a vingança dos sete - pittacus lore

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A VINGANÇA DOS SETE 1

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  • A VINGANA DOS SETE

    1

  • A VINGANA DOS SETE

    2

    OS LEGADOS DE LORIEN

    A VINGANA DOS SETEA VINGANA DOS SETEA VINGANA DOS SETEA VINGANA DOS SETE

    (PITTACUS LORE)(PITTACUS LORE)(PITTACUS LORE)(PITTACUS LORE)

    TRADUO: JOHN DC, FELLIPE FERNANDES e LUIZ GUILHERME 2014 REVISO: ALLIE FREITAG TTULO ORIGINAL: THE REVENGE OF SEVEN PITTACUS LORE PITTACUS LORE 2014

    OS LEGADOS DE LORIEN

  • A VINGANA DOS SETE

    3

    Os eventos neste livro so reais.

    Nomes e lugares foram modificados,

    para proteger os lorienos,

    que continuam escondidos.

    Outras civilizaes realmente existem.

    Algumas delas querem destruir vocs.

  • A VINGANA DOS SETE

    4

    Os legadoOs legadoOs legadoOs legados de lorien s de lorien s de lorien s de lorien pittacus lorepittacus lorepittacus lorepittacus lore

    Livros Livros Livros Livros

    Eu sou o nmero Quatro

    O Poder dos Seis

    A Ascenso dos Nove

    A Queda dos Cinco

    A Vingana dos Sete

    EEEE----booksbooksbooksbooks

    Eu sou o nmero Quatro: Os arquivos perdidos #1: Os legados da Seis Eu sou o nmero Quatro: Os arquivos perdidos #2: Os legados do Nove

    Eu sou o nmero Quatro: Os arquivos perdidos #3: Os legados dos Mortos Eu sou o nmero Quatro: Os arquivos perdidos #4: A busca por Sam Eu sou o nmero Quatro: Os arquivos perdidos #5: Os esquecidos

    Eu sou o nmero Quatro: Os arquivos perdidos #6: Os ltimos dias de Lorien Eu sou o nmero Quatro: Os arquivos perdidos #7: Os legados do Cinco Eu sou o nmero Quatro: Os arquivos perdidos #8: Retorno a Paradise Eu sou o nmero Quatro: Os arquivos perdidos #9: A traio de Cinco

    ColeesColeesColeesColees

    Os arquivos perdidos: Os Legados

    (contm e-books de #1 a #3)

    Os arquivos perdidos: Histrias secretas

    (contm e-books de #4 a #6)

    Os arquivos perdidos: Inimigo oculto

    (contm e-books de #7 a #9)

  • A VINGANA DOS SETE

    5

    O PESADELO ACABOU. QUANDO ABRO MEUS OLHOS, NO H NADA ALM

    da escurido.

    Estou em uma cama, o que eu posso dizer por enquanto, e ela no

    a minha. O colcho enorme, de algum jeito contornado perfeitamente

    para caber meu corpo, e por um momento eu me pergunto se meus amigos

    me mudaram para uma das camas gigantes do apartamento de Nove. Eu

    estico minhas pernas e braos at onde consigo, e mesmo assim no

    consigo alcanar as bordas. O lenol que est sobre mim mais

    escorregadio do que macio, quase como se fosse de plstico, e est muito

    quente. No apenas morno, eu percebo, mas tambm h uma vibrao

    estvel massageiam meus msculos doloridos.

  • A VINGANA DOS SETE

    6

    Por quanto tempo eu dormi, e onde ser que eu estou?

    Eu tento me lembrar de o que aconteceu comigo, mas tudo o que

    eu posso pensar sobre minha ltima viso. Eu senti como se estivesse

    naquele pesadelo por dias. E ainda posso sentir o cheiro fedorento de

    borracha queimada em Washington DC. Nuvens de poluio pairavam sob a

    cidade, uma lembrana da batalha que ocorreu l. Ou da batalha que ainda

    ir ocorrer l, se minha viso se tornar realidade.

    As vises. Elas so partes de algum Legado novo? Nenhum dos

    outros tm legados que os deixam assustados pela manh. Elas so

    profecias? Ameaas enviadas por Setrkus R, como os sonhos que John e

    Oito costumavam ter? So elas avisos?

    O que quer que sejam eu queria que elas parassem de acontecer.

    Eu respiro fundo algumas vezes para limpar o cheiro de Washington

    das minhas narinas, embora eu saiba que tudo isso da minha cabea. Mas

    pior do que sentir o cheiro que eu posso me lembrar de cada pequeno

    detalhe, desde o olhar aterrorizado do John quando ele me viu no palco

    junto com Setrkus R, condenando Seis morte. Ele estava preso na viso

    tambm, como eu. Eu estava impotente l em cima, entre Setrkus R, quase

    apontado como governante da Terra, e...

    Cinco. Ele est trabalhando para os Mogadorianos! Eu tenho que

    alertar os outros. Eu me sento e minha cabea gira muito rpido gotas

    de ferrugem flutuam atravs da minha viso. Eu as pisco para longe, meus

    olhos sentindo-se pegajosos, minha boca seca e minha garganta inflamada.

    Esse definitivamente no o apartamento de Nove.

    Meus movimentos devem ativar algum sensor prximo, porque as

    luzes do quarto lentamente se tornam mais fortes. Elas veem gradualmente,

    o quarto eventualmente est banhado com um brilho vermelho plido. Eu

    olho em volta para encontrar a fonte da luz e descubro que elas vm de

    veias que esto pulsando dentro das paredes. Um arrepio passa por mim

    por quo preciso a sala parece, quo severa, sem decorao alguma. O calor

    do lenol aumenta, quase como se ele quisesse que eu voltasse para baixo

    dele. Eu o tiro de perto.

    Esse lugar pertence aos Mogadorianos.

  • A VINGANA DOS SETE

    7

    Eu rastejo atravs da cama de mamutes maior do que um SUV,

    suficiente para que um Mogadoriano de cinco metros possa relaxar

    tranquilamente at meu p descalo pisar no cho de metal. Estou

    vestindo um vestido longo e cinza, bordado com videiras pretas espinhosas.

    Eu arrepio, pensando neles colocando isso em mim e me deixando aqui para

    descansar. Eles poderiam ter me matado, mas ao invs disso eles me

    colocaram um pijama? Na minha viso, eu estava sentada ao lado de

    Setrkus Ra. Ele me chamou de sua herdeira. O que isso quer dizer? por

    isso que ainda estou viva?

    Isso no importa. O fato simples: fui capturada. Eu sei disso. Agora

    o que eu fazer?

    Eu imagino que os Mogadorianos devem ter me levado para uma de

    suas bases. Com exceo de que esse quarto no se parece com as horrveis

    celas nanicas que Nove e Seis descreveram quando eles foram capturados.

    No, isso deve ser uma ideia dos Mogadorianos de hospitalidade. Eles esto

    cuidando de mim.

    Setrkus Ra queria que me tratassem mais como uma hspede do

    que como uma prisioneira. Porque, um dia, ele me quer liderando ao seu

    lado. Por que, eu ainda no entendo, mas agora a nica coisa que me

    mantm viva.

    Ah no. Se eu estou aqui, o que aconteceu com os outros em

    Chicago?

    Minhas mos comeam a tremer e eu afasto as lembranas de

    Washington, eu afasto a preocupao com os meus amigos, eu afasto tudo.

    Eu preciso ser uma lousa em branco, como eu fui quando lutamos pela

    primeira vez com Setrkus R no Novo Mxico, como eu era nas sesses de

    treinamento com os outros. mais fcil para eu ser corajosa quando eu no

    penso nisso. Se eu agir com o instinto, eu consigo fazer isso.

    Corra, eu imagino Crayton dizendo. Corra at eles ficarem cansados

    de te caar.

    Eu preciso de alguma coisa pra lutar com eles. Eu olho ao redor da

    sala por alguma coisa que eu possa usar como arma. Perto da cama tem um

    criado-mudo de metal, o nico mvel da sala. Os Mogs deixaram um copo

  • A VINGANA DOS SETE

    8

    com gua para eu beber, mas eu no sou besta o bastante para tomar,

    mesmo estando morta de sede. Perto do copo, ah um livro dicionarizado,

    com uma capa feita de pele de cobra oleosa. A tinta na capa parece

    chamuscada, as palavras com recuos nas bordas, como se elas fossem

    impressas com tinta feita de cido.

    O ttulo diz O Grande Livro do Progresso Mogadoriano,

    surpreendentemente escrito em ingls. Em baixo dele h vrias caixinhas

    angulares que eu presumo ser Mogadorianas tambm. Ento eu pego o livro

    e o abro. Cada pagina est divida ao meio, com uma coluna escrita em

    Ingls e outra em Mogadoriano. Eu me pergunto se era pra eu ler isto.

    Eu fecho o livro. A coisa mais importante que ele pesado e eu

    posso segur-lo. Eu no vou transformar Mogs em cinzas com isso, mas

    melhor do que nada. Eu me levanto da cama e ando at o que me parece

    ser a porta. um painel retangular cortado na parede, mas no h

    fechaduras ou botes.

    Eu ando na ponta dos ps at ela, me perguntando como eu vou

    abri-la, e ento h um chiado mecnico saindo de dentro da parede. Deve

    ser mais um sensor de movimentos igual os das luzes, porque a porta se

    abre pra cima assim que eu me aproximo, desaparecendo dentro do teto.

    Eu no paro para me perguntar porque que eu estou viva.

    Segurando o livro Mogadoriano, eu entro em um corredor que to frio e

    metlico como o quarto que eu estava.

    Ah uma voz feminina diz. Voc acordou.

    Ao invs de guardas, uma mulher Mogadoriana que est em um

    banco fora do meu quarto, obviamente esperando por mim. Eu no tenho

    certeza se j havia visto uma mulher mogadoriana antes, mas ela parece

    surpreendentemente no ameaadora em um vestido longo que vai at o

    cho, como um dos vestidos que as irms vestiriam l em Santa Teresa. Sua

    cabea raspada, exceto por duas longas tranas pretas na parte de trs do

    seu crnio, e o resto do seu couro cabeludo est coberto com uma

    tatuagem elaborada. Ao invs de ser nojenta e ameaadora, como os Mogs

    que eu vi antes, essa daqui parece quase elegante.

    Eu paro em frente a ela, incerta do que fazer.

  • A VINGANA DOS SETE

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    A Mog lana um olhar para o livro em minhas mos e sorri.

    E j esta pronta pra comear seus estudos, eu vejo ela diz, se

    levantando. Ela alta, delgada e vagamente parece uma cobra. Em p na

    minha frente, ela faz uma reverncia exagerada. Senhorita Ella, eu devo

    ser sua instrutora enquanto...

    Assim que sua cabea se abaixa o suficiente, eu soco o livro no rosto

    dela o mais forte que posso.

    Ela no percebe meu movimento, o que eu acho estranho porque

    todos os Mogs que eu encontrei estavam prontos para lutar. Essa aqui solta

    um gemido e ento cai no cho e o tecido do seu vestido faz um barulho,

    como se tivesse rasgado.

    Eu no paro para ver se eu a nocauteei ou se ela est puxando uma

    espada de algum compartimento escondido naquele vestido. Eu corro,

    escolhendo uma direo aleatria e corro o mais rpido que posso corredor

    abaixo. O cho de metal machuca meu p descalo e meus msculos

    comeam a doer, mas eu ignoro. Eu tenho que sair daqui.

    muito ruim essas bases Mogadorianas no terem nem uma

    sinalizao de sada. Eu viro por uma curva, e depois por outra, correndo

    pelos corredores que so muito parecidos. Eu continuo esperando que

    sirenes comecem a tocar para avisar que eu escapei, mas o barulho nunca

    comea. No h nenhum som de passos pesados de Mogadorianos atrs de

    mim, tambm.

    S quando eu estou ficando sem flego e penso em diminuir o

    ritmo, uma porta se abre a minha direita, e dois Mogadorianos saem dela.

    Eles se parecem mais com os que eu estou acostumada corpulentos,

    vestidos com suas capas pretas, olhos redondos olhando para mim. Eu me

    atiro por trs deles, embora nenhum dos dois faa alguma tentativa de me

    agarrar. De fato, eu acho que ouvi um deles gargalhar.

    O que que est acontecendo aqui?

    Eu posso sentir os dois soldados Mogs me vendo fugir, ento eu me

    atiro no primeiro corredor que eu consigo. Eu no tenho certeza se eu estou

    andando em crculos ou coisa assim. No h luz do sol ou qualquer tipo de

    barulho, nada para indicar que eu possa estar chegando perto de uma sada.

  • A VINGANA DOS SETE

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    Parece que os Mogs no se importam com nada do que eu tente, como se

    soubessem que no tem jeito de eu escapar daqui.

    Eu paro para recuperar o flego, cautelosamente avanando para

    baixo nesse ltimo corredor estril. Ainda estou segurando o livro minha

    nica arma j estou comeando a ficar com cibra. Eu balano minha mo

    para ela ir embora.

    Em cima, um arco enorme se abre com um chiado eletrnico;

    diferente das outras portas, maior, e h pequenas luzes piscantes muito

    estranhas do outro lado.

    No so luzes piscantes. So estrelas.

    Enquanto eu passo pelo arco para entrar na sala, o teto de metal se

    muda para uma abbada de vidro, a sala bem grande, quase como um

    planetrio. Com exceo que real. H vrios consoles de computadores

    presos ao cho talvez seja algum tipo de sala de controle mas eu os

    ignoro, atrada pela viso confusa que se v atravs do vidro.

    Escurido. Estrelas.

    A Terra.

    Agora eu entendo porque os Mogadorianos no estavam me

    caando. Eles sabem que no h como eu fugir daqui.

    Estou no espao.

    Eu me aproximo do vidro, pressionando minhas mos contra ele. Eu

    posso sentir o vazio do lado de fora, o infinito, o gelo, o espao sem ar

    entre eu e aquela orbe azul flutuante distante.

    Glorioso, no acha?

    Sua potente voz despejada como um balde de gua fria sobre

    mim. Eu me viro e me pressiono contra o vidro, sentindo que o veneno atrs

    de mim mais prefervel a encar-lo.

    Setrkus R est atrs de um dos consoles de controle, me

    observando, um sorriso em seu rosto. A primeira coisa que percebo que

    ele no to grande como era na batalha que lutamos contra ele na base

    de Dulce. Ainda sim, Setrkus R alto e ameaador, seu largo corpo

    vestido com um uniforme preto, cravejado e decorado com uma variedade

  • A VINGANA DOS SETE

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    de medalhas Mogadorianas. Trs pingentes lricos, os que ele roubou dos

    Gardes mortos, esto pendurados em volta de seu pescoo, brilhando.

    Eu vejo que voc j pegou meu livro ele diz, gesticulando para o

    quadrado livro. Eu no havia percebido que ainda o segurava. Embora

    no da maneira que eu gostaria que segurasse. Felizmente, sua instrutora

    no teve ferimentos graves...

    De repente, em minhas mos, o livro comea a brilhar em vermelho,

    como os detritos que eu peguei em Dulce. Eu no sei exatamente como

    estou fazendo isso, ou o que estou fazendo.

    Ah Setrkus R diz, me observando e erguendo as sobrancelhas.

    Muito bom.

    Vai pro inferno! eu grito, arremessando o livro brilhante contra

    ele.

    Antes mesmo de chegar perto da metade do caminho at ele,

    Setrkus R levanta uma de suas mos enormes e o livro para no meio do

    caminho. Eu observo enquanto o brilho que eu criei desaparece.

    Agora ele se queixa. Chega disso.

    O que voc quer de mim? eu berro, lgrimas de frustrao

    saindo dos meus olhos.

    Voc j sabe isso ele responde. Eu te mostrei o que vai

    acontecer. Assim como mostrei uma vez para Pittacus Lore.

    Setrkus R aperta alguns botes no painel de controle, e a nave

    comea a se mover. Gradualmente, a Terra, parecendo ao mesmo tempo,

    longe e perto, como se eu pudesse agarr-la com minhas mos, comea a

    se mover diante meus olhos. No estamos indo em direo a ela, estamos

    indo na direo oposta.

    Voc est abordo da Anubis Setrkus R diz, com um tom de

    orgulho na sua grave voz. A nave capit da frota Mogadoriana.

    Quando a nave completa sua manobra, eu suspiro. Eu pressiono

    minhas mos contra o vidro para me apoiar, meus joelhos esto fracos.

    Do lado de fora, em rbita ao redor da Terra, est a tropa

    Mogadoriana. Centenas de naves muitas delas longas e prateadas, do

    tamanho de avies, como a Garde havia descrito elas das batalhas

  • A VINGANA DOS SETE

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    anteriores. Mas junto a elas, h pelo menos vinte naves enormes, que fazem

    as outras parecerem ans com iminentes canhes ameaadores,

    projetando suas armaes em vrios ngulos, tendo como objetivo o planeta

    abaixo.

    No eu sussurro. Isso no pode estar acontecendo.

    Setrkus R anda em minha direo, e eu estou muito chocada com

    a viso que mal consigo me mexer. Gentilmente, ele coloca sua mo em

    meus ombros. Eu posso sentir o frio dos seus dedos plidos.

    A hora finalmente chegou ele diz, observando a frota comigo.

    A Grande Expanso em fim chegou Terra. Vamos celebrar o progresso

    Mogadoriano juntos, minha neta.

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    DA JANELA QUEBRADA DO SEGUNDO ANDAR DE UMA FBRICA TXTIL

    abandonada, eu observo um velho homem com um casaco esfarrapado e jeans sujo se abaixar na porta entreaberta de um edifcio do outro lado da rua. Depois de ter sentado, o homem tira uma garrafa marrom do seu casaco e comea a beber. Est no meio da tarde estou vigiando e ele a nica alma viva que eu vi nessa parte abandonada de Baltimore desde que chegamos aqui ontem. um lugar deserto, quieto e ainda sim mais prefervel verso de Washington D.C. que eu vi na viso de Ella. At agora, pelo menos, no parece que os Mogadorianos seguiram a gente desde Chicago. Embora, tecnicamente, eles no precisariam. J h um Mogadoriano entre ns. Atrs de mim, Sarah bate o p no cho. Estamos na sala que costumava ser o escritrio do patro, h p em todo canto, o assoalho inchado e com mofo. Eu me viro a tempo de v-la franzindo as sobrancelhas para o que sobrou de uma barata embaixo do sapato dela. Cuidado. Voc vai acabar caindo no andar debaixo atravs do assoalho eu digo a ela, fazendo piada. Acho que seria demais perguntar se todas as bases de vocs fossem em apartamentos de luxo, huh? Sarah pergunta, me encarando com um olhar de provocao.

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    Ns dormimos nesta fbrica abandonada ontem noite, nossos sacos de dormir estendidos no assoalho afundado. Ambos de ns estamos sujos, j faz uns dois dias desde que tomamos um banho de verdade, e o cabelo louro de Sarah est endurecido por conta da sujeira. Ela ainda linda para mim. Sem ela a meu lado, eu teria ficado totalmente perdido depois do ataque em Chicago, onde os Mogs sequestraram Ella e destruram o apartamento. Eu fao uma careta enquanto penso, e o sorriso de Sarah imediatamente desaparece. Eu saio de perto da janela e ando at ela. No saber de nada est me matando eu digo, movendo a cabea. Eu no sei o que fazer. - Sarah toca meu rosto, tentando me consolar. Pelo menos sabemos que eles no vo machucar Ella. No se o que voc viu na viso for verdade. Eu sei eu digo, suspirando. Eles vo fazer uma lavagem cerebral nela e transforma-la em uma traidora, como... Eu paro, pensando no restante dos nossos amigos desaparecidos e no traidor com viajou com eles. Ainda no sabemos nada de Seis e dos outros, no que haja uma maneira fcil deles se comunicarem conosco. Todas as Arcas deles esto aqui e, presumindo que eles poderiam tentar nos encontrar pelos mtodos tradicionais, eles no teriam nenhuma pista para tentar nos encontrar, j que tivemos que fugir de Chicago. A nica coisa que eu tenho certeza que eu tenho uma cicatriz fresca na minha perna, a quarta delas. No di mais, mas parece um peso que tenho que carregar. Se a Garde tivesse se mantida separada, se ns tivssemos mantido o feitio intacto, essa quarta cicatriz significaria a minha morte. Ao invs disso, um dos meus amigos foi morto na Flrida, e eu no sei como, ou quem, ou o que aconteceu com o restante deles. Eu sinto nas minhas entranhas que Cinco ainda est vivo. Eu o vi na viso de Ella, ao lado de Setrkus Ra, um traidor. Ele deve ter levado os outros para uma armadilha, e agora um deles no vai voltar. Seis, Marina, Oito, Nove um deles se foi. Sarah entrelaa seus dedos com os meus, massageando-os, tentando aliviar um pouco a tenso. Eu no consigo parar de pensar nas coisas que eu vi na viso... eu comeo Ns perdemos, Sarah. E agora me parece que est acontecendo de verdade. Como se esse fosse o comeo do fim. Aquilo no significa nada e voc sabe disso Sarah responde. Olhe para Oito. No havia um tipo de profecia de morte sobre ele? E ele sobreviveu. Eu franzo as sobrancelhas, no percebendo o bvio, de que Oito pode ter sido o que morreu na Flrida.

  • A VINGANA DOS SETE

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    Eu sei que parece mesmo Sarah continua e, quero dizer, a situao est ruim John. Obviamente. Motivador. Ela aperta minha mo, bem forte, e olha para mim com um olhar dizendo cale a boca. Mas aqueles que foram para a Flrida so Gardes ela diz. Eles vo lutar, eles vo continuar lutando e vo vencer. Voc tem que acreditar, John. Quando voc estava em estado de coma em Chicago, ns nunca desistimos de voc. Ns continuamos a lutar e valeu a pena. Quando pareceu que ns tnhamos perdidos, voc nos salvou. Eu penso no estado em que meus amigos estavam quando eu finalmente acordei do coma em Chicago. Malcolm estava ferido, beirando a morte e Sarah estava bem machucada, Sam estava quase sem munio e Bernie Kosar desaparecido. Eles fizeram de tudo por mim. Vocs me salvaram primeiro eu respondo. Sim, obviamente. Ento retorne o favor e salve nosso planeta. A maneira com que ela disse, como se no fosse nada, me faz sorrir. Eu abrao Sarah e depois a beijo. Eu amo voc, Sarah Hart. Eu te amo tambm, John Smith. Hum, eu amo vocs, tambm... Sarah e eu nos viramos para ver Sam parado no vo da porta, com um sorriso estranho no rosto. Enrolado em seus braos h um gato laranja enorme, um dos seis Chimaeras que nosso novo amigo Mogadoriano trouxe com ele, que foram chamados at ns, pelos uivos de Bernie Kosar no telhado. Aparentemente, a vareta que Bernie Kosar pegou da Arca de Oito era algum tipo de totem de Chimaeras, usado para gui-los at ns, como um apito canino lrico. Ficamos bem atentos na estrada no nosso caminho at Baltimore, para termos certeza de que no estvamos sendo seguidos. A viagem na van lotada nos deu muito tempo para escolhermos os nomes dos nossos novos aliados. Essa Chimaera em particular, preferiu a forma de um gato corpulento, e Sam insistiu para que o chamssemos de Stanley, em honra do velho ego de Nove. Se ele ainda estiver vivo, eu tenho certeza de que Nove no vai se sentir ameaado por ter um gato gordo com uma afeio bvia por Sam nomeado em sua homenagem. Desculpe - diz Sam, eu interrompi o momento? Na verdade no Sarah diz, esticando um dos braos para Sam Abrao em grupo? Talvez mais tarde Sam diz, olhando para mim. Os outros chegaram e esto arrumando as coisas l em baixo. - Eu assinto, relutantemente deixando Sarah e andando at a mochila que est com nossos suprimentos. Eles tiveram algum problema? - Sam diz que no com a cabea.

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    Eles tiveram que se contentar com apenas dois geradores, no havia dinheiro para comprar coisa melhor. De qualquer jeito, deve haver o suficiente. E sobre a vigilncia? eu pergunto, tirando o tablet branco localizador e seu cabo da mochila. Adam disse que ele no viu Mogs escolteiros Sam responde. Bem, melhor do que ningum, ele saberia como encontr-los Sarah acrescenta. Verdade eu digo desconfiado, ainda no acreditando nesse Mogadoriano bonzinho, mesmo tudo o que ele tem feito desde que chegou a Chicago foi nos ajudar. Mesmo agora, com ele e Malcolm instalando nossos novos aparelhos eletrnicos no primeiro andar da fbrica, eu tenho uma sensao de mal-estar por ter um deles to perto. Eu tento esquecer isso. Vamos. Ns seguimos Sam por uma escada em espiral enferrujada, que leva para o primeiro andar da fbrica. O lugar deve ter sido fechado s pressas, porque ainda h prateleiras mofadas, com roupas masculinas dos anos oitenta penduradas nas paredes e caixas quase cheias de capas de chuva abandonadas. Um Chimaera em forma de um retriever que Sarah insistiu para que chamssemos de Biscoito est em nosso caminho, seus dentes cerrados em uma manga de terno rasgada, em meio a uma briga com Areal, o husky de pelo cinzento. Outro Chimaera, Gamera, o qual Malcolm nomeou depois de um filme antigo de monstros, rola atrs dos outros, mas com dificuldade de se manter na sua forma de tartaruga. Os outros dois Chimaeras um falco que nomeamos de Regal e um guaxinim que chamamos de Bandit assistem a briga de cima das capas de chuva. um alvio v-los brincando. Os Chimaeras no estavam na melhor forma quando Adam os liberou dos experimentos Mogadorianos, e eles ainda no estavam muito bem quando Adam os levou para Chicago. Demorou, mas eu consegui cur-los com meu Legado de cura. Havia alguma coisa dentro delas, alguma coisa Mogadoriana, que na verdade estava lutando contra meus poderes. At fez meu Lmen brilhar intensamente, algo que nunca aconteceu antes enquanto usava meu Legado de cura. Finalmente, o que quer que os Mogs tenham feito foi lavado pelo meu Legado. Eu nunca havia usado meu Legado de cura em uma Chimaera antes daquela noite. Por sorte, funcionou, porque havia uma Chimaera em estado mais grave do que todos os nossos novos amigos. Voc viu BK? eu pergunto a Sam, procurando por ele na sala. Eu o encontrei no telhado do John Hancock Center, perfurado por uma espada Mogadoriana e estava beira da morte. Eu usei meu Legado de cura nele, rezando para que funcionasse. Mesmo que ele esteja melhor agora, eu ainda tenho mantido um olhar extra nele, provavelmente porque o destino de muitos dos meus outros amigos desconhecido. Ali Sam me responde, apontando.

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    Em um canto no fim da outra sala, contra uma parede coberta com faixas feitas de grafite, est um trio de mquinas de lavar roupa industriais, transbordando em pilhas com calas na cor caqui. E no topo de uma dessas pilhas que Bernie Kosar descansa, as brincadeiras de Biscoito e Areal parece ter cansado ele. Apesar dos meus esforos, ele ainda est fraco da luta em Chicago ele est sem alguns pedaos de uma de suas orelhas mas com minha telepatia animal eu posso sentir uma espcie de contentamento que emana dele enquanto ele observa as outras Chimaeras. Quando BK nos v entrar, seu rabo batendo levanta uma nuvem de poeira da pilha de roupas. Sam coloca Stanley no cho, e o gato vai at a pilha de roupas com BK, se acomodando no que eu acho que designaria como uma zona de cochilo para Chimaeras. Nunca pensei que eu teria minha prpria Chimaera Sam diz, muito menos meia dzia delas. E eu nunca pensei que estaria lutando junto com um deles eu respondo, meu olhar parando em direo a Adam. No centro do primeiro andar da fbrica, bancadas siderrgicas esto aparafusadas no cho. O pai do Sam, Malcolm, e Adam esto instalando os computadores que eles acabaram de comprar, pela troca de algumas das minhas pedras Lricas. Porque no h eletricidade nessa fbrica, eles tiveram que comprar alguns pequenos geradores bateria para o trio de notebooks e do roteador mvel. Eu observo Adam ligando uma das baterias sua pele plida, seu cabelo preto liso e suas expresses que faz com que ele parea mais humano do que os Mogadorianos comuns me fazendo lembrar de que est do nosso lado. Sam e Malcolm parecem acreditar nele, alm disso, ele tem um Legado, o poder de criar terremotos, o qual ele herdou da Um. Se eu no tivesse o visto usar o Legado com meus prprios olhos, eu no tenho certeza se diria que fosse possvel. Parte de mim quer acreditar, talvez at precise acreditar, de que um Mog no seria capaz de roubar um Legado, de que ele vale a pena, de que tudo isso aconteceu por algum motivo. Olhe isso Sam diz, abaixando o tom de voz enquanto andamos em direo aos outros. Humanos, Lorienos, Mogadorianos... ns temos tipo a primeira reunio da Nao Unida Intergalctica bem aqui. histrico. Eu assinto e vou at o notebook que Adam acabou de ligar. Ele olha para mim e deve ter percebido alguma coisa talvez eu no seja bom em esconder meus conflitos internos porque ele olha para baixo e da um passo para o lado, abrindo espao para que eu possa me dirigir at o outro notebook. Ele mantm os olhos fixos na tela, digitando rapidamente. Como est indo? eu pergunto. Temos quase todos os equipamentos que precisamos Malcolm responde enquanto ele trabalha com um roteador sem fio. Mesmo com sua barba comeando a ficar despenteada, Malcolm parece mais saudvel do que da primeira vez que eu o vi. Alguma coisa aconteceu aqui?

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    Nada eu digo, mexendo a cabea. Seria um milagre se os Gardes na Flrida conseguissem nos rastrear. E Ella... eu continuo esperando que sua voz aparea na minha cabea e vai me dizer para onde a levaram, mas ela no fez contato. Pelo menos, ns iremos saber onde os outros esto assim que ligarmos o tablet Sarah diz. Com os equipamentos que compramos, eu acho que posso invadir o sistema de telefonia do John Hancock Center Malcolm sugestiona. Assim, se eles tentarem ligar da rua, ns podemos interceptar a chamada. tima ideia eu respondo, conectando o cabo branco do tablet no notebook e esperando ele iniciar. - Malcolm puxa seus culos at a ponta do nariz e pigarreia. Foi ideia do Adam, na verdade. Oh eu respondo, mantendo meu tom de voz usual. Essa uma excelente ideia Sarah interfere. Ela est de p ao lado de Malcolm e comea a trabalhar no terceiro notebook, me lanando um olhar para que eu diga alguma coisa legal para o Adam. Quando eu no digo, um silncio estranho paira no ar no meio do grupo. Houve muito desses desde que samos de Chicago. Antes que fique mais estranho, o tablet liga. Sam espia pelo meu ombro. Eles ainda esto na Flrida ele diz. H um ponto solitrio mostrado no mapa do tablet, piscando na Costa Leste, e ento h quilmetros de distncia esto os pontos que representam os outros Gardes sobreviventes. Trs dos pontos esto juntos, basicamente se juntando e formando um nico ponto, enquanto o quarto est em uma distncia curta. Imediatamente, coisas sobre este quarto ponto comeam a aparecer na minha cabea. Um dos nossos amigos foi capturado? Eles tiveram que se separar depois que foram atacados? Esse ponto separado o que representa o Cinco? Isso prova que ele um traidor, como na minha viso? Eu estou distrado com estes pensamentos quando um quinto ponto comea a pulsar, literalmente acima do oceano, bem distante dos outros. Esse quinto flutua sobre o Oceano Pacfico, e este daqui no brilha como os outros, meio obscuro. Esse deve ser Ella eu digo, franzindo a testa. Mas como... Mas antes que eu consiga terminar minha pergunta, o ponto de Ella pisca e desaparece. Um segundo depois, antes mesmo que eu consiga processar me pnico, ele reaparece flutuando sobre a Austrlia. Que diabos? Sam pergunta, encarando a tela sobre meus ombros. Est se movendo muito rpido eu digo. Talvez eles estejam a teleportando para algum lugar. O ponto desaparece de novo, e ento reaparece impossivelmente sobre a Antrtica, perto da borda da tela do tablet. Nos prximos segundos, ele pisca,

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    desaparecendo e reaparecendo no mesmo lugar, piscando no mapa. Eu bato na lateral do tablet com frustrao. Eles esto interferindo no sinal de alguma maneira eu digo. No temos como encontr-la enquanto isso estiver assim. - Sam aponta para os outros pontos na Flrida. Se eles fossem machucar Ella, j no teriam feito isso? Setrkus Ra a quer Sarah diz, olhando para mim. Eu contei tudo pra ela sobre a cena do pesadelo que tive em Washington D.C., de ela reinando ao lado de Setrkus Ra. Ainda difcil para qualquer um de ns acreditar, mas pelo menos nos da uma vantagem. Ns sabemos o que Setrkus Ra quer. Eu odeio ter que deixar ela sozinha eu digo, sombriamente. Mas eu no acredito que ele ir machuc-la. No ainda, pelo menos. Pelo menos ns sabemos onde os outros esto Sam insiste. Precisamos ir at eles antes que algum... Sam est certo eu decido, sendo impulsionado pelo sentimento de que um daqueles pontos pode desaparecer a qualquer momento. Talvez eles precisem de nossa ajuda. Eu acho que isso seria um grande erro Adam diz. Sua voz tentadora, mas ele ainda tem a aspereza na voz como a de um Mogadoriano, o que me faz cerrar os punhos, um reflexo. No estou acostumado a ter um deles por perto. Eu posso sentir minha mandbula se mover, tentando formar uma resposta, mas o que eu mais quero dar um soco na cara dele. Estou prestes a dar um passo a frente quando Sam pe uma mo no meu ombro. Devagar Sam diz, falando baixo. Voc quer que a gente se sente e faa nada? eu pergunto para o Adam, tentando manter a calma. Eu sei que eu deveria ouvi-lo, mas toda essa situao est me deixando sem escolhas. E como eu devo aceitar um conselho de um cara cuja espcie tem me caado durante a vida toda? Claro que no Adam responde, olhando para mim com aqueles olhos cor de carvo que os Mogadorianos tm. Ento o que? eu digo. Me d um bom motivo de que eu no deva ir para a Flrida. Eu vou te dar dois motivos Adam responde. Primeiro, se o resto da Garde est em perigo ou foi capturada como voc suspeita, ento a sobrevivncia deles est atraindo voc. Eles esto sendo teis apenas como iscas. Voc est dizendo que pode ser uma armadilha? eu pergunto, entre os dentes. Se eles foram capturados, ento sim, claro que uma armadilha. Por outro lado, se eles esto livres, o que sua interveno heroica ir fazer? Eles no so treinados perfeitamente e super capazes de se cuidarem para no entrarem em problemas?

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    O que eu posso dizer em resposta? No? Seis e Nove, provavelmente as duas pessoas mais duronas que eu conheo, no so capazes de nos rastrearem e sair da Flrida? Mas e se eles esto esperando que por ns para serem resgatados? Eu mexo a cabea, ainda com aquela sensao de querer estrangular Adam. Ento, o que devemos fazer no meio tempo? eu pergunto a ele. Apenas sentar e esperar por eles? No podemos fazer isso Sam interfere. No podemos abandon-los. Eles no tm como nos encontrar. Adam vira seu notebook para que eu possa ver a tela. Entre sequestrar Ella e matar um Garde na Flrida, meu povo ir acreditar que eles tm vocs na linha de tiro novamente. Eles no vo esperar um contra ataque. No notebook, Adam tm imagens de satlite de um subrbio extenso. Parece um condomnio totalmente genrico e rico. Quando eu olho mais de perto, eu percebo um nmero paranoico de cmeras de segurana instaladas na parede de pedra que cerca a propriedade inteira. Esta Ashwood Estates, um pouco fora de Washington D.C. Adam continua, a casa da maioria dos lderes Mogadorianos mais poderosos da Amrica do Norte. Com a Ilha da Ameixa destruda e as Chimaeras recuperadas, eu acho que devemos focar nosso ataque aqui. E a base na montanha em West Virginia? eu pergunto. Adam mexe a cabea. Est apenas uma instalao militar, mantida fora de vista para que as foras do meu povo possa se instalar l. Ns teramos dificuldade para derrub-la agora. E, de qualquer jeito, o poder real, os Mogadorianos trueborn, os lderes, eles esto dentro de Ashwood. - Malcolm pigarreia. Eu tentei compreender tudo o que voc me disse sobre os trueborn, Adam. Talvez seja melhor que voc explique, no? - Adam olha ao redor, um pouco apreensivo. Eu no sei por onde comear. Voc pode pular a parte toda sobre reproduo Mogadoriana Sam diz, e eu solto um sorriso. Tem a ver com as linhagens, certo? eu digo, perguntando a ele. Sim. Os trueborn so os de linhagem pura. Mogadorianos nascidos de Mogadorianos. Como eu Adam diz, um pouco inquieto. O motivo por ele ser de linhagem pura no o orgulha. Os outros, vatborn, so os soldados que vocs tm lutado com mais frequncia. Eles no nascem, mas brotam, graas cincia de Setrkus Ra. por isso que eles desintegram? Sarah pergunta. Por que eles no so, tipo, Mogadorianos de verdade? Eles foram criados para combate, no para serem enterrados. Adam responde.

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    No parece muito com uma vida eu digo. Vocs Mogadorianos louvam Setrkus Ra por isso? De acordo com as histrias contidas no Grande Livro, nosso povo estava morrendo antes do nosso, ento chamado Amado Lder, chegar. Os vatborn e as pesquisas genticas de Setrkus Ra salvaram a nossa espcie. Adam pausa, uma careta se forma enquanto ele pensa sobre isso. Claro, Setrkus Ra foi quem escreveu o Grande Livro, ento quem sabe. Fascinante Malcolm diz. Sim, definitivamente, ouvi demais sobre os Mogadorianos do que jamais quis eu digo, me virando para o notebook. Se este lugar abriga os lderes mais poderosos dos Mogs, ele no estaria fortemente guardado? Haver guardas, claro, mas nada que faria diferena ele responde. Voc precisa entender que meu povo se sente seguro ali. Eles esto acostumados a serem os caadores, no os caados. Ento o que? eu continuo. Vamos matar alguns dos trueborn Mogs e isso? Que diferena isso faria? Qualquer perda dentre os lderes trueborn ter impacto nas operaes Mogadorianas. Os vatborn no so particularmente bons em se comandarem Adam traa um dedo atravs dos jardins imaculados de Ashwood Estates Alm disso, h muitos tneis abaixo destas casas. - Malcolm anda at o nosso lado da mesa, cruzando os braos e olhando para as imagens. Pensei que voc havia destrudo aqueles tneis, Adam. Eu os danifiquei muito, sim Adam responde. Mas eles vo muito alm das salas das quais estvamos. At eu no tenho muita certeza do que poderamos encontrar l. - Sam olha de Adam para seu pai. l onde...? onde eles me prenderam Malcolm responde. Onde eles roubaram minhas memrias. E onde Adam me resgatou. possvel que possamos restaurar suas memrias Adam diz, parecendo ansioso para ajudar Malcolm. Se o equipamento no tiver sido danificado demais. O que Adam est dizendo faz sentido, mas eu no consigo admitir. Eu passei minha vida toda me escondendo e fugindo dos Mogadorianos, lutando contra eles, matando eles. Eles tiraram tudo de mim. E agora, aqui estou eu, fazendo planos de batalha ao lado deles. No me parece certo. Sem mencionar que estamos pensando em um ataque frontal num complexo Mogadoriano com nenhum dos outros Gardes por perto. Como se tivesse uma soluo, Areal se aproxima e se senta perto dos ps de Adam. Ele se abaixa e acaricia as orelhas do animal. Se os Chimaeras confiam nele, eu no deveria tambm? O que quer que encontremos estes tneis Adam continua, provavelmente sabendo que no me convenceu tenho certeza de que ir fornecer informaes valiosas sobre o plano deles. Se os seus amigos foram

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    capturados ou esto sendo seguidos, ns saberemos com certeza quando acessarmos os sistemas Mogadorianos. E se um deles morrer enquanto estivermos nessa misso que voc sugere? Sam pergunta, sua voz insegura em relao ao pensamento. E se eles morrerem porque no foram resgatados por ns quando tivemos a chance? - Adam pausa, pensando na resposta. Eu sei que isso deve ser difcil para vocs ele diz, olhando para mim e depois para Sam. Eu admito, um risco calculvel. Risco calculvel eu repito. de nossos amigos que voc est falando. Sim Adam responde. E eu estou tentando mant-los vivos. Logicamente, eu sei que Adam realmente est nos tentando ajudar. Mas estou estressado, eu fui ensinado para no acreditar na raa dele. Antes de perceber o que estou fazendo, eu dou um passo a frente e aponto meu dedo para o peito dele. melhor que isso funcione eu digo. E se alguma coisa acontecer na Flrida... Eu me responsabilizo ele responde. Poder me culpar. Se eu estiver errado John, voc pode me transformar em cinzas. Se voc estiver errado, eu provavelmente no precisarei eu digo, olhando nos olhos ele. Adam no desvia o olhar. Sarah assobia alto, chamando a ateno de todos. Se puderem colocar essa postura de macho de lado por um segundo, eu acho que vocs iriam querer dar uma olhada nisso. Eu dou a volta por trs de Adam, me dizendo para acalmar, e olho por cima do ombro de Sarah para um site que ela mostra. Eu estava procurando por novas notcias sobre Chicago e isso apareceu ela explica. um site muito estranho, exceto pelas manchetes em letras maisculas e vrias GIFs de discos-voadores flutuando nas opes laterais. As histrias listadas como Mais Populares, todos os links em um verde neon que eu acho que era para parecer aliengena, inclui: o debilitamento do governo mogadoriano e os protetores terrqueos dos lorienos comeam

    a se esconder. A pgina que Sarah abriu tem fotos novas do incndio no John Hancock Center junto com uma manchete: ataque mogadoriano em Chicago: chegou a hora?

    O site se chama Eles Esto Entre Ns. Jesus Sam grunhe, se juntando a mim e olhando para o computador. No so bobagens. O que isso? eu pergunto para Sarah, apontando para a histria na tela.

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    Essas caras costumavam estritamente usar o estilo preto-e-branco das antigas Sam diz. Agora eles esto na internet? Eu no consigo decidir se isso os fazem melhor ou pior. Os Mogs mataram eles eu digo. Como que isso existe? Eu acho que h um novo editor Sarah diz. Vejam s. Sarah clica nos arquivos do site, procurando a primeira notcia que foi postada desde a criao. A manchete diz o ataque na paradise high school o comeo de uma invaso aliengena. Abaixo h uma foto tirada com um celular que mostra o redor do campo de futebol destrudo. Eu rapidamente leio o artigo. O nvel das informaes chocante. Quem quer que seja o autor disso esteve conosco l. Quem JOLLYROGER182? eu pergunto, olhando para o nome do criador da postagem. Sarah olha para mim com um sorriso estranho, misturando com alguma coisa que parece ser orgulho. Vocs vo achar que eu sou louca ela diz. O que Jolly Roger, afinal? Sam pergunta, pensando alto. A bandeira dos piratas? Sim Sarah responde. Como os Piratas da Paradise High. Quem ex-quarterback fora do time que sabe tudo o que aconteceu na escola? - Eu abro meus olhos, encarando Sarah. No pode ser. Sim, pode ser - ela responde. Eu acho que JOLLYROGER182 o Mark James.

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    ACREDITA-SE QUE MOGADORIANOS, JUNTAMENTE COM SEUS comparsas corruptos da segurana nacional, travaram uma batalha no Novo Mxico contra a heroica Garde Sam l em voz alta. Minhas fontes acreditam que os Mogadorianos foram forados a recuarem aps seu lder ter ficado ferido. A localidade do restante da Garde desconhecida. Ele est com o pote de ouro Malcolm diz, se virando para mim. Mas onde ele est conseguindo estas informaes? No fao ideia eu respondo. No mantemos contato depois que samos de Paradise. Eu me inclino sobre o ombro de Sam para conferir a prxima histria. Estou perplexo com o tanto de informaes que Mark James ou quem quer que seja postou no Eles Esto Entre Ns. H detalhes da nossa batalha na Base de Dulce, especulaes sobre a batalha em Chicago, textos assustadores sobre como a aparncia dos Mogadorianos e do que eles so capazes, e posts reunindo a humanidade para apoiar os Lorienos. H tambm artigos expondo tpicos que eu nunca considerei, mesmo alguns sobre quais os membros do governo dos EUA est do lado dos Mogadorianos.

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    Sam clica na postagem onde Mark acusa o secretrio de defesa, um homem chamado Bud Sanderson, de usar sua influncia poltica para pavimentar o caminho para uma invaso Mogadoriana. Outro clique fornece outra postagem sobre Sanderson, uma com a manchete amigvel secretrio de defesa corrupto usa tratamentos genticos mogadorianos.

    A postagem est anexada a uma imagem de Sanderson de cinco anos atrs justaposta com uma dele de alguns meses atrs. Na primeira, Sanderson parece um homem abatido nos seus setenta anos seu rosto com rugas e com um queixo duplo e uma pana ngreme. Na segunda, ele perdeu muito peso e tem um brilho saudvel e uma cabea cheia de cabelos brancos. quase como se ele tivesse viajado no tempo. De fato, eu aposto que muitas pessoas diriam que a foto um boato, como se a foto fosse de Sanderson de vinte anos atrs com uma maquiagem falsa. Mas se voc ler as palavras de Mark, alguma coisa definitivamente mudou com o secretrio de defesa alguma coisa muito alm de uma dieta e exerccios, ou at mesmo cirurgia plstica. Sam mexe a cabea, no acreditando. Como Mark, possivelmente pode saber disso? Quero dizer, Sarah, voc saiu com ele. Ele sabe ler, pelo menos? Sim, Sam Sarah responde, rolando os olhos. Mark podia ler. Mas ele nunca, uh, foi de ver as notcias, n? Isso como o WikiLeaks aqui. As pessoas tendem a mudar quando elas descobrem que aliengenas so reais Sarah responde. me parece que ele est tentando ajudar. No temos certeza de que o Mark eu digo, franzindo a testa. Eu olho para o Adam. Ele est quieto desde que comeamos a explorar o site do Eles Esto Entre Ns, nos ouvindo com a mo apoiada no queixo, pensativo. Isso poderia ser algum tipo de armadilha? eu pergunto para ele, imaginando que ele o melhor que pode responder. Claro que sim ele diz sem hesitar. Embora seja, uma muito elaborada. E, mesmo que para atrair vocs, eu acho muito difcil de acreditar que Setrkus Ra admitira que foi carregado para fora da Base de Dulce machucado. verdade? Malcolm pergunta. O que ele escreveu sobre o secretrio de defesa? Eu no sei Adam responde. Pode muito bem ser verdade. Eu vou mandar um email para ele Sarah anuncia, abrindo uma nova aba do navegador. Espera a Adam diz rapidamente, com mais educao do que quando ele bateu contra minha ideia de tentar resgatar os outros. Se esse Mark realmente tem acesso a todas essas informaes secretas - Sam ri. meu povo vai estar com certeza monitorando todos os meios de comunicao Adam conclui, levantando uma sobrancelha para Sam. Ele volta para Sarah. Eles

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    definitivamente esto monitorando seu email tambm. - Sarah leva as mos para longe do teclado devagar. Voc no pode fazer nada a respeito disso? Eu sei como o rastreamento ciberntico deles funciona. Foi uma coisa que eu... me destaquei durante o meu treinamento. Eu poderia escrever um cdigo de criptografia, redirecionar o nosso endereo de IP atravs de servidores em diferentes cidades Adam se vira para mim, como se ele quisesse pedir permisso Porm eles vo desvendar-nos. Teremos que sair deste lugar dentro de vinte e quatro horas para estarmos seguros. Faa eu digo a ele. Melhor assim, pelo menos continuaremos a nos mover. - Adam imediatamente comea a digitar comandos no notebook. Sam esfrega as mos e se inclina sobre o ombro de Adam. Voc deveria redirecionar para os lugares mais loucos o possvel. Faa com que eles pensem que Sarah est na Rssia ou coisa assim. Considere feito. - Adam sorri. Demora mais ou menos vinte minutos para Adam criar o cdigo que vai redirecionar o endereo de IP para doze lugares distantes diferentes. Eu penso no sistema complexo que Henri tinha nos seus computares e nos, ainda mais complicados, que Sandor criou em Chicago. Ento, eu imagino uma centena de Mogadorianos, como Adam, debruados sobre teclados, nos espreitando. Eu sempre pensei que ramos cheios de paranias, mas ver o trabalho de Adam me faz finalmente perceber o quo necessrio era. Whoa! Sarah diz, quando finalmente consegue abrir seu e-mail. A lista de mensagens em negrito que no foram lidas na caixa de entrada consiste em muitas mensagens de Mark James. realmente ele. Ou os Mogs invadiram o e-mail dele Sam sugestiona. Duvido Adam responde. Meu povo minucioso, com certeza, mas isso parece... demais. Eu olho para o assunto dos e-mails muitos pontos de exclamao e letras maisculas. Alguns meses atrs a ideia de Mark James spammando o e-mail da minha namorada me deixaria louco, mas agora parece que nossa rivalidade algo que aconteceu com outra pessoa, alguma coisa de uma outra vida. Quando foi a ltima vez que voc checou isto? eu pergunto. Semanas atrs? Eu no me lembro, na verdade Sarah responde. Estive um pouco ocupada. Ela abre o e-mail mais recente de Mark e todos nos examinamos o contedo: Sarah Eu no sei por que continuo a enviar estes e-mails. Parte de mim espera que voc esteja os lendo, usando eles para ajudar os Lorienos, e que no pode responder por sua segurana. Mas outra parte de mim se

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    preocupa que voc nem est por a, de que voc foi embora. Eu me recuso a acreditar nisso, mas... Eu preciso ouvir isso de voc. Eu pensei que eu tinha uma pista sua no Novo Mxico. Mas tudo o que eu encontrei l foi uma base militar deserta. Pareceu-me que uma batalha enorme ocorreu l. Muito maior do que a aconteceu em Paradise. Eu espero que vocs estejam salvos. Eu espero muito que eu no seja o nico que sobrou para lutar contra esses idiotas. Isso seria uma merda. Um amigo meu arrumou uma casa segura para mim. Fora do campo de batalha. Um lugar onde podemos trabalhar e expor aquelas aberraes de pele plida para o mundo. Se voc puder entrar em contato, eu vou encontrar uma maneira de te enviar as coordenadas. Estamos trabalhando em algo grande. Algo internacional. Eu no sei nem o que fazer com isso. Se voc estiver lendo isso, se ainda estiver em contato com John, agora seria uma tima hora para vocs aparecerem. Preciso da ajuda de vocs. - Mark Sarah se vira para mim, seus olhos arregalados com uma paixo repentina, o rosto com uma expresso de determinao eu j vi esse olhar antes, conheo bem. o olhar que ela sempre me d antes de dizer que quer fazer alguma coisa perigosa. Sem mesmo ela dizer nada, eu j sei que Sarah quer encontrar Mark James.

    O relgio do painel marca 7:45. Temos quinze minutos antes de o nibus sair para o Alabama. Eu tenho quinze minutos restantes com Sarah Hart. Quinze minutos foi mais ou menos o tempo que levou para Adam criptografar o e-mail de Sarah contra os hackers Mogadorianos. Ela enviou uma pequena mensagem de Mark, quem respondeu quase que imediatamente com um endereo de um restaurante em Huntsville. Ele disse para Sarah que vai vigiar o lugar pelos prximos dias e, se ela fosse realmente a Sarah Hart, ele a pegaria l e a levaria para seu esconderijo. Pelo menos Mark est sendo cuidadoso, eu penso. Isso me d a confiana que Sarah estar segura. Depois da breve comunicao, Adam imediatamente apagou as duas contas de e-mail utilizadas, da internet. Agora, estamos aqui. Estamos estacionados na frente do terminal de nibus de Baltimore, o lugar est movimentado mesmo estando perto do pr do sol. Estou atrs do volante, Sarah est sentada no banco de passageiro ao meu lado. Estamos aqui dentro, sendo apenas dois adolescentes sentados em um carro barato, no meio de uma despedida.

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    Eu ainda estou esperando pela parte onde voc tenta me convencer a no ir Sarah diz, com seu sorriso triste. Voc diria que perigoso demais, discutiramos, voc perderia e eu acabaria indo de qualquer forma. perigoso eu respondo, me virando para que eu possa ver o rosto dela e eu no quero que voc v. bem isso. Ela segura minha mo, cruzando seus dedos com os meus. Com minha outra mo, eu passo meus dedos em seus cabelos, deixando-os descansar gentilmente atrs de seu pescoo. Eu a trago para mais perto de mim. Mas no mais perigoso do que ficar aqui comigo eu termino. Esse o John superprotetor que eu conheo e amo ela responde. Eu no sou - eu comeo a protestar, mas eu me interrompo quando eu vejo o sorriso provocador que est no rosto dela. Essas despedidas nunca se tornam mais fceis, n? - Eu mexo minha cabea. No. Elas realmente nunca ficam mais fceis. Ficamos em silncio, apertando a mo um do outro, observando os minutos no relgio do painel ir se mudando devagar. De volta a fabrica txtil, no tivemos que ter uma grande discusso sobre Sarah ir encontrar o Mark James. Todos pareceram concordar que era a coisa certa a se fazer. Se Mark realmente conseguiu adquirir informaes cruciais sobre os Mogadorianos, e se ele est arriscando sua vida para nos ajudar, ento precisamos retribuir o favor. Mas o resto da Garde ainda est desaparecida. E o plano do Adam para invadir a fortaleza Mogadoriana de DC me parece cada vez mais a coisa certa, uma invaso necessria para juntar informaes e para mostrar para aqueles Mogs que ainda estamos na guerra. H muitas coisas acontecendo conosco para colocarmos toda nossa confiana de recursos apenas de Mark. Sarah se voluntariou. Claro, mand-la sozinha para uma misso potencialmente perigosa envolvendo o seu ex-namorado no exatamente minha ideia favorita. Mas eu no posso evitar a sensao de que no futuro que eu vi na viso de Ella est se aproximando de ns. Precisamos de toda a ajuda que conseguirmos. Se houver uma mnima possibilidade de que enviar Sarah para o Alabama para que isso possa nos ajudar a vencer a guerra, essa chance tem que ser agarrada, ignorando meus sentimentos de egosmo. E de qualquer jeito, ela no estar totalmente sozinha nessa viagem. No banco de trs, Bernie Kosar est em p com as patas contra a janela fechada, com o rabo abanando furiosamente enquanto ele observa as pessoas entrarem e sarem da estao. Meu velho amigo pareceu bem esgotado aps a batalha em Chicago, mas a sua energia voltou quando pegamos a estrada. Uma vez, em Paradise, ele foi meu protetor. Agora ele far o mesmo por Sarah.

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    Eu no quero que voc me pense em mim como sua namorada agora Sarah diz rompendo o silncio, totalmente recomposta. Eu me inclino de volta, olhando para ela. Isso vai ser difcil para mim. Eu quero que voc pense em mim como um soldado ela persiste. Um soldado nesta guerra que est fazendo o que precisa ser feito. Eu no tenho certeza o que eu vou encontrar quando eu chegar ao sul, mas eu tenho esta estranha sensao de que eu vou poder te ajudar melhor de l. E pelo menos, quando as batalhas chegarem, eu no vou estar por perto para te atrasar. Voc no me atrasa eu insisto, mas Sarah movimenta as mos me ignorando. Est tudo bem, John. Eu quero estar com voc. Eu quero ver que voc est bem, eu quero ver voc ganhar. Mas no so todos os soldados que podem ficar na linha de frente, entende? Alguns so melhores quando esto longe da ao. Sarah... Eu tenho um celular ela continua, apontando para a mochila aos seus ps. Dentro ela tem a disposio um celular que Malcolm comprou, junto com algumas trocas de roupas e uma arma. Eu vou chec-lo a cada oito horas. Mas se eu no conseguir, voc tem que seguir em frente, tem que continuar. Eu sei o que ela est tentando fazer. Sarah no me quer correndo para o Alabama se ela se esquecer de fazer uma das checagens. Ela quer que eu mantenha minha mente no jogo. Talvez ela tenha razo de que ns estamos perto do fim desta luta, ou pelo menos estamos dando um passo sem retorno. Sarah olha para meus olhos. Isso muito maior que ns, John. Maior que ns eu repito, sabendo que verdade e querendo lutar contra. Eu no quero perd-la, e eu no quero dizer adeus. Mas eu tenho. Eu olho para nossas mos unidas e me lembro de quo simples as coisas eram, pelo menos naquele tempo, quando nos mudados para Paradise. Voc sabia que, a primeira vez que minha telecinese se manifestou foi durante o jantar de Ao de Graas na sua casa? Voc nunca me disse isso Sarah responde, franzindo as sobrancelhas, incerta por qual motivo estou ficando sentimental de repente. A comida da minha me te inspirou? - Eu sorrio. Eu no sei. Talvez. Mas aquela foi a mesma noite que Henri foi at a casa onde trabalhava a equipe original do Eles Esto Entre Ns, junto com os Mogadorianos que estavam usando eles. Depois, ele queria deixar Paradise, e eu recusei. Na verdade, eu no apenas recusei, como usei minha telecinese para pression-lo contra o teto. Parece muito o seu tipo Sarah diz, mexendo a cabea e sorrindo. Teimoso.

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    Eu disse a ele que no poderia voltar a viver fugindo. No depois de Paradise. E de voc. Oh, John... Sarah pe sua testa contra meu peito. Eu costumava pensar que essa guerra no valeria a pena lutar se eu no pudesse estar ao seu lado eu digo a ela, gentilmente levantando seu queixo. Mas agora, depois de tudo o que aconteceu, depois de tudo que vi, eu percebo que estou lutando pelo futuro. Nosso futuro. O relgio no painel est agora incrivelmente imperceptvel aos meus olhos. Faltam apenas cinco minutos. Eu foco em Sarah, desejando ter um Legado que eu pudesse congelar o tempo, ou guardar este momento. Lgrimas escorrem nas bochechas dela, e eu as limpo com meus dedos. Ela pe sua mo sobre a minha, apertando forte, e eu posso dizer que ela est tentando se conter. Ela respira fundo, e luta contra mais lgrimas. Eu tenho que ir, John. Eu confio em voc eu sussurro urgentemente. No s em encontrar Mark. Se as coisas ficarem ruins, eu confio em voc se manter viva. Eu confio em voc voltar viva para mim. Sarah agarra minha camisa e me puxa. Eu sinto suas lgrimas no meu peito. Eu tento esquecer tudo meus amigos desaparecidos, a guerra, ela me deixando e apenas vivo o momento enquanto nos beijamos. Eu queria poder voltar para Paradise com ela, no nessa situao, mas na de meses atrs nos encontrando escondidos no meu quarto enquanto Henri fazia as compras, roubando olhares durante as aulas, a vida fcil e normal. Mas aquilo acabou. No somos mais crianas. Somos guerreiros soldados e temos que agir de tal forma. Sarah se afasta de mim, e com um movimento rpido, no querendo arrastar esse momento doloroso por mais tempo, ela abre a porta e sai da van. Ela coloca a mochila nos ombros e assobia. Vamos, Bernie Kosar! BK pula para o acento dianteiro, olhando para mim, como se estivesse se perguntando por que eu no estou saindo da van tambm. Eu me aproximo de sua orelha boa e ele solta um latido de lamentao. Mantenha-a salva, eu digo a ele por zoopatia. BK pe ambas as patas dianteiras no meu colo e lambe meu rosto. Sarah ri. Quantos beijos ela diz enquanto Bernie pula da van. Sarah coloca sua coleira. Isso no um adeus eu digo. No de verdade. Voc est certo ela responde, seu sorriso ficando trmulo, com uma nota de incerteza em sua voz. Vejo voc logo, John Smith. Se cuide. Vejo voc em breve. Eu te amo, Sarah Hart. Eu te amo tambm. Sarah se vira, correndo para frente da porta do terminal, Bernie Kosar trotando aos seus calcanhares. Ela olha para mim uma vez, antes de

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    desaparecer pela porta, e eu aceno. E ento, ela se foi para dentro do terminal e eventualmente para algum lugar secreto no Alabama, procurando pela ajuda que pode nos fazer ganhar esta guerra. Eu tenho que me impedir de correr atrs dela, ento eu ponho as mos no volante e vejo que meus dedos esto brancos. Muito brancos meu Lmen se ativou inesperadamente, minhas mos brilham. Eu no havia perdido o controle disso desde... bem, desde Paradise. Eu respiro fundo e me foro a me acalmar, olhando ao redor, para ter certeza de que ningum na estao notou. Eu ligo a chave da ignio, dou vida van, e saio do estacionamento. Eu sinto a falta dela. Eu j sinto a falta dela. Eu dirijo de volta para o bairro escasso de Baltimore, onde Sam, Malcolm e Adam esto esperando por mim, planejando nossa invaso. Eu sei onde estou indo e o que estou fazendo, mas eu ainda me sinto a deriva. Eu me lembro do momento com Adam, no destrudo John Hancock Center, de quando eu quase ca da janela. Aquela sensao de vazio atrs de mim, da oscilao perto da borda, e como eu me sinto agora. Mas ento eu imagino as mos de Sarah me puxando para longe do espao vazio. Eu imagino que ser assim que eu me sentirei da prxima vez que nos encontrarmos, que ser assim com Setrkus Ra aniquilado e com os Mogadorianos derrotados e mandados de volta para o espao vazio e frio. Eu imagino o futuro e sorrio tristemente. H apenas uma maneira de fazer isso acontecer. hora de lutar.

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    NS MARCHAMOS PELA ESCURIDO, DESCENDO UMA ESTRADA BARRENTA esculpida fora do pntano, o ritmo dos sons vindos de nossos tnis encharcados e o incessante chilrear dos insetos, so os nicos sons. Ns passamos por uma solitria estaca de madeira inclinada e quase completamente desenraizada, as luzes da rua esto apagadas, fios de energia afundando em rvores altas demais, desaparecendo dentro delas. Isso um sinal de uma sociedade bem vinda depois de dois dias gastos no pntano, dormindo mal, ficando invisvel ao menor barulho, me arrastando atravs da sujeira. Foi o Cinco quem nos levou ao pntano. Ele conhecia o caminho, claro. Era sua emboscada. Ns no tnhamos tempo para encontrar uma sada fcil dali. No era como se nos pudssemos voltar ao carro que dirigimos ate aqui, de qualquer forma. Os Mogs definitivamente estariam vigiando-o. H alguns passos frente, Nove bate em sua nuca, esmagando um mosquito. Com o som, Marina recua, e a aura de frio que ela emanava desde sua batalha com Cinco se intensificou momentaneamente. No estou certa se ela est tendo problemas para controlar seu novo Legado ou se estava intencionalmente esfriando o ar ao nosso redor. Considerando quo midos os pntanos de Flrida so, acho que no to ruim ter um ar-condicionado porttil.

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    Voc est bem? - pergunto a ela silenciosamente, no querendo que Nove oua mesmo sabendo que isso impossvel com a audio aumentada dele. Ela no falou nada com Nove desde que Oito foi morto, e mal tinha falado comigo. Marina olha para mim, mas na escurido no posso ler sua expresso. O que voc acha? - ela pergunta. Eu aperto seus braos e sinto sua pele fria ao toque. Ns vamos pegar eles - digo a ela. No sou muito com esse estilo de liderana, isso o que John faz, ento eu fico na minha. Ns vamos matar todos eles. Ele no ter morrido em vo. Ele no deveria ter morrido - ela responde. Ns no deveramos t-lo deixado l. Agora eles o tm, fazendo coisas com o corpo dele que s Deus sabe. Ns no tivemos escolha - eu me oponho, sabendo que verdade. Depois da derrota, nos sofremos nas mos de Cinco, no estvamos em forma para lutar contra um batalho de mogadorianos apoiados por suas naves. Marina balana sua cabea e fica em silncio. Sabe, eu costumava querer que Sandor me levasse para acampar Nove diz de algum lugar, olhando para ns por cima dos ombros. Eu odiava viver numa confortvel cobertura. Mas cara, depois disso? Eu meio que senti falta de l. Marina e eu no respondemos. Esse o jeito que ele vem falando desde a batalha com Cinco - essas anedotas foradas sobre nada, estranhamente otimistas, como se nada srio acontecesse fora daqui. Quando ele no esta divagando, Nove criou o habito de caminhar a nossa frente, usando sua velocidade para colocar alguma distncia entre ns. Quando o alcanamos, ele j capturou algum animal, normalmente uma cobra, e est cozinhando-a em uma pequena fogueira que ele construiu em um pedao de terra seca. E como se ele fingisse que estamos acampando. Eu no sou enjoada; eu comeria qualquer coisa que Nove capturasse. Marina nunca come, no entanto. Eu no acho que as criaturas assadas do pntano a incomodam tanto quanto o fato de que era Nove que as caou. Ela deve estar com fome, mais do que eu e o Nove. Depois de mais um quilmetro e meio, eu vejo uma estrada um pouco mais plana e melhor para se viajar. Posso ver luz mais adiante. Logo o incessante som dos insetos desaparece dando lugar a algo igualmente irritante. Msica country. Eu no chamaria exatamente esse lugar de cidade. Tenho certeza de que no apareceria num mapa mais detalhado. Parece mais um acampamento em que as pessoas esqueceram-se de ir embora. Ou talvez um lugar em que os caadores vm para escapar de suas esposas, eu acho, percebendo uma superlotao de picapes no estacionamento de cascalho. H dzias de barracas rudimentares espalhadas por esse trecho de encosta do pntano, todos eles praticamente indistinguveis de banheiros pblicos. As cabanas consistem em basicamente alguns pedaos de madeira compensada pregados as pressas, e parece que uma brisa leve poderia derrub-las. Eu acho que quando voc est construindo a beira do pntano na Flrida, no h uma razo para colocar muito esforo nisso. Pendurado entre as barracas, iluminado esta pequena vista sombria, h sequencias de luzes de natal e algumas lmpadas

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    a gs. Alm das barracas, onde o terreno afunda novamente para o solo pantanoso, h uma frgil doca com alguns barcos amarrados. A fonte da msica o centro dessa cidade - e a nica estrutura solida construda aqui o Trappers, um bar de aparncia suja, alojado em uma cabana, o nome orgulhosamente exibido no telhado em verde neon. Uma fileira de jacars empalhados na alinham a varanda de madeira do bar, suas mandbulas abertas. L dentro, acima da msica, posso ouvir homens gritando e bolas de bilhar batendo. Tudo bem - Nove diz, batendo palmas este o meu tipo de lugar. O lugar me lembra dos bares solitrios que eu costumava ficar quando estava sozinha em fuga, lugares onde se torna fcil reconhecer mogadorianos. Ainda sim, observei um homem de meia idade magricela, que tinha uma tainha e uma regata e estava olhando para ns, fumando nas sombras da varanda. Eu me pergunto se ns deveramos encontrar um local mais seguro para ns. Mas Nove j est na metade do caminho das escadas de madeira, Marina logo atrs dele, e eu ento os sigo. Felizmente esse lugar possu um telefone, ento podemos ao menos entrar em contato com os outros em Chicago. Checar como esto John e Ella - espero que melhor de alguma forma, especialmente agora que o cura-tudo que Cinco afirma ter em sua Arca era um monte de mentira. Ns temos que avisar os outros sobre ele. Quem sabe que informaes ele pode estar passando para os Mogadorianos. Quando passamos pelas portas do Trappers, a msica no parou como ocorrem em filmes, mas todos no bar viraram suas cabeas para ns, quase em unssono. O lugar apertado, nada mais alm do bar, a mesa de sinuca e alguns mveis de jardim. Cheira a suor, querosene e lcool. Aah muleque! - algum diz, assoviando alto. Logo percebi que Marina e eu somos as nicas mulheres no bar. Talvez sejamos as nicas a por os ps no Trappers. Os bbados olhando para ns variam de gordos a extremamente magros, todos vestidos com camisas xadrez abertas at a metade e manchadas de suor, algum deles olhando de maneira maligna, outros alisavam as grandes barbas malcuidadas. Um rapaz com uma camisa de heavy-metal rasgada e com o lbio inferior recheado de tanto mascar tabaco se afastou da mesa de sinuca para ir perto de Marina. Essa deve ser minha noite de sorte - o cara diz. Graas a vocs, garotas. O resto das cantadas foi para os ares, pois no momento em que ele tenta deslizar seus braos entorno de Marina, ela agarra os pulsos dele brutamente. Posso ouvir a umidade do brao dele congelar, e um segundo depois o cara chorando, enquanto Marina torce o brao dele em nas costas. No se aproxime de mim - diz ela em tom imperativo, alto o bastante para todo o bar saber que o aviso no foi s para o idiota de brao quebrado. Agora, todo o local fica realmente silencioso. Eu noto um cara deixar a garrafa de cerveja cair de sua mo, ele estava segurando-a pelo pescoo. Um par de rapazes musculosos atrs de uma mesa de trocam olhares e se levantam, nos observando com extremo interesse. Por um momento achei que todo o bar iria investir contra ns. Isso no terminaria bem para eles, eu tentei comunicar isso a eles com meu olhar. Nove, que com sua massa de cabelos negros e rosto sujo

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    se prepara aqui, estralando os ns dos dedos e mexendo sua cabea para trs e para frente observando a multido. Finalmente, um dos outros caipiras da mesa de sinuca grita: Mike, seu idiota, pea desculpa e d o fora daqui! sua ltima chance! Desculpe-me - Mike choraminga para Marina, seu brao ficando azul onde ela esta tocando ele. Ela o empurra para longe e ele volta para os amigos, esfregando o brao e evitando olhar para ns. S com isso a tenso foi quebrada. Todos voltaram para o que estavam fazendo, o que na maioria significa beber cerveja. Eu imagino que cenas similares - pequenas brigas, baixos olhares fixos, ou um esfaqueamento ou dois- deve acontecer no Trappers o tempo todo. No grande coisa. Como imaginei, esse um daqueles lugares em que ningum faz nenhuma pergunta. Mantenha-o sob controle - digo a Marina enquanto andamos pelo bar. Est sob controle - ela responde. No isso que parece. Nove alcana o balco um passo a nossa frente, abrindo caminho entre dois homens corcundas batendo na superfcie de madeira lascada. O barman, que parece apenas um pouco mais alerta e mais calmo do que os seus clientes, provavelmente porque ele est vestindo um avental, olha para ns com desaprovao. Vocs deveriam saber que tenho uma espingarda debaixo do balco, eu no quero mais problemas - nos avisa. Nove sorri para ele. T tudo bem, cara. Voc tem alguma coisa para comermos ai? Estamos morrendo de fome. Eu posso fritar alguns hambrgueres - ele responde depois de pensar um por um momento. No carne de gamb ou algo assim, ? - Nove diz segurando as mos. Esquece, no quero saber. Trs dos seus melhores, meu homem. Eu me inclino e pergunto ao barman antes dele se retirar para a cozinha Voc tem um telefone? - Ele aponta o dedo para um canto escuro do bar, onde eu posso ver um orelho pendurado na parede. Voc pode tentar aquele. Ele funciona s vezes. Parece que tudo aqui funciona s vezes - Nove murmura, olhando para a TV, debruado sobre o bar. A recepo da TV ruim, e um informativo de noticias foi tragado pela esttica. Quando o barman desaparece para dentro da cozinha, Marina se senta eu um banco ao lado de Nove. Ela evita contato visual, focada na TV. Entretanto, Nove tamborilava suas mos no balco, olhando ao entorno, quase esperando que um dos bbados viesse falar com ele. Eu nunca me senti tanto como uma bab igual estou agora. Vou tentar ligar para Chicago - digo a eles. Antes que eu pudesse ir, o homem que estava fumando do lado de fora do bar se espreme num espao perto de mim. Ele abre um sorriso que deveria seria encantador, exceto pelo fato de no ter alguns dentes, e isso no chega perto da aparncia dos olhos, que parecem selvagens e desesperados. Hey, doura - ele diz, obviamente tendo perdido a demonstrao de Marina sobre o que acontece quando bbados nos flertam. Me pague uma bebida que eu te conto minha historia. assustadora.

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    Fique longe de mim. - Eu o encaro. O barman retorna da cozinha, o cheiro de carne cozinhando vindo com ele, fazendo meu estomago roncar. Ele nota o cara magro prximo a mim e imediatamente coloca o dedo no rosto dele. Pensei ter dito para no voltar aqui a menos que tenha dinheiro, Dale - o barman grunhe. Saa, j. Ignorando o Barman, Dale me lana um ultimo olhar suplicante. Vendo que eu no me moveria, ele se esquiva para outros clientes para conseguir uma bebida. Eu balano a cabea e respiro fundo; tenho que sair deste lugar, preciso de um banho e preciso bater em alguma coisa. Estou tentando ficar calma, tentando ser racional, considerando que minhas companhias no esto l muito estveis, estou com raiva. Estou furiosa. Cinco me nocauteou, praticamente apagou minha mente. Enquanto eu estava apagada todo o mundo mudou. Eu sei que no poderia ter previsto isso - nunca esperaria que um de ns se tornasse um traidor, mesmo um louco como o Cinco. Ainda sim, no consigo evitar, mas sinto que teria sido diferente se tivesse mantido minha guarda alta. Se eu tivesse sido rpida o bastante para defender aquele primeiro soco, talvez Oito ainda estivesse vivo. Eu nem mesmo tive a chance de lutar e isso me faz sentir enganada e intil. Guardo essa raiva para a prxima vez que eu ver um Mogadoriano. Seis - Marina diz, sua voz de repente fica frgil, no to distante ou fria. Olhe isso. A TV por trs do balco, comea a transmitir alguma coisa, e agora h um noticirio claramente visvel. Nele h um reprter em frente a uma linha de isolamento da policia, com o John Hancock Center ao fundo. Mas que merda essa? - digo segurando minha respirao. O telhado balana com o trovo do lado de fora. Isso fui eu, extravasando a raiva. O noticirio muda para um reprter nos ltimos andares do John Hancock Center que est em chamas. Isso no pode estar acontecendo - Marina diz, com seus olhos na tela, depois olhando pra mim esperando uma confirmao de que apenas uma piada. Eu estava tentando ser a estvel, mas no consigo achar nada reconfortante para dizer. O barman estala sua lngua, assistindo a TV tambm. Loucura n? Terroristas malucos. - Eu o seguro atravs do balco agarrando seu avental, antes que ele pegue sua espingarda. Quando isso aconteceu? Caramba, garota - o barman diz, percebendo algo em meu olhar que faz pensar se deve ou no tentar lutar. Eu no sei, dois diz atrs? Isso est em todos os noticirios. Onde diabos voc estava? Sendo aniquilada por um idiota - murmuro empurrando-o. Tento me recompor, tento vencer o pnico. Nove est completamente calado desde que viu a notcia. Quando o observo sua expresso esta completamente vazia. Ele observa a televiso, assistindo sua cobertura luxuosa queimar completamente, sua boca abre um pouco, seu corpo completamente rgido. Ele parece estar se desligando, como se seu crebro no pudesse processar essa ultima bomba. Nove... - eu comeo, mas minha voz falha. Sem dar uma palavra para mim ou Marina ele gira e se dirige a porta, um dos jogadores de sinuca no foi rpido o bastante para sair do caminho de Nove e jogado no cho.

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    Confiando que Marina no vai congelar ningum na minha ausncia, vou atrs de Nove. Quando estou na varanda do Trappers, Nove j est no meio do estacionamento, seguindo para a estrada de cascalho. Onde voc est indo? - grito atrs dele pulando a grade da varanda e correndo para alcana-lo. Chicago - ele responde sem rodeios. Voc vai para Chicago andando? - pergunto. esse o seu plano? Bom palpite - ele responde, ainda andando Eu roubo um carro. Vocs vm comigo ou o que? Deixe de ser um idiota! eu o repreendo, e quando ele no para, eu o alcano com minha telecinesia e o agarro. Eu o giro o fazendo olhar para mim, seus calcanhares pressionados contra o cascalho enquanto ele tenta lutar. Me deixe ir, Seis - ele grunhe. Me deixe ir agora. Pare e pense um momento - eu insisto, percebendo que no estou tentando convencer a Nove, e sim a mim mesma. Minhas unhas cravam na palma da minha mo, no tenho certeza se isso me da concentrao para impedir Nove com minha telecinesia ou me esforando para manter junto. No telhado do John Hancock Center eu disse a Sam que enquanto estivssemos em guerra, haveria vtimas. Eu pensei que estava preparada para isso, mas perder Oito, e agora perdendo os outros em Chicago, no, eu no posso suportar isso. Essa no pode ter sido minha ultima conversa com Sam. No pode. Eles no devem estar mais em Chicago - continuo. Eles j devem ter fugido. o que fazemos. E sabemos que John ainda est vivo ou teramos outra cicatriz. Ele tem o tablet. Ele tem as arcas. Eles tm mais chance de nos achar, do que ns a eles. Uh, a ltima vez que vi John ele estava em coma. Ele no est apto para encontrar ningum. Uma exploso de um prdio costuma a acordar pessoas - eu rebato. Ele acordou. Ns saberamos se ele no tivesse. - Depois de um momento, Nove assente relutantemente. Tudo bem, tudo bem, pode me largar. Eu o solto. Ele desvia o olhar imediatamente, olhando para e escurido na estrada, seus largos ombros cados. Sinto como se estivssemos ferrados, Seis - Nove diz com voz rouca. Como se j tivssemos perdido e ningum ao nosso redor quisesse nos contar. Eu caminho perto dele e coloco minha mo em seus ombros. De costas para o Trappers, eu no posso ver o rosto de Nove direito, mas estou certa de que seus olhos esto cheios de lagrimas. Besteira - retruco. Ns no perdemos. Diga isso para o Oito. Qual , Nove. Nove passa ambas as mos em seus cabelos negros e emaranhados, quase como se quisesse arranc-los. Ento ele coloca as mos no rosto, esfregando-o. Quando tira as mos do rosto, posso dizer que ele estava tentando ser forte. Foi minha culpa - ele continua. Eu o matei. Isso no verdade.

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    sim. Cinco chutou minha bunda e eu no pude evitar. Tive que continuar falando, tinha que mostrar a ele. Deveria ter sido eu. Voc sabe; eu sei; e tenho toda certeza de que Marina tambm. Tiro as mos dos ombros dele e dou um soco em sua mandbula. Ow! Merda! - ele uiva, cambaleando para longe de mim, quase caindo no cascalho. Mas que droga foi essa? isso que voc quer? - pergunto, caminhando em direo a ele com os punhos cerrados e preparados. Quer que eu chute sua bunda um pouco mais? Punir voc pelo que aconteceu com Oito? - Nove levanta as mos em rendio. Pode parar, Seis. No foi sua culpa - digo a ele, abrindo os punhos e espetando-lhe o peito com fora. Cinco matou Oito, no voc. E os Mogs pagaro por isso, ok? Sim, entendi - Nove responde, contudo no estou certa se ele realmente entendeu ou se ele apenas quer que eu pare de atac-lo. Bom agora chega de lamentaes. Temos que descobrir o que fazer agora. Eu j descobri Marina entra na conversa. Eu estava to focada colocando razo na cabea de Nove que nem a ouvi se aproximar. E muito menos Nove, devido expresso de vergonha em seu rosto e desejando saber o quanto daquilo ela ouviu. Mas no momento Marina no parece preocupada com o momento meloso de Nove. Est muito ocupada arrastando o cara do bar, Dale, o que tentou trocar sua incrvel histria por uma cerveja comigo. Marina o conduz ao estacionamento em nossa direo, segurando sua orelha como uma professora cruel escoltando um delinquente para a sala do diretor. Eu noto uma cobertura de gelo se formar no rosto de Dale. Marina, deixe-o ir - digo. Ela concorda, lanando Dale a sua frente, onde ele tropea e acaba caindo de joelhos no cascalho a minha frente. Dou uma olhada nela - eu entendo de onde toda aquela raiva vem - no gosto disso. Marina me ignora. Diga a eles o que me disse - Marina ordena a Dale. Sua espetacular histria. Dale olha para nos trs, ansioso para agradar, mas ainda aterrorizado, provavelmente pensando que vamos mat-lo se no nos escutar. H uma velha base da NASA no pntano. Foi desativada nos anos oitenta quando o pntano comeou a subir. - Dale comea hesitante, esfregando seu rosto tentando aquec-lo. Eu fui l algumas vezes, procurando algo que pudesse vender. Normalmente, deserto. Mas na noite passada, cara, eu juro eu vi OVNIs flutuando por l. Caras assustadores que no pareciam humanos com armas que eu nunca havia visto guardando o lugar. Vocs no so como eles, so? No - respondo. Com toda certeza no somos. Dale se voluntariou para nos mostrar o caminho - Marina diz, cutucando ele com a ponta do tnis. Ele engole em seco e, em seguida, acena com entusiasmo. No longe - ele diz. Algumas horas depois do pntano. Nos gastamos dois dias caminhando no pntano para conseguir sair dele - Nove diz. Agora voc ta me dizendo que temos que voltar?

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    Eles o tm - Marina sibila, apontando para a escurido. Vocs ouviram a histria do Malcolm sobre o que fizeram com a Nmero Um. Eles roubaram os Legados dela. Dou a Marina um olhar cerrado. Mesmo que a maior parte no faa sentido para ele, Dale continua ouvindo atentamente nossa conversa. Deveramos mesmo estar falando sobre isso aqui? - Marina bufa. Est preocupada com Dale, Seis? Eles esto nos matando e explodindo nossos amigos. Manter segredos com esse bbado a menor de nossas preocupaes. - Dale levanta sua mo. Eu juro, no vou contar nada disso... sobre o que quer que seja que estejam falando. E sobre Chicago? - Nove pergunta. E os outros? Marina lana um rpido olhar a Nove. Ela mantm seus olhos em mim quando ela responde. Vocs sabem, estou preocupada com eles. Mas no sabemos onde John e os outros esto, Seis. Ns sabemos onde o Oito est. E no estou em circunstncias de deixar aqueles bastardos doentes com ele. O jeito que ela disse isso, sei que no tenho como convenc-la do contrrio. Se no formos com ela, ela ir sozinha. Isso no merece sequer uma considerao. Estou prevendo uma briga, e das feias. E se h uma chance do corpo de Oito estar l nas garras dos Mogs ainda na Flrida, talvez com Cinco ento ns temos que ao menos tentar recuperar. No deixar nenhum Garde para trs. Dale - eu digo, Espero que tenha um barco para nos emprestar.

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    O PEDAO DE CARNE QUE EST NA MINHA FRENTE PARECE UM PEDAO

    encharcado de peixe cru, com exceo que desprovido de qualquer

    textura. Eu furo-o com meu garfo e o pedao de carne se mexe igual uma

    gelatina. Ou talvez algo ainda esteja vivo e est tentando escapar, esses

    tremores no apetitosos de algo tentando se mover lentamente no meu

    prato. Se eu desviar o olhar, eu me pergunto se a coisa vai tentar rastejar e

    sair por uma das entradas de ar.

    Eu quero vomitar.

    Coma Setrkus Ra comanda.

    Ele se chamou de meu av. Esse pensamento me causa mais nuseas

    do que a comida. Eu no quero acreditar nele. Isso poderia ser mais uma

    viso, algum jogo louco com inteno de me atingir.

    Mas por que passar por todos esses problemas? Por que me trazer

    aqui? Por que simplesmente no me matar?

    Setrkus Ra est sentado de frente para mim, do outro lado da

    enorme mesa de banquete ridcula que parece ter sido feita de lava. Sua

    cadeira parece um trono, feita da mesma pedra escura da mesa, mas

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    definitivamente no grande o suficiente para acomodar o mamute

    guerreiro que lutamos na Base de Dulce. No, em algum ponto quando eu

    no estava olhando, Setrkus Ra encolheu para um tamanho mais razovel

    para que ele pudesse se sentar confortavelmente na frente de seu prato da

    culinria Mogadoriana.

    Essa capacidade de mudana de tamanho dele poderia ser um

    Legado? Realmente se parece muito com minha habilidade de alterar minha

    idade.

    Voc tem perguntas Setrkus Ra rosna, me observando.

    O que voc? eu desembucho. Ele levanta a cabea.

    O que voc quer dizer, criana?

    Voc um Mogadoriano eu digo, tentando no parecer to

    frentica. Eu sou uma Loriena. No podemos ter parentesco.

    Ah, uma ideia muito simples. Humanos, Lorienos e Mogadorianos,

    estas so apenas palavras, querida. Rtulos. Sculos atrs, minhas

    experincias provaram que nossa gentica poderia ser mudada. Elas

    poderiam ser melhoradas. Ns no precisvamos esperar Lorien nos dar

    Legados. Ns poderamos t-los quando precisssemos, utilizando-os como

    qualquer outro recurso.

    Por que voc continua dizendo ns? eu pergunto, minha voz

    trmula. Voc no um de ns. - Setrkus Ra esboa um pequeno

    sorriso.

    Eu j fui Lorieno. O dcimo Ancio. At o momento em fui

    expulso. Ento me tornei o que voc v na sua frente, os poderes de um

    Garde combinados com a fora de um Mogadoriano. Uma melhoria

    evolutiva.

    Minhas pernas esto tremendo embaixo da mesa. Eu mal ouvi depois

    da meno da palavra Ancio. Eu me lembro da carta de Crayton. Ele disse

    que meu pai era obcecado com o fato de que nossa famlia uma vez possua

    um Ancio. Poderia ser Setrkus Ra?

    Voc est louco eu digo. E um mentiroso.

    Eu no sou nenhum dos dois ele responde, paciente. Eu sou

    realista. Um futurista. Eu alterei minha gentica para se tornar como eles,

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    para que eles me aceitassem. Como retorno fidelidade deles, eu ajudei a

    populao de Mogadore crescer. Eu os trouxe de volta da beira da extino.

    Se juntar aos Mogadorianos me deu uma chance de continuar meus

    experimentos que tanto aterrorizaram os Lorienos. Agora, meu trabalho est

    quase acabado. Logo, toda vida no universo Mogadoriana, humana, e at

    mesmo o que sobrar dos Lorienos ser melhorara com a minha gentil

    ajuda.

    Voc no melhorou a vida em Lorien eu retruco. Voc matou

    todos eles.

    Eles se opuseram ao progresso Setrkus Ra argumenta, como se

    a morte de um planeta inteiro significasse nada.

    Voc doente.

    Eu no tenho medo de retrucar para ele. Eu sei que ele no vai me

    machucar no ainda, pelo menos. Ele muito ganancioso para isso, est

    louco para converter outro lorieno para a causa. Ele quer que as coisas

    sejam como no meu pesadelo. Desde que eu acordei aqui, ele colocou uma

    equipe de mogadorianas para me atender. Elas me vestiram nesse vestido

    formal longo, preto, muito parecido com o que eu usava na viso. Ele pinica

    demais, e eu tenho que ficar puxando o decote.

    Eu fico olhando para seu rosto hediondo, me odiando por tentar

    encontrar alguma semelhana. Sua cabea plida, coberta com tatuagens

    Mogadorianas, seus olhos so vazios e pretos, como o dos outros Mogs, e

    seus dentes so iguais aos de um tubaro. Se eu olhar muito bem, eu quase

    posso ver caractersticas lricas nele, como uma arquitetura enterrada abaixo

    da palidez de uma arte Mogadoriana.

    Setrkus Ra olha de sua comida para mim, observando meu olhar.

    Encara-lo frente a frente me arrepia e eu sou obrigada a virar a cabea.

    Coma ele repete. Voc precisa de fora.

    Eu hesito por um momento, incerta de quanto mais tempo eu devo

    seguir com minha insubordinao, mas tambm no quero experimentar a

    verso Mogadoriana de sushi. Eu fao questo de deixar o garfo cair para

    que ele se choque contra meu prato de metal