artigo ciencia e fé

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC ROBSON CESAR CARDOSO ANÁLISE DA OBRA DE GALILEU GALILEI "CIÊNCIA E FÉ - CARTAS A CRISTINA DE LORENA" TRADUÇÃO DE CARLOS ARTHUR R. NASCIMENTO SANTO ANDRÉ 2014

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artigo sobre o livro ciencia e fé- Galileu Galilei

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC

    ROBSON CESAR CARDOSO

    ANLISE DA OBRA DE GALILEU GALILEI "CINCIA E

    F - CARTAS A CRISTINA DE LORENA" TRADUO

    DE CARLOS ARTHUR R. NASCIMENTO

    SANTO ANDR

    2014

  • 1

    Sumrio

    1. INTRODUO ................................................... ERRO! INDICADOR NO DEFINIDO.

    2. ANLISE DA OBRA......................................... ERRO! INDICADOR NO DEFINIDO.

    2.1 A SAGRADA ESCRITURA E A NATUREZA. ................................. Erro! Indicador no definido.

    2.2 AS EVIDNCIAS OBSERVADAS POR GALILEU ........................................................... ...... 6

    3. A OBRA SEGUNDO OS HISTORIADORES .......................................................... 7

    4. CONSIDERAES FINAIS ........................................................................................ 8

    5. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS....................................................................... 10

  • 2

    1. INTRODUO

    O perodo conhecido como Renascimento ou Renascena, entre os sculos XV

    e XVI, intensificou a produo artstica e cientfica na Europa. Por meio do

    mecenato, governantes passaram a dar proteo e ajuda financeira a artistas e

    intelectuais da poca.

    Neste perodo, valorizou-se o antropocentrismo a ideia de "o homem ser o

    centro do pensamento filosfico" em oposio ao teocentrismo, que vingou

    na Idade Mdia. A razo e a natureza tornaram-se pilares do homem

    renascentista, sobretudo dos cientistas, que passaram a fazer uso de mtodos

    experimentais e da observao do universo.

    Assim, pode-se dizer que os ideais do Renascimento so sintetizados no

    Humanismo. Segundo Lins (1967, p. 96), "[...] consistiu o humanismo,

    essencialmente, no cultivo dos conhecimentos que visavam felicidade e ao

    aperfeioamento do homem, em oposio s cogitaes dos telogos, os

    quais, voltados para Deus, consideravam a Terra passageiro exlio.

    Galileu, expoente do pensamento renascentista, soube por D. Benedetto

    Castelli1 que, em um jantar na corte da Toscana, estavam presentes a Gr-

    duquesa Cristina de Lorena, e seu filho, o Gr-duque Csimo, o qual foi aluno

    de Galileu e por ele tinha muito apreo.

    Durante o jantar, a Gr-duquesa teria questionado Castelli a respeito da

    ortodoxia do sistema copernicano e da oposio que este teria a algumas

    passagens bblicas, como Josu 10.12-13 e Salmos 59.

    Quando soube do interesse da Senhora Cristina de Lorena, Galileu enviou uma

    carta a Castelli, propondo uma nova interpretao da Bblia com o intuito de

    tentar estabelecer uma concordncia entre o sistema copernicano e a Sagrada

    Escritura.

    1 O monge beneditino Castelli (1578-1643) foi discpulo, colaborador de Galileu e professor de

    matemtica na Universidade de Pisa. Assistiu Galileu no exame do sistema copernicano e no

    estudo das manchas solares.

  • 3

    No entanto, a carta enviada a Castelli chegou s mos de outros frades, que

    fizeram invectivas contra Galileu. Uma cpia da carta adulterada, na inteno

    de condenar Galileu, possivelmente chegou aos poderes dos relatores de

    Roma.

    Galileu, ento, envia uma carta ao Mons. Piero Dini2, que ocupava o cargo de

    relator apostlico de Roma. Nessa carta, alm de se defender, Galileu

    apresenta uma cpia de sua carta original, pedindo ao Monsenhor que a leia na

    presena do amigo Pe. Groenberg, que era matemtico. Solicita, ainda, que

    Piero Dini envie uma cpia da carta ao Pe. Belarmino3.

    Na carta de resposta, Pe. Belarmino faz uma elucidao a respeito da obra De

    Revolutionibus, de Coprnico a qual, sob o vis do padre, no prope uma

    nova forma de universo, mas sim um modelo para tentar explicar alguns

    fenmenos. Sabendo da posio de Pe. Belarmino, Galileu envia uma nova

    carta ao Mons. Piero Dini.

    Galileu tambm envia uma carta mais detalhada sobre suas ideias Senhora

    Cristina de Lorena, Me da Toscana.

    2. ANLISE DA OBRA

    Em todas as cartas, nota-se que o autor procura externar a genuinidade do

    sistema copernicano ora fazendo interpretaes bblicas, ora utilizando de

    suas observaes como evidencias do heliocentrismo.

    Com o objetivo de demonstrar a veracidade do sistema copernicano, Galileu

    busca dar indcios de que a Bblia usa de termos metafricos e, portanto, no

    existe heresia alguma em se reformular o universo. Galileu empenha-se,

    tambm, em condicionar o clrigo a perceber que a Sagrada Escritura no foi

    2 Monsenhor Piero Dini era grande amigo de Galileu e, na poca das cartas, ocupou o cargo de

    relator apostlico em Roma.

    3 Cardeal Roberto Belarmino (1542-1621) era jesuta, posteriormente canonizado e declarado

    doutor da Igreja. Desempenhou papel central em todas as etapas do processo de 1616.

  • 4

    escrita com o intuito de explicar o modelo do universo. Em algumas

    colocaes, Galileu avana de tal maneira em seu parecer sobre as Sagradas

    Letras que se v diante de um desconforto frente s autoridades religiosas e,

    ento, recua. Observe o excerto:

    "Reconheo e confesso minha excessiva ousadia, sendo ignorante das

    Sagradas Letras, ao querer meter-me a explicar os sentidos de to alta

    contemplao."

    Por outro lado, Galileu no se aquieta e incita:

    "O testemunho do Senhor fiel comunicando a Sabedoria aos pequeninos."

    2.1 A SAGRADA ESCRITURA E A NATUREZA

    Segundo Galileu, tanto as Sagradas Letras quanto a Natureza provm

    igualmente do Verbo Divino, e so necessariamente verdade. Alm disso,

    deve-se levar em considerao que duas verdades no se podem contradizer.

    No que se refere Sagrada Escritura, Galileu, em nenhum momento, coloca

    prova sua veracidade; contudo, prope que essa no deve ser interpretada

    segundo o puro significado da palavra.

    "[...] a Sagrada Escritura no pode nunca mentir ou errar, mas serem os seus

    decretos de absoluta e inviolvel verdade."

    A Bblia havia sido escrita para povos incultos e usou de metforas para atingir

    seu objetivo principal que no era ensinar astronomia.

    "[...] se os primeiros escritores sagrados tivessem tido pensamento de

    persuadir o povo das disposies e movimentos dos corpos celestes, no

    teriam tratado to pouco destes [...]" (GALILEI, 1613, p.22).

    Galileu, ainda, ataca dizendo que aquele que interpretasse as Letras segundo

    seu puro significado poderia estar cometendo uma heresia grave ou blasfmia,

    pois atribuiria a Deus afeces humanas, inclusive sentimentos de raiva, dio e

    arrependimento.

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    Por outro lado, Galileu tambm faz uso de passagens bblicas que podem ter

    concordncia com o sistema copernicano, admitindo por ora aos adversrios

    que tomem o texto bblico no sentido em que soam.

    Na passagem de Josu4, que foi questionada pela Senhora Cristina, Galileu

    traz trs explicaes, nas quais faz as seguintes colocaes:

    "Primeiro eu pergunto ao adversrio se ele sabe por quais

    movimentos o Sol se move. Se ele sabe, foroso que ele

    responda que este se move por dois movimentos, isto , pelo

    anual do poente para o levante e pelo diurno, ao oposto do

    levante ao poente."

    "Donde, em segundo lugar lhe pergunto se estes dois

    movimentos, to diversos e como que contrrios entre si,

    competem ao Sol e so prprios dele igualmente. foroso

    responder que no. Mas s um prprio e particular dele, isto

    , o anual; por outro lado, o outro no seu, mas do mais alto

    cu, digo do primeiro mvel, o qual arrasta consigo o Sol e os

    outros planetas e tambm a esfera estrelada..." (GALILEI,

    1613, p.24).

    Galileu finaliza com uma terceira colocao, onde argumenta que seria

    impossvel Deus parar apenas o Sol sem fazer isso com toda a esfera celeste.

    Ademais, sendo o movimento do Sol contrrio ao da rotao diurna, Deus teria

    encurtado o dia ao invs de t-lo alongado, como pretendia. Na constituio

    dos sistemas de Ptolomeu e de Aristteles, absolutamente impossvel parar o

    movimento do Sol e alongar o dia.

    4Josu 10.12-13: "Ento, Josu falou ao Senhor, no dia em o Senhor entregou os amorreus

    nas mos dos filhos de Israel; e disse na presena dos israelitas: Sol, detm-te em Gibeo e tu,

    Lua, no vale de Aijalom. E o Sol se deteve, e a Lua parou at que o povo se vingou de seus

    inimigos. No est isto escrito no Livro dos Justos. O Sol, pois se deteve no meio do cu e no

    se apressou a pr-se, quase um dia inteiro.

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    Quando a Sagrada Escritura diz que Deus parou o Sol, queria dizer que parou

    o primeiro mvel, apenas usou de metfora, pois no se dirigia exclusivamente

    aos homens sbios.

    Galileu reitera sua afirmao de que as Sagradas Letras no deveriam ser

    levadas ao seu significado nu.

    2.2 AS EVIDNCIAS OBSERVADAS POR GALILEU

    Outro ponto recorrente nas cartas eram as observaes que Galileu fez usando

    seu telescpio.

    Especialmente na carta enviada Senhora Cristina de Lorena, Galileu

    descreve os pormenores de suas observaes, pois sabia que essa carta

    chegaria no s Gr-duquesa, mas tambm ao pblico e aos apostlicos de

    Roma.

    Por volta de 1610, Galileu j havia publicado seu livro Siderius Nucius, no qual

    fazia relatos sobre seus descobrimentos.

    Siderius Nucius tratava das montanhas da Lua, das fases de Vnus, dos

    satlites naturais de Jpiter, dos anis de Saturno, e das manchas solares.

    As descobertas corroboravam com o sistema copernicano, o que fez Galileu

    apresent-las com detalhes em sua carta Senhora Cristina de Lorena.

    Galileu anunciava algumas descries inditas da Lua, mostrando que ela

    repleta de caractersticas semelhantes s da Terra, o que tornava nosso

    planeta no muito diferente dos outros corpos celestes.

    O relevo acidentado, com a presena de grandes montanhas e extensas

    crateras, contrariava a imagem de que a Lua era um globo perfeitamente

    esfrico.

    Galileu relatava, tambm, a descoberta de quatro corpos celestes que giravam

    em torno de Jpiter. Chamou estes satlites naturais de estrelas Mediceanas

  • 7

    em referncia ao gro duque Csimo II de Mdici, filho da Senhora Cristina.

    Com essa descoberta, Galileu salientava que no estvamos em um universo

    em que a Terra o centro de tudo.

    Galileu, ainda, fez observaes solares e defrontou-se com manchas que o

    ajudaram a perceber que o Sol girava em torno de si, alm de no ser um astro

    perfeito e impecvel, como imaginavam na poca.

    3. A OBRA SEGUNDO OS HISTORIADORES

    O livro, que um conjunto de cartas, citado em muitas obras que abordam a

    histria de Galileu Galilei, j que se trata do prembulo no processo de

    inquisitrio.

    Os autores, em geral, so unnimes em dizer que essas cartas foram

    fundamentais tanto para a apresentao de um novo mtodo cientfico quanto

    para o rompimento entre f e razo.

    As cartas mostram que Galileu fez uso de um mtodo cientfico para decidir

    acerca da preciso nos fundamentos cientficos (MARICONDA, 2011).

    O jornalista Salvador Nogueira, especializado em jornalismo cientfico, entende

    que o maior propsito de Galileu foi empenhar-se em alumiar o clrigo a

    respeito de novas interpretaes da Sagrada Escritura para que essa pudesse

    transcender (www.unesp.br/aci_ses/revista_unespciencia/acervo/03/livros).

    Mesmo havendo consonncia entre vrios autores, curioso notar que cada

    um deles escreve algo que faa a imaginao levar Galileu em diferentes

    aspectos.

    "So muitos Galileis: peripatticos, conservador, revolucionrio, aristotlico,

    platnico, experimental, terico. Galileu trouxe novidades, mas carregava muito

    de antigo; quem sabe as mudanas ocorrem paulatinamente; inovao e

    tradio, ruptura e continuidade caminham juntas como trigo e o joio das

  • 8

    conhecidas parbolas. e a tentao de quem conta a histria seria a de querer

    bancar o juiz [...]" (BROLLO, 2006, p.61).

    pitoresco como somos capazes de conceber uma imagem do cientista de

    acordo com a abstrao extrada de um texto. Muito provavelmente, os autores

    que descrevem os trabalhos de Galileu tambm leram os originais da obra,

    abstraindo uma ideia de cientista caracterizada em seus textos. Assim, a

    historiografia pode adulterar o fato histrico.

    4. CONSIDERAES FINAIS

    Certamente, as cartas enviadas por Galileu servem de embasamento para todo

    trabalho acerca de sua vida, sobretudo em seu processo inquisitrio.

    As cartas externam, ao mesmo tempo, o respeito de Galileu pela Sagrada

    Escritura e sua nsia em evidenciar a genuinidade do sistema de copernicano.

    Galileu leva com muito afinco suas convices, e para isso usa de muitas

    vertentes. Ora articula na busca de uma nova interpretao bblica, ora busca

    uma concordncia entre as Sagradas Letras e o sistema copernicano. Galileu,

    tambm, no deixa de evidenciar as observaes feitas por meio de seu

    telescpio as quais corroboram com o sistema copernicano.

    No mbito do ensino, o professor que possuir conhecimento sobre as cartas

    ter a seu favor argumentos substanciais. O simples fato de inteirar-se a cerca

    do contexto histrico vivido por Galileu atestar-lhe- um discurso envolvente

    em suas aulas.

    Existe, ainda, a possibilidade de se trabalhar em conjunto com outras

    disciplinas j que as cartas abrem inmeras possibilidades de projetos

    interdisciplinares.

    As aulas de mecnica poderiam ter as cartas como texto introdutrio. A priori,

    levaria aos alunos um carter mais humanstico e menos tcnico, o que criaria

    uma atmosfera menos rdua e mais envolvente no estudo dos movimentos.

  • 9

    Alm disso, esse tipo de experincia auxiliaria na problemtica das concepes

    alternativas, no entendimento das relaes entre cincia, cultura e sociedade.

    Mostraria como o pensamento cientfico dinmico e mutvel, ou seja, no

    um conjunto de conhecimentos estanques, mas pressupe seu constante

    questionamento e reelaborao (PEDUZZI, 2012, p.158).

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    5. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    BROLLO, Ana Paula. Galilei Galilei, Cartas a Senhora Cristina de Lorena,

    Gr-duquesa da Toscana. 2006. 81 f. Tese de Mestrado em Histria da

    Cincia - Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, So Paulo. 2006.

    (Comp.). Galileu Galilei: Vida e Obra. 2013. Disponvel em: . Acesso em: 07 nov.

    2014..

    GALILEI, Galileo. Dilogo sobre os dois mximos sistemas do mundo

    ptolomaico e copernicano. 3. ed. So Paulo: Editora 34, 2011. 888 p.

    Traduo, introduo e notas: Pablo Rubn Mariconda.

    GALILEI, Galileu. Cincia e F: Cartas de Galileu sobre a questo religiosa. 1

    So Paulo: Instituto Cultural talo-brasileiro, 1988. 109 p.

    KHUN, Thomas. A estrutura das Revolues Cientficas. So Paulo:

    Perspectiva, 2001.

    MARICONDA, Pablo Rubn. As mecnicas de Galileu: as mquinas simples

    e a perspectiva tcnica moderna. Disponvel em:

    . Acesso em: 04 nov. 2014.

    MARTINS, Roberto de Andrade. Cincia versus historiografia: os diferentes

    nveis discursivos nas obras sobre histria da cincia. Disponvel em:

    . Acesso em: 27

    out. 2014.

    NASCIMENTO, Carlos Arthur R.. Cincia e F. So Paulo: Unesp, 2002. 124

    p.

    PEDUZZI, Luiz O. Q.. Sobre a Utilizao didtica da Histria da Cincia. In:

    PEDUZZI, Luiz O.q.. Sobre a utilizao didtica da Histria da Cincia. 1

    E~dio Florianoplis: Editora da Ufsc, 2001. Cap. 7, p. 151-170.

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    Orientador: Prof. Dr. Carlos Arthur R. Nascimento Disponvel em:

    http://www.sapientia.pucsp.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=4094 Acesso

    em: 23 out. 2014.

    ALBUQUERQUE, Rodrigo de Souza. Humanismo- Nascimento da filosofia

    moderna. 2010. Disponvel em:

    . Acesso em: 10 ago. 2014

    A REVOLUO cientfica do sculo XVII Disponvel em:

    . Acesso em: 28 out.

    2014.