batman questao da loucura

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  • 8/18/2019 Batman Questao Da Loucura

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    UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULOVITOR DOS SANTOS TASSI

    BATMAN E A QUESTÃO DA LOUCURA NA HISTÓRIA DOCAVALEIRO DAS TREVAS

    SÃO PAULO 

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    VITOR DOS SANTOS TASSICURSO DE PSICOLOGIA

    BATMAN E A QUESTÃO DA LOUCURA NA HISTÓRIA DOCAVALEIRO DAS TREVAS

    Trabalho de conclusão de curso apresentado aUniversidade Bandeirante de São Paulo, comoexigência do Curso de Psicologia.Orientador: Profº: Sergio Lopes de OliveiraCo-orientadora: Profª Ms.: Lizandra de Campos

    Brandani

    SÃO PAULO

     

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    Dedico este trabalho aqueles que, de alguma forma, contribuíram para que esta

     jornada chegasse ao fim. A minha família, pelo apoio e por acreditarem em mim, nos

    momentos bons e ruins, e principalmente, por não me deixarem desistir jamais.

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    AGRADECIMENTOS

     Agradeço primeiramente a minha família, por ter me dado todo o suporte para otérmino de mais uma etapa da minha vida, em especial a minha irmã Camila, por ter

    sido a grande amiga e companheira que eu sempre precisei.

     Agradeço aos meus professores, por terem tido disponibilidade e coragem, para

    ouvir as minhas histórias, interesses e questionamentos. Em especial, aos

    professores Sergio Lopes de Oliveira, Luis Carlos de Araujo Lima, Cesar Eduardo

    Serrano, Salvador Pugliese Júnior e Brígida Malandrino, pelas conversasdescontraídas durante esses cinco anos. Aos meus professores orientadores, cada

    um contribuindo a sua maneira, Sergio Lopes de Oliveira e Lizandra Brandani.

     A todos, muito obrigado.

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    “Mas eu não quero me encontrar com gente louca”, observou Alice.  

    “Você não pode evitar isso”, replicou o gato. 

    “Todos nós aqui somos loucos. Eu sou louco, você é louca”.  

    “Como você sabe que eu sou louca?” indagou Alice. 

    “Deve ser”, disse o gato, “Ou não estaria aqui”. 

    Lewis Carroll

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    RESUMO

    TASSI, Vitor dos Santos. Batman e a questão da loucura na história do Cavaleiro

    das Trevas. 2010. 61 f. Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)  –  Curso de

    Psicologia, Universidade Bandeirante de São Paulo, São Paulo, 2010.

    Este trabalho tem como objetivo apresentar a origem do personagem Batman

    através das motivações de seu criador e a sua história, desde a infância até se

    tornar o herói conhecido como o Cavaleiro das Trevas, para responder a seguintequestão: seria Batman, o personagem dos quadrinhos, um louco e todas as suas

    aventuras fruto de delírios e alucinações? Alguns acontecimentos na infância de

    Bruce Wayne/Batman influenciaram toda a sua vida e suas escolhas, tornando-o o

    herói que se veste de morcego e assombra os criminosos durante a noite. Neste

    contexto, levantamos hipóteses sobre como esse sujeito se organizaria a partir

    destes acontecimentos e como estas aventuras que ele vive e os vilões, em especial

    o Coringa, a quem combate, são delírios e alucinações muito bem estruturados.Para responder o nosso problema de pesquisa, faremos a revisão bibliográfica do

    personagem, utilizando como referencial teórico a leitura psicanalítica das psicoses

    e assim poderemos discutir e relacionar determinados acontecimentos que

    estruturam o personagem e concluir, de forma breve, a relação existente entre

    Batman e a questão da loucura.

    Palavras-chave: Batman, Coringa, Psicanálise, Psicose.

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    ABSTRACT

    TASSI, Vitor dos Santos. Batman and the issue of insanity in the history of the

    Dark Knight. 2010. 61 f. Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)  –  Curso de

    Psicologia, Universidade Bandeirante de São Paulo, São Paulo, 2010.

    This paper aims to present the origin of the Batman character through the

    motivations of its creator and its history, from childhood to become the hero known

    as the Dark Knight, to answer the following question: Is Batman, the comic bookcharacter, a crazy and all their adventures, the fruits of delusions and hallucinations?

    Some events in the childhood of Bruce Wayne / Batman influenced his life and his

    choices, making it the hero who dresses to bat and haunts criminals overnight. In this

    context, we raise hypotheses about how this guy would be organized from these

    events and how these adventures that he lives and the villains, especially the Joker,

    whom combat, delusions and hallucinations are very well structured. To answer our

    research problem, we will review the character, using as theoretical psychoanalyticreading of psychosis and so we can discuss and relate certain events that shape the

    character and conclude briefly, the relationship between Batman and the question

    madness.

    Keywords: Batman, Joker, Psychoanalysis, Psychosis.

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    LISTA DE ILUSTRAÇÕES

    Figura 1 –  As semelhanças entre Batman e Zorro ..............................................  

    Figura 2 –  As semelhanças entre Bruce Wayne e Don Diego de La Vega .........  

    Figura 3 –  A Cidade de Gotham ..........................................................................  

    Figura 4 –  O jovem Bruce com a fantasia de seu herói, o Zorro .........................  

    Figura 5 –  Bruce no país dos morcegos .............................................................  

    Figura 6 –  O jovem Bruce, ao deparar-se com a morte de seus pais .................  

    Figura 7 –  Bruce junto a seus pais mortos ..........................................................  

    Figura 8 –  Batman sob a fumaça ........................................................................  Figura 9 –  Batman interrogando um criminoso ...................................................  

    Figura 10 –  Batman vislumbrando a noite ................................................. ............  

    Figura 11 –  O Coringa ...........................................................................................  

    Figura 12 –  Rorschach ..........................................................................................  

    Figura 13 –  O morcego .........................................................................................  

    Figura 14 –  Batman, o Chapeleiro e o país dos espelhos ....................................  

    Figura 15 –  Coringa e Batman, lados diferentes de um mesmo baralho ..............  

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    SUMÁRIO

      INTRODUÇÃO ...........................................................................................    

      BATMAN E A QUESTÃO DA LOUCURA NA HISTÓRIA DO

    CAVALEIRO DAS TREVAS ......................................................................    

      CAMINHO METODOLÓGICO ...................................................................  

      O SURGIMENTO DO HERÓI: O PERSONAGEM DOS QUADRINHOS ..  

      Zorro: Uma inspiração para Bob Kane e para Bruce Wayne .....................  

      Gotham: A cidade das trevas .....................................................................  

      O NASCIMENTO DO HOMEM MORCEGO ..............................................    Batman: O Cavaleiro de Gotham ...............................................................  

      O CORINGA: O VILÃO PREFERENCIAL DE BATMAN ...........................  

      O ASILO ARKHAM: A INSTITUIÇÃO PSIQUIÁTRICA PARA

    CRIMINOSOS INSANOS ...........................................................................  

      TEORIAS SOBRE A PSICOSE .................................................................  

      Introdução à psicose pela concepção psicanalítica ...................................  

      DISCUSS O ..............................................................................................    CONCLUSÃO ............................................................................................  

    REFERÊNCIAS ......................................................................................................  

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     INTRODUÇÃO 

     A idéia deste trabalho surgiu ainda no primeiro ano de faculdade, através de

    conversas com o professor Sergio Lopes de Oliveira sobre um interesse em comum,

    o personagem Batman. Com o conhecimento de ambos sobre a história bibliográfica

    do personagem, foram surgindo idéias, mas que com o passar do tempo, acabaram

    por ser deixadas para trás, porém, a vontade de realizar o trabalho jamais deixou de

    existir.

    Meu interesse por histórias em quadrinhos surgiu durante a minha infância,

    quando meu pai era proprietário de uma banca de jornais e revistas no bairro daLapa, região onde morávamos na época. Meu pai, sempre que podia, me trazia

    histórias em quadrinhos do Batman, Conan, entre outros personagens, para eu olhar

    as figuras. Anos mais tarde, passei a colecionar quadrinhos raros, principalmente do

    Batman, mas também de outros personagens, como o V de Vingança, O Corvo e

    Watchmen. Atualmente, possuo uma grande coleção de histórias em quadrinhos,

    brinquedos, filmes e desenhos em DVD, de diversos personagens, porém, em sua

    grande maioria, do personagem Batman.E, ao estudar Psicologia, o personagem Batman e todo seu universo

    passaram a me chamar ainda mais a atenção, devido aos aspectos psicológicos e a

    toda a questão da loucura apresentados em suas histórias, pois, diferente da grande

    maioria dos heróis e vilões dos quadrinhos, Batman e seus inimigos não possuem

    nenhum super poder, e estes, por serem retratados como loucos em sua grande

    maioria, não vão para uma prisão comum, e sim para uma instituição psiquiátrica

    para criminosos insanos.Seria Batman um psicótico e todas as suas aventuras fruto de construções

    delirantes? Através da revisão da literatura do personagem Batman, pretendemos

    apresentá-lo sob um novo ponto de vista, mostrando claramente a questão da

    loucura e o lado humano do Homem Morcego presente em sua história, não com o

    intuito de enquadrá-lo em uma psicopatologia, mas de apresentar uma nova

    perspectiva, utilizando como referencial teórico a leitura psicanalítica das psicoses

    como uma forma de ser do sujeito, sua forma estrutural de ver o mundo interno e

    externo, numa única dimensão sem dentro e fora.

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    Para a realização deste trabalho, utilizaremos as principais histórias em

    quadrinhos do personagem Batman lançadas a partir do ano de 1987 até o ano de

    2009, escolhidas através dos seguintes critérios: a questão da loucura, a temática

    adulta e a profundidade com que os personagens participantes são mostrados. E

    tomaremos esse material como sendo um dos gêneros de produção artística literária

    possíveis para a construção de um universo ficcional.

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     BATMAN E A QUESTÃO DA LOUCURA NA HISTÓRIA DO CAVALEIRO DAS

    TREVAS 

    2.1 CAMINHO METOLÓGICO

    Para realizarmos este trabalho, utilizamos como método a revisão

    bibliográfica do personagem Batman, contextualizando todo o processo por trás de

    sua criação, como as motivações do autor. Após, faremos o levantamento de toda a

    história cronológica do personagem, de sua infância até sua vida adulta, onde estese torna o herói conhecido como Batman. Ao falar do Cavaleiro das Trevas,

    mostraremos quais são as suas motivações para se tornar este herói e seu modo de

    agir. Neste levantamento, falaremos também do vilão conhecido como o Coringa e

    da instituição psiquiátrica para criminosos insanos, o Asilo Arkham.

    Finalizando toda a história de Batman, faremos uma introdução ao conceito

    de psicose utilizando como referencial teórico a psicanálise, para assim podermos

    discutir e levantar hipóteses relacionadas à questão da loucura presente na históriabibliográfica do personagem Batman.

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     O SURGIMENTO DO HERÓI: O PERSONAGEM DOS QUADRINHOS

     A história biográfica de um personagem ficcional da literatura representa um

    desafio interessante, pois trata-se de um sujeito que tem toda a sua história

    registrada na literatura, que narra suas peripécias.

    Em maio de 1939, um ano após a criação de Superman (criado em 1938 por

    Jerry Siegel e Joe Shuster), a Editora DC Comics (na época chamada de National

    Comics) solicitou a Bob Kane criar um super-herói para rivalizar com o homem de

    aço em popularidade e respeito. (Mundo Estranho, Coleção 100 respostas: Batman,

    s.d., p. 13, Batman versus Coringa através das décadas, K ANE et al, s.d., p. 01) 

    Para criar Batman, Bob Kane inspirou-se em uma invenção de Leonardo da

    Vinci, o “Ornitóptero”, semelhante a asas de um morcego, mas que nunca planou  e

    os filmes “The Bat Whispers”, de 1930 (refilmagem do filme mudo “The Bat”, de

    1926), no qual um criminoso fazia uso de uma máscara de morcego, que para

    anunciar seus crimes, projetava em uma parede de um prédio uma luz com um

    morcego no meio, semelhante ao “Batsinal”, que é utilizado anos depois nas

    histórias de Batman e “A marca do Zorro”, de , no qual um homem sem poderesespeciais combate o crime utilizando uma máscara e suas habilidades, como

    abordado em 2.2.1. (Mundo Estranho, Coleção 100 respostas: Batman, s.d., p. 15,

    Batman versus Coringa através das décadas, K ANE et al, s.d., p. 01)

    Batman então foi lançado na revista em quadrinhos “Detective Comics” nº ,

    onde Bob Kane foi responsável pelos desenhos e Bill Finger pelo roteiro. Finger

    também foi responsável pela criação do Pingüim, Mulher-Gato, Duas-Caras e o

    Charada (vilões do universo de Batman), os nomes Bruce Wayne, Gotham City,Robin, a expressão Dupla Dinâmica e o visual que o herói mantém até hoje, com a

    máscara, orelhas pontudas e a capa, pois na concepção inicial de Kane, Batman

    usaria uma máscara cobrindo apenas parte de seu rosto (assim como Zorro) e asas

    de morcego. (Mundo Estranho, Coleção 100 respostas: Batman, s.d., p. 13)

    Jerry Robinson, então arte-finalista das histórias de Batman, criou o primeiro

    parceiro mirim de um super-herói, batizado por Bill Finger como Robin, estreando na

    revista em quadrinhos “Detective Comics” nº Robinson também criou o vilão

    Coringa, tendo como inspiração sua paixão por baralhos e na aparência do ator

    Conrad Veidt no filme “O homem que ri”. (Mundo Estranho, Coleção 100 respostas:

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    Batman, s.d., p.60, Batman versus Coringa através das décadas, K ANE et al, s.d., p.

     

    O nome do alter ego de Batman, Bruce Wayne, foi criado através da junção

    dos nomes de dois personagens históricos. O Rei da Escócia Robert “The Bruce”,

    que derrotou em 1314 o então Rei da Inglaterra Edward II e garantiu a

    independência de seu país e “Mad” Anthony Wayne, herói da guerra revolucionária

    dos Estados Unidos. (Mundo Estranho, Coleção 100 respostas: Batman, s.d., p. 16)

     Além de Batman e outros personagens do universo do homem morcego, Bob

    Kane não criou mais nenhum personagem famoso e morreu em 1998, aos 82 anos,

    porém, até hoje, as histórias de Batman saem com os créditos “criado por Bob

    Kane”. (Mundo Estranho, Coleção 100 respostas: Batman, s.d., p. 18)

    2.2.1 Zorro: Uma inspiração para Bob Kane e para Bruce Wayne

    Zorro foi o personagem histórico que inspirou Bob Kane quando foi solicitado

    a criar um novo herói para a National Comics (que logo se tornaria DC Comics). OZorro havia sido criado em 1919, pelo escritor americano Johnston McCulley, que

    teve como inspiração personagens históricos da América Latina, ligados

    tradicionalmente a movimentos conhecidos como “Banditismo Social” e também na

    figura de Joaquim Murieta, que ficou conhecido como Robin Hood de El Dourado.

    (WIKIPÉDIA, site)

    O Zorro era a identidade secreta de Don Diego de La Vega, um jovem

    membro da aristocracia Californiana, no período em que esta região era colônia daEspanha. Após completar seus estudos na Europa, Diego retorna à Califórnia e

    passa a defender os fracos e oprimidos sob a identidade de Zorro, usando uma

    máscara e capa pretas, empunhando uma espada e cavalgando um cavalo negro

    chamado Tornado. Para que ninguém desconfiasse de sua dupla identidade, Don

    Diego, quando estava sem o uniforme, simulava ser covarde em situações de

    perigo. (WIKIPÉDIA, site)

     As ações de Zorro visavam defender o povo oprimido por um governo que

    massacrava a população com altas taxas de impostos, que na concepção de Don

    Diego, era semelhante a um assalto. Aos olhos da lei, corrupta e cooptada pelo

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    sistema vigente, o Zorro era um vilão, mas para a população, ele era um herói. Esta

    temática de um herói/vilão serviu de inspiração para Bob Kane na criação de seu

    herói/vilão, o Batman, que será traçado por ele com um uniforme muito semelhante

    ao de Zorro, adaptado a modernidade de uma metrópole.

    Figura 1: As semelhanças entre Batman e Zorro.Fonte: Google Images.

     Além de ter sido uma das inspirações de Bob Kane para a criação de Batman,

    Zorro também inspirou Bruce Wayne a usar uma máscara e capa para se tornar um

    combatente do crime. Na noite do assassinato de seus pais, Bruce e sua família

    haviam assistido no cinema ao filme “A Marca do Zorro” de , no qual Don Diego

    de La Vega foi interpretado pelo ator Tyrone Power, como é mostrado em “Batman:

    O Cavaleiro das Trevas” de Frank Miller 

    Bruce Wayne está sentado em uma poltrona, assistindo televisão em sua sala deestar , quando é anunciado que o filme “A marca do Zorro” passará naquelecanal....Esta noite, Clássicos de Hollywood apresenta a famosa aventura de Zorro,estrelando Tyrone Power...Bruce pensa: Zorro. Eu devia ter lido a programação. Vou desligar imediatamentee... Não. É só mais um filme, nada mais. Que mal há em se ver um filme?Imediatamente, Bruce remete-se a lembranças sobre a noite em que seus paisforam assassinados. Após assistirem o filme “A marca do Zorro”, a família Wayne sai do cinema e

    Bruce, ainda criança, tenta imitar os gestos de Zorro no filme.Com essas recordações, Bruce Wayne se pergunta: Você gostou tanto quepulava e dançava como um bobo, lembra-se? Lembra-se daquela noite?

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     Após se perguntar essas questões, Bruce remete-se ao momento exato em queseus pais foram assassinados. (MILLER, 1987, p.16)

    Estes eventos concomitantes marcam a escolha do jovem Bruce, um bandido

    havia assassinado seus pais e somente um herói, como o Zorro, poderia tê-los

    salvado. A idealização do herói das telas torna-se uma obsessão para Bruce Wayne

    que recorda a cena traumática da morte como a solução infantil para conter e evitar

    o fato traumático.

    Não só as vestes escolhidas para caracterizar o Batman compõem as

    semelhanças entre estes dois personagens, mas também a idéia de justiça,

    defendendo os mais fracos e oprimidos, e a concepção de disfarce do personagem

    sem o traje do herói, que se apresenta fraco e desinteressado das questões sociais,

    mostrando-se como um “bon vivant”

    Figura 2: As semelhanças entre Bruce Wayne e Don Diego de La Vega.Fonte: Google images e Zorro: Capa e Espada, 1976.

    2.2.2 Gotham: A cidade das trevas

    Gotham é a cidade fictícia onde Bruce Wayne nasceu e combate o crime

    como Batman. A inspiração para criar Gotham surgiu com duas cidades reais, Nova

    York e Pittsburgh. Outro fato pouco conhecido é que Nova York, no século XIX era

    chamada de Gotham por alguns escritores e o primeiro a usar este apelido foi

    Washington Irving, em alusão a uma cidade ridicularizada na Inglaterra, porque seus

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    habitantes eram chamados de loucos. (Mundo Estranho, Coleção 100 respostas:

    Batman, s.d., p. 38)

    Gotham é uma ilha localizada no nordeste dos Estados Unidos e foi fundada

    no começo do século XVIII. Sua arquitetura é muito marcante, onde cerca de 40

    edifícios superam os 180 metros de altura e a maior parte deles não possui janelas e

    é muito comum ver gárgulas vigiando os parapeitos. (Mundo Estranho, Coleção 100

    respostas: Batman, s.d., p. 37)

    Gotham foi fundada em 1635 por um mercenário sueco, o Capitão Jon

    Logerquist, quando ele e vários colonizadores vieram ao Novo Mundo, depois da

    derrota dos exércitos suecos em Nordlingen, fugindo das devastadoras guerras

    religiosas na Europa. Logerquist deu ao povoado o nome de Forte Adolphus, emhomenagem ao grande general sueco General Adolphus. Em 1674, a Nova Suécia

    foi cedida aos britânicos. O primeiro ato oficial do Governador Geral Adam Howe foi

    rebatizar o povoado com o nome de Gotham. (BATMAN A TRAJETÓRIA, site)

    Durante a Guerra da Independência, Gotham ficou paralisada por causa das

    facções rivais. Havia tantos conservadores quanto rebeldes na cidade. Tropas

    britânicas se estabeleceram ali durante a maior parte da guerra. Se a cidade

    permanecesse sob controle britânico, a Nova Inglaterra poderia ser facilmenteseparada das outras colônias. Em 1779, um oficial do Exército Continental

    concordou em liderar um ataque rebelde a um paiol de pólvora e a fábrica de armas

    adjacente, pois precisavam desesperadamente de suprimentos. Espiões

    conservadores alertaram os britânicos, que prepararam uma emboscada. Um

    mercador de Gotham, Darius Wayne, avisou os rebeldes tocando o sino de uma

    igreja próxima à fábrica. Os rebeldes escaparam, e Wayne foi preso, acusado de

    traição. A cidade caiu nas mãos do Exército Continental no dia em que o mercadorseria enforcado. Como prêmio por seu heroísmo, ele ganhou um lote de terras ao sul

    da cidade. Assim começou o patrimônio Wayne. (BATMAN A TRAJETÓRIA, site)

    Gotham cresceu rapidamente durante a era do aço e da estrada de ferro. Em

    1900, era o principal centro financeiro da América do Norte, só perdendo, a nível

    mundial, para Londres. Mas, passada fase próspera, a cidade enfrentou problemas

    como o advento do petróleo e dos automóveis. Em 1920, Gotham foi superada por

    Nova Iorque. Depois da Grande Depressão, caiu para o 3º lugar ficando atrás de

    Nova Iorque e Metrópolis (cidade fictícia onde atua o Superman). Embora

    mantivesse tal posição, alguns afirmam que sua decadência só diminuiu em meados

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    da década de 70. Mesmo sendo uma grande cidade, Gotham ainda sofre os efeitos

    dessa decadência. Talvez, por isso, seja o único lugar onde Batman poderia ter

    nascido. (BATMAN A TRAJETÓRIA, site)

    Gotham é retratada nas histórias de Batman como uma cidade com pouca

    iluminação, com edifícios gigantescos, muito perigosa durante a noite, onde quase

    sempr e chove, como vemos em “Batman: Cidade Castigada” de Brian Azzarello e

    Eduardo Risso, onde Batman está sob a chuva, refletindo sobre a cidade.

    Batman: Todo o granito esculpido e os salientes degraus de aço dão à impressãode que a cidade tem mandíbula de ferro... ...Mas isso engana apenas os de fora.Quem mora aqui sabe que Gotham é realmente feita de iscas inflamáveis e

    pólvora, enquanto em seus esgotos arde querosene. Por isso, quando chove,não se trata apenas de água... ...Mas de um alívio. Hoje em dia, coraçõesapaixonados e professores dominicais adoram dizer que chuva são as lagrimasde Deus. No entanto, Deus não perde tempo chorando por Gotham. Esta chuva?Se vem dele... ...Não são lagrimas. Tenho que confessar: Acho que há um poucode mim em Deus... Um senso de humor que ninguém entende. Embora nãoconsiga imaginar minha vida sem esta cidade, eu também não choraria porGotham. Já chorei... Uma vez... Anos atrás... Antes de me tornar quem sou. Antes de aprender que não há clemência em Deus... ...Que não há lugar noparaíso para mim ou para Gotham City... ...E que só há tempo para chorarquando já é tarde demais. (AZZARELLO e RISSO, , pp. 07-

    Figura 3: A Cidade de GothamFonte: Batman: Cidade Castigada, 2007.

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     O NASCIMENTO DO HOMEM MORCEGO

    Bruce Wayne nasceu em 19 de fevereiro (não constando o ano de seunascimento em suas histórias). Seu pai, Thomas Wayne era dono das Indústrias

    Wayne e o médico mais importante da Cidade de Gotham, sua mãe Martha Wayne,

    fazia trabalhos de caridade. (Mundo Estranho, Coleção 100 respostas: Batman, s.d.,

    p.19)

    Nos textos utilizados para a realização deste trabalho, Bruce Wayne mostra-

    se como uma criança solitária, relacionando-se apenas com seus pais e o mordomo

    da família, Alfred Pennyworth. Thomas Wayne era um homem poderoso com muitasresponsabilidades, e sendo assim, não conseguia dar a devida atenção a seu filho,

    como é mostrado em “Batman: Dia das Bruxas”, de Jeph Loeb e Tim Sale, onde em

    um determinado dia das bruxas, Bruce está fantasiado de Zorro, aguardando a

    chegada de seu pai para saírem e pedir doces em outras residências. Nesta ocasião

    fica claro que Bruce não possui amigos e relaciona-se apenas com seu pai e os

    outros membros de sua família.

    Bruce Wayne: Manhê! Eu to prontinho!Martha Wayne: Nossa! A fantasia ficou linda!Bruce: Brigado. Fui eu que fiz. Alfred só ajudou. Papai chegou?Martha: Bruce... ...Seu pai ligou e...Bruce mostra-se irritado e responde a sua mãe: Já sei! Ele... ...Vai trabalhar atétarde. Puxa vida! Ele prometeu sair comigo na noite das bruxas! Ele prometeu...Martha tenta acalmar seu filho: Eu sei. Mas surgiu uma emergência...Bruce mostra-se relutante: Sempre surge, né? Sempre! Vou esperar papai. Nemque seja a noite toda!Martha novamente tenta acalmar o menino e fazer com que mude de idéia: Euposso sair com você, Bruce. Ou podemos chamar as outras crianças da escola e

    sair em turma.Bruce mostra-se triste com o que sua mãe lhe diz e responde: Não dá prachamar ninguém. Não tenho amigos na escola. (LOEB e SALE, 1995, pp. 24-

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    Figura 4: O jovem Bruce com a fantasia de seu herói, o Zorro.Fonte: Batman: Dia das Bruxas, 1995.

     Aos seis anos de idade, Bruce Wayne estava brincando pelo grande terreno

    da residência de sua família, a mansão Wayne.  Assim como em “ Alice no País das

    Maravilhas” de Lewis Carroll, o jovem Bruce estava correndo atrás de um coelho e o

    seguiu até um buraco onde caiu em uma profunda caverna, mas diferente de Alice,

    que ao cair, descobriu o país das maravilhas, o menino se viu em um lugar repleto

    de morcegos, situado abaixo da propriedade. Com a queda, Bruce quebrou a pernae devido ao barulho feito através do choque com o solo e dos gritos do garoto, os

    morcegos que ali viviam acordaram e Bruce foi cercado pelas criaturas, como é

    mostrado em “Batman: O Cavaleiro das Trevas”, de Frank Miller 

    Bruce Wayne: ...Mais rápido que um coelho... Olha mãe! Sou mais rápido que umcoelho!Thomas Wayne: Ele corre muito bem! Nós temos um atleta na família!Martha Wayne: Bruce! Deixe o coitadinho! O que você vai fazer com ele... Não

    entre no buraco!Bruce: Ele não vai fugir...Martha: Bruce!!Neste momento, Bruce entra no buraco atrás do coelho, cai e quebra a pernaesquerda. Com o barulho da queda e dos gritos da criança, centenas demorcegos se assustam e voam ao redor de Bruce.Bruce: UUF! Aaiii! Não! Parem! Vão embora! (MILLER, 1987, pp. 11, 12)

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    Figura 5: Bruce no país dos morcegos.Fonte: Batman: O Cavaleiro das Trevas, 1987.

    Bruce ficou muito assustado com o ocorrido e, embora tenha sido resgatadoquase que imediatamente por seu pai, o garoto nunca mais se sentiu seguro em seu

    mundo novamente, passando a ter pesadelos com morcegos todas às noites.

    Dois anos depois, Thomas prometeu a seu filho que iriam ao cinema assistir

    ao filme “A marca do Zorro” Porém, um dia antes do combinado, Thomas soube que

    teria um de seus compromissos no horário da sessão de cinema. Ao dar esta notícia

    a Bruce, o mesmo ficou enfurecido, chamando seu pai de mentiroso. Seus pais

    tentaram dialogar sobre o ocorrido, mas Bruce já não estava mais disposto aacordos e saiu correndo, gritando a seus pais três palavras (não consta no material

    utilizado o que Bruce disse), palavras que ele jamais esqueceu, como é mostrado

    em “Batman: Cidade Castigada”, de Brian Azzarello e Eduardo Risso, onde o já

    adulto Bruce Wayne lembra-se do que aconteceu.

    Thomas Wayne: Bruce, você vai ter que parar com essa birra. Ela não vai levar alugar algum!

    Bruce Wayne: Mas o senhor prometeu!Thomas: Eu sei, mas nós não podemos ir ao cinema amanhã à noite. Vamos nasemana que vem.Bruce: Mentiroso.Thomas: Bruce...Martha Wayne: Preste atenção homenzinho! Se falar com seu pai assim de novo,você não vai sentir só falta dos filmes...

     Após a fala de sua mãe, Bruce sai correndo e grita para seus pais aquelas trêspalavras. (AZZARELLO e RISSO, 2007, pp. 131, 132)

    No dia seguinte, Bruce Wayne e sua mãe estavam no quarto do garoto e

    Martha estava lendo para o menino o livro “Alice no país das maravilhas” de Lewis

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    Carroll, quando Thomas Wayne chegou ao local perguntando por que ambos ainda

    não estavam prontos para ir ao cinema, como é visto em “Batman: Dia das Bruxas” 

    Martha Wayne lê para seu filho o livro “Alice no país das maravilhas” O garotomostra-se muito interessado pelo livro, porém seu pai chega e interrompe aleitura.Martha: Nós temos que parar agora...Bruce: Ah, só mais um pouco...Martha: Fico feliz em ver que está gostando, mas...Thomas entra no local e interrompe o dialogo: Vocês ainda não estão prontos?Bruce surpreso: Pai...Thomas o repreende: Vamos. Não quero chegar tarde. (LOEB e SALE, 1995, p. 

    Bruce vai trocar de roupas e enquanto isso, Thomas discute com Martha aescolha da leitura feita para o filho e o filme a que irão assistir no cinema.

    Thomas: Não acho bom você encher cabeça dele com fantasias.Martha: É literatura clássica...Thomas: E o filme desta noite... Não podíamos ver algo mais... Relevante?Martha rebate: Como uma daquelas horríveis biografias médicas? Pessoalmente,eu prefiro muito mais “A marca do Zorro”! Bruce interrompe a discussão: Já estou pronto, pai... (LOEB e SALE, 1995, p. 17)

    Os pais de Bruce estavam quase prontos para a sessão quando o menino

    entra no quarto de ambos e pergunta a sua mãe se ela usará seu colar de pérolas

    no passeio.

    Bruce está com o colar de pérolas em suas mãos e pergunta a sua mãe: Vocênão vai colocar isso?Sua mãe responde: Querido, nós só vamos ao cinema. Pérolas são pra umanoite especial.

    Bruce questiona a decisão de sua mãe: Esta noite vai ser especial.Martha olha para o garoto e parece não querer mudar de idéia, mas Bruceinsiste: Gostei tanto do livro... (referindo-se a “Alice no país das maravilhas”, quesua mãe estava lendo pra ele minutos antes). Após essa fala, Martha muda de idéia: Eu nunca consigo dizer “não” pra você E o garoto sorri por ter conseguido persuadir sua mãe. (LOEB e SALE, 1995, p. 

    Com o término do filme, ao saírem do cinema, Thomas e sua família foram

    abordados por um assaltante, que ao tentar roubar o colar de pérolas de Martha,

    disparou sua arma duas vezes, assassinando os pais de Bruce na frente do garoto,

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    como é mostrado em “Batman: Ano Um”, de Frank Miller e David Mazzucchelli, onde

    o já adulto Bruce Wayne está em sua casa e recorda-se do ocorrido.

    ...Dezoito anos desde... Desde Zorro... A marca do Zorro. Desde aquelacaminhada à noite. Desde o homem com olhar vazio e assustado... De vozáspera como vidro se partindo... Desde que minha vida perdeu o sentido.(MILLER e MAZZUCCHELLI, 2003, p. 21)

    Figura 6: O jovem Bruce, ao deparar-se com a morte de seus pais.Fonte: Batman: Ano Um, Edição Definitiva, 2003.

    Bruce ficou sozinho, sentado junto aos corpos de seus pais, esperando pela

    polícia.

    Figura 7: Bruce junto a seus pais mortos.Fonte: Batman: Ano Um, Edição Definitiva, 2003.

     Alfred Pennyworth ficou responsável pela guarda de Bruce, mas este sempre

    afirmava a seu mordomo e tutor que a partir daquele instante, estava sozinho, que

    sua vida havia perdido o sentido, como é visto em “Batman: Vitória Sombria”, de

    Jeph Loeb e Tim Sale.

     Alfred entra no quarto dos pais de Bruce e o vê sozinho, olhando em direção aoespelho da cômoda de sua mãe e pergunta: O que esta fazendo aqui?

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    Bruce Wayne está com a escova de cabelos de sua mãe em suas mãos eresponde: Lembro da mamãe usando isto. Ela escovava os cabelos sempre queeles iam sair juntos. Papai ficava lá embaixo, arrumando a gravata, impaciente.Ele não gostava de se atrasar. Alfred responde: Talvez... Ainda seja muito cedo para ficar nesta área da casa,patrão Bruce. Eu sei o quanto este quarto é especial e será sempre bem cuidado.Por que não descemos e me acompanha até a cozinha agora? Eu possopreparar o que o senhor quiser...Bruce o interrompe: O que vai acontecer comigo, Alfred? Vão me deixar moraraqui com você?O mordomo responde: Bem... Eu não sou a pessoa certa para responder isso...Mas vou empreender todos os meus esforços para que seja criado como seuspais o fariam.Bruce: Não vejo como isso poderia acontecer... Eu sou um órfão e vou ter de meacostumar com isso. Agora estou sozinho, Alfred. (LOEB e SALE, 1999, pp. 15- 

    O fato de Bruce ter pedido a sua mãe que usasse pérolas para ir ao cinema

    causou um grande trauma para o jovem, como é mostrado em “Batman: O longo Dia

    das Bruxas”, de Jeph Loeb e Tim Sale, onde Bruce Wayne, já adulto, lembra do

    ocorrido e mostra-se muito abalado.

    Pérolas. Eu pedi para ela usar pérolas naquela noite. Ela disse que pérolas erampara uma noite especial. Nós só estávamos indo ao cinema.

    Bruce lembra do que disse a sua mãe: Esta noite não pode ser especial mãe? Após esta recordação, Bruce lembra-se também do momento em que seus paisforam assassinados: Ele quer as pérolas. Corra mãe, corra! (LOEB e SALE,1997, pp. 17, 18)

     Alguns anos depois, Bruce então com quatorze anos, decide deixar sua

    residência para viajar ao redor do mundo em busca de aprimorar corpo e mente para

    curar sua cidade natal do mal que ceifou a vida de seus pais. Nesta viagem, Bruce

    buscou conhecimentos em criminologia, psicologia forense e criminal, técnicas de

    relaxamento e escapismo. Tornou-se mestre em todas as artes marciais conhecidas,

    acurou sua mente dedutiva para se tornar o maior detetive do mundo e buscou

    conhecimentos sobre ciência. (Mundo Estranho, Coleção 100 respostas: Batman,

    s.d., p. 21)

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    2.3.1 Batman: O Cavaleiro de Gotham

     Após os anos de intenso treinamento, Bruce retorna à sua cidade natal,

    decidido a combater os criminosos que causavam mal a Gotham e a seus cidadãos.

    Porém, Bruce percebe que Gotham está muito pior do que estava antes do

    assassinato de seus pais. Assaltos, assassinatos, toda a força policial e judiciária

    corrompida, a máfia estava tomando conta da cidade, como é mostrado em “Um

    Conto de Batman: Gangues” de Steven Grant e Shawn Mcmanus 

    Gotham à noite fervilha com violência. Eu sinto a infecção se espalhar, dos becosmais imundos do centro até o mais tranqüilo quarto nos bairros elegantes. Ela étransmitida pelo orgulho, pela ganância, pelas razões insensatas, até irrompercomo uma chaga purulenta. Eu quero parar a epidemia, curar minha cidade.(GRANT e MCMANUS, 1999, p.  

    Mesmo com todo o conhecimento adquirido nos anos fora de Gotham, Bruce

    ainda não se considerava pronto para ser um combatente do crime. Para ele, ainda

    lhe faltava um elemento, algo que causasse medo nos criminosos, como é mostrado

    em “Batman: Ano Um” de Frank Miller e David Mazzucchelli 

    Bruce Wayne treina no terreno de sua mansão e embora mostra-se mestre emdiversas artes marciais, acredita ainda não estar pronto para combater o crime:Eu não estou Pronto. Tenho os meios, a habilidade... Mas não o método... Não.Não é verdade. Eu tenho centenas de métodos. Mas alguma coisa está faltando. Algo não está certo. Tenho que esperar. Tenho que esperar. (MILLER eMAZZUCCHELLI, 2003, p.  

    Bruce decide então sair disfarçado e ir até o bairro mais violento de Gotham,

    a Zona Leste. Era para ser apenas uma missão de reconhecimento, mas Bruce se

    envolveu em uma confusão com algumas prostitutas, um cafetão e a polícia que

    estava no local no momento do ocorrido. Bruce foi baleado e preso pelos policiais,

    porém se desprendeu das algemas e mesmo sangrando muito, conseguiu chegar

    até seu carro e fugir, como é visto em “Batman: Ano Um” de Frank Miller e David

    Mazzucchelli.

    Bruce: Consegui. De alguma forma... Consegui... Chegar até... O carro... Esperonão ter... Feito mais nenhuma burrada... Vindo pra cá... Já fiz demais... Pra umanoite...

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    Já dentro do carro: Vire a chave... Bruce. N-não é difícil... ...É só um pouco...Escorregadio... (MILLER E MAZZUCCHELLI, 2003, p. 16)

    Dirigindo a caminho de sua residência, Bruce, mesmo sangrando muito,

    pensa em um meio de combater o crime na cidade de Gotham.

    ...Medo... Muito medo... Medo... ...Tenho que causar pavor neles... (MILLER eMAZZUCCHELLI, 2003, p.  

    Bruce chega à sua residência muito ferido e achando que morrerá naquela

    noite; vai até o antigo estúdio de seu pai, Thomas Wayne, e passa a dialogar em voz

    alta com seu pai morto.

    Pai... ...Eu acho que vou morrer esta noite. Tentei ser paciente. Tentei esperar...Mas... ...Eu preciso saber. Como, pai? Como devo agir? O que devo usar... Praque eles tenham medo? Se eu tocar este sino, Alfred vem. Ele pode deter osangramento a tempo. Outra de suas dádivas pra mim, pai. Eu tenho umafortuna. A mansão da família está sobre uma caverna... Que daria um perfeitoquartel-general... Tenho até um mordomo com treinamento em medicina deguerra... Sim pai, eu tenho tudo... Menos paciência. Prefiro morrer... A esperar...Mais outra hora. Já esperei... Dezoito anos... (MILLER e MAZZUCCHELI, 2003,p.  

    Neste momento, Bruce está relembrando a noite em que seus pais foram

    assassinados, quando um morcego estilhaça a janela do local.

    Sem o menor aviso, ele surge... ...Estilhaçando a janela do seu estúdio, agorameu. Já vi essa criatura antes... Em algum lugar. Ela me aterrorizou quandocriança... ...Me aterrorizou... Sim, Pai. Eu me tornarei um morcego. (MILLER eMAZZUCCHELLI, 2003, p.  

    Bruce cria então um uniforme semelhante a um morcego e passa a chamar-se de Batman, aterrorizando os criminosos da cidade durante as noites, com sua

    aparência e métodos de abordagem. Batman inicia sua cruzada solitária contra o

    crime e em sua primeira ronda vestido de morcego, Bruce percebe que o medo é o

    seu grande aliado, quando, ao atacar um grupo que acabara de assaltar uma casa,

    eles ficam estarrecidos ao ver a sua figura, como é mostrado em “Batman: Ano Um”

    de Frank Miller e David Mazzucchelli.

    O uniforme funciona melhor do que eu esperava. Eles ficam estarrecidos e medão todo tempo do mundo. Eu caio perto do que parece mais forte e rosno pra

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    ele. Aprendi isso na África. De repente, tudo parece dar certo. (MILLER eMAZZUCCHELLI, 2003, p. 31)

    Figura 8: Batman sob a fumaça.Fonte: Batman: Ano Um, Edição Definitiva, 2003.

    O homem morcego torna-se uma lenda na cidade e uma ameaça para todosaqueles que infringirem a lei. Após várias tentativas frustradas em capturá-lo, o

    então comissário de polícia, Loeb, decide criar um grupo responsável por essa

    tarefa, uma equipe SWAT, incumbida em capturar Batman, vivo ou morto. Em uma

    de suas rondas noturnas, Bruce é encurralado por uma dessas equipes SWAT, leva

    um tiro na perna, e tentando fugir, invade um prédio abandonado.

    Levei um tiro na perna. Devo ignorar. Beco sem saída, a não ser que... ...Poraquela janela... Única chance. Preciso de tempo-- Se eu puder... Chegar lá emcima... Antes deles... ...Antes que recebam apoio aéreo... (MILLER eMAZZUCCHELLI, 2003, p. 45)

    Batman, sozinho, derrota toda a equipe SWAT e consegue fugir do local.

    Esta não foi à única vez que a polícia de Gotham recruta uma equipe para capturar

    Batman, como podemos ver em “Um Conto de Batman: Acossado” de Doug Moench

    e Paul Gulacy, onde, além de uma equipe incumbida em capturar o Homem

    Morcego, o prefeito de Gotham consulta um psiquiatra famoso chamado Hugo

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    Strange, pois este tem observações bastante relevantes sobre quem é o homem por

    trás da máscara de morcego e suas possíveis psicopatologias.

     Após o anúncio sobre a força-tarefa para capturar Batman, o prefeito de Gotham,Wilson Kliss, convida o doutor Hugo Strange para ser o consultor desta equipe:Eu realmente gostei de suas observações, doutor. Aliás, gostaria de explorar apossibilidade do senhor atuar como consultor para a força-tarefa... (MOENCH eGULACY, 1992, p.  

    Hugo Strange relatando a sua opinião sobre Batman: ...Psicologicamentefalando, eu diria que ele é extremamente obcecado... ...E que busca poderindividual, indicando uma desconfiança paranóica nos outros... ...Obcecado comtudo eu diria. Obcecado pela noite, pela escuridão. Talvez obcecado porvingança. Não ficaria surpreso se ele ou um ente querido tiver sido vítima de um

    crime... Um crime cometido na escuridão. Aliás, a própria gênese dessaatormentada figura pode muito remeter aos eventos traumáticos de uma únicanoite... ...Uma noite que o persegue, e que poderá persegui-lo para sempre... ...Éum bandido agindo sozinho. E aqui está o aspecto curioso e fascinante... Ele nãoquer partilhar suas vitórias e realizações, mas insiste em permanecer noanônimo. Percebe...? Ele busca a fama, quer ser reconhecido, mas não como elemesmo... Apenas como Batman, esta construção fictícia. Isto, é claro, indicaesquizofrenia e personalidade dividida. (MOENCH e GULACY, 1992, pp. 11- 

    Batman costuma atacar das 00h00 as 04h00 da manhã e como é

    praticamente impossível vê-lo, cada vez mais o Homem Morcego é visto como uma

    lenda urbana pelos malfeitores de Gotham e até seu nome é proibido de dizer no

    submundo do crime, como podemos ver em “Um Conto de Batman: Criminosos” de

    Steven Grant e Mike Zeck.

    Há uma regra no submundo de Gotham: Evite dizer o nome dele. Não invoque osujo. Chame o diabo e ele responde. Involuntariamente, eles conjuram o nome,num inexorável mantra do medo. O demônio. Batman. Batman. Batman. (GRANTe ZECK, 1996, pp. 03,04)

    Em Gotham, a noite tem seu rosto. Chame o diabo, em voz alta ou em silêncio, eele responderá. E o nome do diabo é... Batman. (GRANT e ZECK, 1996, p. 28)

    Batman, por acreditar que os criminosos são covardes e supersticiosos, usa

    esses dois fatores como seus maiores aliados, como é visto em “Asilo Arkham: Uma

    Séria Casa em Um Sério Mundo” de Grant Morrison e Dave Mckean, “Um Conto de

    Batman: Criminosos” de Steven Grant e Mike Zeck e “Batman: O Cavaleiro das

    Trevas” de Frank Miller 

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    Criminosos. Criminosos são um terror. Corações da noite. Eu preciso disfarçarmeu terror. Criminosos são covardes. Uma terrível visão supersticiosa. Um bandocovarde. Meu disfarce precisa inspirar terror. Eu preciso ser negro, terrível.Criminosos são.Criminosos são um bando covarde e supersticioso. Eu preciso ser uma criaturada noite.Mamãe morreu.Papai morreu.Brucinho morreu.Eu me tornarei um morcego. (MORRISON e MCKEAN, , p. 128)

     A prisão. Entre as muralhas, os condenados suam medo a cada bala. A morte,nunca longe deles, passa raspando como um beijo de terror. Ele saboreia o odordo medo. O medo facilita seu trabalho. O medo é seu servo. Um de seus únicosamigos. (GRANT e ZECK, 1996, p.  

     Ao prender um criminoso, Batman o interroga para obter informações sobre oarsenal que o inimigo estava carregando.Batman: Sabe quem sou eu animal?O bandido está complemente amedrontado e não consegue responder apergunta: O-on...Batman continua: Sou o pior pesadelo que você já teve! Do tipo que te fazacordar gritando por sua mãe! Ainda muito assustado, o bandido parece não entender o que está acontecendo:O-onde é que eu to...Batman: Você tem mãe não? Todo animal tem uma...O vilão parece começar a compreender o que está acontecendo: N-não to vendonada! O que é isso na minha cara?

    Batman inicia o interrogatório: Belo arsenal você e seus amigos tinham! A 45 nãoera nada especial, é claro...Nesse momento o vilão se dá conta de sua situação: Acho que to sangrando, eupreciso dum médico!Batman continua: ...Mas aquela Smith e Wesson 41 do seu amigo... Sabe queamigo, não? Aquele você metralhou... Aquela arma era incrível!Bandido: Cara...Batman: Principalmente porque foi adaptada para receber um silenciador! Não seencontra esse tipo de coisa fora do exercito! Aquela sua M60 também... Era armade combate! Igual à que outro membro de sua gangue tentou usar contraGordon! Então me conte, animal... Os mutantes têm acordo comercial com oexército? Ainda sobraram muitos dentes na sua boca e eu nem toquei na língua...

    O meliante tenta um acordo, em vão: P-peraí, meu... Vamo fazê um trato! Euconto tudo... ...E tu me solta sem chama os home! Ta beleza assim?Batman mostra ao sujeito que a situação não é tão simples assim: Eu vouexplicar melhor a situação! Você não está em posição de negociar! Quer ver? Ebatman mostra ao sujeito que aquilo que ele não podia ver era na verdade o topodo edifício mais alto de Gotham, e que ele estava pendurado de cabeça parabaixo. (MILLER, 1987, pp. 13, 14)

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    Figura 9: Batman interrogando um criminoso.Fonte: Batman: O Cavaleiro das Trevas, 1987.

    Devido à grande fortuna deixada por seus pais como herança, Batman tem a

    sua disposição todo o dinheiro que precisar para a construção, invenção e compras

    de todo o tipo de apetrechos para ajudá-lo a combater o crime na cidade de Gotham,

    como podemos ver em “Batman: Terror” de Doug Moench e Paul Gulacy 

     Ainda estou me desenvolvendo, descobrindo o que funciona e o que nãofunciona. Um processo que talvez nunca termine. Tenho de ser cuidadoso comtodos esses apetrechos e bugigangas... E com a compulsão em me exceder. Nãoposso perder de vista o propósito original... Incutir terror... Como uma criatura danoite. O morcego. (MOENCH e GULACY, 2005, pp. ,  

    Batman combate ao crime, solitário e assim como o herói de sua infância,

    Zorro, veste preto e jamais mostra seu rosto, fazendo uso daquilo que o traumatizou

    quando criança, o morcego, atacando como uma criatura, sempre à noite, no exato

    momento em que seus pais foram assassinados.

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    Figura 10: Batman vislumbrando a noite.Fonte: Um Conto de Batman: Lâminas, 1994.

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     O CORINGA: O VILÃO PREFERENCIAL DE BATMAN

    O Coringa é o principal vilão do universo de Batman; é aquele a quem toda a

    culpa por todas as grandes atrocidades acontecidas no decorrer da carreira do

    homem morcego é atribuída. Contudo, quem é e o que é o homem que carrega a

    pele branca, cabelos verdes e os lábios vermelhos com um sorriso cruel e

    enigmático?

    No baralho, o Coringa (curinga) é uma carta de conteúdo especial, com o

    desenho de um palhaço estilizado e muda de valor conforme a combinação de

    cartas que o jogador tem em mãos, ou seja, encaixa-se em qualquer lugar conformeo jogo. Em outras atividades, também existem os denominados curingas, sejam

    peças ou pessoas, que possam assumir o lugar ou papel de outras. (WIKIPÉDIA,

    site)

    Figura 11: O Coringa.

    Fonte: Batman: A Piada Mortal, 1999 e Wikipédia, site.

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    Nas histórias de Batman, a situação é semelhante, pois todo crime cometido

    cuja motivação é o Batman, o culpado é sempre o Coringa, como podemos ver em

    “Batman: Morte em Família”, de Jim Starlim e Jim Aparo Nesta história, o Coringa

    espanca friamente o parceiro mirim de Batman, Robin, com um pé de cabra e o

    deixa para morrer em um local onde logo explodirá uma bomba. Ou ainda em

    “Batman: A Piada Mortal” de Alan Moore e Brian Bolland, onde o Coringa acerta um

    tiro em Barbara Gordon, filha do Comissário de polícia James Gordon, tira fotos dela

    nua e mostra a seu pai em um ritual com o intuito de deixá-lo louco.

    O Robin, parceiro mirim de Batman, invade um local onde o Coringa está comseus capangas. O Coringa prende Robin e diz o que pretende fazer com ele:

     Algo que desejo há anos...O Coringa o acerta com uma arma na cabeça, o menino cai e parece terdesmaiado: Ora, vamos, meu rapaz... Você não vai dormir no melhor da festa,vai?Robin então responde ao Coringa e o acerta com um soco na barriga. O Coringa,muito irritado, responde ao garoto e o espanca a golpes de pé de cabra: Nãodevia ter feito isso com o titio Coringa! Menininho malcriado... Deve sercastigado! Prepare-se para levar uma bela surra, caro Robin! E não se esqueça......Isso vai doer mais em você do que em mim!O Coringa espanca o garoto e o deixa para morrer. (STARLIM e APARO, s.d.,- 

    O coringa invade o apartamento do Comissário Gordon e acerta um tiro emBarbara, sua filha. Gordon tenta reagir, mas o Coringa mostra-se tranqüilo.Gordon: Barb...?O Coringa responde: Por favor, não precisa se preocupar. O senhor sabe comoas bibliotecárias são silenciosas. Elas odeiam barulho. Não posso dizer muitacoisa sobre o estado dela, mas... ...Além do buraco no vestido, acho que acoluna está partida. Ora, francamente... O caso não é tão grave assim... De fato,a possibilidade dela voltar a andar é muito remota. Mas tudo pode ser resolvidocom uma cadeira de rodas. (MOORE e BOLLAND, 1999, pp. 16, 17)

    Em “Coringa: Advogado do Diabo” de Chuck Dixon e Grahan Nolan, o

    Coringa está sendo julgado por um crime que não cometeu, e para mostrar que é

    inocente daqueles crimes que ele considerava tão simples, enumera todos os crimes

    cometidos por ele, mostrando toda a sua crueldade e inteligência.

    O Coringa relatando seus crimes: O rapto do prefeito... As mais variadasameaças a Gotham... Isso sem contar meu glorioso ataque ao comissário e suafilha! Assassinato em massa, tortura e terror! Eu já fiz de tudo moça! Você estáolhando pro Einstein do crime! (DIXON e NOLAN, s.d., pp. 25, 26)

    Em algumas histórias, podemos ver uma ligação entre as existências de

    Batman e Coringa. De algum modo inexplicável, eles estão interligados: a existência

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    de um depende da existência do outro. O Coringa parece depender da presença

    constante de Batman, e este para resolver seus crimes, parece encontrar nas

    atrocidades do vilão sua motivação para lutar. Podemos ver esta implicação

    explicitamente em quatro histórias: “Um Conto de Batman: De Volta à Sanidade” de

    J. M. De Matteis e Joe Staton, onde o Coringa aparentemente mata Batman e assim

    deixa de ser um criminoso; em “Coringa” de Brian Azzarello e Lee Bermejo, onde um

    capanga do Coringa, antes de morrer devido a um tiro que levou, pensa a relação da

    cidade de Gotham, Batman e Coringa; em “Batman: Cidade Castigada” de Brian

     Azzarello e Eduardo Risso, onde o Coringa, internado no Asilo Arkham, tenta ajudar

    Batman a solucionar um crime e aproveita para pensar sobre a relação dos dois, e

    em “Batman: O Cavaleiro das Trevas”, de Frank Miller, onde o Batman fica por dezanos aposentado, e nesse período, o Coringa fica em estado catatônico, porém,

    quando Batman sai de sua aposentadoria, o Coringa também retorna para cometer

    seus crimes.

    O Coringa, após acreditar que havia matado Batman: Eu consegui mesmo, mas......O que fiz exatamente? Eu sei que é pra matar a platéia... Mas depois quemorrem... ...A gente fica parado. Se não tem ninguém no outro lado com quem

    brincar... Qual é a graça? Se não existe Batman pra enlouquecer, de que vale serlouco? Eu... Acho que vou vomitar, acho que vou chorar. Mas eu não possochorar: Minha maquiagem vai escorrer. Mas não é minha maquiagem, é? Sou eu!Não, não sou eu. Não sou eu mesmo. É um papel que venho desempenhando,pra manter a platéia animada. Mas a platéia foi embora. O teatro está vazio. E eunão tenho mais que atuar. (MATTEIS e STATON, 1995, pp. 24, 25)

     Após levar um tiro do Coringa, um de seus capangas pensa sobre seu antigochefe e sua relação com Batman e Gotham: Meu nome é Jonny Frost, mas nãotenho que te dizer isso né? Sabe que sou alguém... Estou no topo do mundo,olhando pra baixo. Sabe o que eu vejo? Quer saber o que eu vejo? Vejo você (Sereferindo ao Coringa). Uma doença. Uma que está por aí há mais tempo do que

    Gotham, a cidade infectada. Uma doença que é mais antiga do que qualquercidade. Porra, provavelmente é a própria doença que criou a primeira. Semprevai existir um Coringa. Porque não há cura pra ele. Nenhuma cura... Só umBatman. (AZZARELLO e BERMEJO, 2009, pp. 123- 

    O Coringa recebe a visita de Batman no Asilo Arkham e o cumprimenta: Vocêestá um bagaço. É bom te ver... Ou ver qualquer pessoa cujo trabalho não sejalimpar meus estragos. Espere um pouco... Esse é o seu-- Bem, não pode sertrabalho, porque ninguém te paga pra fazer.Batman: É meu hobby.Coringa: Pirou de vez?Batman: É um meio de vida.

    Coringa: Mas não uma grande vida... Supondo que você não curta ela, é claro.Batman o interrompe: Que história é essa de assumir?

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    Coringa: Que você bancou o idiota... ...E ponto final. Quanto a mim... ...Estoucurtindo cada momento. Você cometeu um grande equívoco dias atrás.Batman: ...?Coringa: Um passarinho me contou. Meu hobby. Sabe, eu sou seu fã número um.Batman: Você é louco.Coringa: Sou compenetrado. Sei de tudo que você vai fazer antes de fazer, masvocê fez coisas ultimamente que... ...Me surpreenderam. E eu amo surpresasquase tanto quanto te amo.Batman: Ama? Você não ama ninguém...Coringa: Negação não é o rio onde você vai me afogar, meu detetive. O que diz osangue em suas veias? Sua máscara diz que esse amor é recíproco.(AZZARELLO e RISSO, 2007, pp. 125-

    O Coringa, após ficar dez anos internado no Asilo Arkham em estado catatônico,ouve a noticia sobre o retorno de Batman e sorri: B... B... Bbbat... Batman!Querido!

    O Coringa então sai do Asilo e volta a cometer seus crimes. (MILLER, 1987, p.

    Para o Coringa, existe uma teoria sobre a loucura: aquilo que separa as

    pessoas ditas normais dos loucos é apenas um dia ruim; algo que aconteceu em

    determinado momento da vida de alguém e que a muda totalmente para sempre,

    como vemos em “Batman: A Piada Mortal”, de Alan Moore e Brian Bolland.

     Após atirar em Barbara Gordon, o Coringa tira fotos dela nua, então leva o paidela, o Comissário de policia James Gordon para um circo, onde o faz passearem uma montanha russa, enquanto canta uma música, com o intuito deenlouquecer o Comissário: A-a-ah! Cabeça pra cima Comissário! Tapar os olhosno trem fantasma não vale! Eu sei que você está confuso e apavorado. Mas, nasua situação, quem não estaria? Sabe, apesar da vida ser um mar de rosas, vocêcaiu nos espinhos! Música Sam! Quando o mundo está cheio de preocupações etodas as manchetes gritam desespero, quando tudo é estupro, fome e guerra,bem... ...Então só há uma coisa a fazer... Você deve sorriiiiir... Se começar aolhar as pessoas meio desconfiado, é sinal de que está ficando inteiro pirado... Etem mais, se a barra estiver pesada, você pode apelar pra uma cela acolchoada!Troque sua vida de agonia por uma cama e injeções duas vezes ao dia! Ah, e

    não se esqueça... Você deve ir sozinho e sem medo! Quando o homem começara se aniquilar, e as bombas caírem sem parar... E de seu filho a face azul vocêvir, a melhor coisa a fazer é sorrir. Se as pessoas não te compreenderem, nãoligue! Vire as costas, vá em frente, não brigue! Se disserem que você regulapouco, é porque não sabem... Como é bom ser louco! (MOORE e BOLLAND,, , )

    Em “Asilo Arkham: Uma Séria Casa em Um Sério Mundo”, de Grant Morrison

    e Dave Mckean, o Coringa mostra o quanto são organizadas as suas idéias, em

    torno do rompimento do laço que amarra o social e impele o surgimento do riso sem

    limites, do prazer sem lei.

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    Coringa: E quem é este puro tolo?Eis que, nas sagas dos velhos temposLendas de escaldo,De bardo, de druida,Não vinha ele trajando verde como a primavera?Tu, água, que és ar, em todo complexo se resolve!Oh! Sim!Encha as igrejas com pensamentos imundos! Apresente a honestidade para a casa brancaEscreva cartas em línguas mortas para pessoas que você nunca conheceu!Pinte palavras sujas na fronte de crianças!Queime seus cartões de crédito e use salto alto!Portas do hospício escancaradas!Encham os subúrbios com estupro e morte!Divina insanidade!Que haja êxtase nas ruas!

    Ria e o mundo rirá com você! (MORRISON e MCKEAN, 1990, p.119)

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      O ASILO ARKHAM: A INSTITUIÇÃO PSIQUIÁTRICA PARA CRIMINOSOS

    INSANOS

    O Asilo Arkham é a instituição psiquiátrica fictícia onde os insanos criminosos

    de Gotham vão parar após serem capturados por Batman ou pela polícia. O Asilo é

    uma instituição fundamental para a compreensão do nosso personagem, na medida

    em que revela, na sua estrutura, o funcionamento do lugar onde os criminosos são

    levados e permanecem até serem “retirados” para uma nova aventura O Psiquiatra

    Francisco Assumpção dedica um trabalho recente no campo de sua especialidade,

    as psicopatologias, para analisar psiquiatricamente o Asilo e seus personagens.Este trabalho teórico feito por Assumpção nos oferece a oportunidade de obter

    referências significativas e também uma referência externa ao mundo de Batman,

    com a qual podemos nos contrapor em função do nosso referencial ser de outra

    natureza teórica.

     Assumpção a descreve em seu livro dedicado ao “Asilo”, como uma

    instituição que possui celas grandes (não mais existentes em hospitais psiquiátricos

    modernos), guardas uniformizados, refeitórios coletivos, em um prédio medieval,parecidos aos encontrados em prisões. A repressão aos quadros de agitação é

    efetuada de maneira policial e não médica e o aparecimento de armas que são

    construídas a partir de objetos cotidianos, como garfos e colheres é constante. A

    vigilância é feita por guardas e câmeras de televisão e em um esquema de registro

    que permite que se saiba das atividades de todos os internos sem que nenhum

    detalhe escape.

    Segundo Assumpção (2009), o Asilo Arkham foi criado por Denny O’Neil em1974 e descrito como um hospício para os criminosos da cidade de Gotham, sendo

    uma instituição com características góticas, com diversos corredores e passagens

    secretas que permitem a fuga e a rebelião de muitos de seus prisioneiros. O nome

     Arkham foi tirado de uma cidade fictícia que se situa na Nova Inglaterra, criado pelo

    escritor de livros de terror Howard Phillips Lovecraft, que é palco para diversos

    acontecimentos bizarros (WIKIPÉDIA, site). Dois anos após a morte de Lovecraft,

    em 1937, dois amigos e admiradores criaram a Editora Arkham House, que ainda

    está em atividade e populariza a obra do autor. (Mundo estranho, Coleção 100

    respostas: Batman, p. 41)

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     Ainda segundo Assumpção (2009), o nome Asilo Arkham remete a dois

    aspectos interessantes a serem considerados, sendo que o primeiro é a palavra

    asilo, que, ao contrário do conceito de hospital que é uma instituição com propostas

    de tratamento, refere-se muito mais para um abrigo de todos aqueles que são

    socialmente indesejáveis. Então temos um asilo dedicado e direcionado aos parias,

    aos criminosos, àqueles que a sociedade não sabe como lidar e, por isso, devem ser

    contidos para que sua organização e estabilidade perdurem. Enfim, é o espaço

    reservado ao caótico, irracional, desorganizado e perigoso. O segundo aspecto

    refere-se ao nome Arkham, que é o nome da cidade fictícia usada por Lovecraft em

    seus romances sobrenaturais e terrorísticos, na qual diversas passagens levavam a

    seres antigos e proto-humanos, cruéis e maldosos, que a cada momento tentavamvoltar ao mundo humano, o qual já haviam ocupado durante épocas primevas com o

    intuito de dominação. Em alguns contos de Lovecraft, segundo Assumpção (2009), é

    visto a diferenciação nítida entre eu-não-eu ou consciência-insconciência ou ainda o

    primitivo-elaborado, bastante presente no asilo, já que os habitantes mostram

    exatamente o aspecto não-humano ou pouco humano considerando o inconsciente

    e o civilizado. Mais ainda, seu ambiente caótico se diferencia dos significados

    racionais e mesmo subjetivos da maioria das pessoas, fazendo com que se entre emum ambiente patológico, primitivo e exclusivo da personagem, com suas motivações

    e significados.

     Assumpção (2009) relata a possibilidade de ser o próprio racionalismo de

    Batman que propícia o aparecimento e, em parte, a força irracional dos habitantes

    de Arkham. Isto porque grande parte de seus habitantes estão lá por sua causa e é

    ele o motivo fundamental de suas existências, quando a existência dele é voltada

    para o confronto com os inimigos.

     Assim, no universo de Batman, ele é fundamental para a compreensão daspatologias e das pessoas ali internadas, tentando-se descobrir o sentido de suasvivências, as quais, nos habitantes do asilo, são na maioria das vezesincompreensíveis e, assim, seus atos criminosos (os pacientes do Arkham sãotodos criminosos) não são de sua responsabilidade, mas conseqüência daprópria doença, razão principal para que eles não sejam colocados napenitenciária de Gotham e sim em um asilo (hoje seria um manicômio judiciário);sua estrutura psíquica está quebrada em decorrência de sua própriacorporalidade doente e, dessa forma, seu mundo de significados passa a ser

    também enfermo. (ASSUMPÇÃO, 2009, pp.44,45)

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    Nas histórias em quadrinhos, Amadeus Arkham foi quem criou a instituição

    para criminosos insanos, relatando em seu diário todas as suas motivações para a

    criação do Asilo. Amadeus relata que alguns anos após a morte de seu pai, sua mãe

    adoentou-se e para ele, sua casa agora era um mundo novo, sombrio, totalmente

    diferente daquele em que vivia, e nesse momento, Amadeus percebeu que

    realmente estava sozinho.

    Do diário de Amadeus Arkham: Nos anos que se seguiram à morte de meu pai,creio não estar mentindo se disser que a mansão se tornou meu mundo. Duranteo longo período da doença de minha mãe, a casa sempre parecia tão real, queem comparação, eu me sentia pouco mais que um fantasma assombrando oscorredores. Vagamente consciente de que algo podia existir além daquelas

    paredes melancólicas. (MORRISON e MCKEAN, , p. 10)

     Após alguns anos, agora em 1920, Amadeus, que casou-se com Constance e

    teve uma filha, batizada de Harriet, conta que sua mãe cometeu suicídio, cortando a

    própria garganta com uma navalha, e como filho único, herdou a mansão e todo acre

    de terra onde estava situada a propriedade. (MORRISON e MCKEAN, 1990, p. 20)

    Com o término do enterro de sua mãe, Amadeus voltou com sua família para

    a cidade onde estava trabalhando em um Hospital Psiquiátrico Estadual e conta em

    seu diário que lhe fora encaminhado um paciente da Penitenciária local, seu nome é

    Martin Hawkins, que é acusado de diversos homicídios contra mulheres.

    (MORRISON e MCKEAN, 1990, pp. 23, 24)

    Do diário de Amadeus Arkham: Ouço com atenção ele me contar como foiespancado e estuprado pelo pai. Então pergunto por que decidiu destruir só orosto e os órgãos sexuais de suas vítimas.Hawkins: Foi idéia da Virgem Maria. Ela disse que esse é o melhor jeito de

    impedir que as putas sujas espalhem doença.Pergunto por que Hawkins corta o braço com uma navalha.Hawkins: Só pra sentir. Sentir alguma coisa. (MORRISON e MCKEAN, 1990, pp.,

    Com o final do atendimento, Hawkins voltou para a Penitenciária Estadual

    para aguardar julgamento, e Amadeus, acreditando que esse não é o modo correto

    de lidar com pessoas cujo único verdadeiro crime é a doença mental, decide

    transformar a antiga casa de sua família em um Hospital Psiquiátrico para

    criminosos insanos, chamado de Asilo Elizabeth Arkham. (MORRISON e MCKEAN,1990, p. 24)

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    Pouco antes de o Asilo ficar pronto, Amadeus estava de folga, em casa com

    sua família, quando seu telefone toca, ele atende e a polícia local o informa que

    Hawkins escapou da Penitenciária. Amadeus responde que Hawkins pode ser

    altamente perigoso e o deixa nas mãos dos policiais. (MORRISON e MCKEAN,

    1990, pp. 47, 48)

    Em 1º de abril de 1921, Amadeus chega a sua casa e vê que sua esposa e

    filha estão mortas, assassinadas por Martin Hawkins.

    Do diário de Amadeus Arkham: Eu vejo primeiro... Minha querida Constance. Seucorpo está em pedaços. Harriet está caída perto, incrivelmente violentada. Quaseem vão, eu me indago onde está sua cabeça. Então, olho para a casa de

    bonecas. E a casa de bonecas olha para mim. A cabeça de Harriet estava dentrode sua casa de bonecas. (MORRISON e MCKEAN, , pp. 58- 

     Amadeus, após ver toda a crueldade realizada com sua família, coloca o

    vestido de noiva de sua mãe, parecendo estar em um ritual totalmente natural.

    Do diário de Amadeus Arkham: Vagarosa e metodicamente, eu ponho o vestidode noiva de minha mãe. E eu me ajoelho. Ajoelho-me diante daquele matadouroinfantil. Tudo parece perfeitamente racional. Perfeitamente, perfeitamente

    racional. Mais tarde, eu me pego chorando, engasgando, tentando vomitar nabacia lavatória. É nisto que tudo resulta... Todos os nossos sonhos, esperanças easpirações? Nada além de vômito? Eu tenho medo. Muito medo. Acho que possoadoecer. (MORRISON e MCKEAN, , pp. 61, 62)

     Apesar do ocorrido, o Asilo Elizabeth Arkham para criminosos insanos é

    inaugurado em novembro de 1921 e o primeiro paciente de Amadeus é o assassino

    de sua família, Martins Hawkins. Após tratar de Hawkins por seis meses e ser muito

    elogiado por sua coragem e compaixão, Amadeus o amarra no leito do eletrochoque

    e o incinera, exatamente um ano após a tragédia, 1º de abril de 1922. (MORRISONe MCKEAN, 1990, pp.70, 71)

    Do Diário de Amadeus Arkham: Acharam que foi um acidente. Essas coisasacontecem. Há cheiro de carne queimada em minhas narinas. Mas eu não sintonada. (MORRISON e MCKEAN, , p. 71)

     Amadeus segue fazendo a ronda pelos corredores do Asilo, após o incidente.

    Do diário de Amadeus Arkham: Faço a ronda pelos corredores, entre as três equatro horas da manhã. Visito a sala secreta freqüentemente para manter meu

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    diário atualizado. Rotina é importante, eu acho. Uma boa rotina desvia a mentede pensamentos mórbidos. Às vezes, estou certo de ouvir uma gargalhadahistérica de uma cela que sei estar vazia. Eu cubro com fita adesiva o espelho nomeu estúdio. A gargalhada cessa. E eu volto às minhas perambulações rituais.Meus movimentos pela casa se tornaram tão formais quanto um balé, e sinto quevirei parte essencial de algum processo biológico incompreensível. A casa é umorganismo faminto por loucura. É um labirinto que sonha. E eu estou perdido.(MORRISON e MCKEAN, , p. 72)

    Seguindo os eventos que são descritos em seu diário, Amadeus inicia uma

    viagem através da loucura, lembrando-se de fatos há muito tempo esquecidos por

    ele.

    Do diário de Amadeus Arkham: Chocados pelo meu estado doentio, algunsamigos me levam a ópera: Parsifal, de Wagner. Será que eles nãocompreendem? Não vêem que estou me quebrando em mil lugares? Tempo. Otempo fica estranho. Quarenta minutos se passaram desde que ingeri trêsporções do cogumelo amanita. Não fez efeito. Abruptamente, eu me convençoque a casa está viva, e tentando se comunicar comigo. Uma pressão na nuca fazcom que eu me vire. Em seu pequeno universo compacto, dois imensos peixespalhaços deslizam de encontro um ao outro. E formam o signo de peixes. Peixes! A atribuição astrológica da carta da lua no tarô! O símbolo do julgamento einiciação. Morte e renascimento. Foi-me mostrado o caminho. Devo seguir paraonde ele leva. Como Parsival, devo confrontar o irracional que me ameaça. Devopenetrar na torre negra. Sem olhar pra trás. E encarar o dragão que há lá dentro.

    Só tenho um medo... E se eu não for forte o bastante para derrotá-lo? O queacontecerá? A droga se firma. Eu me sinto pequeno e atemorizado. Talvez eutenha feito a coisa errada. Em algum lugar, não muito longe dali, o dragão lançaseu terrível peso pelos corredores do manicômio. Sou erguido numa onda deperfeito terror. E o mundo explode. Não há nada em que me apoiar. Nem âncora.Tomado pelo pânico, fujo. Corro cegamente pelo hospício. Não posso nemmesmo rezar. Pois não tenho Deus. Portas se abrem e se fecham, aplaudindominha fuga. Fechaduras sangram. Um coro de crianças sexualmente mutiladascanta meu nome um sem-número de vezes. Arkham. Arkham. Arkham. Estoucaindo. Oh, mamãe... Que árvore é essa? Que ferimentos são esses? Eu sou Attis no pinheiro. Cristo no cedro. Odin no freixo do mundo. Preciso ver meureflexo para provar que ainda existo. Lá fora, ouço o dragão se aproximandocada vez mais. Desesperadamente, retiro as fitas do espelho, tira por tira,quebrando as unhas. Até me revelar no vidro. Eu me deparo com olhosfamiliares. Mamãe!É 1920. Árvores se agitam na escuridão sob um céu intranqüilo. A chuvachacoalha as janelas. Por quê? Por que eu vim aqui? Então por que eu tenhomedo? Debaixo da cama, grandes asas começam a bater. Eu não estou louco.Eu não estou louco. Que Deus me ajude... Eu estou vendo. Estou vendo acriatura que apavorou minha pobre mãe naqueles anos tão longos. Eu vejo. E éum morcego. Um morcego! Minha pobre mãe. Ao começar a escrever sobre sua mãe, Arkham se remete ao momento exato desua morte, e vê que na verdade ela não se suicidou, mas ele a matou, tentando

    minimizar o sofrimento dela. Agora percebo do que minha memória tentou me manter afastado. A loucura vemdo sangue. É meu direito de nascença. Minha herança. Meu destino. Eu contereias presenças que vagam por estes quartos e escadas estreitas. Eu as cercarei

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    com barras, muralhas e cercas eletrificadas, e rezarei para que jamais escapem.Eu sou a noiva do dragão, o filho da viúva. Asas de couro me envolvem.(MORRISON e MCKEAN, 1990, pp. 79- 

    Em 1929, Amadeus tentou matar seu corretor da bolsa e por esse motivo otrancafiaram no Asilo que ele mesmo havia criado.

    Do diário de Amadeus Arkham: Vejo agora a virtude na loucura, pois este paísnão conhece lei nem fronteiras. Tenho pena das pobres sombras confinadas naprisão euclidiana que é a sanidade. Todas as coisas são possíveis aqui, e eu souaquilo que a loucura fez de mim. Inteiro. Completo. E livre, afinal. Eu sou Arkham.Estou em casa. Em meu lugar. (MORRISON e MCKEAN, , pp. 97- 

    Este foi o último relato de Amadeus em seu diário, antes de ser encontradomorto em sua cela.

    Muitos anos depois, em um determinado primeiro de abril, o Coringa

    conseguiu realizar uma rebelião no Asilo, mantendo algumas pessoas como refém.

    Dentre as exigências mais absurdas dos internos, umas delas era que Batman

    passasse a noite no Asilo com eles.

    Batman aceita a exigência e antes de ir para o Asilo, questiona-se sobre a

    racionalidade de suas ações.

    Isto é algo que preciso fazer. Medo? Batman não tem medo de nada. Sou eu. Éde mim que tenho medo. Medo de que o Coringa esteja certo sobre mim. Àsvezes, questiono a racionalidade das minhas ações. Estou com medo de que,quando atravessar os portões do Asilo... ...Quando eu entrar no Arkham e asportas se fecharem atrás de mim... ...Vai ser como voltar para casa. (MORRISONe MCKEAN, , p. 23)

    Com a chegada de Batman, o Coringa solta os reféns e o leva para dentro do

    local. Batman então se depara com dois funcionários do Asilo e com os demais

    internos em condições bastante precárias. Batman então questiona o Coringa

    porque de ainda mantê-los como reféns.

    Batman: Quem são essas pessoas Coringa? Você disse que libertaria todos osreféns.Um dos funcionários responde: Bem... Nós insistimos em ficar, Batman. Eu souRuth Adams, uma psicoterapeuta daqui.Coringa se encarrega de apresentar o outro funcionário: E este é o bom e velho

    Doutor Cavendish, nosso bom e velho administrador. Um homem que adoraadministrar eletrochoques nos pacientes.

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    Cavendish tenta se defender: Eu tenho um dever para com o estado. Não voudeixar o Asilo nas mãos de... De loucos.O Coringa responde se referindo a outro interno do Asilo: E, enquanto discutimosdever, parece que alguém fez o seu no chão. Poxa vida Harvey! Você de novo?Está tentando estragar meu salto alto? (MORRISON e MCKEAN, 1990, 36- 

    Outrora um dos grandes aliados de Batman na luta contra o crime, o ex

    Promotor Público Harvey Dent, também chamado de Duas-caras devido à cicatriz

    que carrega no lado esquerdo de seu rosto, adquirida devido a um atentado sofrido

    na época em que era Promotor, por sua obsessão com o número dois e por carregar

    uma moeda com duas-caras, só que com um lado riscado, sempre se orientando por

    ela para tomar suas decisões.

    O Coringa diz o que Harvey havia feito no chão para a Doutora Adams: Fessora!Fessora! O Duas-caras se mijou de novo!Batman se surpreende: Duas-caras? (MORRISON e MCKEAN, 1990, p. 37)

     A Doutora Ruth Adams tenta explicar a Batman o que está acontecendo com

    Harvey Dent.

    Por favor, Batman. Nós realmente preferimos que você chame Harvey Dent peloverdadeiro nome!Batman responde: O que fizeram com ele?Ruth: Fizemos? Ele está sendo curado. Este lugar é um hospital Batman. Casotenha esquecido, estamos aqui para tratar de pessoas. Na verdade, nósconseguimos conter a obsessão de Harvey com a dualidade. Tenho certeza deque você conhece esta moeda de prata... Riscada num dos lados, perfeita dooutro. Ele a usava para tomar decisões como se, de algum modo, istorepresentasse as metades contraditórias de sua personalidade. Nós trocamos ohábito da moeda por um dado. Isso lhe deu seis opções diferentes, ao invés desó duas. Harvey se saiu tão bem com o dado que nós o convencemos a usarcartas de tarô. São 78 opções abertas para ele agora, Batman. Já estamos

    pensando em passar pro i-ching. Em breve, ele terá uma capacidade de julgamento completamente funcional, não mais baseada em conceitos absolutosde branco e preto.Batman: Só que agora Harvey não consegue tomar nem uma simples decisão,como ir ao banheiro, sem consultar as cartas. Me parece que vocês destruíramdefinitivamente a personalidade dele.Ruth: Às vezes, é preciso demolir pra reconstruir, Batman. Assim é a psiquiatria.(MORRISON e MCKEAN, 1990, pp. 37- 

    Batman ainda assim questiona os métodos de tratamento da Psicoterapeuta,

    quando o Coringa vai até eles e pede para que a Doutora lhe aplique o teste

    Rorschach. (MORRISON E MCKEAN, 1990, p. 41)

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    Figura 12: Rorschach.Fonte: Asilo Arkham: Uma Séria Casa em Um Sério Mundo, 1990. 

    Coringa: Teste de pranchas Dra. Ruth? A senhora me conhece, eu adoro testede pranchas! Coringa então olha para a prancha em suas mãos, com um borrãode tinta no meio e diz o que vê: Hmmm... Estou vendo dois anjos, trepando naestratosfera, uma constelação de buracos negros, um processo biológico além dacompreensão humana, um ventríloquo judeu fazendo seu ato no porta-malas deChevrolet vermelho...

     Ao terminar de dizer o que ele havia visto na prancha, Coringa se vira paraBatman e pergunta o que ele vê: E você, Batman? O que você vê?

    Figura 13: O morcego.Fonte: Asilo Arkham: Uma Séria Casa em Um Sério Mundo, 1990. 

    Batman responde: Nada. Eu não vejo nada. (MORRISON e MCKEAN, 1990, pp.- 

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    Coringa então pede para que a Doutora Ruth Adams continue aplicando

    testes psicológicos em Batman.

    Coringa: ...E eu quero ir muito mais fundo do que isso. Quero que ele saiba o queé sentir dedos pegajosos cutucando sua mente. Que tal começarmos com umaassociação de palavras? Ruthie? A Doutora Ruth Adams olha para Batman e diz a ele: Eu não queria fazer isto...Batman: Eu não tenho medo, Dra. Adams. São só palavras.Coringa mostra-se feliz com a decisão de Batman: Isso mesmo, Batman. Paus epedras. Eu gosto de quem pode agüentar pressão. (MORRISON e MCKEAN,, p. 43)

    Com o consentimento de Batman, a Doutora Ruth inicia então a associação

    de Palavras.

    Ruth: Mãe.Batman: Ah. Pérola.Ruth: Mão.Batman: Revólver.Ruth: Arma.Batman: Pai.Ruth: Pai.Batman: Morte.Ruth: Fim.Batman: Pare. Pare. (MORRISON e MCKEAN, 1990, pp. 46, 47)

    O Coringa afirma a Batman que havia chegado à hora de começarem com as

    brincadeiras noturnas e diz a Batman que ele terá uma hora para fugir e se esconder

    dentro do Asilo, pois assim que passar 60 minutos, os outros internos da instituição

    irão atrás dele. Batman então foge e após alguns minutos, Coringa decide que não

    irá esperar uma hora para deixar todos os outros caçar Batman, que dez minutos já

    era tempo suficiente para ele se esconder. (MORRISON e MCKEAN, 1990, p. 59)Batman então cruza alguns de seus inimigos, até chegar à cela do Chapeleiro

    Louco, vilão semelhante ao personagem dos livros de Lewis Carroll, e este parece

    muito feliz ao ver Batman dentro do Asilo.

    O Chapeleiro Louco, ao ver Batman: Pisca, pisca, morceguinho. Como gostariade saber o que você está aprontando... Fico feliz que tenha vindo. Tenho tantascoisas pra te dizer. Você deve estar se sentindo bem frágil agora, eu espero.Esta casa... Mexe com a mente. Onde eu estava? Onde eu estou? Onde estarei?

     Ah, sim. A aparente desordem do universo é só uma ordem mais elevada, umaintrincada ordem além da nossa compreensão. Por isso as crianças... Meinteressam. São todas loucas, mas, em cada uma, há um adulto intrincado.

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    Ordem gerada do caos. Ou caos gerado da ordem. Conhecê-las é conhecer amim mesmo. Garotinhas, principalmente. Garotinhas loiras. As putinhas sem-vergonha! Oh, Deus. Que Deus nos ajude! Às vezes eu acho que o Asilo é umacabeça. Estamos dentro de uma cabeça que nos sonha. Talvez seja a suacabeça, Batman. Arkham é um país dos espelhos. E nós somos você.(MORRISON e MCKEAN, 1990, pp. 71- 

    Figura 14: Batman, o Chapeleiro e o país dos espelhos.Fonte: Asilo Arkham: Uma Séria Casa em um Sério Mundo, 1990.

    Batman continua então sua cruzada dentro do Asilo, enfrentando os demais

    internos da instituição até retornar ao local onde tudo começou. Ao chegar ao local,

    Batman então conversa com a Doutora Adams.

    Batman: Imagino que esta passagem seja a saída.Ruth, muito abalada com o que havia acontecido, tenta responder: Sim... Sim,deve ser... Eu... Acho que é por aqui. A saída.Batman responde e lhe faz uma pergunta: Eu sei. Ainda tem a moeda do Duas-caras?

    Ruth: Sim...Batman: Me dê a moeda.Ruth: Você vai voltar, não? Vai desfazer todo o meu trabalho... O que é você?Batman: Sou mais forte que eles. Do que este lugar. Eles precisam saber.Ruth entrega a moeda a Batman e questiona suas atitudes: Isso é loucura.Batman: Sim. Arkham tinha razão. Às vezes, é só loucura que nos faz ser aquique somos. Ou talvez destino. (MORRISON e MCKEAN, 1990, pp. 106, 107)

    Batman então abre as portas de saída do Asilo, e retorna para a sala

    principal, onde todos os internos estão lhe esperando.

    Batman, ao ver os internos: Estão livres. Estão todos livres.

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    O Coringa responde: Ah, nós já sabemos. Mas e você? Veio reclamar suacamisa de força? Ou só quer que acabemos com a pobre e miserável criaturaque você é?Batman então lança um desafio: Por que não deixamos o Duas-caras decidir oque fazer comigo?Harvey Dent, o Duas-caras, se surpreende com a proposta: Eu? Não... Eu nãoposso... Eu...O Coringa o interrompe: Harvey? Brilhante!Batman então devolve a moeda para Harvey Dent, que olha para a moeda eafirma: Se cair o lado intacto, ele está livre. Se cair o lado riscado, ele morre aqui.Certo?Harvey joga a moeda, que cai do lado intacto e sendo assim, Batman está livre.(MORRISON e MCKEAN, 1990, pp. 109-

    O Coringa acompanha Batman até a saída e aproveita o momento para lhe

    dizer algumas ultimas palavras.

    Coringa: A separação é um momento tão triste meu amor. Você não podereclamar que não se divertiu. No Asilo. E não esqueça que se a barra pesar...Sempre vai ter um lugarzinho pra você aqui. (MORRISON e MCKEAN, 1990, 

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     TEORIAS SOBRE A PSICOSE

     Após o levantamento de toda a história de Batman, faremos a introdução aoconceito de psicose utilizando como referencial teórico a psicanálise, para assim

    podermos discutir, levantar hipóteses e concluir a questão da loucura presente na

    história do Cavaleiro das Trevas.

    2.6.1 Introdução à psicose pela concepção psicanalítica

    Segundo Laplanche e Pontalis (1992) o termo psicose surgiu no século XIX,

    para separar as doenças mentais das demais doenças. No decorrer deste século, o

    termo psicose tornou-se bastante usado na literatura psiquiátrica, principalmente na

     Alemanha, para identificar as doenças mentais, a loucura e a alienação. Somente no

    fim deste século houve a separação e distinção dos termos neurose e psicose,

    sendo que o último evoluiu para designar as afecções da competência do psiquiatra,

    resultando em uma sintomatologia essencialmente psíquica sem que a causa da

    mesma resida no sistema nervoso. Freud, na última fase de sua obra, seguiu um

    novo caminho em busca de um mecanismo inteiramente original de rejeição a

    realidade, utilizando o termo recusa, explicado por Laplanche e Pontalis (1992)

    como um modo de defesa por parte do sujeito em reconhecer a realidade de uma

    percepção traumatizante. Este mecanismo seria o ponto de partida para uma

    psicose, como uma defesa do Eu que incide na realidade exterior, recusa de uma

    percepção.

    Fundamentalmente, é numa perturbação primária da relação libidinal com arealidade que a teoria psicanalítica vê o denominador comum das psicoses, ondea maioria dos sintomas manifestos (particularmente construção delirante) sãotentativas secundarias de restauração do laço objetal. (LAPLANCHE ePONTALIS, 1992, p. 

    Segundo Cabas (1988), na loucura, a ordem da castração é ignorada e a sua

    definição em relação ao Édipo se explica pela exclusão. Assim, a loucura é

     justamente uma carência de sujeito no desejo materno, porém, não está falando de

    mãe e sim de função, não de pessoa, mas do desejo.

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    Da mesma forma, Simanke (1994) relata que a psicose decorre de uma

    recusa da castração e caracteriza-se por um retorno ao estágio narcísico. Uma das

    características do narcisismo é a onipotência imaginária, onde não há limites para a

    satisfação do desejo e a psicose, como um estado narcísico, busca a realização

    destes desejos através da alucinação. A castração, como ruptura da situação

    narcísica, representa todo limite imposto à realização do desejo, porém, no psicótico,

    não existe esta ruptura e, assim, acontece uma fixação e regressão ao estado

    narcísico, no qual o sujeito decorre via alucinação para a satisfação de seu desejo.

    Com a ausência dos esquemas de regulação intr