Últimas Águas
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Poemas emocionados no Arraial do Tijuco, escrito por Antonio Guillermo Martin, em julho de 2008.TRANSCRIPT
Últimas Águas
Poemas e Retratos
emocionados
Das terras altas do Tijuco
Por Antonio Guillermo Martin
Diamantina.
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin
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Para K L da Xica
Musa inspiradora do tijuco.
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin
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Introdução do autor.
As terras do tijuco possuem segredos e mistérios guardados nas
suas serras, não é fácil compreender, num primeiro momento, o que
tudo isto significa. Requer tempo, subir e descer ladeira,
Conversar com as pedras e as igrejas centenárias, olhar para a
serra, prumar para o Itambé. conversar com o povo, extremamente
hospitaleiro e de prosa fácil.
E o mais importante, requer abrir a mente e sobre tudo o coração.
As ultimas águas expressam sentimentos do que já sabemos: a
destruição e descaso do Cerrado em especial suas águas, é
realidade e não fantasia. Eles pedem atenção imediata e sobre tudo
tempo para se recompor. Da mesma maneira não da para esquecer do
seu povo, seus belos personagens, suas tradições e a enérgica
cultura presente que luta para sobreviver bravamente.
Devo dizer que nada disto faz sentido senão admitir que os versos
dos poemas e retratos tem sua inspiração profunda no amor vivido
em Diamantina, possuído de todas as qualidades que merece.
Sentimentos e percepções se combinam para despertar a vontade de
escrever, fotografar o entorno sedutor e sua alma.
O tempo do festival de inverno e sua luz cortante do mês de julho
de 2008, certamente marcaram estes versos, conspirando para
eclodir as linhas e imagens a seguir.
Finalmente as últimas águas são resultado de suporte amoroso dos
meus pais e de meus amigos: Francisco Bravim, Rodrigo
Bruzzi,Gracinha Leão,Lucinha Leão,família Leão, Keka, Maria Salim,
Jean François e Vera Casa Nova.
A todos agradeço profundamente estes momentos..
Antonio Guillermo Martin
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin
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índice de poemas
Ofertório
As últimas Águas
Xicanidade
Almas Feridas
Keka
Preta
XP4
Águas Secas
Ambrosina e o rio Ferido
Lagriterio
Igreja do Carmo
Bonecas de Barro
Leoa
Sentinela
KL da Xica
Verperata
Nascimento
Retratos
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin
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Ofertório
Diamantina 30 de julho de 2008.
Estes versos são para ti
Bela Xica,
Não se engane
Quem os ler e se apaixonar,
Já tem dono e destino.
Este versos são para ti
Amada Xica,
Os retratos cantam tua beleza
Refletem o que mais admiro no mundo
Os traços femininos marcados na terra
Que nascem nas serras do tijuco,
E voam distante ao redor do mundo.
Este versos são para ti
Altiva Xica,
Guarda sempre contigo,
Pois sublime é nosso amor,
Que teima em brotar
Todo dia, toda hora,
Na sentinela,
Ainda virgem águas da vida.
Estes versos são para ti
Xica.
Para ti.
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin
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As últimas águas
Diamantina, 22 de julho de 2008
As últimas águas
Não podem calar seu lamento sereno,
a dor vaga no seio da terra e dissipa no céu,
Porque foges de mim...
Sempre te amei mesmo a distancia.
As últimas águas
Tocam na alma dos que sentem sua dor
Soam latentes os humores melancólicos
Das terras queimadas, das arvores que
Transformam seu ramos em carvão.
Seus restos se espalham nas terras calcinadas
Onde bicho nenhum respira vida
E os pássaros disparam da sangrenta chacina.
As últimas águas
não descem mais para o vale
que chora lágrima seca, sem água, sem pão
nada consola a terra mãe a perda de uma filha,
suas águas tem corpo e alma, tem sentimentos e rancores
sua vingança é fugir e deixar a terra fria arrastar areias
para os rios já castigados pela sede do garimpo.
As últimas águas
São mágicas, vibram na alma dos que sentem
Ecoam lembranças de fartura e beleza
Moldam o terreno de curvas fêmeas,
Sinuosas delicias que despertam meu ser.
Ah, estas últimas águas
Mesmo moribundas visitam meus sonhos
Talvez haja esperança, talvez despertes das trevas
O preferes velar as águas e logo a tua morte,
São tempos de angustia e revelação
Domina teu medo nobre ser homem mulher,homem criança
Domina o desejo de autoflagelação.
As últimas águas
Virão da mesma forma como esperas o trem na estação:
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin
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A hora esta chegando implacável
Seca e calcinada os ventos cantam sua chegada
Se cochilas perdes o bonde
Se morres ninguém te acorda,
Ah!
O trem passou e tu imóvel contemplas o infinito vazio, não
respiras, não reages.
Alguns segundos, minutos, horas, dias correm,
A estação se fecha, agora somente na próxima alvorada da
eternidade,
Quem sabe terás uma nova chance.
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin
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Xicanidade
Diamantina 21 de Julho de 2008.
No antigo arraial do tijuco
Pergunte ao passante
Todos são filhos da Xica
13 filhos, 13 amores multiplicaram
Diamantina na soleira diamante da serra do espinhaço
Só vendo para crer
Só sentindo o amor da prosa
E o abraço do povo que
Floresce ao pé do morro, da ponta Itambé.
La pela ladeira do tijuco,
Tem Casa de passagem,
Tem Ponte de passagem,
Tem Tomé que toma conta
Entre Diamantina e Curralinho
Todos passam pela guarda do velho negro
que tudo sabe sobre o mundo e do riacho que
um dia foi mar da Xica
da Mulata das 12 negras, centro da colônia
que Navega no alto mar pelas terras secas do Senhor.
Da Xica ninguém nega a sua força de guerreira
De atrevida que ela é,
Oito gerações se foram, oito Xicas no sangue do povo
que ousaram vida plena, e semeiam idéias e desejos
transbordando a estrada real que une a serra ao mar.
O passado é presente em mil rostos de mulher
Surge a cada instante o coração da negra guerreira
E move céus e mares com seus sonhos libertinos
Eis que despontas entre as pedras da cidade
Novas xicas de muitas cores
É insensatez duvidar que mundo negro cria força,
Que escravo se rebela e branco se ajoelha e beija
seus pés, ninguém lembra de idalgos senhores
Escravistas do ódio, mulheres devotas sem vida,
Mas sim da bela do mar que tanto navega, onde ninguém
Acha possível viajar.
Quantas terras visitastes bela negra
Quantos amores te seguiram distante
No horizonte do mar, tudo dentro do arraial
Pertinho do Tome, do riacho que hoje fede lixo,
Fede descaso, porque ali mora negro pobre,que não tem
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Direito a ter um teto e sonhar sossego.
Só resta a bananeira do quintal para soltar tripas no chão.
Descendo o morro percebo que a lenda é não é lenda,
Que Ambrosina das pastorinhas não canta pela idade,
Mas semeia saudade da velha Xica que foi subindo ladeira
verso o pico da eternidade,
Se mundo negro não se livrou da cruel sina do ódio e
preconceito,
A negra despertou os sinos da liberdade
da mistura de raças, cruzando cores e amores, mutações das
terras altas, do conceito Brasil.
é a ti que peço benção,
que sejas guia dos que ainda virão,
Que sejas comida dos que aqui seguem para o pico da
eternidade.
Diz a lenda, primeiro terás que passar pela
Terra de passagem, que guarda 7 filhos da Valdirene,
7 almas que dormem no seio da chacra da Xica
7 é numero mágico mas não basta,
escuto o lamento das águas mortas,
que descem pelo riacho,
ah,o que fizeram com o mar da Xica
que vela os mistérios da velha negra.
E la pertinho, Soberba a casa de passagem é
herança do sofrimento negro
Sobrevivente do grande naufrágio da humanidade,
Choro nenhum muda o mundo e devolve o grande mar do cerrado
Mas esta historia aquece o peito,
Desperta esperança por dias melhores.
E que venham novas Xicas que tanto procuro
Para beijar seus pés
E viver um grande amor
Abençoado no riacho das águas limpas de passagem,
de justiça e igualdade.
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin
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Keka
Diamantina 18 de Julho de 2008.
Keka minha grande amiga
mil estrelas não
Contemplam o astro que
Carregas no peito,
Eis que hoje sinto
Você brilhar, eclodir
Paixão, implodir meu coração
Em mil gotas brilhantes
Navegando pelas águas da Xica,
Pedra sobre pedra
Carregas meu peito
Pedra sobre pedra
Arrastas minha alma
Para dentro de ti
Para perto do beco,
Beco da Keka
Beco da alegria.
Das montanhas de Minas
Teu abraço encanta o viajante
Despertas a diamantina brilhante
Se falta keka falta vida,
Falta o pão e a luz
Repleto do olhar maroto de menina.
Keka não é nome, keka e conceito amor,
Mil Kekas quero ter, vezes mil dentro do meu coração
Bom saber que basta uma, única, nobre rainha
Viva nas terras Diamantina, terreno do arraial do tijuco
Para transformar o mundo perverso da tristeza em campos
do senhor.
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin
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Almas feridas
Diamantina 19 de Julho de 2008.
Amor, Descobri que as águas são fêmeas
E parem a cada segundo sua existência,
Sua paixão infinita cria vida,
Tão fácil como respirar a sua essência.
E de longe me olhas desejando minha boca,
Nada posso dizer, nada posso conter,
Este é o tempo cego que dribla a razão
e une nossas carnes,
Eis o nosso mistério que se revela a cada
Segundo,
e se esconde nos becos das almas feridas.
Continuo louco ao amanhecer Diamantina,
tuas ruas passado carregam nostalgia,
não te vejo a minha frente, amada,
mas sinto teus olhos fugir assustada
das redes que a grande lua preparou.
Sobre a ponte que cruza o rio ferido,
suspiros plenos afastam de mim o sono profundo,
Volta minha amada Xica que tanto me faz bem
a navegar solene por este mar de águas secas.
O que dizer quando me abraças e cantas,
Teu vestido negro veludo vibram meus desejos,
Teu olhar profundo e intenso repousa
dentro dos campos da alma,
Seduzido não detenho o medo de ousar
ser o teu amado,e subir no trono do teu coração,
Nem que seja por um segundo, por um segundo, um segundo.
E a lua é cheia, cheia de malícia,
nasce laranja lima imponente,
E se senta no céu a ver o amor tomar
conta de almas insensatas
Nos trilhos do Biribiri onde me jogas na areia,
me envolves fêmea,
Possuída de desejo e paixão.
E a lua toma conta dos corpos e os leva para longe do mundo
Longe da razão, longe de tudo que foi construído.
Na madrugada te vejo fugir do encanto caminhando pela ruela,
logo viras a esquerda, vestida vermelho sangue te afastas de
mim
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin
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Com a mente doendo, com o coração cantando, sei
Que nada borra esta lua que cresceu dentro de nós,
E as noites galopam seu destino,
Verso o mais distante futuro,
Mas ainda será pouco para deter os
Ventos que carregam nossas almas,
Que sopram da serra os caminhos
Do eterno amor.
Fecha os olhos, descansa Amor,
A viagem é longa, respira meu beijo,
inté Bela Flor.
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin
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Águas Secas do Cerrado
Brasília, 5 de Julho de 2008.
Oh, Água amada que tiras e das a vida,
Cantas sofrida e tímida a chegada da Deusa flor,
Aquela de olhos profundos e ávidos
que numa noite sem luz encontrei nas
terras altas do planalto infinito.
Oh, Águas das serras que tanto proteges tuas fontes
por medo de sucumbir a mais uma Decepção
no mistério do amor, hoje tudo pode mudar,
os segundos dilatam espaços e como mágica
me permites cair nu
no teu âmago impenetrável.
Oh Deusa jasmim disfarçada de guerreira,
secam as águas quando estas triste e abandonada,
Quantas vezes não voltaste para pedir aconchego
neste leito materno, sangue da terra e seiva da vida?
No entanto, gritas muda no espaço com gesto libra,
Ecoam as sombras de Águas perdidas,
5 letras que fazem sentido ao universo,
5 letras que movem o mundo à destruição.
Águas Secas,
5 letras mais cinco que não expressam o universo vivo,
5 letras mais cinco que retiram qualquer esperança
Enquanto isto, Mar, toma conta das Águas limpas,
Órfã da doçura das crianças e dos loucos,
Oh, água-homem que brincas de guerreiro,
Não esta na hora de sair do casulo,
Vibrando tuas asas e celebrando o mundo
em vez de matar a frescura dos rios?
Lembra-te, se Ele se foi nas águas turvas
não cabe a ti negar sua força
mas reverenciar com dor do coração
a magia da vida-morte que o universo construiu.
Oh, Água te abraço e sinto teu amor severo
Ao retirar o que mais quero e
marcar para sempre a minha carne.
Sei que estas sofrida, mulher solitária,
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin
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de almas e águas, de luzes e trevas
numa vitrine alegórica com vaga-lumes
que cantam ao encontro eterno
dos seres que jamais se separam.
Seres que se despedem depois
do banquete, dispostos a passar a noite
distante a espera da alvorada
cândida imaculada para logo
se abraçar e voltar a se amar.
Fecho os olhos e te envio um beijo de boa noite
repletos de sonhos vividos num paraíso terrestre,
Onde águas e mentes se misturam na pele
Cálida da negra Xica, úmida de amor e suavidade,
De um universo em permanente celebração que
Canta a tua presença divina.
Cruel são as lembranças de recordações,
De um tempo que não passa e machuca a alma
Dor que desperta a consciência de agir e respirar futuro
As águas correm com as brumas da noite,
Correm verso o mar celestial,
as águas cantam sua alegria virginal mas não sabem que elas
se multiplicam
em vapores e gelos, em plantas e animais,
no homem todo poderoso que um dia
decide ser dono do mundo, dono de si,
dono da sua própria tragédia e destruição.
Oh, Água, não pára diante de tal tragédia humana,
Segue teu curso trazendo e levando almas,
Segue cantando solitária, única pelas pedras das montanhas,
E pelas mentes dos que ainda lembram tua melodia.
E se tudo vier a se apagar da minha incurável memória,
o que farei?
Me resta apenas, sonâmbulo, escutar o bombear do sangue
eterno
Que é parte água e a outra mistério divino.
Vejo o trapiche da transformação,
Envolto pelas Águas vivas do Cerrado,
No centro a fêmea e macho perturbam
suas mentes pela ponte verso o infinito incerto,
Aquela que todos aceitam e respeitam seu destino,
Não há como fugir do ciclo celeste.
Vi o eterno retorno do ser impuro amarrado ao companheiro
purificado,
um estranho encontro do sacro e o profano
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin
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dos que aparentam e dos que realmente são.
Nada disto vale uma lágrima versada pela dor materna,
Mais vale uma gota da boca daquele que grita e clama amor
pela harmonia assassina da vida,
simplesmente da vida repleta de Água, Água, Água.
E a ti bela Deusa que inspiras minha alma,
te ofereço uma sinfonia feita risos de infância,
entre bolhinhas coloridas,
que descem as corredeiras,
repletas de sonhos e esperança.
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin
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Lagritério
Diamantina, 30 de julho de 2008
Amada, não pude conter..
Ontem segui oce
choravas rios inteiros atrás da tua mascara de alegria,
dançavas bela e suave,
a dor exalava perfume e dissipava pelas paredes,
subindo e subindo no altar do mundo.
Mas detive meu olhar,
Em apenas uma gota final, numa única lagrima virginal.
A bela lagrima que reflete o mundo dentro de si,
E sei que choras por alguém que não podes mais ter,
Nada faz mais sentido do que gotejar este
Amargo destilado de dor.
Me inspira o medo de estar perto de ti
De apartar corpo da lagrima,
do ser vivo emocionado do defunto calcinado,
Lagrima nada mais é que água sentimento,
água de desespero, água de alegrias,
Que natureza sabia é está que destaca águas do corpo das águas da
alma?
Sentada na mesa estas tu,
Silenciosa, determinada a me acompanhar
Nesta maratona de vida e percalços,
Nada parece ser mais importante que este momento
O tempo se detém diante de mim, nada avança ou recua
Apenas permanece imóvel, mas eu consigo pensar e
Sentados ao redor muitos pessoas,
No centro um homem mago
cálido e sorridente estende suas mãos para passar
O vinho, a água e logo depois o pão.
E ao seu lado estas tu bela amada,
De olhar profundo, distante já com saudade
Da distancia e sublimação
O que fazemos nesta ceia?
O vento da serra brincou e complicou nossas vidas,
Como folhas secas trazidas de terras distantes
se tocaram no leito do rio.
De retorno a ceia,
Me parece familiar, uma cena já antes vivida
não lembro quando aconteceu
Sei que meu olhar vagava incansável sobre a jarra de água
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin
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Suas ondinhas refletiam todo o ambiente claro e impecável.
As águas estão prestes a sair dos vasos,
Preâmbulo do brinde inevitável,
elas buscam sedentas as bocas dos convidados.
Me afasto para entender a cena
E tu me olhas fixo e me segues verso
O grande portal fronteira do celeste e do terreno.
Choras pequeno, soluças contido, tuas palavras
Abrem caminhos entre as serras que tanto amas,
O portal brilhante ofusca a visão,
nada vemos apenas seguimos passo a passo,
respiro a respiro o nosso destino,
Atrás a mesa composta continua animada,
O homem se levanta com a taça de vinho e água.
Todos seguem com devoção seu ato mágico
Sinto vontade de ver o acontecimento
Mas já estamos pisando as areias brancas do rio ferido
O portal se fecha num golpe de vento.
Retorno o meu olhar e logo cresce no horizonte crianças
Que correm pelas águas ralas e tranqüilas,
As Serras de dentes afiados protegem seu leito
E tu amada, me olhas serena,
Pedes meu abraço já dentro do rio.
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin
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KL da Xica
Diamantina 24 de Julho de 2008.
Esta cidade respira você
E sei que quando retornarás
Sentiras minha falta
Não procures entender
Apenas respira o que é vivo e bonito
Estas dentro de mim e não por pouco tempo
Agora a missão nos aguarda
Dar atenção para esta terra sangrada e machucada
Feito de barro, serras e águas.
Eres minha mulher para a eternidade
e eu teu homem...
Estou tratando de escrever uma carta
mas contigo nasce poesia
Adorei teu recado,
estas hoje poeta amada mia.
Te escreverei sempre,
assim não sentiras o frio do norte
E logo me veras ao teu lado
despertando corações
de gente distante.
Xica, 4 letras que soam vida e amor,
mesmo se tudo parece loucura
Nada tem de irreal mas presente
como aquela lua laranja
que guardamos na alma.
Espero que estejas bem,
feliz e linda como te conheci,
mulher guerreira, cheia de vida e amor,
vive meu anjo e se houver espaço
lembre de quem te sopra na alma
e desperta poesia.
Sabes onde me encontrar,
beijos mil,
Amada mia.
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin
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Ambrosina e o rio ferido
Diamantina 25 de Julho de 2008
Ah! Virgem que caminhas sobre as águas
Tocando tua sanfona,
Galopas feliz por terras altas
pastoreando o rebanho com teu canto solene.
Ambrosina sinhá moça, virgem do tijuco,
Não te destes conta que o século passou
E tu continuas presente, semeando amor,
Recolhes tuas pastorinhas, alegres que voam ao teu lado
Com a caixinha da alegria que transforma
Moedas em balas, moedas em pão, moedas em sonhos.
Ambrosina doce negra
Xica nascida na serra do Itambé,
Por que ainda carregas tua sanfona,
Qual mágica te da força e não paras
De cantar paixão e curar tantas almas feridas?
Sei que não há paz no teu coração enquanto não
despertas o povo na rua da Quitanda
ontem ti vi, sinhá, distante lembrando do
negro Sabá, errante viajante, que tua caixinha
mágica construiu tua nova morada.
Ambrosina da vida, da sanfona e da cantiga,
Vem visita meus sonhos sou mais um carneiro do teu rebanho
Me abençoa e batiza com esta água ferida, minguante,
Que teima em viver, em traçar sua linha entre os morros
E vilas.
Virgem do tijuco, será que alguém já te amou como
Eu te amo?
tudo aconteceu num golpe fulminante
No trovejar da tua sanfona,no acorde maior carregado de Re
menor
Tudo não passou de segundos repletos de paz e plenitude
Nestes campos do senhor, teu rebanho não para,
firme,decidida,
Cercado da pobreza que reverencia a santidade,
Na riqueza do espírito possuído pelo dom da devota caridade,
Na vida em vez da morte, na simplicidade serena em vez
Da assassina e perversa ganância
Eis aqui que Ambrosina das pastorinhas não tem igual
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin
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Rainha da casinha claustro, lá existe fé e um altar que se
ergue no pé do leito, as flores do campo ornam a sua mesa e
as águas
Limpas descansam seu pranto.
A janela pruma para o céu, apenas, teu jardim tem vista ao
Itambé, que teima em te despertar todas as manhas,
Bem pertinho do quintal sem fim.
O ato da transformação ainda irá chegar, velha amiga,
a tua sanfona transformará corações frios
devolvendo às águas perdidas sua vida passional
sua força e sensualidade.
Finalmente oras pelas meninas pastorinhas que te dão 91
primaveras,
91 chuvas de verão que lavam as pedras da cidade,
Mas lembra que Deus impaciente espera a tua chegada,
Pede atenção, tua sanfona e teu canto.
E la quando chegares quantos anjos deterão
seus compromissos para sentir o teu canto florido...
Enquanto a mim chego pertinho da igreja a escutar conversa
Entre a lua cheia e a atrevida Xica,
animadas falam de ti e tua lindeza
da roupinha passada e sapatos que depois
das 4 te vestem rainha, linda e radiante.
Que o azul profundo do mês de julho te proteja sempre,sempre
Sanfoneira das terras do Tijuco e do Céu.
Ambrosina:
Toca nas festas religiosas
Final de ano, natal,
Apresenta de casa em casa
Nas novenas, as roupas das chita estampadas
Pastorinhas é tradição de diamantina.
O que dirás nesta noite marota
Quando for chegar na cidade
atrevida
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin
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PX4 do Beco do Mota
Diamantina 27 de Julho de 2008.
Px4 novenas são comuns no mundo
Nos instantes segundos nada sinto,
Sinto o pesar da tua distancia, do teu cheiro
Do teu orvalho selvagem que eclodem flor e
cantam a tua beleza solidão.
Px4 manhas somam as cantigas que me levam a ocê
bela morena, que
Machucas nos abismos do meu ser.
Px4 minutos são o que separam nossas vidas
Nossos corações em cachoeiras de lagrimas silenciosas
Nas águas puras do teu peito
E voam os pássaros que te viram nascer.
Na noite poesia são poucos os que conhecem
E despertam desejos mar, rios dentro de mim
Como pudestes entrar sem tocar a minha razão?
Px4 vezes 7 missões são as que detenho
Agora, busco teu coração, sei que compreendes
Que nada posso achar neste vazio mar, mas,
Inconsolado luto Dragões e exércitos pra libertar
a tua sombra perdida das trevas pedras
de escravidão.
Px4 te encontro mais uma vez e não entendo
A bebida sóbria que flue nas tuas veias
Sedentas de amor e desejo, o meu amor desta vez
Não chora medo, me beijas e toma conta de tudo
Do que sou, ser perverso que nada controlo.
Px4 somas minha alma perdida no contrato, nossa
Rua marcada pela despedida tempo, contrato do nosso
Amor marcado na pele, ferro ardente e infinito da
Esquina torta que separa de ti meu cheiro,
Bela xica do mar
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin
22
Preta
Diamantina 28 de Julho de 2008.
Quantas pedras
Encontraste na garganta profunda desta terra?
No alto do morro,distante do conforto
Vives Preta o sonho, mistura medo, mistura paixão
do garimpo vicio, do dinheiro maldito,
Que constrói casas e destrói corações.
Pedras brilham nos teus olhos,mais do que
Qualquer desejo, cavas e cavas a alma
A procura do tesouro escondido, cadê o veio
Cadê a linha da pedra que desejas, e
La embaixo no seio da terra, tudo para
mudo, silencio catedral, silencio que faz
Sentir o que realmente sou, pequeno e pretensioso
Ser abissal.
Tantos outros garimpeiros, vivem a paixão da pedra
Tantos seres golpeados, maltratados pelas estrelas
Do leito do rio ferido, da serra furada,
semeados por historias,
De nomes que mudaram suas vidas,
para a riqueza ou para a morte.
Sim, sou também garimpeiro, cato imagens, cato almas
desprevenidas, que não entendem quem sou e o que desejo.
Hoje conheço Preta e seu neto, garimpeira, marcada de sol,
solteira, 4 filhos, amante, Criada nas serras,
magra e esbelta de sorriso menina,
dentes estupendos, tem banheiro e água da bica
no seu barraco na vila do Bargaço.
Garimpeiro Claudio, Garimpo baiano, ontem eram genéricos e
nada mais, hoje conhecidos, quem sabe amanha amigos,
do peito do buraco profundo.
Mas e tu bela que cavas minha alma,
Te quero ver longe da chacina dos homens e perto
Do aperto criança que tanto desejas, vem conhecer esta gente
Sofrida devotos da virgem, que explode tiros, a afunda na
pedra.
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin
23
Peco uma oração pelo bendito cerrado,
estás ferido, moribundo, terra do descaso, o que dizer?
Sinto muito,não posso chegar os olhos
e apagar sorrisos da gente que busca sua sorte nas suas
entranhas, muito tarde, amor, entrei na cava.
Pensei que tudo vi, eis meu ser fundo no buraco escuro
Prestes a sucumbir no aconchego do teu umbigo materno.
sou como eles garimpeiro de almas.
De volta a Cava, o tempo para, vejo a vela teimar dançar,
oxigênio escasso No limite da vida,
no capricho de estar presente,
mas ainda assim penso em você,
que distante me sentes,
Onde estas agora, que tanto me chamas?
Se garimpo cheira temor e destruição, la também tem sorriso
Um mundo a parte, que só a cava ensina sua lição
Nada muda La fora, muda minha alma e meu sorriso
Bela Preta segue teu curso, as águas te protejam neste
Mar seco repleto de brilhantes escondidos, maldição da cobiça
Que trouxe preto escravo nas terras do tijuco,
A viver sua sina nos campos do senhor.
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin
24
Bonecas de barro
Diamantina 29 de Julho de 2008,
No vale as bonecas de barro
Costumam cantar todas as manhas:
Chora bananeira, bananeira chora
Chora bananeira que o meu amor
Já foi embora...
E a labuta continua, dia após dia
A lembrança e saudade não da pão
Tem que suar, mulheres da vida
Carregam destemida seus filhos
Seja noite seja dia.
Cadê seu pai? Perguntam os desavisados.
Foi pra longe, no garimpo, na cana,
Na cidade grande, respondem as bonecas gigantes
E assim a vida das viúvas vivas
Aquelas que sonham amor e muito alegria
Fartura na mesa e crianças, muitas crianças.
No final do dia as águas brilhantes
do rio ferido contemplam silenciosas seu lamento:
onde estas amado, por que me abandonaste?
Rio mensageiro onde esta o meu amor?
Sim, descendo o Vale existe um rio ferido,
Todas as manhas avisa que esta vivo,
Todas as manhas leva lembranças dos maridos distantes
Lavando as lagrimas das viúvas
Carregando pedidos para o infinito.
Eis a importância do rio neste vale de fome
Acalma a sede do corpo e da alma
Eis por que não pode morrer,
Carrega tantas almas rio abaixo,
Tantas mensagens de amor.
Na estação do trem todos esperam
Sua chegada, na hora marcada, para
Dar o abraço emocionado a quem merece seu
Amor.
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin
25
La, o relógio estragou
Nada de trem, impaciente caminhas
Sem rumo com o coração apertado, mil imagens
De desolação correm tua alma,
Por que não fui com ele, será que voltara
O que aconteceu?
Mas no vale não tem trem, nem estrada de asfalto
Só poeira e o rio mensageiro que hoje teima
Em atrasar
Noticia vazou na cidade, ele morreu, trucidado,
Vitima Do descaso e da ganância, ignorância dos incautos,
O fiel carteiro parou de correr, as águas cansaram
Retiraram seus brilhos e enterram suas cartas.
As viúvas irão deitar sem esperança esta noite
Nem um beijo de boa noite, nem um abraço molhado
Resta saber o que fazer com as crianças
Resta saber o que dizer ao bom Deus
Que ora pelas mulheres que viram
Bonecas de barro, calcinadas nos fornos
Da desolação e solidão.
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin
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Igreja do Carmo
Diamantina, 29 de julho de 2008
Sonhei que saias radiante ao meu lado
Da igrejinha do Carmo,
Sorriso maroto meio envergonhada
Nada anormal nestes momentos
Insensatos.
Sonhei que carregavas uma bola de cristal
E com ela as águas do rio ferido que
Descem pelas entranhas silenciosas da alma
A diante,
as portas do templo se abrem ao mundo
me senti seguro,
como um sobrevivente em dias de
tempestades de vale seco.
E a igreja atrás de nos
Descobre uma bela escadaria,
Da antiga guarda da cidade
e tu iluminada por pequenas velas voadoras
te viras e me das o abraço mais
doce que senti na vida.
Nada como o silencio dos olhos, vi
Mares cantar sua alegria ao bater das
Ondas nas pedras da serra,
O tempo vira presente,
Tua boca treme, suspira palavras desnudas:
Te amo, murmuras,
Furações explodem no peito
Despreparado o inverno sedento de
Desejos se abate sobre nossas cabeças.
Não importa o futuro, eis o mistério
Que incomoda aqueles que não amam
E se expressa pelas combinações mutagênicas
Que um dia viram passar o português e a negra
unidos pela cidade do tijuco.
A gerar 13 frutos ao mundo.
Um retrato dispara,
As escadarias gritam e cada vez mais próximas e
desafiadoras, desabo nelas,
como águas nas pedras das cachoeiras
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin
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Sem ordem, maneira, rodopiando uma a uma
Pelos degraus verso o vale da rua.
Talvez foram segundos ou séculos, neste instante
De descida te vi me olhando pálida, indefesa,
Corres atrás de mim por estas pedras da vida
Seguras no entanto a bola do rio assustada
Transbordando raios celestes de
instante infinito.
Na beira da morte, me prendes a mão,
Novamente a câmera pisca seu olho prevenido,
Silencio! flutuo no espaço na beira
Do abismo profundo do ultimo degrau da vida
E La, moribundo, te vi radiante
saltar no abismo.
Nada mais percebi,
apenas o beijo molhado profundo
Tocar minha alma.
Dois corpos entendidos na beira da igreja
Duas almas que ousaram o limite do permitido,
corre a historia entre mendigos, padres,
comadres, Padeiros, juízes,
todos reunidos no pé da igrejinha que
teima em olhar o amanhecer
das serras do tijuco.
As águas do cristal lavam este momento
Fugindo nas pedras da cidade,
Mais um conto para as noites frias
Os lampiões se apagam,
hora de despertar
Meu amor.
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin
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Sentinela
Diamantina 29 de julho de 2008
Hoje levei a virgem de barro
Flutuar na Sentinela,
Caminho de terra verso o biribiri
Driblando as serras descendo ao
Encontro fatal das águas limpas e daquelas
Marcas pelo homem.
Sei que La estas sempre amada mia
Mesmo distante em terras aléias,
Deitas na pedra a consolar tua magoa
Sei que lá te encontro solitária
prestes a ceder ao meu encanto.
A virgem de barro corre seu leito
Sentindo teu cheiro, buscando tua alma
Nada encontra no universo distante das águas
Mas num golpe mergulha fundo no leito
Nada parece detê-la nas profundezas do mar das
Serras.
Mais tarde pergunto a respeito da viagem
Ela me conta do encontro contigo amada
Das alegrias e tristezas que guardas
Dos sonhos submergidos que tanto guardas
Nesta vida plena de surpresas.
Boneca de barro tens algum recado para mim?
Calada me olha pensativa e distante
Nada disse, nada, mas apenas chorou respondeu
Apenas te sente no peito, pertinho da esquina
Da sua vida
Nas águas da pequena cachoeira continuas virgem
A rezar por todos aqueles que não encontraram
O verdadeiro amor e sentimento solitude
Próprio para vestir na hora do encontro com a
alma.
Amada, estou feliz por te ver junto a tua gente
Junto a estas pedras que tanto amas,
e que um dia te machucaram profundamente.
Mas sei que retornaras pronto,
é momento de descanso, de trégua da guerra,
Firme e valorosa estarás de volta a tomar teu trono
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin
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Destruído.
Não te preocupes já estou em terras do tijuco, marcado
eternamente com o aroma das madrugadas,
seguindo teus passos pela rua torta do Bonfim
verso a rua do contrato.
Se tiveres sede de sentir-me, pensa no pico do
Itambé, La me encontras sempre,sempre, olha fixo
À vila do tijuco e
subindo a ladeira do teu coração.
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin
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Leoa
Diamantina, 29 de julho 2008
Distante na serra
Descansa a fêmea eterna
Que tanto amo e desejo,
Atenta protege o infinito
reino das terras do tijuco.
Minha historia começa com o
Acordar da felina,
Num descuido do meu coração
Palpitou seu amor fulminante como
A fecha de um Caçador.
Perguntam: onde se esconde a fera?
Não a vejo, seja dia seja noite,
Respondo: levanta os olhos cego amigo
Veja serra, nas linhas e formas do Itambé,
Eis a silueta dela, passa devagar
Senão se desperta,
Hoje amo um leão
Deito no seu leito
De tantos contos e historias
Eis a musa que despertou
versos eternidade
Que sangre carregas animal da Serra?
Teus olhos respondem:
Mistura de Raças
Mistura Brasil,
Nasci no tijuco
Da Xica e o Fernando
De 13 crias esquecidas
Mistura de Raças não importa a praça:
negro, branco, mulato,
mameluco, índio, parto, bugre,
no Tijuco aprendes
que tudo é gente e somente gente.
Dane-se a cor!
Gritas soberba a tua herança negra,
Coisa boa que carregas mistura nas veias,
Que palpita coragem de ousar a liberdade
Em tempos de escravos, almas maltratadas.
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin
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8 gerações criaram leões
Famintos de amor e desejo,
Livres correm pelas serras
Despertando incautos
Passantes que viagem sem fé
Por estes campos do Senhor.
Conta a lenda que eres mulher bonita
Carregas na vida a fera ferida
Que teima em viver dentro de mim
Pois sente calor e aconchego.
Toda noite a fera visita mãe Xica
No pé da igreja do Carmo.
canta sua sina bendita de
Guerreira e amante das águas.
Hoje provei teu alimento
Presente nas serras e águas
Que dia e noite
celebram a vida de todo ser
tuas garras guardastes, deitei no teu peito
sem medo da morte e dormir silencioso.
Mas sei que amo leões
Suas garras e dentes
Machucam quem despreza
o amor da terra abençoada
da alto da serra
ápice da estrada real.
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin
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Vesperata
Diamantina 1 de Agosto de 2008.
Tudo começou na Vesperata Diamantina
eis que de longe te vi amor
esplêndida,radiantes aparecer
no horizonte da vida.
Tudo começou numa noite fria
No compasso dos balcões
Recebi o sopro de amor
Invisível e silencioso.
Nada sabia incauto ser
Que guardava dentro de mi
Uma enorme represa de águas contidas
E que naquela noite se romperia
Libertando tantos rios de amor.
E tu estavas ali bela Xica
A poucas léguas do encontro
a pedra fria se abriu por encanto
no ritmo da melodia.
meu olhos tocaram tua veste vermelha
e desceram pelas curvas da Xica
mil vezes em poucos segundos
tocaram os sinos
da igrejinha do Carmo.
Tudo começou na Vesperata Diamantina
As gaiolas abriram seus portões
e rios poderosos desceram a Serra
nas cachoeiras das almas esquecidas.
Lado a lado no bar do Antonio
Senti tua pele penetrar na mia
Ondas de calor e ventos de tensão
Se abateram no cantinho apertado da vila.
Tudo começou na noite fria Diamantina
E não sabia que as águas contidas
Nasceriam possantes do Itambé ao rio ferido
Onde tanto choras tua sina
Bela Xica das águas finas.
Repito os mesmos versos
Em turbilhões de emoções
Que nada tem de terrestre
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin
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sem regras postuladas
nas dimensões ocultas da
Aritmética do amor.
E na próxima Vesperada
Estarei dentro de ti cantando diamantina
A musica que dedico
É aquela que fala da saudade do nosso amor
Saudade que destrói as barreiras das águas
das distancias sem fim
Que separam os homens de Deus
E a razão das emoções:
Como pode um peixe vivo
Viver fora da água fria
Como poderei viver
Sem a sua, sem a sua companhia...
Fecha os olhos nestes cantos,
Tocarei cada espaço do teu corpo
Cada esquina da tua alma
Do contrato ao Bonfim
Da Quitanda a Sentinela
Estarei em ti Amada mia
E no baile do Acaiaca
Dançarei ao teu lado
Solitária alma ferida
Que nada tem de pequeno
E contem a semente
No teu ventre eterno.
E se ainda sentires saudades
No domingo, na igreja dos escravos,
Escute Diamantina em Serenata
Das vozes dos anjos que la cantam
Como os olhos cerrados e coração disparado
Estarei presente ao seu lado.
Eis o roteiro de amor que dediquei a ti.
Tudo começou na Vesperata diamantina
Suave e leve
como o vento que
Canta às águas do teu reino,
Suave e leve
como o teu olhar sereno
que vaga nas ondas das serras.
E Tudo começou na Vesperata Diamantina.
Tudo.
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin
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Nascimento
Diamantina 1 de Agosto de 2008
Nasceu em mim
A magia das palavras
Nasceu ao golpe do teu amor
A vontade de cantar versos
Livres da opressão e da razão
Nasceu o filho que faltava
Da escrita esquecida
Que, tu, bela amada
Ajudaste a despertar
Nasceu em mim a vontade de
Cantar para as águas celebrar tua beleza.
Como esquecer o ser
Que tomou conta da minha alma?
Nasceu o irmão dos meus retratos
Não entendo como vivi tanto tempo
Sem ti, palavras escondidas,
Bela Xica criastes versos mágicos
Que tem vida e brincam
Nas águas limpas das serras enfeitiçadas.
Nasceu em mim
O que faltava
E feliz me sinto
A esperar da tua chegada.