avaliação técnica e econômica do concreto de consistência ... · tecnologias com o uso de...

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Revista Científica Faesa, Vitória, ES, v. 12, n. 1, p. 12-22, 2016 ISSUE DOI: 10.5008/1809.7367.096 ISSN 1809-7367 Avaliação técnica e econômica do concreto de consistência seca com adição de borracha de pneu e aplicação em meio-fio Thechnical evaluation of economic and dry strength concrete with tire rubber with addition with application trhough wire Fabricia Zangerolame Nascimento Silva 1 , Anderson Buss Woelffel 2 1 Engenheira Civil (FAESA), técnica em Edificações e Segurança do Trabalho, e-mail: [email protected] 2 Arquiteto e Urbanista (UFES), mestre em Engenharia Civil (UFES), professor dos Cursos de Arquitetura e Urbanismo e Engenharia Civil (FAESA), e-mail: [email protected] Resumo: O meio-fio é um artefato de cimento, fabricado com o concreto seco, também chamado de concreto sem abatimento (slump), conformado simultaneamente por compressão e vibração, e utiliza, em sua composição, a areia, um bem natural não renovável e restrito, mas cuja extração impacta negativamente o meio ambiente. Considerando o consenso entre viabilidade técnica, econômica, prazo de execução e preservação do meio ambiente, foi proposto neste trabalho a substituição parcial do agregado miúdo – areia – pela adição de borracha de pneu ao concreto de referência, de forma a elevar sua resistência à compressão e sua fluência. Para demonstrar o desempenho da adição de borracha de pneu, foram realizados ensaios normatizados e composições de custos referenciando as aplicações no mercado. Os ensaios destrutivos de concreto executados neste estudo foram de compressão axial e de tração na flexão. Os corpos de prova foram moldados com teores de borracha de 5% e 10%, ensaiados em três idades distintas, aos 7, 21 e 28 dias. A viabilidade da substituição parcial da areia por borracha de pneu no concreto é comprovada pelo aumento das propriedades, como a resistência à compressão axial e tração na flexão, quando da substituição em 5%. Palavras-chave: Meio-fio. Concreto seco. Borracha de pneu. Abstract: The curb is a concrete artifact made of dry concrete, also called concrete without rebate (slump), both formed by compression and vibration, uses in its composition, sand, natural non-renewable and limited in his extraction negatively impacts the environment. Considering the consensus between technical feasibility, economic, lead time and environmental preservation, it was proposed in this paper the partial replacement of fine aggregate, sand, by the addition of tire rubber to the reference concrete, the form increase its compressive strength and fluency. To demonstrate the performance of the addition of tire rubber, standardized tests were performed,costs compositions, referencing the applications on the market. The destructive concrete testing performed in this study was to axial compression and traction in flexion. The specimens were molded with a rubber content of 5% and 10%, and tested in three different ages, at 7, 21 and 28 days. The feasibility of partial replacement for sand in concrete tire rubber is evidenced by the increase in properties such as resistance to axial compression and tension in flexion when replacing 5%. Keywords: The curb. Dry concrete. Tire rubber. INTRODUÇÃO O sistema tecnológico evolui e inova em ritmo acelerado. No entanto, em conjunto com esse aspecto, há ainda a preocupação da preservação do meio ambiente, em virtude da geração de resíduos sólidos industriais, bem como da durabilidade e destinação final de um bem adquirido, associada à consciência da reutilização e de reciclagem desses materiais em todos os ramos de atividades. A reciclagem é uma das propostas que mais ganha estímulo com o uso de matérias-primas para a confecção de vários produtos, e de seus resíduos produzidos, ao evitar que sejam deixados na natureza,

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Revista Científica Faesa, Vitória, ES, v. 12, n. 1, p. 12-22, 2016ISSUE DOI: 10.5008/1809.7367.096

ISSN 1809-7367

Avaliação técnica e econômica do concreto de consistência seca com adição de borracha de pneu e aplicação em meio-fioThechnical evaluation of economic and dry strength concrete with tire rubber with addition with application trhough wire

Fabricia Zangerolame Nascimento Silva1, Anderson Buss Woelffel2

1 Engenheira Civil (FAESA), técnica em Edificações e Segurança do Trabalho, e-mail: [email protected] Arquiteto e Urbanista (UFES), mestre em Engenharia Civil (UFES), professor dos Cursos de Arquitetura e

Urbanismo e Engenharia Civil (FAESA), e-mail: [email protected]

Resumo: O meio-fio é um artefato de cimento, fabricado com o concreto seco, também chamado de concreto sem abatimento (slump), conformado simultaneamente por compressão e vibração, e utiliza, em sua composição, a areia, um bem natural não renovável e restrito, mas cuja extração impacta negativamente o meio ambiente. Considerando o consenso entre viabilidade técnica, econômica, prazo de execução e preservação do meio ambiente, foi proposto neste trabalho a substituição parcial do agregado miúdo – areia – pela adição de borracha de pneu ao concreto de referência, de forma a elevar sua resistência à compressão e sua fluência. Para demonstrar o desempenho da adição de borracha de pneu, foram realizados ensaios normatizados e composições de custos referenciando as aplicações no mercado. Os ensaios destrutivos de concreto executados neste estudo foram de compressão axial e de tração na flexão. Os corpos de prova foram moldados com teores de borracha de 5% e 10%, ensaiados em três idades distintas, aos 7, 21 e 28 dias. A viabilidade da substituição parcial da areia por borracha de pneu no concreto é comprovada pelo aumento das propriedades, como a resistência à compressão axial e tração na flexão, quando da substituição em 5%.Palavras-chave: Meio-fio. Concreto seco. Borracha de pneu.

Abstract: The curb is a concrete artifact made of dry concrete, also called concrete without rebate (slump), both formed by compression and vibration, uses in its composition, sand, natural non-renewable and limited in his extraction negatively impacts the environment. Considering the consensus between technical feasibility, economic, lead time and environmental preservation, it was proposed in this paper the partial replacement of fine aggregate, sand, by the addition of tire rubber to the reference concrete, the form increase its compressive strength and fluency. To demonstrate the performance of the addition of tire rubber, standardized tests were performed,costs compositions, referencing the applications on the market. The destructive concrete testing performed in this study was to axial compression and traction in flexion. The specimens were molded with a rubber content of 5% and 10%, and tested in three different ages, at 7, 21 and 28 days. The feasibility of partial replacement for sand in concrete tire rubber is evidenced by the increase in properties such as resistance to axial compression and tension in flexion when replacing 5%.Keywords: The curb. Dry concrete. Tire rubber.

INTRODUÇÃOO sistema tecnológico evolui e inova em ritmo

acelerado. No entanto, em conjunto com esse aspecto, há ainda a preocupação da preservação do meio ambiente, em virtude da geração de resíduos sólidos industriais, bem como da durabilidade e destinação final de um bem adquirido, associada à consciência

da reutilização e de reciclagem desses materiais em todos os ramos de atividades.

A reciclagem é uma das propostas que mais ganha estímulo com o uso de matérias-primas para a confecção de vários produtos, e de seus resíduos produzidos, ao evitar que sejam deixados na natureza,

13Avaliação técnica e econômica do concreto de consistência seca com adição de borracha de pneu e aplicação em meio-fio

contribuindo, desse modo, para a preservação do meio ambiente. Nessa prática, torna-se importante o estudo de viabilidade do uso de pneus inservíveis, aproveitando a matéria-prima reciclada e preservando, assim, os recursos naturais.

A indústria da construção civil, sempre questionada pelos danos à natureza e pelo consumo dos recursos naturais extraídos do planeta, procura desenvolver tecnologias com o uso de materiais alternativos em obras. A proposta de agregar borracha de pneu ao concreto surge com o intuito de contribuir com o aspecto ambiental e com o desenvolvimento de um material que apresente algumas das propriedades favoráveis e importantes para a construção civil, como baixa massa unitária, alta resistência, ductilidade e resistência ao impacto (GRANZOTTO, 2010).

O objetivo principal do estudo é avaliar a viabilidade técnica e econômica da adição de borracha de pneu ao concreto para a confecção de meio-fio, por meio de ensaios normatizados com profissionais que planejam, produzem e executam meio-fio.

METODOLOGIAPara o desenvolvimento deste estudo, foram realizadas

pesquisas bibliográficas e documentais. A partir do levantamento de dados iniciais, buscou-se comprovar a viabilidade técnica e econômica da substituição parcial da areia pelos resíduos de borracha de pneu na produção de meio-fio. Foram feitos ensaios de caracterização dos materiais empregados e do concreto. A viabilidade econômica foi realizada pela elaboração e comparação das composições de preços unitários, com base em literaturas de referência. Conclui-se o estudo pela apresentação dos resultados dos ensaios laboratoriais e análise de custo entre o concreto de referência e o concreto com adição de resíduo de borracha de pneu.

CARACTERIZAÇÃO PRÉVIA DOS MATERIAIS

CimentoUtilizou-se cimento CP IV RS, comercialmente

utilizado em diversos tipos de obra e fornecido em sacos de 50kg.

Agregados naturais e borrachaPara avaliar as características dos materiais miúdos

(areia, pó de pedra, pedrisco e borracha), foram realizados procedimentos experimentais normatizados de granulometria, massa específica e massa unitária. A Figura 1 mostra cada agregado.

ÁguaA água de amassamento utilizada foi a fornecida

pela concessionária da rede municipal e suas propriedades são apresentadas na Tabela 1, fornecidas pela Companhia Espírito-Santense de Saneamento (CESAN), com base no mês de junho.

ENSAIOS PARA CARACTERIZAÇÃO DOS AGREGADOS

Composição granulométricaA análise granulométrica da areia foi realizada

conforme a ABNT NBR NM 248/2003 (ABNT, 2003), como mostra a Figura 2.

Ensaios de massa unitária e de massa específicaA massa unitária dos agregados, também conhecida

por massa específica aparente, é normatizada pela ABNT NBR 45/2006 (ABNT, 2006). Já a determinação da massa específica dos agregados miúdos foi realizada por meio dos procedimentos descritos na ABNT NBR NM 52/2002 (ABNT, 2002).

Figura 1. Agregados miúdos: (a) areia; (b) pó de pedra; (c) pedrisco; e (d) borrachaFonte: Arquivo pessoal (2015).

Tabela 1. Propriedades da água de amassamento

Propriedades Unidade ResultadosCor aparente - 3,00Fluoretos mg/L 0,70Turbidez NTU 0,59pH - 6,60Cloro residual mg Cl/L 1,30Alumínio mg/L 0,0041Ferro total mg/L 0,00Manganês mg/L 0,00Fonte: CESAN (2014).

Silva, F. Z. N. et al.14 Revista Científica Faesa, Vitória, ES, v. 12, n. 1, p. 12-22, 2016

RESULTADOS DA CARACTERIZAÇÃOA caracterização dos agregados apresentou os

resultados ilustrados na Tabela 2 e detalhados nos gráficos da Figura 3.

Na Tabela 3, são apresentados os valores da massa unitária dos agregados no estado solto.

A partir do ensaio realizado para obtenção da massa específica dos agregados utilizados nesta pesquisa, foram encontrados os resultados ilustrados na Tabela 4.

DOSAGEM, PRODUÇÃO, CONFORMAÇÃO E MOLDAGEM DOS CORPOS DE PROVAPara esta pesquisa, foram adotados 5% e 10% da

borracha em substituição ao agregado miúdo (areia) com mesma proporção, conforme Tabela 5 – método definido pela Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP).

Foram produzidos o concreto de referência e os concretos com adição de borracha de pneu, substituindo em 5% e 10% a areia em mesma proporção. Um misturador de eixo vertical foi utilizado, seguido da etapa de conformação, realizada por equipamentos de vibroprensão que realizam a prensagem e a vibração simultaneamente (Figura 4). Posteriormente, foram feitas a avaliação da trabalhabilidade, a extração conforme ABNT NBR 7680/2015 (ABNT, 2015b) e a

Figura 2. (a) Pesagem da borracha de pneu na balança de precisão; e (b) ensaio de granulometria: sequência de peneirasFonte: Arquivo pessoal (2015).

Tabela 2. Características granulométricas

Propriedade AgregadosAreia Borracha Pedrisco Pó de pedra

Diâmetro máximo (mm) 2,40 4,80 6,30 4,80Módulo de finura 1,76 3,66 3,12 2,20Fonte: Arquivo pessoal (2015).

Figura 3. Curva granulométrica: (a) agregado miúdo (areia); (b) agregado miúdo reciclável (borracha); (c) agregado miúdo (pedrisco); e (d) pó de pedraFonte: Arquivo pessoal (2015).

15Avaliação técnica e econômica do concreto de consistência seca com adição de borracha de pneu e aplicação em meio-fio

disposição em uma câmara úmida por 7, 21 e 28 dias, respeitando as idades dos ensaios mecânicos.

Tanto para o concreto de referência como para os concretos com adição de borracha de pneu, foram também moldados manualmente corpos de prova. Porém, em virtude de a ABNT NBR 5738/2015 (ABNT, 2015a) não ser aplicada ao concreto de consistência seca, para avaliar de forma quantitativa o comportamento do concreto, foi desenvolvido um equipamento similar ao do ensaio Marshall,

que é utilizado em compactação de asfaltos, para a moldagem dos corpos de prova do concreto seco, como ilustra a Figura 5.

REALIZAÇÃO DOS ENSAIOS NORMATIZADOSOs corpos de prova do concreto de referência com

5% e 10% de borracha de pneu, conformados por vibroprensagem e manualmente aos 7, 21 e 28 dias, foram submetidos a forças de compressão até o

Tabela 3. Massa unitária no estado solto dos agregados

PropriedadeAgregados

Areia Borracha Pedrisco Pó de pedraMassa unitária (g/cm3) 1,355 0,496 1,413 1,392Fonte: Arquivo pessoal (2015).

Tabela 4. Massa específica dos agregados

Propriedade AgregadosAreia Borracha Pedrisco Pó de pedra

Massa específica (g/cm3) 2,787 1,05 2,826 2,835Fonte: Arquivo pessoal (2015).

Tabela 5. Traço concreto de referência e concreto com adição de borracha de pneu

Tipo Traço(cimento, areia, pedrisco, pó de pedra, água/cimento, borracha)

Concreto de referência 1: 3,902: 3,200: 4,000: 0,002Concreto com adição de borracha de pneu em 5% 1: 3,707: 3,200: 4,000: 0,002: 0,195Concreto com adição de borracha de pneu em 10% 1: 3,512: 3,200: 4,000: 0,002: 0,390Fonte: Arquivo pessoal (2015).

Figura 4. (a,b) Produção do concreto; (c,d) conformação do concreto; (e) trabalhabilidade do concreto; (f) extração; (g) identificação dos corpos de prova; e (h) cura úmidaFonte: Arquivo pessoal (2015).

Silva, F. Z. N. et al.16 Revista Científica Faesa, Vitória, ES, v. 12, n. 1, p. 12-22, 2016

instante da ruptura do material, de acordo com a Figura 6, obtendo-se, dessa forma, a resistência à compressão dos materiais testados, conforme ABNT NBR 5739/1994 (ABNT, 2007).

Com o mesmo princípio da ABNT NBR 12142/2010 (ABNT, 2010), foram moldadas três formas prismáticas por meio do processo de vibroprensagem, produzindo, assim, as peças já conformadas, não se tornando viável a moldagem manual dos prismas, pois a vibroprensagem é mais eficiente por tornar o material mais coeso, como mostra a Figura 7.

RESULTADOS DOS ENSAIOS NORMATIZADOSOs dados obtidos inicialmente no ensaio de

compressão axial foram tratados conforme a ABNT NBR 7680/2015 (ABNT, 2015b). Durante a extração dos corpos de prova com a extratora diamantada, ocorreu a perturbação no concreto, com a necessidade, portanto, de considerar os coeficientes de correção (k1, k2, k3 e k4). O coeficiente k1 determina a relação altura/diâmetro do corpo de prova, e seus valores foram registrados na Tabela 6.

O coeficiente k2 representa o efeito do broqueamento em função do diâmetro do testemunho, conforme valores descritos na Tabela 7.

O coeficiente k3 determina a direção da extração em relação ao lançamento do concreto, com k3 igual a 0 quando o sentido do lançamento do concreto estiver paralelo (adotado para lajes) e igual a 0,05 quando o sentido do lançamento do concreto for ortogonal (por exemplo, em pilares, cortinas etc.). O coeficiente k4 representa o efeito de umidade no testemunho. Caso o testemunho esteja saturado, por exemplo, estruturas em contato com água, o coeficiente k4 será 0. Se o testemunho for seco ao ar, como as estruturas fora de contato com água, deve-se adotar k4 igual a -0,04.

A Equação 1 representa o fator de correção, e a Tabela 8, os resultados obtidos nos ensaios de resistência à compressão.

Figura 5. (a) Soquete; (b) conformação dos corpos de prova; (c) arrasamento; e (d) cura úmidaFonte: Arquivo pessoal (2015).

Figura 6. (a) Ensaio de resistência à compressão manual; e (b) ensaio de resistência à compressão mecânicaFonte: Arquivo pessoal (2015).

Figura 7. Ensaio de resistência à tração na flexãoFonte: Arquivo pessoal (2015).

17Avaliação técnica e econômica do concreto de consistência seca com adição de borracha de pneu e aplicação em meio-fio

Equação 1. Correção dos valores iniciais de resistência à compressão

( ) inicialR 1 k1 k2 k3 k4 R= + + + + × (1)

em que: R é a resistência dos dados que já foram tratados e Rinicial é a resistência obtida no ensaio.

No concreto com adição de borracha de pneu em 5%, houve um aumento de 35,31% da resistência à compressão em relação ao concreto de referência. Já no concreto com adição de borracha de pneu em 10%, ocorreu uma redução da resistência quando comparado ao concreto de referência e ao concreto com adição de borracha de pneu em 5%. A Figura 8 ilustra os resultados médios do ensaio de compressão dos corpos de prova moldados mecanicamente.

Os corpos de prova moldados manualmente foram submetidos aos ensaios realizados aos 7, 21 e 28 dias. Observou-se que não ocorreu acréscimo significativo de resistência à compressão axial do concreto de referência nem do concreto com adição de borracha de pneu em 5% e 10%. O processo de moldagem manual não foi eficiente para obter corpos de prova com coesão e resistências significativas. A Tabela 9 e a Figura 9 apresentam os resultados médios dos ensaios de compressão para os corpos de prova de

concreto sem e com adição de borracha de pneu, moldados manualmente.

No ensaio de tração na flexão, foi verificado um ganho de resistência do concreto com adição de borracha de pneu em 5%, quando comparado ao concreto de referência, verificando esse aumento em 35,31% aos 28 dias, como mostra a Tabela 10.

Tabela 6. Valores de k1

Relação altura/diâmetro

h/d2,00 1,88 1,75 1,63 1,50 1,42 1,33 1,25 1,21 1,18 1,14 1,11 1,07 1,04 1,00

K1 0,00 -0,01 -0,02 -0,03 -0,04 -0,05 -0,06 -0,07 -0,08 -0,09 -0.10 -0.11 -0,12 -0,13 -0.14Fonte: ABNT NBR 7680 (ABNT, 2015b).

Tabela 7. Valores de k2

Diâmetro do testemunho (dt)

em mm≤ 25 50ª 75 100 ≥ 150

K2 Não permitido 0,12 0,09 0,06 0,04aNeste caso, o número de testemunhos deve ser o dobro daquele estabelecido. Fonte: ABNT NBR 7680 (ABNT, 2015b).

Tabela 8. Resultados obtidos nos ensaios de resistência à compressão dos corpos de prova retirados por extrusora

Idade(28 dias) Tipo Resistência

inicial (MPa) K1 K2 K3 K4 Fator demultiplicação

Resistência real

7CR*

7,00 0,00 0,06 0,05 0,00 [1 + (0,06 + 0,05)] x 7,00 7,7721 10,06 0,00 0,06 0,05 0,00 [1 + (0,06 + 0,05)] x 10,06 11,1728 12,54 0,00 0,06 0,05 0,00 [1 + (0,06 + 0,05)] x 12,54 13,927

5%7,51 0,00 0,06 0,05 0,00 [1 + (0,06 + 0,05)] x 16,68 8,34

21 11,97 0,00 0,06 0,05 0,00 [1 + (0,06 + 0,05)] x 11,97 13,2928 15,84 0,00 0,06 0,05 0,00 [1 + (0,06 + 0,05)] x 15,84 17,587

10%3,56 0,00 0,06 0,05 0,00 [1 + (0,06 + 0,05)] x 3,56 3,95

21 4,46 0,00 0,06 0,05 0,00 [1 + (0,06 + 0,05)] x 4,46 4,9528 4,74 0,00 0,06 0,05 0,00 [1 + (0,06 + 0,05)] x 4,74 5,26

*CR: concreto de referência. Fonte: Arquivo pessoal (2015).

Figura 8. Valores médios da resistência à compressão dos corpos de prova moldados mecanicamenteFonte: Arquivo pessoal (2015).

Silva, F. Z. N. et al.18 Revista Científica Faesa, Vitória, ES, v. 12, n. 1, p. 12-22, 2016

A análise visual foi feita para verificação da distribuição da borracha e possíveis fissuras após o ensaio de tração na flexão, conforme ilustrado na Figura 10. Constatou-se visualmente que as borrachas estavam distribuídas de forma homogênea na seção do corpo de prova de concreto. No concreto de referência, ocorreu fissura (Figura 10a), fato não observado nas amostras com adição de borracha em 5% e 10%, como pode ser observado na Figura 10b e Figura 10c, respectivamente.

Viabilidade econômica

A viabilidade econômica da substituição de areia por borracha de pneu em 5% e 10% em massa foi evidenciada por meio de composição de custo unitário, de acordo com a produção e execução em 1m do meio-fio de referência (BxbxHxC), com medidas 12x10x25x50cm.

Adotadas como referência as tabelas de custos de obras públicas do Instituto de Obras Públicas do Estado do Espírito Santo (IOPES) e do Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil (SINAPI), além de informações da Empresa Premsar Pré-Moldados Sartor, foram analisados o custo para produção e execução de 1m de meio-fio do concreto de referência (CPU1) e o custo do concreto com a adição de borracha de pneu em 5% (CPU2), visto que se obteve melhor resultado nos ensaios normatizados, conforme Tabelas 11 e 12.

Comparadas às composições (CPU1 e CPU2), observa-se que o meio-fio de concreto de referência tem custo menos elevado se comparado ao de concreto com adição de borracha de pneu em 5%. Isso se demonstra nos materiais nos quais se insere a borracha de pneu em fibras.

Figura 10. Aspecto interno das amostras: (a) concreto de referência; (b) 5%; e (c) 10%Fonte: Arquivo pessoal (2015).

Figura 9. Valores médios da resistência à compressão dos corpos de prova moldadosFonte: Arquivo pessoal (2015).

Tabela 9. Resultados obtidos nos ensaios de resistência à compressão dos corpos de prova moldados manualmente

Idade do concreto (dias)

Concreto de referência (MPa)

Concreto com adição borracha em 5% (MPa)

Concreto com adição borracha em 10% (MPa)

7 2,60 1,30 1,4021 2,60 2,00 1,7028 2,80 1,90 1,30

Fonte: Arquivo pessoal (2015).

19Avaliação técnica e econômica do concreto de consistência seca com adição de borracha de pneu e aplicação em meio-fio

Tabela 10. Resultados obtidos nos ensaios de resistência à tração na flexão dos corpos de prova moldados mecanicamente

Idade do concreto (dias)

Concreto de referência (MPa)

Concreto com adição borracha em 5% (MPa)

Concreto com adição borracha em 10% (MPa)

28 13,68 18,51 11,73Fonte: Arquivo pessoal (2015).

Tabela 11. Planilha de custo unitário (CPU 1)PCU

1Planilhas de custo unitário

Referência: LABOR/CT-UFES BDI= 27,64% Custo total (R$)

Data: Out/2015

Item Especificação Unid. Quant.Custo

unitário (R$)

% dos itens Item

1 Descrição do serviçoMeio-fio de concreto pré-moldado com dimensões de 12x10x25x50cm, rejuntado com argamassa de cimento e areia no traço 1:3

m 1,00 200202 adaptado

1.1 Mão de obra da produção e transporte

1.1.1 Ajudante h 1,00 4,67 1,71 0,3666 IOPES 0101011.1.2 Eletricista h 1,00 5,54 2,77 0,5000 IOPES 0101151.1.3 Pedreiro h 1,00 5,54 4,62 0,8333 IOPES 0101391.1.4 Servente h 1,00 4,07 1,49 0,3666 IOPES 0101461.1.5 Encarregado h 1,00 14,65 14,65 1,0000 SINAPI 9202591.1.6 Motorista h 1,00 14,27 8,32 0,5833 SINAPI 020020

Subtotal A 33,561.2 Materiais

1.2.1 Areia média lavada m3 1,00 49,75 1,00 0,0200 SINAPI 205031.2.2 Pedrisco m3 1,00 70,13 1,40 0,0200 SINAPI 205221.2.3 Pó de pedra m3 1,00 43,74 0,87 0,0200 SINAPI 205241.2.4 Cimento CP V-ARI kg 1,00 28,00 116,66 4,1666 NASSAU1.2.5 Cimento CP lll kg 1,00 23,00 23,00 1,0000 NASSAU

Subtotal B 142,941.3 Equipamentos

1.3.1 Misturador vertical de concreto para blocos h 1,00 25,00 9,17 0,3666 COTAÇÃO

1.3.2 Correia transportadora de concreto para fabricação de blocos h 1,00 50,00 7,50 0,1500 COTAÇÃO

1.3.3Vibroprensa para produção de meio-fio, marca Qualy Máquinas ou similar

h 1,00 70,00 25,66 0,3666 COTAÇÃO

1.3.4Caminhão basculante com capacidade de 5m3/11T e motor diesel 142HP (SINAPI)

h 1,00 54,00 54,00 1,0000 SINAPI 001133

1.3.5 Betoneira 320L (E301) h 1,00 17,08 4,27 0,2500 SINAPI 080125

1.3.6 Motoniveladora ATE 130HP (SINAPI) h 1,00 77,00 25,41 0,3300 SINAPI 004092

1.3.7Pá carregadeira sobre rodas com motor 105HP e capacidade de 1,91m3 (SINAPI)

h 1,00 90,00 36,00 0,4000 SINAPI 004260

1.3.8 Retroescavadeira com capacidade 76HP (SINAPI) h 1,00 74,92 24,72 0,3300 SINAPI 006042

Fonte: Arquivo pessoal (2015).

Silva, F. Z. N. et al.20 Revista Científica Faesa, Vitória, ES, v. 12, n. 1, p. 12-22, 2016

PCU 1

Planilhas de custo unitárioReferência: LABOR/CT-UFES BDI= 27,64% Custo

total (R$)

Data: Out/2015

Item Especificação Unid. Quant.Custo

unitário (R$)

% dos itens Item

1.3.9Máquina extrusora de concreto para guias e sarjetas com motor 14CV (SINAPI)

h 1,00 120,00 30,00 0,2500 SINAPI 013836

1.3.10 Máquina de cortar asfalto/concreto CLIPPER - SINAPI 4035 h 1,00 2,70 0,22 0,0800 SINAPI 4035

Subtotal C 216,95Total

A+B+C 393,45

1.4 Custo direto total (subtotal A+B+C) 393,45

1.5 Bonificações e despesas indiretas (27,64%) 27,64% 108,75

1.6 Custo unitário total 502,20Fonte: Arquivo pessoal (2015).

Tabela 11. Continuação...

Tabela 12. Planilha de custo unitário (CPU 2)

PCU 2

Planilhas de custo unitárioReferência: LABOR/CT-UFES BDI= 27,64% Custo

total (R$)

Data: Out/2015

Item Especificação Unid. Quant.Custo

unitário (R$)

% dos itens Item

1 Descrição do serviçoMeio-fio de concreto pré-moldado com dimensões de 12x10x25x50cm, rejuntado com argamassa de cimento e areia no traço 1:3

m 1,00 200202 adaptado

1.1 Mão de obra da produção e transporte

1.1.1 Ajudante h 1,00 4,67 1,71 0,3666 IOPES 0101011.1.2 Eletricista h 1,00 5,54 2,77 0,5000 IOPES 0101151.1.3 Pedreiro h 1,00 5,54 4,62 0,8333 IOPES 0101391.1.4 Servente h 1,00 4,07 1,49 0,3666 IOPES 0101461.1.5 Encarregado h 1,00 14,65 14,65 1,0000 SINAPI 9202591.1.6 Motorista h 1,00 14,27 8,32 0,5833 SINAPI 020020

Subtotal A 33,561.2 Materiais

1.2.1 Areia média lavada m3 1,00 49,75 1,00 0,0200 SINAPI 205031.2.2 Pedrisco m3 1,00 70,13 1,40 0,0200 SINAPI 205221.2.3 Pó de pedra m3 1,00 43,74 0,87 0,0200 SINAPI 205241.2.4 Cimento CP V-ARI kg 1,00 28,00 116,66 4,1666 NASSAU1.2.5 Cimento CP lll kg 1,00 23,00 23,00 1,0000 NASSAU1.2.6 Borracha de pneu m3 1,00 39,68 0,20 0,0050 NASSAU

Subtotal B 143,141.3 Equipamentos

1.3.1 Misturador vertical de concreto para blocos h 1,00 25,00 9,17 0,3666

1.3.2 Correia transportadora de concreto para fabricação de blocos h 1,00 50,00 7,50 0,1500

Fonte: Arquivo pessoal (2015).

21Avaliação técnica e econômica do concreto de consistência seca com adição de borracha de pneu e aplicação em meio-fio

Com relação à viabilidade econômica de substituir parte do agregado de areia pela borracha de pneu, verificou-se que a substituição de areia por borracha de pneu em 5% de massa não acarretou diferença significativa do custo, que foi de 0,05%, o que comprova a viabilidade econômica dessa substituição.

AGRADECIMENTOSÀ Recauchutadora Colatinense, pelas orientações

técnicas e pelo fornecimento da borracha de pneu; ao Anilton Trento Sartor, da Premsar Pré-Moldados Sartor Ltda., por permitir que fosse produzido o concreto e a cura; ao Leonardo Rosa Coutinho, da EPT Engenharia e Pesquisas Tecnológicas S.A., pelos ensaios de compressão realizados; ao Milton Rocha de Souza, da Rocha Locações, pelas extrações dos corpos de prova; à professora Georgia Serafim Araújo, do Instituto Federal do Espírito Santo (IFES), pelos ensaios de tração na flexão realizados e orientações; aos demais colegas e profissionais, que contribuíram para que este projeto se realizasse.

CONCLUSÕESPela avaliação da viabilidade técnica e econômica da

adição de borracha de pneu ao concreto para a confecção de meio-fio por meio de ensaios normatizados, pela pesquisa com profissionais que planejam, produzem e executam meio-fio e pelos resultados obtidos, pode-se observar que há coesão do concreto ao ser prensado mecanicamente. No concreto moldado manualmente, não houve acréscimo de resistência à compressão, devido à não eficiência para obter corpos de prova com coesão. A resistência à compressão axial do concreto com adição de borracha de pneu em 5%, quando comparado ao concreto de referência, apresentou melhor resultado, uma vez que mostrou um desempenho mais satisfatório no ensaio de tração na flexão. Os aspectos visuais foram aceitáveis para a aplicação proposta.

Ao comparar os resultados obtidos, foi comprovada a viabilidade técnica da substituição parcial da areia por borracha de pneu, desde que seja em torno de 5%.

PCU 2

Planilhas de custo unitárioReferência: LABOR/CT-UFES BDI= 27,64% Custo

total (R$)

Data: Out/2015

Item Especificação Unid. Quant.Custo

unitário (R$)

% dos itens Item

1.3.3Vibroprensa para produção de meio-fio, marca Qualy Máquinas ou similar

h 1,00 70,00 25,66 0,3666 COTAÇÃO

1.3.4Caminhão basculante com capacidade de 5m3/11T e motor diesel 142HP (SINAPI)

h 1,00 54,00 54,00 1,0000 SINAPI 001133

1.3.5 Betoneira 320L (E301) h 1,00 17,08 4,27 0,2500 SINAPI 080125

1.3.6 Motoniveladora ATE 130HP (SINAPI) h 1,00 77,00 25,41 0,3300 SINAPI 004092

1.3.7Pá carregadeira sobre rodas com motor 105 HP e capacidade de 1,91m3 (SINAPI)

h 1,00 90,00 36,00 0,4000 SINAPI 004260

1.3.8 Retroescavadeira com capacidade 76HP (SINAPI) h 1,00 74,92 24,72 0,3300 SINAPI 006042

1.3.9Máquina extrusora de concreto para guias e sarjetas com motor 14CV (SINAPI)

h 1,00 120,00 30,00 0,2500 SINAPI 013836

1.3.10 Máquina de cortar asfalto/concreto CLIPPER - SINAPI 4035 h 1,00 2,70 0,22 0,0800 SINAPI 4035

Subtotal C 216,95Total

A+B+C 393,65

1.4 Custo direto total (subtotal A+B+C) 393,65

1.5 Bonificações e despesas indiretas (27,64%) 27,64% 108,80

1.6 Custo unitário total 502,45Fonte: Arquivo pessoal (2015).

Tabela 12. Continuação...

Silva, F. Z. N. et al.22 Revista Científica Faesa, Vitória, ES, v. 12, n. 1, p. 12-22, 2016

______. NBR 12142: concreto: determinação da resistência à tração na flexão em corpos de prova prismáticos. Rio de Janeiro, 2010.

______. NBR 5738: concreto: procedimento para moldagem e cura de corpos de prova. Rio de Janeiro, 2015a.

______. NBR 7680: concreto: extração, preparo, ensaio e análise de testemunhos. Rio de Janeiro, 2015b.

COMPANHIA ESPÍRITO-SANTENSE DE SANEAMENTO – CESAN. Disponível em: <http://www.cesan.com.br/>. Acesso em: jun. 2014.

GRANZOTTO, L. Concreto com adição de borracha: uma alternativeecologicamenteviável. Maringá, 2010.

REFERÊNCIASASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS

– ABNT. NBR NM 52: agregados miúdos: determinação de massa específica e massa específica aparente. Rio de Janeiro, 2002.

______. NBR NM 248: agregados: determinação da composição granulométrica. Rio de Janeiro, 2003.

______. NBR NM 45: agregados: determinação da massa unitária e do volume de vazios. Rio de Janeiro, 2006.

______. NBR 5739: concreto: ensaio de compressão de corpos de prova cilíndricos. Rio de Janeiro, 2007.