crime do padre amaro, 1 vol primo basílio, 1 vol. mandarim ......lad y flor ence de pois de jantar,...

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Page 1: Crime do Padre Amaro, 1 Vol Primo Basílio, 1 Vol. Mandarim ......LAD Y FLOR ENCE De pois de jantar, o m e uamigo Cisne iros e e u fomos tomar café para o salão Conhe ce m, de ce
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m m m ! ZSHRDROD , de

lid o Irmão PORGO

( CAS A FUND AD A am

Pre m iada nas Exo o siçõe s d e Par is d e1 878

,1 889 e 1 900

,co m 2 GRAND !

PR IX na E

walçao do R io de Ia

ne i ro d e 1 8 e co m grand e o d i

p lom a d e hon ra na E xpo s ição da

Im p re nsa e m“Lisboa.

Ed i t o r . dn o bus de

Eça d e Que i rós, Cam i l o Ca ste loB ranco

,Co e lho Ne to

,Te ófi lo Braga,

S i lv io R om e r o , GU e r r a J unque i ro , Basl l io Te l e s

,Euc l id e s da Cunha , Ab e l

Bo te lho , José Sam paio (B runo), Joaodo R io

,Joao Grave . José Ca ldas

,

Jú l io B randao,Gar c ia R e dondo ,

Tom ás Lºpe s,

Luis Murat, Be nto Car

iue ja ,

Pinto da R ocha , A lc id e s Maiante ro d e Que n ta l , Te ix e ira Bas l o a

,

R ocha Pe ixoto ,Tom as R ib e iro , Padr s

Antón io V i e i ra , Ca r m e n D o lore s,AJ

fre do Pim e nta , Padr e Manu e l B e rnar d e e , F laube rt, Shak e sp e a re ,

R e

nan,S tr auo s, H ae ck e l . B o chn e r . D ar

w in, e tc .

, e tc.

Gm vl r ludo do « l ado d e gue r ra, to do s e dlqõo s

co lum n aum e nto p r o vlco r lo do p r e ço .

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EÇ A D E QUE IR OZ

Cr i m e d o Pad r e Am ar o , 1 vo l

Pr i m o B así l i o , 1 vo l .

M anda r im ,1 vo l .

O s M ai as . 2 vo l .

d e s . 1 vo l .

A O !d o d e e as S e r r as , 1

A I lustr e Casa d e R am i r e s, 1 vo l .

P r o sas B á r ba r as , 1vo l .

Co n to s ,

1 vo l .

Ca r tas d e Ing lat e r r a, 1 v e l

E cós d e Pa r i s , 1 vo l .

Ca r ta: fam i l iar e s e bi l he te s p o s

ta“d e P a r i s , 1

As M i nas d e S a l o m ã o ( t'

r adução l ,

J O Ã O G R AVE

Fa m in to s ,e p i só d i o s da v i da p o

pula r .i' o l .

A E te r n a M e n ti r a , r o m an ce ,1 vo l

” U l ti m o F aun o , n o ve l a ,1 v o l

O Passad o . 1 v o l .

G e n te p o r

r al i . 1 vo

J o rn ada r o m an tica, vo l .

R e fl o r w,1

R e i nad o . tr áaíç o , 1 vo l .

A In i m i g o , r o m ance . 1 vo l .

4 M o r te ve nc e , 1 vo l

0

IÚL IO D ANTAS

1 02 3 ( E p i sód i o e m ve r so ) . 1 vo l .

F i gur as d o o n te m e . d e h o j e , 1 vo l .

A o o uv i d o d e Madam e X,1 vo l .

S ór o r M ar iana (F aça e m acto ) ,

1 vo l .

a m o r e m Po r tuga l n o sécul o

XVII I , 1 vo l .

Mulhe r e s . 1'

v e l

m as 6 E la s

sr o

$b"

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J ÚL I O D ANT A S

S óc io e fe ctivo da Acad e m ia das S oãênc ias d e L isbo aD a Acad e m ia B ras i l e ira

NA V I D A — NA AR TE— NA H I S TÓ R IA

S EGUND A E D IÇ Ã O

PO R TO

L I V R A R I A C H A R D R O N

D E L É L O I R M Ã O, E D I TO R E S

R UA D A S O A B M E L I T A S , 1 44

1 9 1 8

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LADY FLORENCE

D e po i s d e jan tar , o m euam igo C i s n e i ro s e eu

fomos to mar café para o sal ão . Conh e ce m ,d e

c e rto,o grand e sal ã o do Ave n i da Pal ac e

,cosmo

po l i ta e grave , com os s e u s Map l e s so no l e n'tos ,

os s e u s tapete s p ro f u n dos , as s uas ho rríve i s co r

re n te s d e ar . N e s sa no ite e stava po u ca ge n te . A

u m can to,um ve l h o d e fi s io n om ia i n q u i e tante e

angu l o sa—ê soub e d e po i s que e r a um j u d e u ho

landês e m bu sca d e . br i c—à-brac — fo l h e ava o

S k e tch. A o pé d uma jan e la, u m o fi c ial da m i ssão

f ranc e sa e sc re v ia. No te i vagam e n te que um i n

g l es magro , ru ivo , d e sm ok in g , passe ava p e la

sa la as s uas p e rnas d e antílºp e e o se ue sp l ên d i do

i so lam e n to . Mas as m inhas ate n çõ e s fi xaram -se

d e p r e fe r ênc ia sob re do i s i ng l e s e s , um ve l ho e

um a ve l ha— e l e,s e te n ta anos , ca l vo , m usc u l oso ,

i rr e p re e n s íve l na sua casaca,e la, seca, v iva, r i d i

c u la,p e q u e n i na, v e sti da d e seda az u l

, co m u m

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LAD Y FLOR ENCE

D e po i s d e jan tar , o m euam igo C i s n e i ros e eu

fomos tomar café para o sal ão . Conh e c e m ,d e

c e rto,o grand e salão do Ave n i da. Pal ac e

,cosmo

po l i ta e g rave , com os s e u s Map l e s so no l e n'tos ,

os s eus tape te s p ro fu n dos , as s uas h o rr ív e i s co r

r e n te s d e ar . Ne ssa no i te e stava po u ca ge n te . A

u m canto,um ve l h o d e fi s io n om ia i n q u i e tante e

angu l osa— soub e d e po i s que e r a um j u d e u ho

landes e m bu sca d e br i c-à-br ac — fo l h e ava 0

S k e tch. Ao pé d uma jan e la,u m ofi c ial da m i ssão

f ranc e sa e sc re v ia. No te i vagam e n te que u m i n

g lês magro , r u ivo , d e . smok ing , pass e ava p e la

sa la as s uas p e rnas d e an tí l op e e o se ue sp l ên d i do

i so lam e n to . Mas as m i nhas ate nçõe s fi xaram -se

d e p re fe rên c ia sobr e do i s i ng l e s e s , u m ve l h o e

um a ve l ha— ê l e,s e te n ta anos , ca l vo , mu sc u l oso ,

i rre p re e n s íve l na sua casaca,e la, seca, v iva, r i d i

c u la,p e qu e n ina, ve sti da d e seda azu l , co m u m

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8 NA VIDA

g rand e co lar d e topáz io s e um m e i o -d e cote e squ e

l é ti c o que e stavam r e cos tado s n um sala,ao lado

u m do ou tro , de m ãos dadas,o l hando-se e mb e

ve c idam e nte naqu e l e amoroso si lênc io que é a

al ma d e tôda te rn u ra i ng l e sa, e a que j á Car l y l e

chamara « o con tacto com o m i s té r i o » . E'

b e m

c e rto que as paixõ e s não te e m idad e ; m as eucon

fe sso que não p u d e d e ix ar d e so rr i r d e êx tas e .

conj ugal d ess e s do i s v e l ho s, que , j á andado o

ou to n o da e x i s tenc ia,ainda s e n tiam tao v i va m e n te

os p e rtu rbador e s e n l e vo s do amo r . Obs e rv e i-os

com cu r io s idad e ,quas i co m car i nh o . T inham

d ian te d e s i um a p e qu e na m e sa d e chá e um nú

m e ro d o Tim e s, que e l e d e ix ara d e lêr para o lhar

para e la. A l u z batia e m ch e i o nas d uas cab e ças ,e sco rr ia como o i ro o l e oso p e la cal va do ve l h o

i ng les,to rnava mai s azui s o s p e qu e n i n o s o lh o s

rugusõ s d e Lady F l o re nc e sou b e d e po i s que se

chamava ass im u n s o l hos d e bon e ca d e c rcp i ta,a que a e xp re ssão d o so nho r e a l i zad o e da v e n tu ra

abso l u ta par e c iam e mp r e s tar ai n da o i nq u i e to

br i l h o da moc idad e . Nada os d istr aia da sua m ú

tua con te mp lação . Passaram c riados ; e n tro u um a

rapar iga b e lga, que se ati ro u para um a po l tro na,

c ru zou a p e rna e fu mou ; o o ttc ia l f ran cês fo i

bu scar, p e rto d e l e s , o bº l l t'

ã e o stick : os d o i své l l i o s, i n d i fe re n te s a tu do

, e mb e v e c id o s u m n o

o u tro,e ul e vad o s

,iun

'

ive is, os o l ho s nos o l h e s , a

m ão de l e e n laçuda na d e la,co n ti n uaram a ti

tar -se,

amo rosam e n te,com a e moção d e d o i s

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LADY FLOR ENCE 9

namo rados d e s l u mb rados d e moc i dad e e d e be l e za.

—Sab e s'

qu e m são,aq u e l e s i ng l e s e s —

p e r

gunte i eu ao m eu am igo C i sn e i ro s,e m quanto o

c r iado no s s e rv ia o café .

— S ão do i s no i vo s .

Naq u e la i dad e

Casaram—se há do z e d ias,e m Lo nd re s . E s tão

aq u i passando a lua d e m e l . Um casam e nto d e

amo r . E l e e si r Joe C r o tto n , al to func io nár io da

I n d ia i n g l e sa, e te m s e te n ta e do i s anos ; e la e

Lady F l ore nc e S e alby , v i úva d um l o rd d o A l

m i r antad o,e te m s e s s e n ta e c i n co o u s e ss e n ta e

s e i s . Soub e o nte m qu e n t e ram , p o r aqu e l e i n

g l es mag ro que aqu i e ste ve a pass e ar n o salão .

A v i da de l e s c on ta-se e m d uas palav ras e é u m

romanc e e n te rn e c e do r . J o e C ro fto n e stava n o ivo

da p r i m e i ra m u lh e r q uando co nh e c e u F l o re n c e ,

que ti nha e ntão d e zo no anos , todo o e ncanto das

sp inste rs, com os s e u s cab e l o s l o i ro s, o s s eus

o l hos azui s , a sua b e l e za do d iabo , e que e r a

a no rva p rom e ti da d um moço o fi c ia l da mar i nha

i ng l e sa . Apaix o naram -se l o u cam e n te um p e l o

o u tro . Mas j á ambos ti nham con traído comp ro

m i ss e s ; n e nh u m de l e s pod ia d i s po r d e s i , po r

que n e nh um d e l e s e ra l ivre . F iéis mai s i ng l e sa

d e tódas as pa ixõ e s paix ão do d e v e r ap e r

taram as mãos , ch oraram , so r r i ram , s e pararam—se , e , na do l o rosa s e re n idad e dos grand e s se n

tim e n tos , cada um s e gu i u o seu d e sti n o . E l e e a

so u , e fo i o m e l h o r do s mar i do s . E la caso u tam

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1 0 NA V IDA

be m , e fo i a mai s car i n hosa das e spõsas . Mas

do i s i ng l e se s que uma ve z s e n ti ram e e ncan ta

m e nto do ve rdad e i ro am o r, pod e a v i da e mbo ra

s e para-l o s, que nunca mai s se e squ e c e m . Um d ia,

quare n ta e s e i s an os passados , J o e , j á v i úvo ,so u be e m Bombai m que F l o re nc e ti nha e n v i u vado

também . Pe d i u um a l ice nça, e s im p l e sm e nte ,

natu ral m e n te, co m a c e rte za de que e la e stava

e sp e rando po r e l e , v e i o a Eu ropa bu sca—la. Ca

saram e m W e stm i nste r , e,como ves

,e stão pas

sando a lua d e m e l e m L i sboa. No s,l ati n os ,

não pod e mos compr e e nd e r b e m a i n comparáv e l

fe l ic i dad e d e stas d uas c r iatu ras . F.” p re c i so se r -se

nig hts pa ra s e n ti r a te rça d om i nado ra d u m amo r

como es te,i nal te ráv e l e e te rn o

, que sob re v iv e :“

i

ni o e id i id e e . i i b e l e za, e que , quando j á tud o pas

so u,

s e d u ção , g raça,co n ti nua

a i nda na v e l h i c e,com to do o e n tu s iasm o

,to das

as i l u sõ e s,todo o ardo r

,tod o o doc e i d e al i smo da

juVe i i lud e . ti”

- l h e s i n d i f e re n te que o te mpo ve e ,

po rq u e , a sua p r i mave ra e e te rna. I tao -d e ve r

S e mpre um no ou tro , até i i morte , não a re al i dad e

d o que são,m as a image m I

'

GLIÍ O S G do que e ram

l m d ia e m que p r i i i c ip i i i rai i i : i amar-se . Aqu e l e

i ng l e s re a l i zou na v ida o m i lagre da fe l i c i dad e .

l 'i t l 'ít e l e,Il ad y F lo r e nc e e s e mp re l o i ra e te m

e te r nzi i i i c nte d e zo i to

A l u z d o sa lão ba i xo u . Quando nos l e van tamos

I'ª l'

fl sa i r , « 3 do i s ve l hos , d e mãos dadas , ti ta

vam -s» a inda,amo rosam e n te .

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A JAN ELA D U S LILASES

D ian te d e m im , na rua on d e m o ro , há um a

an tiga casa do Bai r ro-A l to p o m bal ina, co m o seu

an dar n ob re d e sacadas e,po r c i ma

,a sua l i n ha

d e quatro j an e las d e p e i tos aco nc'

h e gadas ao b e i

r al do te l hado . Te m um a c e rta n ob re za nos tar

g o s c u nhai s de s i lhar ia ; m as tod o o re sto e po

b r e , m al c u i dado e ve l h o . Du rante mu i to te mpo ,

o s e gu nd o andar e s te v e co m e sc r i tos Um b e l o

d ia os e sc r i to s ar rancaram -se,ab ri ram -se as

-v i

d raco s : o u v i u -se can tar, e na jan e la da e sq u i na,

f ro n te i ra ao m e u quarto , apare c e u um grand e

tabo l e i ro fl o r id o d e l i las e s b rancos . Qu e m s e r iam

os m e u s n ovos v i z i n hos ? Qu e m v i r ia m o rar al i

Passaram -se o i to d ias se m que e u v i sse v iv'

al ma

jan e la . Umas co rti nas d e cassa v e laram d i s e r e

tam e n te o s v i d ros ; e se não fo sse , a n o i te , a l u z

que só m u i to tard e se apagava, e o p e rfu m e doc e

d o s l i las e s que e n ch ia rua 'tôda,te r—m e—ia d e

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12 N A V IDA

c e rto e squ e c i do d e que naqu e la casa hab i tava al

gu em . Qu i s , po rem , o acaso , que e uti v e ss e um a

c e rta man hã— e que d e l i c i osa manhã d e p r ima

ve ra l— a fan tas ia d e aco rdar mai s c e do . Ab r i

as v i d raças de par e m par . Mal sab ia e u a s u r

p resa que m e e s lava guardada . Na jan e la fron

te i ra, t

'

aiscan te d e so l,um a grac i o sa fi gu r i nha

cô r d e rosa d e b ru çava-se , com um re gado r na

mão , s ôb re o tabo l e i ro d e l l o re s . E ra a m inha

nova v iz i nha. Não m e re co rdo d e te r s e n ti d o

n u n ca um a tão v iva im p re s são d e i n ocên c ia, d e

f re sc u ra,d e f r ag i l i dad e

,d e graça. F i q u e i a o l har

para e la, a s e gu i r—lhe os mov im e ntos , e i nbe ve c id o ,e ncan tado . D e v ta l e r d e zo i to o u v i n te anos . A

não se r os cab e l o s,d um n e gro quas i r ôx o d e

m iné r io,e o s o l h os m u i to p r e tos , mu ito e xp re s

s i vas,nm i lo p ro fu nd os , tud o n e la e r a cô r d e rosa,

a p e l e da face , d o co l o , das mãos , o ro upão l i

g e i ro que a v e stia,o p ro p r i o e fl úv i o que pare c ia

d e sp re nd e r-se d e la e m r e fl e xos rós e os, transpa

re n te s , vo e jan te s , como a atmos fe ra rosada que

e nvo lve , nas g r and e s manhãs d e p r i mav e ra, a

al e gr ia pag ã « tas am e nd o e inas e m fl o r . D i r-se -ia

que a F e m m e r n. d e Mane t,su rg i ra

, c o m o

um c larão , naq u e la jan e la pob re d o Ba i r ro -A l to .

l nvo l nn lãr iam e n lc,so r r i -lhe . E la Il ton -m e

,bai

x o uo s o l ho s o nd e um a nu v e m d e m e lan co l ia pui

rava,acar i c i o u os g rand e s cachos d e l i lase s b ran

c o s que m e pare c e ram cô r d e ro sa sob car i c iadas s uas mãos , se inti lo u u m mom e n to ai n da na

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A JANELA D O S L ILAS ES 1 3

g ran d e man cha d e o i ro d o so l , como um a n évoa

rosada d e ante -manhã , e , l e ntam e n te ,d e l i cada

m e n te , d e sapar e c e u po r de tr ás das v i d raças fe

chadas . D af po r d ian te , não houv e um ún i c o d ia

e m que eunão m e l e vantasse c e do . A m e sma h o ra,

e la v i nha re g ar as fl o re s — e eu ab ria a m i n ha

jan e la . As m u l h e r e s conh e c e m s e mp re,m u ito

an te s d e . no s, a natu re za do s e nti m e n to que e m

n ós d e sp e rtam . E '

e v i d e n te que o que eu s e n tia

p e la m in ha v iz i nha não e r a amo r ; m as não d e i

x ava d e se r aqu e la cu r i o s i dad e vo l u p tu osa, aqu e la

insati s fe i ta adm i ração , aqu e la s e n sual i dad e i nte

l i g an te do si l ênc io e d o m i sté r i o . que é quas i se m

p r e po r o nd e o amor com e ça. Cum pr im e ntava-a'

e la so r r ia-m e ; e ,cada d ia que passava, e u p e rc e

b ia que as fl o re s iam l e van do mai s te mpo a re g ar .

l—l av ia n o so rr i so d e ssa e ncan tado ra c r iatu ra

um so rr i so cô r d e rosa como toda e la a vag a

d e l íc ia, e fe m i n i n o p raz e r d e se s e nti r adm i rada :m as não se i que n évoa. d e tr i ste za pas sava d e po i s

nas s uas pá l p e b ras s e m i - c e r radas . como se e ssa

p ró p r ia adm i ração acabass e po r se to rnar para

e la um mo ti vo d e so f r im e n to . Só ma i s tard e sou b e

a razão po rq u e se e nne vo ava d u ma tão co n tra

d i tó r ia m e lan co l ia o so r r i so da m i nha v iz i nha,

e con fe sso que fo i be m do l o roso para m im

conh e ce-la . A s p e qu e nas tragéd ias da e x i sten c ia

são às ve z e s as mai s co n frang e do ras . U m a tard e ,

quan do eu sata, v i n ha s ub i n do a rua um a rapa

r iga v e stida d e pr e to , s e gui da d e um a se nho ra

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1 4 NA VID A

d e i dad e . T inha um pé al e i jado d e nasce n ça e

cox e ava. O lh e i-a. E r a a m i nha v iz i nha, que r e

co lh ia a casa. Qu ando passo u j u nto d e m im ,

l e vava o s o l h os ba ix os,o s l áb i o s tre m iam -lhe

,

as l ágr i mas co rr iam - lhe p e las fac e s . D aí p o r

d iante , a jan e la n u nca mai s se ab r i u , e os l i las e s

b rancos , i mag e m d e ma i s um a i l u são p e rd i da,fl

caram a s e car tr iste m e n te ao so l .

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1 0 NA V IDA

e um mar r oa e af ron ta para o n om e dos s e nh o re s

Marq u e s e s s e u s pa i s . o s trabal h o s d e um parto

c land e s ti n o . Não e scon do a Vossa Ilustr lssim a

que o ze l o que s e mpre m e m e re c e u a hon ra d este

moste i ro m e fe z re c e b e r com te mo r d e ân i mo e

e sc rú pu l os d e co nsc iênc ia aque la pob re ove l ha

do S e nh o r . Che e n e i a re c e ar a lgum al vo ro ço das

re l ig i osas que ,po r m u i to m e nos , ai n da não há

u m ano , saí ram d e . c ru z al çada ; m as o al vará d e

e l -R e i e a p rov i são d e Vossa I l u str íss ima v i nham

e m o rd e m , e e u não pod ia,se m d e sob e d iênc ia e

qu e b ra d o re sp e i to fi l ial que a Vossa Ilustr lssim a

d e ve . opo r qu al q u e r e sto rvo o u d i fi c u l dad e as o r

d e ns re c e b idas . Log o n e ssa n o ite Sóro r M i cae la

so f re u tão re p e ti d o s ac id e nte s , s e gu ido s d e um

lo ngo e morta l l e targo, que e u, mad re vigár ia

e a m e stra d e nov i ças , que lhe as s i sti mos se mp re ,c u i damos que D e us

'Ie r ia p i e dad e d e la e cha

mar ia a m e l h o r v ida. Mas aqu e l e s a qu e m D e u s ,

p o r sua i n fi n i ta m i s e r i có rd ia,co n c e d e na te r ra a

g l ó r ia d o so f r i m e n to,não d e scan sam na mo rte

se m a l e r he m m e re c i d o . Até re c e b e r a e stam e nha

da ap rovação , a d e sgraç ada m e n i na não l e ve um a

ho ra que não foss e . d e l ág r imas , d e gr i to s e d e

º ftl'

l tlm l r s do mu nd o , com m a i s com pu nção d o que

bo m e xe mp l o para as re l i g i osas des te moste i ro .

SHIP Vossa l lustr fsim a,m e l h o r tal ve z d o que eu,

o que se pas so u na v i da d e Só ro r M icae la ante s

de a traze re m para e s ta casa, e D eus sab e m e l h o rdo que nos ambos , s e nho r Arc e b i spo , co m que

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sont in M [ CAR LA 1 7

d u re za d e a l ma ar rancaram ao s e i o d e ssa pob re

pe cado ra, que po r d i v i na vo n tad e fo i m ãe , 0 f i l h o

que ne m po r se r do se u op ro b i o e r a m e nos do

se u c o ração . Ne m a i dad e , s e nh or A rc e b i s po ,

n e m a d ign idad e do háb ito que há c inco e n la an os

m e . v e ste , p u d e ram e x ti ngu i r d e tod o e m m im a

voz da p i e dad e h umana . Vi,co m o s o l h o s razos

d e águ a,p r i n c i p iar o nov i c iad o d e S ó r o r M i cae la .

Ad iv i nh e i tu do qu anto mai s tard e hav ia d e acon

te c e r,e os j u s tos mo ti vos que te r ia. para a l v o ro

çar-se o ze l o d e Vossa Ilus-tr íssim a . S ou te stim u

nha d e que a pob re m e n i na,p e l o fe rvo r da o ração ,

p e l o s r igo re s da p e n i tênc ia,p e la mo rti fi cação das

d i sc i p l i nas e dos j e j u n s,fe z q uanto cab ia nas fô r

ças du ma f raca mu l h e r para l i b e rtar a sua al ma

d e tódas as paix õ e s da natu re za e d e tod os o s

afe c tos m u n danos . Não qu i s D e u s que o co n s e

gu i s s e , po r seum al e p o r m al d e sta com un idad e .

Pod e s e car-se , n u m co ração d e mu l h e r , a se lva

d e todos os amor e s ; n u n ca, s e nh o r A rc e b i spo , se

e x ti ngu i rá a do amo r mate rn o . Con tam -se as

no i te s e m que o s so l u ços e os gr i tos d e Sóro r

M icae la não aco rdam o moste i ro , como u i vo s d elóba que e ncontrass e mo rta a cr ia. Du rante o s

o fíc io s d iv i n o s , o nd e vai amparada às ou tras n o

v igas , cai e m êx tas e s e e m l e targ o s, chama a altas

voz e s p e l o fi l h o , e scabuj a no chão , rasga o háb iton o pe i to

,e não há au to r i dad e d e p r e lada que a

d om e,n e m s úp l icas d e i rmãs , n e m am e aças d e

cá rc e re e d e cop o , po rq u e , n e ss e s i n stan te s , Só ro r

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l 8 NA V IDA

M i cae la não ou v e . ne m Vá. Tu do quan to nas im a

ge n s e n o s pa i n e i s d o co nv e nto re co rda a obra

d iv i na da Mate rn i dad e , e , para a tr i ste p e cadora,

mo ti vo d e m o r ti fl e ação e . d e l ág r i mas . A i n da

on te m a mad r e e scr i vã mandou cob r i r d e pan os

o pai n e l da Vi rge m que e stá n o côr o d e c i ma,

so b re o cad e i r ado da ban da do Evange l h o , po rq u e ,d ian te d e l e . So ro r M i cae la ca ia com ac i d e n te s .

Po r ma i o r que s e ja n o moste i ro a com paix ão , não

s e pod e , s e nh o r A rc e b i spo , n e m calar as m ur m u

tacõ e s . n e m i m p e d i r o e scânda l o . Há tr ês n o ite s ,fue in da r e ta, d e sc e u as e scadas até a i g re ja

,e

fo ram as d o na las e nco n tra- la an te s da ho ra d e

p r ima , d e sp ida e m cam i sa. ca i da como m o r ta

nas lag e s d o chão , a e mbala r e a aco nch e gar ao s

p e i tos um a i mage m do M e n i no . S e não te e m a

. .i r idad e d e a l e var d e sta casa, ou mo r re , ou e n

ln l tq l te f'

c . Qu e re m que Só ro r M i cae la s e ja f re i ra :

o que e la e.. s e nho r A rc e b i spo , é m ãe . Faça Vossa

Ilustrlss im a, p e l o m u i to que pod e a sua v i rtu d e ,

que o m e smo côch e que a tro u xe a v e nha bu scar

o u tra ve z . I te n s e n s i n o u -n os a su p re ma doçu ra

do pe rdão . S e a s úp l i ca que os m e u s s e te nta

anos faz e m ao s s e nh o re s Marq u e s e s e a Vossa

Ilustr lss im a não m e re c e r a graça d e se r e sc u

l ada .

—ao m e nos,s e nh o r A rc e b i spo

, que o m e s

te i r o possa adoptar e s sa c r iança,e que Sóro r M i

c ae la, re co l h i da como s imp l e s dona n e sta casa

d S . B e n to ,te nha a i n da a c on so lação d e s e n ti r ,

no bá l samo p i e doso das l ág r imas , que D e u s p e r

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só no n M ICAE LA 10

doa e so r r i a tôdas as mã e s . Braga, R ial M o s

te i r o d o Sa l vado r, e m mai o d e 1 782 . M i

n i ma se r va d e Vossa I l u s tr í s s i ma, Madr e Ana

d e S an ta R o sa,abad e ssa. »

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m e o D E GONDIM

lªl n e o n l r c i e s tas pág i nas nas ft'fe m ó r ius i n ti mas

do nob re ma rq u ês d e v i eu7 '

que fo i um a

das mai s int -re ssaute s fi gu ras da L i sboa român ti ca

d e IM O :

« M e u fi l h o casava na cap e la d o Paço d e Gon

d im,so lar da s e nh o ra sua sogra,

e l i nh a-se c o n

e e r tad o que la pas sar ia a lua d e m e l . M e ti n u m

ma l o te a casaca az u l d e Lo nd re s , o m e u chapeu

Nlur i lto ,

u ns e scar p i n s d e . bai l e , u m l e nç o d e cam

hr a ia para o p e scoço , compu s ao e sp e l h o o m a i s

hc l i e vo l o so r r i so d e pai , C l ll b l'

l l lhe t—l l'

l f—J na m i nh a

e apa Lo rd ltvr o n , e no p róp r i o d ia do casam e nto ,

d e mad ru g ada,aba l e i para Gond im .

Iªl r a um a ve l ha casa n ob re d o séc u l o XV I I , com

o s e u c n nhat d e . armas , o se u e i rad o d e a l p e nd r e ,

a sua to rre s i n e i ra,o se u vasto páti o so l ei l

( d l'tl l tl U S t) e so athe i r o como um c lau stro e apucho ,

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PAÇO D r. GOND IM 2 1

para o nd e se d e b ruçava, e n fe i tada d e rosas , a ja

n e la d o quarto d os no ivos . Logo que ch e gu e i ao

so lar cam inh e i d e s u rp resa e m s u rp resa. E u e o

nhe c ia, d e trad ição , a casa i l u s tre d os No r o nhas,morgado s d e Vi la-Ve rd e , com e ndado re s d e Gon

d im e de Bo rba, m u ito ch e gado s ao Paço d os re i s ;

sab ia p o r m eu fi l h o que , mo rto o s e nho r da casa

e m Mad r i d , c i n co anos an te s,toda a famí l ia se

re d u z ia a morgada v i úva,a fi l ha,

m i nha f u tu ra

no ra, e a u m pob re e gre sso da p rov í nc ia da So l e

dad e,ve l h i nh o d e o i te n ta an os , que al i ti nha

s id o re co l h i do po r car i dad e c r i s-l ã : m as e stava

l o ng e d e s u po r que naqu e l e s paço s m o ravam as

tres a l mas ange l i cas que l á e nco n tre i . H s p r i

m e tros b raços e m que ca i fo ram os d e F re i A o

tón io d e Mar ia San tí s s ima . pob re f rad e, que

n u nca m e v i ra,cho r ava, be i java-m e as mãos , p e

d ia-m e,l e vado e m l ág r i mas , que não lhe l e vass e

dah'

o s s e u s r i co s m e n i n os . l ) e po i s , fo i o m e u

f i l ho que assom o u ao e i rado . R ian i - the os o lh os d e

f e l i c i dad e, ati ro u u n s ar re i o s d e e star d io ta que

traz ia,d e sc e u d e e scan l i lhão a

'

e scada pa r a m e

ab raçar . Que não m e d e mo rass e , que v i e s s e d e

p re ssa, que as s e nho ras e s tavam e m c ima, na

sa la,i m pac i e n te s po r conh e c e r-m e

,

— e lá f u i,

nos b raç os d e l e . e do e g re sso , e m q nan to a s i n e i ra

da cap e la re p ic ava, até a p e q u e na sa la d e e sp e l h o s

d o so la r,e m c u j o s te to s V i e i ra Lu s i tano p in lar a

um a re voada d e Amor e s,e o nd e m e e sp e ravam

as d uas mai s g rac i osas , as duas ma i s d oc e s fi gu ras

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NA V IDA

d e mu l h e r que a i n fi n i ta bondad e d e D e u s te m

posto al gu m d ia d ian te d os m e u s o l h os . Pare c iam

i rmãs . So rr iam ambas como d uas c r ianças . A

ma i s nova, que m eu fi l h o to m oup e l o mão

,mu i to

l o i ra, co m uns grand e s o l ho s azui s e um v e sti

d i nho cu rto d e mu sso l i na bran ca,e r a a m i nha

f u tu ra fl lha. Tanto q u i s e mos b e i jar as mãos u m

ao o u tro , que a aco nch e gu e i ao m e u p e i to e a

b e i j e i l o ngam e n te na te s ta.

— « E' s e nho ra sua

i rmã,m i nha m e n i na ? » —p e rgu nte i , o lhan do a

s e gu nda,a i n da mai s b e la

, que f i cara ass e n tada

no sofá , n uma mancha d e v e l u d o co r d e v i o l e ta,

um l e q u e p e qu e n i n o nas mãos , um a c ru z d e Mal ta,d e di amante s

,sôb r e o p e scoço do i rad o p e la l u z .

A m ão que b r i ncava com o l e qu e avanço u l e n ta

m e n te para m nn,s e n ti-m e e nvo lv i d o na doç u ra

d u m grand e so rr i so,e um a voz d e anj o , um a voz

i n comparáv e l c h i l re o u, tr i ton , can to u n um g o r

ge i o : — « S oua Não se i qua l fo i mai o r , se

o m e u e spanto , se o m e u e ncan tam e n to . M e u ti

lho r ia, a no iva r ia tambem,e e m quan to e uo scu

lava o s d e dos b rancos que se o fe r e c iam ao m e u

b e i j o,fªre i A n to n i o d e Mar ia S antíssim a, i nun

dado d e j úb i l o , apo n tava-m e r i nd o a mo rgada :

« Ve ja Vossa I'lx c c le n e ia que tambem S ua S e n ho

r ia par e c e i rmão do s e nh o r se u

[ 1 0 8 0 que o s fidalg o s d e M e r zo ve l o s ch e garamc o m as fl lhas, nas d uas l l tttl l 'íl s ve l has da casa

,

mu ito aj o u jados d e p r e s e n te s d e p ratas para os

no i vos, o casam e n to fe z-se a cap u cha na cap e la

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24 NA V IDA

va- lhe m ãe ; l l lha d e la chamava-mc pai ;— e, e n

tre tau to,não hav ia pare n te sco e ntre nos ambos .

U sangu e do n osso sangue , a a lm a da nossa a l ma

e o ul'

ul n l ia-se ,naqu e l e i n stan te

,n o b e i j o s u p re mo

dos nossos Í l l ho s ; e nós c o ntin i túva luo s, m e ras

somb ras d e acaso,a se r d o i s e s tranh os u m para

o ou tr o . N e nh um d e nos ti nha d i re i to a doç u ra

daqu e la inti m idad o , ao êx tas e daqu e l e . e ncan

tam e n to,ao m is té r i o daqu e la so l i dão . E ramos .

para os nossos fi l h o s — os sog ros . Eramos,u m

pa r a o o u tro n i ngu em .t t amor que r e sp lan

« Ic e ia can tava na a l ma d e ssas c r ianças,nada

tinha j á d e c om um com as c i nzas d a nossa d u p la

v i úvo , . Não . Aqu e l e . lar nao e r a o m e u. Aqu e l a

fe l i c i dad e não e r a m inha. E u não pod ia, não

d e v ia passa r a l i aqu e la n o i te . Le van te i-m e para

o d iz e r a e ssa doc e mu l h e r d uma tao p e rtu rbado ra

be l e za, para m e d e sp e d i r d e la,para s e n ti r

,a i n da

um a ve z,a CQ PÍ t' Í H p e rfu mada das s uas maos ,

q uando , d e r e p e n te , a jan e l a dºs no i vos se i l u

m i no u . lª ir zi l no s o l ha- lu, u m j u n to d o o u tro ,iuu

'

m ' is .e ncan tados

, num scu'

r is'o d o in e x p r iutívo l to ruul u. Em to d o o nosso passado

,Iôda a

Nossa l l l t l t' l t l íl t lv , a. nossa v ida i n te i ra a r o l l o r i r

un tu'tju d os Il t l S S t l s .Í i lho s . Que , l l l l l tl'

l' l i l t d que

tud o n o s se aqu e la p e q u e n i na l u zno s u n ia pa ra s e mpre

, n o m e smo e n làvl i,n o

m e s mo e ncan to,na m e sma b eul itud o ? l nse us i

ve l l n e uto,

as nossas mãos e n lm gar am -se ; s e n ti

mos , nos ambos,o que hav ia d e sagrado naqu e l e

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PAÇO D E c ono w 25

i n s tan te ; e , até que a l u z da jan e la se e x ti ngu i u,

como se fôs se mos um a só al ma,u m so co

ração,cho ramos abraçad os , e m Qu an

d o ac o rdámos do n osso so nh o,o ve l h o e gre s

so , d ian te d e nos, d i z ia-n os , e nx u gand o as l á

g r imas : - « ivtcus f i l h o s,e se e u os casass e tam

bém ? »

I l oj e,m e i o ano andado , to da a ge n te chama

ao Paço d e Go n d im a « Casa d os q u atro n o i vos »,

o san to F re i An to n io d e Mar ia San tís s ima, se

De u s lhe d e r a i nda u ns m e s e s d e v i da, vai te r

do i s bap ti zados na sua cap e la» .

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0 ES PELHO

U n te m , na q uarta-re i ra d e br idg e d e M r s .

l lutchinso n,al gu em fa lo uda l o u c u ra do d r . Sou to

e da e n trada do pob re med i co n uma casa d e

saúd e d e L i sboa .

Conh e c ia-0 p e rgu n te i e uao i l u stre advo

gado Z . , que acabava d e at'

undar num a po l tr ona

o se usm ok in g e a sua i nal te ráv e l s e re n idad e .

Pe rfe i tam e n te . Fo ram os m e u s c r iados que

o e n tre garam a po l íc ia .

C o m o ass im ?

advogado Z . ati r o u pa r a c ima da m e sa. o

n úm e ro do Er cc l s i o r , que e s tava te ndo,c ru zo u

t'

:un i l iar nte nte a p e rna, e tambo r i lando sôb r e. o

j o e l ho com os s e u s d e dos ttno s,ch e i o s d e ané i s

d e mu l h e r,co n to u-nos :

—E tt conh e c ia ap e nas d e nom e o d r . So u to ,q uando , há ta lve z v i n te d ias , re c e b i a sua v i s i ta

no m e ue sc r itó r io . E ra u m c l i e n te como qua l q u e r

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o E S PELH O 27

o u tro : mand e i-o e n trar . Apare c e u -m e u m h om e m

al to , m agro , u m pou co c u rvado , v e s ti d o d e p re to ,com os om b ro s largo s e d e scarnados das c r iatu

r as h e rcú l e as qu'

e a d o e nça d e vasto u , um a bar

b icha ru i va e rala, u n s óc u l os d e m íop e , um a

c e rta d i sti n ção tím i da d e man e i ras . Du rante os

p r im e i ro s mom e n tos da nossa conv e rsa, não

ho u v e u m ge sto,u m o l har, um a palav ra que

p u d e s s e m j u sti fi car a mai s l e v e d úv i da sob re o

seu e stado m e nta l . Fa l o u da sua c l í n ica,dos s e u s

m e i o s d e fo rtu n a, da p e rf e i ta hono rab i l i dad e d e

todo s o s s e u s actos , da sua v i da inal te r ave lm cnte

e sc ru p u l osa,e,c omo se al o ngas s e e m d ivagaçõ e s

que m e par e c e ram d e m e d ío c re i n te res s e, p e r

gun-te i - lhe a que d e v ia o p raz e r da sua v i s i ta.

V inha co n s u l tar-m e,po rq u e ti n ha n e c e ss i dad e

do s co n s e l h o s d e u m advogad o ace rca d e fac to s

que co n s i d e rava e xtre mam e n te grave s . A sua

re p utação e os s e u s hav e r e s e nco n travam -se e m

p e r igo,porq u e d e te rm inada p e s soa,

cu ja idcn ti

dad e d e sconh e c ia a i n da, abu sava da sua s e m e

lhança f í s i ca co m e i e para p rati car ac tos e co n

trai r com p rom i sso s que o ar r u i navam e o d e so n

r avam . O l h e i—o , ja com c e rta e s tranh e za. A fac e

con traí ra-se -Ihe . Tr e m iam - lhe as mãos . Pe r gun

te i- the se se tratava d e fac tos av e r i guados , ou d e

s im p l e s s u sp e i tas . R e sp on d e u—m e que v i ra, e l e

p r óp r io , na rua d o Our o , ao vo l tar um a e squ i na

o hom e m que e s tava com e te ndo o rou bo da sua

p e rso nal i dad e , e que com e çara d e sd e e ntão a r e

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28 NA V IDA

co nh e ce r,com um a e v id ên c ia i n qu i e tan te , i n

fl nnc ia d ess e d e sco nh e c i do e m todos o s aco n

te c im e n to s da sua v 1da.

— « O m eu sós ia— con ti

u n ou e l e re a l i za man i fe s tam e nte acto s que m e

comp rom e te m,e e u j á s i n to , e m vo lta d e m im

,

a d e sco ns i de r ação e o d e sp rezo d e tôda a ge n te

D e se j o sab e r qu' m e i o s m e facul ta l e i para

ass e gu r ar a poss e e xc l u s iva da m i n ha fi s i o n om ia» .

Pe rc e b i d e s te l ogo -e e r a, d e re sto , fac i l — que

ti nha na m i nha p re s e nça u m i nd iv íd u o ano rmal .

Na nossa c l i e n te la d e advogados,são m e n os raro s

do que se s u põ e es te s ti pos d e D e r se cutó r io s e

d e que r e Ian-tcs, que p re te n d e m re so l v e r nos tr i

bu na i s o s i n c i d e n te s im ag inár i o s c r iados p e la

sua l o ucur a. P roc u r e i aca l ma- l o,e , ao m e smo

te mpo . e sc lare c e r,para tranqui l i dad e da m i nha

c o nsc iênc ia p ro f i ss i o na l , o que po rve n tu ra p u

d e ss e hav e r d e re a l e d e co n c re to nas ap r e e n

sõ e s d o m e u novo c l i e nte . Não fo rn e ce u u m

e l e m e n to,não p re c i so u u m fac to . L im i to u -se

re i v i nd i c ar,n uma e x c i tação c re sc e nte , que s

trad u z ia j á po r um a c e rta] an s i e dad e d e e xp re ssao ,

aq u i l o a que e l e chamava « o d i re ito d e p o s

sn i r um a fts io no m ia p ro p r ia» . T ratava—se , e v id e n

te m e n te , d e um lo uco . Par a pôr te rmo a um a

s i tuaçao que não pod ia se r -m e agradáv e l,l e van

te i-m e,d e sp e d i -o

, e d i s s e—lhe que não hav ia nos

cód igo s d i s pos i ção a l g uma que p ro i b i ss e d e te r

m i nado ind ivíduo d e se pare c e r f i s i cam e n te . com

ou tro . E le l e van tou—se também,c ump r im e n to u

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o ESPELH O 20

-m e , e co n c lui u , já. n o l i m iar da po rta, com po ndo ,com o s d e dos d e scarnad os e tr ém ul o sf o s s e u s

g ran d e s óc u l o s d e «d ro p — « T e re i e ntão,m e u caro

s e nho r, d e faz e r j u s ti ça p o r m i nhas mãos » . Logo

que v i sai r o d r . Sou to,av i s e i im e d iatam e n te o s

e mp re gados do e sc r i tó r i o d e que não to rnar ia a

r e c e be-l o se e l e vo l tass e . T r ês d ias d e po i s , vo l

tou. Como m e n e garam,d e ix o u d uas palav ras

e sc r i tas num cartão d e v i s ita. E stava re so l v i d o a

m e te r um a bala na cab e ça do d e sconh e c i d o que

« u s u rp ara sua p e rso na l i dad e »,e p e rgu ntava-m e

se pod e r iam sc r-lhe e x i g idas r e spo n sab i l i dad e s

c r i m i nai s p o r êss e acto i n e v i táv e l . Não l he r e s

pon d i . Passaram -se ta l v e z d uas s e manas . Um a

b e l a manhã , quan do e u saía do m eu quarto, o

c r iado an u n c io u -n te a v i s i ta d o d r . So u to . Co n

fe sso que não ti nh a p r e v i s to a e v e n tu al i dad e d e

e l e m e p rocu rar e m m i nh a casa.

— « Man do u -o

s ub i r ? n — « E s ta na sa la» , re s pon d e u -m e o

c r iado . Ia tran sm i ti r ao m eu s in i stro c l i e n te que

não pod ia re c e be- Io naqu e la ho ra qu an do o u v i o

ruíd o seco d u m a d e h-

m ação . D e po i s o u tra, e

o u tra. Co r r i . Na m e ia obsc u r i dad e da sala, d e s

fi gu rado,ar que jan te , u m r e vó l v e r e m pu nh o , o

pob r e d r . Sou to c r ivava d e balas sua p róp r ia

i mage m re fl e c ti da no e sp e l h o do i rado du ma cr e

d e nc ia . C i nco m i n u tos d e po i s . o s c r iado s d e sar

m avam —n o e e n tre gavam -no a po l íc ia.

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AN D R OMACA

Pa r a ch e g ar a ( laste l o -c ttiso , e m c u j o co u

ve utinho m e e sp e rava a mai s fi dal go ho S p ital i

dad e , e ra p re c i so atrav e s sar q uas i um a l égua d e

mon tados . A char r e tte d e i xoua e s trada e co rtou

t m ão d i re i ta po r um car re te i ro e s tre ito,roçado

d e fre sco n u ma e ncosta r óx a d e mato que ir ó .

Naqu e la tard e ard e n te d e j u nho,o so l e scal dava

e o m o um a labare da. Zumb iam m o scõcs, sc i n'ti

tan do . U tl l ch e i ro ac re d e u rz e ard i da, d e r e

s i nas qu e i madas , i m p re gnava o ar . Estávam os e m

p l e no montado,e m p l e na éc l oga al e n te jana. Lo n

ue. sob re umas te r ras ad u stas d e .ccn te i0 , p u tv e

rutc ntas como um a fo rm idáv e l toa l ha d e c i nza,

o i r o e spesso da atmosfe ra pare c ia re fe rve r ,o l e oso , baço , i r re sp i ráv e l . Pe rto

,com e çavam a

p e stic tt ld l' os sob r e i ro s , to rc i dos , d ob rados d o va

re j o d o v e n to,i mob i l i zados e m grand e s atitu d e s

h umanas . Fu i o l hando , quas i u m a um, o s tron

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32 NA v

e rgu e n do -se n o mosai c o do i rado d o céu . A son o

l euc ia da ses ta e a mono ton ia da pai sage m . e n tre

pastadas d e l u z e . comas d e sob r e i ro s , com e çavam

a i n vad i r-m e d um vago to rpo r . C e rre i o s o l h os .

Pass e i p e l o so n o . E n tão , uns lati d os l ongí nq uo s

d e sp e rtaram -m e ,v i ndos d e bai xo , da e ncosta

mansa d e az inho s que iam o s d e sc e ndo .

'

A so l i

dão , o há l i to ard e nte e d io n i s iac o da te rra, a p ró

p r ia s e re n idad e v i rg i l iana da natu re za to rnavam ,

não se i po rq u e , mai s co n f rang e do ra. ai n da e s sa

vo z d e an ima l d o l o ro so . E ra u m lad r i d o agu do ,s e g u ido d u m l ongo u i vo quas i h u man o , que to

mava,a m e d i da que no s ap rox im ávamos , um a

e xp r e ssão ma i s im p re ss i o nan te e mai s afl i ti va .

.l a íamos p e rto , d e re p e n te , um ch e i r o

nau s e abu ndo,u m ch e i ro adoc i cado d e cadáv e r se

m i s tu rou, no ar i mov e l , ao aroma b rav i o da char

n e ca. O l h e i,para u m e ou tro lado

,as mo i tas d e

e ste va a lapadas , as chas d e sargaço que f um e-ga

vam como e stru m e ao so l , a ve r dond e v i r iam

aq u e l e s u ivos d e tõba e aqu e l e bafo d e pod r i dão .

Não ti v e d e p rocu rar mu i to . N um côncavo d e

rocha i r rup ta ond e os grão s d e m ica fai s cavam ,

um cão mo rto , abati d o na vésp e ra a cajado , jaz ia

sob r e um a pe ça d e sangu e . T i nha a p e lage m

ru iva dos cãe s d e pasto r,a cab e ça ab e rta, as

patas h i rtas . Ao pé d ete , e n latn'

fcada, h i rsu ta ,

c o m as te las p e nd e n te s , o s o l h os v i d rados d e la

g r nnas, um a cad e la n e g ra u ivava c gan ia .

“,o n

s i d e re i , um i nstan te , a g rand e za daqu e la tragéd ia

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AND R ÓMACA 33

h um i l d e . O so l p r i n c i p iava d e c l i nar . R e voadas

tran qui las d e c e gonhas , pa i ravam . O car ro se

gu i u . Quando ch e gu e i a Cas te l o-V e nto so , — na

q u e b rada d i s tante,os lati do s d o pob re an imal

ouv iam -se ai n da .

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ANA PEREGRINA

A ú l tima g e ração que te v e,e m Po rtugal , o

cu l to da ati tu d e , o d e sd e m do p r e co nc e ito e o

e sp i r i to da an e cdo ta, fo i a moc idad e do i rada d e

t860 .

Um ve l ho am igo m e u co n to u -m e o n te m a se

g u in te h i stó r ia dos | ) t) l l S te mpos da sa ia d e bal ão

Um dos f re que nta do re s do Mar rare « d e po l i

m e n to » e r a,e m 1 862

,o moço D . José gran d e

tocado r d e gu i tarra,m u i to fi da l go e mu i to boêm i o ,

que b l asonava da c ruz d o b r o dos Me l o s e das se is

arru e las d e az u l d os Castros,e e m c u ja b e l e za

l o i ra, i n do l e nte ,f rág i l , q uas i fe m i n i na como a d e

ce rtos r e tratos d e Van D ic k , hav ia o s e sti gmas

d uma raça p re d e s ti nada a e x ti n gu i r-se p e la tub e r

culo se . Um a no i te ,es te rapaz

, que ch e go u a te

n e n te d e caval ar ia,e que v iv ia, a i n da e stu dan te ,

n um quarto a l u gado d o A rc o d o Mar quês d e Al e

g re te , co nhe ceunum bai le de m áscarasum aMim i

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A NA PER R G R INA 35

do Bai rro A l to , e n cantado ra rapar ig a d e 1 8 an os

chamada Ana P e re gr i na, que se to rn ou cé l e b re

mai s tard e p e la do l o ro sa e xp r e ssão com que can

tava o fado . apaixonou -se po r e la. e na p ro p ri a

no ite do ba i l e c on ve nc i d o d e que aqu e l e am our

san s l e nde m aín. d u rar ia a e te rn i dad e d e a l gun s

m e s e s . p rop o s-the a v i da e m com um e l e vou

ai n da ve sti da d e p asto r inha Ln fs xv , para o seu

pob re quarto d e so l te i rão . Quan do o s do i s , no

d ia s e g u i nte . aco rdaram para a co nsci ênc ia das

re al i dad e s d o mu ndo . e la l e mb rou -se d e que ti nha

e mp e nhado o seu ú n i c o v e sti d o e as s uas ú n i cas

botas d e duraque para pod e r v e sti r-se e cal çar-se

d e se tim côr d e ros a para o bai l e d e S . Car l o s e ,

e l e v i u -se ob r i gad o a co n fe s sar . d e po i s d e te r vo t

tado d o avesso to das as al e ib e i r as, que o d i nh e i ro

que possu ía não lhe ch e gava para o luxo i ncal

e uláve l d e d e s e mp e nhar fôs s e o que fôss e . Mas a

moc i dad e ,quan do am a.

não te m e x igênc ias que

não se jam as d o p ro p r i o amor . Passo u o Car

nava l , e aqu e la lua d e m e l co nti n u ou , e ntre r i sos

e b e i j o s , fado s e g u itarras . co m tão e mb e v e c i da

paix ão, que Ana Pe re g r i na te r ia ch e gado c o ns i

d e r ar -se fe l i z no seu« paraí so se m cad e i ras » , c om o

e la r iso nham e nte chamava ao quarto e m que v iv ia.

se a fal ta d e v e sti d o não lhe e sti ve sse tran s fo r

mando ess e parai so n uma p r i são . E la não pod ia

sai r mascarada; ê l e não lhe dava d i nh e i ro para

man dar bu scar a ro u pa . E a pobre rapar ig a, farta

de passar o s,d ias na cama e de i r ab r ir a po rta

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36 NA V IDA

ao pad e i ro ve sti da a Luís xv, com e çou a s e n ti r

e ssa vac a n osta l g ia cla l i b e rdad e , que p r i n c i p ia

q uando o amo r acaba . e que é quás i s e mpre ,

n e stas l igaço e s e rr-m e ras, a e x p l i cação fác i l d o s

b ru sco s romp im e n tos e das i nte rm i náv e i s sac i e

dad e s . Passou -so um mês . Urna o e as ião,os am i

g o s d e D . Jose . e e r to s todas as n o ite s n o s e g u ndo

i ndar d o A rco d o Marq u ês d e A l e gre te para ou v i r

can tar a Ana, c o m pad e e e r am-se d e la e coti za

ra in -se para d e s e mp e nhar-lhe o v e sti d o e. as botas

d e dur aque . A rapar i ga, só com a p rom e ssa.

'te ve

um a al e gr ia tão g rand e . que r i u , ch o rou . can to u.

dan ço u . b e i j ou—os a todos . e n ch e u aqu e l e quarto

d e e studan te d e ta n ta v i v e za e d e tanta g raça, que

o m e u vélho am i g o . ao contar-m e e sta an e cdotada sua moc i dad e

,l i nha a i n da d iante dos o l h o s a

hº n ra d e l g ada e quas i i n fanti l da Ana P e re gr i na,

s e n tada e m c ima da m e sa, ab raçada a gu i tarra

como a Fin e t'

te d e Watte au , e mostran do a m e ia

d úz ia d e rapaz e s . a. l u z d u m cand e e i ro d e latão,

os bu racos das s uas m e ias d e seda cô r d e

N e ssa n o i te,a saída,

D . José , ap re e n s ivo .e m b ru

l had o nu m gabão , ae o m panho u os am igos,d e s

( : l' l l (

'um e l e s até ao p r im e i ro patamar da e scada,

e. e m s e g red o , para que Ana Pe re gr i na não ou

v i ss e . p r e v e n i u -os :

Vocês d ê e m p e qu e na os v e sti do s que qu i

s e re m . m as não lhe d ê e m botas .

Po rqu ê

Po rque se e la se apanha co m botas , safa—se .

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ANA PEREGR INA 37

M e u ( l i lo,m eu f e i to . No d ia s e gu i n te ,

d e m a

nhã,Ana r e c e b ia o seuv e s ti d o d e p e k i n v e rd e co m

r i scas cô r d e c e re ja, e se u e no rm e ba l ão , e se u

chapéu d e pa l h a d e I tá l ia com r o s inhas d e tou car ,

e —0h,f e l i c i dad e l — as s uas s u sp i radas bo tas d e

dur aque c i n z e n to , p e sp o n laf las d e b ranco , ab o

loadas ao lado , p e qu e n i nas como ca i xas d e j ó ias .

N e ss e m e smo d ia,

— t'

ug i u d e casa e n i ngu ém

ma i s a v i u . Q uan do a n o i te os am igos ch e garam ,

José,m ui to pá l i d o

,a arr e p e lar-se e

'

a ch o rar

como um a c r iança, g rito u - l h e s :

E u b e m l h e s d i z ia a vocês que não se pod e m

dar botas um a mu l h e r !

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A MULHER DE BR ANCO

Q uand o d e sc i o Ch iado com o m e u co l e ga d r .

e ram 1 1 ho ras . Vínhamos d e as s i sti r a o p e

r ação d u m nosso ve l h o am igo,u m hé rc u l e s que

caí r a ,as p r im e i ras go tas d e c l o ro fó rm io , r e c i tand o

ve rsos d e H o rac io . Estava um a manhã adm i ra

ve l d e p r iu'

i ave r a. Quan do passávamos d ian te da

R e na rd , um a s e nho ra,d e . d e n tro d um auto nu

'

ive l

parad o chamou o m e u co l ega. Eul r e l ive -m e a

o lha- lo s, e m quanto Co nv e rsavam : ê l e , r i so nho .

bru sco,fam i l iar

,a g o la du casacão l e van tada, as

mãos nas a l " ib e i r as, a vo l ta do guarda-ch u va pas

sada no b raç o ; a1a, n o va,l o i ra

,v i n te e o i to an os

ta l ve z,u m pou co masc u l i na, u m tr oue ur b ranco

u m as l u vas lar g as ( l e camu rça b ran ca,u m p e ti t

m arq u is b ranco pos to a banda na cab e ça, c omo se

a « Mu lh e r d e branco » d e J oh n Op i e , com os s e u s

cabe l o s d e fogo e o s s e u s o l h o s d e laiança, s u r

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40 NA V ID A

s e u s grand e s o l h os pardo s, que pare c iam azui s

v i vo s na sombra d o chap éumo l e d e v e l u d o .

Não se i .- Po i s eu lhe co n to . I n fe l i zm e nte posso-o fa

ze r,po rqu e e l e mo rre u -m e n os b raços . Fo i um a

tragéd ia ob scu ra,m eu am igo

,m as fo i um a

g rand e tragéd ia

q uan to d e sc iam o s a rua do Carmo , o d r .

S .

,co m 0 m e sm o ar b ru sco e sacu d id o d os se n

g e stos e das s uas passadas , con to u—m e , comov id o

a i n da,a mo rte do n osso p ob re co l e ga. Du ran te

todo o te mpo que e l e fa l o u , n e m u m só m om e n to

a grac i o sa fi gu ra da mu l h e r d e b ranco , com o

seu p e l i t-m arr quis à. banda sôb r e a grand e m an

cha f u l va dos cab e l o s , d e ix o u d e passar d ian te

dos m e u s o l h o s,so rr i n do

,como um a obs e ssão .

-V0cê tal ve z sai ba que o R e nd u fe , qu ando

ti nha v i n te e tres , v i n te e quatro an os , e ste v e

parap l eg i co . Tal ve z um a co i sa e sp e c í fi ca,po rq u e

o rapaz trato u -se e m e l h o ro u . F icaram umas i n

co o r d e nacõe s d e mov im e n tos , u mas d e so rd e n s d e

s e n s i b i l i dad e,aqu e la marcha l ig e i r anu

-n te e spas

m o d i ca que vo cê lhe co n h e c e u , j á um po u co m e

d ificada,um pou co co rr ig i da nos i

'

i l tim o s anos .

( lomo no s,méd ico s

,não p e r c e lnn no s nada d e

do e nças,d i s s e -lhe que car re gass e no iod e to e que

fôss e v ive ndo . Um b e l o d ia, tal v e z u m an o an te s

d e mor re r, o R e n du fe p roc u ro u—m e e m casa .

Vi nha ma i s pá l i d o d o que d e costum e,e m b ru

thado n um grand e casacão e scocês , um a b roch u ra

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A MU LH ER D E BR ANCO

amare la d e bai xo do b r aç o . F e chárno -no s no e s

c r i te r i o . O s u o r borbu l hava-Ihe da te sta, as

mãos tre m iam -lhe s ôb re a vo l ta d e o i to da be n

gala . V i nha p e rgu n tar-m e,so b o mai s abso l u to

s i g i l o , se e u e n te nd ia que e l e pod ia"

casar-se .

Eramos do i s méd ico s — d iz ia e l e d e v íamos fa

lar com f ranqu e za um ao o u tro . Exp o s -m e,com a

mai o r l u c i d e z, o seu cas o c l í n i co ; fe z , d e sd e os

v i nte e três an os , a. h i s tó r ia da sua anti ga paral i

sia ; co ntou -m e a s i tuação e m que se e nco n trava,

no i vo d uma m e n ina d e sd e a i n fân c ia d e ambos ;i nvocou comp rom i s so s d e fam í l ia

,razõ e s d e i n

te r e sse e d e s e ntim e nto ; mos trou -m e, co m o s o l h os

e mbac iados d e l ág r imas,o re trato da s e nh o ra que

você acabo u d e co nh e c e r —e como e u lhe d i s

s e ss e , com tôda l ialdad e, que m e par e c ia m e

l h o r d e s i sti r d o seu casam e n to , ab raçou -m e,c on

co rdo u c om igo,fa l o u vagam e nte d e tube s do rsal ,

p e d i u -m e u mas fl o re s que e u ti n ha sôb re a se

c re tar ia, e saí u . D aí po r d iante n u n ca mai s ta

lamos e m s e m e l han te ass u n to,ne m no laborato

r io, ne m n o hosp ita l . Pas saram -se d e z ou o nz e

m e s e s,

—e um dom i ngo , po r acaso , n uma e xpo

s i ção d e aguare las,e ncon tre i -o com um a rapar i ga

l e tr a p e l o b raço e um a s e nho ra d e i dad e a tras .

E ra a n o iva. Ap re s e nto u—mc . « Sab e Casamos

ainanhã» .

—F i q u e i e span tado , a o l har para e l e .

No d ia im e d iato , não apar e c eu. . No outro d ia,l i

a n otíc ia d o casam e n to e m todo s o s j o rnai s . Três

d ias d e po i s,a e n fe rm e i ra d i s s e -m e que e l e ti n ha

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42 NA V IDA

e n trado no labo rató r io , d e s figu rado , pá l i do , ques e ti n ha fe chado po r d e n tro

,e que saíra passadas

duas ho ras , a camba l e ar . Quan do ch e gu e i,na ta rd e

s e gu i n te , d i ss e ram -m e que e l e j á e stava . F u i ba

te r - lhe . a po rta : não re spond e u . Bati d e novo : s i

lênc io . Cham e i -o : um ti r o soo u,seco

,ráp i d o ;

d e po i s , o baqu e d um co rpo ; e m s e gu ida, u m ti

l intar d e v id ros . Os c r iados co r re ram,m e ti e m

bro s a po rta .H m e n pob re am igo e stava caí do

« l e -b ru ços,como u m far rapo , j u n to a m e sa d e m i

c r o sc o p ia ond e sc inti lava a armad u ra d o se u m a

g n ífic o R e i ch e rt. A b l u sa, chamu scada no p e i to ,ard ia . A v i tr i n e dos re age n te s e stava ab e rta . V e

r i fi que i que e le re s p i r ava ai n da . M e ti - lhe as mãos

m água q u e n te ,agar re i—o e m peso , ati re i-0 para

u m au tom o ve l e s e gu im os par a o hosp ita l d e S .

J ose . Mo rre u a m e i o d o r am inh o,com a cab e ca

e nm stada ao m e u p e i to .

- E a mu lh e r - i n q u i r i .t t « Ir . .N

'

, so r r i u ,e nc o l l icnd o os ombros :

- Nun r : i p e rc e b e u a razão po r que e l e se

mato u .

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A CONFIS S Ã O

Le mbro-m e , com o se fôsse hoj e , d e o u v i r D .

A n tón i o d e o ve lho p r e lado c u ja cabe ca tan to

l e mb rava a d e Bossu e t e d e ba i xo d e cuj a niur e a

roxa batia u m dos mai o re s r e rae õ e s da E spanha.

con tar êste s e n ti d o e p i sód i o da sua v ida :

Mu i to an te s d e se r B i s po , quando'

e u paro

q u i o va n u ma das f re g u e s ias. d e Li sboa,f u i , não

se i ai n da b e m porq u e,o co n fe sso r qu e r i d o das

mu l h e re s . E '

um a ( IIS l tnÇãn que o s pad r e s , e m

g e ral , d e v e m ma i s ao s s e u s d e fe i tos do que as

s uas v i rtu d e s . Já l á vão qu are n ta anos ; passaram

sobr e a m i nha cab e ça o s traba l h os d o e p i scopado

e os ge l o s da v e l h i c e ; ch e gu e i a i dad e e m que os

hom e ns vê e m c laro na sua v ida e na sua co ns

c i enc ia,

— e a i n da hoj e,quan d o p e n so no s mo

ti vo s que te r iam l e vado as ma i s e l e gante s m u l h e

r e s da L i sboa d e 1 876 a p re fe r i r-m e a tantos sa

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li li NA V IDA

c e r d o te s Vé lhO S e v i rtu osos,não se i , e m v e rdad e ,

se d e vo l o uvar-m e,se p e n i te n c iar-m e . D e u s m e

p e rd o e os p e cados da m i nha va i dad e , e m e l e v e

e m d e sco n to de l e s a gran d e p i e dad e h umana co m

que p roc u r e i s e rv i-l o no m eum in i sté r i o . I gno ro

se o s bon s c on f e sso re s d e ve m se r como e u f u i .

a m i nha bondad e natu ral , o m euvago id e al i smoc r i s tão d e tran smon tano

,a m i nha compai xão p ro

f u nda po r todas as do re s mo rai s,l e varam -m e i n

s e n s i ve l m e n te a re v e s ti r o sac ram e n to da p e n i

tên c ia d uma e x p re s são d e h umana doç u ra,d e

aco l h e do ra to l e rânc ia, d e compas s i vo amparo e s

p i r itual , que s e r ia tal v e z a razão da m in ha fo rtu na

d e pad re e l e gante,se u m c e rto m u n dan i smo d e

batina e d e man e i ras , e u m cul to m e nos mod e sto

d as te mpo ral i dad e s , não bas tas s e m para e xp l i car

a atrac ção c u r i o sa das mu l h e re s e o favo r i n stá

ve l da moda . Para m im,a con fi ssão n ão e r a u m

sac ram e n to au ste ro : e ra um a co n fi dênc ia tranquil izad o r a ; quando m u i to , um co n s e l h o d e l icado e

pate rna l ; s e mp re um so rr i so e u m p e rdão . Não

se i a i n da hoj e , que so u B ispo e so u ve l h o , se ess e

ca r ác te r d e i n ti m idad e to l e ran te e d i sc r e ta s e rá

o que ma i s co nvem a d ign idad e sac ram e n ta l da

co n fi ssão ; m as basta—mc c e rte za d e que é o que

mai s se co n fo rma c o m a doç u ra da car i dad e c r i stã .

Para qu e,magoar p u do re s

,v i o l e n tar con sc i ên c ias ,

re p re e nd e r , p e n i te nc iar, am e açar co m a i r a d

D cns D e u s , se ti v e ss e d e ou v i r o s p e cados d uma

mu l h e r,o uv ia-os so rr i n d o . Pob re s c r iatu ras d e

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A CONF ISSÃO 45

frag i l i dad e , de ino cênc ia e d e g raç a, 56 D e u s sab e

que te mp e stad e s d c dô r as traz e m as v e z e s ao s

n ossos p e s .

— e como um a so palav ra n os s a d e

con so lar ão e sp i r itu al p od e faze—las r e nas c e r para

a fé . para. a v i rtu d e . para a v i da ! U m a cad e i rad e c on fe s so r e um tratado d e ps i co l og ia fe m in i n a .

0 ma is d ifíc i l não é sab e r ou v i r o que um a m u

lhe r no s d iz : é comp r e e n d e r o s se us s i l ên c i os : e

i n te rp re tar . as su as lág r im as : e ad i vi nh ar a e x

p re ssão das suas p álp e b r as d e sc i das : é sab e r ou

V i r tu do aqu i l o que e la que r con fe ssar-n o s— e

que não te m . às v e z e s , fôrça para n o s d i z e r . H e i-d e

l e mb rar-m e se mp re d um a das m i nhas ant i g as p a

r o quianas, a s e nho ra co nd e ssa d e M .,euias lá

g r i mas . u m d ia, fo ram tão e l oque nte s . que a co n

te s se i e a abso l v i se m que e la p ronunc ias s e um a

ú n i ca palav ra . Nunca cu m p r i m e n os canón ica e

mai s h u manam e nte O m eu d e v e r d e pad re . E r a

um a mu l h e r a l ta,l o i ra. i m pass ív e l , c u j o p e rfi l .

m ai s che i o d e raça,do que d e b e l e za. faz ia p e n sar

vagam e nte na d i sti n ção d e c e rtos ti p os da casa d e ,

Áustria e na tr ansp ar ência d e c e rtos má rmor e s

côr d e rosa . Conh e c ia-a d o m u ndo o bastan te ,

para sab e r a h i sto r ia do seu casam e n to com o

co nd e d e M . e das s uas l e v iandad e s com um m o e o

te n e nte d e cavalar ia, b e l o rapaz , que b las onava

da c ruz-dob r e e d o s s e i s b e san te s d e p rata d o s

A l m e i das . Co i sa c u r i o sa : hav ia do i s anos que

e la e r a m in ha co n fe ssada,e nu nca se re fe r i ra.

se não dum a fo rm a obsc u ra, e ssa l i gação que

tinha pr i nc ip iado p o r um cap r icho e que aca

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116 NA V IDA

bara p e l a ma i s fnn e sta e c r im i n osa das pa i x õ e s .

U m a b e la manhã, l ia e u o jo rna l , quand o v i a

notíc ia d e que um te n e nte d e cavalar ia d e ap e l i d o

M m e ida, ao e n sa iar no p i cad e i ro d o Paço d e B e

l em u n s j ogo s d e canas , e afr a d o caval o e morre ra

i n s tan tan e am e nte . Baco r e j ou-m e o co ração que

e r a e l e ; e . hab i tu ado . como e stava,a se r o co n

fi d e n te d e todos o s amo re s i n fe l i ze s,fi qu e i e sp e

rando,fi e l m e n te . a h o ra da m i ssa, a v i s ita i nfa

tive l da m i nha nob re paroq u iana . No p r im e i rod ia, não ve i o . No se gu nd o

,tambem não . Apa

r e ce n ao s tr ês d ias , to da v e sti da d e p r e-to

,u m

l i v ro d e m i ssa na m ão .

,

u m véu e spesso p e la fac e

m as tão d e sfi g n r ada , tão mu dada d e voz , que so

a re con h e c i p e l o p e r fum e d os cab e l o s , um p e r

fu m e qu e n te . caracte r ísti co , que as v e z e s e n ch ia

l e da a i g re j a. Qu i s que eua con fe ssass e co m ur

g e nc ia . Com o o co n fi ssi o nar io e stava s e rv i n d o ao

c oadj u to r,l e v e i -a para a sac r i stia, ass e n te i -m e

n uma cad e i ra d ian te dos aro az e s , mand e i -a aj o e

thar ao s m e u s [nªs , al i m e smo,e ntr e d uas

Ie r r inas do R a l o ch e ias d e . fl o re s , p re pare i -m e

para a o u v i r d e com i s são . Quand o e ssa p o b r e

mu lh e r l e van to u o vou que . a cob r ia. a sua pal i

d e z. os se us O l h os s e cos e b r i l han te s , a sua . ti

tud e c r i s pada d e d o r , c o m pung i ran I-m e . Ab e ne m da f l s lani e s tr e m iam - lhe : os cab e l os ti nh am- |he e m b r anq ne c id o nas fo n te s : o o l har Fixava—se

rn m im , i m o v e l , n uma tão i nq u i e tan te e xp re s

sao d e angús tia e d e sú p l ica, que e u ti v e à i m

pre ssao v i va. con frange do ra, e xacta, d uma c r ia

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O GENERAL

M inha que r ida Tia

Esc re vo—l he ai nda m u i to i mp r e ss i o nada e com

os o l h os i n chado s d e ch o rar . Morre u e sta manhã

o pob re g e n e ra l Bar re i ro s . A e s tas h o ras j á a Tia' l e ve te r re c e b i do o m eu te l e g rama p e d i nd o - lhe

o favo r d e m e mandar o v e sti d o p re to d e c rep e da

e o chapéu p re to , grand e , da mamã . Eu

e d uas am igas m i nhas, a fi l ha da V i sco n d e ssa d e

S Dâmaso e N e l l y,r e so l ve mos pô r luto po r

um a s e mana . A N e l l y,c o i tada,

te v e u m ataqu e' lo n e rvos e passo u mu ito m al . N u nca i mag ine i ,m i nha q u e r ida Tia, que a morte d uma p e ssoa

que não e r a da nossa fam i l ia e que e u conh e c ia

há m e nos d e u m mês,pu d e ss e im p re ss i o nar—m e

e comov e r-m e tan to .

Mas qu e m e r a o ge n e ral Bar re i ro s ? —p e r

guntará sua c u r i os idade . Por que m e causou

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o GE NE R AL 40

a morte , d e l e u m d e sgaste tão grand e ? E '

o

qu e th e v e nh o c e nkug rn inha'

TuL c e Na. d e ( pu3 a

sua bo ndosa al ma não n e garaum a lágr im a e um a

o ração a m e mória d o nosso q u e r i do mo rto . A

T ia co nh e c ia-o , ta l v e z , d e o ve r po r L i sboa. E r a

u m ti p o d e vi ene -gar çon ,al to

,e l e gan te , b e m ve s

ti d o , s e ss e n ta e (urna) ano s se tan to , c e ru) no

Ch iad o as 5, um dess e s ve l h os m u i to d i sti ntos

que v i s to s p e las co s tas par e c e m rapaz e s , que te e m

ai n da,po r i n sti nto o u po r e d u cação

, a p r e nda

rara d e sab e r co nv e rsar com s e n h o ras , e que nós ,as rapar igas da m i nha i dad e

,achamos as v e z e s

m u ito mai s i nte r e ssan te s do que os rapaz e s n ovos .

Qu an do l he fu i ap re s e ntado aqu i nas P e d ras S al

gadas , j á o co nh e c ia d e v i sta,

—do chá da Mar

qu e s e da m i ssa da 1 ho ra. An te s d e lhe fa lar

p e la p r im e i ra ve z ach e i - o u m pou co r i d íc u l o , um

pou co m ouche m i e l , com o seuap ru mo, o s se u s

e unqn únunuo s d e pés junhua as s uas p o knnas

amare las , a p r e s u n ção que e l e ti nha nas mãos ,

m u i to brancas,m uito b e m tratadas , mu ito ch e ias

d e ané i s . Mas d e po i s d e conve rsado , m i nha qu e r i

da Tia, não i mag i na que d i sti nção d e m an e i ras ,

que d e l i cad e za r e sp e i to sa, que tr ate i n s i n u an te ,

que v ivac i dad e d e e sp í r i to, que e ncan tadora moc i

dad e a daq u e l e s cab e l o s b rancos Todos o ado ra

vam— e sp e c ia l m e n te as mu lh e r e s . E r a i n te re ss e n

te vê- l o n o ( ]as iao ,s e mp re rod e ado d e r apar igas

novas , r i n do , co nv e rsan do , dançan do como um

rapaz , um so rr i so a um a,um bo nbo n a outra,

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50 NA V IDA

« [ r aul e in G e n e ral » , como lhe cham avam as mãe s

ao e n tre gar- lhe co nfl adam e nte as fi l has , « G e n e ra l

ho nbo nn i e r c »,como ê l e se tratava a s i p róp r i o

,

um pou co con fi d e nte,um p o uc o pai , u m pou co

m e str a al e mã, u m pon e i » namo rado d e no s to das ,- e cada ve z mai s d i sp u tado

,ma i s acar inharl o ,

m ai s p e rd i d o d e m imo po r to das nós . N un ca su

pu s que . n u m ve l h o p u d e ss e have r tão g ran d e s

qua l idad e s d e se d u ção . Mu i tas das m i nhas am i

g as atr i bu íam o e ncan to d o ve l h o g e n e ra l a au

reo la d e que o c e rcavam a i n da o se u passado d e

conq u i stado r e a sua -v i da m i s te r i o sa d e so l te i

rão e l e g an te . Ta l ve z . O que é c e rto,m i nha T ia,

e que , d e po i s d e o co nh e ce r , e u fiqu e i faz e ndo

um a i d e ia d i fe re n te da v e l h i c e ,

—um a ou tra

i d e ia m ai s d oc e , m ai s a l e gre , mai s atrae n te , m ai s

car i nh osa, a i d e ia d e qu a l q u e r co i sa que so r r i ,

que

am a, que acon s e l ha que abso l v e, que p ro

Um a d e stas manhãs há o i to d ias o ge n e ra l

não apare c e u no Parq u e , como costumava. A

tard e , d i ss e ram -m e que e l e e stava g rave m e n te

do e n te . Co r re mos ao hote l,e u. a N e l l y , e . mai s

c i n co ou s e i s rapar igas . O méd i co , que v e i o r e

c e b e r-nos , fal o u vagam e n te e m ar té r io -sc l e ro se ,

e m o rg an i smo gasto , e m mo rte p r t'

ix im a. Quand o

o v i , r cco s lad o na cama,fe z-m e i m p re s são a. sua

pa l i d e z . Iªlsp e r ava—o — d i ss e ête o fi m ho rr i v e l

das c r iatu ras que e nve l h e c e m se m afe cto s e que

mo rre m se m lar . Não re c e ava morte ; m as ti n ha

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o GENER AL 51

medo do i so lam e n to e d o abandôno . P e rc e b e

rn o sd he no s «dho s,rukz tôdas o e ho d e d uas

l ágr imas . D e sd e e ssa tard e m i nha T ia,não o

d e i xam o s m a i s . Acabou pa ra nós o Cas i n o e o

Parque . Vi ve mos d u ran te o ito d ias,como um

so rr i so , a sua cab e c e i ra . D e d ia. e stávamos todas :d e n o ite fi cava um a so , po r e scala co m u m c r iado

e um a c r iada d o h o te l . S e fôss e mos fi l has d e l e ,não tí n hamos s i d o ma i s d e d i cadas n e m mai s e a

r inho sas . Euchiam cs-lhe o q uarto d e fl o re s . Lia

mos- lhe os l i v ro s d e que ê l e mai s g ostava. Dava

mos—lhe d e c om e r como a um a c i ranca. E l e,e m

troca, so r r ia e b e i java—nos os d e do s . H oj e,d e. m a

nhã, quan d o eu, a Ne l lv e a fi l ha da v i scon d e ssa

d e S . Damaso l he l e vávamos um cºp o d e l e ite

re c u sou,p e d i u u m e sp e l h o , compôs l e ve m e n te os

cab e l os , re c osto u—se m e l h o r na cab e c e i ra da cam a,

ape rtou m u i to as no ssas mãos nas d e l e , o l h o u -no s ,

o r a a u r na o r a a_ (uura, co ni'

unaae xp re ssão d e

te rn u ra e d e grati d ão i n fi n i ta, cor re ram-lhe d uas

l ágr i mas p e la face , e d i ss e -no s, quas i num m ur

mur i e z— N u nca j u lgu e i que fô ss e tão agradáv e l m o r

r e r l

[ hn insuuue d e p oua a cab e ça huahuur se d he

sôb re o p e i to,

e fi co u . T ive mos,nós tôdas,

a im p re s são d e que e l e morr e u fe l i z . Não se e s

qu e ca,m i nha qu e r i da Tia,

d e re zar um pad re

nosso p e la sua al ma.

Sua sob r i n ha mu i to am iga,—H e l e na .

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A S OMBRA

O sarge nto Joaqu im s e gu i ra para F rança com

as p r im e i ras tropas portugu e sas d e stacadas .

pai s , do i s ve l h os que v ivi am d e um a l oja ( 1

cap e la e m San ta—Comba,e que não possu íam ou

tr a a l e g r ia n e m ou tra r i q u e za que não fô ss e

o rg u l h o daq u e l e fi l h o , ti n ham ido l e var- lhe

d e sp e d ida,

ao combó i o , o seu ú lti mo ab raço .

Quando o ap e rtaram ao co ração , o moço sar

ge n to,com os O l h o s b r i l hante s , so rr ia. Mo r re r ?

Qu e m fa lava al i e m morre r ! H av iam d e vo l tar

tod os os que, tive ss e m mã e s a cho ra- l o s e a

ab e n çoa- l o s . Po i s , e ntão ! E n o e xtre mo ad e u s ,sob re o e str i bo do vage m , e mbru l hado n o grand

capote c i nz e n to que faz ia pare c e r mai o r a sua

e s tatu ra, d iz ia a i n da a m ãe, que lhe b e i java as

mãos e l has m o l l i ava d e l ág r imas :

Vo c e n i e c e v e rá,m ãe , que e u h e i—cl e e s tar

to das as no i te s na sua cam panhia l

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A som am 63

D e co rre ram o i to oud e z d ias . O s do is ve l h os ,

e ntre gu e s a dôr d o seu apartam e n to e a doç u ra

da sua saudad e,passavam u m d e fro nte d o o u tro

o s l o ngos s e rõ e s d e i n v e rn o , calados , e la e o

z e n do rou pa a m e sa,e l e s e n tado n u ma cad e ir a

d e pal ha, co m o gato no s j o e l ho s,a l e r , a l u z

d e u m cand e e i ro d e p e tró l e o , o s j o rnai s que fa

lavam tanto da gu e rra e nun ca traz iam o nom e

do seu fi l h o . Um a b e la n o i te , a ve l ha cap e l i sta,l e vantan do o s o l ho s da costu ra

,re parou n u ma

s omb ra que se al o ngava na pare d e bran ca,ao

lado da po rta, e que s e m e l hava, na sua i m p r e

c isa fl u tuação , u m vago co n to rn o h u mano . A

p r i n c íp i o c u i d ou que e r a a sombra no mar i do ,e não d eu mai o r ate nção ao caso . M as quan do

ch e go u a ho ra d e se d e i tare m e o ve l ho se l e

vantou da cad e i ra,a pob re m u l h e r noto u , c o m

e stranh e za, que a man cha n e gra co n ti n uava a

a las trar n o m e smo s íti o da pare d e , com o se fôsse

p roj e cção d u m co rpo i nv i s ív e l para e la.

Que som bra e aqu e la,João ?

O r a e ssa ! E '

a tua.

Có m o pod e se r i s so , se e u e sto u des te lado

da l u z

O ve l ho ca l o u -se,co n s i d e ro u d e moradam e n te

casa e os móv e i s , o l ho u par e d e , ti ro u d e c ima

da m e sa um a can e ca a l ta d e l o u ça,fe cho u a

po rta d u m armá ri o , ar re do u d e d ian te da l u z

tudo quan to pod e r ia p rod u z i r aq u e la p roj e cção

i n e xp l icave l,m udou o l ogar d o cand e e i ro

,— e a

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54 NA VID A

somb ra co n ti n u o u na pare d e caiada,d e f ro nte

de l e,mai s n ítida e mai s fi xa ai n da, na vaga co n

fo rmação d uma fi gu ra d e hom e m . E ra talv e z

a l gu em que e sp re i tava da rua,

— p e n so u o ve l h o ,assomando j an e la. Mas na rua não hav ia ne

nh um lam p e ão ac e so ; não passava v iv'

alni a ; e,

d e po i s d e fe chadas as portadas d e d e n tro , a som

b r a p e rman e c e u d ian te dos do i s ve l h os, que se

o l haram,i móv e i s d e assombro . Passaram-se mo

m e n tos dum s i l ên c i o angu s ti o so . H o uve um i n s

tante e m que a mancha da pare d e pare c e u alas

trar , fl u tuar como a sombra d um capote vare

j ado p e l o v e n to . D e re p e n te , a pob re m u lh e r ,

que tre m ia, e ncaro u o mar id o , a fi s i o n om ia tr ans

fi g u rou-se - lhe , e , num a. e x p re ssão s imul tan e a

m e n te d e te rro r s u p e rs ti c i oso e d e te rn u ra m a

te r na, mu rm u ro u d e mãos po stas :

Pare c e a somb ra do n osso fi l h o,J oão !

E l e o u v i u e r e sm u ngo u,p r e oc u pado , e nc o

Iti e nd o os omb ros :

T e ns imag i naçõ e s , mu lh e r !

I taí p o r d i ante,inatas as no i te s , l á e s tava a

m e sma so n i b ta. na pa r e d e branca, j u n to d a

po rta . E r a j a a com panh ia dos do i s ve l hos,ao

s e r ão . E l e e ntr e tiuha-se faz e ndo e xp e r i ên c ias

co m a l u z , a ve r se a somb ra se d e s l ocava p e l o s

mov im e n tos d o cand e e i ro . E la não ti rava os o l h os

daqu i l o que s u pu nha a image m l ongí nq ua do l i

l h o , e tôdas as no i te s , an te s d e se d e i ta r, as e s

co nd idas d o ve l ho cap e l i s ta, b e i java e m s e gredo,

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D IS TR AC ÇÁU

se são f e l i z e s o s que casam p o r amor

d i ss e M .

" Vargas,e n te r rada no seu cad e i rão

B ro u gham,ba l o i çan do n o ar u m p e q u e n i n o p e

r ate ado d e b ranco .

Pare c e -m e,m i nha s e nho ra, que só são te

l i z e s os que casam p o r co nve n i e n c ia— se n te n

c iou a r e r te vícitl e ssc do ge n e ral Pe ssanha. d e

m o no cul o,b rand i nd o o stick .

O m eu am igo v i sc o nd e d e que ass i stia a

d i sc u ssão s i l e n c ioso , i nte r e ssado , r e co s tou -se m e

l h o r na cad e i ra,mach u co u as l u vas sôb r e o t a.

tão d e o i ro da b e nga la,

e con c l u i u , c o m o a r

mai s co nv i c to d o m u ndo :

E u e nte ndo que só são f e l i ze s os que e a

sam po r d i strac ção .

Oh Oh

M .

“ Vargas p ro te sto u r i n do . A saia azu l d e

M .

"º Yvon n e d e sapare c e u . O v i sco nd e d e dc i

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D IS TRACÇÃO 57

x ou passar a o n da, e p ross e gu i u , tranqui lam e nte

,e nco lhe n do o s s e u s largos ombros d e hér

c u l e s gr i sal h o :— Fo i o que m e s u c e d e u a m im . V . e x .

"sa

b e m como eu so u d i straído . Po i s b e m . Um d ia,

p o r d i stracção , cas e i -m e,

—e afl r m o a v . e x .

"

que n u n ca s u p u s que p u d e ss e e x i sti r al guém tão

fe l i z c omo eusou.

D e -ve ras ?

E u l h e s co n to .

O so l ac e nd ia c larõ e s nas br ise -bíse d e seda

v e rd e . Um a gata fran c e sa do rm ia s ôb re as al

mofadas d o so fa. O ge n e ral s e gu ia co m o o l har

o pé n e rvoso e cal çado d e b ranco d e M .

" Var

g as . v i sc on d e con ti n u o u :—Não é s e gred o para n ingu ém que e u até

ao s 11 0 anos não cas e i p o rq u e m e d i stra i . Viv ia

c om um a tia ve l ha. tão d i straída como eu,e ,

até que os p r im e i ros cab e l os b rancos apar e c

r am ,r e sp i r e i

, a p l e nos p u l mõ e s , marav i lh osa

d e l í c ia d e e g o ísm o e d e comod i dad e que e a v i da

d e so l te i ro . Mas um d ia a pob r e s e nh o ra, p o r

d i stracção , mo rre u d uma sínccp e card íaca,e u

e nco n tr e i—m e so , e como m e par e c e u que s e r ia

m e nos p e sada a so l idão se fo ss e v i ve r para Lo n

d re s ,. re so l v i faz e r as ma las,a l ugar mob i lada

a m inha casa do Cond e d e R e dondo , e parti r

para I ng late rra . Logo n o p r im e i ro d ia e m que

p u s e sc r itos , a casa a l u go u—se . C o nheºe m u n s

e ncantad o re s ti p os l o i ro s d e b ras i l e i ra, raros e

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58 NA VIDA

paradoxa i s, que te e m o s cab e l o s ce nd r ado s das

ho land e sas , os o l ho s d e h u l ha das car i ocas , e

cu j a p e l e , na mo rd e d u ra d e o i ro da l u z , l e mbraao m e smo te mpo a po l pa d u ma ro sa e as m an

e l i as rulvas d o âm bar c i nz e n to ? Po i s e r a ass im

a m i nha i n q u i l i na,um a b ras i l e i r i nha d e 2

anos

que v iv ia com a m ãe . Comp rom e ti-m e dar

- l h e s a casa no d ia 5 d e marco , — p re c i sam e n te o

d ia e m que e u d e v ia e mbarcar para I ng late rra .

Mas d i stra i-m e,l iz co n fu são com a ho ra d e e m

barq u e que m e ti n ham dado na ag ênc ia, d e mo

r e i-m e a re c e b e r e a i n s talar M .

m e Bar roso e a

1 i l ha,

— e q uando,fi nal m e nte

,ti v e con sc iênc ia

d e m im , e s tava no T e rr e i ro d o Paço , rod e ado d e

m a las,s e m paq u e te

,se m casa, e

—o que e ra la

m e ntáve l — s e in l'

ó r ça mo ra l para tomar um a r c

sul in; au. Evute ute ui cntº ,não hav ia d e i r i noo

moda r as m i nhas i ; qui l inas . Fu i para um ho te l .

Enco n tre i tl l l l an tigo d o A l garv e que não v ia há

d e z anos , e que m e fal o u do i d e a l i smo d e Bus

k in das a ruuiç i'

i e s d e atu m . J aulam o s j u n tos .

Iºuluus jun tus ao te atro . tir amos j u n tos . A s 3 dauuul rug zu

'

la d e ix e i -o l l tl l l l c lub qual q u e r , e n tre

um a [ m uc o sa mag ra e um a ge l e i ra ch e ia d e

t'

lm m puyue ,—e d i s traíd o

,fatigado , com os o l h os

a l'

e r l i a r cn i -se -m e e a lul ca a sab e r-mc a fe rro s '

ve l h o . S l l l l i pa ra um mand e i s e gu i r

pa r a a rua d n tlo nd e d e Ii '

tl o udu,27

,ap e e i -ul e

,

pague m nu-l i a chav e ao tr i nco , e se m m e passar

s e q u e r pe la cabe ça que ti nha p e rd ido o paqu e te ,

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D ISTRACÇÃO 59

que e stava n u m hote l e que a m i nha casa j á

não e ra m i nha, gal gu e i e scada, ab r i a po rta,

p e n dure i o chapé u e a b e ngala no cab i d e , atra

ve sse i o co rre do r,e ntre i no m eu quarto

, ab r i

e l e ctr i c i dad e , —L e , m in has s e nho ras , só cai e m

m im quan do v i d e itada na m i nha cama, co m

o p e scoço nú,o s b raç o s n ú s , os cabe l o s l o i ro s

p re sos n uma to u ca d e re ndas,

e ncantado ra

b ras i l e i ra que do rm ia, so rr i n do , o seu p r im e i ro

son o . Q u i s f ugi r . D e i te i a mão ao i n te rr u pto r

para apagar a l u z . Mas um a faianca e spanh o la

e sti l haçou-se no chão , a pobre m e n i na aco rdo u ,jul go u que ti nha lad rõe s e m casa

,d e satou ao s

gr itos , caíu com um ataqu e d e n e rvos , ve i o a

m ãe,v i e ram as c r iadas , gr i tavam tôdas, e u ja

gr i tava tan to como e las , e se m sab e r se ha

via d e j u s ti fi car-m e, s e hav ia d e ac u d i r p e

q u e na,se hav ia d e f ug i r p e la. po rta fo ra, tom e i

afi nal o parti do d e r i r,

d e r i r d e m im ,d o m eu

e q u ívoco,da m i nha i ncon ve n i ê nc ia, da m inha

d i stracção,a ve l ha . r iu

,a b ras i l e i r i n ha r i u

,as

c r iadas r i ram , e p e l o p i n o das l i h o ras da m a

d rugada, com um frasco d e sa i s i ng l e s e s no bô lso ,

s e n tado a cab e c e i ra da cama o nd e do rm i ra na

vésp e ra,e u comp re e n d i que nre ass i s tia 0 i n d e

c l ináve l d e ve r mo ra l d e p e d i r a M .

m e Barro so

p e qu e n i na mão branca e assustada da fi l ha.

Um m ês d e po i s e s tavamos casados . M as, m i

n has s e nho ras,e tal a fatal idad e da m i nha d i s

tracção , que , na no i te d o casam e n to — f u i d o r

m i r ao hote l .

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RELOGIO

am ig O :

Acabo d e ch e gar do A l e nte j o,o nd e f u i pas

sar un s d ias com o ve l h o Dou to r Lôbo . Tu , que

te n s gas to al g umas ho ras da tua v ida a e s tu

dar, com C our no t, com B e rgson , com Po i ncaré ,

com M o n te ssus d e Ba l l o r e,

fi l oso fia e o m e

can ism o d o acaso , d e v e s achar i n te r e ssan te um

aco n te c im e n to que se d eu com igo ante o nte m a

no i te , e que e u d e boa m e n te co ns id e r ar ia so

b r e natur al, se não ti v e ss e a c e rte za an te c i pada

d e que tu,h om e m se m fé

,o e xp l i car ias « p e la

s i m p l e s e naturªal issim a i n te rs e cção d e d uas se

r i e s l óg i cas e i nd e p e nd e n te s d e fe m'

nne n o s» . Vo

c e s, o s f i l ó so fo s , e stragam tud o na v ida, - ate

e ssa vaga b e l e za d o i n v e ros ím i l,e ssa i n d e fi n ív e l

v o l ú p ia d o d e scon h e c id o , e ssa abso rv e n te se n

sual idad e d o ho rro r, que te m f e i to a fo rtu na da

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o R ELÓGIO 61

l i te ratu ra i ng l e sa, e que ai n da o n te m — dou-te

a m i nha palav ra d e hon ra ! m e e nch e u d e suo

r e s fr i o s e m e p ôs o s cab e l os e m pé .

O ra o u v e .

Tu sab e s que o Do u to r Lôbo , ve l h o m i san

tr Op o ,í nti mo am igo d e m eu fa l e c i d o pai, v iv e

n u m d ess e s so lar e s al e nte janos d e n tre Évo r a e

Mon te mo r-o -Novo,an ti ga p rop r i e dad e e cab e ça

d e morgado que , como as mo radas so lare ngas

da O l iv e i ra ou d e Patal im , da S e mp re -No i va ou

da Amo re i ra da Tôr r c , l e van ta o s s e u s c u nhai s

d e p e d ra d e três séc u l o s sôbre a g e ó rg ica c r i stã

do s montados e das do i radas te rras d e pão d o

med io-A l e nte j o . T e nho - te falado vár ias v e z e s

deste hom e m e d e sta casa,mu ito somb r i o s e

mu i to e xtrao rd inar i e s ambos . Há te mpo que o

ve l h o Dou to r Lôbo , que v iv e so z i n h o co m u m

c r iado,abraçad o sua gota e ao seu inte r m iná

ve l Tratado dw En i i te use , i n s i stia com igo para

que e u fôs se passar co m êl e u n s d ias . F iz-lhe

vontad e , e fur . Não se i se ja no taste s i n

gular i d e n tifi cação , i n q u i e tan te se m e l han ça

d e íi si o n o m ias que se e stab e l e c e im e d iatam e n te

e ntre c e rtas c r iatu ras e as anti gas m o radas o n d e

e las se hab i tuaram a v iv e r . Pare c e que as ru ínas

te e m o pod e r d e comu n icar as p e ssoas e as co i

sas fam i l iare s a e xp re s são da sua d e c re p i tu d e .

O p rov e c to j u r i sco ns u l to de qu e m acab e i de se r

hósp e d e o ito d ias,d i r-se -ia sombra

,o re fl e xo

human izado d o seu p róp r i o so lar, — che io d e

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62 NA V IDA

s i lênc io ,d e êx tase , d e ve tuste z

,d e m istér i o . A

i d e n ti f i cação e tão p e rfe i ta, que e u não s i nto

,

não ve j o .não comp re e n do fi gu ra d e vastada do

Dou to r Lôbo fo ra daqu e l e paço al e nte jano e nqua

d rad o e m fo rte s i lhar ia n e gra,com os s e u s ca

i' l l o r r o s d e gran i to , o se u e i rado (. e a l p e nd re so

b r e a e scada, os s e u s co rre do r e s monásti cos d e

ti j o l o . se u vas to salão nob re d e , te to e m ca ix o

tõ e s, d e c rep i to , so l e n e , p ro fu ndo , rod e ado d e vê

thas c re den c ias d o i radas,baban do h u m idad e

bo lo r p e l o,u'

o r g o rão ve rd e das pare d e s . q uan to

t i ve r,e n e sta sala que e u he i-d e ve r s e mp re o

m e u ve n e rando am igo , sob r e tu do po rqu e fo i

d e bai xo do seu te to que e u pass e i an te on te m o

qu arto d e ho ra mai s d ram áti c o da m i nha v ida .

ti ram nov e ho ras da no i te , e no s co nv e rsávamos

o s do i s sôb r e a fi s io n om ia h umana que as v e z e s

adqu i re m c e rtos obj e cto s i nan imados , quand o o

c r iado Pe d ro,un ic o e n te v ivo que hab i tava c on

n o sw no so lar,hom e m ru i vo , e spadaúdo , al to

como um p in h e i ro,m e ti d o hav ia te mpo com um a

mu l h e r casada da v i z i nh ança, v e i o p e d i r ao pa

trão hc e nça para sa i r . F icamos sós . Fo i e n tão

que o D ou to r Lôb o ,c u ja voz m e pare ce u um

p o uc o a l te rada,chamou a m inha ate n ção para

um r e lóg io d e caixa do sec u l o xvm,ho landês ,

c o m p i n tu ras, que l e van tava ao f u nd o da sal a,

e n tre d uas jan e las, o s e u fo rm i d áv e l p e rfi l d e

e sq u i fe .

—Você vê aqu e l e re l óg i o ?

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64 NA vm a

cação, que e m 1 723 man dara v i r o re l óg i o da

H o landa e o ti nha n o seu quarto d e do rm i r . R e

p e ti ra-se co m a m u l h e r des te ; com um tio f rad e

c r úz io , que e sti v e ra a are s na casa e acabara. a

ti ro s d e c lavina ; com um a aia m u lata ; co m o

avô d o Dou to r Lôbo . d e p u tado às Côrte s d e 20,

c u j o r e trato v i n o so l ar , n u m carvão p e rtu rbado r

d e S e qu e i ra ; com o pai ; p o r fi m . hav ia 1 6 anos ,co m a p róp r ia mu l h e r , que , j á mo r ibu n da, d e

b ruçada a toss i r sôb re um a bac ia d e p rata. ch e ia

d e sangu e , o s o l h o s fi to s no mov i m e nto da p e n

d u la,v i ra e la m e sma parar o r e l óg i o , e morrera

d e z m i n u to s d e po i s . Não e r a fác i l e x p l i car se

m e lhante sé r i e d e facto s p e l o m e can i sm o s im

p l e s do acaso . D i r-se -ia que naqu e l e vul gar r e

lo g io ho landês hav ia um a inte l igênc ia, um a se n

sibi l idad e , um a al ma, um a v ida,

—e s sa v i da in e

x o r áve l e p r o fética das co i sas mo rtas , fe ita d e

si lênc io,d e tre va, d e im ob i l i dad e . q uan to o

m eu ve l h o am igo m e co n tava es te s s i ngu lare s

po rm e nor e s , o s o l hos b r i l havam - lhe , as mãos pa

l idas tre m iam -lhe l ige i ram e nte sôb r e o s j o e l h os .

Qu i s p e rgu n tar- lhe ai n da po r que razão , po r que

fan tas ia vo l tara faz e r trabal har e ssa pênd u la

s i n i stra . Não ti ve co rage m . D ian te d e n ós,no

m e i o d e u m op re ss i vo si lênc io , o re l óg i o da mo rte

co n ti n uava a bate r o se u tic-tac i m p lacáv e l .

F icamos os d o i s, p o r u m i n stan te , abso rv i do s no

nosso p róp r io p e n sam e n to . A s somb ras fl u tua

vam p e la vasta sala, e sco rr iam p e l o g o r g o rão

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R ELUGIO

v e rd e das pare d e s,p e nd u ravam -se no o i ro baço

d as c re de nc ias , pal p i tavam e m vo l ta d e nós como

asas im pal páv e i s . S e n tia-se l á fo ra,no s sarge

cai s da charn e ca, o gr ito n octu rno d o m i lhano .

Um a cad e i ra rang e u , p e rto de nós , se m n i nguém

lhe tocar . Pare c e u-m e que . um a arage m f r ia

ti n ha roçado p e l o s m e u s cab e l o s . D e re p e nte ,

o l h e i o re l og i o : pên d u la parár a.

Um d e nós d o i s te m ap e nas d e z'

m in utos

d e v i da, d iss e -m e o m e u am igo , n uma pal i

d e z d e e sp e ctro,e rgu e ndo-se da sua po l trona.

Não se i d e sc r e v e r-te o te rro r i n sti nti vo que

se apos sou d e m im . A s fon te s late javam -m e .

Um s uo r ge lado d e agon ia mo l hava-m e as mãos .

O l ham o-n os, o m eu am igo e eu, a qu e re r ad i

vinhar mo rte na fi s i on om ia um d o o utro .

l g no r o quan tos m i n utos se passaram n e ste ho r

ro r . sub i ta m e nte , o uv i u—se um ti ro . O Dou to r

Lôbo agar ro u um cand e lab ro d e p rata, ac e so ,

e co rre u a po r ta. O co rpo e n o rm e d o c r iado Pe

d ro e stava d e bO PCU na so l e i ra, co m a cab e ça

n uma poça d e sangu e . T i nham -no assass i nado .

Os fac to s são este s . Como o s e xp l i ca a tua

fi l oso fia ?

Teu vé lho am igo . A l e x and re »

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ODOR E [ J I FEMM INA

O' d r . N i l o Gom e s re costou -se n um d o s ca

d e i rõ e s do Gr ém io , ac e n d e u u m c igarro,ati r o u

para a n u ca fam i l iarm e n te , o seu cõco c i n z e nto ,S aint J am e s 5 S tr e e t, e b r i n cando com a pon te i ra

da b e ngala na bo la d e v e rn i z , p e rgu n tou -no s

Voces a i n da ac re d i tam e m ps i có l ogos d e

mu l h e re s—Te nho a cab e c e i ra as Nouve l l e s L e ttr e s d e

Po i s eu não . Vo u con tar- l h e s o que m e

suc e d e u on te m a tard e no co nsu l tó r i o d o d r .

—U m a av e n tu ra ?— Um fiasco . E u ti n ha i d o comb i nar co m o

n osso ve l h o co l e ga a ho ra a que d e v e re al i zar-se

aman hã , com e xc e l e n te s van tag e n s para o o p e

rado r, a g astr o e n te r o sto m ização d o r i qu í ss im o

I) . R.;Quando ch e gu e i

,o d r . acabava d e m au

dar e n trar,hav ia q uatro ou c i n co m i nutos , a

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ODOR E D l FEMM INA 67

sua ú l ti ma c l i e n te .

— D e ve d e mo rar um bo cad i

nho , — p re v e n i u-m e n u m so rr i so a e n fe rm e i ra,

um a rapar i ga magra, d e b l u sa b ran ca i r r e p r e e n

s ív e l,m e ias d e sêda

,b r i n co s d e b r i l han te s nas

o r e l has . De c i d i-m e a e sp e rar . E u conhe c ia ja

o co n su ltó r i o do n osso co l e ga, com as s uas ta .

m e bran cas , as s uas cr e to ne s i ng l e sas , a sua

e l e gânc ia sób r ia,um a água-forte d e R o p s na

pare d e,d uas gran d e s fl o r e s azui s n um so l itár i o

d e c r i stal . Ac e nd i u m c igarro e ap rox im e i-m e

da m e sa. S ób r e um a po rção d e re v i stas e d e

b roch u ras da gu e rra, fo l h e adas , rasgadas , m al

tratadas cada d ia p e la im pac iênc ia d o s m e smos

doe nte s,u m saqu i n h o d e m ão

,d e seda p re ta, r e

po u sava, e squ e c i do , e ntre d uas l u vas d e m u l h e r .

E r a,com c e rte za

,da c l i e n te que , naqu e l e m o

m e nto , e scu tava o s sáb io s con s e l h os d o n o sso

co l e ga. Qu e m s e r ia e la ? Ab r i um a i l u stração

e l i . Um a l u z m u ito do i rada e n trava p e las lar

gas v id raças ab e rtas , e sp e l hava nas lacas d o s al i

zare s e das po rtas,dava as c r e to ne s v e rd e s d o

so fá mac i e za baça do v e l u do . A gu e rra, se m

p r e a gu e rra, e te rnam e n te a gu e r ra ! Ati r e i só

b r e m e sa a re v ista que ap e nas fo l h e ara, e tt

qu e i o l har, vagam e nte , a e xp re ssão d e ssas d uas

l u vas al i abandonadas po r um a d e sconh e c i da

m ão d e m u lh e r . L e mb ram -se vocês da D am e au

Gan t,d o M u s e u do Lux e mbu rgo A v i da, o m o

v im e n to , e l e ganc ia,

e xp r e ssão que a m ão fe

m i n i na com u n i ca a um a l u va que se d e scal ça,

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68 NA VID A

e co m que tal e n to Caro l u s D u ran sou b e faze r

pal p i tar , n e sse farrapo «

, te p e l i ca b ranca caí do sô

b r e um tapete,tõda a d i sti n ção

,tõda ar i sto

c rac ia,l e da moc i dad e d o se u mode l o ! Pe gu e i

n uma das l u vas para a e x am inar m e l h o r . Nãu

s e r ia d i fíc i l ad iv i nhar que qual i dad e d e m u

l b e r e la p e rte n c e r ia. E r a a da m ão e sq u e rda ,

marca p e qu e na, l e tra F,u m vago p e rfum e d e

[ l e m e bl eue,d e dos la S

, u nhas e m og iva p e r

fe itam e nte marcadas e o s i n al d e do i s ané i s ,um a m arquise e ta l v e z um a al iança d e casa

m e n to . Po r co n se gu i n te,a l u va d u ma c r iatu ra

e l e gan te , d um a mu l h e r n ova, e,s e gu ndo tõdas

as probab i l i dad e s,d uma mu l h e r casada. Com e

e e i a achar natu ral que o d r . com a sua e x

p e rten c ia,os s e u s o l h i n hos mal i c i o sos e a sua

go rda v e l h i c e d e Pan ,p ro l o ngass e a cons u lta

a l em d o l i m i te d e todas as conv e n i ênc ias . S ão

tão pou cas as mu lh e re s bon i tas que ado e c e m ,

e e r e a l m e n te tão agradáv e l au sc u ltar um p e

q nt-n i n o co ração que bate , que pal p ita e que s u

c umb e ! Po u s e i a l u va,e , como não há an ima l

ma i s c u r i o so do que . u m h om e m , pass e i a obs e r

va r o saqu i n ho d e m ão , um.

« r i d íc u l o » d e seda

o o i no há tan to s, i m p re gnado do m e sm o p e r l o

m e e bo rdad o a m issanga como aqu e l e s « i n d is

p e nsáve i s » d e 1 830 on d e as nossas i ngên uas l l l

savo s e scond iam o s f rasco s d e e ssenc ia e os b i

lhe te s d e amo r . Nal g uma c o i sa hav ia d e passar

o te m po , —e a re so l u ção daq u e la i n cógn i ta fe m i

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n o o nr : o i FEM M INA

n i na com e çava a i n te re ssar-mc .

—« Que re s co

uhe ce r um a m u lh e r“— d i z ia Gasparo Gozz i

das v e n e z ianas d o s éc u l o xvm — « Ab re o seu sa

uuinho d e m ãe » . Mas a m i nha c u r i o s i dad e não

m e l e vo u até ao e x tr e mo i n co r re c to d e s e gu i r o

co n s e l h o d e . Gasparo Gozz i . l a pou sar o saco se m

l e r v i o lado um só d os s e u s s e gre dos,qu ando ,

p o r m e ro ac i d e n te , e l e m e ca i u das mãos e se

abr i u n o tap e te . T i nha d e se r . U m a chav e d o i

rada d e fe chad u ra i ng l e sa fo i p roj e ctada a d i s

tânc ia. Um frasco de sai s , ro l o u . Um p e q u e

n i no e sp e l h o d e p rata sc inti tou ao so l . Apanh e i

tu do,o ma i s d e p re ssa que p ud e , e como o acaso

ti nha q u e r i d o que eu e n tras s e na con fi dênc ia da

que l e saco d e mão e daqu e la al ma d e mu l h e r,v e r i fi q u e i que o r i d íc u l o d e seda d e M .

um X co n

ti n ha ai n da n o seubój o m i ste r i o so u m l e n ço d e

re n das, um a ca ixa d e pó d e ar roz , um a con ta

da mod i sta,um a m e dal ha d e Santa F i l om e na,

ganchos d e cab e l o,u m véu , c , no f u n do , u m car

n e t d e v i s itas on d e se l ia, na data d e 7 d e no

ve m b r o : « Sai s d e C larks para o ban h o .

— J .

3 ho ras .

— Pé ro las , Gar r anrt 25,Hav

mark e t, Londo n , S . W .

—Le gação d e E spanha .

F i n e tte .

—Pomada para as u nhas .

— Méd ico .

as — Não e squ e c e r as amostras d e v e l u do » .

Aqu e l e saco,aqu e las l u vas , aqu e l e car n e !, e ram

um re trato . E u via j á , d ian te d e m im , a c l i e nte

d o m eu vé lho co l e ga, tão n i tidam e nte com o se

a con h e ce ss e . Estava al i tôda,—a sua c l e gan

Ci a, sua V i da, a sua ps ico l og ia, 0 seu p róp r i o

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70 NA VIDA

d rama amo roso . Não hav ia d úv i da d e que e r a

um a mu l h e r casada, al ta bu rgu e s ia,u m po u co

pa rve nue . d iª -c e rto r i ca para pod e r comp rar pc

ro las n os ou ri v e s d e Lond re s , 80 a 35 anos se

tanto . con h e c e nd o a sua b e l e za e . c u lti vando-a

como um a fl o r . o lh o s azui s , um mar i d o fác i l ,um a saia c u rta, um sp l e ndidum ,

um a co m p r o m e

l e do ra ch av e do i rada,« un m onsi eur qui tr avaíl l e

dan s l e s f e m m e s du m ond e » — como d iz ia Bour

ç/ctm e os o l h os ca l mos, s e r e n i dad e o l im p i ca, o

ar s iuho Sai nte -N i to u ch e d e c e r tas m u l h e re s bon i

tas, — m e no s bon itas d o que e las m e smas p e n

sam , mu i to mai s i n te re ssan te s do que tôda ge n te

as j u l ga .

r

Pinha d e co r r i d o tal v e z u m quarto d e

ho ra, qu an do , d e re p e nte , a po rta do gab i n e te se

abr i u . E r a e la. A mu l h e r que e u i mag i nara, que

e u i d e a l izara, que eu re co n stitu í ra, co m o rigo r

t l l l l l l ps i co l ogo,p e l o e x am e do seu saqu i n h o d e

m ao ,ia fi na l m e nte apare c e r-m e . L e van te i -m e

,

p re pare i a ati tu d e , com pu s o m onóc u l o . Do is ,

três s e gu ndos d e po i s , a voz d o nosso co l e ga ou

v i u -se —e um a ve lho te go rda, ro sada, al e gre .

d e lm i e las , saiu do gab i n e te d e con s u l ta. avan

t'

tl l l sa l ti tando até à m e sa, p e gou no saco , nas

l u vas , c u mpr i m e n to u , e e m pas s i nhos c u rtos .i l l itand o se mpr e ,

e mpu rrou o guarda-v e nto ,

c um p r im e n tou ai n da e d e sapar e c e u na som bra

d o co r re do r . Fo i n e s se d ia. m e u s am igos , que

e um e con v e nc i d e que não p e rc e b ia nada d e muIhe r e s . E qu e m pod e g abar-se d e as p e rc e b e r ,se a mu lh e r nasce u para e ngana r o home m ?

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72 NA V IDA

co nv e n to , du as v e z e s e l e i to abad e tr i e nal,fa l o u

e m nom e d o s pad re s . A l e gou que a fo nte da

c rasta,

c u ja i nau g u ração ia faz e r—se , con ti n h a

três fi g u ras d e p e d ra, não sab ia se d r tadas, mé

nad e s,d i o n isid o s ou s e r e ias (e sp re i tara-as p e las

fr i n chas d o tapum e u m donato do co nve nto),

que , s ôb re s e r e m d iv i n dad e s pagãs , im p róp r ias

d e tão san ta e r e fo rmada casa,apare c iam n o e s

tado d e abom i náv e l n u d e z , mostrando o s v e ntre s

e j o rran do águ a da ap o jadur a dos p e itos , co m

e scan dal o e o f e n sa dos pad re s ve l h os , e , o que

e r a p i o r , com tu rbação e p e cado d o s moços .

Não sab ia se a com u n idad e e r a d e igual av i so ;e l e

,p e l o re sp e i to d e v i do a sua i dad e p rov e cta

e ii d ign i dad e do se u háb i to faz ia vo to so l e n e

d e não vo ltar ao jard im e d e n e m s e qu e r as so

m ar ao s jane las da c lau s tra, se m que os m e s

m o s alvane is, que ti nham l e van tad o fon te ,d e mo l i s s e m para mai o r g l ó r ia d e D e u s . D as ban

cadas cap i tu lare s e rgu e u -se um m u rm ú r i o d e

ap rovação . E stava d e c id i do . Nu n ca ma i s um só

f rad e pass e ar ia e n tre as m ur te i ras d o j ard im ,

e m quanto aq u e las fi gu ras d e abom i nação pojas

se m ao so l o s s e u s úb e r e s d e p e d ra . Um do

nato ti nha acabado d e e sp e r i e r o l um e da b r a

s e i ra d e cob re,q uando o D o m Abad e se l e van

tou para falar . Quan tas i g re jas , abad ias e mos

l e iros da te r ra e stavam ch e i o s do e sp í r ito e da

gl ór ia pagã ! Para ob e d e c e r as dou tr i nas d o s pa

dre s , te r ia d e p r i n c i p iar po r lançar ao fogo o seu

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A r o NTE 73

be m amado Ho rác i o . Tan tos séc u l o s andados ,qu e m se l e mbrara ai n da d e arrasar a abs id e da

se. d e B raga,só po rqu e as águas da ch u va Ihc

e sco rre m d uma gá rgu la to rp e ? E a te r r e d e Co

l e g iada d e Gu imarã e s , com o seu b rute sco E .

nos ma i s ásp e ro s re c e ssos d e Po rtu g al , p o r qu"

não te riam abati d o as l u r ias e o s marrõ e s dos al

van e is o s m o d i lhõe s pagão s da i gre ja da Cas

tanhe i r a e o anj o báqu i co da matr iz d e M o n

co rvo ? Não e r a com dou tr i nas d e i nto l e rante

e somb r ia p i e dad e que se s e rv ia m e l h o r a

De u s , n e m quare n ta anos que v ive ra d e baix o

daq u e la mo rtal ha d e S . B e rnard o ac e itavam .d e

qu e m qu e r que fôss e , l i çõ e s d e compostu ra e d e

mod e ração . A co n s tru ção da fonte que tanto ai

vo r o ç'ava os pad r e s

,con c e r tara-a e l e , hav ia qu i nz e

m e s e s, na sua j o rnada có r te co m u m m e str e

i tal iano que lhe fôra r e com e n dado e m A l c obaça

p e l o re ve re n do Abad e G e ral . E r a a ind isp e nsá

ve l coroação d o jard im d e mu rtas e bu xo , que

o seu ante c e sso r mandara co rtar a f ran c e sa, na

c lau stra gran d e,para re c re i o da com u n i dad e

Escandatizar a-se a m o d éstia d o s pad re s po rqu e

tres cap r éad e s n uas j o r ravam água do s p e i tos .

Mas que fi gu ras q u e r iam Suas R e v e rên c ias , no

seu sant-o ze l o apos tó l i co , que se e rgu e ss e m so

b r e a con cha d e p e d ra d uma fo nte ? Os e van

g e l istas, os patr iarcas , os ve l h os d o Apocal i p s e ,

um re táb u l o d o Juízo F i nal ? Não , d e -c e rto .

Não e r a nos j ard i n s que se p m fe ssava o c u l to

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74 NA v

d iv i n o,e nu nca n i ng u ém p e n sara, ne m o mai s

h u m i l d e frad i n ho cap u cho , e m e rgu e r um a ç a

p e la. d e n tro d u m caramanch ão . Sab iam Suas

R c ve r ênc ias qu e m ti nha e ncom e ndado a João d e

Bo l o nha a cé l e b r e fo nte das s e re ias ? O San to

Pad r e Pi o IV e o e m i n e ntí s s im o card e al P i e tro

C e s i . S e a i mag e m d um s e i o d e m u l h e r fôsse

u m s imbo l o pagão e abom i náv e l , como te r ia o

p róp r io Patr iarca S . B e rnardo e n tre v i sto,na sua

místi ca v i são , o s p e itos brancos da V i rge m a

asp e rg i- l o d e l e i te ,— e como p od e r ia p i n ta-l o s

o d iv i n o Barto l omé Mu r i l l o , se m e stre m e c e re m

d e san ta i n d ignação os cap ítu l os de to do s os mos

l e i ro s e o s b i spo s d e todas as cate d rai s ? Não .

E l e , Abad e , tranqui l o c om D e u s e co m a sua

a l ma,e n te n d ia que não e r am j u stas as q u e i xas

da comu n idad e , e p e d ia a todo s o s re l i g i o so s, e

e m parti c u lar ao s pad re s d i sc re to s, que re co n

s i d e rass e m no seu p ropós i to e o d e i xas s e m aca

ha r o tr i é n i o da j u r i sd i ção se m d e mandas ne m

agravos . Mas as palavras d o p re lado não con

s e g u i ram aba lar o s cap i tu lare s . O mai s ve l h o

d e todos,Fre i Bal tasar do s An j os , c u j o háb ito ,

na p e n umb ra,pare c ia do i rado d o m e smo mu gre

s e c u lar da p e d ra,avançou

,trôp e go , amparado

a do i s pad re s moços , e d e c larou ao Abad e , e m

nom e d e to d o o co nv e n to , que não pod e ndo se r

—l h e s im pos to como cas ti go o re c re i o no jard imda r rasla, n e nh um frad e la vo l tar ia — n e m u m

S o —se p re l ad o i ns i s ti s s e e m manda r d e sco

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A FONTE 75

b r i r as fi gu ras d iabé ti cas da fo n te . Le van tou -se

o cap itu l o . O d e safi o e stava lan çado . Para

Abad e , s ubm e te r-se , e r a abd i car da sua autor idad e e da sua t

'

ô r ça . S ub i u a c e la,mando u po r

u m l e i go o rd e m ao s alvan e is,

—c n e s sa m e sm a

tard e o tap um e e r a abati d o , a fo nte i naugu rada,

e, n o s i l ê n c io das m ur te i r as e m fl o r , tres mara

v i l h o sas fi gu ras d e s e r e ias,cap r éad e s vo lup tuo

sas du ma 'on d u lação e d uma graça fl o re n ti na,

so rr i n do e o fe re c e ndo o s se i o s nas mãos d e l i ca

das, j o rraram d o s mam i l os d e p e d ra s e i s v e i os

d e água f re sca, l um i n osa e fe cu nda. U Abad e,

que ass i stia da jan e la, fi co u u m i n stan te imóv e l ,a o l har a pal p itação d e v i da que a l u z rosada da

tard e e mp re stava a n u d e z dess e s três co rpos d e

mu l h e r, — e re co l h e u -se n u m d e s l u mb ram e n to ,quas i n uma ve rti g e m , ab raçado ao bre v i á r i o .

Pe la p r i m e i ra ve z,a sua co n sc iê n c ia vac i l o u .

Te riam razão o s pad re s Trar ia e l e para o co n

ve nto,pasto r i n d ign o daqu e l e re banh o , a se r

p e n te da T e n tação ? F e cho u as po rtadas da j á

n e la, para não ve r mai s a fonte ; d e sce u ao r e

fe itór i o ; vo l tou ; ti ro u d o ar m ar ête o seu can

d e e i r o d e três b i cos ; ac e nd e u -o ; p rocurou tr a

bal har , d e po i s d e vésp e r as can tadas , no s se u s

com e n tá r i o s ao s Po l iphi l i d e F r a F r anc e cso Cc

l o na; d e ito u -se ; passou p e l o son o , e aco rdan do ,

p e la fô rça d o háb ito , a ho ra d e mati nas , adm i

ro u -se d e não te r v i n do o frad e , como d e co s

tum e,cham a- l o com a Cand e ia. Que se te r ia pa,

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76 NA v

sado n o conv e n to ? Ab ri u d e m an so a po rta, e s

p r e ito u para o co r re do r , e sc u to u . A p r i n c íp i o

p e rc e b e u ap e nas , na e sc u r i dão , u m rumo r d e.

passos . Em se gui da,um a c e la e n tre ab r i u -se e

u m vu l to f u rti vo d e f rad e e scoo u -se na sombra .

De po i s,ou tro . E ou tro . E m a i s o u tro

,a i n da .

xtão iam d e -c e rto para o có r o ,po rqu e não l e vavam

as cand e ias ac e sas . I nqu i e to , o Abad e fo i bate r

a po rta do v igá r i o ; n ingu ém lhe re spond e u .

Procu ro u e m e stre dos n ov iços , a ce la e stava

d e s e rta . D e re p e n te,fe z-se a l u z n o seu e sp í r ito .

Compôs o manto , d e sc e u a c lau stra . No jard im ,

e m vo l ta da fon te e x e c rada, tôda a comu n idad e ,todos o s pad re s i n to l e ran te s

,ve l hos. e moços ,

atr aíd os , um a um,p e l o i r re s i s tív e l p od e r da

b e l e za e te rna e da vo l úp ia imo rtal , o l havam im o

ve i s , e m êxtase,e m ado ração

,os co rpos vi r g i

nai s das s e re ias , que on d u lavam , brancos , ao

l u ar .

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EXPLAÇÃ U

O nte m,n um chá e m casa d e M .

“ Y . , ap re

s e n taram -m e um hom e m d e aparên c ia d i s

ti n ta,c u j a e l e gan c ia natu ral e c u ja e xp re ssão d e

tr i ste za m e i m p r e ss i o naram . D e v ia te r q uare n ta

anos , o cab e l o l e v e m e nte e mb ranqu e c ido nas fo n

te s, u n s gran d e s o l ho s n e gros , um p e rfi l d e m e

da l ha r omana,d u ro

.seco . v i r i l . .tp e r tám o s as

mãos,com s impatia . D isc u tia—se c e rto p rato ar

m o r iad o , Que d e v ia s e r um R uão , com o s a l e r io n s

d e az u l e as c i nco v i e i ras d e p rata d o s M o ntm o

r e nc y-Laval . Ou v i -o e xpôr a sua op in ião e m d uas

palav ras ráp i das,s e gu ras

,mod e stas , que d e n u n

c iavam o fác i l bom ge sto d um hom e m d e háb ito s

i n te l e c tua i s . O nom e , que eu m al p e rc e be ra no

mom e nto da ap r e s e ntação , nada ti nha s ug e r i d o

ao m e u e sp í r i to . Logo que p ude fal ar a li t.

" Y . ,

p e rgu nte i- lhe qu e m ess e hom e m e r a.

—D igo -lhe l ogo .

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78 NA vm a

Um m i sté ri o ?

Um roman c e .

A n o i te,quan do tomávamos chá na sala d e

f umar,a m i nha e ncan tado ra am iga c ump r i u a

sua p rom e ssa. Tratava—se , re al m e n te , d um caso

d e s e n ti m e nto , que co n se gu i u i n te re ssar-m e d u

ran te m e ia ho ra. O m o ço d i p l omata. que m e fô r a

ap re s e n tado e r a fi lho dos barõ e s d e S . G i l d e

Pe r r e, p luto cr atas do l ib e ral i smo , e stava co l o

cado hav ia te mpo na d i spon ib i l i dad e , e adm i

n istr ava sua gran d e fo rtu na. D e po i s d e um a

v i da e l e gan te d e e moçõ e s e d e d i s s i pação ,

quando os cab e l o s j á com e çavam e m b r anque

ce r -'

the , fi ze ra u m casam e nto d e amo r co m um a

b ras i l e i r i n ha d e d e zanov e an os, ti p o marav i

lho so d e car i oca,i n do l e n te , au to r itá r ia, s e n sual ,

e d u cada e m Par i s n o S acré C o eur,e que e l e , d e

v iag e m para a I tá l ia,ti n ha e n co n trado co m o s

pai s no S p l e nd id H o te l d e N i c e . D u rante c i n co

anos , nada p e rtu rbo u a sua apare n te v e ntu ra. Um

d ia, po rem ,a c r iada al e mã das c r ianças v i u-se

ob r ig ada, p e las l e i s da gu e rra, a sai r d e Po rtu

g al— e ra um a tr aíi l e in R os e

,m e ckl e m burgue sa

e fe ia —e,fi e l ao e sp í r i to da sua raça, não aban

d o nou o lar que aco l h e ra como famí l ia, se m

p r im e i ro lhe te r d e str u ído e e nve n e nado tºda

a fe l i c i dad e e tôda a paz . An tón i o Pe rre so ub

que a mu l h e r o e nganava, e te v e nas s uas mãos ,e n tre gu e s p e la al e mã , as p rovas i rre c u sáv e i s da

tra i ção . O se u amor,a sua d ign idad e o fe nd i da,

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80 NA vm a

f ug i r,quando um co rpo tép i do e ar que jante lhe

caiu d e re p e n te no s braços . E r a e la.. S e n ti u

a i n da os d e dos c r i spare m -se - the no g e sto d e a

e strangu lar ; m as,n um e sfô rço i m p e r i o so d e

von tad e , dom i nou -se , afasto u -a b randam e n te d e

s i , d i ss e - lhe que se con s e rvas s e j u n to d o pai

todo o te mpo que a sua te rn u ra fi l ia l j u l gasse

n e c e s sá r i o,e,com o s n e rvos q u e brados , com a

a l ma d e sp e daçada, vo l tou para L i sboa . Passa

d o s três d ias,e la p e d ia- lhe , p e l o te l e fo n e , que a

fôss e bu scar . E l e l i m itou-se a mandar- l he o au

to m óve l, e não fo i . Quan do a m u l h e r ch e go u ,

e nvo l v i da na sua grand e capa c i n z e n ta ,o s o l h o s

ve rm e l h o s d e cho ra r, um f rasco d e sai s i ng l e

ses na mão,An tón i o P e rre e sp e rava-a no quarto .

F e ch ou -se po rta. Em voz bai xa, se m um ge s to

d e scomposto,se m um a palavra gross e i ra

,s e re

nam e nte , ês s e hom e m su p e r i o r p e la e d u cação e

p e l o carác te r d i ss e à m u l h e r o que e r a ind isp e n

sav e l que e la so u be ss e para que a s i tu ação d e

am bos fi cass e e sc lare c i da. Ne m um a r e c r im i na

ção , ne m um i n s u l to , n e m um a l ág r ima . Ap e nas

a ve rdad e,o l

'

ac to,

as p rovas . q uan to o

pai d e la fôsse v i vo , não se m o d iti e ar ia, aparo u

te m e n te , a sua v ida c om um d e casad os . S e fr

r iam os do i s o s u p l íc i o d e se s e n ti r u m j u n to d o

o u tro . Logo que o pai morre s s e , e la sai r ia d e

casa e far -se -ia o d i vó rc io . A b ras i l e i ra ou v ia-o

e m s i l ê n c i o,e , q uan do o mar i d o saiu d o q uarto ,

fi c o u a so l u çar e s te nd ida sôbre um so fá . Du ro u

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EXPIAÇÃO 8 1

do i s l o ngo s m e s e s o ho rro r d e sta s ituação . Du

ran te e l e s , a ati tu d e d e A n tón i o Pe rre fo i d um a

tão ge n e rosa d e l i cad e za, d uma tão n obre d igni

dad e , que e ssa mu l h e r cap r i ch osa e f úti l p rinc i

p i ou, p e la p r i m e i ra ve z na sua v i da. a co nhe ce r

o mar i d o , a adm i ra-l o e a am a- l o . A e xp iação

tran sfo rmou—se , para e la, e m pai xão p e rturba

do ra. Mas o moço d i p l omata fo i infl e x lve l . O

p roc e s so d e d ivó r cio e stá co r re ndo ; e,com o a

al m a h umana é fe i ta d e co n trad i çõ e s , a p o bre

b ras i l e i ra e sp e ra hoj e tr i ste m e n te , e m casa da

m ãe , que um a s e nte n ça a s e pare , para s e m p re ,do hom e m que a du ra l i ção da e x istênc ia e n

s i n o u amar até a l o u c u ra.

f— Com o vê,m eu am igo — co nc l u i u M .

" Y .

no seu so rr i s o e ncantado r — a v i da e stá tõda

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SAPATINHO VER DE

M e ". quªnd o J o rg e .

li s tou v iva po r m i lagre . Tu não cal c u las o

que m e acon te c e u on te m a no i te , m eu qu e r id o ,m e u ado rado am igo . Os m e u s n e rvos v ib ram'

tl l ld i l . Toda e u e str e m e ce . A r e moção fo i tã o

ran d e, que não posso l e vantar a cab e ça do tr a

ve sse i r o e faz-m e m at ve r a l u z . Ia m o rre ndo e s

tup idam e n te , ho r ro rosam e n te , l o nge d e ti . Es

c re v e -te a l áp i s não se i com o , p e rd o a . Estou d e .

cama . Não te ass u ste s , m eu Jo rge , tud o passou ,

e e u ago ra não so fr e s e não a fad iga que s u c e d e

a tºdas as grand e s fe b re s n e rvo sas . Mas que fo i

p e rgu n taras tu. A c o i sa ma i s s im p l e s deste

mu ndo , m eupob re am igo . Os d e sastre s são se m

p r e d um a s imp l i c i dad e absu rda. Ia mo rre ndo

p o r te r cal çado u n s sapatos d e sal i m v e rd e . ve

tu como um a d e sgraça tão grand e pod e cab e r

d e n tro d u ns sapati n h os tão p eq u e n os

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o S APATI NH O VE R DE 8 3

Ou ve . Qu e ro que tusaibas tu do . Não te zangas

com igo , po i s não ? Tu be m d i z e s que eu sou

toda n e rvos , que u m nada m e e xc ita, m e p e r

tu rba m e ado e c e . Le m bras-te daqu e la s e n h o ra

mu ito d i sti nta, m u l h e r do e n ge n h e i ro i tal ian o

que mora p e rto da n ossa casa ? D e po i s que tu

par ti s te para I ng late rra fi q u e i tão só , tão d e s e

j osa d e . alg u em .co m q ti e m conv e rsar, com qu e m

trocar i mp re ssõe s, que m e ap rox im e i mai s d e la

,

e hoj e somos d uas g ran d e s , d uas q u e r i das am i

gas . O an i ve rsár i o do casam e n to da. B e tti na

co i n c i d i u este ano com a s e gu nda- fe i ra go rda,

e la,para se d i strai r u m pou co — tu b e m sab e s ,

m euJo rge, que o s E sto ri s no i n v e rn o são o Pere

Lachai se — l e mbro u -se d e r e c e b e r m ascaradas as

p e ssoas m ai s ínti mas,e i n s i sti u m u ito com i

g o para que eu n ão d e i xass e d e i r a sua fe sta .

A pr i n c íp i o d i ss e - lhe que não , que não qu e r ia as

s isti r a d iv e rti m e ntos e m quan to tu e sti ve ss e s

l o ng e, que não d e i xava o nosso fi l h i n h o d e n o ite

só com as criadas— se tu v i ss e s com o e stá l i n do

o nosso fi l ho , m u i to côr d e rosa, co m o s o lhos

mai or e s , e l o i ro , l o i ro , l o i ro m as B e tti na p e

d i u,e x ig i u , te im o u , que tunão te zangavas , que

as nossas casas fi cavam a do i s passos , que e r a

só atrav e ssar a l i n ha fér r e a, que as c r iadas cha

m avam ao te l e fon e se o p e qu e n i n o aco rdasse,e

eu, a p e n sar e m ti,se mp re a p e n sar e m ti , cha

m e i d uas costu re i ras para casa, cop i e i aguar e la

da Pi e r r eue eu ve rt, que tu te n s no teu e sc r i

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Xá NA VID A

tó ri o , comp re i umas m e ias ve rd e s,man d e i faz e r

u n s l i n dos sapati n h o s d e se tim v e rd e , e onte m a

no ite., toda d e v e rd e d o s pés a cab e ça como a

fi gu r i nha d e Wi l e tte,mu i to co n te nte

,m u i to r i

so nha, m u i to fe l i z , l e mbrar-m e d e que tu ha

v ias d e gostar d e m e ve r tão bon i ta,

— p u s ao

p e scoço as m inhas pé ro las,b e i j e i o m eu fi l h i nh o

que do rm ia, ati re i um a capa p e l o s omb ros— e

tui . Não imag i nas com o e u e stiv e b e m , d i straída,

a l e gre,e como a B e tti na e stava i n te re ssante

p ov e ra p icc ina m ia com mu itos br i l hante s ,mu i ta p e na d e não se r l o i ra e m u itos c i úm e s

d uma m isr e ss R e yno l d s,bastan te m idd l e c lass

que andava p e las salas a p e n d u rar-se -lhe no m a

r i do e faiar'

n o s

'

pavõe s do seu jard im d e Car

cave l o s . A graça que e stas i ngl e sas acham ao s

mar i do s d e toda a ge n te ,

— e como eu m e s e n ti

i nqu i e ta,com o eu so fr i também

,m e u Jo rge ,

p e n san do nas vár ias m istr e ss R e yno l d s , nas vá

r ias m iss Cosmo que hão-d e qu e re r d e b ru çar-se

sobr e os te u s l i ndos o l h os p re tos ! Passava da

m e ia n o i te e eu j á ti n ha dançado m u ito , quan do

tocaram ao te l e fo n e . E r a c r iada a d ize r-m e que

o p e q u e n i to ti nha aco rdado e e stava a ch o rar po r

m im . A fl i ta,d e sno rte ada

,pu s a capa

,não m e

d e sp e d i d e n i ngu em , e como qu e r ia v i r d e p re ssa- não imagi nas que e sc u r i dão d e no ite !— e m

ve z d e dar a vo l ta p e la passage m d e n ive l , co r

Io i a d i r e ito para atrav e ssar a l i n ha fér re a na

a ltu ra da nossa casa . Um a im p rudênc ia, po i s

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o sar n m n o VE R DE Ri"

.

não é v e rdad e ? S e fo i,m eu Jo rge ! Eunão v ia

nada d ian te d e m im . Ia c e ga, tre m e r , trop e

car no cam i n h o . Po rqu e cho rar ia o m e u fi

lho ? .Como e ra poss ív e l que eu o ti ve s se d e i

xad o, que e u o ti v e s s e aban donado as c r iadas ,

que eu o ti v e ss e trocado p o r um ba i l e,

— o pob re

i n oc e n te . ! Um v e nto h úm id o batia-m e na cara,

d e sgre nhava-m e o s cab e l o s , e,

no si lênc io da

n o i te , o m ar pare c ia rug i r m u i to p e rto,cada

ve z mais p e rto d e m im . l a a atrav e s sar a l i n ha,

sôb re o cascal h o que m e f ug ia e re svalava d e

bai xo do s pés,quan do um d o s taç õ e s Luís xv do s

m eus sapatos d e se tim v e rd e , fi n o s com o j u ncos ,se m e p re n d e u e n tre um a p e d ra e o fe rro d o r ai l

,

—p re c i sam e nte n o mom e nto e m que , na e sc u

r idão , cam in han do para m im ,apare c ia o faro l

v e rm e l h o d um combó i o . Que i n stante s d e an

gústia, m eu. ado r ado Jo rge , — tão ho rrív e i s , que

se e u não e n do i d e c i d e pavo r é po rqu e j á não

e ndo id e ç o t Qu i s l ib e rtar-m e,n u ma afl ição . Não

p u d e . E stava p r e sa, fi xada, agarrada ao s r ai ls,

—e v ia, e s e ntia o co m bo i o avançar, i m p lacáv e l

m e nte,ao m eu e n co n tro . D e bati-m e a i n da n um

e sfo rço s u p re mo,gr ite i

, caí d e -b ru ços,l e vante i

-m e com a bõca a sab e r-m e a san gu e,q u i s arran

car -m e daq u e la p r i são co m to das as e n e rg ias d o

d e se sp ero .

I n ú ti l . Pare c ia que um gr i l hão d e

fe r ro m e fi xava a l i n ha . A l ocom o ti va n e gra, u i

van do,re s fo l e gan do , v i n ha j á sôbre m im ,

quan do D e u s,não fo i s e não D e u s e o m e u fi

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86 NA v

lhinho ,m e p e rm i ti u u m l amp e j o d e s e re n idad e

bastan te para comp re e nd e r que pod ia l i b e rtar-m e

d e sap e r tando p re s i l ha d o sapato . Com o a

f e l i c i dad e e a v i da, m eu am igo , pod e m d e p e n

d e r d e um a co i sa tão s im p l e s ! Do i s , três se

gundo s d e po i s , eu f u g ia co rn o do i da, d e scal ça

p e las p e d ras , e o combó i o passava sôb re o m eu

pobre , sôb re o m eu f rág i l sapati nh o d e se tim

v e rd e , —que m e ia matando , que eu sac r i fiqu e i

para m e sal var,e que m e fi cava. tão b e m , m eu

q u e r i do Jo rg e

Não , m eu grand e , . m eu adorado am igo,eu

não pod ia mo rre r, porqu e te qu e ro m u ito, p o r

que ado ro o m eu fi l h i n ho,po rqu e tunão tardas ,

po rq u e soumui to fe l i z , —e po rqu e a m o r ão

d e v e l e var s e não qu e m é d e sgraçado po i ão

ve rdad e , m euamo r ?

Tua, m u i to tua, Le na .

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88 NA VID A

'

sar , e n te rrado n u ma p ol trona, ac e nd e ndo um

d o s se u s h o r rív e i s c igarro s i ng l e s e s . Mas q uando

e u ia p r i n c i p iar a l e r,d e te v e -m e . Qu e r ia que

euconhe c e ss e p r im e i ro as con d i çõ e s e m que ess e

doc um e n to fo ra e ncontrado . E ram -« d i z ia e l e

a chave da h i stó r ia . Como eu sab ia ja. Ba l ta

sar comp rara,no s ar re do re s d e Viana d o Cas

te l o , um ve l ho so lar ou tro ra p e rte n c e n te ao s m o r

gados d e s e nho re s d o c ou to d e So e i ro e da

com e n da d e Santa Mar ia d e A i rão, c u jas fi l has ,

p o r m e rcê d e'

e l -r c i D . João v,ti n ham al mo fada

no Paço . O m e u am igo não se atre ve ra. a ho l i r

na casa, on d e o s te tos d e mad e i ra e m caix o tõe s,

co m p i ntu ras d o séc u l o XVI! e ros e tas do i radas

no c ru zam e n to das mo l d u ras , e ram os mai s r i co s

d e todo o M in ho so lare ngo ; m as j u l gara d e bo m

con s e l h o abate r o po rtão da q u i n ta, que am e a

cava ru ina, po rqu e pad i e i ra fe nd i da não agu e n

tava j á o peso da p e d ra d e armas . As s im se fe z .

Q uan do o s p e d re i ros ap eavam um oratór i o co m

o pai n e l d o San to C r i sto , e ncastrado no m u ro a

al tu ra da i m posta, e ncon traram um a carta m e

ti da e n tre a armação d e mad e i ra e o ni o di lhão

d e pe d ra d o n ich o , tão ch e ia d e bo lô r e com i da

d o pó, que pare c ia d e s faze r-se q uando lhe toca

vam . O m euam igo Bal tasar l im po u -a ao d e l e ve ,e , n uma mancha n e gra d e h um i dad e , l eu: Ao

sr . Ii d i Manue l d e Nap o l e s e Bourbon . A p e ssoa

a q u e m e r a d e sti nada não ch e gara a abr i-la. E s

tava al i hav ia c e n to e s e i s anos . E ra a carta que

e u ti n ha ago ra nas mãos .

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MAR IA nosa 89

—Va i s ve r que adm i ráve l d oc u m e nto duma

paixão e duma época — con c l u i u o m eu am i go ,grav e m e n te

,e m quanto o cr iado no s traz ia o chá .

A carta d i z ia ass im

« M eu R ui d o m eu coração .

— Pe la al ma da

tua m ãe sinha te p e ço que não v e nhas e sta n o ite .

O e sc u d e i ro p r e to a qu e m tu re ta l haste cara

com o ch i cote,viu-te onte m sal tar da jan e la d o

m eu quarto . M eu pai j á sab e tu do . Mandou-m e

hoj e p o r F re i Joaq u i m um pap e l para eu pô r o

m eu n om e , que c u i d o que é para o s e nho r A rc e

b i spo , e d eu o rd e m as c r iadas para te re m p ron

tas amanhã , ao nasc e r d o so !, as ar e as da m inha

ro u pa. Não se i que vão faz e r d e m im,m euamor

da m i n ha al ma . Não se i para o n d e m e l e vam

n e m se to rnare i a ve r -te mai s n e ste m u ndo . A

Do rote a d i ss e -m e ago ra, a tre m e r d e m ed o, que

o s c r iados e stão lá e m baixo , na ad e ga, ap e r

ran do o s arcabu z e s , e que m eupai p ro m e te u ao

B e nto, que an da co m l ite i ra, tôda vá rze a vê

lha d e F rance m i l e um saco d e mo e das,se te

matas se . El e é hom e m ru im , e capaz d e tu do .

Não vo lte s , p e la tua sal vação , m eu R ui . Su p l i

cc-te , d e mãos pos tas . Não vo l te s m a i s a e sta

casa, que te matam . E s to u a e sc re v e r-te d e . j o e

l h os,d ian te d o o rató r i o d o m e u quarto

,e a ou

vi r e s gr i tos d e m in ha m ãe , que m e amal d i çoa .

Não te nho'

o utra m an e i r a d e av i sar-te , am o r d o

m eu co ração . Nossa S e nho ra qu e i ra, na s ua'

i n

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90 NA VID A

fi n i ta m i s e r i có rd ia, que nã o te e squ e ças,an te s

da no ite fe chada,d e mandar bu scar e sta carta

ao l ogar d o costu m e . A Do rote a, que m e c r i o u

e que to da a manhã te m cho rado com igo , d iz—m e

que a tua v ida não'

e stá se gu ra e m V iana, que

d e v ias atar do i s baús , armar quatro c r iados co m

bo n s bacamarte s no s ar çõ e s e s e gui r j o rnada

para o Pô r to . S e fo re s , D e u s te acompanh e , m eu

d e sgraçado am igo, que não se i que p e cado fi z

e m qu e re r-te tan to . E não te compad e ças da

so rte da tua pobr e R osa, que há-d e se r s e mp re

fe l iz e m quanto D e u s lhe d e r con so lação d e po

de r so f re r e cho rar p o r ti . 3 d e abr i l d e 1 8 1 1 .

R osa Maria. »

Leste— L i , re spon d i e u, co m os o l hos e mbac ia

d o s de l ágr imas .

— R ui Man u e l , po r co nse guin

te,não ch e gou a re ce b e r e s ta carta

Não a re c e b e u . Po r i s so e u fu i e n con trar

no s l i v ro s d e ób i tos d e Santa Mar ia d e no

m e smo d ia 3 d e ab r i l d e 1 8 1 1 , o r e g isto da mo rte

de u m R ui Man u e l d e Nápo l e s e B o u rbon , com

e sta nota lan çada a m arg e m p e l o abad e : « m o r to

a falsa fe , d uma arcabu zada que lhe d e ram » .

—E R osa Mar ia

Con sta d o s l iv ro s d o nov i c iado d o m o s

l e i ro d e S antº

Ana, d e V iana d o Caste l o , que d o i s

d ias d e po is , 5 d e abr i l , v e stia o háb ito da ap ro

vação na re l ig i ão d e S . B e n to só r o r R osa Mar ia

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MAR IA ao S A 9 1

Jácom e d e Amo r im Pe re i ra, com dote d e do is

m i l c ru zados e u m carro d e tr i go .

Natu ral m e nte,ch e gou - lhe para o que hav ia

de v i v e r, d i ss e eu.

—Não . Não se morre d e dô r , po rqu e só r o r

R o sa, e m 1 843 vivia'

ainda .

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t l HOMEM DA MALH A BR ANCA

Quan do onte m fu i ao c e m itér io c ump r i r u m

d e v e r d e p i e dad e ,e ncon tre i M .

º"º X. V i n ha tóda

ve sti da d e p re to,os

'

o lhos v e rm e l h o s d e cho rar,os s e u s adm i ráv e i s cab e l os l o i ros e nvo l v idos e m

c rep e s . Fe z—m e im p re ssão . T i nha-a co n h e c i do

hav ia o ito an os , quando e la se e stre ara e m L is

b o a como arti sta d e c i rco , e ap rox imara—m e d e la,

mai s tard e , a sua fu n e sta l igação co m um am igo

m e u. Atrav e ss e i,para lhe falar, a alam e da d e s

cob e rta d e so l . D i ss e -m e , vagam e nte , que ti nha.

v i nd o acompanhar u m morto q u e r i do . A sua vo z

tre m ia. A sua pal i d e z as s u sto u—m e . Cam ba le o u .

D e u-m e, p o r u m mom e n to , a i m p r e ssão d e que

ia p e rd e r o s s e nti d os . Pou co a po u co , re an i mo u-se

,te v e um a c r i se d e c hº ro , p e d iu-m e que

acom panhas se até a car ruage m . Ofe re c i-lhe o

m e u au to móv e l . A c e i to u . I n stan te s d e po i s , se

gu iamos ambos no R e nault que m e trouxe ra,

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o H OMEM nA MALH A l inANCA 93

e u pe n sando na i m p re ssão p ro fu n da que , ai n da

m e smo no s h om e n s mai s i n se n s ív e i s , p rod u z e m

as l ágr i mas d uma mu lh e r bo n ita,e la d e o l h os

fe chados , co m a cab e ça pou sada no m eu omb ro ,ch e i ran do , d e ve z e m quan do , a ro l ha do i rada

do mai s p re c io so f rasco d e sai s que te m aj u dado

um a m u l h e r a cho r ar ao pé d e m im .

Fo i e n tão que e ssa c r iança g ran d e, que é M .

º"º

X,m e co n to u s i ngu lar h i stó r ia que a ti n ha

traz i d o , naque la manhã l umi nosa de s e te mbro ,ao c e m itér i o d o A l to d e S . João . q uanto

o u v i , l e mbre i-m e v i nte ve ze s d e O scar W i l d e e

d o seu e l e gan te c u l to do i n ve ros ím i l . A re al i

dad e ati n g e,as v e z e s , um a tã o v iva exp re ssão d e

ab surdo , — que s e r ia p e rm i ti d o , sob re tudo tr a

tan do-se d e m u l h e re s , d uv idar da p róp r ia e vi

dên c ia. O caso d e M .

ª"º X,com o e la m o con to u ,

é , re al m e nte , d uma grand e s i ngu lar id ad e . Um

b e l o d ia, com e ço u a p e rs e gu i - la um hom e m .

Apar e c ia- lhe e m tôda a parte,nas ruas

,n o s co m

bói o s, no te atro . E r a um rapaz n ovo , tr i nta e

tantos an os,seco

,r u ivo

,e l e gante , v i r i l , co m u n s

o l h os pardo s p e qu e n os , um a fi s i on om ia inqui e

tan te , um'

impas s íve l ar d e fi m d e raça,e,o que

o to rnava mai s e stranho ai n da, um a gran d e m a

lha b ran ca'

no s cab e l o s , c r ua,v iva

,como um a

p i n c e lada d e cal . E'

as ve ze s d i f íc i l sabe r p o r

que razão c e rtos ti p os ab e rrante s d e hom e m in

te re ssam tão v ivam e nte as mu lh e re s . Pe rante a

insistênci a da p e rs e gu i ção,M .

º"º so r r i u,i n

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94 NA vm a

d ign ou -se,acabo u p o r se p e rtu rbar , —e c e rta

n o i te d e Carnaval , as tres hór as da mad rugada,

a sua po rta abr i u -se a u m hom e m que e la não sa

b ia qu e m e r a, para. se fe char, d u as h o ras d e po i s ,sôb re um amante que e la co nti n u ava a não sa

be r qu e m fôsse . Na n o i te s e gu i n te , o de sco nhe

c i d o vo ltou. D e po i s d e d uas ho ras d e vo l úp ia c

d e s i l ên c io,

X qu i s sab e r- lhe o n om e . E l e

fttou-a com e stranh e za,p e rcor r e u com os s e u s

p e qu e nos o l h o s cô r d e aco e côr d e água o co rpo

d e ssa mu lh e r te nta d e m i sté r i o , d e comoção e

d e p e r fum e , e d e po i s d e fitar , d e a anal i sar, d e

a p e rsc ru tar. p e rgu nto u -lhe , com um a fr i e za g la

c ia l,o que pod e r ia i n te re ssa-la o facto , abso l u

m e n te i n d i fe re n te ,d e ê l e se chamar José , João

ou An tón i o . A p r i nc íp i o , M .

º"º X co n s i d e ro u a

sua av e n tu ra c omo um d e svar i o passage i ro co m

u m h om e m que pod e r ia te r co n ve n i ênc ia e m

oc u l tar o seu nom e .

'Em bre ve , po rém ,e ssa r e

s e rva obsti nada com e ço u a v e x á-la, como um

u l traj e,T i n ha

,e v i d e n te m e nte ,

o d i re ito d e sa

he r qu e m e ra o i n tr u so que re c e b ia. na i n ti m i

dad o da sua al cova,e, o que e r a p i o r, na i n tim i

dad e do seus e ntim e n to . Proc u rou , i n q u i r i u , d eu

s i nai s : n i ngu ém o co nh e c ia. Um a no ite , d u ran te

o son o,re vo l v e u - lhe as al g i b e i ras da casaca e da

p e l i ça : na carte i ra,se m monograma,

hav ia ap e

nas d i nh e i ro . Ne m um b i l h e te , ne m u m pap e l ,n e m um a i n d icação . T e n to u subo rnar o chan!

[ e ur que cos tumava traze -l o e lcvá- l o . I n úti l .

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96 NA VID A

e ncon trar n e ssa i d e ia um a vaga. e p e rturbado ra

vo l ú p ia. Po r fim , j á e la p róp r ia e r a i n te re ssadae m p ro l o ngar um a s i tuação que a p r i n c íp i o lhe

par e ccr a ofe n s i va da sua d i gn i dad e d e mu l h e r ,e que lhe re ve lara afi nal , a e la

,fati gada d e e m o

çõ e s , a mai s abso rv e nte e a mai s p ro f u n da d e

lôdas as s e n s ual i dad e s — a s e n s ua l i dad e d o m i s

tér io . Du raram al gu n s m e s e s , no m e smo pé d e

i ng ógn ito , as r e laç çõ e s d e M .

º"º X co m aqu e l e ho

m e m e xtrao rd i ná r i o . Um d ia,a anti ga e cuyê r e

acho u—lhe na al g ib e i ra um re vó l v e r . G ri tou , e m

pal i d e c e n,o l h o u -o . E l e ,

s e re nam e nte , so rr i u ,vo l tou a guardar a arma cu j o p u nh o d e p r ala

sc inti lava com o um a j ó ia, e af u ndo u -se n um

m uch—co rn e r,

lê r j o rna i s . Passaram-se do i s ou

tr ês m in u tos . D e re p e nte,M .

º"º X, que comp u nha

os cab e l os ao e sp e l h o,o uv i u um ti ro . Co rre u ,

como do i da. O « hom e m da mal ha b ran ca» l i n ha

a cab e ça l e ve m e nte i n c l i nada sôb r e o so fá , e um

fi o d e sangue e sco rr ia- lhe p e la fac e c r i spada . Es

tava mo rto . O m e smo aul o m óve l que o tr o u xe ra,

c o nduz iul o ao hosp ital e à morgue .

—Fo i ess e m o r to q u e r i d o que eu v im e n te r

r ar — co n c l u i u ch o rando M .

º"º X,quan do

o R e nault lhe parava j á a porta d e casa, o frasco

d e sai s aban donado n o re gaço,o s c rep e s flu

l uando a arage m e m vo l ta do s s e u s marav i l h osos

cab e l o s cô r d e fogo .

— E,afi nal

,q u e m e ra e l e ? — p e rgu nte i , aju

dando-a d e sc e r .

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o H O M EM DA MALH A nm xm 97

X'

l . º"º X o l h o u -m v, amparou—se ao m e u b raço ,

e e m quan l o as l ág r imas lhe b o r bulhavan i

o l ho s re spon d e u , num so luço :

Não

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M l tG l l JAD'

E ntre cs pap e i s d um pobr e am igo morto,ve r

dade i r as Conf e ssions d'

un e nfan t du si êc l e

co ntr e i e sta s e nti da pág i na

Ao ch e gar a Lisboa, d e po i s d e v i n te an os d e

ausência e m Ne w -Y ork, tõdas as m e mór ias da

m inha moc i dad e d i stan te se av ivaram . S e nti

e m tu do,n o so l

,nas co i sas , na l u z que m e e n

vo l v ia,no ar que r e sp i rava, a i l u são rad i osa e

p e rtu rbado ra do passado . A trave s s e i , quas i como

um e stranho,a c i dad e que ass i sti ra as p r im e i ras

e moçõ e s da m inha j uv e n tud e . Não h o uv e um r e

can to,u m aS p e c to , que não ti ve s s e m para m im o

s e n ti d o d uma re co rdação . Nu n ca j u l gu e i que

poss u íss e tão v iva a m e mó r ia d o s e n tim e n to .

Ve l hos afe c tos,an ti gas l e mb ran ças , pa i xõ e s d u m

in s tan te e l o u c u ras d e le da v i da,vagas re m i

n iscénc ias d e s e n saçõ e s , image n s fug i ti vas d e .

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1 00 NA VIDA

nós , se ntim e n ta i s , te m o s,mai s oum e n os vo l ú

p ia do sofr i m e n to . Eu sab ia,d e an te -m ão , que

não pod ia to rnar a ve r e ssa casa se m m e s e n s i

b i l iza r até as l ág r i mas . E um a b e la manhã, tal

v e z po r i sso m e sm o . l'

ui vê, - la . Como e u s u b ia.

n ou tro te mpo aq u e la lad e i ra íng re m e da Am e i

x o e i r a, d e sd e o ve l ho so lar i l lpC l'

l tl I'Zl d O dos m a r

qu e s e s d e A nj e j e até ao c ru z e i ro h um i l d e que

abre os s e u s b raços d e p e d ra l á c ima, d e b ruçado

so b r e o val e V i ço s o d e Od iv e las ! E ago ra,v i n te

anos d e po i s,quando j á a moc i dad e m e não so r

r ia e n e nh u n s l áb i os d e m u l h e r m e e sp e ravam ,

como e u a”sub i l e ntam e nte , p e n osam e n te .

sob a n évoa tr i ste dos m e u s cab e l o s b rancos ! O

co ração bate u -m e ap re ssado . As lágr imas e mba

c iaram -m e o s o l h os . Lá e sta va, ao al to do có r

r e go,n uma vaga po e i ra d e so l

,a pob re cas i nha

c o r d e rosa que fo r a, na p ro f u n da e xp r e ssão das

c o i sas i nan imad o s , p e qu e n i n o ab r igo d e um

s e n tim e nto e te rn o . Ap rox im e i -m e para ve r

m e l h o r, 'para a acar i c iar , para a s e nti r . Umas

somb ras n e g ras mov iam -se à por ta . I l ma r ar

r e ta n e g ra e sp e rava na vo l ta da e strada . Ouv i

m n chõr o convu l so . A s p e rnas vac i laram—m e .

m are i—m e ao mu ro para não cai r . D a casa que

e u e n ch e ra com o ma io r amo r da m i nha v i da,

sala um ca ix ão . Cho re i e m s i l e n c i o .

T i nha v i n do ass i s ti r ao e nte rro da m i nha p r o

p r ia moc idad e . »

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S Á IAS DE BA LÃ O

—Que saudad e s e u te nho das mu l h e re s d o

m e ute mpo d iz ia—m e o m e uam igo D . A l e xan

d r e d e So u sa,n u m d o s ul ti m os chás m u ndanos

d o H o te l C e n tra l . v e n d o pas sar na varan da d o i

rada p e l o so l da tard e um a re voada f re sca d e r a

par i gas .

Voce e stá co nv e n c i d o d e que e ram m ai s

i n te re ssan te s d o que as d e hoj e

E ram , co m c e rte za, mu ito ma i s grac i o sas

m u i to mai s f e m i n i nas , — m u ito mai s mul h e re s .

Quando v e j o o d e s e mbaraço v i r i l das rapar igas

d e ago ra, que j ºgam o te n n is e cruzam a p e rna

como rapaz e s,s i nto — pa lav ra d e hon ra —

a

n os tal g ia da saia d e ba l ão . E u be m se i que o s

ve lhos , q uando se vo l tam para o passado , vê e m

tu do co m o s o l ho s dos v i n te anos . Mas vo cê,se

ti ve ss e co nh e c i do as rapar i gas do m eu te m p o ,1 858

,1 860, co m o s s e u s cam afeus, as s uas cap o

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1 02 NA VIDA

tas d e pal ha d e i tal ia,os s e u s gran d e s ve sti d o s d e

tar latana cô r d e r osa e a sua e ncan tado ra ti m i d e z

d e p e ti fcs c e rtas — hav ia d e p e nsar com o e u.

Eu não se i se e stas co i sas te e m m udado,

“e se vo

ces , hom e n s n ovos , p re fe r e m vo l u ptuos i dad e

da au dác ia a p ro fu n da e p e rtu rbado ra vo lup tuo

s i dad e da candu ra . Para m im,e para o s da ve

lha guarda, com o eu, o e ncanto su p re mo da mu

ib e r e stá a i n da na modéstia,

na i n ge n u i dad e ,

no pu d o r,na graça tfm i da, na igno r ânc ia d i s

e r e ta, e — qu e r que lhe d iga ? — naqu e l e d e l i

l ir i o so g r ão sinho d e e stu p i d e z a que nós outro s ,

rom an ti cos,chamamos i n ocên c ia . Não se i se voce

j á r e parouque não são as mu lh e re s m u ito i n te l i

g e n te s que d e sp e rtam as mai o r e s pai xõ e s . A i n

te l ig e nc ia te m qual q u e r co i sa de'

ág i l , d e máscu l o,d e i r r itante ,

—que re p e l e a s e n s ua l i dad e m i ste

r io sa d e hom e m . Não conh e ço e ncan to su p e r i o r

ao d e um a m u l h e r que e sta calada, — e não se i

que e sc r ito r i ng l ês afi rmou que não hav ia vo

lup tuo sidad e com paráv e l a d o s i l ênc i o . A s im p l i

c i dad e d e e sp í r ito das rapar igas d o m eu te mpo ,

que tão i n te re ssan te s as to rn ou,fo i , sobre tudo .

um p rod u to d e e d u cação , um a ob ra cari nh osa

da fam i l ia. Conh e c i al gumas que amaram ,ç a

saram , ti v e ram fi l h os , e e n ve l h e c e ram e m p l e na

i n oc ênc ia como gran d e s béb e s d e cab e l o s b ran

co s . A s te ndênc ias da n ossa e d ucação se ntim e n

tal l e varam-n os,d e s lum b rados d e can d u ra, co

s i d e rar'

a i gn o rânc ia da mu lh e r tao b e la com o a

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1 04 NA vm a

d o Inun iar , um casarão d o séc u l o XVI I I , notav e l

p e l o s s e u s azu l e j o s do R ato , p e las suas te ias d e

aranha, p e las car rancas do s seus m o d i lhõe s e po r

u m o u d o i s adm i ráv e i s te tos p i n tados po r Pe d ro

A l e xan d r i no . Passo u -se a tard e n o jard im . A

n o ite ac e nd e ram -se todas as se rp e nti nas d e p rata

mare ada que se e ncon traram nas arcas,e as se

nho ras r eun i ram -se na sala g ran d e , on d e se ha

v ia d e s e rv i r o cal d o d e gal i nha da m e re nda e m

tige las ve l has da i nd ia. A i n da m e re co rdo como

se fºsse hoj e — ti n ha e n tão d e zass e i s an os — da

i m p re ssão que p rod uz i u e m m im ess e sal ão p r o

f u n d o , tod o guarn e c i do a vo l ta d e p e sadas ca

d e i ras D . João v,ond e se s e ntavam imóv e i s

,s i l e n

c i osas , d e o l h o s bai xo s , al i nhadas c omo f re i ras

no có r o , se s se n ta o u s e te n ta s e nho ras ai n da no

vas,pojan do o s s e u s e n o rm e s bal õ e s d e p e k i n

v e rd e , d e m o i r ée N i n on,d e cam ai

'

eua: de l e , d e

tar latana cô r d e rosa, donde p e nd iam como ba

da l o s d e s i n o — as cad e i ras e ram al tas — c e n to

e v i n te,ce n to e quare nta pe sinho s ca l çados d e

dur aque p re to . A s e c re tar ia da l e gação da Aus

tr ia canto u Gazza Lad ra; Bu lhão Pato re c i to u

ao p iano . A c e rta al tu ra,m eu ti o , que b r i n cava

s e mp re,l e van tou -se , e d e pé no m e i o da casa

e sto u a ve r -lhe fac e rapada,a s ob r e casaca azu l ,

as mãos fi nas — p re v e n i u as se n ho ras d e que .

um a das cad e i ras daqu e l e sal ão , não se sabi a ao

c e rto q ual , poss u ía s i ngu lar p r ºp r ie dad e d e

o br igar a p e ssoa que n e la se se n tava d ize r o

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S A IAS o r: BALÃO IOS

que não qu e r ia e a re ve lar,invo luntár iam e nte , os

ma i s íntim os se gr e dos da sua al m a . E las a p r iu

c i p in so r r i ram , fi z e ram b o quinhas d e e span to

m as d e po i s com e çaram a o lhar

d e scon fiadas u mas para as o u tr as a co rar,

mo rd e r o b e i ço,

'

a l e van tar-se,a sai r a fo rm ig a.

—e o c e rto é,m euam igo , que , quando os c r iados

e n traram para s e rv i r a m e re n da, j á não e s tava

na sa la ne m um a. I nge n u i dad e , s im p l i c i dad e d e

e sp í r i to , d e fe ito d e e d u cação , —o que vo cê qu i

se r . O que lhe afi rm o é que , n o m e i o das rapa

r igas v ir is d e hoj e que falam e m cal ão , traz e m

a saia p e l o j o e l h o e não te e m medo d e nada, e o

m e ço a s e nti r a m e lancó l ica saudad e das mu lh er e s do m eu te mpo , pob re s bo n e qu i nhas tím idas

d e há c i n co e nta an os, que co ravam . bal bu c ia

vam ,sorr iam ,f ug iam com medo d ian te d uma ca

d e i ra— m as que so u b e ram dar -no s na v ida a

conso lado ra i l u são da cand u ra,da fe l i c i dad e e d o

amor .

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O CR IM E

A e s trada co r r ia c o rtando u n s m on tados e

bou ças fl o r i das d e m ato e x com u ngado . Na vo l ta,

l -í bai xo , d e e n co n tro a um a l omba d e p i nhal

man so,copado d e sombras , um a casa fai sco u

como um a p i nc e lada b ranca ao so l .

— Ve s aqu e la casa —p e rg u nto u -m e o m eu

am igo , cu jas largas m ão s d e hér culcs,e n l u va

das d e l ã c i nz e nta, man e j avam como um br i nq u e

d o o vo lante d o au tomóve l .

Aqu e la casa branca

E“

o casa] d os Cab e ços . R e para, q uan d o

passarm os po r l á . Te m a sua histó r ia.

Um cu nha] d e armas ?

Não . Um c r im e .

D aí a c i n co m i n u tos , o no sso adm i ráve l B r a

fe r passava d ian te d uma te r rea ve l ha d e quatro

pare d e s caiadas,com o se uIe lhado d uma só água,

três cacho rros d e p e d ra a ague ntar e ni um a par

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1 08 NA V IDA

e ad e r como um p e rd igu e i ro,val e nte com o as ar

m as .

'

.ºalhºu u mas m o e das na arca,ar re ndo u

es te bocadº d e te r ra, e caso u cºm um a rapar iga

do l ºgar d e N e g ros,a R osá r ia

, que, pod ia se r fi

lha d e l e . Um d ia,v i e ram af trabal har n o casa l d e

c ima u n s mal te s e s . E ra um a j o l da d e l e s , m al e n

car ad o s,cºm u m m anag e i r º p i o r que e l e s tºd os ,

0 F i l i p e . Da l i p o r d iante , º Jºãº Mar ia cºm e

e o n a e stranhar a m u l h e r . Ach ava-a tr i ste . 0

que e r a, o que não e r a, ate que.

d uma ve z o m a

nag e i r o ,e nco ntran do-º n uma vº l ta da e strada,

d e u u m sal to ao l argo e m e te u a mão à c i nta.

Q u e m m al n㺠usa,m al n㺠c u i da . 0 Jºão Mar ia

se g u i u se u cam inho , e a n º i te , q uando fa l o u a

nm lhe r n o F i l i p e,v in-a m udar d e cô r

,º s u o r e s

co rr e r-lhe e m baga p e la te s ta,amparar—se a um

mochº d e c o r d e i r o para n㺠ca i r nº chão ,

— e

fi co u a º lh ar para e la,d e º l h ºs e sbºgalhadºs, se m

e n te nd e r nada. N e ssa no i te,o pob re, hom e m nãº

do rm i u . Na m anhã s e gu i n te , carre gou c lav ina,

ap e r r o u-a,m e te u -a nº vão da po rta cºm º ch um

he i r º e o pd lvo r inho d e ch i f re ,b e i j o u a mu lh e r ,

d i ss e - lhe que d e po i s d o tr abal h º ia a v i la, que

não o csp e r assse até a no i te,ati rº u a e nxada ao

omb rº , —e aba l º u . A i n da n㺠e r a nº i te f e chada,

e stava d e vo l ta . Log o que d e i to u m 㺠aº fe rro lh o

d a po rta, ou v i u um gri to , o r m nº r d u ma ti ge la

que se e sti l haça no lad r i l h o,—e a l u z apagou -se .

« Qu e m e s tá aí“l n— g ri to u e l e . S e nti u o r e stº

l e gar d um hºm e m ; d e pº is , o e sto i ro d um ti rº,

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e cam a 109

que lhe e ham usc r u d e ras p㺠a cam i sa, se m l he

l o car . T i nham -lhe m e ti d o aºs p e i tos a sua p ró

p r ia c l av i na,o s c ana l has . J oão Mar ia avanço u ;

'uf ivinho u um vo l to a sa l ta r-l he na f re n te ; v i u

t'

aís e a r -Ihe a i n da d ian te dos o l h os o fe r ro d u ma

nava l ha ,e,s e r e n o . fo rm idáv e l

,l e van to u nas

d uas mão s a e nxada e abate u -a,d um gº l p e , na

e sc u r id㺠. H º u ve um r u íd o ouv e ; um a pas tada

q u e n te,sangu e ºu lam a,

( : sp i r r ºu- lhe na cara ;s e n ti u a inda e nxada ar pºan e m carn e º u e m

far rapºs ; d e pº i s , º baque s u rdº d um cº rpº , um

rºncº d e e s te rto r, u m gr i to , — e º s i l ên c i º . R e

cuou,ate a pº rta ; v e i º , a cambal e ar

,pa ra a e s

trada . A trás de l e,gr i tand º

,sa i u a m u l h e r . Ind

ti l . N i ngu em a o uv i r ia na charn e ca d e s e rta. Jºãº

Mar ia tr avºu-lhe dº braçº , ati ro u -a para casa, ºr

d e no u - l h e z— « Ac e nd e a cand e ia Quand º a l u z

c re p ito u,o cadav e r d o mal tes F i l i p e apar e c e ud e

b r uço s,com º crân i º ab e rtº

,n uma pºça d e san

gue .

—« Mata-m e ! Mata-m e a m im também

u ivava a m u lh e r ati rada sºb re um a ar e a — « Não .

1) te u ca sti gº e o u tro . » E l ºgo,ar re m e s sando o

capºte,agar randº a e nx adaz— « Traz e a Can d e ia .

Vamºs e nte r ra- l º . » q uan tº e la a l u m iava a

tre m e r,vare j ada d e sº l u çºs , Jºãº Mar ia ab r i u

um a cºva a po rta da casa ; ob r igºu a mu l h e r a

s e gu rar º cadáv e r p e l os pés,e m quanto ê l e º afe r

rava p e l o s om bros ; d e i tº u o cº rpº a te r ra, que

se e sbo roava e m to r rõ e s ; cºb r iu-º , b e m cºb e rtº ,pá sºb r e pá ; fº rç o u a R ºsár ia

,tran s i da

,a lavar

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1 10 NA V IDA

d e rastºs º sangu e dº m anag e i r o , que e mpoçava

nºs ti j º l ºs d o ch ão ; tro ux e a cand e ia, e n trºu , fe

cho u a pº rta —e s e n tadº na cama, tranqui lam e nte

,a car re gar ºu tra ve z c lav ina, p re v e n i u

« S e cºn tas i stº a al g u em ,m e tº-te na c ºva

cºm e l e » . De pº i s,s e r e n º , l i mpan do as mãos

,

d e sp i n do º cº l e te d e sarag oça : « E agº ra,m u

th e r,va mo s dº rm i r» . T r ês d ias d e pº i s , se m que

se sº ub e s s e pº rq u ê,Jo㺠Mar ia e ntr e gava-se a

jus ti ça.

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f l 2 NA vm a

mob i lada po r arti s tas man d ados v i r d e Par i s,e ra

um mºde l o d e d i sti n ção e d e b o m go sto , o l i po

f l o mod e rn o lar d e a r te e m F ra nca , c o m nn'

ive is

d e Mau r i c e q'

reh a,d um d i sc re to in tim istuº

um su rp re e nd e nte v i tral d e Car o l , d'

ap r e s B e s

nard , .n

. a ma i s b e la cº l e cç ão d e fe r ros fo rjados

d e ti rasse t e d e . B rae que m o n l I:“

un padas , Ius

tre s,fe c ho s d e pº rta -

que pod e r ia d e s l umb rar

um am ado r d e d e co raçõ e s mod e rnas . Fu i as

s isti r aº l e i l 㺠. I m e n sa ge n te , um a atmºsfe ra

d e to m o ,um cal º r asfi x iante

,um a l u z d o i rada

e quie ta d e m e ia-ta rd e . T inha-se c om e çado n o

q u e l e mom e n to o l e i l 㺠d o q uar to-d e -v e s ti r . A

voz rº u ca do p re gº e i rº g ri tava. Um a r e ste a d e,

sº l ia afagar três Amo re s cô r d e rosa que b r i n

cavam aº canto d um d e l ic i ºsº tapete d e Jo r

rand . l l av ia nº ar º v e s tíg i o , º e sp e ctr o , a so m

b ra d um p e rfu m e . Gru pos d e rapaz e s,d e cha

p eu para a n u ca,fa lavam a l e gre m e n te : la mo r

ta, r i n dº , com e ntandº , f uman do . i lm a i ng l e s a

g r ave ,l º i ra

,m íºp e

,e x am i nava aº pó. d e m im

a marca d um gua rda-j o las d e L i mog e s . Tres ,

q uatro cab e ças-d e -

pau, a barba po r faz e r,

as

mão s g rºss e i ras e e n º rm e s , l ie ita vam , p icavam

tud º . P rºc u re i d e s i n te re ssar-m e da ge n te que

m e rod e ava,para ob s e r var m e l h o r aq u e l e i nte

r i o r galan te, que tã o d e p e rtº con h e ce ra a p e r

tu rbado ra i n ti m i dad e d uma m u lh e r . E r a u m

i m pé ri o J al lºt, ve rd e -mal va e º i ro , grac i ºso , d e

l icad o,l i g e i ro

,ond e tud o pare c ia e vocar , na

i

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UMA MULH ER 1 1 3

mac i e za dºs e stº fos , na al ma l u m i n osa dºs e s

p e lhºs, na vº lup tuºsidad e mº rna e c re p itantedas re n das

, o cº rpo o rgu l hoso que v ive ra, quer e S p i r ar a, que pal p i tara al i . D i r-se -ia que p ro fa

naç㺠he d iºnda d u m l e i l ão n㺠ti nha tocado o

m i sté r i º daqu e l e p e q u e n º te mp lº . A graça fe

m i n i na, p e n e tran te e i mo rtal,sob re v ive ra aº

que n e s sa mu l h e r ti nha hav i d o d e e sp l ên d i do e

d e e fêm e rº . S e ntia-se ai n da e m tu do,n um laçº

d e fi ta e m que n i ngu em tocara, n u m sº l itá r i o

ºn d e mo r re ra um a fl o r, o e ncantº , a e sp i r itual i

dad e das s uas m ãºs , —d e ssas l o ngas mãºs mai s

gran d iosas d º que duas, que tantas v e ze s m e

hav iam r e co rdadº as d e Mºna L i sa G i ºcºn da.

q uan to º p re gº e i ro p u nha e m p raça um l ºte

d e m e ias d e seda, e n tre r i so s que e ram um a

afrº nta para º p u dº r d um cadáve r , p roc u re i r e

v iv e r-na m e mór ia,traçº traçº , fi gu ra d e ssa

pobre ch i l e na, º se u p e rfi l aqu i l i n o e i m p e r ial,

a somb ra d e m e lancº l ia que as l ºngas p e stanas

p roj e ctavam sºb re a sua fac e d uma pal i d e z dºi

rada, º seu cº rpo o l imp i co,

a sua apare nte

fr i e za d e sd e n hosa que n u ma cé l e b re nº ite d e

S . Car l os m e fi z e ra re p e l i r m e ntal m e n te a f rase

d e Barb e y d e Aur e vi l ly z— « Ah ! L e cor p s d e

c e tte fe m m e e'

lafi sa seul e dm c !» Para m im,

que a n㺠ti n ha co nh e c i dº intim am e nte , e la r ea

l izava o ti p º g lac ial e e nér g ico das mu l h e re s

que tº dºs d e s e jam e que n ingu em am a, que sãº

vo l úp ia e que n㺠sabe m se r cº raç㺠, que si

8

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1 1 11 NA VID A

m ultan e am e nte atrae m e re p e l e m , apai xºnam e

d e s e ncantam , e que , v i v e n dº da fe bre i n sac i áve l

d e amar, m º r re m se m te r cºn h e c i dº,n º bál

sam o das l ág r imas,a co n so lação e a dºçu ra dº

ve rdad e i rº amo r . Nº º rgu l h o da sua inse nsibi

l i dad e e da sua b e l e za— p e n sava eu— e ssa

c r iatu ra, que d e sp e rtara tan tas pai xõ e s,ti nha

acabado se m u m afe ctº . Lan ce i d º l º rºsam e nte

um ú ltim o º l har a esse te mp l o d e d e u sa mº rta .

.Xo a l tº,num te to d e l i cadº de Gu stavº J aulm e s

,

r e vo avam pombas b ran cas . R e ti n i u sºb re um a

e r e dônc ia a tampa d uma ca i xa d e p rata . Passa

vam ro r i pas,no ar , d e m㺠e m m㺠. Tºda a

g e n te r ia,co nv e rsava, comº n uma fe sta. Quan

do ia a re ti rar-m e,

r e tr ºce d i n um mºv im e n tº

d e i r re p r im ív e l c u r i o s i dad e . Nº cº rr e do r,j u n tº

do q uarto -d e -v e s ti r, hav ia um a po rta fe chada .

Ab r i -a . A s su rp resas que n ós as v e z e s te m o s .

pºbre s da al ma h umana, que

q uan to ma i s a e s tu dam , m e n os a conh e c e m !

Na m e ia- l u z , d e j o e l h º s j u n tº aº l e ite que fº ra

d e ssa nm lhe r , d e ssa m e sma mu l h e r que eu j u l

g ava i n capaz d e te r d e sp e rtadº um s e nti m e ntº

p ro fu n do,u m rapaz In i r º

,v e s ti d o de p re to ,

cºm

um l e nço n ºs º l h ºs,cho rava cºnvuls ivam e nte .

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l 1 6 NA VIDA

seu co rp o se e nc re spa, n uma p e n u g e m b ran ca,com º se e m p l e na p r imav e ra ti v e ss e n e vadº sº

br e um a fl º r . 0 seu º rgan i sm º l e ve , n e rvº sº ,v ib ráti l

,te m , aº m e sm º te mpo

,º s e gredo dºs

mºv im e n tos v e rti g i n oso s e das im o b i l idad e s pa

r ado xais . Tu dº n e la e r i tmº,ºnd u laçãº

,m i s

tér iº, s e n su a l i dad e , e ncantº p e n e tran te e graça

fe m i n i na.

.

Há e xp re ssõ e s e m que tºda e la se

f ranz e , e se e n ruga,e par e c e que so rr i . Há hº

r as,atitu d e s , e fe itº s d e l u z , e m que a sua adº

rav e l cab e c i nha dá a im p re ssão d e que a e m

p o ar am , e d e . que se d e b ru ça d u ma b e r l i n da

Lu i s xv ,« d e vam l e s tro is m ar chas d e m arbr e

r ose ». Passº as v e z e s m u itº te mpº O l há-la, a

ºbse r va-la, s e g u i- la. Te m , e m todos ºs s e u s

ge stos,e m todºs os seus mov im e n tºs

,a incºn

sc iênc ia d uma c r ian ça,e a vº lubi l idad e d uma

mu l h e r . Pe n sa-se , v e ndo-a, no l e qu e d um pa

v㺠bran cº,na transparenc ia dum fl ºco d e n e v e ,

na r i j e za e l ásti ca d uma. vara d e m e ta l . N㺠co

nhe ce m e i o s te rmºs : tºda e la e rap id e z fu l gu

ran te ou l e nti d㺠d e sd e nh osa ; agre s são º u car l

c ia; garra o u p l u ma ; fe ra ºu fl o r . Naqu e l e p e

que n inº cº rpº que ºndula, que se r e c u rva, que

se e n rºsca,v iv e

,cºmo um d iab i nh o fam i l iar , º

gén i o da c ºntrad i ç㺠. Qu e r º que n i ngu em qu e r ,

faz º que n i ngu em e sp e ra, p e d e º que n㺠se

lhe pod e dar , -c ai d e nós se n㺠lhe s e l i sta

ze m o s tºdºs o s cap r i ch os , tºdas as e x ig ênc ias.

tºdas as vº n tad e s : a cab e ça e mpoada e rgu e -se ,

ºs o l hºs fu z i lam cºmo v id r ºs d e cº re s ao sºl ,

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M NIN] [ | T

tºda e la tre m e,e v ib ra

,e gr ita, e se , l e vanta

para nos bate r,e nc r e spada

,o u r i çada, u m laço

cº r d e rosa a abanar- lhe no p e scoço , um a névoa

d e p rata a e nvo l ve-la com o um f um o l ige i ro ,c ru e l dad e da Eva e te rna e ntre ab r i r-lhe bºca

C e n s u ram M .

º“º Nin i po rqu e e la

b r i n ca c o m um a bo la . R al ham co m M .

º"º Nin i

porq u e e la m e x e nas gav e tas . E,

e ntre tanto ,

M .

º“º Nin i é soc iáve l , M .

º“º Nin i é c i v i l izada, Mf ªº

Nin i re c e b e às qu i ntas -fe i ras,M .

º"º Nin i go sta

tanto d e mús i ca, que é capaz d e o u v i r , se ntada

no tampo po l i do d um P l e ye l , se m se mov e r,

se m p e stan e jar, co m a cab e ça a ban da,e m e x

tase com o se o l hass e um mosq u ito im óve l e l u

m in o so ; a Cathe dr al e ng louti e , d e D e bu ssy , ou

a Pavan c p our un e Infan te d e functe , d e R av e l .

N u n ca vi ram aqu e l e s b ravos l e õ e s h e rá l d i cos que

batal ham,lampassados de ve rm e l h o e arm ados

d e o i ro ? Empo e m -l he j u ba, e scon d e m -lhe as

u nhas , e aí te e m M .

º"º Nin i quan do br i n ca c o m

a ponte i ra da m i nha b e ngala. Tuta como um ou

r i ç o branco , re bo la como u m gn omo sati s fe i to ,os o lh os '

sc i nti lam —lhe , as o re l has rosadas e stre

m e ce m,te m atitu d e s cân d i das d e m u l h e r que

m e nte,e há do i s m e s e s — j á h á do i s m e se s que

o seu gu izo a l e g re ti l i nta p e la casa l— u m gén i o

m au rasga-m e o s pap e i s,que bra-m e as jarras ,

re vo l v e -m e o s armar io s,arre p e la—m e o s tapete s,

arranha-m e as

Porqu e M i ª " Ni n i e squ e c ia-m e d e l he s d iz e r

é um a gati n ha f ranc e sa .

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A TOUCA DE REND AS

Estávam os c i n co so lte i rõ e s m e sa da c e ia.

O mai s ve l h o e r a D Caitan o d e No ronha, i rmão

dos marq u e s e s d e s e te nta anos de e l e gânc ia

e d e d i sti n ção que faz iam l e mbrar c e rtos re tra

to s gan f. ja im e do c ond e R ob e rt d e Mon te sq u i e u ;o m a i s novo e r a M r . C larks , d e pas sage m e m Lis

bo a, i n g l ês ru i vo , li n o ,s ibari ta

,w i ld e an o

, que

ch e gar a d o T ransw al e ia co n va l e sc e r da sua ne u

raste n ia e ntre o s r o d od e nd r o s cº r d e ro sa e o s

fa i sõ e s cºr d e ou ro d o s jard i n s d e H e r fo r lshi r e .

Conve rso u—se . D i sc u ti u—S e . Fal o u -se na l e nda de

e go i sm o e d e i n se n s i b i l i dad e que e nvo lw : todos

o s hom e n s so lte i ros . E e m quanto M r . C lark s

so r v ia vo l u ptu osam e n te o se u Pºr to , que sc i n ti

lava no cá l i c e com o um a grand e p e d ra p re c io sa ,

Cai ta no d e No ronha so rr i u , re c osto u -se na

cad e i ra, pu xo u o s pu nhos com o faz ia o marq ues

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120 NA VID A

d e S . Tomé — pare ce que e sto u a ve r as gran

d e s salas armadas d e g o rg o r ão amare l o , as có

modas d e laca e'

b ron ze,as e s tampas d e Coch i n

e d e Le bas p e las par e d e s t— três ve l h os fidal

g o s, que e ram o seu con f e sso r , D . A n tón i o R a

fae l d e Castro,p r i n c i pal da Igre ja Patr iarca] ; o

seu pad r i n h o , ge n e ra l D . José d e M e l o César d e

M e n e s e s, fe r i d o três v e ze s e m S m o l e nsko , e m

Moscow ,e m Wagram ; e o seu tuto r, D . Al e

xan d re , i rmão do marqu ês d e Pe nal va, u m vê

lho d o anti go re g im e n , cab e l e i ra d e rab i ch o e

sapatos d e fi ve la, que não ap e rtava m ão a n i n

gu em co m medo d e se s u jar, e que não ass i stia

a u m bai l e se m traze r atrás d e s i um c r iado

aj o u jado com um a bac ia d e p rata, um g o m i l d e

água-as-mãos e um a to alha'

d e re n das . Ne n h u m

de l e s ti nha ch e gado a casar-se ,

— Mons e n ho r

po rqu e e ra pad re,o ge n e ral p o rqu e n u nca p e n

sara sé r i o s e não e m roubar bai lar i nas como

Ju not e e m ati rar a p i sto la com o o d uq u e d e La

fõe s, e o Pe na l va— d iz ia, so rr i n d o , o se nho r Pa

tr iar ca— para não te r d e ape rtar a m ão a n o i va

d e bai xo da e sto la do pad re . So l te i rõ e s im p e n i

te n te s,o so r ri so d e l e s , a m e n i na dos s e u s o l h os

e r a tanto j ov e n cond e ssa sua p up i la, que não

se passava um d ia,m e smo d e po i s

,

d e casada, que

não fºss e m ve - la,b e i jar- lhe a mão , l e var-lhe p r e

s e n te s , m ús i cas , cuvi lhe te s d e doc e , ramos d e

ll o re s, e que não re p e ti ss e m às v i s i tas , ao mar i

d o,a m ãe , aponta n do a sua fi gu r i nha l i ge i ra que

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A TOUCA D E R END AS 1 2 1

se p e rd ia e ntre as c re denc ias do i radas como um a

n uv e m d e m usse l ina b r ancaz— « Ve r dade i r am e n

te o s pai s d e sta m e n i na somos n ós » . E não na

d uv i da d e que o e ram,

— s e não p e la natu re za,

ao m e nos p e l o co ração . Um b e l o d ia,andado

'

s

quatro m e s e s d e po i s do casam e n to , D . An tón i o

R afae l d e Castro , que ti n ha o m auháb i to d e m e

x e r no ace tate d e costu ra das s uas con fe s sadas ,e nco ntrou no b o i e tinho da « m e n i na con d e ssa»

(e ra ass im que êl e l he chamava) um a p e qu e n i na

to u ca d e re ndas . Como não hav ia cr ianças na

casa, Mons e nho r, po r cu j o e sp í r ito n e m s e qu e r

passo u a i d e ia d e que pod e r ia have-las e m b re ve ,guardo u a louca

,co ns i d e ro u co m o s se u s bº

tõ e s que aqu i l o « ou e ra p e cado das c r iadas ou

p re s e n te para o m e n i n o J e s u s» , e quan do a no ite ,n um cºch e d o palác i o da R e gênc ia, D . A l e xan

d r e Pe nal va e o G e n e ral ch e garam para 0 vo lta

re te,D . An tón i o R afae l d e Castro ap re s e ntou

- l h e s,co m a mai s i ngén ua das so l e n i dad e s , fa

lan do bai xo , e se m se e sq u e c e r d e c e rrar p r i

m e i ro as portas,aqu e l e sºp ro d e re ndas que ,

na sua op i n i ão,« b e m pod ia d e sti nar-se , e scanda

l o sam e nte ,a cob r i r a cab e ça du m r e cém—nas

c i do » . Os do i s fi dal gos ati raram -se para c ima

dum sofa a r i r co m gºsto da s imp l i c i dad e d o

pad re,e e xp l i caram - lhe , co m o re sp e ito d e v i do a

sua d ign i dad e d e cône g o v e rm e l h o , que , teu

do-se fe ito um casam e nto hav ia quatro m e se s ,não e r a d e mai s que se fºss e p e n san do no e nx o

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1 22 NA vm a

val para o baptizado . Mon s e nho r, que p ri n c i

p i o e m be ze r rar a, acar i c iava,j á r i so nh o

, a p e qu e

n i na—to u ca ; Pe nal va, d e e spad in i e rab i cho , o l ha

va-a,n um e n l evo ; o g e n e ral so rr ia para e la

amo rosam e n te , como se , d e baixo d e ssa névoa d e

re ndas , pal p i tass e a po l pa rosada d u ma fac e d e

c r iança . Po r um i n stan te,aqu e l e s três so lte i

r õ e s, a qu e m D e u s não d e ra a graça d u m fi l h o

e cuj os cab e l o s b rancos não co nh e c iam s e não o

l u m e do lar al h e i o , e str e m e c e ram no m e sm o se n

tim e nto de comov i da te rn u ra. Essa p e q u e na

tou ca d e re ndas,se tiv e ss e um d ia passado na

sua e x i stênc ia,te r ia s ido para e l e s a f e l i c i dade .

Tomaram -na nas mãos,ago ra um

,l ºgo o u tro ; e m

balaram -na com o se ti v e ss e m um a c r iança n o s

b raços ; v ia m j á, na i l u são d o seu e mb e v e c i do ca

r inho,um be rço a ar far j u n to de l e s ; e -

p0br e s

d e n ós , so l te i rõ e s , três v e z e s i ng ênuo s e três ve.

ze s d e sg raçados t - quan do,dal a u m mom e n to

,

pé an te pé , e nvo l v i da no n e vo e i ro b ranco d o se u

ve sti d o d e m usse l ina da Ind ia, a s e nh o ra con

d e ssa m inha tia—avó Os fo i s u rp re e nd e r na sa l a,

o s três vé lho s, co m os o l hos mar e jados d e lág r i

m as, cho ravam e so rr iam e m

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OS D O IS RETRATOS

1 1 e m e ia ?

Em ponto .

A ho ra comb i nada, A ntón i o Carn e i ro ch e gou ,com o seu chapéu ve lasque ano ,

o seu o lhar tran

qui l o , a sua sob r e casaca p re ta. Traz ia de bai xo

d o b r aç o u m cartão e no rm e . Ia com e çar o m eu

re trato .

Ma rav i l h osa l u z !

A ss e ntamo-n os ambos . S e rv ia de caval e te ao

adm i ráv e l m e stre da sangu ín e a,o e spal dar d uma

ve l ha cade i ra D . José . Tom e i , d e sp re ocupada

m e nte,um a atitu d e hab itual . O l hamo-no s, e m

s i l e n c i o . A l u z , mu i to do i rada,m u i to mac ia,

mu i to doc e e nvo l v ia-nos,

acar i c iava—n os , ba

bava o r ico v e rm e l h o d o s móv e i s , e sp e l hava no s

s i l har e s d e az u l e j o d e tapete , ac e nd ia-se e m la

bar e das n os ta lõ e s fa iscante s d o gran d e lamp e ao

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1 26 NA A R TE

do sécul o xvm,traz i do , hav ia an os , do s c lãus

tro s d e S . V ic e n te d e Fº ra. Du ran te c i n co , d e z

m i n u tos,An tón i o Gam e i r o , se m um a palav ra,

obs e rvo u o mode l o . O lap i s ro lava-lhe maqu i

nalm e nte nas mãos . Os o l h o s , ú n ica e xp re ssão

d e v i da na sua fac e im óv e l,s u rp re e nd iam , p e r

sc rutav'

am,i nte rrogavam , traço a traço , ac i d e nte

a ac id e nte,mod e lação a mod e lação , aq u e la fl

s io no m ia ai n da im p re c i sa, a i n da e n igmáti ca, que

o seugén i o d e p i nto r ia re v e lar, i nte rp re tar, se n

ti r . D e r e p e nte , quand o eu e sboçava. um a i n e s

p e rada fl e xão d e cab e ça, o m e stre so r r i u,an i

m ou-se , d e te v e -m e n u m ge sto

Ass im . E stá be m .

O p r im e i ro traço mo rd euo pap e l . S e n ti-lhe a

asp e re za,a n i ti d e z

,a e n e rg ia. O trabal h o com e

ço u . Conv e rsamos . Palav ras vagas , d i stra ídas ,

d i f ic e i s,costadas d e fa l has e d e s i l ênc i os . D e po i s

,

r e caíd os na p r im i ti va mud e z , fi camos a obs e r

va r -nos , mutuam e nte . Estava a l i,d iante d e m im ,

s im p l e s , grav e , mod e s to , ap e rtad o n uma sob re

r asaca p re ta com o ar sac e rd otal d um a bati na,

p i n to r po rtugu ês que , d e po i s d e Co l umbano ,m e l h o r te m sab i do s u rp re e nd e r e x p re ssõ e s e d e

s o nhar al mas . F iq u e i abso rv i d o a o l ha-l o . A

l u z , ma i s m e tal i ca, m a i s v i o l e n ta ago ra,marcava

a largas pastadas d e o i ro tºda a mod e lação da

sua cal va so cr ática, u m po uco p o n te aguda no

ve rte x como se a ti v e sse m mo l dado p o r u m casco

g re go d e b ronz e , — e, fl u i da, sc inti land o

,tr e

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J OS E DE ALPOIM

Um am igo ínti m o tro u x e -m e a tr i ste n otíc ia :

Mo rre u José d e A l p o im .

Não fo i um a s u p resa. Aq u e la e xub e rante

natu r e za d e atl e ta e stava m i nada das ma i s ho r

r íve is e c ru c ian te s d o e n ças . U m a ao rtite e um a

n e op las ia d o m e d iasti n o . Duas s e n te nças d e

mo rte. . Há mu i to s d ias que v iv ia d e costas no

l e ito , se m ab r i r os o l h os,im óve l , u m saco d e

água qu e n te sºbre o co ração . On te m fo i u ng i d o .

H oj e,pou co d e po i s da um a ho ra

,a m i s e r i có rd ia

d e D e u s toc ou -o,e e ssa cab e ça l o i ra de titan , e s sa

cab e ça l e on—ina que o c larão da ma i s nob re e l o

que n o i o an imara,re sval o u para s e mp r e na so m

b r a. De sc u b ra-m e,co m saudad e e co m re sp e ito ,

p e ran te o seu cadav e r . S e o s v e nc id o s pod e m

morr e r co m g lºr ia,

— ess e v e nc id o ino lv idave l

son h e re sgatar g l o r i o sam e n te , p e la s u p re ma re s i

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JOS É D E ALPO IM 1 29

guacao c r i stã da sua mo rte , tod os o s e rro s huma

n os da sua v ida.

Pob re José d e A l p o ini

Es to u a ve - l o,e mbru l hado na sua robe -d e

cham ti r e d e fl an e la cº r d e rosa,fl ác i d o , ge lati

n oso, e n o rm e

,pare c e nd o ma i o r ai n da na m e ia

l u z d o e sc r i to r i o-Eib l io te ca do Passad i ço , e m c u j o

i nte r i o r d e s e re n idad e e d e p e n umb ra sc in ti lava

ap e nas,com o um r e vé r b e r o ,

a p rata bati da d um

ti n te i ro D . João v . R e co rdo a i nti m idad e c om

que e l e re c e b ia os s e u s am igos , e ste nd i d o no p r o

fu n d o so fá da sala, um a boti ja d e água qu e n te ao s

pés,um bu l e d e chá fum e gando ao al can c e d o b r a

ço , ca r i nh oso,aco l h e do r

,fe m i n i n o na sua afe e

tividad e,re p e ti n d o m aquinaln i e nte

— « m e u que

r i d o am igo »,« m euqu e r i d o am ig o » , e acari c ian do

a p e n uge m l o i ra do baç o n o g e sto hab i tua l que

i m itara i n c on sc i e n tem e n te d e José Lu c ian o . N e s ta

ho ra e m que tºdas as re m i n i scên c ias aco rdam

mai s l úc i das, e

,po r i s so m e smo , mai s p u nge n

te s,re com ponho , fe i ção po r fe i ção , traço p o r tr a

çº . a fi s i o n om ia paradox a l d êss e hom e m su p e r i o r,

a sua cab e ça s im u l tan e am e nte e nérg ica e tu

fan ti l , te r na e v i o l e n ta,l e ão h i rsu to e bam bíno

d e l i cado ; os se u s o l h o s v i vos , o r a pardos o r a azui sco n fo rm e a i n c id ênc ia da l u z , po ntuados d e i n

c e rtas manchas cº r d e o i ro e cºr d e tabaco , dan do

com a m e sma i n te n s idad e a e xp r e ssão das g ran

de s te rn u ras e das gran d e s có l e ras ; sua bºca

po lpuda, s e n sual , ve rm e l ha,p e qu e n i na; sua

9

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1 30 N A AR TE

amp la te sta trabal hada j á d e cal v íc i e nas tém

po ras , co roada ao al to d e um a lan uge m l o i ra

l TS U) ghnao so daque hi b e bi hdmi ap o Hne a, que

a i n da ao apontar d o s s e ss e nta an os r e sp l and e o ia

d e tal e nto , d e au dác ia,d e b e l e za e d e fº rça . V e

j o _

-o, d e pé na m i nha f re n te

, co m o seu to rs o d e

hém nne s c o ni a, sua l do quºncui inquuáanha c o nt

a sua. v e rb o snkuh3 to r mnnnah co ni tõda a sua na

tur e za gran d i o sa , e xu b e rante e . e xp l os i va, que se

dh ia o p r o dnui fkdguni innv naud o r e nuuo 0 g b

g ante sc o ,d u m R o b B o y ( 10 C o tcntin o , ag r i c u l to r

o bá rbaro,e m que as v i o lênc ias d e te m p e r am e n

to se co rr i g i ss e m p e la e ss e nc ial e i n d e strutíve l

fi dal g u ia do trato e das man e i ras , — mod e lar n o

hom e m e m cu jas v e ias co rr ia o sangu e de Pe d ro

d e Alpõe m , e cuja n ob re za b lasonava das cab ras

pas san te s e armadas de n e gro d o s Cab rai s , dac ru z fl o r i da d e o i ro dos C e r q

'

ue i r as, d o l e ão ate o

par dad o e fl o r d e l izad o dos Bo rge s . O titan e r a

um ge n ti l -hom e m . O g igante e r a um a c rian ça.

Aqu e l e s que ,com o eu

,p u d e ram conh e ce r o e n

can to da sua i n ti m i dad e car i nhosa,sab e m o que.

vahani cnn José d e A l p o hn as d e hcad e zas do co

ração , os te so u ros q uas i fe m in i no s da s e n s i b i l i

dad e,e ssa e xal tação tão v i va e tão p e ssoal d o

se ntim e n to afe ctivo , que o l e vava— como m e d i

z ia a i nda há po u co um a i nte l ig e n te se nh o ra — a

e sc re v e r ve rdad e i ras cartas d e amo r ao s s e u s

am igos . A pai xão po l iti ca e nve n e n ou -o ? E'

c e rto .

E e nv e n e no u -o tanto , — qu c m atou. As ve ze s as

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O PINTOR DO S O L

Já é a te rc e i ra ve z que v i s ito a e xpos i ção

Sou sa Lop e s . O i l u stre p i n to r d e sp e rtou em m im

m ai s d o que adm i ração : c u r i o s idad e i nte l e ctua l .

O se ute mp e ram e n to , a sua e vo l u ção,os s e u s p ro

c e sso s, apare c e ram -m e d e sd e l ogo como ou tros

tan tos m o ti vos d e e stu d o . E stre m e nh o san su o

l i s ta,v ibran te ,

d i on i s íaco , i n sac iad o d e l u z , Sou sa

Lop e s pod ia atr i b u i r-se a f ras e d e Barb e y d'

An

rºvi l ly : « j e suis im in te nse » . D i r-se—ia que ess e

« i n te nso » d e v ia l og i cam e n te u sar na sua p i n tu ra

que e nssºs e xu b e ran te s e to r re nc ia i s . Engan o . Cm

Sou sa Lop e s , o máx i mo d e e fe i tos é obti d o c o m

o m in imo d e e s fº rço apare n te . A sua i n te n s i dad e

e ncon tro u um a e xp re ssão téc n i ca paradoxa l : a

s im p l ic idad e . Pi n to r dos po e nte s , do s i n cênd i os

d o s c larõ e s — p i n to r o fu scante'

e obsti nado da

luz, , — o m e stre adm i ráv e l do Ci rio de S an ta Su

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o r iNTo n no S º l . 133

sana não é p rºp r iam e n te um p l e nar ista, n e m um

imp re ss io n i sta,n e m um natu ra l i sta ; é , na sua

man e i ra s im p l i fi cada, um « v i rtu oso d o so l »,ou,

como o d e fi n i u Jose d e F ig u e i re d o .« um apa ix o

nado f re m e n te das grand e s c lar i dad e s » . A o bse s

são da l u z d om i na-o . Tºda a sua e xpos i ção,

q uand o não é um a e l e g ia a n o i te,é u m h i n o ao

so l c r iado r . Po r tºda a parte , nos po e n te s d e Ve

n e za e nos céu s v e rd e s d e Nápo l e s , nas v in has

fulvas d o R i bate j o e nas ruas e x táti cas da B ru

ge s la M o m,o so l ard e

,e sp l e nd e , v ib ra, ofu sca ;

sc inti la e m faú lh as v ivas d o cob re , a lastra e m

chamas , e m c larõ e s,e m g lº r ia. Aqu i

,é a ca

sar ia do G rand e Cana l que fl am e ja com o u m

mosa i co d o i rado ; a l em ,u m pº r d o so l na G i u

d e cca,i n cend i o

,sce n te lhas, c i n za ; ago ra, u m

c éud e F l o r e nça l e mbra u m grand e e sma l te v e rd e

l u m i n oso ; l o g o , um a larga ve la d o s barcos

ta Ch i ogg ia. c omo um ve l h o b rocado , um a m a

rav i l ho sa tap e çar ia te c i da d e o i ro,cham e ja ao

so l : e m vo l ta d e nºs , a cada canto,po r tºda a

e x pos i ção , o so l bate d e chapa nas tab e rnas da

Lagu na,mord e d e cob re e d e fogo a Cal l e d e

las S i e rp e s , e nn e vo a-se d e m is té r i o no márm o re

cº r d e . rosa d e . V e rsa i l l e s,c o ru sco , Como um e a

chão d e. p r ata,nas águas do B rond o l o e d o M a

lani o c e o . faz can tar, fa iul har , ard e r,águas e gºn

do las, pa lác io s e cana i s

,tºda a V e n e za d e Co r

rég i o e d e T ic i ano , d e Ve r o ne so e d e'

] into r e tto ,

d e R osa l ba e d o L iv ro d e Ouro,d o doge Man i n

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1 34 NA AR TE

e das ze n titd'

o nn e, e ssa Ve n e za que te r ia e n s i

nado So u sa Lºpe s a amar a l u z — se e l e n㺠ti

v e ss e nasc i d º e m Pº rtugal . Na s ua p i n tu ra v i r i l .

sób r ia,fº rte

,magn í fi ca

,

— tudº sc inti la, tudº e s

p l o nd e , a n u d e z e a te r r aç a atmos fe ra e o m a r .

E ncand e ia. D e s l u mb ra. Para o ve r,é p re c i sº

pº r l u n e tas f i l madas . Céu s da Nº rmand ia, casas

da F land re s,páti º s d º A l e n te j º , carn e s d e mu

lhe r,

tu dº ch i spa,fu z i la, r e v e rb e ra . Há atm ºs

fe ras que s㺠labare das ,Sºb re um a pai sag e m

que l e mb ra as m e l h º re s d e Zu l oaga,rº la um a

n uv e m d e ºu rº . Sºbre um a rua tran qui la da

B rug e s d e R ºd e m bach e scº rre u m c lar㺠d e am

bar e d e ºpala . A he l iºfi l ia d e Sou sa Lºp e s é

um a carac te r ísti ca f u n dam e n ta l da sua ºb ra .

Ne l e , a p re ºc u paç㺠d e « p i n ta r a l u z » n㺠se ti

m i la aº ar l iv re ; acºm panha-º nºs q uad ros d o

ate l i e r . Cºmo n º adm i ráv e l Abr indo Casas, on d e

um a a l m ºfada ve rm e l ha faz v ib rar to d o s ºs b ran

cºs na somb ra,e arti sta cº l ºca as s uas 'tiguras

n o c lar 㺠d e grand e s v i d raças e p m la, amo rosa

m e n te , vo lup tuºsam e nte , º sº l que as mo rd e,

que as q u e i ma, que as i n unda. se ud e sv i o para

a agua-fº r te é ai n da um a fº rma da sua atracçãº

para a l u z . Não lhe fa l e m e m d i fi c u l dad e s . Ve n

cc -as s e mp re dandº-no s a fal sa i mp re ssão d e que

e las não e x i stiam . T e m audác ia, te m a e xp e

r ie nc ia, te m ºs p rºc e ssºs , - te m a fº rça. As ve

ze s ob te m º máx imº e fe i tº d e l u m i nos idad e p i n1

tand o só º que e stá na sºmbra. l i á q uad rºs e m

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SCHWALBACH

Aqu e l e hºm e m dum a d i s ti n ção fác i l e d uma

e l e ganc ia p e rnal ta,andand º e m lag ras passadas ,

dando-n os e m c e rtos m ºv im e ntºs e e m c e rtas

ati tu d e s a i mp r e ss㺠r e cti l fn ia d uma c e gonha

que marcha, u m i raque p r e to , um nar i z vº lu

p tuo so ,u m ch apéu para ºs º l h os

,um a fac e r o

sada e m ºça ab r i ndo tºda e m ru gas d iv e rge n te s

um a barb i cha b ranca que nºs faz p e n sar, n㺠se i

pº rq u e,nal gu n s fau no s e l e gan te s da e sc u l tu ra

f ranc e sa d o sécu l o xvm , u n s o l h os v i vos , p i scos ,

p e qu e n i n os,r i so nh os , ao m e sm º te mpº fu l g u

r antcs d e , i ro n ia e h úm idos d e te rn u ra,

aq u e l e

hom e m paradoxa l m e n te novº e . ve lh º , i n fan ti l e

g rav e , j ºv ia l e. tr i ste , e h ºj e e m Pº rtuga l a m a i s

a l ta e xp re s são da fan tas ia l i te rá r ia e d a v e rve

c r iad o ra .

T e nho aq u i,sºb re a m inha m e sa, º se u ú l

tim o trabal h º . Três ºu q uatro v e z e s º uv i e

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'

scr iWAL'

BAcn 1 37

ap lau d i na sc e na 0 Po e m a de Am or . Acabº agºra

d e lê-l o na sua e d i ç㺠Char d r o n . c o nh e c im e n tº

d e ssa ºb r a-p r ima do te atro c o nte n i j w ran e o d e ve

te r dadº aºs m e u s camaradas d º Pº rto a m e sma

i m p re ssão que m e d eua m im : n i nguem hºj e , na

l i te ratu ra d ramá ti ca po rtugu e sa,e xc e d e Schw al

bach na arte d i fi c í l ima d e mºv e r,d e m e can izar,

d e autºmati zar a f i cç㺠te atral da v ida. Pºd e al

guém i guala- l o , o u v e nce -Io , na v e e mên c ia da

pai xãº,na l óg i ca dos caracté r e s

,na harmºn ia

e stru tu ral da fábula, na sób r ia e l ºquênc ia da e x

p re ssão , que é a s u p re m a n ob re za da ºb ra l ite

r ár ia: m as n i ngu em se lhe com para na sc inti la

çãº,na fantas ia

,na o r ig i nal i dad e , na rap id e z , n º

v i rtuºs i smº — no mov im e n to . S ão as s uas qua

l i dadas s u r p r e e nd e n te s . Schw a l bach te m dº te a

tr o um a v i são car ac te r izadam e n te d i nâm ica . E '

a v i s㺠mai s n ob re ? Não se i . S e i que é a v i sãº

ma i s j u s ta . B e nav e n te , com cu j º te mp e ram e n tº

d ramá ti co S chw a lbac l i poss u e af i n idad e s, pºs c la

ram e n ta qu e s tão : « l o que e l p úbl i co qui e re e s

que p as e a lg o ; que suc e deua lg o ; que las fi gur as

se m ue van : que la vida» c i rcul e p o r la e sc e na» .

Tºda a técn i ca schw albak iana e stá n e sta fó rm u lae m i n e n te m e n te comp l e x a e e m i n e n te m e n te s im

p l e s : acçãº,i mp re v i s to

,v e rti ge m . E '

, e m F rança,

a fó rmu la d e B e rn ste i n ; é , e m Espanha, a fºr

mu la d e B e nav e n te ; é , e m Pº rtugal,a fºrm u la

d e Schw al bach . O In tim o , a B isbi lho te ir a, ºs

Po sti ç os, C ruz da Esm o la,s㺠d ramati zaçõe s

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1 38 NA AR TE

v ivas , f u l guran te s , rap i das , h i p e r-mov im e n tadas .

Nº p róp r i o Po e m a d e Am o r,a mai s s e re na d e

tºdas as s uas ºb ras,a sc e na d iv i d e -se , as f igu ras

atro p e lam -se , ac e l e ra-se º r itmº da acçãº,as m e s

m as rub r icas dão -nos m e d ida dº carácte r con

vulsivº da técn i ca d e Schw al bach : « ráp id º , quas i

s im u l tân e o » ; « d e p re ssa» ; « mu i tº ráp id º » ; « ráp i dº

Comº um re lâm pagº » . E f u l gu ração,como

p r oc e sso d e te atrº ; é º mºv im e ntº , cºm o e xp re s

são g l º r i ºsa e tr i u n fan te da v i da. Enganam -se

iupud e s que supõ e ni que º pubhco se dºnn na

p e l os r e ac iºc in iºs. Não ; º p úb l i cº dºm ina-se p e las

s e n saçõ e s . Eh n_ te ahm n para que tuna i d e al nu

p re ss i on e , é p re c i sº cºnve r te -la e m mºv im e n to .

Acção rap ida,m e can izaç㺠l óg i ca da

'

v i da : — e is

as c on d içõ e s d e s u c e s sº ; e is, também , as d i fi cul

dad e s s u p r e mas . Aq u e l e s que , cºmº Schw albach ,« nasc e m » d ramatu rgºs , v e nc e m -nas aª gº lp e s d e

i n s ti n to e d e audác ia. Os ºu trºs,ºs ps i có l ºgos ,

o s i d í l i c os , ºs cºn te m p lativºs, ºs « míop e s do

te atro »,s e n te m -nas

,ad iv i nham -nas, rod e iam -nas,

m as não são capaz e s d e as re sº l ve r . A ge ra

ç ão l i te rá r ia a que eu p e rte nçº , p e rm i ti u -se , tal

ve z pº r i n fl u ên c ia d e F ial h º , º l uxº i n te l e c tua l

d e d e sd e nhar dºs grand e s m e can izadºr e s d o te a

tr o . .l n lg ºuque o i bse n ism o,o haup tm an ism o

d'

anun s ian ism o, cºm as s uas « acçõ e s i n te r i º r e s »

e . o s i n fi n i tam e nte p e qu e nºs da sua anal i s e p-ª

i

co tºg ica, c o nstitulani ºs ve rdad e i rºs e d e fi n i ti

vo s mod e l o s . Engan º . E hºj e,mai s d º que

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ES PIRITU CENT“

Morre u Mar ia da Cu nha.

Fo i há o i to anos que e u c onh e c i e m e sp í r i to

a po e ti za das Tm'

ndadcs . Um d o s m e u s con tra

fl e s da Acad e m ia,f i l ó l ogo e m i n e n te

,ti n ha-m e

mandado,sob to das as r e s e rvas , as p rovas l i

p o g ráncas d um l ivro d e ve rsos . A nte s d e o p u

b l icar , a au to ra,um a s e nho ra i l u stre . q u i s e ra

c onh e c e r po r e sc r i to a m i nha op i n ião . C o n fe sso,

—com e c e i a 'C'-| H c o m a d e sco n fiança p r e co n

e e i luo sa co m que tod os nos, po r ma i s hab i tuad os

que e ste jamos a i d e ia da s u p e r i o r i dad e m e n ta l

da m u lh e r,r e c e b e mos s e mp re . a sua l i te r atu ra .

Mas e ssa vag a d csc o n l iança d u rou ap e nas o

te mpo que . l e vam a le r -se . quato rz e v e rsos . Lo g o

o p r im e i ro son e to e ra um a ob ra—p r ima . D aí po r

d iante , cada fo l ha que passava tre m e ndo e n tre os

m e u s d e d os,te v e p ara m im o va l o r d uma re v e

lação . Estava al i um a das mai o re s po e ti zas po r

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e sr ínr r o GENTIL M l

tugue sas d e todos o s te mpos . Que d e l i cada se n

s ib i l idad e , que p rod ig i o so i n sti n to m e l ó d i co , que

r i q u e za d e te mp e ram e n to , que ca l ma n ob re za d e

e xp re ssão Tud o quanto pod e have r d e d e l i cad o

na a l ma d u ma m u l h e r,tu d o q uan to pod e hav e r

d e p e rfe i to na arte d u m par nasian o ,can tava,

so rr ia, b r i n cava nas m inh as mãos . E r a a Mu sa.

d o Son e to que re nasc ia,grav e e tr i ste ,

d o l e qu e

d e re ndas da s e nh o ra d e O e ynhau s e n . S e nas

suas e l e g ias. d uma c lass i ca m e lan co l ia, o Amo r

pare c ia ch o rar sôb re u m l e ito d e rosas , — no s

s e u s son e tos,d um r itmo l e nto e magn ífi co , d i r

se —ia que o s q uato rze re mos d e p rata d uma gal é

e gípc ia batiam largam e n te,s um p tu osam e n te o

m ar . Natu re za opu l e n ta e s e n s íve l , hav ia po r

v e z e s na sua fe m i n i l i dad e al g uma co i sa d e más

c u l o , — a e n e rg ia da e x p re ssão,a n i ti d e z do co n

c e ito ,a l óg i ca d o r ac io cín io . Du ran te um a m a

nhã i n te i ra, l i i n tr igado e e ncan tado , o s v e rsos

d e ssa d e sconh e c i da i l u stre . Para o s pod e r l ê r

ai n da no d ia s e gu i nte ,d e i xe i -os um a no i te sôb re

a m inha m e sa d e trabal h o , e n tre u m ram o de

rosas e um a l a iança i ngl e sa. Por ti m,d e vo l v i -o

ao ve l h o am igo que um mandara. p e rgu n tando

lhe e m que ass e n tada d e Ménato ti nha e ncon

trado aqu e la Musa . Só quando , m a i s tard e . o l i

vr o se p u b l ic ou , so ub e que a au to ra ti nha tr i n ta

anos i dad e e sp l ê n d i da da m u l h e r que p e r

te ncia um a n obr e fam í l ia d o A l e nte j o , e_que

se chamava Mar ia da Cunha, F o i -m e dada, e n tao ,

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l ã2 N A AR TE

a twuuwi (h= lhe be nar znz r uão s . A l d e s rue snuk

d e n o s ve ruuua íud a ruauuur a ve z,ri (uui o sukuh=

iuhd e r tual que fue : ap r o xuuar a ti n ha l e d o i tª

uo s d o i s ve l h os e o nhe e id o s . E ra um a s e nh o ra

d uma fo rm osu ra tranqui l a e tri ste ,c o m u n s lua

r av i lho so s o lho s d e po rtu g u e sa, n e g ro s , do rm e n

te s,re nd i dos run run eauhur [ tout p e b

“ b ran ca,

nua,iuu pou co d o hwda a tuz tuuuo e e r ke = rn a r

l i n s re l i g i osos , umas ati tu d e s n ob re s,ca l mas ,

vag am e n te r e tl e x ivas , um a e xp re s são d e d i sti n ta

sob r i e dad e , d e cand u ra i n te l ig e n te ,d e m o déstia

grac i o sa, que não e r a o m e no r e ncan to da sua

f i g u ra e das suas m an e i ras . Pare c e -m e que . a

e shui ve nd o zunda,rui ne vo a l o ng tnqua rhi U a o .

Não e r a tl o r cntina m ag ra,v i r i l , an g u l osa,

in

( pueuuue , que eu so nhara aha ve s das páguuhsma i s fo rte m e n te m asc u l i nas da sua obra : e r a a

b e l e za m e lan có l i ca e doc e , o rgu l h osa e te rna, e m

cuja'

ho ca. p o l puda r cvo ava s e mp re a tri ste za d u m

so r ri so ,e m c u j o s o l h os passava, como um c la

r ão , tod o o êx tas e . l u m i n oso da pai sag e m ate u

k j ana, e c u j a b e ki iud uuyuao rn e suui te ni p o d e

e r iane a c d e Madona , l e mbrando s im u l tan e a

m e n te o s Amor e s d e e as V i rg e ns ( Ie

l l o ugue r cau, nnnd a rub aua d e HHe n to e l l e “nan osur a, (k3 juve n lud e e thª g r aca n .

Mor re u .

Há sonh os que pare c e m se r as v e z e s a se

que nc ia l óg i ca da v i da. Numa das ú l ti mas n o i

te s, na ag i tação da fe br e , j u l gu e i-m e do rm i ndo ,

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NH VU S METR OS , NH VH S R ITMOS

A l f re do P im e n ta qu i s te r a bondad e d e v i r

l e r -m e,a i nda e m p rovas

,o se u ú ltim o l i v ro d e

ve rsos— Pa i sag e m d e O r quíd e as . A n te s . po rém ,

'd e re a l i zar e ssa l e i tu r a, que tão ag radáv e l fo i

para m im,o m e u i l u s tre . camarada fa lara-m e na

sua i n te nção d e i n trod u z i r na poé ti ca po rtu g u e sa

n o vo s m e tro s e n ovos r i tmos , c r iand o os ve rsos

d e [ 5 e d e 1 9 sílabas . Con fe sso que , a p r i n c íp i o ,v i ap e n as no p ropós i to d e A l f r e d o Pim e n ta um a

a ftr m ae ao daq u e la o rgu l h o sa o rig i na l i dad e e da

q u e l e e sp í r i to d e amp l iação que não são os m e n os

i n te re ssan te s asp e c tos d o se u ta l e n to . Um v e rso

d e l i l s í labas afi gu ro u -se -m e d e sd e l ogo a l gu ma

co i sa de ari tm ico,d e monstru oso , d e ab e rran te

,

um a c r iação fe ra d e l eda a c r i ti ca e d e tod o o

s e ntim e n to das p ropo rçõ e s . Po i s b e m . A l e i

tu ra fe z-se , conh e c i as fo rmas hip e r m e Lr icas da

Pa isag e m d e O rqu íd e as,— e para que n e ga

—l o ?

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Novos M E'

I'

HH S,NU VH S m

'

r m os 1 45

e nco n tre i n e tas um a b e l e za. e um a nob re za

que , se não m e l e vam a acons e l ha- las ao s poc

tas m o ç o s,bastam e n tre tan to , pa ra j u s ti fi ca r p e

ran te o m e u e sp i r i to a apare n te e x travag ânc ia

da sua adopção . Na sua arte s ub ti l , c om p l e x a e

s um p tu osa,A l f re do Pim e n ta. con s e g u i u p rova r

m e que , com 1 5 e, 1 9 s í labas , pod e m faz e r-se e xe c

l e n te s v e rs os .

Mas v e jamos o caso d e m ai s p e rto . ( lomo

co nstr o e po e ta o s s e u s m e tros novos ? ( l omo

con s e gu e re al i zar,n uma tão e x te n sa fo rmação s i

láb ica, a s í n te se rítm ica que se chama— u m

ve rso Qual a e strutu ra das s uas fo rmas m é

tr i cas d e 1 5 e d e 1 9 ? S e r ia i n j u s to afi rmar que

e stas q u e stõ e s m ín imas não te e m inte r dssc ,

p e l o m e n os para o s po e tas . Com o se sabe,a

po e s ia d e ad e n te da F ran ça d e há v i n te e c i n co

anos,tôda p oussée s imbo l i s ta, i n str u m e n ti sta,

b i zan ti n i sta e n e fe l ica,man i f e s to u s e mp re um a

ac e n tuada te ndênc ia para c r iar fo rmas m e l ód i cas

novas . Je an M o r óas, Stéphan e Mal lar m é, Lau

r e n t. Tai lhad e,V i e l e G r i ffi n

,S tuart M e r r i l , R e n é

Gh i l , Le o d'

A r kai'

e stão ch e i os d e h i p e rtrofi as

m étr i cas que não co ns e gu i ram v i ngar,ou p o r

que e ram a n e gação d e tod o o r i tmo , ud'

e'

t'r an

g e s ve rs, aux atlur e s d e p ro se » (Mar

c ia l B e s so n), o u po rqu e p re te nd iam impô r co ns

trucõe s p o dál ie as gre gas , d e r itmos e ru d itos e

i nace ss ív e i s,abso l u tam e nte co n trá r i o s a í ndo l e

da l í ngua e as trad i çõ e s da p o ética f ranc e sa. A

10.

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1 46 NA AR TE

ma i o r parte do s « grand e s m e tr os » d o s d e cad e n

te s são a p u ra p rosa i r re gu lar a que Sou sa Ma r

ti n s chamou um d ia— « s e r rad u ra d e palav ras » .

O ra é i ss o , p re c i sam e n te ,o que não se da co m

os m e tros d e 1 5 e d e 1 9 u sad os p e l o po e ta da

Paisag e m d e O rquíd e as . E não se da, po rq u e

A l f re do P im e n ta,e m ve z d e c r iar r itmos n ovos ,

l im ita-se , afi nal , a assoc iar e a comb i nar ve lh os

e co nh e c id os r itmos . Os s e u s « gran d e s v e rsos »

são co nstituíd o s, como vo u mos tr ar—l h e s , p e la

se quenc ia d e « p e q u e n os ve rsos » d e 7 e d e 4, s i

metr i cam e nte d i spostos . Não passam , po i s , d e

co n stru çõ e s m e l ó d i cas ru d im e n tare s , ond e , a

d e sp e i to d e todas as aparên c ias,e a ve l ha poéti ca

que tr i u n fa ,V e jamos um a das po e s ias d e 1 5 sl

labas — o C ravo M iste r i oso — e vocação ch e ia d e

b e l e za d e um an tig o c ravo do sécul o XV I I I , c u ja

voz ge m e,sob re natu ral m e n te

,ao can to du m sa

lão abandonado . D e staco um v e rso , ao acaso :

« O m i S tér i o dêsse c ravo,triste m e n te

,a so lu

R itmo novo ? Não . R i tmo ve lh o . A j ux

tapo sição d e d o i s v e rsos d e s e te s í labas , se m cc

su ra, i sto é , com o p r im e i ro v e rso g rav e , o se

gu ndo ab r i n d o p o r con soante , e , portanto , um a

s í laba muda e n tr e ambos 7 i 7 . Ou , d e s

dob ran do

« O m istér i o dêsse cr a vo ,

Tr iato m anta, a so luça r .

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l i 8 NA AR TE

cada quad ra. D e r e sto,e m to d o o l iv ro , m e smo

ath qabuid o p roc e ssos na apa r e runa o usathna o ar

l i sta da Pai sag e m d e Orquíd e as co n s e rva-se o que

s e mpr e f u ndam e n ta l m e n te fo i : um cu l to r d o s ve

l b os r dr n o s,i jue passe ki jndas hd ras ,

cnd r e J e an

Lo rrai n e Oscar W i l d e , o se u ne o -pai'

nasian ism o

hnpcnd cnuà

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TEATR O ( IAMHNEANO

A i n da que o po e ta d o Auto d e ICI- R e i S e l euco .

dos Anfi tri õ e s e d o Fi lod e m o não tiv e ss e s i d o o

g rand e ép ico dos Lust/ i das e o l í r i co adm i ráve l

que mo l d ou , no pu ro o i ro d o v e r s o po rtuguês , as

fo rmas do ne o - p l aton i sm o fl o r e n ti n o — a h i s to

r ia d o te atro te r ia d e oc u par-se larg am e n te d e l e

como d e u m dos ma i s v ivos , d o s m ai s e ar ae l

r ístic o s e dos mai s i n te re ssan te s c u l to re s da co

m éd ia nac io nal .

Pass e i o n te m um a l o ng a no i te d e i n v e rn o a

e s tuda- l e e a z'

u'

l m i ra- IO . A i n d e p e n den c ia i n te .

l e c tual d e Camõ e s , largam e n te re v e lada na e p o

p e ia e no l i r i smo,e v e rdad e i ram e n te as sombrosa

n u m sec u l o e n fi m o d e q u i nh e n tos , dom i nado

p e la r ig i d e z das fo rmas e p e l o s p re c o nc e i tos d e

e sco la,

—m a.n it'

e sta-se,com a m e sma e lo que n

e ia e a m e sma fl e x i b i l i dad e , na obra d o po e ta có

m ico . To das as co r re n te s d ra máti cas lhe fo ram

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1 50 NA AR TE

fam i l iare s . No R e i S e l euco d a i n fl u ênc ia e spa

nho la da Pr o p aládía que se ac e n tua na d r am ati

zação do moti vo e n o d e s e nvo l v im e n to d o e p iso

d io ; no F i l o d e m o , a. co r re n te i ta l iana, c om su

ge stõ e s Caste l hanas da C e l e stina,d e F e rnando d e

R ojas,e um « vice ntism o » marcado na c u rva m e

io d i ca da re dond i l ha ; n os An j i t'

r õcs, a i n fl u ên c ia

c l áss i ca das e sco las d e Ov i e do e d e Sa lamanca,

que te n tavam , com o r e i to r F e rn ão P e re z d e U l i

va e com o méd i co F ranc i sco d e V i la Lo bos,as

e qu ival ê n c ias da trag éd ia g re ga e da co m éd ia

p lautiana ,E,e n tre tan to , ap e sar da sua c r iação

te r ob e d e c id o a s uge stõ e s d iv e rsas , as tr es c o

méd ias man têm o m e smo carác te r , e m e smo fe i

UO , a in e snni Hson i o nua,as i ncsnuus l iuhas d e

(anunr ução g e r aL o uunnno d e se nvo lvnn e nto dos

e l e m e n tos d ramáti c o s,d e fo rma a pod e r-se afi r

m ar a e x i stên c ia d e um a « d ramatu rg ia cam o ne a

na» . lâssa dos ac tos

na (ndação ih) h i bwnto 0 th) a rgur ne n l o ,hun

pon tos co n tach) co nt a (b) i Tune s lVava r r o,

fj f lue , na i n c l u são l ha saani as e nt p r o sa, : i cusa v i

vauund c a inHue ncul Habana d e zXH o sui i' d e

Mach iav e l,d i sti n gu e -se

, p o r ém , p e la sáb ia a r

l il ª l l lã g'ão d o e p i sód i o l í r ic o e ( |O e p iso d i o CÚ

m ie o ; p e la assoc iação im p re v i s ta do e l e m e n to

e rud iu) e d o «d e n i o nba p o jud a r ç'

p cki tnaação (hi

tun i ll o e r r adaan e td e . se'

atr d iuo a

Lop e d e V e ga e que d e v e re i v i nd icar-se . para (l a

m õ e s ; p e l o para l e l i sm o das acçõ e s d ramáti cas e

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152 N A AR TE

Fi ltro d e Jo rge Fe r re i ra d e Vascon c e l o s,e,um

po uco , das al cov ite i ras d e G i l V i c e n te (B ranca

Gi l,B r fzida Vaz

,Ana D ias). O p róp r i o Aul a do

R e i S e l euco é,na sua sc e na fu n dam e n tal (sc e na

d o F ís i co), s u ge stão d i r e c ta da l e i tu ra que Ca

m õc-s fe z da Pr o p a lád iu d o To rr e s Navar ro , pu

b l icada e m Nápo l e s,e m 1 5 1 7 . Numa das p e ç as

d e sta c u r i o sa co l e c ção,

a Aqui l in o ,u m o i ra r

gnão asune d e scob r e que o “lho do muda l hur

gr ia e stá apa i xonad o p e la fi l ha d o r e i d e L e ão ,

po rq u e o p u l so d o rapaz se al te ra s e mp re que

vê o u o u ve a i n fan ta, tal q ua l c o m o o fís ico do

R e i S e l e u co su rp re e nd e os amo r :—s d o p rínc i p eA n tío co p e la mad ras ta.

» « (ur l p ul s o que se a l l e

ruha sc ur i na o se Ni l da» . kunõ e s não [ o i i i ni

c r iado r o r ig i nal d e acçõ e s e d e con fl ito s ; m as ti

c anb r e p d o ,<xuuo i nn in davc l inaad o r d e p ro

no sso s . Nas s uas coméd ias,a labu ta, quando não

é ap r o pnada da ob ra maranha — i l ; ne nauso n

bi e n m i i l [ c trouvai t pob re d e i n v e nção .

ui as El i hwurunazaçao « l o s l i ndi vo s : i p r e se n Ia-se

scn ip r c faca d e o rn4UIahl knhg d e ui o vi o i e n l o e

d o i n te ress e,

r x nduª wi ut d o gaa r a t' tIP o x luwwv

sao Hrnwr Io g nwi IUi i hul n o ao d o s s e u s e haue i d o s

r fun ir n s, e, d i nn ih i p U S S ÍVPL l ia r nni nnai nas | i

n l ias ge ra i s da com p os ição ,

lVão se r kl i l d e r e ssal de faz e r r e p r e se n la r , l i nni

S e rão canto ne an in as tro s c e h duawa ian nóchas d o

g rand e p o eun c o ui la i n e suni i fnnr d o d e d e vo

qº'

o c o m que a Espanha mod e r na e stá r e ssur

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TE ATRO R AMO NEANO 1 53

g i n d o , p e la m ão d e anéi s da e rud i ta G u e rr e ro

o te atro d e Gu e vara e d e F ray Lºp e , d e C e rvan

te s e d e Ca l d e ron . d e M o r e to e d e Fray Gab r i e l

Te l e s

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X'II'

IS Í CH S D E CAS /XGA D F. S ED A

i l u s tre j o rnal i s ta e m e u am igo,

.l . F raga

Pe ry d e L i n d e ,o fe re c e u r e c e n te m e n te . ao Esta d o ,

po r m e u i n te rméd i o,u m doc um e n to do ma i s

a l l o val o r para a. h i s to r ia da mús i ca e m Po r

tng al : O m an usc r i to o r i g i na l d o Com p rom isso da

Ir m andad e da. ('

Il o r i o sa. V ir g e m Márti r S aul o

(“

Te c-Hi d o rd e nadª p e los p rº f e sso r e s (I

'

d . tr l c do .

il lus i o n cm o un o d e s e gu id o d o te rmo d e

ap ro vação p e la .l u n ta G e ra l da co n frar ia cm 1 3

d e fe v e re i ro d e 1 750,e d e p ii hl ir as

- fo rm as do s

a l varás d e 1 53 d e abr i l d e 1 79 ?“253 d e o u tu b ro

d e , 1 708,

e . da p r e v isão do Patr iarca Tomas

d e A l m e i da,d e 5 d e o u tu bro d e 1 722

,passadas

a r e q u e r i m e n to d o P r oc u rado r da M e sa p e l o la

l i zt l ião J oão Var e la d a Fon s e ca,

« d e l l 'o n l e da

p o r ta. trave ssa da Bas í l i ca d e San ta Mar ia , j u n to

.t Car idad e » . tlm cód i c e d e pap e l . d e S R l i“)

ltias inum e r adas,aparo do i rad o , c o m ros to e ti

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1 56 NA AR TE

Co m p r om isso agora apare c i d o . Não e r a gran d e

o e sp í r ito as so c iati vo e n tre o s p ro fi ss i o nai s da

m ús ica na ve l ha c i dad e patr iarcal , e a sua fal ta

d e e sc rúp u l o n o c u mp r im e nto das ob r i gaçõ e s e s

tatuai s d o « tostão »,da an u i dad e e da j ó ia, jun

tava-se ,s e gu n do o te stim unho i n s u sp e i to d e u m

doc um e n to p o r mu i tos d e l e s as s i nado , a sua fr e

que nte au sen c ia d e d e co ro artí sti c o . R e co nhe

ce u-se que e r a p r e c i so d ign il i car a p rofi ssão ;d e se nvo l v e r n o m e i o m u s i cal l i sbo e ta d o séc u l o

x vm o e sp í r ito d e con frar ia ; atrai r ao grem io

n ovos i rmãos ; ass e gu rar m ai s e fi cazm e nte o

c u mp r im e n to dos d e v e r e s e sto tua is ; e , com o as

d i spos i çõ e s do Co n i p r o m iss o p r im i ti vo , e m gran

d e par l e anac r i'

in ir as,ti nh am caíd o e m d e s u so ,

fo i j u l gada Opo r tu na a sua re fo rma,e d e - c e rto

para e la m uito con tri b u i u o p r e stíg io p e ssoa l d o

e n tão Prov e do r da I rmandad e,D iogo d e M e n

d o nça Cô rte —R e a l , fi l h o d o m i n i s tro d e D . J oão V,

co n s e l h e i r o d a Faz e n da,D e p u tad o a J u n ta da.

Casa d e, B ragança,Prov e do r da Llasa d a I nd ia ,

e o va l i m e n to d e, que gozava j u n to da P r i n c e sa

Mar ia Vi tó r ia o o i l u s tre . Lu cas t i io vn i e ,

se u m e s tre e p r i m e i ro ass i s te n te da M e sa, c u j o

r e trato a i nda hoj e se ve,ao lado d o d e Dav i d

Pé r e z,n o s um p tu oso te to da Sa la das

'

t'

a l l i as ,e i n Q u e l u z . A ss im nas e e n o e statu to d e 1 4-10,

que não ch e go u a se r i m p r e sso , e que os mus ic os pomba l i n os j u l gar am p e rd id o , c omo o d e

1 003,no incênd io que se s e gu iu ao grand e te r

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M úsuzo s D E ( IAS M ZA D E s e m 1 57.

r am o to,

- o que o s d e te rm i n ou a reun i re m -se

e m j u n ho d e 1 765 e m casa d e Pe d ro An to n i o

Av e ndano , c ompos i to r d e O rató r io s e d e n tinue

te s , c u ja i ,: o l e l i r idazl e fát' i l o hseur e c e r a ja a do

d e i—r e p i to ( i i o v ine ,par a re d ig i r o n ovo e te r

C e i r o e statu to da i rman dad e . Com o se te r ia sa l vo

d o i n c ênd i o d o San ta J usta o p re c io so o r ig i nal

d o C o m p rom isso d e [ 7 10 7 Qu e m,e co m que

i nte r es s e , o te r ia s ub tra ído c con se rvado e m se u

pod e r , tão occ u l to , que a p róp r ia I rmandad e o

julg m i pas to das chamas ? Através d e que v i c i s

situde s v i ri'a o i n te re ssan te doc um e n to parar,

c e nto e s e sse n ta ano s d e po i s , ao fe rro-ve l h o d o

m e rcado d e S . B e nto,ond e , p o r u m fe l i z acaso

,

o e ncon tro u a e ru d i ta cur i o s idad e do s r . Pe r y,

de Li n d e ? Im poss ív e l sabe- l o . O que é pos i ti vo

é es te fac to : a e x i stenc ia d e Co mp ro m isso d e

e o nsti tne um a re v e lação .

Mas não (5 a i n da este o as p e cto mai s i n to

r e ssante po rq u e pod e se r e s tudad o o cód i c e a

que ve nho al u d i nd o .f

º

i que lhe atr i b u o um co n

sid e rave l val o r , como docum e n to para h i stó

r ia d a. mús i ca. e m Po r tu gal , e a c i rc u n stâ nc ia d e

se e nco n trar j u n to ao Co m p r om i sso o re sp e c ti vo

te rm o de ap rovação c o m as ass i natu ras d e 1 1 5

m ús i c os p rofi ss io na i s , al gu n s m u i to i l u stre s, que

e xe rc iam sua arte na ve lha L i sboa d e D . João v .

H av ia,

e v id e n te m e n te , m u i to s ma i s , — o r g an is

tas,c rav i s tas

,v i o l i n i stas

,castr ati

,bai lar i no s

,

vi r tuo si , l itur g istas, con trapon ti stas, m e stre s-d e

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1 58 NA ARTE

so lta,com pos i to re s , canto re s d e óp e ra, mote tts

tas l ig e i ro s , canto chan is las capu chos , reun i d osn e s sas r i q u íss imas c o lm e ias m u s icai s que fo ram ,

e m a Bas í l i ca Patr iarcal,a Ó pe ra i tal iana

d e Pago o S e m i ná r i o d e mús ica d e S . F ran c i sco ,o mos te i ro d e ar r áb id e s d e Maf ra ; m as a fal ta

d e e S p ír ito d e assoc iação e r a m an i f e sta ; inve n

(d ve t ( dur e os p r o nssunnns da_ inúsuxn a r e p u

g nãnc ia po r tóda a e spéc ie d e s ubo rd i nação a

p re c e i tos e statuais ; d i f íc i l a harmon ia d e i nte

ro ss e s e a comu n i dad e d e â n im os n uma c lass e

co nsti tu i da po r e l e m e n tos tão he te r o g êne o s ; e,

para sal var a I rmandad e,a i n da não se ti n ha e he

gado ao e xtre mo d e com e te r, como se fe z m ai s

tard e p e lo a l vará d e 1 5 d e n ov e mb ro d e 1 760,a

v i o l ên c ia,d e re sto pou co e fi caz , d e p ro ib i r o

e x e rc íc i o da mús ica, sob p e na d e doz e m i l ré i s

de mu l ta pagos da cad e ia,a qu e m não fôsse i r

mão da con frar ia d e Santa C e c í l ia. En tre ta n to,

os 1 15 n om e s que s u bsc re v e m o e statu to d e 1 740

co n sti tu e m j á um im p o r tante su bs íd i o para a

h i stó r ia da m ús i ca po rtu gu e sa, tan to mai s va

ti oso q uan to e c e rto que ,a grand e mai o r ia de l e s ,

não faz e m a m e n or r e fe r e, : i c ia os trabal h os dos

nossos m us icól ogos . Ess e s n om e s oc u pam qua

tr o pág i nas , a d uas co l u nas,ass i nando cab e ça

o Prov e do r, D iogo d e M e nd onça Côrte -R e a l , que

d e po i s hav ia d e so f re r tão d u ram e nte as p e rse

guiçõ e s d o grand e Marqu es ; o p r im e i ro M o r

d omo ass i ste n te , D . Lu cas G iov i n e , cap e lão-fl

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1 60 N A ARTE

r ia e J oão Bap ti s ta), fi l h os d o v i o l i n i sta A l e xan

d r e Pag t L rpuf l) . J o ão v c o nha to u c que hh

tr o duz iuua cô rte o go sto p e la o p e ra i ta l iana ; os

Lhaucan l r pal e Ulho ; (hus Fchunx d ous zxvo nda

uo s,

— i IU i ij us quais, l?ud r o Ch o r gi o ,

1 ? v io hlui

da Bas íl ica Pa tr iarca l,fo i o pai d e Pe d ro A u to

iuo v e ndaiur al un i da l r nunutad e iu) p e r k uhi

| vai i iba l ino ,compos i to r ga lan te a cuj 0s p e rtu rba

do re s n'

i inue te s Tw i s s a l u d e n o se u l i v ro

cn l ªui ug o t Fh luuu l KHn O S d e ahn ius ui ú

fur os c o uhe chlo s, tnd ae os q iuus o d e Phiuuusc oXutón io d e A l m e i da. g l o r i o so au to r da [ªin t/ :

Pazza e da S p inal ba, que tanto br i l h o d e u

CHNHTL (U) Paç o da Itdmura,vivui zuiukh ruas e r a

q uas i oc toge ná r i o . Dav id P e re z,êss e , e s ta va e m

e m Mi lão . Só tr es anos d e po i s , po r d i l i ge n

c ias da R a i nha Mar iana V i tó r ia, ve i o e s tab e

hnx um se cui Lushoa .

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VER Ã Ú

Vou falar- l h e s d u m po e ta b ras i l e i ro .

E ' p re c i so que Po r tuag l co nh e ça o adm i rá

ve l,0 s u rp re e n d e nte mov im e n to l ite r ár i o d o B r a

s i l co nte m p o r âne o , e que to do s nós , hom e n s d e

l e tras po rtugue se s , con co rramos , na m e d i da das

nossas te r ças, para e ssa i n d i sp e n sáve l ob ra d e

v u lgar i zação . E não ap e nas e m p rov e ito da l ite

ratu ra br as i l e i ra ; e m n osso p róp r i o p rov e i to ,tan i

l i em . No Bras i l e sc re v e -se m e l h o r o p o r tuguês

d o que e m Po rtuga l , — e o s d e te n to r e s da he

rança v e rnác u la d e Vi e i ra e d e B e rnard e s (te nha

m o s a co rage m d e o co n fe s sar) não e stão hoj e

aquém Atlan ti c o . A fl o ração d e po e tas é, e ntão ,

notab i l í s s ima. Provam -no mu i to s vo l um e s,r e

c e nte m e nte p ub l i cado s, que c o ns e rvo sôb r e a m i

nha m e sa d e trabal h o , — e , ma i s d o que todos

e l e s,um l i v ro que acaba d e apare c e r nas m o n

tras d o R io e d e S . Pau l o,e que é a afi rmação

l l

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1 62 NA AR TE

d e um e xtrao rd i ná r i o tal e nto d e po e ta : o Ve r ão

d e Marti n s Fonte s .

Há m u i to te mpo que a l e i tu ra d um l iv ro d e

ve rsos não p rod u z ia sôbre o m eu e sp í r i to um a

tão v iva e moção . L i-o du as,três v e z e s , dom i

nado , s ub j u gado , d e s l um b rado . J u l go que a i m

p re ssão p rod u z i da'

n o m e i o i n te l e ctual bras i l e i ro

fo i co n s i d e rav e l também . Co m o Ve rão,d e Mar

ti n s Fon te s , e stá ass e gu rada— d iz Ó scar Lop e s

n u ma sc inti lante c rôn i ca d o Pais— « a p e rma

ne nc ia do máx imo f u lgo r na po e s ia b ras i l e i ra » .

D e po i s d e O lavo B i lac , d e A lb e rto d e O l i ve i ra,d e R aim u n do Co r re ia, de Luis Mu rat, pon ti fi c e s

máx imos , n u n ca, que eum e l e mbre,o ne o -par

nasian ism o b ras i l e i ro p rod u z i u pág i nas d e u m

tão o fu scan te e sp l e n do r v e rbal . Não é fác i l fi l iar

este l i v ro e m qual q u e r e sc o la l ite rá r ia, ou s ubo r

d i na-lo q ual q u e r das co rre n te s d om i nan te s na

gran d e po e s ia po rtu gu e sa co n te mpo ran e a, — o

bo tticc l l ísm o d e. Eu gén i o de Castro , o he in ism o d e

A ugu sto G i l , 0 n e o -rom an tism o d e Fau sto Gue

de s, o vír g i l ian ísm o c r is/ão d e Cor re ia. d e O l i

v e i ra; é um caso ii parte , um fac to l i te rá r i o iso

lado,fu n dam e n ta l m e nte , se q u i s e r e m , a ob ra d e

um parnasiano ,—m as d e u m par nasiano i n

te n so , e xub e ran te , trasbo rdan te d e s e i va, late

jan te d e c larõ e s,p ujan te d e fo rmas novas

,d e

r i tmos n ovos, o mármo re e o bronz e d o v e rna

cul ism o sac u d i d os , an imados p e l o sangu e , p e l o s

n e rvo s,p e la v i da

,p e la v ib ração d e gen i o . Não

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164 N A AR TE

Arcad ia, fl au ta e m que se tran s fo rm ou a n u

d e z do i rada d e S i r inx : An fi tr ite que nasce ; Ba

b i l o n ia que e sp l e nd e ; F r inéa, e m E l e u s i s,sai n

d o,b ranca

,da e sp uma d o m ar ; e , e mfim

,

A fro d ite d e M e i o s, a Vén u s d e F rança, — V én u s

quas i lati na,Vénus-fl ô r -d e - l i s , S atân ia-G ioco n da,

V i rge m—Co l omb i na,

e xp re ssão contrad itó r ia d e

s e re n idad e i m u táv e l e d e graça p e rtu rbado ra.

No seucon j u n to , como v i são e stéti ca e como afi r

mação d e p roc e sso,es te s d e z bai xos—re l e vos g r e

gos co n sti tu e m a parte mai s n obre , ma i s e qui l i

b rada, m ai s harm ón i ca d e tôda ob ra,pare c e n do

a d e mon stração e a ap l i cação i n te gral das r e

gras de arte -poéti ca adm i rav e l m e nte d e s e nvo l v i

das na po e s ia d e ab e rtu ra, — Parthe non : « se

c laro,p u ro , s im p l e s , co r re n ti o » ; « ap re nd e a

amar n os m e stre s d o passado o c u l to h e ró i co das

pai xõ e s s e re nas » ; p rocu ra a l im p i d e z ; que n os

te u s v e rso s « a r ima ful ja, i n éd i ta, im p re v i sta» ;

que o e sti l o s e ja sób r io e a fras e j u sta,s im i

lnanca « do fi o n u ma trama. d e seda d o Le van te » ;« c i n z e la a. e stro fe

,como F ray J u an d e S e gov ia

re n d i l hando o re l evo d e p rata d e um

E, p o r ém ,na s e gu nda parte que se e ncon tra a

o b ra—p r ima d e Marti n s Fon te s : — A F lo r e sta. da

Água. Ne g ra . T e nho p e na d e não pod e r tr ansc r e

ve r o s d u z e n tos e c i n co e nta v e rso s d este poe ma,

se m dúv i da a j ó ia d e todo o l i v ro . É um a as

so m b r o sa e vocação d o s s e rtõ e s b ras i l e i ros ad u s

to s e fo rm idáv e i s , das s uas fl o re stas , das s uas

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« ve aão » 1 65

te mp e stad e s,do s s e u s pântano s e sp e l hante s e te

n e b r o so s como su p e rf í c i e s d e hul ha,,

da sua atmos

fe ra e spessa d e o i ro o l e oso,

—e vocação fe i ta

co m u m pod e r d e d ramatização da pai sag e m ,

com um s e n ti m e nto trág i c o da natu re za que l e m

b ra B o l l inat,no D ans l e s B r and e s, e

,sob re tu do ,

com aq u e l e v igo r , aqu e la i nte n s i dad e,aqu e la so

no r idad e,aqu e l e ve r nacul ism o , aqu e la ºpulênc ia

v e rbal d e que o Caçado r d e Esm e r aldas,d e B i

lac , e o mode l o s u p re mo , e que so”

te e m, que eu

sa i ba,o seue q u i val e nte e m p rosa n os S e rtõ e s

,d e

E uc l i d e s da Cu nha,e n o R e i Ne g r o , d e Co e l h o

N e to . Comparando êste tre cho , que não h e s ito

e m con s i d e rar do s ma i s b e l o s o ue se te e m e s

c r i to e m l í ngua po rtu gu e sa,com a ado ráv e l p o e

s ia S imp l icidad e , i n s e rta na ú l ti ma parte da obra

d uma l e v e za. d uma fl u i d e z,du ma—tran spar ên

c ia,d uma doc e m e lanco l ia que re c o rdam P lui e

,

d e V e r lai n e — te mos as e xp re ssõ e s máx imas das

d uas te n d enc ias que ob e d e c e u , d u rante a e la

bo r ação d o seu l i v ro,o e sp í r ito mag n í fi co d e

Marti n s Fon te s . Qual d e e las tr i u n fará , na sua

ob ra d e amanhã? Há d e d ize—l o o futuro,

— e o

f u tu ro,para Marti n s Fon te s , e a gl ór ia.

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O PR A D E TR INO

No d ia 26 d e nove mbro d e 1 73 1 das quatro

para as c i n c o ho ras da tard e , o b rado d e um

g ran d e c r im e d e morte c om ove u L i sboa tran

qui la, i mu n da e patr iarcal d o s e gu n do qu ar te l

d o séc u l o xvm . O c i r u rg ião f rancês I saac E l l i o t.

e ncon tran do a m u lh e r no s b raço s d e u m frad e

tr i n o,

assass inara-o s a ambo s . D o sang re nto

caso , oco rr i d o na p róp r ia morada d o c i ru rgião ,

a rua d o Ou te i ro,ve m larga notíc ia no cód i c e

n .

º 1 1 61 da Tó r r e do Tom bo,O

' q u e m e p e rm ite

faze r, a do i s séc u l o s d e d i stan c ia,a r e con sti tu i

ção do cr i m e — s e gu n do um a ve rsão u m pou co

d i fe re nte da ad op tada po r Cam i l o Caste l o B ran co.

I saac E l l i ot e r a,como d i r íamos hoj e

, o o p e

rado r mai s fe l i z d e Li sboa . T i n ha conh e c i d o,

ao e stab e l e c e r-se na c ô rte,as ve l has p ráti cas ana

c rón i cas da c i rurg ia p o rtugu e sa, im ob i l izadas ,d e po is do g én i o op e rató r i o de Franc i sco Gui lhe r

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1 70 NA H I S TÓR IA

m e , na roti na trad i c i o na l d o s c i r u rg iõ e s d o sé

c u l o x vu,e d e c i d i ra re vo l u c i ona-las a. go lp e s de

ta l e n to o d e audác ia . A fo rtu na baf e j o u -o . D ian

te do s s e us tacõ e s e n carnados e da sua marav i

lho sa cab e l e i ra de F ran ça, fu gi ram , e spantadas ,as lôbas n e gras d e todos os sangrado re s d e Li s

b o a c r iados na Pr ática d e Barbe i ros d e Man u e l

L e i tão . Po u cos anos d e po i s da sua ch e gada a

co rte , E l l i ot ganhava j á , p e la sua faca,c i n co m i l

c ru zados po r ano ; D . João v , que o chamara

par a l he c u rar o s tum o re s d o p e scoço , con c e d ia

lhe,com um a bôa te nça, a m e r cê d o háb ito d e

C r i sto ; um a das mai s l i n das m u l h e re s d e L is

bo a,namo rada da e l e gânc ia d o c i r u rg ião f ran

ce s, tão d i stan te j á da. capa e vo l ta d o s d iscípu

l o s d e An tón i o Bai ão , l e vava-lhe no s baú s d o e n

x o val,e m bon s sacos d e dobras d e o i ro, o m e

l h o r d e q u i nze m i l c ru zados ,Este casam e nto ,

e m que I saac E l l i ot v i u um a arma para a sua

amb i ção , — fo i,afi nal

,o p r i m e i ro passo para a

sua de sgraça. Dona An to n ia que as s im se cha

mava a m u l h e r— um a f rança tr igu e i ra d e 1 730,

nasc i da para e n fiar péro las e e n fe ita da como

um p u car i nho d o Natal,não se e squ e c e u de tr a

ze r para a mo rada da rua d o Ou te i ro tôda a ge n te

que e m so l te i ra lhe co n ti n uava a casa,e , co m

mai s f re quên c ia, as i rmãs d e c e rto frad e tr i n i tá

r io,F re i An d ré Gui l h e rm e

,costumadas , d e sd e

m e n i nas, a aco mpanha-la tadas as tard e s a m e

r e nda. Atrás das i rmãs , v e i o a m ãe ; atras da

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1 72 NA H IS TÓR IA

b e l e guins d e saltim bar ca e ch u ço , sal tar am po r

u n s quincho so s e fo ram p e d i r as i l o ao con ve n to

d e S . F ran c i sco . Du ran te al gu mas horas,aco l h e

r am -no s na portar ia ; m as, l ogo que se so u be na

ce ia d o guard ião que o as sass i nado fô ra um fr a

d e,e nxotaram -n o s, ati raram -n os d e ro l d ão p e las

e scadas , e o s do i s fu g iti vos,de no ite

,e m b ru

lhad o s n o r e buç o d o s capote s , os cab e l os ai n da

e mpastados de sangu e,do i s sac os d e d o b rõe s ti

n in do- l h e s a c i n tura,atrave ssaram o te r re i ro d o

R o ci o e m d e man da d o moste i ro de S . Dom i ngos .

Af, a l e gando que mo rte —d e -hom e m fô r a p o r

c r im e d e ad u l té r i o , con s e gu i ram abr i go até d e

mad ru gada ; lan çados , co m so l nasc i do , p e la

po rta d o conv e nto que dava para o H osp ita l d e

Todos os Santos , ai n da a p i e dad e d um hom e m ,

d e nom e Pe d ro Gon çal v e s,l h e s cobr i u a fu ga

para a i gre ja d e S . Lu ís ; — m as e m 8 . Lui s fo

r am p re so s . E r a o p r i n c íp i o d o fi m . A s O rd e

naç õ e s, l i v ro 5 .

º

, títu l o 25, não davam ao m a

r i d o af ro n tado o d i re ito d e d e fe nd e r p o r s uas

mãos a p róp r ia hon ra. I saac E l l i ot, p o r s e n te n

ca da M e sa da Co nsc iênc ia e Ord e n s , d e 2 d e

j u nh o d e 1 732,fo i p r i vado do háb ito ,

te nça e ti

tu l o , re laxado a j u sti ça e cú r ia s e cu l ar, —e , s e i s

m e s e s d e po i s,p e ran te as l ágr imas d um pob re

pad re cata l ão d e R i lhafo l e s,e n fo rcado na rua

d o Ou te i ro,d iante da m e sma casa o nd e co m e te ra

o c r im e . Du rante mu ito te mpo , a cab e ça d o i lus

tr e c i ru rg i ão fran ces,d e c e pada e p re gada no

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o m e r am o 1 73

al to do pattbul o , fi co u apod re ce n do ch uva e

ao so l . q uan to e la lá e ste ve , o s v iz i n h os , e r i

cado s d e te rro r, con tavam a qu e m qu e r ia o uv i-l o s

que um a figu ra b ranca d e frad e , c ruz v e rm e

ttia e az u l d o s tr i n os ab e rta no p e i to ra l d o háb i to ,v i n ha todas as no ite s ge m e r e m vo l ta da fo rca d e

I saac

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'

e m po r

o nve nto

aco lhe

oub e na

um fr a

o p e las

e m bru

3 ai n da

rõ e s ti

.i r o do

i ing o s .

ra p o r

até d e

p e la

ital d e

am e m,

a, f u ga

1 Í S fo

O rd e

m a

s uas

nte n

2 d e

e ti

s e i s

pob re

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S . MIGUEL AR CANJO

Os docum e n tos que o D r . A ntón i o Te i xe i ra

Co e l h o d e Vascon c e l os , da i lustre Casa d e . Cô r

ti nhas e m Cabe c e i r as d e Basto,acaba d e ofe re

c e r -m e co m d e sti n o ao s A rqu ivos do Es tado , ve e m

p roj e ctar um a i n e sp e rada l u z sôb re a. h i stó r ia,

obsc u ra ai n da, d o mov im e n to m igu e l i s ta d e

1 847, que te v e como con se quên c ia o massac re

d e B raga e a tr i ste j o r nada d e Gu imarã e s , e

c u j o ú l tim o lam p e j o se e x ti n gu i u,nas s e r ran ias

d e Trás-os-Mon te s,co m as gu e rr i l has h e ró i cas

'

d o Pad re Cas im i ro e d e F re i Man u e l d e Agra .

E o pul e ntfssim a e sta co l e cção . São cerca d e

tre z e n tas p e ças, que e stud e i l ogo que as re c e b i

das mãos d o m e u am igo D r . Castro e A i m e i

da, e e ntre as q u ai s se e n con tram,al em do co

p iado r d e A n e l h e e do s i n e te co m o s e l o d e G o

ve rno l 'r o v iso r io d e Basto ,cartas m u i to inte r e s

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s . M IGUEL AR CAN JO 1 75,

san te s d o r e i e x i lado ; d o cond e d e A l mada ; d e

R i be i ro Sara i va; d o Douto r Sac ra-Fam fl ia; d o

Do u to r Când id o R od r igu e s A l var e s d e F igue i

re d o e L i ma,l ogar-te n e n te d e D . M igu e l -e m

Po rtugal e o rgan izado r d o mov im e n to r e vo lu

c i o nar io d e 11 6; d o e gre sso F re i F ranc i sc o da

Nati v i dad e d e Mar ia,

seu con fe sso r , al ma do

c o m p l e t m igu e l i sta ; d o S am o ça; d e A lpuim e

M e n e z e s ; do e n é rg i co e r u d e Fre i Man u e l An

tu n e s ; do s e c re tá r i o Carn e i ro ; d o gu e rr i l h e i ro

F re i João d o Car m o ; do s br i gad e i ros Gue d e s e

B e rnard i n o ; d o s fi dal gos das casas d o Souto ,

d e S ing e ve r ga,da G ranja d e R ibas ; d o com e n

dado r A ntón i o Tav e i ra P im e n te l d e Carval h o ,ch e fe d a d i ss i d ên c ia l e g i tim i sta d e 1 851

,o ho

m e m que fe z d i sso l v e r a cé l e br e « J u nta d e Mar

cc-A u re l i o » , q ue fo i a al ma d e tr i ste pacto co m

a patul e ia, e que não con co rre u po u co para ate

n uar a fôrça po l íti ca da ma ism e dular m e nte na

c i onal de todas as facçõ e s parti dá r ias portu gu e

sas d o m e ado d o secu l o x rx : o m igu e l i sm o e s

tre m e , co rc u n da, apostó l i co e trad i c i onal . Que

b e l o l iv ro do rm e n e sta ru ma d e pap e i s ve l ho s,

e como eu gostar ia d e te r saúd e e te mpo para o

e sc re v e r !

Há no cop iado r d e A n e l h e um a carta d o pa

d r e Cas im i ro , que m e im p r e s s i o n o u .E um a pá

g i na d e h i stór ia. E o docum e nto d um a. fé,du ma

e n e rg ia e d um carác te r . Esc re v e u -a e m 1 852 o

au dac i oso gu e rr i l h e i ro ao Dou to r Sac ra-Fam í l ia,

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1 76 NA H I S TÓR IA

co n fe s so r , se cr e tár i o e ass i ste nte d e D . M igu e l ,

que e n tão se e n con trava com o r e i no pal ác i o

l o ngí n q u o d e Laugue nse lbo ld . Late j a n e la m e s

m a e xal tação m ísti ca, o m e smo fo rte e sp i r i to d e

re acção apostó l i ca que pare c e u re nasc e r u m mo

m e nto,se te n ta anos d e po i s

,na fi gu ra d o pad re

Dom i ngos . Através das s uas palav ras ao m e sm o

te mpo másc u las e h um i l d e s , s e n te -se ap e r r ar ar

m as,c re p i tar fogu e i ras

,mu rm u rar o raçõ e s . Qu e r

que o r e i sai ba tud o , q u e m e l e é , como e l e so

f re u,como e l e mato u p e la san ta cau sa. Conta

como e m . m aio d e 1 846 sai u p e la p r i m e i ra ve z

a campo co m todo o povo d o M i nho e d e T rás

os-Mon te s, que o ac lamava, que o b e i java, que

o p roc lamava g e n e ra l e d e fe n so r das C i n co-Cha

g as . No m e ado d o mês ti n ha j á tr i nta m i l ho

m e n s e m vo l ta d e B raga. E não cui dass e o S a

c r a-Fam i l ia, não c u i dass e o r e i que e ram se

te m b r istas . Não ! O povo q u e r ia l á ouv i r fa lar

e nt- ch e fe s da patul e ia, e m M o ntalve r n e s, e m

B e ntos Gom e s,

e m Motas , —raça danada, tã o

bôa ou tão má como os Cab rai s ! O ch e fe e r a

só e l e,o í d o l o e r a se e l e , pad re Cas im i ro . Ch o

r avam quando o v iam ,cob r iam -n o d e fl o re s , can

tavam h in os e m seu l o u vo r . O bo m povo,o l ia l

povo b ragu ês ! Ch e go u e m tr i u n fo - a R u i vae s ;Mon tal e g re coa l ho u -se d e ge n te para o ve r pas

sar ; armada d e fo i c e s , d e cac e te s , d e naval has ,d e mosqu e te s ve l ho s ,

.

a mu l ti dão q u e r ia acom

panhã-l o se e l e m ar cl i asse para Chav e s , a ala

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1 78 NA H IS TÓR IA

do s s eus s e r v i ço s , d o seu p re stíg i o , d o seu d e

sasso m br o ,— ac u sa. Mac-D o n e l i

,o e sco cês

,e r a

u m maço n . O seu n om e andava,e m Par i s , no s

a l manaque s d o s p e d re i ros-l i v re s . E po rqu e e ra

um maçon , um v e nd i do , im p e d i u-o , e l e , d e l e

vantar ge nte armada con tra o s c lub i stas, co ntr a

o s d e vo r istas, co n tr a o s Co bur g o s d e L i sboa.

atrai çoo u , ab ri u as po rtas Cazal , p re parou o

mas sac re tre m e n do d e B raga e m 31 de d e ze m

b r o ,— e p o r e ngan o

, p o r e qu ivoco , p o r co nfu

são , po r casti go d e D e u s, fo i morre r, cam i n h o

d e V i n hai s,as mãos d uma patru lha. Que o D ou

to r Sac ra-Fam í l ia não d e i xass e d e o re p e ti r ao

r e i : a co rºa re svalara- lhe mai s um a ve z da ca

b e ça,po rqu e Mac-Don e l l e r a u m trai d o r . A fi r

m a-o e l e , pad r e Cas im i ro , co m a au to r i dad e m o

r al d e qu e m j ogo u a v ida, d e q u e m p e rd e u o s

b e ns, d e qu e m v i u mo rre r pai e i rmão , d e q u e m

an do u ho m isiad o , a mon te como os lõb o s,

p e la cau sa sagrada d e D . M igu e l . Não q u e r ho n

ras ; não qu e r d i n h e i ro , porqu e só ac e i tou v i nte

m i l ré i s para s e i s ar rôbas d e pó lvo ra : qu e r um

r e i p o r tuguês para Po rtugal , e j u ra que há-d e

con ti n uar bate r-se,co m a cruz e c lav ina nas

mãos , até ve r d e todo e d i fi cados o s muros da

nova Je ru sal em .

Pob re pad r e Cas i m i ro ! l ngénuo Du Gue sc l in

d o m igu e l i sm o e x p i r ante l Pouco te mpo andado,

— a fé e xti n gu ia-se,m igu e l i stas e patul e ias co n

frate rn i zavam ,ge rm inava s e m e n te da d i ss i

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m ount ARCANJO 1 79

dênc ia e da i n tr iga,da d e te cção e d o ód i o , e a

pob re somb ra do gu e rr i l h e i ro d e V i e i ra,abra

çada ao seu arcabu z e ao seu rosá r i o , d i ss i pa

vã -se para s e mp re , com o fumo .

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A MOR TE DE JOÃ O V l

l ) . Io ão vr mo r r e u e n v e n e nado

Esta p e rgunta te m s i d o fe ita varias v e z e s .

Logo que o r e i ado e ce u , no d ia 4 d e março d e

a pai xão po l íti ca atr ib u i u i m e d iatam e nte

a e n fe rm i dad e d e D . João V I a um a acção c r i

m i n osa O pob re monarca,ob e so , ar tr ftico , ba

l o fo,c o m o b e i ço p e nd e nte e as ú l c e ras mal e a

Iar e s d os B r aganças e dos Habsbu rgos,fô ra vf

ti ma do d u e l o apostó l i co- l i b e ral travado e m vo l ta

do tro n o . O carácte r da do e n ça, a sua apar i ção

súbita, o seu d u p l o s índ roma n e rvo so e gastro

i n te s ti nal,

o s d e l fqui o s, as conv u l sõ e s,o s vó

m i tos, avo l u maram a s u sp e ita d e v e n e n o . Qu e m

o p rop ic iara ao r e i ? Para os apostó l ic o s nao

hav ia d úv i das : os l ib e rai s . Para o s l i b e rai s não

hav ia d úv i das tambem :

.

a rainha . Quando D .

João V I morre u , a qu e stão fo i,po r ambas as

parte s , pos ta co m ód io,co m facc io s i smo , com

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1 82 NA H IS TÓR IA

João VI . Hav ia,d e facto

,um c r i m i n oso ? S e ha

v ia,

—o n d e e stava e l e Em L isboa ou e m Que

l u z? Na Inte ndência d e Po l íc ia ou na sala D .

Qu ixo te ? E r a R e n d u fe o u e r a. a rai n ha?

Não é fac i l re spo nd e r . Os i ndíc io s abundam

m as fal tam as p rovas . V e jamos p r im e i ro a ve r

são o fi c ial . S igamos, através d e ssa v e rsão , a

marcha d o s aconte c im e n to s . No d ia 4 d e março

d e 1 826,o r e i

,an te s d e e n trar n o côch e que o

hav ia d e con d u z i r a Maf ra, tomo u um ca l d o .

R e p e nti nam e n te , s e n ti u -se m al e não parti u .

Que se pas so u d e po i s ? R e fe e m -n o , com im

p r e ssi o nante laco n i sm o , o s 27 bo l e ti n s afi xados

e p ub l i cados na Gaz e ta de Li sboa . O p r im e i ro ,datado d o Paço da B e mposta, 5 d e março , as 8

ho ras da manhã,e as s inado p o r s e te med i cos ,

d iz o se gu i n te : « Sua Maj e stad e Im p e r ial e R ial

te v e no d ia sábado quatro do p r e s e n te mes d e

março um a i n d ig e stão , acompanhada d e i n s u l

to s n e rvosos , que mom e n tan e am e n te d u ravam e

dos q uai s, a b e n e f í c i o dos re méd i os que se d i

gn o u tomar,se acham e l h o r actual m e n te » . Nada

mai s . O s e gu n do e te rc e i ro bo l e ti n s , re fe re n te s

ao d ia 5,l im i tam -se a d e c larar que os i n s u ltos

n e rvosos não se re p e ti ram . Os do i s bo l e ti n s d o

d ia 6 d iz e m que o r e i p i o ro u : u m ataq u e às 5 da

manhã ; n ovos ataq u e s d o m e i o d ia as 2 ho ras ,« um d e l e s tão v i o l e n to que se . r e c e o u m u i to p e la

p re c i osa v ida d e S ua Maj e stad e » ; o r e i é u ng ido ;d as 2 e m e ia da tard e e m d ian te

,son o l ênc ia

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A MO R TE m : p . J o i o vr 1 83

p ro fu nda E n e ste d ia, e n e ste e stado,

que D . João VI ass i na o d e c re to no m e an do

r e gênc ia e e n tre gando o govêrn o à fi l ha m ais

ve l ha. No d ia 7 p ub l i cam -se bo l e ti ns d e quatr o

e m quatro h o ras : d iz e m todos,i n var iav e l m e nte ,

que o r e i e stá m e lho r . O m e smo no d ia 8 : o s se

te bo l e ti n s que se afi xam ,d e c laram -no l i vre d e

p e r i go . No d ia 9 ,a i n fo rmação da tard e vo l ta a

ac u sar u m i n s u lto n e rvoso as s e i s h o ras . No

d ia 1 0,p e la m anhã

,D . João vi te m « u m d e l i q u i o

que d e mora 1 0 m i n u to s » ; a 1 ho ra e 1 7 , n o vas

co nv u l sõ e s , que se re p e te m às 2 ho ras . O ú l

tim o bo l e tim,datado a i nda d o Paço da B e m

posta, 1 0 horas da n o ite d o d ia 1 , an u nc ia a

mo rte d o monarca: « S ua Mag e stad e Imp e r ial e

B ia l, que D e u s há e m g l ó r ia

,te n do co nti n uad o

a so f re r r e p e ti d os i n s u l tos n e rvoso s , sobre v i e ram

am iudadam e nte três , d o s quai s o p r im e i ro com e

ç ou as quatr o ho ras da tard e co m grand e s a n

s i e dad e s ; o s e gu ndo às q uatro h o ras e um quar

to , e d u ro u quatro m i n u tos ; o te rc e i ro p r i n c i

p i o u as quatro h o ras e v i n te e c i n co m i n u to s,te rm i nando d e sgraçadam e n te p o r um a síncºp e ,

a qual se se gu iua mo rte mai s ca lam itosa para o s

Portugu e s e s ( i n fe l i zm e n te v e r i fi cada até p e las e x

p e rtenc ias e l éc tr i cas) as quatro horas e'

quar e nta

m in uto s» . Po r co ns e gu i n te , ataqu e s as 8 e m e ia,

a 1 e 1 7 , as 4,as e u m quarto , às e 25 ;

as 4 e 40, s í ncop e card íaca ; mo rte . E i s tu do

quanto ofi c ial m e nte se so ub e , Jo sé Agosti nho

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1 8 1 NA H I S TÓR IA

d e Mac e d o , na B e sta Esfo lada, faz-se e co da vo z

d o povo ; d i z que D . João vx mor r e u n o d ia 6, e

afi rma que o ú l ti m o bo l e ti m fo i fo rjado p e l o c i

ru rg ião b r asi i e i r o Agu iar . O r a i sto não é ve r

dad e , po rqu e o doc um e nto que acabo d e trans

c re v e r,p ub l i cado na Gaz e ta d o d ia 1 1 , e stá as s i

nado p o r dôze d o s m ai s i l u str e s méd ico s pa la

ti n os : o barão d e A l vai áz e re , fi s i co-m e r , e o s d ou

to re s B e rnardo José d e Abran te s e Castro,Fran

c i sco de Sou sa Lo u r e i ro,Mar iano Lia] da Câmar a

R ange l d e Gu smão , F ranc i s co Jose d e A l m e i da,

Joaqu im Xav i e r da S i l va, José P i nh e i ro d e F r e i

tas S o ar e s, F ran c i sco A l v e s da S i l va, João To

más d e Car val h o,I nác i o A n tón i o da Fons e ca. B e

n e vid e s e Joaqu im Fé l ix d e Bar ro s . S e os m e

d i cos da r ial c âmara, p o r co nv e n i ên c ias d e o r

d e m p o l iti ca,se p re staram a dar com o te ndo

oco r r i do no d ia 1 0 um ób ito p re s um iv e l m e n te

ve r i fi cado quatro d ias an te s,fi z e ram -n o so b a

re sp onsab i l i dad e do se u n om e e com a p l e na

co n sc i ên c ia do acto que » p rati cavam . O que i m

p re ss i o na no d oc um e n to s u j e i to não é qu e s

tão da sua au te nti c i dad e ; são as r e s e rvas co m

que ê l e e stá re d ig i do . Não se d i z d e que doe n ça

D . João VI morr e u . A l u d e -se vagam e n te « i n

d ig e stão », a « an s i e dad e s », a « i n s u l tos n e rvoso s » ,— q u e r d i z e r

,a p e rtu rbaçõ e s gastro - i n te sti nai s

e a fe nóm e n os co nvu l s i vos d e carác te r ind e te r

m i nado,m e nc io nando -se ap e nas o ac i d e n te te r

m i nal : a s í nco p e . Tratar-se - ia d e um caso v u lgar

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1 86 NA H ISTÓR I A

mara,

« in ici é aux so ciétés S éc r ête s»,

« r e co m

p e n se'

ave c d e s ti tr e s e ! d e l'

arg e n t», « e x e r

çan t la p lus scan dal eusc influe nc e sur l e s affai r e s de l

º

Etat» —e m qu e m não é d i f íc i l r e

co nh e ce r o dou to r F ranc i sco José d e A lm e i

da. méd i co palati n o hono rár i o , d e po i s barão

d e A l m e i da. Q u e m fo i o seu cúmp l i c e ? « Un

chi rurg i e n br e'

si l i e n,n om m é d e puis char gc

'

a!

[ ai'

r e s du B rési l e n Po rtugal », —q u e r d i z e r, 0

c i ru rg i ão da câmara T e odo ro F e r re i ra d e Aguiar .

A h i stó r ia te m um pou co d e R ocamb o l e . Ve ja

mos . No d ia õ— e i sto con co rda com a info r

mação dos bo l e ti n s D . João V I p io rou ; o s ata

q u e s s u c e d e ram-se ; o r e i ca i u e m s ub-coma .

Os l ib e ra i s d o govê rn o , ou,mai s p ro p r iam e nte ,

o com p lo t Lac e rda-R e nd u fe , te m e n do que a

mo rte p róx i ma d o monarca tro u x e ss e re gênc ia

da ra i nha,o re gr e sso d e D . M igu e l e a v i tó r ia

dos « c o r eundas»,lav raram o d e c re to que e n tre

gava o govê rn o a i n fanta I sab e l Mar ia, e no

m e ava re g e n te s , com o s s e c re tá r i os d e Es tado , o

d u q u e d o Cadaval,o m ar que s d e Valada. e o

co nd e d o s A rcos . E ra p re c i so que o r e i ass i

nass e ess e d e c re to . R e c lamava—o a cau sa do s l i

b e rais . l_Cx ig ia-o o p róp r i o m i n i s tro d e Ing la

te rra . Mas como obte r a ass i natu ra d um mo r i

bu n do ? Como d e sp e rtar D . João vn d o se u l e

la r g o ? E e ntão , d i z o au to r das M e m o i r e s sur

te Portugal , que o méd ic o A l m e i da inte r ve m .

« Il 'r e'nn it se s e o l l e gue s, e t l e s con sulta sur l e s

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A m e n're D E D . JOÃO V ! 1 87

m oy e n s d e r e nd r e au r o i aisse z d e fo rc e p our si

gn cr un acte d'

oud e p e ndai t la tr anqui l l i té d e

l'

Etat. Un ( l'

eux lui r ap p e l la que , p eu d'

o n n e'

e s

avan t,l e com te d e Vi l la Ve rde étan t t

'

e x tr é

m i te'

,i t lui avai t donné

, par o rd r e e x p re s d e

J e an VI lui m êm e ; un e p oti on qui l'

avai t r arnim é

d e m an iêr e à c e qu'

i l put ind i que r ouse tr ou

vai e nt d e s p ap i e rs do n t la p osse ssi o n im p o rtai t

aur o i : m ais que , si c e tte p otion n'

avai t pas cause

la m o rt d e c e se ign eur , e l l e l'

a i i ai t dum oins acc e

l e rc'

e ; q u'

e l l e p rodui rai t sans dout'e l e m êm e e f

fe ct sur J e an VI, e t, qu

'

un e te l l e r e sp onsabi l itén e laissai t pas d

'

e'

tr e cil r ayan te . L e m e de cin qui

avai t p rovoqué c e tte co n fe r e n c e,la te rm ina bi e n

tôt; e t,se conde

'

p o r un chi rurg i e n d e la cham ª

br e , suj e t Br ési l i e n. qui avai t su cap te r Ia c o n

!ianc e d e J e an Vl , i l fi t p re nd r e au r o i,sans p lus

he si tar , Ia fatal e p oti on . C e m alheur eux p ri n c e

p arut e n e ff e ct se ran im e r ; i l r e p r i t qualque co n

naissan c e , e t l'

o n se hâta d'

e n p rofi te r : m ais à

p e i n e eu!-i l j e te'

l e s y eux sur l e p ap i e r qu'on lui

p r és e n tai t, qu'

i l l c r e p oussa: d'

ho r r i bl e s c o nvul

si o ns te r m inêr e nt c e p re m i e r e ssai . D e s qu'

on

l e vi t un p eu p lus tran qui l l e , o n r e c o m m e n ça'

c e tte te n tative [ut suivi e d'

un n ouve l acc id e n t.

L e m om e n t étai t cr i ti que : la p oti on a l lait ag i r

dans toute sa vio l e n c e ; i l [ al la it e n fi n i r, O n

e'

car ta se'

ve'

r vm e n t tous l e s tcm o ins qui n'

e tai e n t

pas in te re sse s au si l e n c e,e t ou se r e nd i t m ai tr e

a in s i d e s d e r n i e rs m om e n ts d e J e an VI . L e d e'

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1 88 NA H IS TÓR IA

cr ét [ut sign e'

. Com m e n t ? C'

e st c e que l'

o n

iqn o r e ; c'

e st c e qu'on im ag in e av e c ho r r eur . »

Não se i se e sta adm i ráv e l s c e na d e tragéd ia

po l í ti ca se passo u como o auto r a d e sc re ve . No

f u n do , tratar-se -ia d e um v u l gar facto c l ín i co :

a adm i n i stração d e u m e sti m u l ante e n érg i c o

um do e n te p re ste s.a morre r pe l o co ração ou

p e l o r im . Que e sti m u l an te e r a ess e ? Em que

dos e fo i dad o ? Q ua i s as i n te nçõ e s r e s e r vadas

d e al gu m ou d e a l gun s méd i co s palatino s ? Im

poss ív e l sab e-l o h oj e . S e ho u v e c r im e , as p r o

vas faltam . O au to r das M cm o i r e s d i z que se fe z

anatom ia ao cadave r r ial'

e que se e ncon trar am

v e stíg i o s d e v e n e n o . « A l'

ouve r tur e d e so n co rp s ,

« l e s chi rurg i e ns e x p e rim e n tai s r e connur e n t l e s

trace s d'

un p o i son actii e t brulan t: p rove na i e n t

e l l e s d e la p otion qu'

on avai t fai t p r e n d r e à

J e an V],oue tari e n t-e l l e s l e r e sul tat d

'

un cr im e

an te r i eur ? » Proc u re i o re lató r io da au tóp s ia.

E ncon tre i o u tros , —o n tr e e l e s o d e D . Pe d ro IV.

Não e ncontre i o d e D , João vr . Ou não ch e go u

a ab r i r-se o cadáve r do r e i,

—o u o d ocum e n to

dêsse ac to,poss i ve l m e nte co m p r o m r l e d o r

,d e sa

par e c e u

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1 90 NA H IS TÓR IA

ção . Bale u-lhe o s r itmos , n um c ravo d e o i tava

larga,o ta l e nto d e H e rmín i o Nasc im e nto . R e

con sti tu i u—lhe as marcas — ou as « mu dan ças » ,

como se d iz ia n o sécu l o xv m — a co m p e tênc ia

d e A n tón i o P i n h e i ro . E a ve lha dança, que e m

1 730 fi z e ra tre m e r d e i n d ignação na sua purp u ra o n ob re card e a l da Cu nha,

— te ve um su

ce sso .

O que e ra o « sar am b e que » ? Qual fo i a sua

h i stó r ia ? S ão po u cos o s doc um e n tos que se

re fe r e m a e sta dan ça e po u cas as i n d i caçõ e s

s ubs i s te n te s acerca d o s s e u s « passos» e « ti gu

r as» . O que pare c e é que , com o a como

o « canar i o »,com o o « ar romba» , c omo o « arre

p ia» , e ra um a dan ça o r i g i nar iam e n te . po rtu

gu e sa .E sta va e m p l e na

'

m o da n o m e ado d o sé

cu l o xvu, —e o povo ai n da d e l i rava co m e la, na

p roc i s são d o Cor pus Chr isti , ao ti m do séc u l o

xvm . A o passo que a « ga l harda»,o « pó de ch i

bao »,a « pavana r i ca» mo rr iam ao e xp i rar d e

s e i s c e ntos , —o « sar am be q ue » batia-se co m as

« che ganças» no te mpo d e D . João v,

'

d i sp u tava

o su c e sso ao « fan dango » no con s u lado pomba

l i n o , e dançavam -no ai n da,no te mpo d o s f ran

c e s e s,co m a m e sma fú r ia e sb e l ta, d e snalg ada

e b rej e i ra,os sp e nc e rs azui s bo rdados d e o i ro

d o s o fi c iai s d e J u not e o s e ncan tado r e s capo

le s e ncarnados que d e s l umb raram ,no p r i n c íp i o

d o sécul o X IX , a v iva d uq u e sa d e Abran te s . A

v i da d o usar arnbe que » d u ro u , p e l o m e nos , sé

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o S AR AMBEQU F. 1 9 1

cul o e m e io . A p r i n c íp i o,bai lavam-no as se nho

ras fi dal gas, p o r pas sate mpo , nas suas cám a

ras e'

o rató r i o s . Mas l ogo a moral d e moste i ro

e d e cava lar i ça que caracte r izou o séc u l o xvn

po rtu gu es , con d e no u , c omo d e m as iado d e s e nvo l

ta,um a dança que a sim i lhança da « sax

—abati da»

se bai lava co m o s braço s e co m as p e rnas , sa

pate ando e e staland o castanh o las a vo l ta dum

tapete oud uma e ste i ra. O p r im e i ro f u lm in á—la

fo i D . Franc i sco Man u e l , d i s c u ti n do , na Carta

d e Guia d e Casado s,os passate mpos p e rm iti d os

as e spósas : « Não l o u vo o traze r casta nhe tas na

al g ib e i ra,sab e r j ácaras

,e e nte nd e r d e mudan

ças d o sar am b e que , p o r s e re m i n d íc i o s de de s e n

vo l tu ra» , E ssa d e se nvo l tu ra fu n dam e ntal fe z,

daí p o r d ian te , a fo rtu na da anti ga dança se i s

c e nti sta . O « sar am b e que » d e sc e u ao povo ; pas

sou dos tacõ e s v e rm e l h os das « tranças» para o s

sóco s d e pau das m ar anhõas ; i n vad i u as ho rtas

d o Catav e n to e o s te rre i ros da Mou rar ia; fe z

as d e l íc ias d o s p ico e s d o Mocambo e d o s car

p inte i r o s da R i be i ra das Nau s , —e farto d e sa

r aco te ar -se atr ás d o pal i o d o i rado das p roc i s

sõ e s,ao lado d o s m o chatins e d o r e i Dav i d , s u r

g iu, no m e ado d o séc u l o xvm,i n e sp e radam e nte

,

bravam e nte , e m p l e nas to i radas Ii dalgas d o Te r

re tro d o Paço . Em 1 752 vemo-l o , p re f e r i d o p e l o

povo , ado rado p e l o povo , dançar-se p e rante as

n obre s tranqu e i ras d e to i ros que o marqu ês d e

Ab ran te s l e vantara e m hon ra d e e l-r e i D . José .

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1 94 NA H IS TÓR IA

Um fo l h e to d e co rd e l , « Mapa curi oso das visto

.cas e n tradas e dan ças que hão -d e p r e c e d e r ao s

c o m bate s d e touros que n o Te r r e i ro do Paço sc

hão -d e com bate r no s p r im e i r os d ias»,dã-n o s a.

im p re ssão da gross e i ra fo l ia popu lar e m que se

te r ia tran s fo rmad o,n o te rc e i ro quarte l d o sé

cul o xvm,o ar i stoc ráti c o « sar am be que » d e 1 650 :

« Outr a da nça sc cob iça

E d ize m que hat—d e i r à p r açaA dança d o sa r a m be que .

E m fl m , haj a sar am be que ,

D an cem , tr am a m , dêm a o baque .

Que e'

i sso que o p ovo que r . »

Fo i p re c i sam e n te a fo rma p l e b e ia do « saram

b e qu e » que eu fi z r e con stitu i r no Co nse rvató

r i o . É cu r io so que , na e vo l u ção d e sta dan ça,

se da e x actam e nte o co n trá r i o do que se d e u na

e vo l u ção da « tota» . A « fo ra» , que é , no seu int

c i o , um a dan ça d e n e gros , « la p lus ind e c e n te

chose que f o g e jam ai s vue »,d iz Dal rymp l e e m

1 774,re apare c e

,com o néo -m ar ialvism o d e 1 830.

e n tre as co ntradanças f ranc e sas e o s ca l d os d e

gal i n ha d e Qu e l u z , transfo rmada n u ma dança

d e sala ; o « sar am be que » , p e l o co n trá r i o , dan ça

ar i stoc ráti ca d o séc u l o xvn , bai lada, como

« ga l harda» e a « pavana»,com o s gar av ins d e

pé ro las e as anquinhas boj u das d e V e lasq u e z

e d e Pan toja d e la Cru z , re sva la das ho rtas para

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UM DIPLOMATA

Como se sab e,a F rança, o u m e l h o r , B o napar

te , man do u a Po rtugal e m 1 802,como e nv iado

e xtrao rd i nár i o e m i n i stro p l e n i pote nc iá r i o , o mai s

g ro ss e i ro e i n so l e n te d os s e u s ge n e rai s : João Lan

n e s. Não e ra u m d i p l omata ; e r a um arr i e i ro .

Não e r a um hom e m : e r a um a te mp e stad e d e

má c r iação . Po i s be m . D e cop iado r d o s se u s

o fíc i os ao m in i stro Tal l e y ran d , que te nh o ab e r

to d iante d e m im e que é pou co m e nos que d e s

co nh e c i do , conc l u e -se que o ge n e ral Lan n e s,

moço d e cavalar i ça boçal que Napo l e ão fe z da

que d e Mon te b e l l o e m are chal d e F ran ça, se

qu e ixo u amargam e n te ao m i n i stro e ao p r im e i r o

cônsul d e que v i e ra e n co ntrar e m Li sboa, co m

e spanto se u,u m hom e m ai n da mai s i n so l e n te e

m ai s m al e d ucado d o que e l e . Po is e r a d i f íc i l .

Sab e m qu e m fo i esse hom e m ? O I nte nd e n te

d e po l íc ia,D iogo I nác i o d e P i na Man i q u e . Não

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UM m r m uxn 1 95

é cas o , e vi d e nte m e nte,para que o n o sso se n ti

me n to patr i ótic o se e x alt a; m as a i n da é con so

lado r, com o j u sta e xp re ssão d o o rgul h o nac i o

nal . sa l'

i e r que h o u ve , na L i sboa ti mo rata o

( Ip t lstt'

l l lc tt d e 1 802 , que m bate sse o pé ao ma i s

v i o l e n to e ao mai s b ru tal do s ge n e rai s d e Na

l i i i ltj âu.

Na rap i da l e itu ra que fi z de l e , afi gu ro u-se m e

mu i to i n te re ssan te o co p iado r d e of íc i os d e

Lan n e s . Ab range o s do i s p e ríodos d e re s i d en

c ia d o h e ró i d e Mare ngo e d e Strad e l la e m L is

b o a : o p r im e i ro , d e março a agosto d e 1 802 , o

s e gu n do d e março d e 1 803 a j u l h o d e 1 804 . A

p ropós i to das s uas re c lamaçõ e s j u n to d o govê rn o

po rtugu es no s casos d e M .

“ d e Entr e m e use e

d o n e goc iante Lucate l l i,d e M .

º"º Agathe e d

Pascal Te l on , e .

,mu i to e sp e c ia l m e n te

,acer ca d o

co ntr aband o que P i na Man i q u e lhe não d e i xava

faze r, — d e s compõ e para F ran ça o R e ge n te , o s

m i n i s tros,a Cô rte , o I n te nd e n te d e po l íc ia, m al

s i na tudo,i n tr iga tudo

,calun ia tu do

,e acaba

p o r c onv idar o p r im e i ro-côns u l a e mp r e e nd e r

a co nqui sta s u m á r ia d e Po rtu ga l , natu ralm e n te

par a que S ua Ex ce lênc ia o e nv iado e x tr ao r d i

nár io d e Bonapar te p u d e ss e , co m mai s fac i l i dad e ,f u rtar ao s d i r e i tos as faze ndas d e contraban do

que ve n d ia e m Li sboa ao s n e goc ian te s Le gu e r ,Lo cate l l i e Ma i so n n e u v e . Mas o que é mai s eu

r ic s o ai n da d o que te das as v io lências e to dos

os i n s u l to s , e o conc e i to p o l ítico que o ge n e r al

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1 96 NA H IS TÓR IA

Lan n e s fo rmava d o s hom e n s que , e m Po rtugal .

e x e rc iam o governo , As s uas op i n i õ e s sôb re D .

João vr,sôb r e D . João d e A l m e i da

,sôb re D . R o

d r ig o d e So usa, não fa lan do j á no seu i n im igo

P i na M aniqu são i n c i s ivas , ráp i das , p ito r e s

cas, mu itas ve z e s i nco e re n te s . D e D . João vr, faz ,e m março d e 1 802 , este r e trato , que vai no o r i

g inal francês para não p e rd e r o sabo r : « Quan t

auPrin c e , i l e st com p l e te m e nt nul,sa seul e o c

cup ati o n e st la chasse e t so n un ique p lai si r e st

d e chante r au lutrin e t d e s'

y fai r e ap p laud ir

p ar l e s m o in e s» . Mas com o o R e ge n te , com

medo de l e , o e nche'

de jo ias,lhe dá o seu r e

trato rod e ad o d e d iam ante s , e e pad r i n ho do fi

lho que lhe nasc e e m Portu gal , — Lan n e s co n

ve r te/ se,m e n te

,e l og ia-o nas cartas para Tal

l e y r and , e não te m d úv ida e m afi rmar, no seu

o fí c i o d e março d e 1 803 : « L e Prin ce e st l c p lus

brave e t l e p lus ho nn éte hom m e d e so n r o yau

0 m in i stro dos e strang e i ro s e da gu e rra,D . João d e A l m e i da

,e « um cai x e i ro e um la

e aio do m i n i stro i ngl es , e s péc i e d e bon e co m o

v id o p e l o gab i n e te d e Lond re s » ; o m in i s tro da

faz e n da,D . R o dr igo d e Sou sa, « hom e m v io l e n to ,

b ru tal,e o i n i m igo j u rado da F ran ça, capaz d e

sac r i fi car o p rí n c i p e , a pátr ia e a p róp r ia hon ra

p o r um cap r i ch o d e beb e do » ; todo s .o s m i n i stro s

são « an ti -fran çais, e t p lus ang lais que l e s an

g lais eum-m em e s» ; Lufs P i nto é « um b e ato h i

póc r i ta» ;—« m as o re trato mai s p ito re sc o , jus

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19 8 NA H IS TÓR IA

te r ro r , s e n do o i n strum e n to v i l do s ód ios d e to

dos o s m i n is tros, a a l ma da p róp r ia atroc i dade .

e to r nando,po r s i só

, L i sboa i nab itáve l » . P ina

Man iq u e é o c u l pado d e tu do , — dos n e goc ian

te s que qu e b ram ,das bar r as que se afu ndam ,

d o s f ranc e s e s que mo rr e m ,dos e m igrados que

se armam , da su p r e ma af ro nta d e D . João V I

te r re c e b i d o e m Qu e l u z Co igny,o d e l e gado d e

Luí s x vm e o se u pod e r , a sua gross e r ia, a

sua i n so l ênc ia, a sua au dác ia são de tal o rd e m ,

que não há mane i ra d e o d e rrubar,co n c l u e

Lan n e s,

« tan t que la F ranc e n e p -r e nd ra p ac à.

l'

iªgarr d d e Po rtugal un e con te nanc e ag g r e ss ive » .

E adm i ráve l que o mar e cha l Lan n e s tiv e ss e

d e v i r a Po rtuga l para e nco ntrar um hom e m

mai s m al c r iado d o que e l e !

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FR EI MANUEL D E S ANT'

ANA

O ate n tado d e 3 d e se te mb ro d e 1 758 co n

tr a v i da d o r e i D . José , a”

que o auto r das

An e cdote s du m in i stêr e du m arqui s d e Po m bal

chama « um a q u i m e ra» , te ve como co nse quênc ia a i n stau ração d e do i s p roc e s so s : um , o p r o

c e s so d os Távo ras, — que fo i a tragéd ia ; outro ,o p r oc e s so d e F re i Man u e l d e S ant

'

Ana,

—que

fo i farca. Em ambos d e i xo u a sua ass i natu ra

S e bas ti ão Jo sé d e Carval h o . O p rim e i ro, que

d e stro ncou as mai s p u ras coste las d e o i ro da

n obre za po r tugu e sa, tôda ge nte o co nh e c e ,ao m e nos d o tras lado da se nte n ça d e 1 2 d e ia

n e i ro d e 1 759 , que co rre i m p re s sa e m vá ri as o o

l e cçõe s d e l e i s e acó rdãos d o D e s e mbargo do

Paço ; o se gundo,ond e so rr i u m pob re l e i go

f ranc i s cano da P rov í n c ia d o s Aço re s,

— c re i o

que po u cos o conh e c e rão . T e nh o aqu i, na m i

nha fre nte , o o r i ginal dêste p roc e sso . Ap e sar

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200 NA ius róm A

d e po u co vo l um oso , não se i d e mai s adm i ráv e l

p i ntu ra. da v i da l i sboe ta d o séc u l o XVI I I . Vou fa

lar - l h e s d e l e , — e d iz e r- l h e s qu e m fo i e quº

c r i m e com e te u o l e i go F re i Man u e l d e S ant'

Ana.

Na manhã d e 30 d e d e z e mbro d e 1 758,po r

co n s e gu i n te ãuinze d ias ante s d o su p l íc i o d o s

fi dal go s e m B e l ém,um a m u l h e r — no s p roc e s

so s de f rad e s e ntram quas i s e mp re m u l h e re s

p rocu rou,e mbru l hada n o se u man to d e d r o

gu e te , o Co r re ge d o r d o Bai rro A l to , e d i sse -lhe

que ti n ha i m po rtan te s d e c laraçõ e s a faz e r no

fe ito c r im e con tra o d uq u e d e Ave i ro . O mag i s

trado e sbugal h ou os o l hos,mando u—a ass e ntar

numa cad e i ra vélha d e m o scóvia e chamou o

e sc r ivão . V iva, e sp e rta, d e s e mbaraçada, D . Mar

ge r i da Antón ia d e M i randa — ass im e r a a g r a

ça da. mu l h e r —tr i nta an os,r o s ic lér d e d iaman

te s no topete , saia v e rd e d e c r e sp os d e Lam e go ,um a ve r on ica da S e nho ra do P i lar ao p e scoço .

con to u que do i s d ias an te s , na manhã d e 28 ,

v i ndo e la da m i ssa e e s tan do e m casa d o B e n e

fl c iad o José Gom e s R i b e i ro,com que m v iv ia

(não co n sta a que títu l o) na rua da R osa das

Parti l has — e n trara um trad e f ran c i scan o d e

v isi ta ao Be n e l l c iad o,e d i ss e ra « que se os fi dal

g o s fôsse m d e go lados hav ia d e hav e r m u i to

m u rro e m u ito sangue ; que o não s e n ti r ia e la,

p o r se r so l te i ra, m as que hav iam d e s e n ti - l o as

casadas ; e que o s v e rdad e i ros s u sp e i tos no ate n

tªdo c o n tra e l—r e i não e r am o s s e nho re s tldalg o s,

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202 NA m sr óau

nunc iar a sim i lhante s pa lav ras ; que e stava ino

ce n te ; que so se l e mb rava d e te r re p e ti do umas

trovas d o Bandar ra, que d i z iam « b e m ave ntur ada

a m u l h e r que n o an o d e 1 759 e n contrar mar i d o » .

O m in i stro d e v ia te r fe ito um a i d e ia j u sta da

inte l igênc ia d o tr ad e e da i m po rtâ n c ia da cau sa,po rqu e j á n ão e ste ve p r e s e n te no d ia 1 d e ia

n e i ro,quand o se p roc e d e u a acarea ção d e Mar

gar ida An tón ia co m F re i Man u e l d e S an t'

Ana.

Essa acare ação fo i cu r i o sa. O frad e batia as

san dá l ias no chão d e ti j o l o d o Paço e conti n uava

n e gan do ; o Ju i z da l nco nfl dência ap e rtava

mu l h e r ; Margar i da A n to n ia, que se faz ia acom

panhar p o r um a tia ve l ha d o B e n e fi c iad o, p i n

gada d e d iaman te s e re fe gada d e carn e s , g r i

tava, ru g ia, e sp u mava,i nv e cti vava o fran c i s

can o, ac u sava-o agora d e d e fe n d e r o d uque d e

Av e i ro,d e d i z e r « que e ra m e nti ra te r o d uqu e

q u e imado u m l iv ro para botar fogo as casas»,d e vo l tar-se i rado con tra o m i n i stro , contra as

j u sti ças , co ntr a o gove rno d e e l-r e i « que dava

o s o f íc i os que vagavan i , ante s d e mandar pôr

o s e d ita i s » ; e tanto gr i to u , tanto i n s i stiu, tanto

j u ro u, o ma nto d e scomposto , o p e nte d e ta rta

ruga d o A l e nte j o a abanar no tou cado,as mãos

ch e ias d e an é i s as p u nhadas na banca,—que

o f rad e , n e gando s e mpr e , s u c umb i u , e nfl ou e

ati ro u co n s i go para u m canto , a e ng r anzar pa

d r e -nossos e a d i ze r que não co m a cab e ça. No

d ia s e gu i nte , i n e sp e radam e n te , F re i Manue l d e

S ant'

Ana p e d e par a faze r d e cl ar açõe s à j ustiça.

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FR E I MAN UEL uu S i N'

r'

ANA 2033

Vai co n fe ssar ? Vai , po r sua ve z,d e n u n c iar “?

N i ngu ém sab e . Um m e i r i n h o tra-l o a Quinta do

M e i o,p e rante o D e se mbargado r da Casa da S u

p l i carão . Cae m , e m vo l ta, o s p e sado s r e p o ste i

r e s d e bae tão v e rm e l h o co m as armas d e D .

João v . O d r . Cord e i ro Pe re i ra o l ha o l e i go

atraves da sua l u n e ta d e p u nh o d e p rata . E

F re i Man u e l , con fu so , vexado , se rafi co , con ta

e n tão que no d ia e m que ti nha e stado e m casa

da B e n e fi c iado da se o f r i o e r a tanto, que ao

d e s e mbarcar d e manhã n o ca i s da R ib e i ra,r ê

passado da névoa,comp rara a u n s v i la—fran cas

do i s copos d e aguard e nte p o r u m v intêm , be

be ra-o s d e um trago , um sob re . o ou tro,

—e daí

p or d iante , te da a santa tard e , não d i ss e ra co i sa

co m co i sa n e m e m casa d o B e n e fi c iado,n e m

na mo rada d u m ou r i v e s da rua d e S . B e nto ,

ne m n uma ho rta d e Val v e rd e o nd e com e ra, p o r

que — co m l i c e n ça d o s s e nh o re s d e se mbarga

do re s e a i nfi n ita m i s e r i c órd ia de D e u s— e s

tava e vangé l i cam e nte beb e do . Não o d e c larara,

quando v i e ra a p e rgu ntas, p o r v e rgonha d e m i

n istr o ; e , quan do fo ra acare ado , p o r p e j o de o

d iz e r d iante d e mu l h e re s . Mas e r a a ve rdad e

e m C r i sto . Os mag i strados , o l hando a figura

comp u ng ida d e F re i Manu e l d e S ant'

Ana,so rri

r am . Ne sse m e smo d ia, o f rad e , l i v re d o s fe r

r o s d e e l—r e i , e r a mandado d e p re s e nte ao Pad re

Prov i n c ial .

Pe la p r i m e i ra ve z se e nc e rrava se m o tr ave

d e sangue um p roc e sso de Se basti ão J o sé .

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ÉS PAD AC HÍ NS

Um i l u stre m e stre d e armas , m e u am igo .

p e d e -m e que lhe fal e do e spadach im po rtu gu es

do sécu l o XVI I . E um assunto que dar ia vo l u

m e s . Com o qu e r você , m eu caro m e str e, que eu

o co nd e nsa e m m e ia d úz ia d e pág i nas ?

Não . O no sso e spadach im não a um a c r ia

cao s e i sc e n ti sta . Ex i s ti u s e mp re . Ex i ste ai n da

hoj e . Ex isti rã,

e m quanto e x i s ti r Portuga l . A

ve rsão po rtu gu e sa do fan far rão e sgr im i do r e

: i r ruace i r o con sti tu e um ti po, que a l ite ratu ra e

e m

.

e sp e c ial o te atro , se e ncar re garam d e d e fl

n i r e fi xar . Com e ça a e sboçar-se co m a i n sti

tui ção das quatro p r i m e i ras e sco las d e e spada

p re ta e m Li sbo a,

na. p r im e i ra m e tad e d o sé

r u l o xv . D e po i s , o e spadach im e n r afza e fl o

r e sce , m u l ti p l i ca-se e . tr i u n fa . Os m e s tre s d e ar

m as pu l u lam .Não se e n s i na o jºg o i tal iano ou

o j ôg o e spanho l,fl o r i d o e m man e j o s alto s : e n

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206 NA H IS TÓR IA

tre s d e armas e r am fr e qúe nte m e nte p re so s p o r

mo rte d e hom e m . Em S e túba l um m e s

tr e m u lato , J o rge F e rnand e s , assas s ina trai

ção u m pob r e d iabo i ne rm e . E ntre tanto , o r e i

é o p r ime i ro a p rote ge- l o s : D . João 1 1 1,e m 1 556,

p e rm iti u ao m e stre d e armas cas te l han o J uan

R ob l e do , c om o p r êm io , o u so da seda no s ve s

ti d o s . Estab e l e c e -se , na cõr te,o e n s i n o da o s

gr ima ao s m e ç o s-fi da l gos . Em Co imb ra

, o s e s

co lare s , co m

'

a sua capa n e gra e o seu fêsto

b ranco,bate m -se a no ite ,

nas v i e las , se gu ndo as

l i çõ e s d e M e stre H e n r i q u e e . d e M e stre J e rón imo .

Um de l e s sob re l e va a todos : e bar b ir ruivo, g i

gan te sco,po e ta, b lasona. d e um a s e rp e n te v e rd e

e m campo d e p rata ,e chamam -lhe o — Tr

'ínca

Fo rte s . Bate -se um d ia, na Praça d e S am são,

p o r cau sa d u n s o l ho s pardos e e span ta Un i

v e rs i dad e ; mai s tard e , e sc re ve um po e ma no d e s

te r ro da Ch i na— e assomb ra o mu ndo . Co m o

l o i ro D . S e basti ão , arcangé l i co e v i rg e m,su rge

um a ge r ação d e e spadach i n s ado l e sce nte s . Ah

dam e n costado s ao s pag e ns, ge m e ndo e faland o

e fe m inadam e nte , ao uso d o te m p o , m as dee m

lh e s um a e spada para as mãos , e v e j am que v i

r i l idad e , que d e x tr e za, que e l e ganc ia, que raç a !

õ m e stre A ntó n i o , um bom ve l h o , que p re par a

tóda e ssa moc idad e,s im u ltan e am e nte fe m i n i l e

h e ró i ca, para a tr i ste j o rnada d e A l các e r K i b i r .

E e l e que naq u e las mãos fi nas , on d e sc inti lam

j ó ias , c r ia músc u l o s d e aç o para o aço u gue d uma

gran d e batal ha.

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ES PAD ACH INS“207

Mas j á o so mb r i o F i l i pe 1 1 , na d u re za angu

l osa d o seu p e rfi l au stríaco , s u rge da amp la e s

tufa d e c o i ro p re gado que o cond u z a Po rtuga l .

Ve sti d o d e sati m b ran co,te ndo aban donado p e la

p r im e i ra ve z o se u l u to n e gro d e tr inta an os ,ve m p l ác i dam e n te com p l e ta r e l e gal i zar a u su r

pação . Um a gran d e onda e spanh o la gal ga sob re

nós . D e rrubam -se o s fe ltros n e g ros ; abo toam -se

os g ibõ e s d e co u ro ; as gran de s e spadas d e ti ge la.

co m o « hi e r r o d e sp i e r ta» d e To l e d o , re p uxam e

l e van tam e m c r i sta d e gal o as capas n e g ras ; um a

p l um a v e rm e l ha, agre ss i va, i m p e rti n e nte , abana

ao v e nto no casto r e no fe l tro d o s sombre i ros ,e o e spadach im

,r e moçado

,v i r i l i zado p e l o cru

zam e nto caste l hano , apare ce ma i s p i to r e sco , mai s

caracte ri sti co , ma i s im p re s si vo ai n da, ro ndan do

d e d ia so b as r ótu las ve rd e s da c i dad e , ou e m

b ucado a no i te , com o um a p i n c e lada ne g r a ,na

m e ia- l u z d o s n i ch os e d o s o rató ri os . É e l e que

ajuda a faz e r a re vo l u ção d e 1 640 . E e l e que

se bate e m du e l o na H o r ta d o Ducado,d e po is

d uma parti da d e dados s e cos e de be l iche s . E

e l e que põe máscara d e n o ite nas r uas e sc u ras

da c i dad e ve l ha,para v i b rar, i m p u n e m e n te , um a.

« e stocada d e p u nh o ao s p e i tos » . E e l e,fi na l

m e n te , que ap re nd e os a tal h os » , os « re v e s e s » ,o s

« al tabaix o s» d e Panta l e ão d e R ua e d o r e i d e

armas Tomás Lu í s,ao m e sm o te mpo p i n to r d e

h e rá l d ica e m e stre d e e spada—p re ta,

— go l p e s v i

b rados se gundo as l i çõ e s d e D . A n tón io Juste e

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208 NA H i s'

r óm A

Yve r , m e stre d e e sgr ima d o s fi dal gos“

e m Ma

d r i d . An dam e m to das as bocas , po r L i sboa, o s

n om e s d o s gran d e s d u e l i stas d e E spanha,

— o

marqu es d e V e lada, o con d e . d e Pufi cn R ostro .

o cap i tão B las d e R ue dav Val d e z . q uanto

l im pam as armas o u compõ e m o s manop las d e

cam u rça, os magro s e spadach i n s po rtugues e s d e

que M on te squ i e u , nas Le ttr e s P e r sann e s,faz a

car i catu ra adm i ráv e l , fo l h e iam o l iv ro d e F r an

c i sco d e Ette nhar d , m e stre d o r e i d e Espanha

Car l o s 1 1,ou m e d i tam sôbre as s i ngu lar í s s imas

pág i nas da Fi losofia d e las Arm as, fundada e n

la Astro log ia.,S im e tria

, Ar ism e tíca 3; G e om e tr ia.

Co m p l é iada d e e spadach i n s do te mpo d e D .

João IV,s u rge o mai s te n e broso e o ma i s tí p i co

d e to dos o s d u e l i s tas fan farrõ e s que te m c r iado

Portugal : o s e n h o r d o Pau l d e Boq u i l obo , D . João

d e Castr o Te lcs. Ao passo que este D o n Q u ixote

po rtugu ês ap l i ca no s s e u s d e safl o s c r i m i nosos a

sc i e nc ia d e e spada-p re ta d e D . Lu is Pach e co d e

Narban , a ar te d e matar e pos ta ao s e rv i ço. d e

s e n tim e n tos [na i s d i gn os e mai s n ob r e s . t lutr as

fi gu ras,d e ma i s Hdalg o sangu e , d e r im e m p e l o

fe r ro o s s e u s co n fl itos d e hon ra e as s uas q u e s

iõ e s d e amo r . O n om e d uma m u l h e r , p rof e r i do

im p ru d e n te m e n te num te rraço o nd e se j ogava

pe la,ati ra o co n d e d e Cas te l o M e l h o r, d e e s

pada e m p u nho , sôb re o co n d e d e V im i oso, que

cai morto .D . Franc isco Man u e l

, que p re fac iara

co m um son e to D e r tr cza das Ar m as, d e . D i ogo

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2 10 NA m sr ónm

chapéu s fl am e ngos, as l i gas d e tafe tã p ingado s d e

o i r o . O due l o e sgota-se e m b r ig as d o acaso , e m

agre ssõ e s e v e n tuai s se m o car ácte r d e d e safi os

re gulare s . O e nco n tro e m fo rma só um a ve z

apare c e e n tre n ós,no sécu l o da capa e e spada:

e m 1 658 , d u rante o ce rco d e Badaj oz p e las no s

sas tropas . E o tr i ste m e nte cé l e b r e « d e safi o dos

A l v i tos»,e m que tornaram parte o barão d e A l

v ito,D .João Lôbo , e o m e stre . d e campo L u ís

d e M i ran da H e n r i qu e s,s e r v i n do d e « s e gu ndos »

D . Vasco da Gama, cap i tão d e caval o s , e u m i r

m ão d o barão , D . F ranc i sco Lôbo . Nu n ca se .

so ub e ao c e rto a cau sa dêste e ncontro : o s A l v i

to s fo ram ambos mo rtos n o te r re n o , cada um

co m um a e stocada no ombro d i r e i to ; Lu i s d e M i

randa su c umb i u tambem , go l fando sangu e ,d e

b ru ços sôb re a e spada, e o ú n i co sobr e v ive nte ,

o moço cap i tão d e caval o s D . Vasco, que co n

tava ap e nas v i nte . e tres anos e e r a u m d o s ma i s

l i n dos rapaz e s do seu te mpo,fo i l e van tad o do

campo,grav e m e n te f e r ido . D iz o Tratado , d e

Tomás Lu ís : « A e spada te m [ i o e m e io fi o ; não

há-d e se r ve rdug o , se não cortad e i ra e têm » . No

d e safi o do s A l v i tos , o mai s sang re n to d u e l o r e

gu lar d e que há m e mória e m Po rtugal , as qua

tr o e spadas que se c ruzaram fo ram v e rdad e i ros

Com o sécul o xvm , o e spadach im d e ge n e rou

e o qui tó

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A M Ã E DO PR IME IR O DUQUE

Um d o s p rob l e mas f u n dam e ntai s que te m d e

re s o l v e r qu e m po rv e ntu ra se p roponha e stu dar,

so b o ponto d e v i sta da h e re d i tar i e dad e e da se

l e cção ,e sti rp e d uca l d e V i la V içosa, e o da

fi l iação d o p r i m e i ro d u q u e d e B ragança. E ncon

tre i ê ss e p rob l e ma há d e zass e i s an os , quan do,p e ran te o s re tratos da adm i ráve l S ala d o s D a

que s, p i ntado s no te mp o d e D . João v p o r Pe

d r o - An tón i o Qui l lar d ,p e n s e i no s p r im e i ro s in

quér i to s méd ico s as g e n e al og ias r iai s p o rtugu e

sas. Q u e m fo i a m ãe d o c on d e d e Barc e l o s Em

que v e n tr e tal h o u es s e p l e b e u i l u stre,qu e

'

s e

chamou D . João 1 , a fai xa co ntr ave i rada d e p rata

da ma i s fe l iz das bastar d ias r iai s p o rtugu e sas ?

D e que mu l h e r nasc e u o p r im e i ro du q u e d e B r a

ganca ? D a r e nd e i r a h um i l d e , fi l ha d e sapate i ro

F e rnão E ste v e s ? D a fi l ha d o Barbacho d e Ve i

r o s ? D a pob re b u rgue sa l i sbo e ta que v iv ia nas

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2 1 2 NA”

H I S TÓR IA

casas d o E d i P e n te ad o ? D a n ob re i n es d e Fun

tcho a, c u ja b e l e za g e r m ân ica e d o l i c o- l o i ra se

e mb ru l ho u no manto b ranco das co m e ndad e i r as

d e Av i s ? Sangu e p l e b e u e crasso ? Sangu e

godo e conqu i stad or ? Um a c e l to -e s lava,for te ,

e sc u r a, rud e,h um i l d e ,

afe rrada te r r a ? O U ,

p e l o co n trár i o , um a fêm e a p rov e n i e n te d e . e sti r

p e s do m i nado ras , mai s ou m e n os e ntron cada n o

v e i o d e o i ro da r ial e za, e re a l i zando , n o se u

c ru zam e n to co m João 1, aqu i l o a que se . co nve n

c io nou chamar u m caso d e « co n sangu i n i dad e

S O C ÍM» ?

E stas que stõ e s d e ge n e al og ias são parti c u lar

m e n te fati gan te s . Mas há e r u d i tos patr iar ca i s

que ,po r e ssa p rov i n c ia fó ra,

gostam d e as d e s

fl ar a lare i ra . E para e l e s que e stas pág i nas são

e sc r i tas . Vou d i z e r- l h e s o po u co que co nse gui

ap u rar sôb re a i d e nti dad e da m ãe do p r im e i r o

d u q u e d e B ragança. I n ú ti l ac e ntu ar que o i n

te r e sse d e sim i lhante as su nto e stá l o nge d e , se r

e str ictani e nte nob i l iá rq u ico . Ni ngu em igno ra a

i n fl u enc ia d e c i s iva que ,n o d e sti n o das raças r ia i s

que d e g e n e ram ,p rod u z a inte r co r r e n e ia r e ge n e ra

d o ra das bas tard i e s . E stu dar e ssas bastar d ias p l e

he ias , v e rdad e i ras tran sfu sõ e s d e e n e rg ia que

fl ze r am pe rd u rar m u i tos ramos d inastico s mo

r ibund o s,não é ap e nas um cap r i ch o d e g e n e al o

g i sta,e um a n e c e s s i dad e da. h i stó r ia . Es s e . e s

tu d o . p o r ém ,n u n ca fo i fác i l . D e o rd i ná r i o , q uan

do se trata d e i d e nti fi car a m ãe du m bastardo

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2 1 14 N A H IS TÓR IA

d i c e ge n e al óg i co , G e raçõe s d e Po r tugal ,ª

) in

siste e m dar - lhe o n om e d e I sab e l F e rnand e s :

« E l R e y D . João 1, s e ndo m e stre d e Av iz , o uv e

e m I sabe l F e rnand e z, que d e po i s fo i co m m e n

dad e i r a d e San tos e fi l ha d e F e rn ão E ste v e s 0

bar bar r ão d e V e i ros,a D o n A f fo n so que fo i o p r i

m e i ro D uqu e d e B ragança» . Man u e l A l vare s

P e d rosa (o « i l u stre Man o e l A l var e s Pe d rosa» ,

como o i nti tu la,n uma n ota man u sc r ita, Manu e l

Ca itan o d e So u sa) não l he chama n e m I n ês F e r

nandas,ne m I sab e l F e rnan d e s : chama—lhe I n e s

Pi re s : « A d i ta I gn e z F i r e z m ay d este s fi l h os bas

tardos fo i i rmã do D r . Joan n e M e n d e s da Guarda

d e que m ve m o s P e r e i ras d e' G e ge

,fi l h os ambos

d e Fran c i sc o E ste v e s Barbach o,chamado o Bar

bar r ão d e V e i ros , e d e sua mu l h e r Mafal da Ean

ne s» . E ac re sc e n ta,ma i s ad ian te : « Esta dona

I n e s fo y i r m ãa d e Joann e m e nd e z da guarda ti

l h os ambo s d o Bar bar r ão d e V e iro s » . Há n i sto ,

e n tre o u tro s co ntrase nso s, um , que é e v i d e n te '

I n e s Pi r e s q u e r d i z e r I n ês [ i lha. d e Pe d ro ; — e o

n o b i l iar ista chama ao pai F e rnão E ste v e s Bar

bacho . C r i s tó vão A tão d e Mo rai s re conh e c e o

er ro e e m e nda-o,n o se u Nobi l ia

'

r io,

5

) dan do

a m ãe d o d u q u e d e B ragan ça,co e re n te m e n te co m

ª ) Po m bal ina, cód ic e 231

,[Is . i t, v .

ª ) Manue l A lvaro Pe dro sa , NO UÍ UÚT' Í O ,( :Ód lCt' C ,

1 7 l ts . 9 . v.

Po m bal ina,cód ice 279

,fls . 38 .

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A MÃE no l 'l l lM l-l l t t uuoue 2 1 5

a sua fi l iação , o nom e d e Inês F e rnan d e s , — j á

não a « Inês F e rnand e s r e nd e i r a» d e D . Gom e s

d e M e l o , fi l ha d um sapate i ro hum i l d e , m as um a

I nes F e rnan d e s b u rgue sa,« fi l ha d e h um hom e m

de Ve i ros r i c o e hon rado » . F re i L e ão d e S . To

m as (B e n e d i l ína Lusitana,

i i,380) ac re sc e nta :

« Te v e ma i s E l R e y D . João ante s d e casar,d e

l uma nob re s e nho ra chamada D . I gn e z,huma

fi lha. e h um fi l h o» . Ni c o lau R ite r shusio , na Cc

n e al o g ia l m p e r ato rum ,i n s i ste : « Alphonsus J oan

n is Pr im i Po r tugal iae , e l A lgar bíae R e g is fi l íus

e z Agn e l e , no bíl i [ o e m ina Com e s Bar ce l e nsi s,

p ost Dux B r agan tiae . » Não é ap e nas b u r

gue sa e r i ca ; j á e n ob re . S u rge,fi na lm e nte ,

Soare s da S i l va 7

) e d i z—no s que com e n dad e i ra

d e Santos,m ãe d o p r im e i ro duqu e d e B ragan ça,

não te m abso l u tam e n te nada n e m co m V e i ros ,n e m c o m o Bar badão , ne m co m o Bar bacho , n e m

co m o sapate i ro : cham a-se I n es P i re s,e é fi l ha

d e Pe ro E ste v e s d e Fon te boa. Nobre ? Nob i l i s

s ima . A fi rma-o o e r ud i to S i l va,sôb r e vá r i os d o

cum e nto s, p e rgam inhos avu l sos, que e n contro u

no A rqu i vo Duca l d a Casa d e Bragança. Antó

n io Gai tano d e Sou sa, ap e sar d i s so , atre v e -se

ai n da a fa lar e m Ve i ro s e d e c lara que I n es

P i re s te ve o se u p e r to n o cas te l o da v i la. Soare s

Tab . ti l .

7) M e m o r ias d e U . l o do n

'

.

ª

) “( S i . Ge ne al . da Casa R ial Po r tugue sa ,v

, pag . 10.

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2 16 N A H I S TÓR IA

da S i lva vai até ao ponto d e re n e g ar tud o quanto

re co rd e a l e nda d o Bar badão ; não qu e r que a

nob re I n ês P i re s s e ja al e nte jana, e d e c lara-se

hab i l itado a p rovar,com o u tro p e rgam i n ho d o

Arqu ivo D ucal, que o p r i m e i ro Du qu e d e B r a

gança não nasc e u e m V e i ro s,m as s im e m L is

b o a, « nas casas d e R uy Pe n te ado , que so m

p o r tad oura» . Os ge n e a l og i stas falaram ,— n in

gu em ma i s se e nte nd e u . R e nd e i ra ou bu rgu e sa

r ica, fi l ha d o Barbach o ou fi l ha d o sapate i ro ,

a l e nte jana d e V e i ros o u l i sbo e ta d o b e co do A l

m i ran te,I sabe l o u I nês

,p l e b e ia ou n ob re , a i nda

hoj e se não sab e ao c e rto qu e m fo i e s sa mu lh e r,

f e c u nda e se m d úv ida b e la,. a c u j o s p e itos uber

r i mos se c r i o u o p r im e i ro p r í n c i p e da e sti r p e d e

Bragan ça.

M e m órias ,v ,

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2 1 8 NA H IS TÓR IA

v e ias a R oma, como,an os ante s

, o pad re Fran

c i sco da Fon s e ca,n um e s ti l o choutão d e mach o

d e l ite i ra, narrara e n trada d o co nd e d e V i la

Ma i o r e m Vi e n na d e A u str ia. O l i v ro d o g a

lan te e str i b e i ro frances i n te r e ssa s im ul tan e am e n

te ã n ossa h i stó r ia d i p l omáti ca e a h i stó r ia das

nossas i n d ústr ias artí sti cas, p o r que d e sc re v e

co m i n d iv i d uação as marav i l has d e ta l ha do i rada

d e que os e n ta l hado re s p o rtugu e s e s A ntón i o S e

l e i ro e J o sé Machado pojaram o s j ogos tras e i ro s

do s três e no rm e s cóc li e s da e mbai xada. Mas é

p rop r iam e n te o asp e c to an e cdó ti c o que o r e co

m e n da. S e m o l i vro -d e D e B e l l e bat, não con h e

ce r íam o s hoj e — e e ra p e na — to dos os p i to r e s

co s i n c i d e n te s pa latino s que p re c e d e ram r e

ce p ção do E nv iado portug uês p e l o Papa.

A ch e gada d e And re d e M e l o e Castro a R oma,ch e i o d e aram e , d e papaga i o s e d e l o i ça da I n

d ia para S ua San ti dad e , fo i j á um aco n te c im e nto .

Como não houv e ss e apos e n tos m e l h o re s,ho sp e

daran i -n o o s f rad e s d e S . B e rnardo no seum o s

te i r o , dan do- lhe banque te s sôbr e ban qu e te s , l e s

tas sabr e te stas. Nada mai s p ro fan o do que a

v i da que o s v i r tuoso s mong e s p ropo rc i o naram ao

f uturo con d e das Ga l v e ias . Logo no s p r im e i ros

d ias,mui tos card e ai s

,d e cache , p r e c e d i d os da

uinb e la v e rm e l ha, v i e ram faze r-lhe sua v i s i ta,so n da-l o

,i nq u i r i r

,ava l iar da i l u s tração e da ar

g úc ia d o E nv iad o . F o i um a romar ia. E n tre

tan to, grav e s co isas p re oc u pavam o Sac ro Co lé

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A EMBA IXADA 2 1 9

g i o . No s e i o daqu e l e cap ítu l o d e Pr í n c i p e s fi

z e ra—se um re bo l i ço i n comp re e n s íve l . A s co n

fe r e nc ias r e p e tiam -se,Sua San ti dad e i rr itava-se ,

b i s p os e arc e b ispos an davam n uma azáfam a,o

car d e a l Paulucc i , s e c r e tá r i o d e E stado , r e vo l v ia

pap e i s e p rotoco l os,n i ngu em se e n te n d ia, n i n

gu em comp r e e nd ia o que se passava, todos se

i nte rrogavam u n s ao s o utros . Que te r ia dado

m oti vo aq u e la co n fu são d o s p u rp u rados ? U m a

s im p l e s dúv i da : não sab iam como re c e b e r o Eu

v iado e x trao rd i n á r i o do r e i d e Po rtuga l, que tr a

tam e nto dar - lhe , que p r e r rogati vas re conh e ce r

lhe . O p rob l e ma r e v e stia. um a grav idad e im p r e

v i sta . Até al i,só hou v e ra Embaix ad o re s e R e

sid e nte s. A o s Embai xado re s , mai s d o que E n

v iados , dava-se Ex ce lênc ia; ao s R e s i d e nte s , m e

n o s d o que E nv iados . Ilus tr lssim a : que trata

m e nto se con ce d e r ia a m onsi g no r e And ré de

M e l o e Castro , —que e r a m e n os do.

que Em bai

xado r e mai s d o que R e s i d e n te R eun i ram -se

congre gaçõ e s,con su ltaram -se c e r i m on ia i s sôbre

c e r im o n iai s,o s parti do s d iv i d i ra m-se

,as Op i

n iõ e s e xtre maram -se , o card e a l Barb e r i n i d i z ia

que s im , o card e al O tto bo n i d iz i a que não,

— e

só no fi m d e n ov e oud e z m e s e s,d e po is d e d i sc u s

sõe s'

inte r m inave is e d e con s i s tó r i o s e n fadonhos,

e que aq u e la on da d e rabu las d e m u rca v e rm e

lha co n s e gu iuaco rdar n o tratam e nto e nas p r e r

r o gativas a co n c ed e r ao E nv iado d e D . João v .

E ssas r i d íc u las p re rrogativas e r am as se gu i nte s :

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220 NA H IS TÓR IA

0 E nv iado te r ia d i re ito a manda r l e van tar u m

doccl na sa la d o s Lacai os , o u tro na sala das Au

d i ê nc ias ; pod e r ia u sar p e nachos d e seda ne

g r a nas cab e ças dos cava l os ; far -se -ia p re c e

d e r , quan do pas s e as se no se u c ôch e,d e um la

ca i o co m amb e la v e rm e l ha,como os card eai s e

os p rí n c i p e s ; se r -lhe - ia co nc e d i do um cox im

d e ve l u d o para aj o e l har na Igr e ja ou na rua a

passage m do Santí s s i m o Sac ram e nto 5 9

,o d e

cano d o s s e u s c r iados pod e r ia v e s ti r-se d e ve

l u do p re to a moda e spanh o la ; dar -se -ia ao

E nv iado o tratam e nto da te rc e i ra p e s soa, no ita

l ian o L e i ,— mai s que a Ilustr lssim a d o s R e s i

d e n te s,m e nos que a Ex c e l ência d o s Em baix a

do re s ; 7 .

º

, pod e r ia p e d i r aud iênc ia a Sua Santi

dad e d e um d ia para o o utro e d e manhã para

a ta rd e ; e ú l ti ma,o s card e a i s re c e be- l o-iam

s e mp re « e m habi l d e c e n t, e t n o n e n habi l cour t

o u e n

A nd re d e M e l o , e stab e l e c i do,com e sta m inú

c ia b izanti na, o c e r i m on ia l se gu i r,pôd e e ntão

faz e r a sua e n trada so l e n e no Vati can o , numa

v e rdad e i r a proc i ssão d e côch e s s umptu osos ar

m ad o s e m ta l ha do i rada,apain e lad o s d e p i ntu

ras,p ux ad os u rco s h o land e s e s , bambo l e an do ,

no s s e u s co r r e õ e s fo r rados d e dam asco v e rm e l h o

e . ab r o x ad o s d e p rata.

,p e las ruas ch e ias d e so l

da'

R o m a ponti f í c ia. Fo i u m d e s l umb r am e nto .

A s ve rdad e i ras c r e de nc ias d o Env iad o con sts

ti ram na m agn ificência co m que se ap re se nto u .

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NUN'

A ÍNAR E S

M eu am i go : — Pe d i u—m e você a i n d i cação d e

todos o s re tratos d e Nun'

A lvar e s . Prom e ti dar

l ha nas quatro pág i nas duma carta. Cump ro h oj e

a m i nha p rom e ssa . Não ; o s docu m e ntos não são

tão pou co s com o voce. s u põ e . A ag io g r afta e n

car re gou -se d e p e rp e tu ar a i mag e m do San to

Cond e stáv e l, que , d e -c e rto , não te r ia s i do tão p in

tada e m tábuas e tão ab e rta e m e s tampas , se não

ti v e ss e a e nvo l ve- la,na d e c re p itu d e . o tabar d o

d e s e m i -fr ate r . car m e l ita. R e tratos d i re c tos,não

re s ta n e nh um . Cóp ias d o o r ig i nal p e rd i do,h á

m u i tas . Com o sab e , o ú n i c o re trato au tên ti c o ,

man dado p i ntar p e l o d uqu e d e B ragança D . A fon

so ante s d e F re i N u n o mo r re r , ard e u no te rra

moto d e 1 755. Em 1 745, an o e m que F re i Jos e ph

d e S ant”

Ana p u b l i co u a sua C r ón i ca d o s Carm e

l i l as,a i n da ess e re trato , o fe re c i do p e l o p r i m e i ro

possu i d o r ao bastardo d o r e i D . D uarte,D . Fre i

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NUN'

ALVAR ES 223

João Man u e l , b i s po d e C e u ta e da'

Guarda, p r i o r

d o Carmo e d e po i s P rov i n c ial , se e n co n trava e n

tr e as p i n turas d o s san to s da Ord e m no e spal

dar d o arcaz ma i o r da sac r i stia d o conv e nto .

E r a d e m e i o co rp o,re p r e s e n tava Nun

º

A lvar e s na

e stam e nha d e donato , e ti nha s i d o p i n tado , se

gu ndo Op i n ião d o d r . José d e F igu e i re do . p e l o

p i n to r d e D . João m e s tr e Antó n i o F l o r e ntim .

De sd e o s e gu nd o q uarte l d o séc u l o xv até ao

m e ado d o sec u l o xvm, o o r ig i nal d e m e stre An

to n i o fo i cºp iad o , re cop iado e ab e rto e m g r avu

r as,s e n d o as cóp ias de l e

,d iz Fre i Manue l d e

S á nas s uas M e m ó rias históricas da Ord e m , d e

N. S .

“ do Carm o,o s m e l h o re s re tratos d e Nu

n*

A lvar e s que se conh e c iam na car te . Mas não

fo i e sta a ú n i ca i mage m p re c i osa do Con d e stáv e l

que o incênd io d e stru i u no c onv e nto d o Carm o .

Hav ia o u tra, d e co rpo i nte i ro , p i ntu ra do séc u l o

XV I , que se e n co ntrava na sa la cham ada Gap i tu

l o d o s B i sp os,e que , a ac re d i tar e m F r e i J os e ph

d e S antº

Ana e ra .um a ob ra-p r i ma, Não co n se

gu i apu rar, p o r mai s que o te ntass e , se o r e trato

d o Cap ítu l o , com o o d o e spa l dar da sac r i stia, r e

p re s e ntava F re i N u n o d e Santa Mar ia, ou se

s e r ia o o r ig i nal p o r o n d e Estevão Gal hardo , e m

1 526,mando u ab r i r a x i l o g r afl a d e Nun

'

A lvar e s

ar mado que se adm i ra na p r im e i ra e d i ção da

Cr ón ica do Co nd e stabr e . E ra natu ra l,p o rém ,

que o re trato ma i s cop iado fôss e o p rim e i ro, p o r

que e r a o autê n ti c o , e,

po rqu e , na sua sam arra

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22 1. NA H IS TÓR IA

( l e . f rad i nho d e c rep ito , falava mai s d o que n e

nh um o utro a ve l ha p i e dad e po rtu gu e sa . A s ré

p l i cas s u c e d e ram - se , s e n do a mai s b e la. das s u b

siste n te s aqu e la que se co n s e rva n o pal ác i o Po m

bal,e m O e i ras

,tábua do séc u l o XV I cu ja al ta i m

p o r tãnc ia o d r . José d e F igu e i re do re v e l o u , e m

1 7 d e agosto d e 1 9 1 6,e xpondo -a n uma sala d o

Mu s e u d e A rt e A nti ga e atr i b u i n do -a ao p i n c e l

adm i ráv e l d o m e stre d o S . B e nto . N e n h uma ou

tr a pod e comparar-se a e sta. qu e r p e l o val o r da

p i ntu ra, qu e r p e la im po rtâ nc ia do doc um e nto .

O Nun'

Atvar e s doado po r Gu e r ra J u nqu e i ro ao

Estado , e o re trato d e F re i N u n o d e Santa Mar ia

p r ove n i e nte da Sa la d o s Patr iarcas (Paço d e S .

V i c e n te ), ambos d e pos itad os n o M u s e u , são có

p ias , fe itas n o séc u l o xvn,do q uad ro d e m e stre

A ntón i o F l o r e ntim ; a tábu a da B ib l i ote ca Na

c i o nal d e L i sboa e o re táb u l o da i g r e ja carm e

l ita d e Mou ra, tambem s e i s c e n ti stas , te e m o ca

racte r d e ag io g r aifl as d e natu r e za c u l tua l , se m

val o r ico nºg r áll co ap re c iáv e l . Aqu i te m voce 0

que há , q uanto a i mage n s p i ntadas e m tábua

ou e m te la. Pass e mos ás e stampas . Ab r i ram -se

grav'

u ras d e re tratos d e Nun'

A lvar e s no s sec u

l os xvi , xvn e xvni , A x i l o g rafla que ac ompa

nha. e a e d i çõ e s da C r ón ica do Co nd e stw

br e ( 1 526 e 1 5511) re p rod uz i n do e m co rp o i nte i r o

o h e ró i armado,d e v e . se r um a e quivalênc ia da

tábua d o Cap ítu l o do s B i spo s . A x i l ografia que

acompan ha só a 2 .

ªe d i ção da m e sma C rón ica

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226 N A H IS TÓR IA

para o p re sb itér i o da parte d o Evange l h o , e m

1 51 4, po r outro p r i o r carm e l ita,Fre i D i ogo d e

B r i to ; e ,e m 1 755, com p l e tam e n te d e struída p e l o

incênd io . Essa r e m i n i scên c ia,d u m ac e ntuado ca

rácte r Lu í s XV,não te m o m e no r val o r ico no g rá

fi co . Já o não tinha também a e státua jac e n te d o

p r im i ti vo túm u l o,g labr a

,i n e xp re s s iva

, se m o ta

bardo dos s e m i—fratr e s, co n s e rvan do ap e nas d e

e xac to o bácu l o a que se ab o r d o ava o ve l h o do

nato e o « bar re te d e fac e s » que ,s e gu n do F re i

J e r ôn im o da Encarnação , lhe re cob ria s e mp re a

cal va . R e sta. m eu caro am igo , que e u lhe fal e

das d e sc r içõ e s d o s c ron i stas . E c u r i o so que , ne m

F e rnão Lop e s na C rón i ca d e J oão 1 . ne m o au

to r da Cr ón ica d o Co nd e s la'

br e , que d e ve se r

também F e rn ão Lop e s,faz e m r e fe r ênc ia ao s cá

racte r e s so m áticas d e Nun'

Alvar e s . Os ú n i cos

que o d e sc r e v e m são os ag ióg r afo s, re po rtan do-se

ao re trato o r ig i na l o u as an ti gas m e mó r ias con

ve n luais i néd i tas . F re i S imão Co e l h o , n o C o m

p c'

nd i o d e C r ón icas p i nta-o e m do i s tr a

ços : « hom e m e nvo l to e m carn e s, d e e statura que

m ais ia a g ran d e do que ai p e que no : l i nha. 0 as

p e cto bar o n it, o . r astro com p rido e fcr m o so , e r a

a lto e l our o,l inha o s o lhos p e que n os, m as m ui

r e sp land e c e n l cs , p ouca barba, e sa ída p ara. bai

x o » . F re i J e rón im o da E ncarnação,na sua cr o

n i ca man u sc r i ta c i tada po r F re i Jos e ph d e San t'

Ana, e ta l v e z p e rd i da,

copta a d e sc r i ção que , « e m

tada an tigu i dad e d e se u s te r m o s p róp r i os »,

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NtiN'ALVAnEs 227

d e i xo u um frad e conte mpo rân e o d e Nun'

Alva

r e s : « fo i o vi rtuoso Co n dcs l avc l d e m e d e statura,

l e v e o ro sto com p ri do , côr br anca, o nar iz a

lado e agn d e nto . o s o lhos p e que n o s, m as m ui

v ive nte s, as sobr anc e l has ar cad as e r uivas, assim

e r a o s ru cabe l o,não só da cabe ça m as tam bém

da bar ba, c o m algum as ruguizas na te sta e n o s

cabos do s laig r ini ais, a bdca p e que na c o m o se u

s e m blante m ui am e sur ado » . A s d uas d e sc r içõ e s

não co nco rdam e m todos o s pon tos . Mas e i n

c o n te stáve l que o s se u s e l e m e n tos,comb inados

co m aqu e l e s que nos o fe re ce m a rép l i ca do m e s

tr e de S . B e n to (pal ác i o Pomba l) e a x i l ografia

da Crón ica do Co n d e slabr e , c on sti tu e m j á , so b

vá r i o s aspe ctos , para p i n to re s , e statu ár i os,acto

r e s , an tro—p o l o g istas e l i isto r ióg rafo s, um a e xp re s

s iva e opu l e n ta doc um e n tação .

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PASSOS MANUEL

Na p r e c i o sa co l e c ção d e papé i s po l ítico s do

Co nsti tu c i o na l i sm o,re mov i da d o Pal ác i o das Na

c e ssidad e s, e x i ste ap e nas um a carta d e Passo s

Man u e l . São duas fo l has d e pap e l da A be l h e i ra,se m o aparo d o i rado das cartas d o con d e d e To

m ar,p re sas um a a ou tra,

s e gu ndo a moda d o

te mpo, p o r u m p e qu e no co rdão d e seda azu l .

Quatro pág i nas d uma e sc r i ta c lara,e né rg i ca

,

fi rm e , s e r e na,—r—Xp r r ssão do ca rácte r fo rte

dêss e hom e m que . a s i m e smo se chamava « o

hom e m d e Bo u ças »,a q u e m D . F e rnando

,no d ia

h e ró i co da B ª l e m zarlat, trato u d e « M r . l e R o i

Passo s» e que fo i , s i m u l tane am e nte , tigura

mai s g e ri e i o sa,ma i s l i be ra l

,mai s ingénua e

mai s n ob re d e todo o C o nsti tuc io nal isn i o po rtu

gu e s . Te m a data d e 3 1 d e mai o d e 1 8 1 6, —d e z

d ias d e po i s da q u e da dos Cabra i s , e, p o r co n

s e gu i n te , e m p l e na R e vo l u ção . Passos Man u e l

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230 NA H I STÓR I A

e l e d o que na d e fe sa da Co roa. Como um

d o s ch e fe s do p ro n u n c iam e nto Nac i onal . he i—d e

fe ze- l o tr i u n far : é o m eu d e v e r . Como Co n s e

lhe i r o da R a i nha, e o que iª

: mai s , como o ma i s

fi e l , d e d i cado dos s e u s súbd i tos , não couse nti r e i

na m e n o r o fe nsa das suas p re rrogativas e . d igh i

dad e » . O tr e m e ndo. « d itado r d e Guinfõe s» qu e r,d e sve ladam e nte

, que Sua Maj e stad e soss e gu e .

Bi e iá e stá , — r e vo l u c i o nár i o te rr ive l , m as súbd i

to fl e i . Con s e gu i ra j á « que o sang u e não co rre s se

nas Prov ínc ias d o S ul » ; « que n e nh um e xc e s so

macu lass e a hon ra deste Povo « que as r e l íquias

do Ex é rc i to se saivasse m » ; que , no. m e i o da ca

tástr o fe , « se con s e rvas se m ai n da todos o s e l e

m e n to s da o rd e m fu tu ra» . O re sto não e r a d i ff

c i l . A Ju nta da sua p r e sidênc ia, composta de

hom e n s g e n e ro sos e fo rte s , ingênuo s e l iai s como

e l e ,— casacas-d e -br i ch e e pés-d e -bo i se e n

carre gar ia d e « re stab e l e c e r a re c íp roca con fi ançae n tre o R e i e o Povo

,u n i r a Coroa e a l i b e rdad e ,

te rm i nar aq u e la l u la e span to sa se m mai s d e r ra

m am e nto d e sangu e » . Mas, para i sso , o « ho

ui e m d e Bo uças »,como no d ia e m que falara a l to

a D . Fe r nando e a Van d e r e y e r, —põe cond i

çõ e s . Ex ige que se e ntr e gu e m o s comandos das

Proví nc ias,das Praças e d o s re g im e n tos o i l

c iais que te nham a confi ança do povo ; r e c lama a

o rg an ização da Guarda Nac i o nal e m Li sboa e n o

Pe r to,« não um a Guarda Nac i o nal co m A rs e nai s,

ne m Cam i l o s,

ne m Marcos ; m as um a Guar da

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r Asso s MANUEL 23 1

d e con tr ibu i nte s co m o c e n so alto , g e n te e stab e

l e c ida, que na sua p rop r i e dad e d e iguai s garan

tias d e o rd e m e d e l i b e rdad e » ; i n d i ca, para s eus

coman dan te s , « hom e n s como Po l i carpo J .

“ Ma

chado,Jo rg e . S ttr e t '

e o co n d e da R i b e i ra» ; i e m

br a ao du q u e d e Pal m e la, d e mas iadam e nte

p re oc u pado co m i dea do d e sarmam e nto g e r al ,

que « pac ifi car u m pa is , não é d e sarma-l o » . Mas

a parte mai s b e la, mai s c omov e do ra e mai s no

b r e da carta no tab i lfssim a d e Pas sos Man u e l ,

e sta nas qu inz e l i n has d e e pop e ia e m que e l e se

re fe re ao povo r e vo l uc i o ná r i o . S ão d ignas da

al ma an ti ga que as s e n tiu, da m ão gl o r i o sa,que

as e sc re v e u . S ão j u stas — « e são e te rnas . S ão

um h i n o — e u m c larão . « A H i stór ia,d i z Ma

n u e l Passo s não o fe re c e um a c r i s e com o e sta

e m n e nh u m Povo da te r ra . Um Povo que se ar

m a tod o,se m e xc e pção d e u m ú n i co i n d i v ídu o

,

que afron ta a con fi scação e o patíb u l o , que co rr e

d e n odad o e i n trép id o ao s combate s , que vo l ta a

e l e s co m n ovo ardo r, que , se m d i nh e i ro , se m

arm as , se m mu n içõ e s (IC.

" LPU I u m Gove rn o fe ro

c issim o e bate todo u m Exé rc ito va l e nte, e que

no m e i o d e tu do i sto não com e te u m ún i co c r i

m e,não se man cha co m sangue , não e xe r c e

v i nganças e abraça, e p e rdoa a s e u s i n i m igos e

o p re sso re s ai n da sa l p i cados co m o sangu e d e

s e us co n c i dadãos , — é um Povo adm i r áv e l que

nao te v e , ne m te m , ne m te rá mode l o sôbre

te rra» .

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UMA INFANTA HIS TÉR ICA

'

A i n fanta D . Joana,fi l ha d e D . J o ão iv

,mo r

r eu, como se sab e ,ao s 1 7 an os . E ra um a infan

t—as i nha h i sté r i ca, que so fr ia também,se gu ndo

tôdas as p robab i l i dad e s , d e um a e n l e r o -co l i te

mu co-m e mb ran o sa, e cu j os e sti gmas somáti c o s

d e d e g e n e r csce nc ia se ac u sam numa m in iatu r a

e m cob re e x i ste n te na b ib l i ote ca d e . É vo r a,po r

s i nal na m e sma v id raça ond e se e nco n tra o adm i

rave l tríptico d e Lim oge s . Cr iatu ra p ro f u nda

m e nte tarada,co m a p e sada h e rança d o s e stru

m o so s d e M e d i na S id ón ia,i rmã d um tub e r cu

10 8 0 (D . Te otón i o) e d u m p o l i i'

im i e l fl icu i n fan ti l

(A fonso Vi ), ap r e s e n tand o s i ntomas d e p r o g r e s

s iva co nsunção e te ndo,no s ú l ti m os m e s e s d e

v i da, he m o p tise s fre que nte s , tôda a g e nte s u pôs

que e la ti v e ss e mo r r i d o « ética ou f is i ca» (Mss .

da Tºr r e d o Tombo , Co l e cção d e S . Vic e nte,l i v .

22, ti . Os m éd ico s,chamados a um a j u n ta

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234 NA H ISTÓR IA

d e o to r nar mai s fác i l m e n te l e gív e l,d i z o se

gu i nte :

« Vossa m e r cê m e m an da d iz e r o n om e da

do e n ça. d e que m o r r eu a Infan ta a S e nho r a

Joana; d e um a do e n ça a que o s douto r e s m éd i

c o s cham am hi e nte r ia, com p l icada co m un s ac i

d e nte s cham ados histér icos,ai i o n om in e ute r i

n o s; a qua l do e nça se se g u iu tam bém um a atro

fia, que e'

um a m agr e za e se cura d e todo o cor po ,

que tam bém te m p o r nom e bo u ti ca v e ntr i cu l i .

Eap l iç açao d o s no m e s médi cos e acid e nte s que

ac om panhar am e sta do e nça: — H ie n l e r ia é um a

d e j e cção do m an tim e nto ta l. qual se tom a, nas

c ida d e f raque za das facul dad e s d o e stôm ag o

co m co ctr is e t r e te ntr i s, e p o r e sta r azão adq u i r e

O c or p o todo g ran d e m ag r e za e se cura p o r l he

[al iar o suste n to ; e sta te ve a se nhor a Infan te , e

não a se cura. do s éti cas; o que se v e r i fica ainda

m ais, p o rque n o di scur so da sua do e nça e ste v e

m ui tas v e z e s se m f e br e , e e sta ta l nui g r cza cha

m am o s douto re s m édi cos atro fia, p o r se r cau

sada e x d e n e gato a l im e n to . O s ac id e n te s histé

r icos . que tam bém se cham am ute r inas, to m am

o n om e da p ar te que p r i n c i pal m e n te p ad e c e ;

causam -se dia sangue ou d e todos o s hum o r e s,

ou d e o u tra. substânc ia m ais só l ida que d e l e se

e l e va, a qua l , d e te ndo-se e ap od r e c e ndo no tal

logar ,com un ica vap or e s a vár ias p arte s p o r te r

co m . tadas m ui ta com un i caçao ; e corno e ste s

s e jam p o d r e s e ruins,

causa vár i o s ac ide nte s

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UMA iNFAN'

i'

A H ISTÉR ICA 235

confo rm e as parte s a que se co m un ica; na d ita

S e nho ra se co m un icar e m ao s n e r vos,e p o r e sta

razão lhe c o nvaI-ian i as que ix as, e im p e d iam . a

acção d e m asti gar o com e r , e nas p e rnas e br a

ç o s que lhe im p e d iam o m ovim e n to . Tiv e ram

to dos e ste s m al e s um p r inc ip i o , que fo ram as

g rand e s o bstr uçõ e s, ou o p i laçõe s nas ve ias que

co stumam l evar o m an tim e nto ao ú te ro ; p e la

qua l razão , se n do d e d e zasse te anos,nunca fo i

m al n e m be m m e nstrua da; e p o r e sta, r azão n o s

[i ns do s m e se s lan ç ou p o r ve z e s san gue p e la

bõca e sco lhe nd o a natur e za êste cam inho p o r

te r im p e dido o co nve ni e ntc e costumado,o que

n e ste s caso s suc e d e m ui tas ve zºs; d e m odo que

m o r r e ndo m ui se ca d o co rp o , e m ui e x te nuada

e lan çando p o r v e z e s sangue p e la bõca, não m o r

r eu e'

tica, n e m m e nºs ti sica .

— Gua rd e No sso

S e nho r a Vossa. M e rcê m ui tos an os . D e casa,

26 de n ove m bro d e 1 653, S e nho r Pe dro Vi e -ir a

dª S i lva— 0 Fisi co -Mór,A n tón i o d e Castro . »

Este c u r ioso re lató r io v e m tras ladado no Li

vr o 22 d e Mss . da ( Io l e ccao de S . V i e n te . E n

con tra-se no m e sm o cód i c e o u tro doc u m e n to

ass i nado também p e l o f ís i co-m o r Antón i o de

Castr o,no qual se d e sc re v e a do e nça e mo rte d o

i rmão da I n fanta, o p rínc i p e D . T e od ós i o . S u

cum b iu,e v i d e nte m e nte , um a tu b e rc u l ose pul

monar . O boato da p e ço nha man dada subm in is

trar ao Pr ínc ip e p o r F i l i p e W de Espan ha, não

te m o m e no r f u n dam e n to .

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("

l ENTR UD U NO S ÉCULO XVIII

Nós, po rtu gu e s e s , n un ca c omp re e n d e mos be m

que o Carnaval p u d e ss e se r um a fe sta d e arte,

Como na I tá l ia da R e nasc e n ça, ouum a fe sta d e

e sp í r i to , como na F rança d e Lu ís x rv : o n osso En

tr udo, o S ant

º

Entrudo l i sbo e ta,fo i se m p r e ca

r actc r izada e fun dam e ntal m e n te só rd id o . Q sé

culo xvm,e n tão

,cx c e dcu tod os o s oul r o s. Fo i

o séc u l o tí p ic o d o E n tr u do nac i ona l .

É d i fíc i l supo r q ual que r co i sa d e mai s i gnó

b i l , d o que êss e s tres d ias so l e n e s cm que a vê

l l i a L isboa. d e 1 700 d i z ia o trad ic i ona l ad eus à

car n e . Tôda maf ra ba i xa. das v i e las,as f re go

nas r e n i ang adas e as m iche las d e porta, os al fa

m istas e as r e gate i ras , as tranças ( l o Mocambo

c o s lac e i ras d o R oc i o,c o m a casaca d e seda

e sco rre r ovos , a cara e mpastada de sangu e e d e

lama, c ob e rtos d e d e j e cto s o d e im undtc ics, co r

r iam as ruas d e bai xo da sarai vada d o s pés, das

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238 NA m sr óm a

S an ctus Intro i tus, que br ar e pan e l las l

E,e n tre tanto — co i sa cur io sa l — no m e i o d e

tod o êste Carnava l d e so rd id e z e d e v íc i o , não se

via um a ú n i ca máscara. A s mascaras e stavam

p ro ib i das nas ruas po r al vará d e 25 d e agosto d e

1 689 , com o e xp e d i e n te v u l gar d e p i e õ e s e d e as

sassino s, e n u nca mai s ti nham apare c i d o s e não

nas tran qu e i ras d o te r re i ro do Paço p o r fe stas

d e to u ro s . A p e sar d i sso,o s ( ;uad r i lhe i r o s, o s m e i

r inho s, o s co rre ge do re s d o s bai r ros arranjavam

nos tr ês d ias d e E ntr u d o traba l h o para todo o

ano . S uce vd iam -se o s rou bos , as v io laçõ e s,as

morte s,Com o j e j u m da Qu are sma l e vantava-se

a fo rca nas p raças . Ju stam e n te no séc u l o que

fe z d o Carnava l um a obra d e ar te , q uan do A r l e

ch i n o p e n du rava o seumanto m u l ti co r p e l os pa

lác io s do i rados d e Ve n e za e d e F l or e n ça, o vê

lh'

o S an t'

lõntrudo po rtu gu ês con s e gu ia ap e nas se r

boçal , re p ugnante , d e sord e i ro e c r i m i n oso . No

mom e n to e m que a. R e genc ia o rd e nava o s bai l e s

d e máscaras,e m que a Ó p e r a i n sti tu ía o s ap re s

soup e rs, e m que V e rsa i l l e s se i l u m i nava par a r e

c e b e r o so rr i so b ranco d e P i e r rot, D . João v ,

p i e dosam e n te tocado p e la d e vass idão d o Carna

val d o p o vo,obti nha d e R oma, para a sua Ç a

p e la R ia l,o « j ub i l e u das quare n ta ho ras» . E e m

q uan to cana l ha da ve l ha L i sboa patr iar ca l p u

lava,tai r o cava

,rug ia obsc e n idad e s p e las ruas ,

cob e rta d e la ma, d e sangu e e d e far rapos , — e r

gu ia-se no a ltar—m o r d e S . R oq u e um a p i rar -

Sid e

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o ENTR UD O no s e r um xvm 239

e stre lada d e l um e s , Congre gação de Nossa S e

nho r a da Dou tr i na d e s fi lava co m o s s eus e stan

dar te s,e e n tre a las im e n sas d e d i ácon os d e dal

mati ca e d e d ign idad e s d e p l u v ial , a p ro c i ssão

d o San tís s i m o saia com c l—r e i , sum p tu osam e nte ,d e ba i xo d e pá l i o . D . João v

,i n capaz d e faz e r d o

E ntr u do um a fes ta d e arte —co nv e rte u—o , po u co

a pou co , n uma f e s ta d e I g re ja.

Mas se , nas ruas d e Li sboa,o Car naval do sé

cu l o xvm fo i um a. m isé r ia, — nas casas fidal gas

não pas so u d u m p re te xto para se com e r m e l h o r .

Dos con ve n to s chov iam pãe s d e ló,bó l o s pôd r e s,

co v i lhe te s d e am ên doa,papos-d e -an j os , ovos r iai s

e m grande s band e jas armadas . S e n tavam—se

m e sa. o s f rad e s p e d inte s . A s sécias ch e ias d e pós

da I n d ia, p i ngadas d e r o sic lér e s d e d iamante s,to u cadas d e amar e l o « a al e m oa» , e ns i navam p u

lhas ao s papag ai o s , cantavam lunduns e mod i

n has b ras i l e i ras a v io la, co rtavam r ab o l e vas,co

z inhavam fi l ho s com e stôpa, atroavam as casas

de palav rõ e s to rp e s . A s v ítimas d o S ant'

Entrudo

fi da l go e ram os b e be s,os paras itas, o s n e gr i

nho s,

—to ( la . a e sti rp e r i so nha e bul ico sa d o s

B e n to-Antón io s,d o s J o õ e s da Fal p e r r a, das R o

sas m u latas . Para d ive rti r e m as v i s itas no Car

nava l , o s marqu e s e s d e Gouve ia faz iam an dar o

bôbo Pe nharanda, v e sti d o d e ve rd e , d e gatas à

roda d um sal ão . A co nd e ssa d e S . V i c e n te ,

quan do se lhe acabavam as laran jas-d e -ch e i ro

c o nta-o GO Ub it P d e Bar rau l t— armava um a m an

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N A H IS TÓR IA

gu e i ra na jane la e e nchar cava o povo . O m ar

qu es d e Mar ia l va, caldo d e beb e do e ntre can

g i r õe s d e p rata,faz ia-se insul ta r p o r f rad e s e

s e rvi r po r c r ianças nuas . Em mascaradas,e m

fe s tas , e m bai l e s,no v e rdad e i ro Carnava l n i n

gu em p e n sava,

— po r que n i ngu ém o s e ntia. O

p r im e i ro ba i l e d e máscaras parti c u lar que se

re al i z ou e m Li sboa, d e u-o o e mba i xado r d e Es

panha, _

e m 1 785,para so l e n izar o casam e nto d e

Car l ota Joaq u i na.

Su rg e e ntão P i na Man iq u e , cão d e guarda

d o r e g fm e n,abraçado ao Cód ig o d e Po l íc ia d e

Luís XIV e ao Tratado da Po l íc ia,d e Wi l l e brand .

U pou co que r e s tava d o S antº

En trud o vac i la e

e s tre m e c e . I nte nd e n te c r ia as « moscas » , ih

v e n ta as lum inár ias para d i s trai r o povo , p re nd e

o l iv re i ro D ub i e p o r v e n d e r R o u ss e au , fulm iua

a Enc ic l opéd ia,

—e to rna a p ro ib i r as máscaras

que o ba i l e do e mbaixado r d e Espanha ti n ha

po sto e m moda . En tr e tan to , e m França,a R e

vo lução r e b e n ta . Con s ti tu e -se a A ss e mb l e ia Na

c io nal,s u p r i m e m—s e as garan tias , é i naugu rada

a Conve nção , p roc lamada a R ep úbl i ca,abo l i da

a r ial e za. Um v e rdad e i ro d e l í r i o d e . p e rs e gu i

çõ e s acom e te P i na Man i q u e . Proíb e o j ogo da

bo la,p ro íb e que se and e de l u vas

,p ro ib e as ca i

xas-d e—rape,p ro íb e o (f it M as d e S an títtana,

p ro ib e as cabe l e i ras d e França, p ro íb e o d e cote

das m u l h e re s,p ro íb e que se co nv e rs e no s cafés,

e nch e L i sboa d e e sb i rros,d e te rro r

,e , ho n ra lhe

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D . J U Ã " V

D . João v te ve ao s 53 anos d e i dad e,um ac i

d e n te a que se s e gu i u h e m ip l e g ia e squ e rda com

p l e ta ; qu e r d i z e r , o. r e i fo i v íti ma. duma. l e são

d e stru ti va e m fo co d e v ida a h e mo rrag ia ou a

amo l e c im e n to . O co nh e c im e n to dos an te c e d e n te s

pod e co n tr i b u i r para a fi xação , quan to poss ív e l

ap rox imada, do d iag nóstico e tio lóg ico e d o d ia

g nóstico patogén ico da l e são .

Vo u reun i r todos o s e l e m e n tos que o m e u

dossi e r m e fo rn e c e . S ão,na sua q uas i to tal i

dad e , i n éd i tos .

D . João v_

fo i o s e gu n do g rªn i to do Pe d ro " . e

d e Sofi a d e Ne ubn r g o ,a l e mã do e n te , tac itu rna,

n e v r o sada,s u j e ita c ó l i cas b i l i osas . pai , já

i n fe ctad o quando o g e rou , ao s 40 anos , morr e

d e z an os d e po i s , co m vá r ias para l i s ias e um s i

ntoma [d o u ro—p u l monar. n o d e c u rso d e u m te r

c iar ism o v i sc e r a l i n te n so . Um a tia pate r na,a i n

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0,JOÃO v 243

fanta D . J oana,ass i mé tr i ca, ( le gcne rada,

am e

no r r e ica, to y m al ne m be m re gu lada» ,

d i z o f i s i co-m o r A ntón i o d e Castro te m ata

qu e s h i stér i co s, tr ism us fre que nte , sof re d uma

e nte r ite c rón ica e mo rre ao s 1 7 an os,co m he

m o ptise s . Um tio pate rn o , D . Te odós i o,p re coc e

i n te l e ctual , p rognata i nte r i o r , s u c um be um a

tu be rc u l o se p u lmonar . Ou tro ti o pate rn o,A fo n

so vr, te m b l e faro-co njuntivi te s p u rul e

'

ntas,bron

qu ite s d e re p e ti ção.,e,e m se gu i da a um a po l i o

m i e l ite , fi ca he m ip l e g ico , obe so , i d i ota . A avó ,

um a Me d i na S i don ia, l i n fáti ca, do e n te , s u j e ita a

d e rmato se s,mor re d e hid r ºp isia,

ta l ve z e m co n

s e quên c ia d u ma afe cção r e nal . Os ante c e d e nte s

h e re d itá r i os acusam . po rtanto , um a he ran ça d e

sifi l itico s e d e n e u ro - e strum o so s.

Ve jamos o s an te c e d e n te s p e ssoai s . D . João v ,

g e rado c i nc o m e s e s d e po i s d um caso d e mo rti

natal i dad e (o i n fante D . Pe d r o), nasc e d e ter mo .

Nada se sab e quan to a d e n ti ção , l i n guage m ,m ar

cha. A i c o n og rafia, m u i to abu n dan te , r e ve la um a

l i ge i ra ass im e tri a fac ial , e x o r b itism o , láb i o aus

triac e ac e n tuado,p rognati sm o i n fe r i o r d uv i doso

e m al gu n s p e rfi s n u m i smát i c os , a ltu ra c ons i d e

rave l da fac e ; as d e sc r i çõe s do s conte mpo rân e os

atr ibu e m-lhe « te s ta e spaçosa» , o l ímp i ca.

(o bar

ci e -fr on t al to das cab e l e i ras d e F rança Vá rias

d o e nças , na i n fânc ia e na ado l e scên c ia. Aos 1 1

anos,var ío la . Aos lã não acom pan ha o

cadáv e r da i n fanta D . Te r e sa, mo rta ao s 8 an os

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2414 NA m sr ónu

d e var ío la mal i gna,« p o r se achar conval e sc e n te

d e s e gu ndas b e x igas» . Ao s 1 9 anos (mai o d º

1 708) te m « h um af ro n tam e nto na aud i ên c ia» ; r e

co l h e-se ; toma r e méd io s ; pu rga-se . Po r e sta data ,

man i fe stação d e te ndênc ias homo-s e xuai s . R e

p e te m—se o s af ron tam e n tos : B rochado i n c u l pa. a

fal ta d e h ig i e n e d o monarca, que « com e m u ito e

não faz e x e rc ic i o » . F re i Cai ian o,na cap e la do

Paço , p rega u m s e rmão-

contra os m in is l r o s,« que

ca lam a c l -r e i o que lhe d e v iam d i ze r» . Em ju

nh o d e 1 709 , se te m e s e s d e po i s d o seu casam e n to

co m Mar iana d e Au s tr ia,« anda m agro , d e sco

rado e tr i ste ; as « qu e ixas sae m - lhe ao rost o» ; os

cap e l os amare l os do Paço falam e m man dá-l o para

as Cal das para o apartar da ra i n ha ; no d ia. 29 d e

te rm i nam sangra-l o « p o r cau sa d e h uma iluxão d o

h umor que lhe ve m as g lâ n d u las e lhe faz al gu ma

i n c i tação no p e scoço e p o r ba i xo. da barba» ; no

d ia 6 d e j u l h o,d i z B rochado. e m carta ao cond e

d e Viana,

« as g l ând u las a i n da não e xp e l i ram o

humo r que re c e b e ram , e eu s u po nh o que s e o

e xc e s s i vo calo r deste s m e s e s não as amo l e c e r e

e xc itar a tran sp i ração,se r á n ec e ssá r i o re c o rre r

a re méd io s tó p i cos e v i o l e n tos» . O r e i cai n u m

abatim e n to p rofu n do : « o nte m , d e po i s d o jan tar ,

i n fo rma o d e se mbargado r B rochado.

na m e sma

carta par a Lon d re s man dou v i r m ús ico s da

cap e la e o rd e no u que lhe can tas s e m um of íc i o

d e tr e vas» . A 1 3 d e j u l h o , « o tumo r gran d e » :

p e n sa-se e m re co r re r ao s e gredo 'd e Agosti n ho

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246 NA H IS TÓR IA

d o s duqu e s d e Av e i ro,

« d e um a. q u e ixa d e il a

to s que com m u i ta v io l ênc ia e Passados

cato rz e m e se s,e m se te mb ro d e 1 7 1 2 , nova « qu e i

xa g rav e » de que co nval e sc e e m P e d r o ucos . Tr ês

an o s d e po i s (1 7 1 5, p e l o S . J o ão ) « e m [l ato r i j o

d o s que costuma te r » , e que o apanha j an e la,

e m S e túba l , a ve r cor re r to i ros .D e co r ri do s do i s

anos i n com p l e to s , n ova d o e nça ; tal v e z as m e s

m as p e rtu rbaçõ e s n e rvosas ; conva l e sc e nça l o nga

e m P e d roucos . D aí p o r d ian te , é d i f i c i l s e gu i r as

v i c i s s itu d e s pato l óg i cas d o r e i . A fal ta d e info r

maçõ e s par e c e i n d i car que nos v i nte an os se

gu i nte s te m re lati va sati d e . E o p e r i odo d e ma i o r

i nte n s i dade na. sua v i da s e xual : « un p eu [ ou» ,como lhe chamou Math i e u Mara i s

,s e m e ia p e

l o s conv e nto s d e c lar istas c d e . b e r nar das fa ix a

co ntr ave i r ada d e p rata. das bastar-d ias ; agarra d e

n o ite , nos co rre do re s do Paço , as damas e as

açafatas ; manda cu nha r m o e das d e o i ro « tô das

d e caras para pagar as fêm e as » ; d is farça-se d e

m e nd igo para b e l i scar nas i gre jas o s braço s po l

pud o s das mu lh e re s d o povo ; um fo r t e l ib i d o

l e va-o até ao d e sv i o homo-s e x ua l ; fatigado po r

tôda a'cas to d e e xc e s sos

,o rd e na qu

ese consu l te

o

'

sáb i o B o e rhaav e sºbr e as v i rtud e s da rai z d o

g insão , « adm i ráv e l r e m éd io para qual q u e r e n

fe r mo p rostrado , d e s fa l e c id o o u csface lad o » . Uc

catdo p e la i dad e — d i z Go s l igan - « toma can ta

r i das_que o re d uz e m a unia s uma fr o ix idào » .

Quan do Man u e l da Costa, e spéci e d e M e rcú r io

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0,JOÃO v

d e tacõ e s v e rm e l h os , o acom panha de no i te ao s

m auvais-l i eum d e L i sboa, — a « G e nov e sa», m a

dam a D io nísia Aguas B e las, que mo ra no Te r

re i f e do Paço p o r c ima d o A ço ugu e , o u às m u i

tas franc e sas que e ntão e x e rc e m na co rte a p r o

fi ssão d e damas , João Jaqu e s d e Magal h ã e s

dá-lhe a e ssênc ia d e âm bar,c u j o s e fe i tos são e o

nhe c id o s. A sua p r e te nd ida rob u ste z abala-se .

Com e ça e ntão , como os i rmãos D . Franc i sc o,D .

Antó n i o e Man u e l , a so f re r d e ú l c e ras nas p e r

nas,— ú l c e ras m al e o—lare s que o marqu es d e

Pombal c on s i d e ra « como h e r e d i tá r ias no s se

nho r e s da casa S e re n íss ima d e B ragança»,c u ja

razão e ti o l óg i ca não se d e te rm i na c o m p re c i são

var i cosas,

sifi hticas,s i l i l o -var ico sas º

l — e cu j o

apare c im e nto p re c e d e h e m ip l e gia do r e i,p e l o

m e n os d o te mpo n e c e ssá r i o para que :as op i n i õ e s

hum o r ais e cur v ianas da época possam atr i bu i r

te n tati vas d e cu ra d e ssas ú l c e ras o ac i d e nte

d e para l i s ia que f e re D . João v , e m 1 7 142 .

E i s o que pud e e sc lare ce r , quan to ao s a nte

c e d e n te s h e r e d itá r i os e p e ssoa i s d o r e i . Ve ja

mos ago ra a mar cha da sua ú l tima d o e nça .

N uma qu i n ta-fe i ra,1 0 d e mai o d e 1 742

, no

paço da R i b e i ra ond e e n tão morava,

e r e i D .

João v,e stando a d e spach o com o m i n i stro ass i s

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248 N A H IS TÓR IA

te n te , fo i fe r i d o d e « um e stu po r que o pr i vou

d o s se n ti d os, e fi co u te se da parte e sq u e rda, co m

a bõca a banda» ,

— d iz , no seunº 1 9 , o Fo lhe to

d e L isboa.

,gaz e ta man u sc r i ta d o te m p o . Comp l e

tava, e m 22 d e o u tub ro , 53 anos d e i dad e . Ap e sar

da h e ran ça s i l l l ítica,das p e r tu rbaçõ e s d e n u tr i

ção d e r i vadas da sua br ad itr o fi a d e se d e ntá r io e

d o s e xc e sso s d u ma v i da se xual i n te nsa, o r e i e r a

u m h om e m apare n te m e nte robu sto . O d r . Iná

c io Barbosa Machad o , na sua B c laçam da e nj e r

m idad e e m o r te d o se nhor D . J oão V, re fe re que ,

ante s d o ac i de n te d o d ia 1 0,

« Sua Maj e stad e go

zava d e um a comp l e ta saúd e , con s e rvada p e la

mod e ração d o s al im e n to s,e m que e ra m u i pa rco ,

fug i n do daqu e las d e so rd e n s que foram p e rn ic io

sas mu i tos do s s e u s asc e n d e nte s », e ac r e sc e n ta

que o i n s u lto d e para l i s ia ve i o « se m p r e c e d e r e m

al gu n s s i n tomas d e qu e i xa , re p e n ti nam e nte » , A

saúd e d o r e i não e r a, porem ,tão p e rf e ita como

se p re te nd ia, p o -r qne j á n e ssa al tu ra D . João v so

f r ia d e ú l c e ras m al e o lar e s p e rs iste n te s ; ne m a sua

d i e tética fo i se mp re tão e sc ru p u l o sa, que o d e se m

bar gad o r B rochad o, n u ma carta ao con d e d e

Viana,

não d i ss e s s e d e l e : « es te Pr i nc i p e co m o

m u ito , não faz e x e rc íc i o e passa todo o d ia ou

v i ndo. h i stó r ias da caroch i nha» , E ri tr e tanto , o

que im po rta con c l u i r e o que d e facto se co nclú i

da R e lação d e Barbosa Machado e da notíc ia d o

Fo l he to d e Lisbºa, e que o ac i d e nte s u rg i u se m

p r ód r o m o s,bru scam e nte ,

e m p l e na saúd e apa

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250 NA m zr óm x

Gaspar Moscoso ch e ga d e Co imb ra co m o s infan

te s . O r e i é sarjado e sangrado nas co stas da

m ão ; d e itam-lhe b i chas na cab e ça : m as te i ma e m

re c e be r p e la s e gu nda ve z a benção papal , p e d e

um a cab e l e i ra d e Fran ça,sobre v e m -lhe f e b r e .

D ia 1 5 . Passa m e l h o r d e n o i te ; d e scansa até as

7 da manhã . Franc i scan os,l e i e s

,ba l tasar e s

, bar

bad inho s, sae m d e c ru z a l çada e m p roc i ssão p e la

c i dad e . D ia 1 8 . Mal . Os te ati n o s traz e m - lhe o

barr e te d e Sant o A nd re Av e l i n o,advogado das

apo p l e x ias ; D . João v , so e rgu i d o nos b raço s d o s

card e a i s da Cu nha e da Mota, põ e-n o na cab e ça

e re za. a sua com e mo ração , 94. Pi o r . São

chamados todos o s médi cos da j u n ta : o douto r

An tón i o da Cos ta Fal cão , cap e l o amare l o, que

acabara d e se r n om e ado c i ru rg ião-m o r d o re i n o ;o dou to r P e stana

,s e mpr e d e capa

,vo l ta e cab e

l e i ra d e no s, a an tiga ; o m e d i co au s tríaco Kau

p e rs, que p u nha carm im e usava moscas como

um a. dama ; o dou to r Carap inha, que não largava

sua mu la d e guatd rapa c i n z e nta; o arguto Ú r

tigão , p r fx l i l e cto do r e i ; o austr íaco Wi tte, que

v i e ra co m a ra i n ha. Não se sab e o que r e so l

ve m . D ia 27 . M e l ho r. Constata-se « que há se n

tim e nto na parte o fe n d ida» , r e i faz a barba,

co n tra o c o ns e l h o dos m éd i cos .

—« D ia 3 d e ju

nho . Purgam-no : xarop e . á u re o, pos c o rn ichino s,

oux ar ºp e d e F i o r avan te . U s e fe i tos « são tão co

p i o so s, que o s n r . D . A ntón i o se adm i ra que

possa cab e r e m um co rpo tão grand e po rção d e

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0,JOÃO v 251

hu mo re s » . D ia 5 . A sse ntam -no na cama,« ain

da que não p o r mo vim e nto p róp r i o , p o rque a

parte e sque rda co nti n ua l e sa» . Fala-se na ida às

Cal das : baln eum tand e m co n o e n i t p ost tr e s se p ti

m anas; O rtigão q u e r que se ap l i q u e m os banhos

s u l f u rosos só « quare n ta d ias d e po i s d o ac i d e nte » ,

s e gu ndo o s p re c e itos d e Cu rvo — D ia 8 . D e c i

d e s e a parti da para as Ca l das .

—D ia 28 . G ran

d e a l e gr ia n o paço : « S ua Maj e s tad e move o b r a

ç o l e so até ao cotove l o e co m a ajuda da m ão

d i re ita l e va-o a cabe ça» . Os frad e s atr i b u e m a

m e l ho ra m i lagre ; o s méd ic os , ao s purgante s .

D ia 30. Com e ça a mov e r a p e rna.

—D i a 7 de

jul ho . A p re ssa-se parti da para as Ca l das . Ar

ran jam -se as e s tradas . O card e a l da Cunha, e m

brulhado na sua pú rpura,ch e i o d e m edo s d e

b ruxas'

e'

d e trovõ e s,parte d e manhã « para i r

d e vagar,b e nze ndo os cam inhos » .

—l) ia 9 . O r e i

s e gue para as Cal das , ac ompanhado d e F re i Gas

par Mo scoso , d o j e suíta Carbon e , d o .méd i co O r

ti gao,d o c i ru rg ião A n tón i o Soar e s F re i re . Em

barca as 1 1 da manh ã na ponte d o Ca i s da

I n d ia : « vai v e sti d o d e p re to , com cab e l e i ra gran

de c om o costuma apare c e r e m púb l i co » ; as r e

gate i ras e m u lh e re s da R i be i ra dão - lhe v i vas .

D ia 1 1 . Parte raí n ha.

—Uia l º. Parte o card e a l

da M ota com o s i n fante s bastardos — D ia 4 de

ag o sto . O r e i te m 1 0 banho s ; as m e l ho ras são

po ucas . De sfaz- se e m e sm o las e m e r cês toda

a ge n te : a cada um d o s e n fe rm e i ros'

que o m e

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252 NA H I S TÓR IA

te m e o ti ram d o banh o , 1 00 mo e das e o háb i to

d e C r i sto ; a cada m éd ic o d o parti d o do H osp i

tal,320 m i l r éis ; n um b raço d e p r ata co m as r e

l íquias do patr iar c a S . B e nto , que o acompanha

na v iag e m,m e te « u m an e l d e ou ro co m um

d iaman te b r i l han te d o tamanh o d e um tre moço » .

—I.) iw 1 7 . R e gre ssa a Li sboa. Lum i n ár ias p e las

me l h o ras do r e i ; Te -l i eum , D ia 27 d e se te m bro .

Novo ac i de nte , que o nº 30 do Fo lhe to d e L i s

bo a,d e 29 d e s e te mb ro

,n oti c ia : « Na fe i ra,

27,

'

das 1 1 hora s para o m e i o d ia. fo i Sua Maj estad e assaltado d e um a v e rti ge m tão v e e m e nte ,

que o p r i va dos se n ti d o s p o r mai s d e um a ho ra,

e m que lhe m e te ram os pés e m água qu e nte ;

abso lv e ndo-o sub co ndi l i o n e , e ch e gan do ag o

n izar : fo i sangrado se m a l gum s e nti m e n to,m as

to rnan do a s i , fi cou m e l h o r» . A ra i n ha, em s i nal

d e co n do l ênc ia p e l o n ovo ac i d e nte , p ro ib e r e

p re s e ntação d e co m éd ias n o páti o das Arcas .

IJ ia 1 0 d e n ove m bro , O r e i toma ban hos das A l

caçar ias .

— D ía 1 8 ,Te m o u tro ataq u e , às 2 ho

r as da tard e,p e rd e ndo o s se ntidps ; san g ram

-no ,

sarjam -no ; re c up era a fa la as 1 0 horas da n o ite ,

e manda e l e var a d ign i dad e d e m o nse nho r e s

l e z cón e gos da Bas í l i ca Patr iarcal . —D ia 1 0 d e

de z e m bro .Man dam - lhe d e Par i s « um a água tão

p r e c i osa, que ap l i cada a q ua l q u e r parte l e sa d o

co rpo,l ogo põe e m natu ra l m ov im e n to» . Faz-se

a e x p e r i en c ia e m J o sé J o rge , he m ip l e g ico como

o r e i ; o hom e m m e l h ora ; os méd icos q u e re m ap l i

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251 NA H ISTÓR IA

quas i d e m ês a m ês,d um ac i d e nte v i o l e n to d e

e p i l e ps ia parc ial . No s ú l ti mos d ias d e j u l h o d e

1 750 cái n uma son o l ên c ia pro fu nda ; j á não e o

nhe c e n i nguém ; o quarto coal ha—se - lhe d e fr a

d e s, e r i ça-se d e c ru z e s p r o c issio nais, faú l ha d e

a ltare s armado s ; re za-se d ia e no ite , a ladai nha

lau re tana ; o n ú nc i o , marqu es d e Tep e , traz , sob

pá l io,

ab so l v i ção papal ; D . João v ron ca, na ag o

n ia ; e às 7 ho ras e c i n co m i n utos d o d ia 3 1 , e m

quant-o todos os s in o s d e L i sboa dob ram ,aqu e l e

que fo i u m dos mai o re s r e i s p ortugu e s e s apa

g a-se como um a p e q u e na l u z bati da p e l o v e n to .

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'

l'

l l l ns DE O NTEM

O Con se l h e i ro Con h e c i—o m in i stro n um

d o s ú lti m os gab i n e te s da monarqu ia. Ouv i-o vá

r ias v e z e s falar na Câm ar a . B e la fi gura,barba

bran ca, br asseur d'

affai r e s. Um e stad i sta e m i

n e nte d o anti go re g im e n,d i sse de l e : — « E um a

c r iatu ra que m e d e sco nc e rta . Faz d i sc u rsos c i r

c u lare s» . Proc u re i d e sc r e ve- l o nas m inhas no

tas : « Este hom e m ch e go u a m i n i stro , cam i nh ou ,v e n c e u , tr i u n fo u na v ida, p o r um a s i mp l e s e ta

c i l razão : p o rq u e , quand o fala, n i nguém o e n

te n d e . Os se u s d i sc u rsos par lam e ntare s são

obras-p r imas d e co n fu são m e nta l . Como n i n

guem o p e rc e be , — n ingue m o con te sta,

n i n

guem o combate : e um v i to r i o so . A sua palav ra'

é s e m p re a ú l ti ma pa lav ra s ôb re [M as as qu e s

m e s,— po rqu e , d e po i s de l e te r falado , n i nguém

ma i s se e nte nd e. E spa l ha a sombra e a con i n

são e m vo l ta ( le s i . Não é um m i n i stro,— é

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256 N A H ISTÓR IA

A pocal i p se . S e um d ia al gu ém ch e ga a co m

p r e e nde m ,

— este hom e m cé l e bre e stá i r r e m e

d iávc lm e nte p e rd id o . »

O du que d e Lo u l e, que Lichn o w sk i d e scr e

ve u,e m 1 842

,« ve sti d o c om o o s grand e s d e F i

l i p e n , e spéc i e d e Buck i ngham qu e r i d o d e r aí

nhas galan te ado ras , hom e m p e r igo so que passou

a v i da a faze r andar a roda as cabe ças d e to das

as m u l h e re s»,fo i mai s tar de , .como ch e fe d e

parti d o , o « e stad i sta do s i l en c i o » , E r a raro l e

vantar -se para d iz e r d uas palav ras na Câm ara.

Não re spo nd ia a n i ngu em .« Estranham que e u

fal e pou co,

— d iz ia e l e ; po i s a m inha co nsc ie n

c ia só m e ac u sa d e te r falado a l gumas v e z e s d e

ma i s » . Um d ia,d e po i s d e c e rto d e p u tad o te r

p ro n u nc i ado con tra e l e um d i sc u rs o v i o l e nto ,Lo u l é , que e r a p re s i d e nte do con s e l h o , l e van

tou-se .

—« Vai r e spond e r !— d i ss e ram todos .

Que ho n r a para F . Logo o du q u e,

are na

m cnte z— « Pe d i palavra para mandar para a

m e sa um a p roposta de l e i co nc e d e nd o um a p e n

são a um guarda da al fân d e ga» . E s e ntou-se .

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258 N ». r-ns róm x

rosado , d e ge lati n oso . d e fo rm i dáv e l . que se d e

batia no s b r aç o s do c r iad o e g ru nh ia d e saba la

d e m e nte . E r a um po rco .

P i nh e i ro Chagas , n os s e u s artigos . ac u sava

Fo nte s d e faz e r « p o l ítica de se r r alho » ,i sto é ,

d e se d e ix ar l e var p o r p e d i do s d e mu l h e re s e

e mp e nh o s d e sa ias . Mai s tard e com pu s e ram -se ,

e Chagas fo i f e ito m i n i stro po r Fonte s . Quan do

o m i n i sté r i o se ap re se nto u nas Câmaras . Ma

r ian o d e Car val h o , que traz ia'

no Pºpular a sc i e

do « a l barda,r ia l s e nh o r j ogou—lhe um a b i sca:

« Então,i sto ai n da é po l íti ca d e se r r alho 7»

« Não ; é po l íti ca d e albarda i i) — re spond e u Cha

gas.

— « A l barda não é par lam e ntar ln— gr itou

um a voz da e squ e rda. Im e d iatam e n te , Mar ian o ,

n um sor r i so , como se d i ss e s s e a f ras e mai s am á

ve l do m u ndo : — « E,s im s e nhor . porqu e o s r .

P i nh e i ro Chagas trou xe -a ao Par lam e n to » . Gar

ga l hada g e ral .

Um d ia,na Câm ar a dos Pare s

, o b i spo d e V i

seu l e van tou-se para f u lm i nar, n um d i scurs o

ve e m e n te,um seu i n i m igo p i l iti co que se se n

tava na bancada d o s m inistro s. No mais ace so

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'

1 | r o s D E O N] 1. n 259

da o ração , apostro fava : « Aq u e l e hom e m , se

nh o r p re s i d e nte , é i n d ign o d e al to l ogar que

ocu pa ! E quas i um i n co n sc i e nte ! E quas i um

m e nte capto ! E quas i um l ouco !» Tumu lto ,

cam painhadas, e a vo z do p re s i d e nte , co nc i l ian

do z— « Con v i d o o d ignol

par a r e ti rar as e xp re s

sõe s que p ro fe r i u » . Im e d iatam e n te, o b i spo d e

V i s e u , se m se p e rtu rbam — « Se nh o r p re s i d e nte !

E u d i sse que aqu e l e hom e m e r a quas i um m e n

te capto ,Po i s b e m : re ti ro o quas i

O ve l h o Sampai o da R e vo lução , quando fe z a

sua e stre ia par lam e ntar u m d o s ma io re s o rado

r e s d e que se o rgu l ha Po rtu gal , o uv i u -o co m

adm i ração e com e ntou : « S im,s e nhor ; fal o u b e m ;

m as p e n so u m al » . E P i n h e i ro Chagas co stu

m ava d iz e r , quan do es se g ran d e o rador p e d ia a

palavra e m mom e n tos po l íti co s s e n sac i o nai s :

« Lá ve m o côch e D . João v» .

Um d o s ú lti mos card e a i s patr iarcas d e L is

bo a e r a,ao con trár io d o que se d iz ia d e l e , um

hom e m c u lto,i nte l i g e n te e e sp i r itu o so . Um a

ta rd e , na Câmara d o s Pare s , c e rto p r óce r e , o v i s

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260 NA H ISTÓR IA

co nd e d e cé l e bre p e la sua inco nve n iência e

p e las s uas gajfe s, ti r o u do bº l so um a c igar r e i ra

d e o i ro com o e smalte duma mulhe r nua e m o s

trou-a ao patr iar caz— « Vossa Em inêne ia que r

ve r Logo o p re lado , p o ndo l u n e ta no nari z :—« E o r e trato da s e nho ra v i sco nd e ssa

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262 m H I STÓR IA

barcas do B idassoa, o punh o d e p rata d o e spa

d im fal s e ar-lhe na m ão . E e l e s lá fo ram, ne

gros,r i so nhos

,con te n te s

,tisnado s d o so l , fe rro

lhand o armas , chocal hando patronas, e m quanto

na chuva de o i ro da manhã a i l ha ve r d e d o s Fai

zõe s re sp lan de c ia, e o s s i n o s al e gre s d e F u e n

te r r abia, ao l o nge , ti l i nta vam para a m issa . Onde

iam e l e s ? Po rqu e marchavam Que d e sti n o o s

e spe rava na te rna d e F ranca ? Sab iam-no lá !

Mas fi tass e m -n os, e ncarass e m -no s um a um

e e m tõdas aqu e las fac e s qu e i madas,e m to dos

aqu e l e s o l ho s ard e n te s,f u l g i r ia, como um a la

bare da,o vago i n sti n to d e que cam i nhavam

para a g lo r ia. Iam ve r Napo l e ão .Iam conh e c e r

o titan . D e po i s d uma. marcha d e três l éguas fe ita

a can tar , co m as e sp i n gardas ch e ias d e fl o re s ,

o b ravo r e g im e n to d e A ntón i o d e Sal dan ha che

g ou S . J oão da Lu z . Na manhã s e gu i nte , um

aj u dan te d e o rd e n s d e Pamp l o na, gal op e , m an

d ou-o avan çar . N e ssa m e sma tar d e , e nvo lta s

numa n uv e m d e po e i ra, as bai o n e tas lamp e jan do ,as chapas .d e cob re das bar r e tinas fai scando ao

so l , o s tam bo re s ro u cos d e bate r a marcha,

as tropas p o r tugu e sas d e i n fantar ia 1 , ch e gadas

e mfi m Bayon n e , pas savam e m co ntinênc ia d ian

te d e Napo l e ão . O I m p e rado r, que d e sce ra d o

pa l ác i o d e Mar r ac para as ve r,so rr ia-l h e s

,im o

ve l , e mbru l hado n o se ucapote c i nze n to d e p e ti t

cap o r at, e ntre um a on da d e mar e chai s e m p tu

m e d os e . c ob e rto s d e o i ro , — Ne y , M u rat, D a

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r o nI UGAL 263

vo u st, Bassie r e s. A l o rna,Pamp lo na . A v i sta dês

se s do i s batal h õ e s pardo s d e saragoça, c e r rados ,e né rg i cos , p e qu e n os , bate n do as abas das n izas

co m o car o chas, u m frem ito d e comoção passo u

na al ma d o povo , e d uas m i l , três m i l bo cas

f ranc e sas gr itaram ,u ivaram

,ac lamaram : - « Po r

tu ga] ! Portu gal !» Os garoto s marchavam- l h e s

à f re nte ; das jan e las ati ravam-l h e s fl o re s ; no se u

cõche i m p e ratr i z Jo s e fi na ac e nava- l h e s co m o

l e qu e ,

- e o s galucho s po rtu gu e s e s , co m as lã

gr imas no s o l hos,ch e i o s ao m e sm o te mpo do

o rgu l h o e da mágoa d e s e re m tão po u cos . r e p e

tiam,do i do s d e e ntu s iasmo , l e van tan do as bar

re ti nas: — « Po r tugal l Portuga l Não s e r iam

mai s d e q u i nh e ntos so l dados ,— e ti nham al vo

roçado Bayona. D aí a po u c o . Napo l e ão pas

sava—l h e s r e v i s ta e m fo rma ; com pu nha-l h e s p e la

sua m ão as ban do l e i ras b rancas das patronas e

as alabar das lamp e jan te s d o s sarge ntos : co nvi

dava o s o fi c iai s para jantare m a . sua m e sa, — e

a n o ite , um a no ite qu e n te e p e rf u mada d e junho ,

o s jard i n s d o pal ác i o que d ias ante s v i ra abd icar

Car l o s IV d e Espanha, fo ram ab e rtos e m fe sta

ao s so l dados po rtu gu e se s . Nas varandas i lum i

nadas , a co rte im p e r ial assomou . E nch e ram -se

d e ge nte as largas alam e das d e fau no s e d e m u r

ta. E e m quanto ,ao l uar

,o s galucho s da Ex tr e

mad u ra e da Be i ra,n e gros , r i sonh os, abraça

d o s a v io las e no rm e s , cantavam as ch u l-as, o s

tund un s e as mod i nhas d a sua te rra, Jos e fi na

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.x'

A H ISTO R IA

B e au harnai s , co m os o l h os b r i l han te s d e lág r i

m as. a fac e apo iada a mão ch e ia d e j ó ias . dm a

e n can tada a A ntón i o d e Sal danha : —« O h. que

fal a m ce s gavotte s p or tugaise s I» ,

- e e m baix o

todo o povo , rod e ando o s so l dados , inte r rogan

do-o s , ap lau d i n do-o s, ab raçand o-o s, p e gando- l h e s

ao co l o,r i n do e cho rando com ête s , gr itava,

u l u

tava e m d e l í r i o , no seu sotaqu e vasco nço ,como

um p re sag i o d e g l ó r iaz— « Po rtugal ! Po rtugal

T i nham can tado be m e m Bayo u ha ; hav iam d e

mo rre r m e l h o r e m Wag ram

Po i s be m . S õb r e o d ia 30 d e mai o d e 1 808 ,

um sécu l o passo u . S õbr e êss e sécul o,mai s n ov e

anos l e ntos , trág i cos,do l o ro sos . D e n ovo o s

nosso s so l dados e ntram , so rr i n do , e m Par i s ; d e

novo as rosas d e F ra nça vão fl o r i r e m e sp ingar

das po r tu gu e sas ; d e novo o m e smo c larão d e

e pop e ia e nvo l v e o n o sso n o m e , — e hoj e , ce nto

e d e z anos d e po i s,é a i n da o m e sm o gr ito h e r ó i co

que se o u v e ao l o nge , como se o e rgu e ss e m m i

lhar e s d e e sp e ctros

Po rtugal Po rtugal

'

FIM

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O cr i m e

U m a m ulhe r

M .

º "º Nin i .A touca d e r e n das

NA AR TE

O s d o is r e tr ato s

J o sé d e A lp o im

p into r d o so l

Schw a lbachEsp ír ito g e n ti lNo vo s m e tr o s, n o vo s r itm o s

Te atr o o am o n e an o

Músic o s d e casaca d e se da

« Ve r ão »

NA H ISTÓR IA

'O fr ad e tr in oS . M igue l A r canj oA m o r te d e D . J o ão VIO sar am be que

U m d ip l o m ata

F r e i Manue l d e S ant'Ana .

Espadachins

A m ã e d o p rim e i ro duqueA e m ba ix ada .

Nun '

Al var e s

Passo s Man u e lU m a in fan ta histér ica .

U e utr nd o n o sécul o XVIIID . J o ão V

Tip o s d e o n te m

P o r tug a l

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266 ÍND ICE

0 c r im e

U m a m ulhe r !

M .

º "º Nin i .A touca d e r e ndas

NA AR TE

O s d o is r e tr ato s

J o sé d e A lp o imO p into r do so l

S o hw albach

E sp i r ito g e n ti lNo vo s m e tr o s, n o vo s r itm o s

Te atr o o am o n e an o

Músic o s d e casaca d e se da

« Ve r ão »

NA H ISTÓR IA

'O fr ad e tr in oS . M igue l A r canj oA m o r te d e D . J o ão VIO sar am be que

*U m d ip l o m ata

F r e i Manue l d e S ant'Ana .

E spadachins

A m ãe d o p r im e i ro duqueA e m ba ix ada .

Nun 'A lvar e s

Passo s Manue lU m a in fan ta histér ica .

e ntr ado n o sécul o XV I I ID . J o ão V

Tip o s d e o nte m .

Po r tug a l

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c o m e çará) LU S ITANIACada vo lum e . e l e gan te m e n te e n c. em p e r cal i

na. 340 e m . ( 400 r é l s t.

Vo lum e s pub l icado s até m a r ço d e 1 9 1 8

l e i—um a : d e S a l va çã o , p o r C . C . B ranco .

2 q w zas do p o br e , p o r C . C. B r anco .

3 — EuR t-bl o M ar tír io , po r C . C . B r a n co .

4 po r C . C . B r anco .

5—Ca r tae d e A m o r . p o r S o r o r Mar iana .

' 6 e —No asa Bonham d e Pad s . po r V. Hugo .

S —Am o r e c do D iab o , po r C . 0 . B M CO B

D— F r e i Luís d e Mai l ua , po r A . G a r r e tt.IO— J o sé B á lsam o e M ata-a , ou e la tefar á , po r C . B r anco .

1 1 e ] 2— l l adam e B o m :-y , p o r Fl aube rt.

I R — M cn l na 0 M aça . p o r B e rnar d i m B i bº !

1 4 —B r as tl e l r a d o P r as fnn, po r C . C . B runl ll — Camõ e s, p o r A . Ga r r e tt.

l ll—R o m anc e d am ho m e m r ico , po r C .

B r anco .

'N' — C a r tas d o m e u m afub a. p o r A .

I SK— F r e i r a n o subte r r ân e o , po r C . C .

1 0 V ia g e ns na m i nha te r r a , p o r A : G a r

2 o — O a r msc o d e Víto r H ug o J o sé A l va ,

C . C . B r anco .

2 1 — R a fac l , po r Lam ar ttn e .

2 2—A r c o d e S a n t'

Ana . p o r A. Ga r r e tt.2 8 — l l o sa l r o e S i lva , p o r C . C . B r anco24 e 2 5 No e m i a e tr ês , p o r V . Ii ng o

'

.

26—A R e l ig i o sa , p o'

r D ld e r o t.2 7—Ll r r o da Co nso laçã o , po r C . C . B run28 — A l a la . R e n é, o U l ti m o A be no cr rug e m ,

Chate aub r iand .

2 9 e fl o — U l t i m o s d ias de P o m p e ia .

Il ) ttnn :

3 1 Mulh r r a .da R e tr o , p o r A be l B32— 0 Al j ag e m c d e S an ta r ém e D .

po r ( iur i-e tt.3 3 — F to r a

'

A 'w a . po r Lam a r tin e .

S l — H m'la da F o n te , p o r C . C . 5

8 5— 0 ( lus tr o D r . Ma te us , po r . E r it r tan .

S it— C l áud io , po r [ ,um a rtlBT— D am a do s Fa m i l ia s , p o r A .

8 8 — No B o m J e sus d o M o n te ,B r an co .

att—Na n o » Le n o n , p e l o Abad ed l l— C o n f o rt e ar—o l hl i l o s , p o r J . l t

4 1 —0 0 S am—Im aruí . p o r J . C r ave .

—0 R m ho r D e putad o . p o r J . L .—Eug én ia G r a nd e t, po r B a l zac .

44 — 0 4: que am am e o s que so fr e m ,

G r ave .

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D an ta s , Jul i oEl e s e e l a s 2 . e d .

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