manual fundamento dos esporte

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    MANUAL VALORES DO ESPORTE SESI

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    CONFEDERAO NACIONAL DA INDSTRIA - CNI

    Armando de Queiroz Monteiro Neto Presidente

    SERVIO SOCIAL DA INDSTRIA - SESI

    Conselho Nacional

    Jair Meneguelli Presidente

    SESI Departamento Nacional

    Armando de Queiroz Monteiro Neto

    DiretorAntonio Carlos Brito Maciel Diretor-Superintendente

    Carlos Henrique Ramos Fonseca Diretor de Operaes

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    Confederao Nacional da IndstriaServio Social da Indstria

    Departamento Nacional

    MANUAL VALORES DO ESPORTE SESIFundamentos

    Verso Preliminar

    Braslia2007

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    2007. SESI Departamento NacionalQualquer parte desta obra poder ser reproduzida, desde que citada afonte.

    SESI/DNUnidade de Cultura de Esporte e Lazer UCEL

    Lamartine Dacosta

    Ana MiragayaMarcio TuriniMarta GomesFbio F. S. Rodrigues

    FICHA CATALOGRFICA

    M294

    Manual valores do Esporte-SESI: fundamentos / LamartineDaCosta ... [et al.] ; SESI. Departamento Nacional. Braslia : SESI/DN, 2007.

    195 p. il.

    1. Esporte - SESI I. DaCosta, Lamartine II.SESI.Departamento Nacional III.Ttulo: Fundamentos

    CDU 796

    SESI Sede

    Servio Social da Indstria Departamento Nacional

    Setor Bancrio Norte Quadra 1 Bloco C Edifcio Roberto Simonsen

    70040-903 Braslia DF Tel.: (61) 3317-9001Fax: (61) 3317-9190 http://www.sesi.org.br

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    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 - Principais caractersticas e valores associados aoEsporte Moderno nos sculo XIX e metade do sculo XX ... 49

    Quadro 2 Exemplos de documentos e valores associados aoEsporte Moderno na segunda metade do sculo XX ........... 50

    Quadro 3 - Fases de Desenvolvimento Moral de Kohlberg (1958) ........ 54

    Quadro 4 - Participao de mulheres atletas brasileiras nosJogos Olmpicos ...................................................................91

    Quadro 5 - Trabalhadoras-atletas que competiraminternacionalmente 1995 - 2007 ...........................................95

    Quadro 6 - Participao de mulheres-atletas em competies

    nacionais em 2004 ...............................................................98Quadro 7 - Participao de mulheres-atletas em competies

    nacionais em 2005 ...............................................................98

    Quadro 8 - Participao de mulheres-atletas em competiesnacionais em 2006 ...............................................................99

    Quadro 9 - SESI Atividades competitivas com empresas,

    segundo os departamentos regionais, 2002 ...................... 122Quadro 10 - Objetivos e valores de programas de esporte

    em 13 pases ...................................................................... 172

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    SUMRIO

    Apresentao

    Captulo 1 - Esporte e Valores .................................................................11

    Captulo 2 - Abordagens Tericas Sobre Valores do Esporte .................. 43

    Captulo 3 - Valores do Esporte e Incluso Social ................................. 59

    Captulo 4 - Incluso Social pelo Esporte: Mulheres .............................. 81

    Captulo 5 - Valores do Esporte para Trabalhadores .............................. 103

    Captulo 6 - Experincia do SESI de Santa Catarina emValores do Esporte na Empresa 2005 / 2007 ..................... 135

    Captulo 7 - Anlise da Experincia do SESI SC eAlternativas de Avaliao .................................................... 153

    Captulo 8 - Concluso: Possibilidades e Direcionamentos doProjeto Valores do Esporte SESI em Escala Nacional ......... 167

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    APRESENTAO

    O texto que se segue foi elaborado de modo a identicar, analisar e des-

    tacar fundamentos e princpios que pudessem informar e legitimar o Projeto

    Valores do Esporte SESI, de acordo com direcionamentos preliminares da

    Gerncia de Cultura, Esporte e Lazer do SESI Departamento Nacional, no

    estgio do primeiro semestre de 2007. Neste sentido, seus autores estabe-

    leceram como propsito do estudo a anlise crtica de valores do esporte,

    com base em seus antecedentes sociais e culturais, objetivando (i) levantar

    o estado do conhecimento atualizado na rea em pauta e conseqente-

    mente (ii) denir orientaes prticas para o desenvolvimento do Projeto nombito interno do SESI, a partir do segundo semestre de 2007.

    Cabe tambm acrescentar que este estudo mobilizou fontes nacio-

    nais e estrangeiras, dando nfase sobretudo s experincias brasileiras,

    incluindo as originadas do prprio SESI. O desdobramento da presente

    publicao consistir em um manual operacional sobre a implantao Pro-

    jeto em escala nacional nas unidades do SESI.

    Antnio Carlos Brito Maciel Diretor - Superintendente SESI/DN

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    Captulo 1Esporte e Valores

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    Introduo

    Os valores relacionados ao esporte no constituem tema de estudosnem fato recentemente identicado. Nesta abordagem, a idia original foide associar atividades esportivas com educao, criando-se ento um vn-culo fundador na histria do esporte. Desde a Antiga Grcia at a origemdo esporte moderno em meados do sculo XIX, as atividades atlticas e oesporte tm sido considerados importantes elementos de veiculao deinuncias valorativas entre as pessoas. Os helenos incentivavam, comgrande nfase, a aquisio do valor da transparncia moral e do vigor fsico(kalokagatia ), privilegiavam as atividades atlticas como meio de educa-o, embora no usassem a expresso valor, mas apenas julgamentosvalorizativos. Ou seja, para os helenos o signicado de valor no consis-tia em um termo sistematizado de conceitos e signicados como hoje,mas assumia um sentido de julgamento de comportamento expresso pelotermo virtude (comportamento bom, correto, honesto). J o termo va-lor como compreenso axiolgica hoje freqentemente denido como

    uma crena coletiva consensual de durao estvel que inuencia sentidoe signicado das relaes sociais e culturais (DACOSTA, 1989).

    Em 1844, na Inglaterra, foi criada a Young Mens Christian Association(YMCA- Associao Crist de Moos) por George Williams com o objetivode proporcionar aos jovens, que se aglomeravam nas cidades em buscado trabalho (Revoluo Industrial), atividades saudveis e motivadoras,unindo a prtica esportiva ao objetivo inicial do seu fundador: o cultivo de

    valores ligados s virtudes do carter e do esprito, da disciplina do corpoe, principalmente, do lado comunitrio e humano. A preocupao coma disseminao de valores e a prtica de atividades esportivas entre ostrabalhadores encontra-se detalhada no Captulo 5.

    Em ns do sculo XIX, os esportes nas escolas inglesas, o associa-cionismo esportivo (clubes, federaes, etc.) e o Olimpismo (doutrina derestaurao dos Jogos Olmpicos na era moderna) lanaram as bases ti-

    cas do esporte moderno, o que fez reforar os nexos valorizativos dos he-

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    lenos. Estes julgamentos de valor, ou ainda virtudes de comportamento,foram restaurados dos antigos gregos para inspirar e promover os valoresdo esporte moderno como, por exemplo, o fair play (jogo limpo). Diga-se de passagem, que o fair play foi o primeiro e principal valor do esportemoderno formulado at hoje prevalecendo.

    O Fair Play (Jogo Limpo) geralmente considerado como o principal valor doesporte moderno

    Tavares (1999, p.178) explica que a percepo de que o fair play, en-quanto conjunto de valores normativos do comportamento individual ecoletivo no ambiente da competio atltica reete a formulao de umambiente cultural especco, ou seja, o ethos cavalheiresco de aristocra-tas ingleses do sculo XIX, freqentemente associado ao ideal de umhomem nobre, gentil, controlado, honrado e honesto. Logo, temos aquiuma formulao moral para a conduta individual e coletiva na prtica dacompetio esportiva mundial, que tem parmetros no esporte amador eque se desenvolve num contexto sociocultural bem especco (aristocr-

    tico ingls) em consonncia com o projeto de desenvolvimento de umanova sociedade tecnolgica, industrial e civilizada.

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    Caill (1994), por outro lado, observa que oFair Play como um valorde bom comportamento no jogo no uma inveno moderna da socie-dade, uma vez que pode ser tambm encontrado, enquanto comporta-mento desejvel, em sistemas de jogos de vrias sociedades em diferen-tes pocas da histria humana. No entanto, vimos que o termo Fair Playpropriamente dito e com suas conguraes muito especcas surge eganha veiculao no contexto do Olimpismo Moderno, e tem, ainda hoje,o papel de referncia conceitual da tica esportiva, principalmente, nosdocumentos que regulam o esporte de alta competio. Dessa forma,

    o Fair Play passa a ser considerado um valor do esporte a partir de ummovimento de naturalizao de valores sociais que so incorporados prtica esportiva. Alm da normatizao institucional das regras esporti-vas, se estabelece um cdigo de tica universal.

    J no incio do sculo XX, era corrente a expresso valor atribudaao esporte, contudo relacionada s expresses princpio, idia e ide-al em diversas conotaes. Uma sntese deste perodo entre os povos

    europeus consistiu em se entender o esporte como portador de valoresou carrier of values no modo expressivo da lngua inglesa (DACOSTA,2006). Podemos tambm inferir que existem princpios inerentes ao es-porte, como competio, performance e excelncia. Entretanto, no po-demos perder de vista que o esporte uma prtica corporal construda,vivenciada e modicada na interao dos homens na cultura, reetindoseus valores e gerando novos; sua forma e constituio dependero sem-pre dos objetivos atribudos a ele. Logo, cabe-nos ressaltar que os valoresno so essencialmente do esporte, mas se reetem no esporte e sotambm gerados a partir dos signicados que os indivduos e grupos so-ciais do prtica esportiva.

    As rpidas transformaes sociais, culturais, econmicas e tecnolgi-cas ocorridas ao longo do sculo XX se reetiram de forma signicativa noesporte gerando diferentes manifestaes para a sua prtica. Consideran-do os diversos objetivos, valores e motivaes dos indivduos, grupos einstituies, o esporte passa a ser pensado e praticado em trs diferentes

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    dimenses: o esporte rendimento, o esporte educao e o esporte par-ticipao. Embora essas trs dimenses estejam calcadas em objetivos,valores e motivaes prprias, no podemos deixar de evidenciar o cons-tante jogo de troca de inuncias e reexos existentes no movimentoentre elas. Resulta-se ento em enorme inuncia que o esporte rendi-mento exerce sobre o imaginrio das crianas e adolescentes provocan-do inuncias no seu comportamento esportivo e social. Este fato temgerado constantes preocupaes com o rumo do esporte moderno sobo ponto de vista da tica e levado a reexes de como pode ser possvel

    a existncia do esporte e a sua prtica numa convivncia pacca e nocorruptvel nas suas diferentes manifestaes.

    Tais tendncias so notadas no s entre os prossionais da rea de Edu-cao Fsica, esportes e lazer, mas tambm de outras reas com crescenteateno ao tema valores do esporte como princpio orientador da boa prticaesportiva e meio de desenvolvimento moral dos praticantes esportivos. A par-tir destas consideraes iniciais, identicam-se na literatura diversas formas

    de reexo, investigao, divulgao e disseminao dos valores do esporte.Destacamos nesta reviso algumas das principais pesquisas e promoesde valores do esporte em trs vertentes: (1) Documentos e Manifestos; (2)Pesquisas e Seminrios; (3) Materiais Didticos e Campanhas Educacionais.Em seguida so analisadas algumas investigaes acerca dos valores do es-porte de modo a delimitar resumidamente o estado do conhecimento nestarea de prticas e teorizaes, pretendendo-se abordar adiante o esporte degrupos sociais e do trabalhador em particular.

    Documentos e ManifestosOs diversos fatos de violncia gerados no esporte de rendimento, os

    modelos de competies escolares e de conduo das prticas de Educa-o Fsica escolar geraram em pocas recentes maiores atenes sobre

    o fair play. Esta preocupao provocou a criao de diferentes instituiese movimentos relacionados defesa do fair play no esporte. Com base

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    sporte e Valores

    em Gonalves (1999), relatamos em seguida a histria resumida da for-mao institucional do fair play na Europa, que tem resultado na criaode relevantes documentos e comits nacionais, seminrios e conseqen-temente em campanhas educacionais nesta rea.

    Em 1964, em Bauting (Alemanha) foi criado o Comit Internacionalpara o Fair Play (CIFP) resultado da troca de idias entre representantesdo ICPES (International Council for Physical Education and Sport) e daAIPS (Association International de la Presse Sportive).

    Em 1972 foi criada a Associao Internacional para um Desporto semViolncia (graa com d em desporto devido origem portuguesa dadenominao) e em 1977 a Associao Internacional para a Luta contra aViolncia Associada no Desporto. Estes dois organismos foram criadoscom o objetivo prioritrio da luta contra a violncia no esporte e em 1981eles se fundem dando origem a Entente Internationale pour un Sport sansViolence et pour le Fair Play.

    Os documentos mais relevantes sobre o fair play so: Manifesto so-bre Desporto e Fair Play (1971); Manifesto sobre Fair Play (1975); Mani-festo sobre o Esprito Esportivo no Desporto e na Educao Fsica (1989);Cdigo de tica Desportiva (1992); Declarao sobre Fair Play Fair Playpara Todos (1992).

    No Manifesto sobre o Esprito Esportivo no Desporto e na EducaoFsica (1989) foram analisadas as responsabilidades sobre o esprito es-

    portivo dos atores envolvidos na prtica esportiva. Ao citar o profes-sor de Educao Fsica, o documento diz que ele pode contribuir para aformao do esprito esportivo, porque mantm contatos estreitos comos seus alunos e est em condies de, mesmo durante a competio,reagir imediatamente a toda violao das regras de conduta. O professorpode tambm encorajar os seus alunos a sentirem orgulho no seu com-portamento disciplinado e generoso, como praticante esportivo, o quecontribui, em curto prazo, a considerao prpria das suas escolhas, e emlongo prazo, uma adeso irreversvel aos princpios do esprito esportivo.

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    Play. Na sua funo de divulgar e difundir o fair play, destacamos: (1) des-de 1995, os Seminrios Europeus de Fair Play, realizados todos os anosem pases diferentes, e com temas relevantes de valores do esporte; (2)a edio do desdobrvel Meet the European Fair Play Movement; (3) aedio da revista Fair Play ; (4) e a presena do European Fair Play Move-ment em competies esportivas ligadas juventude na Europa.

    Pesquisas e SeminriosEm termos de construo de conhecimento, Vieira (1993) apresenta

    as teorias da aprendizagem social e a teoria cognitivista ou abordagemconstrutivista como as duas principais na rea do estudo sobre valoresdo esporte e desenvolvimento moral. De acordo com tericos da apren-dizagem social, o indivduo internaliza normas e convenes do grupo aoqual pertence e o seu comportamento esportivo o resultado de fatorescomo o condicionamento e reforo diferenciado do tcnico ou professor,sua expectativa em funo de fs e amigos e a prpria modelao com-portamental dos colegas e outros atletas. Segundo o pesquisador brasi-leiro citado, as pesquisas na abordagem da aprendizagem social tm sidofocadas em temas como: (1) a inuncia do esporte sobre o carter e per-sonalidade (SHELDON; STEVENS, 1942; BLANCHARD, 1946; MARTENS,1978; CARRON, 1980; ROMANCE, 1984; BREDEMIER; SHIELDS, 1987;BREDEMIER; WEISS, 1990); (2) comportamentos pr-sociais e atividade

    fsica (HORROCKS, 1977; ORLICK, 1981; GIEBINK; MACKENZIE, 1985;BREDEMIER; WEISS, 1990); (3) troca de valores quando da participaoem esportes (BREDEMIER, 1980; THOMAS, 1983; WEBB apud ROMAN-CE, 1984; DUBOIS apud BREDEMIER; WEISS, 1990).

    Todavia, de acordo com Vieira (1993) a teoria cognitivista ou aborda-gem construtivista de valores do esporte segue orientao na teoria dedesenvolvimento moral de Kohlberg e indica que o desenvolvimento mo-

    ral do indivduo est relacionado ao desenvolvimento cognitivo. Nesta te-orizao, o desenvolvimento moral resulta da interao entre a tendncia

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    inata do indivduo para organizar as experincias dentro de um padro co-erente de signicado e interpretao e as experincias do meio ambientee informaes sobre a realidade social. Nesta interpretao clssica, odesenvolvimento moral visto como um processo de reorganizao etransformao das bases sobre as quais o raciocnio organizado (BRE-DEMIER; SHIELDS, 1987 apud VIEIRA, 1993). As pesquisas que seguema linha construtivista se dividem em quatro categorias: (1) diferenas deraciocnio entre esporte e vida diria (BREDEMIER; SHIELDS, 1984, 1986;BREDEMIER, 1987); (2) participao esportiva e maturidade de raciocnio

    moral (FIGLEY, 1984; BREDEMIER; SHIELDS, 1987); (3) raciocnio morale tendncias morais (FIGLEY, 1984; BREDEMIER; SHIELDS, 1984, 1986;BREDEMIER; WEISS, 1990); (4) educao moral (LICKONA, 1976; HOR-ROCKS, 1979; MEAKIN, 1981; COLBY apud ROMANCE, 1984; ROMAN-CE, 1984; BREDEMIER; WEISS, 1990).

    SSeguindo a orientao construtivista, Vieira (1993) identicou e com-parou o nvel de raciocnio moral de adolescentes participantes de espor-

    te escolar do Paran, sul do Brasil, e alunos no-atletas da rede pblicae particular de ensino de Maring (municpio do Paran) com relao adilemas da vida esportiva e da vida diria. De acordo com o autor, os atle-tas apresentaram um raciocnio moral similar tanto no dilema de vida es-portiva quanto no dilema de vida diria. Os no-atletas apresentaram umraciocnio diferente entre os dilemas da vida esportiva e da vida diria. Osatletas e no-atletas demonstraram um raciocnio similar para o dilema davida esportiva e raciocnio diferente com relao ao dilema da vida diria.

    Telama, Laakso e Heikkala (1993), pesquisadores nlandeses, inves-tigaram as atitudes de fair play de jovens esportistas entre 12 e 16 anosbaseadas em situaes de dilemas morais em jogos de futebol. Foramrealizadas entrevistas baseadas no comportamento instrumental, com-portamento agressivo, comportamento pr-social e honestidade. Os re-sultados demonstraram que nas situaes apresentadas, a maioria dosjovens foi a favor de solues de acordo com as regras do fair play. Emsituaes relacionadas com altrusmo pessoal e honestidade, a maioria

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    sporte e Valores

    dos jovens foi a favor de comportamentos que pudessem ser considera-dos contra o fair play de acordo com as regras. Os meninos apresentaramuma tendncia maior do que as meninas em quebrar regras, mas nohouve esta diferena entre os grupos por faixa etria.

    No Brasil, Montenegro (1994) investigou, em aulas de Educao Fsicado segundo segmento do ensino fundamental de escolas do municpiodo Rio de Janeiro, as representaes que os alunos tm em relao aoprocesso de desenvolvimento moral nas aulas, onde a prtica pedaggicapode se constituir em meio propiciador de autonomia ou heteronomia. Oautor cita no contexto da prtica a experimentao do valor da constru-o de noes de regras sociais fundamentadas no princpio da justia.Para o autor, o ensino da Educao Fsica tem um importante papel nodesenvolvimento moral do aluno, e com base nos resultados da pesquisaressalta que essa contribuio passa necessariamente pela estratgia deincluso, como elemento fundante do sentimento de justia. O estudoteve como fundamento terico a perspectiva kohlberguiana (construtivis-

    ta) de desenvolvimento moral.Seguindo a teoria da aprendizagem social, Gonalves (1996) investigou,

    em escolas portuguesas, 434 alunos na faixa mdia de 12 anos, a inu-ncia dos agentes de socializao (treinador, professor de Educao Fsi-ca, pais, companheiros, amigos, e TV) no comportamento desses jovensparticipantes no desporto de competio e a percepo que esses jovenstm em relao aceitao que os agentes de socializao manifestam

    em face do uso de comportamentos anti-esportivos. De acordo com asrespostas de questionrios, o treinador seguido dos pais foram os agen-tes que mais inuenciam o comportamento anti-esportivo desses jovensnas competies, e por ltimo os companheiros, professor de EducaoFsica e TV. Quanto percepo que os jovens tm em relao aceitaopelos grupos de referncia da utilizao de comportamentos anti-esporti-vos temos em primeiro lugar os companheiros seguido pelos amigos, epor ltimo o treinador, os pais e o professor de Educao Fsica.

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    Manual Valores do Esporte Sesi

    Segundo Gonalves (1999), a obra de Peter McIntosh (1979),Fair Play:Ethics in Sport and Education, deu incio ao reconhecimento do fair playcomo matria de estudo e investigao. Em 1982, em Mnaco, tem-seo primeiro simpsio internacional consagrado sobre fair play, seguindo-se em 1984 e 1987. O lema Sans Fair Play, le sport nest plus le sport(sem esprito esportivo, o esporte no mais esporte) foi o primeiro lemaaparecido no Manifesto sobre Fair play do ICPES (1975) e muito divulga-do na Europa. Em 1994, com a criao da European Fair Play Movement(EFPM), passaram a ser realizados anualmente, desde 1995, os Semin-

    rios Europeus de Fair Play com temas relevantes de valores do esporte.Em 1989, com a criao da Academia Olmpica Brasileira, comeam a

    ser intensicados os estudos na rea do Olimpismo no Brasil e, a partirda dcada de 1990, comeam a surgir as primeiras linhas de pesquisa noBrasil sobre o Olimpismo. Atualmente existem 8 (oito) grupos de pesqui-sa sobre Estudos Olmpicos localizados no Rio de Janeiro (2), Porto Ale-gre (2), So Paulo, Esprito Santo, Curitiba e Juiz de Fora, que promovem

    pesquisas e estudos na rea, sendo um dos enfoques os valores do es-porte. Esses estudos so geralmente apresentados no Frum OlmpicoBrasileiro, destinado a constituir um encontro para discusso acerca dostrabalhos desenvolvidos, tanto no Brasil como no exterior. Em 1997, noRio de Janeiro, foi organizado o I Frum Olmpico com a apresentao dosprofessores Fernando Portela e Marta Gomes. Neste evento foram apre-sentados os primeiros trabalhos de carter emprico sobre o fair play naperspectiva da interveno em ambientes escolares. Desde ento foramrealizados outros quatro Fruns Olmpicos no Brasil (Porto Alegre, 2000;Rio de Janeiro, 2002; Curitiba, 2003; So Paulo, 2004). O Frum Olmpi-co hoje o principal e nico evento especializado no Brasil para divulgarpesquisas sobre Estudos Olmpicos. Em todos os Fruns realizados, foidestinado espao para o debate na rea de valores do esporte com nfa-se no fair play.

    No contexto brasileiro de Estudos Olmpicos, Abreu (1999) vericouentre pesquisadores e estudantes na Academia Olmpica Internacional

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    sporte e Valores

    as principais tendncias relacionadas com convergncias ou divergnciasdos valores do Olimpismo. A amizade construda e entendimento inter-nacional foram revelados pelo grupo multicultural como valores centraisdo Olimpismo. Para a autora, que desenvolve programas, palestras ecursos sobre o tema, a Educao Olmpica sob o enfoque multicultural sugerida para mediar particularidades locais com valores do Olimpismo.

    Neste mbito nacional, Portela (1999), Gomes (1999); Turini (2002; 2007)e Gomes & Turini (2004) criticam uma educao do fair play centrado emenfoques puramente tericos e com procedimentos de ensino que donfase nas tomadas de deciso do professor. Portela (1999) desenvolveuum estudo com base em reexes de tica e moral no esporte (fair play),tendo como fundamento terico conceitos estabelecidos por lsofoscomo Aristteles, Kant e John Rawls. Tambm analisou os pressupostostericos assumidos pela tradio do esporte para o desenvolvimento deuma tica esportiva nas indicaes fornecidas por adolescentes que prati-cavam e competiam sistematicamente em uma modalidade esportiva. O

    autor buscou descrever a predisposio racional dos respondentes comrelao aos atos morais tanto na vida cotidiana quanto na vida esportiva.Concluiu-se que a instituio de um manual de instrues com compor-tamentos estandardizados, sem discutir o porqu e o como alcanar taiscomportamentos, pode tornar-se incuo.

    Na esfera internacional, Lee & Cockman (1994) examinaram a relaoentre comportamento, atitudes e valores, identicando os valores que

    fundamentam a participao entre jovens (12-16 anos) praticantes de fu-tebol e tnis. Os sujeitos foram convidados a discutir dilemas morais noesporte atravs de entrevistas semi-estruturadas. O contedo das entre-vistas transcritas revelou 18 valores: realizao ou xito, dedicao, com-panheirismo, conformidade, conscincia, estabelecer contratos, divertir-se, igualdade, bom jogo, sade e boa forma, obedincia, imagem pblica,esprito esportivo, auto-atualizao, demonstrar habilidades, unidade degrupo, tolerncia e vitria. A espontaneidade das respostas serviu paraelucidar alguns dos valores que emergem entre os prprios jovens atletas

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    Manual Valores do Esporte Sesi

    e demonstrar o desenvolvimento do esprito esportivo e os benefciosque crianas e jovens podem obter atravs do esporte.

    Gomes (1999) realizou uma pesquisa de carter descritivo com o ob-jetivo de vericar entre escolares do ensino mdio as atitudes frente asituaes hipotticas esportivas tomando como referncia os valores desolidariedade e honestidade sob o ponto de vista do fair play. Este traba-lho foi publicado no livroEstudos Olmpicos (TAVARES; DACOSTA, 1999),num captulo sobre fair play, juntamente com outros ensaios sobre o tema.Para Gomes, os resultados da pesquisa indicaram que a prtica esportiva eos valores do esporte podem ter diferentes signicados para os diferentesgrupos sociais. A expectativa do tcnico, dos organizadores ou mesmoda famlia podem inuenciar o comportamento do jogador. Assim, para aautora, a discusso, reexo e negociao do esprito do jogo parecem sermais adequadas do que a instruo de fair play de cima para baixo.

    CCom propsitos similares, Turini (2002) comparou, entre estudantesdo ensino fundamental, o comportamento efetivo na prtica do fair playcom o comportamento normatizado atravs da Carta do Fair Play (Oeiras,Portugal). Para tanto aplicou questionrios, observou jogos de compe-tio de handebol e fez entrevistas com os alunos. Os resultados indi-caram que a simples instruo de valores baseada na Carta do Fair Playfoi insuciente para inuenciar o comportamento efetivo dos alunos naprtica do fair play. Identicou-se que algumas formas de comportamen-to se basearam em cdigos de valores estabelecidos entre os prprios

    praticantes e com inuncias diretas do seu meio cultural. A avaliaorecomenda que o desenvolvimento de atividades de fair play ultrapasse acodicao verbal para procedimentos mais construtivistas de desenvol-vimento moral a partir no s de representaes de valores universais,mas tambm de valores locais.

    No estudo dos valores do esporte, vericam-se tambm investiga-es focadas nos esportes e atletas prossionais. Cruz (1997, p. 251),

    por exemplo, analisou em 24 jogos de futebol prossional da Espanha

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    e Inglaterra os comportamentos relacionados com o fair play. Nesta in-vestigao, o autor considerou, alm das regras constitutivas (as regrasformais que devem ser aceitas por todos os jogadores), um segundotipo de regras chamadas regras normativas, que podem ter diferenasde esporte para esporte, mas reetem o sistema de valores estabeleci-dos pelos jogadores, pelos treinadores, pelos lderes e pelos adeptos. Oautor cita, como exemplo, o futebol, em que o atirar a bola para fora decampo para que um jogador contundido seja atendido ajuda a promovero fair play. No entanto, travar com falta um jogador de futebol da equipe

    adversria no meio campo quando ele tem a oportunidade de criar umasituao de perigo tambm se constitui em regras normativas que impli-cam violaes intencionais de regras constitutivas para conseguir algunsbenefcios para a prpria equipe. Este comportamento denominado defalta til ou ttica torna-se um comportamento visto como legtimo porparte dos participantes do esporte de rendimento, e em conseqnciainuencia os processos de socializao do esporte para jovens. Nestesentido o autor sugere tanto a educao do fair play quanto a reavaliaoe alterao das regras do esporte de modo a tornar disfuncional um com-portamento de violao das regras.

    Um exemplo de estudo relacionado a atletas prossionais e valores doesporte o de Tavares (1998), que diz que so escassos os estudos quese dediquem a tematizar os valores, concepes e atitudes de atletas deesporte de rendimento a respeito do Olimpismo. Para o autor, essa te-mtica se torna mais relevante a partir do momento em que as recomen-daes do Congresso Olmpico de 1994 apontaram para a atribuio aosatletas de um papel mais substantivo na direo do Movimento Olmpicointernacional. Neste sentido, Tavares investigou entre atletas brasileirosque participaram dos Jogos Olmpicos de Atlanta (1996) as atitudes emrelao a valores proclamados do Olimpismo: o internacionalismo, a har-monia fsico-intelectual e o fair play. Segundo o autor, os atletas tendema concordar com valores proclamados do Olimpismo, no entanto, esta

    concordncia mediatizada pela articulao que fazem entre estes valo-

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    res e o valor da excelncia e a cognio (p.vii).

    O mesmo autor brasileiro (TAVARES, 2003) apresenta um aprofunda-mento do tema no qual visou identicar os valores e compreenses dosatletas olmpicos a respeito dos Jogos e do Olimpismo. Para tanto rea-lizou uma pesquisa comparativa internacional incluindo atletas olmpicosdo Brasil e da Alemanha que participaram dos Jogos Olmpicos de Sydney(2000). A orientao terico-metodolgica da pesquisa foi baseada emquatro nveis de anlise e interpretao: (i) as modalidades entendidascomo subculturas esportivas; (ii) o sistema esportivo de alta competiocomo uma totalidade; (iii) o Olimpismo como uma ideologia do Movimen-to Olmpico e uma metateoria de prtica esportiva e (iv) a cultura. Os re-sultados demonstram que os atletas tm uma atitude positiva a respeitodos Jogos e do Olimpismo que , porm, inuenciada pela excelncia,cognio, pelas subculturas esportivas e por caractersticas culturais.

    Os exemplos acima citados sugerem que a idia de valores do espor-te, que diferente de valores no esporte, constitui uma impresso maisde norma do que de pacto, mais de inrcia do que de movimento. Entre-tanto, a condio do esporte como portador de valores dissolve estadistino uma vez que agrega valores tanto da sociedade como do pr-prioesporte para suas intervenes. Compactuamos com Parry (1998) nosentido de que cada um desses valores, mesmo estando articulados paraum alto nvel de generalidades, poder admitir muitas formas de interpre-tao. Este autor percebe o Olimpismo como um conjunto de idias que

    deve se esforar para a compreenso do signicado dos esportes em suaprtica. No ao contrrio, ou seja, procurar exemplos nos esportes quepossam armar e legitimar seu conjunto de princpios. Ele sugere aosprofessores e tcnicos no tomarem os princpios do Olimpismo comoinertes, mas como idias vivas que tenham o poder de refazer a todoinstante nossas noes de esporte e seu potencial para as discusses defundo tico (p.12).

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    Materiais Didticos, Campanhas e Programas

    EducacionaisA Campanha sobre o Esprito Desportivo da Cmara Municipal de Oei-

    ras (municpio de Portugal) um dos programas pioneiros e mais difundi-dos de promoo do esprito esportivo. Este programa tem se destacadoprincipalmente na Europa. Foi iniciado em 1989 e, segundo Gonalves(1999), tem como objetivos bsicos: (i) promover o conceito de EspritoDesportivo nas comunidades desportiva e educativa; (ii) relevar no des-

    porto e na sociedade os valores e princpios do Esprito Desportivo e (iii)incentivar os jovens praticantes desportivos a adotarem atitudes e com-portamentos de acordo com o Esprito Desportivo 1.

    O programa envolve jovens dos 10 aos 18 anos, treinadores, pais, pro-fessores, dirigentes esportivos e mdia. Desenvolve-se atravs de cincoreas fundamentais:

    1) Programa educativo especco para professores, nas escolas do en-sino bsico e secundrio;

    2) Publicao de documentao de apoio;

    3) Estudos de investigao;

    4) Conferncias e seminrios em escolas e clubes;

    5) Atribuio de prmios anuais de esprito desportivo (desporto esco-lar e desporto federado).

    Dois seminrios foram realizados no mbito deste programa: Semi-nrio Internacional sobre Esprito Desportivo, Desporto e Educao(1989); Seminrio Europeu sobre Desporto de Alta-Competio: queFair Play? (1997). O programa tem reconhecimento internacional atra-vs dos prmios de Meno Honrosa do Comit Internacional para oFair Play (1996) e do Prmio Fair Play Europeu do European Fair PlayMovement (1997).

    1 Em Portugal utiliza-se a expresso Esprito Desportivo para dar signicado ao fair play.

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    Learn and Play Olympic Sports (1992) um manual de Educao Olm-pica da Amateur Athletic Foundation of Los Angeles que apresenta te-mas divididos por disciplinas escolares e estimula a interdisciplinaridadecom a abordagem de temas comuns entre as disciplinas. Um dos temasprincipais acerca de valores do esporte o vencendo e perdendo: bomesprito esportivo. Os objetivos deste tema so atingidos atravs de ati-vidades que visam (i) desenvolver o bom esprito esportivo e o fair play,(ii) estimular o conhecimento e o uso das regras do jogo e (iii) estimular acompetio e a participao em esportes.

    A fonte Binder (1995) apresentou uma proposta educacional de fair playpara crianas no manualFair Play for Kids . Neste manual proposto quejogando limpo a criana tem oportunidades para fazer melhores escolhas,no jogo e na vida. A criana interage com outras crianas em diferentessituaes, constituindo-se, assim, um processo de socializao escolar,atravs de jogos e esportes, nos quais o fair play deve ser estimuladopara que se atinja o amadurecimento das atitudes e comportamentos

    baseado em valores como honestidade, solidariedade e cooperao. Aprimeira edio foi publicada em 1990 e faz parte do Projeto da Fair PlayCanada, e tem como liderana a professora Deanna Binder, uma das pio-neiras da produo de materiais didticos em valores do esporte.

    Na investigao de Gibbons, Ebbeck & Weiss (1995), foi analisada aefetividade de um currculo de ensino de Educao Fsica para a pr-escola voltado para o desenvolvimento moral. Foram utilizados dois

    grupos de 452 alunos de escolas do Canad. Um grupo recebeu o curr-culo Fair Play for Kids somente nas aulas de Educao Fsica, enquantoo outro grupo recebeu o mesmo currculo tambm em outras discipli-nas escolares. Os resultados apontaram diferenas signicativas emtodos os indicadores de desenvolvimento moral entre os dois grupos.Os resultados de desenvolvimento moral foram mais signicativos parao grupo que recebeu o currculo Fair Play for Kids tambm em outrasdisciplinas escolares. Os resultados reforam que o crescimento mo-ral no uma conseqncia automtica da participao em atividades

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    fsicas, mas est especialmente associado a um currculo de ensinosistematizado e organizado para fazer a diferena.

    O Comit Olmpico Internacional (COI) (1995), atravs de uma Comis-so de pesquisadores da Academia Olmpica Internacional (Grcia) pro-duziu um manual didtico de Educao Olmpica em meados da dcadade 1990, denominado Keep the Spirit Alive: You and the Olympic Games.O professor Lamartine DaCosta, ento presidente da Academia Olmpi-ca Brasileira, participou como um dos consultores na produo da obra.Atravs de informaes e atividades para escolares, o manual difunde osprincipais valores olmpicos tais como solidariedade, paz internacional,busca de excelncia, fair play, identidade cultural e multiculturalismo.

    Ainda na dcada de 1990, no Brasil, destacaram-se dois programasde Educao Olmpica: o Programa Educao Olmpica na Escola (1998),em Poos de Caldas, Minas Gerais, e o Programa Educao Olmpica naComunidade (1999), em Curitiba, Paran.

    O Programa Educao Olmpica na Escola (1999), em sua verso ex-perimental, foi a primeira tentativa de difundir um manual de EducaoOlmpica no Brasil e teve como autor o professor Cristiano Belm. EstePrograma voltado para crianas de 11 a 12 anos de idade foi experimen-tado a princpio no municpio de Poos de Caldas, com o propsito degerar um modelo a ser oferecido a todos os demais municpios do pasusando a Internet. Seus objetivos especcos estavam relacionados como conhecimento e aprendizagem dos tpicos do Olimpismo, e com asatitudes e os valores a serem desenvolvidos com o programa de Educa-o Olmpica. Aps a verso experimental em Poos de Caldas o manualde Educao Olmpica foi difundido via Internet atravs da homepage -ftp.pocos-net.com.br - seguindo as referncias do Keep the Spirit Alive:You and the Olympic Games . Na homepage foram disponibilizados ummanual do educador e um caderno de atividades em Educao Olmpicacom foco no fair play para aplicao na Educao Fsica escolar e o aper-

    feioamento de professores voluntrios em qualquer lugar do territrio

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    nacional. Mais tarde, no ano de 2001, o professor Cristiano Belm iniciao projeto de Educao Olmpica Esporte e Cidadania com escolares doensino fundamental na cidade de Poos de Caldas (MG), com base naexperincia adquirida na verso experimental.

    O Programa Educao Olmpica na Comunidade foi realizado, em 1999,dentro do Programa CATES (Centro de Aprimoramento de Talentos Esporti-vos) da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer da Prefeitura Municipal deCuritiba. O programa uma iniciativa de poltica pblica municipal dirigidapela Secretaria Municipal de Esporte e Lazer, tendo como objetivo geral aaquisio de hbitos e atitudes embasados nos conceitos do discernimen-to moral e do fair play. O programa de Curitiba tem um contedo progra-mtico a ser desenvolvido, que de maneira geral so: os Jogos Olmpicos,o mundo dos Jogos Olmpicos, o fair play, o esprito do atleta olmpico.Algumas sugestes de atividades so dadas, como por exemplo, a utiliza-o de lmes sobre Jogos Olmpicos, apostilas, murais e gincanas. Umacaracterstica do programa, alm de fomentar as atividades esportivas e o

    fair play, o aprimoramento de talentos esportivos que surjam naturalmen-te durante as atividades, atravs de atividades de iniciao esportiva. Aindaem 1999, a professora Letcia Godoy inicia a primeira experincia de Edu-cao Olmpica em curso superior de Educao Fsica com Projeto Educa-o Olmpica no Ensino Fundamental. O projeto visou capacitar os futurosprofessores de Educao Fsica a desenvolverem atividades de educao evalores olmpicos com estudantes do ensino fundamental (GODOY, 2002).

    Em 1999, a FOSE (Foundation of Olympic and Sport Education), en-tidade grega no-governamental dedicada divulgao dos valores doOlimpismo, com o apoio da UNESCO e do COI, iniciou um projeto paraelaborao de um livro didtico de Educao Olmpica com alcance inter-nacionale multicultural. Sob a liderana da j citada professora canaden-se Deanna Binder, pesquisadores e educadores de vrios pases foramconvidados a planejar, avaliar, sugerir e testar em atividades prticas deaula os textos, dinmicas e exerccios propostos no livro para o desen-volvimento do gosto pela prtica da atividade fsica e esportiva baseada

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    nos princpios do fair play e do respeito diversidade cultural. No Brasil, aprofessora Marta Gomes participou nesse primeiro momento da elabora-o do livro como revisora internacional, ao lado de Bernadette Dean (Pa-quisto), Yangshenh Guo (China), Doune Macdonald (Austrlia), DoreenSolomons (frica do Sul) e Nabilah Abdelrahman (Egito). O projeto entopassou a se chamar Be a Champion in Life,apresentando os seguintesobjetivos bsicos para a Educao Olmpica:

    1) Enriquecer a personalidade humana atravs da atividade fsica e doesporte, combinando com cultura e subentendida como experin-cia permanente de vida;

    2) Desenvolver um senso de solidariedade humana, tolerncia e res-peito mtuo associado ao fair play;

    3) Estimular a paz, o respeito pelas diferentes culturas, proteo aomeio ambiente, valores humanos bsicos e interesses, de acordocom as necessidades nacionais e regionais;

    4) Encorajar a excelncia e a proeza (sucesso) de acordo com os ideaisOlmpicos fundamentais;

    5) Desenvolver o sentido de continuidade da civilizao humana explo-rado atravs da histria olmpica antiga e moderna.

    Ainda em 1999, aps a nalizao do livro didtico, um grupo de pro-fessores brasileiros coordenado pela professora Marta Gomes iniciou oprojeto de Educao Olmpica no Brasil entre estudantes do ensino fun-damental. O projeto abrangeu a aplicao das atividades do manualBe aChampion In Life!! em pases de vrias partes do mundo com o objetivode coleta de dados para comparaes internacionais e vericao de suaviabilidade prtica. Entre os cinco captulos deste manual destacamos: a)Corpo, mente e esprito: inspirando as crianas a participarem de ativida-des fsicas; b) fair play: o esprito do esporte na vida e na comunidade; c)multiculturalismo: aprendendo a viver com a diversidade; d) em busca daexcelncia: identidade, autoconana e auto-respeito; e) os Jogos Olmpi-cos presente e passado: celebrando o esprito olmpico.

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    Em 2000, o manualBe a Champion in Life!!foi lanado como um dosmais importantes manuais de Educao Olmpica produzidos at hoje. Aprofessora Letcia Godoy participou do congresso realizado na Grcia paralanamento e apresentao dos resultados da aplicao prtica do manu-al, passando tambm a compor o quadro de consultores internacionais.

    No incio da dcada de 2000, Turini (2000; 2001; 2002) apresentouexperincias e estratgias de desenvolvimento do fair play entre es-tudantes do ensino mdio, entre as quais: (i) adaptao de algumasdas atividades de fair play desenvolvidas pela UEFA no futebol europeuprossional; (ii) elaborao de seminrios de fair play entre alunos an-tes da competio e elaborao em conjunto com eles de uma smulade fair play para contabilizar pontuao do trofu fair play. Em 2002,Turini tambm apresentou, como antes resumido, os resultados da suapesquisa de dissertao de mestrado na qual comparou o comporta-mento de fair play de estudantes do ensino fundamental em competi-o de handebol com o comportamento normatizado por valores tam-

    bm normativos de Carta de Fair Play. Os resultados demonstraramser conveniente que o desenvolvimento de atividades de fair play comjovens escolares ultrapasse a codicao verbal para procedimentosmais construtivistas de desenvolvimento moral. Neste caso, o autorapresentou sugestes de estratgias de ensino com base nas caracte-rsticas do grupo estudado.

    A partir do ano de 2001, o professor Nelson Todt comea a desenvolver

    nos cursos superiores de Educao Fsica e outros cursos da FaculdadeCenecista de Osrio-FACOS/RS e da PUC/RS experincias de dissemina-o de valores olmpicos com base na reproduo de Cerimnias Olmpi-cas. As atividades tiveram em mdia a participao de 120 alunos e mais1.000 espectadores.

    Diante dessas experincias, Tavares e colaboradores (2005) dizemque a Educao Olmpica encontra-se em um estgio inicial de desen-

    volvimento no Brasil, sendo que a concentrao das iniciativas situa-se

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    nas regies Sul e Sudeste. Um dos pontos positivos do desenvolvimen-to da Educao Olmpica brasileira o desenvolvimento simultneo deexperincias prticas e produo terica gerando base para aes fu-turas. No entanto, nenhuma das atividades de Educao Olmpica noBrasil contou efetivamente com a participao de rgos do sistema deensino nacional. As experincias de Sydney (2000) e Atenas (2004), quederam prioridade a programas de Educao Olmpica com a participaode rgos do sistema de ensino nacional, contriburam para alavancaros esforos de suas candidaturas sede dos Jogos Olmpicos nos res-

    pectivos pases-sede.O Programa de Educao Olmpica nos Jogos Olmpicos de Sydney

    (2000) foi uma srie de pequenos programas desenvolvidos por ocasioda realizao dos Jogos. Mesmo antes de ser conrmada como sededos Jogos, Sydney j estava implementando outros programas de Educa-o Olmpica, desde 1992. Esses programas visavam ajudar tambm naescolha da cidade como sede dos Jogos. Quando Sydney foi conrmada

    como sede dos Jogos Olmpicos de 2000, os programas foram ampliadosa diversas outras escolas da cidade. Os programas versavam em trslinhas de ao:

    a) Compartilhar a mensagem do Movimento Olmpico;

    b) Criar oportunidades para viver os ideais olmpicos e

    c) Promover experincias de vivenciar sempre o tempo dos Jogos.

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    Trabalhadores brasileiros em competies internacionais - esprito olmpico esuperao de barreiras

    Dentro da ao dessas linhas de atuao, programas de EducaoOlmpica foram desenvolvidos. A maioria das escolas indicou um legadopositivo do envolvimento dos alunos e alunas em Educao Olmpica.Os estudantes ganharam uma compreenso do Movimento Olmpico euma aceitao dos valores olmpicos. Adquiriram uma avaliao melhordo esporte de elite e a organizao requerida para tal evento. Criou-seentre os estudantes o desejo de apoiar o Movimento Olmpico e atletasparaolmpicos. Criou-se um senso de orgulho nacional, reconhecimentode realizaes, compromisso para ideais olmpicos e a inspirao para fa-zer melhor em todos os seus esforos. As escolas tiveram a oportunidadepara conhecer as mudanas globais do nal do sculo XX e obtiveramuma compreenso dos valores universais olmpicos. Os programas foramressaltados como justicativas para envolvimento futuro em atividades

    de Educao Olmpica.

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    Neste estgio mais recente, Gomes (2002) analisou os quatro mate-riais didticos mais conhecidos entre aqueles que trabalham com a Edu-cao Olmpica no Brasil: (i)Keep the Spirit Alive: You and the OlympicGames , COI (1995); (ii)Learn and Play Olympic Sports , Amateur AthleticFoundation of Los Angeles (1992); (iii)Educao Olmpica na Escola. Ma- nual do Educador Olmpico , Poos de Caldas, Brasil (1999) e (iv)Be aChampion in Life!! A Project of Foundation of Olympic and Sport Educa- tion, Grcia (2000). A anlise desses materiais enfocou os conceitos decultura, o etnocentrismo, e raa e cultura. A autora realizou uma anli-

    se crtica dos materiais de Educao Olmpica sob o enfoque multicultu-ral e a mediao das particularidades locais com valores do Olimpismo.Os resultados da anlise contriburam para demonstrar que os materiaisapresentam algumas decincias nos temas investigados por conferiremdemasiada ateno aos referenciais culturais e de valores europeus e nor-te-americanos, mantendo outros pases e culturas sob uma perspectivaperifrica, devendo, assim, ser aperfeioados em futuras edies e novoslanamentos na rea da Educao Olmpica, principalmente no que tangeao multiculturalismo, regionalismo e diferenas.

    Em idntica linha de conta esboada por Gomes, Turini (2007) apre-senta as anlises realizadas sobre as atividades de fair play do manualde Educao Olmpica doBe a Champion In Life!! correlacionadas comalguns dos conceitos mais discutidos atualmente no campo da Educao:a Aprendizagem por Competncias e Competncias para Ensinar (Perre-noud, 2000 e 2002). As anlises realizadas noBe a Champion In Life!! indicaram que os professores podem, atravs das atividades de fair play,promover nos alunos o desenvolvimento de competncias para mobilizarum conjunto de recursos cognitivos (saberes, capacidades, informaes,etc.) para solucionar uma srie de situaes relacionadas ao convvio so-cial. Indica-se que as atividades do manual investigado possam promoveroportunidades para que os alunos construam conceitos, valores e proce-dimentos referentes convivncia tica-social.

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    REIS, Daniela.Investimento social privado: um novo patamar. GIFE Grupo de Institutos, Fundaes e Empresas/Brasil. Disponvel em: .

    RODRIGUES, Fbio F. S. O Programa SESI Esporte e o Esprito Olmpico.In: TURINI, M.; DACOSTA, L.Coletnea de textos em estudos olmpi-cos. Rio de Janeiro: Gama Filho, 2002. CD ROM Biblioteca Bsica emEstudos Olmpicos.

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    sporte e Valores

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    TURINI, Marcio. Anlise das atividades de educao olmpica e fair playe os conceitos de aprendizagem por competncias e competncias paraensinar. In: MORAGAS, M.; DACOSTA, L. (Org.).Seminrio Brasil-Espa-nha em Estudos Olmpicos. Barcelona: Centro de Estudios Olmpicos- Universidad Autnoma de Barcelona, 2007.

    VIEIRA, Jos L.Avaliao do desenvolvimento moral de adolescentesem relao a dilemas morais da vida diria e da prtica esportiva. 1993. Dissertao (Mestrado)UFSM, Santa Maria, 1993.

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    Captulo 2Abordagens Tericas

    Sobre Valores do Esporte

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    Abordagens Tericas Sobre Valores do Esporte

    Podemos denir valores como preferncias que damos a certas coisasno mundo e que inuenciam o comportamento coletivo (BUHLER, 1980),sendo que o comportamento coletivo inuencia direta e indiretamente aoque atribumos valor e aos valores que compartilhamos.Valores podemser entendidos tambm como crenas coletivas relacionadas a religies,modos de cultura, grupos tnicos, tipo de empresas, entre outros.

    Na antropologia estruturalista de Radcliffe-Brown, valor refere-sesempre a uma relao entre um sujeito e um objeto, na qual se esta-belece tanto o valor que o objeto tem para o sujeito quanto o interesseque o sujeito tem no objeto. Por outro lado, a sociedade se estabele-ce a partir das relaes sociais entre indivduos, que segundo o autorsomente se efetuam quando h interesses convergentes ou ajuste deinteresses divergentes (1973, p. 175). Logo, uma sociedade ou gruposocial somente pode existir a partir de uma concordncia de seus mem-bros individuais com relao ao que seja reconhecido como valor e auma relativa harmonia de interesses. Para que um objeto tenha valor

    social, necessita-se de que duas ou mais pessoas tenham interesse emcomum neste mesmo objeto e sejam conscientes desses interesses,promovendo uma associao entre elas e um ponto em comum que asune (lembrando que num sistema social, pessoas tambm so objetosde interesse para outras).

    Dentro do campo da axiologia ou estudo dos valores so apresentadasdiferentes formas de classicao. De acordo com uma categorizao

    simplicada de valores, podemos citar alguns exemplos:- Valores econmicos (com conotaes de prosperidade ou riqueza,

    pobreza e misria);

    - Valores religiosos (aqueles que se realizam atravs das normas evirtudes das religies, em uma dimenso, ou na compreenso doque seja o santo, ou o sagrado);

    - Valores estticos (apresenta as perspectivas do belo e do feio, dobom gosto e do mau gosto);

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    - Valores sociais, ticos e morais (aqueles que se ocupam com ocomportamento humano, da reexo sobre os valores da vida, davirtude e do vcio, do direito e do dever, do bem e do mal).

    A busca continuada da excelncia um valor do esporte

    Destacamos os valores morais para a anlise dos valores do e no esporte . Valores morais so regras de conduta que tm como base aconscincia moral das pessoas ou de um grupo social formado peloscostumes e tradies predominantes em um determinado meio cultural.Podemos citar ainda as normas jurdicas como elemento regulador docomportamento social; no entanto, segundo Cotrim (1988, p. 74), estasltimas so regras sociais de conduta que tm como base o poder socialdo Estado sobre a populao que habita seu territrio. Assim, uma das

    principais caractersticas da norma jurdica acoercibilidade . Isto : anorma jurdica conta com a fora e a represso potencial do Estado para

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    Abordagens Tericas Sobre Valores do Esporte

    ser obedecida pelas pessoas. O autor exemplica dizendo que quandoalgum desrespeita uma norma moral, como, por exemplo, um dever decortesia, sua atitude ofende apenas a moralidade convencional de umdeterminado grupo, que no tem poderes enrgicos para promover umapunio. Ao contrrio, se uma pessoa desrespeita uma norma jurdicaprevista, por exemplo, no Cdigo Penal, sua atitude provoca a coao doEstado, que tem poderes efetivos para impor uma pena ao infrator, assimcomo no esporte.

    Podemos contextualizar no esporte o exemplo dado anteriormente aosconceitos de fair play formal e fair play informal (LENK, 1976). O fair playformal signica o valor de respeitar os cdigos formais do esporte deacordo com as advertncias e punies previstas nas regras do esporte.Neste caso o raciocnio moral do sujeito est condicionado punio erecompensa, numa perspectiva da teoria kohlberguiana. J o fair playinformal signica o valor que associa as aes do sujeito ao seu raciocniomoral baseado em princpios morais. possvel identicar que o valor do

    fair play informal tambm est associado a certas formas de moralidadeconvencional (cortesia) como, por exemplo, quando o jogador de futeboljoga a bola para fora para que um jogador adversrio contundido possaser atendido.

    Devemos entender que o processo de formao de valores est asso-ciado diretamente ao processo de formao cultural de uma determinadasociedade. O desenvolvimento moral ou de valores signica o desenvol-

    vimento de uma conscincia moral . Segundo Mora (1982),conscinciamoral pode ser concebida como adquirida.Podemos considerar que seadquire por educao das potncias morais nsitas no ser humano, nestecaso, a conscincia moral algo que se tem a possibilidade de possuirsempre que se suscite para isso uma sensibilidade moral adequada. Te-mos conscincia moral quando fazemos escolhas, quando assumimosvoluntariamente certas normas, atitudes, posturas, diante de situaescom que nos defrontamos. A alienao moral entendida como uma se-parao da realidade moral, ou seja, um sentimento de afastamento aoscdigos reguladores de um meio social, sejam eles morais ou jurdicos. A

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    falta de conscincia moral pode resultar, por exemplo, num agir agressi-vo, que se caracteriza em certos tipos de violncia como vandalismo, faltade respeito e ausncia de solidariedade.

    Outro ponto importante, quando falamos em valores morais, dife-renciarmos moral e tica. De acordo com Fagundes (2000, p. 92-93), po-demos entender por moral a maneira de se comportar regulada pelo usoe pelo costume, em que cada cultura estabelece uma srie de padresaos quais a conduta do indivduo deve se adequar. A tica vai alm daobedincia s regras e normas sociais. Seu objetivo justamente inves-tigar, provocar reexo. A tica pressupe uma busca racional de comodevemos viver para ter uma vida boa.

    A tica pode ser entendida, ento, como a reexo sobre moral oua reexo sobre valores. Vrios setores utilizam-se da tica como umaferramenta para reetir sobre os valores que norteiam suas aes e seusprocedimentos. Podemos citar como exemplo a tica prossional, a ticaempresarial, a tica ambiental e a tica esportiva.

    Breve Anlis e sobre a ti ca EsportivaAs origens da tica Esportiva no Esporte Moderno esto relacionadas

    a trs fatores fundamentais:

    s prticas esportivas entre estudantes das escolas inglesas do s-culo XIX, nas quais os estudantes praticavam o esporte segundoum contrato de regras baseado no jogo limpo e nos valores cristosestabelecidos entre eles (Muscular Christianity);

    ao movimento de associacionismo esportivo, em que surgiram osprimeiros clubes, federaes esportivas, competies nacionais einternacionais organizadas segundo a universalizao das regras;

    ao Olimpismo como losoa do esporte moderno, tendo o fair playcomo principal valor olmpico e do esporte em geral.

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    Abordagens Tericas Sobre Valores do Esporte

    Ao analisarmos a evoluo do Esporte Moderno no sculo XIX e meta-de do sculo XX, podemos observar no Quadro 1 as principais caracters-ticas e valores associados:

    Quadro 1 - Principais caractersticas e valores associados aoEsporte Moderno nos sculo XIX e metade do sculo XX

    aractersticas ores pre om nantes

    - Competies dirigidas por insti-tuies esportivas (COI, CONs,confederaes, federaes eclubes)

    - Alto rendimento

    - Vitria como principal objetivo

    - Treinamento especializado e pro-ssionalizao

    - Valorizao dos grandes atletas

    - Uso poltico e ideolgico

    - Corrupo e doping

    - Explorao comercial exacerbada

    POSITIVOS Excelncia

    Internacionalismo

    Fair play

    Paz e solidariedade

    NEGATIVOS

    Corrupo administra-tiva

    Trapaa e doping

    Discriminao da parti-cipao feminina

    Violncia

    A prtica esportiva baseada apenas no modelo de rendimento gerouentre os prossionais e pensadores da rea a rediscusso do conceitode esporte. A partir da segunda metade do sculo XX, ocorreram umaprofunda reexo tica e a agregao de novos valores, gerando novos

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    conceitos de esporte. Alm do esporte de rendimento, se admitia umesporte voltado para a educao e um esporte voltado para a participa-o. No Quadro 2 so apresentados exemplos de documentos e valoresassociados ao Esporte Moderno que se seguiram a partir da segundametade do sculo XX.

    Quadro 2 Exemplos de documentos e valores associados aoEsporte Moderno na segunda metade do sculo XX

    ocumentos a ores pre om nantesManifesto do Desporto (1964)

    Esporte escolar e Esporte do homem

    comum

    Carta Internacional de Educao

    Fsica e Desportos (1978)

    Atividade fsica como direito de todos

    Movimento EPT (a partir da dcada de 60)

    Popularizao da prtica esportiva

    Constituio Brasileira (1988)

    dever do Estado fomentar prticas

    desportivas formais e no-formais, como

    direito de cada um (...) (Artigo 217, p.59).

    Participao

    Co-educao

    Cidadania

    Integrao e desen-

    volvimento comunitrio Bem-estar

    Qualidade de vida

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    Abordagens Tericas Sobre Valores do Esporte

    Hoje nota-se que as percepes no senso comum quanto prticaesportiva e gerao de valores sociais independem da manifestao es-portiva (rendimento, educao ou participao). Assim, podem ser identi-cados valores associados ao esporte de modo geral, tais como:

    trabalhar em grupo;

    encontrar respostas nos momentos difceis;

    aprender a decidir;

    respeitar diferena;

    aceitar seu limite e do outro;

    sentir orgulho de representar o time;

    aprender a ganhar e perder ...

    No entanto, tradio nas instituies esportivas eleger valores para

    constiturem seus princpios norteadores da prtica. O exemplo mais cls-sico so os Valores Olmpicos Excelncia, Fair Play, Persistncia, MeioAmbiente, Multiculturalismo e Participao. Temos outros exemplos nes-te setor, como o do Comit Olmpico Canadense que elegeu os valoresde Excelncia, Alegria, Honestidade, Respeito, Desenvolvimento Huma-no, Liderana e Paz. De acordo com os conceitos apresentados no Cap-tulo 1 sobre valores do e no esporte, consideramos esses valores eleitospelas prprias instituies como valores do esporte, uma vez que sovalores convencionados e assumidos como valores universais.

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    Integrao dos trabalhadores com a empresa equipe da Tupy SC, campe mun-dial de futebol do trabalhador, 2006

    As instituies sociais de um modo geral tm assumido esta tendncia emeleger valores para orientar seus procedimentos. Podemos exemplicar comvalores eleitos no exrcito americano Lealdade, Responsabilidade, ServioSocial, Honra, Integridade e Coragem Pessoal; e valores eleitos em empresas

    como a Sntese Agricultura Estratgica Inovao, Relacionamentos, MeioAmbiente, Pensamento Estratgico, Sustentabilidade e Flexibilidade.

    Teorias de Desenvolvimento Moral eValores no Esporte

    De acordo com Romance (1984), as duas principais teorias de desen-volvimento moral so: a teoria da aprendizagem social (BANDURA, 1969)e a teoria cognitivista ou abordagem construtivista (PIAGET, 1932). Para

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    Abordagens Tericas Sobre Valores do Esporte

    esse autor, os princpios que denem estas duas abordagens no somutuamente exclusivos, mas possuem estruturas fundamentais e com-plementares (VIEIRA, 1993).

    A abordagem da aprendizagem social tambm denominada interna-lizao entende o desenvolvimento moral como a aceitao da apren-dizagem do comportamento atravs da transmisso de valores. Nessesentido o desenvolvimento moral se d pela progressiva internalizaodas regulaes sociais (VIEIRA, 1993).

    Na perspectiva da aprendizagem social o desenvolvimento moral dopraticante esportivo pode ser o resultado de fatores como o reforo dotcnico e/ou lder de grupo, a sua expectativa em funo de fs ou ami-gos, a modelao comportamental dos colegas e outros atletas, e a inu-ncia das normas jurdicas do jogo as regras e as punies.

    No contexto da Educao Olmpica, a abordagem da aprendizagemsocial se d atravs de (i) programas com enfoques puramente tericos,

    (ii) trabalhos de explanaes de instrues e lies acerca dos ideais olm-picos que surtem efeitos geralmente conceituais e permanecem no limiardas propagandas, (iii) eventos nos moldes tradicionais das competiesdas competies esportivas (GOMES, 1999, p.207) e (iv) desenvolvimen-to de valores universais predeterminados em normas de fair play des-considerando os valores locais (multiculturais). De acordo com Tavarese colaboradores (2005), a Educao Olmpica pode ser denida como:Trata-se no propriamente de um contedo denido, mas, ajustando-seao que preconiza a Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (Lein 9394/96), de um conjunto de atividades educativas de carter multi-disciplinare transversal tendo como eixo integrador o esporte olmpico.Seguindo referncias internacionais, as aes de educao olmpica atagora desenvolvidas no Brasil se articulam majoritariamente segundo cin-co temas: fair play (jogo limpo); multiculturalismo; corpo, mente e espri-to; busca da excelncia; e Jogos Olmpicos, passado e presente.

    A abordagem construtivista ou cognitivista est relacionada ao desen-volvimento cognitivo, situando que o desenvolvimento moral resulta da

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    Manual Valores do Esporte Sesi

    interao entre: (a) a tendncia inata do indivduo para organizar as ex-perincias dentro de um padro coerente de signicado e interpretaoe (b) as experincias do meio ambiente que proporcionam informaessobre a realidade social. Dessa forma, o desenvolvimento moral vistocomo um processo de reorganizao e transformao das bases sobreas quais o raciocnio organizado (BREDEMIER; SHIELDS, 1987 apudVIEIRA, 1993). No processo de desenvolvimento moral atravs da abor-dagem construtivista, trs conceitos so importantes o raciocnio moral,o julgamento moral e o comportamento moral.

    Raciocnio moral a estruturao das informaes, que passampor uma seqncia regular de transformaes, sendo o resultadoda combinao entre maturao e as experincias sociais com omeio ambiente (BREDEMIER; WEISS, 1990).

    Julgamento Moral a opinio do indivduo que descreve seu ra-ciocnio abstrato a respeito de uma situao moral (BEE, 1984).

    Comportamento Moral a ao realizada pelo indivduo, nemsempre coerente com seu raciocnio ou julgamento moral (BEE,1984).

    A Teoria de Desenvolvimento Moral de Kohlberg a base principal daabordagem construtivista (Quadro 3):

    Quadro 3 - Fases de Desenvolvimento Moral de Kohlberg (1958)

    Nvel III Ps-convencionalDireo universal

    Estgio 6 Princpios (convico)

    Estgio 5 Contrato social (negocia-o e concordncia)

    Nvel IIConvencional

    Aos outros

    Estgio 4 Lei e ordem (autoridade)

    Estgio 3 Aprovao (bem-estar)

    Nvel I

    Pr-convencional

    Egocntrico

    Estgio 2 Recompensa (sentir-sebem)

    Estgio 1 Punio (obedincia)

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    Abordagens Tericas Sobre Valores do Esporte

    Para Kohlberg, cada estgio representa habilidades cognitivas e ra-ciocnios morais superiores daqueles dos prvios. Dessa forma, todosos indivduos comeam no estgio 1 e progridem seqencialmente parao mais elevado, sendo que o estgio mais alto representa a verdadeiramoralidade. Sendo assim, a transio de um estgio para o outro ocorrecomo sendo o resultado de um desequilbrio cognitivo (VIEIRA, 1993).

    De acordo com a teoria, Kohlberg no est preocupado em medir va-lores, mas sim vericar o padro de raciocnio (julgamento moral) que aspessoas usam para decidir qual o valor mais importante numa determi-nada situao. Neste sentido uma pessoa pode ser honesta numa situa-o e desonesta em outra situao, de acordo com uma lgica de quandoser honesta e quando ser desonesta (BREDEMIER; SHIELDS, 1987 apudVIEIRA, 1993).

    Na perspectiva da aprendizagem construtivista, as situaes esporti-vas contribuem para que os praticantes esportivos pensem a respeito devalores e comportamentos, especicamente como eles constroem seuprprio entendimento pessoal. Ao contrrio da abordagem da aprendiza-gem social, em que se internalizam valores nesta abordagem, os indivdu-os criam concepes de moral (pessoal) a respeito do seu mundo sociale pela interao com os outros.

    No contexto da Educao Olmpica, a abordagem construtivista carac-teriza-se por uma proposta crtica que, segundo Gomes & Turini (2004,p. 234), seria no de inculcar passivamente nos alunos, mas de reetirconjuntamente que esporte eles querem, a que conjunto de normas eregras escritas e ocultas devemos nos atrelar para que nossa convivnciase torne no somente possvel, mas prazerosa, no somente baseada natolerncia, mas no dilogo, na troca de experincias, na possibilidade daargumentao (...) A abordagem moral deve ser acima de tudo educativa,privilegiando a reexo, a tomada de conscincia de que agir moralmente um ato de responsabilidade que envolve escolha.

    De acordo com Huizinga (1937), ... o jogo um mundo dentro de ummundo. As normas da vida cotidiana so diferentes da estrutura conven-

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    cionada do jogo. Algumas normas morais tpicas podem ser observadasno jogo, tais como golpear outra pessoa, enganar, e as crianas po-dem aprender a usar palavres no jogo. O esporte tambm pode ser ummeio de valores negativos.

    No esporte, decorrem situaes morais que podem contribuir parapromover o condicionamento e/ou o raciocnio e julgamento moral resul-tando num comportamento moral, positivo ou negativo.

    Exemplos de situaes morais no esporte:

    Respeitar diferena, respeitar regras e decises dos rbitros.

    Aceitar seu limite e o do outro.

    Considerar as necessidades dos outros.

    Assumir papis e tomar decises.

    Encontrar respostas nos momentos difceis.

    Sentir orgulho de representar o time.

    Trabalhar em grupo.

    Aprender o que vencer e o que perder.

    Exemplos de situaes que propiciam momentos de reexo sobre amoral no esporte:

    O dilogo sobre as experincias com o grupo, com os amigos ecom a famlia.

    O auto-dilogo.

    Os dilogos entre os indivduos do grupo.

    Interao entre tcnico e atleta.

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    Abordagens Tericas Sobre Valores do Esporte

    REFERNCIAS

    BUHLER, C.A psicologia na vida do nosso tempo . 4. ed. Lisboa: Fun-dao Clouste Gulbenkian, 1980.

    COTRIM, Gilberto.Fundamentos da losoa para uma gerao cons-ciente . So Paulo: Saraiva, 1988.

    FAGUNDES, Mrcia Botelho.Aprendendo valores ticos. 2. ed. BeloHorizonte: Autntica, 2000.

    HUIZINGA, Johan.Homo ludens . 4. ed. So Paulo: Perspectiva, 1999.

    LENK, Hans. Toward a social philosophy of the Olympic: values, aims andreality of the modern Olympic movement. In: GRAHAM, P. J.; UEBER-HORST, H.The modern Olympics. West Point: Leisure Press, 1976. p.109-69.

    MORA, Jos F. Dicionrio de losoa . 5. ed. Lisboa: Publicaes DomQuixote, 1982.

    RADCLIFFE-BROWN, A.R.Tabu : estrutura e funo na sociedade primiti-va. Petrpolis: Vozes, 1973. p. 167-190.

    ROMANCE, Thomas. A program to promote moral developmentthrough elementary school physical education. Oregon: University ofOregon, 1984. Unpublished doctoral dissertation.

    VIEIRA, Jos L.Avaliao do desenvolvimento moral de adolescentesem relao a dilemas morais da vida diria e da prtica esportiva. 1993. Dissertao (Mestrado)UFSM, Santa Maria, 1993.

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    Captulo 3Valores do Esporte e Incluso Social

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    Valores do Esporte e Incluso Social

    A incluso social se torna um valor na medida em que entendemosque a participao e o acesso das pessoas aos bens sociais coletivos sofundamentais para promover suas experincias de vida e contribuir para oseu desenvolvimento como entes sociais e cidados ativos. Na perspec-tiva do desenvolvimento humano, a incluso social pode ser consideradacomo um valor social bsico para que outros valores sociais possam serdesenvolvidos.

    Santos (2006), reetindo sobre o processo de incluso em educao,diz que a necessidade de romper com a tendncia fragmentadora e de-sarticulada do processo do conhecimento justica-se pela compreensoda importncia da interao e transformao recprocas entre as diferen-tes reas do saber.

    Segundo Nogueira, Teves, Mataruna; DaCosta (2005), a incluso so-cial uma expresso atual que incorpora o passado das obras de caridadecrist, bastante inuente desde o sculo XVIII no Brasil; a tradio dogoverno propor e agir para melhorar as condies da populao pobre dopas; o esforo de ordenao jurdica, desde o sculo XIX, de proteo ecuidado com pessoas desprivilegiadas e marginalizadas; e o empenhovoluntrio tradicional, de instituies privadas internacionais, nacionaise empresariais aos grupos carentes da sociedade (DACOSTA, p. 597).

    Esta viso originalmente lantrpica, contudo, ao se modicar ao lon-go dos sculos fez da incluso um valor social,implicando em analis-la,segundo os autores antes citados, como um fato complexo que demandamltiplas intervenes. Estas hoje se apresentam desde as iniciativas doEstado, da sociedade civil organizada, das instituies, de todos aquelesenm que tm por princpio direitos humanos, direitos de todos se de-senvolverem, exercendo plenamente a cidadania, independentemente doestado fsico, da condio social, ou de suas origens tnicas.

    O entendimento da incluso refere-se, ento, instncia de direito detodos os integrantes da sociedade poder ter acesso aos bens sociais co-letivos, incluindo-se as prticas esportivas. Tais concepes preliminarestm delineamento ao serem apreciadas as experincias brasileiras na rea

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    de aes sociais em projetos esportivos, que registram iniciativas pionei-ras no pas desde a dcada de 1920. Nota-se que os espaos de prti-cas esportivas tm sido oportunizados s pessoas marginalizadas muitoalm das escolas e dos clubes. Esses espaos tm sido denidos nasempresas, nos condomnios, nos hospitais, entre outros. Em resumo, oesporte tem se revelado como uma poderosa ferramenta para atrair e in-cluir as pessoas em atividades educacionais e socioculturais. Ressalta-sea inclusosocial como um dos principais valores sociais promovidos peloesporte, assim como o esporte torna-se um valor social sendo um direito

    prescrito na Constituio. Logo, com a educao, sade e lazer, o esporte um dos elementos constitutivos das polticas sociais de incluso.

    No entanto, sabe-se que os avanos sociais produzidos pelas iniciati-vas advindas do esporte so ecazes, porm no corrigem a distoro es-trutural que usualmente pressuposta como educacional. Para Nogueira,Teves, Mataruna; DaCosta (2005), em princpio, os Programas Esportivosde Incluso Social (PIS) que usam o esporte e/ou a Educao Fsica como

    meio de mobilizao dos destinatrios e da associao destes com osinterventores voluntrios, grupos comunitrios e/ou instituies, pro-ssionais, etc. - podem ser denidos como aes de interveno para odesenvolvimento social. Neste caso, tais iniciativas implicam estabelecerobjetivos comuns com os destinatrios, de acordo com as propostas doprojeto. E, incluir atividades em espaos variados e para pblicos diversi-cados requer dos prossionais a capacidade de lidar com a diferena.

    Neste contexto de mediao por parte de prossionais, Nogueira et al.(2005), todavia, fazem remisso s recomendaes de 1988 da UNESCOque refora o favorecimento da igualdade de acesso a todas as catego-rias de populao. No Brasil, esta orientao genrica identicada nosatuais PIS pelo atendimento voltado para diferentes grupos-alvo (crianase adolescentes, idosos, decientes, entre outros). Neste sentido, os gru-pos-alvo so atendidos mediante objetivos voltados para as suas aspira-es e necessidades. A metodologia predominante utilizada atualmentepelos PIS brasileiros caracteriza-se pelo direcionamento institucional deorganizao com interveno prossional, sistemtica e continuada.

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    Fundamentos Histricos da Incluso

    Social pelo EsporteNa dcada de 1960, surgiram documentos emitidos por organismos in-

    ternacionais que tratavam da reformulao de questes relativas rea deEducao Fsica e esportes. Esses documentos relataram a necessidadede entender e legitimar o fenmeno esportivo numa dimenso maior doque a dominante na poca: o esporte como rendimento. Em 1977 foi cria-da a Campanha EPT (sigla correspondente a Esporte para Todos), atravs

    do Plano Nacional de Educao Fsica e Desportos e a Lei N 6.251/75.Este movimento teve incio no Brasil com o objetivo de promover a mo-bilizao e a adeso s prticas esportivas segundo a prpria motivaoe iniciativa local (municpios). Tubino (1996) considera como relevante noprocesso de democratizao e incluso social do esporte a chegada doMovimento Esporte para Todos (EPT) no Brasil. Em 1978, foi emitida aCarta Internacional da Educao Fsica e do Esporte da UNESCO. O do-cumento reforou o direito prtica da Educao Fsica e dos esportes.Estimulava os governos, as organizaes no-governamentais, os edu-cadores, as famlias e os prprios indivduos a utilizar a Educao Fsicacomo uma prtica permanente. Este documento consolidou a tendnciainternacional da ampliao do conceito de esporte, ressaltando o fenme-no da participao esportiva.

    Segundo Tubino (1996), ainda com o sucesso do EPT no Brasil e pelasricas experincias desenvolvidas, a exacerbao da valorizao dos resul-tados esportivos e da centralizao da ateno a atletas de talentos noBrasil prossegue normalmente. A partir de 1985, este quadro comeariaa ser modicado com o rompimento do ciclo militar de governo e a che-gada de novos dirigentes na estrutura do Estado que estaria destinadaa tratar das questes do esporte. A recm-criada Comisso de Esportee Turismo organizou na Cmara Federal o ciclo de debates Panoramado Esporte Brasileiro. Neste contexto, surge a Comisso de Reformula-

    o do Esporte Brasileiro, que norteou suas aes perante os seguintespassos: 1 o) Consolidar o novo conceito de esporte no pas, atravs doexerccio das manifestaes do seu contedo; 2 o) Constitucionalizar o es-

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    Manual Valores do Esporte Sesi

    porte na Carta de 1988, com um texto avanado que denisse inclusiveo papel do Estado diante da sociedade, quanto ao fenmeno esportivo;3o) Desburocratizar o esporte brasileiro, atravs do Conselho Nacional deDesportos; 4o) Criar condies nanceiras para os projetos especcosdo esporte de desenvolvimento cientco e tecnolgico e da capacitaode recursos humanos; 5 o) Rever as prticas esportivas equivocadas noesporte-educao. Na discusso da reformulao do conceito de esporteforam reconhecidas as seguintes formas de organizao esportiva: espor-te federado, esporte universitrio, esporte escolar, esporte classista, es-

    porte militar, esporte no-formal ou promoo social e esporte prossio-nal. Considerando agora o esporte como prioridade social e educacional,tambm foi discutido o redimensionamento dos papis at ento desem-penhados pela Unio, Estados, Municpios, CND, COB, Confederaes,Federaes, entre outras instituies ligadas ao esporte brasileiro.

    Em 1988, o esporte foi constitucionalizado no artigo 217 da Constitui-o - Ttulo VIII (da Ordem Social), Captulo III (da Educao, da Cultura e

    do Desporto), Seo III (do Desporto). A noo de direito prtica espor-tiva gerou a denominao atual de incluso social no s por meio dasatividades esportivas, mas pelo direito ao seu acesso e aprendizado comoum bem social e cultural. De acordo com Parente Filho, Filho & Tubino(1999), no texto Desporto Constitucionalizado, destaca-se que veri-car-se-, ainda, se tais normas constitucionais desportivas se adequamaos ns existenciais da sociedade desportiva brasileira, sem olvidar quea Constituio no se faz apenas no momento da Constituinte, mas nasoma de muitos momentos, compondo um processo histrico, longo edemorado, at porque a norma constitucional no um m em si mes-ma. Entretanto, DaCosta & Bramante (1989) apud Gomes e Turini (2005)j haviam identicado no Brasil, nas ltimas dcadas, um movimento detransio da prtica esportiva no-institucionalizada (originada espontane-amente da populao como manifestao cultural) para a prtica de even-tos organizados, produzidos ou patrocinados por entidades governamen-

    tais e privadas, com base em iniciativas locais, especialmente prefeiturase grupos voluntrios.

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    Valores do Esporte e Incluso Social

    De qualquer modo, o esporte no nal do sculo XX j se constituacomo um dos maiores fenmenos socioculturais existentes, situando aincluso social como um dos principais desaos da rea para o sculoXXI. Palm (2000), presidente da TAFISA (Trim and Fitness InternationalSport for All Association), observa que deveramos especular sobre asmudanas ocorridas no esporte nos ltimos cem anos e que provavel-mente grandes mudanas so esperadas no sculo XXI. Para Palm, estasmudanas tm produzido uma diversicao de motivos e interesses e,conseqentemente, uma gama maior de diversos tipos de participantes

    em esportes, o que coloca o esporte de competio como mais uma ati-vidade dentre uma ampla lista de atividades. Ele enumera seis desaosdo esporte na Sociedade Ps-Moderna, em face das mudanas scio-culturais que estamos vivendo: (1) a reduo do papel do trabalho; (2) oaumento no nmero de idosos; (3) o aumento nos custos de sade; (4)o impacto da violncia; (5) o incremento da virtualizao; e (6) o papel daglobalizao.

    Tambm, em 1988, as Recomendaes da UNESCO foram aprovadaspor seus estados-membros quanto s mudanas da Carta Internacionalde Educao Fsica e Desportos de 1978. Este documento recomendavao favorecimento de