módulo x filosofia da mente e inteligência artificial
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Curso Ciência e Fé Módulo X – Filosofia da Mente e Inteligência Artificial © Bernardo Motta [email protected] http://espectadores.blogspot.com
Curso Ciência e Fé
! I – Introdução
! II – Filosofia Grega e Cosmologia Grega
! III – Filosofia Medieval e Ciência Medieval
! IV – Inquisição e Ciência
! V e VI – O Caso Galileu
! VII – A Revolução Científica
! VIII – Darwin e a Igreja Católica
! IX – Os Argumentos Cosmológico e Teleológico
! X – Filosofia da Mente e Inteligência Artificial
! XI – Milagres e Ciência
! XII – Concordância entre Cristianismo e Ciência
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1. Introdução
2. Inteligência Artificial e Inteligência Humana
3. Problemas do fisicalismo
4. O argumento de Lucas-Penrose
5. Conclusão
Índice
Teorias mente-corpo
! Monistas: não há distinção essencial entre mente e corpo
! Fisicalismo: o ser humano é totalmente físico, inclusive a mente humana
! Reducionista: tudo o que é mental pode ser descrito de forma física ou material
! Outros tipos de monismo (por exemplo: idealismo, advaita-vedanta hindu, etc.)
! Dualistas: há distinção essencial entre mente e corpo
! Dualismo substancial: mente e corpo são substâncias distintas (Descartes)
! Dualismo hilemórfico: mente e corpo são aspectos distintos de uma só substância (Aristóteles)
! Dualismo de propriedades: existem propriedades físicas e mentais, mas apenas substância física:
! As propriedades (ou eventos) mentais são distintas das propriedades (ou eventos) físicas
! As propriedades (ou eventos) mentais são irredutíveis a algo físico ou material
! No entanto, as propriedades (ou eventos) mentais são inerentes a uma substância física
Introdução
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O dualismo de René Descartes (1596-1650) ! Dualismo substancial: o ser humano é composto por duas substâncias:
! “res cogitans”, ou “coisa pensante”: a mente imaterial
! “res extensa”, ou “coisa extensa”: o corpo material
! A interacção entre mente e corpo ocorreria através da glândula pineal
! No aristotelismo-tomismo, a alma é a forma substancial do ser humano…
! … mas no dualismo cartesiano, a alma é uma substância distinta do corpo
! Descartes via o corpo como uma máquina e não como um organismo
! Problemas do dualismo cartesiano:
! O problema da interacção corpo-mente: se são substâncias distintas como podem interagir?
! Como é que a mente actua sobre o corpo?
! Como é que certos estados mentais apresentam correlação com certa actividade neuronal?
! Porque é que, por vezes, ficamos totalmente inconscientes (por exemplo, quando desmaiamos)?
! Porque é que certos danos cerebrais afectam certas faculdades mentais, como a memória?
Introdução
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O dualismo hilemórfico (aristotélico-tomista) não tem estes problemas! 5
Psicologia aristotélico-tomista
! São Tomás distingue, na psique humana:
! Operações imateriais do intelecto
! Operações corpóreas de percepção, memória e imaginação
! A compreensão de um conceito preciso, abstracto e universal decorre a par e par com a imaginação, ou seja, a formação de uma imagem (“phantasma”) a partir de dados sensoriais
! Exemplo: o conceito de triangularidade é preciso, abstracto e universal (e por isso é imaterial), mas é formado através da imaginação e em colaboração com ela, o que requer processos materiais (neuronais)
! Não conseguimos inteligir ou pensar sem usar o nosso cérebro (ele é necessário) e sem manipular informação sensorial, mas o nosso inteligir e o nosso pensar não são redutíveis ao nosso cérebro
! O aristotelismo-tomismo prevê correlação entre a actividade intelectual e a actividade neuronal (activação de zonas específicas do cortex cerebral), mas a primeira não se reduz à segunda
Introdução
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«No presente estado da vida no qual a alma está unida a um corpo passível, é impossível ao nosso intelecto entender actualmente alguma coisa, excepto recorrendo aos fantasmas» - Summa Theologica, Primeira Parte, Questão 84, Artigo 7º.
No futuro, a neurociência poderá aceder a, ou mesmo provocar, imagens dentro do nosso cérebro mas não acederá a pensamentos abstractos ou universais (como, por exemplo,
quando pensamos nos princípios da Lógica ou na definição do número “pi”) 6
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1. Introdução
2. Inteligência Artificial e Inteligência Humana
3. Problemas do fisicalismo
4. O argumento de Lucas-Penrose
5. Conclusão
Índice
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Inteligência Artificial e Inteligência Humana
Um interruptor…
! Será inteligente?
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Inteligência Artificial e Inteligência Humana
Uma calculadora tem milhares de interruptores…
! Será inteligente?
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Inteligência Artificial e Inteligência Humana
Um computador tem milhões de interruptores…
! Será inteligente?
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Inteligência Artificial e Inteligência Humana
Um computador tem milhões de interruptores… será inteligente?
! Transístores: interruptores de alta frequência
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Inteligência Artificial e Inteligência Humana
Um computador tem milhões de interruptores… será inteligente?
! Dos transístores aos cálculos…
! Circuitos de transístores permitem implementar qualquer operação lógico-matemática
! Nos exemplos abaixo, implementam-se as operações lógicas “E” e “OU”
! As entradas lógicas “Verdadeiro” e “Falso” correspondem a tensões eléctricas de +5V e 0V
! Em álgebra booleana, “Verdadeiro” é “1” e “Falso” é “0”
Entrada “a” Entrada “b” Saída F=A E B Saída F=A OU B
Falso (0 = 0V)
Falso (0 = 0V) Falso Falso
Falso (0 = 0V)
Verdadeiro (1 = +5V) Falso Verdadeiro
Verdadeiro (1 = +5V)
Falso (0 = 0V) Falso Verdadeiro
Verdadeiro (1 = +5V)
Verdadeiro (1 = +5V) Verdadeiro Verdadeiro
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! Todas as funções são computáveis
! “Inteligência Artificial” não é inteligência
! Processos materiais (electrónica)
! Dependência de um intelecto humano
! Redutível uma descrição física
“Inteligência” artificial ! Resolver problemas aritméticos
! Processar e manipular informação
! Executar processos cujos objectivos são pré-programados por um ser humano
! Memorizar dados com maior eficiência e capacidade de armazenamento
! Sintaxe sem semântica
Inteligência humana ! Compreender (ou entender)
! Aplicar conhecimento a novos problemas
! Intuir (p.ex.: leis do Universo)
! Criar (música, poesia, pintura, etc.)
! Pensar em modo abstracto (matemática, filosofia, linguística, etc.)
! Sintaxe e semântica
! Nem todas as funções são computáveis
! Genuína inteligência
! Processos imateriais e materiais
! Independência intelectual
! Irredutível a uma descrição física
Inteligência Artificial e Inteligência Humana
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Inteligência Artificial e Inteligência Humana
Existe semântica num computador?
! A semântica é uma área da linguística que estuda o significado
! A semântica estuda a relação entre símbolos ou signos, e o seu significado
! Será que o significado é acessível a um computador, ou a um programa informático?
! Circulou pela Internet a mentira de que dois engenheiros da Intel (ex-trabalhadores da Motorola) teriam gravado a mensagem “Bill sux” num “chip” de um processador (CPU) Pentium da Intel
! Apesar de falsa, esta história relembra-nos duas coisas fundamentais:
! Um CPU (unidade de processamento central) é feito de silício, óxido de cobre, germânio, etc.
! Apenas um intelecto humano pode atribuir significado à mensagem “Bill sux”!
! A mensagem “Bill sux” está instanciada no “chip”, mas o seu significado só é acessível a uma mente 14
Inteligência Artificial e Inteligência Humana
Inteligência Animal e Inteligência Humana
! A “inteligência” dos primatas não humanos
! São muito mais sofisticados que um computador
! Podem ser “ensinados” a reagir a uma vasta gama de estímulos
! Pode-se falar de finalidade no comportamento animal, mas não de racionalidade
! Podem memorizar uma linguagem gestual simplificada, e usá-la para comunicar desejos ou reagir instintivamente a objectos ou situações
! Especialistas de relevo negam que isto reflicta compreensão intelectual
! Por exemplo, linguistas de relevo que são ateus: Noam Chomsky, Steven Pinker
! A inteligência humana está noutro patamar, e isso vê-se, por exemplo, na Matemática: ! Números naturais: 1, 2, 3, 4, …, 1000, 1001, …
! Números pares: 2, 4, 6, 8, 10, ….
! Números primos: 2, 3, 5, 7, 11, 13, 17, 19, 23, 29, …
! N / ∞ = 0, e outras verdades matemáticas abstractas do mesmo género
! O ser humano compreende conceitos abstractos, mesmo conceitos sem quaisquer instâncias materiais, e depois sabe aplicar os conceitos que compreendeu a novas situações
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Inteligência Artificial e Inteligência Humana
O teste de Touring e a inteligência artificial ! Alan Touring (1912-1954), matemático inglês
! “Computing Machinery and Intelligence”, artigo na revista “Mind” (1950)
! Touring propõe um teste para detectar comportamento inteligente por parte de uma máquina: basta que ela se comporte, de certo modo, como um ser humano
! Touring quer chegar a um novo conceito de inteligência aplicável a máquinas
! No diagrama, o teste está simplificado: C joga contra A ou B e não os distingue
O teste de Touring não estabelece se uma máquina é inteligente, mas sim se a máquina se comporta, de certo modo, como um ser humano
«Não é difícil imaginar uma máquina que jogará, não muito mal, um jogo de xadrez. Agora, tomem-se três homens como sujeitos de uma experiência. A, B e C. A e C são maus jogadores de xadrez e B é o operador que manuseia a máquina. Duas salas são usadas de forma a permitir a comunicação [entre elas] dos movimentos [do xadrez], e um jogo é jogado entre C e, quer A, quer a máquina [através de B]. C pode achar difícil distinguir contra quem é que está a jogar.» (1948)
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Inteligência humana
Inteligência humana
Perspectiva fisicalista ! O cérebro é necessário e suficiente
! Mente / intelecto = cérebro em operação
Perspectiva cristã ! O cérebro é necessário mas não suficiente
! Mente / intelecto ≠ cérebro em operação
Cérebro material
Mente / intelecto imaterial Cérebro material
A mente / intelecto reduz-se à actividade neurológica
«(…) temos que reconhecer que somos seres espirituais com almas existindo num mundo espiritual assim como seres materiais com corpos existindo num corpo material.» - Sir John Eccles (1903-1997), Prémio Nobel em “Fisiologia ou Medicina” (1963), citação de “Evolution of the Brain, Creation of the Self”, p. 241
Inteligência Artificial e Inteligência Humana
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1. Introdução
2. Inteligência Artificial e Inteligência Humana
3. Problemas do fisicalismo
4. O argumento de Lucas-Penrose
5. Conclusão
Índice
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O problema da circularidade
! O fisicalismo implica circularidade quando analisamos o nosso próprio cérebro
! Os conceitos abstractos seriam redutíveis à matéria cerebral (totalmente explicados nela)
! A matéria cerebral seria “compreendida” através desses conceitos abstractos
O conceito de “neurónio”…
… seria redutível a processos electroquímicos no cérebro
E um neurónio é…
… a célula base dos processos electroquímicos no cérebro
Problemas do fisicalismo
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O problema dos conceitos abstractos
! O intelecto humano é capaz de compreender conceitos abstractos (p. ex.: “esfericidade”, ou “tempo”) de tal forma gerais que estes representam uma quantidade ilimitada e inesgotável de instâncias concretas
! Mas esses conceitos abstractos não se reduzem à soma de todas as instâncias concretas (materiais)
Instâncias concretas (limite definido)
! O Sol, a Lua, etc.
! Esta laranja, aquela meloa, etc.
! Esta bola de futebol, etc.
! Este balão de água, etc.
! Este relógio de ponteiros
! Este relógio digital
! Aquele despertador
! Aquela agenda electrónica
Conceito abstracto (limite indefinido)
! Esfericidade
! Tempo
Problemas do fisicalismo
Certas operações intelectuais, como a compreensão de conceitos abstractos, não são redutíveis à matéria ou a processos meramente físicos
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O problema do livre arbítrio
! Na Natureza, há sistemas determinísticos e estocásticos:
! Determinísticos: os estados futuros do sistema não dependem de factores aleatórios
! Exemplo: atracção mútua entre partículas com massa
! Exemplo: atracção mútua entre partículas com carga eléctrica oposta
! Em geral, qualquer sistema físico descrito por equações diferenciais
! Estocásticos: os estados futuros do sistema dependem de factores aleatórios
! Exemplo: intensidade e direcção do vento numa tempestade
! Exemplo: velocidade e direcção do movimento das moléculas de ar dentro de um pneu
! Exemplo: expressão génica (produção de proteínas a partir do ADN)
! Segundo o fisicalismo, todas as decisões humanas deveríam ser explicáveis cientificamente:
! Serão transições entre estados num sistema determinístico?
! Serão transições entre estados num sistema estocástico?
! Serão transições entre estados num sistema parte determinístico, parte estocástico?
! As opções parecem insuficientes: as nossas decisões não estão pré-determinadas nem são aleatórias!
Problemas do fisicalismo
O fisicalista nega o livre arbítrio, apesar de todos os dias tomar decisões livres! 21
O problema do conceito de verdade
! O fisicalista identifica a sua actividade intelectual com a sua actividade neuronal
! Logo, toda a sua actividade intelectual (neuronal) tem que ser:
! Determinística: actividade intelectual (neuronal) descrita por um sistema físico determinístico
! Estocástica: actividade intelectual (neuronal) descrita por um sistema físico estocástico
! Uma combinação de ambos os tipos
! Por outras palavras, toda a actividade intelectual (neuronal) reger-se-ia segundo as leis da Física
! Por isso, quando pensamos ou afirmamos alguma coisa, seríamos apenas um sistema físico a operar
! Se assim fosse, porque é que a operação do nosso cérebro conduziria a ideias verdadeiras?
! Uma ideia, necessariamente gerada por um intelecto, é verdadeira se corresponder à realidade
! Para “procurar” uma verdade, o intelecto tem que ter uma certa liberdade face às leis da Física
! É inútil contra-argumentar dizendo que a evolução biológica leva ao surgimento de seres inteligentes
! Se somos máquinas biológicas regidas pelas leis da Física não podemos defender tese alguma
! Se o fisicalista quer ser coerente, tem que dizer que o seu fisicalismo é o resultado das leis da Física
! O fisicalista, se quiser ser coerente, não tem condições epistémicas para pretender ter razão
Problemas do fisicalismo
O fisicalismo refuta-se a si mesmo: destrói qualquer certeza intelectual! 22
Problemas do fisicalismo
O problema da intencionalidade
! P: O João tem toda a colecção de filmes da série “James Bond”
! Como se explica a intenção do João?
! Explicação científica (ou empírica): explica as causas materiais e eficientes
! Em casa do João há uma gaveta adequada para guardar DVDs
! Nessa gaveta há 22 DVDs diferentes da série “James Bond”
! A série “James Bond” conta com 22 filmes, e todos foram editados em DVD
! Os 22 DVDs são propriedade do João (ele guardou os talões de compra)
! Logo, o João tem toda a colecção de filmes da série “James Bond”
! A explicação científica não explica a intenção do João!
! Explicação pessoal (ou intencional): explica as causas finais
! O João é um fã da série “James Bond”
! O João gosta de rever os filmes, e por isso, comprou a colecção toda
As explicações pessoais não se reduzem a explicações científicas! 23
O problema da criatividade
! Robô PR2 a jogar “snooker”, um projecto da equipa Willow Garage (www.willowgarage.com)
! Toda a “criatividade” do PR2 tem origem humana: é incorrecto dizer ele é criativo na forma como joga
! A liberdade do PR2 é uma ilusão: está totalmente condicionada pelos objectivos que lhe deram
Problemas do fisicalismo
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O problema da criatividade
! A violoncelista polaca Ida Haendel (1928-) a executar o primeiro andamento do Concerto para Violino e Orquestra em Ré menor, Op. 47, do compositor finlandês Jean Sibelius (1865-1957)
! Por volta dos 5 minutos e 20 segundos, vê-se que Ida Haendel verte uma lágrima
! Este tipo de criatividade artística e expressão livre das emoções é impossível para qualquer máquina
Problemas do fisicalismo
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1. Introdução
2. Inteligência Artificial e Inteligência Humana
3. Problemas do fisicalismo
4. O argumento de Lucas-Penrose
5. Conclusão
Índice
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Teoremas da Incompletude (1931) de Kurt Gödel (1906-1978) ! Os antecessores de Kurt Gödel: Frege, Russell e Hilbert
! Gottlob Frege (1848-1925)
! Na sua obra Fundamentos da Aritmética, propõe um sistema
axiomático para formalizar a aritmética e a álgebra ! Bertrand Russell (1872-1970)
! Co-autor (com Alfred North Whitehead) dos Principia Mathematica
! Aponta uma inconsistência fatal na obra de Frege, o chamado
“Paradoxo de Russell” (conjunto R com todos os conjuntos R’
que não são membros deles próprios: será que R pertence a R’?)
! Russell: «O barbeiro faz a barba a todos os homens da aldeia que
não se barbeiam a eles mesmos: mas quem barbeia o barbeiro?»
! David Hilbert (1862-1943)
! Em 1928, lança o desafio de formalizar a Matemática, com o
objectivo de demonstrar que era formalmente completa e consistente
O argumento de Lucas-Penrose
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Teoremas da Incompletude (1931) de Kurt Gödel (1906-1978) ! Um sistema formal é como um jogo com regras e axiomas
! Seguem-se as definições de algumas propriedades desejáveis para sistemas formais…
! Completude
! Num dado sistema formal, todas as proposições sintacticamente válidas são
dedutíveis a partir dos axiomas e usando as regras do sistema
! Consistência
! Num dado sistema formal, não é possível deduzir simultaneamente P e ~P - ou
seja, um sistema é inconsistente se permitir deduzir P e ~P a partir dos seus
axiomas, e usando correctamente as suas regras
! Decidibilidade
! Num dado sistema formal, uma proposição P é decidível se for possível prová-la a
partir dos axiomas e usando as regras do sistema
O argumento de Lucas-Penrose
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Teoremas da Incompletude (1931) de Kurt Gödel (1906-1978) ! O que Kurt Gödel provou…
! Num sistema formal consistente apenas com regras básicas de lógica e de aritmética…
! … é possível encontrar proposições que não podem ser nem provadas nem
refutadas partindo dos axiomas e usando as regras internas do sistema –
proposições indecidíveis
! … e Gödel demonstrou matematicamente que tais proposições são verdadeiras!
! Um sistema formal só seria completo se não contivesse proposições indecidíveis…
! Logo: 1) não há sistemas formais consistentes e completos
! Logo: 2) um sistema formal ou é inconsistente ou é incompleto
Não é possível provar a completude de um sistema formal consistente usando os seus axiomas e as suas regras internas!
O argumento de Lucas-Penrose
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Consequências dos Teoremas da Incompletude de Kurt Gödel ! Para a Matemática…
! Destroem o sonho “hilbertiano” de formalizar completamente a Matemática
! Para a Física…
! Uma vez que qualquer teoria física assenta em modelos matemáticos, criam graves
problemas para a tão procurada “Teoria de Tudo” – será talvez possível formulá-la, mas
nunca demonstrar que tal teoria é a “teoria final”
! Para a Mente Humana…
! Sustentam o argumento do filósofo John Lucas (1929-) contra a teoria de que a mente
humana é apenas um “software” a correr dentro de um computador biológico (cérebro)
! John Lucas, “Minds, Machines and Gödel” (1961):
! Lucas diz que os Teoremas da Incompletude de Gödel têm que ser aplicáveis a
programas de computador, pois estes baseiam-se em lógica e aritmética
O argumento de Lucas-Penrose
«podemos produzir modelos [da mente humana] e eles serão iluminadores, mas por muito longe que cheguemos, ficará sempre mais por dizer – não há limite arbitrário para a pesquisa científica; mas ela nunca pode esgotar a infinita variedade da mente humana» - John Lucas
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O argumento de Lucas-Penrose
John Lucas, “Minds, Machines and Gödel” (1961) 1. Suponha-se um programa P com lógica e aritmética elementares
2. Então, segundo Gödel, há uma proposição G(P) que P não consegue provar, mas que um
matemático humano consegue demonstrar ser verdadeira
3. Faça-se um novo programa P1, que inclua G(P)
4. Então, segundo Gödel, há uma proposição G(P1) que P1 não consegue provar, mas que um
matemático humano consegue demonstrar ser verdadeira
5. Faça-se um novo programa P2, que inclua G(P1)
6. Então, segundo Gödel, há uma proposição G(P2) que P2 não consegue provar, mas que um
matemático humano consegue demonstrar ser verdadeira
! E assim por diante!
! … a “corrida” entre o matemático e versões melhoradas de P pode prosseguir “ad aeternum”!
! O matemático humano leva sempre a dianteira face a qualquer programa de computador
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John Lucas, “Minds, Machines and Gödel” (1961) ! Será o intelecto humano algo equivalente a um programa de computador?
! Seja H o programa de computador que representaria o intelecto humano em funcionamento…
! Então, segundo Gödel, há uma proposição G(H) que H não consegue provar, mas que um
matemático humano (supostamente descrito por H) consegue demonstrar ser verdadeira!
! Contradição!
! Como é que H não consegue provar G(H), e no entanto consegue prová-la?
! Conclusão: por redução ao absurdo…
! Como todos os programas de computador são formalizáveis…
! … todos os programas de computador estão sob a alçada dos Teoremas de Gödel
! Logo, o intelecto humano não pode ser algo equivalente a um programa de computador
O argumento de Lucas-Penrose
«(…) nós não somos máquinas. Podem-se aduzir argumentos para mostrar que as aparências iludem, e que na verdade somos máquinas, mas argumentos pressupõem racionalidade e, graças ao argumento godeliano, a única forma sustentável de mecanicismo [fisicalismo] é a de que somos máquinas inconsistentes; sendo todas as mentes em última análise inconsistentes, então o mecanicismo está comprometido com a irracionalidade de [qualquer] argumento, e nenhuma sua defesa racional pode ser sustentada.» - John Lucas
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O argumento de Lucas-Penrose
Como escapar ao argumento de John Lucas? ! Escapatória A: será que a nossa mente é consistente?
! Se a nossa mente é inconsistente, teria que ser sempre inconsistente!
! Se seguimos esta via, somos irracionais, abdicamos da razão
! Escapatória B: seríamos capazes de conhecer tão bem a nossa mente para definirmos H?
! Podemos ainda não ser capazes hoje em dia, mas não seríamos, teoricamente?
! Escapatória C: seríamos capazes de construir uma proposição de Gödel G(H)? Não seria G(H)
uma proposição demasiado complexa para a nossa capacidade intelectual?
! O físico matemático Roger Penrose (1931-) demonstrou que G(H) teria o mesmo grau
de complexidade que H: nada impede, teoricamente, a construção de G(H)
! Tendo H, podíamos usar um supercomputador para obter G(H)
! Provaríamos que G(H) era verdadeira, e no entanto, indecidível dentro do sistema H!
! O argumento de Lucas-Penrose tem resistido a décadas de críticas
! A “inteligência” artificial tem que ser diferente da humana: esta não parece ser computável
Há certas funções no intelecto humano que não são computáveis, pelo que nós não podemos ser apenas complexas máquinas biológicas!
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1. Introdução
2. Inteligência Artificial e Inteligência Humana
3. Problemas do fisicalismo
4. O argumento de Lucas-Penrose
5. Conclusão
Índice
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Da mente imaterial à alma imortal ! Perspectiva hilemórfica acerca da psicologia humana (David Oderberg)
1. Todas as substâncias naturais são compostos de matéria e forma
2. A forma é substancial porque actualiza a matéria e dá identidade e essência à substância
3. A pessoa humana, sendo uma substância, é um composto de matéria e forma substancial
4. A pessoa humana define-se como uma substância individual de natureza racional
5. O exercício da racionalidade é, essencialmente, uma operação imaterial
6. Logo, por 4. e 5., a natureza humana é, ela mesma, imaterial
7. Mas dado que é imaterial, a sua existência não depende de estar unida à matéria
8. Assim, uma pessoa pode existir, graças à sua natureza animal-racional (tradicionalmente
chamada de “alma”), independentemente da existência do seu corpo (perecível)
9. Logo, os seres humanos são imortais, mas a sua identidade e individualidade requer que
estejam unidos a um corpo numa qualquer altura da sua existência
Conclusão
«Eu sigo a clássica definição de Boécio (480-524 d.C.): uma pessoa é definida como uma substância individual de natureza racional. (…) A forma substancial da pessoa – a sua natureza – é apenas a animalidade racional da pessoa, sendo “animalidade” o género e “racional” a diferença; [a forma substancial da pessoa] também é chamada de alma da pessoa.» - David Oderberg
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Da mente imaterial à alma imortal ! Como pode uma pessoa continuar sem o seu corpo?
! Veja-se a seguinte analogia (imperfeita)…
! Hoje em dia não há tecnologia adequada para manter viva uma cabeça humana sem corpo
! Mas, teoricamente, isso seria possível (com uma tecnologia mais sofisticada)
! Poderíamos dizer, em bom rigor, que essa cabeça era uma pessoa humana (incompleta)
! Logo, é possível algo continuar a existir, mesmo que esse algo perca várias das suas partes
constituintes, desde que o que persiste seja suficiente para a essência da coisa ! Outra analogia imperfeita:
! Uma vassoura pode existir sem o cabo: posso varrer só com a escova
! Uma vassoura não pode existir sem a escova: não posso varrer só com o cabo
! O que persiste após a morte do corpo é a forma substancial desse corpo, a alma
! A essência dessa forma substancial é ser racional, e o uso da razão é algo imaterial
! São Tomás considerava que uma alma separada do corpo não era uma pessoa completa
! Ele recomendava que se rezasse, por exemplo, pelas almas, e não pelas pessoas, no Purgatório
! Segundo a teologia católica, a pessoa voltará a ser completa após a ressurreição do corpo
Conclusão
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