valdir marques, paulo em tessalonica, o relacionamento de confianca mutua

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9 Persp. Teol. 41 (2009) 9-37 Artigos PAULO EM TESSALÔNICA: O RELACIONAMENTO DE CONFIANÇA MÚTUA NA FUNDAÇÃO DA IGREJA (Paul in Thessalonica: The relationship of mutual trust in the (Paul in Thessalonica: The relationship of mutual trust in the (Paul in Thessalonica: The relationship of mutual trust in the (Paul in Thessalonica: The relationship of mutual trust in the (Paul in Thessalonica: The relationship of mutual trust in the foundation of the Church) foundation of the Church) foundation of the Church) foundation of the Church) foundation of the Church) Valdir Marques SJ * RESUMO ESUMO ESUMO ESUMO ESUMO: A Teologia Paulina como um todo Ø um conjunto de temas-chaves de tal modo entrelaados que nenhum deles pode ser considerado seu centro, como o supunham os sucessores de F.C. Baur na Escola de Tübingen. A fØ Ø um destes temas. Este estudo se concentra num significado que a palavra pstis adquire em vÆrios empregos paulinos, o de confiana prØvia adesªo total prpria fØ. Examinando 1Ts sob vÆrios enfoques a confiana mœtua entre os personagens daquela jovem Igreja, obtØm-se, em detalhe, informaıes sobre a confiana e a fØ, ditas pelo mesmo termo grego pstis. Tais detalhes fornecem maior nitidez ao que Paulo entende por fØ, iluminando, assim, o conjunto de sua teologia. Deste processo emerge uma figura mais precisa da personalidade do prprio Pau- lo, como tambØm de sua comunidade em Tessalnica. Tal missionÆrio e tal comu- nidade eclesial entusiasta sªo para ns modelo para a renovaªo da Igreja de nossos dias. P ALAVRAS ALAVRAS ALAVRAS ALAVRAS ALAVRAS - CHAVE CHAVE CHAVE CHAVE CHAVE: Paulo de Tarso, Teologia Paulina, FØ, Escatologia, 1Tessalonicenses, Tessalnica. ABSTRACT BSTRACT BSTRACT BSTRACT BSTRACT: The Pauline Theology as a whole is a combination of key themes interwoven in such a way that not one of them can be considered its center, as * Departamento de Teologia da FAJE - Belo Horizonte. Artigo submetido a avaliaªo no dia 12/03/2009 e aprovado para publicaªo no dia 25/04/2009.

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Marques, Valdir

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  • 9Persp. Teol. 41 (2009) 9-37

    Artigos

    PAULO EM TESSALNICA:O RELACIONAMENTO DE CONFIANA MTUA NA FUNDAODA IGREJA

    (Paul in Thessalonica: The relationship of mutual trust in the(Paul in Thessalonica: The relationship of mutual trust in the(Paul in Thessalonica: The relationship of mutual trust in the(Paul in Thessalonica: The relationship of mutual trust in the(Paul in Thessalonica: The relationship of mutual trust in thefoundation of the Church)foundation of the Church)foundation of the Church)foundation of the Church)foundation of the Church)

    Valdir Marques SJ *

    RRRRRESUMOESUMOESUMOESUMOESUMO::::: A Teologia Paulina como um todo um conjunto de temas-chaves detal modo entrelaados que nenhum deles pode ser considerado seu centro, comoo supunham os sucessores de F.C. Baur na Escola de Tbingen. A f um destestemas.Este estudo se concentra num significado que a palavra pstis adquire em vriosempregos paulinos, o de confiana prvia adeso total prpria f.Examinando 1Ts sob vrios enfoques a confiana mtua entre os personagensdaquela jovem Igreja, obtm-se, em detalhe, informaes sobre a confiana e af, ditas pelo mesmo termo grego pstis. Tais detalhes fornecem maior nitidez aoque Paulo entende por f, iluminando, assim, o conjunto de sua teologia.Deste processo emerge uma figura mais precisa da personalidade do prprio Pau-lo, como tambm de sua comunidade em Tessalnica. Tal missionrio e tal comu-nidade eclesial entusiasta so para ns modelo para a renovao da Igreja denossos dias.

    PPPPPALAVRASALAVRASALAVRASALAVRASALAVRAS-----CHAVECHAVECHAVECHAVECHAVE::::: Paulo de Tarso, Teologia Paulina, F, Escatologia,1Tessalonicenses, Tessalnica.

    AAAAABSTRACTBSTRACTBSTRACTBSTRACTBSTRACT::::: The Pauline Theology as a whole is a combination of key themesinterwoven in such a way that not one of them can be considered its center, as

    * Departamento de Teologia da FAJE - Belo Horizonte. Artigo submetido a avaliao nodia 12/03/2009 e aprovado para publicao no dia 25/04/2009.

  • 10

    IntroduoIntroduoIntroduoIntroduoIntroduo

    Um dos maiores problemas para os estudiosos de Paulo de Tarso consiste em obter uma sntese de sua teologia. Como depreender, a partirde linhas gerais de seu pensamento, um conjunto integrado de todas elas,de tal modo que satisfaa maioria de seus intrpretes?1

    Nos mbitos catlico e protestante esta questo tem sido debatida, masespecialmente os protestantes deram maiores avanos, motivados pelaproblemtica que herdaram da prpria Reforma, isto , a concentraonum ponto particular da Teologia Paulina, o da justificao pela f (Rm1,16.17; 10,9; Gl 3,11).

    Em busca de linhas centrais do pensamento paulino, a exegese protestanteadotou, at os anos 1970, os pressupostos de Ferdinand Christian Baur e daEscola de Tbingen. O primeiro pressuposto desta escola, herdado deLutero, era de que a Teologia Paulina, como um todo, girava em torno deum eixo, um centro, identificado com a justificao pela f (Rm 1,17;Gl 3,11), dos convertidos a Cristo pelo Evangelho de Paulo, desvinculadoda Lei de Moiss2.

    held by the successors of F.C. Baur in the Tubingem School. Faith is one of thesethemes. This study concentrates on the significance that the word pstis acquiresin various Pauline applications, of trust prior to the total adhesion to faith itself.Examining 1Ts under various aspects of the mutual trust among the characters ofthat young church, one may obtain, in detail, informative elements about trustand faith, stated by the same Greek term pstis. Such details provide more clarityon Pauls understanding of faith, enlightening, thus, the entirety of his theology.From this process emerges a more precise figure of Pauls own personality, as wellas of his community in Thessalonica. Such a missionary and such an enthusiasticecclesial community, serve as a model for us in church renewal in our current time.

    KKKKKEYEYEYEYEY-----WORDSWORDSWORDSWORDSWORDS::::: Paul of Tarsus, Pauline Theology, Faith, Eschatology, 1Thessalonians,Thessalonica.

    1 B. METZGER, Index to Periodical Literature on the Apostle Paul, Leiden: Brill, 1960;B. RIGAUX, Saint Paul et ses lettres. tat de la question = Studia Neotestamentica Subsidia 2, Paris / Bruges: Descle de Brouwer, 1962; P. GRECH / G. SEGALLA,Metodologia per uno studio della teologia del Nuovo Testamento, Torino: Marietti, 1978;A. GIGNAC, Comment laborer une thologie paulinienne aujourdhui?, Science et EspritXLVIII/3 (1996) 307-326; S.J. HAFEMANN, Interpreti di Paolo, in G.F. HAWTHORNEet alii (org.), Dizionario di Paolo e delle sue lettere, Cinisello Balsamo: Paulus, 1999; J.-N. ALETTI, O en sont les tudes sur Saint Paul? Enjeux et propositions, Recherchesde Sciences Religieuses 90/3 (2002) 329-352; J.D.G. DUNN, A teologia do Apstolo Paulo,So Paulo: Loyola, 2003, pp. 25-54.2 HAFEMANN, Interpreti di Paolo, p. 868.

  • 11

    Muito progresso foi feito aps a morte de F.C. Baur em 1860. Seu pressu-posto principal deixou de ser considerado o centro da Teologia Paulinaquando surgiu a chamada Nova Perspectiva sobre Paulo, a partir dosestudos de Ed Parish Sanders, com sua obra Paul and Palestinian Judaismem 19773, e de James Douglas Grant Dunn, com seu artigo The NewPerspective on Paul, Bulletin of the John Rylands Library 61 (1983) 95-122.Da em diante a justificao do justo pela f no foi mais aceita como oeixo de toda a Teologia Paulina.

    Porm a busca por uma sntese continuava sem soluo. Como obt-la semter um ou mais pontos de apoio, uma temtica-chave, indispensveis paradar-lhe a integridade e unidade indispensveis? Propostas vrias foramsurgindo, sem que ningum conseguisse resultados satisfatrios, porque aideia do centro parecia definitivamente descartada, nos moldes, claro,da viso luterana e protestante da Teologia Paulina4. Houve quem propu-sesse como tal centro outro tema sobre o qual Lutero tanto insistia, ateologia da cruz5.

    Em 1986, nos Estados Unidos, a Society of Biblical Literature reuniu emBerkeley, Califrnia, um grupo de especialistas dispostos a retomar o pro-blema a partir do zero. Muitas foram as dificuldades encontradas6. Entreelas estava o problema de identificar as convices teolgicas de Paulo7.Contra a suposio de um centro estava a peculiar natureza dos escritospaulinos: eram ocasionais, respostas imediatas a problemas concretos e dedetalhe s comunidades, e no snteses de ideias teolgicas. Em carta algu-ma Paulo oferece uma sntese acabada de seu pensamento8. Enquanto es-creve uma carta, naquele momento preciso, Paulo elabora sua hermenuticapessoal das Escrituras, do judasmo e da nascente teologia crist, a respeitoda Igreja, de Cristo e de tudo o mais9.

    3 Ibid., p. 875; E.P. SANDERS, Paul and Palestinian Judaism: A comparison of patternsof religion, Philadelphia: Fortress Press/SCM, 1977; ALLETI, O en sont les tudes surSaint Paul?, p. 336.4 J. PLEVNIK, The Center of Pauline Theology, Catholic Biblical Quarterly 51 (1989)461-478, aqui p. 466.5 J. BECKER, Paul, Apostel der Vlker, Tbingen: Mohr Siebeck, 1989, apud GIGNAC,Comment laborer une thologie paulinienne aujourdhui?, p. 314. Houve ainda quempropusesse o tema da Eleio do novo povo de Israel, a Igreja, no como centro, mascomo tema aglutinador de outros temas, como R. HOPPE, La premire ptre auxThessaloniciens dans le cadre de la thologie paulinienne. Reflxions sur la thologiepaulinienne de llection, Revue des Sciences Religieuses 80/1 (2006) 67-82, aqui pp. 67-68.6 GIGNAC, Comment laborer une thologie paulinienne aujourdhui?, p. 315.7 E.P. SANDERS, Paul, the Law and the Jewish People, Philadelphia: Fortress, 1983.8 GIGNAC, Comment laborer une thologie paulinienne aujourdhui?, p. 315.9 Ibid., pp. 315-316.

  • 12

    Em 1Ts Paulo se encontra numa fase teolgica posterior evangelizaoda Galcia e anterior de Corinto e do Conclio de Jerusalm10. O Sitzim Leben da evangelizao da Macednia muito particular e diferentedaquele da Acaia, isto , de Corinto, como tambm do da sia Proconsular,de feso, e muito mais diferente do Sitz em que escreveu Romanos.

    Elaborando esta hermenutica de sua herana teolgica, Paulo teve que sepronunciar claramente em relao a vrios pontos. O relacionamento coma Lei de Moiss um dos problemas mais rduos e mais estudados11. Almdisso, outros problemas necessitam de maiores aprofundamentos. Comodeterminar, com clareza, quais foram as influncias da apocalptica judaicasobre Paulo12? A apocalptica judaica aparece com insistncia nas cartas doperodo macednio, 1 e 2Ts. Como entender, satisfatoriamente, certos con-ceitos e expresses-chaves, como pstis f, com toda a gama de signi-ficados que Paulo lhe d13?

    clara a evoluo do pensamento paulino em sua correspondncia com asIgrejas. Seus escritos o demonstram, e ao mesmo tempo revelam a insufi-ciente elaborao de questes-chaves, como a teologia trinitria, a antropo-logia, a pneumatologia, entre outras. Alm disto, como saber por qualprocesso passou Paulo para chegar a tal evoluo14 ?

    O grupo da Society of Biblical Literature chegou a um razovel consenso,a propsito de certos pontos para conseguir uma sntese da TeologiaPaulina15. Entre eles: a) no focalizar a Teologia Paulina a partir de umas ideia, conceito ou termo, como justificao, cruz de Cristo, etc.; b)Paulo no um telogo sistemtico; responde a certos problemas, os quesuas comunidades lhe propem, a cada vez; c) a teologia especfica quePaulo apresenta em cada carta sobre certos temas no deve ser sempreentendida a partir de outras interpretaes que o mesmo Paulo faz dosmesmos temas em outras cartas; d) no se devem supervalorizar certascartas a partir das quais interpretar tudo o que Paulo diz nas outras; nemmesmo Romanos pode ser entendida como sntese do pensamento paulino;e) a referncia teolgica que a apocalptica judaica proporcionou a Paulodeve ser levada em considerao, ao menos em parte em vrias cartas; f)para Paulo, tica e prxis vivencial so inseparveis; g) preciso ter emvista, sempre, o relacionamento hermenutico complexo em que Paulo

    10 J. MURPHY-OCONNOR, Paulo: Biografia crtica, So Paulo: Loyola, 2000, pp. 115-141.11 D. LUCIANI, Paul et la loi, Nouvelle Revue Thologique 115 (1993) 40-68.12 GIGNAC, Comment laborer une thologie paulinienne aujourdhui?, p. 316.13 Ibid.14 J.C. BEKER, Pauls Theology: consistent or inconsistent, New Testament Studies 34(1988) 364-377, apud GIGNAC, Comment laborer une thologie paulinienneaujourdhui?, p. 316.15 GIGNAC, Comment laborer une thologie paulinienne aujourdhui?, p. 317.

  • 13

    interpreta a tradio judaica de seu meio, especialmente a farisaica, e oKrygma das primitivas comunidades crists.

    A partir da surgiram algumas tentativas de construo da Teologia dePaulo. J.C. Beker16 procurou na apocalptica judaica um substrato e sim-bolismo-mestre do pensamento de Paulo, pelo qual ele interpretaria oevento-Cristo (Gl 1,12.16; 2,2)17. Este modelo, porm, no satisfaz, porqueno distingue com clareza todos os passos do processo hermenutico se-guidos por Paulo: no evidenciou o inter-relacionamento entre o evento-Cristo, a Salvao e a tica da derivada18.

    Outro modelo foi proposto por R.B. Hays, em seu estudo, publicado pelaSociety of Biblical Literature, Crucified with Christ: A Synthesis of theTheology of 1 and 2 Thessalonians, Philemon, Philippians and Galatians,Atlanta: Scholars Press, 199019. Para R.B. Hays Paulo recebe dos primeiroscristos o mundo simblico da ao apocalptica de Deus em Jesus Cristo.Disto Paulo deixou aluses em 1Ts 1,9-10; 4,13-18; 5,9-10; Fl 2,1-13; Gl 3,13-14; 4,3-7; 5,1. Segundo R.B. Hays o Evento-Cristo, o envio do Filho porDeus, o Filho crucificado, continuidade da mesma ao salvfica divinada humanidade que teve incio na Promessa a Abrao20. Assim se entendepor qual motivo o retorno do Cristo ressuscitado to esperado na Parusia.No s Paulo associa Cristo com a Eleio do Povo de Deus, Israel, comotambm v esta Eleio estendida a todos os povos da terra, os gentios21.Assim para R.B. Hays o Cristo crucificado o centro do drama salvfico,mas no seu desfecho, que se dar somente na Parusia22.

    Apesar de seus limites, os modelos de J.C Beker e de R.B. Hays significa-ram algum progresso. E tiveram defensores, em seu ambiente anglo-saxo,na busca da reconstituio da teologia que Paulo teve em mente, ao menosat o momento em que tratou a problemtica de Glatas e Romanos23.Porm estes e outros autores continuaram a procura, no declarada, de umcentro da Teologia Paulina. No entanto, distanciando-se de algum mododesta ideia de um centro, J.C. Beker dizia que vrios temas-chavespaulinos se entrelaam como os anis da bandeira olmpica, numa sequnciaem que nenhum deles ocupa um centro, mas onde todos secomplementam e se relacionam inseparavelmente24.

    16 BEKER, Pauls Theology: consistent or inconsistent, e The Triumph of God: TheEssence of Pauls Thought, Philadelphia: Fortress, 1980.17 GIGNAC, Comment laborer une thologie paulinienne aujourdhui?, p. 319.18 Ibid.19 Apud GIGNAC, Comment laborer une thologie paulinienne aujourdhui?, p. 321.20 Cf. Gn 12,1-3.21 GIGNAC, Comment laborer une thologie paulinienne aujourdhui?, p. 321.22 Ibid.23 Ibid.24 Ibid., p. 322.

  • 14

    Afinal, muitos exegetas consideram necessrio ter um modelo construtivoda Teologia Paulina no reduzido a temas exclusivos, mas um modeloflexvel, a ser considerado em cada perodo em que Paulo est processandoseu pensamento ao longo de sua biografia. O que Paulo nos legou porescrito, no foi um processo cabal formativo de sua teologia, nem seuresultado final25.

    Importa ter presente o fato de Paulo ter deixado em suas cartas a interaoque vivenciou atravs de sua experincia pessoal da f com a teologiarecebida da Igreja primitiva. O contedo deste processo na recepo eassimilao e transformao da tradio da Igreja, a mensagem de Paulo,aquela que ele chama de Palavra de Deus, Palavra do Senhor (1Ts1,6.8; 2,13), e que denomina, por fim, seu Evangelho (1Ts 1,5; 2,4)26.

    A este ponto A. Gignac lana a questo: no estaria no Evangelho de Paulo(Rm 2,16; 16,25; 1Ts 1,5; 2Ts 2,14; 2Cor 4,3; 2Tm 2,8; cf. Gl 1,8.11; 2,2; 1Cor15,1.11) o centro de sua teologia? A teramos a base para a sntese toesperada. Porm aqui nos deparamos com um problema: Paulo nuncadescreveu o contedo por inteiro de seu Evangelho, em escrito nenhum.Mas sabemos que a maior insistncia de Paulo est na Salvao oferecidaatravs da Morte e Ressurreio de Jesus, cuja Parusia esperada portodos os que lhe confiaram suas vidas e existncias27.

    A nfase que Paulo d aceitao da Cruz de Cristo conduz tica deladecorrente, tica da imitao, eminentemente paulina: como Cristo foi obe-diente at a morte, e morte de cruz, todos devemos ser obedientes comoele: Fl 2,5-11. Ora, isto no seno uma aplicao na prxis, na vida crist,de um dos dados essenciais do Krygma: a morte do Filho, ressuscitadodos mortos pelo Pai (1Ts 1,10), precisamente porque foi obediente at amorte (Fl 2,8). Esta tica no est desvinculada do prmio futuro: assimcomo a obedincia de Cristo o levou a ser glorificado pelo Pai (Fl 2,9-11),tambm ns, que com Ele morremos, com Ele seremos glorificados (Rm6,5)28.

    A tentativa de A. Gignac justificvel, porque o mesmo Paulo d grandeimportncia a seu Evangelho. Uma vez aceita a proposta, somente restacomo possibilidade de um estudo ulterior, o aprofundamento deste ncleoda Teologia Paulina. Porm tal ncleo somente pode ser esclarecido a partirdo momento em que vrios pontos de detalhe estejam de tal forma bemdefinidos que lhe proporcionem uma imagem de grande definio. Quanto

    25 Ibid., p. 324.26 Ibid.27 Ibid., pp. 324-325.28 Cf. GIGNAC, Comment laborer une thologie paulinienne aujourdhui?, p. 325.

  • 15

    mais ntidos forem os detalhes, mais ntida ser a imagem em seu conjun-to. Isto supe um esquadrinhamento com lupa sobre os mesmos textos,tantas vezes quantas necessrias, para focalizar todos os pormenores sig-nificativos e necessrios para da depreender a imagem mais ntida poss-vel. Muitos detalhes poderiam ser examinados, neste sentido, na corres-pondncia de Paulo com os tessalonicenses, como sua alegria pela conver-so dos gentios, sua tristeza por ter que deix-los precipitadamente, suapresena em Tessalnica como modelo cristo a ser imitado29, sua esperan-a em seu progresso posterior, etc.

    Objetivos deste estudoObjetivos deste estudoObjetivos deste estudoObjetivos deste estudoObjetivos deste estudo

    O presente trabalho pretende ampliar apenas um detalhe de um pontoespecfico da Teologia Paulina: o processo pelo qual os tessalonicensesaceitaram o Deus Vivo e Verdadeiro, anunciado por Paulo e seus auxilia-res. Tal processo implicou um determinado relacionamento humano queobteve o xito esperado por Paulo. Trata-se do relacionamento mtuo deconfiana e amizade entre Paulo e os tessalonicenses.

    No ser uma busca a mais de um centro da Teologia Paulina, mas dealgo diverso, um aspecto ainda no considerado no estudo de 1Ts. Tendoem mente o profundo significado que a Morte e Ressurreio e Parusia deCristo adquirem no Evangelho de Paulo, este estudo uma leitura de 1Tssob o vis da confiana mtua entre os personagens por ela envolvidos. pela confiana em Paulo, Silvano e Timteo que os tessalonicenses confiamprimeiro no Deus vivo e Verdadeiro em quem eles creem e a quem con-fiam suas existncias. Neste Deus Vivo e Verdadeiro os tessalonicensespassam a crer com convico a ponto de abandonarem seus dolos (1Ts1,9), e mais ainda, creem no Senhor Jesus, que em sua Parusia vir libert-los da ira futura do juzo final (1Ts 1,10).

    O comprometimento dos tessalonicenses com o Deus Vivo e Verdadeirono poderia acontecer antes que os tessalonicenses tivessem conhecidoPaulo e seus colaboradores, Silvano e Timteo. Os tessalonicenses observa-ram seus evangelizadores: eles eram modelos de uma confiana inabalvelem Deus30. Por outro lado, Deus mesmo mostrava sua confiana em Pauloe seus auxiliares, porque por meio deles Deus realizou uma obra que homemalgum realizara antes em favor dos tessalonicenses. Por fim, convertidos,

    29 Como o faz, por exemplo, F. MATERA, tica do Novo Testamento: Os legados de Jesuse de Paulo = Nova Prxis Crist, So Paulo: Paulus, 1999.30 G. BARBAGLIO, As Cartas de Paulo (II), S. Paulo: Loyola, 1991, p. 70.

  • 16

    os tessalonicenses imitam seus evangelizadores e se tornam, tambm eles,evangelizadores da Macednia e da Acaia (1Ts 1,4-10).

    Tal comprometimento dos tessalonicenses com Deus tem seu incio nummomento nico da biografia paulina: o da misso de Paulo na Macednia,em Tessalnica, isto , aps a evangelizao de Filipos, por sua vez ante-cipada pela da Galcia, pelas misses da Igreja de Antioquia do Orontes:Panflia, Pisdia e Licania, ainda sob a autoridade de Barnab31.

    1. Paulo antes de Tessalnica1. Paulo antes de Tessalnica1. Paulo antes de Tessalnica1. Paulo antes de Tessalnica1. Paulo antes de Tessalnica

    No se entende o Paulo autor de 1Ts sem conhecer sua biografia anterior.

    Seus conhecimentos teolgicos anteriores como rabino, sua experincia deJesus Cristo e da Igreja so notrios: formado rabino em Jerusalm, perse-guidor dos cristos (Gl 1,13), chamado desde o seio materno como Jeremias(Gl 1,15, cf. Jr 1,5), e tendo recebido de Deus a revelao do Filho (Gl 1,16),foi enviado aos gentios (Gl 1,16) por iniciativa de Deus e no dos demaisapstolos de Jerusalm (Gl 1,17). Instrudo por Pedro (Gl 1,18), exerceu oministrio na Sria e Cilcia (Gl 1,20). Decidido a desvincular o Evangelhoda Torah, rejeitou a circunciso (Gl 2,1-6) e foi confirmado por Tiago, Cefase Joo, como enviado aos gentios (Gl 1,7-9).

    Sua chegada a Tessalnica foi precedida pelo perodo missionrio deAntioquia do Orontes (At 11,25), comunidade que se convencera de que atodos os gentios Deus queria dar os mesmos benefcios das Promessas aAbrao (Gl 3,16-17), cumpridas em Cristo (Gl 3,14.23-29; 4,4-7) sem a exi-gncia da circunciso. Somente a f em Cristo, morto e ressuscitado podegarantir a salvao que consiste na Vida do Deus Vivo que Cristo d aosque nele creem (Gl 3,21; 3,21).

    Na chamada primeira viagem missionria sob autoridade de Barnab,foi feito missionrio por deciso do Esprito Santo, pela imposio dasmos e envio pela comunidade de Antioquia do Orontes (At 13,2-3). Suaautocompreenso como enviado de Cristo se confirmou em seuapedrejamento em Listra (At 14,19-20; 2Cor 4,10; 11,13.25; 2Tm 3,11-12).

    Na segunda viagem missionria, agora como lder e ajudado por Silvano(At 15,40), visitou as comunidades fundadas antes com Barnab. Foi entoque se lhe juntou Timteo (At 16,1-3), dando incio a uma equipe propri-amente paulina. Adoecido aps Antioquia da Pisdia, passou pela Galcia(Gl 4,13). Curado, foi para Troas e de l para a Macednia (At 16,7-10).Com sucesso evangelizou Filipos (At 16,11-14), no sem sofrimentos (At,16,16-40; 1Ts 2,2).

    31 MURPHY-OCONNOR, Paulo: Biografia crtica, pp. 115-141.

  • 17

    a esta altura da biografia de Paulo que se d a evangelizao deTessalnica (At 17,1). Paulo ainda no tinha participado do Conclio deJerusalm (At 15; Gl 2,1-10), nem entrara em conflito com Pedro (Gl 2,11-14) que se distanciara das comunidades gentlicas de Antioquia. Em mo-mentos pontuais, anteriores a sua chegada Macednia, Paulo tinha en-frentado o problema de sua credibilidade como apstolo (At 9,26-30; Gl1,22-23). Em ambos estes casos os que desconfiam de Paulo so cristos,no gentios. Em Tessalnica Paulo vai merecer o crdito dos gentios, quedesta maneira so levados mudana radical de suas crenas. Tais gentiosignoravam a vida anterior de Paulo; mesmo que posteriormente tenhamtido dela conhecimento, o fator principal de sua adeso ao Deus de Paulofoi a confiana que Paulo neles inspirou.

    2. O Paulo que se revela em 1Ts2. O Paulo que se revela em 1Ts2. O Paulo que se revela em 1Ts2. O Paulo que se revela em 1Ts2. O Paulo que se revela em 1Ts

    O Paulo que se nos mostra em 1Ts um homem maduro, experimentadona obra missionria, no contato com etnias de culturas diversas, provadonos muitos sofrimentos de longas e perigosas viagens (2Cor 6,5; 11,22-29).Leva a Tessalnica um projeto evangelizador muito preciso: converter osgentios dos dolos ao Deus Vivo e Verdadeiro (1Ts 1,9), Pai de NossoSenhor Jesus Cristo, que morreu e foi trazido de volta Vida por Deus (1Ts1,10), e que no Dia do Senhor (1Ts 2,19) vir livrar da ira divina os fiis(1Ts 1,10). Estes tambm foram destinados a entrar no Reino da Glria deDeus (1Ts 2,12), evento que se dar no fim da histria dos homens (1Ts3,13; 4,15; 5,23-24). deste grande plano divino que Deus faz de Paulo umcolaborador privilegiado, porque o que leva aos homens no so palavrasouvidas de outros homens, mas a Palavra do prprio Deus (1Ts 2,13),sobre o projeto divino da salvao dos gentios (1Ts 2,16).

    Para conhecermos a autocompreenso de Paulo no momento em queevangeliza Tessalnica somente contamos com as Cartas aosTessalonicenses. Podemos confiar em suas palavras, tal como a comunida-de nelas confiou e, por este motivo, guardou estes escritos at que a Igrejaos integrasse no Cnon do NT.

    Nestes escritos Paulo revela seu senso de responsabilidade quanto mis-so que Deus lhe confiou, dado fundamental no relacionamento de Deuscom Paulo e de Paulo com Deus (1Ts 2,4.5.10). Este relacionamento nopassa despercebido pelos tessalonicenses, que o confirmam (1Ts 2,10), e porsua vez confiam tanto em Paulo como em sua equipe, Silvano e Timteo, queprocedem do mesmo modo (1Ts 1,6); os tessalonicenses por sua vez soacolhidos por Deus entre os Eleitos, como Israel (1Ts 1,4-5), e se tornam elesmesmos imitadores de Paulo, Silvano e Timteo, passando a difundir o Evan-gelho (1Ts 2,7-8). O trao mais marcante destes relacionamentos mtuos oda confiana: entre Deus e Paulo, entre Paulo e Deus, entre Paulo, Silvano eTimteo e os tessalonicenses, e entre os tessalonicenses e Deus.

  • 18

    3. O carter nico de 1 Ts3. O carter nico de 1 Ts3. O carter nico de 1 Ts3. O carter nico de 1 Ts3. O carter nico de 1 Ts

    Poucos se detm a considerar o carter nico de 1Ts no NT.

    Este escrito foi o comeo de um processo evangelizador distncia, depoisde um primeiro contato de Paulo com a comunidade32. O motivo de 1Ts foiatender s necessidades de uma comunidade apenas fundada, responden-do a seus problemas prprios daquele momento. At ento ningum, entreos demais missionrios da Igreja, tinha recorrido a este meio deevangelizao33. Paulo foi o primeiro, pressionado pelas circunstnciasangustiantes pelas quais passava em Atenas ou Corinto (At 17,16; 18,1.5)34.O resultado foi positivo. Uma vez escrita 1Ts e levada a Tessalnica porTimteo (1Ts 3,2.6), motivou a redao de 2Ts (1Ts 3,6; 2Ts 1,1). Foi apenaso incio de um processo bem sucedido que Paulo continuar a pr emprtica em circunstncias similares relacionadas com outras comunidades.Assim nasce o epistolrio paulino.

    1Ts revela simultaneamente tristeza e esperana. Tristeza provocada peloabandono da comunidade s pressas, com a fuga de Bereia para Atenas,mais a decepo com esta cidade. Ao mesmo tempo, com esperana,exterioriza seu ntimo: seu afeto pelos tessalonicenses grande. Sente ne-cessidade de rev-los (1Ts 2,17-18; 3,1), receber deles o conforto afetivo econfirmao de que no se perderam sob as investidas do tentador (1Ts3,5). Est impedido de voltar a Tessalnica pela distncia por terra35 epelos judeus que o perseguiam desde Bereia (At 17,10).

    Foi assim que 1Ts surgiu, num momento crtico para Paulo e para ostessalonicenses. Seu resultado superou as expectativas de Paulo e seusdestinatrios. Outras se seguiro, com esquema semelhante: agradecimen-tos, parte instrutiva e parte exortativa. um Paulo principiante num novoprocesso evangelizador, por meio de cartas, uma frmula que deu certo.Ele recorrer a este meio no somente por sua deciso, mas, certamente,motivado por sua equipe. Silvano e Timteo sabiam escrever cartas, ePaulo os menciona na abertura de 1Ts (1,1). Entende-os como eficazes

    32 M. PESCE, As duas fases da pregao de Paulo: Da Evangelizao Guia da comu-nidade = = = = = Bblica Loyola 20, So Paulo: Loyola, 1996, pp. 63-88. A primeira fase foi a dapresena fsica do apstolo; a segunda foi a da correspondncia epistolar com ostessalonicenses.33 B. RIGAUX, Saint Paul: Les ptres aux Thessaloniciens, Paris: Lecoffre / Gembloux:Duculot, 1956, p. 3.34 Ibid., pp. 31-34. Contra Rigaux, que defende a escrita de 1Ts em Corinto, cf. MURPHY-OCONNOR, Paulo: Biografia crtica, p. 120: 1Ts teria sido escrita em duas partes,enviadas de Atenas ou arredores.35 MURPHY-OCONNOR, Paulo: Biografia crtica, p. 120. A distncia, por terra, entreAtenas e Tessalnica era aproximadamente de 500 km. No inverno, viajar por mar paraTessalnica seria risco de vida.

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    colaboradores e os inclui, ao dirigir-se aos tessalonicenses, no pronomens hemeis, que neste dilogo epistolar tem como interlocutores ostessalonicenses, vs hymeis36.

    4. Como depreender a mensagem de confiana presente em4. Como depreender a mensagem de confiana presente em4. Como depreender a mensagem de confiana presente em4. Como depreender a mensagem de confiana presente em4. Como depreender a mensagem de confiana presente em1Ts1Ts1Ts1Ts1Ts

    As variadas expresses de confiana mtua presentes em 1Ts exige umrpido exame do campo semntico do conceito-chave confiana, expres-so por pstis e seus cognatos. Esta confiana no se apresenta isolada em1Ts, mas em ntima relao com agpe, o afeto amor, a caridade fraterna,e com a esperana, elps, em 1Ts 1,3.

    A confiana mtua entre Paulo e os tessalonicenses poderia ser estudadaa partir do binrio modelo typos, de 1Ts 1,7, e imitador, mimets de1Ts 1,6. Porm o estudo de confiana pstis e termos afins supre sufici-entemente tanto o que nos viria do exame de typos/mimets como deagpe e elps.

    Confiana aquela qualidade tica/moral pela qual algum assegura aoutros a credibilidade de seus princpios, afirmaes e aes atravs dacoerncia de seu proceder37.

    O tema confiana em 1Ts se apresenta em diferentes formas, semnticae tematicamente. Isto , no somente no campo semntico de pstis e seuscognatos, mas tambm entrelaado com outros temas afins e o procederdas personagens envolvidas por vrios motivos e diferentes modos.

    Este campo semntico, em 1Ts, consiste no substantivo pstis f/confian-a, o verbo pisteuo crer/dar crdito, confiar, e o adjetivo pists confivel/digno de f/fiel38.

    Nos Escritos Paulinos o substantivo pstis tem ampla gama de significados,sendo o mais frequente o de f (por ex.: Rm 1,17: o justo vive de f).

    36 S. LGASSE, Les ptres de Paul aux Thessaloniciens = Lectio Divina, Commentaires7, Paris: Cerf, 1999, pp. 54-59. p. 55 conclui que pelo uso de hemeis Paulo inclui seuscolaboradores, Silvano e Timteo. Outra possibilidade seria entender hemeis como refe-rncia de Paulo e os tessalonicenses, o que pode acontecer em alguns casos em 1Ts; mashemeis no o plural majesttico; o mesmo dito por T. HOLTZ, Der erste Brief an dieThessalonicher = Evangelisch-Katholischer Kommentar zum Neuen Testament, Bd. XIII,Neukirchen-Vluyn: Benziger, 1986, p. 14, nota 29.37 A.B. de HOLANDA FERREIRA, Aurlio Sculo XXI: Dicionrio da Lngua Portuguesa,Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.38 W.F. ARNDT / F. WILBUR GINGRICH, A Greek-English Lexicon of the New Testamentand Other Early Christian Literature, Second Edition, Revised and Augmented byF.WILBUR GINGRICH and FREDERICK W. DANKER, from Walter BAUERS FifthEdition, 1958, Chicago / London: University of Chicago Press, 1979.

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    Mais raro, e numa construo sinttica particular, significa confiana,quando est com a preposio prs = em, referida a uma pessoa ou aalguma coisa em que se confia e se cr. o que se encontra em 1Ts 1,8: hepstis hymn he prs tn then = vossa confiana em Deus39.

    O verbo confiar/crer/ter f em pisteuo, tambm com vrios significa-dos. Diz confiar algo a algum em 1Ts 2,4: Deus confiou seu Evangelhoa Paulo, dedokimsmetha hyp tou theou, isto : Deus nos consideroudignos de nos confiar o Evangelho40. A construo grega fora a portu-guesa para que o significado original do verbo dedokimsmetha seja evi-denciado. O mesmo sentido deste verbo aparece em Gl 2,7: foi confi-ado a mim o Evangelho dos incircuncisos como a Pedro o dos circuncisos.Em Rm 3,2 Paulo diz que as revelaes (lgia = palavras, revelaes) deDeus foram confiadas aos judeus.

    O adjetivo confivel/digno de f/fiel pists. Na maioria de seus usosdiz o fiel, isto , aquele que cr em Deus, o crente. Menos frequente,como digno de confiana, aparece em 1Ts 5,24: Deus que vos chamou, digno de confiana. Poder-se-ia traduzir tambm: Deus que vos cha-mou fiel; porm o motivo da afirmao a certeza de que no poder deDeus os tessalonicenses podem confiar: este Deus quem vai realizar oque os homens no so capazes de fazer por si mesmos, no dia da Vindado Senhor: 1Ts 5,23. O mesmo uso deste adjetivo aparece em 1Cor 1,9;10,13; 2Cor 1,1841.

    Pists tambm o adjetivo que qualifica como plenamente confivel aPalavra, logos, em 1Tm 1,15; 3,1; 4,9; 2Tm 2,11; Tt 3,842. Cristo pistsem 2Ts 3,3, e Timteo pists em 1Cor 4,17.

    Pelo fato de estes trs termos serem to profundamente relacionados como conceito judaico-cristo de f, o aspecto de confiana, que precisa-mente precede a deciso pelo crer, ter f, passa despercebido em muitoscasos. Neste estudo pretende-se salientar esta confiana prvia adeso f, sua confisso e propagao.

    5. As diferentes expresses da confiana mtua em 1Ts5. As diferentes expresses da confiana mtua em 1Ts5. As diferentes expresses da confiana mtua em 1Ts5. As diferentes expresses da confiana mtua em 1Ts5. As diferentes expresses da confiana mtua em 1Ts

    Este estudo seguir este esquema:

    a) a confiana de Deus em Paulo;b) a confiana de Paulo em Deus e no Senhor Jesus;

    39 ARNDT / WILBUR GINGRICH, A Greek-English Lexicon, p. 661, 2a.40 Ibid., p. 662, 3.41 Ibid., p. 664, 1a.42 Ibid., p. 664, 1b.

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    c) a confiana de Paulo nos tessalonicenses;d) a confiana dos tessalonicenses em Paulo;e) a confiana dos tessalonicenses em Deus Pai e no Senhor Jesus.

    Cada um destes itens pode proporcionar tanto o aprofundamento sobre aTeologia Paulina prpria de 1Ts como matria de reflexo para ns, cris-tos, telogos, missionrios e leigos em nossos dias, atravs da comparaoentre a vivncia da f dos tessalonicenses e a nossa.

    5.1. A confiana de Deus em Paulo5.1. A confiana de Deus em Paulo5.1. A confiana de Deus em Paulo5.1. A confiana de Deus em Paulo5.1. A confiana de Deus em Paulo

    No se encontra em 1Ts um pronunciamento propriamente divino da con-fiana de Deus em Paulo. Tudo o que podemos depreender da confianaque Deus nele depositou por sua deciso soberana (cf. 1Cor 9,16), -nosdito pelo prprio Paulo.

    Em 1Ts esta temtica aparece em 2,4.5.10.12.13.16.

    Em 1Ts 2,4 Paulo diz que Deus lhe confiou seu Evangelho aps consider-lo digno desta misso. Como soube disto e como pde afirm-lo to cate-goricamente? A resposta vem nas entrelinhas de seus Escritos: Paulo man-tm dilogo constante com Deus, ora, sem cessar, e ensina o mesmo (1Ts1,2.3; 2,13; 3,10). Em orao, ou mesmo sem ter conscincia de estar nesteestado de contnua orao, sabe que Deus perscruta seu corao e o encon-tra reto: 1Ts 2,4. Mais tarde dir aos corntios que se comporta diante delescom aquela santidade e retido que procedem de Deus e no da sabedoriahumana: 2Cor 1,12. Dir aos corntios que seu juiz o Senhor: 1Cor 4,1-5.O Deus Pai e o Senhor Jesus que o perscrutam no so os juzes terrveisdas pessoas de conscincia pesada pela culpa ou pelo corao fechado parao amor de Deus. Para Paulo, portanto, este perscrutar uma ao constan-te da parte de Deus em sua vida, a comear pelo seu ntimo mais ntimo;perscrutando-o continuamente, Deus constata como Paulo digno, ho-mem de corao reto e puro, sem falsidade. Deus nunca lhe demonstroudesconfiana, caso contrrio Paulo no encontraria, em si mesmo, foraspara cumprir sua misso43.

    Em 1Ts 2,5 escreve de modo incisivo, forte e ousado: no estivemosentre vs usando de palavras aduladoras, como sabeis, nem com gannciasocultas, Deus testemunha . Se Deus a testemunha a qual Paulo podeapelar, porque tem certeza de que nele Deus confia. Para reforar otestemunho de Deus, repete a mesma afirmao em 1Ts 2,10: vs soistestemunhas, e tambm Deus, de como, em vossa presena, os fiis, nos

    43 RIGAUX, Saint Paul: Les ptres aux Thessaloniciens, p. 409, sobre o verbo dokimdzeinde 1Ts 2,4: Il sagit dun acte de Dieu qui perdure. Il y a de plus une nuance dlectionajoute cette approbation: nous avons t prouvs et constinuons tre dignes de .

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    comportamos de modo santo, justo e irrepreensvel. O modo santo dito, em grego, pelo advrbio hoss, termo do mbito litrgico como oadjetivo hsios presente no Sl (LXX) 49,5 (TH 50,5). Este o modo deproceder em santidade ritual no servio a Deus, como empregado, naLXX, em Sl 11,2; 17,26; 31,6. O que Paulo quer dizer com isto? Quer dizerque em seu relacionamento com Deus comporta-se como quem est numcontnuo culto de adorao, com a requerida retido moral e litrgica. Ostessalonicenses puderam constatar como Paulo os tratou de modo sacral,sacralmente, correto. Este advrbio, portanto, fala-nos primeiro do rela-cionamento de Paulo com Deus, e, em consequncia, como em Paulo Deusconfia; secundariamente nos revela como este mesmo proceder de Paulopara com Deus reflete o relacionamento de Paulo com os tessalonicenses.Os tessalonicenses, por seu lado, tero sondado Paulo, Silvano e Timteo,desde que chegaram a Tessalnica. Paulo pode dizer, confiando em simesmo e em sua equipe: Vs sois testemunhas, e Deus tambm, do modosanto, justo e irrepreensvel com que procedemos em relao a vs, quecredes (1Ts 2,10).

    A confiana de Deus em Paulo pode ser verificada de outro modo. Se Deuslhe confiou o Evangelho (1Ts 2,4), o mesmo Deus confirma a confiana quedeposita em Paulo tornando a pregao de Sua Palavra eficaz por meio domesmo Paulo: 1Ts 2,13: damos graas a Deus sem cessar porqueacolhestes Sua Palavra, a que ns levamos a vs, os fiis; no como palavrahumana, mas sim como de verdade, Palavra de Deus, pois ela est pro-duzindo (em vs) seus efeitos. O que decorre desta afirmao? queDeus confia tanto em Paulo, que torna realidade tudo o que ele prega, eo que prega o que Deus quer que pregue sem o corromper em nada.

    Em outras cartas Paulo vai referir-se a si mesmo como colaborador da obrade Deus atravs de vrios ttulos: synergs, dikonos e apstolos, termosnotoriamente ausentes em sua correspondncia com Tessalnica e Filipos.Synergs colaborador do Plano divino de salvao, Paulo aplica-o a simesmo em 1Cor 3,9; em outros textos denomina synergoi vrios de seusajudantes, como Priscila e quila (Rm 16,3), Timteo (Rm 16,21), Tito (2Cor8,23). Portanto, ao redigir tais cartas depois do perodo macednio, Pauloconstata como a confiana de Deus nele o aproxima da obra do prprioCristo, com quem Paulo quer sempre identificar-se na tarefa de seu minis-trio apostlico. Mais do que tudo, a confiana de Deus em Paulo fez deleSeu colaborador, que, por sua vez, hesita em apelar-se apstolos (1Ts 2,7).Notar como em 1Ts apstolos aparece apenas uma vez, em 2,7, como sePaulo no se sentisse digno deste ttulo: ele diz de outros, os apstoloi, quepodem exigir seu sustento da comunidade. Paulo, portanto, no se intitulaassim por iniciativa prpria na fase de evangelizao da Macednia e emsua correspondncia com os tessalonicenses e filipenses. No inicia nem2Ts nem Fl dizendo-se apstolos, como iniciar outras cartas, depois doconflito de Antioquia e dos problemas da Galcia e Corinto. Naquelas

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    circunstncias ter que se defender decididamente como apstolos, contraos que lhe negam esta misso (Gl 1,1; 1Cor 1,1; 2Cor 1,1; Rm 1,1). Asdeuteropaulinas lhe atribuiro o mesmo ttulo, confirmando como as Igre-jas o aceitaram como tal: Ef 1,1; Cl 1,1; 1Tm 1,1; 2Tm 1,1; Tt 1,1. Outrottulo de colaborador de Deus dikonos, notoriamente ausente na corres-pondncia com os tessalonicenses e filipenses, isto , na fase daevangelizao da Macednia. Paulo o aplicar a Cristo em Rm 15,8, a simesmo e a Apolo em 1Cor 3,5; e apenas a si em 2Cor 3,6; 6,4 (cf. Ef 3,7;Cl 1,23.25). Talvez podemos supor que, se dependesse de Paulo, jamaisdaria a si mesmo seja o ttulo de apstolos seja o de dikonos. A fasemacednia de Paulo, portanto, uma fase em que sua humildade a serviode Deus se evidencia, confirmada pelo prprio Deus e testemunhadapelas Igrejas macednias. Quanto a sua conscincia de colaborador legti-mo de Deus, Paulo um homem seguro e sereno. Passar ao combate emdefesa de seu ministrio diakona depois da crise de Antioquia e daGalcia (Cf. 2Cor 34, Gl e Rm).

    Esta participao na obra de Deus to importante para Paulo, que em 1Ts2,16a diz: (os judeus) querem nos impedir de falar aos gentios, paraque (no) sejam salvos . Quem so os judeus para impedir que Deusrealize seu Plano de Salvao por meio de Paulo? Podem impedir queDeus salve os gentios? A ira divina deve se abater sobre eles (1Ts 2,16),enquanto que para Paulo h a esperana de receber de Deus a recompensapor ter evangelizado os tessalonicenses, que na Parusia sero seu motivode alegria e glria diante do Senhor (1Ts 2,19-20). A confiana de Deus emPaulo no s confirmada pela correspondncia do Paulo fiel a Deus,como pela obra que por meio dele Deus j realiza na Macednia, e reali-zar no dia da Vinda do Senhor (1Ts 1,10; 5,24).

    Como sntese a este item evidenciam-se os pontos seguintes: a) o coraode Paulo de tal forma puro e reto que ao perscrut-lo Deus nada constatacontra a confiana nele depositada (1Ts 2,4); b) a partir desta constatao,Deus mesmo pode ser invocado como testemunha da retido de Pauloperante os tessalonicenses, 1Ts 2,5; c) esta retido de corao impregnadada santidade sacral que a liturgia exige de quem presta culto a Deus, emsua presena, em orao: 1Ts 2,10; d) o testemunho de Deus no se limita recomendao de Paulo aos tessalonicenses, mas efetivamente se mani-festa tornando eficaz a pregao que Paulo leva adiante: 1Ts 2,13, manifes-ta-se tambm defendendo-o das manobras dos judeus contra aevangelizao dos gentios: 1Ts 2,16; e) esta confiana de Deus em Paulo oleva a esperar o prmio dos justos, retos, honestos e humildes: Deus orecompensar pela evangelizao de Tessalnica: 1Ts 2,19-20. Em outraspalavras: a confiana de Deus em Paulo que demonstra como Paulo santo perante os olhos de Deus que perscruta continuamente seu corao.Tal a santidade que distingue o verdadeiro do falso apstolo, ttulo queo mesmo Paulo, sincera e realisticamente humilde, hesita em atribuir-se.

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    5.2. A confiana de Paulo em Deus e no Senhor Jesus5.2. A confiana de Paulo em Deus e no Senhor Jesus5.2. A confiana de Paulo em Deus e no Senhor Jesus5.2. A confiana de Paulo em Deus e no Senhor Jesus5.2. A confiana de Paulo em Deus e no Senhor Jesus

    Est expressa em 1Ts 1,3; 2,1.2 e 3,10.11.13.

    Ao que parece, a priso de Paulo e Silvano em Filipos (1Ts 2,2; cf. At 16,16-40) teria de tal forma abatido a equipe que, se fosse entregue a si mesma,desistiria de qualquer outra fundao. Paulo no relata sua libertao emFilipos tal como o faz Lucas em At 16,25-34. Para Lucas se trata de umainterveno milagrosa de Deus atravs do terremoto que abre o porto dapriso, seguida pela converso do carcereiro. Paulo, por sua vez, em 1Ts2,2 apenas menciona sua priso e expulso de Filipos como um insultofeito pelos magistrados romanos. E mais do que isto, a ameaa deles contraPaulo e seus colaboradores: no deviam mais permanecer na cidade. Este o dado decisivo. Lucas o conserva em At 16,35-40. A Paulo e seus aju-dantes nada mais resta do que despedir-se de Ldia e da comunidade (At16,40), aps a discusso com os litores e magistrados. Isto equivaleria condenao ao mutismo na jurisdio romana de Filipos44.

    Paulo e seus colaboradores so tomados por um estado de nimo angustian-te. No entanto no se entregam desolao. Reagem a ela, recordando-se dagrandeza de sua misso. Decidem evangelizar Tessalnica. 1Ts 2,2 diz: mesmo tendo padecido e tendo sido insultados em Filipos, como sabeis (cf.At 16,19-24), Deus despertou em ns a ousadia de vos anunciar Seu Evange-lho, mesmo entre muitas dificuldades. A expresso grega para dizertornamo-nos ousados em nosso Deus, eparresiassmetha45 en to theo hemn,mostra o motivo real da evangelizao de Tessalnica. Este um dado fun-damental sobre a confiana de Paulo em Deus. confiado em Deus que partepara Tessalnica, sabendo que ali Deus garantiria o sucesso da misso talcomo em Filipos. Isto nos diz que a fundao de Tessalnica tem sua origemna confiana de Paulo em Deus. Como se convenceu disto? Foi pelo resultadoobtido, apesar de ser expulso, desta vez por manobras de judeus. Em Atenas(1Ts 3,1), perante o fracasso no Arepago, v com clareza a mo de Deus emTessalnica. Que tal esforo no fora intil, os tessalonicenses mesmos oconfirmaram (1Ts 2,1). Esta confiana de Paulo em Deus no nascera apenasna Macednia, claro. Dir mais tarde, como em outras ocasies, que foisalvo por sua f em Deus (cf. 2Cor 6,4-10; 11,23-28).

    44 J. MURPHY-OCONNOR, Paulo de Tarso: Histria de um apstolo, S.Paulo: Loyola,2008, p. 90.45 RIGAUX, Saint Paul: Les ptres aux Thessaloniciens, pp. 402-403: esta expressoreflete o modo ousado tpico ateniense de falar em pblico ou em privado; seria uma dasconquistas da democracia ateniense. Paulo tenha aprendido a agir e proceder assim emAtenas, naquele momento? Ele usa este verbo, parresidzesthai, apenas em 1Ts 2,2. Masem outros textos usa o substantivo parresa: 2Cor 3,12; 7,4; Fl 1,20; Fm 8; cf. Ef 3,12;6,19; Cl 2,15; 1Tm 3,13. No NT aparece tambm em Joo, Marcos e Atos, com conotaesdiferentes. Na LXX este substantivo aparece muitas vezes, com sentidos muito variados;se foi em Atenas que Paulo se apropriou deste conceito, no o teria feito sem embasamentoterminolgico nas Escrituras gregas.

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    Por sua experincia precedente, Paulo habituado, desde sua formao ju-daica (cf. Lv 19,3; Dt 5,16; Sl LXX 88,27), a chamar Deus de Pai, em gregopatr, em 1Ts 1,3 e 3,11.13 O chama, com os tessalonicenses, de nossoPai. Esta imagem paterna que alimentou sua vida espiritual por todos osanos precedentes, e lhe deu a segurana que um pai pode dar, vir em 1Ts 2,11-12; um bom pai exorta contra os erros dos filhos porque os ama,encoraja para que no desanimem perante os riscos da vida, e insiste paraque vivam de modo digno de Deus. Para Paulo, Deus ser sempre o patr:Rm 1,7; 1Cor 1,3; 8,6; 2Cor 1,2.3; Gl 1,3.4; 4,6; Rm 1,7; 15,6; Fl 2,11; 4,20. E,como Pai, Deus para Paulo aquele ponto de referncia inabalvel contratudo e em todas as circunstncias da vida.

    Em 1Ts 3,10 Paulo se encontra diante de uma impossibilidadeintransponvel. No pode, absolutamente, retornar a Tessalnica, pelosmotivos j conhecidos: os judeus de l (1Ts 2,16), as artimanhas de Satans(1Ts 2,18) tentador (1Ts 3,5), a distncia geogrfica46, talvez falta de dinhei-ro para pagar passagem num barco, ou o mar fechado pelas tempestadesdo inverno.

    Em 1Ts 3,10 Paulo faz uma orao de petio a Deus: pede a possibilidadede rever os tessalonicenses. Usa o verbo rogo, domai; esta a expressomais forte de um pedido em orao; outro verbo, mais comum, peo,prossuchomai47, que no usou aqui. Portanto a opo por domai deve tersido intencional, devido gravidade da situao. Paulo repete domai emRm 1,10, para pedir a Deus a oportunidade de ir ver os romanos, estandoem circunstncias anlogas s vividas em Atenas.

    Mais surpreendente ainda o fundamento para sua confiana em Deus.Ele o diz em 1Ts 3,11: Deus nosso Pai e Nosso Senhor Jesus aplainemnosso caminho at vs. Notar: somente Deus e o Senhor Jesus, e no oshomens, poderiam tirar aqueles obstculos. O que surpreende o empregodo verbo aplainar, tornar reto, guiar atravs de um caminho semobstculos: kateuth nai, composto de kat + euth s, isto , retificar,abrir alas e ideias afins. Paulo ter trazido esta ideia de Is 40,3: Umavoz proclama: no deserto abri um caminho para o Senhor, nivelai a estepe,uma estrada para nosso Deus48. A tradio da Igreja primitiva dos evan-gelhos sinticos interpretou Is 40,3 como profecia sobre a vinda do Messi-as: Mc 1,3; Lc 1,76.79. Porm em 1Ts 3,11 Paulo d sua viso prpria: noso pessoas que abriro o caminho de Paulo para Tessalnica, como os queaplainaram os caminhos para o Messias, cf. Mc 1,3. Paulo afirma que quempode abrir seu caminho at Tessalnica so o prprio Deus e Seu Filho, oSenhor Jesus. O que nos diz com isto? D a entender que sua obra

    46 MURPHY-OCONNOR, Paulo: Biografia crtica, pp. 120, 320.47 RIGAUX, Saint Paul: Les ptres aux Thessaloniciens, pp. 483-484.48 Cf. Is 40,3 na traduo da TEB.

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    missionria no outra seno a mesma obra do Pai e do Filho, que comseu poder vo abrindo os caminhos para o Evangelho, processo divino doqual Paulo faz parte. outra expresso da confiana ousada de Paulo. Seucompromisso com Deus e com o Senhor Jesus. O compromisso de Deuse do Senhor com Paulo o insere na ao evangelizadora divina, da qualPaulo apenas um colaborador, mesmo que no se intitule nem synergs,nem dikonos, nem apstolos. Porm, a conscincia de seu privilgio comocolaborador de Deus como apstolos e dikonos ainda est, pode-se supor,em germe em sua correspondncia macednia, para amadurecer mais tar-de, em seus escritos posteriores. Isto se confirma quando se diz dikonos,isto , ministro, em 1Cor 3,5 e 2Cor 3,6; 6,4. As deuteropaulinas confir-mam que as Igrejas o aceitaram como dikonos como dom da graa deDeus em Ef 3,7, como dikonos do Evangelho que lhe foi confiado, Cl1,23, e dikonos da Igreja, Cl 1,25. O amadurecimento deste raciocnio namente de Paulo parece atingir o auge em Rm 15,8, onde diz que o primeirodikonos do Pai o Filho, o Senhor Jesus. Portanto, podemos supor, Paulose identifica com o Senhor Jesus enquanto dikonos de Deus, de Sua obrasalvfica em benefcio dos gentios49. Logo, lgico que sero Deus e SeuFilho que abriro o caminho de Paulo para Tessalnica. Como no confiarem Deus, se foi o mesmo Deus quem lhe deu este ministrio? Paulo temabsoluta segurana, e nisto se confirma como colaborador da obra divina.De fato, o Evangelho que prega foi recebido de Deus e no dos homens, Palavra de Deus (1Ts 1,8; 2,13; 4,15, cf. Gl 1,11). Esta uma realidade emque Paulo cr e que somente ele capta e cuja realizao constata comsegurana. Outros fatos o confirmaro no futuro, garantindo a maturaode sua autocompreenso como ministro de Deus: Jesus abrir para ele umaporta grande em Troas (2Cor 2,12), como tambm em feso (1Cor 16,8;cf. At 14,27). a realizao de Is 40,3 por obra divina, aplainando oscaminhos de Paulo, porque leva consigo o Cristo (Gl 2,20), ou melhor, comCristo Paulo que vai (cf. Rm 15,18-19).

    Em outras palavras: retornar a Tessalnica naquele momento ultrapassa detal modo as possibilidades humanas de Paulo, que somente o poder de

    49 Paulo jamais dir que irmo, adelphs do Senhor Jesus, embora este raciocnio senos apresente como lgico, uma vez que chama Deus de nosso Pai. Isto se justifica pelorisco teolgico que o mal-entendido resultante poderia provocar: se os tessalonicensesfossem chamados de irmos do Senhor Jesus, que Paulo intitula Filho de Deus em 1Ts1,10, os tessalonicenses incorreriam no erro de se entenderem filhos de Deus com amesma natureza divina que o Filho de Deus tem, j ressuscitado. A prpria teologiatrinitria ter amadurecido na mente de Paulo com o tempo, at o fim de sua vida. Pormos problemas prticos de sua expresso verbal, junto com a pouca instruo dos gentios,deve ter protelado uma exposio sistemtica de seu conceito de Trindade. Em 1Ts Paulodistingue claramente o Pai do Filho, o Senhor Jesus (1Ts 1,1.3; 3,11.13; 2Ts 1,1.2; 2,16).Podemos ter certeza, portanto, que na fase da evangelizao da Macednia Paulo no temuma sistematizao de sua teologia trinitria. Mesmo que a tivesse, por prudncia noa deixou por escrito.

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    Deus poderia retirar os obstculos. Mesmo que naquele momento Paulono volte para l, no futuro no ter os mesmos impedimentos.

    Da exposio acima sobressaem os seguintes pontos e algumas considera-es: a) a confiana de Paulo em Deus se funda em sua experincia deDeus como seu Pai, 1Ts 1,3; b) a confiana de Paulo em Deus desperta nele,em Silvano e Timteo, a ousadia de tentar uma fundao em Tessalnica(1Ts 2,2); c) a orao de petio, expressa pelo verbo domai, 1Ts 3,10,demonstra a esperana fundada numa confiana inabalvel em Deus pe-rante obstculos intransponveis no momento, confiana que em outrasocasies da vida de Paulo lhe deu toda a segurana necessria em seuministrio apostlico; d) se foi ousadia fundar Tessalnica, maior ousadia ter certeza de que um dia Deus e Seu Filho lhe abriro os caminhos paral, porque seu Evangelho Palavra de Deus: 1Ts 3,11. Dito de outro modo:no h porque desanimar perante os obstculos se Deus, Pai de Paulo edos convertidos, quem d todas as garantias do bom xito da obramissionria e suas consequncias salvficas. A confiana de Paulo em Deuspode-se comparar como uma plataforma operacional de todas as suas ati-vidades apostlicas. Tudo o que faz enquanto apstolo parte desta atitude.Antes de tudo Deus um Pai em quem pode confiar plenamente, e man-ter-se em constante contato atravs da orao sem cessar (1Ts 1,2; cf. 5,17).Deste Pai recebe uma misso, que em primeiro lugar obra do Pai e doSenhor Jesus, ou melhor, seu Evangelho a Palavra de Deus e no doshomens (1Ts 2,13). Sua tarefa instruir e conduzir os tessalonicenses aoDeus Vivo e Verdadeiro (1Ts 1,9), doutrina recebida da tradio da Igreja.Somente ento, com base em toda esta segurana, que se lana,ousadamente, tarefa missionria, sem atrever sequer a intitular-se aps-tolos. Mesmo que Paulo no diga que est construindo sua Teologia, narealidade passa pelo processo de seu amadurecimento. E neste processo,como bom telogo50, primeiro fala com Deus, para depois falar aostessalonicenses sobre Deus e sua obra salvfica.

    5.3. A confiana de Paulo nos tessalonicenses5.3. A confiana de Paulo nos tessalonicenses5.3. A confiana de Paulo nos tessalonicenses5.3. A confiana de Paulo nos tessalonicenses5.3. A confiana de Paulo nos tessalonicenses

    1Ts mostra a confiana de Paulo nos tessalonicenses em 2,7.11.12.13.17.19.20e 3,7.12.

    O ponto de partida da confiana de Paulo nos tessalonicenses o afeto quenele despertaram por t-lo acolhido bem (1Ts 1,9; 2,1). De modo especial1Ts 3,6 traz tanto o substantivo confiana pstis , como afeto agpe . A pstis dos tessalonicenses para com Paulo entendida aqui

    50 Cf. C. BOFF, Conselhos a um jovem telogo, Perspectiva Teolgica XXXI /83 (1999)77-96.

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    como confiana, e no f. Paulo se sente seguro em dirigir-se a elescom a intimidade de um pai ou de uma me, fato que somente possvela partir de uma confiana inicial crescente at confiana total. Psicologi-camente Paulo precisa deste apoio afetivo para levar adiante sua misso(1Ts 2,17.18; 3,7.8).

    Pelo fato de os tessalonicenses darem ouvidos a Paulo, ele se encoraja persistncia no servio a eles, mesmo em meio a muitas dificuldades (1Ts2,1.2.9.15.16; 2,7; 3,5). Seu zelo se expressa em vrias formas, inclusive emexortaes para que continuem progredindo (1Ts 4,1.10; 5,12-22), e, maissurpreendentemente ainda, exorta-os a imitarem seu proceder (1Ts 1,5.6-10; 3,12 e 4,9), mostrando total segurana em seu relacionamento.

    Mesmo podendo reivindicar sua autoridade como apstolo para exigir seusustento, prefere tratar os tessalonicenses como filhos: como me que osnutre e acalenta (1Ts 2,7). Outros missionrios e apstolos se faziam sus-tentar pela comunidade51. Quando, mais adiante, em 1Ts 2,9, diz que tra-balhou dia e noite para no ser peso a ningum em Tessalnica, est con-firmando esta opo e sacrifcio de sua vida (1Ts 2,9) pelos tessalonicenses.

    A imagem da me que amamenta e aquece em seu seio seus bebs nopoderia ser usada por Paulo se no tivesse tanta familiaridade com ostessalonicenses. Esta linguagem figurada se concretizou na atividademissionria e espiritual de Paulo: ele os nutriu na f e os fortaleceu: 1Ts1,5-10; 4,1.9. Como um pai, em sua concepo naquela poca, Paulo assu-me a responsabilidade pela educao, formao moral atravs do exemplode vida (1Ts 2,11-12)52.

    Assim, com Paulo em figura de me e pai, os tessalonicenses se sentemirmos numa s famlia. So irmos no s de Paulo, mas de Silvano eTimteo: irmos em grego se diz adelphoi, palavra presente em 1Ts 1,4,com um acrscimo: amados em Deus. Adelphoi aparece tambm em 1Ts1,9.14.17; 3,7; 4,1.10.13; 5,1.4.12.14.25.

    Esta confiana nos tessalonicenses faz Paulo desejar estar em companhiadeles. Longe, sente-se pai-rfo, em 1Ts 2,17: aporfanisthntes, palavracomposta pela preposio ap e orfans, transferindo para o pai privadode filhos a condio de filhos privados de seus pais53. Trata-se de um dostantos hpax, isto , termos nicos no NT: este somente usado aqui. Aoque parece, Paulo o escolheu a dedo, para dizer quanto lhe custa estarlonge dos tessalonicenses. Seria um desejo egosta? Pelo contrrio, rever ostessalonicenses tem um objetivo muito claro: ensinar o que faltou em sua

    51 RIGAUX, Saint Paul: Les ptres aux Thessaloniciens, p. 417.52 Ibid., p. 429.53 Ibid., p. 457.

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    estadia em Tessalnica: 1Ts 3,10, temendo que o tentador (1Ts 3,5) lheroubasse os filhos e os fizesse perder a herana que lhes dera com tantafadiga. Em outros termos: esta outra expresso do afeto que Paulo nutrepelos tessalonicenses; este afeto, por sua vez, se origina em seu amor porDeus Pai e pelo Evangelho que o Pai lhe confiou.

    Na cultura judaica, qual funo devia exercer um pai em relao aos fi-lhos? 1Ts 2,12 o diz: exortar/consolar parakaleo, encorajar/estimu-lar paramythomai, conjurar/persuadir martyreo54. Paulo os exortae consola vrias vezes e por vrios motivos: 1Ts 4,1.10; 5,14. Paulo osencoraja em 1Ts 5,15. Todas estas atitudes, deveres prprios de um aps-tolo (1Ts 2,7), revelam o apstolo que Paulo .

    No aceitar seu sustento pelos tessalonicenses (1Ts 2,9) poderia provocaralgum mal-entendido na comunidade. No entanto a caridade de Paulo to convincente que nisto no veem artificialidade alguma. O resultadoPaulo o mostra em 1Ts 1,5-10; 4,1.9. Portanto confiar nos tessalonicensesfoi a atitude correta assim que Paulo chegou a Tessalnica.

    Paulo saboreia com Deus, em orao de gratido, esta confiana que temnos tessalonicenses: 1Ts 2,13; a Palavra que pregou como devia, foi aceitapor pessoas movidas pela pstis confiana/f (1Ts 1,3.8; 3,5.6.7.10).No levou aos tessalonicenses doutrinas de filsofo ambulante (1Ts 2,5),mas a Palavra de Deus logos theou, (1Ts 2,13), a Palavra do Senhor lgos kyrou (1Ts 1,8; 4,15).

    Tendo tal confiana nos tessalonicenses, Paulo pode esperar que perseve-rem at a Parusia (1Ts 1,3.10), porque j perseveram e o demonstram devrios modos (1Ts 1,3.4.6.7-10; 2,13.14; 3,6.7.8; 4,1.9.10; 5,4.8). E tal esperan-a j o enche de alegria, pregustando a glria de que participar com oSenhor em sua Vinda (1Ts 2,19.20).

    Resulta da exposio acima a seguinte compreenso da confiana de Paulonos tessalonicenses: a) Paulo foi recebido pelos tessalonicenses com afeto(1Ts 1,9) e tal afeto perdurou depois que saiu de Tessalnica (1Ts 3,6); istoexplica porque os tessalonicenses passam a imitar Paulo e seus ajudantes(1Ts 1,6; 3,12); b) Paulo pode esperar que aceitem suas exortaes de purozelo por eles (1Ts 4,1.10; 5,12-22); c) Paulo corresponde com seu afeto emfigura materna e paterna (1Ts 2,7.11-12), fazendo-os sentirem-se todos seusirmos e amados pelo mesmo Pai (1Ts 1,4), uma grande famlia, mesmosem usar este termo, oikeia, que somente aparecer em Gl 6,10 e nadeuteropaulina Ef 2,19; d) o constrangimento que Paulo poderia provocarno aceitando seu sustento pelos tessalonicenses (1Ts 2,9) foi superado poreste relacionamento de confiana sincera: os tessalonicenses eram realmen-

    54 Ibid., pp. 429-432.

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    te pobres, e a recusa de Paulo poderia humilh-los; sua caridade os livroudesta situao embaraosa; e) Paulo saboreia com seu Pai, em suas oraessem cessar (1Ts 1,2-3), esta liberdade que sente em relao aostessalonicenses: o que teve que lhes ensinar foi aceito por eles (1Ts 2,5)como Palavra do Senhor Jesus, de Deus (1Ts 1,8; 2,13; 4,15); f) com estaconfiana comprovada no presente, Paulo projeta para o futuro sua espe-rana em merecer a mesma confiana: os tessalonicenses, ajudados porDeus, perseveraro em santidade perfeita, irrepreensveis, para a Vinda doSenhor Jesus (1Ts 5,23), quando sero para ele motivo de alegria e glria(1Ts 2,19-20). Assim a confiana que Paulo depositou nos tessalonicensesfoi o fio com que teceu uma amizade duradoura, fundada na agpe, indis-pensvel para dar coeso, firmeza e solidez a qualquer comunidade que seforma enquanto Igreja de Deus. Estavam postas as bases de uma eclesiologiaque se utilizar da expresso Igreja de Deus, ekklesa tou theou a serempregada nas cartas futuras (cf. 1Cor 10,32; 11,22; 15,9; 2Cor 1,1; Gl 1,13).

    5.4. A confiana dos tessalonicenses em Paulo e seus colaboradores5.4. A confiana dos tessalonicenses em Paulo e seus colaboradores5.4. A confiana dos tessalonicenses em Paulo e seus colaboradores5.4. A confiana dos tessalonicenses em Paulo e seus colaboradores5.4. A confiana dos tessalonicenses em Paulo e seus colaboradores

    1Ts 2,5.6.9.10 e 4,1 revelam a confiana dos tessalonicenses em Paulo.

    Tal confiana brota do afeto de Paulo pela comunidade e se revela em seuempenho por ela; assim como da confiana em Deus procede o crer, ter f,da confiana em Paulo nasce a credibilidade que os tessalonicenses neledepositam.

    O que Paulo, Silvano e Timteo tero feito e dito aos tessalonicenses paradespertar neles a confiana de que os missionrios necessitavam? De quemodo conseguiram a converso dos tessalonicenses? Paulo constata em1Ts 1,6-9 o entusiasmo de uma comunidade pela admirao que nutrempelos missionrios a ponto de passarem a fazer o mesmo que eles, isto ,a imit-los naquele novo gnero de vida, na converso dos dolos ao DeusVivo e Verdadeiro, a aguardarem o Senhor Jesus ressuscitado em suaParusia.

    Jamais saberemos em detalhe como tudo isto aconteceu. Paulo muitosucinto, mesmo sendo muito claro e convicto do que diz.

    Para que algum se convena a viver como outra pessoa, esta deve terargumentos convincentes e proceder em coerncia com eles. O exemploarrasta. Gestos dizem muito mais que palavras. Mente e corao se envol-veram num relacionamento interpessoal consistente de mtua confiana.

    A coerncia de vida dos missionrios claramente expressa pelo advrbioirrepreensivelmente, ammptos, de 1Ts 2,10, para qualificar o compor-tamento de Paulo e seus ajudantes. S. Paulo o usar em contexto escatolgicodo juzo final dos tessalonicenses perante Cristo em 1Ts 5,3. Portanto esteadvrbio, ao menos nestes dois usos em 1Ts, indica um ambiente de exa-

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    me, julgamento e comprovao do comportamento das pessoas em obser-vao, como se fosse num tribunal. O comportamento irrepreensvel oesperado de todo homem honesto55. Paulo no vai usar este advrbio nascartas posteriores. Reserva-o para sua correspondncia como ostessalonicenses. Caso semelhante se d com o adjetivo cognato memptos,que Paulo somente usa em cartas aos macednios56: aos Filipenses Paulodiz que devem ser irrepreensveis como filhos de Deus no meio de umagerao perversa e corrupta: Fl 2,15; e em 3,6 mostra como ele mesmo,enquanto fariseu idealista, era irrepreensvel. Ou seja, de sua experinciapessoal do passado e do presente, traz este conceito que ter sido objeto demuita meditao e exame pessoal de sua coerncia perante Deus e oshomens. Assim como Paulo foi exigente consigo mesmo, quer que o sejamigualmente os tessalonicenses. O objetivo final, porm o comparecimentodiante do K rios no dia da Parusia: 1 Ts 2,19-20. Ou seja, o critrio finalpelo qual tanto Paulo, seus ajudantes e os tessalonicenses sero confirma-dos como irrepreensveis e imaculados o julgamento que Cristo fardeles. E Cristo pode faz-lo, porque foi o primeiro exemplo deirrepreensibilidade. Paulo pode apelar para Deus, para que confirme suairrepreensibilidade? 1Ts 2,5.10 o confirmam: Deus testemunha. Poroutro lado, os tessalonicenses, ao esquadrinharem o comportamento dePaulo e seus auxiliares, confirmaram que procederam de modo profunda-mente religioso hosios , profundamente justo dkaios e totalmenteirrepreensvel memptos (1Ts 2,10), pelo que tambm eles disto eramtestemunhas: mrtyres (1Ts 2,10). Foi deste modo que Paulo e seus auxi-liares comprovaram a fidelidade de Deus e de Seu Filho, para que neles ostessalonicenses passassem a confiar e crer (1Ts 1,9-10).

    O ensino de Paulo, Silvano e Timteo consistia na Palavra. Portanto, pordetrs de Paulo e sua equipe estava um Deus a ser descoberto atravs daconfiabilidade e persuaso de sua Palavra. Paulo quer diferenciar, aomenos levemente, a Palavra de Deus e do Senhor do que chama deEvangelho (1Ts 1,5; 2,2.4.8.9; 3,2). O Evangelho a mesma Palavra quedita por Paulo confirmada pelo poder do Esprito Santo (1Ts 1,5); Paulopartiu de Antioquia do Orontes cheio do Esprito Santo para a primeiraviagem missionria (At 13,4). o Esprito que procede de Deus (1Ts 2,2.8.9)e Deus somente o confia a quem dele digno (1Ts 2,4). Portanto, Paulo e seusajudantes so dignos da confiana de Deus, e assim merecem a confiana dostessalonicenses. De outra maneira podemos entender como os tessalonicensesacreditaram em Paulo e em seus ajudantes, mais tarde, quando puderamconfirmar que o ensino que lhes foi transmitido era o da tradio doutrinalautntica de toda a Igreja, a pardosis, de que Paulo fala em 2Ts 2,15; 3,6 eainda em 1Cor 11,2. Esta pardosis no era outra coisa seno a Palavra (1Ts1,6), do Senhor (1Ts 1,8), de Deus (1Ts 2,13).

    55 Ibid., p. 427.56 Ibid.

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    Embora Paulo no se prolongue em 1Ts na descrio de seu Evangelho,sabemos qual era o contedo do krigma inicial (1Ts 1,9-10; 3,13; 4,15.16.17;5,2.4.9.23).

    Paulo no polemiza contra os dolos que os tessalonicenses adoravam. Nomenciona sequer um nome da mitologia greco-romana existente emTessalnica. No necessrio57. O Deus de Paulo de tal forma se reveloutanto mais convincente, que os tessalonicenses depressa abandonam seusdolos. O que importa que Paulo e seus ajudantes no adoravam taisdolos, no os temiam, e se sentiam seguros no Deus em quem confiavame confiam suas vidas. Este foi outro motivo pelo qual os tessalonicensesacreditaram em Paulo e em sua equipe.

    Paulo no precisa recorrer a sua biografia anterior a Tessalnica. Mesmoque cheio de motivos para convencer os tessalonicenses em sua condiode apstolo enviado por Antioquia do Orontes (cf. At 13,2.3), ou bemsucedido em Filipos, de que somente menciona os insultos (1Ts 2,2), anada de seu passado deve ter apelado para merecer a confiana dostessalonicenses a no ser sua coerncia com que pregou e vivenciou oEvangelho (1Ts 2,10), junto com o afeto que dedicou a eles (1Ts 2,7-12). Se,por outro lado, fizesse sua aretologia, seria comparvel aos filsofos am-bulantes que enganavam o povo com palavras aduladoras e interesse ga-nancioso por dinheiro (1Ts 2,3.5.6).

    Confiantes em Paulo e em seu ensino, os tessalonicenses aceitaram o batis-mo, e com o batismo, o Esprito Santo (1Ts 1,5.6; 4,8; 5,19), prometido porEz 36,27. De Deus aprenderam a caridade fraterna (1Ts 4,9.10), tal comoDeus prometera pr sua lei nos coraes (Jr 31,33) no tempo da NovaAliana (Jr 31,31-34).

    Este item pode ser sintetizado nestes pontos: a) Paulo e seus colaboradoresapresentaram aos tessalonicenses um Evangelho convincente sobre Deus eo Senhor Jesus (1Ts 1,6-10), porque a Palavra de Deus e do Senhor Jesus(1Ts 2,13; 1,8; 4,15); b) Paulo e seus ajudantes so coerentes com o queensinam (1Ts 2,10), porque vivem segundo uma moral santa, justa eirrepreensvel; c) a mudana radical na vida dos tessalonicenses, por deci-so deles, consiste na recepo do batismo, implicitamente dito pelo aban-dono dos dolos (1Ts 1,9), praticam a caridade (1Ts 1,3; 4,9), e passam a terfirme esperana no Senhor Jesus que os livrar da ira divina em sua Parusia

    57 S. LGASSE, Les ptres de Paul aux Thessaloniciens = Lectio Divina, Commentaires7, Paris: Cerf, 1999, p. 30; p. 32 nota 4, contra a hiptese de R. JEWETT, The ThessalonianCorrespondence: Pauline Rhetoric and Millenarian Piety, Foundations and Facets,Philadelphia: Fortress, 1986, pp. 128-132. R. Jewett afirmou que os tessalonicensesadoravam uma divindade protetora dos trabalhadores manuais, Cabirus. seguido porJ. Murphy-OConnor quanto a este ponto. Mas Paulo no se importaria com uma divin-dade menor, quando em todo o mundo da poca as divindades dominantes eram os deusesda religio greco-romana.

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    (1Ts 1,10; 2,19; 3,13; 4,15; 5,23). Deus que confiara em Paulo para seu planode salvao, trabalhara tambm nos tessalonicenses atravs da confianaque depositaram em Paulo e seus auxiliares. Com estas garantias o entu-siasmo dos tessalonicenses cresce, a ponto de se tornarem imitadores dosmissionrios, isto , missionrios eles mesmos, e multiplicadores da men-sagem do Evangelho por toda a Macednia (1Ts 1,6-10). Foi deste modoque a adeso dos tessalonicenses ao Evangelho de Paulo deu origem Igreja de Tessalnica.

    5.5. A confiana dos tessalonicenses em Deus Pai e no Senhor Jesus e5.5. A confiana dos tessalonicenses em Deus Pai e no Senhor Jesus e5.5. A confiana dos tessalonicenses em Deus Pai e no Senhor Jesus e5.5. A confiana dos tessalonicenses em Deus Pai e no Senhor Jesus e5.5. A confiana dos tessalonicenses em Deus Pai e no Senhor Jesus esuas consequenciassuas consequenciassuas consequenciassuas consequenciassuas consequencias

    1Ts 1,8 usa o substantivo pstis para dizer a confiana/f dos tessalonicensesem Deus. Mesmo que primeira leitura pstis possa ser traduzida por f, necessrio ter presente a prvia confiana que Deus provoca nostessalonicenses, antes que a depositem totalmente Nele em forma de f.Aqui, portanto, pstis vista ao mesmo tempo como expresso da confi-ana que antecede a adeso f58 e a prpria f que os tessalonicensespassam a ter59.

    Porm preciso perguntar: por qu e quando o Deus Thes e o Senhor K rios anunciados por Paulo, mereceram o crdito dos tessalonicensesa ponto de Neles confiarem suas existncias e salvao futura, isto , nelescrerem em forma de pstis, f? Foi somente quando constataram que oDeus e o Senhor de Paulo se demonstraram superiores s divindades falsasem que os tessalonicenses antes confiavam suas existncias e esperanas.1Ts 1,9 o texto claro para dizer esta mudana: vs vos convertestes dosdolos para servirdes ao Deus vivo e Verdadeiro. Paulo levou aostessalonicenses um dos elementos fundamentais do Krygma da Igrejaprimitiva, que pregava, antes de tudo, um Deus Vivo e Verdadeiro, o Deusautntico contra as representaes de falsas divindades.

    Contra os dolos de Tessalnica Paulo convence f no Deus Vivo e Ver-dadeiro. Falar dos dolos era perda de tempo. No entanto continua a ques-

    58 ARNDT / WILBUR GINGRICH, A Greek-English Lexicon, pstis, 2a.59 Este raciocnio no estranho ao modo como Paulo aprecia empregar certos termoscujo significado pode ser entendido de duas maneiras. Assim em 2Cor 3,18, ao dizer:contemplando e refletindo a mesma glria do Senhor, tn dksan kyrou katoptridzmenoi,entende o verbo katoptridzmenoi como expresso de uma contemplao que ao mesmotempo reflexo da Glria do Senhor. Embora haja autores que prefiram uma ou outratraduo, contemplar ou refletir, Paulo preferiria que seus leitores entendessem ambosos significados para o mesmo verbo. A TEB diz: Uma traduo completa seria: nscontemplamos e ns refletimos. O que era impossvel no tempo de Moiss torna-se pos-svel em Cristo. O que o homem contempla, reflete. Sobre as diferentes interpretaesdeste verbo, ver J. LAMBRECHT, Transformation in 2Cor 3,18, Biblica 64 (1983) 243-254, especialmente s pp. 246-251.

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    to: como os tessalonicenses se convenceram de que o Deus de Paulo,Silvano e Timteo era o Deus Vivo e Verdadeiro, e Jesus, seu Filho feitoSenhor, K rios? Nem em 1Ts, e nem em 2Ts, este processo descrito.Somente podemos concluir, a partir destas epstolas, que os tessalonicenseschegaram a ter f no Deus e no K rios de Paulo atravs da pregao eexemplo de f do prprio Paulo e seus auxiliares. O Evangelho se confir-mou convincente porque seu efeito foi a santificao constatada em Pauloe seus auxiliares. Mais do que isto, uma vez convertidos a Deus, ostessalonicenses tm conscincia do efeito transformador que tal confianano Deus Vivo e Verdadeiro provocou em suas prprias vidas. No tinhamamadurecido tais compreenses ainda e no eram capazes de verbaliz-lo,como o faro os efsios anos aps a partida de Paulo daquela cidade60.Somente Paulo constata esta transformao em 1Ts. No h outro docu-mento que nos d notcias desta transformao dos tessalonicenses. Pauloos instrui para que se confirmem do que j constatam imperfeitamente. Osefeitos da f no Deus Vivo e Verdadeiro que Paulo revela aos tessalonicensesso vrios, dados a seguir.

    Primeiramente, esto na Eleio de Deus, tal como o Israel de outrora(1Ts 1,4). E como os demais fiis de outras terras. O conceito de Eleio eklog provavelmente fora exposto na pregao inicial de Paulo aostessalonicenses, ao menos sumariamente, pois pode record-lo em 1Ts 1,4.

    Em segundo lugar, receberam o Esprito Santo (1Ts 4,8), implicao diretada Eleio por Deus. Mesmo que em 1Ts 1,5.6; 4,8; 5,19, Paulo no as-socie o Esprito Santo Promessa de Ex 36,27 pois no esclarecera aostessalonicenses este conceito61 , os tessalonicenses sabem que receberam oEsprito, que neles opera a alegria (1Ts 1,6), e a eficcia da obraevangelizadora e de converso (1Ts 1,5, com 2,13). Sabem que por suaculpa podem apagar o Esprito, como quem apaga uma chama de fogo(1Ts 5,19), recurso com que Paulo quer lhes mostrar como um privilgioreceber a efuso do Esprito Santo por Deus (1Ts 4,8).

    Em terceiro lugar, as tribulaes consequentes da f no Deus Vivo e Ver-dadeiro aparecem desde o incio (1Ts 1,6; 2,14). Como as Igrejas da Judeia,que esto em Cristo Jesus, so maltratados na Macednia. E isto confirmao acerto na opo pelo Deus Vivo e Verdadeiro: 1Ts 2,14.

    60 A Epstola aos Efsios no foi escrita por Paulo, mas sim por seus discpulos de feso.Considerando a transformao que a converso ao Deus de Paulo provocou neles, pude-ram dizer o que est em Ef 2,12-13: lembrai-vos de que naquele tempo estveis semCristo, excludos da Cidadania em Israel e estranhos s Alianas da Promessa, semEsperana e sem Deus no mundo! Mas agora, em Cristo Jesus, vs, que outrora estveislonge, fostes trazidos para perto, pelo sangue de Cristo (maisculas e itlicos nossos,sobre a traduo da Bblia de Jerusalm).61 Paulo emprega Promessa, epaggela, em cartas posteriores, especialmente Gl, Rm, 1e 2Cor e 1 e 2Tm.

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    Em quarto lugar, passam a ter uma perspectiva histrico-escatolgica, contraa viso grega cclica do tempo62: aguardam o julgamento do K rios em suaParusia, sem temores, mas com grande confiana (1Ts 1,10).

    Por fim, em quinto lugar, Deus mesmo lhes ensinou a caridade fraterna:1Ts 4,9. Amam-se mutuamente, tal como a Nova Aliana de Jr 31,31-34previu, e como profetizou Is 54,13 para os tempos messinicos. Paulo nomenciona uma Nova Aliana em 1Ts. Porm esta compreenso est emgerme em sua mente, e ir amadurecer em 1Cor 11,3 e 2Cor 3,6.

    Com tudo isto Paulo orienta o raciocnio dos tessalonicenses para o grandefinal de 1Ts: 5,23. o dia decisivo para a Igreja e para toda a humanidade.Ele queria que a f dos tessalonicenses de tal forma crescesse e se confir-masse como conquista pessoal e comunitria por toda a vida, at o mo-mento em que o fim da histria chegasse. Santificados em plenitude, an-tropologicamente falando, em pneuma, psych e sma, esprito, vida ecorpo/pessoa, aguardam serenamente a Vinda do Senhor, para seremlibertados da ira divina (1Ts 1,10).

    Ao redigir 1Ts 5,23 Paulo tem certeza de que a confiana dos tessalonicensesem Deus os conduzir perseverana final. E para fortalec-los ainda maisquer aprofundar tal confiana no Deus que j conhecem: o Deus fiel, quevai realizar toda a obra salvfica junto com os tessalonicenses: 1Ts 5,24.

    Este item, portanto, se reduz a estes pontos: a) a confiana dos tessalonicensesem Deus (1Ts 1,8) antecede a adeso firme em f, que Paulo constata emvrios modos; b) o Deus do Evangelho de Paulo superior a todos os deuses,ou melhor, o nico, Vivo e Verdadeiro (1Ts 1,9), definindo a inexistnciados representados pelos dolos; c) a f os transformou em Novo Povo deDeus, o Povo da Eleio (1Ts 1,4); d) com a eleio receberam o Esprito Santo(1Ts 4,8); e) com a fora da confiana e f em Deus, podem afrontar todas astribulaes (1Ts 1,6), pelas quais se tornam Igreja semelhante s Igrejasperseguidas da Judeia (1Ts 2,14); f) pela confiana depositada no Pai e noSenhor Jesus, sero livres da ira futura (1Ts 1,10), isto , na escatologia depo-sitam a esperana final no Senhor da histria, que dar incio eternidade naps-escatologia; g) enquanto aguardam a Vinda do Senhor, vivem em Igrejana caridade que aprenderam do prprio Deus (1Ts 4,9).

    ConclusoConclusoConclusoConclusoConcluso

    O problema em obter uma sntese da Teologia Paulina foi o ponto departida deste trabalho. Rejeitado, em princpio, o pressuposto de um cen-tro, num determinado tema, A. Gignac props buscar nas linhas gerais doEvangelho de Paulo a desejada sntese de sua teologia.

    62 K. LWITH, Meaning in History, Chicago: University Press, 1964, p. 7.

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    Porm muitos temas a se entrelaam, sem que se possa dizer que um sdeles seja um eixo para todos. Todos se entrecruzam sob diferentes aspec-tos. Diferentes aspectos em detalhe podem iluminar tal processo em quePaulo construiu sua teologia. A exegese recente tem feito progressosaprofundando, precisamente, os mais diversos aspectos da Teologia Paulina.Detalhes examinados cuidadosamente podem oferecer solues a proble-mas antigos, e nisto oferecer uma imagem cada vez mais ntida destateologia, com definio cada vez maior, em vista de uma sntese geral. Oprocesso iniciado pela Society of Biblical Literature prometedor, masmuito resta por fazer.

    O trabalho apenas concludo aqui mera colaborao neste processo. Aconfiana entre os personagens envolvidos na evangelizao de Tessalnicafoi o ponto focado em detalhe sob diferentes pontos de vista. E a confiana um dos aspectos envolvidos num dos temas essenciais da Teologia Paulina:a F no Deus que salva (cf. Rm 1,16-17).

    Em primeiro lugar a figura de Paulo que emerge deste estudo, a de umhomem modesto, apesar de sua formao teolgica no rabinismo de Jeru-salm. A misso que Deus lhe confia grandiosa, mas ele no deixa quea vaidade ou ambio de poder o dominem. Nem sequer chega a se afir-mar apstolo com os direitos dos demais. Isto no diminui o otimismo queo domina ao escrever 1Ts. um Paulo em contnua orao, intimamenteunido a Deus, de quem haure a Palavra, seu Evangelho. o Paulo que comconfiana inabalvel no poder de Deus enfrenta todos os obstculos eencoraja os demais a no temer coisa alguma, mesmo o risco de no con-seguir a perseverana final (1Ts 5,23-24). o Paulo consciente de que suamisso no outra coisa que continuidade da obra salvfica e poderosa doPai e do Senhor Jesus. o Paulo profundamente convicto da vinda gloriosado Filho de Deus em curto prazo. Paulo mesmo gostaria que tal otimismocontinuasse para sempre. Se isto tivesse acontecido, a imagem que tera-mos dele seria muito diferente. Porm obstculos imprevistos surgiram naprpria Igreja de Antioquia, e houve o conflito com Pedro. Seguiram-seconflitos com as Igrejas da Galcia e de Corinto. Diante destes obstculos,o otimismo de Paulo no esmorecer, fundado na experincia anterior,consoladora, da converso dos macednios. Pelo contrrio, a coragem comque Paulo enfrentou tais problemas nos possibilitou conhecer, nas cartasposteriores, os demais temas de sua teologia desenvolvidos sob medida paracada uma daquelas comunidades. Por detrs das decepes com osantioquenos, glatas e corntios, sempre estava a feliz experincia da confian-a em Deus na fundao de Tessalnica. A esperana do bom xito do Evan-gelho e da vinda gloriosa do Senhor continua nos fundamentos de sua con-fiana no mesmo Deus que de todos os perigos o livrou (cf. 2Tm 3,11).

    Em segundo lugar a imagem de Igreja que emerge de 1Ts a da comuni-dade de confiana e f no Deus que Pai e no Senhor Jesus que salva da

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    ira divina na escatologia. a f que salva, dir a judeus e gentios em Rm1,16-17. E tal f somente dada a conhecer se for anunciada, e anunciadade modo cativante, provocador da confiana para que a adeso mesmaf seja segura e salvfica. Em Tessalnica Paulo se deu a esta tarefa compleno xito. Confiantes em Paulo, Silvano e Timteo, os tessalonicensespassam a confiar no Deus que eles lhes anunciaram. A descoberta de umDeus Vivo e Verdadeiro foi de tal modo nova e convincente, que esquecemos dolos e o modo de vida neles inspirado. Paulo os contagia com seuentusiasmo, e eles, por sua vez, contagiam os que os ouvem: tornaram-semissionrios por sua vez, difundindo o mesmo Evangelho de Paulo portoda a Macednia. Pela confiana em Deus e no Seu Filho, a perspectivahistrica dos tessalonicenses se muda: seu passado, presente e futuro seexplicam pela adeso f. O passado dos dolos no voltar mais, o pre-sente a doce experincia da profunda transformao que se alimenta pelacaridade ensinada pelo mesmo Deus. E o futuro aguardado com a sere-nidade de quem encontrar no juiz escatolgico um Pai amoroso que re-cria, acalenta, exorta, encoraja e instrui para a perseverana final, tendo aolado o Filho como advogado eficaz. Para uma comunidade gentlica da-quele tempo estas eram mudanas extraordinrias. Com o passar do tem-po, dois milnios depois, para ns o significado grandioso de tal transfor-mao pode passar despercebido. Porm precisamos recuper-lo, porquepara nossos tempos fonte de revigoramento. Uma comunidade crist emconstruo o nascimento exuberante de uma nova criatura de Deus. Nelaesto como que clulas-tronco que no devido tempo evoluiro na complei-o do corpo adulto, sadio, santo, exuberantemente frtil em boas obras,fundado na agpe do Pai, para sempre fiel e digno de confiana total.

    Valdir Marques SJValdir Marques SJValdir Marques SJValdir Marques SJValdir Marques SJ doutor em Teologia Bblica pela Pontifcia Universidade Gregoriana(Roma, 1986). Desde 1996 professor de Teologia Paulina e Metodologia da PesquisaTeolgica na FAJE (Belo Horizonte). Traduziu o livro J. MURPHY-OCONNOR, Paulo deTarso: Histria de um apstolo, So Paulo: Loyola / Paulus / Sinodal, 2008, e publicouvrios artigos em peridicos, dos quais o mais recente se intitula Quem o homem paraque dele Te lembres?, Convergncia Abril 2009.

    EndereoEndereoEndereoEndereoEndereo: Av. Dr. Cristiano Guimares, 2127 - Planalto31720-300 Belo Horizonte MGe-mail: [email protected]

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    COLEO BBLICA LOYOLA

    A Coleo Bblica Loyola, sob responsabilidade da Faculdade Jesuta de Filosofia e Teo-logia de Belo Horizonte, publica estudos, comentrios e subsdios bblicos de nvel cien-tfico internacional, seja traduzidos, seja produzidos por biblistas nacionais.

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    19. As duas fases da pregao de PauloAs duas fases da pregao de PauloAs duas fases da pregao de PauloAs duas fases da pregao de PauloAs duas fases da pregao de Paulo (M. Pesce)20. O Evangelho de Mateus e o judasmo formativoO Evangelho de Mateus e o judasmo formativoO Evangelho de Mateus e o judasmo formativoO Evangelho de Mateus e o judasmo formativoO Evangelho de Mateus e o judasmo formativo (J. A. Overman)21. A Bblia na IgrejaA Bblia na IgrejaA Bblia na IgrejaA Bblia na IgrejaA Bblia na Igreja (J. A. Fitzmyer)22. O pensamento do templo - de Jerusalm a QumranO pensamento do templo - de Jerusalm a QumranO pensamento do templo - de Jerusalm a QumranO pensamento do templo - de Jerusalm a QumranO pensamento do templo - de Jerusalm a Qumran (F. Schmidt)23. As formas literrias do Novo TestamentoAs formas literrias do Novo TestamentoAs formas literrias do Novo TestamentoAs formas literrias do Novo TestamentoAs formas literrias do Novo Testamento (K. Berger)24. Procurais o Jesus histrico?Procurais o Jesus histrico?Procurais o Jesus histrico?Procurais o Jesus histrico?Procurais o Jesus histrico? (R. Zuurmond)25. Sabedoria e sbios em IsraelSabedoria e sbios em IsraelSabedoria e sbios em IsraelSabedoria e sbios em IsraelSabedoria e sbios em Israel (J. Vlchez Lndez)26. Mulher e homem em PauloMulher e homem em PauloMulher e homem em PauloMulher e homem em PauloMulher e homem em Paulo (N. Baumert)27. A evoluo do pensamento paulinoA evoluo do pensamento paulinoA evoluo do pensamento paulinoA evoluo do pensamento paulinoA evoluo do pensamento paulino (U. Schnelle)28. Metodologia do Antigo TestamentoMetodologia do Antigo TestamentoMetodologia do Antigo TestamentoMetodologia do Antigo TestamentoMetodologia do Antigo Testamento (H. Simian-Yofre [org.])29. A mensagem do ReinoA mensagem do ReinoA mensagem do ReinoA mensagem do ReinoA mensagem do Reino (R. A. Horsley e N. A. Silberman)30. Abrao e sua lenda: Abrao e sua lenda: Abrao e sua lenda: Abrao e sua lenda: Abrao e sua lenda: Gnesis 12,1-25,11 (W. Vogels)31. Israel e seu Deus: Israel e seu Deus: Israel e seu Deus: Israel e seu Deus: Israel e seu Deus: (F. Gradl e F. J. Stendebach)32. Sacrifcio e culto no Israel do Antigo Testamento Sacrifcio e culto no Israel do Antigo Testamento Sacrifcio e culto no Israel do Antigo Testamento Sacrifcio e culto no Israel do Antigo Testamento Sacrifcio e culto no Israel do Antigo Testamento (Ina Willi-Plein)33. O Jesus Histrico: um manual O Jesus Histrico: um manual O Jesus Histrico: um manual O Jesus Histrico: um manual O Jesus Histrico: um manual (Gerd Theissen / Annete Merz)34. A Trade: f, esperana e amor em PauloA Trade: f, esperana e amor em PauloA Trade: f, esperana e amor em PauloA Trade: f, esperana e amor em PauloA Trade: f, esperana e amor em Paulo (Thomas Sding)35. A Primeira histria do CristianismoA Primeira histria do CristianismoA Primeira histria do CristianismoA Primeira histria do CristianismoA Primeira histria do Cristianismo (Daniel Marguerat)36. Introduo ao Antigo TestamentoIntroduo ao Antigo TestamentoIntroduo ao Antigo TestamentoIntroduo ao Antigo TestamentoIntroduo ao Antigo Testamento (Erich Zenger et al.)37. Introduo leitura do PentateucoIntroduo leitura do PentateucoIntroduo leitura do PentateucoIntroduo leitura do PentateucoIntroduo leitura do Pentateuco (Jean-Louis Ska)38. A "frmula da aliana"A "frmula da aliana"A "frmula da aliana"A "frmula da aliana"A "frmula da aliana" (Rolf Rendtorff)39. As parbolas de Jesus em Marcos e Mateus As parbolas de Jesus em Marcos e Mateus As parbolas de Jesus em Marcos e Mateus As parbolas de Jesus em Marcos e Mateus As parbolas de Jesus em Marcos e Mateus (Michel Gourgues)40. A inveno de CristoA inveno de CristoA inveno de CristoA inveno de CristoA inveno de Cristo (Maurice Sachot)41. As origens da BbliaAs origens da BbliaAs origens da BbliaAs origens da BbliaAs origens da Bblia (John W. Miller)42. Naquele tempo... Concepes e prticas do tempoNaquele tempo... Concepes e prticas do tempoNaquele tempo... Concepes e prticas do tempoNaquele tempo... Concepes e prticas do tempoNaquele tempo... Concepes e prticas do tempo (M. Gourgues e M. Talbot)43. Introduo exegese do Novo TestamentoIntroduo exegese do Novo TestamentoIntroduo exegese do Novo TestamentoIntroduo exegese do Novo TestamentoIntroduo exegese do Novo Testamento (U. Schnelle)44. A encarnao do Filho de DeusA encarnao do Filho de DeusA encarnao do Filho de DeusA encarnao do Filho de DeusA encarnao do Filho de Deus (Ulrich B. Mller)45. Sinopse dos Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas e da "Fonte Q" Sinopse dos Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas e da "Fonte Q" Sinopse dos Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas e da "Fonte Q" Sinopse dos Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas e da "Fonte Q" Sinopse dos Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas e da "Fonte Q" (J. Konings)46. Entre os dois Testamentos. Histria e religio na poca do Segundo TemploEntre os dois Testamentos. Histria e religio na poca do Segundo TemploEntre os dois Testamentos. Histria e religio na poca do Segundo TemploEntre os dois Testamentos. Histria e religio na poca do Segundo TemploEntre os dois Testamentos. Histria e religio na poca do Segundo Templo (J. Maier)47. As parbolas de LucasAs parbolas de LucasAs parbolas de LucasAs parbolas de LucasAs parbolas de Lucas (Michel Gourgues)48. Religio de visionrios: apocalptica e misticismo no cristianismo primitivo Religio de visionrios: apocalptica e misticismo no cristianismo primitivo Religio de visionrios: apocalptica e misticismo no cristianismo primitivo Religio de visionrios: apocalptica e misticismo no cristianismo primitivo Religio de visionrios: apocalptica e misticismo no cristianismo primitivo

    (P.A. de S. Nogueira)49. O homem bblico. Leituras do Primeiro TestamentoO homem bblico. Leituras do Primeiro TestamentoO homem bblico. Leituras do Primeiro TestamentoO homem bblico. Leituras do Primeiro TestamentoO homem bblico. Leituras do Primeiro Testamento (A. Wnin)50. Aquele que manda a chuva na face da terraAquele que manda a chuva na face da terraAquele que manda a chuva na face da terraAquele que manda a chuva na face da terraAquele que manda a chuva na face da terra (C.M. Dias da Silva)51. Davi e sua histriaDavi e sua histriaDavi e sua histriaDavi e sua histriaDavi e sua histria (W. Vogels)52. A Bblia grega dos Setenta - Do judasmo ao cristianismo antigoA Bblia grega dos Setenta - Do judasmo ao cristianismo antigoA Bblia grega dos Setenta - Do judasmo ao cristianismo antigoA Bblia grega dos Setenta - Do judasmo ao cristianismo antigoA Bblia grega dos Setenta - Do judasmo ao cristianismo antigo (M. Harl,

    G. Dorival, O. Munnich)53. O MessiasO MessiasO MessiasO MessiasO Messias (H.-J. Fabry / K. Scholtissek)

    Edies Loyola Cx. P. 42.355 - CEP 04299-970 So PauloEdies Loyola Cx. P. 42.355 - CEP 04299-970 So PauloEdies Loyola Cx. P. 42.355 - CEP 04299-970 So PauloEdies Loyola Cx. P. 42.355 - CEP 04299-970 So PauloEdies Loyola Cx. P. 42.355 - CEP 04299-970 So Pauloe-mail: [email protected]: [email protected]: [email protected]: [email protected]: [email protected]