da cidadania em meios digitais a pluralidade e a diversidade a

abertura e a colaboraccedilatildeo e finalmente a livre iniciativa a livre concorrecircncia e a defesa do

consumidor Dentre seus princiacutepios estatildeo

I - garantia da liberdade de expressatildeo comunicaccedilatildeo e manifestaccedilatildeo de

pensamento nos termos da Constituiccedilatildeo

II - proteccedilatildeo da privacidade

III - proteccedilatildeo aos dados pessoais na forma da lei

IV - preservaccedilatildeo e garantia da neutralidade da Rede conforme regulamentaccedilatildeo

V - preservaccedilatildeo da estabilidade seguranccedila e funcionalidade da Rede por meio de

medidas teacutecnicas compatiacuteveis com os padrotildees internacionais e pelo estiacutemulo ao uso de

boas praacuteticas

VI - responsabilizaccedilatildeo dos agentes de acordo com suas atividades nos termos da lei e

VII - preservaccedilatildeo da natureza participativa da Rede

(CONGRESSO NACIONAL 2011 01-02)

A ideia de criar um marco regulatoacuterio civil contrapotildee-se agrave tendecircncia de se

estabelecerem restriccedilotildees condenaccedilotildees ou proibiccedilotildees relativas ao uso da Internet E aiacute estaacute

a grande diferenccedila entre o Projeto de Lei Azeredo e o marco proposto Este uacuteltimo tem

como objetivo principal determinar de forma clara direitos e responsabilidades relativas agrave

utilizaccedilatildeo dos meios digitais O foco portanto eacute o estabelecimento de uma legislaccedilatildeo que

garanta direitos e natildeo uma norma que restrinja liberdades

Jaacute que as tecnologias digitais satildeo instrumentos em constantes mutaccedilatildeo e evoluccedilatildeo

o texto do marco civil deveria abranger questotildees essenciais A natureza aberta da Rede

poderia ser prejudicada caso a legislaccedilatildeo fosse de caraacuteter restritivo ldquoQualquer iniciativa

de regulaccedilatildeo da Internet deve portanto observar princiacutepios como a liberdade de

expressatildeo a privacidade do indiviacuteduo o respeito aos direitos humanos e a preservaccedilatildeo da

dinacircmica da Internet como espaccedilo de colaboraccedilatildeordquo (Ministeacuterio da Justiccedila e FGV 2009)

Dentre os temas abordados pelo texto do marco civil estatildeo as responsabilidades

dos provedores e dos usuaacuterios sobre os conteuacutedos disponibilizados na Rede e as medidas

para regulamentar e preservar direitos fundamentais dos internautas (como a privacidade e

71

a liberdade de expressatildeo) Aleacutem disso prevecirc-se a discussatildeo sobre alguns princiacutepios que

garantam o bom funcionamento da Rede como a neutralidade da Internet Os

organizadores do marco civil decidiram natildeo abordar de maneira aprofundada questotildees

como crimes ciberneacuteticos regulaccedilatildeo de telecomunicaccedilotildees e direitos de autor por

considerarem que satildeo temas suficientemente vastos para serem discutidos em foros agrave

parte Mas de alguma forma as premissas do texto do marco tocam essas questotildees

mesmo que de forma natildeo tatildeo evidente Eacute como o caso da relaccedilatildeo entre respeito aos direitos

autorais e preservaccedilatildeo da privacidade do usuaacuterio da Rede

Tomemos quatro principais itens-chave discutidos pelo Marco Civil guarda de

dados neutralidade da Rede privacidade e responsabilidade Quando um crime eacute

cometido utilizando a Internet como meio a uacutenica forma de identificar o criminoso eacute ter

acesso aos registros de conexatildeo Atualmente no Brasil natildeo haacute nenhuma lei de caraacuteter

regulatoacuterio que defina se sites e provedores devem armazenar esses registros ou por

quanto tempo O texto do marco determina que os provedores guardem os registros de

conexatildeo de seus utilizadores mas proiacutebe que colham informaccedilotildees sobre os registros de

acesso a serviccedilos Web Isto eacute os provedores seriam obrigados a armazenar os dados que

permitem determinar quando e por qual computador o indiviacuteduo conectou-se agrave Rede mas

natildeo quais os sites que foram visitados Os proacuteprios sites poderiam fazecirc-lo mas apenas

quando o usuaacuterio consentisse Aqui estaacute um ponto que gera controveacutersias Alguns juristas

afirmam que os registros de acesso satildeo possiacuteveis provas de crimes ndash o que levaria o tema a

ser regulado por uma lei criminal natildeo por um marco civil

A questatildeo da neutralidade da Rede eacute um ponto crucial do projeto e uma polecircmica

de dimensotildees planetaacuterias O princiacutepio da neutralidade da Rede determina que todos os

pacotes de dados que transitam por ela devem ser tratados da mesma forma sem

discriminaccedilatildeo de origem destino ou tipo Manter a neutralidade quer dizer aqui evitar

praacuteticas conhecidas como traffic shaping que permite aos provedores dificultar a

conexatildeo a determinadas paacuteginas Eacute o caso dos fornecedores de acesso agrave Internet que

prejudicam propositalmente a conexatildeo a sites de partilha P2P e serviccedilos voip por

exemplo No Brasil um caso que ilustra essa atitude eacute o da Brasil Telecom e de mais trecircs

operadoras atuantes no mercado nacional que aparecem no ranking mundial dos 108

provedores avaliados pelo software Vuze sob indiacutecios da praacutetica de controlo de fluxo de

dados (Vuze 2008) O Marco prevecirc uma exceccedilatildeo apenas para requisitos teacutecnicos

necessaacuterios agrave prestaccedilatildeo adequada dos serviccedilos (Congresso Nacional 2011 03) como

72

medidas para melhoria do funcionamento da Rede que podem eventualmente prejudicar a

fluidez do traacutefego de informaccedilotildees

Para garantir a privacidade do usuaacuterio o marco determina que seus dados pessoais

soacute podem ser consultados mediante decisatildeo judicial Os criacuteticos da medida contestam esse

toacutepico afirmando que isso poderia dificultar eventuais investigaccedilotildees da poliacutecia Poreacutem

deve-se observar que o texto prevecirc que as autoridades requeiram a conservaccedilatildeo dos dados

dos usuaacuterios investigados sem burocracia impedindo que sejam apagados pelos

servidores

A responsabilidade tem a ver com a atribuiccedilatildeo de conteuacutedos publicados em sites

redes sociais etc Neste ponto o marco segue o mesmo caminho que jaacute vem sendo tomado

pela Justiccedila a responsabilidade recai sobre os proacuteprios usuaacuterios sendo os provedores

punidos apenas quando natildeo retiram o conteuacutedo do ar dentro do prazo legal estabelecido

para fazecirc-lo

O caraacuteter inteiramente colaborativo do processo de construccedilatildeo do marco civil eacute

ineacutedito e constitui seu maior trunfo A formulaccedilatildeo do texto foi executada tendo a Internet

como meio o intuito foi o de incentivar a participaccedilatildeo ativa e direta dos vaacuterios atores

sociais envolvidos no tema (sociedade civil pesquisadores membros do governo

acadecircmicos representantes da iniciativa privada etc) Todos podiam efetuar cadastro em

um site feito especialmente com o objetivo de receber propostas contribuiccedilotildees e opiniotildees

Dividiu-se o processo em duas fases Na primeira com duraccedilatildeo de

aproximadamente 45 dias (iniciada em Outubro de 2009 e fechada em 17 de Dezembro de

2009) foram debatidas ideias sobre os toacutepicos propostos para regulaccedilatildeo a partir de texto-

base produzido pelo Ministeacuterio da Justiccedila O texto-base contextualiza os principais temas

pendentes de regulaccedilatildeo pelo instrumento a ser elaborado coletivamente e aponta possiacuteveis

caminhos a serem seguidos

Cada paraacutegrafo do texto ficou aberto para inserccedilatildeo de comentaacuterios por usuaacuterios

cadastrados no site As postagens de comentaacuterios tinha limite de tamanho e de quantidade

por usuaacuterios a fim de abrir espaccedilo agrave pluralidade de participaccedilotildees Para evitar cerceamento

ao debate a equipe de coordenaccedilatildeo direcionava determinados debates para foros de

discussatildeo hospedados em comunidades especiacuteficas dentro do portal Nesses espaccedilos era

possiacutevel tornar a discussatildeo mais aprofundada Cada participante tambeacutem podia votar

positiva ou negativamente nas contribuiccedilotildees dos demais Esses votos serviam para nortear

a equipe de redaccedilatildeo sobre as preferecircncias opiniotildees e interesses dos participantes

73

contribuindo para a formulaccedilatildeo da proposta No final desta primeira fase todas as

participaccedilotildees foram compiladas e levaram agrave elaboraccedilatildeo de uma minuta de anteprojeto de

lei Nessa primeira fase o site recebeu uma meacutedia de 1300 visitas diaacuterias

Na segunda fase a discussatildeo seguiu o mesmo formato mas teve como paracircmetro a

minuta de anteprojeto de lei elaborado anteriormente Cada artigo paraacutegrafo inciso ou

aliacutenea ficou aberto para apresentaccedilatildeo de comentaacuterios por qualquer interessado A duraccedilatildeo

desta fase foi de aproximadamente 50 dias (de 08 de Abril a 30 de Maio de 2010) Durante

o periacuteodo o site recebeu 455 mil visitas e foram feitos cerca de 900 comentaacuterios agrave minuta

(Agecircncia Brasil 2010) Com o teacutermino da segunda fase foi construiacutedo o texto atualmente

disponiacutevel (vd Anexo 01)

O processo de consulta puacuteblica no qual se baseou a construccedilatildeo do marco foi

elogiado por muitos juristas e ativistas da Internet por ser aberto e democraacutetico e eacute um

modelo cuja eficaacutecia vem sendo internacionalmente reconhecida (Committee to Protect

Journalists 2010 Internet sans frontiegraveres 2010)

34 Legislaccedilatildeo autoral portuguesa

Em Portugal a Carta Constitucional de 1826 no sect24ordm do artigo 145ordm reconhece

aos inventores ldquoa propriedade das suas descobertas ou das suas produccedilotildeesrdquo mas natildeo

assegura a proteccedilatildeo agrave criaccedilatildeo literaacuteria (Monarquia Portuguesa 1826 01)

O escritor Almeida Garrett entusiasta da causa dos direitos de autor em Portugal

escreveu em 1839 sobre a falta de proteccedilatildeo aos autores nacionais

Findo o privileacutegio se era temporaacuterio ou natildeo o havendo entendia-se que toda a obra

impressa entrava no domiacutenio puacuteblico e que vivo ou morto com herdeiros ou sem eles

qualquer um podia reimprimir vender representar se era obra dramaacutetica usar dela

enfim como coisa sua ou coisa de ningueacutem que tanto vale (REBELLO 1973 07)

No ano de 1838 a Constituiccedilatildeo Portuguesa consagrou no sect4ordm do artigo 23ordm o

ldquodireito de propriedade dos inventores sobre as suas descobertas e dos escritores sobre os

seus escritos [] pelo tempo e na forma que a lei determinar []rdquo Faltava poreacutem a lei

que regulasse a mateacuteria nas suas especificidades

Em 1839 Garrett apresentou agrave Cacircmara dos Deputados um projeto de lei sobre

propriedade literaacuteria e artiacutestica Em 1841 o projeto foi aprovado mas natildeo chegou a tornar-

se lei devido agrave desfavoraacutevel conjuntura poliacutetica da eacutepoca O projeto voltou agrave Cacircmara dez

74

anos depois em 1851 quando foi aprovado e em 18 de Julho do mesmo ano foi publicado

o primeiro diploma regulador dos direitos autorias em Portugal Esta lei manteve-se em

vigor ateacute 1867 ano em que a mateacuteria referente ao direito de autor foi inserida no Coacutedigo

Civil elaborado pelo Visconde de Seabra Os artigos 570deg a 612ordm que constituem o

capiacutetulo epigrafado ldquoDo trabalho literaacuterio e artiacutesticordquo retomaram os princiacutepios e as regras

fundamentais do diploma precedente De acordo com o artigo 579ordm do coacutedigo civil o

direito dos herdeiros a publicar ou autorizar a publicaccedilatildeo de uma obra foi elevado de 30

para 50 anos consecutivos agrave morte do autor

Setenta anos depois em 3 de Junho de 1927 o decreto nordm 13725 (tambeacutem

conhecido como Lei Cunha Gonccedilalves) veio estabelecer uma regulaccedilatildeo autocircnoma para

essa mateacuteria em parte pela necessidade de harmonizaccedilatildeo entre a legislaccedilatildeo interna com o

Direito internacional jaacute que Portugal havia assinado o decreto de adesatildeo agrave Convenccedilatildeo de

Berna em 1911 A convenccedilatildeo que instituiu a Uniatildeo Internacional das Naccedilotildees Para a

Proteccedilatildeo das Obras Literaacuterias e Artiacutesticas jaacute contava na altura com a participaccedilatildeo da

Alemanha Beacutelgica Espanha Franccedila Inglaterra Itaacutelia e Suiacuteccedila Luiz Francisco Rebello

aponta que a maior inovaccedilatildeo desse decreto foi o estabelecimento da perpetuidade do

direito de autor ateacute entatildeo protegido apenas durante a vida e ateacute 50 anos apoacutes a sua morte

(ibidem 09) O sistema anterior foi poreacutem restaurado em 1966

Em 6 de Setembro de 1952 eacute assinado em Genebra um outro tratado multilateral a

Convenccedilatildeo Universal sobre o Direito de Autor de iniciativa da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees

Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) destinada a ldquo[] assegurar a

proteccedilatildeo suficiente e eficaz dos direitos dos autores e de quaisquer outros titulares dos

mesmos direitos sobre as obras literaacuterias artiacutesticas e cientiacuteficasrdquo (Convenccedilatildeo Universal

sobre Direito de Autor 1952 01) O novo tratado impocircs a necessaacuteria revisatildeo da lei

nacional com o objetivo de adequaacute-la agraves mudanccedilas das tecnologias que surgiam mas

sobretudo de adaptaacute-la ao quadro internacional A comissatildeo incumbida de fazecirc-lo redigiu

um anteprojeto de lei consideravelmente modificado pela Cacircmara Corporativa em 1953

O contra-projeto da Cacircmara Corporativa inspirou em grande parte o texto do Coacutedigo de

Direito de Autor aprovado pelo Decreto-Lei nordm 46980 de 27 de Abril de 1966

O ano de 1985 marca a aprovaccedilatildeo do Coacutedigo do Direito de Autor e dos Direitos

Conexos4 pelo Decreto-Lei nordm 6385 de 14 de Marccedilo O texto original foi alterado pelas

4 Para tornar a leitura mais simples utilizaremos a sigla CDA para nos referirmos agrave atual Lei portuguesa dos

Direitos Autorais

75

Leis ndeg 4585 de 17 de Setembro ndeg 11491 de 3 de Setembro nordm 502004 de 24 de

Agosto e pelos Decretos-Lei ndeg 33297 e 33497 ambos de 27 de Novembro Este eacute o

coacutedigo que atualmente versa sobre a questatildeo em Portugal

Em vigor haacute mais de 25 anos eacute evidente que o CDA natildeo abrange os problemas

suscitados pela informaacutetica e especialmente pela Internet Segundo Alexandre Dias

Pereira a desatualizaccedilatildeo eacute caracteriacutestica das legislaccedilotildees nacionais em geral soacute agora eacute que

elas comeccedilam a abrir suas portas aos novos problemas da teacutecnica E o faratildeo mais vezes

por imposiccedilatildeo vertical dos Tratados Internacionais eou como eacute o caso da Uniatildeo Europeia

por forccedila das Diretivas Comunitaacuterias (Pereira 2002 05) Eacute nesse contexto que se assiste

na Europa a um ldquoassaltordquo ao direito de autor pelas instituiccedilotildees comunitaacuterias Com efeito

foram adotadas diversas medidas de harmonizaccedilatildeo na sequecircncia de um programa de accedilatildeo

traccedilado no famoso Livro Verde de 1988 sobre direitos de autor e os desafios da tecnologia

A legislaccedilatildeo nacional viu ocorrerem vaacuterias mudanccedilas como os programas de computador

serem tratados em igualdade com as obras literaacuterias (Conselho Europeu 1991) e o prazo

de duraccedilatildeo dos direitos subir para os 70 anos apoacutes a morte do autor (Parlamento Europeu e

Conselho 2006)

35 Regulaccedilatildeo da Internet em Portugal

Em 31 de Maio de 2002 os presidentes do Instituto da Comunicaccedilatildeo Social (ICS) e

da Autoridade Nacional de Comunicaccedilotildees (ANACOM) apresentaram ao Governo um

conjunto de propostas de atuaccedilatildeo intitulado ldquoIniciativa Convergecircncia e Regulaccedilatildeordquo O

texto tinha como objetivo definir uma orientaccedilatildeo estrateacutegica para o desenvolvimento dos

setores do audiovisual e das comunicaccedilotildees num ambiente de convergecircncia

A iniciativa recolheu e analisou contributos de representantes dos diferentes

interesses envolvidos na questatildeo entre eles associaccedilotildees de consumidores e profissionais

entidades institucionais e operadores de telecomunicaccedilotildees Tambeacutem ouviu personalidades

de reconhecido meacuterito e experiecircncia nos setores da comunicaccedilatildeo social para aleacutem de abrir

uma consulta puacuteblica Em 3 de Junho de 2002 foi entregue aos Ministros da Presidecircncia e

da Economia o relatoacuterio final contendo um conjunto de recomendaccedilotildees e de propostas de

atuaccedilatildeo Entretanto o projeto estagnou-se e desde 2008 natildeo haacute atualizaccedilotildees a seu respeito

James Slevin afirma que o uso das novas tecnologias de informaccedilatildeo eacute visto por

parte dos EstadosndashNaccedilatildeo como sendo de prioridade para os seus interesses e por isso pede

76

algum tipo de regulaccedilatildeo Isso porque no entender do Estado (hellip) as tecnologias que

podem ser utilizadas para transmitir algum tipo de mensagens para audiecircncias

relativamente alargadas (hellip) possuem uma profunda significacircncia como fator de influecircncia

dos valores e padrotildees morais das sociedades modernasrdquo (Slevin 2000 77) James Slevin

diz ainda que a tentativa de dotar a Internet de um sistema regulatoacuterio que defenda

simultaneamente os interesses dos Estados e dos cidadatildeos provoca um embate entre dois

polos (Slevin apud Cardoso 2002 03) Primeiro o dos governos que tendem a defender

uma abordagem da Internet enquanto tecnologia que facilita a difusatildeo puacuteblica de material

algo proacuteximo do sistema de broadcasting ndash uma atividade para a qual foram ao longo das

uacuteltimas deacutecadas desenvolvidos sistemas de regulaccedilatildeo de conteuacutedos Por outro lado os

indiviacuteduos e organizaccedilotildees da sociedade civil partidaacuterios de uma abordagem da Internet

enquanto tecnologia derivada do sistema telefocircnico ndash o qual foi desde sempre

caracterizado por um sistema de regulaccedilatildeo bastante brando dos seus conteuacutedos

Em texto escrito como contribuiccedilatildeo para a ldquoIniciativa Convergecircncia e Regulaccedilatildeordquo

Gustavo Cardoso afirma poreacutem que ldquoas posiccedilotildees sobre a regulaccedilatildeo da Internet tendem a

ser por vezes simplificadas colocando o Estado como defensor da existecircncia de

regulaccedilatildeo e os cidadatildeos como arautos da auto-regulaccedilatildeordquo (Cardoso 2002 04) Foi com o

objetivo de descobrir a veracidade dessa opiniatildeo na sociedade portuguesa que o Projecto

Ciberfaces do Instituto Superior de Ciecircncias do Trabalho e da Empresa (ISCTE)

analisou no ano 2000 3 mil inqueacuteritos realizados com usuaacuterios da Internet no paiacutes

Questionados sobre as principais vantagens da Internet os inquiridos responderam

quantidade diversidade da informaccedilatildeo disponiacutevel (263) rapidez de comunicaccedilatildeo

(205) e facilidade de contato com outros (182) O item referente agrave ausecircncia de

regulaccedilatildeo figurou na 6ordf posiccedilatildeo (57) numa lista de seis (ISCTE Projecto Ciberfaces

2000) As questotildees mais problemaacuteticas que a Internet enfrenta satildeo para estes inquiridos a

privacidade dos dados a seguranccedila dos pagamentos on-line a desorganizaccedilatildeo e dispersatildeo

dos conteuacutedos e a censura a alguns desses conteuacutedos

Outra dimensatildeo significativa que a pesquisa procurou analisar foi a da relaccedilatildeo

entre direitos de autor e gratuidade de conteuacutedos Agrave questatildeo ldquoA informaccedilatildeo

disponibilizada na Internet deve ser gratuitardquo 914 responderam ldquosimrdquo e 86 ldquonatildeordquo

Perguntados se ldquoOs direitos de autor devem ser respeitados na Internetrdquo 835

concordaram e 165 discordaram Gustavo Cardoso aponta esses resultados como

sintoma do aparente paradoxo entre o acesso gratuito agraves informaccedilotildees e a defesa dos

77

direitos de autor e da necessidade de compatibilizar dois polos de interesse geralmente

considerados opostos (Cardoso 2002 07)

Na questatildeo sobre a quem deve caber a regulaccedilatildeo da Internet 63 declararam-se a

favor de algum tipo de regulaccedilatildeo 33 mostraram-se favoraacuteveis aos utilizadores (portanto

agrave auto-regulaccedilatildeo) e apenas 2 escolheram a ausecircncia de qualquer tipo de regulaccedilatildeo Os

favoraacuteveis agrave regulaccedilatildeo opinaram poreacutem que esta natildeo deveria ser feita nem pelo Governo

nem pelas empresas do setor Ambas as categorias satildeo vistas como pouco crediacuteveis para

assegurar o equiliacutebrio necessaacuterio entre o interesse privado e puacuteblico que os usuaacuterios

conferem agrave Rede Isso ocorre pelo facto de os utilizadores conferirem ao regulador a noccedilatildeo

de entidade sem interesse direto no espaccedilo em causa Assim a escolha recai ou sobre

entidades independentes ou numa combinaccedilatildeo de interesses puacuteblicos privados e

individuais Conforme diz Gustavo Cardoso ldquotratam-se portanto de modelos proacuteximos

daqueles que a legislaccedilatildeo portuguesa a par de outras a niacutevel europeu privilegia nas aacutereas

de atuaccedilatildeo das tecnologias mais tradicionais no sistema dos mediardquo (ibidem 11)

A regulaccedilatildeo da Internet depara-se com trecircs questotildees limitadoras no que se refere

aos conteuacutedos como definir quais satildeo os conteuacutedos aceitaacuteveis e inaceitaacuteveis agrave circulaccedilatildeo

como reunir as capacidades financeira e tecnoloacutegica necessaacuterias agrave aplicaccedilatildeo da regulaccedilatildeo e

como criar uma poliacutetica de cooperaccedilatildeo internacional face a uma tecnologia global como a

Internet Outro aspecto a ser considerado eacute o das formas de filtragem dos conteuacutedos As

tecnologias para fazecirc-lo ainda natildeo estatildeo suficientemente desenvolvidas aleacutem disso

qualquer atitude nesse campo esbarra na tecircnue linha que separa o combate agrave criminalidade

na Rede e o desrespeito agrave privacidade dos usuaacuterios Muito mais que uma questatildeo

tecnoloacutegica o controlo de conteuacutedos na rede mundial de computadores apresenta-se como

um dilema filosoacutefico e socioloacutegico difiacutecil de ser resolvido

40 Salvaguarda dos direitos de autor e combate agrave pirataria no Brasil e em

Portugal Azeredo e Lei da Coacutepia Privada

41 O Projeto de Lei Azeredo

78

O Projeto de Lei 892003 de autoria do senador mineiro Eduardo Azeredo eacute um

substitutivo a trecircs projetos que tramitam em conjunto pelo Congresso Nacional brasileiro

Projeto de Lei da Cacircmara de nordm 89 de 2003 e do Senado de nordm 76 e 137 de 2000 Eles

dispotildeem sobre os crimes cometidos na aacuterea de informaacutetica e suas penalidades O projeto

pretende alterar o Coacutedigo Penal o Coacutedigo de Processo Penal e outras leis ao inveacutes de

atualizaacute-las com novos tipos de crime cometidos atraveacutes das tecnologias da informaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo (TIC) (Rezende 2008)

Eduardo Azeredo (PSDB) foi governador do estado de Minas Gerais e trabalhou

na IBM por mais de 10 anos Ele tambeacutem exerceu vaacuterios cargos puacuteblicos ligados agrave aacuterea da

tecnologia com a colaboraccedilatildeo de seu assessor Joseacute Henrique Portugal que eacute ex-diretor da

empresa puacuteblica Serpro (Serviccedilo Federal de Processamento de Dados) e coautor do

respectivo Projeto de Lei que ficou conhecido como ldquoLei de Crimes de Informaacuteticardquo e

tambeacutem ldquoLei Azeredordquo

O projeto eacute criticado desde seu surgimento por apresentar um texto vago

impreciso ateacute duacutebio com pontos abertos a interpretaccedilotildees mesmo contraditoacuterias Aleacutem

disso os criacuteticos da Lei Azeredo apontam para o facto de que o texto legislativo pode

chegar a criminalizar atividades cotidianas praticadas por usuaacuterios da Rede Em seu blog

o socioacutelogo Seacutergio Amadeu afirma que ldquoao aprovar o Projeto Substitutivo ao Projeto de

Lei da Cacircmara dos Deputados (PLC) 892003 Projeto de Lei do Senado Federal (PLS)

1372000 e PLS 762000 redigido pelo senador Azeredo a Comissatildeo de Constituiccedilatildeo e

Justiccedila da Cacircmara quer transformar milhares de internautas em criminososrdquo (Amadeu

2008)

Pela burocratizaccedilatildeo do acesso que propotildee a lei pode dificultar a democratizaccedilatildeo da

Rede e servir como um entrave e um desincentivo aos usuaacuterios O texto inicial da Lei

Azeredo propotildee a obrigatoriedade da identificaccedilatildeo do usuaacuterio antes de iniciar qualquer

atividade interativa na Rede Sendo assim o envio de e-mails conversas em salas de bate-

papo criaccedilatildeo e publicaccedilatildeo de materiais em blogs e a captura de dados (downloads de

muacutesicas filmes imagens etc) dentre outras atividades ficariam sujeitas agrave preacutevia

identificaccedilatildeo do utilizador

A Lei Azeredo prevecirc a necessidade de identificar-se a cada acesso O usuaacuterio deve

fornecer informaccedilotildees como nome endereccedilo nuacutemero de telefone nuacutemeros do registro

geral (carteira de identidade) e do cadastro de pessoas fiacutesicas (CPF) ou juriacutedicas (CNPJ)

79

A navegaccedilatildeo na Internet sem o fornecimento desses dados seria punida com reclusatildeo de

dois a quatro anos

Os fornecedores de acesso agrave Internet satildeo os responsaacuteveis pela comprovaccedilatildeo da

veracidade das informaccedilotildees prestadas pelos usuaacuterios Cabe a eles verificar se os dados satildeo

ou natildeo reais e se correspondem efetivamente agrave pessoa conectada O acesso soacute seraacute

liberado apoacutes a confirmaccedilatildeo da identidade do indiviacuteduo Para isso eacute preciso obter

fotocoacutepias dos documentos de identificaccedilatildeo Caso os provedores permitam o acesso de

usuaacuterios natildeo cadastrados ficam sujeitos agrave mesma pena ndash dois a quatro anos de prisatildeo

O artigo 2 do projeto propotildee a alteraccedilatildeo do artigo 285 do Coacutedigo Penal com trecircs

apecircndices O 285-A criminaliza o acesso ldquomediante violaccedilatildeo de seguranccedilardquo agrave rede de

computadores dispositivo de comunicaccedilatildeo ou sistema informatizado protegido por

expressa restriccedilatildeo de acesso com pena de um a trecircs anos de reclusatildeo e multa O 285-B

criminaliza a obtenccedilatildeo ou transferecircncia de dado ou informaccedilatildeo disponiacutevel numa tal coisa

em desconformidade com a autorizaccedilatildeo do ldquolegiacutetimo titularrdquo da mesma com pena igual

O texto determina que os fornecedores de acesso agrave Internet guardem durante um

periacuteodo de trecircs anos as informaccedilotildees sobre as conexotildees realizadas por seus usuaacuterios de

maneira a fornececirc-las agraves autoridades responsaacuteveis pela investigaccedilatildeo de infratores

Art 22 O responsaacutevel pelo provimento de acesso agrave rede de computadores mundial

comercial ou do setor puacuteblico eacute obrigado a

I ndash manter em ambiente controlado e de seguranccedila pelo prazo de trecircs anos com o

objetivo de provimento de investigaccedilatildeo puacuteblica formalizada os dados de

endereccedilamento eletrocircnico da origem hora data e a referecircncia GMT da conexatildeo

efetuada por meio de rede de computadores e fornececirc-los exclusivamente agrave autoridade

investigatoacuteria mediante preacutevia requisiccedilatildeo judicial

II ndash preservar imediatamente apoacutes requisiccedilatildeo judicial outras informaccedilotildees requisitadas

em curso de investigaccedilatildeo respondendo civil e penalmente pela sua absoluta confidencialidade e inviolabilidade (SENADO FEDERAL 2003)

No mesmo artigo a lei ainda prevecirc que os prestadores de serviccedilo de acesso agrave rede

mundial de computadores recebam e faccedilam denuacutencias sobre usuaacuterios que pratiquem

atividades tidas como criminosas pelas autoridades competentes Cabe aos fornecedores

um papel de delaccedilatildeo

III ndash informar de maneira sigilosa agrave autoridade competente denuacutencia que tenha

recebido e que contenha indiacutecios da praacutetica de crime sujeito a acionamento penal

puacuteblico incondicionado cuja perpetraccedilatildeo haja ocorrido no acircmbito da rede de computadores sob sua responsabilidade (SENADO FEDERAL 2003)

80

O artigo 22 do Projeto de Lei 892003 eacute talvez o mais polecircmico Os criacuteticos da lei

questionam o motivo pelo qual as denuacutencias deveriam ser feitas aos fornecedores de

acesso agrave Internet e natildeo diretamente agraves autoridades competentes Se natildeo haacute restriccedilotildees nem

criteacuterios para o registro de denuacutencias qualquer interessado pode fazecirc-las aos provedores

criando uma espeacutecie de induacutestria de denuacutencias Aleacutem disso a lei induz as empresas

fornecedoras de acesso a serem conforme diz o Observatoacuterio do Direito agrave Comunicaccedilatildeo

ldquociberagentes policiaisrdquo ldquocibercapatazesrdquo que dispostos a evitar retaliaccedilotildees identificam e

denunciam usuaacuterios sem saber se houve realmente alguma violaccedilatildeo da lei (Observatoacuterio

do Direito agrave Comunicaccedilatildeo 2008) Em entrevista ao Grupo de Pesquisa em Poliacuteticas

Puacuteblicas para o Acesso agrave Informaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) o professor e

pesquisador da Universidade de Brasiacutelia (UnB) Pedro Rezende demonstrou seu temor em

relaccedilatildeo a esse artigo

Receio que tal dispositivo possa por exemplo induzir prestadores inclinados a lucrar

com espionagem ou violaccedilatildeo de privacidade em posiccedilatildeo teacutecnica de poder fazecirc-lo de

forma indetectaacutevel a se abrigarem na sombra desta subjetividade para se desimputarem

de culpabilidade caso efeitos desta inclinaccedilatildeo emerjam (REZENDE 2008)

Em Marccedilo de 2012 o Projeto de Lei Azeredo entrou na pauta de discussatildeo na

Comissatildeo de Seguranccedila Puacuteblica e Combate ao Crime Organizado na Cacircmara dos

Deputados A notiacutecia causou revolta e graccedilas agrave mobilizaccedilatildeo popular atraveacutes das redes

sociais e outros instrumentos de comunicaccedilatildeo pela Internet o debate sobre o texto foi

adiado sem prazo definido

42 A Lei da Coacutepia Privada em Portugal

O Coacutedigo de Direitos de Autor revisado e aprovado em 1985 estabeleceu em seu

81deg artigo a legitimidade da reproduccedilatildeo de obras protegidas sem o consentimento dos

titulares dos direitos quando estas se destinam a fins exclusivamente privados

(Assembleia da Repuacuteblica 1985 27) Em outras palavras a reproduccedilatildeo eacute legal quando eacute

feita por uma soacute pessoa sem fins lucrativos visando apenas satisfazer necessidades

pessoais do utilizador ou dos seus proacuteximos Eacute a isto que se chama coacutepia privada

81

Na tentativa de evitar que os autores ficassem desprotegidos pela autorizaccedilatildeo da

coacutepia em contexto privado a Lei nordm 6298 de 01 de Setembro estabelece uma

compensaccedilatildeo a atribuir pela entidade gestora dos direitos autorais Essa compensaccedilatildeo eacute

obtida da seguinte forma na venda de

[] todos e quaisquer aparelhos mecacircnicos quiacutemicos electroacutenicos ou outros que

permitam a fixaccedilatildeo e reproduccedilatildeo de obras e bem assim de todos e quaisquer suportes

materiais virgens analoacutegicos das fixaccedilotildees e reproduccedilotildees que por qualquer desses meios

possam obter-se incluir-se-aacute uma quantia destinada a beneficiar os autores os artistas

inteacuterpretes ou executantes os editores os produtores fonograacuteficos e os videograacuteficos

(ASSEMBLEIA DA REPUacuteBLICA 1998 01)

Portanto a compensaccedilatildeo obteacutem-se atraveacutes da introduccedilatildeo no preccedilo de venda ao

puacuteblico de uma determinada taxa

Em Dezembro de 1998 foi constituiacuteda a Associaccedilatildeo para Gestatildeo da Coacutepia Privada

(AGECOP) em cumprimento ao artigo 6ordm da Lei nordm 6298 de 01 de Setembro que previa

a criaccedilatildeo de ldquo[] uma pessoa colectiva sem fins lucrativos de natureza associativa ou

cooperativa que tem por objecto a cobranccedila e gestatildeo das quantias previstas na presente

leirdquo (Assembleia da Repuacuteblica 1998 02) A entidade atualmente presidida pela

Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) cobra pela coacutepia privada e distribui os valores agraves

sociedades de gestatildeo e aos detentores dos direitos de autor

A lei nordm 502004 de 24 de Agosto referente agrave Harmonizaccedilatildeo de certos aspectos

dos direitos de autor e dos direitos conexos na sociedade da informaccedilatildeo finalmente

especificou a quais aparelhos e suportes se aplicariam as taxas pela coacutepia privada Desde

entatildeo todos os equipamentos analoacutegicos que permitem gravar armazenar e reproduzir

passaram a ser taxados em 3 assim como cassetes aacuteudio viacutedeo CD-R aacuteudio DVD-R

DVD RAM etc que satildeo taxados em valores individuais que rondam os 014 e o 100

euros cada A soma incide sobre o preccedilo de venda ao puacuteblico antes da aplicaccedilatildeo do

Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) estabelecido pelos respectivos fabricantes e

importadores (Assembleia da Repuacuteblica 2004)

A ex-ministra da Cultura e atual deputada do Partido Socialista (PS) Gabriela

Canavilhas eacute a responsaacutevel pela autoria e apresentaccedilatildeo do Projeto de Lei nordm 118 tambeacutem

conhecido como Projeto de Lei da Coacutepia Privada5 agrave Assembleia da Repuacuteblica O objetivo

5 Para tornar a leitura mais simples utilizaremos a sigla PL118 para nos referirmos ao Projeto de Lei da

Coacutepia Privada

82

do texto eacute basicamente alargar o regime de taxas aos equipamentos digitais surgidos e

popularizados recentemente como aparelhos leitores de mp3 e pens USB por exemplo A

proposta sugere que o valor da taxa deixe de ser de 3 e seja proporcional agrave capacidade

do dispositivo A soma deve ser incluiacuteda no valor cobrado ao consumidor final e seraacute

obrigatoacuteria mesmo que o consumidor compre o aparelho para armazenar conteuacutedos de sua

autoria

Em artigo publicado no jornal Diaacuterio de Notiacutecias Canavilhas afirma que a ideia

inspira-se nas recentes decisotildees da Uniatildeo Europeia que tem manifestado grande

preocupaccedilatildeo para com este assunto (Canavilhas 30012012) Essa preocupaccedilatildeo foi

expressa pela Diretiva Comunitaacuteria 201129CE e mais recentemente pela Comunicaccedilatildeo

da Comissatildeo Europeia ldquoUm Mercado Uacutenico para os Direitos de Propriedade Intelectualrdquo

de Maio de 2011

Gabriela Canavilhas afirmou que os valores propostos no diploma do PS satildeo

equivalentes aos praticados atualmente em outros paiacuteses Segundo ela em 2009 entre 30

paiacuteses europeus Portugal estava em 17ordm lugar no ranking da contribuiccedilatildeo per capita para

pagamento de direitos autorais euro 030 euros por habitanteano Na Franccedila paiacutes topo da

lista cada cidadatildeo pagava 260 eurosano na Espanha 170 euros e na Holanda 090

euros Para a deputada optar por comprar equipamentos informaacuteticos em outros paiacuteses da

EU significa pagar direitos de autor aos cidadatildeos de outros paiacuteses ao inveacutes de investir nos

autores nacionais (Canavilhas id)

As memoacuterias USB aparelhos destinados agrave reproduccedilatildeo e outros suportes como

cartotildees de memoacuteria passaratildeo a custar mais 006 euro por cada gigabyte (GB) de capacidade

de armazenamento Os discos riacutegidos e outros tipos de memoacuterias natildeo volaacuteteis integrados

em equipamentos ou aparelhos com capacidade a partir de 150 GB e que permitam o

armazenamento de dados em massa seratildeo taxados a 002 euro por cada GB de capacidade

mais 0005 euro por cada GB que acresccedila a capacidade de 1 terabyte (TB) Discos riacutegidos

externos ou cartotildees SSD custaratildeo 002 euro por cada GB de capacidade e mais 0005 euro por

cada GB que acresccedila a capacidade de 1TB (Canavilhas 01022012)

Os telemoacuteveis e tablets por exemplo tambeacutem seratildeo taxados Os dispositivos de

reproduccedilatildeo de fonogramas videogramas ou outros conteuacutedos sonoros visuais ou

audiovisuais custaratildeo mais 050 euro por cada GB de capacidade de armazenamento Cada

dispositivo eacute taxado com valores especiacuteficos pelo PL118 (vd Anexo 02)

83

Em 21 de Marccedilo de 2012 o PS retirou o Projeto de Lei de discussatildeo e disse que

pretende apresentar um novo texto em breve Segundo o porta-voz do grupo parlamentar

do partido Ricardo Pires o PS decidiu pela retirada apoacutes audiccedilotildees agrave sociedade civil Ele

afirmou que o partido ldquoprocurou consensualizar uma soluccedilatildeo viaacutevel de alteraccedilatildeo

do Projeto de Lei sobre a Coacutepia Privadardquo referindo que ldquoface aos sinais puacuteblicos

designadamente de natildeo viabilizaccedilatildeo desse caminho pelo PSD o PS decidiu retirarrdquo o

documento e ldquoem breve iraacute entregar um novo projeto com alteraccedilotildees introduzidasrdquo

(IOnline 2012)

Em declaraccedilotildees dadas agrave imprensa a deputada Gabriela Canavilhas comentou as

alteraccedilotildees ao texto e afirmou que se aguardava autorizaccedilatildeo da presidente da Assembleia

da Repuacuteblica para introduzi-las A ldquodefiniccedilatildeo de equipamentos e taxas a aplicar a ser feita

por portaria governamental em cada dois anos de modo a permitir mais ceacutelere adaptaccedilatildeo

dos valores e dos produtos acompanhando a evoluccedilatildeo tecnoloacutegicardquo era uma das

modificaccedilotildees feitas (IOnline id) Outra das alteraccedilotildees introduzidas eacute a definiccedilatildeo de um

teto maacuteximo como valor limite para a taxa que sendo progressiva consoante a capacidade

de armazenamento (dos equipamentos) natildeo poderaacute exceder os 6 sobre o produto antes

do IVA

A deputada socialista disse ainda que entre as alteraccedilotildees agrave proposta inicial estaacute o

ldquoalargamento das isenccedilotildees de pagamento de taxas a profissionais em nome individual do

setor audiovisual fonograacutefico e fotograacutefico cujos equipamentos sejam adquiridos para a

sua atividade criativa bem como a instituiccedilotildees com centros de documentaccedilatildeo natildeo

comercial tais como bibliotecas museus e arquivosrdquo (IOnline id)

O texto atualmente em vigor da Lei nordm 6298 de 01 de Setembro jaacute prevecirc a isenccedilatildeo

[] quando os equipamentos ou os suportes sejam adquiridos por organismos de

comunicaccedilatildeo audiovisual ou produtores de fonogramas e de videogramas exclusivamente para as suas proacuteprias produccedilotildees ou por organismos que os utilizem para

fins exclusivos de auxiacutelio a pessoas portadoras de diminuiccedilatildeo fiacutesica visual ou auditiva

bem como nos termos de despacho conjunto dos Ministros das Financcedilas e da Cultura

por entidades de caraacutecter cultural sem fins lucrativos para uso em projectos de relevante

interesse puacuteblico (ASSEMBLEIA DA REPUacuteBLICA 1998 01)

Para beneficiar-se de tal isenccedilatildeo os organismos abrangidos devem apresentar no

ato da compra dos aparelhos e suportes uma declaraccedilatildeo emitida pela entidade gestora das

compensaccedilotildees e cobranccedila indicando e comprovando o respectivo objeto de atividade

84

O projeto de lei foi alvo de criacuteticas e deu origem a uma peticcedilatildeo em circulaccedilatildeo na

Internet que reuniu mais de oito mil assinaturas (Peticcedilatildeo puacuteblica contra o PL118 2012)

Um dos argumentos mais frequentes contra o PL118 eacute o de que os equipamentos podem

ser usados para armazenar muitos outros tipos de conteuacutedos que natildeo sejam coacutepias de obras

protegidas

50 Controlo do ciberespaccedilo e acordos aleacutem-fronteiras alguns casos-chave

51 HADOPI

Devido agrave intensa pressatildeo exercida por representantes da induacutestria cultural ndash

grandes produtores de muacutesica cinema e publicaccedilotildees impressas - o governo francecircs

decidiu comeccedilar em 2007 uma luta efetiva contra as redes P2P (peer-to-peer) e a

partilha gratuita de arquivos de muacutesicas filmes etc protegidos por direitos de autor

Formulou-se entatildeo o texto da lei HADOPI (Alta Autoridade para a Difusatildeo das Obras e a

Proteccedilatildeo dos Direitos na Internet em francecircs Haute Autoriteacute pour la Diffusion des

Œuvres et la Protection des Droits sur Internet) tambeacutem chamada de Lei ldquoCriaccedilatildeo e

Internetrdquo que sugeriu a criaccedilatildeo de uma administraccedilatildeo capaz de vigiar e punir atividades de

download e troca de arquivos ilegais na Rede Segundo o texto inicial da lei HADOPI o

mote para o surgimento desta nova administraccedilatildeo foi a necessidade de

Fazer cessar a hemorragia de obras culturais na Internet e criar a situaccedilatildeo

juriacutedica indispensaacutevel ao desenvolvimento da oferta legal de muacutesicas filmes

obras e programas audiovisuais como tambeacutem de obras literaacuterias sobre as

novas redes de comunicaccedilatildeo (REacutePUBLIQUE FRANCcedilAISE ET MINISTEgraveRE

DE LA CULTURE ET DE LA COMMUNICATION 2008 01)

O texto inicial de HADOPI propotildee que os detentores de direitos autorais (artistas

produtores e editores) colaborem com os agentes puacuteblicos fiscalizadores habilitados pela

Alta Autoridade na atividade de combate agrave contravenccedilatildeo identificando na Rede o uso de

ferramentas para a transmissatildeo iliacutecita de bens culturais protegidos por direitos de autor

(como por exemplo programas peer-to-peer e o acesso a sites de hospedagem de

arquivos) Para isso os proprietaacuterios dos direitos recorrem a sociedades especializadas no

85

reconhecimento de endereccedilos IP das maacutequinas que partilham os conteuacutedos ilegalmente na

Rede

HADOPI determina que seus agentes fiscalizadores obtenham junto aos

operadores de comunicaccedilotildees eletrocircnicas informaccedilotildees como a identidade o endereccedilo

postal o endereccedilo eletrocircnico e os contatos telefocircnicos dos usuaacuterios cadastrados em seus

bancos de dados (Reacutepublique Franccedilaise et Ministegravere de la Culture et de la Communication

2008 19) O acesso a essas informaccedilotildees permitiria entatildeo que HADOPI enviasse aos

usuaacuterios que fazem downloads iliacutecitos uma espeacutecie de aviso preacutevio advertindo-os sobre o

caraacuteter ilegal de seus atos e alertando-os sobre as sanccedilotildees que podem sofrer caso

continuem com as descargas A intercomunicaccedilatildeo entre a fiscalizaccedilatildeo de HADOPI e a

vigilacircncia dos fornecedores de acesso agrave Internet com o posterior envio de mensagens de

advertecircncia aos assinantes eacute chamada de resposta gradual

Caso o usuaacuterio volte a fazer downloads ilegalmente num prazo de seis meses

contados a partir da data de envio do primeiro aviso a comissatildeo decide pelo envio de

outro comunicado desta vez de maneira que permita estabelecer uma prova da data de

envio e sobretudo da recepccedilatildeo sob assinatura do destinataacuterio Se o usuaacuterio reincidir

HADOPI prevecirc uma sanccedilatildeo polecircmica a suspensatildeo do acesso agrave Internet

Aleacutem de ter o acesso agrave Rede interrompido HADOPI determina tambeacutem que o

assinante continue a pagar por ele ldquoArt L 331-28 ndash A suspensatildeo do acesso mencionada

nos artigos L 331-25 e L 331-26 natildeo afeta por si mesma o pagamento do preccedilo da

assinatura ao fornecedor do serviccedilordquo (Reacutepublique Franccedilaise et Ministegravere de la Culture et

de la Communication 2008 22)

A identificaccedilatildeo dos usuaacuterios infratores aparece em uma lista produzida pela

comissatildeo de proteccedilatildeo dos direitos de autor e fica agrave disposiccedilatildeo para consulta pelas

empresas fornecedoras de acesso agrave Internet Caso o servidor de acesso natildeo proceda agrave

consulta desse repertoacuterio ou caso aceite firmar contrato com o infrator mesmo

conhecendo sua situaccedilatildeo perante HADOPI ele fica sujeito ao pagamento de multa

52 Sinde-Wert

Desde Marccedilo de 2012 estaacute em vigor na Espanha a lei batizada Sinde-Wert (em

referecircncia a Aacutengeles Gonzaacuteles-Sinde antiga ministra da Cultura e Joseacute Ignacio Wert seu

sucessor) Esta lei permite ao governo fechar ou tirar sites do ar sem ordem judicial

86

A lei enfrenta uma forte oposiccedilatildeo tanto de ativistas quanto das empresas A Rede

de Empresas de Internet e a Associaccedilatildeo Espanhola de Economia Digital entraram com um

recurso no Supremo Tribunal contra a lei ndash mais especificamente contra o ldquoprocedimento

de garantia dos direitos de propriedade intelectualrdquo (Link 15022012) Segundo as

empresas o artigo traz inseguranccedila juriacutedica para as empresas de tecnologia operarem e se

desenvolverem Para elas Sinde-Wert dificulta a atuaccedilatildeo das empresas de Internet que jaacute

pensam duas vezes antes de comeccedilar um novo projeto

A lei comeccedilou a ser discutida em 2009 Gerou uma onda de protestos por todo o

paiacutes mas apesar de toda oposiccedilatildeo foi aprovada pelo governo no iniacutecio de 2012

53 SOPA

SOPA eacute a sigla inglesa para Stop Online Piracy Act Trata-se de um projeto de lei

em discussatildeo no Congresso dos Estados Unidos e que jaacute provocou manifestaccedilotildees e

interrupccedilotildees de serviccedilos de sites importantes como Google Wikipedia e Craigslist

O texto do SOPA propotildee penas ateacute 5 anos de prisatildeo para os condenados por

compartilhar conteuacutedo pirata por 10 ou mais vezes ao longo de 6 meses Os sites tambeacutem

poderiam ser punidos pela acusaccedilatildeo de permitir ou facilitar a pirataria A puniccedilatildeo seria o

encerramento dos serviccedilos e banimento de provedores de Internet sistemas de pagamento

e anunciantes em niacutevel internacional Pela lei qualquer site pode ser fechado apenas por

ter conexatildeo com outro site suspeito de pirataria a pedido do governo dos EUA ou dos

geradores de conteuacutedo Ferramentas de busca como o Google por exemplo teriam que

remover dos resultados das pesquisas endereccedilos que compartilhem conteuacutedo pirata

correndo o risco de tambeacutem serem punidos

As propostas contam com o apoio de emissoras de TV gravadoras estuacutedios de

cinema e editoras de livros que se sentem lesadas com a livre distribuiccedilatildeo de filmes e

muacutesicas na Internet principalmente em servidores internacionais Disney Universal

Paramount Sony e Warner Bros satildeo alguns dos grandes nomes da induacutestria que apoiam

esse projeto

Por outro lado empresas de tecnologia como Google Facebook Wikipedia

Craigslist WordPress entre outros satildeo contra o projeto de lei alegando que caso este

seja aprovado a liberdade na Internet seria drasticamente reduzida Aleacutem disso SOPA daacute

87

poderes em excesso para quem quiser tirar os endereccedilos do ar prejudicando o

funcionamento da Rede em escala global

Com a intensa pressatildeo popular a Casa Branca declarou ser contra o projeto Em

mensagem publicada em seu blog a Casa Branca afirmou que natildeo pode apoiar ldquoum

projeto de lei que reduz a liberdade de expressatildeo amplia os riscos de seguranccedila na

computaccedilatildeo ou abala o dinamismo e inovaccedilatildeo da Internet globalrdquo (G1 18012012) Sem o

apoio ele pode ser alterado ou ateacute dissipado do Congresso e do Senado americanos

54 ACTA

O ACTA (Acordo Comercial Anticontrafaccedilatildeo em inglecircs Anti-Counterfeiting

Trade Agreement) tratado comercial de escala planetaacuteria estaacute sendo discutido desde

2007 As negociaccedilotildees formais arrancaram em Junho de 2008 e desde entatildeo foram

realizadas sete rondas negociais O ACTA tem como objetivo estabelecer padrotildees

internacionais para o cumprimento da legislaccedilatildeo de propriedade intelectual O pacto goza

de amplo apoio dos produtores de muacutesica filmes e uma gama de outros produtos que

desfrutam da proteccedilatildeo de direitos de autor e propriedade intelectual como marcas

comerciais patentes desenhos e indicaccedilotildees geograacuteficas O acordo de longo alcance

cobriria tudo desde a falsificaccedilatildeo de medicamentos agrave pirataria on-line

Os Estados Unidos assinaram o ACTA em Outubro de 2011 ao lado de outros sete

paiacuteses Austraacutelia Canadaacute Coreacuteia do Sul Japatildeo Nova Zelacircndia Marrocos e Singapura A

Uniatildeo Europeia assinou o ACTA em 26 de Janeiro de 2012 em Toacutequio O acordo prevecirc

disposiccedilotildees em mateacuteria de execuccedilatildeo penal um domiacutenio que eacute considerado de competecircncia

partilhada entre a UE e os Estados-Membros Por este motivo teve de ser assinado e

ratificado pela UE e por seus 27 integrantes

Apoacutes a assinatura do ACTA pela UE e os seus Estados-Membros o Parlamento

Europeu foi formalmente notificado para dar iniacutecio ao procedimento de consentimento

Esse procedimento inclui debates nas diferentes comissotildees (Comeacutercio Internacional

Liberdades Civis Justiccedila e Assuntos Internos e Assuntos Juriacutedicos) e possivelmente uma

audiecircncia puacuteblica Eacute provaacutevel que o consentimento seja votado no fim do veratildeo de 2012

Depois de o Parlamento Europeu ter dado o seu consentimento e uma vez

concluiacutedos os procedimentos nacionais de ratificaccedilatildeo nos Estados-Membros o Conselho

88

da Uniatildeo Europeia adotaraacute uma decisatildeo final para celebrar o acordo Este facto seraacute entatildeo

comunicado aos demais signataacuterios do ACTA e o acordo entraraacute em vigor na UE

Em comunicado publicado no site oficial da Comissatildeo Europeia no dia 22 de

Fevereiro de 2012 o Comissaacuterio Europeu do Comeacutercio Karel De Gucht anunciou com

satisfaccedilatildeo ldquoApraz-me dizer que esta manhatilde os meus colegas da Comissatildeo discutiram e

concordaram em termos gerais com a minha proposta de enviar o ACTA para o Tribunal

Europeu da Justiccedilardquo que eacute a mais alta instacircncia judicial da Uniatildeo Europeia (Puacuteblico

22022012) De Gucht afirmou ainda que o objetivo da decisatildeo eacute tambeacutem perceber se o

acordo internacional para a proteccedilatildeo dos direitos de autor eacute incompatiacutevel ndash seja em que

sentido for ndash com os direitos fundamentais e de liberdade da Uniatildeo Europeia tais como a

liberdade de expressatildeo e de informaccedilatildeo ou a proteccedilatildeo de dados e o direito agrave propriedade

no caso especiacutefico da propriedade intelectual

Em palestra organizada pela Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa

em Marccedilo de 2012 a advogada Teresa Nobre responsaacutevel pela adaptaccedilatildeo das licenccedilas

Creative Commons agrave legislaccedilatildeo portuguesa afirmou que o risco de acordos como o ACTA

estaacute no caraacuteter vago do texto suscetiacutevel de diversas interpretaccedilotildees ldquoACTA representa um

risco real pois abre a porta agrave discussatildeo de leis como SOPA nos EUA e HADOPI em

Franccedilardquo (Nobre 2012)

Jaacute para Lucas Serra responsaacutevel pela assessoria juriacutedica da Sociedade Portuguesa

de Autores (SPA) eacute cedo para prever os resultados de um acordo como o ACTA em

aplicaccedilatildeo ldquoHaacute que ver no que vai dar O facto eacute que precisa haver portagens que

detenham a pirataria Eacute um problema grave que afeta a todos noacutes e mais ainda aos

autoresrdquo (Serra 2012)

60 Brasil e Portugal algumas semelhanccedilas e diferenccedilas

Apesar da grande diversidade e dos muitos quilocircmetros que separam

territorialmente Brasil e Portugal as semelhanccedilas entre os dois paiacuteses satildeo muitas Aleacutem de

terem culturas muito proacuteximas partilham a mesma liacutengua e as semelhanccedilas estendem-se

tambeacutem ao Direito A matriz comum manteve-se mesmo apoacutes a independecircncia do Brasil e

a consequente separaccedilatildeo legislativa Os direitos de autor natildeo escaparam dessa

89

conformidade Conforme afirma Joseacute de Oliveira Ascensatildeo a lei brasileira nordm 5988 de 14

de Dezembro de 1973 que regulou autonomamente os direitos de autor foi preparada

pouco tempo depois da entrada em vigor do Coacutedigo do Direito de Autor portuguecircs de

1966 e baseou-se neste uacuteltimo para firmar vaacuterios de seus preceitos (Ascensatildeo 2012 40)

No entanto os dois paiacuteses sofrem influecircncias diferentes apesar da legislaccedilatildeo de

base romaniacutestica o Brasil estaacute sob a atraccedilatildeo exercida pelos Estados Unidos da Ameacuterica

enquanto que Portugal segue as diretrizes impostas pela Uniatildeo Europeia (UE) Apesar de

transpor com atraso as instruccedilotildees europeias Portugal acolheu mais cedo as questotildees

relacionadas ao direito de autor no ambiente da Internet sob pressatildeo das pautas e

calendaacuterios da UE Nesse aspecto ficou agrave frente do Brasil A atual Lei do Direito Autoral

(LDA) nordm 9610 data de 19 de Fevereiro de 1998 e natildeo trata especificamente da Internet

nem das questotildees que ela impotildee Estaacute portanto bastante defasada visto que desde entatildeo

a tecnologia jaacute se desenvolveu bastante e criou novos dispositivos sobre os quais a lei natildeo

tem nenhum conhecimento

A decisatildeo pela reforma da LDA pretende tirar esse atraso do qual Portugal natildeo

sofre por estar submetido agraves diretrizes europeias em atualizaccedilotildees mais frequentes Poreacutem

a problemaacutetica da Internet parece continuar agrave margem da discussatildeo da reforma da lei

brasileira Uma proposta do Ministeacuterio da Justiccedila deveraacute suprir essa falta o Marco Civil

da Internet diploma que pretende versar sobre aspectos baacutesicos do acesso e uso da Rede

Ao mesmo tempo em que os planos para o Marco Civil foram lanccedilados o Ministeacuterio da

Cultura (MinC) resolveu iniciar o processo de reforma da LDA

Infelizmente parece que esse vazio das questotildees da Rede natildeo seraacute totalmente

preenchido com as mudanccedilas mas tal situaccedilatildeo eacute compreensiacutevel Para discutir a fundo essa

problemaacutetica seria necessaacuterio muito tempo o que atrasaria ainda mais a jaacute urgente reforma

da LDA Mesmo natildeo propondo princiacutepios de regulaccedilatildeo da Internet por si mesmo o

rascunho do texto da nova LDA jaacute cria algumas ligaccedilotildees com esse tema Associando o

texto do Marco Civil com a nova LDA seraacute possiacutevel estabelecer pontes entre os domiacutenios

da regulaccedilatildeo da Internet e a defesa dos direitos de autor

O jurista Joseacute de Oliveira Ascensatildeo afirma que com isso evidencia-se a

insuficiecircncia do direito autoral claacutessico para lidar com as questotildees relacionadas com a

Internet (Ascensatildeo 2012 42) A separaccedilatildeo que o Brasil propocircs passa por especificar as

soluccedilotildees Ao lermos os textos do Marco Civil e da reforma da LDA percebemos que o

90

primeiro tem contribuiccedilotildees muito mais significativas no domiacutenio do Direito da Internet

que o uacuteltimo

Um aspecto notaacutevel nas discussotildees pela reforma da LDA eacute o caraacuteter puacuteblico da

consulta O mesmo se deu com o Marco Civil da Internet Essa abertura agrave participaccedilatildeo da

sociedade civil mundo acadecircmico representantes das induacutestrias e criadores marcou

positivamente ambos os processos e fez do Brasil um paradigma internacional no tema

Sob o aspecto da regulaccedilatildeo da Rede em Portugal a iniciativa da Comissatildeo

Europeia e-europe 2002 mostra-se remarcaacutevel O texto definiu num quadro de agrave eacutepoca

quinze paiacuteses quais as preocupaccedilotildees comuns quanto agrave regulaccedilatildeo da Internet Desde entatildeo

o documento foi atualizado e culminou com a iniciativa i2010 O quadro regulamentar

portuguecircs para as comunicaccedilotildees eletrocircnicas aplicado no paiacutes pela Autoridade Nacional de

Comunicaccedilotildees (ANACOM) transpotildee as determinaccedilotildees da Uniatildeo Europeia transferindo-

as para os ordenamentos juriacutedicos nacionais O texto poreacutem dedica-se aos aspectos

teacutecnicos dos serviccedilos e natildeo discute em profundidade o caraacuteter mais social do sistema as

questotildees voltadas para a governaccedilatildeo da Internet etc

Para Gustavo Cardoso a regulaccedilatildeo deve ser fruto de uma anaacutelise das apropriaccedilotildees

realizadas pelos usuaacuterios da Rede e das interaccedilotildees entre os atores presentes nos sistemas

dos media e natildeo apenas baseada na tecnologia em si (Cardoso 2002 16) Aleacutem disso

precisa ter um caraacuteter proacuteprio natildeo espelhado nos quadros regulamentares de outros meios

de comunicaccedilatildeo como a TV por exemplo Isso porque a Internet jaacute eacute um meio complexo

o bastante para que sejam criadas regras especiacuteficas para sua esfera de atuaccedilatildeo No caso

portuguecircs pode-se propor uma atuaccedilatildeo mais conjugada entre as preocupaccedilotildees dedicadas agrave

gestatildeo do acesso e disponibilizaccedilatildeo de conteuacutedos e aquelas voltadas ao controlo da

dimensatildeo econocircmica da prestaccedilatildeo de serviccedilos de acesso agrave Internet A preocupaccedilatildeo com a

quebra de privacidade e do exerciacutecio da vigilacircncia deve ser transversal e estender sua

presenccedila a todos os acircmbitos da regulaccedilatildeo Esta tarefa cabe agrave articulaccedilatildeo de medidas

conjuntas e agrave uniatildeo de esforccedilos entre a ANACOM e a Comissatildeo Nacional de Protecccedilatildeo de

Dados (CNPD)

Em relaccedilatildeo aos conteuacutedos iliacutecitos disponibilizados na Rede Brasil e Portugal tecircm

uma diferenccedila sensiacutevel Eacute importante salientar que a mateacuteria natildeo eacute restrita aos direitos

autorais mas tambeacutem se relaciona com outros direitos que tambeacutem podem ser infringidos

pela Internet como a honra por exemplo A questatildeo eacute tratada pelo texto do Marco Civil

brasileiro em discussatildeo Em uma versatildeo anterior do texto foi incluiacutedo um mecanismo

91

semelhante ao dispositivo notice and take down de clara influecircncia do sistema norte-

americano

O diploma indicava que os materiais ofensivos colocados agrave disposiccedilatildeo na Rede

podiam ser retirados pelos responsaacuteveis pela hospedagem logo que o titular ofendido

manifestasse o dano O hospedeiro notificaria o usuaacuterio responsaacutevel pela publicaccedilatildeo Este

poderia responder ao hospedeiro pedindo a manutenccedilatildeo do conteuacutedo e assumindo a

responsabilidade exclusiva pelos danos causados a terceiros O hospedeiro entatildeo

disponibilizaria novamente o material e avisaria o titular sobre a resposta do responsaacutevel

pela publicaccedilatildeo Tal medida sofreu duras criacuteticas e o texto foi modificado (vd Anexo 01

Art 20) Agora propotildee-se que o provedor de serviccedilos seja obrigado a tornar indisponiacutevel o

acesso ao conteuacutedo apenas apoacutes ordem judicial Com a ordem deveraacute notificar o usuaacuterio

responsaacutevel pela publicaccedilatildeo comunicando-lhe o teor da intimaccedilatildeo

No que se refere ao regime da responsabilidade do provedor o sistema portuguecircs

estaacute baseado na Diretriz nordm 200031 sobre o comeacutercio eletrocircnico E eacute fundamentalmente

diferente do diploma brasileiro O Art 161 do Decreto-Lei nordm 72004 de 07 de Janeiro

(que transpocircs a diretriz sobre comeacutercio eletrocircnico) diz que o responsaacutevel pela

hospedagem estaacute obrigado a retirar ou impossibilitar o acesso agrave atividade ou informaccedilatildeo

cuja ilicitude for manifesta (ANACOM 2004 275) Esta previsatildeo natildeo aparece em

nenhum diploma brasileiro

A tiacutetulo de balanccedilo geral nota-se que as legislaccedilotildees de ambos os paiacuteses possuem

muitos pontos em comum mas suas diferentes influecircncias traccedilam suas assimetrias mais

marcantes e as justificam A preocupaccedilatildeo anglo-saxocircnica de bem proteger os interesses

comerciais e privados faz-se notar nos textos brasileiros enquanto um posicionamento de

maior equiliacutebrio transparece nos diplomas portugueses Poreacutem haacute que salientar que ambos

estatildeo passiacuteveis de sofrer sob polos de atraccedilatildeo que convergem para os mesmos objetivos

nem Brasil nem Portugal (e obviamente a UE) ficaratildeo indiferentes a projetos globais de

combate agrave pirataria No Brasil pela inegaacutevel influecircncia norte-americana e em Portugal

pelo alcance universal que eles possuem (e obviamente por Portugal estar inserido na

UE) Prever o niacutevel dessa influecircncia ainda natildeo eacute possiacutevel mas certamente a transformaccedilatildeo

afetaraacute todos direta ou indiretamente

70 Direitos de autor e regulaccedilatildeo da Internet uma relaccedilatildeo nebulosa

92

A temaacutetica dos direitos de autor natildeo guarda uma relaccedilatildeo imediata e de faacutecil

percepccedilatildeo com a questatildeo da regulaccedilatildeo da Internet esta poreacutem existe e a constante

evoluccedilatildeo das tecnologias digitais torna seu debate cada vez mais pertinente e necessaacuterio

Se considerarmos a defesa da propriedade intelectual (que envolve os direitos de

autor e outros toacutepicos como as patentes e as marcas registradas por exemplo) como

instrumento capaz de impedir o acesso dos utilizadores da Rede a determinados conteuacutedos

tocamos em uma questatildeo delicada e que pode dar resultados negativos Em siacutentese a ideia

eacute a de que as tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo tecircm enorme capacidade de ampliar

o acesso agrave informaccedilatildeo e conhecimento de modo que a falta de acesso agraves proacuteprias

tecnologias seria prejudicial em questotildees de desenvolvimento

Portanto nesse caso falar de governanccedila (ou regulaccedilatildeo) da Internet eacute natildeo limitar-

se a discutir aspectos teacutecnicos da estrutura e funcionamento das redes De acordo com a

Declaraccedilatildeo de Princiacutepios de Genebra elaborada durante a Cimeira Mundial sobre a

Sociedade da Informaccedilatildeo (WSIS) evento organizado pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

(ONU) a administraccedilatildeo da Internet engloba natildeo apenas problemas estritamente teacutecnicos

mas tambeacutem a discussatildeo de qualquer poliacutetica puacuteblica relevante agrave gestatildeo da Rede como

recurso globalmente disponiacutevel (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas 2004)

Para Pedro Mizukami e Carlos Souza agrave medida que as tecnologias da informaccedilatildeo e

da comunicaccedilatildeo ampliam a possibilidade de acesso a conteuacutedos e tambeacutem de acesso agraves

ferramentas para a produccedilatildeo de conteuacutedos regimes de exceccedilotildees e limitaccedilotildees aos direitos

de autor surgem como umas das preocupaccedilotildees fundamentais de governanccedila

Se por um lado se assegura direitos exclusivos a autores (e agravequeles a quem satildeo

transferidos esses direitos) como forma de incentivo agrave criaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo de obras intelectuais por outro haacute interesses de acesso e uso de conteuacutedo que precisam ser

sopesados em relaccedilatildeo aos incentivos que teoricamente as normas de direitos autorais

proporcionam (MIZUKAMI E SOUZA 2008 06)

Quando associamos a ideia de regulaccedilatildeo do ciberespaccedilo aos direitos autorais a

principal preocupaccedilatildeo que temos eacute o tecircnue equiliacutebrio a ser construiacutedo entre os interesses

dos diversos agentes envolvidos na questatildeo O desafio estaacute em preservar um ambiente de

harmonia entre autores editores e usuaacuterios de conteuacutedos sem que se coloquem entraves agraves

novas possibilidades proporcionadas pela Rede seja em relaccedilatildeo a novos modelos de

93

negoacutecios seja em relaccedilatildeo agrave democratizaccedilatildeo do acesso agraves ferramentas de produccedilatildeo e

distribuiccedilatildeo de informaccedilotildees Equilibrar os interesses no ciberespaccedilo sem sacrificar os

potenciais de inovaccedilatildeo e acesso ao conhecimento que ele possui

Limitaccedilotildees e exceccedilotildees aos direitos de autor satildeo toacutepicos geralmente subestimados

quando se discute o tema Pouco se debatem por exemplo os efeitos negativos dos

regimes de proteccedilatildeo da propriedade intelectual demasiado riacutegidos e inflexiacuteveis sobre a

educaccedilatildeo ou sobre a proacutepria produccedilatildeo de conteuacutedos que os direitos exclusivos procuram

fomentar O boom da Internet e o desenvolvimento acelerado das tecnologias tiraram das

sombras questotildees como a do acesso ao conhecimento mas tambeacutem fizeram ressurgir - ou

mesmo originaram - uma seacuterie de outros direitos que antes tinham presenccedila reduzida na

avaliaccedilatildeo criacutetica dos regimes tradicionais

Para Pedro Mizukami e Carlos Souza o entrave agrave discussatildeo sobre os limites e as

exceccedilotildees aos direitos de autor eacute mais visiacutevel em paiacuteses de tradiccedilatildeo juriacutedica romano-

germacircnica caracterizada por um discurso de fundamentaccedilatildeo jusnaturalista muito forte

(ibidem 07) Eles afirmam que esse discurso elimina a variedade de pontos de vista na

literatura juriacutedica Isto porque se considera que os direitos autorais satildeo necessaacuterios para a

proteccedilatildeo da propriedade e personalidade do autor (agraves vezes para a proteccedilatildeo da

personalidade via proteccedilatildeo da propriedade) mas natildeo se colocam em jogo os interesses da

coletividade e outros interesses e direitos individuais que se veem afetados pela

exclusividade dos direitos autorais

Quem de facto compete com os autores em mateacuteria de benefiacutecios financeiros natildeo

satildeo os utilizadores da Internet mas sim os ldquoempresaacuterios culturaisrdquo (Ascensatildeo 2003 17)

Eles jaacute satildeo equiparados aos autores nas justificaccedilotildees oficiais fala-se tambeacutem na

necessidade de proteger o investimento Os direitos morais estatildeo cada vez mais ausentes

nos textos dos novos instrumentos internacionais

Para Joseacute de Oliveira Ascensatildeo o protagonismo do empresaacuterio eacute uma anomalia O

jurista afirma que natildeo se explica que se crie um Direito altamente protecionista com

fundamento na dignidade da criaccedilatildeo intelectual para o pocircr afinal ao serviccedilo da proteccedilatildeo

dos investimentos (Ascensatildeo 2003 18) Os investimentos podem e devem ser protegidos

mas por meios adequados e proporcionais a esse objetivo Natildeo faz sentido que sejam

salvaguardados pelos direitos de autor que tecircm outra finalidade Se o foco da proteccedilatildeo nas

leis de direitos de autor satildeo os investimentos apenas eles interessam e suplantam a

qualidade e ateacute mesmo a existecircncia de uma obra

94

Lucas Serra acredita que o problema estaacute na cadeia produtiva do sistema

capitalista que aprisiona o autor em um ciclo de dependecircncia de editores e intermediaacuterios

ldquoA SPA eacute consciente de que os atuais modelos de mercado natildeo satildeo tatildeo beneacuteficos para os

autores mas tambeacutem se sabe que eacute difiacutecil deixar esses modelos para traacutes E isso natildeo

depende apenas dos autoresrdquo (Serra 2012)

O que vemos eacute uma hiperproteccedilatildeo do empresaacuterio no domiacutenio das induacutestrias de

Copyright o que tem graves consequecircncias As induacutestrias a defendem e afirmam que satildeo

capazes de fomentar a cultura sendo que os efeitos apontam justamente o contraacuterio A

hiperproteccedilatildeo cria todas as condiccedilotildees para tornar o acesso agrave cultura mais difiacutecil pelos altos

custos que impotildee Aleacutem disso haacute implicaccedilotildees tambeacutem em mateacuteria de concorrecircncia a

hiperproteccedilatildeo fortalece os grandes grupos nos paiacuteses exportadores de produtos de

Copyright e tambeacutem a niacutevel planetaacuterio A concentraccedilatildeo das empresas de conteuacutedos

culturais que o Direito ajudou a promover eacute tal que eacute praticamente impossiacutevel agraves novas

empresas atingir os mesmos niacuteveis A hiperproteccedilatildeo atraveacutes dos direitos exclusivos

eliminou a concorrecircncia e implantou um oligopoacutelio de dimensotildees grandiosas

Projetos de leis como SOPA e ACTA apontam para uma guerra desproporcionada

entre as induacutestrias culturais e os usuaacuterios da Rede No meio ficam os autores que natildeo tecircm

seus interesses representados ndash antes assistem aos empresaacuterios partindo em defesa de

lucros dos quais eles pouco partilham Um caso que serve para ilustrar essa questatildeo eacute o do

Napster programa de compartilhamento de arquivos em rede P2P que protagonizou o

primeiro grande episoacutedio na luta juriacutedica entre a induacutestria fonograacutefica e as redes de

compartilhamento de muacutesica na Internet

A principal questatildeo era apurar se a reproduccedilatildeo dos arquivos protegidos por

Copyright representava ou natildeo um ato de uso privado De facto o Napster natildeo procedia

ele proacuteprio agrave reproduccedilatildeo Utilizava programas que lhe permitiam detectar onde se

encontrava em rede disponiacutevel para reproduccedilatildeo o arquivo desejado Apontando-o ao

interessado era este quem realizava depois o download do ficheiro Em relaccedilatildeo agraves obras

audiovisuais o esquema era ainda mais radical Napster nem sequer localizava os arquivos

disponiacuteveis em rede Limitava-se a fornecer aos interessados um programa que permitia

que eles o fizessem Eram pois os utilizadores que procediam quer agrave localizaccedilatildeo quer ao

download

Apoacutes intensos conflitos judiciais Napster procurou adaptar-se agrave nova situaccedilatildeo

atribuindo remuneraccedilotildees aos titulares de direitos mas natildeo teve sucesso Acabou sendo

95

vendido e os novos gestores agora negociam arquivos de muacutesica digital que respeitem os

direitos autorais

O caso Napster eacute emblemaacutetico por vaacuterias questotildees mas aqui destacamos duas se

jaacute eacute difiacutecil responsabilizar empresas intermediaacuterias em situaccedilotildees desse tipo o que dizer

dos utilizadores que fazem uso privado Outro ponto marcante desse processo eacute o manejo

dos direitos de autor como instrumento redutor das possibilidades tecnoloacutegicas permitidas

pela Rede O difiacutecil equiliacutebrio a buscar encontra-se numa posiccedilatildeo intermediaacuteria em que a

renuacutencia agrave gratuidade tem de ter como contrapartida condiccedilotildees de aquisiccedilatildeo mais

atraentes em qualquer caso que natildeo impliquem a repressatildeo das potencialidades

tecnoloacutegicas positivas que a Rede disponibiliza

Para Joseacute de Oliveira Ascensatildeo situaccedilotildees como esta estatildeo conduzindo a

propriedade intelectual a uma fase extrema a dos direitos de autor sem autor Isso natildeo

significa o desaparecimento do autor mas sua transformaccedilatildeo em uma figura dispensaacutevel

ou mesmo marginal (Ascensatildeo 2003 21) A criatividade perde gradualmente seu espaccedilo

tornando-se um requisito levado bem mais em conta pelas inovaccedilotildees industriais que pelos

direitos de autor Se a proteccedilatildeo dos investimentos eacute o que haacute de mais precioso a

criatividade (e consequentemente o ato de criar marca do autor) passa a outro plano

inferior

Certos acreacutescimos de proteccedilatildeo natildeo fazem outra coisa senatildeo proteger as empresas e

seus interesses Eacute o caso do aumento dos prazos de proteccedilatildeo que na realidade eacute irrelevante

para os autores Para a induacutestria isto significa mais tempo de exploraccedilatildeo econocircmica

exclusiva Joseacute de Oliveira Ascensatildeo fala ainda nos direitos de autor sem obra se o que se

protege eacute a atividade empresarial eacute indiferente que o objeto protegido tenha o caraacuteter de

obra Soacute interessa a mercadoria intelectual seja ela qual for (ibidem 23)

96

97

CAPIacuteTULO III

HARMONIZACcedilAtildeO DE INTERESSES

98

99

10 O direito de acesso agrave informaccedilatildeo e agrave comunicaccedilatildeo como um direito humano

Tomar a questatildeo do acesso agrave informaccedilatildeo e agrave comunicaccedilatildeo sob o prisma dos direitos

humanos foi uma escolha instantacircnea Optamos por essa via ndash em detrimento de vaacuterias

outras possiacuteveis como a dos acordos comerciais ou a das convenccedilotildees teacutecnicas - pelo facto

de acreditarmos que a questatildeo afeta as pessoas de forma direta em vaacuterios niacuteveis da vida

em sociedade Sendo as comunicaccedilotildees eletrocircnicas elementos fundamentais do fluxo

comunicacional contemporacircneo eacute impossiacutevel natildeo considerar o acesso agrave informaccedilatildeo e agrave

comunicaccedilatildeo atraveacutes da Rede como cruciais para os indiviacuteduos enquanto agentes da

coletividade O futuro da sociedade informacional desenharaacute o ambiente onde os

indiviacuteduos trabalharatildeo e desenvolveratildeo suas existecircncias e o ciberespaccedilo faz parte do

caminho para esse futuro Portanto partindo da premissa de que informaccedilatildeo eacute poder e

considerando que o acesso agrave comunicaccedilatildeo eacute condiccedilatildeo sine qua non para a inserccedilatildeo e

participaccedilatildeo social iremos concentrar nossa atenccedilatildeo na relaccedilatildeo entre informaccedilatildeo e direitos

humanos

No cerne das criacuteticas agraves leis de combate agrave pirataria estatildeo evidentemente as

sanccedilotildees riacutegidas e as accedilotildees de vigilacircncia como as que preveem o controlo das atividades do

usuaacuterio na Rede e o corte de acesso ao assinante que realizar downloads de materiais

protegidos por direitos de autor Aleacutem disso o traffic shaping e outras medidas que

dificultam o acesso do utilizador agrave Internet provocam polecircmica e trazem agrave discussatildeo a

legitimidade de leis que impeccedilam as pessoas de utilizarem em plenitude as ferramentas

tecnoloacutegicas Tais restriccedilotildees em nome da defesa dos direitos de autor natildeo estariam a

passar por cima de algo mais precioso como o direito de aceder a canais de comunicaccedilatildeo

e interaccedilatildeo hoje em dia indispensaacuteveis

Um estudo que ouviu 27 mil pessoas em 26 paiacuteses para o Serviccedilo Mundial da BBC

apontou que quatro entre cinco adultos no mundo consideram o acesso agrave Internet um

direito fundamental do ser humano A mesma pesquisa mostrou tambeacutem que 53 dos

entrevistados creem que a Internet natildeo deveria ser regulada pelos governos (BBC Brasil

2010)

O direito de acesso agrave comunicaccedilatildeo digital tende a se solidificar gradualmente

como um direito humano Segundo Ciciacutelia Peruzzo

100

[] mundialmente a inclusatildeo digital passa a ser vista como um direito humano no

mesmo patamar do direito ao acesso de qualquer cidadatildeo a outras miacutedias e a condiccedilotildees

dignas de existecircncia Vaacuterias entidades estudiosos e ativistas tecircm se posicionado

publicamente a favor do direito agrave comunicaccedilatildeo tomando-o como mecanismo de se

efetivar a democratizaccedilatildeo dos meios de comunicaccedilatildeo (PERUZZO 2005 275)

Ainda segundo Peruzzo as discussotildees sobre o direito agrave informaccedilatildeo e agrave

comunicaccedilatildeo na sociedade informacional englobam tambeacutem os direitos de domiacutenio

puacuteblico software livre e propriedade intelectual aleacutem do acesso global a todas as

tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (Peruzzo 2005 276)

A Campanha CRIS (Direito agrave Comunicaccedilatildeo na Sociedade da Informaccedilatildeo em

inglecircs Communication Rights in the Information Society) movimento lanccedilado em

2001 liderado por organizaccedilotildees natildeo governamentais dos campos da comunicaccedilatildeo e dos

direitos humanos de diversos paiacuteses listou em uma de suas publicaccedilotildees alguns debates

importantes ligados agrave questatildeo do direito de acesso agrave informaccedilatildeo Dentre os toacutepicos estaacute a

tentativa de acabar com a vigilacircncia e a censura na Rede por parte de governos ou

empresas Para a Campanha CRIS ldquoo direito de comunicar constitui um direito humano

universal que assume e estaacute a serviccedilo de outros Direitos Humanosrdquo (CRIS apud Pasquali

2005 31)

Sob o ponto de vista teoacuterico o direito agrave comunicaccedilatildeo tende a ser tomado

tradicionalmente como direito agrave liberdade de informaccedilatildeo e de expressatildeo Essa concepccedilatildeo

eacute expressa nos ordenamentos juriacutedicos que tratam do tema Por exemplo a Declaraccedilatildeo

Universal dos Direitos Humanos (DUDH) de 1948 em seu Artigo 19ordm assegura que

ldquoToda pessoa tem direito agrave liberdade de opiniatildeo e expressatildeo este direito inclui a liberdade

de sem interferecircncia ter opiniotildees e de procurar receber e transmitir informaccedilotildees e ideias

por quaisquer meios e independentemente de fronteirasrdquo (Assembleia Geral das Naccedilotildees

Unidas 1948) A Convenccedilatildeo Americana de Direitos Humanos de 1969 estabelece que

ldquoToda pessoa tem o direito agrave liberdade de pensamento e de expressatildeo Este direito inclui a

liberdade de procurar receber e difundir informaccedilotildees e ideias de qualquer natureza sem

consideraccedilotildees de fronteiras verbalmente ou por escrito ou em forma impressa ou artiacutestica

ou por qualquer meio de sua escolhardquo (Conferecircncia Especializada Interamericana sobre

Direitos Humanos 1969) Conforme salienta Osvaldo Leoacuten

101

[] o direito agrave comunicaccedilatildeo se apresenta agora como aspiraccedilatildeo que se inscreve no

dever histoacuterico que comeccedilou com o reconhecimento de direitos aos proprietaacuterios dos

meios de informaccedilatildeo logo aos que trabalham sob relaccedilotildees de dependecircncia com eles e

finalmente a todas as pessoas que a Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos [] consignou como direito agrave informaccedilatildeo e agrave liberdade de expressatildeo e de opiniatildeo Esta eacute a parte de

uma concepccedilatildeo mais global [] que incorpora de maneira peculiar os novos direitos

relacionados com as mudanccedilas de cenaacuterio da comunicaccedilatildeo e um enfoque mais

interativo da comunicaccedilatildeo no qual os atores sociais satildeo sujeitos da produccedilatildeo

informativa e natildeo simplesmente receptores passivos de informaccedilatildeo (LEOacuteN 2002 03)

O direito de acesso agrave tecnologia eacute outro ponto que tambeacutem pode ser invocado

quando tratamos do contexto do ciberespaccedilo Esse direito eacute disposto no ponto 1 do artigo

27ordm da Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos onde se afirma que ldquoToda pessoa tem

o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade de fruir as artes e de

participar do processo cientiacutefico e de seus benefiacuteciosrdquo (Assembleia Geral das Naccedilotildees

Unidas 1948) Segundo Ciciacutelia Peruzzo este direito eacute inspirado pelo princiacutepio moral

baacutesico da equidade e pela noccedilatildeo de que ciecircncia e tecnologia pertencem agrave heranccedila comum

da humanidade (Peruzzo 2005 107)

O pesquisador Cees J Hamelink vecirc a discussatildeo sob o prisma de uma nova

abordagem ele alerta para a necessidade urgente de adoccedilatildeo de uma declaraccedilatildeo universal

do direito de comunicar Este direito natildeo existe atualmente em nenhuma claacuteusula da lei

internacional Em 1969 Jean DrsquoArcy apresentou o direito de comunicar por escrito ldquoO

tempo viraacute quando a Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos teraacute que abranger um

direito mais extensivo que o direito do Homem agrave informaccedilatildeo isto eacute o direito de os

Homens comunicaremrdquo (DrsquoArcy apud Hamelink 2004 268) Segundo Hamelink a forccedila

motivadora desta nova abordagem foi a observaccedilatildeo de que o articulado da lei dos direitos

humanos existente (como na Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos ou no

Compromisso sobre Direitos Poliacuteticos e Civis) era inadequado para lidar com a

comunicaccedilatildeo como um processo interativo

Dentre vaacuterias propostas Hamelink sugere que o direito de comunicar deveria

englobar direitos de informaccedilatildeo tais como o direito de acesso agrave informaccedilatildeo em mateacuterias

de interesse puacuteblico (detidas por fontes puacuteblicas ou privadas) e o direito de aceder a meios

puacuteblicos de distribuiccedilatildeo de informaccedilatildeo ideias e opiniotildees Para o autor parte do direito de

comunicar tambeacutem seria composta por direitos culturais Entre eles o direito de fruir das

artes e dos benefiacutecios do progresso cientiacutefico e suas aplicaccedilotildees e o direito de criatividade e

independecircncia artiacutestica literaacuteria e acadecircmica (Hamelink 2004 268-269)

102

Mas o direito de comunicar implica no universo das comunicaccedilotildees eletrocircnicas a

necessidade de salvaguardar a privacidade dos utilizadores Dentre os direitos ditos ldquode

proteccedilatildeordquo por Hamelink estatildeo o direito de o puacuteblico ser protegido contra a interferecircncia

na sua privacidade pelos media ou pela comunicaccedilatildeo de massa ou por agecircncias puacuteblicas

ou privadas envolvidas na colheita de dados a proteccedilatildeo das comunicaccedilotildees privadas das

pessoas contra a interferecircncia de grupos puacuteblicos ou privados (ibidem 269)

Como jaacute tratamos no primeiro capiacutetulo o surgimento da Internet trouxe consigo a

ilusatildeo do tracircnsito de informaccedilotildees e ideias em total liberdade Hoje a noccedilatildeo de livre fluxo

da informaccedilatildeo tem implicaccedilotildees mais complexas e sutis e envolve o duplo estatuto dos

meios digitais por um lado ampliaram as liberdades pessoais dos indiviacuteduos por outro

abriram as portas ao roubo informacional sistemaacutetico por meio do monitoramento das

comunicaccedilotildees eletrocircnicas Vivemos naquilo que Antonio Pasquali chama de liberdade

globalmente vigiada (Pasquali 2005 35) O autor ressalta a beleza do conceito de livre

fluxo informacional e a necessidade de defendecirc-lo mas afirma que natildeo estaremos

proacuteximos o suficiente dele enquanto houver aquilo a que o Precircmio Nobel de economia J

E Stiglitz denominou de assimetria de informaccedilatildeo causada por agentes econocircmicos que

de forma fraudulenta acumulam mais informaccedilotildees do que outros Conforme afirma

Pasquali

Uma liberdade que natildeo liberta eacute egoiacutesmo e privileacutegio O duplo padratildeo de se ter livre

informaccedilatildeo como um conceito abstrato enquanto a informaccedilatildeo no mundo concreto eacute

gerenciada sob princiacutepios mercantis que tornam possiacutevel a eliminaccedilatildeo de outras

alternativas eacute relacionalmente e comunicacionalmente desonesto (PASQUALI 2005

37)

Para Leacuteo Scheer o direito de acesso agrave informaccedilatildeo e agrave comunicaccedilatildeo estaacute

intimamente ligado a uma nova forma de democracia que surgiu para ser exercida no

ciberespaccedilo Segundo o autor essa eacute a democracia da simples expressatildeo da enunciaccedilatildeo

por parte de cada um das narrativas das quais eacute portador sem necessidade de canalizaccedilatildeo

ou de conformaccedilatildeo dos sinais postos assim em circulaccedilatildeo (Scheer 1997 121) Privar o

utilizador do acesso agrave Rede (ou dificultaacute-lo) eacute portanto uma ameaccedila a essa nova

democracia e um atentado ao seu direito de desfrutar dos benefiacutecios que a tecnologia das

redes pode proporcionar agrave sua formaccedilatildeo enquanto indiviacuteduo inserido e atuante na

sociedade de informaccedilatildeo

103

20 Novos modelos e outras alternativas de conciliaccedilatildeo entre artistas induacutestria e

usuaacuterios de Internet

No final de Maio de 2012 a comissatildeo de juristas que discute a reforma do Coacutedigo

Penal no Senado brasileiro aprovou a liberaccedilatildeo de coacutepias integrais de livros CDrsquos e

DVDrsquos desde que para uso pessoal e sem fins comerciais Caso a sugestatildeo dos juristas

seja acatada pelo Congresso Nacional poderatildeo ser feitas coacutepias integrais sem que seja

caracterizado crime Para isso a coacutepia deve ser uacutenica feita a partir de uma obra original e

ser de uso privado e exclusivo de quem faz a reproduccedilatildeo sem que exista o objetivo de

lucro A proposta deve ser entregue para votaccedilatildeo ateacute o final de Junho de 2012 O texto

passa a valer apenas apoacutes a aprovaccedilatildeo no Senado e na Cacircmara e por uacuteltimo apoacutes

confirmaccedilatildeo presidencial

A comissatildeo aprovou ainda a criaccedilatildeo de um regime especiacutefico que pune o plaacutegio de

obras intelectuais Atualmente ele eacute considerado uma violaccedilatildeo aos direitos de autor com

pena prevista de 6 meses a um ano de prisatildeo Poreacutem na praacutetica essa penalizaccedilatildeo eacute

raramente aplicada Pelo texto aprovado pelos juristas quem apresentar utilizar ou

reivindicar publicamente como proacutepria obra ou trabalho intelectual de outra pessoa no

todo ou em parte pode ter que cumprir pena de seis meses a dois anos de prisatildeo (Folha

de S Paulo 2012)

Decisotildees como esta apontam para o rumo que os direitos de autor devem tomar

inevitavelmente o da mudanccedila para adaptaccedilatildeo aos novos tempos A abertura a sistemas

alternativos de licenciamento distribuiccedilatildeo e partilha de bens culturais mostra-se uma via

potencialmente importante e a flexibilizaccedilatildeo dos regimes de lucro e produccedilatildeo eacute condiccedilatildeo

indispensaacutevel agrave sobrevivecircncia das induacutestrias da cultura A seguir trataremos sobre algumas

das novas possibilidades que surgiram para fazer face agrave rigidez do Copyright e das

legislaccedilotildees que tratam dos direitos autorais e da propriedade intelectual

30 Fexibilizaccedilatildeo do regime autoral o Creative Commons

104

Uma interessante ferramenta que concilia a defesa dos direitos de autor e a

possibilidade de partilha e construccedilatildeo coletiva do conhecimento eacute o modelo de licenccedila

intelectual Creative Commons (CC)6

O Creative Commons foi criado em 2001 pelo professor da Universidade de

Standford Lawrence Lessig com a finalidade de desenvolver licenccedilas que possam ser

utilizadas por qualquer indiviacuteduo ou entidade de forma a disponibilizar seus trabalhos de

maneira aberta O CC funciona como um meio termo legal entre os tradicionais contratos

de direitos autorais como o Copyright e o domiacutenio puacuteblico onde nenhum direito eacute

reservado Ele transporta para as produccedilotildees culturais a ideia central dos softwares livres

que consistem em programas de computador com coacutedigos-fonte abertos permitindo a

modificaccedilatildeo do software para aprimoramento ou melhor adaptaccedilatildeo agraves necessidades dos

usuaacuterios

O software livre cujo grande siacutembolo estaacute no sistema operacional Linux floresce

no Brasil Conforme apontam Cloacutevis Lima e Rose Marie Santini o destaque do paiacutes no

exterior em mateacuteria de utilizaccedilatildeo de programas abertos foi reconhecido pela revista Wired

uma das mais respeitadas em mateacuteria de tecnologia Em sua ediccedilatildeo de Novembro de 2004

ela retratou o Brasil como uma ldquoNaccedilatildeo Open Sourcerdquo (Lima e Santini 2006 125)

O crescente ecircxito dos softwares livres no paiacutes se reflete tambeacutem na boa acolhida

do projeto Creative Commons O modelo de licenciamento vem sendo adaptado no Brasil

por estudiosos da Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas (FGV)

desde 2003 O ex-ministro da Cultura Gilberto Gil apelidou a flexibilizaccedilatildeo dos direitos

autorais proposta pelo CC metaforicamente de ldquoreforma agraacuteria da propriedade

6 Para tornar a leitura mais simples utilizaremos a sigla CC para nos referirmos ao Creative Commons

Figura 1 O modelo Creative Commons se mostra

como um meio termo que promove o equiliacutebrio entre o

total fechamento do Copyright e a total abertura do

domiacutenio puacuteblico Fonte Creative Commons URL

lthttpwwwcreativecommonsorgbrgt

105

intelectualrdquo (Moraes 2006 243) Cloacutevis Lima e Rose Marie Santini tambeacutem afirmam o

seguinte

O licenciamento Creative Commons surge sem a intervenccedilatildeo estatal ou a mudanccedila do arcabouccedilo juriacutedico-normativo Trata-se de um uso da proacutepria ideia e conceitos do

direito autoral para modificar sua estrutura caso a caso gerando autorizaccedilotildees

caracterizadas pelo termo ldquoCopyleftrdquo A ideia eacute permitir a criaccedilatildeo de coletividades de

obras culturais publicamente acessiacuteveis [] materializando as promessas da Internet e

das tecnologias digitais de maximizarem o potencial criativo humano (LIMA E

SANTINI 2006 121)

O modelo de licenciamento CC tem como finalidade simplificar para os criadores

a expressatildeo de sua concessatildeo de uso A uacutenica coisa que ele demanda eacute que a utilizaccedilatildeo das

obras disponibilizadas natildeo tenha fins lucrativos e que os autores sejam devidamente

citados O CC modifica a expressatildeo tradicional do Copyright de ldquoTodos os direitos

reservadosrdquo para ldquoAlguns direitos reservadosrdquo (Moraes 2006 321)

Atraveacutes do portal do CC na Internet criou-se um mecanismo de buscas por

materiais como fotografias muacutesicas textos etc registrados sob esse modelo de

licenciamento Assim uma rede onde artistas autores e outros criadores de conteuacutedos

podem compartilhar seus trabalhos pela Internet sem violar leis de direitos autorais vai

crescendo a cada dia

Eacute importante ressaltar que o CC eacute um modelo que permite o contato direto do

criador com o puacuteblico e uma eficiente maneira de manifestar o desejo de ter sua obra

difundida pela Rede Haacute artistas que querem que as pessoas tenham acesso agraves suas

produccedilotildees e eventualmente permitem que elas continuem seu trabalho atraveacutes da

reinterpretaccedilatildeo ou recriaccedilatildeo da obra Antes do surgimento da Internet da tecnologia

digital e de modelos como o Creative Commons natildeo havia meios eficientes para que esses

autores pudessem indicar agrave sociedade que eles se interessavam pela ampla liberdade de

acesso e interpretaccedilatildeo de suas produccedilotildees pelo puacuteblico Segundo Cloacutevis Lima e Rose Marie

Santini ldquoUm modelo de licenciamento como este cria meios para que autores criadores e

outros detentores de direitos possam indicar a todos seus interesses em relaccedilatildeo ao uso de

suas obras atraveacutes da opccedilatildeo por uma licenccedila especiacuteficardquo (Lima e Santini 2006 129)

Os tipos de licenccedilas CC satildeo os seguintes

a) Atribuiccedilatildeo ndash Uso natildeo comercial ndash Natildeo a obras derivadas (by-nc-nd)

106

Esta eacute a mais restritiva dentre as seis principais licenccedilas permitindo

redistribuiccedilatildeo Comumente chamada de ldquopropaganda graacutetisrdquo ela permite o download e

compartilhamento da obra por outras pessoas contanto que mencionem e faccedilam o link

para o autor Proiacutebe qualquer modificaccedilatildeo na estrutura da obra e tambeacutem veta sua

comercializaccedilatildeo

b) Atribuiccedilatildeo ndash Uso natildeo comercial ndash Compartilhamento pela mesma licenccedila

(by-nc-as)

Esta licenccedila permite a remixagem adaptaccedilatildeo e criaccedilatildeo de obras derivadas por

outras pessoas com finalidade natildeo comercial contanto que atribuam o creacutedito da obra

original ao autor e licenciem as novas obras sob o mesmo paracircmetro

c) Atribuiccedilatildeo ndash Uso natildeo comercial (by-nc)

Neste modelo outras pessoas podem remixar adaptar e criar obras derivadas

da original sendo vedado o uso comercial As novas criaccedilotildees devem ter em seus creacuteditos o

autor da obra original e tambeacutem natildeo podem ser exploradas comercialmente A diferenccedila

da licenccedila anterior eacute que nesta natildeo eacute obrigatoacuterio o registro das novas obras sob o mesmo

paracircmetro da original

d) Atribuiccedilatildeo ndash Natildeo a obras derivadas (by-nd)

Este modelo permite a distribuiccedilatildeo e o uso da obra para fins comerciais e natildeo

comerciais mas determina que a obra seja distribuiacuteda completa e sem modificaccedilotildees

atribuindo os devidos creacuteditos do autor

e) Atribuiccedilatildeo ndash Compartilhamento pela mesma licenccedila (by-as)

Esta licenccedila permite que outras pessoas remixem adaptem e criem obras

derivadas da original para fins comerciais contanto que atribuam os creacuteditos do autor e

que as novas obras sejam licenciadas sob o mesmo paracircmetro Esta licenccedila eacute comumente

comparada agraves de softwares livres

f) Atribuiccedilatildeo (by)

107

Este eacute o modelo menos restritivo e o mais aberto de todos Ele permite que

outras pessoas distribuam remixem adaptem ou criem obras derivadas com finalidade

comercial desde que creditem a criaccedilatildeo original

O CC disponibiliza ainda diversos outros tipos de licenccedilas como a ldquoSamplingrdquo

que permite a remixagem de apenas trechos da obra original e a ldquoNaccedilotildees em

Desenvolvimentordquo que propotildee condiccedilotildees menos restritivas para a disponibilizaccedilatildeo da

obra em paiacuteses que natildeo sejam considerados como de alta renda pelo Banco Mundial

Atraveacutes de suas licenccedilas o CC manteacutem o senso da inteligecircncia coletiva e da

construccedilatildeo coletiva do saber Ele propotildee um novo modo de produccedilatildeo cultural que rompe

com as formas tradicionais de organizaccedilatildeo das forccedilas produtivas em bases mercantis e

empresariais e reaproxima o autor de sua obra na medida em que lhe confere o poder de

distribuiacute-la como bem entender

As licenccedilas CC nasceram na era da Internet e satildeo perfeitamente adaptaacuteveis agrave

necessidade de conciliar o reconhecimento da autoria e a expansatildeo do acesso ao

conhecimento Eacute uma alternativa de equiliacutebrio entre a reserva total dos direitos

(Copyright) e a completa cessatildeo destes (domiacutenio puacuteblico) O mundo digital precisa de

normas flexiacuteveis com liberdades diferentes expressa de forma tal que as pessoas possam

utilizaacute-las com facilidade sem a mediaccedilatildeo da induacutestria ou de advogados

Conforme salientam Cloacutevis Lima e Rose Marie Santini ldquoAs licenccedilas criativas

convidam agrave participaccedilatildeo no processo e natildeo agrave escolha entre produtos no supermercado de

bens culturaisrdquo (Lima e Santini id) As licenccedilas Creative Commons fomentam a

criatividade dos indiviacuteduos pois incrementam o domiacutenio puacuteblico dos bens culturais e

concretizam as promessas das novas tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo de

maximizarem o potencial criativo humano e das sociedades Atraveacutes da possibilidade legal

de recriaccedilatildeo das obras intelectuais disponibilizadas sob seu registro o CC se torna uma

potencial ferramenta colaborativa de construccedilatildeo e aperfeiccediloamento de conhecimentos

aleacutem de meio de democratizaccedilatildeo do acesso agraves informaccedilotildees pela desburocratizaccedilatildeo da

reproduccedilatildeo transmissatildeo e armazenamento de conteuacutedos

Segundo o site da organizaccedilatildeo em 2009 jaacute havia 350 milhotildees de obras licenciadas

no CC dentre filmes muacutesicas livros e trabalhos acadecircmicos (Creative Commons 2009)

No Brasil a tendecircncia eacute que o modelo CC se torne cada vez mais conhecido jaacute que a

visita de Lawrence Lessig ao paiacutes para lanccedilar uma nova versatildeo do licenciamento durante a

108

feira tecnoloacutegica Campus Party em Fevereiro de 2010 teve repercussatildeo em vaacuterios meios

tradicionais de comunicaccedilatildeo e sobretudo na Rede

31 O Creative Commons Portugal

Em Portugal o modelo Creative Commons eacute recente Chegando ao paiacutes em 2006 a

licenccedila foi traduzida e adaptada agrave legislaccedilatildeo portuguesa e pode ser encontrada desde entatildeo

no site oficial do CC (clicando-se no item Internacional depois na bandeira do paiacutes onde

se poderaacute verificar a licenccedila juriacutedica) Este projeto foi liderado pelo professor Pedro

Oliveira da Faculdade de Ciecircncias Econocircmicas e Empresariais da Universidade Catoacutelica

Portuguesa (UCP) aleacutem de Joseacute Rui Felizardo e Pedro Ferreira sendo Filipa Salazar Leite

a responsaacutevel pela traduccedilatildeo da primeira versatildeo das licenccedilas

As entidades responsaacuteveis pela implementaccedilatildeo do CC em Portugal foram a

Faculdade de Ciecircncias Econocircmicas e Empresarias da Universidade Catoacutelica Portuguesa

(FCEE-UCP) - como afiliada portuguesa do Creative Commons - a empresa de tecnologia

Inteligecircncia em Inovaccedilatildeo (INTELI) e a Agecircncia para a Sociedade do Conhecimento

(UMIC) na qualidade de parceiros Atualmente apenas a INTELI se manteacutem como

parceira da FCEE-UCP neste projeto

Eacute tatildeo grande a importacircncia desta nova ferramenta que ateacute Dezembro de 2010 jaacute

eram 311314 mil obras licenciadas sob o CC em Portugal pondo o paiacutes na 21ordf posiccedilatildeo do

ranking mundial Para a advogada Teresa Nobre responsaacutevel pela adaptaccedilatildeo das licenccedilas

Creative Commons agrave legislaccedilatildeo portuguesa o dado eacute bastante positivo visto que eacute um paiacutes

de populaccedilatildeo e extensatildeo territorial modestos (Nobre 2012)

32 As licenccedilas 30

No dia 15 de Janeiro de 2011 Teresa Nobre e Clara Boavida fizeram o lanccedilamento

da versatildeo 30 das licenccedilas Creative Commons em Portugal durante o evento

comemorativo pelos dez anos da enciclopeacutedia colaborativa eletrocircnica Wikipedia realizado

no Instituto Superior Teacutecnico (IST) em Lisboa A discussatildeo puacuteblica do projeto da versatildeo

30 da licenccedila de jurisdiccedilatildeo Creative Commons Portugal esteve aberta de 24 de Novembro

a 31 de Dezembro de 2010 e convidou ao debate a sociedade civil em geral advogados

109

utilizadores de licenccedila ativos linguistas e tradutores Todos puderam opinar sobre o novo

texto atraveacutes de um foacuterum aberto no site portuguecircs do projeto

Em relaccedilatildeo agrave versatildeo anteriormente utilizada (25) a nova redaccedilatildeo trouxe alteraccedilotildees

pequenas poreacutem significativas e que ajudaram a tornar mais claros os termos da licenccedila

Aleacutem disso propocircs novas claacuteusulas referentes aos direitos morais ou agrave gestatildeo coletiva dos

direitos de autor ou dos direitos conexos Eacute importante salientar que o processo de

lanccedilamento de uma nova versatildeo das licenccedilas CC natildeo envolve apenas questotildees de traduccedilatildeo

e adaptaccedilatildeo do texto original em inglecircs para o portuguecircs mas refere-se sobretudo agrave sua

adaptaccedilatildeo agraves legislaccedilotildees portuguesas de propriedade intelectual e de direitos de autor

Sendo assim apesar das semelhanccedilas entre as versotildees brasileira e portuguesa das licenccedilas

30 elas diferem-se substancialmente no que se refere ao quesito juriacutedico

Alguns dos conceitos utilizados nas licenccedilas (eg coleccedilatildeo licenciante e titular

originaacuterio) foram aperfeiccediloados e novas claacuteusulas (como as referentes aos direitos morais

ou agrave gestatildeo coletiva do direito de autor ou dos direitos conexos) foram introduzidas As

mudanccedila afetaram sobretudo o tipo de licenccedila ldquoAtribuiccedilatildeo ndash Uso natildeo comercial ndash

Compartilhamento pela mesma licenccedilardquo (by-nc-as) O termo ldquoobrardquo foi substituiacutedo por

ldquotrabalho criativordquo A expressatildeo ldquoexibiccedilatildeo e execuccedilatildeo puacuteblicardquo foi modificada por

ldquoapresentar ao puacuteblicordquo ldquoObras coletivasrdquo tornaram-se ldquocoleccedilotildeesrdquo e ldquoobras derivadasrdquo

passaram a ser designadas por ldquotrabalhos derivadosrdquo

A versatildeo 30 das licenccedilas Creative Commons da jurisdiccedilatildeo portuguesa quando

comparada com a versatildeo 25 apresenta para aleacutem das alteraccedilotildees citadas melhoramentos

ao niacutevel de praticamente todos os conceitos que se encontram definidos nas licenccedilas e uma

nova claacuteusula que prevecirc expressamente o direito moral do autor de retirar sua obra de

circulaccedilatildeo

Em Abril de 2012 foram abertas as discussotildees da versatildeo 40 do conjunto de

licenccedilas Creative Commons como resultado dos debates levantados durante o CC Global

Summit em Setembro de 2011 na Polocircnia Ateacute o final do ano os trabalhos relacionados ao

novo texto devem ser fechados posteriormente a versatildeo final seraacute localmente discutida e

adaptada para a liacutengua e a legislaccedilatildeo nacional de cada paiacutes

33 Parcerias

110

O CC Portugal manteacutem parcerias com diversos repositoacuterios institucionais que

disponibilizam obras intelectuais do domiacutenio cientiacutefico sob suas licenccedilas Eacute o caso da

Universidade do Porto (UP) e da Universidade Nova de Lisboa (UNL) Segundo Teresa

Nobre jaacute existe uma parceria (mesmo que ainda tiacutemida) entre o CC Portugal e o poder

puacuteblico portuguecircs Eacute o caso do Portal das Escolas mantido pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

portuguecircs que publica todos os seus materiais sob licenccedilas CC (Nobre 2012)

Teresa Nobre afirma que um dos problemas que dificultam a popularizaccedilatildeo das

licenccedilas Creative Commons em Portugal eacute o desconhecimento puacuteblico acerca de sua

existecircncia Na tentativa de tornar o projeto mais conhecido no paiacutes ela diz que um dos

objetivos do CC Portugal para 2012 eacute investir de forma mais eficiente nos canais proacuteprios

de comunicaccedilatildeo como o perfil do projeto em redes sociais como Facebook e Twitter e no

site wwwcreativecommonspt Esta eacute a mesma estrateacutegia utilizada para chegar ao

conhecimento das classes artiacutesticas nacionais

Todos os filiados ao CC cooperam entre si e com o Creative Commons com vista agrave

discussatildeo de temas de interesse comum e ao desenvolvimento e aperfeiccediloamento contiacutenuo

das licenccedilas Segundo Teresa Nobre

O Creative Commons Brasil tem sido um parceiro importante do Creative Commons

Portugal na medida em que por circunstacircncias diversas tem conseguido completar o

processo de adaptaccedilatildeo das licenccedilas para o Brasil antes da Creative Commons Portugal

disponibilizando assim uma primeira base de trabalho em portuguecircs que eacute sem duacutevida

uma mais-valia natildeo obstante as diferenccedilas entre as legislaccedilotildees dos dois paiacuteses

(NOBRE 2012)

Neste momento o Creative Commons Portugal impulsiona um processo de

harmonizaccedilatildeo dos conceitos-chave em portuguecircs tendo entrado em contato com o CC

Brasil e com o CC Macau com o objetivo de levantar a discussatildeo com os mesmos Um dos

objetivos do CC Portugal para o futuro eacute conseguir incentivar e auxiliar outros paiacuteses de

liacutengua portuguesa a adotarem as licenccedilas CC pretendendo envolver nessa empreitada

tanto quanto possiacutevel o CC Brasil

40 A exceccedilatildeo para compartilhamento de arquivos

111

O principal argumento dos detentores de direitos favoraacuteveis ao arsenal juriacutedico

repressor eacute o de que as puniccedilotildees e proibiccedilotildees de downloads gratuitos aumentam as

oportunidades de vendas para obras protegidas Poreacutem haacute que considerar que na ausecircncia

de serviccedilos on-line de acesso a conteuacutedos com preccedilos e funcionalidades atraentes para os

utilizadores a repressatildeo natildeo produz efeitos consideraacuteveis Conforme afirma Volker

Grassmuck o bloqueio natildeo significa diminuiccedilatildeo da partilha e subida das vendas mas sim

uma migraccedilatildeo para plataformas mais clandestinas onde se torna ainda mais difiacutecil

monitorizar as reproduccedilotildees e as transferecircncias (Grassmuck 2009)

Vaacuterios estudos indicam que o impacto dos downloads natildeo pagos na economia das

induacutestrias da cultura eacute menor que o anunciado por estas Baseados na meacutedia obtida a partir

de oito pesquisas consideradas relevantes Felix Oberholzer-Gee e Koleman Strumpf

afirmam que a partilha de arquivos eacute responsaacutevel por uma parte pequena ndash ldquonatildeo mais do

que 20rdquo ndash do decliacutenio das vendas de muacutesica registrado nos EUA ao longo da deacutecada

passada (Oberholzer-Gee e Strumpf 2010 01) Alguns levantamentos apontam mesmo

para a tese do outro extremo a de que as descargas gratuitas impulsionam as vendas

legais Eacute o caso de uma pesquisa realizada pela Universidade do Estado da Carolina do

Norte que usou uma grande amostra de estatiacutesticas de downloads vindas de um servidor

BitTorrent A partir desses dados o economista Robert Hammond professor daquela

universidade preparou o estudo intitulado ldquoVazamento de lucros Compartilhamento de

arquivos antes do lanccedilamento e a induacutestria musicalrdquo (Link 17052012)

Hammond reuniu dados de 1095 novos aacutelbuns de 1075 artistas no maior servidor

do BitTorrent dedicado agrave muacutesica no periacuteodo entre Maio de 2010 e Janeiro de 2011

Depois combinou esses dados com nuacutemeros de vendas para construir um modelo que faz

uma previsatildeo do efeito da pirataria nas vendas de muacutesica A pesquisa dedicou-se aos

aacutelbuns que ldquovazaramrdquo na Rede antes de seu lanccedilamento oficial A induacutestria fonograacutefica

prioriza a caccedila a estes discos

O resultado aponta que as vendas aumentaram O economista chegou a essa

conclusatildeo ao ldquoisolarrdquo o efeito do compartilhamento nas vendas de um aacutelbum mapeando o

alcance do disco nas redes antes de ser lanccedilado O estudo afirma que a disseminaccedilatildeo de

um aacutelbum ldquovazadordquo transforma-se em propaganda do mesmo A pesquisa chega ateacute a

indicar que perseguir discos divulgados antes da data oficial pode atrapalhar as vendas

ldquoUsando meu modelo natildeo encontrei prova de nenhum efeito negativo em nenhum

aspectordquo concluiu Hammond sobre o compartilhamento de torrents de aacutelbuns (Link id)

112

No contexto da entrada em vigor de HADOPI na Franccedila e para tentar medir o

impacto da nova lei no paiacutes a Universidade de Rennes 1 realizou um levantamento entre

16 de Novembro e 23 de Dezembro de 2009 com 2 mil usuaacuterios de Internet na regiatildeo da

Bretanha A pesquisa concluiu que os downloads ilegais de produtos culturais como

muacutesicas filmes etc natildeo satildeo uma potencial ameaccedila agrave induacutestria isto porque 47 dos

usuaacuterios puniacuteveis por HADOPI representam a maioria dos compradores desses mesmos

produtos de forma legal na Internet Sendo assim os pesquisadores remataram que ldquoO

consumo de conteuacutedo ilegal parece estar acompanhado de uma disposiccedilatildeo a pagar pelo

conteuacutedo legalrdquo (Dejean et al 2010 09)

Ao contraacuterio do que as grandes produtoras alegam o levantamento realizado pela

Universidade de Rennes 1 aponta que se o acesso de usuaacuterios de redes P2P fosse cortado

o mercado legal de muacutesicas e viacutedeos perderia 27 de seus consumidores Se a legislaccedilatildeo

punisse todos os tipos de piratas (natildeo apenas os que fazem downloads por P2P mas

tambeacutem atraveacutes de sites streaming e endereccedilos de hospedagem de arquivos como

Rapidshare e Megaupload) a venda legal de muacutesicas e viacutedeos pela Rede perderia metade

de sua clientela Portanto segundo Sylvain Dejean a premissa de HADOPI de realizar o

corte do acesso agrave Internet dos piratas ldquoarrisca reduzir o tamanho do mercado de bens

culturais digitaisrdquo na Franccedila (ibidem 13)

A discrepacircncia entre o direito autoral e a praacutetica amplamente difundida do

compartilhamento de arquivos eacute evidente Ateacute hoje as tentativas de resolver essa

desarmonia passaram por medidas repressivas que tentaram adequar as praacuteticas culturais agrave

lei atraveacutes de dispositivos tecnoloacutegicos de proteccedilatildeo (como o DRM do inglecircs Digital

Rights Management) processos civis e penais em larga escala etc Nenhuma delas teve

impactos consideraacuteveis sobre as atividades de download ilegal Apesar do fracasso nem as

induacutestrias e nem os governos reconheceram as falhas das estrateacutegias adotadas tampouco

mudaram de abordagem Continuam a operar com as mesmas ferramentas produzindo

formas cada vez mais extremistas de repressatildeo

Uma alternativa de mudanccedila mais profunda do regime juriacutedico internacional da

propriedade intelectual eacute a proposta feita pelo advogado Bennett Lincoff e pela

Associaccedilatildeo de Compositores do Canadaacute Eles sugeriram a criaccedilatildeo de novos direitos

especificamente destinados a legalizar a partilha sem fins lucrativos de obras protegidas

por direitos de autor (Caetano e Cardoso 2012 08) Em tal modelo programas P2P e

outros dispositivos e sites que permitem o compartilhamento de bens culturais sairiam das

113

sombras da clandestinidade e passariam a ser legais Para que isso seja possiacutevel eacute

necessaacuterio pocircr em funcionamento um novo modelo de compensaccedilatildeo aos autores

O uso intenso de redes P2P para partilha de arquivos de filmes livros muacutesicas etc

demanda aquilo a que Volker Grassmuck chama de exceccedilatildeo para compartilhamento de

arquivos (Grassmuck 2010 04) a saber um regime de recolha e distribuiccedilatildeo de direitos

de autor adaptado aos downloads feitos a partir de redes peer-to-peer e outros sistemas

semelhantes Esse modelo de compensaccedilatildeo eacute discutido em vaacuterios paiacuteses sob diferentes

nomenclaturas ldquosistema de compensaccedilatildeo alternativordquo ldquotaxa fixa da culturardquo ldquolicenccedila

globalrdquo e ldquocontribuiccedilatildeo criativardquo dentre outros Eles variam em alguns detalhes mas satildeo

essencialmente baseados em uma mesma ideia reunir artistas induacutestria e usuaacuterios em

torno de um sistema que contemple simultaneamente os interesses de todos os envolvidos

na cadeia de consumo de bens artiacutestico-culturais Isso atraveacutes de ldquouma permissatildeo legal

para o compartilhamento privado de obras publicadas e protegidas pelo direito autoral para

fins natildeo comerciais sujeita a uma taxa administrada por meio de gestatildeo coletivardquo (ibidem

05)

Vaacuterias pesquisas apontam que os utilizadores estatildeo dispostos a pagar pelos

conteuacutedos que acessam e descarregam pela Internet A sociedade sueca de gestatildeo coletiva

de direitos de muacutesica STIM em uma pesquisa publicada em Fevereiro de 2009 apurou

que 862 dos usuaacuterios de Internet que responderam agrave pesquisa desejam pagar uma taxa

mensal de direito autoral que lhes permita compartilhar arquivos (ibidem 07)

Grupos musicais como Nine Inch Nails e Radiohead liberaram seus discos para

download na Internet dando ao internauta a liberdade de decidir se pagaria ou natildeo por

eles e quanto A gravadora independente on-line Magnatunecom libera todos os seus

aacutelbuns em uma licenccedila Creative Commons que permite expressamente seu uso em

compartilhamento de arquivos o que torna o pagamento efetivamente voluntaacuterio O

Magnatune tambeacutem oferece a seus consumidores a possibilidade de pagar um preccedilo agrave sua

escolha dentro da escala de 4 a 14 euros O preccedilo meacutedio pago pelos utilizadores varia entre

8 e 9 euros indicando claramente que eles desejam pagar aos criadores o preccedilo que lhes

parece justo

Diferentemente do que alegam as induacutestrias os internautas natildeo consideram o que eacute

gratuito como algo sem valor As pessoas habituadas agrave cultura do compartilhamento e da

liberdade satildeo conscientes de que os criadores devem ser remunerados e mostram-se

dispostas a desenvolver comportamentos de consumo compatiacuteveis com essa necessidade

114

Para isso eacute preciso desenvolver e pocircr agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico sistemas equitativos de

distribuiccedilatildeo de bens culturais e recolha dos direitos devidos aos autores

A seguir trataremos brevemente de trecircs propostas de exceccedilatildeo para

compartilhamento de arquivos licenccedila global mecenato global e contribuiccedilatildeo criativa

Existem muitas alternativas possiacuteveis resolvemos nos concentrar nestas por serem

modelos sobre os quais jaacute haacute alguma discussatildeo em marcha ndash tanto no mundo acadecircmico

quanto nos universos juriacutedico e comercial Antes poreacutem falaremos sobre a ldquocomputaccedilatildeo

na nuvemrdquo (cloud computing) tendecircncia a ganhar terreno no ciberespaccedilo e que se

mostra tambeacutem um importante modelo legal de acesso a bens culturais na Rede

50 Cloud computing

A ldquocomputaccedilatildeo na nuvemrdquo eacute uma expressatildeo que surge com muita frequecircncia no

vocabulaacuterio das novas utilizaccedilotildees da Internet Falar em nuvem eacute referir-se agrave proacutepria Rede

ou seja aos seus inuacutemeros servidores espalhados por todo o planeta Quando dizemos que

um ficheiro estaacute na ldquonuvemrdquo significa que o documento ou programa estaacute armazenado em

um servidor Esse ficheiro pode ser acessado simplesmente atraveacutes de uma ligaccedilatildeo agrave

Internet e natildeo depende da armazenagem em aparelhos locais como um computador ou

um smartphone O arquivo natildeo eacute guardado na proacutepria maacutequina do usuaacuterio mas nos

bancos de dados virtuais dos fornecedores de acesso agrave Rede podendo ser visualizado

atraveacutes de um navegador como Explorer ou Chrome por exemplo

Essa tecnologia natildeo eacute recente A novidade estaacute na queda dos custos de

armazenagem de grandes volumes de dados As conexotildees agrave Internet satildeo cada vez mais

velozes e atingem gradativamente um nuacutemero maior de pessoas Os arquivos

armazenados na nuvem podem ser acedidos e utilizados simultaneamente por inuacutemeros

usuaacuterios natildeo importando onde eles estejam espacialmente localizados

A isso se junta a constante diminuiccedilatildeo dos aparelhos informaacuteticos ndash os notebooks

satildeo cada vez menores e para pouparem espaccedilo utilizam discos riacutegidos pequenos e com

pouca capacidade de arquivamento de fotos viacutedeos etc Com todos os arquivos e

programa de que necessita estocados em uma nuvem o utilizador pode deixar seus

115

proacuteprios discos externos smartphones e demais equipamentos portaacuteteis para traacutes para

aceder ao que deseja basta utilizar um equipamento qualquer ligado agrave Internet

Poreacutem o ecircxito do serviccedilo depende completamente da Rede Sem conexatildeo agrave

Internet todo o sistema desmorona Outro problema que se levanta nesse meacutetodo eacute o da

confidencialidade dos dados Por mais seguros que sejam os serviccedilos de cloud

computing estatildeo sujeitos ao ataque de hackers Armazenar informaccedilotildees sigilosas tais

como dados pessoais e senhas de contas bancaacuterias por exemplo pode ser arriscado

Para Richard Stallman criador da Fundaccedilatildeo para o Software Livre (FSF) a cloud

computing eacute uma ameaccedila invisiacutevel Stallman afirma que os dados dos utilizadores da

Rede satildeo ferramentas indispensaacuteveis para determinar perfis de consumo e por isso

tornam-se mera mercadoria nas matildeos dos servidores

Haacute uma campanha para convencer os utilizadores a confiar os seus dados a empresas

nas quais natildeo deveriam de todo confiar A computaccedilatildeo na nuvem soacute pode significar

ldquoMeia bola e forccedila E natildeo pensesrdquo Natildeo eacute que natildeo possamos ter vida privada na Internet Nem que os utilizadores jaacute natildeo possam controlar os seus dados Devemos eacute

ousar remar contra a mareacute (STALLMAN 2012 56)

Estando os arquivos armazenados em um servidor o usuaacuterio jaacute natildeo possui controlo

absoluto sobre seu acesso e utilizaccedilatildeo O recente caso do fechamento do Megaupload

ilustra bem o que pode acontecer na cloud computing Tudo o que estava armazenado nos

servidores do site foi retirado do ar pela Justiccedila norte-americana (sob acusaccedilatildeo de

incentivo agrave pirataria como referido no primeiro capiacutetulo deste trabalho) impossibilitando

o acesso ateacute mesmo dos clientes que haviam pago assinatura e mantinham hospedados

materiais legais (muitos de sua proacutepria autoria)

O sucesso da cloud computing representaria a perda completa do controlo dos

proacuteprios ldquopertences virtuaisrdquo por parte do utilizador na medida em que a armazenagem

destes natildeo estaacute sob sua responsabilidade Um ambiente onde os arquivos estatildeo guardados

em servidores eacute como uma biblioteca cujas chaves estatildeo nas matildeos de poucos assim que

estes queiram restringir o acesso ao acervo poderatildeo realizaacute-lo sem grande dificuldade

fazendo o que quiserem com os livros que estatildeo laacute dentro Aleacutem disso o controlo de

plataformas ldquona nuvemrdquo eacute passiacutevel de ser tomado por oacutergatildeos governamentais empresas

privadas e demais grupos de interesses (com objetivos comerciais ou de filtragem e

monitoramento de conteuacutedos) prejudicando a fiabilidade de seu sistema

116

A cloud computing eacute a base estrutural de muitos sites de venda e reproduccedilatildeo legal

de muacutesicas filmes etc Serviccedilos como o VOD (sigla para a expressatildeo inglesa Video on

demand) plataforma de visualizaccedilatildeo de filmes on-line jaacute satildeo vastamente utilizados por

todo o mundo A Franccedila por exemplo manteacutem um serviccedilo deste tipo ligado a um de seus

canais de TV puacuteblica o France Arte (httpwwwartevodcomAccueilhtml) que

disponibiliza o acesso sob assinatura a gravaccedilotildees de filmes documentaacuterios e espetaacuteculos

de teatro e danccedila em linha O mesmo acontece com sites de muacutesica como o Terra Sonora

(httpsonoraterracombr) no Brasil O portal libera sob cadastro a escuta gratuita on-

line Tornando-se assinante do serviccedilo o utilizador pode criar uma pasta de armazenagem

das muacutesicas favoritas Poreacutem apesar de pagar pelo material o internauta natildeo pode

arquivar as muacutesicas em um CD-R por exemplo pois as faixas satildeo protegidas pela

tecnologia DRM que impede a gravaccedilatildeo Aleacutem disso ele tem um nuacutemero limitado de

vezes para reproduzir os arquivos de aacuteudio Poliacuteticas como esta fadam esse modelo de

negoacutecio ao fracasso e a instabilidade da nuvem apresenta riscos que fazem com que os

internautas natildeo adiram agrave alternativa

60 Licenccedila global

Na lista de tentativas de promoccedilatildeo dos interesses dos artistas e fomento do

consumo legal de bens culturais por parte dos utilizadores da Rede estaacute o modelo

conhecido por licenccedila global O conceito nasceu na Franccedila em 2001 fruto da parceria

entre a Sociedade de Percepccedilatildeo e de Distribuiccedilatildeo dos Direitos dos Artistas Inteacuterpretes

(SPEDIDAM) e a Sociedade Civil para a Administraccedilatildeo dos Direitos dos Artistas e

Muacutesicos Inteacuterpretes (ADAMI)

Trata-se de uma autorizaccedilatildeo dada aos internautas para acederem a conteuacutedos

culturais pela Rede e poder partilhaacute-los com outros para fins natildeo comerciais em troca de

uma taxa destinada a artistas paga juntamente com a mensalidade cobrada pelos

servidores de acesso agrave Internet Na Franccedila a SPEDIDAM e a ADAMI propuseram que

essa taxa fosse opcional Para ambas as organizaccedilotildees criadoras a licenccedila global eacute uma

alternativa interessante por criar o que chamam de ldquoespaccedilo de seguranccedila juriacutedicardquo isto eacute a

descarga e a troca de ficheiros natildeo satildeo criminalmente imputaacuteveis pois satildeo realizadas de

forma que respeita os direitos de autor SPEDIDAM e ADAMI natildeo propuseram um valor

117

exato para o pagamento mensal da licenccedila global mas sugeriram que o montante cobrado

fosse de 4 a 7 euros por assinatura (Alliance Public-Artistes 2010)

Em Dezembro de 2005 alguns deputados sugeriram que a licenccedila global fosse

incluiacuteda no texto do Projeto de Lei relativa aos Direitos de Autor e Direitos Conexos na

Sociedade de Informaccedilatildeo (DADVSI) DADVSI foi discutida em sessatildeo na Assembleia

Nacional francesa em Marccedilo de 2006 poreacutem a licenccedila global natildeo foi incluiacuteda na pauta

Agrave eacutepoca em que HADOPI comeccedilou a ser discutida na Franccedila a licenccedila global

mostrou-se uma alternativa de equiliacutebrio entre os interesses dos consumidores e dos

artistas O modelo eacute interessante pelo facto de remunerar os autores ao mesmo tempo em

que apresenta condiccedilotildees sedutoras de consumo legalizado Poreacutem haacute que discutir detalhes

importantes para o funcionamento do sistema como se o modelo de licenccedila global deve

ser obrigatoacuterio ou opcional visto que se opcional o usuaacuterio poderia decidir natildeo aderir a

ele o que natildeo o impediria de fazer downloads ilegais A aplicaccedilatildeo obrigatoacuteria parece ser a

mais simples mas devemos considerar tambeacutem o caso dos internautas que natildeo fazem

download nenhum e que teriam que pagar por algo que natildeo utilizam Aleacutem do mais eacute

preciso definir se a taxa a ser paga deve ser fixa ou variar conforme a quantidade e a

frequecircncia de downloads que o utilizador realizar

Jaacute haacute propostas e experimentos locais em atividade como eacute o caso do estudo

realizado por Matt Earp e Andrew Mcdiarmid da Escola de Informaccedilatildeo da Universidade

da Califoacuternia Berkeley Os pesquisadores propuseram a implementaccedilatildeo de uma licenccedila

voluntaacuteria global no interior da rede do campus de Berkeley que daria direito aos

estudantes de fazerem downloads ilimitados de muacutesicas mediante o pagamento de 20

doacutelares por semestre (Caetano 2008) Ao realizarem um levantamento junto a 103

estudantes da universidade Earp e Mcdiarmid descobriram que 64 dos inquiridos

estavam dispostos a pagar uma licenccedila global para a partilha de arquivos Haacute que

considerar que de tentativas locais exitosas o sistema pode expandir-se para alcanccedilar

mais utilizadores no futuro

70 Mecenato global

118

O pesquisador francecircs Francis Muguet e o programador norte-americano Richard

Stallman satildeo os idealizadores do mecenato global sistema de financiamento equitativo das

artes e da cultura Esse modelo surgiu em 2009 eacutepoca em que na Franccedila fervilhavam as

discussotildees sobre a lei HADOPI e debatia-se se a soluccedilatildeo para o problema do apoio agrave

criatividade na era digital natildeo passaria pelo incentivo agraves doaccedilotildees voluntaacuterias aos artistas ao

inveacutes do endurecimento das leis (Meacuteceacutenat Global 2009)

O mecenato global sugere a criaccedilatildeo de uma Sociedade de Aceitaccedilatildeo e Reparticcedilatildeo

de Doaccedilotildees (SARD) entidade que receberia as doaccedilotildees dos internautas e atraveacutes dos

votos destes indicaria quais obras seriam remuneradas e quais os valores dessas

remuneraccedilotildees A adesatildeo tanto dos utilizadores quanto dos artistas agrave SARD seria

obviamente livre e o envolvimento dos autores com a entidade natildeo implicaria o abandono

automaacutetico da sua sociedade de gestatildeo coletiva tradicional O sistema se aplicaria tanto

aos artistas que disponibilizassem suas obras segundo licenccedilas livres quanto agravequeles que

pretendessem conservar os seus direitos exclusivos O uacutenico preacute-requisito seria residir em

um paiacutes francoacutefono

Aleacutem da adesatildeo livre para utilizadores e artistas o mecenato global tambeacutem propotildee

que os fornecedores de acesso agrave Internet possam escolher participar ou natildeo Para Miguel

Afonso Caetano a melhor opccedilatildeo de aplicaccedilatildeo do sistema seria atraveacutes da participaccedilatildeo

obrigatoacuteria para os detentores de direitos e fornecedores de acesso poreacutem opcional para

os utilizadores haja vista que nem todos efetuam descargas de conteuacutedos protegidos por

direitos de autor Poreacutem o autor afirma que para pocircr em marcha tal projeto seria

necessaacuterio rever a Convenccedilatildeo de Berna senatildeo tudo natildeo passaria de um esforccedilo limitado a

proporccedilotildees locais sem possibilidades de aplicaccedilatildeo em escala internacional (Caetano

2009) O mesmo se aplica agrave licenccedila global

80 Contribuiccedilatildeo criativa

A contribuiccedilatildeo criativa criada por Philippe Aigrain como uma espeacutecie de

ldquobandeira brancardquo na guerra entre o Copyright e a livre partilha na Rede eacute um modelo que

procura legalizar o uso dos dispositivos P2P ao mesmo tempo em que propotildee uma forma

119

alternativa de retribuiccedilatildeo aos autores sem criar conflitos com outras fontes importantes de

remuneraccedilatildeo e de financiamento da criaccedilatildeo

O modelo prevecirc a retribuiccedilatildeo aos autores segundo a quantidade de downloads que

forem feitos de suas obras Quanto mais descargas mais repasse de direitos Esse modelo

evolui gradualmente e Aigrain jaacute chegou mesmo a propor que a propriedade intelectual no

ambiente digital saiacutesse do acircmbito claacutessico dos direitos de autor para ser objeto de um

diploma agrave parte especiacutefico (Aigrain 2008 71)

Philippe Aigrain aponta o pagamento opcional proposto pela licenccedila global e pelo

mecenato global como ponto falho dos sistemas Para o funcionamento do modelo de

contribuiccedilatildeo criativa o autor salienta a necessidade do pagamento obrigatoacuterio por parte de

todo indiviacuteduo que possua uma assinatura de serviccedilo de Internet Aigrain afirma que pode

haver exceccedilotildees relacionadas a criteacuterios sociais mas que estas devem ser compensadas pelo

orccedilamento puacuteblico ou repartidas entre os demais pagantes Ele sugere que o montante a

ser aplicado na Franccedila gire em torno dos 5 ou 7 eurosmecircs e que abarque produccedilotildees de

muacutesica audiovisual e novas miacutedias digitais (ibidem 85) Jaacute Volker Grassmuck sugere que

o valor deveria variar conforme a velocidade da conexatildeo agrave Internet Para este autor o

acesso discado (que inviabiliza outros usos que exigem capacidade de banda) por

exemplo deveria ser isento (Grassmuck 2010 08) Tanto para Aigrain como para

Grassmuck a aplicaccedilatildeo de tal taxa seria tatildeo legiacutetima e se justificaria tanto quanto as taxas

cobradas por sistemas semelhantes como os que sustentam serviccedilos de TV e radiodifusatildeo

puacuteblicos em vaacuterios paiacuteses

Philippe Aigrain afirma que eacute preciso medir a quantidade de downloads das obras

dos artistas de forma natildeo intrusiva ndash um desafio a ser enfrentado pelos proprietaacuterios de

direitos visto que

As induacutestrias de ediccedilatildeo centralizada integraram-se tanto agrave ideia de que os consumidores

de seus produtos satildeo inimigos a controlar e a vigiar que natildeo podem nem mesmo

imaginar que eles poderiam ser os melhores aliados na reparticcedilatildeo justa de uma

remuneraccedilatildeo associada ao uso das obras (AIGRAIN 2008 02)

A apuraccedilatildeo da quantidade de downloads efetuados eacute extremamente precisa nos

meios digitais Ao contraacuterio do universo analoacutegico onde as estatiacutesticas de execuccedilatildeo e

reproduccedilatildeo de muacutesicas filmes etc eram nebulosas geralmente baseadas em dados

ldquoarredondadosrdquo (e que sempre favoreciam os artistas ldquocabeccedilas-de-listardquo) o atual estaacutegio

da tecnologia permite informar com exatidatildeo quantas vezes um dado foi acessado A

120

precisatildeo das mediccedilotildees empiacutericas geram abrangecircncia justiccedila e diversidade pois garantem

o pagamento mesmo para artistas que estejam muito afastados do topo da lista de sucessos

Uma vez que os programas de P2P sejam legalizados o processo de instauraccedilatildeo de

sistemas como a licenccedila global poderaacute contar com a ajuda dos fornecedores de acesso agrave

Internet e das proacuteprias aplicaccedilotildees utilizadas para realizar as descargas (como BitTorrent

etc) A partir do registro de metadados de cada trabalho descarregado pelo utilizador

podem ser produzidos relatoacuterios mensais anocircnimos para um site administrativo que calcule

o nuacutemero total de downloads em um determinado lugar Mecanismos semelhantes jaacute

existem e estatildeo em funcionamento eacute o caso do Audioscrobbler dispositivo que produz

relatoacuterios voluntaacuterios sobre as muacutesicas ouvidas na plataforma Lastfm

Tanto a licenccedila global como o mecenato global e como a contribuiccedilatildeo criativa pode

facilitar o processo de detecccedilatildeo recolhimento e repasse de direitos quase em uma ponte

direta entre artistas e utilizadores da Rede O papel das sociedades gestoras de direitos

seria transformado e a digitalizaccedilatildeo dos processos representaria uma reduccedilatildeo draacutestica dos

custos ndash o que se converteria em benefiacutecio para os artistas pois qualquer economia

significaria maior repasse de direitos

Em um estudo recente Volker Grassmuck traccedilou um quadro comparativo entre os

modelos de gestatildeo de direitos alematildeo e brasileiro Nele descobrimos que na Alemanha as

treze organizaccedilotildees de gestatildeo coletiva existentes pagam no miacutenimo 50 e no maacuteximo

100 de suas receitas para os autores sendo que o restante vai para os exploradores

(editoras ou gravadoras) No caso do Escritoacuterio Central de Arrecadaccedilatildeo e Distribuiccedilatildeo

(ECAD) entidade que gere os direitos de autor no Brasil a situaccedilatildeo eacute mais confusa

porque seus membros natildeo satildeo diretamente autores muacutesicos e exploradores mas dez

associaccedilotildees desses grupos Essa estrutura de dois niacuteveis cria um ofuscamento adicional em

relaccedilatildeo ao fluxo de dinheiro e gera gastos administrativos totais em valores proacuteximos a

30 que aparentam estar entre os maiores do mundo (Grassmuck 2010 11-12) No

universo on-line a administraccedilatildeo digital de direitos seraacute automatizada ao niacutevel maacuteximo

garantindo que a maior quantia possiacutevel chegue agravequeles que realmente criam os bens

culturais evitando assim que os lucros sejam ldquoengolidosrdquo pelo funcionamento do

aparelho destinado a coletaacute-los

121

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

122

123

No momento do remate deste estudo o Parlamento Europeu rejeitou

definitivamente o ACTA em seccedilatildeo plenaacuteria Foram 478 votos contra o acordo 39 a favor e

165 abstenccedilotildees Com o voto contraacuterio do Parlamento ao menos 22 dos 27 paiacuteses membros

da Uniatildeo Europeia natildeo podem ratificar o tratado em sua legislaccedilatildeo local Tal decisatildeo

mostra o poder da mobilizaccedilatildeo popular aleacutem de manifestaccedilotildees nas ruas muitos cidadatildeos

europeus protestaram atraveacutes das redes sociais e demais instrumentos de comunicaccedilatildeo

conectados em rede Foram muitos os que tambeacutem contataram os membros do Parlamento

por telefone ou e-mail e a intensa pressatildeo acabou por resultar

O conceito de sociedade da informaccedilatildeo natildeo eacute neutro Informaccedilatildeo natildeo eacute o mesmo

que comunicaccedilatildeo A informaccedilatildeo eacute uma fonte de poder e o domiacutenio dos seus meios de

produccedilatildeo controlo e disseminaccedilatildeo pode ser um fator de aumento da desigualdade de

distribuiccedilatildeo de poderes em uma sociedade jaacute marcada por disparidades A democracia em

sua forma mais baacutesica requer que o poder seja distribuiacutedo ndash sendo a informaccedilatildeo uma fonte

de poder uma sociedade mais igualitaacuteria passa pelo livre acesso das pessoas a ela

No mundo em que vivemos o poder estaacute concentrado em diversas formas e

manifestaccedilotildees tais como o ideoloacutegico econocircmico tecnoloacutegico cientiacutefico ou

informacional Apoiar os direitos humanos eacute posicionar-se contra os que ameaccedilam ou

desrespeitam esses direitos Incluir o direito de acesso agrave informaccedilatildeo e agrave comunicaccedilatildeo

nessa luta eacute assumir a centralidade do ser humano como agente nos processos vitais para a

manutenccedilatildeo da vida em sociedade O acesso agrave informaccedilatildeo eacute condiccedilatildeo indispensaacutevel para a

formaccedilatildeo do indiviacuteduo enquanto ser criacutetico que questiona e interveacutem e que constroacutei os

meios que lhe permitem ser livre

Grandes corporaccedilotildees tecircm nas matildeos a infraestrutura global da Internet A quase

totalidade da Rede depende de operadores multinacionais estando a maioria deles sediada

nos EUA Muitos governos controlam e vigiam o acesso de seus cidadatildeos agrave Rede Quando

eacute de seu interesse conseguem comprometer o funcionamento das conexotildees via Internet

com o exterior como fez o governo egiacutepcio durante o movimento que ficou conhecido por

Primavera Aacuterabe no iniacutecio de 2011 que levou agrave queda do ditador Hosni Mubarak naquele

paiacutes (Sapo Notiacutecias 2011)

Numa decisatildeo histoacuterica o Conselho dos Direitos Humanos da ONU composto por

47 paiacuteses reconheceu pela primeira vez o direito agrave liberdade de expressatildeo na Internet e

tambeacutem a garantia de acesso agrave Rede O reconhecimento se deu dois dias apoacutes a decisatildeo do

Parlamento Europeu de eliminar o ACTA em Julho de 2012 Apesar da resistecircncia de

124

paiacuteses como a China e Cuba o texto do acordo foi finalizado em concordacircncia de que este

direito deveraacute ser protegido por todos os paiacuteses Esta eacute a primeira resoluccedilatildeo da ONU que

afirma que os direitos humanos devem ser protegidos no acircmbito digital e promovidos na

mesma medida e com o mesmo compromisso que os direitos humanos no mundo fiacutesico

Tanto a China quanto Cuba poreacutem fizeram ressalvas em relaccedilatildeo ao acordo o

embaixador chinecircs Xia Jingge argumentou por exemplo que ldquoos jovens precisam de ser

protegidosrdquo de sites maleacuteficos como os dedicados ao jogo agrave pornografia agrave violecircncia agrave

fraude e agrave pirataria ldquoAcreditamos que o livre fluxo de informaccedilatildeo na Internet e o fluxo

seguro de informaccedilatildeo na Internet satildeo interdependentesrdquo (Puacuteblico 06072012) Jaacute o

embaixador cubano Juan Antonio Quintanilla numa referecircncia impliacutecita aos EUA fez a

ressalva de que o texto natildeo aborda a questatildeo da ldquogovernaccedilatildeo da Internetrdquo quando ldquotodos

sabemos que esta ferramenta eacute controlada por um uacutenico paiacutes a niacutevel mundialrdquo (Puacuteblico

id)

A liberdade na Internet e a forccedila do compartilhamento de informaccedilotildees tambeacutem

foram os temas centrais do Foacuterum de Empreendedorismo Social na Nova Economia

evento realizado em Junho de 2012 paralelo agrave Rio+20 no Rio de Janeiro Em um dos

paineacuteis Silvio Meira presidente do Conselho Administrativo do Porto Digital e cientista-

chefe do Centro de Estudos e Sistemas Avanccedilados do Recife (Cesar) chamou a atenccedilatildeo

para a necessidade de ldquoprogramarmos para natildeo sermos programadosrdquo Para ele eacute preciso

tomarmos o controlo de nossas vidas no ciberespaccedilo ldquoTer propriedade pessoal dos nossos

dados seraacute absolutamente essencial Estamos sendo vendidos como mercadoria na

Internetrdquo (G1 17062012)

A regulaccedilatildeo eacute fundamental para frear as praacuteticas de uso indiscriminado de dados

dos usuaacuterios na Internet Eacute tambeacutem preciso garantir o bom funcionamento teacutecnico do

sistema com velocidade de banda a preccedilos justos boa qualidade de prestaccedilatildeo de serviccedilos

e proibiccedilatildeo de praacuteticas que prejudicam a neutralidade na Rede como o traffic shaping

mas natildeo soacute A regulaccedilatildeo natildeo deve tratar apenas do acesso agrave tecnologia mas tambeacutem da

garantia do pluralismo de informaccedilotildees em circulaccedilatildeo e de direitos e deveres na Rede Ao

mesmo tempo a proteccedilatildeo da privacidade eacute um ponto-chave que se coloca como

fundamental em qualquer tipo de regulaccedilatildeo que se aplique A salvaguarda dos dados

pessoais dos usuaacuterios mostra-se como a dimensatildeo da regulaccedilatildeo que atravessa todos os

espaccedilos de interaccedilatildeo da Internet

125

O combate ao uso de softwares como os P2Prsquos ilustra o desejo das induacutestrias de

derrubar certas tecnologias mais eficientes mas que ameaccedilam seu poderio A tecnologia

natildeo pode nem deve ser usada contra seus proacuteprios avanccedilos Antes esses avanccedilos devem

ser adaptados agraves novas necessidades de mercado que as plataformas digitais criaram

Softwares P2P podem perfeitamente ser utilizados para consumo de muacutesicas filmes etc

de maneira que respeite os direitos de autor Basta que tais mecanismos sejam implantados

dentro de um novo sistema de vendas mais justo e equilibrado que combine larga oferta

legal e preccedilos que estejam ao alcance das pessoas

O remix mesmo que feito com autorizaccedilatildeo e devida identificaccedilatildeo das fontes

utilizadas tambeacutem eacute uma praacutetica condenada pela induacutestria e pelas sociedades de gestatildeo

coletivas de direitos Poreacutem haacute que reconhecer como afirma Ronaldo Lemos que a

premissa lavoisiana de que ldquonada se cria tudo se transformardquo eacute a essecircncia da nossa

natureza cultural Poder citar e incorporar outras criaccedilotildees em uma nova eacute requisito para a

criatividade e para que o conhecimento e a cultura avancem (Lemos 2012)

Infelizmente o mundo da criaccedilatildeo eacute refeacutem de um impeacuterio legislativo de

autorizaccedilotildees mesmo quando o autor libera o uso de suas obras A burocracia para se

conseguir permissatildeo para o uso de uma obra intelectual ainda eacute uma via crucis Esta

situaccedilatildeo eacute antinatural e sistemas legislativos que funcionam assim natildeo fomentam a

criatividade tem exatamente o efeito inverso Eacute preciso desburocratizar os sistemas de

gestatildeo de patentes e de propriedade intelectual formulando regimes de exceccedilatildeo para

paiacuteses subdesenvolvidos para que estes tambeacutem tenham condiccedilotildees de avanccedilar em mateacuteria

de inovaccedilatildeo

Agrave eacutepoca da abertura das discussotildees para a reforma da Lei do Direito Autoral

(LDA) no Brasil acadecircmicos artistas escritores e membros da sociedade civil de diversos

ramos de atuaccedilatildeo profissional fizeram circular na Internet a ldquoCarta de Satildeo Paulo pelo

Acesso a Bens Culturaisrdquo um abaixo-assinado de apoio agrave reforma legislativa No texto

condena-se a vigilacircncia e o controlo das atividades dos usuaacuterios na Internet ndash o que

representa uma agressatildeo agrave privacidade e ao direito de acesso agrave informaccedilatildeo e agrave

comunicaccedilatildeo atraveacutes da Rede Antes aponta-se que eacute preciso reformar a legislaccedilatildeo autoral

em vigor de maneira a adaptaacute-la agraves accedilotildees de democratizaccedilatildeo do saber possibilitadas pela

Internet

126

[] tem-se defendido que o controlo da troca de arquivos na Internet seja feito por

meio do monitoramento do cidadatildeo no seu acesso agrave Rede Isso somente poderia ocorrer

atraveacutes da violaccedilatildeo do direito agrave privacidade e com severas ameaccedilas agrave liberdade de

expressatildeo e de comunicaccedilatildeo Entendemos que esse natildeo eacute o melhor caminho e que a reforma da lei deve ser realista face agraves novas tecnologias e praacuteticas sociais (CARTA

DE SAtildeO PAULO PELO ACESSO A BENS CULTURAIS 2010)

O Direito precisa acompanhar a evoluccedilatildeo da tecnologia Em um contexto em que

boa parte da populaccedilatildeo age de forma contraacuteria ao que diz a lei eacute necessaacuterio discutir o

descompasso entre o Direito e a sociedade para realizar as transformaccedilotildees necessaacuterias nos

diplomas juriacutedicos As puniccedilotildees severas e o endurecimento das leis natildeo vatildeo acabar com a

praacutetica da partilha de bens culturais em rede Haacute uma relaccedilatildeo direta entre o aumento da

oferta de conteuacutedo legal a preccedilos acessiacuteveis e a diminuiccedilatildeo da pirataria Portanto eacute preciso

rediscutir os modelos de negoacutecio solidificados ndash uma atitude que contraria os interesses

das induacutestrias mas eacute necessaacuteria para sua proacutepria sobrevivecircncia

A luta contra quaisquer usos comerciais da obra sem autorizaccedilatildeo de seu titular de

direitos eacute perfeitamente legiacutetima O que precisa ser feito eacute reequilibrar a posiccedilatildeo do autor

face aos intermediaacuterios culturais de forma a potencializar as alternativas de produzir

distribuir e comercializar suas obras diretamente atraveacutes das novas tecnologias Este

equiliacutebrio conferiria maior autonomia e independecircncia econocircmica aos autores permitindo

alargar as fronteiras ainda muito limitadas do mercado de bens culturais Eacute necessaacuterio criar

e aplicar sistemas que devolvam aos autores o poder sobre suas proacuteprias obras para que

estas sejam licenciadas reproduzidas e comercializadas como eles desejarem O futuro dos

direitos de autor estaacute na promoccedilatildeo de ligaccedilotildees mais diretas entre autor e puacuteblico e na

transformaccedilatildeo do papel dos intermediaacuterios na economia criativa

127

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internetphpgt

Acedido em 07 de Marccedilo de 2012

ISCTE Projecto Ciberfaces 2000 Resultados do 1ordm inqueacuterito nacional sobre a Internet

em Portugal

URLlthttpciberfacesiscteptptdocumentosinq1-res1indexhtmlgt

Acedido em 11 de Abril de 2012

ldquoJornal francecircs lsquoLe Figarorsquo passa a cobrar por conteuacutedo on-linerdquo Folha de S Paulo 16 de

Fevereiro de 2010

URLlthttpwww1folhauolcombrfolhainformaticault124u694818shtmlgt

Acedido em 03 de Fevereiro de 2012

ldquoJusticcedila prorroga prazo para debate sobre Marco Civil na Internetrdquo Agecircncia Brasil 23 de

Maio de 2010

URLlthttpultimainstanciauolcombrconteudonoticias46764justica+prorrog

a+prazo+para+debate+sobre+marco+civil+na+internetshtmlgt

Acedido em 05 de Marccedilo de 2012

ldquoLei Sinde entraraacute em vigor em Marccedilordquo Link 15 de Fevereiro de 2012

URLlthttpblogsestadaocombrlinklei-sinde-entrara-em-vigor-em-marcogt

Acedido em 12 de Marccedilo de 2012

Meacuteceacutenat Global 2009 Introduction

URLlthttpmecenatglobalorgindex-frhtmlgt

Acedido em 12 de Junho de 2012

ldquoNaccedilotildees Unidas reconhecem o direito agrave liberdade de expressatildeo na Internetrdquo Puacuteblico 06

de Julho de 2012

URLlthttpwwwpublicoptTecnologianacoes-unidas-reconhecem-o-direito-a-

liberdade-de-expressao-na-internet-1553694gt

Acedido em 06 de Julho de 2012

ldquoNova lei de direitos autorais retrocessordquo Link 04 de Dezembro de 2011

URLlthttpblogsestadaocombrlinkretrocessogt

Acedido em 22 de Marccedilo de 2012

138

ldquo lsquoOu aprendemos a programar ou seremos programadosrsquo diz cientistardquo G1 17 de Junho

de 2012

URLlthttpg1globocomnaturezario20noticia201206ou-aprendemos-

programar-ou-seremos-programados-diz-cientistahtmlgt

Acedido em 04 de Julho de 2012

ldquoPara 4 em cada 5 pessoas Internet eacute direito fundamental diz pesquisardquo BBC Brasil 08

de Marccedilo de 2010

URLlthttpwwwbbccoukportugueselgnoticias201003100307_pesquisabbc

_internetmlshtmlsgt

Acedido em 07 de Junho de 2012

ldquoPirataria pode lsquomatar a culturarsquo diz MinCrdquo Link 21 de Marccedilo de 2012

URLlthttpblogsestadaocombrlinkpirataria-pode-matar-a-cultura-brasileira-

diz-mincgt

Acedido em 21 de Marccedilo de 2012

Peticcedilatildeo puacuteblica contra o PL118

URLlthttpwwwpeticaopublicacomPeticaoVeraspxpi=pl118naogt

Acedido em 10 de Fevereiro de 2012

ldquoSociedade civil mobiliza-se contra a Lei Azeredordquo 2008 Observatoacuterio do Direito agrave

Comunicaccedilatildeo 30 de Julho de 2008

URLlthttpwwwdireitoacomunicacaoorgbrcontentphpoption=com_content

amptask=viewampid=3791gt

Acedido em 21 de Abril de 2012

ldquoVendas de jornais diaacuterios caem 76rdquo Diaacuterio de Notiacutecias 01 de Setembro de 2009

URLlthttpwwwdnptiniciotvinterioraspxcontent_id=1349762ampseccao=Me

diagt Acedido em 23 de Janeiro de 2012

Vuze 2008 First Results from Vuze Network Monitoring Tool

Released April 18th 2008

URLlthttptorrentfreakcomimagesvuze-plug-in-resultspdfgt

Acedido em 18 de Marccedilo de 2012

Legislaccedilotildees e outros documentos oficiais

Assembleia da Repuacuteblica 1985 Coacutedigo do Direito de Autor e dos Direitos Conexos

Decreto-Lei nordm 6385 de 14 de Marccedilo

URLlthttpwwwspautoresptassets_live165codigododireitodeautorcdadclei16

2008pdfgt

Acedido em 21 de Abril de 2012

Assembleia da Repuacuteblica 1998 Lei nordm 6298 de 1 de Setembro Regula o disposto no

artigo 82ordm do Coacutedigo do Direito de Autor e dos Direitos Conexos sobre a

compensaccedilatildeo devida pela reproduccedilatildeo ou gravaccedilatildeo de obras

139

URLlthttpwwwspautoresptassets_live115lei62-98leidacopiaprivadapdfgt

Acedido em 07 de Abril de 2012

Assembleia da Repuacuteblica 2004 Lei nordm 502004 de 24 de Agosto Transpotildee para a ordem

juriacutedica nacional a Directiva nordm 200129CE do Parlamento Europeu e do

Conselho de 22 de Maio relativa agrave harmonizaccedilatildeo de certos aspectos do direito

de autor e dos direitos conexos na sociedade de informaccedilatildeo (quinta alteraccedilatildeo ao

Coacutedigo do Direito de Autor e dos Direitos Conexos e primeira alteraccedilatildeo agrave Lei nordm

6298 de 1 de Setembro)

URLlthttpappparlamentoptwebutilsdocsdocpdfpath=6148523063446f764

c3246795a5868774d546f334e7a67774c325276593342734c58526c65485242634

84a76646938794d4441304c3078664e5442664d6a41774e4335775a47593dampfich

=L_50_2004pdfampInline=truegt

Acedido em 16 de Abril de 2012

Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas 1948 Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos Humanos

URLlthttpportalmjgovbrsedhctlegis_internddh_bib_inter_universalhtmgt

Acedido em 07 de Junho de 2012

Autoridade Nacional de Comunicaccedilotildees (ANACOM) 2004 O comeacutercio electroacutenico em

Portugal o quadro legal e o negoacutecio

URLlthttpwwwanacomptstreamingmanual_comercio_elecpdfcategoryId=

103880ampcontentId=178219ampfield=ATTACHED_FILEgt

Acedido em 03 de Julho de 2012

Commission nationale de linformatique et des liberteacutes (CNIL) 1978 Loi du 6 janvier

1978 relative agrave lrsquoinformatique aux archives et aux liberteacutes

URLlthttpwwwcnilfrfileadmindocumentsapprofondirtextesCNIL-78-

17_definitive-annoteepdfgt

Acedido em 03 de Fevereiro de 2012

Conferecircncia Especializada Interamericana sobre Direitos Humanos 1969 Convenccedilatildeo

Americana de Direitos Humanos

URLlthttpwwwpgespgovbrcentrodeestudosbibliotecavirtualinstrumentoss

anjosehtmgt

Acedido em 07 de Junho e 2012

Congresso Nacional 2011 Projeto de Lei 21262011 Estabelece princiacutepios garantias

direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil

URLlthttpwwwcamaragovbrproposicoeswebfichadetramitacaoidProposica

o=517255gt

Acedido em 21 de Abril de 2012

Conselho Europeu 1991 Directiva ndeg 91250CEE do Conselho de 14 de Maio de 1991

relativa agrave protecccedilatildeo juriacutedica dos programas de computador

URLlthttpeur-

lexeuropaeuLexUriServLexUriServdouri=CELEX31991L0250PTHTMLgt

Acedido em 17 de Fevereiro de 2012

140

Convenccedilatildeo Universal sobre Direito de Autor 1952

URLlthttpwwwculturagovbrsitewp-

contentuploads200802convencao_universalpdfgt

Acedido em 21 de Abril de 2012

Ministeacuterio da Justiccedila do Brasil e Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas (FGV) 2009 Marco Civil da

Internet seus direitos e deveres em discussatildeo

URL lthttpculturadigitalbrmarcocivilgt

Acedido em 03 de Marccedilo de 2012

Monarquia Portuguesa 1826 Carta Constitucional de 29 de Abril de 1826

URLlthttpwwwfdunlptAnexosInvestigacao1557pdfgt

Acedido em 08 de Fevereiro de 2012

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas 2004 Cimeira Mundial sobre a Sociedade da

Informaccedilatildeo (WSIS)

URLlthttpwwwituintwsisdocumentsdoc_multiasplang=enampid=1161|1160

gt

Acedido em 21 de Abril de 2012

Parlamento Europeu e Conselho 2006 Directiva nordm 9398CEE do Conselho de 29 de

Outubro de 1993 relativa agrave harmonizaccedilatildeo do prazo de protecccedilatildeo dos direitos de

autor e de certos direitos conexos

URLlthttpeur-

lexeuropaeuLexUriServLexUriServdouri=CELEX32006L0116PTHTMLgt

Acedido em 17 de Fevereiro de 2012

Presidecircncia da Repuacuteblica Federativa do Brasil 1827 Lei de 11 de Agosto de 1827 Crecirca

dous Cursos de sciencias Juridicas e Sociaes um na cidade de S Paulo e outro

na de Olinda

URLlthttpwwwplanaltogovbrccivil_03revistaRev_63Lei_1827htmgt

Acedido em 03 de Marccedilo de 2012

Presidecircncia da Repuacuteblica Federativa do Brasil 1998 Lei 9610 de 19 de Fevereiro de

1998 Altera atualiza e consolida a legislaccedilatildeo sobre direitos autorais e daacute outras

providecircncias

URLlthttpwwwculturagovbrsite20080202lei-no-9610-de-19-de-fevereiro-

de-1998gt

Acedido em 21 de Abril de 2012

Reacutepublique Franccedilaise et Ministegravere de la Culture et de la Communication 2008 Projet de

Loi Favorisant la Diffusion et la Protection de la Creacuteation sur Internet

URLlthttpwwwculturegouvfrcultureactualitesdossiersinternet-

creation08620-20Projet20de20loipdfgt

Acedido em 26 de Marccedilo de 2012

Senado Federal 2003 Projeto de Lei Substitutivo ao PL da Cacircmara nordm 89 de 2003 e

Projetos de Lei do Senado nordm 137 de 2000 e nordm 76 de 2000 todos referentes a

crimes na aacuterea de informaacutetica

URLlthttpwwwsafernetorgbrsiteinstitucionalprojetosobslegpl-azeredogt

141

Acedido em 21 de Abril de 2012

142

143

ANEXOS

144

145

ANEXO 1

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

146

M I N U T A D E A N T E P R O J E T O D E L E I P A R A D E B A T E C O L A B O R A T I V O S E Ccedil Atilde O I V R E V IS A D A

Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministeacuterio da Justiccedila

Esplanada dos Ministeacuterios Edifiacutecio Sede Sala 434 Brasiacutelia shy DF

httpculturadigitalbrmarcocivil

marcocivildainternetmjgovbr

identica twitter marcocivil

1

147

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

Brasiacutelia maio de 2010

2

148

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

APRESENTACcedilAtildeO

O debate sobre o marco civil eacute um debate aberto e colaborativo As opiniotildees dos

usuaacuterios satildeo levadas em consideraccedilatildeo natildeo soacute com o intuito de identificar as tendecircncias dos interesses da sociedade como tambeacutem em busca de refinamento das ideacuteias mecanismos e redaccedilotildees propostas O processo eacute incremental enriqueceshyse e aperfeiccediloashyse com a contribuiccedilatildeo de cada usuaacuterio refletindo a diversidade de interesses e perspectivas

Mais de 1500 comentaacuterios e contribuiccedilotildees foram recebidos ao longo das uacuteltimos

cinco meses E com o intuito de organizar ideacuteias e facilitar a necessaacuteria participaccedilatildeo nesta uacuteltima fase do processo o Marco Civil apresenta seu primeiro ldquobalanccedilordquo trazendo as principais propostas de alteraccedilatildeo do texto inicial

Ateacute o momento a necessidade de ajustes pontuais ndash seja na redaccedilatildeo seja nos conceitos ndash foi muito bem apontada pelos usuaacuterios as adequaccedilotildees pertinentes seratildeo gradualmente integradas agrave minuta em debate Temas como o tempo de guarda de registros de conexatildeo e a inclusatildeo de diretrizes relativas agrave educaccedilatildeo digital tambeacutem permearam as manifestaccedilotildees e serviratildeo para a maturaccedilatildeo do texto final

Os toacutepicos mais debatidos poreacutem dizem respeito agrave proposta de mecanismo voluntaacuterio que permite que os provedores de serviccedilos de internet sejam isentos de responsabilidade quanto a conteuacutedo publicado por terceiros No desenho apresentado a proposta inicial coloca como condiccedilatildeo para esta isenccedilatildeo a adoccedilatildeo voluntaacuteria de um mecanismo de resposta a notificaccedilotildees extrajudiciais ndash tanto daquele que se sente prejudicado quanto daquele que deseja identificandoshyse garantir a permanecircncia de seu conteuacutedo publicado

No entanto variadas manifestaccedilotildees ndash tanto no espaccedilo de debate aberto deste

site quanto em diversos espaccedilos fora dele ndash apontaram as dificuldades de implementaccedilatildeo de um mecanismo desta natureza em particular sobre os eventuais riscos a direitos constitucionalmente garantidos Tais manifestaccedilotildees sem duacutevida possuem fundamento e foram levadas em consideraccedilatildeo

Diante disso e com o intuito de dar um passo adiante no debate apresentamos novas

propostas de redaccedilatildeo para os artigos 20 a 24 que versam sobre a remoccedilatildeo de conteuacutedo gerado por terceiro

3

149

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

Minuta de anteprojeto de lei para debate colaborativo

SECcedilAtildeO IV REVISADA

Estabelece o Marco Civil da Internet no Brasil

O C O N G R E SS O N A C I O N A L decreta

C A P Iacute T U L O I D ISP O SI Ccedil Otilde E S P R E L I M I N A R E S

A r t 1ordm

Esta Lei estabelece direitos e deveres relativos ao uso da Internet no Brasil e determina

as diretrizes para atuaccedilatildeo da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios

em relaccedilatildeo agrave mateacuteria

A r t 2ordm

A disciplina do uso da Internet no Brasil tem como fundamentos o reconhecimento da

escala mundial da rede o exerciacutecio da cidadania em meios digitais os direitos humanos

a pluralidade a diversidade a abertura a livre iniciativa a livre concorrecircncia e a

colaboraccedilatildeo e observaraacute os seguintes princiacutepios

I ndash garantia da liberdade de expressatildeo comunicaccedilatildeo e manifestaccedilatildeo de pensamento

II ndash proteccedilatildeo da privacidade

III ndash proteccedilatildeo aos dados pessoais na forma da lei

IV ndash preservaccedilatildeo e garantia da neutralidade da rede

V ndash preservaccedilatildeo da estabilidade seguranccedila e funcionalidade da rede por meio de

medidas teacutecnicas compatiacuteveis com os padrotildees internacionais e pelo estiacutemulo ao uso de

boas praacuteticas e

VI ndash preservaccedilatildeo da natureza participativa da rede

Paraacutegrafo uacutenico Os princiacutepios expressos nesta Lei natildeo excluem outros previstos no

ordenamento juriacutedico paacutetrio relacionados agrave mateacuteria ou nos tratados internacionais em

que a Repuacuteblica Federativa do Brasil seja parte

A r t 3ordm

4

150

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

A disciplina do uso da Internet no Brasil tem os seguintes objetivos

I ndash garantir a todos os cidadatildeos o acesso agrave Internet

II ndash promover o acesso agrave informaccedilatildeo ao conhecimento e agrave participaccedilatildeo na vida cultural

III ndash fortalecer a livre iniciativa e a livre concorrecircncia

IV ndash promover a inovaccedilatildeo e fomentar a ampla difusatildeo de novas tecnologias e modelos

de uso e acesso e

V ndash promover a padronizaccedilatildeo a acessibilidade e a interoperabilidade a partir do uso de

padrotildees abertos

A r t 4ordm

Para os efeitos desta Lei considera-se

I ndash Internet o conjunto de meios de transmissatildeo comutaccedilatildeo e roteamento de dados

estruturados em escala mundial bem como os protocolos necessaacuterios agrave comunicaccedilatildeo

entre terminais incluiacutedos ainda os programas de computador especiacuteficos para esse fim

II ndash terminal computador ou dispositivo anaacutelogo que se conecte agrave Internet

III ndash administrador de sistema autocircnomo pessoa juriacutedica devidamente cadastrada junto

ao Registro de Endereccedilamento da Internet para Ameacuterica Latina e Caribe (LACNIC)

responsaacutevel por blocos especiacuteficos de nuacutemero IP (Internet protocol) e por um conjunto

de roteadores redes e linhas de comunicaccedilatildeo pela Internet que formem uma

infraestrutura delimitada por protocolos e meacutetricas comuns

IV ndash conexatildeo agrave Internet autenticaccedilatildeo de um terminal para envio e recebimento de

pacotes de dados pela Internet mediante a atribuiccedilatildeo de um nuacutemero IP

V ndash registro de conexatildeo o conjunto de informaccedilotildees referentes agrave data e hora de iniacutecio e

teacutermino de uma conexatildeo agrave Internet sua duraccedilatildeo e o nuacutemero IP utilizado pelo terminal

para o recebimento de pacotes de dados

VI ndash serviccedilos de Internet conjunto de serviccedilos diversos que podem ser acessados por

meio de um terminal conectado agrave Internet como por exemplo navegaccedilatildeo comunicaccedilatildeo

5

151

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

instantacircnea envio e recebimento de correspondecircncia eletrocircnica publicaccedilatildeo de obras

textuais ou audiovisuais em formato digital entre outros

VII ndash registros de acesso a serviccedilos de Internet o conjunto de informaccedilotildees referentes agrave

data e hora de uso de um determinado serviccedilo de Internet a partir de um determinado

nuacutemero IP

A r t 5ordm

Na interpretaccedilatildeo desta Lei levar-se-atildeo em conta aleacutem dos fundamentos princiacutepios e

objetivos previstos a natureza da Internet seus usos e costumes particulares e sua

importacircncia para a promoccedilatildeo do desenvolvimento humano econocircmico social e

cultural as exigecircncias do bem comum e os direitos e deveres individuais e

transindividuais

C A P Iacute T U L O I I

D O S D I R E I T O S E G A R A N T I A S D O S USU Aacute R I O S A r t 6ordm O acesso agrave Internet eacute direito do cidadatildeo fundamental ao exerciacutecio da cidadania agraves

liberdades de manifestaccedilatildeo do pensamento e de expressatildeo e agrave garantia do acesso agrave

informaccedilatildeo

A r t 7ordm

O usuaacuterio de Internet tem direito

I ndash agrave inviolabilidade e ao sigilo de suas comunicaccedilotildees salvo por ordem judicial nas

hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigaccedilatildeo criminal ou

instruccedilatildeo processual penal

II ndash agrave natildeo suspensatildeo ou degradaccedilatildeo da qualidade contratada da conexatildeo agrave Internet nos

termos do art 12 salvo por deacutebito diretamente decorrente de sua utilizaccedilatildeo

III ndash a informaccedilotildees claras e completas constantes dos contratos de prestaccedilatildeo de serviccedilos

estabelecendo o regime de proteccedilatildeo aos seus dados pessoais registros de conexatildeo e

registros de acesso a serviccedilos de Internet bem como sobre praacuteticas de gerenciamento da

rede que possam afetar a qualidade do serviccedilo oferecido e

6

152

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

IV ndash agrave natildeo divulgaccedilatildeo ou uso de seus registros de conexatildeo e registros de acesso a

serviccedilos de Internet salvo mediante seu consentimento expresso ou em decorrecircncia de

determinaccedilatildeo judicial

A r t 8ordm

A garantia do direito agrave privacidade e agrave liberdade de expressatildeo nas comunicaccedilotildees eacute

condiccedilatildeo para o pleno exerciacutecio do direito de acesso agrave Internet

Paraacutegrafo uacutenico O exerciacutecio do direito agrave privacidade e agrave liberdade de expressatildeo autoriza

aos usuaacuterios da Internet a livre opccedilatildeo por medidas de seguranccedila direcionadas a

salvaguardar a proteccedilatildeo de dados pessoais e o sigilo das comunicaccedilotildees

C A P Iacute T U L O I I I

A P R O V IS Atilde O D E C O N E X Atilde O E D E S E R V I Ccedil O S D E I N T E R N E T Seccedilatildeo I

D isposiccedilotildees G e r ais

A r t 9ordm

A provisatildeo de conexatildeo agrave Internet impotildee a obrigaccedilatildeo de guardar apenas os registros de

conexatildeo nos termos da Subseccedilatildeo I da Seccedilatildeo III deste Capiacutetulo ficando vedada a guarda

de registros de acesso a serviccedilos de Internet pelo provedor

Paraacutegrafo uacutenico O provedor de conexatildeo a Internet fica impedido de monitorar filtrar

analisar ou fiscalizar o conteuacutedo dos pacotes de dados salvo para administraccedilatildeo teacutecnica

de traacutefego nos termos do art 12

A r t 10

A provisatildeo de serviccedilos de Internet onerosa ou gratuita natildeo impotildee ao provedor a

obrigaccedilatildeo de monitorar filtrar analisar ou fiscalizar o conteuacutedo dos pacotes de dados

tampouco de guardar registros de acesso a serviccedilos de Internet salvo em qualquer dos

casos por ordem judicial especiacutefica observado o disposto no art 18

Paraacutegrafo uacutenico Para efeitos deste dispositivo os usuaacuterios que detenham poderes de

moderaccedilatildeo sobre o conteuacutedo de terceiros se equiparam aos provedores de serviccedilos de

Internet

A r t 11

7

153

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

A responsabilizaccedilatildeo do provedor de serviccedilos de Internet por danos decorrentes de

conteuacutedo gerado por terceiros fica condicionada ao descumprimento dos procedimentos

previstos na Seccedilatildeo IV deste Capiacutetulo

Seccedilatildeo I I

Do t r aacutefego de dados

A r t 12

O responsaacutevel pela transmissatildeo comutaccedilatildeo ou roteamento tem o dever de tratar de

forma isonocircmica quaisquer pacotes de dados conteuacutedo serviccedilo terminal ou aplicativo

sendo vedado estabelecer qualquer discriminaccedilatildeo ou degradaccedilatildeo do traacutefego que natildeo

decorra de requisitos teacutecnicos destinados a preservar a qualidade contratual do serviccedilo

Seccedilatildeo I I I

Dos r egist ros de dados

Subseccedilatildeo I

D a gua r da de r egist ros de conexatildeo

A r t 13

A guarda e a disponibilizaccedilatildeo dos registros de conexatildeo a que esta lei faz referecircncia

devem atender agrave preservaccedilatildeo da intimidade vida privada honra e imagem das partes

direta ou indiretamente envolvidas

A r t 14

A provisatildeo de conexatildeo agrave Internet impotildee ao administrador do sistema autocircnomo

respectivo o dever de manter os registros de conexatildeo sob sigilo em ambiente

controlado e de seguranccedila pelo prazo maacuteximo de 6 (seis) meses nos termos do

regulamento

Paraacutegrafo uacutenico O dever de manter os registros de conexatildeo natildeo poderaacute ser transferido

A r t 15

8

154

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

Na guarda de registros de conexatildeo

I ndash os registros de conexatildeo somente poderatildeo ser fornecidos a terceiros mediante ordem

judicial ou por autorizaccedilatildeo preacutevia e expressa do respectivo usuaacuterio

II ndash os dados cadastrais somente poderatildeo ser disponibilizados de maneira vinculada aos

registros de conexatildeo mediante ordem judicial e

III ndash as medidas e procedimentos de seguranccedila e sigilo dos registros de conexatildeo e dos

dados cadastrais devem ser informados de forma clara aos usuaacuterios

Paraacutegrafo uacutenico Os procedimentos de seguranccedila necessaacuterios agrave preservaccedilatildeo do sigilo e

da integridade dos registros de conexatildeo e dos dados cadastrais referidos neste artigo

deveratildeo atender a padrotildees adequados a serem definidos por meio de regulamento

Subseccedilatildeo I I

D a gua r da de r egist ros de acesso a se r viccedilos de I nte r net

A r t 16

A guarda de registros de acesso a serviccedilos de Internet dependeraacute de autorizaccedilatildeo

expressa do usuaacuterio e deveraacute obedecer ao que segue sem prejuiacutezo agraves demais normas e

diretrizes relativas agrave proteccedilatildeo de dados pessoais

I ndash informaccedilatildeo preacutevia ao usuaacuterio sobre a natureza finalidade periacuteodo de conservaccedilatildeo

poliacuteticas de seguranccedila e destinaccedilatildeo das informaccedilotildees guardadas facultando-lhe o acesso

retificaccedilatildeo e atualizaccedilatildeo sempre que solicitado

II ndash consentimento livre e informado do usuaacuterio previamente ao tratamento agrave

distribuiccedilatildeo a terceiros ou agrave publicaccedilatildeo das informaccedilotildees coletadas e

III ndash os dados que permitam a identificaccedilatildeo do usuaacuterio somente poderatildeo ser

disponibilizados de maneira vinculada aos registros de acesso a serviccedilos de Internet

mediante ordem judicial

A r t 17

Os danos causados aos titulares de dados pessoais devem ser reparados nos termos da

lei

Subseccedilatildeo I I I

D a p roteccedilatildeo ao sigilo das comunicaccedilotildees pela I nte r net

9

155

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

A r t 18

Os procedimentos de interceptaccedilatildeo escuta ou disponibilizaccedilatildeo de conteuacutedo das

comunicaccedilotildees pela Internet somente poderatildeo ocorrer para fins de persecuccedilatildeo penal e

seratildeo regulados pela lei que trata da interceptaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo telefocircnica e dados

telemaacuteticos

Seccedilatildeo I V

D a r emoccedilatildeo de conteuacutedo

A r t 19

O provedor de conexatildeo agrave Internet natildeo seraacute responsabilizado por danos decorrentes de

conteuacutedo gerado por terceiros

A r t 20

O provedor de serviccedilo de Internet somente poderaacute ser responsabilizado por danos

decorrentes de conteuacutedo gerado por terceiros se for notificado pelo ofendido e natildeo

tomar as providecircncias para no acircmbito do seu serviccedilo e dentro de prazo razoaacutevel tornar

indisponiacutevel o conteuacutedo apontado como infringente

sect 1ordm Os provedores de serviccedilos de Internet devem oferecer de forma ostensiva ao

menos um canal eletrocircnico dedicado ao recebimento de notificaccedilotildees e

contranotificaccedilotildees

sect 2ordm Eacute facultado ao provedor de serviccedilos de Internet criar mecanismo automatizado

para atender aos procedimentos dispostos nesta Seccedilatildeo

P R O P O S T A D E N O V A R E D A Ccedil Atilde O

O provedor de serviccedilo de internet somente poderaacute ser responsabilizado por danos

decorrentes de conteuacutedo gerado por terceiros se apoacutes intimado para cumprir ordem

judicial a respeito natildeo tomar as providecircncias para no acircmbito do seu serviccedilo e dentro do

prazo assinalado tornar indisponiacutevel o conteuacutedo apontado como infringente

A r t 21

1

156

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

A notificaccedilatildeo de que trata o art 20 deveraacute conter sob pena de invalidade

I ndash identificaccedilatildeo do notificante incluindo seu nome completo seus nuacutemeros de registro

civil e fiscal e dados atuais para contato

II ndash data e hora de envio

III ndash identificaccedilatildeo clara e especiacutefica do conteuacutedo apontado como infringente que

permita a localizaccedilatildeo inequiacutevoca do material pelo notificado

IV ndash descriccedilatildeo da relaccedilatildeo entre o notificante e o conteuacutedo apontado como infringente e

V ndash justificativa juriacutedica para a remoccedilatildeo

P R O P O S T A D E N O V A R E D A Ccedil Atilde O

A intimaccedilatildeo de que trata o art 20 deveraacute conter sob pena de invalidade

I ndash identificaccedilatildeo da parte que solicitou a remoccedilatildeo do conteuacutedo incluindo seu nome

completo seus nuacutemeros de registro civil e fiscal e dados atuais para contato

II ndash identificaccedilatildeo clara e especiacutefica do conteuacutedo apontado como infringente que permita

a localizaccedilatildeo inequiacutevoca do material

III ndash descriccedilatildeo da relaccedilatildeo existente entre a parte solicitante e o conteuacutedo apontado como

infringente

IV ndash justificativa juriacutedica para a remoccedilatildeo

A r t 22

Ao tornar indisponiacutevel o acesso ao conteuacutedo caberaacute ao provedor do serviccedilo informar o

fato ao usuaacuterio responsaacutevel pela publicaccedilatildeo comunicando-lhe o teor da notificaccedilatildeo de

remoccedilatildeo e fixando prazo razoaacutevel para a eliminaccedilatildeo definitiva do conteuacutedo

Paraacutegrafo uacutenico Caso o usuaacuterio responsaacutevel pelo conteuacutedo infringente natildeo seja

identificaacutevel ou natildeo possa ser localizado e desde que presentes os requisitos de

validade da notificaccedilatildeo cabe ao provedor de serviccedilo manter o bloqueio

P R O P O S T A D E N O V A R E D A Ccedil Atilde O

Ao tornar indisponiacutevel o acesso ao conteuacutedo caberaacute ao provedor do serviccedilo informar o

fato ao usuaacuterio responsaacutevel pela publicaccedilatildeo comunicando-lhe o teor da intimaccedilatildeo nos

1

157

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

casos em que o usuaacuterio responsaacutevel seja identificaacutevel

A r t 23

Eacute facultado ao usuaacuterio responsaacutevel pela publicaccedilatildeo observados os requisitos do art 21

contranotificar o provedor de serviccedilo requerendo a manutenccedilatildeo do conteuacutedo e

assumindo a responsabilidade exclusiva pelos eventuais danos causados a terceiros

caso em que caberaacute ao provedor de serviccedilo o dever de restabelecer o acesso ao conteuacutedo

indisponibilizado e informar ao notificante o restabelecimento

Paraacutegrafo uacutenico Qualquer outra pessoa interessada fiacutesica ou juriacutedica observados os

requisitos do art 21 poderaacute contranotificar o prestador de serviccedilo assumindo a

responsabilidade pela manutenccedilatildeo do conteuacutedo

P R O P O S T A D E N O V A R E D A Ccedil Atilde O

Os usuaacuterios que detenham poderes de moderaccedilatildeo sobre o conteuacutedo de terceiros se

equiparam aos provedores de serviccedilos de Internet para efeitos do disposto nesta Seccedilatildeo

A r t 24

Tanto o notificante quanto o contranotificante respondem nos termos da lei por

informaccedilotildees falsas errocircneas e pelo abuso ou maacute-feacute

P R O P O S T A D E SU P R E SS Atilde O

A r t 25

Os usuaacuterios que detenham poderes de moderaccedilatildeo sobre o conteuacutedo de terceiros se

equiparam aos provedores de serviccedilos de Internet para efeitos do disposto nesta Seccedilatildeo

Seccedilatildeo V

D a r equisiccedilatildeo j udicial de r egist ros

1

158

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

A r t 26

A parte interessada poderaacute para o exclusivo propoacutesito de formar conjunto probatoacuterio

em processo judicial requerer ao juiz a expediccedilatildeo de requisiccedilatildeo solicitando ao

responsaacutevel pela guarda o fornecimento de registros de conexatildeo ou de acesso a serviccedilo

de Internet

Paraacutegrafo uacutenico No requerimento de requisiccedilatildeo judicial a parte deveraacute fazer constar

I ndash a descriccedilatildeo pormenorizada de indiacutecios razoaacuteveis da ocorrecircncia do iliacutecito

II ndash a justificativa motivada da utilidade dos registros solicitados para fins de

investigaccedilatildeo do iliacutecito e

III ndash periacuteodo ao qual se referem os registros

A r t 27

A requisiccedilatildeo judicial de fornecimento de registros obedeceraacute aos ritos processuais

cabiacuteveis observado o que segue

sect 1ordm A requisiccedilatildeo de fornecimento de registros de acesso a serviccedilos de Internet fica

sujeita agrave comprovaccedilatildeo de que o responsaacutevel manteacutem a guarda com a autorizaccedilatildeo

expressa dos usuaacuterios obedecido o disposto no art 16

sect 2ordm Caso o fornecimento dos registros de acesso a serviccedilos de Internet natildeo seja

necessaacuterio para os fins da investigaccedilatildeo cabe ao juiz limitar a requisiccedilatildeo apenas ao

fornecimento dos registros de conexatildeo

sect 3ordm Cabe ao juiz tomar as providecircncias necessaacuterias agrave garantia do sigilo do conteuacutedo

das comunicaccedilotildees e agrave preservaccedilatildeo da intimidade vida privada honra e imagem do

usuaacuterio podendo inclusive determinar o segredo de justiccedila em relaccedilatildeo agraves informaccedilotildees

recebidas

C A P Iacute T U L O I V

D A A T U A Ccedil Atilde O D O P O D E R P Uacute B L I C O A r t 28 Constituem diretrizes para a atuaccedilatildeo da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos

Municiacutepios no desenvolvimento da Internet no Brasil

I ndash estabelecimento de mecanismos de governanccedila transparentes colaborativos e

democraacuteticos com a participaccedilatildeo dos vaacuterios setores da sociedade

II ndash promoccedilatildeo da racionalizaccedilatildeo e da interoperabilidade tecnoloacutegica dos serviccedilos de

1

159

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

governo eletrocircnico nos diferentes niacuteveis da federaccedilatildeo para permitir o intercacircmbio de

informaccedilotildees e a agilizaccedilatildeo de procedimentos

III ndash promoccedilatildeo da interoperabilidade entre sistemas e terminais diversos inclusive entre

os diferentes niacuteveis federativos e diversos setores da sociedade

IV ndash adoccedilatildeo preferencial de tecnologias padrotildees e formatos abertos

V ndash publicizaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de dados e informaccedilotildees puacuteblicos de forma aberta e

estruturada

VI ndash otimizaccedilatildeo da infraestrutura das redes promovendo a qualidade teacutecnica a

inovaccedilatildeo e a disseminaccedilatildeo dos serviccedilos de Internet sem prejuiacutezo agrave abertura

neutralidade e natureza participativa

VII ndash desenvolvimento de accedilotildees e programas de capacitaccedilatildeo para uso da internet

VIII ndash promoccedilatildeo da cultura e da cidadania inclusive pela prestaccedilatildeo mais dinacircmica e

eficiente de serviccedilos puacuteblicos

IX ndash uso eficiente de recursos puacuteblicos e dos serviccedilos finaliacutesticos disponibilizados ao

cidadatildeo e

X ndash prestaccedilatildeo de serviccedilos puacuteblicos de atendimento ao cidadatildeo de forma integrada

simplificada e por muacuteltiplos canais de acesso

A r t 29

Os siacutetios e portais de entes do Poder Puacuteblico devem buscar

I ndash compatibilidade dos serviccedilos de governo eletrocircnico com diversos terminais sistemas

operacionais e aplicativos para seu acesso

II ndash acessibilidade a todos os interessados independentemente de suas capacidades

fiacutesico-motoras perceptivas culturais e sociais resguardados os aspectos de sigilo e

restriccedilotildees administrativas e legais

III ndash compatibilidade tanto agrave leitura humana como ao tratamento por maacutequinas

IV ndash facilidade de uso dos serviccedilos de governo eletrocircnico e

V ndash fortalecimento da democracia participativa

A r t 30

O cumprimento do dever constitucional do Estado na prestaccedilatildeo da educaccedilatildeo em todos

os niacuteveis de ensino abarca a capacitaccedilatildeo para o uso da Internet como ferramenta de

exerciacutecio de cidadania promoccedilatildeo de cultura e desenvolvimento tecnoloacutegico

sect 1ordm Sem prejuiacutezo das atribuiccedilotildees do poder puacuteblico o Estado fomentaraacute iniciativas

privadas que promovam a Internet como ferramenta educacional

sect 2ordm A capacitaccedilatildeo para o uso da Internet deve ocorrer integrada a outras praacuteticas

educacionais

1

160

MINUTA DE ANTEPROJETO DE LEI PARA DEBATE COLABORATIVO

A r t 31 As iniciativas puacuteblicas de fomento agrave cultura digital e de promoccedilatildeo da Internet como

ferramenta social devem

I ndash buscar minimizar as desigualdades sobretudo as regionais no acesso agrave informaccedilatildeo

e

II ndash promover a inclusatildeo digital de toda a populaccedilatildeo especialmente a de baixa renda

A r t 32

O Estado deve buscar formular e fomentar estudos perioacutedicos regulares e

periodicamente fixar metas estrateacutegias planos e cronogramas referentes ao uso e

desenvolvimento da Internet no paiacutes

C A P Iacute T U L O V

D ISP O SI Ccedil Otilde E S F I N A IS A r t 33 A defesa dos interesses e direitos dos usuaacuterios da Internet poderaacute ser exercida em juiacutezo

individualmente ou a tiacutetulo coletivo na forma do disposto nos artigos 81 e 82 da Lei

8078 de 11 de setembro de 1990

A r t 34

Esta Lei entra em vigor na data de sua publicaccedilatildeo

1

161

ANEXO 2

162

PROJECTO DE LEI Nordm 118XII

ldquoAprova o regime juriacutedico da Coacutepia Privada e altera o artigo 47ordm do Coacutedigo do

Direito de Autor e dos Direitos Conexos ndash Seacutetima alteraccedilatildeo ao Decreto-Lei nordm

6385 de 14 de Marccedilordquo

Exposiccedilatildeo de motivos

O presente projecto de lei visa reforccedilar o legiacutetimo interesse dos diversos titulares de

direitos abrangidos pelo regime normalmente designado por ldquocoacutepia privadardquo mediante a

criaccedilatildeo de condiccedilotildees que garantam a percepccedilatildeo de uma compensaccedilatildeo equitativa pela

reproduccedilatildeo de obras intelectuais prestaccedilotildees e produtos legalmente protegidos procedendo agrave

regulamentaccedilatildeo do artigo 82ordm do Coacutedigo do Direito de Autor e Direitos Conexos

(CDADC)

O regime da coacutepia privada actualmente em vigor consta da Lei nordm 6298 de 1 de

Setembro alterada pela Lei nordm 502004 de 24 de Agosto e decorridos 6 anos a

experiecircncia mostra que eacute tempo de o rever com alguma profundidade

Como eacute sabido tradicionalmente o uso privado de obras intelectuais por diversas razotildees

tem estado fora do exclusivo reconhecido aos titulares de direitos em sede de propriedade

intelectual

O surgimento na segunda metade do seacuteculo XX de equipamentos e aparelhos capazes de

assegurar a reproduccedilatildeo em massa de obras de uma forma incontrolada pocircs em causa o

direito de reproduccedilatildeo de obras protegidas reconhecido aos autores no acircmbito do

monopoacutelio que lhes eacute legalmente outorgado no domiacutenio das suas faculdades de direito

163

patrimonial e obrigou os legisladores a intervir E ainda que possa ser objecto de criacutetica

cientiacutefica o recurso agrave menccedilatildeo de coacutepia privada para delimitar a presente iniciativa

legislativa optou-se por essa terminologia por ser de utilizaccedilatildeo comum e corresponder agrave

formulaccedilatildeo adoptada na Directiva 200129CE de 22 de Maio de 2001 relativa agrave

harmonizaccedilatildeo de certos aspectos do direito de autor e dos direitos conexos na sociedade de

informaccedilatildeo

A remuneraccedilatildeo compensatoacuteria por coacutepia privada constitui um instrumento que visa

conciliar de um lado o interesse patrimonial do autor detentor do exclusivo das

faculdades de exploraccedilatildeo econoacutemica da obra em qualquer suporte e em particular o

direito de reproduccedilatildeo por outro lado adequa agrave realidade tecnoloacutegica actual que coloca ao

alcance da larga maioria dos cidadatildeos sem possibilidade de um controlo individualizado a

obtenccedilatildeo de coacutepias de obras protegidas para seu uso privado

O modo concreto de permitir a efectivaccedilatildeo de uma compensaccedilatildeo equitativa a favor dos

titulares de direitos eacute o de fazer incidir taxas sobre o preccedilo de venda ao puacuteblico dos

equipamentos e suportes que permitem a reproduccedilatildeo de obras protegidas

O regime instituiacutedo segue o modelo e as melhores praacuteticas vigentes nos Estados da Uniatildeo

Europeia (UE) em especial da Espanha Franccedila Beacutelgica Alemanha Holanda Itaacutelia e

Finlacircndia devidamente adaptado agrave situaccedilatildeo sociocultural e econoacutemica portuguesa

Introduzem-se igualmente inovaccedilotildees julgadas pertinentes e que dotam o nosso paiacutes de uma

legislaccedilatildeo actual e efectivamente protectora dos legiacutetimos direitos e interesses dos titulares

de direitos

Por outro lado a coacutepia privada natildeo eacute objecto de normaccedilatildeo nos principais tratados e

convenccedilotildees multilaterais pelo que cabe um amplo espaccedilo de liberdade aos Estados na

criaccedilatildeo do respectivo regime juriacutedico na ordem interna enquadrado pelo princiacutepio da

reciprocidade nas relaccedilotildees bilaterais No caso da UE a coacutepia privada como compensaccedilatildeo

equitativa consta das aliacuteneas a) e b) do nordm 2 do artigo 5ordm Directiva 200129CE de 22 de

Maio de 2001 sobre o direito de autor na sociedade da informaccedilatildeo

164

No texto do presente projecto lei eacute utilizada a noccedilatildeo de compensaccedilatildeo equitativa em vez da

noccedilatildeo de remuneraccedilatildeo equitativa ateacute agora mais usada na legislaccedilatildeo portuguesa Para esta

mudanccedila teve-se em devida conta o disposto no recente acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila da

Uniatildeo Europeia (TJUE) (processo C-46708 Padawan SL c SGAE Terceira Secccedilatildeo de

21 de Outubro de 2010) que considerou harmonizada no espaccedilo territorial da UE aquela

noccedilatildeo

De forma a acompanhar a realidade e as incessantes inovaccedilotildees do mercado tecnoloacutegico o

presente projecto considera que o regime deve abranger natildeo soacute os aparelhos e suportes

analoacutegicos mas tambeacutem os digitais garantindo-se assim aos titulares de direitos uma

razoaacutevel e justa compensaccedilatildeo pelos danos sofridos pela praacutetica social da coacutepia privada que

natildeo eacute assegurada pelo regime actualmente em vigor

Por outro lado a garantia de uma razoaacutevel e justa compensaccedilatildeo eacute tambeacutem obtida atraveacutes

da alteraccedilatildeo dos criteacuterios definidores da aplicaccedilatildeo da compensaccedilatildeo equitativa agora fixados

tendo em conta as linhas de orientaccedilatildeo indicadas no considerando 35 da directiva

comunitaacuteria 200129CE de 22 de Maio de 2001 relativa ao direito de autor na sociedade

da informaccedilatildeo

Por outro lado e por se considerar mais adequado no plano sistemaacutetico o texto do

projecto de lei procede a um tratamento diferenciado entre a designada reprografia e a

coacutepia privada stricto sensu agrave semelhanccedila do que consta na directiva europeia No caso da

reprografia mantecircm-se o direito reconhecido na legislaccedilatildeo portuguesa aos editores

conquanto limitado ao mundo analoacutegico conforme estipula a aliacutenea b) do nordm 1 do artigo

76ordm do CDADC O texto do projecto lei actualiza ainda a noccedilatildeo de reprografia adaptando

a normaccedilatildeo agraves novas realidades tecnoloacutegicas criadas com o ambiente digital

Para a reprografia e no seguimento da referida alteraccedilatildeo dos criteacuterios definidores da

aplicaccedilatildeo da compensaccedilatildeo equitativa altera-se a taxa de 3 sobre o preccedilo de venda dos

equipamentos que permitem a reproduccedilatildeo ateacute agora vigente adoptando-se um modelo

assente na indicaccedilatildeo do montante pecuniaacuterio concreto aplicaacutevel a cada equipamento em

funccedilatildeo das respectivas caracteriacutesticas e preccedilo Trata-se de uma modalidade que se julga

melhor adaptada ao funcionamento do mercado sendo o novo texto mais claro ao prever

uma incidecircncia universal sobre os aparelhos que realizam essa funccedilatildeo

165

Os equipamentos e suportes analoacutegicos e digitais abrangidos pelo regime satildeo identificados

em anexo agrave proposta As taxas propostas de acordo com a capacidade de reproduccedilatildeo e

armazenagem dos suportes correspondem a valores justos e razoaacuteveis na busca sempre

difiacutecil de obtenccedilatildeo de um justo equiliacutebrio entre os interesses contraditoacuterios em presenccedila

Nestes casos os devedores principais do pagamento das compensaccedilotildees equitativas satildeo os

fabricantes e importadores de equipamentos e suportes de reproduccedilatildeo de obras

intelectuais A tiacutetulo subsidiaacuterio e no sentido de moralizar o sistema evitando-se fugas

regulares ao cumprimento das obrigaccedilotildees institui-se tambeacutem como devedores os

distribuidores grossistas e retalhistas dos indicados aparelhos

Quanto ao valor da taxa a aplicar sobre o preccedilo das fotocoacutepias relativas a obras protegidas

tambeacutem este deixa de ser definido com base numa taxa de 3 passando a ser fixada em

002 euros por coacutepia O valor indicado teve em conta que o preccedilo habitual no mercado de

uma coacutepia varia entre 006 e 008 euros pelo que parece justo que cerca de 14 dessa

quantia reverta a favor de autores e editores O objectivo desta soluccedilatildeo relativamente

inovadora mesmo na Uniatildeo Europeia eacute o de alcanccedilar um modo que garanta aos autores e

editores uma efectiva percepccedilatildeo de uma compensaccedilatildeo equitativa realmente operativa o que

natildeo aconteceu ateacute hoje

Este modelo eacute ainda complementado com integraccedilatildeo dos respectivos procedimentos num

regime de celebraccedilatildeo de acordos entre os estabelecimentos que se dedicam agrave reprografia e a

entidade gestora das compensaccedilotildees que se julga mais simples e adequado para todos os

intervenientes Em ordem a facilitar a celebraccedilatildeo destes acordos prevecirc-se que seja definido

por portaria um modelo de acordo a utilizar pelos intervenientes no acircmbito das suas

negociaccedilotildees

Prevecirc-se numa outra medida inovadora de largo alcance que as compensaccedilotildees de autores e

de artistas natildeo possam ser renunciaacuteveis e objecto de alienaccedilatildeo assim indo ao encontro

tambeacutem dos que reclamam uma maior e mais efectiva protecccedilatildeo para os criadores e para a

criaccedilatildeo cultural Conquanto naturalmente se reconheccedila que as faculdades patrimoniais na

propriedade intelectual possam na generalidade ser cedidas ou transmitidas a verdade eacute que

166

existem jaacute hoje excepccedilotildees sendo que nada impede que o regime da coacutepia privada possa

contemplar essa previsatildeo

Prevecirc-se ainda que na reparticcedilatildeo das remuneraccedilotildees atribuiacutedas aos autores no domiacutenio da

reprografia os autores de obras cientiacuteficas e escolares sejam contemplados com 75 das

receitas liacutequidas obtidas o que se considera justo uma vez que a reprografia tem uma

especial incidecircncia neste tipo de obras

A presente proposta manteacutem a tradiccedilatildeo de a cobranccedila gestatildeo e distribuiccedilatildeo das

compensaccedilotildees equitativas ser assegurada mediante a gestatildeo colectiva obrigatoacuteria o que eacute

comum na UE

No sentido de garantir um regime de rigor e de maior transparecircncia no exerciacutecio da gestatildeo

colectiva contempla-se a previsatildeo de que a pessoa colectiva gestora da reprografia e da

coacutepia privada natildeo deve gastar nas despesas de funcionamento mais do que 20 do volume

global de receitas obtidas em cada exerciacutecio anual

Prevecirc-se que a reprografia e a coacutepia privada sejam geridas por uma uacutenica pessoa colectiva e

natildeo duas Haacute a percepccedilatildeo de que no mercado nacional muito dificilmente seraacute possiacutevel

garantir com viabilidade econoacutemica duas entidades ainda por cima num contexto

econoacutemico deprimido nos proacuteximos tempos Por outro lado importa considerar os

dinamismos existentes agrave escala europeia que vatildeo no sentido da concentraccedilatildeocentralizaccedilatildeo

da gestatildeo colectiva aspecto reclamado por titulares de direitos e utilizadoresconsumidores

de obras protegidas

Prevecirc-se ainda o recurso agrave mediaccedilatildeo e arbitragem em caso de emergecircncia de litiacutegios por se

considerar este meio bastante mais ceacutelere do que o tribunal sendo apropriado agrave resoluccedilatildeo

das controveacutersias que surjam neste domiacutenio de actividade

Por fim mas natildeo menos importantes e embora natildeo directamente abrangido pelo regime da

coacutepia privada aproveita-se a oportunidade para dar nova redacccedilatildeo ao artigo 47ordm do Coacutedigo

de Direitos de Autor e dos Direitos Conexos visando aplicar agraves penhoras que incidam

sobre rendimentos dos autores o regime aplicaacutevel aos rendimentos auferidos no acircmbito de

contratos de trabalho clarificando-se uma situaccedilatildeo que ateacute agora suscitava dificuldades

167

interpretativas nos tribunais geradoras nalguns casos de decisotildees lesivas de justas

expectativas dos criadores intelectuais Trata-se de uma medida justa particularmente no

actual contexto de crise econoacutemica reclamada pelos autores e inclusivamente jaacute

recomendada pelo Provedor de Justiccedila

Assim nos termos constitucionais legais e regimentais aplicaacuteveis os deputados do Partido

Socialista abaixo-assinados apresentam o presente

PROJECTO DE LEI

Artigo 1ordm

Regime juriacutedico da coacutepia privada

Eacute aprovado o regime juriacutedico da coacutepia privada que se publica em anexo agrave presente lei e dela

faz parte integrante

Artigo 2ordm

Alteraccedilatildeo ao Coacutedigo do Direito de Autor e dos Direitos Conexos

O artigo 47ordm do Coacutedigo do Direito de Autor e dos Direitos Conexos aprovado pelo

Decreto-Lei nordm 6385 de 14 de Marccedilo na redacccedilatildeo dada pelas Leis nordms 4585 de 17 de

Setembro e 11491 de 3 de Setembro pelos Decretos-Lei nordms 33297 e 33497 ambos

de 27 de Novembro e pelas Leis nordm 502004 de 24 de Agosto e nordm 162008 de 1 de

Abril passa a ter a seguinte redacccedilatildeo

1-[Anterior nuacutemero uacutenico]

laquoArtigo 47ordm

[hellip]

2ndash Em caso de penhora do direito patrimonial do criador da obra aplica-se o regime fixado

para os rendimentos provenientes do trabalho por conta de outremraquo

Artigo 3ordm

Revogaccedilatildeo

Eacute revogada a Lei nordm 6298 de 1 de Setembro

168

Artigo 4ordm

Disposiccedilatildeo transitoacuteria

1 ndash A entidade gestora das compensaccedilotildees mandatada e legitimada para proceder agrave

cobranccedila gestatildeo e distribuiccedilatildeo das compensaccedilotildees agrave data da entrada em vigor da presente

lei manteacutem-se em actividade devendo rever os respectivos estatutos no prazo de 45 dias

apoacutes a entrada em vigor da presente lei

2 ndash As licenccedilas ou acordos celebrados nos termos da Lei nordm 6298 de 1 de Setembro

mantecircm-se em vigor devendo ser adaptados ao disposto no artigo 7ordm do regime juriacutedico da

coacutepia privada anexo agrave presente lei no prazo de 90 dias apoacutes a entrada em vigor da presente

lei

3 - As entidades abrangidas pelo artigo 7ordm do regime juriacutedico da coacutepia privada anexo agrave

presente lei cujo inicio de actividade se iniciou em data anterior agrave entrada em vigor da

presente lei e que natildeo celebraram acordo ou licenccedila ao abrigo da Lei nordm 6298 de 1 de

Setembro devem celebrar os acordos no prazo de 90 dias apoacutes a entrada em vigor da

presente lei

Artigo 5ordm Entrada em vigor

A presente lei entra em vigor trinta dias apoacutes a data da sua publicaccedilatildeo

169

ANEXO

REGIME JURIacuteDICO DA COacutePIA PRIVADA

Artigo 1ordm

(Objecto)

1 - O presente regime regula o artigo 82ordm do Coacutedigo do Direito de Autor e dos Direitos

Conexos aprovado pelo Decreto-Lei nordm 6385 de 14 de Marccedilo na redacccedilatildeo dada pelas

Leis nordms 4585 de 17 de Setembro e 11491 de 3 de Setembro pelos Decretos-Lei nordms

33297 e 33497 ambos de 27 de Novembro e pelas Leis nordm 502004 de 24 de Agosto e

nordm 162008 de 1 de Abril

2 - O disposto no presente regime natildeo se aplica aos programas de computador nem agraves

bases de dados constituiacutedas por meios electroacutenicos

Artigo 2ordm

Compensaccedilatildeo equitativa

Os titulares de direitos autores editores artistas inteacuterpretes ou executantes produtores de

fonogramas e de videogramas gozam do direito agrave percepccedilatildeo de uma compensaccedilatildeo

equitativa pela reproduccedilatildeo de obras protegidas para fins de uso privado nos termos

previstos no presente regime

Artigo 3ordm

(Compensaccedilatildeo equitativa pela reprografia de obras)

1 - Os autores gozam do direito agrave percepccedilatildeo de uma compensaccedilatildeo equitativa pela

reproduccedilatildeo de obras escritas em papel ou suporte semelhante realizada por qualquer tipo

de teacutecnica designadamente por meio de microfilmagem fotocoacutepia digitalizaccedilatildeo ou outros

processos de natureza similar

2 - A compensaccedilatildeo prevista no nuacutemero anterior eacute extensiva aos editores no acircmbito

analoacutegico e repartida em partes iguais

3 - A compensaccedilatildeo equitativa corresponde a uma quantia fixa a incluir pelos fabricantes

importadores e adquirentes intracomunitaacuterios antes da aplicaccedilatildeo de IVA no preccedilo de

venda de todos os equipamentos aparelhos ou quaisquer outros instrumentos teacutecnicos

integrados ou natildeo em multi-funccedilotildees que permitam a reproduccedilatildeo por qualquer teacutecnica ou

processo de obras escritas em suporte de papel ou semelhante nos termos da tabela anexa

ao presente regime

170

4 - Os autores e editores gozam ainda em partes iguais do direito agrave percepccedilatildeo a uma

compensaccedilatildeo equitativa pela comercializaccedilatildeo de reproduccedilotildees em papel ou suporte

semelhante realizadas de modo habitual e para servir o puacuteblico

5 - A compensaccedilatildeo prevista no nuacutemero anterior corresponde a 002 euros por cada paacutegina

antes da aplicaccedilatildeo de IVA e deve ser incluiacuteda no preccedilo de venda ou da disponibilizaccedilatildeo de

reproduccedilotildees de obras protegidas

6 - Da compensaccedilatildeo percebida pelos autores ao abrigo do presente artigo 75 eacute destinada

aos autores de obras cientiacuteficas e escolares

Artigo 4ordm

Compensaccedilatildeo equitativa por outras reproduccedilotildees

1 - A reproduccedilatildeo de obras literaacuterias e artiacutesticas protegidas sonoras e audiovisuais

prestaccedilotildees artiacutesticas fonogramas e videogramas realizada para fins de uso privado

constitui os titulares de direitos autores artistas inteacuterpretes ou executantes produtores de

fonogramas e de videogramas no direito agrave percepccedilatildeo de uma compensaccedilatildeo equitativa

2 ndash A compensaccedilatildeo prevista no nuacutemero anterior eacute determinada em funccedilatildeo da capacidade

de armazenamento dos equipamentos aparelhos dispositivos e suportes que permitem a

referida reproduccedilatildeo e corresponde a uma quantia fixa que acresce ao preccedilo de venda

destes estabelecido pelos fabricantes importadores e adquirentes intracomunitaacuterios antes

da aplicaccedilatildeo de IVA nos termos da lista anexa ao presente regime

3 - O montante global da compensaccedilatildeo equitativa eacute distribuiacutedo pelas entidades

representativas dos titulares de direitos na proporccedilatildeo de 40 para os autores 30 para os

artistas inteacuterpretes ou executantes e 30 para os produtores de fonogramas e de

videogramas

4 - O disposto nos nuacutemeros anteriores natildeo se aplica aos titulares de direitos que faccedilam uso

de medidas eficazes de caraacutecter tecnoloacutegico previstas no artigo 217ordm do Coacutedigo do Direito

de Autor e dos Direitos Conexos

Artigo 5ordm

Inalienabilidade e irrenunciabilidade

A compensaccedilatildeo equitativa de autores e de artistas inteacuterpretes ou executantes eacute inalienaacutevel e

irrenunciaacutevel sendo nula qualquer claacuteusula contratual em contraacuterio

171

Artigo 6ordm

Isenccedilotildees

1 ndash Estatildeo isentos do pagamento das compensaccedilotildees previstas nos artigos 3ordm e 4ordm os

equipamentos e suportes adquiridos por pessoas colectivas puacuteblicas ou privadas nas

seguintes condiccedilotildees

a) Cujo objecto de actividade seja a comunicaccedilatildeo audiovisual ou produccedilatildeo de

fonogramas e de videogramas exclusivamente para as suas proacuteprias produccedilotildees

b) Cujo objecto de actividade seja o apoio a pessoas portadoras de diminuiccedilatildeo fiacutesica

visual ou auditiva

2 - Para os efeitos do disposto no nuacutemero anterior as pessoas colectivas devem apresentar

no acto da compra dos aparelhos e suportes uma declaraccedilatildeo emitida pela entidade gestora

das compensaccedilotildees e cobranccedila indicando e comprovando o respectivo objecto de

actividade

Artigo 7ordm

Acordos

1 ndash Para efeitos do disposto no nordm 4 do artigo 3ordm as pessoas singulares ou colectivas com

ou sem fins lucrativos que procedam agrave venda de reproduccedilotildees em papel ou suporte

semelhante de obras legalmente protegidas nos termos previstos no presente regime

devem celebrar um acordo com a entidade gestora das compensaccedilotildees legalmente

constituiacuteda segundo o modelo a aprovar por portaria do membro do Governo responsaacutevel

pela aacuterea da cultura

2 - Os acordos devem ter por base a previsatildeo do nuacutemero de fotocoacutepias de obras protegidas a

realizar no periacuteodo de tempo correspondente agrave validade do acordo os custos envolvidos os

termos e formas de pagamento das quantias devidas e a indicaccedilatildeo sempre que possiacutevel do

tipo de obras a reproduzir

3 - Os acordos devem ser celebrados no prazo de 45 dias a contar do inicio de actividade

das pessoas singulares ou colectivas responsaacuteveis pelo pagamento da compensaccedilatildeo

equitativa

4 ndash Na falta de acordo devem as partes recorrer ao mecanismo de mediaccedilatildeo e arbitragem

previsto no artigo 10ordm

172

Artigo 8ordm

Gestatildeo e publicidade

1 - A compensaccedilatildeo equitativa torna-se efectiva atraveacutes da entidade gestora das

compensaccedilotildees representativa dos titulares de gestatildeo de direitos que procede agrave cobranccedila

gestatildeo e distribuiccedilatildeo das compensaccedilotildees

2 ndash A entidade gestora das compensaccedilotildees deve publicitar trimestralmente na respectiva

paacutegina electroacutenica os montantes distribuiacutedos a cada um dos associados com a respectiva

identificaccedilatildeo e natureza da compensaccedilatildeo

3 - Os associados da entidade gestora devem publicitar semestralmente os montantes

distribuiacutedos aos beneficiaacuterios da compensaccedilatildeo equitativa

Artigo 9ordm

Responsaacuteveis pela compensaccedilatildeo equitativa

1 - Para efeitos do disposto nos artigos 3ordm e 4ordm satildeo responsaacuteveis pelo pagamento das

compensaccedilotildees incidentes sobre equipamentos aparelhos e suportes os fabricantes e

importadores portugueses destes produtos desde que estes natildeo se destinem a exportaccedilatildeo

ou reexportaccedilatildeo

2 ndash Satildeo solidariamente responsaacuteveis pelo pagamento da remuneraccedilatildeo os distribuidores

grossistas e retalhistas adquirentes sucessivos para venda ao puacuteblico dos equipamentos

aparelhos e suportes salvo se provarem que procederam ao respectivo pagamento

3 - Para os efeitos do disposto nos nuacutemeros anteriores os responsaacuteveis pelo pagamento

submetem agrave entidade gestora das compensaccedilotildees e agrave Inspecccedilatildeo-Geral das Actividades

Culturais (IGAC) uma declaraccedilatildeo de autoliquidaccedilatildeo no mecircs subsequente ao termo de cada

trimestre de cada ano civil onde constem os seguintes elementos

a) Nuacutemero de unidades vendidas no mercado nacional

b) Preccedilo de venda liacutequido de quaisquer descontos de natureza financeira ou comercial

constantes das facturas antes de aplicaccedilatildeo de IVA para o caso dos equipamentos e

aparelhos que permitem a reproduccedilatildeo de obras protegidas

c) Capacidade e caracteriacutesticas teacutecnicas dos suportes materiais e dispositivos de

armazenamento que permitem a reproduccedilatildeo de obras protegidas

d) Nuacutemero de unidades vendidas suportes materiais e dispositivos de

armazenamento em regime de isenccedilatildeo e respectiva capacidade e caracteriacutesticas teacutecnicas

bem como o respectivo preccedilo de venda

e) Nuacutemero de unidades vendidas para paiacuteses da Uniatildeo Europeia e paiacuteses terceiros

173

f) Valor da remuneraccedilatildeo liquidada e a entregar

4 ndash As entidades devedoras e as solidariamente responsaacuteveis devem manter pelo periacuteodo

de 3 anos os elementos contabiliacutesticos que comprovem a liquidaccedilatildeo cobranccedila entrega e o

pagamento da compensaccedilatildeo equitativa devida

5 - Para efeitos do controlo do pagamento da compensaccedilatildeo os responsaacuteveis devem

discriminar separadamente o respectivo valor no documento contabiliacutestico antes da

aplicaccedilatildeo do IVA sob pena de se presumir a falta de liquidaccedilatildeo e cobranccedila

6 - No caso dos responsaacuteveis principais natildeo procederem agrave liquidaccedilatildeo e pagamento da

compensaccedilatildeo equitativa incumbe essa obrigaccedilatildeo aos distribuidores grossistas e retalhistas

devendo proceder agrave discriminaccedilatildeo dos valores cobrados na factura nos termos do nuacutemero

anterior

7 - O pagamento da compensaccedilatildeo liquidada nos termos dos nuacutemeros anteriores deve ser

efectuado no prazo de 45 dias apoacutes o termo de cada trimestre do ano civil

8 - A entidade gestora das compensaccedilotildees representativa dos titulares de direitos pode

solicitar aos responsaacuteveis pelo pagamento da compensaccedilatildeo as informaccedilotildees necessaacuterias agrave

comprovaccedilatildeo do cumprimento efectivo das obrigaccedilotildees enunciadas sem prejuiacutezo dos

princiacutepios da confidencialidade e sigilo comerciais

Artigo 10ordm

Mediaccedilatildeo e Arbitragem

Os litiacutegios emergentes da aplicaccedilatildeo do disposto no presente regime devem ser submetidos

para resoluccedilatildeo agrave mediaccedilatildeo e arbitragem necessaacuteria nos termos da legislaccedilatildeo geral aplicaacutevel

Artigo 11ordm

Entidade Gestora

1 ndash A cobranccedila gestatildeo e distribuiccedilatildeo das compensaccedilotildees previstas no presente regime satildeo

realizadas por uma entidade gestora das compensaccedilotildees colectiva uacutenica criada nos termos

da lei que regula a constituiccedilatildeo das entidades de gestatildeo colectiva

2 - Para aleacutem das obrigaccedilotildees previstas na legislaccedilatildeo geral os estatutos da entidade gestora

das compensaccedilotildees prevista no nuacutemero anterior devem regular

a) Meacutetodos de cobranccedila das compensaccedilotildees fixadas no presente regime

b) Criteacuterios de reparticcedilatildeo distribuiccedilatildeo e pagamento das compensaccedilotildees obtidas aos seus

associados e a outros beneficiaacuterios que natildeo sendo associados da entidade gestora se

presume serem por aquela representados

174

c) Natildeo discriminaccedilatildeo entre titulares nacionais e estrangeiros

d) Publicidade das deliberaccedilotildees sociais

e) Direitos e deveres dos associados

f) Estrutura e organizaccedilatildeo interna contemplando dois departamentos autoacutenomos

respectivamente para a reprografia e para a coacutepia privada

3 - A entidade gestora deve prever mecanismos de integraccedilatildeo de outras entidades

representativas de interesses e direitos a proteger que assim o solicitem em obediecircncia aos

princiacutepios da igualdade representatividade liberdade pluralismo e participaccedilatildeo

4 - Os custos de funcionamento da entidade gestora das compensaccedilotildees natildeo devem exceder

20 do conjunto das receitas globais obtidas com a cobranccedila das compensaccedilotildees

equitativas

5 - O conselho fiscal da entidade gestora das compensaccedilotildees eacute assegurado por um revisor

oficial de contas (ROC)

6 - A entidade gestora das compensaccedilotildees publica anualmente o relatoacuterio e contas do

exerciacutecio no seu sitio electroacutenico

7 - A entidade gestora das compensaccedilotildees pode celebrar com entidades puacuteblicas e privadas

os acordos necessaacuterios agrave plena execuccedilatildeo do disposto no presente regime

8 - A entidade gestora das compensaccedilotildees constituiacuteda para proceder agrave cobranccedila e gestatildeo das

compensaccedilotildees equitativas deve adaptar-se agraves disposiccedilotildees legais que enquadram a actividade

das entidades de gestatildeo colectiva de direitos e que se adaptem agrave sua natureza em tudo o

que natildeo esteja regulado no presente regime

Artigo 12ordm

Fundo Cultural

1 - A entidade gestora das compensaccedilotildees deve afectar 10 do total das receitas liacutequidas

percebidas agrave realizaccedilatildeo de acccedilotildees de natureza cultural ou social de incentivo agrave criaccedilatildeo

cultural e agrave divulgaccedilatildeo e estudo da propriedade intelectual

2 - A entidade gestora das compensaccedilotildees deve afectar ainda 5 do total das receitas

liacutequidas percebidas ao Fundo de Fomento Cultural do Ministeacuterio da Cultura enquanto

receita proacutepria deste consignada ao pagamento do Subsiacutedio de Meacuterito Cultural previsto no

Decreto-Lei nordm 41582 de 7 de Outubro

175

Artigo 13ordm

Fiscalizaccedilatildeo

1 - A fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do disposto no presente regime compete agrave IGAC

2 - Para o efeito previsto no nuacutemero anterior a entidade gestora das compensaccedilotildees deve

proceder ao pagamento de uma taxa correspondente a 10 do valor dos respectivos custos

de funcionamento

Artigo 14ordm

(Contra-Ordenaccedilotildees)

1 - Constituem contra-ordenaccedilatildeo puniacutevel com coima de euro300 a euro3000 no caso de pessoas

singulares e de euro1200 a euro30000 no caso de pessoas colectivas as seguintes infracccedilotildees

a) A venda de equipamentos aparelhos e suportes em violaccedilatildeo do disposto no nordm 3 do artigo

3ordm

b) A inobservacircncia do disposto no nordm 3 do artigo 4ordm

c) O natildeo cumprimento do disposto nos nordms 4 e 5 do artigo 3ordm atraveacutes de um acordo

celebrado nos termos do artigo 7ordm quando natildeo esteja em curso um processo de mediaccedilatildeo

e arbitragem nos termos do artigo 10ordm

d) A aquisiccedilatildeo com isenccedilatildeo de equipamentos e suportes em violaccedilatildeo do disposto do nordm 2 do

artigo 6ordm

e) O incumprimento do disposto nos nordms 2 e 3 do artigo 8ordm

f) O incumprimento do disposto nos nordm 3 a 7 do artigo 9ordm

2 - Em caso de reincidecircncia os limites miacutenimo e maacuteximo da coima satildeo elevados em um

terccedilo do respectivo valor natildeo podendo o montante da coima concretamente aplicada ser

inferior ao valor da coima aplicada pela infracccedilatildeo anterior

3 ndash Os factos praticados com negligecircncia satildeo puniacuteveis sendo os limites miacutenimos e

maacuteximos das respectivas coimas reduzidos a metade

4 - A fiscalizaccedilatildeo do cumprimento das disposiccedilotildees constantes no presente regime a

instruccedilatildeo do processo incluindo a realizaccedilatildeo de exames periciais e a aplicaccedilatildeo das coimas

compete agrave IGAC e a todas as autoridades de natureza policial e administrativa com

competecircncias de fiscalizaccedilatildeo

5 - O produto da aplicaccedilatildeo das coimas previstas no presente artigo constitui receita do

Estado e da entidade aplicadora da coima nas percentagens de 60 e 40

respectivamente

176

Tabela a que se refere o nordm 3 do artigo 3ordm

Compensaccedilatildeo sobre aparelhos equipamentos e instrumentos teacutecnicos de reproduccedilatildeo de obras escritas

MFC JACTO TINTA MFC LASER

VELOCIDADE DE COPIA

ateacute 9 cpm 10-29 cpm 30-49 cpm 50-69 cpm 70 ou + cpm Ateacute 17 kg Ateacute 17 kg

euro 795

euro 1000

euro 1300

euro 12770

euro 16900

euro 19700

euro 22700

cpm - copia por minuto

Equipamentos multifunccedilotildees de secretaacuteria de impressatildeo a jacto de tinta com ecratilde de reproduccedilatildeo cujo peso natildeo supere os 17 quilos

com capacidade para realizar pelo menos duas das seguintes funccedilotildees coacutepia impressatildeo fax ou digitalizaccedilatildeo Quando supere

este peso seraacute considerado como equipamento ou aparelho com capacidade de coacutepia e classificado de acordo com a respectiva

velocidade standard de reproduccedilatildeo

Equipamentos multifunccedilotildees de secretaacuteria de impressatildeo a laser com ecratilde de reproduccedilatildeo cujo peso natildeo supere os 17 quilos com

capacidade para realizar pelo menos duas das seguintes funccedilotildees coacutepia impressatildeo fax ou digitalizaccedilatildeo Quando supere este peso seraacute

considerado como equipamento ou aparelho com capacidade de coacutepia e classificado de acordo com a respectiva velocidade

standard de reproduccedilatildeo

177

Lista a que se refere o nordm 2 do artigo 4ordm Compensaccedilatildeo sobre aparelhos dispositivos e

suportes

EQUIPAMENTOS E APARELHOS

a) Equipamentos e aparelhos analoacutegicos de reproduccedilatildeo de obras protegidas nos termos do presente regime

1 - Gravadores aacuteudio ndash euro 060 unidade

2 - Gravadores viacutedeo ndash euro 060 unidade

b) Equipamentos e aparelhos digitais de reproduccedilatildeo ao de obras protegidas nos termos do presente regime

1 - Gravadores de discos compactos especiacuteficos (CD) - euro2 unidade

2 - Gravadores de discos versaacuteteis especiacuteficos - euro3 unidade 3 - Gravadores mistos de discos compactos (CD e DVD) - euro 4 unidade

SUPORTES E DISPOSITIVOS DE ARMAZENAMENTO

a) Suportes materiais analoacutegicos como cassetes aacuteudio ou similares ndash euro006 hora de

gravaccedilatildeo

b) Suportes materiais analoacutegicos como cassetes viacutedeo ou similares ndash euro008 hora de

gravaccedilatildeo

a) Discos compactos (CD) natildeo regravaacuteveis ndash euro003 por cada GB de capacidade de

armazenamento

b) Discos compactos regravaacuteveis (CD-RW) ndash euro 005 por cada GB de capacidade de armazenamento

c) Discos versaacuteteis natildeo regravaacuteveis - euro 003 por cada GB de capacidade de

armazenamento

d) Discos versaacuteteis regravaacuteveis - euro 005 por cada GB de capacidade de

armazenamento

e) Memoacuterias USB e outros suportes como cartotildees de memoacuteria natildeo integrados noutros dispositivos - euro 006 por cada GB de capacidade de armazenamento

f) Memoacuterias USB e outros suportes como cartotildees de memoacuteria integrados noutros dispositivos - euro 006 por cada GB de capacidade de armazenamento

g) Para suportes ou dispositivos de armazenamento como discos externos

denominados bdquomultimeacutedia‟ ou outros que disponham de uma ou mais saiacutedas e entradas

178

de aacuteudio e ou viacutedeo que permitam o registo de sons e ou imagens

179

animadas sem que seja necessaacuterio utilizar um microcomputador ou quaisquer outros

equipamentos ou aparelhos para desempenhar a funccedilatildeo de reproduccedilatildeo de obras ndash euro006

por cada GB de capacidade de armazenamento

h) Discos riacutegidos ou outros tipos de memoacuterias natildeo volaacuteteis integrados em equipamentos ou aparelhos com capacidade a partir de 150 GB e que permitam o

armazenamento de dados em massa ndash 002 por cada GB de capacidade mais 0005 por cada GB que acresccedila a capacidade de 1TB

i) Outros tipos de suportes ou dispositivos de armazenamento como os discos riacutegidos externos ou SSD com ou sem saiacutedas aacuteudio e ou viacutedeo e que dependam do emprego de um microcomputador ou de outros equipamentos ou aparelhos para desempenhar a funccedilatildeo de reproduccedilatildeo de obras - 002 por cada GB de capacidade mais 0005 por cada GB que acresccedila a capacidade de 1TB

j) Dispositivos de reproduccedilatildeo de fonogramas videogramas ou outros conteuacutedos sonoros visuais ou audiovisuais em formato comprimido integrados ou

natildeo noutros aparelhos ou equipamentos como os telemoacuteveis ndash euro 050 por cada GB de capacidade de armazenamento

Os Deputados

180

ANEXO 3

181

PROJETO DE LEI

Altera e acresce dispositivos agrave Lei nordm 9610

de 19 de fevereiro de 1998 que altera

atualiza e consolida a legislaccedilatildeo sobre

direitos autorais e daacute outras providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA - Faccedilo saber que o Congresso decretou e eu

sanciono a seguinte Lei

Art 1ordm A Lei nordm 9610 de 19 de fevereiro de 1998 passa a vigorar com as seguintes

alteraccedilotildees

ldquoArt1ordm

Paraacutegrafo uacutenico A interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo desta Lei atenderatildeo agraves finalidades de

estimular a criaccedilatildeo intelectual e a diversidade cultural e garantir a liberdade de

expressatildeo e orientar-se-atildeo pelos ditames constitucionais de proteccedilatildeo aos direitos

autorais em equiliacutebrio com os demais direitos fundamentais e os direitos sociaisrdquo (NR)

ldquoArt4ordm Os negoacutecios juriacutedicos relativos aos direitos autorais devem ser

interpretados restritivamente de forma a atender agrave finalidade especiacutefica para a

qual foram celebrados

sect 1ordm Nos contratos realizados com base nesta Lei as partes contratantes satildeo

obrigadas a observar durante a sua execuccedilatildeo bem como em sua conclusatildeo os

princiacutepios da

probidade e da boa-feacute cooperando mutuamente para o cumprimento da funccedilatildeo social do

contrato

e para a satisfaccedilatildeo de sua finalidade e das expectativas comuns e de cada uma das

partes

sect 2o Nos contratos de execuccedilatildeo continuada ou diferida qualquer uma das partes

poderaacute pleitear sua revisatildeo ou resoluccedilatildeo por onerosidade excessiva quando para a

outra parte

decorrer extrema vantagem em virtude de acontecimentos extraordinaacuterios e

imprevisiacuteveis

sect 3o Eacute anulaacutevel o contrato quando o titular de direitos autorais sob premente

necessidade ou por inexperiecircncia tenha se obrigado a prestaccedilatildeo manifestamente

desproporcional

ao valor da prestaccedilatildeo oposta podendo natildeo ser decretada a anulaccedilatildeo do negoacutecio se for

oferecido

suplemento suficiente ou se a parte favorecida concordar com a reduccedilatildeo do proveito

sect 4ordm No contrato de adesatildeo adotar-se-aacute a interpretaccedilatildeo mais favoraacutevel ao autorrdquo

(NR)

ldquoArt 5o

182

III - retransmissatildeo ndash a emissatildeo simultacircnea da transmissatildeo

IV - distribuiccedilatildeo - a oferta ao puacuteblico de original ou coacutepia de obras literaacuterias artiacutesticas

ou cientiacuteficas interpretaccedilotildees ou execuccedilotildees fixadas e fonogramas em um meio tangiacutevel

mediante a venda locaccedilatildeo ou qualquer outra forma de transferecircncia de propriedade ou

posse

VIII-

i) audiovisual ndash a obra que resulta da associaccedilatildeo de imagens com ou sem som que tenha

a finalidade de criar a impressatildeo de movimento independentemente dos processos de

sua captaccedilatildeo do suporte usado inicial ou posteriormente para fixaacute-lo bem como dos

meios utilizados para sua veiculaccedilatildeo

IX ndash fonograma ndash toda fixaccedilatildeo exclusivamente de sons de uma execuccedilatildeo ou

interpretaccedilatildeo ou de outros sons ou de uma representaccedilatildeo de sons

XII ndash radiodifusatildeo ndash a transmissatildeo sem fio realizada por empresa concessionaacuteria

permissionaacuteria ou autorizataacuteria do serviccedilo de radiodifusatildeo cuja recepccedilatildeo do sinal

ou onda radioeleacutetrica pelo puacuteblico ocorra de forma livre e gratuita ressalvados os casos

em que a Lei exige a autorizaccedilatildeo

XIII ndash artistas inteacuterpretes ou executantes ndash todos os atores cantores muacutesicos bailarinos

ou outras pessoas que representem um papel cantem recitem declamem interpretem

ou executem em qualquer forma obras literaacuterias ou artiacutesticas ou expressotildees culturais

tradicionais

XIV ndash licenccedila ndash a autorizaccedilatildeo preacutevia dada pelo autor ou titular de direitos patrimoniais

mediante remuneraccedilatildeo ou natildeo para exercer certos direitos de explorar ou utilizar

a obra intelectual nos termos e condiccedilotildees fixados na licenccedila sem que se caracterize

transferecircncia de titularidade dos direitos

XV - cessatildeo ndash ato por meio do qual se transfere total ou parcialmente com

exclusividade a titularidade de direitos autorais em caraacuteter temporaacuterio ou definitivo

garantido ao cessionaacuterio a prerrogativa de reivindicar para si os direitos patrimoniais

dele decorrentes e agir em defesa do objeto da cessatildeordquo(NR)

ldquoArt 7ordm

X ndash os projetos esboccedilos e obras de artes visuais concernentes agrave geografia

engenharia topografia arquitetura paisagismo cenografia e ciecircncia

XI - as adaptaccedilotildees os arranjos as orquestraccedilotildees as traduccedilotildees e outras

transformaccedilotildees de obras originais apresentadas como criaccedilatildeo intelectual nova

ldquoArt8ordm

VIII - as normas teacutecnicas em si mesmas ressalvada a sua proteccedilatildeo em legislaccedilatildeo

especiacutefica rdquo(NR)

ldquoArt 9ordm

183

A coacutepia de obra de artes visuais feita pelo proacuteprio autor eacute assegurada a

mesma proteccedilatildeo de que goza o originalrdquo (NR)

ldquoArt15ordm

sect 1ordm Natildeo se considera co-autor quem simplesmente auxiliou o autor na produccedilatildeo da

obra literaacuteria artiacutestica ou cientiacutefica revendo-a atualizando-a orientando-a bem

como

fiscalizando ou dirigindo sua ediccedilatildeo ou apresentaccedilatildeo por qualquer meio

ldquoArt 16

Satildeo coautores da obra audiovisual o diretor o roteirista e os autores do

argumento literaacuterio e da composiccedilatildeo musical ou literomusical criados especialmente

para a obra

ldquoArt17ordm

sect 4ordm Ao autor cuja contribuiccedilatildeo possa ser utilizada separadamente satildeo asseguradas

todas as faculdades inerentes agrave sua criaccedilatildeo como obra individual vedada poreacutem a

utilizaccedilatildeo que possa acarretar prejuiacutezo agrave exploraccedilatildeo da obra coletivardquo (NR)

ldquoArt 19ordm

Eacute facultado ao autor registrar a sua obra na forma desta Lei

Paraacutegrafo uacutenico Compete ao Poder Executivo federal dispor sobre a forma e as

condiccedilotildees para o registro da obra especificando os oacutergatildeos ou entidades responsaacuteveis

por esse

registro rdquo(NR)

Art 20 Para os serviccedilos de registro previstos nesta Lei seraacute cobrada retribuiccedilatildeo

cujo valor e processo de recolhimento seratildeo estabelecidos em at o do Mi ni st r o de Est

ado da

Cul t ur ardquo (NR)

ldquoArt24ordm

184

sect 1ordm Por morte do autor transmite-se a seus sucessores o exerciacutecio dos direitos a

que se referem os incisos I II III IV e VII enquanto a obra natildeo cair em domiacutenio

puacuteblico

sect 2ordm Compete aos entes federativos aos oacutergatildeos e agraves entidades relacionadas no art 5

da Lei no 7347 de 24 de julho de 1985 a defesa da integridade e autoria da obra

pertencente ao

domiacutenio puacuteblico

sect 3ordm Nos casos dos incisos V e VI ressalvam-se as indenizaccedilotildees a terceiros quando

couberemrdquo (NR)

ldquoArt25ordm

Paraacutegrafo uacutenico Os direitos previstos nos incisos I II e VII do art 24 poderatildeo ser

exercidos de forma individual pelos coautores sobre suas respectivas participaccedilotildeesrdquo

(NR)

ldquoArt28ordm

Paraacutegrafo uacutenico O objeto fundamental da proteccedilatildeo desta lei do ponto de vista

econocircmico eacute a garantia das vantagens patrimoniais resultantes da exploraccedilatildeo das obras

literaacuterias artiacutesticas ou cientiacuteficas em harmonia com os princiacutepios Constitucionais da

atividade econocircmicardquo (NR)

ldquoArt29ordm

V - a inclusatildeo em fonograma ou produccedilatildeo audiovisual que natildeo se caracterize como

obra intelectual

VI

-

VII - a colocaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico da obra por qualquer meio ou processo

de maneira que qualquer pessoa possa a ela ter acesso no tempo e no lugar que

individualmente

escolher

VIII - a comunicaccedilatildeo ao puacuteblico de obra literaacuteria artiacutestica ou cientiacutefica mediante

d) transmissatildeo ou radiodifusatildeo sonora ou televisiva

e) recepccedilatildeo de transmissatildeo ou radiodifusatildeo em locais de frequecircncia coletiva

j) exposiccedilatildeo de obras de artes visuais

185

X ndash a incorporaccedilatildeo em obra audiovisual

XI - quaisquer outras modalidades de utilizaccedilatildeo existentes ou que venham a ser

inventadas

Paraacutegrafo uacutenico No exerciacutecio do direito previsto no inciso VII o titular dos direitos

autorais poderaacute colocar agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico a obra na forma local e pelo tempo que

desejar a

tiacutetulo oneroso ou gratuitordquo (NR)

ldquoArt 30

Em qualquer modalidade de reproduccedilatildeo a quantidade de coacutepias

realizadas por qualquer meio ou processo seraacute informada e controlada cabendo

a quem

reproduzir a obra a responsabilidade de manter os registros que permitam de forma natildeo

onerosa

ao autor ou quem o represente a fiscalizaccedilatildeo do aproveitamento econocircmico da

exploraccedilatildeo

sect1o

sect2ordm No caso de fixaccedilatildeo ou reproduccedilatildeo efecircmera de obra fonograma ou

interpretaccedilatildeo por um organismo de radiodifusatildeo pelos seus proacuteprios meios e para suas

proacuteprias

emissotildees ao vivo ou suas retransmissotildees natildeo se aplica o direito de exclusividade de

reproduccedilatildeordquo(NR)

ldquoArt 36

O direito de utilizaccedilatildeo econocircmica dos escritos publicados pela imprensa

diaacuteria ou perioacutedica com exceccedilatildeo dos assinados ou que apresentem sinal de reserva

pertence ao editor salvo convenccedilatildeo em contraacuterio sem prejuiacutezo do disposto no artigo

17rdquo (NR)

ldquoArt 37

A aquisiccedilatildeo do original de uma obra ou de sua coacutepia realizada por

qualquer meio ou processo natildeo confere ao adquirente qualquer dos direitos

patrimoniais do autor salvo convenccedilatildeo em contraacuterio entre as partes e os casos previstos

nesta Lei rdquo (NR)

ldquoArt 38

O autor tem o direito irrenunciaacutevel e inalienaacutevel de perceber no miacutenimo

trecircs por cento sobre o preccedilo em cada revenda de obra de arte ou manuscrito sendo

originais que houver alienado

sect 1ordm Caso o autor natildeo perceba o seu direito de sequumlecircncia no ato de revenda o

186

vendedor o agente comercial ou o intermediaacuterio que intervenha na transaccedilatildeo eacute

considerado depositaacuterio da quantia a ele devida pelo prazo prescricional previsto nesta

Lei

sect 2ordm O vendedor o leiloeiro o agente comercial ou outro intermediaacuterio que

intervenha na transaccedilatildeo conforme o caso fica obrigado a guardar pelo prazo de 10

anos da alienaccedilatildeo todos os dados referentes ao negoacutecio juriacutedico fornecendo-os ao

autor seus herdeiros ou sucessores quando solicitadosrdquo (NR)

ldquoArt 39

Os direitos patrimoniais do autor natildeo se comunicam salvo disposiccedilatildeo em contraacuterio

firmada em pacto antenupcial ou contrato escrito

Paraacutegrafo uacutenico Tampouco se comunicam no regime da comunhatildeo parcial

aplicaacutevel ao casamento ou agrave uniatildeo estaacutevel os rendimentos resultantes da exploraccedilatildeo dos

direitos patrimoniais salvo disposiccedilatildeo em contraacuterio firmada em pacto antenupcial ou

contrato escritordquo(NR)

ldquoArt 41

Os direitos patrimoniais do autor duram por toda a sua vida e por mais

setenta anos contados de 1o de janeiro do ano subsequumlente ao de seu falecimento

obedecida a

ordem sucessoacuteria da lei civilrdquo (NR)

ldquoArt 44

O prazo de proteccedilatildeo aos direitos patrimoniais sobre obras audiovisuais

fotograacuteficas e coletivas seraacute de setenta anos a contar de 1o de janeiro do ano

subsequumlente ao de sua publicaccedilatildeo

sect 1ordm Em caso de sua natildeo publicaccedilatildeo no prazo de setenta anos apoacutes a realizaccedilatildeo da

obra conta-se o prazo a partir de sua realizaccedilatildeo

sect 2ordm Decorrido o prazo de proteccedilatildeo previsto neste artigo a utilizaccedilatildeo ou exploraccedilatildeo

por terceiros da obra audiovisual ou da obra coletiva natildeo poderaacute ser impedida pela

eventual proteccedilatildeo de direitos autorais de contribuiccedilotildees que possam ser objeto de

exploraccedilatildeo comercial em separadordquo (NR)

ldquoArt45

I

-

II - as de autor desconhecido ressalvada a proteccedilatildeo legal aplicaacutevel agraves expressotildees

culturais tradicionaisrdquo (NR)

ldquoArt46

187

I - a reproduccedilatildeo por qualquer meio ou processo em uma soacute coacutepia e por pessoa

natural para seu uso privado e natildeo comercial de obra legitimamente obtida exceto por

meio de locaccedilatildeo desde que feita a partir de exemplar de obra publicada legalmente

II - a reproduccedilatildeo por qualquer meio ou processo em uma soacute coacutepia para cada

suporte e por pessoa natural para seu uso privado e natildeo comercial de obra

legitimamente obtida

exceto por meio de locaccedilatildeo ou se o acesso agrave obra foi autorizado por um periacuteodo de

tempo limitado desde que feita a partir de original ou coacutepia de obra publicada

legalmente para o fim especiacutefico de garantir a sua portabilidade ou interoperabilidade

III - a reproduccedilatildeo na imprensa de notiacutecias e relatos de acontecimentos que tenham

caraacuteter meramente informativo publicados em diaacuterios ou perioacutedicos com a menccedilatildeo do

nome do autor se assinados e da publicaccedilatildeo de onde foram transcritos

IV - a utilizaccedilatildeo na imprensa de discursos pronunciados em reuniotildees puacuteblicas de

qualquer natureza

V -

VI - as representaccedilotildees recitaccedilotildees declamaccedilotildees exposiccedilotildees exibiccedilotildees e execuccedilotildees

puacuteblicas realizadas no recesso familiar ou quando usadas como recurso didaacutetico-

pedagoacutegico a tiacutetulo de ilustraccedilatildeo em atividades educativas ou de pesquisa no acircmbito

da educaccedilatildeo formal desde que sejam feitas sem finalidade comercial ou intuito de

lucro direto ou indireto e na medida justificada pelo fim a se atingir

VII -

VIII - a utilizaccedilatildeo em quaisquer obras de trechos de obras preexistentes de

qualquer natureza ou de obra integral quando de artes visuais na medida justificada

para o fim a atingir sempre que a utilizaccedilatildeo em si natildeo seja o objetivo principal da

obra nova e que natildeo prejudique a exploraccedilatildeo normal da obra utilizada nem cause

um prejuiacutezo injustificado aos legiacutetimos interesses dos autores

IX - a reproduccedilatildeo a traduccedilatildeo a adaptaccedilatildeo a distribuiccedilatildeo a comunicaccedilatildeo e a

colocaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico de obras para uso exclusivo de pessoas com

deficiecircncia mediante quaisquer formatos acessiacuteveis sempre que a deficiecircncia gerar

necessidade de alteraccedilatildeo do formato com o intuito de efetivar o pleno acesso agrave fruiccedilatildeo

da obra e desde que natildeo haja intuito de lucro direto ou indireto

X ndash reproduccedilatildeo e colocaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico para inclusatildeo em portfoacutelio ou

curriacuteculo profissional na medida justificada por este fim desde que aquele que pretenda

divulgar as obras por tal meio seja um dos autores ou pessoa retratada e apoacutes a

publicaccedilatildeo da obra por aquele que a encomendou

XI - a utilizaccedilatildeo de retratos ou de outra forma de representaccedilatildeo da imagem feitos

sob encomenda quando realizada pelo proprietaacuterio do objeto encomendado natildeo

havendo a

oposiccedilatildeo da pessoa neles representada ou se morta ou ausente de seu cocircnjuge seus

ascendentes ou descendentes

XII ndash a reproduccedilatildeo de palestras conferecircncias e aulas por aqueles a quem elas se

dirigem vedada a publicaccedilatildeo integral ou parcial independentemente do intuito de

lucro sem autorizaccedilatildeo preacutevia e expressa de quem as ministrou

XIII ndash a reproduccedilatildeo necessaacuteria agrave conservaccedilatildeo preservaccedilatildeo e arquivamento de

qualquer obra sem intuito de lucro desde que realizada para bibliotecas arquivos

188

centros de documentaccedilatildeo museus cinematecas e demais instituiccedilotildees museoloacutegicas

na medida justificada pelo fim a se atingir

XIV ndash a citaccedilatildeo em livros jornais revistas ou qualquer outro meio de

comunicaccedilatildeo de passagens de qualquer obra para fins de estudo criacutetica ou polecircmica

na medida justificada para o fim a atingir indicando-se o nome do autor e a origem da

obra

XV ndash a representaccedilatildeo a recitaccedilatildeo a declamaccedilatildeo a exposiccedilatildeo a exibiccedilatildeo e a

execuccedilatildeo puacuteblicas desde que natildeo tenham intuito de lucro direto ou indireto e sejam

para fins de reabilitaccedilatildeo ou terapia em unidades hospitalares que prestem estes serviccedilos

de forma gratuita e exclusivamente para a finalidade a que se destinam

XVI - A comunicaccedilatildeo e a colocaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico de obras intelectuais

por bibliotecas arquivos centros de documentaccedilatildeo museus cinematecas e demais

instituiccedilotildees museoloacutegicas no interior de suas instalaccedilotildees para fins de pesquisa ou

estudos privados desde que atendidas cumulativamente as seguintes condiccedilotildees

a) que a obra faccedila parte de seu acervo permanente

b) que seja obra rara ou natildeo esteja disponiacutevel para a venda ao puacuteblico em liacutengua

portuguesa nos mercados nacional e internacional por 3 anos contados a partir de

sua uacuteltima publicaccedilatildeo

c) para evitar a deterioraccedilatildeo do exemplar

d) que natildeo seja permitida a duplicaccedilatildeo gravaccedilatildeo impressatildeo ou qualquer outra

forma de reproduccedilatildeo ressalvado o disposto no Capiacutetulo IX do Tiacutetulo IV

XVII ndash a execuccedilatildeo musical exclusivamente no decorrer da atividade lituacutergica e

estritamente no interior dos templos religiosos

XVIII ndash a reproduccedilatildeo de obras de artes visuais para fins de publicidade relacionada

agrave exposiccedilatildeo puacuteblica dessas obras na medida em que seja necessaacuteria para

promover o acontecimento excluiacuteda qualquer utilizaccedilatildeo comercial

XIX ndash a exibiccedilatildeo puacuteblica sem finalidade comercial realizada por associaccedilotildees

cineclubistas assim reconhecidas pelo Ministeacuterio da Cultura feita a partir de coacutepia

legalmente obtida exceto por meio de locaccedilatildeo ou empreacutestimo desde que a associaccedilatildeo

natildeo tenha finalidade lucrativa por si proacutepria ou por viacutenculo com empresas ou entidades

e que a exibiccedilatildeo natildeo concorra com a exploraccedilatildeo comercial da obra

XX ndash a execuccedilatildeo e a exibiccedilatildeo puacuteblicas realizadas por micro empresas quando

feitas a partir de recepccedilatildeo de uma transmissatildeo em um uacutenico aparelho de raacutedio ou

televisatildeo do tipo domeacutestico para cujo uso natildeo haja cobranccedila e que essa transmissatildeo natildeo

seja um meio para a atraccedilatildeo de clientela e

XXI - A reproduccedilatildeo a traduccedilatildeo e a distribuiccedilatildeo de trechos de obras preexistentes

de qualquer natureza ou de obra integral quando de artes visuais ou pequenas

composiccedilotildees como recurso didaacutetico-pedagoacutegico por docentes a tiacutetulo de ilustraccedilatildeo em

atividades educativas ou de pesquisa no acircmbito da educaccedilatildeo formal e na extensatildeo

necessaacuteria para o fim a se atingir desde que esse uso natildeo tenha finalidade comercial

nem intuito de lucro direto ou indireto e que sejam citados o autor e a fonte vedada a

publicaccedilatildeo em forma de apostilas

sect 1ordm O disposto no inciso XVI aplica-se mutatis mutandis para as obras na liacutengua

originalmente adotada pelo autor

sect 2ordm O Poder Judiciaacuterio poderaacute autorizar a utilizaccedilatildeo de obras em casos anaacutelogos

aos incisos desse artigo desde que atendidas cumulativamente as seguintes condiccedilotildees

I ndash natildeo tenha finalidade comercial nem intuito de lucro direto ou indireto

II ndash natildeo concorra com a exploraccedilatildeo comercial da obra e

III ndash que sejam citados o autor e a fonte sempre que possiacutevelrdquo (NR)

189

ldquoArt 48

As obras de artes visuais e arquitetocircnicas permanentemente situadas em

logradouros puacuteblicos podem ser livremente representadas por qualquer meio ou

processo inclusive fotograacutefico ou audiovisualrdquo (NR)

ldquoArt 49

Os direitos de autor poderatildeo ser total ou parcialmente transferidos a

terceiros por ele ou por seus sucessores por prazo determinado ou em definitivo

a tiacutetulo universal ou singular pessoalmente ou por meio de representantes com poderes

especiais pelos meios admitidos em Direito obedecidas as seguintes regras e

especificaccedilotildees

I ndash a cessatildeo total compreende todos os direitos de autor salvo os de natureza moral

e os expressamente excluiacutedos por leirdquo (NR)

ldquoArt 50

A cessatildeo total ou parcial dos direitos de autor que se faraacute sempre por estipulaccedilatildeo

contratual escrita presume-se onerosa

sect 3O Decorrido o prazo previsto no instrumento os direitos autorais retornam

obrigatoriamente ao controle econocircmico do titular originaacuterio ou de seus

sucessores

independentemente de possiacuteveis diacutevidas ou outras obrigaccedilotildees pendentes entre as

partes contratantesrdquo (NR)

ldquoArt 51

A cessatildeo dos direitos de autor sobre obras futuras abrangeraacute no maacuteximo

o periacuteodo de cinco anos contado a partir da data da entrega da obrardquo (NR)

ldquoArt53

sect 1O O contrato de ediccedilatildeo natildeo poderaacute conter claacuteusulas de cessatildeo dos direitos

patrimoniais do autor as quais deveratildeo ser objeto de instrumento especiacutefico se for o

caso

sect 2ordm Em cada exemplar da obra o editor mencionaraacute

I - o tiacutetulo da obra e seu autor

II - no caso de traduccedilatildeo o tiacutetulo original e o nome do tradutor

III - o ano de publicaccedilatildeo

IV - o seu nome ou marca que o identifique

V - o nuacutemero da ediccedilatildeo e a sua tiragem e

VI - o nuacutemero do exemplar

sect 3O O autor poderaacute requerer a resoluccedilatildeo do contrato quando o editor apoacutes

notificado pelo autor continuar a obstar a circulaccedilatildeo da obra em detrimento dos

legiacutetimos interesses do autor

190

sect 4ordm O editor deveraacute notificar o autor sempre que houver transferecircncia a terceiros

dos direitos relacionados ao contrato de ediccedilatildeo de suas obrasrdquo (NR)

ldquoArt 68

Sem preacutevia e expressa autorizaccedilatildeo do autor ou titular natildeo poderatildeo ser

utilizadas obras teatrais composiccedilotildees musicais ou literomusicais fonogramas e obras

audiovisuais em representaccedilotildees exibiccedilotildees e execuccedilotildees puacuteblicas

sect1o

sect 2O Considera-se execuccedilatildeo puacuteblica a utilizaccedilatildeo de composiccedilotildees musicais ou

liacuteteromusicais mediante a participaccedilatildeo de artistas remunerados ou natildeo ou a

utilizaccedilatildeo de fonogramas em locais de frequumlecircncia coletiva por quaisquer processos

inclusive a radiodifusatildeo ou a transmissatildeo por qualquer modalidade e a exibiccedilatildeo

cinematograacutefica

sect 3O Considera-se exibiccedilatildeo puacuteblica a utilizaccedilatildeo de obras audiovisuais em locais de

frequumlecircncia coletiva por quaisquer processos inclusive a radiodifusatildeo ou transmissatildeo

por qualquer modalidade e a exibiccedilatildeo cinematograacutefica

sect 4O Consideram-se locais de frequumlecircncia coletiva os teatros cinemas salotildees de

baile ou concertos boates bares clubes ou associaccedilotildees de qualquer natureza

lojas estabelecimentos comerciais e industriais estaacutedios circos feiras

restaurantes hoteacuteis moteacuteis cliacutenicas hospitais oacutergatildeos puacuteblicos da administraccedilatildeo

direta ou indireta fundacionais e estatais meios de transporte de passageiros terrestre

mariacutetimo fluvial ou aeacutereo ou espaccedilos similares onde se representem executem

exibam ou transmitam publicamente obras literaacuterias artiacutesticas ou cientiacuteficas

sect 5O Previamente agrave realizaccedilatildeo da execuccedilatildeo ou exibiccedilatildeo puacuteblica o usuaacuterio deveraacute

apresentar agrave entidade responsaacutevel pela arrecadaccedilatildeo dos direitos relativos agrave execuccedilatildeo ou

exibiccedilatildeo

puacuteblica a comprovaccedilatildeo dos recolhimentos relativos aos direitos autorais

sect 6ordm Quando a remuneraccedilatildeo depender da frequumlecircncia do puacuteblico poderaacute o usuaacuterio

por convecircnio com a entidade responsaacutevel pela arrecadaccedilatildeo dos direitos relativos agrave

execuccedilatildeo ou exibiccedilatildeo puacuteblica pagar o preccedilo apoacutes a realizaccedilatildeo da execuccedilatildeo ou exibiccedilatildeo

puacuteblica

sect 7ordm O usuaacuterio entregaraacute agrave entidade responsaacutevel pela arrecadaccedilatildeo dos direitos

relativos agrave execuccedilatildeo ou exibiccedilatildeo puacuteblica imediatamente apoacutes o ato de comunicaccedilatildeo ao

puacuteblico relaccedilatildeo completa das obras e fonogramas utilizados indicando os nomes dos

respectivos autores artistas e produtores e a tornaraacute puacuteblica e de livre acesso aos

interessados juntamente com os valores pagos em seu siacutetio eletrocircnico ou em natildeo

havendo este no local da comunicaccedilatildeo e em sua sede

sect 8ordm As empresas responsaacuteveis pela representaccedilatildeo execuccedilatildeo exibiccedilatildeo radiodifusatildeo

ou transmissatildeo de obras e fonogramas manteratildeo agrave imediata disposiccedilatildeo dos interessados

em sua administraccedilatildeo central coacutepia autecircntica dos contratos ajustes ou acordos

individuais ou coletivos autorizando e disciplinando a remuneraccedilatildeo que estiver a seu

cargo pela comunicaccedilatildeo ao puacuteblico das obras e fonogramas utilizados em seus

programas ou obras audiovisuaisrdquo (NR)

ldquoCAPIacuteTULO III DA UTILIZACcedilAtildeO DA OBRA DE ARTES VISUAISrdquo (NR)

ldquoArt 77

191

Salvo convenccedilatildeo em contraacuterio o autor de obra de artes visuais ao alienar

o objeto em que ela se materializa transmite o direito de expocirc-la mas natildeo transmite ao

adquirente o direito de reproduzi-lardquo (NR)

ldquoArt 78

A autorizaccedilatildeo para reproduzir a obra de artes visuais por qualquer processo deve

se fazer por escrito e se presume onerosardquo (NR)

ldquoArt 79

O autor de obra fotograacutefica tem direito a reproduzi-la e colocaacute-la agrave venda

observadas as restriccedilotildees agrave exposiccedilatildeo reproduccedilatildeo e venda de retratos e sem prejuiacutezo dos

direitos

de autor da obra fotografada se protegidardquo (NR)

ldquoArt 81

A autorizaccedilatildeo do autor e do inteacuterprete de obra literaacuteria artiacutestica ou

cientiacutefica para produccedilatildeo audiovisual implica salvo disposiccedilatildeo em contraacuterio

consentimento para sua utilizaccedilatildeo econocircmica pelo produtor sem prejuiacutezo dos direitos

devidos aos autores e artistas inteacuterpretes em decorrecircncia de cada exibiccedilatildeo puacuteblica da

obra

sect 1

sect 2

Em cada coacutepia da obra audiovisual mencionaraacute o produtor

VII ndash o nome dos dubladores e dos tradutores se for o caso e

VIII - o nome dos autores artistas inteacuterpretes ou executantes de obras musicais ou

litero-musicais e produtores dos fonogramas incorporados agrave obra audiovisual

sect3ordm O produtor responsaacutevel pela primeira fixaccedilatildeo de obra audiovisual teraacute o direito a

uma remuneraccedilatildeo referente a cada exibiccedilatildeo puacuteblica a que se refere o art 68rdquo (NR)

ldquoArt 86

Os direitos autorais decorrentes da exibiccedilatildeo puacuteblica de obras

audiovisuais e da execuccedilatildeo puacuteblica de obras musicais liacuteteromusicais e fonogramas

incorporados em obras audiovisuais seratildeo devidos aos seus titulares pelos

responsaacuteveis dos locais ou estabelecimentos a que alude o sect 4ordm do art 68 desta Lei

que as exibirem ou pelas empresas que as transmitirem

Paraacutegrafo uacutenico Os proventos pecuniaacuterios resultantes de cada exibiccedilatildeo puacuteblica de

obras audiovisuais seratildeo repartidos entre seus autores artistas inteacuterpretes e produtores

na forma convencionada entre eles ou suas associaccedilotildeesrdquo (NR)

ldquoArt 89

As normas relativas aos direitos de autor inclusive as que se referem agraves

limitaccedilotildees aplicam-se no que couber aos direitos dos artistas inteacuterpretes ou

executantes dos

192

produtores e das empresas de radiodifusatildeordquo (NR)

ldquoArt90

I -

II - a reproduccedilatildeo a execuccedilatildeo ou exibiccedilatildeo puacuteblicas e a locaccedilatildeo das suas

interpretaccedilotildees ou execuccedilotildees fixadasrdquo (NR)

ldquoArt 96

Eacute de setenta anos o prazo de proteccedilatildeo aos direitos conexos contados a

partir de 1o de janeiro do ano subsequumlente agrave fixaccedilatildeo para os fonogramas agrave transmissatildeo

para as

empresas de radiodifusatildeo e agrave execuccedilatildeo exibiccedilatildeo ou representaccedilatildeo puacuteblicas para

os demais casosrdquo (NR)

ldquoArt 98

Com o ato de filiaccedilatildeo as associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos

autorais de que trata o art 97 tornam-se mandataacuterias de seus associados para a praacutetica

de todos os atos necessaacuterios agrave defesa judicial ou extrajudicial de seus direitos autorais

bem como para o exerciacutecio da atividade de cobranccedila desses direitos

sect 1ordm Os titulares de direitos autorais poderatildeo praticar pessoalmente os atos

referidos neste artigo mediante comunicaccedilatildeo preacutevia agrave associaccedilatildeo a que estiverem

filiados

sect 2ordm O exerciacutecio da atividade de cobranccedila citada no caput somente seraacute licito para

as associaccedilotildees que obtiverem registro no Ministeacuterio da Cultura nos termos do art 98-A

sect 3ordm A cobranccedila deveraacute ser proporcional agrave utilizaccedilatildeo das obras e fonogramas dos

titulares dos quais a associaccedilatildeo eacute mandataacuteria

sect 4ordm As associaccedilotildees deveratildeo adotar os princiacutepios da isonomia e transparecircncia na

cobranccedila pela utilizaccedilatildeo de qualquer obra ou fonograma sob sua gestatildeo

sect 5ordm As associaccedilotildees por decisatildeo do seu oacutergatildeo maacuteximo de deliberaccedilatildeo e conforme

previsto em seus estatutos poderatildeo destinar ateacute vinte por cento da totalidade ou de

parte dos recursos oriundos de suas atividades em benefiacutecio de seus associados de

forma direta ou por meio de outras entidades na promoccedilatildeo e no fomento agrave produccedilatildeo de

obras capacitaccedilatildeo e formaccedilatildeo bem como outras atividades de finalidade cultural e de

assistecircncia socialrdquo(NR)

ldquoArt 99

As associaccedilotildees que reuacutenam titulares de direitos sobre as obras musicais

literomusicais e fonogramas manteratildeo um uacutenico escritoacuterio central para a

arrecadaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo em comum dos direitos relativos agrave sua execuccedilatildeo puacuteblica

observado o disposto no sect

4ordm do artigo 98 e nos artigos 98-A e 99-A

sect 4ordm O escritoacuterio central e as associaccedilotildees poderatildeo manter fiscais aos quais eacute

193

vedado receber do usuaacuterio numeraacuterio a qualquer tiacutetulo

sect5o

sect 6ordm O escritoacuterio central deveraacute observar as disposiccedilotildees do art 98-B e apresentar ao

Ministeacuterio da Cultura no que couber a documentaccedilatildeo prevista no art 98-Ardquo (NR)

ldquoArt 100 O sindicato ou associaccedilatildeo profissional que congregue filiados de uma

associaccedilatildeo de gestatildeo coletiva de direitos autorais poderaacute uma vez por ano apoacutes

notificaccedilatildeo com oito dias de antecedecircncia fiscalizar por intermeacutedio de auditor a

exatidatildeo das contas prestadas por essa associaccedilatildeo autoral a seus representados rdquo (NR)

ldquoArt 101 As sanccedilotildees civis de que trata este Capiacutetulo aplicam-se sem prejuiacutezo das

sanccedilotildees penais e administrativasrdquo (NR)

ldquoArt 102 O titular cuja obra seja fraudulentamente reproduzida divulgada ou de

qualquer forma utilizada poderaacute requerer a busca e apreensatildeo dos exemplares

reproduzidos ou a suspensatildeo da divulgaccedilatildeo sem prejuiacutezo da indenizaccedilatildeo cabiacutevel rdquo

(NR)

ldquoArt103

Paraacutegrafo uacutenico Natildeo se conhecendo o nuacutemero de exemplares que constituem a

ediccedilatildeo fraudulenta pagaraacute o transgressor o valor de quinhentos ateacute trecircs mil exemplares

aleacutem dos apreendidosrdquo (NR)

ldquoArt 107

sect 1ordm Constitui ato iliacutecito por abuso e exerciacutecio irregular de direito sem prejuiacutezo de

outras penalidades previstas em lei quem por qualquer meio

a) dificultar ou impedir os usos permitidos pelos incisos do artigo 46 desta Lei ou

b) dificultar ou impedir a livre utilizaccedilatildeo de obras emissotildees de radiodifusatildeo e

fonogramas caiacutedos em domiacutenio puacuteblico

sect 2ordm No caso da conduta prevista no sect 1ordm decorrer de obrigaccedilatildeo contratual responde pela

conduta o licenciante

sect 3ordm O disposto no sect 1ordm natildeo se aplica quando a utilizaccedilatildeo pelo titular de sinais

codificados e dispositivos teacutecnicos mencionados neste artigo forem essenciais para a

compra ou o licenciamento de obras em meio digital

sect 4ordm O disposto no caput natildeo se aplica quando as condutas previstas nos incisos I

II e IV relativas aos sinais codificados e dispositivos teacutecnicos forem realizadas para

permitir as utilizaccedilotildees previstas no artigo 46 desta Lei ou quando findo o prazo dos

direitos patrimoniais sobre a obra interpretaccedilatildeo execuccedilatildeo fonograma ou emissatildeo

sect 5ordm Os sinais codificados e dispositivos teacutecnicos mencionados nos incisos I II e IV

devem ter efeito limitado no tempo correspondente ao prazo dos direitos patrimoniais

sobre a obra interpretaccedilatildeo execuccedilatildeo fonograma ou emissatildeordquo (NR)

ldquoArt 109

194

A representaccedilatildeo a execuccedilatildeo ou a exibiccedilatildeo puacuteblicas feitas em desacordo

com os arts 68 97 98 99 e 99-A desta Lei sujeitaratildeo os responsaacuteveis agrave multa de duas

ateacute vinte vezes o valor que deveria ser originariamente pagordquo (NR)

Art 2ordm A Lei no 9610 de 1998 passa a vigorar acrescida dos seguintes

dispositivos

ldquoArt 30-A

Quando a distribuiccedilatildeo for realizada pelo titular dos direitos da obra ou

fonograma ou com o seu consentimento mediante venda em qualquer Estado membro

da OMC exaure-se com a primeira venda o direito patrimonial de distribuiccedilatildeo do

objeto da venda no territoacuterio nacional

Paraacutegrafo uacutenico Natildeo se aplica o disposto no caput aos direitos de locaccedilatildeo de

programas de computador e de obras audiovisuais e ao direito de sequecircncia de que trata

o artigo 38rdquo (NR)

ldquoArt 52-A

O autor ou titular de direitos patrimoniais poderaacute conceder licenccedila aterceiros que se

faraacute sempre por escrito sem que se caracterize cessatildeo de direitos obedecidas

asseguintes regras e especificaccedilotildees

I - O prazo maacuteximo da licenccedila seraacute de cinco anos salvo estipulaccedilatildeo

contratuacontraacuteria

II - A licenccedila seraacute vaacutelida unicamente para o paiacutes em que se firmou o contrato

salvoestipulaccedilatildeo em contraacuterio

III - Natildeo havendo especificaccedilotildees quanto agrave modalidade de utilizaccedilatildeo o contrato

seraacuteinterpretado restritivamente entendendo-se como limitada apenas a uma que

seja aquelaindispensaacutevel ao cumprimento da finalidade do contrato

IV - A licenccedila soacute se operaraacute para modalidades de utilizaccedilatildeo jaacute existentes agrave data

dacelebraccedilatildeo do contrato

V - A licenccedila se presume natildeo exclusiva salvo estipulaccedilatildeo contratual expressa

emcontraacuterio e

VI - Decorrido o prazo previsto no instrumento de licenccedila cessam todas

asprerrogativas concedidas ao licenciado independentemente de possiacuteveis diacutevidas

ou outrasobrigaccedilotildees pendentes entre as partes contratantesrdquo (NR)

ldquoArt 52-B O Poder Judiciaacuterio poderaacute autorizar o uso de obras literaacuterias ou de

artesvisuais sempre que ao exercer seus direitos patrimoniais o herdeiro ou sucessor do

autor da obraexceda manifestamente os limites impostos pelo seu fim econocircmico ou

social pela boa-feacute oupelos bons costumes prejudicando o seu acesso ou fruiccedilatildeo pela

sociedade

sect 1ordm A autorizaccedilatildeo prevista no caput presume-se onerosa cujo valor seraacute arbitradopela

autoridade judicial competente

sect 2ordm Os legitimados para propositura das accedilotildees previstas no art 5ordm da Lei nordm 7347de 24

de julho de 1985 poderatildeo pleitear a autorizaccedilatildeo prevista no caput sempre que houver

lesatildeoou ameaccedila de lesatildeo a direitos difusos coletivos ou individuais homogecircneosrdquo

(NR)

ldquoCAPIacuteTULO VI DA OBRA DECORRENTE DE VIacuteNCULO ESTATUTAacuteRIO OU

CONTRATO DE

TRABALHOrdquo (NR)

195

ldquoArt 52-C

Salvo convenccedilatildeo em contraacuterio o empregador ente puacuteblico ou privadoconsiderar-se-aacute

autorizado com exclusividade a utilizar as obras criadas no estrito cumprimentodas

atribuiccedilotildees e finalidades decorrentes de viacutenculo estatutaacuterio ou contrato de trabalho

sect 1ordm - A exclusividade da autorizaccedilatildeo cessa em dez anos contados da data daprimeira

utilizaccedilatildeo da obra pelo empregador ou na ausecircncia desta da data de conclusatildeo da obra

sect 2ordm O autor poderaacute dispor livremente dos direitos relacionados agraves

demaismodalidades de utilizaccedilatildeo da obra desde que natildeo concorra com o uso realizado

pelo empregador

sect 3ordm - A retribuiccedilatildeo devida pelo uso das obras por parte do empregador esgota-secom a

remuneraccedilatildeo ou com o salaacuterio convencionado salvo disposiccedilatildeo em contraacuterio ou

casosprevistos em Lei

sect 4ordm - O autor teraacute direito de publicar em suas obras completas a obra criada no

estrito cumprimento das atribuiccedilotildees e finalidades decorrentes do viacutenculo estatutaacuterio ou

contrato de trabalho apoacutes dois anos de sua publicaccedilatildeo pelo empregador ou na ausecircncia

desta apoacutes cinco anos de sua conclusatildeo salvo convenccedilatildeo em contraacuterio

sect 5ordm As disposiccedilotildees deste artigo natildeo se aplicam

I ndash aos direitos de comunicaccedilatildeo ao puacuteblico que seratildeo devidos em decorrecircncia de cada

representaccedilatildeo execuccedilatildeo ou exibiccedilatildeo puacuteblicas das obras

II ndash agraves relaccedilotildees que digam respeito agrave utilizaccedilatildeo econocircmica dos artigos publicados pela

imprensa regidas pelo art 36 desta Lei

III ndash agraves relaccedilotildees decorrentes de contrato ou viacutenculo de professores ou pesquisadores

com instituiccedilatildeo que tenha por finalidade o ensino ou a pesquisa

IV ndash aos direitos dos profissionais regidos pela Lei n o 5194 de 24 de dezembro de

1966 e

V ndash aos programas de computador observando-se nesse caso o disposto na Lei n

9609 de 19 de fevereiro de 1998rdquo (NR)

ldquoCAPIacuteTULO VII DA OBRA OacuteRFAtilderdquo (NR)

ldquoArt 52-D

A exploraccedilatildeo de obra que presumivelmente natildeo tenha ingressado em

domiacutenio puacuteblico cuja autorizaccedilatildeo de uso natildeo se puder obter pela impossibilidade de se

identificar

ou localizar o seu autor ou titular deve ser objeto de uma licenccedila natildeo exclusiva a ser

concedida

pelo Ministro da Cultura mediante requerimento de interessado em procedimento

regular que atenda os imperativos do devido processo legal na forma do regulamento e

segundo termos e condiccedilotildees que assegurem adequadamente os interesses morais e

patrimoniais que esta Lei tutela

sect 1ordm O requerente deveraacute comprovar que fez uma busca razoaacutevel e de boa feacute pelo autor

quando identificaacutevel ou apresentar provas da incapacidade de identificaacute-lo

sect 2ordm A licenccedila a ser concedida sujeita-se ao pagamento de remuneraccedilatildeo arbitrada pelo

Poder Puacuteblico observado os usos e costumes

sect 3ordm O licenciado seraacute depositaacuterio do valor referente agrave remuneraccedilatildeo prevista no sect 2ordm

196

e deveraacute repassaacute-lo licenccedila

I - ao autor ou titular quando da sua identificaccedilatildeo e localizaccedilatildeo e

II ndash ao Fundo Nacional de Cultura apoacutes decorridos 10 anos da concessatildeo da

sect 4ordm Eacute vedada a cessatildeo a transferecircncia ou o substabelecimento da licenccedila prevista neste

artigo

sect 5ordm O licenciado ficaraacute investido de todos os poderes para agir em defesa da obra

sect 6ordm Durante o periacuteodo de sua vigecircncia a licenccedila poderaacute ser revogada quando

I ndash o licenciado deixar de cumprir com as condiccedilotildees que o qualificaram

II ndash o autor ou titular for identificado e localizado

III - houver descontinuidade do pagamento da remuneraccedilatildeo prevista no sect 2ordm ou

IV ndash a obra cair em domiacutenio puacuteblico O

sect 7ordm As disposiccedilotildees deste capiacutetulo natildeo se aplicam a programas de computadorrdquo (NR)

ldquoArt 67-A

As regras relativas agrave ediccedilatildeo de que trata este capiacutetulo aplicam-se

a todas as obras protegidas e suscetiacuteveis de serem publicadas ou reproduzidas em

qualquer suporte tais como as traduccedilotildees as fotografias os desenhos as charges e as

caricaturasrdquo (NR)

ldquoArt 86-A

Os responsaacuteveis pelas salas de exibiccedilatildeo cinematograacutefica deveratildeo

deduzir cinquumlenta por cento do montante total dos direitos autorais devidos em razatildeo

do caput do

art 86 do valor a ser pago agraves empresas distribuidoras das obras audiovisuais sendo

vedado a estas o repasse deste encargo total ou parcialmente aos seus produtoresrdquo

(NR)

ldquoCAPIacuteTULO IX DA REPROGRAFIArdquo (NR)

ldquoArt 88-A

A reproduccedilatildeo total ou parcial de obras literaacuterias artiacutesticas ou

cientiacuteficas que natildeo estiverem em domiacutenio puacuteblico realizada por meio de

fotocopiadora ou

processos assemelhados com finalidade comercial ou intuito de lucro somente

poderaacute ser

realizada mediante autorizaccedilatildeo preacutevia dos autores e titulares de direitos das obras

protegidas ou da

associaccedilatildeo de gestatildeo coletiva que os represente observadas as seguintes disposiccedilotildees

I - A reproduccedilatildeo prevista no caput estaraacute sujeita ao pagamento de uma retribuiccedilatildeo

aos titulares dos direitos autorais sobre as obras reproduzidas salvo quando estes

colocarem agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico a obra a tiacutetulo gratuito na forma do paraacutegrafo uacutenico

do art 29 e

II - Caberaacute aos responsaacuteveis pelos estabelecimentos que ofereccedilam serviccedilos de

reproduccedilatildeo reprograacutefica nos termos definidos no caput manter o registro das

reproduccedilotildees em que conste a identificaccedilatildeo e a quantidade de paacuteginas reproduzidas de

cada obra com a finalidade de prestar tais informaccedilotildees regularmente aos autores de

197

forma a permitir-lhes a fiscalizaccedilatildeo e o controle do aproveitamento econocircmico das

reproduccedilotildeesrdquo (NR)

ldquoArt 88-B

O Poder Judiciaacuterio poderaacute autorizar a reprografia de obras literaacuterias

sempre que ao exercer seus direitos patrimoniais o titular dos direitos de

reproduccedilatildeo ou a respectiva associaccedilatildeo de gestatildeo coletiva exceda manifestamente os

limites impostos pelo seu fim econocircmico ou social pela boa-feacute ou pelos bons

costumes ou impeccedila o exerciacutecio do direito constitucional agrave educaccedilatildeo

sect 1ordm A autorizaccedilatildeo prevista no caput presume-se onerosa cujo valor seraacute arbitrado

pela autoridade judicial competente

sect 2ordm Os legitimados para propositura das accedilotildees previstas no art 5ordm da Lei nordm 7347

de 24 de julho de 1985 poderatildeo pleitear a autorizaccedilatildeo prevista no caput sempre que

houver lesatildeo ou ameaccedila de lesatildeo a direitos Difusos coletivos ou individuais

homogecircneosrdquo (NR)

ldquoArt 98-A

O exerciacutecio da atividade de cobranccedila de que trata o art 98 dependeraacute de

registro preacutevio no Ministeacuterio da Cultura conforme disposto em regulamento cujo

processo administrativo observaraacute

I ndash o cumprimento pelos estatutos da entidade solicitante dos requisitos

estabelecidos na legislaccedilatildeo para sua constituiccedilatildeo

II ndash a demonstraccedilatildeo de que a entidade solicitante reuacutene as condiccedilotildees necessaacuterias

para assegurar uma administraccedilatildeo eficaz e transparente dos direitos a ela confiados e

significativa representatividade de obras e titulares cadastrados mediante

comprovaccedilatildeo dos seguintes documentos e informaccedilotildees

a) os cadastros das obras e titulares que representam

b) contratos e convecircnios mantidos com usuaacuterios de obras de seus repertoacuterios

c) estatutos e respectivas alteraccedilotildees

d) atas das assembleacuteias ordinaacuterias ou extraordinaacuterias

e) acordos de representaccedilatildeo reciacuteproca com entidades congecircneres estrangeiras

quando existentes

f) relatoacuterio anual de suas atividades quando aplicaacutevel

g) demonstraccedilotildees contaacutebeis anuais quando aplicaacutevel e

h) relatoacuterio anual de auditoria externa de suas contas desde que demandada pela

maioria de seus associados ou por sindicato ou associaccedilatildeo profissional nos termos do

art 100

III ndash outras informaccedilotildees consideradas relevantes pelo Ministeacuterio da Cultura na

forma do regulamento como as que demonstrem o cumprimento de suas obrigaccedilotildees

internacionais

contratuais que possam ensejar questionamento ao Estado Brasileiro no acircmbito

dos acordos internacionais dos quais eacute parte

sect1ordm Os documentos e informaccedilotildees a que se referem os Incisos II e III deste artigo

deveratildeo ser apresentados anualmente ao Ministeacuterio da Cultura

sect2ordm O registro de que trata o sect 2ordm do art 98 poderaacute ser anulado quando for

constatado viacutecio de legalidade ou cancelado administrativamente pelo Ministeacuterio

da Cultura quando verificado que a associaccedilatildeo natildeo atende ao disposto neste artigo

198

assegurado sempre o contraditoacuterio e a ampla defesa bem como a comunicaccedilatildeo do fato

ao Ministeacuterio Puacuteblico

sect3ordm A ausecircncia de uma associaccedilatildeo que seja mandataacuteria de determinada categoria de

titulares em funccedilatildeo da aplicaccedilatildeo do sect 2ordm deste artigo natildeo isenta os usuaacuterios das

obrigaccedilotildees previstas no art 68 que deveratildeo ser quitadas em relaccedilatildeo ao periacuteodo

compreendido entre o indeferimento do pedido de registro a anulaccedilatildeo ou o

cancelamento do registro e a obtenccedilatildeo de novo registro ou constituiccedilatildeo de entidade

sucessora nos termos do art 98

sect4ordm A associaccedilatildeo cujo registro nos termos do artigo 98-A seja anulado cancelado

inexistente pendente de apreciaccedilatildeo pela autoridade competente ou apresente qualquer

outra forma de irregularidade natildeo poderaacute utilizar tais fatos como impedimento para

distribuiccedilatildeo de eventuais valores jaacute arrecadados sob pena de responsabilizaccedilatildeo direta

de seus dirigentes nos termos do artigo 100-A

sect5ordm As associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos autorais que estejam desde

1ordm de janeiro de 2010 legalmente constituiacutedas e arrecadando e distribuindo os

direitos autorais de obras e fonogramas considerar-se-atildeo para todos os efeitos

registradas para exercerem a atividade econocircmica de cobranccedila devendo obedecer agraves

disposiccedilotildees constantes deste artigordquo (NR)

ldquoArt 98-B

As associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos autorais no desempenho

de suas funccedilotildees deveratildeo

I - Dar publicidade e transparecircncia por meio de siacutetios eletrocircnicos proacuteprios agraves

formas de caacutelculo e criteacuterios de cobranccedila discriminando dentre outras informaccedilotildees o

tipo de

usuaacuterio tempo e lugar de utilizaccedilatildeo bem como os criteacuterios de distribuiccedilatildeo dos valores

dos direitos

autorais arrecadados incluiacutedas as planilhas e demais registros de utilizaccedilatildeo das

obras e fonogramas fornecidas pelos usuaacuterios

II - Dar publicidade e transparecircncia por meio de siacutetios eletrocircnicos proacuteprios

aosestatutos regulamentos de arrecadaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo agraves atas de suas reuniotildees

deliberativas e aoscadastros das obras e titulares que representam bem como o

montante arrecadado e distribuiacutedo e

III ndash Buscar eficiecircncia operacional dentre outros meios pela reduccedilatildeo de

seucustos administrativos e dos prazos de distribuiccedilatildeo dos valores aos titulares de

direitos

Paraacutegrafo uacutenico As informaccedilotildees contidas nos incisos I e II devem ser atualizadas no

miacutenimosemestralmenterdquo (NR)

ldquoArt 98-C

As associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos autorais deveratildeo manteatualizados e

disponiacuteveis aos associados os documentos e as informaccedilotildees previstas nos incisos II III

do art 98-Ardquo (NR)

ldquoArt 98-D

199

As associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos autorais deveratildeo prestacontas dos valores

devidos em caraacuteter regular e de modo direto aos seus associados

Paraacutegrafo uacutenico O direito agrave prestaccedilatildeo de contas poderaacute ser exercido diretamentpor

qualquer associado ou indiretamente por intermeacutedio do Ministeacuterio da Culturardquo (NR)

ldquoArt 99-A

As associaccedilotildees que reuacutenam titulares de direitos sobre as obraaudiovisuais e o

escritoacuterio central a que se refere o art 99 deveratildeo unificar a arrecadaccedilatildeo dodireitos

relativos agrave exibiccedilatildeo e execuccedilatildeo puacuteblica inclusive por meio de radiodifusatildeo ou

transmissatildepor qualquer modalidade quando essa arrecadaccedilatildeo recair sobre um

mesmo usuaacuterio sejdelegando a cobranccedila a uma delas seja constituindo um ente

arrecadador com personalidadejuriacutedica proacutepria

sect 1ordm Ateacute a implantaccedilatildeo da arrecadaccedilatildeo unificada prevista neste artigo a arrecadaccedilatildee

distribuiccedilatildeo dos direitos sobre as obras musicais literomusicais e fonogramas

referentes exibiccedilatildeo audiovisual seraacute feita pelo escritoacuterio central previsto no art 99

quer se trate de obracriadas especialmente para as obras audiovisuais ou obras preacute-

existentes agraves mesmas

sect 2O A organizaccedilatildeo da arrecadaccedilatildeo unificada de que trata o caput deste artigodeveraacute

ser feita de comum acordo entre as associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos

autoraicorrespondentes e o escritoacuterio central inclusive no que concerne agrave definiccedilatildeo

dos criteacuterios dedivisatildeo dos valores arrecadados entre as associaccedilotildees e o escritoacuterio

central

sect 3O Os autores das obras musicais criadas especialmente para as

obraaudiovisuais considerados co-autores da obra audiovisual nos termos do caput do

art 16 poderatildeconfiar o exerciacutecio de seus direitos a associaccedilatildeo de gestatildeo coletiva de

direitos musicais ou associaccedilatildeo de gestatildeo coletiva de direitos sobre obras audiovisuais

sect 4ordm Na ausecircncia de acordo para a organizaccedilatildeo da arrecadaccedilatildeo unificada de quetrata este

artigo o Ministeacuterio da Cultura poderaacute na forma do regulamento e a pedido de

qualquedas partes manifestar-se objetivando a aplicaccedilatildeo do disposto neste artigo ou a

pedido das partesatuar administrativamente na resoluccedilatildeo do conflitordquo (NR)

ldquoArt 99-B

A arrecadaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da remuneraccedilatildeo a que se refere o artigo88-A seraacute feita por

meio das associaccedilotildees de gestatildeo coletiva constituiacutedas para este fim as quaideveratildeo

unificar a arrecadaccedilatildeo seja delegando a cobranccedila a uma delas seja constituindo um

entarrecadador com personalidade juriacutedica proacutepria

sect1ordm - A entidade de gestatildeo coletiva responsaacutevel pela cobranccedila ou o oacutergatildeo

arrecadador criado pelas entidades atuaraacute em juiacutezo e fora dele em seu proacuteprio

nome como substituto processual dos titulares de direitos a ele vinculado

sect 2ordm - A parcela destinada aos autores natildeo poderaacute ser inferior a cinquumlenta por cento

dos valores arrecadados pela entidade arrecadadora prevista no caput deduzida as

despesas de administraccedilatildeordquo (NR)

ldquoArt 100-A

Os dirigentes das associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos autorais e

200

do escritoacuterio central respondem solidariamente com seus bens particulares por

desvio de finalidade ou quanto ao inadimplemento das obrigaccedilotildees para com os

associados por dolo ou culpardquo (NR)

ldquoArt 100-B

Os litiacutegios entre usuaacuterios e titulares de direitos autorais ou seus mandataacuterios em

relaccedilatildeo aos criteacuterios de cobranccedila e valores de arrecadaccedilatildeo e entre titulares e suas

associaccedilotildees em relaccedilatildeo aos valores e criteacuterios de distribuiccedilatildeo poderatildeo ser objeto da

atuaccedilatildeo administrativa do Ministeacuterio da Cultura para a resoluccedilatildeo de conflitos na forma

do regulamento sem prejuiacutezo da apreciaccedilatildeo pelos oacutergatildeos do Sistema Brasileiro de

Defesa da Concorrecircncia quando cabiacutevelrdquo (NR)

ldquoArt 105-A

Os responsaacuteveis pela hospedagem de conteuacutedos na Internet poderatildeo ser

responsabilizados solidariamente nos termos do Artigo 105 por danos

decorrentes da colocaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico de obras e fonogramas por terceiros

sem autorizaccedilatildeo de seus titulares se notificados pelo titular ofendido e natildeo tomarem as

providecircncias para no acircmbito do seu serviccedilo e dentro de prazo razoaacutevel tornar

indisponiacutevel o conteuacutedo apontado como infringente

sect 1ordm Os responsaacuteveis pela hospedagem de conteuacutedos na Internet devem oferecer

de forma ostensiva ao menos um canal eletrocircnico dedicado ao recebimento de

notificaccedilotildees e contranotificaccedilotildees sendo facultada a criaccedilatildeo de mecanismo

automatizado para atender aos procedimentos dispostos nesta Seccedilatildeo

sect 2ordm A notificaccedilatildeo de que trata o caput deste artigo deveraacute conter sob pena de

invalidade

I ndash identificaccedilatildeo do notificante incluindo seu nome completo seus nuacutemeros de

registro civil e fiscal e dados atuais para contato

II ndash data e hora de envio

III ndash identificaccedilatildeo clara e especiacutefica do conteuacutedo apontado como infringente que

permita a localizaccedilatildeo inequiacutevoca do material pelo notificado

IV ndash descriccedilatildeo da relaccedilatildeo entre o notificante e o conteuacutedo apontado como

infringente e

VI ndash justificativa juriacutedica para a remoccedilatildeo

sect 3ordm Ao tornar indisponiacutevel o acesso ao conteuacutedo caberaacute aos responsaacuteveis pela

hospedagem de conteuacutedos na Internet informar o fato ao responsaacutevel pela colocaccedilatildeo agrave

disposiccedilatildeo

do puacuteblico comunicando-lhe o teor da notificaccedilatildeo de remoccedilatildeo e fixando prazo razoaacutevel

para a eliminaccedilatildeo definitiva do conteuacutedo infringente

sect 4ordm Caso o responsaacutevel pelo conteuacutedo infringente natildeo seja identificaacutevel ou natildeo

possa ser localizado e desde que presentes os requisitos de validade da notificaccedilatildeo

cabe aos responsaacuteveis pela hospedagem de conteuacutedos na Internet manter o bloqueio

sect 5ordm Eacute facultado ao responsaacutevel pela colocaccedilatildeo agrave disposiccedilatildeo do puacuteblico observados

os requisitos do sect 2ordm contranotificar os responsaacuteveis pela hospedagem de conteuacutedos na

Internet requerendo a manutenccedilatildeo do conteuacutedo e assumindo a responsabilidade

exclusiva pelos eventuais danos causados a terceiros caso em que caberaacute aos

201

responsaacuteveis pela hospedagem de conteuacutedos na Internet o dever de restabelecer o

acesso ao conteuacutedo indisponibilizado e informar ao notificante o restabelecimento

sect 6ordm Qualquer outra pessoa interessada fiacutesica ou juriacutedica observados os requisitos

do sect 2ordm poderaacute contranotificar os responsaacuteveis pela hospedagem de conteuacutedos na

Internet assumindo a responsabilidade pela manutenccedilatildeo do conteuacutedo

sect 7ordm Tanto o notificante quanto o contranotificante respondem nos termos da lei

por informaccedilotildees falsas errocircneas e pelo abuso ou maacute-feacute

sect 8ordm Os usuaacuterios que detenham poderes de moderaccedilatildeo sobre o conteuacutedo de

terceiros se equiparam aos responsaacuteveis pela hospedagem de conteuacutedos na Internet para

efeitos do disposto neste artigoldquo (NR)

ldquoArt 109-A

A prestaccedilatildeo de informaccedilotildees falsas do disposto no sect 7ordm do art 68

sujeitaraacute os responsaacuteveis a multa de dez a trinta por cento do valor originariamente

cobradordquo (NR)

ldquoArt 110-A

O titular de direito autoral ou seu mandataacuterio que ao exercer seu

direito de forma abusiva praticar infraccedilatildeo da ordem econocircmica sujeitar-se-aacute no que

couber agraves disposiccedilotildees da Lei nordm 8884 de 11 de junho de 1994 sem prejuiacutezo das demais

sanccedilotildees cabiacuteveisrdquo (NR)

ldquoArt 110-B

O oferecimento por parte de titular de direitos autorais ou pessoa a

seu serviccedilo de ganho vantagem proveito ou benefiacutecio material direto ou

indireto para os proprietaacuterios diretores funcionaacuterios ou terceiros a serviccedilo de

empresas de radiodifusatildeo ou serviccedilos de televisatildeo por assinatura com o intuito de

aumentar ou diminuir artificiosamente a frequecircncia da execuccedilatildeo ou exibiccedilatildeo puacuteblica

de obras ou fonogramas especiacuteficos caracterizaraacute infraccedilatildeo da ordem econocircmica na

forma da Lei nordm 8884 de 1994 e iliacutecito civil estando sujeito neste caso ao pagamento

de multa no valor de duas ateacute vinte vezes o valor oferecido agrave parte que demonstrar

prejuiacutezo direto ou indireto

sect 1ordm Incorrem nas mesmas infraccedilotildees e sujeitam-se agraves mesmas sanccedilotildees previstas no

caput deste artigo os proprietaacuterios diretores funcionaacuterios ou terceiros a serviccedilo de

empresas de radiodifusatildeo ou serviccedilos de televisatildeo por assinatura que com o intuito de

aumentar ou diminuir artificiosamente a frequecircncia da execuccedilatildeo ou exibiccedilatildeo

puacuteblica de obras ou fonogramas especiacuteficos solicitarem ou receberem para si ou

para outrem direta ou indiretamente ganho vantagem proveito ou benefiacutecio material

sect 2ordm O disposto neste artigo natildeo se aplica se o ato praticado constituir inserccedilatildeo

publicitaacuteria desde que a mesma seja previamente informada ao puacuteblico e que natildeo seja

computada para efeitos de arrecadaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo dos direitos autorais decorrentes

da execuccedilatildeo e exibiccedilatildeo puacuteblicasrdquo (NR)

ldquoArt 110-C

A inobservacircncia do disposto nos incisos I e II do Artigo 98ndashB nos

202

Artigos 98ndashC e 98ndashD bem como no sect 6ordm do art 99 sujeitaraacute os dirigentes das

associaccedilotildees de gestatildeo coletiva de direitos autorais ou do escritoacuterio central agrave multa de ateacute

R$ 5000000 (cinquenta mil reais) aplicada pelo Ministeacuterio da Cultura mediante

regular processo administrativo assegurado o contraditoacuterio e a ampla defesa conforme

disposto em regulamento

sect 1ordm A multa prevista no caput poderaacute ser aumentada em 50 (cinquumlenta por cento) a

cada nova reincidecircncia

sect 2ordm Os valores referentes agrave aplicaccedilatildeo da multa de que trata este artigo seratildeo

revertidos ao Fundo Nacional de Culturardquo (NR)

ldquoArt 111-A

A accedilatildeo civil por violaccedilatildeo a direitos autorais prescreve em cinco anos

contados da data da violaccedilatildeo do direito

Paraacutegrafo uacutenico Em caso de praacutetica continuada de violaccedilatildeo de direitos autorais de

determinado autor ou titular de direitos pelo mesmo infrator ou grupo de infratores

conta-se a prescriccedilatildeo do uacuteltimo ato de violaccedilatildeordquo (NR)

ldquoArt 113-A Enquanto os serviccedilos de registro de que trata o art 19 desta Lei natildeo

forem organizados pelo Poder Executivo Federal o autor da obra intelectual poderaacute

registraacute-la conforme sua natureza

I - na Fundaccedilatildeo Biblioteca Nacional

II - na Escola de Muacutesica da Universidade Federal do Rio de Janeiro

III - na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro ou

IV - no Conselho Federal de Engenharia Arquitetura e Agronomia

sect 1ordm Se a obra for de natureza que comporte registro em mais de um desses oacutergatildeos

deveraacute ser registrada naquele com que tiver maior afinidade

sect 2ordm Natildeo se aplica o disposto neste artigo para o registro de programas de

computador

sect 3ordm Enquanto o valor e processo de recolhimento de retribuiccedilatildeo natildeo forem

estabelecidos em ato do Ministro da Cultura estes continuam sendo estabelecidos por

ato do titular do oacutergatildeo ou entidade da administraccedilatildeo puacuteblica federal a que estiver

vinculado o registro das obras intelectuais

sect 4ordm Fica o Poder Executivo Federal autorizado a transferir os acervos e

documentos das entidades e oacutergatildeos relacionados neste artigo ao oacutergatildeo ou entidade que

assumir essa atribuiccedilatildeo observado o regulamentordquo (NR)

ldquoArt 113-B Aplicam-se subsidiariamente as normas do Coacutedigo Civil aos negoacutecios

juriacutedicos direitos e deveres previstos nesta Leirdquo (NR)

Art 5o

Ficam revogados

I - o art 17 da Lei nordm 5988 de 14 de dezembro de 1973 e

II - o art 21 as aliacuteneas ldquohrdquo e ldquoirdquo do inciso VIII do art29 e o inciso II do art 49 todos

da Lei nordm 9610 de 19 de fevereiro de 1998

Brasiacutelia de de 2009 188ordm da Independecircncia e 121ordm da

Repuacuteblica

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