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Fotografia
42 Rev Dental Press Estét. 2011 abr-jun;8(2):42-50
ivan YOsHiO Luiz Rafael CALiXTO
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Yoshio I, Calixto LR
Fotografia de face na Odontologia
Face photography in dentistry
Resumo
A fotografia odontológica digital vem se tornando um valio-
so instrumento para a Odontologia Estética. Assim como a
fotografia intrabucal, a fotografia de face se faz importante
para a Odontologia na questão de estudos e análises faciais
que permitam um bom tratamento odontológico estético e
corretivo. Há a necessidade, portanto, de se realizar a corre-
ta fotografia, observando possíveis erros como o efeito barril
e de perspectiva, que podem levar a uma análise incorreta.
Com isso, o objetivo deste trabalho é apresentar a técnica,
o ajuste e os acessórios adequados para esse tipo de foto-
grafia, como também demonstrar pontos importantes para a
devida análise estética facial através de linhas de referência.
Abstract
Digital dental photography has become a valuable tool
for esthetic dentistry. The photograph of the face, as the
intra-oral photography, is important for the issue of den-
tistry and facial analysis studies to enable a good esthetic
and corrective dental treatment. Therefore, there is need
to take the correct photo, observing possible errors, bar-
rel effect and perspective error that can lead to incorrect
analysis. Thus, the aim of this paper is to present the tech-
nique, adjustment and accessories suitable for this type of
photography. Demonstrating key points for proper analy-
sis of facial esthetics by reference lines.
Keywords: Dental photography. Face photography. Facial analysis.Palavras-chave: Fotografia odontológica. Fotografia de face. Análi-se facial.
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INTRODUÇÃO
É importante lembrar, principalmente em fo-
tografias de face, a necessidade de se solicitar a
permissão ao paciente para a realização desse tipo
de registro de imagem. Com isso, se faz necessário
obter uma autorização por escrito, cedida pelo pa-
ciente, na qual ele permita o uso de sua imagem
para fins científicos sem ônus ao cirurgião-dentista.
Tal autorização, contrato ou termo, desde que bem
elaborado, pode proteger o profissional de qual-
quer problema futuro quanto ao uso da imagem do
seu paciente6.
A fotografia de face na Odontologia pode ser di-
recionada de duas maneiras totalmente distintas. A
primeira, de modo documental, como a documenta-
ção ortodôntica ou avaliação estética; e a segunda é
aquela para divulgação dos trabalhos para o público
leigo, ou mesmo entre profissionais da área, que se-
riam as fotografias chamadas de moda e beleza.
A fotografia odontológica documental é extrema-
mente importante para verificar alterações no padrão
facial, como em casos mais frequentes de Ortodontia1
e Cirurgia, ou também para realizar uma ampla avalia-
ção estética facial para que possa ser empregada no
tratamento odontológico. Como esse tipo de fotogra-
fia segue padrões e protocolos, devem ser realizadas
sempre de um mesmo modo, para a observância de
comparações futuras. Consequentemente, sua realiza-
ção se torna mais fácil e prática, não dependendo de
um senso artístico.
Já as fotografias de moda e beleza, também co-
nhecidas pelo público em geral como book, exigem
um treinamento maior do fotógrafo e até uma apti-
dão para esse tipo de proposta. A maior dificuldade
é a escolha e direção da modelo, bem como outros
detalhes importantes como maquiagem, cabelo e
um bom conhecimento de iluminação10. Dessa for-
ma, pode ser interessante contratar uma equipe ou
um fotógrafo para realizar tal serviço.
FOTOGRAFIA DE FACE – TÉCNICA
Assim como na fotografia intrabucal, é necessária
uma técnica e uma regulagem específica para a foto-
grafia de face. Uma técnica incorreta pode resultar em
fotografias com distorções e erros de análise facial. Já
a regulagem inadequada pode fornecer fotografias fora
de foco, com falta de profundidade de campo, excesso
ou falta de luminosidade, tremidas, com ruído, fora de
enquadramento e demais erros que, além de prejudicar
a fotografia, aumentam o tempo na tomada fotográfica.
Um ponto importante são as distorções do tipo barril
e de perspectiva, que são causadas respectivamente
pela construção da objetiva e pela distância do assunto
fotografado. É muito comum a utilização de objetivas
de 50mm e 60mm macro para se fotografar tanto a ca-
vidade bucal quanto o rosto, devido à falta de espaço
no local, pois com essas objetivas é possível ficar mais
próximo do assunto. Porém, essa proximidade causa
o erro de perspectiva, diferentemente de uma objetiva
apropriada, como a de 100mm, para a qual é necessá-
ria uma distância maior, de cerca de 2,5m (Fig. 1).
Para se evitar a distorção de perspectiva, é necessário
estar a cerca de 2,5m de distância da pessoa, mesmo
com uma câmera compacta — na qual será utilizado o
zoom para enquadrar apenas o rosto —, ou com uma
objetiva 60mm macro, onde a foto deverá ser enquadra-
da e recortada posteriormente. Não se deve enquadrar
aproximando-se da pessoa. Na objetiva de 100mm ou
105mm, a distância de 2,5m enquadrará apenas o rosto3.
O ajuste com uma câmera fotográfica do tipo Re-
flex, objetiva 100mm ou 105mm e flash circular deve
obedecer as regras de abertura do diafragma, tempo
de exposição, sensibilidade ISO e potência do flash,
sendo recomendado, respectivamente, f/8 ou f/11;
1/100 ou 1/60, 200 ou 400, e potência de flash au-
mentada. Não existe um ajuste único, já que as variá-
veis são inúmeras, como a dimensão da sala, ilumina-
ção local e potência do flash6.
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Figura 1 - Perspectiva: A) objetiva 60mm, B) objetiva 100mm.
É importante realizar as fotografias com os corretos
equipamentos, acessórios e ajustes. A fotografia de
face pode ser realizada com uma máquina compacta
pequena, não é necessário macro nessa situação, mas
um zoom de 3x é o mínimo. O ideal é uma câmera
do tipo Reflex que possa encaixar uma objetiva ma-
cro 100mm ou 105mm e um flash externo. Pode ser
utilizado o próprio flash circular ou, então, montar um
estúdio básico para as fotografias de face5.
Em relação ao posicionamento, a pessoa deve es-
tar olhando para a frente de olhos abertos, sem óculos
escuros; se tiver cabelo comprido, deve estar atrás das
orelhas e sem qualquer acessório que atrapalhe na aná-
lise estética, como brincos grandes. O fotógrafo deve
estar bem centralizado, paralelo ao plano oclusal e per-
pendicular à linha média, evitando realizar fotografias
de cima para baixo, de baixo para cima, da esquerda
para a direita ou da direita para a esquerda. Para auxiliar,
a pessoa deve estar preferencialmente sentada numa
banqueta ou no mocho do cirurgião-dentista, com re-
gulagem de altura. É necessário evitar qualquer tipo de
maquiagem que possa modificar o formato do rosto.
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FOTOGRAFIA DOCUMENTAL
Um estúdio para fotografia odontológica não ne-
cessita de uma área ampla. Para laboratórios de próte-
se que possuam sala de tomada de cor, essa pode ser
utilizada como estúdio ou, num consultório odontológi-
co, pode ser utilizada a própria sala de atendimento ou
até mesmo a recepção. O fundo da fotografia pode ser
a própria parede, desde que seja branca. É possível
adquirir fundos em lojas de fotografia ou mesmo fabri-
cá-los, os quais podem ser nas cores branca ou cinza
— as mais recomendadas para fotografia documental.
O modo de iluminação mais utilizado na Odontologia
é conhecido como estúdio Portrait (ou “porta-retrato”). É
um estúdio simples, utilizado apenas para fotografia de
face semelhante à fotografia de passaporte, recomen-
dado em casos na Odontologia onde se deseje uma fo-
tografia desse tipo. Ou seja, onde serão realizadas foto-
grafias documentais como num instituto de radiologia ou
para análise facial. Esse esquema de iluminação é com-
posto por dois flashes (tochas) com duas sombrinhas.
É interessante ressaltar que a dimensão da sala deve
ser considerada na hora da compra desses flashes,
para saber a potência correta deles.
É possível também utilizar o próprio flash circular
ou twin, e montar com um flash externo de sapata so-
mente para deixar o fundo branco sem sombras, ou
então disparar um flash comum, mais barato, através
de uma fotocélula. É uma alternativa para orçamentos
bem apertados (Fig. 2).
Os flashes têm que estar com ângulo de 45º em re-
lação ao objeto, a distância pode variar de acordo com
a potência do flash e o tamanho do local, sendo os tes-
tes sempre necessários antes de uma sessão fotográ-
fica. O valor do conjunto varia basicamente de acordo
com o tamanho do local. Quanto maior o local, o flash
precisará ser mais potente: um flash mais potente é
mais caro, por isso não é necessária uma sala ampla10.
Equipamentos necessários (Fig. 3):
» 02 flashes de estúdio (tochas),
» 02 sombrinhas.
Figura 2 - Iluminação: A) flash de fundo e B) esquema de iluminação (foto: Mako; esquema: Ivan Yoshio).
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Figura 3 - A) Estúdio Portrait e B) esquema de iluminação (foto: Mako; esquema: Ivan Yoshio).
FOTOGRAFIA DE MODA E BELEZA
Esse tipo de fotografia requer alguns acessórios
para que se possa montar um estúdio com diferentes
tipos de iluminação. É possível realizar um esquema
de iluminação mais complexo, mais técnico e com ne-
cessidade de maior conhecimento sobre iluminação.
Para se realizar esse tipo de fotografia, também
conhecida como book, será necessário investir
numa produção especial, ou seja, maquiagem e
cabelo. Como esse tipo de fotografia não é rotinei-
ro num consultório odontológico, é recomendado
contratar um fotógrafo para esse trabalho, poden-
do-se levar o paciente até o estúdio do fotógrafo ou
mesmo trazê-lo até o consultório. Os fotógrafos de
casamento estão acostumados com books, já que
são comuns entre os noivos.
O esquema de iluminação pode ser o mais variado
possível e nem sempre é necessário utilizar todo o
equipamento para se conseguir um efeito desejável.
Muitas vezes, com apenas uma fonte de luz e pou-
cos acessórios já é possível criar algo interessante.
No caso de fotografia de moda, não existe uma regra
de quais equipamentos são adequados, somente é
necessário um equipamento básico e a criação da
iluminação é do próprio fotógrafo, que pode utilizar
apenas um flash e um rebatedor.
Equipamentos sugeridos (Fig. 4):
» 04 flashes de estúdio (tochas),
» 02 sombrinhas,
» 02 softboxes,
» 01 snoot,
» 01 refletor.
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Figura 4 - A) Estúdio de moda e B) esquema de iluminação (foto: Mako; esquema: Ivan Yoshio).
ANÁLISE FACIAL
A fotografia digital, pela rapidez do resultado e flexibili-
dade no tratamento da imagem, é um valioso instrumento
para o exercício da Odontologia Estética4. Através dessa
ferramenta, é possível realizar tratamentos personaliza-
dos, obtendo, assim, uma estética natural e harmoniosa.
Segundo Fradeani7, para elaboração de um plane-
jamento estético individualizado, deve ser realizado um
exame clínico e radiográfico detalhado, além da con-
fecção de fotografias e modelos de estudo.
A fotografia de face, se feita com uma técnica pa-
dronizada, parece ser um auxílio-diagnóstico para uma
correta análise das desarmonias. Além disso, as foto-
grafias auxiliam também na transmissão de informa-
ções ao paciente12.
Na reconstrução de um sorriso, devem ser obser-
vados os princípios estéticos de composição, unidade,
simetria, proporção, razão repetida, equilíbrio e linhas13.
Assim, a fotografia de face torna-se um excelente meio
de comunicação com o laboratório de prótese, a qual
permite ao ceramista ter a visualização do formato do
rosto, sorriso e contorno dos lábios do paciente, favo-
recendo a confecção de restaurações personalizadas.
Além disso, com a fotografia digital ou impressa, o pro-
fissional e o ceramista podem planejar o caso mesmo
estando em locais diferentes.
A fotografia de face permite avaliar inúmeros fatores
que irão auxiliar no planejamento do ortodontista e do
protesista. Entretanto, existem alguns aspectos mais
importantes para uma análise estética facial, os quais
irão auxiliar no diagnóstico e planejamento restaurador
estético do paciente.
Linha de referência bipupilar
Na análise estética do sorriso, fotografias frontais
são as mais utilizadas. O exame do indivíduo, in-
cluindo a análise da posição dos olhos, nariz, mento
e lábios, permite a identificação de pontos e linhas
de referência que são indispensáveis na reabilitação
estética. O paralelismo entre o plano ocluso-incisal,
contorno gengival e linhas de referência horizontais (li-
nha interpupilar e linha da comissura labial) é um fator
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Figura 5 - Linhas de referência horizontal (linha interpupilar e comissura labial), que, idealmente, devem estar paralelas à linha do plano incisal.
Figura 6 - Linha média facial (união dos pontos glabela, ponta do nariz, filtro labial e mento). É a linha de referência para veri-ficar desvios da linha interincisal.
Figura 7 - Linhas de referência para lar-gura ideal do sorriso (coincidência da co-missura labial com o centro da pupila); e formato do rosto do paciente, para servir de referência ao formato dentário.
determinante na criação de um sorriso harmonioso
agradável13 (Fig. 5). Entretanto, os olhos, ou mesmo
os cantos da boca, eventualmente estão posiciona-
dos em alturas diferentes. Nesses casos, a horizon-
tal verdadeira é tomada como o plano de referência.
Porém, a presença de discrepâncias ou leves irregu-
laridades não compromete o resultado estético final,
principalmente na perspectiva dos leigos8,11.
Segundo Fradeani7, se a linha bipupilar estiver paralela
ao plano horizontal, ela representa o parâmetro mais útil
na determinação do plano incisal e contorno gengival.
Linha média facial
A linha média facial é uma linha vertical de referên-
cia, a qual é obtida através na união dos pontos faciais
glabela, ponta do nariz, filtro do lábio superior e ponta
do mento, os quais são pontos de referência do tecido
mole facial (Fig. 6).
A linha interincisal deve coincidir com a linha média
facial. Idealmente, essa variação entre as duas linhas
não deve exceder mais que 2mm, para não causar
uma aparência desagradável no sorriso8. Porém, nem
sempre somente um fator isolado deve ser levado em
consideração. Outros fatores, como a oclusão, ne-
cessitam ser analisados em conjunto para um correto
diagnóstico e tratamento da desarmonia.
A fotografia de face permite, ainda, analisar outros
fatores importantes como a forma do rosto, importante
para confecção de dentes personalizados de acordo
com cada indivíduo, e largura do sorriso, que irá de-
terminar a exposição dos dentes no planejamento es-
tético (Fig. 7).
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CONCLUSÃO
Vimos que, para se iniciar a fotografia de face, é
necessário primeiramente obter a autorização da pes-
soa fotografada, a fim de evitar qualquer transtorno
legal futuro. É igualmente importante fotografar com
os corretos equipamentos, ajustes, acessórios e téc-
nica para que não ocorram distorções de qualquer
tipo, como demonstrado. Com a correta fotografia, é
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REFERêNCIAS
Ivan Yoshio•Autordolivro:A Arte da Fotografia Digital na Odontologia (Ed.
Santos, 2010).•Professor da Especialização da FORP - USP (FUNORP).•Professor de Fotografia do CETAO, cursos de Especialização,
Mestrado e Doutorado.•Pós-graduado em Dentística Restauradora pela ACDC (APCD-
Campinas).• E-mail: [email protected]
Luiz Rafael Calixto•EspecialistaeMestreemDentísticapelaUNESP-Araraquara/SP.•Doutorando em Ciências Odontológicas na UNESP-Araraquara/SP.•Professor do Curso de Especialização e Aperfeiçoamento em
Dentística da AORP, Ribeirão Preto/SP.•Coordenador do Curso de Aperfeiçoamento em Estética
Integrada do ANEO-NEORP, Ribeirão Preto/SP.• E-mail: [email protected]
possível se estabelecer uma análise facial adequada.
Tal análise facial permite a verificação da harmonia do
rosto e do sorriso através de princípios estéticos, o que
a torna um excelente meio para o tratamento odonto-
lógico e comunicação com o laboratório de prótese. A
fotografia odontológica digital de face aliada à correta
avaliação estética poderá promover um maior sucesso
estético no tratamento odontológico.
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