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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE FISIOTERAPIA
A incontinência urinária feminina em praticantes de CrossFit®: uma revisão da
literatura
Fernanda Gonçalves de Oliveira
NATAL/RN
2019
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE FISIOTERAPIA
A incontinência urinária feminina em praticantes deCrossFit®: uma revisão da
literatura
Fernanda Gonçalves de Oliveira
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao
Curso de Fisioterapia da UFRN, como pré requisito
para obtenção de grau de FISIOTERAPEUTA.
ORIENTADOR: Profa. Dra. Lílian Lira Lisboa
Co-orientador: FT Alef Cavalcanti Matias de
Barros
NATAL/RN
2019
AVALIAÇÃO DA BANCA EXAMINADORA
TRABALHO APRESENTADO POR FERNANDA GONÇALVES DE OLIVEIRA EM 18
DE JUNHO DE 2019
1º Examinador(a) ORIENTADOR:Prof.(a) Lílian Lira Lisboa
Nota atribuída __________
2ºExaminador(a):Prof.(a)WouberHérickson de Brito Vieira
Nota atribuída __________
3ºExaminador(a): FST Alef Cavalcanti Matias de Barros
Nota atribuída __________
APROVADO COM MÉDIA =_____
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeira e imensamente aos meus pais, pois sem vocês eu não chegaria onde
estou e não seria a mulher que me tornei, mesmo que ainda em constante crescimento.
Obrigada por todos os sacrifícios, ensinamentos e incentivos feitos por vocês.
A todos meus amigos de curso, obrigada por esses cinco anos maravilhosos. Todos
vocês fizeram parte do meu aprendizado diário, dividindo alegrias, aflições, correrias e
risadas. Mas, agradeço em especial às minhas fofinhas: Mauro, desde o início meu
companheiro pra tudo, dentro e fora da universidade. Entre você e eu, sabemos que não
existem espaços vazios. Meus sinceros e profundos agradecimentos; Priscila, minha irmã
mais velha e uma das minhas referências de mulher forte, decidida e inteligente, obrigada por
ser minha base. Tenho muito orgulho da amizade que nós estamos construindo dia após dia;
Natália, a minha debochada /afrontosa preferida, obrigada por todos os momentos que
tivemos durante todos esses anos. Você foi minha paz e meu equilíbrio desde sempre; Carol, a
fofinha mais sensível, obrigada por me ensinar a manter sempre o pensamento positivo,
mesmo quando tudo parece estar desabando; e Amanda, minha galega maravilhosa, irmã
quase gêmea, obrigada por aparecer na minha vida e mostrar que cada pequeno gesto tem
muito mais valor quando a gente ama as pessoas. Você é um mulherão exemplar, por dentro e
por fora.
Aos demais amigos, obrigada por toda paciência, ajuda e apoio que vocês me
ofereceram. Vocês foram meus anjos da guarda, cada um à sua maneira.
À Lílian, minha orientadora, obrigada por me acolher nessa missão e não abandonar
minhas ideias na hora que as coisas não deram tão certo, por ter comprado a minha causa para
com a ciência do esporte e principalmente por ter me dado tanta tranquilidade durante o
processo, pois sem você o caminho teria sido muito mais difícil. Obrigada por ser minha mãe
acadêmica.
Ao meu fisioterapeuta, amigo e co-orientador, Alef, obrigada por todos os
ensinamentos que você tornou possível, por sempre atender aos meus chamados sem titubear
e principalmente, sem perder a paciência e o bom humor. Você também abraçou esse trabalho
com todas as forças e eu sou muito grata por te ter ao meu lado. Você foi “fera”.
Finalmente, obrigada ao professor Wouber por fazer parte da banca, e também aos
demais professores e preceptores do departamento. O conhecimento é construído com a
colaboração de todos, sem exceção.
Obrigada!
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 9
1.2 Objetivos ......................................................................................................................... 10
2. MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................................. 12
3. RESULTADOS ................................................................................................................. 13
4. DISCUSSÃO ..................................................................................................................... 15
5. CONCLUSÃO .................................................................................................................. 19
RESUMO
Introdução: oCrossfit® é uma atividade realizada em altas intensidades. Tendo em
vista que atividades de alto impacto envolvem um aumento da pressão intra-abdominal e
possivelmente maior vulnerabilidade à incontinência urinária (IU).Portanto, há necessidade
de investigar a IUno Crossfit®. Objetivo: Investigar a incontinência urinária feminina em
praticantes deCrossFit®.Materiais e métodos:este estudo é uma revisão integrativa. Foram
utilizados estudos experimentais, com os descritores de busca “CrossFit”, “incontinência
urinária”, “esporte de alto impacto”, “assoalho pélvico” e seus respectivos em língua inglesa.
As bases de dados consultadas foram SciELO e PubMed.Resultados: foram encontrados 161
artigos no total. Destes, 10 artigos foram selecionados para leitura completa eapenas 2
atendem ao temaproposto. Conclusão:o CrossFit® tem influência direta na manifestação da
IUem mulheres, sendo necessária a realização de um treinamento específico de percepção
cinestésica e força de AP.
Palavras-chave: esporte, incontinência, programa de condicionamento extremo, saúde da
mulher.
ABSTRACT
Introduction: Crossfit® is an activity performed at high intensities. Seen that high-
impact activities involve increased intra-abdominal pressure and possibly increased
vulnerability to urinary incontinence (UI). Therefore, there is a need to investigate the female
UI inCrossfit®. Objective: To investigate the female UIin CrossFit®practicing. Materials
and methods: this study is an integrative review. Were used experimental studies, with
search terms "CrossFit", "urinary incontinence", "high impact sport", "pelvic floor" and their
respective translations to english were used. The databases consulted were SciELO and
PubMed. Results: 161 matching articles found. Out of these, 10 articles were selected for
complete reading and only 2 meet the proposed theme. Conclusion:CrossFit® has a direct
influence on the manifestation of UI in women, being necessary the accomplishment of a
specific training of kinesthetic perception and force of AP.
Key-words: sport, incontinence, extreme conditioning program, women's health.
LISTA DE FIGURAS E TABELAS
Figura 1. Fluxograma dos estudos selecionados.
Tabela 1. Características dos estudos incluídos.
1. INTRODUÇÃO
A prática de atividade física traz benefícios tais como a prevenção de patologias
agudas, crônicas, locomotoras e psicológicas, sendo fundamental em qualquer idade (FREIRE
et al., 2014). Logo, sua relação com a saúde já é de conhecimento geral, e de acordo com
Mota et al. (2006) além do forte impacto positivo na redução da morbidade e,
consequentemente, mortalidade, também há relação entre a prática de atividades com a saúde
física, satisfação pessoal e social. A atividade física pode ser realizada em altas ou baixas
intensidades, de curta ou longa duração. Desse modo, de acordo com Tibana, Sousa e Prestes
(2017) os Programas de Condicionamento Extremo são caracterizados por volume alto de
treinamento, podendo ter como proposta, um tempo limitado para realizar maior quantidade
de repetições ou um número de repetições fixo para ser concluído no menor tempo possível,
com ou sem intervalos.
Um exemplo destes programas de treinamento intenso é o Crossfit®, desenvolvido
pelo técnico norte-americano Greg Glassman. O esporte engloba diversas modalidades como
levantamento de peso olímpico, ginástica, remo, corrida, entre outros. Dessa forma, envolve
exercícios funcionais e é definida como “treinamento funcional constantemente variado e de
alta intensidade”, objetivando a melhora do condicionamento e saúde (CROSSFIT, 2018).
Porém, dentro deste estilo de treinamento intenso, existem alguns questionamentos quanto aos
prejuízos ao assoalho pélvico, como por exemplo, surgimento da incontinência urinária (IU).
O assoalho pélvico (AP) é composto por uma base muscular que trabalha em conjunto
com esfíncteres e controle neurológico local/central, fornecendo fixação/continência para os
órgãos. Além disso, o AP contribui para a função sexual e também desempenha um papel
crítico na estabilidade do centro (CASEY; TEMME, 2017).Dessa forma, o que determina se o
suporte é suficiente, é o tônus ou estado de repouso do AP. Então, na atividade de alto
impacto, a contração do AP ocorre como resposta automática e inconsciente ao aumento da
pressão intra-abdominal e pressões intra-vesiculares que desafiam a continência (CASEY;
TEMME, 2017). Logo, durante a contração máxima, que normalmente precede ou ocorre
simultaneamente ao aumento da pressão intra-abdominal, os músculos do AP fecham ainda
mais as aberturas pélvicas através de sua ascensão superior e anterior (CASEY; TEMME,
2017).
Dentro do contexto de atividades físicas, Casey e Temme (2017) criaram duas
hipóteses opostas quanto aos efeitos causados na função do AP, especialmente em esportes de
alto impacto. A primeira é de que a atividade física pode fortalecer os músculos do AP
durante o treinamento, pois o aumento da pressão intra-abdominal promove uma pré-
contração simultânea do AP, o que pode resultar em treinamento/fortalecimento.
Inversamente, como segunda hipótese, as atividades de impacto podem sobrecarregar, alongar
e enfraquecer os músculos do AP com o tempo, se a pré-contração não superar as pressões
intra-abdominais.
Visto que há evidências de que atividades físicas de alto impacto envolvem um
aumento repetido e abrupto da pressão intra-abdominal,essas podem ser associadas a maiores
taxas de IU (GOLDSTICK; CONSTANTINI, 2013).Segundo Gephart (2018), as mulheres
que têm sido participantes ativas de atividades de alta intensidade por longos períodos podem
ser acometidas por diversas disfunções de AP, o que vai muito além da IU.
Além disso, sugere-se que um dos maiores fatores de risco para IU em atletas jovens
do sexo feminino é a participação em esportes de alto impacto, caracterizados por pouso, salto
ou corrida repetitivos (CASEY; TEMME, 2017). Ademais, segundo Casey e Temme (2017),
fatores de treinamento, incluindo frequência, duração e intensidade da atividade,
possivelmente afetam a incontinência urinária de atletas femininas de elite e recreacionais.
Deste modo, essas atletas sentem que estas disfunções podem representar problemas sociais e
higiênicos, afetando negativamente o desempenho esportivo (BØ, 2004).
Á vista disso, o presente estudo propõe-se a realizar uma revisão integrativa investigar
a presença daIUem mulheres praticantes de Crossfit®fazendo com que os leitores
desenvolvam poder crítico e as praticantes sejam conscientizadas sobre prevenção e
reabilitação desta disfunção. Portanto, o presente estudo foi realizado devido à necessidade de
novas informações para composição da literatura, já que a vinculação deste assunto ainda não
é muito difundida, tanto no meio acadêmico e clínico, quanto entre mulheres que compõe esta
população.
1.2 Objetivos
1.2.1 Objetivo Geral
Investigar a incontinência urinária feminina em praticantes deCrossFit®.
1.2.2 Objetivo específico
Investigar as variáveis clínicas anteriores associadas à incontinência urinária;
Observar fatores influenciadores no desenvolvimento da disfunção;
Traçar as necessidades do público alvo, de acordo com os achados da literatura.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de um estudo de revisãointegrativa daliteratura, fundamental para
proporcionaruma base teórica parafuturas pesquisas na área, trazendo estudos recentes, além
daexposição de resultados dos autorescom os seus diversos pontos de vistasobre a IU em
mulheres praticantes de CrossFit®. Assim, tem-se na execução deste estudo: a elaboração da
pergunta principal; busca na literatura científica sobre CrossFit®e IU; seleção dos artigos que
se enquadram como objeto do estudo. A motivaçãoque conduz esse estudo é: Descrever a
presença de IU feminina em praticantes de CrossFit®.
Com base nisso, foram utilizados e agrupados com o uso do operador booleano “AND” os
descritores de busca: “CrossFit”, “incontinência urinária”, “esporte de alto impacto”,
“assoalho pélvico” e seus respectivos em língua inglesa. As bases de dados consultadas
foramSciELOePubMed, realizando a busca entre março emaio de 2019.
Como critérios de inclusãoos estudos publicados deveriam:i) estar na faixa dos últimos
cinco anos (2014 a 2019);ii) estar disponibilizados online em texto completo; iii) estar nos
idiomas Português ou Inglês;iv) abordar a temática daIUe CrossFit® na mulher; v) serem
estudos experimentais. Sendo, portanto, o critério de exclusão os artigos duplicados e que não
correspondessem ao tema, também foram excluídas dissertações e teses.
Após ter sido feita a busca na literatura e aplicados os critérios de elegibilidade, foi
efetuada a leitura de títulos e resumos para exclusão de estudos fora do tema abordado e as
duplicações. Posteriormente, foi realizada a leitura completa dos 10 textos. Destes, apenas
dois foram incluídos nessa revisão, pois os demais não abordavam o tema da atual pesquisa.
Isto posto, prosseguiu-se com a análise da fundamentação teórica dos estudos e a
observação das características gerais dos artigos, tais como ano de publicação, autor, tipo de
estudo, seguidos de métodos e conclusão. Por fim, realizou-se a apreciação de toda
metodologia aplicada, resultados obtidos e discussão. Para analisar a produção científica
identificada, não se utilizaram técnicas qualitativas e/ou quantitativas específicas de
tratamento de dados, tendo sido feita a análise descritiva de cada um dos textos.
3. RESULTADOS
Os resultados obtidos a partir dessa metodologia estão expostos na Figura 1, de forma
que,quando colocados os descritores nas bases de dados online, foram encontrados 161
artigos no total. Destes, apenas 10 artigos foram selecionados para leitura completa.
Figura 1. Fluxograma dos estudos selecionados.
Conforme mostrado na Figura 1,após leitura detalhada dos dez artigos, apenas dois
atenderama proposta de trazer uma descriçãodaIUem mulheres praticantes deCrossFit®, e a
partir disso, foram organizados por ordem cronológicana Tabela 1.
No ano de 2018 pode-se encontrar um artigo, e em 2019 apenas uma publicação foi
feita até o presente momento. Isso mostra a escassez de estudos nessa área, sendo esses
recentes ou não.
Maioria dos achados nas bases de dados online englobam apenas o CrossFit®, mas
como a pergunta principal desta revisão também compreende a IU, vários desses estudos
foram excluídos. Percebe-se com isso, que há a preocupação dos autores em falar sobre a
atividade, mas ainda não foi despertado por completo o interesse em saber quais os seus
efeitos em curto e longo prazo no AP dentro dessa modalidade.
Tabela 1. Características dos estudos incluídos
Autor/Ano Título Tipo de
estudo
Métodos Conclusão
2018
Ludviksdottir
et al.
Comparisonofpelvicfloormusclestre
ngth in competition-
levelathletesanduntrainedwomen
Estudo
prospectiv
o de caso-
controle.
- 34
mulheres
entre 18-
30 anos;
-
Mensuraçã
o de força
de
assoalho
pélvico e
avaliação
da
habilidade
de
contração
usando o
sensor de
pressão
Myomed
932 da
Enraf-
Nonius.
- Os
músculos do
assoalho
pélvico não
são
fortalecidos
o suficiente
com o
treinamento
atlético
geral;
- É
recomendad
o que o
fortalecimen
to dessa
musculatura
seja feito
com
exercícios
específicos e
inseridos no
programa de
treinamento;
2019
Yang et al.
The effectof high
impactcrossfitexerciseson stress
urinaryincontinence in
physicallyactivewomen
Pesquisa
anônima
transversa
l.
- 105
mulheres,
>18 anos,
com boa
saúde;
-
Questionár
io e auto
relato.
- A
incontinênci
a urinária
pode ocorrer
em mulheres
jovens e
fisicamente
ativas
durante o
exercício;
- Há um
maior risco
de
incontinênci
a urinária
durante os
exercícios de
CrossFit®
4. DISCUSSÃO
Frente aos resultados e discussões dos artigos selecionados, explorando as
particularidades e ideias defendidas por cada um, abordaremos inicialmente sobre a incidência
da IUnas mulheres voluntárias destes estudos.De modo geral, todos os estudos trabalharam
com mulheres acima dos 18 anos, havendo algum grau de padronização no público alvo.
Observou-se que existem indícios de uma vinculação da IU com a prática de atividades
físicas, entretanto, a modalidade realizada não é o único fator influenciador no
desenvolvimento da disfunção, pois percebe-se que há uma importante causa hormonal, além
de casos de histórico familiar, desconhecimento/descontrole da musculatura e de falta de
treinamento específico para o centro corporal e AP.
Pormenorizando tais informações, Yang et al. (2019), traz em seu estudo com
105voluntárias que,aproximadamente 47,6% (50 mulheres) das participantes de CrossFit®
relatam episódios de incontinência urinária com o exercício.Do grupo total de mulheres,
28,7%(30) relatam menos de um vazamento por semana e 20% delas (21) por mais de uma
vez na semana, quando não estão praticando a atividade.
De acordocomo mesmo autor, durante a prática do CrossFit®, essas mesmas mulheres
elevam as estatísticas de perda urinária para 80% com menos de uma perda por semana e
comparados
a exercícios
aeróbicos.
90,5% por mais de uma vez na semana. Elas referem que normalmente associam a perda
urinária com o tipo de exercício realizado, além da frequência do ocorrido em cada um
deles.Ainda segundo esse estudo, estabeleceu-se um top 3 dos exercícios mais causadores da
perda de urina, sendo em ordem: o double-under (47,7%), o jumpingrope (41,3%) e o box
jump (28,4%).
Levando esses dados à comparação entre mulheres nulíparas e multíparas, vemos que as
mulheres que já tem algum parto prévio apresentam uma maior incidência de IU sendo
praticantes ou não (YANG et al., 2019). A partir do estabelecimento desse paralelo,Yang et
al. (2019) propõe quea lista de exercícios citada anteriormente pode ser ampliada, caso o
grupo de mulheres observado seja de multíparas, adequando da seguinte forma: jumpingrope,
double-under, thruster, squats(agachamentos com e sem carga), e saltos de trampolim.
Sabe-se que associaçõesdo aumento da pressão intra-abdominal e a perda urinária são
estabelecidas em diversos estudos e estão diretamente ligadas ao tipo de exercício realizado.
Então, diante disso, supõe-se que há maior vínculo dessas técnicas específicas com o aumento
das perdas que, por conseguinte, é intimamente relacionado ao aumento brusco e excessivo da
pressão intra-abdominal. Alémde tudo, no caso das multíparas, as alterações geradas no AP
pela gestação constituem condições clínicas obstétricas que, adicionadas a fatores irritativos
para a perda, também vão manifestar importantes consequências diante das disfunções.
Ainda fazendo a relação entre pressão intra-abdominal com disfunções de assoalho
pélvico, Gephart (2018) realizou um estudo comparativo entre nulíparas e multíparas
praticantes e não praticantes CrossFit® e observou que, há diferença significativa entre o pico
de pressão nos dois grupos avaliados, especialmente nos exercícios de push-ups,front squats,
wallballs e double-unders, pois uma gravidez prévia pode alterar o tônus ou a função
muscular da parede abdominal e/ou pélvica destas mulheres, corroborando com a constatação
do aumento do número de exercícios que acometem este grupo.Este fatopode justificaro
provável aumento da queixa de perda urinária destas mulheres, especificamente nesta
modalidade, como referido por Yang et al. (2019).
Em contiguidade, Gephart (2018) ainda estabeleceu mais duas correlações em seu estudo,
que somam como variáveis de grande importância para a análise dos efeitos do CrossFit® em
mulheres. Foi visto que ao comparar o pico de pressão intra-abdominal de praticantes e não
praticantes durante o exercício,não houve diferença significativa nos valores obtidos. Além
disso, vemos que ao testar os exercícios referidos no artigo citado, nas condições com carga
adicional e sem carga (peso corporal), não é observada diferença significativa nos dois
momentos.Isso mostra que a queixa de IUpode não estar exclusivamente associada ao
aumento do nível de pico de pressão intra-abdominal (GEPHART et al., 2018).
Dentre estes variados tipos de exercícios, foi notado também que em alguns casos a
pressão intra-abdominal ao iniciar o bloco de repetições é alta e vai diminuindo
gradativamente, como nos sit-ups, assim como houve exercícios que apresentaram a ordem
inversa, com baixa pressão ao iniciar as repetições e alcançando o aumento gradativamente,
bem como o backsquat(GEPHART et al., 2018). É sugerido ainda que, a forma de realizar o
exercício, a fadiga e a respiração estão relacionadas a esses resultados de diferentes pressões,
porém é necessária a realização de mais estudos para comprovar a existência ou o nível de
correlação entre estes fatos (GEPHART et al., 2018).
No estudo feito por Lúðvíksdóttiret al. (2018), foi utilizada a variável força para obter
mensuração das diferenças entre mulheres competidoras e não competidoras de várias
modalidades, incluindo o CrossFit® em sua amostra. Dessa vez, utilizando dados de mulheres
exclusivamente multíparas, foi visto que a mensuração de força realizada entre os grupos não
obteve diferença estatística significante, contudo, as atletas demonstraram um maior
conhecimento/controle quanto à musculatura de AP(LððVÍKSDÓTTIR et al., 2018).
Lúðvíksdóttiret al. (2018) mostra que é possível haver uma forte relação entre o nível de
treinamento dessas atletas (incluindo o tempo de prática da atividade em anos, o volume
semanal e o tempo gasto em cada sessão), com os hormônios e a IU. Visto que mulheres com
alto nível de treino e/ou processo de overtraining têm queda do estrogênio no corpo, além de
alterações hormonais devido à menopausa, tem-se reconhecido esta ligação entre essas três
variáveis como fator de predisposição à disfunção.
Das 34 mulheres investigadas pelo autor citado acima, sendo 18 atletas e 16 não atletas,
percebeu-se que além do fator hormonal, existem casos de histórico familiar,
desconhecimento/descontrole da musculatura e de falta de treinamento específico para o
centro corporal e AP. O mesmo sugere que o APdas atletas de alto impacto precisa ser
fortalecido para que haja a sustentação dos órgãos durante o exercício, além do mantimento
da continência, constatando a necessidade de desenvolver um treinamento específico dessa
musculatura para as mulheres de uma forma geral e principalmente para as que são
submetidas a altas cargas.
Em conformidade com Lúðvíksdóttiret al. (2018), Reis et al. (2011) cita atividades
envolvendo aumento de pressão intra-abdominal, notando que as fibras de contração lenta
(fibras tipo I) que são responsáveis pela manutenção do tônus muscular, têm diminuição da
sua capacidade contrátil diante de fatores que comprometam o suprimento de oxigênio,
levando o músculo á fadiga. Com isso, há o recrutamento de fibras de contração rápida (tipo
II), que não apresentam a mesma capacidade de manutenção do tônus e, consequentemente,
comprometendo a continência.
Outro importante fator influenciador é a percepção da musculatura do APque, por vezes,
essas mulheres não apresentam. Isso impossibilita que os músculos sejam recrutados e
realizem sua função. Consequentemente, há a provável necessidade de iniciar treinos
específicos, primeiramente, pela fase de percepção e somente após, a fase de fortalecimento.
Ademais, diante desta disfunção do assoalho pélvico, trazendo implicações funcionais e
emocionais para mulheres acometidas, o treinamento dessa musculatura é um importante
componente. Na investigação de Carls (2007), mais de 90% de atletas escolares do sexo
feminino disseram que não contaram a ninguém sobre seus sintomas, nem ouviram falar de
músculos do APou exercícios de fortalecimento. No entanto, 70-80% das atletas relataram
que realizariam exercícios se soubessem como fazê-los (CASEY; TEMME, 2017).
A promoção deste tema vai além de falar sobre saúde da mulher e disfunção, viabilizando
vidas saudáveis dentro das práticas esportivas de forma consciente por aquele que está
inserido nesse meio.
5. CONCLUSÃO
Com base nos dados apresentados acima, podemos concluir que o CrossFit®, por ser um
treinamento físico de alto impacto, tem influência direta na manifestação da IU em mulheres.
Assim,é necessária a realização de um treinamento específico de percepção cinestésica e força
de AP das atletas de alto impacto para que haja a sustentação dos órgãos durante o exercício e
consequente mantimento da continência.
Além disso, é evidente que a escassez de literatura acerca deste tema ainda é bastante
significativa, o que aumenta proporcionalmente a necessidade da produção de novos artigos,
explorando particularidades tais quais os dados já utilizados pelos autores aqui citados e
também outras possíveis variáveis que tenham vínculo com a prática esportiva e a IU.
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