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JOURNAL OF INFORMATION SYSTEMS AND TECHNOLOGY MANAGEMENT REVISTA DE GESTÃO DA TECNOLOGIA E SISTEMAS DE INFORMAÇÃO www.tecsi.fea.usp.br/revistatecsi/ ISSN: 1807-1775 Volume 2 : Número 1 : 2005 Available Online Disponível Online

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First number of the 2rd edition of the JISTEM (Journal of Information Systems and Technology)

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Page 1: Volume II - Numer I

JOURNAL OF INFORMATION SYSTEMS AND TECHNOLOGY MANAGEMENT

R E V I S T A D E G E S T Ã O D A T E C N O L O G I A E S I S T E M A S D E I N F O R M A Ç Ã O

www.tecsi.fea.usp.br/revistatecsi/ ISSN: 1807-1775

Volume 2 : Número 1 : 2005

Available Online Disponível Online

Page 2: Volume II - Numer I

Journal of Information Systems and Technology Management Revista da Gestão da Tecnologia e Sistemas de Informação ISSN online: 1807–1775 Every four months/Quadrimestral

Editor Responsável - Editor Prof. Dr. Edson Luiz Riccio Universidade de São Paulo - FEA University of São Paulo - FEA

Assistant Editor Marici Gramacho Sakata, Universidade de São Paulo, Brazil

Editorial Advisory Board Adalberto A. Fischmann, University of São Paulo, Brazil Antonio Carlos dos Santos, Federal University of Sao Carlos Armando Malheiro da Silva, University of Minho, Portugal Burak Arzova, Marmara University, Turquia Fabio Frezatti, University of São Paulo, Brazil JaeJon Kim, Chonnan University, Korea José Rodriges Filho, Universidade Federal da Paraíba, Brazil Luc Marie Quoniam, University of Toulon Var, France Miguel Juan Bacic, University of Campinas, Brazil Miklos Vasarhelyi, Rutgers Business School, United States Rejane Maria da Costa, Catholic University of Brasilia, Brazil Robert D. Galliers, Bentley College, USA

Editorial Committee Christophe Benavent, Université Paris X, France, France Dilson Gabriel dos Santos, University of São Paulo, Brazil Geraldo Lino de Campos, University of Sao Paulo, Brazil Gilson Schwartz, University of Sao Paulo, Brazil Hamilton Correa, University of Sao Paulo, Brazil Jose Dutra de Oliveira Neto, University of Sao Paulo, Brazil Lindolfo Galvão de Albuquerque, University of Sao Paulo, Brazil Napoleão Verardi Galegale, Centro Paula Souza and Galegale Associados, Brazil Rosana Grillo Gonçalves, University of Sao Paulo, Brazil Salvador Ruiz-de-Chavez, APCAM, Mexico Sergio Gozzi, University of Sao Paulo, Brazil Corpo Diretivo - Directive Board

Profa. Dra Suely Vilela - Reitor/Rector Prof. Dr. Franco Maria Lajolo - Vice-Reitor/Vice-Rector Prof. Dr. Carlos Roberto Azzoni - Diretor da FEA/Dean of FEA

Publicado por - Published by: TECSI - Laboratório de Tecnologia e Sistemas de Informação - Revista de Gestão da Tecnologia e Sistemas de Informação - EAC FEA USP Av. Prof. Luciano Gualberto, 908 FEA 3, Cidade Universitária - São Paulo/SP 05508-900 Brasil Fone: 55-11-3091 5820 r.125 Fax: 55-11-3091 5820 [email protected] Indexação Latindex, Ulrich's Periodical Directory, DOAJ Webmaster Ricardo Horimoto [email protected] Apoio Técnico Equipe TECSI [email protected] Direitos e Permissão - Terms and Conditions Os artigos são de total responsabilidade dos autores e todos os direitos reservados ao TECSI, sendo permitida a publicação de trechos e artigos, com prévia permissão, desde que citada a fonte. A Revista de Gestão da Tecnologia e Sistemas de Informação tem formato digital e é distribuída gratuitamente por meio eletrônico. The articles are authors responsibility and all rights are reserved to TECSI. The use of these documents may be restricted by the user's agreement with the publisher. In addition, any user's unauthorized copying, distribution, public display, public performance, and preparation of derivative works from such documents is prohibited by copyright law. The "JISTEM" is free of charge and all editions will be available in the site.

Page 3: Volume II - Numer I

Journal of Information Systems and Technology Management

Revista de Gestão da Tecnologia e Sistemas de Informação

Vol. 2, No. 1, 2005, pp. 100

ISSN online: 1807-1775

Volume 2 : Número 1 / Volume 2 : Number 1 2005

Editorial 01

Relato Financeiro na Internet em Portugal Financial Report On The Internet In Portugal

Sandra Raquel Pinto Alves

03-20

Inteligência Competitiva nos Departamentos de Manutenção Industrial no Brasil Competitive Intelligence at Brazilian Industrial Maintenance Departments

Robson Quinello e José R. Nicoletti

21-37

O impacto sobre a informação contábil após a implementação de um sistema integrado de gestão nas instituições Federais de Ensino Superior The impact on the accounting information after the implementation of an integrated system of

administration in the Federal Institutions of Higher Education

Josué Viana de Oliveira Neto

39-54

O Retrato da Exclusão Digital na Sociedade Brasileira The profile of digital exclusion in brazilian society

Lília Bilati de Almeida e Luiza Gonçalves de Paula;

Colaboradores: Flávio Campos Carelli, Tito Lívio Gomes Osório e Marcelo Genestra

55-67

Tecnologia da Informação: Commodity ou Ferramenta Estratégica? Information technology: commodity or strategical tool?

Luciene Braz Ferreira e Anatália Saraiva Martins Ramos

69-79

Using E-collaboration to improve management education: Three Scenarios Marie-Noëlle Bessagnet, Lee Schlenker e Robert Aiken

81-94

Congressos – Conferences 95

Resenha Literária – Book Review 97-98

Submissão de Artigos – Contributions 99-100

Page 4: Volume II - Numer I

Revista de Gestão da Tecnologia e Sistemas de Informação

Journal of Information Systems and Technology Management

Vol. 2, No. 1, 2005, pp. 99

ISSN online: 1807-1775

_____________________________________________________________________________________

Volume 2 Número 1 / Vol. 2 Number 1 2005

EDITORIAL

01

Relato Financeiro na Internet em Portugal - Financial Report On The Internet In Portugal

Sandra Raquel Pinto Alves 02

Inteligência Competitiva nos Departamentos de Manutenção Industrial no Brasil - Competitive Intelligence at Brazilian Industrial Maintenance Departments

Robson Quinello e José R. Nicoletti 20

O impacto sobre a informação contábil após a implementação de um sistema integrado de gestão nas instituições Federais de Ensino Superior. The impact on the accounting information after the implementation of an integrated system of administration in the

Federal Institutions of Higher Education.

Josué Viana de Oliveira Neto 38

O Retrato da Exclusão Digital na Sociedade Brasileira - The profile of digital exclusion in brazilian society

Autores: Lília Bilati de Almeida, Luiza Gonçalves de Paula; Colaboradores: Flávio Campos

Carelli, Tito Lívio Gomes Osório, Marcelo Genestra. 54

Tecnologia da Informação: Commodity ou Ferramenta Estratégica? - Information technology: commodity or strategical tool?

Luciene Braz Ferreira e Anatália Saraiva Martins Ramos 68

Using E-collaboration to improve management education: Three Scenarios Marie-Noëlle Bessagnet, Lee Schlenker e Robert Aiken 80

CONGRESSOS – CONFERENCES 94

RESENHA LITERÁRIA – BOOK REVIEW 96

SUBMISSÃO DE ARTIGOS - CONTRIBUTIONS 98

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Editorial, Vol. 02, No. 01 2005

Revista de Gestão da Tecnologia e Sistemas de Informação/Journal of Information Systems and Technology Management

1

Editorial Edson Luiz Riccio

Editor

O número 1 do volume 2 da Revista de Gestão da Tecnologia e Sistemas de Informação – RGTSI é

tão importante quanto o número anterior pois representa a continuidade dos esforços de implementação da

revista. O apoio que temos recebido dos pesquisadores e colaboradores tem sido fundamental para o sucesso

da Revista. Esta edição está composta das seguintes seções: Editorial, Artigos, Eventos e Resenha Literária. Na

seção Artigos são apresentados seis trabalhos, sendo dois de autores estrangeiros e quatro do Brasil. O primeiro

artigo, Relato Financeiro na Internet em Portugal, apresenta um estudo sobre a tendência das 250 empresas

portuguesas mais lucrativas em utilizarem a Internet como meio de divulgação de suas informações

corporativas. No segundo artigo, Inteligência Competitiva nos Departamentos de Manutenção Industrial no

Brasil, os autores relatam o resultado de pesquisa sobre a utilização da Inteligência Competitiva na obtenção de

saltos tecnológicos e vantagem competitiva. O terceiro trabalho, Implementação de um sistema Integrado de

Gestão nas Instituições Federais de Ensino Superior: um estudo de caso do Projeto SAU – Sistema de

Automação Universitária – da Universidade Federal do Ceará aborda os desafios relativos à integração entre a

TI e a organização. No quarto trabalho, O retrato da exclusão digital na sociedade brasileira, os autores

apresentam reflexões sobre o significado da exclusão digital e a importância de seu estudo. O quinto artigo,

Tecnologia de Informação: Commodity ou Ferramenta Estratégica? Discute os conceitos e as dúvidas que

tem motivado grandes discussões sobre o papel e o valor da TI nas organizações a partir das declarações de

Nicholas Carr em 2003. No sexto trabalho, Using E-collaboration to improve management education: Three

Scenarios os autores apresentam os resultados de três experimentos em educação gerencial ocorridos na França

e Estados Unidos baseados na tecnologia de “e-collaboration” e as questões envolvidas na sua utilização de

maneira eficaz. Na Resenha Literária apresentamos a análise do livro The Handbook of Information Systems

Research de Woszczyncki e Whitman, que aborda e comenta os diversos tipos de metodologia na pesquisa em

Sistemas de Informação. Vale lembrar aos leitores e colaboradores que a RGTSI segue todos as práticas

recomendadas pela Qualis e também pelos principais journals internacionais. Agradecemos aos autores pela

confiança e colaboração demonstrada no envio dos seus trabalhos.

The first issue of the 2

nd volume of the Journal of Information Systems and Technology Management-

RGTSI is as important as the previous number because it represents the continuity of the efforts of

implementation of the Journal. The support that we have received from the researchers and collaborators has

been fundamental for the success of the Journal. This edition is composed of the following sections: Editorial,

Articles, Events and Book Review. In the Articles section six works are presented, being two foreign authors

and four Brazilian authors. The first article, Financial Report in the Internet in Portugal, presents a study on

the tendency of the 250 more profitable Portuguese companies in their use of Internet as away method of

popularization of their corporate information. In the second article, Competitive Intelligence in the Departments

of Industrial Maintenance in Brazil, the authors present research results about the use of the Competitive

Intelligence in obtaining technological and competitive advantage. The third article, Implementation of an

Integrated system of Administration in the Federal Institutions of Higher education approaches the relative

challenges to the integration among IT and the organization. In the fourth article, The picture of the digital

exclusion in the Brazilian society, the authors present reflections on the meaning of the digital exclusion and

the importance of its study. The fifth article, Technology of Information: Commodity or Strategic Tool? discusses concepts and doubts that has motivated great discussions on the role and the value of IT in the

organizations started with Nicholas Carr's declarations in 2003. In the sixth article, Using And-collaboration to

improve management education: Three Scenarios the authors present the results of three experiments in

managerial education happened in France and United States based in the technology of “e-collaboration” and

the subjects involved in its effective usage. In the Book Review we presented the analysis of the book The

Handbook of Information Systems Research of Woszczyncki and Whitman, which approaches and comments

the several methodology types in the research in Systems of Information. It is worth to remind our readers and

collaborators that RGTSI follows all the practices recommended by Qualis (Brazilian evaluation standards) and

also for the main international journals. We thank the authors for the trust and collaboration in submitting their

works.

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Revista de Gestão da Tecnologia e Sistemas de Informação Journal of Information Systems and Technology Management

Vol. 2, No. 1, 2005, pp. 03-20 ISSN online: 1807-1775

_____________________________________________________________________________________ Recebido em/Manuscript first received: 24/01/2005 Aprovado em/Manuscript accepted: 02/03/2005 Endereço para correspondência/ Address for correspondence Sandra Raquel Pinto Alves, Mestra e Professora da Escola Superior de Tecnologia e de Gestão, Instituto Politécnico de Bragança, Campus Santa Apolônia, Fax:+351-273325405; Telefone:+351-273303127 Apartado 1038, 5301-854 Bragança, PORTUGAL. E-mail: [email protected] ISSN online: 1807-1775 Publicado por/Published by: TECSI FEA USP – 2005

RELATO FINANCEIRO NA INTERNET EM PORTUGAL FINANCIAL REPORT ON THE INTERNET IN PORTUGAL

Sandra Raquel Pinto Alves Instituto Politécnico de Bragança, Portugal

RESUMO

Os grandes desenvolvimentos da última década nas tecnologias de informação e de comunicação alteraram por completo os fluxos de informação, assim como a noção de tempo e de espaço. A Internet está a alterar a política informativa das empresas em todo o mundo. Praticamente em todos os países desenvolvidos as empresas estão a utilizar, em maior ou menor escala, a Internet como meio de divulgação universal da sua informação financeira. No presente trabalho é apresentado um estudo empírico com o objectivo de analisar a situação actual do relato financeiro via Internet em Portugal, investigando a tendência das 250 empresas portuguesas, mais rentáveis, no que se refere à organização e à informação. Após observação e análise aprofundada dos websites das referidas empresas, no ano de 2002, constatou-se que: 119 empresas (48%) apresentavam página na Internet. No que respeita à divulgação da informação financeira, verificou-se que do total destas 119 empresas, apenas 51 delas (43%), divulgam algum tipo desta informação nos seus websites.

PALAVRAS-CHAVES: Informação, Internet, Relato Financeiro, Websites, Portugal

ABSTRACT

In the last decade, the advances in communication and information technologies dramatically changed the information flow and our notions of time and space. The Internet has been changing the information policy of companies world-wide. Basically in all developed countries, companies are increasingly using the Internet to provide their financial information. This research presents an empirical study aiming to analyze the organization and information provided on the financial report of the 250 most profitable companies in Portugal, particularly their financial statements published on the Internet. After the observation and in-depth analysis of the websites of the above-mentioned companies, for the year 2002, it was concluded that 119 companies (48%) had a webpage on the internet. In what concerns the disclosure of financial information, only 51 (43%) out of the 119 companies had some kind of financial information stated on their websites.

KEY WORDS: Information, Internet, Financial Report, Websites, Portugal

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Revista de Gestão da Tecnologia e Sistemas de Informação/Journal of Information Systems and Technology Management

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1 INTRODUÇÃO

O início do século XXI caracteriza-se pela aplicação e desenvolvimento de importantes avanços tecnológicos em matéria de processamento, distribuição e transmissão da informação que contribuíram para o nascimento e extensão da chamada “Sociedade da Informação”.

A digitalização da informação aliada à utilização da Internet como meio da sua difusão está a transformar a nossa sociedade a todos os níveis, nomeadamente a nível cultural, económico, comercial, político e social.

O aparecimento da Internet, do correio electrónico e das novas linguagens informáticas contribuíram para a democratização do relatório financeiro electrónico.

A interactividade que permite este meio de comunicação, as ferramentas multimédia que facilitam a sua compreensão, o seu processamento e a sua distribuição, para além da facilidade no acesso de um volume de informação, até agora impensável e a um custo reduzido, são algumas das suas principais vantagens.

Devido a todas estas transformações, surge de imediato a necessidade de uma análise aprofundada das principais conseqüências que este novo meio de comunicação implica no processo da divulgação da informação financeira.

A estrutura do presente trabalho divide-se em duas partes. No que diz respeito à primeira, faz-se uma breve abordagem relativa às rápidas e

grandes alterações na sociedade actual decorrentes da revolução tecnológica, nomeadamente nas organizações. Faz-se ainda, referência à designada Era da Informação em que actualmente vivemos e ao impacto na actualidade da Internet como principal meio de comunicação da divulgação da informação financeira, bem como as suas principais vantagens e inconvenientes.

Na segunda parte são apresentados os resultados do estudo empírico aplicado às 250 empresas mais rentáveis em Portugal no ano de 2002, fazendo-se inicialmente uma análise de carácter descritivo, onde se analisam os websites em termos quer gerais, quer relativos à informação financeira, quer ainda no que respeita à informação não financeira, de seguida são apresentados os resultados do conjunto de hipóteses formuladas através da aplicação de testes não paramétricos.

2 OBJECTIVO

Em conseqüência, o seu principal objectivo consiste em relacionar as novas tecnologias de informação e comunicação, com o propósito de analisar quais as implicações da utilização da Internet como meio de difusão e em que medida as empresas portuguesas a utilizam como meio de comunicação mais adequado para divulgar a sua informação financeira. Para tal, partiu-se da elaboração de um estudo empírico aplicado às 250 empresas mais rentáveis em Portugal.

3 JUSTIFICAÇÃO DO TEMA

A existência de poucos estudos e artigos publicados em Portugal, a relevância, o interesse e principalmente a actualidade desta temática aliada à curiosidade sobre a situação actual em Portugal foram as principais razões motivadoras para a elaboração deste trabalho.

Assim, este poderá servir de ponto de referência para uma comparação de futuros estudos de investigação e de determinação relativamente à sua evolução acerca desta nova forma de relato financeiro.

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Relato Financeiro na Internet em Portugal

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4 O IMPACTO DA INTERNET NA DIVULGAÇÃO DA INFORMAÇÃO FINANCEIRA DAS EMPRESAS

As tecnologias de informação representam nos dias de hoje um novo paradigma de criação de riqueza, substituindo o paradigma industrial, sendo imprescindível na condução dos negócios cada vez mais complexos.

Segundo Lymer (1999), um elemento fundamental responsável por tais mudanças nas tecnologias foi o desenvolvimento e melhoramento das infra-estruturas das comunicações de computador para computador, como seja, o desenvolvimento da Internet. Esta expande as possibilidades para a gestão de informação e oferece novas formas de agir e comercializar divulga de forma mais flexível a informação, ultrapassando as limitações impostas pelo modelo convencional.

A “tempestade” existente no desenvolvimento das tecnologias de informação, fez com que a gestão da informação se tenha tornado uma actividade fulcral para o sucesso de qualquer organização.

Assim, o desenvolvimento global das tecnologias de comunicação deve-se essencialmente à ligação das tecnologias de informação e das telecomunicações e a sua notável evolução está focalizada nos grandes e rápidos avanços ocorridos nestas áreas a nível mundial, bem como, pela crescente necessidade do mundo dos negócios em obter informação de grande qualidade no mais curto espaço de tempo. Tal avanço teve um papel primordial nos fluxos de capital, de produção e marketing.

Inicialmente as empresas começaram por utilizar a Internet para efeitos de publicidade dos seus produtos e/ou serviços e outras informações de carácter geral. Posteriormente, a sua utilização passou rapidamente para todas as áreas, designadamente na divulgação e troca de informação financeira.

O relato financeiro electrónico é resultado de uma evolução inequívoca, respondendo às necessidades e dificuldades sentidas, quer pelos utilizadores, quer pelas próprias empresas, permitindo: reduzir o custo e tempo na divulgação da informação; comunicar com um maior número de utilizadores e potenciais investidores; ultrapassar as limitações do relato tradicional; aumentar a quantidade e tipo de informação a divulgar.

Esta nova forma de divulgação voluntária da informação financeira por parte das empresas, tem grandes vantagens, nomeadamente:

Informação a baixo custo - As empresas através da divulgação das informações financeiras via Internet podem eventualmente eliminar custos, de forma substancial, de impressão e de distribuição, deixando esses mesmos custos de serem considerados como um grande impedimento à propagação da informação.

Hoje, qualquer pessoa apenas com um computador e um “modem” pode aceder à Internet e obter facilmente informação a grande velocidade e a baixo custo, o custo de uma chamada telefónica normal, informação que antes apenas estava disponível para um grupo muito restrito de pessoas.

Segundo o estudo, realizado pelo FASB (2000), a Internet tem sido imprescindível e preponderante para a expansão da quantidade de informação disponível para os utilizadores em geral, visto o custo da obtenção desta informação ser baixo ou até mesmo nulo;

Informação mais atempada – Outra das grandes vantagens para a utilização da Internet como meio de divulgação da informação, é a possibilidade que esta permite no acesso à informação de uma forma mais atempada e freqüente, originando uma maior eficiência nos mercados de capitais.

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Revista de Gestão da Tecnologia e Sistemas de Informação/Journal of Information Systems and Technology Management

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Para Rodrigues e Menezes (2001a) acredita-se também que a Internet conduzirá o relato financeiro de ciclos anuais e semestrais para o relato em tempo real. Contudo, neste momento tal não acontece dado que se continua a oferecer o mesmo tipo de informação, por vezes insuficiente.

Assim, para que esta vantagem se venha a concretizar terá que se resolver problemas a nível prático e legal, nomeadamente, a integração da informação corrente com a informação previamente apresentada sem que para isso a empresa incorra em custos significativos e problemas legais.

Os utilizadores da informação financeira podem aceder de forma contínua, cómoda e nos locais e às horas que quiserem às demonstrações financeiras e/ou aos documentos de prestações das contas, sem terem a necessidade de se deslocarem.

A capacidade da informação ser mais atempada e mais relevante originará uma maior eficiência aos mercados de capitais, traduzindo-se numa maior eficiência de custos e rapidez quer por parte dos investidores, quer por parte dos mercados financeiros (O’KELLY, 2000);

Informação mais completa – Existe uma grande expectativa que a informação financeira que consta na Internet venha a ser mais completa do que o “Relatório e Contas” em papel, tendo em conta o conjunto de possibilidades que a Internet representa em termos de propagação de informação.

No entanto, actualmente o que se verifica é que o conteúdo da informação financeira varia muito de empresa para empresa. Enquanto umas vêem na Internet uma forma de melhorar, expandir e difundir a sua informação financeira, outras fornecem informação muito restrita e de forma conveniente.

As potenciais vantagens deste novo relato financeiro estão inerente uma urgente Normalização Contabilística devido a uma necessidade em termos de comparação, forma e apresentação da informação financeira.

Segundo Gandía (2001) existem diversas vantagens inerentes à difusão da informação financeira na Internet, não obstante existirem também alguns inconvenientes.

São analisadas de seguida todas as vantagens e inconvenientes de acordo com o mesmo autor:

Facilita o acesso e incrementa a potencial utilização da informação: A Internet facilita a todos os utilizadores o acesso fácil e simultâneo e a baixo custo de todas as informações divulgadas pelas empresas, realçando a condição de “bem-público”, verificado pela primeira vez na história;

Permite divulgar informação “on-line”: Historicamente, a falta de oportunidade na publicação da informação financeira era uma das maiores críticas por parte dos utilizadores. O aparecimento e desenvolvimento da Internet veio permitir superar essa crítica visto que, actualmente as empresas podem estabelecer um canal de comunicação contínuo e capaz de informar em tempo real, relativamente a qualquer acontecimento que afecte a sua vida económica e social.

Este canal de comunicação facilita o acesso “passivo” aos dados financeiros divulgados pelas empresas, permitindo, também, que os investidores adoptem uma postura mais exigente e recebam informação em função dos seus interesses e preferências, por exemplo, através de correio electrónico;

Flexibiliza o conteúdo da informação financeira: Através da Internet as empresas podem modificar a estrutura rígida com que apresentam actualmente as suas demonstrações financeiras.

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Incrementa o volume da informação disponível: A rede facilita a criação de bases de dados que são acessíveis pelos diferentes formatos e que completam a visão histórica sobre a evolução dos negócios para os potenciais utilizadores da informação financeira.

A Internet oferece múltiplas possibilidades para comunicar de forma versátil e interactiva dados que não são divulgados, ou são divulgados mas de forma insuficiente, nas demonstrações financeiras tradicionais.

Não obstante, e perante todas as vantagens mencionadas, existem determinados riscos e restrições que não devem ser minimizados, visto poderem depreciar a utilidade que a Internet pressupõem. Nestas situações, os Organismos Reguladores, como resultado da sua preocupação, tendem a incorporar mecanismos correctores para que as novas tecnologias de informação não sejam utilizadas como uma desculpa que justifique determinados comportamentos não desejáveis (GANDÍA, 2001).

Entre os principais riscos o autor destaca os seguintes: O acesso em iguais condições da informação: De nada serviria a este canal de

comunicação se não existisse um acesso equitativo da informação financeira para todos os potenciais utilizadores. A discriminação no seu acesso poderia estar ligada a questões tecnológicas, por exemplo, dificuldades para aceder à rede e a questões sócio – económicas, nomeadamente, restrições ao acesso da informação para grupos de utilizadores concretos;

A verificação e fiabilidade da informação divulgada: As empresas ou instituições que utilizam este meio para divulgar a informação financeira devem zelar pela certeza dos dados que difundem, caso contrário, os utilizadores podem assumir como fiáveis informações que não o são, podendo, consequentemente, induzi-los a tomar decisões erradas;

A responsabilidade pela informação financeira difundida: Como corolário do risco anterior, é importante determinar quais são e quem deveria assumir as responsabilidades associadas à divulgação da informação financeira indevida;

A sobrecarga de informação: Os utilizadores têm acesso a volumes crescentes de informação, não significando isto, necessariamente, que estão mais e melhor informados, devendo portanto utilizarem instrumentos concretos que permitam filtrar apenas os dados relevantes.

O admirável aumento na capacidade, velocidade de transmitir e processar a informação electrónica, transformou a estrutura da indústria de investimento financeiro de fornecedores de serviços integrados, dominante no mercado local, numa rede de consultores especializados, processadores e intermediários numa operação de risco numa escala global.

Podemos assim afirmar que apesar da Internet estar a proporcionar aos seus utilizadores um acesso sem precedentes a nível da informação financeira, a verdade é que existem muitos riscos associados da informação perder fiabilidade.

Este novo relato financeiro está em permanente desenvolvimento, porém, está limitado pelas mesmas normas e regulamentos que se aplicam à divulgação da informação financeira tradicional.

Grande parte das empresas que operam na Internet adoptaram práticas inócuas na publicação da informação, detectam-se porém práticas que representam potenciais riscos para as empresas emissoras e que dependem da legislação de cada país.

Segundo Gómez (2002), dentro dessas práticas são comuns as seguintes:

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Revista de Gestão da Tecnologia e Sistemas de Informação/Journal of Information Systems and Technology Management

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Informação de analistas: Um dos riscos legais mais importantes deriva da existência de ligação das páginas da Web da empresa com páginas de analistas.

Nos Estados Unidos, os tribunais podem declarar uma empresa como responsável directa pelas declarações falsas realizadas pelos analistas, que essa mesma empresa adopte como sendo suas para divulgação ao público.

Por sua vez, a Securities and Exchange Comission (SEC) considera as ligações com as páginas de analistas uma transmissão de informação, feita directamente como se da própria empresas se tratasse.

O risco incrementa-se se a empresa incluir apenas uma lista parcial de analistas, ou seja, apenas aqueles que lhes façam comentários favoráveis.

A falta de advertência no sentido que o utilizador está fora da página da empresa, pode responsabilizar a própria empresa pelo conteúdo da informação de todas as páginas com que esta tem ligação;

Extractos de contas anuais: Algumas empresas colocam nas suas páginas da Internet informação financeira que omite alguns documentos importantes relativos à verdadeira situação da empresa e as respectivas notas, contrariando tal prática, os Princípios de Contabilidade Geralmente Aceites (PCGA), que requerem que as referidas notas acompanhem esses documentos.

As notas revelam informação com o objectivo de ampliar, explicar e comentar a informação contida nas demonstrações financeiras, sendo necessárias para a sua correcta compreensão e interpretação, podendo, consequentemente, a apresentação incompleta das demonstrações financeiras pressupor uma omissão de dados relevantes e não oferecer uma imagem fiel da real situação da empresa.

Desta forma, os utilizadores podem ser induzidos inequivocamente que estão perante demonstrações financeiras que cumprem os Princípios de Contabilidade Geralmente Aceites (PCGA) e que contém informação completa;

Informação auditada e não auditada: Em algumas empresas, é difícil distinguir entre a informação que é auditada e a não auditada, quando o utilizador se move desde a página que contém a informação financeira com outras páginas que contêm comentários da administração e de analistas, gráficos, outras informações sobre a empresa e traduções de outros idiomas. Nestes casos, o utilizador pode “pensar” que toda a informação que está a analisar foi submetida a uma auditoria;

Actualização de informação: Alguns tribunais dos Estados Unidos estabeleceram a obrigatoriedade em actualizar a informação difundida pela empresa, existindo um dever de corrigir a informação difundida, sempre que possível, para esta não se converter em informação enganosa, podendo deste modo os intervenientes no mercado confiar razoavelmente na informação. A obrigação de actualização da informação incrementa a necessidade, por parte das empresas, em rever periodicamente as suas páginas.

Uma possível solução seria segregar a informação antiga e potencialmente antiquada num arquivo separado, indicando apenas o seu interesse histórico;

Informação sobre os produtos da empresa: As empresas também divulgam informação sobre os produtos e/ou serviços que comercializam.

O risco centra-se na informação antiquada ou que tenha um carácter preditivo, sendo necessário acompanhar a informação e as suas correspondentes declarações de advertência.

No caso da empresa revelar informações, e se estas não se ajustarem à realidade, a empresa pode ser acusada de prestar declarações falsas;

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Relato Financeiro na Internet em Portugal

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Possibilidade de alterar a informação: A falta de segurança pode propiciar a que piratas informáticos modifiquem a informação financeira incluída na página da empresa.

O risco legal pode derivar dessa alteração, assim, qualquer falha no sistema de segurança da página, a empresa poderá ser considerada como negligente.

Em muitos casos, as contas anuais da empresa são incluídas num arquivo separado, por exemplo, em formato PDF, que permite a descarga e a impressão dos documentos exactamente iguais ao formato impresso. Tratando-se de uma cópia completa dos documentos impressos, o risco de modificação dos documentos é igual ao do formato impresso.

Os documentos financeiros auditados estão claramente identificados. No entanto, a informação financeira pode ser apresentada utilizando outras tecnologias, como por exemplo, através do formato HTML, que permite a modificação dos documentos financeiros para a sua análise. Essa possibilidade incrementa as dúvidas se esta informação é a mesma que consta no formato impresso dos documentos financeiros e sobre se as contas, foram modificadas depois de auditadas;

Informação em tempo real: A informação em tempo real proporcionada pela tecnologia actual permite fornecer mais dados aos utilizadores, mas não necessariamente mais informação.

Os Princípios da Contabilidade Geralmente Aceites (PCGA) exigem um tratamento da informação em estado bruto para ser transformada em informação financeira compreensível, devendo portanto, ser ponderados os efeitos para os utilizadores em disporem de informação mais oportuna, mas menos consistente;

Informação interactiva: Algumas empresas proporcionam aos seus utilizadores, além da informação financeira, os instrumentos necessários para determinar qual seria a situação da empresa perante diferentes cenários, que podem ser considerados previsionais, com as consequências legais que esta possibilidade pode ter para a empresa;

Inclusão de informação previsional: Este tipo de informação deve ser acompanhada de uma declaração de advertência que identifique os factores que podem influenciar os resultados, devendo ser a informação financeira previsional da empresa acompanhada por uma relação de riscos relevantes que podem afectar a sua situação em particular.

5 ESTUDO EMPÍRICO

No nosso país, o estudo da divulgação da informação financeira na Internet tem sido alvo de pouca atenção, quer por parte dos académicos, quer por parte dos Organismos Reguladores. Com excepção da CVMC, mais nenhuma entidade, até ao momento, fez qualquer apreciação sobre o assunto em epígrafe (MENEZES, 2002).

Em Portugal apenas se conhecem os estudos realizados por Rodrigues e Menezes em 2000 e Silva e Quaresma em 2001, não se conhecendo outros estudos que descrevam ou tentem avaliar as causas subjacentes ao desenvolvimento desta nova forma de relato financeiro.

Para confirmar a pertinência da informação financeira na Era em que vivemos, no que respeita ao tipo de documentos que se elaboram, divulgam e procuram através do meio mais moderno, a Internet, elaborou-se um estudo empírico, baseado, por um lado, na observação e análise dos websites das 250 empresas mais rentáveis, em

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Alves, S. R. P.

Revista de Gestão da Tecnologia e Sistemas de Informação/Journal of Information Systems and Technology Management

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Portugal, no ano 2002, e por outro, na aplicação posterior de um questionário a essas mesmas empresas.

O estudo a seguir apresentado tem como grande objectivo dar a conhecer e tentar compreender, avaliando as causas que lhes estão subjacentes, o estado actual da divulgação da informação financeira via Internet, por parte das referidas empresas e consequentemente em Portugal.

Desta forma, será possível perspectivar o futuro, traçar cenários e fazer uma reflexão sobre as medidas a tomar para uma evolução desejável, no que diz respeito a esta matéria, nos próximos anos.

A existência de poucos estudos e artigos publicados em Portugal, a relevância, o interesse e principalmente a actualidade desta temática, aliada à curiosidade sobre a situação actual em Portugal, foram as principais razões motivadoras da elaboração do presente trabalho. Este servirá de ponto de referência para uma comparação de futuros estudos e de determinação, relativamente à sua evolução, no que respeita a esta nova forma de relato financeiro.

A sua estrutura divide-se em quatro partes distintas, justificando-se os objectivos, a metodologia e a caracterização da amostra utilizada nas primeiras duas; nas duas últimas partes, elabora-se o estudo propriamente dito, analisando-se os dados para posteriormente se apresentarem os resultados obtidos.

Assim, inicialmente faz-se uma análise de carácter descritivo, onde se analisam os websites em termos quer gerais, quer relativos à informação financeira, quer ainda no que respeita à informação não financeira.

Posteriormente, e no sentido de ajuizar das razões subjacentes à opção da empresa em dispor ou não de website, e, em divulgar informação financeira (MENEZES, 2002), definimos um conjunto de hipóteses a verificar através de testes não paramétricos.

5.1 Objectivos, metodologia e amostra

O objectivo principal deste estudo consiste em determinar em que medida e de que forma as 250 empresas portuguesas com maior rentabilidade, nas suas contas de 2002, utilizam a Internet como meio de divulgação da informação financeira.

O interesse não se centra apenas na disponibilização de um website, mas também a quantidade e qualidade da informação financeira que nele divulgam.

Segundo Marston e Leow, (1998) uma razão fundamental na escolha da amostra prende-se com o facto destas empresas serem consideradas tendencialmente grandes empresas, pelo que, e em comparação com as pequenas empresas, a probabilidade de divulgarem informação financeira na Internet é muito maior.

Por sua vez, Rodrigues e Menezes (2001b), escolheram para amostra do seu estudo empírico as empresas cotadas no Mercado Contínuo e Segundo Mercado da BVLP, apontando como, uma outra razão que pesa na escolha prende-se com o facto de, tratando-se de empresas cotadas, a necessidade de comunicação com os investidores faz com que haja um processo permanente de divulgação financeira.

Também para Jorge e Inchausti (2001) existe uma tendência para que as empresas com maior rendibilidade financeira divulguem de forma voluntária detalhada, uma maior quantidade de informação através da Internet fazendo com que se verifique uma melhoria na imagem da empresa, através do reforço da sua posição de mercado e da sua remuneração.

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Em linha com os trabalhos anteriormente descritos, escolheu-se como amostra para o presente estudo o conjunto das 250 empresas mais rentáveis a actuarem em Portugal, tendo como principal objectivo avaliar e comprovar se estas utilizam a Internet como meio de divulgação da sua informação financeira.

Tendo em conta que a rentabilidade é um dos critérios de maior interesse na análise empresarial, já que a remuneração dos capitais investidos é uma prioridade da gestão (JORNAL de NOTÍCIAS, 2003), consideramos interessante o referido conjunto de empresas.

Os dados da amostra foram extraídos de uma publicação do Jornal de Notícias em Novembro de 2003, na qual apareciam ordenadas as 1000 maiores empresas em termos de rentabilidade dos capitais próprios. Existiram empresas que, ou por não fornecerem dados do exercício de 2002, ou por facultarem elementos incompletos, foram excluídas da lista.

O presente estudo tem por base uma observação e análise pormenorizada dos websites das referidas empresas recorrendo-se, para tal, ao preenchimento de um questionário. A elaboração do questionário teve origem própria e teve como principais preocupações a objectividade e ao mesmo tempo conseguir captar todos os dados essenciais das empresas de forma a alcançar as conclusões pretendidas.

Além dos motivos apresentados nos estudos empíricos anteriores, a selecção da amostra justifica-se ainda porque: em primeiro lugar, são as empresas de maior dimensão e maior rentabilidade que têm maior probabilidade de divulgarem informação financeira na Internet, em segundo lugar, são estas que pressupõem a existência de um maior número de investidores interessados no conteúdo da informação financeira que difundem, através deste meio de comunicação.

Algumas das referidas empresas estão também cotadas nas Bolsa de Valores, pelo que: a sociedade em geral e os investidores em particular procuram ter conhecimento das demonstrações financeiras e dos documentos de prestação das contas, continuadamente; as empresas divulgam, habitualmente, as informações financeiras, quer por sua iniciativa, quer por imposição legal.

Metodologicamente, procedeu-se da seguinte forma: em primeiro lugar, elaborou-se um questionário capaz de captar todos os dados, considerados relevantes das 250 empresas com maior rentabilidade a actuarem em Portugal no ano 2002; de seguida, consultaram-se todas as páginas web dessas empresas, durante o mês de Janeiro de 2004, com o propósito de se preencher os referidos questionários; por último, e mediante a sua análise e tratamento estatístico, obtiveram-se os resultados finais.

O questionário é composto por 12 questões objectivas, relacionadas com a divulgação da informação financeira das empresas, na Internet. O mesmo inclui ainda, inicialmente, questões relacionadas com uma breve caracterização da empresa, nomeadamente, o tipo de empresa, a sua localização geográfica, a sua forma jurídica e o seu tipo de estrutura. Estes últimos elementos foram igualmente sujeitos a análise, dada a sua importância, para que desta forma se conheça melhor as referidas empresas.

5.2 Análise Descritiva

Os trabalhos comprovam a importância da informação financeira na comunidade em geral e nas organizações.

Essas informações serão tanto mais úteis ao processo de tomada de decisão, quanto maior for: a comodidade de aceder em qualquer local, a qualquer hora e as vezes que se pretender, através das novas tecnologias de informação e da comunicação às

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informações financeiras; a credibilidade na aplicação generalizada e consistente das normas contabilísticas e das respectivas Demonstrações Financeiras; o sentido de oportunidade decorrente do relato financeiro, em particular quando este assume formato digital ou electrónico.

A análise pormenorizada dos websites prende-se com a seguinte estrutura: a parte genérica, que compreende a localização da empresa, o sector de actividade, a forma jurídica e a natureza das informações disponibilizadas em geral; a informação não financeira, onde é tipificado este tipo de informação disponibilizada no website e, por último, a informação financeira, onde são observados todos os aspectos relativos a esta matéria, quer em termos gerais, quer em termos do conteúdo que é disponibilizado.

No actual estudo, efectuado entre os dias 3 e 30 de Janeiro de 2004, após a observação e análise aprofundada das 250 empresas mais rentáveis, no ano de 2002, constatou-se que: 119 empresas (48%) apresentavam página na Internet, 91 empresas (36%) não tinham qualquer presença na Internet e as restantes 40 empresas (16%) não apresentavam a página, no momento que foi feita a análise, por motivos de manutenção, construção ou outros.

Se atendermos aos resultados obtidos em estudos similares realizados noutros países, como por exemplo Louwers et al (1996), num estudo acerca das 150 maiores empresas dos Estados Unidos, publicadas na revista Fortune, identificaram 64 empresas (43%) com website. Por sua vez o FASB realizou um estudo tendo em conta as 100 maiores empresas dos Estados Unidos em 2000, também publicadas na revista Fortune, e nesse momento já 99 empresas dispunham de website, em Julho do mesmo ano Hindi e Rich (2000) concluíam que a totalidade dessas mesmas empresas já possuíam uma página na Internet.

Por sua vez, em Portugal, num estudo realizado por Menezes (2002) observou-se que do conjunto das empresas cotadas em Fevereiro de 2001, oito das 21 empresas do Mercado Contínuo, cujos títulos só foram admitidos à negociação posteriormente a Março de 2000, dispunham de website.

Outro estudo realizado em Portugal acerca deste tema, elaborado por Silva e Quaresma (2001), concluiu que do total das 100 maiores empresas portuguesas, publicadas na revista Exame, 74 dispunham de website, todavia e tendo em conta que 20 deles não se encontravam disponíveis a análise dos autores baseou-se em apenas 54 empresas.

Fazendo uma pequena comparação entre o presente estudo e o último que acabamos de referir, e tendo bem presente as diferenças no número de empresas que integram a amostra, bem como o facto de, no actual estudo, as empresas que o integram serem aquelas que apresentam uma maior rentabilidade, podemos concluir que se adicionarmos ao número de empresas com website o número de empresas que no momento do estudo não o podiam apresentar, estas rondam os 64%, número não muito diferente do alcançado por Silva e Quaresma em 2001.

No que diz respeito à informação não financeira, disponibilizada nas páginas das empresas presentes na Internet, verifica-se que praticamente todas elas fazem a apresentação da empresa ou grupo empresarial, disponibilizam o seu contacto e referem-se à actividade que desenvolvem, utilizando essa informação para questões de Marketing dos produtos e serviços.

Pode concluir-se que os websites são aproveitados, sobretudo numa perspectiva comercial, pelo que a apresentação da empresa e a actividade que esta desenvolve têm um destaque principal, passando para papel secundário outros factores nomeadamente a

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estratégia da empresa, o recrutamento, as políticas de qualidade, do meio ambiente e da investigação.

Assim, cerca de 89% das empresas disponibilizam as suas novidades (press releases) no seu website, contudo apenas 55%, 46% e 36%, disponibilizam respectivamente os destaques, a sua estratégia e as possibilidades de recrutamento.

Pode-se, então, concluir que um aspecto particularmente importante prende-se com o tipo de informação organizacional que a empresa disponibiliza. Na verdade, julgamos que este tipo de informação como, por exemplo, a relativa à sua história, à sua estrutura organizacional, ao tipo de produtos e serviços disponibilizados e formas de comercialização, ajuda o navegador a tomar contacto com a realidade da empresa (MENEZES, 2002).

Existe uma nítida tendência para o aumento verificado na divulgação dos produtos e serviços das entidades, o que demonstra a grande utilização dos websites para efeitos comerciais.

Tendo em conta os estudos já analisados anteriormente, comprovou-se que as empresas espanholas aproveitam mais os websites para disponibilizarem informação financeira histórica e os relatórios de auditoria do que as empresas portuguesas. Por sua vez, as empresas portuguesas apresentam nos seus sites mais informações de terceiros e comunicações para a imprensa do que as espanholas.

Assim, no estudo actual e no que respeita à divulgação da informação financeira, verificou-se que do total das 119 empresas, apenas 51 delas (43%), divulgam algum tipo de informação financeira, verificando-se que todas elas a divulgam numa página separada daquela que se acede inicialmente.

No que respeita aos formatos de divulgação, os mais comummente utilizados são o HTML e o PDF. Verifica-se, no entanto uma predominância do segundo sobre os restantes. Isto é compreensível, dadas as vantagens decorrentes da sua utilização (MENEZES, 2002).

Também no presente estudo verifica-se esta situação, existindo uma predominância do formato PDF em cerca de 70% das empresas, 6% das empresas optam pelo HTML e PDF em simultâneo, 8% utilizam o formato HTML e as restantes 16% das empresas optam pela utilização de outros formatos, na difusão da sua informação financeira, nomeadamente o Word e o Excel.

Apesar de todas as vantagens do formato PDF há que realçar a sua principal limitação, a morosidade aquando do processo de descarregamento da informação.

Assim, para reduzir ao mínimo tais perdas de tempo, que inevitavelmente se traduzem em custos financeiros, muitas empresas começam a apresentar os seus Relatórios e Contas repartidos por diferentes documentos em formato PDF (MENEZES, 2002), nomeadamente em HTML ou XBRL.

Por curiosidade, se comparamos os resultados obtidos no caso português aos resultados obtidos pelo IASB (1999) e pelo FASB (2000), verificamos situações totalmente opostas.

No primeiro estudo cerca de 80% das empresas utilizam como formato electrónico para divulgarem a sua informação financeira o HTML, também no segundo estudo o formato utilizado com supremacia é, sem dúvida, o HTML.

À semelhança de Gassen (2001) e de Menezes (2002), entendemos também que nenhum dos dois formatos tradicionais funciona como alternativa, uma vez que tudo depende do objectivo pretendido. Se o objectivo da empresa é a difusão de uma versão análoga à divulgada no formato tradicional em papel, o formato mais adequado será o

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PDF. Por sua vez, se a empresa pretender divulgar o respectivo Relatório de Contas, no seu website, demonstrando preocupação quanto ao tempo de descarregamento da informação e a maneabilidade do documento, o formato mais adequado a adoptar nestas circunstâncias será o HTML.

No que respeita à análise da divulgação da informação financeira, por parte das 51 empresas (43%), obtiveram-se os seguintes resultados.

A Informação Resumida e o Relatório das Contas são divulgados por 39 empresas (76%) e o Relatório de Gestão por 37 empresas (73%);

O Balanço e a Demonstração dos Resultados são apresentados por 40 empresas (78%), das quais 37 (73%) divulgam o respectivo Anexo;

Quanto aos Documentos de Revisão e/ou Auditoria são divulgados por 31 empresas (60%);

A Demonstração de Fluxos de Caixa é apresentada por 35 empresas (69%) e a Demonstração dos Resultados por Funções é divulgada por 34 empresas (67%);

Os indicadores económico e/ou financeiros são divulgados por um total de 43 empresas (84%) e 22 empresas (43%) divulgam Informação Intercalar;

Por últimos apenas 14 empresas (27%) divulgam as suas cotações. Relativamente aos elementos das Demonstrações Financeiras, à semelhança das

conclusões do estudo do IASB em 1999, o Balanço e a Demonstração dos Resultados são os mais divulgados, tendo em conta o papel que estas Demonstrações Financeiras têm na compreensão da imagem verdadeira e apropriada da situação económico-financeira das empresas.

No estudo realizado por Menezes (2002), relativo ao ano 2000, o Balanço e a Demonstração dos Resultados são apresentados por aproximadamente 30 empresas, o anexo à Demonstrações Financeiras é apresentado por 20 empresas, a Demonstração dos Fluxos de Tesouraria é apresentado apenas por 13 empresas.

Relativamente aos documentos de Revisão/Auditoria divulgados pelas empresas verificamos que 25 empresas (81%) divulgam, quer o Relatório Anual de Fiscalização, emitido pelo ROC/SROC, quer o Relatório e Parecer do Conselho Fiscal/Fiscal Único. Por sua vez, apenas 18 empresas (58%) divulgam o Relatório do Auditor Externo.

Em relação aos documentos de Revisão/Auditoria às contas concluímos da análise que, à semelhança das demonstrações financeiras divulgadas nos websites, também aqui se assiste a uma tendência crescente para a sua difusão (MENEZES, 2002).

Segundo o mesmo, verifica-se de forma cabal que as empresas começam a abandonar a perspectiva de divulgação de informação, simplesmente por imitação ou sinalização no mercado, do acompanhamento que faz dos desenvolvimentos tecnológicos, para difundir informação financeira fiável e facultadora da obtenção de uma imagem verdadeira e apropriada da empresa.

Para além disso, é de opinião que se pode constatar, por um lado, o pequeno número de empresas que apresentam os documentos de Certificação das Contas e, por outro, a preponderância que possui o Relatório do Revisor Oficial de Contas, uma vez, que de entre todos os elementos, é aquele que é disponibilizado por um maior número de empresas, nomeadamente ao nível dos sectores da intermediação financeira e serviços.

É também de salientar, como reflexo do grau de globalização da informação financeira das empresas portuguesas, (MENEZES 2000), verificou que os idiomas preponderantes nos websites são o Português e o Inglês, contudo, entre 2000 e 2001,

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verificou-se um aumento significativo no número de empresas cujos websites apenas se encontram em língua portuguesa.

Esta tendência mantém-se, quando analisamos apenas os websites com informação financeira ou simplesmente as próprias Demonstrações Financeiras.

5.3 Testes de Hipóteses (Questões)

Após uma análise descritiva, relativa à informação disponibilizada nos websites das 250 empresas, que integram a amostra escolhida, procurámos, à semelhança de outros estudos empíricos, realizados noutros países, identificar possíveis causas subjacentes à divulgação da informação financeira na Internet.

Menezes (2002), optou por testar contra a hipótese nula de que não existe diferença entre o tamanho da empresa e a extensão da informação financeira difundida na Internet.

Também para Foster (1986), no que concerne à política de divulgação de informação financeira, e tendo em conta essa hipótese, o tamanho da amostra é considerado a variável mais significativa.

Assim, parece lógico que, quanto ao interesse na divulgação de informação voluntária, as empresas maiores tenham mais e maiores incentivos que as mais pequenas.

No seu estudo, Menezes (2002) concluiu que quanto maior é o valor de mercado e o total do activo, maior é a tendência para disponibilizar informação financeira detalhada.

A escolha da amostra do presente estudo, parte do princípio que tal resultado é inquestionável, assim ao escolher as empresas com maior rentabilidade, está implícito que são estas as que divulgam mais informação financeira.

No entanto existem estudos, nomeadamente o de García e Monterrey (1993), que não encontram qualquer correlação positiva entre a rendibilidade e a divulgação da informação financeira.

Os dados analisados foram registados, tendo-se recorrido, ao software denominado por Statiscal Package for the Social Science (SPSS), como forma de analisar e comparar os resultados, quer das empresas por localização, quer pelo agrupamento de empresas com comportamentos homogéneos, quer ainda das características mais representativas dos fenómenos observados, quer também das correlações dos diversos parâmetros.

Assim, procedeu-se ao cálculo da estatística descritiva, respectivamente frequências e percentagens. Recorreu-se à estatística inferencial, ao cálculo do Qui-quadrado (x2) para testar a associação entre as diferentes variáveis, apresentando-se os resultados em tabelas de contingência.

As variáveis foram alvo de uma análise bidimensional, com o objectivo de conhecer o seu grau de independência.

Como forma de rentabilizar os dados disponíveis optou-se por criar tabelas de contingência entre as diferentes variáveis dependentes. O nível de significância seleccionado para o estudo foi α =0,05.

5.3.1 Cotização na Bolsa

Segundo Meek e Gray (1989), as empresas cotadas em mercados internacionais são confrontadas com dificuldades e pressões adicionais do mercado de capitais,

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chegando, no seu estudo, à conclusão que as empresas com cotação na Bolsa de Londres iam muito mais além das exigências de divulgação.

Concluíram ainda, que as exigências da Bolsa de Valores parecem ser ínfimas quando comparadas com a pressão competitiva envolvidas na busca de financiamento no mercado de capitais.

Menezes (2002) testou contra a hipótese nula a existência significativa entre o relato financeiro das empresas portuguesas cotadas em mercados estrangeiros e as empresas cotadas no mercado nacional. No sentido de verificar a existência de uma correlação entre a divulgação de informação financeira na Internet e o facto da empresa estar cotada em mercados estrangeiros procedemos novamente à realização do teste do Qui-quadrado (x2).

No entanto, Menezes, em virtude de ter violado os pressupostos do referido teste, não alcançou nenhum resultado conclusivo, decidindo neste sentido excluir do seu trabalho os resultados obtidos.

Por sua vez Ahmed e Courtis (1999), analisaram 14 estudos que utilizaram a cotação em Bolsa em mercados nacionais ou estrangeiros, como variável independente, chegando à conclusão que essas empresas tendiam a divulgar mais informação, quer de forma voluntária, quer obrigatória.

No presente estudo, apenas tivemos em consideração a cotação das empresas no mercado nacional.

Face ao exposto formulou-se a seguinte hipótese: H0 – Não existe diferença significativa entre a divulgação da informação

financeira na Internet em função das empresas serem ou não cotadas. H1 – Existe diferença significativa entre a divulgação da informação financeira

na Internet em função das empresas serem ou não cotadas. Resultados Considerando o teste do Qui-quadrado e tendo em conta α =0,05, como o nível

de significância obtido foi inferior a este valor, rejeita-se a hipótese 0. Então, a cotização das empresas influencia de forma determinante a divulgação

da informação financeira.

5.3.2 Forma jurídica da empresa

Outra das hipóteses formuladas foi a existência ou não de diferença significativa entre a divulgação da informação financeira com as empresas sociedades anónimas e sociedades por quotas.

Neste sentido, formulou-se a seguinte hipótese: H0 – Não existe diferença significativa entre a forma jurídica e a divulgação da

informação financeira divulgada na Internet. H1 – Existe diferença significativa entre a forma jurídica e a divulgação da

informação financeira divulgada na Internet. Resultados Tendo em consideração o teste do Qui-quadrado e como o nível de significância

obtido é inferior a 0,05, rejeita-se a hipótese 0. Então a forma jurídica da empresa influencia a divulgação da informação

financeira na Internet.

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5.3.3 Sector de Actividade

Segundo Menezes (2002), tendo em conta a dispersão das empresas por um conjunto de 13 sectores de actividades, o que enviesaria os resultados obtidos dado o número de categorias, decidimos à semelhança de Holm (2000), agregar as diferentes empresas pelos seguintes três sectores de actividades: produção, financeira e comércio e serviços.

Relativamente a este assunto, o mesmo autor, citou ainda, Verrecchia (1983) para o qual os custos políticos e os decorrentes de desvantagens competitivas variam de indústria para indústria. Daí que, o facto de uma determinada empresa estar mais ou menos ligada a sectores com grandes investimentos em investigação ou ligadas à tecnologia de ponta, possa influenciar a divulgação voluntária de informação.

Também Lymer (1997) concorda com este argumento defendendo a existência de correlação entre a divulgação da informação financeira na Internet e os sectores de actividade.

Marston e Leow (1998), no seu estudo, apesar de não terem encontrado qualquer correlação entre a divulgação financeira e o sector de actividade, concluíram a existência de resultados significativos quando categorizaram a informação financeira detalhada ou resumida.

No seu estudo Menezes (2002), e tal como tinham concluído Marston e Leow (1998) e Craven e Marston (1999), “para o ano 2000, também nós constatamos que não existem diferenças significativas no grau de informação financeira divulgado por sectores de actividade, com excepção da variável website onde se aceitou que tais diferenças existem, para um nível de significância de 10%”.

No entanto, Menezes (2002), para o ano 2001, já não rejeita a hipótese nula de que não existe diferença significativa, no grau de informação financeira na Internet por sector de actividade da empresa. Segundo o mesmo autor a teoria da sinalização sugere que as empresas mais rentáveis tendem a canalizar mais meios financeiros para novas tecnologias da informação e, por isso, a disporem de website, dando assim um sinal ao mercado de que são empresas modernas, desenvolvidas e que acompanham os principais progressos tecnológicos.

Em sua opinião, as empresas com maior intensidade tecnológica, dado encontrarem-se bastante familiarizadas com as novas tecnologias e conhecedoras das suas potencialidades, tenderão a recorrer, com maior frequência, à divulgação de informação financeira através dos seus websites.

Neste sentido, no estudo actual, pretendeu-se tirar conclusões relativas ao ano 2002. As diferentes empresas foram agregadas pelos sectores de actividade da seguinte forma: Comercial, Industrial, Comercial e Industrial e Serviços.

Assim, a terceira hipótese formulada foi a seguinte: H0 – Não existe diferença significativa entre os sectores de actividade e a

divulgação da informação financeira na Internet. H1 - Existe diferença significativa entre os sectores de actividade e a divulgação

da informação financeira na Internet. Resultados Perante a análise estatística, considerando o teste do Qui-quadrado, e em

sequência dos 3 estudos referidos anteriormente, rejeitou-se a hipótese de dependência das variáveis, tendo em conta que o nível de significância foi muito superior a 0,05.

Logo, o sector de actividade das empresas não tem influência na divulgação da informação financeira na Internet.

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5.3.4 Localização Geográfica

Também no sentido de aprofundar os resultados obtidos nas hipóteses anteriores, foi formulada mais uma hipótese, para verificar o grau de influência da localização geográfica das empresas na divulgação da informação financeira na Internet.

Neste sentido formulou-se uma quarta hipótese: H0 – Não existe diferença significativa entre a localização geográfica das

empresas e a divulgação da informação financeira na Internet. H1 - Existe diferença significativa entre a localização geográfica das empresas e

a divulgação da informação financeira na Internet. A análise estatística mostrou a inexistência de uma relação de dependência entre

a localização geográfica e a divulgação da informação financeira. Considerando o teste do Qui-quadrado e α =0,05, como o nível de significância

obtido foi de 0,235, ou seja, superior, rejeita-se a hipótese de dependência de variáveis. Então, não existe diferença significativa entre a localização geográfica das

empresas e a divulgação da informação financeira na Internet.

6 CONCLUSÕES

Actualmente as empresas vivem num contexto de mudança e num ambiente turbulento, dinâmico e competitivo, com transformações profundas e a ritmos muito acelerados quer a nível económico, político, social e tecnológico.

A ideia que, no contexto económico actual, a informação é um activo central é irreversível. Isto não só pelo aparecimento de novos negócios baseados neste activo, mas também porque as cadeias de valor dos negócios mais tradicionais começaram a tirar um maior partido da informação para, desta forma, se tornarem mais rápidas e competitivas.

O grande desafio que se enfrenta reside na adopção das novas tecnologias e da implementação do relato financeiro electrónico como meio, por excelência, para a divulgação de toda a informação financeira e como meio de aproximação entre todos os implicados neste processo, ou seja, entre empresas, os investidores e todos os utilizadores de tal informação.

Da análise descritiva realizada, e tendo bem presente a actual era de globalização em que vivemos, marcada essencialmente pela revolução tecnológica, verificou-se que de um modo geral as empresas portuguesas, tomaram consciência, por um lado, pelas exigências dos utilizadores e por outro, pelo sentido de oportunidade da informação financeira, da necessidade de aumentar quer a sua base informativa, quer os processos de divulgação da informação financeira, recorrendo cada vez mais à difusão da informação através da Internet.

Após observação e análise aprofundada das 250 empresas mais rentáveis, no ano de 2002, constatou-se que: 119 empresas (48%) apresentavam página na Internet, 91 empresas (36%) não tinham qualquer presença na Internet e as restantes 40 empresas (16%) não apresentavam a página, no momento que foi feita a análise, por motivos de manutenção, construção ou outros.

No que respeita à divulgação da informação financeira, verificou-se que do total das 119 empresas, apenas 51 delas (43%), divulgam algum tipo desta informação.

Além da análise descritiva, formularam-se algumas hipóteses que permitiram concluir a existência da relação de dependência entre a cotização das empresas na bolsa e a sua forma jurídica com a divulgação da informação financeira na Internet.

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Por último, verificou-se também, que não existe qualquer relação de dependência entre o sector de actividade e a localização geográfica das empresas com a divulgação da informação financeira na Internet.

7 SUGESTÕES E RECOMENDAÇÕES

Tendo actualmente um conhecimento mais aprofundado neste tema, são apresentadas de seguida algumas questões que podem ser vistas como sugestões e recomendações de futuras investigações:

Elaborar um estudo empírico semelhante que apresente resultados comparativos, aplicado às mesmas 250 empresas, mas relativamente às contas referentes ao ano de 2003 e 2004 em Portugal.

Analisar as reais necessidades dos intervenientes no processo de disponibilização de informação, quer financeira quer não financeira, na Internet, em termos quantitativos mas também qualitativos, na sua tomada de decisão;

Analisar a disponibilização de informação neste meio de comunicação por todas as empresas, sejam elas cotadas na bolsa, sociedades anónimas ou de responsabilidade limitada, tendo em conta o seu papel fulcral na estratégia da empresa;

Apurar as razões subjacentes à opção da empresa em dispor ou não de website e nele divulgar informação financeira;

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Vol. 2, No. 1, 2005, pp. 21-37 ISSN online: 1807-1775

_____________________________________________________________________________________ Recebido em/Manuscript first received: 05/01/2005 Aprovado em/Manuscript accepted: 12/03/2005 Endereço para correspondência/ Address for correspondence Robson Quinello – Mestrando em Administração – Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado – E-mail: [email protected] Rua Francisco G. A .Machado, 81 – apto 125, Paraíso – SP, Brasil - CEP 01323-050 José Roberto Nicoletti – Mestrando em Administração – Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado – E-mail: [email protected] Rua Leandro Dupret, 488 – apto 82, Vila Clementino – SP, Brasil - CEP 04025-012 ISSN online: 1807-1775 Publicado por/Published by: TECSI FEA USP – 2005

INTELIGÊNCIA COMPETITIVA NOS DEPARTAMENTOS DE MANUTENÇÃO INDUSTRIAL NO BRASIL. COMPETITIVE INTELLIGENCE AT BRAZILIAN INDUSTRIAL MAINTENANCE

DEPARTMENTS

Robson Quinello Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado, Brasil

José Roberto Nicoletti Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado, Brasil

RESUMO

As atividades de manutenção industrial, geralmente, eram consideradas como um mal necessário às organizações. Esta imagem necessita mudar no Brasil, pois o setor faz parte da cadeia de valores das empresas, é responsável pela manutenção da confiabilidade e disponibilidade dos equipamentos e é o gerador de parte expressiva dos custos das empresas. Essa responsabilidade aumenta num país onde a capacidade produtiva está no limite, exigindo esforços extras e onde as crescentes pressões por reduções dos custos e restrições técnicas e humanas, nas organizações, pedem mudanças de paradigmas. O presente estudo teve por finalidade mapear os principais canais de captação da informação utilizados pelos profissionais da manutenção industrial brasileira, demonstrando que o uso sistemático da Inteligência Competitiva pode trazer saltos tecnológicos e ganho de vantagem competitiva. Para isso, foi realizada uma pesquisa qualitativa exploratória, utilizando como instrumentos de pesquisa o método Delphi, entrevistas com profissionais da área e delineamento experimental de sistematização da I.C- Inteligência Competitiva em um departamento-piloto do setor automotivo. Os resultados mostraram a utilização de fontes formais e informais em diferentes freqüências de acesso e a fragilidade destes departamentos no uso não-sistemático de I.C, comprometendo os desafios supracitados.

PALAVRAS-CHAVE: Inteligência Competitiva, Manutenção Industrial, Vigilâncias Tecnológicas, Gestão do Conhecimento.

ABSTRACT

The industrial maintenance activities, generally, were considered as more one problem to the organizations. This image needs to change in Brazil, because this sector is part of the companies supply chain, is responsible to maintain equipments reliability and availability and it is a generator of the companies costs. This responsibility increases in a country where the productive capacity is in the limit, demanding extra efforts and where increasing pressures for reductions of the costs and restrictions techniques and human beings are increasing, ask to paradigms changes. The present study had for purpose to identify main canals of captation of the information used by the Brazilian industrial maintenance professionals, demonstrating systematic use of Competitive

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Intelligence can bring technological advance and profit of competitive advantage. For this, a qualitative research was made, using as research instruments the Delphi method, interviews with professionals and an experimental delineation C.I- Competitive Intelligence in a department-pilot (automotive sector).The results had shown to the use of formal and informal sources in different frequencies of access and the fragility in these departments in the not-systematic use of C.I, harming the above-mentioned challenges.

KEY-WORDS: Competitive intelligence, Industrial Maintenance, Technological Monitoring, Management of the Knowledge.

1 INTRODUÇÃO: UMA VISÃO GERAL DA MANUTENÇÃO INDUSTRIAL NAS ORGANIZAÇÕES.

A origem do termo manutenção vem do vocabulário militar e significava manter, nas unidades de combate, o efetivo e o material num nível constante. O surgimento da palavra manutenção na indústria ocorreu em 1950 nos Estados Unidos da América. Na França, por exemplo, esse termo está mais associado à palavra “conservação” (MONCHY, 1989).

A Manutenção é uma função empresarial, da qual se espera o controle constante das instalações, assim como o conjunto de trabalho de reparo e revisões necessárias para garantir o funcionamento regular e o bom estado de conservação das instalações produtivas, serviços e instrumentação dos estabelecimentos (OCDE apud FILHO, 2000).

Formalmente, a definição de manutenção é a combinação de ações técnicas, administrativas e de supervisão, com o objetivo de manter ou recolocar um item em um estado no qual possa desempenhar uma função requerida, ou seja, fazer o que for preciso para assegurar que um equipamento ou máquina opere dentro de condições mínimas de requerimentos e especificações (ABNT, 2004).

As atividades de manutenção existem para evitar a degradação natural ou não de quaisquer equipamentos ou instalações. Esses desgastes se manifestam de diversas formas, desde a má aparência, perdas parciais e até perda total das funções requeridas, causando paradas de produção, fabricação, perda da qualidade dos produtos ou serviços, poluição e desastres ambientais. Como essa área tem uma forte relação com os setores produtivos, principalmente quanto à qualidade e produtividade, ela acaba desempenhando um papel estratégico fundamental na melhoria dos resultados operacionais e financeiros dos negócios (XENOS, 1998).

As áreas de manutenção, quando identificadas e otimizadas dentro da cadeia de valor da organização, podem oferecer vantagem competitiva.

A cadeia de valor é formada por nove categorias genéricas subdivididas em duas atividades:

Atividades Primárias: Logística Interna e Externa, Operações, Marketing, Vendas e Serviços;

Atividades de Apoio: infra-estrutura, gerência de RH, Desenvolvimento de Tecnologia e Aquisição.

A integração e análise dessa cadeia, identificando o potencial de cada bloco é que determinará a vantagem competitiva de uma empresa (PORTER, 1989). A manutenção está presente nas atividades de Apoio (fornecimento e manutenção da infra-estrutura como, por exemplo, energia elétrica, água, ar comprimido, vapor e gás) e nas atividades Primárias (a manutenção de equipamentos e bens de capital).

Figura 1 – A Manutenção inserida na Cadeia de Valor

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Fonte: Modelo de Porter (1989) aplicado a uma Cooperativa, constatado pelos autores.

A área ganhou status de função estratégica nas organizações, principalmente

depois da Segunda Guerra Mundial, com o movimento japonês chamado "Total Productive Maintenance" – TPM que, ao longo dos últimos 50 anos, vem evoluindo de uma simples metodologia de manutenção para um complexo sistema de gestão empresarial. O quadro a seguir expõe a evolução do conceito de manutenção ao longo das décadas.

Quadro 1 – Evolução da Manutenção.

Evolução / Década 1970 1980 1990 2000

Estratégia Máxima Eficiência dos Equipamentos

Produção TPM Gestão de TPM

Foco Equipamento Sistema de Produção Sist. Geral da Companhia

Perdas

Perda por falha

Perdas principais, com foco nos equipamentos

Perdas assim divididas: Equipamentos, Fatores Humanos, Recursos na Produção.

Perdas assim divididas: Processos, Inventário, Distribuição e Compras.

Fonte: IMAI apud FGV EBAPE (2004)

A manutenção passou por três gerações distintas (MOUBRAY, 1997): 1a Geração: anterior à 2a. Guerra Mundial. As indústrias eram pouco

mecanizadas e as paradas de produção pouco importavam. As técnicas de manutenção empregadas eram precárias e simples, limitando-se a limpezas, às rotinas de lubrificação e à inspeção visual. As competências técnicas e gerenciais dos profissionais eram mínimas;

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2a Geração: mudanças radicais ocorreram durante a 2a. Guerra Mundial. As pressões da guerra forçaram as indústrias a se mecanizarem como nunca, e a exigirem competências técnicas e gerenciais de alto nível. Essas organizações começaram a ficar dependentes da manutenção, na medida em que uma produção intensa e com qualidade era esperada.Os conceitos de falhas, manutenção preventiva e manutenção preditiva (técnicas que predizem as condições dos equipamentos) surgiram na década de 60 paralelamente com os primeiros sinais de Planejamento da Manutenção e de Sistemas de Controle, que fortaleceriam as práticas de manutenção e análises de custos. Ainda nos anos 60 e 70, o departamento de Defesa dos E.U.A., juntamente com a indústria aérea militar, desenvolveu as primeiras análises de políticas da manutenção chamadas “Reliability Centered Maintenance” - RCM, largamente utilizados nos dias atuais (NASA, 2000);

3a Geração: a partir dos anos 70, os processos industriais ganharam novos desafios de produtividade e de qualidade. Essas mudanças, nos departamentos de manutenção, foram classificadas em: novas expectativas, novas pesquisas e novas técnicas.

Novas expectativas: termos como disponibilidade e confiabilidade dos equipamentos ganham espaço na indústria, tendo como objetivos a maximização dos ganhos e minimização dos custos das operações. Nessa fase, a área de manutenção ganha novas funções ligadas ao meio-ambiente, à segurança patrimonial e pessoal e à integridade dos ativos físicos.

Novas pesquisas: constatou-se que cada equipamento ou máquina apresentava um comportamento distinto e que as políticas de manutenção não eram as mesmas (diferentemente do paradigma da época).

Novas técnicas: surgem novos conceitos e técnicas avançadas de manutenção e monitoramento como as análises químico-físicas de partículas dos óleos e graxas, termografia, ultra-sonografia, testes de vibrações, etc.

Quadro 2 – Mudanças nas técnicas de manutenção

1a. Geração Arruma quando

quebra

2a. Geração

Revisões programadas Sistemas de planejamento e

controle do trabalho Computadores lentos e

grandes

3a. Geração

Monitoramento das condições Desenho para confiabilidade e manutenabilidade

Computadores rápidos e pequenos Análise de modos de falhas e efeitos

Sistemas experts Multi-funcionalidade e trabalho em equipe

1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 Fonte: Moubray (1997: p.5).

Atualmente, as áreas de manutenção estão participando ativamente dos sistemas

de Gestão da Qualidade Total - GQT (em inglês, “Total Quality Management” - TQM) e dando suporte às demais áreas das organizações. Além de ter enfocado a satisfação dos clientes, o “Total Quality Management” – TQM, também impôs requerimentos para identificar e entender a competição (DUTKA, 1998).

2 O PROBLEMA DE PESQUISA

As áreas de manutenção desenvolvem atividades primárias e de apoio dentro da cadeia de valor e podem trazer vantagem competitiva para as empresas (PORTER, 1989). Para obter essa vantagem, esses departamentos necessitam de mecanismos de

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inteligência competitiva, ou seja, um programa institucional e sistemático para “garimpar” e analisar informações sobre as atividades da concorrência e as tendências do setor específico e do mercado, com o propósito de levar a organização a atingir seus objetivos e metas (KAHHANER apud GOMES; BRAGA, 2002).

O objetivo geral da pesquisa é explorar as possibilidades da Inteligência Competitiva na obtenção de vantagens competitivas, nos departamentos de manutenção industrial. Os objetivos específicos estão relacionados com a pesquisa de campo, onde se procurou buscar respostas às seguintes questões: • quais são os canais formais e informais mais usados para captação da informação

pelos departamentos de manutenção das empresas? • quais as freqüências de acesso a esses canais? • como operacionalizar os conceitos de I.C. nesses departamentos?

2.1 Relevância do Tema

No início do século XXI, as áreas de manutenção industrial, no Brasil, já são responsáveis por um orçamento anual estimado em R$ 56 bilhões (ABRAMAN, 2003) e responsáveis pela conservação e manutenção dos processos produtivos e administrativos. Para atender tamanha demanda elas precisam praticar a Inteligência Competitiva juntamente com uma Estratégia de Sistemas da Informação, na busca de: • sobrevivência mediante as pressões concorrenciais; • novas oportunidades no mercado interno e externo; • novos conceitos e novas técnicas de manutenção que maximizem os resultados; • novos conhecimentos dos concorrentes através de monitoramento de métricos e

indicadores; • novas políticas, novos processos regulatórios e legislativos que direcionem as

atividades de manutenção para questões emergentes como às do meio-ambiente e às sociais;

• novas alianças estratégicas e novas capacitações humanas para sinergizar recursos. Todos esses desafios sincronizados em um permanente estado de alerta às

tendências do mercado mundial.

3 METODOLOGIA DE PESQUISA

O presente estudo envolve uma pesquisa qualitativa exploratória, fazendo uso do método Delphi (aplicado via Internet) para análise dos principais canais de captação da informação e entrevista com especialistas da área para a construção do perfil dos profissionais frente à I.C.

O método Delphi é um método para estruturar um processo de comunicação grupal de maneira que o processo é efetivo em permitir a um grupo de indivíduos, como um todo, a lidar com um problema complexo (TUROFF e LINSTONE apud GIOVINAZZO, 2001). O Delphi é uma ferramenta de pesquisa qualitativa, que busca um consenso de opiniões de um grupo de especialistas a respeito de tendências futuras. Possibilita realizar previsões em situações de carência de dados históricos, ou mesmo em pesquisas sobre temas recentes (GIOVINAZZO, 2001). Entretanto, há algumas restrições no método como: tratamento dos resultados estatisticamente não aceitáveis; dificuldade no processo de seleção dos respondentes; excessiva dependência dos resultados na escolha dos especialistas, com possibilidade de introdução de viés devido aos critérios de escolha dos respondentes; possibilidade de forçar indevidamente um consenso; dificuldade de se preparar um questionário que não crie viéses nas repostas.

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O método aqui aplicado, não pretende fazer um levantamento estatisticamente representativo da opinião de um determinado grupo amostrado, e sim uma consulta a um grupo limitado e seleto de especialistas, que através da sua capacidade de raciocínio lógico, da sua experiência e da troca objetiva de informações procura chegar a opiniões conjuntas sobre as questões propostas (GIOVINAZZO, 2001).

A pesquisa exploratória é particularmente útil quando não se tem uma idéia clara dos problemas que serão enfrentados durante o estudo. Através da exploração é possível estabelecer prioridades, desenvolver definições operacionais e melhorar o planejamento final da pesquisa (COOPER; SCHINDLER, 2003).

3.1 Instrumento de pesquisa

Para a coleta de dados, foram utilizados questionários (ANEXO A), compostos por 15 perguntas classificatórias e uma para ordenação, referentes aos canais de captação da informação, levando-se em consideração os canais formais e informais propostos por Rodríguez (1999, apud ESCORSA; MASPONS, 2001, p.16). Os questionários foram enviados pela Internet entre os meses de julho e agosto de 2004. Para o método Delphi, o universo amostral é composto por 12 especialistas da área de manutenção industrial de empresas do segmento químico, logístico, automobilístico e prestadores de serviços especializados do Estado de São Paulo. Os profissionais procurados possuíam, no mínimo, cinco anos de experiência em cargos gerenciais na área de manutenção industrial e pós-graduação em gestão tornando-se, dentro dos limites da pesquisa, uma boa base para exploração das tendências. O uso de diversos segmentos deveu-se à heterogeneidade do universo amostral pretendido, dando pluralidade à pesquisa através de opiniões de importantes setores industriais brasileiros.

4 REFERENCIAL TEÓRICO: A INTELIGÊNCIA COMPETITIVA

A estratégia competitiva envolve o posicionamento de um negócio para maximizar o valor das capacidades que distinguem a organização de seus concorrentes, ou seja, um aspecto central de formulação estratégica é a análise de percepção do concorrente (PORTER, 1989). Nesse contexto, a transformação dos dados em informação e esta em conhecimento ou inteligência, são fatores críticos para o sucesso das organizações. A figura 4 ilustra a evolução da distribuição dos níveis de informação no processo de tomada de decisão.

Figura 4 - Mudança do processo de tomada de decisão

Fonte: (GOMES; BRAGA, 2002: p. 25)

Onde: • os dados pertencem à base da pirâmide, que consiste em informação mais básica

(quantitativa).

80%

15%

5%

20%

25%

55%

Dados

Informação

Inteligência

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• as informações são os dados organizados de modo mais significativo, agregando o conhecimento de especialistas. É útil para a tomada de decisão.

• a inteligência é a informação que permite a tomada de decisão com um certo grau de previsibilidade, minimizando os impactos às organizações. É uma informação ativa (grifos nosso).

A busca por conhecimento e captação de sinais externos da concorrência não é atividade nova. A Constituição Japonesa de 1868 já manifestava a necessidade de buscar conhecimento presente no mundo inteiro a fim de fortalecer os fundamentos do poder imperial. Na Suécia, no século XVIII, já era publicada uma revista chamada Den Goteborg Spionen que trazia informações sobre as tecnologias estrangeiras (ESCORSA; MASPONS, 2001, p.30).

Atualmente, vários organismos internacionais públicos, privados e empresas estão trabalhando no campo da Inteligência Competitiva:

Volvo e Ericsson (Suécia); “Japan Information Center of Science and Technology “- JICST (Japão); “Centre de Sociologie de L'Innovation”- CSI, “Institut de Recherche en

Informatique de Toulouse” – IRIT, L'Oreal, France-Télécom e Saint Gobain (França); “Center for Science and Technology Studies”- CWTS na Universidade de

Leiden e “Department of Science and Technology Dynamics” da Universidade de Amsterdã (Holanda);

“Institute for Scientific Information”- ISI, Kodak, Monsanto, HP, DuPont, “Society of Competitive Intelligence Professionals”- SCIP (Estados Unidos);

“Consejo Superior de Investigaciones Científicas”- CSIC (Espanha); Vale ressaltar os trabalhos da Alemanha, Israel, Canadá, Grã-Bretanha, Rússia e

alguns países latino-americanos como Brasil, México e Cuba. Freqüentemente, o conceito de Inteligência esteve associado à espionagem. Os

serviços de Inteligência Britânicos, da CIA americana, da KGB soviética e dos serviços de espionagem de outros países sempre tentaram apoderar-se dos segredos dos inimigos, fato que aumentou o preconceito. Porém, além da espionagem militar, temos a espionagem industrial que tem sido freqüentemente noticiada pelos meios de comunicação. Escutas telefônicas, roubo de documentos, infiltração de altos executivos ou estudantes em estágio, chantagens de executivos das empresas rivais e outras práticas são comuns nos meios ilícitos de Inteligência. Casos notórios como o Projeto ECHELON, criado pelos Estados Unidos e Grã-Bretanha para espionagem industrial durante a Guerra Fria, as escutas telefônicas da empresa francesa Thompson-CSF no Governo Brasileiro e o caso Hitachi-IBM na década de 80, são alguns exemplos. Porém, o conceito de Inteligência Competitiva se ocupa apenas das linhas legais de atuação (ESCORSA; MASPONS, 2001, p.26).

A definição de Inteligência Competitiva, na definição de alguns autores, pode ser resumida em 3 formas principais (GOMES; BRAGA, 2002): • um programa institucional e sistemático para garimpar e analisar informações sobre

as atividades da concorrência, e as tendências do setor específico e do mercado em geral, com o propósito de levar a organização a atingir seus objetivos e metas;

• uma atividade de gestão estratégica da informação, que tem como objetivo permitir que os tomadores de decisão se antecipem às tendências dos mercados e à evolução da concorrência, detectem e avaliem ameaças e oportunidades que se apresentem em seu ambiente de negócio, para definirem as ações ofensivas e defensivas mais adaptadas às estratégias de desenvolvimento da organização;

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• um processo formalizado, ininterruptamente avaliado, pelo qual a gerência avalia a evolução de sua indústria, a capacidade, o comportamento de seus concorrentes atuais e potenciais, para auxiliar na manutenção ou desenvolvimento de uma vantagem competitiva.

O caráter ético e legal da fase de obtenção da informação, principalmente envolvendo os concorrentes, como pressuposto da Inteligência Competitiva - IC, foi citada por Cottrill (1998, apud ESCORSA; MASPONS, 2001). Prescott (1998) abordou os limites éticos da Inteligência Competitiva, cuja preocupação central diz respeito à fase de coleta dos dados, embora afirme que em cada passo do desenvolvimento da Inteligência Competitiva possam ocorrer abusos éticos. O conceito de certo e errado para fins de obtenção e tratamento da informação nem sempre está descrito em leis e regulamentos. É preciso que se tenha um discernimento para se perceber a diferença entre o que é considerado ético e não ético, levando-se em consideração os padrões de comportamento empresariais, que podem variar de país para país. Prescott salienta que não existe um consenso universal sobre o que constitui um comportamento ético, exemplificando “áreas cinzentas” da Inteligência Competitiva. Essas áreas referem-se a práticas que são legais, mas não necessariamente éticas, como, por exemplo, utilizar-se de “espiões” que são funcionários das empresas concorrentes de modo a obter informações financeiras ou confidenciais, tirar fotos aéreas de novos empreendimentos que estão sendo construídos pelos concorrentes etc.

Ao se falar de Inteligência Competitiva, uma das primeiras imagens que surgem é a do radar, um radar da empresa, um dispositivo para captar e obter informações, um gesto de escuta antecipativa. Existem vários tipos de radares, cada um (ou um conjunto deles) será utilizado em momento oportuno (LESCA et al., 2003: p.3).

“Uma empresa que opta por instalar um radar sobre os concorrentes está adotando uma postura defensiva, de proteção, eventualmente de inovação. Se optar por instalá-lo sobre seus clientes, sobretudo clientes potenciais, poderá descobrir novas frentes de negócios; optando por fornecedores, pode identificar uma saída para melhorias na produção, e assim por diante” (POZZEBON; FREITAS; PETRINI, 1997 apud LESCA et. al.,2003: p.3).

O ciclo da I.C. em uma empresa envolve vários processos internos que são executados de forma coordenada e planejada, apresentados resumidamente na figura 5:

Figura 5- O ciclo da Inteligência na empresa

Fonte: (ESCORSA; MASPONS, 2001, p.53)

Em um sentido mais amplo, o termo “Business Intelligence” engloba a captura

de informações que não são, necessariamente, usadas para análises competitivas da

FONTES INFORMAIS

FONTES FORMAIS

OBTENÇÃO DA

INFORMAÇÃO

PROCESSAMENTO ANÁLISE

DIFUSÃO DOS RESULTADOS AÇÕES

PLANEJAMENTO E

DIREÇÃO

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empresa. Para a operacionalização da Inteligência Competitiva, alguns passos essenciais necessitam ser considerados: • o primeiro passo é o planejamento, englobando a definição clara da missão e dos

objetivos da organização. Nesta fase, é importante realizar uma auditoria nos recursos de informações, que consiste em mapear e identificar as fontes de informações espalhadas pela empresa (bancos de dados, papéis, documentos, arquivos, manuais, etc.);

• seleção das fontes de informação e de apoio, formais e informais, que serão utilizadas;

• análise, que consiste na transformação da informação e na interpretação dos resultados com qualidade, veracidade, precisão e oportunidade;

• difusão e decisão, implicando em ações claras e consistentes, gerando novo patamar de conhecimento;

• realização de um marketing interno, convencendo os funcionários dos demais departamentos sobre a importância de um Sistema de Inteligência Competitiva;

• elaboração de um plano de incentivos para os funcionários, motivando-os a compartilharem as informações e idéias.

Além disso, as vigilâncias, (ou seja, as informações que deverão ser coletadas e analisadas sob a ótica da estratégia da empresa para auxiliar a tomada de decisão), quando estruturadas, trazem velocidade e poder de reação às ameaças internas e externas. As empresas tornam-se menos vulneráveis às constantes oscilações do ambiente de forma a antecipar tendências. A figura 6 ilustra os elos das vigilâncias relacionados ao modelo das forças de Porter:

Figura 6- Modelo de Porter (adaptado), e suas vigilâncias associadas.

Fonte: (GOMES; BRAGA, 2002) e (ESCORSA; MASPONS, 2001), consolidado pelos autores

A figura 6 representa uma sobreposição de conceitos de diversos autores a respeito dos tipos de vigilância e seu relacionamento com as forças de Porter. As elipses representam, de forma esquemática, os quatro fatores determinantes da competitividade das empresas no mercado: fornecedores, novos “entrantes” (concorrentes) em potencial, clientes (compradores), e produtos substitutos (PORTER, 1998). A partir desses conceitos, podem ser associados diversos tipos de vigilâncias (contornos pontilhados), de acordo com a natureza. Por exemplo, a vigilância comercial

Vigilância Comercial

Vigilância Comercial

Vigilância Tecnológica

Vigilância Competitiva

Mercado

Novos Entrantes

Substitutos

Fornecedores Compradores

Vigilância Tecnológica

VigilânciaEconômica

Vigilância Política/Legal

Vigilância Social

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está associada aos fornecedores, a vigilância competitiva está relacionada com a concorrência e aos novos entrantes, a vigilância comercial com os clientes, e finalmente a vigilância tecnológica com os produtos substitutos (ESCORSA; MASPONS, 2002, p.13). Os retângulos na cor cinza representam mais três tipos de vigilâncias, além dos descritos por Escorsa e Maspons (2002), ou seja, foram acrescentadas as vigilâncias Econômica, Social, e Política/Legal (GOMES; BRAGA, 2002). Nota-se que a Vigilância Tecnológica aparece duas vezes. Estes últimos autores posicionam a Vigilância Tecnológica como um radar que detecta os movimentos de fornecedores e de potenciais novos concorrentes (entrantes) no negócio. Escorsa e Maspons, por sua vez, situam a Vigilância Tecnológica como parte do processo que se ocupa das tecnologias disponíveis ou que acabam de aparecer, capazes de interferir em novos processos ou produtos substitutos (ESCORSA; MASPONS, 2002, p.12).

Poderíamos tentar resumir um apanhado consolidado dos conceitos da seguinte forma: • vigilância Tecnológica: é a área que coletará dados e informações sobre pesquisa

básica e aplicada, desenvolvimento de novos produtos, serviços, processos, materiais e equipamentos. Inclui a análise de fornecedores, entrantes potenciais (concorrentes), processos e produtos que poderão substituir ou gerar obsolescência ao produto vigente;

• vigilância Competitiva: ocupa-se da informação sobre os competidores atuais e potenciais (política de investimentos, entrada em novas atividades etc.);

• vigilância Econômica: é o setor onde dados e informações sobre impostos, incentivos, mercado de trabalho e financiamento serão capturados;

• vigilância Social: responsável sobre coleta de informações de infra-estrutura social, mão-de-obra, segurança e assuntos relacionados à sociedade;

• vigilância Política/Legal: é o setor onde dados e informações sobre leis, decretos, relacionamento com órgãos do governo etc. serão coletados.

• vigilância Comercial: estuda os dados referentes a clientes (comparadores) e provedores (fornecedores).

Uma empresa não precisa necessariamente implantar todos os tipos de vigilância. Ela deve avaliar e escolher aquela (ou aquelas) que lhe parece mais adaptada à sua situação (LESCA et al., 2003: p.6).

Um sistema de Inteligência Competitiva deve buscar simplicidade, valorizando muito mais os resultados do que a infra-estrutura. O ponto crucial é a busca de informações que agreguem valor ao processo de tomada de decisão. O uso das ferramentas tecnológicas do sistema da informação (intranet, Internet, relatórios em papel, e-mail etc.) deve ter o intuito de facilitar a absorção para uma comunicação efetiva e rápida da Inteligência Competitiva (GOMES; BRAGA, 2002).

Os sinais débeis, de baixa intensidade, se apresentam na forma de simples indícios, com alto grau de incerteza. Tomados isoladamente carecem de significado, mas em conjunto vão tomando sentido de forma progressiva. A estratégia para lidar com sinais fracos é coletar um certo número deles e fazer associações, relações entre eles, criar significados. Trata-se de fazer surgir uma visão a partir de fragmentos. As relações a serem estabelecidas (“links”) podem ser de causalidade, de proximidade, de confirmação, de contradição ou de analogia (LESCA et al., 2003, p.7).

A detecção precoce de sinais débeis, pelo seu caráter antecipativo, gera um período de tempo tal que a empresa acaba dispondo como “margem de manobra”, para fazer frente às possíveis mudanças que o acontecimento detectado tenha a capacidade de

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gerar. Pelo contrário, caso a detecção se realize quando o acontecimento já está amplamente “visível” e identificável, a empresa estará em condição de desvantagem em relação a seus concorrentes, que demonstraram capacidade de fazê-lo em etapas anteriores. A habilidade de capturar, compreender e disseminar rapidamente o conteúdo de inteligência é um papel essencial no ambiente dinâmico e competitivo das organizações. A caracterização das atividades do processo de “engenharia da informação”, define as fronteiras entre a vigilância e a inteligência competitiva. A inteligência competitiva começa a surgir a partir da seleção das informações relevantes, em seguida pela elaboração da análise, e a seguir pelo estágio de apresentação e difusão para a empresa, com a tomada de decisão acontecendo em uma última etapa (PALOP; VICENTE, 1995, apud ESCORSA; MASPONS, 2002, p.17).

A tecnologia da informação será o meio para apoiar todo o processo, garantindo acesso, armazenamento e disponibilidade das informações. A compilação dos dados para uma análise sofisticada exige “mais do que apenas um trabalho duro” (PORTER, 1986). Para ser efetiva, existe a necessidade de um mecanismo organizado, algum sistema de informação de inteligência. Esse sistema, ao longo do tempo, também se funde com a “Gestão do Conhecimento” que é definido como o processo de compartilhamento, distribuição, captura, codificação e criação do conhecimento (LAUDON, K.C; LAUDON, J. P., 1991).

Em 1998, com o objetivo de conhecer as iniciativas empresarias no âmbito da Gestão do Conhecimento, uma amostra de empresas Norte Americanas foi analisada, e identificou-se quatro tipos principais de projetos de Gestão do Conhecimento (DAVENPORT et al., 1998 apud ESCORSA; MASPONS, 2001): • criação de “Armazéns de Conhecimentos”. Diz respeito a guarda indistinta de

informações e de conhecimentos, disponibilizados em vários tipos de documentos, informes, apresentações, artigos etc., que podem ser recuperados com facilidade.

• melhoria de acesso aos conhecimentos. Consiste em colocar em contato as pessoas que possuem os conhecimentos com aquelas que necessitam dos conhecimentos, ou criação de rede de especialistas capazes de intervir quando alguém se encontrar em situação difícil.

• estímulo a um ambiente propício para os conhecimentos, com a pretensão de modificar atitudes do pessoal, para que compartilhem o conhecimento.

• administrar o conhecimento como um ativo, com o objetivo de aumentar o rendimento do conhecimento através de, por exemplo, licenciamento de patentes.

A discussão sobre as relações entre a Gestão do Conhecimento – G.C e a Inteligência Competitiva – I.C é relativamente recente, com poucos estudos empíricos, porém sinalizam processos convergentes, paralelos e integrados (ESCORSA e MASPONS, 2001). Uma diferença importante é a de que a G.C se ocupa principalmente em inventariar e em organizar processos acumulados que ocorreram ou que ainda estão ocorrendo no interior da empresa, de forma a serem compartilhados, enquanto que a I.C procura captar a informação estratégica através da exploração dos sinais do exterior, com um propósito de se antecipar e de se orientar para o futuro (NORDEY apud ESCORSA e MASPONS, p.155). Ambas disciplinas são, portanto, complementares, tendendo a uma fusão em um futuro próximo.

5 ANÁLISE DOS DADOS

Através da aplicação do método Delphi, procurou-se responder as questões específicas 1 e 2. Os doze especialistas de manutenção industrial se posicionaram

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quanto aos principais canais de captação da informação utilizados por essas áreas. Como se pode notar no quadro a seguir, os respondentes informaram que internet, livros, bases de dados e contatos pessoais são as ferramentas de captação da informação mais acessadas e importantes para a atividade de manutenção. Os canais formais trazem informações mais robustas de fontes seguras, enquanto que os canais informais captam as rápidas transformações e mudanças nos cenários (podendo se concretizar ou não) nos quais as organizações estão expostas (ESCORSA e MASPONS, 2001). Ainda, segundo os autores, aliar a velocidade dos meios informais, a segurança dos meios formais e a detecção dos sinais débeis, trará robustez à implantação do sistema de I.C. Na presente pesquisa, apesar dos especialistas concordarem que missões são um dos meios mais importantes, corroborando com Escorsa e Maspons (2001), observa-se que elas são as menos freqüentes e acessadas, ou seja, fica a recomendação que a participação em eventos, congressos, feiras e missões é fundamental para a absorção das novidades do mercado. As fontes menos acessadas nessas áreas são as patentes (grifo nosso).

Em entrevista gravada e realizada no dia 06 de agosto de 2004, com um analista da área de manutenção de uma multinacional sediada no Brasil, verificou-se o despreparo que o setor enfrenta no país:

"[...] as ferramentas, dos sistemas de informação, estão disponíveis, mas os funcionários não as conhecem [...] falta um melhor preparo da mão-de-obra do setor para adaptação às novas tecnologias da informação" (grifo dos autores).

Outro dado interessante é que a maioria dos respondentes concorda com a necessidade de implementação de um modelo sistemático e formal, contudo as empresas não investem em I.C. para a manutenção industrial. Provavelmente, como não são "core business", essas atividades, erroneamente, não são consideradas estratégicas para as organizações. Para um executivo do setor, entrevistado no dia 9 de agosto de 2004:

"[...] o Brasil não tem a "cultura da manutenção" e seus dirigentes não olham o setor como um negócio [...] os profissionais da área são, raramente, chamados para as grandes discussões do planejamento estratégico das organizações [...] talvez, com a expansão do setor de facilities (serviços) as empresas tenham que focar mais as áreas de suporte".

A informação corrobora com a necessidade da integração e análise da cadeia de valor, identificando o potencial de se conseguir uma vantagem competitiva em cada processo que, por fim, determinará a vantagem competitiva de uma empresa. (grifo dos autores) (PORTER, 1989).

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Quadro 3 - Resultado do Método Delphi para a detecção dos principais canais de captação de informações nas áreas de manutenção industrial.

Fonte: Elaborado pelos autores

Finalmente, respondendo a terceira questão específica do estudo, no

delineamento experimental de um Modelo de I.C, selecionou-se um departamento de uma das empresas, no caso, do segmento automotivo, incorporando o resultado do Método Delphi com a proposição de um organograma baseado no Modelo de Projeto de Inteligência Competitiva, ou seja, o organograma prevê a criação de uma função de Analista de Informação.

A participação do Analista da Informação foi acrescentada ao organograma com o objetivo de ser o facilitador da captação interna e externa das informações, para o departamento de Manutenção Industrial. Sem esse profissional, não haveria a concentração de esforços e uma otimização dos recursos para a implementação do Sistema de Inteligência Competitiva - SIC. O Analista de Informação favorece a integração entre as camadas operacionais e táticas da estrutura hierárquica. Analisar a concorrência é de suma importância e não pode ser relevado ao acaso (PORTER, 1986).

A Associação Brasileira dos Analistas de Inteligência Competitiva – ABRAIC, descreve, em síntese, as funções a serem exercidas por um profissional da Informação em uma unidade de Inteligência Competitiva: identificar necessidade de informação, definir fontes de dados, coletar dados, selecionar / filtrar, validar, armazenar e recuperar, adquirir e/ou construir fontes de dados/informação, definir o que adquirir, onde e como, recuperar e tratar, executar o tratamento automático da informação e administrar o acervo (MARCIAL, 2004, p.1).

Para o desempenho dessas atividades, a ABRAIC sugere que o profissional da informação tenha as seguintes competências requeridas para o cargo:

• Compreensão da demanda e do contexto; • Conhecimento de fontes;

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• Domínio de ferramentas de acesso e busca, e ferramentas de tratamento; • Capacidade de seleção e síntese; • Capacidade de classificação e armazenamento, no contexto. O analista de informação terá mais um desafio, que será o de detectar blefes, que

são sinais criados por empresas para iludir outras, levando-as a tomar ou não uma determinada ação para beneficiar quem emitiu o sinal (PORTER, 1986). Esses sinais podem ter a forma de anúncios, reportagens, publicidade, declarações, entrevistas à imprensa e outras formas. O discernimento da diferença entre um blefe e um sinal verdadeiro normalmente envolve julgamentos sutis. Esse é um dos grandes desafios do analista de informação. O papel do analista de informação será crucial para que departamento possa tomar as decisões antecipadas em relação à concorrência, levando-se em conta o princípio da criação da oportunidade de negócios, e diminuindo-se o grau de risco inerente às decisões em ambiente de incerteza.

Um detalhe importante na definição do analista da informação diz respeito aos mecanismos de recompensa que devem existir. As condições ambientais dos grupos são apenas, paralelamente, controladas pela organização. Relevar a um plano secundário os sistemas de recompensa, não incluindo incentivos econômicos pode, para a maioria das empresas, levar à criação de um modelo falho (MARCH; SIMON, 1972, p.94). Em entrevista concedida e gravada no dia 06 de agosto de 2004, um analista de manutenção de uma multinacional, acrescentou:

"Mecanismos de incentivos para a geração de idéias, talvez, despertassem nos funcionários a busca pelos canais de captação da informação, no desenvolvimento de novas propostas ... porém, se mal coordenados, pode-se criar uma corrida desenfreada em busca de idéias que, muitas vezes, podem não estar alinhadas com as metas da organização".

Finalmente, com base nos resultados do Delphi e no delineamento operacional e experimental do departamento-piloto, pode-se propor um esquema sistematizado de IC. Procurou-se utilizar os canais já existentes na empresa, minimizando os custos. Foi introduzido o trabalho em regime parcial de um analista da informação. Como se trata de uma multinacional, observou-se que as fontes para captação da informação já existiam, porém, não eram estruturadas e sistematizadas.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para enfrentar os desafios dos ambientes internos e externos, os departamentos de manutenção industrial necessitam praticar, sistematicamente, a Inteligência Competitiva aliada a uma Estratégia de Gestão do Conhecimento na busca de vantagem competitiva. As turbulências e as necessidades constantes de mudanças que as empresas vem enfrentando na era pós-capitalista pressionam, de modo generalizado, os setores da cadeia de valor a captarem as melhores práticas para a maximização dos recursos e minimização dos custos.

O presente estudo mostrou que os departamentos de manutenção não possuem uma Inteligência Competitiva organizada e formalizada. Os canais para captação das informações muitas vezes existem e estão disponibilizados, mas não são utilizados de forma sistemática e alinhados aos objetivos da empresa. Mesmo assim, é possível aliar poucas ferramentas como Bases de Dados com acesso pela Internet, Biblioteca, Intranet e alguns Congressos técnicos e uma estrutura organizacional simples, para o delineamento de um modelo básico de Inteligência Competitiva.

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Características como postura, conhecimento e comprometimento da gerência e da alta direção, para criação desse processo, são fundamentais para que a Inteligência Competitiva deixe de ser uma abstração e passe a ser praticada em muitas organizações. Futuras aplicações práticas do modelo proposto poderão enriquecer ainda mais essa pesquisa, tornando a Inteligência Competitiva uma metodologia simples que poderá, facilmente, ser adaptada às mais diferentes realidades e necessidades do mercado. Porém, a realização desse vasto e rico recurso pressupõe plena compreensão do fenômeno e investimentos em recursos humanos capacitados (LESCA et al., 2003, p.7).

Como resultado prático proposto para uma das empresas, observou-se o aumento significativo de novas propostas do grupo de trabalho já no primeiro mês de implantação. Essas propostas são formalizadas em “check-lists” próprios à empresa e devidamente registradas no sistema “Best Practices”- BP, que permite a difusão dessas idéias em quaisquer unidades da organização. Isso reforça a idéia central da Inteligência Competitiva: a transformação de dados em informação e esta em inteligência, expressados em inovações e soluções concretas que poderão agregar valor às organizações. Vale ressaltar as limitações do estudo, de caráter qualitativo exploratório, como a necessidade da aplicação de novos testes com o instrumento apresentado em universos amostrais maiores, comparação com outros estudos ou pesquisas similares e busca de casos práticos para comparação. O estudo não se limita às áreas de manutenção e acrescenta uma questão de pesquisa: seria mais benéfico para as organizações centralizarem ou descentralizarem as atividades de Inteligência Competitiva? Geralmente essas atividades estão focadas em Pesquisa e Desenvolvimento – P&D, limitando o crescimento conjunto de outras áreas dentro da cadeia de valores e reduzindo a vantagem competitiva das organizações.

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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8 ANEXO A

Instrumento de Pesquisa Nos possíveis canais de captação da informação, de acordo com sua opinião,

enumere a ordem de importância de 1 a 15, onde o 1 é o mais importante e o 15 o menos importante (não pode haver repetição dos números). Em seguida, indique a freqüência utilizada, atualmente, pelo departamento de manutenção em cada um deles:

Freqüência do acesso

Canal de captação/obtenção da informação Ordem de Importância (1 a 15)

Muito Freqüente

Mais ou menos freqüente

Nada freqüente

Imprensa.

TV educativa e rádio.

Livros técnicos.

Revistas especializadas e CD-ROM.

Bases de dados (próprias ou não).

Patentes.

Fontes de informações legais (contratadas ou não).

Estudos ou artigos.

Internet.

E-groups (grupos de debates on-line) e e-mail.

Provedores, fornecedores e competidores.

Missões empresariais, viagens, visitas técnicas, exposições, congressos, debates e feiras.

Entidades, associações profissionais, acadêmicos.

Pessoal Interno e intranet (rede interna)

Contatos pessoais

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_____________________________________________________________________________________ Recebido em/Manuscript first received: 10/02/2005 Aprovado em/Manuscript accepted: 09/03/2005 Endereço para correspondência/ Address for correspondence Josué Viana de Oliveira Neto - Doutor pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade – FEA-USP e Professor da Faculdade Integrada do Ceará – FIC Rua Manuel Queiroz, no. 280, Apto. 202 – Bairro Papicu. Fortaleza – Ceará. Brasil. - CEP 60176-150 E-mail: [email protected] ISSN online: 1807-1775 Publicado por/Published by: TECSI FEA USP – 2005

O IMPACTO SOBRE A INFORMAÇÃO CONTÁBIL APÓS A IMPLEMENTAÇÃO DE UM SISTEMA INTEGRADO DE GESTÃO NAS INSTITUIÇÕES FEDERAIS DE ENSINO SUPERIOR. THE IMPACT ON THE ACCOUNTING INFORMATION AFTER THE

IMPLEMENTATION OF AN INTEGRATED SYSTEM OF ADMINISTRATION IN THE

FEDERAL INSTITUTIONS OF HIGHER EDUCATION.

Josué Viana de Oliveira Neto Faculdade Integrada do Ceará – FIC, Brasil

RESUMO

Este artigo apresenta uma pesquisa que teve como objetivo verificar teorias que explicam o processo de implementação de um sistema integrado de gestão (SIG) em uma organização, focando os seus efeitos sobre a utilização da informação contábil. Neste trabalho foi utilizada a metodologia de estudo de caso sobre uma organização que implementou um SIG e que tinha como principal objetivo gerar relatórios gerenciais de forma integrada. As evidências encontradas apóiam as proposições feitas por Walton (1993:14) em que descreve a integração da tecnologia da informação e a organização. O reflexo sobre a utilização da informação contábil neste estudo de caso evidencia a dificuldade em expandir o uso deste tipo de informação quando não se obtêm o sucesso na implementação de um SIG.

Palavras-chave: Sistemas, ERP, Sistemas Integrados, Sistemas Contábeis, Estudo de Caso.

ABSTRACT

This article presents a research is intended to verify theories that explain the process of implementation of an Integrated System of Administration (ISA) in an organization, analyzing the effects on the use of accounting information. The empiric work based on a case study an organization that implemented of an ISA which main objective is to produce analytical reports integrated. The found evidences support the propositions done by Walton (1993:14) which describes the integration of the information technology and the organization. The results of using the information accounting in this case study evidences the difficulty in expanding the use of this type of information when they are not obtained the success in the implementation of an ISA.

Key-words: Systems, Enterprise Resource Planning – ERP, Integrated Systems, Accounting Systems, Case Study.

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1 INTRODUÇÃO

Após a publicação do livro “Relevance Lost: The Rise e Fall of Management Accounting” (A Relevância Perdida: A Ascensão e o Declínio da Contabilidade Gerencial), por Johnson & Kaplan (1987:1), por volta de 1987, a pesquisa científica na área contábil passou a questionar a real utilidade da informação contábil para a gestão das entidades, principalmente das corporações. Uma das conclusões, apresentadas neste trabalho, refere-se ao impacto da tecnologia sobre a contabilidade e a necessidade desta área do conhecimento incorporar os benefícios advindos das novas tecnologias, e que podem contribuir para a recuperação da “relevância perdida”. Sendo a contabilidade a “linguagem de negócios”, como afirma Wilkinson (2000:3), e sabendo que, ter informações relevantes sobre o negócio é essencial para mantê-lo em um ambiente cada vez mais competitivo, como argumenta Porter (1999:83), faz-se necessário o desenvolvimento contínuo de sistemas de informação que permitam transformar a informação contábil em conhecimento que agregue ao negócio um diferencial estratégico. É o que enfatiza Johnson & Kaplan (1987:17) ao afirmar que os sistemas contábeis gerenciais devem e podem ser projetados para suportar as operações e a estratégia da organização.

A proposta deste artigo é explorar através do estudo de caso, como e porquê a implementação de um sistema integrado de gestão afeta a relevância da informação contábil.

2 OBJETIVOS

Hendriksen (1999:90) cita a definição do Financial Accounting Standards Board – FASB – sobre as características qualitativas da informação contábil como sendo “atributos que tendem a ampliar sua utilidade”.

A utilidade da informação contábil para a tomada de decisões dos seus usuários traduz o seu valor, ou seja, quanto mais útil mais valiosa é a informação. Portanto, o impacto sobre a informação contábil após a implementação de um sistema de integrado de gestão pode ser mensurado a partir da observação da variação da utilidade deste tipo de informação para seus usuários.

Seguindo a orientação do FASB, anteriormente mencionada, sobre a influência das características qualitativas da informação contábil sobre sua utilidade, pode-se derivar a partir destas o impacto sobre as mesmas. Portanto, as evidências da pesquisa devem demonstrar quais e como as características qualitativas da informação contábil foram influências após a implementação um sistema de integrado de gestão.

Das características qualitativas da informação contábil, as observadas nesta pesquisa foram: a oportunidade, a verificabilidade e a fidelidade de representação.

Para entender o impacto do sistema integrado de gestão na organização é necessário conhecer o seu conceito. O sistema integrado de gestão, também denominado de sistema de gestão empresarial informatizado, ou software de gestão integrada de recursos, é fruto do desenvolvimento da tecnologia da informação, como afirma Norris [et al.] (2000:1), ocorrido nos anos 90, e que tinha como objetivo básico interconectar todas as transações internas de uma organização. Este tipo de sistema é baseado na tecnologia ERP – Enterprise Resource Planning – ou Planejamento de Recursos Empresariais. Na visão de Norris [et al.] (2000:4), o ERP é “uma abordagem estruturada para a otimização da cadeia de valor interna de uma empresa”.

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Apesar das dificuldades enfrentadas pelas organizações para implantar o ERP, Oliver (1999:1) afirma que “quando eles são cuidadosamente concebidos e executados, os sistemas ERP’s têm radicalmente mudado a maneira das companhias fazerem o negócio”. Posição também defendida por Barnes (1999:2) que acrescenta a necessidade da adoção pelas organizações de “procedimentos necessários para gerenciar as mudanças e customizações que os mesmos fazem em seus ERP’s para alcançar a vantagem competitiva”.

Os benefícios gerados pelo uso de um sistema de informação que contempla todas as áreas da empresa, de forma integrada e uniforme, são: elimina re-trabalhos; garante a consistência das informações; automatiza o fluxo das informações, reduzindo erros; etc. Para Oliver (1999:1) “... Sistemas ERP estão surgindo como o melhor caminho para empresas usarem seus dados internos e fontes de informações para melhor gerenciar seus negócios”.

Dentre todas as áreas da empresa, aquela que sofreu um impacto diferenciado foi, certamente, a contabilidade. Este fato foi constatado em dois estudos de caso desenvolvidos por Davis e Albright (1999:1) em um trabalho de pesquisa que tinha como objetivo observar o impacto sobre a área de contabilidade quando da implantação de um sistema integrado de gestão empresarial.

Walton (1993:14) propôs uma teoria sobre a eficácia do processo de implementação de tecnologia da informação. Sua teoria se apóia essencialmente na segmentação do processo de implementação nas três fases clássicas: criação do contexto para TI, desenho do sistema TI e introdução, operação e difusão.

A teoria de Walton (1993:14) descreve a integração entre a TI e a organização na qual a eficácia da implementação depende crucialmente de:

• Gestão adequada; • Alto comprometimento organizacional; e, • Forte competência, em geral e domínio dos usuários, em particular.

Portanto, tomando por base as teorias anteriormente propostas, é possível testar as proposições inerentes às questões de pesquisa deste trabalho a partir das evidências encontradas para o estudo de caso ora exposto.

Resumindo, as proposições são: A adoção de sistemas integrados de gestão na organização provoca mudanças na

utilização da informação contábil; O subsistema contábil, como componente do sistema integrado de gestão, é mais

eficiente na gestão da informação contábil por ser e estar integrado com os demais subsistemas;

A implementação bem sucedida do sistema integrado de gestão é uma premissa na criação do contexto capaz de promover as mudanças na utilização da informação contábil pela organização.

3 JUSTIFICATIVA

Para conhecer os efeitos de um sistema integrado de gestão nas Instituições Federais de Ensino Superior – IFES – sobre a utilização da informação contábil, o Departamento de Contabilidade e Finanças da Universidade Federal do Ceará foi escolhido como a unidade de análise desta pesquisa, em virtude do Projeto SAU – Sistema de Automação Universitária.

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Das razões expostas por Yin (1994:38), a da singularidade do caso é a que justifica este estudo de caso, visto que o Projeto SAU na Universidade Federal do Ceará ter sido a única entidade de ensino superior a implantar o maior número de módulos.

Os requisitos que fazem do Departamento de Contabilidade e Finanças da UFC a unidade de análise desta pesquisa são: • Ser uma IFES; • Ter um projeto de implementação de um sistema integrado de gestão; • Ser pioneira na implementação de um sistema integrado de gestão dentre as IFES; • O Projeto tinha como um de seus objetivos básicos repassar para as demais IFES o

sistema por ele implementado; • Dentre as IFES que iniciaram o Projeto SAU, foi a que conseguiu implementar o

maior número de módulos; • Proximidade proporcionada por se localizar na mesma cidade na qual reside o

pesquisador; • Acessibilidade proporcionada em virtude do pesquisador fazer parte da instituição.

A lógica adotada neste trabalho é o confronto entre as proposições teóricas e as evidências coletadas ao longo da pesquisa. Para tanto, e feita uma descrição do caso, e ao final é construída uma explicação sobre a modificação ou não na utilização da informação contábil após a adoção de um sistema integrado de gestão, no caso, o SAU.

Atendendo aos parâmetros que atestam à qualidade do projeto de pesquisa, este estudo de caso seguiu os seguintes critérios: • Para o constructo da validade foi observado o uso de múltiplas fontes de evidências,

quais sejam: o Documentação: foram coletados documentos relacionados com todas as

fases do Projeto SAU; o Entrevistas: foram entrevistados os membros da entidade envolvidos com o

Projeto SAU; o Observação direta e observação-participante – o próprio pesquisador, em

loco, acompanhou os efeitos do Projeto SAU sobre a tomada de decisão por parte dos gestores da entidade e, também, foi e é afetado, em virtude de fazer parte da entidade.

• A validade interna é trilhada através da descrição do caso e da construção • da explicação sobre o cumprimento da hipótese da pesquisa; • A validade externa, apesar de ser um estudo de caso singular, é buscada a partir

da constatação da existência de entidades que iniciaram a implantação do Projeto SAU;

• A confiabilidade da pesquisa é assegurada pela estruturação do protocolo e do banco de dados da pesquisa presentes neste trabalho.

4 A QUESTÃO DA PESQUISA

A adoção de sistemas integrados de gestão na organização provoca mudanças na utilização da informação contábil?

A partir deste problema geral se derivam os seguintes problemas específicos, quais sejam:

1. Como o subsistema contábil, componente do sistema integrado de gestão e responsável pela informação contábil, proporciona mudanças na utilização da informação contábil?

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2. Por que, de que forma e quando a implementação do sistema integrado de gestão provoca mudanças na utilização da informação contábil? A adoção de sistemas integrados de gestão na organização provoca, entre outras,

mudanças na utilização da informação contábil conforme exposto por Riccio (2001). Esta é a questão principal abordada pela pesquisa exploratória que deu origem a

este trabalho. As proposições específicas se referem à forma, à explicação e ao contexto nos

quais as mudanças são promovidas quanto à utilidade da informação contábil ao adotar um sistema integrado de gestão em uma organização.

Quanto à forma, o subsistema contábil, quando implementado como um componente do sistema integrado de gestão, pode tornar-se mais eficiente e eficaz na gestão da informação contábil. A explicação se dá pela sistematização consistente e integrada do fluxo da informação que afeta o patrimônio da organização. Porém, o contexto no qual estas hipóteses são possíveis é promovido pela implementação bem sucedida do sistema integrado de gestão como um todo.

5 METODOLOGIA DA PESQUISA

A metodologia a ser empregada em um trabalho cientifico é derivada do objeto da pesquisa, ou seja, a metodologia é o meio, o instrumento que vai possibilitar a estruturação consistente da pesquisa.

Foi constatado por Riccio & Sakata (1999:35) que a produção acadêmica brasileira na área contábil, tem sido predominantemente de cunho teórico e baseada em análises bibliográficas, com foco muito menor para as pesquisas empíricas, tanto quantitativas quanto qualitativas.

A pesquisa empírica, principalmente qualitativa possibilita a geração de conhecimento a partir da observação e do envolvimento do pesquisador com objeto pesquisado e sua interação com o ambiente e a realidade social.

A realização de mais pesquisas empíricas interdisciplinares na área contábil no Brasil contribui para que haja enfoque mais adequado da realidade e isso possa contribuir para a criação de conhecimento sobre as complexas relações entre os campos da contabilidade, tecnologia e sistemas de informação e gestão empresarial.

Para escolher a metodologia adequada à pesquisa, Yin (1994:4) propõe a\ observação de três condições:

a) O tipo da questão de pesquisa; b) A extensão do controle que o pesquisador tem sobre o comportamento atual dos

eventos; c) O grau do enfoque contemporâneo em oposição aos eventos históricos.

Observando estas três condições, a metodologia adotada neste trabalho é a pesquisa de estudo de caso, visto que:

1. O tipo da questão de pesquisa se enquadra no entendimento do “como” e o a) “porquê” a informação contábil é usada na tomada de decisão na organização

após a implantação de um sistema de informação integrado; 2. Não existe controle por parte do pesquisador em relação ao comportamento atual

dos eventos; e, 3. Os eventos que afetam o objeto da pesquisa são recentes, conferindo um alto

grau contemporâneo ao enfoque da pesquisa.

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6 O REFERENCIAL TEÓRICO

Sendo a informação contábil o objeto do estudo desta pesquisa, faz-se necessário defini-la e contextualizá-la, para possibilitar a sua observação e, conseqüente, mensuração do impacto promovido pela implementação de um sistema integrado de gestão sobre este tipo de informação.

A informação contábil é um tipo de informação que descreve um evento que afeta o patrimônio da entidade. A forma de representação de um evento que afeta o patrimônio de uma entidade, adotado pela contabilidade, através do método das partidas dobradas, estabelece a dualidade antagônica deste evento: débito e crédito. Por trás desta convenção contábil, depreende-se um conhecimento consistente e valioso: a relação de causa e efeito. Esta constatação faz do registro contábil, não apenas uma representação estática, mas também dinâmica do evento, como observou Riccio (1989:92).

Sendo o registro contábil o elemento do banco de dados da contabilidade, este deve refletir fielmente o evento a fim de manter a consistência do próprio banco. Para que o registro reflita a realidade físico-operacional do evento, a Ciência Contábil tem desenvolvido, ao longo de sua história, um arcabouço teórico, de acordo com Ijiri (1967), sob três grandes teorias: teoria da mensuração, teoria da comunicação e teoria da decisão. Coube a teoria da mensuração estabelecer os conceitos e regras que permitam a mensuração correta do evento.

Com o advento da revolução industrial, a Ciência Contábil, a partir da contabilidade de custos, agregou novos dados ao registro dos eventos, contemplando também os aspectos de natureza física. Este fato enriqueceu ainda mais o banco de dados da contabilidade, atribuindo-lhe um maior poder de explicação sobre os fenômenos que afetam o patrimônio da entidade.

Os eventos que afetam o patrimônio da entidade ocorrem em todas as áreas da entidade. Portanto, os fluxos dos dados sobre estes eventos devem ser encaminhados ao sistema contábil para que este possa fazer o registro, acúmulo, síntese, e a produção da informação contábil.

A informação contábil pode ser abordada sob dois aspectos: o enfoque amplo e o enfoque restrito. No enfoque amplo a informação contábil é tratada como qualquer informação resultante do sistema contábil. Já no enfoque restrito a informação contábil é limitada a um conjunto de informações contábeis específicas, como, por exemplo, as demonstrações contábeis.

A abordagem sobre a informação contábil observada neste trabalho é o enfoque amplo, muito embora algumas evidências possam ser estendidas ao enfoque restrito, como é o caso das demonstrações contábeis da entidade objeto do estudo de caso. O enfoque amplo foi escolhido em virtude da amplitude do próprio conceito do sistema integrado de gestão, que parte da premissa de permear todos os processos da entidade, gerando, potencialmente, reflexos não apenas sobre uma informação contábil específica.

7 DEFINIÇÃO DO SISTEMA INTEGRADO DE GESTÃO

Por volta dos anos 90, surgiram os primeiros sistemas denominados de Sistema de Gestão Empresarial (Enterprise Resource Planning – ERP). A premissa básica dos ERP é a existência de uma base de dados única alimentada e mantida por um sistema que informatiza todos os processos internos da organização.

Outro fato relevante, que motivou a implementação de novos sistemas nas organizações, foi uma falha tecnológica dos antigos sistemas na qual os dados que

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representavam a data – informação chave em qualquer sistema de registro e manutenção de eventos cronológicos – não tratavam o ano com quatro dígitos, mas apenas com dois, impossibilitando a ordenação cronológica correta dos registros.

Segundo Riccio (2001:53) os primeiros passos na concepção do ERP foram dados em 1972 quando “cinco analistas deixam a IBM da Alemanha para fundar a Systemanalyse and Programmentwicklun (Análise de Sistemas e Desenvolvimento de Programas), em Mannheim. A companhia inicia a produção de um Sistema de Informações Contábil-Financeiro. Em 1978, adiciona novos módulos ao conjunto e introduz seu primeiro sistema empresarial, denominado R/2” . Ainda segundo Riccio (2001:39), o termo ERP foi cunhado quando “no início de 1990 o Gartner Group publicou o seu primeiro modelo para aquilo que seria considerado como a próxima geração do MRP II e o denominou Enterprise Resources Planning (Planejamento de Recursos Empresariais) – ou ERP.”

Neste trabalho, o Sistema Integrado de Gestão abordado pelo estudo de caso é considerado como similar a um ERP uma vez que objetivou a informatização de todos os processos internos da organização sobre uma base de dados única.

8 DEFINIÇÃO DO SUBSISTEMA CONTÁBIL

Para Wilkinson (2000:7) o subsistema contábil, também denominado de Sistema de Informação Contábil,

“é uma estrutura unificada dentro de uma entidade que emprega recursos físicos e outros componentes para transformar dados econômicos em informação contábil, com o propósito de satisfazer as necessidades de informação de uma variedade de usuários” (grifo do autor).

Nesta definição a ênfase é dada no processo de transformação do dado, qualificado como de natureza econômica, em informação contábil.

Sendo o subsistema contábil parte integrante do sistema da entidade objeto de contabilização (organização, empresa, instituição, etc.), os demais subsistemas interagem enviando dados e recebendo informações da contabilidade.

Para esta pesquisa de estudo de caso, o subsistem contábil do SAU está inserido no SAU-03 – Administração Financeira – e foi desenvolvido para gerenciar as atividades financeiras da entidade. Além do SAU-03 a UFC, como entidade ligada à federação, utiliza, também, o Sistema Integrado de Administração Financeira – SIAFI. Este sistema gerencia as finanças de todas as entidades federais do país.

9 PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO DO SISTEMA INTEGRADO DE GESTÃO

O processo de implementação do Projeto SAU envolveu três entidades: a Universidade Federal do Ceará, a Unisys do Brasil Ltda e a Techne – Engenharia e Sistemas Ltda, sendo dividido em três grupos de investimento: hardware, software e treinamento.

Iniciou-se em 1990, com a aquisição e instalação do hardware e da rede de terminais em todas as unidades administrativas e acadêmicas da entidade. O SAU foi desenvolvido sobre uma plataforma tecnológica proprietária da Unisys, baseada no computador Unisys - Serie A. Paralelamente os profissionais de sistemas da UFC foram treinados. Após a instalação da infra-estrutura física do sistema composto do hardware

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principal e da rede de terminais, foi implantado o sistema propriamente dito, subdividido em sete módulos, a saber:

• Sistema de Protocolo e Comunicações (SAU-01); • Sistema de Administração de Recursos Humanos (SAU-02); • Sistema de Administração Financeira (SAU-03); • Sistema de Administração de Materiais e de Patrimônio (SAU-04); • Sistema de Administração de Atividades Didáticas (SAU-05); • Sistema de Administração de Bibliotecas (SAU-06); • Sistema de Gerenciamento de Rede e Transações (SAU-07).

A estratégia de implantação foi progressiva por módulo. Primeiramente, o SAU-01 e, em seguida, os demais. Boa parte dos módulos sofreu alterações ou foram desenvolvidos durante este processo, o que demandou bastante tempo para a implantação dos demais módulos.

10 BREVE DESCRIÇÃO DO ESTUDO DE CASO

A UFC dispunha de um conjunto de sistemas não integrados distribuídos em vários departamentos. A principal motivação para a busca de uma nova solução na época foi que os sistemas existentes não possuíam recursos suficientes para gerar relatórios gerenciais de forma integrada.

O processo de seleção partiu da constatação do não atendimento das necessidades de informação pelos sistemas existentes. Iniciou-se uma extensa pesquisa no mercado de soluções que atendessem as exigências atuais e as perspectivas de crescimento da instituição. Foram, então, realizadas visitas a universidades federais, estaduais e municipais para conhecer e avaliar as soluções ali existentes ou em processo de implantação.

Dentre as soluções encontradas, a que atendia a premissa de integração além dos requisitos tecnológicos da época foi o da Universidade de São Paulo. Este sistema, desenvolvido em uma plataforma proprietária da UNISYS, foi concebido a partir de uma tese de doutorado do professor Heraldo Luiz Marin, defendida na Universidade de São Paulo, no Departamento de Engenharia Elétrica da Escola Politécnica. Nasceu, assim, o projeto SAU – Sistema de Automação Universitária.

Para viabilizar o projeto tanto nos aspectos técnico como financeiro, foi firmada uma parceria entre a Universidade Federal do Ceará – UFC, Ministério da Educação e Cultura – MEC, a Unisys e a Techne. O MEC e a Unisys financiaram o projeto. A Unisys forneceu a infra-estrutura computacional. A UFC através do Centro de Treinamento em Desenvolvimento Regional – CETREDE – subcontratou a Techne, consultoria responsável pelo desenvolvimento e devidas modificações do sistema. Em 1990, o Projeto SAU foi formalizado através do Termo de Acordo 001/90 firmado entre a Secretaria Nacional de Educação Tecnológica – SENESU, órgão do MEC, e a Universidade Federal do Ceará.

O Projeto SAU tinha como objetivo descrito na segunda cláusula do contrato “o desenvolvimento e implantação de um sistema de informações que atuem em tempo real e automatiza as rotinas administrativas básicas de instituições de ensino superior”.

O Projeto SAU visava se estender há outras instituições federais de ensino superior como pôde ser comprovado na quinta cláusula do contrato.

Para a realização do Projeto SAU envolve-se recursos de aproximadamente três milhões de dólares, a serem consumidos com pessoal, equipamentos e serviços.

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No desenvolvimento do SAU, foram utilizados professores e técnicos da UFC e consultores especializados, para garantir que fosse incorporada a tecnologia da informação mais avançada disponível na época.

O Sistema de Automação Universitária – SAU –, por definição, “é um sistema integrado de informações e controle que automatiza as rotinas administrativas e acadêmicas de uma instituição de ensino superior, gerando, por conseguinte, relatórios gerenciais com vistas à avaliação, planejamento e tomada de decisão”.

O SAU é subdividido em módulos que acessam uma única base de dados armazenada em um computador Unisys série “A”. As tarefas são executadas através de terminais de uma rede de teleprocessamento localizados em diversas unidades administrativas da entidade.

O SAU é um sistema relacional integrado, que utiliza uma única base de dados e desenvolvido segundo as recomendações básicas constantes do documento “Modernização Administrativa das Instituições Federais de Ensino Superior – IFES”, emitido pela SENESU/MEC.

Segundo Fabio Rodrigo Vergani Cespi, consultor da Techne, o Projeto SAU foi realizado entre os anos de 1990 a 1993 e implantado por completo ou em parte, em cerca de 10 a 15 universidades federais das 39 atualmente existentes.

O sistema SAU foi apresentado, a convite, pelo reitor da UFC, em um seminário internacional sobre tecnologia da informação e gestão universitária realizado pelo Conselho de Reitores das Universidades Européias, em 1991. Nesse mesmo seminário, foram apresentadas soluções de diferentes instituições européias e latino-americanas, tendo o projeto SAU merecido destaque por ser o único projeto da América Latina desenvolvido de forma parametrizada e documentado de forma a possibilitar sua implantação em outras universidades federais. Com exceção do projeto de universidades inglesas, desenvolvido com a finalidade de ser utilizado por um grupo de instituições, todos os demais sistemas apresentados tinham por objetivo atender uma única instituição.

O primeiro módulo do SAU entrou em funcionamento na UFC em 1991. Até o final de 1992 a situação do SAU era a seguinte:

SAU-01 – Implantado; SAU-02 – Parcialmente implantado; SAU-03 – Não implantado; SAU-04 – Implantado; SAU-05 – Parcialmente instalado; SAU-06 – Em implantação; SAU-07 – Implantado. Neste mesmo ano, foi criada a ASSAU, Associação de Usuários do SAU,

seguindo uma orientação da Comissão de Assessoramento à Informatização Universitária – COINF/MEC. A ASSAU tinha como principais objetivos à aceleração da implantação do SAU nas IFES, através da troca de experiências e a conseqüente racionalização de custos de implantação. As IFES membros da ASSAU eram:

Universidade Federal do Ceará – UFC; Universidade Federal do Piauí – UFPI; Universidade Federal do Maranhão – UFMA; Universidade Federal do Paraná – UFPR; Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF; Universidade Federal de Alagoas – UFAL.

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11 RESULTADOS

As fontes de evidência deste estudo de caso foram: documentos, registros de arquivos, entrevistas, observação direta e observação participante.

As entrevistas foram realizadas com os atuais responsáveis pelos sistemas de informação, com os gestores da área contábil, de materiais e de patrimônio, e com os usuários gestores da UFC.

A observação direta foi fruto do acompanhamento das rotinas administrativas da entidade durante as visitas realizadas às unidades da UFC.

Já a observação-participante foi possível em virtude do pesquisador fazer parte da entidade, e, portanto, agente dinâmico nas interações com todo o sistema, tanto nas rotinas acadêmicas quanto nas rotinas administrativas e financeiras.

As análises das evidências foram conduzidas a partir da confrontação das evidências encontradas com:

• As características qualitativas da informação contábil: a oportunidade, a verificabilidade e a fidelidade de representação;

• A teoria sobre a eficácia do processo de implementação de tecnologia da informação proposta por Walton (1993:14). A teoria proposta por Walton (1993:14) sobre a eficácia do processo de

implementação de tecnologia da informação apóia-se, essencialmente, na segmentação do processo de implementação em três fases: criação do contexto para TI, desenho do sistema TI e instalação e manutenção do sistema TI.

11.1 A criação do contexto para TI

11.1.1 Alinhamento

Neste estudo de caso, a criação do contexto para TI não teve ações bem definidas e consistentes pela entidade, ao buscar viabilizar o Projeto SAU.

A proposta do Projeto SAU buscava o alinhamento da trilogia de estratégias. Porém, as evidências encontradas demonstram que as ações das áreas de TI, da organização (interna), e de negócios (externas), não foram trabalhadas no sentido de conduzirem a uma só direção.

A participação da área de TI da entidade, dando o apoio técnico para a viabilização do projeto foi pequena, em virtude da falta de domínio e excessiva dependência em relação à empresa contratada para implantar. As ações iniciais no processo de implementação envolveram a organização como um todo. Segundo as declarações dos entrevistados, os impactos sobre a organização foram estudados e resultaram nas ações de modificação da estrutura organizacional, treinamento do corpo técnico e dos futuros usuários, a fim de conduzir as estratégias da organização para um contexto favorável a implementação da solução integrada. Por causa da amplitude do Projeto SAU, estavam envolvidas as entidades superiores que coordenam as ações das Instituições Federais de Ensino Superior – IFES – como Ministério da Educação e Cultura – MEC, evidenciando a busca do alinhamento no negócio, último elemento da trilogia da estratégia.

11.1.2 Comprometimento, Suporte e Aceitação

As motivações que conduziram ao Projeto SAU refletem o cenário positivo para a sua implementação. Elas emanavam exatamente da melhoria das condições de trabalho que se fazia necessário na entidade. Os membros ansiaram por uma mudança

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profunda na instituição, visto que os mesmos sentiam dificuldades crescentes na condução de suas tarefas, fruto do crescimento da própria instituição.

As resistências foram percebidas pontualmente em algumas unidades que possuíam membros que tinham uma resistência às mudanças, ou por medo de não se adequar ao processo informatizado, ou por se acharem incapazes de aprender a usar o computador na realização de suas tarefas. As ações voltadas para o treinamento e a capacitação dos usuários procuraram também inibir estas resistências.

A amplitude do Projeto SAU impôs o envolvimento e o comprometimento da alta gestão da entidade. Todos os números do Projeto SAU eram grandiosos para serem relegados às decisões de escalões inferiores. Os valores totais do projeto, as mudanças na gestão e a mobilização promovida exigiam o comprometimento, não só da reitoria e dos pró-reitores, como também do próprio MEC. Isto foi evidenciado através dos documentos que viabilizaram o projeto, como, por exemplo, o convênio firmado entre todos as instituições envolvidas no projeto: UFC, MEC e UNISYS.

11.1.3 Competência e Domínio

Por se tratar do desenvolvimento de uma nova tecnologia e do pioneirismo do projeto SAU, a competência e o domínio constituíam elementos a serem criados. A criação da competência e do domínio foi uma característica intrínseca do Projeto SAU.

A constatação deste fato é observada no próprio documento contratual do projeto, no qual a UFC tem que repassar as demais IFES o conhecimento produzido na implementação do sistema integrado de gestão.

O pioneirismo tem seu preço e a criação da competência e do domínio ao longo do Projeto SAU geraram conseqüências negativas, como:

• Estouro constante dos prazos de implantação dos módulos; • Desgastes junto aos usuários resultante de instabilidades e soluções parciais; e, • Aumento dos custos totais do projeto SAU.

11.2 O desenho do sistema de TI

11.2.1 Alinhamento

O alinhamento da TI com a organização na fase de desenho proporcionou mudanças no processo de gestão da universidade. Antes havia uma centralização das decisões na reitoria e o processamento dos dados se fazia, também, de forma centralizada, seguindo o modo de CPD. O desenho do Projeto SAU partia da premissa da descentralização das informações através de uma rede de terminais em todas as unidades da entidade. A descentralização das informações só teria sentido com a redefinição do processo de gestão da instituição.

11.2.2 Comprometimento, Suporte e Aceitação

Nesta fase de desenho o comprometimento continuou presente através da constatação da participação da alta direção nas discussões sobre o desenho do SAU, muito embora, tenha havido pouco questionamento sobre o projeto e seu impacto nestes fóruns. A necessidade de mudança era tão premente que os ajustes e adequações sobre o projeto original durante esta fase foram mínimos. As evidências indicam que, os membros envolvidos no projeto pensavam que os ajustes e adequações poderiam ser

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bem administrados ao longo da implantação. Esta lógica trouxe sérias conseqüências durante a terceira fase, como foi demonstrado.

11.2.3 Competência e Domínio

Por se tratar de um projeto pioneiro, e, sendo baseado em uma experiência, em andamento em outra instituição, a competência e o domínio, na fase de desenho, estavam baseados mais em teorias do que na prática já vivenciada. Com isso ambos, a competência e o domínio, eram frágeis e vulneráveis nesta fase.

11.3 A instalação e manutenção do sistema TI

Para este estudo de caso, o desenvolvimento desta fase permitiu demonstrar, de forma irrefutável, as conseqüências das decisões e ações praticadas nas fases antecessoras. Um ponto crítico durante esta etapa do processo de implementação foi o não alinhamento entre a TI e a organização.

11.3.1 Alinhamento

Os riscos do projeto eram consideráveis por se tratar de um processo com longa duração, principalmente em virtude de ter uma parte significativa voltada para o desenvolvimento da própria tecnologia.

Os riscos envolvidos foram: • A incompatibilidade entre o que foi idealizado no projeto e as operações reais; • O obsoletismo tecnológico da própria tecnologia escolhida; • As interferências de instituições superiores que vinham a provocar descompasso

no alinhamento entre TI e a organização. Como foi dito na fase de desenho, relegaram-se a esta fase as adequações do

sistema à organização. As evidências comprovam que muitas modificações, muitas delas não previstas, tiveram que ser implementadas nesta fase para adequar o sistema à organização. Neste momento, começaram a aflorar os erros cometidos nas fases anteriores.

Outro ponto crítico evidenciado nesta fase foi a perda de alinhamento entre as ações do projeto e as ações dos órgãos superiores da União que interferem de forma impositiva, visando apenas seus interesses, nas IFES. A União, em ações legítimas, impôs sistemas na área de controle de pessoal (SIAPE) e na área contábil (SIAFI) que interferiu diretamente no projeto. Por estarem em plataformas tecnológicas distintas e visarem interesses divergentes, o sistema SAU e os sistemas SIAPE e SIAFI, não tiveram uma integração consistente.

11.3.2 Comprometimento, Suporte e Aceitação

Por volta de 1991, no início do processo de implementação havia um grande comprometimento motivado pela necessidade de mudança e da oportunidade de aprender novas tecnologias, segundo o que foi captado nas entrevistas. Porém, com as dificuldades e a demora na implantação efetiva dos módulos foi progressivamente reduzindo o comprometimento.

Outro ponto crítico que afetou o comprometimento dos membros da entidade, não só em relação ao projeto SAU especificamente, mas em relação a própria instituição, foi a política governamental sobre os servidores públicos federais, a qual gerou descontentamentos e que atingiu negativamente o comprometimento. A falta de

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reajuste salarial e a perda de benefícios desagregaram equipes, reduziu quadros e comprometeu ações que se encontravam em andamento.

11.3.3 Competência e Domínio

A reforma do Estado, que levou a implementação de políticas que comprometeram a estabilidade das IFES, também afetou a competência e o domínio.

Reduziram-se os investimentos em treinamento e manutenção da infra-estrutura tecnológica.

O quadro de pessoal foi ficando reduzido em virtude da migração dos profissionais mais qualificados e envolvidos no projeto para outras entidades. Houve, também, a entrada de novos membros sem a qualificação e o treinamento necessários.

12 QUADRO DO IMPACTO SOBRE A INFORMAÇÃO CONTÁBIL

O impacto sobre a informação contábil foi observado nas duas principais características que tem reflexo sobre a variável utilidade, proposta pelo FASB: Relevância e Confiabilidade. Sobre a relevância foi observada a característica da oportunidade e a verificabilidade e a fidelidade de representação no caso da confiabilidade. O quadro a seguir evidencia este impacto neste estudo de caso:

Quadro 01. Impacto sobre a Informação contábil Características

Situação Antes Evidências sobre a Situação Antes

Situação Após Evidências sobre a Situação Após

Oportunidade Atraso sistemático na prestação de contas

Entrevistas. 4 meses em média para o fechamento das demonstrações contábeis.

Prestação de Contas programadas

Entrevistas. 1 mês em média para o fechamento das demonstrações contábeis.

Verificabilidade

Perda de documentos e processos. Dificuldade na localização de Documentos e processos. Controle patrimonial totalmente deficiente.

Entrevistas. Localização eficiente de documentos e processos através do SAU-01. Conciliação parcial entre o SAU-04 e SIAFI

Entrevistas. Constatação da implantação dos módulos SAU-01 e SAU-04.

Fidelidade de Representação

Falta de um sistema de apropriação de custos.

Entrevistas. Sistema de apropriação de custos implantado em

Entrevistas. Constatação de deficiências na

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sistemas paralelo ao SAU

obtenção de indicadores gerenciais.

13 CONCLUSÕES

No estudo de caso objeto desta pesquisa, os benefícios com a implementação do sistema integrado de gestão foram parciais, em virtude do funcionamento incompleto do sistema. Parciais porque, apesar do módulo que incorpora a contabilidade não ter sido ainda contemplado, outros módulos relacionados com a contabilidade permitiram uma melhoria se comparado com o cenário anterior à implementação do SAU. As evidências encontradas confirmam a melhoria das características da oportunidade, da verificabilidade e da fidelidade de representação da informação contábil e, conseqüente, a ampliação da sua utilidade após a adoção do sistema integrado de gestão na entidade, como ficou demonstrado no quadro do impacto sobre a informação contábil. Muito embora, este fato não tenha sido o único motivador do deslocamento positivo da utilidade da informação contábil.

Um fato relevante percebida foi à necessidade dos próprios gestores da instituição de ter uma ferramenta de sistemas que lhes permitisse ter um controle mais eficiente sobre os recursos da entidade. Este fato, observado pelo pesquisador e confirmado nas entrevistas, é comprovado pela existência de sistemas gerenciais desenvolvidos pela própria instituição para cumprir às carências de informação proporcionadas pela solução integrada. A base de dados destes sistemas é a mesma da solução integrada enriquecida com outros dados.

Os módulos relacionados com o processo contábil e que foram implantados proporcionaram uma melhoria de eficiência no fluxo das informações até a contabilidade, como foi possível comprovar através das entrevistas realizadas com os membros da área contábil da instituição. Os módulos que contribuíram para esta melhoria de forma direta foram o SAU-04 - Materiais, Compras, Almoxarifado e Patrimônio, e, de forma indireta, o SAU-01 - Protocolo e correio eletrônico.

O insucesso na implementação como um todo do sistema integrado de gestão neste estudo de caso foi conseqüência essencialmente de falhas na criação do contexto de TI. As falhas ocorreram em três aspectos distintos:

• Político – a falta de alinhamento percebida entre as IFES e a União no que se refere à autonomia de gestão e o controle das dotações orçamentárias dificultou a efetiva integração do módulo financeiro (SAU-03) com o SIAFI;

• Funcional – a falta de competência e domínio conduziram à uma escolha equivocada do modelo de implementação, visto que o processo não se iniciou pela contabilidade. A falta de um estudo consistente sobre as adequações do projeto original da USP as IFES demonstrou a falta de competência e domínio na fase de desenho do sistema de TI;

• Tecnológico – a escolha de uma tecnologia proprietária, gerou uma alta dependência junto aos fornecedores da TI e dificuldades de integração com outras plataformas tecnológicas. A metodologia de estudo de caso, que norteia esta pesquisa, propõe que a

generalização, a partir da confirmação ou negação de uma determinada teoria, só é

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alcançada após o cruzamento de várias conclusões de casos semelhantes e protocolos com a mesma orientação metodológica.

Portanto, sendo esta pesquisa o primeiro estudo de caso dentro do contexto do projeto SAU, abre-se um precedente para que outros estudos possam ser conduzidos, principalmente, em virtude da amplitude do próprio projeto sobre as demais IFES.

A pesquisa, também, contribui ao expor o processo de implementação de um sistema integrado de gestão nas IFES, possibilitando aos seus gestores terem mais uma fonte de conhecimento que os subsidiaram na condução e realização de novos projetos desta natureza, visando a sua eficácia e eficiência.

Pela relevância, defendida neste trabalho, da informação contábil na tomada de decisão por parte de seus usuários, fica demonstrado que, para este estudo de caso, a demanda por este tipo de informação acaba por conduzir a criação de sistemas que o dêem suporte, mesmo quando os sistemas existentes não possibilitam a sua geração e disponibilização de forma satisfatória.

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Vol. 2, No. 1, 2005, pp. 55-67 ISSN online: 1807-1775

_____________________________________________________________________________________ Recebido em/Manuscript first received: 24/01/2005 Aprovado em/Manuscript accepted: 02/03/2005 Endereço para correspondência/ Address for correspondence Marcelo Genestra – Coordenador do Programa de Pós-graduação Coordenação de Pós-Graduação - Centro Universitário de Volta Redonda/UniFOA Rua 28, 619 – Tangerinal - CEP - 27264-350 - Volta Redonda/RJ E-mail: [email protected] ISSN online: 1807-1775 Publicado por/Published by: TECSI FEA USP – 2004

O RETRATO DA EXCLUSÃO DIGITAL NA SOCIEDADE BRASILEIRA THE PROFILE OF DIGITAL EXCLUSION IN BRAZILIAN SOCIETY

Lília Bilati de Almeida

Luiza Gonçalves de Paula

Colaboradores / Collaborators

Flávio Campos Carelli

Tito Lívio Gomes Osório

Marcelo Genestra

Centro Universitário de Volta Redonda/UniFOA, Brasil

RESUMO

A exclusão digital vem ganhando destaque nos últimos anos. As atenções começam a se voltar para este assunto, que já é visto como causa e conseqüência da exclusão em nossa sociedade. O Brasil é palco de desigualdades que criam uma demanda por políticas de transferência e geração de renda. Porém, não basta disponibilizar os meios; é importante mostrar às pessoas como as tecnologias podem contribuir para suas tarefas e atividades, trazendo conhecimento e novas oportunidades. Este trabalho, baseado em pesquisa bibliográfica reflexiva e qualitativa, aborda aspectos que estão normalmente associados com a exclusão digital, como a exclusão social, a sociedade do conhecimento, o e-gov e a economia contemporânea, dentre outros, além de fatores que devem ser levados em consideração para elaboração de políticas de combate à exclusão digital. Como resultado desta reflexão, identificam-se algumas das reais conseqüências e o significado da exclusão digital na sociedade brasileira. O fator motivador deste trabalho foi a observação dos impactos que a tecnologia da informação exerce sobre o trabalho e a vida dos cidadãos brasileiros.

Palavras-chave: Inclusão digital, exclusão digital, economia

ABSTRACT

The digital exclusion comes gaining prominence in the last years. The attentions are converging to this subject that is already seen as a cause and consequence of exclusion in our society. Brazil has a lot of inequalities that creates a request for politics of transference and income generation. However, it is not enough become the ways available, it is important show to people how the technologies can contribute for their tasks and activities, bringing knowledge and opportunities. This work, based on bibliographical, reflexive and qualitative researches, approaches the aspects that are usually associated with digital exclusion, as the social exclusion, the knowledge society, the e-gov and contemporary economy, among others, and the factors that need to be taken in consideration to prepare combat politics for digital exclusion. As a result of this reflection, its

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possible to identify some of the real consequences and the meaning of the digital exclusion in the Brazilian society. The motal of this work was the observation of impacts that information technology over work and the Brazilian citizens' life.

Key-words: digital inclusion, digital exclusion, economy

1 INTRODUÇÃO

Nos tempos atuais, pessoas que vivem às margens da sociedade informatizada têm maior dificuldade, ou até mesmo sentem-se impedidas para executar algumas tarefas tornadas mais simples pelo uso de serviços baseados em novas tecnologias. Numa época como a que vivemos, a exclusão digital tem grande impacto na vida destas pessoas, que por inúmeros motivos não utilizam tais tecnologias. Pode-se citar como exemplo um fato simples e corriqueiro que ocorre quando se tenta obter uma colocação profissional e é exigido um conhecimento mínimo em informática. A impossibilidade da utilização da Internet priva algumas comunidades da obtenção de maior conhecimento e troca de informações, o que as enriqueceria cultural, social e economicamente (ARAS, 2004).

Exclusão digital pode ser vista por diferentes ângulos, tanto pelo fato de não ter um computador, ou por não saber utilizá-lo (saber ler) ou ainda por falta de um conhecimento mínimo para manipular a tecnologia com a qual convive-se no dia-a-dia. De forma mais abrangente, podem ser consideradas como excluídas digitalmente as pessoas que têm dificuldade até mesmo em utilizar as funções do telefone celular ou ajustar o relógio do videocassete, observando-se assim que a exclusão digital depende das tecnologias e dos dispositivos utilizados. Contudo, no contexto deste trabalho, a exclusão digital estará sendo conceituada como um estado no qual um indivíduo é privado da utilização das tecnologias de informação, seja pela insuficiência de meios de acesso, seja pela carência de conhecimento ou por falta de interesse.

Analisando-se o problema pelo aspecto meramente econômico percebe-se que, com o aumento da competitividade entre as empresas, reduzir custos significa automatizar seus processos. Em médio prazo, o grau crescente de automação atinge os clientes do negócio, podendo ser demandados a exercerem um papel mais ativo, realizando serviços de auto-atendimento e não mais dependendo de equipes de atendimento. Se alguns cidadãos brasileiros não acompanharem esta evolução adquirindo um conhecimento mínimo para utilizar tais serviços, poder-se-á, muito em breve, observar algum tipo de impedimento que refletirá em algumas empresas brasileiras na competição do mundo globalizado, retardando assim o crescimento econômico de nosso país.

Atualmente, o Governo Brasileiro já começa a investir em terminais de acesso público à informação e este investimento tende a crescer cada vez mais. Espera-se que no futuro os cidadãos possam fiscalizar a Administração Pública e obter serviços públicos sem sair de casa, mediante o governo eletrônico, diminuindo assim os gastos da máquina administrativa. Porém, tais iniciativas poderão ser neutralizadas caso a população não se empenhe em fazer com que essa idéia vigore, buscando meios para incluir-se digitalmente (ARAS, 2004).

Outra parte do governo que pode vir a ser influenciada pela exclusão digital é a de criação de novos empregos. O governo costuma ser encarado como o principal fator gerador de empregos, mas o mesmo poderá não ter campo de atuação caso a sociedade também não se mobilize em educar digitalmente seus cidadãos. A tendência é que, no futuro, a maior parte das oportunidades de serviços estejam associadas à área de

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tecnologia. Se a fatia de carentes da informação não diminuir, o número de desempregados poderá crescer, ao contrário do que se espera para os próximos anos.

A exclusão digital está diretamente associada aos outros problemas enfrentados pelo Brasil, sendo um reflexo da exclusão social. Por ser a exclusão digital um fator impactante na sociedade, é necessário que o Brasil tenha um retrato definido do problema afim de que se possa traçar caminhos a serem seguidos com o objetivo de promover a inclusão digital e social (SPAGNOLO, 2003). Empregando uma metodologia de pesquisa bibliográfica descritiva, buscou-se delinear um quadro da exclusão digital e alguns possíveis impactos decorrentes de sua existência em nossa sociedade.

2 METODOLOGIA

A metodologia desta pesquisa é qualitativa descritiva, e a técnica utilizada foi a análise de conteúdo de documentos. A análise documental nos permitiu o estudo de motivações, atitudes, valores e tendências relacionadas com a exclusão digital e social, visando a interpretação baseada na inferência e na dedução, com rigor de objetividade (BARDIN, 1997).

3 EXCLUSÃO SOCIAL VERSUS EXCLUSÃO DIGITAL

A exclusão social pode ser considerada essencialmente como uma situação de falta de acesso às oportunidades oferecidas pela sociedade aos seus membros. Dessa forma, a exclusão social pode implicar privação, falta de recursos ou, de uma forma mais abrangente, ausência de cidadania, se, por esta se entender a participação plena na sociedade nos diferentes níveis em que esta se organiza e se exprime: ambiental, cultural, econômico, político e social (AMARO, 2004).

Na origem da exclusão social podem estar fatores econômicos,

ligados ao funcionamento do sistema econômico, às relações econômicas internacionais, ao sistema financeiro, etc. Dado o peso dominante da dimensão econômica nas sociedades industriais que marcaram a história da humanidade dos últimos duzentos anos, pode-se deduzir que os fatores econômicos têm tido um peso decisivo, embora não único nem por vezes suficientes, na explicação de grande parte de situações de exclusão social que surgiram nessas sociedades ou por causa delas (AMARO, 2004).

3.1 Fatores da Exclusão Social

Segundo AMARO (2004), os diversos fatores de exclusão social (Figura 1) podem ser agrupados em:

a) Fatores de natureza estrutural: estão relacionados com o funcionamento global das sociedades: tipo de sistema econômico, regras e imposições do sistema financeiro, modelo de desenvolvimento, estrutura e características das relações econômicas internacionais, estratégias transacionais, princípios sociais e ambientais dominantes, paradigmas culturais, condicionantes do sistema político, atitudes e comportamentos face à natureza, modelos de comunicação e de informação, processos de globalização, etc.

b) Fatores de âmbito local: situam-se no quadro das relações e das condições de proximidade que regulam e interferem no cotidiano dos indivíduos. Podem ter origem

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em áreas tão diversas como: características do mercado local de trabalho, modelo de funcionamento do organismo de administração pública local, preconceitos sociais e culturais, normas e comportamentos locais, estratégias de exclusão de fatores locais (incluindo as associações e outras organizações), etc.

c) Fatores de nível individual e familiar: referem-se às situações experimentadas nos percursos pessoais e familiares, capacidades frustradas ou não valorizadas de incidências negativas, empregos ocupados ou situações de desemprego, qualificações profissionais adquiridas ou ausentes, níveis de remunerações, capacidade aquisitiva, modelos de consumo, grau de escolaridade, etc.

Pode-se notar que os dois primeiros grupos de fatores acima citados referem-se às oportunidades que são oferecidas ou negadas pela sociedade, já o último centra-se nas capacidades e competências individuais e familiares.

Para amenizar, ou até mesmo, erradicar a exclusão social, faz-

se necessária a integração social, que aqui se define como um processo que viabiliza o acesso às oportunidades da sociedade, a quem dela estava excluído, permitindo a retomada da relação interativa entre uma célula (o indivíduo ou a família), que estava excluída, e o organismo (a sociedade) a que ela pertence, trazendo-lhe algo de próprio, de específico e de diferente, que a enriqueça e mantendo a sua individualidade e especificidade que a diferencia das outras células que compõem o organismo. A integração associa duas lógicas: (a) a do indivíduo que passa a ter acesso às oportunidades da sociedade, podendo escolher se as utiliza ou não (visto que, ninguém pode ser obrigado a sair da sua situação de exclusão social, apenas se podendo viabilizar e aumentar as possibilidades de escolha); (b) a da sociedade que se organiza de forma a abrir as suas oportunidades para todos, reforçando-as e tornando-as eqüitativas (AMARO, 2004).

Após a descrição das dimensões da exclusão social, pode-se perceber que a

exclusão digital hoje concentra em si o reflexo deste problema. De modo geral, o termo

Natureza Estrutural

Âmbito Local

Nível individual e

familiar

Figura. 1. - Grupos de Fatores de Exclusão Social

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exclusão digital é usado para sintetizar todo um contexto que impede a maior parte das pessoas de participar dos benefícios das novas tecnologias. Atualmente, as conseqüências da exclusão social acentuam a desigualdade tecnológica e dificultam o acesso ao conhecimento, aumentando o abismo entre ricos e pobres. Isso se deve, em grande parte, ao fator renda (SPAGNOLO, 2003).

Segundo o presidente da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro, Eduardo Vieira, 66 milhões de brasileiros precisariam acumular a renda durante três a oito anos de trabalho simplesmente para adquirir um computador novo com configuração básica (GALVÃO, 2003).

Aqueles que já possuem computador, enfrentam outras dificuldades para acessar a Internet, como: a falta de infra-estrutura em telecomunicações, o custo de acesso e o idioma (pois o inglês é a língua de 80% dos websites). Outros cidadãos que vivem às margens da sociedade sendo privados das tecnologias são os analfabetos, que por não saberem ler e escrever, ou algumas vezes o fazerem com muita dificuldade, tornam-se integrantes do duplo analfabetismo: o funcional e o digital (GALVÃO, 2003).

A exclusão sócio-econômica desencadeia a exclusão digital, ao mesmo tempo

que a exclusão digital aprofunda a exclusão sócio-econômica. A inclusão digital deveria ser fruto de uma política pública com destinação orçamentária a fim de que ações promovam a inclusão e equiparação de oportunidades a todos os cidadãos. Neste contexto, é preciso levar em conta indivíduos com baixa escolaridade, baixa renda, limitações físicas e etárias.

Na sociedade em que vivemos atualmente, uma pessoa sem conhecimentos em informática, muitas vezes é tida como desqualificada para trabalhar, visto que mesmo nas pequenas empresas ou escritórios os sistemas de informação estão presentes. Em conseqüência, gera-se baixa renda e desemprego. Com isso, o ciclo de pobreza e fome se torna mais intenso, havendo então, o desaquecimento da economia e os conseqüentes abalos diante dos mercados exteriores concorrentes, sem falar nos agravantes internos, como a proliferação de favelas, o aumento da violência e a elevação dos preços de mercado.

A exclusão social e a exclusão digital são mutuamente causa e conseqüência. cidadãos que se enquadram em um ou mais tipos de exclusão social vistos anteriormente, podem ser inibidos de acompanharem a evolução tecnológica, passando a condição de integrantes da exclusão digital. Em contrapartida, cidadãos excluídos digitalmente por falta de empenho ou por opção própria, passam a fazer parte de um ou mais tipos de exclusão social.

Pessoas que devido ao analfabetismo ou baixa renda não utilizam ferramentas tecnológicas podem ser consideradas excluídas digitalmente. Já aquelas pessoas que, apesar de terem uma condição financeira favorável e alguma formação escolar, são resistentes às mudanças e não se envolvem com as novas tecnologias, ficam desatualizadas e tornam-se membros da sociedade da exclusão digital e conseqüentemente da exclusão social, visto que passam a ter maiores dificuldades em conseguir empregos, desenvolver suas carreiras, realizar pesquisas escolares, etc.

Aplicando um olhar mais crítico, verifica-se que a solução para o problema da exclusão digital vai além das implementações de telecentros e disponibilização de terminais de acesso público. Os dois problemas, exclusão digital e social, têm que ser tratados juntos, analisando-se as características sociais que impactam no processo de

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inclusão digital e estando ciente de que a não participação dos indivíduos no processo tecnológico afeta o país sócio-economicamente. Para tanto, é necessário que o governo se mobilize e, além de disponibilizar as tecnologias, eduque, incentivando assim os cidadãos a utilizarem-nas para benefícios próprios e de sua nação.

3.2 A Exclusão Digital na Sociedade da Informação

Conforme exposto anteriormente, tem sido comum a divulgação de doação de computadores e a replicação de modelos de telecentros como soluções para o problema da exclusão digital. Tais iniciativas promovem o contato das pessoas com os equipamentos e as diversas ferramentas disponíveis. Mas, é necessário ainda explicar aos participantes dos cursos as finalidades de tais ferramentas e os benefícios obtidos ao utilizá-las. Não basta mostrar às pessoas as tecnologias, é necessário fazê-las entender de que forma as mesmas podem contribuir para a execução de tarefas, atividades e incrementarem o capital intelectual.

Devido às diversidades socioculturais e educacionais existentes no Brasil, não se pode pegar um projeto de combate à exclusão digital, por melhor que seja, e implementá-lo país afora. As necessidades e características de cada região são diferentes e um projeto que teve muito sucesso, por exemplo, em São Paulo pode não funcionar em outros estados. O que é eficaz para uma região pode não ser para outra. Portanto, cada sociedade deve ser analisada e os próprios cidadãos devem contribuir para a adoção de um projeto em sua cidade que atenda às suas necessidades.

Um parceiro importante no combate à exclusão digital é a

educação. A educação é um processo e a inclusão digital é um elemento essencial deste processo. Instituições de ensino, tanto públicas como particulares, devem contribuir para o aprendizado e interação dos cidadãos com as novas tecnologias, sendo para isso necessária a atuação governamental e da própria sociedade. Atualmente, o termo sociedade do conhecimento, ou da informação, vem sendo usado para designar uma nova forma de sociedade, onde o recurso mais importante é o capital intelectual, que é cada vez mais exigido de quem deseja conseguir um emprego (SILVA-FILHO, 2003).

Segundo o Comitê Preparatório da Cúpula Mundial da Sociedade da Informação

da Organização das Nações Unidas, entende-se por Sociedade Global de Informação Inclusiva aquela onde pessoas, sem distinção, estão habilitadas livremente para criar, receber, compartilhar e utilizar informação e conhecimento para o seu desenvolvimento econômico, social, cultural e político (SERPRO, 2004). Com esse novo conceito torna-se indispensável ao profissional adquirir a capacidade de continuar aprendendo sozinho e de manter-se sempre atualizado. Porém, o surgimento de novas teorias e de novas informações é tão intenso que é praticamente impossível para um indivíduo ficar atualizado simplesmente pelos meios tradicionais, ou seja, escolas, faculdades e cursos, ou ainda através da imprensa escrita, do rádio e da televisão. Diante dessa situação, a internet desempenha um papel crucial criando novas fontes de conhecimento, visto que disponibiliza o acesso a um enorme volume de informações. Leitores, ouvintes e telespectadores são apenas receptores de informação e o fluxo dela é unidirecional. Já os usuários da Internet são participantes em potencial, que podem interagir de variadas maneiras com o processo, ou seja, o fluxo de informações passa a ser bidirecional. Se a

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Internet fica limitada a poucos privilegiados, ela tende a aprofundar ainda mais as diferenças sociais.

Neste contexto, enfatiza-se que a exclusão digital influencia diretamente no desenvolvimento da sociedade da informação no Brasil, visto que priva os excluídos digitalmente de interagirem com as informações. Medidas de inclusão digital são necessárias para possibilitarem a esses cidadãos agregarem cada vez mais conhecimento e desenvolverem o capital intelectual, colaborando para a evolução social, cultural e econômica de nosso país e caminhando para extinguir a divisão entre ricos e pobres de informação.

3.3 Brasil Rumo à Cidadania e ao Governo Eletrônico

Embora muitos desconheçam, o governo brasileiro já começa a dar seus primeiros passos em busca da inclusão digital para seu povo.

Um levantamento mostra que órgãos do governo federal já investiram mais de R$100 milhões em programas de inclusão digital. E este é apenas o começo da construção da sociedade da informação no país. A inserção de segmentos excluídos na sociedade globalizada, com o uso intensivo de tecnologias de comunicação e informação, é o objetivo comum das propostas que foram elaboradas e estão sendo desenvolvidas dentro da Administração Pública Federal. DIREITO (2003) fez um levantamento com a finalidade de obter respostas para traçar um breve perfil do projeto, resultados esperados, os custos envolvidos e as respectivas fontes de financiamento. Este levantamento também aponta a necessidade de uma política que englobe às várias iniciativas do governo, evitando-se sobreposições de ações, lacunas não percebidas ou execução de programas com objetivos conflitantes. O programa da Previdência tem foco na prestação de serviços previdenciários via Internet. A Educação está centrando seus esforços no aparelhamento dos laboratórios escolares e a Saúde na montagem de uma rede própria de comunicação. As propostas destes ministérios estão relacionadas com sua atividade-fim, promovendo assim uma forma de cidadania eletrônica, mas para que haja esta cidadania é necessário que o cidadão tenha como chegar a ela.

DIREITO (2003) ainda acrescenta que iniciativas como a dos Correios, que tem como foco a instalação de telecentros, pode até garantir um instrumento de acesso para parte significativa da população, mas há um porém: faltam características educadoras, que permitam ao analfabeto digital manusear e aprender a lógica da informática.

SANTANA (2003), Secretário de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento, na qualidade de responsável pela secretaria executiva do Programa Governo Eletrônico, afirma que o Governo Eletrônico é o motor central para a conectividade, que, por sua vez, é um agente crítico na construção da Sociedade Global da Informação, na qual todos os cidadãos podem participar em igualdade de posição. Porém, o secretário afirma que não é possível fazer programa de governo eletrônico sem levar em conta três grandes ações: a integração de sistemas, de infra-estrutura e a inclusão digital.

Destaca-se ainda que o direcionamento que vinha sendo dado ao programa e-gov no Brasil não atendia às demandas de toda a sociedade, tornando-se excludente e voltando-se primordialmente às classes A e B. No Brasil, o Comitê Gestor da Internet, criado pela Portaria Interministerial Número 147, de 31/05/1995, envolvendo os Ministérios da Comunicação e o Ministério da Ciência e Tecnologia, foi elaborado à partir da necessidade de coordenar e integrar todas as iniciativas de serviços Internet no País, com o objetivo de assegurar qualidade e eficiência dos serviços ofertados. Este

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Comitê sustenta que o foco da prestação de serviços e informações on-line estaria na estrutura estatal e não nas necessidades dos cidadãos. Rodrigo Assumpção, coordenador da Câmara de Inclusão Digital, uma das oito Câmaras Técnicas criadas no Governo Lula para coordenação das iniciativas de Governo eletrônico, diz então que seria necessário reverter o foco e direcioná-lo para o cidadão, para quem não importa quem dará a informação, mas sim, se conseguirá resolver o problema. Temas como integração dos sistemas, melhorias nas redes de dados e voz e ainda o software livre são assuntos que passam pelo caminho do governo eletrônico e que com certeza estarão fazendo parte de sua trajetória (SANTANA, 2003).

3.4 Exclusão Digital na Economia Contemporânea

As desigualdades e disparidades existentes na sociedade, de ontem, de hoje e de sempre, comumente estão relacionadas ao conceito da riqueza, seja ela a sociedade da informação ou a sociedade industrial.

A percepção da riqueza pelos humanos passou por muitas

mudanças durante os últimos séculos. No passado, aspectos como a fertilidade e a riqueza do solo, abundância de caça e rios e tamanho do território conquistado nas lutas eram determinantes para se mensurar a riqueza de uma nação ou povo. Hoje, observa-se que a riqueza é o resultado do modo de organização das populações, da qualidade da produção e da reprodução da cultura e que sua distribuição geográfica concentra-se nos pontos onde há mais “conexões” humanas (LEVY, 2002).

Pode-se definir estas “conexões” como os meios que são estabelecidos pelos

humanos para a troca da informação. A evolução destes meios caracteriza uma mudança na forma da propagação da informação. As televisões e rádios com certeza foram uma revolução como meios de comunicação há algum tempo atrás, atingindo de forma inimaginável à população. Mas estes meios, apenas enviam a informação, não permitindo que todos possam propagar suas próprias informações para quem quer que seja. É aí que entram os computadores e as redes de telefonia, promovendo uma interação e integração ainda maior entre os humanos.

É indiscutível que os computadores aumentam em muito as nossas capacidades cognitivas, ou seja, nossas capacidades para aquisição de conhecimento. A memória, o raciocínio e a capacidade de representação mental podem ser aumentados e melhorados com o uso da tecnologia da informação. Levy (2002), em seu livro A conexão Planetária, declara: O domínio dessas tecnologias intelectuais dá vantagem considerável aos grupos e ambientes humanos que fazem um uso adequado delas.

Ainda em seu livro, Levy (2002) traz o conceito de economia das idéias. Segundo o autor, a riqueza é um espaço de consciência convenientemente explorado, e, de acordo com este ponto de vista, o processo de criação da riqueza compreende três pólos dinâmicos relacionados: o pólo da invenção, o pólo da exploração ou da tradução econômica da invenção e o pólo do meio favorável à invenção e à sua exploração econômica.

O meio de troca de informações criado pelas redes de computadores, chamado de ciberespaço, seria então o mais favorável ao pólo da invenção e de sua exploração econômica, pois constitui um espaço onde nenhum poder territorial ou distância física pode frear as interações, a comunicação e a sociabilidade.

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Observa-se já há algum tempo, que as atividades do setor primário (agricultura, mineração, caça, pesca) contam com um número cada vez menor de trabalhadores e que o setor que mais cresce é o setor de serviços, de comunicação, de produção e de gestão de conhecimentos. A tecnologia da informação pode então, dar suporte às pessoas que trabalham neste setor de serviços, pois é capaz de criar um contato mais freqüente com os clientes, mesmo que virtualmente, e habilitar interações coordenadas com clientes que têm necessidades múltiplas. Um advogado que precise defender uma causa relacionada ao Direito Tributário é um bom exemplo. Este advogado pode manter um contato maior com seu cliente, informando-o do andamento do processo o tempo todo, e ainda, em algum momento, este advogado pode precisar de um contador que entenda mais sobre tributação para ajudá-lo no caso. Desta forma, haveria uma interação coordenada para atender a este cliente.

Mesmo considerando o setor primário da economia, é incrível a contribuição que a tecnologia da informação pode dar. O Brasil é um país com uma vasta área territorial e muitas comunidades ficam distantes, e até mesmo isoladas de qualquer fonte de informação.

Como as universidades brasileiras estão concentradas nos grandes centros urbanos, muitas vezes fica difícil fazer com que o resultado de determinada pesquisa chegue a quem realmente precisa dela. Isto faz com que a universidade não cumpra seu papel na sociedade, que é o de prover informação que melhore a qualidade de vida da população (GALVAO, 2003).

Pesquisas sobre o aumento da fertilidade dos solos, melhores técnicas para o

pescado, combate às pragas nas plantações, muitas vezes ficam longe das pessoas que realmente necessitariam deste conhecimento pelo fato da distância entre onde vivem e as universidades. O papel da tecnologia da informação, então, seria o de aproximar problemas de suas possíveis soluções, soluções estas que podem estar em qualquer lugar do Brasil ou do mundo. Se imaginarmos o custo que tem o deslocamento das pessoas que vivem nos campos para os centros urbanos, muitos não poderiam nunca ter acesso a determinado conhecimento. A melhoria não seria então apenas na qualidade de vida, mas seria na economia em geral. Quantos quilos de soja, trigo e algodão não seriam produzidos se o resultado de algumas pesquisas chegasse de forma mais rápida ao campo? Quantos ecossistemas não seriam preservados se novos meios de produção fossem descobertos que não agredissem o meio ambiente?

Neste ponto, é interessante refletir o conceito da inteligência coletiva, que denota o processo social de troca e de produção dos conhecimentos.

Deve-se compreender então que esta inteligência coletiva deve

ser estendida para muito além da comunidade científica e que deve estar condicionada por uma interconexão, uma interdependência, uma competição e uma comunicação cada vez mais densa e livre entre os humanos (LEVY, 2002).

Quando o Brasil abriu-se para a globalização, houve um grande receio que suas

empresas sofressem de uma recessão profunda, pois os países mais ricos e desenvolvidos possuíam empresas mais competitivas que ofereciam produtos e serviços de mais qualidade e às vezes, até mais baratos. Com isso, houve uma corrida das empresas brasileiras para a modernização de seus processos de produção e de

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relacionamento com seus clientes, mas não se observou que a indústria e comércio devem estar alinhados também com a sua população local, pois a mesma é a que primeiramente consome seus produtos e serviços.

De que adiantaria então as empresas brasileiras investirem tanto em modernizar seus processos, em prover serviços baseados em tecnologia de informação se sua população não está preparada para utilizá-la? Os bancos são um bom exemplo deste problema. O maior desafio não foi prover os serviços bancários de forma moderna, segura e rápida , mas sim, o de ativar digitalmente seus clientes (CABRAL, 2002).. Ainda segundo Pedro, a redução dos custos operacionais só se dá a partir do momento em que o cliente começa a fazer suas operações pela Internet e deixa de ir à agência. A partir do momento em que for percebido que os investimentos em tecnologia não estão dando resultados, as empresas tendem a parar de investir neste setor e investir em outro. Porém, as empresas estrangeiras não param tais investimentos, e com isto, as empresas brasileiras perderiam competitividade no cenário externo.

As considerações acima revelam diferentes faces econômicas da mesma moeda social: a exclusão digital. A inclusão digital não é apenas um ganho pessoal, mas é um ganho social e até mesmo material, quando se leva em conta a produção da riqueza.

3.5 Caminhos para um Brasil digital e socialmente incluído

Em alguns países, a exclusão digital é um problema que pode ser atacado de forma separada do contexto social. Porém, no Brasil, com as nossas duras desigualdades sociais, as estratégias para a inclusão digital devem estar alinhadas com estratégias que tratam também a exclusão social.

Para que o tema inclusão digital seja desenvolvido, Bradbrook e Fisher (2004) sugerem que há alguns aspectos importantes, (conforme apresentado na Fig. 2 ) que devem ser levados em conta, como:

a) Conexão : refere-se ao modo como as pessoas têm acesso aos dispositivos de tecnologia da informação e à Internet;

b) Capacidade: significa as habilidades em informática que um indivíduo tem e que podem melhorar sua qualidade de vida e sua empregabilidade;

c) Contexto: mesmo que a conexão e a capacidade sejam completamente acessíveis, não há sentido em um acesso ilimitado se não houver um contexto relevante e influenciável;

d) Confiança e Motivação : são fatores chaves para que as políticas possam se dirigir às pessoas que falharam ao tentar descobrir qualquer razão pessoal para utilizar a tecnologia;

e) Continuidade: diz respeito a como fazer com que as pessoas que já tiveram algum contato com a tecnologia da informação continuem

f) melhorando e utilizando os conhecimentos adquiridos.

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A conexão pode ser domiciliar ou comunitária, mas devido ao fator financeiro, o

acesso comunitário deve ser a melhor forma de estar provendo acesso à toda a população, ao passo que também se pode compartilhar as atividades comunitárias e as aplicações da tecnologia que podem ser comuns à comunidade. É importante que os telecentros sejam diversificados, devido as diferenças culturais e as diferenças de faixa etária. Os interesses de cada um destes grupos são diferentes e devem ser levados em consideração para a implantação dos telecentros.

Quando leva-se em consideração a capacidade e habilidades

que as pessoas têm na implantação dos telecentros, observa-se que muitas voltam a ter interesse em estudar e aumentar seus conhecimentos, pois para entrar no mundo digital, é necessário estar no mundo alfabetizado (GALVAO, 2003).

É necessário ainda mostrar às pessoas como a tecnologia da informação pode ser

relevante no seu meio de vida. Não adianta dizer a um pescador que o Word serve para ele escrever um memorando, pois ele não verá aplicação prática na vida dele. Deveria então se falar que o Word serve para que ele possa escrever uma carta a um mercado oferecendo seu pescado. Desta forma ele veria a informática sendo utilizada a seu favor.

Muitas pessoas desistem de utilizar a informática por terem tido algum tipo de experiência frustrada. As pessoas devem ter motivação e confiança para investir seu tempo para obter conhecimentos para se incluir digitalmente, e os telecentros também devem ter esta missão.

E, não menos importante, deve-se permitir a continuidade das atividades de inclusão digital, permitindo que o indivíduo aprofunde-se cada vez mais nos conhecimentos. Levantados os aspectos que os telecentros devem ter em mente para que cumpram seu papel, seria interessante ainda mencionar que a correta utilização da tecnologia da informação é um fator gerador de renda e que pode garantir outras

Inclusão Digital

Continuidade

Capacidade

Conexão

Contexto

Confiança e Motivação

Figura. 2. - Aspectos Relevantes para a Inclusão Digital

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melhorias na qualidade de vida da população que as políticas de distribuição de renda, visto que ensina às pessoas como pescar, e não apenas “dá o peixe a elas”.

4 CONCLUSÃO

A dimensão atingida pela exclusão digital no Brasil tem aspectos diferentes da dimensão percebida em outros países. Em nosso país a exclusão digital está associada às desigualdades sócio-econômicas e culturais. Talvez em outros países a exclusão digital pudesse ser abordada de forma separada da exclusão social, mas é impossível falar da exclusão digital sem mencionar os outros problemas existentes na sociedade brasileira, como o analfabetismo, desemprego, baixa renda e educação. A exclusão social e a exclusão digital são mutuamente causa e conseqüência. Os fatores da exclusão social aprofundam a exclusão digital e a exclusão digital contribui para o aumento da exclusão social.

Até então, o governo brasileiro tinha direcionado suas políticas de inclusão digital para disponibilizar seus serviços de forma on-line, como Previdência, Receita Federal, entre outros. Só agora é que vem adotando políticas que tratam as características educadoras do e-gov, tornando-o inclusivo, e não exclusivo como vinha se mostrando. A tecnologia da informação passa então a ser uma ferramenta que pode contribuir para a prática de conceitos importantes como transparência, prestação de contas, controle social e participação popular, ajudando o brasileiro a exercer a sua cidadania.

A inclusão digital vem no sentido de estar aproximando comunidades e desenvolvendo mecanismos de inteligência coletiva que possibilitem a elas achar as soluções adequadas aos seus problemas e enriquecer, social, cultural e economicamente. A informática e a internet são importantíssimas para a educação, visto que facilitam as pesquisas e apóiam o desenvolvimento de trabalhos. Soluções como criação de telecentros e doação de computadores não resolvem o problema da exclusão digital. É necessário mostrar as pessoas que as tecnologias podem ajudá-las no seu dia a dia, contribuindo para o desenvolvimento do capital intelectual e facilitando a realização de suas atividades. Não se pode obrigar as pessoas a utilizarem as tecnologias disponibilizadas. Elas têm que desenvolver seu interesse em aprender e utilizá-las.

Em decorrência de sua amplitude, o tema “exclusão digital” faz-se digno de detalhamentos, investigações e pesquisas futuras. Os impactos causados principalmente dentro da sociedade brasileira, com suas diversidades econômica, social e cultural, são objetos ricos em nuances sociais e terreno fértil para buscar-se caminhos que levem o Brasil a ser um país melhor.

Como conseqüência de sucessivos estudos, espera-se que programas governamentais e particulares possam surgir fundamentados nas informações que os pesquisadores gerem, levando o Brasil a um estado de excelência na iniciativa de aprimorar a educação e trabalho no país.

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5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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_________________________________________________________________________________ Recebido em/Manuscript first received: 29/10/2004 Aprovado em/Manuscript accepted: 15/03/2005 Endereço para correspondência/ Address for correspondence Luciene Braz Ferreira - Programa de Engenharia de Produção – PEP Anatália Saraiva Martins Ramos - Programa de Pós-graduação em Administração – PPGA Endereço: PEP/UFRN Caixa Postal 1551 - Campus Universitário Natal-RN 59072-970 Brasil Telefone: (84) 211-9239 Fax: (84) 211-9249 E-mails: [email protected] / [email protected] ISSN online: 1807-1775 Publicado por/Published by: TECSI FEA USP – 2005

TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO: COMMODITY OU FERRAMENTA ESTRATÉGICA? INFORMATION TECHNOLOGY: COMMODITY OR STRATEGICAL TOOL?

Luciene Braz Ferreira

Anatália Saraiva Martins Ramos

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, Brasil

RESUMO

Desde o surgimento da Tecnologia da Informação (TI), nem sempre houve consenso quanto à relação entre seu custo e benefício. Por isto, esta é uma questão que tem sido objeto de estudo no meio acadêmico e empresarial. Resultados de pesquisas apontam para duas vertentes opostas: de um lado, a idéia de que a TI é a solução estratégica para processos e serviços organizacionais; por outro lado, acredita-se que a TI é apenas uma ferramenta e não tem mais valor estratégico. Além desta dualidade, existe o desafio de justificar os altos investimentos em TI, visto que as empresas, diante da dinâmica competitiva, não podem focar em esforços não produtivos. O presente trabalho tem como objetivo lançar luz sobre a questão e descrever alguns aspectos que levam a tal dúvida. Para tal, realizou uma pesquisa bibliográfica em livros, teses, periódicos científicos e revistas técnicas. Inicialmente, apresentam-se alguns conceitos de gestão da TI. Em seguida, são discutidos assuntos sobre a análise do valor da TI, paradoxo da produtividade e como e quando a TI se comporta como commodity. Ao final, são apresentadas as limitações desta reflexão teórica e as considerações sobre a difícil aplicabilidade prática de medidas de produtividade e valor da tecnologia da informação.

PALAVRAS-CHAVES: Tecnologia da Informação; Valor da TI; Uso estratégico da TI; Investimento em TI; Paradoxo da TI.

ABSTRACT

Since the sprouting of the informantion technology (IT) and its use for the companies the relation between cost and benefit did not stay clear. This is a question that has been studied and analyzed in depth in the academic and organizacional environments. The results of the studies point with respect to two opposing sides: first, one believes that IT does not pass of a tool without strategical value. On the order side, enterprises work with idea thar IT is strategic solution for many problems for all levels and businesses. Beyond this paradox, the challenge exists to justify the high investiments in technology, since the companies, ahead of the high competitiveness the enterprises could not focus in efforts no productives. The theoretical paper does not intend to answer the question, but to only describe the aspects that lead to such doubt. For such, it describes some concepts of IT, the IT business value, analysis of he investmensts in IT and IT as a commodity. At the final, are presented the limitations of this theoretical reflection and the expositons on the concepts and of its difficult practical applicability.

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KEY-WORDS: Information technology; IT business value; Strategic Use of IT; IT investments; IT paradox.

1 INTRODUÇAO

A Era da Informação modificou a estrutura e o ambiente organizacional de forma singular. A importância da tecnologia de informação (TI) para as organizações é fundamental, apesar de quase sempre participar como área-meio e de ser um componente relativamente novo nas organizações, principalmente se comparado a outros fenômenos ocorridos e discutidos na administração. Devido aos altos e crescentes custos, a comunidade empresarial demanda da TI uma demonstração do retorno do investimento realizado. Em razão da crescente relação da TI com o sucesso do negócio, as empresas elevaram suas expectativas quanto à contribuição dessa área. No entanto, a literatura reporta resultados mesclados em relação ao valor de negócios da TI (IT business value).

A relação entre a TI, produtividade e desempenho organizacional tem sido objeto de pesquisa entre acadêmicos estrangeiros e nacionais (WEILL; OLSON, 1989; WEILL, 1992; BRYNJOLFSSON, 1993 e 2003; HITT, BRYNJOLFSSON, 1996; STRASSMAN, 1997; GRAEML, 1998a; BRYNJOLFSSON; HITT, 2000; LUNARDI, 2001; MAÇADA, 2001; BECKER; LUNARDI; MAÇADA, 2002; CERRI; CAZARINI, 2002; LAURINDO, 2002; CARR, 2003; PISELLO; STRASSMAN, 2003). Estes estudos se dividem em três níveis: macro, setorial e da firma. Uma parte desses estudos conseguiu mostrar a relação da TI com o retorno dos investimentos, outros não comprovaram se os altos investimentos realizados em TI trazem benefícios reais para as organizações. Este aspecto dual e pouco consensual, abordado por diversos autores, é chamado paradoxo da produtividade, que diz respeito à falta de comprovação de que a TI realmente traz resultados, principalmente pelo caráter complexo desta demonstração.

O tutorial extensivo de Kohli e Sherer (2002) retoma esta questão, discutindo e provendo direções para futuras pesquisas sobre a mensuração do retorno no investimento em TI. Diante desta dificuldade de se analisar os investimentos em TI, como afirmar que a tecnologia traz diferencial competitivo ou se tornou uma commodity? É esta questão que este artigo teórico pretende contribuir, no sentido de dar prosseguimento a uma discussão acerca do assunto.

2 A GESTÃO NA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES

A área de tecnologia de informação está intimamente ligada às diversas transformações ocorridas nas empresas. Atualmente, a TI está inserida em praticamente todas as atividades empresariais, dando suporte para a melhoria na qualidade de serviços e produtos. Encontram-se exemplos do uso da TI nos níveis operacionais, de conhecimento, gerencial e estratégico, tornando os investimentos em tecnologia cada vez mais altos e mais constantes. Os funcionários dispõem de recursos computacionais cada vez mais potentes e com funcionalidades e programas diversificados, além de assistentes digitais, laptops, sistemas sem fio etc. Os sistemas das empresas se comunicam com filiais, fornecedores, clientes e todo o tipo de ligação que se fizer necessária dentro da cadeia de valor.

Como junção de dois termos - Tecnologia e Informação, o conceito da TI engloba hardware, software, telecomunicações, automação, recursos multimídia, recursos de organização de dados, sistemas de informação, serviços, negócios, usuários e as relações complexas envolvidas na coleta, uso, análise e utilização da informação.

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Na visão de Luftman (1996), a TI pode ser dividida em dois segmentos: um engloba a infra-estrutura, composta pelo hardware, software, redes, Internet e banco de dados. O outro é formado pela estratégia e informação (Figura 1).

Figura 1 – Management Objectives for IT

Fonte: Adaptado de LUFTMAN, Jerry N. Competing in the information age:

strategic alignment in practice Para Luftman (1996), a evolução da TI está dividida em três eras: era do

controle de recursos, ou era da automação, onde o planejamento dos sistemas de informação era focado na automação de processos e o papel do administrador era apenas prover o controle dos recursos funcionais. Esta era foi seguida pela era da arquitetura de sistemas de informação, que diz respeito ao planejamento estendido a integração das funções. O planejamento era usado para criar arquiteturas para suportar uma larga escala de aplicações do sistema. E a última era, na qual as empresas estão inseridas até hoje, é a era do alinhamento estratégico, na qual a TI é vista como oportunidade de potencializar a integração interorganizacional do negócio, onde o papel do administrador é definir e permitir novas potencialidades.

Graeml (1998a) reforça que a TI foi uma das responsáveis pela complexidade do mercado atual e tem poder para tornar-se uma ferramenta para a atração e encantamento dos clientes pelas empresas. Através da TI, é possível um relacionamento mais estreito, em tempo real, com os clientes, o que cria um espírito de lealdade e ainda possibilita que a empresa consiga extrair informações que poderão gerar novos produtos e novos serviços, cativando novos e antigos clientes.

Segundo Porter e Millar (1997), a Tecnologia da Informação pode até mesmo afetar a maneira das empresas competirem. Isto se daria de três diferentes formas: modificando a estrutura do setor, criando vantagem competitiva e dando origem a novos negócios. Antes, o que acontecia era que se investia apenas baseando-se nos passos dos concorrentes para diminuir possíveis vantagens alcançadas pelos outros. Hoje, as organizações devem buscar investir melhor, de forma seletiva e consistente, com intuito de rever seus processos e serviços para obter ganhos quantitativos e qualitativos significativos.

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Para avaliar o impacto estratégico, Cash, McFarlan e McKenney (1992) descrevem o relacionamento das forças competitivas de Porter com a tecnologia de informação:

“... a tecnologia de informação oferece valor estratégico se permitir a redução de pessoal de apoio à produção e escritório; se permitir o uso mais completo das facilidades de manufatura, ao mesmo tempo que for componente da cadeia de valor da empresa; se permitir uma redução nos custos de estoque e contas dos produtos; se permitir a melhor utilização do material com redução de desperdícios; se permitir adaptar o produto com as necessidades do consumidor, incorporando satisfação ao cliente quanto ao produto ou serviço oferecido, e se permitir identificar as necessidades não atendidas do cliente por coleta e análise do banco de dados sobre vendas, para apontar novas tendências e fortalecer a competitividade lucrativa da empresa”.

Além dessas características, a TI pode ir além, influenciando internamente a cadeia de valor da empresa, criando vantagens competitivas. Applegate et al. (1996) afirmam que uma boa maneira de se saber o potencial das oportunidades de TI é exatamente por meio da análise sistemática da cadeia de valor, que é uma série de atividades interdependentes que trazem um produto ou serviço ao mercado consumidor. Conforme Porter e Montgomery (1998), a TI participa da cadeia de valor, transformando a forma como as atividades podem ser executadas e a natureza das ligações entre elas.

Em um artigo da IBM Business Consulting Services (2003), foi revelado o resultado de uma pesquisa sobre os principais desafios do administrador da área de TI, realizada com executivos da área de TI e também com seus clientes internos. Para 33% dos usuários e 44% dos executivos de TI, a área não planeja suas estratégias de modo integrado e simultâneo com a definição das estratégias de usa empresa e, sim, posteriormente ou em reação ao dia-a-dia dos negócios. O artigo conclui que os executivos devem sair da etapa da gestão de TI para a gestão em TI.

Na pesquisa de Lunardi (2001), realizada com executivos de bancos argentinos, uruguaios, chilenos, norte-americanos e brasileiros, identificou-se que há interação e compartilhamento de visões sobre o uso efetivo de TI nas organizações tanto entre os altos executivos como entre executivos da área de TI. Esse dado mostra que, cada vez mais, a percepção sobre o impacto que tem a TI para a competitividade do negócio avança no sentido de se tornar similar em todas as áreas organizacionais, não só para quem gerencia a Tecnologia de Informação.

3 ANÁLISE DO VALOR DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO

Medir o desempenho e o valor da TI tem sido uma ciência muito imprecisa. Nenhuma métrica ou grupo de métricas poder ser aplicada apropriadamente em todas as circunstâncias onde a TI é necessária. Alguns autores apontam que existem três medidas distintas: produtividade, valor ao consumidor e desempenho dos negócios (HITT, BRYNJOLFSSON, 1996). Para os autores, a mensuração e comprovação dos benefícios da TI são complexas. Graeml (1998b) relata que a produtividade é apenas um dos possíveis indicadores de sucesso do investimento em tecnologia.

Apesar de haver diversas metodologias de análise de investimentos em Tecnologia da Informação, em muitos casos, os investimentos em TI são induzidos por uma necessidade de acompanhar a concorrência ou têm como base o feeling do executivo (WEILL; OLSON, 1989). Na percepção de executivos da TI, quanto mais se

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investir em TI, maiores serão a rentabilidade, o desempenho no mercado e a satisfação dos clientes.

Um fator importante a ser revisto é referente à como os executivos consideram a TI, como gasto ou como investimento. Despesas estão normalmente associadas a gastos recorrentes e os benefícios são imediatos e de vida curta. Investimentos são gastos menos freqüentes, cujos benefícios estão usualmente associados à estratégia da empresa e não ocorrem tão rapidamente (GRAEML, 1998b). O que se observa é que muitas empresas ainda enxergam a TI como custo, não como investimento. Muito desta visão é conseqüência do histórico da TI. As compras de computadores e softwares eram vistas como despesa, isto é, apenas como um meio de se garantir mais agilidade no processo. Uma comprovação deste fato se dá em momentos de corte de custos: a área de TI é uma das que mais sofrem com a redução de orçamentos.

Na pesquisa “Gestão de TI nas Empresas” da IBM (2003), uma das questões mais relevantes da aferição do valor da TI, na opinião dos executivos, é que a TI tem de demonstrar seus resultados em termos entendidos pelos gestores do negócio. Isso exige sistemas de avaliação que transcendam as métricas tradicionais de disponibilidade, tempo de resposta ou níveis de serviço, ou seja, que se baseiem em métricas financeiras e não-financeiras, internas e externas, que avaliem o passado e as perspectivas para o futuro, quantificando os benefícios – não só os custos da atividade de TI.

Isso corrobora com o que pesquisadores e praticantes têm sugerido: que as medidas tradicionais focalizadas somente em aspectos financeiros ou tecnológicos da decisão não são completas, devendo incorporar outros métodos de análise (BRYNJOLFSSON, 1993).

4 A RELAÇÃO ENTRE OS INVESTIMENTOS EM TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO E A PRODUTIVIDADE E O DESEMPENHO ORGANIZACIONAL

O uso da TI e os efeitos sobre a produtividade e o desempenho organizacional é uma área de grande interesse acadêmico e profissional. Segundo Maçada (2001), “embora haja uma quantidade significativa de pesquisas realizadas na área de Sistema de Informação, muito da literatura falha em explicar, conclusivamente, o impacto estratégico e econômico que os investimentos em TI têm sobre a produtividade e desempenho organizacional”.

Algumas correntes demonstravam que a TI resultava em ganhos de produtividade, como a defendida por Weitzen (1991). No Brasil, algumas pesquisas no setor bancário têm demonstrado uma relação positiva entre investimentos em TI e produtividade. No estudo de Becker et al (2002), constatou-se que os bancos que mais investiram em TI foram os mais eficientes globalmente.

Posicionando-se em direção oposta, outros autores questionaram esta proposição de que o uso das tecnologias de informação proporcione realmente um alto ganho de produtividade nas organizações. Tendo por base uma revisão de literatura, Weill (1989) afirmava de que o investimento isolado em TI não estava garantindo retornos para as organizações.

Strassman (1997), um pesquisador que também tem um histórico de estudos sobre esta questão, sustentava que “não é de todo evidente que os investimentos em TI melhoram as posições competitivas das organizações nos mais variados setores da economia”. Para Strassman (1997), não havia correspondência à altura do ganho de produtividade, apesar do aumento crescente dos gastos em tecnologias da informação.

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Esse é o paradoxo da produtividade, o qual mostra que o desempenho econômico da empresa nem sempre pode estar diretamente associado ao seu nível de gastos com tecnologia de informação.

Contrabalançando as duas visões, Brynjolfsson (1993) vê a relação entre tecnologia de informação (TI) e produtividade como sendo pouco compreendida, apesar de muito debatida. O trabalho deste autor sugere que o retorno dos gastos em TI pode ser, na verdade, muito maior que o estimado previamente. A diferença na estimativa de produtividade da TI se deve muito mais a deficiências de mensuração e do conjunto de ferramentas metodológicas do que devido a problemas de gerenciamento dos usuários e desenvolvedores de TI.

Uma outra justificativa para a questão deste paradoxo é que o problema não seria o potencial da TI, o qual é dado como certo, mas que sua utilização só será produtiva se houver reestruturação do trabalho permitido pela nova tecnologia (HAMMER; CHAMPY, 1993). Davenport (1993) também trouxe à tona esta questão e apontou a possível falha desta abordagem: uma falta de atenção maior com as pessoas que gerenciam e lidam com a TI.

No entender de Smith e McKeen (1993), há duas formas básicas de saber se o uso da TI afeta o desempenho e a produtividade organizacionais:

pela redução dos custos do trabalho ou por fazer o trabalho mais eficiente; através de geração de receitas devido à criação de novos produtos ou serviços. Identificar como a TI afeta a produtividade em algumas aplicações orientadas a

processos empresariais, especialmente onde há um sistema manual similar para comparação, não é tão difícil quanto perceber como a TI afeta a produtividade em outros tipos de sistemas, como aqueles orientados para atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D), por exemplo.

O paradoxo da produtividade ou da eficiência da TI então comprova que não existe ainda uma maneira ideal de se medir essa tecnologia. Resultados empíricos mostram que a TI está correlacionada positivamente com a produtividade, mas há variações significativas entre organizações. Assim, alguns tipos de negócios terão maiores e mais visíveis benefícios organizacionais e retornos financeiros mais rápidos do que outros. Variações entre as empresas também existem, pois enquanto grandes somas de dinheiro têm sido gastas em TI obtendo-se pequeno retorno, outras gastaram quantias similares com grande benefício (BRYNJOLFSSON; HITT, 2003).

Brynjolfsson (1993) lembra que “muitas das pesquisas sobre o valor da TI para as empresas baseadas puramente em modelos econômicos apresentaram resultados desfavoráveis e contraditórios”, mas o autor pondera que “a falta de evidência não é evidência da falta de contribuição positiva da tecnologia da informação para a produtividade”. Brynjolfsson e Hitt (2000) sugerem que o retorno no investimento em TI pode, de fato, ser muito mais alto do que previamente estimado. Levando em conta sua metodologia de medição do valor da TI, os autores mostram que a introdução da TI tem sido associada com o crescimento na produtividade, diminuição de hierarquias nas empresas e alguma descentralização na tomada de decisão.

É necessário pensar em uma medida do desempenho geral que considere as perspectivas da produtividade e da geração de subprodutos ou benefícios gerados pelo uso da TI. Desta forma, poder-se-ia capturar as formas de impacto da TI com relação à produtividade. Outro passo importante a ser dado para saber se houve aumento ou não da produtividade, quando da implementação de tecnologias da informação, é situar o retorno no investimento baseando-se em critérios não tradicionais (RAMOS, 1994).

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Graeml (1998a) percebeu a falta de indicadores que analisem de forma correta e consigam demonstrar o que realmente se pode esperar de ganho com a TI. Cerri; Cazarini (2002) relatam que os retornos esperados pelos executivos, quando investem em TI, são qualidade, eficiência, eficácia, integração de processos da empresa, agilidade, compreensão, permitindo melhor entendimento com clientes, fornecedores e processos operacionais, produtividade e eliminação ou redução de custos. Por se tratarem de retornos intangíveis, os indicadores tradicionais como o retorno sobre investimento (ROI), taxa interna de retorno (TIR), valor presente líquido (VPL) e outros indicadores financeiros não estão de todo qualificados para demonstrarem o melhor resultado.

Segundo Laurindo (2002), existem alguns problemas na avaliação de TI por meio unicamente de indicadores ou medidas. Por isso, os indicadores tendem a perder força, além de divulgar a idéia de que só o que pode ser medido é que pode ser administrado. O autor conclui que uma possível conclusão geral pode ser tirada: não é possível concluir acerca do desempenho da TI em relação à sua eficácia usando unicamente indicadores financeiros e de investimentos.

Portanto, para cada projeto, é preciso observar e escolher o método mais adequado, sem deixar que uma parcela da decisão seja tomada pelo feeling do executivo à frente do projeto ou decisor da empresa.

5 A TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO COMO UMA COMMODITY

A TI, vista como commodity, não é uma visão inédita na literatura. No entanto, nenhum estudo causou tanta repercussão quanto o artigo de Nicholas Carr, intitulado IT doesn’t matter, publicado na Harvard Business Review, em 2003.

A polêmica, tanto no meio acadêmico quanto no meio empresarial, reacendeu a discussão sobre o tema. Carr utilizou a pesquisa da empresa de consultoria americana Alinean, onde foram comparados os resultados financeiros com os gastos em TI de 7.500 grandes empresas americanas. Das 25 empresas com maior retorno financeiro, foram investidos apenas 0,8% do seu faturamento em TI, contra 3,7% das outras companhias. A conclusão que se chega é que a TI havia se transformado em mais uma ferramenta sem diferencial competitivo, um recurso de infra-estrutura necessário, mas com o qual as organizações não mais conseguiam criar vantagens sustentáveis.

A seguir, alguns aspectos abordados nesse artigo são debatidos. Os resultados da pesquisa reportada por Carr (2003) provam que investir em valores em TI pode não resultar no retorno esperado. Entretanto, isso não deveria ter sido encarado como novidade para a comunidade acadêmica de Sistemas de Informação. Desde o início da década de noventa se sabia que nem tudo o que se atribui como benefício da TI é ou pode ser comprovado como verdadeiro. Ou seja, nem sempre o investimento feito em sistemas de informação apresentam uma relação direta com os resultados. Há vários fatores que podem afetar a aferição do valor da tecnologia.

Segundo Carr (2003), para a tecnologia de informação possuir valor estratégico, é preciso permitir que as companhias usem a TI de uma forma diferenciada. Por isto, à medida que a tecnologia está acessível a todos, este uso diferenciado tende a desaparecer. Esta afirmação leva a outras questões: se a tecnologia não traz diferencial competitivo, como e quais valores a organização deve investir em TI? Como garantir que estes investimentos podem e irão trazer as vantagens inicialmente prometidas? Será que tudo o que restou para fazer é controlar riscos e custos?

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Carr (2003) também assegura que a TI é essencialmente um mecanismo de transporte, isto é, “ela carrega informação digital da mesma forma que os cabos elétricos transportam eletricidade. E é mais valiosa quando compartilhada do que usada isoladamente”. Seu conceito de TI diz respeito somente a hardware e software, os quais se tornaram fatores de produção como qualquer outro. Representam apenas mais um investimento obrigatório para a continuidade do processo administrativo e que não garantem nenhuma vantagem competitiva.

Também é pertinente ressaltar que Carr considera a tecnologia da informação apenas como hardware e software. que se refere tão somente à base da pirâmide da Figura 1, apresentada anteriormente. Portanto, se a TI for definida somente como infra-estrutura e no enfoque transacional, é até possível concordar com a sua tese de que a TI é commodity.

Mas esta é uma visão estreita. Weill (1992) alertava de que os estudos focalizando a relação entre os investimentos em TI e o desempenho empresarial deveriam adotar uma definição mais ampla de TI, o qual incluísse todo o hardware, software, comunicações, telefone, bem como todas as pessoas e recursos dedicados à TI, sejam centralizados ou descentralizados. Todos os estudos analisado por Weill (1992) de certa forma mostravam resultados limitados e contraditórios que surgiam como conseqüência de definições inconsistentes da TI, diferentes unidades de análise, diferentes medidas de desempenho, fundamentação teórica limitada e crença em estudos transversais. Esta crítica também se ajusta ao caso da pesquisa de Carr.

Pisello e Strassmann (2003) acham que a TI importa sim, desde que a infra-estrutura de computação se moveu para a comoditização, claramente o ambiente inteiro da tecnologia de informação não se comoditizou. Desta forma, quando se pensa no conjunto, torna-se complexo e de difícil aceitação afirmação de que a TI não importa mais.

Respaldados por uma pesquisa com mais de 10.000 empresas em todo o mundo, Pisello e Strassmann (2003) sentenciam que as empresas que tem investido na TI de forma inteligente e controlam estes investimentos para o máximo retorno têm certamente obtido as recompensas que a tecnologia pode entregar. Este resultado pontua que é o grau de sapiência no uso e a eficácia da gestão da TI que de fato importa quanto se mede o valor da TI.

Carr (2003) assevera que "o potencial da tecnologia para diferenciar uma empresa das outras, ou seja, seu potencial estratégico, inexoravelmente diminui à medida que se torna acessível a todos". Neste aspecto, essa sua afirmação também não é novidade, mas antes um “revival”. Bem antes que Carr, o estudo de Weill (1992) concluía que os primeiros adotantes de uma TI estratégica poderiam ter um sucesso extraordinário, mas, uma vez que a tecnologia se tornasse comum, a vantagem competitiva estava perdida.

Porter e Montgomery (1998) também defendem que o diferencial competitivo só existe à medida que uma empresa consegue inventar algo que não possa ser copiado pelos concorrentes. À medida que esta invenção se dissemina, ela deixa de gerar diferencial e passa a ser uma obrigação para se manter no mercado. Isso também vale para a TI.

Nesta mesma linha de raciocínio, Lucas Jr (1990) afirmava que, uma vez que a empresa ganhou uma vantagem, a mesma encontrará concorrentes para desenvolver sistemas de informação similares. A empresa deve criar uma vantagem difícil de ser copiada para manter esta vantagem ou estar sempre criando novas vantagens, não dando

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tempo dos concorrentes a alcançarem, e isto se torna difícil quando se fala em infra-estrutura de TI, visto que os softwares e hardwares costumam estar disponíveis a todos.

Embora seja possível afirmar que grande parte da TI que é utilizada atualmente tenha se tornado commodity, dizer que TI não gera diferencial tecnológico é ignorar o fato de que a indústria da TI está em constante e rápida evolução. Daí, novas tecnologias sempre surgirão, muitas vezes criando novos paradigmas que substituem os anteriores (PINTO, 2005).

Tecnologia de informação não significa somente hardware e software. A TI vai além disso. Através da TI estão à informação e o conhecimento – sobre clientes, processos, operações e mercados. É o no “I” da TI que pode residir o verdadeiro diferencial – o uso inteligente e eficaz da informação. É o processo de uso estratégico da informação que pode vir a gerar o diferencial competitivo: a maneira como estas informações serão utilizadas nos processos e serviços das empresas e no ambiente de negócios. Na síntese de Graeml (1998b), "a tecnologia por si só não vale nada para o negócio”.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo procurou buscar embasamento na literatura para dissertar acerca da problemática da interpretação da TI como commodity. Como apresentado, ainda não existem estudos conclusivos que mostrem qual o impacto da TI na produtividade das organizações, ou que mensurem seus retornos tangíveis e intangíveis com segurança. As mensurações dos investimentos tangíveis são mais evidentes que os intangíveis, mas mesmo assim ainda necessitam de mais estudos e modelos de análise de retorno sobre estes investimentos.

Sem uma conclusão definitiva de como a TI é conceituada e entendida e de como avaliar todas as vertentes de impacto desses projetos, como garantir que a mesma se tornou commodity ou se ainda possui diferencial competitivo? Champy (2003) dá o seguinte conselho: gerencia a TI inteligentemente e aproveite cada oportunidade de usá-la para inovar.

Isto implica na particularidade de cada organização e como a mesma definirá, pelo menos internamente, como pretende utilizar as tecnologias existentes e as informações delas provenientes. Setores como o bancário, financeiro e aéreo já mostraram como a TI pode proporcionar toda uma mudança no estilo do mercado e na saúde das organizações.

A vantagem competitiva tem sido alcançada não só pelas empresas que sabem como implementar a tecnologia da informação, mas sobretudo que sabem como aplicá-la para melhorar processos do negócio e sabem como usá-la para compartilhar, gerenciar e gerar conhecimento (PISELLO; STRASSMANN, 2003). Concordando com os autores, hoje o que importa e o que conta não é o quanto se gasta em TI, mas o que se investe nela e quão bem essa TI é gerenciada.

Um novo ciclo de pesquisas e discussões se abre com relação à gestão da tecnologia de informação. Por isto este estudo não tem a pretensão de responder esta questão, apenas de elucidar alguns conceitos e trazer à tona as contradições e dualidades de conceitos da tecnologia da informação e seu uso pelas organizações. Informações conclusivas dependerão de estudos exploratórios em diversas áreas organizacionais, avaliando impactos financeiros, mercadológicos e comportamentais.

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Journal of Information Systems and Technology Management

Vol. 2, No. 1, 2005, pp. 81-94

ISSN online: 1807-1775

_____________________________________________________________________________________ Recebido em/Manuscript first received: 24/01/2005 Aprovado em/Manuscript accepted: 02/03/2005

Endereço para correspondência/ Address for correspondence

Marie-Noëlle Bessagnet - IAE des Pays de l’Adour, Chercheur au Laboratoire LIUPPA, Avenue du Doyen

Poplawski, 64012 Pau Cedex France, [email protected], Tél (+33)559.807564

Lee Schlenker-E.M. Lyon, Professor of Information Systems, Département Droit, Finance et Systèmes, 23, avenue

Guy de Collongue, 69130 Ecully France, [email protected], Tél : (+33)478.337970

Robert Aiken - Department of Computer and Information Sciences, Temple University Philadelphia, PA 19122 USA

[email protected] Phone: (215) 204-8882

ISSN online: 1807-1775

Publicado por/Published by: TECSI FEA USP – 2005

USING E-COLLABORATION TO IMPROVE

MANAGEMENT EDUCATION: THREE SCENARIOS.

Marie-Noëlle Bessagnet

IAE des Pays de l’Adour, France

Lee Schlenker

E.M. Lyon, France

Robert Aiken

Temple University Philadelphia, USA

Abstract

This paper explores the potential impact of collaborative technologies in improving management

education. The first goal is to expose students to tools and practices that not only assist them

with their current studies, but also serve to reinforce individual and team competencies that can

facilitate their entry into the workforce. In their positions as future managers they will be

expected to not only be familiar with common business practices but also to understand the

implications of information technology for business; in this case with emphasis on tools and

techniques that can help businesses flourish in the networked economy. With an ever-increasing

recognition that e-learning tools are important for (re-)training employees, these three scenarios

offer examples of how business schools might expand the boundaries of e-collaboration to help

their students. These experiments have been conducted in management programs. In the first two

scenarios, students use collaborative platforms in some of their daily work. The third experiment

is based on a student-centred design of a learning portal. Our experience reinforces a certain

number of hypotheses influencing the impact of collaborative technologies in management

education. To begin with, information systems are often flawed mirrors of the managerial system

that they are designed to represent. Secondly, the potential value of collaborative technologies is

strongly influenced by organizational contexts, both in and between the university and the

business community. Thirdly, the effectiveness of collaborative technologies depends to a large

degree upon the depth and coherence of learning objectives fixed for learning and work places.

Finally, improving the effectiveness of collaborative technologies requires aligning the design of

learning environments with the corporate cultures and visions we are trying to reproduce.

Keywords: E-collaboration, Management, Collaborative Learning, Design, Information

Technology.

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Bessagnet, M-N.

Revista de Gestão da Tecnologia e Sistemas de Informação/Journal of Information Systems and Technology Management

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1 INTRODUCTION

Computing and networking technologies have the potential to advance

communication and collaboration, and, in doing so, improving personal, organizational,

and inter-personal/organizational effectiveness and efficiency. Today, the application of

collaborative information technologies is important to facilitate operational efficiency

and support business objectives.

"Most organizations have accumulated numerous software

applications without integration for communication and collaboration. Most

organizations also face severe challenges both in integrating collaborative

applications and in addressing new requirements such as mobile/wireless

devices, increasingly stringent government requirements for privacy and

security, the need for business continuity when outbreaks,…" (OZZIE, R. et

O’KELLY, P)

These characteristics are similar in both public and private sectors.

The development of the Internet has changed how we acquire, store and transfer

knowledge. Virtual processes have made it possible to redesign the learning

environment; introducing new participants, norms, modes and types of interaction.

Today’s collaboration challenges are primarily the result of the globalisation of

local and national markets, the resulting business requirements, and the evolution of

information technology rapidly changing technologies, business requirements, and

global economic realities. E-collaboration effectively eliminates the barriers of time,

distance, and resources (i.e. incompatible computer systems), permitting people in

different locations to behave as if they were in the same room, working in close

proximity. As noted in previous studies e-collaboration supports group work through

improved communication and is task oriented. (ABRAMOWICZ, W. et all, 2003),

(KOCK et all, 2001) E-collaboration has various e-usages including: e-mail, e-business,

e-trade, e-market, videoconference, chat, e-community…In addition to technology, we

need to consider the human aspect: the social dimension has to be integrated within

computer-based environments.

"Virtual teams are a complex phenomenon with numerous

technological and social perspectives that encompass a broad range of group

and ICT issues" (RUTKOWSKI, 2002, p. 220).

However, with virtual teams little face-to-face discussion is made possible.

The university, like most organisations, has begun a process of reengineering

itself: learning practices, teaching practices, and administrative practices are all being

scrutinized. Similar to most businesses, this challenge is due to Information and

Communication Technology (ICT) integration in daily work. Information and

communication technologies, and more precisely e-collaboration tools, have been used

as support for nurturing change within this environment.

For several years, we have developed educational programs in management

studies. When teaching management, it is important to integrate technologies into the

design and the objectives of what we would like our students to learn about

management. It's a challenge to reduce the gap between academia and the private sector.

"Learning by doing" is a key component both for students and for employees.

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83

In the following sections we discuss the expected competencies (skills) needed

by students from both individual and collaborative points of view (Section 2). We then

demonstrate how those competencies have been incorporated into our experience with

computer- based activities by highlighting current challenges and constraints (Section

3). We conclude by summarizing our major results and exploring the overall

implications of our research (Section 4).

2 INDIVIDUAL AND COLLABORATIVE SKILLS WITHIN THE

UNIVERSITY

2.1 Knowledge

Students should acquire three types of knowledge: contextual, meta, and applied

knowledge. Studies have demonstrated three key dimensions of training, namely

knowledge (knowledge acquisition), practice (problem solving abilities) and attitudes

(conceptual frameworks). The pedagogical value of ICT in general (and the Internet in

particular) is drawn from how it supports individual and collective learning of those

types of knowledge.

P. Mendelsohn (1995) has said that teaching is essentially the transmission of

two or more of the following categories of knowledge:

• Contextual knowledge: (methodologically or conceptually restricted to a specific

context);

• Know-how: practical knowledge (the implementation or knowledge in a given

situation);

• Knowledge transfer: the ability to communicate the knowledge or processes to be

engaged;

• Applied knowledge: acquisition of "professional" attitudes and relational

intelligence.

Each type of knowledge corresponds to an educational process involving

activities, tasks and methods (for example: course readings, projects, case studies;

exercises of written or oral communication; group work, etc.)

Thomas Durand [6] has suggested that these processes are at the very heart of

management practice. « …we continually rediscover that the firm is composed of men

and women whose work is based upon the deployment and the development of a set of

individual and team competencies. … ». It is precisely such men and women who seek

to learn the foundations of management practice in our universities.

These four knowledge categories (as shown in Figure 1) form the cornerstones

of the individual and collective competencies we wish our students to develop.

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Revista de Gestão da Tecnologia e Sistemas de Informação/Journal of Information Systems and Technology Management

84

Figure 1: The competency framework (adapted from Durand)

2.2 Individual and collective competencies: an organizational perspective

In a previous article, we have explored how individual and collective

competencies are affected by the introduction of information and communication

technologies. We define the target as business problems, rather than simply the

acquisition of technical “skills”[7]. Table 1 synthesizes our view.

Individual competencies Team competencies

Assimilation of ICT in individual

work spaces

Working “collaboratively” to play upon

the strengths of team as a whole

Appropriation of ICT to learn

about management practice

The communication of associated

knowledge and processes

Knowledge enrichment to

propose new skills and/or

processes

The implementation of new processes that

favour skill or knowledge creation

Developing evaluation criteria

that integrate learning into the

work place

Designing and deploying benchmarks that

bridge the gap between individual and

organisational learning

Table 1: Individual and collective competencies

One practical result of this view is that ICT cannot be deployed simply as a

support for management training. The basic introduction of ICT concepts influences

how we teach management and how we evaluate its objectives. One consequence of the

introduction of learning technologies is the required scrutiny of what we need to teach

and to learn about the practice of management. Information systems are a mirror of

management system. Historically, the introduction of technology in business has

changed not only production means, but also management practice (steam engine,

telephone, aviation, computers…). If we limit our use of ICT to teaching for the purpose

of a presentation and/or storage device, we fail to convey its impact on the processes of

management and the long-term effects on planning and change.

The appropriateness of information technology in learning depends on how the

organisation views learning. Four levels of learning objectives can be identified. At a

fundamental level, we suggest that learning involves the transfer of information from

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Vol. 2, No. 1, 2005, pp. 81-94

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one individual to another. A second step would extend this simple information transfer

to an institution’s attempts to develop an individual’s specific knowledge or skill set. A

third stage builds on the first two to create new skills or knowledge at the individual or

organisational level. Finally, a fourth level learning objective is the ability of an

individual or an organisation to continually develop its competencies in response to

market demands and objectives. The ability of information technology to facilitate

learning depends on which objectives an organisation sets. The impact of IT on learning

varies as the institution structures learning opportunities. In organisations characterized

by hierarchical control, information flows in one direction from the instructor to the

students. In student-centred structures, the learning agenda is determined by the

student’s needs and objectives. In team-centred institutions, the agenda is determined by

interactions of participants attempting to deal with challenges from their pedagogical

environments. Finally, in market-centred institutions, the learning agenda is not

determined by the organisation, but rather by client demands and objectives. Corollaries

to each of these institutional forms can be found in business communities. The impact

of information technology on learning also depends on how the organisation wishes to

define the learning agenda.

A major consideration in accessing NET (New Educational Technologies)[TICE

in French] 1 is how we are asking our current and future information workers to learn to

be productive. Productivity itself is a relic of the industrial economy we focused our

attention on while producing physical products more quickly and less expensively. In

the information economy, information workers should be focusing on the information

and services that have been integrated in the very core of product offering. “Production”

itself is no longer an internal function of the organisation, but a result of a complex

network of relationships between clients, organisations and business partners. Future

managers will not be rewarded for focusing on speed and cost, but on client satisfaction,

customer relationships, and service quality as measures of how effectively they and

their teams have learnt. If learning requires asking the right questions, one such question

is surely: "To what extent can New Educational Technologies reflect and support the

changing focus of what we need to learn to compete in today’s economy?"

2.3 Different tools to support collaborative computer-supported activity

Tools such as simple word processing, e-mail, groupware, CSCW (Computer

Supported Collaborative Working), CSCL (Computer Supported Collaborative

Learning), and Enterprise Resource Planning are widely used for many purposes. The

evaluation of the introduction of ICT in both the academic and professional areas shows

technical skills are often a key component. E-mail is the tool most used by students and

employees for collaboration. But e-mail is a communication, not a collaboration tool.

Nevertheless, most people use e-mail to share documents like Word or Excel files. But

to work collaboratively, it is neither sufficient, nor effective. Students or employees

need a collaborative tool to complement the use of word processing, spreadsheets, e-

mail, etc.

We can distinguish three levels of activity: production, communication and

collaboration (Figure 2). Each level of activity includes specific tools.

1 TICE : Technologies de l'Information et de la Communication pour l'Education is the concept

commonly used to describe the pedagogical use of information technologies. We translate it here as New

Educational Technologies (NET)

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Figure 2: Levels of activity (Adapted from

http://www.mayeticvillage.fr/home.nsf/Pages/CollaborativeWork)

These levels are generic because we cannot distinguish the basic capabilities of

one word processing program from another. It is the same for e-mail or a chat forum.

The embedded functionalities are the same; differences are between Human Computer

Interface, price, interconnection within individual information system, and

interoperability between tools used every day by people. At the collaborative workspace

level, different tools offer the same functionalities.

3 CASE STUDIES (SCENARIOS) FOCUSING ON BUILDING

COLLABORATIVE SKILLS

Improving the effectiveness of ICT in teaching a given discipline - management

in our case - is a long and difficult task. The effective use of ICT requires both a

transformation of the pedagogical goals and the processes we associate with teaching

management. Our goals are not to set up a virtual campus but to establish a

technological framework in which the students will learn about business, and are able to

produce reusable modules that can be shared and improved by our colleagues.

Innovation in ICT requires rethinking the relationship between the skills we would like

to develop, the technologies we deploy, and the methodologies we use to evaluate their

success or failure.

This concern is the foundation for our experiments in teaching business

information systems in Western Europe. Additional information can be found in [8]. We

summarize some of the results here.

In order to motivate our students to use these systems we design scenarios that

are integrated into the curriculum. In their paper, Brassard and Daele, examined within

the context of the European project Recre@sup, the effort required by teachers, students

and institutions in higher education in order to introduce ICT into the curriculum. Based

on case studies, they argue that we need to consider 17 dimensions in order to design,

implement and evaluate such scenarios.

In the following table, we use 15 dimensions to describe our scenario based on

the use of different collaborative platforms (Mayetic Village2, Microsoft Sharepoint

Portal Server3, and intranet). The goal of the scenario is the use of a collaborative

2 http://www.mayeticvillage.fr/ 3 http://www.microsoft.com/office/sharepoint/prodinfo/default.mspx

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platform within projects. Each environment can be accessed via the Internet. Each group

of students can share resources, exchange information, ideas and documents.

Dimensions and questions Impact on the scenario

1 – Design of the learning situation:

Learning is the building of knowledge

Teaching is to guide the learning

process

Scenario has to emphasize: learners’ roles,

the working environment facilitates

exploration, information search, synthesis

2 – Goals of the learning situation:

Objectives are not linked to a specific

topic

Activities are based on the use of a

collaborative tool

Knowledge is linked to the use of a

collaborative tool

3 – How to take into account students’ mistakes:

Mistakes are part of learning Appropriate feedback used to correct

mistake

The students must have help if they don’t

understand how to use the system

4 – Flexibility of the learning environment:

ADVISORIN

G AND PEDAGOGICAL CHOICES

Individual involvement supports

team

Not the same time, same place, same

moment

Asynchronous environments. System

remembers where student exited the lesson.

5 – Teacher’s Role:

To guide the learning process

To motivate students

The monitoring consists in providing

technical help and expertise about course

content.

6 –Motivation source

Students are to be motivated by the

learning environment itself

Choice of user-friendly environment

Choice of innovative and original learning

activities

Students are to be motivated by the

learning situation and their own

objectives

Student-based project (for example use of

problem-based learning situation)

7 – Communities of practice :

ACTORS AND ROLES

Institution needs to be aware of this

concept. We form business managers.

Our scenario includes exchanges and

participation in the professional

community.

8 – Task Advisoring

Tasks require the mastery of some

technical competencies linked to

information technology

Learning activities are similar to

professional situations.

ACTIV

ITIES

9 – Students’ Activities

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Revista de Gestão da Tecnologia e Sistemas de Informação/Journal of Information Systems and Technology Management

88

Students have to consult a number of

different sources

Due to the intranet, students access and

easily navigate course contents

Students have to create, discuss and

organise content.

Design activities where students need to

use appropriate tools (word processing,

spreadsheet, data base access)

10 – Collaborative learning

Promote interactions among students.

Some learning goals are reached only

in a collaborative manner.

The goal of our scenario is to emphasize

collaborative tasks.

11 – Learning Evaluation

Students are actively involved in

their own learning process.

Our scenario provides time for discussion

12 – Learner Control

Learners have control of the scenario

and the learning process.

Our scenario has to be flexible

13 – Metacognitive support

Provide reflective activities that

promote discussion among team

members

Face to face meeting.

14 – Knowledge management:

Learners form groups like a "learning

community". They produce, share

and reuse knowledge.

In our scenario, the main goal is that

students can reproduce the same “thinking

and doing” in real-world activities

15 – Regulation and evaluation of the scenario

TOOLS AND PROCESSUS

Check whether there are some

elements that change during the

course of the scenario; and whether

the students' view can help the author

to improve the scenario.

A paper-based evaluation (using a

questionnaire) is conducted in order to

obtain feedback from students

Table 2: Fifteen dimensions in our scenario

3.1 Scenario 1: Using a platform to build individual and collaborative team skills

Within the framework of our MSG GSI4, we have deployed the Microsoft

SharePoint Portal Server. This technological platform (similar in many aspects to more

dedicated environments such as BCSW or Quickplace) facilitated the creation of

“Business” Portals equipped with research and document management, and

collaborative functions. It is closely integrated with personal productivity tools widely

used in the student community: Internet Explorer, Word, Excel and other Office

applications, to create, manage and share information.

We have used this platform to provide our students with course targeting team

competencies. We followed a Problem-Based Learning strategy, i.e. we presented a

problem to be solved rather than content to be mastered. (BIGELOW).

4 MSG GSI : Maîtrise de Sciences de Gestion – Gestion des Systèmes d’Information – Masters Degree in

Management with specialization in Information System Management

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Vol. 2, No. 1, 2005, pp. 81-94

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The problem was constructed around the theme « How can we integrate Internet

technologies and process centric applications to support the creation of business value in

today’s economy? » We targeted the development of the following individual and team

competencies:

• Assimilation of ICT in individual work spaces;

• Appropriation of ICT to learn about management practice;

• Working “collaboratively” to draw upon the strengths of team as a whole;

• Communication of associated knowledge and processes.

Within this framework, students are the primary initiators, and instructors act as

facilitators rather than teachers. Similar experiences have been conducted at the EM

Lyon (School of Management), the ISTUD (Istituto Studi Direzionali of Milan) 5, and

the Helsinki School of Business and Economics.

The data collected from these experiments are based on participants’ comments.

As outlined in (RUTKOWSKI et all, 2002), we will use the "onion skin" model to

summarize our findings. “…The model distinguishes multiple categories of problems

that can be encountered in virtual teamwork. Each category becomes a barrier to

effective interaction and a hurdle to be cleared…” (RUTKOWSKI et all, 2002, p.222).

The “onion skin” model includes nine layers from Motivational issues to Creative

content formation. One cannot reach the internal layers if substantial barriers are

imposed by the outer ones.

• Motivational issues are emphasized because students have to participate;

• Context preparation is easier and we have noticed fewer problems in group

dynamics. There needs to be a leader at the beginning of the experiment

• Technological problems were not encountered. Students had similar technical

backgrounds

• Interaction is successful after explaining to students their role in the virtual team.

• Structure provides ways of reducing variability in activities and procedural aspects

of projects as well as use of technology. (RUTKOWSKI et all, 2002, p.225) We

used this opportunity to structure students' activities within this environment.

• Process reinforces students' beliefs about activities such as planning within project

management area.

• National cultural background is non-existent in our experiment. Presently we do not

mix students from different cultures or even different universities, since the

experimentation has been solely carried out at the first author’s university.

• Professional background reflects different ways of working. All our participants are

management majors, so this was not an issue in this experiment.

• Creative content formation is achieved by the strong interaction of three categories

of users: students, teachers (specifically those involved in the scenarios) and

administrative personnel.

3.2 Scenario 2: Building an E-community

In another class (17 students), we introduced the use of an e-community

(Figure3). The course is case-based: students use this platform to interactively formulate

a project in the field of marketing. Project goal is to launch a new agribusiness product

in the cheese sector. Students must create the business procedures required to propose a

5 Milan’s Institute of Management Studies

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Bessagnet, M-N.

Revista de Gestão da Tecnologia e Sistemas de Informação/Journal of Information Systems and Technology Management

90

new product based on three indicators: a market study with real data, a marketing

strategy, and a marketing mix.

The different groups (4 groups) are formed by teachers, with a leader elected for

each group. We introduce two objectives for students: sharing of information inside a

private room created on this platform and sharing of information among groups using

other rooms, such as Forum, Bibliothèque (library), etc as shown in Figure 3. The main

role of the teachers (as leaders within organisations) is to coach and motivate teams, as

well as monitor communications.

One consequence of this experiment is that students acquire knowledge on

"Business Service Applications Providers" (companies that provide computer and

related support services to their clients) and on how decision makers need to consider

such outsourcing in the field of information technology. Today, major software

companies are packaging their applications and tailoring them to a client’s specific

problems.

Figure 3: The e-community: AGROSIM – The circled list is explained in Figure 4.

Functionalities linked to e-collaboration are provided within this environment:

forum, documents sharing, notification, creation of folders, creation of shared rooms,

and group agenda. Pages are of different types: pages created with Microsoft Pack

Office, simple pages created directly in the environment (hidden HMTL code),

imported pages, Vikao pages, and Acrobat files. For security reasons, we do not allow

students to manage or modify public documents. The notification function is helpful

because it alerts users when they receive e-mail. All users have access to a site map

(Figure 4). With this functionality, end-users can rapidly determine which of the

different areas are shared or not shared.

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Vol. 2, No. 1, 2005, pp. 81-94

91

Figure 4: The site map

Three types of data were collected in this experiment: evaluation of students’

interactions with environment, their production, and a face-to-face interview for each

group. This project was conducted over a five-week period. Students and teachers

reported that this site map was very useful for project management.

3.3 Scenario 3: Development of a learning portal

Thanks to a gift from the SAGE foundation, the second author has progressively

implemented a learning portal for the MBA program at Newcastle University (U.K.).

Major project objective is to allow part time executive students an increased visibility of

courses, program and university life in Newcastle, whether they are on campus or at

their companies. Other project objectives include the creation of dynamic and

interactive communication tools to initiate and extend contacts with the school and its

business community.

Three competencies were targeted for this business community. The first is

natural assimilation of the tools in their executive students’ workspace at school, as well

as at their companies. The second concerns using this technology in their daily work.

This is a key step in educating students about the efficacy of learning to adopt new tools

for current use, as well as for their life-long learning experience. Finally, collaboration

has been viewed as a key competence in itself: the program has been constructed not as

a series of individual courses, but as a set of collective learning paths.

The implementation of those objectives required technical and methodological

choices, for which the SharePoint platform was the best choice. We worked with the

teaching staff to develop means of learning evaluation, which takes into account the

acquisition of targeted competencies. The individual evaluations of the modules

incorporate students’ activity on the portal, the nature of their collaboration, and their

ability to adapt portal structure to the needs and objectives of their work.

Page 92: Volume II - Numer I

Bessagnet, M-N.

Revista de Gestão da Tecnologia e Sistemas de Informação/Journal of Information Systems and Technology Management

92

The portal project has been viewed very favourably by a large majority of MBA

students. Portal was explicitly mentioned in written evaluations of both their course and

their instructor. Most students have praised the use of the portal to explore and structure

their course work rather than using the technology simply to “store PowerPoint

presentations”. The majority of students also feel that the project focuses on developing

competencies that were market relevant and not just abstract knowledge. Finally,

several students have underlined that public access to their work would be a definite

advantage in selling their skills to current and future employers.

The instructors of other courses in the MBA program provide a more mixed

evaluation of the portal strategy. Although they felt that the technical skills required to

manage their course portal are easily attainable, they struggle with how to adapt their

current course content and process to benefit from the project. Many have expressed

different opinions over the required coherence degree of programme’s learning

objectives, as well as to what degree their courses could be digitized. Most feel that the

project entails more work than more traditional instruction, and many have expressed

concerns of how such work would be recognized by their professional communities.

Program administrators stressed the contrast between project potential and

university real environment. On the one hand, they have applauded the focus on

developing individual and team competencies rather than “classroom learning”. They

have stressed the positive spin-off for recruiting and developing professional networks.

On the other hand, they feel poorly equipped to drive organizational and pedagogical

changes needed to reap the full benefits from this proposal. They have cited real

challenges in compensating instructors for their use of the portal, in dealing with

administrative concerns over standard university practice, and in providing a clear road

map for the future of blended learning.

The university administration must also be considered in evaluating project

success. The University’s policy of centrally driven technology initiatives has been

perceived to be directly challenged by this departmental initiative. Some university

officials have been concerned that project design to provide maximum value to the

program conflicts with university goals of assuring minimum functionality in an e-

learning platform across departments. Given the visibility of e-learning initiatives on

campus and within University community, the project has been subject to conflicts of

interest present in most universities that limit the possibilities of a shared vision

concerning the role played by IT in supporting higher education.

4 CONCLUSION AND DISCUSSION

In this contribution, we have raised a number of hypotheses on how

collaborative technologies can impact management education. We suggested that

information systems are often flawed mirrors of the managerial system they are

designed to represent. We argued that the potential value of collaborative technologies

is strongly influenced by organizational context, both in and between the university and

the business community. We proposed that the effectiveness of collaborative

technologies depends to a large degree upon the depth and coherence of learning

objectives designed for the learning and work places.

We conclude with the idea that improving the effectiveness of collaborative

technologies will require aligning the design of learning environments with the

corporate cultures and visions we are trying to reproduce. Information technology is a

mirror that offers a reflexion of who we are and how we interact with our personal and

Page 93: Volume II - Numer I

Using e-Collaboration to Improve Management Education: Three Scenarios

Vol. 2, No. 1, 2005, pp. 81-94

93

professional environments. In this mirror, we view our skills and competencies in the

context of those around us. For the university, information technology helps structure

our views both of the learning place, and of the larger environment of our professional

communities.

The learning place, much like the work place, is defined by the nature of our

relationships with other students, faculty and administrators, as well as the learning

agenda, structures, and outcomes. What is our institution’s learning agenda, and what

role does information technology play in shaping that agenda? How is our university

structured to support learning, and to what degree does information technology

strengthen (or weaken) its organizational foundations? How have our programs defined

the desired outcomes or university experience, and to what extent does e-learning enrich

this experience?

Based on this experience, our students enter the work place defined by its own

set of decision-makers, agendas, and outcomes. Does the use of information technology

in our university environment adequately prepare our students for managing the

constraints of time, place and culture inherent in today's marketplace? How has our

university used information technology to prepare the foundations for the students to

understand the visions and agendas of corporate enterprise? How have our programs

used e-collaboration to favour pedagogical outcomes that bridge the "gap" between

learning and work?

What do we need to learn about management to work profitably in today's

economy? If the needed skills can be studied related to functional disciplines that

structure the university environment, associated competencies are a result of their

application in the work place. How can information technology help our students

understand the context, culture, motivations, and visions that shape the corporate

environment? How can learning technologies help develop the competencies that will

help our students resolve their future business challenges?

Information technology can bridge the perceptual gap between learning and

work with either vicious or virtuous cycles. If information technology is used only to

standardize, normalize and quantify the learning process, e-learning often results in a

vicious cycle that creates a vision of work void of purpose, performance and creativity.

If learning technologies are instead applied to encourage agility, talent, and research, e-

learning can result in a virtuous cycle leading to a definition of the work place

strengthened by innovation, passion and value. How has information technology been

used in your institution to reflect who you are, and where you want future generations to

go to?

We hope our recent experiences can contribute to create future opportunities for

effectively integrating technology into the core of teaching (management) students both

for short-term as well as long-term objectives.

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Improve Learning Processes. Proceedings of Informing Science International Congress

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Journal of Information Systems and Technology Management Revista da Gestão da Tecnologia e Sistemas de Informação ISSN online: 1807–1775 Every four months/Quadrimestral

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Congresso / Conference

º

2nd CONTECSI International Conference on Information Systems and Technology Management

June 1- 3, 2005 FEA USP São Paulo, Brazil

1st CALL FOR PAPERS – Deadline March 30, 2005

The 2st - International Conference on Technology and Information Systems Management CONTECSI is an event focusing Technology and Information Systems Management under a multidisciplinary view. CONTECSI aims at putting together academics and professionals involved in IT and Systems management for a state-of-the-art discussion. International researchers are expected to contribute for the integration between the academic and the professional communities. The Conference welcomes papers submission for presentation and panel discussions. Major topics on interest include, but are not limited to: Information Society, Open Systems, Systems Interfacing and Integration, Wireless Computing, Entrepreneurship in IT and IS, Accounting Information Systems, E-Commerce / E-Business, Software Engineering, ERP Systems, Financial Management in Information Systems, IT Strategic Management, etc. Submit online a full paper and abstract in English, Spanish or Portuguese by March 30, 2005 to [email protected]. All papers will be subject to a blind review process and full papers will be published (CD) in the Conference Proceedings. More information: http://www.tecsi.fea.usp.br/eventos/contecsi2005/ Coordination: Prof. Edson Luiz Riccio. PhD – FEA USP and TECSI Contact: [email protected]

2º CONTECSI Congresso Internacional de Gestão da Tecnologia e Sistemas de Informação

1-3 de Junho de 2005 FEA USP São Paulo, Brasil

1ª CHAMADA PARA TRABALHOS – Data final 30/Março/2005

O 2º Congresso Internacional de Gestão da Tecnologia e Sistemas de Informação CONTECSI visa reunir acadêmicos e profissionais envolvidos com a temática de gestão para discussão do Estado-da-arte deste campo. Atualmente este campo encontra-se disperso em áreas específicas, carecendo de uma visão holística e integrada do assunto. O CONTECSI contará com a presença de palestrantes de renome, bem como estará aberto para a recepção de trabalhos para serem apresentados em sessões paralelas e painéis. Assim como compareceram no 1º CONTECSI, são esperadas personalidades, professores e pesquisadores do Brasil e do exterior, principalmente de Universidades da França, Inglaterra, Espanha, México, Portugal, Chile, Argentina, Colômbia, Uruguai, Venezuela entre outras. Os foco de interesse deste congresso inclui todas as abordagens referentes à gestão de Tecnologia e dos Sistemas de Informação nas instituições publicas e privadas e na sociedade em geral. Mais informações podem ser encontradas no site: http://www.tecsi.fea.usp.br/eventos/contecsi2005/port/ Coordenação: Prof. Dr. Edson Luiz Riccio – FEA USP e TECSI Contato: [email protected]

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Revista de Gestão da Tecnologia e Sistemas de Informação Journal of Information Systems and Technology Management Vol. 2, No. 1, 2005 pp. 97-98 ISSN online: 1807-1775

Recebido em/Manuscript first received: 05/01/2005 Aprovado em/Manuscript accepted: 12/03/2005 Endereço para correspondência/ Address for correspondence Marici Gramacho Sakata é Mestre e Doutoranda em Ciências da Comunicação pela ECA-Universidade de São Paulo. Pesquisadora do TECSI EAC FEA USP. Área de pesquisa em: Metodologia de Pesquisa Científica e Educação Superior. Av. Prof. Luciano Gualberto, 908 - CEP: 05508-900, Cidade Universitária - São Paulo-SP, Brasil Fone: (11) 3091-5820 Fax: (11) 3813-0120 E-mail: [email protected] ISSN online: 1807-1775 Publicado por/Published by: TECSI FEA USP – 2005

Marici Gramacho Sakata

Universidade de São Paulo

Amy B. Woszczyncki and Michael E. Whitman The Handbook of Information Systems Research

Idea Group Publishing, 2003 1st Edition, 350pp. ISBN:1591401453

O livro The Handbook of Information Systems Research, segundo os editores, é resultado da necessidade que sentiram por parte dos alunos de doutorado em conhecer os trabalhos mais exemplares na pesquisa em Sistemas de Informação para utilizá-los como referência. Neste sentido, o livro é uma coletânea de artigos, organizados de forma estruturada para auxiliar professores e pesquisadores.

O projeto do livro é interessante pois foi utilizada a própria tradição da pesquisa em Sistemas de Informação para selecionar os artigos, ou seja, foi examinada a literatura, construída a pesquisa survey e administrada, e, os resultados da coleta foram analisados para então formarem a lista de artigos que fariam parte do livro. Centenas de artigos foram analisadas, foram selecionados 50 artigos que não tratavam de subdisciplinas. A lista de artigos foi colocada na Internet e autores e estudantes de pós-graduação elegeram os que consideraram mais relevantes. Quando a lista ficou pronta, os editores receberam inúmeras solicitações para deixar a lista e os artigos disponíveis para acesso. Como o acesso aos artigos individualmente por motivos de direitos autorais e editorias seria muito caro, a Idéia Group Publishing levou a idéia em consideração e publicou a coletânea de artigos re-trabalhada pelos autores e organizada em sessões e capítulos ordenados por tema.

Quanto aos dois autores (organizadores) do livro, Michael E. Whitman, PhD é professor associado em Sistemas de Informação no Departamento de Ciências da Computação e Sistemas de Informações na Kennesaw State University, Georgia, USA, e diretor do Center for Information Security Education and Awareness da KSU. Amy B. Woszczynski, PhD é professora também da Kennesaw State University, USA. Ambos estão envolvidos em pesquisas em Sistemas de Informação bem como áreas multidisciplinares.

O livro possui 350 páginas organizadas em 5 sessões e 18 capítulos. As autorias dos artigos são predominantemente filiadas a instituições de ensino americanas com

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Revista de Gestão da Tecnologia e Sistemas de Informação/Journal of Information Systems and Technology Management

98

poucas exceções a autores do Canadá, Inglaterra e Suécia. A maioria são pesquisadores atuantes e com PhD na área de Sistemas de Informação.

As sessões do livro estão divididas em: I) Issues in Survey Research, sessão que corrobora com a forma como o livro foi concebido; II) Rigor and Relevance, III) Virtual research issue, IV) Global Issue e V) Emerging Issues. Não há tradução para o português mas o livro está disponível em livrarias mas também na plataforma e-livro adquirida por algumas universidades do país para acesso online.

O livro é composto por artigos que abordam diferentes aspectos da pesquisa em Sistemas de Informação dando ao leitor uma visão abrangente. Não deve ser utilizado como única fonte de consulta mais as referências bibliográficas contribuem para a localização de outros artigos relevantes para o aprofundamento do tema.

Os temas abordados são: pesquisa quantitativa, análise multi-métodos, rigor e relevância da pesquisa qualitativa (entre elas ground theory, pesquisa de campo e pesquisa clínica), etnografia e pesquisa em ambiente virtual, pesquisa cross-cultural e questões globais. Nos temas emergentes, estão: Structuration Theory, simulação, pesquisa cognitiva, estudo de caso e realismo crítico.

Diversos outros métodos de pesquisa poderiam ter sido abordados, no entanto compreende-se a limitação de espaço, neste sentido os autores incluíram uma amostra variada de métodos e abordagens. O livro é interessante porque não é um livro de técnicas de pesquisa mais a discussão dos diversos métodos aplicados a diferentes situações juntamente com as limitações encontradas pelos autores, recomendações e novas perspectivas.

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telefone, fax e e-mail do autor e co-autores. (máximo de 3 autores/co-autores); • Na segunda página do artigo deverá constar: título, subtítulo (se houver), tema resumo de 100

palavras aproximadamente e 5 (cinco) palavras-chaves, se o artigo for aceito para publicação será solicitado o envio do abstract em inglês;

• Os artigos deverão ter no máximo 30 páginas em espaço duplo, fonte arial ou times new roman, tamanho 12;

• O autor deverá enviar com o artigo figuras, gráficos em alta qualidade com resolução de 300 dpi (figuras) com extensão jpg e/ou gif. Cada ilustração deve conter numeração e legenda. Deve ser feita referencia a figura ou tabela no corpo do texto.

Quanto à Estrutura • Os artigos enviados deverão constar, dentre os tópicos, dos seguintes itens (obrigatoriamente):

Resumo, Introdução, Objetivos, Justificativa, Problema/Questão, Metodologia, Resultados, Conclusão e Referência Bibliográfica;

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a que pertence e sua área atual de trabalho. Quanto ao Processo de Avaliação • Os artigos serão avaliados pelo Comitê Editorial em caráter de duplo "blind review". Os nomes dos

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