a influência do marketing rural e seus impactos sociais, econômicos e ambientais

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ROGÉRIO TADEU TEIXEIRA DA SILVA A INFLUÊNCIA DO MARKETING NO AGRONEGÓCIO E SEUS IMPACTOS SOCIAIS, ECONÔMICOS E AMBIENTAIS CENTRO UNIVERSITÁRIO NOVE DE JULHO São Paulo 2008

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Page 1: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

ROGÉRIO TADEU TEIXEIRA DA SILVA

A INFLUÊNCIA DO MARKETING NO AGRONEGÓCIO E SEUS IMPACTOS SOCIAIS, ECONÔMICOS E AMBIENTAIS

CENTRO UNIVERSITÁRIO NOVE DE JULHO

São Paulo2008

Page 2: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

ROGÉRIO TADEU TEIXEIRA DA SILVARA: 902102794

A INFLUÊNCIA DO MARKETING NO AGRONEGÓCIO E SEUS IMPACTOS SOCIAIS, ECONÔMICOS E AMBIENTAIS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência para a obtenção do título de Bacharel em Administração de Empresas à Universidade Nove de Julho - UNINOVE, sob a orientação do Prof. Sérgio Perales Francisco.

CENTRO UNIVERSITÁRIO NOVE DE JULHO

São Paulo

Page 3: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

A minha tia Maria do Carmo e a minha prima Mônica, pelo apoio e incentivo.

Ao meu pai José Roberto, pelo carinho.

À pessoa que deu nova dimensão em minha vida. Minha esposa Ana Cristina

e nossa filha Gabriela ...

Page 4: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais, aos meus amigos de faculdade e minha esposa que me

incentivaram e apoiaram neste processo de pesquisa e construção do trabalho;

Aos meus professores e orientador, pela ajuda e esclarecimento das minhas dúvidas;

E a minha tia Maria do Carmo e minha prima Mônica, pelo patrocínio e estímulo ao

meu trabalho de pesquisa.

Page 5: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

A abordagem sobre o Marketing Rural faz muito sentido para aqueles de nós que perceberam sua importância. Seus conselhos sobre estratégias de negócios são baseados em uma análise histórica das amplas forças que estão moldando o futuro do agronegócio. Uma perspectiva de grande valor para a comunidade de negócios agrícolas, assimcomo para o público em geral.

Gerson de Freitas Junior

Jornalista

Page 6: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

ABSTRACT

The aim of this essay is to reflect on the difficulties found by Brazilian agricultural

producer companies and/or cooperatives to introduce marketing strategic plans in brazilian

agribusiness. This essay was developed in an inductive and qualitative way, through

bibliographical sources that are about themes as International or Global Marketing and

Rural Marketing. This essay is a study on bibliographical sources, that seek the knowledge

and understanding on the operation of Brazilian agricultural producer companies and/or

cooperatives, that has as one of its main objectives the productive increase, invoicing and

exportation of its products profiting “know-how” or strategies of rural marketing. The

selected materials and analyzed that had contributed to the elaboration of this essay were

extracted of current bibliographical sources. For being of a theme that is being enough

discussed in the managerial world on those last years. It is included in the development of

this essay contents of newspapers of highest importance and that are directly about the

theme in subject. The most significant contribution, however, it was extracted of José Tejon

Megido knowledge published in his book “Marketing & Agribusiness”. This essay has as

objective to demonstrate the problems mentioned above, as well as it intends to look for

possible solutions for those problems.

Key-words: International Marketing, Rural Marketing, Agribusiness.

Page 7: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

RESUMO

Neste trabalho busca-se refletir sobre as dificuldades encontradas por empresas e/ou

cooperativas agrícolas em implementar planos estratégicos de marketing no agronegócio

brasileiro.

Esse trabalho foi desenvolvido de modo qualitativo, através de fontes bibliográficas

que tratam de temas como Marketing Internacional ou Global e Marketing Rural. Esse

trabalho é um estudo sobre fontes bibliográficas, que visam o conhecimento e entendimento

sobre o funcionamento de empresas e/ou cooperativas agrícolas brasileiras e que tem como

um de seus principais objetivos o aumento da produtividade, faturamento e exportação de

seus produtos com a utilização de técnicas ou ferramentas de marketing rural. Os materiais

selecionados e analisados que contribuíram para a elaboração desse trabalho foram

extraídos de fontes bibliográficas atuais.

Por se tratar de um tema que está sendo bastante discutido no mundo empresarial

nesses últimos anos. Incluem-se no desenvolvimento deste trabalho conteúdos de

periódicos de suma importância e que tratam diretamente do tema em questão. A

contribuição mais significativa, no entanto, foi extraída dos conhecimentos de José Tejon

Megido publicada em seu livro “Marketing & Agribusiness”. Este trabalho tem como

objetivo demonstrar os problemas mencionados acima, como também pretende buscar

possíveis soluções para esses problemas.

Palavras-Chave: Marketing Internacional, Marketing Rural, Agronegócios.

Page 8: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 1

1.0 MARKETING GLOBAL .................................................................................................... 4

1.1 Introdução ao Marketing Global ................................................................................. 4

1.2 O Conceito de Marketing ............................................................................................ 5

1.2.1 O Novo Conceito de Marketing ...................................................................... 6

1.2.2 O Conceito Estratégico de Marketing ............................................................ 6

1.3 Etapas do Processo de Formulação da Estratégia de Marketing ................................ 9

1.4 Os Três Princípios do Marketing ................................................................................ 11

1.5 Marketing Doméstico X Marketing Internacional .................................................... 13

1.5.1 Marketing Global: O que é e o que não é ....................................................... 14

1.5.2 A Importância do Marketing Global .............................................................. 15

1.6 Alianças e Parcerias .................................................................................................... 15

1.7 Blocos Econômicos .................................................................................................... 16

1.8 Economia Global ........................................................................................................ 17

1.8.1 Barreiras Econômicas .................................................................................... 18

1.9 Diferenças Culturais .................................................................................................. 18

2.0 MARKETING RURAL .................................................................................................... 19

2.1 Os Primórdios do Marketing Rural ........................................................................... 19

2.2 Conceito de Marketing Rural .................................................................................... 21

2.3 Setor de Agribusiness Descobre Poder do Marketing .............................................. 31

2.4 Enfoques Diferentes para o Marketing Aplicado ao Sistema Agroindustrial ............. 33

2.5 Canais de Marketing ................................................................................................. 37

2.6 Agricultura e Sustentabilidade .................................................................................. 38

2.7 O Uso da Internet no Meio Rural .............................................................................. 39

2.8 O Contexto de Aplicação .......................................................................................... 40

3.0 ESTRATÉGIAS DE MARKETING NO AGRONEGÓCIO ........................................ 45

3.1 Agri-MKT .................................................................................................................. 45

3.2 Agronegócio: Comunicação, Fidelidade e Mercado Exigente .................................. 46

3.3 Agronegócio Ainda é Um Desafio para a Comunicação .......................................... 48

3.4 O Brasil Precisa Melhorar a Auto-Estima ................................................................ 52

3.5 O Paradigma do Marketing no Agronegócio ............................................................ 54

3.6 Brasil: Bom Produtor, Mas Péssimo Vendedor ........................................................ 56

3.7 CASO CAFÉ – A Expansão da produção cafeeira no Brasil...................................... 59

3.7.1 O Mercado Cafeeiro ..................................................................................... 60

Page 9: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

3.7.2 A Concorrência ........................................................................................... 60

3.7.3 ACORDOS INTERNACIONAIS: Objetivo e efeito...................................... 61

3.7.4 Comportamento dos Preços no Mercado do Café do Brasil........................... 63

3.7.5 Aspectos Atuais no Mercado Interno e Externo e suas Exigências .............. 63

4.0 ANÁLISES DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A AGRICULTURA ........................ 67

4.1 Análises das Relações de Poder Político no Meio Rural ........................................... 68

4.2 Sistema Agro-Produtivo: pequenos produtores, cooperativas x agribusiness ............ 70

4.3 Custos Operacionais e de Intermediação .................................................................... 74

4.4 Modelo Commodities do Export. Vinculados ao Sistema Coml Internacional ....... 78

4.5 IMPÁCTOS DO MODELO AGRÍCOLA: Ambiental, Social e Cultural ............... 80

4.6 Problema da Dependência dos Fornecedores de Insumos - Sementes ...................... 81

CONCLUSÃO............................................................................................................................ 85

BIBLIOGRAFIA ....................................................................................................................... 86

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1

INTRODUÇÃO

De acordo com Megido (1998) o crescimento do agronegócio brasileiro está

criando muitas oportunidades, mas também muito barulho. As estimativas variam,

mas o mundo empresarial acredita que dentro de algumas décadas o país terá um

salto de produtividade e também terá a maior comércio mundial de produtos

agrícolas, podendo até superar os seus principais concorrentes em definitivo, como

pó exemplo EUA, China e Argentina. Mesmo que ainda existam muitos obstáculos

e desafios para serem vencidos, para que o Brasil desenvolva todo o seu potencial.

Saber até onde pode chegar suas transformações e quais suas implicações para

os negócios será sem sombra de dúvida a oportunidade futura do mundo

empresarial.

Como o mundo empresarial pode desenvolver estratégias para um setor tão

complexo como o agrícola? Por isso, existe a necessidade de entender o mercado,

pois é lá que estão os riscos e oportunidades. A análise do agronegócio deve ser

feita de um modo muito mais amplo do que os modos comuns de análise do setor.

As forças influentes do agronegócio são distintas, por isso entende-las será um

fator crucial antes que se possam formular estratégias que dêem certo. Entender

seu mercado, sua política, demografia e tecnologia, pois tudo isso certamente

influenciará numa tomada de decisão.

O debate sobre essas forças de impulso e os possíveis resultados do

desenvolvimento do agronegócio – envolvendo questões como as relações entre

produtores, cooperativas e distribuidores, o relacionamento entre mercado e estado

e a reforma interna podem estabelecer um ponto referencial para compreender e

fazer negócios com outros países.

Analisar e discutir o processo de formulação e a implementação de

estratégias de marketing no mercado interno e internacional. Especificamente, a

formulação e implementação dessas estratégias de marketing interno para que

empresários ou organizações brasileiras que pretendem investir e/ou exportar

possam transpor suas barreiras.

Page 11: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

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DELIMITAÇÃO

Este trabalho visa entender como funcionam os meios de Administração e

divulgação existentes para os produtos agroindustriais brasileiros que são

comercializados no mercado interno e/ou exportados, assim como suas estratégias

de marketing. Tratando somente de produtores, cooperativas e distribuidores.

JUSTIFICATIVA

O tema foi definido devido a enorme importância com que o agronegócio tem

se destacado no cenário econômico brasileiro. A relevância desse trabalho é

mostrar como o mundo empresarial pode traçar estratégias administrativas e de

marketing para interagir produtos agrícolas com um mercado tão complexo. Quais

os fatores que coíbem a implementação de estratégias de marketing, visando os

pontos fortes e os pontos fracos dessas estratégias.

PROBLEMA

As dificuldades de produtores e/ou cooperativas agrícolas brasileiras, em

comercializar seus produtos sem as ferramentas adequadas administração,

divulgação e promoção. Suas dificuldades em agregar valor aos seus produtos de

modo que possam aumentar sua produtividade, assim como também aumentar seu

faturamento.

HIPÓTESE

A pesquisa apresentará soluções para os problemas enfrentados quanto a

elaboração das estratégias administrativas e de marketing voltado para o setor

agrícola. Exemplificando com casos onde o marketing trouxe acréscimos de

faturamento, produtividade e também criação de marcas.

OBJETIVO GERAL

Analisar e discutir o processo de formulação e implementação de estratégias

administrativas e de marketing no mercado agrícola.

Page 12: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

3

OBJETIVO ESPECÍFICO

A pesquisa tratará do problema enfrentado por produtores e/ou cooperativas

agrícolas brasileiras, que pretendem comercializar, até mesmo exportar, seus

produtos. Maximizando sua capacidade produtiva e de comercialização.

METODOLOGIA

A pesquisa será realizada de modo indutivo e qualitativo, como por exemplo:

livros, periódicos e internet. O aproveitamento do estudo será relevante aos

campos científico, educacional e social. Serão analisados os materiais

selecionados e filtradas às informações para que possa atender única e

exclusivamente ao que o tema se reporta. Devendo apresentar alguma contribuição

para o esclarecimento ou enriquecimento de informações sobre o assunto tratado.

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CAPÍTULO I

1.0 – MARKETING GLOBAL: Introdução ao marketing global

Segundo Keegan (2005, p.2) Ao longo dos últimos 160 anos, uma onda

enorme de transformação afetou diretamente as pessoas e as indústrias de

diversos países. Até 1840, os estudantes não utilizavam na sala de aula nada que

tivesse sido produzido cerca de alguns quilômetros de onde moravam - com a

possível exceção dos livros. Alguns países, especialmente a Inglaterra, estavam

envolvidos de modo ativo no comércio internacional por volta do século XIX. Desde

a Segunda Guerra Mundial, no entanto, ocorreu um salto sem precedentes nos

mercados globais de empresas que antes só trabalhavam para os consumidores de

sua região. Na década de 80, o termo 'marketing global' não existia. Hoje, as

empresas perceberam que ele é o percurso para a total realização de sua

capacidade comercial. Por causa disso que você pode ter alguns produtos, que

vieram da Ásia, na Europa, na África ou na América Latina, não importa onde você

esteja. Existe uma razão maior para as empresas levarem o marketing global a

sério: a sobrevivência.

Uma empresa incapaz de adotar uma postura globalizada de mercado corre

o risco de perder seus negócios domésticos para concorrentes com custo mais

baixo, maior experiência e produtos melhores.

Mas o que é marketing global? Como se pode diferenciar do marketing

tradicional?

Marketing pode ser definido como uma série de atividades que levam a uma transação de troca com lucro entre comprador e vendedor. As atividades do marketing estão centradas nos esforços de uma organização em satisfazer os desejos e as necessidades de seu cliente com produtos e serviços que oferecem valores competitivos. O composto de marketing (ou mix de marketing) (produto, preço, ponto-de-venda e promoção) é a ferramenta básica das empresas de hoje. É uma disciplina universal 1 aplicável tanto na Austrália como em Zanzibar. (KEEGAN, 2005, p.2)

1 Disciplina universal é a base para implantar um programa de marketing global bem-sucedido. É um conhecimento sólido da disciplina. KEEGAN, Marketing Global. p. 02

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Para Pipkin (2000, p.13) por causa da globalização das economias e a internacionalização dos negócios, os mercados externos são alvos estratégicos para as empresas domésticas. A internacionalização das empresas, graças àexpansão de suas operações para os mercados mundo a fora ou por causa da aquisição de insumos, componentes e/ou bens acabados, tornou-se uma questão ligada a própria sobrevivência das empresas em mercados cada vez mais competitivos.

A globalização econômica traz a possibilidade de acesso a novos mercados, antes inexplorados, favorecidos especialmente pela progressiva queda das barreiras tarifárias e não-tarifárias ou técnicas. Dessa maneira, para que as empresas possam desfrutar das novas oportunidades e, ao mesmo tempo, reduzir ou eliminar as eventuais ameaças inerentes a este novo ambiente competitivo, emerge o desafio da internacionalização. Neste novo contexto, o marketing internacional passa a ser uma área do conhecimento fundamental para a inserção bem-sucedida de firmas nos complexos mercados internacionais. Além disso, sabe-se que o desconhecimento das ferramentas de marketing internacional é um dos aspectos responsáveis pelo insucesso de organizações brasileiras nos mercados estrangeiros. (PIPKIN, 2000, p.13)

1.2- O CONCEITO DE MARKETING

Para que se tenha uma ampla compreensão do que venha a ser marketing, é

preciso descrevê-Io através de três distintas dimensões. Pipkin (apud Toledo, 1987):

Dimensão filosófica: refere-se a orientação da empresa para o consumidor. Assim, toda a decisão que é tomada na empresa, deve estar direcionada para o atendimento das necessidades e desejos do consumidor. A idéia de a empresa estar voltada para um grupo selecionado de clientes, seu público alvo, deverá estar disseminada em todos os níveis da firma. A empresa, de forma integrada, deve estar orientada para agregar valor ao cliente. A nova orientação deve ser comprada pelos principais executivos da organização para que, de fato, isso se tome uma realidade dentro da empresa. Pipkin(apud Toledo, 1987)

Dimensão funcional: o marketing estuda os relacionamentos de troca. Na verdade, não basta que existam pessoas com necessidades e desejos a serem satisfeitos e, por outro lado, empresas ofertando produtos e serviços destinados a satisfação destas necessidades. É necessário que ocorra o processo de troca e, nesse sentido, o marketing, como função, busca o melhor ajustamento entre as necessidades distintas do mercado e a oferta igualmente diferenciada das empresas. Para que ocorra o relacionamento de troca, a empresa deverá ter retomo advindo da troca maior que os custos para gerar a oferta. Por sua vez, um indivíduo somente estará disposto a se envolver em um processo de troca quando perceber que a sua satisfação será maior do que o dinheiro despendido, o tempo gasto a procura de informações, o deslocamento até o local de compra, entre outros aspectos. Dessa maneira, verifica-se,que a troca constitui-se em um ato de criação de valor, uma vez que aumenta o valor percebido pelas duas partes envolvidas no processo. Por sua, vez, este é diretamente proporcional ao nível de satisfação gerado. Pipkin (apud Toledo, 1987)

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Dimensão operacional: a operacionalização do conceito de marketing, ou seja, a sua implementação se dá através do planejamento e controle das variáveis estratégicas de marketing: produto, preço, distribuição e promoção. O profissional de marketing formulará e implementará estratégias de produto, preço, distribuição e promoção visando aproveitar as oportunidades existentes no mercado. Dessa maneira marketing pode ser conceituado como um processo social e gerencial pelo qual indivíduos e grupos obtêm o que necessitam e desejam através da criação, oferta e troca de produtos de valor com outros. Pipkin (apud Kotler, 1994)

Portanto, marketing é a busca das necessidades e desejos de

consumidores, e consequentemente a produção de produtos que atendam essas

necessidades e desejos de modo que geram transações lucrativas, tanto para as

empresas quanto para os consumidores. Mas não apenas lucros financeiros, mas

também satisfações pessoais, ou seja, uma boa relação de custo-benefício. Desse

modo, ocorrerá uma troca satisfatória entre oferta e demanda entre os lados

envolvidos, empresas e consumidores.

1.2.1 - O NOVO CONCEITO DE MARKETING

Ao longo das últimas décadas, as empresas tinham uma outra visão à

respeito do conceito de marketing. Antigamente as empresas focavam seus

produtos e planejavam como reduzir seu preço, melhorar sua qualidade e torná-lo

conhecido. Não que isso esteja errado, mas demorou a perceber que o foco da

atenção era externo. Não se tratava mais de visar o lucro e como atingi-lo.

Na visão de Kotler (1998), ao passo que a empresa se vê como vendedora

de um produto, os clientes se vêem como compradores de um valor ou da solução

de um problema. Os clientes percebem mais que preços; percebem o custo total de

obtenção, uso e descarte de um produto. A clientela não deseja promoção; quer

uma comunicação bidirecional. Kotler (2000) afirma que “os profissionais de

marketing deveriam pensar primeiro em atender aos 4Cs do cliente, seja pessoa

física ou jurídica e utilizá-los, em seguida, como uma plataforma para o

desenvolvimento dos 4Ps.

1.2.2 - O CONCEITO ESTRATÉGICO DE MARKETING

Nos anos 90 já estava claro que o 'novo' conceito de marketing estava ultrapassado e que a época exigia um conceito estratégico: o foco do marketing deixa de estar no cliente ou no produto e passa para o cliente em um ambiente externo mais amplo. Saber tudo sobre o cliente já não basta. Para ter sucesso as empresas devem conhecer o cliente num contexto que inclui concorrência, políticas e regulamentações governamentais e forças

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econômicas, sociais e políticas abrangentes que formam a evolução dos mercados. (KEEGAN, 2005, p. 3)

No marketing global, pode-se dizer que trabalhar junto com as agências

governamentais de comércio e mesmo: concorrentes para conseguir acesso ao

mercado interno de um determinado país. Um fato revolucionário da tendência no

conceito de marketing são os objetivos, que não são mais os lucros e se tornaram

os benefícios para os interessados ou stakeholders2. Os interessados são

indivíduos ou grupos que focam um interesse na atividade de uma empresa, como

funcionários, diretoria, acionistas, clientes e até a sociedade e o governo, para

mencionar apenas os mais proeminentes. Os lucros são meramente um prêmio

pelo desempenho, para competir nos mercados de hoje, é indispensável ter uma

equipe comprometida e criativa e fabricar produtos de qualidade. A lucratividade

não foi esquecida no conceito estratégico de marketing. Continua sendo um meio

importante para gerar benefícios para os interessados. O conceito estratégico de

marketing age através da administração estratégica, que integraliza o marketing

com outras funções administrativas. Uma das funções da administração estratégica

é conseguir lucro, gerando recursos para investimento no negócio e remuneração

para os acionistas. Portanto, lucro ainda é um objetivo fundamental e uma medida

do sucesso do marketing.

Porém, marketing é criar valor para os interessados, e o principal in-

teressado é o cliente. Se seu cliente obtém maior valor de seu concorrente porque

este aceita um lucro menor para investidores e diretoria, o cliente escolherá o seu

concorrente e você estará fora do negócio. Por fim, as parcerias estratégicas,o

posicionamento da empresa entre os fornecedores e os clientes na cadeia de valor,

de modo a criar valor para o cliente é a chave para o sucesso.

2Stakeholder ou, em Português, parte interessada ou interveniente, refere-se a todos os envolvidos num

processo, por exemplo, clientes, colaboradores, investidores, fornecedores, comunidade etc. O processo em questão pode ser de carácter temporário (como um projecto) ou duradouro (como o negócio de uma empresa ou a missão de uma organização sem fins lucrativos). (http://pt.wikipedia.org)

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FIGURA 1 - MARKETING SEM FRONTEIRAS

Fonte: MARKETING GLOBAL, 7ed. 2005, p. 03.

Marketing sem fronteiras.

Para Pipkin (2000, p.19) o planejamento estratégico de marketing

internacional é um cenário de globalização e a crescente necessidade de

internacionalização por parte das organizações, a imagem do plano estratégico de

marketing global se caracteriza como uma posição de relevo. Os princípios do

plano estratégico de marketing para uma organização que procura acessar as

recompensas do mercado global ampliado são os mesmos de uma companhia que

opera, ainda, em um mercado doméstico. Porém, os desenvolvimentos desses

planos no mercado internacional envolvem as características inerentes aos

complexos mercados externos; seu ambiente instável e a realidade de uma maior

competitividade nesses mercados. Esses e outros aspectos aumentam a

dificuldade existente do processo de planejamento estratégico internacional.

Portanto, o plano tem de partir de um diagnóstico detalhado dos recursos e

capacidades da empresa e seus respectivos objetivos. Empresas que atuam em

mercados estrangeiros necessitam desenvolver uma estratégia de marketing global

que lhe permita que suas condições sejam proporcionais ao ambiente competitivo

em que ela se encontra no mercado internacional.

Keegan afirma que estratégias de marketing pode definir-se como o contra-ataque da empresa às realidades de seus públicos de interesse e às realidades do ambiente de negócios. Pipkin (apud KEEGAN, 1995)

Já Cavusgil e Zou indicam que estratégia de marketing internacional é o modo pelo qual a empresa responde a interação das forças internas às externas a fim de atingir os objetivos de um empreendimento internacional. Pipkin (apud CAVUSGIL, ZOU, 1994).

Desejos eNecessidadesDo cliente P & D Engenharia Produção Cliente

Page 18: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

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1.3 - ETAPAS DO PROCESSO DE FORMULAÇÃO DA ESTRATÉGIA DE

MARKETING

A análise estratégica conduz a firma às etapas subseqüentes do

planejamento de marketing estratégico internacional. Estas etapas são:

A) definição das metas; B) formulação dos planos; C) comprometimento dos

recursos; D) implementação; E) controle

A. Definição das Metas

“Para ser eficaz, um plano estratégico de marketing precisa ser desenvolvido

dentro de uma hierarquia de metas.” Pipkin (apud Urban e Star, 1991). “Neste

sentido, a firma determina suas metas empresariais nos mercados internacionais,

seguindo as alternativas do que é possível realizar e baseado nos valores

revelados por seus grupos de interesse, ou seja, seus acionistas, executivos

principais, empregados, entre outros”. Pipkin (apud Keegan, 2005).

Em nível corporativo, as metas são fixadas em termos do escopo de produto/mercado do negócio e os alvos da corporação como um todo. Contudo as metas corporativas precisam ser especificadas para cada uni-dade de negócios e constituírem-se em certos critérios que possam ser mensuráveis. Entre estes tem-se: a fixação de um determinado retorno sobre o investimento, a fatia de mercado a alcançar, entre outros. Evidentemente, a fixação das metas acontece em função da análise estratégica realizada sobre o mercado alvo. Tais metas devem estimular a unidade de negócios como um todo a comprometer-se com estas, no sentido de persegui-Ias com afinco e perseverança envolve a definição, por exemplo, do tipo de representante que irá atuar no exterior. Será um agente, atacadista ou varejista? Será necessário treinamento? De que espécie? Quais os recursos necessários? O sucesso na implementação dos planos estratégicos depende da sua disseminação, entendimento e aceitação através da organização como um todo. Pipkin (apud Urban e Star, 1991).

B. Formulação dos Planos

“Visando atingir um conjunto de metas nos mercados internacionais, a

organização deve gerar uma série de alternativas, avaliá-Ias e priorizá-Ias”. Pipkin

(apud Urban e Star, 1991).

Page 19: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

10

As estratégias competitivas genéricas de liderança em custos e diferenciação (Porter, 1989) podem ajudar a firma na elaboração de alternativas. Nesta etapa, a empresa deve preparar e integrar planos em cada área funcional do negócio. Estas áreas podem ser: recursos humanos, engenharia, produção, marketing, finanças, pesquisa e desenvolvimento, entre outras. Como exemplo da formulação de um plano de marketing no mercado internacional, pode-se citar o aumento do tamanho da força de vendas em 20 % em um mercado externo, através da nomeação de novos representantes neste mercado. O plano deve mencionar os recursos financeiros que estarão envolvidos nesta ação. É importante ressaltar que os planos estratégicos devem ser gerados para criar vantagem competitiva nos mercados internacionais e, da mesma forma, para conter as ameaças competitivas e ambientais. Esta vantagem competitiva será obtida direcionando as forças da firma (competências essenciais) em direção as oportunidades nos mercados externos, onde tais forças representam fatores chave do sucesso. Pipkin (Urban e Star, 1991).

C. Comprometimento dos Recursos

“Após o desenvolvimento de planos de marketing, a próxima etapa é a

obtenção e o comprometimento dos recursos para a implementação dos planos.

Nesta etapa, devem ser detalhados os orçamentos necessários a cada ação e os

resultados previstos em cada período de tempo para determinadas ações”.

(PIPKIN, 2000, p.40).

D. Implementação

Pode-se afirmar que a formulação de planos estratégicos e a implementação são as duas faces da mesma moeda. De nada adiantará a elaboração de brilhantes planos se estes não tiverem aplicações práticas no cotidiano das ações empresariais da firma. Na fase de implementação, os planos são ainda mais detalhados em ações específicas e, normalmente, com cronogramas mais curtos. No mercado internacional, um plano tático envolve a definição, por exemplo, do tipo de representante que irá atuar no exterior. Será um agente atacadista ou varejista? Será necessário treina-mento? De que espécie? Quais os recursos necessários? O sucesso na implementação dos planos estratégicos depende da sua disseminação, en-tendimento e aceitação através da organização como um todo. Pipkin (apud Urban e Star, 1991)

E. Controle

“Esta fase refere-se a um contínuo monitoramento das complexidades do

marketing internacional”. Pipkin (apud Cateora, 1996). “São comparados os

resultados obtidos na implementação com os planos formulados e, no caso de

desvios das metas principais, há um ajustamento destas ou um aumento dos

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11

esforços de implementação dos planos”. Pipkin (apud Urban e Star, 1991;

Keegan,1995). Uma questão chave no que diz respeito ao controle dos planos de

marketing é a medição de desempenho da firma nos mercados externos. Sorenson

e Weichmann (1975) em estudo na indústria de bens de consumo, concluíram que

a criação de uma vantagem competitiva nos mercados internacionais está ligada à

padronização do processo de marketing estratégico internacional. Na verdade, para

os autores, o conteúdo dos planos estratégicos é menos importante do que a

padronização do processo estratégico. Este processo fornece uma disciplinada

estrutura para a análise das oportunidades e ameaças nos mercados estrangeiros.

Permite que a empresa possa cruzar experiências, idéias e julgamentos de um

mercado para outro. Ou seja, o processo permite um consistente método intelectual

para se chegar a uma sólida decisão sobre os mercados externos. O processo

pode verdadeiramente ser padronizado em uma base internacional.

1.4 - OS TRÊS PRINCÍPIOS DO MARKETING

A essência do marketing pode ser resumida em três grandes princípios. O

primeiro identifica o objetivo e a tarefa do marketing; o segundo, a realidade

competitiva do mercado; e o terceiro, os meios principais de alcançar os dois

primeiros. Keegan os descreve dos seguintes modos:

1) Valor para o cliente e a equação do valor

A tarefa do marketing é criar, para o cliente, um valor maior que o criado pelos concorrentes. A equação do valor, mostrada na Figura 1-2, é um guia para essa tarefa. Como sugere a equação, pode-se aumentar o valor para o cliente expandindo ou melhorando os benefícios do produto ou serviço, reduzindo-se a preço ou por meio de uma combinação desses elementos. Empresas com uma vantagem de custo podem utilizar o preço como arma competitiva. O conhecimento do cliente associado ao processo de inovação e criatividade pode levar a uma oferta total que proporcione valor superior. Se os benefícios forem suficientemente fortes e valorizados pelos clientes, uma empresa não precisa ser um concorrente de preço baixo para conquistá-los. (KEEGAN, 2005, p.4)

2) Vantagem competitiva ou diferencial

Conforme Porter (1989, p.11),vantagem competitiva pode ser entendida como uma vantagem que uma empresa tem em relação aos seus concorrentes. Há porém diferentes correntes teóricas que explicam a vantagem competitiva. De modo mais técnico pode-se dizer que a vantagem competitiva é a ocorrência de níveis de performance econômica acima da média de mercado em função das estratégias adotadas pelas firmas.

Page 21: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

12

Algumas das teorias que já foram vinculadas à explicação da vantagem competitiva são o posicionamento estratégico, a teoria dos recursos, as teorias baseadas nos processos de mercado e as teorias de competências dinâmicas.

Com nítida vinculação mais a uma destas teorias, tem-se que a VC geralmente se origina de uma competência central do negócio. E que para ser realmente efetiva, a vantagem precisa ser:

1. Difícil de imitar, 2. Única, 3. Sustentável, 4. Aplicável a múltiplas situações

Exemplos de características de empresas que poderiam constituir uma vantagem competitiva incluem:

foco no cliente, valor para o cliente

qualidade superior do produto

distribuição ampla

alto valor de marca e reputação positiva da empresa

técnicas de produção com baixo custo

patentes, direitos autorais e de propriedade industrial

proteção do governo (subsídios e monopólio)

equipe gerencial e de funcionários superior

Há estudiosos que defendem que em um mundo competitivo que muda rápido, nenhuma destas vantagens pode ser mantida a longo prazo. Eles alegam que a única vantagem competitiva sustentável é construir uma empresa que esteja tão alerta e ágil que sempre irá encontrar uma vantagem, não importa que mudanças ocorram.

3) Foco

O terceiro princípio do marketing é o foco ou a concentração da atenção. O foco é essencial para obter êxito na tarefa de criar valor para o cliente na vantagem competitiva. Todas as organizações de sucesso, sejam elas grandes ou pequenas, tiveram êxito em seus resultados porque compreenderam e aplicaram esse grande princípio. A IBM foi bem-sucedida e se tornou uma grande empresa porque era mais claramente focalizada nas necessidades e desejos do cliente do que qualquer outra empresa na emergente indústria de processamento de dados. Um dos motivos da crise da IBM no início da década de 90 foi o fato de os concorrentes terem-se tornado mais focados que ela nas necessidades e nos desejos dos clientes.KEEGAN (2005 apud PORTER, p.16)

É preciso um foco claro sobre os desejos e as necessidades do cliente e a

oferta competitiva para mobilizar os esforços necessários a fim de manter a

vantagem competitiva. Isso só é alcançado focalizando ou concentrando os

recursos e os esforços na satisfação do cliente e em como fornecer o produto que

vem ao encontro dessa satisfação.

Page 22: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

13

FIGURA 1.2 - EQUAÇÃO DO VALOR

Fonte: MARKETING GLOBAL, 7ed. 2005, p. 04.

1.5 - MARKETING DOMÉSTICO X MARKETING INTERNACIONAL

Existem diferenças entre marketing doméstico e marketing internacional?

Para Pipkin (2000, p.17) uma das principais distinções referente ao

marketing doméstico diz respeito à realização dos planos de marketing em mais

algum país além do que a empresa se encontra. “Marketing Internacional é a

realização das atividades empresariais que direcionam o fluxo de bens e serviços

de uma empresa para seus consumidores ou usuários em mais de um país,

visando à obtenção de lucro”. Pipkin (apud Cateora,1996).

Segundo Pipkin (2000, p. 17) os conceitos e as ferramentas de marketing

internacional, podem se igualar às do marketing doméstico. Porém sua utilização é

muito diferenciada. É fundamental ter em mente que os ambientes internacionais

apresentam características distintas e incertezas. O mercado doméstico apresenta

uma gama de variáveis, que uma ação equivocada por parte da empresa pode se

tornar incontrolável. As políticas governamentais, as leis, a competição,

enquadram-se neste tipo de variáveis. Já a organização pode ser considerada

controlável, desde que o responsável pelas decisões define a alocação dos

recursos pelos departamentos da empresa. Além do mais, as variáveis do mix de

marketing (produto, preço, distribuição e promoção) são controláveis, pois estão

sob o gerenciamento do executivo da empresa.

Quando uma empresa começa a trabalhar em um mercado estrangeiro,

existe uma consideração relevante ao nível de incerteza, tanto para com seu

mercado doméstico quanto para o mercado externo em que a empresa opera. As

variáveis incontroláveis pertencentes ao ambiente externo são as que possuem um

efeito direto sobre o resultado de um empreendimento internacional, como as

Page 23: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

14

forças políticas, a estrutural legal e o ambiente econômico.

1.5.1 - MARKETING GLOBAL: O que é e o que não é

Segundo Keegan (2005, p.5), mesmo que a disciplina de marketing seja

universal, os mercados e os clientes são bem distintos. Isso quer dizer que a

implementação do marketing deve variar de mercado para mercado. As pessoas e

o ambiente se tornam um. A diferença existente quer dizer que não podemos

sempre aplicar diretamente experiências de um país a outro. Se os clientes,

concorrentes, canais de distribuição e meios disponíveis são diferentes, será

possível que se mude o plano de marketing.

Empresas que não têm consciência disso muitas vezes aprendem da maneira mais dolorosa, transferindo experiências irrelevantes de um país ou região para outro. A Nestlé, por exemplo, quis transferir seu grande sucesso com uma linha de café de quatro sabores da Europa para os Estados Unidos. Seus concorrentes nos Estados Unidos ficaram muito felizes: a transferência levou a um declínio de 1 % em sua participação no mercado norte-americano. Keegan (apud Raymond,2005) 3

De acordo com Keegan, uma tarefa importante do marketing internacional é

entender e perceber até onde seus programas e estratégias de marketing podem

ser expandidos mundialmente, assim como devem aprender o quanto devem ser

adaptados.

Muito da controvérsia envolvendo o marketing global, data do artigo antológico de Theodore Levitt ,publicado em 1983 na Harvard Business Review, ‘A globalização dos mercados’. Levitt argumentou que os profissionais de marketing enfrentam uma ‘Aldeia Global Homogeneizada’ e aconselhou as organizações a desenvolver produtos mundiais padronizados de alta qualidade e vendê-los em todo o mundo utilizando propaganda, preços e distribuição padronizados. Alguns fracassos bastante divulgados, como o da Parker e de outras empresas que tentaram seguir os conselhos de Levitt, geraram dúvidas sobre suas propostas.Alguns observadores questionaram a visão de Levitt. Por exemplo, Carl Spielvogel, presidente da agência de propaganda Backer Spielvogel Bates Worldwide, disse ao Wall Street Journal: ‘O comentário do Theodore Levitt sobre o mundo se tornar homogeneizado é balela. Há uns dois produtos que se deixam comercializar globalmente - e um deles é a Coca-Cola’.4

De fato, foi o marketing global que fez da coca-cola um sucesso mundial.

Mas é bom lembrar que esse sucesso não foi conseguido com a padronização

3 Keegan (2005, p.5). Entrevista com Raymond Viault, vice-presidente da General Mills, Inc.4 Keegan (apud Joanne Lipmam, Wall Street Journal, 12 de Maio de 1988, p.1)

Page 24: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

15

completa dos elementos do mix de marketing. O sucesso da coca-cola deve-se a

sua capacidade de ser ao mesmo tempo “global e local”.

1.5.2 - A IMPORTÂNCIA DO MARKETING GLOBAL

Muitas empresas já aceitaram a idéia de o quanto é importante conduzir

atividades econômicas fora do país de origem. Setores cujos âmbitos que alguns

anos atrás eram estritamente nacionais, hoje são dominados por algumas poucas

empresas multinacionais. O surgimento da organização global segue quase o

mesmo padrão do surgimento da empresa nacional.

As organizações estão se conscientizando que o empreendimento fora de

seus paises de origem se tornou uma questão de sobrevivência das empresas.

1.6 – ALIANÇAS E PARCERIAS

Desde a segunda guerra mundial, iniciou-se um enorme interesse entre os

países pela cooperação econômica. Interesse que foi estimulado pelo sucesso da

comunidade européia, que por sua vez foi estimulada pela economia norte-

americana. Existem muitos níveis de cooperação econômica, que vai desde um

acordo entre dois países ou nações para a redução de barreiras comerciais até a

integração completa de duas ou mais economias nacionais.

O arranjo mais conhecido no começo do século XX foi o sistema da comunidade britânica. Esse sistema assentava as bases para o comércio entre Grã-Bretanha, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Índia e algumas antigas colônias britânicas na África, na Ásia e no Oriente Médio. (KEEGAN, 2005, p.41)

Porém esse sistema teve fim com a entrada da Grã-Bretanha na

comunidade econômica européia, demonstrando como a cooperação econômica

internacional entre nações sofre constante evolução.

Entre as implicações de alianças econômicas para o marketing podem estar à padronização de embalagens, uma moeda comum que permita aos consumidores comparar preços entre os países e um desenvolvimento econômico que crie um maior número de consumidores com acesso a produtos. (KEEGAN, 2005, p.41)

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16

1.7 – BLOCOS ECONÔMICOS

Com a globalização da economia mundial, a tendência entre os países é a criação

de blocos econômicos, com a finalidade de facilitar o comércio entre os membros.

Os blocos econômicos são uniões de países que tem como objetivo a integração

econômica e/ou social, que estão classificados em quatro níveis de cooperação.

a) Área de livre comércio: É um grupo de nações ou países que fizeram

um acordo para extinguir todas as barreiras internas do comércio

entre eles. Podendo manter políticas comerciais independentes com

países que não pertencem ao bloco.

b) União alfandegária: A união alfandegária representa uma evolução

lógica da ALC. Além de eliminar as barreiras internas ao comércio, os

membros concordam em estabelecer barreiras externas comuns. O

Mercosul é um exemplo de união alfandegária.

c) Mercado comum: O mercado comum ultrapassa as barreiras internas

de comércio e do estabelecimento de barreiras externas comuns.

Nesse nível, extingui-se as barreiras ao fluxo de fatores (mão-de-obra

e capital) dentro do mercado. Um mercado comum inicia-se com a

eliminação das barreiras tarifárias internas e estabelecendo barreiras

externas comuns. Buscando coordenar as políticas econômicas e

sociais dentro do mercado para permitir o livre fluxo de mão-de-obra e

capital entre os países. Um mercado aberto é criado não apenas para

mercadorias, mas também para serviços e capital.

d) União econômica: A evolução completa de uma união econômica

envolveria a criação de um banco central unificado, a utilização de

uma moeda única e políticas comuns no que diz respeito à

agricultura, serviços sociais, desenvolvimento regional, transporte,

impostos, concorrência e fusões, construção civil e assim por diante.

Uma união econômica completamente desenvolvida requer uma

união política abrangente, que a torne similar a uma nação. A junção

plena dos países que seriam membros de uma união econômica

desenvolvida seria a criação de um governo central que uniria

estados independentes numa só estrutura política. A união européia

Page 26: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

17

está próxima de superar as últimas barreiras para criação de uma

união econômica plena.

Os principais blocos econômicos são ALCA (Área de livre comércio das

Américas), EU (União Européia), MERCOSUL (Mercado Comum do Sul) e NAFTA

(Tratado Norte-Americano de Livre Comércio).

1.8 – ECONOMIA GLOBAL (GLOBALIZAÇÃO)

A globalização é um dos processos de aprofundamento da integração

econômica, social, cultural, política, com o barateamento dos meios de transporte e

comunicação dos países do mundo no final do século XX e início do século XXI. É

um fenômeno gerado pela necessidade da dinâmica do capitalismo de formar uma

aldeia global que permita maiores mercados para os países centrais (ditos

desenvolvidos) cujos mercados internos já estão saturados.

O processo de Globalização diz respeito à forma como os países interagem

e aproximam pessoas, ou seja, interliga o mundo, levando em consideração

aspectos econômicos, sociais, culturais e políticos. Com isso, gerando a fase da

expansão capitalista, onde é possível realizar transações financeiras, expandir seu

negócio até então restrito ao seu mercado de atuação para mercados distantes e

emergentes, sem necessariamente um investimento alto de capital financeiro, pois

a comunicação no mundo globalizado permite tal expansão, porém, obtêm-se como

conseqüência o aumento acirrado da concorrência.

Com a capacidade cada vez maior que todos nós temos de nos comunicar rápida e precisamente, além da diminuição das barreiras comerciais e do estabelecimento de blocos comerciais mundiáis, os negócios tornaram-se globalizados. Assim sendo, a globalização tem um impácto não apenas sobre os parceiros do canal que, na realidade, estabelecem operações além das fronteiras nacionais, mas também sobre todos os outros membros do canal, que ajudam a suprir a necessidade dos consumidores de produtos e serviços no mundo todo. (Coughlan, Stern. 2001. p.297).

Sob o ponto de vista competitivo, é impossível dizer que um negócio local

mesmo que suas aperações estejam voltadas dentro das fronteiras de seu país de

origem.

Page 27: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

18

1.8.1 – BARREIRAS ECONÔMICAS.

O comércio internacional é necessário porque nenhum país dispõe de todos

os recursos naturais para seu sustento. Apesar disso, essa atividade defronta com

uma série de barreiras.

Barreiras como: diferença de idioma, culturas, moeda, pesos e medidas,

legislação, entre outros.

Segue abaixo, alguns exemplos de barreiras econômicas:

A) Proteção à produção: Aumento do imposto aduaneio;

B) Proteção a exploração da natureza: Aumento dos impostos sobre a

extração de matéria prima.

C) Proteção ao trabalho: Permissão e/ou proibição de entrada de trabalhador

estrangeiro no país.

D) Proteção ao capital: Controle da inflação e fortalecimento da moeda.

1.9 – DIFERENÇAS CULTURAIS.

Segundo Maia (2004 apud Edward,1976, p.66-97), a cultura de uma

sociedade tem uma influência enorme e ao mesmo tempo mutável sobre cada

ambiente de mercado nacional. É necessário reconhecer a influência da cultura

sobre todos os aspéctos da vida, incluindo hábitos de trabalho e consumo de

produtos.

As nações podem ser classificadas como culturas de alto ou baixo contexto;

os estilos de comunicação e negociação podem ser diferentes de um país a outro.

O marketing global teve um papel importante na velocidade de mudanças

culturais ao redor do mundo. Isso é particularmente verdadeiro quanto aos

alimentos, mas inclui praticamente todo o setor, em particular o de comunicações e

de produtos de consumo.

Embora a cultura também possa afetar as características dos produtos

industriais, ela é mais importante como influência sobre o processo de marketing,

especialmente na maneira como são conduzidos os negócios.

Page 28: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

19

CAPÍTULO II

2.0 – MARKETING RURAL

2.1 – OS PRIMÓDIOS DO MARKETING RURAL

Para Pérsio Padovan (Revista Recall, 2006. ed.47, p.7) a preocupação com

o marketing rural iniciou-se na década de 70, quando alguns agrônomos

divulgavam seus produtos sem muito conhecimento das técnicas de publicidade.

Hoje, o setor está mais profissionalizado e conta com diversos eventos específicos

para este mercado, entre eles os dias de campo e as demonstrações dinâmicas,

como a Agrishow, a maior feira de agronegócios5 da América Latina, realizada na

cidade de Ribeirão Preto - SP.

A preparação de uma estratégia de marketing rural tem de ser planejada

com muita antecedência. Esses eventos servem para que o agricultor e o

pecuarista demonstrem os benefícios e a eficácia de seus produtos que são tão

importantes quanto um bom trabalho de mídia; mesmo assim, há exposições

agropecuárias que necessitam ser mais bem aproveitadas, pois algumas delas

transformaram-se em apenas encontros sociais e perderam sua verdadeira

identidade.

Este setor da propaganda possui pouco glamour e alto risco, já que em algumas ocasiões é necessário apostar tudo em uma única safra. O produtor também é inseguro em ocasião de depender demais dos fatores climáticos para obter sucesso. Como se não bastassem todas essas dificuldades, ele também tem de arcar com o custo de todos os insumos, mas não pode determinar o seu preço ideal, que é feito por seis ou sete empresários que atuam na bolsa de valores. Nem com o subsídio do governo que ganhava no passado, o produtor pode contar, (Padovan,2006,p.7).

As próprias empresas reconhecem a demora para perceber a importância do

marketing rural e algumas acordaram em função da acirrada concorrência que se

consolidou no mercado ao longo dos últimos anos.

5Agronegócio é toda relação comercial e industrial envolvendo a cadeia produtiva agrícola ou pecuária.

Também chamado de agribusiness, é o conjunto de negócios relacionados à agricultura dentro do ponto de vista econômico.(http://pt.wikipedia.org)

Page 29: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

20

A Agroplanta, empresa de micro-nutrientes de Batatais, sempre participou de

feiras e congressos do setor, mas não tinha um departamento específico para

marketing. “Agora a situação mudou, criamos este departamento e já temos

projetos nacionais de mídia impressa e televisiva para vários produtos,

dependendo de sua sazonalidade”. “... a soja, por exemplo, teve um aumento de

produtividade e estamos preparando uma campanha para este produto, que será

veiculada no segundo semestre. Também organizamos dias de campo, em

parceria com fundações de pesquisa”, Marcio Garcia Fernandes, gerente comercial

da Agroplanta.

A Dow AgroSciences, empresa que trabalha nos segmentos de produtos

agroquímicos e sementes, também realiza seu “Dia Dow no Campo”

periodicamente, conseguindo reunir os mais importantes produtores agrícolas do

Brasil para uns dias de aprimoramento técnico e apresentação de produtos.

“Investimos pesado em pesquisa e queremos que os agricultores nos enxerguem

como parceiros, atualmente e no futuro, pois temos muito a contribuir”, explica o

diretor de marketing da Dow AgroSciences, José Manuel Arana. Os investimentos

aplicados em pesquisas e publicidade, em alguns casos, não chegam ao

conhecimento do grande público. É correto dizer que a preocupação com o

marketing rural aumentou, agências e produtores procuram cada vez mais canais e

veículos específicos para a divulgação das campanhas publicitárias. “Poucas

empresas usam a mídia nacional, pois conseguem falar com apenas 5% do público

que realmente interessa a elas. A maioria prefere anunciar em veículos e

programas como o Canal do Boi, Canal Rural ou Globo Rural”, argumenta o diretor

da Duprat Propaganda, Jorge Duprat, que se especializou em marketing rural há

quatro anos e atende vários clientes do setor como Lagoa da Serra (inseminação

artificial), De Laval (equipamentos para extração de leite) e Sloten (leite em pó para

bezerros). Mas como proceder para que o consumidor final distinga as diferenças

entre produtos aparentemente iguais? Afinal de contas, para ele soja será sempre

soja, milho sempre milho e açúcar sempre açúcar, independentemente do lugar

que venha. Para isso, agricultores e criadores de gado se utilizam da técnica da

rastreabilidade, muito difundida na Europa e que começa a ganhar espaço no

Brasil. “Os produtores estão colocando nas embalagens de carne e grãos todas as

informações possíveis, como a raça do animal, idade que foi abatido, local da

Page 30: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

21

plantação ou da criação. Essa sofisticação agrega valor e pode ser decisiva na

hora da compra”, diz Duprat. O publicitário José Breda Ferreira Filho, diretor da

agência NW3, concorda com esta tática que é muito eficaz. “Quando se trabalha

com a comercialização de commodities, cada produto deve ter uma característica

especial que o diferencie dos demais, como a citada anteriormente, ou uma atitude

nele embutida de responsabilidade social do produtor”, analisa Breda, que atende a

Companhia Energética Santa Elisa e a Cristalsev, responsável pela

comercialização de açúcar e álcool de nove usinas. Seja na pecuária, na

agricultura ou em qualquer outra área rural, o marketing tornou-se indispensável e

os produtores rurais finalmente chegaram à conclusão de que não basta saber

produzir, é necessário saber vender também.

2.2 – CONCEITO DE MARKETING RURAL

Segundo o site Portal da Comunicação Empresarial

(www.comunicacaoempresarial.com.br)6, o marketing rural abrange todas as ações

desenvolvidas para a venda de produtos e serviços agropecuários e para a fixação

de uma imagem positiva das empresas que atuam no setor.

O marketing rural obteve grande impulso, tendo em vista a importância

crescente do agronegócio particularmente no Brasil, assim como em todo o mundo,

onde o PIB Agropecuário é elevadíssimo, respondendo o setor pela maior parte da

balança comercial brasileira.

As grandes empresas têm trabalhado, com competência, o marketing rural,

promovendo ações e atividades perante aos diferentes públicos, através de

eventos (feiras, exposições, dias de campo etc.), campanhas publicitárias e um

trabalho de assistência e comunicação junto com os produtores rurais.

No Brasil, existe a Associação Brasileira de Marketing Rural - a ABMR, que

esta realizando um ótimo trabalho no sentido de agregar a massa crítica e

desenvolver pesquisas de interesse de todas as organizações que atuam nesta

área.

6 Acesso em 28 de julho de 2008.

Page 31: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

22

Existem restrições, ainda, no entanto, as empresas agroindustriais,

particularmente as que não conseguiram se profissionalizar, perceptivelmente em

seu esforço de comunicação e marketing, porque essas empresas permanecem

apegadas a uma visão conservadora, muito discreta e menos interessadas em

compartilhar informações com toda a sociedade e formadores de opinião.

O setor também requer um aumento do número de pesquisas, que

contemplem o setor (penetração dos veículos voltados para o produtor rural,

hábitos de consumo e pesquisas de recepção etc.) e de um planejamento que

inclua, no mix de comunicação/marketing, mais atividades que não sejam as

convencionais (publicidade na mídia especializada).

Existe ainda a importância à ser dada para o setor do agronegócio que ainda

é tímido às ofertas relacionadas a canais de comunicação direcionadas no

agronegócio, como o número de suplementos de agrobusiness nos jornais, títulos

de revistas, o espaço nas grandes revistas de informação geral, na programação

das rádios e das televisões e de veículos especializados, sob a responsabilidade

de algumas empresas, institutos de pesquisa e universidades que tem como foco

prioritário esta temática é ainda bastante reduzido. Este trabalho tende a crescer

tendo como exemplo o que ocorre em países com maior desempenho nesta área.

Percebe-se, porém, um enorme avanço na Web, com o surgimento de

diversos portais e de serviços de noticias, o que deixa entrever um futuro muito

promissor para o Marketing Rural no Brasil.

O conceito de Marketing Rural tem de ser visto no sentido amplo em que não apenas as empresas que produzem insumos ou produtos ou prestam serviços, mas as universidades, os institutos de pesquisa, o sistema financeiro, as cooperativas, as ONGs, as empresas dedicadas à agricultura familiar, empresas estaduais de pesquisa agropecuária, secretarias de agricultura e o próprio Ministério e inclusive, as publicações da área, que nem sempre conseguem se impor junto aos potenciais anunciantes.(XAVIER, 2003)

Para Lúcio Lambranho (2003, p.12), o investimento em marketing para o

agronegócio brasileiro está concentrado na "porteira para dentro" e, por causa

disso, é feito quase que exclusivamente pelas empresas e segmentos de insumos

(defensivos, fertilizantes, máquinas e nutrição animal). É o que pode ser percebido

Page 32: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

23

em praticamente todos os participantes e finalistas desse ano da Mostra da

Associação Brasileira de Marketing Rural (ABMR). Segundo a organização, essas

empresas investem alto: 2,3% das vendas anuais (entre US$ 10 bilhões e US$ 12

bilhões) em marketing, algo em torno de US$ 230 milhões e US$ 250 milhões por

ano.

Não se pode negar o esforço do Governo Federal e do setor privado em

projetos de promoção das exportações no agronegócio, como são os casos do

Brazilian Fruits, a Cachaça Brasileira e o Florabrasilis. Mas ainda é pouco para um

país que necessita gerar um volume cada vez maior de empregos, que poderiam

ser supridos em parte pelo crescimento das agroindústrias. Ou que ainda concentra

uma massa de subnutridos e, portanto, tem no mercado interno para o consumo de

alimentos um enorme potencial. Para sobreviver contra uma logística inadequada e

com o excesso da carga tributária, o empreendedor rural caminha no escuro – ou

em cooperativas – quando pretende alcançar sozinho ao consumidor final, almeja

agregar valor aos seus produtos, mas ainda está muito longe de ter a possibilidade

de criar sua marca própria.

Com foco nesses problemas, empresários rurais têm trabalhado para criar

uma boa imagem dos produtos do agronegócio brasileiro, principalmente em ações

voltadas ao controle da qualidade, à certificação de origem e do aumento constante

de produtividade.

Segundo o Presidente da Associação Brasileira de Marketing Rural e do

Agronegócio (ABMR&A), José Luiz Tejon Megido; que concedeu uma entrevista7

ao jornalista Gerson de Freitas Jr. para a revista Agrinova , ele faz um alerta: “...ou

o Brasil começa a se preocupar em como é percebido pelos consumidores ou

ficará em uma posição debilitante no mercado internacional em alguns anos”.

Dependente de exportações de commodities, como a soja, o Brasil anda na

contramão dos países desenvolvidos, que buscam agregar valor aos seus

produtos. Também não trabalham informações importantes para entusiasmar a

decisão dos consumidores mundiais, como questões atreladas à sustentabilidade,

por exemplo. Para mudar esse panorama, defende o especialista, é preciso uma

7 MEGIDO, José Luiz Tejon. Marketing Rural. Revista Agrinovaweb (www.agrinovaweb.com.br), 26/08/2004. Entrevista concedida a Gerson de Freitas Junior. Acesso em 18/08/2008.

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24

integração das lideranças do agronegócio brasileiro em torno de um plano de

marketing da produção.

As idéias de José Luiz Tejon Megido, nessa entrevista, podem ser

abreviadas do seguinte modo:

Do ponto de vista do marketing, o agronegócio pode ser analisado como

muito bem feito em algumas partes e deficiente ou até mesmo alheio em outros. O

marketing rural é muito aberto, forte e bem-conduzido pelas empresas de insumos

e serviços para a agropecuária, como BUNGE, CARGILL, TORTUGA. Nelas

existem uma capacidade estabelecida em 30 anos de experiência. Ou seja, o setor

antes da porteira é bem organizado, tem pesquisa de mercado, segmentações,

canais e um trabalho de comunicação muito bem feito, ajustado com o que existe

de melhor no mundo. Em contrapartida, existe uma deficiência muito grande na

área do marketing da produção agropecuária brasileira8. Há necessidade de

desenvolvermos organizações e empresas competitivas que disputem mercados de

alta renda com produtos processados e de valor agregado. Portanto, são dois

pontos: o marketing antes da porteira, que já existe, e o dentro dela, em que somos

muito leigos.

A seriedade de se pensar em marketing parte do seguinte princípio, você

não tem o domínio do negócio enquanto não estabelece conexão emocional e

racional com as pessoas que tomam as decisões e tiram o dinheiro do bolso para

comprar seu produto. Essa é o coração do marketing: desenvolver mecanismos de

segurança do negócio que estão, em última instância, ligados à preferência de

marca, de produtos e pessoas. Nesse sentido, os agricultores são praticamente

zero. Não fazemos nada e não temos um estudo cientifico de como somos

percebidos ou potencialmente notados em vários mercados do mundo, como

também não temos uma ação do mercado interno brasileiro para promoção,

educação organizada para consumo de alimentos. As conseqüências dessa

estagnação são que o mundo tende a escapar da visão de commodities para que

tenha não só a possibilidade de obter ganhos maiores, mas também de ser

associado, definido como algo que fique na mente das pessoas. Ao não fazermos

essa tarefa, tornamo-nos alvos dos nossos concorrentes que, de maneira muito

fácil, utilizam problemas que temos em alguns campos, como o do meio ambiente, 8 Ver tópico 3.6 para entender os problemas da marca Brasil.

Page 34: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

25

reforçando nossos lados negativos na percepção dos clientes. Através da nossa

omissão, tanto em reforçar os aspectos positivos como em trabalhar algumas

coisas decisivas, como a questão da sustentabilidade, acabamos sendo vistos

como um celeiro, de grande capacidade produtiva, mas sempre será desejado

como produtor de produtos baratos, fora da ótica da diferenciação.

É preciso saber de quem é a responsabilidade de operar esse marketing. O

produtor, solitariamente, é muito fraco para fazer alguma coisa. Ele precisa

trabalhar de forma associativa. Só assim ele terá condição de operar seu

marketing. Enquanto o maior inimigo do brasileiro for o próprio, não iremos

conseguir estabelecer ações concretas. Os principais agentes são as cooperativas

e associações de produtores, que necessitam ter um papel organizador e não

apenas reivindicador, como era no passado. Eles precisam atuar com os

fundamentos do marketing, fazer pesquisa, descobrir o que o consumidor pensa a

nosso respeito e sobre nossos concorrentes, saber por que uma companhia

internacional colocaria na embalagem que seu produto é originário do Brasil.

Colocaria? É bom ou ruim? Enquanto isso, o produtor tem de questionar sobre o

assunto na sua cooperativa, fazer pesquisa, olhar seus concorrentes, ver o que

eles fazem. Ele precisa informar-se, não pode ser um ignorante em marketing,

achar que é errado. Isso leva tempo, pois é recente na história do Brasil. Poucos

brasileiros trabalham marketing de fato, mas a gente aprende rápido. Acredito que

em cinco anos iremos ter uma melhora dessa percepção.

Em outra entrevista9 concedida a Revista Marketing Place (2004), José Luiz

Tejon Megido fala sobre o Salto Qualitativo que o setor deve apresentar para

assumir a liderança mundial.

Os resultados significativos do campo nos últimos anos, que ajudam a

manter superavitária a balança comercial, estimulam novas ações da Associação

Brasileira de Marketing Rural (ABMR), procurando a maior profissionalização da

atividade. Especializado em agribusiness pela Harvard Business School, o

jornalista e publicitário José Luiz Tejon Megido foi um dos fundadores da entidade,

em 1979. O empenho em fortalecer a agropecuária nacional, tornando-a

9 MEGIDO, José Luiz Tejon. Salto Qualitativo. Revista Marketing Place, (http://gazetaonline.globo.com/ marketingplace/entrevista.php), 26/04/2004. Entrevista concedida a Revista Marketing Place. Acesso em 21/08/2008.

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26

competitiva no exterior, fez com que ele assumisse pela segunda vez a sua

presidência. O retorno ao cargo está marcado por uma mudança de nomenclatura.

"Incorporamos o termo 'agronegócios' para focar o lado business e mantivemos o

'rural', denotando o estilo de vida ambientalista", diz Megido, que também dirige a

Oesp Mídia, do Grupo Estado. A seguir, ele fala sobre a necessidade de um salto

qualitativo para buscar a liderança mundial no setor e as razões que fizeram do

país um sucesso em colheita. A produção nacional de grãos cresceu cerca de 80%

em dez anos, passando de 69,2 milhões de toneladas em 1992/1993 para 122,3

milhões na última safra, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento

(Conab). No período, a colheita de soja duplicou, atingindo 52 milhões de toneladas

em 2002/2003. Para a atual produção, o IBGE estima novo recorde, com 132

milhões de toneladas.

Para Megido (2004), a relação entre o desenvolvimento do marketing rural e

a expansão agrícola dos últimos anos existe, pois o agronegócio no país

desenvolveu-se por causa de três aspectos: em função de ter tomado para si as

rédeas, independentemente de planos diretores e de governos; pela capacidade

empreendedora do empresário brasileiro, que é exclusiva dentro da América

Latina; e por causa da existência de uma educação competente para o setor, com

boas escolas de agronomia e medicina veterinária. Tudo isso colaborou para os

excelentes índices de produtividade que adquirimos hoje. Para se ter uma noção

do crescimento da produção agropecuária quando criamos a ABMR, a safra de

grãos era de cerca de 50 milhões de toneladas. Em duas décadas e meia, ela

atingiu 120 milhões.

Megido (2004) acredita que o país precisa fazer pelo setor é ampliar a

comunicação do produtor rural com a cidade. Essa é a maior dificuldade. Como

exemplo de sucesso tem o do pessoal do gado Nelore, que mostrou, com o auxílio

de ações de marketing, que a carne de boi alimentado com pasto está isenta de

problema da vaca louca. Nós precisamos de inúmeras associações, dos mais

diversos tipos, fazendo a ligação com o consumidor urbano. Isso pode ser

transferido para o mercado externo, para que o Brasil seja notado como um país

que produz um café extraordinário, uma soja de ambiente controlado, uma carne

de pecuária de boi de pasto natural. Precisamos dar um salto qualitativo, de

agregação de valor mental. Porque a carência de comunicação pode afetar a

Page 36: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

27

liderança do Brasil nesses mercados, mesmo sendo um obstáculo futuro, pois até

hoje, com essa estrutura atingimos o topo. Não precisamos provar nada para

ninguém do ponto de vista de produção. Para alcançar esses resultados foi

promovido um marketing fundamentalmente 'antes da porteira'. Empresas como

Tortuga, Ultrafértil e Agroceres investiram muito em ações desse tipo, a partir da

década de 70, para repassar o conhecimento técnico aos produtores rurais. Agora

precisamos de mais. Devemos mixar nossa capacidade de produção com o charme

de marcas famosas. O Brasil tem de tornar-se referência do ponto de vista

internacional.

Megido (2004) diz que o caminho para atingir isso é levar o marketing do

dentro e do pós-porteira para a mente dos consumidores do Brasil e de outros

países, já que o utilizamos antes, dentro e depois da porteira da fazenda. Tivemos

exemplos históricos de alternativas internacionais que substituíram os nossos

produtos. Na medida em que não se tem o controle das mentes sobra apenas a

capacidade produtiva. Quando o tema é como o mercado internacional enxerga os

produtos brasileiros, Megido analisa que o país tem aproveitado as brechas que

surgem decorrentes de acidentes na saúde animal, como os recentes problemas

da vaca louca e da gripe do frango. Graças ao clima tropical, com uma natureza

espetacular, há um perfeito envolvimento entre os animais e o meio ambiente. Mas

precisamos, além de explorar essa potencialidade, utilizar ferramentas de

marketing no exterior. Qualquer informação negativa referente ao Brasil, mesmo

que não relacionada ao agronegócio, como corrupção no governo, pode prejudicar

a imagem do produto.

Para Megido (2004) o valor do investimento em marketing rural no Brasil é

um número impossível de ser determinado, porque o marketing vai além da

propaganda. Quando falamos em comunicação na atividade do agronegócio,

estamos abordando o conceito integrado das ferramentas no desenvolvimento de

toda produção. O agronegócio envolve cerca de um terço do PIB brasileiro. E

dentro desse um terço, aproximadamente 70% é constituído de produto pós-

porteira da fazenda, 20%, de dentro da porteira e 10% é de insumo e bens de

produção.

Page 37: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

28

O marketing agropecuário nacional surgiu por aqui desde a época do

Descobrimento. Quando os navegadores portugueses faziam o transporte, a

logística e a distribuição do pau-brasil, trabalhavam com um tipo de agronegócio e,

portanto utilizavam ferramentas de comunicação. Mas o marketing rural mais

moderno, tal como o vemos hoje, surgiu no país a partir da revolução tecnológica,

na década de 60, quando as empresas apresentavam as primeiras inovações em

termos de insumos, como adubos, sementes e máquinas agrícolas. A Associação

Brasileira de Marketing Rural nasceu no final da década de 70, acompanhando

também a sofisticação dos veículos de comunicação.

Os principais cases da área são entre eles a Manah, a empresa que mais

trabalhou a percepção de sua marca sob a perspectiva da mente do consumidor

urbano, com o famoso slogan "Com Manah, adubando dá", que patrocinava o

programa "Jovem Guarda", da TV Record, nos anos 60. Outro grande símbolo foi a

Ultrafértil, que fez um trabalho marcante com os seus fertilizantes. O conhecido

"Valeu, Vallé" foi também um trabalho interessante na área veterinária, de combate

à aftosa. Podemos citar ainda vários exemplos, como a Agroceres, a Massey, a

Tortuga e a Treflan, da Elanco.

A evolução da comunicação do agronegócio nos últimos 30 anos pode ser

descrita da seguinte forma: Na década de 70, as empresas investiam bastante em

marketing rural focado para um consumo de massa de insumos. Com o passar do

tempo, e depois de perceberem uma sofisticação maior do produtor, do ponto de

vista de obtenção de informações, passaram a priorizar a comunicação sob o ponto

de vista one to one, ligada ao marketing direto, voltada às relações entre

fabricantes, distribuidores e produtores.

O que caracteriza o marketing para o agronegócio não se diferencia muito

para os demais setores, o fundamento do marketing é um só: trabalhar em função

da percepção do cliente. O que há no meio rural são algumas adaptações próprias

dos agentes envolvidos. Mas a essência é a mesma. Tudo que o consumidor

urbano come, bebe ou tem oriundo da matéria-prima animal ou vegetal, faz parte

dessa ferramenta. É um processo interligado. Megido costuma dizer que o

marketing do agronegócio inicia-se no geneticista e termina na mente do

consumidor final, que define se irá tomar suco ou refrigerante, leite ou chá.

Page 38: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

29

Para Megido (2004) a mudança mais significativa no perfil do produtor rural

nos últimos anos foi a informatização dos produtores de elite já é uma realidade,

pois todos eles fazem controle de administração pelo computador e utilizam a web

para se informar por meio de serviços tipo AgroCast da Agência Estado. A

utilização da internet também é total nas relações das empresas de insumos com a

rede da revenda. O comando do agronegócio brasileiro e mundial dá-se através

dos sistemas de troca de informações via computadores. Para os produtores rurais

de menor porte existe alternativas, como o acesso comunitário da internet. Por

meio dos jovens, isso está se acentuando.

Quando perguntado - Qual lição os produtores rurais podem tirar da crise da

Parmalat, que investiu bastante em marketing? Megido respondeu.

“Muitos produtores de leite, no interior do país, se integraram ao sistema da multinacional,

fornecendo o produto exclusivamente as suas unidades de beneficiamento. Não se deve delegar o

vínculo com o consumidor, deixando a cargo apenas dos grandes agentes. Os produtores rurais

precisam pensar enquanto cooperativa, enquanto associação, para promover uma estratégia de

marketing junto ao mercado”.

Carlucci (2002) afirma que a ABMR tem, feito para motivar o

profissionalismo no segmento, realizado uma série de seminários e de encontros,

onde acontece um diálogo entre os profissionais de marketing do setor, com muita

troca de informações. Também promovemos a única mostra de comunicação rural

existente no país para difundir novidades. Além do mais, fizemos uma pesquisa

para definir o perfil do produtor rural brasileiro. Apoiamos, ainda, iniciativas de

cursos de agronegócios na área de marketing. Um deles foi criado pela ABMR em

parceria com a ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing). E que os

planos futuros será cada vez mais, estar ao lado de organizações que trabalham

metodologicamente o problema da gestão do agronegócio, como exemplo o caso

do Pensa (Programa de Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial), da USP

(Universidade de São Paulo). Pessoalmente, tenho um trabalho com a

Universidade de Negócios do Rio Grande do Sul do SEBRAE (Serviço Brasileiro de

Apoio às Micros e Pequenas Empresas), na qual estamos fazendo estudos de

casos em agronegócio. Já promovemos dois, com a SLC e Arroz Tio João. Todos

os diretores e os profissionais ligados à associação participam de encontros e

Page 39: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

30

seminários. Afinal, os negócios estão em risco quando o marketing é realizado sem

profissionalismo.

A Colômbia investe anualmente 20 milhões de dólares para promover seu

café, e o Brasil, maior produtor e exportador, investe somente em torno de 10%

desse valor para vender seu produto, afirma Carlucci (Revista Globo Rural).

Carlucci (2002), ex-presidente da ABMR (Associação Brasileira de Marketing

Rural) em entrevista10 para revista AG Leilões conta que o nó do mercado do

mercado de comunicação rural brasileira não é o número de revistas e programas

de rádio e televisão que tem aumentado. Vemos mais profissionais de publicidade

envolvidos com o marketing rural. A comunicação rural brasileira está num bom

caminho. O problema está em avaliar o resultado do investimento e ser traduzido

em negócios. O marketing rural é dividido em três partes: antes, dentro e depois da

porteira. Na primeira, que são as empresas de insumos, máquinas e serviços, os

investimentos atingem, em média, 2,3% do faturamento. O “depois da porteira” é

representado pelas agroindústrias em alimentos processados, embora não

tenhamos dados sobre esses investimentos. Por último, temos o “dentro da

porteira”, onde o investimento é quase insignificante. Durante o VII Congresso

Brasileiro de Marketing Rural, a conclusão foi de que a auto-estima do homem do

campo é baixa, devido ao não reconhecimento do esforço feito pelo agronegócio.

Este é o maior setor da economia, representando 27% do PIB brasileiro em 2001 e

empregando 37% da mão-de-obra produtiva do País. Mesmo assim, quando se fala

em agropecuária, tem-se a impressão errônea de que o homem do campo só quer

proteção, que é formado por um monte de caipiras, que só sobrevivem com ajuda

do governo. Quando se trata de erros e acertos no composto de marketing para o

setor pecuário, Carlucci cita que o pecuarista tem que entender que seu produto de

venda é a carne servida no prato e não o boi que está no pasto. O empresário

desse setor deve pensar um pouco mais adiante e ver que a dona-de-casa que vai

ao supermercado está procurando um alimento de boa aparência, sabor uniforme e

preço adequado. Se essa carne estiver identificada, ela voltará a comprar e se

tornará uma cliente cativa (como acontece com outros produtos de prateleira).

10 CARLUCCI, Nivaldo. Marketing da Carne. Revista AG Leilões. Abril/2002. Entrevista concedida a Revista AG Leilões. p. 66. Acesso em 21/08/2008.

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31

Enquanto Carlucci esteve na presidência da ABMR suas metas foram fazer

o Brasil vender melhor os produtos que nós produzimos muito bem como meta final

da associação. Para tanto, necessitou continuar contando com os associados e

patrocinadores, aumentar o número de associados e ter um maior apoio das

agências do governo e da mídia para contribuir com o crescimento do agronegócio

brasileiro. Carlucci destaca que campanhas de marketing, não são despesas sem

volta e, sim, investimentos com retorno.

2.3 – SETOR DE AGRIBUSINESS DESCOBRE PODER DO MARKETING

Desde sua origem, o Brasil já era conhecido como um país tipicamente

agrícola, que produzia em suas terras férteis os mais diversos gêneros

alimentícios. Passados mais de meio século, a agricultura está incorporada ao

chamado agribusiness, para se adaptar aos tempos modernos, e boa parte das

exportações brasileiras é composta por produtos como soja, milho, café, cacau,

laranja, gado, cana-de-açúcar e seus derivados, muitos deles encontrados em

abundância no interior paulista. Apesar das tantas terras produtivas, o Brasil produz

muito, mas vende muito mal. Ou seja, o produtor rural vê o marketing como uma

despesa arriscada e não um investimento.

Para tentar mudar este panorama, um grupo de profissionais ligados à área

de comunicação fundou a Associação Brasileira de Marketing Rural (ABMR), há 23

anos, com os objetivos de fortalecer esta área, gerar informações para a imprensa,

acompanhar as necessidades do mercado e atuar no desenvolvimento do

marketing rural. “A ABMR é um canal de valorização deste segmento publicitário e

contribui para a melhoria de seus resultados”, afirma o ex-presidente da entidade,

Nivaldo Carlucci.

O ministro da agricultura deve sempre entrar com uma ação na Organização

Mundial do Comércio para defender a agropecuária do país e responder ao

protecionismo agrícola dos Estados Unidos e da União Européia. Mas de nada

adiantará vencer a batalha no campo diplomático se o próprio produtor rural não

souber como vender nos novos mercados. “O agropecuarista brasileiro sempre

esteve mais preocupado com a produção do que com a venda. Para ele, marketing

não é investimento”. (CARLUCCI, 2002. p. 15)

Page 41: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

32

É aí que entram as agências de publicidade, com ações de marketing

focadas para a preparação da empresa e do produto para a venda externa e

interna. Elas também são responsáveis em fornecer noções que irão da tecnologia

à conversão de moedas, fazer a ponte para apresentar os produtos no exterior e

trazer compradores para conhecer a produção local. Em síntese, sua função é

ensinar o produtor de fruta a vender também o suco e o de castanha de caju a

enlatar o produto para exportação.

O marketing rural é amplo e abrange todos os setores de agronegócios. “Ele

é feito antes, dentro e depois da porteira, mas sua campanha publicitária possui

algumas peculiaridades. Diferentemente do marketing de produtos de consumo, no

qual grande parte das decisões decorre da emoção, no marketing rural a decisão é

tomada pela razão”, esclarece o ex-presidente da ABMR. Durante o VII Congresso

Brasileiro de Marketing Rural, especialistas no assunto concluíram que 85% das

decisões de compra de produtos de consumo são tomadas no ponto-de-venda. “No

marketing rural, essas decisões acontecem bem antes, às vezes, com um ano de

antecedência. (CARLUCCI, 2002. P. 16)

Por causa do comodismo ou falta de informações, o agricultor costuma

esperar pelo apoio do governo para divulgar seus produtos, mas a iniciativa deve

partir dele mesmo. A própria internet tem sido uma ótima fonte de pesquisa para se

adquirir informações técnicas e climáticas, sobre defensivos agrícolas e até para

fazer comparações de preços. No entanto, tem sido pouco utilizada para ações de

marketing rural. “O produtor precisa agir em conjunto com as associações

nacionais de suas áreas e não esperar atitudes isoladas do governo. Para

desenvolver uma marca agrícola é preciso criar um padrão e trabalhar as

características dos produtos junto a quem melhor os conhece: os agropecuaristas”,

conclui Carlucci.

Um levantamento da ABMR mostrou que o marketing já representa uma fatia

significativa dos gastos das indústrias ligadas à área rural. O ramo de sementes

investe de 5% a 8% da receita; o de máquinas agrícolas de 2% a 3%; o de

defensivos agrícolas de 2% a 4%; o de nutrição animal de 1% a 1,5%; o de saúde

animal de 3% a 5% e o de fertilizantes de 0,3% a 0,6%. São números ainda

modestos, mas que começam a dar sinais de melhora.

Page 42: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

33

2.4 – ENFOQUES DIFERENTES PARA O MARKETING APLICADO AO

SISTEMA AGROINDUSTRIAL

Estudos de Batalha e Silva (1994, p.26), apontam quatro enfoques diferentes

para o marketing aplicado ao sistema agroindustrial: o marketing alimentar, entre o

comércio varejista e o consumidor final; o marketing agroindustrial, localizado entre

as agroindústrias e o setor de distribuição; o marketing agrícola, situado entre a

agricultura e as agroindústrias; e por fim o marketing rural, entre os produtores de

insumos agropecuários e os produtores rurais (fig. 2).

FIGURA 2 – Enfoques do Marketing no Sistema Agroindustrial

Fonte: BATALHA, M.O.; SILVA, A.L., 1994.

Diversos produtos são comercializados no marketing rural, dentre eles,

fertilizantes, sementes, rações e maquinários. Segundo estudos de Sousa (1997

apud Fernando, Maria, p. 03), no segmento de insumos destaca-se o mercado de

sementes e o de fertilizantes, seja pelas importantes transformações e impactos no

complexo agroindustrial do milho do primeiro, como pela elevada participação dos

custos de produção do segundo. Dados da Associação Paulista dos Produtores de

Sementes e Mudas (APPS, 2003), na safra 2002/2003 foram produzidas 231.885

toneladas de sementes de milho no Brasil, sendo que cerca de 80% foram

comercializadas.

Page 43: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

34

2.5 – CANAIS DE MARKETING

Segundo Stern e El-Ansary (1995 apud Fernando, Maria, p. 03), canais de

marketing (também denominado canais de distribuição) são conjuntos de

organizações interdependentes envolvidos no processo de tornar um produto ou

serviço disponível para uso ou consumo.

De acordo com Kotler (1998 apud Fernando, Maria, p. 04), a utilização de

intermediários aumenta a eficiência da repartição de bens por torná-los

amplamente disponíveis e acessíveis aos mercados focados.

Berman (1997 apud Fernando, Maria, p. 04) e Bowersox e Cooper (1992

apud Fernando, Maria, p. 04), descreveram que as partes participantes de um

canal de distribuição podem ser classificadas em dois grupos:

“O primeiro é composto pelos intermediários ou agentes primários, que

correspondem aos membros que participam diretamente do canal, assumindo os riscos

pela posse do produto. Nesse grupo estão incluídos os fabricantes, atacadistas e

varejistas. O segundo grupo conta com a participação dos facilitadores ou agentes

secundários, aqueles que participam indiretamente do canal, por meio da prestação de

serviços aos agentes primários, não assumindo o risco da posse dos produtos”.

Segundo Silva (1999 apud Fernando, Maria, p. 04), a indústria é o ligação

inicial do canal, responsável pela fabricação dos produtos que serão

comercializados. A sua função básica dentro do canal é agregar matéria-prima e

componentes para a criação dos produtos que serão comercializados

posteriormente.

O atacado corresponde às atividades relacionadas ao fornecimento de uma certa quantidade específica de mercadorias, simplificando o trabalho dos fabricantes no que tange à comercialização e ao transporte de produtos”. (Alcântara, 1997). “Estes vendem para varejistas e outros estabelecimentos, mas não uma quantia significativa de produtos aos consumidores finais. (Berman, 1997).

O varejo pode ser definido como uma unidade de negócio que compra mercadorias de fabricantes, atacadistas e outros distribuidores e revende diretamente aos consumidores finais e eventualmente a outros consumidores. O canal de distribuição no marketing rural é caracterizado por lojas de varejo especializado em insumos agrícolas, algumas com venda exclusiva de produtos de determinada marca. Há também característica de compra casada e sazonalidade de vendas. (Berman, 1997, Las Casas, 2000)

Page 44: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

35

A criação e o gerenciamento de um sistema de canal de marketing é um

empreendimento amplo e estratégico. Quando criado, fica muito difícil mudar ou

desmontar. A base de custos fixos altos de muitos investimentos de canal precisa

de uma consideração cautelosa da maneira pela qual o canal deve ser estruturado

e gerenciado logo que for criado ou sempre que houver uma mudança significativa.

A origem de uma estrutura de canal inicia-se com um entendimento das

demandas do usuário final em relação às saídas de serviços do canal.

O mercado entre indústria de sementes e varejo é caracterizado pelo

sistema tradicional de suprimentos (sistema “empurrado” – sistema push), o

fornecedor fabrica mercadorias segundo a previsão de vendas do pessoal de

marketing e não de acordo com a demanda real. Isso ocorre em virtude da

produção de sementes envolver um ciclo de produção agrícola (6 meses).

Enquanto no comércio de produtos de mercearia básica a relação existente entre

os agentes de distribuição é marcada por conflitos de interesses e dificuldades de

negociação (Ghisi, 2002 apud Fernando, Maria, p. 06), no canal de distribuição de

sementes a estrutura de venda é diferente porque os produtos permanecem no

estoque do varejo em estado de consignação. Assim há grande interesse da

indústria no monitoramento destes estoques com a finalidade de otimizar as

vendas, como observado na pesquisa de campo.

Segundo Mayer (2005 apud BATALHA 2001, p.06) o canal de distribuição de

sementes é caracterizado por vendas sazonais. Além disso, no período de vendas

observa-se grande influência de fatores climáticos, havendo um aumento dos

negócios após a ocorrência de chuvas. Na região estudada foi verificado um

aumento das vendas durante os meses de outubro e novembro, época em que

ocorre a aquisição do insumo para cultivo da safra de verão e durante os meses de

janeiro e fevereiro, para o cultivo da safra de inverno ou “safrinha”. Esta

sazonalidade ocorre, pois os períodos citados coincidem com as melhores épocas

de plantio para a região de estudo, quando normalmente ocorrem chuvas que

viabilizam o estabelecimento das lavouras.

Page 45: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

36

Este fenômeno requer do canal de distribuição de sementes muita agilidade

e coordenação de forma a oferecer o produto certo no local certo e no momento

mais apropriado, pois as lojas de varejo podem sofrer ruptura de estoque se o

volume de vendas for mais alto que o estoque disponível.

O representante é o agente responsável pela emissão dos pedidos de compra dos varejistas que são enviados para a indústria. Em sua visita aos varejistas é verificado o estoque disponível e, dado que a venda é por consignação, também é emitido um documento para o faturamento das mercadorias vendidas. A freqüência média das visitas aos varejistas é de trinta dias. Esta estrutura é caracterizada por pouca agilidade na troca de dados entre os agentes do canal e pode explicar as constantes rupturas no estoque do varejo. O custo desta estrutura não é desprezível, visto que está relacionado às despesas de viagem e manutenção do representante comercial, processamento de pedidos e à logística de suprimento. Quando há ruptura de estoque, este custo aumenta decorrente da reposição dos produtos e do reprocessamento de pedidos. (BATALHA, 2001, p. 06)

FIGURA 3 – Canal de Distribuição de sementes - Elaborado a partir de :

Fonte: BATALHA, M.O.; SILVA, A.L., 1994.).

Por se tratar de um mercado de grande concorrência, Ghisi (2002 apud

Fernando, Maria, p. 06), observa que a falta de produto representa forte redução

nas vendas agravado ainda por tratar-se de um mercado sazonal e influenciado por

fatores climáticos. O atraso no plantio da cultura, dependente da disponibilidade de

sementes, pode acarretar em redução da produtividade das lavouras. Quando o

produtor rural não encontra o produto esperado (híbrido), com freqüência procura

produto similar em outro ponto de venda. Há também o agravante da demora na

reposição de mercadorias. Atualmente o desempenho do sistema logístico da

indústria de sementes para o varejo não é capaz de suprir a demanda em tempo

Page 46: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

37

hábil. Este fator agrava a ruptura nos estoques, com conseqüente redução nas

vendas e perda dos clientes. Então há o remanejamento de produtos entre as

unidades de varejo. Este fato representa custos adicionais.

Em resumo, foi detectada grande necessidade de uma estrutura que

aumente a visibilidade nas vendas para atender a oscilação dos estoques. Desta

forma, durante os curtos períodos de venda, a melhor coordenação do canal

possibilitaria uma reação eficiente na reposição dos produtos. Observou-se

também a necessidade de redução dos custos de transação entre os agentes, por

meio da formalização do pedido de reposição por computador.

A aplicação das estratégias de sortimento e reposição eficiente neste caso,

poderá promover um aumento da coordenação entre os agentes do canal de forma

a evitar o estoque excessivo na indústria e ao mesmo tempo evitar a ruptura no

varejo. Para tanto será necessária a introdução de sistemas de informação para

transferir as informações de vendas das lojas para o representante comercial e

deste para a indústria de forma a conectar os diferentes locais de estoque e de

pedidos.

Assim destacam-se os seguintes aspectos que necessitam serem ajustados

para melhor coordenação do canal de distribuição de sementes: ajuste do

sortimento de produtos com demanda conforme opção de compra, que depende do

nível tecnológico do produtor e sua disponibilidade de custeio; ajuste da

disponibilidade de estoque com os curtos períodos de venda; emissão rápida de

pedidos para o reposicionamento de estoque; centralização de controle de vendas

e de estoque do varejo, bem como o compartilhamento destas informações de

forma mais ágil e on-line, com o uso da tecnologia da informação.

2.6 – AGRICULTURA E SUSTENTABILIDADE

No Brasil, com o início do processo de modernização da agricultura, na

década de 60, o único modelo proposto, discutido e incorporado foi o químico-

mecânico. (ZAMBERLAM; FRONCHETI, 2001 apud DANIEL, 2005, p. 14). Isso

significou, por um lado, a prática de uma série de inovações tecnológicas, no

sentido de melhorar a performance da produtividade da agricultura e, de outro, a

inclusão crescente da agricultura ao complexo agroindustrial, quer pela relação

Page 47: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

38

aos setores industriais produtores de insumos, quer pela seu atrelamento ao

mercado transformador da produção agrícola. No entanto, como o modelo

produtivista utiliza a natureza para maximização de seus lucros, sem se importar

com os efeitos da tecnologia aplicada sobre o meio ambiente, a crise ambiental

desencadeada por este modelo não tardou a surgir. Deste modo, o modelo de

desenvolvimento do mundo rural proporcionado pelo produtivismo trouxe consigo

uma gama de conseqüências sociais, econômicas e ambientais TEIXEIRA; LAGES

(1996 apud DANIEL, 2005, p. 14).

Segundo Ehlers (1996 apud DANIEL, 2005, p. 15), existem diversas

definições para explicar o que se entende por agricultura sustentável11. Quase

todas buscam expressar a necessidade do estabelecimento de um novo padrão

produtivo que não comprometa o ambiente e que mantenha as características dos

agro-ecossistemas por longos períodos. O mais provável é que esse novo modelo

alie práticas convencionais e alternativas. No entanto, a noção de agricultura

sustentável continua cercada de imprecisões, admitindo abrigar desde aqueles que

se contentam com simples ajustes no padrão produtivo, até aqueles que vêem

nessa noção um objetivo de longo prazo que possibilite transformações estruturais,

não apenas na produção agrícola, mas em toda a sociedade.

FIGURA 4 – O tripé da sustentabilidade.

Fonte: Kathcunian (2001, p.10).

11 Entende-se por desenvolvimento sustentável o arranjo político, sócio-econômico, cultural, ambiental e tecnológico que permite satisfazer as aspirações e necessidades das gerações atuais e futuras.

Page 48: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

39

2.7 – O USO DA INTERNET NO MEIO RURAL

A expressão Tecnologia da Informação refere-se à tecnologia necessária

para o estudo e o processamento da informação. FRANCISCO e PINO (2004 apud

DANIEL, 2005, p. 28).

Segundo Rolfe et al. (2003 apud DANIEL, 2005, p. 28), a contribuição da

tecnologia da informação pode explicar parcialmente o crescimento econômico dos

Estados Unidos na década passada, entretanto, a agricultura é um setor esquecido

no debate sobre a contribuição da tecnologia da informação no crescimento

econômico. Como as aplicações da tecnologia da informação não permitem apenas

mudanças diretas na produtividade, mas também mudanças organizacionais,

mudanças no relacionamento entre mercado e consumidor, e melhor controle sobre

o gerenciamento da cadeia de suprimentos, os maiores benefícios da adoção da

tecnologia da informação tenderam a estar nos níveis da indústria de manufatura e

de serviço. Agricultura, firmemente no setor primário, geralmente presume-se ter

poucos ganhos com a tecnologia da informação. Dentro da tecnologia da

informação o que mais se expande é a adoção da Internet. O número de

fazendeiros e pecuaristas no Brasil que fazem uso da Internet ainda é pequeno.

Segundo um levantamento feito pela Associação Brasileira de Marketing Rural,

este número não passa de 4% do total das fazendas brasileiras. Mas há alguns

anos atrás este número era somente um traço. O que acontece no mundo, mais

cedo ou mais tarde acaba tendo seu reflexo no Brasil. Portanto, deve-se sugerir

que as empresas de software e serviços de informática voltada para o agronegócio

invistam fortemente em aplicações para Internet. São inúmeras as oportunidades

nesta área, no Brasil e no resto do mundo.

Francisco e Pino (2004 apud DANIEL, 2005, p. 29) analisaram os fatores

que afetam o uso da Internet no meio rural paulista e concluíram que o uso da

Internet obviamente relaciona-se com as variáveis que dizem respeito diretamente

ao uso da informática: a) se a atividade principal da unidade de produção

agropecuária (UPA) está informatizada; b) se dispõe de computador na UPA para

uso nas atividades agropecuárias; e c) se dispõe de comunicação telefônica (fixa

ou móvel).

Page 49: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

40

Fazer parte de cooperativa de produtores aumenta a expectativa de utilizar

Internet. Um motivo deve-se ao fato da cooperativa facilitar o acesso à tecnologia

para os pequenos produtores. Isso demonstra a importância das cooperativas no

processo de inclusão tecnológica do meio rural.

Francisco (2005 apud DANIEL, 2005, p. 29) acredita que o crescimento da

adoção da Internet entre os produtores sustenta o desenvolvimento rural e agrícola

no sentido de criar novos formatos de organização social e de atividades produtivas

possibilitando redes de comunicação rural que ultrapassem barreiras geográficas.

“No entanto, para que novos produtores a adotem sugere-se que: a) mais

produtores sejam apresentados a essa tecnologia para o conhecimento de seus benefícios

e potenciais, seja através de incentivos de agências de desenvolvimento rural, seja através

de empresários ligados à informática; b) prover prestações baixas para a compra de

equipamento; c) haja esforços para melhorar a infraestrutura de telecomunicações; d) o

custo de acesso seja compatível à renda do agricultor e) haja a criação de centros rurais

onde os agricultores possam ter acesso à Internet”.

Pino (2004 apud DANIEL, 2005, p. 15) conclui que os produtores rurais de

nível empresarial têm adotado abertamente as novas tecnologias de informação,

mas o restante pode necessitar de um processo de indução, bem como de

incentivos. Pode-se prever que os países que não difundirem rapidamente uma

posição firme nessa questão poderão ter sérias perdas de competitividade,

especialmente num mercado globalizado. Existem somente duas situações

possíveis: digitalmente incluído ou excluído.

2.8 – O CONTEXTO DE APLICAÇÃO

A EMBRAPA, fundada em 1973, que vem passando por uma veloz

transformação em sua maneira de trabalhar, especialmente a partir da década de

1990. Com sua estrutura que consiste em 37 centros de pesquisas e 24 serviços

especiais espalhados pelo território nacional que, ao longo dos últimos quinze anos

vem sofrendo mudanças contínuas focando sua adequação as reformas do

governo. Uma das mudanças mais expressiva foi a dimensão conceitual adotada

de que “a pesquisa começa e termina na sociedade”, em contraposição ao

paradigma anterior que conceituava que “a pesquisa começa e termina no produtor

Page 50: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

41

rural”. (FLORES, 1991).

Para Flores (1991), entre algumas transformações implantadas desde o

início da década de 90, rumo a uma orientação ao mercado está à implantação do

SEP (Sistema Embrapa de Planejamento), que mudou profundamente sua maneira

de levantar demandas ambientais para delinear suas atividades de P&D.

A Embrapa dirigiu suas atividades baseada no conceito de produto por

quase 20 anos, tendo admitido explicitamente a orientação ao mercado a partir da

década de 90. Além da mudança de orientação, veio a objetiva definição de que a

Empresa deveria atuar, como agente do sistema técnico-científico brasileiro, em

pesquisa e desenvolvimento (P&D).

A Política de Negócios Tecnológicos, em especial, consolida direções já

anunciadas em documentos estratégicos da Embrapa, as quais baseiam-se

fundamentalmente em marketing. Este direcionamento já havia ficado claro no

documento Estratégia Gerencial da Embrapa - Gestão 95/98 o qual define, como

política global de administração:

“A Embrapa adota o Marketing, na sua acepção mais ampla de “filosofia de

relacionamento com o macro-ambiente... Isto equivale dizer que Marketing não deve ser

apenas preocupação ou domínio de um departamento da sede ou de um setor numa

unidade descentralizada... é uma atitude nova, um compromisso de todos os empregados

da Embrapa para com a sociedade brasileira”.

Para auxiliar esta orientação o documento estabelece três políticas focando

atender os quatro compostos de marketing (4P’S). Estas políticas eram a Política

de Pesquisa e Desenvolvimento (Produto), a Política de Vendas ou Distribuição

(Preços e Pontos de Venda) e uma Política de Comunicação (Promoção). O

mesmo advertia que:

“... adoção desta nova postura não pode ser retardada por visões segundo as quais

marketing não se aplicaria à Embrapa por ser uma empresa que gera, em grande monta,

tecnologias de cunho social que não teriam preços e não seriam vendáveis”. Para

fortalecer esta nova orientação, o documento estabelecia que... “Tudo o que se gerar na

Embrapa será objeto de rigoroso escrutínio segundo a visão de marketing...”.

Page 51: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

42

A orientação ao mercado se apóia em quatro pilares básicos, KOTLER

(1996). Estes pilares são mercado-alvo, necessidades dos consumidores [clientes

e usuários], marketing coordenado e rentabilidade. A identificação de segmentos

de mercado e seleção de mercados-alvo é, portanto, uma etapa obrigatória para a

adoção de uma orientação ao mercado. Segundo:

As empresas atualmente estão repudiando a prática de mercado de massa por não valer a pena, pois estes estão sendo pulverizados e sendo transformado em micro-mercados com compradores diferentes à procura de produtos diferentes em canais de distribuição diferentes e respondendo a diferentes canais de distribuição. A segmentação de mercado é seguida da escolha do mercado alvo e o posterior posicionamento, quando da adoção de marketing de mercados-alvo. (Kotler, 1996)

Entre os 12 objetivos específicos constituídos pelo documento em

discussão, para auxiliar a empresa no implemento de sua missão, estava o de

“valorizar as ações de desenvolvimento de produtos e processos, de difusão de

informação e de comercialização de tecnologias, serviços e produtos...”.

Mais adiante, o referido documento estabelece vários projetos gerenciais

para auxiliar na consecução dos objetivos específicos já enunciados. Dentre os

projetos, destacam-se três projetos da categoria Informação e Comunicação, os

quais são:

Comunicação na Embrapa (projeto 20), Sistema Embrapa de Informação

(Projeto 2) e Internet (projeto 30). Ainda que seja possível estabelecer relações da

Web com os três projetos, os dois últimos têm ligações mais estreitas com ela. O

projeto 2 - Sistema Embrapa de Informação - tinha como objetivo implantar um

sistema informatizado e em rede que se tornam disponíveis para a própria

Embrapa e para o público em geral, todas as informações geradas pela Empresa.

O projeto 30 - Internet - tinha como objetivo estabelecer uma política aberta que

regulasse a disponibilidade de informações institucionais e comerciais,

padronizando formatos e estabelecendo mecanismos de proteção, em

coordenação com o projeto Sistema Embrapa de Informação, com o projeto

Comunicação na Embrapa, e outros projetos ligados às relações comerciais e de

cooperação da empresa.

Já o documento Estratégia Gerencial da Embrapa, estabelecia Inovar

Métodos e Meios de transferência como prioridade institucional.

Page 52: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

43

Esta macro prioridade preconizava o seguinte:

“... os avanços na área de telecomunicações e informática estão trazendo

profundas modificações nos hábitos de informação do meio rural. As oportunidades de

reciclagem dos produtores se ampliaram muito e se tornaram mais rápidas com a

proliferação das antenas parabólicas e da comunicação via computador. Tais

circunstâncias exigem que novos canais e processos de transferência de tecnologias

sejam imaginados de sorte a melhorar a eficiência da Embrapa neste processo,

aumentando a oferta de informações e o número de técnicos e produtores atendidos, a

custos menores...”.

Em 1998, após a etapa de redefinição dos planos da Empresa, o documento

Plano Diretor da Embrapa - Realinhamento Estratégico 1999-2003, reafirma a

todos os conceitos oferecidos anteriormente, demonstrando como grandes

transformações:

“... a globalização com a abertura do mercado, a importância do meio ambiente, a

reforma do Estado, a força do consumidor e a revolução tecnológica, caracterizando o

agronegócio brasileiro do futuro como um setor competitivo, com qualidade e

produtividade, tecnologicamente avançado, demandante de informação técnico-gerencial e

promotor de emprego e renda”.

A missão, agora redefinida, consiste em “... viabilizar soluções para o

desenvolvimento sustentável do agronegócio brasileiro por meio de geração,

adaptação e transferência de conhecimentos e tecnologias, em benefício da

sociedade...”. Importante definir a visão do que seja cliente: “... a Embrapa

considera como cliente todo o indivíduo, grupo ou entidade, pública ou privada,

cujo sucesso em suas atividades dependa dos produtos e serviços, de natureza

econômica ou social, oferecidos pela empresa e seus parceiros...”.

Além disto, a empresa coloca como objetivo que colaborará para a

consecução de sua missão, o de viabilizar soluções tecnológicas para o

desenvolvimento de um agronegócio competitivo em uma economia global,

estabelecendo para isto que será preciso monitorar e analisar o comportamento

dos mercados afins do agronegócio, identificando tendências e oportunidades.

Focando o fortalecimento de sua posição como instituição viabilizadora de soluções

para o agronegócio e para consecução das políticas governamentais em bases

Page 53: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

44

competitivas e sustentáveis, o mesmo documento estabelece algumas diretrizes

estratégicas para as atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) e de

mudança de tecnologia, entre outras. Reafirma uma política geral de administração

focada nos conceitos de marketing e qualidade total, que assegure:

“a) a disponibilidade de conhecimentos e tecnologias que tenham real interesse

para a sociedade, b) a negociação para a distribuição de conhecimentos e das tecnologias

gerados pela Empresa e por seus parceiros e c) a promoção dos conhecimentos e

tecnologias entre os diversos públicos”.

Uma agropecuária que ambiciona ser competitiva não pode abrir mão da

atividade de pesquisa tecnológica. Esta atividade, entretanto, deve ter mecanismos

eficientes e eficazes de transferência da tecnologia gerada. Um destes

mecanismos deverá ser a Web.

Page 54: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

45

CAPÍTULO III

3.0 – ESTRATÉGIAS DE MARKETING NO AGRONEGÓCIO

3.1 – AGRIMARKETING

É um encontro que ocorre nos meses de março em cidades variadas a cada

ano. Funciona como um fórum permanente de discussões sobre marketing e

comunicação no agronegócio e tem como principal objetivo debater assuntos

ligados ao marketing do agronegócio brasileiro. (www.agrobrasil.com.br).

Segundo o Presidente da ABMR agronegócios, José Luiz Tejon Megido

(2004), este tipo de ação é muito positiva para o agronegócio, pois através da troca

de experiência, cases e do apoio da ABMR nas questões que envolvem o

marketing rural, os empresários obterão a oportunidade de conhecer novas

ferramentas e saber como direcionar os recursos destinados a sua comunicação.

O primeiro passo que as empresas devem adotar, antes de iniciar qualquer investimento em marketing, é realizar uma pesquisa de mercado, pois sem esta ferramenta o empresário corre o risco de não aplicar corretamente suas verbas. Através destes encontros, os produtores rurais tomam conhecimento sobre a situação atual do mercado e consegue observar o agronegócio em vários aspectos e níveis produtivos. (MEGIDO, 2004)

Durante o evento, os empresários debateram sobre as estratégias seguidas

em algumas empresas, como o marketing cooperado, direcionamento dos

investimentos em segmentação e relacionamento, a criação de associações para

os pequenos investidores como soluções de marketing, a força na construção da

marca e a importância da mídia segmentada como veículo integrado com o

mercado, seminários e empresas.

O primeiro encontro, ocorrido em São Paulo, serviu para o lançamento do

Sistema de Comunicação Agri-MKT, que engloba um programa de televisão

exibido pelo Canal Rural e se expandirá para novas mídias, como jornal Impresso,

pelo Jornal AgriMídia, além de um programa de rádio, o lançamento de um livro e

de uma consultoria especializada. (CUNHA,2004)

Page 55: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

46

3.2 - AGRONEGÓCIO: FIDELIDADE, COMUNICAÇÃO E MERCADO

EXIGENTE

Segundo Meconi (2005, p. 01), profissionalismo é o novo paradigma do

agronegócio nos dias atuais.

“Em todas as etapas de produção, é cada vez maior a diferença entre quem está

preparado para novos desafios e quem não está. No Brasil, importantes empresas,

nacionais e estrangeiras, começam a disputar palmo a palmo a preferência e a fidelidade

dos consumidores de um mercado que cresce a ritmo acelerado, mas que também possui

seus segredos e peculiaridades”.

Não há dúvidas de que a comunicação, em todas as suas maneiras terá um

papel importante neste novo cenário. Mas, será que estamos prontos para isso?

Será que um país como o Brasil, com objetiva vocação agrícola, não possui uma

comunicação adequada? Há algumas dúvidas com relação à eficácia dos métodos

de comunicação usados atualmente no agronegócio, tanto para o mercado interno,

como também para o externo. Existe uma miopia de mão dupla, pois o empresário

rural não tem resultados práticos na comunicação que lhe é dada por profissionais

que alimentam a idéia do agricultor “Jeca Tatu”. Isso explica o fato de somente

20% das empresas do ramo utilizar serviços especializados. Geralmente são

forçadas a buscarem alternativas domésticas para solucionar os problemas.

Conclusão; acaba-se criando uma comunicação amadora que, por não atender a

conceitos básicos de estética e produção, polui revistas, jornais e outros meios,

confundindo e desinformando possíveis clientes.

Contudo, Meconi (2005, p. 01) afirma que nada está perdido. Á medida que

algumas empresas põem-se a entender e a valorizar uma comunicação de

qualidade, bem construída e dirigida, elas consagram uma nova fase no mercado.

Cria-se então, espaço para que algumas agências de propaganda especializadas

surjam em meio a uma oportunidade muito promissora: Criar uma nova concepção

de como gerar resultados palpáveis, aplicando conceitos há muito utilizados por

outros mercados. Com isso, algumas transformações importantes já podem ser

conferidas. Campanhas de Marketing aparecem cada vez mais ousadas e criativas

enquanto patrocínios, contratos de merchandising e ações promocionais em

Page 56: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

47

eventos e feiras estão mudando a cara deste mercado. Soma-se ainda, a

preocupação crescente com a imagem institucional, padronização de lojas,

produtos e serviços além de regras quanto ao uso de imagens e logomarcas.

Qual o custo desta mudança? Ela é realmente necessária? Afinal, todos nós sabemos que o mercado do agronegócio no Brasil é, acima de tudo, conservador e exigente. Prova disto é o caso de algumas marcas já não existirem mais e, mesmo assim, serem lembradas e defendidas duramente por seus antigos consumidores. Não seria inocência pensar que isso mudaria algum dia? Inocência é não considerarmos o período de prosperidade e de significativas mudanças no qual nos encontramos. Em alguns anos, seremos não somente o maior produtor agrícola mundial, mas também, os líderes em diversas biotecnologias. (MECONI, 2005)

Portanto, o investimento das empresas na comunicação estará cada vez

mais atrelado a evolução do mercado. A marca continuará sendo forte e lembrada

se a ela forem agregados novos valores e conceitos. E o mais importante: O cliente

já não é mais o mesmo! Ele agora é exigente, e acima de tudo, busca uma

identificação com as marcas que lhe trarão aprimoramento comercial e tecnológico.

Um cliente pronto para consumir informações e produtos de qualidade, visando

uma maior produtividade e rentabilidade em seu segmento. Saber se comunicar no

agronegócio será, um grande diferencial de mercado (www.agrolink.com.br).

Quando perguntado aos consumidores de produtos agroindustriais se a

marca é um fator importante na hora da compra, eles responderam:

FIGURA 5 – Fator Marca

Fonte: Dados Primários, Ocepar (2000).

14,21%

85,26%

0,53%

Discordo Totalmente +Discordo Muito

Discordo Pouco + ConcordoPouco

Concordo Muito + ConcordoTotalmente

Page 57: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

48

3.3 – AGRONEGÓCIO AINDA É UM DESAFIO PARA A COMUNICAÇÃO

Segundo debate dos especialistas no VII Congresso Brasileiro de Marketing

Rural, esta foi a conclusão sobre a relação entre o agronegócio e os veículos de

comunicação.

“O merchandising, a mídia interativa e mesmo a mídia tradicional são ferramentas

pouco utilizadas pelo agribusiness brasileiro. Embora represente 27% do PIB e empregue

37% da mão-de-obra, o agronegócio brasileiro ainda ignora as ferramentas da

comunicação tais como merchandising e mídia interativa, além da própria mídia tradicional

em rádio, TV e jornal. Ao mesmo tempo, a área de comunicação pouco conhece do mundo

do agribusiness que pode e deve explorar as potencialidades da comunicação como

qualquer outra atividade”.

A conclusão foi tirada do painel As Ferramentas de Comunicação no

Marketing do Agribusiness, no segundo dia do VII Congresso Brasileiro de

Marketing Rural, promovido pela Associação Brasileira de Marketing Rural (ABMR),

que reúne mais de 300 profissionais. Maria Égia Chamma, vice-presidente da

POPAI Brasil, entidade que congrega empresas especializadas em promoção no

ponto-de-venda, entende que da mesma forma que os supermercadistas, os

produtores rurais podem usar as ferramentas do marketing, como o merchandising,

com resultados efetivos. Pesquisas recentes mostram que no varejo 85% das

decisões de compras são tomadas no ponto-de-venda, percentual que fica em 34%

em se tratando de farmácias, padarias e lojas de conveniências. Outra pesquisa do

POPAI apontou que uma promoção associada a um anúncio de jornal pode ampliar

as vendas entre 17% e 121%, incremento que pode subir para 470% com o uso

combinado da propaganda com um eficiente trabalho de promoção do

produto/serviço no ponto-de-venda.

Surpreso com a proximidade do campo com a tecnologia, até a pouco uma

combinação incompatível, o presidente da Associação de Mídia Interativa, Antonio

Rosa, expôs as novidades em mídias resultantes da conversão dos meios de

comunicação. Observando que a tecnologia, cada vez mais barata, está acessível

para qualquer porte de empresa de qualquer setor de atuação porque se baseia na

informação que não tem fronteiras.

Page 58: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

49

Acrescentou Rosa que o homem do campo, que necessariamente já não

precisa estar na zona rural, pode controlar a sanidade e o peso do seu rebanho

através de satélite. Este mesmo cidadão tem, pelo menos, 500 sites especializados

em agricultura à sua disposição, o que lhe admite gerenciar com maior eficiência.

"Não tenho dúvidas de que a internet, com 25 milhões de usuários no Brasil e 500

milhões no mundo, se firma como mais uma grande mídia".

Para Flávio Rezende12, diretor da Divisão Ética do Grupo de Mídia, o

agronegócio está se tornando uma das principais competências brasileiras e a

propaganda quer estar junto. Em sua visão, o setor tornou-se desejado e necessita

cuidar da sua marca. Para isso, não há uma receita imediata. O trajeto

aconselhável é o do mix-de-mídias de acordo com a característica de cada

produto/serviço e seus respectivos públicos.

Rezende (2002) cita, ainda, que o homem envolvido com a produção rural

vem mudando seu perfil rapidamente: 56% dos consumidores de insumos

agropecuários assistem a TV diariamente no período de safra (71% na

entressafra); 43% ouvem rádio todos os dias; 58% costumam ler jornais e 33%

lêem revistas especializadas. Ao mesmo tempo, mostrou que as novas mídias,

como a internet, não podem ser desprezadas pela interatividade e pelo fácil

acesso.

Conforme Carlucci (2002), o agronegócio deixa de agregar valor às suas

exportações por causa da falta de investimento na área. "O Brasil produz bem, mas

vende mal", afirma. A agricultura brasileira não explora suficientemente iniciativas

de marketing que poderiam aumentar o valor de mercado de sua produção.

Carlucci considera que o café é o setor no qual este cenário é mais

flagrante. "Enquanto a Colômbia investiu US$ 20 milhões em marketing em 2001, o

Brasil, maior produtor do mundo, não passou de US$ 3 milhões". No caso do café,

uma das ações mais estimulantes que ocorreram atualmente foi a da empresa

italiana Illy. Eles conseguiram criar uma marca mundial forte de café, investindo em

classificação do produto e na criação de uma marca".

Carlucci assegura que todas as commodities podem agregar um valor de

mercado se forem adotadas estratégias de marketing adequadas. "Basta ver como

12 (www.suinoculturaindustrial.com.br, redação 13/03/2002)

Page 59: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

50

existem marcas fortes em mercados em que os produtos seriam aparentemente

iguais, como é o caso do açúcar, água mineral e sal", observa Hernani

Vasconcelos, vice-presidente da ABMR.

Carlucci garante que os produtores da soja do cerrado brasileiro perdem

uma ótima oportunidade de agregar valor à sua produção. "A soja do cerrado

contém um teor de proteína acima da soja produzida na Argentina e no sul do

Brasil. Nem por isso, ela é vendida por um preço maior".

Carlucci acredita que o Brasil está perdendo a oportunidade de negociar em

termos mercadológicos a possibilidade de entrar na produção de transgênicos. "É

preciso analisar de forma séria qual será o retorno que essa tecnologia vai

oferecer", explica. Um estudo da Fundação Mato Grosso mostra que se paga de

2% a 3% mais pela soja convencional nos mercados internacionais, segundo ele.

"É preciso avaliar se a relação entre a redução dos custos e o valor do produto é ou

não positiva para que a decisão pela tecnologia seja tomada".

Mas é no setor de carnes e de horti-frutigranjeiros que existe no país

oportunidades mais claras, para Carlucci. "Nesses produtos, a criação de nichos

pelo sabor é evidente, e a produção brasileira é de qualidade", observa.

Hernani Vasconcellos (2002)13, afirma que o programa de rastreabilidade

proposto pelo Ministério da Agricultura é um ótimo investimento de marketing.

"Mostrar ao consumidor a procedência da carne com detalhes certamente vai

agregar valor", explica. A ABMR já desenvolve, em união com associações de

produtores e com o Fundepec (Fundo de Defesa da Pecuária de Corte de São

Paulo), o Serviço de Informações da Carne (SIC). O Serviço fornece informações

ao consumidor sobre carne vermelha, esclarecendo dúvidas e dissipando temores.

Os investimentos em marketing rural vêm aumentando em valores absolutos

nos últimos anos, segundo Carlucci. No entanto, isso não quer dizer que as

empresas que investem em marketing estejam priorizando mais o setor. "As

empresas têm investido um percentual fixo de seu faturamento, mas o valor

absoluto vem crescendo porque o PIB do agronegócio tem aumentado

sistematicamente."

13 Jornal O Estado de São Paulo 28/02/2002, caderno de ciência e meio ambiente.

Page 60: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

51

A ABMR só tem dados exatos para o agronegócio conhecido como “antes da

porteira” - insumos, máquinas, serviços, e outros. Em 2001, este setor faturou US$

10 bilhões, e investiu em marketing US$ 228 milhões. O agronegócio também

incluiu o setor "dentro da porteira", que é a produção especificamente, e o setor

"depois da porteira", que envolve a agroindústria, o comércio e serviços

relacionados.

O PIB do Agronegócio alcançou US$ 167,8 bilhões no ano 2000, bancando

27% do PIB brasileiro, que foi de US$ 595,9 bilhões. Na balança comercial, o setor

atinge importância ainda maior. Em 2001, o setor teve superávit de US$ 19 bilhões.

No mesmo período, o Brasil teve superávit de somente US$ 2,6 bilhões. (Jornal

Estado de São Paulo, 28/02/2002).

Para Marcello Guerra (2005)14, o setor agrícola vem adquirindo seu papel de

segmento estratégico para o crescimento do Brasil, tanto do ponto de vista

econômico, quanto social, resultado de uma atividade essencial para a construção

de um legítimo modelo desenvolvimentista nacional.

Os resultados positivos devem-se às iniciativas empreendedoras de

produtores que investiram em tecnologia, implementos e práticas produtivas

modernas, permitindo uma visão mais abrangente ao agronegócio, cada vez mais

direcionado para o aumento da produtividade, para a diferenciação e para a

melhoria da qualidade dos produtos, almejando atingir mercados mais exigentes e

rentáveis.

Entretanto, o completo desenvolvimento do agronegócio depende, além

destes empenhos ligados aos processos produtivos, da adoção de ferramentas de

informação de mercado que possam subsidiar o processo de planejamento

estratégico e definição de ações efetivas ligadas ao marketing rural.

A profissionalização do setor determina, exige que os empresários do

agronegócio busquem trabalhar com base em dados e informações confiáveis

sobre as principais questões envolvidas no sucesso empresarial de suas

atividades, tais como:

14 www.agrolink.com.br, 16/09/2005.

Page 61: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

52

Definição e entendimento da segmentação de seus mercados-alvo;

Identificação de potencial para novos negócios, por meio de estudos de

demanda;

Desenvolvimento de produtos e serviços para novas necessidades de

consumo, buscando sempre agregar valor ao conceito;

Estratégias de comunicação com os consumidores;

Logística e distribuição de produtos;

Formação preços;

Geografia de mercado, etc.

Neste caminho as ferramentas de pesquisa e informações de mercado têm

enorme utilidade para que os empresários do agronegócio consigam conhecer

melhor seus mercados e também maximizar suas oportunidades por meio de uma

boa gestão das variáveis que interferem direta ou indiretamente na comercialização

dos produtos ou serviços15.

3.4 - O BRASIL PRECISA MELHORAR A AUTO-ESTIMA

A baixa auto-estima dos brasileiros, especialmente do agribusiness, retarda

a criação de marcas fortes nacionais e, conseqüentemente, inibe a potencialidade

dos negócios tanto no mercado interno como também no externo.

Para o ex-presidente da ABMR, Nivaldo Carlucci (2005), o problema inicia-

se na visão inadequada dos produtores que entendem o marketing como despesa

e não como investimento, precisamente no momento em que o mercado exige

maior diferenciação.

Somos os maiores produtores de café, açúcar, frutas e sucos e exportamos um terço de nossa produção, nem por isso somos reconhecidos no exterior porque não temos marcas fortes. (CARLUCCI, 2005)16

15 www.agrolink.com.br. Acesso em 28/09/2008.16 Revista Plantio direto, Ed. Aldeia Norte. 2005, p. 10.

Page 62: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

53

O presidente da Associação Brasileira de Agribusiness (ABAG), Roberto

Rodrigues, concorda com Carlucci e acrescenta:

“... que o Brasil é País agrícola que interessa tanto à ALCA quanto à União Européia pelo seu potencial mercado consumidor. E recomendou cautela nas negociações porque ele está convicto que em dois a três anos haverá uma maior abertura aos mercados agrícolas para possibilitar uma redução do gap social”. (Rodrigues,2005)17

“... entretanto, lembrou que tanto o governo, de um lado, mantém políticas públicas inadequadas para um avanço maior (citou impostos e a logística), como a própria iniciativa privada está desarticulada. O amanhecer está chegando e o Brasil terá lugar especial”. (Rodrigues, 2005)18

José Sidnei Gonçalves (2001, p.11), disse que o agronegócio já é

preferência na estratégia dos paises continentais porque representam 40% do PIB

na cadeia produtiva que abrange os processos da fazenda à mesa. Para José, o

agronegócio brasileiro superou a primeira fase da competição e agora enfrenta o

desafio da qualidade total, onde o marketing é a arma moderna da guerra

comercial. "Só assim o Brasil vai conquistar o espaço que merece no cenário

internacional", concluiu.

Francisco Graziano (2001, p.11), deputado federal da bancada ruralista

criticou a miopia de algumas lideranças rurais:

“... além de esperarem por atitudes governamentais, transmitem mensagens negativas sobre o Brasil e o setor, em nada contribuindo para o desenvolvimento. É danoso o tratamento histórico e preconceituoso dispensado à agricultura brasileira que, apesar dos avanços tecnológicos e de gestão, ainda é vista como caipira. Mas ainda é incipiente o uso do marketing como aliado na promoção dos produtos e serviços.”

Já o secretário de Produção e Comercialização do Ministério da Agricultura e

Abastecimento, Pedro de Camargo Neto (2001), encerrou a abertura oficial do

evento falando que o setor enfrenta hoje o desafio do marketing porque o

consumidor evoluiu e está disposto a pagar mais pela qualidade certificada que

começa na fazenda, passa pela gôndola e chega ao prato, incumbindo aos

profissionais do marketing repassarem o conceito da qualidade pela sua origem. O

grande desafio é fazer brotar da terra inúmeras marcas fortes.

17 Revista Plantio direto, Ed. Aldeia Norte. 2005, p. 10.18 Revista Plantio direto, Ed. Aldeia Norte. 2005, p. 11.

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54

A mesma teoria foi defendida no primeiro painel do dia "A Nova Era do

Marketing", pelos publicitários Alex Periscinoto e Luiz Salles.

Entende que o brasileiro carece de auto-estima, o que inibe os negócios, e que apenas espera pelas ações do governo. É preciso pensar no agribusiness cada vez de maneira mais abrangente porque a agricultura e a pecuária trazem a maior riqueza hoje direcionada aos novos centros urbanos formados a partir do campo19”. (PERISCINOTO, 2002, p. 12)

Para o publicitário Luís Salles (2002)20, é necessário um investimento do

setor em iniciativas de marketing. Pode-se seguir um modelo de que 0,5% do

faturamento destinam-se para iniciativas do gênero, e isso já traria retorno. Para

tanto, Salles diz que o setor necessita parar de enxergar no marketing uma

despesa e passar a considerá-lo um investimento.

O ex-presidente da Associação Brasileira de Marketing Rural (ABMR),

Nivaldo Carlucci, tem o mesmo ponto de vista. Carlucci (2002)21, afirma que:

“... entre os setores que compõem a cadeia do agribusiness, apenas as empresas

que vendem insumos e máquinas fazem investimentos de marketing sistematicamente. Há

grande potencial sendo desperdiçado, considerando a importância do agronegócio para a

economia brasileira. O agronegócio representa 27% do PIB e é responsável por 35% dos

postos de trabalho. Nos EUA, onde o agronegócio responde por 16% do PIB e 17% dos

postos de trabalho, as exportações são três vezes maiores que as brasileiras”.

3.5 - O PARADIGMA DO MARKETING NO AGRONEGÓCIO

O agronegócio brasileiro passa por uma evolução tecnológica sem precedentes, resultando em grandes ganhos de produtividade, qualidade e volume de faturamento. Os programas intensos de formação de profissionais, ampliação de novas fronteiras agropecuárias e o desenvolvimento de sistemas de administração e gestão são alguns dos alicerces deste crescimento. (MORGADO, 2004)22

O crescimento das exportações de carnes e grãos esta sendo constante nos

últimos tempos. A expansão do setor reflete não apenas na demanda, por bens de

produção, máquinas e implementos agrícolas, mas também por produtos de

insumo, como defensivos agrícolas, produtos veterinários e sementes.

19 Revista Plantio direto, Ed. Aldeia Norte. 2005, p. 1220 Jornal O estado de São Paulo. 11/03/2002. Caderno de economia.21 Idem Nota 20.22 Artigo divulgado na Revista O Zebu no Brasil, Edição 158, Set/Out 2004, p. 09.

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55

Através do sucesso que o agronegócio está atingindo nos últimos anos com

a sua produtividade e crescentes volumes de exportação, a mídia, os empresários

e o país já se questionam, quais serão os próximos recordes do setor para os

próximos anos?

Com este raciocínio, ás vezes, nos esquecemos de questões primordiais

que ainda devem ser resolvidas e planejadas, para a sustentação a longo prazo e

para a maximização de resultados.

Por exemplo, qual será a estratégia comercial a ser adotada pelos produtos

do agronegócio brasileiro perante os seus mercados internacionais nos próximos

anos? Permaneceremos na procura constante por aumento de produção, a

produtividade, ou escolheremos por agregar valores e diferenciais em nossa

produção? Como podemos nos diferenciar da concorrência em cada produto

exportado e manter os mercados conquistados como clientes?

Desenvolver produtos diferenciados e com maior valor agregado têm de ser

cada vez importante para a cadeia do agronegócio nacional e todos seus produtos.

E isso se consegue através do Marketing.

Na pecuária de corte, existem vários exemplos, mas quero destacar o

processo de construção da marca e sua valorização no mercado de genética que

traz aos clientes a confiabilidade no produto, a segurança na compra e a certeza da

qualidade adquirida.

Já nos grandes leilões, se reúnem diversos fatores que precisam estar

ajustados sob a ótica do marketing, criando uma estratégia de comunicação

diferenciada com ações específicas voltadas aos diferentes públicos de interesse,

formadores de opinião, mídia, autoridades e, principalmente, potenciais

compradores.

“... em toda a complexidade dos fatores que envolvem o atual e competitivo agronegócio, o paradigma do marketing, aplicado e desenvolvido corretamente, poderá ser, sem dúvida, um atalho rápido e preciso para muitas empresas brasileiras avançar em um caminho de sucesso e prosperidade. E a nossa pecuária já dá muitos exemplos disso”.23

23 Artigo divulgado na Revista O Zebu no Brasil, Edição 158, Set/Out 2004, p. 10

Page 65: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

56

3.6 – BRASIL: BOM PRODUTOR, MAS PÉSSIMO VENDEDOR.

Para Gerson de Freitas Jr. (2004)24, o Brasil vive um paradoxo:

“... é tão bom produtor quanto péssimo vendedor de seus produtos agropecuários.

Embora tenham escala, tecnologia de ponta adaptada, empreendedorismo e produtividade

invejáveis, pecuaristas e agricultores abrem mão de transformar suas vantagens

competitivas em diferenciais de mercado”.

Exportador de commodities, com nenhum valor agregado ou identidade, o

país faz pouco para conquistar a preferência dos compradores mundiais pelo

produto brasileiro. Como não existe marca, não se diferencia e não é associada a

quaisquer qualidades, a produção interna fica em uma posição totalmente arriscada

às variações de preço pela oferta e demanda.

A conseqüência é que, por trás dos bons resultados da balança comercial brasileira, esconde-se uma situação de fragilidade. A raiz do problema é que o setor produtivo ainda não aprendeu a se enxergar como parte de uma cadeia e a entender o consumidor final, a fim de apreender suas necessidades e anseios, desperdiçando oportunidades. Em resumo, falta ao Brasil rural a chamada consciência de marketing. (FREITAS, 2004)25

O conceito abrevia um conjunto de estratégias para desenvolver, difundir e

sustentar um produto no mercado consumidor. Isso já é praticado por alguns

setores do agronegócio. Durante as últimas décadas, fornecedores de insumos e

serviços agropecuários, como Bunge, Syngenta, Tortuga, e Case, estabeleceram-

se no mercado brasileiro fortemente, utilizando-se de canais de comunicação com

o produtor e estratégias de marketing equivalente com o que se vê nos países

desenvolvidos, ao que se deve parte da evolução tecnológica no campo. Mas se o

segmento "antes da porteira", representada pelas indústrias, confirma poder, dentro

dela, o produtor ainda está atrasado quando o assunto é promover e agregar valor

a seus produtos.

Somos ainda muito inocentes nesse quesito. Na verdade, muitos ainda desconhecem o significado e a importância das ferramentas de marketing, geralmente (mal) associadas à publicidade e uma certa arte de enrolar o consumidor. Marketing é desenvolver mecanismos de segurança do negócio que estão, em última estância, atrelados às preferências de marca, produtos pessoas. Nesse sentido, nós somos praticamente zero. (MEGIDO, 2004)26.

24 Artigo divulgado no site www.saudebusinessweb.com.br em 20/09/2004.25 Artigo divulgado no site www.saudebusinessweb.com.br em 20/09/200426 Idem Nota 25.

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E não é eufemismo, uma vez que não existem estatísticas sobre os gastos

dos produtores com marketing, o agronegócio não passa de logística e escala.

Não se tem o controle das ações quando não existem vínculos emocionais e

racionais com os consumidores. Mais do que domar a técnica, estágio em que já se

evoluiu muito, os empresários rurais necessitam começar a preocupar-se em tornar

sua fazenda e produção conhecida e avaliada pelo consumidor final, seja ele a

dona-de-casa no supermercado, o comprador externo ou a indústria processadora.

Sem isso, não há fidelidade.

A percepção da "marca Brasil", o marketing aberto do país e, conseqüentemente, da sua produção, depende da organização e da convergência de toda a cadeia do agronegócio - indústria, cooperativas, entidades de classe, governo e, é claro, o produtor. Sem uma orquestração, afirmam os especialistas, ações individuais dificilmente obtêm resultado. "Existem pequenos nichos em que se pode andar atrás de seus fornecedores, estabelecer seu próprio plano de vendas e seus diferenciais, mas o grosso da produção exige atitudes de marketing associativistas27. (MEGIDO, 2004)

Os raros exemplos de marketing junto a mercados estrangeiros existentes

no Brasil comprovam a importância de se pensar estrategicamente no agronegócio.

É o caso do Brazilian Beef, selo de origem criado para a carne nacional a partir de

uma parceria entre a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes

Industrializadas (ABIEC) e a Agência de Promoção das Exportações (APEX). Em

2001, quando casos da doença da vaca louca na Europa e nos Estados Unidos

afligiam os consumidores de carne em todo o mundo, o Brasil aproveitou a brecha

para afirmar-se no mercado internacional. E foi exatamente a questão sanitária o

ponto de inicio para conquistar os consumidores internacionais.

“Chegamos à conclusão de que deveríamos apresentar a fruta brasileira lá

fora. Tínhamos de fazer marketing. O Brasil exportava frutas e não sabia nada

sobre quem as comprava ou como eram consumidas", relata Maurício Sá Ferraz,

gerente técnico da Central de Serviços de Exportações do Ibraf. Foi então criada a

marca Brazilian Fruit, a fim de identificar o produto brasileiro e associá-lo a

características de qualidade. O projeto começou com quatro frutas, então já

exportadas pelo Brasil e com escala suficiente para suprir a um possível aumento

de demanda - manga, mamão papaia, melão e uva.

27 Artigo divulgado no site www.saudebusinessweb.com.br em 20/09/2004

Page 67: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

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“Além da criação de uma marca, a cadeia deu inicio a promoção da fruta por

meio de participação em feiras internacionais e com degustações em

supermercados. Tentamos mostrar para o consumidor final que aquele produto, de

qualidade, era brasileiro e, a partir daí, incentivar sua procura", explica Ferraz.

Em um ano, algumas redes varejistas aumentaram em 1000% a venda de

frutas brasileiras. "Foi quando a gente percebeu que, até então, o Brasil não estava

exportando, e sim, sendo exportado, vendido", diz. Em apenas um ano, as vendas

externas da Brazilian Fruit cresceram mais de 30% em receita. Em 2003, atingiram

US$ 335,3 milhões, com volumes na casa de 810 mil toneladas - quase sete vezes

mais do que no início do programa. Até 2010, a expectativa é de que as divisas

anuais cheguem a US$ 1 bilhão. (www.ibraf.com.br).

Marketing, contudo, não se limita a estratégias de promoção, como a

participação em feiras e degustações com o consumidor final. Toda a estratégia de

marketing começa pela compreensão do macro ambiente. Ou seja, antes de

explorar um mercado, é preciso entender todas as variáveis que determinam os

hábitos de consumo e poder de compra do público-alvo, os possíveis concorrentes,

questões legais, políticas, culturais, tributárias, entre outras, que podem atrapalhar

a vida de quem vende. São observações fundamentais para a realização de

qualquer negócio.

Um exemplo claro freqüentemente citado pelos especialistas em marketing é

o do dono de uma granja ou frigorífico que, na tentativa de explorar novos

mercados, decide investir na Índia, um país que, por questões culturais e religiosas,

abstém-se do consumo de carne. Trata-se de uma ilustração extremada, mas há

exemplos mais sutis de como os hábitos de consumo de um povo podem não só

inviabilizar negócios como também gerar oportunidades. Recentemente, os

exportadores de carne viram na China um mercado novo: o de miúdos. Antes

jogados fora, peças como a medula, língua, testículos, vergalho e tendão agora

representam receita. De acordo com a ABIEC, até o final do ano, entre US$100

milhões e US$ 150 milhões serão levantados com a venda do que antes não tinha

valor de mercado.

Page 68: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

59

É preciso conhecer bem o consumidor. Para isso, temos de ir lá fora, visitar as centrais de distribuição, conversar com os compradores. A partir daí, é possível fazer um mapeamento de quais são as oportunidades existentes, onde há janelas e quem as disputa. (FERRAZ, 2003)28.

Analisados os aspectos mais amplos, é a vez de se pensar no chamado

micro ambiente. São os famosos 4Ps do marketing: produto, preço, ponto e

promoção. O primeiro é a peça-chave. É preciso pensar as características de

qualidade, marca, embalagem, identificação, conformidade com as exigências do

público-alvo, o que o difere dos concorrentes.

Nesse sentido, a conscientização de uma base de produtores é fundamental.

Ao optar por uma determinada marca, o consumidor tem de estar certo do que vai

encontrar. No caso das frutas, por exemplo, características de sabor, coloração e

calibre têm de ser uniformes enquanto estiverem sob o mesmo selo, não

importando quantos produtores estejam envolvidos no processo. Novamente, uma

situação de marketing associativista. Na condição de fornecedor, o país também

carece de um grupo comprometido com a entrega regular do produto. Para

Maurício Ferraz, "o Brasil foi durante muito tempo taxado de aventureiro lá fora,

porque o produtor entrava no mercado externo quando os preços aqui dentro

estavam ruins e o abandonava quando o interno reagia.".

É também no "P" de produto que entra a importância da tecnologia. A

pesquisa permite agregar características de coloração, tamanho, nutrição, aroma e

adaptabilidade que devem ampliar o leque de diferenciais não só para as frutas,

mas também para commodities clássicas como milho, soja e trigo.

(www.saudebusiness web.com.br)

3.7 – CASO CAFÉ: A expansão da produção cafeeira no Brasil.

Quem deseja compreender porque é interessante para o governo federal a

expansão e a descentralização da produção de café no país e também aprender a

medida exata desse interesse, e portanto, das possibilidades e estágios da

possível expansão, deve considerar a importância do café na economia nacional.

A economia brasileira é uma economia dependente de fatores externos.

28 Artigo divulgado em www.abiec.com.br. Acesso em 03/09/2008.

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Fatores que se materializam pelo fato dessas economias dependerem de um ou dois produtos de exportação, através dos quais obtêm as divisas necessárias para suas importações (máquinas, equipamentos, insumos, matérias-primas e produtos acabados) e também para o pagamento de dívidas contraídas no exterior, quando as operações comerciais realizadas no mercado mundial não conseguem alcançar um nível de equilíbrio. (BATISTA, 1979, P.13)

Por isso a importância da expansão da produção cafeeira no país. Porém, a

mensuração dessa expansão, bem como a análise de suas reais condições e

possibilidades de localização social e espacial, precisam ser obtidas com certa

margem de segurança para que as políticas de incentivos sejam orientadas com

certa precisão.

3.7.1 – O MERCADO CAFEEIRO

No começo do século XX, o Brasil era responsável por cerca de ¾ da

produção mundial detento, portanto o monopólio.

Segundo Batista (1979) a produção de café agrupava-se nos Estados de

São Paulo e Minas Gerais, com uma participação menor em outros Estados. Isso

justifica o maior interesse na política de defesa do governo por parte dos

empresários e agricultores dos Estados de São Paulo e Minas Gerais.

Outros fatores conjunturais vieram a agregar pontos a favor da intervenção

governamental: Redução das exportações de café, Campanha de propaganda para

estimular o consumo no país e no exterior facilitar a expansão de novas plantações

de café e Negociações de empréstimos externo para custear a administração.

Mas Delfim29 (1979) aponta que por maior que tenha sido o êxodo, em

termos do seu objetivo, ela deixou uma clara contribuição negativa que foi o

precedente de uma intervenção, que seria reclamada com freqüência

posteriormente.

3.7.2 – A CONCORRÊNCIA

A partir de 1924, por inspiração dos importadores e torrefadores, uma

campanha agressiva contra o café foi iniciada. A tomada de consciência de que a

29 DELFIM NETTO, Antonio – op. cit. p.65.

Page 70: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

61

eficiente política brasileira impediria por muito tempo, aos importadores, o controle

do mercado. Portanto, só lhes restavam uma alternativa que foi o estímulo à

produção em outros países, o que foi logo posto em prática com a realização de

investimentos americanos na Colômbia.

Esse período marca a ascenção da concorrência, que começa a monopolizar os adicionais do consumo mundial do café. O café colombiano penetra rapidamente no mercado dos EUA e é exatamente o comportamento da sua produção que estabelece o andamento geral da concorrência Latino – Americana. (BATISTA, 1985, p.26).

Na opinião de Delfim30 (1979) a causa fundamental da expansão

Colombiana residiu na defesa dos preços, instituída de maneira permanente com a

regulamentação das entradas nos portos, ou seja, a defesa representou um

estímulo adicional muito poderoso para a expansão da cultura cafeeira na

Colombia31

Como as necessidades do mercado mundial apresentavam-se crescentes,

especialmente com a penetração altamente favorável ao mercado asiático, os EUA

iniciaram um vigoroso programa de implantação de indústrias na região produtora

da América Latina.

Somente a partir de 1959, com a criação de Grupo de Trabalho no Conselho

Nacional do Desenvolvimento, é que o País toma efetivamente consciência da sua

condição de mero espectador, em um cenário mundial, no qual a posição da

indústria e comércio do café já se encontrava bastante cristalizada, e passa então a

propor uma série de recomendação e medidas, visando incentivar a implantação

dessa indústria no país. Em 28 de Abril de 1960, com a resolução 161, Instituto

Brasileiro de Café cria as primeiras normas para este fim.

3.7.3 – ACORDOS INTERNACIONAIS: Objetivos e efeitos.

De acordo com Batista (1979), em 1942, as condições criadas pela segunda

conflagração mundial, que repercutia especialmente no tópico econômico, além do

30 DELFIM NETTO, Antonio – op. cit. p.12131 O Brasil previa o consumo mundial: subtrair a produção exportável dos concorrentes e liberava o excedente. Para garantir o nível dos preços assumia posição de fornecedor residual. (Batista, 1979, p.27)

Page 71: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

62

fato de que a essa altura a operação de queima dos estoques já se achava em

estágio bastante avançado, numa realidade nova e diferente surgiu para a

cafeicultura brasileira, com a assinatura do acordo de Washington ou acordo

interamericano do café (AIC), entre Brasil e EUA, estabelecendo o montante anual

da cota de café entre estes. Através deste acordo, estabeleceu-se para o café

brasileiro um preço fixo, quando destinado ao mercado norte americano. Essa

situação prejudicou severamente a economia nacional, pelo simples fato de que os

preços dos produtos importados notadamente originados dos EUA (principal

supridor mundial) apresentavam-se sempre crescentes e internamente o custo de

produção vinha se elevando sensivelmente.

Na conferência interamericana de fevereiro de 1945, já se verificou um

expressivo empenho das nações produtoras de café da América Latina, no sentido

de evidenciar a necessidade da elevação dos preços dos produtos. Esse esforço

deparou-se com a acirrada resistência dos EUA, que considerava a manutenção do

preço-teto elemento chave para o combate a inflação.

Hélio Duque32 observa, com referência a esse período, que considerando

“Os reflexos internos da segunda guerra mundial na economia nacional, inclusive

em relação ao café, podemos constatar que sob o ângulo externo, seus efeitos

foram altamente expressivos para a vida econômica brasileira”, e que as

exportações nacionais de café foram generosamente beneficiadas pelo AIC33, que

definia a distribuição de cotas de consumo para cada país produtor, evitando uma

concorrência inútil, uma vez que os mercados europeus encontravam-se fechados

por motivo de guerra.

Durante os anos de vigência desse acordo, o Brasil perdeu gradativamente

sua posição no mercado internacional para benefício dos seus concorrentes,

especialmente os africanos. Por ser este um mercado eminentemente instável, os

AIC’s objetivaram sempre diminuir as flutuações dos preços.

32 DUQUE, Helio M. – op. cit. p.3833 BAER, Werner. A Industrialização e o Desenvolvimento Econômico do Brasil. RJ, FGV, 1966, p.28

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63

3.7.4 – COMPORTAMENTO DOS PREÇOS NO MERCADO DE CAFÉ DO

BRASIL

Segundo Lamounier (2002), o mercado de café se caracteriza por

significativas flutuações de preços. Essas flutuações implicam na rentabilidade

deste tipo de atividade, que deverá variar propiciando aos investidores bem

informados uma lucratividade bem diferenciada, pois suas decisões de hedge34 e

de especulação estarão bem fundadas em previsões precisas por volta do

comportamento do mercado.

Com tudo, observa-se que nestas possibilidades de ganho ainda não são

completamente aproveitadas pela maior parte dos agentes econômicos envolvidos

neste mercado; Isso porque há uma compreensão incorreta em torno da natureza

das flutuações de preços do café, não podendo ser evitadas, pelo menos as

informações deveriam ser utilizadas pelos agentes diretamente ligados a esses

mercados, com a finalidade de maximizar suas decisões de hedge e de

especulação.

O café, principal commodity agrícola do Brasil, tem o preço influenciado

pelos ciclos, sazonalidade e volatilidade condicional nos preços. “... fornecendo

assim subsídios teóricos e empíricos aos agentes econômicos envolvidos em

operações com essa commodity no mercado.

3.7.5 – ASPECTOS ATUAIS DO MERCADO INTERNO E EXTERNO, E

SUAS EXIGÊNCIAS.

A indústria brasileira do café é constituída na sua maior parte por pequenas

e micro empresas, apontando uma estrutura pulverizada no setor, caracterizada

por desenvolver um pequeno mix de produtos que atua com baixo nível

tecnológico.

Quanto à atuação das forças competitivas neste setor, é possível observar,

no que se refere à ameaça de novos entrantes, que o setor conta com algumas

34 Hedge é um instrumento que visa proteger operações financeiras do risco de grandes variações de preço de um determinado ativo. Em finanças, uma estratégia de hedging consiste em realizar determinado investimento com o objetivo especifico de reduzir ou eliminar o risco de outro investimento ou transação. (http://pt.wikipedia.org)

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barreiras de entrada destacando-se as economias de escala, a diferenciação do

produto e as exigências de capital.

A utilização de economias de escalas comumente percebidas nas empresas

maiores como forma de reduzir custos e de manter vendas nas grandes redes de

supermercados, funcionando como barreira de entrada pelo fato de impedir que um

concorrente em potencial venha a ingressar no setor em grande escala ou, então,

aceitar uma desvantagem de custo.

A diferenciação resultante da identificação com a marca, também cria

obstáculos à entrada em virtude de forçar os novos concorrentes a consideráveis

investimentos para superar a lealdade dos clientes.

As exigências de capital constituem barreiras à entrada por implicarem em

gastos significativos com propagandas, créditos aos compradores, manutenção de

frota própria ou serviços terceirizados, para distribuição do produto e ainda com

despesas de aquisição de transporte da matéria prima.

O café brasileiro sempre foi considerado um produto para exportação. Isso explica a ausência de pesquisas em investimento nacional que lhe agregassem valores e lhe tornassem um produto internacionalmente mais competitivo. O Brasil exporta basicamente, café verde e café solúvel. Dos milhões de sacas que anualmente vão para o exterior, a imensa maioria são de café verde e o restante de café solúvel. As exportações de café torrado e muído são recentes e feitos em volumes reduzidos. Vender café industrializado ainda é difícil para o Brasil, em virtude de que só atualmente o país despertou para essa comercialização, enquanto outros países iniciaram anteriormente estabeleceram convênios e parcerias com grandes redes (TOLEDO, 2000)

Para Farias (2000), o Brasil tem uma infra-estrutura sólida no que se refere

às exportações do café verde.

A maior vantagem brasileira diante dos concorrentes no mercado

internacional está no fato de o país produzir todas as qualidades de café e

quantidade suficiente para atender demandas quantitativas. Esse contexto

estrutural, para o comércio internacional do café verde, serve como referência para

motivar e desenvolver as exportações do café torrado e moído. Contudo, a infra-

estrutura específica para a exportação do café torrado e moído continua precária. A

ausência de adequações para diminuir a burocracia, maiores informações para as

empresas sobre demandas externas potenciais, maior proximidade dos órgãos

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65

públicos e da iniciativa privada responsáveis pelas orientações no processo, além

da existência de receio e insegurança do empresariado brasileiro em penetrar nos

mercados globais.

Ao contrário do que se possa imaginar, o mercado externo sinaliza grande receptividade para o produto brasileiro. Exige-se, entretanto, que adequações em aspectos como embalagem e instruções de utilizações do produto sejam apresentadas de acordo com alguns traços do país importador, além de apresentarem-se em sua respectiva língua oficial. Um dos principais obstáculos à competitividade internacional do café brasileiro industrializado, além de problemas relacionados a conhecimento insuficiente do mercado externo, consiste no desconhecimento de procedimentos, em grande medida relacionados à logística. Não obstante a necessidade de participação em feiras internacionais, do gerenciamento e incentivo à agregação de valor ao produto para tornar o café industrializado mais competitivo no mercado externo, a organização logística apresenta-se como ponto-chave para os negócios de exportação do setor de café brasileiro industrializado. (SIMÕES, 2000).

Para Scheller (2005)35, o Brasil trabalha como uma espécie de união entre

os países interessados em disputar no mercado internacional e os preocupados

com a agricultura familiar. Esta ampla coalizão é fruto do resultado da tendência

sobre a perspectiva desenvolvimentista na OMC (Organização Mundial do

Comércio).

O G-2036 tem a certeza de que a liberalização no setor agrícola tem que

ocorrer. A vantagem comparativa dos países em desenvolvimento é prejudicada

por restrições e limitações.

Tome-se o caso do café, por exemplo, produto que está na pauta de exportações do Brasil desde o fim do século 19 e no qual o país ainda é líder no mundo. A Europa só permite que o país exporte o café em grão, justamente o produto mais barato, quando o Brasil poderia entregar o café torrado, moído, embalado ou em saquinhos. Mas isso não ocorre, porque as tarifas da União Européia são proibitivas. O G-20 não busca o confronto, mas uma somatória positiva para a negociação.(SCHELLER, 2005)

35 Artigo publicado por Fernando Scheller em 14/12/2005, na Revista do Agronegócio Café. Cafeicultura. 36 O G-20, ou Grupo dos 20, é um grupo de países emergentes criado em 20 de agosto de 2003, em Cancún, México. A atuação está mais concentrada na agricultura. Em Cancún, os objetivos principais tinham sido defender resultados nas negociações agrícolas que refletissem o nível de ambição do mandato das negociações da Rodada de Doha e os interesses dos países em desenvolvimento. Seus países membros respondem por 60 % da população mundial, 70 % da população rural do mundo e 26% das exportações agrícolas mundiais. (http://pt.wikipedia.org)

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EXEMPLO DE BARREIRAS ÀS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS

Tarifas: 0% para café em grão e 9,0% para café solúvel.

Os países da Comunidade Andina beneficiam-se de isenção tarifária ao café solúvel, devido aos benefícios concedidos pelo regime antidrogas.

CAFÉ Isenções concedidas a terceiros países

Recentemente, Brasil e UE chegaram a acordo sobre o estabelecimento de quotas, para o café solúvel brasileiro, de 10.000t, 12.000t e 14.000t no período 2002-2004, respectivamente, com 0% de imposto de importação. Após 2004, serão definidas as novas quotas.

Fonte: Barreiras às exportações brasileiras (SECEX, 2001) - Tarifa Européia - Lista Consolidada OMC/EU. *OCM - Organizações Comuns de Mercado - políticas setoriais específicas financiadas pelo Fundo Europeu de Orientação e de Garantia Agrícola, mesmo fundo que financia a PAC - Política Agrícola Comum.

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CAPÍTULO VI

4 – ANÁLISES DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A AGRICULTURA

Segundo Nóbrega (1985) a proteção à agricultura em todo o mundo, por

meio de uma enorme intervenção governamental, tem sido justificada pela

importância social, política e econômica do setor.

As oscilações na oferta de produtos agrícolas afetam negativamente o

consumidor urbano, gerando uma necessidade de ação pública. Que em

contrapartida, também precisa proteger o agricultor contra variações indesejáveis

de sua renda, ocasionadas por queda ou excesso de produção.

O desenvolvimento tecnológico nas áreas de produção, de beneficiamento e industrialização de bens de origem rural e no comércio internacional de commodities criou o que se convencionou chamar agribusiness, que compreende indústrias de máquinas, de fertilizantes e defensivos, de processamento e armazenamento e todo o complexo de comercialização, incluindo as bolsas de mercadorias, as tradings companies e as empresas de análise de informações e de consultoria sobre agricultura. (NÓBREGA, 1985, P.20)

No Brasil, estima-se que o agribusiness é responsável por cerca de 40%37

do produto nacional bruto, justificando assim o apoio do governo ao setor.

A agricultura tem papel relevante para a sustentação do crescimento

econômico. Em todo esse processo, cumprem à agricultura pelo menos cinco

funções fundamentais38:

- Oferta de alimentos e de matérias-primas para a população urbana e a indústria,

que crescem em ritmo mais acelerado;

- Aumento de produtividade, que promove a liberação de pessoal das atividades

rurais, gerando oferta adicional de mão-de-obra para a indústria em expansão;

- Geração de poupanças para a formação de capital;

- Demanda de produtos industriais, particularmente de máquinas, tratores e outros

equipamentos agrícolas, bem como de insumos (fertilizantes e defensivos);

37 Fonte: Biblioteca on-line do SEBRAE. Artigo Agribusiness. Prof. Ives José Pizzolatti.38 Ver, a propósito, o Estudo Anpes nº5, de Antônio Delfim Netto, Affonso Celso Pastore e Eduardo Pereira de Carvalho, Agricultura e Desenvolvimento no Brasil, - São Paulo, 1969, p. 6 a 14.

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- Geração de divisas, via exportação, que serão utilizadas para a importação de

bens de capital e matérias-primas essenciais demandadas pelo processo de

industrialização39.

Para Nóbrega (1985), nenhum país pode negligenciar o apoio ao seu setor

agrícola, que é, além de tudo, fonte de vida para a população rural. Se não fosse

por essas razões a intervenção governamental encontraria justificativa nos altos

riscos associados à agricultura, tais como os fenômenos climáticos adversos, as

pragas e doenças, as incertezas quanto aos preços e a impossibilidade de adaptar

a produção rural, no curto prazo, ás variações ditadas pelo mercado.

Sendo assim, tais riscos e incertezas, se não forem reduzidos por uma

eficaz intervenção governamental, podem acarretar desestímulo ao investimento,

inibindo o desenvolvimento da propriedade rural e os ganhos de produtividade.

Estudos do Banco Mundial demonstram que todos os países possuidores de

forte setor agrícola são justamente aqueles mais bem capacitados a desenvolver

outras áreas da economia40.

4.1 – ANÁLISES DAS RELAÇÕES DE PODER POLÍTICO NO MEIO

RURAL

Para Nóbrega (1985), qualquer que seja a política agrícola de um país, seus

objetivos deverão permitir o desenvolvimento do setor, com aumento de produção

e produtividade, e promover econômica e socialmente todos quantos se vinculem

às atividades rurais, principalmente os trabalhadores e os produtores de baixa

renda. “... o desdobramento desses objetivos em outros de natureza econômica,

social, política e de segurança nacional dependerá das características de cada

país, de suas raízes históricas e de seu sistema político”.

39 Nem sempre esse processo é bem compreendido no Brasil, sendo comum a apresentação de teses que condenam a contribuição da agricultura à formação de capital ou à geração da capacidade de importar como fatores que teriam provocado a descapitalização do setor.40 Graham Donaldson, chefe da Divisão de Economia do Departamento de Agricultura e Desenvolvimento Rural do Banco Mundial, Incentive and the Farmer, artigo extraído de Economic Development and the Private Sector, World Bank, 1981, pelo governo dos Estados Unidos (USICA)

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69

Dependendo do nível de renda e da situação de seu balanço de pagamentos, a política agrícola pode justificar a produção de determinados itens, ainda que a custos superiores aos da importação, com vistas ao alcance de objetivos nacionais. (Nóbrega, 1985, p.22)

No campo estritamente econômico, o exame das relações de poder político

agrícola nos países que conseguiram se modernizar e desenvolver rapidamente a

agricultura mostra que as ações de governo podem ser agrupadas em três grandes

campos:

- A) Ações para reduzir custos de produção:

Nesse setor incluem os esforços propensos ao crescimento da produtividade e à origem de economias externas para a produção rural, especialmente por meio de investimentos públicos em pesquisas e extensão rural, bem como em infra-estrutura econômica (estradas, redes de armazenagem, transportes, eletrificação rural e irrigação) e em promoção social e econômica do produtor, mediante gastos em educação e saúde.

- B) Ações para estabilizar a renda do produtor:

Os programas de estabilização de renda na agricultura tem a premissa básica de que esse tipo de proteção é imprescindível para estimular o produtor a permanecer na atividade rural ou para evitar sub ou superprodução. Agindo em mercados competitivos, com produtos cuja procura é geralmente inelástica aos preços, o agricultor está propenso a fortes variações em sua renda. Os esquemas de estabilização de renda são um ponto delicado de política agrícola, e acaba sendo muitas vezes, tema de controvérsia entre os estudiosos do setor.

- C) Ações para assegurar crédito rural:

Esse meio de apoio governamental leva em conta que, de um modo geral, parte maior ou menor dos produtores rurais não dispõe de acesso às operações de crédito do sistema financeiro privado, seja pelo estreitamento da rede de agências,seja pelo maior risco ligado às operações de financiamento à agricultura em determinadas regiões ou em certos tipos de atividade. Além de que, o sistema bancário privado dificilmente se encaixaria na assistência de crédito de prazo mais longo ao produtor rural, nem seria capaz de beneficiar o agricultor de baixa renda. Desse modo, desde o final do século passado, a história econômica é farta em exemplos de esforços governamentais no sentido de criar e manter sistemas específicos de crédito à agricultura, através de agências oficiais, privadas ou mistas.

Page 79: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

70

4.2- SISTEMA AGRO-PRODUTIVO: pequenos produtores, cooperativas x agribusiness

A agricultura de pequenos produtores (Agricultura familiar) pode ser

caracterizada como um modelo em que a direção do processo produtivo está

garantida diretamente ao proprietário da terra, onde a gestão da propriedade e a

própria força de trabalho estão na responsabilidade da mesma pessoa ou da

própria família. As propriedades agrícolas familiares costumam ter um elevado grau

na diversificação de seus produtos, embora haja quase sempre uma necessidade

de estabelecer uma cultura dominadora para gerar excedente, ou seja, capital para

realimentação do processo produtivo, por meio da venda do produto resultante

para o mercado.

Além destas características fundamentais, outras podem ser incluídas à

agricultura familiar, dentre as quais se enfatizam as questões relativas à inclusão

mais ativa do agricultor familiar com seu meio, o que se reflete na importância que

ele dá à qualidade de vida e ao meio ambiente, o que não parece ser uma

preocupação primordial nas unidades de exploração agrícola comercial.

(ABRAMOVAY, 1997)41. A partir desta concepção de agricultura familiar, pode-se

dizer que a mesma representa uma fatia considerável no universo da agricultura

brasileira, concentrando mais de 84% das propriedades agricultáveis do Brasil

(Gazeta do Povo, 25 de junho de 2003).

Para Neves (2006)42 tal atividade se caracteriza por sua forma de

organização produtiva ser de responsabilidade exclusivamente do grupo familiar.

Este é responsável por todo o processo produtivo desde a escolha da cultura,

diversificação, tipo de plantio e escoamento da produção. Tal conceito é sintetizado

por Neves (2006, p.47) “como a forma de organização da produção em que a

família é ao mesmo tempo proprietária dos meios de produção e executora das

atividades produtivas”.

41 ABRAMOVAY, Ricardo. Uma extensão para a agricultura Familiar – Anais. Brasília:PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), 1997, p. 222.

42 NEVES, Delma P. (2006). Agricultura familiar: quantos ancoradouros!http://www2.prudente.unesp.br/dgeo/nera/Bernardo2006_bibliografia/Agricultura_Familiar.pdf

Page 80: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

71

A agricultura familiar tem como seu principal foco o desenvolvimento rural

sustentável, que procura explorar de forma diversificada um conjunto de atividades

rurais economicamente viável, socialmente eqüitativa e ambientalmente

sustentável. E segundo estudos da FAO/INCRA (1994)43:

O modelo familiar teria como característica a relação íntima entre trabalho e gestão, a direção do processo produtivo conduzido pelos proprietários, a ênfase na diversificação produtiva e na durabilidade dos recursos e na qualidade de vida, a utilização do trabalho assalariado em caráter complementar e a tomada de decisões imediatas, ligadas ao alto grau de imprevisibilidade do processo produtivo (OLALDE, 2004, p. 1)44.

A modernização agrícola teve na década de 1950 os seus primeiros passos,

de intensas mudanças que o país e o mundo atravessavam no período pós-guerra.

A onda da modernização traçou uma realidade diferenciada, a existência de uma

agricultura predominantemente familiar, de pequenas e médias propriedades de

produção agrícola, que se adaptaram à ativa modernização e absorveram as

novidades tecnológicas provenientes do processo, sem que perdessem todo o

poder decisório do centro familiar. A agricultura familiar representou uma

construção ativa diante da imposição de um modelo dominante, organizado pelos

interesses do capital transnacional e ensaiado por meio do processo de

modernização agrícola.

A modernização, de acordo com Schallenberger e outros (1999)45,

desenvolveram-se em três etapas na região oeste, a saber: a) fase extrativa e de

subsistência familiar, b) fase de consolidação da economia agrícola de exportação

e c) fase de diversidade da base agrícola e de agro-industrialização.

43 FAO/INCRA (1994). Diretrizes de Política Agrária e Desenvolvimento Sustentável.Brasília, Versão resumida do Relatório Final do Projeto UTF/BRA/036, março

44 OLALDE, Alicia Ruiz (2004). Agricultura Familiar e Desenvolvimento Sustentável.http://www.ceplac.gov.br/radar/Artigos/artigo3.htm

45 SCHALLENBERGER, Erneldo. O associativismo cristão no sul do Brasil: a contribuição daSociedade União Rural e da Liga das Uniões Coloniais no processo de organização social edo desenvolvimento sul-brasileiro. Porto Alegre: (Tese de Doutorado) PUCRS, 2002.

Page 81: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

72

Para Schallenberger (2002), a pequena propriedade familiar e a organização

comunitária representaram a base da construção do associativismo. A

solidariedade entre os colonos imigrantes europeus era uma prática do cotidiano,

cultuada para fazer frente aos entraves naturais e às deficitárias classes de

suprimento dos indivíduos e da coletividade. Ajudar o vizinho nas colheitas, nas

derrubadas, nas edificações da propriedade e na construção do espaço público

eram regra que caracterizam o perfil social dos sujeitos sociais nativos das levas de

imigrantes.

É correto que as associações tiveram que seguir as mudanças históricas. Já

na década de 1990, com as crises mundiais do sistema econômico, as associações

procuraram se adaptar à realidade contemporânea. A própria Aliança Cooperativa

Internacional (AIC), no congresso realizado em 1995, assinalou para a necessidade

de profissionalização, admitiu o recebimento de juros sobre o capital integrado e

recomendou a criação e o estabelecimento de parcerias (MEDEIROS; BELIK apud

SERRA, 2003, p. 133)46.

As cooperativas agrícolas, em especial, começaram a surgir no início

década de 1940; mas é a partir de 1970, seguindo o dinamismo econômico do

período, que as cooperativas começaram a se tornar estruturas fundamentais e a

se expandir, inseridas na realidade econômica brasileira. As cooperativas

passaram a realizar um papel formador do desenvolvimento econômico pela

mediação e articulação que desempenharam entre os diferentes agentes

econômicos, sendo laços importantes para a integração do setor produtivo ao

mercado.

A dinâmica do crescimento econômico de uma cooperativa se relaciona com

o perfil do seu gerenciamento e do seu ajuste às forças impulsionadoras do

crescimento econômico.

As cooperativas, ao contrário das empresas não cooperativas, têm a dimensão social, que deve estar em sintonia com os fins econômicos; ou seja, quando não há identificação dos associados com a própria cooperativa a crise é de participação, podendo ocasionar problemas que abalam até mesmo toda a estrutura econômica e a saúde da cooperativa em questão, uma vez que, não participando de modo efetivo da tomada de decisões e dos rumos da

46 SERRA, Elpídio. A teoria e a prática cooperativista entre os produtores rurais. In:VILLALOBOS, José Guerra. Geografia social e agricultura no Paraná. Programa de Pós-Graduação de Geografia, Maringá: UEM, 2003.

Page 82: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

73

cooperativa, o cooperado delega suas responsabilidades e rompe com o princípio da lealdade e da confiança. (SCHALLENBERG, 2002)

Quando o crescimento apressado de uma organização cooperativa se dá por

fatores externos, como o causado pelas políticas de modernização e pela inserção

da agricultura brasileira no mercado mundial, há o risco notável de um

distanciamento entre o quadro de cooperados e o corpo diretivo, tendo em vista

que este passou a interceder em muitos casos, os interesses de grupos

monopolistas e a se movimentar numa esfera simbólica distinta da dos produtores

associados. Os interesses nitidamente econômicos e empresariais atropelam, em

muitas situações, os interesses do quadro associativo. Quando isso ocorre de

maneira muito nítida, os cooperados são afastados ou se retiram das engrenagens

da administração e “a cooperativa torna-se uma nova autoridade de gestão dos

bens comuns, um novo intermediário para o acesso ao mercado. Ela pode até ser

percebida como um novo patrão”. (SABORIN, apud SERRA, 2003, p.137).

Diante disso, a cooperativa figura para os agricultores unicamente como intermediadora entre plantio e comercialização, limitando a sua importância apenas nas chances de obtenção de maiores lucros que as cooperativas possibilitam aos produtores rurais, seja no momento da colocação dos produtos da agricultura no mercado, seja na compra de bens ou, ainda, na prestação de serviços. (SERRA, 2001, p. 125).

O modelo agronegócio, também rotulado de patronal, empresarial ou de

forma mais ampla de agribusiness, representa uma forma de organização produtiva

marcada pela produção em alta escala, intensiva em capital, que emprega recursos

tecnológicos avançados e com forte capacidade de competir nos mercados

internacionais, e que na visão de Jank (2005)47 todos os produtores rurais

fatalmente deverão se inserir, independente de seu porte:

O agronegócio nada mais é do que um marco conceitual que delimita os sistemas integrados de produção de alimentos, fibras e biomassa, operando desde o melhoramento genético até o produto final, no qual todos os agentes que se propõem a produzir matérias-primas agropecuárias devem fatalmente se inserir, sejam eles pequenos ou grandes produtores, agricultores familiares ou patronais, fazendeiros ou assentados. (Jank, 2005)

47 JANK, Marcos Sawaya (2005). Agronegócio versus Agricultura Familiar?. O Estado deSão Paulo, 05/072005, p. A-2.

Page 83: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

74

O mercado agribusiness volta-se principalmente para a produção em grande

escala focando a expansão da produção, com ganhos crescentes de produtividade.

Por meio de constante inclusão de tecnologia procura aumentar sua

competitividade junto aos mercados internacionais, garantindo ao país as primeiras

posições no ranking de produção e exportação de diversos produtos

agropecuários. As cadeias produtivas do agronegócio brasileiro englobam

atividades de produção agrícola (pecuário, lavouras, extração vegetal), de

fornecimento de insumos, de processo agroindustrial e de todos os setores que dão

suporte ao fluxo de produtos até o consumidor final (transporte, comercialização,

etc.).

4.3 – CUSTOS OPERACIONAIS E DE INTERMEDIAÇÃO

É cada vez maior a produção e produtividade do setor agrícola brasileiro, e

isso é motivado pelo investimento do empresário rural que está desenvolvendo sua

empresa antes da porteira, investindo no que há de mais moderno em técnicas de

produção e maquinário.

Porém, esta etapa de desenvolvimento que circulou pelo campo não foi

suficiente para prevenir uma crise grave em diversas áreas do setor, que vêm se

estendendo há cerca de dois anos devido à combinação de diversos fatores, tais

como os juros e carga tributária nas alturas, aumento dos custos de produção,

precária infra-estrutura de transportes, queda de safra, ataque de novas pragas à

lavoura, queda dos preços internacionais e desvalorização do dólar diante da

moeda brasileira. Todos esses problemas ganharam um maior volume pela sua

crescente importância no país. O setor representa em média, 33% do PIB

brasileiro, 42% de toda a exportação nacional e 37% dos empregos brasileiros

segundo dados do MAPA48.

Para Polato (2006)49, essa atual situação força os empresários rurais para

uma excelência na gestão dos negócios antes, dentro e depois da porteira.

O planejamento das empresas do agronegócio requer dados criados por toda a

cadeia produtiva, ou seja, antes, dentro e fora da porteira levando em importância o

longo prazo, analisando a situação e as tendências mais prováveis. Sendo

48 Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.49 Artigo publicado por Ricardo Polato na revista digital: Página Rural em 09/09/2006. Polato é bacharel em Administração e especializado em gestão empresarial e consultoria em agronegócios.

Page 84: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

75

importante, a abrangência e a qualidade das informações utilizadas para a tomada

de decisão, para só depois, fazer os investimentos necessários.

Destacam-se oportunidades de maiores ajustes na gestão da propriedade

rural, como entre outras coisas, a reavaliação dos custos de produção.

Principalmente no que se refere aos custos operacionais, tais como, combustível,

manutenção de maquinários, fretes e mão-de-obra, os quais são difíceis de

financiar e são imprescindíveis em todo processo produtivo. Esses custos

representam cerca de 44% dos custos totais, ficando os outros 56%, a cargo de

gastos com insumos e defensivos agrícolas, que apresentam maior abertura para

negociação e facilidade de financiamento. As qualidades nas operações realizadas

em campo são cruciais para uma boa produtividade.

Analisando algumas pequenas áreas agrícolas, podemos verificar que muitos empresários rurais ainda não dão tanta importância a princípios básicos, tais como a conservação do solo, evitando erosões e utilizando o sistema de plantio direto; a manutenção e regulagem correta dos maquinários, pois uma máquina mal regulada, gera desperdício e falhas de operações; aquisição de cultivares que atendam às necessidades da região, considerando clima, terreno, ciclo desejado e doenças propícias; adubação correta do solo e aplicação de defensivos agrícolas em períodos corretos, seguindo as regulamentações técnicas da cultivar plantada. (POLATO, 2006)

Entre essa imensa lista de problemas que os empresários rurais são

obrigados a enfrentar, outro problema que dificulta ainda mais a crise do setor

agroindustrial, a deficiência da logística nacional, não apenas nos transportes,

como também na armazenagem. A infra-estrutura rodoviária encontra-se em

condições horríveis, fazendo com que o custo de produção aumente ainda mais no

momento da compra de insumos e no momento da venda da produção. Existe uma

necessidade de reorganizar a rede logística brasileira, atualmente fundamentada

no transporte rodoviário, aplicando recursos para a melhoria de outros meios de

transportes mais econômicos como o ferroviário e hidroviário. Compete ao

empresário rural desenvolver estratégias de logísticas que amenizem esse custo,

utilizando-se de uma frota e equipamentos de armazenagem modernos, e

examinando as melhores formas de dirigir a produção, desde a fazenda até a

agroindústria de processamento ou portos para exportação.

Page 85: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

76

Essa necessidade de inovar consecutivamente atinge de forma tão ampla a

cadeia agroindustrial, que não apenas produtos e processos devem ser revisados,

como também a habilidade de gestão para evitar que as mudanças sociais,

ambientais e econômicas que acontecem rapidamente afetem o bom

funcionamento do negócio.

Graziano da Silva (1998)50 avalia que, dado o corte “porteira para

dentro/porteira para fora” da atividade agrícola, a intenção é diminuir, cada vez

mais, o conjunto de atividades “porteira para dentro” e ampliar, também cada vez

mais, o conjunto de atividades “porteira para fora”. A controle das novas

tecnologias dá-se, principalmente, nas áreas de telecomunicações, informática e

transportes, todos agilizando o setor de serviços no objetivo de dar conta das

novas características espaço-temporais desse novo ambiente.

Como observou Graziano da Silva (1998), nesse ajuntamento de novos

segmentos “porteira para fora”, as atividades conectadas, não mais à atividade

agroindustrial, mas ao setor serviços, é que ganham importância. E nesse setor,

duas subclasses despontam como primordiais: a logística, na parte distributiva; e

os serviços, tanto os auxiliares da produção (terceirização), quanto os pessoais

(personalizados).

Uma das mudanças centrais na dinâmica das redes agroalimentares é que os aspectos de controle, poder e dependência nestas redes não estão mais baseados apenas onde atuam as corporações ligadas ao elo dos insumos (inputoriented), ou seja, firmas cujas relações dão-se no setor de base agrícola propriamente dito. Crescentemente, eles são associados ao controle e construção do valor desde o momento da produção. Isso, em decorrência, serve para incrementar o poder das agências mais próximas ao consumidor e realça ainda mais a percepção comum de que a agregação de valor tende a ser associada cada vez menos ao momento primário da produção distanciando-se, por conseguinte, cada vez mais dela, como já havia apontado Graziano da Silva. (Marsden, 1997)51

A estrutura da cadeia agroalimentar, ao extender-se, agrega outras ligações,

outras empresas, outros ramos, na sua maior parte relacionados ao setor de

50 GRAZIANO da SILVA, J. A globalização da agricultura. In: SILVEIRA, M. A. da; VILELA, S. L. de O. ed. Globalização e sustentabilidade da agricultura. Jaguariúna: Embrapa-CNPMA, 1998. p. 29-4251 MARSDEN, T. Creating space for food: the distinctiveness of recent agrarian development.In: GOODMAN, D. ; WATTS. Globalising food: agrarian question and global reestruturing. London: Routledge, 1997. p. 169-191.

Page 86: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

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serviços. Para Green (1998)52, os lugares de onde se nota o processo de

intercâmbio de matérias-primas e de alimentos resultante do reencontro entre

oferta e demanda são múltiplos, deslocando-se para unir os locais de produção aos

de consumo. Isso vai desde as bolsas até os mercados ou feiras, passando pelos

portos e depósitos bem como circulam pelas ruas, vias férreas ou aeroportos.

Encontrando um ponto de chegada nos diversos tipos de comerciantes, que agem

desde o comércio informal, nos centros e periferias de muitas cidades, até os

santuários do consumo como os shopping centers e os hipermercados. Entre

ambos, um número infinito de agentes comerciais e de empresas de serviços,

coligados à sua atividade, dividem-se numa ardua tarefa de negociar, transportar,

guardar ou especular, com mercadorias em circulação entre o mundo da produção

e o do consumo.

É essa multiplicidade de relações e de agentes o que caracteriza o “novo” nas cadeias agroalimentares. Significa dizer que a distância entre quem produz e quem consome, tende a ser cada vez maior, ainda que, contraditoriamente, pareça simbolicamente menor. Ou seja, ao buscar uma aproximação sempre maior com a natureza, o consumidor produz no seu imaginário uma aproximação com o próprio produtor. (GRAZIANO, 1998)

Porém, a obrigação de agilizar o abastecimento dos alimentos, bem como de

processá-los e consumi-los sem muito gasto de tempo e de trabalho, faz com que

se criem demandas por serviços intermediários entre a produção e o consumo,

provido por novos agentes, que acabam por aumentar o grau de intermediação,

deixando o consumidor cada vez mais longe do produtor, ainda que esta

aproximação seja esboçada, através do marketing, pelos intermediários, visando

agregar valor aos produtos.

Esse processo de ampliação da cadeia vem seguido de um processo de

agregação de valor ao produto (formas de apresentação, praticidade, rapidez no

preparo, enfim, atividades do setor serviços) que refletem, ao mesmo tempo, no

bolso do consumidor, através do aumento dos preços finais. Assim, muitos

produtos chegam à mesa do consumidor com um preço até 500% maior que o

pago ao produtor

52 GREEN, R. Los aportes del marketing y del derecho al análisis de las cadenas alimentarias. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL, 36., 1998, Poços de Caldas-MG. Anais... Poços de Caldas-MG: SOBER, 1998. p. 21-38.

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78

. O que é novo neste processo é que a apropriação destas margens que

ocorrem no elo da intermediação (logística, distribuição, marketing,

comercialização), período do processo em que devem ser concentrados os

esforços para a concepção dos seus mecanismos de funcionamento, de forma a

estabelecer os diversos agentes, com suas respectivas importâncias, na relação

produção-consumo agroalimentar.

No círculo da comercialização, uma outra tendência é a busca de novos

mercados nacionais e internacionais que venham consumir produtos agrícolas de

maior valor agregado. Mas, para isso, a tendência é os agricultores procurarem um

aprimoramento das suas instalações e dos seus processos produtivos, investindo

em máquinas, equipamentos e formação de mão-de-obra. Além do mais, torna-se

cada vez mais urgente a necessidade de os agricultores disputarem a renda

diretamente no elo da distribuição, criando estratégias que possam reduzir

expressivamente o custo de intermediação.

4.4 – MODELOS COMMODITIES DO EXPORTADOR VINCULADO AO

SISTEMA COMERCIAL INTERNACIONAL

Essencial a toda atividade produtiva humana está introduzida a incerteza;

conforme aponta Lamounier (2002 apud Duarte, 1996) 53, qualquer medida

numérica desta improbabilidade pode ser chamada de risco. Assim, na produção

de commodities agropecuárias a insegurança pode se explicar sob várias formas,

como, por exemplo, na possibilidade do acontecimento de fenômenos naturais,

como geadas e secas, que serão maléficos à produtividade da produção; na

ocorrência de super-safras; nas operações e regulamentações governamentais não

prematuras pelos agentes econômicos; na possibilidade na criação de empecilhos

à entrada dos produtos nacionais nos comércios importadores etc. Esses

fenômenos além de outros não citados, possivelmente implicarão em choques

diretos sobre o nível dos preços das commodities.

53 DUARTE JR., A. M. Risco: Definições, tipos, medição e recomendações para o seu gerenciamento. Resenha BM&F, São Paulo: BM&F, 114, 1996.

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79

De acordo com Lamounier (2002 apud Debertin, 1986) 54, alguns mercados

de commodities agropecuárias operam com normas próximas ao modelo teórico da

concorrência pura. Isso significa que choques externos nos preços de seus

insumos férteis terão efeitos diretos no lucro dessas atividades, visto que os

agentes econômicos neles envolvidos são tomadores de preços. Neste contexto,

tem-se o chamado risco de mercado, para esses agentes, irá diretamente

depender do comportamento do preço da commodity diante das condições avessas

ao mercado como esses agentes (produtores) irão atuar e constituir suas

expectativas diante dessas condições.

De modo parecido, conforme observa Lamounier (2002 apud Atrasas,1993)55, existem riscos para aqueles agentes econômicos que aproveitam os produtos

agropecuários como matérias-primas em seus processos produtivos, como

acontece com as agroindústrias. As possíveis variações nos preços resultantes de

alterações nas condições de oferta e demanda dessas commodities, que são

insumos para suas referentes atividades, poderão levar ao estabelecimento de uma

margem de instabilidade para o programa de suas ações, relativas a seus

produtos, clientes e fornecedores, em último caso, podem significar redução em

sua lucratividade.

Se a ação governamental limitar a liberdade de ajustamento de preços, a manutenção de margens ficará absolutamente comprometida. Sob certas condições, a ação governamental é uma ameaça real à lucratividade da operação de uma subsidiária. Em um país que esteja sofrendo sérias dificuldades financeiras e esteja no meio de uma crise, os chefes de governo sofrem pressão para tomar alguma atitude. (KEEGAN, 2005)

Subsídios governamentais também podem forçar uma empresa à tomar uma

decisão estratégica de mudar a origem das mercadorias para ser competitiva em

preço. Na Europa, os subsídios do governo ao setor agrícola tornam difícil, para as

empresas estrangeiras de alimentos processados, competir em preço, quando

exportam para a união européia.

54 DEBERTIN, D.L. Agricultural prodution economics. New York: Macmillan, 1986.55 ATRASAS, A.L. Formação de preços no mercado futuro brasileiro. Viçosa:UFV. Dissertação (Mestrado em Economia Rural, 1993).

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80

O jornalista Alaor Gomes56, alerta que a Alemanha não tem nenhum cafezal,

entretanto, com apoio de bom marketing, ela responde por 9% das transações

mundiais de café. A Alemanha é também a 5º colocada na exportação de produtos

agrícolas; o Brasil, com imensa extensão territorial, é o 10º. Domina o mercado

quem possui tecnologia e não quem tem grandes dimensões territoriais.

O café importado pelas empresas alemãs como commodity, isto é, matéria-prima bruta. Essas empresas, que manipulam o café, transformam a matéria-prima em produto para consumo, agregando marca de prestígio em embalando de forma adequada. Com isso ele transforma-se numa especiaria.(Luiz Fernando P. César e Philip Yang, O Estado de São Paulo, 19/01/2001).

4.5 – IMPACTOS DO MODELO AGRÍCOLA: Ambiental, Social e Cultural.

A mudança das bases econômicas e técnicas da agricultura ocorridas da

modernização agrícola criaram uma série de transformações sócia espaciais,

como: a espacialização da produção; mudanças nas relações de trabalho; (re)

organização produtiva, e divisão social e territorial do trabalho.

Pode-se dizer que, a modernização da agricultura se caracteriza principalmente por três fatores: mudança da base técnica de produção, mudança nas relações de trabalho e especialização da produção. A mudança técnica consiste na modernização agrícola. Já a mudança nas relações de trabalho consiste no surgimento de novas categorias como os administradores das propriedades, os operadores de máquinas e outros, além da desapropriação dos pequenos produtores que perderam seus meios de produção e se transformaram em trabalhadores (assalariados ou temporários) ou migraram para as cidades. (LEMES, et al., 2007)

A particularização da produção consiste na especialização de poucas ou

apenas uma cultura, fundamentalmente voltadas para o mercado externo e

destinadas para a agroindústria. A modernização da agricultura trouxe consigo um

vultoso crescimento econômico para o país, porém também trouxe intensas

transformações ambientais acontecidas no meio ambiente.

O uso ininterrupto de tecnologias modernas tem provocado vários impactos

ambientais como: degradação e compactação dos solos , desflorestamento,

poluição das águas e solos e por conseguinte a perda da biodiversidade. Com a

agricultura mecanizada, o uso do solo é mais e mais predatório, e um de seus

56 Artigo publicado no jornal O Estado de São Paulo, em 17/11/1999.

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principais problemas é a perda da fertilidade, ocasionada pelo seu manejo

excessivo.

Para Matos (2006)57 “o aspecto mais visível da destruição dos solos

agrícolas é a erosão. Os processos mais avançados da erosão podem levar á

desertificação. Esse fenômeno já foi detectado nos estados do Rio Grande do Sul,

Bahia e Pernambuco.” (p. 73)

Além das mudanças nas relações de trabalho, da especialização da

produção por meio da reorganização produtiva e da divisão social e territorial do

trabalho. No Brasil a modernização da agricultura nos últimos 30 anos se

intensificou, ocasionando significativas mudanças na dinâmica territorial.

Entretanto, deve-se lembrar que a modernização agrícola se projetou de maneira

conservadora e excludente, privilegiando certas áreas, produtos e segmentos

sociais.

Ainda que hoje a modernização agrícola alcance, direta ou indiretamente,

todo o Brasil o desacerto técnico e econômico entre as diferentes áreas e culturas

agrícolas, do país é evidente. A modernização da agricultura brasileira gerou um

apressado crescimento econômico no país. Porém, provocou também impactos

sociais, culturais e ambientais. A busca por uma maior e melhor produtividade tem

largado de lado o valor social, cultural e ambiental.

4.6 – PROBLEMA DA DEPENDÊNCIA DOS FORNECEDORES DE

INSUMOS, PRINCIPALMENTE DE SEMENTES

O problema da dependência dos fornecedores de insumos e de sementes se

explica primeiramente através do entendimento do sistema de patentes. Assim

como, nos medicamentos genéricos, os defensivos também são comercializados

com o nome do princípio ativo contido e não pela sua marca comercial. As patentes

são leis que garantem exclusividade de algo que foi criado, essas patentes tem

duração de 20 anos no Brasil, para os casos de insumos, defensivos e

medicamentos genéricos, ou seja, durante duas décadas nenhum agricultor pode

57 MATOS, P. F. de. A consolidação da modernização agrícola no Cerrado e osimpactos ambientais. Mediação: Revista da Universidade Estadual de Goiás –Unidade Universitária de Pires do Rio, v. 01, nº 01. Pires do Rio: UEG, 2006.

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82

adquirir esse produto de um segundo ou terceiro fornecedor, salvo se houver

consentimento, por parte do inventor, com pagamentos de compensação

financeira.

Como a maior parte dos princípios ativos utilizados nos defensivos agrícolas

foram criados entre a década de 50 e 60, suas patentes já venceram, ou seja, são

de domínio públicos, terminado o prazo de exclusividade, o produto pode ser

fabricado por qualquer empresa que tenha desenvolvido ou adquirido sua

tecnologia e tenha acesso às matérias primas e intermediários. É nesta fase que o

produto passa a ser denominado de genérico, pois é ofertado por mais de um

fabricante. É interessante verificar que existe uma categoria de produto que, apesar

de estar em domínio público, não é oferecido por outros fabricantes. Este grupo,

controlado por um único fabricante, é chamado de produto exclusivo ou

especialidade.

Os genéricos representam mais de 70% em volume negociado no mundo. Porém, nada impede que o ex-dono da patente comercialize seu produto também com o nome genérico para inibir o ingresso de concorrentes em seu mercado, até então cativo. Com o poder de que dispõe, tornam difícil a entrada de novos competidores. Como resultado, apesar do mercado de genéricos representarem 70% do mercado mundial de defensivos agrícolas, estima-se que apenas entre 15% e 20% daquele mercado seja ocupado pelos produtores independentes. (www.agroclubes.com.br)

Desse modo o agricultor é obrigado a encarar uma concorrência terrível,

tanto nacional como internacional, na hora de distribuir seu produto e naturalmente

gostaria que os fornecedores de seus insumos também estivessem sujeitos a um

mínimo de concorrência. Entretanto, o governo brasileiro, em incompreensível

comportamento, gera obstáculos absurdos para registro de produtos genéricos,

favorecendo assim, a redução da concorrência na oferta de insumos.

Examinando-se as informações constantes do site da ANDA

(www.anda.org.br), observa-se que a indústria independente de genéricos diminuiu

sua participação mercadológica de 30% para cerca de 10%. O mercado de US$ 2,5

bilhões no ano de 2000 é abocanhado em 50% por apenas 4 empresas, em 70%

por 7 empresas e em 85% por 10 empresas. Dos 396 ingredientes ativos (sendo 91

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misturas de ing. ativos) apresentados, 290 têm 1 só ofertante, ou seja, 73%. Com 2

ofertantes, 51 ativos, e com 3 ou mais ofertantes, apenas 55 ativos, cerca de

14%.Por outro lado, o número de empresas registrantes e potencialmente

ofertantes, se limita a 68. No grupo dos produtos com tres ou mais ofertantes,

existe um total de 448 marcas comerciais, sendo apenas 213 (47%) de empresas

dedicadas unicamente a produtos genéricos. Isso indica que os genéricos, antes

reduto das empresas nacionais e de outras estrangeiras dedicadas a genéricos,

estão cada vez mais sendo ofertados pelas grandes companhias que detêm

também os produtos sob-patentes, simulando assim, um falsa concorrência.

A indústria de química fina (farmacêuticos e defensivos), que já não detêm

os monopólios dos quais sempre deteve, ameaçada pelos genéricos, procura

novas fronteiras tecnológicas para concretização de novos monopólios: ela se

fortalece através de fusões e caminha na direção da produção de sementes, com

vistas à aplicação da biotecnologia, criando pacotes tecnológicos monopolistas que

associam as sementes transgênicas a seus defensivos de marca. A associação da

soja transgênica ao Round-Up pela Monsanto é apenas um ensaio do que esta por

vir.

De acordo com o site, as 10 maiores empresas de sementes do mundo

controlam 32% do mercado mundial de sementes, estimado em US$23 bilhões. A

Pioneer, líder mundial de sementes foi comprada pela DuPont, uma das grandes

na química fina, que agora trabalha para aplicação de biotecnologia no

desenvolvimento de plantas trangênicas. O mesmo ocorre com a Monsanto (soja

trangênica), que comprou as empresas de ponta na produção de sementes de soja

e as duas maiores produtoras de sementes de milho híbrido no Brasil: Cargill e

Agroceres. A DuPont e a Monsanto controlam agora quase a totalidade daquele

mercado no país.

A política das empresas agroquímicas multinacionais parece clara no sentido

de dominarem a produção de alimentos (cereais em um primeiro momento) através

de pacotes tecnológicos baseados em sementes geneticamente modificadas

(transgênicos) e posteriormente sua comercialização através das fusões esperadas

com os gigantes na área de alimentos. O crescimento da curva de custos destes

últimos, ao longo da década, foi de tal magnitude que paralisou a indústria

Page 93: A Influência Do Marketing Rural e Seus Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais

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genuinamente nacional. As empresas pequenas e médias não lançaram qualquer

produto com ingredientes ativos genéricos de geração mais moderna, pois

gastaram seus parcos recursos para sustentar a renovação de alguns de seus

registros anteriores. Mesmo as empresas nacionais maiores registraram

pouquíssimos novos genéricos, tendo inclusive que desistir da sustentação de

alguns registros anteriores de produtos com nichos mercadológicos pequenos. O

agricultor hoje dispõe de menor opção de escolha de produtos genéricos e baratos.

Hoje são comercializados apenas 250 ingredientes ativos, aproximadamente,

sendo que as empresas dedicadas unicamente a genéricos, ofertam somente 50

ingredientes ativos sendo a maioria registrada por apenas uma dessas empresas..

A esperança de reversão desse quadro é a Portaria Interministerial nº 17/2000, que determinou que uma comissão de especialistas dos Ministérios envolvidos no assunto elaborasse um processual de registro que dessaagilidade ao sistema de obtenção dos Certificados de Registro e introduzisse definitivamente o procedimento da Similaridade Química para registro de produtos contendo ingredientes ativos já avaliados no país (os similares). (www.agroclubes.com.br)

Espera-se que desta vez exista determinação política para solução do

problema. Entretanto, sabemos bem que não basta uma simples comissão para

resolver o problema: é necessário, como no caso dos medicamentos, vontade

política.

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CONCLUSÃO

As preocupações existentes na pesquisa descrita apontam para a

necessidade do posicionamento do ponto de vista analítico, centralizado nas

discussões de preços, criação de marcas e agregação de valores aos produtos

proporcionando uma visão mais uniforme das cadeias.

Negociações de preços sempre haverá; porém o mais importante é a

percepção de pólos de convergência de interesses comuns, que se não forem

identificados antecipadamente poderão fazer com que todas as outras disputas se

tornem inócuas. Por isso, o Agribusiness está internacionalizado, no geral, nossas

cadeias agroindustriais não se prepararam para isso. Muito pelo contrário, estamos

investindo nas vantagens comparativas que cedem espaço, cada vez mais, à

competitividade construída. O consumidor brasileiro está apenas no começo de sua

organização, e se utilizarmos como base a experiência global, tal setor terá um

grau de importância gradativamente maior na administração do Agribusiness.

A inclusão de tecnologia no campo, assim como a implementação de canais

de comunicação e informação são imprescindíveis aos agricultores e/ou

cooperativas, para que possam administrar melhor suas produções, rentabilidade e

desempenho em todo o processo de comercialização.

O processo de transformação de commodities em produtos com valores

agregados, como marcas, especificações técnicas, suporte de pós-venda, entre

outros é a chave do estreitamento no canal entre produtores e consumidores finais.

É o caminho para uma maior lucratividade no mercado interno e maior ainda no

mercado externo, por se tratar de um diferencial diante de seus concorrentes. A

dificuldade em determinar preços em commodities, por causa dos inúmeros fatores

externos que o influenciam é um fator que deve ser considerado como agravante

em sua política comercial. Porém, os meios de flexibilização e adaptação á esses

fatores podem sim ser contornados por meio das estratégias de marketing

apresentadas nessa pesquisa. Notar tais fatos e preparar-se é a chave para a

competitividade do Agribusiness, ou seja, focar o crescimento das vendas, agilizar

o processamento de pedidos e a fixação da imagem de um produto são fatores

fundamentais frente aos riscos do agronegócio no mercado mundial.

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