tese comuna de paris c valle
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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSEINSTITUTO DE CINCIAS HUMANAS E FILOSOFIA
DEPARTAMENTO DE CINCIA POLTICAPROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIA POLTICA
CAMILA OLIVEIRA DO VALLE
A COMUNA DE PARIS DE 1871: ORGANIZAO E AO
NITERI2013
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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSEINSTITUTO DE CINCIAS HUMANAS E FILOSOFIA
DEPARTAMENTO DE CINCIA POLTICAPROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIA POLTICA
CAMILA OLIVEIRA DO VALLE
A COMUNA DE PARIS DE 1871: ORGANIZAO E AO
Tese de doutorado apresentada ao Programa dePs-Graduao em Cincia Poltica (PPGCP) daUniversidade Federal Fluminense (UFF), comorequisito para a obteno do ttulo de Doutor emCincia Poltica. rea de Concentrao: TeoriaPoltica.
Orientador: Prof. Dr. Claudio de Farias AugustoCoorientador estrangeiro: Prof. Dr. PasqualePasquino (Doutorado sanduche)
NITERI2013
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Agradecimentos
Aos meus pais, Arquimedes e Fernanda, que sempre me apoiaram e possibilitaram que o
Doutorado fosse realizado, pelo carinho e amor;Ao meu irmo Fabricio e amiga Suellen, que ouviram minhas lamentaes e me fizeram rir,
pelos momentos de alegria, pela amizade e fora;
s minhas avs, Carmosina e Nympha, que sempre vibraram com minhas conquistas, pelo
exemplo;
Aos meus padrinhos, Pricles e Margareth, e minha prima Marisa, que dividiram comigo
alegrias e tristezas, pelo companheirismo;
Aos familiares, que foram minha base de sustentao, pela cumplicidade;
s amigas Denise e Ingrid, que participaram de minhas decises, pela parceria;s minhas amigas e amigos, de Florianpolis, do Rio de Janeiro e de Paris, que compartilham
das alegrias e tristezas, pelas palavras de paz e coragem;
Ao meu orientador, Claudio de Farias Augusto, e Ins Patrcio, que me concederam apoio e
espao para que a tese fosse realizada, pelas conversas e ajudas;
Ao meu coorientador estrangeiro, Pasquale Pasquino, que me permitiu ir a Paris pesquisar em
arquivos e bibliotecas, pelo reconhecimento e debates;
Aos professores, em especial, da Universidade Federal Fluminense, que contriburam para a
minha formao, pelas aulas e discusses;Aos colegas de Doutorado, trabalho e estgios, que dividiram momentos de reflexo, pela
aprendizagem;
Universidade Federal Fluminense e seus trabalhadores, especialmente ao Coordenador do
Programa de Ps-graduao em Cincia Poltica, Carlos Henrique Serra e aos Secretrios
Graa e Manoel, que me deram condies para fazer a pesquisa, fazendo vencer a burocracia,
pelo apoio, declaraes e documentos;
cole des Hautes tudes en Sciences Sociales, que me aceitou, pela troca de expriencias;
Aos trabalhadores e organizadores dos arquivos pesquisados na Frana, que me ajudaram ater acesso aos documentos, pela compreenso;
A todos e todas que me ajudaram a fazer essa pesquisa, com debates, esclarecimentos e
criao de novas dvidas, entre eles os marxistas da UFF, especialmente do NIEP-Marx, do
Rio de Janeiro e de Florianpolis, pelo conhecimento compartilhado;
Aos communardse communardes, que realizaram um governo de trabalhadores num contexto
hostil, pelas lies que nos deixaram;
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E a todos os crticos do capitalismo, espacialmente os marxistas, que me deram o
embasamento terico para realizar essa pesquisa, por todos os estudos e lutas j realizados,
por me dar argumentos para a crtica e por compartilharem comigo a inquietude de buscar
superar o capitalismo.
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RESUMO
A Comuna de Paris feita contra o Estado Moderno, influenciando tanto o movimento dos
trabalhadores como os tericos do socialismo cientfico. Encerra o perodo formado pelasorganizaes clandestinas para iniciar o perodo das organizaes de massa. Pe fim
Primeira Internacional. A Comuna a anttese do Imprio, do executivo burocratizado, e
exemplificaria o que seria a ditadura do proletariado. As condies pelas quais a Frana
passava e o avano de conscincia dos trabalhadores permitiramque ela acontecesse. O
governo de Defesa Nacional formado aps a queda de Napoleo, mas vai mostrando com
as derrotas na guerra - que sua preocupao restabelecer a ordem interna, que significaria o
retorno da monarquia. Por outro lado, os trabalhadores passam a se organizar para defender a
repblica e a ptria, seja atravs de um comit central desvingt arrondissements(depoisdelegao) baseado em comits de vigilncia e clubes, seja atravs da guarda nacional e seu
comit central. Diante de uma tentativa de desarmamento realizada pelo governo de Thiers, em
18 de maro de 1871, os trabalhadores opem-se s suas ordens e instalam-se no Htel-de-
ville, iniciando o perodo conhecido como Comuna de Paris. O governo revolucionrio da
Comuna possua um nvel central, formado pela delegao e, depois, pelo comit central da
guarda nacional e, em seguida, pelo Conselho, que ter funes de legislativo e executivo,
atravs da elaborao de decretos, alm de realizar julgamentos. Organizava-se no nvel
dosarrondissements, onde suas atividades eram realizadas pelos comits de vigilncia, pormembros do Conselho, da delegao ou indicados por eles, realizando atividades
administrativas, civis e militares. E tinha como base os clubes e encontros pblicos. A Comuna
foi uma nova prtica. Ela combateu o burocratismo e o parlamentarismo e deixou como lio
que o estado burgus deve ser quebrado para que os trabalhadores possam tomar suas
decises no sentido do fim do Estado. Mas ela mostra a possibilidade e necessidade de um
governo transitrio dos trabalhadores e das classes subalternas aps a destruio do Estado
burgus, que ocorre diante da reduo da complexidade na administrao. Em guerra contra o
governo de Thiers durante praticamente toda sua existncia, a Comuna no foi um governo doterror, mas tambm exerceu a violncia, em decorrncia da prpria necessidade de us-la. Seu
exrcito era formado pelo povo em armas, organizado na guarda nacional. Ela continha em si o
socialismo, que percebido no apenas nas medidas da comisso do trabalho, mas na relao
entre eleitores e delegados, na utilizao do mandato imperativo e no comprometimento que
seus membros tinham para com seus princpios e valores.
Comuna de ParisEstadoguerra civilrevoluopartido
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RSUM
La Commune de Paris est faite contre ltat moderne, influenant le mouvement des travailleurs
et lesthoriciensdu socialisme scientifique. Elle va mettre fin la priode forme par lesorganisations clandestines et la Premire Internationale. Aprs la Commune commence la
priode des organisations de masse. La Commune est l'antithse de l'Empire, de lexcutif
bureaucratis et illustre ce que serait la dictature du proltariat. Les conditions dans lesquelles
la France passait et l'avancement de la conscience ouvrire vont permettre lexistence de la
Commune. Le Gouvernement de la Dfense Nationale est form aprs la chute de Napolon,
mais il va montrer - avec des dfaites de la guerre - que son souci est de rtablir l'ordre
intrieur, ce qui signifierait le retour de la monarchie. D'autre part, les travailleurs commencent
s'organiser pour dfendre la rpublique et la patrie. Ils forment un comit central (aprs appeldlgation) qui tait fonde sur des comits de vigilance et des clubs et un comit central de la
garde nationale. Quand le gouvernement de Thiers, le 18 mars 1871, essaye de dsarmer les
travailleurs, ils s'opposent ses ordres et occupent l'Htel-de-ville. Lvnement est le dbut de
la priode connue comme Commune de Paris. Le gouvernement rvolutionnaire de la
Commune avait un centre, ce serait la dlgation et aprs le 18 mars le comit central de la
garde nationale, puis le Conseil. Elle tait organise au niveau de larrondissement, dont
l'organisation a t mene par des comits de vigilance, par des membres de la dlgation ou
du Conseil ou indiqus par eux. Elle avait un niveau de base, forme par des clubs et desrunions publiques. La Commune tait une nouvelle pratique. La Commune a combattu la
bureaucratie et la gauche parlementaire. Son exprience montre que l'tat bourgeois doit tre
cass afin que les travailleurs peuvent exercer leur gouvernement pour mettre fin l'tat lui-
mme. Elle montre la possibilit et la ncessit d'un gouvernement de transitiondes travailleurs
et desclasses subalternesaprs la destruction de ltat bourgeois, qui se produit avec la
rduction de la complexit de l'administration des choses. Dans la guerre contre le
gouvernement de Thiers pendant presque toute son existence, la Commune n'tait pas un
gouvernement de terreur, mais elle a exerc la violence en raison de la ncessit. Son armetait forme par des travailleurs organiss dans la garde nationale.Elle contenait en elle-mme
le socialisme qui est peru dans les mesures de la commission du travail et dans la relation
entre les lecteurs et les dlgus, l'utilisation du mandat impratif et dans l'engagement que
ses membres avaient pour les principes et valeurs de la Commune.
Commune de Paristatguerre civilervolution - partie
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ABSTRACT
The Paris Commune is made against the Modern State, influencing as the labor movement as
the theorists of scientific socialism. It closes the period formed by clandestine organizations andstarts the period of the mass organizations. It ends the First International. The Commune is the
antithesis of the Empire, the centralized executive, and exemplifies what would be the
dictatorship of the proletariat. The conditions under which France passed and the advancement
of workers' conscience will allow it to happen. The government of national defense is formed
after the fall of Napoleon, but the defeats in the war will prove that his concern is to restore
internal order, which would mean the return of the monarchy. On the other hand, workers start
to organize themselves to defend the republic and the country, either through a central
committee (after delegation) based on vigilance committees and clubs, either through theNational Guard and its central committee. Thiers government tries to disarm workers, on march
18, 1871 and they oppose his orders and settle in the Htel-de-ville, starting the period known
as the Paris Commune. The revolutionary government of the Commune had a central level.
First, it was the delegation, second the central committee of the national guard and then the
Council. It has the level of arrondissements, whose organization was conducted by vigilance
committees, by members of the Council delegation or indicated by them. And a base
organization, formed by clubs and public meetings. The Commune was a new practice. It fought
the bureaucracy and the parliamentarism and left as a lesson that the bourgeois state must bebroken so that workers can exercise their government in order to end the state itself. It shows
the possibility and the necessity of a transitional government of workers and subaltern classes
after the destruction of the bourgeois state, which occurs with the reduction of complexity in the
administration of things. The Commune was at war against the government of Thiers during
almost its entire existence, but it was not a government of terror. They needed to use the
violence. Its army continued to exist, now formed by organized armed people in the National
Guard.The Commune contained the socialism that is perceived not only in the measurements of
the commission's work, but the relationship between voters and delegates in the use of theimperative mandate and commitment that its members had for their principles and values.
Paris CommuneStatecivil warrevolution - party
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Sumrio
Cronologia 10
1. Introduo 17
2. Dominao e emancipao 29
a. Poltica e Estado 29
b. Conscincia: da reproduo crtica 45
c. Partido, governo e exrcito revolucionrios 65
d. Revoluo: processo, ruptura e consolidao 98
e. Comuna: uma palavra em debate 114
3. Do Imprio Comuna 123
a. O Imprio 123
b. O comeo da guerra e o 31 de outubro 128
c. Plebiscito e eleies 149
d. Os clubes de Paris 169
e. Do 18 de maro ao 4 de abril 180
f. A luta na Frana e o internacionalismo 203
4. A Comuna de 1871 209
a. Partidos, associaes e organizaes 209
b. O governo revolucionrio 233
c. O exrcito revolucionrio 251
d. Situao revolucionria e insurreio 268
e. As decises e o programa mnimo 287
5. Concluso 308
6. Anexos 324
7. Referncias Bibliogrficas 327
a. Em portugus 327
b. Em francs e ingls 332
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Paix et travail, voil votre avenir.Voil la certitude de votre revanche
et de votre rgnration sociale,ainsi comprise,la Rpublique peut encore faire de la France
le soutien des faibles, la protectrice des travailleurs,lesprance des opprims dans le monde
et le fondement de la Rpublique universelle le Pre Beslay,
veterano de 1830 e 1848, discurso em 28 de maro de 1871
Quand nous chanterons le temps des cerises,Et gai rossignol, et merle moqueur
Seront tous en fte !Les belles auront la folie en tte
Et les amoureux du soleil au cur!Quand nous chanterons le temps des cerises
Sifflera bien mieux le merle moqueur !
Jean-Baptiste Clment
Dis-lui que par le temps rapideTout appartient lavenir;
Que le vainqueur au front lividePlus que le vaincu peut mourir
Louise Michel
Vive la Commune!!
http://fr.wikipedia.org/wiki/Jean-Baptiste_Cl%C3%A9menthttp://fr.wikipedia.org/wiki/Jean-Baptiste_Cl%C3%A9ment -
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Cronologia
- 11 de janeiro de 1844
Expulso de Karl Marx da Frana por deciso do Ministro des Affaires trangres- 22, 23 e 24 de fevereiro de 1848
Manifestaes em Paris
- 23 a 26 de junho de 1848
Jornadas inssurrecionais em Paris. Represso violenta
- 10 de dezembro de 1848
Louis Bonaparte eleito presidente da Repblica
- 2 de dezembro de 1851
Golpe de Estado de Louis Bonaparte- 11 de janeiro de 1852
Dissoluo da guarda nacional
- 2 de dezembro de 1852
Louis Bonaparte torna-se Imperador da Frana
- janeiro de 1866
Organizao da primeira seo da Associao Internacional de Trabalhadores (AIT) em Paris
- 10 de janeiro de 1870
Homicdio de Victor Noir cometido pelo princpe Bonaparte- 12 de janeiro de 1870
Manifestaes durante o enterro de Victor Noir
- janeiro de 1870
Greves em Creusot
- 8 de maio de 1870
Plebiscito sobre a aprovao das medidas liberais tomadas por Napoleo III
- 10 de julho de 1870
Inicia a Guerra entre a Frana e a Prssia- 4 a 6 de agosto de 1870
Derrotas francesas em Wissembourg, Froeschwiller e Forbach
- 9 de agosto de 1870
Manifestaes em Paris contra a guerra
- 14 de agosto de 1870
Tentativa blanquista contra o quartel dos bombeiros de la Villette
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- 1 e 2 de setembro de 1870
Capitulao de Napoleo III Sedan, priso do exrcito francs.
- 4 de setembro de 1870
Jornadas revolucionrias em Paris. Proclamao da Repblica. O general Trochu torna-sepresidente do governo da Dfense Nationale1
- 7 de setembro de 1870
O governo da Defesa Nacional nomeia os maires2de arrondissements3
-18 e 19 de setembro de 1870
Incio do sige4de Paris
- 8 de outubro de 1870
Manifestao no Htel-de-ville5
- 29 de outubro de 1870Metz capitula
- 31 de outubro de 1870
Jornadas revolucionrias em Paris. Nova manifestao no Htel-de-Ville. Marcha e ocupao
- 1 de novembro de 1870
Proclamao da Primeira Comuna deMarseille
- 3 de novembro de 1870
Plebiscito sobre o governo de defesa nacional
- 5 e 7 de novembro de 1870Eleies municipais de Paris
- 26 de dezembro de 1870
A partir dessa data, Paris constantemente bombardeada
- 6 de janeiro de 1871
Laffiche rougeo cartaz vermelho do Comit Republicano des XXarrondissemants6denuncia
a traio do governo de defesa nacional
- 18 de janeiro de 1871
O imprio alemo proclamado noChteau
de Versalhes
1Defesa Nacional.2So as autoridades administrativas de cada arrondissements.3Arrondissements so as divises administrativas de Paris, a maneira como a capital dividida eorganizada geograficamente. Paris formada por XX arrondissements.4Invaso de Paris pelos prussianos.5Um dos palcios governamentais.6Comit Rpublicain des vingt arrondissemants. A explicao sobre o que esse Comit ser feita aolongo da tese.
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- 22 de janeiro de 1871
Trochu destitudo do governo. Jornadas revolucionrias em Paris. Fuzilamento contra a
manifestao dos guardas nacionais7
- 28 de janeiro de 1871O governo de Thiers assina um armistcio com a Prssia. Capitulao de Paris
- 8 de fevereiro de 1871
Eleies para a Assembleia Nacional
- 13 de fevereiro de 1871
Primeira reunio da Assembleia Nacional, em Bordeaux
- 17 de fevereiro de 1871
Thiers passa a ser o chefe do poder executivo
- 22 de fevereiro de 1871Jules Valls funda o Cri du Peuple8
- 26 de fevereiro de 1871
Assinatura das preliminares de paz entre Thiers e Bismarck
- 1 de maro de 1871
Versalhes escolhida para ser o local onde ficar a Assembleia Nacional
A paz assinada. Os prussianos entram em Paris
- 3 de maro de 1871
Constituio da Federao republicana da guarda nacional- 11 de maro de 1871
Blanqui condenado morte pelos atos de 31 de outubro
- 14 de maro de 1871
Thiers vem a Paris e se instala na Prfecture de Police9
- 15 de maro de 1871
Eleio do comit central da guarda nacional10
- 17 de maro de 1871
Priso de Blanqui- 18 de maro de 1871
7 A Guarda Nacional uma guarda civil existiu na Frana e em alguns outros Estados da Europaocidental. Foi criada pela primeira vez na Frana em 1789, no inicio da revoluo, e existiu comintervalos at 1871.8Jornal.9 a administrao responsvel pelas questes de polcia.10 Com a federao da guarda nacional, um comit central nomeado e passa a ser a autoridademxima da guarda nacional.
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Canonadeem Montmartre. Aes contra a retirada dos canhes da guarda nacional. Execuo
dos generais Lecomte e Thomas. O comit central ocupa o Htel-de-Ville
O governo de Thiers refugfia-se em Versalhes
- 19 de maro de 1871Reunio do comit central da guarda nacional que decide organizar as eleies. Posio de
marchar em direo a Versalhes derrotada
- 21 de maro de 1871
Em Versalhes, a primeira reunio da Assembleia Nacional
- 22 de maro de 1871
Eudes, Duval e Brunel so nomeados delegados da guerra
A Guarda National dispersa a manifestao dos Amigos da Ordem na Praa Vendme
O Comit Central acolhe, no Htel-de-Ville, delegaes de Lyon, Bordeaux, Marseille, Rouenetc
proclamada a Comuna de Lyon
- 23 de maro de 1871
Proclamada a Segunda Comuna de Marseillee a Comuna de Toulouse
- 24 de maro de 1871
Proclamao da Comuna em Narbonnee Saint Etienne
O Comit Central remete o poder militar a trs delegados: Brunel, Eudes e Duval
- 26 de maro de 1871Eleies da Comuna de Paris
Proclamada a Comuna de Creusot
- 27 de maro de 1871
Preparaes para a proclamao da Comuna de Paris
- 28 de maro de 1871
O Conselho da Comuna11instala-se no Htel-de-ville
- 31 de maro de 1871
Hasteamento da bandeira vermelha no Panthen- 2 de abril de 1871
Ataque de Versalhes contra Courbevoiee Puteaux
Publicao do Decreto que separa a igreja do Estado
11O Conselho a assembleia da Comuna, com poderes legislativos e executivos. At a sua eleio eformao, o Htel-de-ville ocupado pelo Comit Central da Guarda Nacional, que fica responsvel pelaadministrao e organizao das eleies. Depois de formado, o Conselho da Comuna ir criar 9comisses, ligadas pela comisso executiva.
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- 3 de abril de 1871
Resposta communardaos ataques de Versalhes. Incio da marcha em trs colunas
Uma das colunas bate em retirada. Flourens, que a comanda, executado
- 4 de abril de 1871A segunda coluna no consegue mais avanar. A terceira coluna, comandada por Duval,
derrotada. Duval executado
Derrota do ataque dos communardscontra Versalhes
Cluseret nomeado delegado de guerra
Fim da Comuna de Marseille
Breve Comuna de Limoges
- 5 de abril de 1871
Os communardsreforam as barricadas sobre Paris- 6 de abril de 1871
Destruio de duas guilhotinas em frente esttua de Versalhes
- 8 de abril de 1871
Jules Favre consegue o repatriamento de em torno de 100 mil prisioneiros do Exrcito francs
- 11 de abril de 1871
Criada a Union des femmes pour la dfense de Paris et les soins aux blesss12
- 13 de abril de 1871
Publicao do Decreto sobre a destruio da Coluna Vendme- 16 de abril de 1871
Eleies complementares ao Conselho da Comuna
Encontro de apoio Comuna no Hyde Park, Londres
Trs mil trabalhadores encontram-se em Hanover, e enviam um apoio Comuna
- 17 de abril de 1871
Ataque anticommunardssobre o fronte nordeste
- 25 de abril de 1871
Bombardeamentos versalheses contraNeuilly
- 26 de abril de 1871
Versalheses avanam pelo setor sul, ocupam Les Moulineauxe aproximam-se dos fortes de
Issy e de Vanves.
- 29 de abril de 1871
Manifestao de franco-maons. Thiers recusa qualquer conciliao
12Unio de Mulheres para a Defesa de Paris e ajuda aos feridos.
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Evacuao do forte dIssy pelas tropas communards, durante a madrugada de 29 para 30 de
abril
- 30 de abril de 1871
Reocupao do forte dIssy- 1 de maio de 1871
Destituio de Cluseret, que foi substitudo por Rossel como delegado da Guerra
Criao do Comit de Salut Public13
- 9 de maio de 1871
Perda do forte dIssy, ocupao pelos Versalheses. Rossel anuncia e renuncia
A Comisso de barricadas refora as defesas de Paris
- 10 de maio de 1871
O Conselho da Comuna decide submeter Rossel Cours Martiale14
. Nomeao de DelescluzeA vila de Vanves tomada pelos anticommunards
- 13 de maio de 1871
Ocupao do forte de Vanves pelos anticommunards
Carta de Marx a Frankel e Varlin
- 15 de maio de 1871
Declarao da minoria da comuna, em desacordo com a criao do ComitdeSalut Public
Em Bruxelas, manifestao em apoio Comuna
- 16 de maio de 1871Demolio da Coluna Vendme
- 17 de maio de 1871
Exploso da cartoucherie da avenida Rapp, smbolo de resistncia armada da Comuna
- 21 de maio de 1871
Entrada dos anticommunardsem Paris pela Porta do Pont-du-Jour
Dissoluo da Assembleia da Comuna
- 22 de maio de 1871
Chamada s armas doComit de Salut Public
Os anticommunardsocupam o sudoeste de Paris
- 24 de maio de 1871
Perda de Montmartre e da Place Blanche, onde lutou um batalho de mulheres comandado por
Nathalie Lemel
13Comit de Sade Pblica.14Corte Marcial, responsvel pelos julgamentos.
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Dombrowsky mortalmente ferido na barricada da rua Myrrha e morre no hospital de
Lariboisire
O Htel-de-Ville evacuado, Delescluze e os servios da Comuna so instalados na rive
droite15
As tropas communards, aps resistncia no Quartier Latin e Luxemburgo, vo se retraindo
prximo Austerlitz e no XI arrondissement
- 25 de maio de 1871
ntima reunio da Comuna na Mairie16do XI arrondissement
As tropas de Mac Mahon vo em ofensiva em direo Butte-aux-Cailles, Bastilha e Chteau
dEau
Delescluze morto naplace du Chteau dEau
- 26 de maio de 1871Execuo dos refns pelos communards, em resposta ao massacre realizado pelos
anticommunards
- 27 de maio de 1871
Resistncia da barricada na boulevard Voltaire e no Butte-chaumont. Continuao de
fuzilamentos cometidos pelos anticommunards
Um dos ltimos pontos de resistncia o cemitrio Pre-Lachaise, onde muitos sero fuzilados
no mur des Fdrs17
- 28 de maio de 1871Alguns homens ainda lutavam na rua Fontaine-au-roi
s 16 horas, tomada da ltima barricada communardentre as ruas Ramponneaue Tourtille
Muitos communardsforam presos na priso de la Roquette
Linchamento e morte de Varlin
- 29 de maio de 1871
Capitulao do forte de Vincennes
- 10 de julho de 1880
Todos os condenados que lutaram na Comuna so agraciados- 14 de julho de 1880
Anistia.
15Lado direito do rio Sena.16Mairie a organizao administrativa de cada arrondissementde Paris.17Muro dos Federados.
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1. Introduo
O Estado modernocapitalista ou burgusconsolida-se com o desenvolvimento das
relaes sociais de produo capitalista e vai possuir diferentes formas, relacionadas tambm
com a maneira como se manifestam essas relaes sociais. Centralizado e burocrtico, o
Estado francs que se constitui aps a revoluo de 1789 sofrer transformaes, mas
manter no poder as classes possuidoras e terminar por consolidar a dominao da
burguesia.
Contra esse Estado e governo, a Comuna de Paris feita. Ela ter reflexos tanto no
movimento dos trabalhadores como na obra dos tericos do socialismo cientfico, em um
momento em que Marx ainda est em plena capacidade intelectual. Seus ltimos anos de
estudo e pesquisa so influenciados por ela. vivenciando a guerra civil na Frana que Marx
aprofunda politicamente sua teoria. Tomando a experincia da Comuna de Paris, o pensador
analisa a atuao dos trabalhadores enquanto governo. Mais do que isso, Lnin afirma que a
nica correo que Marx e Engels fizeram ao Manifesto do Partido Comunista, de 1848, foi
realizada com base na experincia da Comuna de Paris, qual seja, a de que a classe operria
deve quebrar a mquina de Estado burgus e no apenas tomar posse dela.
Marx viu elementos constitutivos de uma forma de poder. Ele vai usar a expresso
ditadura do proletariado pela primeira vez no incio da dcada de 50 e , inclusive, uma
expresso que vem de Auguste Blanqui, um dos socialistas franceses que ter destaque nas
lutas do sculo XIX e que tem grande influncia entre os communards. uma nomenclatura,
portanto, que vem do jacobinismo tardio francs, de tradio conspiratria. Mas Marx abandona
a nomenclatura e vai retom-la aps a Comuna.
A experincia da Comuna tambm teria mostrado para Engels que os mtodos de luta
dos trabalhadores consagrados ao longo do sculo XIX estariam superados: revolues da
minoria. Agora, as revolues ou seriam feitas pela maioria, ou no o seriam feitas.
A Comuna de Paris um marco para o movimento dos trabalhadores. um dos
momentos da histria em que a causa da humanidade se identificava com a causa da ptria
sem xenofobia e isso coincidia com a causa operria estrito senso. Ela e suas consequncias
vo influenciar diretamente as lutas operrias. As derrotas de 1848, na Frana, apresentam um
resultado negativo para as demandas do movimento socialista, todavia, a derrota da
Comuna,apesar de toda a dureza contra os trabalhadores, tem outro significado. J desde
1864 Marx est prevendo e apostando no momento da recuperao do movimento socialista e
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isso vai resultar na fundao e preparao da Associao Internacional dos Trabalhadores
(AIT). E quando Marx tem conhecimento dos acontecimentos na Frana em 1870, posiciona-se
contra a tentativa da tomada de poder, diante da inexistncia de condies capazes de
conduzir vitria. Todavia, passa a apoiar a iniciativa dos trabalhadores quando ela realizadaem 1871 e como Secretrio do Conselho Geral da AIT redige as moes de solidariedade.
Essas moes de solidariedade so ainda mais fundamentais diante tos ataques que a
Comuna de Paris sofreu. Poderia se dizer que ela a primeira disputa ideolgica significativa
da modernidade entre a burguesia e o proletariado, pois ainda que as calnias tenham ocorrido
j em 1848 e durante todo o Imprio, com a Comuna que comeam esses ataques contra o
movimento operrio da maneira feroz como ocorreu. Veja-se, inclusive, o surgimento do mito
petroleuses18.
A Comuna mostrou a ferocidade das classes dominantes frente aos dominados, comseus massacres e fuzilamentos. Ela evidenciou o dio de classe e desmistificoua noo de
nao. Apontou para o internacionalismo: trabalhadores estiveram lado a lado, mas tambm os
partidos da ordem se uniraminclusive no parlamento brasileiro ecoou um apoio represso.
A Comuna foi o exerccio de uma democracia efetiva19, real e de classe. Ela no
somente uma insurreio, ela um processo revolucionrio no marco da guerra entre a Frana
e a Prssia. Os trabalhadores tinham que proteger Paris dos prussianos, mas tambm da
burguesia, da oligarquia, dos que queriam o fim da guerra a qualquer preo.
No apenas a discusso entre crepsculo ou aurora que envolve a Comuna, ou seja,a continuao das lutas de 1789, 1830 e 1848 ou o comeo das lutas seguintes, at culminar
na revoluo russa e demais revolues proletrias. Ela e seus acontecimentos tm reflexos
diretos na organizao dos trabalhadores: a superao das organizaes secretas e
clandestinas, o fim da Primeira Internacional, o surgimento dos partidos de massas.
Para Haupt (1972), a Comuna teria duas dimenses: como smbolo e como exemplo.
Smbolo diante do impacto que exerceu sobre as mentalidades coletivas, sobre o movimento
operrio. Exemplo do ponto de vista da teoria poltica revolucionria. A Comuna um elemento
significativo no nascimento de uma conscincia operria moderna. E exemplo porque com aincorporao da Comuna ao marxismo, Marx cria as bases para a construo de uma teoria
revolucionria.
18Petroleiras. Refere-se aos incndios causados durante a Comuna.19No irei fazer uma anlise do termo democracia nem repblica, mas abordarei a noo de democraciatal qual Lnin aponta: a democracia de to ampliada, deixa de existir em uma sociedade comunista. J otermo repblica, no contexto da Frana e para os communards ainda no estava marcado pelasconcepes de repblica da atualidade e, muitas vezes, referia-sese pegamos os materiais produzidospelos communardsa um governo do povo, dos trabalhadores, por eles prprios.
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A Comuna de Paris ainda est em debate. Ela intriga at mesmo porque, ainda hoje,
muitos franceses no a conhecem e, aparentemente, o partido da atual ordem, os que
participam do governo francs, mais ou menos direita, tambm no querem lembr-la.
Comemora-se a revoluo de 1789, mas as lembranas da Comuna so espalhadas por umaParis que no se v: a praa da Comuna, no fim da rua da Esperancee ao final da Buttes-aux-
cailles pequena e simples. Ali onde foi um dos focos de resistncia. O squareLouise Michel
humilde perto da grandeza de uma Sacre Coer, construda onde ocorre o 18 de maro e para
expurgar os pecados dos communardsque ali, naquele lugar, fuzilaram dois generais (que j
tinham fuzilado tantos e tantos militantes, lutadores de 1848). E a boulevardAuguste Blanqui
que, provavelmente, muitos franceses no sabem quem - ocupa um espao deslocado se
comparada com as grandes avenidas com nomes de generais.
O grande espao da Comuna o cemitrio. onde podemos encontrar algumareferncia um pouco mais concreta. Aux morts de la Commune 21 28 mai 1871 est
marcado no Mur de Fdrs. Foi no Pre Lachaise e nas ruas prximas a ele que foram
travados os ltimos embates da Comuna, e na rua Ramponneau que, segundo os
historiadores, cai a ltima barricada. Os tmulos dos communards, elevados, muitos deles, por
subscrio popular, como o de Auguste Blanqui e de Julles Valls, contrastam com o enorme
monumento em homenagem a Thiers, chefe do poder executivo e responsvel pelos
massacres.
Mas os livros sobre a Comuna e seus arquivos no permitem que ela seja esquecida. AAssociao dos Amigos da Comuna de Paris continua em atividade, lembrando de suas
reivindicaes, que ainda so pertinentes. Entretanto, pouco se produziu no Brasil sobre isso, o
que me motivou ainda mais a estudar esse tema.
O termo Comuna significa municipalidade, mas na Frana, em termos polticos, passa a
ter outros sentidos. Essas acepes e sentidos sero analisados no primeiro captulo.
Chamamos de Comuna de Paris quilo que ocorre entre os dias 18 de maro, quando ocorre
o fuzilamento de dois generais em Montmartree quando ocupado o Htel-de-ville, ficando o
poder ao comit central da guarda nacional, at 28 de maio de 1871, o final da semanasangrenta, quando as tropas do partido da ordem entram em Paris e realizam os massacres.
uma experincia de 72 (quando teria cado a ltima barricada) / 73 dias (incluindo o dia 29,
quando capitula o Forte se Vincennes), ainda que tenha seu preparo anterior e uma longa
represso, inclusive judicial, aps seu encerramento.
Com o incio da guerra entre a Frana e a Prssia, em 19 de julho de 1870 e as
derrotas dos franceses, a situao interna do pas vai sofrendo graves complicaes. Louis
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Bonaparte capitula em Sedan, feito prisioneiro e o imprio desmorona. Seus crticos, que
durante todo o perodo eram perseguidos, conseguem retornar pouco a pouco Frana. Em 4
de setembro, a repblica proclamada, sendo composta por polticos tradicionais que no
mudam a estrutura do Imprio.O povo e, em especial, os trabalhadores de Paris comeam a fazer exigncias frente a
esse governo, para que no ocorra uma derrota vergonhosa da Frana e, principalmente, para
que a monarquia no seja restaurada. Durante todo esse perodo, as aes dos clubes so
intensas. Em 18 e 19 de setembro inicia o sige (invaso, ocupao) de Paris. As
manifestaes contra o governo so inmeras. Em 31 de outubro ocorre uma tentativa de
ocupao do Htel-de-ville20. Essa ocupao termina ao fim desse mesmo dia, com um acordo
no sentido da realizao de eleies municipais, que feito quando os revolucionrios
percebem que a correlao de foras era desfavorvel a eles. Mas o acordo no cumpridopelo governo, que realiza uma manobra convocando um plebiscito.
O plebiscito acontece em 3 de novembro e mostra que, nas principais cidades, o
governo no possui apoio, ao contrrio do campo, onde se faz maioria. Quando ocorrem as
eleies para as mairies21de Paris, alguns simpatizantes para a formao de uma Comuna j
conseguem xito.
A partir de 26 de dezembro, Paris passa a ser bombardeada sistematicamente. As
aes polticas continuam. Em 6 de janeiro de 1871, laffiche rouge, o cartaz vermelho da
delegao desXX arrondissemants,denuncia a traio do governo republicano.Em 18 de janeiro de 1871, o Imprio alemo proclamado no Chteaude Versalhes.
As derrotas militares por falta de competncia ou traio geram repercusses e indignao em
Paris. Em 22 de janeiro, muitos manifestantes vo ao Htel-de-villeexigir respostas, mas so
surpreendidos por tiros. Trochu destitudo do governo.
O governo demonstra sua posio de por fim guerra e o repdio em Paris aumenta, j
que os parisienses percebem que as condies de paz sero humilhantes e que a paz significa
o retorno da monarquia. Nos clubes e comits, os militantes de esquerda questionam a postura
do governo, acusam-no de traio e repudiam a concluso de um armistcio.Em 28 de janeiro, o governo assina um armistcio com a Prssia e em 8 de fevereiro
ocorrem eleies para a Assembleia Nacional, que elege uma assembleia monarquista e
bonapartista. Em 17 de fevereiro, Thiers eleito chefe do poder executivo e em 26 de fevereiro
20Nol (2000) aponta que ele o smbolo dos direitos e liberdades da cidade antiga (medieval) e a casado povo da cidade nova.21A mairie a organizao administrativa da cidade. Cada um dos XX arrondissementde Paris possui asua mairie.
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ocorre a assinatura das preliminares de paz entre Thiers e Bismarck. A paz assinada em 1 de
maro e os prussianos entram em Paris.
Os trabalhadores, revoltados, chegaram a pensar a se opor entrada dos prussianos
mas a ao de membros da Internacional e dos comits de la Corderie22
fizeram com que elesevitassem um conflito desnecessrio. A indignao apenas aumenta. Em 3 de maro de 1871,
a guarda nacional constitui sua federao republicana. o povo armado organizando-se. Em
15 de maro, eles elegem o comit central.
Em 17 de maro Blanqui preso e no dia 18 ocorre a canonadeem Montmartre. Em
resposta a uma ao do governo de retirar os canhes e armas pertencentes guarda
nacional, os guardas nacionais resistemefuzilam dois generais. A resistncia ocorre por toda a
cidade.O governo se refugia e foge para Versalhes e os guardas nacionais ocupam o Htel-de-
ville, onde se instalam. o incio da Comuna de Paris.O comit central passa a dar as ordens. Na reunio de 19 de maro, decide organizar
as eleies, sendo derrotada a posio de marchar em direo a Versalhes. Em Versalhes, dia
21 de maro, ocorre a primeira reunio da Assembleia Nacional, que repudia as aes de
Paris.
Enquanto em Paris os communardscomeam a organizar seu governo, em Versalhes
continua um governo nacional, que no reconhece a Comuna. Em outras cidades da Frana
so proclamadas Comunas, como em Lyon, Bordeaux, Marseille, Toulouse, Rouen, Narbonne
e Saint-Etienne, mas logo so duramente reprimidas. Em outros pases da Europa, ostrabalhadores lanam manifestos em solidariedade Comuna.
Em 24 de maro o Comit Central remete o poder militar a trs delegados: Brunel,
Eudes e Duval. As eleies da Comuna so adiadas mais de uma vez, mas acabam se
realizando no dia 26. No dia seguinte, iniciam os preparativos para sua proclamao, o Htel-
de-ville tomado por bandeiras vermelhas. Em 28 de maro instalado o Conselho da
Comuna. Organizam-se comisses e os trabalhos so constantes durante todo o perodo.
Em 2 de abril, os anticommunards atacam, bombardeando Courbevoie e Puteaux.
Cluseret nomeado delegado da guerra. Os ataques geram indignao em Paris, provocandouma sada desastrosa em direo a Versalhes em 3 de abril. Uma das colunas bate em
retirada. Flourens executado. Em 4 de abril, a segunda coluna no consegue mais avanar e
a terceira comandada por Duval, derrotada. Ele executado.
22Os grupos de la Corderieso formados pela AIT, pelo comit des XX arrondissements de Parise pelaChambre Syndicale de socits ovrires.
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Com as derrotas, os communardspassam a reforar as barricadas. Em 8 de abril, Jules
Favre consegue o repatriamento de aproximadamente 100 mil prisioneiros do exrcito francs.
No dia 16 so realizadas eleies complementares ao Conselho da Comuna.
Os ataques versalheses no cessam. Os communardsvo apresentando complicaesmilitares, como a evacuao do forte dIssy, durante a madrugada de 29 para 30 de abril, que
ir gerar a destituio de Cluseret, em 1 de maio, e sua substituio por Rossel, ainda que no
dia 30 de abril o forte tivesse sido reocupado.
Tambm diante dessas complicaes criado o Comit de Salut Public, que consolida
a diviso no Conselho da Comuna entre a maioria e a minoria. A minoria lana um manifesto,
em 15 de maio, criticando a deciso da maioria.
Em 9 de maio os communards perdem o forte dIssy, Rossel anuncia a derrota e
renuncia. A Comisso de barricadas refora as defesas de Paris. Em virtude de sua atitude, oConselho da Comuna decide submeter Rossel Cours Martiale23. Delescluze nomeado
delegado da guerra.
Em 13 de maio, o forte de Vanves ocupado pelos anticommunards. Em 17 de maio
ocorre a exploso da cartoucherie da avenida Rapp, smbolo de resistncia armada da
Comuna. Em 21 de maio ocorre a entrada dos anticommunardsem Paris pela Porta do Pont-
du-Joure o Conselho da Comuna dissolvido. Inicia a Semana sangrenta. No dia 28 caem as
ltimas barricadas.
Alguns aspectos dessa experincia histrica so analisados. Mas, para alm disso,analisa-se a guerra civil na Frana e o contexto da guerra franco-prussiana, verificando-se
como os communards se organizaram para realizar o seu governo e para lutar contra o
governo de Versalhes.
A partir disso, foram construdas as minhas questes e hipteses: a guerra franco-
prussiana foi um fator determinante para o acontecimento da Comuna de Paris? Qual a sua
relao com as aes dos trabalhadores? Pois se cada movimento, cada tentativa de ocupao
do Htel-de-ville acontece aps vergonhosas derrotas na guerra e mesmo o 18 de maro
desencadeado com a assinatura da paz, a guerra externa foi um acelerador histrico para quea guerra civil acontecesse?
Inmeros partidos, organizaes, associaes e clubes existiam em Paris durante esse
perodo e organizaram aes de crtica e questionamento ao governo. Ento, quais os partidos
e organizaes estiveram presentes durante o perodo e como eles agiam? Eles conseguiram
organizar o movimento e dar-lhe uma direo? O que permitiu s pessoas agirem em sentido
23Corte Marcial, responsvel pelos julgamentos.
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crtico? Em que medida poderia algum se opor ao que, constantemente, foi lhe passado como
norma?
Existiu um governo revolucionrio nesse perodo? Como ele era constitudo? Em quais
nveis e como se dava a participao em cada um desses nveis? A falta de organizao, queligasse os diferentes lutadores da Frana, teria sido o elemento que faltou, ou seja: no havia o
elemento subjetivo capaz de dirigir a insurreio e a guerra civil a uma revoluo? Alis, eles
queriam a revoluo? O isolamento de Paris foi consequncia de circunstncias concretas,
ligadas a todo o perodo da guerra franco-prussiana, ou foi decorrncia de posies polticas
tomadas pela Comuna, onde muitos de seus membros defendiam a noo de federao?
Ao longo do sige a guarda nacional vai sendo organizada, forma sua federao e
elege um comit central, formando a base da organizao militar da Comuna. Como foi
formado o exrcito revolucionrio? Como a Comuna vai se organizar militarmente? Qual aparticipao do comit central da guarda nacional e sua interferncia nas decises da
Comuna? De que maneira as falhas militares interferiram no desempenho da Comuna? A
deciso de realizar as eleies e no marchar em direo a Versalhes foi um apego
legitimidade burguesa, via eleies, num momento to importanteo incio da insurreioou
foi consequncia de uma teoria que defende a federao e critica o centralismo?
O Conselho da Comuna decidia por decretos, resolvendo tanto questes concretas
como debatendo princpios. Qual a contribuio poltica que a Comuna deixa? Como se
configurou o mandato imperativo e a relao entre eleitores e eleitos?A revoluo francesa foi marcada por um Terror, por vezes necessrio, j a Comuna
no apenas queima a guilhotina como se recusa a tomar medidas mais drsticas entre elas a
marcha imediata contra seus opositores deixando os anticommunards se reorganizarem.
Ento, quais as medidas violentas que a Comuna teve que tomar e por que motivo?
As traies ao longo da histria de Frana (na verdade, ao longo da histria da
humanidade, especialmente quando falamos de histria militar, da batalha das Termpilas
morte de Marat), inclusive no sculo XIX, vistas e vividas por tantos communards, no teriam
mostrado que traies tambm iriam existir e, portanto, que seria necessrio redobrar asegurana em alguns aspectos? A contrarrevoluo francesa, o massacre da insurreio de 30,
de fevereiro e de junho de 1848, a rpida atuao em 31 de outubro e 22 de janeiro, no teriam
mostrado aos communardsque haveria uma resposta poltica e militar?
Se a Comuna seria o exemplo concreto da ditadura do proletariado e, portanto, esse
momento de transio onde ainda necessrio o uso da fora, o que caracteriza esse perodo
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e por que ele necessrio? Que governo provisrio esse que se estende aps a tomada do
poder e d direo s transformaes?
No abordada a discusso terminolgica ou mesmo terica sobre o conceito de
trabalhadores, travada entre os marxistas, nem a possvel diferena entre os termos classetrabalhadora, classe proletria, proletariado, operrios etc eles so usados com um mesmo
sentido. Logo, no explicarei porque entendo que um trabalhador de bancos um executivo
que seria, em termos econmicos, um trabalhador (vende sua fora de trabalho e recebe um
salrio) e um arteso que faz pares de sapatos para vender, e contrata dois trabalhadores
assalariados a ele obedientes, seria um pequeno burgus. At porque a questo poltica, os
valores e a posio na luta transcendem a insero econmica de classe. Ou seja, esse
pequeno burgus pode vir a desenvolver uma conscincia de classe que um grande executivo
trabalhador assalariado - no desenvolveria. utilizada a expresso communardse anticommunardspara diferenciar os dois lados
que participaram da guerra civil. Mas preciso fazer a ressalva que Serman (1986) faz em seu
livro: pelos nomes utilizados pelos seus adversrios que se definiram os partidrios da
Comuna, chamados de communeux a partir de maro de 1871, e communards, depois de
junho e, mais habitualmente, depois dos anos 1880. Par bravade, segundo Serman, os
interessados e amigos aceitaram esse ltimo termo, que tambm gera polmica.
Apesar da discusso terminolgica, essa terminologia adotada, por serem termos
consagrados e comumente utilizados. Inclusive, pois em muitos momentos considero aquelesque lutaram na Comuna como um todo homogneo, ainda que eles no fossem um todo
homogneo. Ou seja, as decises da Comuna so indicadas como decises de um todo nico,
ainda que existam divergncias. Serman tambm sustenta que, apesar da diversidade de
origens, tendncias e temperamentos, os communards formavam um todo indissocivel, onde
a unidade era formada antes do 18 de maro e mantida at a semana sangrenta de maio.
Para no incidir em repetio, considero que a expresso communardsabrange tanto
homens quanto mulheres. Reconheo que no francs h a diferena entre communardsque
se refere aos homens da Comuna - ecommunardes
que se refere s mulheres. Entretanto,ao adotar a expresso communardsestou me referindo a ambos.
Os autores chamam os communards de federados, insurgentes ou parisienses, uma
vez que eles instalaram seu governo em Paris; da mesma forma que chamam de versalheses,
partido da ordem e governo oficial, aqueles que se opuseram aos communards. Republicanos
podem ser os membros de ambos os lados, normalmente a noo de moderado ou radical
vem acompanhando o termo para fazer a diferenciao.
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Por ser uma nomenclatura consagrada, irei utiliz-la, ressaltando que preciso ter
cuidado com aquelas que possuem uma relao geogrfica, pois no foi uma guerra contra
Paris, mas uma luta de classes: objetivo ressaltar o carter de classe dessa guerra e
desmistificar o mito regionalista ou nacionalista. Ainda que se aponte para as Comunasidentificando as cidades em que ocorreram, da a Comuna de Marseille, de Lyon etc,
importante ressaltar que s se compreende a guerra civil na Frana realizando-se uma anlise
de classe. Foram os monarquistas, os burgueses, os proprietrios, contra os trabalhadores, as
classes subalternas. O partido da ordem contra os insurgentes.
Efetivamente, foi uma Comuna de Paris. Foi esse o poder tomado. Mas o que ela
significa, o governo que ela desenvolve vai para alm de se pensar no governo de uma cidade.
At porque a Comuna composta por pessoas de muitas outras cidades francesas e porque
existiram Comunas em ouras cidades. Apesar de possuir como foco os acontecimentos quegiraram em torno de Paris, pretendo trazer tona o que significou a Comuna: uma guerra que
no foi pontual, no foi apenas de Paris.
Alis, o internacionalismo e a participao de estrangeiros tambm um trao marcante
da Comuna, de modo que, s vezes, falar em guerra civil na Frana poderia representar um
reducionismo. Esclareo, portanto, que estarei analisando um conflito, onde os acontecimentos
de guerra se passaram na Frana, mas que teve a participao de estrangeiros,tanto em suas
aes diretas como com moes de apoio e ajuda no exlio.
Ainda, a Internacional e seus membros tiveram participao fundamental na guerra.Esse ser um ponto bastante tratado ao longo de minha tese, no apenas em funo do que
eles fizeram, mas em funo do que foi a Internacional.
Suponho que o ponto de viragem da histria a guerra franco-prussiana. Pretendo
verificar essa hiptese. durante o perodo de guerra que as contradies do sistema ficam
mais mostra. A guerra aflora o sentimento de defesa e, ao mesmo tempo, entrega armas aos,
que comumente, so excludos do poder. preciso mencionar, desde j, que o
amadurecimento da noo de Comuna e que o incio da guerra civil ocorrer tendo ampla
relao com essa guerra entre Estados, pois s assim se entender porque tantos vierampara o lado dos revolucionrios e porque, em Paris, existiam comits de vigilncia. O chamado
resistncia, defesa, mostrando as traies dos governos imperialistas e republicanos
burgueses, ocorre em virtude da ocupao da Frana. E isso auxiliar a entender por que os
acontecimentos se deram enquanto tal.
Antes de escrever os captulos, apresento uma cronologia. Como um curto perodo
histrico que estou analisando, esse instrumento contribui para sua compreenso. Veja-se,
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entretanto, que no pretendo contar a histria da guerra civil ou da Comuna, que tantos autores
j fizeram. No quero fazer uma narrativa do que aconteceu na Frana. Pretendo responder
minhas perguntas e as hipteses que desenvolvi. Para isso, fao um estudo da histria e irei
mencionar, inclusive cronologicamente, muitos dos eventos que ocorreram durante esseperodo. A minha proposta fazer uma anlise terica tendo por base esse evento histrico.
Organizei a tese em trs captulos. O primeiro captulo destinado a uma anlise
terica, sem iniciar uma verificao especfica sobre a Comuna. So abordadas questes
fundamentais para entender o fenmeno. Posteriormente, verifica-se como esses termos,
conceitos e noes se manifestaram durante a Comuna. Ou seja, as discusses tericas aqui
abordadas so analisadas no caso concretono segundo e no terceiro captulos.
Os pontos de anlise foram escolhidos em virtude da importncia que apresentam na
compreenso do tema: a maneira como os trabalhadores se organizaram e sua ao nosentido da construo da Comuna. A Comuna apresenta discusses em diversas reas e a
tese no tem por objetivo abordar todos esses aspectos, at pela sua impossibilidade.
Assim, realizo um estudo terico sobre o Estado moderno, para verificar de que maneira
a organizao comunal se ops a ele. Marx no teria uma obra especfica sobre o Estado, mas
sua crtica ao estado e poltica permeiam suas obras. Suas anlises, seus textos de
conjuntura mostram a importncia de se pensar em questes que se relacionam em nvel
macro, ou seja, que transcendem e perpassam as questes concretas.
Mas, se por um lado, o meio formaria a conscincia fazendo os sujeitos reproduzirem osvalores dominantes, por outro lado, o ser humano poderia agir no sentido da crtica.
verificado como a conscincia pode conduzir reproduo das relaes sociais ou sua crtica
e, portanto, a uma ao transformadora. observado, tambm, como os trabalhadores agem
enquanto classe no sentido da mudana.
feita uma diferenciao entre a noo de partido de Marx e Blanqui. Marx no teria
desenvolvido uma teoria sistematizada do partido poltico, todavia, seus escritos trazem uma
concepo de partido, que combina atividades clandestinas com aes pblicas e de massa.
So analisados o papel que o exrcito revolucionrio ocuparia dentro da organizao poltica,por que ele seria necessrio, quais os elementos da situao revolucionria e quais as
diferentes etapas de uma insurreio, alm da prpria noo de revoluo e guerra civil. A
revoluo francesa estava num passado recente, a noo de revoluo e seus conceitos ainda
permanecem no imaginrio do povo francs: a Comuna de 92, Robespierre e Marat no foram
esquecidos.
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O segundo captulo destinado anlise que vai do Imprio at os dias iniciais da
Comuna, com foco central na questo histrica. Analisa-se a situao da Frana anterior
Comuna e como a guerra entre a Frana e Prssia vai interferir na ao dos trabalhadores e na
sua tomada de conscincia, j que eles passam por um processo de descrena e perda depacincia. So verificados: os fatores que contriburam para a tomada de conscincia dos
communards e para que se desencadeasse um confronto; o que ocorre no 31 de outubro e
qual sua diferena para o 18 de maro; e qual o contexto e os motivos histricos que
permitiram que a guerra civil acontecesse.
O terceiro captulo destinado anlise da Comuna propriamente, ou seja, verifica-se
no caso concreto como se manifestaram os conceitos e fenmenos estudados no primeiro
captulo: quais os partidos, organizaes e associaes participaram da Comuna; como o
governo revolucionrio era estruturado; o que diferencia a Comuna do Estado; como serelacionaram os trabalhadores e seus delegados; como se manifestou a questo subjetiva em
relao a essa experincia concreta; como estava estruturado o exrcito da Comuna, a guarda
nacional; como e se ocorre uma situao revolucionria e se os decretos da Comuna
apontavam para o socialismo.
analisado como o poder cai nas mos do comit central da guarda nacional e qual
sua relao com a Internacional e demais organizaes de trabalhadores. Quais as medidas
tomadas pelo comit central da guarda nacional e pelo Conselho da Comuna. Considerando
que muitos autores, entre eles Marx e Lnin, entendem que a derrota da Comuna se d,especialmente, em virtude da ausncia de elemento subjetivo verifica-se se h essa falha e se
haveria, no contexto, alguma organizao que fosse capaz de ter realizado essa tarefa. Verifico
o mecanismo do mandato imperativo e em que medida ele permite que a deciso seja tomada
pelos trabalhadores. Analiso como estava organizada a parte militar da Comuna, os problemas
relacionados direo e organizao, as falhas nas escolhas das delegaes e os equvocos
militares. A utilizao das barricadas.
A guerra civil francesa a primeira guerra onde as fotos foram utilizadas para a
represso, para identificao de lutadores. Marx bem afirmou, quando prestes a se chegar aofim da guerra, a importncia de impedir que os papis comprometedores chegassem s mos
do inimigo. Uma das lies da Comuna a sua derrota e como ela ocorreu.
na concluso que vou responder minha questo central. Para Clausewitz, a guerra
a continuao da poltica por outros meios. Outros pensadores divergem dele, mas no deixam
de pensar essa relao entre a poltica e a guerra. Poltica poder e dominao. Como os
trabalhadores se organizaram diante disso para tomar o poder?
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No pretendo apontar certezas para hipteses que no teria como testar: no acredito
que poderei afirmar que o futuro do movimento revolucionrio teria sido outro caso uma ou
outra deciso tivesse sido tomada, ainda que possa ficar propensa a dizer. No julgarei como
inocentes ou culpados, muito menos como responsveis pela derrota.Algumas perguntas podem no ter respostas, de toda a forma, buscar respond-las traz
esclarecimentos sobre essas e muitas outras questes. E a prpria histria da Frana mostra
que os problemas dos communards no eram novos, eram, talvez, apenas apresentados de
outras formas. J Marx falava da tragdia e da farsa. No penso, portanto, que os problemas
da atualidade sejam to novos assimainda que no sejam iguais.
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2. Dominao e emancipao
a. Poltica e Estado
contra o governo e o Estado que se ergue a Comuna. Contra sua centralizao,
burocratizao e especializao, voltadas para os interesses das classes dominantes e
tradicionalmente governantes na Frana. A Comuna apresenta outra configurao da poltica e
mesmo do Estado, por isso h quem afirme, como Balibar, que ela foi um no-Estado. As
transformaes pelas quais a organizao poltica de Paris passar evidencia que a Comuna
foi a anttese do Imprio, como mostra Marx. Ela vem do Imprio, nasce de seu ventre, mas se
ope a ele.
O Imprio Napolenico era centralizado, concentrado em si mesmo e burocratizado.
Baseado numa organizao militar e suas honrarias, j no o mesmo Estado anterior
revoluo francesa, todavia, contm muito de seus antigos privilgios sob outras formas.
Opondo-se a ele, a Comuna trazia nela uma nova prtica e outra organizao. As medidas que
tomou na esfera poltica so apontadas como o seu avano mais radical: democracia direta,
corpos de trabalho concentrando os poderes executivo e legislativo, organizao em
conselhos, ampla participao poltica, povo em armas. Por vezes, ela se apropria e resignifica
termos que a monarquia e o imprio transformaram em palavras vazias, ou mecanismos de
legitimao de um poder comprometido com as antigas estruturas, como o sufrgio universal24.
Mas a que prtica poltica ela se ope? Se ela busca realizar e aprofundar a revoluo
ao social, em uma luta contra a burguesia, qual Estado que ela estaria destruindo? No
pretendo fazer uma abordagem aprofundada sobre o Estado e toda sua complexidade. O
objetivo apenas apresentar, brevemente, a compreenso de poltica e a crtica ao Estado
Moderno, burgus e capitalista, que se apresenta como uma organizao especializada capaz
de ordenar a sociedade, mas que no pode solucionar seus conflitos sem eliminar a si mesmo.
O que seria poltica para Marx? Em obras como o Manifesto do Partido Comunista,
Marx afirma que poltica poder e, portanto, opresso o que daria poltica um sentido
negativo. Em outros escritos, reconhece a importncia do movimento e da ao poltica que
ele diferencia do que meramente econmico. Marx identifica a Comuna como uma forma
24O sufrgio universal na Comuna refere-se participao masculina. A Comuna foi um movimento deseu tempo e ainda que as mulheres tivessem cada vez mais voz e influncia, elas no podiam sercandidatas ao Conselho da Comuna. O prprio proudhonismo refora essa postura de excluso dasmulheres.
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poltica, um momento de transio, a ditadura do proletariado. Percebe a necessidade de um
governo dos trabalhadoresou do Estado proletrio, como escreve Lnin - e, portanto, no
contra toda e qualquer forma de governomesmo que esse governo seja provisrio. A poltica
seria o elemento que oprime, mas apenas a luta polticaenquanto resistncia, organizao eaopoderia realizar a emancipao.
Marx e Engels no dissociam a poltica das relaes sociais. Em seu conhecido
Prefciopara a crtica da Economia Poltica, Marx afirma que asociedade formada por uma
estrutura econmica, onde se encontram a produo social da existncia, as relaes sociais
de produo (necessrias e independentes da vontade humana) e o grau de desenvolvimento
das foras produtivas materiais; e a superestrutura poltica (deciso), jurdica (normatizao) e
a conscincia social.
As foras produtivas materiais so o conjunto das foras que somadas permitem aproduo da vida. H trs fatores que se combinam para dar um certo grau de
desenvolvimento das foras produtivas: a natureza (da onde vm a matria), o ser humano e o
saber fazer (conhecimento). Da a importncia que Marx d economia, termo que vem de
oikos casa (esfera da produo da existncia). Apesar da metfora, Marx compreende o
mundo como uma totalidade. O ser social determina a conscincia e as relaes sociais de
produo no so determinadas pela vontade dos seres humanos, ainda que estes sejam
sujeitos histricos.
Nessa relao e organizao social, a poltica exerce um papel destacado de decisese reproduo das relaes sociais: da sua atuao repressora. um lugar de confronto,
embate e luta. Para Serge, a represso uma das funes essenciais de todo o poder poltico
e a polcia a organizao atravs da qual essa funo exercida: a tarefa da polcia seria
vigiar, conhecer e prevenir.
Chasin vai realizar a crtica ontolgica poltica, mostrando que a politicidade incapaz
de promover o caminho que conduza emancipao humana. A poltica no seria um atributo
necessrio do ser social, mas contingente no seu processo de auto-entificao.
Chasin evidencia que Marx levado a compreender a forapoltica como fora social pervertida e usurpada, socialmenteativada como estranhamento por debilidades e carnciasintrnsecas s formaes sociais contraditrias, pois aindainsuficientemente desenvolvidas e, por consequncia, incapazesde autorregulao puramente social (J. Chasin, Marx estatutoontolgico e resoluo metodolgica, editora ensaio, So Paulo:368) (Silva, 2000, p. 3)
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Chasin (2000: 103) afirma que a leitura dos Materiais Preparatrios de Marx para a
elaborao de A guerra civil na Frana, mais especificamente do captulo O Carter da
Comuna, oferece a explcita determinao do estado e da poltica em geral como meio
orgnico de ao.Enquanto a poltica esse espao da discusso, deciso e represso, o Estado a
organizao especializada para o exerccio dessa deciso e represso, para amortecer a luta
de classes presente na sociedade. Para o marxismo, a poltica o lcus dos conflitos pela
apropriao do poder poltico, o poder organizado sob sua forma estatal (Bianchi, 2007, p.41).
Segundo Lnin, o Estado o produto e a manifestao do carter inconcilivel das
contradies de classe. Em O Estado e a revoluo, onde analisa a obra de Marx e sua anlise
da Comuna, aprofunda sua crtica ao estado burgus, que deveria ser destrudo. Diferencia
este Estado do Estado proletrio, erguido sobre novas bases e que tenderia ao definhamento.Saes (1987) afirma que Marx teria apresentado diferentes tipos de Estado, que
correspondem a tipos diversos de relaes de produo: o Estado capitalista ou burgus, o
Estado antigo, o Estado feudal e o Estado asitico25. A base de sustentao dessa
diferenciao realizada por Saes pode ser verificada no Prefcio: Nas suas grandes linhas, os
modos de produo asitico, antigo, feudal e, modernamente, o burgus podem ser
designados como pocas progressivas da formao econmica e social (Marx, 1859).
O Estado e suas manifestaes, as formas de governo e regime, variam e podem
apresentar-se de diferentes maneiras. a anlise de cada momento histrico com suasrelaes que permitir compreender como Estado e poltica configuram-se. Para Bianchi
(2007: 61) a descrio feita por Marx do desenvolvimento histrico do Estado francs revelou
que, sob um mesmo fundamento de classe, este pde assumir uma multiplicidade de formas
determinadas pela relao de foras entre as classes.
Segundo Saes (199, p. 16), o Estado, em todas as sociedades divididas em classes
(escravista, feudal ou capitalista), a organizao especializada (= o poder especial de
represso) na funo de moderar a luta entre as classes antagnicas, garantindo por esse
modo a conservao da dominao de classe ou, por outra, o conjunto das instituies (maisou menos diferenciadas, mais ou menos especializadas) que conservam a dominao de uma
classe por outra.
25 Numa passagem do Terceiro Livro de O Capital, Marx define, de modo concentrado, a natureza dacorrespondncia entre forma poltica e relaes de produo (Saes, 1994, p. 17). Alm de O Capital, emoutros livros, comoA Ideologia Alem, Marx evidencia esta correspondncia.
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Para alm de sua funo repressiva, ele possui uma organizao. Assim, o elemento
funo no o nico para conceitu-lo, ele uma organizao especializada; um poder
especial de represso, um grupo de homens especiais para os quais reservam a denominao
funcionrios, o qual teria a funo oculta ou latente de amortecer o conflito de classes e frustrara revoluo social encoberta pela sua funo expressa e declarada de defender uma certa
comunidade tnica contra os 'brbaros (Mundo Antigo), a de realizar na Terra, os desgnios de
Deus (Mundo Medieval) ou a de satisfazer aos interesses do povo-nao (Mundo
Contemporneo) (Saes, 1987, p. 14).
Bianchi, analisando Marx, afirma que, como mquina de dominao, o Estado dotado
de ferramentas institucionais exrcito permanente, polcia, burocracia, clero e magistratura
criadas de acordo com um plano de diviso sistemtica e hierrquica de trabalho (Marx, 1968:
60)" (2007, p. 59).Uma anlise histrica sobre a origem do Estado pode ser encontrada em A origem da
famlia, da propriedade privada e do Estado, de Engels, onde ele analisa a organizao
gentlica e como ela teria dado origem sociedade de classes. O autor afirma que o
surgimento da propriedade privada teria possibilitado o surgimento de relaes sociais
baseadas na explorao: a escravido seria a primeira delas. O Estado surgiria como rgo de
dominao de classe, em virtude da necessidade de conter os antagonismos de uma
sociedade dividida entre exploradores e explorados. O Estado caracterizar-se-ia pelo
agrupamento dos seus sditos de acordo com uma diviso territorial e pela instituio de umafora pblica, que j no mais se identificaria com o povo em armas.
Diversos autores lanaram-se na tarefa de compreender e aprofundar a teoria de Marx
acerca do Estado e da poltica, entre eles Lnin, Gramsci, Lukcs, Althusser e Poulantzas.
Veja-se que, por Marx no ter escrito uma obra especfica sobre o Estado, h inclusive
discusses no sentido da existncia ou no de uma teoria marxista de Estado (Bobbio, por
exemplo, afirma que no h uma teoria marxista de Estado) ou da existncia de uma teoria
poltica em Marx. Colletti (1974) afirma que o marxismo carente de uma verdadeira teoria
poltica.Todavia, Marx teria deixado tantos estudos polticos que apenas isso j contribuiria
para compreender sua concepo de Estado. Alguns pensadores, como Althusser, acreditam
haver uma ruptura entre o jovem Marx (obras de 1843-1844) e o velho Marx, chegando a
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afirmar a existncia de textos pr-marxistas e propriamente marxistas26. Entretanto, parto da
noo de que autor, no decorrer de sua vida, vai aprofundando seus estudos e elaborando sua
teoria, o que tem reflexos em sua obra. Se o velho Marx evidencia o papel das classes na
sociedade e sua relao com o Estado, onde a burocracia um instrumento poltico dasclasses exploradoras e os poderes Executivo e Legislativo so formas distintas de exerccio do
poder poltico pela classe dominante; o jovem Marx evidencia a separao entre as esferas
scio-econmica e poltica, ou seja, a existncia de um Estado que se apresenta separado da
sociedade civil (influncia de Hegel), expresso da alienao poltica ao homem no
possvel ver-se enquanto homem, perdendo sua essncia de ser social.
Em obras da dita juventude, Marx sustenta que o Estado uma comunidade ilusria
que deveria representar a vontade geral. Entretanto, em seus estudos vai afirmar que a
vontade geral, no capitalismo, no existiria - j que a sociedade dividida em classes. Assim, aseparao entre a esfera econmica e a poltica no retira do Estado seu carter de classe,
mas possibilita que ele se apresente, de forma ilusria, enquanto defensor da vontade geral.
Marx sustenta que a revoluo francesa rompe com a antiga sociedade, caracterizada
pelo feudalismo, onde os elementos da vida civil estavam elevados a elementos da vida estatal;
ela quebra estes privilgios, tirando-os da vida estatal. EmA questo judaica, Marx diferencia a
emancipao poltica - que seria incompleta, posto que s poltica - da emancipao humana.
Com a emancipao poltica, o Estado passa a considerar a todos como iguais, independente
da religio, do nascimento ou dos privilgios de classe, tal qual se dava com os senhoresfeudais. Este Estado emancipado no contm, nele mesmo, os privilgios: o Estado real.
Entretanto, o Estado real, que j no possui uma religio, no a abole na realidade. O
seu deslocamento em relao ao Estado, sua transferncia sociedade civil, constitui a
consagrao da emancipao poltica. Da mesma forma, a quebra de privilgios, a abolio, no
prprio Estado, das diferenas de nascimento, no extingue essas diferenas na prpria
sociedade burguesa. A anulao poltica da propriedade privada e isto quer dizer que o
Estado j no exige que se tenha a propriedade para fazer parte dele - no a destri, mas a
pressupe. O Estado Moderno anula, a seu modo, as diferenas de nascimento, status social,propriedade, etc, mas deixa que elas atuem, a seu modo como propriedade privada, como
status, etc. Longe de acabar com as diferenas de fato, ele existe sobre tais premissas,
fazendo-se valer como generalidade em contraposio a estes elementos seus.
26Saes (1994) chega a afirmar que em cada um dos blocos est presente uma concepo determinadade Estado. Sobre este debate, ver Do Marx de 1843-1844 ao Marx das Obras Histricas: duasconcepes distintas de Estado.
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A revoluo poltica libertou o poltico; a atividade determinada de vida e a situao de
vida determinada passaram a ter um significado puramente individual: deixaram de representar
a relao geral entre indivduo e o conjunto do Estado as diferenas da sociedade civil j no
mais se transferem para o Estado. Logo, a constituio do Estado poltico (e no mais religioso,j que, segundo Marx, o Estado cristo o Estado antes da revoluo poltica - reconhece
somente privilgios) e a desagregao da sociedade civil em indivduos independentes, cuja
relao se baseia no direito (e no nos privilgios) os direitos do homem aparecem como
direitos naturais -, se processa num s e mesmo ato. A revoluo poltica, ento, deixa a
sociedade civil nos seus elementos constitutivos, entretanto, sem revolucionar estas partes
nem submet-las crtica.
Se antes o Estado tratava com classes, corporaes os senhores feudais
relacionavam-se com o Estado como senhores feudais -, agora o Estado passa a tratar comindivduos, que esto na condio de iguais, ainda que no estejam, de fato (ou nas prprias
relaes sociais), na condio de iguais na sociedade burguesa. E o avano se d, justamente,
porque tirar as classes, ou seja, fazer com que o Estado no se relacione mais com senhores
feudais e servos, mas com cidados, um passo para se chegar ao fim das classes na
realidade (ou seja, abolir as classes tambm nas relaes sociais). Ora, a emancipao poltica
a reduo do homem, de um lado, a membro da sociedade burguesa, a indivduo egosta
independente e, de outro, a cidado do Estado, pessoa moral.
Primeiramente, evidencia-se o individualismo presente na sociedade burguesa, o qualse d na realidade, nas prprias relaes sociais. o indivduo que vende sua fora de
trabalho em troca de um salrio. Mas um indivduo que pertence a uma classe, tal qual Marx
mostrar em suas obras seguintes, a qual existe na realidade da sociedade civil, classe essa
que produto das relaes sociais de produo, com interesses prprios. Quando considera a
sociedade burguesa separada do Estado, Marx no quer dizer que o Estado paira no ar e que
no tem sequer relao com ela. Marx evidencia este trao da sociedade burguesa que surge
que, em termos polticos e jurdicos , considera a todos como iguais, um Estado que se
apresenta como de todos e que permite a participao de todos. E essa uma presena eparticipao real. Mas, ainda que o Estado se relacione com cidados nestas condies, ele
no deixa de ser de uma classe, da classe dominante. Como vai afirmar no Manifesto do
Partido Comunista, o Estado um rgo de dominao de classe, e o Executivo no Estado
Moderno um comit para gerir os negcios comuns de toda a classe burguesa.
Neste sentido, indivduos de todas as classes podem estar em seus trs poderes, mas o
Estado permanece tendo por funo moderar, amortecer a luta de classes, reprimindo a classe
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dominada e garantindo a continuao da ordem. Da que, se perante o Estado, h cidados,
estes esto inseridos em classes sociais, possuidoras de interesses antagnicos e em luta. E a
luta de classes est, tambm, no Estado, ainda que ele seja formado por indivduos e,
enquanto a classe burguesa permanece dominante, seja ideolgica, poltica oueconomicamente, impe sua hegemonia. Assim, a classe burguesa no est em condio de
igualdade com o proletariado, nem em termos polticos, econmicos ou ideolgicos, mesmo
que o Estado permita que qualquer cidado seja eleito, seja ele burgus ou trabalhador. E o
Estado de todos, que j no trata mais com senhores e servos, mas com cidados livres e
iguais, no est alheio s diferenas existentes na sociedade burguesa, nem s classes
sociais. Da afirmar que a contradio existente entre o poder poltico prtico do judeu e seus
direitos polticos a contradio entre a poltica que predomina idealmente - e o poder do
dinheiro em geralque predomina na prtica.O Estado passa a ser o espao do universal, em contraposio sociedade burguesa
que o espao do particular. A sociedade burguesa tem por base os indivduos, e estes
enquanto cidados - iro se expressar perante o Estado. Pois perante o ele que atua o
cidado - aquele que tem que pensar no universal, o qual , por fim, um homem abstrato;
enquanto na sociedade burguesa que atua o homem real, um homem que egosta. De
acordo com Marx, o homem da sociedade burguesa um homem no-poltico, pois atua
segundo seus prprios interesses. O ser humano fragmentado em um homem que, perante a
sociedade burguesa (nas suas relaes econmicas e sociais), egosta; e o homem que,perante o Estado (na comunidade), pensa ou deveria pensar - no universal. Deveria, pois
ainda que Marx considere que o espao da poltica e do Estado o espao do pblico, do
universal, do pensar em todos, ele afirma que o poder poltico o poder organizado de uma
classe para a opresso da outra. Neste sentido, enquanto cidado, o homem precisaria se
despir de seus interesses egostaso que ele no consegue fazer.
Ora, Marx chama a ateno justamente para esse carter contraditrio do homem
fragmentado: para o judeu ser reconhecido perante o Estado, ele tem que deixar de ser judeu
ao menos perante o Estado, que separado da religio e se prope a tratar a todos comoiguais (faz-se referncia aqui aos estados laicos e, portanto, que j admitem e reconhecem a
separao entre estado e religio). O judeu pode ser judeu em sua esfera privada, mas quando
se relaciona com o Estado um cidado como qualquer outro, cristo ou ateu, e no um judeu.
Da a ciso: o homem individual religioso, enquanto o homem genrico no . O Estado,
ento, estranho ao ser humano. Neste sentido, se o Estado abole as diferenas, ele abole
perante ele, pois elas permanecem; o que faz com que o Estado s possa se apresentar como
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universal em oposio s diferenas da sociedade burguesa, ou seja, no reconhecendo as
diferenas que existem na prpria realidade. Marx, ento, afirma que a diferena entre o
homem religioso e o cidado a diferena entre o comerciante e o cidado, entre o trabalhador
e o cidado, entre o indivduo vivendo e o cidado. A contradio entre o homem religioso e ohomem poltico a mesma contradio que existe entre o burgus e o cidado, entre o
membro da sociedade burguesa e sua aparncia poltica. A consagrao do idealismo do
estado era, simultaneamente, a consagrao do materialismo da sociedade burguesa.
Chasin sustenta que a crtica ontolgica da poltica permite conhecer o significado maior
do iderio marxiano: a distino necessria entre revoluo poltica e emancipao humana.
Em Notas marginais crticas ao artigo O Rei da Prssia e a Reforma Social. Por um Prussiano,
de 1844, Marx afirma que o Estado est baseado na contradio entre a vida pblica e a vida
privada, na contradio entre interesses gerais e interesses particulares. O Estado no podeeliminar a contradio entra a finalidade e a boa vontade da administrao, de um lado, e os
seus meios e capacidade, de outro, sem eliminar a si mesmo, j que se baseia nessa
contradio. A administrao deve restringir-se, por isso, a uma atividade formal e negativa,
pois onde a vida burguesa e o seu trabalho comeam, acaba o seu poder.
Marx (1844) afirma que a lei natural que governa a administrao a impotncia, esta
vileza, esta escravido da sociedade civil o fundamento do estado moderno. Se o estado
moderno quisesse abolir a impotncia de sua administrao, teria de abolir a vida privada
contempornea. E para abolir a vida privada, teria de abolir a si mesmo, pois ele existe apenasem oposio vida privada.
O Estado Moderno diferencia-se das outras formas de Estado e sua caracterstica ,
justamente, ser esse espao do universal, dos interesses gerais. Mas o Estado no tem como
realizar os interesses de todos, no tem como ser essa universalidade. Opondo-se noo
de interesse pblico, em A Ideologia Alem,Marx e Engels afirmam que o interesse pblico
nada mais seria que os interesses de uma classe, que reafirma seu interesse como o de toda a
sociedade. A classe dominante, para realizar seu propsito, obrigada a apresentar o seu
interesse como o interesse de todos os membros da sociedade; ela tem que dar s suas ideiasa forma de universalidade e apresent-las como as nicas e universalmente vlidas. Nesse
sentido, se o parlamento criado para agir em nome do povo, se a classe dominante
apresenta o seu interesse como o de toda a sociedade, esse interesse de toda a sociedade
esconde o seu prprio interesse que acaba sendo passado como interesse de todo o povo.
No Grundrisse, Marx diferencia o capitalismo das formas pr-capitalistas por estas se
caracterizarem por modos extraeconmicos de extrao de mais-valia. Resgatando a anlise
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de Marx, Wood (2003) argumenta que, nas formas pr-capitalistas, a coao poltica, legal ou
militar, obrigaes ou deveres tradicionais, determinam a transferncia de excedentes para um
senhor ou para o Estado por meio de servios prestados, aluguis, impostos. No capitalismo,
as funes sociais de produo e distribuio, extrao e apropriao de excedentes, e aaplicao do trabalho social so, de certa forma, privatizadas e obtidas por meios no
autoritrios e no polticos.
A organizao capitalista de produo pode ser considerada oresultado de um longo processo em que poderes polticos setransformaram gradualmente em poderes econmicos e foramtransferidos para uma esfera independente. A organizao daproduo sob a autoridade do capital pressupe a organizao daproduo e a reunio de uma fora de trabalho sob a autoridadede formas anteriores de propriedade privada. O processo pelo qualessa autoridade da propriedade privada se afirmou pela reunionas mos do proprietrio privado, e para seu prprio benefcio, dopoder de apropriao e da autoridade para organizar a produo,pode ser visto como a privatizao do poder poltico. A supremaciada propriedade privada absoluta parece ter se estabelecido emgrande parte por meio da devoluo poltica, a apropriao pelosproprietrios privados de funes originalmente investidas naautoridade pblica ou comunitria (grifos no original) (Wood, 2003,p. 40).
O feudalismo ocidental resultou da fragmentao, parcelizao e privatizao do poder
poltico. O poder de Estado cuja fragmentao produziu o feudalismo ocidental j havia sido
substancialmente privatizado e investido na propriedade privada (Idem, p. 41). Na forma de
administrao imperial que precedeu o feudalismo no ocidente, o poder imperial era exercido
no tanto por meio da hierarquia de funcionrios burocrticos mas por meio de uma
confederao de aristocracias locais, um sistema municipal dominado por proprietrios
privados locais, cuja propriedade lhes oferecia a autoridade poltica assim como o poder de
apropriao de excedentes. A relao entre apropriadores e produtores era uma relao entre
indivduos, os donos da propriedade privada e os indivduos de cujo trabalho eles se
apropriavam.
Com a dissoluo do Imprio Romano e o fracasso dos Estados sucessores, o Estado
imperial foi transformado em fragmentos nos quais os poderes poltico e econmico ficaram
unidos nas mos dos senhores privados cujas funes polticas, jurdicas e militares eram ao
mesmo tempo instrumentos de apropriao privada e de organizao da produo. A
descentralizao do estado imperial foi seguida pelo declnio da escravido e de sua
substituio por novas formas de trabalho dependente. A fragmentao do Estado, o fato de
serem as relaes feudais a um s tempo um mtodo de governo e um modo de explorao,
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significou tambm que muitos fazendeiros livres passavam a se tornar, junto com suas
propriedades, sditos de senhores privados, abrindo mo de trabalho excedente em troca de
proteo pessoal, numa relao de dependncia que era poltica e econmica. A natureza
particular da relao da explorao no feudalismo e a fragmentao do Estado afetaram aconfigurao do poder de classe, tornando mais desejvel e possvel que os apropriadores
privados expropriassem os produtores diretos.
A caracterstica essencial do feudalismo foi, portanto, aprivatizao do poder poltico que significou uma integraocrescente da apropriao privada com a organizao autoritria daproduo. O desenvolvimento do capitalismo a partir do sistemafeudal aperfeioou essa privatizao e essa integrao pelaexpropriao completa do produtor direto e pelo estabelecimentoda propriedade privada absoluta. Ao mesmo tempo, essesdesenvolvimentos tiveram como condio necessria uma formanova e mais forte de poder pblico centralizado. O Estado tomoudas classes apropriadoras o poder poltico direto e os deveres noimediatamente associados produo e apropriao, deixando-as com poderes privados de explorao depurados de funespblicas e sociais (Idem, p. 43).
Ainda que parea contrastante que o capitalismo represente a privatizao ltima do
poder poltico e que ele um sistema caracterizado pela diferenciao entre o econmico e o
poltico, ambas as afirmaes se complementam. H um contraste entre o capitalismo - o qual
marcado por uma esfera econmica especializada e por modos econmicos de extrao de
excedente, mas tambm por um Estado central com um carter pblico -, e a parcelizao do
poder de Estado que une os poderes poltico e econmico privados nas mos do senhor feudal.
Neste sentido, o capitalismo tem a capacidade nica de manter a propriedade privada e o
poder de extrao de excedentes sem que o proprietrio seja obrigado a brandir o poder
poltico direto no sentido convencional. A expropriao do produtor direto simplesmente torna
menos necessrio o uso de certos poderes polticos diretos para a extrao de excedentes, e
isso exatamente o que significa dizer que o capitalista tem poderes econmicos, e no extra-
econmicos, de explorao (Idem, p.43).
No capitalismo, o trabalhador livre, pois no est numa relao de dependncia ou
servido; a transferncia da mais-valia e a apropriao dela por outra pessoa no so
condicionadas por nenhuma relao extra-econmica. Ao mesmo tempo, o controle exercido
pelo capital imposto pelas exigncias impessoais da produo mecanizada e da integrao
tecnolgica do processo de trabalho. O capital tem sua disposio novas formas de coao
puramente econmicas.
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O controle capitalista exercido de diversas formas, desde a organizao mais
desptica da produo at graus variveis de controle dos trabalhadores. A vida humana,
ento, atrada para uma rbita do processo de produo. Isto evidencia a existncia de uma
esfera econmica e de leis econmicas diferenciadas, mas tambm uma transformao dapoltica, j que a integrao da produo e da apropriao representa a 'privatizao' final da
mesma, pois funes antes associadas a um poder poltico coercitivo esto alojadas na esfera
privada como funes de uma classe apropriadora privada, isentas das obrigaes de atender
a propsitos sociais. Em outro sentido, representa a expulso da poltica das esferas em que
sempre esteve diretamente envolvida (grifo no original) (Idem, p. 46).
A esfera poltica, portanto, apresenta-se como separada da esfera econmica. A esfera
poltica no capitalismo tem um carter especial porque o poder de coao que apia a
explorao capitalista no acionado diretamente pelo apropriador nem se baseia nasubordinao poltica ou jurdica do produtor a um senhor apropriador. Assim, somente
quando sai para a rua, o conflito de classes se transforma em guerra aberta, principalmente
porque o brao coercitivo do capital est instalado fora dos muros da unidade produtiva. O que
significa que confrontaes violentas, quando acontecem, no se do geralmente entre capital
e trabalho. No o capital, mas o Estado, que conduz o conflito de classes quando ele rompe
as barreiras e assume uma forma mais violenta. O poder armado do capital geralmente
permanece nos bastidores; e quando se faz sentir como fora coercitiva pessoal e direta, a
dominao de classe aparece disfarada como um Estado 'autnomo' e 'neutro' (Idem, 2003,p. 47).
A propriedade privada absoluta, a relao contratual que prende o produtor ao
apropri