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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAN ´ A FELIPE WISNIEWSKI FUNC ¸ ˜ OES WAVELETS DE HAAR COM APLICAC ¸ ˜ OES CURITIBA FEVEREIRO DE 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANA

FELIPE WISNIEWSKI

FUNCOES WAVELETS DE HAAR COM APLICACOES

CURITIBA

FEVEREIRO DE 2014

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FELIPE WISNIEWSKI

FUNCOES WAVELETS DE HAAR E APLICACOES

Dissertacao apresentada ao Programa de

Pos-Graduacao em Matematica Aplicada

da Universidade Federal do Parana, como

requisito parcial a obtencao do grau de

Mestre em Matematica Aplicada.

Orientador: Prof. Dr. Saulo Pomponet

Oliveira.

CURITIBA

FEVEREIRO DE 2014

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W815f Wisniewski, Felipe,

Funcoes Wavelets de Haar com Aplicacoes / Felipe Wisni-

ewski. — Curitiba, 2014.

XI, 74f. : il. color. ; 30 cm.

Dissertacao (Mestrado) - Universidade Federal do Parana, Se-

tor de Ciencias Exatas, Programa de Pos-graduacao em Ma-

tematica Aplicada, 2014.

Orientador: Prof. Dr. Saulo Pomponet Oliveira

Bibliografia: p. 72-74.

1. Wavelets (Matematica). 2. Equacoes integrais. 3. Teoria

da aproximacao . I. Universidade Federal do Parana. II. Oliveira,

Saulo Pomponet. III. Ttulo.

CDD: 515.2433

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Agradecimentos

Meus sinceros agradecimentos:

Em primeiro lugar, ao meu orientador Saulo, por seus

ensinamentos e por todo esforco e dedicacao depositados. Alem

disso, a empatia com que recebeu as minhas ideias foi o estımulo

que me permitiu vencer as insegurancas deste processo.

Aos meus pais Geraldo e Leonarda, a minha irma Silvia, que

estiveram fortemente presentes na minha caminhada, oferecendo

apoio e compreencao.

Aos meus amigos que tanto me apoiaram e me incentivaram.

Aos professores Ana Gabriela Martinez e Juarez dos Santos

Azevedo, membros da banca examinadora, por aceitarem o

convite para participar da defesa e por contribuırem com

sugestoes enriquecedoras.

Ao Programa de Pos-Graduacao em Matematica Aplicada da

UFPR pela oportunidade e formacao de qualidade propiciada.

A Coordenacao de Aperfeicoamento de Pessoal de Nıvel Superior,

pelo apoio financeiro.

A Rede de Geofısica Aplicada CENPES-PETROBRAS, uma vez

que este trabalho foi desenvolvido no contexto do projeto

“Modelagem e Tomografia Sısmicas usando Parametrizacao

Ondaleta de Campos de Velocidades”.

A Deus pelo dom da vida, pelo equilıbrio e pela paz interior.

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“ A verdadeira viagem de descobrimento nao

consiste em procurar novas paisagens, mas

em ter novos olhos”

Marcel Proust

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Resumo

Neste trabalho, apresenta-se um estudo de bases ortogonais wavelets, com enfase

no sistema de Haar e suas aplicacoes. Inicialmente e feita uma breve revisao de concei-

tos, partindo em seguida para resultados da analise de multirresolucao para wavelets

em geral. Feito isso, passa-se a estudar o caso particular das wavelets de Haar unidi-

mensionais: suas principais propriedades e um algoritmo que pode ser usado no calculo

de aproximacoes de funcoes com suporte contido no intervalo [0,1]. A teoria estudada

para funcoes de uma dimensao e estendida para funcoes bidimensionais. Com isto, sera

vista a implementacao de metodos de aproximacao de funcoes utilizando a base de Haar

2D e a aproximacao da solucao da equacao integral de Fredholm, tanto homogenea

como nao-homogenea. Utilizando o pacote computacional Matlab sao feitos experimen-

tos numericos a fim de ilustrar tais aproximacoes.

Palavras-chave: funcoes wavelets; Sistema de Haar; Analise de Multirresolucao; Equacao

Integral de Fredholm.

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Abstract

In this work we present a study about wavelet orthogonal basis focusing on the

Haar system and in its applications. Initially, we do a brief review of concepts followed by

the main results on multi-resolution analysis for wavelets in general. We proceed to the

study of the particular case of one-dimensional Haar wavelets: its main properties and an

algorithm that may be used for approximating functions supported on the interval [0, 1].

The theory for one-dimensional functions will be extended for the two-dimensional case.

In this sense, we deal with the implementation of approximation methods for functions

using the 2D Haar basis and the approximation of the solutions both the homogeneous

and the non-homogeneous Fredholm integral equation. Using the computational package

Matlab we perform numerical experiments in order to illustrate such approximations.

Keywords: wavelet functions; Haar System; Multi-resolution Analysis; Fredholm Inte-

gral Equation.

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Lista de Figuras

3.1 Funcoes escala e wavelet-mae de Haar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

4.1 Comparacao da aproximacao com a funcao u no espaco V3 . . . . . . . . 57

4.2 Erro relativo entre a aproximacao e a funcao u no espaco V3 . . . . . . . 58

4.3 Comparacao da aproximacao com a funcao u no espaco V6 . . . . . . . . 59

4.4 Erro relativo entre a aproximacao e a funcao u no espaco V6. . . . . . . . 60

4.5 Autovalores gerados pelo metodo das wavelets de Haar 2D e autovalores

exatos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64

4.6 Comparacao da aproximacao da solucao com a solucao exata no espaco V3 67

4.7 Erro relativo entre a aproximacao da solucao e a solucao exata no espaco V3 67

4.8 Comparacao da aproximacao da solucao com a solucao exata no espaco V6 68

4.9 Erro relativo entre a aproximacao da solucao e a solucao exata no espaco

V6. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68

4.10 Diferenca em modulo entre a aproximacao direta da funcao u e a apro-

ximacao da solucao de (4.42). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

x

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Sumario

Introducao 1

1 Conceitos Preliminares 4

1.1 Espacos de Funcoes Integraveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

1.2 Bases Ortonormais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

2 Funcoes Wavelets 9

2.1 Translacao e Mudanca de Escala . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

2.2 Analise de Multirresolucao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

2.3 Funcao Escala . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

2.4 Wavelet mae . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

2.5 Algoritmo de Mallat . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

3 Sistema de Haar 30

3.1 Densidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

3.2 Aproximacoes de Funcoes Utilizando o Sistema de Haar . . . . . . . . . . 45

3.3 Base 2D Tensorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46

3.4 Base 2D Gerada por Soma Direta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

4 Aplicacoes 52

4.1 Implementacao da Aproximacao de Funcoes na Base de Haar 2D . . . . . 52

4.2 Equacao de Fredholm Homogenea . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

4.2.1 Formulacao Variacional e Aproximacao de Galerkin . . . . . . . . 57

4.2.2 Montagem do Sistema de Autovalores Discreto . . . . . . . . . . . 59

4.2.3 Exemplo Numerico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64

xi

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4.3 Equacao de Fredholm nao Homogenea . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65

4.3.1 Exemplo Numerico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66

Conclusao 70

Referencias Bibliograficas 72

xii

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Introducao

Na natureza encontramos grandezas dispostas em inumeras escalas: desde mi-

nimamente pequenas a extremamente grandes. Ao modelar essas grandezas tendo em

maos ferramentas que nao se adequam a isso, e difıcil obter, ao mesmo tempo, pre-

cisao e baixo custo computacional. Nesse ponto, as funcoes Wavelet dispoem da grande

vantagem de permitir a utilizacao de varias escalas simultaneamente. Esse e um dos

principais motivos de adotarmos essa teoria, que tornou-se ferramenta muito usada em

varias areas que ate hoje estao sendo ampliadas. Em 1990, a analise wavelet recebeu o

destaque de topico de pesquisa recomendado para as proximas decadas pela Sociedade

de Matematica Norte-Americana [5].

O termo “wavelets”, adotado nesse trabalho, teve inicialmente sua versao em

frances com o termo “ondelettes”, em portugues “ondinhas”ou “ondaletas”, que associa-

se a “pequenas ondas”, tendo apelo intuitivo associado a ondas que crescem e decaem

num perıodo limitado de tempo [5].

E importante ressaltar que, muito antes de se ter conhecimento da analise wave-

let, mais precisamente no ano de 1911, Alfred Haar apresentou em seu trabalho [15] uma

sequencia de funcoes ortonormais constantes por partes, que hoje e considerada como um

exemplo importante de sistema de funcoes wavelets, ao qual e dado o nome de Sistema

de Haar. No final desse seu trabalho, Haar se concentra em descrever esse sistema de

funcoes e demostrar as relacoes de ortogonalidade, a densidade desse sistema no espaco

L2(0, 1), e acima de tudo a convergencia uniforme das somas parciais da serie Haar a uma

funcao f , para qualquer funcao contınua f em [0, 1]. Mais especificamente, ele mostra a

Georg Zimmermann disponibilizou uma traducao para a lıngua inglesa deste artigo na paginahttps://www.uni-hohenheim.de/∼gzim/Publications/haar.html

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Introducao 2

convergencia das somas parciais de Haar em todos os pontos onde a antiderivada de f

existe.

Segundo Feichtinger [12], o surgimento do Sistema de Haar instigou muitos pes-

quisadores a se perguntar se a convergencia uniforme era valida apenas para conjuntos

de funcoes ortonormais descontınuas. As respostas para tal pergunta comecaram a surgir

a partir de cerca de 18 anos mais tarde, com exemplos de sistemas de funcoes ortogonais

contınuas [13]. Depois disso, houve contribuicoes significativas de varios autores ate a

teoria wavelet se consolidar no que e hoje. Nesse tempo surgiram varios outros exemplos

de sistemas de funcoes wavelets.

Dentre as contribuicoes mais recentes podemos ressaltar a importancia de Le-

marie e Meyer [19] que apresentaram uma generalizacao das funcoes wavelets num con-

ceito que foi aperfeicoado ate se tornar o que se compreende por Analise de Multirre-

solucao, posteriormente descrita por [21].

Outra contribuicao importante foi a de Ingrid Daubechies, que foi capaz de

construir sistemas de funcoes wavelets de suporte compacto. Seu artigo [9] e um marco

importante na historia da teoria de wavelets, por pelo menos duas razoes: a importancia

do suporte compacto das funcoes wavelets para aplicacoes, e oferecer condicoes para

poder utilizar o algoritmo cascata para calcular os coeficientes das funcoes wavelets

numericamente com precisao [12].

Depois disso, Mallat [22], visando praticidade em utilizar bases ortonormais

wavelets para aproximar funcoes de L2(R), desenvolveu um metodo para calcular os

coeficientes das somas wavelets, que basicamente sao produtos internos entre as funcoes

da base e a funcao a ser aproximada, sem recorrer ao uso do calculo de integrais.

Contudo, mesmo com a existencia de uma gama grande de exemplos de funcoes

wavelets, o Sistema de Haar e muitas vezes considerado como o mais natural e simples

exemplo de um sistema ortonormal wavelet, que tem desempenhado um papel importante

ate hoje [12]. Alem disso, podemos contar com uma extensao do conceito de Base de

Haar para espacos de funcoes bidimensionais [2]. A principal contribuicao do presente

trabalho e agregar os principais aspectos teoricos sobre o sistema de Haar, resultando

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Introducao 3

em um estudo detalhado sobre o Sistema de Haar no contexto de sistemas de funcoes

wavelets ortogonais para, a partir daı, explorar suas aplicacoes. Duas referencias foram

fundamentais para este trabalho: os livros de G. Walter [23] e C. Blatter [4], nos quais

se encontram feitas ou esbocadas diversas demonstracoes necessarias aqui.

No primeiro capıtulo, serao apresentados conceitos preliminares que ajudarao a

compreender a teoria apresentada posteriormente. No segundo capıtulo, sera feita uma

abordagem a funcoes wavelets englobadas no que se entende por Analise de Multirre-

solucao, e nessa parte tambem estudaremos o algoritmo de Mallat [22]. Em seguida,

no terceiro capıtulo, trataremos do caso especıfico do Sistema de Haar, expondo sua

definicao e demonstrando suas principais propriedades. Posteriormente faremos um es-

tudo sobre a extensao do conceito de base de Haar para o espacos de funcoes de duas

variaveis. Tendo em maos as ferramentas citadas ate aqui, no quinto capıtulo, explora-

remos aplicacoes das Bases de Haar bidimensionais, mais precisamente, combinaremos o

conceito de base de Haar de duas dimencoes com o metodo de Galerkin a fim de aproximar

a solucao de equacoes integrais de Fredholm, tanto homogeneas, como nao-homogeneas.

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Capıtulo 1

Conceitos Preliminares

Neste capıtulo buscamos fazer uma breve revisao de conceitos matematicos que

sao de fundamental importancia no desenvolvimento deste trabalho. A primeira parte

contem definicoes e resultados provenientes da teoria da Medida e Integracao e de Analise

Funcional. Em seguida, sao apresentadas nocoes relacionadas a bases ortonormais.

1.1 Espacos de Funcoes Integraveis

Inicialmente, apresentamos algumas definicoes importantes.

Definicao 1.1 (Espaco de Hilbert) Um espaco de Hilbert e um espaco vetorial Hsobre um corpo K, munido com um produto interno 〈·, ·〉, completo perante a metricad(x, y) = ‖x− y‖ induzida pela norma desse espaco.

Definicao 1.2 (Espaco lp(Z)) O espaco lp(Z) (1 ≤ p < ∞) e um espaco vetorial for-mado pelas sequencias (sn)n∈Z tais que

∞∑n=−∞

|sn|p <∞.

Pode-se definir a norma

‖sn‖2 :=

(∑k∈Z

|sn|2) 1

2

.

em lp(Z) de modo que este seja um espaco de Hilbert perante a metrica induzida pela

norma ‖ · ‖l2(Z) [18].

4

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Conceitos preliminares 5

Definicao 1.3 (Espaco Lp(R)) O espaco Lp(R) (1 ≤ p < ∞) e um espaco vetorialformado pelas funcoes f : R→ C tais que∫ ∞

−∞|f(t)|pdt <∞,

Para uma correta definicao dos espacos Lp(R), devemos considerar as integrais

no sentido de Lebesgue [17].

No desenvolvimento deste trabalho, sao feitas muitas referencias a funcoes f :

R → C pertencentes ao espaco de Hilbert Lp com p = 2 [8], ao qual podemos associar

uma operacao de produto interno:

Definicao 1.4 (Espaco L2(R)) O espaco (L2, 〈·, ·〉), em que

〈f, g〉 :=

∫ ∞−∞

f(t)g(t)dt (1.1)

e um espaco vetorial com produto interno. Definimos neste espaco a norma

‖f‖ := (〈f, f〉)12 =

(∫ ∞−∞|f(t)|2dt

) 12

(1.2)

Em alguns casos precisaremos da definicao de um espaco de funcoes mais especıfico:

Definicao 1.5 (Espaco L2(a, b)) Dados a, b ∈ R com a < b, dizemos que o espacoL2(a, b) e um espaco vetorial formado pelas funcoes f : [a, b]→ C tais que∫ b

a

|f(t)|2dt <∞.

O espaco L2(a, b), por sua vez, tambem e munido de produto interno e sua norma

induzida conforme as definicao a seguir:

Definicao 1.6 Dados a, b ∈ R com a < b, o espaco L2(a, b) e um espaco vetorial comproduto interno dado por

〈f, g〉L2(a,b)

:=

∫ b

a

f(t)g(t)dt. (1.3)

Neste espaco, definimos a norma

‖f‖L2(a,b)

:= 〈f, f〉1/2L2(a,b) =

(∫ b

a

|f(t)|2dt) 1

2

. (1.4)

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Conceitos preliminares 6

Por simplicidade de notacao, quando estivermos falando sobre espacos L2, seja definidos

na reta toda ou num intervalo (a, b), utilizaremos sempre 〈·, ·〉 e ‖ · ‖ para denotar o

produto interno e a norma respectivamente.

Levando em consideracao que, em muitos casos, buscaremos aproximacoes de

funcoes, se faz necessario a utilizacao de resultados importantes relacionados a con-

vergecia de sequencias de funcoes, seja no espaco L2(R) ou no espaco L2(a, b), com a < b.

A seguir listamos alguns resultados relacionados a esse assunto, cuja demonstracao pode

ser encontrada em [24].

Teorema 1.7 (Convergencia Monotona) Seja (fn)n∈N uma sequencia monotona defuncoes de L2(R) cujas integrais sao limitadas, ou seja, fn ∈ L1(R) para todo n ∈ N.Entao (fn)n∈R converge para uma funcao f em quase todo ponto de R e∫ ∞

−∞f(t) dt = lim

n→∞

∫ ∞−∞

fn(t) dt.

Corolario 1.8 Se f e um elemento positivo de L1(R), isto e, f(x) ≥ 0 para quase todox ∈ R, e

∫∞−∞ f(t) = 0 entao f ≡ 0 em quase todo ponto.

Da teoria de Analise Funcional, extraimos a desigualdade a seguir, que tem uma

versao tambem para integrais.

Teorema 1.9 (Desigualdade de Holder) Sejam p, q > 1 numeros que satisfazem arelacao 1

p+ 1

q= 1. Temos que, para quaisquer sequencias (ak)k∈Z ⊂ lp(Z) e (bk)k∈Z ⊂

lq(Z),∞∑

k=−∞

|ak · bk| ≤

(∞∑

k=−∞

|ak|p) 1

p

·

(∞∑

k=−∞

|bk|q) 1

q

. (1.5)

A demonstracao do Teorema 1.9 pode ser encontrada em [8].

Teorema 1.10 (desigualdade de Holder para integrais [24]) Sejam p, q > 1 nume-ros que satisfazem a relacao 1

p+ 1

q= 1 e f, g funcoes tais que f ∈ Lp(R) e g ∈ Lq(R).

Entao, f.g ∈ L1(R) e∫ ∞−∞|f(t) · g(t)| dt ≤

(∫ ∞−∞|f(t)|p dt

) 1p

·(∫ ∞−∞|g(t)|q dt

) 1q

. (1.6)

Note agora que a seguinte condicao e necessaria para que f ∈ L2(R):

limt→±∞

|f(t)| = 0.

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Conceitos preliminares 7

Esta condicao e satisfeita automaticamente pelas funcoes que se anulam quando |t| > T

para algum T > 0 dado. Isto motiva introduzir o conceito de suporte de uma funcao:

Definicao 1.11 (Suporte) O suporte de uma funcao f : R→ C e o conjunto supp(f)definido por

supp(f) = {t ∈ R | f(t) 6= 0}. (1.7)

Definicao 1.12 (Suporte compacto) Uma funcao f : R→ C e dita de suporte com-pacto se o conjunto supp(f) ∈ R e fechado e limitado.

Dado um conjunto A ∈ R, seja int(A) o interior de A, ou seja, o maior conjunto

aberto contido em A.

Proposicao 1.13 Se dois sinais f, g ∈ L2(R) satisifazem int (supp(f) ∩ supp(g)) = ∅,entao f e g sao ortogonais, isto e, 〈f, g〉 = 0.

Demonstracao. Segue diretamente da hipotese que f(x)·g(x) = 0 para todo x real. Desta

maneira, pela definicao do produto interno em temos L2(R), temos 〈f, g〉 = 0.

1.2 Bases Ortonormais

Inicialmente, vamos introduzir o conceito de conjuntos ortogonais e complemento

ortogonal de um subconjunto seguidas da definicao de conjunto ortonormal total.

Definicao 1.14 Dizemos que um subconjunto A do espaco com produto interno X e umconjunto ortogonal se quaisquer dois vetores distintos de A forem ortogonais, ou seja,o produto interno entre eles deve ser zero. Se, alem disso, seus elementos tem normaum, sera dito um conjunto ortonormal. Dizemos tambem que dois conjuntos A e B saoortogonais quando qualquer elemento de A e ortogonal a todo elemento de B.

Definicao 1.15 Seja A um subconjunto do espaco com produto interno X. Chamamosde complemento ortogonal do conjunto A em X, o conjunto de elementos de X que saoortogonais a todo elemento de A.

Definicao 1.16 Seja M um subconjunto do espaco com produto interno X. Definamosspan(M) como sendo o conjunto das combinacoes lineares finitas dos elementos de M .

Definicao 1.17 Seja M um subconjunto do espaco com produto interno X. Dizemosque M e total em X se o subespaco vetorial span(M) e denso em X, isto e, span(M) =X onde span(M) representa o fecho do conjunto span(M). Em outras palavras, umconjunto M e total no espaco X quando, para cada elemento de X, existe um elementode span(M) suficientemente proximo.

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Conceitos preliminares 8

Indicamos a seguir alguns resultados importantes a respeito da caracterizacao

de sequencias ortonormais, cujas demonstraccoes podem ser encontradas em [8].

Teorema 1.18 Seja M um subconjunto do espaco com produto interno H. O subcon-junto M e total em H se, e somente se, seu complemento ortogonal em H contemsomente o elemento nulo.

Teorema 1.19 (Desigualdade de Bessel) Seja (fn)n∈Z uma sequencia ortonormal emum espaco com produto interno H. Para todo h ∈ H,

∞∑n=−∞

|〈h, fn〉|2 ≤ ‖h‖2.

Teorema 1.20 (Identidade de Parseval) Seja H um espaco de Hilbert. Uma sequencia(fn)n∈Z e total em H, se e somente se, para cada h ∈ H, tem-se

‖h‖2 =∞∑

n=−∞

|〈h, fn〉|2.

Teorema 1.21 Seja H um espaco de Hilbert. Uma sequencia (fn)n∈Z e total em H, see somente se, para cada h ∈ H, tem-se

h =∑n∈Z

〈h, fn〉fn. (1.8)

Dizemos que (fn)n∈Z e uma base ortonormal para H.

Vale lembrar que a igualdade (1.8) refere-se a convergencia perante a norma ‖ · ‖ do

espaco H, isto e,

limN→∞

∥∥∥∥∥h−N∑

n=−N

〈h, fn〉fn

∥∥∥∥∥ = 0.

Os coeficientes 〈h, fn〉, da expressao (1.8), sao comumente chamados de coeficientes de

Fourier [8].

Uma vez que os espacos L2(R) e L2(a, b), com a < b, sao espacos de Hilbert

(ver [8]), podemos assumir como validos para esses espacos, todos os resultados vistos

ate agora. Isso nos sera de grande utilidade, uma vez que no desenvolvimento deste

trabalho, veremos alguns exemplos de sequencias ortonormais totais de funcoes em tais

espacos, que serao tambem chamadas de sistemas ortonormais totais.

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Capıtulo 2

Funcoes Wavelets

Neste capıtulo, sera estudada a teoria de bases ortonormais wavelets. Veremos

a maneira de construir um conjunto ortonormal total no espaco L2(R) a partir de uma

funcao, denominada funcao escala. Estudaremos tambem as condicoes que essa funcao

deve satisfazer para gerar o conjunto desejado. Ao final do capıtulo, exploraremos uma

maneira pratica de calcular a aproximacao de funcoes utilizando bases wavelets.

2.1 Translacao e Mudanca de Escala

Inicialmente, vamos definir duas operacoes fundamentais na construcao das

funcoes wavelets:

Definicao 2.1 (Translacao) Seja f ∈ L2(R) e b ∈ R uma constante. A operacaotranslacao por uma constante b e definida por:

Tbf(t) := f(t− b). (2.1)

Definicao 2.2 (Mudanca de Escala) Seja f ∈ L2(R) e a ∈ R uma constante. Aoperacao de mudanca de escala da funcao f segundo o fator a e dada por:

Daf(t) := f(at). (2.2)

2.2 Analise de Multirresolucao

O conceito de Analise de Multirresolucao(MRA), [21] foi formulado com base no

estudo de bases wavelets ortonormais. De modo geral, esse conceito fornece um quadro

9

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Funcoes wavelets 10

natural para a compreensao das bases wavelets. A abordagem dada a esse conceito aqui,

e baseada em [4].

Uma Analise de Multirresolucao (ou Multiresolution Analysis - MRA) e uma

famılia (Vj| j ∈ Z) de subespacos fechados em L2 definida por meio das seguintes pro-

priedades:

(i) Os subespacos sao ordenados por inclusao:.

. . . ⊂ V−2 ⊂ V−1 ⊂ V0 ⊂ V1 ⊂ V2 ⊂ ... ⊂ Vj ⊂ Vj+1 ⊂ ... ⊂ L2(R) (2.3)

(os maiores valores de j correspondem aos maiores espacos Vj); e valem os seguintesaxiomas:

(a) Axioma de Separacao: ⋂j∈Z

Vj = {0} ,

(b) Axioma da Completude: ⋃j∈Z

Vj = L2(R); (2.4)

(ii) Os subespacos Vj sao relacionados uns aos outros por meio do operador escala:

Vj+1 = D2Vj = . . . = D2jV0, ∀j ∈ Z. (2.5)

A propriedade 2 pode ser descrita em termos de uma funcao f na seguinte forma:

f(t) ∈ V0 ⇐⇒ D2jf(t) = f(2jt) ∈ Vj; (2.6)

(iii) Existe uma funcao φ ∈ L2(R) ∩ L1(R) tal que o conjunto de translacoes (Tkφ =φ(t − k)| k ∈ Z) forma uma base ortonormal de V0 ∈ L2(R). Essa funcao edenominada funcao escala da MRA.

Assim, o subespaco V0 pode ser descrito como um conjunto de funcoes da se-

guinte forma:

V0 =

{f ∈ L2(R)| f(t) =

∑k∈Z

ckφ(t− k),∑|ck|2 <∞

}. (2.7)

Podemos agora, utilizando a funcao φ e as operacoes mudanca de escala e

translacao, definir as funcoes

φj,k(t) = 2j/2φ(2jt− k) (j ∈ Z, k ∈ Z). (2.8)

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Funcoes wavelets 11

Segue de (2.6) que as funcoes (φj,k| k ∈ Z) formam uma base do subespaco Vj.

Como as translacoes (Tkφ = φ(t − k)| k ∈ Z) sao ortonormais, pode-se verificar que as

funcoes (φj,k) tambem sao ortonormais para cada j ∈ Z. Com efeito, se fixarmos j ∈ Z,

dados k, l ∈ Z, utilizando integracao por substituicao temos

〈φj,k, φj,l〉 =

∫ ∞−∞

2j/2φ(2jt− k)2j/2φ(2jt− l)dt

x=2jt=

∫ ∞−∞

2jφ(x− k)φ(x− l) 1

2jdx

=

∫ ∞−∞

φ(x− k)φ(x− l)dx = δk,l.

2.3 Funcao Escala

Ate agora sabemos que, ao escolhermos a funcao φ = φ0,0 ∈ L2(R) ∩ L1(R), ela

deve satisfazer tres condicoes gerais. Uma delas e que o conjunto (φ(t− k)| k ∈ Z) seja

ortonormal. Outra condicao que devemos verificar e a garantia das inclusoes (2.3). A

terceira condicao, e que valem os axiomas de separacao e da completude. Nesta secao

estudaremos, essencialmente, requisitos para que essas condicoes sejam satisfeitas.

Lema 2.3 Seja φ ∈ L2(R) uma funcao escala nao nula, V0 o espaco definido em (2.7),e (Vj| j ∈ Z) a sequencia de espacos definida por (2.5). Se V0 ⊂ V1, todas as inclusoesde (2.3) sao validas.

Demonstracao. Dado j ∈ Z, seja f ∈ Vj e

f0(t) = D2−jf(t) = f(2−jt), ∀t ∈ R.

Note que f(t) = f(2j2−jt) = D2jf0(t), logo

f ∈ Vj =⇒ D2jf0 ∈ Vj.

Temos agora por (2.6) que

D2−jD2jf0 ∈ Vj−j, (2.9)

ou seja, f0 ∈ V0. Como V0 ⊂ V1 entao f0 ∈ V1 logo, por (2.6), temos que

f0 ∈ V1 =⇒ D2jf0 ∈ Vj+1. (2.10)

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Funcoes wavelets 12

Portanto, f = D2jf0 ∈ Vj+1 com f ∈ Vj arbitrario. Como j ∈ Z tambem foi escolhido

arbitrariamente entao

Vj ⊂ Vj+1, ∀j ∈ Z.

Teorema 2.4 A inclusao V0 ⊂ V1 e valida, se e somente se, existe uma sequencia(hk) ∈ l2(Z) tal que

φ(t) =√

2∞∑

k=−∞

hkφ(2t− k). (2.11)

Demonstracao. (⇒)Temos que φ ∈ V1. Definamos φ0(t) := φ(2−1t), ou seja,

φ(t) = φ(2.2−1t) = D2φ(2−1t) = D2φ0(t).

Temos de (2.6) que

φ = D2φ0 ∈ V1 =⇒ φ0 ∈ V0,

sendo assim, existe uma sequencia (an)n∈Z ∈ l2(Z) tal que

φ0(t) =∑n∈Z

anφ(t− n).

Segue que

φ0(2t) =∑n∈Z

anφ(2t− n).

Mas φ0(2t) = D2φ0(t) = φ(t) de modo que se escolhermos hk =ak√

2, para todo k inteiro,

temos

φ(t) =∑k∈Z

hk√

2φ(t− k).

(⇐)Seja f ∈ V0. Existe uma sequencia (an)n∈Z ∈ l2(Z) tal que

f(t) =∑n∈Z

anφ(t− n), ∀t ∈ R.

Por outro lado, para todo n ∈ Z, existe uma sequencia (ck)k∈Z ∈ l2(Z) tal que

φ(t− n) =∑k∈Z

ck√

2φ(2(t− n)− k)

=∑k∈Z

ck√

2φ(2t− 2n− k)

l=2n+k=

∑l∈Z

cl−2n√

2φ(2t− l) ∈ V1. (2.12)

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Funcoes wavelets 13

Definamos a sequencia (fN)N∈N dada por

fN(t) =N∑

n=−N

anφ(t− n). (2.13)

Note que, por (2.12), fN ∈ V1 para todo N ∈ N. Temos tambem que

f(t) = limN→∞

N∑n=−N

anφ(t− n), (2.14)

sendo assim, para mostrar que f ∈ V1 basta provar que V1 e fechado. Para tal, seja

(gn)n∈N uma sequencia em V1 tal que limn→∞

gn = g. Como as funcoes (φ1,k| k ∈ Z) formam

uma base para V1, para cada n ∈ N existe uma sequencia a(n) = (a(n)k )k∈Z ∈ l2(Z) tal que

gn(t) =∑k∈Z

a(n)φ1,k(t). (2.15)

Como a sequencia (gn)n∈N converge entao ela tambem e de Cauchy, ou seja, dado ε > 0

existe n0 ∈ N tal que ‖gm − gn‖ < ε para todo m,n > n0. Mas como o conjunto

(φ1,k| k ∈ Z) e ortonormal total em V1 entao, pela identidade de Parseval temos que

‖gm − gn‖2 =

∥∥∥∥∥∑k∈Z

a(m)k φ1,k −

∑k∈Z

a(n)k φ1,k

∥∥∥∥∥2

=

∥∥∥∥∥∑k∈Z

(a(m)k − a(n)k )φ1,k

∥∥∥∥∥2

=∑k∈Z

|a(m)k − a(n)k |

2 = ‖a(m) − a(n)‖2.

Isto significa que a sequencia (a(n))n∈N e de Cauchy em l2(Z). Como l2(Z) e um espaco

de Hilbert, temos que existe uma sequencia a = (ak)k∈Z ∈ l2(Z) tal que limn⇒∞

a(n)k = ak

para todo k ∈ Z. Se definirmos

g(t); =∑k∈Z

akφ1,k(t),

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Funcoes wavelets 14

temos que f ∈ V1. Alem disso, utilizando a identidade de Parseval novamente, temos

limn→∞

‖gn − g‖ = limn→∞

∥∥∥∥∥∑k∈Z

a(n)k φ1,k −

∑k∈Z

akφ1,k

∥∥∥∥∥2

= limn→∞

∥∥∥∥∥∑k∈Z

(a(n)k − ak)φ1,k

∥∥∥∥∥2

= limn→∞

∑k∈Z

|a(n)k − ak|2 = lim

n→∞‖a(n) − a‖2 = 0.

Isto prova que V1 e fechado.

A identidade (2.11) recebe o nome de Equacao Escala.

Seja φ uma funcao que satisfaz a equacao escala. Reescrevendo a equacao escala

em termos das funcoes (φ1,k| k ∈ Z) e usando a ortogonalidade destas, obtemos

φ =∞∑

k=−∞

hkφ1,k, hk = 〈φ, φ1,k〉 . (2.16)

Esta representacao permite verificar que, se a funcao escala φ possuir suporte

compacto, entao somente alguns hk sao nao nulos.

Teorema 2.5 Se o suporte da funcao escala e supp(φ) = [−M1,M2] e k ≤ −(2M1+M2)ou k ≥ 2M2 +M1 entao hk = 0.

Demonstracao. Seja supp(φ) = [−M1,M2]. Temos que, se 2t− k < −M1 e 2t− k > M2

entao

φ1,k(t) = φ(2t− k) = 0 (2.17)

ou seja, supp(φ1,k) ⊆ [(k −M1)/2, (k +M2)/2]. Assim, se (k −M1)/2 ≥ M2 ou (k +

M2)/2 ≤ −M1 entao int(supp(φk)) ∩ int(supp(φ1,k)) = ∅ . Nestes casos, segue pela

proposicao (1.13) que 〈φ, φ1,k〉 = 0.

Vamos agora formular condicoes para a funcao escala φ a fim de garantir que os

axiomas da separacao e de completude da famılia (Vj| j ∈ Z) sejam validos.

Teorema 2.6 Supondo que existe uma constante C tal que a funcao escala φ ∈ L2(R)∩L1(R) satisfaz a estimativa da forma

|φ(t)| ≤ C

1 + t2, ∀t ∈ R. (2.18)

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Funcoes wavelets 15

e que a famılia (φ0,k| k ∈ Z) e uma base ortonormal de V0, entao vale o axioma daseparacao.

Demonstracao. Seja f ∈ V0. Existe uma sequencia (ak)k∈Z ∈ l2(Z) tal que

f(t) =∞∑

k=−∞

akφ(t− k), ∀t ∈ R. (2.19)

Dado t0 ∈ R, pela desigualdade de Holder (1.9),

|f(t0)| =

∣∣∣∣∣∞∑

k=−∞

akφ(t0 − k)

∣∣∣∣∣ ≤(

∞∑k=−∞

|ak|2)1/2

·

(∞∑

k=−∞

|φ(t0 − k)|2)1/2

. (2.20)

Primeiramente, nosso objetivo sera majorar o termo da direita do produto que aparece

na expressao (2.20). Uma vez que 1 + t20 > 1 entao (1 + t20)2 > 1 + t20 logo, 1

(1+t20)2 <

11+t20

.

Supondo, sem perda de generalidade, que C > 1 temos que

|φ(t0)| ≤C

(1 + t20)=⇒ |φ(t0)|2 ≤

C2

(1 + t20)2≤ C2

1 + t20. (2.21)

Seja j ∈ Z tal que t0 = j +α, |α| < 1 (j e a parte inteira de t0). A partir de j definamos

a soma parcial

SN =

j+N∑k=j−N

|φ(t0 − k)|2. (2.22)

Por (2.21) tem-se que

SN ≤ C2

j+N∑k=j−N

1

1 + (t0 − k)2= C2

j+N∑k=j−N

1

1 + (j + α− k)2(2.23)

≤ C2

1 + (α + 1)2+

C2

1 + (α)2+

C2

1 + (α− 1)2+

j+N∑k=j−N

|k|>j+1

1

1 + (j + α− k)2(2.24)

< C2

(3 +

j−2∑k=j−N

1

1 + (j + α− k)2+

j+N∑k=j+2

1

1 + (j + α− k)2

). (2.25)

Por outro lado,

1 + (j + α− k)2 = 1 + (j − k)2 + 2α(j − k) + α2

≥ 1 + (j − k)2 + 2α(j − k)

≥ 1 + (j − k)2 − 2|α||(j − k)|

≥ 1 + (j − k)2 − 2|(j − k)| = (1− |j − k|)2

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Funcoes wavelets 16

logo,

SN ≤ C2

(3 +

j−2∑k=j−N

1

1− |j − k|2+

j+N∑k=j+2

1

1− |j − k|2

).

Definindo i = j − k tem-se i ≥ 0 e assim

SN ≤ C2

(3 +

−2∑i=−N

1

(1− |i|)2+

N∑i=2

1

(1− |i|)2

)

= C2

(3 +

−2∑i=−N

1

(1− i)2+

N∑i=2

1

(1− i)2

). (2.26)

Definindo agora k = i + 1 e k = i − 1 no penultimo e no ultimo somatorios de (2.26)

respectivamente obtem-se

SN ≤ C2

(3 +

−2∑k=−N+1

1

k2+

N−1∑k=1

1

k2

)

= C2

(3 + 2

N−1∑k=1

1

k2

)≤ C2

(3 + 2

∞∑k=1

1

k2

)= C2

(3 +

π2

3

).

Podemos agora tomar o limite quando N tende a infinito em SN :

limN→∞

Sn =∞∑

k=∞

|φ(t0 − k)|2 ≤ C2

(3 +

π2

3

):= C. (2.27)

Perceba ainda que (∞∑

k=−∞

|ak|2)1/2

= ‖f‖ <∞. (2.28)

Deste modo, por (2.20), (2.27) e (2.28) temos que

|f(t0)| ≤ C‖f‖.

Como t0 ∈ R foi escolhido arbitrariamente entao

ess supt∈R|f(t)| ≤ C‖f‖. (2.29)

Seja f ∈⋂

m∈Z Vm, ou seja, f ∈ Vm para todo m ∈ Z. Queremos mostrar que f ≡ 0 q.t.p.

fixando um m0 ∈ Z, segue de (2.6) que existe uma funcao f0 ∈ V0 tal que f = D2m0f0

logo

ess supt∈R|f(t)| = ess sup

t∈R|f0(2m0t)| = ess sup

t∈R|f0(t)| ≤ C‖f‖. (2.30)

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Funcoes wavelets 17

Por outro lado,

‖f0‖2 =

∫ ∞−∞|f0(t)|2dt =

∫ ∞−∞|f(2−m0t)|2dt s=2−m0 t

= 2m0

∫ ∞−∞|f(s)|2dt = 2m0‖f‖.

Assim, por (2.29),

ess supt∈R|f(t)| ≤ 2m0‖f‖.

Em particular, tomando o limite quando m0 tende a infinito, obtem-se

ess supt∈R|f(t)| ≤ 0

em quase todo ponto de R.

Obs.: Para que |φ(t)| ≤ C1+t2

e suficiente que a funcao φ tenha suporte compacto

e seja limitada.

O lema e o teorema seguintes utilizam a funcao escala de Haar φH , que ate

entao nao foi definida. Ela aparece em detalhes na Secao 3.1 do Capıtulo 3, onde sao

verificadas tambem propriedades sobre as funcoes de Haar utilizadas na demontracoes

dos resultados a seguir.

Lema 2.7 Seja φ ∈ L2(R) uma funcao escala e V =⋃j∈Z

Vj. Vale

∣∣∣∣∫ ∞∞

φ(t)dt

∣∣∣∣ = 1 (2.31)

se, e somente se, a funcao escala de Haar φH pertence ao conjunto V .

Demonstracao. Vamos considerar a sequencia (φHj )j∈Z definida por

φHj (t) :=

∑k∈Z

ckφj,k(t), ∀t ∈ R, ck = 〈φH , φj,k〉. (2.32)

Pela desigualdade de Bessel, ∑k∈Z

|ck|2 ≤ ‖φH‖.

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Funcoes wavelets 18

Como φH ∈ L2(0, 1), (ck)k∈Z ∈ l2(Z), ou seja, para cada j ∈ Z, φHj ∈ Vj donde (φH

j )j∈Z ⊂⋃j∈Z

Vj. Temos que

|ck|2 = |〈φH , φj,k〉|2

=

∣∣∣∣∫ 1

0

φj,k(t)dt

∣∣∣∣2=

∣∣∣∣∫ 1

0

2j/2φ(2jt− k)dt

∣∣∣∣2s=2jt−k

= 2−j

∣∣∣∣∣∫ 2j−k

−kφ(s)ds

∣∣∣∣∣2

.

Assim,

‖φHj ‖ =

∑k∈Z

|ck|2 =∑k∈Z

2−j

∣∣∣∣∣∫ 2j−k

−kφ(s)ds

∣∣∣∣∣2

. (2.33)

Seja n tal que −k = −n− 2j

2, ou seja, n = k − 2j

2. Neste caso, n e inteiro quando j ≥ 0.

Note que 2j − k = 2j − n− 2j

2= 2j

2− n. Assim,

‖φHj ‖ =

∑n∈Z

2−j

∣∣∣∣∣∫ −n+2j−1

−n−2j−1

φ(s)ds

∣∣∣∣∣2

=∑n∈Z

2−j

∣∣∣∣∣∫ n+2j−1

n−2j−1

φ(s)ds

∣∣∣∣∣2

, ∀j ≥ 0. (2.34)

Vamos estabelecer condicoes para que limj→+∞ ‖φHj ‖ = ‖φH‖ = 1. Note que o ındice

n translada o intervalo de integracao [−2j−1, 2j−1]. Dado M > 0 (adiante veremos

condicoes mais especıficas de como atribuir valores para M , para que o intervalo de

integracao [n−2j−1, n+2j−1] contenha o intervalo [−M,M ], devemos ter −M+2j−1 ≥ n

e n ≥M − 2j−1. Deste modo, podemos reescrever (2.34) da seguinte maneira:

‖φHj ‖ =

−(2−j−M)−1∑n=−∞

2−j

∣∣∣∣∣∫ n+2j−1

n−2j−1

φ(s)ds

∣∣∣∣∣2

+2−j−M∑

n=−(2−j−M)

2−j

∣∣∣∣∣∫ n+2j−1

n−2j−1

φ(s)ds

∣∣∣∣∣2

+∞∑

n=2−j−M+1

2−j

∣∣∣∣∣∫ n+2j−1

n−2j−1

φ(s)ds

∣∣∣∣∣2

, ∀j ≥ 0.

Definindo αn :=

∣∣∣∣∣n+2j−1∫n−2j−1

φ(s)ds

∣∣∣∣∣2

e q := 2j−1 −M tem-se que

‖φHj ‖ = 2−j

( −q−1∑n=−∞

αn +

q∑n=−q

αn +∞∑

n=q+1

αn

), ∀j ≥ 0. (2.35)

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Funcoes wavelets 19

Levando em consideracao que

limm→∞

∣∣∣∣∫ M

−Mφ(t)dt

∣∣∣∣2 =

∣∣∣∣∫ ∞−∞

φ(t)dt

∣∣∣∣2 = |φ(0)|2, (2.36)

temos que, para todo ε > 0, existe M1 > 0 tal que∣∣∣∣∣∣∣∣∣∫ N2

−N1

φ(t)dt

∣∣∣∣2 − |φ(0)|2∣∣∣∣∣ < ε, ∀N1, N2 ≥M1. (2.37)

Escolhendo entao M > M1, segue de (2.35) e (2.37) que

‖φHj ‖ ≥ 2−j

q∑n=−q

αn

> 2−jq∑

n=−q

(|φ(0)|2 − ε

)> 2−j(2q − 1)

(|φ(0)|2 − ε

)= 2−j(2j − 2M + 1)

(|φ(0)|2 − ε

)≥ |φ(0)|2 − ε− (2M − 1)(|φ(0)|2 − ε), ∀j > 0.

Fixando M = M1, tomemos ε > 0 tal que 0 < ε < |φ(0)|2 e M1 = M(ε) > 12. Vamos

tomar tambem j > 0 tal que 2−j(2M1 − 1) < ε, ou seja, 2j > 2M1−1ε

. Deste modo,

‖φHj ‖2 > |φ(0)|2−ε−ε(|φ(0)|2−ε) = |φ(0)|2−ε(1+ |φ(0)|2−ε), ∀j > log

(2M1 − 1

ε

).

Portanto, limj→+∞

‖φHj ‖2 ≥ |φ(0)|2. Vamos verificar agora que lim

j→+∞‖φH

j ‖2 ≤ |φ(0)|2. Com

efeito, utilizando novamente (2.35) e (2.37) tem-se

2−jq∑

n=−q

αn < 2−jq∑

n=−q

(|φ(0)|2 + ε)

= 2−j(2q + 1)(|φ(0)|2 + ε)

= 2−j(2j − 2M + 1)(|φ(0)|2 + ε)

= |φ(0)|2 + ε− 2−j(2M − 1)(|φ(0)|2 + ε).

Fixando M = max{M1, 1}, obtem-se

a−jq∑

n=−q

αn < |φ(0)|2 + ε.

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Funcoes wavelets 20

Por outro lado,

2−j∞∑

n=q+1

αn = 2−j

(2m−1∑n=q+1

αn +∞∑

n=2m−1+1

αn

). (2.38)

Vamos analisar inicialmente o primeiro somatorio da direita de (2.38). Lembrando que

αn =

∣∣∣∣∣n+2j−1∫n−2j−1

φ(s)ds

∣∣∣∣∣2

, podemos afirmar que

2m−1∑n=q+1

αn =2m−1∑n=q+1

∣∣∣∣∣∫ n+2j−1

n−2j−1

φ(s)ds

∣∣∣∣∣2

≤2m−1∑n=q+1

∣∣∣∣∣∫ n+2j−1

n−2j−1

|φ(s)|ds

∣∣∣∣∣2

, (2.39)

mas, ∫ ∞−∞|φ(s)|ds ≤

∫ ∞−∞

C

1 + s2ds = Cπ, (2.40)

Pois, para qualquer numero natural L,∫ L

−L

ds

1 + s2= 2 · arctg(L).

Tomando o limite quando L tende a infinito temos

limL→∞

2 · arctg(L) = 2 · π2.

Assim,

2m−1∑n=q+1

αn ≤2j−1∑

n=q+1

|Cπ|2

= (2j−1 − (Q+ 1) + 1)C2π2

= (2j−1 − (2j−1 −M))C2π2 = MC2π2. (2.41)

Agora, para o somatorio da direita do lado direito da igualdade (2.38), temos

∞∑n=2j−1+1

αnl=n−2j−1

=∞∑l=1

αl+2j−1 =∞∑l=1

∣∣∣∣∣∫ l+2j−1+2j−1

l+2j−1−2j−1

φ(s)ds

∣∣∣∣∣2

≤∞∑l=1

∣∣∣∣∫ ∞l

|φ(s)|ds∣∣∣∣2 .(2.42)

Porem, para cada l ∈ Z,∫ ∞l

|φ(s)|ds ≤∫ ∞l

C

1 + s2dt ≤

∫ ∞l

C

s2dt =

C

l, (2.43)

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Funcoes wavelets 21

assim,∞∑

n=2j−1+1

αn ≤∞∑l=1

∣∣∣∣Cl∣∣∣∣2 = C2

∞∑l=1

1

l2= C2π

2

6. (2.44)

Portanto, por (2.41) e (2.44),

2−j∞∑

n=q+1

αn ≤ 2−j(MC2π2 + C2π

2

6

). (2.45)

Analogamente, pode-se verificar que

2−j−q−1∑n=−∞

αn ≤ 2−j(MC2π2 +

p12

6

). (2.46)

Assim, para M ≥ max{M1,

12

}e j > 0 tal que q = 2j−1 −M > 0,

‖φHj ‖2 ≤ |φ(0)|+ε+2−j

(2MC2π2 +

C2π2

3

)= |φ(0)|2+ε+2−j

(2M +

1

3

)C2π2. (2.47)

Por fim, para M = M1, e j tal que 2−j(2M1 + 1

3

)< ε, ou seja, 2j > 2M1+1/3

ε, tem-se

‖φHj ‖2 ≤ |φ(0)|2 + ε(1 + C2π2). (2.48)

Sendo assim, limj→∞‖φH

j ‖2 ≤ |φ(0)|2. Alem disso, limj→∞‖φH

j ‖2 ≥ |φ(0)|2 conforme prova-

mos anteriormente, de modo que limj→∞‖φH

j ‖2 = |φ(0)|2. Como sabemos tambem que

limj→∞‖φH

j ‖2 = ‖φH‖2 = 1 entao, por unicidade de limite, podemos concluir que

φH ∈ V ⇐⇒ |φ(0)|2 = 1.

Teorema 2.8 Dada uma funcao escala φ ∈ L2(R), axioma da completude e valido se, esomente se, ∣∣∣∣∫ ∞

∞φ(t)dt

∣∣∣∣ = 1. (2.49)

Demonstracao. Fazendo uso do lema (2.7), nosso objetivo se resume a provar que o

axioma da completude e valido se e somente se a funcao escala de Haar φH pertence ao

conjunto V , em outros termos,

V = L2(R)⇔ φH = χ[0,1) ∈ V . (2.50)

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Funcoes wavelets 22

(⇒)Se V = L2(R) entao φH ∈ V pois φH ∈ L2(R).

(⇐) Supondo agora que φH ∈ V , vamos verificar que φHj,k ∈ V ,∀j, k ∈ Z, lembrando que

φHj,k(t) = 2j/2φH(2jt− k), ∀t ∈ R. (2.51)

Com efeito, note que se φH ∈ V entao, pelo fato de V ser fechado, existe uma sequencia

(φ(n))n∈N ∈⋃j∈Z

Vj tal que limn→∞

‖φ(n) − φH‖ = 0. Para cada n > 0, uma vez que φ(n0) ∈⋃j∈Z

Vj, existe jn ∈ Z tal que φ(n0) ∈ Vjn . Sendo assim, para cada n > 0 existe uma

sequencia (ck)k∈Z ∈ l2(Z) de modo que

φ(n)(t) =∑k∈Z

ckφjn,k(t), ∀t ∈ R.

Dados j, k ∈ Z, para mostrar que φHj,k ∈ V , devemos obter uma sequencia (φ(n))n∈N tal

que limn→∞

‖φ(n) − φHj,k‖ = 0. Para isto, basta escolher

φ(n)(t) = φ(n)j,k (t) := 2j/2φ(n)(2jt− k), ∀n ∈ N & ∀t ∈ R.

Por (2.3) temos

φ(n)(t) = 2j/2∑l∈Z

ckφjn,l(2jt− k) (2.52)

=∑l∈Z

2j/2ck2jn/2φ(2jn(2jt− k)− l) (2.53)

=∑l∈Z

2(j+jn)/2ckφ(2(j+jn)t− (2jnk + l)), ∀t ∈ R,∀n ∈ Z. (2.54)

Definamos, para cada p ∈ Z, p = 2jnk + l e dp = cp−2jnk. Assim, temos que

φ(n)(t) =∑p∈Z

2(j+jn)/2dpφ2j+jn(t− p) =∑p∈Z

dpφj+jn(t), ∀t ∈ R.

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Funcoes wavelets 23

Note que a sequencia (dp)p∈Z pertence ao conjunto l2(Z) portanto, φ(n) ∈ Vj+jn ⊂⋂j∈Z

Vj.

Alem disso,

‖φ(n) − φHj,k‖2 =

∫ ∞−∞|φ(n)(t)− φH

j,k(t)|2dt

=

∫ ∞−∞|2j/2φ(n)(2jt− k)− 2j/2φH(2jt− k)|2dt

=

∫ ∞−∞

2j|φ(n)(2jt− k)− φH(2jt− k)|2dt

s=2jt−k=

∫ ∞−∞|φ(n)(s)− φH(s)|2dt

= ‖φ(n) − φH‖.

Tomando o limite quando n tende a infinito temos

limn→∞

‖φ(n)(t)− φHj,k‖2 = lim

n→∞‖φ(n) − φH‖ = 0. (2.55)

Sendo assim, φHj,k ∈ V . Como V e fechado, Vj := span{φH

j,k}k ∈ Z ⊂ V para todo j em

Z e⋃j∈Z

V Hm ⊆ V . Mas, pelo Teorema 3.6,

⋃j∈Z

V Hm = L2(R) , portanto V = L2(R).

2.4 Wavelet mae

Por (2.3) as funcoes φj,k sao linearmente dependentes, ou seja, o conjunto

(φj,k| k ∈ Z, j ∈ Z) nao forma uma base para L2(R). Isto motiva a construcao de uma

sequencia (Wj| j ∈ Z) de subespacos ortogonais dois a dois. Para tanto, consideramos o

complemento ortogonal de V0 em V1:

V1 = V0 ⊕W0, W0⊥V0. (2.56)

Uma vez sendo valida a igualdade (2.56), vale o caso geral descrito na proposicao

a seguir.

Proposicao 2.9 Seja V0 := span (φ(t− k)|k ∈ Z) com φ ∈ L2(R) uma funcao escalaque gera uma Analise de Multirresolucao. Seja tambem ψ ∈ L2(R) tal que W0 :=span (ψ(t− k)|k ∈ Z). Definindo

Wj := span(ψj,n(t) := 2j/2ψ(2jt− n)|n ∈ Z

)(2.57)

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Funcoes wavelets 24

eVj := span

(φj,n(t) := 2j/2φ(2jt− n)|n ∈ Z

)(2.58)

e supondo que a igualdade (2.56) seja valida, entao

Vj+1 = Vj ⊕Wj. (2.59)

Demonstracao. Dividiremos a demostracao em tres etapas:

(i) Vj⊥Wj, ∀j ∈ Z

Fixemos um j ∈ Z. Dados k, l ∈ Z,

〈φj,k, ψj,l〉 =

∫ ∞−∞

2j/2φ(2jt− k)2j/2ψ(2jt− l)dt

s=2jt=

∫ ∞−∞

2j/2φ(s− k)2j/2ψ(s− l)dt = δk,l.

Como j ∈ Z foi tomado arbitrariamente, temos o resultado desejado.

(ii) Vj ⊕Wj ⊂ Vj+1, ∀j ∈ Z

Fixemos um numero inteiro j. Seja f = f1 +f2 um funcao com f1 ∈ Vj e f2 ∈ Wj. Sendo

assim, existe uma sequencia (ak)k∈Z em l2(Z) tal que

f2(t) =∑k∈Z

ψj,k(t)

= 2j/2∑k∈Z

ψ(2jt− k), ∀t ∈ R.

Perceba que

D2−jf2(t) = 2j/2∑k∈Z

ψ(2−j2jt− k) = 2j/2∑k∈Z

ψ(t− k), ∀t ∈ R.

Como a sequencia 2j/2(ak)k∈Z esta em l2(Z), a funcao D2−jf2 pertence a W0. Alem disso,

ja e visto em (2.6) que

f1 ∈ Vj =⇒ D2−j ∈ V0.

Assim,

D2−j(f1 + f2) = D2−jf1 +D2−jf2 ∈ V0 ⊕W0 = V1.

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Funcoes wavelets 25

Finalmente, por (2.6),

D2−j(f1 + f2) ∈ V1 =⇒ D2jD2−j

(f1 + f2) ∈ Vj+1,

ou seja, f = f1 + f2 ∈ Vj+1 Como o numero inteiro j foi escolhido arbitrariamente

concluımos que

Vj ⊕Wj ⊂ Vj+1, ∀j ∈ Z.

(iii) Vj+1 ⊂ Vj ⊕Wj Fixemos j ∈ Z. Seja f ∈ Vj+1 um funcao. Por (2.6) temos que

D2−jf ∈ V1. Definamos os funcao g := D2−jf . Por hipotese temos que V1 = V0 ⊕W0.

Uma vez que g ∈ V1 sabemos, por definicao de soma direta, que existem funcoes g1 ∈ V0,

g2 ∈ W0 tais que

g(t) = g1(t) + g2(t), ∀t ∈ R.

Como g1 ∈ V0, por (2.6), D2jg1 ∈ Vj. Por outro lado, como g2 ∈ W0, podemos verificar

que D2jg2 ∈ Wj. Com efeito, sabemos que existe uma sequencia (ak)k∈Z em l2(Z) tal

que

g2(t) =∑k∈Z

akψ(t− k), ∀t ∈ R.

Note que

D2jg2(t) = g2(2jt) =

∑k∈Z

akψ(2jt− k) =∑k∈Z

ak2−j/22j/2ψ(2jt− k), ∀t ∈ R.

Uma vez que (ak)k∈Z ∈ l2(Z) entao 2−j/2(ak)k∈Z ∈ l2(Z). Sendo assim, D2jg2 ∈ Wj.

Logo,

f(t) = D2jD2−jf(t) = D2jg(t) = D2jg1(t) +D2jg2(t) ∈ Vj ⊕Wj, ∀t ∈ R.

Assim, para j ≥ 0,

Vj = Vj−1 ⊕Wj−1

= (Vj−2 ⊕Wj−2)⊕Wj−1

= V−(j+1) ⊕W−(j−1) ⊕W−j ⊕ ...⊕W0 ⊕ ...⊕Wm.

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Funcoes wavelets 26

Uma vez que valem as inclusoes descritas em (2.3),

Vj+1 =

j+1⋃k=−(j+1)

Vk e V−(j+1) =

j+1⋂k=−(j+1)

Vk,

deste modo,j+1⋃

k=−(j+1)

Vk =

j+1⋂k=−(j+1)

Vk

⊕ j+1⊕

k=−(j+1)

Wk

. (2.60)

Como⋂k∈Z

Vk = L2(R), fazendo k tender a infinito em (2.60) e utilizando os axiomas de

completude e separacao temos

L2(R) =⊕k∈Z

Wk. (2.61)

Isto significa que o sistema de funcoes {ψj,k}j,k∈Z e uma base ortonormal para L2(R).

Agora, dada uma funcao escala φ ∈ L2(R) que gera uma Analise de Multirre-

solucao, e preciso encontrar outra funcao ψ ∈ L2(R), comumente chamada de wavelet-

mae [4], tal que W0 = span (ψ(t− n)n∈Z) e

V1 = V0 ⊕W0. (2.62)

Para isso, em particular, ψ deve pertencer ao subespaco V1, ou seja, deve existir uma

sequencia (dk)k∈Z em l2(Z) tal que

ψ(t) =∑k∈Z

dkφ1,k(t) =∑k∈Z

dk√

2φ(2t− k), ∀t ∈ R. (2.63)

Devemos tambem garantir que as relacoes de ortonormalidade sejam satisfeitas, ou seja,

para quaisquer k, l ∈ Z,

〈ψ0,k, ψ0,l〉 = δk,l, (2.64)

〈ψ0,k, φ0,l〉 = 0. (2.65)

No proximo capıtulo e apresentado o exemplo do sistema de funcoes wavelet de

Haar [15]. Nesse exemplo, a funcao wavelet-mae e construıda a partir da fucao escala.

Para funcoes wavelets mais gerais, Blatter [4] descreve uma maneira de gerar a funcao

wavelet-mae ψ a partir da funcao escala φ conforme segue.

ψ(t) =∑k∈Z

dk√

2φ (2t− k) , ∀t ∈ R (2.66)

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Funcoes wavelets 27

com dk := −c1−k(−1)k, lembrando que os coeficientes ck sao os coeficientes da Equacao

Escala (2.11).

2.5 Algoritmo de Mallat

Estudaremos agora uma maneira de utilizar bases de funcoes ortogonais wavelets

para gerar aproximacoes de funcoes do espaco L2(R). Uma vez que, como veremos a

seguir, essas aproximacoes sao feitas utilizando series de funcoes, veremos como calcular

os coeficientes dessas series utilizando o algoritmo de Mallat, apresentado por [22].

Pela representacao (2.61) do espaco L2(R) e pela ortogonalidade das funcoes

ψj,k, uma funcao f ∈ L2(R) pode ser representada por uma serie de funcoes ψj,k de

maneira unica:

f(t) =∞∑

j,k=−∞

dj,kψj,k(t), dj,k = 〈f, ψj,k〉, k ∈ Z. (2.67)

Podemos ainda obter uma aproximacao truncada dessa mesma funcao, calcu-

lando a sua projecao no espaco VJ , definido conforme (2.58), para algum J ≥ 0.

PJf(t) :=∞∑

n=−∞

sj,kφj,k(t), ∀t ∈ R, sj,k := 〈f, φj,k〉.

Note que, pelo axioma da completude e pelas inclusoes (2.3), se fizermos J tender

a infinito na expressao acima, a sequencia PJf converge em norma para a funcao f . E

tambem importante observar que, pela igualdade (2.59) da Proposicao 2.9,

VJ = VJ−1 ⊕WJ−1

= VJ−2 ⊕WJ−2 ⊕WJ−1

= V0 ⊕W0 ⊕W1 ⊕W2 ... ⊕WJ−2 ⊕WJ−1.

Assim, pela ortogonalidade dos espacos Wj e V0, podemos escrever a projecao da funcao

f no espaco VJ da seguinte maneira:

PJf(t) =∞∑

k=−∞

s0,kφ0,k +J−1∑j=0

∞∑k=−∞

dj,kψj,k(t), ∀t ∈ R. (2.68)

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Funcoes wavelets 28

O algoritmo de Mallat [22] e uma estrategia para calcular os coeficientes dj,n sem

recorrer repetidamente ao calculo de integrais. Os valores de dj,n sao obtidos a partir

dos coeficientes auxiliares sj,n das projecoes de f nos espacos Vj (j ≤ J). Porem, para

j < J , os coeficientes sj,n tambem sao calculados indiretamente, de modo que a unica

informacao requerida sobre f sao os coeficientes

s0,n := 〈f, φ0,n〉, n ∈ Z.

Para determinar recursivamente os coeficientes sj,n, voltemos a equacao escala

(2.11). Utilizando a definicao de φjk em (2.8) e a equacao escala, obtemos

φj,n(t) = 2(j+1)

2

∞∑k=−∞

hkφ(2j+1t− 2n− k

),

que podemos reescrever como:

φj,n =∞∑

k=−∞

hkφj+1,2n+k, j, n ∈ Z, j > 0. (2.69)

Tomando o produto interno com f em ambos os lados da equacao acima, obtemos

sj,n := 〈f, φj,n〉 =∞∑

k=−∞

hksj−1,2n+k. (2.70)

De forma semelhante, temos de (2.57) e (2.66) que

ψj,n(t) =∞∑

k=−∞

gkφj+1,2n+k(t), j, n ∈ Z, j > 0, (2.71)

e tomando o produto interno com f em ambos os lados desta equacao, obtemos

dj,n =∞∑

k=−∞

gksj+1,2n+k. (2.72)

Vamos particularizar o calculo dos coeficientes sj,n assumindo que supp(f) =

[0, 1] e supp(φ) ⊆ [−M1,M2]. Feito isso, poderemos fazer uso do teorema a seguir.

Teorema 2.10 Dada uma funcao f ∈ L2(R), seja φ uma funcao escala satisfazendo ascondicoes dos teoremas 2.6 e 2.8, e ψ a wavelet-mae gerada a partir de φ. Se supp(f) =[0, 1], supp(φ) ⊆ [−M1,M2] e supp(ψ) ⊆ [−M1,M2], entao, para todo j ≥ 0,

sj,k = dj,k = 0, para k ≤ −M2 ou k ≥ 2j +M1. (2.73)

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Funcoes wavelets 29

Demonstracao. Por hipotese temos que supp(φ) ⊆ [−M1,M2]. A fim de estender essa

informacao para φj,k definida em (2.8), pode-se observar que

−M1 ≤ 2jt− k < M2 =⇒ (−M1 + k)2−j ≤ t < (M2 + k)2−j, ∀t ∈ R,

logo supp(φj,k) ⊆ [(k−M1)2j, (k+M2)2

j]. Assim, como supp(f) = [0, 1], pela Proposicao

1.13 tem-se que 〈f, φj,k〉 = 0 se (k +M2)2−j ≤ 0 ou (k −M1)2

−j ≥ 1, ou seja,

sj,k = 0, k ≤ −M2 ou k ≥ 2j +M1. (2.74)

O resultado e identico para os coeficientes dj,k se os inteiros M1 e M2 forem tais que

supp(ψ) ⊆ [−M1,M2].

Corolario 2.11 Nas condicoes do Teorema 2.10, a expansao truncada (2.68) satisfaz

PJf(t) =

M1−1∑k=−M2

s0,kφ0,k +J−1∑j=0

2j+M1−1∑k=−M2

dj,kψj,k(t), ∀t ∈ R. (2.75)

Seguindo um argumento analogo ao do Teorema 2.5,

gk = 0, k ≤ −N1 ou k ≥ N2, (2.76)

sendo N1 = −(2M1 +M2) e N2 = 2M2 +M1. Segue de (2.72) e de (2.76) que

dj,n =

N2−1∑k=−N1+1

gksj+1,2n+k, j, n ∈ Z, j > 0. (2.77)

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Capıtulo 3

Sistema de Haar

Sera estudado, neste capıtulo, um exemplo bastante conhecido de base ortogonal

de funcoes wavelets. Essas funcoes foram apresentadas inicialmente por Haar [15], em

1910. Por esse motivo, consolidou-se o nome “wavelets de Haar”. Inicialmente estuda-

remos tais funcoes de uma variavel real apenas. A partir da penultima secao sera feita

uma abordagem a extencao do conceito de base wavelet de Haar para espacos de funcoes

com duas variaveis reais.

3.1 Densidade

Nesta secao, estudaremos a construcao e as principais propriedades das funcoes

wavelets de Haar [15], uma delas, e talvez a mais importante, e o fato das funcoes de Haar

formarem um sistema ortogonal total no espaco L2(R). Boa parte da teoria estudada no

inıcio desta secao pode ser encontrada, de forma mais sucinta, em [23].

Inicialmente, definamos a funcao a seguir, que chamaremos de funcao escala de

Haar ( ver grafico (a) da Fig. 3.1) e que, no decorrer do texto, veremos que satisfaz as

condicoes para gerar uma Analise de Multirresolucao.

φ(t) :=

1, t ∈ [0, 1)

0, t 6∈ [0, 1).(3.1)

Assim, tomando k ∈ Z qualquer, φ(t − k) = 1 para 0 ≤ t − k < 1, ou seja,

30

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Sistema de Haar 31

k ≤ t < 1 + k. Donde

φk(t) := φ(t− k) =

0, t ∈ [k, k + 1)

1, t 6∈ [k, k + 1). (3.2)

Note que o conjunto {φk : k ∈ Z} e ortonormal pois, para k ∈ Z qualquer,

〈φ, φ〉 =

∫ ∞−∞|φk(t)|2 dt =

∫ k+1

k

(1)2 dt = 1,

alem disso, dados k, k′ ∈ Z com k < k′ temos que (−∞,∞) = (−∞, k)∪ [k, k+ 1)∪ [k+

1, k′) ∪ [k′, k′ + 1) ∪ [k′ + 1,∞), logo

〈φk, φ′k〉 =

∫ k

−∞φk(t)φ′k(t) dt+

∫ k+1

k

φk(t)φ′k(t) dt+

∫ k′

k+1

φk(t)φ′k(t) dt

+

∫ k′+1

k′φk(t)φ′k(t) dt+

∫ ∞k′+1

φk(t)φ′k(t) dt

=

∫ k

−∞0 · 0dt+

∫ k+1

k

1 · 0dt+

∫ k′

k+1

0 · 0 dt = 0.

Porem, o conjunto span{φk : k ∈ Z} nao e denso em L2(R).

Exemplo 3.1 Seja f : R→ R dada por

f(t) =

{1, t ∈ [0, 1/2)0, t 6∈ [0, 1/2).

. (3.3)

Se tomarmos a serie com coeficientes de Fourier truncada de f temos que

N∑k=−N

〈f, φ〉φ(t) = 〈f, φ0〉φ0(t) =1

2φ0(t), ∀N > 0,∀t ∈ R. (3.4)

Logo, ∥∥∥∥∥f −N∑

k=−N

〈f, φk〉φk

∥∥∥∥∥2

=

∫ 1

0

∣∣∣∣f(t)− 1

2φ0(t)

∣∣∣∣2 dt

=

∫ 1/2

0

∣∣∣∣1− 1

2

∣∣∣∣2 +

∫ 1

1/2

∣∣∣∣0− 1

2

∣∣∣∣2 dt

=1

4· 1

2+

1

4· 1

2=

1

4,

donde

limN→∞

∥∥∥∥∥f −N∑

k=−N

〈f, φk〉φk

∥∥∥∥∥2

= limN→∞

1

4=

1

46= 0. (3.5)

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Sistema de Haar 32

Por outro lado, se definirmos os espacos

Vj = span{φj,k : k ∈ Z} (3.6)

com φj,k(t) = 22/jφ(2jt− k) para cada j inteiro, ou seja,

φj,k(t) =

2j/2, t ∈ [2−jk, 2−j(k + 1))

0, t 6∈ [2−jk, 2−j(k + 1)),(3.7)

em que o fator 2m/2 e escolhido de modo que {φj,k : k ∈ Z} seja uma sequencia ortonormal

pois perceba que, para j, k inteiros quaisquer,

〈φj,k, φj,k〉 =

∫ 2−j(k+1)

2−jk

(2j/2)2 dt = 2j(2−j(k + 1)− 2−jk) = 1.

Note ainda que, dados j, k inteiros,

[2−j+1k, 2−j+1(k + 1)) = [2−j+1k, 2−j(2k + 2))

= [2−j(2k), 2−j(2k + 1)) ∪ [2−j(2k + 1), 2−j(2k + 2)),

logo,

2−(j−1)

2 φj−1,k(t) = 2−j/2(φj,2k(t) + φj,2k+1(t)).

Assim, Vj−1 ⊂ Vj. Como j foi escolhido arbitrariamente, em geral temos que

· · · ⊂ V−2 ⊂ V−1 ⊂ V0 ⊂ V1 ⊂ V2 ⊂ · · · . (3.8)

A funcao φ definida em (3.1) possui suporte compacto, logo, satisfaz as hipoteses

do teorema 2.6. Portanto, ⋂j∈Z

Vj = {0}. (3.9)

Segue imediatamente de (3.8) que o conjunto {φj,k : j, k ∈ Z} nao e linearmente

independente logo, ou seja, esse conjunto nao pode ser ortogonal.

Motivados pelo objetivo de estabelecer ortogonalidade entre as funcoes, vamos

aplicar o processo de Gram-Schmidt ao conjunto {φ0,0, φ1,0}. Encontramos assim a se-

guinte funcao:

φ1,0(t) = φ1,0(t)− 〈φ0,0, φ0,1〉φ0,0(t), ∀t ∈ R. (3.10)

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Sistema de Haar 33

Note que

〈φ0,0, φ0,1〉 =

∫ ∞−∞

φ(t) · 21/2φ(2t) dt =

∫ 1/2

0

21/2 dt =

√2

2,

e substituindo esse resultado em (3.10) obtem-se

φ1,0(t) =√

2φ(2t)−√

2

2φ(t) =

√22, t ∈ [0, 1/2)

−√22, t ∈ [1/2, 1)

0, t 6∈ [0, 1).

. (3.11)

Para finalizar o processo, vamos normalizar a funcao φ1,0. Assim, obtemos a funcao

ψ(t) :=φ1,0(t)

〈φ1,0, φ1,0〉1/2=

√2φ(2t)−

√22φ(t)

1√2

= 2φ(2t)− φ(t), (3.12)

em que

〈φ1,0, φ1,0〉 =

∫ 1/2

0

(√2

2

)2

dt+

∫ 1

1/2

(−√

2

2

)2

dt =1

2

(1

2

)+

1

2

(1

2

)=

1

2.

Como φ(t) = χ[0,1)(t), para todo t real, podemos reescrever a funcao ψ dada

pela igualdade (3.12) como segue:

ψ(t) = φ(2t)− φ(2t− 1), ∀t ∈ R, (3.13)

ou seja, conforme o grafico (b) da Figura 3.1,

ψ(t) =

1, t ∈ [0, 1/2),

−1, t ∈ [1/2, 1),

0, t 6∈ [0, 1),

(3.14)

de modo que o conjunto de funcoes {φ, ψ} e ortonormal.

Havıamos mencionado anteriormente (Secao 2.4) que, dada uma funcao escala

φ qualquer, [4] relaciona a wavelet-mae ψ a funcao escala φ da seguinte maneira:

ψ(t) =∑k∈Z

dk√

2φ (2t− k) , ∀t ∈ R (3.15)

com dk := −c1−k(−1)k e com os coeficientes ck sendo os coeficientes da Equacao Escala

(2.11).

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Sistema de Haar 34

(a) Grafico da funcao φ de Haar (b) Grafico da funcao ψ de Haar

Figura 3.1: Funcoes escala e wavelet-mae de Haar

Voltando ao caso particular das funcoes wavelets de Haar, note que podemos

representar a Funcao Escala de Haar (3.1) por

φ(t) = φ(2t) + φ(2t− 1) =1√2

√2φ(2t) +

1√2

√2φ(2t− 1), ∀t ∈ R. (3.16)

Assim, a funcao escala de Haar (3.1) satisfaz a Equacao escala (2.11) com h0 = h1 =

1/√

2 e hk = 0 para k > 1 e k < 0. Portanto, pela igualdade (2.66), a funcao wavelet-mae

de Haar pode ser escrita como

ψ(t) =1√2

√2φ(2t)− 1√

2

√2φ(2t− 1) = φ(2t)− φ(2t− 1), ∀t ∈ R, (3.17)

que e identica a funcao definida em (3.1).

Vejamos a seguir mais uma propriedade das funcoes φ e ψ de Haar.

Teorema 3.2 Sejam V0 e V1 espacos vetoriais definidos conforme (3.6) e o espaco W0

dado porW0 := span{ψ0,k : k ∈ Z} (3.18)

com ψ0,k(t) = ψ(t− k). Entao,V1 = V0 ⊕W0. (3.19)

Demonstracao. Inicialmente, vamos verificar que V0 ⊥ W0. Com efeito, dados dois

numeros inteiros k, k′ quaisquer, se k = k′, por construcao temos que 〈φ0,k, ψ0,k′〉 = 0.

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Sistema de Haar 35

Por outro lado, se k 6= k′ entao supp(φ0,k)∩supp(ψ0,k′) = ∅, logo, pela Proposicao 1.13,

〈φ0,k, ψ0,k′〉 = 0. Em particular, V0 ∩W0 = {0}, ou seja, V0 +W0 = V0 ⊕W0. Temos que

V0 ⊂ V1. Alem disso, por(3.13), dado k ∈ Z arbitrario,

ψ(t− k) = φ(2(t− k))− φ(2(t− k)− 1) = φ(2t− 2k)− φ(2t− 2k − 1) ∈ V1.

Logo W0 ⊂ V1, e portanto V0 ⊕W0 ⊂ V1. Por outro lado, de (3.16) e (3.17),

φ(t− k) = φ(2t− 2k) + φ(2t− 2k − 1)

ψ(t− k) = φ(2t− 2k)− φ(2t− 2k − 1),

de onde obtemos, somando e depois subtraindo as equacoes, φ(2t− 2k) = 12(ψ(t− 2k/2)− ψ(t− 2k/2))

φ(2t− (2k − 1)) = 12(φ(t− 2k/2)− ψ(t− 2k/2)).

Portanto φ1,k ∈ V0 ⊕W0, donde V1 ⊂ V0 ⊕W0. Assim, concluımos que V1 = V0 ⊕W0.

De maneira analoga ao que foi feito com a funcao φ, definamos, a partir de ψ,

as funcoes

ψj,k(t) := 2j/2ψ(2jt− k), ∀j, k ∈ Z, ∀t ∈ R, (3.20)

e a partir daı os espacos

Wj = span{ψj,k : k ∈ Z}. (3.21)

Pela Proposicao 2.9 temos que

Vj+1 = Vj ⊕Wj, ∀j ∈ Z. (3.22)

Disto segue que

Vj = V0 ⊕W0 ⊕W1 ⊕ ...⊕Wj−1, ∀j ∈ Z. (3.23)

Vamos estabelecer a ortogonalidade das funcoes geradoras dos espacos Wj.

Lema 3.3 O conjunto B = {ψj,k : j, k ∈ Z}, de funcoes definidas conforme a expressao(3.20), e um subconjunto ortonormal de L2(R).

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Sistema de Haar 36

Demonstracao. Dados j, k ∈ Z, tem-se que

0 ≤ 2jt− k < 1 ⇐⇒ k ≤ 2jt < 1 + k

⇐⇒ 2−jk ≤ t < (1 + k)2−j

portanto, a funcao ψj,k possui suporte contido no intervalo

Ij,k = [2−jk, 2−j(k + 1)), (3.24)

que possui comprimento 2−j. Mais precisamente, como o ponto medio do intervalo Ij,k

e dado por2−jk + (1 + k)2−j

2= 2−j

k + 1 + k

2= 2−j

(k +

1

2

),

temos por (3.14) que

ψj,k(t) =

2j, t ∈ [2−jk, 2−j(k + 1/2))

−√

2j, t ∈ [2−j(k + 1/2), 2−j(k + 1))

0, t 6∈ [2−jk, 2−j(k + 1)).

, (3.25)

Alem disso, para quaisquer j, k inteiros,∫ ∞−∞

ψj,k(t)dt =

∫Ij,k

ψj,k(t) dt =

∫ 2−j(k+1/2)

2−jk

√2j dt+

∫ 2−j(k+1)

2−j(k+1/2)

−√

2j dt = 0. (3.26)

Perceba que dados os ındices k, k′, j ∈ Z tais que k 6= k′ entao Ij,k ∩ Ij,k′ = 0 portanto,

〈ψj,k, ψj,k′〉 =

∫ ∞−∞

ψj,k(t)ψj,k′(t)dt = 0. (3.27)

Se supormos que k = k′ entao

〈ψj,k, ψj,k′〉 =

∫ ∞−∞

ψj,k(t)ψj,k(t)dt =

∫Ij,k

|ψj,k(t)|2dt = 1. (3.28)

Agora, vamos considerar j, j′ ∈ Z tais que j ≤ j′. Sejam tambem k e k′ numeros inteiros

quaisquer. Vamos supor inicialmente que 2−j′k′ < 2−jk. Como k′ e 2j′−jk sao numeros

inteiros entao

2−j′k′ < 2−jk ⇒ k′ < 2j′−jk ⇒ k′ + 1 ≤ 2j′−jk ⇒ 2−j

′(k′ + 1) < 2−jk, (3.29)

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Sistema de Haar 37

ou seja, [2−j′k′, 2−j

′(k′ + 1)) ∩ [2−jk, 2−j(k + 1)) = ∅. Assim, pela proposicao (1.13,

〈ψj′,k′ , ψj,k〉 =

∫ ∞∞

ψj′,k′(t)ψj,k(t) dt = 0. (3.30)

Vamos supor agora que 2−jk ≤ 2−j′k′. Observe que 2−j(k + 1/2) 6= 2−j

′(k′ + 1/2) pois

caso contrario terıamos

2−j(k + 1/2) = 2−j′(k′ + 1/2)⇔ k = 2j−j′k′ + 1/2,

ou seja, k nao seria inteiro, o que e um absurdo. A partir daı temos tres casos a considerar:

(i) 2−j′(k′ + 1/2) < 2−j(k + 1/2)

(ii) 2−j(k + 1/2) < 2−j′(k′ + 1/2) ≤ 2−j(k + 1)

(iii) 2−j(k + 1) < 2−j′(k′ + 1/2).

No primeiro caso, observe que, como j′ > j, k′ e 2j′−j(k + 1/2) sao numeros inteiros.

Assim,

2−j′(k′ + 1/2) < 2−j(k + 1/2) ⇒ (k′ + 1/2) < 2j′−j(k + 1/2)

⇒ k′ + 1 ≤ 2j′−j(k + 1/2)

⇒ 2−j′(k′ + 1) ≤ 2−j(k + 1/2).

Isso significa que [2−j′k′, 2−j

′(k′+1)) ⊆ [2−jk, 2−j(k+1/2)). Sendo assim, como ψj,k(t) =

√2j para todo t ∈ [2−jk, 2−j(k + 1/2)), entao

〈ψj,k, ψj′,k′〉 =

∫ ∞−∞

ψj,k(t)ψj′,k′(t) dt

=√

2j

∫ 2−j′ (k′+1)

2−j′k′ψj′,k′(t) dt

=√

2j

∫ 1

0

ψ(t) dt

=√

2j · 0 = 0.

Vamos considerar agora o segundo caso, ou seja, quando

2−j(k + 1/2) < 2−j′(k′ + 1/2) ≤ 2−j(k + 1).

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Sistema de Haar 38

E conveniente notar que 2−j′(k′ + 1/2) 6= 2−j(k + 1), pois caso contrario terıamos k′ =

2j−j(k + 1) − 1/2 que nao e numero inteiro, ou seja, um absurdo. Assim, o caso (ii)

equivale a dizer que

2−j(k + 1/2) < 2−j′(k′ + 1/2) < 2−j(k + 1).

Note que

2−j(k) < 2−j(k + 1/2) < 2−j′(k′ + 1/2),

alem disso, como k′ e um numero inteiro,

2−j′(k′ + 1/2) < 2−j(k + 1) ⇒ (k′ + 1/2) < 2j′−j(k + 1)

⇒ (k′ + 1) ≤ 2j′−j(k + 1)

⇒ 2−j′(k′ + 1) ≤ 2−j(k + 1).

Portanto [2−jk, 2−j(k+ 1)) ⊆ [2−j′(k′ + 1/2), 2−j(k′ + 1)). Sendo assim, como ψj′,k′(t) =

−√

2j′ para todo t ∈ [2−j′k′, 2−j

′(k′ + 1/2)), entao

〈ψj,k, ψj′,k′〉 =

∫ ∞−∞

ψj,k(t)ψj′,k′(t) dt

= −√

2j

∫ 2−j(k+1)

2−jk

ψj,k(t) dt

=√

2j

∫ 1

0

ψ(t) dt

=√

2j · 0 = 0.

Finalmente, no terceiro caso temos 2−j(k + 1) < 2−j′(k′ + 1/2). Por argumentos

analogos aos utilizados anteriormente podemos afirmar que 2−j(k + 1) ≤ 2−j′k′. Por-

tanto, [2−jk, 2−j(k+ 1))∩ [2−j′k′, 2−j

′(k′ + 1)) = ∅, donde segue, pela proposicao (1.13),

que

〈ψj,k, ψj′,k′〉 =

∫ ∞−∞

ψj,k(t)ψj′,k′(t) dt = 0.

Cabe observar tambem que, tomando a funcao φ, dada por (3.1), tem-se

〈φ, φ〉 =

∫ ∞−∞|φ(t)|2 dt = 1. (3.31)

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Sistema de Haar 39

Alem disso, dados j = 0, 1, 2, ..., k = 0, 1, 2, ..., 2j−1, como supp(φ) ⊆ [0, 1] e supp(ψj,k) ⊆

[2−jk, 2−j(k + 1)] ⊆ [0, 1] entao

〈φ, ψj,k〉 =

∫ ∞−∞

φ(t)ψj,k(t) dt =

∫ 2−j(k+1)

2−jk

ψj,k(t) dt = 0. (3.32)

Essas informacoes, juntamente com o Lema 3.3, serao importantes na demonstracao do

teorema a seguir, que garante a densidade do espaco L2 em um domınio limitado. Esta

demonstracao e baseada em [15, p.28-30].

Teorema 3.4 O conjunto de funcoes de Haar restritas ao intervalo [0, 1],

A = {φ |[0,1], ψj,k |[0,1]: j = 0, 1, 2, ..., k = 0, 1, 2, ..., 2j − 1},

sendo a funcao φ definida conforme (3.1) e as funcoes ψj,k dadas por (3.20), e umconjunto ortonormal total no espaco vetorial L2(0, 1).

Demonstracao.

Inicialmente, perceba que, como supp(φ) ⊆ [0, 1], temos que

〈φ, φ〉 =

∫ ∞−∞|φ(t)|2 dt =

∫ 1

0

|φ(t)|2 dt =

∫ 1

0

|φ |[0,1] (t)|2 dt = 〈φ |[0,1], φ |[0,1]〉, (3.33)

e analogamente, para todos os produtos internos que envolvem as restricoes das funcoes

φ e ψj,k, observando que supp(ψj,k) ⊆ [0, 1] para j ≥ 0 e 0 ≤ k ≤ 2j−1. Portanto, pelo

Lema 3.3 e pelas igualdades (3.31) e (3.32), a ortogonalidade do conjunto A e garantida.

Por clareza de notacao, vamos omitir o operador restricao |[0,1] daqui em diante. Convem

observar que, na ultima igualdade em (3.33), temos que 〈·, ·〉 representa o produto interno

no espaco L2(0, 1). Agora, para provar que o conjunto A e total em L2(0, 1), fazendo

uso do Teorema 1.18, vamos mostrar que o complemento ortogonal desse conjunto em

L2(0, 1) contem somente a funcao nula. De fato, seja f ∈ L2(0, 1) uma funcao ortogonal

a todos os elementos do conjunto A, ou seja,

〈f, φ〉 = 〈f, ψj,k〉 = 0, ∀j = 0, 1, 2, ..., k = 0, 1, 2, ..., 2j − 1. (3.34)

Definamos a funcao auxiliar F : [0, 1]→ R dada por

F (s) =

∫ s

0

f(t) dt, ∀s ∈ [0, 1]. (3.35)

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Sistema de Haar 40

Note que

F (1) =

∫ 1

0

f(t) dt =

∫ 1

0

f(t)φ(t) dt = 〈f, φ〉 = 0. (3.36)

Sabendo que F (0) = F (1) = 0, nosso objetivo sera verificar que

F(2−jk

)= 0, ∀j ∈ Z+, k = 1, 2, ..., 2j − 1. (3.37)

Faremos essa demonstracao utilizando inducao sobre j e k. Para j = k = 1 tem-se

0 = 〈f, ψ0,0〉 =

∫ 1

0

f(t)ψ0,0(t) dt

=

∫ 1/2

0

f(t) dt−∫ 1

1/2

f(t) dt+

0︷ ︸︸ ︷∫ 1

0

f(t) dt

=

∫ 1/2

0

f(t) dt−∫ 1

1/2

f(t) dt+

∫ 1/2

0

f(t) dt+

∫ 1

1/2

f(t) dt

= 2

∫ 1/2

0

f(t) dt,

ou seja, F(12

)= 0. Vamos supor, por hipotese de inducao, que

F(2−jk

)= 0, ∀j ≤ m− 1, k = 1, 2, ..., 2j − 1. (3.38)

Nosso objetivo e mostrar que F (2−(m+1)) = 0 para todo k = 1, 2, ..., 2m−1. Observe que,

se o k, estando entre 1 e 2(m+1) − 1, for par, entao k = 2l para algum numero natural l

entre 1 e 2m − 1, logo, por hipotese de inducao temos

F (2−(m+1)k) = F (2−(m+1)2l) = F (2−ml) = 0. (3.39)

Assim, nosso objetivo se restringe a mostrar que

F (2−(m+1)(2k − 1)) = 0, ∀k = 0, 1, ..., 2m − 1. (3.40)

Com efeito, utilizando a definicao das funcoes ψj,k e em seguida a hipotese de inducao,

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Sistema de Haar 41

tem-se que

0 = 〈f, ψm,k−1〉 =

∫ 1

0

f(t)ψm,k−1(t) dt

=

∫ 2−m(k−1/2)

2−m(k−1)f(t) dt−

∫ 2−m(k)

2−m(k−1/2)f(t) dt+

0︷ ︸︸ ︷∫ 2−m(k)

0

f(t) dt

=

∫ 2−m(k−1/2)

2−m(k−1)f(t) dt−

∫ 2−m(k)

2−m(k−1/2)f(t) dt+

∫ 2−m(k−1/2)

0

f(t) dt

+

∫ 2−m(k)

2−m(k−1/2)f(t) dt

= 2

∫ 2−m(k−1/2)

2−m(k−1)f(t) dt+

∫ 2−m(k−1)

0

f(t) dt︸ ︷︷ ︸0

= 2

∫ 2−(m+1)(2k−1)

2−m(k−1)f(t) dt,

ou seja, ∫ 2−(m+1)(2k−1)

2−m(k−1)f(t) dt = 0. (3.41)

Assim, pelo Teorema Fundamental do calculo,

0 =

∫ 2−(m+1)(2k−1)

2−m(k−1)f(t) dt = F (2−(m+1)(2k − 1))− F (2−m(k − 1)). (3.42)

Como F (2−m(k − 1)) = 0, entao, F (2−(m+1)(2k − 1)) = 0, donde podemos concluir que

F (2−jk) = 0 para todo j ≥ 0 e k = 0, 1, 2, ..., 2j − 1.

Agora, dado um numero real t no intervalo [0, 1], sabe-se que esse numero pode

ser aproximado por combinacoes lineares finitas de numeros na base binaria, ou seja,

para todo ε > 0 existe um n ∈ N tal que∥∥∥∥∥t−n∑

p=0

ap2p

∥∥∥∥∥ < ε, (3.43)

com ap assumindo valores zero ou um. Uma vez que podemos representar o somatorio

do lado direito da igualdade (3.43) por k/2j, com j = n e 0 ≤ k ≤ 2j − 1, entao, pelo

que provamos anteriormente, a funcao F se anula em um subconjunto denso no intervalo

[0, 1]. Lembrando tambem que

f(t) =dF

dt(t)

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Sistema de Haar 42

a menos de um conjunto de medida nula, entao a funcao f se anula eu quase todo ponto

do intervalo [0, 1]. Portanto, o conjunto A e ortogonal total em L2(R).

O teorema a seguir, garante que as funcoes wavelets de Haar podem ser utili-

zadas para aproximar funcoes do espaco L2(R). Algumas ideias da demonstracao foram

baseadas em [16, p.178]

Teorema 3.5 O sistema de Haar B = {ψj,k : j, k ∈ Z} e um sistema ortonormal totalem L2(R), ou equivalentemente, o subconjunto span(B) = L2(R) e denso em L2(R).

Demonstracao. Segue diretamente do Lema 3.3 que o conjunto B e ortonormal. Resta

ainda provar que B e total em L2(R). Com efeito, vamos supor que a funcao f ∈ L2(R) e

ortogonal a toda funcao do conjunto B. Entao, em particular, dado um numero natural

N , f e ortogonal a todas as funcoes ψj,k que possuem suporte contido no intervalo

compacto [−2N , 2N ]. Fixemos um numero natural N . Vamos definir a funcao auxiliar

fN := f |[−2N ,2N ],

que e a restricao da funcao f no intervalo [−2N , 2N ]. Ja vimos em (3.24) que, da-

dos j, k ∈ Z, supp(ψj,k) ⊆ [2−jk, 2−j(k + 1)]. Sendo assim, temos duas possibilidades:

supp(ψj,k) ⊆ [−2N , 2N ] ou int(supp(ψj,k)) ∩ int([−2N , 2N ]) = ∅. No primeiro caso, fN

tem a ortogonalidade com ψj,k herdada de f . No segundo caso, fN e ortogonal a ψj,k

pela Proposicao 1.13. Assim, fN e ortogonal a todo elemento de B. Note que pode-

mos definir um isomorfismo g : [0, 1] → [−2N , 2N ] dado por g(t) := (2(N+1)t) − 2N

para todo t ∈ [0, 1]. Seja g−1 : [−2N , 2N ] → [0, 1] a inversa do isomorfismo g, ou seja,

g−1(x) = 2−(N+1)(x + 2N) para todo x ∈ [−2N , 2N ]. Como a imagem da funcao g esta

contida no domınio da funcao fN , faz sentido definir a composta fN o g. Alem disso,

como f ∈ L2(R) entao h = fN o g ∈ L2(0, 1). Deste modo, pelo Teorema 3.4, vale a

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Sistema de Haar 43

igualdade a seguir, no sentido de convergencia perante a norma no espaco L2(0, 1).

h(t) = 〈h, φ |[0,1]〉φ |[0,1] (t) +∞∑j=0

2j−1∑k=0

〈h, ψj,k |[0,1]〉ψj,k |[0,1] (t) (3.44)

=

∫ 1

0

h(s)φ |[0,1] (s) ds φ |[0,1] (t) (3.45)

+∞∑j=0

2j−1∑k=0

∫ 1

0

h(s)ψj,k |[0,1] (s) ds ψj,k |[0,1] (t). (3.46)

Substituindo t por g−1(x) e s por g−1(y),

h(g−1(x)) = 2(N+1)

∫ 2N

−2Nh(g−1(y))φ |[0,1] (g−1(y)) dy φ |[0,1] (g−1(x))

+∞∑j=0

2j−1∑k=0

2(N+1)

∫ 2N

−2Nh(g−1(y))ψj,k |[0,1] (g−1(y)) dy ψj,k |[0,1] (g−1(x))

= 2(N+1)〈h o g−1, φ |[0,1] o g−1〉φ |[0,1] (g−1(x)) (3.47)

+∞∑j=0

2j−1∑k=0

2(N+1)〈h o g−1, ψj,k |[0,1] o g−1〉 ψj,k |[0,1] (g−1(x)), ∀x ∈ [−2N , 2N ],

lembrando que o produto interno que aparece no ultimo termo da expressao acima esta

definido para o espaco L2(−2N , 2N).

Note que, para j = 1, 2 . . . , k = 0, 1, 2, ..., 2j−1,

ψj,k |[0,1] (g−1(x)) = ψj,k

(2−(N+1)(x+ 2N)

)= 2j/2ψ

(2−(N+1−j)x+ 2j−1 − k

)m=−(N+1−j)

= 2j/22−(m/2)2m/2ψ(2mx+ 2j−1 − k

)n=−2j−1+k

= 2j/22−(m/2)2m/2ψ (2mx− n) (3.48)

= 2j−m

2 ψm,n(x), ∀x ∈ [−2N , 2N ].

Como j ≥ 1, temos a garantia de que o numero n e inteiro. Vamos considerar agora

j = 0 em (3.48). Como 0 ≤ k ≤ 2j − 1 segue que, neste caso, temos somente k = 0, ou

seja,

ψ0,0 |[0,1] (g−1(x)) = 2m2 ψ

(2mx+

1

2

), ∀x ∈ [−2N , 2N ]. (3.49)

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Sistema de Haar 44

Uma vez que a funcao ψ e constante por partes, segundo [10, p.11], ela pode ser repre-

sentada da seguinte maneira:

ψ |[0,1] (g−1(x))(t) =∞∑

j,k=−∞

〈ψ |[0,1] (g−1(x)), ψj,k〉ψj,k(t), ∀t ∈ R. (3.50)

Substituindo (3.48) e (3.50) em (3.47) e observando que h o g−1 = fN o g o g−1 = f

temos

fN(x) = 2(N+1)〈fN , φ |[0,1] o g−1〉 φ |[0,1] (g−1(x))

+

⟨fN , 2

j−m2

∞∑j,k=−∞

〈ψ |[0,1] (g−1(x)), ψj,k〉ψj,k(t)

⟩ψj,k |[0,1] (g−1(x))

+∞∑j=1

2j−1∑k=0

2(N+1)⟨fN , 2

j−m2 ψm,n

⟩ψj,k |[0,1] (g−1(x)), ∀x ∈ [−2N , 2N ].

Agora, pela continuidade do produto interno temos

fN(x) = 2(N+1)〈fN , φ |[0,1] o g−1〉φ |[0,1] (g−1(x))

+2j−m

2

∞∑j,k=−∞

〈ψ |[0,1] (g−1(x)), ψj,k〉 〈fN , ψj,k(t)〉ψj,k |[0,1] (g−1(x))

+2j−m

2

∞∑j=1

2j−1∑k=0

2(N+1) 〈fN , ψm,n〉ψj,k |[0,1] (g−1(x)), ∀x ∈ [−2N , 2N ].

Uma vez que fN e ortogonal a todas as funcoes do conjunto B,

fN(x) = 2(N+1)〈f, φ |[0,1] og−1〉φ |[0,1] (g−1(x)),∀x ∈ R,

ou seja, fN e constante no intervalo [−2N , 2N ]. Seja (fN)N∈N a sequencia definida por

fN = f |[−2N ,2N ] para todo numero naural N . Se fizermos N tender a infinito, fN converge

para a funcao f , assim, f deve ser constante em todo o domınio. No entanto, qualquer

funcao constante nao nula nao pertence a L2(R), sendo assim, f ≡ 0. Isto conclui a

demonstracao de que B e total em L2(R).

Com as informacoes obtidas ate aqui, vamos verificar o seguinte resultado:

Teorema 3.6 Sejam Vj os espacos definidos por (3.6) para cada numero inteiro j.Entao ⋃

j∈Z

Vj = L2(R), (3.51)

ou seja, vale o axioma da completude para a funcao escala de Haar.

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Sistema de Haar 45

Demonstracao. Claramente,⋃

j∈Z Vj ⊂ L2(R). Uma vez que o espaco L2(R) e fechado

entao⋃

j∈Z Vj ⊂ L2(R). Resta entao provar a inclusao contraria, porem, pelo Teo-

rema 3.5, sabemos que L2(R) =⊕

j∈ZWj. Deste modo, e suficiente verificarmos que⊕j∈ZWj ⊂

⋃j∈Z Vj. Com efeito, seja uma funcao f ∈

⊕j∈ZWj. Assim, existem

sequencias {(a(j)k )k∈Z}∞j=−∞ ⊂ l2(Z) tais que

f =∞∑

j=−∞

∑k∈Z

a(j)k ψj,n.

Definamos a sequencia (fN)N∈N dada por

fN =N∑

j=−N

∑k∈Z

a(j)k ψj,n

para cada numero natural N . Assim,

fN ∈ W−N ⊕W−N+1 ⊕ ...⊕W0 ⊕ ...⊕WN−1 ⊕WN .

Pelas igualdades (3.22) e (3.23),

VN+1 = V0 ⊕W0 ⊕W1 ⊕ ...WN

= V−N ⊕W−N ⊕W−N+1 ⊕ ...⊕W0 ⊕ ...⊕WN ,

Assim, para cada N ∈ N, fN ∈ VN+1 ⊂⋃

j∈Z Vj. Claramente temos que, quando N

tende a infinito, fN tende a funcao f , donde segue que f ∈⋃

j∈Z Vj.

3.2 Aproximacoes de Funcoes Utilizando o Sistema

de Haar

Vejamos agora, como podemos utilizar o algoritmo de Mallat para o caso par-

ticular de funcoes wavelets de Haar. Daqui em diante, vamos buscar aproximacoes de

funcoes de suporte compacto contido no intervalo [0, 1]. Isso favorece os calculos pelo fato

de que os coeficientes das funcoes wavelets cujos suportes sao disjuntos com o intervalo

[0, 1] se anulam.

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Sistema de Haar 46

Vamos tomar f ∈ L2(R) uma funcao com suporte compacto supp(f) = [0, 1]. Se

considerarmos as funcoes escala e wavelet mae de Haar (3.1) e (3.13) respectivamente,

temos supp(φ) =supp(ψ) = [0, 1]. Assim, M1 = 0 e M2 = 1, de modo que a expressao

(2.75) se reduz a

PJf(t) = s0,0φ0,0(t) +J−1∑j=0

2j−1∑k=0

dj,kψj,k(t). (3.52)

Como φ0,0(t) = 1 para t ∈ [0, 1), temos que

s0,0 = 〈f, φ0,0〉 =

∫ 1

0

f(t) dt,

assim, a restricao da funcao PJf ao intervalo [0, 1) satisfaz

PJf(t) = f +J−1∑j=0

2j−1∑k=0

dj,kψj,k(t), t ∈ [0, 1), f =

∫ 1

0

f(t) dt. (3.53)

Perceba que f nada mais e do que a media da funcao f(t) em seu suporte.

3.3 Base 2D Tensorial

Vimos que dado J > 0, a representacao aproximada PJf(t) de uma funcao f

de suporte compacto [0, 1] pelas wavelets de Haar num espaco VJ , (3.53), e dada pela

combinacao linear das funcoes ortonormais do conjunto

St := {{φ0,0(t)}, {{ψj,k(t)}2j−1k=0 }J−1j=0 }.

Buscaremos a extensao desta aproximacao, PJf(x, z), para um sinal f(x, y) com

suporte compacto [0, 1]× [0, 1]. Vamos considerar uma combinacao linear das funcoes

Sxy = {u(x)v(y), u, v ∈ St}. (3.54)

Considerando o produto interno

〈f, g〉L2(R2)

:=

∫ ∞−∞

∫ ∞−∞

f(x, y)g(x, y) dx dy, (3.55)

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Sistema de Haar 47

temos que as funcoes do conjunto Sxy herdam a ortonormalidade do conjunto St. De

fato, se f = u1v1 e g = u2v2 com u1, . . . v2 ∈ St,

〈f, g〉 =

∫ ∞−∞

u1(x)u2(x) dx

∫ ∞−∞

v1(y)v2(y) dy =

1, (u1, v1) = (u2, v2)

0, (u1, v1) 6= (u2, v2).

Vamos explicitar as funcoes que formam o conjunto Sxy:

Sxy = { {{φ0,0(x)φ0,0(y)} , {{φ0,0(x)ψj,k(y)}2j−1k=0 }J−1j=0 ,

{{ψj,k(x)φ0,0(y)}2j−1k=0 }J−1j=0 ,

{{{{ψjx,kx(x)ψjy ,ky(y)}2j−1kx=0}J−1jx=0}2

j−1ky=0}

J−1jy=0 }.

Assim, em analogia a (3.53), buscamos

PJf(x, y) = d0φ0,0(x)φ0,0(y) +J−1∑j=0

2j−1∑k=0

dyj,kφ0,0(x)ψj,k(y)

+J−1∑j=0

2j−1∑k=0

dxj,kψj,k(x)φ0,0(y) (3.56)

+J−1∑jx=0

2j−1∑kx=0

J−1∑jy=0

2j−1∑ky=0

dxykx,jx,ky ,jyψjx,kx(x)ψjy ,ky(y),

com

d0 := 〈f, φ0,0(x)φ0,0(y)〉 , dxj,k := 〈f, ψj,k(x)φ0,0(y)〉 , dyj,k := 〈f, φ0,0(x)ψj,k(y)〉 ,

dxyjx,kx,jy ,ky :=⟨f, ψjx,kx(x)ψjy ,ky(y)

⟩.

Levando-se em conta que φ0,0(t) = 1 para t ∈ [0, 1), temos que

PJf(x, y) = f +J−1∑j=0

2j−1∑k=0

dyj,kψj,k(y) +J−1∑j=0

2j−1∑k=0

dxj,kψj,k(x) (3.57)

+J−1∑jx=0

2j−1∑kx=0

J−1∑jy=0

2j−1∑ky=0

dxyjx,kx,jy ,kyψjx,kx(x)ψjy ,ky(y), (x, y) ∈ [0, 1)× [0, 1),

sendo f a media da funcao f na regiao [0, 1)× [0, 1), e

dxj,k = 〈f, ψj,k(x)〉 , dyj,k = 〈f, ψj,k(y)〉 .

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Sistema de Haar 48

Vamos considerar os coeficientes auxiliares

sxj,k = 〈f, φj,k(x)〉 , syj,k = 〈f, φj,k(y)〉 .

Levando-se em conta (2.69) e o Teorema 2.5 (com M1 = 0 e M2 = 1), encontra-

mos em analogia com (2.70),

sxj,k =1∑

n=0

hn2J 〈f, φj+1,2k+n(x)〉 =1∑

n=0

hnsxj+1,2k+n.

Observando-se ainda que h0 = h1 = 2−1/2 (ver (3.16)), obtemos

sxj,k =1√2

(sxj+1,2k + sxj+1,2k+1

).

Analogamente, encontramos

dxj,k =1√2

(sxj+1,2k − sxj+1,2k+1

),

e, para os coeficientes dy e sy,

syj,k =1√2

(syj+1,2k + syj+1,2k+1

), dyj,k =

1√2

(syj+1,2k − s

yj+1,2k+1

).

Vamos repetir o procedimento acima para os coeficientes dxy. Usaremos os

seguintes coeficientes auxiliares:

sjx,kx,jy ,ky =⟨f, φjx,kx(x)φjy ,ky(y)

⟩, sjx,kx,jy ,ky =

⟨f, φjx,kx(x)ψjy ,ky(y)

⟩.

Da relacao entre φjx,· e φjx+1,· para a funcao escala de Haar, encontramos

sjx,kx,jy ,ky =1∑

nx=0

hnx

⟨f, φjx+1,2kx+nx(x)ψjy ,ky(y)

⟩=sjx+1,2kx,jy ,ky + sjx+1,2kx+1,jy ,ky√

2.

Alem disso, da relacao entre ψjx,· e φjx+1,·,

dxyjx,kx,jy ,ky =1∑

nx=0

gnx

⟨f, φjx+1,2kx+nx(x)ψjy ,ky(y)

⟩=sjx+1,2kx,jy ,ky − sjx+1,2kx+1,jy ,ky√

2.

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Sistema de Haar 49

Repetimos este processo ate que djx,kx,jy ,ky esteja escrito em termos dos coefi-

cientes auxiliares s0,kx,jy ,ky . Para obter estes termos, devemos anteriormente efetuar a

recursao em y: a partir da relacao entre ψjy ,· e φjy+1,·, obtemos

s0,kx,jy ,ky =⟨f, φ0,kx(x)ψjy ,ky(y)

⟩=

1∑ny=0

gny

⟨f, φ0,kx(x)φjy−1,2ky+ny(y)

⟩=s0,kx,jy+1,2ky − s0,kx,jy+1,2ky+1√

2,

sendo que os coeficientes s0,kx,jy ,2ky sao obtidos de forma analoga:

s0,kx,jy ,ky =1∑

ny=0

hny

⟨f, φ0,kx(x)φjy+1,2ky+ny(y)

⟩=s0,kx,jy+1,2ky + s0,kx,jy+1,2ky+1√

2.

Deste modo, conseguimos determinar todos os coeficientes presentes em (3.57)

por meio dos coeficientes auxiliares

sx0,k, sy0,k, s0,k,0,n, k, n = 0, . . . 2J − 1.

3.4 Base 2D Gerada por Soma Direta

Beylkin [2] se refere a base tensorial descrita anteriormente como standard form.

A proxima base, denominada non-standard form, e construıda por meio da decomposicao

em soma direta dos espacos que formam a analise de multirresolucao para L2(R2).

Vamos considerar a analise de multirresolucao formada pelos espacos

Vj = V xj ⊗ V

yj ,

V xj = span{φj,k(x)}k∈Z,

V yj = span{φj,k(y)}k∈Z,

com as funcoes φj,k definidas em termos da funcao escala φ de Haar (3.1) conforme

(2.8). Seguindo [6, Sec. 1.4], vamos decompor Vj+1 em uma soma direta entre Vj e

seu complemento ortogonal Wj utilizando a decomposicao em soma direta dos espacos

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Sistema de Haar 50

componentes V xj−1 e V y

j−1:

Vj+1 = V xj+1 ⊗ V

yj+1

=(V xj ⊕ W x

j

)⊗(V yj ⊕ W y

j

)= V x

j ⊗ Vyj ⊕ V x

j ⊗Wyj ⊕ W x

j ⊗ V yj ⊕ W x

j ⊗Wyj

= Vj ⊕ V xj ⊗W

yj ⊕ W x

j ⊗ V yj ⊕ W x

j ⊗Wyj

= Vj ⊕ Wj, Wj = (V xj ⊗W

yj )⊕ (W x

j ⊗ V yj )⊕ (W x

j ⊗Wyj ).

Em particular, temos para j = 0 que

V x0 = span{φ(x− k)}k∈Z

W x0 = span{ψ(x− k)}k∈Z

V y0 = span{φ(y − k)}k∈Z

W y0 = span{ψ(y − k)}k∈Z

=⇒

V x0 ⊗W

y0 = span{φ(x− kx)ψ(y − ky)}kx,ky∈Z

W x0 ⊗ V

y0 = span{ψ(x− kx)φ(y − ky)}kx,ky∈Z

W x0 ⊗W

y0 = span{ψ(x− kx)ψ(y − ky)}kx,ky∈Z,

de modo que, em geral, temos que Wj = span{ψaj,kx,ky

, ψbj,kx,ky

, ψcj,kx,ky

}kx,ky∈Z, comψaj,kx,ky

(x, y) = φj,kx(x)ψj,ky(y)

ψbj,kx,ky

(x, y) = ψj,kx(x)φj,ky(y)

ψcj,kx,ky

(x, y) = ψj,kx(x)ψj,ky(y)

e a representacao correspondente a (3.56) e dada por

f(x, y) = d0φ0,0(x)φ0,0(y) +

J−1∑j=0

2j−1∑kx=0

2j−1∑ky=0

[aj,kx,kyψ

ajx,kx(x, y) + bj,kx,kyψ

bjx,kx(x, y) + cj,kx,kyψ

cjx,kx(x, y)

],

para (x, y) ∈ [0, 1)× [0, 1), com d0 = 〈f, φ0,0(x)φ0,0(y)〉 e

aj,kx,ky =⟨f, ψa

j,kx,ky

⟩, bj,kx,ky =

⟨f, ψb

j,kx,ky

⟩, cj,kx,ky =

⟨f, ψc

j,kx,ky

⟩.

Assim como em (3.57), o termo d0φ0,0(x)φ0,0(y) corresponde a f . Para calcular

recursivamente os demais coeficientes, vamos precisar do coeficiente auxiliar

sj,kx,ky =⟨f, φj,kx(x)φj,ky(y)

⟩,

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Sistema de Haar 51

que satisfaz

sj,kx,ky =

⟨f,φj+1,2kx(x) + φj+1,2kx+1(x)√

2

φj+1,2ky(y) + φj+1,2ky+1(y)√

2

⟩=

1

2

⟨f, φj+1,2kx(x)φj+1,2ky(y)

⟩+

1

2

⟨f, φj+1,2kx(x)φj+1,2ky+1(y)

⟩+

1

2

⟨f, φj+1,2kx+1(x)φj+1,2ky(y)

⟩+

1

2

⟨f, φj+1,2kx+1(x)φj+1,2ky+1(y)

⟩=

1

2(sj+1,2kx,2ky + sj+1,2kx,2ky+1 + sj+1,2kx+1,2ky + sj+1,2kx+1,2ky+1).

Por outro lado, o coeficiente aj,nx,ny satisfaz

aj,kx,ky =

⟨f,φj+1,2kx(x) + φj+1,2kx+1(x)√

2

φj+1,2ky(y)− φj+1,2ky+1(y)√

2

⟩=

1

2

⟨f, φj+1,2kx(x)φj+1,2ky(y)

⟩− 1

2

⟨f, φj+1,2kx(x)φj+1,2ky+1(y)

⟩+

1

2

⟨f, φj+1,2kx+1(x)φj+1,2ky(y)

⟩− 1

2

⟨f, φj+1,2kx+1(x)φj+1,2ky+1(y)

⟩=

1

2(sj+1,2kx,2ky − sj+1,2kx,2ky+1 + sj+1,2kx+1,2ky − sj+1,2kx+1,2ky+1),

e analogamente,

bj,kx,ky =1

2(sj+1,2kx,2ky + sj+1,2kx,2ky+1 − sj+1,2kx+1,2ky − sj+1,2kx+1,2ky+1),

cj,kx,ky =1

2(sj+1,2kx,2ky − sj+1,2kx,2ky+1 − sj+1,2kx+1,2ky + sj+1,2kx+1,2ky+1).

As extensoes realizadas, tanto atraves de produto tensorial como por soma di-

reta, podem ser utilizadas independentemente da base escolhida [2], porem, esses con-

ceitos de base 2D estao fortemente relacionados com a teoria de wavelets 1D. Por isso,

nao se pode negar a importancia da teoria apresentada no inıcio deste capıtulo, para

o caso particular das funcoes de Haar. Alem disso, as bases 2D abrem espaco para o

estudo de uma ampla area de aplicacoes . No capıtulo seguinte podem ser vistos alguns

exemplos de tais aplicacoes nas quais escolhemos utilizar a base de Haar 2D gerada por

soma direta.

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Capıtulo 4

Aplicacoes

4.1 Implementacao da Aproximacao de Funcoes na

Base de Haar 2D

Nesta secao, veremos como implementar o algoritmo de Mallat utilizando a

Base de Haar 2D gerada por soma direta para obter a aproximacao de funcoes no espaco

L2(R2).

Seja D = [0, 1]× [0, 1]. Vamos considerar o espaco de Hilbert L2(D) de funcoes

reais munido com o produto interno usual e a norma induzida,

〈u, v〉 =

∫D

u(x, y)v(x, y) dx dy, ‖v‖L2(D) = 〈v, v〉1/2 , (4.1)

Consideremos uma funcao f : D2 −→ R. Nosso objetivo e calcular a projecao

de f num espaco VM a seguir:

PMf(x, y) =N∑i=1

Fivi(x, y), Fi = 〈f, vi〉, i = 0, 1, 2, ..., N. (4.2)

O ındice N da expressao acima depende de M , conforme veremos posteriormente.

Vamos utilizar a base 2D gerada por soma direta descrita na Secao 3.4 do

Capıtulo 3. Definamos as funcoesψ

(1)m,n,l(x, y) = φm,n(x)ψm,l(y),

ψ(2)m,n,l(x, y) = ψm,n(x)φm,l(y),

ψ(3)m,n,l(x, y) = ψm,n(x)ψm,l(y),

(4.3)

52

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Aplicacoes 53

e a funcao adicional

ψ(0)m,n,l(x, y) = φm,n(x)φm,l(y). (4.4)

A fim de tornar o problema mais simples, vamos particionar o domınio D em

2M × 2M partes iguais. Nossa primeira funcao da base e

v1(x, y) = φ0,0(x)φ0,0(y), (4.5)

enquanto que para 2 ≤ i ≤ 22M definimos as funcoes da forma vi como

vi(x, y) = ψ(k)m,n,l(x, y), (4.6)

com os ındices 0 ≤ m ≤M − 1, 0 ≤ n, l ≤ 2m− 1, e k = 1, 2, 3 relacionados com o ındice

global i como segue:

i = 22m + 3(2m l + n) + k (i > 1). (4.7)

Sabemos ainda, por (2.8) e (3.13), que

φm,n(x) = 2m/2φ(2mx− n)

=1√2

2(m+1)/2[φ(2m+1x− 2n) + φ(2m+1x− (2n+ 1))

]=

1√2

[φm+1,2n(x) + φm+1,2n+1(x)] , ∀x ∈ R (4.8)

e

ψm,n(x) = 2m/2ψ(2mx− n)

=1√2

2(m+1)/2

[1√2φ1,0(2

mx− n)− 1√2φ1,1(2

mx− n)

]=

1√2

2(m+1)/2[φ(2m+1x− 2n)− φ(2m+1x− (n+ 1))

]=

1√2

[φm+1,2n(x)− φm+1,2n+1(x)] , ∀x ∈ R. (4.9)

A partir de (4.3), (4.4), (4.8) e (4.9), podemos reescrever as funcoes da base 2D

como:

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Aplicacoes 54

ψ(0)m,n,l(x, y) =

1

2[φn+1,2n(x)φm+1,2l(y) + φn+1,2n(x)φm+1,2l+1(y)

+ φm+1,2n+1(x)φm+1,2l(y) + φm+1,2n+1(x)φm+1,2l+1(y)]

=1

2

(0)m+1,2n,2l(x, y) + ψ

(0)m+1,2n,2l+1(x, y)

+ ψ(0)m+1,2n+1,2l(x, y) + ψ

(0)m+1,2n+1,2l+1(x, y)

], (4.10)

ψ(1)m,n,l(x, y) =

1

2[φn+1,2n(x)φm+1,2l(y)− φn+1,2n(x)φm+1,2l+1(y)

+ φm+1,2n+1(x)φm+1,2l(y)− φm+1,2n+1(x)φm+1,2l+1(y)]

=1

2

(0)m+1,2n,2l(x, y)− ψ(0)

m+1,2n,2l+1(x, y)

+ ψ(0)m+1,2n+1,2l(x, y)− ψ(0)

m+1,2n+1,2l+1(x, y)], (4.11)

ψ(2)m,n,l(x, y) =

1

2[φn+1,2n(x)φm+1,2l(y) + φn+1,2n(x)φm+1,2l+1(y)

− φm+1,2n+1(x)φm+1,2l(y)− φm+1,2n+1(x)φm+1,2l+1(y)]

=1

2

(0)m+1,2n,2l(x, y) + ψ

(0)m+1,2n,2l+1(x, y)

− ψ(0)m+1,2n+1,2l(x, y)− ψ(0)

m+1,2n+1,2l+1(x, y)], (4.12)

ψ(3)m,n,l(x, y) =

1

2[φn+1,2n(x)φm+1,2l(y)− φn+1,2n(x)φm+1,2l+1(y)

− φm+1,2n+1(x)φm+1,2l(y) + φm+1,2n+1(x)φm+1,2l+1(y)]

=1

2

(0)m+1,2n,2l(x, y)− ψ(0)

m+1,2n,2l+1(x, y)

− ψ(0)m+1,2n+1,2l(x, y) + ψ

(0)m+1,2n+1,2l+1(x, y)

]. (4.13)

Vamos tomar os coeficientes auxiliares

F(0)ni,li

= 〈f, ψ(0)M,ni,li

〉,

F(1)mi,ni,li

= 〈f, ψ(0)mi,ni,li

〉,

F(2)ki,mi,ni,li

= 〈f, ψ(ki)mi,ni,li

〉.

(4.14)

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Aplicacoes 55

Pela relacao entre ındices (4.7) podemos rearranjar os coeficientes auxiliares

(4.14) como segue.

F(0)ni,li

= F(0)

2M li+ni+1,

F(1)mi,ni,li

= F(1)

(22mi−1)/3+2mi li+ni+1,

F(2)ki,mi,ni,li

= F(2)

22mi+3(2mi li+ni)+ki.

(4.15)

Alem disso, a partir de (4.14) tem-se que

Fi =

F(1)0,0,0, i = 1,

F(2)ki,mi,ni,li

, 2 ≤ i ≤ n.(4.16)

Inicialmente vamos calcular as entradas F(0)ni,li

, (0 ≤ ni, li < 2M). Com efeito,

sabemos que

F(0)ni,li

=

∫Di

F (x, y)ψ(0)M,ni,li

(x, y) dy dx

Temos por definicao que φM,nj(x) = 2M/2φ(2Mx− nj). Como

0 ≤ 2Mx− nj < 1 ⇐⇒ nj ≤ 2mx < 1 + nj

⇐⇒ 2−Mnj ≤ x < (1 + nj)2−M

Entao φM,njnao se anula somente em x ∈ [2−Mnj, (1 + nj)2

−M). Temos um resultado

analogo para φM,lj(y). Portanto, pondo D = [2−Mnj, (1+nj)2−M ]× [2−M lj, (1+ lj)2

−M ],

podemos escrever:

F(0)ni,li

=

∫D

F (x, y)ψ(0)M,ni,li

(x, y) dy dx = 2M

∫D

F (x, y) dy dx, (4.17)

Para aproximar essa integral utilizando a Regra do Retangulo precisamos dos pontos

medios dos intervalos de integracao. Fazendo

2−Mnj + (1 + nj)2−M

2= 2−M

nj + 1 + nj

2= 2−M

2nj + 1

2= 2−M

(nj +

1

2

),

encontramos o ponto medio xM,nj= 2−M(nj + 1/2) ∈ [2−Mnj, (1 +nj)2

−M). De maneira

analoga encontramos yM,lj= 2−M(lj +1/2). Assim, podemos aproximar a integral (4.17)

utilizando a Regra do Retangulo como segue.

F(0)ni,li

= 2−2MF (xM,ni, xM,li), xM,n = 2−M

(n+

1

2

). (4.18)

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Aplicacoes 56

A partir de (4.14) temos que, para 0 ≤ ni, li < 2M−1,

F(1)M−1,ni,li

= 〈f, ψ(0)M−1,ni,li

=

⟨f,

1

2

(0)M,2ni,2li

+ ψ(0)M,2ni,2li+1 + ψ

(0)M,2ni+1,2li

+ ψ(0)M,2ni+1,2li+1

]⟩=

1

2

[〈f, ψ(0)

M,2ni,2li〉+ 〈f, ψ(0)

M,2ni,2li+1〉+ 〈f, ψ(0)M,2ni+1,2li

〉+ 〈f, ψ(0)M,2ni+1,2li+1〉

]=

1

2

[F

(0)2ni,2li

+ F(0)2ni,2li+1 + F

(0)2ni+1,2li

+ F(0)2ni+1,2li+1

].

Em geral, para mi < M e 0 ≤ ni, li < 2mi tem-se que

F(1)mi,ni,li

=1

2

[F

(1)mi+1,2ni,2li

+ F(1)mi+1,2ni,2li+1 + F

(1)mi+1,2ni+1,2li

+ F(1)mi+1,2ni+1,2li+1

],

F(2)1,mi,ni,li

=1

2

[F

(1)mi+1,2ni,2li

− F (1)mi+1,2ni,2li+1 + F

(1)mi+1,2ni+1,2li

− F (1)mi+1,2ni+1,2li+1

],

F(2)2,mi,ni,li

=1

2

[F

(1)mi+1,2ni,2li

+ K(1)mi+1,2ni,2li+1 − F

(1)mi+1,2ni+1,2li

− K(1)mi+1,2ni+1,2li+1

],

F(2)3,mi,ni,li

=1

2

[F

(1)mi+1,2ni,2li

− F (1)mi+1,2ni,2li+1 − F

(1)mi+1,2ni+1,2li

+ F(1)mi+1,2ni+1,2li+1

].

Exemplo 4.1 Vamos considerar a funcao u : D → R dada por

u(x, y) =1

1 + x+ y, ∀(x, y) ∈ D.

Observando as figuras 4.1 a 4.3, podemos comparar o grafico da funcao original u comas aproximacoes de u na Base de Haar 2D gerada por soma direta nos espacos V3 e V6respectivamente.

4.2 Equacao de Fredholm Homogenea

Seja D = [0, 1]×[0, 1]. Seja K um nucleo de covariancia simetrico e nao negativo-

definido, i.e., para todo subconjunto finito Dn ⊂ D e para qualquer funcao u : Dn → IR,∑x,y∈Dn

K(x,y)u(x)u(y) ≥ 0. (4.19)

De acordo com [20], K admite a decomposicao espectral

K(x,y) =∞∑k=1

λkuk(x)uk(y), (4.20)

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Aplicacoes 57

00.2

0.40.6

0.81

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1

Aproximação com M=3

00.5

10

0.5

10.2

0.4

0.6

0.8

1

Função original

Figura 4.1: Comparacao da aproximacao com a funcao u no espaco V3

sendo que os autovalores nao-negativos λk e as autofuncoes ortonormais uk (k ≥ 1) sao

as solucoes da equacao integral de Fredholm homogenea.∫D

K(x,y)u(y) dy = λu(x), x ∈ D. (4.21)

A equacao integral (4.21) pode ser resolvida analiticamente em alguns casos,

como no exemplo apresentado por [25]. Mas na maioria dos casos a obtencao da solucao

analıtica da equacao integral nao e possıvel e os metodos numericos sao o unico recurso

viavel. Em funcao disso, as autofuncoes serao aproximadas por combinacoes lineares

finitas de funcoes da base a ser escolhida, transformando (4.21) numa equacao residual.

O resıduo da solucao pode ser minimizado utilizando o metodo de Galerkin e fazendo

com que a equacao residual seja ortonormal para cada uma das funcoes da base escolhida.

4.2.1 Formulacao Variacional e Aproximacao de Galerkin

Inicialmente vamos considerar a formulacao variacional da equacao integral de

Fredholm (4.21)∫D

∫D

K(x,y)u(y)v(x) dy dx = λ 〈u, v〉 , ∀ v ∈ L2(D) (4.22)

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Aplicacoes 58

Erro

0 0.5 10

0.2

0.4

0.6

0.8

1

0.02

0.04

0.06

0.08

0.1

Figura 4.2: Erro relativo entre a aproximacao e a funcao u no espaco V3

que pode ser obtida aplicando-se o produto interno com cada funcao v ∈ L2(D) na

equacao (4.21). Vamos definir

a(u, v) :=

∫D

∫D

K(x,y)u(y)v(x) dy dx. (4.23)

Ate aqui, o objetivo se resume a encontrar valores λk ∈ R e funcoes uk(x) ∈ L2(D) com

(k = 1, 2, . . .) tais que

a(uk, v) = λk 〈uk, v〉 , ∀ v ∈ L2(D), (4.24)

Aplicando o metodo de Galerkin (vide, por exemplo, [14]), vamos considerar Vh

um subespaco de dimensao finita de L2(D) e {v1, . . . , vN} ⊂ L2(D) uma base para Vh. A

aproximacao de Galerkin para a solucao de (4.24) em Vh consiste em encontrar λhk ∈ IR

e uhk(x) ∈ Vh (1 ≤ k ≤ N) tais que

a(uhk, vh) = λhk⟨uhk, vh

⟩, ∀ vh ∈ Vh. (4.25)

Uma vez que {v1, . . . , vN} e uma base para Vh, temos que a solucao de (4.25) e

equivalente a resolver o sistema

a(uhk, vi) = λhk⟨uhk, vi

⟩1 ≤ i ≤ N. (4.26)

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Aplicacoes 59

Figura 4.3: Comparacao da aproximacao com a funcao u no espaco V6

Vamos escrever uhk com respeito a base do subespaco Vh:

uhk(x) =N∑j=1

ujvi(x, y). (4.27)

Substituindo (4.27) em (4.26) e utilizando a linearidade de a(·, ·), encontramos

a

(N∑j=1

ujvj, vi

)= λhk

⟨N∑j=1

ujvj, vi

⟩1 ≤ i ≤ N

N∑j=1

uja(vj, vi) = λhk

N∑j=1

uj 〈vj, vi〉 1 ≤ i ≤ N.

Na forma matricial, temos o problema de autovalores generalizado Kuk =

λhkWuk, em que as matrizes K e W sao definidas pelos coeficientes

Ki,j = a(vj, vi), Wi,j = 〈vj, vi〉 , 1 ≤ i, j ≤ N. (4.28)

Se a base de funcoes v1, . . . , vN for ortonormal, o problema se reduz ao problema

de autovalor padrao Kuk = λhkuk.

4.2.2 Montagem do Sistema de Autovalores Discreto

A fim de ter as funcoes de base bidimensionais, vamos tomar as funcoes vi, 1 ≤

i ≤ N, a partir das wavelets de Haar. Mais precisamente, vamos utilizar a base 2D

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Aplicacoes 60

Erro

0 0.5 10

0.2

0.4

0.6

0.8

1

2

4

6

8

10

12

14x 10

−3

Figura 4.4: Erro relativo entre a aproximacao e a funcao u no espaco V6.

gerada por soma direta descrita na Secao 3.4 e utilizada na Secao 4.1 deste capıtulo.

A fim de calcular os coeficientes Ki,j = a(vj, vi) do sistema de autovalores dis-

cretos, vamos introduzir os coeficientes auxiliares

K(0)ni,li,nj ,lj

= a(ψ(0)M,nj ,lj

, ψ(0)M,ni,li

),

K(1)mi,ni,li,mj ,nj ,lj

= a(ψ(0)mj ,nj ,lj

, ψ(0)mi,ni,li

),

K(2)ki,mi,ni,li,mj ,nj ,lj

= a(ψ(0)mj ,nj ,lj

, ψ(ki)mi,ni,li

),

K(3)mi,ni,li,kj ,mj ,nj ,lj

= a(ψ(kj)mj ,nj ,lj

, ψ(0)mi,ni,li

),

K(4)ki,mi,ni,li,kj ,mj ,nj ,lj

= a(ψ(kj)mj ,nj ,lj

, ψ(ki)mi,ni,li

).

(4.29)

em analogia a (4.7), esses coeficientes podem ser arranjados formando matrizes

da seguinte maneira:

K(0)ni,li,nj ,lj

= K(0)

2M li+ni+1,2M lj+nj+1,

K(1)mi,ni,li,mj ,nj ,lj

= K(1)

(22mi−1)/3+2mi li+ni+1,(22mj−1)/3+2mj lj+nj+1,

K(2)ki,mi,ni,li,mj ,nj ,lj

= K(2)

22mi+3(2mi li+ni)+ki,(22mj−1)/3+2mj lj+nj+1

,

K(3)mi,ni,li,kj ,mj ,nj ,lj

= K(3)

(22mi−1)/3+2mi li+ni+1,22mj+3(2mj lj+nj)+kj,

K(4)ki,mi,ni,li,kj ,mj ,nj ,lj

= K(4)

22mi+3(2mi li+ni)+ki,22mj+3(2mj lj+nj)+kj

.

(4.30)

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Aplicacoes 61

Alem disso, note que, a partir de (4.29),

Ki,j =

K(1)0,0,0,0,0,0, i = j = 1,

K(2)ki,mi,ni,li,0,0,0

, 2 ≤ i ≤ n, j = 1,

K(3)0,0,0,kj ,mj ,nj ,lj

, i = 1, 2 ≤ j ≤ n,

K(4)ki,mi,ni,li,kj ,mj ,nj ,lj

, 2 ≤ i, j ≤ n.

(4.31)

Vamos primeiro calcular K(0)ni,li,nj ,lj

, (0 ≤ ni, li, nj, lj < 2M). Com efeito, sabemos

que

K(0)ni,li,nj ,lj

= a(ψ(0)M,nj ,lj

, ψ(0)M,ni,li

)

=

∫D

∫D

K(x, y, s, t)ψ(0)M,nj ,lj

(x, y)ψ(0)M,ni,li

(s, t) dt ds dy dx

=

∫D

∫D

K(x, y, s, t)φM,nj(x)φM,lj(y)φM,ni

(s)φM,li(t) dt ds dy dx.

Temos por definicao que φM,nj(x) = 2M/2φ(2Mx− nj). Como

0 ≤ 2Mx− nj < 1 ⇐⇒ nj ≤ 2mx < 1 + nj

⇐⇒ 2−Mnj ≤ x < (1 + nj)2−M ,

sabemos que φM,njnao se anula somente em x ∈ [2−Mnj, (1+nj)2

−M). Temos resultados

analogos para φM,lj(y), φM,ni(s) e φM,li(t). Portanto, pondo Dj = [2−Mnj, (1+nj)2

−M ]×

[2−M lj, (1+ lj)2−M ] e Di = [2−Mni, (1+ni)2

−M ]× [2−M li, (1+ li)2−M ], podemos escrever:

K(0)ni,li,nj ,lj

=

∫Dj

∫Di

K(x, y, s, t)ψ(0)M,nj ,lj

(x, y)ψ(0)M,ni,li

(s, t) dt ds dy dx. (4.32)

Em analogia a (4.18), aplicando a Regra do Retangulo na igualdade acima, temos

K(0)ni,li,nj ,lj

= 2−M2−M2−M2−MK(xM,nj, yM,lj

, sM,ni, tM,li)2

M2M

= 2−2MK(xM,nj, yM,lj

, sM,ni, tM,li).

(4.33)

Temos que K(0)ni,li,nj ,lj

e, com ındices permutados, a matriz do metodo de ele-

mentos finitos com funcoes de base constantes por partes para (4.21) [1]. No que segue,

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Aplicacoes 62

descrevemos o algoritmo piramidal [3] para recuperar K(4)ki,mi,ni,li,kj ,mj ,nj ,lj

, evitando a

necessidade de novas integracoes.

Usamos as relacoes (4.10)-(4.13) e a bilinearidade de a(·, ·) para calcular os

coeficientes K(1)mi,ni,li,M,nj ,lj

for 0 ≤ ni, li < 2mi , bem como os coeficientes K(2)ki,mi,ni,li,M,nj ,lj

for 0 ≤ nj, lj < 2M .

Temos, por exemplo, a partir de (4.10) e (4.29) que, para 0 ≤ ni, li < 2M−1,

K(1)M−1,ni,li,M,nj ,lj

= a(ψ

(0)mj ,nj ,lj

, ψ(0)M−1,ni,li

)= a

(0)mj ,nj ,lj

,1

2

(0)M,2ni,2li

+ ψ(0)M,2ni,2li+1 + ψ

(0)M,2ni+1,2li

+ ψ(0)M,2ni+1,2li+1

])=

1

2

[a(ψ

(0)mj ,nj ,lj

, ψ(0)M,2ni,2li

) + a(ψ(0)mj ,nj ,lj

, ψ(0)M,2ni,2li+1)+

a(ψ(0)mj ,nj ,lj

, ψ(0)M,2ni+1,2li

) + a(ψ(0)mj ,nj ,lj

, ψ(0)M,2ni+1,2li+1)

]=

1

2

[K

(0)2ni,2li,nj ,lj

+ K(0)2ni,2li+1,nj ,lj

+ K(0)2ni+1,2li,nj ,lj

+ K(0)2ni+1,2li+1,nj ,lj

].

Em geral, temos para mi < M e 0 ≤ ni, li < 2mi que

K(1)mi,ni,li,M,nj ,lj

=1

2

[K

(1)mi+1,2ni,2li,M,nj ,lj

+ K(1)mi+1,2ni,2li+1,M,nj ,lj

+ K(1)mi+1,2ni+1,2li,M,nj ,lj

+ K(1)mi+1,2ni+1,2li+1,M,nj ,lj

],

K(2)1,mi,ni,li,M,nj ,lj

=1

2

[K

(1)mi+1,2ni,2li,M,nj ,lj

− K(1)mi+1,2ni,2li+1,M,nj ,lj

+ K(1)mi+1,2ni+1,2li,M,nj ,lj

− K(1)mi+1,2ni+1,2li+1,M,nj ,lj

],

K(2)2,mi,ni,li,M,nj ,lj

=1

2

[K

(1)mi+1,2ni,2li,M,nj ,lj

+ K(1)mi+1,2ni,2li+1,M,nj ,lj

− K(1)mi+1,2ni+1,2li,M,nj ,lj

− K(1)mi+1,2ni+1,2li+1,M,nj ,lj

],

K(2)3,mi,ni,li,M,nj ,lj

=1

2

[K

(1)mi+1,2ni,2li,M,nj ,lj

− K(1)mi+1,2ni,2li+1,M,nj ,lj

− K(1)mi+1,2ni+1,2li,M,nj ,lj

+ K(1)mi+1,2ni+1,2li+1,M,nj ,lj

].

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Aplicacoes 63

Em seguida, calculamos K(4) a partir de K(2) seguindo o mesmo procedimento:

K(2)ki,mi,ni,li,mj ,nj ,lj

=1

2

[K

(2)ki,mi,ni,li,mj+1,2nj ,2lj

+ K(2)ki,mi,ni,li,mj+1,2nj ,2lj+1

+ K(2)ki,mi,ni,li,mj+1,2nj+1,2lj

+ K(2)ki,mi,ni,li,mj+1,2nj+1,2lj+1

],

K(4)ki,mi,ni,li,1,mj ,nj ,lj

=1

2

[K

(2)ki,mi,ni,li,mj+1,2nj ,2lj

− K(2)ki,mi,ni,li,mj+1,2nj ,2lj+1

+ K(2)ki,mi,ni,li,mj+1,2nj+1,2lj

− K(2)ki,mi,ni,li,mj+1,2nj+1,2lj+1

],

K(4)ki,mi,ni,li,2,mj ,nj ,lj

=1

2

[K

(2)ki,mi,ni,li,mj+1,2nj ,2lj

+ K(2)ki,mi,ni,li,mj+1,2nj ,2lj+1

− K(2)ki,mi,ni,li,mj+1,2nj+1,2lj

− K(2)ki,mi,ni,li,mj+1,2nj+1,2lj+1

],

K(4)ki,mi,ni,li,3,mj ,nj ,lj

=1

2

[K

(2)ki,mi,ni,li,mj+1,2nj ,2lj

− K(2)ki,mi,ni,li,mj+1,2nj ,2lj+1

− K(2)ki,mi,ni,li,mj+1,2nj+1,2lj

+ K(2)ki,mi,ni,li,mj+1,2nj+1,2lj+1

].

Precisamos tambem das entradas de K(3)0,0,0,kj ,mj ,nj ,lj

in (4.31):

K(3)0,0,0,1,mj ,nj ,lj

=1

2

[K

(1)0,0,0,mj+1,2nj ,2lj

− K(1)0,0,0,mj+1,2nj ,2lj+1

+ K(1)0,0,0,mj+1,2nj+1,2lj

− K(1)0,0,0,mj+1,2nj+1,2lj+1

],

K(2)0,0,0,2,mj ,nj ,lj

=1

2

[K

(1)0,0,0,mj+1,2nj ,2lj

+ K(1)0,0,0,mj+1,2nj ,2lj+1

− K(1)0,0,0,mj+1,2nj+1,2lj

− K(1)0,0,0,mj+1,2nj+1,2lj+1

],

K(2)0,0,0,3,mj ,nj ,lj

=1

2

[K

(1)0,0,0,mj+1,2nj ,2lj

− K(1)0,0,0,mj+1,2nj ,2lj+1

− K(1)0,0,0,mj+1,2nj+1,2lj

+ K(1)0,0,0,mj+1,2nj+1,2lj+1

].

Em termos de implementacao, ao considerarmos uma particao do domınio em

2M × 2M partes iguais, o algoritmo descrito nesta secao gera matrizes de ordem 22M .

Essas matrizes por sua vez, possuem todas as suas entradas nao-nulas. Desta maneira,

a elevacao do numero M gera um aumento significativo no custo computacional desse

metodo. Dependendo da disponibilidade de memoria do computador utilizado, o al-

goritmo pode nao funcionar para valores de M elevados. Na plataforma em que os

experimentos foram realizados (um notebook com sistema operacional Windows 7, pro-

cessador Intel Dual-Core e 2Gb de memoria RAM) nao foi possıvel executar o algoritmo

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Aplicacoes 64

com M ≥ 7.

4.2.3 Exemplo Numerico

Vamos aplicar o metodo apresentado nesta secao para calcular os autovalores

aproximados da funcao covariancia exponencial separavel K(x,y) = exp(−|x1− y1|/η−

|x2 − y2|/η) (η = 0.1), cujos autovalores e autofuncoes exatos podem se encontrados

em [25]. Resultados numericos obtidos utilizando o pacote computacional Matlab sao

mostrados e comparados com os autovalores exatos na Figura 4.5. No grafico (a) pode-

se observar a aproximacao para a solucao da equacao (4.21) feita tomando M = 3. No

grafico (b) e ilustrada a aproximacao da solucao da mesma equacao, porem com M = 6.

0 10 20 30 40 50 60 7010

−3

10−2

10−1

exataHaar

(a) No espaco V3

0 1000 2000 3000 4000 500010

−6

10−5

10−4

10−3

10−2

10−1

exataHaar

(b) No espaco V6

Figura 4.5: Autovalores gerados pelo metodo das wavelets de Haar 2D e autovaloresexatos.

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Aplicacoes 65

4.3 Equacao de Fredholm nao Homogenea

Vamos nos ater agora a uma equacao integral um pouco diferente da que foi

vista na secao anterior. Seja novamente D = [0, 1]× [0, 1] e K(x,y) uma funcao nucleo

de covariancia conforme definida na Secao 4.2. Seja ainda f : D2 −→ R uma funcao

contınua. Vamos considerar o problema cujo objetivo e encontrar uma funcao u ∈ L2(D)

que satisfaca a equacao de Fredholm nao Homogenea

f(x) +

∫D

K(x,y)u(y) dy = u(x), x ∈ D. (4.34)

Fazendo uso da expressao (4.23) e aplicando o produto interno com cada funcao v ∈

L2(D) temos uma reformulacao da equacao (4.34):

〈f, v〉+ a(u, v) = 〈u, v〉 , ∀ v ∈ L2(D). (4.35)

Mais uma vez, vamos considerar Vh como sendo um subespaco de dimensao finita de

L2(D) e {v1, . . . , vN} ⊂ L2(D) uma base para Vh. Neste caso, a aproximacao de Galerkin

para (4.35) em Vh consiste em encontrar uhk(x) ∈ Vh (1 ≤ k ≤ N) tal que⟨fhk , vh

⟩+ a(uhk, vh) =

⟨uhk, vh

⟩, ∀ vh ∈ Vh. (4.36)

Reescrevendo (4.36) em termos da base do subespaco Vh tem-se o seguinte sis-

tema de equacoes: ⟨fhk , vi

⟩+ a(uhk, vi) =

⟨uhk, vi

⟩1 ≤ i ≤ N. (4.37)

Podemos ainda escrever uhk e fhk com respeito a base de Vh:

uhk(x) =N∑j=1

ujvi(x, y), fhk (x) =

N∑j=1

fjvi(x, y). (4.38)

Substituindo (4.38) into (4.37) e fazendo uso da linearidade de a(·, ·), obtem-se⟨N∑j=1

fjvj, vi

⟩+ a

(N∑j=1

ujvj, vi

)=

⟨N∑j=1

ujvj, vi

⟩1 ≤ i ≤ N

N∑j=1

fj 〈vj, vi〉+N∑j=1

uja(vj, vi) =N∑j=1

uj 〈vj, vi〉 1 ≤ i ≤ N.

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Aplicacoes 66

Na forma matricial, temos o sistema WF + Ku = Wu, com as matrizes K,

W e F definidas pelos coeficientes

Ki,j = a(vj, vi), Wi,j = 〈vj, vi〉 , Fi = 〈f, vi〉 , 1 ≤ i, j ≤ N. (4.39)

Vamos escolher a base de funcoes ortonormais v1, . . . , vN da mesma forma que

foi feita na Secao 4.2, de modo que o problema se reduz a resolver F + Ku = u, que e

equivalente a resolver o sistema linear

(I − K)u = F. (4.40)

Consideremos novamente as funcoes base vi, com 1 ≤ i ≤ 22M , conforme de-

finidas em (4.5) e (4.6). Pelo que foi estudado nas secoes 4.1 e 4.2, ja sabemos como

encontrar as entradas das matrizes K e F . Com isto, conseguimos os dados necessarios

para resolver o sistema linear (4.40) e encontrar a matriz u. Resta agora reconstruir a

funcao u ∈ L2(D) que aproxima a solucao da equacao (4.34). Deste modo por (4.2),

temos

u(x, y) ∼=22M∑i=1

〈u, vi〉vi(x, y) =22M∑i=1

uivi(x, y). (4.41)

4.3.1 Exemplo Numerico

Para ilustrar, vamos considerar o problema

f(x, y) +

∫ 1

0

∫ 1

0

(x

1 + y

)· (1 + s+ t) · u(s, t)dsdt, 0 ≤ x, y < 1, (4.42)

com

f(x, y) =1

(1 + x+ y)− x

1 + y,

cuja solucao analıtica segundo [11] e dada por

u(x, y) =1

1 + x+ y(4.43)

As figuras 4.6-4.9 exibem as aproximacoes e erros relativos obtidos nos espacos

V3 e V6.

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Aplicacoes 67

0 0.2 0.4 0.6 0.8 1

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1

Aproximação com M=3

00.5

10

0.5

10.2

0.4

0.6

0.8

1

Solução exata

Figura 4.6: Comparacao da aproximacao da solucao com a solucao exata no espaco V3

Erro

0 0.5 10

0.2

0.4

0.6

0.8

1

0.02

0.04

0.06

0.08

0.1

Figura 4.7: Erro relativo entre a aproximacao da solucao e a solucao exata no espaco V3

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Aplicacoes 68

Figura 4.8: Comparacao da aproximacao da solucao com a solucao exata no espaco V6

Erro

0 0.5 10

0.2

0.4

0.6

0.8

1

2

4

6

8

10

12

14x 10

−3

Figura 4.9: Erro relativo entre a aproximacao da solucao e a solucao exata no espaco V6.

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Aplicacoes 69

No exemplo da secao 4.1, foi calculada uma aproximacao para a funcao que

coincide com a solucao da equacao (4.42). A Figura 4.10 apresenta a diferenca cal-

culada entre a aproximacao feita diretamente sobre a funcao u, dada por (4.43), e a

aproximacao da solucao da equacao (4.42), cuja solucao exata e a mesma funcao u. Para

essa comparacao foram consideradas as aproximacoes no espaco V6.

Erro

0 0.5 10

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.8

1.9

2

2.1

2.2

x 10−14

Figura 4.10: Diferenca em modulo entre a aproximacao direta da funcao u e a apro-ximacao da solucao de (4.42).

Pode-se observar que os dados obtidos no primeiro caso, aproximando dire-

tamente a funcao u, quase nao diferem do resultado obtido no segundo caso, onde e

feita uma aproximacao da solucao da equacao (4.42). Inclusive, como a quantidade de

calculos envolvidos na implementacao do segundo caso e muito grande comparada com

a do primeiro, acredita-se que a diferenca mostrada na figura 4.10 pode ter sido gerada

unicamente por erros de arredondamento do pacote computacional utilizado. Esse fato,

de certa forma, traz mais seguranca de poder aproximar solucoes de equacoes integrais

utilizando o metodo apresentado neste trabalho.

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Consideracoes Finais

Durante a pesquisa feita para a realizacao deste trabalho, mais especificamente

ao que se refere as propriedades das wavelets de Haar, pode-se perceber que a teoria refe-

rente a esse assunto esta bastante fragmentada na literatura. Foi preciso consultar varias

referencias e ate mesmo acrescentar argumentacoes nas demonstracoes para conseguir o

embasamento teorico que desejavamos.

Pudemos perceber tambem que a utilizacao da base de Haar 2D para aproximar a

solucao de equacoes integrais de Fredholm ainda esta pouco estudada. Encontramos algo

a respeito em [11], que trata do caso da equacao de Fredholm nao-homogenea. Mesmo

assim, tivemos a percepcao de que a literatura atual dispoe de bastante espaco para

melhorar estudos relacionados a essa tecnica, inclusive utilizando outras bases wavelets.

Neste trabalho, decidimos utilizar o conjunto de wavelets de Haar para aproxi-

mar funcoes com domınio restrito ao intervalo [0, 1]. Essa decisao se justifica basicamente

pelo fato de que, conforme o Teorema 3.4, podemos escolher funcoes desse conjunto a fim

de formar uma base para o espaco L2(0, 1) de modo que o suporte dessas funcoes esteja

todo completamente contido no intervalo [0, 1]. O mesmo ja nao acontece, em geral,

para as outras bases wavelets. Cohen et al [7] salientam que se tomarmos as wavelets de

Daubechies [9] e optarmos por uma escolha semelhante a que foi feita com as funcoes de

Haar com o intuito de formar uma base para o espaco L2(0, 1), havera entao, dentre as

funcoes escolhidas, algumas que nao terao suporte contido totalmente do intervalo [0, 1]

e nem totalmente contido no complementar desse intervalo.

Por esse motivo, em estudos futuros, pretendemos estudar as possibilidades de

utilizacao de funcoes de Daubechies para problemas como os que aparecem neste traba-

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Conclusao 71

lho. Mais precisamente, temos a ambicao de estudar a teoria apresentada por [7] para

funcoes de uma variavel real e depois buscar uma forma de extender esse raciocınio para

funcoes bidimensionais e estudar sua aplicabilidade nos metodos de projecao.

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