universidade federal do rio grande do norte - ufrn … · 2019-01-30 · universidade federal do...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN
CENTRO DE BIOCIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE MICROBIOLOGIA E PARSITOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA PARASITÁRIA
Marcelo Henrique Matias da Silva
PERFIL DE RESPOSTA IMUNOLÓGICA INATA DE PACIENTES
INFECTADOS PELO VÍRUS ZIKA
Natal/RN
Março/2018
MARCELO HENRIQUE MATIAS DA SILVA
PERFIL DE RESPOSTA IMUNOLÓGICA INATA DE PACIENTES
INFECTADOS PELO VÍRUS ZIKA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Biologia Parasitária da Universidade Federal do Rio Grande do Norte para obtenção do título de mestre em Biologia Parasitária.
.
Orientador: Professor Dr. José Veríssimo Fernandes
Co-orientador: Professor Dr. Paulo Marcos da Matta Guedes
Natal/RN
março de 2018
MARCELO HENRIQUE MATIAS DA SILVA
PERFIL DE RESPOSTA IMUNOLÓGICA INATA DE PACIENTES
INFECTADOS PELO VÍRUS ZIKA
Dissertação de Mestrado do Curso de Pós-
Graduação em Biologia Parasitária, para
obtenção do Título de Mestre em Biologia
Parasitária na área de Ciências Biológicas III.
Orientador: Professor Dr. José Veríssimo Fernandes
Co-orientador: Professor Dr. Paulo Marcos da Matta Guedes
Natal
Março/2018
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Leopoldo Nelson - Centro de Biociências - CB
Elaborado por KATIA REJANE DA SILVA - CRB-15/351
Silva, Marcelo Henrique Matias da. Perfil de resposta imunológica inata de
pacientes infectados pelo vírus Zika / Marcelo Henrique Matias da Silva. - Natal,
2018. 56 f.: il.Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, Centro de Biociências. (Programa de Pós-Graduação em Biologia
Parasitária.) Orientador: Prof. Dr. José Veríssimo Fernandes. Coorientador: Prof.
Dr. Paulo Marcos da Matta Guedes. 1. Vírus Zika - Dissertação. 2. Receptores de
reconhecimento de padrões - Dissertação. 3. Imunidade inata - Dissertação. I.
Fernandes, José Veríssimo. II. Guedes, Paulo Marcos da Matta. III. Universidade
Federal do Rio Grande do Norte. IV. Título. RN/UF/BSE-CB CDU 578.833.1
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. José Veríssimo Fernandes
Departamento de Microbiologia e Parasitologia – UFRN
Prof. Dr. Josélio Maria Galvão De Araujo
Departamento de Microbiologia e Parasitologia – UFRN
Prof. Dra. Manuela Sales Lima Nascimento
Instituto Internacional de Neurociências Edmond e Lily Safra – IIN-ELS
AGRADECIMENTOS
Á minha Esposa, por sempre acreditar em minha capacidade e sempre estar ao meu lado nos momentos difíceis. Você é meu presente que Deus concedeu. Aos meus familiares, especialmente minha mãe Luzia Matias pela minha educação, por me mostrar na vida o certo e o errado. Aos familiares de minha esposa por serem espelho para mim. Ao meu orientador, Professor Dr. José Veríssimo Fernandes, por ter me aceitado como aluno e transmitido sua experiência desde a graduação. É exemplo para muitos professores no Centro de Biociências. . Ao Professor Dr. Paulo Guedes, que desde a graduação contribui com minha formação, com sua forma única de ministrar aula, sua contribuição para o andamento dos experimentos foi vital. Ao Professor Dr. Josélio Maria Galvão, colaborador deste trabalho, pela minha aceitação no LADIC, participação direta em minha formação, com seu exemplo de serenidade. A minha colega de experimentos Raiza Nara, sem a colaboração dela, não seria possível o andamento dos experimentos, que possamos sempre fazer uma parceria. Aos colegas do laboratório pelo Auxílio e descontração nos momentos de trabalho, Hannaly Wana, Denis Dantas, Brenda Alves, Nathalie de Sena por ter cedido parte de seu tempo ao auxiliar na execução dos experimentos e na análise estatística. Aos Professores do Programa de Pós-Graduação em Biologia Parasitária, pelos ensinamentos e dedicação Às secretárias do Programa de Pós-Graduação em Biologia Parasitária, que sempre auxiliam na resolução dos problemas, mesmo à distância. À turma de Biologia Parasitária, por deixar as aulas mais descontraídas e mais leves. Obrigado pelos momentos felizes!
Aos amigos da graduação que continuam presentes compartilhando das mesmas
experiências e frustrações e que deixam nossa vida mais leve durante as horas de
lazer.
À DEUS, por não me abandonar e por ter construído em mim a sapiência.
RESUMO
Os receptores da imunidade inata, principalmente receptores do tipo toll (TLRs) e
receptores do tipo Rig (RLRs) são moléculas importantes para o reconhecimento
inicial do vírus Zika e modulação de resposta imunológica protetora com produção
de IFN do tipo 1. Epidemias recentes pelo vírus Zika apresentaram como principais
consequências o aumento do número de casos da síndrome de Guillain-Barré e o
surgimento da síndrome congênita do vírus Zika que pode resultar em microcefalia e
outros danos neurológicos. Os mecanismos imunológicos que conferem proteção ou
patologia durante a infecção por esse vírus ainda não foram elucidados. Dessa
forma, o objetivo do presente estudo foi avaliar o perfil da resposta imunológica inata
em pacientes durante a infecção aguda pelo vírus Zika. Para isso, foi quantificada a
expressão de RNA mensageiro (RNAm) dos TLRs (TLR3, TLR7, TLR8, TLR9), do
RLR MDA-5 (Melanoma Differentiation-Associated protein 5), das moléculas
adaptadoras TRIF (Toll/IL-1 Receptor Domain-Containing Adaptor-Inducing IFN-β) e
Myd88 (Myeloid Differentiation Primary Response Gene 88) e das citocinas (IL-6, IL-
12, IFN-α, TNF-α, IFN-β, IFN-γ). Células mononucleares do sangue periférico
(PBMC) de 30 pacientes com sintomas da infecção aguda pelo vírus Zika com
diagnóstico confirmado por RT-PCR em tempo real (qRT-PCR) e de nove indivíduos
saudáveis não infectados foram utilizadas para quantificação do perfil de resposta
imunológica. Pacientes com infecção aguda pelo vírus Zika apresentaram elevada
expressão de TLR3, IFN-α, IFN-β e IFN-γ, quando comparado aos controles
saudáveis. Ademais, houve correlação positiva entre a expressão de TLR3 em
relação a IFN-α e IFN-β. Por outro lado, pacientes infectados pelo vírus zika
apresentaram redução na expressão de TLR8, Myd88 e TNF-α. Foi observada
expressão semelhante de TLR7, TLR9, MDA-5, TRIF, IL-6 e IL-12 entre o grupo de
pacientes infectados pelo vírus zika e indivíduos do grupo controle. Nossos
resultados indicam que a infecção aguda (até 5 dias após o aparecimento dos
sintomas) pelo vírus Zika induz a produção de IFN-γ, IFN-α e IFN-β, principalmente
por via dependente de TLR3. Por outro lado, os pacientes infectados pelo vírus zika
apresentaram uma redução da expressão de TLR8, Myd88 e TNF-α, moléculas
também envolvidas na imunidade antiviral.
Palavras-Chave: Vírus Zika; receptores de reconhecimento de padrões; Imunidade
inata.
ABSTRACT
The receptors of the innate immunity, mainly Toll like receptors (TLRs) and RIG like
receptors (RLRs) are important molecules for the initial recognition of Zika virus and
modulation of protective immune response with production of type 1 IFN. Recent Zika
virus epidemics presented the main consequences the increase in the number of
cases of Guillain-Barré syndrome and the emergence of congenital Zika syndrome,
which may result in microcephaly and other neurological damage. Immunological
mechanisms that confer protection or pathology during infection by this virus have
not yet been elucidated. Thus, the aim of the present study was to evaluate the
profile of the innate immune response in patients during acute Zika virus infection.
For this, the expression of messenger RNA (TLR3, TLR7, TLR8, TLR9), RLR MDA-5
(Melanoma Differentiation-Associated protein 5), TRIF adapter molecules (Toll / IL-1
Receptor (IFN-γ) and cytokines (IL-6, IL-12, IFN-α, TNF-α, IFN-γ and IFN-γ).
Peripheral blood mononuclear cells (PBMC) from 30 patients with symptoms of acute
Zika virus infection with diagnosis confirmed by real-time RT-PCR (qRT-PCR) and
nine uninfected healthy individuals were used to quantify the immune response
profile. Patients with acute Zika virus infection had high expression of TLR3, IFN-α,
IFN-β and IFN-γ when compared to healthy controls. In addition, there was a positive
correlation between TLR3 expression in relation to IFN-α and IFN-β. On the other
hand, patients infected by zika virus showed reduced expression of TLR8, Myd88
and TNF-α. Similar expression of TLR7, TLR9, MDA-5, TRIF, IL-6 and IL-12 was
observed between the group of patients infected with zika virus and control subjects.
Our results indicate that acute infection (up to 5 days after the onset of symptoms) by
the Zika virus induces the production of IFN-γ, IFN-α and IFN-β, mainly via TLR3-
dependent pathway. However, patients infected by the zika virus showed a reduction
in the expression of TLR8, Myd88 and TNF-α, molecules also involved in antiviral
immunity.
Keywords: Zika virus; receptor recognition patterns Innate immunity.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. A) Organização genômica, e B) estrutura do virion do vírus Zika
(ZIKV)................................................................ ........... ................................. 14
Figura 2. Esquema da patogênese do ZIKV..................................................
Erro! Indicador não definido.
Figura 3. Esquema da via de sinalização dos PRRs e produtos formados.....
Erro! Indicador não definido.
Figura 5. Pacientes infectados pelo vírus zika apresentam elevada expressão de
RNAm de TLR3 e reduzida expressão de TLR8 e Myd88..............................
Erro! Indicador não definido.
Figura 6. Pacientes infectados pelo vírus zika apresentam elevada expressão de
RNAm de IFN-α, IFN-β e IFN-γ e reduzida expressão de TNF-α...................
Erro! Indicador não definido.
Figura 7. A elevada expressão de TLR3 em pacientes infectados com o vírus zika é
correlacionada com a alta expressão de IL-12, IFN-α, IFN-β.........................
Erro! Indicador não definido.
Figura 8. A elevada expressão de TLR9 em pacientes infectados com o vírus zika é
correlacionada com a alta expressão de IL-6, IL-12, IFN-α, IFN-β e IFN-γ.....
42
Figura 9. A elevada expressão de MDA-5 em pacientes infectados com o vírus zika
é correlacionada com a alta expressão de IL-6, IL-12, IFN-α e IFN-β...............
43
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Relação dos Oligunucleotídeos utilizados na transcrição reversa seguida
da relação em cadeia pela polimerase em tempo real (RT-qPCR) para detecção do
vírus Zika (Y=T ou C, R =A ou G).........................................................................
34
Tabela 2. Relação dos reagentes utilizados na transcrição reversa seguida pela
reação em cadeia pela polimerase em tempo real (RT-qPCR).................... 34
Tabela 3. Sequência dos iniciadores específicos utilizados nas reações de PCR em
tempo real..................................................................................................... 36
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AP1 - “Activator protein 1” – Proteína ativadora 1
ASC - “Apoptosis-associated speck-like protein containing a CARD” – Proteína semelhante à partícula associada a apoptose contendo um CARD BIRs - “Baculovirus inhibitor-of-apoptosis repeats” – Repetições de inibidores de bacilovírus CARD - “Caspase recruitment domain” – Domínio recrutador de caspase CD - “Cluster of differentiation” – Grupamento de diferenciação cDNA - “Complementary deoxyribonucleic acid” – Ácido desoxirribonucleico
complementar.
CLRs – “C-type lectin receptors” – Receptores de lectinas do tipo C
CT – “Cycle threshold” – Limiar de ciclo
DAMPs - “Damage-associated molecular patterns” – Padrões moleculares
associados a dano.
DCs – “Dendritic cells” – Células dendriticas.
DENV – “Dengue vírus” – vírus Dengue
IFITM – “Interferon-induced transmembrane” – Transmembrana induzida por
interferon.
IFNAR – “interferon-α/β receptor” – Receptor de interferon- α/β
IRF - “Interferon regulatory factor” – Fator regulador de interferon
ISGs – “Interferon-stimulated genes” – Genes estimuladores de intetferon.
MDA5 – “Melanoma differentiation associated gene 5” – Gene 5 associado à diferenciação de melanoma. MITA – “Mediator of IRF3 activation” – mediador da ativação IRF3.
Myd88 - “Myeloid differentiation primary-response-gene-88” – Gene de resposta
primária da diferenciação mielóide 88
NLR - “NOD-like receptor” – Receptor do tipo NOD
NOD - “Nucleotide-binding oligomerization domain” – Domínio de oligomerização de ligação de nucleotídeos. ORF – “Open reading frame” - Janela de leitura aberta
PAMPs - “Pathogen-associated molecular patterns” – Padrões moleculares associados a patógenos. PRRs - “Pattern recognition receptors” – Receptores de reconhecimento de Padrões. RIG - “Retinoic acid-inducible gene I” – gene I induzido por ácido retinóico
RLR - “RIG-I-like receptor” – Receptor do tipo RIG
RT-qPCR - “Quantitative reverse transcription PCR” – PCR quantitativo com transcrição reversa.
sfRNAs – “Subgenomic flavivirus Ribonucleic acid” – Ácido ribonucleico de flavivirus
subgenômico.
ssRNA – “Positive-sense single-stranded Ribonucleic acid viruses” – Vírus de ácido
ribonucleico de cadeia simples de sentido positivo.
STAT – “Signal transducer and activator of transcription” – Transdutor de sinal e
ativador de transcrição.
TLR - “Toll-like receptor” – Receptor do tipo Toll
TRIF - “Toll/IL-1 receptor domain-containing adaptor protein inducing IFN beta” –
Domínio TIR contendo adaptador indutor de IFN-β.
ZIKV – “Zika vírus” – vírus Zika.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 13
1.1 Aspectos Gerais do Vírus Zika ..................................................................................... 13
1.2 Histórico e Epidemiologia da infecção pelo vírus Zika .......................................... 14
1.3 Interação vírus hospedeiro humano ........................................................................... 16
1.4 Manifestações clinicas na infecção pelo vírus zika ................................................ 19
1.5 Resposta Imunológica contra ZIKV ............................................................................. 21
1.6 Receptores da Imunidade Inata .................................................................................... 24
2. OBJETIVOS ................................................................................................................................ 30
2.1 Objetivo geral .................................................................................................................... 30
2.2 Objetivos específicos ...................................................................................................... 30
3. MATERIAL E MÉTODOS ......................................................................................................... 31
3.1 Delineamento experimental ........................................................................................... 31
3.2 Amostras ............................................................................................................................... 32
3.3 Extração do RNA viral ........................................................................................................ 32
3.5 Transcrição reversa seguida da reação em cadeia da polimerase em tempo real
(RT-qPCR) para detecção do Vírus Zika................................................................................. 33
3.7 PCR em Tempo real (RT-qPCR) para quantificação de marcadores da
imunidade inata ............................................................................................................................ 35
3.8 Análises estatísticas ............................................................................................................. 37
4. RESULTADOS ........................................................................................................................... 38
5. DISCUSSÃO ............................................................................................................................... 44
6. CONCLUSÃO ............................................................................................................................. 49
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 50
13
1. INTRODUÇÃO
1.1 Aspectos Gerais do Vírus Zika
O Vírus Zika (ZIKV) pertence a família Flaviviridae, gênero Flavivirus. Possui a
mesma organização genômica de todos outros Flavivirus incluindo vírus da Dengue
(DENV), vírus do Nilo Ocidental (WNV), vírus da febre amarela (YFV) e Vírus da
Encefalite Japonesa (JEV). (LEDERMANN et al., 2014).
Atualmente, os isolados de ZIKV podem ser agrupados em duas ou três
linhagens principais. Essas linhagens correspondem à linhagem Africana, a
linhagem Asiática (que inclui as cepas Americanas) e uma linhagem negligenciada
que circula na África (designada Africano II) que constituiria um grupo irmão tanto
para a linhagem Africana (que deveria ser renomeado para Africano I) como para a
linhagens Asiática, previamente identificadas (FAYE et al., 2014; GONG, GAO e
HAN, 2016; LI et al., 2017b; WANG et al., 2016a).
A sequência dos sitios de clivagem das proteínas do ZIKV segue os padrões
estabelecidos para outros vírus transmitidos por mosquitos (KUNO e CHANG, 2007).
As três proteínas estruturais são necessárias para a montagem de novas partículas
virais infecciosas, enquanto que as proteínas não estruturais atuam na replicação do
genoma (SONG et al., 2016). A proteína C do capsídeo envolve o genoma para
formar o nucleocapsídeo que por sua vez é envolvido pelo envelope viral formando a
partir da membrana do retículo endoplasmático da célula hospedeira na qual foram
inseridas as proteínas prM e a glicoproteína E, para formar os vírions. A
glicoproteína E é a estrutura de ligação do vírus aos receptores da célula num
processo denominado adsorção e em seguida promove a fusão entre o envelope
viral e a membrana da vesícula formada a partir de membrana plasmática com a
liberação dos vírus no interior da célula. Por isso, a glicoproteína E se constitui o
principal alvo para a indução de anticorpos neutralizantes (DAI et al., 2016;
STETTLER et al., 2016; WANG et al., 2016b; ZHANG et al., 2017). As sete proteínas
não estruturais (NS) (NS1, NS2A, NS2B, NS3, NS4A, NS4B e NS5) estão envolvidas
em uma variedade de funções que vão da replicação de RNA viral, morfogênese de
14
partículas virais, indução de rearranjos de membrana e desenvolvimento de
partículas virais para a modulação da resposta imunológica do hospedeiro (MARTÍN-
ACEBES e SAIZ, 2012). (Figura 2).
Seu genoma é de ácido ribonucleico (RNA) de cadeia simples de polaridade
positiva, contendo 10.794 bases de comprimento, e não possui cauda poli-A (KUNO
e CHANG, 2007; LEDERMANN et al., 2014).
Figura 1. A) Organização genômica, e B) estrutura do virion do vírus Zika (ZIKV).
Fonte: adaptado de Saiz et al., 2017.
1.2 Histórico e Epidemiologia da infecção pelo vírus Zika
O Vírus Zika (ZIKV) é um flavivirus isolado inicialmente de macacos
Rhesus na África em 1947 na floresta Zika em Uganda e é responsável, nos
dias atuais, por uma arbovirose emergente no mundo (DICK, KITCHEN e
HADDOW, 1952; IKEJEZIE et al., 2017). Antes restrito aos continentes
africano e asiático, o ZIKV surgiu nas Ilhas Yap no Oceano Pacífico em 2007
(HAYES, 2009), depois no arquipélago da Polinésia Francesa em 2013
(KUCHARSKI et al. 2016), na Ilha de Páscoa, Chile em 2014 (TOGNARELLI
et al., 2016) e no Nordeste do Brasil em 2015 (ZANLUCA et al., 2015),
espalhando-se rapidamente para outras as regiões do país (CALVET et al. ,
2016) e depois para as Américas, atingindo 48 países e territórios (IKEJEZIE
15
et al., 2017). Somente no continente Americano foram relatados mais de
532.000 casos suspeitos de infecção pelo vírus Zika, dos quais 175.063
confirmados laboratorialmente. Além disso, 22 países e territórios relataram
2.439 casos de síndrome congênita associada ao Zika e cinco países
relataram casos de transmissão sexual deste vírus (IKEJEZIE et al., 2017;
“PAHO WHO | Regional Zika Epidemiological Update (Americas) August 25,
2017”, [s.d.])
No Brasil em 2016 foram registrados 216.207 casos prováveis de febre pelo
vírus Zika no país (Figura 2), sendo confirmados laboratorialmente 8 óbitos por vírus
Zika no Rio de Janeiro, Espírito Santo, Maranhão e Paraíba. Até outubro de 2017
foram registrados 15.586 casos prováveis de febre pelo vírus Zika no país, com taxa
de incidência de 7,6 casos/100 mil hab., e destes, 6.679 (42,9%) foram confirmados.
(BRASIL, 2017). Autores levantaram a hipótese que no Brasil, região Nordeste, onde
foi identificada uma dispersão muito rápida do ZIKV, estaria mais vulnerável a
disseminação do vírus, devido à baixa cobertura de vacina contra febre amarela,
pois supõe-se que os anticorpos induzidos pela vacina poderia oferecer uma
proteção cruzada contra outros flavivirus, incluindo o vírus zika (DE GÓES
CAVALCANTI et al., 2016). Por outro lado, outros autores demonstraram em modelo
animal, que anticorpos contra outros flavivirus como dengue e vírus do Nilo
Ocidental facilitam a entrada do vírus zika em monócitos e macrófagos por meio de
endocitose mediada por receptor de Fcγ de IgG, resultando no aumento da carga
viral e morbidade da doença (BARDINA et al., 2017). Fenômeno semelhante poderia
ocorrer em relação aos anticorpos induzidos pela vacina contra a febre amarela.
Neste caso a ausência de vacinação contra essa doença, ao contrário do proposto
poderia tornar a população não vacinada menos vulnerável a infecção pelo vírus
zika.
16
Figura 2. Área endêmica de transmissão do vírus Dengue em cinza e áreas tracejadas de
transmissão do vírus Zika ao longo de dois anos no território brasileiro.
Fonte: Adaptado de Lowe et al., 2018.
1.3 Interação vírus hospedeiro humano
ZIKV é um vírus transmitido por mosquitos (Figura 3). ZIKV foi isolado de
muitas espécies de mosquito do gênero Aedes, mas apenas um subconjunto destes
(incluindo Ae. Aegypti, Ae. Albopictus, Ae. Hensilii e Ae. Polynesiensis) são vetores
competentes para transmissão (DIAGNE et al., 2015; DIALLO et al., 2014; DICK,
1952; GRARD et al., 2014; HADDOW et al., 1964; HAYES, 2009; LEDERMANN et
al., 2014; LI et al., 2012; MARCHETTE, GARCIA e RUDNICK, 1969; MCCRAE e
KIRYA, 1982). Aedes aegypti é considerado o principal vetor de introdução do ZIKV
durante o surto atual na América Latina e no Caribe, provavelmente devido à
abundância urbana e natureza antropofílica deste mosquito (POWELL et al., 2013).
Os macacos são presumidos para servir como reservatórios para o ZIKV, embora a
espécie primária não tenha sido identificada (MCCRAE e KIRYA, 1982; HAYES,
2009). Não está claro se o ZIKV se tornará endêmico nos macacos do Novo Mundo
Fronteiras Estaduais
Área de transmissão permanente do Dengue
Difusão do Zika
17
e estabelecerá um ciclo de transmissão silvestre na América Latina análogo ao
observado com a febre amarela ou será mantido exclusivamente através de ciclos
de transmissão urbana sem ciclo silvestre no Novo Mundo, de forma semelhante ao
DENV (HANLEY et al., 2013). Os seres humanos estão entre os principais
hospedeiros para o ZIKV, e os ciclos urbanos de transmissão entre humanos e
mosquitos sustentam e causam epidemias.
O curso típico da infecção por ZIKV é ilustrado (fundo verde), com potenciais efeitos graves
que requerem investigação adicional indicada (fundo azul). DENV, vírus da dengue; ADE,
aumento dependente de anticorpos.
Fonte:Lazear e Diamond, 2016.
Figura 2. Esquema da patogênese do ZIKV.
Queratinócito
Células dendriticas
Febre, Erupção,
Cutânea, Mialgia
e Conjuntivite
Imunidade protetora
Perguntas sem
resposta
Transmissão transplacentária?
Microcefalia e outros
defeitos de nascença?
Transmissão sexual?
Persistente em tecidos
imuno-previlegiados?
ADE por anticorpos do
DENV?
Doença do ZIKV mais
severa?
ADE por anticorpos do
ZIKV?
Doença do DENV mais
severa?
Interferências com as
respostas da vacina do
DENV?
Síndrome de
Guillain-Barré?
Infecção do vírus
Zika
18
A biossíntese do ZIKV começa com a adsorção das partículas virais à
superfície da membrana plasmática de células susceptíveis, através de um processo
que envolve fatores de adesão e receptores de entrada (FERNÁNDEZ-SANLÉS et
al., 2017). Os fatores de adesão mantem as partículas virais em contato com a
membrana da célula, o que permite a interação destas com os receptores de entrada
o que possibilita a internalização dos vírus. A expressão diferencial desses
receptores determina o tropismo do vírus pela célula (HAMEL et al., 2015; REY;
STIASNY e HEINZ, 2017). Entre os fatores de adesão e receptores de entrada
envolvidos na infecção de células como fibroblastos, queratinócitos e células
dendríticas imaturas, estão a lecitina C, também conhecida como DC-SIGN e
moléculas da família TIM e TAM. Essas últimas são glicoproteínas transmembrana
que se ligam a resíduos de fosfatidilserina presentes no envelope viral (PERERA-
LECOIN et al., 2013).
Quando as partículas virais se ligam aos receptores de entrada, presentes na
membrana plasmática da célula, ativam proteínas intracelulares do tipo clatrinas as
quais se ligam a parte interna da membrana, promovendo uma invaginação que se
rompe, formando uma vesícula endossômica, contendo as partículas virais no seu
interior. A medida que essas vesículas se aproximam do núcleo o ambiente vai se
tornando mais ácido, atingindo o pH ideal para as alterações conformacionais da
glicoproteína E, o que possibilita a exposição do seu domínio de fusão, o qual
promove a fusão entre o envelope viral e a membrana do endossomo, liberando os
nucleocapsídeos virais no citosol (HEINZ e STIASNY, 2017; SMIT et al., 2011). Em
seguida ocorre a quebra do capsídeo e o RNA genômico é traduzido na poliproteína
nos ribossomos da membrana do retículo endoplasmático (RE). Após o
processamento as proteínas não estruturais permitem a síntese de uma fita
completa de RNA de polaridade negativa que serve como molde para a síntese de
novas cópias do genoma viral (LINDENBACH, THIEL & RICE, 2007). Ao mesmo
tempo em que ocorre a replicação do RNA viral na luz do RE as proteínas prM e são
direcionadas para a membrana desta organela onde são inseridas. Enquanto isso,
múltiplas cópias da proteína C se reúnem para montar os capsídeos, envolvendo as
cópias do RNA genômico recém-sintetizadas para formar os nucleocapsídeos, os
quais brotam da membrana do reticulo endoplasmático na qual estão inseridas
proteína prM e E, para formar o envelope viral. As partículas virais que brotam da
19
membrana do RE, são ainda imaturas e apresenta a superfície espiculada, onde as
proteínas E e prM se arranjam em 60 heterotrímeros (REY; STIASNY & HEINZ,
2017). Os vírions imaturos e ainda não infeciosos, são transportados através do
Golgi onde ocorre a clivagem da proteína percursora, prM em sua forma definitiva M,
pela ação de proteases semelhantes a furina. A proteína E recebe a glicosilação nos
resíduos de aminoácido Asn67 e Asn153 para assegurar o dobramento adequado a
proteína. Após esses eventos o vírions tornam se maduros e são liberados da célula
por exocitose (MOSSENTA et al., 2017; PIERSON e GRAHAM, 2016).
1.4 Manifestações clinicas na infecção pelo vírus zika
A maioria dos pacientes sintomáticos infectados pelo ZIKV apresentam
doença branda e autolimitada, com duração próxima a uma semana (LUZ, SANTOS
e VIEIRA, 2015). Na infecção por ZIKV, os principais sintomas são febre, cefaleia e
exantema maculopapular pruriginoso. Em alguns casos, não pouco frequentes, a
infecção se manifesta sem febre (MUSSO, CAO-LORMEAU e GUBLER, 2015). A
apresentação clínica da infecção por ZIKV é inespecífica e por essa razão, pode ser
confundida com outras doenças febris, principalmente dengue e febre Chikungunya
(LUZ, SANTOS e VIEIRA, 2015). Em alguns grupos, a febre pelo ZIKV apresenta
certas peculiaridades. Nas crianças, o quadro cutâneo pode ser atípico,
caracterizado, por lesões maculares com tendência à confluência, lesões
vesiculares, e até mesmo tendência à recorrência sob determinados fatores
precipitantes, como o estresse. Em imunosuprimidos, é possível a ocorrência de
quadros com complicações viscerais graves, prolongados ou fatais, como acontece
com outras infecções virais nesse segmento da população (ZANLUCA et al., 2015).
Embora a doença tenda a evoluir de forma favorável, há relatos de
complicações neurológicas tardias, provavelmente imunomediadas, como a
síndrome de Guillain-Barré (SGB), relatada tanto nos surtos ocorridos na Polinésia
Francesa como nas epidemias recentes no Rio Grande do Norte e Bahia, Brasil.
Portanto, os clínicos devem estar atentos para quadros de fraqueza nos membros
20
inferiores, observados em pacientes com quadro sugestivo de ZIKV (LUZ, SANTOS
e VIEIRA, 2015). Ainda, há a implicação da infecção pelo ZIKV em gestantes na
ocorrência de microcefalia em recém-nascidos. Esta hipótese foi levantada após a
detecção do aumento inesperado no número de casos de microcefalia, inicialmente
em Pernambuco e posteriormente em outros estados da região Nordeste do Brasil, a
partir de outubro de 2015 (BRASIL, 2016).
Em novembro de 2015, o Ministério da Saúde confirmou a relação entre a
infecção pelo vírus Zika e a ocorrência de microcefalia. A presença do vírus foi
identificada por pesquisadores do Instituto Evandro Chagas (IEC) em amostras de
sangue e tecidos de um recém-nascido do Ceará que apresentava microcefalia e
outras malformações congênitas (BRASIL., 2016).
Estudos em primatas não humanos e outros modelos animais têm apoiado a
hipótese da ligação causal entre a infecção congênita pelo ZIKV e o
desenvolvimento de anormalidades fetais (ADAMS WALDORF et al., 2016;
CUGOLA et al., 2016; MINER et al., 2016). A infecção materna pelo ZIKV em
camundongos resulta em restrição do crescimento intrauterino, insuficiência
placentária, transmissão viral in útero, aumento da morte celular no cérebro do feto
(CUGOLA et al., 2016; MINER et al., 2016). No entanto, ainda não está claro se as
anormalidades fetais são causadas pelo dano placentário, efeitos diretos da
replicação viral no cérebro fetal, ou uma combinação dos dois mecanismos.
Atualmente não existem terapias ou vacinas específicas aprovadas para uso em
seres humanos para combater ou prevenir a infecção por ZIKV, embora vários
compostos farmacológicos promissores e vacinas estejam atualmente em
desenvolvimento (DURBIN e WILDER-SMITH, 2017; MCARTHUR, 2017).
Quanto as infecções do SNC por arbovírus já se sabe que devido a afinidade
dos vírus da família Flaviviridae pelas células neuronais, podem ocorrer casos em
que ele provoque a morte dessas células diretamente, ou por meio da ativação das
respostas imunológicas dos hospedeiros infectados (BRITO e DONATO, 2017).
Célula Neuroprogenitora (NPC) ou Células-tronco neurais (NSCs) são capazes de se
diferenciar em muitos tipos de células neuronais que formam as camadas do
cérebro, dependendo de estímulos específicos (NAMBA e HUTTNER, 2017).
Considerando um cérebro em desenvolvimento, especialmente no primeiro trimestre
de gestação, as NPCs são provavelmente a maioria das células do SNC (NAMBA e
21
HUTTNER, 2017). Em estudo para verificar o neurotropismo da primeira cepa ZIKV
isolada (MR766), observou-se que vírus infectou NPC e neurônios imaturos,
resultando em replicação viral e causando apoptose em células infectadas (TANG et
al., 2016; GARCEZ et al., 2016).
O potencial neurotrópico da cepa brasileira do ZIKV, associada à
microcefalia em recém-nascidos, foi investigada pela primeira vez in vitro e revelou-
se altamente neurotrópica e agressiva, causando a morte celular por apoptose
(CUGOLA et al., 2016). Duas outras cepas desse vírus, IbH30656 e H/PF/ 2013
foram também associadas com redução do crescimento e neurogênese das células-
tronco neurais humanas (fNSCs) in vitro (LIANG et al., 2016; TSAI et al., 2009).
Alguns sustentam a ideia de que, apesar de outras cepas do ZIKV estarem
associadas à deficiência neuronal, é possível que a cepa circulante no Brasil e
outros países da América do Sul, seja mais neurotrópica e possa causar maior
impacto no processo de neurogênese, resultando em fenótipos observados em
recém-nascidos afetados (BRASIL et al., 2016; LI et al., 2017a; LIANG et al., 2016).
1.5 Resposta Imunológica contra ZIKV
Os mecanismos de resposta imunológica frente a infecção pelo vírus zika
pacientes são ainda pouco estudados até o momento, alguns trabalhos relatam a
participação de anticorpos, quimiocinas, citocinas e linfócitos T na patogênese da
infecção pelo vírus em humanos. Os parâmetros imunológicos avaliados até o
momento em pacientes infectados pelo vírus zika são relacionados a imunidade
adaptativa, entretanto, não existem estudos analisando a participação de receptores
da imunidade inata durante a infecção pelo vírus zika em humanos.
(TAPPE et al., 2016)Tappe e colaboradores (2016); analisaram o perfil de
citocinas no soro, com auxílio de ELISA, de seis pacientes durante a fase aguda da
infecção (até 10 dias após sintomas) e no período de convalescência (10 a 62 dias
após sintomas) pelo vírus zika. Foi observado aumento na produção de IL1B, IL-2,
IL-4, IL-6, IL-9, IL-10, IL-13 e IL-17 durante a fase aguda da infecção em indivíduos
infectados por Zika, quando comparado a indivíduos saudáveis. Durante a fase de
convalescência pacientes infectados por Zika apresentaram maior produção de IL-
1β, IL-6, IL-8, IL-10 e IL-13 no soro, quando comparado a indivíduos saudáveis.
22
Pacientes controles não infectados, e aqueles infectados por Zika nas fases aguda e
de convalescência apresentaram níveis semelhantes de IFN-γ e TNF-α no soro.
Estes autores demonstraram a participação de citocinas dos perfis Th1, Th2, Th9,
Th17 e linfócitos T reguladores (TREG) durante a infecção pelo vírus zika em
pacientes.
Lai et al., (2017); avaliaram o perfil de resposta imunológica
(imunofenotipagem linfócito T CD 4 e CD8), carga viral e manifestações clinicas
foram caracterizados em cinco viajantes norte-americanos que estavam em áreas
endêmicas do ZIKV, entre eles duas pacientes gestantes. Os pacientes
apresentaram fadiga, náuseas, diarreia, dores articulares, conjuntivite, dor de
cabeça. Três dias após o início dos sintomas todos apresentaram aumento do
número de monócitos pró-inflamatórios, com diminuição transitória de células
dendriticas miolóides. Houve ativação de linfócitos T CD4+, com produção de
citocinas antivirais nos quatro pacientes, em contraste, ativação massiva de linfócitos
T CD8+ em apenas 2/4 dos pacientes avaliados.
Estudo realizado em Campinas-SP, Brasil, com 95 pacientes na fase aguda
da infecção (3 dias após sintomas) pelo vírus Zika, demonstrou que 11,6% dos
pacientes apresentaram complicações neurológicas e 88,4% apresentaram doença
leve de erupção cutânea e febre. Pacientes infectados pelo vírus zika apresentaram
maior produção das citocinas IL-4, IL-6, IL-7, IL8, IL-10, IL-18, TNF-α, IFN-γ e das
quimiocinas CXCL-10, CXCL12, CCL2, CCL3, CCL4, CCL11 quando comparado a
indivíduos controles saudáveis. Pacientes com complicações neurológicas
apresentaram aumento na produção de RNAm de TNF-α, IFN-γ, IL-18, IL-10 e
CXCL10 no soro, quando comparado ao grupo controle não infectado. Ainda,
pacientes infectados com vírus zika que apresentaram complicações neurológicas
apresentaram menor expressão de IL-10, quando comparado a pacientes infectados
por Zika que não apresentaram manifestações neurológicas. Estes autores ainda
demonstraram aumento na expressão de CCL2, CCL10, TNF-α e IL-22 em mães
que gestavam fetos com malformações. Notavelmente, bebês com deformidades
congênitas do sistema nervoso central apresentaram maiores níveis de IL-18 e
CXCL10, quando comparado a gestantes que possuem fetos normais (KAM et al.,
2017).
23
Em outro estudo Foo et al., (2017); infectaram monócitos obtidos de pacientes
saudáveis com cepas do ZIKV das linhagens africana (MR766) ou asiática
(H/PF/2013) e analisaram por qRT-PCR citocinas e genes moduladores comumente
associados à infecção viral aguda. Foi observado que os monócitos infectados com
o vírus de origem africana apresentaram maior expressão de genes ligados a
produção de interferon do tipo 1 (IFN-α, IFN-β, STAT1, STAT2, IRF7, IRF9, NF-κB)
macrófagos inflamatórios M1 (CXCL-10, CD80, IL12, IL18, IDO, iNOS, SOCS1,
CCR7) e menor expressão de genes ligados a macrófagos anti-inflamatórios M2 (IL-
10, CCL2, Arg-1, VEGF, YKL-40, CD163, CD23), quando comparado a monócitos
infectados com o vírus de origem asiática. Os autores ainda demonstraram que a
infecção de monócitos obtidos de pacientes gestantes saudáveis com a linhagem
africana do vírus zika induziu elevada produção de IFN-β quando comparado a
essas mesmas células infectadas com a cepa do vírus de origem asiática. Foi
observado também que as células obtidas de gestantes produzem menor
quantidade de IFN-β, quando comparado a células de indivíduos não gestantes.
Foi demonstrado em modelo animal que a deficiência do IFN de tipo I como
do tipo II, podem promover a replicação viral e disseminação para o SNC (ALIOTA et
al., 2016; KATO et al., 2006; ROSSI et al., 2016). Foi demonstrado que proteínas
não estruturais do ZIKV (NS1, NS4A e NS5) podem inibir a indução de IFN do tipo I,
inibindo a sinalização via IRF3 e ativação de NF-kB, embora o mecanismo preciso
ainda não esteja claro (KUMAR et al., 2016). Em outro estudo, os autores sugeriram
que NS1 e NS4B do ZIKV interagem com TBK1 e impedem a ativação de IRF3 (WU
et al., 2017).
Abdalla et al., (2018); estudou o caso de um paciente com fibrilação atrial por
Zika, comparado a um paciente infectado pelo vírus zika, mas sem fibrilação atrial e
um indivíduo controle saudável. O paciente com fibrilação atrial apresentou níveis
elevados de quimiocinas (CXCL8, CCL11, CCL2, CXCL10), citocinas (IL-1β, IL-6,
TNF-α, IFN-γ, IL-17, IL-1B, IL-4, IL-9) quando comparado com pacientes saudáveis.
Ademais, o paciente com fibrilação atrial apresentou maior produção de CCL5, IL-
1β, TNF-α, IFN-γ, IL-9, G-CSF e GM-CSF, quando comparado a pacientes
infectados pelo ZIKV sem fibrilação atrial.
24
Até o momento, poucos estudos avaliaram a participação da resposta
imunológica em pacientes infectados pelo vírus zika. Como demonstrado acima,
estes estudos investigaram principalmente a produção de citocinas e quimiocinas em
pacientes durante a fase aguda e convalescente da infecção, bem como em células
provenientes de pacientes não infectados e posteriormente infectadas in vitro. Ainda
não temos estudos descrevendo a participação de receptores da imunidade inata
durante a infecção em pacientes, estes receptores são importantes para iniciar a
resposta antiviral e a ativação de determinados receptores podem modular a
imunidade adaptativa.
1.6 Receptores da Imunidade Inata
A imunidade inata detecta patógenos utilizando moléculas denominadas
receptores de reconhecimento de padrões (PRRs). Os PRRs são expressos em
macrófagos, células dendríticas (DCs) e neutrófilos principalmente e reconhecem os
padrões moleculares associados aos patógenos (PAMPs) que são padrões
moleculares conservados e compartilhados por grandes grupos de micro-organismos
(KUMAGAI e AKIRA, 2010). Os PRRs são classificados em quatro grupos diferentes
com base em sua localização celular e função e incluem proteínas
transmembranares, como receptores semelhantes a toll (TLRs), Receptores de
lectina tipo C (CLRs), proteínas citoplasmáticas tais como NOD (nucleotídeos de
domínio de oligomerização) ou NLRs e ácido retinóico gene induzível I (RIG I) ou
como receptores semelhantes a RIG (RLRs). Os TLR, por exemplo, reconhecem
uma variedade de componentes microbianos, como bactérias lipoproteínas
específicas, glicolípidios proteínas e ácidos nucleicos. Os ligantes do PPR,
medeiam as cascatas de sinalização da imunidade inata e resposta inflamatória em
monócitos e células dendríticas. Posteriormente, citocinas e quimiocinas são
produzidas, e os leucócitos se tornam mobilizados e ativados. Estudos recentes
indicam que PRRs não são apenas envolvidos em reconhecer patógenos, mas
também em reconhecer moléculas endógenas liberadas por células danificadas,
denominados como padrões moleculares associados a dano (DAMPs) que incluem
ácidos nucleicos, ácido úrico, e colesterol (ROCK, LAI e KONO, 2011). Clinicamente,
25
o reconhecimento desses ligantes endógenos pelo PRRs é associado a uma
variedade de doenças crônicas autoimunes e inflamatória.
Os receptores tipo Toll (TLRs) são uma classe de receptores de
reconhecimento de padrões que reconhecem padrões moleculares associados a
patógenos bacterianos, virais ou parasitários (PAMPs), desempenhando um papel
fundamental nas respostas imunológicas inatas (BRUBAKER et al., 2015; TAKEDA e
AKIRA, 2003). Esta família inclui receptores de membrana plasmática identificados
em camundongos e seres humanos: TLR1, TLR2, TLR4, TLR5, TLR6 e TLR10
(BRUBAKER et al., 2015; LEIFER e MEDVEDEV, 2016) receptores endossômicos
de detecção de ácido nucleico também identificados em camundongos e seres
humanos: TLR3, TLR7, TLR8 e TLR9 e receptores endossomais específicos de
camundongos: TLR11, TLR12 e TLR13 (EWALD e BARTON, 2011; WANG, CHAI e
WANG, 2016). Os membros da família TLR foram bem analisados como mediadores
da imunidade inata, além de estarem intimamente ligados à autoimunidade (PELKA
et al., 2016; TAKEDA e AKIRA, 2004) e também reconhecem padrões moleculares
associados ao perigo (DAMPs) no espaço extracelular e ativa vias de sinalização
através de fatores de transcrição que regulam a expressão de citocinas pró-
inflamatórias e quimiocinas para eliminar patógenos invasores. No entanto, além
disso, para lipopolisacarídeos (LPS) e outros produtos microbianos, os TLRs
também podem ser ativados por sinais endógenos de lesões teciduais, incluindo
detritos de células apoptóticas e necróticas, oligossacarídeos, proteínas de choque
térmico e fragmentos de ácido nucleico (WADA e MAKINO, 2016). Os TLR
aparecem agora em posição crítica na patogênese de uma variedade de condições
inflamatórias, como lesão de isquemia-reperfusão (LEEMANS et al., 2005),
aterogênese (DEN DEKKER et al., 2010), e doenças imunomediadas (FRIC et al.,
2013). Dos TLRs endossomais, TLR3 reconhece o dsRNA e o TLR9 reconhece o
dsDNA. Alternativamente, o TLR7 e o TLR8 intimamente relacionados respondem
pelo reconhecimento de ácido ribonucleico de cadeia simples rico em purina
(ssRNA) para induzir uma resposta imunológica a patógenos que são reconhecidos
no endosoma (HEMMI et al., 2002; MANCUSO et al., 2009). Assim, a localização
desses TLRs no endossoma é um requisito para a detecção de ácidos nucleicos
virais e bacterianos que são endocitados. O controle das vias de tráfico desses TLRs
para o endosoma é um processo regimentado que envolve várias etapas. Na
26
literatura, há uma maior ênfase na regulação da localização dos TLR9, enquanto o
conhecimento dos mecanismos que controlam a localização TLR7 é principalmente
deduzido dos estudos TLR9 (BAO e LIU, 2013; CHUANG e ULEVITCH, 2000).
A família de indutores do gene do ácido rentinóico I (RIG-I), como os
receptores semelhantes (RLRs), consiste no membro epônimo RIG-I, bem como o
antígeno de diferenciação de melanoma 5 (MDA5). RIG-I preferencialmente
reconhece moléculas curtas de dsRNA, enquanto MDA5 tem preferência por
moléculas de dsRNA mais longas (KATO et al., 2008). Os RLRs estão localizados no
citoplasma de quase todas as células do corpo e distingue o RNA do hospedeiro e
do patógeno, reconhecendo estruturas únicas encontradas no RNA viral (LOO,
GALE e JR., 2011). RIG-I e MDA5 contêm domínios N-terminais de ativação e
recrutamento de caspáses (CARDs) que atuam como domínios de sinalização, um
domínio central de RNA semelhante a helicases DExD/H que facilita a hidrolise de
ATP e ligação ao RNA e um domínio C-terminal (CTD) que auxilia no
reconhecimento do RNA ligante e especificidade da ligação (BRUNS e HORVATH,
2012).
Apesar das diferentes especificidades de ligação para RNA viral, ambos RIG-
I e MDA5 dependem da mesma cascata de sinalização para desencadear a
expressão de IFN de tipo I, ISGs e citocinas pró-inflamatórias(YONEYAMA et al.,
2005). Os domínios amino-terminais CARDs dos RLRs interagem com outro
localizado na posição N-terminal da proteína adaptadora central, a proteína
mitocondrial de sinalização antiviral (MAVS) (VAZQUEZ e HORNER, 2015). Após a
sua ligação ao ligante, RIG-I e MDA5 sofrem mudanças de conformação e
modificações pós-tradução, incluindo desfosforilação e ubiquitinação, permitindo sua
interação com MAVS (GACK et al., 2007; WIES et al., 2013). MAVS recruta
membros da família do fator associado ao receptor TNF (TRAF), E3 ubiquitina
ligases e esses MAVS ubiquinados promovem o recrutamento do modulador
essencial de NF-kappaβ (NEMO), que ele mesmo recruta o inibidor de proteína
quinasses serina / treonina de kappa-β quinase épsilon (IKKε) e TINK-binding
quinasse 1 (TBK1). IKK e TBK1 fosforilam e ativam os fatores reguladores de
interferon 3 e 7, (IRF-3) e IRF-7, bem como o fator nuclear kappa-B (NFκβ), através
da fosforilação e degradação de inibidor de kappa-β (Iκβ). Após a translocação
nuclear, o IRF-3 promove a transcrição dos genes codificadores de interferon do tipo
27
I e ativa diretamente a transcrição gene efetor antiviral (BROWNELL et al., 2014;
DAFFIS et al., 2007; WANG et al., 2010).
Figura 3. Esquema da via de sinalização dos PRRs e produtos formados.
28
Fonte: Adaptado de Trinchieri e Sher, 2007.
Em infecção de cultura de fibroblastos in vitro, foi observada ativação de
receptores de reconhecimento de padrões (PRRs), tais como TLR3, RIG-1 e MDA-5
sensibilizados por PAMPs virais, impulsionando a sinalização na ativação de fatores
de transcrição como o IRF-7 que por sua vez estimula a produção de interferon do
tipo I (HAMEL et al., 2015). A figura 5 apresenta o modelo proposto de
reconhecimento do vírus Zika por receptores de reconhecimento de padrões. Hamel
e colaboradores (2015); destaca que não foi observada a ativação do TLR7 e que
apesar da ativação do TLR3, a expressão gênica do IRF3 permaneceu inalterada
durante o curso da infecção nos fibroblastos.
A doença causada pelo vírus zika é emergente nas américas, e ainda não há
uma vacina protetora, nem tratamento especifico. A associação da infecção materna
pelo vírus zika com transmissão vertical, resultando em anormalidades congênitas
incluindo a microcefalia e outras complicações como a síndrome de Guillain-Barré,
tornou esse vírus uma emergência em saúde pública. Não há estudos em seres
Figura 3. Esquema da via de sinalização dos PRRs e produtos formados
β-glucano Lipoproteínas Proteínas IL-1, IL-1β
Dectina-1 Membrana plasmática
Citoplasma
IFN tipo 1
IFN tipo 1
Citocinas pró-inflamatórias
Vários ligantes Peptídeos
Endossomo
29
humanos que avaliem a expressão de receptores da imunidade inata em pacientes
portadores de infecção pelo vírus Zika. Assim, este trabalho visa avaliar a resposta
imunológica inata apresentada por pacientes com infecção aguda pelo vírus Zika no
sentido de contribuir para a geração de conhecimentos sobre o papel dos
mediadores da resposta imunológica inata na proteção ou patogênese da doença.
30
2. OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
Avaliar o perfil da resposta imunológica inata de pacientes infectados pelo
vírus Zika.
2.2 Objetivos específicos
Avaliar a expressão de RNAm de receptores da imunidade inata por qRT-
PCR e citocinas em células mononucleares do sangue periférico de pacientes
durante a infecção aguda pelo vírus Zika
Correlacionar a expressão dos receptores de reconhecimento de padrões
(PRRs) às citocinas.
31
3. MATERIAL E MÉTODOS
3.1 Delineamento experimental
32
3.2 Amostras
Pacientes com suspeita da infecção pelo ZIKV atendidos em centros de
saúde e hospitais da rede pública e privada do Rio Grande do Norte foram
submetidos à punção venosa (sistema a vácuo) de sangue periférico 15 ml, em tubo
contendo o anticoagulante EDTA (Vacutainer®, BD Biosciences, USA) para
obtenção do soro e/ou sangue total. A coleta foi realizada em até cinco dias após o
início dos sintomas. Essas amostras foram enviadas, juntamente com suas
respectivas fichas de notificação compulsória, ao Laboratório Central Doutor Almino
Fernandes (LACEN/RN) e, posteriormente, encaminhadas ao Laboratório de
Biologia Molecular de Doenças Infecciosas e do Câncer (LADIC) e LAVIR-IMT
(Laboratório de Virologia do Instituto de Medicina Tropical), localizados na
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O presente estudo foi
aprovado pelo comitê de ética da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN) de acordo com o protocolo CAAE: 51057015.5.0000.5537. Todos os
participantes da pesquisa estavam cientes e assinaram o termo de livre
consentimento e esclarecimento conforme a resolução 196/96-CNS/MS.
3.3 Extração do RNA viral
As amostras obtidas acima foram submetidas ao processo de extração de
RNA, utilizando Kit QIAGEN (Viral RNA Mini Kit Qiagen RNA Extraction) específico
para extração de RNA total, seguindo as recomendações do fabricante. Inicialmente
foram pipetados 560 µL de tampão AVL (tampão de lise) preparado com RNA
(carrier/transportador) em tubos de micro centrífuga com capacidade de 1,5 ml;
foram adicionados 140 µL das amostras (PBMC + Trizol) e o produto
homogeneizado por pulso-vortex (Vortex Model QL-901, Biomixer) 15 segundos.
Após, incubados a temperatura ambiente por 10 min, seguido de breve
centrifugação (6000 x g/ 15 segs.) e adicionados mais 560µL de etanol (96-100%),
novamente o produto foi homogeneizado por meio de pulso vórtex 15 segs., seguido
de breve centrifugação (6000 x g/ 15 segs.). Do total 630µL do produto obtido foram
passados para uma coluna QIAamp Mini (Kit QIAGEN) centrifugados a 6000 x
33
g/1min (esse passo foi repetido), foram adicionados 500µL de tampão (Buffer AW1)
a coluna, e centrifugado a 6000 x g/1min. O tubo coletor foi descartado, substituído
por novo tubo coletor de micro centrífuga com capacidade de 1,5 ml e acoplado a
coluna, adicionados mais 500µL de tampão (Buffer AW2) centrifugado a 20 000 x
g/3min, novamente o tubo coletor foi descartado e a coluna acoplada a um micro
tubo de polipropileno com capacidade de 1,5mL (Sigma), por fim, foram adicionados
60µL tampão (Buffer AVE), a amostra foi incubada por 1 min a temperatura ambiente
e então centrifugada a 6000 x g/1min, a coluna descartada. Dado todo o
procedimento e as amostras extraídas foram acondicionadas em freezer -80°C até o
momento de serem utilizadas para obtenção do cDNA.
3.5 Transcrição reversa seguida da reação em cadeia da polimerase em
tempo real (RT-qPCR) para detecção do Vírus Zika
Os RNAs obtidos na etapa anterior, a extração do RNA viral, foram
submetidos a reação a em cadeia da polimerase com transcrição reversa em tempo
real (RT-qPCR) em uma única etapa e utilizando iniciadores consensuais e sondas
marcadas com fluoróforos (WHO, 2009). A fluorescência gerada no momento da
amplificação permite a quantificação viral e é proporcional à quantidade de produtos
amplificados (STORCH, 2007).
Para a detecção do ZIKV nas amostras, foram utilizados os iniciadores
consensuais forward e reverse (Zika_qRT_F e Zika_qRT_R) a 200 nM
complementares as sequências dos genes que codificam a proteína não estrutural
NS5 e a sonda (Zika_qRT_P) a 125nM que é complementar à nucleotídeos
conservados existentes nas cepas de ZIKV da Malásia, África e Micronésia (FAYE et
al., 2013). (Tabela 1).
A mistura de reagentes para a reação da RT-qPCR foi realizada para cada
amostra estudada da seguinte forma: em uma placa da AppliedBiosystems®
contendo 96 poços, foram adicionados 2,5μL do TaqMan FAST 1-Step Master Mix
(2x) (AppliedBiosystems, Foster City, Usa), 0,2μL do primer Zika_qRT_F (Invitrogen,
USA), 0,2μL do primer Zika_qRT_R (Invitrogen, USA), 0,2μL da sonda
Zika_qRT_PAppliedBiosystems® e 1,9μL de água livre de nucleases (Promega,
34
Madison, USA). Após a preparação desses 5 μL de mistura para a reação, foram
alíquotados 5 μL do RNA previamente extraído (Tabela 2).
Tabela 1. Relação dos Oligunucleotídeos utilizados na transcrição reversa seguida da relação em cadeia pela polimerase em tempo real (RT-qPCR) para detecção do vírus Zika (Y=T ou C, R =A ou
G).
Fonte: Faye et al., 2013
A placa foi imediatamente levada ao Aparelho 7500 fast Real-Time PCR
System (AppliedBiosystems®) e submetida aos seguintes parâmetros de
termociclagem: 1 ciclo para ativação enzimática da transcriptase reversa (50ºC por 5
minutos), 1 ciclo para a inativação enzimática e desnaturação inicial (95ºC por 20
segundos), 40 ciclos de desnaturação (95ºC por 15 segundos), anelamento (60ºC
por 1 minuto), extensão (60ºC por 1 minuto) e um período de extensão final (60ºC
por 1 minuto).
Tabela 2. Relação dos reagentes utilizados na transcrição reversa seguida pela reação em cadeia pela polimerase em tempo real (RT-qPCR).
3.6 Síntese de cDNA
Em um segundo momento as amostras de RNA foram submetidas ao
procedimento de síntese de cDNA, utilizando o kit HIGT CAPACITY cDNA
REVERSE TRANSCRIPTION (Applied Biosystems, USA) e termociclador
convencional (MJ Research PTC-150 MiniCycler), seguindo o protocolo
Tipo de Oligonucleotídeo (sentido)
6 da sequência (5’ – 3’) Posição no Genoma
Primer Zika_qRT_F TGA-CTC-AGG-ATT-TAA-AAA-CTG-GAA
GCC-ACA-TTG-TGA-ACT-TTG-GG
Primer Zika_qRT_R TGG-GTC-TGG-GAA-CAT-TTC-TCT-TC TGA-GAT-TTA-AAC-ATT-CCT-CTT-CGC
Sonda Zika_qRT_P TTT-ACC-TGG-ATG-GAA-ACC-AGC-TA TCA-AGG-CTG-AGA-AGC-TGT-AAG-CTA
Reagentes Mistura para RT-qPCR (volume utilizado por reação)
Taqman FAST1 – STEP Master Mix (2) 2,5 µL
Primer Zika_qRT_F 0,2 µL Primer Zika_qRT_R 0,2 µL Sonda Zika_qRT_P 0,2 µL Água livre de nucleases 1,9 µL
35
recomendado pelo fabricante para a síntese do cDNA a partir da fita de RNA total.
Os ciclos da reação foram de 10min a 25° C, 120min a 37°C, 5min a 85°C e ∞ a 4°C.
A preparação do mix foi realizada em microtubos de polipropileno com capacidade
para 0,5mL (Sigma), adicionando 2µL da solução tampão, 0,8µL de dNTPs na
concentração de 100µM (Bio Basic Inc., USA), 1µL da enzima (MultiScribe™
Reverse Transcriptase), 2µL dos iniciadores, 1µL do inibidor de RNAse, 3µL de água
Mili-Q (Nuclease free) e 2µL da amostra de RNA. Os cDNA obtidos a partir de cada
amostra foram acondicionados a uma temperatura de (–20°C) até a realização das
análises para quantificação da expressão do RNAm dos receptores, moléculas
adaptadoras e suas citocinas por qPCR em tempo real.
3.7 PCR em Tempo real (RT-qPCR) para quantificação de marcadores da
imunidade inata
A análise da expressão quantitativa de genes de receptores da imunidade
inata, suas moléculas adaptadoras e citocinas foram realizadas por meio de reações
de PCR em tempo real, utilizando o sistema SYBR Green® em termociclador 7500
Fast Real time (Applied Biosystems, Warrington, USA). As reações foram realizadas
em placas de 96 poços (MicroAmp®, Applied Biosystems, USA) e, para cada gene
alvo foi preparado um Master mix composto pelos iniciadores direto e reverso, FAST
SYBR® Green (Applied Biosystems, USA) e água Mili-Q estéril para PCR. Foram
utilizados iniciadores específicos para receptores do tipo Toll (TLR3, TLR7, TLR8,
TLR9 e MDA-5), moléculas adaptadoras (TRIF e Myd88), e para as citocinas (IL-6,
IL-12, TNF-α, IFN-α, IFN-β e IFN-γ) descritos na (tabela 3), desenhado com auxílio
de software apropriado (Primer Express, Applied Biosystems, USA). O cDNA (2,5
ng/reação) sintetizados a partir do RNA mensageiro e oligonucleotídeos específicos
(2µg/reação), foram utilizados juntamente com os tampões da reação contendo 5μL
de Sybr® green, 0,7μL de cada iniciador (direto e reverso), 1,6 μL de água e 2μL do
cDNA. As condições das reações foram 2 min a 50ºC, 10min a 95ºC, e 40 ciclos de
15s a 95ºC e 1min a 56ºC. Um ciclo final de 20min com temperatura crescente de 60
a 95ºC foi empregado para a obtenção de uma curva de dissociação dos produtos
da reação, utilizada para a análise da especificidade de amplificação. As condições
da PCR para cada iniciador utilizado foram padronizadas de acordo com a
36
concentração, temperatura de anelamento, ausência de formação de dímeros
(determinada pela curva de dissociação do produto gerado pela qPCR), eficiência de
amplificação dos genes alvos e gene constitutivo. A determinação dos níveis de
expressão dos genes alvo é realizada por meio da normalização das amostras
quanto à expressão constitutiva de β-actina. Após a normalização dos resultados
baseados na expressão do gene constitutivo, foi verificada a análise da expressão
dos receptores, moléculas adaptadoras, citocinas estudadas com o cálculo baseado
na fórmula utilizando o programa Microsoft Excel (2007)
O equipamento utilizado para execução das reações e fornecimento dos
resultados foi o 7500 Software V 2.0.5, 7500 Fast Real time (Applied Biosystems,
USA). O nível de expressão de cada gene foi determinado pelo método de
quantidade relativa (Rq). Inicialmente foi formada uma curva padrão relativa para
cada gene utilizando-se cinco pontos obtidos por diluição seriada de uma amostra
de cDNA com elevada concentração de genes alvos e constitutivo. Para cada
paciente foi obtida a Rq de cada gene pelo valor de CT (cycle threshold) e a
equação da reta obtida para cada um dos genes alvos. Os mesmos foram
normalizados utilizando a Rq do controle endógeno (β-actina) e a expressão foi
comparada entre os grupos avaliados.
Tabela 3. Sequência dos iniciadores específicos utilizados nas reações de PCR em tempo real.
Iniciadores Sequência do Primer (5’ – 3’)
Temp. de Anelamento
Referências
β-actina Hu (direto) TGACTCAGGATTTAAAAACTGGAA 56,1 Pereira, 2014 β-actina Hu (reverso) GCCACATTGTGAACTTTGGG TLR3 Hu (direto) TGGGTTCTGGGAACATTTCTCTTC 58,8 Pereira, 2014 TLR3 Hu (reverso) TGAGATTTAAACATTCCTCTTCGC TLR7 Hu (direto) TTTACCTGGATGGAAACCAGCTA 59,3 Pereira, 2014 TLR7 Hu (reverso) TCAAGGCTGAGAAGCTGTAAGCT TLR8 Hu (direto) TTATGTGTTCCAGGAACTCAGAGAA 59 Pereira, 2014 TLR8 Hu (reverso TAATACCCAAGTTGATGATCGATAAGTTTG TLR9 Hu (direto) CCACCCTGGAAGAGCTAAACC 60,8 Pereira, 2014 TLR9 Hu (reverso) GCCGTCCATGAATAGGAAGC Myd88 Hu (direto) CAAGTACAAGGCAATGAAGAAAG 56,9 Pereira, 2014 Myd88 Hu (reverso) AAGGCGAGTCCAGAACCA TRIF Hu (direto) ATTTCAGGTGCCCGGGCGTG 59,9 Pereira, 2014 TRIF Hu (reverso) TTTGCCGCTCTGCCTCCAC MDA5 Hu (direto) GCAGAGGTGAAGGAGCAGA 52,5 Este trabalho MDA-5 Hu (reverso) AAACGATGGAGAGGGCAAG IFN-α Hu (direto) GAAGAATCTCTCCTTTCTCCTGCC 60,9 Pereira, 2014 IFN-α Hu (reverso) ATGGAGGACAGAGATGGCTTG IFN-β Hu (direto) TGCCTCAAGGACAGGATGAAC 60,9 Este trabalho IFN-β Hu (reverso) GCGTCCTCCTTCTGGAACTG IFN-γ Hu (direto) ATGCAGAGCCAAATTGTCTCC 58,9 Abrantes, 2016 IFN-γ Hu (reverso) GGCAGGACAACCATTACTGG IL-6 Hu (direto) CAAATTCGGTACATCCTCGA 56 Pereira, 2014 IL-6 Hu (reverso) TGCTGCTTTCACACATGTTACT IL-12 Hu (direto) CACTCCCAAAACCTGCTGAG 59 Pereira, 2014 IL-12 Hu (reverso) TCTCTTCAGAAGTGCAAGGGTA
37
TNF-α Hu (direto) TNF-α Hu (reverso)
TTCTGGCTCAAAAAGAGAATTG TGGTGGTCTTGTTGCTTAAAG
55 Abrantes, 2016
Fonte: adaptado de Abrantes, 2016;Pereira, 2014.
3.8 Análises estatísticas
As análises estatísticas foram realizadas através do software PRISM® 7.0
(GraphPad, San Diego, CA, USA) versão para Windows. Inicialmente foram feitos os
testes de Agostino-Pearson, ShapiroWilk e Kolmogorov-Smirnov para verificação da
distribuição normal dos dados. Posteriormente, para as análises dos níveis de
expressão das citocinas, receptores e moléculas adaptadoras envolvidos, para os
grupos infectados e controle, utilizamos o teste de Mann-Whitney. Para realizar as
correlações entre as expressões de todos os parâmetros analisados utilizamos a
regressão linear e o teste não paramétrico de Spearman. Em todos os casos, as
diferenças foram consideradas estatisticamente significantes quando o valor de p foi
menor ou igual a 0,05 (p ≤0,05).
38
4. RESULTADOS
A análise da expressão de RNAm para os receptores da imunidade inata
demonstrou que pacientes infectados pelo vírus zika em fase aguda apresentaram
maior expressão de TLR3 (Fig 4A) e menor expressão de RNAm de TLR8 (Fig 4C) e
Myd88 (Fig 4F), quando comparado com os indivíduos saudáveis. Entretanto,
pacientes infectados pelo vírus Zika e indivíduos saudáveis apresentaram níveis de
expressão semelhantes de RNAm de TLR7, TLR8, TLR9, MDA-5 e TRIF (Figs 4B,
4D, 4E, 4G).
Expressão do RNA mensageiro de TLR3 (A), TLR7 (B) e TLR8 (C), TLR9 (D), TRIF (E), Myd88 (F), MDA5 (G) foi determinada por PCR em tempo real (qRT-PCR) em células monucleares do sangue periférico de pacientes com infecção aguda pelo vírus zika (até 5 dias após infecção) (n=30) e indivíduos controles saudáveis (n=9). Os níveis de expressão de RNAm foram normalizados com auxílio da expressão de RNAm da β-actina. Os resultados estão expressos em média ± desvio
Figura 4. Pacientes infectados pelo vírus zika apresentam elevada expressão de RNAm de TLR3 e reduzida expressão de TLR8 e Myd88.
39
padrão. *p < 0.05.
Pacientes infectados pelo vírus zika e indivíduos saudáveis possuem
expressão semelhante de RNAm de IL-6 (Fig 5A) e IL-12 (Fig 5B). Entretanto,
pacientes infectados pelo vírus zika apresentaram reduzida expressão de RNAm de
TNF-α (Fig 5C) e aumentada expressão de IFN-α (Fig 5D), IFN-β (Fig 5E) e IFN-γ
(Fig 5F), quando comparado a indivíduos saudáveis.
Figura 5. Pacientes infectados pelo vírus zika apresentam elevada expressão de RNAm de IFN-α, IFN-β e IFN-γ e reduzida expressão de TNF-α.
40
Expressão do RNA mensageiro de IL-6 (A), IL-12 (B), TNF-α (C), IFN-α (D), IFN-β (E) e IFN-γ (F) foi determinada por PCR em tempo real (qRT-PCR) em células monucleares do sangue periférico de pacientes com infecção aguda pelo vírus zika (até 5 dias após infecção) (n=30) e indivíduos controles saudáveis (n=9). Os níveis de expressão de RNAm foram normalizados com auxílio da expressão de RNAm da β-actina. Os resultados estão expressos em média ± desvio padrão. *p < 0.05.
Para determinar o possível envolvimento de receptores da imunidade inata na
produção de mediadores imunológicos dessa resposta foi realizada a análise de
correlação entre os níveis de expressão de RNAm dos diferentes receptores da
imunidade inata avaliados em função da expressão de RNAm das citocinas em
pacientes infectados pelo vírus zika. Inicialmente, foi verificado que há correlação
positiva entre a expressão de TLR3 e a expressão de RNAm de IL-12 (Fig 6B), IFN-
Figura 6. A elevada expressão de TLR3 em pacientes infectados com o vírus zika é correlacionada com a alta expressão de IL-12, IFN-α, IFN-β.
41
α (Fig 6C) e IFN-β (Fig 6D). Este aspecto indica que TLR3 pode ser receptor
importante na indução de interferon do tipo 1. Não foi observada correlação
significativa entre a expressão de TLR3 com as citocinas IL-6 (Fig 6A) e IFN-γ (Fig
6E).
A expressão do RNA mensageiro, de TLR3 (A) foi correlacionada a expressão do RNAm das citocinas IL-12 (B), IFN-α (C), IFN-β (D) e IFN-γ (E). A expressão gênica foi determinada por PCR em tempo real (qRT-PCR) em células monucleares do sangue periférico de pacientes com infecção aguda pelo vírus zika (até 5 dias após infecção) (n=30) e indivíduos controles saudáveis (n=9). Os níveis de expressão de RNAm foram normalizados com auxílio da expressão de RNAm da β-actina. Os resultados estão expressos em média ± desvio padrão. *p < 0.05.
Posteriormente, foi verificada correlação positiva entre a expressão de TLR-9
e a expressão de RNAm de IL-6 (Fig 7A), IL-12 (Fig 7B), IFN-α (Fig 7C) e IFN- γ (Fig
7E). Não foi observada correlação significativa entre a expressão de TLR9 e IFN-β
(Fig. 7D).
42
Figura 7. A elevada expressão de TLR9 em pacientes infectados com o vírus zika é correlacionada
com a alta expressão de IL-6, IL-12, IFN-α, IFN-β e IFN-γ.
A expressão do RNA mensageiro, de TLR9 (A) foi correlacionada a expressão do RNAm das citocinas IL-12 (B), IFN-α (C), IFN-β (D) e IFN-γ (E). A expressão gênica foi determinada por PCR em tempo real (qRT-PCR) em células monucleares do sangue periférico de pacientes com infecção aguda pelo vírus zika (até 5 dias após infecção) (n=30) e indivíduos controles saudáveis (n=9). Os níveis de expressão de RNAm foram normalizados com auxílio da expressão de RNAm da β-actina. Os resultados estão expressos em média ± desvio padrão. *p < 0.05 ***P0,0001; ****P<0,0001.
43
A análise de correlação entre a expressão de RNAm de MDA-5 e o perfil de
citocinas demonstrou correlação positiva entre a expressão deste receptor e a
expressão de RNAm de IL-6 (Fig 8A), IL-12 (Fig 8B), IFN-α (Fig 8C) e IFN-β (Fig
8D).
A expressão do RNA mensageiro, de MDA-5 (A) foi correlacionada a expressão do RNAm das citocinas IFN-α (A), IFN-β (B), IL-6 (C) e IL-12 (D). A expressão gênica foi determinada por PCR em tempo real (qRT-PCR) em células monucleares do sangue periférico de pacientes com infecção aguda pelo vírus zika (até 5 dias após infecção) (n=30) e indivíduos controles saudáveis (n=9). Os níveis de expressão de RNAm foram normalizados com auxílio da expressão de RNAm da β-actina. Os resultados estão expressos em média ± desvio padrão. *p < 0.05, **P< 0,01.
Figura 8. A elevada expressão de MDA-5 em pacientes infectados com o vírus zika é correlacionada com a alta expressão de IL-6, IL-12, IFN-α e IFN-β.
44
5. DISCUSSÃO
No presente estudo foi observada a expressão do RNAm dos
receptores da imunidade inata (TLR3, TLR7, TLR8, TLR9 e MDA-5),
moléculas adaptadoras (Myd88 e TRIF) e citocinas (IL-6, IL-12, TNF-α, IFN-α,
IFN-β e IFN-γ) em pacientes com infecção aguda pelo vírus zika. Nossos
resultados indicam que a infecção aguda (até 5 dias após o aparecimento dos
sintomas) pelo vírus Zika induz a produção de IFN-γ, IFN-α e IFN-β,
principalmente por via dependente de TLR3. Por outro lado, os pacientes
infectados pelo vírus zika apresentaram reduzida expressão de TLR8, Myd88
e TNF-α, moléculas também envolvidas na imunidade antiviral. Este estudo é
pioneiro na avaliação da participação de receptores da imunidade inata em
humanos durante a infecção aguda pelo vírus zika.
Inicialmente, a análise da expressão de receptores da imunidade inata,
demonstrou que pacientes com infecção aguda pelo vírus Zika apresentaram
elevada expressão de TLR3, e reduzida expressão de TLR8, quando
comparado aos controles saudáveis. Foi demonstrado por Hamel et al. (2015)
que a infecção de fibroblastos da pele in vitro com o vírus zika induz aumento
na expressão de TLR3, mas não de TLR7. Estes autores ainda destacam que a
expressão gênica do IRF3 permaneceu inalterada durante o curso da infecção
nos fibroblastos, embora a expressão de TLR7 tenha sido reduzida, indicando
que possivelmente TLR3 contribuiu para ativação de IRF7 e produção de
interferon do tipo 1. De acordo com Morris et al. (2017); a expressão de TLR3
contribui para a imunidade antiviral induzindo a produção de interferons do tipo
I e outras citocinas pro-inflamatórias. Entretanto, a alta produção de interferons
do tipo I e citocinas pro-inflamatórias foi também detectada no soro e líquido
amniótico de crianças que tiveram transmissão congênita do vírus (MORRIS et
al., 2017). Por outro lado, estudo utilizando camundongos nocautes de TLR3
infectados com outro Flavivirus, o vírus do Nilo Ocidental (WNV), apresentaram
discreta diferença na carga viral comparado a animais selvagens (DAFFIS et
al., 2008). Estudos conduzidos por Alagarasu et al., (2015); associaram
45
polimorfismo em receptores do tipo toll 3, (TLR) 7 e 8 e TIRAP a apresentação
clínica do tipo de Dengue. Revelaram que uma menor frequência de TLR3 alelo
rs3775291 T estava mais relacionado a Dengue hemorrágica, enquanto que a
frequência de TLR8 haplotipo C-A, foi melhor associada com febre dengue.
No presente estudo, foi observada expressão semelhante de RNAm
de TLR7 no grupo de pacientes infectados com o vírus zika e em indivíduos
saudáveis. O TLR7 reconhece vírus de RNA, como o vírus zika. Foi
demonstrado na infecção experimental com o vírus do Nilo Ocidental (WNV) -
outro Flavivirus que camundongos nocautes de TLR7 produzem menores
níveis de interferon do tipo 1 (WELTE et al., 2009). Curiosamente foi
constatado inibição na expressão de RNAm de TLR8 no grupo de indivíduos
infectados pelo vírus zika, quando comparado com indivíduos saudáveis. Este
dado sugere que pacientes infectados pelo vírus zika apresentam inibição da
expressão de TLR8, receptor importante para produção de interferon do tipo
1. A inibição da expressão TLR8 e a não expressão de TLR7, ambos
envolvidos no reconhecimento de vírus com genoma de RNA de fita simples,
bem como de sua molécula adaptadora Myd88, durante a infecção pelo vírus
zika sugere que esta condição poderia ser um mecanismo de escape do vírus
utilizado para se evadir da resposta imunológica inata.
A expressão do TLR9 foi semelhante entre o grupo de pacientes
infectados pelo vírus zika e o grupo de indivíduos saudáveis. Embora no
grupo de pacientes infectados pelo vírus zika, a média de expressão de
RNAm de TLR9 foi aproximadamente 7x maior que em indivíduos saudáveis.
TLR9 reconhece o dsDNA, é possível que durante o processo de replicação
viral fragmentos de DNA de fita dupla ou DNA de células destruídas sejam
reconhecidas e ativem o receptor TLR9 (BRUBAKER et al., 2015; TAKEDA e
AKIRA, 2003).
A expressão de MDA-5 foi semelhante em pacientes infectados pelo
vírus zika e indivíduos saudáveis. Embora a expressão do RNAm do receptor
citosólico MDA-5 tenha sido semelhante nos indivíduos saudáveis e
infectados pelo vírus, houve correlação positiva com a expressão dos
interferons do tipo I, (IFN-α e IFN-β), bem como com as citocinas pró-
46
inflamatórias IL-6 e IL-12. Estes resultados sugerem que MDA-5 desempenhe
função no reconhecimento e proteção contra o vírus zika. Hamel et al., (2015)
demonstraram aumento na expressão de RNAm de MDA-5 em cultura de
fibroblastos humanos infectados in vitro pelo vírus Zika, havendo também
aumento de IFN-α e IFN-β.
A análise do perfil de citocinas apresentando pelos pacientes deste
estudo, durante a infecção aguda pelo vírus zika demonstrou elevada
expressão de IFN-γ, IFN-α e IFN-β, e reduzida expressão de TNF-α. Ademais,
a elevada expressão de TLR3 em pacientes infectados com o vírus zika é
correlacionada com a alta expressão de IL-12, IFN-α, IFN-β. Foo et al. (2017)
infectaram monócitos obtidos de pacientes saudáveis com cepas das
linhagens africana (MR766) ou asiática (H/PF/2013) do vírus zika e
demonstraram que os monócitos infectados com o vírus de origem africana
apresentaram maior expressão de genes de interferon do tipo 1 (IFN-α, IFN-
β), quando comparado a monócitos infectados com o vírus de origem asiática.
Os autores ainda demonstraram que a infecção de monócitos obtidos de
pacientes gestantes saudáveis com a linhagem africana do vírus zika induziu
elevada produção de IFN-β, quando comparado as mesmas células
infectadas com vírus de origem asiática. A produção de interferons do tipo I
em pacientes infectados está relacionada com proteção contra a infecção,
mas também pode estar relacionada a patogênese, como acontece na
transmissão congênita e na síndrome de Guillain-Barré.
Chaudhary et al. (2017) mostraram que a via de sinalização STAT1 –
STAT2 – IRF9 que conduz a produção de interferon do tipo 1 pode ser inibida
pela proteína NS5 do vírus zika, induzindo a degradação de STAT2. Outros
estudos também mostraram tanto in vitro como in vivo a importância da
proteína NS5 no antagonismo a produção de IFN do tipo I em diferentes
flavivirus (LAURENT-ROLLE et al., 2010, 2014; LUBICK et al., 2015).
Também foi relatado que proteínas não estruturais do ZIKV interferem na
etapa de sinalização de interferon do tipo I e produção de IFN-β via RIG-I (XIA
et al., 2018)
47
Houve aumento significativo da expressão do IFN-γ nos pacientes
infectados pelo vírus zika em relação ao grupo de indivíduos saudáveis. Esse
resultado é coerente com os obtidos por Chaudhary et al., (2017). Esses
autores mostram que a proteína NS5 do vírus Zika induz seletivamente a
expressão da atividade de interferons do tipo II, promovendo a formação de
complexos de proteínas STAT1–STAT1, que ativam genes controladores da
atividade de IFN-γ. Além disso, Elong Ngono et al. (2017); mostraram que a
infecção pelo vírus zika mostrou um perfil de resposta Th1 para linfócitos T
CD4 com produção de IFN-γ, TNF-α e IL-2.
Os níveis de expressão de IL-6 e IL-12 foram semelhantes nos
pacientes sintomáticos infectados pelo vírus zika e indivíduos saudáveis.
Nossos resultados com relação a IL-6 são concordantes como os achados de
Bowen et al. (2017) obtidos em estudo realizado em células dentríticas e
monócitos infectadas com o vírus zika, isolado em Porto Rico que é
filogeneticamente relacionada aos isolados durante o surto no Brasil 2015-
2016. (FARIA et al., 2016; LANCIOTTI et al., 2016). Segundo os autores
acima referidos, essa cepa do vírus não foi capaz de induzir expressão de
níveis relevantes de IL-6 e IL-12. Ainda, estudo realizado por Foo et al. (2017)
utilizando soros de mulheres grávidas infectadas pelo vírus zika, não foi
encontrada diferença nas concentrações de IL-12 entre as mulheres
infectadas e saudáveis.
O nível de expressão de RNAm da citocina TNF-α foi menor nos
pacientes infectados pelo vírus zika, quando comparados com os indivíduos
saudáveis. Este resultado é coerente com aqueles obtidos em um estudo em
modelo animal infectado pelo vírus zika realizado por Kumar et al., (2017); no
qual foi observado diminuição dos níveis de TNF-α a partir do 5º dia de
infecção. Tappe et al. (2016); avaliaram os níveis de citocinas e quimiocinas
de pacientes infectados com o vírus zika em diferentes estágios da infecção e
descreveram níveis muito reduzidos de TNF-α. Esses autores levantaram a
hipótese de que isso seria devido a persistência de níveis elevados de
expressão de IL-10 e IL-13, desde a fase aguda até a convalescência. Por
outro lado, em caso atípico de infecção pelo vírus zika onde um paciente sem
histórico de doenças cardiovasculares apresentou sintomas típicos de
48
fibrilação atrial e níveis elevados de quimiocinas, IL-6, TNF-α, IFN-γ entre
outras citocinas quando comparados com amostras de indivíduos saudáveis.
Observaram ainda, níveis maiores de TNF-α, IFN-γ e quimiocinas, quando
comparados com pacientes infectados por ZIKV com manifestações clinicas
típicas (ABDALLA et al., 2018). Desta forma, o nível diferencial de expressão
de citocinas parece influenciar a história natural da infecção pelo vírus zika
podendo conduzir a quadros clínicos que variam de casos assintomáticos à
casos com sintomatologia neurológica grave.
O presente estudo é pioneiro na avaliação da participação de receptores
da imunidade inata durante a infecção pelo vírus zika em humanos. Estes
receptores são responsáveis pela resposta protetora inicial contra o vírus, além
de modular o perfil de resposta imunológica adaptativa. Nossos resultados
demonstram que durante a infecção aguda pelo vírus zika os pacientes
analisados mostraram forte expressão de RNAm de TLR3 correlacionada com
a elevada expressão de IFN-α e IFN-β, principais moléculas da imunidade inata
com atividade antiviral. Por outro lado, pacientes com infecção aguda pelo vírus
zika apresentaram inibição da expressão de TLR8 e Myd88, moléculas também
envolvidas na imunidade antiviral, o que pode ser um mecanismo de evasão do
sistema imunológico pelo vírus, como descrito para outros flavivirus. O melhor
conhecimento dos mecanismos imunológicos que conferem proteção ou
patologia durante a infecção pelo vírus Zika em humanos pode ser uma
ferramenta valiosa para redução da morbimortalidade associada a infecção,
que possui como consequências mais graves a síndrome de Guillain-Barré e a
síndrome congênita do vírus Zika que pode resultar em microcefalia e outros
danos neurológicos.
49
6. CONCLUSÃO
Nossos resultados indicam que a infecção aguda (até 5 dias de doença)
pelo vírus Zika em humanos induz a expressão de RNAm para IFN-γ, IFN-α e
IFN-β, principalmente por via de TLR3. Por outro lado, pacientes infectados
pelo vírus zika apresentaram inibição da expressão de RNAm para TLR8,
Myd88 e TNF-α, moléculas também envolvidas na imunidade antiviral.
50
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