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1 Universidade de Brasília - Departamento de Economia FORMAÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL – 1º/2014 – Turma A Prof. Flávio R. Versiani 5º ROTEIRO DE DISCUSSÃO DE TEXTOS (FURTADO, Formação Econômica...., caps. 10 a 12; PRADO, Formação do Brasil Contemporâneo, cap. 10, “Pecuária”. ) 1. No cap. 10, CF menciona que a grande rentabilidade do açúcar “induzia à especialização”: não seria econômico desviar fatores de produção para “atividades secundárias”, como a produção de alimentos. Mas anteriormente (cap. 9) ele afirmara que “os escravos produziam os seus meios de manutenção”, com exceção de tecidos; “parte da força de trabalho escravo se dedicava a produzir alimentos”. Como conciliar essas afirmativas? Sem deixar isso explícito, CF se refere a situações diferentes. Em geral, a produção de alimentos se fazia dentro das fazendas produtoras de açúcar (principalmente em Pernambuco, que incluía, até o início do século XIX, os atuais Alagoas e Paraíba). Mas em situações de alta no preço do açúcar (“quando eram favoráveis as perspectivas do mercado de açúcar”, cap. 10), o custo de oportunidade das culturas alimentares podia se tornar muito grande, e o proprietário era induzido a suprimi-las, especializando-se na plantação de cana. E comprando alimentos produzidos fora do engenho. No caso de Pernambuco, especialmente nas proximidades do Recife, essa oferta alternativa de alimentos era escassa, pois as terras são aí muito apropriadas para o cultivo de cana; alimentos tinham que vir de longe. Em consequência, os preços dos alimentos subiam, trazendo problemas para a população urbana. 2. A elasticidade da oferta de alimentos na zona de criação de gado favoreceu, segundo Furtado, o aumento de população nessa zona — em contraste com “a oferta de alimentos pouco elástica na região litorânea”. Explique por que a elasticidade da oferta de alimentos seria diferente, no litoral e no Sertão. . A oferta de alimentos era elástica, na área da pecuária, porque, expandindo-se a criação de gado, o que era fácil devido à oferta abundante de terras, expandia-se a oferta de alimentos, já que o gado era também artigo de alimentação. Embora Furtado não o mencione, é importante também o fato de que a criação de gado, não exigindo trato constante, deixava espaço para que a mão de obra envolvida cultivasse lavouras alimentares para seu sustento, em pequena escala. Em contraste, a oferta de alimentos era menos elástica na região do açúcar (restrita a uma faixa de terras não muito larga, junto à costa), pois as terras aí já estavam ocupadas por propriedades açucareiras. Embora em muitas dessas propriedades houvesse subutilização de terras, não interessaria ao proprietário absorver moradores não ligados ao negócio do açúcar. Em contraste, aos fazendeiros de gado era útil ter mais gente em seus domínios, mesmo como eventuais capangas ou guarda-costas; e o custo de oportunidade era praticamente nulo, dada a grande extensão das fazendas. 3. O desenvolvimento, na região de criação de gado, de uma economia com poucos vínculos com outras áreas fez com que se reduzissem, naquela região, a especialização de produção e a divisão do trabalho. Explique. A diminuição da venda de gado para a zona açucareira (com a queda na produção de açúcar, após 1650) reduziu, no Sertão, a capacidade de comprar artigos de consumo produzidos em outras áreas. Em consequência, a economia dessa região passou a ser

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Page 1: FEB 1-14 Rt05 Furtado 10-12 Prado 10 Resp

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Universidade de Brasília - Departamento de Economia FORMAÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL – 1º/2014 – Turma A Prof. Flávio R. Versiani

5º ROTEIRO DE DISCUSSÃO DE TEXTOS (FURTADO, Formação Econômica...., caps. 10 a 12; PRADO, Formação do Brasil Contemporâneo,

cap. 10, “Pecuária”. ) 1. No cap. 10, CF menciona que a grande rentabilidade do açúcar “induzia à especialização”: não seria econômico desviar fatores de produção para “atividades secundárias”, como a produção de alimentos. Mas anteriormente (cap. 9) ele afirmara que “os escravos produziam os seus meios de manutenção”, com exceção de tecidos; “parte da força de trabalho escravo se dedicava a produzir alimentos”. Como conciliar essas afirmativas?

Sem deixar isso explícito, CF se refere a situações diferentes. Em geral, a produção de alimentos se fazia dentro das fazendas produtoras de açúcar (principalmente em Pernambuco, que incluía, até o início do século XIX, os atuais Alagoas e Paraíba). Mas em situações de alta no preço do açúcar (“quando eram favoráveis as perspectivas do mercado de açúcar”, cap. 10), o custo de oportunidade das culturas alimentares podia se tornar muito grande, e o proprietário era induzido a suprimi-las, especializando-se na plantação de cana. E comprando alimentos produzidos fora do engenho.

No caso de Pernambuco, especialmente nas proximidades do Recife, essa oferta alternativa de alimentos era escassa, pois as terras são aí muito apropriadas para o cultivo de cana; alimentos tinham que vir de longe. Em consequência, os preços dos alimentos subiam, trazendo problemas para a população urbana. 2. A elasticidade da oferta de alimentos na zona de criação de gado favoreceu, segundo Furtado, o aumento de população nessa zona — em contraste com “a oferta de alimentos pouco elástica na região litorânea”. Explique por que a elasticidade da oferta de alimentos seria diferente, no litoral e no Sertão. . A oferta de alimentos era elástica, na área da pecuária, porque, expandindo-se a criação de gado, o que era fácil devido à oferta abundante de terras, expandia-se a oferta de alimentos, já que o gado era também artigo de alimentação. Embora Furtado não o mencione, é importante também o fato de que a criação de gado, não exigindo trato constante, deixava espaço para que a mão de obra envolvida cultivasse lavouras alimentares para seu sustento, em pequena escala. Em contraste, a oferta de alimentos era menos elástica na região do açúcar (restrita a uma faixa de terras não muito larga, junto à costa), pois as terras aí já estavam ocupadas por propriedades açucareiras. Embora em muitas dessas propriedades houvesse subutilização de terras, não interessaria ao proprietário absorver moradores não ligados ao negócio do açúcar. Em contraste, aos fazendeiros de gado era útil ter mais gente em seus domínios, mesmo como eventuais capangas ou guarda-costas; e o custo de oportunidade era praticamente nulo, dada a grande extensão das fazendas. 3. O desenvolvimento, na região de criação de gado, de uma economia com poucos vínculos com outras áreas fez com que se reduzissem, naquela região, a especialização de produção e a divisão do trabalho. Explique.

A diminuição da venda de gado para a zona açucareira (com a queda na produção de açúcar, após 1650) reduziu, no Sertão, a capacidade de comprar artigos de consumo produzidos em outras áreas. Em consequência, a economia dessa região passou a ser

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menos especializada, substituindo as compras externas pela produção artesanal de grande variedade de artigos de consumo, aproveitando ao extremo os materiais disponíveis (como o couro, chifres, ossos, etc., do gado). 4. “As formas que assumem os dois sistemas da economia nordestina — o açucareiro e o criatório — no lento processo de decadência, que se inicia na segunda metade do século XVII, constituem elementos fundamentais na formação do que no século XX viria a ser a economia brasileira.” (cap. 11). Explique o sentido dessa afirmativa de Furtado. A ideia é que o crescimento da população no interior do Nordeste, centrado nas fazendas de criação, fez surgir aí um contingente populacional numeroso, e pobre — dada a baixa produtividade de sua atividade econômica. E enfrentado ainda secas periódicas. Sendo, assim, uma fonte potencialmente abundante de trabalho não qualificado, com baixo custo. O que foi importante, mais tarde, principalmente quando o crescimento industrial e urbano do Sudeste, no século XX, demandou mão de obra. A oferta elástica de trabalho não qualificado tem sido uma característica do mercado de trabalho brasileiro, e é um dos fatores que explicam a grande desigualdade na distribuição de renda em nosso país. 5. Pode-se dizer que o grande desenvolvimento da pecuária como atividade de abastecimento alimentar no período colonial, em todo o País (como Caio Prado descreveu), relaciona-se à disponibilidade relativa de fatores produtivos (terra e mão-de-obra), naquela fase.

Como você entende essa afirmativa? Havia grande quantidade de terra disponível, em relação à população. E a pecuária

ocupa poucos trabalhadores e, principalmente na forma extensiva como era praticada no Nordeste e no Sul, demanda grandes extensões de terra. Assim, a criação de gado para alimentação era bem apropriada à dotação de fatores de produção. Isso ajuda a explicar a grande difusão do consumo de carne de boi como alimento básico, desde o início da colonização, e sua importância, até hoje, na dieta brasileira (assim como a de outros países da América do Sul).

6. De que forma o texto deste capítulo de Caio Prado pode esclarecer sua afirmativa anterior (cf. o 2º Roteiro) no sentido de que a decadência econômica observada em Goiás, após o auge da mineração, não ocorreu similarmente em Minas Gerais? As condições favoráveis para a criação de gado e o cultivo da terra, no Sul de Minas — rios, pluviosidade, vegetação —, fizeram com que essa região fosse fornecedora privilegiada da zona de mineração. E a proximidade de outros centros consumidores, especialmente o Rio de Janeiro, proporcionou mercados adicionais para sua produção. Prado assinala que já em 1765 o gado de Minas passa a abastecer o Rio; e mesmo São Paulo se torna um mercado consumidor, quando aí se difunde a cafeicultura. Dessa forma, o fim da mineração não significou retração econômica para Minas, especialmente na área meridional, pois havia outros mercados a abastecer.