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16 Revista Brasileira de Nutrição Funcional - ano 15, nº 63, 2015 Dra. Nathália Carneiro de Castro Félix e Dra. Daniela Fojo Seixas Chaves Efeitos da desidratação para redução rápida de peso na performance e saúde de atletas de luta Effects of dehydration for rapid weight reduction in performance and health of fight athletes Resumo A perda rápida de peso é uma prática frequente entre atletas de luta. Para atingir esse objetivo, os atletas utilizam diversas técnicas que podem ser altamente prejudicais à saúde. Uma das principais técnicas utilizadas é a desidratação, em que os atletas reduzem a ingestão de líquidos ao mínimo e muitas vezes chegam a passar um período de até 48 horas sem ingerir qualquer tipo de líquidos. Este estudo objetivou analisar se a utilização dessas técnicas pode prejudicar o rendimento do atleta durante a competição. Estudos comprovam que o rendimento é altamente afetado quando o período de recuperação após a pesagem é curto, porém mais estudos são necessários para avaliar até que ponto a desidratação pode afetar o ren- dimento quando o tempo de recuperação após a pesagem fica acima de 5 horas. Mudanças nas regras são necessárias para minimizar os problemas e riscos causados para atingir o objetivo da rápida perda de peso. Palavras-chave: Desidratação, rendimento, perda de peso. Abstract Rapid weight loss is a common practice among fight athletes. To achieve this goal, athletes use several techniques that can be highly injurious to health. One of the main techniques used is dehydration, in which athletes reduce fluid intake to the minimum and often come to spend a period of up to 48 hours without drinking any liquids. This study aimed to analyze if the use of these techniques can damage the athlete’s performance during competition. Studies show that the performance is significantly affected when the recovery period after weighing is short, but more studies are necessary to assess how dehydration can affect the performance when the recovery time after the weighing is above 5 hours. Rules changes are necessary to minimize the problems and risks caused to achieve the goal of rapid weight loss. Keywords: Dehydration, income, weight loss.

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Dra. Nathália Carneiro de Castro Félix e Dra. Daniela Fojo Seixas Chaves

Efeitos da desidratação para redução rápida de peso na performance e saúde de atletas de luta

Effects of dehydration for rapid weight reduction in performance and health of fight athletes

ResumoA perda rápida de peso é uma prática frequente entre atletas de luta. Para atingir esse objetivo, os atletas utilizam diversas

técnicas que podem ser altamente prejudicais à saúde. Uma das principais técnicas utilizadas é a desidratação, em que os atletas reduzem a ingestão de líquidos ao mínimo e muitas vezes chegam a passar um período de até 48 horas sem ingerir qualquer tipo de líquidos. Este estudo objetivou analisar se a utilização dessas técnicas pode prejudicar o rendimento do atleta durante a competição. Estudos comprovam que o rendimento é altamente afetado quando o período de recuperação após a pesagem é curto, porém mais estudos são necessários para avaliar até que ponto a desidratação pode afetar o ren-dimento quando o tempo de recuperação após a pesagem fica acima de 5 horas. Mudanças nas regras são necessárias para minimizar os problemas e riscos causados para atingir o objetivo da rápida perda de peso.

Palavras-chave: Desidratação, rendimento, perda de peso.

AbstractRapid weight loss is a common practice among fight athletes. To achieve this goal, athletes use several techniques that

can be highly injurious to health. One of the main techniques used is dehydration, in which athletes reduce fluid intake to the minimum and often come to spend a period of up to 48 hours without drinking any liquids. This study aimed to analyze if the use of these techniques can damage the athlete’s performance during competition. Studies show that the performance is significantly affected when the recovery period after weighing is short, but more studies are necessary to assess how dehydration can affect the performance when the recovery time after the weighing is above 5 hours. Rules changes are necessary to minimize the problems and risks caused to achieve the goal of rapid weight loss.

Keywords: Dehydration, income, weight loss.

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Introdução

A água é importante em muitos processos do organismo. Em combinação com várias proteínas, lubrifica as articulações e protege vários órgãos contra o choque, tais como coração, pulmões, intestino e olhos. O corpo humano, quando submetido a uma atividade, responde com produção de calor e consequente ativação dos mecanismos fisiológicos de controle térmico e hídrico1. A prática de atividade física submete o indivíduo a uma elevação da temperatura corporal, que é mediada, entre outros fatores, pelo gasto energético, pelas condições ambientais e pelo tipo de vestimenta utilizada. A liberação desse calor produzido ocorre, primeiramente, por meio da evaporação do suor sobre a pele, o que atribui à sudorese um papel fundamental na manutenção do equilíbrio homeostático durante o exercício2.

O estado de hidratação é um fator determinante para a prática de atividades físicas; sendo assim, o conhecimento do estado de hidratação do indivíduo antes, durante e após o exercício torna-se importante para a sua prática constante3. Os níveis de hidratação devem ser mantidos de forma eficiente para que o exercício físico possa ser realizado de forma segura e não acarrete sérios problemas ao organismo4. A ingestão de líquidos durante o exercício, especialmente em temperaturas elevadas, apresenta benefícios como evitar a desidratação, regular a temperatura corporal e evitar estresse cardiovascular5,6. As recomendações dependem do tipo de atividade a ser realizada e de fatores individuais como condicionamento físico, idade, modalidade praticada, estresse ambiental, características da atividade física como duração da sessão, intensidade do exercício e necessidade de vestimentas que interferem na termorregulação1.

A pesagem corporal é um dos métodos de avaliação da perda hídrica de atletas, devendo ocorrer antes, durante e depois da sessão de treinamento. A perda de peso indica a necessidade de ingestão de líquidos, e, quando essa perda é igual ou superior a 2% do peso corpóreo, ocorre desidratação7.

A desidratação, que acentua o estresse do exercício, aumenta a temperatura corporal, prejudica as respostas fisiológicas, o desempenho

físico e produz riscos para a saúde8. A baixa volemia também está associada à redução do volume de ejeção cardíaco que resulta na redução do fluxo sanguíneo para a pele, com efeito negativo na dissipação do calor9. Desidratação leve e moderada causam sinais e sintomas como fadiga, perda de apetite, sede, pele vermelha, intolerância ao calor, tontura, oligúria e aumento da concentração da urina. Já a desidratação grave causa pele ressecada e flácida, olhos afundados, visão fosca, delírio, espasmos musculares, choque térmico e coma, podendo inclusive evoluir para óbito10.

A hidratação com água apresenta como vantagens um rápido esvaziamento gástrico, desnecessária adaptação para palatabilidade da solução e custo praticamente zero, entretanto não é aconselhada para atletas, pois a perda de eletrólitos associada a um quadro de ingestão aumentada de água pode induzir a quadros como a hiponatremia11,12.

A desidratação pode resultar em dificuldade na regulação da temperatura corporal, o que pode causar redução no desempenho13. Conforme Marins14, as condições adversas a que os atletas são submetidos fazem com que seja necessária a elaboração de estratégias de hidratação, visando a retardar efeitos provenientes da desidratação.

Água e eletrólitos são importantes para a manutenção da atividade física. A perda destes por meio do suor atinge a resistência de força15. Ao se hidratar exclusivamente com água, os atletas mantêm seus estoques hídricos próximos da normalidade, mas quando fazem uso de soluções carboidratadas poderão, além de restaurar os estoques hídricos, armazenar uma quantidade extra de carboidratos para utilização durante a atividade, evitar quadros de hipoglicemia e acelerar a recuperação do glicogênio muscular16,17.

Um estudo sobre as práticas de hidratação em atletas de judô, realizado por Brito e Marins18, revelou procedimentos inadequados de hidratação. A utilização de um questionário indicou os sintomas mais frequentes da prática: sede intensa, perda de força e dificuldade em realizar um movimento facilmente executável em condições normais.

O objetivo deste trabalho foi analisar o impacto

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que a desidratação severa utilizada por lutadores pode ter sobre a saúde e o rendimento durante as competições.

A metodologia da presente revisão envolveu a busca por artigos e livros nacionais e internacionais, dos últimos 15 anos, utilizando os termos: hidratação, hidratação e exercício físico, desidratação e lutas, desidratação em esportes de combate e desidratação e exercício físico. As bases de dados consultadas foram EFDeportes, Scielo, Pubmed e Highwire.

Modalidades de luta e categorias de divisão de peso

Esportes de combate referem-se a um grupo de esportes individuais que são muito relevantes para o cenário esportivo mundial. Estudos mostraram que a maioria dos esportes de combate pode ser caracterizada como de alta intensidade. No entanto, parece que esportes de combate contam mais com o metabolismo anaeróbico lático, enquanto os desportos de combate marcantes são mais dependentes do metabolismo anaeróbico alático19.

Em modalidades de luta como o judô, o jiu-jitsu e a luta olímpica, os torneios apresentam divisões por categorias de peso20, tendo por objetivo equilibrar as disputas, minimizando as diferenças de peso, força e velocidade entre os competidores. No entanto, com o intuito de obter vantagem lutando com adversários mais leves e fracos, muitos atletas costumam reduzir seu peso corporal dias antes das competições21. Estudos sobre luta livre determinaram que a maioria dos atletas reduz significativamente seu peso corporal poucos dias antes das competições22.

Considerando que esses lutadores competem em categorias cujo limite de peso é muito abaixo de seu peso real, muitos não conseguem se manter dentro do limite da categoria, recuperando totalmente o peso perdido após os torneios, resultando em necessidade de reduzi-lo novamente nas próximas competições23.

Técnicas de perda rápida de peso utilizadas e impacto na saúde dos lutadores

Para reduzir o peso em um curto período de

tempo, os atletas utilizam uma série de estratégias agressivas, tais como: restrição da ingestão de líquidos e alimentos, uso de roupas de plástico ou borracha para indução de sudorese, prática de exercícios em locais quentes, aumento da quantidade de exercícios praticados, uso de laxantes e diuréticos ou até mesmo indução de vômitos24.

Apesar do impacto negativo da perda rápida de peso no estado de saúde e em diversos estados fisiológicos já estar bem estabelecido25-27, os efeitos da perda rápida de peso sobre o desempenho competitivo ainda permanecem obscuros. O risco individual de um atleta depende da interdependência entre a quantidade de peso corporal reduzida, o tempo de redução, a frequência dos episódios e os métodos utilizados28. Existem relatos de que a perda rápida de peso reduz a densidade óssea, afeta funções cognitivas, provoca disfunções cardiovasculares agudas, aumenta as chances de desenvolvimento de transtornos alimentares, deprime o sistema imune, promove desequilíbrios hormonais, podendo causar hipertermia e até mesmo morte29. De fato, em 1997 três mortes de jovens lutadores norte americanos foram atribuídas à hipertermia causada pela perda rápida de peso30.

Várias investigações têm relatado que os atletas submetidos a rápida perda de peso apresentaram diminuição de memória de curto prazo, vigor, concentração e autoestima, bem como aumento de confusão, raiva, fadiga, depressão, isolamento, todos os quais podem prejudicar o desempenho competitivo31.

A caracterização do padrão de tempo entre a pesagem e o início das lutas é fundamental para o planejamento da estratégia mais adequada de controle de peso29. De acordo com Kiningham e Gorenflo34, 72% dos atletas usam pelo menos um método potencialmente danoso à saúde para reduzir o peso; 52% usam pelo menos dois métodos perigosos, e 12% usam pelo menos cinco métodos perigosos a cada semana.

Os transtornos alimentares são, muitas vezes, uma grande preocupação entre atletas do sexo feminino, em especial entre aquelas envolvidas em esportes em que a regulação do peso corporal é um fator determinante, sendo as mulheres mais

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susceptíveis a transtornos alimentares do que os homens24.

Após a pesagem, alguns atletas também podem usar métodos de reidratação artificiais, tais como infusão intravenosa de solução salina24. Independentemente do procedimento adotado para reduzir peso ou do tipo de atividade escolhida para avaliar o desempenho, todos os estudos mencionados verificaram que dietas restritivas e/ou desidratação prejudicam o desempenho aeróbio. Os principais motivos de tal diminuição são: 1) queda de eficiência do sistema cardiorrespiratório, ou seja, diminuição da quantidade de oxigênio transportado a cada batimento cardíaco; 2) redução do conteúdo de glicogênio muscular e da taxa de utilização do glicogênio; 3) aumento da perda de eletrólitos, aumento da temperatura corporal e dificuldade de termorregulação35,36.

As investigações que permitiram intervalo inferior a três horas após a pesagem observaram queda no rendimento. Porém, estudos que permitiram aos atletas 5 horas de recuperação após a pesagem, descobriram que a perda de peso rápida não afetou o desempenho anaeróbico37-40. A maioria das competições de jiu-jitsu e muay thai, por exemplo, permitem aos lutadores intervalos menores de recuperação entre a pesagem e o início das competições, enquanto eventos de MMA permitem um intervalo de aproximadamente 24 horas de recuperação entre a pesagem e o combate.

As medidas de força foram menores durante a temporada em relação ao período de férias, quando os lutadores não competem e, consequentemente, não precisam reduzir o peso. Isso demonstra como a produção de força pode ser negativamente afetada pelas dietas de perda rápida de peso e, principalmente, pelo ciclo repetitivo de ganhar e perder peso que ocorre durante o período competitivo41. No entanto, esses estudos têm suas limitações: 1) os protocolos de exercício foram excessivamente curtos para simular a demanda fisiológica da concorrência38; 2) protocolos de exercícios não utilizaram grupos musculares ou gestos motores específicos para aqueles utilizados em competição31; e 3) as dietas padronizadas utilizadas não imitam as utilizadas no ambiente competitivo42-44. Com relação aos exercícios submáximos de endurance, parece não haver

dúvidas de que a performance é piorada em função da desidratação, da restrição da ingestão alimentar ou pela combinação desses dois fatores45.

Tem sido bem demonstrado que, a menos que uma dieta rica em carboidratos seja adotada durante o período de redução de peso, a rápida perda de peso diminui o desempenho esportivo se não houver tempo de recuperação após a pesagem46,47.

Horswill et al.42, usando um protocolo de perda de peso com baixo teor de carboidratos que esgota intencionalmente glicogênio muscular, observaram uma diminuição significativa no desempenho anaeróbio, bem como no lactato no sangue. Segundo esses autores, a melhor possível explicação para esses resultados é a depleção de glicogênio, o que diminuiria a disponibilidade de substrato para a glicólise. Portanto a transferência de energia e o desempenho seriam negativamente afetados, e, como consequência, a produção de lactato também seria diminuída.

Uma outra importante questão é a frequência com que esses atletas perdem e recuperam o peso rapidamente. Esse ciclo “ganhar-perder” peso é comumente chamado de weight-cycling (WC). Segundo McCargar e Crawford23, o rápido ganho de peso após rápida redução deve-se a adaptações fisiológicas pelas quais o corpo se torna mais eficiente na utilização e no armazenamento de energia (aumento na eficiência alimentar). Aliada a esse aumento da eficiência alimentar há a diminuição da taxa metabólica basal (TMB), o que torna as próximas reduções cada vez mais difíceis e exige restrições energéticas cada vez maiores. Tem sido especulado que, após algum tempo de prática de WC, a composição corporal pode alterar-se, e, após o peso voltar ao normal, pode-se encontrar maior quantidade de gordura corporal, que pode distribuir-se de modo mais centralizado48.

Mourier et al.49 observaram que a suplementação de aminoácidos de cadeia ramificada promove maior redução da gordura corporal, especialmente da gordura visceral, quando a redução de peso é gradual (realizada em 19 dias) e obtida por meio de dieta hipocalórica.

A redução rápida de peso (média de 6,2% do peso corporal) prejudica a memória de curta

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duração e propicia um estado mental mais negativo quando os atletas são comparados com jovens da mesma idade que não praticam perda de peso. Após 72 horas de recuperação, essas variáveis retornam ao estado normal. Esses dados sugerem que atletas em idade escolar e universitária possam ter seu desempenho em aula prejudicado pela perda de peso50. Os mecanismos responsáveis pela queda do desempenho após rápida redução do peso corporal são: diminuição dos estoques de glicogênio muscular, causado pela restrição energética acompanhada de exercícios intensos; redução na taxa de utilização do glicogênio; desequilíbrio no sistema de tamponamento do bicarbonato, causado pela cetoacidose metabólica, implicando aumento de acidose muscular; aumento da temperatura corporal e maior dificuldade de termorregulação e perda de massa magra20.

Alterações hormonais causadas pela rápida perda de peso

McMurray et al.43 observaram alterações hormonais durante período de restrição energética. Foram encontradas elevadas concentrações de GH e reduzidas concentrações de IGF-1. Segundo os autores, o aumento da concentração de GH pode ser uma tentativa de mobilizar os estoques de gordura, devido à restrição energética, ou pode ser uma resposta à hipoinsulinemia e à produção de corpos cetônicos. Isso porque o grupo que consumiu uma dieta rica em carboidratos teve uma resposta menor do GH em relação ao grupo que consumiu pouca quantidade de carboidratos. Já o IGF-1 ficou reduzido, numa tentativa de suprir as demandas energéticas mais imediatas, reduzindo os gastos com o processo de crescimento, possivelmente afetando-o. Estudos demonstraram diminuição na concentração de insulina26, o que pode levar a um aumento do hormônio do crescimento43 e a concentração de cortisol26.

Roemich e Sinning41 realizaram uma análise hormonal mais completa em lutadores, durante e após a temporada, e verificaram alterações no metabolismo do GH e no eixo hipófise-gônadas. O GH estava aumentado, sugerindo um quadro de resistência parcial a esse hormônio, causado pela redução do feedback negativo hipotalâmico,

o qual, por sua vez, foi causado pelo decréscimo na concentração de IGF-1 e de GHBP (proteína ligadora do GH). A GHBP é indicadora do número de receptores de GH. Os efeitos do GH sobre o crescimento são aumentados pela GHBP. A secreção de GH teve de ser maior devido à redução da GHBP, para que o crescimento continuasse normal. A diminuição de testosterona não acompanhada da diminuição da SHBP (proteína ligadora de hormônio sexual) indica aumento do clearance ou diminuição da produção de testosterona. Todas essas alterações foram revertidas no fim da temporada, quando o gasto energético diminuiu e a ingestão aumentou.

D es id ra t ação e m ecan i s m os d e termorregulação

Uma perda considerável de líquidos é evidente em todos os procedimentos para perda de peso de forma rápida. O efeito sobre a osmolaridade plasmática é dependente do tipo de técnica empregada: transpirar resulta em hipovolemia hiperosmótica, enquanto utilizar diuréticos resulta em hipovolemia isosmótica. As respostas à desidratação parecem ser mais proeminentes durante o estresse adicional gerado pelo calor. Na desidratação, o volume de ejeção e o débito cardíaco são menores, e o volume plasmático reduzido limita o transporte de oxigênio para os músculos em atividade. Quando a desidratação é mais severa (6-7% do peso corporal), há um decréscimo significante no débito cardíaco e um aumento compensatório na diferença artério-venosa de oxigênio, na tentativa de atender o consumo de oxigênio necessário para manter a atividade41.

Os resultados de Artioli28 mostraram uma diminuição acentuada nas concentrações de glicose no plasma após a redução de peso, o que pode explicar parcialmente o desequilíbrio hormonal agudo relatado em vários estudos. Em função da grande diversidade dos protocolos de avaliação do desempenho, dos métodos utilizados para a redução do peso e do período entre a pesagem e a aplicação dos testes, não se tem ainda uma resposta conclusiva a respeito da influência da perda rápida de peso sobre o desempenho anaeróbio e suas implicações no desempenho em lutas.

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Conclusão

Como relatado no decorrer deste trabalho, a desidratação é causa de sintomas que incluem desde sede, tontura, aumento da concentração da urina, alterações hormonais, podendo levar a sintomas mais graves como choque térmico, coma, evoluindo inclusive para morte. Os lutadores lançam mão de técnicas drásticas para redução de peso, já que, na maioria das vezes, necessitam perder grande quantidade de peso para poderem lutar em categorias mais baixas.

Para evi tar estratégias desse t ipo, é importante que ocorram mudanças nas regras das competições. Sugere-se que a pesagem dos atletas que irão competir ocorra momentos

antes do combate, fazendo com que os atletas estejam dentro de categorias em que realmente se enquadram, tornando desnecessária a realização de procedimentos para perda de peso. A perda de peso, quando necessária, deve ocorrer de forma gradativa, para que a saúde e o desempenho do atleta não sejam afetados. Para isso, é ideal que o atleta tenha um bom acompanhamento nutricional.

Uma excelente opção para garantir uma boa hidratação é a água de coco. Com isso o atleta poderá usar uma alternativa simples e de baixo custo e que irá lhe fornecer um aporte de carboidratos de boa fonte, além de vitaminas e minerais para repor eletrólitos perdidos durante o treinamento, fornecendo energia para continuar as sessões intensas de treinamento.

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