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Amazon Cooperation Treaty Organization Global Environment Facility United Nations Environment Programme INTEGRATED AND SUSTAINABLE MANAGEMENT OF TRANSBOUNDARY WATER RESOURCES IN THE AMAZON RIVER BASIN CONSIDERING CLIMATE VARIABILITY AND CHANGE ACTO/GEF/UNEP GEF-AMAZON COMPONENT-III RESPONSE STRATEGIES SUBPROJECT-III.2 SPECIAL PRIORITIES ON ADAPTATION Activity III.2.1 Climate Change, Adaptation Capacity and Risk Governance in the Transboundary Purus River Sub-basin of the project “Integrated and Sustainable Management of Transboundary Water Resources in the Amazon River Basin Considering Climate Variability and Climate Change” Consultora: Francimara Souza da Costa Dezembro/2014 Bolivia, Brasil, Colombia, Ecuador, Guyana, Perú, Surinam y Venezuela

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Amazon Cooperation Treaty Organization

Global Environment Facility

United Nations Environment Programme

INTEGRATED AND SUSTAINABLE MANAGEMENT OF TRANSBOUNDARY WATER RESOURCES IN THE AMAZON RIVER BASIN CONSIDERING

CLIMATE VARIABILITY AND CHANGE ACTO/GEF/UNEP

GEF-AMAZON COMPONENT-III RESPONSE STRATEGIES

SUBPROJECT-III.2 SPECIAL PRIORITIES ON ADAPTATION

Activity III.2.1 Climate Change, Adaptation Capacity and Risk Governance in the Transboundary Purus River Sub-basin of the project “Integrated and Sustainable Management of Transboundary Water Resources in the Amazon River Basin Considering Climate Variability and Climate Change”

Consultora: Francimara Souza da Costa

Dezembro/2014

Bolivia, Brasil, Colombia, Ecuador, Guyana, Perú, Surinam y Venezuela

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Produto 04: Avaliação da capacidade das instituições governamentais

dos municípios da Bacia do Rio Purus.

1. Apresentação

Este produto apresenta a capacidade das instituições governamentais dos

municípios da Bacia do Rio Purus a partir da análise da infraestrutura dos municípios,

dos arranjos institucionais para a gestão e regulação da água e das estruturas

organizacionais dos planos diretores dos municípios para a governança de risco, como

entrada direta para implementação de estratégias de adaptação a mudanças climáticas na

governança de risco.

A gestão das águas está diretamente relacionada à capacidade institucional

disponível ao poder público, organizações envolvidas e à sociedade, para o

planejamento e implementação das políticas de forma que se obtenha sucesso em função

dos objetivos traçados. A análise da capacidade institucional reflete os recursos

humanos, físicos e financeiros, bem como, os instrumentos de gestão disponíveis nos

municípios para elaboração de estratégias concernentes à prevenção e mitigação nos

riscos de desastres naturais.

A região analisada neste trabalho, a saber: os municípios de Beruri, Tapauá,

Canutama, Lábrea, Boca do Acre, Pauini e Humaitá, localizados no Estado do

Amazonas, e Santa Rosa do Purus, Sena Madureira e Manoel Urbano, no Estado do

Acre, é propícia para estudos e implantação de projetos piloto referentes aos impactos

de mudanças climáticas e governança de risco. Possui grande diversidade biológica

intacta, representa diversas formas de vida e uso dos recursos naturais, além da

existência de arranjos institucionais diferenciados e submissão às ordenações políticas

relacionadas ao uso da terra (COSTA & RAVENA, 2014). Ao mesmo tempo, é alvo do

interesse de grandes empreendimentos causadores de impactos ambientais, como

construção de hidrelétricas e rodovias, além de ser área de intensos conflitos pelo uso

dos recursos naturais, como atividades ilegais de pesca e uso de produtos florestais

madeireiros e não madeireiros.

O município de Humaitá foi incluído para estudo no projeto, devido à cheia

histórica ocorrida neste ano de 2014, uma vez que inicialmente somente seriam

incluídos os municípios localizados na calha do Rio Purus (Beruri, Tapauá, Canutama,

Lábrea, Pauini e Boca do Acre, pertencentes ao Estado do Amazonas, e Sena

Madureira, Santa Rosa do Purus e Manuel Urbano, no Estado do Acre). A cidade está

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localizada na calha do Rio Madeira (afluente do Rio Amazonas) e situada na fronteira

entre os Estados do Amazonas e Rondônia. A cheia do Rio Madeira atingiu a marca

aproximada de 20m em abril (sendo o nível do rio de 10m), provocando calamidade

pública em Humaitá e vários municípios de Rondônia, dentre eles Porto Velho, capital

do Estado (ANA, 2014). A inclusão de Humaitá como área de estudo, permitiu uma

visão mais abrangente e integrada de todo o interflúvio Purus – Madeira, dada sua

representatividade e influência sobre os demais municípios da região do Madeira, bem

como, sua ligação relacionada à importância econômica, social e de biodiversidade com

os municípios localizados à margem do Rio Purus.

As informações foram coletadas por meio de entrevistas aos coordenadores

municipais da defesa civil, análise de documentos junto aos órgãos governamentais

envolvidos com a gestão da água e defesa civil nos municípios, análise dos planos

diretores dos municípios e durante os Workshops realizados em Manaus nos dias 29 e

30 de maio de 2014, com os municípios do Amazonas e nos dias 27 e 28 de agosto de

2014, com os municípios do acre, tendo a participação de representantes das

coordenadorias municipais da defesa e da sociedade civil.

2. Capacidade institucional para governança de risco

De acordo com Capacity. Org (2003), capacidade1 institucional diz respeito ao

estabelecimento de regras adequadas ao funcionamento de organizações para o alcance

de objetivos previamente definidos, realização de tarefas, cumprimento de metas e

adaptação constante ao surgimento de problemas e enfrentamento de desafios.

Assim, a capacidade institucional envolve a capacidade de planejamento e

implementação de políticas, capacidade de administração e gestão de processos,

negócios ou recursos. Sagi (2009) afirma que a análise da capacidade institucional

refere-se a uma análise situacional do conjunto de habilidades existente em uma

determinada instituição para gerenciar ou prover o atendimento das necessidades da

população, ou ainda solucionar os problemas enfrentados pela sociedade.

O Banco Mundial (2004) apresenta quatro disposições necessárias às instituições

para adquirir capacidade institucional, quais seja a capacidade de: identificar problemas

1 O termo capacidade é considerado neste trabalho segundo o Programa das Nações Unidades para o

Desenvolvimento – PNU, que conceitua capacidade como “a habilidade de indivíduos, instituições e

sociedades para desempenhar funções, solucionar problemas, definir e alcançar metas de forma

sustentável” (PNUD, 2002).

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ou caminhos, chegar ao equilíbrio dos interesses, implementação de políticas e

adaptação aos processos. Esses critérios podem ser utilizados então como avaliativos do

nível de capacidade das instituições.

Além de a capacidade institucional ser avaliada a nível interno, é importante

uma análise integrada de sua relação com outras instituições e o contexto no qual está

inserida e atua, ou seja, estabelecer uma visão holística das ações da instituição,

conforme demonstra a figura 01.

Figura 01: Visão holística da capacidade institucional.

Fonte: Segnestam, 2002; adaptado por Sagi, 2006.

Como mostra a figura acima, a visão holística da capacidade institucional

relaciona-se à observação de sua interação com os indivíduos, demais organizações com

as quais se relaciona (influencia e é influenciada), formas de governança pública e sua

atuação no contexto social (normas, valores e práticas).

Neste sentido, insere-se a necessidade do estabelecimento de sistemas de

governança capazes de desenvolver ações integradas nos diferentes níveis (local,

regional, nacional e internacional), incorporando todos os atores e múltiplos interesses

envolvidos no sistema. A Comissão para a Governança Global, criada para evidenciar

estratégias para o estabelecimento de uma comunidade global, considera o conceito de

governança como:

“A totalidade das diversas maneiras pelas quais os

indivíduos e as instituições públicas e privadas

administram seus problemas comuns. É um processo

contínuo pelo qual é possível acomodar interesses

conflitantes ou difetentes e realizar ações cooperativas.

Governança diz respeito não apenas a instituições e

regimes formais autorizados para impor obediência, mas

também a acordos informais que atendam os interesses das

pessoas e instituições” (Nossa Comunidade Global (1996)

apud Silva (2007) .

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Para Silva (2007), a base para o estabelecimento de uma governança global,

direcionada a minimizar os problemas ocasionados pelas mudanças climáticas deve ser

o Princípio da precaução e não o Princípio da prevenção2, ou seja, as ações políticas

necessitam voltar-se aos riscos que permeiam as incertezas do presente e futuro da

biosfera agindo preventivamente, sem a necessidade de constatações científicas

suficientes.

Para Ferreira et al (2010), um dos principais gargalos para o estabelecimento de

estratégias de governança de risco de mudanças climáticas é a deficiência de politicas

nacionais e internacionais que promovam a interação e regulação entre nações e grandes

empresas, destacando-se as questões socioambientais. Desta forma, a capacitação

institucional para governança de risco necessita ser um modelo de gerenciamento

compartilhado, onde as instituições precisam adequar-se à realidade das mudanças

climáticas, centrando-se na gestão participativa, democrática, transparente e realizada a

partir de parcerias institucionais, com a inclusão direta dos principais afetados nos

riscos de desastres: o homem e a natureza. O homem pode participar do planejamento e

execução das ações preventivas, de adaptação e resposta, enquanto a natureza, quando

conservada, realiza seu papel no oferecimento de seus serviços.

O desafio para capacitação institucional destinada à governança de risco exige a

construção de ferramentas que integre tanto a gestão do risco quanto a adaptação às

mudanças climáticas. De acordo com a Estratégia Internacional para Redução de

Desastres da Organização das Nações Unidas (EIRD/ONU), a adaptação às mudanças

climáticas pode ser compreendida como o ajustamento da conduta humana ou dos

sistemas naturais às modificações ou novos eventos relacionados ao clima (EIRD/ONU,

2009).

A gestão do risco por sua vez, refere-se aos esforços para redução do risco de

desastres no âmbito do planejamento do desenvolvimento. Esta abordagem surgiu a

partir de 1998 no contexto dos prejuízos provocados pelo furacão Mitch que afetou

Honduras, Nicarágua, El Salvador, Guatemala, Flórida e EUA, com o prejuízo em torno

de 6 bilhões de dólares e a morte de cerca de 18.000 pessoas. A partir desse evento, as

2 No direito ambiental, o Princípio da prevenção define que as ações devem ser realizadas para evitar ou

reduzir danos ambientais previstos, somente quando há evidencias científicas suficientes, enquanto que o

Princípio da precaução trabalha com incertezas, ou seja, as medidas devem ser tomadas sem a

necessidade de evidências científicas comprobatórias, podendo ser baseadas em indicativos empíricos.

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reflexões voltaram-se também para o papel do desenvolvimento na mudança climática e

como isso poderia ser evitado ou reduzido (CAD, 2012).

A governança de risco deve então considerar a combinação entre a ameaça de

um evento extremo e as condições específicas de vulnerabilidade. Para Abdua & Taela

(2005):

“a vulnerabilidade e o risco são socialmente construídos, e

um evento extremo só se transforma em calamidade ou

desastre quanto atinge uma população exposta ao risco e

numa situação de vulnerabilidade, isto é, com reduzida

capacidade de resistência (estrutural, física, econômica,

social, política e institucional) e resposta a eventos

extremos”.

As estruturas existentes e as alternativas propostas de capacitação institucional

para governança ambiental devem então contemplar a magnitude e a complexidade do

problema. Responder aos desafios impetrados pelos riscos de mudanças climáticas

requer diálogo, troca de experiências, negociações e alternativas capazes de responder

as demandas de acordo com a realidade vivenciada em cada lugar.

3. Marco legal e institucional para governança de risco

As mudanças climáticas tem sido alvo de intensos debates a nível mundial, o que

tem promovido algumas medidas políticas e regulamentais para minimização dos

efeitos e riscos à população e ao ambiente natural. Dentre elas, a Convenção “United

Nations Framework Convention on Climate Change” (UNFCCC) - Quadro das Nações

Unidas sobre Mudanças Climáticas, cujo texto foi assinado em 1992 por 192 países,

entrando em vigor em 1994. Os signatários da UNFCC firmaram compromisso de

compartilhar informações, elaborar estratégias e cooperar para reduzir as emissões de

gases na atmosfera. Para auxiliar o alcance dos propósitos da UNFCC, como

instrumento legal, o Protocolo de Kyoto foi assinado em 1997 e ratificado em 1999,

onde os países signatários se comprometeram a reduzir 5,2% das emissões de gases de

efeito estufa.

No nível Nacional, a resposta às mudanças climáticas está assentada sobre

medidas de respostas e adaptação aos efeitos das transformações naturais e sociais

provocadas pela mudança do clima. Assim, a mudança climática é alvo mais direto das

ações da defesa civil no Brasil, regulamentadas pela Lei 12.608 de 10 de abril de 2012,

que institui a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil – PNPDEC.

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A criação da PNPDEC foi movida principalmente pelos desastres ocorridos

devido ao excesso de chuvas na região serrana do Rio de Janeiro. A política dispõe

sobre o Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil - SINPDEC e o Conselho

Nacional de Proteção e Defesa Civil – CONPDEC, autoriza a criação de Sistemas de

Informações e Monitoramento de Desastres, além de outras providências.

Os instrumentos institucionais determinados pela PNPDEC são estruturados em

órgãos geridos em todas as esferas federativas, além da integração de instituições

privadas, organizações não governamentais e sociais. A estrutura do SINPDEC é

formada por:

Órgão Superior: Conselho Nacional de Defesa Civil – CONDEC, responsável

pela formulação e deliberação de políticas e diretrizes do sistema;

Órgão Central: Secretaria Nacional de Defesa Civil, responsável pela

articulação, coordenação e supervisão técnica do sistema;

Órgãos Regionais: Coordenadorias Regionais de Defesa Civil – CORDEC,

responsáveis pela articulação e coordenação do sistema em nível regional;

Órgãos Estaduais: Coordenadorias Estaduais de Defesa Civil – CEDEC,

responsáveis pela articulação e coordenação do sistema em nível estadual;

Órgãos Municipais: Coordenadorias Municipais de Defesa Civil – COMDEC e

Núcleos Comunitários de Defesa Civil – NUDEC, responsáveis pela articulação e

coordenação do sistema em nível estadual;

Órgãos Setoriais: formados por representantes dos órgãos federal, estadual e

municipal para atuação sistêmica;

Órgãos de Apoio: organizações públicas ou privadas, associações, organizações

não governamentais e outros que apoiem os órgãos integrantes do Sistema.

Além da lei 12.608, a Instrução Normativa No. 01 de 24 de agosto de 2012

estabelece procedimentos e critérios para a decretação de situação de emergência ou

estado de calamidade pública pelos Municípios, Estados e pelo Distrito Federal, e para

o reconhecimento federal das situações de anormalidade decretadas pelos entes

federativos. Neste sentido, a situação de emergência é reconhecida como a situação

anormal, provocada por desastres, causadora de danos e prejuízos que comprometam

parcialmente a capacidade de resposta do poder público do ente atingido, enquanto que

o estado de calamidade pública refere-se à situação anormal que provoque o

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comprometimento substancial da capacidade de resposta do poder público do ente

atingido.

A distribuição de recursos para atendimento dos municípios é regido pela Lei

12.340 de 01 de dezembro de 2010, que dispõe sobre as transferências de recursos da

União aos órgãos e entidades dos Estados, Distrito Federal e Municípios para a

execução de ações de resposta e recuperação nas áreas atingidas por desastre, e sobre o

Fundo Especial para Calamidades Públicas.

Os critérios para o reconhecimento da situação de emergência ou calamidade

pública são determinados pelo Decreto 7.257 de 08 de agosto de 2010 que regulamenta

a Medida Provisória (MP) nº 494 de 2 de julho de 2010. Esta MP dispõe sobre o

Sistema Nacional de Defesa Civil - SINDEC, sobre as transferências de recursos para

ações de socorro, assistência às vítimas, restabelecimento de serviços essenciais e

reconstrução nas áreas atingidas por desastre.

Os arranjos institucionais tem como marco a Portaria Interministerial nº 507, de

24 de Novembro de 2011 que regula os convênios, os contratos de repasse e os termos

de cooperação celebrados pelos órgãos e entidades da Administração Pública Federal

com órgãos ou entidades públicas ou privadas sem fins lucrativos para a execução de

programas, projetos e atividades de interesse recíproco, que envolvam a transferência de

recursos financeiros oriundos do Orçamento Fiscal e da Seguridade Social da União.

O marco legal para governança de risco nos Estados do Amazonas e Acre pode

ser compreendido a partir da legislação que regulamenta as ações da defesa civil e às

políticas relacionadas às mudanças climáticas. Por defesa Civil, compreende-se o

“conjunto de ações preventivas, de socorro, assistenciais e recuperativas destinadas a

evitar desastres e minimizar seus impactos para a população e restabelecer a

normalidade social” (SUBCOMANDEC – AM, 2014).

O Estado do Amazonas reveste-se de grande importância como cenário de

estudos voltados à elaboração de estratégias de prevenção e respostas às mudanças

climáticas. Devido a sua extensão territorial, condições climáticas e geográficas,

associadas às atividades econômicas baseadas no uso direto dos recursos naturais e ao

processo de desenvolvimento em curso, é vulnerável esporadicamente à ocorrência de

desastres naturais e tecnológicos que provocam significativos danos às propriedades,

bens e serviços, bem como, provocam efeitos e consequências desastrosas ao ambiente

natural. As enchentes ocorridas no início deste ano e os prejuízos advindos, com 13

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municípios em estado de emergência e um em estado de calamidade pública,

demonstram a vulnerabilidade e o despreparo do Estado para situações de desastres

naturais.

No Estado do Amazonas, o principal marco legal é a Lei Estadual nº 3.331 de 23

de dezembro de 2008, que criou o Sistema Estadual de Defesa Civil e a Lei n° 3.330/08,

que criou o Subcomando de Ações de Defesa Civil (SUBCOMANDEC) no âmbito do

Estado. Este Subcomando é o órgão central do Sistema Estadual, possui autonomia

orçamentária e financeira para gerir os recursos e a despesas específicas da Defesa

Civil.

O SUBCOMANDEC tem por finalidade estabelecer medidas permanentes de

proteção da população, visando minimizar os efeitos de desastres, de forma a preservar

a normalidade da vida comunitária no Amazonas, além de coordenar, promover a

articulação, administrar, planejar, fiscalizar e controlar as atividades de Defesa Civil no

Amazonas (Lei n° 3.330/08).

Em relação às políticas voltadas às ações de prevenção, o Estado do Amazonas é

o pioneiro na construção de políticas estaduais direcionadas a conciliar o uso de

recursos naturais com a conservação da floresta. A Política Estadual de mudanças

climáticas, Conservação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas

(PEMC-AM) instituída pela Lei 3.135 de 2007 e a criação do Sistema Estadual de

Unidades de Conservação – SEUC foi o primeiro modelo de gestão estadual do meio

ambiente implantado no Brasil e serviu de base para outros estados elaborar suas leis

estaduais, destinadas a programas de conservação ambiental e desenvolvimento

sustentável.

Assim, a governança de risco no Amazonas pode ser baseada nos pressupostos

da Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNPDEC) e da Política Estadual de

mudanças climáticas, Conservação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável do

Amazonas (PEMC-AM), considerando que as diretrizes gerais necessitam ser adaptadas

e adequadas à realidade de cada município.

3. Arranjos institucionais dos municípios para a gestão e regulação da água

Por arranjo institucional neste trabalho compreende-se a estrutura de relações

existentes entre as instituições formais e informais, componentes do cenário formado

pelas ações concernentes à gestão e regulação da água, bem como à defesa civil, tanto

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no que se refere à prevenção quanto à assistência. Esta compreensão decorre dos

postulados de North (1990), entendendo que as instituições facilitam as relações entre

os indivíduos, resultando na maior eficiência dos objetivos comuns traçados.

Por sua vez instituições são organizações ou dispositivos sociais que regulam o

funcionamento da sociedade e, portanto, dos indivíduos, a partir de regras, valores e

normas (North,1990; Levi, 1996). As instituições são então estruturas executoras das

ações planejadas pelo Estado para ordenar a ação coletiva. Para tanto, a efetividade

institucional depende de sua adequação ao sistema social e econômico ao qual estão

inseridas e sua adaptação aos aspectos culturais (valores e crenças) da sociedade

correspondente (BRESSER-PEREIRA, 2004).

O estudo dos arranjos institucionais é um importante mecanismo para identificar

os níveis de interação entre esferas públicas, privadas e comunitárias, que coadunam na

arena dos processos de gestão e regulação da água, representando este último o

resultado de acordos estabelecidos nos interesses existentes nas lógicas coletivas. As

instituições que regulam o uso da água são arenas de ação coletiva, movidas por

racionalidades e comportamentos distintos, sendo necessário, portanto, a identificação

das arenas institucionais (estruturas e relações), onde os diferentes interesses e

demandas são conhecidos, subisidiando-se assim mecanismos regulatórios e de gestão

mais aproximados das realidades amazônicas (RAVENA, 2012).

Segundo Ravena (2012):

As instituições que regulam a ação humana sobre o meio

ambiente são os loci onde várias lógicas de ação coletiva

interagem, promovendo resultados diferenciados, na

medida em que estratégias de ação dessas instituições

seguem rationales distintas. Dessa forma, a padronização

de comportamentos por meio dos arcabouços institucionais,

depende, fundamentalmente, do escopo dessas instituições

e da interação que elas estabelecem entre si e entre as

demais, promovendo resultados regulatórios distintos

(RAVENA, 2012, pg. 51).

Assim, o conhecimento das formas de interação entre as instituições envolvidas

numa determinada arena de ação, evidencia caminhos mais eficientes para elaboração

de regulações capazes de contemplar os interesses humanos, institucionais e contribuir

para conservação dos recursos naturais.

Neste trabalho, a arena institucional relacionada à gestão e regulação da água foi

analisada por meio do número de instituições envolvidas e a estrutura das relações de

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apoio existentes em torno das ações relacionadas à defesa civil, julgando-se esta arena

como representativa para avaliação da capacidade institucional dos municípios no que

concerne à execução futura de planos de governança de risco.

Desta forma, a tabela 01 apresenta as instituições que apoiam diretamentes às

coordenadorias municipais, a natureza da instituição e as relações estabelecidas entre as

instituições.

Tabela 01: Arranjos institucionais dos municípios para a gestão e regulação das águas. Município Instituição Natureza da

instituição

Tipo de apoio

Beruri Sec. de Assistência Social

Sec. de educação

Sec. de saúde

IDAM

Municipal

Municipal

Municipal

Estadual

Cadastro das famílias afetadas

Monitoramento dos abrigos nas escolas.

Atendimento médico e odontológico aos desabrigados.

Cadastro e remoção das famílias desabrigadas.

Canutama Sec. de Assistência Social

Sec. de obras

Sec. de esportes

Sec. de educação

Sec. de saúde

Secretaria de comunicação

Sec. de produção

Municipal

Municipal

Municipal

Municipal

Municipal

Municipal

Municipal

Cadastro e acompanhamento das famílias desabrigadas,

assistência psicológica.

Apoio no transporte – remoção das famílias e reformas.

Auxilia na comunicação.

Coordena os abrigos nas escolas e a remoção das famílias.

Palestras sobre doenças e distribuição de sopa.

Divulgação das informações.

Cadastro e remoção das famílias desabrigadas.

Tapauá SEMAB

Sec. de assistência social

Sec. de transporte

Guarda municipal

Polícia militar

Municipal

Municipal

Municipal

Municipal

Municipal

Pessoal e equipamento

Cadastro das famílias necessitadas.

Transporte

Segurança e organização (filas)

Resgate de feridos

Lábrea ICMBIO

FUNAI

SESAI

SEMED

Federal

Federal

Estadual

Municipal

Transporte

Trasnporte

Trasnporte

Recursos humanos e insumos (material de expediente)

Humaitá 54o BIS

COHASB

IDAM

Diocese

Marinha do Brasil

Federal

Privada

Estadual

Religiosa

Federal

Apoio logístico (transporte e abrigos)

Abastecimento de água

Cadastro e remoção das famílias desabrigadas.

Apoio nos abrigos (distribuição de suprimentos)

Resgate das famílias afetadas.

Pauini Secretaria Mul. de Obras,

Transporte e Serviços

Urbanos

Departamento Mul de

Saneamento – DEMSA

Secretaria de produção e

abastecimento

Sec. Mul. do meio

ambiente e turismo.

Municipal

Municipal

Municipal

Municipal

Reconstrução dos espaços e moradias destruídos pelas

enchentes.

Reconstrução dos espaços e moradias destruídos pelas

enchentes.

Pessoal e equipamento

Resgate e controle das famílias.

Boca do

Acre Guarda municipal

Sec. de saúde

Sec. de assistência Social

ICMBIO

Municipal

Municipal

Municipal

Federal

Resgate das famílias afetadas

Atendimento médico aos desabrigados

Assistência humanitária (distribuição de suprimentos)

Resgate das famílias afetadas

Sena

Madureira

Secretaria de Produção

Familiar

IBAMA e ICMBIO

Estadual

Federal

Carros, levantamento de perdas, informações ao SINDEC

Transporte das famílias

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Sindicato dos

Trabalhadores rurais

Secretaria de Educação

Secretaria de Produção

Secretaria de Obras

Secretaria de Assistência

Social

Eletroacre

DEPASA

Associação Arco Íris

Clube Maçonaria

Organização

social

Municipal

Municipal

Municipal

Municipal

Privada

Privada

Privada

Privada

Transporte das famílias

Transporte das famílias

logística

Transporte (caminhão)

Transporte, resgate, construção de barracas

Assistência humanitária (mantimentos)

Manutenção dos abrigos, corte de energia e religação

Manutenção dos abrigos

Reconstrução

Ajuda humanitária

Santa Rosa

do Purus

Secretaria de Educação

Secretaria de Obras

Secretaria de Assistência

Social

Secretaria de saúde

Secretaria de Ambiente

Secretaria de agricultura

Exército

Municipal

Municipal

Municipal

Municipal

Municipal

Municipal

Federal

Abrigo às famílias nas escolas, pessoal para limpeza

transporte

Cadastro das famílias e ajuda humanitária

Cuida da saúde nos abrigos e prevenção

Auxilia no apoio aos indígenas, deslocamento

Cede caminhão e pessoal

Transporte

Fonte: Pesquisa de campo (2014).

Como pode ser observado na tabela 01, as coordenadorias da defesa civil nos

municípios estabelecem parcerias com outras instituições apenas nas ações de

assistência às famílias desabrigadas mediante à ocorrência de eventos extremos. As

relações de parcerias para ações preventivas não foram indicadas nos municípios.

Entretanto, foi observada iniciativas interinstitucionais da Secretaria Estadual de Defesa

Civil no Amazonas, na realização da 1ª Conferência Estadual de Proteção e Defesa,

ocorrida em março de 2014 em Manaus, com participação de coordenadores municipais

e outras entidades governamentais do Estado.

Além disso, recentemente o Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM) e a

Coordenadoria Estadual da Defesa Civil (CEDEC) uniram esforços para viabilizar um

novo mecanismo de proteção em situações de emergência e de calamidade pública. O

SIPAM disponibilizou sua rede de telecomunicações via satélite ao Comando da Defesa

Civil em Manaus, permitindo sua interligação permanente com as Coordenadorias

Municipais de Defesa Civil. Segundo o SIPAM, isso permitirá o repasse imediato de

informações sobre situações de catástrofe ou de perigo para a população, assim como

orientações sobre medidas de prevenção a serem adotadas (SIPAM, 2014).

A tabela 01 demonstra que nos municípios, as relações instituicionais são

estabelecidas principalmente com órgãos governamentais da esfera municipal (61,36%),

sendo as principais as secretarias de assistência social, de educação, de saúde, de obras,

de esporte, de comunicação, de produção e de abastecimento. No âmbito municipal é

observado também o apoio da guarda municipal.

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Em relação ao apoio de órgãos estaduais às ações das coordenadorias

municipais, foi citado apenas parcerias com o Instituto de Desenvolvimento

Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas – IDAM em Beruri e

Tapauá, e a Secretaria de Produção do Acre em Sena Madureira. O IDAM é o órgão

estadual responsável pela prestação de serviços de assistência técnica aos produtores

rurais.

No âmbito federal foi citado o apoio do exército (54º Bis) e da Marinha do

Brasil em Humaitá, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

(ICMBio) em Boca do Acre e do IBAMA e ICMBIO em Sena Madureira. O ICMBio é

uma autarquia vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, integrante do Sistema

Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), responsável por executar as ações do

Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), na implantação, gestão e

fiscalização de Unidades de Conservação instituídas pela União.

O apoio de empresas privadas foi identificado apenas em Humaitá entre os

municípios amazonenses, representado pela Companhia Humaitaense de Águas e

Saneamento Básico – COHASB, responsável pelo abastecimento de água da cidade,

onde foi observada também a importante atuação da Diocese de Humaitá, entidade

religiosa que atua na coleta e distribuição de suprimentos alimentares e de higiene.

Entretanto, observa-se que o maior número de empresas privadas que participam do

apoio às ações da defesa civil está em Sena Madureira, no Acre.

Conforme apresenta a tabela 01, as principais ações de parcerias entre as

instituições relacionadas à prestação de assistência às famílias afetadas são:

Cadastro e remoção das famílias afetadas;

Formação de abrigos temporários;

Atendimento médico, odontológico e psicológico nos abrigos;

Segurança pública

Assistência humanitária (coleta e distribuição de suprimentos)

Diante do cenário apresentado, observa-se que na elaboração de estratégias para

governança de risco, inseridas no contexto dos processos de gestão e regulação do uso

da água, os esforços devem ser voltados para o fortalecimento de ações preventivas,

reforçando-se e ampliando-se o estabelecimento de parcerias institucionais

governamentais nas esferas municipais, estaduais e federais, além da necessidade do

maior envolvimento de empresas privadas, organizações não governamentais e

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organizações comunitárias, ressaltando-se que não foram observadas parcerias com

estas duas últimas esferas em nenhum município.

Para Valêncio (2007), a insuficiência de instituições para agir de forma

preventiva, vulnerabiliza os municípios brasileiros para medidas diante dos desastres

que se intensificarão. A Política Nacional de Defesa Civil tem como uma das diretrizes:

“Priorizar as ações relacionadas à Prevenção de Desastres, através de avaliação e

redução de riscos de desastres”. Segundo a política, a prevenção compreende a

avaliação e redução de riscos, não tendo sido observadas medidas nas coordenadorias

municipais analisadas, envolvendo outras instituições, para estas finalidades.

Para Gonçalves (2013):

“Os desastres são a concretização dos riscos e estes são o

encontro entre dados de ameaça e o processo de

vulnerabilização que ocorre num lugar, numa certa escala

temporal. Como tanto os desastres quanto os riscos são

construídos socialmente, ou seja, no interior da vida em

sociedade, muito dificilmente as medidas técnicas de

proteção adotadas pelas autoridades constituídas

conseguem ser mais abrangentes do que aquelas que a

complexa vida social constrói no sentido contrário”.

Desta forma, as medidas de prevenção a serem adotadas nos municípios

necessitam ser coadunadas à verificação da origem antropogênica e natural do desastre,

mas também precisam refletir uma construção coletiva das representações sociais acerca

dos riscos dos desastres (Valêncio, 2007), assegurando-se consensos relacionados aos

critérios para distribuição do recurso e fiscalização das ações, tanto referente às ações

preventivas, quanto nas estratégias de resposta. Associada às medidas preventivas, é

necessário ampliar o nível de interação entre as esferas federativas, outras instituições e

as comunidades. O gráfico 01 apresenta o nível médio de interação entre as esferas

federativas nos municípios analisados.

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Gráfico 01: Interação entre as esferas federativas nas ações de defesa civil.

Fonte: Coleta de informações no workshop (2014).

O nível de interação entre as esferas federativas apresentado no gráfico acima foi

indicado pelas coordenadorias municipais da defesa civil durante o workshop realizado

por este projeto. Neste quesito foi avaliada a relação das coordenadorias para com as

demais instituições e esferas federativas. As variáveis avaliadas foram: o acesso da

coordenadoria junto às prefeituras, à secretaria estadual da defesa civil e ao Ministério

da Integração; o esforço das instituições para identificação do risco, o grau de

coordenação municipal, estadual e federal, o nível de transparência municipal, estadual

e federal e a relação das coordenadorias junto às comunidades.

A interação é analisada por meio dos intervalos quantitativos de 0 a 5, onde nas

variáveis acesso à prefeitura, acesso à defesa civil estadual, acesso ao Ministério da

Integração e esforço para identificação do risco, os valores de 0 a 0,9 representam muito

difícil, 1 a 1,9 é igual a difícil, 2 a 2,9 é igual a mais ou menos difícil, 3 a 3,9 é igual a

mais ou menos fácil, 4 a 4,9 é igual a fácil e 5 é igual a muito fácil. Nas demais

variáveis, os valores de 0 a 0,9 representam péssimo, 1 a 1,9 é igual a ruim, 2 a 2,9 é

igual a mais ou menos ruim, 3 a 3,9 é igual a mais ou menos bom, 4 a 4,9 é igual a bom

e 5 é igual a ótimo.

Nota-se que os resultados mais satisfatórios são observados na esfera municipal,

representado pelo acesso das coordenadorias junto às prefeituras, considerado “fácil”

pelos coordenadores (4,5) e a transparência das prefeituras nas atividades relacionadas à

gestão da água e à defesa civil, considerada “boa” (4,0), especialmente devido à emissão

de relatórios e informações válidas. A interação com a secretaria estadual, considerada

00,5

11,5

22,5

33,5

44,5

4,5

2,8 3,25

2,5

3,25

2,25 2,75

4

1,75 2

3,6

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“mais ou menos difícil” (2,8) é pior na visão dos coordenadores quando comparada à

interação junto ao Ministério da Integração, que foi considerada “mais ou menos fácil”

(3,25).

O esforço para identificação do risco representa a eficiência das coordenadorias

juntamente com os demais órgãos envolvidos para planejar e executar ações

preventivas. Este esforço foi reconhecido como “mais ou menos difícil” (2,5),

reforçando mais uma vez a fragilidade das ações de prevenção nos municípios.

O grau de coordenação, relacionado à atuação das instituições nas ações de

forma planejada e eficiente, também é mais satisfatória no âmbito municipal na opinião

dos coordenadores, reconhecida como “mais ou menos boa” (3,25), enquanto nos

âmbitos estadual e federal foram indicadas como “mais ou menos ruim” (2,25 e 2,75

respectivamente).

O nível de transparência na esfera estadual foi apontada como “ruim” (1,75),

sendo pior que a esfera federal, reconhecida como “mais ou menos ruim” (2,0).

Segundo as coordenadorias, o acesso a relatórios e prestação de contas para

acompanhamento dos recursos distribuídos e resultados alcançados não é facilitado

pelas instituições responsáveis (secretaria estadual e ministério).

A interação das coordenadorias municipais junto às comunidades, especialmente

àquelas afetadas por eventos climáticos extremos foi considerada “mais ou menos boa”

(3,6). Isso quer dizer que a comunidade tem acesso facilitado junto à coordenadoria para

solicitação de auxílio, entretanto, a insuficiência de recursos financeiros, humanos e

materiais disponíveis limita o atendimento das demandas da população. Além disso, não

foi observado o envolvimento direto da sociedade nas ações das coordenadorias e

demais instituições.

Sem o envolvimento da população nas ações de planejamento das estratégias de

governança de risco e de gestão da água, um trabalho de conscientização social sobre as

previsões relacionadas às mudanças climáticas, associada à apresentação dos possíveis

prejuízos de todas as ordens, e a garantia da participação social nas tomadas de

decisões, os planos de governança de risco estarão comprometidos.

A participação direta da sociedade civil na elaboração dos planos de governança

poderá ser incluída no âmbito dos Núcleos Comunitários de Defesa Civil – NUDECs,

previstos no Sistema Nacional de Defesa Civil – SINDEC. Os municípios analisados

não possuem NUDEC, o que poderá ser viabilizado para incluir nos planejamentos, o

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conhecimento e o saber prático da população, relacionado a formas de adaptação já

realizadas.

Ressalta-se ainda a importância do maior envolvimento dos órgãos responsáveis

pela segurança pública, citado apenas em Tapauá e Boca do Acre. Christyan (2014)

adverte:

“A participação do poder de polícia pode ser fundamental

como fator de incentivo à mobilização de órgãos e da

comunidade em sistemas locais de autodefesa, gerando uma

estrutura mais eficiente de combate às adversidades sociais.

Na visão abrangente da segurança global da população, a

estruturação adequada de recursos locais e a organização de

ações integradas por diversos órgãos e comunidades podem

ser extremamente oportunas, quando geram um sistema de

caráter preventivo e reativo às adversidades que possam

abalar a ordem pública. O trabalho da segurança pública

torna-se menos oneroso e facilitado com a existência de

uma cultura de prevenção e participação social organizada

nas ações de autodefesa”.

A inclusão mais direta da segurança pública nas ações preventivas da defesa

civil poderá suscitar esta cultura de prevenção relacionada à autodefesa e mobilizar a

população para uma participação mais efetiva nas estratégias preventivas e adaptativas

aos riscos de desastres promovidos pela mudança climática.

A institucionalização da defesa civil como ferramenta operacional de ação na

ocorrência de desastres não tem sido suficiente para executar atividades preventivas e

minimizar as perdas em ações de resposta nos municípios da Bacia do Purus e

interflúvio Purus-Madeira. As principais causas apontadas para esta ineficiência

durante os workshops foram:

a) Inadequação do SINDEC e falta de conhecimento dos reguladores e

gestores a respeito da realidade amazônica

Foi apontado o desconhecimento do Ministério da Integração sobre a realidade

dos rios amazônicos, o que ocasiona a elaboração de políticas inadequadas, com

critérios para liberação de recursos destinados às ações da defesa civil, muitas vezes

impossíveis de serem atendidos pelos municípios, ou insuficientes para um atendimento

satisfatório das necessidades da população. Como exemplo, um dos participantes do

workshop comentou a fala de representantes do ministro da integração durante o estado

de emergência e calamidade do município de Humaitá neste ano de 2014, quando

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disseram que Humaitá necessitava apenas da construção de “pinguelas”3 para minimizar

os efeitos da cheia, evidenciando o desconhecimento sobre a força e os estragos que o

volume de água dos rios amazônicos pode ocasionar durante uma cheia severa, como

pode ser observado nas figuras 02 e 03.

Figura 02: Cheia do Rio Madeira no município de Humaitá-AM Figura 03: Pinguelas construídas no Rio Madeira. AM (2014)

Foto: Elias Pereira (Prefeitura de Humaitá). Foto: Elias Pereira (Prefeitura de Humaitá)

b) Insuficiência de recursos para as ações das coordenadorias

A maioria das coordenadorias não possui infraestrutura e equipamentos

próprios4. As salas onde funcionam as coordenadorias, computadores, veículos e outros

instrumentos necessários para viabilização das ações, são geralmente cedidas pelas

secretarias municipais de forma temporária, o que dificulta o estabelecimento de um

núcleo permanente. Além disso, o sistema de comunicação com outros municípios, e

secretarias estadual e nacional, bem como, a comunicação entre áreas urbanas e rurais,

também é insuficiente e precário. Os serviços de telefonia, Internet e radiocomunicação

permanecem praticamente ausentes em período de chuvas fortes, o que dificulta

inclusive o preenchimento das informações dos municípios no sistema (SINDEC) para

comunicar o risco ou o desastre, e desta forma adquirir os recursos necessários. Para

Valêncio (2007), a ausência de condições estruturais para agilmente coletar, sistematizar

e transmitir informações, retarda a formação de um quadro completo da situação dos

municípios pelas instâncias superiores, sendo este processo indispensável para o

delineamento de prioridades de atendimento, implicando consequentemente sobre a

agilidade e viabilização da distribuição de recursos.

3 Pinguelas são pontes estreitas, construídas pelos ribeirinhos de forma improvisada com troncos ou

tábuas sem proteção, para passagem sobre o rio em períodos de cheias.

4 A infraestrutura e disponibilidade de equipamentos para defesa civil nos municípios é apresentado mais

detalhadamente na sessão abaixo.

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c) Insuficiência de capacitação e habilitação dos envolvidos nas atividades

da defesa civil no âmbito municipal

Nos municípios, os envolvidos na defesa civil são servidores cedidos por outras

secretarias municipais. Foi indicado pelos participantes do workshop um despreparo

destes servidores para atuação tanto nas atividades da defesa civil, quanto em outras

atividades relacionadas à gestão da água. Os servidores não recebem cursos de

capacitação e associado ao baixo nível de escolaridade, a execução das tarefas

solicitadas pelos gestores ou coordenadores, especialmente relacionadas à coleta e

registro de informações é comprometida. Essa deficiência perpetua o despreparo e baixa

capacitação do pessoal envolvido nos processos de decisão local e demais atividades de

gestão do poder público municipal.

Foi apontada também a descontinuidade das ações planejadas pelos gestores em

função das atividades de gestão ser diretamente associadas a cargos ou funções públicas

indicadas pelo grupo político detentor do poder a cada quatro anos. Este fato, segundo

os entrevistados, gera comodismo dos técnicos e descompromisso com as atividades de

proteção e assistência à sociedade.

Houve indicação ainda da necessidade de incentivos aos servidores envolvidos

nas ações da defesa civil, especialmente pela caracterização da atividade como

periculosa. Os agentes municipais são geralmente servidores cedidos de outras

secretarias, designados para colaborar nas ações emergenciais, exercendo essas

atividades sem prejuízos das funções que ocupam, não fazendo jus a qualquer espécie

de gratificação ou remuneração especial. A falta de gratificação deve-se à consideração

dos serviços como “prestação de serviços relevantes”, sendo o coordenador indicado

pelo Chefe do Executivo Municipal, a quem compete organizar as atividades.

Entretanto, foi considerada por parte dos coordenadores a necessidade de incentivos

funcionais para estimular os agentes na prestação do serviço, o que garantiria maior

envolvimento e eficiência nas atividades. Os incentivos poderiam ser relacionados, por

exemplo, à redução do tempo de serviço para aposentadoria ou direitos trabalhistas

correlatos.

Diante do cenário observado em torno dos arranjos institucionais dos municípios

para a gestão e regulação da água, observa-se que a Política Nacional (PNDC) ainda não

foi implementada nesta região. Os NUDECs previstos como parte integrante do

SINDEC inexistem nos municípios; o baixo nível de integração institucional entre as

diferentes esferas (municipal, estadual, federal, ONGs e empresas privadas), tanto nas

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ações preventivas quanto assistenciais, representa a ausência de investimentos para o

desenvolvimento dos projetos determinados na PNDC, o que neste caso específico

poderia ser amenizado com os “Projetos de Desenvolvimento Institucional” que

preveem a integração vertical, horizontal e setorial das instituições relacionadas à defesa

civil.

Outrossim, o SINDEC não atende satisfatoriamente às necessidades das

populações amazônicas, uma vez que a infraestrutura existente é insuficiente para o

cumprimento dos critérios necessários à aquisição dos recursos pelos municípios, sendo

limitado inclusive pelo baixo nível de capacitação dos servidores e profissionais

envolvidos na gestão da água e defesa civil. Essas deficiências poderiam ser amenizadas

caso houvesse o cumprimento da implantação de “Programas de Preparação

Operacional e de Modernização do Sistema” no primeiro caso, e “Programas de

preparação técnica e institucional” no segundo, ambos previstos na PNDC.

4. Equipamentos e infraestrutura dos municípios

A análise dos equipamentos e infraestrutura disponíveis nos municípios para

viabilização de ações relacionadas a respostas e adaptação aos riscos de desastres

ambientais é um importante instrumento para melhoria ou criação de um ambiente

favorável nos municípios para operacionalização tanto dos planos diretores, quanto dos

planos de defesa civil.

As condições de infraestrutura dos municípios para gestão da água e governança

de risco foram avaliadas por meio da: evolução da população, densidade demográfica,

sistemas de comunicação disponíveis, recursos humanos e recursos físicos.

4.1. Evolução da população do município

A relação da evolução populacional com os riscos de desastres ambientais ocorre

quando o aumento populacional reflete em uma maior pressão sobre o ambiente natural,

com o aumento de construções habitacionais e comerciais, consumo de água, energia,

quantidade de resíduos, dentre outros aspectos.

O gráfico 02 apresenta a evolução do número populacional dos municípios no

período de 2000 a 2013.

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Gráfico 02: Evolução da população dos municípios entre 2000 e 2013

Fonte: IBGE (2000, 2007, 2010 e 2013).

Como pode ser observado no gráfico acima, dentre os municípios amazonenses,

Humaitá é o mais populoso, com 49.137 habitantes em 2013. Em seguida a maior

população é observada em Lábrea com 41.600 habitantes e Boca do Acre com 32.792

habitantes. O menor número populacional aparece entre Pauini com 19.149 habitantes,

Tapauá com 18.383 habitantes, Beruri com 17.332 habitantes e Canutama com 14.754

habitantes. Dentre os municípios do Acre, observa-se a maior população em Sena

Madureira, com 41.036 habitantes em 2013, e a menor, é de Santa Rosa do Purus, com

5.593 habitantes.

O maior incremento populacional no período é observado no município de

Beruri, tendo a população aumentado 57,02% de 2000 a 2013. O segundo maior

incremento ocorreu em Humaitá de 49,82%, o terceiro em Lábrea de 43,66% e os

demais em ordem decrescente foram Canutama de 37,41%, Boca do Acre de 21,63% e

Pauini, tendo este último o menor incremento populacional positivo quando comparado

aos demais (12,03%). No caso de Tapauá, diferentemente dos outros municípios houve

uma redução da população de 10,74%, pois em 2000 a população era de 20.595

habitantes e em 2013 foi registrado um total de 18.383 habitantes.

0

50000

100000

150000

200000

250000

2000 2007 2010 2013

Manoel Urbano

Santa Rosa

Sena Madureira

Humaitá

Tapauá

Pauini

Lábrea

Canutama

Boca do Acre

Beruri

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Nos municípios do Acre, é observado um incremento populacional mais

expressivo quando comparado ao Amazonas. Em Sena Madureira, a população

aumentou 139,4% de 2000 a 2013, Santa Rosa do Purus aumentou 40,

15% e Manoel Urbano, teve um aumento populacional de 74,86%.

A pressão do número populacional sobre os recursos naturais também pode ser

observado pela densidade demográfica (número de habitantes por quilômetro quadrado

– hab/km2). O gráfico 03 apresenta a densidade demográfica dos municípios.

Gráfico 03: Densidade demográfica (habitantes/km2) dos municípios.

Fonte: IBGE (2013).

O gráfico 03 apresenta que Boca do Acre é o município do Amazonas com

maior densidade demográfica (1,4 hab/Km2) quando comparado aos demais, seguido de

Humaitá que possui densidade de 1,34 hab/Km2

e Beruri com 0,9 hab/Km2. Lábrea,

Pauini e Canutama possuem densidade aproximada de 0,55, 0,44 e 0, 43 hab/Km2

respectivamente. A menor densidade é observada para Tapauá com 0,21 hab/Km2. No

Acre, a maior densidade demográfica é observada em Sena Madureira, tendo Santa

Rosa e Manoel Urbanos, densidades aproximadas (0,76 e 0,75 hab/Km2

respectivamente).

Essas informações permitem inferir que Sena Madureira, Boca do Acre,

Humaitá e Beruri recebem maior pressão sobre o uso dos recursos naturais,

necessitando esses municípios de maior observação em torno dos riscos de desastres

ocasionados pela ação antrópica.

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

1,6

0,9

1,4

0,43 0,55

0,44

0,21

1,34

1,6

0,76 0,75

Densidade demográfica (hab/km2)

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4.2. Disponibilidade do sistema de comunicação

A disponibilidade de meios de comunicação para governança de risco é essencial

para implantação de sistemas de monitorização, alerta e alarme em casos de ocorrência

de desastres ambientais. A comunicação deve permitir a prestação de informações em

nível local, regional e nacional em tempo real em situações de emergência ou

calamidade, além de permitir a interação entre as instituições envolvidas para execução

dos planejamentos de prevenção e redução dos riscos.

A tabela 02 apresenta a disponibilidade dos principais meios de comunicação

nos municípios.

Tabela 02: Meios de comunicação existentes nos municípios.

Municípios

Correio Fax Jornais

impressos Internet

Telefone

convencional

e móvel

Beruri Não Sim Não Sim Sim

Boca do Acre Não Não Não Sim Sim

Canutama Não Não Não Sim Sim

Lábrea Não Não Não Sim Sim

Pauini Sim Sim Não Sim Sim

Tapauá Não Sim Não Sim Sim

Humaitá Sim Sim Sim Sim Sim

Sena Madureira Não Sim Não Sim Sim

Santa Rosa Não Sim Não Sim Sim

Manoel Urbano Sim Sim Não Sim Sim Fonte: Pesquisa de campo (2014).

Conforme apresenta a tabela acima, os principais meios de comunicação

disponíveis nos municípios são agências de correio, serviços de telefonia e fax, jornais

impressos e acesso a Internet. Entretanto, apenas Pauini, Humaitá e Manoel Urbano

dispõem de agência de correio. O serviço de fax não está disponível em Boca do acre,

Canutama e Lábrea, e jornais impressos são encontrados apenas em Humaitá. O serviço

de telefonia e Internet estão disponíveis em todos os municípios.

Estas informações permitem inferir que o município de Humaitá possui a melhor

infraestrutura em relação à disponibilidade de meios de comunicação, uma vez que

apresenta os principais veículos. A pior infraestrutura de comunicação é observada em

Boca do Acre, Canutama e Lábrea, pois não disponibilizam de agências de correio,

serviços de fax e jornais.

Apesar da existência dos meios de comunicação nos municípios, existe uma

grande dificuldade de comunicação entre os municípios a nível local, regional e

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nacional. Os serviços de telefonia e Internet constantemente são interrompidos e o

acesso à Internet não atende os critérios de agilidade e eficiência de comunicação. Em

períodos de chuvas estes serviços permanecem praticamente inoperantes.

A dificuldade de comunicação afeta diretamente estratégias de governança de

risco, pois a falta de contato entre as coordenadorias municipais, secretaria estadual de

defesa civil e ministério da integração implica em demora na liberação dos recursos, o

que compromete consideravelmente o atendimento das famílias em situações de

emergência.

Outro ponto a ser destacado é a dificuldade que os municípios enfrentam para

comunicação entre as áreas rurais e a cidade. Um número reduzido de comunidades

rurais dispõe de telefonia ou comunicação por rádio amador, sendo o principal meio de

comunicação bilhetes ou recados enviados pelos barcos que transitam pelas

comunidades. Este fato, associado à dificuldade de logística em função da distância ou

acesso em períodos de seca, resultam no comprometimento do atendimento às famílias,

assim como são os trabalhos de prevenção de riscos são dificultados.

4.3. Recursos humanos

Os recursos humanos são importantes fatores a serem considerados na

construção de planos de governança, cuja estrutura reflete diretamente sobre a

capacidade institucional para sua implementação. O capital humano das instituições

pode ser avaliado pelo treinamento profissional, o que permite aos prestadores de

serviço a execução de suas funções e atividades com maior eficiência.

Para o sucesso de planos de governança de risco, as instituições necessitam

disponibilizar da participação de profissionais interessados no desenvolvimento de um

bom trabalho, interessados em obter o melhor desempenho possível, e conscientes do

seu papel para prevenir e evitar a concretização dos riscos de desastres naturais

iminentes no planeta. A disponibilidade de um corpo técnico capacitado e

comprometido com a causa é primordial para o fortalecimento da capacidade

institucional, compreendendo-se que as instituições não tem “vida” sem as pessoas.

Os planos de defesa civil no Estado do Amazonas poderão contar mais

diretamente para sua execução com os recursos humanos existentes nas coordenadorias

municipais de defesa civil, geralmente servidores designados pelo poder público

municipal. Entretanto, estes servidores poderão ser os responsáveis pela integração da

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instituição com as demais instituições locais, podendo, portanto, contar com todo o

efetivo municipal, tanto para execução de atividades voltadas à prevenção do risco,

quanto nas medidas de respostas.

A tabela 03 apresenta o número de funcionários ativos na administração

municipal e nas coordenadorias municipais de defesa civil, bem como, a proporção do

número de funcionários existentes em função do número populacional

(funcionários/pessoas).

Tabela 03: Número de funcionários ativos da administração direta e das coordenadorias

municipais.

Fonte: IBGE (2008) e pesquisa de campo (2014).

Conforme pode ser observado na tabela acima, o município em pior situação em

relação ao número de funcionários da administração direta disponível para atendimento

da população (número de funcionários/pessoas) no Estado do Amazonas é Lábrea, com

a proporção de 1 funcionário para atender 41 pessoas (1/41), seguido em ordem de

dificuldade por Humaitá, com proporção de 1/34, Beruri com 1/22, Boca do Acre e

Canutama com 1/21, Pauini de 1/16 e o município em melhor situação em relação aos

demais é Tapauá, que possui a proporção de 1 funcionário para 15 pessoas (1/15). No

Estado do Acre a situação é crítica no município de Sena Madureira, com a proporção

de 1/48, destacando-se Manoel Urbano que não possui coordenadoria municipal, e

portanto, não disponibiliza de recursos humanos específicos às ações da defesa civil.

O número de servidores disponíveis para as atividades das coordenadorias

municipais é variável, sendo 5 em Beruri, 2 em Boca do Acre, 6 em Canutama, 6 em

Município

No de funcionários da

administração direta

Proporção de

funcionários em função

da população

(funcionários/pessoas)

Número de servidores

nas coordenadorias

municipais

Beruri 764 1/22 5

Boca do Acre 1554 1/21 2

Canutama 691 1/21 6

Lábrea 1107 1/41 6

Pauini 616 1/16 5

Tapauá 1180 1/15 7

Humaitá 1406 1/34 8

Sena

Madureira 851

1/48

4

Santa Rosa 689 1/8 1

Manoel

Urbano 424

1/20

0

Total 9282 - 44

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Lábrea, 5 em Pauini, 7 em Tapauá, 8 em Humaitá, 4 em Sena Madureira, 1 em Santa

Rosa do Purus e 0 em Manoel Urbano. As principais funções destes servidores é o

cadastramento das famílias nas situações de emergência e calamidade.

Nos municípios do Amazonas, os envolvidos na defesa civil são servidores

cedidos por outras secretarias municipais e a maioria possui baixa escolaridade formal,

como mostra o gráfico 04.

Gráfico 04: Nível de escolaridade dos servidores das coordenadorias municipais.

Fonte: Pesquisa de campo (2014).

Conforme demonstra o gráfico acima, a maioria dos servidores possui o nível

médio como escolaridade formal (91,66%) e apenas 8,34% possui ensino superior

(conforme indica o gráfico 04), sendo estes últimos observados somente no município

de Humaitá.

Outro problema apontado é o acúmulo de funções, uma vez que os servidores

que prestam serviço à defesa civil não saem de suas funções nas secretarias ou outras

instituições às quais pertençam originalmente. Além disso, foi indicado pelos

participantes do workshop um despreparo destes servidores para atuação tanto nas

atividades da defesa civil, quanto em outras atividades relacionadas à gestão da água.

Os servidores não recebem cursos de capacitação e associado ao baixo nível de

escolaridade, a execução das tarefas solicitadas pelos gestores ou coordenadores,

especialmente relacionadas à coleta e registro de informações é comprometida. Essa

deficiência perpetua o despreparo e baixa capacitação do pessoal envolvido nos

processos de decisão local e demais atividades de gestão do poder público municipal.

Foi apontada também a descontinuidade das ações planejadas pelos gestores em

função das atividades de gestão ser diretamente associadas a cargos ou funções públicas

indicadas pelo grupo político detentor do poder a cada quatro anos. Este fato, segundo

33

6

Nível médio

Nível superior

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os entrevistados, gera comodismo dos técnicos e descompromisso com as atividades de

proteção e assistência à sociedade.

Houve indicação ainda da necessidade de incentivos aos servidores envolvidos

nas ações da defesa civil, especialmente pela caracterização da atividade como

periculosa. Os agentes municipais são geralmente servidores cedidos de outras

secretarias, designados para colaborar nas ações emergenciais, exercendo essas

atividades sem prejuízos das funções que ocupam, não fazendo jus a qualquer espécie

de gratificação ou remuneração especial. A falta de gratificação deve-se à consideração

dos serviços como “prestação de serviços relevantes”, sendo o coordenador indicado

pelo Chefe do Executivo Municipal, a quem compete organizar as atividades.

Entretanto, foi considerada por parte dos coordenadores a necessidade de incentivos

funcionais para estimular os agentes na prestação do serviço, o que garantiria maior

envolvimento e eficiência nas atividades. Os incentivos poderiam ser relacionados, por

exemplo, à redução do tempo de serviço para aposentadoria ou direitos trabalhistas

correlatos.

Diante do cenário observado em torno dos arranjos institucionais dos municípios

para a gestão e regulação da água, observa-se que a Política Nacional (PNDC) ainda não

foi implementada. Os NUDECs previstos como parte integrante do SINDEC inexistem

nos municípios; o baixo nível de integração institucional entre as diferentes esferas

(municipal, estadual, federal, ONGs e empresas privadas), tanto nas ações preventivas

quanto assistenciais, representa a ausência de investimentos para o desenvolvimento dos

projetos determinados na PNDC, o que neste caso específico poderia ser amenizado

com os “Projetos de Desenvolvimento Institucional” que preveem a integração vertical,

horizontal e setorial das instituições relacionadas à defesa civil.

Outrossim, o SINDEC não atende satisfatoriamente às necessidades das

populações amazônicas, uma vez que a infraestrutura existente é insuficiente para o

cumprimento dos critérios necessários à aquisição dos recursos pelos municípios, sendo

limitado inclusive pelo baixo nível de capacitação dos servidores e profissionais

envolvidos na gestão da água e defesa civil. Essas deficiências poderiam ser amenizadas

caso houvesse o cumprimento da implantação de “Programas de Preparação

Operacional e de Modernização do Sistema” no primeiro caso, e “Programas de

preparação técnica e institucional” no segundo, ambos previstos na PNDC.

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4.8. Recursos físicos

A disponibilidade de recursos físicos foi analisada em função dos equipamentos

e infraestrutura disponíveis nas coordenadorias municipais, tanto de propriedade

própria, quanto disponibilizados por outras instituições que prestam apoio às atividades

da defesa civil.

Nos municípios, as coordenadorias não possuem sala ou prédio próprio, como

pode ser observado no quadro 01.

Quadro 01: Local de funcionamento das coordenadorias municipais.

Municípios Local de funcionamento

Beruri Sala alugada pela prefeitura

Boca do Acre Sala no prédio da ação social

Canutama Sala na prefeitura

Lábrea Auditório da prefeitura

Pauini Sala na Secretaria de Assistência Social

Tapauá Sala na Secretaria de abastecimento

Humaitá Sala alugada pela prefeitura

Sena Madureira Sala no prédio do corpo de bombeiros

Santa Rosa Sala na Secretaria de saúde Fonte: Pesquisa de campo (2014).

Conforme apresenta o quadro acima, as coordenadorias municipais funcionam

juntamente com outros setores das prefeituras ou em prédios públicos destinados às

secretarias municipais, tais como, secretaria municipal de assistência social, de

abastecimento e de saúde.

Em relação aos equipamentos disponíveis para o trabalho, conforme indica o

gráfico 04, as coordenadorias possuem apenas computador, impressora, GPS, roteador

de Internet, data show e rádio amador.

Gráfico 04: Disponibilidade de equipamentos nas coordenadorias municipais.

Fonte: Pesquisa de campo (2014).

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1 1

4

1

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0

2

1 1

4

1

2

0

1 1

0 0 0

2

0 0

1 1 1 1 1

0

1

Computador

Impressora

GPS

Roteador de internet

Data show

Rádio amador

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Como pode ser observado no gráfico acima, em relação aos equipamentos

disponíveis para o trabalho, o município que possui melhor estrutura é Humaitá,

possuindo todos os equipamentos apresentados no gráfico. Pauini é o município em pior

situação, pois não disponibiliza de equipamentos. Quando os servidores deste município

necessitam de computador, impressora, acesso à internet e demais equipamentos,

utilizam a estrutura da secretaria municipal de assistência social.

Deste modo, é possível observar uma precariedade no oferecimento de

equipamentos para as ações da defesa civil, o que prejudica diretamente o sucesso das

ações preventivas, como também das atividades executadas em situações de

emergências. Esta situação representa ainda uma baixa capacidade institucional em

relação aos recursos físicos, bem como, reflete uma vulnerabilidade dos municípios para

atendimento das famílias.

A disponibilidade de veículos para realização das atividades da defesa civil é

outro fator de infraestrutura limitante. Como demonstra o gráfico 05 , os principais

veículos utilizados para deslocamento na cidade são caminhão, carro, motocicleta e

triciclos, enquanto o deslocamento entre a cidade e as áreas rurais ocorre por voadeiras5

ou embarcações de maior porte.

Gráfico 05: Disponibilidade de veículos nos municípios.

Fonte: Pesquisa de campo (2014).

Nenhuma coordenadoria entre os municípios analisados possui veículo próprio.

Geralmente, quando ocorre necessidade de deslocamento, as coordenadorias solicitam

5 Voadeira é o nome dado pela população do Estado para pequenas embarcações movidas por motores

com potência de 40 ou 60 HP.

0

1

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3

4

5

6

7

8

9

10

Beruri Canutama Tapauá Lábrea Humaitá Pauini Boca doAcre

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1 1 1 1

10

1 1

3

1

3

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5 5

10 Barco

Caminhão

Carro

Motocicleta

Triciclo

Voadeira

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veículo de outras instituições. Conforme demonstra o gráfico 05, Humaitá dispõe de um

maior número de veículos que podem ser utilizados para atividades da defesa civil,

sendo 5 caminhões, 10 carros e 5 voadeiras. Lábrea e Pauini são os municípios que

possuem a menor frota de veículos, disponibilizando apenas de 1 carro para a execução

do trabalho. Quando há necessidade de deslocamento via fluvial, as coordenadorias

solicitam aluguel de voadeiras que são pagas pelas prefeituras.

Diante do cenário observado em torno da infraestrutura e disponibilidade de

equipamentos nos municípios para gestão da água e estratégias de governança de risco,

é possível inferir que existe uma insuficiência tanto de recursos físicos, humanos e

financeiros nos municípios. Apesar das parcerias institucionais que disponibilizam o uso

de computadores, impressoras, acesso à internet ou veículos para o trabalho das

coordenadorias, os recursos disponíveis são insuficientes para implementação de futuros

planos de governança e ações da defesa civil;

4. Estrutura organizacional dos planos diretores dos municípios para a governança

de risco

O artigo 182 da Constituição Federal brasileira de 1988 determina que “a

política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme

diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das

funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus ambientes” e no parágrafo 1º

indica: “O plano diretor, aprovado pela câmara municipal, obrigatório para cidades com

mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de

expansão urbana”.

Por sua vez, a Política Nacional da Defesa Civil embasando-se no parágrafo

acima citado, prevê como meta: “Promover em todos os municípios com mais de 20.000

habitantes, estudos de riscos de desastres, objetivando o microzoneamento urbano, com

vistas à elaboração do Plano Diretor de Desenvolvimento Municipal (PDDM)”. Além

disso, determina a elaboração de Planos Diretores de Defesa Civil (PDDC) a serem

ordenados considerando estratégias de prevenção de desastres, preparação para

emergências e desastres, resposta aos desastres e reconstrução.

Nesta sessão, a estrutura organizacional dos planos diretores dos municípios para

a governança de risco é analisada (quando existem) segundo os mecanismos disponíveis

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para implementação da política sobre esses quatro aspectos, focando-se na importância

do planejamento para a eficiência das ações de governança.

Entretanto, como não há menção em nenhum plano diretor sobre ações

relacionadas à defesa civil, concernentes ao planejamento de ações relacionadas à

preparação para emergências e desastres, resposta aos desastres e reconstrução, os

planos são avaliados apenas quanto à presença de instrumentos para prevenção de

desastres.

Os municípios analisados neste trabalho não possuem Planos Diretores de

Defesa Civil elaborados, mesmo naqueles com mais de 20.000 habitantes, como

determina a legislação. A tabela 04 apresenta o número de habitantes dos municípios e

a existência de PDDM e PDDC.

Tabela 04: Existência de Planos Diretores nos municípios.

Município No. de habitantes PDDM PDDC

Beruri 17.332 Não Não

Tapauá 18.383 Sim Não

Canutama 14.754 Não Não

Lábrea 41.600 Sim Não

Humaitá 49.137 Sim Não

Boca do Acre 32.792 Sim Não

Pauini 19.149 Não Não

Sena Madureira 41.036 Sim Não

Santa Rosa 5.593 Não Não

Manoel Urbano 8.514 Não Não Fonte: IBGE (2013).

Como pode ser observado na tabela acima, dos onze municípios, apenas Lábrea,

Humaitá e Boca do Acre no Amazonas e Sena Madureira, no Acre, possuem mais de

20.000 habitantes, sendo estes e mais Tapauá os únicos a possuírem Plano Diretor de

Desenvolvimento Municipal, destacando-se Tapauá que tendo apenas 18.383 habitantes,

possui PDDM.

Assim, os instrumentos existentes nos municípios para governança de risco são

analisados a partir dos instrumentos observados nos planos diretores para gestão da

água e do meio ambiente, uma vez que não há instrumentos específicos voltados à

defesa civil. Como os planos diretores dos municípios são extremamente semelhantes, a

análise dos instrumentos foram enquadradas de forma unificada por categoria (água e

ambiente), englobando-se os aspectos comuns entre os municípios e destacando-se as

diferenças nos planos quando ocorrem.

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4.1. Instrumentos existentes nos PDDM para gestão da água

A rede hidrográfica e as reservas subterrâneas de água são reconhecidas nos

planos diretores como patrimônio natural. Dentre as principais diretrizes para a gestão

deste patrimônio, segundo os planos, estão a:

* Preservação das matas ciliares, igarapés e áreas de

várzeas;

* Adequação da ocupação urbana à proteção de igarapés e

dos locais de captação superficial de água.

* Elaboração de um programa de proteção dos recursos

hídricos: mapeamento das nascentes e cursos d´água

permanentes e temporários; delimitação das faixas de

proteção dos rios e igarapés; identificação dos usuários da

bacia e proteção das matas ciliares.

A ocupação do solo nas áreas rurais é tratada de forma separada do planejamento

urbano. Segundo os planos, a diretriz específica para o uso e a ocupação do solo na área

rural, relacionada ao uso dos recursos hídricos, é a “compatibilização do uso e a

ocupação rural com a proteção ambiental, especialmente quanto à preservação das

áreas de mananciais destinadas à captação para abastecimento de água”. Na área

urbana, a ocupação deve ser “restrita nas áreas de mananciais, de captação de água

para abastecimento da cidade e de recarga dos aquíferos, bem como, a ocupação deve

ser controlada nas áreas não servidas por redes de abastecimento de água evitando a

alta densidade populacional”.

Os sistemas de drenagem urbana, que evitam alagações em caso de enchentes

extremas, têm como diretrizes principais nos planos diretores:

* Definição de mecanismos para usos do solo compatíveis

com áreas de interesse para drenagem, principalmente:

hortas comunitárias, áreas de vegetação nativa e áreas de

recreação e lazer;

* Implementação da fiscalização do solo nas faixas

sanitárias, várzeas e fundos de vale;

* Desenvolvimento de projetos de drenagem adequados a

paisagem urbana, ao uso e a mobilidade de pedestres e

portadores de deficiência física;

* Implantação de medidas de controle de erosão,

principalmente quando relacionadas as ações de despejo

de resíduos, desmatamento e ocupações irregulares;

* Exigência de estudos para implantação de

empreendimentos de médio e grande porte relativos à

permeabilidade e absorção de águas pluviais no solo.

A menção na política em relação à conservação dos rios principais (Purus e

Madeira) é observada apenas sobre à: Conservação, recuperação e adequação das

áreas de sensibilidade ambiental: nascentes e foz dos rios e igarapés; Recarga dos

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aquíferos e margens do Rio Purus. As demais observâncias são relacionadas à

exploração produtiva: estudo das potencialidades econômicas; Implantação de polos

interativos de pesca, agroindústria e turismo; Estabelecimento de consórcios e

associações direcionados ao turismo para realizar eventos de lazer e esportivos.

Segundo a lei que institui os planos diretores, o sistema de gerenciamento dos

recursos hídricos dos municípios deverá “adotar sistemas mistos de captação de águas

superficiais e subterrâneas para equilibrar as ofertas e buscar a universalização do

acesso ao uso da água, como medida específica para a gestão do sistema de

abastecimento de água” (art. 35).

Como pode ser observado nos instrumentos acima descritos, pode-se inferir que

a prevenção de desastres nos municípios no âmbito da gestão da água, é tratada

mediante a indicação da necessidade de preservação dos recursos hídricos e adequação

da ocupação humana às fontes de captação de água de forma a facilitar os sistemas de

abastecimento.

4.2. Instrumentos existentes nos PDDM para gestão ambiental

O ordenamento ambiental consta como um dos objetivos dos planos diretores:

“Considerar os condicionantes ambientais para determinar critérios e parâmetros de

ordenamento, uso e ocupação do solo, principalmente em áreas de nascentes,

reflorestamento, recuperação de áreas degradadas, expansão dos serviços de

saneamento básico, implantação e melhoramento de espaços públicos”.

Para cumprimento deste objetivo, os municípios preveem a implantação de um

sistema ambiental, cujos principais instrumentos são (Plano diretor de Tapauá):

Art. 42. A organização do território municipal deve ser

disciplinada na forma de sistema ambiental de modo a

assegurar o equilíbrio ambiental e contribuir para o

desenvolvimento sustentável.

Art. 43. O sistema ambiental no Município deve ser

articulado com as políticas públicas de gestão e proteção

ambiental, de saneamento básico, recursos hídricos, coleta

e destinação de resíduos sólidos, áreas verdes e drenagem

urbana.

Art. 44. São objetivos do sistema ambiental:

I – implementar as diretrizes contidas na Política Nacional

de Meio Ambiente, Política Nacional de Recursos Hídricos,

Política Nacional de Saneamento, Plano Nacional de

Recursos Hídricos, Plano Nacional de Combate a

Queimadas e Desmatamento, Lei Orgânica do Município e

demais legislações ambientais aplicáveis, no que couber;

II – conservar ou proteger os recursos naturais e o cenário

ambiental;

III – prevenir, controlar ou reduzir a poluição e a

degradação ambiental em quaisquer de suas formas;

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IV – estimular a adoção de práticas e costumes que visem à

conservação e a recuperação do meio ambiente;

V – assegurar a produção e a divulgação de materiais para

informação e promoção da sensibilização ambiental;

VI – incentivar pesquisas e tecnologias direcionadas a uso

racional e a conservação ambiental.

Art. 45. São diretrizes do sistema ambiental municipal:

I – aplicar os instrumentos de gestão ambiental,

estabelecidos nas legislações federais, estaduais e

municipal;

II – priorizar a implantação de ações mitigadoras de

processos de degradação ambiental decorrentes de usos e

ocupações desordenadas;

III – controlar o uso e a ocupação dos grotões e áreas de

risco já existentes;

IV – Impedir a formação de novas ocupações em locais

inadequados;

V – realizar o zoneamento ambiental em conformidade com

as diretrizes para ocupação do solo;

VI – prevenir e controlar a poluição da água, do ar e do

solo para evitar suas respectivas contaminações.

VII – orientar e controlar o manejo do solo nas áreas

agrícolas;

VIII – estimular a participação da população na definição

e execução das ações para proteção ambiental;

IX – incluir a educação ambiental nas medidas e ações

direcionadas à proteção do meio ambiente.

Art. 46. São ações estratégicas para a gestão do sistema

municipal;

I – controlar as possíveis fontes de poluição;

II – observar o disposto na Lei Federal no. 9.605/98 de

Crimes ambientais;

III – criar e implementar mecanismos de controle e

licenciamento ambiental para implantação e

operacionalização de empreendimentos potencialmente

poluidores.

Art. 50. O sistema de abastecimento de água, esgotamento

sanitário, a rede de drenagem de águas pluviais, a gestão

integrada de resíduos sólidos e o controle e monitoramento

da poluição ambiental são elementos referenciais para o

saneamento ambiental de modo a melhorar as condições de

vida da população no Município e prevenir a degradação

dos seus recursos naturais.

Art. 51. Todo projeto e empreendimento público ou privado

a ser implantado no Município deve obedecer às

disposições e aos parâmetros urbanísticos e ambientais

estabelecidos na legislação municipal.

Complementando as diretrizes do sistema ambiental, o saneamento básico define

ações preventivas de degradação dos recursos naturais, com a implantação de sistemas

de abastecimento de água, esgotamento sanitário, drenagem das águas pluviais, gestão

integrada de resíduos sólidos, controle e monitoramento da poluição ambiental. As

principais medidas observadas em torno do saneamento básico são:

* Reservar áreas de implantação de sistemas de tratamento

de esgotos;

* Conservar os igarapés, restringindo o uso e a ocupação

urbana.

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* Compatibilizar o uso e a ocupação rural com a proteção

ambiental, especialmente à preservação das áreas de

mananciais destinados à captação para abastecimento de

água;

* Controlar a ocupação nas áreas não servidas por redes

de abastecimento de água e esgotamento sanitário,

evitando altas densidades populacionais;

* Promover o envolvimento da população na definição e

execução das ações para proteção ambiental;

* Incluir a educação ambiental nas medidas e ações

voltadas à proteção do meio ambiente.

As diretrizes identificadas nos planos relacionadas à governança de risco

referem-se a:

*Intervenção em áreas degradadas e de risco, de modo a

assegurar a integridade física, o direito à moradia e a

recuperação da qualidade ambiental destas áreas;

* Definição e execução de programas e projetos

habitacionais que reduzam ou eliminem riscos na moradia

e favoreçam melhorias habitacionais conforme as

necessidades dos cenários diagnosticados;

* Construção de moradias para substituição de residências

precárias que abriguem famílias em situação de miséria,

residentes em áreas de risco ou sem condições de

habitabilidade.

* Retirar as famílias em situação de risco localizadas em

terrenos inadequados para construção ou em proximidades

da disposição final de resíduos sólidos.

* Controlar o uso e a ocupação dos grotões e áreas de

risco já existentes;

* Desenvolver programas e ações de saúde baseados nos

principais riscos;

Como pode ser observado nos instrumentos acima descritos, o sistema ambiental

proposto pelos municípios como ferramenta de gestão, apresenta objetivos e diretrizes

voltados à manutenção e conservação dos recursos naturais, ao controle ambiental e a

medidas de mitigação. No primeiro caso, é indicada, por exemplo, a prevenção e

redução da poluição e degradação ambiental, incentivo à educação ambiental e ao

desenvolvimento de pesquisas e tecnologias direcionadas ao uso racional dos recursos

naturais.

As diretrizes concernentes aos aspectos de controle da degradação ambiental têm

como mecanismo principal o licenciamento ambiental, no caso da implantação de

empreendimentos, e o controle ocupacional em áreas de risco. Os instrumentos para

mitigação da degradação já existente restringe-se à retirada das famílias de áreas de

risco.

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Apesar dos indicativos no sistema ambiental referentes à prevenção, controle e

mitigação dos efeitos da ação antrópica sobre o meio ambiente e suas consequências

sobre os riscos de desastres, o sistema ambiental não oferece base operacional e

institucional para o alcance dos objetivos propostos. Existe o reconhecimento da

necessidade de adoção de medidas para reduzir os efeitos e os riscos dos desastres sobre

a população, bens materiais e recursos naturais, porém, não são definidas estratégias,

ações, indicadores ou metas para sua operacionalização.

4.3. Considerações gerais sobre os Planos diretores de desenvolvimento dos

municípios

O plano diretor de desenvolvimento dos municípios oferece diretrizes que

podem contribuir como ferramentas operacionais para elaboração dos planos de defesa

civil, especialmente nas ações voltadas para prevenção e reparação da degradação

ambiental. O reconhecimento nos planos da necessidade de preservação dos mananciais,

áreas de várzea, controle da ocupação e a determinação de um sistema ambiental,

representam mecanismos úteis para elaboração do plano de defesa civil.

Entretanto, nos planos diretores não são definidos instrumentos e mecanismos

específicos para operacionalização das diretrizes, como indicativos de programas,

instituições responsáveis pelas ações ou definição de prazos para cumprimento das

metas, pressupostos essenciais para viabilização da aplicabilidade da lei. Convém a

indicação nos planos, do caminho a ser percorrido para o alcance das diretrizes,

estabelecendo-se também metodologias para avaliação, reformulação e adequação das

atividades mediante necessidade.

Segundo a Política Nacional da Defesa Civil, a Prevenção de Desastres

compreende a Avaliação de Riscos de Desastres e a Redução dos Riscos de Desastres.

A avaliação deve ser realizada pelo estudo das ameaças, do grau de vulnerabilidade do

sistema e dos corpos receptores e da hierarquização dos riscos, definindo-se as áreas de

maior risco. Já a redução dos riscos envolve medidas não-estruturais: planejamento da

ocupação e/ou da utilização do espaço geográfico, em função da definição das áreas de

risco e aperfeiçoamento da legislação de segurança contra desastres; e

medidas estruturais: obras de engenharia de qualquer especialidade.

Nos planos diretores não há indicativos da obrigatoriedade da realização de

estudos para avaliações desta natureza. A determinação de estudos é observada apenas

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para licenciamento de grandes empreendimentos nos municípios, exigindo-se estudos

relativos à permeabilidade e absorção de águas pluviais no solo. Convém a realização de

diagnósticos para composição das estratégias de avaliação e redução dos riscos de

desastres.

Em relação a atividades direcionadas especificamente à redução dos riscos, é

indicado o controle da ocupação em áreas de risco, deslocando-se as famílias já

instaladas nestes espaços e a viabilização de programas habitacionais. Porém, não há

descrição das formas como estes programas serão executados, o que inviabiliza

operacionalmente esta diretriz.

Nos planos diretores, são ainda observadas indicações acerca da participação da

população nos processos de elaboração e execução das ações voltadas à proteção

ambiental. Entretanto, a ausência de diagnósticos e processos de mobilização da

população na própria elaboração do plano diretor, demonstra o desconhecimento e a

ausência de comprometimento dos gestores em torno da inclusão da participação

popular nas tomadas de decisões. Assim, percebe-se que as demandas sociais e

ambientais são apontadas nos planos diretores mais para cumprimento das

determinações legislativas, do que para o atendimento real das necessidades da

população.

Desta forma, é necessário capacitar os gestores públicos para o reconhecimento

e uso do plano diretor para fins operacionais e como instrumento de gestão, ao invés do

uso exclusivamente técnico e burocrático para obtenção de recursos públicos.

Considerando que o planejamento é uma fase preparatória e imprescindível da gestão

pública (SOUZA, 2006), o plano diretor pode ser um importante instrumento para

promoção de uma gestão democrática e eficiente, no que concerne ao atendimento das

demandas físicas (proteção do ambiente) e humanas.

Para elaboração do plano de defesa civil dos municípios é necessário um

trabalho de envolvimento da população em todas as fases, por meio de fóruns de debate

e diagnósticos das ameaças e vulnerabilidades de risco, aproveitando-se a experiência

da comunidade quanto às estratégias de resposta e adaptação já utilizadas. O

envolvimento da população na elaboração do plano poderá não apenas suscitar uma

cultura de participação social e gestão democrática, mas também uma conscientização

dos níveis de riscos e consequentemente da necessidade de contribuição para

minimização dos mesmos, enfocando-se neste sentido as premissas da educação

ambiental. A população necessita, portanto, compreender a importância da governança

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de risco como estratégia de alcance de interesses coletivos, evidenciando os riscos de

desastres como nocivos à manutenção da vida e ao ambiente onde residem, lembrando

Tenan (1974, p 32):

“A defesa comunitária está fundamentada no princípio de

que nenhum governo tem capacidade para solucionar todos

os problemas que possam afetar a comunidade. Sendo

assim, torna-se imprescindível que o povo coopere com as

autoridades governamentais para que, no seu próprio

interesse, sejam resolvidos os diferentes problemas que

possam afetar a comunidade”.

Outro aspecto a ser considerado, é que apesar de a constituição federal

determinar a obrigatoriedade do plano diretor para cidades com mais de 20.000

habitantes e que este deve ser utilizado como instrumento de planejamento voltado ao

desenvolvimento urbano, os preceitos da gestão territorial apontam a necessidade do

desenvolvimento de ações voltadas às populações moradoras de áreas rurais de forma

integrada ao urbano, especialmente nas cidades amazônicas, onde não existe uma

divisão estanque entre a cidade e o espaço rural.

Além disso, considerando a determinação do Estatuto da Cidade, regulamentado

pela lei 10.257 de 2001, que estende a obrigatoriedade do plano diretor às cidades

localizadas em regiões metropolitanas e aglomerações urbanas; propriedades privadas

enquadradas no parágrafo 4º do artigo 182 da Constituição Federal 6; cidades de

interesse turístico e cidades sujeitas à influência de grandes empreendimentos ou

atividades de significativo impacto ambiental de abrangência regional ou nacional,

pode-se afirmar que os municípios localizados na calha dos rios Purus e Madeira no

Estado do Amazonas, poderiam ser enquadrados na obrigatoriedade de elaboração do

plano diretor, assim como de defesa civil, uma vez que estão sob influência da

construção de hidrelétricas e rodovias (BR 319), além de serem municípios amazônicos

que sofrem efeitos significativos de desmatamento, grilagem de terras, uso intensivo e

ilegal da pesca e de produtos florestais madeireiros e não madeireiros (COSTA &

RAVENA, 2014).

6 O parágrafo 4º do artigo 182 da constituição federal brasileira diz que: “É facultado ao Poder Público municipal,

mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo

urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena,

sucessivamente, de:

I - parcelamento ou edificação compulsória;

II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo;

III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo

Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor

real da indenização e os juros legais”.

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No cenário de ausência de plano diretor municipal e plano de defesa civil, é

dificultado o acompanhamento do uso dos recursos naturais e sua consequência sobre os

riscos de desastres ou de mudanças climáticas extremas, uma vez que não são

disponibilizados instrumentos para fiscalização e controle, contribuindo assim para

ampliação das pressões sobre os aspectos sociais e naturais.

Considerando as condições de habitação e saneamento básico dos municípios,

pode-se afirmar que muitas diretrizes elencadas nos planos diretores, referentes ao

ordenamento urbano, ainda não saíram do papel. No município de Boca do Acre, por

exemplo, em período de enchentes e alagamentos da área urbana, é possível visualizar

dejetos fecais nas áreas alagadas, devido à ausência de saneamento básico (fala da

representante de Boca do Acre que participou no workshop em Manaus). Há relatos

também da péssima qualidade da água, sendo possível sentir o gosto de argila caso não

seja filtrada antes de ser consumida. As péssimas condições de habitação e saneamento

são observadas em todos os municípios.

A precariedade das condições de habitação no espaço urbano reflete a

ineficiência dos planos diretores para ordenação da cidade e atendimento dos anseios e

demandas da população mais carente, refletindo a ausência de estratégias para mitigação

e solução dos problemas enfrentados, especialmente àqueles voltados à conciliação da

manutenção das moradias com o uso dos recursos naturais, como o solo e a água.

Ressalta-se a importância também do envolvimento de uma equipe de

profissionais multidisciplinar na elaboração dos planos de defesa civil, uma vez que

devem ser integradas atividades de naturezas diversas, tais como abordagens sociais,

econômicas, ambientais e institucionais.

Outro fator deficiente nos planos diretores é a definição de integração

institucional para minimização de esforços e maximização do aproveitamento dos

equipamentos, infraestrutura e recursos humanos disponíveis nos municípios. A

integração institucional é importante também para o desenvolvimento de atividades de

abrangência local, regional e nacional, atendendo-se a concepção de uma gestão

integrada tanto do desenvolvimento urbano, quanto da governança de risco.

Por fim, existindo uma relação direta entre a precariedade das condições de

moradias e demais necessidades da população com a vulnerabilidade e riscos de

desastres, os planos diretores podem ser utilizados como base para formulação dos

planos de defesa civil, entretanto necessitam serem preenchidas diversas lacunas, tanto

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de informações em nível de diagnóstico das situações de risco, como metodologias

operacionais para execução das ações.

A integração dos programas voltados à melhoria da qualidade de vida da

população às estratégias de governança de risco pode ocorrer, por exemplo, por meio de

medidas estruturais (obras de engenharia) e a redução da vulnerabilidade, pode ser

viabilizada por meio de planejamentos que envolvam os diversos níveis institucionais,

organizacionais e especialmente, a comunidade.

5. Considerações finais

A avaliação da capacidade das instituições governamentais dos municípios da

Bacia do Rio Purus a partir da análise da infraestrutura dos municípios, dos arranjos

institucionais para a gestão e regulação da água e das estruturas organizacionais dos

planos diretores dos municípios, como entrada direta para implementação de estratégias

de adaptação a mudanças climáticas na governança de risco, aponta que os mecanismos

regulatórios e institucionais existentes no Amazonas e no Acre são ainda incipientes.

A coleta de dados neste ano de 2014 foi bastante propícia e ilustrativa das ações

governamentais e dos danos ocasionados por eventos climáticos extremos, devido à

grande cheia registrada no Amazonas que atingiu principalmente os municípios da

região do Madeira e do Purus. Este evento refletiu a limitação da capacidade preventiva

e a ausência de ferramentas eficientes para minimizar os danos promovidos por eventos

climáticos extremos. A vulnerabilidade dos municípios, associada à ausência de planos

de prevenção e medidas de adaptação levou cerca de 50% dos municípios ao estado de

emergência ou calamidade pública.

Por outro lado, apesar das dificuldades enfrentadas pelas populações ribeirinhas

em situações de secas ou cheias extremas, foi observado que estas pessoas manifestam

estratégias para contornar os problemas que surgem nestes eventos. As alternativas

podem ser observadas em todas as atividades, desde o uso de canoas para colheitas nas

áreas alagadas até a elevação dos assoalhos das casas, construindo-se as chamadas

marombas.

Durante as entrevistas e a realização do workshop, como os municípios estavam

vivenciando a situação de cheia extrema no momento, as respostas foram claras e

contundentes. Os participantes manifestaram suas ideias a respeito das causas do evento

e puderam sugerir “saídas” para prevenção e resposta aos desastres naturais, baseados

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em estratégias já adotadas pelos moradores afetados nos municípios. As informações

permitiram um embasamento mais realístico para elaboração do diagnóstico

institucional e de infraestrutura dos municípios, o que permitirá a construção de um

modelo de governança de risco adequado à realidade vivenciada na região e

consequentemente o embasamento de políticas públicas mais eficazes.

Pelo observado, a gestão ocorre mais no âmbito do desastre do que do risco do

desastre. Apesar da Política Nacional de Defesa Civil reconhecer em suas diretrizes e

metas a necessidade de ações voltadas ao risco, na prática o que é observado são

esforços mais voltados às respostas, com o socorro e assistência às populações afetadas

nos eventos extremos.

Entretanto, embora sejam observadas deficiências na implementação da política

a nível local, as ferramentas operacionais previstas na PNDC são importantes

mecanismos de viabilização das estratégias de governança de risco, especialmente no

que se refere à infraestrutura física, material e pessoal, bem como, na integração

institucional e inclusão da comunidade na elaboração dos planos e tomada de decisões.

É necessário também iniciativas de inclusão de empresas em estratégias de redução dos

riscos de desastres, principalmente as hidrelétricas instaladas no Estado.

Diante do cenário observado, os investimentos para governança de risco na

região podem ser então voltados à:

Inclusão das experiências locais, evidenciando sua capacidade de

adaptação e resistência;

A integração das instituições nas diferentes esferas;

A adequação da política à realidade amazônica;

Inclusão da gestão do risco, com investimentos em estudos de

vulnerabilidade e riscos de calamidades, associar de forma mais

direta a política de defesa civil às demais políticas, especialmente

a ambiental.

Estas iniciativas possibilitarão a saída das diretrizes politicas do papel,

reduzindo-se o distanciamento entre as metas elaboradas e a execução das ações. A

utilização, por exemplo, dos planos diretores pelo poder público municipal como

norteador do planejamento de suas ações e ferramenta da gestão, possibilita a adequação

da governança de risco de mudanças climáticas às potencialidades e alternativas

evidenciadas em cada município. O investimento em ações voltadas à governança de

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risco em detrimento do atendimento de resposta reduzirá os danos causados ao ambiente

e os transtornos à população.

Outro ponto a ser destacado, é a necessidade de integrar os municípios nos

sistemas de governança. Esta integração minimizará as dificuldades enfrentadas em

torno dos setores financeiros, administrativos e organizacionais. A integração dos

municípios em torno de demandas e objetivos comuns fortalecerá também a região para

apresentação das propostas nas conferências estaduais e nacionais, possibilitando maior

poder mobilizador e a adequação das diretrizes e sistemas à realidade vivenciada na

região Norte.

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