história do cristianismo

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História Do Cristianismo

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  • Histria do Cristianismo

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    SUMRIO

    Introduo

    Cap. 1 Os Perodos Histricos da Igreja..................................................02

    Histria da Igreja Antiga

    Histria da Igreja Medieval

    Histria da Igreja Moderna

    Histria da Igreja Contempornea

    Cap. 2 Histria do Catolicismo Romano..................................................04

    Definio do Termo

    Histria da Igreja Crist

    Doutrina Catlica

    Organizao e Estrutura

    Cap. 3 Histria do Catolicismo Grego......................................................14

    Definio do Termo

    Histria da Igreja Ortodoxa

    Doutrina Ortodoxa

    Ritos das Igrejas Orientais

    Cap. 4 Reforma e Contra-Reforma..........................................................16

    Antecedentes da Reforma

    A Reforma Protestante

    A Contra-Reforma

    Cap. 5 A Histria do Protestantismo.......................................................20

    Princpios Gerais

    Origem e Evoluo

    Cap. 6 Quatro Condies Espirituais do Cristianismo.............................23

    Igreja Formada

    Igreja Deformada

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    Igreja Reformada

    Igreja Conformada

    Cap. 7 Ecumenismo Unio das Igrejas................................................35

    Definio de Ecumenismo

    Histria do Ecumenismo

    Novas Tendncias

    Concluso....................................................................................................38

    Bibliografia..................................................................................................38

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    INTRODUO

    A Bblia contm a histria de Cristo. A Igreja existe para contar a histria de Cristo. A histria da igreja

    uma continuao da histria bblica. com essas palavras que Halley abre sua Church History. Nada mais

    prximo da verdade. impossvel, continua ele, compreender o estado atual do cristianismo seno luz

    de sua histria. 1

    isto que vamos tentar fazer neste mdulo: compreender o estado atual do cristianismo luz de sua

    maravilhosa e acidentada histria.

    CAPTULO 1

    OS PERODOS HISTRICOS DA IGREJA

    A Histria do mundo divide-se geralmente em quatro perodos. (1) Idade Antiga que compreende o

    relato sobre Egito, Assria, Babilnia, Prsia, Grcia e Roma. (2) Idade Mdia, que vai desde a queda de

    Roma at o descobrimento da Amrica. (3) Idade Moderna, que vai desde o sculo quinze at a Revoluo

    Francesa. (4) Idade Contempornea, que se inicia no sculo dezoito e continua at nossos dias.

    A Histria da Igreja tambm pode ser dividida, para fins didticos, em quatro grandes pocas ou

    perodos, durante os quais ela mesma passa por diversas fases e condies: Histria da Igreja Antiga (31 a.C.

    at 476 d.C.), da Igreja Medieval (476 at 1517) e da Igreja Moderna (1453 at 1789) e da Igreja

    Contempornea (1789 at a atualidade).

    Histria da Igreja Antiga

    Antiguidade ou Idade Antiga, sob o aspecto da existncia da religio crist, o perodo de tempo

    convencionalmente compreendido entre o incio do cristianismo, datado em 31 d.C., e a queda do Imprio

    Romano do Ocidente (476 d.C.). a igreja vivendo no tempo do Imprio Romano.

    Esse primeiro perodo da Histria da Igreja revela o nascimento da Igreja Crist e sua posterior

    evoluo da fase de Igreja Apostlica para a fase de Primitiva Igreja Crist. Reconhece-se o comeo da

    igreja Crist a partir do grande dia em que o Esprito Santo desceu, de acordo com a promessa de nosso

    Senhor a Seus apstolos.2

    O centro da atividade inclua as regies da sia, frica e Europa. A Igreja operou dentro do ambiente

    cultural da civilizao greco-romana e do ambiente poltico do Imprio Romano. Nesse perodo podemos

    destacar trs fases bsicas: (1) avano do cristianismo no Imprio, do ano 31 at o ano 100; (2) a luta da

    primitiva Igreja Crist, mrtir, para sobreviver em meio s perseguies imperiais, de 100 a 313; (3) os pais

    da igreja e as controvrsias; (4) a oficializao do cristianismo como religio oficial do Imprio, de 313 at

    476.

    1 Halley, La Historia de La Iglesia, pg. 10.

    2 J. C. Robertson, Sketches of Church History, pg. 9.

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    Histria da Igreja Medieval

    Chamamos Idade Mdia o perodo da histria europia compreendido entre a queda do Imprio

    Romano do Ocidente, no sculo V, e a afirmao do capitalismo sobre o modo de produo feudal, o

    florescimento da cultura renascentista e os grandes descobrimentos. Esta a poca do surgimento e poderio

    do papado; da inquisio, do monarquismo, do maometanismo e das cruzadas.

    O palco da ao neste perodo muda-se do sul para o norte e oeste da Europa, isto , para as margens do

    Atlntico. No ano 538 surge a Igreja Catlica Imperial

    A Igreja Medieval, diante das levas migratrias das tribos teutnicas (tribos invasoras do Imprio),

    lutou para traz-las ao cristianismo e integrao na cultura greco-romana. Com este intento, a Igreja

    Medieval acabou por centralizar sua organizao debaixo da supremacia papal, desenvolvendo um sistema

    sacramental-hierrquico que caracteriza a Igreja Catlica Romana.

    Histria da Igreja Moderna

    O perodo histrico conhecido como Idade Moderna iniciou-se com a queda de Constantinopla, em

    1453. Caracterizado pelo fim do feudalismo, advento do renascimento e as grandes navegaes e

    descobrimentos, na religio tambm um tempo de descobertas. a poca da Reforma Protestante do sculo

    dezesseis, movimento religioso que, no sc. XVI, subtraiu obedincia do Papa uma parte da Europa e deu

    nascimento s Igrejas protestantes.

    Idade Contempornea

    O perodo da histria iniciado com a Revoluo Francesa, em 1789. a poca do denominacionalismo,

    do reavivamento e das misses. poca de grande crescimento para as denominaes protestantes. Ampla

    circulao da Bblia, liberdade crescente dos governos civis, eclesistico. poca das misses mundiais, da

    reforma social e da fraternidade crescente.

    Os mais destacados fatos histricos da era crist so:

    1. A cristianizao do Imprio Romano.

    2. A invaso dos brbaros e a fuso das civilizaes romana e alem.

    3. A luta contra o islamismo.

    4. O surgimento e predomnio do papado.

    5. A reforma protestante.

    6. O movimento missionrio mundial moderno.

    As trs grandes divises do cristianismo so:

    1. Cristianismo catlico romano, que predomina no sul da Europa e na Amrica Latina.

    2. Cristianismo catlico grego, que predomina na Europa oriental e sul-oriental.

    3. Cristianismo protestante, que predomina na Europa ocidental e Amrica do Norte.

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    CAPTULO 2

    HISTRIA DO CATOLICISMO ROMANO

    Desde o Conclio de Trento, realizado entre 1545 e 1563, a igreja crist subordinada autoridade

    papal passou a denominar-se Catlica Apostlica Romana, em oposio s igrejas protestantes constitudas a

    partir da Reforma. Define-se como una, santa, catlica e apostlica e considera seu chefe como legtimo

    herdeiro da ctedra do apstolo Pedro, sagrado papa, segundo o Evangelho, pelo prprio Cristo.

    Definio do Termo

    O termo catolicismo foi usado por alguns autores (Aristteles, Zeno, Polbio), antes da era crist, com

    o sentido de universalidade. Aplicado igreja, aparece pela primeira vez por volta do ano 105 da era crist

    na carta de Incio, bispo de Antioquia. Nos textos mais antigos, aplica-se igreja geral considerada em

    relao s igrejas locais. Nos autores do sculo II da era crist (Justino, Ireneu, Tertuliano, Cipriano), o

    termo assume duplo significado: o de universalidade geogrfica, pois na opinio desses autores a igreja j

    havia atingido os confins do mundo; e o de igreja verdadeira, ortodoxa, autntica, em contraposio s seitas

    que comeavam a surgir.

    Histria da Igreja Crist

    Antes, porm, de cristalizar-se o catolicismo, o que existia era o cristianismo. Acompanhemos

    passo a passo a formao deste colossal sistema religioso, que domina hoje grande parte do mundo.

    Cristianismo na Palestina. Na poca de Jesus Cristo, quando a Palestina era dominada pelos romanos, a

    religio oficial do povo judeu pautava-se pela parte da Bblia conhecida como Antigo Testamento. Embora

    no pretendendo romper com a tradio religiosa judaica, a mensagem de Cristo dava realce principalmente

    aos princpios ticos do amor e da fraternidade, contrapondo-se ao formalismo religioso apregoado pelos

    fariseus e doutores da lei mosaica. Essa mensagem de cunho mais espiritual e menos legalista passou a ser

    divulgada sobretudo entre as camadas pobres da populao, na lngua popular, o aramaico, mediante

    parbolas.

    Aps a morte de Cristo, seus discpulos passaram a ser chamados cristos (pela primeira vez na

    Antioquia da Sria, Atos 11:26) e, reunidos em pequenas comunidades, procuraram manter viva a lembrana

    de seus ensinamentos, embora participando ainda da tradio religiosa judaica. O evento mais importante

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    desse perodo foi a primeira assemblia crist, conhecida como Conclio de Jerusalm, da qual emergiram

    duas perspectivas pastorais bem definidas. De um lado, sob a liderana do apstolo Tiago, estavam os que

    pretendiam dar destaque raiz judaica da nova f; do outro, os seguidores de Paulo, que desejavam uma

    abertura imediata da mensagem crist para o mundo cultural greco-romano. A deciso conciliar optou por

    uma abertura prudente, proposta por Pedro, um dos trs do crculo mais ntimo de apstolos (os outros dois

    eram Tiago e Joo). Esse cristianismo judaico teve, porm, vida relativamente breve, em vista da destruio

    de Jerusalm, ordenada pelo imperador Tito no ano 70. A partir de ento, a f crist expandiu-se nas

    provncias da Anatlia e na prpria capital do Imprio Romano.

    Cristianismo no mundo helnico. Foi sobretudo graas atuao de So Paulo, divulgador da

    mensagem crist na Anatlia, que o movimento religioso iniciado por Cristo na Palestina estendeu-se para o

    mundo helnico. A crena de pobres camponeses e pescadores passou a conquistar adeptos entre as famlias

    pertencentes s classes mdias urbanas. O culto cristo foi progressivamente adaptado s formas de

    expresso mstica do Oriente e sua liturgia passou a empregar a lngua grega. Fez-se tambm a traduo da

    Bblia para o grego, conhecida como verso dos Setenta, e a atitude tica proposta pelo cristianismo

    complementou-se com um enfoque conceitual e doutrinrio. A elaborao terica comeou com os

    apologetas, entre os quais destacou-se Orgenes, empenhados em defender a validade da crena crist diante

    da cosmoviso grega.

    Dois centros de cultura crist assumiram uma importncia excepcional nessa poca: Alexandria, no

    Egito, e Antioquia, na Sria. Em Alexandria predominava a influncia platnica e uma interpretao das

    Escrituras voltada para a alegoria; em Antioquia prevalecia a interpretao histrico-racional, de raiz

    aristotlica. O perodo que abrange os sculos IV e V caracterizou-se pela atuao de eruditos cristos tais

    como Atansio, Baslio, Gregrio de Nissa, Gregrio Nazianzeno, Joo Crisstomo e Cirilo de Alexandria,

    todos pertencentes ao clero catlico. A consolidao dos dogmas cristos nessa poca gerou divergncias

    doutrinais conhecidas como heresias.

    O primeiro conclio ecumnico realizou-se em Nicia em 325, convocado pelo imperador Constantino.

    Coube a Teodsio I reunir o segundo conclio ecumnico em 381, na cidade de Constantinopla, com a

    participao apenas dos bispos orientais. O terceiro conclio realizou-se em feso, no ano 431, e proclamou a

    origem divina da maternidade de Maria. A maior assemblia crist da antiguidade foi o Conclio de

    Calcednia, realizado em 451. Desde o sculo IV, a igreja grega passou a atuar em colaborao com o poder

    poltico e essa aliana com o estado fortaleceu-se aps a separao da igreja de Roma. No sculo IX, com

    Fcio, patriarca de Constantinopla, as relaes entre as duas igrejas se estremeceram, mas a separao

    definitiva s se deu em 1054. Desde ento a igreja romana se refere igreja grega como cismtica, embora

    esta se definisse como ortodoxa, ou seja, detentora da reta doutrina. Alm das divergncias sobre

    formulaes teolgicas, originadas de perspectivas culturais diversas, teve tambm grande peso na ruptura a

    resistncia dos cristos gregos em aceitar a afirmao cada vez maior do poder poltico-eclesistico da igreja

    romana.

    Cristianismo no Imprio Romano. Ao iniciar-se a expanso da f catlica pela Anatlia, toda a regio

    estava sob o domnio do Imprio Romano. Com a destruio de Jerusalm, inmeros cristos, entre os quais

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    o apstolo Pedro, passaram a viver na periferia de Roma, juntamente com outros judeus. A partir de ento,

    Roma foi a sede de religio crist; da as expresses cristianismo romano e igreja romana. As celebraes do

    culto passaram a realizar-se na lngua latina. Tambm a Bblia foi, mais tarde, traduzida para o latim, por so

    Jernimo, traduo conhecida como Vulgata. Ao contrrio dos gregos, marcadamente especulativos, os

    romanos eram um povo jurdico por excelncia. Pouco a pouco, o esprito legalista afirmou-se na formao

    crist, com nfase cada vez maior na organizao das estruturas eclesisticas. De acordo com a nomenclatura

    romana, os territrios onde desabrochava a f crist dividiram-se em dioceses e parquias, frente dos quais

    foram postos bispos e procos, sob a chefia do papa, bispo de Roma.

    A presena crist no Imprio Romano foi marcada por duas etapas bem diversas. Na primeira, que se

    estendeu at o final do sculo III, a religio crist viu-se desprezada e perseguida. O imperador Nero foi o

    primeiro perseguidor dos cristos, acusados de terem provocado o incndio de Roma no ano 64. Entre os

    mrtires dessa fase, que durou quatro anos, incluem-se so Pedro e so Paulo. Com Domiciano houve nova

    perseguio, iniciada por volta do ano 92. Os imperadores antoninos do sculo III no hostilizaram

    abertamente os cristos, mas a legislao permitia que fossem denunciados e levados aos tribunais. Houve

    perseguies sob Dcio, Valeriano e Diocleciano, mas a situao comeou a modificar-se com a vitria de

    Constantino sobre Maxncio. A partir de Constantino, os imperadores passaram a proteger e estimular cada

    vez mais a f crist, at que, na poca de Teodsio I, em fins do sculo IV, o Imprio Romano tornou-se

    oficialmente um estado cristo.

    De incio professado apenas pelos descendentes de judeus que viviam na periferia de Roma, o

    cristianismo logo difundiu-se, porm, nas camadas pobres da populao, especialmente entre os escravos, e

    pouco a pouco foi atingindo tambm as famlias da nobreza romana. Com os decretos de liberdade e

    oficializao, o cristianismo afirmou-se a ponto de tornar-se, para alguns, veculo de promoo social e

    caminho para a obteno de cargos pblicos. Na medida em que a f crist se consolidou como religio

    marcadamente urbana, a partir de fins do sculo IV, os demais cultos passaram a ser perseguidos. Por

    conseguinte, seus seguidores tiveram que se refugiar na zona rural, donde o nome pago, ou seja, habitante

    do campo.

    Cristianismo medieval. A partir do sculo V, o Imprio Romano entrou em decadncia at sucumbir s

    invases dos povos brbaros. Quando as populaes germnicas ultrapassaram as fronteiras do Imprio e se

    estabeleceram no Ocidente, foram os francos os primeiros a abraar a f crist, razo pela qual a Frana foi

    chamada, mais tarde, "filha primognita da igreja". Por fora da atividade missionria, outros povos foram,

    em seguida, aderindo f crist. A partir do sculo VI, o reino franco foi perdendo o antigo vigor, devido

    debilidade dos reis merovngios, enquanto ocorria a ascenso da casa dos carolngios. Carlos Magno foi

    coroado imperador pelo papa Leo II em 800; consolidava-se assim um novo estado cristo, ou seja, a

    cristandade medieval, fortemente apoiado no sistema feudal. A partir do sculo XI, essa cristandade foi

    representada pelo Sacro Imprio Romano-Germnico e, no sculo XVI, pelos reinos da Espanha e Portugal.

    Enquanto o cristianismo judaico, de carter rural, assumira caractersticas urbanas com a transposio

    para a cultura greco-romana, a divulgao da f catlica na sociedade medieval provocou o processo inverso,

    pois os povos anglo-germnicos tinham uma forma de vida marcadamente rural. No obstante, a hierarquia

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    catlica procurou manter valores prprios da civilizao romana. Dessa maneira, a lngua oficial da igreja

    continuou sendo o latim, pois os chamados povos brbaros no tinham ainda expresso literria estruturada.

    O clero continuou a usar a antiga tnica romana, chamada agora hbito talar dos eclesisticos. A doutrina

    religiosa tambm continuou a ser expressa por categorias filosficas gregas e a organizao eclesistica se

    manteve dentro dos padres jurdicos romanos.

    A partir de ento, ocorreu de forma bem ntida uma separao entre a religio crist oficial, sustentada

    pela hierarquia com apoio do poder poltico, e o cristianismo popular, marcado por forte influncia das

    culturas anglo-germnicas. No podendo mais participar do culto por falta de compreenso da lngua oficial,

    o povo passou a desenvolver formas prprias de expresso religiosa marcadamente devocionais. De modo

    anlogo ao que ocorria na vida leiga medieval, com vnculos sociais articulados pelo juramento de

    fidelidade, mediante o qual os servos se comprometiam prestao de servios aos senhores feudais em

    troca de proteo, tambm o auxlio celeste passou a ser invocado por promessas que deveriam ser pagas

    aps o recebimento das graas e favores desejados.

    A diviso entre religio popular e cristianismo oficial perduraria at os albores do sculo XVI, no

    obstante a criao dos tribunais da Inquisio para a manuteno da ortodoxia da f. Diante da fragilidade da

    prtica religiosa, o Conclio de Latro IV, celebrado em 1215, decidiu prescrever aos fiis cristos a

    assistncia dominical missa sob pena de pecado, bem como a confisso e a comunho anual. Da a origem

    dos chamados mandamentos da igreja.

    Desde o incio da Idade Mdia, sob influncia de santo Agostinho, um dos maiores pensadores

    catlicos, houve uma valorizao da doutrina da graa divina, mas simultaneamente tomou incremento uma

    concepo negativa a respeito do corpo e da sexualidade humana. Dentro dessa perspectiva, o Conclio de

    Elvira, celebrado na Espanha em 305, prescreveu o celibato para os clrigos, medida oficializada

    posteriormente para toda a igreja. Houve ainda uma grande promoo do monaquismo: a ordem de So

    Bento, estabelecida em abadias rurais, teve ampla difuso nos primeiros sculos da formao da Europa. A

    partir do sculo XIII, as ordens mendicantes, como a fundada por Francisco de Assis, difundiram-se

    rapidamente.

    No sculo IX, os monges de Cluny, de inspirao beneditina, passaram a dedicar-se preservao do

    patrimnio cultural clssico, copiando documentos antigos. No sculo XIII, a grande contribuio cultural da

    igreja foi a fundao das primeiras universidades, nas quais se destacaram Toms de Aquino e Alberto

    Magno, da ordem dominicana. No obstante, a viso religiosa de mundo comeou a ser questionada a partir

    do sculo XV, com as novas descobertas, produto do desenvolvimento cientfico, cuja origem estava

    vinculada ao movimento das cruzadas, expedies religiosas que levaram os prncipes cristos ao

    estabelecimento de comrcio com o Oriente.

    Sociedade moderna e Reforma. As mudanas de carter social, econmico e cultural que ocorreram a

    partir do sculo XIV, marcando o fim da Idade Mdia e o nascimento do mundo moderno ocidental,

    provocaram uma crise muito forte na instituio eclesistica e na vivncia da f catlica. Diversos grupos

    passaram a solicitar reformas urgentes e a protestar contra a lentido e a dificuldade da igreja em adaptar-se

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    aos novos tempos. Dessas divergncias resultou a ciso no seio da Igreja Catlica e o surgimento das

    denominaes protestantes.

    A figura do monge catlico Martinho Lutero exemplar a esse respeito. Diante da emergncia

    progressiva dos idiomas modernos, Lutero apregoava a necessidade de que o culto fosse celebrado em lngua

    verncula, a fim de diminuir a distncia que se interpunha entre o clero e o povo. Desejoso de que os cristos

    de sua ptria tivessem acesso s fontes religiosas da f, traduziu a Bblia para o alemo. Nessa mesma

    perspectiva, proclamou a necessidade de adotar para os clrigos os trajes da sociedade em que viviam e

    contestou a necessidade do celibato eclesistico. As diversas denominaes protestantes surgidas nesse

    perodo, como o luteranisno na Alemanha, o calvinismo na Sua e o anglicanismo na Inglaterra difundiram-

    se rapidamente em vista de sua maior capacidade de adaptao aos valores da emergente sociedade burguesa.

    A profunda vinculao da igreja romana com o poder poltico, a partir de Constantino, e a progressiva

    participao da hierarquia eclesistica na nobreza ao longo da Idade Mdia fizeram com que os adeptos da f

    catlica tivessem dificuldades muito grandes para aderir evoluo da sociedade europia. A Igreja Catlica

    reagiu de forma conservadora no s s novas perspectivas culturais, como tambm s reformas propostas

    por Lutero. A expresso mais forte dessa reao antiburguesa e antiprotestante foi o Conclio de Trento,

    realizado em meados do sculo XVI. Em oposio ao movimento protestante que defendia a adoo da

    lngua verncula no culto, os padres conciliares decidiram-se pela manuteno do latim. Acentuou-se o poder

    clerical na estrutura da igreja e o celibato sacerdotal foi reafirmado. Diante da popularizao da leitura

    bblica promovida por Lutero, a hierarquia catlica recomendou a divulgao de catecismos com resumo das

    verdades da f.

    A instituio catlica reagiu fortemente contra o avano da mentalidade humanista, insistindo sobre a

    necessidade de uma prtica asctica. A hierarquia eclesistica persistiu na vinculao com a antiga nobreza

    rural e encontrou dificuldade para aceitar os novos valores da burguesia urbana em ascenso. A reao

    antiburguesa assumiu posies radicais na pennsula ibrica, onde os reis catlicos, Fernando e Isabel,

    implantaram a Inquisio contra os judeus com a finalidade especfica de quebrar o poder econmico que

    eles detinham.

    O Conclio de Trento trouxe uma significativa revitalizao da instituio catlica, com o surgimento de

    novas congregaes religiosas, muitas das quais dedicadas a atividades missionrias, educativas e

    assistenciais. A Companhia de Jesus, fundada por Incio de Loyola, tornou-se o modelo da nova forma de

    vida religiosa. A arte barroca, por sua vez, tornou-se um instrumento importante de expresso da reforma

    eclesistica.

    A mentalidade conservadora da Igreja Catlica perdurou nos sculos seguintes, o que provocou a

    hostilidade da nova burguesia liberal contra a Companhia de Jesus, expulsa de vrios pases na segunda

    metade do sculo XVIII. A revoluo francesa de 1789 assumiu tambm um carter nitidamente anticlerical,

    tendo em vista a aliana da igreja com o poder monrquico do Antigo Regime. Ao longo do sculo XX, a

    igreja continuou combatendo as concepes liberais e encontrando dificuldade para assimilar os progressos

    da cincia. O Conclio Vaticano I, interrompido com a tomada de Roma em 1870, reforou as posies

    autoritrias da igreja ao proclamar o dogma da infalibilidade papal. Desde princpios do sculo XX, o papa

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    Pio X prescreveu a todos os professores de seminrios o juramento antimodernista, exigindo fidelidade s

    concepes teolgico-filosficas elaboradas no sculo XIII por Toms de Aquino, fundamentado na

    cosmoviso grega aristotlica.

    Catolicismo e mundo contemporneo. Aps cerca de 400 anos de reao e resistncia contra os avanos

    do mundo moderno, a Igreja Catlica iniciou um processo de maior abertura com o Conclio Vaticano II,

    realizado entre 1962 e 1968. Entre as conquistas mais expressivas dessa assemblia episcopal, deve-se

    ressaltar a afirmao de que a f catlica no se vincula diretamente a nenhuma expresso cultural em

    particular, mas deve adequar-se s diversas culturas dos povos aos quais a mensagem evanglica

    transmitida. Dessa forma, a marca da romanidade da igreja deixou de ter a relevncia que tivera no passado.

    Uma das conseqncias prticas dessa orientao foi a introduo das lnguas vernculas no culto, bem como

    a adoo progressiva do traje civil pelo clero.

    O conclio trouxe uma maior tolerncia em relao aos progressos cientficos; a posterior revogao da

    condenao de Galileu foi um gesto simblico dessa nova atitude. As estruturas da igreja modificaram-se

    parcialmente e abriu-se espao para maior participao dos leigos, incluindo as mulheres, na vida da

    instituio. Ao contrrio dos conclios anteriores, preocupados em definir verdades de f e de moral e

    condenar erros e abusos, o Vaticano II teve como orientao fundamental a procura de um papel mais

    participativo para a f catlica na sociedade, com ateno para os problemas sociais e econmicos.

    Os padres conciliares mostraram sensibilidade para com os problemas da liberdade e dos direitos do

    homem. A diretiva pastoral, menos devotada s questes dogmticas da teologia clssica, permitiu maior

    aproximao entre a igreja romana e as diversas igrejas ortodoxas de tradio grega, como a armnia e a

    russa, e as denominaes protestantes. Por ltimo, os horrores do anti-semitismo nazista ofereceram

    oportunidade para que a Igreja Catlica repensasse sua tradicional posio de distanciamento em relao ao

    judasmo.

    Doutrina Catlica

    Os quatro primeiros conclios ecumnicos definiram as concepes trinitrias e cristolgicas,

    sintetizadas no smbolo conhecido como Credo, adotado no ritual da missa. O dogma trinitrio afirma a

    crena num s Deus, que se manifesta por meio de uma trindade de pessoas: o Pai, o Filho e o Esprito

    Santo. O dogma cristolgico admite que Cristo o Filho de Deus, encarnao do Verbo divino, verdadeiro

    Deus e verdadeiro homem. O advento de Cristo deu-se por meio da Virgem Maria que, segundo o dogma

    mariolgico, concebeu do Esprito Santo. A finalidade da encarnao de Cristo foi salvar a humanidade do

    pecado original, que enfraqueceu a natureza humana e acentuou sua tendncia para o mal, de acordo com o

    dogma soteriolgico.

    A doutrina do pecado original e da graa foi elaborada por santo Agostinho nas primeiras dcadas do

    sculo V. A partir do sculo XIII, Toms de Aquino procurou estabelecer uma ponte entre o saber teolgico

    e a filosofia aristotlica, afirmando que as verdades da f superam a racionalidade humana mas no esto em

    contradio com ela. Assim sendo, a filosofia deve estar a servio da teologia crist. Toms de Aquino

    tornou-se o mestre por excelncia da doutrina catlica, com a sntese por ele realizada na Suma teolgica. No

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    sculo XVI, o Conclio de Trento definiu dois pontos fundamentais. Em primeiro lugar, a afirmao da

    doutrina da igreja, considerada como uma sociedade hierrquica, dentro da qual se atribui ao clero o poder de

    magistrio, de ministrio do culto e de jurisdio sobre os fiis. Em segundo lugar, o conclio definiu a

    doutrina dos sete sacramentos da igreja (batismo, crisma ou confirmao, confisso, eucaristia, extrema-

    uno, ordem e matrimnio), alm de proclamar a presena real de Cristo na eucaristia, no mistrio da

    transubstanciao.

    Ao longo dos sculos XVII e XVIII a teologia catlica foi conturbada por polmicas referentes ao papel

    da graa e da participao do homem em sua prpria salvao, onde se confrontam principalmente os jesutas

    e os jansenistas, estes ltimos partidrios de maior valorizao da presena do mistrio divino na histria

    humana. Durante o sculo XIX, foram proclamadas como verdades de f a Imaculada Conceio de Maria e

    a infalibilidade pontifcia. O primeiro dogma representou uma resposta da Igreja Catlica s novas

    concepes materialistas e hedonistas resultantes da revoluo burguesa, paralelas ao processo acelerado de

    industrializao; o segundo constituiu uma reao ante o avano das idias liberais, com afirmao

    progressiva dos direitos do homem. O ltimo dogma da Igreja Catlica foi proclamado por Pio XII em

    meados do sculo XX: a Assuno da Virgem Maria ao cu, com corpo e alma. necessrio ainda ter

    presente que, desde a Idade Mdia, com o surgimento do chamado catolicismo popular margem da igreja

    oficial, criaram-se tambm novas verses teolgicas mais adequadas compreenso do povo, cuja influncia

    muito se faz sentir na formao do catolicismo brasileiro.

    Organizao e Estrutura

    O catolicismo apresenta duas caractersticas que devem ser levadas em conta na anlise de suas

    posies polticas e religiosas. A primeira a profunda vinculao entre igreja e poder poltico, iniciada com

    Constantino no sculo IV, mantida ao longo de toda a Idade Mdia e prolongada em diversos estados durante

    a poca moderna, em alguns pases at os dias de hoje. Com muita freqncia, portanto, a organizao

    eclesistica sofreu a influncia das alianas com o poder secular. O segundo aspecto a ser considerado que

    a igreja transformou-se, desde o incio da Idade Mdia, num verdadeiro estado poltico, sendo o papa,

    portanto, no apenas um chefe religioso mas tambm um chefe de estado, atribuio que conserva at hoje,

    no obstante o tamanho reduzido do estado pontifcio.

    Escolhidos por Jesus para pregar o Evangelho, os primeiros apstolos eram simples pescadores da

    Galilia, homens de pouca instruo. A fim de prepar-los para sua misso, Jesus reuniu-os ao redor de si,

    transmitindo-lhes pessoalmente seus ensinamentos. Tambm os apstolos e seus primeiros sucessores

    instruram os discpulos por meio de contato pessoal, consagrando essa forma de educao sacerdotal nos

    primeiros sculos da igreja. Muito contribuiu para a formao do clero a fundao de escolas catequticas em

    Alexandria, Antioquia e Cesaria, desde fins do sculo II. A eleio dos clrigos estava a cargo dos apstolos

    e seus sucessores, os bispos, mas se costumava ouvir tambm o parecer da comunidade crist, a quem

    competia o sustento dos clrigos, dos quais se exigiam virtudes e qualidades morais.

    De incio, o celibato no era obrigatrio para os clrigos que ingressavam casados no estado

    eclesistico. Tampouco se fazia distino entre os termos bispo e presbtero; havia tambm as diaconisas,

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    devotadas ao cuidado dos enfermos e instruo das mulheres, mas tal ordem eclesistica desapareceu no

    sculo VII. Nos primeiros sculos, a comunidade crist dependia diretamente dos bispos, como atesta Incio

    de Antioquia; somente mais tarde foram criadas as parquias.

    A pujana da vida crist, no incio do sculo IV, atestada ainda hoje pelas baslicas romanas: So

    Pedro, So Paulo, Santa Maria Maggiore, So Loureno, So Joo do Latro, So Sebastio e Santa Cruz de

    Jerusalm. Construdas sob o patrocnio de Constantino e de sua me, Helena, so prova do esplendor de que

    se revestia ento o culto litrgico. Nos principais centros do Ocidente, como Cartago, Milo e Roma,

    generalizou-se a praxe da missa cotidiana. Como regra geral, o clero se formava sombra dos presbitrios e

    das abadias. Na Itlia, sacerdotes de diversas parquias reuniam em seus presbitrios os aspirantes ao

    sacerdcio, para instru-los no servio divino. Agostinho e Eusbio de Vercelas reuniam na prpria casa

    episcopal os jovens desejosos de seguir a vocao sacerdotal. Tambm os mosteiros preparavam um clero

    seleto. O celibato, prescrito inicialmente para o clero da Espanha e depois estendido para toda a igreja do

    Ocidente pelo papa Sircio, no snodo romano de 386, foi rejeitado pelos bispos do Oriente, onde vigorou

    apenas a proibio de npcias para os que recebiam solteiros as sagradas ordenaes.

    Com a queda do Imprio Romano, a igreja passou a ocupar-se da evangelizao e converso dos povos

    germnicos, o que deu origem a novos modelos de organizao eclesistica. Nos reinos dos visigodos e dos

    francos, ao lado da eleio feita pelo metropolita e avalizada pelo povo, exigia-se desde o sculo VI a

    confirmao real para o episcopado. Tanto a igreja franca como a visigtica assumiram um carter

    fortemente nacionalista, acentuando-se sua independncia com relao Santa S. Em ambas as

    cristandades, infiltrou-se o instituto das "igrejas prprias". As igrejas rurais passaram a ser consideradas

    propriedades particulares dos senhores da terra, que se imiscuam na eleio de procos e capeles. Na igreja

    franca, ao lado de um alto clero poltico e mundano, surge um clero inferior inculto e desregrado. No reino

    visigtico, a vida religiosa do clero revitalizou-se no sculo VII com a convocao de numerosos snodos.

    Apesar disso, a prtica do celibato foi quase abandonada, a tal ponto que o rei Vitiza julgou-se autorizado a

    suprimi-la de todo no incio do sculo VIII.

    A partir de Pepino o Breve, notria a ao dos carolngios em favor da igreja; pode-se mesmo atribuir

    a essa dinastia o surto reformador do sculo VIII e seguinte. Carlos Magno e seu filho Lus o Piedoso, em

    modo particular, deram importncia excepcional reforma da igreja. Durante o reinado do primeiro,

    instituram-se muitas parquias e bispados, a posio dos bispos nas dioceses foi valorizada pelas visitas

    pastorais e pelos snodos e o pagamento dos dzimos consolidou a base econmica das igrejas. O imperador

    ordenou tambm a fundao de escolas ao lado das catedrais, mosteiros e abadias. Embora vinculado aos

    interesses expansionistas do reino franco, o incremento da atividade religiosa converteu o reinado de Carlos

    Magno na primeira experincia de construo da cristandade medieval.

    Durante a poca feudal dos sculos X e XI, houve acentuada decadncia da vida crist, ocasionada, em

    primeiro lugar, pelas contnuas incurses dos normandos, hngaros e sarracenos, que traziam devastaes,

    desorganizao, misria e fome para o povo. A converso em massa da populao provocou uma assimilao

    muito superficial do cristianismo. Alm disso, na converso dos saxes foi utilizada a fora armada,

    gerando-se com isso o dio e no o amor pela f crist. Assim sendo, desagregado o imprio carolngio, o

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    povo retornou vida primitiva e retomou costumes pagos: prticas supersticiosas e uso de amuletos e

    sortilgios. O paganismo se manifestava na instituio dos ordlios, ou juzos de Deus, resolvidos por meio

    de duelos, provas de fogo e de gua, nas quais se esperava uma interveno miraculosa da divindade em

    favor do inocente. Dominava o esprito de vingana, sensualidade e ebriedade, sendo comuns as violaes do

    vnculo matrimonial.

    A decadncia da vida crist manifestava-se tambm na deficiente prtica religiosa e sacramental.

    Aumentava o culto dos santos, eivados muitas vezes de prticas supersticiosas e de ignorncia. Cresceu a

    venerao indiscriminada das relquias, que eram da mesma forma comercializadas ou roubadas. Relquias

    falsas eram postas com facilidade em circulao: trs localidades da Europa se vangloriavam de possuir entre

    seus tesouros, a cabea de so Joo Batista; chegavam a 33 os cravos da Santa Cruz venerados em diversas

    igrejas; a abadessa Ermentrude de Jouarre falava em relquias como o fruto da rvore da cincia do bem e do

    mal e Angilberto enumera, entre as relquias do mosteiro de So Ricrio, a candeia que se acendeu no

    nascimento de Jesus, o leite de Nossa Senhora e a barba de so Pedro.

    Desde meados do sculo IX at fins do sculo XI, a observncia do celibato entrou em grande

    decadncia e num abandono quase completo. Padres e bispos casados preocupavam-se por vezes mais com

    sua famlia do que com o ministrio pastoral. Os bens eclesisticos eram tambm utilizados para prover

    parentes, ou transmitidos aos filhos, formando-se uma espcie de dinastia sacerdotal. Outro abuso de vastas

    propores era a compra e venda de benefcios e ministrios eclesisticos. Houve casos de simonia, ou seja,

    trfico de coisas sagradas, na aquisio das dioceses da Frana, Itlia e Alemanha. A fim de recuperar o

    dinheiro gasto com a prpria nomeao, os bispos eleitos dessa forma no admitiam clrigos s sagradas

    ordenaes seno mediante alguma compensao pecuniria. Os presbteros no administravam os

    sacramentos sem remunerao. No snodo realizado em Roma em 1049, o papa Leo IX quis depor os

    sacerdotes ordenados por bispos considerados simonacos, mas os casos eram to numerosos que ele no

    pde concretizar sua deciso, pois teria privado de cura de almas um nmero muito grande de igrejas.

    Sob a orientao do papa reformador Gregrio VII e de seus sucessores, afirmou-se a autoridade

    legislativa e administrativa da igreja romana nos sculos XII e XIII. Diminuiu a influncia dos costumes

    germnicos, substitudos pelo direito romano, utilizado sob a forma de direito cannico pela instituio

    eclesistica. O apelativo "papa", j usado precedentemente pelo bispo de Roma, assumiu significado pleno e

    exclusivo. Desde o sculo XI, introduziu-se tambm o uso da tiara, como smbolo do poder eclesistico.

    Fortaleceu-se a doutrina da autoridade normativa da S Apostlica para toda a igreja. A partir de ento,

    apenas o papa podia convocar e aprovar os conclios ecumnicos. Organizou-se a Cria Romana para

    despacho dos negcios referentes ao papa e ao estado pontifcio. Nomearam-se os cardeais, espcie de

    senadores da igreja, com quem o papa resolvia as questes mais importantes em reunies denominadas

    consistrios. Os cardeais passaram a ser enviados mais amide s diversas naes como legados pontifcios.

    Tal instituio chegou ao mximo desenvolvimento sob Inocncio III, papa que governou na passagem do

    sculo XII para o sculo XIII e sob o qual o poder de Roma afirmou-se de forma enrgica e intransigente.

    O fortalecimento do poder romano induziu os papas a se tornarem os incentivadores da libertao da

    Terra Santa das mos dos muulmanos, dirigindo contra eles as cruzadas ou guerras santas. A defesa da

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    ortodoxia catlica teve tambm como resultado a criao do tribunal da Santa Inquisio. Esta apresentava

    desde o incio graves vcios, como a aceitao de denncias e testemunhos de pessoas cuja identidade era

    mantida em segredo, a no-admisso de defensores, o abuso do conceito de heresia, a aplicao da tortura e

    a pena de morte. Embora as execues fossem efetuadas pelas autoridades civis, esse particular no diminui

    a responsabilidade da igreja; no entanto, o juzo sobre a Inquisio deve levar em conta a mentalidade da

    poca, que considerava a f crist como o mximo bem, e a apostasia e a heresia como os piores delitos.

    A afirmao poltica da Santa S conduziu os papas a diversos conflitos com reis e prncipes. Em

    conseqncia disso, os papas passaram a residir em Avignon no sculo XIV, pressionados pelos monarcas

    franceses. Em contraposio aos pontfices de origem francesa, foram eleitos papas italianos, num cisma que

    se prolongou at 1449. Em vista dessa situao, os telogos passaram a questionar a autoridade papal e as

    doutrinas conciliares ganharam fora. A partir de Sisto IV, eleito em 1471, os pontfices passaram a atuar

    mais como prncipes do que como sacerdotes e se comportavam como dinastas da Itlia que, acidentalmente,

    eram tambm papas. A atuao mundana dos papas exigia novas prticas e expedientes: negcios

    financeiros, vendas de ofcios e favores, artes pouco honestas e o nepotismo (favoritismo aos sobrinhos).

    O nepotismo marcou fortemente o pontificado de Sisto IV e seu sucessor, Inocncio III, que tinha como

    objetivo dominante enriquecer o filho natural, Franceschetto. Sucedeu-lhe, por trficos de simonia, o cardeal

    Rodrigo Borgia, que assumiu no pontificado o nome de Alexandre VI, notrio por adultrios, perfdias e

    crueldades.

    Nesse perodo de crise da igreja, Martinho Lutero iniciou o movimento reformador que culminou na

    separao das chamadas igrejas protestantes. S ento a igreja romana decidiu-se pela convocao de um

    conclio (o de Trento), j to desejado pelos cristos. Como resultado da assemblia conciliar, houve novo

    fortalecimento da autoridade pontifcia. O papa tornou-se o verdadeiro orientador e promotor da reforma

    catlica, intervindo em todos os assuntos eclesisticos. Para isso, muito contribuiu a nova organizao da

    Cria Romana e do colgio dos cardeais, realizada por Sisto V. Em 1586, ele fixou em setenta o nmero de

    cardeais, s ultrapassado no sculo XX, a partir do pontificado de Pio XII. Em 1587, o papa estabeleceu

    tambm em 15 o nmero de congregaes romanas na Cria, como instrumento para implantar a reforma na

    igreja. Mereceram especial referncia a congregao dos bispos, dos religiosos, dos ritos e dos estudos

    eclesisticos.

    Com as mesmas finalidades de governo, foram estabelecidas de modo definitivo as nunciaturas

    apostlicas, ou seja, embaixadas papais nas diversas naes catlicas. Anteriormente, os representantes do

    papa junto aos reinos eram designados como legados, muito valorizados pela reforma implantada por

    Gregrio VII. O Conclio de Trento representou, sem dvida, um evento de excepcional importncia da

    Igreja Catlica e suas repercusses se prolongaram pelos sculos seguintes. Ao lado, porm, dos grandes

    benefcios advindos em termos de fortalecimento da f e da moral catlica, implantou-se na igreja o esprito

    apologtico, do qual a congregao do Santo Ofcio, com a censura de obras consideradas nocivas religio,

    foi a expresso mais significativa. Esse mecanismo autoritrio existe at hoje com o nome de Congregao

    da Doutrina da F. O centralismo romano aumentou o esprito conservador e autoritrio da igreja,

    preocupada na poca em defender-se contra o avano protestante e contra a mentalidade humanista. No

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    sculo XIX, o poder centralizador da Cria foi reforado ainda mais, tornando-se os bispos simples agentes

    das orientaes da Santa S.

    No obstante a renovao de idias que marcou o Conclio Vaticano II, a estrutura da Cria Romana e a

    organizao do estado pontifcio permaneceram quase intactos. Essas instituies serviram de base para o

    movimento neoconservador posteriormente desencadeado pela Santa S, no intuito de frear a modernizao

    da igreja em diversos pases, em busca de adaptao ao mundo contemporneo e s realidades de cada

    regio.3

    CAPTULO 3

    HISTRIA DO CATOLICISMO GREGO

    (Igrejas Ortodoxas)

    Definio do Termo

    A denominao "ortodoxa" (isto , de doutrina reta) tornou-se corrente, mesmo entre catlicos e

    protestantes, para designar as igrejas crists orientais que, em 1054, se separaram da igreja de Roma.

    Chamam-se igrejas ortodoxas as que representam a f historicamente preservada pela cristandade

    oriental e se consideram depositrias da doutrina e dos ritos originais dos padres apostlicos. Dividem-se em

    trs grupos: a Igreja Ortodoxa do Oriente, de origem bizantino-eslava, e que rene o maior nmero de fiis;

    as igrejas orientais dos nestorianos e monofisistas, sem qualquer comunho com as demais; e as igrejas

    orientais que "retornaram a Roma", mas se mantiveram distintas em rito e disciplina.

    Histria da Igreja Ortodoxa

    Nascido na Palestina, o cristianismo difundiu-se rapidamente em todo o Imprio Romano,

    principalmente no Oriente, onde os apstolos e seus primeiros discpulos criaram comunidades crists em

    Antioquia, Alexandria, Corinto, Salonica e outras cidades. As igrejas ortodoxas e a Igreja Catlica tiveram

    histria comum at a Paz de Constantino, no ano 313, e a diviso do imprio entre Oriente e Ocidente (395).

    As primeiras divergncias polticas entre latinos e gregos, que desfizeram a comunho entre as igrejas,

    manifestaram-se desde a transferncia, em 330, da sede do imprio para Constantinopla.

    A decadncia da velha capital sob o domnio dos brbaros, a diviso do imprio e as pretenses do

    imperador de Bizncio, que se considerava o herdeiro nico do imprio -- de toda a cristandade --

    acentuaram o antagonismo entre as igrejas, e iniciaram um processo de crescente afastamento, do sculo V

    ao sculo XI, em meio a fracassadas tentativas de reunificao.

    O conflito poltico e a diversidade de idioma, costumes e ritos litrgicos sublinharam as divergncias

    teolgicas, que passaram a ser resolvidas, nos conclios ecumnicos, com a participao dos bispos do

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    Oriente e do Ocidente. No ano 867, Fcio, patriarca de Constantinopla, suscitou grave ruptura, ao condenar

    o papa Nicolau I pelo acrscimo da expresso Filioque ("e do Filho") na verso ocidental do credo de Nicia,

    para indicar que o Esprito Santo procede do Pai e do Filho, e por sua determinao em tornar a sede

    episcopal de Roma cabea de todas as igrejas crists.

    Deposto a pedido de Roma, o patriarca foi reintegrado depois no posto e, finalmente, confinado num

    mosteiro armnio. A ruptura decisiva, o cisma entre Oriente e Ocidente, deu-se no sculo XI, quando o

    patriarca Miguel Cerulrio reproduziu as acusaes de Fcio contra Roma, e desafiou o papa Leo IX, sendo

    por ordem deste excomungado (1054).

    As cruzadas, organizadas pela cristandade latina, e especialmente a tomada de Constantinopla pelos

    cruzados, em 1204, alm do estabelecimento do imprio latino de Constantinopla, consumaram a separao

    entre as igrejas oriental e ocidental. Missionrios da igreja oriental converteram os blgaros no sculo IX, os

    srvios e os russos nos sculos X e XII, e criaram novos patriarcados. Numerosas tentativas de unio foram

    feitas. Entre os atos de reunificao, todos com resultados efmeros, foram importantes o Conclio de Lyon

    (1274) e o de Ferrara-Florena (1438-1439).

    Com a tomada de Constantinopla pelos turcos, em 1453, por falta de ajuda militar substancial do

    Ocidente, a unio tambm se tornou politicamente invivel. Nos ltimos sculos, a Igreja Ortodoxa, cuja

    ao se concentrava na sia e na Europa oriental, expandiu-se para o Ocidente e incluiu o continente

    americano e a Austrlia. No sculo XX, os ortodoxos participaram do movimento ecumnico para a

    restaurao da unidade crist, e para a orientao da ao evanglica e social comum. A partir da fundao

    do Conselho Mundial de Igrejas, em 1948, foram organizados estudos conjuntos e formas de cooperao

    para descobrir caminhos que possam expressar a unidade entre ortodoxos e anglicanos e entre ortodoxos e

    catlicos.

    O patriarca de Constantinopla (em Istambul), no fim do sculo XX guiava dois milhes de fiis, dos

    quais um milho na Turquia, Grcia, outros pases europeus e Austrlia, e um milho nos Estados Unidos.

    Os patriarcas de Alexandria, Antioquia-Damasco, Moscou, Srvia, Romnia e Bulgria so independentes.

    As igrejas da Grcia, Chipre, Sinai, Gergia, Polnia e Albnia so autocfalas, ou seja, independentes e sem

    patriarcas. J as igrejas da Finlndia, Repblica Tcheca, Hungria e Ucrnia so autnomas e seus arcebispos,

    eleitos, so confirmados pelo patriarca de Constantinopla. A igreja do Japo est ligada dos Estados

    Unidos. No Brasil, o maior nmero de igrejas ortodoxas pertence ao patriarcado antioquino.

    Doutrina Ortodoxa

    As igrejas ortodoxas definem-se como "igreja una, santa, catlica e apostlica". Suas doutrinas apiam-

    se nos livros do Novo Testamento, nos decretos dos sete primeiros conclios ecumnicos e nas obras

    patrsticas. Como a Igreja Catlica, aceitam a tradio e a Bblia como fontes paralelas de doutrina, mas

    diferem dos catlicos principalmente do ponto de vista litrgico.

    3 Enciclopdia Barsa,

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    A principal divergncia entre a Igreja Catlica e a Igreja Ortodoxa reside na prpria concepo da

    igreja. Para os ortodoxos, a totalidade da igreja realiza-se em cada comunidade crist que celebra a eucaristia

    presidida por um bispo. Em sua comunidade, o bispo a mxima autoridade de origem divina, e nenhuma

    outra existe acima dele. Sucessor dos apstolos, deles procede sua autoridade.

    No h, religiosa ou dogmaticamente, diferena entre bispo, arcebispo, metropolita e patriarca: todos

    so iguais na nica e invarivel sucesso apostlica. Apenas haver primazia de bondade, sabedoria, idade e

    ordem hierrquica. A autonomia das igrejas no significa isolacionismo, dada a exigncia de comunho com

    o snodo dos bispos, claramente expressa no fato de ser indispensvel, na consagrao dos novos bispos, a

    presena dos bispos regionais.

    Os ortodoxos, assim, no reconhecem o primado e a infalibilidade do papa, a que concedem uma

    primazia de honra e a quem s consideram primus inter pares ("o primeiro entre iguais"). Diversamente da

    doutrina catlica, o Esprito Santo procede do Pai, mas no do Filho (pois rejeitam o filioque). Negam a

    doutrina do purgatrio e o dogma da Imaculada Conceio de Maria, mas aceitam a assuno da Virgem

    Maria, com base na afirmao formal dos livros litrgicos. Outra distino significativa que, na Igreja

    Ortodoxa, s os bispos devem manter-se celibatrios.

    Ritos das Igrejas Orientais

    A liturgia das igrejas orientais caracteriza-se sobretudo por sua variedade, riqueza e esplendor. A missa

    sempre solene. Os ritos litrgicos constituem o centro da vida ortodoxa, seja para a expresso da f, seja

    para a educao dos fiis. Sua vitalidade est muito ligada tradio do monasticismo, cujo centro a

    chamada "montanha santa", no monte Atos, na Calcdica. Na ornamentao, proibido o uso de imagens

    esculpidas, mas so permitidas as pinturas; veneram-se os santos e admitem-se os cones que representam

    santos, Jesus Cristo ou Maria. No so usados instrumentos musicais, e cabe ao canto coral lugar de grande

    relevo no culto.

    Em funo da autonomia das diferentes igrejas e patriarcados, desenvolveram-se diferentes liturgias,

    que correspondem antes a diferenas lingsticas e a tradies locais do que diversidade de contedo

    doutrinrio. Os cinco ritos principais so o bizantino (adotado pela maioria dos ortodoxos), o alexandrino, o

    antioquino, o armnio e o caldeu.4

    Captulo 4

    REFORMA E CONTRA-REFORMA

    O crescente desprestgio da igreja do Ocidente, mais interessada, nos sculos XIV e XV, no prprio

    enriquecimento material do que na orientao espiritual dos fiis; a progressiva secularizao da vida social,

    imposta pelo humanismo renascentista; e a ignorncia e o relaxamento moral do baixo clero foram os fatores

    que desencadearam a Reforma e a Contra-Reforma.

    4 Enciclopdia Barsa, art. Igrejas Gregas.

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    Reforma foi o movimento radical registrado na igreja do Ocidente ao longo do sculo XVI e que,

    ultrapassando questes disciplinares, deixou mostra problemas doutrinrios de transcendncia vital para o

    cristianismo. As profundas divergncias levaram ciso de algumas igrejas que foram chamadas, de forma

    global, protestantes. A Contra-Reforma foi tanto a reao da igreja que permaneceu fiel tradio do papado

    romano, em oposio ao protestantismo emergente, quanto o movimento reformista no interior da Igreja

    Catlica no decorrer dos sculos XVI e XVII.

    Antecedentes da Reforma

    Nas ltimas dcadas da Idade Mdia, a igreja ocidental viveu um perodo de decadncia que favoreceu

    o desenvolvimento do grande cisma do Ocidente, registrado entre 1378 e 1417, e que teve entre suas

    principais causas a transferncia da sede papal para a cidade francesa de Avignon e a eleio simultnea de

    dois e at de trs pontfices. O surgimento do "conciliarismo" -- doutrina decorrente do cisma, que

    subordinava a autoridade do papa comunidade dos fiis representada pelo conclio -- bem como o

    nepotismo e a imoralidade de alguns pontfices demonstraram a necessidade de uma reforma radical no seio

    da igreja. Nesse sentido, cabe assinalar o quanto tem de simblico o fato de que o incio da Reforma

    protestante, com a proclamao das 95 teses de Martinho Lutero em 31 de outubro de 1517, em Wittenberg,

    Alemanha, tenha sido precipitado pela chegada dos legados papais que anunciavam uma indulgncia em

    troca da doao em dinheiro para a construo da baslica de So Pedro, em Roma.

    Por outro lado, j haviam surgido no interior da igreja movimentos reformistas que pregavam uma vida

    crist mais consentnea com o Evangelho. No sculo XIII surgiram as ordens mendicantes, com a figura

    notvel de so Francisco de Assis. Nos sculos XIV e XV destacaram-se como pregadores so Vicente

    Ferrer, so Bernardino de Siena e so Joo Capistrano. Alm disso, no sculo XV registrou-se uma

    renovao da piedade popular, com um acentuado sentimentalismo em torno das dores da paixo de Cristo.

    Outros movimentos reformistas surgiram em aberta oposio hierarquia eclesistica. No sculo XII os

    valdenses, conhecidos como "os pobres de Lyon" ou "os pobres de Cristo", questionaram a autoridade

    eclesistica, o purgatrio e as indulgncias. Os ctaros ou albigenses defenderam nos sculos XII e XIII um

    ascetismo exacerbado e caram no maniquesmo, considerando a si mesmos os nicos puros e perfeitos. No

    sculo XIV, na Inglaterra, John Wycliffe defendeu idias que seriam reconhecidas pelo movimento

    protestante, como a posse do mundo por Deus, a secularizao dos bens eclesisticos, o fortalecimento do

    poder temporal do rei como vigrio de Cristo e a negao da presena corprea de Cristo na eucaristia. As

    idias de Wycliffe exerceram influncia sobre o reformador tcheco Jan Hus e seus seguidores no territrio da

    Bomia, os hussitas e os taboritas, nos sculos XIV e XV.

    Em posio intermediria entre a fidelidade e a crtica igreja romana situou-se Erasmo de Rotterdam.

    Seu profundo humanismo, conciliatrio e radicalmente oposto violncia, embora no isento de

    ambigidade, levou-o a dar passos importantes em direo Reforma, como a traduo latina do Novo

    Testamento, afastando-se da verso oficial da Vulgata; ou a stira contra o papa Jlio II, de 1513. Ante a

    insistncia de Lutero para que se definisse em relao s teses dos reformadores, Erasmo fez a defesa da

    liberdade humana em seu tratado sobre o livre arbtrio, de 1524, contestado por Lutero em seu tratado sobre

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    o arbtrio escravizado. As ponderadas idias reformistas de Erasmo no se ligaram a nenhum movimento

    popular ou poltico nem foram acolhidas pelos intelectuais, que poderiam t-las compreendido.

    A Reforma Protestante

    Iniciada por Lutero com seu desafio aos legados papais e excomunho, a Reforma protestante no se

    desenvolveu em uma s direo: foram diversos os grupos que percorreram caminhos paralelos e

    irreconciliveis, embora unidos por sua oposio doutrina e disciplina da igreja romana e por sua luta

    poltica e militar contra o papa ou o imperador.

    Martinho Lutero, monge agostiniano, sentiu como uma experincia pessoal, baseada em um texto da

    epstola de so Paulo aos romanos, que a salvao de Deus se comunicava pela f e no por meio das obras,

    que decorrem da natureza humana corrompida pelo pecado original. Dessa concepo fundamental - "s a

    f" - deduziu aos poucos, segundo as controvrsias ou as circunstncias polticas, o conjunto de seu

    pensamento. A excomunho por parte de Roma e a proteo que lhe dispensaram alguns prncipes alemes

    impeliram Lutero ruptura. A desqualificao da autoridade do papa foi avalizada por outro grande princpio

    da Reforma -- "s a Escritura" -- que proclamava a Bblia, interpretada individualmente luz do Esprito

    Santo, como nica fonte de autoridade na comunidade crist. Entretanto, bem depressa Lutero teve que

    defender a necessidade de uma ortodoxia, de uma igreja e de uma disciplina, pois Thomas Mnzer,

    reformista de idias revolucionrias e radicais que visava criao de comunidades sem culto nem

    sacerdotes, instigou a sublevao dos camponeses alemes, entre 1524 e 1525. Diante da ameaa de sua

    expanso, a revolta foi dura e sangrentamente reprimida, com a aprovao de Lutero.

    Em 1525 o reformador suo Huldrych Zwingli fundou em Zurique uma teocracia que se estendeu a

    Berna, Basilia e Estrasburgo. Sua doutrina teolgica radicalizou-se mais que a de Lutero, especialmente ao

    negar a presena de Cristo na Eucaristia. Sua igreja, excluda da aliana evanglica de Gotha em 1526, s foi

    readmitida aps sua morte, na concrdia de Wittenberg, em 1536. Os anabatistas, assim chamados por

    defenderem um novo batismo para os adultos, j que crianas no poderiam receber a graa que s se

    transmite pela f, eram vinculados s doutrinas de Zwingli, embora, mais revolucionrios, exigissem uma

    observncia mais radical dos ensinamentos da Bblia. No campo social, rechaaram a violncia,

    proclamaram a separao entre a igreja e o estado e criaram comunidades livres. As repercusses polticas

    dos novos grupos, que conquistaram adeses macias em algumas cidades, provocaram a unio dos catlicos

    e dos reformadores, que se aliaram para tomar de assalto seu centro na cidade de Mnster, castigando

    severamente seus dirigentes.

    Joo Calvino, telogo francs, refugiou-se em Basilia e depois em Genebra devido a suas idias

    reformistas. Publicou em 1535 Christianae religionis institutio (Instituies da religio crist), que se tornou

    o primeiro catecismo da Reforma. Sua tentativa de unificar os diversos grupos protestantes atraiu

    importantes seguidores de Zwingli, mas consumou a separao com os luteranos. Sua doutrina sobre a

    predestinao salvao e condenao, a severa disciplina imposta em sua concepo teocrtica da cidade-

    igreja e o governo presbiteral das igrejas constituram de fato o que se chamou de segunda Reforma.

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    Na Inglaterra, a mudana da igreja teve uma origem fundamentalmente poltica, logo aproveitada para

    uma Reforma religiosa. Henrique VIII, irritado pela negativa do papa Clemente VII em lhe conceder o

    divrcio, conseguiu em 1531 que o Parlamento ingls aprovasse a subordinao da igreja coroa. O monarca

    acentuou sua exigncia poltica em relao igreja nos anos que se seguiram, at culminar no cisma

    anglicano em 1534. separao poltica seguiu-se uma reforma doutrinria e litrgica, imposta mediante a

    perseguio e a pena de morte. A obra mais destacada na fase inglesa da Reforma foi o Common Prayer

    Book (Livro da prece pblica). Na Esccia, predominou o presbiterianismo introduzido por John Knox, que

    havia participado da Reforma em Genebra junto a Calvino.

    A Contra-Reforma

    A reao oficial da Igreja Catlica foi lenta e, a princpio, desarticulada. Carlos V, imperador da

    Alemanha e rei de Espanha e Npoles, desempenhou um papel de especial relevo nas conseqncias polticas

    da Reforma protestante. Sua tradicional rivalidade com a monarquia francesa impediu a aliana entre os dois

    reinos mais prximos igreja romana. No obstante, e apesar das presses exercidas pelos prncipes da

    igreja e das enormes dificuldades que cercaram a realizao do Conclio de Trento, como reflete a cronologia

    de suas trs etapas (1545-1549, 1551-1552, 1562-1563), a firmeza dos telogos e dos papas conseguiu, ainda

    que tardiamente, o resultado esperado: deter a propagao da Reforma protestante, e instaurar, de forma

    orgnica e oficial, uma Reforma catlica.

    A primeira fase do conclio, convocada pelo papa Paulo III, reuniu grupos de telogos, nomeou cardeais

    dignos, impulsionou as novas ordens religiosas dos teatinos (fundada em 1524 por Gian Pietro Carafa, futuro

    Paulo IV, e so Caetano de Triana), das ursulinas e da Companhia de Jesus (criada em 1534 por santo Incio

    de Loiola), e restabeleceu em 1542 o tribunal da Inquisio, que se converteu em um dos instrumentos mais

    valiosos da Reforma catlica. Jlio III, que subiu ao trono de so Pedro em 1550, continuou com prudncia o

    trabalho de seu antecessor e conseguiu retomar, em 1551, o conclio interrompido.

    Paulo IV, que sucedeu a Jlio III, foi um asceta que logrou banir da corte pontifcia o esprito mundano,

    obrigou os bispos a renunciar a suas mltiplas prebendas e a regressar a suas dioceses; no obstante, sua

    personalidade inflexvel levou-o a uma total intransigncia com os mesmos prncipes que poderiam ajud-lo

    na pacificao da cristandade e na implantao das reformas. Em compensao, seu sucessor, Pio IV, foi

    moderado e conciliador e conseguiu implantar a paz entre as potncias crists e concluir o Conclio de

    Trento.

    O conclio ocupou-se dos grandes problemas do momento, os doutrinrios e os disciplinares. Em

    relao doutrina, cumpria dar resposta s assertivas dos protestantes e esclarecer o conceito catlico de

    igreja. O conclave afirmou o valor das Sagradas Escrituras, tambm a importncia da tradio eclesistica

    como fonte da f; a liberdade do homem, no destruda pelo pecado original; a justificao pela f e pelas

    boas obras; e a revalorizao dos sacramentos, em especial os do sacerdcio ministerial, da eucaristia e da

    confisso. Os direitos disciplinares ocuparam-se da colao de cargos eclesisticos, da residncia dos bispos

    nas dioceses, dos conclios provinciais e da formao nos seminrios.

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    Entre 1566 e 1590 Pio V, Gregrio XIII e Sisto V puseram em prtica a Reforma elaborada pelo

    conclio, no somente com medidas disciplinares, como tambm, e principalmente, mediante a renovao do

    ensino, dos seminrios e das prticas da vida religiosa. A Contra-Reforma tornou-se realidade e encontrou

    instrumentos valiosos no trabalho dos telogos e reformadores da vida monstica, religiosa e secular que

    floresceram sob o impulso da renovao da Igreja Catlica. Entre os telogos, o jesuta Roberto Belarmino

    distinguiu-se por suas crticas s doutrinas reformistas. Entre os reformadores, destacaram-se Pio V e so

    Carlos Borromeu, que reformaram a cria romana. Igualmente importante foi a Companhia de Jesus, um dos

    grandes pilares da Contra-Reforma, com seus telogos, colgios e missionrios.

    Como reao proibio do culto s imagens pela Reforma protestante, a Igreja Catlica promoveu o

    ensino atravs das imagens. Essa promoo, ao lado do desenvolvimento da piedade popular e da superao

    das formas cortess do Renascimento e de seu estilo artstico mais racional, deu origem, principalmente na

    Itlia e na Espanha, ao chamado estilo barroco.

    Os temas da escultura e da pintura barroca so fundamentalmente religiosos, em contraste com os temas

    mitolgicos do Renascimento. Exaltam o triunfo da f, do pontificado, dos mrtires e dos santos.

    Predominam os momentos patticos, como os de Gian Lorenzo Bernini, e os msticos, como os de Tintoretto

    ou os de El Greco.

    Na arquitetura, o estilo da Contra-Reforma se denominou "jesutico", por seguir o estilo que o arquiteto

    italiano Giacomo da Vignola imprimiu igreja de Gesu, de Roma, e por coincidir com a rpida expanso da

    Companhia de Jesus. A conjuno de arte e teologia foi mais uma evidncia de que a mudana da igreja

    havia chegado ao povo.5

    CAPTULO 5

    A HISTRIA DO PROTESTANTISMO

    O desejo de reconduzir o cristianismo pureza primitiva e de livrar a igreja crist da corrupo e

    do excessivo poder temporal da hierarquia religiosa de Roma deu origem, ao longo do sculo XVI, a uma

    importante ciso no seio da cristandade: o protestantismo, uma decorrncia direta da Reforma.

    Protestantismo um termo empregado para designar um amplo espectro de igrejas crists que, embora

    to diferentes entre si como a Igreja Luterana e as Testemunhas de Jeov, compartilham princpios

    fundamentais como o da salvao pela graa de Deus mediante a f, o reconhecimento da Bblia como

    autoridade suprema e o sacerdcio comum de todos os fiis.

    O termo "protestante" tem origem no protesto de seis prncipes luteranos e 14 cidades alems em 19 de

    abril de 1529, quando a segunda dieta de Speyer, convocada pelo imperador Carlos V, revogou uma

    autorizao concedida trs anos antes para que cada prncipe determinasse a religio de seu prprio territrio.

    O termo foi logo adotado, de incio pelos catlicos e logo a seguir pelos prprios partidrios da Reforma,

    5 Enciclopdia Barsa, art. Reforma e Contra-Reforma.

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    pois seu protesto, entendido como uma rejeio autoridade de Roma, constituiu um claro sinal s diversas

    igrejas que se declaravam reformadas.

    A disparidade e a progressiva subdiviso das igrejas protestantes (luteranos, calvinistas, anglicanos etc.)

    decorreram de seu prprio princpio original: a interpretao pessoal das Sagradas Escrituras sob a luz do

    Esprito Santo. A nfase dada por algumas dessas igrejas aos Evangelhos como norma de vida e

    experincia pessoal da converso acabou por provocar o aparecimento de duas tendncias no seio do

    protestantismo: a liberal e a fundamentalista, autodenominada evanglica.

    Embora ambas as correntes tenham coexistido em algumas igrejas, a divergncia acabou por provocar o

    surgimento de outras igrejas, entre as quais se destacam a Evanglica Alem, a Evanglica Luterana e a

    Evanglica e Reformada. Apesar das diferenas existentes entre as diversas igrejas, as idias fundamentais

    dos primeiros reformadores permaneceram inalteradas na maioria das denominaes e credos protestantes.

    Princpios Gerais

    O fundamento da doutrina protestante gira em torno da idia da salvao unicamente pela f. Martinho

    Lutero e os demais reformadores baseavam esta exclusividade na natureza corrupta do homem por causa do

    pecado original e, por conseguinte, em sua incapacidade para realizar boas obras aceitveis por Deus.

    Dessa maneira, a salvao seria uma graa que envolve a natureza humana, sem penetr-la, e que a

    apresenta como justa ante Deus. Essa concepo difere da catlica, segundo a qual a graa conferida pelos

    sacramentos, entendidos no como novos intermedirios entre Deus e os homens, mas como prolongamento

    da ao de Cristo que transforma internamente a natureza humana. Os protestantes sempre recusaram

    qualquer pretexto de mediao da igreja, at mesmo por meio dos sacramentos.

    Com base na natureza corrupta do homem, os protestantes negaram tambm a liberdade e deram maior

    nfase predestinao, devida somente vontade de Deus, sem participao humana. Joo Calvino levou tal

    tese s ltimas conseqncias lgicas ao afirmar a dupla predestinao -- para a salvao e para a

    condenao. Por sua vez, a idia da predestinao trouxe consigo a nsia de manifestar sinais da escolha

    divina, que tinham de ser pessoais e que foram postos no sentimento ou na prosperidade econmica.

    De acordo com a mesma linha de evitar a intromisso de uma hierarquia eclesistica, o sacerdcio

    comum dos fiis o segundo ponto fundamental da doutrina protestante. Os reformadores insistiram no

    princpio bblico de que Cristo o nico sacerdote, mediador ante o Pai, e que todo o povo incorporado a

    Cristo constitui o sacerdcio da nova lei. Os protestantes rejeitam, portanto, o sacerdcio ministerial, ou seja,

    negam um sacramento que torne sacerdotes determinados membros da comunidade. A radicalizao dessa

    idia levou diversas igrejas a substituir o regime episcopal pelo presbiteriano ou pelo congregacionista, que

    transferem a direo eclesistica comunidade.

    A nica autoridade reconhecida pelos protestantes em matria de f e de costumes a palavra de Deus,

    constante das Sagradas Escrituras. A palavra atua por seu contato pessoal mediante a ao do Esprito Santo,

    engendrando a f, e com ela a salvao. Da a importncia da pregao da palavra de Deus, assim como da

    traduo da Bblia para as lnguas vernculas, iniciada por Lutero, e da interpretao pessoal ou livre exame

    dos textos bblicos.

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    Com relao aos sacramentos, a uniformidade menor. Em geral, os protestantes admitem como

    sacramentos o batismo e a ceia do Senhor (eucaristia), mas os consideram como sinais que estimulam a f.

    Rejeitam, pois, a concepo catlica de que os sacramentos conferem a graa por disposio divina e

    independentemente da atitude de quem os recebe.

    Origem e Evoluo

    A propagao do protestantismo pela Europa e Amrica, assim como a multiplicidade de interpretaes

    doutrinrias surgidas ao longo de sua evoluo histrica, deram origem, j no sculo XVI, progressiva

    diviso das primeiras igrejas protestantes.

    Na Frana, o calvinismo propagou-se rapidamente, no sem certa violncia, entre as camadas populares

    e alguns setores da alta nobreza, apesar das cruentas perseguies de que foram objeto, como a da noite de

    so Bartolomeu, em 1572, e das guerras de religio que assolaram o pas. A partir de 1598, data da

    promulgao do Edito de Nantes, que reconheceu sua existncia legal, os calvinistas ou huguenotes, como

    tambm eram chamados, desfrutaram de um perodo de paz que durou at 1685.

    De 1618 a 1648 ocorreu no imprio germnico a guerra dos trinta anos, concluda mediante a Paz de

    Vestflia, que encerrou o perodo caracterizado pelos conflitos religiosos.

    Na Inglaterra, depois do breve e sangrento perodo catlico de Maria Tudor, que governou de 1553 a

    1558, a rainha Elizabeth I restabeleceu a autonomia da Igreja Anglicana, ao promulgar, em 1559, o Estatuto

    de Supremacia e o Estatuto de Uniformidade, e em 1563 os Trinta e nove artigos, uma compilao das

    doutrinas crists consideradas fundamentais pelo protestantismo anglicano. A soberana pretendia dessa

    forma chegar a um entendimento com os catlicos e com os protestantes anglicanos de influncia calvinista.

    O descontentamento destes ltimos foi o germe de futuras dissenses no seio da Igreja Anglicana e do

    surgimento de novos movimentos religiosos. Tal foi o caso do puritanismo, no incio apenas uma corrente

    espiritual que tomava a Bblia como nica regra de vida e recusava taxativamente tudo quanto fosse

    mundano. Como movimento organizado, o puritanismo surgiu quando alguns membros da Igreja Anglicana

    se rebelaram contra os resqucios de catolicismo que subsistiam no novo Livro de oraes, de 1564. As

    perseguies movidas pela igreja oficial levaram ento muitos puritanos a emigrar para o continente europeu

    e para as colnias americanas.

    Ao contrrio do que ocorrera na Inglaterra, onde de incio o calvinismo se chocou com a igreja oficial,

    na Esccia ele no tardou em transformar-se na religio principal, graas aos esforos de John Knox, no

    sculo XVI, que contribuiu ativamente para a instaurao do presbiterianismo. Os congregacionistas, grupo

    puritano sado da Igreja da Inglaterra e dirigido por Robert Browne, mostraram-se desde sua origem, em

    1580, muito mais radicais que os puritanos, pois rejeitavam qualquer outra autoridade na igreja que no a

    congregao, ou assemblia local. Baseavam sua maneira de pensar na doutrina dos primeiros reformadores,

    especialmente nos ensinamentos de Lutero.

    Por volta de 1647, George Fox fundou na Inglaterra a Sociedade dos Amigos, cujos adeptos logo foram

    conhecidos como quacres (quakers, "trmulos"), nome procedente de uma frase pronunciada certa ocasio

    por seu fundador: "Honrai a Deus e tremei ante sua palavra." Os quacres concedem importncia fundamental

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    palavra interior de Deus, de quem dizem receber inspirao direta; no admitem sacramento algum;

    rejeitam as idias calvinistas sobre a predestinao; e recusam-se a pegar em armas.

    Paralelamente a essas igrejas independentes da Inglaterra, surgiram na Europa continental outros

    movimentos religiosos, o mais importante dos quais foi o pietismo, surgido na Alemanha no final do sculo

    XVII. Esse movimento nasceu como reao teologia racionalista e ao dogmatismo que dominavam a igreja

    oficial alem, e teve seu maior impulsor no pastor luterano Philipp Jakob Spener, autor de Pia desideria

    (1675; Piedosos desejos). Nessa obra, ele defendeu o sacerdcio universal dos fiis, a leitura da Bblia, um

    ensino teolgico mais piedoso, a necessidade da orao individual e a formao de grupos para o estudo das

    Sagradas Escrituras.

    O movimento pietista exerceu considervel influncia sobre o metodismo, fundado no sculo XVIII

    pelo telogo ingls John Wesley, que, com seu irmo Charles e seu amigo George Whitefield difundiu entre

    os estudantes da Universidade de Oxford uma srie de mtodos de vida crist para reativar o sentimento

    religioso. Embora os fundadores do grupo divergissem doutrinariamente quanto idia da predestinao,

    defendiam em comum a necessidade no apenas da f, mas tambm da prtica de boas aes.

    A difuso das doutrinas metodistas pela Europa, e sobretudo pelos Estados Unidos, deu origem no

    sculo XIX a um redespertar do protestantismo, caracterizado pela associao teologia tradicional de uma

    espiritualidade sentimental e por uma profunda preocupao com os problemas morais e sociais. Essa

    renovao provocou tambm o surgimento de novos grupos minoritrios com caractersticas prprias, os

    quais com freqncia foram considerados seitas, como os adventistas, pentecostais e testemunhas de Jeov,

    entre outros. Dada a conotao algo pejorativa do termo seita e do subjetivismo dessa classificao, essas

    comunidades passaram a receber mais tarde o nome de igrejas informais; caracterizam-se por uma

    interpretao da ltima vinda de Cristo e por se desenvolverem entre pequenos grupos de gente simples em

    busca da solidariedade de uma piedosa comunidade local.

    O reexame e a crtica dos textos bblicos, e at mesmo da prpria razo de ser do cristianismo -- que

    telogos e intelectuais protestantes iniciaram no sculo XIX sob influncia do racionalismo ento imperante

    -- deram lugar ao desenvolvimento de uma nova teologia liberal, cujos representantes mais destacados foram

    os alemes Friedrich Schleiermacher e Albrecht Ritschl. Suas teorias sobre a salvao pela f, que para o

    primeiro residia na experincia religiosa pessoal e para o segundo na necessidade social que o homem sente

    de Deus, constituram a base do pensamento protestante do sculo XIX.

    A teologia liberal conduziu tambm a um enorme desenvolvimento da pesquisa bblica, com uma

    orientao historicista. Os estudos crticos dos livros do Antigo e do Novo Testamento feitos por Ferdinand

    Christian Baur, Joseph Barber Lightfoot e Adolf von Harnack lanaram nova luz sobre as interpretaes

    tradicionais da Bblia.

    Com o incio do sculo XX ocorreu um retorno doutrina dos primeiros reformadores, representada por

    Karl Barth e Emil Brunner na Europa, e por Reinhold Niebuhr nos Estados Unidos. O movimento por eles

    impulsionado, denominado neo-ortodoxo, opunha-se s idias liberais e ao sentimentalismo que rebaixam a

    mensagem da revelao divina.

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    Movimento ecumnico protestante. O trabalho missionrio e assistencial decorrente da propagao do

    protestantismo na sia e na frica e a necessidade de atender s numerosas seitas que proliferam nos

    Estados Unidos, levaram busca da unidade e da ao conjunta das diversas igrejas protestantes. A

    Conferncia Missionria Mundial, realizada na cidade de Edimburgo em 1910, marcou o incio desse

    movimento ecumnico e foi o germe de novos congressos e conferncias -- Estocolmo, em 1925 e Oxford

    em 1939 -- que conduziram constituio do Conselho Mundial de Igrejas, cuja primeira reunio ocorreu em

    Amsterdam em 1948.

    A partir de ento, o desenvolvimento do movimento protestante foi muito grande, a ponto de atrair o

    interesse da Igreja Catlica e das igrejas ortodoxas.6

    Captulo 6

    QUATRO CONDIES ESPIRITUAIS DO CRISTIANISMO

    I. IGREJA FORMADA

    Do Pentecostes ao ano 590

    Neste primeiro momento, formou-se a Igreja Crist. Nosso Senhor profetizou o nascimento do

    cristianismo no Evangelho de Mateus, cap. 16, quando disse a Pedro: Tu s Pedro (petros, pedregulho) e

    sobre Esta pedra (petra, rocha) edificarei a minha Igreja.

    O Alicerce da Igreja: Cristo

    Este texto tem sido interpretado de vrias maneiras. Os catlicos tm procurado apoio nessas palavras

    para supostamente afirmar que a doutrina do papado correta e de que teria Pedro, o primado entre os

    Apstolos, sendo ele, a Pedra.

    Outros estudiosos tm entendido ser a pedra, a confisso de f, a declarao de f proferida pelo

    apstolo Pedro, quando diz: Tu s o Cristo, o Filho do Deus vivo. Esta uma possibilidade. Esta

    interpretao no errnea. Alguns estudiosos entendem ser a pedra a declarao de f, o testemunho

    doutrinrio, solene, ali proferido por Pedro, vendo em Jesus o cumprimento da promessa Messinica do

    Velho Testamento.

    Entretanto, o entendimento maior, e com maior fundamentao bblica e lingstica, tem sido, de que a

    Pedra o Senhor Jesus Cristo. O prprio Pedro deixou isto bem claro (1 Ped. 2:4, 6, 7, 8). Esta pedra maior,

    este alicerce que vem do Cu, essa a base da Igreja: o Senhor Jesus Cristo. Os apstolos foram os

    fundamentos postos sobre a Pedra Angular. E ns, somos pedras pequenas, menores, tijolos colocados nesse

    grande edifcio, que a Igreja e que tem o Senhor Jesus Cristo como pedra angular (Efs. 2:20).

    6 Enciclopdia Barsa, art. Protestantismo.

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