universidade federal do rio grande do norte … · 2019-01-30 · dissertação (mestrado...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO PÚBLICA MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO PÚBLICA KELPS DE OLIVEIRA LIMA MOBILIDADE URBANA NA GRANDE NATAL/RN: ESTUDO A PARTIR DA POLÍTICA NACIONAL DE MOBILIDADE URBANA (PNMU) NATAL/RN 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO PÚBLICA

MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO PÚBLICA

KELPS DE OLIVEIRA LIMA

MOBILIDADE URBANA NA GRANDE NATAL/RN: ESTUDO A PARTIR DA

POLÍTICA NACIONAL DE MOBILIDADE URBANA (PNMU)

NATAL/RN

2018

KELPS DE OLIVEIRA LIMA

MOBILIDADE URBANA NA GRANDE NATAL/RN: ESTUDO A PARTIR DA

POLÍTICA NACIONAL DE MOBILIDADE URBANA (PNMU)

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Gestão Pública, da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, como

requisito para a obtenção do título de Mestre na

Área de Gestão e Políticas Públicas.

Orientador: Prof. Dr. Richard Medeiros de

Araújo.

NATAL/RN

2018

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA

Lima, Kelps de Oliveira.

Mobilidade urbana na grande Natal/RN: estudo a partir da

Política Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU) / Kelps de Oliveira Lima. - 2018.

104f.: il.

Dissertação (Mestrado Profissional em Gestão Pública) -

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências

Sociais Aplicadas, Programa de Pós-graduação em Gestão Pública. Natal, RN, 2018.

Orientador: Prof. Dr. Richard Medeiros de Araújo.

1. Políticas Públicas - Dissertação. 2. Mobilidade Urbana -

Dissertação. 3. Modelo Pentágono - Dissertação. I. Araújo, Richard Medeiros de. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

III. Título.

RN/UF/Biblioteca Setorial do CCSA CDU 351:316.43

Elaborado por Eliane Leal Duarte - CRB-15/355

KELPS DE OLIVEIRA LIMA

MOBILIDADE URBANA NA GRANDE NATAL/RN: ESTUDO A PARTIR DA

POLÍTICA NACIONAL DE MOBILIDADE URBANA (PNMU)

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Gestão Pública, da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, como

requisito para a obtenção do título de Mestre na

Área de Gestão e Políticas Públicas.

Aprovado em: ___/___/____.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________________

Prof. Dr. Richard Medeiros de Araújo

Orientador

_____________________________________________________

Prof. Dr. Thiago Ferreira Dias

Examinador

_____________________________________________________

Prof. Dr. Lenin Cavalcanti Brito Guerra

Examinador

NATAL/RN

2018

Dedico a minha família, meu porto seguro.

AGRADECIMENTOS

A Deus, pai bondoso e misericordioso, que me motiva nesta estrada pela busca do

conhecimento.

A minha família, fonte de inspiração e perseverança, para alcançar meus objetivos.

À Assembleia Legislativa, por proporcionar aos seus colaboradores momentos de

aprendizagem e contribuição para a sociedade.

Ao Departamento e aos professores, em especial, ao orientador, professor Richard

Medeiros, que com seus apontamentos possibilitou a conclusão desta dissertação.

Enfim, a todos que direta ou indiretamente contribuíram para a efetivação desta

pesquisa.

“...nunca [...] plenamente maduro, nem nas idéias nem no estilo, mas sempre verde,

incompleto, experimental”.

Fonte: Livro Verde MC&T

RESUMO

O presente estudo apresentou como objetivo analisar a gestão de transportes da Grande

Natal/RN a partir das dimensões de mobilidade, tomando como referência a Política Nacional

de Mobilidade Urbana (PNMU), e como objetivos específicos buscou identificar o papel dos

atores envolvidos na dinâmica das ações de implementação da PNMU com foco nas variáveis

do modelo do Pentágono das Políticas Públicas como também examinar o modo como as

instituições e as representações influenciam nos processos e nos resultados da PNMU; e, por

fim, analisar a PNMU e sua aplicabilidade para unificação de conceitos e modernização do

sistema de transportes da Grande Natal, destacando os avanços e os desafios da Política

Nacional. Metodologicamente, foi uma pesquisa de caráter descritivo, com abordagem

qualitativa, com roteiro de entrevista semiestruturada, tomando como base as seguintes

categorias analíticas: os atores, as representações, as instituições, os processos e os resultados

(LASCOUMES; LE GALÈS, 2012). O tratamento dos dados ocorreu por meio da análise de

conteúdo e da análise documental. Entre os principais resultados, o estudo indicou que, para os

informantes, o envolvimento de órgãos estadual é de suma importância para a implementação

de articulação dos planos de mobilidade urbana. Ainda conforme os resultados, o estudo

apontou uma necessidade de gestão de uma série de interesses conflitantes dos atores

envolvidos, tendo em vista que o poder público e o usuário têm objetivos de assegurar os

princípios norteadores definidos para a prestação de serviços públicos em transportes, como:

regularidade, funcionalidade, segurança, modicidade tarifária; o operador visa à lucratividade

e o seu retorno do investimento, o que pode afetar diretamente na queda da qualidade do serviço

se o sistema não for bem administrado (ROSA, 2013). Nesse processo, uma análise de

similitude, ferramenta disponibilizada pelo Iramuteq, proporcionou uma visão da proximidade

dos vocábulos no corpus texto analisado, indicando que as palavras com mais destaque são as

de mais frequência, significando que quanto mais as palavras em destaque estiverem próximas,

mais relação elas têm, o que auxiliou na análise realizada. Os resultados da pesquisa indicam a

inexistência da integralização dos municípios da Grande Natal-RN para atender a PNMU, não

apenas de forma municipalizada como ainda regionalizada. Isso explica a tendência às

categorias analíticas atores, representações, instituições e processos em detrimento da categoria

resultados, quando tratadas à luz de preceitos teóricos do modelo Pentágono de Políticas

Públicas.

Palavras-chave: Políticas Públicas. Mobilidade urbana. Modelo Pentágono.

ABSTRACT

The present study aimed to analyze the transportation management of Grande Natal / RN from

the dimensions of mobility, taking as reference the National Urban Mobility Policy (PNMU),

and as specific objectives sought to identify the role of the actors involved in the dynamics of

PNMU implementation actions focusing on the variables of the Pentagon model of Public

Policies; as well as examining how institutions and representations influence the processes and

results of the PNMU; and, finally, to analyze the PNMU and its applicability for the unification

of concepts and modernization of the transport system of the Great Christmas, highlighting the

advances and challenges of the National Policy. Methodologically, it was a descriptive research,

with a qualitative approach, with a semi-structured interview script based on the following

analytical categories: actors, representations, institutions, processes and results

(LASCOUMES; LE GALÈS, 2012). Data were processed through content analysis and

documentary analysis. Among the main results, the study indicated that, for the informants, the

involvement of state organs, of utmost importance for the implementation of articulation of

urban mobility plans. Also according to the results there is a need to manage a series of

conflicting interests of the actors involved, given that the public power and the user have

objectives to ensure the guiding principles defined for the provision of public services in

transportation, such as: regularity, functionality, security, tariff modality, the operator aims at

profitability and its return on investment, which can directly affect the decline in quality of

service if the system is not well managed (ROSA, 2013). Also a similarity analysis, tool

provided by Iramuteq, provided a view of the proximity of the words in the corpus text

analyzed, the words with more prominence are those of higher frequencies, meaning that the

more the highlighted words are closer the more relationship they have, the which assists in the

analysis performed. The conclusion of the research is that the results indicate the lack of

payment of the municipalities of Grande Natal-RN to attend to the PNMU, not only in a

municipalized, but regionalized way. This explains the tendency to analytical categories actors,

representations, institutions and processes, to the detriment of the category results when treated

in the light of theoretical precepts of the Pentagon model of Public Policy.

Keywords: Public policy. Urban mobility. Pentagon Model.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Mapa da configuração da Grande Natal até 2009 ................................................... 24

Figura 2 – Desenho Institucional do Ministério das Cidades ................................................... 41

Figura 3 – Mobilidade e acessibilidade e suas diferentes perspectivas .................................... 46

Figura 4 – Modelo Pentágono de Políticas Públicas ................................................................ 52

Figura 5 – Dendograma CHD categorização de vocábulos por classe ..................................... 66

Figura 6- Simulação das vias de Natal para 2017 .................................................................... 72

Figura 7 – Dendograma de elementos do Pentágono das Políticas Públicas. .......................... 80

Figura 8 – Similitude das classes da mobilidade urbana .......................................................... 86

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Representativo das instituições e atores ................................................................ 62

Quadro 2 – Perguntas por objetivos ......................................................................................... 62

Quadro 3 – Categorização das classes por enunciados............................................................. 67

LISTA DE ABREVIATURAS

ANP Agência Nacional de Petróleo

DETRAN Departamento de Trânsito do Estado do Rio Grande do Norte

FIFA Federação Internacional de Futebol

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

MPRN Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte

PNMU Política Nacional de Mobilidade Urbana

RMN Região Metropolitana de Natal

SEMOB Secretaria Municipal de mobilidade urbana

SEMURB Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo

SETURN Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos de Passageiros

do Município do Natal

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 12

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA DE PESQUISA .......................................... 12

1.2 OBJETIVOS ....................................................................................................................... 18

1.3 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................... 18

1.4 CARACTERIZAÇÃO DO CAMPO EMPÍRICO .............................................................. 22

1.5 A POLÍTICA NACIONAL DE MOBILIDADE URBANA .............................................. 26

1.6 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO ................................................................................. 31

2 REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................................. 32

2.1 POLÍTICAS PÚBLICAS ................................................................................................... 32

2.2 MOBILIDADE: ASPECTOS CONTEXTUAIS ................................................................ 37

2.3 O MODELO DE PENTÁGONO DE POLÍTICAS PÚBLICAS ....................................... 51

3 METODOLOGIA ................................................................................................................ 59

4 ANÁLISES E DISCUSSÃO DO RESULTADO ............................................................... 65

4.1 PAPEL DOS ATORES, INSTITUIÇÕES E REPRESENTAÇÕES ................................. 68

4.2 PROCESSOS E RESULTADOS ....................................................................................... 73

4.3 APLICABILIDADE, AVANÇOS E DESAFIOS .............................................................. 79

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 89

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 92

APÊNDICE ........................................................................................................................... 103

APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA ............................................................... 104

12

1 INTRODUÇÃO

Esta seção apresenta a contextualização do problema de pesquisa como também os

objetivos (geral e específicos), a justificativa, e, ainda, a caracterização do campo empírico,

seguida da Política Nacional de Mobilidade Urbana e, por fim, da estrutura das demais seções

que compõem esta dissertação.

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA DE PESQUISA

Ao analisar o caráter cíclico das relações entre Estado e sociedade, Santos (2000)

destaca o papel dos transportes como elemento de um conjunto de sistemas que se vincula à

indução de um tipo determinado de desenvolvimento capitalista. Nesse sentido, Meyer e Miller

(2001, p. 2) enfatizam que,

[...] tradicionalmente, a percepção que se tinha sobre o planejamento de sistemas de

transportes estava relacionada com a provisão de infraestrutura, serviços e modos,

mantendo um foco sobre o lado da oferta deste sistema, por vezes priorizando a

mobilidade individual.

Entretanto, para discutir a mobilidade urbana, é necessário compreender a estrutura

político-institucional de gestão de transporte no Brasil que parte do contexto de regulamentação

do serviço público que, por sua vez, é marcado pela ideia de que a melhor maneira de uma

determinada utilidade pública é preservar a exploração ao Estado (NETO; AZEVEDO, 2005).

Mas, antes, precisa-se entender que a estrutura está organizada em torno de três atores, a saber:

poder público, operadores e usuários.

Nesse contexto, como se trata de um serviço de natureza pública, a Constituição

Federal, fundamentalmente, no art. 175, explica que cabe ao poder público:

Art. 175. Incumbe ao poder público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de

concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos.

Parágrafo único. A lei disporá sobre:

I – o regime das empresas concessionárias e permissionárias de serviços públicos, o

caráter especial de seu contrato e de sua prorrogação, bem como as condições de

caducidade, fiscalização e rescisão da concessão ou permissão;

II – os direitos dos usuários;

III – política tarifária;

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IV – a obrigação de manter serviço adequado.

Os operadores, que são as empresas prestadoras dos serviços, devem se adequar às

políticas fundamentadas pelo poder público, delimitadas por licitações e contratos, constituindo

um serviço de qualidade ao usuário, e num preço justo. Quanto aos usuários dos serviços, a lei

12.587, de 2012, em seu art. 14, explica que são seus direitos:

I - receber o serviço adequado, nos termos do art. 6o da Lei no 8.987, de 13 de fevereiro

de 1995;

II - participar do planejamento, da fiscalização e da avaliação da política local de

mobilidade urbana;

III - ser informado nos pontos de embarque e desembarque de passageiros, de forma

gratuita e acessível, sobre itinerários, horários, tarifas dos serviços e modos de

interação com outros modais; e

IV - ter ambiente seguro e acessível para a utilização do Sistema Nacional de

mobilidade urbana, conforme as Leis no 10.048, de 8 de novembro de 2000, e 10.098,

de 19 de dezembro de 2000.

Parágrafo único. Os usuários dos serviços terão o direito de ser informados, em

linguagem acessível e de fácil compreensão, sobre:

I - seus direitos e responsabilidades;

II - os direitos e obrigações dos operadores dos serviços; e

III - os padrões preestabelecidos de qualidade e quantidade dos serviços ofertados,

bem como os meios para reclamações e respectivos prazos de resposta.

Ademais, o transporte é tratado como serviço público essencial na Constituição

Federal. Mello (2006, p. 634) define serviço público como:

Serviço público é toda a atividade de oferecimento de utilidade ou comodidade

material destinada à satisfação da coletividade em geral, mas fruível singularmente

pelos administrados, que o Estado assume como pertinente a seus deveres e presta por

si mesmo ou por quem lhe faça as vezes, sob um regime de Direito Público – portanto,

consagrador de prerrogativas de supremacia e de restrições especiais –, instituído em

favor doa interesses definidos como públicos no sistema normativa.

O transporte coletivo municipal é um serviço público essencial que precisa ser

planejado, organizado e prestado pelo poder público de forma a assegurar a satisfação dos

interesses coletivos, possibilitar a melhoria da qualidade de vida da população e o

desenvolvimento econômico urbano sustentável (ROSA, 2013). Por sua vez, a promoção da

mobilidade urbana sustentável depende da conscientização sobre novos conceitos não apenas

dos gestores públicos, mas também da população em geral. O processo envolve mudança de

cultura e é essencial que o conceito de sustentabilidade faça parte das análises técnicas,

introduzindo ou ampliando a utilização de transportes não poluentes e/ou coletivos em um

mesmo espaço viário (MORAES, 2017).

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O modelo de gestão dos serviços públicos iniciou-se em 1960, por meio do Código

Nacional de Trânsito, ao designar o município como entidade legítima para autorizar, permitir

ou conceder linhas para o serviço de transporte público. Em 1988, a Constituição Federal

atribuiu a competência aos municípios para organizar e prestar, diretamente ou sob o regime de

concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluindo o transporte coletivo,

que tem caráter essencial. Em 2001, o Estatuto das Cidades regulamentou uma legislação para

o tema (MANCINI, 2011). Para Marrara (2015, p. 122):

A política de transporte representa uma das ferramentas de ampliação da mobilidade

urbana, a qual também se insere como condição essencial para a viabilização da

função social da cidade, ou seja, do desenvolvimento urbano. Por isso, nas linhas

seguintes, pretende-se evidenciar com mais detalhes como se estabelece a relação

entre transporte, mobilidade e desenvolvimento urbano; como a legislação interfere

nessa relação mediante a criação de uma disciplina normativa para o transporte urbano

quer na modalidade pública e coletiva, quer na modalidade de interesse público e

atendimento privativo. Ademais, serão destacados alguns desafios da política de

transporte urbano, quais sejam: o do financiamento, da qualidade e da universalidade

(ou igualdade), buscando-se ressaltar o papel do direito em sua superação.

Entretanto, o modelo é de grande complexidade, visto que a qualidade e a eficiência

dependem do desempenho das agências e/ou das empresas encarregadas do serviço, conforme

estudo de Sampaio, Lima Neto e Sampaio (2009), que são atributos dos sistemas de transporte

público. Dessa forma, apesar de aparentemente simples, há uma necessidade de gestão de uma

série de interesses conflitantes dos atores envolvidos. Isso ocorre por que, o poder público tem

o objetivo de assegurar aos usuários os princípios norteadores definidos para a prestação de

serviços públicos em transportes, como: regularidade, funcionalidade, segurança, modicidade

tarifária, o operador visa à lucratividade e o seu retorno do investimento, o que pode afetar

diretamente a queda da qualidade do serviço se o sistema não for bem administrado (ROSA,

2013).

Nesse sentido, Rosa (2013) destaca os principais fatores característicos da qualidade

de um sistema de transporte público urbano, quais sejam: mobilidade e acessibilidade ao

sistema; tempo de viagem; confiabilidade ou grau de incerteza que os usuários têm sobre os

horários de saída e de chegada dos veículos; frequência de atendimento; lotação; características

dos veículos; facilidade de utilização; e mobilidade ou grau de facilidade de locomoção das

pessoas de um local para outro da cidade utilizando o transporte público.

Especificamente em Natal, a constituição do primeiro Código de Obras, em 1968, e a

construção da Ponte Presidente Costa e Silva, também conhecida como Ponte de Igapó em

referência ao bairro onde se encontra instalada, em 1970, podem ser considerados como marcos

15

temporais para a constituição dos sistemas viários e da própria expansão urbana da cidade do

Natal (GALVÃO; BEZERRIL, 2013). Segundo Galvão e Bezerril (2013), a legislação

urbanística desse período, correspondente aos Planos Diretores Municipais de 1974 e 1984 e

Planos de Transporte de 1981 e 1988, refletiam esse grande interesse do capital hegemônico

em regulamentar os usos do espaço natalense, facilitando a fluidez necessária para o incremento

desse capital, particularmente do capital imobiliário, o qual se expandia fortemente para as

regiões Sul e Norte da cidade.

Dentre os grandes sistemas de movimento viário construídos nesse período, destaca-

se a construção do Viaduto de Ponta Negra, em 1974, no ano posterior ao asfaltamento da

estrada para Ponta Negra, a atual Avenida Engenheiro Roberto Freire, sendo considerado um

marco inicial para a expansão urbana em direção à Zona Sul de Natal. A ela se deu continuidade

no ano de 1979, com a inauguração do viaduto Juvenal Lamartine (viaduto do Baldo),

interligando a Avenida Prudente de Morais à Avenida do Contorno, na porção central da cidade

(GALVÃO, 2011).

Na década de 1980, importantes obras viárias foram realizadas em Natal, sendo

gerados alargamento e readequação de vias. Na Zona Norte, foi realizada a ampliação dos

sistemas viários existentes, como a duplicação da Ponte de Igapó, no ano de 1988. Essa ponte

teve sua primeira inauguração em 1916, e sua estrutura inicial era totalmente de ferro. Sua

função era de permitir a passagem dos trens da Estrada de Ferro Central, facilitando o transporte

entre a capital e o interior do Rio Grande do Norte. Em 1970, conforme informado,

inicialmente, uma segunda ponte em concreto armado foi inaugurada, fazendo com que a

estrutura metálica fosse desativada (LIMA, 2001).

Entre os anos de 1990 e 2000, com a consolidação do processo de crescimento das

zonas Sul e Norte, outras importantes obras foram realizadas. Em 1993, iniciam-se as obras do

prolongamento da Avenida Prudente de Morais, interligando os bairros de Candelária e

Pitimbu. Essa avenida termina na Avenida dos Xavantes e recebe a denominação de Avenida

Omar O’Gray, no trecho de San Vale. No ano de 1996, é construído o Túnel de Neópolis,

interligando a BR 101 à Avenida das Alagoas, no bairro de Neópolis (LIMA, 2001).

Na parcela setentrional da cidade, no ano de 1998, houve a inauguração do Viaduto da

Urbana, ligando a Avenida Bernardo Vieira à Avenida Felizardo Moura, facilitando a

interligação entre as zonas Oeste, Norte e Sul da capital potiguar. Ainda no final dos anos 1990,

são iniciadas as obras do Complexo Viário do Quarto Centenário na Avenida Salgado Filho/BR

101, sendo inaugurado em 2000. Já no ano de 2007, é inaugurada a Ponte Newton Navarro

(Forte-Redinha), que corresponde ao segundo acesso à Zona Norte de Natal. A construção dessa

16

ponte consolida a tendência contida nas obras do pró-transporte, em que os sistemas viários

correspondem diretamente à garantia de maiores fluxos, particularmente para os setores

econômicos ligados ao capital imobiliário e turístico, que possuem notável crescimento na

cidade se refletindo nessa região (GALVÃO; BEZERRIL, 2013).

Em 2007, também são iniciadas as obras de reestruturação da Avenida Bernardo

Vieira, sendo esta reinaugurada em 2008. Esse é o primeiro empreendimento viário que traz,

parcialmente, em sua essência o que está posto na nova Política Nacional de Mobilidade

Urbana, pois nela são previstas faixas exclusivas para ônibus ao longo da avenida, desde o

viaduto da Urbana até o cruzamento com a Avenida Rui Barbosa. Ao priorizar o transporte

público em detrimento dos veículos particulares, a reestruturação da referida avenida atende

uma das condicionantes impostas pela PNMU. Porém, a ausência de ciclovias e de calçadas

padronizadas refletem as limitações dessa iniciativa (GALVÃO, 2011).

Diante do exposto, é evidente que a mobilidade urbana praticada em Natal se respaldou

em um modelo que preestabelece a demanda e fornece a oferta. Esse modelo, segundo Castro

(2006), parte da implantação de grandes obras viárias, visando ampliar a oferta de benefícios

para atender a demanda de veículos particulares, o que requer recursos financeiros intensivos

sem necessariamente resultar em soluções que atendam adequadamente a demanda em longo

prazo, pois o aumento do número de veículos tem muitas vezes superado esses benefícios num

curto espaço de tempo.

Além da Política Nacional de Mobilidade Urbana, pode-se observar que, com o

advento da Copa do Mundo de Futebol da FIFA, em 2014, todas as cidades-sede de jogos

impulsionaram, por meio do aumento de recursos, projetos de construção e reestruturação de

vias públicas. Especificamente na Grande Natal-RN, evidenciam-se novos projetos de

mobilidade urbana, dadas as exigências da FIFA, que originalmente prioriza, entre outras, a

construção de corredores exclusivos para transporte coletivo, ciclovias e calçadas padronizadas.

Todavia, os projetos de mobilidade urbana para a Copa 2014 sofreram alterações em

decorrência das dificuldades de desapropriação de imóveis, o que atrasou o início das obras,

conforme o prazo estipulado pela carta compromisso da Copa do Mundo de Futebol da FIFA

2014 (GALVÃO; BEZERRIL, 2013).

Por conseguinte, apenas no final de 2013, os três lotes de obras de mobilidade previstos

pela prefeitura municipal começaram a ser executados, sendo o lote número 01 correspondente

à reestruturação das Avenidas Capitão Mor Gouveia e Jerônimo Câmara; o número 02 referente

à construção de viadutos e túneis nas vias próximas ao Estádio Arena das Dunas; e número 03

sendo relativo à construção de 50 quilômetros de calçadas padronizadas. Entretanto, a retirada

17

do trecho de ciclovias, conforme demonstrado por Costa (2014, p. 47) no projeto

correspondente ao primeiro, como alternativa para superar o problema de desapropriação de

imóveis no entorno das vias atingidas, revela que a política de mobilidade urbana praticada na

Grande Natal continua privilegiando o uso do transporte individual motorizado (GALVÃO;

BEZERRIL, 2013).

Os projetos de mobilidade urbana são vislumbrados desde o ano de 2010, com o

advento da Copa do Mundo FIFA Brasil/2014, e, por sua vez, apresentados à sociedade. Nos

projetos iniciais, estavam previstos, entre outras intervenções, a implantação de ciclovias e de

corredores exclusivos para ônibus, na perspectiva de contribuir para melhor fluidez dos

deslocamentos nas vias estruturais que integram os corredores de acesso ao Estádio Arena das

Dunas. Tais intervenções seriam: no corredor oeste (Avenida Felizardo Moura e BR-226); no

Complexo viário da urbana (viadutos e túneis); com reestruturação geométrica da Avenida

Capitão Mor Gouveia; construção de passarelas, túneis e viadutos interligando as avenidas no

entorno do Arena das Dunas; padronização de calçadas para facilitar a mobilidade nas

proximidades do estádio; e reestruturação da Avenida Engenheiro Roberto Freire (GALVÃO,

2011).

Todavia, em decorrência de uma série de debates, ocasionada principalmente entre a

sociedade civil organizada, o Ministério Público e a gestão municipal, apenas ao final do ano

de 2013, algumas dessas obras de mobilidade previstas foram iniciadas. Dentre os motivos que

justificam esse atraso, destacam-se as questões de desapropriação de imóveis localizados às

margens dos corredores onde seriam realizadas as intervenções e as implicações de caráter

ambiental em decorrência da necessidade de supressão da borda de áreas protegidas como o

Parque Estadual das Dunas (Avenida Engenheiro Roberto Freire) e Parque dos Mangues

(Avenida Felizardo Moura) (GALVÃO, 2011).

Diante dessas questões, o ponto importante de se destacar é que, com o advento Copa

do Mundo na capital potiguar, existem 18 grandes projetos de intervenção viária, o que envolve

quase 500 milhões de reais, e que efetivamente se constituem em um início relevante nas

proposições para a evolução dos futuros sistemas de movimento do trânsito da região da Grande

Natal (NATAL, 2010).

Nesse sentido, perfazendo a discussão apresenta nesta seção, surge a seguinte

indagação: De que maneira, a Política Nacional de Mobilidade Urbana vem sendo

incorporada ao processo de gestão do sistema de transportes na Grande Natal/RN?

18

1.2 OBJETIVOS

Este trabalho possui o objetivo geral de analisar a gestão de transportes da Grande

Natal/RN a partir das dimensões de mobilidade, tomando como referência a Política Nacional

de Mobilidade Urbana (PNMU), sendo que, para isso, utilizar-se-ão como percurso os

seguintes objetivos específicos:

Identificar o papel dos atores envolvidos na dinâmica das ações de implementação da

PNMU com foco nas variáveis do modelo do Pentágono das Políticas Públicas;

Examinar o modo como as instituições e as representações influenciam nos processos e

nos resultados da PNMU; e

Analisar a PNMU e sua aplicabilidade para unificação de conceitos e modernização do

sistema de transportes da Grande Natal, destacando os avanços e os desafios da Política

Nacional.

1.3 JUSTIFICATIVA

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2015) alertou para a ausência de

Políticas Públicas direcionadas ao transporte em massa e à mobilidade urbana, que, em comum

com ao alto custo da passagem urbana, provocaram uma redução em torno de 30% no uso do

transporte público no Brasil nos últimos dez anos. Outro ponto importante a ser discutido está

relacionado ao alto índice de crescimento populacional e ao acesso facilitado a veículos

individuas, sem o devido olhar dos poderes públicos para a necessidade de investir em

melhorias dos meios de transportes coletivos em detrimento do uso dos veículos particulares, o

que está trazendo enormes prejuízos às cidades, à população e aos usuários de transportes

públicos com o aumento do tempo de deslocamento, em especial, para seus locais de trabalho

e de estudo, pela ausência de políticas e de ações que melhorem a qualidade, o atendimento e o

deslocamento das pessoas.

É importante lembrar que o transporte é um importante instrumento de

desenvolvimento urbano das cidades. Uma mobilidade urbana bem planejada resulta no

desenvolvimento das pessoas e na melhoria da qualidade de vida dos usuários que se utilizam

do transporte. Para Miranda e Silva (2012), a mobilidade urbana bem planejada, com sistemas

19

integrados e sustentáveis, garante o acesso dos cidadãos às cidades e proporciona qualidade de

vida e desenvolvimento econômico e social.

Costa (2000) afirma que, até o final do século XIX, a cidade cresceu em ritmo lento,

porém, a partir do século XX, a configuração se modifica em um contexto em que a população

se expandiu de modo mais intenso, sem regras que pudessem frear o ritmo acelerado de uso do

espaço urbano. Costa (2014) revela que, segundo dados do IBGE, Natal vivenciou a primeira

expansão demográfica entre os anos de 1940 e 1960, quando a população passou de 54.836

habitantes para 103.215 habitantes, havendo, respectivamente, um crescimento de 88% nesse

período.

A partir de 1980 até 2010, o crescimento anual da população desacelerou um pouco,

se comparamos com os anos anteriores. Entretanto, a cidade continuou crescendo ao ponto de,

em quase três décadas, sua população quase que duplicar. Em 2010, a cidade de Natal, capital

do Estado, tinha uma população de 803.739 habitantes, refletindo um crescimento de 93% se

comparados com a população de 1980 (COSTA, 2014).

Ressalta-se que esse crescimento tem índices maiores nos municípios da Grande

Natal, com destaque para Parnamirim e São Gonçalo do Amarante, respectivamente, terceiro

e quarto maiores municípios do Estado do RN (COSTA, 2014). Alguns fatores contribuíram

para tal crescimento, segundo Ribeiro (2000), destacam-se a consolidação do setor terciário,

caracterizado pelo comércio e por serviços e, principalmente, pelo desenvolvimento do

turismo na cidade.

O crescimento urbano das cidades está atrelado ao crescimento econômico da

população. Nessa perspectiva, um dos fatores que contribuem para tal é o acesso ao crédito.

Por conseguinte, a aquisição de automóveis, proporcionado pelo acesso ao crédito, tem

elevado a frota veicular na cidade.

Segundo dados do Detran/RN, de 2005 a 2015, a frota de veículos do Rio Grande do

Norte aumentou 172,1%, enquanto, nesse mesmo período, a população do Estado cresceu 14,6%.

A análise é resultado de um estudo feito pelo setor de estatística do Departamento Estadual de

Trânsito (Detran/RN). Natal tem a maior frota, com 377.072 veículos, o que corresponde a 32,67%

dos veículos emplacados do Estado. A esse respeito, Costa (2007 apud COSTA, 2014) revela

que o aumento significativo de pessoas morando na cidade, o aumento da frota veicular aliado

à necessidade de melhoria e de ampliação da infraestrutura e instalações da cidade vêm

gerando insumos e sobrecarga de recurso, ocasionando impactos negativos tanto no meio

ambiente como na qualidade de vida da população.

Para Costa (2014), o uso de transportes individuais também contribui para alterações

20

significativas na operação e na gestão viária, tornando necessários investimentos em novas

vias e reparação de vias antigas, adequando à utilização mais eficiente desse tipo de transportes

em detrimento dos demais. Além desse aspecto, outro ponto para se discutir é que o aumento

de veículos de transporte individual tem contribuído para o impacto ambiental nas áreas

urbanas, tais como: escassez de recursos energéticos não renováveis, diminuição de áreas

verdes na cidade em virtude da ampliação de áreas para estacionamento e dos espaços de

circulação, aumento dos ruídos, poluição do ar, além de outros insumos que contribuem com

a deterioração do solo e da água devido à expressiva quantidade de insumos gerados, como

pneus, óleos e graxas (LITMAN, 1999; MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2005).

Esses são alguns dos problemas ambientais provocados pelo crescimento da cidade e

pelo aumento do uso de transportes individuais. Nessa perspectiva, podem ser também

somados os impactos sociais provenientes do crescimento da população às condições de

deslocamento oferecidas à população, tais como: baixa oferta de transportes públicos, aumento

do custo e do tempo das viagens, congestionamentos, dispersão de bens e serviços, segregação

socioespacial e, consequentemente, aumento das distâncias a ser percorridas (GOMIDE,

2016).

Segundo Ribeiro (2000), em se tratando de segregação socioespacial, a cidade do

Natal possui graves problemas ambientais urbanos ocasionados pelo crescimento da

população oriunda do interior do Estado e provocados também pelo uso dos transportes pela

população. Por seu turno, Costa (2000 apud COSTA, 2014) relata que a organização do espaço

urbano de Natal ocorreu de forma tendenciosa, condizente com a segregação espacial entre as

classes de alta e baixa renda. “O padrão implementado proporcionou uma maior valorização

do solo em áreas mais centrais, fazendo com que o indivíduo de baixa renda fosse empurrado

para periferia, o qual, sem alternativas, se instalou nessas localidades, acentuando a segregação

urbana” (COSTA, 2014, p. 12).

Nesta direção, Santos (1996) traz em sua argumentação que no Brasil é característico

do processo de urbanização o enclave da segregação socioespacial. É notória a expulsão da

população dos grandes centros para periferia, o que provoca a exclusão social, concentrando

a oferta de serviços públicos no centro, produzindo uma distribuição desigual e o aumento da

demanda pelo transporte público.

Vasconcelos (2001) ressalta que as condições socioeconômicas condicionam o direito

e a forma de circulação das pessoas. Natal é a segunda menor capital do Brasil, com apenas

167,3 km2 e com suas fronteiras já conurbadas com as cidades vizinhas. A total ocupação da

área urbana da capital impulsionou o crescimento das cidades vizinhas, que possuem um

21

crescimento populacional acima da média do resto do Estado. Com isso, Parnamirim,

Macaíba, Extremoz e São Gonçalo do Amarante são cidades absolutamente conectadas com

Natal e, ainda assim, não possuem um sistema de transporte integrado.

Para ir de qualquer uma dessas cidades para a capital, é necessário usar dois sistemas

de transportes, dois bilhetes eletrônicos diferentes e pagar duas tarifas. Em muitas áreas dessas

cidades, apesar da proximidade e da interação natural com a capital, não existe transporte

público regular que leve até a capital. O maior exemplo é a praia de Jenipabu, um dos maiores

pontos turísticos do Estado, e que não possui transporte público para a capital.

Além disso, nenhuma dessas cidades possui transporte público municipal

contratualizado. Somente São Gonçalo do Amarante realizou a licitação do transporte público

municipal e, mesmo assim, ainda não conseguiu colocar o novo sistema em funcionamento. O

Governo do Estado também nunca realizou licitação para o transporte público intermunicipal.

Todas as empresas que atuam no sistema possuem permissões em caráter precário.

A falta de um sistema de transporte metropolitano afeta uma série de aspectos no

desenvolvimento das cidades, dentre os quais se destacam os seguintes aspectos: sociais – as

pessoas não têm acesso a melhores serviços na área de saúde, educação e assistência social;

econômicos – com a menor circulação de pessoas, a atividade comercial diminui, o comércio

vende menos e as mercadorias se tornam mais caras; e governamentais – a falta de transporte

regular alimenta o surgimento do transporte clandestino, que não tem regras de acessibilidade,

não paga impostos, não respeita a meia passagem nem oferece a mesma segurança.

Como uma maneira de proporcionar suporte à elucidação da problemática em foco,

buscou-se alicerçar o estudo em dimensões de mobilidade elaboradas por estudiosos que

desenvolveram pesquisas com o objetivo de alcançar métodos e ferramentas adequados para a

evolução dessas dimensões para a melhoria da qualidade de vida do usuário. Para Miranda

(2010), o desenvolvimento de um método único de efetivação para todas as cidades, como um

índice capaz de avaliar e monitorar o desempenho e a efetividade das Políticas Públicas, tornou-

se um desafio para pesquisadores de todo o mundo. Assim, a Política Nacional de Mobilidade

Urbana é vislumbrada como sendo uma ferramenta desenvolvida para auxiliar na avaliação e

na identificação dos aspectos críticos e de maior impacto na melhoria da mobilidade urbana,

fornecendo subsídios para as Políticas Públicas visando ao aprimoramento da qualidade de vida.

Nessa direção, Mello (2008) desenvolveu uma pesquisa com o objetivo de analisar, na

cidade de Natal no Estado do Rio Grande do Norte, a implantação da nova malha viária do

corredor de transporte da Avenida Bernardo Vieira, verificando os aspectos urbanísticos e

ambientais como indicadores para avaliar a mobilidade urbana sustentável.

22

Segundo pesquisa realizada pela Oficina de Consultores (2008), na Grande Natal,

quanto maior a renda dos entrevistados, maior é a mobilidade (COSTA, 2014). Na RMN, a

mobilidade variou entre a mínima de 1,56 viagens por habitante/dia na classe E, até o máximo

de 2,56 por habitante dia na classe A (COSTA, 2014, p. 12). A mobilidade será determinada

pelo perfil socioeconômico do indivíduo, ou seja, quanto maior a motorização, maior será o

índice de mobilidade, tendo em vista que esse indivíduo tende a morar nas áreas centrais dos

grandes centros urbanos, onde o sistema é desenhado para atender de forma mais eficiente o

transporte individual em detrimento de outros meios de transportes. Apesar de estudos

demonstrarem a viabilidade de se estudar a Política Nacional tomando como parâmetro as

dimensões de mobilidade, esta pesquisa abordará a aplicação da PNMU na efetiva

modernização do sistema de transportes da Grande Natal/RN.

Em termos teóricos, o presente estudo tem a perspectiva de contribuir com a discussão

sobre a mobilidade urbana a partir de um entendimento dimensionado do conceito de análise

de política pública e mobilidade urbana, recorrendo a um referencial constituído de

pressupostos teóricos diretamente ligados, a saber: Mead (1995), Lynn (1980), Dye (1984),

Brancaleon et al. (2015), Teixeira (2002), Azevedo (2003), Easton (1970), Almeida (2010).

Além disso, busca fazer uma análise tendo como aporte teórico o modelo de análise de Política

Pública proposto por Lascoumes e Le Galès (2012), denominado de Pentágono das Políticas

Públicas.

1.4 CARACTERIZAÇÃO DO CAMPO EMPÍRICO

Nesta caracterização são destacadas duas fases, quais sejam: a definição da Região

Metropolitana da Grande Natal/RN (RMN); e, em seguida, o conceito de ocupação do solo.

Segundo Motta (2004, p. 113), “o nordeste brasileiro apresentou crescimento, forte imigração

campo-cidade, elevada primazia e uma tipologia pouco estruturada”. Foi essa migração,

alinhada com a fragilidade de rede urbana, que desenhou uma característica de desequilíbrios

na produção e na distribuição de bens e serviços. Esse fato é encontrado também na Grande

Natal-RN (SILVA, 2010).

A Grande Natal/RN está inserida num contexto de crescimento institucional e físico-

territorial iniciado no final da década de 1990, cujo poder político e econômico era centralizado

na capital, Natal. Nesse período, Natal já exibia relações com cidades mais próximas – como

23

Parnamirim e São Gonçalo do Amarante –, esboçadas fisicamente por meio de transbordamento

(mas com sinais de conurbação) e que já demonstravam impacto em alguns aspectos estruturais,

como a mobilidade urbana, mas que não chegava a caracterizar uma relação propriamente

metropolitana (SILVA, 2010).

Nesse contexto, a cidade de Natal possuía seu eixo principal de comércio nas avenidas

Hermes da Fonseca e Senador Salgado Filho, em direção à Ponta Negra, com as praias urbanas

já fortemente valorizadas pela elite local e pelo turismo, enquanto que as periferias norte e oeste

se consolidavam como áreas carentes. Os municípios vizinhos possuíam uma extensa área rural

e ligada à capital por meio das rodovias BR-101, BR-226 e BR-304, além de rodovias estaduais

(SILVA, 2010).

Dessa forma, apresenta-se a Grande Natal, criada, em 1997, pela Lei Complementar

Estadual nº. 152/97, composta inicialmente por seis municípios. Em 2002, a Lei Complementar

221/2002 incluiu Nísia Floresta e São José de Mipibu. Em 2005, a Lei Complementar 315/2005

acrescentou Monte Alegre. Em 2009, a Lei Complementar 391/2009 acrescentou Vera Cruz

(ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO RIO GRANDE DO NORTE, 2002, 2005, 2009).

Depois desse ciclo evolutivo, segundo o Ipea e a Fundação João Pinheiro (2013), a

Região Metropolitana de Natal (RMN) passou a contar com onze municípios e área de 2.808

km², sendo composta pelos seguintes municípios: Ceará-Mirim, Extremoz, Macaíba,

Maxaranguape, Monte Alegre, Natal (capital), Nísia Floresta, Parnamirim, São Gonçalo do

Amarante, São José de Mipibu e Vera Cruz, de acordo com a configuração territorial de 01 de

agosto de 2012. Ainda houve mais três municípios inclusos em 2015, com as Leis

complementares 540/2015 (que incluiu Ielmo Marinho) e 559/2015 (que incluiu Arês e

Goianinha), mantendo 14 cidades que formam a RMN atualmente (ASSEMBLEIA

LEGISLATIVA DO RIO GRANDE DO NORTE, 2015a, 2015b).

Ainda segundo a Fundação João Pinheiro, o Índice de Desenvolvimento Humano

(IDHM) em Natal é de 0,733, em 2010, o que situa a Grande Natal na faixa de Desenvolvimento

Humano Alto (IDHM entre 0,700 e 0,799). A dimensão que mais contribui para o IDHM da

RM é a longevidade, com índice de 0,814, seguida de renda, com índice de 0,736, e de

educação, com índice de 0,658, ocupando a 16ª colocação entre as 20 regiões metropolitanas

brasileiras (IPEA, 2013).

Outro dado que auxilia na identificação da Grande Natal é que, em 2010, a região

possuía um grau de urbanização de 90% e cerca de 43% da população estadual residiam nela.

Quanto à população de Natal, capital do Estado e principal cidade da RMN, esse índice

24

correspondia a 63% da população metropolitana. A taxa de crescimento da população dessa

região, entre os anos de 2000 e 2010, foi de 1,86% ao ano (SILVA, 2010).

Em contrapartida, a ausência de fortes interdependências, além de enfraquecer o

argumento da necessidade de que houvesse a criação de uma Região Metropolitana, não

contribuía para a solidificação de uma estrutura institucional que seria necessária para gerir o

território metropolitano. De acordo com o Plano Estratégico de Desenvolvimento Sustentável

para a Grande Natal, algumas experiências históricas de planejamento que consideraram o

contexto mais amplo de ação, para além da capital, serviram como base para a criação da RMN

(CLEMENTINO; ARAÚJO, 2007), conforme apresentado na Figura 1, a seguir.

Figura 1 – Mapa da configuração da Grande Natal até 2009

Fonte: Governo do RN. Plano Estratégico da RMN. Volume III (SILVA, 2010).

Apesar de não existirem muitas experiências ao longo da história, no que hoje se

configura a Grande Natal, importantes marcos podem ser considerados para o desenvolvimento

25

dessa consciência metropolitana, como o Plano de Desenvolvimento Regional e Urbano da

Grande Natal (1977), produzido pelo urbanista Luís Forte Neto, e o Plano de Estruturação do

Aglomerado Urbano de Natal (1988), coordenado pelo arquiteto Jaime Lerner, juntamente com

a Constituição Federal de 1988. Os dois primeiros documentos foram encomendados pelo

Governo do Estado da época, o que já demonstrava a iniciativa do ente estadual para o

planejamento de ações que afetavam mais de um município, visto que se deve considerar todo

o conglomerado urbano que envolve a capital (SANTOS; FERNANDES; TEIXEIRA, 2013).

Por mais que não tenham sido colocados totalmente em prática, esses planos serviram

para evidenciar, no Rio Grande do Norte, a ideia de que cidades podem exercer influência sobre

outras, sendo preciso, portanto, pensá-las em conjunto, o que seria mais notório a partir do

aumento do transbordamento urbano observado nas décadas seguintes. No período, já era

visível o crescimento de necessidades pontuais que demandavam ações conjuntas, como

questões de transportes, saúde, educação, segurança pública, entre outras, reflexo do processo

de urbanização na região. Neste estudo, serão abordados os diversos aspectos políticos, sociais,

econômicos e físicos da Região Metropolitana de Natal-RN, com destaque para o processo de

metropolização que determinaram as características atuais dessa região.

Conhecida a Grande Natal, Lima (2001) argumenta, sobre a ocupação do solo urbano

de Natal, desde a década de 1940, que esteve historicamente vinculada aos eixos rodoviários.

Os conjuntos habitacionais localizados na Zona Norte eram destinados à parcela da

população com menores rendimentos. Já na Zona Sul, os conjuntos foram destinados aos

setores da população que possuíam melhores rendas. Todos estes fatores – geográficos,

políticos e culturais – aliados à localização das atividades comerciais e de serviços, geralmente

ofertados pelo poder público em áreas mais centrais, contribuíram para uma cidade

extremamente dependente de veículos motorizados (NATAL, 2004).

Com isso, esta pesquisa tomará como objeto de análise apenas os municípios da

Grande Natal, compreendidos como: Ceará-Mirim, Macaíba, Natal, Parnamirim e São Gonçalo

do Amarante, situados na Região Metropolitana de Natal-RN e com maior influência na

mobilidade urbana da Grande Natal.

26

1.5 A POLÍTICA NACIONAL DE MOBILIDADE URBANA

A mobilidade urbana visa contribuir para o acesso universal à cidade, o fomento e a

concretização das condições que possibilitem a efetivação de princípios, objetivos e diretrizes

da política de desenvolvimento urbano, por meio do planejamento e da gestão democrática. A

lei nº 12.587/12, que institui as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana, em seu

art. 4º, inciso VI, define transporte público coletivo como serviço de transporte de passageiros

acessível a toda a população mediante pagamento individualizado, com itinerários e preços

fixados pelo poder público. Especificamente, as atribuições municipais são estabelecidas pelo

art. 18 da referida lei, e apresenta a necessidade de “prestar, direta, indiretamente ou por gestão

associada, os serviços de transporte público coletivo urbano, que têm caráter essencial”

(BRASIL, 2012).

Nessa lei, são definidos e classificados os modos e serviços de transporte, além de

exemplificadas as infraestruturas de mobilidade urbana que compõem o Sistema Nacional de

Mobilidade Urbana. Nesse sentido, entende-se que é um sistema que deve sempre estar inter-

relacionado com um planejamento abrangente para que se produzam benefícios efetivos e

proporcionais aos recursos empregados, pois apenas aumentar o investimento em infraestrutura

não garante a melhoria da mobilidade urbana.

Importante observar que princípios, diretrizes e objetivos estabelecidos pela lei devem

orientar a elaboração de normas municipais, bem como de procedimentos, para que os

municípios implementem políticas e planejamentos em consonância com a União e com os

Estados Federados e Distrito Federal. Antes da lei, a aplicação efetiva de tais princípios e

diretrizes só ocorria quando os municípios estavam alinhados com a União, ou quando havia

previsão nos programas de financiamento, ou em caso de repasse de recursos do Governo

Federal para o setor. A partir da promulgação da Lei 12.587/12, há obrigatoriedade em observar

esses preceitos que regem a atuação do Ministério das Cidades na Política de Mobilidade

Urbana (BRASIL, 2012).

A promulgação dessa lei fornece segurança jurídica para que os municípios adotem

medidas para, por exemplo, priorizar os modos não motorizados e coletivos de transporte em

detrimento do transporte individual motorizado. Pela mesma lógica, os projetos e os

investimentos nos municípios podem ser contestados judicialmente se não se adequarem a

princípios, diretrizes e objetivos previstos em lei. Os princípios tratam de conceitos abrangentes

que visam orientar a compreensão do texto da lei e podem servir como base para a elaboração

27

de novas normas a respeito do assunto, ou seja, leis, decretos ou outros atos administrativos

(BRASIL, 2012).

Os princípios que norteiam a Política Nacional de Mobilidade Urbana estão amparados

em: acessibilidade universal; desenvolvimento sustentável das cidades, nas dimensões

socioeconômicas e ambientais; equidade do acesso dos cidadãos ao transporte público coletivo;

eficiência, eficácia e efetividade na prestação dos serviços de transporte urbano; gestão

democrática e controle social do planejamento e da avaliação da Política Nacional de

Mobilidade Urbana; segurança nos deslocamentos das pessoas; justa distribuição dos benefícios

e ônus decorrentes do uso dos diferentes modos e serviços; equidade no uso do espaço público

de circulação, vias e logradouros; e eficiência, eficácia e efetividade na circulação urbana

(BRASIL, 2012).

As diretrizes, por sua vez, são orientações sobre os caminhos para que sejam atingidos

os objetivos dessa lei. As diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana destacam a

necessidade de integração com as demais políticas urbanas e a priorização dos modos não

motorizados e do transporte público coletivo.

Nesse sentido, os pilares que sustentam as diretrizes da Política Nacional de

Mobilidade Urbana estão assim definidos: integração com a política de desenvolvimento

urbano e respectivas políticas setoriais de habitação; saneamento básico; planejamento e gestão

do uso do solo no âmbito dos entes federativos; prioridade dos modos de transportes não

motorizados sobre os motorizados e dos serviços de transporte público coletivo sobre o

transporte individual motorizado; integração entre os modos e serviços de transporte urbano;

mitigação dos custos ambientais, sociais e econômicos dos deslocamentos de pessoas e cargas

na cidade; incentivo ao desenvolvimento científico-tecnológico e ao uso de energias renováveis

e menos poluentes; priorização de projetos de transporte público coletivo estruturadores do

território e indutores do desenvolvimento urbano integrado; e integração entre as cidades

gêmeas localizadas na faixa de fronteira com outros países sobre a linha divisória internacional

(BRASIL, 2012).

À luz das ponderações já elucidadas, cuida destacar que a Política Nacional de

Mobilidade Urbana é constituída por seis dimensões distintas, quais sejam: a) funcionalidade,

contemplando as redes de sustentação da cidade e suas funções e atividade; b) dimensão de

aspectos institucionais, sociais e políticos, na qual se contempla o fenômeno sociopolítico; c)

dimensão econômica, que estuda a interferência e a importância das atividades econômicas da

região; d) dimensão física, que engloba meios e estruturas de circulação, ocupação de solo,

mobiliário, equipamento urbano como garantia do desenvolvimento das interações; e)

28

dimensão de comunicação, que analisa as mensagens, com quem se fala ou quem fala e sobre

o quê; f) dimensão cultural, que se baseia em crenças, valores e práticas das comunidades

regionais (RANGEL, 2016).

Aprofundando-se no tipo de prestação de serviço, Meirelles (2005) aponta que eles

podem ser prestados de forma centralizada, ou seja, sob sua exclusiva responsabilidade, por

serviço descentralizado. Nesse caso, o poder público transfere essa responsabilidade para

autarquias, fundações, empresas estatais, empresas privadas ou particulares individualmente.

Ainda existe o caso em que a Administração distribui entre vários órgãos da mesma entidade,

conhecido como desconcentrados. Esses três serviços são oferecidos por execução direta ou

indireta.

Além disso, existe a forma de concessão de serviço público, cuja nova lei estabelece

regras para a licitação dos serviços públicos, como uma transferência da prestação de um

serviço público a terceiro. Isso somente ocorre mediante contrato, sendo o concessionário

responsável por conta e risco e por prazo estabelecido, mediante remuneração cobrada

diretamente do usuário final (TÁCITO, 1995).

A partir dessa legislação, grande parte dos contratos de permissões do serviço de

transporte utilizado pelos municípios teve de se readequar, com o prazo máximo até 2010 para

regularização. Ademais, somente em 2005 foi promulgada a lei dos consórcios públicos para

os entes federativos contratarem esses consórcios para a realização de objetivos de interesse

comum (LIMA, 2001).

Vale salientar que o município de Natal é o titular no planejamento do seu território, e

que suas atividades econômicas em sua área de influência impactam no território vizinho,

consequentemente na forma de como as pessoas realizam deslocamentos. O município tem

autonomia respeitada por lei para planejar, executar e avaliar a política de mobilidade urbana,

bem como a regulamentação dos serviços de transporte urbano, além da prestação de forma

direta, ou por gestão associada, do serviço de transporte em seu território (NATAL, 2007).

No entanto, constata-se que a Política Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU) abre

a possibilidade de os Estados serem protagonistas no processo da gestão do transporte

metropolitano, pois podem delegar aos municípios a organização e a prestação dos serviços de

transporte público coletivo intermunicipal de caráter urbano, desde que constituído em

consórcio público ou em convênio de cooperação. É o grande marco relativo à prestação do

serviço de transporte (BRASIL, 2012).

É nesse sentido que se torna importante destacar ações nas cidades relacionadas às

políticas e às gestões públicas, tanto em nível local como nacional, que têm preterido o

29

transporte coletivo, fazendo com que ocorra um processo de deterioração das condições de

operação do transporte público. Isso é objeto de estudo em diversas regiões metropolitanas,

como Belo Horizonte (CARDOSO, 2007), Curitiba (MIRANDA; SILVA, 2012), Florianópolis

(CUNHA; MAIA; LIMA NETO, 2004) e também em outras cidades menores.

Para Cocco e Silveira (2013), a grande dificuldade das cidades brasileiras é sobrepujar

as estruturas de poder, locais e regionais (mas com tentáculos na esfera federal), que exercem

uma inércia sobre o planejamento da cidade. Noutros termos, realizar na sua plenitude a Lei de

Mobilidade Urbana (a Lei Federal n. 12.587/2012) e suas diretrizes dependerá da superação de

uma série de entraves urbanos, a saber: a especulação urbana que mantém áreas intersticiais

extensas; os processos de urbanização dispersa; os mecanismos de exceção dos planos

diretores; as dificuldades em termos de custos públicos para desapropriações etc.

Em municípios brasileiros, os princípios de sustentabilidade vêm sendo incorporados

em diversas políticas de planejamento urbano, sendo esse um dos problemas apresentados no

processo de expansão da área urbana, sem planejamento adequado. A PNMU prevê a avaliação

do impacto dessa política no Brasil por meio de indicadores. Entretanto, as Políticas Públicas

em nível local e nacional possuem incapacidade ou mesmo falta de vontade da gestão pública

de fazer cumprir uma proporção importante das determinações legais postas na legislação e nos

Planos Diretores Municipais (COSTA, 2014).

A PNMU é resultado de uma longa discussão no Congresso. Começou em 1995, com

a apresentação de projeto de lei (PL 694/95), pelo então deputado Alberto Goldman, que

instituía diretrizes nacionais para o transporte coletivo urbano. Durante a tramitação na Câmara

dos Deputados, outros projetos se juntaram a esse, como o PL 1.687/07, do Poder Executivo,

que estabelecia uma proposta mais geral de mobilidade urbana. Em 2010, a Câmara dos

Deputados encaminhou um substitutivo para apreciação do Senado (PLC 166/10), sendo este

aprovado posteriormente.

A lei estabelece princípios, diretrizes e instrumentos para orientar os municípios a

planejar o sistema de transporte organizado de forma a orientar a circulação de pessoas e cargas,

capaz de atender a população e contribuir para o desenvolvimento urbano. Para isso, prevê

mecanismos que garantam preços acessíveis no transporte coletivo, vias exclusivas para ônibus

e bicicletas, restrição de circulação de veículos privados em determinados horários e cobrança

de tarifa para o sistema urbano, como estacionamentos públicos. Não há menção específica à

circulação de motocicletas.

Seguindo esses parâmetros, municípios com mais de 20 mil habitantes devem elaborar

o Plano de Mobilidade Urbana em até três anos, de forma integrada ao plano diretor previsto

30

pelo Estatuto da Cidade. Até então, apenas municípios com mais de 500 mil habitantes tinham

essa obrigação. Com isso, o número de municípios que deverão elaborar um plano de

mobilidade passa de 38 para 1.663. Segundo a Política Nacional de Mobilidade Urbana, o

município que não apresentar o plano no prazo ficará impedido de receber recursos federais

destinados à mobilidade urbana (BRASIL, 2012).

No caso específico de Natal, percebe-se ainda uma política habitacional oriunda dos

anos de 1970 e 1980, que implicou vazios urbanos, conforme lembra Costa (2014, p. 44). Isso

ocasionou os conjuntos habitacionais da Zona Norte, destinados à parcela de baixa renda, que

se utiliza de uma baixa qualidade do serviço prestado; além de qualidade de vida para parcelas

significativas da população, segregadas espacialmente, que, diante de condições de mobilidade

comprometidas, têm suas oportunidades diminuídas.

Essa crise urbana traz como reflexos o pensamento na deficiência do planejamento de

transporte nos países em desenvolvimento, como questão política, ou social, ou institucional,

ou técnica, econômica e operacional, passando pela questão ambiental. Todas essas estão

interligadas na necessidade de planejar a gestão de mobilidade a partir da PNMU, tomando

como cerne a natureza política das políticas de transporte e o trânsito e o domicílio como bases

de reprodução social (VASCONCELLOS, 1995).

Em termos gerais, a crise urbana e seus reflexos sobre as condições de transportes está

condicionada aos processos de desenvolvimento urbano e ao modelo de mercantilização social

oriundo das relações estabelecidas a partir do anseio da sociedade. Nesse sentido, Morin (2005)

critica a agressividade do desenvolvimento modelado apenas por valores econômicos,

geradores de graves desequilíbrios socioambientais. O autor ainda critica a monetarização e a

mercadorização de todas as coisas, que destroem a vida em sociedade e a ética da convivência

social.

Enquanto as cidades pré-automotivas permitiam o uso mais adequado do espaço pelas

pessoas, as cidades modernas passam a expandir-se por todas as grandes áreas, tomando como

consequência para tal feito a dificuldade de se locomover por meios não motorizados

(VASCONCELLOS, 1995).

31

1.6 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

O estudo está dividido em cinco seções, a primeira delas é esta introdução, que

apresenta a contextualização do problema de pesquisa, como também os objetivos (geral e

específicos), a justificativa, e, ainda, a caracterização do campo empírico, seguida da Política

Nacional de Mobilidade Urbana.

A segunda seção apresenta uma contextualização bibliográfica, relacionada a Políticas

Públicas, à mobilidade urbana e ao modelo Pentágono de Políticas Públicas.

A terceira seção, de metodologia, destaca o tipo de pesquisa, o público envolvido, a

forma de coleta dos dados e a técnica de análise.

A quarta seção destaca as análises e a discussão do resultado, sendo dividida em: papel

dos atores, instituições e representações; processos e resultados; e aplicabilidade, avanços e

desafios.

Por fim, evidenciam-se as considerações finais, retomando e respondendo aos

objetivos e à problemática da pesquisa.

32

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Nesta seção, trataremos do referencial teórico, destacando os principais autores que

abordam a temática das políticas públicas, como também, os aspectos da mobilidade urbana e,

por fim, o modelo de pentágono de políticas públicas.

2.1 POLÍTICAS PÚBLICAS

São diversas as discussões a respeito da temática de Políticas Públicas e, devido a tal

fato, ainda não se chegou a uma consonância a respeito de sua significação, havendo, na

literatura, múltiplos conceitos. Para Mead (1995), política pública é um campo de estudo que

analisa o governo a partir de preceitos relacionados à gestão pública. Já para Lynn (1980) são

ações desenvolvidas por determinado governo que irão gerar resultados específicos para uma

determinada área. Dye (1984), por seu turno, sintetiza seu conceito ao advogar a ideia de que

política pública é tudo aquilo que o governo escolhe fazer ou não fazer, ou seja, o governo deve

definir as prioridades a partir do cenário que está posto. Uma das definições discutidas no

contexto das Políticas Públicas é a de Laswell, que implica a tomada de decisão e análises sobre

política pública buscando responder questões como: “quem ganha o quê, por quê e que

diferença faz” (SOUZA, 2006, p. 122). Torgerson (2006 apud ALMEIDA, 2010, p. 242), ao se

reportar a:

Laswell enfatizava a importância da orientação contextual dos analistas de políticas,

tanto individual quanto coletivamente, considerava tal orientação contextual

indispensável à condução do questionamento racional, e defendia o uso da análise

configurativa-contextual no desenvolvimento de uma profissão das Políticas Públicas.

Para Brancaleon et al. (2015), a Política Pública possui dois elementos fundamentais,

quais sejam:

a) Intencionalidade pública – motivação para o estabelecimento de ações para

tratamento ou para resolução de um problema;

b) Problema público – diferença entre uma situação atual vivida (status quo) e uma

situação ideal possível à realidade coletiva.

33

De fato, conceituar política torna-se um tanto abstrato, tendo em vista que as Políticas

Públicas “tomam forma” por meio de programas públicos, projetos, leis, campanhas

publicitárias, esclarecimentos públicos, inovações tecnológicas e organizacionais, subsídios

governamentais, rotinas administrativas, decisões judiciais, coordenação em rede atores, gasto

público direto, contratos com stakeholders, entre outros (BRANCALEON et al., 2015).

Para Easton (1970), as Políticas Públicas implicam a execução de atividades políticas

resultantes do processamento das demandas, pelo sistema político, dos inputs originários do

meio ambiente e, frequentemente, de withinputs (demandas originadas no interior do próprio

sistema político). Continuando a concepção de Easton, os inputs e os withinputs estão

relacionados às demandas e aos suportes, respectivamente. As demandas podem ser, por

exemplo, reivindicações de bens e serviços, como saúde, educação, estradas, transportes,

segurança pública, normas de higiene e controle de produtos alimentícios, previdência social

etc. Podem ser, ainda, demandas de participação no sistema político, como reconhecimento do

direito de voto dos analfabetos, acesso a cargos públicos para estrangeiros, organização de

associações políticas, direitos de greve etc. Ou ainda demandas de controle da corrupção, de

preservação ambiental, de informação política, de estabelecimento de normas para o

comportamento dos agentes públicos e privados e outros (RUA; AGUIAR, 1995).

Teixeira (2002) explica Políticas Públicas como sendo as diretrizes norteadoras de

ação do poder público, as quais se configuram em regras e procedimentos para as relações entre

poder público e sociedade, mediações entre atores da sociedade e do Estado. Portanto, as

Políticas Públicas versam por recursos públicos diretamente ou por meio de renúncia fiscal

(isenções) ou regulação de relações que abrangem interesses públicos, na perspectiva de

responder a demandas, especialmente dos setores marginalizados da sociedade, considerados

vulneráveis.

A esse respeito, Azevedo (2003) descreve que Políticas Públicas são tudo o que um

governo faz e deixa de fazer, com todos os impactos de suas ações e omissões. Com isso, busca

responder a demandas dos diversos setores da sociedade considerados como vulneráveis. É

importante destacar o pensamento de Teixeira (2002) quando salienta que as Políticas Públicas

se configuram como um processo dinâmico, com negociações, pressões, mobilizações, alianças

ou coalizões de interesses.

Desse modo, pode-se entender que uma política pública é o conjunto de programas,

ações e atividades desenvolvidas pelo Estado diretamente ou indiretamente, com a participação

de entes públicos ou privados, que visa assegurar determinado direito de cidadania, de forma

abrangente ou direcionada para determinado segmento social, cultural, étnico ou econômico.

34

Entender uma política pública é entender como está configurado o Estado, desde suas

instâncias menores até seu aparato institucional. Nesse sentido, vale entender um pouco dessa

configuração a partir da Reforma do Estado, quando apresenta, por um lado, novos atores para

o cenário público, e, por outro, a dificuldade dos governos de operacionalizar novas Políticas

Públicas diante do paradigma da nova gestão pública. Há, portanto, tensões e querelas entre

diferentes níveis governamentais, especialmente no tocante à partilha dos recursos

disponibilizados ao atendimento às necessidades públicas e coletivas da população. É válido

afirmar o dinamismo decorrente da relação Estado x política pública. Segundo Serafim e Dias

(2012, p. 124), “o Estado é um ambiente de sistemática disputa política. Não deve, portanto,

ser compreendido como um ente independente da sociedade e imune aos conflitos que nela se

manifestam”.

As institucionalidades, nesse contexto, configuram-se a fim de corresponder à

perspectiva de uma política pública, do novo papel dos atores locais, da participação e das

estruturas de representação e de decisão nas relações sociais e econômicas. Segundo Osório

(2007), todos esses aspectos são considerados como fundamentais para fortalecer o

direcionamento de modelos de Políticas Públicas emergentes. Desse modo, busca-se afirmar o

dinamismo decorrente da relação Estado e política pública. Almeida (2010) enfatiza que as

Políticas Públicas costumam ser o resultado de intensa interação entre atores políticos e não a

imposição de fórmulas e cálculos para cada problema.

Nesse sentido, a partir do Grupo do Trabalho de Transporte Urbano do Comitê de

Articulação Federativa da Subchefia de Assuntos Federativos da Casa Civil, o Governo Federal

cria, em novembro de 2003, um grupo de trabalho que foi integrado por, além de integrantes da

Casa Civil, representantes da Frente Nacional de Prefeitos; da Associação Brasileira de

Municípios; da Confederação Nacional dos Municípios; do Fórum Nacional de Secretários de

Transporte; e dos Ministérios das Cidades; Minas e Energia; Trabalho e Emprego; e Fazenda.

Esse trabalho visa buscar a construção de um “pacto federativo” entre o Governo Federal e os

governos estaduais e municipais para lidar com o problema de mobilidade urbana como política

pública emergente. Para isso, muitos pontos são destacados em reuniões desse grupo, como

citado por Gomide (2008), tais como: desoneração dos encargos sociais sobre a folha de

pagamento das empresas operadoras; redução do preço do diesel para o transporte coletivo

urbano; busca de fontes extratarifárias.

Conforme esses exemplos de discussão citados por Gomide (2008), os limites

impostos à formulação de novas Políticas Públicas têm dificultado a geração de um ambiente

favorável que contribua para o desenvolvimento das potencialidades e a modernização dos

35

governos nas três esferas. No Brasil, a integração entre vários agentes públicos, privados, e as

organizações não governamentais se faz necessária, aliada à necessidade de interação entre as

diversas fronteiras do saber, de modo a propiciar espaços à união de esforços que possam

conduzir à emancipação social, econômica e política de cidadãos. Ao tratar especificamente de

Políticas Públicas de mobilidade urbana, em toda a sua complexidade, tendo em vista que para

proporcionar uma contribuição efetiva torna-se necessário enfrentar intensos desafios a sua

implementação, Siqueira e Lima (2015, p. 1) chamam atenção para os desafios que:

Precisam ser ultrapassados com o envolvimento de toda a sociedade e com a boa

vontade política na implementação de medidas que tragam resultados positivos para

os problemas de mobilidade de mobilidade urbana, não apenas para a população atual,

mas que possam se reproduzidos pelas gerações futuras.

Nessa perspectiva, são muitas as modalidades que se configuram conforme a atuação

do Governo. A esse respeito, Teixeira (2002) e Azevedo (2003) explicam que podem ser:

estrutural, quando interferem em questões como renda, emprego, entre outros; conjuntural ou

emergencial, cujo objetivo é amortecer uma situação imediata; universal ou fragmentada,

quando se destina a todos os cidadãos ou a determinados grupos, respectivamente; segmental,

quando se volta para uma fração da população, caracterizada por um fator determinado (idade,

sexo etc.); distributiva, quando tende a distribuir benefícios individuais; redistributiva, quando

visa redistribuir recursos entre os grupos sociais; e regulatória, quando tem a finalidade de

definir regras e procedimentos que regulem comportamentos dos atores para atender interesses

gerais da sociedade.

Para Gomes e Silva (2017), é mais do que obrigatório o foco nessas Políticas Públicas

que precisam estar enquadradas no âmbito urbano, no sentido de assegurar esses direitos à

comunidade local. Portanto, isso reforça a ideia apresentada por Fuks (2000) de que, para que

essa política pública venha a ser desenvolvida e implementada, ela deve estar inserida como

um problema na agenda. Corroborando, Kingdon (2006) e Saravia (2006) complementam essa

ideia, acrescentando que essa inserção na agenda traz, primeiro, a marcação dos fatos sociais e

a situação do problema público como princípio da discussão da agenda do processo de Políticas

Públicas.

Essa emergência de questões na agenda, que definem a atuação do Governo, explica-

se mais pela dinâmica dessa política do que pelas condições objetivas dela, como realizado no

exemplo do Grupo de Trabalho de Transporte Urbano do Comitê de Articulação Federativa da

Subchefia de Assuntos Federativos da Casa Civil. Isso ocorre porque o problema é uma

36

construção social e precisa estar efetivamente claro e entendido por todo grupo, bem como as

relações causais de cada problema (FUKS, 2000).

Desse modo, a Administração Pública deve se atentar para essas questões tão cruciais

para a compreensão das ações públicas, que vão desde os interesses das partes envolvidas até

os conflitos existentes em busca do favorecimento de sua posição. Nesse sentido, deve haver

diálogos com atenção ao foco principal dessas Políticas Públicas: elas precisam estar

relacionadas ao bem-estar social e à qualidade de vida nas cidades, como o caso da mobilidade

urbana (GOMES; SILVA, 2017).

Assim, a discussão de mobilidade urbana carece de exploração dessas relações, sem

deixar de entender que o modelo de urbanização brasileiro se configura frente a um movimento

intenso e desestruturante, marcado por um processo amplo e violento de migração das

populações rurais e do campo como um todo (GUIMARÃES, 2016). Ainda segundo Guimarães

(2016, p. 15), “essa urbanização brasileira foi fruto do desenvolvimento do capitalismo no

globo e no Brasil, materializado a partir da consolidação do modelo econômico centrado na

atividade industrial como vetor principal da dinâmica acumulativa”.

Para Grostein (2001), o padrão de urbanização imprimiu às metrópoles, apesar das

especificidades regionais, ao menos duas fortes características associadas ao modo

predominante de fazer “cidade”: apresentam componentes de “insustentabilidade” associados

aos processos de expansão da área urbana e de transformação e modernização dos espaços

intraurbanos; e proporcionam baixa qualidade de vida urbana a parcelas significativas da

população. Para o referido autor, “a significativa concentração da pobreza nas metrópoles

brasileiras tem como expressão um espaço dual: de um lado, a cidade formal, que concentra os

investimentos públicos e, de outro, o seu contraponto absoluto, a cidade informal, relegada dos

benefícios equivalentes e que cresce exponencialmente na ilegalidade urbana que a constitui,

exacerbando as diferenças socioambientais” (GROSTEIN, 2001, p. 14).

Desse modo, se por um lado as Políticas Públicas têm colaborado para um discurso

contemporâneo sobre as questões relacionadas à sustentabilidade; por outro, o poder público

tem se constituído incapaz de fazer com que os indivíduos e as empresas cumpram os preceitos

referentes à legislação. No contexto da mobilidade urbana, destaca-se que, em junho de 2013,

o tema ficou em pauta em todo o cenário nacional em consequência dos movimentos sociais

ocorridos em centenas de cidades brasileiras.

Nesse contexto, a sociedade brasileira se mobilizou frente ao aumento da tarifa e da

baixa qualidade do transporte público, considerando ainda os grandes investimentos que ocorrem

na mobilidade urbana, fundamentalmente para atender a Copa e as Olimpíadas. De acordo com

37

Siqueira e Lima (2015), a sustentabilidade está relacionada ao bem-estar social, econômico e

ambiental, bem como se relaciona à qualidade de vida das pessoas e às condições dos

equipamentos e serviços públicos oferecidos. Nesse sentido, as condições de acesso e dos

serviços de transportes, ou seja, as condições da mobilidade urbana apresentam-se como um

elemento importante para o desenvolvimento sustentável das cidades.

Entretanto, a avaliação de eficácia da medida tomada pela política pública, ou mesmo

dos resultados apresentados, não é suficiente para a garantia de sucesso dessa política. Desse

modo, deve-se atentar para possibilidades que o fato político acrescentará na discussão de

valores, ideias e, principalmente, das representações sobre a questão da mobilidade urbana para

a sustentabilidade socioeconômica e ambiental das cidades brasileiras (GOMIDE, 2008).

De acordo com Baldin (2013), tais movimentações conseguiram criar uma linguagem

unificadora para a expressão do modelo de urbanização brasileiro, na qual a agenda social mostrou-

se de fácil enunciação: tarifa zero, menos 20 centavos na tarifa do transporte público etc. Com isso,

como resultado pontual, algumas cidades baixaram os preços das tarifas. Além disso, esses

movimentos sensibilizaram os políticos, fazendo com que muitos deles proporcionassem esforços e

debates em prol da reforma da mobilidade, com foco básico nos transportes públicos.

2.2 MOBILIDADE: ASPECTOS CONTEXTUAIS

O avanço da urbanização e a evolução dos territórios funcionais – em que se

desenvolvem as atividades econômicas e sociais – colocam em discussão a organização

institucional das cidades, considerada um instrumento central para garantir sua

governabilidade. Nos últimos 50 anos, diversos países reformaram seu sistema institucional

territorial. Os anos 1960 e 1970 registraram grandes mudanças. Foram palco de experiências

regiões como: Reino Unido, França, Holanda, Canadá, Estados Unidos, Escandinávia, entre

outras (JOUVE; LEFÈVRE, 2007 apud GARSON, 2009).

Após o retrocesso dos anos 1980, em que foram abolidos os condados metropolitanos

britânicos e as jurisdições de Rijnmond e Einhoven, na Holanda, as mudanças foram retomadas

nos anos 1990. As reformas institucionais têm, a partir desse período, uma especificidade: não

é mais o Estado, unitário ou federativo, quem decide sobre a reorganização. As mudanças são

negociadas, não apenas entre as entidades públicas mas também com os atores econômicos

38

locais, públicos e privados. Diferentemente dos anos 1960 e 1970, assiste-se a uma mobilização

sobre a questão institucional (JOUVE; LEFÈVRE, 2007 apud GARSON, 2009).

Ao longo dos anos, a maioria dos países europeus considerava o transporte público

urbano como uma necessidade social, que era um fator determinante para a configuração

regulatória e organizacional dos mercados de transportes. Especificamente nos Estados Unidos,

as cidades desempenharam um papel importante, modificando de forma considerável a política

e a economia daquele país. O neoliberalismo exacerbado das presidências Reagan e Bush não

somente suprimiu brutalmente uma grande parte dos serviços sociais que cobria necessidades

mínimas de um terço das populações urbanas como ainda favoreceu a desindustrialização, o

desemprego nas cidades e a queda de arrecadação dos governos locais (CASTELLS; BORJA,

1996).

No entanto, existem evidências em todo o mundo de que a prestação de um serviço

social não implica necessariamente a adoção de um mercado específico ou de uma organização

industrial. Em particular, se a eficiência econômica e a qualidade do serviço forem

direcionadas, outras ferramentas devem ser desenvolvidas.

Na mobilidade urbana, a integração de sistemas é um desses instrumentos,

principalmente devido à necessidade de estabelecer metas compatíveis com outras políticas

(por exemplo, meio ambiente e uso do solo) e fornecer respostas adequadas às necessidades e

às aspirações das partes interessadas. A definição dos objetivos estratégicos do sistema é um

dos principais elementos do sistema de mobilidade urbana e a observação de vários casos

europeus leva à conclusão de que o desempenho de qualidade dos serviços prestados por esse

sistema dependerá da ação concertada entre diferentes elementos do sistema (TRB, 2008).

Tomando como referência o modelo europeu discutido neste estudo, Castells e Borja

(1996) ressaltam que as grandes cidades devem responder a cinco tipos de objetivos, a saber:

nova base econômica, infraestrutura urbana, qualidade de vida, integração social e

governabilidade. Somente gerando uma capacidade de resposta a esses propósitos, esses

grandes centros urbanos poderão, por um lado, ser competitivos para o exterior e se inserir nos

espaços econômicos globais, por outro, dar garantias a sua população de um mínimo de bem-

estar para que a convivência democrática possa se consolidar.

Como resposta a essas questões, Castells e Borja (1996) indicam que esses objetivos

requerem um projeto de cidade cuja construção pode apoiar-se em elementos diferenciados.

Um bom exemplo pode ser a sensação de crise que provocou, em algumas cidades, uma reação

conjunta do governo local e dos principais agentes econômicos na realização de uma

39

transformação do sistema urbano para facilitar a passagem do modelo industrial tradicional para

o de centro terciário qualificado.

Em todas as cidades, o projeto de transformação urbana é vislumbrado por meio da

somatória de três fatores, quais sejam: a) a sensação de crise aguda pela conscientização da

globalização da economia; b) a negociação entre os atores urbanos, públicos e privados, e a

geração de liderança local (política e cívica); c) a vontade conjunta e o consenso público para

que a cidade dê um salto adiante, tanto do ponto de vista físico como econômico, social e

cultural (CASTELLS; BORJA, 1996).

Segundo Garson (2009, p. 78), “a aceleração do processo de urbanização na década de

1960 coloca na ordem do dia o debate sobre problemas urbanos e, em particular, sobre o

processo de metropolização”. A solução institucional encontrada pelo governo central no

período autoritário foi a criação de estruturas baseadas nos Estados, porém, sob forte tutela

federal. Com a crise fiscal e política do governo ditatorial nos anos 1980, essas estruturas se

enfraquecem ou mesmo desaparecem.

Nesse processo, a crise fiscal do Estado, a falta de recursos para os municípios e a

precariedade das atuais relações de trabalho levam à queda da mobilidade da população e, em

decorrência, a sua exclusão. O vale transporte, anteriormente eficaz no financiamento do

transporte do trabalhador, já não cumpre na íntegra seu papel, em decorrência do declínio do

emprego formal, faltando atualmente recursos não somente para a provisão de infraestrutura

mas principalmente para o custeio dos serviços que são cobertos quase que exclusivamente

pelos seus usuários por meio das tarifas (TORQUATO; SANTOS, 2004). Os usuários não

arcam somente com as suas próprias tarifas, mas, de forma adicional, com a cobertura dos

custos advindos das gratuidades conquistadas por algumas categorias, como carteiros e oficiais

de justiça, ou segmentos sociais como idosos e estudantes (TORQUATO; SANTOS, 2004).

No Brasil, segundo Gomide (2008), o marco regulatório para os transportes urbanos

decorreu do diagnóstico feito pela Secretaria Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana

do Ministério das Cidades, que trouxe o atual modelo de mobilidade urbana para as cidades

brasileiras. Esse documento regulatório apresentou que as cidades brasileiras iriam culminar na

insustentabilidade do sistema, com grande chance de riscos significativos com custos sociais,

econômicos e ambientais. Isso trouxe à pauta o espaço necessário para a formulação de uma

política para o setor em nível nacional.

A diversidade dos arranjos institucionais é característica da arquitetura institucional

que norteia a gestão e a organização das regiões metropolitanas brasileiras. A princípio, esses

arranjos remontam à legislação federal dos anos 1970, que deu origem a nove regiões

40

metropolitanas, tomando como referência um conjunto de critérios uniformizados. O desenho

institucional foi posto a partir da composição das capitais e dos Estados em que ocorrera o

primeiro surto de industrialização. A partir do entendimento do regime militar, essas regiões

desempenharam papel-chave na consolidação do processo de desenvolvimento do país

(KLINK, 2009).

Ainda segundo Klink (2009), a legislação federal definiu de forma uniformizada os

potenciais serviços de interesse, como o planejamento para o desenvolvimento econômico e

social, o saneamento (água, esgoto, gestão de resíduos sólidos), o uso e a ocupação do solo, o

transporte e as estradas, a produção e a distribuição de gás canalizado, a gestão de recursos

hídricos e o controle de poluição ambiental. Também previu a criação de novos fóruns,

particularmente os conselhos deliberativos e consultivos, para coordenar a articulação com os

municípios.

O respectivo arranjo estadualizado, que se modela em pleno regime autoritário, teve

um sentido puramente tecnocrata com alto grau de centralização financeira e de tomada de

decisões, tendo como órgão de referência o conselho deliberativo indicado pelos representantes

indicados pelo Governo Federal-Estadual. Segundo Klink (2009), foi nessa fase que se

vislumbrou a consolidação de vários órgãos estaduais de planejamento metropolitano, alguns

dos quais ainda atuantes.

Houve também fontes de financiamento setoriais relativamente estáveis e alocadas

numa escala metropolitana, principalmente ligadas a setores como habitação, saneamento

básico e transporte. Vários dos organismos metropolitanos conseguiram captar financiamentos

internacionais. Ainda de acordo com Klink (2009, p. 420), a abordagem embutida no modelo

estadualizado, isto é, a de cooperação compulsória liderada pelo Estado, estimulou contestação

jurídica e um municipalismo autárquico. Por fim, a participação das esferas não governamentais

nos órgãos colegiados de decisão ainda está limitada.

A mobilidade urbana tem princípios delineados na Política Nacional de Mobilidade

Urbana (PNMU). Para o Ministério das Cidades (2007), a mobilidade urbana pode ser

compreendida como atributo das cidades no que se refere à facilidade de deslocamentos de

pessoas e bens no espaço urbano, tanto por meios motorizados quanto não motorizados. Essa

mobilidade também se refere às diversas respostas dadas por indivíduos e agentes econômicos

quanto às suas necessidades de deslocamento, avaliadas as extensões do espaço urbano e a

complexidade das atividades nele desenvolvidas.

Entretanto, Moscarelli e Kleiman (2017) ainda apresentam todos os pontos que o

Ministério das Cidades precisam planejar ao redor da mobilidade urbana, como habitação,

41

acessibilidade, programas urbanos, transporte, mobilidade, saneamento, que são distribuídos

por departamentos, conforme Figura 2.

Analisando a Figura 2, percebem-se claras conexões, por exemplo, entre a Secretaria

Nacional de Transporte e Mobilidade e o Departamento de Águas e Esgotos (Secretaria

Nacional de Saneamento) e, segundo estudo de Moscarelli e Kleiman (2017), tais conexões

constam dos projetos de saneamento e ações pelo transporte e mobilidade que são financiados

com a necessidade de apresentar ações voltadas à inclusão social, à acessibilidade, à mobilidade

e à salubridade. Daí detêm, às vezes no mesmo projeto, custeios para calçamento,

pavimentação, recapeamento de vias e medidas de sinalização viária.

Figura 2 – Desenho Institucional do Ministério das Cidades

Fonte: Moscarelli e Kleinan (2017, p. 161).

Entretanto, o advento da expansão urbana traz consigo, segundo Ribeiro (2017), o

processo de periferização como um dos resultados da consolidação das regiões metropolitanas,

a partir da metrópole, no caso de estudo, a cidade de Natal. Assim, surge um termo importante

de ser verificado, que é o spraw – espalhamento –, e representa o desenvolvimento urbano

esparramado das cidades que compõem a Grande Natal. Isso interfere no ato de se movimentar,

sendo necessários estudos de concentração, agrupamento, núcleos, proximidade, densidade,

entre outros.

42

De acordo com Vasconcellos (2001), a mobilidade urbana refere-se exatamente a esse

ato de movimentar-se conforme as condições físicas e econômicas. Isso implica a

disponibilidade de meios de transporte – seja nos meios não motorizados e pessoais (a pé e de

bicicleta), seja nos meios motorizados (públicos ou privados) – e, ainda, a modernização da

malha viária para realizar os deslocamentos. Desse modo, é a combinação entre os meios

pessoais, o sistema de circulação e os destinos desejados que compõe o desenvolvimento das

cidades como uma mistura de centralização e descentralização (RIBEIRO, 2017).

A respeito da acessibilidade e da mobilidade, Vasconcellos (2001) explica que estas

são entendidas como a facilidade ou a dificuldade para a realização das necessidades que se

configuram na (re)produção do espaço, ou seja, a acessibilidade ou a mobilidade abrangem

fatores pertinentes aos meios físicos, às distâncias e aos tempos, que provocam maior ou menor

facilidade para se alcançar o destino desejado. Por sua vez, Litman (2012) define os termos

como a facilidade de conseguir bens, serviços, atividades e destinos, que agrupados são

vislumbrados como oportunidades, medidas pelo tempo e pelo custo envolvido.

Diante do exposto, Pereira (2008) destaca que a mobilidade e a acessibilidade são

ligadas ao uso de meios de transporte, ponderando a relação espaço-tempo, e estão vinculadas

à estruturação urbana, que tem cerne nas políticas e no planejamento. No âmbito brasileiro, a

estratégia oficial para a implantação da mobilidade urbana sustentável tem sido concretizada

por meio de ações governamentais a partir de planos e de legislações. Entretanto, Mancini

(2011) afirma que mesmo com a existência de estudos e de ferramentas de avaliação e auxílio

à criação de Planos de mobilidade urbana complicados pelo próprio Ministério das Cidades,

praticamente não existe know-how para elaboração e implantação de Planos de Mobilidade.

Entretanto, independentemente de onde serão empregados os recursos arrecadados

pela Administração Pública, sua aplicação deve obedecer a conceitos claros, o que seria

facilitado pela realização de um planejamento ou projeto básico. Nesse documento idealizado

pelo planejamento da ação, é importante identificar os objetivos a ser alcançados, bem como

quem são os atores, para que haja condições de estabelecer estratégias por meio dos recursos

necessários. Essa é a formulação básica do planejamento de forma geral, que também deve ser

utilizado no planejamento urbano e de transportes, cujo foco se caracteriza no enxugamento de

desperdício de recursos e na qualidade do transporte público (MOURA, 2017).

Nesse sentido, Mello e Portugal (2017) abordam sobre planejamento dos transportes,

associado à redução de custos operacionais e tempo de viagem. Nessa análise, os autores

apresentam críticas no planejamento urbano que desconsidera custos de mensuração mais

complexa como impactos ambientais, uso de solos ou ainda que envolva técnicas avançadas de

43

pesquisa que utilizem recursos financeiros ou pessoal especializado, que normalmente são

escassos, mesmo que a lei preveja a possibilidade de participação popular na criação ou na

validação.

Esses problemas permitem que a Administração Pública exerça o reconhecimento de

evidências que favoreçam a evolução de novas abordagens com o objetivo de superar e

embasar: a utilização de novas técnicas de mobilidade urbana; a acessibilidade, soluções de

sustentabilidade; a integração de transporte com a utilização do solo; e o fluxo de viagens.

Autores como Banister (2011) e Litman (2012) realçam essa necessidade de planejamento

integrado para melhor organização do território (MELLO; PORTUGAL, 2017).

Nesse contexto, a cidade do Natal, mesmo que ainda não tenha implementado o seu

Plano Diretor de Transporte e de Mobilidade, considerando ser obrigatório para municípios

com mais de 500 mil habitantes, mostra-se aquém das expectativas. Consultas realizadas na

Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (SEMOB) permitiram averiguar que o Plano foi

elaborado nos anos de 2007 e 2008, mas com a modificação de gestão, foi arquivado. Essa

questão envolve aspectos importantes quando tratados em nível institucional, exigindo o

desenvolvimento de instituições democráticas, representativas, transparentes e competentes,

que possibilitem não apenas a implementação do plano diretor como ainda todo o planejamento

com a participação da população, dos atores políticos, do Estado como ator principal na

formulação e na implementação da política (QUEIROZ; CKAGNAZAROFF, 2010).

Ultimamente, desde 2016, o referido documento se encontra em avaliação na Procuradoria

Geral do Município de Natal.

Ademais, a existência de alguns órgãos do governo encarregados da formulação e da

implementação de Políticas Públicas inovadoras relevantes para o desenvolvimento dos

governos subnacionais desprezam a contribuição da sociedade civil. Isso porque, em primeiro

lugar, na maior parte dos casos, a representação da comunidade é mínima em relação ao

número de membros indicados pelos órgãos oficiais. Para alguns autores (CHESBROUGH,

2003; COLLM; SCHEDLER 2012), o processo de inovação deve ser conduzido não apenas

internamente mas ainda envolver atores externos e importantes ao processo. O processo aberto

de inovação pode contribuir para que se expressem alguns interesses públicos mais amplos e

abrangentes, ficam distante das forças locais, impossibilitando contribuições mais eficazes

com vistas à objetividade das ações e à priorização de demandas urgentes nas tomadas de

decisões.

Andrade (2001) alerta para a importância fundamental que tem a dimensão política

para a implementação de práticas inovadoras no serviço público. A fim de que esse novo

44

desenvolvimento aconteça, faz-se necessária a participação não só da sociedade civil mas

também do Estado, em nível de comprometimento institucional e no próprio querer fazer.

Nesse sentido, torna-se imprescindível democratizar a própria sociedade civil, o que supõe o

fortalecimento das organizações sociais, a democratização das informações e a capacitação

dos cidadãos e dos próprios atores públicos para a tomada de decisões, no sentido de tornar

a sociedade em geral mais participativa e atuante. Vale destacar ainda que o autor deixa

evidente a importância e o valor do capital social para toda a dinâmica do processo, como

também para a concretização de resultados.

O plano diretor é um instrumento básico para orientar a política de desenvolvimento e

ordenamento da expansão urbana do município, integrando uso do solo, habitação, saneamento

e mobilidade urbana. Quando de sua elaboração, torna-se relevante a participação social na

determinação de políticas urbanas e prioridades de investimentos. Em síntese, o plano diretor e

o Plano Diretor Integrado de Transporte são muito importantes, pois indicam as diretrizes e as

ações necessárias para melhorar a mobilidade urbana. Um aspecto que em muito contribui para

a melhoria da qualidade da mobilidade urbana é a oferta de transporte público de qualidade e

em quantidade suficiente ao atendimento das demandas existentes, ou seja, um transporte

público eficiente. Para tanto, as ações de planejamento urbano deverão também considerar as

orientações definidas na política de transporte.

De acordo com o IBGE (2014), 1.728 municípios brasileiros possuem mais de 20.000

habitantes, como os municípios da Grande Natal-RN. Se forem atender a PNMU, deveriam ter

elaborados seus planos municipais de mobilidade utilizando-se do conceito da Política

Nacional, que define ainda como direito dos usuários a utilização de um sistema nacional de

mobilidade urbana, para que, com isso, possam usufruir de um serviço adequado e participar

do planejamento, da fiscalização dos planos e da avaliação da Política Municipal de Mobilidade

Urbana (MOURA, 2017).

Nessa direção, Moura (2017) afirma ainda que, para o melhor aproveitamento do

espaço urbano como também para alcançar uma maior abrangência, a mobilidade urbana deve

ser um dos principais objetivos dos gestores públicos, podendo inclusive reduzir os gastos

necessários para a implantação do transporte público coletivo, utilizando de interligação com

os municípios, como no caso da Grande Natal. Isso deve ser estudado especialmente quanto aos

aspectos das condições de acessibilidade e mobilidade municipal.

Segundo Vasconcellos (1995), as condições médias de transportes, para a maioria das

pessoas, continuam muito desfavoráveis, principalmente no que tange à acessibilidade, à

mobilidade, à segurança e ao conforto. Os investimentos na modernização do sistema de

45

transportes podem tornar esse cenário mais favorável à melhoria do serviço prestado à

população. Para isso, faz-se necessário um planejamento estratégico capaz de identificar os

principais gargalos e seus impactos no sistema, para assim formular cursos de ação, sobretudo

a partir de uma visão mais abrangente de todo o sistema, direcionado à solução dos problemas.

Para Farah (2003), o planejamento estratégico dever ser participativo tanto na sua formulação

como na implementação da política pública, assumindo um papel integrador para a sociedade.

Ademais, toda e qualquer mobilidade urbana deve levar em consideração o interesse

do coletivo, atrelado aos conceitos de sustentabilidade. Isso aumenta a preocupação de integrar

sistemas intermodais de transportes, além construir calçadas de acesso garantido e confortável,

para que possibilite a utilização tanto de cadeirantes como de gestantes, crianças e pessoas com

deficiências permanentes ou temporárias. Para isso, propõe-se o desenho universal como

projeto que atenda todos os usuários (MORAES, 2017).

Tanto a acessibilidade como a mobilidade precisam existir para os meios de transporte

urbano. Nesse sentido, a trajetória do Governo Federal quanto a sua atuação na implementação

de políticas voltadas para o transporte urbano remete à década de 1970, vindo a coincidir com

o período de crescimento urbano do país, como pode ser visualizado na Figura 3.

46

Figura 3 – Mobilidade e acessibilidade e suas diferentes perspectivas

Fonte: Mello e Portugal (2017, p. 35).

Torquato e Santos (2004) ressaltam que entre os anos de 1970 a 1980, algumas ações

foram relevantes para o desenvolvimento e o enfrentamento dos problemas concernentes ao

transporte. Dentre as medidas de impacto, destacam-se:

A sistematização do cálculo de custos e tarifas, que permitiu a implementação da

câmara de compensação tarifária e da tarifa única como forma de subsídio à população

que morando mais afastada dos centros de produção e serviços, e que pagavam tarifas

mais altas pelo deslocamento. As tarifas integradas também funcionaram como

subsídios aos que tinham que fazer deslocamentos maiores.

47

Avanços na tecnologia operacional, exemplificada na criação de corredores

exclusivos para ônibus e na implantação do regime de terminal único em linhas

urbanas.

Financiamento do transporte, com a criação do vale-transporte, reduzindo as

tensões na relação capital x trabalho (TORQUATO; SANTOS, 2004, p. 6).

A década de 1980 é marcada pelo distanciamento da esfera federal em relação ao

transporte urbano. Esse abismo traz consigo graves problemas urbanos, um deles

especificamente relacionado ao transporte nas cidades. Para Torquato e Santos (2004, p. 6),

Trata-se de uma decisão complicada, tendo em vista que diversas decisões do Governo

Federal têm impactos diretos e indiretos no transporte urbano. A política de energia, por

exemplo, refere-se aos preços dos combustíveis; o financiamento da produção e taxação

para aquisição de veículos, porque leva a facilidades na instalação de novas montadoras

no país bem como a maior ou menor facilidade de aquisição de veículos. O excessivo

número de veículos nas vias, decorrentes das facilidades de aquisição leva aos

engarrafamentos e poluição.

Vale ressaltar que os problemas dos transportes públicos não se limitam à dinâmica da

cidade, mas sim, é extensiva às particularidades e singularidades locais e regionais

influenciadoras e com forte controle no ambiente macroeconômico. Além disso, Torquato e

Santos (2004) advogam que no sistema de transporte público dos países europeus em situações

de crise, por exemplo, observa-se forte pressão pelo aumento das tarifas e/ou pela redução dos

subsídios, em razão da crise fiscal do Estado, das exigências dos credores da União Europeia

(pressão neoliberal para desestatização e redução dos direitos sociais, por exemplo) e da

tendência de redução do IPK em razão dos altos níveis de desemprego e redução da dinâmica

econômica.

Em consonância com a ordem neoliberal vigente em nível mundial, na última década

do século XX, a intensificação da reforma estrutural do Estado brasileiro, na condição de

política pública, atingiu o setor transportes e acelerou sua reorganização produtiva. Em março

de 1990, o Programa Federal de Desregulamentação da Economia (Decreto nº 99.179)

estabelecia que “a atividade econômica privada será regida, basicamente, pelas regras do livre

mercado, limitada a interferência da Administração Pública Federal ao que dispõe a

Constituição” (Art. 2º, inciso III). O Decreto traduzia a vontade política de reafirmar o

fortalecimento da iniciativa privada e a redução da interferência do Estado na vida econômica

do país.

A esse respeito, Schiffer (2004) lembra que, embora a globalização da economia não

seja um processo recente, seu ritmo de consolidação cresceu nas últimas décadas do século XX.

Aumentam as transações financeiras e comerciais entre países; privilegiam-se avanços

48

tecnológicos e mais eficiência produtiva como condicionantes da competição entre empresas.

Daí resulta, segundo Schiffer (2004), a concentração do capital e da produção em grandes

empresas e grupos internacionais, com capacidade para controlar e gerenciar em seu proveito a

maior parte dos crescentes fluxos comerciais e financeiros do processo de acumulação atual.

Nessa perspectiva, Costa (2014) ressalta que, em Natal, as políticas e as gestões

públicas, tanto no contexto local com nacional, têm dado ênfase ao uso do automóvel, o que

ocasiona a deterioração das condições do transporte público. Gudmundsson e Sorensen (2012)

argumentam que os tomadores de decisões ignoram o foco do atendimento das Políticas

Públicas, tomando muitas vezes decisões fora do contexto e da finalidade da política pública.

Ademais, as Políticas Públicas em nível nacional têm enfrentado certa contradição no

que tange a foco, finalidade e implantação da política. Em 2012, foi instituída a nova Política

Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU) por meio da Lei 1247/2012, que reforça a premissa

de uma mobilidade sustentável, estabelecendo que os novos projetos priorizem os meios de

transportes coletivos públicos e os não motorizados, ao invés de oferecerem vantagens aos

veículos individuais (BRASIL, 2012).

O crescimento urbano acelerado, aliado às políticas governamentais de incentivo à

indústria automobilística, põe em contradição os elementos fundantes da Nova Política. As

políticas governamentais, em seu bojo, incentivam a aquisição e o uso do transporte individual

motorizado em detrimento do transporte coletivo. Contemplar a lei e respeitar suas diretrizes

em sua plenitude requer a superação de uma série de entraves urbanos, tais como: a especulação

urbana que mantém áreas intersticiais extensas; os processos de urbanização dispersa; os

mecanismos de exceção dos planos diretores; as dificuldades em termos de custos públicos para

desapropriações (SILVEIRA; COCCO, 2013).

Alguns aspectos devem ser levados em consideração na implantação da política,

conforme enumerado por Mello (2008), quais sejam: equilíbrio e incentivo – equilíbrio entre

os diferentes modos de transportes e incentivo ao uso de modos não motorizados; transporte e

energia – o uso eficiente dos recursos energéticos como elemento central para o

desenvolvimento sustentável; tecnologia para um transporte sustentável – os impactos advindos

do uso dos transportes são decorrentes das tecnologias empregadas; demanda por transportes –

o desenvolvimento de medidas de gerenciamento da demanda tem o intuito de reduzir a

necessidade de transportes em sua origem; oferta de transportes – a disponibilidade de

infraestrutura para atender as necessidades de demandas é pré-requisito para a prosperidade

econômica; e, por fim, integração de transporte e uso do solo – não existe um consenso no que

diz respeito ao estabelecimento de uma estrutura ideal de transporte sustentável, apenas é sabido

49

que a configuração urbana influi na necessidade de viagens e nas características dos

deslocamentos realizados (GREENE; WEGENER, 1997; GUDMUNDSSON; HÖJER, 1996).

De acordo com Costa (2014), as decisões dos gestores das Políticas Públicas em nível

nacional demonstram o quanto estão indo em contraposição e desarticuladas com a proposta da

nova Política Nacional de Mobilidade Urbana, pois o objetivo da PNMU é incentivar ações de

sustentabilidade voltadas à mobilidade urbana. Para a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente

e Desenvolvimento (COMISSÃO MUNDIAL SOBRE O MEIO-AMBIENTE E

DESENVOLVIMENTO, 1991) da organização das Nações Unidas, é um conjunto de processos

e atitudes que atende às necessidades presentes sem comprometer a possibilidade de que as

gerações futuras satisfaçam as suas próprias necessidades. Para que tal processo tenha

efetividade prática, faz-se necessário implantar atos políticos de “grande envergadura e alcance,

capazes de superar as práticas políticas clientelistas, as negociatas, as alianças espúrias”

(ALMEIDA, 1994, p. 19).

O estudo de Costa (2014) revelou que Natal apresenta três problemas estruturantes,

são eles: o primeiro se refere à insustentabilidade decorrente do crescimento urbano e sem um

planejamento urbano estruturado da capital; o segundo está relacionado à baixa qualidade de

vida da população, segregada espacialmente, que diante de condições de mobilidade e

acessibilidade comprometidas, tem suas oportunidades reduzidas; e, por fim, verificou-se que,

se por um lado, as políticas em nível local e nacional têm contribuído para a sustentabilidade

da mobilidade urbana, por outro, revela, por vezes, descompassos entre o que está posto na

política e o que realmente está sendo efetivado. Essas contradições são latentes devido à

incapacidade ou mesmo à falta de vontade da gestão pública de fazer cumprir uma proporção

importante das determinações legais posta na legislação e nos planos diretores municipais.

O estudo de Bezerra, Madsen e Mello (2017), na cidade de Brasília, símbolo do

urbanismo moderno brasileiro, identifica características que atribuem mobilidade ao espaço

urbano, tais como: aumento da mobilidade para os pedestres, características das cidades

compactas e dispersas; influências sobre os níveis de mobilidade atreladas aos conceitos de alta

densidade; uso de solo misto; continuidade da malha urbana e continuidade dos elementos de

composição. Ainda mostra a importância do urbanismo moderno como possibilidade de

intervenção.

Os autores ainda versam sobre itens de tratamento, como, por exemplo, acesso,

passeios, pontos de encontro, barreiras e móveis urbanos; e apontam problemas como a baixa

conectividade entre edifícios, pontos de parada de ônibus, parques de estacionamento com

passeios e acesso à interconexão, remoção de barreiras, criação de locais de encontro e

50

mobiliário urbano para facilitar a mobilidade dos pedestres (BEZERRA; MADSEN; MELLO,

2017).

Outro exemplo na literatura é o estudo sobre medidas de mobilidade com foco na

estratégia de competição e gentrificação dos centros urbanos realizado por Machado e Piccinini

(2017) que assevera uma crise ambiental e urbana, que inova ao discurso político a ideia de

abordagem de “cidade sustentável”. Os autores apresentam que planos de mobilidade nas

cidades brasileiras são necessários devido ao crescente interesse do tema mobilidade e

acessibilidade.

Segundo Costa (2014), a pesquisa revelou que os domínios correspondentes aos

aspectos sociais, de planejamento integrado, acessibilidade e modo não motorizado obtiveram

melhor desempenho, alcançando scores acima dos valores intermediários (0,500). Nesse score,

acima de 0,599 representa um desempenho bom e entre 0,500 e 0,599 é considerado regular.

Essa pesquisa também avaliou que dentre os elementos que obtiveram desempenho ruim – ou

seja, abaixo de 0,500 – destacam-se o sistema de transporte urbano, o tráfego e a circulação

urbana, como também os aspectos ambientais, políticos e estruturais.

Dessa forma, Gudmundsson e Hojer (1996 apud MELLO, 2008) analisam os

princípios básicos que compõem o conceito de desenvolvimento sustentável, que podem ser

incorporados no contexto dos transportes, visando à melhoria das condições de mobilidade, que

são: a) proteção dos recursos naturais dentro dos limites, níveis e modelos pré-estabelecidos;

b) manutenção do capital produtivo para as futuras gerações; c) melhoria da qualidade de vida

dos indivíduos; d) garantia de uma distribuição justa da qualidade de vida.

Outro ponto importante de verificar no estudo de mobilidade é o que analisam

Mascarenhas e Filho (2016) ao fazerem uma analogia dos aspectos da mobilidade urbana em

relação ao transporte público urbano. Nesse caso, os autores descrevem escolhas dos modos de

transportes realizadas pelas autoridades no processo industrialização e urbanização brasileira e

suas relações no contexto histórico, como, por exemplo, a narrada transição do sistema

ferroviário para o rodoviário no século XX.

Esse exemplo apenas aponta para uma direção de modernização dos transportes como

efeito constante de mudanças na mobilidade urbana. Por essa razão, o processo precisa

vivenciar constantes análises quanto às iniquidades atribuídas ao transporte coletivo nas cidades

brasileiras e, com isso, surge uma eminente gama de estudos a partir dos desafios para a

mobilidade urbana no Brasil.

51

2.3 O MODELO DE PENTÁGONO DE POLÍTICAS PÚBLICAS

Lascoumes e Le Galès (2007 apud PINTO, 2014) conceituam as Políticas Públicas

como “[...] uma ação coletiva que participa na criação de uma ordem social e política, dirigida

à sociedade, à regulação das suas tensões, à integração dos grupos e à resolução de conflitos”.

Commaille (2004 apud DELVAUX, 2007), assevera que a sociologia da ação pública envolve

uma relativização do papel do Estado e mais atenção aos atores locais; não se interessa apenas

pelas ações das instituições mas também pelas ações de uma variedade de atores públicos e

privados, ligados em uma rede de interdependências complexas, em diferentes níveis;

“distancia-se de uma concepção linear e hierárquica das Políticas Públicas, compreendendo

uma via mais horizontal e circular na concepção da ação pública e descarta a lógica dos experts

na definição das políticas” (PINTO, 2014, p. 30).

Barroso (2006a) ressalta que analisar uma política pública não é apenas ficar limitado

à concepção, à execução e aos efeitos, é ir além, é pensar a política pública no contexto de uma

ação pública. Para Van Zanten (2004 apud PINTO, 2014), analisar as políticas e a ações

públicas significa abordar o Estado a partir da sua ação e de forma concreta.

Pierre Lascoumes e Le Galés (2012) desenvolveram um modelo de análise de Políticas

Públicas baseado na teoria da complexidade da Sociologia da Ação Pública que ressalta a

importância de se trabalhar com instituições e atores inseridos em um contexto regulatório entre

a ação social e a ação política (LASCOUMES; LE GALÈS, 2007). Tem como diretriz a

concepção de que as Políticas Públicas constituem-se como um processo que engloba múltiplos

atores e aspectos, para além do Estado e sua burocracia, e vem ganhando destaque (PEIXOTO,

2015). Segundo Peixoto (2015, p. 405):

[...] esta abordagem apresenta as interações entre diferentes atores e instituições como

elemento central na análise das políticas. Trata-se de entender a política pública como

uma iniciativa coordenada que visa à realização de objetivos comuns associados ao

enfrentamento do problema público.

Para efeito de análise de uma ação pública, Lascoumes e Le Galès (2007) propõem um

modelo, denominado de Pentágono das Políticas Públicas, ao qual introduz cinco elementos,

são eles: os atores, as representações, as instituições, os processos e os resultados. Os atores

podem ser considerados individuais ou coletivos, são dotados de recursos, têm certo grau de

autonomia, são estratégicos e têm a liberdade de fazer escolhas, são mais ou menos guiados por

52

seus interesses materiais e/ou simbólicos. Já as representações são os quadros cognitivos, ou

seja, o conhecimento adquirido e normativo que dá sentido às ações. As instituições são normas,

regras, rotinas, procedimentos que governam as interações. Os processos consistem nas formas

de interação e de recomposição no tempo que apreendem as múltiplas atividades de mobilização

dos atores envolvidos.

A Figura 4 a seguir retrata o modelo de análise de uma ação pública denominado por

Lascoumes e Le Galès (2007) de Pentágono das Políticas Públicas.

Figura 4 – Modelo Pentágono de Políticas Públicas

Fonte: Lascoumes e Le Galès (2012).

Para atender as variáveis do modelo de políticas e das ações públicas, o estudo traçou

alguns objetivos específicos, são eles: identificar o papel dos atores envolvidos na dinâmica

das ações de implementação da PNMU com foco nas variáveis do modelo do Pentágono das

Políticas Públicas; examinar o modo como as instituições influenciam nos resultados da

PNMU; examinar o modo como os processos influenciam nos resultados da PNMU; analisar

a PNMU e sua aplicabilidade para unificação de conceitos e modernização do sistema de

transportes da Grande Natal e identificar avanços e desafios da Política Nacional que

influenciam a mobilidade urbana no contexto local a partir dos processos e resultados

alcançados.

O esquema da Figura 4 resume as variáveis que sintetizam a análise das políticas e das

ações públicas, dando ênfase à observação dos programas e das burocracias em ação, à

53

abordagem setorial da política, à análise dos atores e dos sistemas de ação e ao estudo das

diferentes sequências da ação pública (com os seus sistemas de atores, as suas dinâmicas e os

seus paradoxos) (LASCOUMES; LE GALÈS, 2012).

Segundo Teixeira (2017, p. 21), “há enormes dificuldades em executar uma política

pública constituída por diversos atores individuais e coletivos, e por competências distintas,

uma vez que, a política não se realiza por meio de ações estritamente racionais”. Entende-se

que um dos elementos que dificultam a operacionalização de uma política pública está na

condicionalidade dos atores que compõem os espaços no quais a política está sendo

implementada e gerida. Há tensões e querelas que, por vezes, desestabilizam e comprometem

os resultados da política, tendo em vista que as relações de poder e interesse estão implícitos

nas relações estabelecidas.

Peixoto (2015) ressalta que os atores estão imbricados pelas instituições e interagem

com elas normatizando uma rotina de processos. Ainda segundo Teixeira (2017), a interação

entre a multiplicidade de atores é salutar, pois contribui para o entendimento da política.

Ademais, Pedroso e Neto (2015) apontam como estrutura político-institucional de gestão de

transportes no Brasil a que está organizada em torno de três principais atores: i) poder público;

ii) operador; e iii) usuário.

Já Lascoumes e Le Galès (2012) analisam a implementação pela via do impacto, ou

seja, as transformações e os resultados que uma política pode ocasionar a um contexto local.

Nessa direção, os resultados dizem respeito às consequências geradas pela ação pública

decorrentes de um conjunto de interações gerado pelo sistema. Os atores relacionam o fracasso

das Políticas Públicas, especialmente em sua “implementação, às fragilidades que o modelo

top-down apresenta por desconsiderar as dinâmicas sociais existentes no contexto. Tal fracasso,

interpretado a partir da inefetividade, ineficiência e da ineficácia, associa-se a essa

desconsideração da complexidade das políticas [...]” (PEIXOTO, 2015, p. 405). Nesse sentido,

a complexidade e o dinamismo da política pública passam a ser determinísticos ao

reconhecerem a multiplicidade de outros fatores, especialmente os que evidenciam a

participação de diferentes atores sociais, rompendo com o tradicionalismo de análise centrada

no Estado e em sua burocracia.

É importante ressaltar que os mecanismos de uma política não são exclusivamente

técnicos, uma vez que os beneficiários da política as interpretam a partir da sua subjetividade.

Com isso, podem assumir vários significados (LASCOUMES; LE GALÈS, 2007), além de os

próprios instrumentos aportarem em si seus resultados quando produzem efeitos inesperados.

Conforme esses autores, se os instrumentos de políticas não são neutros, eles se constituem em

54

formas condensadas de conhecimento sobre o controle da sociedade e os modos de exercê-lo

(ANDRADE; VALADÃO, 2017). Por isso, também é necessário compreender como os

instrumentos de políticas podem produzir efeitos independentemente dos objetivos

governamentais perseguidos naquilo que se inscreve na instrumentação da ação pública

(LASCOUMES; LE GALÈS, 2007), sugerindo que os instrumentos são indissociáveis dos

agentes que os utilizam e não aportam em si racionalidade técnica.

Nesse sentido, é importante compreender e levar a em consideração as interfaces que

a política assume com os agentes que a utilizam e que são beneficiados por ela. Para Andrade

e Valadão (2017, p. 410), o objetivo dos agentes é ultrapassar as abordagens funcionalistas de

instrumentos de Políticas Públicas que os consideram exclusivamente uma ferramenta técnica

na operação de programas para a resolução de problemas específicos. Assim, Lascoumes e Le

Galès (2007, p. 4) definem os instrumentos como “um dispositivo ao mesmo tempo técnico e

social que organiza relações sociais específicas entre o poder público e seus destinatários em

função das representações e das significações das quais é portador”. Também, eles discutem as

dimensões anteriormente indicadas por Hood (2006, 2007) no que diz respeito às

especificidades de sua abordagem.

Nessa perspectiva, Lascoumes e Le Galès (2007) entendem que as instituições são

agentes capazes de estabilizar e dar controle às ações coletivas em um grau de racionalidade e

previsibilidade consideravelmente admitido concernente a uma relação entre a sociedade civil

e a administração estatal. Por sua vez, Andrade e Valadão (2017, p. 411) sugerem que a análise

da instrumentação da ação pública deve acompanhar os processos por meio dos quais há uma

combinação de fatores heterogêneos a fim de “desnaturalizar objetos técnicos, mostrando que

seu progresso depende mais das redes sociais que se formam nas relações do que pelas suas

próprias características”.

Vale destacar que a partir dos pressupostos apresentados, a ação pública

contemporaneamente foi reconfigurada e não se restringe mais à centralidade do Estado e dos

governos. O que tem ocorrido é uma proliferação de atores e instrumentos para tratar das

“Políticas Públicas” levando a três tipos de proliferações, a saber: (1) dos problemas

socialmente debatidos que vão das questões de governança mundial, a exemplo dos problemas

climáticos, à transversalidade de situações locais; (2) a multiplicação de atores e espaços em

que se inventa e pratica a ação pública, bem como a diversificação de atores, cenas e formas de

interação; e (3) isso implica também uma diversificação da instrumentação, uma vez que “cada

programa de intervenção é produto de uma longa sedimentação histórica e conjuga uma vasta

panóplia de instrumentos [...]” (LASCOUMES; LE GALÈS, 2012b, p. 209).

55

Muller e Surel (2002 apud TEIXEIRA, 2017) advogam que, a partir de uma

perspectiva sociológica da ação pública, as representações entre os atores tomam para si

elementos de uma análise cognitiva da ação pública. Segundo Peixoto (2015, p. 405), a

abordagem da Sociologia da Ação Pública, apoiada e combinada com a teoria da complexidade,

indica a relevância do papel dos atores sociais e suas representações nas diferentes etapas das

Políticas Públicas. É notório que os espaços coletivos e colegiados, onde estão inseridos

elementos de interesse da sociedade civil e da administração estatal, são arenas voltadas e

deliberadas à ação pública carregada de representações que ultrapassam a objetividade,

denotando-as de um pluralismo, o qual deve ser levado em conta não tão somente pelo corpo

gestor mas também pelos demais atores da ação pública, uma vez que a própria sociedade se

faz representada no processo da ação pública (PEIXOTO, 2015).

As representações são os quadros cognitivos, ou seja, o conhecimento adquirido e

normativo que dá sentido às ações. Nos anos 1970, a importância dos sistemas de controle

cognitivos foi resgatada para a análise organizacional ao colocar em vigor as proposições

institucionais. Pela teoria cognitiva, a mente reage a uma grande quantidade de dados sensoriais

que recebe, buscando reduzir a incerteza conceitual e dando à confusão caótica de estímulos

algum sentido e significado (HODGSON, 1994). Para Scott e Christensen (1995 apud

CARVALHO; VIEIRA, 2003), o estímulo do ambiente deve ser cognitivamente processado

pelos atores – interpretado pelos indivíduos ao empregarem sistemas simbólicos socialmente

construídos – antes que possam reagir.

As representações caracterizam no campo da análise da política pública ou da ação

pública “um dispositivo ao mesmo tempo técnico e social que organiza relações sociais

específicas entre o poder público e seus destinatários em função das representações e das

significações das quais é portador” (LASCOUMES; LE GALÈS, 2007, p. 4). Sob essa ótica,

Carvalho (2011, p. 19) analisa que:

O entendimento dos instrumentos de acção pública enquanto dispositivos de dupla

face (técnica e social), organizadores de relações sociais específicas em função das

representações e das significações que lhes são próprios, põe em evidência o seu

caráter cultural e político: são habitados por regras e normas que dão estabilidade e

previsibilidade às acções; e qualificam e desqualificam actores, abrem e encobrem

oportunidades para a acção.

Para Almeida (2015, p. 21), o Estado não é mais o único ator de análise. Há uma

multiplicidade de espaços políticos, sejam estes caracterizados pela territorialização

(descentralização, desconcentração etc.), sejam pela transnacionalização (europeização,

56

agências internacionais, papel das organizações e atores…). Nesse sentido, não existe uma

ordem verdadeiramente hierárquica, as redes que reagrupam os atores podem pertencer a

espaços de natureza diversa. Segundo Delvaux (2007 apud ALMEIDA, 2015), as

características principais da ação pública são: a) a multiplicidade e a diversidade dos atores; b)

o carácter compósito do ator público; c) a atenuação das relações hierárquicas entre atores; d)

a relativização do impacto no momento de tomada de decisão; e) a não linearidade do processo;

f) a fragmentação e a flexibilidade da ação.

Para Lascoumes e Le Galès (2012 apud MELO, 2016), quanto aos estudos sobre

implementação, verificam-se que projetos e programas governamentais são portadores de

muitas ambiguidades, o que dá margem aos jogos de poder organizacionais internos, em que

objetivos e prioridades dos atores se acumulam de forma desarticulada. Ademais, há espaço

para uma forte atuação do poder discricionário nos procedimentos e na legislação que embasa

a ação pública, ou seja, um espaço de atuação relativamente livre, à disposição dos atores.

Contudo, normas de interpretação, de negociação e de resolução de conflitos atuam num

segundo nível, de forma a ordenar localmente a execução dos programas.

Os autores defendem, ainda, que as instituições – com regras, normas, procedimentos

e sequências de ação estandardizadas – fornecem espaço de antecipações que reduz as

incertezas e torna possível a ação pública. No entanto, não são neutras, uma vez que os atores

que criam as instituições cooperam ou se afrontam na definição das regras e, consequentemente,

um processo de institucionalização pode contribuir para privilegiar determinados interesses

(MELO, 2016).

A regulação das instituições compreende “[...] os processos formais e informais que

garantem a coordenação da ação coletiva, através de produção e manutenção de regras que

asseguram o seu funcionamento” (BARROSO et al., 2006, p. 37). Esses processos, com base

nas teorias desenvolvidas por Reynaud (1997), incluem a regulação de controle, por meio da

definição de normas e regras, nomeadamente pela ação do Estado, resultante da produção de

regras próprias e das ações dos atores. Isso se dá em função da diversidade de interesses e de

uma regulação conjunta, que resulta em amplos debates entre os que visam ao controle e os que

procuram obter mais autonomia, ou seja, a interação entre essas duas dimensões. Nessa

perspectiva, Lapassade (1989) define o papel do Estado no domínio institucional, destacando

que o Estado permeia toda a instituição, sendo determinante nos tipos de relação e no modo

como essas relações se dão no interior das instituições. À medida que o Estado determina as

leis pelas quais as instituições devem ser regidas, também determina a forma como elas se

organizam, como suas decisões serão tomadas, como se dá a divisão de poder e hierarquia.

57

Scott (1992, p. 157) afirma que o ambiente institucional é caracterizado “pela

elaboração de normas e exigências a que as organizações se devem conformar se querem obter

apoio e legitimidade do ambiente”. Scott (1995) ainda divide os elementos institucionais em

três pilares, a saber: regulador de normas, regras e controles que definem e regem o

comportamento dos indivíduos na instituição. No que diz respeito ao normativo (cultura), este

este consiste nos conhecimentos tácitos e nos comportamentos utilizados na execução das

tarefas necessárias para atingir as metas organizacionais e pessoais dos indivíduos. Quanto ao

cognitivo (métodos, conceitos), este é um conjunto de conhecimentos tácitos e explícitos dos

indivíduos da organização, “que constituem a natureza da realidade e o arcabouço através do

qual os significados são construídos” (SCOTT, 1995, p. 40).

Para Lascoumes e Le Galès (2012, p. 115), “as representações se apropriam de certos

modelos de discursos que direcionam e legitimam os principais atores e organizações das

arbitragens públicas”. Segundo Teixeira (2017), os elementos cognitivos são essenciais e

determinantes para os resultados da política.

Os processos referem-se às tomadas de decisões, tornando-se um tanto complexos

quando tratados em nível de Políticas Públicas, pois envolvem relação de poder e legitimação

das organizações. No campo das relações institucionais, a autoridade é a legitimação

institucionalizada que subjaz ao poder e se define com institucionalização dos direitos dos

líderes de esperar o apoio dos membros da coletividade (VIEIRA; MISOCZKY, 2003). Ao

abordar a questão da complexidade na tomada de decisões, a argumentação racionalista advoga

que a tomada de decisão se estrutura por níveis (num paralelismo com a informática) e que cada

nível de decisão é parte de uma deliberação consciente (HODGSON, 1994). No entanto,

antropólogos e psicólogos, principalmente, preconizam que os seres humanos enfrentam o

complexo processo de tomar decisões fazendo também uso de processos mentais inconscientes

e semiconscientes. A esse respeito, constatam-se os avanços inicialmente realizados por Herbert

Simon que considera, em uma formulação teórica, a existência e o uso dos hábitos inconscientes

na ação humana.

Os resultados decorrem dos impactos de uma ação pública ou de uma política pública.

Nessa direção, Teixeira (2017) adverte quanto à inércia no decorrer da implementação, podendo

gerar efeitos ou impactos negativos e, até mesmo perversos, no tocante a seus resultados.

Figueiredo (2012, p. 39) chama a atenção para os efeitos dos instrumentos da ação pública ou

de uma política pública. Para ele,

58

[...] quer os esperados e expectáveis face à escolha dos instrumentos e aos objetivos

visados, quer os inesperados, originais, próprios, resultantes de alguma ambiguidade

que os caracterize, do modo como sejam apropriados, da reinterpretação de que sejam

alvo, em suma, dos resultados da dinâmica social e política da instrumentação dos

instrumentos (FIGUEIREDO, 2012, p. 39).

Ao analisar uma política pública, deve-se levar em consideração os vários

instrumentos e os fatores que implicam e influenciam todo o processo de implementação da

política que vai desde a análise do ambiente até a sua implementação. Esses mecanismos podem

ser caracterizados como: as instituições; os atores que dela fazem parte ou têm influência direta

e indireta; as redes de integração e cooperação; e os espaços coletivos que servem de base para

participação, controle e tomada de decisões.

59

3 METODOLOGIA

A metodologia de uma pesquisa é um conjunto de procedimentos, por meio do qual a

investigação do problema proposto é viabilizada, a fim de que os objetivos traçados sejam

atingidos. Esta dissertação possui o objetivo geral de analisar a gestão de transportes da Grande

Natal/RN a partir das dimensões de mobilidade, tomando como referência a Política Nacional

de Mobilidade Urbana (PNMU).

A abordagem da pesquisa é suportada pela lógica qualitativa, pois busca entender o

problema social, como o de mobilidade urbana, por meio de uma descrição complexa, segundo

os pontos de vistas estabelecidos no modelo do Pentágono (LASCOUMES; LE GALÈS, 2012).

Nessa perspectiva, considerando as políticas municipais, este estudo tomará como instrumento

de análise o modelo do Pentágono das Políticas Públicas elaborado por Lascoumes e Le Galès

(2012), para verificar as dimensões de mobilidade inseridas nos conceitos de Políticas Públicas

focadas nos atores, nas representações, nas instituições, nos processos e nos resultados.

Para efeito de coleta de dados, foram adotados como instrumentos a pesquisa

bibliográfica e a pesquisa documental em órgãos públicos municipais que compõem a Grande

Natal/RN, como a Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (SEMOB), a Secretaria

Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (SEMURB), o Sindicato das Empresas de

Transportes Urbanos de Passageiros do Município do Natal (SETURN) e em sites de

instituições estaduais e federais, como: Departamento de Trânsito do Rio Grande do Norte

(DETRAN/RN), Departamento de Estradas e Rodagem do Rio Grande do Norte (DER/RN)

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Agência Nacional de Petróleo (ANP),

visando construir a base de informações a ser aplicadas em estudos que tenham o intuito de

analisar índices de mobilidade.

A pesquisa bibliográfica, segundo Almeida e Silvino (2010), é o exame de materiais,

de natureza diversa, que ainda não receberam um tratamento analítico, ou que podem ser

reexaminados, criando novas ou interpretações complementares, bem como atividade de

localização de fontes para coletar dados gerais ou específicos a respeito de determinado tema.

Para Fonseca (2002, p. 32):

A pesquisa bibliográfica é feita a partir do levantamento de referências teóricas já

analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos

científicos, páginas de web sites. Qualquer trabalho científico inicia-se com uma

pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer o que já se estudou sobre

o assunto. Existem, porém, pesquisas científicas que se baseiam unicamente na

60

pesquisa bibliográfica, procurando referências teóricas publicadas com o objetivo de

recolher informações ou conhecimentos prévios sobre o problema a respeito do qual

se procura a resposta.

Segundo o mesmo autor, a pesquisa documental segue no mesmo percurso da pesquisa

bibliográfica.

A pesquisa documental trilha os mesmos caminhos da pesquisa bibliográfica, não

sendo fácil por vezes distingui-las. A pesquisa bibliográfica utiliza fontes constituídas

por material já elaborado, constituído basicamente por livros e artigos científicos

localizados em bibliotecas. A pesquisa documental recorre a fontes mais

diversificadas e dispersas, sem tratamento analítico, tais como: tabelas estatísticas,

jornais, revistas, relatórios, documentos oficiais, cartas, filmes, fotografias, pinturas,

tapeçarias, relatórios de empresas, vídeos de programas de televisão, etc. (FONSECA,

2002, p. 32).

Nesse sentido, como objeto de análise da pesquisa documental, foram revisados os

relatórios de atas ou outros documentos de políticas municipais adotadas que tratam da

mobilidade urbana em Natal e na Região Metropolitana, no sentido de apurar os conteúdos

abordados e discutidos nesses documentos. Para Vieira (2002) e Malhotra (2001), a pesquisa

descritiva objetiva conhecer e interpretar a realidade, por meio de observação, descrição,

classificação e interpretação de fenômenos, sem nela interferir para modificá-la.

Diante disso, o estudo apresentou um caráter descritivo, pois tem o intuito de

compreender a gestão de transportes da Grande Natal/RN a partir das dimensões de mobilidade,

tomando como referência a Política Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU). Com isso, foi

possível iniciar a análise da PNMU e sua aplicabilidade para a unificação de conceitos e a

modernização do sistema de transportes da Grande Natal-RN. Este estudo foi constituído em

áreas fundamentais, sendo inicialmente sobre os conceitos de Políticas Públicas, introduzindo,

então, o conceito de formação da Grande Natal-RN e, conclui-se com o estudo efetivo da

mobilidade urbana com suas dimensões estabelecidas a partir da PNMU (BRASIL, 2012).

O conhecimento do conceito das Políticas Públicas possibilitou como finalidade

discutir no campo teórico as tendências de conceituação desse sintetizadas, no Brasil. Portanto,

buscou-se a literatura para levantar as características das Políticas Públicas, identificando

modelos existentes, exigências aos gestores e servidores públicos, que influenciam para a

mobilidade urbana. Finaliza-se essa etapa com o entendimento da Grande Natal e os conceitos

de mobilidade, com a finalidade de conhecer conceitos e definições dos pensadores, descrever

as principais ferramentas que podem trazer benefícios para o processo e entender as

especificidades para a Grande Natal.

61

Nesse sentido, Araújo, Gomes e Lopes (2012) ressaltam como correto verificar que

tipos de metodologias com traços qualitativos são técnicas de investigação, em que se destacam

a análise de documentos, a observação direta, a pesquisa participante, os formulários, as

entrevistas em profundidade e, mais recentemente, os grupos de discussão. Assim, essa

estrutura demanda mais conhecimento, tempo e habilidades relacionadas ao desenvolvimento

das análises qualitativas para a análise da mobilidade urbana na Grande Natal-RN, com ênfase

nas dimensões estabelecidas pela PNMU.

Para tanto, foi elaborado formulário de entrevistas semiestruturado (Apêndice A)

aplicado junto aos gestores, parte integrante do universo da pesquisa, ou seja, dos gestores de

mobilidade dos municípios Região Metropolitana de Natal-RN. Segundo Malhotra (2001), as

entrevistas em profundidade podem ser de grande validade quando os problemas de pesquisa

exigem discussão de tópicos confidenciais, compreensão detalhada de um determinado assunto

ou comportamento complicado, entrevistas com profissionais ou pessoas diretamente ligadas

ao problema proposto. O roteiro de entrevista tem as seguintes categorias analíticas: os atores,

as representações, as instituições, os processos e os resultados (LASCOUMES; LE GALÈS,

2012).

O formulário foi elaborado com o intuito de analisar a gestão de transportes da Grande

Natal/RN a partir das dimensões de mobilidade, tomando como referência a Política Nacional

de Mobilidade Urbana (PNMU) no que tange às políticas municipais, ou estaduais, ou mesmo

à aplicação da Política Nacional de Mobilidade Urbana (ARANTES; ABRUCIO; TEIXEIRA,

2005). Para Marconi e Lakatos (1996) e Levin (1985), a população pesquisada, ou o universo

da pesquisa, é definido como o conjunto de indivíduos que partilham de, pelo menos, uma

característica em comum.

Nesse sentido, as entrevistas foram realizadas com gestores públicos e diretores

responsáveis pelas secretarias de transportes, ou trânsito urbano, ou mobilidade urbana e

departamentos de trânsito em municípios da Grande Natal/RN, nesta pesquisa, caracterizados

por códigos representados pelas letras “SC” para secretários e “DT” para o diretor, conforme

retrata o Quadro 1, de instituições onde serão aplicados e os cargos mínimos necessários para

uma entrevista esclarecedora sobre os acontecimentos locais.

62

Quadro 1 – Representativo das instituições e atores1

Instituições Atores Códigos

Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana de Natal-RN

(SEMOB)

Secretário IND5

Secretaria Municipal do Infraestrutura, Urbanismo e

Obras de Ceará-Mirim – RN (SEMIU)

Secretário IND3

Secretaria Municipal de Trânsito e Transporte de Macaíba

– RN

Secretário IND4

Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana de

Parnamirim – RN (STTU)

Secretário IND1

Secretaria Municipal de Serviços Urbanos de São

Gonçalo do Amarante – RN (SEMSUR)

Secretário IND2

Departamento de Trânsito do Estado do Rio Grande do

Norte (DETRAN/RN)

Diretor DT

Departamento de Estradas e Rodagem do Estado do Rio

Grande do Norte (DER/RN)

Diretor DT

Fonte: Elaborado pelo autor (2017).

Todavia, antes de realizar as entrevistas, foi realizado um pré-teste do roteiro de

entrevistas com um dos gestores, para aferir necessidades de clareza ou reformulação de

algumas perguntas, para que não ocorra indução de respostas ou falta de entendimento que

prejudique a análise dos dados coletados. Em tempo, esse gestor não foi considerado na

composição das análises dos dados. Assim, a amostra foi constituída por seis entrevistados. De

qualquer forma, todas as perguntas esperam representar os objetivos específicos enumerados

como pode ser visualizado no Quadro 2.

Quadro 2 – Perguntas por objetivos

Objetivo Específico Perguntas

relacionadas

Identificar o papel dos atores envolvidos na dinâmica das ações de

implementação da PNMU com foco nas variáveis do modelo do

Pentágono das Políticas Públicas.

01, 05, 06, 07 e 10

Examinar o modo como as instituições e representações influenciam

nos processos e resultados da PNMU.

01, 02, 05, 06, 07, 08

e 10

Analisar a PNMU e sua aplicabilidade para unificação de conceitos e

modernização do sistema de transportes da Grande Natal, destacando

os avanços e desafios da Política Nacional.

01, 02, 03, 04, 06,

09, 10, 11 e 12

Fonte: Elaborado pelo autor (2017).

Para o fechamento dos objetivos específicos, ainda foi necessário identificar avanços

e desafios da Política Nacional que influenciam a mobilidade urbana no contexto local a partir

1 Os entrevistados afirmaram não sentir-se à vontade para destacar o seu perfil de maneira mais detalhada, como:

grau de instrução, tempo de atuação na área de mobilidade, tempo de atuação nesta secretaria, entre outros.

63

dos processos e resultados alcançados. Isso somente foi realizado após o tratamento dos dados

coletados.

Para o efetivo tratamento dos dados, foi utilizada a análise de conteúdo que, por mais

que muitos autores a abordem, toma-se como base a conceituação de Bardin (2011) e as etapas

da técnica explicitadas por este autor. Assim, cada uma das pesquisas terá avaliação

organizada em três fases: 1) pré-análise, 2) exploração do material e 3) tratamento dos

resultados, inferência e interpretação.

Finalmente, os processos foram analisados e, com isso, possibilitou o surgimento de

uma proposta para a gestão de mobilidade urbana da Grande Natal/RN a partir das dimensões

do Pentágono, tomando como referência a Política Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU),

para a melhoria de desempenho de forma padronizada nos municípios que compõem a Grande

Natal/RN.

O conteúdo textual oriundo das entrevistas foi submetido à análise textual

lexicográfica, com auxílio do software Interface de R pour Analyses Multidimensionnelles de

Textes et de Questionneires (Iramuteq), software livre desenvolvido em correspondência com

o Open source e licenciado por GNU GPL (v2). O Iramuteq permite fazer análises estatísticas

em corpus textuais e tabelas indivíduos/palavras categorizando dados de textos a partir da

avaliação da semelhança de vocabulários, de modo a subsidiar a compreensão do ambiente de

sentido das palavras e, portanto, indicar elementos das representações referentes ao objeto

estudado. O Iramuteq ancora-se no software R: <www.r-project.org> e na linguagem pytho:

<www.python.org> (CAMARGO; JUSTO, 2013).

Foram utilizadas como base à narrativa dos resultados a seguir apresentada a

Classificação Hierárquica Descendente (CHD) e a análise de similitudes. Cada texto (n=05) foi

classificado por variáveis de interesse do estudo em estrutura similar, com base nas questões

previamente elaboradas. Foi estabelecido, como critério de elegibilidade dos elementos em suas

respectivas classes, frequência maior que o dobro da média de ocorrências no corpus (n=8) e

associação com a classe orientada pelo valor de qui-quadrado igual ou superior a 3,90, mediante

cálculo de grau de liberdade 1 e significância de 95%.

A análise do corpus procedente da transcrição das seis entrevistas semiestruturadas

denotou 4.879 ocorrências de palavras, apresentadas em 1224 formas distintas, com a

frequência média de 4 palavras para cada forma. Foi então empregado o critério de ponto de

corte para a inclusão dos elementos no dendograma, o dobro da frequência média, neste caso,

com n=8. O Iramuteq tratou o total do conteúdo das cinco entrevistas como corpus. O corpus

representa, então, o conjunto de textos analisados. Para efetivar a análise lexical de textos com

64

respostas curtas, a exemplo do caso em pauta, o software realiza cortes a cada 40 caracteres,

correspondendo, posteriormente, aos segmentos de texto analisados (CAMARGO; JUSTO,

2013).

É relevante destacar que as entrevistas foram estruturadas com questionamentos

abertos, totalizando 16 perguntas, (Apêndice A), das quais poderiam ser inseridos novos

questionamentos como encadeamento da entrevista. Não foi necessário manter a sequência de

perguntas, visto que, conforme a necessidade, outras perguntas foram respondidas. O tempo

total de cada entrevista foi entre 40 e 60 minutos.

As classes são geradas pelo software a partir da análise de semelhanças entre os

vocábulos e de análise multivariada com as variáveis de interesse. A definição de cada classe

gerada requer reflexão teórica acerca dos conteúdos contidos no corpus e ocorre por julgamento

do pesquisador (acúmulo teórico do pesquisador), sendo necessária a recuperação de textos em

que os vocábulos típicos são utilizados pelos sujeitos da pesquisa. Desse modo, o processo de

interpretação, análise e sistematização dos dados deve ter base em literatura pertinente a cada

caso.

65

4 ANÁLISES E DISCUSSÃO DO RESULTADO

A pesquisa analisou a mobilidade urbana a partir das dimensões do modelo Pentágono,

o que divide a apresentação da análise nos subtítulos: papel dos atores, instituições e

representação, processos e resultados. A partir desses tópicos, é possível verificar a

aplicabilidade e a modernização necessária para realizar avanços e enfrentar desafios na Política

Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU) aplicada aos municípios da Grande Natal-RN.

A presença de atributos qualitativos suscitados no dendograma mencionados neste

estudo destacam termos como: organizar, relação, plano diretor, população, trânsito e

metropolitano (Figura 5) estão relacionados com as categorias analíticas do Pentágono,

presentes nos três primeiros tópicos a seguir. Esses dados foram reforçados por meio da

Classificação Hierárquica Descendente (CHD) quando processadas as entrevistas no Iramuteq.

O software gerou e analisou 137 segmentos de texto, retendo 86,86% do total de informações

para elucidação em classes, o que valida o resultado desta pesquisa, conforme o mínimo exigido

pelo programa para validação que é de 75% (CAMARGO; JUSTO, 2013). Assim, constata-se

a validação dos dados a ser expostos, uma vez que os argumentos apresentados são consistentes

e pertinentes para a exposição.

O dendograma da Figura 5 compreende as três classes originadas das partições dos

conteúdos das entrevistas, ressaltando que as classes foram delimitadas por escolha do próprio

autor, não havendo um critério específico em sua elaboração. Além disso, aborda os vocábulos

que sustentam e caracterizam essas classes.

66

Figura 5 – Dendograma CHD categorização de vocábulos por classe

Legenda: classe 1 classe 2 classe 3

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

O Quadro 3, a seguir, aborda as classes geradas na análise CHD tomando como base

a Figura 5. As classes identificadas nas análises, auxiliadas pelo software Iramuteq, evidenciam

preliminarmente três classes, sendo que duas delas atingem o modelo de Lascoumes e Le Galès

(2007): a primeira, que a priori aborda vocábulos que transmitem a ideia de participação,

interação da população na construção dos Planos Municipais de Mobilidade Urbana (papel dos

atores, instituições e representações do modelo); a segunda, que trata da implementação dos

planos, bem como do funcionamento (processos e resultados do modelo). Por fim, a terceira

classe remete a desafios, avanços e sugestões a respeito dos planos municipais de mobilidade

urbana.

67

Quadro 3 – Categorização das classes por enunciados

Classes Categorias Enunciados

Classe 1

Participação da

população na

construção do

PMMU.

“Tivemos várias oficinas agora em bairros diferentes e teremos

no dia 01 uma audiência pública para discutir com a população as

possíveis conclusões do plano de mobilidade e foi criado o

conselho municipal de trânsito e transporte.” (Ind1)

“Foi criado um fórum metropolitano e esse fórum está trazendo

muitas sugestões para que essa região possa interagir de uma

única forma pensando no bem-estar da população bem como no

sistema viário dos municípios metropolitanos.” (Ind2)

Classe 2

Processo de

Construção e

implementação

da PMMU.

“Mas na última conversa, eu acredito que Natal vai passar agora

por uma atualização de mobilidade, Parnamirim está terminando

de construir, São Gonçalo eu não tenho uma ideia, mas acredito

que já esteja em curso e em Extremoz existe a lei, mas não existe

o plano de mobilidade.” (Ind3)

“No geral, nós vemos os municípios tentando trabalhar seus

planos de mobilidade, Natal está concluindo seu plano de

mobilidade, Macaíba já fez o plano, São Gonçalo acredito que

está em conclusão, Parnamirim está fazendo.” (Ind4)

Classe 3

Desafios e

gargalos

enfrentados.

“Nós temos uma completa desorganização, há um ano nós

estamos aqui tentando organizar principalmente Ceará Mirim que

é intercortada por duas rodovias estaduais importantes” (Ind3)

“Em Macaíba, os maiores problemas de mobilidade são com

relação à fluidez de tráfego aqui na cidade, porque a cidade foi

crescendo como o resto do Brasil, de maneira desordenada”

(Ind4) Fonte: elaborado pelo autor (2018).

Os tópicos a seguir estão relacionados com as categorias analíticas do Pentágono e

são analisados a partir do dendograma (Figura 5) e da categorização (Quadro 3) já

apresentados. Cada classe representa praticamente um terço dos vocábulos do corpus dos

textos analisados no Iramuteq, razão pela qual foram divididos em três classes, que trouxeram

a essa divisão de tópicos.

Esse procedimento facilitará a interpretação das respostas para a identificação do

papel dos atores envolvidos na dinâmica das ações de implementação da PNMU e o exame do

modo como instituições, representações, processos e resultados aparecem nessa política por

meio dessas variáveis do modelo do Pentágono das Políticas Públicas.

68

4.1 PAPEL DOS ATORES, INSTITUIÇÕES E REPRESENTAÇÕES

A classe 1, categorizada como: participação da população na construção do PMMU,

conforme consta do Quadro 3, é a que compreende essa faixa dos elementos: atores,

instituições e representações do modelo Pentágono apresentado por Lascoumes e Le Galès

(2007). Nela, os vocábulos população, organizar, participar, planos e comunidades se

destacam nos enunciados fornecidos pelos informantes. Para análise do papel dos atores, das

instituições e das representações, foi unificada, neste tópico, a resolução dos objetivos

específicos: identificar o papel dos atores envolvidos na dinâmica das ações de implementação

da PNMU com foco nas variáveis do modelo do Pentágono das Políticas Públicas e examinar

o modo como as instituições e as representações influenciam nos resultados da PNMU.

Ficou evidenciado, por meio das respostas, um destaque à necessidade de se

organizar para melhoria da PNMU, visto que esse é um dos três vocábulos mais

representativos. A responsabilidade de organizar fica a cargo das instituições, que podem

aplicar valores e definir o papel dos atores, como advoga Teixeira (2017) sobre as

dificuldades de executar uma política pública com diversos atores individuais e coletivos.

Na análise documental, evidenciou-se esse fato em algumas atas de reunião, pois um

dos entrevistados assim destacou: “precisamos nos adequar à lei e definir estratégias para

implementação do Plano de Mobilidade do município” (Ind4). Um informante, em outra ata

de reunião, trouxe a seguinte exposição: “devemos criar uma comissão para acompanhar as

necessidades do Plano e logo implantar” (DT). Percebe-se, a partir dessas falas das atas de

reunião, a necessidade de organizar o Plano o mais breve possível, seja criando comissões,

seja mesmo definindo estratégias para o seu exercício.

Quanto às comunidades, outro dos vocábulos mais presente, essa parcela social é

fundamental para que uma política de mobilidade avance. Nesse sentido, os atores da

sociedade civil devem sempre estar presentes nas discussões que trazem a participação,

terceiro vocábulo mais apresentado nas verbalizações na classe 1. Essa participação se

apresenta, então, como requisito importante para discussão, avanços e superação de barreiras,

visto que, segundo Peixoto (2015), normatizam rotinas ou, de acordo com Teixeira (2017),

contribuem para o entendimento da política.

Dessa discussão se pode abstrair um esquema das relações entre os atores

envolvidos, visto que o poder público deve monitorar as atividades e garantir o

desenvolvimento de medidas, enquanto que o operador, composto pelas empresas vencedoras

69

de processos de licitação, deve garantir qualidade, conforto, segurança entre outros fatores

relevantes ao usuário final, que fiscaliza o cumprimento de prazos, qualidade, manutenção

do sistema, funcionalidade, entre outros (PEDROSO; NETO, 2015; PEIXOTO, 2015).

Portanto, essas preocupações são observadas nas falas dos informantes, tais como:

frota de ônibus antiga, Plano Municipal de Mobilidade Urbana antigo e defasado, um fato que

pode ser explicado pela expansão dos municípios, em virtude de avanço de outras Políticas

Públicas, como, por exemplo, os programas sociais desenvolvidos pelo Governo, que fez com

que essas cidades crescessem de forma rápida. Nesse sentido, Gomes e Silva (2017) ressaltam

que deve haver diálogos com atenção ao foco principal dessas Políticas Públicas: elas precisam

estar relacionadas ao bem-estar social e à qualidade de vida nas cidades, como o caso da

mobilidade urbana.

Hoje nosso transporte existe uma lei que obriga a cada cinco anos você trocar esses

veículos e a nossa frota tem uma vida de quinze anos, então nós precisamos

implementar isso o mais rápido possível. (Ind1)

No momento, nós precisamos de uma nova reestruturação desse plano, como falei

anteriormente, porque o plano que foi realizado há sete anos atrás e São Gonçalo do

Amarante cresceu muito. (Ind2)

Sabemos das necessidades de melhoria do transporte, a malha viária ainda não se

apresenta com a qualidade almejada pelos usuários, mas continuamos nos esforços

para atender a população da melhor maneira possível. (Ind4)

Considero importante o Plano de Mobilidade para a cidade, visto que tem crescido a

cada ano a frota de carros e motos, como também o transporte público, necessitando

que a cidade se adeque a condições mínimas pelo menos para a próxima década.

(Ind5)

A lei é clara e é o nosso dever cumpri-la, é preciso fazer as adaptações necessárias

para atender os requisitos mínimos o mais rápido possível. (DT)

Diante do exposto, constata-se o quão importante é se adequar o mais rápido possível

às condições mínimas de exigência da lei, para que a sociedade tenha um serviço de qualidade.

Percebe-se, na fala dos entrevistados, que eles têm conhecimento de tal fato, do que a lei exige

e das condições apresentadas por eles. Portanto, falta vontade de implementar as ações e fazer

o que a lei exige.

Assim, desse diálogo emerge um conhecimento construído que dá sentido às ações: a

necessidade de renovação de frota ou mesmo do plano de mobilidade, no sentido de não ficarem

defasados na interpretação dos indivíduos antes de reagirem em busca da evolução da PNMU

(SCOTT; CHRISTENSEN, 1995).

Nesse sentido é que surgem as peculiaridades da demanda do transporte, ofertas de

70

serviço distintas, adotando ou não arranjos institucionais. Porém, o que está em jogo entre os

municípios é a qualidade de vida, as horas no trânsito, os abusos ao meio ambiente e a

viabilidade de milhares de oportunidades de emprego, aspectos que atuam diretamente na

participação dos atores. Sem um bom serviço de transporte coletivo intermunicipal é muito

mais difícil combater a desigualdade social entre a população. Os custos dos transportes que

não se integram entre si também impossibilitam o transporte de grande parte das pessoas, ou

seja, como explicado por Commaille (2004), a ação pública envolve uma relativização do

papel do Estado e mais atenção aos atores locais.

Segundo Vasconcellos (1995), as condições médias de transportes para a maioria das

pessoas continuam muito desfavoráveis, principalmente no que tange à mobilidade, à segurança

e ao conforto. Os investimentos na modernização do sistema de transportes podem tornar esse

cenário mais favorável à melhoria do serviço prestado à população. Essas tensões, por vezes,

desestabilizam e comprometem os resultados da política, tendo em vista que as relações de

poder e de interesse estão implícitas nas relações estabelecidas (TEIXEIRA, 2017).

Dessa forma, a identificação do papel, em todas as análises, deve ser sempre discutida

à luz do impacto, uma vez que atores, instituições e suas representações relacionam o fracasso

das Políticas Públicas, especialmente, em sua implementação, a fragilidades ou à inefetividade,

ineficiência e ineficácia (PEIXOTO, 2015).

Porém, isso somente pôde ser verificado por meio de análise documental das

secretarias de mobilidade envolvidas no estudo, quando se percebeu a não utilização de PNMU

nas cidades, exceto em Natal-RN. Em uma das atas de reunião, constatou-se: “não conseguimos

avançar com o Plano Municipal de Mobilidade, fato que não temos equipe preparada,

necessitando de capacitação ou mesmo de conhecer outros Planos para servir de exemplo”

(Ind5). Outro documento mostra: “precisamos pesquisar outros Planos e ter contato com outras

secretarias, visando contribuir com o nosso Plano Municipal” (Ind2). Diante do exposto,

verifica-se que não há qualquer documento relacionado ao Plano, que as secretarias estão na

fase inicial da elaboração, ainda fazendo pesquisas e consultando instituições que já têm Plano

Municipal.

Em relação ao plano de mobilidade de Natal-RN, segundo Teixeira (2002) explica,

este consiste em uma política pública de diretrizes norteadoras da ação do poder público. Se

analisada na ótica de atores, representações e instituição, o plano deveria ter como objetivo

desenvolver propostas de políticas e ações para o sistema viário e o sistema de transporte em

suas diversas modalidades, entretanto, sem prever a realização dos deslocamentos de pessoas e

bens de forma intermunicipal. Pressupostos de nova rede de linhas, nesse sentido, deveriam ser

71

discutidos em âmbito metropolitano e não municipal, tais como: função dos deslocamentos

desejados pela população usuária atual e potencial; pesquisas de origem e destino; real

articulação com os polos de desenvolvimento na região; maximização da conectividade direta

entre os polos; destinos curtos a ser estimulados e facilitados, não se utilizando dos pontos mais

centrais, para que entre na discussão dos custos do sistema e não congestione a infraestrutura

de transportes do Centro.

Esse Plano Municipal de Mobilidade, que fora discutido antes da Copa do Mundo,

mesmo que apenas para Natal, prevê um aumento de 68% de viagens em veículo coletivo ou

individual em 20 anos, sendo que, já para 2017, contavam na simulação das vias demasiados

espaços saturados ou supersaturados, mesmo que apenas para Natal, conforme demonstrado na

Figura 6. Para Brancaleon et al. (2015), isso é um exemplo da necessidade de discutir a

motivação para o estabelecimento de ações para resolução de um problema e diferenciar o

status quo e uma situação ideal possível à realidade coletiva.

A Figura 6, a seguir, demonstra que mesmo com um estudo “antecipado” para a

mobilidade nas vias de Natal, antes de ser aprovado, esse plano já se encontrava defasado, visto

que apresentava problemas relativos às vias; indicando, com isso, que não ouviu as reais

necessidades da população, nem as integrou com a realidade em que se encontravam as vias da

cidade.

De acordo com o exemplo e as análises anteriores, pode-se observar a complexidade

que envolve o planejamento, a operação e a gestão de um plano de mobilidade e a necessidade

de mitigação dos problemas de transportes nas regiões metropolitanas. Nessa perspectiva, no

Brasil, os gestores devem ter como meta implementar formas de gestão integrada. Isso foi

observado na análise de documentos, seja nas atas de reunião, como também, na exposição em

audiência pública, visto que atender a todas as demandas é fundamental, mas exige dos gestores

diretrizes e estratégias, as quais chegam a ser inviáveis.

Por isso aumenta e muito a responsabilidade dos atores, das instituições e das

representações, quando alinhada ao modelo Pentágono de Lascoumes e Le Galès (2007), visto

que as ações implicam uma série de desafios institucionais e operacionais, na maioria das vezes,

decorrentes das especificidades legais e institucionais existentes. Essas responsabilidades, no

caso da Grande Natal-RN, precisam ser mais discutidas, ou mesmo intermediadas com foco

nos elementos apresentados, para uma integração de sistemas de transporte público,

principalmente no que tange ao planejamento compartilhado do serviço.

Enfim, as instituições e as representações devem influenciar nos resultados da PNMU

abrindo mão da característica marcante do serviço de transporte público. Contudo, é perceptível

72

a falta de atuação do Governo do Estado do Rio Grande do Norte para evitar os traços de

monopólio natural, ou seja, tarifar o preço do serviço de transporte público inversamente

proporcional ao número de usuários, resultando em uma escala de atendimento de serviço,

independentemente do volume de passageiros transportados.

Figura 6- Simulação das vias de Natal para 2017

Fonte: Plano de Mobilidade de Natal (2010).

73

De acordo com Easton (1970), torna-se imprescindível realizar as Políticas Públicas

resultantes do processamento das demandas oriundas dos inputs originários do meio ambiente,

como se fosse uma reivindicação por participação no sistema político. Tais demandas, segundo

Rua e Aguiar (1995), auxiliam, ainda, no controle da corrupção, de preservação ambiental, de

informação política, de estabelecimento de normas para o comportamento dos agentes públicos

e privados e outros. Assim, ora analisado atores, instituições e representações a partir dos

elementos abordados acima, serão introduzidas na discussão as categorias analíticas do Modelo

de Pentágono das Políticas Públicas: os processos e resultados, descritas no tópico a seguir.

4.2 PROCESSOS E RESULTADOS

Este tópico busca atender o objetivo de examinar o modo como os processos

influenciam nos resultados da PNMU. Nessa perspectiva, o desenvolvimento do campo das

Políticas Públicas permitiu que as abordagens técnico-burocráticas e estatistas evoluíssem para

entendimentos, em que pese as Políticas Públicas como um objeto de uma complexidade, além

do que se pensava. A esse respeito, Lascoumes e Le Galès (2012) ressaltam que os propósitos

dos governos estão sempre entremeados na complexidade da ação pública, devendo ser

amplamente debatidos, considerando a multiplicidade de atores envolvidos e a diversidade

atribuída à instrumentação.

Busca-se, ainda, introduzir elementos que vão além do Estado, assim ancorando

relevância a outros atores (PEIXOTO, 2015). O Pentágono das Políticas Públicas imbrica tal

entendimento supracitado, uma vez que consiste em um modelo que aborda elementos até então

invisíveis na análise das Políticas Públicas, a saber: atores, representações, instituições,

processos e resultados (LASCOUMES; LE GALÈS, 2007).

No que diz respeito à classe 2, analisada neste estudo, esta compreende elementos,

processos e resultados. Nesse sentido, as respostas dos entrevistados apontam para a falta de

entendimento de resultados, devido a serem novos gestores em primeiro ano de governo e,

também, pela formação de equipes despreparadas e pouco qualificadas para a execução dos

processos. Isso pode ser evidenciado pelo fato de apenas um dos municípios envolvidos na

pesquisa, Natal, possuir plano de mobilidade ou de avaliação de resultados.

Por conseguinte, os vocábulos que se aproximam mais de processos incluem: reunião,

plano de mobilidade, ação e sistema, tendo mais evidência nos enunciados ditos pelos

74

informantes. As palavras reunião, ação e plano de mobilidade estão praticamente em todas as

sentenças elucidadas em todo o corpus. Nessa classe, há preocupação dos informantes em

priorizar a construção do Plano Municipal de Mobilidade Urbana, em virtude de o Plano

Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU) determinar prazos. Para tanto, destacam as várias

reuniões internas (nas secretarias municipais) e as reuniões abertas para que o debate seja amplo

e com participação da sociedade civil.

Portanto, nos documentos analisados, pode-se destacar o Plano Municipal de Natal, o

qual serve como exemplo para os demais municípios, visto nas atas de reunião. Isso é

evidenciado na fala de alguns dos secretários. Além disso, percebe-se a falta de incentivos por

parte do Governo e, ainda, a falta de uma equipe mais capacitada, uma vez que “precisamos de

agilidade nos conhecimentos referentes à criação do Plano de Mobilidade” (Ind3); “esse é visto

como um momento histórico, no qual construiremos junto com a sociedade uma cidade melhor

no que diz respeito à mobilidade urbana” (Ind5).

Essa primeira análise, comparada aos dados extraídos do Plano Municipal de Natal-

RN, apresenta uma falta de concorrência acirrada entre os modos de transporte coletivo e

individual, como ocorre em outras regiões metropolitanas de cidades brasileiras, o que vem

majorando desde a última década devido ao crescimento da frota sem a correspondente

ampliação da infraestrutura viária. Esse crescimento desafia a eficiência operacional gerando

ciclo de processos de difícil solução, com diminuição das condições de tráfego e qualidade do

sistema enquanto se aumentam tarifas e uso de veículos particulares.

Assim, a demanda por transporte urbano, em um determinado município pertencente

a um aglomerado urbano pode ser afetada de maneira significativa por mudanças na dinâmica

urbana de municípios vizinhos, o que não é analisado hoje em dia sem a prática de mudanças

na legislação de zoneamento de um município por meio da influência na Grande Natal-RN e

vice-versa. Sob essa ótica, Azevedo (2003) define Políticas Públicas como tudo o que um

governo faz e deixa de fazer, com todos os impactos de suas ações e omissões; tendo em vista

ações já previstas e deixadas por fazer devido à falta de equipe, por exemplo.

Isso dificulta a garantia de demanda a partir da adoção de medidas de expansão da

rede, especialmente se verificadas as falhas do processo de reconhecer o caráter metropolitano

dos processos e seus reflexos nos resultados e nas políticas. Nesse sentido, Lascoumes e Le

Galès (2007) sugerem que os instrumentos de ação pública, como dispositivos técnico-sociais,

orientam as relações entre a administração estatal e a sociedade civil.

Essas relações são aquilo que tem caracterizado as Políticas Públicas na

contemporaneidade de maneira que, conforme Farah (2011), o público é ampliado para além

75

das fronteiras do Estado, incluindo as organizações da sociedade civil no seu processo de

formulação, implementação e controle. Embora esses debates, por vezes, sejam inviáveis, pelo

fato de existir a necessidade de envolvimento de outros órgãos, como, por exemplo, o Governo

do Estado, pois cidades da Região Metropolitana são cortadas por rodovias estaduais, alguns

gestores de municípios vizinhos afirmam que não conseguem avançar na PMMU, tendo em

vista que a atuação nas rodovias estaduais é de responsabilidade do Governo Estado. Além

disso, também é ressaltada a ausência do Governo Estadual na discussão acerca de um Plano

Metropolitano de Mobilidade Urbana que, para os informantes, seria imprescindível.

Nos relatos a seguir, constata-se a ausência do Governo Estadual, que tem deixado as

cidades da Região Metropolitana à margem das discussões.

Nós estamos na expectativa da conclusão do plano de mobilidade para que a gente dê

um avanço ou reinicie a licitação dos transportes. Uma das primeiras decisões foi

colocar o plano de mobilidade para andar mesmo ele tendo até 2020 porque a lei

permita ele esse espaço. (Ind1)

O plano de mobilidade aqui de Macaíba foi o primeiro plano aprovado na região

metropolitana, nós conseguimos cumprir o prazo dado pela lei de 2012 sem

prorrogação. (Ind4)

Atualmente, estamos acompanhando a elaboração de nosso pró-mobi, o nosso plano

diretor, tendo reuniões internas frequentes. (Ind5)

Reuniões periódicas, o plano de mobilidade urbana vem sendo exaustivamente

discutido, não só com a secretaria mas com todo o staff da prefeitura e principalmente

com a população. (Ind2)

A gente vem discutindo isso amplamente com os segmentos sociais para a elaboração,

já agora com o produto certo, já são dez produtos, então, frequentemente existe essas

reuniões. Inclusive nas reuniões, apesar de sempre serem convidados, não

comparecem, mas a gente percebe que essa ausência dificulta substancialmente o

avanço dos municípios vizinhos a Natal, porque não adianta a gente discutir Natal

sozinho e depois chamar São Gonçalo para discutir se o Governo do Estado está

ausente. (Ind5)

Apesar do trânsito de Ceará Mirim já ser municipalizado, impossibilita uma ação legal

por parte da secretaria de defesa da COMUTRAN do ponto de vista de atuação mesmo

e autuação legal para o disciplinamento e a correção. (Ind3)

Não sou eu que estou dizendo, é a população também que testemunha, nós não

presenciamos nenhuma ação que traga benefício em termo de mobilidade urbana para

a região metropolitana da qual Parnamirim faz parte. (Ind1)

As entrevistas demonstram que os benefícios são evidentes, e que é necessário a

implementação do Plano de Mobilidade para as regiões, visto que são rodovias que integram a

capital, muitas delas zonas de turismo; sendo, portanto, necessária a participação do Governo

Estadual.

76

Nesse contexto, os documentos analisados, como atas de reunião, demonstram que:

“Natal tem crescido muito rápido, a quantidade de veículos é crescente, devemos pensar na

reavaliação do Plano, e elaborar o pró-mobi” (Ind5); “é necessário, com urgência, elaborar o

plano, juntamente com o Governo do Estado, para que a cidade possa atender melhor a

demanda, principalmente, após a criação do aeroporto” (Ind2).

A pesquisa ainda analisou a gestão de transportes da Grande Natal/RN a partir das

dimensões de mobilidade, em que, o exercício interpretativo constou da qualificação da Política

Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU). De modo a compreender o início da trajetória,

avanços e gargalos enfrentados na gestão do transporte na Grande Natal/RN. Os informantes

Ind1e Ind4 relatam a importância do Plano Municipal de Mobilidade Urbana, uma vez que cita

esse instrumento como uma prioridade. Para Ind1: “Uma das primeiras decisões foi colocar o

Plano Municipal de mobilidade urbana pra andar, mesmo ele tendo até 2020 porque a lei

permite a ele esse espaço”.

A partir da fala do Ind 1, pode-se relacionar essa verbalização à variável do modelo de

Pentágono de Políticas Públicas, processos que se referem às tomadas de decisões, tornando

este um tanto complexo quando tratados em nível de Políticas Públicas, pois envolve relação

de poder e legitimação das organizações. No campo das relações institucionais, a autoridade é

a legitimação institucionalizada que subjaz ao poder e se define com institucionalização dos

direitos dos líderes de esperar o apoio dos membros da coletividade (VIEIRA; MISOCZKY,

2003).

Sendo assim, analisando os documentos institucionais da Secretaria, particularmente

o Plano Municipal de Mobilidade da cidade de Natal, constata-se a aplicabilidade do modelo

Pentágono de Políticas Públicas, considerando que envolve nesse processo atores,

representações e instituições, na perspectiva de um desenvolvimento eficaz de mobilidade

urbana. Entretanto, esse plano ainda não foi avaliado para que apresente os resultados conforme

o modelo propõe.

Para Lascoumes e Le Galès (2012 apud MELO, 2016), os estudos sobre

implementação apontam que projetos e programas governamentais são portadores de muitas

ambiguidades, o que dá margem aos jogos de poder organizacionais internos. Desse modo,

objetivos e prioridades dos atores se acumulam de forma desarticulada. De acordo com Ind 4:

“O Plano municipal de mobilidade urbana aqui de Macaíba foi o primeiro plano aprovado na

Região Metropolitana, nós conseguimos cumprir o prazo dado pela lei de 2012 sem

prorrogação”.

77

Por se tratar de uma pesquisa realizada na Grande Natal-RN, na qual as vias que ligam

as cidades, por vezes, consistem em rodovias estaduais, ou seja, tal situação implica, de certo

modo, o envolvimento do Governo do Estado do Rio Grande do Norte nas discussões dos

Planos Municipais de Mobilidade Urbana (PMMU) das cidades da Grande Natal como medida

indispensável. Sob esse viés, Moura (2017) enfatiza a importância do Plano Diretor de

Transporte como ferramenta, pois este indica diretrizes e ações necessárias para melhorar a

mobilidade urbana. Um aspecto que contribui para a melhoria da qualidade da mobilidade

urbana é a oferta de transporte público de qualidade e em quantidade suficiente ao atendimento

das demandas existentes, ou seja, um transporte público eficiente. Para tanto, as ações de

planejamento urbano deverão também considerar as orientações definidas na política de

transporte.

Nesse caso, o município de Macaíba foi pioneiro no desenvolvimento e na implantação

do Plano de Mobilidade, o que o torna modelo para outros municípios do Estado, além de

proporcionar incrementos na área, visto que, quando avaliado, pode adequar-se às novas

necessidades, fazendo projetos e garantindo recursos junto às esferas estadual e federal.

Verificando o documento legal, o Plano de Mobilidade Urbana de Macaíba, também se

constatou a preocupação em utilizar o modelo Pentágono.

De acordo com Osório (2007), a presença e a participação do Estado é considerado de

fundamental importância para fortalecer o direcionamento de modelos de Políticas Públicas

emergentes dentro do dinamismo decorrente da relação Estado e política pública. É pertinente

destacar que o Estado pouco ou quase nada tem feito no sentido de atingir essas Políticas

Públicas. Para Almeida (2010), as Políticas Públicas costumam ser o resultado de intensa

interação entre atores políticos e não a imposição de fórmulas e cálculos para cada problema.

Nessa direção, as respostas dos entrevistados evidenciam somente a preocupação, mas

poucas ações estratégias em relação ao apoio do Governo do Estado na discussão dessa pauta,

como pode ser visto nas falas de Ind3, DT e Ind5, que relatam tal preocupação.

Particularmente eu acho que nós precisamos nos articular melhor, pois não temos

nenhum apoio do Governo do Estado, que é o órgão gestor maior das Políticas

Públicas estaduais. Acima de tudo, que haja envolvimento do Governo do Estado,

visto que todos os acessos, apesar de serem cidades conurbadas, ela é feita através de

rodovias estaduais. (Ind3)

O Governo do Estado deve, por meio de projetos junto ao Governo Federal, por

exemplo, assegurar recursos, com a finalidade de desenvolver Políticas Públicas para

mobilidade. (DT)

É necessário maior empenho por parte do Governo do Estado para que as Políticas

Públicas de mobilidade atinjam as metas primárias de efetivação. (Ind5)

78

Os demais entrevistados não apresentaram a preocupação evidente com a participação

do Governo do Estado. Eles acreditam que as Políticas Públicas desenvolvidas na região têm

grande participação, ou melhor, só se efetivaram devido a ações do Governo.

Com todas as análises do modelo de Pentágono discutidas, conforme Andrade e

Valadão (2017), o objetivo ultrapassa abordagens funcionalistas de instrumentos de Políticas

Públicas que os consideram exclusivamente uma ferramenta técnica na operação de programas

para a resolução de problemas específicos. Assim, a partir dos elementos abordados, pode ser

incorporada à discussão a aplicabilidade e a modernização, por meio de avanços ou desafios a

superar para a melhoria da PNMU, que precisa discutir a funcionalidade e os aspectos

institucionais, sociais e políticos (RANGEL, 2016).

Como no exemplo do Plano de Mobilidade de Natal, alguns investimentos foram

integrados na área de infraestrutura para a região metropolitana de Natal-RN, contratados pela

Secretaria de Estado da Infraestrutura do Rio Grande do Norte em 2009. Entretanto, nem os

objetivos previstos para a Copa do Mundo, realizada em 2014, foram atendidos, apesar de

contar com a melhoria da qualidade dos serviços de transporte público na Grande Natal-RN ou

com a funcionalidade desses serviços, a partir da criação de um novo eixo de transporte urbano,

com corredores viários e de transporte coletivo. Além da implantação de corredores

metropolitanos de transporte, compreendendo o desenvolvimento da infraestrutura para o

transporte coletivo com sua devida priorização, o plano prevê também melhorias na

infraestrutura urbana das cidades envolvidas nesta pesquisa, a fim de atingir aspectos sociais,

institucionais, econômicos e políticos. Sendo assim, percebe-se que a criação do referido Plano,

contempla a promoção de melhoria, com a garantia de recursos na esfera do governo federal;

entretanto, a execução deixa a deseja devido a secretaria não apresentar equipe capacitada.

De fato, seriam processos a ser implantados de forma absoluta, considerando o

pensamento de planejamento integralizado. Porém, a realidade é diferente do pensamento de

Almeida (2010) a respeito das Políticas Públicas serem o resultado de intensa interação entre

atores políticos e não a imposição de fórmulas e cálculos para cada problema.

Dessa forma, os processos influenciam nos resultados da PNMU devido à necessidade

de combater o conflito de competências no exercício da coordenação dos modos de transportes

públicos e privados em toda a Grande Natal-RN; à ausência de integração tarifária, como

verificado na análise do Plano de Mobilidade de Natal; à falta de ação do Governo, que não

define autonomia política e financeira para a Região Metropolitana, sem expressar medidas de

planejamento, o que dificulta a realização de discussão das dimensões de referência da Política

79

Nacional de Mobilidade Urbana, em seus aspectos econômico e cultural, como elemento físico

ou de comunicação (RANGEL, 2016), hoje inexistentes na Grande Natal-RN.

4.3 APLICABILIDADE, AVANÇOS E DESAFIOS

Apesar da complexidade e do dinamismo de uma política pública reconhecer a

multiplicidade de fatores do modelo exposto, a pesquisa passou a analisar a PNMU e sua

aplicabilidade para unificação de conceitos e modernização do sistema de transportes da Grande

Natal e, com isso, a identificar avanços e desafios que influenciam a mobilidade urbana no

contexto local a partir dos processos e resultados alcançados.

Com as análises efetuadas, percebe-se uma necessidade de realização de um

planejamento integrado entre os atores envolvidos em uma política metropolitana, capaz de

identificar os principais gargalos e seus impactos no sistema, para assim formular cursos de

ação, sobretudo a partir de uma visão mais abrangente de todo o sistema, direcionado à solução

dos problemas.

Partindo dessa perspectiva, o Planejamento Integrado poderá auxiliar nas ações e nas

tomadas de decisões que servirão de subsídios para a gestão da Política de mobilidade urbana

nos municípios (MOURA, 2017), interpretadas a partir da Figura 7. O dendograma apresentado

na Figura 7 baseia-se no que preconizam Lascoumes e Le Galès (2007), visto que os

mecanismos de uma política não são exclusivamente técnicos, pois podem assumir vários

significados.

Para fins deste estudo, os elementos do Pentágono das Políticas Públicas

compreendem os atores, como: pessoas responsáveis pela execução e pelo controle das Políticas

Públicas. Desse modo, secretários, conselheiros, representantes da sociedade civil, lideranças

comunitárias devem participar e monitorar o andamento das Políticas Públicas. Já as

representações dizem respeito aos espaços legais em que os atores se apropriam para discussão

e controle das políticas. Nesse sentido, destacamos fóruns, conselhos e secretarias de Políticas

Públicas. Quantos às instituições, estas consistem em órgãos governamentais de apoio e

assessoria, tais como: empresas estatais e departamentos públicos vinculados ao Estado. Por

sua vez, os processos são entendidos como os procedimentos a partir dos quais as Políticas

Públicas são desenvolvidas. Por fim, os resultados consistem no apurado de todo o percurso

necessário para avaliação da política pública.

80

Figura 7 – Dendograma de elementos do Pentágono das Políticas Públicas.

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

81

A presença de elementos do Pentágono das Políticas Públicas é distribuída em duas

das três classes originadas das partições dos conteúdos das entrevistas, uma vez processadas no

Iramuteq como análises CHD, conforme elucida o Quadro 3. Dessa forma, a partir da classe 3

é que se discutiram os desafios e os gargalos enfrentados que interferem nos resultados

decorrentes dos impactos de uma Política Pública que, segundo Teixeira (2017), pode gerar

efeitos ou impactos negativos e, até mesmo perversos, no tocante a seus resultados.

Com isso, pode-se afirmar, de acordo com o que os informantes ressaltam, que a

PMMU só terá uma efetiva construção quando atores e representações estiverem articulados e

dispostos a discutir a problemática da mobilidade urbana e da gestão de transporte, enfatizando,

assim, a importância desse envolvimento, recordando o pensamento de Figueiredo (2012) sobre

os efeitos dos instrumentos da ação pública ou de uma política pública. Portanto, não há ações

integradas, nem de planejamento nem de ação do Governo Estadual nem de definição de

autonomia política e financeira na Região Metropolitana.

Isso demonstra ser necessários exemplos de sucesso quanto à integração física que

apontam para o papel fundamental da governança, evitando-se a prevalência de políticas de

governo prejudiciais aos sistemas de transporte. Ressalta-se também a necessidade de associar

aos sistemas de transporte público de passageiros as atividades econômicas necessárias ao

fomento da demanda. Isso pode ser realizado, por exemplo, com o compartilhamento de

comércio e serviços nas infraestruturas de transporte público, como papel desenvolvido pelo

Ministério das Cidades. Isso deveria auxiliar a funcionalidade, contemplando as redes de

sustentação das cidades, suas funções e atividades, bem como estar baseada nos aspectos

institucionais, sociais e políticos (RANGEL, 2016).

Ainda pôde ser verificado que se observa, na maioria dos casos, a integração de

sistemas de transportes no âmbito físico, que possui soluções tecnológicas disponíveis e a custos

acessíveis no Brasil. Portanto, o problema da falta de integração no tocante a transportes se dá

em razão do pouco ou do inexistente compartilhamento dos processos lógicos de planejamento

e operação nas diferentes organizações envolvidas na gestão de transportes em uma RM. Deve-

se buscar, por conseguinte, a organização das instituições envolvidas no quesito lógico, ou seja,

relativo ao planejamento operacional, ao sistema de informações etc.

Contudo, por estar se tratar de elementos não totalmente autônomos e decisivos, em

que pese as Políticas Públicas de mobilidade urbana, apresentam-se fragilidades na execução

de tais políticas, pois a decisão sempre cabe a gestores acima na hierarquia da Administração

Pública, estes que, por sua vez, pouco ou não participam das discussões a respeito do tema

sobre os problemas socialmente debatidos, como admitido nas respostas aos questionários

82

sobre os desconhecimentos a respeito de resultados das PNMU devido ao pouco tempo de

nomeação, mesmo que em prefeituras em primeiro ano da reeleição, ou mesmo sendo a

primeira vez à frente da pasta sem atuação prévia. Nesse caso, apenas um dos secretários

possuía experiência anterior, ocasionando a multiplicação de atores e espaços e a

diversificação da instrumentação (LASCOUMES; LE GALÈS, 2012b). Isso significa que a

Política Nacional de Mobilidade Urbana, no contexto da Grande Natal, não saiu do lugar, ou

seja, ainda precisa iniciar sua contextualização para a discussão de trabalhos de maneira

regionalizada.

Segundo Andrade (2001), por vezes, torna-se necessário democratizar a própria

sociedade civil, o que supõe o fortalecimento das organizações sociais, a democratização das

informações e a capacitação dos cidadãos e dos próprios atores públicos para a tomada de

decisões, no sentido de tornar a sociedade em geral mais participativa e atuante. Vale destacar

ainda que o autor deixa evidente a importância e o valor do capital social para toda a dinâmica

do processo, como também para a concretização de resultados, que são suportados pelas

seguintes declarações: “Não adianta também a secretaria de mobilidade ficar discutindo sozinha

com alguns segmentos da sociedade civil organizada e ficar de fora, por exemplo, as questões

que as secretarias convivem com as problemáticas do dia a dia da rua dos bairros” (Ind3), ou

“existe uma comissão aonde é discutido inclusive essa semana houve uma discussão com o

pessoal da comissão como também com a sociedade civil organizada” (Ind5), e, ainda, “é

importante uma equipe integrada e qualificada para atender com eficácia a elaboração do Plano,

juntamente com as comissões e conselhos” (Ind1).

Diante do exposto, verifica-se a necessidade emergente de as secretarias terem uma

atuação mais organizada, visto que ficar somente no plano de discussões, reuniões, fóruns e

distribuição de comissões para isto ou para aquilo não apresenta dados que influenciam no

resultado esperado. Isso também é mencionado nas atas de reunião, pois todos os secretários

explicam que é necessário e emergente capacitar e, até contratar, se necessário, equipes para

atender com eficiência a elaboração e a aplicação do plano de mobilidade, uma vez que a lei

exige sua efetividade com a máxima brevidade.

Ao abordar a questão da complexidade na tomada de decisões, percebe-se que esta

está sendo estruturada por níveis. Nesse caso, cada nível de decisão é parte de uma

deliberação consciente (HODGSON, 1994), como elementos oriundos nas frases: “isso tem

a sua importância social para que a comunidade local possa se organizar no ponto de vista da

mobilidade urbana” (Ind3); “não adianta você atender só os bairros se a indústria e o comércio

não estão participando, então eu acho que deveria estar participando mais efetivamente em

83

relação a isso até nas discussões” (Ind5); e, “a participação de todos é fundamental para que

o Plano atinja os objetivos almejados, pois ouvindo todos os envolvidos se chegada a um

denominador comum” (Ind1). Assim, as discussões devem partir para as dimensões sociais,

políticas, econômicas e culturais, no contexto da Grande Natal, considerando que, até o

momento, não se iniciou a discussão regionalizada por falta de ação do Poder Público

Estadual. Nos documentos analisados percebeu-se a necessidade de inserir a participação

social no processo de tomada de decisões, pois as atas de reunião assim demonstram

“devemos pensar em audiências públicas para discutir as questões de mobilidade” (Ind3); “é

importante ouvir a população e os demais agentes públicos” (Ind5).

Nesse processo, para que as estratégias traçadas no Plano de Mobilidade sejam

efetivadas, as tomadas de decisões são imprescindíveis. Os entraves fazem com que as

secretarias não avancem, ficando estagnadas e, por vezes, culpando as demais esferas do

poder público.

Ainda em relação à questão de Scott e Christensen (1995) sobre o estímulo do

ambiente, este deve ser cognitivamente processado pelos atores, uma vez que se mostra

importante para a realização de reunião e do debate público com a presença de todos os

envolvidos, como verificado nas sentenças: “bem, o debate público [deve contar] com diversos

segmentos das comunidades, porque é importante os bairros estarem participando da coleta de

dados, pois é importante a pesquisa com o IBGE e outros segmentos como, por exemplo,

indústria e comércio” (Ind5) ou “esse território, ele é muito espalhado, nós temos quilombola,

nós temos assentamento, nós temos comunidades e a minha principal preocupação, minha

principal sugestão, é que a gente faça inserção das pessoas que residem nessas localidades”

(Ind3) ou ainda “então é necessário que o Estado tenha um envolvimento maior que possa estar

mais presente participando e buscando junto conosco as resolutividade” (Ind3) e mesmo: “mas

com relação a mobilidade nem DETRAN e nem DER participam” (Ind1). É importante destacar

os documentos de audiências públicas realizadas, tanto na cidade de Natal como em Macaíba e

Parnamirim, visando ouvir diversos segmentos do poder público, além da sociedade civil, no

intuito de desenvolver o plano de mobilidade, e/ou atualizar o já existente.

Aqui é importante destacar os documentos de audiências públicas realizadas tanto na

cidade de Natal, como também, em Macaíba e Parnamirim, visando ouvir diversos segmentos

do poder público, além da sociedade civil, no intuito de desenvolver o plano de mobilidade,

e/ou atualizar o já existente.

Diante do exposto, o objeto desta pesquisa destaca a necessidade da reunião de forma

integrada de todos – atores, instituições e representação – para discussão dos processos e a

84

aplicação de conceitos unificados para a Grande Natal-RN, que representam a organização

necessária para explorar o conhecimento dos entraves para dar início à modernização do sistema

de transporte para a Região Metropolitana, buscando a efetiva promoção da melhoria da

qualidade dos serviços de transporte público, com a implantação de corredores metropolitanos

de transporte, compreendendo as melhorias na infraestrutura urbana das cidades afetadas.

Para Chesbrough (2003) e Collm e Schedler (2012), o processo de inovação deve ser

conduzido não apenas internamente mas ainda envolvendo os atores externos e importantes ao

processo. Nessa direção, o processo aberto de inovação pode contribuir para que se expressem

alguns interesses públicos mais amplos e abrangentes, ficando distante das forças locais,

impossibilitando contribuições mais eficazes com vistas à objetividade das ações e à priorização

de demandas urgentes nas tomadas de decisões.

Por sua vez, Siqueira e Lima (2015) ainda chamam a atenção para os entraves que

precisam ser ultrapassados com o envolvimento de toda a sociedade e com a boa vontade

política na implementação de medidas que tragam resultados positivos para os problemas de

mobilidade urbana, não apenas para a população atual mas também para ser reproduzidos pelas

gerações futuras. A área pesquisada, na Região Metropolitana de Natal, está necessitada de

estudos interligados, visto não ter atualmente interferência do Governo Estadual para o início

do processo, considerando que a falta de planos de mobilidade, na maioria das cidades, impõe

um choque aos atores para conseguir avanços e enfrentar desafios, já estudados em prática em

outras regiões metropolitanas pelo Brasil.

Verifica-se que, em geral, os municípios integrantes de uma Região Metropolitana

possuem o desafio de, apesar de compartilharem cotidianamente os fluxos de mercadorias e

pessoas, não atuarem de forma colaborativa e compartilhada no transporte público, pois as

soluções para as questões regulatórias e financeiras, o planejamento e o gerenciamento são

desenvolvidas pelos titulares do serviço, no caso, os municípios. A esses desafios de

competência somam-se aspectos de caráter operacional dos sistemas de transporte que

envolvem, por exemplo, a integração tarifária e a operacionalização no âmbito metropolitano,

a competição entre sistemas metropolitanos e municipais, o equacionamento de distribuição de

receitas, entre outros.

Assim, a classe 3 apresentou desafios e gargalos enfrentados na elaboração da PMMU

e na execução da Política de Mobilidade Urbana. Nesse processo, os informantes apontam as

dificuldades de efetivar o que é preconizado nas diretrizes da PNMU, assim como evidenciam

órgãos públicos, como o Governo Estadual, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER),

o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), sendo esse um dos

85

principais fatores que inviabilizam o processo de implementação dos planos de mobilidade

urbana.

Nos enunciados dos informantes se destaca a falta de acesso ao Governo do Estado e

ao DER nas discussões dos planos e na elaboração de propostas para um plano de mobilidade

urbana da Região Metropolitana, além de ações mal planejadas de órgãos como o DNIT que,

por vezes, não dialogam com a população e com as gestões municipais. Esses vocábulos

apresentam análise do objeto da pesquisa da classe 3, que indica uma tendência representativa,

agregando todas as categorias analíticas do Pentágono, tais como: atores, instituições,

representações, processos e resultados, visto que é necessário compreender como os

instrumentos de políticas podem produzir efeitos independentemente dos objetivos

governamentais perseguidos naquilo que se inscreve na instrumentação da ação pública

(LASCOUMES; LE GALÈS, 2007), como suportado pela pesquisa nas declarações a seguir:

Sem o governo estadual fica difícil, então foi criado um fórum para discutir justamente

essa questão, inclusive a STTU sempre à frente para discutir esses pontos para

amadurecer incentivar e conscientizar o gestor da responsabilidade que ele tem em

detrimento desse plano diretor dessas diretrizes. (Ind5)

Um problema hoje, por exemplo, o DNIT fez uma intervenção, mas em nenhum

momento discutiu com a sociedade e com os órgãos envolvidos as prefeituras

envolvidas o que está acontecendo hoje. (Ind5)

O que vai acontecer é que nós teremos os planos de mobilidades das cidades que

estão fazendo por necessidade e lógico por força da lei. (Ind4)

Mas com relação à mobilidade nem DETRAN e nem DER participam. (Ind1)

Então é necessário que o Estado tenha um envolvimento maior que possa estar mais

presente participando e buscando junto conosco as resolutividades e as melhores

maneiras que possamos encontrar para resolvermos o problema desse acesso. (Ind3)

Então é necessário que o Estado tenha um envolvimento maior que possa estar mais

presente participando e buscando junto conosco as resolutividades e as melhores

maneiras que possamos encontrar para resolvermos o problema desse acesso. (Ind3)

A partir das frases elucidadas, remete-se ao desafio de pensar isoladamente uma

política pública que, por vezes, não traz os resultados esperados. Nesse sentido, faz-se

necessária a interação entre as diversas fronteiras do saber, de modo a propiciar espaços à união

de esforços que possam conduzir à emancipação social, econômica e política de cidadãos, como

discutido por Carvalho (2011), no entendimento dos instrumentos de ação pública técnica e

social.

Entretanto, é de se reconhecer que, tratar especificamente de Políticas Públicas de

mobilidade urbana, é um trabalho um tanto complexo, tendo em vista que, para proporcionar

86

uma contribuição efetiva, para a consolidação dessas políticas é inevitável enfrentar intensos

desafios, tanto no campo das instituições como no espaço de participação da própria sociedade

civil. Dessa forma, apesar de aparentemente simples, há uma necessidade de gestão de uma

série de interesses conflitantes dos atores envolvidos. Isso ocorre porque, enquanto o poder

público e o usuário têm objetivos de assegurar os princípios norteadores definidos para a

prestação de serviços públicos em transportes – como regularidade, funcionalidade, segurança,

modicidade tarifária –, o operador visa à lucratividade e ao retorno do seu investimento, o que

pode afetar diretamente a queda da qualidade do serviço se o sistema não for bem administrado

(ROSA, 2013).

Nessa direção, a Figura 8, que trata do dendograma de elementos do Pentágono das

Políticas Públicas, ajuda na análise final deste documento, abordando as classes, tomando como

base os vocábulos que possuem maior frequência em cada classe. O dendograma é composto

por quatro elementos do Pentágono, recordando a falta da categoria analítica de resultados,

devido ao tempo de inserção dos secretários à frente de suas posições e a três classes geradas

pelo Iramuteq. As classes foram distribuídas para os quatro elementos após realização de análise

de conteúdo.

Figura 8 – Similitude das classes da mobilidade urbana

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

87

A Figura 8 foi oriunda da seleção dos vocábulos com maior frequência em cada classe,

que estão representados na figura em porcentagem. Quanto ao valor de Qui-quadrado, este

corresponde a uma avaliação quantitativa da relação entre o resultado do experimento e a

distribuição esperada para o fenômeno, no caso do Iramuteq, é aconselhável utilizar vocábulos

com o valor de Qui-quadrado acima de 2,90. Esses dados foram utilizados como validação do

estudo, não servindo de base para análise, visto ser um procedimento totalmente qualitativo.

Na análise de similitude, outra ferramenta disponibilizada pelo Iramuteq que

proporciona uma visão da proximidade dos vocábulos no corpus do texto analisado, as palavras

com mais destaque são as de mais frequência no corpus. Isso significa que quanto mais as

palavras em destaque estiverem próximas, mais relação elas têm. Esses dados trazem

informações relevantes para o estudo, na medida em que revelam sua relação dos vocábulos

com o contexto do que vem sendo discutido e analisado no âmbito da Política de Mobilidade

Urbana, levando em consideração o pensamento de Delvaux (2007) sobre as características

principais da ação pública, quais sejam: a) a multiplicidade e a diversidade dos atores; b) o

carácter compósito do ator público; c) a atenuação das relações hierárquicas entre atores; d) a

relativização do impacto do momento de tomada de decisão; e) a não linearidade do processo;

f) a fragmentação e flexibilidade da ação.

Dessa forma, para a realização da análise de similitude, um critério de inclusão de

vocábulos foi adotado, a saber: divisão do número de ocorrência pelo número de formas

multiplicado por dois. A análise gerada sintetiza as classes destacadas dando ênfase aos termos

gente, cidade, mobilidade e plano. A análise organiza ainda a visão geral dos informantes a

respeito da mobilidade urbana. Ademais, a Figura 8 revela além dos vocábulos supracitados, a

proximidade entre plano, mobilidade, cidade e população.

Na árvore de coocorrência, os resultados indicaram, conforme relatos dos sujeitos

informantes da pesquisa, a mobilidade urbana numa visão mais abrangente. A Figura 8 revela

além dos vocábulos supracitados, a proximidade entre: 1 – Plano relacionado a conhecimento,

ou seja, a importância dos atores envolvidos em conhecer o Plano; 2 – Mobilidade, no que tange

aos aspectos legais e até mesmo de obrigatoriedade por parte dos governantes em obedecer ao

que está na lei; 3 – Cidade, no que concerne à necessidade da cidade em ter um Plano de Diretor

de Transporte e a melhoria que uma política desse porte pode trazer ao município; e, por fim, 4

– População, que apresenta os benefícios que um plano consistente e implementado pode trazer

para a população, melhorando, inclusive, a qualidade de vida das pessoas. Para Miranda e Silva

(2012), a mobilidade urbana bem planejada, com sistemas integrados e sustentáveis, garante o

88

acesso dos cidadãos às cidades e proporciona qualidade de vida e desenvolvimento econômico

e social.

Essa similitude foi importante devido à apresentação dos vocábulos principais que

basearam a análise em cada um dos tópicos de discussão apresentados, agregando à discussão

os elementos mais importantes no entender dos agentes que participaram da pesquisa,

fortalecendo, portanto, o resultado da pesquisa. Isso evidencia os aspectos que norteiam a

Região Metropolitana de Natal em busca do viés da funcionalidade, da dimensão social,

econômica, de comunicação e cultural, que fazem de cada Região Metropolitana do Brasil um

caso específico.

Na base documental analisada – como atas de reunião, planos, audiências públicas,

etc. –, percebeu-se a identificação do papel de atores, instituições e representações em todas as

análises, que precisa ser sempre discutida à luz do impacto, pois há uma relação direta com o

fracasso das Políticas Públicas, especialmente no que diz respeito à implementação, a

fragilidades ou à inefetividade, ineficiência e ineficácia.

Diante do exposto, fazem-se necessárias algumas considerações finais, expostas na

próxima seção, com a finalidade de responder ao objetivo proposto pelo estudo e,

posteriormente, à problemática destacada, que buscou verificar de que maneira a Política

Nacional de Mobilidade Urbana vem sendo incorporada no processo de gestão do sistema de

transportes na Grande Natal/RN.

89

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo desta dissertação foi atingido ao analisar a gestão de transportes da Grande

Natal/RN a partir das dimensões de mobilidade, tomando como referência a Política Nacional

de Mobilidade Urbana (PNMU). Para tanto, foram delineados como objetivos específicos:

identificar o papel dos atores envolvidos na dinâmica das ações de implementação da PNMU

com foco nas variáveis do modelo do Pentágono das Políticas Públicas; examinar o modo

como as instituições e as representações influenciam nos processos e resultados da PNMU; e

analisar a PNMU e sua aplicabilidade para a unificação de conceitos e a modernização do

sistema de transportes da Grande Natal, destacando os avanços e desafios da Política Nacional.

O estudo indicou, no que se refere ao papel dos atores envolvidos, que os entrevistados

explicam que o envolvimento de órgãos estadual e federal é de suma importância para a

implementação de articulação dos Planos de Mobilidade Urbana. Ainda conforme os resultados,

verifica-se uma necessidade de gestão de uma série de interesses conflitantes dos atores

envolvidos. O modelo de Pentágono de Políticas Públicas, de Lascoumes e Le Galès (2012),

indica as categorias analíticas denominadas de atores, representações, instituições, processos e

resultados. Todavia, evidencia-se a tendência de valorização das categorias analíticas atores,

representações, instituições e processos e, de modo ausente, a categoria resultados no que tange

à Política de Mobilidade Urbana. Assim, o papel dos atores envolvidos na dinâmica das ações

de implementação da PNMU, com foco nas variáveis do modelo do Pentágono das Políticas

Públicas, é voltado para o desenvolvimento de propostas de políticas e de ações para o sistema

viário e o sistema de transporte em suas diversas modalidades com foco na intermunicipal.

Ademais, ressalta-se que a ausência do Governo Estadual nas discussões, não apenas

nesta, mas em muitas gestões, impossibilita a implementação dos planos de mobilidade na

Grande Natal. Com isso, confirma-se a ausência da categoria resultados, que constitui uma das

variáveis do modelo de Pentágono de Políticas Públicas. Essa ausência indicada no estudo deve-

se ao fato de que a pesquisa ter sido realizada no primeiro ano da gestão, mesmo considerando

que alguns dos executivos municipais renovaram seu mandato, porém os secretários, em sua

maioria, foram substituídos, o que os levou a não enxergar ainda resultados concretos no tocante

à Política de Mobilidade Urbana no município. Denota-se, assim, uma necessidade evidente de

melhor preparação dos agentes envolvidos no tema, para que possam influenciar e organizar os

novos planos de mobilidade que precisam emergir.

90

Ao discutir como as instituições e as representações influenciam nos processos e nos

resultados da PNMU, percebeu-se, por um lado, que o Governo Estadual tem sido inoperante

quanto a sua responsabilidade de atuar em prol da modernização de uma política de mobilidade

para a região da Grande Natal-RN como um todo. Por outro lado, os processos deixam

transparecer: a necessidade de combater o conflito de competências no exercício da

coordenação de transportes públicos e privados em toda a Grande Natal-RN; a ausência de

integração tarifária; a ausência de operacionalização da autonomia política e financeira para a

Região Metropolitana, bem como de uma gestão integrada.

Somente dessa forma é que todos – atores, instituições e representação –

complementam-se para discussão dos processos e aplicação de conceitos unificados para a

Grande Natal-RN buscando a melhoria da qualidade dos serviços de transporte público e o

desenvolvimento da infraestrutura com melhorias para a infraestrutura urbana das cidades

envolvidas. Só assim os atores podem se preparar para conquistar avanços e enfrentar desafios

necessários para a região analisada.

Ao analisar a PNMU e sua aplicabilidade para unificação de conceitos e

modernização do sistema de transportes da Grande Natal, destacando avanços e desafios da

Política Nacional, constatou-se que os avanços foram poucos, que ainda há muito a ser feito

para que se atinja o Plano de Mobilidade, e que os desafios são evidentes, envolvendo desde

recursos até a equipe qualificada para sua execução. Além disso, a modernização deve ser uma

constante da gestão integrada.

Portanto, no contexto do modelo Pentágono, verificou-se que, para os atores, há a

necessidade do envolvimento de novos atores, seja do Governo do Estado, seja do Governo

Federal, além de uma maior interação de outros atores da sociedade civil das cidades. Para as

representações, constatou-se que existe uma baixa cultura nas cidades no tocante à

consolidação de uma boa Política de Mobilidade Urbana e acessibilidade, o que dificulta a

implementação das medidas necessárias.

Em relação às instituições, percebeu-se que a PNMU é praticamente ignorada como

legislação e nem mesmo o prazo legal para efetivação está sendo cumprido. Já quanto aos

processos, identificou-se a não observação dos princípios norteadores da PNMU e a inércia do

Governo do Estado, o que dificulta o processo de implantação de uma política de transporte

único na Região Metropolitana. Por fim, no tocante aos resultados, este ficou bastante

prejudicado pela ausência de políticas de implementação da PNMU, pela alta rotatividade dos

gestores de transporte municipais e pela ausência de continuidade de ações no setor.

91

A conclusão principal da pesquisa é que os resultados indicam a inexistência da

integralização dos municípios da Grande Natal-RN para atender a PNMU, não apenas de forma

municipalizada como ainda regionalizada. Isso explica a tendência à predominância das

categorias analíticas atores, representações, instituições e processos, em detrimento da categoria

resultados quando tratadas à luz de preceitos teóricos do modelo de Pentágono de Políticas

Públicas.

Este estudo aponta também suas próprias limitações, em se tratando de dados

empíricos serem analisados de forma qualitativa, impossibilitando a realização de outras

análises no software Iramuteq, que consiste na estatística inferencial de texto. Nesse sentido,

sugere-se que pesquisas futuras possam ser instituídas da opinião dos usuários sobre o que

existe de concreto na funcionalidade e nas dimensões sociais, culturais e econômicas em seus

municípios e na Região Metropolitana ou ainda que o recorte da Grande Natal-RN seja

aumentado para toda a Região Metropolitana de Natal.

92

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103

APÊNDICE

104

APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA

Instituição

Cargo que

exerce:

Tempo na

função:

Cidade que

atua:

1) Como V.Exa entende a aplicação da Política Nacional de Mobilidade Urbana

(PNMU) na cidade que atua?

2) Como V.Exa entende a aplicação da Política Nacional de Mobilidade Urbana

(PNMU) na Região Metropolitana de Natal-RN?

3) Dessa PNMU, o que é aplicado na gestão municipal de qualquer cidade da

Região Metropolitana de Natal que seja de seu conhecimento?

4) Como V. Exa percebe os problemas de mobilidade e acessibilidade na cidade

que atua? Enumere-os?

5) Qual plano de mobilidade municipal ou regional que V. Exa utiliza ou conhece?

Como são os processos de recomposição do tempo?

6) V.Exa conhece os planos ou projetos de mobilidade das cidades limítrofes?

Como são os processos de interação entre municípios, seus atores envolvidos e suas entidades?

7) Existe alguma previsão de discussão de política de mobilidade no seu órgão? Se

sim, com que sazonalidade e quais atores envolvidos.

8) Qual apoio o Estado do Rio Grande do Norte, por meio de seus órgãos, tem

oferecido aos municípios?

9) Como V. Exa entende a obrigatoriedade de realizar um plano de mobilidade

municipal?

10) Como V. Exa percebe a importância das reuniões com foco na discussão sobre

a Região Metropolitana de Natal-RN? Todos os atores são realmente envolvidos?

11) Que tipo de sugestão V.Exa teria para auxiliar no desenvolvimento de um plano

de mobilidade municipal em sua cidade?

12) Que tipo de sugestão V.Exa teria para auxiliar no desenvolvimento de um plano

de mobilidade municipal na Região Metropolitana de Natal?