anais do ge te m 2012 - resumos expandidos

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ANAIS – Resumos Expandidos

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ANAIS – Resumos Expandidos

SUMÁRIO

1 REESTRUTURAÇÃO DA AGRICULTURA E ESTRATÉGIAS DE PRODUÇÃO NO

AGRONEGÓCIO DA FRUTICULTURA DO BAIXO JAGUARIBE (CE) E VALE DO

AÇU (RN)

Érica Maria Bezerra PINHEIRO

Denise ELIAS

Página 1

2 ESTRATÉGIAS DO CAMPESINATO PARA A SUPERAÇÃO DAS RELAÇÕES

DEPRODUÇÃO CAPITALISTA: o caso do Pastoreio Racional Voisin (PRV)

Gilliard Pedro MARQUES

José Vieira NETO

Página 4

3 A DISPUTA PELA ÁGUA NO PONTAL DO PARANAPANEMA: a territorialidade dos

movimentos sociais (MST e MAB)

Jaqueline Da Silva OLIVEIRA

Marcelo Dornelis CARVALHAL

Página 8

4 A TRAJETÓRIA DOS ASSENTADOS DO OLGA BENÁRIO NA LUTA PELA

REFORMA AGRÁRIA – IPAMERI (2002 A 2009)

Leiriane Martins REZENDE

Luzia Márcia Rezende SILVA

Página 11

5 OPERAÇÃO DE AVALIAÇÃO DO ATERRO SANITÁRIO DE CATALÃO - 2007 A

2012

Liliane Alves da COSTA

Página 14

6 AS SEMENTES CRIOULAS COMO UMA ESTRATÉGIA DE REPRODUÇÃO DA

AGRICULTURA CAMPONESA NA COMUNIDADE MATA PRETA EM CATALÃO/GO:

algumas considerações

Marina Pires RIBEIRO

Marcelo Rodrigues MENDONÇA

Página 17

Página 3

7 PEQUI, CHURRASCO E FARINHA NO PLANALTO CENTRAL: MODERNIZAÇÃO

DA AGRICULTURA E PROCESSOS MIGRATÓRIOS EM IPAMERI (GO)

Sheila Braz CRISTINO SILVA

Página 21

8 ASSENTAMENTO OLGA BENÁRIO EM IPAMERI (GO): ajuda mútua como forma de

reafirmação da solidariedade camponesa

Waldivino Gomes FIRMINO

Helena Angélica de MESQUITA

Página 24

9 O IMPACTO AMBIENTAL SOBRE AS FRUTAS DO CERRADO NA REGIÃO DE

CACHOEIRA – ORIZONA – GO

Wesley Pereira da CUNHA

Luciana Ananias GONÇALVES

Página 27

Página 1

REESTRUTURAÇÃO DA AGRICULTURA E ESTRATÉGIAS DE PRODUÇÃO NO

AGRONEGÓCIO DA FRUTICULTURA DO BAIXO JAGUARIBE (CE) E VALE DO

AÇU (RN)

Érica Maria Bezerra PINHEIRO

Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual do

Ceará (PropGeo – UECE).

[email protected]

Denise ELIAS

Profª. Drª do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual do

Ceará (PropGep – UECE).

GT 3 – ESPAÇO, REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA DO CAPITAL E DIVERSIDADES

DO TRABALHO.

O presente resumo faz parte de um projeto de mestrado em andamento, realizado junto ao

Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual do Ceará (PropGeo -

UECE), e versa sobre a dinâmica do espaço agrícola em área de forte influência da

fruticultura numa região localizada entre o Baixo Jaguaribe (CE) e o Vale do Açu (RN). A

proposta é estudar o impacto do agronegócio sobre a pequena agricultura local a partir do

sistema comumente denominado de parceria, ou seja, a agricultura integrada. Nesse sentido, o

objetivo do trabalho é analisar as transformações da produção agrícola em municípios do

Ceará e do Rio Grande do Norte, considerando aspectos resultantes das relações de parceria

estabelecidas entre empresas de agronegócio e camponeses. A “parceria” adotada por

empresas de agronegócio foi destacado por Freitas (2010), como um processo de

monopolização do território pelo capital. A autora destaca um esquema de parceria onde a

empresa repassa um pacote tecnológico ao agricultor referente à produção irrigada de banana.

Assim, o agricultor paga à empresa um valor de acordo com a produção comercializada. A

empresa não compra a produção, mais realiza um contrato da comercialização, ficando o

agricultor submetido às demandas de mercado. A autora destaca ainda que a empresa não se

responsabiliza por qualquer prejuízo na produção (FREITAS, 2010). Para o entendimento

dessas relações partimos da proposta de pensar os modelos teóricos a partir da própria

realidade, não reduzindo estas a padrões determinados que dificultam a compreensão da

dinamicidade da realidade. Assim, destacamos a abordagem de Shanin (2008) de que é

importante ressaltar que a realidade é mais complexa que os modelos e, portanto, mais difícil

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de ser apreendida. Nesse sentido, a área em estudo é destacada pela produção intensiva de

frutas, apresentando uma dinâmica crescente proveniente da agricultura nos moldes

modernos, apresentando também dinâmicas provenientes de perímetros irrigados públicos do

Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS). É importante destacar ainda que

no sistema de parceria, não estão envolvidos somente camponeses, mas também empresas de

pequeno porte, conforme aponta Freitas (2010), ou mesmo, pequenos produtores, que moram

na cidade e que possuíam outra profissão, como observado em campo o caso de um ex-

motorista que obteve a concessão de um lote no perímetro irrigado Jaguaribe-Apodi, no

Ceará, tendo a agricultura puramente como profissão, sem nenhum vinculo com o local, não

caracterizado pela concepção de campesinato como modo de vida (SHANIN, 2008). No

entanto, destacamos que a atenção da pesquisa será direcionada para entender a intervenção

desses sistemas para os “parceiros” de origem camponesa. No entendimento do espaço

agrário, acreditamos ser necessária a compreensão da formação social e do modo de produção

dominante, conforme exposto por Santos (1982, p. 2) quando afirma que “[...] não há uma

‘sociedade em geral’, mas uma sociedade existe sempre sob um invólucro histórico

determinado”. Assim, a inserção do agronegócio da fruticultura nessa região é marcante a

partir dos anos 1980, onde alguns lugares do Nordeste passam a ser ocupados pelo

agronegócio globalizado (ELIAS, 2006a; 2006b), sendo que, com a modernização apenas

“[...] algumas áreas são mais intensamente beneficiadas pelas inovações” (Elias, 2006a, p.

10). Essa modernização é resultado de uma mudança mais geral, com destaque para o pós

Segunda Guerra Mundial, onde o mundo passou por mudanças no âmbito econômico e

geopolítico. A partir dessa época destaca-se o início da mundialização do capital e assim, a

globalização da economia. Esse período é caracterizado como “[...] uma etapa do

desenvolvimento do capitalismo mundial no qual prevalece o domínio crescente exercido por

grandes empresas transnacionais no cenário mundial” (TEUBAL, 2008, p. 141). O processo

de modernização no Brasil como um todo, e em especial no Nordeste, tem na figura do

Estado, um agente determinante, com a função de dotar o território de condições favoráveis

para inserção de grandes empresas (QUINTILIANO; LIMA, 2008), se configurando como

um agente na produção do espaço e que, entre outros fatores, as políticas públicas se

configura como um instrumento dessa atuação (ALENCAR; MENEZES, 2009). Nesse

contexto, a agropecuária brasileira tem passado por um processo de reestruturação produtiva

proveniente da globalização, destacando um modelo de modernização da agricultura,

responsável por diversas transformações no espaço rural. Quanto à expansão do sistema

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econômico capitalista no campo, muitas são os impactos por não considerar as

particularidades locais, impondo alterações e adequando relações para o seu desenvolvimento.

Dessas transformações, podemos destacar o referido sistema de parceria. Bezerra (2008)

aponta para as mudanças nas relações de trabalho nessa região, uma vez que, com a expansão

do capital no campo desenvolvem-se as relações de trabalho assalariadas, mas também as

relações de trabalho familiar associadas aos grandes grupos de empresas agrícolas. Seguindo

a lógica apontada por Oliveira (1986), de que o capitalismo se manifesta de modo

contraditório, a intervenção de empresas do agronegócio na região em questão também se dá

de forma contraditória, a partir do momento em que integra a produção familiar, não

expropriando totalmente a população local, e mantendo as famílias em um esquema de

subordinação da produção, mesmo que, no entanto, prevaleçam os núcleos familiares e as

pequenas propriedades fundiárias. Consideramos, portanto, que essa situação onde prevalece

a mão-de-obra familiar é caracterizada pelo que Martins (1990) denominou de relações não

capitalistas do sistema capitalista de produção. Destacamos ainda que a inserção de empresas

do agronegócio tem gerado grandes conflitualidades na região em estudo, citando o exemplo

da polêmica dos agrotóxicos, que tem apresentado problemas de poluição, com grandes

prejuízos ao ambiente e a população das áreas próximas aos campos pulverizados. Além dessa

questão, os trabalhadores no local estão submetidos a um sistema de subordinação da

produção, como exemplo das parcerias. Sobre o processo de subordinação, Martins apud

Oliveira (2001, p. 61) observa que, o capital mantém um controle dos mecanismos de

financiamento e comercialização, ficando a família em condição de regulação econômica e

social. Há ainda aqueles que resistem a esse tipo de produção, não se adequando a esses

esquemas de sujeição. É nesse sentido que visualizamos ser a modernização da agricultura

espacialmente seletiva e socialmente excludente (ELIAS, 2002), uma vez que, faz parte de um

sistema de produção contraditório, onde a inserção de empresas especializadas na fruticultura

irrigada, em área dinamizada pelo agronegócio, no Baixo Jaguaribe e Vale do Açu, se

configura como um mecanismo dessa modernização e vêm apresentado estratégias de

reprodução que não se adequam a realidade local, inserindo os camponeses locais em um

esquema de subordinação.

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ESTRATÉGIAS DO CAMPESINATO PARA A SUPERAÇÃO DAS RELAÇÕES

DEPRODUÇÃO CAPITALISTA: o caso do Pastoreio Racional Voisin (PRV)

Gilliard Pedro MARQUES

Graduado em Geografia pelo CAC/UFG

[email protected]

José Vieira NETO

Docente do Curso de Geografia do CAC/UFG

[email protected]

GT 2 - RELAÇÃO CAMPO/CIDADE, EDUCAÇÃO E MEIO AMBIENTE: lutas, gênero e

práticas emancipacionistas

O modo de produção capitalista visa fortalecer e (re)criar as condições de (re)produção do

lucro sem se importar com os graves danos sociais, culturais, ambientais, éticos, políticos e

econômicos que se sucedem a partir de sua investida e lógica irracional. Ciente da

complexidade do debate sobre este tema delimitou-se a nossa proposta de discutir sobre o

papel e a importância das práticas agroecológicas, nesse contexto e mais especificamente

sobre as vantagens do Pastoreio Racional Voisin (PRV) como uma prática que consiste em

uma nova forma de se relacionar com a natureza e dela se apropriar pelos camponeses na

busca pela autonomia e soberania de sua classe. Para elucidar esta temática, a metodologia

adotada neste estudo foi a pesquisa teórica, que envolveu a revisão literária de livros, artigos

que fazem uma abordagem específica do Pastoreio Racional Voisin (PRV), bem como da luta

dos camponeses em seus territórios nas suas diversas organizações, por outro modo de

produção social. A esse respeito, Carvalho (2010) tem reforçado que a construção dos

camponeses perante o capital requer que eles compreendam e pratiquem um modelo de

produção e de tecnologia distinto do dominante e imposto pelas grandes corporações

transnacionais. Para Carvalho (2010), os camponeses não devem ser meramente alternativas,

mas sim a negação do modelo de produção capitalista. Vale ressaltar que isto não significa

retroceder na história, ou seja, voltar ao passado do trabalho duro, improdutivo e sem futuro,

como tem profetizado os defensores da manutenção deste sistema perverso para a classe

trabalhadora. Muito pelo contrário, os camponeses devem usufruir de todos os saberes e

conquistas da humanidade que se apresentam na atualidade, os quais deverão ser incorporados

em seus territórios de forma crítica, e não passivamente. Nesse sentido, Carvalho (2010, p.

14) assevera que "negação do modelo de produção e tecnológico dominante no campo não

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pressupõe o isolamento dos camponeses da ciência e da tecnologia dominante”. Shanin (2005,

p.18) esclarece que o campesinato na atualidade é um modo de produção que convive com

outros, isto é, não se encontra historicamente ilhado em relação aos outros modos de

produção. Em suas palavras: “Os camponeses necessariamente refletem, relacionam-se e

interagem com não-camponeses; trata-se da autonomia parcial de seu caráter social”. Assim, a

existência confirmada do campesinato no século XXI o incita a repensar novas práticas e

estratégias de luta. Recentemente, no Encontro Unitário dos Trabalhadores e Trabalhadoras,

Povos do Campo, das Águas e das Florestas, realizado em Brasília neste ano, mencionou-se

em vários momentos a importância da Agroecologia na luta contra as ofensivas do capital no

campo, tanto que foi um dos pontos de comprometimento da pauta unitária de todos os

movimentos sociais e organizações envolvidas. Mediante o exposto, é inegável que o discurso

orgânico e agroecológico, podem ser apropriado pelo capital e, em muitos casos, nos fazer

crer, mesmo que sua lógica não seja essa, em uma imagem aparentemente sustentável. Basta

lembrarmo-nos dos discursos a respeito dos agrocombustíveis brasileiros, rotulados como

“energia limpa”, “economia verde”, “ecologicamente correto e socialmente justo”, que na

realidade não passam de discursos a favor da ampliação da longevidade do próprio capital.

Entretanto, o âmbito econômico deve ser apenas um peso na balança das propostas do novo

modelo político, econômico, cultural, social forjado a partir do campesinato. Sabe-se que a

agricultura e a pecuária são importantes geradoras tanto de trabalho como de renda aos

camponeses do mundo todo é por isso que neste texto fazemos uma breve introdução do

Pastoreio Racional Voisin, altamente favorável ao planeta e totalmente diferente da

concepção tradicional de agricultura e pecuária inculcada há décadas pela então denominada

Revolução Verde. Segundo a conceituação de um dos maiores estudiosos do Pastoreio

Racional Voisin (PRV) no Brasil, “o PRV é um sistema de manejo das pastagens, que se

baseia na intervenção humana, nos processos da vida dos animais, da vida dos pasto se da

vida do ambiente, a começar pela vida do solo e o desenvolvimento de sua

biocenose”.(MACHADO, 2010, p. 38-39). Para Machado (2010) o Pastoreio Racional Voisin

é um sistema que não apresenta uma linearidade, isto porque, qualquer ação sobre um de seus

componentes tem reflexos nos demais, cujos efeitos não seguem um padrão determinado. Este

autor ainda defende que, o fundamento do PRV está no “desenvolvimento da biocenose do

solo e nos tempos de repouso e de ocupação das parcelas, que variáveis, em função de

condições climáticas, de fertilidade do solo, das espécies vegetais e tantas outras

manifestações da vida, cuja avaliação não se enquadra em esquemas preestabelecidos”

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(MACHADO, 2010, p. 38-39). Cumpre destacar que o Pastoreio Racional Voisin (PRV) é

uma forma de pastagem, saber e ciência que não se opõe à racionalidade camponesa,

contrariamente às pastagens tradicionais dos insumos sintéticos, que destroem o

conhecimento do camponês. Para Melado (2007) este tipo de pastagem ecológica é a

tecnologia que melhores resultados podem apresentar para colocarmos a pecuária no lado

positivo da luta contra o aquecimento global, pois a mesma tem disponibilizado diversos

serviços ambientais, dentre os quais podemos mencionar: o aumento da capacidade de lotação

das pastagens, a recuperação natural das pastagens degradadas, o aumento da biodiversidade,

a melhoria das condições de fertilidade e de permeabilidade do solo, a redução do nível de

resíduos, o controle natural das pragas do pasto e do gado, a conservação dos recursos

hídricos, a diminuição da emissão de metano pelos animais, o sequestro de carbono, o

aumento da docilidade dos animais, a ampliação das áreas arborizadas, a antecipação do

período reprodutivo das novilhas, o fornecimento de um ambiente menos quente e seco e com

mais sombra etc. Enfim, o PRV apresenta vantagens que jamais poderão ser aceitas e

contabilizadas pelo modelo tradicional. Em contrapartida, Machado (2010) alerta que o

agronegócio enriquece cada vez mais à custa da desgraça econômica dos produtores, da

dilapidação ambiental e do agravamento da marginalidade social. Neste cenário, assim como

a (re)produção das sementes crioulas, o PRV é um trunfo favorável no território do

campesinato, no sentido de enfrentar e superar as ideologias e estratégias do capital. Machado

(2010, p. 47). diz que “O Pastoreio Racional Voisin-PRV não é um simples roteiro de uso dos

pastos”. Desse modo, o uso do PRV representa a modernidade camponesa em sua estratégia

de reapropriação social da natureza contra a destruição desta pelo capital. Diante destas

afirmações, é preciso dizer que esta pesquisa encontra-se em nível inicial e que ainda

necessita de estudos mais aprofundados no que refere a prática do PRV, requerendo uma

avaliação da aceitação e da viabilidade do PRV nas propriedades camponesas, haja vista que

não é o discurso que diz se a prática é válida ou não, mas é sim, a prática que vai dizer se o

discurso poderá ser válido ou não. Por outro lado, acredita-se que o momento atual exige um

novo e forte discurso a favor da classe trabalhadora, propagando um campesinato como

território de vida e revelando a necessidade de transformar todas as relações e ações

capitalistas. A Agroecologia no geral e, em específico, o Pastoreio Racional Voisin (PRV)

demandam uma leitura holista da vidae do entendimento da natureza, compreendendo-se

como parte indissociável dela. Nesse sentido, o PRV apresenta-se como um forte mecanismo

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nas mãos dos camponeses para a reapropriação do seu trabalho, contribuindo para a recriação

de novos sujeitos e concomitantemente para a reelaboração da sociedade.

Referências

CARVALHO, H. M. Na Sombra da Imaginação (2): a recamponesação no Brasil. Curitiba-

PR,2010. Disponível em <www.fct.unesp.br/nera> Acesso em 28 de setembro de 2012.

MACHADO, L. C. P. Pastoreio Racional Voisin: tecnologia agroecológica para o 3°

milênio. 2. ed. São Paulo: Expressão Popular, 2010. 376p.

MELADO, J. Pastagem Ecológica e Serviços Ambientais da Pecuária Sustentável. Guapari-

ES, Rev.bras.de agroecologia, v.2, n.2, 2007.

SHANIN, T. A Definição de Camponês: conceituações e desconceituações – o velho e o novo

em uma discussão marxista [1980]. Revista NERA, Presidente Prudente, v. 8, n. 7, jul./dez.

2005. p.1-21.

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A DISPUTA PELA ÁGUA NO PONTAL DO PARANAPANEMA: A

TERRITORIALIDADE DOS MOVIMENTOS SOCIAIS (MST E MAB)

Jaqueline da Silva OLIVEIRA1

Marcelo Dornelis CARVALHAL

GT1: NATUREZA, TRABALHO E TERRITÓRIOS: o agrohidronegócio nas áreas de

Cerrado.

Introdução: Histórico da questão agrária do Pontal do Paranapanema foi pautado no processo

de ocupação caracterizado pela grilagem de terras por latifundiários, ações ilegais e ações

judiciais que se arrastam nos últimos 80 anos. Tal quadro fundiário adquire novas dimensões

com a presença dos movimentos sociais a partir do início dos anos 1990. A construção das

Usinas Hidrelétricas (UHEs), resultantes de medidas governamentais que procuravam atender

à demanda urbano-industrial que estava em ascensão na década de 19602 trouxe intensas

alterações na dinâmica territorial da região. Se os conflitos fundiários que marcam a geografia

do Pontal do Paranapanema há vinte anos são relativamente conhecidos e estudados, os

conflitos envolvendo o acesso à água ainda carecem de maior análise e complexificam o

cenário de lutas sociais na região. Apesar de toda esta atenção desprendida à questão agrária

do Pontal do Paranapanema, pouco têm sido as preocupações no que envolve a questão das

formas de uso e acesso à água. Nos últimos anos, ações dirigidas por parte do Estado, capital,

e também dos movimentos sociais organizados cada vez mais incluem medidas que envolvem

o acesso e o uso desta água represada pelas UHEs. Dentro deste contexto, temos a criação dos

parques aquícolas3 destinados à criação de peixes, e neste caso, o interesse do MST em ter

acesso a esta política, e assim fazer uso desta água represada, e também a recente atuação do

Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), expressando os conflitos territoriais que

envolvem os recursos hídricos da região. A implantação das Usinas Hidrelétricas foi

construída sob o discurso de “desenvolvimento” do país. No entanto, as famílias ribeirinhas

que viviam naquele local, até hoje sofrem as consequências da instalação destas usinas,

1Mestranda do Curso de Mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia pela FCT UNESP de

Presidente Prudente - SP 2As grandes usinas hidrelétricas passaram a ser construídas a partir de 1966, com a criação da CESP – Centrais

Elétricas de São Paulo, denominada Companhia Energética de São Paulo a partir de 1977. 3De acordo com o decreto n° 4.895 de 25 de novembro de 2003, os parques aquícolas são definidos como

espaços físicos contínuos em meio aquático, delimitados, que compreendem um conjunto de áreas aquícolas

afins, e serão destinados para a produção em tanques-rede, com a finalidade de obter produtividade elevada,

com duas a três safras por ano e menor pressão sobre os estoques pesqueiros.

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sobretudo as localizadas no distrito de Porto Primavera (Rosana/SP). Famílias que vivem nas

ilhas formadas pela construção do lago, ou próximo à represa são constantemente ameaçadas

de expulsão, sem contar com os problemas enfrentados pelos ribeirinhos na temporada de

chuvas, que vêm suas casas inundadas pela abertura das comportas da Usina, e as pendências

referentes à indenização destas famílias. Está posto, portanto, um conjunto de elementos que

nos desafiam a entender o contexto conflituoso que permeia a água, enquanto elemento

natural essencial à vida, na região do Pontal do Paranapanema. O assunto aqui proposto traz

abordagens aparentemente distintas, mas, na realidade, fazem parte de um mesmo cenário de

disputas territoriais, envolvendo não só a terra, mas a água como elemento central. Assim

como o é para o capital, os movimentos sociais estão começando a assimilar que não é

suficiente ter apenas o acesso à terra, mas também à água para conduzirem sua produção,

assegurando assim a segurança alimentar das famílias camponesas.

Objetivos: O objetivo que norteia o projeto de pesquisa é identificar e analisar as dinâmicas

espaciais e as disputas territoriais acerca dos conflitos que envolvem o acesso à água e a

política energética no Pontal do Paranapanema. Assim, nos interessa os embates que

envolvem os movimentos sociais – MST e MAB – e As Usinas hidrelétricas instaladas na

região, que evidenciam o interesse de “privatização” da água por um pequeno grupo de

empresas gestoras do grande capital.

Metodologia: O procedimento metodológico consiste, resumidamente, em levantamento

bibliográfico e realização dos trabalhos de campo para a coleta de dados e informações

primárias, que se dará por meio de visitas a área de estudo e na realização de entrevistas semi-

estruturadas junto às instituições responsáveis pela demarcação dos parques aquícolas: Grupo

Integrado de Agricultura e Meio Ambiente (GIA), para a bacia do Paranapanema, e

Universidade Estadual de Maringá (UEM) para a represa da UHE Engenheiro Sérgio Motta,

no Rio Paraná; e às famílias assentadas ao longo das represas das UHEs da região e a

inserções à campo junto aos movimentos sociais – MAB e MST. Após a realização das

inserções à campo, priorizaremos os dados e informações que se referem ao acesso à água

através dos parques aquícolas e as ações desprendidas pelos movimentos sociais – MAB e

MST –, que serão organizados e analisados. Utilizaremos ainda fontes de dados que recobrem

a luta pela terra e pela água pelos movimentos sociais, como o Caderno de Conflitos no

Campo organizado anualmente pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), e as informações do

DATALUTA (Banco de Dados de Luta Pela Terra). Também consideramos importante fazer

o mapeamento com a localização dos assentamentos que estão próximos e ao longo das

Página 10

represas das UHEs, e, se nos permitirem acesso à informação, localizar e mapear os parques

aquícolas demarcados pelo Ministério da Pesca e Aquicultura.

Resultados Preliminares: A pesquisa ainda está em fase preliminar, sendo que, neste

primeiro período, estamos nos dedicando ao levantamento bibliográfico que nos permita

compreender as múltiplas determinações que permeiam a apropriação da água pelos setores

hegemônicos, e a luta dos movimentos sociais pelo acesso à este bem natural. As leituras nos

possibilitam apreender que apropriar terra e água é uma prática antiga dos setores

hegemônicos, no entanto, quase sempre este fato tem sido tratado de forma segregada. Nos

últimos anos, em todas as partes e sob diversas roupagens, a água vem assumindo

características de mercadoria. A apropriação e mercantilização da água ocorrem sob a forma

de energia hídrica, ao tratá-la como motor do “desenvolvimento do país” que, como sabemos,

vem atender um número restrito de empresas que tiram os proveitos e deixam os rejeitos nos

países periféricos à divisão territorial do trabalho. Além disso, vem crescendo o número de

empresas estrangeiras interessadas na concessão de serviços do sistema urbano de

abastecimento de água, em busca de lucro e crescimento econômico. De acordo com Erik

Swyngedouw, esta busca tem por objetivo expandir as fronteiras de investimentos de capital.

Estas são, entre outras, algumas formas de submeter os recursos naturais, e neste caso, a água,

à lógica de expansão e acumulação do capital. Contudo, não podemos perder de vista que este

processo cria um cenário de exclusão e privação para setores sociais historicamente

desfavorecidos. Sendo assim, a gravidade do assunto nos coloca o desafio de entender este

processo de valorização econômica da água, tornando-se uma provocação para os geógrafos

comprometidos com a geografia crítica da atualidade.

Página 11

A TRAJETÓRIA DOS ASSENTADOS DO OLGA BENÁRIO NA LUTA PELA

REFORMA AGRÁRIA – IPAMERI (2002 A 2009)

Leiriane Martins REZENDE

Graduanda em História - Universidade Federal de Goiás/Campus Catalão

[email protected]

Orientadora: Luzia Márcia Rezende SILVA

Prof. Dra. do Departamento de História - Universidade Federal de Goiás/Campus Catalão

[email protected]

GT 2: Relação campo/cidade, educação e Meio Ambiente: lutas, gênero e práticas

emamcipacionistas

Trabalhar com o tema “Reforma Agrária” foi, sem dúvidas, uma experiência

enriquecedora que contribuiu amplamente no entendimento sobre o tema. A escolha do

mesmo se deu através de um convite de um militante para conhecer o acampamento Anita

Mantoano, que na época localizava-se às margens da Rodovia GO 330, próximo a Ipameri, no

sudeste do estado de Goiás. A princípio houve um certo receio quanto à aproximação das

pessoas que estavam acampadas naquele lugar pelo fato de ter uma opinião já formada sobre

elas. Porém, a curiosidade foi a mola propulsora para entender os motivos que as levava a se

exporem de tal maneira, vivendo em barracas de lona sem qualquer estrutura de saneamento e

demais condições consideradas básicas para a sobrevivência de um ser humano.

Para melhor entendimento do tema, esta pesquisa está dividida em dois

momentos. No primeiro foi realizada uma breve discussão teórico-metodológica sobre a

Reforma Agrária e a origem do MST nos arredores da cidade de Ipameri. A segunda parte foi

realizada de forma prática através de um estudo presencial sobre a realidade dos assentados

do Olga Benário.

A desigualdade na distribuição de terras teve seu início com a chegada dos

portugueses no Brasil. A tomada de posse do território indígena, como destaca Kajewsk

(2000), deu-se paralelamente a concentração fundiária no Brasil. Na realidade, antes mesmo

do nosso território ser chamado Brasil a exploração e a demarcação de terras pela coroa

portuguesa na colônia brasileira era latente.

Página 12

A Reforma Agrária é de fato importante, pois foi através dela que o camponês, na

década de 50, foi ganhando o direito de poder trabalhar na terra e usufruir dos seus lucros sem

ser explorado pelos senhores feudais.

A dinâmica do MST se dá através da organização de acampamentos aos arredores

da cidade que possui terras improdutivas e com pendências junto ao estado e ao INCRA. Os

objetivos do acampamento são a conquista da terra e da liberdade. O povo luta pela terra não

de forma ilegal, como afirma a mídia. Em Ipameri, o assentamento Olga Benário surgiu em

17 de abril de 2005, na fazenda Ouro Verde, antiga fazenda Santa Rosa, às margens da GO

212.

O objetivo principal desta pesquisa é mostrar o processo de luta dessas famílias,

da organização do acampamento à posse definitiva da terra e sua reestruturação nas suas

parcelas de terra. Este trabalho de entrevistas junto a integrantes do assentamento Olga

Benário foi desenvolvido a fim de entender o que é Reforma Agrária na prática e como se dá

a organização do MST.

Embora tenha sido um trabalho exaustivo, ao mesmo tempo foi prazeroso

conhecer um pouco de suas lutas, que não se limitam ao assentamento. É um processo cíclico

e algumas vezes injusto onde a igualdade está longe de se plena. Ao dar voz a essas pessoas

as colocamos como principais sujeitos de todo esse processo de lutas. Durante suas falas fica

transparente sua satisfação em abrir suas portas e seus corações e serem ouvidos. Sentem-se

como agentes imprescindíveis na transformação da sociedade em que vivem, colaborando,

principalmente, para a diminuição da desigualdade social no campo.

A memória individual e também coletiva daquelas famílias assentadas permite

realizar uma nova reflexão na construção de uma identidade própria, ou seja, ao lidar

diretamente com essas memórias é possível realizar uma reflexão dos fatos ocorridos no

passado, a fim de compreender o presente e pensar sobre o futuro.

Referências

BOGO, Ademar. Cartas de amor. Setor de Formação Nacional - MST. Novembro de 2004.

KAJEWSK, Correa Ângela. Livro paradidático. Volume único. História em ação. 1. ed. São

Paulo: Moderna, 2000.

MONTENEGRO, Torres Antônio. Ligas Camponesas e Sindicatos Rurais em Tempos de

Revolução. UFG, Pernambuco, 1987.

Página 13

MORISSWA, Mitsul. A história da luta pela terra e o MST. São Paulo: Expressão popular,

2001.

Página 14

OPERAÇÃO DE AVALIAÇÃO DO ATERRO SANITÁRIO DE CATALÃO –

2007 A 2012

Liliane Alves da COSTA

Aluna de graduação curso de História UFG/CAC

Email: [email protected]

GT2 - RELAÇÃO CAMPO/CIDADE, EDUCAÇÃO E MEIO AMBIENTE: lutas, gênero e

práticas emancipacionistas.

Apresentação

O tema escolhido para elaboração desse trabalho tem por finalidade, fazer uma

avaliação da operação do aterro sanitário de Catalão, entre o período de 2007 a 2012 com o

objetivo de mostrar as mudanças ocorridas nesse período, tendo como base o documento

construído em 2007, provindo de pesquisas antecedentes ao ano de conclusão do mesmo, pelo

estudante de engenharia ambiental da Universidade Católica de Goiás, Cyro Reis Bretas

Netto, sobre orientação do docente Dr. Harlen Inácio dos Santos, com a finalidade de avaliar a

estrutura operacional do aterro sanitário de Catalão da época, e está sendo elaborado como

requisito para conclusão de curso de graduação.

A elaboração do documento que tomei como base, foi feito a partir de entrevistas

realizadas e visitas ao aterro sanitário, e se objetivou em apontar desconformidades e falhas

em sua estrutura operacional, desde a implantação do mesmo no ano de 2005.

Após tomar conhecimento do trabalho realizado, e me interessar pelo assunto,

percebi que é notório algumas transformações na estrutura do aterro sanitário de Catalão,

conforme indicado no trabalho inicial, após 05 anos da realização do mesmo, e seria viável

uma nova avaliação apontando essas mudanças que foram propostas no documento avaliativo.

Meu interesse em fazer essa nova avaliação da operação do aterro sanitário de

Catalão, surgiu com intuito de me aproximar de um assunto que tanto sem tem discutido nos

últimos anos com relação a meio ambiente, sustentabilidade, lixo e sociedade. Surgiu também

pelo fato de estar em convivência diária com pessoas envolvidas diretamente na operação do

aterro, desde o recolhimento do lixo na cidade, até a destinação final, que são as trincheiras do

aterro.

A metodologia escolhida para elaboração desse trabalho, além das pesquisas

impressas, como artigos, teses, dissertações, periódicos, decretos, leis, portarias, resoluções

que determinam o gerenciamento do lixo pelo município, entre outros, utilizarei entrevistas

Página 15

como fonte oral, para busca de melhor compreensão da realidade vivenciada pelos envolvidos

que atuam diretamente nessa luta diária de coleta do lixo na cidade e da manutenção do aterro

sanitário.

A fonte oral me possibilitara responder algumas perguntas como; quem são os

trabalhadores que estão envolvidos na coleta de lixo, como vivem quais suas expectativas

futuras com relação ao trabalho, e suas experiências diárias na cata do lixo no percurso de sua

rota.

Utilizarei de alguns dados existentes no trabalho acadêmico de avaliação da

operação do aterro sanitário, como documento, para que seja possível a conclusão avaliativa,

e mostrar as mudanças ocorridas no decorrer dos anos.

O presente trabalho será divido em Três capítulos conforme apresentado abaixo:

No primeiro capitulo farei uma apresentação de uma das histórias contada sobre a

cidade de Catalão com relação a sua fundação, trazendo dados sobre população, localização e

fonte de renda, considerando que é aqui que todo o processo de avaliação está acontecendo. E

para chegar ao meu objeto central, é necessário conhecer os fatores que interagem para

contribuição da avaliação.

Com base nas pesquisas realizadas, trarei algumas definições do que alguns

estudiosos define serem lixo e aterro sanitário, e a partir dessa definição, trazer informações

de como o lixo é tratado pelo município, e quais as preocupações que se percebe e alternativas

para melhor gerenciamento, pelos responsáveis.

No segundo capítulo trarei informações de como é produzido o lixo na cidade,

qual a quantidade de lixo se produz diariamente, como ele é gerenciado pelo município e

quem são os responsáveis pelo manuseio do lixo ao seu destino final, e os depoimentos que

foram recolhidos no decorrer desse trabalho de avaliação.

No terceiro capítulo, será concluída a avaliação da operação do aterro sanitário de

Catalão, considerando a proposta de mostrar o que se foi percebido com relação a mudanças

ocorridas no decorrer dos 05 anos, conforme indicações propostas pelo aluno Cyro Reis

Bretas Neves, no trabalho de avaliação inicial.

Trarei ao campo do documento fotografias que mostra a situação da época da

realização da primeira avaliação, e fotografias atuais que mostram a atual situação do local,

como também uma análise retórica do que se percebe desde a análise do documento inicial até

a conclusão final desse trabalho.

Página 16

O trabalho está sendo realizado com requisito para conclusão do curso de

graduação, e ainda encontra-se em desenvolvimento.

“Chegamos a um ponto na História em que devemos moldar nossas ações

em todo o mundo, com maior atenção para as consequências ambientais.

Através da ignorância ou da indiferença podemos causar danos maciços e

irreversíveis ao meio ambiente, do qual nossa vida e bem-estar dependem.

Por outro lado, através do maior conhecimento e de ações mais sábias,

podemos conquistar uma vida melhor para nós e para a posteridade, com um

meio ambiente em sintonia com as necessidades e esperanças humanas...”.

“Defender e melhorar o meio ambiente para as atuais e futuras gerações se

tornou uma meta fundamental para a humanidade”

Trechos da Declaração da Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente

(Estocolmo, 1972), parágrafo 6.

Referências

Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 10004: Resíduos sólidos – classificação, set.

1987. ABNT (2004). NBR 10004 – Resíduos Sólidos. Associação Brasileira de Normas

Técnicas. Rio de Janeiro, 71 p.

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Luiza Otero D´Almeida, André Vilhena – 2ª edição. São Paulo: IPT/CEMPRE, 2000. –

(Publicação IPT 2620)

FUNASA. Fundação Nacional de Saúde. Manual de Saneamento. I. ed. Ver. Brasília:

Fundação Nacional de Saúde, 2006. 408 p

________.NBR 10.0004:Resíduos Sólidos: Classificação. Rio de Janeiro, 2004b.71p

SEWELL, G. H. Administração e controle da qualidade ambiental. São Paulo.

Universidade de São Paulo – USP. 1978. 295 p

Página 17

AS SEMENTES CRIOULAS COMO UMA ESTRATÉGIA DE REPRODUÇÃO DA

AGRICULTURA CAMPONESA NA COMUNIDADE MATA PRETA EM

CATALÃO/GO: algumas considerações

Marina Pires RIBEIRO4

UFG/Campus de Catalão Graduanda do Curso de Geografia. Membro do Núcleo de

Pesquisa Geografia, Trabalho e Movimentos Sociais – GETeM/CNPq

[email protected]

Marcelo Rodrigues MENDONÇA

UFG/Campus Catalão Professor dos Cursos de Graduação e Pós-graduação em

Geografia/UFG/Campus Catalão

[email protected]

GT 1 - NATUREZA, TRABALHO E TERRITÓRIOS: o agrohidronegócio nas áreas de

Cerrado.

As sementes crioulas5 podem significar o início e o fim do ciclo de produção das

famílias camponesas, pois a diversidade e variedade delas permitem ao camponês assegurar a

abundância e a disponibilidade de alimentos em sua mesa, de maneira adequada e saudável,

portanto são muito mais que um mero recurso de produção em larga escala. Nelas não há só

valores, mas também uma forma rentável de produção, fundamental para a existência e para a

sociobiodiversidade. Acredita-se que os grãos de uma planta jamais devem ser privatizados

pelo capital (as grandes empresas), mas sim, devem ser utilizados de forma coletiva a serviço

da população e da soberania alimentar, quando se fala em soberania alimentar, se pensa em

alimentos saudáveis, sem produtos químicos, como agrotóxicos e fertilizantes. Para a Via

Campesina (2008), soberania alimentar é o direito dos povos a alimentos nutritivos e

culturalmente adequados, acessíveis, produzidos de forma sustentável agroecológica, e o

direito de decidir seu próprio sistema alimentar e produtivo.

Partindo do princípio de que a semente pode gerar e sustentar a vida do ser

humano, em 2005, iniciou-se uma importante estratégia de reprodução do campesinato no

município de Catalão/GO, com um Projeto de Extensão e Cultura financiado pelo CNPq,

4Marina Pires Ribeiro é bolsista do Programa Programa Institucional de Bolsas de Iniciação (PIBIC) com o

projeto SEMENTES CRIOULAS: estratégias de reprodução da agricultura camponesa, iniciado em agosto de

2012. 5“Sementes crioulas são aquelas sementes que não sofreram modificações genéticas por meio de técnicas, como

de melhoramento genético, inclusive, nesse contexto, a transgenia. Estas sementes são chamadas de crioulas ou

nativas porque, geralmente, seu manejo foi desenvolvido por comunidades tradicionais, como indígenas,

quilombolas, ribeirinhos, caboclos etc.” (CARINA, p.4).

Página 18

desenvolvido pelos professores Marcelo Rodrigues Mendonça e Helena Angélica de Mesquita

da Universidade Federal de Goiás - Campus Catalão (UFG/CAC), em parceria com

movimentos sociais, dentre eles, o Movimento Camponês Popular (MCP). Dentre as ações

desenvolvidas pelo projeto estão: o levantamento de sementes crioulas e com esta parte do

projeto foi ouvi a criação de um banco de sementes na comunidade Mata Preta. Além disso,

com ajuda da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) desenvolve

pesquisas e contribui com a seleção das melhores variedades de sementes para a adaptação

com as condições edafoclimáticas da região.

Neste artigo serão apresentadas algumas considerações acerca da pesquisa que

está sendo construída, cuja centralidade é o estudo das sementes crioulas como uma estratégia

de reprodução da agricultura camponesa. As reflexões estão sendo realizadas a partir da

revisão bibliográfica e da pesquisa de campo na Comunidade Mata Preta em Catalão (GO),

onde estão sendo desenvolvidas ações de produção e reprodução destas sementes,

coordenadas pelo Movimento Camponês Popular (MCP).

Didaticamente, a pesquisa foi dividida em duas etapas principais, sendo: a

pesquisa teórica e a pesquisa de campo, realizadas de forma conjunta. Na pesquisa teórica

estão sendo consultados diversos autores que se dedicam ao estudo da agroecologia, das

sementes crioulas, da soberania alimentar, do campesinato, dos movimentos sociais e da

realidade socioespacial do Cerrado Goiano. Dentre os autores estão: Mendonça (2004),

Oliveira (2007), Bunde (2011), Mesquita (1993), Primavesi (2007), dentre outros. Na

pesquisa de campo estão sendo realizados trabalhos de campo nas propriedades da

Comunidade Mata Preta, onde está sendo realizada a observação participante e as entrevistas

semiestruturadas com os camponeses e com os representantes do MCP, ambos envolvidos no

projeto. As informações, ressalvas e impressões estão sendo registradas no diário de campo,

um instrumento capaz de auxiliar o pesquisador no decorrer das visitas, observações e

entrevistas.

De início, estão sendo destacadas as características socioespaciais da área

pesquisada, as formas de uso e exploração da terra e as relações sociais de trabalho, para

identificar as diferentes formas de (re)produção do espaço geográfico construído a partir da

(re)produção das condições históricas de existência da agricultura camponesa.

Entende-se que as variedades crioulas atendem a um dos princípios básicos do

sistema de produção agroecológica, que é o de desenvolver plantas adaptadas às condições da

região de origem/cultivo, capazes de tolerar variações ambientais e ataque de organismos

Página 19

prejudiciais. Outro aspecto importante consiste na maior autonomia do camponês em poder

coletar as sementes destas variedades e replantá-las no ano seguinte, adquirindo maior

independência do mercado de insumos e gerando um material de alta qualidade. Com o passar

do tempo as práticas agroecológicas foram resgatadas e modificadas em acordo com as novas

necessidades sociais, expressas nas técnicas e nas ações políticas construídas pelos

camponeses e trabalhadores do campo e da cidade. O significado sociocultural das sementes

crioulas, bem como, a sua atuação para reprodução da agricultura camponesa são

evidenciados pelo Instituto Cultural Padre Josimo, no livro Casa de Sementes Crioulas

Caminho para a Autonomia na Produção Camponesa ao afirmar que as

Sementes Crioulas são as sementes cuidadas e melhoradas sob o domínio das

comunidades tradicionais. É fruto de evolução tradicional. É fruto da evolução da

natureza e do trabalho de diferentes povos. Existem em abundância na natureza e

com muita sabedoria, os camponeses e as camponesas em diferentes partes do

mundo, resistem ao pacote tecnológico dos agroquímicos (adubos químicos e

agrotóxicos) e às sementes transgênicas. (ALBARELLO, Evanir José et al, 2009.

Pg. 6)

As ações agroecológicas buscam uma alimentação saudável e propiciam a união

de esforços na defesa da permanência na terra de trabalho, na defesa da reforma agrária, no

apoio aos homens e mulheres que lavram a terra e contra as agressões ao meio ambiente,

tendo na agroecologia as condições de produção e manejo para minimizar estas agressões ao

nosso meio. A agroecologia é uma forma de entender e atuar para a agricultura campesina, a

pecuária, o florestamento e o agroextrativismo, a partir de uma consciência

intergeneracional. Isso significa resgatar a relação simbiótica, com o meio sem agredir a

natureza, compreendendo homem e natureza como natureza una. (SANTOS, 1994).

As produções agroecológicas podem apontar a unificação orgânica do trabalho,

em que os trabalhadores (no campo e na cidade) se juntam para reivindicar novas formas de

produção e novas relações de trabalho, valorizando as ações rumo à soberania alimentar. As

sementes são muito mais que um recurso produtivo, sendo simultaneamente, fundamento e

produto de culturas e sociedades diversas. Nelas se incorporam valores, afetos, visões, mitos e

formas de vida que as ligam ao âmbito do sagrado. Por isso, as sementes jamais poderão ser

apropriadas por quem quer que seja, devendo ter um caráter de patrimônio coletivo a serviço

da humanidade. Elas se constituem o meio de sustento e soberania dos povos, garantindo a

sua construção histórica e cultural.

Página 20

O cultivo de sementes crioulas é adequado ao Bioma Cerrado, pois além de se

adaptarem cultivo aos fatores edafoclimáticos são cultivos que não utilizam agrotóxicos e,

ainda, asseguram a autonomia (soberania alimentar) para a sociedade em geral, incluindo os

camponeses que passam a ter sementes guardadas/armazenadas, se livrando da dependência

imposta pelos grandes conglomerados financeiros e agroindustriais transnacionais.

Acredita-se que a busca pela autonomia camponesa ocorreu e está ocorrendo a

partir do resgate, produção e multiplicação de sementes crioulas. Muitas experiências vêm

sendo construídas por meio de projetos e organizações promovidas principalmente pelos

Movimentos Sociais, constituindo um importante desafio para a Geografia e para os

geógrafos ao tentar compreender esta realidade.

Referências

CARSON, Rachel. Primavera silenciosa. São Paulo. 2° Ed. 1962.

CARINA, C. T. Sementes Crioulas e Transgênicos, uma reflexão sobre sua relação com as

comunidades tradicionais. Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito.

Disponível em <

http://www.conpedi.org.br/manaus/arquivos/anais/manaus/estado_dir_povos_carina_carreira_

trindade.pdf> Acesso em 18 setembros 2012.

ALBARELLO, Evanir José et al. Casa de Sementes Crioulas Caminho para a Autonomia

na Produção Camponesa. 2 ed. Porto Alegre: 2009. 32p.

GRAZIANO NETO, F. A questão agrária e ecológica. São Paulo: Brasiliense, 1986.

MESQUITA, H. A. de. A modernização da agricultura – Um Caso em Catalão/Goiás.

1993. 180 f. Dissertação (Mestrado em História das Sociedades Agrárias) – Instituto de

Ciências Humanas e Letras, Universidade Federal de Goiás, Goiânia.

OLIVEIRA, A. U. A agricultura camponesa no Brasil. São Paulo: Contexto, 1991. 164p.

PRADO JÚNIOR, C. A questão agrária. São Paulo: Brasiliense, 1979.

SANTOS, M. Técnica, espaço, tempo. São Paulo: Hucitec, 1994.

Página 21

PEQUI, CHURRASCO E FARINHA NO PLANALTO CENTRAL:

modernização da agricultura e processos migratórios em Ipameri (GO)

Sheila Braz CRISTINO SILVA

Mestranda em Geografia da Universidade Federal de Goiás – UFG/CAC;

Membro do Grupo de Pesquisa Geografia, Trabalho e Movimentos Sociais – GETeM.

[email protected]

GT1 - NATUREZA, TRABALHO E TERRITÓRIOS: o agrohidronegócio nas áreas de

Cerrado.

O Cerrado Goiano, após a década de 1970 passou por grandes metamorfoses. Esse processo

intensificado pela modernização da agricultura no dentro de outro processo de reestruturação

produtiva do capital em sua expansão para o campo. Nesse contexto, tem-se a expansão da

fronteira agrícola para o Sudeste Goiano, em que está situado o município de Ipameri (GO),

recorte espacial de nossa pesquisa. A população que habita esse espaço em metamorfose é

composta pelos Cerradeiros e migrantes, especialmente os sulistas e nordestinos. Os

processos migratórios e a mobilidade do trabalho são fatores que se coadunam no encontro

desses sujeitos que promovem um novo arranjo espacial e territorial. Essas mudanças são

relevantes e pautadas nas relações estabelecidas entre os sujeitos e o território, por isso,

suscitam a necessidade de compreensão das formas como essas relações se estabelecem e as

transformações socioespaciais às quais se relacionam. A mobilidade do trabalho é uma

estratégia do capital para a sua reprodução. Jean Paul de Gaudemar (1977) - formulou a teoria

da mobilidade do trabalho a partir das análises de Marx sobre a reprodução do capital. Para

Gaudemar (1977. p. 191), a mobilidade é uma condição da força de trabalho se sujeitar ao

capital e se tornar a mercadoria cujo consumo produzirá o valor que será apropriado pelo

capital. Segundo ele a mobilidade dos trabalhadores transcenderia a lógica da mobilidade

espacial do trabalho que faria desaparecer ou subsumir atividades e relações não capitalistas.

Esse excedente de mão de obra permite a manutenção dos salários baixos, já que há menos

empregos que trabalhadores. Essa teoria se baseia na circulação da força de trabalho. Assim

sendo, as chapadas de Ipameri passam a funcionar como polo de atração, apesar dessa

mobilidade ser de certa forma “forçada” pelas dificuldades encontradas para a de

sobrevivência/permanência no local de origem dos trabalhadores. Torna-se cada vez mais

necessária a análise da mobilidade do trabalho e do capital e dos processos migratórios como

fatores de grande importância para a compreensão da realidade estabelecida no Município de

Página 22

Ipameri. Para a realização da pesquisa, será utilizada uma abordagem teórico-metodológica de

identificação e caracterização das transformações sócioespaciais e econômicas que os sujeitos

construíram na reorganização do espaço geográfico da região das chapadas de Ipameri,

intrínsecas à modernização da agricultura e do território. Estão sendo realizadas pesquisas

bibliográficas para o levantamento dos processos de ocupação espacial do município

investigado, no contexto nacional, além das percepções de outros pesquisadores sobre o

mesmo tema e conceitos utilizados. Diante da problemática e dos objetivos propostos realiza-

se uma pesquisa de cunho qualitativo. Os dados primários são coletados através de pesquisa

de campo, realizada nos empreendimentos agrícolas e no espaço rural e urbano onde habitam

os trabalhadores assalariados rurais, do quadro permanente e temporário, tanto migrantes

quanto antigos moradores. A utilização da pesquisa de campo é um instrumento de grande

importância, pois oportuniza fazer o diálogo entre a teoria e a empiria, uma vez que devemos

ir a campo, instrumentalizados pelo planejamento e pela reflexão teórica que possibilita uma

maior percepção dos fatos observados, podendo ser por ela respaldados ou negados. A

Pesquisa em fontes secundárias é importante no levantamento de dados estatísticos, busca de

informações em cartórios de registros, sindicatos de representação e outras fontes que se

fizerem necessárias. A reunião de informações qualitativas e quantitativas permite uma visão

amplificada da realidade. A pesquisa encontra-se em andamento, os resultados preliminares

apontam que os processos migratórios no município de Ipameri (GO), a partir de 1970 estão

relacionados à mobilidade do trabalho. Os contingentes de trabalhadores boias frias tem em

grande maioria origem no Estado do Maranhão, entre os entrevistados e de acordo com

dados obtidos através da observação a campo, destacam os oriundos dos Município de

Buritirana, João Lisboa e Imperatriz, que juntamente com os cearenses, piauienses,

paraibanos e baianos são designados como nordestinos. Entre os Sulistas, que nesta pesquisa

designam gaúchos, paranaenses, Catarinenses e agrega também paulistas, ainda que oriundos

do sudeste, no município também são reunidos nesse grupo, onde destacam-se paranaenses,

paulistas que são empresários rurais no município de Ipameri. Percebe-se que os processos

migratórios e a mobilidade do trabalho são fatores primordiais na compreensão das

transformações socioespacias do município nas últimas décadas.

Página 23

Referências

ALVES, G. Os fundamentos ontológicos da reestruturação capitalista – Fundação (e

subversão) da modernidade pelo “sujeito” capital. 1999 a. Disponível em:

www.globalization.cjb.net – acesso 20 novembro 2011.

BRUM, A. J. Modernização da agricultura: trigo e soja. Petrópolis: Vozes, 1988.

CHAVEIRO, E. F.; CALAÇA, M. A Dinâmica demográfica de Goiás. 1. ed. Goiânia: Editora

Ellos, 2009. v. 1. 130 p.

ESTEVAM, L. A. O tempo da transformação: Estrutura e dinâmica da formação

econômica de Goiás. Goiânia: Ed. do autor, 1998.

GAUDEMAR, Jean-Paul de. Mobilidade do Trabalho e Acumulação do Capital. Editora

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INOCÊNCIO, M. E. O Prodecer e as tramas do poder na territorialização do capital no

cerrado. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Goiás, Instituto de Estudos

Socioambientais, 2010.

MENDONÇA, M. R. & THOMAZ JUNIOR, A. A modernização da agricultura nas áreas de

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Boletin del Instituto de Geografia, UNAM. México, DF, nº 55, 2004, p.97-121.

MENDONÇA, M. R. A urdidura espacial do capital e do trabalho no Cerrado do Sudeste

Goiano.2004. 457 f. Tese (Doutorado em Geografia). Faculdade de Ciências e Tecnologia,

Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente, 2004. Disponível em:

http://www4.fct.unesp.br/pos/.../04_MARCELO_RODRIGUES_MENDONCA.pdf>. Acesso

em: 21/06/2011.

___________. Geografia, Identidade e Resistência Do Trabalho: o exemplo dos Povos

Cerradeiros - Goiás - Brasil1. 2004. – C. de Catalão – UFG. GO, pp. 1-15.

Disponível em: www.alasru.orgq/.pdf. Acesso em: 11/09/2011.

MINAYO, M. C. de S. (Org.). Pesquisa social: teoria método e criatividade.

17ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994. 80 p.

OLIVEIRA, Ariovaldo U. Agricultura e Indústria no Brasil. In: Boletim Paulista de

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SANTOS, M. Por uma Geografia Nova. São Paulo: Hucitec/Edusp, 1978.

_______A Natureza do Espaço. Técnica e Tempo. Razão e Emoção. São Paulo, EDUSP,

1996.

Página 24

ASSENTAMENTO OLGA BENÁRIO EM IPAMERI (GO): ajuda mútua como forma

de reafirmação da solidariedade camponesa

Waldivino Gomes FIRMINO

Universidade Federal de Goiás/CAC

Bolsista FAPEG

[email protected]

Profª. Drª. Helena Angélica de MESQUITA

Universidade Federal de Goiás/CAC

[email protected]

GT2 - RELAÇÃO CAMPO/CIDADE, EDUCAÇÃO E MEIO AMBIENTE: lutas, gênero e

práticas emancipatórias.

Pesquisa em desenvolvimento

Este texto mostra resultados preliminares da pesquisa de mestrado que está em

desenvolvimento no Assentamento Olga Benário em Ipameri (GO). Escolher este

Assentamento para pesquisa justifica-se, entre outros motivos, ser o mesmo resultante da luta

dos trabalhadores sem terra, organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

(MST). A pesquisa de campo apoiada em referenciais teóricos procura conhecer a trajetória

dos assentados, destacando as experiências de trabalho em mutirões de ajuda mútua e outras

práticas que mesmo estando assentados em parcelas individuais, conforme o Plano de

Desenvolvimento do Assentamento (PDA) realizam atividades coletivas como forma de se

afirmarem enquanto assentados. Várias obras foram analisadas para a realização da

pesquisa. Com destaque: Bosi (2003), Fernandes (2000), Mendonça (2004), Mesquita (2009;

2011), Pessoa (1999) Thomaz Júnior (2010). Os assentados informaram a respeito de suas

trajetórias até o Assentamento Olga Benário e falaram acerca das atividades realizadas para a

permanência na terra. A maioria alega falta de recursos para o desenvolvimento da parcela.

Quando questionados a respeito da motivação para entrar na luta pela terra, foram unânimes

em dizer que tinham um sonho de ter a terra para trabalhar e viver dignamente. Perguntados

se o Assentamento Olga Benário é o que realmente esperavam, muitos disseram que sim

porque é próximo da cidade (Ipameri), mas disseram que a terra é “fraca” para cultivos e

faltam recursos financeiros para preparar o solo para o plantio. Um assentado disse: “a terra

aqui é muito fraca, não é boa para plantio, tem que aproveitar as manchas”, (TRABALHO DE

CAMPO, 2012). Mesmo em pequenas áreas na parcela, muitos assentados estão produzindo o

suficiente para suprir as necessidades da família. Os saberes camponeses devem ser

Página 25

valorizados, afinal, são importantes para o desenvolvimento tecnológico da agricultura, como

assinala Thomaz Júnior (2010). Mendonça (2004) afirma que os impactos do agronegócio

sobre as atividades camponesas tradicionais foram muito intensos, principalmente nas áreas

do Cerrado. Por ocasião das visitas ao Assentamento Olga Benário para realização das

entrevistas, observou-se que os assentados se reúnem frequentemente para traçar as metas de

trabalho e discutir a melhor forma de atuar. Neste trabalho será dado enfoque às práticas de

mutirões de ajuda mútua para a construção de uma casa para uma família assentada e uma

ponte para melhor circulação dentro do Assentamento. Estive presente em vários mutirões,

quando os assentados, com muita alegria realizavam as atividades da construção. No próprio

lugar onde é realizado o mutirão, os camponeses almoçam, merendam, participam de todos os

momentos com muito entusiasmo. Um dos assentados disse que estas construções

representam uma vitória para eles. É um desejo dos assentados, que o trabalho realizado em

mutirões de ajuda mútua seja mostrado. Isso, segundo eles, dará mais visibilidade às ações

realizadas no Assentamento. As fontes orais, os registros iconográficos e a observação

participante são os recursos metodológicos empregados nesta etapa da pesquisa. A pesquisa

de campo aliada a outras metodologias constitui-se em ferramenta que permite ao pesquisador

o conhecimento da realidade do campo ou do local de realização da pesquisa. De acordo com

Alentejano; Rocha-Leão (2006) o trabalho de campo é entendido como uma possibilidade de

interação entre a teoria e a prática e permite a percepção dos fenômenos estudados assim

como possibilita interação entre pesquisador e sujeitos da pesquisa. Bosi (2003) afirma que a

entrevista ideal é aquela que permite uma relação de amizade e laços afetivos, os quais

contribuem para que pesquisador e pesquisados se interajam mais facilmente, contribuindo

desta forma para resultados mais eficazes. Conforme o PDA, os assentados do Olga Benário

optaram por parcelas individuais, no entanto, as práticas de mutirão de ajuda mútua são elos

que possibilita a realização de tarefas que seriam mais difíceis individualmente. São

momentos de afirmação da cooperação e solidariedade, características do campesinato. Isso

demonstra, entre outros fatores, enraizamento do campesinato, além de aprendizado adquirido

nos acampamentos onde estiveram. Para eles, o mutirão é sinônimo de ajuda, de partilha, de

alegria em poder servir o companheiro no momento de necessidade. São momentos de troca

de experiências, de informações, de socialização das notícias e assuntos de interesse de todos,

etc. Pessoa (1999). Com as práticas dos mutirões de ajuda mútua, os camponeses reafirmam a

solidariedade que lhes era, e ainda é natural, Mesquita (2009). Estas práticas são tradições

entre os camponeses, no entanto, Woortmann (1987) diz que a tradição não é o passado que

Página 26

sobrevive no presente, mas o passado que, no presente, constrói as possibilidades do futuro. O

assentamento é resultado de vários anos de luta pela terra e a principal característica de um

assentamento como o Olga Benário em Ipameri, consiste, entre outros fatores, nas formas de

trabalho que os assentados se organizam para a realização de tarefas diárias ou mesmo

aquelas esporádicas como a construção de casas, estradas, pontes, etc.

Referências

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ferramenta essencial para os geógrafos ou um instrumento banalizado? In: Boletim Paulista de

Geografia: trabalho de campo. Associação dos geógrafos brasileiros: São Paulo, nº 84, julho

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Editorial, 2003.

FERNANDES, Bernardo Mançano. Movimento Social como categoria geográfica. Terra

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MENDONÇA. Marcelo Rodrigues. A urdidura do trabalho e do capital no cerrado do

sudeste goiano. 457 f. Tese (Doutorado em Geografia) – Faculdade de Ciências e Tecnologia,

Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente, 2004.

MESQUITA, Helena Angélica de. A luta pela terra no país do latifúndio: o massacre de

Corumbiara Rondônia, Goiânia: FUNAPE/DEPECAC/UFG, 2011.

__________, Helena Angélica de. Onde Estão as Flores, as Cores, os Odores, os Saberes e os

Sabores do Cerrado Brasileiro? O Agro/Hidronegócio Comeu! Terra Livre. Ano 25, V. 2, nº

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THOMAZ JÚNIOR, Antônio; FRANÇA JÚNIOR, Luzimar Barreto (Orgs). Geografia e

Trabalho no século XXI. Centelha. Presidente Prudente, 2010.

WOORTMANN, Klaas. Com parente não se neguceia: o campesinato como ordem moral. In:

Anuário Antropológico, 87. Brasília, 1990.

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O IMPACTO AMBIENTAL SOBRE AS FRUTAS DO CERRADO NA REGIÃO DE

CACHOEIRA – ORIZONA – GO

Wesley Pereira da Cunha

Graduando em Geografia pela UEG – Unidade de Pires do Rio

Bolsista do PBIC-AF CNPq/UEG – Pires do Rio

[email protected]

Luciana Ananias Gonçalves

Graduada em Geografia pela UEG – Unidade de Pires do Rio

[email protected]

GT2 - RELAÇÃO CAMPO/CIDADE, EDUCAÇÃO E MEIO AMBIENTE: lutas, gênero e

práticas emancipacionistas.

Resumo: O trabalho faz parte de uma pesquisa monográfica realizada no ano de 2010, para a

obtenção de grau no Curso de Licenciatura Plena de Geografia na UEG – Unidade de Pires do

Rio. A idéia se deu com decorre do Curso de Geografia, onde com as disciplinas de Meio-

Ambiente, Biogeografia entre outras o interesse em fazer um trabalho de pesquisa que

envolvesse essa temática de frutas do cerrado foi ganhando forma. Como parte da

comunidade de Cachoeira - Orizona - GO, área localizada a 28 km da cidade de Orizona GO,

onde existe um povoado com 58 famílias e inúmeras fazendas e sítios ao redor, com

vegetação típica de cerrado e rica em recursos hídricos. A região onde cresci e sempre fiz

parte das pessoas que comeram frutas colhidas no cerrado local, e que foram perdendo seu

espaço para as monoculturas, senti a necessidade de entender como o Bioma local vem sendo

alvo de constantes degradações principalmente a cobertura vegetal, causada pelo processo de

modernização agrícola que ocorre a partir das décadas de 1950, aonde as atividades

extensivas de agricultura vêm provocando uma substituição das espécies nativas. As

atividades agrícolas devastadoras que começa com as carvoarias dos mineiros nas décadas de

1970 e se intensificam no fim do século com agricultura dos paulistas, fez com que a região

que tem seus aspectos físicos e biológicos propícios as frutas típicas do cerrado, sofresse uma

devastação significativa, fazendo com que hoje não sejam mais encontradas frutas antes

apreciadas pelos moradores locais. As plantas frutíferas estão inseridas na alimentação tanto

da fauna como da população cerradeira, fazendo parte dos hábitos alimentares destes povos.

Dessa forma, o objetivo foi identificar como as atividades agrícolas estão inseridas nesse

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espaço e o que ocorre com a modernização agrícola na região, revelando os principais

impactos ambientais causados por essas atividades no cerrado em geral e nas plantas frutíferas

que existem e que existiram, constatando o bioma cerrado e suas características. O trabalho

exigiu um referencial teórico que caminhou desde a apresentação do espaço construído de

Santos (1985), e a paisagem do cerrado com Oliveira (2000). A caracterização física co

cerrado através de Eiten (1998), e principalmente uma discussão em torno da modernização

agrícola no cerrado com Faria (1998), Aguiar (1986), Brum (1988), Drew (1998). A pesquisa

partiu da etapa de leitura e pesquisa para a construção do referencial teórico, com bases em

autores que discutem o assunto. E ainda a contextualização dos dados e o trabalho de campo

realizado no ano de 2009/2010, onde foram feitas as entrevistas e as fotografias. As leituras

representaram um momento de conhecimento e de construção. O Cerrado é um exemplo, de

uma paisagem natural rica em vida e belezas naturais. Apesar de ser considerada uma savana6,

os elementos constituintes desse Bioma apresentam exclusivas formas de vida. E esse Bioma

resulta de uma relação de fatores bióticos e abióticos, o que dá a essa região uma fisionomia

de paisagens única no Planeta Terra. O Cerrado tem como área original todo o estado de

Goiás e do Distrito Federal, a maior parte do Tocantins e do Mato Grosso e do Maranhão, o

Oeste da Bahia e de Minas Gerais, noroeste de São Paulo, partes do Piauí e uma faixa no

estado de Rondônia. Encontra-se também de maneira disjunta ocorre estado do Paraná e como

enclaves em meio à Caatinga no Nordeste e na Floresta Amazônica. O cerrado é apenas mais

um dos ricos biomas brasileiros, que é o país da biodiversidade. O Cerrado é um Bioma que

por muito tempo não despertou nenhum interesse ou preocupação, por isso sua paisagem

modificou-se e vem modificando-se com os anos. A diversidade vegetal desse Bioma forma

uma interessante paisagem. As categorias geográficas possibilitam analises diferenciadas de

vários fenômenos naturais e humanos, a pesquisa procurou uma analise feita a partir da

discussão da categoria paisagem que usa de ferramentas analíticas e próprias para um

entendimento de certas transformações de paisagens naturais em outras paisagens. No caso do

estudo da paisagem do Cerrado a idéia parte do estudo da transformação do Bioma por

diferentes atividades naturais e humanas, o que determina a perda da paisagem natural. Com

extensão de 1,8 milhões de km, é o segundo maior Bioma brasileiro, cujas riquezas de

espécies vegetais e animais representam 30% da biodiversidade brasileira. O trabalho exigiu

6Savana: sistema natural caracterizado por uma vegetação entremeada por gramínea e arbustos de pequeno e

médio porte.

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uma busca por leituras da geografia que desse suporte a temática, desde a leitura da categoria

espaço, paisagem e principalmente como a ciência geográfica tem trabalhado a caracterização

da modernidade agrícola e como o espaço geográfico tem sofrido com essas mudanças e

transformações causadas por um processo que chega num ambiente físico e humano e coloca

suas regras de modernidade e de capitalismo de forma muito subjetiva. O Cerrado constitui um

dos Biomas naturais do Planeta Terra formado por um mosaico de vegetação, que forma sua

grande biodiversidade, é resultado do processo da interação dos elementos bióticos (seres vivos) e

abióticos (relevo, solos e clima.). Entre as muitas espécies vegetais do Cerrado encontra-se a

planta frutífera, essas espécies exclusivas e endêmicas, assim como o próprio Bioma vem

sofrendo um processo de degradação. A categoria geográfica paisagem possibilita um melhor

entendimento da dinâmica dos sistemas naturais e também das questões ambientais. Não

diferente de outros Biomas brasileiro, o Cerrado sofre alterações humanas no seu meio. A

ocupação dos Cerrados, ocorridos nas últimas décadas transformou consideravelmente o

perfil da região e a relação entre as populações ali adaptadas e o meio ambiente. Os

impactos ambientais no cerrado decorrem de mudanças nos processos produtivos, no uso de

tecnologias e na organização social, constituindo-se em respostas do ecossistema à ação

antrópica ali desenvolvidas. A tecnologia é um fator importante nesse contexto, hoje é cada

vez maior o uso de recursos tecnológicos para modernizar as atividades agrícolas, os usos de

máquinas acabam compactando o solo, os inseticidas poluindo as águas e causando doenças

aos humanos e a perda do Bioma Cerrado para as atividades humanas. A relação do processo

de modernização com os impactos ambientais provém de alguns elementos, como: o uso de

tecnologia, as mudanças no processo produtivo e na organização social e a ação antrópica

em si diante de um Bioma. O Cerrado foi surpreendido pela política de modernização

agropecuária que aconteceu com o mito de que o Cerrado era “Terras de Gigantes” e

“Celeiro do país. A produção de alimentos no mundo é uma das responsáveis pela

destruição de muitos ecossistemas e assim observamos formas da agricultura moderna. O

Cerrado recebeu a partir de 1970, a implementação de estratégias e políticas de

desenvolvimento, aliadas a investimentos públicos em infra-estrutura, ocasionando impactos

consideráveis sobre a expansão agrícola e a ocupação do Cerrado. A agricultura sendo uma

atividade desenvolvida no solo requer uma retirada da vegetação natural desses locais, quando

isso acontece, a perda é muito mais que de árvores cortadas, o sistema natural, dependente do

clima, relevo, hidrologia, funciona em uma cadeia de inter-relações, com uma fauna, uma

flora e microorganismo desenvolvendo uma política funcional naquele meio. Através da

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pesquisa percebeu-se que no Cerrado o seu sistema natural é muito complexo, já que, tem

uma fisionomia muito própria, a região de Cachoeira apresenta um cerrado típico, com

Campos Limpo e Sujos e Cerradões além de áreas de veredas, onde a quantidade hídrica é

sempre muito rica, e isso é interessante, pois, cada uma dessas áreas é responsável por um

tipo de solo, de vegetação e de frutas. O Cerrado é muito rico em diversidade vegetal, estima-

se em cerca de 10.000 espécies entre arbóreas, arbustivas e herbáceas, e parte delas sequer

foram catalogadas e o Cerrado apresenta 85% de seu terreno coberto com sua própria

vegetação do Cerrado em uma ou outra densidade. As plantas lenhosas maiores têm uma

aparência característica, os troncos e galhos de árvores e de arbustos de caule grosso são na

maior parte torcida isto é tem numerosas dobras, a casca é usualmente grossas, cortiçosas, as

folhas geralmente são um pouco grandes a média sendo que o tamanho de folhas das florestas.

Estas diferentes formações se alternam dentro da região, na dependência, principalmente, da

fertilidade do solo, declividade e presença ou ausência de concreções. A formação mais

comum é o chamado Cerrado stricto sensu, uma formação do tipo savana, onde convivem

gramíneas com espécies lenhosas. Esta formação é a mais rica em espécies nativas frutíferas

com interesse para aproveitamento alimentar. Estimativas da biodiversidade vegetal do

Cerrado, como um todo, apontam para um número de espécies vasculares de 5.000 a 7.000

espécies. Somente os cerrados constituem um imenso Bioma com riqueza biológica estimada

em 5% de todas as espécies existentes na Terra. Essa preocupação parece ser mais verdadeira

se pensarmos em termos sistêmicos, o pensamento sistêmico concebe o mundo em termos de

relações e de interações, em que os sistemas são concebidos como totalidade, cujas

propriedades não são a mera soma das unidades menores, mas a constante interação entre as

mesmas. Sendo assim, os impactos ambientais ocorridos em um ecossistema como os

Cerrados, trarão segundo essa forma de pensamento, consequências seriíssimas também em

outros ecossistemas, mesmo que a médios ou longos prazos. Com esta enorme biodiversidade

criou-se, na região do Cerrado, uma tradição de usos, em diferentes formas, dos recursos

vegetais. Das espécies com potencial de utilização agrícola, destacam-se as frutíferas. São

algumas dezenas de espécies de diferentes famílias que produzem frutos comestíveis, com

formas variadas, cores atrativas e sabor característico. As fruteiras nativas dos Cerrados, tais

como araticum, jatobá, pequi, mangaba, cagaita, buriti, constituem fontes importantes de

fibras, proteínas, vitaminas, minerais, ácidos saturados e insaturados presentes em polpas e

sementes; possui enraizamento profundo o que permite um aproveitamento mais eficiente da

água e dos minerais do solo comparativamente às lavouras de grãos. A maioria dos frutos do

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Cerrado amadurece no início da estação chuvosa, que vai de setembro a dezembro, porém em

menores quantidades há uma ocorrência de frutos praticamente o ano todo. De uma forma

geral, os frutos que amadurecem no início da estação chuvosa (setembro, outubro) não

apresentam dormência de sementes, já que estas encontram condições propícias para

germinação e estabelecimento das plântulas, antes do período de estiagem. Como exemplo de

espécies que adotaram este tipo de estratégia pode ser citado a cagaita e o caju arbóreo que

muitas vezes frutificam antes mesmo das primeiras chuvas da estação. Já as espécies que

frutificam mais para o final da estação chuvosa apresentam, em geral, sementes com

diferentes graus de dormência, o que as possibilitam atravessar a estação seca para germinar

no início da estação chuvosa seguinte. O araticum e o pequi são exemplos de espécies que

apresentam sementes com dormência. Estes frutos são consumidos em diferentes formas pelas

populações locais e constituem, ainda, uma importante fonte de alimentos para animais

silvestres e mesmo para o gado. Os animais silvestres funcionam como dispersores naturais de

sementes, podendo-se admitir que o caráter atrativo e alimentício dos frutos resulta de um

processo de co-evolução entre plantas e animais, por um longo período de tempo. As fruteiras

nativas ocupam lugar de destaque no ecossistema do Cerrado e seus frutos já são

comercializados em feiras e com grande aceitação popular. Esses frutos apresentam sabores

sui generis e elevados teores de açúcares, proteínas, vitaminas e sais minerais e podem ser

consumidos in natura ou na forma de sucos, licores, sorvetes, geléias etc. Hoje, existem mais de

58 espécies de frutas nativas dos Cerrados conhecidas e utilizadas pela população. O interesse

industrial pelas frutas nativas dos Cerrados foi intensificado após os anos 40. A mangaba, por

exemplo, foi intensivamente explorada durante a Segunda Guerra Mundial, para exploração de

látex. O babaçu e a macaúba foram bastante estudados na década de 70, em decorrência da crise

de petróleo, e mostrou grandes possibilidades para utilização em motores de combustão, em

substituição ao óleo diesel. A maioria dos frutos do Cerrado amadurece no início da estação

chuvosa, que vai de setembro a dezembro, porém em menores quantidades há uma ocorrência

de frutos praticamente o ano todo. De uma forma geral, os frutos que amadurecem no início

da estação chuvosa (setembro, outubro) não apresentam dormência de sementes, já que estas

encontram condições propícias para germinação e estabelecimento das plântulas, antes do

período de estiagem. Como exemplos de espécies que adotaram este tipo de estratégia podem

ser citados a cagaita e o caju arbóreo que muitas vezes frutificam antes mesmo das primeiras

chuvas da estação. Já as espécies que frutificam mais para o final da estação chuvosa

apresentam, em geral, sementes com diferentes graus de dormência, o que as possibilitam

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atravessar a estação seca para germinar no início da estação chuvosa seguinte. O araticum e o

pequi são exemplos de espécies que apresentam sementes com dormência. As frutas não são

apenas bonitas e que dão a paisagem do Cerrado uma exuberância, essas frutas são saborosas

e fazem parte da alimentação e de uma tradicional colheita uma vez por ano. Já que as frutas

do cerrado têm uma época certa do ano para amadurecer e estar pronta para o consumo.

Variando é claro da situação do próprio tipo de Cerrado e do solo e do clima, por exemplo, o

pequi que é uma fruta símbolo do cerrado. Ela produz apenas dos meses de setembro a

dezembro, e é característico dos campos limpos e dos Cerradões. Ou a pitanga que floresce na

primeira e dá seus frutos nos meses de novembro e dezembro e por ser uma arvore de

pequeno porte se apresenta nos campos limpos, como vemos neste trabalho. A gabiroba outra

fruta de sabor inigualável que também apresenta as mesmas características da pitanga. A

região de Cachoeira conta ainda com o privilegio de ter algumas reservas naturais de pés de

pequi, ele pode ser encontrada em diversas partes do Cerrado, desde os campos (limpo e

sujo), aos Cerradões e mesmo nas matas de galerias. Uma das paisagens muito vista no

Cerrado são as grandes lavouras de soja e de milho e no meio delas de forma esparsas vemos

um pé de pequi, deixado pelo proprietário. A mangabeira é abundante em todos os tabuleiros

e nas baixadas litorâneas da região Nordeste, onde se obtém – de forma extrativista – a quase

totalidade dos frutos colhidos. Acham-se as frutas também nos cerrados do Centro-oeste, no

norte de Minas e em parte da Amazônia. Floração: de agosto a novembro com pico em

outubro. Frutificação: pode ocorrer em qualquer época do ano, mas principalmente de julho a

outubro ou de janeiro a abril. O Cerrado na região de Cachoeira apresenta outra variedade de

fruta que é o cajuzinho do cerrado, uma fruta muito utilizada, sua frutificação se dá nos meses de

agosto e setembro, sua fisionomia é muito apreciado com o caju tradicional e comum, mas essa

fruta é característica do cerrado sujo e tem um sabor muito característico. Um dos símbolos do

Cerrado é o pequi, fruta típica e única de sistema de Cerrado, além de servi como alimento e

também uma forma de renda para o povo Cerradeiro, apesar de produzir uma vez por ano essa

fruta, tem valor comercial alto, o pequi tornou-se símbolo cultural do Estado de Goiás, apesar

de ser encontrado em regiões do Norte, Nordeste e do Sudeste, essa fruta é consumida em

Goiás como um prato tradicional e cultural. Orizona é uma cidade do Sudoeste Goiano, e

localiza-se na microrregião de Pires do Rio- GO e fica a 120 km de Goiânia capital do Estado

e a 180 km da capital Federal, a cidade é destaque na bacia leiteira do estado. É um município

com área territorial bem extensa e que tem sua base econômica baseada nas atividades rurais,

exemplo disso é que sua população rural é maior que a urbana. As fazendas e os povoados são

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outras características do município, e um dos povoados do município e o Povoado de

Cachoeira, que localiza-se a 30 km da cidade de Orizona. E apesar de ser um povoado ainda

pouco desenvolvido conta com energia elétrica, telefone público e algumas modernidades,

tendo suas bases bem sertanejas e ruralistas. Cachoeira recebeu esse nome devido o Ribeirão

Cachoeira, a região é muito rica em recursos hídricos e o Cerrado até então muito conservado,

o que vem sendo modificado após a década de 1980, com a modernização agrícola no Estado

e consequentemente no município de Orizona. O cerrado na Região de Cachoeira é propicio

às frutas mais saborosas do Cerrado, e tem servido como alimento e como fonte de renda par

aos moradores, além de fazer parte do ecossistema regional, ou seja, alimento para a fauna

local, desencadeando um processo de extinção. Isso passa a ocorrer com a vinda dos paulistas

que compram as fazendas locais para cultivarem soja e milho. A transformação da paisagem

típica do cerrado na região de Cachoeira é um processo que engloba todo o Estado de Goiás e

implica uma realidade a Cerrado vegetação natural vem sendo transformada e sua paisagem

modificada. E nessa transformação temos uma preocupação com as espécies nativas do

cerrado que tem uma importância natural e cultural para todos que se preocupa com o cerrado.

pode-se observar a transformação de uma área do Cerrado local onde anteriormente havia

espécies nativas como, por exemplo, a gabiroba, o pequi, o jatobá, o baru, araticuns, entre

outros e que agora dá lugar a pastagens e a lavouras. Mas, a pesquisa de campo foi a parte

mais interessante da pesquisa, as visitas a campo e principalmente as conversas com os

moradores possibilitaram uma conclusão e uma concretização da pesquisa. As entrevistas

foram feitas com moradores antigos da região e que vivem de forma muito natural com

Cerrado, os entrevistados foram escolhidos de acordo com seu perfil, ou seja, moradores que

usam s frutas do Cerrado em sua alimentação e também tem nelas uma representação

econômica. As fotos foram feitas na época de frutificação na estação chuvosa momento que é

possível identificar no Bioma uma exuberância e uma variedade de cores e sabores,

principalmente de sabores. E ainda foram usadas como metodologia cartas topográficas,

mapas, e tabelas, para uma melhor visualização da descrição da área e dos resultados da

pesquisa. Através dos mapas a localização dos Biomas do Brasil e do Bioma Cerrado, além

do mapa da microrregião de Pires do rio a qual está localizada o município de Orizona e a

região de Cachoeira A pesquisa foi concluída com sucesso, conclui-se que o processo que

chega às décadas de 1970 na região e se intensifica com os cultivos intensivos, e sem

controle, tem causado na região a devastação de espécies frutíferas importantes para os

moradores, o pequi, o cajuzinho, o araticum, a mangaba entre outros estão desaparecendo da

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cultura dos moradores, eles perceberam que as frutas estão cada vez mais difíceis de serem

saboreadas, e que as gerações futuras não as conheceram A modernização agrícola é capaz de

ser responsável pelo cerrado se tornar um bioma sem interesse, devido uma vegetação sem

muito impacto visual, a degradação ambiental tem sido causado pelas atividades modernas de

agricultura e pecuária que camuflam a situação endêmica que o Cerrado sempre teve. Que são

vegetação, fauna, flora, recursos hídricos e sabores e cores únicas.

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