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0 UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM MESTRADO PROFISSIONAL EM ENFERMAGEM PAOLLA GABRIELLE NASCIMENTO NOVAIS EFEITO DO RELAXAMENTO MUSCULAR PROGRESSIVO COMO INTERVENÇÃO DE ENFERMAGEM NA QUALIDADE DO SONO, DEPRESSÃO E ESTRESSE EM PESSOAS COM ESCLEROSE MÚLTIPLA Vitória 2015

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPRITO SANTO

    CENTRO DE CINCIAS DA SADE

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENFERMAGEM

    MESTRADO PROFISSIONAL EM ENFERMAGEM

    PAOLLA GABRIELLE NASCIMENTO NOVAIS

    EFEITO DO RELAXAMENTO MUSCULAR PROGRESSIVO COMO

    INTERVENO DE ENFERMAGEM NA QUALIDADE DO SONO, DEPRESSO E

    ESTRESSE EM PESSOAS COM ESCLEROSE MLTIPLA

    Vitria

    2015

  • 1

    PAOLLA GABRIELLE NASCIMENTO NOVAIS

    EFEITO DO RELAXAMENTO MUSCULAR PROGRESSIVO COMO

    INTERVENO DE ENFERMAGEM NA QUALIDADE DO SONO, DEPRESSO E

    ESTRESSE EM PESSOAS COM ESCLEROSE MLTIPLA

    Dissertao de mestrado submetida ao Programa de Ps-

    Graduao em Enfermagem na Universidade Federal do Esprito

    Santo para obteno de ttulo de Mestre em Enfermagem.

    rea de Concentrao: Cuidado e Administrao em Sade.

    Linha de pesquisa: O Cuidar em Enfermagem no Processo de

    Desenvolvimento Humano.

    Orientadora: Prof Dr Karla de Melo Batista.

    Vitria

    2015

  • 2

    FICHA CATALOGRFICA

    Dados Internacionais de Catalogao-na-publicao (CIP) (Biblioteca Setorial do Centro de Cincias da Sade da Universidade Federal do

    Esprito Santo, ES, Brasil)

    Novais, Paolla Gabrielle Nascimento, 1984 - N935e Efeito do relaxamento muscular progressivo como interveno de

    enfermagem na qualidade do sono, depresso e estresse em pessoas com esclerose mltipla / Paolla Gabrielle Nascimento Novais 2015.

    146 f. : il. Orientador: Karla de Melo Batista.

    Dissertao (Mestrado Profissional em Enfermagem) Universidade

    Federal do Esprito Santo, Centro de Cincias da Sade. 1. Enfermagem. 2. Relaxamento. 3. Sono. 4. Depresso. 5.

    Esclerose Mltipla. I. Batista, Karla de Melo. II. Universidade Federal do Esprito Santo. Centro de Cincias da Sade. III. Ttulo.

    CDU: 61

  • 3

    EFEITO DO RELAXAMENTO MUSCULAR PROGRESSIVO COMO

    INTERVENO DE ENFERMAGEM NA QUALIDADE DO SONO, DEPRESSO E

    ESTRESSE EM PESSOAS COM ESCLEROSE MLTIPLA

    Dissertao de mestrado submetida ao Programa de Ps

    Graduao em Enfermagem na Universidade Federal do Esprito

    Santo para obteno de ttulo de Mestre em Enfermagem.

    rea de Concentrao: Cuidado e Administrao em Sade.

    Linha de pesquisa: O Cuidar em Enfermagem no Processo de

    Desenvolvimento Humano.

    Orientadora: Prof Dr Karla de Melo Batista.

    COMISSO EXAMINADORA

    ___________________________________________________

    Prof Dr Karla de Melo Batista

    Universidade Federal do Esprito Santo

    Orientadora

    ___________________________________________________

    Prof. Dr. Eliane da Silva Grazziano

    Universidade Federal de So Carlos

    Membro externo

    ___________________________________________________

    Prof. Dr. Maria Helena Costa Amorim

    Universidade Federal do Esprito Santo

    Membro interno

    ___________________________________________________

    Prof. Dr. Silvia Teresa Carvalho de Araujo

    Universidade Federal do Rio de Janeiro

    Suplente externo

    ______________________________________________

    Prof. Dr. Denise Silveira de Castro

    Universidade Federal do Esprito Santo

    Suplente Interno

  • 4

    AGRADECIMENTOS

    A Deus por amparar-me nos momentos difceis, me dar fora interior para superar as

    dificuldades, mostrar os caminhos nas horas incertas e me suprir em todas as minhas

    necessidades.

    Ao meu companheiro Scrates, por ser to importante na minha vida. Sempre ao meu lado, me

    fazendo acreditar que posso mais que imagino. Devido a seu companheirismo, amizade,

    pacincia, compreenso, apoio, alegria e amor, este trabalho pde ser concretizado.

    minha famlia, em especial minha me, irmos e avs pelo amor, incentivo e apoio

    incondicional.

    minha irm Cinthia que sempre me apoiou em todos os momentos, agradeo o carinho,

    ateno e cuidado.

    Aos meus cachorrinhos, Bella, Thor e Mia, por trazer mais leveza e alegria minha vida.

    minha orientadora professora Karla de Melo Batista, o seu entusiasmo contagiante, seu

    incentivo e a confiana depositada em mim contriburam decisivamente para a concluso deste

    trabalho.

    s professoras Maria Helena Costa Amorim, Denise Silveira de Castro, Eliane da Silva

    Grazziano e Silvia Teresa Carvalho de Arajo, membros da Banca Examinadora da

    Qualificao e tambm da defesa, que, sob diferentes olhares de conhecimentos, contriburam

    muito na fase de concluso do estudo, proporcionando discusses e sugestes que serviro para

    crescimento, aprendizado e incentivo pesquisa.

    professora Roseane Vargas Rohr, por me acompanhar desde a graduao e por sempre me

    incentivar na busca do crescimento, sendo exemplo de uma profissional humana e competente.

    Aos meus amigos queridos, companheiros d trabalhos irmos n amizade, agradeo o

    incentivo e carinho, em especial, Fuviane, Fernanda, Sara, Bruna, Paula e Danielle.

    Aos amigos de graduao, em especial Fabiana, Nbia e Poliana que mesmo seguindo caminhos

    diversos, sempre se fizeram presentes com lembranas, palavras de encorajamento e amizade.

    A todos os meus amigos do Programa Conexes de Saberes/Conexo-Sade, que fizeram parte

    da minha graduao e do meu crescimento, por terem me encorajado e despertado a vontade de

    querer sempre aprender.

  • 5

    Aos meus amigos do Mestrado, pelos momentos de aprendizado divididos juntos, em especial

    a Claudia, Rachel, Michele e Cristiane.

    Aos colegas do Grupo de Estudo e Pesquisa ADEE, Maria Luiza, Paulinho, Manuela, Brenda,

    Soraia e Luiza, pelas ricas discusses e aprendizado. Agradeo o incentivo e apoio.

    Aos colegas do Projeto de extenso Relaxamento, pela oportunidade de expandir meus

    horizontes e descobrir novas possibilidades de aprendizado e crescimento.

    Aos pacientes do Ambulatrio de Neurologia-HUCAM, sem a participao de vocs este estudo

    no seria possvel.

    Aos profissionais do Ambulatrio de Neurologia-HUCAM, pelo auxlio, pois permitiram a

    realizao deste estudo.

    Associao Capixaba de Portadores de Esclerose Mltipla (ACAPEM), em especial a

    presidente Marisa, pelo apoio no desenvolvimento desta pesquisa.

    Ao estatstico Fabiano Jos Pereira de Oliveira, pela competncia, sugestes, agilidade e

    cuidado com os dados.

    A todos que direta ou indiretamente contriburam de alguma forma para este trabalho. Saiba

    que vocs sero sempre lembrados.

  • 6

    preciso amor pra poder pulsar,

    preciso paz pra poder sorrir,

    preciso a chuva para florir.

    (Almir Sater e Renato Teixeira)

  • 7

    RESUMO

    Introduo: A Esclerose Mltipla uma doena crnica, autoimune, caracterizada pela

    desmielinizao e neurodegenerao do sistema nervoso central. O curso progressivo dessa

    doena pode levar o indivduo extrema dependncia e gerar dificuldades importantes tanto

    para o mesmo quanto para os familiares e cuidadores, por propiciar o surgimento de uma srie

    de sintomas de ordem fsica, emocional, psicolgica e social. Portanto, indispensvel que as

    prticas de sade ofeream possibilidades de cuidado no sentido de ultrapassarem uma

    assistncia fragmentadora, desumanizada e focada nos processos corporais da doena.

    Objetivo: Avaliar os efeitos do Relaxamento Muscular Progressivo na qualidade do sono e nos

    nveis de estresse e depresso em pessoas com Esclerose Mltipla. Metodologia: Trata-se de

    um ensaio clnico aleatorizado. A amostra constituiu-se por 40 pessoas com Esclerose Mltipla

    (20 grupo controle e 20 experimental), em acompanhamento ambulatorial. Aplicou-se a tcnica

    de Relaxamento Muscular Progressivo. Para a coleta dos dados, utilizou-se a tcnica de

    entrevista com registro em formulrio, aplicou-se o ndice de Qualidade de Sono de Pittsburgh

    (IQSP), Escala de Stress Percebido (PSS-10) e Inventrio de Depresso de Beck (BDI). A

    presso arterial, frequncia cardaca e frequncia respiratria do grupo experimental foram

    aferidas antes a aps a interveno de Relaxamento Muscular Progressivo. Para o tratamento

    estatstico dos dados, utilizou-se o Pacote Estatstico para Cincias Sociais-SPSS, verso 19.0.

    Resultados: A aplicao dos testes estatsticos Mann Whytney, Wilcoxon e teste t evidenciaram

    melhora significante na qualidade do sono (p=0,000), reduo significante dos nveis de

    estresse e depresso no grupo experimental (p=0,000), no segundo momento, aps oito semanas

    de interveno. Concluso: A interveno Relaxamento Muscular Progressivo pode ser

    inserida na assistncia de Enfermagem aos pacientes com Esclerose Mltipla em

    acompanhamento ambulatorial.

    Descritores: Enfermagem; Relaxamento; Esclerose Mltipla; Sono; Depresso; Estresse

    psicolgico.

  • 8

    ABSTRACT

    Introduction: Multiple sclerosis is a chronic, autoimmune disease, characterized by

    demyelination and neurodegeneration of the central nervous system. The progressive course of

    this disease may cause individuals to develop extreme dependency and create serious

    difficulties both to the individuals themselves and family members and caregivers, since the

    disease brings a number of physical, emotional, psychological and social symptoms. Therefore,

    it is essential to offer healthcare practices that go beyond the usually fragmenting, dehumanized

    care services that focus on the disease bodily processes. Objective: Evaluate the effects of

    Progressive Muscle Relaxation on sleep quality and on stress and depression levels of

    individuals with multiple sclerosis. Methodology: This is randomized clinical test. The sample

    was made up of 40 individuals with multiple sclerosis (20 in control group and 20 in the

    experimental group) in outpatient follow-up. The progressive muscle relaxation technique was

    employed. In order to collect the data, we adopted the interview with form filling technique,

    using the Pittsburg Sleep Quality Index (PSQI), Perceived Stress Scale (PSS-20) and Beck

    Depression Inventory (BDI). Blood pressure, heart rate and respiratory rate of experimental

    group were measured before and after the progressive muscle relaxation intervention. In order

    to treat statistical data, we used Statistical Package for Social Sciences (SPSS), version 19.0.

    Results: Application of Mann Whytney, Wilcoxon and t-test showed significant improvement in

    sleep quality (p=0,000), significant reduction in stress and depression levels in the experimental

    (p=0,000), in a second stage, after eight weeks of intervention. Conclusion: The progressive

    muscle relaxation intervention can be inserted into nursing care of patients with multiple

    sclerosis in outpatient follow-up.

    Keywords: Nursing; Relaxation; Multiple Sclerosis; Sleep Quality; Depression; Psychological

    Stress.

  • 9

    LISTA DE SIGLAS

    BDI-Inventrio de Depresso de Beck

    CIPE-Classificao Internacional para a Prtica de Enfermagem

    COFEN- Conselho Federal de Enfermagem

    EDSS- Escala Expandida do Estado de Incapacidade

    EM- Esclerose Mltipla

    IQSP- ndice de Qualidade de sono de Pittsburgh

    PE- Processo de Enfermagem

    PNPIC- Poltica Nacional de Prticas Integrativas e Complementares

    PSS- Escala de Stress Percebido

    RMP- Relaxamento Muscular Progressivo

    SAG- Sndrome de Adaptao Geral

    SAL- Sndrome de Adaptao Local

    SNC- Sistema Nervoso Central

  • 10

    LISTA DE FIGURAS

    METODOLOGIA

    Figura 1- Processo de Amostragem.........................................................................................35

    Figura 2-Procedimento para coleta de dados...........................................................................48

    PROPOSTA DE ARTIGO 1

    Figura 1 Comparao da qualidade de sono em pessoas com EM, grupo experimental e

    controle, no primeiro momento e aps oito semanas de interveno de relaxamento. Vitria

    (ES) - Brasil. 2014.....................................................................................................................60

    PROPOSTA DE ARTIGO 2

    Figura 1-Procedimento para coleta de dados...........................................................................71

    Figura 2 Comparao dos nveis de estresse em pessoas com EM grupo experimental e

    controle, no primeiro momento e aps oito semanas de interveno de relaxamento. Vitria

    (ES) - Brasil. 2014.....................................................................................................................76

    PROPOSTA DE ARTIGO 3

    Figura 1 Comparao dos nveis de depresso em pessoas com EM, grupo experimental e

    controle, no primeiro momento e aps oito semanas de interveno de relaxamento. Vitria

    (ES) - Brasil. 2014.....................................................................................................................92

  • 11

    LISTA DE TABELAS

    METODOLOGIA

    Tabela 1 - Escores para classificao de Sintomas Depressivos................................................37

    PROPOSTA DE ARTIGO 1

    Tabela 1- Estatsticas descritivas e resultados dos testes de comparao entre os momentos (pr

    x ps) em cada um dos encontros em relao frequncia cardaca (FC) e frequncia

    respiratria (FR) Grupo Experimental. Vitria (ES)-Brasil. 2014...........................................58

    Tabela 2 Estatsticas descritivas e resultados dos testes de comparao entre os momentos

    (pr x ps) em cada um dos encontros em relao presso arterial sistlica (PAS) e presso

    arterial diastlica (PAD) Grupo Experimental. Vitria (ES) -Brasil. 2014..............................59

    Tabela 3- Comparao dos grupos experimental e controle em relao aos momentos quanto

    qualidade do sono. Vitria (ES) -Brasil. 2014............................................................................60

    Tabela 4- Relao dos componentes do IQSP nos momentos pr e ps do grupo experimental.

    Vitria (ES)-Brasil. 2014...........................................................................................................61

    Tabela 5- Relao dos componentes do IQSP nos momentos pr e ps do grupo controle.

    Vitria (ES) - Brasil. 2014.........................................................................................................61

    PROPOSTA DE ARTIGO 2

    Tabela 1- Estatsticas descritivas e resultados dos testes de comparao entre os momentos (pr

    x ps) em cada um dos encontros em relao frequncia cardaca (FC) e frequncia

    respiratria (FR) Grupo Experimental. Vitria (ES)-Brasil. 2014...........................................74

    Tabela 2 Estatsticas descritivas e resultados dos testes de comparao entre os momentos

    (pr x ps) em cada um dos encontros em relao presso arterial sistlica (PAS) e presso

    arterial diastlica (PAD) Grupo Experimental. Vitria (ES) -Brasil. 2014..............................74

  • 12

    PROPOSTA DE ARTIGO 3

    Tabela 1- Estatsticas descritivas e resultados dos testes de comparao entre os momentos (pr

    x ps) em cada um dos encontros em relao frequncia cardaca (FC) e frequncia

    respiratria (FR) Grupo Experimental. Vitria (ES)-Brasil. 2014...........................................90

    Tabela 2 Estatsticas descritivas e resultados dos testes de comparao entre os momentos

    (pr x ps) em cada um dos encontros em relao presso arterial sistlica (PAS) e presso

    arterial diastlica (PAD) Grupo Experimental. Vitria (ES) -Brasil. 2014..............................90

    Tabela 3- Comparao entre os grupos controle e experimental em relao ao percentual de

    escore sugestivo de depresso do BDI. Vitria (ES) - Brasil. 2014............................................93

  • 13

    SUMRIO

    1 INTRODUO....................................................................................................................15

    2 OBJETIVOS.........................................................................................................................17

    3 REVISO DA LITERATURA............................................................................................18

    3.1ESCLEROSE MLTIPLA...................................................................................................18

    3.2 ESTRESSE..........................................................................................................................21

    3.3 SINTOMAS DEPRESSIVOS.............................................................................................24

    3.4 QUALIDADE DO SONO...................................................................................................27

    3.5 RELAXAMENTO...............................................................................................................28

    4 MTODOS E TCNICAS...................................................................................................34

    4.1 TIPO DE ESTUDO.............................................................................................................34

    4.2 LOCAL DE ESTUDO.........................................................................................................34

    4.3POPULAO......................................................................................................................34

    4.4AMOSTRA..........................................................................................................................34

    4.4.1 Processo de Amostragem................................................................................................34

    4.4.2 Critrios de incluso e excluso.....................................................................................36

    4.5 VARIVEIS........................................................................................................................36

    4.5.1 Variveis dependentes....................................................................................................36

    4.5.2 Variveis independentes.................................................................................................38

    4.5.3 Variveis de confundimento...........................................................................................42

    4.6 MATERIAL AUDIO E VISUAL.........................................................................................45

    4.7 ESTUDO PILOTO..............................................................................................................45

    4.8 PRINCPIOS TICOS........................................................................................................45

    4.9 PROCESSO DE COLETA DE DADOS..............................................................................46

    4.10 TCNICA..........................................................................................................................46

  • 14

    4.11 TRATAMENTO ESTATSTICO.......................................................................................48

    4.12 RISCOS E BENEFCIOS..................................................................................................50

    5 RESULTADOS.....................................................................................................................52

    5.1 PROPOSTA DE ARTIGO 1: Efeito do Relaxamento Muscular Progressivo como

    Interveno de Enfermagem na qualidade do sono em pessoas com Esclerose

    Mltipla....................................................................................................................................52

    5.2 PROPOSTA DE ARTIGO 2: Efeito do Relaxamento Muscular Progressivo como

    Interveno de Enfermagem no estresse de pessoas com Esclerose Mltipla............................67

    5.3 PROPOSTA DE ARTIGO 3: Efeito do Relaxamento Muscular Progressivo como

    Interveno de Enfermagem nos sintomas depressivos em pessoas com Esclerose

    Mltipla....................................................................................................................................84

    5.4 PROPOSTA PRODUTO 1- Folder Relaxamento Muscular Progressivo...........................99

    5.5 PROPOSTA PRODUTO 2- CD de udio Relaxamento Muscular Progressivo.................100

    6 CONCLUSO GERAL DO ESTUDO..............................................................................101

    REFERNCIAS....................................................................................................................102

    APNDICE A- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido...........................................113

    APNDICE B- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido...........................................116

    APNDICE C- Formulrio Scio- Demogrfico................................................................119

    APNDICE D- Termo de Confidencialidade e Sigilo.........................................................120

    APNDICE E- Solicitao de autorizao para pesquisa em pronturio clnico.............121

    APNDICE F- Evoluo de Enfermagem...........................................................................123

    APNDICE G- Tabela de Controle......................................................................................125

    ANEXO A- Escala de Stress Percebido (PSS 10)..............................................................126

    ANEXO B - Inventrio de Depresso de Beck (BDI)..........................................................127

    ANEXO C- ndice de Qualidade de Sono de Pittsburgh (IQSP)........................................132

    ANEXO D- Pontuao do ndice de Qualidade do Sono de Pittsburgh.............................137

    ANEXO E- Autorizao para pesquisa................................................................................142

    ANEXO F- Parecer do Comit de tica...............................................................................143

  • 15

    INTRODUO

    A Esclerose Mltipla (EM) uma doena crnica e autoimune, caracterizada pela

    inflamao, desmielinizao e neurodegenerao do Sistema Nervoso Central (SNC) e

    apresenta consequentes e variveis dficits motores e sensitivos causados por leses focais

    mielina (HAUSSER; GODIN, 2011). Destaca-se dentre outras doenas neurodegenerativas em

    virtude de sua frequncia, cronicidade e tendncia em acometer adultos jovens (VICTOR,

    2001).

    O curso progressivo dessa doena pode levar o indivduo extrema dependncia e

    gerar dificuldades importantes tanto para o mesmo quanto para os familiares e cuidadores, por

    propiciar o surgimento de uma srie de sintomas de ordem fsica, emocional, psicolgica e

    social (GENEZINI; CRUZ, 2006). Diante do exposto, percebe-se que as pessoas com EM,

    apresentam uma desestruturao em sua qualidade de vida, necessitando de um atendimento

    individualizado, humanizado e com foco na integralidade, visando o bem-estar biopsicossocial

    e espiritual.

    Percebe-se que comumente a viso de cuidado que predomina junto a essa clientela,

    baseada, sobretudo nos sintomas da doena e nos processos corporais, distanciando da proposta

    de um cuidado integral e da viso holstica do ser humano. Entretanto, na perspectiva da

    integralidade, no se deve reduzir um sujeito doena que lhe provoca sofrimento. importante

    construir, a partir do dilogo com o outro, projetos teraputicos individualizados (MATTOS,

    2004).

    A teraputica da EM tem enfatizado principalmente na diminuio da ocorrncia de

    surtos, incapacidade e amenizao dos sintomas, consistindo de imunomodulador,

    imunossupressor e tratamento sintomtico. Entretanto muitos estressores esto associados com

    a doena, tais como surtos, sintomas neurolgicos imprevisveis, a complexidade do tratamento,

    os relacionamentos interpessoais, atividades dirias, possveis mudanas de renda e emprego,

    que podem induzir o surgimento de sintomas de ansiedade e depresso, afetando a qualidade

    de vida (JOS S, 2008).

    Portanto, indispensvel que as prticas de sade ofeream possibilidades de cuidado

    no sentido de ultrapassarem uma assistncia fragmentadora, desumanizada e focada nos

    processos corporais da doena (GENEZINI; CRUZ, 2006). Assim, o relaxamento como uma

    prtica integrativa, torna-se uma ferramenta importante para o enfrentamento desses indivduos

    frente doena, trata-se de uma prtica acessvel, no invasiva, que contribui no equilbrio

  • 16

    mental e corporal, auxiliando na reduo da angstia, emotividade e estresse (BARRY, 1984).

    Vrios fatores me estimularam a estudar esse tema, dentre eles, existncia de poucos

    trabalhos e pesquisas desenvolvidas sobre o assunto e a minha prpria experincia em assistir

    e acompanhar pacientes com doenas neurodegenerativas, principalmente pacientes com EM,

    visto que atuo h quase cinco anos como enfermeira em um ambulatrio de Neurologia de um

    Hospital Universitrio, que referncia em EM. Observo na minha prtica clnica muitos

    pacientes apresentando sintomas de estresse, depresso e m qualidade do sono, que prejudicam

    a qualidade de vida dos mesmos, alm de influenciar negativamente o curso clnico da doena.

    Devido a essa complexidade, percebo a importncia de um trabalho da enfermagem

    mais especializado, individualizado e humanizado, que possa proporcionar ao indivduo com

    EM ferramentas que o auxiliem no enfrentamento dessa doena. Neste contexto, o relaxamento

    poder contribuir no tratamento desses pacientes, promovendo uma melhor vivncia do

    processo sade-doena, colaborando para a construo de um cuidado voltado para a gesto do

    estresse e melhoria da qualidade de vida dos mesmos.

    Tenho como pretenso a comprovao das seguintes hipteses: A tcnica de

    Relaxamento Muscular Progressivo (RMP) diminui os nveis de estresse, depresso e

    possibilita uma melhor qualidade do sono em pessoas com EM; Indivduos com EM apresentam

    alta mdia de estresse, depresso e qualidade do sono prejudicada.

    Esta pesquisa pretende oferecer caminhos de compreenso para as potencialidades

    contidas no uso do relaxamento, como terapia complementar no tratamento de pessoas com

    EM, colaborando para a construo de um cuidado integral que produza aes de promoo,

    preveno e reabilitao.

  • 17

    2 OBJETIVOS

    Objetivo 1-Artigo 1

    a) Avaliar os efeitos do Relaxamento Muscular Progressivo na qualidade do sono em pessoas

    com Esclerose Mltipla.

    b) Correlacionar a qualidade do sono com as variveis sociodemogrficas e parmetros clnicos

    de pessoas com Esclerose Mltipla.

    Objetivo 2-Artigo 2

    a) Avaliar os efeitos do Relaxamento Muscular Progressivo nos nveis de estresse em pessoas

    com Esclerose Mltipla.

    b) Correlacionar os nveis de estresse com as variveis sociodemogrficas e parmetros clnicos

    de pessoas com Esclerose Mltipla.

    Objetivo 3-Artigo 3

    a) Avaliar os efeitos do Relaxamento Muscular Progressivo nos sintomas depressivos em

    pessoas com Esclerose Mltipla.

    b) Correlacionar os sintomas depressivos com as variveis sociodemogrficas e parmetros

    clnicos de pessoas com Esclerose Mltipla.

    Objetivo 4-Produto 1

    a) Realizar recurso educacional atravs de um folder com o detalhamento da tcnica de

    Relaxamento Muscular Progressivo.

    Objetivo 4-Produto 1

    a) Realizar recurso educacional atravs de um CD de udio com o detalhamento da tcnica de

    Relaxamento Muscular Progressivo.

  • 18

    3 REVISO DA LITERATURA

    3.1 ESCLEROSE MLTIPLA

    A EM uma patologia neurolgica, inflamatria, neurodegenerativa e autoimune,

    caracterizada pela destruio da mielina, o que causaria um defeito na conduo dos impulsos

    nervosos, condicionando o aparecimento dos sintomas (KELIAN, 2005). A evoluo da doena,

    gravidade e sintomas so variadas, podendo apresentar-se de formas benignas at formas de

    evoluo extremamente agressivas (MACIEL et al., 2012).

    Embora existente em quase todo o mundo, a EM mais comum nas zonas temperadas,

    tanto no hemisfrio norte como no sul. Acredita-se haver um aumento da prevalncia da doena

    com a latitude, ou seja, tanto mais elevada quanto maior for a distncia ao equador, voltando

    a ser praticamente inexistente nos plos (ROPPER; BROWN, 2005).

    A prevalncia varia em diferentes regies do mundo. Na Amrica do Sul considerada

    baixa, com menos de 5 casos por 100.000 habitantes, ocorre com maior frequncia no sexo

    feminino, em uma proporo de 2:1, acomete principalmente indivduos jovens na faixa entre

    20 a 40 anos e em pessoas de cor branca (ALMEIDA et al., 2007). No Brasil, observa-se maior

    incidncia no Sul e Sudeste (MACIEL et al, 2012). Na regio Sudeste essa prevalncia varia de

    12 a 18 por 100.000 habitantes (CALLEGARO; GOLDBAUM; MORAIS, 2001; FRAGOSO;

    PERES, 2007).

    Apresenta etiologia desconhecida e acredita-se que haja uma interao entre fatores

    imunolgicos, genticos, ambientais e infecciosos. Entre os fatores ambientais, estudos indicam

    que fatores sociais, nutrio, exposio luz solar, estresse (JELINEK; HASSED, 2007) e

    condies de higiene podem precipitar a doena e modular taxa de progresso (YOUNG, 2011).

    A doena pode progredir de diferentes formas. A forma recorrente-remitente

    caracteriza-se por surtos individualizados que deixam ou no sequelas, no h progresso das

    deficincias entre os surtos (OLIVEIRA, 2007). Representa 85% de todos os casos no incio

    de sua apresentao (NOSEWORTHY, 2000). A forma secundariamente progressiva apresenta

    uma fase precedente de recorrncias e remisses seguida de progresso das deficincias, sem

    surtos ou com surtos subjacentes (OLIVEIRA, 2007). Est presente em 50% dos casos aps

    10 anos de diagnstico sem tratamento (FINKELSZTEJN, 2008). A primariamente

    progressiva, que se caracteriza desde o incio por doena progressiva, evolui com discretos

    perodos de melhora. H uma piora gradual e contnua sem caracterizao de surto, perfazendo

  • 19

    um percentual de 10% de todos os casos (FINKELSZTEJN, 2008). Por fim, h a forma

    progressiva recorrente, que tambm se caracteriza desde o incio por doena progressiva, porm

    intercalada por surtos, com ou sem recuperao total, mas com progresso contnua dos mesmos

    (OLIVEIRA, 2007). No perodo entre os surtos, h importante progresso da doena

    (FINKELSZTEJN, 2008). Est presente em menos de 5% dos pacientes com EM (MENGE et

    al., 2008).

    Os sinais e sintomas dependem da regio do SNC na qual se localiza a desmielinizao

    e sendo que esta pode ocorrer em qualquer rea. Os sintomas iniciais mais frequentemente

    citados so fadiga, alteraes sensitivas e motoras, disfuno da coordenao e equilbrio,

    transtornos esfincterianos, disfunes cognitivo-comportamentais, disartria, tremores,

    alteraes de resposta emocional alteraes visuais entre outras (SMELTZER; BARE, 2011).

    O quadro clnico caracteriza-se, geralmente, por surtos ou ataques agudos definidos,

    sobretudo nos primeiros anos da doena. O surto definido como a apresentao de um sintoma

    novo ou reaparecimento de sintomas j existentes, em um perodo contnuo maior que 24 horas,

    no associados a febre ou infeco. Estas manifestaes clnicas permanecem por dias at

    semanas, seguidas por um perodo de remisso, durante o qual os indivduos se recuperam

    parcial ou totalmente. Alm desses sintomas, devem apresentar sinais objetivos ao exame

    neurolgico que demonstrem leses nas vias mielnicas (COMPSTON, 2008; MOREIRA,

    2000). A teraputica indicada no surto a pulsoterapia com corticosteride (LANA-PEIXOTO,

    2002).

    O diagnstico da EM fundamenta-se na anamnese, achados clnicos e testes

    laboratoriais de suporte. Critrios utilizados para estabelecer o diagnstico compreendem dois

    ou mais surtos de sintomas neurolgicos que refletem o envolvimento e prevalecem as leses

    na substncia branca (SULLIVAN; SCHMITZ, 2004). No h um marcador biolgico

    especfico da EM. utilizado o exame de Lquido Cefalorraquiano que, por sua vez, reflete a

    presena da ativao imunolgica, aparecendo em 80% a 90% dos pacientes com EM. A

    ressonncia magntica confirma leses tpicas, ocorrendo mais comumente na substncia

    branca periventricular e subcortical, cerebelo, tronco enceflico, pednculos cerebrais e medula

    (SOUZA, 2005). O diagnstico realizado baseado na reviso de 2010 dos critrios de

    McDonald, que fazem o diagnstico de EM, atravs do exame clnico e de testes laboratoriais,

    bem como atravs da demonstrao de disseminao espacial e temporal das leses (POLMAN

    et al., 2011).

    Aps o diagnstico, a doena deve ser estadiada, ou seja, estabelecer seu nvel de

  • 20

    acometimento por meio da Escala Expandida do Estado de Incapacidade (Expanded Disability

    Status Scale-EDSS). Esta escala representa uma medida de incapacidade neurolgica da EM. A

    pontuao 0 compreende ausncia de alteraes no exame fsico e funcionais, enquanto a

    pontuao 10 corresponde morte. EDSS de 1,0 a 4,5 referente a pacientes capazes de

    deambular e EDSS de 5,0 a 9,5 compreende os pacientes com incapacidade de deambulao e

    ocupacional (CUTTER et al., 1999).

    Alm de constituir uma medida de incapacidade neurolgica, o EDSS proporciona

    monitorizar o seguimento do paciente. O EDSS quantifica a incapacidade segundo oito

    Sistemas Funcionais que so: funes piramidais; cerebelares; tronco cerebral; sensorial;

    intestinal e vesical; visual; cerebral ou mental (CMARA, 2012).

    O tratamento dessa patologia pode ser sintomtico ou pode visar modificao da

    mesma. Esta ltima que compreende diversas terapias destinadas a modificar ou suprimir a

    resposta auto-imune ou suas consequncias de carter inflamatrio sintomtico, compreende

    diferentes substncias neurofarmacolgicas capazes de melhorar a funo de vrias partes do

    sitema nervoso (WEINER; GOETZ, 2003).

    Atualmente, as teraputicas de primeira linha incluem as trs apresentaes

    farmacolgicas do imunomodulador Interferon-: (Interferon--1b-Betaferon/Extavia que

    aplicado subcutneo em dias alternados; IFN--1a-Avonex aplicado por via intramuscular

    uma vez por semana; Interferon--1a- Rebif para administrao subcutnea trs vezes por

    semana) e o Acetato de Glatirmer (Copaxone) que administrado por via subcutnea

    diariamente (CALLEGARO, 2004; SMELTZER; BARE,2011; RIO; COMABELLA;

    MONTALBAN, 2011).

    O Fingolimod (Gilenya) e o Natalizumab (Tysabri) so teraputicos de segunda

    linha. O Fingolimod (Gilenya), que o primeiro medicamento oral capaz de tornar mais lenta

    a evoluo da EM. Trata-se de um modulador do receptor da esfingosina 1-fosfato que cruza

    facilmente a barreira hemato-enceflica (CMARA, 2012). O Natalizumab (Tysabri) um

    anticorpo monoclonal humanizado, direcionado contra as substncias denominadas integrinas,

    impedindo a migrao das clulas imunoativas para dentro do SNC onde elas iro agredir a

    mielina, e proporcionando consequente reduo dos surtos e progresso das incapacidades

    (LUTTEROTTI; MARTINS, 2008). Deve ser administrado de 28 em 28 dias por via

    endovenosa, este medicamento apresentava uma eficcia mpar nunca antes relatada em

    qualquer ensaio realizado em doentes com EM (S, 2014, p.409). Em relao ao tratamento

    de terceira linha temos a mitoxantrona (Novantrone), que pode estar relacionada a efeitos

  • 21

    adversos graves (HARTUNG et al., 2011).

    O transplante autlogo de clulas tronco tem sido considerado um tratamento

    promissor na EM. Pode ser iniciado em pacientes com EM entre 18 e 60 anos de idade que

    apresente falncia do tratamento com as drogas disponveis (CMARA, 2012).

    Os benefcios esperados do tratamento medicamentoso para EM so a melhora dos

    sintomas, reduo da frequncia e gravidade das recorrncias e diminuio do nmero de

    internaes hospitalares. Trata-se de uma teraputica que altera a evoluo da doena, mas que

    no controla de modo absoluto o reaparecimento de surtos, e sim, reduz a severidade e

    frequncia dos surtos (BRASIL, 2010; LANA- PEIXOTO et al., 2002).

    3.2 ESTRESSE

    crescente a preocupao referente ao assunto estresse, observa-se um aumento na

    publicao de artigos e pesquisas cientficas em relao aos mtodos de como lidar com o

    estresse (BATISTA; BIANCHI, 2006).

    Correntes tericas foram desenvolvidas para conceituar o estresse, sem que tenha uma

    definio que contemple todos os seus significados (GLINA; ROCHA, 2003). Assim, diferentes

    modelos de estresse foram criados.

    O mdico Hans Selye em 1959 foi o pioneiro dos estudos sobre estresse na rea das

    cincias biolgicas. Definindo o estresse como uma reao inespecfica do organismo a

    qualquer demanda. Os mecanismos biolgicos desencadeados pelo organismo em resposta ao

    estressor contriburam para explicar a Teoria Biologicista por Selye (GUIDO, 2003).

    O estresse interfere no Sistema Imune e SNC, ativando o circuito bidirecional que

    ocorre via Eixo Hipotlamo-Hipfise- Adrenal e glndulas supra-renais, iniciando um conjunto

    de reaes em cadeia no organismo (VASCONCELOS, 1992).

    A resposta ao estresse pode ser classificada em duas etapas: Sndrome de Adaptao

    Geral (SAG) e Sndrome de Adaptao Local (SAL) (BATISTA, 2011).

    A SAG foi caracterizada como uma reao defensiva fisiolgica do organismo em

    resposta a qualquer estmulo, ou seja, a exposio a qualquer agente poder desencadear

    alteraes fsicas em todo o organismo. Essa sndrome inclui trs fases: reao de alarme, de

    adaptao ou resistncia e de exausto. A fase de alarme corresponde resposta inicial do

    organismo frente a um estressor. Ocorre a quebra da homeostase, as respostas corporais entram

  • 22

    em estado de prontido geral, preparando o organismo para a luta ou fuga, buscando minimizar

    o estressor ou adaptar-se a ele. Na fase de resistncia h a persistncia do estressor e

    compatvel com a adaptao do organismo. A fase de exausto resulta quando o organismo no

    consegue controlar o estressor, nesta, ocorrem sinais parecidos aos sinais da fase de alarme,

    entretanto mais intenso, caracterizando a deteriorao do organismo, o que pode propiciar a

    aparecimento de patologias, ou ainda a morte (GUIDO, 2003).

    Na SAL ocorre a modificao dos ndices normais de atividade do organismo, com

    uma carga excessiva de estressores, concentrando a reao interna em um determinado rgo

    ou sistema, desencadeando respostas de somatizao e a doena (BATISTA, 2011).

    Destaca-se que a base conceitual utilizada neste estudo se fundamenta no referencial

    proposto por Lazarus e Folkman (1984), que definem o estresse como qualquer evento que

    demande do ambiente interno ou externo, que taxe ou exceda as fontes de adaptao de um

    indivduo ou grupo social e leve a subjetividade do indivduo como um fator determinante da

    severidade do estressor. Dessa forma, esses autores elaboraram o modelo interacionista, no qual

    a avaliao cognitiva influencia a reao ao estresse.

    Alteraes orgnicas relacionadas ao estresse tm uma fase biolgica e, tambm, fases

    cognitivas, emocionais e comportamentais, que podem influenciar na intensidade de tais

    alteraes. A avaliao cognitiva representa um processo essencial para a conceituao do

    estresse, por avaliar a interao da pessoa com o meio ambiente e, tambm, os resultados desta

    interao, configurando em danos ou ameaa aos eventos e buscando recursos que poderiam

    neutraliz-los, ou seja, poderiam minimizar o estresse (LAZARUS; FOLKMAN, 1984).

    O modelo interacionista tem sido o mais aceito entre os pesquisadores de estresse, por

    compreender uma perspectiva de interao entre ambiente, organismo ou grupo, que o associa

    a diferentes formas de enfrentamento (GUERRER; BIANCHI, 2008; GUIDO; BIANCHI;

    LINCHI, 2009).

    Assim, tem-se o coping que representa aes cognitivas e comportamentais elaboradas

    atravs da avaliao da situao, do ambiente, de experincias anteriores, da maturidade do

    aparelho psquico do indivduo frente a situaes que consideradas estressantes, com a

    finalidade de retornar ao equilbrio (GUIDO, 2003; GRAZZIANO, 2010).

    As estratgias de enfrentamento so caracterizadas como esforos cognitivos e

    comportamentais, empregadas pelos indivduos com o intuito de lidar com as demandas

    especficas, que surgem em situaes de estresse. Consideram coping como um fator

  • 23

    determinante da experincia de estresse e da adaptao gerada por ela, ou seja, advm da

    resposta aos estmulos estressantes em diferentes ambientes. Este modelo divide-se em duas

    categorias funcionais que so o coping focalizado na emoo e no problema. As estratgias

    centradas na emoo correspondem a esforos cognitivos que buscam a fuga, a reduo, o

    distanciamento, a ateno seletiva, as comparaes positivas e esforos em enxergar algo

    positivo na situao negativa. Nesta estratgia de enfrentamento, o indivduo busca minimizar

    o estresse alterando o significado do estressor em um esforo de reavaliao da situao, ou

    pela busca de atividades que promovam um afastamento do ambiente (LAZARUS;

    FOLKMAN, 1984).

    As estratgias focadas no problema procuram identificar o problema, buscar solues,

    pesar a relao de custo e benefcio das alternativas, defini-las e agir. So aes voltadas para

    a realidade, consideradas mais adaptativas, podem estar direcionadas ao ambiente ou prpria

    pessoa. Constitui-se em um esforo para atuar na situao que deu origem ao estresse. So

    capazes de modificar as presses do ambiente, reduzir ou eliminar o estressor (LAZARUS;

    FOLKMAN, 1984; GUIDO, 2003).

    A pessoa com EM enfrenta progressivamente alteraes no seu cotidiano, muito em

    parte, derivadas do dficit em seu estado funcional, vivendo em constante estresse face ao

    inesperado. Deste modo, a vulnerabilidade ao estresse e a adoo de estratgias de coping

    variam de indivduo para indivduo, facilitando ou dificultando comportamentos que os ajudem

    a ultrapassar as dificuldades impostas por esta patologia (TRINDADE, 2011).

    Pesquisas evidenciaram a associao entre estresse e um pior curso clnico da EM. O

    estresse pode influenciar o incio da EM e sua evoluo clnica, agravando a intensidade e a

    frequncia dos sintomas (GOODIN et al., 1999; JEAMMET; REYNAUD; CONSOLI, 2000;

    ARTEMIADIS; ANAGNOSTOULI; ALEXOPOULOS, 2011). Um estudo com a finalidade de

    observar uma possvel relao entre fatores desencadeantes e surtos na EM, foi constatado que

    56% dos pacientes espontaneamente relacionavam estresse a surtos de EM (BARBOSA et al.,

    2004).

    Situaes pessoais de sbita tristeza e de mudanas sociais podem ser desencadeantes

    de surtos (GRAZIANI, 2007). Na prtica clnica diria os pacientes com EM relatam situaes

    de estresse como desencadeantes de agravamento do estado de sade. Entretanto importante

    analisar que, apesar de uma possvel relao entre o sistema imunolgico e o estresse, no

    fcil classificar o tipo ou o efeito do estresse sobre um determinado indivduo (TRINDADE,

    2011).

  • 24

    H evidncias que relacionam o estresse emocional com a exacerbao de sintomas

    neurolgicos, mediada tanto por fatores inflamatrios induzidos por estresse, que prejudicam a

    condutncia dos axnios desmielinizados, ou por mecanismos implicados nos distrbios de

    somatizao (ARTEMIADIS; ANAGNOSTOULI; ALEXOPOULOS, 2011).

    Avaliou-se a relao entre as estratgias de coping e o xito adaptativo na EM. Foram

    realizadas entrevistas com pessoas com EM diagnosticada h menos de 2 meses. Concluiu-se

    que os pacientes que no estavam deprimidos nem vulnerveis ao estresse utilizavam estratgias

    de coping, ao compar-los a outro grupo com caractersticas marcadamente estressantes e

    deprimidas. Estes resultados sugerem que as estratgias de enfrentamento podem ser

    potencialmente adaptativas nas fases iniciais da evoluo da doena (SULLIVAN; MIKAIL;

    WEINSHENKEN,1997). Observou-se que escores referentes a estratgias de enfrentamento

    no funcionais foram significativamente maiores na forma secundariamente progressiva da EM

    (MILANLIOGLU et. al., 2014).

    Um maior nvel de estresse percebido, enfrentamento focado na emoo e incerteza da

    doena so fortemente relacionados a uma pior adaptao psicolgica da EM (DENNISON,

    MOSS-MORRIS; CHALDER; 2009).

    H evidncias que a reduo do estresse em pacientes com EM pode oferecer

    benefcios, como a reduo de recidivas anuais, menos sintomas neurolgicos e psicolgicos,

    bem como um melhor enfrentamento da doena (ARTEMIADIS et al., 2012).

    3.3 SINTOMAS DEPRESSIVOS

    O conceito de depresso amplo e rene uma srie de categorias diagnsticas. O

    transtorno depressivo maior o principal diagnstico do grupo da depresso e, caracteriza-se

    por alteraes no humor, nas funes cognitivas, com a presena de sinais neurovegetativos e

    sintomas fsicos, como fadiga muscular ou dor e, que ocorre todos os dias, por um perodo

    mnimo de duas semanas. Pode manifestar-se em um episdio nico ao longo da vida do

    indivduo ou, o que mais frequente, em episdios recorrentes (MORENO; RICARDO; ROSO,

    2006).

    Nas sndromes depressivas destaca-se o humor triste e o desnimo. Elas caracterizam-

    se por uma multiplicidade de sintomas afetivos, instintivos e neurovegetativos, ideativos e

    cognitivos, relativos autovalorao, vontade e psicomotricidade (DALGALARRONDO,

    2008).

  • 25

    A depresso tem carter de doena sistmica, com consequncias em vrios sistemas

    de regulao corporal, incluindo seu impacto na evoluo de outras doenas clnicas,

    aumentando a morbimortalidade e os custos do tratamento. Pode comprometer a qualidade de

    vida tanto ou mais do que outras condies mdicas (BOTEGA, 2012; FURLANETTO;

    BRASIL, 2006).

    Sintomas neuropsiquitricos em indivduos com EM tem sido relatados por Charcot

    desde 1877. Os sintomas observados compreendem alteraes de humor, como riso, choro e

    euforia, alucinaes, depresso e estado de apatia (CERQUEIRA; NARDI, 2011).

    A depresso um dos sintomas emocionais que frequentemente encontra-se associada

    EM (MENDES et al., 2003). Estudos demonstram pequenas diferenas em relao a presena

    de sintomas depressivos em pacientes com EM remitente-recorrente, 17,9% (MENDES et al.,

    2003), 18,5%(WOOD et al., 2013), 21,9% (LEONAVICIUS; ADOMAITIENE, 2014).

    Estima-se que aproximadamente 50% dos pacientes tero depresso em algum

    momento de suas vidas, embora taxas mais baixas tenham sido aferidas e os sintomas so

    descritos como moderados ou graves (FEINSTEIN, 2004; GHAFFAR; FEINSTEIN, 2007;

    PAPARRIGOPOULOS; FERENTINOS, 2010). A heterogeneidade de manifestaes clnicas

    na EM torna mais difcil o diagnstico neuropsicolgico, principalmente devido presena de

    fadiga e dficits cognitivos (FERREIRA et al., 2011; MACHADO et al., 2012).

    Suspeita-se que o uso de terapias modificadoras da doena, especialmente o Interferon

    , pode estar relacionado depresso (NEILLEY et al., 1996; MOHR et al, 1999; LANA-

    PEIXOTO; TEIXEIRA; HAASE, 2002; PANDYA; PATTEN, 2002). Porm h controvrsias

    quanto a esta associao. Uma reviso (GOEB et al., 2006) revelou que a maioria dos estudos

    descartam uma associao entre o Interferon e depresso ou suicdio. Um estudo demonstrou

    evidncias que as terapias com Interferon e Acetato de Glatirmer no acentuaram os sintomas

    depressivos em pacientes com EM Remitente-Recorrente (KIRZINGER et al., 2013).

    A causa da depresso em pacientes com EM ainda no bem estabelecido, discute-se

    ainda se a causa da depresso uma condio psicolgica secundria a uma doena crnica e

    grave ou um sintoma neurolgico. Embora as pesquisas no sejam conclusivas, h

    possivelmente uma base multifatorial para sua manifestao, com o envolvimento de fatores

    biolgicos, psicolgicos e genticos (TILBERY, 2005).

    Os sintomas neuropsicolgicos e psiquitricos da EM esto associados reduo da

    velocidade de conduo dos axnios provocada pelos processos inflamatrios e degenerativos

  • 26

    (FERREIRA et al., 2011). Acredita-se que estejam relacionados a leses desmielinizantes no

    lobo temporal, mas com fisiopatologia ainda no esclarecida (REISS; SAM; SAREEN, 2006).

    Um estudo brasileiro descreveu a prevalncia de depresso em pacientes com EM,

    estudando a sua correlao com a incapacidade funcional, o sexo, a idade e o tempo de doena.

    A depresso estava presente em 17,9% e a ansiedade em 34,5% dos pacientes com EM

    Remintente-Recorrente. Os escores elevados das escalas de depresso correlacionaram-se com

    maior incapacidade funcional, entretanto no esto associados ao tempo de doena, ao sexo ou

    idade dos pacientes (MENDES et al., 2003).

    Demonstrou-se uma correlao negativa entre estado emocional depressivo e coping

    ativo, planejamento e estratgias de enfrentamento baseado em problemas (MILANLIOGLU

    et al., 2014).

    Sintomas de depresso devem ser avaliados de forma sistemtica, visto o aumento do

    risco de suicdio nesta populao, o impacto negativo no tratamento e na evoluo da doena.

    Estratgias teraputicas utilizadas no tratamento da depresso em pacientes com EM incluem o

    uso de antidepressivos e terapia cognitivo comportamental, que objetivam diminuir o

    sofrimento psquico, o risco de suicdio e proporcionar melhora da qualidade de vida

    (CERQUEIRA; NARDI, 2011). Os fatores de risco relacionados ao suicdio em pacientes com

    EM so a presena de depresso maior, a gravidade da depresso, isolamento social e abuso de

    lcool (SIEGERT; ABERNETHY, 2005; FEINSTEIN, 2011).

    Um estudo longitudinal acompanhou 607 pessoas com EM durante 7 anos. Os

    resultados encontrados indicaram que uma idade inferior, um maior tempo de diagnstico da

    doena, formas progressivas e um grau aumentado de limitao funcional foram preditivos de

    uma elevao dos sintomas depressivos. Sexo no foi considerado um preditor importante em

    relao aos sintomas depressivos, sendo igualmente prevalente entre homens e mulheres.

    Reforando a importncia de rastreio para a depresso em indivduos com EM (BEAL et al.,

    2007).

    Comparados com controles saudveis, pacientes com EM apresentaram alm de

    depresso, ansiedade e alterao do sono, sintomas menos estudados, como obsesso,

    compulso, raiva, hostilidade, baixa autoestima, ideao paranoide, entre outros (SARISOY et

    al., 2013).

    Sintomas depressivos so encontrados com mais frequncia em pessoas com EM

    (OLAZARN et al., 2009), podendo progredir com a gravidade da doena, comprometendo a

  • 27

    qualidade de vida desses indivduos (ANHOQUE et al., 2011).

    3.4 QUALIDADE DO SONO

    O sono e a viglia so produzidos a partir de mecanismos elaborados que envolvem

    inmeras reas enceflicas como tronco cerebral, hipotlamo, tlamo e estruturas neocorticais

    (PACE-SCHOTT; HOBSON, 2002). O sono um comportamento ativo, repetitivo e reversvel

    que interfere em muitas funes fisiolgicas distintas, inclusive nos processos de aprendizagem

    e consolidao da memria, tais funes podem ser secundariamente afetadas em casos de

    restrio do sono (CURCIO et al., 2006).

    Os padres do sono e a variao normal dos diferentes estados de viglia requerem

    integridade anatmica e funcional de redes neuronais. Portanto, processos patolgicos que

    comprometam estas estruturas podem alterar o sono e a expresso de alguns ritmos circadianos

    metablicos e endcrinos. Entretanto, estados de sono e viglia podem tambm de forma

    evidente ou discreta influenciar os sintomas de certas condies neurolgicas. Assim,

    provvel que haja uma relao de causalidade, na qual as desordens neurolgicas podem ter um

    resultado negativo nos estados de sono e viglia, de tal modo como estes podem influenciar os

    sintomas clnicos destas desordens (AUTRET et al., 2001).

    Observou-se que os distrbios do sono trazem vrios dficits cognitivos, abrangendo

    diminuio da ateno-concentrao, da orientao espacial e temporal, do desempenho da

    memria e comprometimento das funes psicolgica e social (ASTON-JONES, 2005). Aps

    uma noite de sono de qualidade ruim, pessoas que sofrem de insnia apresentam alteraes no

    humor, nas habilidades motoras, desconforto social e certa ineficincia cognitiva acompanhada

    por sonolncia. Alm disso, indivduos com insnia exibem alteraes em tarefas de medida de

    equilbrio, ateno, tempo de reao e acesso memria semntica (BASTIEN et al., 2003).

    A qualidade do sono um importante indicador de sade. Est diretamente relacionado

    com o estado de sade e consequentemente com a qualidade de vida. Uma percepo da m de

    qualidade de sono est associada baixa capacidade fsica e inmeros sintomas

    psicossomticos. Dificuldades para dormir e uma m qualidade de sono, podem tambm ser

    sinais de fatores de estresse, e um estilo de vida inadequado (TYNJALA et al.,1999).

    Distrbios do sono podem prejudicar a qualidade de vida de pacientes com EM, sendo

    suas causas, presumivelmente multifatoriais e podem estar associadas a possveis fatores

    relacionados aos efeitos adversos dos tratamentos de imunoterapia e sintomtico, bem como

  • 28

    com vrios sintomas associados com a doena, tais como dor, fadiga e depresso. Trazem

    consequncias negativas a esses indivduos e, como resultado, h baixa produtividade,

    problemas cognitivos, aumento da possibilidade de acidentes, irritabilidade e aumento do risco

    de doena (COMPANIONI et al., 2013).

    Distrbios do sono so comuns em pacientes com EM (BARON et al., 2011). A insnia

    uma das queixas de sono mais prevalentes nestes pacientes. Estudos relataram que mais da

    metade dos pacientes com EM tm dificuldade em iniciar e manter o sono, ou despertar pela

    manh (TACHIBANA et al., 1994; STANTON; BARNES; SILBER, 2006). Isto pode ser

    atribudo a vrios fatores, incluindo dor e espasticidade, efeito das medicaes, bem como

    comorbidade fsicas e emocionais, tais como depresso (TACHIBANA et al., 1994; BAMER

    et al., 2008). A m qualidade do sono est associada com maior gravidade da doena, dor e

    pior qualidade fsica e mental em pacientes com EM (MERLINO et al., 2009).

    Um estudo avaliou em 100 pacientes com EM, a prevalncia e o tipo de distrbios de

    sono, em relao a variveis demogrficas, relacionadas doena e condies pr-existentes.

    Os resultados demonstraram que aproximadamente 50% dos indivduos se queixaram de

    distrbios de sono. Que podem ocorrer independentemente de variveis demogrficas e

    relacionadas com a doena, mas so muitas vezes influenciadas pelos sintomas da doena e

    terapias utilizadas, contribuindo tambm para a fadiga do decurso da EM (POKRYSZO-

    DRAGAN et al., 2012).

    Corroborando com o estudo anterior, Leonavicius e Adomaitiene (2014) observaram

    que os distrbios do sono esto presentes em 45,3% dos indivduos com EM em

    acompanhamento ambulatorial. Constatou-se a relao entre distrbios do sono e sexo

    feminino, idade avanada, maior estado de incapacidade, prevalncia de depresso e ansiedade,

    assim como pior estado de sade fsica e mental.

    Investigou-se o efeito da tcnica de RMP na fadiga e qualidade do sono em pacientes

    com EM. Os resultados demonstraram que essa tcnica reduziu os nveis de fadiga e melhorou

    a qualidade do sono. Foi observada uma associao entre deteriorao da qualidade do sono

    com o aumento dos nveis de fadiga (DAYAPOGLU; TAN, 2012).

  • 29

    3.5 RELAXAMENTO

    Prticas integrativas e complementares so abordagens que procuram estimular os

    mecanismos naturais de preveno de agravos e recuperao da sade por meio de tecnologias

    eficazes e seguras, ressaltam o desenvolvimento do vnculo teraputico, o acolhimento, a

    integrao do indivduo com o meio ambiente e a sociedade, considerando-o de forma integral,

    e no um conjunto de partes fragmentadas (MAGALHES; ALVIM, 2013).

    O Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), no Parecer Informativo 004/95, dispe

    que as terapias alternativas (Acupuntura, Iridologia, Fitoterapia, Reflexologia, Quiropraxia,

    Massoterapia, dentre outras), so prticas oriundas, em sua maioria, de culturas orientais, onde

    so exercidas ou executadas por prticos treinados assistematicamente e repassados de gerao

    em gerao no estando vinculados a qualquer categoria profissional (COFEN, 1995).

    Em 19/3/1997, o COFEN, por meio da Resoluo 197 "Estabelece e reconhece as

    Terapias Alternativas como especialidade e/ou qualificao do profissional de Enfermagem"

    (COFEN, 1997).

    A Resoluo COFEN 290/04 revogada pela resoluo COFEN 389/2011 fixa como

    especialidades de Enfermagem, as Terapias Naturais, Tradicionais, Complementares e No

    Convencionais, legitimando o profissional enfermeiro a implantar alternativas de tratamento a

    fim de promover a sade dos indivduos (COFEN, 2011).

    Em presena da necessidade de se associar a medicina moderna s prticas de sade

    no convencionais e garantir a integralidade na ateno sade, o Ministrio da Sade aprovou

    em 2006 a Poltica Nacional de Prticas Integrativas e Complementares (PNPIC). Esses

    recursos visam estimular mtodos naturais de preveno e recuperao, com nfase no

    desenvolvimento do vnculo teraputico, integrao do ser humano com a natureza, viso

    ampliada do processo sade-doena e a promoo do cuidado (BRASIL, 2008).

    O enfermeiro, ao incorporar a utilizao de terapias alternativas e complementares,

    expande seu campo de ao, sobretudo em relao s necessidades sociais de sade, e progride

    na busca por garantir a integralidade da ateno e humanizao do atendimento (GAVIN;

    OLIVEIRA, GHERARDI-DONATO, 2010).

    Dentre essas terapias, encontra-se o relaxamento, que tem sido cada vez mais utilizado

    atualmente, com a finalidade de se obter alvio aos fatores estressantes do dia-a-dia.

    considerado um dos mtodos mais simples e mais facilmente administrados utilizados para a

    gesto do estresse (ARTEMIADIS et al., 2012), onde se incluem estratgias que utilizam o

  • 30

    fisiolgico, cognitivo e tcnicas comportamentais (PAULA; CARVALHO; SANTOS, 2002).

    considerado um importante recurso pessoal para contrapor aos efeitos negativos do estresse no

    organismo (BENSON; 1997).

    Esta tcnica procura reduzir a dor ou a percepo da dor, reduz a tenso, cria uma

    agradvel condio afetiva, reduz a antecipao da ansiedade, diminui a ansiedade como uma

    resposta ao estresse, aumenta as atividades parassimpticas, melhora o conhecimento a respeito

    da tenso do msculo e os estmulos autnomos, melhora a concentrao, aumenta o sentimento

    de controle, energiza e melhora o sono, diminui a frequncia cardiorrespiratria, potencializa o

    desempenho de atividades fsicas e estimulam o relacionamento com outro (TITLEBAUM,

    1988).

    Diferentes tcnicas de relaxamento so utilizadas, entretanto alguns critrios devem

    ser contemplados na opo por um determinado mtodo. importante que sejam de fcil

    aprendizagem e aplicao, no requererem equipamento complexo, serem passveis de utilizar

    com grupos pequenos e servirem para todas as idades (PAYNE, 2002).

    O relaxamento visa um equilbrio, frente s perturbaes interiores e exteriores que

    caracterizam o ambiente do indivduo (ROEDER; LIMA, 2000). Este recurso consiste num

    processo psicofisiolgico e de aprendizagem, uma vez que envolve respostas somtica e

    autnoma, informes verbais de tranquilidade e bem-estar, como estado de aquiescncia motora,

    assim como o desenvolvimento de respostas biolgicas, que incluem o reconhecimento de reas

    de tenso muscular, seu posterior relaxamento e o controle da respirao diante das situaes

    estressantes (GUIMARES, 2008).

    O relaxamento precisa ser includo no cotidiano do cuidar do enfermeiro, pois

    proporciona vnculo com o cliente, melhora a qualidade da assistncia de enfermagem, e

    promove o efetivo reconhecimento da profisso (PRIMO, AMORIM, 2006; PRIMO;

    AMORIM; LEITE, 2011).

    O mdico fisiologista norte-americano Edmund Jacobson em 1938 desenvolveu uma

    tcnica chamada Relaxamento Progressivo, a qual tinha a finalidade de levar o paciente a um

    estado intenso de relaxamento muscular. Podendo reduzir a grande ativao da parte central do

    sistema nervoso e da diviso autnoma do sistema nervoso, com isso restaurando ou gerando

    bem-estar psicolgico e fsico, diante de uma relao do estado emocional com o corporal. A

    tcnica consiste em aprender a contrair e, logo em seguida, a relaxar os diferentes grupos

    musculares do corpo, de forma que se consiga diferenciar quando o msculo est tenso e quando

  • 31

    est relaxado. Dessa forma, uma vez que se tenha aprendido, esse comportamento se tornar

    um hbito, e ser identificado rapidamente nas situaes de cada dia, quando a musculatura for

    tensionada mais do que o necessrio (HORN, 1988). Representa um mtodo ativo, participativo

    e dinmico, proporcionando autonomia ao sujeito, visto que est relacionado aprendizagem

    do indivduo, que avalia suas tenses em grupos musculares especficos, para posteriormente

    relax-los (BRASIO et al., 2003).

    A interveno de relaxamento tem sido muito utilizada sozinha ou juntamente com

    outras terapias, em pacientes com cncer. Avaliou-se a eficcia do relaxamento progressivo para

    o controle da ansiedade e a desesperana em 30 pacientes portadoras de cncer, com idades

    entre 20 a 60 anos. Realizou-se a interveno durante oito semanas. Os resultados

    demonstraram que o relaxamento foi capaz de baixar os escores mdios do Inventrio de

    Desesperana e o de Ansiedade (LOPES; SANTOS; LOPES, 2008).

    Realizou-se um estudo com o objetivo de discutir a natureza da Dor Espiritual em

    pacientes oncolgicos terminais e a experincia de re-significao desta dor, manifestada pelos

    participantes, durante a aplicao da Interveno Relaxamento, Imagens Mentais e

    Espiritualidade Therapy (RIME). Os resultados sugeriram que a que esta tcnica promoveu

    qualidade de vida no processo de morrer, assim como mais serenidade e dignidade diante da

    morte (ELIAS et al., 2008).

    Corroborando com o estudo anterior, Bottino, Frguase Gattaz (2009) em uma reviso

    de literatura demonstraram que intervenes psicossociais, como tcnicas de relaxamento,

    terapia individual e em grupo, podem ser utilizadas na reduo dos sintomas depressivos e de

    estresse em pacientes com cncer. Embora essas intervenes possam ter papel mediador na

    melhora da depresso, com consequente melhora da adeso ou do uso de cuidados mdicos, os

    resultados sugerem que so necessrios mais estudos para avaliar a efetividade das intervenes

    psicoteraputicas no tratamento da depresso em pacientes com cncer.

    Uma pesquisa avaliou se a tcnica do Relaxamento Muscular Progressivo (RMP)

    eficaz em reduzir os sinais indicativos de estresse cardiovascular em pacientes com hansenase.

    Os resultados demonstraram que a terapia de Relaxamento Muscular Progressivo de Jacobson

    Modificado contribuiu na significativa reduo da frequncia cardaca e frequncia respiratria

    em pacientes com hansenase, sugerindo um potencial benefcio na reduo do estresse

    cardiovascular (RISSARDI; GODOY, 2007). O emprego da tcnica de RMP tem se tornado

    parte integrante dos cuidados a indivduos com doena crnica, devido aos seus benefcios,

    como a reduo da ansiedade e efeitos do estresse, distraindo a ateno da dor, aliviando a

  • 32

    tenso muscular e contraes, promovendo o sono, e reduzindo a sensibilidade fadiga e dor

    (BALTAS; BALTAS, 2000).

    Um estudo com 21 pacientes com fibromialgia, buscou comparar a eficcia de trs

    tcnicas de interveno psicolgica: Treino de controle de Stress, Relaxamento Progressivo e

    Reestruturao Cognitiva. Apesar de no demonstrarem melhora quanto diminuio e

    percepo da dor, as trs tcnicas apresentaram reduo da ansiedade, depresso e estresse e

    melhora da assertividade (BRASIO et al., 2003).

    Um estudo objetivou verificar o efeito do relaxamento progressivo na percepo do

    zumbido e no estresse. Os resultados demonstraram que a interveno do relaxamento

    progressivo revelou respostas satisfatrias como reduo na percepo do zumbido e nos

    sintomas de estresse. A interveno psicolgica contribuiu para o controle dos pacientes em

    relao ao convvio com o zumbido, conduzindo-os ao aprendizado de estratgias de

    enfrentamento ao sintoma e ao estresse, proporcionando autonomia para o indivduo e sua vida

    (RODRIGUES et al., 2014).

    O RMP tem sido utilizado no tratamento do alcoolismo como interveno em sintomas

    de ansiedade e craving ou fissura. Sendo uma estratgia de enfrentamento para dependentes

    qumicos, em situaes de risco para uma recada (ALMEIDA; ARAJO, 2005).

    O relaxamento tem sido muito utilizado como interveno na parturio. Analisou-se

    o efeito do relaxamento nos nveis sricos do hormnio adrenocorticotrfico (ACTH) e a

    correlao entre esses nveis, a ansiedade e a dor na parturio. Os resultados obtidos apontaram

    uma tendncia reduo dos nveis sricos de ACTH em todas as fases do trabalho do parto e

    no ps-parto imediato, sugerindo que a aplicao das tcnicas de respirao e relaxamento possa

    ter interferido na secreo de ACTH, promovendo alvio parcial do estresse da paciente

    (ALMEIDA et al., 2005).

    Em pacientes ps-cirrgicos foi avaliado o efeito do RMP no alvio da dor. Sendo

    evidenciadas alteraes importantes nos parmetros vitais e alteraes musculares, aps

    aplicao da tcnica de relaxamento, indicando uma reduo na percepo da dor (PAULA,

    CARVALHO; SANTOS, 2002).

    Em pesquisas nas reas desportivas, tem crescido a utilizao da interveno de RMP.

    Um estudo buscou analisar os efeitos da tcnica de relaxamento progressivo na

    reduo/controle dos nveis de cortisol sanguneo em nadadores durante determinado perodo

    de treinamentos. Os resultados demonstraram que o relaxamento proporcionou diminuio dos

  • 33

    nveis de cortisol sanguneo, confirmando intensa relao psicofisiolgica entre os processos

    do organismo humano, sugerindo a necessidade da utilizao de estratgias de controle do

    treinamento desportivo para reduo do estresse excessivo (BARA FILHO et al., 2002).

    Uma pesquisa com atletas de Futsal objetivou analisar os efeitos da utilizao da

    tcnica de Relaxamento Progressivo de Jacobson na performance atravs de estmulos de 800

    metros e no acmulo e reduo do lactato sanguneo. Conclui-se que a aplicao desta tcnica

    reduziu significativamente os nveis de lactato aps o esforo mximo, contribuindo para a

    restaurao do estado psicofisiolgico do indivduo, resultando na melhora do desempenho

    atltico. Pode assim, otimizar a performance do atleta, como um meio para reduzir o efeito de

    esforos competitivos realizados com um curto perodo de recuperao entre eles (TOLEDO;

    BARA FILHO, 2007).

    Em relao estudos com pessoas com EM, destaca-se uma pesquisa que investigou

    o efeito do RMP na fadiga e qualidade do sono em pacientes com EM. Verificou-se que a tcnica

    de RMP reduziu os nveis de fadiga dos pacientes e melhorou a qualidade do sono

    (DAYAPOGLU; TAN, 2012). O uso de RMP combinado com a prtica da respirao em

    pacientes com EM com quadro de estresse e ansiedade demonstrou resultados significantes

    aps 8 semanas de interveno (ARTEMIADIS et al., 2012). Um estudo encontrou resultados

    que evidenciaram que o RMP pode proporcionar melhoria da qualidade de vida em pacientes

    com EM (GHAFARI et al., 2009).

  • 34

    4 MTODOS E TCNICAS

    4.1 TIPO DE ESTUDO

    Trata-se de um ensaio clnico aleatorizado, com abordagem quantitativa dos dados.

    um estudo que permite testar a efetividade de uma interveno em seres humanos (CARNEIRO,

    2001).

    4.2 LOCAL DO ESTUDO

    O estudo foi desenvolvido no Ambulatrio de Neurologia do Hospital Universitrio

    Cassiano Antnio de Moraes (HUCAM). Trata-se de um hospital de ensino vinculado a

    Universidade Federal do Esprito Santo, localizado no municpio de Vitria-ES.

    O servio, voltado ao atendimento aos pacientes com EM, funciona desde 14 de

    outubro de 2000, atende indivduos com suspeita de EM provenientes de todo o estado do

    Esprito Santo, sul da Bahia e oeste de Minas Gerais. Uma equipe multiprofissional, composta

    por neurologistas, enfermeiros, tcnicos de enfermagem, terapeuta ocupacional, psiclogo,

    sexloga e fonoaudilogo, responsvel pela assistncia a esses pacientes. Neste ambulatrio

    a consulta de enfermagem sistematizada. Atualmente existem cerca de 300 pacientes

    cadastrados no ambulatrio.

    4.3 POPULAO

    Pessoas com Esclerose Mltipla em acompanhamento no ambulatrio de Neurologia

    do Hospital Universitrio Cassiano Antnio de Moraes.

    4.4 AMOSTRA

    Foi constituda por 40 pacientes, sendo 20 no grupo controle e 20 no grupo

    experimental.

    4.4.1 Processo de amostragem

    Para clculo da amostra utilizou-se populao de 300 indivduos, erro amostral de 5%,

  • 35

    heterogeneidade de 50% e nvel de confiana de 80%, proporcionando uma amostra de 107

    indivduos, dentre os quais, aps a anlise dos critrios de incluso e excluso, 60 indivduos

    atenderam aos critrios propostos. Todos foram convidados para a pesquisa, sendo que 40

    mostraram-se em condies de participar, visto que houve recusas (9), mudanas de endereo

    (5), alterao de diagnstico (3), surtos (2) e gravidez (1). Deste modo, a amostra do estudo foi

    composta por 40 pessoas com diagnstico de EM em acompanhamento ambulatorial no referido

    hospital, as quais foram divididas de forma aleatria por sorteio, aps pareamento por sexo,

    idade e anos de diagnstico de EM em grupo controle (n= 20) e grupo experimental (n=20)

    (Figura 1).

    Assim, devido aos critrios de incluso adotados para a participao no estudo, no

    houve a possibilidade de reposio da amostra perdida ou aumento. Entendemos que a restrio

    da amostra (

  • 36

    Fonte: Novais e Batista (2014)

    4.4.2 Critrios de incluso e excluso

    Critrios de incluso:

    -Ter diagnstico de EM por pelo menos 6 meses;

    - Ter diagnstico de EM remitente-recorrente;

    - Estar recebendo tratamento com imunomodulador;

    -Ter Escala Expandida do Estado de Incapacidade (EDSS) 5,0;

    - Idade entre 18 e 65 anos;

    - No ter tido quaisquer surtos durante o perodo de 3 meses anterior a incluso ao estudo;

    - Estar residindo na regio metropolitana de Vitria, que compreende os municpios de Vitria,

    Vila Velha, Cariacica, Viana, Serra, Fundo e Guarapari.

    Critrios de excluso:

    - Estar hospitalizado no momento da coleta de dados ou em surto no momento da coleta de

    dados;

    - Apresentar alteraes fsicas e / ou mentais que impeam a coleta dos dados, como dficits

    motores ou cognitivos.

    - Em uso contnuo de medicamentos psicotrpicos (por exemplo, antidepressivos,

    benzodiazepnicos, antipsicticos ou outros estimulantes);

    - Fazer uso de prticas integrativas e complementares de sade (por exemplo, yoga, pilates,

    meditao, psicoterapia, reik, relaxamento);

    4.5 VARIVEIS

    4.5.1 Variveis dependentes

    Estresse

    A varivel estresse foi avaliada atravs da Escala de Stress Percebido (PSS10). Essa

  • 37

    escala composta por 10 questes, tipo Likert, atendendo a variao de zero correspondendo a

    nunca a 4 correspondendo a quase sempre. As questes 4, 5, 7 e 8 apresentam pontos

    reversos, invertendo-se os valores apresentados na escala.

    A determinao do nvel de estresse obtida na somatria dos itens, obedecendo a

    pontuao invertida mencionada, sendo que valores altos correspondem a alto nvel de estresse

    (COHEN; KAMARCK; MERMELSTEIN, 1983).

    A Escala de Stress Percebido foi primeiramente apresentada contendo 14 itens (PSS-

    14), sendo tambm validada com 10 itens (PSS 10) mais quatro questes (PSS 4), tendo por

    objetivo verificar o quanto os indivduos consideram imprevisvel, incontrolada e

    sobrecarregada so as suas vidas.

    Esta escala possui um diferencial o qual torna possvel a sua aplicao para os mais

    diversos grupos etrios. Ela no possui questes especficas de um nico contexto (LUFT et

    al.,2007).

    Para a anlise do PSS 10, devem ser seguidos os valores abaixo para as sentenas:

    0=nunca

    1=quase nunca

    2=s vezes

    3=frequentemente

    4=quase sempre

    Nas questes 4 (no ltimo ms, qual a frequncia de se sentir confiante na sua

    habilidade de resolver seus problemas pessoais), 5 (no ltimo ms, qual a frequncia de sentir

    que a sua vida est caminhando satisfatoriamente), 7 (no ltimo ms, qual a frequncia de

    controlar a irritao na sua vida) e 8 (no ltimo ms, qual a de se sentir por cima das situaes),

    deve-se inverter os valores referentes a 4 e a zero. (0 corresponde a 4 pontos e os demais em

    ordem decrescente at chegar no valor 4 que corresponde a 0 pontos). A anlise realizada na

    soma obtida, obedecendo-se a inverso dos valores mencionados, e quanto maior a soma obtida,

    maior o nvel de estresse percebido.

    Sintomas Depressivos

  • 38

    Esta varivel foi avaliada atravs do Inventrio de Depresso de Beck (BDI) que

    representa a medida de autoavaliao de depresso mais utilizada, tanto em pesquisas quanto

    em clnica. No Brasil a traduo e validao foram realizadas por Goreinstein e Andrade (1998)

    com estudantes universitrios.

    O BDI contm 21 questes que avaliam a presena de sintomas depressivos, em

    relao ao perodo da semana anterior aplicao do instrumento. Cada questo formada por

    quatro alternativas, as quais descrevem traos que caracterizam o quadro depressivo.

    Para anlise do BDI:

    As alternativas variam entre zero (ausncia de sintomas) a trs (presena maior de

    sintomas depressivos); a escala permite um escore de 0 a 63, sendo que os valores atribudos

    em pessoas sem patologias mentais prvias, os escores seguem a seguinte classificao, a qual

    ser usada na anlise deste estudo:

    Tabela 1 - Escores para classificao de Sintomas Depressivos.

    Escores Classificao

    20 Sugestivo de depresso

    Fonte: (GORESTEIN; ANDRADE, 1998).

    Qualidade do sono.

    Esta varivel foi analisada atravs do ndice de Qualidade de Sono de Pittsburgh

    (IQSP) que foi desenvolvido por Buysse et al. (1989) e validado no Brasil por Ceolim (1999),

    sendo utilizado para quantificar a qualidade de sono de um indivduo.

    Apresenta-se composto por 19 itens relacionados aos hbitos de sono do ms anterior

    ao que o indivduo se encontra, os quais so combinados em 7 componentes: qualidade

    subjetiva do sono, latncia do sono (tempo necessrio para inici-lo), durao do sono (horas

    de sono por noite), eficincia habitual do sono (tempo total de sono dividido pelo tempo na

    cama), distrbios do sono (por exemplo, acordar no meio da noite), uso de medicao para

    dormir e disfuno durante o dia (ter dificuldade para ficar acordado).

  • 39

    Para anlise do ndice de Qualidade de sono de Pittsburgh (IQSP) ser considerado

    que:

    Cada componente recebe uma pontuao que varia de 0 a 3. Os escores de todos os

    componentes so somados para obter-se um valor global que varia de 0 a 21, no qual escores

    maiores do que 5 implicam numa qualidade de sono ruim e pontuaes de 0-5 indicam

    qualidade subjetiva de sono bom (ANEXO E).

    4.5.2 Varivel independente

    Tcnica de interveno Relaxamento Muscular Progressivo.

    Jacobson (1938) introduziu o relaxamento progressivo que consistia em tensionar e

    relaxar 218 grupos musculares. Alguns anos mais tarde o mesmo autor reduziu este nmero

    para 15 grupos musculares e observou que atravs do relaxamento progressivo, havia

    diminuio do consumo de oxignio, das frequncias cardaca e respiratria, da tenso

    muscular, da contrao ventricular prematura, da presso sistlica/ diastlica e o aumento das

    ondas alfa do crebro.

    Trata-se de uma compilao da tcnica de Relaxamento Muscular Progressivo de Vera

    e Vila (1996), Junqueira (2006) e Laloni (2012), baseada na tcnica desenvolvida por Bernstein

    e Borkovec (1973), que criaram uma verso reduzida do Relaxamento Muscular Progressivo

    de Jacobson (1938), que tem sido largamente aplicada. Este instrumento de interveno tem

    como finalidade atingir nveis desejados de relaxamento dos diferentes grupos musculares por

    meio de aprendizagem de exerccios envolvendo contrao seguida de relaxamento

    (RISSARDI; GODOY, 2007).

    A tcnica utilizada est descrita abaixo. Com paciente sentado, realizou-se os

    exerccios na sequencia apresentada a seguir:

    - Comece dobrando lentamente a ponta dos ps para cima, contraia os msculos da

    barriga da perna, mantenha essa tenso (cinco segundos).

    - Agora, relaxe a perna, solte os msculos da barriga da perna, solte todos os msculos.

    Relaxe lentamente toda a perna (dez segundos).

    - Faa a seguir, o movimento contrrio, esticando os ps. Sinta nesse momento a tenso

    na perna. Mantenha a contrao (cinco segundos).

  • 40

    - Relaxe bem devagar. Aproveite esse momento para perceber a sensao causada pelo

    relaxamento (dez segundos).

    - Estique as pernas, sinta a tenso nas coxas. Mantenha essa contrao (cinco

    segundos).

    - Relaxe as pernas, solte os msculos das coxas, relaxe novamente (dez segundos).

    - Em seguida faa a contrao dos msculos das ndegas. Conserve a contrao (cinco

    segundos).

    - Relaxe. Solte lentamente a musculatura contrada (dez segundos).

    - Contraia os msculos do abdome, mantenha-os contrados, sinta a contrao, observe

    essa sensao (cinco segundos).

    - Solte lentamente os msculos abdominais, solte o quanto conseguir; respire

    naturalmente, deixe o ar encher seu abdome e solte-o lentamente. Relaxe essa parte do corpo

    (dez segundos).

    -Inspire profundamente, encha os pulmes, mantenha o ar preso nos pulmes; sinta a

    tenso desses msculos, no solte o ar, observe novamente a contrao muscular (cinco

    segundos).

    - Agora, expire, solte lentamente o ar dos pulmes, bem devagar, v soltando,

    mantenha a ateno nos pulmes. Tranquilize-se. Sinta o relaxamento (dez segundos).

    - Agora, eleve seu brao esquerdo, feche a sua mo e sinta a contrao muscular na

    altura do bceps. Observe a tenso no brao esquerdo, mantenha essa contrao (cinco

    segundos).

    - Solte lentamente o brao, abra a mo vagarosamente e relaxe os msculos do brao,

    solte o mximo que puder (dez segundos).

    - Repita o exerccio com o brao direito.

    - Feche seu punho esquerdo, contraia os msculos da mo, estire mais e mais, observe

    a tenso da sua mo, sinta como esto contrados seus msculos da mo esquerda (cinco

    segundos).

    - Agora que voc sentiu sua tenso, inicie o relaxamento da sua mo esquerda: v

    soltando os msculos contrados, cada vez mais, solte mais um pouco, observe a sensao de

    relaxamento, solte mais e mais (10 segundos).

  • 41

    - Repita o exerccio de tenso e relaxamento da mo esquerda mais uma vez e, em

    seguida, faa o mesmo exerccio com a mo direita, repetindo-o. Concentre-se na mo que est

    contraindo e no se preocupe com as outras partes do corpo; mantenha sua ateno sobre o

    grupo de msculos que est enrijecendo ou relaxando.

    - Agora eleve os ombros na direo das orelhas. Mantenha essa contrao, observe a

    tenso nos ombros e mantenha essa tenso (cinco segundos).

    - Solte os ombros lentamente, solte os braos, solte as mos, observe a ausncia de

    tenso nessas partes do corpo, nos ombros, nos braos, nas mos. Concentre-se nessa sensao

    de relaxamento (dez segundos).

    - Incline a cabea para trs, sinta a tenso no pescoo, faa fora com a cabea para

    trs sobre a resistncia que tem atrs dela. Force e sinta a contrao no pescoo e na nuca,

    mantenha essa tenso, observe-a (cinco segundos).

    - Agora, relaxe a nuca e o pescoo, observe essa sensao. Relaxe mais e mais,

    mantenha o relaxamento (dez segundos).

    - Agora, sua ateno deve estar voltada para os msculos do rosto. Levante as suas

    sobrancelhas to alto quanto possvel. Observe a tenso localizada na testa, sinta como ela

    (cinco segundos).

    - Solte a testa, relaxe o rosto, sinta o relaxamento nos msculos da testa, mantenha o

    relaxamento (dez segundos).

    - Agora, aperte seus dentes enquanto se leva as comissuras da boca em direo s

    orelhas. Sinta a contrao muscular.

    - Relaxe. Mantenha os maxilares separados e os lbios soltos. Passe a lngua nos

    dentes.

    - Feche os olhos com fora, mantenha-os fechados comprimindo-os, ao mesmo tempo

    enruga-se o nariz. Observe e sinta essa contrao, mantenha-a (cinco segundos).

    - Relaxe, solte os msculos das plpebras lentamente, no abra os olhos, apenas sinta

    cada vez mais o relaxamento das plpebras. Relaxe o nariz (dez segundos).

    - Observe todo o seu corpo, suas mos relaxadas, seus braos. Seu rosto e seus ombros,

    seus pulmes, seu abdome e suas pernas, sinta cada grupo de msculos e deixe-os relaxar.

    Mantenha-se relaxado.

  • 42

    - Agora, abra lentamente seus olhos. Relaxe. Espreguice-se. Mantenha a sensao de

    relaxamento.

    Para avaliar se o participante se encontrava efetivamente relaxado, alguns parmetros

    fisiolgicos foram controlados antes e aps a interveno de RMP. Desta forma, foram aferidos

    a presso arterial (PA) e a frequncia cardaca (FC) com o monitor digital automtico da marca

    OMRON 705 CP. A aferio da frequncia respiratria (FR) foi feita com observao da

    respirao diafragmtica, durante um minuto, com relgio convencional. Ressalta-se que para

    a mensurao dos parmetros fisiolgicos, no houve interferncia ou interrupo do

    relaxamento.

    Tais medidas justificam-se visto que o estresse est relacionado gnese de vrias

    alteraes da homeostase. Em relao aos parmetros fisiolgicos, o mesmo desencadeia uma

    reao simptica. H liberao de epinefrina que eleva a presso arterial e as frequncias

    cardaca e respiratria, entre outros fatores (STOUDEMIRE; MC DANIEL, 1999).

    O RMP restaura o equilbrio do organismo, atuando de forma contrria fase de alarme

    do estresse, proporcionando a reduo da presso arterial, da frequncia cardaca e respiratria

    (HORN, 1988; DAVIS; ESHELMAN; MCKAY, 1996, WEINECK, 1999). Sendo ento a PA,

    FC e FR, importantes parmetros clnicos para a avaliao da eficcia e qualidade do

    relaxamento proposto.

    4.5.3 Variveis de confundimento

    Estas variveis foram avaliadas com a finalidade de verificar homogeneidade da

    amostra. Atravs da aplicao do Formulrio scio-demogrfico foram avaliadas as seguintes

    variveis: sexo, idade, raa/cor, estado civil, escolaridade, ocupao, tempo de diagnstico e

    medicao para controle da EM.

    Sexo

    Caracterizou-se em masculino e feminino.

    A EM acomete principalmente o sexo feminino, sendo sua incidncia

    aproximadamente duas vezes maior em mulheres que em homens, assim como caracterstico

    nas doenas auto-imunes, fato este que ainda no est esclarecido, embora a explicao mais

    atual se deva maior susceptibilidade das mulheres a condies imunes e inflamatrias

  • 43

    (SADOVNICK; EBERS, 1993, HARTUNG, 1995; PRYSE-PHILLIPS; COSTELLO, 2001;

    COMPSTON; COLES, 2002; ROPPER; BROWN, 2005). O mecanismo preciso da influncia

    de hormnios sexuais na susceptibilidade da EM no foi esclarecido, mas deve-se em parte ao

    efeito de estrognios estimulando a secreo de citocinas pr-inflamatrias

    (VANDENBROECK; GORIS, 2003).

    Idade

    A EM acomete principalmente adultos jovens. Geralmente o diagnstico

    estabelecido no incio da terceira dcada de vida, com maior frequncia na faixa etria dos 20

    aos 40 anos, mas pode atingir pessoas de todas as idades, ainda que as primeiras manifestaes

    sejam excepcionais antes dos 15 e depois dos 60 anos (HARTUNG, 1995; ZAKZANIS, 2000;

    PRYSE-PHILLIPS; COSTELLO, 2001; TILBERY, 2005; FERRO; PIMENTEL, 2006; S;

    CORDEIRO, 2008).

    Considerando que a partir dos 60 anos h comprometimentos relacionados ao

    envelhecimento (VANDERVOORT, 2000) que pode representar um vis para este estudo e a

    necessidade de se trabalhar com o paciente adulto, uma vez que a natureza desta pesquisa

    implica no termo de consentimento livre e esclarecido (APNDICE A e B), foi utilizada a

    seguinte escala para medida da varivel:

    At 20 anos

    21 a 30 anos

    31 a 40 anos

    41 a 50 anos

    51 a 60 anos

    Acima de 60 anos.

    Raa/cor

    A EM afeta mais frequentemente a raa branca, sendo rara em negros e orientais

    (OLIVEIRA et al., 1999; MOREIRA et al., 2000; TILBERY, 2005). No Brasil h resultados

    divergentes em relao prevalncia de EM na raa negra, 1,5% (ARRUDA et al., 2001); 5%

    (MOREIRA et al., 2000); 31,8% (PAPAIZ-ALVARENGA et al., 1995). Esta varivel foi

  • 44

    categorizada da seguinte forma:

    Branco

    Pardo

    Negro

    Indgena.

    Estado civil

    Para esta varivel utilizou-se as seguintes categorias:

    Solteiro

    Casado/Unio estvel

    Vivo

    Divorciado/ separado.

    Escolaridade

    Para esta varivel foram utilizadas as seguintes categorias:

    Analfabeto

    Ensino Fundamental Incompleto

    Ensino Fundamental Completo

    Ensino Mdio Incompleto

    Ensino Mdio Completo

    Ensino Superior Incompleto

    Ensino Superior Completo

    Ps Graduao.

    Ocupao

    Para esta varivel considerou-se a ocupao atual, utilizou-se as seguintes categorias:

  • 45

    Trabalhador informal

    Trabalhador com carteira assinada

    Funcionrio pblico

    Aposentado.

    Auxlio doena

    Dona de casa

    Estudante

    Tempo de diagnstico

    Ser medida em anos. Utilizou-se a seguinte escala:

    1 a 5 anos

    6 a 10