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CADERNOS UniFOACENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA

FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA

ISSN 1809-9475

CADERNOS UniFOACENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA

FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA

ANO VIII - nº 22 - Agosto/2013

FOA

Comitê EditorialDenise Celeste Godoy de Andrade Rodrigues

Vitor Barletta Machado

Conselho EditorialAgamêmnom Rocha de Souza

Ana Carolina Callegario PereiraAndré Barbosa Vargas

Carlos Alberto Sanches PereiraCarlos Roberto Xavier

Danielle Pereira Cintra de SennaDimitri Ramos Alves

Élcio NogueiraÉrica Leonor Romão

Erika Fraga RodriguesIvanete da Rosa da Silva de Oliveira

Júlio César de Almeida NobreJúlio César Soares Aragão

Katia Mika NishimuraLeonardo Mello de SousaMarcello Silva e SantosMarcelo Alves de Lima

Margareth Lopes Galvão SaronMaria Aparecida Rocha GouvêaMaria Auxiliadora Motta BarretoMaria Carolina dos Santos Freitas

Mauro César Tavares de SouzaMichelle Lopes Ribeiro Guimarães

Monica Santos BarisonOtávio Barreiros MithidieriPaulo Roberto de AmorettyRicardo de Freitas CabralRodolfo Liberato Noronha

Ronaldo Figueiró Portella PereiraSabrina Guimarães SilvaSandy Sampaio VideiraSérgio Elias Vieira Cury

Sinara Borborema GabrielWalter Luiz Moraes Sampaio da Fonseca

Conselho Editorial ad hocAdriano Arnóbio José da Silva e Silva

André Marques dos SantosCarolina Tavares Schumann

Claudinei dos SantosDouglas Mansur da Silva

Fábio Aguiar AlvesJoão Paulo Rodrigues

Luiz Augusto Fernandes RodriguesPriscila Filgueiras DuarteRenato Teixeira da Silva

Tamara Nunes de Lima CamaraTatiana Gomes Martins

Revisão de Línguas Portuguesa e InglesaMarcel Álvaro de Amorim

Editor de LayoutLaert dos Santos Andrade

Estagiários Editora FOALucas de Brito / Matheus Menezes

FOAPresidente

Dauro Peixoto Aragão

Vice-PresidenteJairo Conde Jogaib

Diretor Administrativo - FinanceiroIram Natividade Pinto

Diretor de Relações InstitucionaisJosé Tarcísio Cavaliere

Superintendente ExecutivoEduardo Guimarães Prado

Superintendência GeralJosé Ivo de Souza

UniFOAReitora

Claudia Yamada Utagawa

Pró-reitor AcadêmicoDimitri Ramos Alves

Pró-reitora de Pós-Graduação,Pesquisa e ExtensãoKatia Mika Nishimura

Cadernos UniFOAEditora Executiva

Flávia Lages de Castro

Editora CientíficaDaniella Regina Mulinari

EXPEDIENTE

FICHA CATALOGRÁFICABibliotecária Gabriela Leite Ferreira - CRB 7/RJ - 5521

C122 Cadernos UniFOA / Centro Universitário de Volta Redonda. –ano VII, n. 22 (agosto 2013). – Volta Redonda: FOA, 2013.

Quadrimestral

ISSN 1809-9475

1. Publicação periódica. 2. Ciências exatas e tecnológicas – Periódicos. 3. Ciências da saúde e biológicas – Periódicos. 3. Ciências humanas e sociais aplicadas – Periódicos. I. Fun-dação Oswaldo Aranha. II. Título.

CDD – 050

Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA

Campus Três Poços

Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325Três Poços, Volta Redonda /RJ

CEP 27240-560Tel.: (24) 3340-8400 - FAX: 3340-8404

www.unifoa.edu.br

Versão On-line da Revista Cadernos UniFOAwww.unifoa.edu.br/cadernos

Submissõeswww.unifoa.edu.br/cadernos/ojs

SUMÁRIO

EDITORIAL.......................................................................................................................................................................09

CIÊNCIAS EXATAS

Análise do comportamento da força de aderência de um ajuste prensado em rodas de aço ABNT 4340Celso Luiz de Azevedo Martins, Rosinei Batista Ribeiro, Emerson Augusto Raymundo ....................................................................................11

Análise e avaliação de um secador pneumático de fluxo concorrente com carga, revolvimento e descarga pneumáticos Fernanda Augusta de Oliveira Melo, Juarez Sousa Silva e Roberto Precci Lopes ...................................................................................... 17

Estudo e análise de um sistema de distribuição de água: aplicação do método de Hardy Cross utilizando a equação uni-versal de Darcy-Weisbach e o método de Hazen-WilliamsJosé Damião Justino e Élcio Nogueira ......................................................................................................................................................... 25

Influência sobre a morfologia dos nódulos da grafita esferoidal do ferro fundido nodular obtido pelo processo CO2

Antônio Carlos de Araújo Santos, Mauro Carlos Lopes Souza, Wilma Clemente de Lima Pinto e Mila Rosendal Avelino ....................... 37

CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS E HUMANAS

Caso de Polícia: Reflexões sobre a Questão Social e a Primeira RepúblicaMônica Santos Barison ................................................................................................................................................................................ 43

Questões ambientais versus economia em Sistemas de Gestão Ambiental: avanços e perspectivas Emmanuelle Galante Roussouliéres, Priscila Araujo Lima, Rian Silva Carvalho Pires, André Barbosa Vargas e Fábio Souto Almeida ... 53

CIÊNCIAS DA SAÚDE E BIOLÓGICAS

Avaliação da Cobertura Vacinal em crianças de 2 meses a 5 anos na Estratégia Saúde da FamíliaSamara Guerra Carneiro, Tiago Turci Ribeiro, Márcia Dorcelina Trindade Cardoso, João Francesco Strapasson, Ana Flávia Baldoni Costa e Flávia Drummond Guina .......................................................................................................................................................................... 63

Considerações sobre a função renal no período perioperatórioHellen Tatiane de Pontes, Jady Elen de Pontes e Fábio dos Santos Martins Cosso .................................................................................... 73

Fatores de risco e soroprevalência da brucelose em assentamento rural no município de Aragominas - TO, BrasilMárcio Pedrote Carvalho, Luciana Sant`Ana Souza, Jair Antonio Carvalho e Bruno Medrado Araújo .................................................... 81

Métodos radiográficos de localização: contornando as limitações da bidimensionalidadeJairo Conde Jogaib, Alcemar Gasparini Netto, Roberta Mansur Caetano e Matheus Figueiredo Mendes ................................................. 95

LIST OF CONTRIBUTIONS

EDITORIAL.......................................................................................................................................................................09

EXACT SCIENCES

Analysis of the interference fit force of a pressed fit in steel wheels AISI 4340 Celso Luiz de Azevedo Martins, Rosinei Batista Ribeiro, Emerson Augusto Raymundo ....................................................................................11

Analysis and evaluation of a pneumatic dryer flow concurrent with load and unloading pneumatic revolvingFernanda Augusta de Oliveira Melo, Juarez Sousa Silva e Roberto Precci Lopes ...................................................................................... 17

A study and analysis of a water distribution system: applying the Hardy Cross method using the universal Darcy-Weisbach and the Hazen-Williams methodJosé Damião Justino e Élcio Nogueira ......................................................................................................................................................... 25

Influence on the morphology of spheroidic graphite nodules of nodular cast iron obtained by CO2 processAntônio Carlos de Araújo Santos, Mauro Carlos Lopes Souza, Wilma Clemente de Lima Pinto e Mila Rosendal Avelino ....................... 37

HUMANITIES SCIENCES AND APPLIED SOCIAL SCIENCES

Police case: reflections on social issues and the First RepublicMônica Santos Barison ................................................................................................................................................................................ 43

Environmental issues versus the economy in Environmental Management Systems: Progress and ProspectsEmmanuelle Galante Roussouliéres, Priscila Araujo Lima, Rian Silva Carvalho Pires, André Barbosa Vargas e Fábio Souto Almeida ... 53

HEALTH SCIENCE AND BIOLOGICAL

Evaluation of Vaccination´s Coverage among children aged from 2 months to 5 years in Family Health StrategySamara Guerra Carneiro, Tiago Turci Ribeiro, Márcia Dorcelina Trindade Cardoso, João Francesco Strapasson, Ana Flávia Baldoni Costa e Flávia Drummond Guina .......................................................................................................................................................................... 63

Considerations on renal function in the perioperative periodHellen Tatiane de Pontes, Jady Elen de Pontes e Fábio dos Santos Martins Cosso .................................................................................... 73

Risk factors and soroprevalence of brucelosis in rural area in the district of Aragominas, Tocantins - Brazil.Márcio Pedrote Carvalho, Luciana Sant`Ana Souza, Jair Antonio Carvalho e Bruno Medrado Araújo .................................................... 81

Radiographic methods of localization: bypassing the limitations of the bidimensionalityJairo Conde Jogaib, Alcemar Gasparini Netto, Roberta Mansur Caetano e Matheus Figueiredo Mendes ................................................. 95

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Editorial

Convidamos a todos a participarem da leitura deste novo número da Revista Cadernos UniFOA que conta com artigos muito interessantes em todas as áreas como a análise do comportamento da força de aderência de um ajuste prensado em rodas de aço ABNT 4340 que confirmou, por meio de resultados experimentais, que nos ajustes prensados entre peças de aço a força de aderência aumenta muito nos primeiros dias após a montagem e segue aumentando lentamente ao longo do tempo. Na aera das ciências exatas apontamos ainda a análise e avaliação de um secador pneumático de fluxo concorrente com carga, bem como o estudo de um sistema de distribuição de água. Ainda nas exatas este número do Cadernos UniFOA apresenta um artigo acerca da influência sobre a morfologia dos nódulos de grafite esferoidal do ferro fundido nodular obtido pelo processo CO2. Este estudo avaliou a influência da taxa de resfriamento sobre a grafita esferoidal. Com o objetivo de se determinar este efeito,uma simulação foi realizada em amostras de 20, 25, e 30 mm de espessura, através da caracterização de medição do tipo, do tamanho do nódulo e distribuição dos nódulos. Em nossa sessão de Humanas e Sociais aplicadas destacamos o artigo “Caso de Polícia: Reflexões sobre a Questão Social e a Primeira República” que, por meio de uma revisão bibliográfica, problematizou o trato destinado à questão social no período da Primeira República no Brasil (1889-1930). A questão ambiental também está presente neste número do Cadernos no artigo “Questões ambientais versus economia em Sistemas de Gestão Ambiental: avanços e perspectivas”. Na área Biológica e Saúde apresentamos o artigo “Avaliação da Cobertura Vacinal em crianças de 2 meses a 5 anos na Estratégia Saúde da Família” que avaliou a cobertura vacinal em crianças de 2 meses a 5 anos emquatro Unidades da Saúde da Família em Volta Redonda – RJ. Também interessante o artigo que versa sobre a função renal no período Peri operatório que conclui que são necessárias medidas como um método padronizado para estratificação de pacientes que apresentam maiores riscos no período pré-operatório, estabelecendo uma terapêutica adequada precoce no período perioperatório com a introdução nos critérios diagnósticos de novos biomarcadores. Os artigos que fecham essa edição são: “Fatores de risco e soroprevalência da brucelose em assentamento rural no município de Aragominas - TO, Brasil”, um estudo descritivo transversal ou de prevalência, com o objetivo de identificar a positividade de reações sorológicas para brucelose em bovinos, em projeto de assentamento do Município de Aragominas, Estado do Tocantins, Brasil, no ano de 2008. E “Métodos radiográficos de localização: contornando as limitações da Bidimensionalidade” que apresenta uma avaliação do conhecimento de cirurgiões-dentistas sobre os métodos radiográficos de localização.

Boa leitura!

Flávia LagesEditora Executiva

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Recebido em 04/2013

Aprovado em 08/2013

ArtigoOriginal

Original Paper

ISSN1809-9475

Análise do comportamento da força de aderência de um ajuste prensado em rodas de aço ABNT 4340

Analysis of the interference fit force of a pressed fit in steel wheels AISI 4340

Celso Luiz de Azevedo Martins1

Rosinei Batista Ribeiro2

Emerson Augusto Raymundo 2

Palavras-chave:

Força de aderência

Ajuste prensado

ABNT 4340

Ajuste com interferência

Resumo Esta pesquisa confirmou, por meio de resultados experimentais, que nos ajustes prensados entre peças de aço a força de aderência aumenta muito nos primeiros dias após a montagem e segue aumentando lenta-mente ao longo do tempo. Os conjuntos roda-eixo foram montados e desmontados com a utilização de uma máquina universal hidráulica de ensaios mecânicos. As desmontagens foram realizadas em sequência, após períodos que variaram entre a primeira hora até quarenta e um (41) dias após montagem. Desse modo foi possível verificar o aumento da força necessária para a desmontagem, em função do tempo decorri-do entre a montagem e a desmontagem.

AbstractThe research confirmed, through experimental results, that in the pressed fits between steel parts, the fit force increases after the execution of the parts union and this one increases very much in the first days and it continues to increase, although more slowly, in the course of time. The wheel-axle sets were assemblies and disassemblies with the using of a hydraulic universal materials testing machine. The disassemblies were performed in sequence, after periods that varied between the first hour until forty one (41) days after assembly. Thus, it was possible to check the increase of the necessary force for disassembling due to the time between the assembly and the disassembly.

Keywords:

Interference fit force

Pressed fit

AISI 4340

Interference fit

1Mestre Profissional em Materiais – UniFOA - Engenheiro Mecânico - UNIFEI 2Docente do Mestrado Profissional em Materiais / MEMAT – UniFOA

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1. Introdução

Esta pesquisa é o resultado da análise do comportamento da força de aderência, em função do tempo decorrido entre a montagem prensada e a posta em marcha, de conjuntos de peças de aço formados por uma roda ajustada a um eixo maciço. (1)

Para o estudo foram fabricadas rodas e eixos e realizados ensaios constituídos de uma montagem e de uma desmontagem de cada um dos conjuntos roda – eixo, utilizando-se uma máquina universal hidráulica de ensaios mecânicos. As desmontagens ocorreram em períodos distintos, de modo que cada ensaio representasse um intervalo de tempo de ar-mazenamento entre uma (01) hora e quaren-ta e um (41) dias. Para cada um dos ajustes prensados foram gerados dois gráficos força x deslocamento: um na montagem e o outro na desmontagem. Esses gráficos permitiram a análise do comportamento da força de ade-rência em função do tempo decorrido entre a montagem e a posta em marcha. O conheci-mento do comportamento da força de aderên-cia é de grande importância para o cálculo da interferência entre as peças, pois a ocorrência do aumento da força de aderência pode pro-duzir níveis de tensões tangenciais suficientes para provocar fraturas nos componentes do conjunto. Outro ponto de grande importância está no alerta aos engenheiros de que este fe-nômeno deve ser considerado nos estudos das causas prováveis de fraturas em engrenagens montadas em seus respectivos eixos, mas que ainda não foram postas em operação.

A Fotografia 1 representa um caso real e mostra uma das seis engrenagens de redu-tores de velocidades cujas fraturas ocorreram seis semanas após a montagem e durante o armazenamento. As fraturas ocorreram antes da posta em marcha e, portanto, sem estarem sujeitas aos esforços externos resultantes da operação do redutor de velocidades.

Fotografia 1 – Detalhe da fratura

2. Metodologia

A metodologia deste estudo consistiu em submeter uma determinada quantidade de corpos de prova a ensaios mecânicos, com o objetivo de analisar o comportamento da força de aderência em função do tempo decorrido após a montagem do conjunto. Cada um dos ensaios correspondeu a uma montagem pren-sada de um eixo no furo de uma roda e da res-pectiva desmontagem pela mesma prensa.

Para a roda foi especificado o aço ABNT 4340, pois é um tipo de aço muito utilizado na fabricação de engrenagens devido a sua alta temperabilidade e alta resistência mecânica, além de possuir boa usinabilidade, boa tenaci-dade e boa ductibilidade. Para o eixo foi espe-cificado o aço ABNT 1045, pois a maior parte dos eixos de máquinas é feita de aço de baixo ou médio carbono; sendo o aço ABNT 1045 um dos mais utilizados na fabricação de eixos. (2)

O ajuste selecionado foi o H7/z7, padro-nizado pela NBR 6158/1995 (3), cuja interfe-rência é de alta intensidade.

As rodas, os eixos e o suporte utiliza-do nas montagens e nas desmontagens estão exemplificados na Fotografia 2.

Fotografia 2 – Roda, eixo e suporte

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Após a lubrificação das peças, cada um dos conjuntos foi preparado para montagem inserindo-se a roda no suporte e posicionando--se o eixo no furo da roda, com a ponta bisela-da para baixo, conforme mostra a Fotografia 3.

Fotografia 3 – Eixo posicionado para montagem

As montagens foram realizadas pela Máquina para Ensaios de Materiais WOLPERT LESTOR, pressionando-se o eixo até o contato pleno das superfícies de ajuste, cujo resultado está mostrado na Fotografia 4.

Fotografia 4 – Conjunto montado

As desmontagens foram realizadas pres-sionando-se a ponta biselada do eixo, com a mesma máquina, até que o contato entre as pe-ças deixe de existir.

A coleta de dados foi realizada nos grá-ficos força x deslocamento, gerados pela máquina de ensaios mecânicos WOLPER LESTOR nas montagens e nas desmontagens dos conjuntos.

Foram realizadas caracterizações meta-lográficas no material roda, para comparar a forma e a orientação preferencial dos grãos da superfície próxima ao furo com a superfície próxima ao diâmetro externo: antes da mon-tagem e após a desmontagem. Também foram realizados ensaios de dureza na roda e no eixo,

antes e após desmontagem, com o objetivo de verificar a ocorrência de aumento de dureza decorrente de uma possível deformação plás-tica durante a montagem.

3. Resultados e Discussão

O Gráfico 1 é o resultado dos quarenta e dois (42) gráficos gerados pela Máquina para Ensaios de Materiais WOLPERT LESTOR e mostra o comportamento da força de aderên-cia em função do tempo. O eixo vertical do gráfico representa o percentual de aumento da força de desmontagem em comparação com a força de montagem e o eixo horizontal re-presenta tempo decorrido entre a montagem e a desmontagem de cada um dos conjuntos roda-eixo. O gráfico mostra que, para todos os conjuntos, a força de desmontagem (força de aderência) é maior do que a força de monta-gem e que a força de desmontagem aumenta em função do tempo. Portanto, confirma a afir-mativa de que a força de aderência de um ajus-te prensado, entre peças de aço, aumenta com o tempo decorrido após montagem. (1)

Gráfico 1 – Comportamento da força de aderência em função do tempo

Além disso, foi possível confirmar que a taxa de aumento da força de aderência foi mais alta nos primeiros dias e diminuiu com o decorrer do tempo: no terceiro dia após mon-tagem foi registrado um aumento de 40% e, embora com oscilações, o aumento total che-gou a 56% no 41º dia.

As Micrografias 1 e 2 mostram as ima-gens da superfície lateral da roda nº 17, que foi desmontada no 41º dia após montagem: (a) micrografia de um ponto distante ≅ 2,2 mm do furo; (b) micrografia de um ponto distante ≅ 2,0 mm do diâmetro externo da roda.

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Micrografia 1 – Roda nº 17 (após des-montagem) 100X – Nital 2%

(a) próximo ao furo (≅ 2,2 mm)

(raio de concordância do furo + 1,2 mm)

Micrografia 2 – Roda nº 17 (após des-montagem) 100X – Nital 2%

(b) próximo da superfície externa (≅ 2,0 mm)

As imagens da amostra permitiram exe-cutar a comparação da morfologia do material entre as regiões laterais próximas ao furo e as regiões laterais próximas ao diâmetro externo da roda. Verificou-se que os grãos do material da roda estão um pouco mais reduzidos e alon-gados nas regiões próximas ao diâmetro exter-no da roda. Fato que pode ser explicado pelo processo de fabricação da matéria prima (barra redonda), ou seja, do processo de resfriamento da matéria prima: mais rápido na superfície ex-terna e mais lento na superfície interna.

Os resultados dos ensaios de dureza nas superfícies laterais das rodas mostraram que a dureza é maior nas regiões com distâncias pró-ximas aos raios da superfície externa. Fato que também que também pode ser explicado pelo processo de resfriamento da matéria prima.

Portanto, o exame das imagens micros-cópicas e o resultado da análise dos ensaios de

dureza permitiram concluir que a tensão resul-tante da interferência entre as peças não pro-vocou deformações permanentes nas regiões com distância maior do que 2,2 mm (raio de concordância do furo + 1,2 mm).

4. Conclusões

Com base nos resultados dos ensaios de montagem e de desmontagem dos conjuntos roda – eixo foi possível confirmar experi-mentalmente a afirmação de que nos ajustes prensados entre peças de aço, a força de des-montagem (força de aderência) aumenta após a execução da união das peças e que esta au-menta muito nos primeiros dias e segue au-mentando, embora mais lentamente, com o decorrer do tempo. (1) Este fenômeno é de grande importância para o cálculo da interfe-rência entre peças de aço, pois o aumento da força de aderência que, nesta pesquisa, em 41 dias de armazenamento, foi de 56% da força de montagem, pode produzir níveis de tensões tangenciais que, em conjunto com pontos de concentração de tensões, como rasgos de cha-vetas, podem iniciar trincas que poderão resul-tar em fraturas. Outro ponto de grande impor-tância está no alerta aos engenheiros que este fenômeno deve ser considerado nos estudos das causas prováveis de fraturas em engrena-gens montadas em seus respectivos eixos, mas que ainda não foram postas em operação.

5. Comentários

Mateos (1) afirma que, para peças de aço, o aumento da força de aderência sempre ocorre nos ajustes prensados e é inexistente nas mon-tagens obtidas pela dilatação térmica das peças (ajustes fretados). Portanto, os resultados desta pesquisa, em conjunto com a afirmação acima, dão origem à necessidade de dois estudos adi-cionais: 1º) Comprovação da inexistência do aumento da força de aderência em função do tempo em ajustes fretados e 2º) Determinação da causa fundamental do aumento da força de aderência em ajustes prensados.

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6. Referências Bibliográficas

1. MATEOS, Abelardo Garcia. Tolerâncias e Ajustes. Tradução de Augusto Câmara Neiva. 2ª ed. São Paulo : Editora Polígono, 1974.

2. NORTON, Robert L. Projeto de máquinas. Uma abordagem integrada. Tradução de Maik Briscese Müller et al. 2ªed. Porto Alegre : Artmed Editora S.A., 2004.

3. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6158: Sistemas de tolerâncias e ajustes. Rio de Janeiro, 1995.

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Análise e avaliação de um secador pneumático de fluxo concorrente com carga, revolvimento e descarga pneumáticos

Analysis and evaluation of a pneumatic dryer flow concurrent with load and unloading pneumatic revolving

Fernanda Augusta de Oliveira Melo1

Juarez Sousa Silva2

Roberto Precci Lopes3

ResumoO presente trabalho teve por objetivo analisar e avaliar um secador de fluxos concorrentes com carga, revolvimento e descarga pneumáticos, compatível com a produção e a capacidade de investimento da peque-na produção para a secagem de café pergaminho. O experimento foi realizado no Setor de Pré-processante e Armazenamento de Produtos Vegetais (DEA/UFV). Foram realizados quatro testes, sendo três com o secador operando com carga máxima e um com carga reduzida. Para análise do sistema de secagem foi utilizada a metodologia proposta por Bakker-Arkema et al. com os padrões propostos por Silva et al. Com os dados obtidos, o secador desenvolvido mostrou-se eficiente energeticamente, apresentando baixo consumo específico de energia; fácil de ser operando durante o carregamento, secagem e descarga, exigindo pouca manutenção e mão-de-obra; e funciona com quantida-de de café disponível.

Palavras-chave:

Secagem mecânica

Transporte Pneumático

Fluxo Concorrente

AbstractThe objective of the present work was to analyze and evaluate a concurrent flow dryer with pneumatic load, rotation, and discharge, compatible with the production and the investment capacity of a small production for the drying of parchment coffee. The experiment was conducted in the Sector of Pre-Processing and Storage of Plant Products (DEA-UFV). Four tests were conducted, three with the dryer operating at full load, and one with the dryer operating at a reduced load. In the analysis of the system, a methodology proposed by Bakker-Arkema et al. was used, with the standards proposed by Silva et al.. With the data obtained, the dryer developed proved to be energy efficient, presenting low consumption of energy; easy operation during loading, drying, and discharge, requiring little maintenance and labor; and it works with the quantity of coffee available.

Keywords:

Mechanical drying

Pneumatic transport

Concurrent flow

1 Docente dos Cursos Engenharia Ambiental, Engenharia de Produção, Gestão de Recursos Humanos e Ciências Contábeis do UniFOA, D. S. Engenharia Agrícola pela UFV.2 Professor do Curso de Engenharia Agrícola da UFV, PhD pela Michigan State University, Estados Unidos 3 Professor do Curso de Engenharia Agrícola da UFV, D. S. Engenharia Agrícola pela UFV

ArtigoOriginal

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ISSN1809-9475

Recebido em 11/2012

Aprovado em 08/2013

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7. Introdução

O aumento do preço dos fatores de produ-ção e insumos agrícolas, aliados às oscilações constantes no preço do café, tem ocasionado, nos últimos anos, queda na renda e na com-petitividade da cafeicultura. Para superar esse problema, os cafeicultores buscam novas tec-nologias, com o objetivo de aumentar a produ-tividade e de melhorar a qualidade do produto.

A secagem artificial do café, em secado-res mecânicos, é considerada de muita impor-tância por agilizar a colheita e, principalmen-te, por independer das condições climáticas.

Apesar de ser, economicamente, mais viá-vel que o método de terreiros que muitos, er-roneamente, consideram como uma tecnologia de baixo custo, o custo inicial para a instalação de um secador mecânico, aliado à exigência de algum conhecimento técnico, dificulta a adoção do sistema pelos pequenos produtores, que são responsáveis por grande parte da produção na-cional (MACHADO et al., 2003b).

Um dos problemas encontrados no pro-cesso de secagem artificial de café reside no fato de a operação ser realizada em secadores projetados para outros grãos e adaptados para a secagem de café, resultando em alto custo operacional e em baixa eficiência energética (Pinto Filho, 1994; Sampaio, 2004). Além disso, o tamanho dos secadores não é compa-tível com a quantidade produzida pelo peque-no cafeicultor. No caso de desenvolvimento ou adaptação de secadores para atender as necessidades de secagem do pequeno cafei-cultor, deve-se levar em conta não somente o tamanho, mas a capacidade de funcionar com regularidade para outros tipos de produtos. Segundo Silva et al. (2005), a pequena ca-feicultura é também conhecida por produzir quantidades variáveis de tipos de grãos como arroz, feijão e milho.

Um outro problema que aparece no pro-cesso de secagem do café é a sua dificuldade de escoamento durante o início do processo invia-bilizando, muitas vezes, a utilização de secado-res dotados de dispositivos normais de movi-mentação dos grãos (helicóides e elevadores de

canecas). Secadores equipados com mecanis-mos convencionais para o transporte de grãos não são recomendados para a secagem de café natural e descascado, quando estes apresentam teor de água acima de 40 % b.u.. Recomenda-se, nesses casos, a pré-secagem em terreiros, em pré-secadores com ar aquecido (PINTO FILHO, 1994). Portanto, um secador com siste-ma de carga e revolvimento (helicóides, eleva-dores de canecas e pneumáticos) só pode pro-duzir um café de qualidade se a matéria-prima, saída da pré-secagem (natural ou artificial), apresentar qualidade. Em outras palavras, não se pode melhorar a qualidade de um produto no secador, o que se pode fazer é mantê-la ou re-duzir a intensidade de degradação.

Os transportadores pneumáticos usados em unidades armazenadoras tiveram origem nos equipamentos de pressão usados para car-ga e descarga de grãos em navios. Os trans-portadores pneumáticos movem os grãos, empregando-se uma corrente de ar em alta velocidade, através de um sistema de tubula-ção hermético. As aplicações de pneumáticos vão desde a movimentação de grãos em uma colhedora combinada, carga e descarga de na-vios, até no transporte de materiais sólidos na industrialização de cimento.

O ganho tecnológico, na área de pós–co-lheita do café, advindo das pesquisas, aliado ao desenvolvimento de novas tecnologias e processos mais eficientes e de simples utili-zação, juntamente a com sistemas de menor custo e maior eficiência de secagem e arma-zenagem têm permitido um salto de qualidade do produto, o que tem valorizado o café no concorrido mercado nacional e internacional. As racionalizações do uso da energia e dos impactos ambientais das práticas e tecnologias geradas são também desafios a serem vencidos para se alcançar a qualidade, a sustentabilida-de e a competitividade do café brasileiro.

Diante do exposto, foi objetivo deste traba-lho projetar, construir e avaliar um secador de fluxos concorrentes com carga, revolvimento e descarga pneumáticos, compatível com a produ-ção e a capacidade de investimento da pequena produção para a secagem de café pergaminho.

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8. Material e Métodos

O experimento foi montado na Área de Pré-Processamento e Armazenamento de Produtos Vegetais do Departamento de Engenharia Agrícola da Universidade Federal de Viçosa - UFV.

Foram realizados quatro testes experi-mentais, sendo três testes com o secador ope-rando com carga total e um teste o secador operando com carga reduzida. Pela impossi-bilidade de se obter médias entre os testes de sistemas de secagem por não haver repetições entre os mesmos, os resultados serão analisa-dos considerando cada teste individualmente.

Foi utilizado o café cereja descascado da espécie Coffea arabica L., variedade Catuaí Vermelho. Após a colheita, feita pelo método derriça no chão, o produto foi submetido aos processos unitários de separação de impure-zas, utilizando-se o peneiramento manual; se-paração hidráulica, para separação, de acordo

com o estágio de maturação dos frutos; des-polpamento/descascamento, para retirada da casca e de parte da mucilagem para posterior secagem; e, então, o café era encaminhado para um terreiro (dois dias) para perder água superficial. Após esses procedimentos, o pro-duto era transportado para área experimental onde procederam-se os testes de secagem.

De cada teste, aproximadamente 10 kg de frutos foram secados ao sol, em lonas, para serem utilizados como testemunha.

O secador pneumático com capacidade para 2.500 L de café cereja descascado foi construído em módulos, para compor um “kit” de fácil transporte e montagem pelo usuário. Fazem parte do “kit”: moega de homogenei-zação ou principal (módulo 1), conjunto de moegas (módulo 2), câmara de descanso/seca-gem (módulo 3a) e câmara de secagem (mó-dulo 3b), coifa (módulo 4), duto de transporte pneumático (módulo 5), moega de recepção de grãos (módulo 6) e ventilador (Figura 1)

Figura 1 - Secador Pneumático de Fluxos Concorrente.

Fonte: Melo (2008)

Para avaliação do secador, a secagem foi realizada intermitentemente, ou seja, após sofrerem ação do ar aquecido, os grãos pas-savam por um período de descanso, durante intervalos de tempo pré-estabelecido. Esse processo foi realizado no decorrer da secagem até os grãos atingirem o teor de água de 15 ± 2% b.u., para que a secagem fosse completada com ar natural no silo secador–armazenador.

As variáveis utilizadas para as análises dos sistemas de secagem foram propostas por Bakker-Arkema et al. (1978), porém só foram

utilizados os parâmetros mais importantes, se-gundo Silva (2000). São elas: (i) temperatura e teor de água da massa de grãos; (ii) umi-dade relativa e temperatura do ar ambiente e de exaustão do secador; (iii) vazão de ar; (iv) tempo de secagem; (v) consumo energético; (vi) características qualitativas; e (vii) proprie-dades físicas do produto (inicial e final).

As medidas de temperatura do ar am-biente, do ar de secagem, do ar de exaustão, da massa de grãos na câmara de secagem, câmara de descanso/secagem e na moega de

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homonogeneização foram monitoradas. Para a medição da temperatura da massa de grãos, um cabo de aço foi posicionado verticalmente em seu interior, no qual foram fixados cinco termopares em intervalos de 0,40 m, originan-do os pontos de medição T0,40, T0,80, T1,20, T1,60 e T2,0 (Figura 2).

Figura 2 - Posicionamento dos sensores de temperatura no interior do secador.

Durante os testes de secagem, as deter-minações do teor de água dos grãos foram realizadas no momento do carregamento do secador, depois do revolvimento dos grãos, ou seja, de duas em duas horas e ao descarre-gar o secador. Para isso, foi utilizado o méto-do EDABO (Evaporação Direta da Água em Banho de Óleo), uma variação do método de destilação com precisão semelhante ao méto-do oficial da estufa (SAMPAIO, 2004).

Como a estufa é o método oficial, retira-ram-se, também, amostras para a determinação do teor de água por esse método, utilizando-se a temperatura de 105 ± 3°C durante 24 horas, com três repetições e com, aproximadamente, 30 gramas por amostra (BRASIL, 1992).

Para avaliar a vazão do ar de secagem foi utilizada a velocidade média do ar aquecido, cuja determinação baseou-se nas medidas das velocidades em 5 pontos da seção do duto de ventilação.

As massas inicial e final do café, para cada teste, antes de ir para o secador e/ou pré--secador, foram obtidas mediante pesagem em balança rodoviária da marca Filizola, com sensibilidade de leitura de 2 kg. Para acompa-nhamento, as massas inicial e final dos lotes de café foram também obtidas indiretamente,

utilizando-se relação entre a massa inicial e os teores de água final e inicial dos lotes de café.

Ao se aproximar do teor de água estabe-lecido para que o produto, de cada teste, fosse transferido para o silo secador, misturava-se em fluxo contínuo a massa de grãos e ensaca-va-se os grãos. Após o ensacamento, era feita a pesagem e o produto era transferido para silo secador, onde permanecia até atingir o teor de água para comercialização (11% b.u.).

No silo secador–armazenador, acompa-nhou–se o teor de água da camada superior de grãos e, quando esses atingiam o teor de água de, aproximadamente, 11% b.u., indicando o fim do processo.

O consumo específico de energia foi de-terminado pelo balanço energético do ar.

O consumo de energia elétrica para o secador foi determinado a partir da potên-cia nominal dos motores, fornecida no eixo, e o tempo de secagem, conforme Equação 1 (CAILLE, 1980; LACERDA FILHO e MELO, 2001).

ε=

t736PotC alminnoee

(1)

em que

Cee =consumo de energia elétrica, Wh;

Potnominal = potência nominal, CV;

Ε =rendimento do motor elétrico, decimal.

Para análise do tipo do café e da quali-dade de bebida, foram enviadas amostras de 300g de café beneficiado, seco ao sol (teste-munhas) e seco no secador pneumático, para a Corretora de Café Três Irmãos Ltda., locali-zada em Viçosa - MG, onde foram realizadas análise sensorial e classificação do café.

9. Resultados e Discussão

Os resultados experimentais das condi-ções iniciais e finais do produto, quantidade de água removida, tempo de secagem, capaci-dade de secagem e taxa de secagem, utilizados nos testes são apresentados na Tabela 1.

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Tabela 1 – Parâmetros relativos aos grãos

Teste InicialMassa de grãos

(kg)Teor de água dos

grãos (%)

Quantidade de água

removida

Tempo de secagem

Capacidade de secagem

Taxa de secagem

Final Inicial Final (kg de água) (Horas) (kg h-1) (kg H2O h-1)FT1 1320 950 37,5 13 372 23 57,4 16,1FT2 1130 936 30 15 194 16 70,6 12,1FT3 938 723 30 13 180 16 58,6 11,2FTM4 620 523 31 17 111 11 56,4 9,1

Os resultados experimentais das condições do ar ambiente, do ar de secagem e do ar de exaus-tão, assim como a umidade relativa e a vazão do ar de secagem, para cada teste, são apresentados na Tabela 2. As condições experimentais observadas referem-se a valores médios oriundos de registros, realizados a intervalos regulares de 10 minutos.

Tabela 2 – Valores médios relativos ao ar ambiente, ao ar de secagem e ao ar de exaustão

TesteVazão do ar (m3 min-1)

Temperatura média do ar (°C) Umidade relativa do ar (%)

Ambiente Secagem Exaustão Ambiente Secagem ExaustãoFT1 24±1,6 59±5,1 28±6,0 61±7,4 10±0,8 78±18,9FT2 23,2±0,6 24±1,2 55±4,0 35±4,9 59±5,1 11±0,8 56±19,9FT3 23±1,8 61±2,4 33±5,6 61±8,2 8±0,3 67±21,1FTM4 33,4±0,8 24±2,2 24±2,2 29±3,3 58±5,3 13±4,7 44±10,5

Os valores experimentais médios da temperatura do ar de secagem e temperatura da massa de grãos nos pontos de medição, nas câmaras de secagem e descanso podem ser observados na Tabela 3.

Tabela 3 – Temperatura do ar de secagem e da massa de grãos nas câmaras de secagem, descanso e moega de descanso, valores médios

*Camada de grãos abaixo da posição do sensor de temperatura.

TesteTemperatura

média do ar de secagem (°C)

Temperatura média da massa de café (°C)

Câmara de secagem Câmara de descansoMoega de descanso

0,40 m 0,80 m 1,20 m 1,60 m 2,00 mFT1 59±5,1 44±11,5* 33±7,9 29±6,4 28±6,1 26±6,1 26±5,7FT2 55±4,0 33±7,0 33±5,2 34±5,3 28±3,1 27±2,5 26±3,5FT3 61±2,4 57±4,9* 36±7,6 33±7,3 30±3,0 28±3,6 28±2,0

Câmara de secagemFTM4 52±7,2 - - 33±9,8 34±8,3 27±5,8 26±6,2

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Na Tabela 3, observa-se que a temperatura média da massa de grãos não ultrapassou 45oC. Observa-se, ainda, que a temperatura média da massa de grãos situada a 0,40 m da entrada do ar de secagem, na maioria dos testes, foi supe-rior às temperaturas nas demais camadas.

A temperatura da massa de grãos na câ-mara de descanso sempre foi inferior aos va-lores atingidos pela massa de grãos durante a secagem. Observou-se um decréscimo na temperatura da massa de grãos, em relação à

proximidade com conjunto de quatro moegas, possibilitando maior redução na temperatura dos grãos. Em relação à temperatura da massa de grãos contida na moega de descanso, obser-varam-se valores próximos à temperatura do ar ambiente.

Na Tabela 4, são apresentados os valores experimentais do consumo de energia teórico total, ou seja, energia térmica e elétrica e o consumo específico total de energia no seca-dor pneumático.

Tabela 4 – Resultado do consumo total de energia (térmica e elétrica) no secador pneumático

Teste Consumo total de energia (MJ)Massa de água

evaporada (kg de água evaporada)

Consumo específico total de energia (kJ kg-1 de água

evaporada) Térmica Elétrica

FT1 1.118 216 371 3.596FT2 754 150 194 4.660FT3 829 150 180 5.439FTM4 683 103 110 7.145

Na Tabela 4, observa-se que os valores de consumo específico de energia térmica, para o teste com o secador operando com meia carga foi muito superior aos obtidos nos demais tes-tes. Tal fato ocorre, pois, ao passar pela massa de grãos, o ar ainda possui potencial para seca-gem, sendo perdido para o ambiente.

Quanto ao consumo específico de energia para esse tipo de secador, segundo Thompson, citado por OSÓRIO (1982), deve estar na fai-xa de 4.185 a 5.120 kJ kg-1 de água evaporada. Como se pode perceber que o consumo espe-cífico médio de energia observado foi inferior

aos valores citados por Thompson, sendo con-siderados muito bons. Vale ressaltar que, nos cálculos, não foi computada a eficiência térmi-ca do sistema de aquecimento do ar, que varia conforme o tipo de sistema empregado, nem energia consumida pelo motor do ventilador.

As amostras de café cereja descascado foram enviadas a Três Irmãos Corretora de Café em Viçosa, onde foram feitas as análises sensorial e de classificação do café, para ava-liação da qualidade da bebida e das caracterís-ticas dos grãos. Os resultados são apresenta-dos na Tabela 5.

Tabela 5 – Resultados da classificação do café

Testes Bebida Tipo Aroma Aspecto Defeitos RendaFT1 Apenas mole 5/15 Bom Bom 42 300x243 (81%)Testemunha 3 Mole 5/15 Bom Bom 57 300x242(81%)FT2 Apenas mole 5/15 Bom Bom 57 300x240(80%)Testemunha 5 Apenas mole 5/20 Bom Bom 60 300x237(79%)FT3 Apenas mole 4/45 Bom Bom 45 300x232(77%)Testemunha 8 Mole 5/5 Bom Bom 48 300x243(81%)FTM4 Apenas mole 5/15 Bom Bom 57 300x230(77%)Testemunha 6 Apenas mole 5/10 Bom Bom 54 300x228(76%)

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Por meio dos resultados obtidos na clas-sificação, que podem ser observados na Tabela 5, os lotes de café utilizados no novo sistema de secagem foram considerados de ótima qualidade, para as condições de produção na região da Zona da Mata Mineira, sendo clas-sificados como de bebida mole e apenas mole.

Na Tabela 5, observa-se que a qualidade da bebida dos cafés não foi influenciada pelo combustível utilizado (lenha), principalmente em função do uso do sistema de aquecimento indireto do ar de secagem, sem qualquer con-tato com fagulhas ou fumaça com as massas de grãos submetidas ao processo de secagem. Outro fator que colaborou para a qualidade obtida foi a temperatura da massa de grãos, que não ultrapassou 45˚C em nenhum teste.

Considerando que o tipo “4” e “6” é tido como padrão para exportação, pode-se dizer que, neste estudo, o produto apresentou resul-tados satisfatórios com tipo “5” na maioria dos testes realizados (Tabela 5).

Em relação ao aroma e aspecto, os re-sultados obtidos nos testes foram os mesmos obtidos nas testemunhas. Os itens aroma e as-pecto apresentaram-se bom com bebida ape-nas mole e mole, difícil de obter na secagem em altas temperaturas, em razão da desunifor-midade na secagem.

No item número de defeitos, os resulta-dos obtidos nos testes foram próximos aos da testemunha, que foram secadas ao sol. Esse re-sultado indica que o processo de secagem não interferiu no número de defeitos.

A variável renda estabelece a relação en-tre a massa de frutos secos e a massa de grãos beneficiados. Observou-se que os valores obtidos nos testes foram bem próximos aos obtidos com as testemunhas, indicando que o novo processo de secagem não influenciou o rendimento.

10. Conclusões

De acordo com os resultados obtidos nos testes realizados, pode-se concluir que:• o protótipo apresentou consumo especí-

fico total de energia abaixo dos limites de consumo previstos na literatura para esse tipo de secador;

• no teste em que o secador pneumático operou com meia carga, FTM4, o consumo específi-co médio de energia foi superior aos demais testes, mostrando-se ser operável com carga inferior para a qual foi dimensionado;

• quanto às características relacionadas aos danos mecânicos, que podem ser causa-dos pelo impacto promovido pelo sistema pneumático, foi observado que não ocorre-ram danificações nem injúrias ao produto;

• o café processado no novo secador apresen-tou boa qualidade quanto ao tipo e bebida;

• o secador é facilmente operado durante o carregamento, secagem e descarga, além de requerer pouca manutenção e mão-de-obra; e

• é flexível, funciona eficientemente com a quantidade de café disponível.

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11. Referências

1. BAKKER-ARKEMA, F. W.; LEREW, L. E.; BROOK, R.C.; BROOKER, D.B. Energy and capacity performance avaluation of grain dryer. Transactions of the ASAE, St. Joseph, 1978. 13 p.

2. BRASIL, Ministério da agricultura e da Reforma Agrária. Regras para análise de sementes (RSA). Brasília, 1992. 365 p.

3. CAILLE, R. E. Aparelhos elétricos: potências, demandas consumos, produções. São Paulo: CESP. 1980. 64p.

4. LACERDA FILHO, A.F.; MELO, E. C. Tecnologias de Produção de Café com Qualidade. Viçosa, Laércio Zambolil, p.527-564, 2001.

5. MACHADO, M. C.; SAMPAIO, C. P., SILVA, J. S. Avaliação técnico-econômica do processamento de café: secagem completa em terreiros. In: SIMPÓSIO DE PESQUISAS DOS CAFÉS DO BRASIL E WORKSHOP INTERNACIONAL DE CAFÉ & SAÚDE, (3.:2003, Porto Seguro). Anais.... Brasília, DF: Embrapa Café, 2003b. (447 p.).

6. MELO, F. A. O. Desenvolvimento e avaliação de um secador de fluxos concorrentes, com carga, revolvimento e descarga pneumáticos. Viçosa: UFV, 2008, 122 p. Dissertação (Doutorado em Engenharia Agrícola) – Universidade Federal de Viçosa, 2008.

7. OSÓRIO, A G. S. Projeto e construção de um secador intermitente de fluxos .; Iconcorrentes e sua avaliação na secagem de café. Viçosa, MG: UFV, 1982. 57p. Dissertação (Mestrado em Engenharia Agrícola) - Universidade Federal de Viçosa, 1982.).

8. PINTO FILHO, G.L. Desenvolvimento de um secador de fluxos cruzados com reversão do fluxo de ar de resfriamento, para a secagem de café (Coffea arábica L.). Viçosa, MG: UFV, 1993. 72p. Dissertação (Mestrado em Engenharia Agrícola) – Universidade Federal de Viçosa, 1994.

9. SAMPAIO, C. P. Desenvolvimento de um secador com reversão do fluxo de ar com sistema de movimentação pneumática de grãos. Viçosa: UFV, 2004, 97p. Dissertação (Doutorado em Engenharia Agrícola) – Universidade Federal de Viçosa, 2004.

10. SILVA, J. S.; LUCENA, E. M. P. Estrutura, composição e propriedades dos grãos. In: Pré-Processamento de produtos agrícolas. Editado por Juarez de Sousa e Silva- Juiz de Fora, MG. Instituto Maria, 2000. 21-37p.

11. SILVA, J.S.; NOGUEIRA, R.M.; ROBERTO, C.D. Tecnologia de secagem e armazenagem para a agricultura familiar. Viçosa – MG. 2005. 138p.

Endereço para Correspondência:

Fernanda Augusta de Oliveira [email protected] Universitário de Volta Redonda - UniFOACampus Olezio GalottiAv. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325Três Poços - Volta Redonda - RJCEP: 27240-000

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ArtigoOriginal

Original Paper

ISSN1809-9475

Estudo e análise de um sistema de distribuição de água: aplicação do método de Hardy Cross utilizando a equação universal de Darcy-Weisbach e o método de Hazen-Williams

A study and analysis of a water distribution system: applying the Hardy Cross method using the universal Darcy-Weisbach and the Hazen-Williams method

José Damião Justino1

Élcio Nogueira2

ResumoA análise do equilíbrio hidráulico de sistemas de distribuição de água é baseada nas duas leis fundamentais da mecânica dos fluidos, a da continuidade (Lei de Conservação da Massa) e a da Lei de Conservação da Energia e, além disso, numa relação entre a vazão (ou velocidade) e a perda de carga (ou variação de pressão), estabelecida através das equações de Darcy - Weisbach (fórmula universal da perda de carga) ou Hazen - Williams. Em termos gerais, esta análise requer a resolu-ção de um sistema de equações não lineares, frequentemente com um elevado número de incógnitas, dependendo da dimensão e da comple-xidade do sistema de distribuição de água em jogo. O primeiro método de solução aproximada para este tipo de problema (correções de vazões operadas individualmente para cada malha) foi apresentado por HAR-DY CROSS, no ano de 1936, sendo o mais antigo e, provavelmente, aquele que maior divulgação teve até o momento. O método de Hardy Cross é o mais utilizado dentre os métodos de aproximações sucessivas para o cálculo de rede malhadas, por possibilitar o desenvolvimento dos cálculos, em sistemas simples, além de ser um método provido de significado físico, que facilita a análise dos resultados intermediários obtidos. No presente trabalho, para o dimensionamento do sistema de distribuição de água, em malhas, de MACUNDÚ, foi aplicado o méto-do de HARDY CROSS através do programa computacional REDEM.EXE desenvolvido pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC--USP, São Carlos, SP), que permite o dimensionamento ou verificação de uma rede de distribuição com até cem (100) trechos com um ou mais reservatórios de alimentação. O programa aceita como equações de resistência a equação de Hazen-Williams, ou a fórmula universal, ambas foram aplicadas, para efeito de comparação e análise. O siste-ma de distribuição considera-se resolvido quando são conhecidas as cotas piezométricas nos nós e as vazões em todos os trechos de tubula-ções, com a precisão definida pelo usuário. Os resultados obtidos estão apresentados em formas de tabelas, e mostram-se consistentes com as condições físicas impostas para determinação das vazões individuais de cada trecho da malha analisada. O trabalho apresenta e discute a aplicação de uma metodologia de execução exequível e refinada para sistemas de malhas de médio e grande porte.

1 - Universidade do Estado do Rio de Janeiro - FAT/UERJ – Resende, RJ

2 - UniFOA – Centro Universitário de Volta Redonda, Volta Redonda, RJ.

Palavras-chave:

Sistema de distribuição de água

Método de Hardy Cross

Darcy-Weisbach

Hazen-Williams

Recebido em 07/2012

Aprovado em 08/2013

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AbstractThe analysis of the hydraulic balance of water distribution systems is based on two fundamental laws of fluid mechanics, the continuity (Law of Conservation of Mass) and the Law of Conservation of Energy and also a relationship between flow (or velocity) and pressure drop (or pressure variation), established by the equations of Darcy - Weisbach (the universal formula of head loss) or Hazen – Williams. In general, requires solving a system of nonlinear equations, often with a high number of unknowns, depending on the size and complexity of the water distribution system. The first method of approximate solution for this problem (corrections of flows operated individually for each mesh) was presented by HARDY CROSS, in 1936, being the oldest and probably the one that was better known to the present moment. Hardy Cross method is the most commonly used among the methods of successive approximations to calculate the meshed network, for enabling development of the calculations, simple systems, and is provided with physical meaning which facilitates analysis of the obtained intermediate results. In the present work, the system design of water distribution in meshes of MACUNDÚ, we applied the method HARDY CROSS through software developed by the School of Engineering of Sao Carlos (EESC-USP, São Carlos, SP) which allows the design and verification of a distribution network with up to one hundred (100) with one or more passages supply reservoirs. The program accepts as equations of resistance Hazen-Williams equation, or universal formula, both have been applied, for comparison and analysis. The distribution system is considered resolved when the piezometric nodes and flows in all pipes are known, with the desired accuracy. The results obtained are presented in forms of charts and tables, and are consistent with the physical conditions imposed to determine the flow rates of each individual piece of mesh analysis. The paper presents a methodology for implementing practical and refined meshes for systems of medium and large scale.

• As mangueiras para alimentação de ca-minhões-tanque para utilização pública e para a lavagem de ruas e rega de espaços verdes, através de bocas de rega e de la-vagem;

• Os sistemas de rega dos espaços verdes;• As fontes, bebedouros e outros pontos de

utilização de água.

Evidentemente, em função do porte do problema, o sistema de abastecimento torna-se bastante complexo, não só quanto ao dimen-sionamento, mas também quanto à manuten-ção e operação. Trata-se, em geral, da parte mais dispendiosa do projeto global de abas-tecimento, exigindo considerável atenção no que concerne aos parâmetros do sistema, hi-póteses de cálculo assumidas e metodologias, de modo a se obter um projeto eficiente.

As redes gerais de distribuição de água podem classificar-se, no que respeita à sua configuração:

1. Introdução

Um sistema de distribuição de água é uma rede formada por um conjunto de tubulações, acessórios (conexões), reservatório, bombas hidráulicas, e que tem a finalidade de aten-der, dentro de condições sanitárias, de vazão e pressão convenientes, a cada um dos diversos pontos de consumo de uma cidade ou setor de consumo. A partir desta rede geral são alimen-tados, por meio de ramais de ligação (define-se ramal de ligação como a tubulação que asse-gura o abastecimento predial de água, desde a rede pública até ao limite da propriedade a ser-vir), os diversos edifícios ou instalações.

São igualmente servidos, a partir das re-des gerais de distribuição de água:

• As mangueiras ou moto-bombas dos servi-ços de bombeiros, através de hidrantes (bo-cas de incêndio e marcos de água);

Keywords

Water distribution system

Hardy Cross method

Darcy-Weisbach

Hazen-Williams

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• Redes malhadas, em que os condutos se fecham sobre si mesmos constituindo ma-lhas (define-se malha como um conjunto de tubulações que formam um circuito fechado);

• Redes ramificadas, em que há um duto principal longitudinal que se ramifica para ambos os lados;

• Redes mistas, que correspondem à con-jugação, numa mesma rede de distri-buição de água, das duas configurações anteriores.

Sob o ponto de vista hidráulico, nas redes de distribuição de água malhadas, o escoa-mento é bidirecional, enquanto que nas redes ramificadas é, normalmente, unidirecional, salvo se existir mais do que um ponto de ali-mentação do sistema (reservatório ou estação elevatória). Nas redes mistas, o escoamento é, simultaneamente, bidirecional e unidirecional.

As vantagens de uma rede de distribuição malhada podem ser resumidas ao seguinte:

a) Pelo fato do escoamento ser bidire-cional, para se atingir um dado ponto, existem percursos alternativos;

b) No caso de avaria em uma tubulação (por exemplo, pela ocorrência de uma ruptura), é possível isolar uma deter-minada zona da rede de distribuição de água, através do fechamento de um conjunto de válvulas de secionamento, sem que os restantes consumidores se-jam afetados do normal fornecimento;

c) Quando ocorrem grandes flutuações de consumo na rede de distribuição, os efeitos, em termos de pressão, são pouco significativos.

No entanto, apresentam as seguintes des-vantagens:

a) Exige custos de investimento superiores, uma vez que requer uma maior quanti-dade de tubagens e de órgãos acessórios;

b) O cálculo para a determinação das con-dições de equilíbrio hidráulico é mais complexo do que nas redes ramificadas (de fato, este cálculo exige a resolução de um sistema de equações não linea-

res, que traduzem as equações de conti-nuidade e de conservação de energia).

Em contrapartida, entre as vantagens de uma rede de distribuição ramificada podem salientar-se as seguintes:

a) Exige menores custos de investimento, uma vez que requer uma menor quanti-dade de tubagens e de órgãos acessórios;

b) Os diâmetros das tubagens são mais econômicos;

c) O cálculo para a determinação das con-dições de funcionamento hidráulico é mais simples do que nas redes malha-das, podendo dizer-se que é um proble-ma trivial de hidráulica (de fato, este cálculo exige apenas a aplicação das equações de continuidade aos nós e só posteriormente a utilização da relação perda de carga/caudal, para a determi-nação das cotas piezométricas nos nós).

No entanto, uma rede de distribuição ra-mificada apresenta as seguintes desvantagens:

a) Pelo fato do escoamento ser unidire-cional, no caso de avaria em uma tu-bulação (por exemplo, pela ocorrência de uma ruptura) interrompe-se todo o fornecimento de água a jusante;

b) Quando ocorrem aumentos ou se verificam flutuações de consumo na rede de distribuição, os efeitos para jusante, em termos de pres-são, são significativos;

c) Os detritos, nos pontos terminais da rede de distribuição, têm tendência a acumular sedimentos, devido às baixas velocidades do escoamento.

A distribuição de água potável a um aglo-merado populacional pode ser feita por uma só rede geral ou por várias. A solução a adotar depende das características do aglomerado a abastecer, sendo necessário proceder a um es-tudo cuidadoso das mesmas.

Na existência de um aglomerado de certa dimensão, em que haja diferenciação nítida de zonas altimétricas, aconselha-se que se consi-dere uma rede geral de distribuição de água

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para cada zona. É o caso das cidades situadas em grandes encostas, que deve ser dividida em zonas de distribuição, por ex.: baixa, média, alta, etc.. Este critério apresenta grandes van-tagens, pois a existência duma rede única obri-garia a uma elevação, do caudal total máximo, a uma altura correspondente à zona mais alta. Deste modo, não só haveria um gasto inútil de energia de bombeamento, como também ocorreriam elevadas pressões nas zonas bai-xas. Esta situação obrigaria à instalação de dispositivos de utilização mais resistentes e à implantação de tubulações da rede de distri-buição de classes ou pressões de serviço maio-res, o que aumentaria o custo total da mesma.

É indispensável à realização de traba-lhos de campo que se efetue levantamentos topográficos para o conhecimento das cotas do terreno, nos pontos altos e baixos, nos ar-ruamentos principais e secundários, não sen-do estritamente necessário o conhecimento das linhas de nível, e para a determinação de outras infraestruturas de subsolo que possam interferir com a rede a projetar. O nível de ri-gor neste levantamento preliminar é função do tipo de projeto em análise. Nestes trabalhos de campo deve ser recolhida informação relativa à localização de arruamentos (principais e se-cundários), de edifícios, de parques públicos, de linhas de água, etc..

A análise do equilíbrio hidráulico de sistemas de distribuição de água malhados é baseada nas duas leis fundamentais da me-cânica dos fluidos, a da continuidade e a da conservação da energia e, além disso, numa relação entre a vazão (ou velocidade) e a perda de carga (ou variação de pressão), es-tabelecida através das equações de Darcy - Weisbach (fórmula universal da perda de car-ga) ou Hazen - Williams. Em termos gerais, esta análise requer a resolução de um sistema de equações não lineares, frequentemente com um elevado número de incógnitas, dependen-do da dimensão e da complexidade do sistema de distribuição.

O primeiro método de solução para este tipo de sistema hidráulico foi apresentado por HARDY CROSS (correções de vazões ope-radas individualmente para cada malha), no ano de 1936, sendo o mais antigo e, provavel-mente, aquele que maior divulgação teve até o momento.

O método de Hardy Cross é o mais utili-zado dentre os métodos de aproximações su-cessivas para o cálculo de rede malhadas, por possibilitar o desenvolvimento dos cálculos, em sistemas simples, além de ser um método provido de significado físico, que facilita a análise dos resultados intermediários obtidos. Giles (01) e Porto (02) apresentam detalha-damente o procedimento adotado por Hardy Cross. Marques et all. (03) apresentam um es-tudo de caso, na cidade do Porto, em Portugal, e utilizam o software EPANET, baseado no método de Hardy Cross e desenvolvido na Universidade de Illinois – USA.

2. Objetivos

O presente trabalho tem como principal objetivo apresentar e discutir uma metodolo-gia de solução do dimensionamento de um sis-tema de distribuição de água em malhas. Para consecução do objetivo, aplicou-se o método de HARDY CROSS, através do programa computacional REDEM.EXE, desenvolvi-do pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC-USP, São Carlos, SP) com objetivos didáticos, que permite o dimensionamento ou verificação de uma rede de distribuição com até cem (100) trechos com um ou mais reser-vatórios de alimentação. O sistema utilizado para estudo encontra-se na comunidade de MACUNDÚ, município de Rio Claro, Estado do Rio de Janeiro. A versão do programa uti-lizado aceita como equações de resistência a equação de Hazen-Williams ou a fórmula uni-versal. Ambas as equações foram aplicadas neste trabalho, com objetivo de comparação e análise dos resultados numéricos obtidos.

3. Metodologia

A metodologia apresentada neste tra-balho encontra-se fartamente documentada em textos didáticos, Giles (01), Porto (02), Azevedo Neto (06), e vem sendo aplicada por décadas na área de Engenharia Civil e sanea-mento básico. A solução através da equação universal, entretanto, é relativamente nova, apesar de ter uma consistência física e mate-mática que satisfaz plenamente os princípios

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de conservação da massa e da energia. Á me-dida que novos textos e trabalhos científicos são publicados, a equação universal torna-se mais utilizada.

A partir dos trabalhos de campo e elabo-ração das plantas topográficas do aglomerado populacional em estudo, é possível proceder ao traçado da rede de distribuição de água, em planta, de acordo com os princípios enuncia-dos anteriormente. Esta atividade, no âmbito do projeto, deve iniciar-se o mais cedo possí-vel, de forma que sejam detectadas falhas de informação, as quais devem ser esclarecidas com uma visita ao local e, se necessário, com trabalhos de campo específicos.

A determinação dos consumos e das va-zões de projeto de sistemas de distribuição constitui uma atividade vital para efeitos do dimensionamento deste tipo de infraestrutu-ras. Estas vazões destinam-se a satisfazer os consumos domésticos, comerciais e de servi-ços, industriais e similares, e públicos; há que garantir, ainda, vazões para fazer face às per-das e fugas e para combate a incêndios.

Os sistemas de distribuição de água (e não apenas a rede de distribuição de água) são constituídos por um conjunto mais ou menos complexo de tubulações, instalações elevató-rias, reservatórios e diversos tipos de outros dispositivos.

As expressões de avaliação de perdas de carga contínuas (hp) estabelecem as relações entre as seguintes cinco variáveis: comprimen-to (l), diâmetro (D), vazão (Q), perda de carga (hp) e rugosidade (Ԑ). Em geral, no projeto são conhecidos os comprimentos (determinados pelo traçado da rede) e as rugosidades (de-terminados pelo tipo de material utilizado), pelo que o engenheiro terá de obter a solução para uma das três restantes. Enquanto que a determinação do caudal e da perda de carga é fundamentalmente um problema hidráulico, e a definição do diâmetro é, além disso, um problema econômico.

Na maior parte das situações em sistemas de distribuição de água, não se conhecem as vazões nas tubulações; pelo contrário, apenas se conhecem as vazões de entrada e saídas do sistema e a energia disponível num ou mais pontos de alimentação (reservatórios ou esta-ções elevatórias).

A determinação das respectivas condi-ções de funcionamento hidráulico consiste no cálculo da distribuição das vazões nas tubu-lações individuais e das cotas piezométricas (ou pressão) em cada um dos nós, conhecendo a energia disponível em pelo menos um dos pontos do sistema. O sistema de distribuição considera-se resolvido quando são conhecidas as cotas piezométricas nos nós e as vazões em todas as tubulações, com a precisão requerida pelo projetista.

Em linhas gerais, a definição das condi-ções de equilíbrio hidráulico dos sistemas é estabelecida com base nas equações da con-tinuidade e da conservação da energia e, além disso, numa relação entre vazão e perda de car-ga, e para tal, o método de HARDY CROSS é aplicado aos condutos principais (anéis princi-pais) de uma rede malhada, a partir de alguns pressupostos do projeto e traçado da rede.

Embora o método original se limitasse à análise de sistemas de distribuição malhados, englobando apenas tubulações (sem elemen-tos especiais), tem sido generalizado ao longo do tempo, com inclusões de sistemas de ali-mentação (reservatórios) e sistemas de potên-cia hidráulica (bombas hidráulicas), podendo ser descrito sucintamente da seguinte forma:

a) Imposição de um conjunto inicial de vazões (Q0) nas tubulações, satisfazen-do o princípio de conservação da mas-sa, denominado principio de continui-dade, nos diferentes nós do sistema;

b) Cálculo individual da parcela de cor-reção de vazão (ΔQ) para o conjunto de tubulações que formam uma malha, de tal forma que seja satisfeita a equa-ção da conservação da energia para essa malha (a aplicação desta parcela de correção não destrói o balanço do princípio da continuidade inicialmente estabelecido);

c) Utilizando as soluções aproximadas em cada iteração, repete-se o passo (2), até que a parcela média de cor-reção esteja dentro de uma tolerância pré-definida.

A parcela de correção de vazão para uma malha é calculada a partir da respectiva equa-

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ção da conservação da energia e destina-se a corrigir a vazão inicialmente arbitrada, de tal forma que a conservação da energia seja satis-feita. Deste modo, as novas vazões, em cada trecho, serão:

Q= Q_0+∆Q (01)

De modo a se atingir:

(02)

Expressão que desenvolvida pelo binô-mio de Newton torna-se:

(03)

Supondo-se que (∆Q) é muito pequeno comparado a (Q0), isto é, que os valores su-postos para as vazões são próximos dos valo-res reais, pode-se desprezar o terceiro termo da série e os seguintes, daí:

(04)

E finalmente:

(05)

(06)

Cada tentativa para este método exige que sejam feitas as correções das perdas de carga para todas as malhas do sistema de dis-tribuição antes de se prosseguir para a iteração seguinte. Prossegue-se com o método descrito até que se obtenham, em todos os anéis, va-lores (ΔQ) pequenos, dentro de uma precisão pré-estabelecida ou nula para a variação.

Com as vazões em cada trecho da ma-lha conhecidas, as pressões disponíveis nos diversos pontos da rede são automaticamente

determinadas. Se estas pressões forem inade-quadas, modifica-se o sistema, ou a altura do reservatório ou os diâmetros de alguns tre-chos. Podem ocorrer, por exemplo, pressões negativas em trechos de tubulações distantes do sistema de alimentação e no final da malha. Neste caso, há um evidente equívoco na pre-missa inicial de vazão disponível e diâmetros de tubulações centrais, denominadas adutoras.

O problema de dimensionamento envol-ve, geralmente, um grande número de anéis e malhas e podem ser inviáveis cálculos ma-nuais, que são extremamente laboriosos. Por envolver procedimentos interativos tediosos, é comum o auxilio de um programa computa-cional para acelerar a análise das alternativas.

No presente trabalho, para o dimensiona-mento do sistema de distribuição de água, em malhas, de MACUNDÚ, foi aplicado o méto-do de HARDY CROSS através do programa computacional REDEM.EXE desenvolvi-do pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC-USP, São Carlos, SP), que permite o dimensionamento ou verificação de uma rede de distribuição com até cem (100) trechos com um ou mais reservatórios de alimentação, sis-tema unicamente por gravidade. O programa aceita como equações de resistência a equação de Hazen-Williams ou a fórmula universal.

4. Desenvolvimento

4.1. Trabalho de Campo

Após a realização de um trabalho de campo, é possível traçar um esquema da rede de distribuição de água, a partir de uma plan-ta topográfica da localidade, com seus: tre-chos; nós; respectivos comprimentos e cotas de nível. Um dado primordial nessa ocasião é fazer um levantamento de todos os imóveis presentes como: lotes; casas; prédios públicos, praças, jardins, etc.. Outro dado importante é fazer o levantamento populacional seguida de uma projeção para no mínimo vinte anos.

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Figura 01 - Vista aérea da comunidade do Macundú, Rio Claro, RJ

Figura 02 - Levantamento topográfico da comunidade de Macundú com ruas e lotes

Figura 03 - Esquema da malha de distribuição de água com as respectivas vazões presumidas nos trechos e cotas altimétricas nos nós.

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4.2. Vazão de adução e distribuição

Um sistema público de abastecimento de água é constituído por várias unidades, como captação, bombeamento, adução, unidade de tratamento, reservatórios e, finalmente, a rede de distribuição. O dimensionamento de cada unidade tem por parâmetro de cálculo a vazão de demanda, que é diretamente proporcional à população a ser atendida. A vazão média anual necessária pode ser expressa como:

Em que (P) é a população a ser abaste-cida, determinada por métodos estatísticos de previsão populacional, a ser atingida no hori-zonte do projeto, () é a taxa ou cota de con-sumo per capta media da comunidade em L/habt./dia e (h) é o número de horas de ope-ração do sistema ou da unidade considerada.

Segundo dados fornecidos pela prefeitu-ra de Rio Claro, a comunidade do Macundú se encontra atualmente com 357 residências e uma população de 991 habitantes, sendo que o centro urbano, foco do presente trabalho, apresenta-se com 156 residências e 624 ha-bitantes. O número de horas de operação do sistema, a fim de atender a demanda da popu-lação sem interrupção é h = 21 horas.

Para levar em conta variações diárias de demanda ao longo do ano, a vazão média é multiplicada por um coeficiente de reforço K1, definido como coeficiente do dia de maior

consumo, que assume valores usuais entre 1,25 e 1,50, na forma:

A vazão Qa é denominada vazão de adu-ção e é utilizada para dimensionamento das unidades do sistema que estão a montante dos reservatórios de distribuição, como captação, bombeamento, adução, tratamento e reserva.

O consumo de água em uma cidade va-ria ao longo do dia e, neste caso, são previstos reservatórios de distribuição com capacidade conveniente; tais reservatórios servirão de volante para suprir as vazões necessárias nas horas de grande consumo. Desta forma a rede de distribuição deverá ser dimensionada para uma vazão denominada vazão de distribuição, dada por:

Em que K2 é definido como coeficiente da hora de maior consumo do dia de maior consumo, e cujo valor comum é K2 = 1,50.

Os valores de qm, K1 e K2 adotados nos projetos variam com o porte do projeto e as características da cidade, industrial, turística etc., e, principalmente, com o nível sócio--econômico da população a ser atendida. Um valor usual adotado, em cidades de médio por-te, para a cota per capta é qm = 200 litros por habitante por dia.

Portanto teremos uma vazão de distribuição (Qd) de:

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4.3. Dimensionamento da rede - Método de Hardy-Cross – programa redem. Exe

Tabela 01 : Dados de entrada para solução da Rede de Malhas de Macundú

5. Resultados

Tabela 02: Resultados obtidos para a malha de Macundú (Fórmula Universal)

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Tabela 03: Resultados obtidos para a malha de Macundú (Fórmula de Hazen-Williams)

6. Conclusão

A aplicação de métodos iterativos de aproximações sucessivas, como o método de Hardy Cross, para dimensionamento de redes malhadas de distribuição de água, apresenta um número elevado de variáveis a serem de-terminadas. Como regra geral, uma rede ma-lhada com (m) anéis e (n) nós, gera um total de [m + (n - 1)] equações independentes, e a medida que a complexidade da rede aumenta, cresce proporcionalmente o número de equa-ções. Evidentemente, uma solução algébrica da rede torna-se impraticável, portanto se lan-ça mão de um programa computacional para a aplicação do método.

A aplicação do método de Hardy Cross, através do software REDEM, para solução da malha de Macundú, apresentou-se consistente e possibilitou a determinação de parâmetros fundamentais, vazão e pressão, para a con-secução do sistema físico de distribuição de água para a comunidade.

Os resultados apresentados através das Tabelas 02 e 03 demonstram a equivalência entre a aplicação da equação universal e o mé-

todo de Hazen-Williams, para determinação da perda de carga em cada trecho. As diferenças observadas nas grandezas de interesse, vazões, pressões e cotas piezométricas, nas Tabelas 02 e 03, ocorrem na casa dos centésimos, que é insignificante para aplicações em engenharia. Entretanto, em função da consistência física, por satisfazer o princípio de conservação da massa e o princípio de conservação da energia, sugerimos a utilização da equação universal. O método de Hazen-Williams, apesar de ser relativamente preciso, conforme demonstram os resultados, dentro da faixa de valores anali-sados, é empírico e demanda certa experiência por parte do projetista em sua aplicação.

Este trabalho apresenta uma metodologia de execução exequível, detalhada, e refinada para sistemas de malhas hidráulicas de médio e grande porte.

Agradecimentos: José Damião Justino, ex-aluno do Curso de Engenharia Civil do UniFOA, agradece a oportunidade de desen-volver o presente trabalho dentro do Programa de Iniciação Científica.

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7. Referências Bibliográficas

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2. PORTO, R.M. “Hidráulica Básica”. EESC-USP, São Carlos, SP, 3ª edição, 2004.

3. MARQUES, JOSÉ A. A. DE SÁ; SOUSA, JOAQUIM J. O. “Hidráulica Urbana – Sistemas de Abastecimento de Água e de Drenagem de Águas Residuais”. Porto, 2ª Edição, 2011.

4. PAULA, D.A. “HISTÓRIA de RIO CLARO”. ELETRONUCLEAR, RIO de JANEIRO, 2004.

5. CARESTIATO, A. & ABREU, C.S. “PROGRAMA CURSO D’ÁGUA”. CEIVAP Comitê de integração da Bacia do Rio Paraíba do Sul, RIO de JANEIRO, 1999.

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ISSN1809-9475

Influence on the morphology of spheroidic graphite nodules of nodular cast iron obtained by CO2 process

Influência sobre a morfologia dos nódulos da grafita esferoidal do ferro fundido nodular obtido pelo processo CO2

Antônio Carlos de Araújo Santos 1

Mauro Carlos Lopes Souza 2

Wilma Clemente de Lima Pinto 2

Mila Rosendal Avelino 3

AbstractThe mechanical properties of cast metallic materials are strongly influenced by processing parameters, such as percentage of silicate, sand granulometry, and metallurgical processing. The ductile iron cast produced by the CO2 process depends on variables that determine the behavior of the material in service, such as the cooling rate and chemical composition. This study evaluated the influence of the cooling rate on the spheroidic graphite. In order to determine this effect, a simulation was performed in specimens with 20, 25, and 30 mm in thickness, through the characterization of type, measurement of nodule size, and distribution of nodules. Chemical analysis and mechanical resistance tests were performed. The 25 mm thick specimen showed the best behavior among the three thicknesses evaluated, presenting the formation of many small nodules and a small amount of larger nodules in the center. The comparison of the nodule size, as well as the counting of these, associated to the used cooling rate is according to standard test method for structure evaluation of graphite in iron cast.

Keywords:

Solidification

Casting

Ductile iron cast

Morphology

ResumoAs propriedades mecânicas dos materiais metálicos fundidos são for-temente influenciadas por parâmetros de processamento, tais como a percentagem de silicato, granulometria da areia, e o processamento metalúrgico. O ferro fundido dúctil produzido pelo processo de CO2 depende de variáveis que determinam o comportamento do material em serviço, tal como a velocidade de resfriamento e a composição química. Este estudo avaliou a influência da taxa de resfriamento sobre a grafita esferoidal. Com o objetivo de se determinar este efei-to, uma simulação foi realizada em amostras de 20, 25, e 30 mm de espessura, através da caracterização de medição do tipo, do tamanho do nódulo e distribuição dos nódulos. A análise química e ensaios de resistência mecânica foram realizados. O corpo de prova de 25 mm de espessura mostrou o melhor comportamento entre as três espessuras avaliadas, apresentando a formação de muitos pequenos nódulos e uma pequena quantidade de nódulos maiores no centro. A comparação do tamanho dos nódulos, bem como, a contagem des-tes, associados à taxa de resfriamento utilizada, está de acordo com a norma dos métodos de testes para avaliação da microestrutura dos nódulos de grafita dos ferros fundidos nodulares.

Palavras-chave

Solidificação

Fundição

Ferro fundido ductil

Morfologia

1 Master of Science Student in Mechanical Engineering at the Rio de Janeiro State University, UERJ.

2 Doctor in Metallurgy and Materials, Department of Metallurgy at the West Zone State University, UEZO.

3 Doctor in Mechanical Engineering of Department of Mechanical Engineering at the Rio de Janeiro State University, UERJ.

Recebido em 08/2012

Aprovado em 08/2013

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1. Introduction

The nodular cast iron produced by the CO2 process is among the most studied me-tal material today. However, to study their solidification, it is necessary to control some variables such as the cooling rate, chemical composition, process control, as well as the interaction of these variables in order to un-derstand the mechanical behavior of these materials during the process. The ductile iron cast has been increasingly used in the modern industry. It is known that the most important feature of these materials is related to its me-chanical strength when compared to other ty-pes of iron cast (gray and malleable) and even to some carbon steels. This is a consequence of the spheroidic graphite in the microstructu-re, which does not interrupt the continuity of the matrix as graphite in the veins of grey iron do (Campos Filho, et al. 1978).

In the ductile iron cast, in general, the morphology of the graphite formed from metal plating during the solidification can be altered in several ways. Graphite crystallizes anisotro-pically (the mechanical properties vary with the crystallographic directions), and its growth is largely influenced by small amounts of chemi-cal elements present in the metal plating and by thermal variables which intervene in the solidi-fication process (Sadosha, et al.1975);

The nodular graphite in the ductile iron cast is constituted by a second phase born from the liquid metal during solidification. Its appearance is subjected to the theory of phase nucleation, to which the most accepted model is the one from Dos Santos, et al., (1977).

The nucleation during solidification of the ductile iron cast is heterogeneous, and the gra-phite is considered as the eutectic phase that is most difficult to go into nucleation (Muzundar et al. 1973). There are many particles that act as effective centers for nucleation during this phase; there are evidences that the graphite it-self, oxides, sulfides, carbides (ionic or CSi), silicates, gas bubbles, and nitrides increase the nucleation power of the liquid metal. However, the relative importance of each of these factors are due to particular conditions of the operation used (Weizer et al. 1973; Chaves Filho, et al., 1975; Santos, et al., 1977).

It should also be mentioned that the de-gree of nucleation of the ductile iron cast has an effect on the distribution of the elements that segregate into the liquid and on the mor-phology of the graphite; it is possible to obtain particles of graphite in a better form through more effective inoculations (Resman, et al., 1967; Santos et al., 1976; Dawson, 1979).

The nodular ductile iron cast cooling rate controls the microstructure and the resulting mechanical properties. Thus, the study of the cooling rate is related to the number of nodules and the metal matrix. More generally, the time for the diffusion of carbon in the eutectoid sta-ble region is determined by the speed of the slow cooling inside the oven, which is referred to as ferritization. The free ferrite can often be obser-ved in slowly cooled ductile iron cast or under isothermal treatments from the pearlite decom-position initially formed (Askeland, et al.,1975).

This study specifically evaluated the in-fluence of the cooling rate on the morphology of the graphite in the ductile iron cast obtained by the CO2 process and cast in specimens 20, 25, and 30 mm in thicknesses. The graphite was classified in terms of type, size, and dis-tribution according to the ASTM A 247 67, standard (1998). The metallographic analyses were used to study the morphology of the gra-phite through the distribution and size of the nodules obtained using different cooling rates simulated in specimens 20, 25, and 30 mm in thickness, respectively. The results were compared to results produced according to the ASTM A 247-67 standard (1998), approved and reviewed in 1998.

2. Experimental

The CO2/sodium silicate process is an in-dustrial process for the preparation of siliceous sand molds without clay for casting metal parts. The process involves a mixture of sand with so-dium silicate (up to 4.5% sodium silicate based on the sand weight). The mixture was prepa-red in a blender used in molds and males plugs, which were subsequently hardened by the high hygroscopicity from the carbon dioxide th-rough silicate water (silicate hydrate).

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The binding process, i.e., the hardening of the sand, involves the formation of sodium carbonate (Na2CO3) and silica gel in a combi-nation of three processes:

Precipitation of the silica gel:Na2SiO3 + CO2 → Na2 CO3 + SiO2;Hardening due to the change in the ratio

N2O/SiO2 from the silicate,Drying of the silicate.

The specimens Y-block type ASTM A536, were molded closely following the CO2/sodium silicate process for the tensile testing. Approximately 20 Kg of the mixture from a batch mixer with 150 Kg mixing ca-pacity was used. The metal was prepared in an electric induction furnace at medium fre-quency (1200 Hz) in an inductotherm crucible (oven provider) with a capacity of 1,500 Kg and subsequently taken into the foundry step.

The inoculation was directly in the lea-king pot itself using 0.6% Si, in the form of Fe-Si (75%) with about 2% Ba, after the nodu-larisation with Fe-Si-Mg (8% Mg).

The samples for the metallographic exa-minations were taken from the Y- block from the specimens with 20, 25, and 30 mm in thickness. The samples were prepared follo-wing procedures:

• Mechanical grinding using rotary sander brand Ecomet 4000, following the se-quence of sandpaper 120, 220, 400, 500, 600 and 1500, all 3M, Norton,

• Then, polishing with diamond past on cloth (suede), brand Struers.

The metallographic examinations to de-termine the qualitative morphology of the gra-phite present in the microstructure were exe-cuted in specimens not etched. Three fields per specimens (end, middle, and center) were exa-mined using a JEOL-JSM-6490LV scanning electron microscope (SEM), of Microscopy Laboratory of PEMM/COPPE/UFRJ.

The results of the final chemical basic composition and the mechanical tests for the determination of the limit of tensile resistance, yield strength, and the elongation percentage were performed and certified by the company that provided the specimens.

3. Results and Discussion

The final chemical composition (wt%) was close to the eutectic as shown in Table 1. Chemical analyses are carried out in labo-ratories of Fundição Técnica Sul-Americana (Itaguaí RJ).

Table 1. Chemical composition of the specimen

Element C Si Mn P S Cr Ni Mo V CuWt.% 3,68 2,25 0,84 0,077 0,006 0,01 0,001 0,01 0,007 0,58

The calculated amount of equivalent carbon (EC) was approximately 4.45. This value was obtained from equation, Ceq = CT + ½ (%Si + %P).

The mechanical properties measured by tensile tests were: Tensile strength (σr): 819.0 MPa (83.52 kg/mm²)Yield strength (σe): 523.35 MPa (53.37 kg/mm²)Elongation percentage (ε): 4.0 %

For each different specimen the metallo-graphic analysis were performed in the core of the samples (center), using the SEM.

The larger nodules in the field were analyzed for the assessment of the sizes of the graphite nodules according to figures 1 (CP20), and 2 (CP30).

Figure 1. Micrograph used for the measurement of the size of the nodule in the center of CP20 (100x).

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Figure 2. Micrograph used for the measurement of the size of the nodule in the center of CP30 (100x).

Figures 3, and 4 show the count and type of graphite nodules in the specimens (CP20), and (CP30) respectively, in the center of the specimens.

Figure 3. Micrograph used for the count and

observation of the types of nodules (CP20) (100x).

Figure 4. Micrograph used for the count and observation of the types of nodules (CP30) (100x).

It was observed that the carbon and sili-con contents are in the optimal range for these two elements, according to Hasse (1999).

The process of inoculation practiced by the refiner is not the most recommended by the literature, however, taking into account that the measurements obtained in the MEV for the sizes of the nodules were the largest vi-sualized nodules and according to the ASTM, classified as the smallest (type 5, 6 and 7). Thus, it was concluded that the process was successful because the graphitizing power of the Fe-Si (75%) used was effective in the for-mation of the number of eutectic cells per unit area. This was observed primarily in CP25, in which thickness, the rupture of the specimen occurred during the tensile test.

Tables 2 and 3 refer to types and the va-lues found for the sizes (mm) of the nodules.

Table 2. Size of the nodules in mm and their types (ASTM)

CP End Type Half radius Type Center Type20 0.057 6 0.057 6 0.037 625 0.027 7 0.042 6 0.060 530 0.061 5 0.026 7 0.055 6

Table 3. Count of the number of nodules (ASTM)

CP End Half radius Center20 133 84 8225 465 387 22430 139 355 180

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4. Conclusions

A According to the ASTM A536-84 norm (2009), the nodular ductile iron cast provided by the company was certified as of high-resistance, 100-70-03 class (equivalent to the DIN GGG 70).

According to its composition and resistance, the material provided can be classified as a hype-reutectic ductile iron cast because the C.E. = 4.45.

The ASTM IV type (vermicular graphi-te), type V (crab graphite), and type VI (explo-ded graphite) were not found, which proved the excellent spheroidicity of the nodules wi-thout degeneration of the spheroidic graphite.

The distribution and size of nodules in CP30 were closest to optimal values reported in the literature, showing a decrease in the number of nodes from the end towards the center and a consequent increase in their size.

5. References

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Endereço para Correspondência:

Mauro Carlos Lopes [email protected]

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Caso de Polícia: Reflexões sobre a Questão Social e a Primeira República

Police case: reflections on social issues and the First Republic

Mônica Santos Barison1

1Docente do Curso de Serviço Social do UniFOA.Assistente Social do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Mestre em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Doutoranda do Programa de Pós graduação em Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

ResumoConsideramos que a produção do debate acerca da questão social, objeto de intervenção do assistente social, deve reconhecer como objetivo, dentre outros, compreender as especificidades da formação histórica da sociedade brasileira, no sentido de analisar as particula-ridades que configuraram e configuram os seus diferentes contextos econômicos, sociais, culturais e políticos. Nesse sentido é que apre-sentamos este ensaio: na perceptiva de contribuir com os debates que pretendem capturar a historicidade dos contraditórios processos societários que recriam ao mesmo tempo em que mantêm as práticas políticas que exercem o controle sobre a reação da classe trabalha-dora diante das profundas desigualdades sociais a que é submetida. Assim, por meio de uma revisão bibliográfica, problematizamos o trato destinado à questão social no período da Primeira República no Brasil (1889-1930), cujas ações do Estado, em linhas gerais, foram marcadas pelo uso da coerção a partir de uma lógica que identificou as manifestações da questão social como “caso de polícia”. Nesse sentido, refletimos sobre especificidades que configuraram as con-dições de reprodução do trabalhador na cidade do Rio de Janeiro, seus movimentos de resistências contra o cenário de exploração da força de trabalho bem como o significado atribuído à questão social e os mecanismos de controle utilizados pelo Estado para garantir a hegemonia de classe que detinha o poder político e econômico. Estas reflexões foram produzidas no curso de uma das disciplinas ofereci-das no Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da PUC-Rio. A escolha do período histórico elencado está ainda relacionada à prá-tica docente tendo em vista o conteúdo programático ministrado na disciplina intitulada Fundamentos Históricos, Teóricos e Metodoló-gicos do Serviço Social I, obrigatória do primeiro ano da graduação em Serviço Social do UniFOA. A ementa dessa disciplina é compos-ta por temáticas vinculadas à emersão da questão social no Brasil, que desencadeou a explicitação de demandas e a própria criação do Serviço Social na década de 1930 no país. Frente ao exposto, este artigo pode servir de subsídio para os estudantes que se interessam em sistematizar o conteúdo apreendido.

Palavras-chave:

Questão social

Primeira república

Particularidades históricas

ArtigoOriginal

Original Paper

ISSN1809-9475

Recebido em 02/2013

Aprovado em 08/2013

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AbstractWe believe that the production of the debate about the social question, the object of intervention of social workers, should recognize as a goal, among others, the understanding of the specifics of the historical formation of Brazilian society, in order to analyze the peculiarities that configured and configure their different economic, social, cultural and political contexts. Taking this in consideration, we present this essay: in order to contribute to the debates that aim to capture the historicity of conflicting societal processes that recreate while maintaining political practices that exert control over the reaction of the working class in the face of deep social inequalities that is undergone. Thus, we question the deal for the social question in the period of the First Republic in Brazil (1889-1930), reflecting on specifics that have shaped the conditions of reproduction of the worker in the city of Rio de Janeiro, their movements of resistance against the of exploitation of workforce as well as the meaning given to social issues and the control mechanisms used by the State to ensure the class hegemony which held political and economic power. These reflections were produced in the course of one of the disciplines offered in the Graduate Program at PUC-Rio. The choice of this historical period is related to the teaching practice, in view of the syllabus taught in the course entitled Historical, Theoretical and Methodological Foundations of Social Work I, which is a mandatory one in the first year of the Social Service graduation course at UniFOA. The syllabus for this course consists of topics linked to the emergence of the social question in Brazil, which triggered the explicit demands and the very creation of Social Work in the country, in the 1930s. Based on these, this article can serve as a subsidy for students who are interested in systematizing the content learned.

Keywords:

Social Question

First Republic

History

1. Introdução

Este artigo recorta como temática o signi-ficado atribuído à questão social e as respostas construídas para o seu enfrentamento durante o período chamado de Primeira República no Brasil (1889 a 1930), em específico na cidade do Rio de Janeiro.

Compartilhamos da análise de Iamamoto (2008) que postula que a questão social é in-dissociável da sociabilidade capitalista. Ou seja, a produção da questão social é vincula-da às configurações assumidas pelo trabalho e pelo Estado no modo de produção capitalista.

Nessa perspectiva, a autora identifica que a questão social na sociedade burguesa tem sua gênese na seguinte contradição fundamen-tal: o trabalho é coletivo, mas as atividades, as condições e os frutos do trabalho são apropria-dos de modo privado.

Assim, a questão social é configurada na tensão entre o processo de produção de desi-gualdades sociais (efeitos da apropriação pri-

vada dos meios de produção e dos bens e ri-quezas) e o processo de resistências e rebeldia do trabalho (que forjam as lutas políticas da classe trabalhadora contra o projeto societário que legitima o capital).

Compartilhamos ainda da ideia que pos-tula que a referida tensão assume especifici-dades históricas, que são forjadas no bojo das configurações particulares das várias fases do capitalismo (NETTO, 2001).

Nesse sentido, é mister que o estudo acer-ca do significado da questão social e das res-postas construídas para o seu enfrentamento assuma como objetivo compreender tais espe-cificidades da formação histórica da sociedade brasileira, no sentido de analisar as particulari-dades que configuram os diferentes contextos econômicos, sociais, culturais e políticos.

Consideramos que é por meio de uma perspectiva histórica que nos aproximamos do movimento de uma determinada realida-de e, dessa forma, podemos desencadear, no circuito das ideais, a captura da dinâmica das

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relações sociais que configuraram e constroem respostas para a chamada questão social.

Refletimos que a produção de conheci-mento acerca das determinações e leis gerais que moldam a sociedade capitalista faz senti-do se produzimos mediações, na sua dimensão reflexiva, que sejam capazes de apreender as singularidades históricas. (PONTES, 1997)

Assim, assumindo este desafio, estabe-lecemos como objetivo ensaiar a produção de um debate acerca do significado atribuído à questão social e as respostas construídas para o seu enfrentamento durante o período da Primeira República no Brasil, em particular na cidade do Rio de Janeiro.

O interesse por esse tempo histórico em especial mantém relação com o desvela-mento do pensamento que indica que a ques-tão social fora tratada como caso de polícia (CERQUEIRA FILHO, 1982). E o que justifi-ca o interesse por tal temática?

Assistimos bestializados, na contempo-raneidade, práticas políticas que também tra-tam a questão social como caso de polícia. No próprio debate acadêmico contemporâneo identificamos as análises que explicitam a reedição da criminalização da questão social como um processo que pode ser situado no bojo dos efeitos da reestruturação produtiva do capital levada a cabo no final do século XX. (IAMAMOTO, 2004).

Muitas indagações podem ser construídas a partir de tais análises contemporâneas acerca da criminalização da questão social. Longe de querer explicar o presente por meio da leitura simplista do passado, compartilhamos da ideia de que é relevante desencadear estudos para apreender os heterogêneos e contraditórios processos societários que recriam ao mesmo tempo em que mantêm as práticas políticas, conduzidas em especial pelo Estado, que exer-cem o controle sobre a reação da classe tra-balhadora frente às profundas desigualdades sociais a que é submetida. Desigualdades estas que são forjadas nas metamorfoses processa-das na relação capital/trabalho.

Conforme o pensamento de Cerqueira Filho:

A classe social hegemônica, controlan-do o conjunto da sociedade política (o Estado) e da sociedade civil, combina a coerção e o consenso para obter a acei-

tação pelas classes subalternas de um dado tipo de organização econômico--social; portanto organizando politica-mente a sociedade, realizando a unida-de social(CERQUEIRA FILHO: 1982, p. 25).

O referido autor postula que é no interior de uma teoria da integração social que é rea-lizado o discurso hegemônico acerca do trata-mento da questão social.

Segundo Cerqueira Filho (1982), o pen-samento político burguês significa a questão social no interior de uma teoria da integração, convertendo o ideológico em natural na pers-pectiva de neutralizar os efeitos das lutas de classes, procurando repassar a imagem de har-monia e integração social.

O autor afirma ainda Afirma que, para além das especificidades desse discurso, o fato dele ser útil para os diferentes momentos da própria hegemonia faz com que sejam acio-nados ora recursos dos aparelhos ideológicos ora os recursos dos aparelhos repressivos do Estado. Pontua que nestes predomina a repres-são e naqueles existe a dominância da ideo-logia. Ressalta que, entretanto, todos os apa-relhos do Estado funcionam simultaneamente por meio da repressão e da ideologia.

Cerqueira Filho (1982) analisa que, no plano da prática política (agir), existe uma his-tória irregular acerca dos momentos em que as classes dominantes acionam um ou outro re-curso. Entretanto, afirma que existe no plano do discurso político hegemônico (pensar) uma continuidade relativa em lidar com a questão social no interior de uma teoria da integração social.

Assim, esse autor reflete que é o manejo da crise da hegemonia que define o pensar e o agir das classes dominantes no trato da ques-tão social. Afirma que:

(...) nos momentos conjunturais em que uma crise da hegemonia não se confi-gura como viável, o pensar e o agir das classes dominantes tendem a se aproxi-mar, definindo a “questão social” como uma questão eminentemente política, que se resolve na base da conciliação. (...). Isto define a “questão social” como uma questão política. (...). Nos momen-

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tos conjunturais de aguçamento da crise de hegemonia no Brasil, a “questão so-cial” se define como uma questão que deve ser resolvida na base dos apare-lhos repressivos do Estado. Isto define a questão social como uma “questão de polícia” que, sem deixar de ser política, passa a ser resolvida com predomínio de uma de suas dimensões, a repressão efetiva, prática. (CERQUEIRA FILHO, 1982, p.28).

Assim, na primeira seção deste ensaio apresentaremos o debate sobre a formação da classe operária nesse período de transição en-tre o século XIX e XX - destacando as condi-ções de reprodução do trabalhador bem como seus movimentos de resistências na cidade do Rio de Janeiro. A perspectiva é de eluci-dar feixes de luz para a tensão que produziu a questão social naquele cenário. Na segunda seção, destacaremos o debate acerca do signi-ficado da questão social e dos recursos utiliza-dos pelo Estado para garantir a hegemonia da classe dominante. Por fim, teceremos algumas considerações finais na perspectiva de siste-matizar as reflexões processadas.

2. A tensão na Primeira República: a produção da questão social

Badaró Mattos (2008) afirma que o Rio de Janeiro, ao longo do século XIX e primei-ras décadas do século XX, manteve sua impor-tância como sede do poder no plano político.

No campo econômico, a distribuição de produtos importados e a venda nos portos da produção do café garantiram o crescimento econômico da cidade. O referido autor cita o crescimento das fortunas dos comerciantes, o surgimento das unidades fabris, a movimenta-ção financeira das casas bancárias como mar-cas da economia do período.

Assim, a cidade do Rio de Janeiro, na virada do século XIX, experimentou transfor-mações significativas desde os últimos anos do Império, que passaram pela abolição da es-cravidão e culminaram com a proclamação da república (CARVALHO, 2000).

São citadas as significativas mudanças demográficas no território, marcadas pelo au-mento do quantitativo da população. Carvalho (2000) destaca que a abolição lançou o res-tante da mão de obra escrava no mercado de trabalho livre que estava em formação, au-mentando o contingente de subempregados e desempregados. Cita ainda que o êxodo dos trabalhadores das fazendas de café e a imi-gração portuguesa também contribuíram no processo de crescimento da população. Indica que tal população, na perspectiva étnica e de gênero, era formada, em sua maioria, por ne-gros e por homens.

Badaró Mattos (2008) pontua, entretan-to, que a combinação dos dados demográficos com os ocupacionais do então século XIX in-dica uma diversidade na composição da força de trabalho no período que se estende para o início do século XX.

Esse autor assinala que o processo de proletarização foi, no século XIX, incompleto enquanto o contingente de escravos na cidade foi suficiente para retardar o assalariamento. Esse processo incidiu nas relações de trabalho da Primeira República. O autor afirma, então, que a história da presença do uso do trabalho escravo na cidade determinou a fixação do preço da força de trabalho, incluindo a branca.

Mattos (2008) cita que, após a abolição, o trabalho nas ruas da cidade se manteve como opção de sobrevivência para grande parte de trabalhadores cariocas que não encontravam espaços no mercado formal. Afirma que a abo-lição da escravatura impôs a mesma condição civil aos negros e brancos. Entretanto, isso não significou uma homogeneidade real da classe operária. Cita ainda a presença de estrangeiros na virada do século e também de mulheres e crianças na composição da força de trabalho.

O autor indaga sobre “de que forma a experiência da exploração refletia-se nos re-gistros deixados pelos trabalhadores livres”. (MATTOS, 2008, p. 55). Para responder a tal questão, recorreu a jornais que seriam porta--vozes de artistas e operários para desenhar a imagem que os que dependiam do salário ti-nham sobre as suas próprias condições de vida.

Assim, esses veículos de comunicação retrataram, segundo o autor, a longa e exausti-va jornada de trabalho; o trabalho noturno e a

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insalubridade, a inexistência de folgas – nem aos domingos; os constantes acidentes em fun-ção das máquinas que intensificavam o ritmo de trabalho; os regulamentos tirânicos (con-trole de atraso, as revistas, por exemplo).

São explicitados ainda pelo autor os efei-tos do crescimento da área urbana em função do incremento populacional. Fala das diferen-ças do quantitativo de moradores por domicí-lios nos diferentes bairros da cidade e que a concentração populacional na área central está relacionada à concentração do trabalho e pela dificuldade de locomoção.

Assim, os trabalhadores permaneciam em moradias coletivas (cortiços, estalagem, casas de cômodo, zungus) em função da proxi-midade do trabalho. A carestia do aluguel (em função da escassez de opção), a insalubridade e precariedade eram vividas pelos trabalhado-res e se constituíam como mais uma das faces da exploração a que eram submetidos, reco-nhecidas por eles como injustiças. Também explicitavam suas indignações em função do contraste entre a cidade civilizada e o modo de vida dos trabalhadores.

O autor relata que, no início do século XX, as grandes obras dirigidas por Pereira Passos, em nome da saúde pública, demoli-ram inúmeras construções que eram moradias de trabalhadores, que não foram substituídas. Situa século XX a ocupação dos morros ca-riocas como alternativa para a classe que tra-balhava no centro da cidade. Os trabalhadores cariocas do final do século XIV e início do século XX, enfrentaram, então, a adversidade de acesso, as precárias condições de moradia.

O autor trata da dimensão da exploração vinculada às insalubridades dos locais de tra-balho e de moradia e com elas a propagação de doenças letais. A insalubridade não era recla-mada apenas pelos trabalhadores das fábricas, mas também pelos trabalhadores do comércio. Assim, a insalubridade se torna responsável pelas epidemias que, desde meados do século XIX, se alastraram na cidade.

Mattos (2008) descreve que os esfor-ços dos higienistas do início do século XX eram de combater a varíola e a febre amarela. Entretanto, afirma que a doença que mais ma-tava os trabalhadores era a tuberculose, aquela vinculada diretamente à insalubridade no tra-balho e às péssimas condições de alimentação

dos trabalhadores. Afirma que “os militantes do movimento dos trabalhadores sabiam que a questão da saúde pública era uma questão de classe” (MATTOS, 2008, p. 70). Acerca do salário e emprego, o autor revela que os trabalhadores também denunciavam os baixos salários e a carestia a que eram submetidos.

Patto (1999) também retrata bem a espo-liação a que estava submetido o trabalhador na Primeira República:

a ausência de leis que garantissem os direitos básicos dos trabalhadores san-cionava uma jornada de trabalho fabril esgotante, que podia chegar a 17 horas ininterruptas; a inexistência de férias e de repouso remunerado; salários avil-tantes, ainda mais baixos no caso de mulheres e crianças (...) (PATTO, 1999, p. 03).

Badaró Mattos (2008) postula que a mi-séria era o principal elemento que identificava a experiência homogênea dos proletários. A comparação entre o que o trabalhador recebia e o que ele necessitava para sua sobrevivência ampliava o sentimento de injustiça associado à exploração.

Esse autor analisa que resistência e as primeiras lutas processadas pelos escravos e trabalhadores assalariados urbanos na cidade do Rio de Janeiro na segunda metade do sé-culo XIX devem ser reconhecidas para a com-preensão da formação da classe trabalhadora do início do século XX.

Antunes (1991) assinala que as primeiras formas de organização da classe operária no final do século XIX foram configuradas pela existência de Associações e Sociedades entre os trabalhadores cujos objetivos estavam vin-culados, especialmente, ao auxílio material mútuo. Pontua que, posteriormente, emergi-ram as Uniões Operárias que, no desenvol-vimento da industrialização, passaram a se organizar por ramos de atividades de trabalho e foram precursores dos primeiros sindicatos.

Antunes (1991) também afirma que no início da Primeira República dois Congressos evidenciam a movimentação operária e sin-dical do período (em 1892 realizou-se o I Congresso Socialista Brasileiro; em 1906 o Primeiro Congresso Operário Brasileiro).

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Assinala que o movimento operário brasileiro, nesse cenário, foi marcado, essencialmente, pela tendência anarco-sindicalista e pela ten-dência do socialismo reformista.

Segundo o autor, o fim da primeira Guerra Mundial contribui para o aprofundamento da inflação e a queda do valor dos salários. Carvalho (2000) relata o aumento do custo de vida que a Proclamação da República trouxe. Cita a emissão de dinheiro sem lastro (para aplacar cafeicultores e atender demanda real de moeda para pagamento de salários), a especula-ção e inflação generalizada, o aumento da im-portação que marcaram a economia da época.

Tal cenário econômico impulsiona uma onda de greves. O Partido Comunista é fun-dado em 1922. Carvalho (2000) ainda destaca, em 1925, o início das publicações do jornal “A Classe Operária”. Patto (1999) cita que os jornais libertários já registravam os inúmeros episódios de resistências em fábricas: greves, operações- tartarugas, “quebra-quebra” (des-truição de matéria prima, máquinas e prédios).

Cerqueira Filho (1982) indica que a ques-tão social aparece, então, no pensamento do-minado como relevante. Destaca que os pen-sadores, publicistas e ativistas elaboraram um pensamento distinto da classe dominante, que priorizava a temática social e a publicização das precárias condições de vida dos pobres e operários. Pontua que, ao contrário, a questão social aparece no discurso dominante como fato excepcional tendo em vista que não aglu-tinava forças políticas para se impor no pensa-mento dominante. É nesse sentido que analisa a sentença de que a questão social era caso de polícia.

A guisa de conclusões, esses foram os elementos que se constituíram como tensões que configuraram a questão social. Na próxi-ma seção, refletiremos sobre os recursos utili-zados pelo Estado para garantir a hegemonia da classe dominante.

3. A questão social como caso de polícia

Chalhoub (2001) analisa que, na passa-gem do XIX para o XX, para realizar a sub-missão do liberto, do branco pobre ou do

imigrante ao assalariamento, não bastava ex-propriá-lo. Segundo o autor, além da constru-ção de uma nova ideologia do trabalho foram materializados mecanismos de vigilância e re-pressão, exercidos por autoridades policiais e judiciárias, para moldar a força de trabalho às necessidades do capital.

Acerca da ideologia do trabalho, o autor sinaliza que

Era necessário que o conceito de traba-lho ganhasse uma valoração positiva, articulando-se então com conceitos vi-zinhos como os de “ordem” e “progres-so” para impulsionar o país no sentido do “novo”, da “civilização”, isto é, no sentido da constituição de uma ordem social burguesa. O conceito de trabalho se erige, então, no princípio regulador da sociedade, conceito este que aos poucos se reveste de roupagem digni-ficadora e civilizadora. (CHALHOUB, 2001, p. 48)

Assim, o autor identifica que o processo de construção de uma nova ideologia do tra-balho ultrapassou a apropriação da “mente” e do “espírito” dos homens livres por meio da disciplinarização do tempo e do espaço estri-tamente do trabalho. Conforme indica Badaró Mattos (2008) esse processo atingiu também os espaços de sociabilidade e moradia da clas-se operária, incidindo sobre os padrões de con-duta familiar e social.

Chalhoub (2001) postula que tal meca-nismo se completou naquele cenário, em espe-cífico, por meio do exercício da força e vigi-lância policial. A noção de “classes perigosas” produziu o estigma sobre aqueles pobres des-possuídos, principalmente, do trabalho, e que apresentavam qualquer comportamento que expressasse rebeldia.

Ao serem estigmatizados pelas auto-ridades policiais e judiciárias como “vadios”, promíscuos”, “desordeiros” podem se ver arremessados, repenti-namente, ao xilindró, onde seriam su-postamente “corrigidos” –vale dizer, transformados em trabalhadores, por mais inverossímil que isto possa pare-cer.(CHALHOUB, 2001, p. 50)

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Nesse sentido, analisando o processo que chamou de desqualificação dos pobres, Pattos (1999) analisa que a república no Brasil nas-ceu sob a máxima da ordem pública. Pontua que os intelectuais e os militares, herdeiros das concepções evolucionistas que naturalizaram o social, defendiam a tese do progresso ordei-ro, forjando um caráter nada revolucionário ao movimento republicano.

Ao contrário, o horror aos movimentos operários sinalizava a frequência com que a repressão para conter as reações e as rebeldias dos trabalhadores.

A frase “questão social como caso de po-lícia”, dita pelo então Presidente da República Washington Luís, sintetiza o “pensar e o “agir” do Estado no período.

As sucessivas vezes em que foi decreta-do Estado de Sítio representa esse processo de repressão contra a oposição aos interesses he-gemônicos (PATTOS, 1999).

Carvalho (2000) destaca ainda a proibi-ção da capoeira (que foi incluída como crime na revisão do Código Penal de 1890), a ex-pulsão dos anarquistas estrangeiros, a punição ao jogo do bicho, a destruição dos cortiços, as leis de obrigatoriedade das vacinas como me-canismos que também configuraram o contro-le repressor sobre os pobres.

Pattos (1999) sinaliza que, quando a de-sarticulada massa ameaçava se transformar em classe social, a piedosa simpatia pelos “deserdados da fortuna”, pelos “humildes”, começou a se converter em práticas repressi-vas. Cabia à polícia deter o protesto proletário e ainda punir toda sorte de comportamentos “desordeiros”.

A autora cita as mudanças no Código Penal, que trataram de criminalizar compor-tamentos dos pobres livres cujo trabalho era desnecessário. Pontua que a “embriagues”, a “desordem” e a “vadiagem” foram motivos da maioria das prisões efetuadas no período. Assinala que bastava ser pobre, não-branco, desempregado ou insubmisso para estar sob a suspeita da polícia. Destaca os termos utiliza-dos nos relatórios policiais para classificar os desempregados e subempregados: “vadios”, “incansáveis”, “parasitas”, “sanguessugas”, “desordeiros”. Analisa que a atenção para es-ses termos que classificavam pessoas e com-portamentos contribui no processo de desve-

lamento dos mecanismos de controle social engendrados na sociedade brasileira.

No interior de um confronto de classes absolutamente desigual, o que predomi-nou foram os punhos cerrados da polí-cia, para quem, no Brasil, as leis nunca tiveram muita importância e o abuso de poder sempre foi a regra (...) as opera-ções policiais na primeira república não pretendiam outra coisa senão excluir e, sempre que possível, exterminar os que ameaçavam a paz da burguesia ou o projeto eugênico de progresso.” (PAT-TOS, 1999, p. 11)

Assim, Cerqueira Filho (1982) entende que a questão social não era uma questão legal em função da sua ilegitimidade política. Desta forma, deveria ser tratada no interior dos apa-relhos repressivos do Estado.

O autor analisa que a questão social, ao ser tratada como caso de polícia, foi inscrita no campo da criminalidade e da desordem. Outrossim, as reações da classe dominada não faziam o eco na agenda política das classes dominantes tendo em vista que a industrializa-ção, naquele período, ainda estava em segun-do plano na estrutura de produção brasileira. Fazia sentido, então, desconsiderar a existên-cia da questão social, desqualificar as reivindi-cações e rebeldias operárias e inscrevê-las no campo do crime.

Conforme escreve Cerqueira Filho, “os problemas sociais tratados pela polícia nunca existiram porque eram passíveis de serem ex-terminados à bala” (1982, p. 61).

Desta forma, a questão social não apare-ce como preocupação do discurso dominante naquele período. Monarquistas, jacobinos (li-berais), ou militares (grupos que compunham a correlação de forças no período) tangem seus interesses para outras questões vinculadas ao po-der político e econômico (CERQUEIRA, 1982).

A questão social permanecera como mar-ginal no discurso dominante, mas como ele-mento central no discurso da classe operária.

Essa tensão, constante durante toda pri-meira república, entre o existente como problema, mas não como questão, aca-ba por dar lugar à contradição, ao nível

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do pensamento dominante, quando tra-ta a questão social como caso de polí-cia, que nada mais são que um retorno daquilo que se quer reprimido, recalca-do: os conflitos entre capital-trabalho. (CERQUEIRA, 1982, p. 68).

Negar (no plano do pensar) e reprimir (no pano da ação) a questão social se consti-tuíram como mecanismos para escamotear os conflitos e lutas de classes. Tal movimentação foi importante para sustentar a expansão do capitalismo no Brasil nos primeiros passos da formação da República.

4. Considerações Finais

Perseguimos, neste ensaio, o objetivo de refletir sobre o significado atribuído à questão social e as respostas construídas para o seu enfrentamento durante o período da Primeira República no Brasil. Destacamos as tensões que produziram a questão social e os recursos utilizados pelo Estado frente à mesma.

A proclamação da República foi dese-nhada pela elite brasileira a partir da disputa entre as oligarquias tradicionais (que ocupa-vam o poder político) e as novas oligarquias dos fazendeiros de café de São Paulo (deten-toras do poder econômico), sem a participação efetiva de setores populares da sociedade.

Tal período histórico, segundo os autores estudados, é marcado pelos impactos iniciais da transição do modo de produção que come-çou a se processar naquele período: a Primeira

República não foi industrial, mas foi marcada pelo crescimento da indústria.

As diferentes relações de produções en-gendram mutações no processo de exploração dos trabalhadores – que começa a se perceber enquanto classe. Na cidade, liberto, pobre branco ou imigrante são submetidos a condi-ções desumanas de trabalho e de vida. As con-dições de sua reprodução material e espiritual inviabilizavam sua própria existência. Assim, a república, nos seus primeiros anos, foi mar-cada também pela formação e organização da classe operária, sendo palco de reações e re-beldias, principalmente, levadas a cabo pelos anarquistas e socialistas-reformistas.

Entretanto, no processo de publicização da questão social, não se acumula forças po-líticas para que fosse reconhecida como legí-tima, sendo tratada como caso de polícia. As oligarquias agrárias, que detinham o poder econômico e político, significaram a questão social como crime que necessitava de punição e repressão.

A necessidade de que a classe operária absorvesse uma nova ideologia que positivas-se o trabalho e o assalariamento para que sua força de trabalho atendesse aos interesses do capital, utilizou recursos ideológicos, que in-cidiram no âmbito do trabalho e da vida do tra-balhador para moldar o seu comportamento.

Entretanto, foi por meio da vigilância e da repressão, exercidos especialmente por autori-dades policiais e judiciárias, que o controle se processou. Por quê? A massa desordenada de trabalhadores ousou se transformar em classe.

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5. Referências Bibliográficas

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Endereço para Correspondência:

Mônica Santos [email protected]

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Questões ambientais versus economia em Sistemas de Gestão Ambiental: avanços e perspectivas

Environmental issues versus the economy in Environmental Management Systems: Progress and Prospects

Emmanuelle Galante Roussouliéres1

Priscila Araujo Lima1

Rian Silva Carvalho Pires1

André Barbosa Vargas2

Fábio Souto Almeida1

Resumo:Um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) pode ser entendido como o con-junto dos procedimentos necessários para administrar uma empresa garan-tindo que as suas atividades gerem o menor impacto negativo possível sobre o ambiente. As empresas que buscam produzir sem por em risco a qualidade do ambiente garantem para si um diferencial, que pode destacá-las no mer-cado e garantir novos consumidores. Com o SGA também se pode reduzir o custo de produção, por diminuir os gastos com insumos e gerar benefícios sociais e ambientais. Toda a sociedade se beneficia do SGA, através da qua-lidade ambiental que é mantida ou melhorada. Do mesmo modo, os recursos ambientais são conservados e a biodiversidade é protegida. A ISO 14000 foi criada em 1996, quando a International Organization for Standardization criou as normas de gestão ambiental de âmbito internacional. A partir de então, empresas de diversos países podem adotar as normas e certificar seus serviços e produtos. Os empresários vêm tomando consciência das vanta-gens da adoção de um SGA, pois o número de certificações vem aumen-tando em todo o mundo. Pode-se concluir que o SGA é uma ferramenta importante para as empresas que visam ganhar mercado e lucratividade, mas também para a obtenção de um ambiente ecologicamente equilibrado.

Palavras-chave:

Certificação

Mercado verde

Selo verde

Sustentabilidade

Abstract:An Environmental Management System (EMS) can be understood as a set of procedures for managing a company, aiming generates the least possible negative impact on the environment. Companies that seek to produce without jeopardizing the quality of the environment to guarantee itself a differential, which can highlight them on the market and secure new customers. Environmental Management Systems can reduce the cost of production by reducing spending on inputs, and generate social and environmental benefits. The society obtains benefits of EMS, through which environmental quality is maintained or improved. Similarly, environmental resources are preserved and biodiversity is protected. The ISO 14000 was established in 1996 when the International Organization for Standardization created the environmental management standards of international scope. Companies from various countries can adopt the standards and certify their products and services. Entrepreneurs are becoming aware of the advantages of adopting an EMS because the number of certifications is increasing. It can be concluded that the EMS is an important tool for companies seeking to gain market share and profitability, but also to obtain an ecologically balanced environment.

Keywords:

Certification

Green market

Green seal

Sustainability

1 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ

2 Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA

ArtigoOriginal

Original Paper

ISSN1809-9475

Recebido em 03/2013

Aprovado em 08/2013

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1. Introdução

Nos últimos séculos, a humanidade tem apresentado um crescimento populacional acelerado, que desencadeou uma série de pro-blemas ambientais (CUNHA & GUERRA, 2007). Dentre tais problemas, o esgotamento dos recursos naturais está entre os mais graves (PRIMACK & RODRIGUES, 2001). Diante desse cenário, começou a se pensar em estra-tégias para um desenvolvimento com caráter mais sustentável. Este pensamento tem assu-mido, atualmente, destacada importância no cenário político mundial.

É provável que a definição mais conhecida de desenvolvimento sustentável seja a do Relatório Brundtland, também conhecido como “Nosso futuro comum” (1987), gerado pela Comissão Mundial das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (SEIFFERT, 2011a). Nesse relatório o desen-volvimento sustentável é definido como o de-senvolvimento capaz de satisfazer as necessi-dades da presente geração sem comprometer a capacidade das gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades (DIEGUES, 1992). O desenvolvimento sustentável pode ainda ser entendido como o alcance de condições que propiciem a manutenção ou a recuperação dos serviços prestados pelos ecossistemas ao ser humano, em bases que possam garantir a igual-dade social (ABRAMOVAY, 2010).

No campo empresarial, uma das alterna-tivas que podem ser utilizadas para reverter o cenário atual de degradação dos recursos natu-rais é a utilização de práticas menos agressivas “conservacionistas”. Essas precisam visar e mi-nimizar os impactos negativos gerados na pro-dução de bens e serviços (SEIFFERT, 2011b). Assim, potencializando os impactos positivos sem esquecer-se de fomentar e impulsionar a qualidade de vida e a igualdade social.

Desse modo, dada a importância de de-senvolver-se sustentavelmente, promovendo a qualidade de vida e políticas ambientais voltadas à sociedade, foram criados alguns sistemas de gestão empresarial apoiados em normas para a conservação e preservação do meio ambiente (DONAIRE 1995). Esses sis-temas consistem na gestão de usos corretos e adequados dos recursos naturais, visando a sua conservação e o desenvolvimento social

(CAMPOS, 2002). Um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) pode ser entendido como um conjunto de procedimentos necessários para administrar uma empresa com o objetivo de garantir que suas atividades gerem o menor impacto negativo, possível, sobre o ambiente. O SGA visa também potencializar os bene-fícios ambientais advindos das atividades de uma empresa. Assim, o SGA pode ser uma importante ferramenta para alcançar o almeja-do desenvolvimento sustentável (CHRISTIE, 1995; TACHIZAWA, 2002).

O início da gestão ambiental está ligado ao momento em que o ser humano percebeu que suas atividades poderiam prejudicar o meio ambiente e provocar a escassez de recursos, o que ocorreu logo após a Revolução Industrial (DALLAS, 2009). Assim, o ser humano cons-tatou que deveria criar mecanismos para que as suas atividades causassem menos danos aos ecossistemas naturais e se tornassem mais sustentáveis. Mediante essa necessidade, a par-tir do início da década de 70, diversos países criaram arcabouço jurídico-político para salva-guardar o meio ambiente e os recursos naturais, focando principalmente na questão do licencia-mento ambiental (SANCHES, 2008).

Foi, principalmente, após a Conferência de Estocolmo, em 1972, que a preocupação de englobar as questões ambientais nas discus-sões acerca do desenvolvimento da humani-dade ficou em evidência. Um dos resultados dessa conferência foi a criação da Comissão Mundial das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, que publicou, em 1987, o relatório intitulado “Nosso futu-ro comum”. Nesse relatório, evidencia-se, em longo prazo, a não sustentabilidade dos mo-delos de desenvolvimento empregados pela maioria dos países (DIEGUES, 1992).

Na década de 70, a postura típica era considerar antagônica a relação entre de-senvolvimento e conservação dos recursos naturais, mas essa ideia foi abandonada por parte do setor industrial na década de 80 (LAYRARGUES, 2000). Nessa época, as discussões acerca da relação entre produção e proteção ambiental ficaram em evidência e soluções para conciliar essas duas questões fo-ram surgindo. No início da década de 90, foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento

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(CNUMAD), também conhecida como Eco 92. Essa conferência contou com a participa-ção de vários países e resultou na Convenção sobre Diversidade Biológica e na Agenda 21, documentos que direcionam a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento sustentá-vel. A Agenda 21 propõe que não só os gover-nos, mas todos os setores da sociedade devem se comprometer com a solução dos problemas sociais e ambientais, buscando o desenvolvi-mento sustentável (PNUMA, 2013).

A partir do início da década de 90, a participação das empresas na busca pelo de-senvolvimento sustentável se destacou na comunidade ambientalista e apresentou avan-ços em direção à produção industrial limpa (LAYRARGUES, 2000). Nesse sentido, as normas BSI 7750 (British Standards Institute), de origem britânica, surgiram no ano de 1992 como especificações para Sistemas de Gestão Ambiental. Em 1995, na União Europeia foi lançado outro Sistema de Gestão Ambiental e Auditoria, o Eco-Management and Auditing Scheme (EMAS). Já no ano de 1996, sur-giram as normas da série ISO 14000, sendo um sistema de normas ambientais de âmbito mundial (SEBRAE, 2004). A partir de então, a certificação ambiental passou a ser almejada por diversas empresas, para que pudessem se manter competitivas em um mercado no qual os consumidores exigem cada vez mais que as organizações apresentem uma postura am-bientalmente correta (MAIMON, 1999).

2. Normas ISO 14000

Em 1947, foi fundada a Organização Internacional para Normatização (International Organization for Standardization - ISO) (MARIANI, 2006). Com sede em Genebra na Suíça, essa organização, não governamen-tal, já presente em 164 países (ISO, 2012a), é representada no Brasil pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e o organismo de acreditação relacionado à ABNT é o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (INMETRO) (MARIANI, 2006).

A ISO 14000 foi criada em 1996, quando a International Organization for Standardization promulgou as normas de ges-

tão ambiental (Morrow & Rondinelli, 2002). A partir de então, empresas de diversos paí-ses podem adotar as normas, implantando Sistemas de Gestão Ambiental, e, assim, cer-tificar seus serviços e produtos, o que é um atestado de que esses satisfazem padrões de qualidade ambiental. Isso é importante frente a mercados consumidores preocupados com os impactos ambientais gerados pela produção de bens e serviços (SEIFFERT, 2011b). Hoje, é a certificação ambiental mais conhecida em todo o mundo. Somando isso ao fato de ser aplicável em qualquer empresa, faz com que seja desejada por várias organizações.

O processo pelo qual a organização é submetida para conseguir o reconhecimento de que faz uma gestão ambientalmente cor-reta envolve a avaliação de todo o processo produtivo através de auditorias ambientais. Questões como a identificação de aspectos ambientais e a avaliação de impactos ambien-tais, a análise de requisitos legais, a definição de metas ambientais de medição e monitora-mento, a definição de uma política ambiental para a empresa e a realização de auditorias internas fazem parte do processo de implanta-ção de um Sistema de Gestão Ambiental para a certificação ISO 14001 (SEIFFERT, 2011a).

3. Os selos verdes

A possibilidade do esgotamento de recur-sos naturais indispensáveis para a manutenção da vida humana é uma realidade em muitas re-giões do globo terrestre. A sociedade vem to-mando conhecimento dos problemas gerados pelo mau uso dos recursos naturais e tem se preocupado com os modos de produção utili-zados pelas empresas e pelo passivo ambien-tal que é gerado durante o processo produtivo. Nessa atual conjectura, as empresas que adotam processos produtivos ambientalmente corretos podem levar vantagem sobre outras empresas, pois os consumidores que se preocupam com questões ambientais podem dar preferência aos produtos e serviços gerados de forma ambien-talmente correta. Assim, a proteção do meio ambiente tornou-se uma oportunidade de mer-cado e as empresas que se preocupam com essa fatia da demanda podem obter vantagem com-petitiva (D’AVIGNON & CARUSO, 2011).

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As organizações podem demonstrar para o consumidor que seus produtos são gerados de forma ambientalmente correta através dos selos verdes. Segundo DEUS et al. (2010), os selos verdes são rótulos inseridos nos produtos com o objetivo de demonstrar que a marca é social-mente e ambientalmente correta, além de ter a função de conscientizar o consumidor quanto ao consumo sustentável. O selo verde deve ser fornecido por uma certificadora que atesta que os produtos ou serviços de uma organização se adéquam às normas da certificadora, ou seja, são gerados de forma ambientalmente correta. Assim, os selos verdes constituem uma forma de marketing verde, que auxilia a melhorar a imagem da empresa junto aos consumidores (FIGUEIREDO et al., 2009).

O selo verde referente à ISO 14001 é só um dos vários existentes na atualidade. Um dos mais conhecidos no Brasil é o do Programa Cafés Sustentáveis do Brasil (PCS) que foi lan-çado em 2006. O selo é dado a empresas que produzem café e que passam por um processo de certificação que envolve questões ambien-tais, econômicas e sociais. Na avaliação é le-vado em conta o uso correto de agroquímicos, o armazenamento de fertilizantes, os cuidados com os mananciais de água, com a biodiversi-dade e a gestão de resíduos. As empresas tam-bém devem possuir programas de redução do uso de água, energia e papel. Além disso, as condições de trabalho oferecidas pela empresa são averiguadas (ABIC, 2013).

No campo da produção florestal pode-se destacar a certificação FSC (Forest Stewardship Council), que possibilita ao consumidor reconhe-cer produtos obtidos através de um correto ma-nejo florestal, englobando produtos madeireiros e não madeireiros. O FSC foi fundado em 1993 e hoje possui representação em mais de 70 paí-ses (FSC, 2013). No Brasil, existe o Conselho Brasileiro de Manejo Florestal (FSC Brasil) que faz a Certificação de Manejo Florestal, avalian-do se a floresta é manejada de forma correta, e a Certificação de Cadeia de Custódia, que garante que a madeira utilizada não foi obtida de forma ambientalmente ou socialmente nociva (FSC, 2013). Também existe o Programa Brasileiro de Certificação Florestal (Cerflor), que foi criado em 2002, e possui a ABNT como organismo que ela-bora as suas normas e certifica a cadeia de custó-dia e o manejo florestal (INMETRO, 2013).

4. Certificados não avaliados por órgãos certificadores

As empresas devem transparecer credibi-lidade frente aos consumidores. No caso dos se-los verdes, as certificadoras atestam que os pro-dutos ou serviços provêm de organizações com preocupações verdadeiras para com o meio am-biente (LAYRARGUES, 2000). Todavia, algu-mas empresas têm adotado a auto-certificação. Nesse caso, a produção não é avaliada por um órgão certificador independente, o que pode por em dúvida a sua validade.

Os selos verdes em produtos certificados por um órgão independente têm credibilidade. Por outro lado, a falta de transparência e de valores de referência na auto-certificação não permite que o consumidor tenha certeza do seu processo produtivo. O consumidor precisa crer que a empresa realiza auditorias internas e que providencia a sua própria fiscalização. Mas como saber se as organizações realmente realizam esses processos? Como ter certeza se o processo é desenvolvido de forma correta, dentro de normas ambientais rígidas?

Paira sobre esse assunto dúvidas que abrangem questões morais, mas também de mercado. As organizações que adotam os selos verdes buscam aumentar a confiança e admiração dos consumidores quanto aos seus produtos, possibilitando aumentar suas ven-das. Embora os selos advindos da auto-certifi-cação possam ajudar a alcançar esse objetivo, para a parcela de consumidores que conhecem os selos que são certificados por órgãos inde-pendentes e os que não são, a auto-certificação pode ter efeito contrário ao esperado. Assim, adotar selos avaliados por organismos certifi-cadores conhecidos e de prestígio pode ser a melhor opção.

5. ISO 14000 no Brasil e no mundo

Cada vez mais os empresários tomam cons-ciência das vantagens da adoção de um Sistema de Gestão Ambiental e buscam certificar os seus produtos ou serviços. O número de certificados ISO 14001 emitidos vem aumentando em todo o mundo, mas principalmente no Extremo Oriente e na Europa (Figura 1). Aproximadamente me-tade dos certificados foi emitida no Extremo

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Oriente, mas a Europa também apresenta eleva-do número de certificações (Figura 2). Cabe res-saltar o baixo número de certificados emitidos na América do Norte, apesar de contar com a maior economia do mundo, os Estados Unidos da América. O elevado número de certificados do Extremo Oriente se deve, principalmente, aos emitidos na China e Japão (Tabela 1). O incre-

mento do número de certificações na China pa-rece estar correlacionado com o crescimento da economia. Das sete maiores economias do mun-do (Estados Unidos da América, China, Japão, Alemanha, França, Reino Unido e Brasil), so-mente os EUA, a França e o Brasil não apare-cem entre os dez países com maior número de certificações ISO 14001.

Figura 1. Número de certificados ISO 14001 emitidos de 1999 até 2010 em diferentes regiões do mundo (ISO, 2012b).

Figura 2. Porcentagem de certificados ISO 14001 emitidos de 1999 até 2010 em diferentes regiões do mundo (ISO, 2012b).

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Tabela 1. Os dez países com maior número de certificados ISO 14001. Modificado de ISO (2012b).

Posição PaísNúmero de Certificados

1 China 697842 Japão 35016

3 Espanha 18347

4 Itália 170645 Reino Unido 14346

6República da Coréia

9681

7 Romênia 74188 República Checa 66299 Alemanha 600110 Suécia 4622

No Brasil, a grande maioria dos certifi-cados ISO 14001 foram emitidos para orga-nizações da região Sudeste (Figura 3). Após o Sudeste, segue-se a região Sul e o Nordeste como as regiões onde mais certificados fo-ram emitidos, validando Sistemas de Gestão Ambiental. A vantagem da região Sudeste sobre as demais quanto ao número de certifi-cados deve-se em grande parte ao Estado de São Paulo, que apresenta o número de certifi-cações expressivamente maior que dos demais estados (Tabela 2), que por sua vez está rela-cionada à concentração de contingente popu-lacional e de empresas. Um dado negativo é a queda do número de certificados emitidos no país de 2008 até 2012.

Figura 3. Porcentagem de certificados ISO 14001 emitidos de 1999 até 2010 em diferentes regiões do Brasil (Inmetro, 2012).

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Tabela 2. Número de certificados ISO 14001 emitidos de 2008 até novembro de 2012 em diferentes Estados brasileiros (Inmetro, 2012).

Estados 2008 2009 2010 2011 2012 Total

São Paulo 81 79 48 40 20 268

Paraná 17 24 12 13 12 78

Santa Catarina 19 6 5 10 10 50

Rio de Janeiro 9 3 2 6 4 24

Minas Gerais 6 7 4 3 1 21

Bahia 8 2 6 4 0 20

Rio Grande do Sul 6 4 1 6 1 18

Goiás 5 3 2 1 0 11

Amazonas 3 1 2 4 0 10

Pernambuco 1 0 2 1 4 8

Ceará 0 2 1 2 1 6

Alagoas 0 1 0 1 2 4

Mato Grosso do Sul 0 1 1 0 2 4

Rio Grande do Norte 1 1 0 1 1 4

Espírito Santo 1 0 1 0 0 2

Mato Grosso 1 1 0 0 0 2

Maranhão 0 0 1 0 0 1

Pará 0 1 0 0 0 1

Piauí 1 0 0 0 0 1

Tocantins 0 0 1 0 0 1

Total 159 136 89 92 58 534

6. Vantagens e desvantagens dos Sistemas de Gestão Ambiental para as empresas

Para prevenir ou mitigar os impactos ambientais, os Sistemas de Gestão Ambiental atuam nas diversas etapas do processo produ-tivo. A gestão deve englobar a escolha correta do fornecedor de matéria-prima, o processo de transformação dessa matéria-prima e o desti-no do produto após o uso (DARNALL et al., 2008). Deve-se buscar reduzir a quantidade de insumos e os resíduos gerados durante o pro-cesso produtivo, na utilização do produto ou no seu descarte (MELNYK et al., 2003). O Sistema de Gestão Ambiental visa ainda poten-cializar os benefícios ambientais advindos das atividades de uma empresa. Com o SGA pode-

-se aumentar a eficiência das operações realiza-das na empresa e conscientizar os funcionários acerca dos impactos ambientais das atividades (RONDINELLI & VASTAG, 2000).

Segundo MORROW & RONDINELLI (2002) empresas certificadas com o ISO 14001 relatam melhorias de desempenho ambien-tal, apontam melhorias quanto a reciclagem e reutilização de resíduos e materiais em geral, diminuição da emissão de resíduos e na con-servação de energia e água. Com os cuidados tomados no SGA, as empresas se previnem contra acidentes ambientais, que podem causar danos à imagem da organização e gerar mul-tas advindas dos órgãos ambientais públicos. Outra importante questão é que os Sistemas de Gestão Ambiental possibilitam tornar as organizações mais competitivas e ampliar sua

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posição no mercado nacional e internacio-nal, devido a crescente procura por produtos “ecologicamente corretos” (MELNYK et al., 2003; SEBRAE, 2004). Assim, as empre-sas que buscam produzir sem por em risco a qualidade do ambiente garantem para si um diferencial, que pode destacá-las no mercado e garantir novos consumidores para os seus produtos (SEIFFERT, 2011a).

Além disso, com o Sistema de Gestão Ambiental pode-se reduzir o custo de produ-ção, a médio e longo prazo, trazendo retornos financeiros. Todavia, outros benefícios tam-bém devem ser destacados, como os sociais e ambientais. Toda a sociedade se beneficia do Sistema de Gestão Ambiental implantado em uma empresa, por meio da qualidade ambiental que é mantida ou melhorada, podendo ocorrer melhorias até mesmo no âmbito da saúde pú-blica, devido a menor quantidade de poluentes lançados no ambiente (SEIFFERT, 2011b). Do mesmo modo, por meio do Sistema de Gestão Ambiental, os recursos ambientais são conser-vados e a biodiversidade é protegida de impac-tos, como os causados pela poluição advinda do lançamento de resíduos gerados durante a produção (SEBRAE, 2004). A importância do assunto está ligada a sustentabilidade, questão amplamente discutida atualmente.

Em alguns casos, a adoção de tecnologias e comportamentos ambientalmente corretos pode ser um processo demorado, necessita de treinar os funcionários e de planejamento para cumprir as normas, fazer o monitoramento do sistema e buscar a sua melhoria contínua (SEBRAE, 2004; SEIFFERT, 2011a). Pode ocorrer até mesmo a troca de fornecedores de matéria-prima (SEBRAE, 2004). Isso pode fa-zer com que o custo da implantação de um SGA seja inicialmente alto e o retorno só ocorrerá de médio a longo prazo. Todavia, as empresas vêm amadurecendo a deia de que os benefícios gerados pelos SGAs para as próprias empresas e para a sociedade e a natureza suplantam as dificuldades de se manter um SGA.

7. Considerações finais

Os Sistemas de Gestão Ambiental sur-giram como resposta à crise ambiental vivida nas últimas décadas. Foram desenvolvidos

para auxiliar a reverter o quadro de perda de qualidade dos recursos naturais e colabo-rar para o desenvolvimento sustentável. Seu surgimento se deve ainda a necessidade das empresas de se adaptarem a um mercado con-sumidor consciente dos problemas ambien-tais. Para demonstrar aos consumidores que a empresa possui verdadeira preocupação am-biental, essas certificam seus produtos em um processo que envolve órgãos certificadores independentes e estampam em seus produtos os selos verdes. Existem várias certificações, destacando-se a ISO 14000 que pode ser apli-cada a qualquer empresa e é mundialmente re-conhecida. Por outro lado, alguns selos verdes são nacionais e foram elaborados para deter-minados produtos. Os consumidores podem confiar que produtos e serviços certificados por organismos certificadores são obtidos a partir de processos ambientalmente corretos. Entretanto, determinadas organizações ado-tam a auto-certificação, na qual a produção não é avaliada por um órgão certificador in-dependente, pondo em dúvida a credibilidade da empresa e a validade do selo verde. Além disso, pode não contribuir com o objetivo bá-sico dos Sistemas de Gestão Ambiental, que é o de contribuir para que a humanidade alcance o desenvolvimento sustentável.

O número de organizações que têm re-conhecido os Sistemas de Gestão Ambiental como um mecanismo para o seu crescimento e um dispositivo para gerar benefícios am-bientais e sociais vem crescendo em todas as partes do globo terrestre. Entretanto, apesar de ser uma das maiores economias do mundo e se apresentar como um dos países com as maiores reservas de diversos recursos natu-rais e biodiversidade, o Brasil não está entre os países com maior número de certificações ISO 14000. Devido a problemas sociais e eco-nômicos históricos, o Brasil dá prioridade ao desenvolvimento econômico, em detrimento da conservação ambiental, acreditando-se que os impactos ambientais decorrentes desse de-senvolvimento são aceitáveis (ROHRICH & CUNHA, 2004). Entretanto, esse quadro deve ser revertido para que o país possa se desen-volver de forma sustentável.

Por meio dos Sistemas de Gestão Ambiental as organizações economizam in-sumos, melhoram a sua imagem frentes aos

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consumidores e se previnem contra acidentes ambientais. Todavia, os benefícios gerados pelos Sistemas de Gestão Ambiental não tra-zem vantagens apenas para as empresas, mas para toda a sociedade. Pode-se concluir que o SGA é uma ferramenta importante para as empresas que visam ganhar mercado e lucrati-vidade, mas também para a obtenção um meio ambiente ecologicamente equilibrado, geran-do benefícios sociais.

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Endereço para Correspondência:

Fábio Souto [email protected]

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Avaliação da Cobertura Vacinal em crianças de 2 meses a 5 anos na Estratégia Saúde da Família

Evaluation of Vaccination´s Coverage among children aged from 2 months to 5 years in Family Health Strategy

Samara Guerra Carneiro1

Tiago Turci Ribeiro1

Márcia Dorcelina Trindade Cardoso 2

João Francesco Strapasson1

Ana Flávia Baldoni Costa1

Flávia Drummond Guina1

Resumo: A vacinação é uma ação rotineira dos serviços de saúde e tem como objetivo erradicar doenças imunoprevníveis. O objetivo deste estudo foi avaliar a cobertura vacinal em crianças de 2 meses a 5 anos em quatro Unidades da Saúde da Família em Volta Redonda – RJ. Estu-do transversal e descritivo, utilizando o método de amostragem por conveniência com os lactentes e pré-escolares que compareceram às unidades de saúde no período de 30 de julho a 30 de agosto de 2012. O critério de inclusão foi a idade entre dois meses a cinco anos, e o de exclusão foi a ausência do Cartão de Vacinação no momento da entre-vista. Para cada criança avaliada, foi aplicado um questionário à mãe. 11% das crianças estavam em atraso com a vacinação. Sobre a idade materna, constatou-se que a maioria das mães das crianças com cartões atrasados encontravam-se na faixa etária entre 26 e 30 anos. Quanto à escolaridade materna, 64% das mães das crianças com cartões atrasa-dos estudaram entre 4 e 7 anos. Em relação à renda familiar, 91% das mães de crianças com cartões atrasados informaram renda entre 1 a 2 salários. Observando-se a faixa etária das crianças com os cartões atra-sados, notou-se que o maior número de atrasos ocorreu em menores de um ano. Para obtermos maior êxito na cobertura vacinal, cabe aos profissionais de saúde participar mais ativamente na busca de crianças em falta com a vacinação, por meio de revisão sistemática dos cartões, de palestras ministradas à população e de uma maior efetividade nas visitas domiciliares.

Palavras-chave:

Cobertura Vacinal

Fatores de Risco

Atenção primária à saúde

ArtigoOriginal

Original Paper

ISSN1809-9475

Recebido em 07/2013

Aprovado em 08/2013

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Abstract:Vaccination is a routine action on health services and aims to eradicate preventable diseases. The aim of this study was to assess vaccination coverage in children aged from 2months to 5years in four Family Health Care Units Volta Redonda – RJ/Brazil. Transversal and descriptive study, using convenience sampling method, with infants and preschoolers who attended at health facilities in the period from 30 July to 30 August 2012.The attendance criterion was the age from two months to five years old and exclusion was the absence of Vaccination Card at the time of the interview. For each assessed child, a questionnaire was addressed to the mother. 11% of children were delayed with their vaccination. On maternal age, it was found that most mothers of children with delay on vaccination, were aged between 26 and 30 years. Regarding their level of schooling, 64% of mothers of children with late booklet, went to school for 4 to 7 years.Regarding family income, 91% of mothers of children with delay in vaccination reported income between 1 and 2 minimum wages. Observing the age of the children with late booklet, it was noted that the greatest number of delays occurred with children of less than one year old. To obtain greater success in immunization coverage, the health professionals have to participate more actively in the search for children with missing vaccination, through a systematic review of the booklets, lectures for the population and a better effectiveness in the home visits.

Keywords:

Immunization Coverage

Risk factors

Primary Health Care

1. Introdução

A vacinação é uma ação integrada e ro-tineira dos serviços de saúde, que tem como objetivo de erradicar, eliminar e controlar as doenças imunopreveníveis no território brasileiro.1Vacinar implica em um fator de proteção específico contra doenças graves, causadoras de danos irreversíveis ou letais. Além disso, a vacinação melhora o nível de saúde de uma comunidade e isso se reflete nos indicadores, especialmente na taxa de mortali-dade infantil.2

Pertence ao nível de atenção primária de baixa complexidade, representando um dos grandes avanços da tecnologia médica nas últimas décadas, constituindo-se no procedi-mento de melhor relação custo e efetividade no setor saúde.3 O reconhecimento da cober-tura vacinal e dos fatores que levam ao atra-so ou falta de imunização é essencial para a adequação de programas governamentais de vacinação e para a identificação de crianças em atraso. 4

No Brasil, o Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde (PNI/

MS), formulado em 1973, objetivou o controle ou erradicação de doenças infectocontagiosas e imunopreviníveis, incluindo a poliomielite, o sarampo, a difteria, o tétano, a coqueluche e a tuberculose, gerando grande impacto nas condições gerais de saúde. O declínio acele-rado de morbimortalidades por doenças imu-nopreveníveis nas décadas recentes no Brasil, em escala mundial, serve de prova incontes-tável do enorme benefício que é oferecido às populações por intermédio das vacinas. 3,5

O calendário vacinal definido pelo PNI/MS corresponde ao conjunto de vacinas con-sideradas de interesse prioritário à saúde pú-blica do país. Atualmente, é composto por 13 produtos recomendados à população, desde o nascimento até a terceira idade. São conside-rados quatro calendários: da criança, do idoso, do adolescente e adulto e dos povos indíge-nas.6 Em 2005, iniciou-se a distribuição do Cartão da Criança por maternidades públicas e privadas, em substituição à Caderneta de Vacinação aprovada em 1977.6,7

Houve uma sensível melhora na cobertu-ra vacinal nos últimos anos, com a introdução, por exemplo, da vacina contra Rotavírus no

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Calendário Básico de Vacinação da Criança em 2006. Além disso, a partir de 2010, crian-ças menores de dois anos passaram a contar com a aplicação da pneumocócica 10 e menin-gocócica C. Por último, em agosto de 2012, houve a substituição da Vacina Oral contra Poliomielite (produzida com vírus atenuados) para a Vacina Injetável contra Poliomielite (produzida com vírus inativados). Com a uti-lização de vírus inativados, a possibilidade de desenvolver a doença a partir da vacina é nula, eliminando a probabilidade de a doença se desenvolver como possível a partir da vacina feita com vírus atenuados. Apesar de o risco teórico estimulado ser considerado baixo, a OMS reconhece os danos associados ao uso da vacina oral. Outra vacina que foi incluída no Calendário Básico de Vacinação da Criança foi a Pentavalente. É a atual Tetravalente que incorporou a vacina contra Hepatite B na mes-ma dose, diminuindo, assim, uma injeção para a criança. 8

Apesar da melhoria da cobertura vacinal no Brasil nos últimos anos, existem crianças que ainda não são vacinadas corretamen-te mesmo em regiões em que há boa dispo-nibilidade dos serviços de saúde.9 Assim, o Ministério da Saúde lançou a campanha de atualização das Cadernetas de Vacinação de crianças menores de 5 anos, que ocorreu no dia 18 de agosto de 2012, com o intuito de re-duzir a taxa de abandono do esquema vacinal básico e, consequentemente, aumentar a co-bertura vacinal no território brasileiro. 10,11

Vários estudos vêm sendo realizados no Brasil e no mundo com o objetivo de elucidar essa questão da cobertura vacinal e dos fatores que levam a não vacinação. Dentre os fatores de risco, destacam-se: baixa renda familiar 12, extremos de idade materna 13, maior nú-mero de filhos 13, baixa escolaridade materna 14,15,16,17,18 e presença de doença na criança 17, entre outros. Não apenas fatores relacionados aos usuários são considerados para a cobertu-ra vacinal. Fatores estruturais relacionados aos serviços de saúde também podem ser levados

em conta como, por exemplo, a dificuldade de agendamento e tempo de espera prolongado. 16

Esse estudo teve como objetivo avaliar a cobertura vacinal em crianças de 2 meses a 5 anos em quatro UBSF na cidade de Volta Redonda – RJ e analisar os potenciais fatores contribuintes para o atraso vacinal.

2. Materiais e Métodos

O presente trabalho foi realizado em quatro unidades básicas de saúde de família (UBSF) do município de Volta Redonda, RJ.

A UBSF do bairro Volta Grande é com-posta por cinco equipes, e a UBSF Santo Agostinho é composta por três, enquanto que as UBSF dos bairros Vila Americana e Nova Primavera possuem apenas uma equipe. Cada equipe possui um médico, um enfermeiro, um técnico de enfermagem e de quatro a seis agentes comunitários de saúde.

Foi realizado estudo transversal e descri-tivo, utilizando o método de amostragem por conveniência com as crianças de 2 meses a 5 anos que compareceram às unidades de saúde no período de 30 de julho a 30 de agosto de 2012 para consultas médicas ou para vacina-ção. O critério de inclusão foi a idade entre 2 meses a 5 anos, e as crianças que não porta-vam o Cartão de Vacinação no momento da entrevista foram excluídas.

Para cada criança avaliada, foi aplicado um questionário autoexplicativo e padroniza-do (anexo 1) à mãe ou responsável.

Para a avaliação do cumprimento do esquema de vacinação, foram utilizadas as definições preconizadas pelo Ministério da Saúde para o calendário básico de vacinação da criança aos 5 anos, disposto na Tabela 1.6 Apesar do Calendário Básico de Vacinação ter sido alterado no dia dezoito de agosto de 2012, esse não foi avaliado neste trabalho, pois con-sideramos em atraso as crianças que estavam em falta com a vacinação há um mês ou mais.

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Tabela 1: Calendário básico de vacinação – Ministério da Saúde.

VACINAS IDADE E NÚMERO DE DOSES Ao nascer 1º mês 2º mês 3º mês 4º mês 5º mês 6º mês 12º mês 15º mês 4 anos

BCG DU

Hepatite B 1ª dose 2º dose 3º dose

DTP 1ª dose 2º dose 3º dose Reforço 2° Reforço

Hib 1ª dose 2º dose 3º dose

VOP (polio) 1ª dose 2º dose 3º dose Reforço

VORH (rotavírus) 1ª dose 2º dose

Pneumocócica 10 1ª dose 2º dose 3º dose Reforço

Meningocócica C 1ª dose 2º dose Reforço

SCR(tríplice viral) 1ª dose 2° dose

Nota: Fonte: Ministério da Saúde (Brasil). Portal da saúde SUS. Calendário de vacinação atende a todas as idades. [Citado em: 13 agosto 2012]. Disponível em: http://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/noticia/3591/162/calendario-de-vacinacao-atende-a-todas-as-idades.html.

As doses de vacinas foram classificadas como confirmadas quando comprovadas no Cartão da Criança pelo carimbo do posto de vacinação, data e a rubrica do funcionário.

3. Resultados

Foram avaliadas 96 Cadernetas de Vacinação nos quatro postos de saúde, sen-do 30 do bairro Volta Grande, 21 do bairro Vila Americana, 23 cartões do bairro Santo Agostinho e 22 do bairro Nova Primavera. Do total (96), 11 crianças estavam em atraso, con-figurando 11%, enquanto 85 encontravam-se em dia, representando 89%. A UBSF Santo Agostinho foi a que apresentou maior atraso no esquema vacinal, apontando 22% (5) das 23 crianças avaliadas. A UBSF Nova Primavera mostrou um atraso compatível com 18% (4) do total de 22 e a UBSF Vila Americana apre-sentou 10% (2) de atraso da totalidade de 21 cartões. Já a UBSF Volta Grande não revelou atraso vacinal nas 30 crianças analisadas, con-figurando 100% de cartões em dia.

Figura 1: Esquema vacinal nas 4 UBSF.

Figura 2: Calendário Vacinal na UBSF Santo Agostinho.

Figura 3: Calendário Vacinal na USF Nova Primavera.

Figura 4: Calendário Vacinal na UBSF Vila Americana.

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Figura 5: Calendário Vacinal na UBSF Volta Grande.

Dos cartões atrasados (11), 45% (5) per-tenciam a crianças do sexo feminino e 55% (6) do masculino.

Figura 6: Sexo da crianças em atraso nas 4 UBSF.

Em relação à idade das crianças que esta-vam em atraso vacinal, a faixa etária de maior prevalência foi a de 6 meses a 1 ano, corres-pondendo a 55% , seguida de 27% de crianças de 1 a 2 anos e 9% está na faixa etária de 0 a 6 meses e também de 2 a 3 anos.

Figura 7: Idade das crianças em atraso na 4 UBSF.

Considerando crianças com cartões atra-sados, a faixa etária materna predominante nas 4 UBSF analisadas foi a de 26 a 30 anos (46%), seguida de 36% de mães entre 21-25 anos e 18% entre 16-20 anos.

Figura 8: Faixa Etária Materna nas 4 UBSF.

Quanto à escolaridade, avaliada em anos de estudo, a maioria (64%) das mães das crian-ças com cartões atrasados estudaram entre 4 e 7 anos, e 36% estudaram de 8 a 11 anos.

Figura 9: Escolaridade Materna nas 4 UBSF.

Nas 4 UBSF avaliadas, a renda familiar – em número de salários mínimos – das famílias das crianças com cartão de vacinação atrasado foi de 91 % entre 1 e 2 salários e 9% entre 3 e 4 salários.

Figura 10: Renda Familiar nas 4 UBSF.

Levando em consideração o número de irmãos das crianças em atraso nas 4 UBSF, a maioria (64%) possuía 2 irmãos, seguida de 27% que não tinham irmãos e 9% com apenas 1.

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Figura 11: Número de irmãos das crianças em atraso nas 4 UBSF.

Quando questionadas sobre o motivo da falha vacinal, 37% das mães de crianças em atraso nas 4 UBSF indicaram o esquecimen-to como principal motivo. 27% classificaram a dificuldade de acesso ao posto e 18% das mães alegaram que a criança estava doente na data prevista. O 18% restantes alegaram ou-tros motivos.

Figura 12: Motivo da falha vacinal.

Analisando os Cartões de Vacinação, constatou-se atraso nas seguintes vacinas (Tabela 2):

Tabela 2: Doses das vacinas atrasadas.

Vacina Dose Número de atrasos

Hepatite B 3ª dose 1Rotavírus 1ª dose 2Rotavírus 2ª dose 3-VOP 2ª dose 1-VOP Reforço 1Tetravalente 2ª dose 2Tetravalente 3ª dose 1DTP 1° reforço 2-Pneumocócica 10 2ª dose 4-Pneumocócica 10 3ª dose 2-Pneumocócica 10 Reforço 2Meningo C 1ª dose 1Meningo C 2ª dose 2Meningo C Reforço 1Tríplice Viral 1ª dose 1

4. Discussão

Observamos que 11% de todas as crian-ças analisadas não estavam em dia com a va-cinação. Ao avaliarmos separadamente cada UBSF, percebemos que a de maior atraso foi a de Santo Agostinho, seguida das UBSF de Nova Primavera e Vila Americana, respecti-vamente, enquanto a UBSF Volta Grande não apresentou Carteira de Vacinação em atraso.

Diante de tal situação, podemos relatar que a UBSF de maior atraso está em período de reforma, em local provisório e sem a ade-quada instalação, podendo esses ser conside-rados possíveis fatores para o maior atraso vacinal, já que a maioria das mães de crian-ças em atraso relatou dificuldade de acesso ao posto como motivo da falha vacinal. Como foi observado por Rahman et al. (1995), fatores estruturais relacionados aos serviços de saúde também podem ser considerados como agra-vantes do atraso vacinal. 16

Já as UBSF de Vila Americana e Nova Primavera são compostas por apenas 1 equipe de saúde, fator que pode ter contribuído com o atraso, uma vez que as equipes podem não estar sendo eficientes na integração com a população. Contudo, a UBSF Volta Grande, que apresenta melhor infraestrutura, boa localização e maior número de equipes, teve o melhor resultado.

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Considerando a faixa etária de crianças com carteiras de vacinação em atraso, anali-samos que a de maior prevalência foi a de 6 meses a 1 ano, valendo ressaltar a importância da vacinação nessa idade, já que é uma faixa etária bastante suscetível a infecções e, uma vez instalada a doença, a criança pode sofrer a incidência de danos irreversíveis ou letais. 2

Sobre a idade materna, segundo Tertuliano e Stein (2011), o maior percentual de atrasos ocorreu nos extremos de idade ma-terna.13 No presente estudo, constatou-se que a faixa etária materna dominante foi a de 26 a 30 anos, contradizendo os autores citados.

A respeito da escolaridade materna, ob-servamos que o maior percentil de atraso foi observado nos cartões de crianças cujas mães têm apenas de 4 a 7 anos de estudo, o que pode ser confirmado por outros estudos. 14, 15, 16, 17, 18

Para Silva et al. (1999), a baixa escolaridade materna é fator associado a maiores coeficien-tes de morbimortalidade infantil e pior desen-volvimento físico das crianças, além de contri-buir com maior número de faltas em consultas preventivas de puericultura. Com o aumento da escolaridade materna, há a tendência de di-minuição de crenças em superstições e expli-cações mágicas para as doenças, assim, mães com mais de 8 anos de escolaridade adaptam--se melhor à tecnologia médica e tendem a fazer uso mais efetivo dos serviços de saúde.9

A cobertura vacinal mostrou-se mais prejudicada em segmentos economicamente menos privilegiados da população, já que 91% das crianças em atraso pertenciam a famílias cuja renda era entre 1 e 2 salários mínimos. Além disso, percebemos que o maior número de irmãos da criança também foi um fator que contribui para a falha. Segundo Tertuliano e Stein (2011), alguns fatores como os citados podem levar as mães a não vacinarem ade-quadamente seus filhos, uma vez que essas enfrentam numerosas dificuldades diariamen-te tendo que cuidar dos trabalhos domésticos. Sua atenção muitas vezes fica centralizada na garantia da alimentação e na busca de trata-mento para os problemas de saúde. Em con-trapartida, as atividades preventivas não são tratadas como prioridade.13

Considerando a Tabela 2, podemos ob-servar que a maioria das doses de vacinas atra-sadas se deu com as vacinas Pneumocócica 10

e contra Rotavírus. De acordo com um estu-do realizado por Tertuliano e Stein (2011), as vacinas que apresentavam três doses ou mais para a imunização das crianças apresentam um percentual de atraso mais elevado, que justi-fica o atraso da vacina pneumocócica.13A ob-servação de atraso na aplicação das vacinas, especialmente das segundas doses e reforço, aponta a necessidade de melhoria das estraté-gias de busca de faltosos.

5. Conclusão

Após o término do presente estudo, po-demos notar que a cobertura vacinal nos pos-tos de saúde analisados ainda não é efetiva. Percebemos que o atraso vacinal de 11% nas UBSF avaliadas realmente se relaciona com os fatores de risco considerados, tais como, baixa renda familiar 12, maior número de fi-lhos 13, baixa escolaridade materna 14,15,16,17,18 e presença de doença na criança 19, entre outros. No entanto, nota-se a exceção do fator de risco relacionado à idade materna, uma vez que, em nossa análise, o maior percentual de atraso foi observado na faixa etária entre 26 e 30 anos, contrariando outros estudos citados. Além dis-so, notamos que a menor estrutura da UBSF e menor equipe de saúde, também contribuem para a falha do esquema vacinal.

O ato de vacinar implica em uma inte-ração entre os responsáveis pela criança e os serviços de saúde. O Ministério da Saúde su-gere algumas ações que devem ser seguidas para acabar com as perdas de oportunidades em vacinação.9

Sendo assim, para obtermos maior êxito na cobertura vacinal, cabe aos profissionais de saúde participar mais ativamente na busca de crianças em falta com a vacinação, através da revisão sistemática dos cartões, de uma maior efetividade nas visitas domiciliares, cabendo um maior comprometimento aos agentes de saúde. Outra estratégia para o aumento da co-bertura vacinal é a melhoria das atividades de educação em saúde, com o intuito de difundir informações aos grupos alvo, uma vez que a falta de conhecimento e crenças da população contribuem para o atraso vacinal. 9,13

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Anexo 1

Questionário

1 – Unidade de Saúde?

2- Idade Materna:

( ) < 15 anos ( ) 21 – 25 anos ( ) 31 – 40 anos ( ) 16 – 20 anos ( ) 26 – 30 anos ( ) > 45 anos

3- Escolaridade Materna (em número de anos estudados):

( ) Nenhum ( ) 4 – 7 anos ( ) > 12 anos ( ) 1 – 3 anos ( ) 8 – 11 anos

4 - Renda Familiar(em número de salários mínimos):

( ) < 1 salário ( ) 3 – 4 salários ( ) 1 – 2 salários ( ) > 4 salários

5 - Número de irmãos da criança:

6 - Idade da criança:

7- Sexo da criança:

8- Qual o motivo da falha vacinal?

( ) Esquecimento ( )Não foi informada da vacina corretamente ( ) A criança estava doente no dia ( ) Dificuldade de acesso ao posto( ) Outros: ___________________________________________

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6. Referências

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Endereço pra correspondência:Samara Guerra CarneiroEmail: [email protected]

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Considerações sobre a função renal no período perioperatório

Considerations on renal function in the perioperative period

Hellen Tatiane de Pontes¹Jady Elen de Pontes²Fábio dos Santos Martins Cosso³

Resumo:A lesão renal aguda é observada especialmente nas cirurgias de grande por-te, em especial nas cirurgias cardíacas, podendo sua prevalência atingir até 40,2% na população adulta no período pós-operatório imediato. Nesta re-visão, buscamos conhecer os aspectos fisiopatológicos envolvidos na lesão renal aguda, os critérios de classificação utilizados atualmente, fatores de risco associados para a disfunção no período pós-cirúrgico imediato e me-didas profiláticas. Para tanto, foram pesquisados artigos originais e revisões indexadas a base de dados Medline e Pubmed, compreendendo o período de janeiro de 2002 até junho de 2012, empregando-se os seguintes termos: acu-te kidney injury, acute renal failure e renal function evaluation. Verificamos que há necessidade de uso de novos biomarcadores associados aos níveis séricos de creatinina e débito urinário atualmente utilizados para o diagnós-tico, visto que a detecção precoce da lesão renal aguda por meio da creati-nina sérica é difícil de ser estabelecida. Há necessidade de mais estudos que estabeleçam profilaxia farmacológica no tratamento da lesão renal aguda. Medidas como um método padronizado para estratificação de pacientes que apresentam maiores riscos no período pré-operatório, estabelecimento de terapêutica adequada precoce no período perioperatório, introdução nos cri-térios diagnósticos de novos biomarcadores séricos e urinários serão úteis se utilizados em conjuntos para o manejo clínico adequado nesses pacientes.

Palavras-chave:

Função renal

Lesão renal aguda

Insuficiência renal aguda

Abstract:Acute kidney injury is observed especially in major surgeries, especially cardiac, its prevalence may reach up to 40.2% in the adult population in the immediate postoperative period. In this review, we seek to understand the pathophysiology involved in acute kidney injury, the classification criteria currently used, risk factors for dysfunction in the immediate postoperative period and prophylactic measures. For that, we researched original articles and reviews indexed in Medline and Pubmed, comprising the period from January 2002 to June 2012, using the following terms: acute kidney injury, acute renal failure and renal function evaluation. We found that there is a need to use new biomarkers associated with creatinine levels and urinary excretion currently used for diagnosis, since early detection of acute kidney injury by serum creatinine is difficult to be established. There is need for further studies to establish pharmacological prophylaxis in the treatment of acute kidney injury. Measures such as a standardized method for stratification of patients presenting risk in higher preoperative, early establishment of appropriate therapy during the perioperative period, the introduction of new diagnostic criteria serum and urine biomarkers will be useful for sets used in the appropriate clinical management in these patients.

Keywords

Renal function

Acute kidney injury

Acute renal failure

ArtigoOriginal

Original Paper

ISSN1809-9475

Recebido em 11/2012

Aprovado em 08/2013

1 Discente do Curso de Medicina - UniFOA – Centro Universitário de Volta Redonda

2 Discente do Curso de Medicina – FEPAR – Faculdade Evangélica do Paraná

3 Docente - UniFOA – Centro Universitário de Volta Redonda

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1. Introdução

A então denominada Lesão Renal Aguda (LRA) foi descrita, primeiramente, como ischu-ria renalis por William Heberden, em 1802. Já foi denominada também por Doença aguda de Bright, no início do século XX, e na Primeira Guerra Mundial como “nefrite de guerra”, e vem sendo estudada mais do que nunca nos úl-timos dez anos (EKNOYAN, 2002; DAVES; WELDON apud KIDGO, 2012).

A LRA representa um número de con-dições que irão afetar a estrutura e a função renal, sendo caracterizada por uma diminui-ção abrupta dessa função renal. É considerada como uma síndrome clínica de várias etiolo-gias, como, por exemplo, doenças renais espe-cíficas (ex.: nefrite intersticial aguda, doenças renais agudas glomerulares e vasculites), con-dições não específicas (isquemia, lesão por to-xicidade) e patologias extra-renais (azotemia pré-renal e nefropatia aguda obstrutiva pós--renal) (KIDGO, 2012).

A LRA pode ser observada no período pós-operatório imediato (POI) de diferentes ti-pos de cirurgias, sendo as de maior relevância intervenções de grande porte, expondo pacien-tes ao risco de comprometimento da qualidade de vida, maior tempo de hospitalização, à ne-cessidade de realização de terapia renal subs-titutiva ou até mesmo à morte (ZACHARIAS et al., 2008; ABELHA et al., 2009; PEREZ-VALDIVIESO et al., 2009; KOLLI et al., 2010, HOEFIELD et al., 2011).

A disfunção renal pós-operatória é ob-servada em pacientes com função renal pre-servada antes da cirurgia, bem como em indivíduos com algum grau de comprometi-mento anterior. Múltiplos fatores podem es-tar envolvidos no desenvolvimento da LRA no POI, podendo ser devido às condições em que se é submetido durante o procedimento cirúrgico ou por contribuição de condições prévias apresentadas pelo paciente que ofere-çam maior risco, somando-se as intervenções intra-operatórias (ZACHARIAS et al., 2008; PEREZ-VALDIVIESO et al., 2009; KOLLI et al., 2010).

A prevalência de LRA no POI pode che-gar aproximadamente a 40,2% na população adulta, dependendo do critério para definir a

LRA e a população estudada, constatando-se as maiores prevalências no POI de cirurgia cardíaca (AZEVEDO et al., 2008; HOSTE et al., 2008; JELDRES et al., 2008; PEREZ-VALDIVIESO, 2009; KOLLI et al., 2010; CHE et al., 2011).

Evidências sugerem o aumento da morta-lidade em indivíduos com comprometimento renal prévio que possuem aumento da creatini-na sérica após a cirurgia, bem como daqueles que necessitam de hemodiálise após a evolução para LRA no POI (PEREZ-VALDIVIESO et al., 2009; KOLLI et al., 2010).

Embora na literatura médica estejam descritos cerca de 35 procedimentos para avaliação da função renal, os estudos mais recentemente publicados vêm empregando o critério Acute Kidney Injury Network (AKIN), uma modificação do score RIFLE, validado em 2007. No critério AKIN, são levados em consideração os níveis séricos de creatinina e débito urinário, podendo-se classificar o paciente quanto ao grau de severidade da le-são em três níveis. Atualmente, a iniciativa KIDGO (Kidney Disease: Improving Global Outcomes) propôs pequenas alterações no critério AKIN (BELLOMO et al., 2007; METHA et al., 2007; AZEVEDO et al., 2008; JELDRES et al., 2008; ALKHUNAIZI et al., 2011; CHE et al., 2011; KDIGO, 2012).

O desenvolvimento de um método de pontuação prognóstica padronizado para o desenvolvimento de IRA no POI, como, por exemplo, o projeto AKICS score para pacien-tes de cirurgia cardíaca, seria útil para identifi-car os indivíduos com risco potencial visando a desenvolver essa complicação e estabelecer tratamento precoce (PALOMBA et al., 2007).

Segundo Hoefield et al. (2011), nos dias de hoje não existe nenhuma terapia farmacoló-gica específica para o tratamento da LRA. No entanto, é possível identificar os pacientes sob risco para o seu desenvolvimento, tornando possível a implementação de medidas profilá-ticas que minimizem os riscos.

A seguir, abordaremos os aspectos fisio-patológicos envolvidos na IRA, critérios de classificação utilizados atualmente, fatores de risco associados para a disfunção renal no período pós-cirúrgico imediato e medidas de prevenção para seu desenvolvimento.

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2. Metodologia

Para construção desta revisão, foram pesquisados artigos originais e revisões inde-xadas na base de dados Medline e Pubmed, compreendendo o período de janeiro de 2002 até junho de 2012 empregando-se os seguintes termos: acute kidney injury, acute renal failu-re e renal function evaluation.

3. Revisão de Literatura

Dada a participação dos rins na manuten-ção do equilíbrio hidroeletrolítico, excreção de produtos do metabolismo e compostos es-tranhos, em seu papel endócrino, na regulação da pressão arterial, manutenção do equilíbrio ácido-básico dentre outras funções, eis a im-portância da preservação da função normal desse órgão (GUYTON; HALL, 2011).

A LRA é uma desordem complexa que pode ocorrer em uma variedade de situações, com expressões clínicas que podem variar desde um leve aumento na creatinina sérica até insuficiência renal anúrica, com diminui-ção abrupta da função renal (METHA et al., 2007; BONVENTE; YANG, 2011).

Na insuficiência renal aguda ocorrem da-nos à capacidade de excreção renal e da ma-nutenção do equilíbrio hidroeletrolítico, bem como acúmulo de uréia e creatinina, podendo ou não ocorrer diminuição do débito urinário (AZEVEDO et al. 2008).

A redução do fluxo sanguíneo renal lo-cal ou generalizada representa a fisiopatologia da LRA, podendo ser ocasionada em diversos estados fisiopatológicos e por medicamentos. Alguns dos acontecimentos que podem levar a essa circunstância são os seguintes: síndrome hepatorrenal, depleção de volume intravascu-lar e hipotensão, diminuição efetiva do volu-

me intravascular, medicamentos, sepse, doen-ça vascular renal, dentre outros. Para todos esses fatores, a isquemia renal é a via comum e fator determinante para a manifestação da LRA (BONVENTE; YANG, 2011).

A função renal é mais satisfatoriamente avaliada por meio da estimativa do ritmo de filtração glomerular (RFG). Diversos métodos bioquímicos estão disponíveis atualmente, para avaliação da função renal por meio da es-timativa do RFG (KIDGO, 2012).

A IRA pode ser definida baseando-se num dos critérios descritos a seguir (METHA et al., 2007):

• aumento da creatinina sérica ≥ 0,3 mg/dL (≥ 26µmol/litro) dentro de 48 horas;

• aumento da creatinina sérica ≥ 50% (1,5 vezes a partir de um valor referência pre-viamente conhecido;

• débito urinário < 0,5 mL/Kg/h por mais de 6 horas consecutivas.

O valor de creatinina sérica utilizado como referência deverá ser o menor padrão mensurado nos últimos três meses e, no que tange ao método de detecção de lesão renal aguda por diminuição do débito urinário, esse deve ser utilizado com cautela, pois sua mensuração fora das unidades de cuidado intensivo pode não ser confiável, em consequência da possibilidade de ocorrência de lesão renal com oligúria e sem oligúria, sendo então, para tanto, im-portante o exame clínico (HOEFIELD et al., 2011).

Após determinação do estabelecimento da lesão renal, deve-se estratificar o paciente quanto ao grau de dano, exemplificado na ta-bela 1. Os dados fornecidos por essa tabela são modificações do critério Acute Kidney Injury Network (AKIN) para estratificação da lesão re-nal, propostos pela fundação “Kidney Disease: Improving Global Outcomes” (KDIGO) (METHA et al., 2007; KDIGO, 2012).

Tabela 1 - Classificação da lesão renal agudaEstágio Creatinina Sérica Débito Urinário

1 ↑ Creatinina ≥ 26 µmol/litro ou

↑ Creatinina ≥ 1,5-1,9 vezes desde o início

< 0,5 mL/Kg/Hora por mais que 6 horas consecutivas

2 ↑ Creatinina ≥ 2-2,9 vezes desde o início < 0,5 mL/Kg/Hora por mais que 12 horas

3 ↑ Creatinina ≥ 3 vezes desde o início ou

↑ Creatinina de 354 µmol/litro ou terapia renal substitutiva, independente da fase

< 0,3 mL/Kg/Hora por mais que 24 horas ou anúria por 12 horas

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A prevenção da lesão renal deve ser con-siderada em duas instâncias: primeiro, deve-se evitar a ocorrência da lesão e, em segundo lu-gar, prevenir a progressão após lesão já esta-belecida (HOEFIELD et al., 2011).

Os fatores de risco para a disfunção re-nal são de natureza multifatorial, a considerar: idade > 75 anos, doença renal crônica prévia em estágio 3 (RFG < 60 mL/min/1.73m2), doença hepática, diabetes mellitus, insuficiên-cia cardíaca, doença aterosclerótica vascular periférica, rabdomiólise, uso de fármacos ne-frotóxicos, hipotensão, sepse, hipovolemia, administração de contrastes (pouco importan-te em indivíduos sem lesão renal prévia) e in-dução anestésica (ZACHARIAS et al., 2008; HOEFIELD et al., 2011).

Atenção especial deve ser dada a popula-ção idosa, que está mais propensa a apresentar disfunção renal pós-operatória devido, especial-mente, a três fatores: pela diminuição da função renal devido à idade, por serem portadores de comorbidades que se somam para o prejuízo da função renal e uso de diversos medicamentos (AZEVEDO et al., 2008; MODIG et al., 2011).

A indução anestésica levando a uma hipo-tensão e predispondo o paciente a uma isque-mia renal, somando-se ao procedimento cirúr-gico em si (alguns apresentam maiores riscos), com grandes perdas sanguíneas podem contri-buir para o prejuízo da função renal, bem como por fatores prévios do paciente (AZEVEDO et al., 2008; ZACHARIAS et al., 2008).

A exposição a alguns fatores pode desen-cadear o desenvolvimento da LRA, tais como os seguintes (KIDGO, 2012):

• Sepse• Doença crítica• Choque circulatório• Queimaduras• Trauma• Cirurgia cardíaca (especialmente com cir-

culação extracorpórea)• Cirurgia grande não cardíaca• Drogas nefrotóxicas• Agentes de radiocontraste• Plantas e animais venenosos

Alguns indivíduos, e algumas condições desses, também são mais susceptíveis e devem ser mais monitorados (KIGDO, 2012):• Desidratação e depleção de volume• Idade avançada• Sexo feminino• Raça negra• Doença renal crônica• Doenças crônicas (cardíacas, pulmonares,

hepáticas)• Diabetes mellitus• Câncer • Anemia

De acordo com Zacharias et al. (2008), não existem evidências claras na literatura de alguma medida eficaz para proteção renal durante a cirurgia. Em sua revisão intitulada “Intervenções para proteção renal no período perioperatório” foram verificadas a eficácia de várias medidas preconizadas para proteger os rins no período perioperatório.

A lesão renal aguda tem como conse-quências alterações nos líquidos corporais, eletrólitos, equilíbrio ácido base e regulação hormonal, resultando em anormalidades no sistema nervoso central, imune e de coagula-ção (KIDGO, 2012).

4. Resultados e Discussão

Pequenas elevações nos níveis séricos e creatinina podem estar associados à mortali-dade. No entanto, suas explicações não estão totalmente claras, podendo ser devido aos efeitos adversos da função renal diminuída, como, por exemplo, sobrecarga de volume, re-tenção de corpos urêmicos, acidose, distúrbios eletrolíticos, aumentos do risco de infecção e anemia (KIDGO, 2012).

No estudo de Che et al. (2010), o uso de cinco biomarcadores séricos e urinários para a detecção precoce de LRA em pacientes sub-metidos a cirurgia cardíaca eletiva, se mostra-ram úteis em detrimento dos parâmetros ba-seados apenas nos níveis séricos de creatinina.

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Outros estudos tentam avaliar de diver-sas maneiras a função renal com objetivo de detecção, o mais precocemente possível, por meio de diversos biomarcadores, tais como Cistatina-C, níveis urinários de neutrófilos ge-latinase associada lipolina (NGAL), interleu-cina-18 (IL-18), proteína de ligação do retinol (RBP), N-acetil-β-glicosaminidase (NAG), α1-microglobulina, sE-selectina, sICAM-1, oxigênio estável e isótopos de hidrogênio no plasma, dentre outros (DEHNE et al., 2008, EAGLESTONE; ELLIS, 2009; CHE et al., 2010; KIDGO, 2012; KUO et al., 2012).

A taxa de filtração glomerular, entretanto, é mais amplamente aceita como o melhor indí-cio da função renal, embora essa seja estimada a partir de marcadores endógenos filtrados, como a creatitina. Porém, sabe-se que a detecção pre-coce da LRA e a maioria dos casos somente são diagnosticados após aumentos significativos na creatinina sérica (KIDGO, 2012).

Marcadores tais como o débito urinário, em algumas situações, podem não ser confiá-veis, tais como a sepse, que é a condição mais comum associada à LRA em unidades de tera-pia intensiva, que pode alterar a função renal sem gerar alterações características nos índi-ces de urina (KIDGO, 2012).

Para Lassnigg et al. (2004), nos pacientes submetidos a cirurgia cardíaca, um aumento dos níveis de creatinina ≥ 0,5 mg/dL (≥ 44,2 µmol/L) ou uma diminuição > 0,3 mg/dL (> 26,5 µmol/L) foi associado com pior sobrevi-da, diferentemente dos padrões estabelecidos para a classificação da LRA.

Múltiplas definições são descritas na lite-ratura, levando a diferentes incidências e taxas de mortalidades nos pacientes, porém, a defi-nição mais amplamente aceita surgiu a partir do critério RIFLE, que passou, nos últimos anos, por algumas modificações.

Foi comprovado que, quando rins de ma-míferos são submetidos à isquemia quente e por período prolongado, seguindo-se de re-perfusão, ocorre necrose extensiva e destrui-ção dos túbulos proximais na parte externa da medula renal (KIDGO apud SHANLEY et al., 1986), podendo explicar possivelmente lesões renais por isquemia nas grandes cirurgias.

No estudo de Feng et al. (2010), a técnica de baixa pressão venosa central com o objetivo de di-minuir perdas sanguíneas não prejudicou a função

renal em pacientes submetidos a transplante de fígado em relação a pacientes submetidos a transplante por meio de técnica usual.

De acordo com Fischer et al. (2002), ape-nas os pacientes com função renal normal no período operatório que tiveram cirurgias com menor tempo de duração em circulação extra-corpórea apresentaram função renal normal no período pós-operatório em relação àqueles em iguais condições que permaneceram em cir-culação extracorpórea por tempo superior. Os pacientes que permaneceram em maior tempo com pressão arterial média < 60 mmHg apre-sentaram disfunções renais pós-operatórias.

Notamos que a maioria das publicações relacionadas a procedimentos cirúrgicos e asso-ciação com LRA abrange mais frequentemente as cirurgias cardíacas. Poucos estudos falam da associação entre outros procedimentos cirúrgi-cos mais comuns e frequentes e LRA.

Em suma, para a redução da morbida-de e mortalidade por LRA pós-operatória é importante o desenvolvimento de vários métodos em conjunto para seu manejo clí-nico adequado, a considerar-se: um método padronizado para estratificação de pacientes que apresentam maior risco no período pré--operatório, estabelecimento de terapêutica adequada precoce no período perioperatório, introdução nos critérios diagnósticos de novos biomarcadores séricos e urinários que permi-tam a identificação precoce de LRA.

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Fatores de risco e soroprevalência da brucelose em assentamento rural no município de Aragominas - TO, Brasil

Risk factors and soroprevalence of brucelosis in rural area in the district of Aragominas, Tocantins - Brazil.

Márcio Pedrote CarvalhoLuciana Sant`Ana SouzaJair Antonio CarvalhoBruno Medrado Araújo

Resumo:Foi realizado um estudo descritivo transversal ou de prevalência, com o ob-jetivo de identificar a positividade de reações sorológicas para brucelose em bovinos, em projeto de assentamento do Município de Aragominas, Estado do Tocantins, Brasil, no ano de 2008. Neste estudo a amostra foi constituída de 198 bovinos submetidos à provas sorológicas para brucelose. Conforme pre-conizado pelo Programa de Controle e Erradicação da Brucelose e Tubercu-lose - PNCEBT, as provas realizadas foram, de triagem a prova do Antígeno Acidificado Tamponado (AAT), realizada no laboratório de Fundação de Me-dicina Tropical e confirmatória a prova de 2 mercaptoetanol (2 ME), realizada no laboratório de Microbiologia da Universidade Federal do Tocantins - UFT. Fatores relacionados à transmissão da brucelose foram observados com a fi-nalidade de avaliar o potencial da região em apresentar animais soropositivos, onde constatou - se um elevado risco para brucelose. O índice de ocorrência de aborto é bem pequeno, pois 91,9% alegaram não observar tal problema nos últimos 12 meses, fato esse que pode ser justificado pela baixa frequência de animais soropositivos para brucelose bovina encontrada no projeto de assen-tamento (0,5%), o que sugere sucesso das ações propostas pelo Programa de Controle da doença, exigidas nos últimos quatro anos.

Palavras-chave:

Animais soropositivos

Defesa Agropecuária

Provas Sorológicas

Zoonoses

Abstract:It was performed a transversal descriptive study or prevalence, with the purpose of identifying the positivity of sorological reactions for brucellosis in bovines, in a rural site project in the District of Aragominas, State of Tocantins, Brazil, in the year of 2008. In this study the sample was formed by 198 bovines under sorological tests for brucellosis. According to what is preconized by the Control and Eradication Program for Brucellosis and Tuberculosis, the tests performed were selection for Tamponated Acidified Antigenous Test (AAT), performed in the laboratory of Tropical Medicine Foundation and confirmation for 2 Mercaptoctanol test (2 ME), performed in the Microbiology Laboratory of Tocantins Federal University (UFT). Factors related to brucellosis transmission were observed with the purpose of assessing the region potential in presenting soropositive animals, where it was shown a high risk for Brucellosis. The aborption occurrence level is quite small, so 91,9% haven't observed such a problem in the last 12 months. This fact can be justified by the low frequency of soropositive animals for bovine brucellosis found in the rural site project (0,5%), what suggests success in the actions proposed by the Disease Control Program, requested in the last four years.

Keywords:

Agropecuary Defense

Soropositive Animals

Sorological Tests

Zoonosis

ArtigoOriginal

Original Paper

ISSN1809-9475

Recebido em 12/2012

Aprovado em 08/2013

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1. Introdução

A brucelose é uma enfermidade infec-ciosa que causa graves perdas econômicas na produção animal e na saúde pública pelo acometimento de seres humanos. A presença dessa doença em uma região ou país resulta em custos diretos ou indiretos para as proprie-dades rurais e para indústria animal, tais como redução no preço da carne, do leite e deriva-dos; desvalorização dos produtos para merca-do externo; altos custos com pesquisas, pro-gramas de controle e erradicação (LAUAR, 1983; TEIXEIRA et al.,1998).

Causada por bactérias do gênero Brucella sp a brucelose é uma doença de características zoonóticas. Encontra-se amplamente distri-buída no mundo, sendo que os animais atuam como hospedeiros primários, essenciais para a persistência dos focos de infecção, e os seres humanos como hospedeiros acidentais, termi-nais, pouco eficientes na perpetuação da mes-ma (WHO, 1986; USABIAGA, 2001).

No gênero brucella, se reconhecem, atualmente, seis espécies: B. melitensis, B. abortus, B. suis, B. neotomae, B. ovis e B. ca-nis. As três primeiras, denominadas clássicas são subdivididas em biovares, que se distin-guem por diferenças de características bioquí-micas, de comportamento ou ambas, frente a soros mono específicos A. (abortus) e M. (me-litensis) (LUCERO et al., 2003).

A infecção dos bovinos se dá por via di-gestiva, por meio de alimento contaminado com Brucella sp, tais como: feto abortado, envoltórios fetais e descargas vaginais. A transmissão entre rebanhos acontece quan-do se adquire animais infectados de outros rebanhos, proximidade de rebanhos infecta-dos, que compartilham pastagem e animais que se alimentam de outro em decomposição (RADOSTITS et al. 2000).

Estudos têm avaliado a importância do touro na difusão da brucelose, com demons-tração clara de que nos bovinos em monta na-tural a transmissão venérea tem pouca impor-tância (CAMPERO, 1993). Já na inseminação artificial, a contaminação pode-se instalar com maior frequência, se o doador estiver infectado (LANGENEGGER, 1992; POESTER, 1997).

Conforme os dados oficiais divulga-dos pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), estudos realizados en-tre 1988 e 1998 indicaram uma prevalência de animais soropositivos para brucelose no Brasil variando entre 4% e 5% (BRASIL, 2003).

Outros estudos mais recentes com bovi-nos de aptidões variadas (leite, carne e mista), mostram uma soroprevalência em rebanhos bovinos variando de 10,6% a 82,0% e em ani-mais do mesmo rebanho, variando entre 1,9% a 10,2% (TOCANTINS, 2000; RIBEIRO et al., 2003; MATO GROSSO, 2004; MONTEIRO et al., 2006).

Em rebanhos leiteiros, as frequências de infecção pela detecção de anticorpos contra B. abortus, no Brasil, podem variar de 1,22%, conforme Poletto et al. (2004) realizando es-tudo em Passo Fundo - Rio Grande do Sul; a 16,49%, conforme trabalho de Palmquist (2001) no estado do Paraná.

Em alguns trabalhos, tem sido observado que há mais chances de ocorrência da infecção por brucelose em sistemas de exploração de corte, como os apresentados por Poester et al. (2002) e Monteiro et al. (2006), em que os re-banhos de corte tiveram 2,82 vezes mais chan-ces de apresentar a doença que os rebanhos lei-teiros, o que possivelmente estaria relacionado ao maior fluxo de entrada e saída de animais da propriedade nesse tipo de exploração.

Em rebanhos bovinos, a brucelose pro-voca aborto, causa esterilidade temporária ou permanente, repetição de cio e perdas na produção de leite por mastites específicas (LAUAR, 1983). Estima em 25% de perda em produção de leite, bem como em 15% de perda na produção de bezerros (BRASIL, 2006)

Lucas (2006), trabalhando com rebanhos leiteiros com prevalência de 0,06% para os es-tados de Minas Gerais e Goiás, e de 3,0% para Santa Catarina e Rio Grande do Sul, calculou o impacto econômico da brucelose nesses re-banhos e obteve o percentual do prejuízo em reais na receita total por ano de 5% a 13%, res-pectivamente, para as duas regiões. Prejuízo esse que assume proporções elevadas na ren-tabilidade do produtor.

A resposta imunológica em animais pós--infecção ou vacinação é produzida a partir da

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primeira semana, aparecendo, em primeiro lu-gar, o isotipo IgM e, logo após, o IgG1. As respostas de IgG2 e IgA aparecem mais tarde, aumentam gradativamente, mas permanecem em níveis baixos. A observação por períodos prolongados da resposta humoral em animais infectados demonstra que há um leve decrés-cimo dos níveis de IgM, enquanto que os de IgG1 permanecem altos, inalterados. A IgG2 e IgA permanecem em níveis mais baixos e estáveis (BRASIL, 2006).

A observação por período prolongado em animais vacinados com B19, quando vacinados até 8 meses, demonstra que o nível de anticor-pos decresce rapidamente, atingindo títulos in-feriores a 25 UI depois de 12 meses. Por outro lado, se a vacinação for realizada acima de 8 meses de idade, os títulos vacinais tendem a permanecer elevados por mais tempo, podendo gerar reações falso - positivas nos testes indire-tos de diagnóstico (BRASIL, 2006).

A vacinação contra brucelose, atualmen-te, mais utilizada no Brasil é a B19, composta com uma amostra de B. abortus lisa, isolada do leite de uma vaca Jersey em 1923, que de-pois de acidentalmente esquecida por mais de um ano à temperatura ambiente perdeu viru-lência, sendo utilizada como vacina desde a década de 1930. A B19 é atenuada para fê-meas jovens e pode, no entanto, causar orquite em machos e aborto se administrada durante a gestação (BRASIL, 2006).

Por ser uma amostra lisa de B. abortus, induz formação de anticorpos específicos con-tra o LPS liso e pode interferir no diagnóstico sorológico da Brucelose, causando a grande maioria dos falsos positivos no teste de soroa-glutinação (ALTON, 1975). Uma vez que a persistência desses anticorpos esta relacionada à idade de vacinação, se as fêmeas forem vaci-nadas com a idade superior a 8 meses, há gran-de probabilidade da produção de anticorpos perdurar e interferir no diagnóstico da doença após os 24 meses de idade. Com a vacinação efetuada até os 8 meses de idade, tais anticor-pos desaparecem e os animais com idade su-perior a 24 meses são totalmente negativos às provas sorológicas (BRASIL, 2006).

Outro tipo de vacina é a RB 51, que foi elaborada de uma amostra de B. abortus rugosa atenuada, originada da amostra lisa virulenta 2308, uma mutante rugosa que so-

freu passagens sucessivas em meio contendo concentrações subinibitórias de rifampicina. Possui características de proteção semelhantes às da B19, porém, por ser uma amostra rugosa, não induz a formação de anticorpos anti-LPS liso (aglutinantes), não interferindo assim no diagnóstico sorológico da doença (BRASIL, 2006; LORD, 1998).

Dentre os testes sorológicos mais comu-mente utilizados para o diagnóstico da bru-celose, destacam-se o Antígeno Acidificado Tamponado (AAT) como prova de triagem e o 2–Mercaptoetanol (2 ME) que é mais espe-cífico como prova confirmatória.

O AAT é preparado com o antígeno na concentração de 8%, tamponado em pH áci-do (3,6) e corado com Rosa de Bengala. Essa acidificação do antígeno reduz a atividade da IgM, tornando a prova seletiva para identifica-ção da subclasse IgG1. A maioria dos soros de animais bacteriologicamente positivos apre-senta reação a essa prova, porém, possui uma grande sensibilidade com a vacina B19. É uma prova qualitativa, pois não indica o título de anticorpos do soro testado, detecta com maior precocidade as infecções recentes (BRASIL, 2006; CASAS OLASCOAGA, 1976).

O 2 ME é uma prova quantitativa sele-tiva que detecta somente a presença de IgG no soro, que é imunoglobulina indicativa de doença crônica (BRASIL, 2006). A prova fun-damenta-se na ação de certos compostos que contém o radical tiol (2 ME), que degradam a configuração da IgM pentamérica em subuni-dades, determinando, assim, a perda de sua ati-vidade aglutinante. Esse processo torna o teste sensível às aglutinações estabelecidas por toda a classe IgG (CASAS OLASCOAGA,1976). Nicoletti (1980) afirma que a prova de 2 ME gera reações falso-positivas em menor quanti-dade do que o AAT.

Nos testes indiretos quantitativos, existe sempre um ponto de corte, ou seja, um deter-minado título de anticorpos, a partir do qual o teste é considerado positivo. Os valores de sensibilidade e especificidade de um deter-minado teste dependem do ponto de corte e estão inversamente relacionados. Se o ponto de corte do teste diagnóstico for modificado para aumentar a sensibilidade, a especificida-de diminuirá. De maneira inversa, se o ponto de corte do teste diagnóstico for modificado

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para elevar a especificidade, haverá perda de sensibilidade (BRASIL, 2006).

No Brasil, durante a década de 70, se consolidou a necessidade do controle da brucelose. Assim, em 1976, o Ministério da Agricultura aprovou a Portaria 23/76, na qual se estabelece o controle nacional desta doença (BRASIL, 1976).

No entanto, as medidas adotadas por essa Portaria foram consideradas pouco efetivas, não conseguindo desenvolver um programa estruturado que criasse estímulo para que os criadores adotassem as medidas necessárias ao controle e erradicação da brucelose. Isso se traduziu na pouca variação dos indica-dores da enfermidade no período analisado, com registro de 4,9% em 1975, cujas cifras variaram entre 2,5%, na região Nordeste, até 7,5%, na região Sudeste; enquanto em 1998, o estimado foi entre 4% e 5% (BRASIL, 1988). Por esse motivo, no ano de 2001, o Ministério da Agricultura e Abastecimento publicou uma portaria, na qual se instituiu o Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal (PNCEBT), com previsão de implantação gra-dativa até 2003 (BRASIL, 2001).

Dentre as mudanças previstas no PNCEBT, estava a vacinação obrigatória, a declaração de vacina de fêmeas bovinas de três a oito meses, e adoção da prova do Antígeno Acidificado Tamponado como teste de triagem, bem como, da prova do 2-mecap-toetanol como teste confirmatório. Medidas que representam avanços quando relacionadas ao que previa a legislação anterior, ou seja, o diagnóstico sorológico da brucelose baseado apenas na prova de soroaglutinação em placa, a qual pode apresentar problema tanto de falta de sensibilidade quanto de falta de especifici-dade (MURAKAMI, 2003).

Por ser uma zoonose, a brucelose em rebanhos resulta em infecções humanas. Na maioria das vezes, quando a enfermidade não é tratada na fase aguda, o custo crônico da doença no homem produz perdas econômicas

de vulto. Essas perdas estão relacionadas com custo de diagnósticos e tratamento, muitas vezes requerendo internações prolongadas. Além disso, não deve ser esquecido o custo do período decorrente da ausência do trabalho (BRASIL, 2006).

As informações sobre a brucelose humana em países do Continente Americano são escas-sas, provavelmente devido à falta de diagnósti-co e a subnotificação, no entanto, dados de 20 países das Américas, obtidos durante os anos de 1994 e 1998, relatam 29.132 casos em huma-nos (USABIAGA, 2001). No entanto, na maio-ria desses países, se estima que as estatísticas oficiais não reflitam a cifra real de pessoas com a doença, havendo um sub-registro que varia entre 10 e 25 vezes os valores reais, o que tem sido atribuído, em parte, a erros diagnósticos ou a falta de declaração, e, consecutivamente, ausência de fluxo através do sistema de infor-mação (ALVAREZ et al., 2000).

Em pesquisa realizada pelo Centro Pan-americano de Febre Aftosa (2000), foi en-fatizado como um dos determinantes mais frequentes para o aparecimento de casos de brucelose humana, a baixa cobertura vacinal em bovinos.

Pouco se conhece sobre a prevalência de brucelose no rebanho tocantinense, principal-mente em assentamentos rurais que têm ca-racterísticas de grande fluxo de animais entre propriedades e consumo de leite e derivados por parte dos assentados. Para tanto, foi rea-lizado este estudo com o objetivo de estudar a prevalência de brucelose no rebanho bovi-no, fatores de risco associados a essa enfer-midade e avaliar a efetividade das ações do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose – PNCEBT.

O presente trabalho tem como objetivo Avaliar a efetividade das ações propostas pelo Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose – PNCEBT. Através de Estudo dos fatores de risco e a pre-valência de soropositividade para brucelose em bovinos.

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2. Metodologia

2.1. Área de estudo

O estudo foi realizado em um assentamento no Município de Aragominas - TO, distante 62 km ao noroeste de sua sede. A cidade possui lo-calização geográfica entre latitude - 07°09’42”S e longitude - 48°31’42” W. O município conta com uma área de 1.173 km², vegetação predomi-nante de floresta amazônica, clima tropical, ín-dice pluviométrico anual 1.700 mm e população bovina de 69.681 animais.

2.2. Amostragem

Foi realizado um estudo descritivo trans-versal ou de prevalência (BENSEÑOR & LOTUFO, 2005; MEDRONHO et al., 2006), onde foram amostradas todas as propriedades do assentamento com rebanho que, segundo a ADAPEC - Agência de Defesa Agropecuária do Tocantins, conta com um efetivo bovino de 3.156 cabeças.

Foram estimados dois níveis de preva-lência da brucelose bovina: a prevalência em propriedade, a qual será considerada positiva a existência de apenas um animal, e a prevalência em animais soropositivos.

Na prevalência para animais soropositivos, considerando-se a escassez de dados represen-tativos regionais, para conferir maior exatidão e representatividade, foi utilizada a maior taxa prevalência para o país a partir de dados ofi-ciais do Ministério da Agricultura (5%) com o acréscimo de possíveis perdas com a utilização pela adoção de método de amostragem proba-bilística estratificada, usando, dessa forma, uma estimativa de prevalência da infecção de 15%. Foram adotados erro máximo de 5% e grau de confiança de 95% da prevalência (SAMPAIO, 2007), tendo-se obtido o número aproximado de 196 animais.

Foram adotados os seguintes critérios de inclusão de animais na pesquisa: serem fê-meas, terem idade superior ou igual 24 meses, apresentarem–se fora do intervalo de 15 dias antes e 15 dias após o parto, segundo norma-tização do PNCEBT, e estarem em condições de normalidade.

2.3. Obtenção da amostragem

As amostras sanguíneas dos animais fo-ram obtidas após a leitura e consentimento do proprietário, para a inclusão da propriedade na colheita de sangue, e essa foi realizada em animais aleatoriamente escolhidos, sendo co-lhidas de 15 a 20 ml de sangue, por meio de punção da veia jugular, em tubos vacutainer sem anticoagulante. Essas amostras foram posteriormente centrifugadas e os soros san-guíneos obtidos foram estocados em tubos ep-pendorf a uma temperatura de 20° negativos e, posteriormente, submetidos aos testes de diagnóstico de Brucelose.

Para procedimentos de identificação de amostras colhidas, foi utilizado um código de identificação contendo uma letra “B” o que identifica a amostra proveniente da espécie bo-vina, numeração de “01 a 57” identificando o número da propriedade (lote) do assentamento em conformidade à numeração realizada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA, e, por fim, a numeração que identifica o animal. Adotou-se também uma planilha de identificação e caracteriza-ção dos animais amostrados, contendo dados como idade, número de parições, ocorrência de aborto e vacinações contra enfermidades da esfera reprodutiva.

2.4. Testes de diagnóstico

Como teste de triagem, foi realizada a prova de soroaglutinação pelo Antígeno Acidificado Tamponado (rosa bengala), con-forme preconizado pelo Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal - PNCEBT (BRASIL, 2001). Os soros reagentes ao teste de triagem foram submetidos à prova confirmatória de 2 ME (2-mercaptoetanol).

A prova de Antígeno Acidificado Tamponado (AAT) foi realizada no labora-tório da Fundação de Medicina Tropical - FMT, sendo o teste confirmatório de 2-mer-captoetanol (2 ME) realizado em laboratório da Universidade Federal do Tocantins - UFT, seguindo protocolo preconizado pelo manual técnico do PNCEBT (BRASIL, 2001).

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Os resultados dos testes de diagnósti-cos para a prova de Antígeno Acidificado Tamponado - AAT foram positivos, negativos e inconclusivos, posteriormente, foram subme-tidas às amostras positivas e inconclusivas no AAT, à prova confirmatória de 2-mercaptoeta-nol, obtendo resultados positivos e negativos. Posteriormente, foi classificada como positiva a propriedade que apresentou pelo menos um animal positivo à prova confirmatória, e nega-tiva aquela que apresenta todos os animais com resultados negativos nas provas sorológicas.

2.5. Questionário

Foi aplicado um questionário, de forma simultânea à coleta das amostras em cada pro-priedade rural, preferencialmente ao proprie-tário ou, na ausência desse, a um funcionário da propriedade, o qual abordava fatores sócio--demográficos, manejo sanitário do rebanho, tipo de produção e consumo de leite e deriva-dos “in natura”.

2.6. Análise estatística

Os dados coletados, questionários, termos de consentimento e planilhas de identificação foram armazenados em um banco de dados no Laboratório de Pesquisa em Medicina Tropical.

Os dados coletados foram digitados no programa Microsoft Excel, criando um banco de dados.

3. Resultados

O Assentamento é constituído por 57 propriedades rurais, que apresentavam, segun-do dados da ADAPEC, um efetivo de 3.156 animais da espécie bovina, distribuídos em 37 propriedades, estando assim 20 propriedades sem efetivo bovino. A média de tamanho dos lotes do assentamento está em torno de dez al-queires. O tipo de atividade predominante é a pecuária.

Com relação aos aspectos sócioeco-nômicos, foi observada uma renda familiar mais frequente de um a dois salários mínimos (62,2%), seguida de até um salário mínimo (35,1%), e com menor frequência de dois a três salários mínimos (2,7%).

O grau de escolaridade encontrado mais frequentemente em trabalhadores rurais, que lidam diretamente com bovinos, foi o de pri-meiro grau incompleto (73,0%), seguido de não alfabetizados (10,8%), e o menos frequen-te de segundo grau incompleto (2,7%).

O sistema de exploração pecuária predo-minante foi a bovinocultura de aptidão mista com uma porcentagem de 78,4%, seguido da exploração leiteira e corte com um número mais reduzido. Em relação ao tipo de criação quanto ao manejo dos animais, o que se desta-cou foi a criação extensiva.

Das propriedades, 83,8% (N=31) produz leite, nenhuma possui ordenha tecnificada e não efetua mais de uma ordenha por dia. O lei-te produzido no assentamento em grande parte é consumido nas propriedades; 74,2%, alguns produtores produzem e comercializam o quei-jo, e apenas 12,9% entregam leite a laticínios.

Todas as propriedades consomem leite e derivados, as que não produzem adquirem em propriedades próximas; 43,2% consomem queijo fresco, feito com leite in natura; 21,6% consomem leite in natura.

Com relação á comercialização de carne bovina no assentamento, a maior parte dos produtores abate seus animais na propriedade (51,4%), seguido de abate em estabelecimento com inspeção veterinária, e dos que não aba-tem animais.

Grande parte destes produtores comer-cializa seu rebanho com outros produtores do próprio assentamento e com comerciantes de gado que passam por varias propriedades comprando e vendendo animais. O fluxo de fê-meas é frequente em todas as idades, sendo o de animais, no terço final de gestação, bastante significativo.

Quando perguntados sobre a ocorrência de aborto nos últimos 12 meses na proprie-dade, 8,1% relaram a ocorrência e 91,9% a ausência de abortos. No que diz respeito à manipulação de fetos e qual o destino des-ses, 89,2% relataram que deixavam no local e 10,8% que manipulavam para enterrar.

Dos 37 produtores questionados, todos relataram fazer movimento de rebanho bovino mediante a emissão de documento zoossanitário (Guia de Transito Animal - GTA) emitido pela Agência de Defesa Agropecuária - ADAPEC.

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O aluguel de pasto em determinadas épo-cas do ano é uma prática muito frequente com 51,4% das propriedades realizando essa ativi-dade, 40,6% das propriedades tem pasto em comum com outras propriedades.

Com relação à reprodução bovina, o sis-tema de monta natural está presente em todas as propriedades, portanto, das propriedades trabalhadas, nenhuma utiliza a inseminação artificial como método de reprodução.

Os proprietários na totalidade (N=37) afirmam que realizam a vacinação contra bru-celose em fêmeas bovinas, e que todas são rea-lizadas por vacinador cadastrado na ADAPEC. A vacinação contra brucelose é amplamente praticada no assentamento, 16,2% dessas rea-lizam apenas uma vacinação anual e 83,8% realizam duas vacinações por ano.

Com relação à idade de vacinação dos animais, 70,3% dos produtores possuem co-nhecimento do que é preconizado pelo progra-ma de controle que é a vacinação de fêmeas de 3 a 8 meses, e 94,6% deles realizam a marca-ção com ferro candente.

A forma em que a vacina é adquirida pelos produtores é praticamente a mesma na grande maioria das vezes: 97,3% das proprie-dades realizam a aquisição através do vacina-dor e 2,7% realizam a aquisição da vacina na loja com o receituário emitido pelo médico ve-terinário, como prevê o programa de controle, não sendo identificadas outras formas de aqui-sição de vacinas. Não houve relato de realiza-ção de exames no período da aquisição de ani-mais e introdução na propriedade, tampouco exames de rotina realizados pelos produtores.

No planejamento para a colheita das amostras, o número mínimo obtido por meio do cálculo do tamanho da amostra foi 196 ani-mais, foram colhidos soros de 198 animais de 37 propriedades de um projeto de assentamen-to de em Aragominas; 07 apresentaram resul-tados inconclusivos ou positivos para prova de Antígeno Acidificado Tamponado, os mesmos pertenciam a cinco propriedades.

Posteriormente, essas amostras foram en-caminhadas para o teste confirmatório, conforme recomendado pelo PNCEBT, quando se obteve o resultado positivo para um animal de uma pro-priedade. Com esse resultado, a soroprevalên-cia em animais do assentamento foi de 0,50% (1/198) e em propriedades de 2,70% (1/37).

Essa propriedade possui tipo de explo-ração extensiva com aptidão para leite, com quatro animais de raça mestiça em lactação, produzindo em media 15 litros/dia, retirados em uma única ordenha diária, a maior quanti-dade do leite era destinada a um laticínio que recolhe leite da região e também ao consumo da propriedade.

Para animais de abate, o destino decla-rado pelo proprietário é o de estabelecimento com inspeção veterinária, porém, é declarada a compra e a venda de fêmeas para reprodução, o proprietário também aluga pasto em alguma época do ano, além de possuir área de pasto comum com outras propriedades. De acordo com o proprietário, não existe ocorrência de aborto nos últimos doze meses, e quando hou-ve tal problema, o produtor evitou a manipu-lação do mesmo, deixando tal animal no local em que se encontrava.

4. Discussão

Os dados obtidos através do questionário aplicado aos produtores rurais do projeto de assentamento, os quais possuíam efetivos bo-vídeos em suas propriedades, foram essenciais para se conhecer a realidade da região estuda-da, dentre eles, as variáveis sócioeconômicas, o potencial da região, os fatores de risco para bru-celose e o grau de conhecimento da população local, observando assim o risco de transmissão da doença entre bovinos ou mesmo ao homem.

Em relação aos aspectos socioeconômi-cos, chama muito a atenção, a elevada frequên-cia (35,1%) de renda familiar dos produtores com menos que um salário mínimo, além da maior frequência (62,2%) de renda familiar de um a dois salários mínimos, o que nos mostra a baixa remuneração dos produtores, colocando--os em condição de vulnerabilidade, em que as principais fontes de renda são a produção leitei-ra e a venda de crias para outras propriedades. Fatores esses, quando não controlados podem representar risco para a disseminação e manu-tenção de doenças infecciosas como a brucelose (BRASIL, 2006; RADOSTITS et al. 2000).

O índice de analfabetismo é relativamen-te alto (10,8%), tal como a quantidade de pro-dutores com o ensino fundamental incompleto (73,0%), essa baixa escolaridade é relatada

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como fator de risco para a transmissão de doen-ças infecciosas, como apresentado por Godoy & Meira (2007), podendo assim, influenciar na compreensão das ações de controle, prevenção da doença em animais e nos comportamentos de proteção frente à disseminação de enfermi-dades para seres humanos.

O tipo de exploração pecuária mais fre-quentemente encontrado na região foi a mis-ta, que se caracteriza pela criação de animais de corte e leite, havendo também, um alto fluxo de compra e venda de animais, possi-bilitando assim a transmissão entre rebanhos (RADOSTITS et al., 2000; POESTER et al., 2002; MONTEIRO et al.,2006).

O sistema de criação presente em todas as propriedades trabalhadas foi o extensivo, que por um lado dificulta a transmissão, devido à baixa densidade de animais por área; por ou-tro, motivado pela não observação sistemática do rebanho e ambiente, a brucelose pode não ser detectada, pela dificuldade de observação imediata de sinais clínicos da doença como, por exemplo, esterilidade temporária ou perma-nente, repetição de cio, perdas na produção de leite e aborto de vacas prenhes no terço final da gestação, podendo expor outros animais a fetos abortados, envoltórios fetais ou mesmo descargas vaginais ricas em bactérias do gênero brucella (RADOSTITS et al. 2000; LAUAR, 1983; BRASIL, 2006).

Das propriedades analisadas, foi obser-vada grande frequência com produção leiteira ativa, todas com a obtenção do leite por meio de ordenha manual, mostrando a baixa tecnifi-cação das propriedades. Quanto à destinação do leite produzido no assentamento, apenas 12,9% o entrega ao laticínio, que por sua vez efetua o tratamento térmico necessário para inativação da Brucella sp. (OMS, 1986; BRASIL, 2003), outros 12,9% declararam que produzem quei-jo fresco, feito a partir do leite in natura, tendo assim, um grande potencial de disseminação da doença a humanos (FREITAS, 2002). 74,2% dos produtores que produzem leite consomem essa produção na propriedade ou comercializam parte dessa produção em propriedades vizinhas.

O consumo desse leite, dentro do assen-tamento, é feito, na maioria das vezes, cozido (74,2%), o que pode ser considerado um fator de grande importância, pois de acordo com Brasil (2006) ocorre inativação da bactéria pelo

calor. No entanto, ainda se observa aspectos culturais influenciando numa possível transmis-são da doença, pois 25,8% alegaram consumir o leite in natura, pelos mais diversos motivos, podendo ser um importante fator de risco para a brucelose humana (BRASIL, 2006).

Já o consumo de queijo fresco se reve-lou muito habitual, 43,2% das propriedades declararam consumir o queijo produzido no assentamento, podendo assim haver a infec-ção por Brucella para esses indivíduos, deter-minando a transmissão a humanos, se durante o processo não forem observadas normas de produção, como o tratamento térmico do leite (FERREIRA, 2002; FREITAS, 2002).

Em relação ao destino de animais para abate, se observou uma menor frequência de destinação de animais para abate em estabeleci-mentos inspecionados, a maior frequência fica para o abate na própria propriedade, o que pode trazer risco de infecção para as pessoas que cui-dam da manipulação desses animais (BOYD et al. 1930; MAGNUSSON, 1933).

Outro aspecto investigado foi a comer-cialização de fêmeas, em que se observa uma alta frequência de compra e venda no terço fi-nal de gestação; esses animais, se infectados, podem contribuir com a disseminação da doen-ça (RADOSTITS et al. 2000; CAMPOS et al. 2003; BRASIL, 2006).

No assentamento há um alto fluxo de animais entre propriedades, por apresentar elevado percentual de proprietários que fazem uso de aluguel de pasto para apascentar seus animais em determinadas épocas do ano. Há também, com 40,6%, o uso de pasto comum a outras propriedades, havendo, portanto, au-mento de risco pela proximidade de rebanhos (RADOSTITS et al. 2000).

A ocorrência de aborto nos últimos 12 meses foi relativamente baixa, o aborto é mui-to presente quando ocorre a entrada da doença em um rebanho e, posteriormente, se apresenta com uma frequência baixa, sendo considerado um sintoma clássico da ocorrência da brucelo-se em rebanhos (CAMPOS et al., 2003).

Outro fator importante foi à destinação e manipulação de fetos abortados e restos de parição, mesmo os que não registraram aborto nos últimos 12 meses foram questionados, nos quais 10,8% alegaram manipular fetos aborta-dos com a finalidade de enterrar esses animais,

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o que seria de muita valia para a interrupção da transmissão entre bovinos, porém, se não forem tomadas medidas de proteção indivi-dual necessárias, pode ocasionar na infecção do manipulador (CAMPAÑA et al., 2003). Já 89,2% alegam deixar no local, não fazendo nenhum tratamento do ambiente, podendo as-sim contribuir para a manutenção do ciclo da doença entre animais (CAMPOS et al., 2003). Não houve registro de produtores que quei-mam a carcaça de fetos abortados no local, sendo esse o processo mais indicado pela ina-tivação das bactérias através alta temperatura (BRASIL, 2006).

Com relação às ações previstas no PNCEBT, a vacinação de bezerras na faixa de 3 a 8 meses de idade é uma medida compul-sória (BRASIL, 2006) que vem sendo pratica-da em todas as propriedades, por vacinadores capacitados e cadastrados junto ao serviço de defesa sanitária estadual, sendo efetuada em 83,8% dessas propriedades, duas vezes ao ano, e em 16,2%, apenas uma vez ao ano. Nos casos em que a vacinação é realizada uma vez ao ano, podem ser justificados pela baixa quantidade de animais de algumas propriedades, bem como da sazonalidade de partos em determinados pe-ríodos do ano. A cobertura vacinal é uma das importantes ferramentas para o controle dessa enfermidade, pois, quando se encontra baixa, torna-se um fator preponderante para o apare-cimento de casos humanos (CENTRO PAN-AMERICANO DE FEBRE AFTOSA, 2000).

O grau de conhecimento da população no que diz respeito à realização da vacinação contra brucelose, de certa forma, é satisfatório, tendo em vista que 70,3% conhecem a faixa etária cor-reta para a aplicação da vacina nas bezerras, e o restante conhece o limite superior de idade de vacinação (8 meses) , porém, afirmaram que o limite inferior seria o de quatro meses. Com rela-ção à marcação das bezerras com ferro candente, 94,6% a realiza, o que nos mostra o cumprimen-to pela grande maioria das normas do PNCEBT.

A vacinação é efetuada através de vacina-dores treinados e cadastrados pelo serviço de defesa, peças fundamentais para o bom anda-mento do programa de controle, por viabilizar, de forma mais simples, a aquisição da vacina, garantir o transporte, acondicionamento e sua correta aplicação. Das 37 propriedades, 97,3% adquirem vacinas através do vacinador e 2,7%

adquirem diretamente da loja com receituário do Médico Veterinário.

A soroprevalência, obtida no assenta-mento para a brucelose, foi baixa, tanto para número de animais quanto para número de propriedades com a doença, o que mostra uma boa adesão dos produtores ao programa de controle, principalmente, com relação à vacinação de fêmeas, conforme já mencio-nado acima. Essa prevalência está abaixo das observadas na região centro-oeste, sendo de 6,8% dos animais testados positivos em 1975 (BRASIL, 2006); no Rio Grande do Sul, que após uma campanha de vacinação bem suce-dida observou uma diminuição considerável na soropositividade de seu rebanho, passando de 2,0% em 1975, para 0,3% em 1986; e no Paraná, de 9,6%, em 1975 para 4,6% em 1989 (BRASIL, 2006).

A variabilidade da prevalência de bruce-lose bovina é muito grande, dependendo não só de fatores de risco, mas também da adesão ao programa de controle da doença por parte dos produtores de cada região. Estudos mais recen-tes com bovinos de aptidões variadas mostram uma soroprevalência em rebanhos bovinos variando de 10,6% a 82,0% e em animais do mesmo rebanho, variando entre 1,9% a 10,2% (TOCANTINS, 2000; RIBEIRO et al., 2003; MATO GROSSO, 2004; MONTEIRO et al., 2006), em rebanhos leiteiros, as frequências podem variar de 1,22%, conforme Poletto et al. (2004) realizando estudo em Passo Fundo - Rio Grande do Sul, a 16,49%, conforme traba-lho de Palmquist (2001) no estado do Paraná.

Apenas uma propriedade apresentou um único bovino soropositivo ao teste de rotina (AAT), bem como ao teste confirmatório (2 ME). Essa propriedade possui tipo de explo-ração extensiva com aptidão para leite, com quatro animais de raça mestiça em lactação, produzindo em media 15 litros/dia, retirados em uma única ordenha diária; fatos esses que, além de propiciarem a transmissão da doença de animal para animal, podem infectar seres humanos por meio da ingestão de leite ou de-rivados sem tratamento térmico (OMS, 1986; BRASIL, 2003). Tal produção tem como des-tino um laticínio que recolhe leite da região, no qual é efetuada a pasteurização destruindo a brucella sp. O leite consumido na proprie-dade é feito apenas cozido, o que contribui

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para evitar a contaminação, pela ingestão, por parte dos moradores (BRASIL, 2006). Porém, o produtor, eventualmente, produz e consome queijo fresco na propriedade, o que eleva o ris-co de contaminação de humanos, consideran-do que o queijo fresco é produzido a partir do leite in natura, podendo apresentar bactérias do gênero brucella (FREITAS, 2002).

Para animais de abate, o destino mais comum é o de estabelecimento com inspeção Veterinária, porém, é declarada a compra e venda de fêmeas para reprodução, aluguel de pasto em alguma época do ano, além da pre-sença de área de pasto comum a outras pro-priedades, sendo que esses fatores que podem contribuir para a transmissão da doença na re-gião (RADOSTITS et al., 2000; CAMPOS et al., 2003). De acordo com o proprietário, não existe ocorrência de aborto nos últimos doze meses e que, quando houve tal problema, o pro-dutor evitou a manipulação do mesmo, deixan-do tal animal no local em que se encontrava, o que também pode contribuir para a transmis-são da doença entre animais (CAMPOS et al., 2003). Apesar de enviar os animais de abate para o destino correto, todos os outros fatores contribuem à disseminação da doença, poden-do alguns deles até ser o responsável pelo caso positivo identificado no presente trabalho.

5. Conclusão

A maior parte dos produtores rurais do projeto de assentamento no município de Aragominas possui baixa escolaridade, baixa renda familiar o que pode colocar essas famí-lias em condições de vulnerabilidade.

Há presença de fatores de risco para a transmissão da doença entre animais no as-sentamento, cabendo destacar o alto fluxo de animais entre propriedades, seja por compra e venda, seja por aluguel de pasto ou pelo uso de pastagens comuns. Para seres humanos, tam-bém há a presença de fatores de risco sendo mais comum o consumo de leites e derivados in natura.

A frequência de animais soropositivos para a brucelose no projeto de assentamento do município de Aragominas foi baixa, o que se deve em grande parte a alta cobertura va-cinal de bovinos, demonstrando uma grande adesão e efetividade do Programa de Controle e Erradicação de Brucelose e Tuberculose.

A não utilização de testes diagnósticos na aquisição, introdução de animais ou como rotina das propriedades é uma limitação para o moni-toramento, controle e erradicação da Brucelose.

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Métodos radiográficos de localização: contornando as limitações da bidimensionalidade

Radiographic methods of localization: bypassing the limitations of the bidimensionality

Jairo Conde Jogaib1

Alcemar Gasparini Netto2

Roberta Mansur Caetano3 Matheus Figueiredo Mendes4

ResumoO exame radiográfico convencional é o método de diagnóstico por imagem mais utilizado na prática odontológica, porém, fornece uma imagem bidimensional de uma estrutura tridimensional, com ausência da profundidade e ocorrendo sobreposição das imagens radiográficas de estruturas contíguas. O objetivo deste trabalho foi avaliar o conhe-cimento de 100 cirurgiões-dentistas sobre os métodos radiográficos de localização, utilizando questionário com 10 perguntas, 05 objetivas e 05 subjetivas. Concluímos que o método de Clark é o mais conhecido e utilizado, mas com alta porcentagem de erros em sua interpretação por parte dos entrevistados, mesmo entre os que disseram saber inter-pretar o método.

Palavras-chave:

Radiografia dental;

Dente supranumerário;

Endodontia

AbstractThe conventional radiographic examination is the method of diagnostic by imaging most used in dental practice, however, it provides a two-dimensional image of a three-dimensional structure, with lack of depth and some overlapping of radiographic images of contiguous structures. The aim of this work was to evaluate the knowledge of 100 dentists about the radiographic methods of location using a questionnaire with 10 questions, 05 objective and 05 subjective. We conclude that the Clark’s method is the most known and used, but with a high percentage of errors in its interpretation by the interviewees, even among those who said they know how to interpret the method.

Key words:

Dental radiography;

Supernumerary tooth;

Endodontics

1 Doutor em Radiologia; Profº Responsável Disciplinas Imaginologia I e II do Curso de Odontologia do Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA; Vice-Presidente do Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA

2 Especialista em Radiologia e Estomatologia; Mestrando em Ciências da Saúde e Meio Ambiente; Profº Assistente Disciplinas Imaginologia I e II, Estomatologia e Semiologia do Curso de Odontologia do Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA

3 Doutoranda em Radiologia; Mestre em Radiologia e Imaginologia; Profª Assistente Disciplinas Imaginologia I e II do Curso de Odontologia do Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA

4 Discente do Curso de Odontologia do Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA

ArtigoOriginal

Original Paper

ISSN1809-9475

Recebido em 05/2013

Aprovado em 08/2013

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1. Introdução

Apesar da existência de métodos de diagnóstico recentes e inovadores, como os sistemas digitais, tomografias computado-rizadas e ressonância magnética nuclear, o exame radiográfico convencional é o método de diagnóstico por imagem mais utilizado na prática odontológica. Esse, porém, fornece uma imagem bidimensional de uma estrutura tridimensional, com ausência da profundidade e ocorrendo sobreposição das imagens radio-gráficas de estruturas contíguas, dificultando a interpretação. Para solucionar esse incon-veniente, pesquisadores desenvolveram va-riadas técnicas de fácil execução, possíveis de serem realizadas no próprio consultório, proporcionando a localização radiográfica de corpos estranhos, tumores, cistos, dentes não irrompidos, reparos anatômicos e dissociação de condutos radiográficos. O objetivo deste trabalho foi avaliar o conhecimento dos cirur-giões-dentistas sobre os métodos radiográficos de localização.

2. Revisão Bibliográfica

De acordo com Cruz et al.(2009), a radio-grafia é o meio mais utilizado e indispensável para o diagnóstico e planejamento, durante e após o tratamento de um caso em Odontologia. No entanto, o exame radiográfico intrabucal apresenta algumas limitações, uma vez que fornece uma imagem bidimensional de uma estrutura tridimensional com sobreposição de estruturas contíguas, por isso, foram criados métodos radiográficos de localização de cor-pos estranhos, dentes não irrompidos, dentes supra-numerários, tumores, cistos, dissocia-ção de condutos radiculares, entre outros.

Nos consultórios odontológicos, os pro-fissionais podem utilizar procedimentos de localização radiográfica que contribuem para determinar os procedimentos de acesso ci-rúrgico, como na remoção de caninos supe-riores não irrompidos, na qual é de grande importância determinar a sua proximidade com as tábuas ósseas vestibular ou palatina. Contribuem também, segundo Gonçalves et al.(2001), na localização de terceiros molares

inferiores não irrompidos, elucidando sua re-lação com o canal mandibular.

Alguns pesquisadores desenvolveram técnicas que posteriormente ficaram conheci-das como métodos radiográficos de localiza-ção. Freitas et al.(1994) e Panella (2006) des-creveram alguns desses métodos:

- Método de Clark: consiste na realização de duas incidências radiográficas periapicais, modificando apenas a angulação horizontal do feixe de raios X em uma delas. O tubo de raios X se deslocará para mesial ou distal, a estrutu-ra que acompanhar seu deslocamento está lo-calizada por palatina em relação às estruturas vizinhas, e a estrutura que se deslocar no sen-tido oposto está localizada por vestibular em relação às estruturas vizinhas. Indicado para localização de dentes não irrompidos, corpos estranhos e processos patológicos, reparos anatômicos, dissociação de raízes e condutos radiculares.

- Método de Miller-Winter: utiliza duas tomadas radiográficas, uma periapical e uma oclusal utilizando filme periapical. Indicado para localização de dentes não irrompidos (geralmente o 3º molar inferior), corpos estra-nhos, processos patológicos na mandíbula.

- Método de Donovan: é uma modificação ao método de Miller-Winter e também utiliza duas tomadas radiográficas, uma periapical e uma oclusal com filme periapical posicionado sobre o ramo ascendente da mandíbula, com sua borda anterior apoiada sobre a superfície mésio-oclusal do 2º molar inferior. Indicado para localização de terceiros molares inferio-res não irrompidos com retenção transversal no processo alveolar.

- Método de Parma: utiliza uma radio-grafia periapical com o filme inclinado, com sua borda disto-inferior próxima do assoalho bucal, que deve ser dobrada para não causar desconforto ao paciente. Indicado quando a radiografia periapical convencional não regis-trar inteiramente o 3º molar inferior.

- Método de Le Master: utiliza uma ra-diografia periapical com um rolete de algodão preso a face ativa do filme radiográfico, para melhorar as condições de paralelismo entre os longos eixos do filme e dente e diminuir a angulação vertical da incidência dos raios X, eliminando a sobreposição da imagem do processo zigomático da maxila sobre os ápices

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radiculares dos molares superiores. Indicado para visualização das raízes dos molares supe-riores sem sobreposição do processo zigomá-tico da maxila.

3. Metodologia

Foi realizada uma pesquisa de campo com cem cirurgiões-dentistas, recém-formados ou experientes, especialistas ou não, que consen-tiram que os dados colhidos por meio de um questionário, pudessem ser utilizados no traba-lho para verificar seus conhecimentos sobre os métodos radiográficos de localização. O ques-tionário constou de 10 perguntas, 05 objetivas e 05 subjetivas. Os cirurgiões-dentistas fo-ram escolhidos aleatoriamente e não foram levadas em consideração a idade, naturalidade, faculdade em que concluiu a graduação.

4. Resultados e Discussão Teórica

Dos cem cirurgiões-dentistas que respon-deram aos questionários, 22% eram clínicos gerais e 78% especialistas - em ortodontia (12%), endodontia (12%), prótese (5%), perio-dontia (5%), cirurgia bucomaxilofacial (4%), odontopediatria (4%), implantodontia (4%), dentística (3%), %), patologia bucal (1%), mais de uma especialidade (26%) (Gráfico 1). Desses, 15% apresentavam menos de 5 anos de formados, 18% entre 5 e 10 anos, 16% en-tre 10 e 15 anos, 15% entre 15 e 20 anos, 11% entre 20 e 25 anos, 13% entre 25 e 30 anos e 12 % mais de 30 anos.

Gráfico 1 - Distribuição dos entrevistados

Apenas dois métodos radiográficos de localização foram citados pelos entrevistados, Clark e Le Master, 51% e 4% respectivamen-te, quando foi possível perceber desconheci-mento dos entrevistados, que citaram várias técnicas radiográficas intra-orais e extra-orais e não métodos radiográficos de localização. O mesmo aconteceu quando foi perguntado qual o método os profissionais entrevistados mais empregam e 43% responderam o método de Clark, também citando várias técnicas radio-gráficas intra-orais e extra-orais e não métodos radiográficos de localização. É possível que, na clínica diária, vários métodos sejam empre-gados sem que os profissionais os associem a seus respectivos nomes.

Apesar de 84% dos entrevistados pos-suírem aparelho de raios X no consultório, quando necessitam utilizar métodos radiográ-ficos de localização, 41% realizam no próprio consultório, 47% solicitam de clínicas de ra-diologia e 12% realizam no consultório e/ou solicitam de clínicas de radiologia. Essa alta porcentagem de exames solicitados às clínicas de radiologia pode ser explicada pela dificul-dade de interpretação radiográfica.

Quando foi perguntado para qual espe-cialidade odontológica julgava mais impor-tante a utilização dos métodos radiográficos de localização, 35% desses profissionais res-ponderam para todas as especialidades, sendo algumas mais citadas, como a cirurgia, endo-dontia, ortodontia e implantodontia.

O método de Clark é o mais conhecido entre todos os métodos para localização de es-truturas. 85% dos entrevistados responderam saber interpretar esse método (Gráfico 2), mas, por meio de uma situação clínica apresentada no questionário, verificamos que apenas 51% responderam corretamente e 49% erraram ou não souberam responder (Gráfico 3). Cruz et al.(2009) também encontraram alta porcenta-gem de erros de interpretação dessa técnica, 44% dos clínicos gerais e 26% dos especia-listas. Isso nos leva a concluir que os profis-sionais possam estar cometendo erros em pro-cedimentos odontológicos, em função de uma interpretação errônea do recurso radiográfico.

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Gráfico 2 - Pergunta: Sabe interpretar o método de Clark?

Gráfico 3 - Interpretação do método de Clark através de caso apresentado

4. Conclusões

Podemos concluir que o método radio-gráfico de localização mais conhecido é o de Clark, mas com alta porcentagem de erros em sua interpretação, mesmo entre os profissio-nais que dizem saber interpretar o método, deixando assim margem para erros durante os procedimentos odontológicos em que esse se faça necessário.

5. Referências Bibliográficas

1. BOTTICELLI, S. et al. Two versus three dimensional imaging in subjects with unerupted maxillary canines. European Journal of Orthodontics, v.33, p. 344-349, 2011.

2. CRUZ, L.P. et al. Grau de conhecimento dos cirurgiões-dentistas sobre os métodos radiográficos de localização. RGO, Porto Alegre, v.57, n.3, p.269-272, jul/set. 2009.

3. DENARDI, C.A.S. Estudo sobre os métodos de localização radiográfica. Piracicaba, 2002.

4. FREITAS, A.; ROSA, J.E.; SOUZA, I.F. Radiologia Odontológica. 3ª edição, Porto Alegre, Artes Médicas, 1994. 680p.

5. GONÇALVES, M. et al. Avaliação de métodos de localização radiográfica para o clínico geral – parte II. Revista da Faculdade de Odontologia, Passo Fundo, v.6, n.1, p.53-57, jan./jun. 2001.

6. PANELLA, J. Fundamentos de Odontologia. Radiologia Odontológica e Imaginologia. 1ª edição, Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2006. 358p.

7. SETTANNI, C.E.P. Estudo comparativo das Técnicas radiográficas de Clark e de Keur com a tomografia linear no diagnóstico topográfico do dente canino superior impactado. J Bras Ortodon Ortop Facial, v. 9, n.51, p. 235-41, 2004.

8. SILVA, D.N. et al. Métodos radiográficos no diagnóstico de quartos molares mandibulares. RFO, Porto Alegre, v.12, n.2, p.79-83, maio/agosto 2007.

Endereço autor responsável:Roberta Mansur [email protected]

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Cadernos UniFOA é uma publica-ção quadrimestral arbitrada. Visa sustentar um espaço editorial de natureza inter e multi-disciplinar. Publica prioritariamente pesquisas originais e contribuições de caráter descritivo e interpretativo, baseadas na literatura recente, bem como artigos sobre temas atuais ou emer-gentes e comunicações breves sobre temas relevantes e inéditos desenvolvidos em nível de Graduação, e Pós-graduação Lato e Stricto Sensu. Seleção de artigos: na seleção de ar-tigos para publicação, avaliam-se a originalida-de, a relevância do tema e a qualidade da meto-dologia científica utilizada, além da adequação às normas editoriais adotadas pelo periódico. Revisão por pareceristas: todos os artigos publicados são revisados por parece-ristas resguardado o anonimato dos autores para uma avaliação mais acurada. Ineditismo do material: o conteúdo do material enviado para publicação na Revista Cadernos UniFOA não pode ter sido publicado anteriormente, nem submetido para publicação em outros locais. Para serem publicados em ou-tros locais, ainda que parcialmente, necessitam aprovação por escrito dos Editores. Os concei-tos e declarações contidos nos trabalhos são de total responsabilidade dos autores. Direitos Autorais: ao encaminhar um original à revista, os autores devem estar cientes de que, se aprovado para publicação, os direitos autorais do artigo, incluindo os de reprodução em todas as mídias e formatos, de-verão ser concedidos exclusivamente para a Revista Cadernos UniFOA. Para tanto é soli-citado ao autor principal que assine declaração sobre o Conflito de interesses e Transferência de Direitos Autorais e envie para Editora FOA - Campus Três Poços - Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325, Três Poços, Volta Redonda - RJ. CEP: 27240-560. (Conferir anexo).

Serão aceitos trabalhos para as seguintes seções:

(1) Revisão - revisão crítica da literatura sobre temas pertinentes à saúde pública (máximo de 10.000 palavras); (2) Artigos - resultado de pesquisa de natureza empírica, experimental ou conceitual (máximo de 10.000 palavras); (3) Notas - nota prévia, relatando resultados parciais ou preliminares de pesquisa (máximo de 2.000 palavras); (4) Resenhas - resenha crítica de livro relacionado ao campo temático de CSP, publicado nos últimos dois anos (máximo de 1.200 palavras); (5) Cartas - crítica a artigo publicado em fascículo anterior do Cadernos UniFOA – Pós-graduação ou

nota curta, relatando observações de campo ou laboratório (máximo de 1.200 palavras); (6) Artigos especiais – os interessados em contribuir com artigos para estas seções deverão consultar previamente o Editor: (7) Debate - artigo teórico que se faz acompanhar de cartas críticas assinadas por autores de diferentes instituições, convidados pelo Editor, seguidas de resposta do autor do artigo principal (máximo de 6.000 palavras); (8) Fórum - seção destinada à publicação de 2 a 3 artigos coordenados entre si, de diferentes autores, e versando sobre tema de interesse atual (máximo de 12.000 palavras no total). O limite de palavras inclui texto e referências bibliográficas (folha de rosto, resumos e ilustrações serão considerados à parte).

Apresentação do Texto:

Serão aceitas contribuições em português ou inglês. O original deve ser apresentado em espaço duplo e submetido eletronicamente, fonte Arial ou Times New Roman, tamanho 12, com margens superiores de 3,0 cm e as demais em 2,5 cm. Entre linhas deve-se respeitar o espaçamento de 2,0 cm. Deve ser enviado com uma página de rosto, onde constará título completo (no idioma original e em inglês) e título corrido, nome(s) do(s) autor(es) e da(s) respectiva(s) instituição(ões) por extenso, com endereço completo apenas do autor responsável pela correspondência. Notas de rodapé não serão aceitas.

Ilustrações: as figuras deverão ser enviadas em alta qualidade, em preto-e-branco e/ou diferentes tons de cinza e/ou hachuras. Os custos adicionais para publicação de figuras em cores serão de total responsabilidade dos autores. É necessário o envio dos gráficos, separadamente, no formato do programa em que foram gerados (SPSS, Excel, Harvard Graphics etc.), acompanhados de seus parâmetros quantitativos, em forma de tabela e com nome de todas as variáveis. Também é necessário o envio de mapas no formato WMF, observando que os custos daqueles em cores serão de responsabilidade dos autores. O número de tabelas e/ou figuras deverá ser mantido ao mínimo (máximo de sete tabelas e/ou figuras).

Resumos: Com exceção das contribuições enviadas às seções Resenha ou Cartas, todos os artigos submetidos em português deverão ter resumo na língua principal e em inglês. Os artigos submetidos em inglês deverão vir acompanhados de resumo

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em português, além do abstract em inglês. Os resumos não deverão exceder o limite de 500 palavras e deverão ser acompanhados de 3 a 5 palavras-chave.

Nomenclatura: devem ser observadas rigidamente as regras de nomenclatura zoológica e botânica, assim como abreviaturas e convenções adotadas nas disciplinas especializadas.

Pesquisas envolvendo seres humanos: A publicação de artigos que trazem resultados está condicionada ao cumprimento dos princípios éticos contidos na Declaração de Helsinki (1964, reformulada em 1975, 1983, 1989, 1996 e 2000), da World Medical Association (http://www.wma.net/e/policy/b3.htm), além do atendimento a legislações específicas (quando houver) do país no qual a pesquisa foi realizada. Artigos que apresentem resultados de pesquisas envolvendo seres humanos deverão conter uma clara afirmação deste cumprimento (tal afirmação deverá constituir o último parágrafo da seção Metodologia do artigo). Em caso de dúvida e em não havendo Comitê especializado na IES de origem, o(s) autor(res) pode(m) entrar em contato com [email protected] (Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos) para maiores esclarecimentos e possível envio da pesquisa para avaliação neste.

Agradecimentos - Contribuições de pessoas que prestaram colaboração intelectual ao trabalho como assessoria científica, revisão crítica da pesquisa, coleta de dados entre outras, mas que não preencham os requisitos para participar de autoria devem constar dos “Agradecimentos”. Também podem constar desta parte agradecimentos a instituições pelo apoio econômico, material ou outros.

Referências: as referências devem ser identificadas indicando-se autor(es), ano de publicação e número de página, quando for o caso. Todas as referências devem ser apresentadas de modo correto e completo. A veracidade das informações contidas na lista de referências é de responsabilidade do(s) autor(es) e devem seguir o estabelecido pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

Exemplos:

1 Livro:

MOREIRA FILHO, A. A. Relação médico paciente: teoria e prática. 2. ed. Belo Horizonte: Coopmed Editora Médica, 2005.

2 Capítulo de Livros:

RIBEIRO, R. A.; CORRÊA, M. S. N. P.; COSTA, L. R. R. S. Tratamento pulpar em dentes decíduos. In:

CORRÊA, M. S. N. P. Odontopediatria na

primeira infância. 2. ed. São Paulo: Santos, 2005. p. 581-605.

3 Dissertação e Tese:

EZEQUIEL, Oscarina da Silva. Avaliação da acarofauna do ecossitema domiciliar no município de Juiz de Fora, estado de Minas Gerais, Brasil. 2000. Dissertação (Mestrado em Biologia Parasitária)___FIOCRUZ, Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2000.

CUPOLILO, Sonia Maria Neumann. Reinfecção por Leishmania L amazonensis no modelo murino: um estudo histopatológico e imunohistoquímico. 2002. Tese (Doutorado em Patologia)___FIOCRUZ, Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2002.

4 Artigos:

ALVES, M. S.; RILEY, L. W.; MOREIRA, B. M. A case of severe pancreatitis complicated by Raoultella planticola infection. Journal of Medical Microbiology, Edinburgh, v. 56, p. 696-698, 2007.

COOPER, C. W.; FALB, R. D. Surgical adhesives. Annals of the New York Academy of Sciences, New York, v. 146, p. 214-224, 1968.

5 Documentos eletrônicos:

INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER (Brasil). Estimativa 2006: incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro, 2006. Disponível em: <http://www.inca.gov.br/ >. Acesso em 4 ago. 2007.

Envio de manuscritos:

Os artigos deverão ser enviados exclusivamen-te pelo sistema de avaliação através do link www.unifoa.edu.br/cadernos/ojs, seguindo os padrões especificados anteriormente.

OBS: Se professor do UniFOA, informar em quais cursos leciona.

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UniFOA Reports is a six-monthly journal that publishes original publishes ori-ginal research and contributions of descriptive character, based in recent literature, as well as articles on current or emergent subjects and brief communications on developed excellent and unknown subjects in level of Lato and Stricto Sensu pos graduation programs. The journal accepts articles for the following sections: (1) Literature reviews - critical reviews of the literature on themes pertaining to public health (maximum 10,000 words); (2) Articles - results of empirical, ex-perimental, or conceptual research (maximum 8,000 words); (3) Research notes - short com-munications on partial or preliminary resear-ch results (maximum 2,000 words); (4) Book reviews - critical reviews of books related to the journal’s thematic field, published in the last two years (maximum 1,200 words); (5) Letters - critiques of articles published in previous issues of the journal or short notes reporting on field or laboratory observations (maximum 1,200 words); (6) Special articles - authors interested in contributing articles to this section should consult the Editor in ad-vance; (7) Debate - theoretical articles accom-panied by critiques signed by authors from different institutions at the Editor’s invitation, followed by a reply by the author of the prin-cipal article (maximum 6,000 words); and (8) Forum - section devoted to the publication of 2 or 3 interrelated articles by different authors, focusing on a theme of current interest (maxi-mum 12,000 words for the combined articles). The above-mentioned maximum word limits include the main text and biblio-graphic references (the title page, abstracts, and illustrations are considered separately). Presentations of Papers

Contributions in Portuguese or English are welcome. The original should be double--spaced and submitted eletronically, using Arial or Times New Roman size 12 font with 2.5cm margins. All manuscripts should be submitted with a title page, including the complete title (in the original language and English) and running title, name(s) of the author(s) and institutional affiliation(s) in full and the complete address for the corresponding author only. All manuscripts should be submitted with a diskette or CD contai-ning the article’s file and identifying the software program and version used (Windows-compatible programs only). Footnotes will not be accepted. Authors are required to send a letter informing whether the article is being submitted for the first time or re-submitted to our Secretariat. When sending a second version of the article, one print copy should be sent, to-

gether with the diskette or CD. Illustrations: figures should be sent in a high-quality print version in black-and--white and/or different tones of gray and/or hachure. Any additional cost for publication of color figures will be covered entirely by the author(s). Graphs should be submitted sepa-rately in the format of the program in which they were generated (SPSS, Excel, Harvard Graphics, etc.), accompanied by their quanti-tative parameters in table form and with the names of all the variables. Maps should also be submitted in WMF format, and the cost of colored maps will be covered by the author(s). Maps that have not been generated electroni-cally must be submitted on white paper (do not use tracing paper). Tables and/or figures should be kept to a minimum (maximum se-ven tables and/or figures). Abstracts: with the exception of contributions submitted to the Book review or Letters sections, all manuscripts submitted in Portuguese should include an abstract in both the principal language and English. Articles submitted in English should include an abs-tract in Portuguese, in addition to the English abstract. The abstracts should not exceed 250 words and should include 3 to 5 key words. Nomenclature: rules for zoological and botanical nomenclature should be strictly followed, as well as abbreviations and con-ventions adopted by specialized disciplines. Research involving Ethical Princi-ples: publication of articles with the results of research involving human beings is conditio-ned on the ethical principles contained in the Helsinki Declaration (1964, revised in 1975, 1983, 1989, 1996, and 2000), of the World Medical Association (http://www.wma.net/e/policy/b3.htm), in addition to complying with the specific legislation (when existing) of the country in which the research was performed. Articles presenting the results of research in-volving human beings must contain a clear statement of such compliance (this statement should be the last paragraph of the article’s Methodology section). After acceptance of the article for publication, all the authors are re-quired to sign a form provided by the Editorial Secretariat of UniFOA Reposts – Pos gradua-tion stating their full compliance with the spe-cific ethical principles and legislation. Acknowledgements: Contributions of people, grants and institutions must consist the section of Acknowledgements. Declaration: the main author must send, by post office, declaration on the Conflict of Interests and Transference of Copyrights.

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References

References should be numbered con-secutively according to the order in which they appear in the manuscript. They should be identified by superscript Arabic numerals (e.g., Oliveira1). References cited only in ta-bles and figures should be numbered accor-ding to the last reference cited in the body of the text. Cited references should be listed at the end of the article in numerical order. All references should be presented in correct and complete form. The veracity of the informa-tion contained in the list of references is the responsibility of the author(s).

Examples:

a) Periodical articlesHedberg B, Cederborg AC, Johanson M. Care-planning meetings with stroke sur-vivors: nurses as moderators of the com-munication. J Nurs Manag, 15(2):214-21, 2007.b) Institution as authorEuropean Cardiac Arrhythmia Society - 2nd Annual Congress, April 2-4, 2006, Marseille, France.Pacing Clin Electrophysiol. Suppl 1:S1-103, 2006.c) Without author specificationRubitecan: 9-NC, 9-Nitro-20(S)-campto-thecin, 9-nitro-camptothecin, 9-nitrocamp-tothecin, RFS 2000, RFS2000. Drugs R D. 5(5):305-11, 2004.d) Books and other monographsFREIRE P e SHOR I. Medo e ousadia – O cotidiano do professor. 8 ed. Rio de Janei-ro: Ed. Paz e Terra, 2000. · Editor or organizer as authorDuarte LFD, Leal OF, organizers. Doen-ça, sofrimento, perturbação: perspectivas etnográficas. Rio de Janeiro: Editora Fio-cruz; 1998.· Institution as author and publisherInstitute of Medicine recommends new P4P system for Medicare. Healthcare Benchma-rks Qual Improv., 13(12):133-7, 2006.

e) Chapter of bookAggio A. A revolução passiva como hipó-tese interpretativa da história política lati-no- americana. In: Aggio, Alberto (org.). Gramsci: a vitalidade de um pensamento. São Paulo: Unesp, 1998.f) Events (conference proceedings)Vitti GC & Malavolta E. Fosfogesso - Uso Agrícola. In: Malavolta E, Coord., SEMI-NÁRIO SOBRE CORRETIVOS AGRÍ-COLAS. Campinas,SP. Fundação Cargill, p. 161-201, 1985.g) Paper presented at an eventBengtson S, Solheim BG. Enforcement of data protection, privacy and security in me-

dical informatics. In: Lun KC, Degoulet P, Piemme TE, Rienhoff O, editors. MEDIN-FO 92. Proceedings of the 7th World Con-gress on Medical Informatics; 1992 Sep 6-10; Geneva, Switzerland. Amsterdam: North Holland; 1992. p. 1561-5.h) Theses and dissertationsRodriques GL. Poeira e ruído na produção de brita a partir de basalto e gnaisse nas regiões de Londrina e Curitiba, Paraná: Incidência sobre os trabalhadores e Meio Ambiente. Tese (Doutorado). Universidade Federal do Paraná.Curitiba, 2004.i) Other published work· Journal articleLee G. Hospitalizations tied to ozone pollution: study estimates 50,000 admis-sions annually. The Washington Post 1996 Jun 21; Sect. A:3.· Legal documentsMTE] Ministério do Trabalho e Emprego. Secretaria de Segurança do Trabalho. Por-taria N°. 25 de 29/12/1994. Norma Regu-lamentadora N° 9: Programas de Preven-ção de Riscos Ambientais.

j) Electronic material· CD-ROMSeverino LS, Vale LS, Lima RLS, Silva MIL, Beltrão NEM, Cardoso GDC. Repi-cagem de plântulas de mamoneira visan-do à produção de mudas. In: I Congresso Brasileiro de Mamona - Energia e Susten-tabilidade (CD-ROM). Campina Grande: Embrapa Algodão, 2004· InternetUMI ProQuest Digital Dissertations. Dis-ponível em: <http://wwwlib.umi.com/dissertations/>. Acesso em: 20 Nov. 2001.

The articles must be sent for the site:www.unifoa.edu.br/cadernos/ojs.

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Permutas Institucionais Informações sobre [email protected]

ABMES - Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior – Brasília/DF

ANGRAD - Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração - Duque de Caxias/RJ

Centro de Ensino Superior de Jatí - Jataí/GO

Centro Universitário Assunção - São Paulo/SP

Centro Universitário Claretiano - Batatais/SP

Centro Universitário de Barra Mansa - Barra Mansa/RJ

Centro Universitário de Goiás - Goiânia/GO

Centro Universitário Evangélica - Anápolis/GO

Centro Universitário Feevale - Novo Hamburgo/RS

Centro Universitário Leonardo da Vinci - Indaial/SC

Centro Universitário Moura Lacerda - Riberão Preto/SP

Centro Universitário Paulistano - São Paulo/SP

Centro Universitário São Leopoldo Mandic - Campinas/SP

CESUC - Centro Superior Catalão - Catalão/GO

CESUPA - Centro de Ensino Superior do Pará - Belém/PA

EBAPE - Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas - Rio de Janeiro/RJ

Escola de Serviço Social da UFRJ - Rio de Janeiro/RJ

FABES - Faculdades Bethencourt da Silva - Rio de Janeiro/RJ

FACESM - Faculdade de Ciencias Sociais Aplicadas do Sul de Minas - Itajubá/MG

FACI- Faculdade Ideal - Belém/PA

Facudade 2 de Julho - Salvador/BA

Facudades Integradas de Cassilândia - Cassilândia/MS

Faculdade Arthur Sá - Petrópolis/RJ

Faculdade de Ciências - Bauru/SP

Faculdade de Direito de Olinda - Olinda/PE

Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas - UFBA - Salvador/BA

Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro - Uberaba/MG

Faculdade de Minas - Muriaé/MG

Faculdade de Pimenta Bueno - Pimenta Bueno/RO

Faculdade de Tecnologia e Ciência - Salvador/BA

Faculdade Internacional de Curitiba - Curitiba/PR

Faculdade Metodista IPA - Porto Alegre/RS

Faculdade SPEI - Curitiba/PR

Faculdades Guarapuava - Guarapuava/PA

Faculdades Integradas Antônio Eufrásio de Toledo - Presidente Prudente/SP

Faculdades Integradas Curitiba - Curitiba/PR

Faculdades Integradas de Cassilândia - Cassilândia/MS

Faculdades Integradas do Ceará - Fortaleza/CE

Faculdades Integradas Torricelli - Guarulhos/SP

Faculdades Santa Cruz - Curitiba/PR

FAFICH - Universidade Federal de Minas Gerais - Belo Horizonte/MG

FAFIJAN - Faculdade de Jandaia do Sul - Jandaia do Sul/PA

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FAFIL - Filadélfia Centro Educacional - Santa Cruz do Rio Pardo/SP

FAPAM - Faculdade de Pará de Minas - Pará de Minas/MG

FCAP: Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco - Recife/PE

FECAP - Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado - São Paulo/SP

FGV - Fundação Getúlio Vargas - Rio de Janeiro/RJ

FOCCA - Faculdade Olindense de Ciências Contábeis e Administrativas - Olinda/PE

FUNADESP - Fundação Nacional de Desenvolvimento do Ensino Superior Particular - Brasília/DF

Fundação Educacional de Patos de Minas - Patos de Minas/MG

Fundação Santo André - Santo André/SP

Fundação Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Rio Grande/RS

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - Centro de Documentação e Disseminação

de Informações - Rio de Janeiro/RJ

Instituição São Judas Tadeu - Porto Alegre/RS

Instituto Catarinense de Pós-Graduação -Blumenau/SC

Instituto de Administração do Rio de Janeiro - IARJ - Tijuca/RJ

Instituto de Estudo Superiores da Amazônia - Belém/PA

Instituto Municipal de Ensino Superior - São Caetano/SP

Mestrado em Integração Latino-Americana - Santa Maria/RS

MPF - Ministério Público Federal - Brasília/DF

MPRJ - Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro/RJ

Organização Paulista Educacional e Cultural - São Paulo/SP

PUC - Campinas: Pontifícia Universidade Católica - Campinas/SP

PUC - SP: Pontifícia Universidade Católica - Campinas/SP

TCE - Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais - Belo Horizonte/MG

The U.S. Library Of Congress Office - Washington, DC/USA

TJ - Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro/RJ

TRF - Tribunal Reginal Federal - RJ - Rio de Janeiro/RJ

Ucam - Universidade Cândido Mendes - Rio de Janeiro/RJ

UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro/RJ

UFF - Universidade Federal Fluminense - Niterói/RJ

UGB - Faculdades Integradas Geraldo Di Biase - Volta Redonda/RJ

UNB - Universidade de Brasília - Brasília/DF

UNIABEU - Assossiação de Ensino Superior - Belford Roxo/RJ

União das Faculdades de Alta Floresta - Alta Floresta/MT

Unibrasil - Faculdades Integradas do Brasil - Curitiba/PR

Unicapital - Centro Universitário Capital - São Paulo/SP

Unicastelo - Universidade Camilo Castelo Branco - São Paulo/SP

UNIDERP - Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal - Campo Grande/MS

UNIFAC - Assossiação de Ensino de Botucatu - Botucatu/SP

Unifeso - Centro Universitário da Serra dos Órgãos - Teresópolis/RJ

UniNilton Lins - Centro Universitário Nilton Lins - Amazonas/AM

Uninove - Universidade Nove de Julho - Vila Maria/SPE

Permutas Institucionais Informações sobre [email protected]

Formando para vida.