estagio supervisionado obrigatorio das licenciaturas como contexto de pesquisa da la

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* UFT, Araguaína (TO), Brasil. [email protected]; UFT, Araguaína (TO), Brasil/CA- PES. [email protected] ESTÁGIO SUPERVISIONADO OBRIGATÓRIO DAS LICENCIATURAS COMO CONTEXTO DE PESQUISA DA LINGUÍSTICA APLICADA COMPULSORY TEACHER TRAINING PRACTICE SUBJECT OF DIFFERENT UNDERGRADUATE TEACHING COURSES AS CONTEXT OF APPLIED LINGUISTICS RESEARCH Wagner Rodrigues Silva * Alline Laís Schoen Diniz RESUMO Com propósito de comprovar que estágios supervisionados de diferentes licenciaturas brasileiras, como Geografia e História, no que tange ao uso da linguagem, são contextos relevantes para a investigação científica na Linguística Aplicada, apresentamos um estudo de como professores em formação inicial percebem a alienação do trabalho do professor do ensino básico envolvendo a escrita, em relatórios de estágio supervisionado, utilizados como atividade avaliativa final nas referidas disciplinas obrigatórias das licenciaturas. Os relatórios são tomados como dados a partir da abordagem qualitativa de pesquisa, orien- tada pela concepção de Linguística Aplicada indisciplinar, caracterizada pela mobilização de pressupostos teórico-metodológicos originários de diferentes áreas do conhecimento, conforme objeto construído para investigação crítica. Os resultados mostram que, normal- mente, o professor não é visto institucionalmente como um profissional autônomo, mas as disciplinas de estágio supervisionado das licenciaturas podem servir como um importante contexto para desestabilização da alienação do trabalho docente ainda na formação inicial de professores, sendo a escrita acadêmica reflexiva um importante instrumento para o em- poderamento docente. Palavras-chave: alienação do trabalho; escrita reflexiva; letramento do professor. ABSTRACT With the purpose of proving that language uses at compulsory teacher training practices of different Brazilian Teacher Education Courses, like Geography and History, are relevant contexts to the scientific research in Applied Linguistics, we show a study about how pre- -service teachers realize the alienation in school teacher’s work involving the writing ability from their supervised training reports used as final assessment on the mentioned compul-

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Artigo de Wagner Rodrigues Silva e Aline Laís Shoen Diniz publicado na Revista Trabalhos em Linguística Aplicada, Campinas, 2014.

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  • * UFT, Araguana (TO), Brasil. [email protected]; UFT, Araguana (TO), Brasil/CA-PES. [email protected]

    ESTGIO SUPERVISIONADO OBRIGATRIO DAS LICENCIATURAS COMO CONTEXTO DE PESQUISA DA

    LINGUSTICA APLICADA

    COMPULSORY TEACHER TRAINING PRACTICE SUBJECT OF DIFFERENT UNDERGRADUATE TEACHING COURSES AS

    CONTEXT OF APPLIED LINGUISTICS RESEARCH

    Wagner Rodrigues Silva*

    Alline Las Schoen Diniz

    RESUMOCom propsito de comprovar que estgios supervisionados de diferentes licenciaturas brasileiras, como Geografia e Histria, no que tange ao uso da linguagem, so contextos relevantes para a investigao cientfica na Lingustica Aplicada, apresentamos um estudo de como professores em formao inicial percebem a alienao do trabalho do professor do ensino bsico envolvendo a escrita, em relatrios de estgio supervisionado, utilizados como atividade avaliativa final nas referidas disciplinas obrigatrias das licenciaturas. Os relatrios so tomados como dados a partir da abordagem qualitativa de pesquisa, orien-tada pela concepo de Lingustica Aplicada indisciplinar, caracterizada pela mobilizao de pressupostos terico-metodolgicos originrios de diferentes reas do conhecimento, conforme objeto construdo para investigao crtica. Os resultados mostram que, normal-mente, o professor no visto institucionalmente como um profissional autnomo, mas as disciplinas de estgio supervisionado das licenciaturas podem servir como um importante contexto para desestabilizao da alienao do trabalho docente ainda na formao inicial de professores, sendo a escrita acadmica reflexiva um importante instrumento para o em-poderamento docente.Palavras-chave: alienao do trabalho; escrita reflexiva; letramento do professor.

    ABSTRACTWith the purpose of proving that language uses at compulsory teacher training practices of different Brazilian Teacher Education Courses, like Geography and History, are relevant contexts to the scientific research in Applied Linguistics, we show a study about how pre--service teachers realize the alienation in school teachers work involving the writing ability from their supervised training reports used as final assessment on the mentioned compul-

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    sory subjects of undergraduate teaching courses. The written reports are the data examined by the perspective of qualitative research as well as guided by the conception of indisci-plinary Applied Linguistics that is characterized by the use of theoretical-methodological assumptions from different areas of knowledge depending on the produced object to be critically investigated. The result shows that the school teacher is not usually recognized as an autonomous professional. Otherwise, the teacher training practice subjects at under-graduate teaching courses must be seen as important contexts to destabilize the school teachers work alienation still into their pre-service teacher training. The academic reflexive writing can be used as an important instrument to the teachers empowerment.Keywords: work alienation; academic writing; teacher education.

    INTRODUO

    Os estgios supervisionados obrigatrios das licenciaturas, que so cursos su-periores brasileiros de formao inicial de professores, tm sido frequentemente ob-jeto de investigao na Cincia da Educao1. So analisadas desde questes episte-molgicas e polticas, relativas ao papel das disciplinas nas licenciaturas, at mtodos de ensino utilizados no trabalho pedaggico das disciplinas escolares para as quais os graduandos so, mais diretamente, preparados para atuarem no ensino bsico2.

    As investigaes cientficas a respeito da disciplina vm ganhando um olhar diferenciado a partir de pesquisas realizadas na Lingustica Aplicada (doravan-te LA), a exemplo dos trabalhos realizados por Brito (2014); Melo e Gonalves (2014); Oliveira e Ferreira (2014), Kaneoya (2014); Sousa et al (2014) e Valsechi e Kleiman, (2014). Essas so algumas das pesquisas integrantes do nmero temtico Estgio Supervisionado nas Licenciaturas, da Revista Rado (v. 8, n 15), volume destinado LA, que rene 15 (quinze) artigos selecionados a partir de um quanti-tativo de 47 submisses (cf. GONALVES e SILVA, 2014). A organizao do pe-ridico em cinco sees tambm evidencia a diversidade de enfoques investigativos assumidos nas pesquisas em LA envolvendo o complexo contexto das disciplinas de estgio obrigatrio das licenciaturas. As sees integrantes da organizao do peridico foram: letramento; prtica escolar de linguagem; poltica de formao inicial; tecnologia no ensino; e incluso. Esse nmero temtico fora produzido como uma das atividades

    1 Este trabalho contribui para o projeto de pesquisa Escrita reflexiva profissional nas licenciaturas: da gramtica ao discurso (CNPq n 407572/2013-9; PROPESQ/UFT n AG#007/2014).

    2 Um indcio da relevncia das investigaes cientficas sobre os estgios supervisionados das licencia-turas para a Cincia da Educao o Encontro Nacional de Didtica e Prtica de Ensino ENDIPE, evento cientfico bianual que est na sua 17 edio. Rene significativo nmero de profissionais de diferentes disciplinas do conhecimento, em especial pedagogos, para discutirem questes em torno da didtica e da prtica de ensino de diferentes disciplinas, em diferentes contextos e nveis de formao.

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    do grupo de pesquisa Prticas de Linguagens em Estgios Supervisionados PLES (UFT/CNPq), no qual tambm est inserido o estudo aqui apresentado3.

    Diferentemente das pesquisas reunidas no referido peridico, este trabalho se torna inovador por focalizar os estgios supervisionados das Licenciaturas em Geografia e Histria, revelando, assim como fizeram Diniz (2012), Tavares (2011), Tavares e Silva (2014; 2012), Silva (2012b), Silva e Pereira (2013) e Pereira (2014), todos no mbito do PLES, que o trabalho com linguagens nas distintas licenciaturas brasileiras tambm escopo investigativo da LA, no se limitando aos cursos de formao inicial de professores de lnguas.

    Neste artigo, focalizamos algumas formas de alienao do trabalho do pro-fessor do ensino bsico, provocadas por usos sociais da escrita em interaes nas instituies em que atuam profissionalmente, onde so realizados os estgios super-visionados obrigatrios das licenciaturas. Nesse sentido, investigamos ainda algu-mas formas de alienao do trabalho docente, provocadas pela submisso do referi-do professor a documentos legais ou, at mesmo, pelo descredito incorrido por tais escritos no espao de atuao profissional. A alienao profissional testemunhada em relatrios escritos, produzidos nas disciplinas de estgio por professores em formao inicial, sempre denominados de alunos-mestre em nossas pesquisas.

    O letramento do professor focalizado a partir da forma como o aluno-mestre lida com situaes de alienao do trabalho docente, envolvendo prticas de leitura e escrita no contexto do estgio supervisionado das licenciaturas focalizadas. A ttulo de exemplo, ao considerarmos a leitura enquanto componente curricular que apre-senta maior dificuldade para o sucesso dos alunos do ensino bsico, no s na escola, mas tambm nos diversos domnios sociais, precisamos aceitar que o ensino da leitura uma tarefa para envolver os professores responsveis por diferentes disciplinas esco-lares (KLEIMAN e MORAES, 2003, p. 149). Todo professor precisa ser um profes-sor de leitura, responsvel pelo ensino e valorizao dessa prtica social. Todo profes-sor precisa ser um agente de letramento, na condio de que seja significativamente letrado, evitando a alienao profissional do grupo a que pertence, ou seja, a invaso cultural, domestificao, opresso, mecanicismo, etc. (KIELING, 2008, p. 36)4

    3 O PLES composto por membros pertencentes a quatro instituies pblicas de ensino, conside-rando a instituio sede (IFTO, UFPA, UFT, UFU). Atualmente, h quatro teses de doutorado, duas dissertaes de mestrado acadmico e trs dissertaes de mestrado profissional em produo no grupo.

    4 De acordo com Kleiman (2006, p. 86), o agente de letramento capaz de mobilizar as capacida-des dos membros do grupo, ao favorecer a participao de todos segundo suas capacidades. Ele prprio um ator social, cria as condies necessrias para a emergncia de diversos atores, com diversos papis, segundo as necessidades e potencialidades do grupo. A assimetria institucional que aprisiona professor e alunos em papis imutveis pode ser desfeita.

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    Situamos este trabalho na LA por assumirmos a linguagem como objeto de estudo crtico, atravessada por conflitos originrios de relaes assimtricas instau-radas no complexo contexto dos estgios das licenciaturas. Esse fato diferencia este trabalho das pesquisas a respeito dos estgios das licenciaturas, realizadas na Cin-cia da Educao. Tal diferenciao no nos impossibilita de dialogar diretamente com estudos produzidos na referida disciplina. De forma mais pontual, inserimos este estudo no campo das pesquisas do letramento do professor, responsvel pela investigao do envolvimento da escrita em prticas sociais, realizadas por grupos de pessoas, em torno do trabalho docente.

    Este artigo est organizado em trs principais sees, alm desta Introduo, das Consideraes finais e das Referncias bibliogrficas. Em Percurso investigativo construdo, sintetizamos os tipos de pesquisa realizados no PLES, na mesma proporo em que tambm mostramos a relevncia do uso da escrita reflexiva profissional para o empoderamento do letramento do aluno-mestre em diferentes licenciaturas. Em Lingustica Aplicada e formao do professor, caracterizamos a perspectiva crtica e indis-ciplinar de LA assumida e algumas contribuies dos estudos nela desenvolvidos para a formao inicial do professor. Finalmente, em Letramento do aluno-mestre, anali-samos as representaes de alienao do trabalho do professor do ensino bsico, nos testemunhos dos alunos-mestre em relatrios de estgio das Licenciaturas em Geografia e Histria, procurando evidenciar o posicionamento crtico assumido por eles nas situaes relatadas.

    1. PERCURSO INVESTIGATIVO CONSTRUDO

    Inmeros so os objetos de pesquisa passveis de construo na LA a partir do encontro inevitvel entre a universidade e as escolas de ensino bsico, propor-cionado pelos estgios das licenciaturas. Esse encontro fortalece ainda mais a im-portncia poltica da produo de conhecimento em LA atravs da pesquisa sobre formao nos contextos acadmicos onde ela desenvolvida, conforme ressaltado por Miller (2013, p. 101).

    Com o interesse em elucidar a formao dos alunos-mestre nos estgios obrigatrios, a trajetria das pesquisas do PLES foi iniciada com a investigao da construo de objetos de ensino em aulas ministradas nas escolas onde os estgios so realizados. Foram pesquisados como os saberes acadmicos, mais precisamente, os conhecimentos tericos sobre ensino de lngua materna e adicional, produzidos na academia, so recontextualizados nas atividades prticas realizadas pelos alunos-

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    -mestre em escolas de ensino bsico (cf. GUERRA, 2012; MELO, 2012; SILVA, 2008; SILVA, 2012a; SILVA e MELO, 2010; SILVA e RGO, 2013; SILVA et al, 2014; TAVARES e SILVA, 2012). Essas atividades correspondem ao planejamento e s aulas ministradas sob a orientao do professor formador, o qual responsvel pelo estgio supervisionado na universidade. Na escola de ensino bsico, a ateno maior sobre os alunos-mestre recai sobre o professor colaborador da instituio, responsvel pela disciplina observada ou assumida temporariamente pelos licen-ciandos.

    O encontro entre as instituies de ensino aqui focalizadas ocorre, normal-mente, num momento bastante tardio na concepo de inmeros alunos-mestre5. Os professores formadores, responsveis pelas demais disciplinas integrantes das matrizes curriculares das licenciaturas, veem-se, comumente, desobrigados a ar-ticular as teorias de referncia com as demandas do ensino no local de trabalho, durante suas prticas pedaggicas (cf. GONALVES e FERRAZ, 2012; SOUSA et al, 2014).

    Nos estudos do letramento do professor, as palavras de Kleiman (2008, p. 507) so esclarecedoras ao salientar a importncia da dimenso social e agentiva, voltada para a ao, pela linguagem, na prtica social, durante a formao do pro-fessor. O conhecimento de uma teoria lingustica ou literria, assimilado pelo aluno--mestre numa licenciatura, no garante o saber docente necessrio para a constru-o de prticas escolares de linguagem nas disciplinas curriculares ou objetos de ensino em aulas de lngua. A ttulo de ilustrao, retomamos as palavras da autora ao afirmar que

    saber quando e em que condies se produz um texto de determinado gnero, ou como se estrutura um texto do gnero artigo de opinio, por exemplo, ou quais so alguns de seus aspectos estilsticos, no implica, de modo algum, saber como ensinar esse gnero (nem, alis, saber escrever textos do gnero). (KLEIMAN, 2008, p. 507)

    Os relatrios produzidos como trabalhos escritos finais nos estgios super-visionados so os objetos de pesquisa sobre os quais os membros do PLES vm se debruando mais recentemente. Esse gnero se materializa num registro acadmico denominado de escrita reflexiva, utilizado como um instrumento para desencadear a formao profissional crtica do aluno-mestre. Neste momento, desviamos o enfo-

    5 Normalmente, os estgios so iniciados no meio do curso, a partir do 5 perodo. Talvez, essas disciplinas ou atividades semelhantes pudessem ser realizadas desde o primeiro perodo da licencia-tura, possibilitando a imerso dos alunos-mestre no futuro contexto profissional ao ingressarem na graduao, assim como acontece nos cursos na rea da sade.

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    que dos objetos de ensino e detemo-nos interao entre as instituies de ensino envolvidas no estgio, instaurada pela escrita acadmica reflexiva.

    Dentre inmeras demandas da formao inicial do professor, espera-se que a escrita reflexiva profissional, por proporcionar ao aluno-mestre um retorno crtico para a prpria prtica pedaggica, no contexto instrucional experienciado, configu-re-se num evento de letramento proporcionador de recontextualizaes mais pro-dutivas de saberes acadmicos para futuras situaes de ensino no local de trabalho docente. A escrita reflexiva tambm se configura como uma escrita autobiogrfica em que h um espao mais significativo para a manifestao da voz do aluno-mes-tre, quando comparado ao registro acadmico convencional6. Nos termos de Silva (2012a, p. 41):

    A atividade de escrita dos relatrios de estgio supervisionado pode contribuir para modelar o fazer pedaggico caracterstico dos agentes de letramento, desde que, en-tre outras necessidades, os alunos-mestre sejam preparados para analisar criticamente, por meio dessa atividade, as experincias do estgio supervisionado luz das teorias acadmicas de referncia, contribuindo para o aprimoramento da prpria prtica pro-fissional. Ou seja, o relatrio no pode resultar num produto de uma atividade buro-crtica, cuja finalidade se reduz atribuio de notas ou conceitos, quando o texto escrito produzido no encontra leitores interessados no contedo nele tematizado. Reduzido a instrumento de avaliao gerador de notas ou conceitos, o relatrio se configura como um dos atores responsveis pelo livre trnsito dos alunos-mestre pela licenciatura.

    Do ponto de vista dos estudos do letramento, a escrita reflexiva remonta algumas contribuies originrias do que denominado de cultura do testemunho para a aprendizagem das pessoas7. De acordo com Hamilton (2012, p. 65), um pequeno passo ver um testemunho pessoal como uma ferramenta empoderadora para grupos oprimidos e marginalizados mudar experincia em evidncia e verdade visvel e

    6 Ao focalizar algumas demandas por pesquisas a respeito da formao de professores de lnguas na LA, Miller (2013, p. 113) salienta a necessidade de ouvir as vozes de alguns marginalizados na rea de formao de professores. A autora afirma que semelhana do que percebo na maioria das pesquisas sobre ensino-aprendizagem, nas quais considero que alunos so pouco ouvidos, acredito que as vozes dos licenciandos ou dos professores em formao continuada estavam silenciadas antes de comearmos a pesquisar os processos de formao dentro da perspectiva da LA. Os prprios formadores de professores entraram nas pesquisas tardiamente.

    7 De acordo com Hamilton (2012, p. 65), a cultura do testemunho tem suas razes e utilizada nos mundos religioso e legal de testemunho e depoimento. Os usos mais antigos do depoimento so da religio Crist o testemunho pblico para a fora da converso que desenvolveu um conjunto de prticas e uma retrica de todos os seus prprios e que amplamente familiar nas sociedades ocidentais (...). Isto foi secularizado no domnio do direito, que tomou um depoimento de uma pessoa no jure para ser o mais prximo da verdade e, assim, tomado com apropriada seriedade (traduo nossa).

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    desenvolver linguagens para descrever experincias submergidas no domnio cole-tivo ou pblico (traduo nossa). O exerccio da escrita reflexiva ou a narrativizao da vida est implicado no autodesenvolvimento das pessoas.

    Ainda nas palavras de Hamilton (2012, p. 65), falar sobre ns mesmos e nossos problemas e experincias pode de alguma forma ser til e guiar para aes positivas para mudanas pessoais e sociais (traduo nossa). Nessa perspectiva, investigamos como a representao pela escrita reflexiva da alienao do trabalho docente, instaurada em torno de usos burocrticos do letramento, ou, em outros termos, como o testemunho da alienao nos escritos dos alunos-mestre pode con-tribuir para o empoderamento da formao de professores nas licenciaturas diver-sas, seja das prprias testemunhas diretamente, durante a prpria prtica de refle-xo pela escrita demandada, ou, indiretamente, a partir da observao ou pesquisa cientfica que se debrua sobre a escrita acadmica reflexiva dos alunos-mestre. O empoderamento compreendido numa perspectiva freireana

    no no sentido de dar poder a algum, em que o sujeito recebe de outro algum recurso (com merecimento dele ou sem), dentro de uma perspectiva individualis-ta, mas no sentido de ativar a potencialidade criativa de algum, como tambm de desenvolver e potencializar a capacidade das pessoas. (...) no apenas um ato psi-colgico, individual, mas um ato social e poltico, pois o ser humano, para Freire, intrinsecamente social e poltico, pessoa=relao. (...) empoderamento o eixo que une conscincia e liberdade (GUARESCHI, 2008, p. 165).

    Ainda no tocante s investigaes das interaes instauradas pela escrita dos relatrios de estgio, destacamos os estudos realizados no PLES sobre representa-es de diferentes atores sociais vinculados ao complexo contexto dos estgios su-pervisionados, como professores da escola bsica e os prprios alunos-mestre (PE-REIRA, 2014; SILVA, 2014a; 2014b). O estudo dessas representaes evidencia a relevncia da escrita reflexiva profissional para o letramento do aluno-mestre, pois elas possibilitam a produo de algum diagnstico a respeito da formao docente proporcionada pela licenciatura. Inmeros objetos de investigao podem ser cons-trudos na LA, considerando os relatrios focalizados como registros de pesquisa, principalmente quando so realizados relatos detalhados das vivncias nos estgios supervisionados, envolvendo exemplificaes de atividades didticas ou situaes de ensino, bem como [tentativas de] articulaes entre saberes tericos e prticos.

    Nessa perspectiva, destacamos que, quando o enfoque de pesquisa em LA recai sobre o contexto educacional, a aula de lngua no corresponde ao nico es-copo de anlise. Conforme afirmado por Celani (1992, p. 21), por estarem direta-mente empenhados na soluo de problemas humanos que derivam dos vrios usos

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    da linguagem, os linguistas aplicados esto envolvidos em trabalho que tem uma di-menso essencialmente dinmica (itlico do original). O trabalho com a linguagem nos estgios supervisionados obrigatrios das diferentes licenciaturas se configura como um nicho promissor para a agenda investigativa da LA.

    2. LINGUSTICA APLICADA E FORMAO DO PROFESSOR

    Nossa viso bastante positiva quanto tomada do contexto complexo dos estgios supervisionados das licenciaturas como objeto de investigao da LA, ain-da que, por outra perspectiva, esse cenrio possa ser visto com alguma descon-fiana. Vimos assumindo a noo de contexto complexo do estgio pelo fato da disciplina curricular se realizar entre duas instituies de ensino, envolvendo a par-ticipao de diferentes atores sociais, resultando numa rede dinmica de (retro)aes (cf. MORIN, 2008). Ao tematizar a parceria entre universidade e escola nos estgios a partir da LA, Miller (2010) caracteriza as relaes interpessoais a partir da referida disciplina como complexas, especialmente quando da realizao da prtica exploratria, compreendida como uma estratgia sustentvel de desencadeamento da interao mais estreita entre professores, alunos-mestre e demais atores sociais envolvidos nas atividades de estgio no ensino bsico. Nas palavras da autora, na escola, ao apresentar a proposta inovadora de aulas pedaggico-investigativas, o estagirio exploratrio complexifica ainda mais a sua situao identitria, que j inerentemente complexa (MILLER, 2010, p. 112).

    Conforme defendido por Silva (2012a; 2011), os estgios demandam um enfoque investigativo minimamente interdisciplinar, haja vista a complexidade das interaes instauradas no encontro das instituies envolvidas. Considerando o in-teresse pela linguagem a partir do enfoque de objetos de ensino construdos ou interaes escritas instauradas, aspectos lingusticos, pedaggicos e sociais, caractersticos dos objetos de pesquisa, so focalizados no campo indisciplinar da LA. Esta abordagem vem resultando no dilogo entre diferentes disciplinas do conhecimento em funo do empoderamento dos atores sociais envolvidos, especialmente professores da es-cola bsica e alunos-mestre, cujas vozes, historicamente, foram desprestigiadas na universidade.

    No tocante viso negativa mencionada, h, nas licenciaturas, uma tendncia de desvalorizao dessas disciplinas, pois so concebidas como o momento da pr-tica na formao inicial do professor, desprovidas do valor simblico impregnado nas demais disciplinas, identificadas como tericas. Situar a prtica num plano se-

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    cundrio da formao docente configura-se como uma atitude bastante contradit-ria, pois essa dimenso das licenciaturas to importante para o empoderamento do letramento do professor quanto terica. Essa ltima dimenso tambm compe os estgios supervisionados, onde a prpria prtica docente se configura como nicho da produo terica, num trnsito ininterrupto, nas duas direes, entre as dimen-ses mencionadas.

    Essa viso negativa pode ser justificada pelo fato da LA carregar um fardo muito semelhante ao dos estgios supervisionados, o que uma herana da men-talidade acadmica positivista. O risco estaria no enfraquecimento do campo de pesquisa e das disciplinas acadmicas focalizadas pela ausncia de prestgio que lhes constitui. A esse respeito, as palavras de Celani (1992, p. 17), proferidas na dcada de noventa do sculo passado, continuam vlidas:

    infelizmente, no mundo real as cincias aplicadas e, particularmente, o ensino so sempre vistos como de menor valor, em relao cincia pura. Esse fato tem criado dificuldades que persistem at hoje, com intensidade decrescente, talvez, mas assim mesmo ainda criando obstculos para o estabelecimento da LA como rea de direito prprio.

    Em meio aos conflitos ainda existentes a respeito da identidade da LA, es-pecialmente no cenrio brasileiro, inegvel as contribuies sociais originrias das pesquisas em LA para a formao de professores. De acordo com Miller (2013), as investigaes cientficas na rea de formao docente, seja a inicial ou em servio, desenvolvidas pelos linguistas aplicados se justificam por quatro razes que repro-duzimos adiante:

    Como rea de investigao, ela traz, em primeira instncia, fortalecimento acadmico para as prticas de formao de professores, j que ajuda a aprofundar o entendimento dos processos de formao, tanto inicial quanto continuada. A segunda contribuio tem se manifestado no campo metodolgico, a partir do momento em que as inves-tigaes na rea tm desenvolvido inovaes alinhadas com a pesquisa qualitativa e interpretativista nas cincias sociais. A terceira contribuio da pesquisa de ordem poltica dentro da academia, j que ela tem alavancado o status institucional dos for-madores de professores, tanto no Brasil quanto no exterior. A quarta contribuio da rea, e talvez a mais significativa dentro da LA contempornea, a que se relaciona a questes de transformao social, de tica e de identidade dos diversos agentes envolvidos em processos de formao de professores (MILLER, 2013, p. 100; itlico do original).

    A intensidade das dificuldades para o estabelecimento da LA parece no ter decrescido significativamente como previsto na possibilidade enunciada por Celani (1992). No cenrio internacional, praticamente uma dcada aps a publicao do

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    trabalho da autora, Pennycook (2001, p. 03) afirma que LA no meramente a apli-cao de conhecimento lingustico em ambientes profissionais, como traduo, pa-tologia da fala, letramento e educao lingustica. Outro indcio da existncia da di-ficuldade de estabelecimento da LA pode ser constatado no trabalho de Hall, Smith e Wicaksono (2011, p. 15). Inicialmente, os autores utilizam o termo lingustica aplicada autnoma para contrastar com a conceituao de lingustica aplicada como disciplina irm da lingustica geral. A necessidade de distanciamento da Lingustica evidencia uma LA ainda no estabelecida como rea de direito prprio.

    Nos trs ltimos trabalhos referidos, os quais tematizam o fazer cientfico na LA, as prticas de linguagem nos estgios das licenciaturas so desconsideradas como objeto de investigao, diferentemente dos trabalhos brasileiros desenvolvi-dos por Miller (2013; 2010), que tematizam a formao inicial de professores de lngua nos estgios obrigatrios como objeto de pesquisa na LA. Do ponto de vista da educao lingustica, a nfase dos primeiros trabalhos mencionados recai, sobre-tudo, no ensino de lnguas adicionais, envolvendo especialmente contextos multi-lngues onde relaes de poder se instauram em torno de usos da lngua. Porm, as concepes de LA assumidas pelos autores so aplicveis ao contexto investigativo deste artigo. Para Hall, Smith e Wicaksono (2011, p. 17),

    Lingustica Aplicada , sobretudo, uma disciplina de resoluo de problemas. En-quanto qualquer projeto em Lingustica Aplicada pode comear com uma descrio ou investigao emprica a respeito do papel da linguagem em um problema do mundo real, ele deve objetivar terminar com o planejamento, teste e avalio de uma soluo potencial. Isto, ns acreditamos, deve ser conduzido numa colaborao prxima com as pessoas que esto experienciando o problema ou cujas necessidades precisam ser satisfeitas. (itlico do original)

    Esses autores caracterizam a LA como uma disciplina que focaliza problemas envolvendo a linguagem em reas como comunicao, identidade social, educao, sade, economia, poltica e justia (HALL, SMITH e WICAKSONO, 2011, p. 15). Complementando essa abordagem, menciono adiante a concepo de Lingustica Aplicada Crtica LAC , conforme denominao assumida por Pennycook (2001). A LAC caracterizada como uma prxis mvel, uma atitude assumida pelo linguista aplicado. O autor se distancia da noo de disciplina, campo ou domnio do conhecimento.

    Eu vejo lingustica aplicada crtica mais como uma abordagem constantemente mu-tvel e dinmica para questes de linguagem e educao, do que um mtodo, um conjunto de tcnicas ou um corpo fixo de conhecimento. E mais que visualizar lin-gustica aplicada crtica como uma nova forma de conhecimento interdisciplinar, eu prefiro visualiza-la como uma forma de conhecimento antidisciplinar, como uma forma

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    de pensar e fazer que sempre passvel de questionamento, sempre buscando novos esquemas de politizao. (PENNYCOOK, 2001, p. 172; itlico do original)

    Nesta pesquisa, assumimos uma abordagem de LA indisciplinar, configurada num campo dinmico de investigao, informado por teorias originrias de diferentes reas do conhecimento, as quais so mobilizadas de acordo com a complexidade visualizada no objeto de investigao. De acordo com a teoria da complexidade (MORIN, 2008), originalmente qualquer objeto de pesquisa a ser construdo possui uma natureza complexa, constitui-se por uma rede dinmica de atores em constante interao, porm, o enfoque lanado pelo pesquisador reconfigura o objeto. A com-plexidade desse objeto est condicionada a diversas perspectivas analticas passveis de realizao conforme o referencial terico mobilizado.

    Complementando a abordagem aqui proposta, compartilhamos quatro crit-rios bsicos de pesquisa, elencados por Pennycook (2001), a serem considerados na prtica investigativa da LAC:

    (1) um modo de funcionamento que se ope a categorias essencialistas e esfora-se para se engajar seriamente com desigualdades; (2) a incluso de interesses, desejos e condutas dos participantes; (3) um enfoque nas dinmicas de poder; (4) uma orien-tao em direo a objetivos transformadores (PENNYCOOK, 2001, p. 161).

    Este estudo da escrita reflexiva produzida a partir do encontro entre univer-sidade e escolas de ensino bsico abrange, diretamente, problemas de comunicao, identidade e educao. Mais uma vez, tomamos emprestadas as palavras de Miller (2013) a respeito da relevncia da prtica reflexiva do professor, assunto que tam-bm recebeu ateno na Cincia da Educao (FEIMAN-NEMSER e BEASLEY, 2007; PERRENOUD, 2002; SCHN, 1983; ZEICHNER, 2008) e, at mesmo, em pesquisa sobre professores em servio na LA (LIBERALI, 2004; MAGALHES e CALANI, 2005):

    Em sintonia com a crescente preocupao com a transformao social na educao e com a urgncia de encontrar novas formas de produzir conhecimento, busca-se no sculo XXI, formar um professor crtico-reflexivo e tico, bem como investigar sua formao. O formador se insere na pesquisa, buscando atuar e entender sua prpria postura crtica, reflexiva e tica. Tornam-se vitais questes como o cuidado, o respei-to, a incluso, a responsabilidade e a metarreflexo constante sobre as experincias de formao inicial e continuada (MILLER, 2013, p. 103).

    Finalmente, conforme pesquisas realizadas previamente no PLES (MELO, 2012; SILVA, 2014a; 2014b; 2013; 2012c), o relatrio de estgio poderia ser utiliza-

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    do como um instrumento de mediao em funo de uma interao mais produtiva entre as instituies de ensino envolvidas nos estgios das licenciaturas, evitando, por exemplo: (a) a escrita burocrtica com apontamentos superficiais a respeito das experincias vivenciadas, restrita a uma provvel leitura pelo professor supervi-sor; (b) a reproduo de esteretipos sobre materiais didticos, professores, demais educadores da escola bsica e suas prticas profissionais; (c) a reproduo ou a aceitao da alienao do trabalho do professor a partir das relaes assimtricas estabelecidas no espao de atuao profissional, seja pela imposio de um agir ex-terior ou pelo abandono de atos legais que garantiriam o trabalho docente desejado; e (d) a ratificao de constructos tericos como elementos curriculares quase que exclusivos da licenciatura, em detrimento do impacto impondervel da transforma-o desse curso, caso o seu currculo tambm fosse, significativamente, informado por prticas sociais, conforme visto na seo anterior deste artigo.

    3. LETRAMENTO DO ALUNO-MESTRE

    Desde a dcada de 70, a competncia lingustico-enunciativo-discursiva do professor vem sendo questionada pela mdia, universidades e secretarias de edu-cao, conforme destacado por Kleiman (2008, p. 290). Nesse sentido, o que se questiona no a capacidade do professor ensinar a ler, escrever ou analisar um texto, mas de produzi-lo. Ora, possvel ensinar o que ainda no se sabe fazer? Infelizmente, uma resposta afirmativa (e incoerente) para esta pergunta retrica tem sido dada no contexto educacional brasileiro. Muitos professores entram no mercado de trabalho enquanto ainda se questiona a capacidade dos mesmos em fazer aquilo para que foram habilitados a ensinar. Talvez isso ocorra porque, como j afirmou Kleiman (2008, p. 290), no a formao do professor o alvo de crtica, mas a sua prpria condio de letrado.

    Refletir sobre formao de professores indispensvel para que possamos compreender a sua condio de letrados. A partir da perspectiva crtica da LA, es-tamos conscientes de que so mltiplos os letramentos e diversificados os saberes necessrios para usar a escrita. Porm, consideramos que a questo a ser explorada, quando discutimos a formao inicial de professores, seja os saberes lingusticos relevantes para sua atuao no local de trabalho.

    Tradicionalmente, os linguistas aplicados brasileiros tm investigado o letra-mento de professores responsveis pela disciplina Lngua Portuguesa. Essa tendn-cia pode ser atribuda a questes culturais. Em geral, presume-se que o desenvol-

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    vimento de prticas de linguagem na escola bsica seja assunto do professor de lngua materna, conforme evidente no Excerto 01 da Licenciatura em Geografia, reproduzido adiante. A forma adjetival diferenciada, utilizada para descrever a aula, sugere que prticas relacionadas ao uso da linguagem, como as atividades de leitura, s so legitimadas na escola quando na presena da professora de Lngua Portugue-sa8. Questionamos, portanto, de modo mais amplo, o letramento do professor de Geografia.

    Excerto 01. Licenciatura em Geografia

    No dia 12 de novembro em plena sexta-feira foi as 3 (tres) ultimas aulas onde era o dia D da leitura e a escola colocou para ns abordar o dia da conscincia Negra. Esta aula foi diferenciada com a participao de todos os alunos e a professora de portugus onde estava presente junto com ns onde abordemos o assunto, muito haver com cidadania e democracia. (Seo Procedimentos Metodolgicos do Relatrio de Estgio V, 2010/02)

    A prtica escolar representada no Excerto 1, relatada na seo Procedi-mentos Metodolgicos do relatrio de estgio, no se configura como uma atividade interdisciplinar rotineira, onde encontramos professores responsveis por diferen-tes disciplinas trabalhando cooperativamente. O aluno-mestre parece ser pego de surpresa pela atividade de leitura solicitada (colocou), interrompendo o planejamento das atividades didticas em curso, situao semelhante s enfrentadas pelos pr-prios professores em servio. Assim como perceptvel ao longo do relatrio de estgio, no excerto focalizado, o aluno-mestre no se apropria de forma significa-tiva da reflexo pela escrita, esperada no tipo de relatrio elaborado. Essa ausncia demanda um maior investimento no trabalho com o gnero por parte do professor formador da licenciatura, evitando a observao ingnua por parte do aluno-mestre e, consequentemente, a reproduo da alienao do trabalho docente.

    8 Todos os excertos exemplificados neste artigo foram transcritos conforme os originais em relatrios de estgio supervisionado. No realizamos adequaes lingusticas nos textos, pois acreditamos que a escrita original seja relevante quando focalizamos o letramento do aluno-mestre. Os relatrios investigados da Licenciatura em Geografia, assim como dos cursos de Letras, Qumica, Fsica e Ma-temtica, esto disponveis para pesquisa no Centro Interdisciplinar de Memria dos Estgios Su-pervisionados das Licenciaturas (CIMES), ao passo que os documentos da Licenciatura em Histria esto arquivados no Centro de Documentao Histrica (CDH). Esses centros esto localizados no Cmpus Universitrio de Araguana, Universidade Federal do Tocantins (UFT). Os excertos exemplificados foram inicialmente analisados na dissertao de mestrado da segunda autora deste artigo (DINIZ, 2012), quando foram investigadas prticas de leitura desenvolvidas em aulas de Geografia, Histria e Matemtica a partir dos relatrios de estgios supervisionados obrigatrios das licenciaturas correspondentes s disciplinas escolares mencionadas.

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    Na perspectiva do letramento, o ensino de lngua materna objetiva propor-cionar aos alunos situaes em que possam vivenciar novas experincias com a lin-guagem enquanto prtica social ou, ainda, aprofundar as que j lhes so familiares. O papel do professor de lngua materna propiciar as condies para que os alunos descubram e compreendam como o texto, objeto em torno do qual o ensino deve ser organizado, construdo. Em outras palavras, o objetivo dessa disciplina en-sinar aos alunos a articular a leitura do texto ao contexto social a que pertence, no escapando, assim, ao trabalho com gneros. Mas, ajudar os alunos a entender o tex-to, apreciar e valorizar a leitura desse artefato cultural deve ser trabalho de todos os professores da escola. A mera prtica social de leitura do texto de forma contextu-alizada atenderia minimamente s exigncias curriculares nas disciplinas escolares. Deixar a responsabilidade do ensino da leitura ao professor de Lngua Portuguesa equivale a negar o valor social da leitura (KLEIMAN e MORAES, 2003, p. 127).

    Partimos, portanto, da premissa de que cada grupo socioprofissional de-senvolve suas prprias prticas sociais de uso da escrita (KLEIMAN e MORAIS, 2003, p. 98). A leitura enquanto atividade social compete a todos os professores porque cada professor pertence a um grupo profissional que desenvolve (conforme as identidades de cada grupo educadores artsticos, filsofos, fsicos, qumicos, matemticos e outros) diferentes modos socialmente sancionados de utilizao da escrita (KLEIMAN e MORAES, 2003, p. 99). Segundo Bourdieu (2011), os indivduos so condicionados socialmente, reproduzindo prticas ou gostos espec-ficos do grupo a que pertencem. O habitus, princpio gerador destas prticas sociais, o mecanismo pelo qual as pessoas conseguem se distinguir no espao social. Tal distino pode ser determinada pelo capital (econmico ou cultural/simblico) her-dado, transferido ou adquirido pelos indivduos.

    Consideramos a leitura um capital simblico no s porque possibilita ao in-divduo acessar o acervo cultural produzido pela humanidade, mas tambm porque estabelece uma relao entre os mais variados campos do saber (desde que o leitor aprenda a transitar pelas especificidades de cada rea). Nesse sentido, o professor de Geografia, Histria ou qualquer outra disciplina escolar passa a ser um modelo de leitor do grupo socioprofissional que representa. Ele pratica a leitura da maneira como ele gostaria que o aluno lesse (KLEIMAN e MORAES, 2003, p. 99), ou seja, estabelecendo as conexes que so relevantes para desenvolver a competncia no uso da linguagem ou expressar uma interpretao que contribua para a compreen-so da Geografia, Histria e demais disciplinas. Em outras palavras,

    aprender a ler como um historiador l e a valorizar os documentos e fontes primrias que o historiador valoriza competncia do professor de Histria: as macrorrelaes que o professor estabelece entre perodos histricos, a anlise causal de fenmenos

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    contemporneos que ele constri com base em grandes cadeias inferenciais so mo-dos de ler que o professor de histria j aprendeu; da ele poder model-los e mediar, atravs de perguntas e comentrios, os textos de sua rea. J a exatido e a preciso de uma concluso na leitura do matemtico, por outro lado, que no permite infern-cias pragmticas da lgica natural da linguagem, so melhor modeladas pelo professor cuja socializao profissional se deu atravs de leituras desse tipo. A especificidade de alguns tipos de textos como os mapas, as tabelas estatsticas, os documentos e fontes primrias necessita da leitura do especialista que aprendeu, atravs da prtica social as formas legitimadas pela instituio de tratar esses textos (KLEIMAN e MORAES, 2003, p. 100).

    Na perspectiva dos estudos do letramento, questionamos a formao dos alunos-mestre em diferentes licenciaturas. Investigamos relatrios de estgio super-visionado porque os consideramos instrumentos que podem, por meio da escrita reflexiva, contribuir significativamente para o letramento do professor em formao inicial. Concordamos com Green (2001, p.10), quando afirma que o modo mais efetivo de desenvolver leitores crticos atravs da escrita. Consideramos a escrita reflexiva acadmica, contextualizada e orientada por leituras diversas, um instru-mento empoderador na formao do aluno-mestre, pois permite subverter e resistir ordem dominante ou alienao imposta.

    Questionar a formao inicial do aluno-mestre, assim como as demandas do futuro local de trabalho antes de questionar o letramento do professor , em nossa viso, imprescindvel, num contexto educacional que h muito j se rendeu ao sis-tema capitalista de produo. Afirmamos isso porque, de modo geral, o trabalho do professor alienante. Ele no se reconhece no produto do seu trabalho e serve a funes que pouco tem a ver com seus prprios objetivos e intenes (KLEIMAN e MORAES, 2003, p. 36). Sobrecarregado pela burocracia, pelo nmero excessivo de aulas, quase sempre, no lhe sobra tempo para planejar, discutir projetos com os colegas de trabalho ou mesmo estudar. Alm disso, o desprestgio da profisso e a m-remunerao fazem com que o professor produza algo cujo sentido lhe escapa (KLEIMAN e MORAES, 2003, p. 36).

    A alienao imposta ao professor pode ser exemplificada a partir da pesquisa realizada por Bronckart e Machado (2004), ao proporem alguns procedimentos de anlise de textos sobre o trabalho educacional. Os autores analisaram a carta de apresentao dos Parmetros Curriculares Nacionais PCN, assinada pelo ento Ministro da Educao e do Desporto, e direcionada ao professor do ensino bsi-co. Segundo os autores, na carta so atribudas capacidades positivas apenas aos professores que participaram da produo dos documentos. Aos professores do ensino bsico, destinatrios da mensagem, no so atribudas nem intenes, nem capacidades prprias, sendo mostrados apenas como participantes futuros de uma

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    srie de atividades previstas pelo agir prescrito no documento (BRONCKART e MACHADO, 2004, p. 156).

    A anlise de relatrios de estgio supervisionado nos revelou que questes relacionadas ao processo de alienao do profissional docente esto presentes de tal modo no ambiente escolar que so percebidas muito cedo pelos alunos-mestre, j nos primeiros perodos de estgio, momento em que so feitas observaes na escola. A alienao ocorre pela submisso do professor a documentos legais ou, at mesmo, pelo descredito incorrido por escritos desse tipo no espao de atuao profissional, conforme revela o Excerto 02 da Licenciatura em Geografia.

    Excerto 02. Licenciatura em Geografia

    Observa-se que os planos curriculares no so obras feitas a parti do pensamento do professor e, sim pelos seus superiores, onde so elaborados a parti de uma concepo poltica partidria e no baseada numa poltica educacional ampla que atenda de fato a necessidade de conhecimento da populao que mais necessita. Ento necessrio que as famlias tenham um maior envolvimento no processo de educao de seus filhos. (Seo Contribuio do Estgio do Relatrio de Estgio II, 2010/01)

    Portanto necessrio que haja uma mudana significativa, principalmente no que se refere as polticas educacionais. Onde em conversa com professores relataram que no concor-dam com a aprovao em massa que existe no estado do Tocantins, onde o que importa a quantidade e no a qualidade. Que cumprido o que rege a constituio e o Plano Poltico Pedaggico da escola (PPP), que dizem que a escola autnoma, que autonomia essa que no pode tomar decises no que se refere qualidade do [ensino] e consequentemen-te a melhoria na qualidade de vida da comunidade na qual atende.(Seo Consideraes Finais do Relatrio de Estgio II, 2010/01)

    O Excerto 02 mostra que o processo de alienao percorre forosamente to-das as etapas do trabalho docente, desde a elaborao do currculo escolar (os planos curriculares no so obras feitas a parti do pensamento do professor) at a avaliao discente (no concordam com a aprovao em massa), sendo todas as atividades marcadas pela linearida-de e usurpao da autonomia da escola e do professor. Bronckart e Machado (2004) consideram que a prpria elaborao de uma base curricular para todas as escolas do pas, iniciada em meados de 1994, a partir de pesquisas no campo das Cincias da Educao e que, posteriormente, resultaram documentos norteadores do ensino (parmetros curriculares nacionais e orientaes complementares), configuram o gesto fundador do controle pelo Estado da qualidade de ensino desejada (BRON-CKART e MACHADO, 2004, p. 143).

    O Excerto 02 mostra que a escrita reflexiva produzida a partir da percepo do contexto do estgio obrigatrio pelo aluno-mestre (observa). Alm de descrever a

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    situao de vulnerabilidade descrita no trabalho docente, o aluno-mestre contrape (e no) tal situao politica educacional desejada conforme saberes aprendidos na universidade (baseada numa poltica educacional ampla que atenda de fato a necessidade de conheci-mento da populao que mais necessita). O aluno-mestre ainda demanda o envolvimento da famlia como uma resposta ao tipo de embate a ser assumido junto aos professores diante das prticas cerceadoras da poltica educacional local ( necessrio que as famlias tenham um maior envolvimento no processo de educao de seus filhos).

    Nas consideraes finais do relatrio, o aluno-mestre ratifica a necessidade de mudanas na poltica educacional. A voz dos professores tambm trazida para a elaborao da escrita do relatrio (em conversa com professores relataram), caracterizando o estgio como o momento da troca de saberes entre alunos-mestre e professores colaboradores, e a escrita reflexiva como um valioso instrumento de mediao na construo da conscientizao crtica do professor em formao inicial.

    Outro exemplo de alienao do trabalho do professor em funo das polticas educacionais locais foi encontrado num questionrio elaborado por alunas-mestre do primeiro estgio supervisionado por elas cursado na Licenciatura em Histria. O questionrio foi respondido pela professora da escola-campo observada, servin-do apenas como um tipo de atividade de gerao de informaes, uma vez que os questionrios no foram alvo de anlises crticas. No Excerto 03, reproduzimos uma questo que revela a prtica de escolha do livro didtico, a qual reproduz a falta de credibilidade no trabalho docente, alm das relaes assimtricas existentes no sistema escolar.

    Excerto 03. Licenciatura em Histria

    Pergunta 18 do Questionrio: Quais os requisitos usados para a escolha do livro didtico?

    Resposta: Da ltima vez (3 anos atrs) tivemos uma nica tarde para fazer essa escolha. (Anexo do Relatrio I, 2010/01)

    Alm de escamotear a pergunta, a professora revela na resposta o contexto ao qual foi submetida por ocasio da escolha do livro. O escamoteamento, prova-velmente, justifica-se pelo fato de a professora colaboradora no conseguir definir exatamente quais critrios utilizara ou considerara relevantes para a escolha do livro didtico. As expresses que utiliza (da ltima vez; uma nica tarde) geram um efeito de sentido de insatisfao, sentimento que a professora desejava expressar em relao ao processo de escolha do livro didtico. Ela enfatiza que foi h trs anos e que o tempo empregado para a escolha certamente no tenha sido suficiente para uma anlise criteriosa.

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    No Excerto 04, a Pergunta 19 demonstra mais claramente que a autonomia, princpio to ditado nos documentos oficiais que devem orientar o ensino bsico, no garantido no trabalho docente.

    Excerto 04. Licenciatura em Histria

    Pergunta 19 do Questionrio: Voc participa dessa escolha?

    Resposta: Sim, mas nem sempre o livro escolhido o que enviado s escolas. (Anexo do Relatrio I, 2010/01)

    A resposta apresentada para a pergunta do Excerto 04 um forte indcio de que o livro adotado pela escola no foi o mesmo da escolha realizada pela professora. Esse fato pode ter gerado o descontentamento da docente, e, por conseguinte, uma ausncia de compromisso com a proposta didtica do livro. Conforme demonstrou a pesquisa realizada por Diniz (2012), o registro no relatrio de estgio revelou que a professora rejeita algumas atividades e textos propostos no livro didtico, substituindo-os por questionrios que pouco contribuem para o letramento crtico do aluno. Embora a professora consiga subverter a ordem quando se nega a trabalhar as atividades j previamente determinadas pelo livro didtico, continua num processo de alienao e ausncia de voz porque as atividades que prope ao fazer o que chama de transposio didtica, espelham os mtodos tradicionais de trabalho com a leitura na escola.

    Finalmente, sob o ponto de vista da Anlise do Discurso, Santos (2010, p. 152), ao interpretar algumas projees sobre o professor tocantinense em documentos oficiais, considera que o referido professor, ora instigado a ser agente, ora instigado a se assujeitar s orientaes determinadas por superiores sem questionar. Segundo a autora, algumas vezes, o professor projetado no discurso como um profissional ainda muito aqum do mnimo desejado; em outras, como algum obrigado a fazer malabarismos para dar conta das exigncias sobre ele lanadas, independente das condies de produo e de realizao de seu trabalho.

    CONSIDERAES FINAIS

    O estudo realizado nos mostrou que as pesquisas realizadas por linguistas aplicados podem contribuir significativamente para o trabalho com a linguagem na formao dos alunos-mestre em licenciaturas diversas, no estando o escopo da LA restrito aos cursos superiores de formao inicial de professores de lnguas. Para

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    Trab. Ling. Aplic., Campinas, n(53.2): 333-355, jul./dez. 2014 351

    tanto, o percurso indisciplinar, caracterizado pela abordagem constantemente mu-tvel e dinmica (PENNYCOOK, 2001, p. 172), envolvendo diferentes reas do conhecimento, faz-se necessrio diante dos vastos recortes investigativos a nossa espera. Por outro lado, trazer o contexto dos estgios obrigatrios de diferentes licenciaturas para a agenda dos linguistas aplicados tambm contribui para fortale-cimento da LA no campo das polticas pblicas de pesquisa educacional nacional.

    No tocante s formas de alienao do trabalho docente, testemunhadas nos relatrios de estgio e envolvidas em usos da tecnologia da escrita, somos levados a acreditar que o professor, muitas vezes, no visto como um profissional autnomo, capaz de pensar e fazer escolhas. O direito de escolha concedido desde que cerceado de alguma maneira. Nas licenciaturas, validar essa hiptese seria o mesmo que reconhecer o fracasso das universidades em formar os professores enquanto agentes de letramento. O papel dos estgios obrigatrios das diferentes licenciaturas e, inclusive, do exerccio da escrita acadmica reflexiva na formao inicial, essencial para a desestabilizao de prticas institucionais danosas que atravessam o trabalho docente.

    Finalmente, salientamos que confluncias de fatores culturais e socioeconmicos, configuradores do mundo do trabalho docente, constituem, muitas vezes, um crculo vicioso que prende os professores em posies sociais subalternas (cf. KLEIMAN e MARTINS, 2007). Ser considerado letrado e mais, assumir o papel de agente de letramento uma ao de tamanha envergadura que o professor, independente da rea em que atue, precisa ter familiaridade com as prticas de letramento de diversas instituies ou domnios sociais, particularmente aqueles legitimadas pelos grupos dominantes. Mesmo sabendo ler e escrever e estando diariamente exposto a eventos de letramento, o fato de estar alheio a prticas sociais diferentes daquelas especficas ao ambiente acadmico e escolar, conduziria a um efeito de desempoderamento, efeito contrrio ao que se espera das prticas de letramento o de instrumentar o ator social para a interveno crtica na sociedade.

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    Recebido: 23/05/2014Aceito: 28/11/2014