FRUTIFICAÇÃO, PREDAÇÃO DE SEMENTES E ESTABELECIMENTO DEPLÂNTULAS DE TABEBUIA SERRATIFOLIA NICHOLS.

RESUMO

A região de Botucatu, no centro-sul do estado deSão Paulo, possui características particulares quanto àcobertura vegetal, pois possui formações que vão desdeas florestas mesófilas semidecíduas ao cerrado. A espé-cie Tabebuia serra tifo/ia Nichols, de ocorrência naturalna região, é uma espécie arbórea muito utilizada empaisagismo e arborização urbana, sendo encontrada emáreas de transição entre as duas formações citadas. r.serratifolia Nichols foi estudada quanto à frutificação,predação, pré-dispersão das sementes e estabeleci-mento de plântulas. O período da frutificação da espécievai de setembro a novembro, com ofinal da dispersão emmeados de dezembro, coincidindo com o período maisquente e úmido do ano. O comprimento médio dos frutosfoi de 20,9 cm, com diâmetro médio de 1,21 cm. Onúmero médio de sementes por fruto encontrado foi de139. A porcentagem de sementes predadas pré-disper-são foi de 33,2%. Simulação do estabelecimento deplântulas em clareira (18%) foi maior que sob o dossel davegetação (6%). Entretanto, a porcentagem de germina-ção, obtida em laboratório, das sementes deixadas nocampo por 45 dias, sob o dossel (69,5%), foi maior quedas sementes deixadas em clareiras (22,5%). O conteú-do de umidade das sementes nestes dois ambientes foide 39,4 e 33,8%, respectivamente. Observações feitaspróximas às árvores matrizes selecionadas de T.serratifolia indicam que há em média 7 plântulas destaespécie por m2, a uma distância de até 15 metros do frutode cada árvore, porém existem apenas 0,031 plantajovem por m2, indicando que a porcentagem de recruta-mento da fase plântula para planta jovem é provavel-mente de 0,2%, para a condição de ocorrência dosindivíduos estudados.

Palavras-chave: Tabebuia serra tifo/ia , predação,semente, estabelecimento, fruti-ficação.

1 INTRODUÇÃO

A região de Botucatu, situada no centro-sul doEstado de São Paulo, é muito rica em diversidadebiológica, pois devido ao relevo e ao clima, quecondicionam a distribuição da vegetação, podemos en-contrar remanescentes do Domínio da MataAtlântica na

Weber Antonio Neves do AMARA L1

Karin H. BORGES2Sérgio Luiz M. de MEL02

ABSTRACT

Botucatu county, located in the southern centralregion of the state of São Paulo, has some peculiarcharacteristics asfar as differentformations ranging fromMesofilous Semidecidous Forest to Savanas. Tabebuiaserra tifo/ia Nichols, that grows in that region, is a treespecies, frequently utilized in landscape designs andurban arborization and naturally has been found in thetransition area between Mesofilous Semidecidous Forestand Savanas. The purpose of the present research wasto study the frutification habit, predispersal predationcharacteristics and seedling establishment otthe species.Itwas concluded thatfrutification period spreads out fromSeptemberto November, and the seed dispersal finishesat the middle of December, matchs with the hotest andwettest months of the year. Average fruit lenght anddiameter was 20,9 cm and 1,21 cm respectively. Thenumber of seeds per fruit was 139 and the percentage ofpredispersal seed predation was 33,2%. Simulatedseedling establishment was higher in gap areas (18%)than under tree canopies (6%). Howeverseeds left underthree canopies for 45 days, and tested for germinationunder laboratory conditions, had higher percentage ofgermination (69,5%) and moisture content (39,4%) thanthose left in gap areas, wich showed respectively 22,5%and 33,8% for those characteristics. Seven seedlingsaverage per square meter were found from the tree stemuntil14 m but only 0,031 young trees were found in thesame area, indicating that the percentage of recruitmenis less than 0,2% under studied conditions.

Key words:Tabebuia serra tifo/ia, seed, predation, es-tablishment, frutification.

forma de Florestas Mesófilas Semidecíduas até forma-ções de cerrado, quando subimos a "Cuesta" e encontra-mos outras formações de solo.

r. serra tifo/ia Nichols é uma espécie arbórea deocorrência natural na região e muito utilizada empaisagismo e arborização urbana. Porém, devido à subs-tituição das florestas por outras formas de uso do solo,

(1) Docente do Departamento de Agricultura e Melhoramento Vegetal, F.C.A., UNESP 18600, Botucatu-SP. FAX: (0149) 22-3834.(2) Acadêmicos do 59 ano do Curso de Engenharia Florestal, F.C.A., UNESP, Botucatu-SP.

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como a agricultura e pecuária, se torna cada vez maisdifícil encontrarmos indivíduos adultos desta espécie naregião.

O presente trabalho procurou estudar a frutifica-ção, predação, pré-dispersão de sementes e o estabele-cimento simulado de plântulas, visando contribuir para oentendimento do processo de regeneração natural daespécie.

A coleta de sementes de T. serratifolía para produ-ção de mudas, destinadas tanto para a arborizaçãourbana como para recuperação de áreas degradadas,vem sendo feita na região de forma indiscriminada, semse preocupar com a regeneração natural da espécie.PETERS (1990) enfatiza que a coleta de frutos deespécies florestais oferece a oportunidade de conciliar autilização e a conservação das florestas, porém, a inten-sidade de coleta dos frutos deve se basear em estudosdemográficos de longo prazo.

A dispersão e a predação de sementes são algunsdos mais importantes fatores que afetam o estabeleci-mento de plântulas em florestas (SORK, 1987), sendoque a predação de sementes pré-dispersão para algu-mas espécies atinge elevados índices (80%), como emMabea occídentalís, predada por uma mariposa (DESTEVEN, 1981). Ainda para M. occídentalís, o mesmoautor afirma que a intensidade de predação não estásignificativamente relacionada com a fecundidade daplanta e que os frutos que amadurecem mais cedotendem a escapar da predação.

A ocorrência de diferentes predadores de semen-tes em diferentes espécies é função da qualidade nutri-tiva dos propágulos, expressa quanto ao teor de proteí-na, açúcares, fibras e taninos (SMITH 111, 1987). Porém,segundo FOSTER (1986), as sementes grandes repre-sentam uma fonte mais apropriada de alimento para umagrande variedade de predadores que as sementes pe-quenas, as quais possuem uma quantidade reduzida deenergia para o desenvolvimento de larvas de insetos.

AUGSPURGER (1984) enfatiza o papel da luz noestabelecimento e na demografia de plantas em flores-tas tropicais e da importância da abertura de clareiraspara as espécies intolerantes à sombra.

2 MATERIAL E MÉTODOS

Os estudos foram conduzidos no rnurucrpro deBotucatu, situado entre as coordenadas 22°52' Lat. S e48°26' Long. O, numa altitude média de 860 metros. Aregião está inserida em áreas de Floresta MesófilaSemidecídua, porém, os indivíduos estudados se encon-tram próximos a um Cerradão degradado. Foram esco-lhidas 5 árvores de T. serratifolía Nichols, distantes umadas outras no mínimo por 120 metros, para o presenteestudo. Todos os indivíduos escolhidos possuíamfrutificação abundante.

A partir do término do florescimento até o final dadispersão de sementes, semanalmente fizeram-se ob-servações sobre a frutificação desta espécie.

Foram colhidos 200 frutos fechados por indivíduoselecionado, de coloração marrom esverdeada, antes

do início da dispersão, para obtenção do comprimento,diâmetro, porcentagem de umidade, número de semen-tes por fruto e porcentagem de predação das sementes.

O estabelecimento simulado de plântulas foi feitoem dois sítios, em clareiras e sob o dossel da vegetação,distribuindo-se 400 sementes por sítio, em 4 repetiçõesde 100 sementes, deixadas no solo, distanciadas 5 cmuma das outras.

O armazenamento das sementes no solo, por 45dias, nos dois sítios, foi realizado baseando-se emVASQUEZ-YANES & OROZCO-SEGOVIA (1987),utili-zando-se 8 repetições de 50 sementes. Ao final desteperíodo, as sementes foram levadas para laboratório eanalisadas quanto à porcentagem de germinação, a25°C, e ao conteúdo de umidade (Método Estufa: 105°C± 3°C).

Estudos sobre a densidade de plântulas e deárvores jovens foram tomados a partir da marcação deparcelas de 1 m2, nas quatro direções (Norte, Sul, Lestee Oeste), até uma distância de 15 metros a partir do fustede cada indivíduo selecionado. A metodologia de acom-panhamento de plântulas foi extraída de TURN ER (1990),que exemplifica os métodos e as informações a seremtomadas para o estudo de plântulas. Assim as parcelasde 1 m2 funcionaram como pontos de amostragem daspopulações de plântulas e plantas jovens por árvoreselecionada.

3 RESULTADOS

A frutificação de T. serratífolía tem início em setem-bro, com o processo de maturação dos frutos atingido atémeados de novembro. O final da dispersão de sementesocorre na primeira quinzena de dezembro, considerandoa média de dois anos de observações.

TABELA 1 - Comprimento, diâmetro, número de semen-tes por frutos e % de predação de sementespor árvore

Árvore N.S. %PC (cm) D (em)

12345

1,301,181,331,071,16

2134323742

23,3419,4022,9019,0520,02

142129149123152

X 20,9 1,21 139 33,2A (14,0 - 32,0) (0,9 - 1,9) (43 - 194) (8 - 68)

Legenda:D(cm) - diâmetro médio do frutoC(cm) - comprimento médio do frutoN.S. - número de sementes por fruto% P - porcentagem de predação das sementesX - média das 5 árvoresA - amplitude observada nos 200 frutos por árvore

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Na TABELA 1, observamos a média do compri-mento, diâmetro, número de sementes por fruto e por-centagem (%) de predação de sementes, considerandouma amostra de 200 frutos por árvore.

Nas TABELAS a seguir, de 2 a 6, observamos osprincipais resultados obtidos a partir do armazenamentodas sementes em dois sítios específicos, do estudo deestabelecimento simulado de plântulas e sobre a densi-dade populacional de plântulas e plantas jovens.

TABELA 2 - Porcentagem de germinação e de umidadedas sementes colhidas para montagem doestabelecimento simulado de plântulas e doarmazenamento das sementes no campo

Árvore %G % U'

1 74 8,1

2 79 7,7

3 76 8,0

4 83 7,8

5 80 7,7

-X 78,4 7,9A (74 - 83) (7,7-8,1)

(*)% U - porcentagem de umidadebase peso úmido.

TABELA 3 - Porcentagem de estabelecimento deplântulas após 45 dias em dois sítios dis-tintos

Sítio Repetição % Estabelecimento

I 17,511 20,0111 18,0IV 16,6

X1 18,0

I 8,0II 5,0111 6,5IV 4,5

X2 6,0

Clareira

Sob dossel

(XI) média do estabelecimento em clareira(X2) média do estabelecimento sob dossel

TABELA 4 - Porcentagem de germinação e de umidadedas sementes armazenadas no solo sobdiferentes condições

Sítio Forma de arma- %G %Uzenamento

Clareira "litter bag"* 17,3 29,0na superfície

do solo 28,0 38,6

Xl 22,5 33,8

Sob dossel "Iitter bag"* 76,0 43,6na superfície

do solo 63,0 35,2

X2 69,5 394

(*) Adaptado de VASQUEZ-YANES & OROZCO-SEGOVIA,1987

(X,) média em clareira(X2) média sob dossel

TABELA 5 - Número médio de plântulas das quatrodireções por árvore em diferentes distanci-as a partir do fuste das árvores selecionadas

Distânciado fuste

(m)

Número médio de plântulas

Árvore Árvore Árvore Árvore Árvore01 02 03 04 05

1 1 2 O 1 22 3 2 3 3 O3 2 1 5 4 5

4 5 4 6 2 35 7 5 4 8 76 7 9 8 9 10

7 6 16 10 6 7

8 10 18 13 7 169 7 7 15 12 9

10 8 19 17 18 1111 8 15 14 13 8

12 5 13 12 9 513 3 15 7 6 314 1 6 5 5 215 2 3 1 2 2-X 5 9 8 7 6A (1 - 10) (1 - 19) (O - 17) (1 - 18) (O - 16)

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TABELA 6- Número e altura média de plântulas por rn",média dos 15 metros a partir do fuste decada árvore selecionada

Árvore Nº plântulas (rn') Altura (cm)

1 5 6,52 9 4,53 8 5,54 7 6,05 6 5,0

X 7 5,5A (5 - 9) (4,5 - 6,5)

4 DISCUSSÃO

o número de sementes por fruto de T. serratifo/iaé diretamente proporcional ao seu tamanho (compri-mento e diâmetro). Porém, a porcentagem de predaçãopossui um comportamento inverso, apesar de não sertão evidente essa relação. A predação das sementes,apesar de ser em média 33, 2% do total das sementespor fruto, não compromete a regeneração natural daespécie, principalmente porque T. serratifolía possuifrutificação abundante e pelo fato de existir grandenúmero de plântulas próximas aos indivíduos estuda-dos. Inclusive, a predação pode ser vista como um fatorregulador importante na diminuição da competiçãointraespecífica.

A porcentagem de estabelecimento de plântulas foitrês vezes maior na condição de clareira. Provavelmenteas sementes de T. serratifo/ia necessitam de luz verme-lha para germinação, fato que deverá ser confirmado emexperimentação posterior, para explicar essa diferençano estabelecimento, que também deve ser causadaprincipalmente pela colocação das sementes diretamen-te no solo, ao contrário das sementes deixadas sob odossel, que ficaram em contato com a serrapilheira.

Quanto ao armazenamento das sementes no solo,por 45 dias, houve praticamente a manutenção do podergerminativo das sementes deixadas sob o dossel, quan-do comparamos os dados da TABELA 2.com a 4.

As sementes armazenadas em sacos de tela plás-tica ("litter baq") para a condição de dossel tiveram maiorporcentagem de germinação do que as sementes deixa-das na superfície do solo. Já em clareiras, as sementesno solo apresentaram maior poder germinativo, possi-velmente porque houve elevação excessiva da tempera-tura no interior dos sacos de tela (cor preta), danificandoas sementes.

De modo geral, as sementes deixadas sob o dosselapresentaram maior porcentagem de umidade do que asdeixadas em clareiras. As sementes possuíam porémteores muito superiores aos obtidos quando foram re-cém-colhidos (vide TABELAS 2 e 4), este fato se deveuprovavelmente pela precipitação pluviométrica que ocor-

reu em dias próximos à retirada das sementes da condi-ção de armazenamento

O maior número de plântulas a partir do fuste dasárvores selecionadas foi encontrado entre 7 e 12 metros,possivelmente pela dispersão anemocórica das semen-tes. Porém, ainda existiam plântulas na projeção da copae além dos 15 metros que ocorreu a amostragem,indicando que as sementes dispersas próximas ao fustedas árvores também podem se estabelecer. Conside-rando os dados da TABELA 7, observamos que orecrutamento da fase plântula para planta jovem é quasenulo, além disso apenas 12 plantas jovens foram encon-tradas em toda a área amostrada, além disso 66%desses indivíduos se encontram fora do caminhamentode amostragem e 100% dos indivíduos ocorriam a partirde 11 metros do fuste das árvores selecionadas.

TABELA 7 - Número médio de plântulas e plantas jovensnas quatro direções estudadas até 15 metrosdo fuste das árvores selecionadas

Direção Nº de plântulas Nº de plantas jovens'

N 5 0,0133S 11 0,0399L 8 0,0532O 4 0,0260

X 7 0,0300A (5 - 11) (0,0133 - 0,0532)

(*) Considerando o total de 12 plantas jovens encon-tradas na amostragem total.

Os sentidos de amostragem Sul e Leste (TABELA7) possuíam a maior parte das plântulas amostradas,devido provavelmente à direção preferencial dos ventosna região, que levaram maior quantidade de sementesdurante a dispersão.

O trabalho está tendo continuidade, visando avan-çar no estudo da demografia de T. serra tifo/ia, principal-mente porque os dados sobre a densidade de plântulasforam obtidos em um período de 90 dias, a partir do inícioda dispersão das sementes. Já os dados sobre a manu-tenção da viabilidade das sementes armazenadas nosolo, em condições experimentais, indicam que as se-mentes dispersas em clareiras provavelmente perdemmais rapidamente sua viabilidade, porém, teriam ummaior sucesso no estabelecimento das plântulas.

5 CONCLUSÕES

O período de frutificação de T. serra tifo/ia vai desetembro a novembro, com o término da dispersão dassementes em dezembro. Os frutos possuíam um compri-mento médio de 20,9 cm e diâmetro médio de 1,21 cm.Foram encontradas 139 sementes em média por fruto.

Os frutos de coloração marrom esverdeada, noestágio pré-dispersão, tinham 33,2% de sementes

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predadas. o estabelecimento simulado de plântulas emclareiras (18%) foi três vezes maior do que sob o dosselda vegetação. Sementes deixadas no campo por 45dias, sob o dossel, apresentaram 69,5% de germinação,sob condições de laboratório, enquanto as sementesdeixadas em clareiras apresentaram apenas 22,5% degerminação. O conteúdo de umidade nestes dois ambi-entes foi de 39,4 e 33,8%, respectivamente. Foramencontradas em média 7 plântulas de T. serra tifo/ia porm2 até. uma distância de 15 metros a partir do fuste dosindivíduos selecionados, porém, apenas 0,031 plantajovem por m2 foi encontrada na mesma área, indicandoque o recrutamento da fase plântula para planta jovem éprovavelmente de 0,2%, para a condição de ocorrênciados indivíduos estudados.

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