industria do plástico

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Química BNDES Setorial 38, p. 131-172 * Respectivamente, engenheiro, economista, gerente e estagiária do Departamento de Indústria Química da Área de Insumos Básicos do BNDES. Os autores agradecem os comentários de Rodrigo Matos Huet de Bacellar, Frederico Birchal Lage, Gabriel Lourenço Gomes e Davi de Souza Lucas, respectivamente: superintendente e assessor da Área de Insumos Básicos, chefe do departamento e economista do Departamento de Indústria Química; assim como à Associação Brasileira da Indústria de Plástico e à Braskem, que permitiram a distribuição da pesquisa a seus associados e clientes, respectivamente. A responsabilidade pelo trabalho, contudo, é dos autores. A indústria de transformação de plásticos e seu desempenho recente Martim Francisco de Oliveira e Silva Letícia Magalhães da Costa Felipe dos Santos Pereira Mariana Almeida da Costa* Resumo A indústria de transformação de plásticos pode contribuir de maneira efetiva para a superação de diversos desafios globais e locais: o crescimento dos mer- cados de consumo, o aumento da urbanização, as mudanças demográficas, a escassez de combustíveis fósseis e o aumento de preocupações da sociedade com as questões da sustentabilidade ambiental. Além disso, é um importante empregador que adiciona, de modo significativo, valor aos produtos deriva- dos da exploração do petróleo e associa-se a importantes cadeias produtivas de bens de capital e a esforços de inovação em diversos setores da economia. Este artigo descreve as principais características da indústria e seus desafios associados às questões da sustentabilidade ambiental e a seu ambiente compe- titivo. Em seguida, é apresentada uma pesquisa efetuada com transformadores localizados no Brasil, na qual se buscou investigar a relação entre suas esco- lhas estratégicas e seu desempenho financeiro. Na conclusão, são indicadas iniciativas destinadas ao desenvolvimento da indústria de transformação, seja por meio de medidas ao alcance das empresas ou de políticas públicas. Final- mente, são destacados os atuais instrumentos de apoio financeiro do BNDES à indústria, com destaque para o Programa Proplástico.

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  • QumicaBNDES Setorial 38, p. 131-172

    * Respectivamente, engenheiro, economista, gerente e estagiria do Departamento de Indstria Qumica da rea de Insumos Bsicos do BNDES. Os autores agradecem os comentrios de Rodrigo Matos Huet de Bacellar, Frederico Birchal Lage, Gabriel Loureno Gomes e Davi de Souza Lucas, respectivamente: superintendente e assessor da rea de Insumos Bsicos, chefe do departamento e economista do DepartamentodeIndstriaQumica;assimcomoAssociaoBrasileiradaIndstriadePlsticoeBraskem, que permitiram a distribuio da pesquisa a seus associados e clientes, respectivamente. A responsabilidade pelo trabalho, contudo, dos autores.

    A indstria de transformao de plsticos e seu desempenho recenteMartim Francisco de Oliveira e SilvaLetcia Magalhes da CostaFelipe dos Santos PereiraMariana Almeida da Costa*

    ResumoA indstria de transformao de plsticos pode contribuir de maneira efetiva para a superao de diversos desafios globais e locais: o crescimento dos mer-cados de consumo, o aumento da urbanizao, as mudanas demogrficas, a escassez de combustveis fsseis e o aumento de preocupaes da sociedade com as questes da sustentabilidade ambiental. Alm disso, um importante empregador que adiciona, de modo significativo, valor aos produtos deriva-dos da explorao do petrleo e associa-se a importantes cadeias produtivas de bens de capital e a esforos de inovao em diversos setores da economia. Este artigo descreve as principais caractersticas da indstria e seus desafios associadossquestesdasustentabilidadeambientaleaseuambientecompe-titivo. Em seguida, apresentada uma pesquisa efetuada com transformadores localizados no Brasil, na qual se buscou investigar a relao entre suas esco-lhas estratgicas e seu desempenho financeiro. Na concluso, so indicadas iniciativas destinadas ao desenvolvimento da indstria de transformao, seja por meio de medidas ao alcance das empresas ou de polticas pblicas. Final-mente, so destacados os atuais instrumentos de apoio financeiro do BNDES indstria,comdestaqueparaoProgramaProplstico.

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    132 IntroduoA indstria de transformao de materiais plsticos composta por

    empresas que utilizam principalmente resinas plsticas como suas mat-rias-primas e fabricam produtos semiacabados ou acabados de diferentes formatos, cores e finalidades, para um amplo nmero de mercados de in-dstrias e de consumo, tais como: agrcola, alimentcio, automobilstico, cosmticos,construocivil,eletroeletrnico,embalagens,farmacuticoe mdico-hospitalar [Padilha e Bomtempo (1999)].

    O nome plstico originrio da palavra grega plassein, que exprime a caracterstica de moldabilidade, ou de mudana de forma fsica, desse tipo de material. Esse nome foi adotado para identificar os materiais que podiam ser moldados ao serem submetidos a alteraes de condies de presso, calor ou por reaes qumicas.

    O primeiro plstico, a baquelite, um polmero sinttico, foi obtido em 1909, por Leo Baekeland, por meio da reao entre o fenol e o formal-dedo. Encontraram-se rapidamente diversas aplicaes industriais para a baquelite em funo de suas caractersticas de dureza e resistncia ao caloreeletricidade.

    Embora os materiais plsticos j existam h mais de cem anos, ain-da so considerados modernos ao se compararem a outros materiais. Ao longo dos ltimos anos, estiveram presentes em inmeros projetos inova-dores, como nos campos aeroespacial, da construo e automobilstico, destinados a: reduo de pesos, melhoria no desempenho mecnico, no isolamento trmico etc. Portanto, esses materiais so importantes para odesenvolvimentodasociedade,aoviabilizarinovaesdestinadasmelhoria da qualidade de vida das pessoas e da eficincia na utilizao de recursos naturais.

    A indstria de transformao de plsticos, que tambm chamada de terceira gerao da indstria petroqumica, est no centro de uma cadeia industrial que se inicia com os processos de explorao e produo de petrleo e gs, principalmente, e integra fabricantes de equipamentos de transformao, fabricantes de ferramentas de moldagem e clientes de diferentes mercados, estendendo-se at o consumidor final. A Figura 1 representa suas principais relaes com estas e outras indstrias.

  • 133

    Qumica

    Figura 1 | Cadeia produtiva da transformao de plsticos

    Exportao Exportao Exportao ExportaoDistribuidores

    Extrao e refino de

    petrleo e gs

    Central petroqumica de primeira e

    segunda geraes

    Transformao de plsticos

    Terceira gerao

    Importao Importao Importao Importao

    Indstriacliente

    Distribuio Consumo

    Descarte

    Recuperaoenergtica

    Disposio final (aterro)

    Fabricantes de moldes e

    equipamentosReciclagemColeta e triagem

    Fonte: Elaborao prpria, com base em Massa (2008) e Plastics Europe (2013).

    Os fabricantes de resinas plsticas, conhecidos como a segunda gera-o petroqumica, so empresas de grande porte que transformam uma matria-prima, normalmente derivada do refino do petrleo e que tem carbono em sua composio, em um polmero, por meio de um processo de polimerizao. Uma alternativa ao uso de produtos provenientes do refino do petrleo para a produo de resinas plsticas, cuja importncia vem se tornando crescente, a utilizao de produtos derivados da bio-massa, como o etanol.

    Os transformadores plsticos adquirem suas principais matrias-primas dessas empresas fabricantes de resinas plsticas; de distribuidores, quando por razes de escala de compras; ou de recicladores de plsticos.

    O consumo de resinas plsticas pelos transformadores no pas rele-vanteparaaviabilidadeeconmicadosinvestimentoseparaaoperaode uma central petroqumica tpica no Brasil, uma vez que cerca de 60% de sua produo local destinada para a produo dessas resinas, enquan-toosdemais40%destinam-sefabricaodeoutrosprodutosqumicos

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    134 bsicos, como: eteno, propeno, butadieno, cumeno, benzeno, tolueno e xileno, que so usados na fabricao de importantes cadeias qumicas e em uma ampla variedade de segmentos da economia.

    Alm das resinas plsticas, os transformadores plsticos tambm utili-zam, como insumos, aditivos como: plastificantes, cargas minerais, corantes e pigmentos, estabilizantes e lubrificantes.

    Dois importantes setores para as empresas transformadoras so: o de fa-bricao de equipamentos como injetoras, sopradoras e extrusoras; e o de fabricao de moldes ambos importantes fontes de inovao e de ganhos de produtividade para a indstria de transformao de plsticos.

    Os produtos transformados podem ser vendidos diretamente a clientes localizados em uma ampla diversidade de indstrias, como: construo ci-vil, alimentos, bebidas, automveis, autopeas, papel, celulose e impresso, ou alcanar o consumidor final, por meio de canais de distribuio como o setor de varejo.

    Depois de sua utilizao pelo consumidor final, os materiais plsticos podem ser descartados em aterros sanitrios, constiturem-se em fonte de energia, ou mesmo retornarem para o prprio consumo dos processos de transformao, aps uma etapa de triagem e reciclagem.

    A reciclagem de plsticos uma atividade efetuada por empresas reci-cladoras, que recuperam esses materiais por meio de processos mecnicos como: separao, moagem, lavagem, secagem, regranulao e composi-o, produzindo materiais reciclados que podem ser convertidos em novos produtos plsticos, muitas vezes substituindo os plsticos produzidos pelas empresas qumicas, chamados de resinas virgens.

    Os produtos transformados plsticos contribuem para uma significati-va agregao de valor na cadeia produtiva do petrleo. A comparao dos preos do petrleo tipo Brent com os preos locais da nafta, eteno e de uma cesta de commodities plsticas, com os valores mdios de transformados plsticos comercializados no Brasil, permite observar essa dimenso de adio de valor, como indicado no Grfico 1. Nele, observa-se que o pro-duto transformado plstico chega a apresentar um valor de mercado cerca de sete vezes superior ao do petrleo.

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    Qumica

    Grfico 1 | Evoluo do valor na cadeia produtiva da transformao de plsticos

    100159

    277

    366

    717

    -

    100

    200

    300

    400

    500

    600

    700

    800

    Petrleo Brent Nafta Eteno Commodityplstica

    Transformadoplstico

    Fonte: Elaborao prpria, com base em Quimax Report e AliceWeb.Nota: Evoluo de valor por kg (petrleo = 100).

    A evoluo da produo mundial anual de plsticos desde 1950, que to-talizou aproximadamente 280 milhes de toneladas em 2011, est indicada na Tabela 1.

    Tabela 1 | Produo mundial de plsticosAno Milhes de toneladas

    1950 1,71976 47,01989 99,02002 204,02009 250,02010 270,02011 280,0

    Fonte: Plastics Europe (2012).

    Em 2012, o maior produtor mundial de materiais plsticos era a China, com uma participao de 23% na produo global, como exposto na Tabela 2.

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    136 Tabela 2 | Principais produtores mundiais de plsticosProdutor(es) %China 23Europa 21EUA, Canad e Mxico 20sia (exceto Japo e China) 16Oriente Mdio e frica 7Japo 5Amrica Latina (exceto Brasil) 3Brasil 2Outros 3

    Fonte: Plastics Europe (2012).

    Embora o consumo per capita de produtos plsticos no Brasil possa ser considerado modesto em comparao ao consumo dos pases desenvolvi-dos, j que em 2005 o consumo local per capita era de cerca de 25% do consumo per capita dos habitantes do Nafta e da Europa, sua perspectiva decrescimentoentre2005e2015,de100%,igualadaapenasdospasesda Europa Oriental, como indicado na Tabela 3. Porm, mesmo aps esse crescimento ocorrer, o consumo per capita brasileiro dever alcanar ape-nas 33% do consumo nos pases desenvolvidos.

    Tabela 3 | Consumo per capita mundial de plsticos (kg/habitante)Regio/pas 1980 2005 2015 2015-2005 (%)Mundo 11 30 45 50Nafta 46 105 139 32Europa Ocidental 40 99 136 37Europa Oriental 9 24 48 100Japo 50 89 108 21Amrica Latina 7 21 32 52Oriente Mdio e frica 3 10 16 60sia (exceto Japo) 2 20 36 80Brasil - 23 46 100

    Fontes: Abiplast (2013) e Plastics Europe (2012).

    Desempenho recente da indstria de transformao de plsticos

    No Brasil, a indstria de transformao de plsticos compreende 11.690 empresas que empregaram 348 mil trabalhadores diretos em 2012 [Abiplast

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    Qumica

    (2013)]. Essas empresas foram responsveis por vendas que totalizaram R$ 56 bilhes, correspondentes a um consumo aparente de 7,1 milhes de toneladas de transformados plsticos e 6,6 milhes de toneladas de resinas plsticas em 2012 no pas [Abiplast (2013)].

    A evoluo do consumo de resinas plsticas para a produo de trans-formados plsticos, a produo, o consumo aparente e as vendas do setor de transformao, no Brasil, esto indicados na Tabela 4.

    Tabela 4 | Consumo aparente de resinas, produo, consumo aparente e vendas de transformados plsticos entre 2007 e 2012 no BrasilAno Resinas

    termoplsticasTransformados plsticos

    Consumo aparente

    (mil t)

    Produo (mil t)

    Valor da produo

    (R$ bilhes)

    Consumo aparente

    (mil t)

    Valor das vendas

    (R$ bilhes)2007 5.550 5.555 37,0 5.633 37,02008 6.140 6.145 41,0 6.300 41,42009 5.880 5.881 41,6 6.070 42,32010 6.440 6.436 48,7 6.742 49,32011 6.430 6.358 50,9 6.817 52,82012 6.660 6.665 53,8 7.127 56,5Crescimento (% a.a.)

    3,7 3,7 7,8 4,8 8,9

    Fonte: Elaborao prpria, com base em Abiplast, PIA Empresa, PIA Produto (2010), PIM/PF IBGE e AliceWeb.

    A Tabela 4 indica que o valor das vendas de transformados plsticos cres-ceu mais rapidamente do que o valor da produo local no perodo de 2007 a 2012, o que indica uma presena crescente de produtos importados no mer-cado brasileiro. A tabela tambm permite observar que o crescimento anual do consumo de resinas, de 3,7%, foi 0,5% superior ao da elevao anual do Produto Interno Bruto (PIB) no perodo, de 3,2%. Esse resultado reflete as caractersticas da elasticidade da demanda do setor, que cresce um pouco aci-ma da elevao da renda, consequncia do estgio de maturidade da indstria de produo de resinas termoplsticas, assim como do dinamismo local das cadeias produtivas que as consomem no pas. importante tambm ressal-tar que a observao individual da demanda de algumas resinas pode indicar um crescimento mais robusto no caso especfico de algumas commodities plsticas, por exemplo, os polipropilenos e polietilenos de baixa densidade.

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    138 Os principais setores consumidores de transformados plsticos esto associados a mercados que experimentaram um intenso crescimento nos ltimos anos no pas, como a construo civil, alimentos e bebidas e auto-mveis e autopeas, conforme mostra a Tabela 5.

    Tabela 5 | Principais setores consumidores de transformados plsticosSetor % Setor %Construo civil 16 Eletrnicos 3Alimentos e bebidas 16 Outros transportes 2Automveis e autopeas 15 Farmacutico 2Plsticos e borracha 8 Perfumaria, higiene e limpeza 2Papel, celulose e impresso 6 Qumico 1Mquinas e equipamentos 5 Calados 1Agricultura 5 Eletrodomsticos 1Mveis 5 Txteis e confeces 1Produtos de metal 4 Outros 7

    Fonte: IBGE (2009).

    A evoluo do nmero de empresas no setor est representada no Grfico 2.

    Grfico 2 | Nmero de empresas de transformao de plsticos no Brasil

    11.26311.329

    11.52611.465

    11.524

    11.690

    11.00011.10011.20011.30011.40011.50011.60011.70011.800

    2006 2007 2008 2009 2010 2011

    Fonte: Abiplast (2013).

    Alm de um nmero elevado de empresas, observa-se que estas so pre-dominantemente de reduzido porte. De acordo com a metodologia de classi-ficaodeempresaspeloServioBrasileirodeApoiosMicroePequenasEmpresas (Sebrae), a indstria 71% formada por microempresas (com at 19 funcionrios), 23% por pequenas (com vinte a 99 funcionrios), 6% por mdias (com cem a 499 funcionrios) e apenas 0,5% por empresas grandes (mais de quinhentos empregados) [(Abiplast (2013)].

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    Qumica

    O setor um grande empregador: tinha cerca de 348.000 posies de trabalho em 2012, sobretudo por trabalhadores atuantes diretamente no se-tor de produo, 91% dos quais com at o nvel mdio de formao e, de modo estimado, cerca de um milho de empregos indiretos. A evoluo do nmero de empregados na indstria est indicada no Grfico 3.

    Grfico 3 | Nmero de empregados em empresas de transformao de plsticos no Brasil (em mil empregados)

    311318

    324

    347 344 348

    290300310320330340350360

    2007 2008 2009 2010 2011 2012

    Fonte: Abiplast (2013).

    O nvel de emprego no setor bastante sensvel ao investimento quando comparado a sua cadeia a montante: para gerar um emprego direto, uma cen-tral petroqumica investe aproximadamente R$ 10 milhes, e uma empresa de transformao, cerca de R$ 1 milho [Abiplast (2013); Moreira et al. (2010)].

    A localizao das empresas e, em decorrncia, do emprego tende a acom-panhar a distribuio dos principais mercados consumidores, mesmo que a parte mais expressiva da produo dessa indstria esteja voltada ao consu-mo intermedirio, como no caso das embalagens e de outros insumos para importantes indstrias [ABDI (2009)]. A Tabela 6 evidencia que os estados de So Paulo e do Sul do Brasil representam cumulativamente 72% do n-mero de empresas e 70% dos trabalhadores da indstria no pas.

    Tabela 6 | Nmero de empresas e de empregados, por estado da federao, em 2011Estado Nmero de

    empresas% Estado Empregados %

    So Paulo 5.157 44,1 So Paulo 151.643 43,6Rio Grande do Sul 1.316 11,3 Santa Catarina 36.606 10,5Paran 967 8,3 Rio Grande do

    Sul30.595 8,8

    Continua

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    140Estado Nmero de

    empresas% Estado Empregados %

    Santa Catarina 952 8,1 Paran 25.092 7,2Minas Gerais 807 6,9 Minas Gerais 24.175 7,0Rio de Janeiro 662 5,7 Rio de Janeiro 20.068 5,8Bahia 284 2,4 Bahia 10.122 2,9Pernambuco 279 2,4 Pernambuco 9.558 2,7Gois 231 2,0 Gois 5.732 1,6Outros 1.035 8,9 Outros 34.225 9,8Total Brasil 11.690 100 ,0 Total Brasil 347.816 100,0

    Fontes: Rais (2011) e Caged (2012).

    A observao da balana comercial do setor de transformados plsticos indica um crescimento expressivo do dficit no setor, que atingiu US$ 4,3 bilhesem2012evemcrescendotaxade28,4%a.a.entre2007e2012,como indicado na Tabela 7. Nessa tabela, destaca-se um declnio da quan-tidade exportada no perodo, que se reduziu em 6,5% a.a. nos ltimos cinco anos, assim como uma concentrao nas oportunidades, ainda presentes, de comercializao de produtos com maior valor agregado, como indicado pela evoluo do valor unitrio das exportaes no perodo, em US$/kg, de 9,6% a.a., bem superior ao crescimento do valor unitrio das importaes. possvel que as nicas exportaes em que o Brasil tem sido competitivo sejam nos segmentos de maior valor agregado, cujo tamanho tem se redu-zido em anos recentes.

    Tabela 7 | Exportaes e importaes na indstria de transformao de plsticosAno Exportaes Importaes Dficit

    US$ milhes

    Mil t US$/kg US$ milhes

    Mil t US$/kg US$ milhes

    2007 2.307 333 6,9 3.564 411 8,7 1.2572008 2.710 332 8,2 4.649 487 9,5 1.9392009 2.312 280 8,3 4.101 469 8,7 1.7892010 2.872 310 9,3 5.518 616 9,0 2.6462011 2.948 268 11,0 6.598 660 10,0 3.6502012 2.610 238 11,0 6.991 708 9,9 4.381Crescimento anual (%)

    2,5 (6,5) 9,6 14,4 11,5 2,6 28,4

    Fonte: Elaborao prpria, com base em Abiplast (2013).

    Continuao

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    Qumica

    Os principais destinos e origens das exportaes e importaes brasi-leiras esto indicados na Tabela 8, na qual se observam a Argentina como o mais relevante destino de exportaes e a China como a principal origem das importaes em 2012.

    Tabela 8 | Principais destinos e origens das importaesPas Exportao (%) Pas Importao (%)Argentina 28 China 22Holanda 12 EUA 16EUA 7 Argentina 7Chile 6 Alemanha 7Paraguai 6 Uruguai 5Venezuela 5 Itlia 4Uruguai 4 Frana 4Mxico 3 Coreia do Sul 3Alemanha 2 Japo 3Outros 27 Outros 29

    Fonte: Elaborao prpria, com base em AliceWeb.

    Os volumes importados da China vm crescendo de maneira significativa: em 2007, os transformados originados desse pas representaram 11,2% do va-lor importado, enquanto em 2012 o pas representou 22% das importaes do Brasil, significando um crescimento na participao das importaes desse pas no mercado local de 96% no perodo, ou 14,5% a.a.

    Uma importante questo para o setor associa-se a sua elevada tribu-tao, tanto em relao a impostos sobre o valor agregado, como o Im-posto sobre Circulao de Mercadorias e Servios (ICMS), o Programa de Integrao Social (PIS) e a Contribuio para o Financiamento da Se-guridade Social (Cofins), quanto em relao ao Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).

    No caso dos tributos ICMS, PIS e Cofins, a aquisio de insumos como a resina plstica de um fornecedor, sua transformao e venda para um clien-te, quando todos esses participantes estiverem localizados no mesmo estado (situao comum dadas as caractersticas da indstria e de seus produtos), agregando aproximadamente 67% ao valor dos insumos, traduzem-se em um recolhimento desses impostos de aproximadamente 28% do valor agre-gado pela empresa.

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    142 A comparao desse valor com as alquotas de impostos sobre o valor agregado de trs grupos de pases (a) com uma renda per capita seme-lhantebrasileira,noconceitodaparidadedopoderdecompra(PPP);(b)pertencenteslistadasdezmaioreseconomiasdomundo;ou(c)deeconomiassemelhantesbrasileiranaAmricaLatinaindicaqueacom-binaodosdoisimpostossuperiordetodosos26pasesdessaamos-tra, como indicado no Grfico 4. Essa situao contribui para a eroso da competitividade das empresas locais de transformao relativamente aos concorrentes internacionais que conseguem capturar uma maior parte de seu valor agregado para a remunerao de seu capital e os investimentos em ganhos de produtividade.

    Grfico 4 | Tributao sobre o Valor Adicionado de Transformados Plsticos

    Brasil

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    0 20.000 40.000 60.000 80.000 100.000

    PIB per capita (US$/hab.), PPP

    Noruega

    LuxemburgoChile

    MxicoFrana

    Colmbia

    Argentina

    %

    Fonte: Elaborao prpria, com base em Banco Mundial e Wikipdia.

    Embora essa caracterstica do sistema tributrio nacional no seja uma particularidade do setor, pois tambm percebida em outros setores pro-dutivos, na indstria de transformados plsticos esse efeito torna-se mais acentuadoporcausadequestesestruturaisrelacionadasdinmicadessaindstria.

    Outraquestorelacionadatributaonosetorassocia-seaovalordoIPI, que alcana, tipicamente, a alquota de 15% para os produtos da inds-tria, ao passo que diversos substitutos dos transformados plsticos, nota-

  • 143

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    damente as peas manufaturadas de metais, como o ao e o alumnio, tm alquotas de IPI situadas tipicamente entre 5% e 10%. A equalizao do IPI dos transformados plsticos e seus substitutos, como os transformados de metal e papel, em nveis mais reduzidos, seria um importante incentivo para o aumento da demanda, e, em consequncia, aumento dos investimentos, do emprego e da reduo da informalidade no setor.

    A cadeia produtiva de transformao sustentvelTrs tendncias futuras so especialmente importantes para a indstria de

    transformao, todas de natureza global. A primeira associa-se ao aumento da preocupao com a sustentabilidade e, em decorrncia, com questes como areciclagem,fenmenorelevantetantoemaspectosambientaiscomoemsua dimenso social, sobretudo na realidade brasileira. A segunda refere-se utilizaodebioplsticos,denominaoqueincluiosplsticosbiodegra-dveis e os plsticos derivados de matrias-primas de origem renovvel, empregados em substituio a matrias-primas derivadas da explorao do petrleo[ABDI(2009)].Aterceirarelaciona-seacentuaodousodepro-dutos manufaturados plsticos como uma resposta aos desafios da reduo de emisses de carbono, por meio da diminuio do consumo de energia pela reduo do peso de peas em veculos de transportes.

    ReciclagemEm virtude do longo tempo necessrio para que os plsticos se degra-

    dem no ambiente, de at centenas de anos, as preocupaes com as questes ambientais por parte das sociedades em geral tm se intensificado. Sacolas plsticas, por exemplo, especialmente as provenientes dos transportes de bens de consumo, tm sido vistas como um grande problema em aterros sanitrios. Por essa razo, sacolas de papel vm sendo mais utilizadas, so-bretudo em pases mais desenvolvidos, e, at mesmo, banidas em diversos estados americanos ou em pases como Bangladesh e Taiwan.

    Entretanto, o material plstico pode ser reciclado por at seis vezes. A reutilizao de diversos produtos exemplificada em casos como: o polie-tileno de alta densidade em embalagens para alguns produtos, como a gua sanitria; filmes de polietileno de baixa intensidade (PEBD) na fabricao de lonas plsticas; polietileno tereftalato (PET) na indstria txtil; o policloreto de vinila (PVC) na construo civil; e o polipropileno (PP), em utilidades

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    144 domsticas, como baldes. Dessa maneira, o consumo de matria-prima de origem fssil pode ser reduzido e o produto de seu resduo retorna ao pro-cesso produtivo, renovando um ciclo industrial.

    H dois tipos de reciclagem, a mecnica e a qumica. Na reciclagem me-cnica, os descartes plsticos ps-industriais ou ps-consumo so converti-dos em grnulos que podem ser reutilizados na produo de outros produtos transformados, por meio de operaes como: separao, moagem, lavagem, aglutinao e extruso.

    A reciclagem qumica transforma os descartes plsticos em petroqumicos bsicosmonmerosoumisturasdehidrocarbonetos,pormeiodeprocessoscomo: gaseificao, hidrogenao e pirlise, que podem ser ento utilizados como matria-prima, em refinarias ou centrais petroqumicas, para a obten-o de outros produtos qumicos ou para a produo de novos plsticos com a mesma qualidade de um polmero original. O ndice de reciclagem mec-nica de plsticos em um conjunto de pases est demonstrado no Grfico 5.

    Grfico 5 | ndice de reciclagem mecnica de plsticos, 2010

    35% 33% 33%29%

    24% 24% 23% 23% 22% 22% 20% 18% 18% 16%

    05

    1015

    20253035

    40

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    Fonte: Abiplast (2013).

    Quando a reciclagem do material plstico no mais vivel tecnicamente, ele ainda pode ser usado como uma fonte de energia, pois o plstico trans-formado tem boas propriedades trmicas, com um poder calorfico superior ao do carvo [BPF (2012)].

    A experincia dos pases que obtiveram sucesso com a recuperao de rejeitos slidos indica que para a obteno de melhores resultados so indispensveis: maior conscincia ambiental, mais ativa participao dos cidados, um ambiente legal apropriado (por exemplo, com restries a ater-ros sanitrios), metas de reciclagem e existncia de empresas competitivas

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    dedicadasatividade.NaEuropa,oconjuntoderesultadosdereciclageme utilizao energtica absorveu em torno de 59% da gerao total de res-duosem2011,cercademetadedessevalorcorrespondendounicamentereciclagem, com pases como Sucia, Alemanha e Luxemburgo recuperando mais de 90% de seus rejeitos plsticos [Plastics Europe (2012)].

    O Brasil tem feito importantes progressos na rea: o censo da Abipet indica que 294 mil toneladas de peas transformadas da resina PET, cor-respondentes a 57% da produo brasileira, foram recicladas em 2011, principalmente em insumos para a fabricao de produtos txteis, resinas e embalagens [Abipet (2012)]. A Tabela 9 indica a evoluo do nmero de empresas, faturamento, empregados, produo e ndice de reciclagem me-cnica no Brasil desde 2008.

    Tabela 9 | Dados de reciclagem no Brasil2008 2009 2010 2011

    Nmero de empresas 803 738 815Faturamento (R$ milhes) 1.939 1.851 1.948 2.394Empregados 19.404 18.143 18.288 22.705Produo (mil t) 980 929 953 1.077ndice de reciclagem mecnica (%) 20 18 19 22

    Fonte: Abiplast (2013).

    A Lei 12.305, de 2 de agosto de 2010, instituiu a Poltica Nacional de Resduos Slidos, alterando a Lei 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. A Lei 12.305 contm instrumentos que buscam evitar e reduzir a gera-o de resduos, assim como fomentar a prtica de hbitos de consumo sustentvel e desenvolver mecanismos para aumentar a reciclagem e a reutilizao dos resduos slidos e para destinar os rejeitos em locais adequados.

    A lei tambm instituiu responsabilidades compartilhadas entre os gera-dores de resduos, como os fabricantes, importadores, distribuidores, comer-ciantes, cidados, e os gestores dos servios de manejo dos resduos slidos urbanos na logstica reversa dos resduos e embalagens ps-consumo.

    Alm disso, ela criou objetivos de eliminao dos lixes, estabeleceu instrumentos de planejamento nacional, estadual, microrregional, intermu-nicipal,metropolitanoemunicipale impsqueasempresasparticulareselaborem seus planos para o gerenciamento de seus resduos slidos.

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    146 A Poltica Nacional de Resduos Slidos tem incentivado a ativida-de de reciclagem de materiais plsticos. Entretanto, para seu sucesso, ser necessrio articular um grande nmero de pessoas, os catadores, que trabalham de maneira isolada e na informalidade, com a coleta e revenda de materiais reciclveis, para eles a nica fonte possvel de ren-da[ABDI(2009)].Essainformalidade,aliadaausnciadeumplanodiretor nacional para a destinao racional dos resduos de alto valor comercial, limita o desenvolvimento do comrcio de sucatas e inibe a entrada de investimentos nessa indstria, tanto nas atividades principais dereciclagemcomonasrelacionadasaotransporteelogstica[Massae Nieckele (2008)].

    BioplsticosOs bioplsticos podem ser de dois tipos: plsticos biodegradveis e pls-

    ticos obtidos a partir de fontes renovveis.

    Os plsticos biodegradveis so aqueles que, ao serem expostos a condi-es ambientais especficas, so decompostos por microrganismos em um perodo de tempo relativamente curto. H diversas experincias de desen-volvimento no mundo, e os plsticos mais destacados e que j se encontram em escala de comercializao industrial so os produtos orientados para mercados de nicho, como o policido ltico (PLA), os polihidroxialcanoa-tos (PHA) e os polihidroxibutiratos (PHB).

    Entretanto, para uma adoo mais ampla, o desempenho dos plsticos biodegradveis ainda demanda testes e validaes em diversas aplicaes, seja por parte dos transformadores, em ajustes tcnicos nas mquinas desti-nadas a proporcionar sua conformao fsica em seus processos industriais, seja pelas empresas que os utilizam, clientes do setor de transformados plsticos, de maneira a garantir algumas caractersticas semelhantes a seus pares de origem fssil.

    Embora muitos avanos tenham ocorrido, tambm necessria maior integrao entre a indstria de transformao, governos, consumidores e outras partes interessadas, no conhecimento de suas propriedades, desenvolvimento e harmonizao de polticas ambientais. Atualmente, uma importante barreira a sua maior adoo seu preo, que, em di-versas aplicaes, representa o dobro do valor do plstico fabricado a partir do petrleo.

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    Os plsticos provenientes de fontes renovveis so obtidos principal-mente a partir de lavouras de grande escala, como a cana-de-acar e o milho, e buscam se constituir em alternativas aos custos elevados e crescen-tes do petrleo, assim como minorar o impacto negativo de sua produo sobre o aquecimento global do planeta, uma vez que esses cultivos absor-vem CO2 da atmosfera [ABDI (2009)]. Esses plsticos tm, atualmente, caractersticasfsico-qumicasededesempenhoiguaissdosplsticosde origem fssil, o que facilita sua adoo para diversas aplicaes por no demandarem mudanas nos processos industriais de transformao de seus produtos.

    Entretanto, seu maior desafio reside em seus custos atuais de produo, ainda superiores aos de seus pares de origem fssil, e nos custos do supri-mento da matria-prima de origem agrcola. Alm disso, esses plsticos podem apresentar o mesmo impacto ao ambiente que os plsticos obtidos a partir de fontes no renovveis, por causa da demora de sua degradao aps seu consumo, caso no sejam biodegradveis.

    O Brasil um pas importante para a produo de plsticos provenientes de fontes renovveis em razo de sua posio competitiva em rotas sucro-qumica e alcoolqumica, em funo de suas vantagens comparativas com os custos de produo de etanol, assim como seu aprendizado tecnolgico, obtido principalmente a partir da dcada de 1970, com o Prolcool.

    No pas j existem operaes industriais relevantes e em escala comer-cial, como a unidade de polietileno com origem no etanol da Braskem, em Triunfo (RS). Alm disso, h anncios de investimentos de empresas mul-tinacionais, como a Dow Qumica e a Coca-Cola, em plantas de fabricao de polietileno e de monoetilenoglicol a partir do etanol.

    Reduo do consumo de energiaO esgotamento de recursos naturais demanda desafios para os quais

    os materiais plsticos podem contribuir de modo significativo para sua superao, ao permitir a reduo de peso de veculos de transporte, que so os principais vetores de contribuio para as emisses de gases do efeito estufa. Por essa razo, a melhoria das propriedades dos materiais plsticos e seus transformados, em caractersticas como as resistncias: mecnica, trmica, eltrica e qumica, por exemplo, poder contribuir

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    148 para uma expressiva reduo do peso de veculos de transporte, como automveis e avies.

    Outro grande desafio reside na reduo no consumo de energia na fa-bricao de seus prprios produtos. Um exemplo o processo Vinyloop, destinado a separar o PVC de outros materiais por meio de operaes de dissoluo, filtrao e separao de contaminaes de uma estrutura com resduos de PVC, que normalmente seria incinerada ou depositada em um aterro sanitrio. O processo Vinyloop pode garantir que a demanda de ener-gia primria desse PVC produzido seja at 46% menor do que a energia que produziu PVC convencional.

    Ambiente competitivo da indstriaO grande nmero de empresas no Brasil, que totalizavam 11.690 unida-

    des em 2012 [Abiplast (2013)], principalmente de pequeno porte, contribui para caracterizar esse setor como um meio industrial fragmentado. Essa fragmentao decorre:

    Dasreduzidasbarreirasdeentradafinanceiras,demercadoedeco-nhecimento na indstria.

    Das limitadas possibilidades de alcance de economias de escala na operao da indstria, onde a unidade bsica de manufatura uma mquina que requer a utilizao intensiva de mo de obra, em razo de diversas tarefas necessrias de montagem, acompanhamento e troca de ferramentas de produo.

    Das necessidades muito variadas do mercado, que tornam mais diver-sasaslinhasdeprodutos,oquecontribuiparasacrificareconomiasdeescalaefazasempresasmenoresmaisflexveiseefetivasparaatender aos clientes.

    Da pouca vantagem do tamanho para lidar com clientes e, sobretudo, fornecedores, normalmente empresas de maior porte.

    Dos custos de transporte elevados em relao ao valor dos produtos em diversos segmentos, em funo dos volumes transformados, acarretando a necessidade de localizao prxima aos clientes, o quecontribuiparadispersarasempresas,sacrificandoaindamaisaspoucas possibilidades de economias de escala.

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    Dasdificuldadesdeconsolidaonaindstriaemfunodaelevadainformalidade existente, que pode originar elevados passivos para as empresas adquirentes.

    Deumhistrico de reduzida qualificaode recursos humanos edisponibilidade de capital na indstria.

    Os motivos da fragmentao na indstria tambm esto presentes em outros pases. Na Unio Europeia, a European Plastics Converters, uma as-sociao que congrega cerca de cinquenta associaes de transformadores de plsticos, representa cerca de 58 mil empresas que empregam aproxima-damente 1,6 milho de trabalhadores e vendem 280 bilhes/ano, corres-pondentestransformaoanualde45milhesdetoneladasdeplsticos[Plastics Europe (2012)].

    Ascondiesqueseassociamfragmentaoestonaraizdosreduzidosretornos que a indstria tem obtido tambm em outros pases.

    Umlevantamentodosretornosfinanceirossobreopatrimniolquidode um conjunto de 31 empresas dedicadas ao segmento de embalagens, de capital aberto e localizadas nos Estados Unidos e na Europa, entre os anos de 2008 e 2012, est indicado na Tabela 10.

    Tabela 10 | Retornos financeiros de empresas de capital aberto do segmento de embalagens entre 2008 e 2012 nos Estados Unidos e na EuropaGrupo Dados Indstria de embalagens tipo de material transformado

    Plstico Madeira Papel Vidro Diversificada Total geral

    EUA

    Nmero de empresas 9 2 2 4 13

    Vendas mdias (US$ milhes)

    1.739 3.510 7.019 3.791 2.820

    Retorno mdio do patrimniolquido(RPL) (%)

    6,6 15,3 41,7 15,3 12,1

    Desvio-padro do RPL (%)

    10,0 5,2 17,3 11,6 13,5

    Europa

    Nmero de empresas 9 2 6 1 2 18

    Vendas mdias (US$ milhes)

    703 175 1.142 501 1.104 774

    Retorno mdio do patrimniolquido(RPL) (%)

    7,9 15,6 3,5 23,0 11,9 9,3

    Desvio-padro do RPL (%)

    21,4 11,5 37,4 12,8 4,2 25,3

    Continua

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    150Grupo Dados Indstria de embalagens tipo de material transformado

    Plstico Madeira Papel Vidro Diversificada Total geral

    EUA e Europa

    Nmero de empresas 18 2 8 3 6 31

    Vendas mdias (US$ milhes)

    1.168 175 1.716 2.364 3.058

    1.600

    Retorno mdio do patrimniolquido(RPL)

    7,3 15,6 6,4 28,3 14,4 10,5

    Desvio-padro do RPL (%)

    17,2 11,5 32,9 16,1 10,2 21,3

    Fonte: Elaborao prpria, com base em Damodaran (2013).Nota:Asempresasdiversificadasincluemsempreosegmentodeembalagensplsticasnacomposiode suas receitas.

    Embora o nmero de empresas observadas no permita uma adequada inferncia estatstica, algumas tendncias podem ser observadas. No pero-do, o segmento de embalagens plsticas apresentou um retorno anual mdio sobreopatrimniolquidoquepodeserconsideradomodesto,de6,6%nosEstados Unidos, 7,9% na Europa e 7,3% para o conjunto de 18 empresas nas duas localizaes, superior apenas ao segmento de embalagens de papel.

    Nesse perodo, a volatilidade dos retornos no segmento de embalagens plsticas,expressapelodesvio-padrodoretornosobreopatrimniodasempresas,tambmfoisuperiordosdemaissegmentos,exceotambmdo segmento de embalagens de papel. A tabela tambm permite observar que o segmento de embalagens diversificadas, composto por empresas que atuam com embalagens plsticas e tambm outros segmentos, como papel ou metais, obteve um retorno quase duas vezes superior ao das empresas direcionadas apenas ao segmento de plsticos, assim como a menor volatili-dade desses retornos quando comparados aos de todos os demais segmentos.

    importante destacar que o conjunto de empresas que caracteriza essa amostra temuma escala deoperaes significativamente superior dasempresas brasileiras, como se pode observar por meio do valor da receita mdia que elas obtiveram no perodo, de US$ 1,6 bilho anuais.

    Matrias-primas e fornecedores Os principais insumos utilizados pelos transformadores so as resinas

    plsticas, que so o mais importante componente de custo da indstria de

    Continuao

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    transformao de plsticos. Essas resinas podem ser agrupadas em sete ti-pos, indicadas a seguir com suas principais aplicaes.

    PEAD (polietileno de alta densidade): usado em embalagens para detergenteseleoslubrificantes,tampas,tambores,potes,utilidadesdomsticas etc.

    PEBD e PELBD (polietileno de baixa densidade e polietileno linear de baixa densidade): empregados em produtos como: sacolas para supermercados,filmesparaembalagemdealimentos,sacariaindus-trial,filmesparafraldasdescartveisesacosdelixo.

    PVC (policloreto de vinila): utilizado em embalagens para gua mi-neral, leos comestveis, maioneses, sucos, esquadrias e tubulaes para a construo civil, embalagens de medicamentos, brinquedos etc.

    PP(polipropileno):usadoemfilmesparaembalagensealimentos,embalagensindustriais,fiosecabos,frascos,caixasdebebidas,au-topeas,fibrasparatapetes,seringasdescartveisetc.

    PET (polietileno tereftalato): empregado em frascos e garrafas nos setores:alimentcio,decosmticos,defibrastxteisetc.

    PS (poliestireno): utilizado em potes para alimentos, geladeiras (parte interna da porta), pratos, tampas, brinquedos etc.

    Plsticos de engenharia: atendem a requisitos de desempenho mais rigorosos do que os das resinas anteriormente citadas, como maior resistnciamecnica,abraso,atemperaturaselevadasetc.Entreeles, esto: ABS (acrilonitrila butadieno estireno), poliamida 6, 6.6; PC (policarbonato); POM (poliacetal); PPO (polixido de fenile-no); PPS (polissulfeto de fenileno); SAN (estireno acrilonitrila); UHMWPE (polietileno de ultra alto peso molecular); e misturas (ex.: ABS/PA, ABS/PC, ABS/SAN e ABS/PVC). Os plsticos de engenharia podem ser utilizados em produtos como: calados, au-topeas, pneus, acessrios esportivos, eletrodomsticos e produtos de informtica.

    A distribuio de consumo dos principais plsticos no Brasil est indica-da no Grfico 6, no qual se observa que as resinas PE, PVC e PP, tambm conhecidas como as principais commodities plsticas, representam cerca de 83% do consumo em quantidade no pas.

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    152 Grfico 6 | Principais resinas termoplsticas consumidas no Brasil

    PP27%

    PEAD16%

    PVC17%

    PEBD13%

    PEBDL10%

    PET9%

    PS4%

    EVA3%

    EPS1%

    Fonte: Abiplast (2013).

    A concentrao dos fabricantes de resinas no Brasil em comparao aos transformadores plsticos influencia muito o poder de barganha relati-vo entre a indstria de produo e a de transformao de resinas plsticas: h, no mximo, trs fabricantes por resina plstica no Brasil, enquanto h cerca de 11.690 transformadores no pas, predominantemente de pequeno porte. Como resultado, apenas as empresas de transformao com maiores escalas e mais capacitaes so mais efetivas com o esforo de conseguir preos especiais localmente ou por meio de importaes, uma vez que h alternativas competitivas em mercados internacionais. Em termos tpicos, as resinas plsticas no mercado internacional custam cerca de 25% a me-nos do que no mercado local. Entretanto, os custos logsticos e as elevadas barreirastarifriasimportaoreduzemessediferencialdecustose,comoconsequncia, as chances de aumento da competitividade da indstria de transformao local.

    Alm de resinas plsticas, os transformadores tambm utilizam outros insumos, como aditivos e masterbatches.

    Os aditivos so materiais destinados a melhorar a processabilidade, a aparncia ou o desempenho dos transformados plsticos. Alguns exem-

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    plos de aditivos so: antioxidantes (para evitar a oxidao que cause uma perda de colorao ou da resistncia a impactos do transformado plstico), antigermes (para combater ataques microbianos), agentes antiestticos (para evitar a formao de eletricidade esttica), retardantes de chamas, plastificantes (para melhorar a fluidez do material e sua processabilidade industrial).

    Os masterbatches so compostos plsticos contendo um ou mais aditivos em alta concentrao com a funo de conferir uma cor ao produto final, uma propriedade tcnica ou algum benefcio ao processo de transformao. Eles so constitudos basicamente por um polmero, pigmentos, aditivos umectantes, aditivos dispersantes e aditivos de atrito.

    Na Tabela 11 esto indicadas as propores dos custos e despesas t-picas do vigsimo percentil, da mediana e do octogsimo percentil dos resultados financeiros de uma amostra de empresas de transformao de plsticos no Brasil em relao a sua receita de vendas, considerada em uma base 100. O custo de matrias-primas representa, tipicamente, de 40% a 60% dos preos lquidos de vendas.

    Tabela 11 | Custo e despesas de empresas de transformao de plsticos no BrasilItem Vigsimo

    percentilMediana Octogsimo

    percentilReceita lquida de vendas 100 100 100

    Custo industrial 61 74 85

    Despesas comerciais 4 10 14

    Despesas administrativas 5 8 15

    Despesas financeiras 0 3 5

    Lucro lquido 0 4 7

    Fonte: Elaborao prpria, com base em dados do BNDES.

    As resinas plsticas so processadas por equipamentos destinados a sua transformao em peas semi ou acabadas, cujo tipo dependente do processo de manufatura utilizado. Este inicia-se com a alimentao de resinas plsticas, sob a forma granular ou em p, que so submetidas a operaes que envolvem uma combinao de exposio ao calor, presso ou a um processamento qumico, por meio de processos como: extruso, injeo, sopro, termoformagem e rotomoldagem.

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    154 No processo de extruso, o material plstico transportado, aquecido, plastificado e comprimido, sendo forado atravs do orifcio de uma ma-triz, em que conformado e submetido a um resfriamento. Esse processo, por exemplo, utilizado na obteno de produtos como os tubos de PVC para a construo civil.

    A moldagem por sopro consiste na expanso de um tubo pr-conformado por meio do aquecimento e da injeo de ar comprimido no interior de um molde bipartido. Em contato com o molde, o material resfria e endurece, para, em seguida, ser retirado do molde. Esse processo permite a fabricao de peas ocas como bolsas, frascos ou garrafas.

    No processo de injeo, o plstico introduzido em um molde fechado, com o auxlio de uma combinao de esforos de presso e aquecimento da resina plstica, que, depois de preencher as cavidades do molde, res-friada e extrada em sua forma final. Esse processo permite a confeco de diversas peas plsticas, como: tampas, caixas e autopeas.

    Aos equipamentos de transformao, costumam ser acrescidos equipa-mentos auxiliares, por exemplo: alimentadores, moinhos, secadores, dosa-dores, granuladores, controladores de temperatura, e resfriadores.

    Por fim, as empresas transformadoras de plsticos adquirem moldes (ou, em alguns casos, os fabricam internamente). No processo de transformao, o polmero plstico, em uma forma viscosa, envolve ou preenche um molde vazio para que a resina adquira sua forma. Em seguida, esse molde resfria-do, o que causa a solidificao da resina, que dele se solta, originando uma ampla variedade de peas, de diferentes tamanhos e formas [ABDI (2009)].

    Os moldes so produtos em geral fabricados em materiais metlicos como o ao ou o alumnio e tm uma complexidade tecnolgica variada: a indstria automobilstica, por exemplo, demanda moldes complexos e de elevado peso e custo, ao passo que outros segmentos, como o de utilidades domsticas, podem demandar moldes significativamente mais simples. Eles representam um elo crtico da cadeia de transformao de plsticos, pois ga-rantem que os principais atributos exigidos pelos clientes nos projetos sero cumpridos, como o custo da pea transformada, que muito dependente do projeto do molde e um importante fator de competitividade [ABDI (2009)].

    As relaes entre as empresas transformadoras, os produtores de resinas plsticas, as empresas fabricantes de mquinas e de moldes so fundamen-

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    tais para a aprendizagem, a melhoria de processos e a inovao tecnolgi-ca destinadas ao aumento da produtividade na indstria de transformao de plsticos.

    Os produtores de resinas plsticas contribuem para as inovaes ao desenvolver novas variaes (grades) de suas resinas a fim de atender snecessidadesdos transformadoreseauxili-losemseusesforosdemelhoria de competitividade para seus clientes, principalmente diante de outros materiais.

    Os fabricantes de equipamentos e moldes introduzem novas possibili-dades de processamento, visando melhorar algumas variveis importantes no processo de fabricao de um transformado plstico, como o ciclo de produo, reduo de desperdcios, qualidade, economia de matria-prima eenergia[PadilhaeBomtempo(1999)],assimcomooatendimentosde-mandas dos clientes dos transformadores.

    No entanto, a presso de preos exercida por produtores de resinas, su-jeitas a ciclicidades tpicas de empresas produtoras de commodities fabri-cadas em plantas com elevados requisitos de investimentos de capital, por um lado, e pelos clientes, que, tambm pressionados por uma competio acirrada em seus mercados, buscam reduzir seus custos continuamente, torna muito reduzidas as margens de lucratividade na indstria de transfor-mao de plsticos.

    Esse acirramento na competio pela absoro de valor na cadeia pro-dutiva entre a indstria, seus clientes e fornecedores tambm tem contri-budo para a desestruturao de algumas cadeias produtivas. Um exemplo o enfraquecimento dos relacionamentos com os fabricantes de moldes locais, expresso pelo aumento de volumes de importao: em 2007 foram importados US$ 144 milhes, e, em 2012, US$ 275 milhes nas posies tarifrias correspondentes aos moldes para plsticos e borrachas, segundo dados de AliceWeb.

    No caso dos equipamentos de transformao, as taxas subsidiadas do Programa de Sustentao do Investimento (PSI), do BNDES, contriburam para tornar recentemente mais competitivas as aquisies locais, como se observa pela reduo de importaes de mquinas para transformao de plsticos, entre 2011 e 2012, de US$ 880 milhes para US$ 670 milhes. Entretanto, a tendncia de perda de competitividade dos fabricantes locais ficamaisclaraaosecompararaproporodeimportaesemrelaos

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    156 aquisies totais das empresas de transformao, que foi de 58% no tri-nio 2007-2009 e de 68% no trinio 2010-2011, como pode se verificar no Grfico 7.

    Grfico 7 | Aquisies totais e importaes de equipamentos de transformao de plsticos (US$ milhes)

    2007 2008 2009 2010 2011 2012Importaes 487 616 383 565 883 669Aquisies totais 821 1.009 695 1.066 1.269 824

    -

    200

    400

    600

    800

    1.000

    1.200

    1.400

    Fonte: Elaborao prpria, com base em PIM/PF IBGE, Abimaq, AliceWeb e Abiplast.

    DemandaO aumento do consumo de plsticos associa-se principalmente: (1) ao

    crescimentoeconmico;(2)demandaporprodutosdeconsumoedeconvenincia, como bebidas e alimentos processados; (3) ao crescimento do nmero de famlias menores e da populao de menor poder aqui-sitivo, que buscam a convenincia que o material pode proporcionar e que recorrem a embalagens tambm menores, com maior proporo de plsticosemrelaoaseucontedo;e(4)substituiodeoutrosma-teriais (papel, vidro e metais como o ao e o alumnio) em aplicaes em que o plstico propicia melhor relao entre seu custo e seu desem-penho, em relao a fatores como: durabilidade, resistncia mecnica, proteo de produtos, possibilidades de um design mais moderno e me-nor peso, o qual tambm contribui para reduzir os custos de transporte e o consumo de combustveis.

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    As empresas de transformao de plstico efetuam suas vendas para o comrcio e a indstria.

    Os clientes comerciais so representados por empresas varejistas, de grande ou pequeno porte (supermercados, lojas de departamentos, lojas especializadas etc.), que adquirem, dos transformadores, produtos como: utilidades domsticas, brinquedos e materiais empregados na construo civil, por exemplo, tubos e conexes.

    Os clientes industriais so organizaes que adquirem bens e ser-vios usados na produo de outros produtos ou servios. Elas atuam em indstrias como: alimentcia, de higiene e limpeza, de utilidades domsticas,decalados,deeletroeletrnicos,automotiva,decosm-ticos e farmacutica. Os principais produtos transformados vendidos a clientes industriais so embalagens, peas tcnicas, filmes e aces-srios plsticos.

    As embalagens plsticas, que podem ser rgidas ou flexveis, atendem principalmente aos setores alimentcio, de higiene e limpeza, de cosmticos, farmacutico e industrial e so divididas em flexveis, rgidas e sacaria de rfia. De acordo com o tipo de produto acondicionado e o mercado consu-midor, a importncia da embalagem para a comercializao do produto ser diferente, embora em geral ela tenha como principais funes: proteger o contedo do produto, descrever suas caractersticas e atrair a ateno dos clientes [Padilha e Bomtempo (1999)].

    As peas tcnicas so destinadas a setores que tm elevadas exign-cias quanto a especificaes tcnicas e de qualidade dos produtos, como: automobilstico,eletroeletrnicoedeeletrodomsticos,oqueacabator-nando mais avanados tecnologicamente os transformadores atuantes nesse segmento.

    Os clientes normalmente contam com um maior poder de barganha do que os transformadores. No segmento de produtos mais padronizados, o maior da indstria, os custos de mudana dos clientes so muito baixos, incluindo tambm as possibilidades de importao de transformadores do exterior. Em aplicaes mais sofisticadas, os custos de mudana podem ser considerados de moderados a elevados, pois podem envolver um de-senvolvimento dispendioso de novos moldes ou a qualificao de novas fontes, locais ou estrangeiras.

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    158 Rivalidade interna na indstriaO crescimento da produo de transformados plsticos no Brasil, em

    toneladas, entre 2007 e 2012 tem sido de 3,7% a.a em mdia [Abiplast (2013)]. O crescimento do valor da produo da indstria, em R$, deflacio-nado pelo ndice Nacional de Preos ao Consumidor Amplo (IPCA), entre 2007 e 2012, tem se situado em uma mdia de 1,1% a.a, de acordo com a Abiplast, o que tem contribudo para tornar a competio por participao de mercado entre os transformadores mais acirrada.

    O elevado nmero de empresas, os reduzidos custos de mudanas dos clientes na maioria dos segmentos atendidos pela indstria e as margens li-mitadas de comercializao tornam a competio mais acirrada e, na maioria das vezes, direcionadas para preos. A identidade de marca pode ser con-sideradavirtualmenteinexistente,exceodealgumasgrandesempresasque atuam no mercado de construo civil. Em novas concorrncias, habi-tuais na maioria dos segmentos, de produtos sujeitos a curtos ciclos de vida, comum que um transformador cobre um preo que recupera apenas seus custos variveis e uma pequena parcela de seus custos fixos, o que acaba por prolongar os baixos retornos no setor.

    SubstitutosSubstitutos como metais, vidros e tecidos no dispem de uma relao

    custo-desempenho to favorvel como diversos plsticos em numerosas aplicaes correntes. Alm disso, h plsticos, como os de engenharia, que vm melhorando ainda mais seu desempenho, em funo de presses por inovaes de clientes sofisticados da indstria, como o aeronutico e o automobilstico, por exemplo. Entretanto, questes ambientais e o comportamento do consumidor em alguns mercados podem afetar a re-gulamentao governamental e influenciar as perspectivas de substituio pela indstria.

    Desafios futurosDuas tendncias futuras podem impactar o setor de maneira significativa.

    A primeira decorre das vantagens significativas de custo que os produ-tores de resina plstica dos Estados Unidos devero obter como efeito dos preos extremamente baixos do gs natural, que est levando a uma sig-

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    nificativa expanso da construo de novas centrais petroqumicas nesse pas. Essas centrais vo dispor de uma expressiva capacidade de produo do etileno, uma importante matria-prima, precursora das resinas plsticas, a custos bastante competitivos, superiores apenas aos obtidos pela explora-o do petrleo e gs nos pases rabes.

    A produo de resinas plsticas com tais condies de competitivida-de poder se tornar uma oportunidade de aquisio de matrias-primas a preos mais competitivos pelos transformadores plsticos no Brasil, ou uma ameaa, caso as empresas transformadoras de plsticos dos Estados Unidos (ou de outros pases) consigam se integrar aos produtores ameri-canos de resinas e ampliar suas participaes no mercado brasileiro. Outro possvel efeito dessa expressiva elevao da competitividade da indstria petroqumica de primeira e segunda geraes nos Estados Unidos seria a reduo dos investimentos em novas centrais petroqumicas no Brasil, o que contribuiria ainda mais para a reduo do adensamento nessa cadeia produtiva local.

    A segunda tendncia associa-se ao aumento das preocupaes ambientais decorrente da utilizao de alguns materiais plsticos, que dever influen-ciar as polticas pblicas e o comportamento dos consumidores e representar uma oportunidade para o desenvolvimento dos bioplsticos.

    O apoio do BNDES para a indstria de transformao de plsticos

    OapoiodoBNDESindstriadetransformadosplsticos,noperodo2003-2012, foi crescente, alcanando a mdia anual de R$ 730 milhes por meio das linhas de financiamento direto e indireto, principalmente destinadascompradeequipamentosede insumos.Essesmontantesse tornaram mais expressivos e, em valores nominais, foram multipli-cados por cerca de dez vezes ao longo desse perodo, como indicado na Tabela 12.

    A observao da tabela indica uma tendncia recente, nos ltimos trs anos, de aumento da participao de empresas de menor porte, assim como uma elevao recente ao apoio do BNDES na forma direta, resultado do lanamento do Programa Proplstico, em 2010. Esse programa, com a do-tao inicial de R$ 700 milhes, foi especialmente desenvolvido para o se-tor, ao reduzir o valor mnimo de apoio direto a projetos de investimentos

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    160 para R$ 3 milhes, contemplar uma classificao de crdito mais favorvel e incluir uma linha de financiamento para operaes de fuses e aquisies, destinadas a aumentar a massa crtica de empresas da indstria e reduzir sua fragmentao.

    Tabela 12 | Desembolsos do BNDES para a indstria de transformao de plsticosAno Desembolsos por porte

    (R$ mil)Desembolsos por tipo de

    operao (R$ mil)Total geral

    Grande MPME % MPME

    Direta Indireta (R$ mil)

    2003 37.717 129.896 77 5.488 162.125 167.6132004 104.795 147.634 58 21.599 230.830 252.4292005 142.096 196.675 58 53.253 285.517 338.7702006 202.422 178.003 47 741 379.684 380.4252007 186.751 251.761 57 6.903 431.609 438.5122008 425.909 243.685 36 0 669.595 669.5952009 490.974 301.713 38 12.000 780.687 792.6872010 696.269 706.355 50 46.002 1.356.622 1.402.6242011 414.936 790.764 66 109.555 1.096.146 1.205.7012012 664.446 996.117 60 60.731 1.599.831 1.660.563

    Fonte: BNDES.Nota: MPME so micro, pequenas, mdias e mdias-grandes empresas (esta ltimaclassificao,introduzida pelo BNDES em 2009, inclui empresas com faturamento anual entre R$ 90 milhes e R$ 300 milhes por ano).

    Ao longo desse perodo, alm do Proplstico, o BNDES disponibilizou outros importantes instrumentos de apoio ao setor, como: o Progeren (linha de financiamento para capital de giro), o Revitaliza (para a modernizao e ampliao da capacidade, incluindo desenvolvimento ou aperfeioamento de novos produtos e servios) e o Carto BNDES, que permite a aquisio de insumos produtivos como as resinas plsticas com taxas favorveis e prazos de pagamento de at 48 meses.

    A pesquisa com os transformadores plsticosDiante desses desafios na indstria de transformao, questiona-se:

    possvel para uma empresa do setor obter um desempenho financeiro atraente? Em caso positivo, quais estratgias de atuao conduziriam aos melhores resultados?

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    A fim de responder a essas perguntas, foi efetuada uma pesquisa com as empresas transformadoras de plsticos, abordando questes associadas a suas principais estratgias de atuao na indstria no perodo de 2008 a 2012, o que inclua suas decises sobre:

    os tipos de resinas plsticas utilizadas como principais matrias--primas;

    os processos de transformao utilizados;

    seusmercadosdeatuaofinais;e

    as caractersticas de seus canais de vendas (compradores imediatos).

    Tambm foram efetuadas perguntas sobre:

    receita lquida de vendas;

    peso mdio de resinas transformadas mensalmente; e

    nmero de funcionrios.

    Finalmente, foram solicitadas respostas a respeito dos resultados finan-ceiros das empresas quanto a:

    retornodopatrimniolquido;

    rentabilidade de vendas; e

    crescimento anual das vendas.

    Oquestionriofoienviadopara1.131empresasassociadasAbiplast,clientes da empresa Braskem ou do BNDES, nos meses de junho e julho de 2013. A lista de clientes da Braskem configura uma amostra de empresas de maior porte, capazes de adquirir resinas plsticas em uma escala compatvel com as vendas efetuadas de maneira direta pelo fabricante. A lista de asso-ciadasAbiplastrepresentaempresaslocalizadaspredominantementenoestado de So Paulo, e a lista de empresas clientes do BNDES caracteriza-se por ter empresas de maior porte, capazes de apresentar projetos diretamente ao banco de fomento.

    Descrio dos resultadosForam recebidos 72 questionrios. Depois da eliminao daqueles com

    dados faltantes ou inconsistentes, restaram 65 questionrios. As principais estatsticas descritivas obtidas esto na Tabela 13.

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    162 Tabela 13 | Estatsticas descritivas dos dados dos questionrios recebidosObser vaes Observaes

    (%)Vendas mdias

    (R$ milhes/

    ano)

    Peso mdio mensal (t/ms)

    Margem EBITDA

    mdia (%)

    Crescimento mdio das

    vendas (% a.a.)

    Retorno mdio do PL (%)

    Desvio- padro

    do retorno do PL (%)

    Tipo de resina

    PEAD 37 56,9 65,2 485,6 10,00 10,47 5,48 5,26

    PEBD 26 40,0 64,5 609,8 10,00 10,28 5,48 5,03

    PEBDL 18 27,7 76,6 698,7 7,91 9,30 4,87 4,49

    PP 30 46,2 73,8 493,7 9,17 9,16 4,75 5,02

    PVC 18 27,7 66,3 568,7 8,47 11,25 4,44 3,38

    ES_EPS 1 1,5 63,2 17,50 - 17,50 -

    PET 4 6,2 47,8 427,8 6,50 10,62 5,00 2,89

    Reciclada 10 15,4 51,6 576,9 6,50 9,75 5,50 5,84

    Outra 7 10,8 72,0 134,3 10,36 13,93 4,64 4,66

    Processodefabricao

    Sopro 14 21,5 42,4 291,6 10,53 8,92 5,54 6,14

    Injeo 28 43,1 59,5 320,6 10,00 9,01 5,80 5,36

    Termoformagem 4 6,2 32,3 194,6 10,00 8,08 2,50 -

    Extruso 33 50,8 65,9 700,3 8,41 10,22 4,92 4,57

    Outro processo 10 15,4 64,8 705,7 13,00 6,50 6,37

    Canal

    Indstria 50 76,9 67,3 585,5 8,80 10,20 5,40 5,16

    Varejo GP 18 27,7 80,8 585,2 8,47 9,72 4,86 5,52

    Varejo PP 21 32,3 67,8 457,4 9,28 10,00 5,00 5,59

    Cliente final

    Automobilstico 18 27,7 82,8 914,4 5,55 10,83 4,17 4,11

    Construo civil 20 30,8 79,7 552,6 8,75 12,25 5,13 5,47

    Eletroeletrnico 8 12,3 74,1 870,3 6,98 7,18 4,69 4,11

    Util. domsticas 10 15,4 98,3 820,7 6,50 7,25 3,75 3,58

    Embalagem 52 80,0 59,9 469,5 9,32 9,66 5,29 5,28

    Todos 62,9 551,2 9,23 10,12 5,27 5,06

    Fonte: BNDES.

    Na tabela, observa-se um valor mdio das vendas anuais das empresas naamostradeR$62,9milhes,em2012,correspondentestransformao

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    de 551 toneladas por ms de resinas plsticas. No perodo de 2008 a 2012, a margem EBITDA (sigla para earnings before interest, taxes, depreciation and amortization, ou lucro antes dos juros, impostos, depreciao e amortizao pela receita lquida de vendas) mdia dessas empresas foi de 9,2%, o cres-cimento mdio anual de suas vendas foi de 10,1% e o retorno mdio anual dopatrimniolquido,de5,27%,comumdesvio-padromdiode5,06%a.a. Pode ser observado, ainda, cada um desses valores em cada grupo de empresas da amostra, de acordo com as resinas utilizadas, o processo de fa-bricao, o canal de vendas (primeiro comprador do produto transformado) e o cliente final (ou segmento final) de atuao. Para obter mais detalhes, os autores podem ser contatados.

    A Tabela 14 inclui as maiores correlaes em valor absoluto entre as variveisestudadas,comoretornomdiodopatrimniolquidodasem-presas respondentes.

    Tabela 14 | Principais correlaesItem Correlao com o retorno do patrimnio lquidoCrescimento de vendas 0,302

    Vendas (R$ milhes) 0,141

    Peso mensal (t/ms) 0,139

    Outro processo 0,104

    Utilidades domsticas (0,129)

    Automobilstico (0,135)

    Processo termoformagem (0,141)

    Div_cliente final (0,185)

    Fonte: BNDES.

    Anlise dos resultadosEmbora o limitado nmero de questionrios respondidos, o nmero ele-

    vado de variveis estudadas, as reduzidas correlaes observadas, a nature-za da amostra, empresas de transformao de porte relativamente elevado em comparao ao universo do setor e o horizonte temporal especfico, de 2008 a 2012, limitem as possibilidades de obterem-se concluses mais ro-bustas com base em uma slida inferncia estatstica, algumas tendncias podem ser observadas.

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    164 Aprimeiraobservaoassocia-seatratividadedaindstriaemrelaoaos retornos obtidos pelos proprietrios das empresas. A rentabilidade m-diaanualdopatrimniolquidonaamostradeempresas,de5,27%,podeser considerada bastante limitada e uma provvel decorrncia das mesmas causas de sua fragmentao. No segmento de embalagens plsticas, por exemplo, ela foi de 5,3% no perodo, valor inferior aos das empresas do mesmo segmento localizadas nos Estados Unidos, de 6,6%, e na Europa, de 7,3%. Alm desses ltimos valores j poderem ser considerados redu-zidos, um investidor tpico esperaria melhores retornos para as empresas localizadas no Brasil, seja em razo do maior custo de capital no Brasil ou do ambiente local mais arriscado.

    Os resultados da pesquisa indicam que tanto a escala de vendas como a da transformao de plsticos tendem a se associar a retornos financeiros mais atraentes.

    Alm disso, os melhores desempenhos foram observados para as empre-sas que utilizavam resinas de polietileno ou recicladas, ou que efetuavam suas vendas em segmentos como o de embalagens, no qual buscado um conjunto mais amplo de atributos de compra, como especificaes de produto mais restritas, e no apenas preos mais reduzidos do que a concorrncia.

    O melhor resultado obtido pelas empresas que empregam resinas re-cicladas pode indicar que esses transformadores tm conseguido capturar maior parcela do valor criado nessa cadeia do que em outras cadeias mais baseadas em resinas tradicionais, o que promissor do ponto de vista da busca de uma atuao mais sustentvel na indstria.

    possvel tambm fazer algumas observaes sobre os resultados obti-dos para os retornos financeiros dos transformadores de plsticos de acordo com os canais de vendas utilizados, ou compradores imediatos. A venda para o canal indstria tende a ser mais atrativa do que para o varejo. possvel que o comprador industrial, ao estar em um setor submetido a uma com-petio baseada em qualidade, para o qual os transformados plsticos po-dem contribuir de maneira mais significativa, procure ter relacionamentos de prazo mais longo com seus fornecedores de peas transformadas, o que torna sua deciso de compras mais dependente de um amplo conjunto de atributos e no apenas dos preos. As vendas para o varejo de menor porte tendem a proporcionar melhores resultados financeiros do que as vendas para o varejo de grande porte.

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    Os resultados da pesquisa tambm indicam que as empresas que utilizavam predominantemente as resinas de PVC, o processo de ter-moformagem e diversificavam seus mercados finais (ao atuar em mais de um segmento ao mesmo tempo, o de construo, o automobilstico e o de utilidades domsticas, por exemplo) tenderam a obter retornos financeiros menores.

    No perodo, 37% do mercado de PVC no Brasil foi abastecido por im-portaes por causa da insuficincia da capacidade instalada no pas de atender ao mercado interno, o que contribuiu para aumentar os custos dos transformadores, seja em razo dos custos mais elevados localmente ou dos custos de internao de resinas importadas.

    O processo de termoformagem tende a ser menos intensivo em capital e conhecimento, o que pode aumentar a competio e reduzir as possibili-dades de diferenciao.

    O segmento da construo civil composto por empresas que buscam agressivamente reduzir preos, o que tem levado a um movimento de con-solidao no grupo de transformadores que nele atuam.

    Na indstria automobilstica, em que h apenas empresas globais e o plstico tem se tornado um material estratgico, em funo de seu poten-cial de contribuio para a reduo de emisses de carbono, a busca de de-senvolvimento tecnolgico e de reduo de custos vem criando estratgias globais de compras que tm deslocado os transformadores locais das prin-cipais oportunidades de crescimento no segmento. Essa dinmica pode ter contribudo para os reduzidos retornos para as empresas de transformao que atendiam a esse segmento: elas podem estar obtendo cada vez mais os negcios marginais das montadoras globais.

    No segmento de utilidades domsticas, tambm bastante pulverizado em funo de necessidades muito heterogneas, a rivalidade dos transfor-madores tende a ser muito acirrada, por causa da existncia de centenas de empresas que atuam na informalidade e mesmo de presses de ofertas de competidores internacionais, o que reduz as possibilidades de melhores re-tornos financeiros.

    Finalmente, cabe apontar a relevncia das caractersticas internas das empresas, no abordadas na pesquisa, como sua capacidade de gesto, re-conhecidamente limitada na indstria de transformao.

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    166 Implicaes e alternativas de atuaoAs condies da fragmentao na indstria esto na origem da reduzida

    rentabilidade das empresas do setor de transformao de plsticos, seja em termos locais ou internacionais. Seu progresso poder ser acelerado com ini-ciativas: (1) ao alcance das empresas, associadas a suas escolhas estratgicas; (2) de apoio financeiro, para o qual o BNDES desempenha um papel relevan-te; e (3) de polticas pblicas. Essas alternativas so desenvolvidas a seguir.

    Estratgias competitivas das empresasAlm das tendncias de disponibilizao de resinas plsticas e, talvez,

    transformados importados no pas, a reduzidos custos por meio do shale gas e da intensificao das preocupaes sociais com a sustentabilidade, a indstria tem como desafio permanente as restries impostas por sua fragmentao, que limita a melhoria de seu desempenho. Entre outras, trs alternativas para as empresas da indstria seriam possveis.

    ConsolidaoPara empresas de menor porte, uma opo de atuao seria a busca do

    aumento da intensidade de capital, apoiada em fuses entre empresas e aquisies de equipamentos que proporcionem maior escala de operao e sejam mais adequados para uma base de clientes mais ampla.

    Alianas estratgicasEm funo da observao da experincia internacional, para as empre-

    sas de maior porte, uma estratgia interessante poderia incluir alianas ou mesmo a fuso com empresas de outros segmentos, como o de metais e papel, por exemplo. Essa estratgia poderia permitir gerar economias de escopo em alguns mercados, assim como exercer a arbitragem de ofertas epreos,emfunodaocorrnciadediferentescicloseconmicosnessesoutros segmentos.

    Lidar com a fragmentaoPara os segmentos em que as possibilidades de consolidao ou de as-

    sociao com empresas de outros segmentos so menores, com o reconhe-cimento das dificuldades de vencer a fragmentao, uma alternativa seria enfrentar suas condies de uma maneira mais efetiva:

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    Aprofundando a especializao por tipo de cliente, encomenda (por exemplo, encomendas urgentes) ou produtos, ao mesmo tempo em que evitando a concentrao das vendas em poucos clientes.

    Buscando adicionar mais valor aos clientes, por exemplo, agregando servios como design, engenharia e suporte logstico.

    A busca de inovaes para atender aos clientes tambm importante. Entretanto, a explorao das inovaes da indstria de resinas, equipamentos e moldes, per se, tende a criar posies de vantagens competitivas pouco sustentveis para os transformadores. Isso ocorre pois estas so facilmente imitveis, uma vez que, sendo produzidas fora da indstria, por fornece-dores ou clientes, tendem a ser capturadas por estes, que as difundem para outros transformadores visando aumentar suas receitas e amortizar seus investimentos com seus desenvolvimentos.

    Apoio financeiroO pequeno porte das empresas que constituem essa indstria dificulta

    um amplo apoio direto do BNDES a suas necessidades de recursos. Entre-tanto, o BNDES dispe de instrumentos como o BNDES Finame, BNDES Progeren, Carto BNDES, de modalidade indireta, que permitem atender a importantes demandas para a aquisio de mquinas e equipamentos de produo nacional, capital de giro e insumos, respectivamente.

    No entanto, h um grupo de empresas de transformados plsticos que necessitam de financiamentos para projetos de investimentos mais sofisti-cados com vistas ao ganho de escala, melhoria da produtividade, inovao e consolidao. Para estas, recomendvel um apoio na modalidade direta, incluindo financiamentos e participao acionria.

    O BNDES Proplstico foi criado justamente para suprir a demanda dessas empresas por financiamentos e, no longo prazo, contribuir para melhorar a estrutura do setor. Para tanto, o programa tem algumas ca-ractersticas que facilitam o acesso aos seus recursos, como um valor mnimo de financiamento inferior aos habituais de outras linhas de fi-nanciamentodiretodoBNDES,regrasdecrditomaisadequadasrea-lidade das empresas do setor, taxas de juros mais competitivas e maiores prazos de pagamento.

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    168 importante ressaltar que o programa BNDES Proplstico adota uma viso sistmica da cadeia produtiva ao incluir entre seus beneficirios, alm das empresas transformadoras de plsticos, os distribuidores de resinas, as empresas de reciclagem e os fabricantes de mquinas, equipamentos e mol-des para a transformao.

    Polticas pblicasNesta primeira metade dos anos 2010, o pas enfrenta expressivos de-

    safios nos campos de infraestrutura, educao, energia e tributao, entre outros, que no apenas so amplamente reconhecidos, como vm sendo enfrentados pelo governo.

    Embora a desonerao da folha de pagamentos e o acesso a linhas de financiamentos com taxas mais atraentes, como os do Programa de Sus-tentao de Investimentos (PSI), tenham proporcionado uma significativa contribuio para indstria, uma agenda de reformas mais intensa ainda necessria, levando em conta os reduzidos desempenhos financeiros das empresas do setor, contemplando pelo menos duas dimenses: a obteno de matrias-primas em condies mais competitivas e a desonerao de impostos.

    A comparao do preo de resinas plsticas praticadas no Brasil com os preos internacionais indica que os transformadores adquirem produtos locais a um custo cerca de 30% superior aos de seus competidores globais. Essa situao tem diversas causas, como os desafios que o pas enfrenta em seuprocessodecrescimentoequestesassociadasaocmbioetributao,masumaparteexpressivaassocia-seproteotarifriadosmercadoslocais.

    Seria importante conduzir um esforo gradual de reduo dos impostos de importao dos insumos dessa cadeia, no apenas das resinas plsticas, mas tambm de outros insumos, de maneira controlada e que fornecesse um horizonte aos empresrios para que eles planejassem sua atuao em um am-biente mais competitivo. As evidncias empricas indicam que o desempenho financeiro de empresas submetidas a uma competio local mais acirrada produz tanto um esforo exportador mais efetivo [Sakakibara (2000)] como at mesmo retornos maiores para seus acionistas [Silva (2012)].

    Por essa razo, seria necessrio proporcionar tambm aos fabricantes locais de resinasplsticas condiesde competitividade similares s de

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    seus concorrentes internacionais, notadamente o acesso a matrias-primas de menor custo (sobretudo, o gs natural) e uma menor tributao para seus investimentos e o valor agregado em suas operaes.

    Outroaspectorelaciona-setributaonosetordetransformao,emes-pecial com os tributos associados ao valor agregado, como o ICMS e o PIS/Cofins, cuja estrutura est na raiz do esvaziamento de diversas cadeias produ-tivas no pas, que no encontram condies de adensamento, tendo em vista a elevada captura de seu valor criado por parte dos governos locais ser des-proporcionalmente maior do que em outros pases. Por essa razo, inmeras cadeias encontram empresas lucrativas apenas a montante e a jusante, neste ltimo caso, muitas vezes apenas efetuando operaes de importao e reven-da locais. Alm disso, essa sobretributao pode se constituir em um convite sonegaoedeterioraodosativosdemuitasempresas,quespodemso-breviver, mais uma vez, na informalidade ou com uma proteo alfandegria excessiva, que, ao fim, representa uma perda de competitividade na cadeia a jusante e preos mais elevados ao consumidor final. Seria necessria uma re-duo significativa no conjunto desses tributos para se alcanar uma paridade das condies de competitividade das empresas locais com as internacionais.

    Finalmente, alm dos tributos do ICMS e do PIS/Cofins, a equalizao do IPI dos transformados plsticos em relao a seus substitutos, como os transformados de metais, por exemplo, seria um importante estmulo para a indstria, tanto para reduo de sua informalidade como para criar incen-tivosadoodenovasaplicaesassociadasaosobjetivosdereduodoaquecimento global.

    ConclusoA indstria de transformao de plsticos pode contribuir para a supe-

    rao de diversos desafios decorrentes de tendncias globais e locais, entre elas: o crescimento na proporo das pessoas incorporadas ao mercado de consumo em pases emergentes, o aumento da urbanizao, alteraes de-mogrficas, escassez de combustveis fsseis e o aumento de preocupaes da sociedade com as questes da sustentabilidade ambiental.

    Alm disso, a indstria de transformao um importante empregador que agrega significativamente valor aos produtos derivados da explorao do petrleo e associa-se a importantes cadeias produtivas de bens de capital e a esforos de inovao em diversos setores da economia.

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    170 Por essa razo, seu desenvolvimento de elevada importncia para o pas, o que torna necessrio um esforo conjunto: das empresas em sua ca-pacitao e escolhas, das polticas pblicas, especialmente nos campos de tributaoedaspolticasindustriaisdeincentivocompetio,edoBNDES,no apoio financeiro que estimule os investimentos na indstria.

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