universidade federal do cearÁ unversidade estadual … · universidade federal do cearÁ...

77
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ UNIVERSIDADE DE FORTALEZA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA PEDRO OLAVO DE PAULA LIMA ELETRONEUROMIOGRAFIA NA HANSENÍASE FORTALEZA 2014

Upload: others

Post on 14-Jan-2020

3 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

UNVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

UNIVERSIDADE DE FORTALEZA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA

PEDRO OLAVO DE PAULA LIMA

ELETRONEUROMIOGRAFIA NA HANSENÍASE

FORTALEZA

2014

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

PEDRO OLAVO DE PAULA LIMA

ELETRONEUROMIOGRAFIA NA HANSENÍASE

Tese apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Saúde Coletiva da

Universidade Federal do Ceará, como

requisito parcial à obtenção do título de

Doutor em Saúde Coletiva. Área de

concentração: Epidemiologia.

Orientadora: Profa. Dra. Ligia Regina

Franco Sansigolo Kerr.

FORTALEZA

2014

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

Universidade Federal do Ceará

Biblioteca de Ciências da Saúde

L71e Lima, Pedro Olavo de Paula.

Eletroneuromiografia na hanseníase./ Pedro Olavo de Paula Lima. – 2014.

76 f.: il. color., enc.; 30 cm.

Tese (doutorado) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Medicina, Departamento de

Saúde Comunitária, Doutorado em Saúde Coletiva em Associação Ampla (UFC/UECE/UNIFOR),

Fortaleza, 2014.

Área de Concentração: Epidemiologia.

Orientação: Profa. Dra. Ligia Regina Franco Sansigolo Kerr.

Co-Orientação: Prof. Dr. Francisco Marcos Bezerra Cunha.

1. Hanseníase. 2. Técnicas e Procedimentos Diagnósticos. 3. Hanseníase-Diagnóstico. I. Título.

CDD 614.546

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

PEDRO OLAVO DE PAULA LIMA

ELETRONEUROMIOGRAFIA NA HANSENÍASE

Tese apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Saúde Coletiva da

Universidade Federal do Ceará, como

requisito parcial à obtenção do título de

Doutor em Saúde Coletiva. Área de

concentração: Epidemiologia.

Orientadora: Profa. Dra. Ligia Regina

Franco Sansigolo Kerr.

Aprovada em: 17/09/2014.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________

Profa. Dr

a. Ligia Regina Franco Sansigolo Kerr (Orientadora)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_________________________________________

Prof. Dr. Francisco Marcos Bezerra Cunha (Co-Orientador)

Universidade Federal do Cariri (UFCA)

Centro de Referência Nacional em Dermatologia Sanitária Dona Libânia (CDERM)

_________________________________________

Prof. Dr. Rodrigo Fragoso de Andrade

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_________________________________________

Prof. Dr. Carlos Henrique Moraes de Alencar

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_________________________________________

Profa. Dr

a. Rosa Lívia Freitas de Almeida

Universidade Federal do Ceará (UFC)

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

ORIENTADORA

Ligia Regina Franco Sansigolo Kerr

Professora Titular do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina

da Universidade Federal do Ceará.

Doutora em Medicina pela Universidade de São Paulo.

CO-ORIENTADOR

Francisco Marcos Bezerra Cunha

Professor Adjunto da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Cariri.

Centro de Referência Nacional em Dermatologia Sanitária Dona Libânia.

Doutor em Medicina Interna pela Universidade Federal do Paraná.

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho:

Ao Senhor: Deus

Ao meu filho: Pedro

À minha esposa: Flávia Lima

À minha mãe: Idée Maria

Ao meu pai: Pedro Olegário

Aos meus irmãos: Lílian, Jonathan, Ronaldo e Maria Clara

Ao meu afilhado: Davi Lima Maia

Aos meus sobrinhos: Lara, João Guilherme e João Victor

Às minhas avós: Margarida e Carmelita

Aos meus avôs: Olavo e Moiséis “In Memoriam”

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

AGRADECIMENTOS ESPECIAIS

À Profª. Dra. Ligia Regina Franco Sansigolo Kerr,

que aceitou ser minha orientadora acadêmica e sempre se conduziu de maneira dedicada

e competente durante todo o período de meu doutoramento, muito obrigado por seu

apoio em todos os momentos.

Ao Dr. Francisco Marcos Bezerra Cunha

pela autorização e valiosa participação na coleta de dados e elaboração deste trabalho,

seu apoio foi fundamental nas discussões e interpretações dos resultados dessa tese.

Ao Dr. Heitor de Sá Gonçalves e à Dra. Maria Araci Pontes Aires

pela permissão e parceria interinstitucional no desenvolvimento desse trabalho,

colocando à plena disposição o serviço do Centro de Referência Nacional em

Dermatologia Sanitária Dona Libânia.

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

AGRADECIMENTOS

A todos os professores que participaram de minha formação acadêmica no doutorado,

em particular ao Prof. Dr. José Wellington de Oliveira Lima, que ministrou três

disciplinas sobre bioestatística; e ao Prof. Dr. Ricardo José Soares Pontes, que ministrou

a disciplina de Epistemologia das Ciências de Saúde;

Às servidoras Zenaide e Mairla, incansáveis no ato fundamental de conduzir as

secretarias do Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva da UFC e UECE,

respectivamente, obrigado pela atenção e ajuda em todos os momentos solicitados;

A todos os meus colegas de doutorado, Ana Cléa; Antonio Silva; Cleoneide Pinheiro;

Cristiani Arruda; Eriza Parente; Gracyelle Remigio; Juliana Donato; Juliana Sena; Kátia

Diógenes; Marta Cristhiany; Neusa Goya; Ricardo Sidou; Soraia Pinto, pelos estudos e

debates que tanto promoveram o conhecimento da turma 2013;

Aos meus colegas de doutorado que compartilharam a maior parte das disciplinas

comigo, Daniele Silva; Hermano Rocha; Lorena Monteiro e Ricardo Gonzalez,

obrigado pelo companheirismo em vários momentos de estudo em grupo, além dos

encontros sociais realizados;

Ao Curso de Fisioterapia da UFC, especialmente à minha coordenadora, Profa. Fabiane

Elpídio de Sá, pela compreensão e apoio indispensável na flexibilidade de meus

horários de trabalho;

Agradeço a toda minha família e aos meus amigos pela torcida, constantes incentivos e

orações. Obrigado por acreditarem no meu esforço e trabalho.

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

“Meta, prazo e estratégia são três palavras

que podem lhe trazer resultado, mas é

preciso foco.”

(Autor Desconhecido)

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

RESUMO

Hanseníase ainda é um problema de saúde em alguns países no mundo. A neuropatia é a

principal complicação da hanseníase, e leva à incapacidade e deformidades. A meta da

Organização Mundial de Saúde é reduzir em 35% o número de casos novos com

classificação de incapacidade grau 2 até o ano de 2015. Para atingir esse objetivo, é

fundamental realizar o diagnóstico precoce da doença e da lesão neural, para que se

possa intervir com o tratamento de corticosteroide e conseguir a prevenção da

deformidade. Testes clínicos (monofilamentos e teste muscular) apresentam um atraso

de 12 semanas em relação à eletroneuromiografia (ENMG) para detectar a neuropatia

hansênica. O objetivo desse estudo foi identificar os fatores clínicos associados com a

eletroneuromiografia positiva para neuropatia hansênica, além disso, avaliar a

concordância entre os testes clínicos e a ENMG. Foi conduzido um estudo com

delineamento caso-controle aninhado a um estudo de teste diagnóstico no Centro de

Referência em Dermatologia Dona Libânia no período de 2007 a 2013. A amostra foi

composta por 166 (77,1%) casos e 38 controles (22,9%). Os fatores significativamente

associados com a ENMG positiva para neuropatia hansênica foram: idade entre 41-60

anos, presença de formigamento e espessamento neural. Nenhum fator dermatológico

ou de classificação foi associado com a neuropatia hansênica. A concordância entre os

testes clínicos e a eletroneuromiografia variou de baixa a moderada (monofilamentos

k=0,02 e teste muscular k=0,16), o nervo mais acometido foi o ulnar com 67 (40,3%)

casos e o padrão eletrofisiológico mais prevalente foi a mononeuropatia múltipla

sensitiva motora com 62 (37,3%) casos. Conclui-se que a neuropatia hansênica é muito

prevalente, e que os fatores clínicos associados podem ser utilizados para identificar

precocemente pacientes em alto risco de desenvolver a lesão do nervo. Sugere-se um

aumento dos esforços e investimentos na qualificação e treinamento dos profissionais de

saúde para o diagnóstico precoce.

Palavras-chave: Hanseníase. Neuropatia. Diagnóstico. Eletromiografia

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

ABSTRACT

Leprosy is still a health problem in some countries in the world. Neuropathy is the main

complication of leprosy, and leads to disability and deformity. The goal of the World

Health Organization is to reduce by 35% the number of new cases with grade-2

disability rating until the year 2015. In order to achieve this target, it is fundamental that

the early diagnosis of disease and nerve damage, to allow an intervention with

corticosteroid treatment and achieve the prevention of deformity. Clinical tests

(monofilaments and muscle strength) have a delay of 12 weeks compared to

electroneuromyography (ENMG) to detect leprosy neuropathy. The aim of this study

was to identify the clinical factors associated with positive electroneuromyography to

leprosy neuropathy, in addition, to evaluate the correlation between clinical tests and

ENMG. We conducted a case-control study nested to a diagnostic test design at the

Dona Libania Dermatology Center in the period 2007-2013. Sample was composed of

166 (77.1%) cases and 38 (22.9%) controls. Factors significantly associated with

positive ENMG for leprosy neuropathy were: age between 41-60 years, the presence of

tingling and nerve enlargement. No dermatological or classification factors were

associated with leprosy neuropathy. Concordance between the clinical tests and

electroneuromyography ranged from low to moderate (k = 0.02 for monofilaments and

k = 0.16 for muscle strength), the most affected nerve was the ulnar with 67 (40.3%)

cases and the most prevalent electrophysiological pattern was the multiple sensorimotor

mononeuropathy with 62 (37.3%) cases. We conclude that the leprosy neuropathy is

very prevalent, and that the associated clinical factors can be used to identify patients at

high risk of developing nerve damage. It is suggested that increased efforts and

investments in skills and training of health professionals for the early diagnosis.

Key words: Leprosy. Neuropathy. Diagnostic. Electromyography

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Hipótese teórica sobre o fluxo migratório da hanseníase.............................. 18

Figura 2 – Coeficiente de prevalência, OMS, 2012........................................................ 20

Figura 3 – Coeficiente de detecção de novos casos, OMS, 2012................................... 21

Figura 4 – Modelo para a base molecular da interação do Mycobacterium leprae com

os nervos periféricos......................................................................................

27

Figura 5 – Variação clínico-imunológica da hanseníase................................................ 28

Figura 6 – Eletroneuromiografia realizada em um paciente com hanseníase................. 32

Figura 7 – A: Nervo ulnar motor com bloqueio de condução. B: Nervo radial

superficial com diferenças na dispersão temporal de amplitudes entre os

dois lados.......................................................................................................

33

Figura 8 – Representação esquemática dos pontos sensitivos padronizados das mãos

dos pés...........................................................................................................

55

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Análise bivariada das características sócio demográficas da amostra

com a eletroneuromiografia positiva para neuropatia hansênica..............

42

Tabela 2 – Análise bivariada do exame físico dermatológico e neurológico com a

eletroneuromiografia positiva para neuropatia hansênica........................

43

Tabela 3 – Análise bivariada dos dados de classificação com a

eletroneuromiografia positiva para neuropatia

hansênica...................................................................................................

44

Tabela 4 – Modelo final da análise multivariada de regressão logística.................... 46

Tabela 5 – Graus de força muscular na escala proposta pelo Medical Research

Council......................................................................................................

54

Tabela 6 – Classificação e características da amostra................................................ 57

Tabela 7 – Descrição do exame clínico neurológico.................................................. 59

Tabela 8 – Descrição do exame complementar de

eletroneuromiografia.................................................................................

60

Tabela 9 – Concordância específica por nervos entre os exames clínicos

neurológicos e a eletroneuromiografia para diagnóstico de neuropatia

hansênica...................................................................................................

61

Tabela 10 – Concordância geral entre o teste de monofilamentos e a

eletroneuromiografia para diagnóstico de neuropatia hansênica..............

62

Tabela 11 – Concordância geral entre o teste muscular voluntário e a

eletroneuromiografia para diagnóstico de neuropatia hansênica..............

62

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

DP Desvio Padrão

MDT Multidrogaterapia

p Probabilidade de significância estatística

OMS Organização Mundial da Saúde

IC Intervalo de Confiança

SINAN Sistema de Informação de Agravos de Notificação

TT Forma Tuberculóide

LL Forma Lepromatosa

BT Forma Boderline-Tuberculóide

BL Forma Boderline-Lepromatosa

BB Forma Borderline-Boderline

I Indeterminada

T Tuberculóide

D Dimorfa

V Virchowiana

SPSS Statistical Package for Social Sciences

UFC Universidade Federal do Ceará

ENMG Eletroneuromiografia

TRIPOD Trials in Prevention of Disability

TENLEP Treatment of Early Neuropathy in Leprosy

k Coeficiente Kappa

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO..................................................................................................... 17

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................... 18

1.1 História da Hanseníase................................................................................................. 18

1.2 Situação Epidemiológica da Hanseníase...................................................................... 20

1.2.1 No Mundo...................................................................................................................... 20

1.2.2 No Brasil........................................................................................................................ 22

1.2.3 No Nordeste................................................................................................................... 23

1.3 Classificação e Aspectos Clínicos................................................................................. 23

1.3.1 Ridley-Jopling................................................................................................................ 23

1.3.2 Madri.............................................................................................................................. 24

1.3.3 Nomenclatura Brasileira............................................................................................... 24

1.3.4 Organização Mundial de Saúde..................................................................................... 25

1.3.5 Neural Pura................................................................................................................... 25

1.4 Neuropatia Hansênica.................................................................................................... 26

1.5 Tratamento da Neuropatia Hansênica.......................................................................... 31

1.6 Eletroneuromiografia (ENMG) ..................................................................................... 31

1.7 Justificativa.................................................................................................................... 34

TEMA 1........................................................................................................................ 37

2 OBJETIVOS................................................................................................................ 38

2.1 Geral.............................................................................................................................. 38

2.2 Específicos.................................................................................................................... 38

3 MÉTODOS.................................................................................................................. 39

3.1 Desenho e Local do Estudo.......................................................................................... 39

3.2 Seleção da Amostra e Definição de Caso..................................................................... 39

3.3 Coleta de Dados............................................................................................................ 39

3.4 Análise dos Dados........................................................................................................ 40

3.5 Aspectos Éticos............................................................................................................. 41

4 RESULTADOS........................................................................................................... 41

5 DISCUSSÃO................................................................................................................ 46

6 CONCLUSÃO............................................................................................................. 50

TEMA 2........................................................................................................................ 52

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

7 OBJETIVOS................................................................................................................ 52

7.1 Geral......................................................................................................................... ..... 52

7.2 Específicos.................................................................................................................... 52

8 MÉTODOS................................................................................................................... 53

8.1 Delineamento, Amostra e Critérios de Elegibilidade.................................................... 53

8.2 Coleta de Dados............................................................................................................. 53

8.2.1 Exame Clínico Neurológico........................................................................................... 53

8.2.2 Exame Complementar – Eletroneuromiografia............................................................. 55

8.2.3 Classificação.................................................................................................................. 56

8.3 Análise dos Dados e Aspectos Éticos............................................................................ 57

9 RESULTADOS............................................................................................................ 57

10 DISCUSSÃO................................................................................................................ 63

11 CONCLUSÃO............................................................................................................. 66

12 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................... 67

REFERÊNCIAS........................................................................................................... 68

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

17

APRESENTAÇÃO

Esse trabalho é uma tese de doutorado que constitui um requisito obrigatório

para obtenção do título de doutor em Saúde Coletiva. Esse documento está escrito em

uma estrutura organizada para facilitar a apresentação da leitura por ordem de

complexidade dos temas.

Primeiramente, será apresentada uma introdução sobre o assunto, com o

referencial teórico e o estado da arte dos principais tópicos sobre neuropatia hansênica,

mais a justificativa e relevância do estudo. Essas considerações iniciais são importantes

para contextualizar o leitor quanto ao cenário geral e para a sequência dos temas

abordados.

A partir desse ponto, os conteúdos serão apresentados em duas temáticas

separadas. O tema 1 abordará os objetivos, métodos, resultados, discussão e conclusão

do estudo sobre os fatores clínicos associados a eletroneuromiografia positiva para

neuropatia hansênica. O tema 2 engloba os objetivos, métodos, resultados, discussão e

conclusão do estudo sobre a concordância entre os exames clínico neurológico e

complementar (eletroneuromiografia) para avaliação da função motora e sensorial em

pacientes com hanseníase.

Finalmente, serão apresentadas considerações finais sobre o aprendizado

adquirido e o conhecimento construído ao longo da elaboração dessa tese e

consequentemente durante o período de doutoramento.

Segue em anexo ao final da tese os dois artigos frutos do trabalho

desenvolvido no doutorado, um em submissão ao periódico Neglected Tropical

Diseases Plos com classificação A1 no WebQualis e o outro ao periódico Leprosy

Review com classificação B1 no WebQualis.

Esse trabalho emergiu a partir da contemplação do Edital Nº 25/2006 do

Ministério de Ciência e Tecnologia em parceria com o Ministério da Saúde, por

intermédio do Departamento de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciência,

Tecnologia e Insumos Estratégicos - MCT-CNPq / MS-SCTIE-DECIT (Edital sobre

Doenças Negligenciadas).

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

18

1. INTRODUÇÃO

1.1 História da Hanseníase

Hanseníase é uma doença infecciosa crônica que pode levar a incapacidade

física, estigma social e sofrimento. Uma definição clássica na literatura afirma que a

hanseníase é uma doença infecto-contagiosa crônica causada pelo Mycobacterium

leprae que compromete o sistema nervoso periférico, a pele e outros tecidos

(BROWNE, 1985). Como a doença é transmitida pelo contato entre pessoas, permanece

endêmica em muitos países. Desde os tempos bíblicos até a era moderna, hanseníase foi

descrita como uma “doença horrível” devido a aparência física dos indivíduos

infectados. Os primeiros achados sobre a hanseníase, de acordo com textos mais

antigos, datam de cerca de 600 a.C. na China, Índia e Egito. No entanto, a doença teve

origem na Ásia baixa e África oriental e se espalhou com sucessivas migrações

humanas. Europeus e norte-africanos introduziram a hanseníase na África Ocidental e

nas Américas nos últimos 500 anos (figura 1) (HAN & SILVA, 2014; MONOT et al.,

2005).

Figura 1 - Hipótese teórica sobre o fluxo migratório da hanseníase (BROWNE, 1985).

Historicamente, a hanseníase esteve associada com exclusão social e o

isolamento em “leprosários” foi considerado o principal instrumento de controle até

metade do século XX. Na metade do século XIX, conhecida como a era bacteriológica,

a hipótese de que a hanseníase era causada por um agente transmissor contradizia a

hipótese hereditária. Em 1940, a introdução do tratamento com dapsona trouxe

esperança para a cura e controle da doença, mas em pacientes multibacilares o

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

19

tratamento não era conclusivo. Então, em 1970, foi introduzida a multidrogaterapia

(MDT) com a rifampicina. Em 1981, a Organização Mundial da Saúde (OMS)

recomendou um tratamento padronizado para a hanseníase em dois regimes: rifampicina

e dapsona por seis meses em pacientes paucibacilares; e rifampicina, clofazimina e

dapsona por 24 meses em pacientes multibacilares (WHO, 1982). Recentemente,

ensaios clínicos com pacientes multibacilares reduziram o tempo de tratamento de 24

meses para 12 e com pacientes paucibacilares de 12 para 6 meses (PENNA, PONTES,

et al., 2012; PENNA, BUHRER-SEKULA, et al., 2012).

Em 1991, a Assembleia Mundial de Saúde decidiu “eliminar” a hanseníase

como problema de saúde pública até o ano 2000, definindo eliminação como uma

prevalência de menos de 1 caso por 10.000 habitantes (WHO, 1991). A estratégia

adotada para se alcançar esta meta foi o aumento da cobertura geográfica da MDT e

acessibilidade dos pacientes, através do diagnóstico precoce de casos e tratamento

imediato. Esperava-se, com esta estratégia, que o contingente de pacientes infectados

seria reduzido, assim como a transmissão da infecção pelo M. leprae. Entretanto, não

havia nenhuma evidência de que tal prevalência escolhida arbitrariamente reduziria a

transmissão do M. leprae (BRITTON & LOCKWOOD, 2004).

Para o período de 2006-2010, a OMS introduziu a “Estratégia Global para

reduzir a carga da hanseníase e atividades de controle para a sustentabilidade da

hanseníase” voltada aos desafios remanescentes para prover serviços para pacientes com

hanseníase num contexto de baixa prevalência da doença. Simultaneamente, os seis

países que não haviam alcançado a meta estabelecida, foram também encorajados a

fazê-lo (RICHARDUS & HABBEMA, 2007).

O Ministério da Saúde no Brasil, em agosto de 2011, definiu um conjunto

de endemias que demandam ações estratégicas para eliminação como problema de

saúde pública ou para redução drástica da carga dessas doenças. Segundo a classificação

das doenças negligenciadas e outras relacionadas com a pobreza, essas formam um

conjunto de doenças que tendem a coexistir em áreas em que a população apresenta

precárias condições de vida. Apesar de responsáveis por importante morbidade e

mortalidade, a carga das doenças negligenciadas é subestimada no Brasil. No início do

ano de 2011, a Secretaria de Vigilância em Saúde criou a Coordenação Geral de

Hanseníase e Doenças em Eliminação (Decreto nº 7.530, de 21 de julho de 2011) com o

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

20

objetivo de fortalecer a resposta para um grupo de doenças em que os resultados dos

programas nacionais foram considerados insuficientes e incompatíveis com a

capacidade de resolução dos problemas de saúde pelo SUS. Neste grupo estão incluídas

a hanseníase, esquistossomose, filariose linfática, geohelmintíases, oncocercose e

tracoma. O Ministério da Saúde tem o compromisso de eliminação da hanseníase como

problema de saúde pública até 2015, ou seja, alcançar menos de 1 caso por 10.000

habitantes (BRASIL, 2012).

1.2 Situação Epidemiológica da Hanseníase

1.2.1 No Mundo

Estatísticas anuais sobre hanseníase foram relatadas por 115 países de

diferentes regiões da OMS com informações sobre novos casos detectados, o número de

casos com incapacidade grau 2 e o número de crianças e mulheres infectadas. De acordo

com as notificações recebidas, existiam 189.018 casos de hanseníase prevalentes até a

metade de 2013 (figura 2) e 232.857 casos foram detectados em 2012 (figura 3). Em

comparação com os anos anteriores, em 2012 observou-se um aumento no número de

novos casos registrados quase que exclusivamente na região sudeste da Ásia. Aumentos

menores no número de novos casos também foram observados nas regiões da África e

do Pacífico Ocidental. No total, foram detectados 6.231 casos novos em 2012 mais do

que em 2011, ou seja, um aumento de 2,67% (WHO, 2013).

Figura 2 - Coeficiente de prevalência, OMS, 2012.

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

21

Figura 3 - Coeficiente de detecção de novos casos, OMS, 2012.

A distribuição dos casos novos detectados em 2012 através de regiões da

OMS foi semelhante aos resultados dos anos anteriores. O sudeste asiático foi

responsável por 71% dos casos novos detectados em todo o mundo, com 16% nas

Américas, 9% na África, 2% no Mediterrâneo oriental e 2% no Pacífico ocidental. Os

novos casos notificados a partir de 16 países que reportaram mais de 1.000 casos ao

longo de 2012 contabilizam 95% do total de novos casos registrados em todo o mundo.

Entre esses países, Índia, Nepal, Nigéria, Costa do Marfim, Filipinas, Sudão do Sul, Sri

Lanka e República Unida da Tanzânia relataram mais casos novos em 2012 do que no

ano anterior. A OMS justifica o aumento na detecção de casos novos por alguns fatores,

como: i) inovação nos métodos de detecção de casos novos; ii) expansão para áreas e

grupos populacionais de difícil acesso e; iii) melhor gerenciamento dos dados (WHO,

2013).

A proporção de hanseníase multibacilar entre os novos casos nos países que

notificaram 100 novos casos ou mais variou de 34,1% a 92,3% a nível mundial. A

proporção de mulheres entre os casos novos detectados nos países que notificaram ≥

100 novos casos variou de 20,8% para 47,0%. A proporção de crianças entre os casos

novos nos países que notificaram ≥ 100 novos casos variou de 0,6% a 41,3%.

Globalmente 14.409 novos casos foram reportados com incapacidade grau 2 durante

2012. O coeficiente por 100.000 habitantes variou de 0,03 na região do Pacífico

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

22

ocidental para 0,43 na região do sudeste asiático. O coeficiente global ficou registrado

em 0,25 por 100.000 habitantes em 2012 (WHO, 2013).

Em 2012, os dados globais sobre hanseníase mostraram que menos de 20

países informaram mais de 1.000 casos, o que indica que a hanseníase está

gradualmente se tornando limitada a um pequeno número de países. A Estratégia Global

Aprimorada definiu como meta para 2015 a redução de casos novos com deformidade

visível ou incapacidade grau 2 por 100.000 pessoas em 35% em comparação com os

valores de 2010 (WHO, 2013).

1.2.2 No Brasil

Os dados específicos para o Brasil no ano de 2012 foram: prevalência

registrada de 29.311 casos, número de casos novos detectados de 33.303, número de

casos novos com hanseníase multibacilar de 20.990, número de mulheres entre os casos

novos de 14.443, número de crianças entre os casos novos de 2.246, e número de casos

novos com incapacidade grau 2 igual a 2.234 (WHO, 2013).

O Ministério da Saúde tem o compromisso de eliminação da hanseníase

como problema de saúde pública até 2015, ou seja, alcançar menos de 1 caso por 10.000

habitantes. Em 2010, o Brasil apresentou 1,56 casos para cada 10.000 habitantes,

correspondendo a 29.761 casos em tratamento. Neste mesmo ano, o Brasil detectou

34.894 casos novos de hanseníase, correspondendo a um coeficiente de detecção geral

de 18,2/100.000 habitantes. Verificou-se redução do coeficiente de detecção em 35,1%

no período de 2001 a 2010. Embora o Brasil registre decréscimos contínuos nos

coeficientes de prevalência e incidência de hanseníase, as regiões Norte, Nordeste e

Centro-Oeste são consideradas mais endêmicas, com áreas de importante manutenção

da transmissão (BRASIL, 2012).

Casos de hanseníase em menores de 15 anos refletem circuitos de

transmissão ativos. Em 2010, foram registrados 2.461 casos de hanseníase em menores

de 15 anos e um coeficiente de detecção desse grupo etário de 5,4 por 100.000

habitantes, o que é alarmante para essa faixa etária. Apesar da importante redução do

coeficiente de prevalência de hanseníase do Brasil, algumas regiões demandam

intensificação das ações para eliminação da doença, justificadas por um padrão de alta

endemicidade (IGNOTTI & PAULA, 2011).

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

23

Sabendo-se que a hanseníase não está distribuída de forma homogênea em

todo o território nacional, foram identificadas as áreas geográficas de risco que

concentram maior endemicidade (PENNA et al., 2009). Essas áreas se apresentam como

um conjunto de 253 municípios (4,5% do total dos 5.565 municípios brasileiros). Tais

municípios concentram 34% da população total do país e 56% dos casos novos

diagnosticados em 2010, bem como 33% da população de crianças com menos de 15

anos e 67% dos casos novos em crianças. Os municípios prioritários localizam-se em

todas as unidades da Federação, mas concentram-se principalmente nos estados do

Maranhão, Tocantins, Mato Grosso, Pará e Rondônia. As regiões metropolitanas de

Recife e Fortaleza também são consideradas de grande importância epidemiológica.

1.2.3 No Nordeste

De acordo com o Sistema de Informação de Agravos de Notificação

(SINAN) do Brasil, foram registrados 38.367 casos novos em 2012, ou seja, um

coeficiente de detecção de 19,0 casos/100.000 habitantes, sendo 15.757 na região

Nordeste (28,8 casos/100.000hab), e 2.349 no Estado do Ceará (26,7

casos/100.000hab).

Nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste foram detectados 29 clusters da

doença, que contém 789 municípios brasileiros (14,2% de todos os municípios do país),

sendo que representam somente 11,2% da população brasileira (PENNA et al., 2009;

PENNA & PENNA, 2007). Dos 29 clusters detectados, quatro localizam-se no Ceará, e

somente dois dos seis clusters que apresentaram os maiores riscos relativos não se

localizam neste estado.

Um estudo realizado no Estado do Ceará mostrou que a distribuição espacial

da hanseníase é bastante heterogênea, havendo muitos municípios com uma prevalência

menor que 0,2 por 10.000 habitantes, e alguns com uma prevalência tão elevada como

12,2 por 10.000 pessoas (MONTENEGRO et al., 2004). A causa dessa heterogeneidade

não é bem compreendida, mas a urbanização desigual e descontrolada desempenha um

papel importante nessa distribuição (IMBIRIBA et al., 2009).

1.3 Classificação e Aspectos Clínicos

1.3.1 Ridley-Jopling

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

24

Na relação germe-hospedeiro, a doença manifesta-se num espectro de

polaridade da resistência imunológica. A forma tuberculóide (TT) ocorre nos pacientes

com alta resistência, levando à formação de um granuloma bem definido, pequeno

número de lesões, ausência ou presença escassa de bacilos. A forma lepromatosa (LL)

surge nos indivíduos com baixa resistência, tendo uma resposta imuno-celular

deficiente, lesões para múltiplos órgãos e disseminação bacilar em grandes proporções.

Entre essas duas extremidades polares estão as formas instáveis, borderlines, com

variabilidade clínica e imunológica. A forma borderline pode se aproximar da forma

tuberculóide, hanseníase borderline-tuberculóide (BT); ou da forma lepromatosa,

hanseníase borderline-lepromatosa (BL); ou, no meio do espectro, hanseníase

borderline-borderline (BB). Essa teoria da polaridade imunológica, proposta por Rabelo

em 1937, tem resistido ao tempo, sendo reforçada pelos novos conhecimentos

imunológicos (RABELLO, 1976). A classificação dos pacientes de acordo com a escala

de Ridley-Jopling é clinicamente útil, e baseada em critérios clínicos, histológico e

imunológico, constituindo-se em cinco grupos (RIDLEY & JOPLING, 1966). Alguns

anos depois desta proposta, Ridley reconheceu que pacientes poderiam iniciar a doença

e mover para diferentes extremos do espectro da hanseníase e propôs, então, a forma

indeterminada (RIDLEY, 1982).

1.3.2 Madri

Já a classificação de Madri (Congresso Internacional, 1953), considera dois

pólos estáveis e opostos (lepromatoso e tuberculóide) e dois grupos instáveis

(indeterminado e boderline), que caminhariam para um dos pólos na evolução natural

da doença (TALHARI & NEVES, 1997).

1.3.3 Nomenclatura brasileira

Visando diminuir o estigma da doença, uma proposta do Prof. Abrão

Rotberg modificou a nomenclatura no Brasil a partir da década de 1970, uma mudança

da terminologia "lepra" para "hanseníase", “dimorfa” como tradução de “boderline”, e

“lepromatosa” para “virchowiana” (OPROMOLLA & MARTELLI, 2005). Atualmente,

o SINAN apresenta a classificação da hanseníase como: Indeterminada (I),

Tuberculóide (T), Dimorfa tuberculóide (DT), Dimorfa dimorfa (DD), Dimorfa

virchowiana (DV) e Virchowiana (V). A forma clínica DT pode ser associada com lesão

rápida e grave do nervo, ao passo que a forma V está associada com cronicidade e

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

25

complicações a longo prazo. As formas Dimorfa são instáveis e podem ser complicadas

por reações hansênicas.

1.3.4 Organização Mundial de Saúde

Em 1982, a OMS recomendou que se utilizasse uma nova classificação para

fins operacionais, agregando os pacientes nas formas paucibacilar (PB) e multibacilar

(MB), sendo determinada pelo número de lesões na pele: até cinco lesões (paucibacilar)

e mais de cinco lesões (multibacilar). O objetivo era simplificar o reconhecimento da

doença e assegurar que o paciente fosse tratado apropriadamente com a

multidrogaterapia (MDT) (WHO, 1982). Esta classificação é amplamente utilizada no

mundo, entretanto diversas modificações/adaptações na classificação e diferentes

formas de aplicação nos distintos países fez com que a classificação da OMS tornasse

praticamente impossível comparar resultados dos últimos 20 anos com os estudos mais

recentes (LOCKWOOD et al., 2007).

A comparação dos dois sistemas de classificação mostrou que na Índia até

60% dos pacientes com hanseníase BT (na classificação de Ridley-Jopling) foram

atribuídos ao grupo multibacilar e apresentaram baciloscopia negativa. Esses pacientes

foram, portanto, tratados em demasia (VAN BRAKEL et al., 2005a; VAN BRAKEL et

al., 2005b). A importância de usar uma classificação mais rigorosa em centros de

referência e para estudos de investigação tem sido destacada na literatura

(RODRIGUES & LOCKWOOD, 2011). Especialmente em contexto de regiões

altamente endêmicas, a classificação da OMS pode ser apropriada. Entretanto, a

classificação de Ridley-Jopling promove uma maior compreensão da patologia da

doença, do seu prognóstico e dos fatores de risco para suas complicações. O uso desta

classificação é fortemente recomendado em pesquisas para que possa refletir o espectro

das respostas imunológicas e permitir a comparabilidade no tempo e no espaço

(LOCKWOOD et al., 2007).

1.3.5 Neural Pura

Outra forma, a neural pura, foi posteriormente definida como uma

neuropatia periférica na qual não há lesão de pele sugestiva de hanseníase, mas sim um

espessamento neural com alteração sensitiva correspondente ao nervo (UPLEKAR &

ANTIA, 1986). A prevalência da hanseníase neural pura é baixa, mas pode ser

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

26

superestimada quando a investigação da lesão da pele não é completa, bem como

quando não existe um diagnóstico diferencial adequado (GARBINO et al., 2013).

1.4 Neuropatia Hansênica

Estima-se que a prevalência global de neuropatia periférica é de 2,4%,

porém aumenta para 8% em indivíduos com idade acima de 55 anos. Estes números não

incluem as neuropatias periféricas traumáticas, por isso é provável que a carga total de

neuropatias seja mais elevada. No mundo desenvolvido, a diabetes mellitus é a causa

mais comum desta enfermidade. Em termos globais, a hanseníase continua a ser uma

das principais causas de neuropatia e é um problema grave nos países em

desenvolvimento (MISRA et al., 2008).

A hanseníase é uma infecção preferencial pelo nervo periférico e é

considerado o melhor modelo de neuropatia inflamatória, pois apresenta sintomas

sensoriais, autônomos e motores devido à inflamação ou como consequência das

reações. Incialmente ocorre predomínio da inflamação nas fibras menores, e

posteriormente as fibras maiores também são envolvidas (NASCIMENTO, 2013).

Histologicamente, os bacilos são vistos nas células de Schwann mielinizadas, nos

vacúolos intracelulares e nos macrófagos migrantes do sangue para o espaço perineural.

Na patogênese da infecção neural ocorrem desmielinização e remielinização crônicas, o

que leva a uma calcificação com perda da função neural, produzindo uma neuropatia

periférica não traumática. Rambukkana e cols. (2000) esclareceram o mecanismo

molecular da afinidade seletiva do M. leprae pela célula de Schwann, foi identificada

uma glicoproteína que se liga por opsonização à superfície do M. leprae, a qual, por sua

vez, se liga a um receptor da superfície da célula de Schwann, desse modo promovendo

a penetração do bacilo no interior da célula (figura 4).

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

27

Figura 4 - Modelo para a base molecular da interação do Mycobacterium leprae com os

nervos periféricos (RAMBUKKANA, 2000).

Na evolução da infecção hansênica podem ocorrer episódios agudos

reacionais ou fenômenos de hipersensibilidade, classificados em duas reações

imunológicas: reação celular tardia e imunocomplexos (figura 5). A primeira é

conhecida como reação reversa ou tipo 1; e a segunda como eritema nodoso leprótico

(ENL) ou tipo 2. A reação reversa (Tipo 1) obedece a um mecanismo celular mediado

pelos linfócitos T, ocorrendo com maior frequência nos pacientes com hanseníase T e

DT. Na histopatologia observa-se presença de granuloma com infiltrado inflamatório e

um influxo de células CD4+ positivas. A reação tipo 2 (ENL) ocorre nos pacientes com

hanseníase V e DV. É reconhecida como uma reação do tipo imuno-complexos,

considerando a presença de imunoglobulinas nas lesões (FOSS, 1997; MENDONÇA et

al., 2008).

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

28

Figura 5 - Variação clínico-imunológica da hanseníase (BRITTON & LOCKWOOD,

2004). IL = interleucina; IFN = interferon; ENL = eritema nodoso lepromatoso.

A consequente destruição dos nervos parece ocorrer devido aos seguintes

aspectos: i) por pressão intraneural aumentada pelo edema e infiltrado inflamatório com

consequente isquemia, lesão do nervo com formação de um granuloma; e ii) por

alterações vasculares intraneurais resultando em oclusão da luz dos vasos e isquemia

(LANCET, 2009). O dano neural pode persistir sem a presença direta do bacilo, a partir

de enzimas citotóxicas produzidas na resposta imunológica. O comprometimento neural

na hanseníase ocorre em duas fases evolutivas: a) num estágio inicial, os nervos

superficiais infectados apresentam diminuição da sensibilidade térmica, tátil, dolorosa e

alterações autonômicas com perda da sudorese e dos pelos; e b) nos estágios mais

avançados, um ou mais troncos nervosos com fibras mistas são infectados e danificados,

produzindo perda da sensibilidade superficial e profunda, bem como paralisia muscular.

A extensão e o grau da perda de sensibilidade e paralisia dependem da forma da doença,

da quantidade e duração das estruturas envolvidas e dos episódios reacionais

(KAHAWITA et al., 2008; LOCKWOOD & SAUNDERSON, 2012; PANDHI &

CHHABRA, 2013).

Neuropatia hansênica é um evento muito prevalente relatado na literatura, e

nos últimos anos, vários estudos de coorte conduzidos na Etiópia, Nepal, Bangladesh e

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

29

Tailândia forneceram dados epidemiológicos sobre a prevalência e incidência de

neuropatia (SMITH & SAUNDERSON, 2010; VAN BRAKEL, 2000). Uma coorte de 5

anos com 2.664 casos novos de hanseníase em Bangladesh apresentou um coeficiente

de incidência de 34% para desenvolver o comprometimento da função do nervo durante

o período de observação (RICHARDUS et al., 2004). Outro estudo prospectivo de base

populacional com 640 pacientes recém-diagnosticados com hanseníase na Tailândia

mostrou que a detecção precoce da hanseníase e o tratamento por multidrogaterapia são

os passos mais importantes na prevenção de neuropatia e consequente incapacidade

(SCHREUDER, 1998). O ALERT MDT Field Evaluation Study (AMFES) começou em

1988 e acompanhou 594 novos casos de hanseníase prospectivamente por até 10 anos

após o final do tratamento, e apresentou uma densidade de incidência para neuropatia de

39 episódios por 100 pessoas-ano em risco apenas no primeiro ano após o diagnóstico

(SAUNDERSON et al., 2000).

O comprometimento neural na hanseníase acontece com mais frequência em

determinados segmentos. Uma recente revisão sistemática (GARBINO et al., 2013)

sobre o comprometimento neural na hanseníase mostrou que os dados disponíveis na

literatura são contraditórios, e a metodologia dos estudos são heterogêneas. Os nervos

com maior frequência de deficiência, na série analisada, foram os nervos ulnar na

goteira epitrocleana, o mediano antes do túnel do carpo, o fibular na cabeça da fíbula e

na porção anterior do tornozelo, o tibial posterior na região retromaleolar interna, o

radial superficial no punho, o sural na região retromaleolar externa, o grande auricular

na margem posterior do esternocleido-mastóideo, o facial nos ramos supra-orbitários

(CROFT et al., 2000; MEIMA et al., 2008). O nervo tibial posterior é o mais

comumente afetado, seguido pelo ulnar, mediano, poplíteo lateral, e os nervos faciais

(SAUNDERSON et al., 2000).

O espessamento neural é um achado clínico muito comum. Essa hipertrofia

no comprometimento hansênico do nervo é decorrente da fibrose epi, peri e,

principalmente endoneural; da multiplicação dos granulomas endoneurais; do processo

inflamatório com a concentração dos histiócitos (macrófagos), linfócitos, células

epitelióides e edema; da necrose caseosa e hialização do nervo (VISSER et al., 2012).

Uma análise de regressão logística mostrou que crianças com troncos nervosos

espessados tiveram 6,1 vezes mais risco de desenvolver deformidades em comparação

com aqueles que não apresentaram espessamento neural (KAR & JOB, 2005). Em um

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

30

estudo de prevalência com 101 pacientes na Índia, 45,5% apresentaram espessamento

neural, afetando apenas um nervo em 14 pacientes (30,4%) e múltiplos nervos em 32

(69,6%) (LASRY-LEVY et al., 2011).

A lesão dos nervos pode ocorrer antes, durante, e depois do tratamento e

pode resultar em deficiência e incapacidade a longo prazo (BOKU et al., 2010). No

estudo AMFES (SAUNDERSON, 2000), 47% dos 594 novos casos já haviam

estabelecido o comprometimento da função nervosa no momento do diagnóstico e mais

8% tiveram lesão neural no curso da doença. Além disso, 12% desenvolveram dano no

nervo após o início do tratamento, e apenas 33% não tinham evidência clínica de

comprometimento neural em qualquer momento. O grau da lesão neural no diagnóstico

reflete o atraso entre o início dos sintomas e o diagnóstico. O atraso é frequentemente

em anos, e durante este tempo a neuropatia pode se desenvolver quase despercebida

(KHAMBATI et al., 2009; SMITH et al., 2009; VAN BRAKEL et al., 2005b). A

chamada neuropatia silenciosa é caracterizada por deficiência da função sensitiva e/ou

motora na ausência de espessamento neural evidente e dor à palpação do nervo, sem

queixas espontâneas de parestesia ou dormência (JENA et al., 2002; VAN BRAKEL &

KHAWAS, 1994). Em um estudo transversal com 233 pacientes de hanseníase no

município de Fortaleza-CE, a proporção de pacientes com neuropatia silenciosa foi de

5,6% (IC 95%: 3,0-9,4); e a ocorrência de neuropatia silenciosa esteve

significativamente associada a idade (p=0,011) e incapacidade (p<0,001). Os autores

desse estudo sugerem que o monitoramento da função neural seja feito mensalmente

nos centros de referência, pelo menos no grupo de pacientes com maior risco de

desenvolver a neuropatia silenciosa, ou seja, pacientes que apresentaram algum grau de

incapacidade (1 ou 2) e com idade acima de 30 anos (LEITE et al., 2011).

A neuropatia é uma das principais causas de incapacidade, o que leva ao

estigma social na hanseníase. Levando em consideração as melhores tendências sobre a

incidência de hanseníase (declínio anual de 18% na taxa de detecção de casos), projeta-

se que aproximadamente 0,8 milhões de pessoas estarão vivendo com incapacidade

física grau 2 em 2020. Sendo assim, a prevalência de pessoas com incapacidade grau 2

diminui mais lentamente do que a incidência de hanseníase no mundo. Isto implica que

um número substancial de pessoas viverá com comprometimento, o que exigirá maior

apoio em saúde, treinamento em autocuidado e prevenção de outras deficiências nas

próximas décadas (MEIMA et al., 2008).

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

31

1.5 Tratamento da Neuropatia Hansênica

Alguns estudos tem sido publicados sobre a efetividade da corticoterapia no

gerenciamento clínico e prevenção da neuropatia hansênica. O estudo TRIPOD (Trials

in Prevention of Disability) mostrou que o uso de baixas doses de prednisolona

associado com a MDT reduz a incidência de neuropatia e reações em curto prazo

(SMITH et al., 2004; VAN BRAKEL et al., 2003). Já o estudo TENLEP (Treatment of

Early Neuropathy in Leprosy) realizou intervenção com prednisolona de baixa dose em

pacientes com neuropatia clinicamente detectada por teste muscular voluntário e

monofilamentos, e em pacientes com neuropatia subclínica detectada por

eletroneuromiografia. Os resultados iniciais sugerem que a intervenção medicamentosa

na fase subclínica é mais efetiva na prevenção da neuropatia (WAGENAAR et al.,

2012).

Portanto, percebe-se que existe a possibilidade de um tratamento mais

efetivo para a neuropatia hansênica, principal causa de incapacidade funcional e

deformidades físicas na hanseníase, entretanto é preciso que a intervenção seja realizada

o mais precoce possível.

1.6 Eletroneuromiografia (ENMG)

Avaliação de condução nervosa motora e sensorial é uma ferramenta de

diagnóstico comprovada no teste da lesão do nervo periférico. A avaliação

eletrofisiológica do potencial de ação sensorial, amplitude do potencial composto de

ação muscular, velocidade de condução sensorial e motora ajudam a caracterizar e

quantificar as funções sensitivas e motoras nas fibras mielinizadas dos nervos

periféricos. Os valores de referência são usados para definir os limites de

funcionamento normal, e definir a presença de alguma forma de neuropatia

(DORFMAN & ROBINSON, 1997). McKnight e cols (2010) conduziram o maior

estudo sobre valores de referência para avaliação da função dos nervos periféricos em

população saudável e com hanseníase. O padrão eletrofisiológico pode ser classificado

como desmielinizante (latência distal prolongada, diminuição da velocidade de

condução nervosa, dispersão e bloqueio de condução) ou axonal (desaceleração da

condução nervosa motora e sensorial, redução do potencial de ação motor composto e

desnervação). Os tipos de neuropatia podem ser classificados como mononeuropatia

simples (comumente devido à compressão ou trauma); mononeuropatia múltipla

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

32

(comumente devido à hanseníase ou vasculite); e polineuropatia (devido a causas

sistêmicas, metabólicas ou tóxicas) (MISRA et al., 2008). Para a interpretação de

estudos de condução nervosa, a idade do paciente deve ser considerada. A velocidade de

condução nervosa normal de uma criança pode ser a metade do valor de um adulto, e

pode diminuir em idosos. A temperatura do segmento avaliado também deve ser levada

em consideração, pois a velocidade de condução nervosa altera em 2,4 m/s para cada

mudança no grau centígrado variando entre 29-38°C (MISRA & KALITA, 2006).

Figura 6 - Eletroneuromiografia realizada em um paciente com hanseníase (KAR

et al., 2013).

Em pacientes com hanseníase, a mononeuropatia múltipla assimétrica é a

alteração mais característica (JARDIM et al., 2004). Estudos neurofisiológicos no nervo

ulnar em pacientes com reações hansênicas indicam processos axonais e

desmielinizantes ao nível do cotovelo. Nas reações tipo 2, a alteração de

desmielinização (ou seja, bloqueio de condução) é um evento primário, que ocorre

como um fenômeno agudo, enquanto que nas reações tipo 1, a dispersão temporal é

percebida como um fenômeno subagudo (GARBINO et al., 2010). A neuropatia

hansênica é conhecida por envolver preferencialmente apenas as sensações

exteroceptivas, mas a perda da sensibilidade proprioceptiva tem sido descrita em alguns

poucos casos (NASCIMENTO, 2013). A lesão da fibra nervosa autonômica é mais

frequente do que as somáticas e está fortemente relacionada com as reações imuno-

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

33

inflamatórias contra M. leprae (SOYSAL et al., 2004). Os exames eletrofisiológicos são

utilizados no estudo da neuropatia hansênica, sendo técnicas que podem fornecer

informações para diagnóstico e manejo clínico da doença (figura 7).

Figura 7 - A: Nervo ulnar motor com bloqueio de condução. B: Nervo radial superficial com diferenças

na dispersão temporal de amplitudes entre os dois lados. Fonte: arquivo pessoal dos autores (CUNHA,

FMB).

A avaliação da função sensorial de nervos acometidos pela hanseníase

geralmente é feita com o teste de monofilamentos (MF). Este teste usa monofilamentos

de nylon classificados para monitorar a sensação de toque nas mãos e nos pés. A função

motora é avaliada usando o teste muscular voluntário (TMV). Ambos os testes

apresentam bons níveis de reprodutibilidade sob diversas condições (ANDERSON &

CROFT, 1999; BRANDSMA et al., 1998). Um estudo com 357 pacientes de hanseníase

não tratada comparou diferentes testes diagnósticos para neuropatia hansênica

considerando a ENMG como o método padrão-ouro. Os resultados mostraram que tanto

o teste de MF quanto o TMV apresentaram boa especificidade, mas baixa sensibilidade.

O teste palpatório foi menos específico, mas mais sensível do que os testes de MF e

TMV (KHAMBATI et al., 2009). Há baixa correlação entre espessamento neural e

déficit na condução nervosa em casos de hanseníase virchowiana. O teste palpatório dos

nervos pode ser funcional e prático, porém eventualmente pode falhar (KAR et al.,

2013). Uma grande análise comparando testes para detectar diagnóstico precoce de

neuropatia em 188 pacientes na Ásia indicou que uma grande proporção (39%) de

pacientes com hanseníase apresentou neuropatia subclínica que não foi diagnosticada

quando apenas os testes de MF e TMV foram utilizados. A velocidade de condução

nervosa foi o parâmetro mais precoce e frequentemente afetado no teste

eletrofisiológico, esse fator é promissor na melhora do diagnóstico precoce da

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

34

neuropatia, já que muitas vezes se tornou anormal cerca de 12 semanas antes de um

teste de monofilamentos (VAN BRAKEL et al., 2008). Vibrometria, limiares de

sensação térmica e ultrassonografia são testes também utilizados na avaliação da

neuropatia, porém em menor proporção (BATHALA et al., 2012; FRADE et al., 2013).

O estudo de coorte INFIR (ILEP Nerve Function Impairment and

Reactions) foi criado para identificar preditores neurológicos e imunológicos

clinicamente relevantes para a neuropatia, tanto no diagnóstico quanto imediatamente

antes do evento (VAN BRAKEL et al., 2005b). Durante 2 anos de seguimento em uma

amostra de 303 pacientes multibacilares, um total de 74 neuropatias foram detectadas, e

alterações subclínicas da função nervosa avaliadas com ENMG foram os únicos fatores

capazes de predizer os eventos. Testes sorológicos no início do estudo e imediatamente

antes de um evento não foram preditivos. Entretanto, é importante ressaltar que essa

coorte foi restrita a casos multibacilares, de modo que a baciloscopia, a forma clínica e

o número de lesões cutâneas foram menos preditivos nesse grupo mais homogêneo.

A etapa de bloqueio da condução do impulso nervoso quase sempre precede

alterações patológicas visíveis no nervo (HUSAIN & MALAVIYA, 2007). A

velocidade de condução nervosa pode estar reduzida antes que qualquer déficit sensorial

apareça, e este achado pode ser usado para detectar o envolvimento do nervo na fase

assintomática (CHOPRA et al., 1983). Mudanças na condução nervosa são mais graves

quando os nervos estão clinicamente afetados. A detecção precoce do comprometimento

neural é provável que seja o método mais eficaz de prevenção, indicando a importância

de mais estudos para descobrir como a detecção precoce de neuropatia pode ser

aperfeiçoada (VAN BRAKEL et al., 2005a).

1.7 Justificativa

Uma recente revisão publicada no Lancet (RODRIGUES & LOCKWOOD,

2011) apresenta as prioridades/lacunas de pesquisa sobre hanseníase, desde a ciência

básica até os serviços de saúde. Destaca-se a busca por desenvolver ferramentas mais

eficazes para detecção da infecção precocemente, para o diagnóstico de ponto de

contato, para prever danos nos nervos e grau de incapacidade. A hanseníase é altamente

incapacitante por provocar lesões nos nervos, decorrentes de um processo inflamatório

periférico, cuja intensidade, extensão e distribuição dependem da forma clínica, da fase

evolutiva da doença e dos fenômenos de agudização durante os episódios reacionais. O

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

35

dano neural provoca alterações de sensibilidade, que por sua vez, trazem consequências

como traumas e fraqueza muscular, gerando deformidades físicas, que precisam ser

diagnosticadas e tratadas precocemente para prevenir a incapacidade permanente e as

sequelas emocionais dos indivíduos infectados (KAHAWITA et al., 2008; NARDI et

al., 2005; SKACEL et al., 2000).

Uma melhor compreensão do mecanismo da infecção neural pelo M. leprae

à luz da biologia molecular resulta em novas pesquisas e avanços no tratamento,

prevenção e reabilitação da neuropatia hansênica (CUNHA et al., 2006; REJA et al.,

2013). Fatores de riscos para o dano neural nos diferentes casos de hanseníase ainda não

estão totalmente esclarecidos na literatura (CARDOSO et al., 2013; SMITH et al.,

2009; VITAL et al., 2012). Neuropatia hansênica continua sendo um problema de saúde

em vários países em desenvolvimento. O emprego de medidas profiláticas deve

desempenhar um papel fundamental na redução desta neuropatia infecciosa.

Diagnóstico precoce e tratamento são necessários para evitar incapacidades e

deformidades (NASCIMENTO, 2013).

A afirmativa "a detecção precoce melhora o prognóstico" é um axioma geral

na saúde e, particularmente na hanseníase, um atraso na detecção está fortemente

associado com risco elevado de comprometimento neural no momento do diagnóstico.

Além disso, uma proporção substancial de pessoas com neuropatia relacionada com a

hanseníase desenvolve incapacidade funcional e/ou social ao longo da vida. Portanto, a

detecção precoce e o melhor entendimento da neuropatia hansênica são vistos como

uma prioridade (ILA, 2002).

O problema central deste estudo está considerando alguns pontos

importantes nesse contexto:

1. A meta da OMS em reduzir o número de casos novos detectados com

classificação de incapacidade grau 2 até o ano de 2015.

2. A principal causa de incapacidade na hanseníase é o dano neural

(neuropatia hansênica).

3. A intervenção com corticosteroides em uma fase subclínica da

neuropatia é mais efetiva para o controle e prevenção do dano neural

(neuropatia subclínica).

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

36

4. Para melhorar a prevenção de incapacidade e deformidades físicas, e

consequentemente, atingir a meta da OMS, é preciso concentrar os

esforços no diagnóstico precoce da neuropatia.

5. Diagnóstico precoce da neuropatia hansênica em uma fase subclínica

pode ser detectado por eletroneuromiografia. Entretanto, ainda não está

esclarecido totalmente na literatura quais são os fatores associados a um

exame de ENMG positivo para neuropatia hansênica.

6. A hipótese desse estudo é que existem alguns fatores

(sociodemográficos, dermatológicos, neurológicos e de classificação

clínica) que estão associados com a ENMG positiva para neuropatia

hansênica. Acreditamos também que não existe um bom nível de

concordância entre os testes diagnósticos (monofilamentos, teste

muscular voluntário e ENMG).

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

37

TEMA 1

FATORES CLÍNICOS ASSOCIADOS À

ELETRONEUROMIOGRAFIA POSITIVA

PARA NEUROPATIA HANSÊNICA

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

38

2. OBJETIVOS

2.1 Geral

Identificar os fatores de risco clínicos associados à neuropatia hansênica com

diagnóstico confirmado por eletroneuromiografia em um centro de referência no

Nordeste do Brasil, no período de 2007 a 2010.

2.2 Específicos

Comparar os exames clínicos e complementares entre os pacientes casos

(neuropatia hansênica com diagnóstico confirmado por eletroneuromiografia) e

controles.

Identificar os fatores clínicos dermatológicos ou neurológicos, de caracterização

e classificação da amostra associados à neuropatia hansênica com diagnóstico

confirmado por eletroneuromiografia.

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

39

3. MÉTODOS

3.1. Desenho e Local do Estudo

Trata-se de um estudo caso controle realizado no Centro de Referência em

Dermatologia Sanitária Dona Libânia (CDERM), vinculado à Secretaria de Saúde do

Estado do Ceará, localizado no município de Fortaleza. O CDERM recebe pacientes de

todo o estado e são desenvolvidas atividades de assistência, pesquisa e ensino,

abrangendo setores da hansenologia, leishmaniose, câncer de pele, doenças sexualmente

transmissíveis, dermatologia geral, dermatologia pediátrica e cirurgia dermatológica.

Apesar do tratamento quimioterápico para hanseníase estar disponível nas unidades de

saúde de Fortaleza, a maioria dos pacientes é referenciada para tratamento no CDERM,

porque além da medicação, há disponibilidade de acompanhamento por outros

profissionais, como fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais e

psicólogos (FERREIRA et al., 2008; GOMES et al., 2005).

3.2. Seleção da População/Amostra e Definição de Caso

Foram revisadas todas as fichas de avaliação e os prontuários de pacientes

que realizaram o exame de eletroneuromiografia por um neurologista no período de

2007 a 2010. Foram incluídos os pacientes com diagnóstico de hanseníase confirmado

por critérios clínicos, baciloscópicos e/ou histopatológicos, no referido período. O

diagnóstico de hanseníase foi definido de acordo com os critérios do Ministério da

Saúde (BRASIL, 2002), como uma pessoa que apresenta uma ou mais de uma das

seguintes características: lesão(ões) de pele com alteração de sensibilidade;

acometimento de nervo(s) com espessamento neural; baciloscopia positiva. A definição

dos casos e controles foi estabelecida de acordo com o resultado do exame de ENMG.

Considerou-se como caso (presença de neuropatia hansênica) o paciente com resultado

alterado no exame de ENMG, e como controle (ausência de neuropatia hansênica) o

paciente com resultado normal no exame de ENMG.

3.3. Coleta de Dados

Foram extraídos os dados dos prontuários referentes às informações

contidas na anamnese, exame físico dermatológico e neurológico, exames

complementares laboratoriais, baciloscopia e eletroneuromiografia. Informações

adicionais foram extraídas da base de dados do SINAN (Sistema de Informação de

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

40

Agravos de Notificação) – CDERM (GALVAO et al., 2008; LAGUARDIA et al.,

2004).

Na anamnese foram retiradas informações a respeito da idade, sexo, cor da

pele autodeclarada e início dos sintomas. No exame físico dermatológico foram

anotadas informações sobre a presença de manchas, placas, madarose, infiltração,

úlceras, e números de lesões na pele. No exame neurológico foram selecionadas

informações sobre a presença de dormência, formigamento, sensação de queimação,

déficit motor (fraqueza muscular), hipotrofia, alterações sensitivas, espessamento neural

e dor durante a palpação dos nervos periféricos. Nos exames complementares foram

extraídas informações sobre basciloscopia e eletroneuromiografia (padrão

eletrofisiológico, tipo de neuropatia e conclusão final). No CDERM, o exame de

eletroneuromiografia foi realizado por um mesmo profissional, médico neurologista e

neurofisiologista com formação em hansenologia, com mais de 20 anos de experiência

clínica na área. Os estudos eletrofisiológicos são realizados em um aparelho Neuropack

M1 com quatro canais (Nihon Kohden Co., Ltd). Os parâmetros considerados para

avaliação são amplitude, latência e velocidade de condução nervosa (MCKNIGHT et

al., 2010).

Além disso, foram coletadas informações sobre a classificação operacional

(OMS), forma clínica (Ridley-Jopling), grau de incapacidade (OMS), presença de

reação (tipo 1, tipo 2, mista), hanseníase neural pura e/ou neuropatia silenciosa.

3.4. Análise dos Dados

As informações foram agrupadas e formatadas em um banco de dados para

análise no programa Stata versão 12 (Stata Corporation, College Station). As variáveis

categóricas foram analisadas como frequência absoluta e relativa e as variáveis

contínuas como média e desvio-padrão. Para analisar as associações entre as variáveis

categóricas foi utilizado o teste de qui-quadrado e para as variáveis contínuas o teste t-

Student (análise bivariada). Para avaliar os fatores associados à neuropatia hansênica foi

utilizado um modelo de regressão logística em que o exame de eletroneuromiografia foi

considerado como variável dependente (caso: ENMG alterada = 1; e controle: ENMG

normal = 0). Os dados de exames físicos dermatológicos e neurológicos, caracterização

e classificação da amostra foram considerados como variáveis independentes. A análise

multivariada foi realizada considerando p<0,20 para incluir a variável no modelo

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

41

logístico, e p<0,05 para manter a variável no modelo final. As variáveis que

apresentaram colinearidade não foram incluídas no modelo final. A odds ratio (OR)

bruta e ajustada foi usada para analisar os fatores de associação com o desfecho, e foi

considerada significativamente diferente quando o intervalo de confiança de 95% não

incluiu o valor 1. Fatores de confusão e interação também foram investigados, e quando

identificados, foram mantidos no modelo mesmo não apresentando significância de

p<0,05 (ROTHMAN et al., 2008).

3.5. Aspectos Éticos

O projeto de pesquisa foi aprovado pelo comitê de Ética em pesquisa do

Centro de Referência Nacional em Dermatologia Sanitária Dona Libânia com parecer

número 011/07. Essa pesquisa foi financiada pelo CNPq (Conselho Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico) com fomentos do Edital Nº 25/2006 do

Ministério de Ciência e Tecnologia em parceria com o Ministério da Saúde, por

intermédio do Departamento de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciência,

Tecnologia e Insumos Estratégicos - MCT-CNPq / MS-SCTIE-DECIT.

4. RESULTADOS

O estudo identificou 267 pacientes que realizaram o exame de ENMG no

período do estudo, dos quais 166 apresentaram diagnóstico confirmado de hanseníase.

Portanto, os dados foram extraídos de 128 casos (77,1%) e 38 controles (22,9%). A

amostra foi composta por 101 (60,8%) homens, e 146 (88,0%) pacientes autodeclarados

como pardo ou negro. O início dos sintomas foi inferior a 6 meses em 30 (18,1%)

pacientes, entre 6 e 12 meses em 45 (27,1%) pacientes, e superior a 12 meses em

91(54,8%) pacientes. A idade média dos casos foi de 40,5±16,9 anos e dos controles foi

de 34,0±20,5 anos (p=0,04). Destaca-se que ser homem e ter idade entre 41-60 anos

foram fatores significativamente associados com a neuropatia hansênica (tabela 1).

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

42

Tabela 1. Análise bivariada das características sócio demográficas da amostra com a

eletroneuromiografia positiva para neuropatia hansênica.

Variáveis Neuropatia (ENMG)

Total p OR Bruta

(95% IC) Sim

Sexo Feminino 44 (67,7%) 65 - 1

Masculino 84 (83,2%) 101 0,02* 2,36

(1,13 – 4,92)

Idade < 25 27 (64,3%) 42 - 1

26 – 40 35 (76,1%) 46 0,22 1,76

(0,70 – 4,46)

41 – 60 49 (87,5%) 56 0,001* 3,89

(1,41 – 10,70)

> 60 17 (77,3%) 22 0,29 1,89

(0,58 – 6,14)

Cor da Pele Branca 14 (70,0%) 20 - 1

Parda/Negra 114 (78,1%) 146 0,43 1,52

(0,54 – 4,29)

Moradia Urbana 98 (79,0%) 124 - 1

Rural 11 (64,7%) 17 0,19 0,48

(0,16 – 1,43)

Escolaridade Ensino

Superior

09 (75,0%) 12 - 1

Ensino Médio 20 (90,9%) 22 0,22 3,33

(0,47 – 23,53)

Ensino

Fundamental

49 (72,0%) 68 0,83 0,85

(0,20 – 3,52)

Total 128 (77,1%) 166 (100,0%)

*Diferença significativa ao nível de 5%. OR = odds ratio.

A tabela 2 resume os resultados da análise bivariada do exame físico

dermatológico e neurológico. Destaca-se que os pacientes que apresentaram

formigamento, sensação de queimação, déficit motor (fraqueza muscular), hipotrofia,

espessamento neural e dor na palpação do nervo foram significativamente associados

com a neuropatia hansênica.

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

43

Tabela 2. Análise bivariada do exame físico dermatológico e neurológico com a

eletroneuromiografia positiva para neuropatia hansênica.

Variáveis

Neuropatia (ENMG)

Total p OR Bruta

(95% IC) Sim

Manchas Sim 68 (73,9%) 92 0,27 0,66

(0,31 – 1,39)

Não 60 (81,1%) 74 1

Placas Sim 60 (71,4%) 84 0,07 0,51

(0,24 – 1,08)

Não 68 (82,9%) 82 1

Madarose Sim 22 (75,9%) 29 0,86 0,91

(0,35 – 2,35)

Não 106 (77,4%) 137 1

Infiltração Sim 25 (69,4%) 36 0,22 0,59

(0,26 – 1,36)

Não 103 (79,2%) 130 1

Lesões de pele na

face

Sim 32 (74,4%) 43 0,64 1,21

(0,54 – 2,71)

Não 95 (77,9%) 122 1

Dormência Sim 123 (78,3%) 157 0,14 2,89

(0,73 – 11,38)

Não 5 (44,6%) 9 1

Formigamento Sim 102 (85,7%) 119 0,001* 4,84

(2,24 – 10,48)

Não 26 (55,3%) 47 1

Queimação Sim 98 (86,0%) 114 0,001* 4,49

(2,09 - 9,63)

Não 30 (57,7%) 52 1

Déficit motor Sim 68 (86,1%) 79 0,01* 2,78

(1,27 – 6,08)

Não 60 (69,0%) 87 1

Hipotrofia Sim 62 (87,3%) 71 0,01* 3,02

(1,32 – 6,90)

Não 66 (69,5%) 95 1

Alterações

Sensitivas

Alterada 123 (77,4%) 159 0,72 1,36

(0,25 – 7,34)

Normal 5 (71,4%) 7 1

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

44

Espessamento

neural

Presente 95 (84,8%) 112 0,001* 3,55

(1,67 – 7,54)

Ausente 33 (61,1%) 54 1

Dor na palpação

neural

Com Dor 86 (86,9%) 99 0,001* 3,93

(1,83 – 8,46)

Sem Dor 42 (62,7%) 67 1

Total de nervos

comprometidos

clinicamente

Nenhum 3 (15,0%) 20 - 1

1 – 4 94 (84,7%) 111 0,001* 31,33

(8,27 – 118,66)

> 5 31 (88,6%) 35 0,001* 43,91

(8,78 – 219,61)

Início dos

Sintomas

< 6 meses 25 (83,3%) 30 - 1

6-12 meses 35 (77,8%) 45 0,55 0,70

(0,21 – 2,30)

> 12 meses 68 (74,7%) 91 0,33 0,59

(0,20 – 1,72)

*Diferença significativa ao nível de 5%.

A tabela 3 resume os resultados da análise bivariada das informações de

classificação clínica. Destaca-se que nenhum modo de classificação tradicional esteve

associado com a neuropatia hansênica, portanto não houve diferença entre pacientes

paucibacilares e multibacilares (classificação operacional - OMS); entre as polaridades

imunológicas tuberculóide e lepromatosa (classificação Ridley-Jopling); e entre as

formas indeterminada e virchowiana (classificação SINAN). Os pacientes que

apresentaram hanseníase neural pura, neuropatia silenciosa ou qualquer grau de

incapacidade foram significativamente associados com a neuropatia hansênica.

Tabela 2. Análise bivariada dos dados de classificação com a eletroneuromiografia positiva para

neuropatia hansênica.

Variáveis

Neuropatia

(ENMG) Total p OR Bruta

(95% IC) Sim

Classificação

operacional

Multibacilar 90 (79,6%) 113 0,26 1,54

(0,72 – 3,28)

Paucibacilar 38 (71,7%) 53 1

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

45

Classificação

Ridley-Jopling

I 0 (0,0%) 2 - 1

T 29 (76,3%) 38 0,89 0,94

(0,39 – 2,23)

BT 57 (78,1%) 73 0,78 1,10

(0,52 – 2,36)

BB 8 (100,0%) 8 - -

BL 3 (60,0%) 5 0,36 0,43

(0,07 – 2,68)

L 21 (77,8%) 27 0,92 1,04

(0,38 – 2,83)

Forma Clínica

(SINAN)

Indeterminada 3 (60,0%) 5 - 1

Tuberculóide 24 (68,6%) 35 0,70 1,45

(0,21 – 9,98)

Dimorfa 61 (82,4%) 74 0,23 3,12

(0,47 – 20,63)

Virchowiana 12 (63,2%) 19 0,89 1,14

(0,15 – 8,56)

Hanseníase Neural

Pura

Presente 28 (93,3%) 30 0,01* 5,04

(1,14 – 22,24)

Ausente 100 (73,5%) 136 1

Baciloscopia Positiva 32 (86,5%) 37 0,11 2,20

(0,79 – 6,11)

Negativa 96 (74,4%) 129 1

Neuropatia Silenciosa Presente 40 (62,5%) 64 0,001* 0,26

(0,12 - 0,56)

Ausente 88 (86,3%) 102 1

Grau de Incapacidade

(OMS)

Zero 46 (64,8%) 71 - 1

Grau I 39 (81,3%) 48 0,05* 2,35

(0,98 – 5,63)

Grau II 38 (92,7%) 41 0,01* 6,88

(1,93 – 24,57)

Reação Presente 61 (83,6%) 73 0,07* 1,97

(0,91 - 4,24)

Ausente 67 (72,0%) 93 1

Total 128 (77,1%) 166 (100,0%)

*Diferença significativa ao nível de 5%. I: indeterminada. T: tuberculóide. BT: boderline-tuberculóide.

BB: boderline-boderline. BL: borderline-lepromatosa. L: lepromatosa.

O modelo final incluindo os fatores de associação com a neuropatia

hansênica está ilustrado na tabela 3. Pacientes com idade entre 41 e 60 anos

apresentaram 4 vezes mais chance de desenvolver neuropatia hansênica (95% IC 1,26 -

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

46

12,72). Os pacientes que apresentaram formigamento no exame físico foram 2,95 vezes

mais propensos a desenvolver neuropatia hansênica (95% IC 1,18 - 7,37). Os pacientes

que apresentaram espessamento neural no exame físico foram 3,01 vezes mais

propensos a desenvolver neuropatia hansênica (95% IC 1,20 - 7,56). Sexo e grau de

incapacidade (OMS) foram identificados como fatores confundidores e por isso

permaneceram no modelo final.

Tabela 3. Modelo final da análise multivariada de regressão logística.

Variáveis OR Bruta

(95% IC)

OR Ajustada

(95% IC)

Idade < 25 1 1

26 – 40 1,76 (0,70 – 4,46) 1,48 (0,48 – 4,57)

41 – 60 3,89 (1,41 – 10,70) 4,00 (1,26 – 12,72)

> 60 1,89 (0,58 – 6,14) 1,27 (0,32 – 5,06)

Sexo Feminino 1 1

Masculino 2,36 (1,13 – 4,92) 1,74 (0,73 – 4,12)

Formigamento Ausente 1 1

Presente 4,84 (2,24 – 10,48) 2,95 (1,18 – 7,37)

Espessamento Neural Ausente 1 1

Presente 3,55 (1,67 – 7,54) 3,01 (1,20 – 7,56)

Grau de Incapacidade (OMS) Zero 1 1

Grau I 2,35 (0,98 – 5,63) 1,07 (0,38 – 3,07)

Grau II 6,88 (1,93 – 24,57) 3,42 (0,87 – 13,43)

*Diferença significativa ao nível de 5%.

5. DISCUSSÃO

Esse estudo mostrou que os fatores significativamente associados com a

neuropatia hansênica foram idade entre 41 e 60 anos, presença de formigamento e de

espessamento neural.

A única variável sociodemográfica significativa foi a idade, uma faixa etária

entre 41-60 anos foi a variável que apresentou a maior chance no modelo final. A idade

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

47

é um fator de risco já conhecido para se contrair hanseníase, conforme se aumenta a

idade maior é o risco. Embora, seja mais interessante ressaltar que parece haver um

declínio no risco em pacientes com mais de 60 anos. Esse achado também pode ser

encontrado em outros estudos (CROFT et al., 2003; RICHARD et al., 2010; VAN

BRAKEL et al., 2008). Explicações para esse fato ainda não são conclusivas, mas

acredita-se que o envelhecimento do sistema imunológico seja um fator determinante

(CRAMPIN et al., 2009; KIM et al., 2014).

A sensação de formigamento é um sintoma avaliado durante o exame físico

neurológico. Essa informação pode ser acessada na história clínica ou em questionários

específicos para esse fim. Em geral, é caracterizada como uma sensação de parestesia

nas regiões inervadas pelos respectivos nervos afetados. Também podem ser observadas

em regiões de dermátomo, porém não é comum em pacientes com hanseníase, pois o

mecanismo da lesão neural é periférico (VAN BRAKEL, 2000). Estes resultados

mostram que um paciente de hanseníase com formigamento pode ter quase três vezes

mais chance de apresentar uma eletroneuromiografia alterada (positiva para neuropatia).

O espessamento neural é um sinal clínico avaliado durante o exame físico

neurológico por meio da inspeção e do teste palpatório dos nervos periféricos, que serve

inclusive como critério para diagnóstico de hanseníase (MURTHY, 2004).

Espessamento neural é um fenômeno que apresenta elevados coeficientes de prevalência

e está frequentemente associado com dor e parestesia (LASRY-LEVY et al., 2011;

SKACEL et al., 2000; VAN BRAKEL et al., 2005b). Este estudo mostra que a presença

do espessamento neural aumenta em mais de três vezes a chance de desenvolver

neuropatia hansênica. Resultados semelhantes foram encontrados no estudo conduzido

por Oliveira et al. (2013), em que o número de nervos espessados esteve

significativamente associado com o aumento do risco de deficiências físicas. Além

disso, a incapacidade no momento do diagnóstico tem sido associada com um pior

prognóstico para deformidades (SLIM et al., 2010). Explicações fisiopatológicas para o

dano neural consideram dois aspectos: i) pressão intraneural aumentada pelo edema e

infiltrado inflamatório com consequente isquemia, lesão do nervo e formação de um

granuloma; e ii) alterações vasculares intraneurais resultando em oclusão da luz dos

vasos e isquemia (LANCET, 2009).

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

48

Estudos anteriores mostraram que indivíduos do sexo masculino apresentam

maiores coeficientes de incidência e prevalência de incapacidade física do que as

mulheres (MASTRANGELO et al., 2011; MOSCHIONI et al., 2010; OLIVEIRA et al.,

2012); e como a frequência correspondente não resultou em proporção semelhante entre

os sexos, a variável permaneceu no modelo final para fins de controle. Pelo mesmo

motivo, os graus de incapacidade da classificação da OMS permaneceram no modelo,

pois são interpretados por alguns autores como consequências de lesões nervosas

(OLIVEIRA et al., 2013; VAN BRAKEL et al., 2012). É aceitável que um paciente

com neuropatia hansênica apresente algum grau de incapacidade, entretanto é muito

improvável que indivíduos com classificação grau 2 não apresentem nenhum sinal ou

sintoma detectável de lesão neural.

Nenhuma variável do exame físico dermatológico foi associada com a

neuropatia hansênica (manchas, placas, madarose, infiltração). A função motora

(avaliada com o teste muscular voluntário) e a função sensorial (avaliada com o teste de

monofilamentos) não permaneceram no modelo final (p=0,17 e p=0,89;

respectivamente); apesar de apresentar uma forte associação na análise inicial (déficit

motor: OR=2,78; IC 95% 1,27-6,08). A classificação operacional, forma clínica,

baciloscopia e histórico de reação não apresentaram associação em nenhuma das

análises. As variáveis de classificação hanseníase neural pura e neuropatia silenciosa

não foram incluídas no modelo, uma vez que exigem resultado único e positivo do

desfecho (eletroneuromiografia – neuropatia hansênica). Os primeiros resultados do

estudo INFIR (VAN BRAKEL et al., 2005b) indicaram que a presença de lesões de

pele ao redor de troncos nervosos pode aumentar o risco de neuropatia hansênica, e que

a ausência de propriocepção ou reflexos tendinosos indicou neuropatia mais avançada.

Além disso, espessamento neural e parestesia foram associados com um aumento do

risco de comprometimento neural no momento do diagnóstico, mas esta associação não

foi muito forte. Na continuação do estudo INFIR foi realizada uma análise prospectiva

de 2 anos para identificar os fatores de risco para um novo evento de neuropatia

(SMITH et al., 2009). Os fatores que mostraram forte associação foram teste de

eletroneuromiografia positivo (alterações subclínicas na velocidade de condução

nervosa sensorial e motora); alterações nos níveis de TNF alfa; idade e lesão neural

prévia. O efeito preditivo aparente da sensação térmica e vibratória desaparece após o

ajuste, em grande parte devido à idade como fator de confusão.

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

49

O Ministério da Saúde brasileiro estabeleceu que a avaliação da

incapacidade deve ser realizada em, no mínimo, 90% dos pacientes de hanseníase no

momento do diagnóstico e em 75% após o tratamento (BRASIL, 2010). A proporção de

pacientes avaliados utilizando um exame neurológico e diagnosticados com deficiência

física ajuda a avaliar indiretamente a eficácia dos programas de prevenção de

incapacidade. A estratégia global para o controle da hanseníase 2011-2015 visa reduzir

a detecção de casos novos com grau 2 de incapacidade em todo o mundo em mais de

35% até o final de 2015, em comparação com o valor de base no final de 2010 (WHO,

2013); essa mudança de alvo da OMS reflete a magnitude das sequelas que uma

neuropatia pode causar em um paciente com hanseníase. Essas questões implicam em

problemas com a formação profissional para a prevenção da incapacidade na

hanseníase, e se torna cada vez mais essencial desenvolver estratégias que possibilitem

um exame neurológico adequado para prevenir tais complicações.

Todavia, é importante lembrar que existe uma grande proporção de

pacientes com neuropatia hansênica subclínica que não fica evidenciada quando se

utiliza apenas testes clínicos como monofilamentos, teste palpatório e teste muscular

voluntário. Mudanças neurológicas subclínicas podem ser verificadas na

eletroneuromiografia em 12 semanas ou mais, antes de se tornarem detectáveis no

exame físico clínico (VAN BRAKEL et al., 2008). Essa constatação não invalida as

variáveis significativas deste estudo, pelo contrário, reforça a necessidade de

investimentos na avaliação dos pacientes com hanseníase. A neuropatia hansênica,

previamente encarada apenas como uma complicação da doença, representa um dos

fatores determinantes do espectro imunológico, e isso sugere que a identificação

precoce do bacilo poderia ser ajudada pela detecção de estágios iniciais do

comprometimento neural (SEILER et al., 2005). Esse diagnóstico precoce não pode ser

avaliado apenas com exames clínicos de rotina, mas sim, complementado por um estudo

eletrofisiológico.

Esperávamos encontrar algum fator não neural associado com a

eletroneuromiografia positiva para neuropatia hansênica, como por exemplo, as lesões

de pele ou informações de classificação, entretanto os achados são indicativos diretos do

dano neural (formigamento e espessamento do nervo). Isso pode ser destacado como

uma limitação desse estudo, pois a relevância dos resultados permanece restrita a

informações específicas da lesão neural, com exceção da idade.

Page 50: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

50

Estes resultados expandem nossa compreensão sobre o processo de

neuropatia na hanseníase, mostrando que o comprometimento neural é muito mais

generalizado e pode ocorrer mais cedo do que se pensava. Estes parâmetros podem ser

utilizados para identificar precocemente pacientes individuais em alto risco de

desenvolver a lesão do nervo.

6. CONCLUSÃO

O exame de eletroneuromiografia alterado confirma o diagnóstico de

neuropatia hansênica que, segundo os nossos resultados, está mais associado com

pacientes em uma faixa de idade entre 41-60 anos, apresentando sintoma de

formigamento e espessamento neural durante o exame físico clínico. Além disso,

pacientes homens ou com algum grau de incapacidade física/funcional também

influenciaram nessa associação. Nenhum fator dermatológico ou de classificação foi

associado com a neuropatia hansênica.

Page 51: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

51

TEMA 2

CORRELAÇÃO ENTRE OS EXAMES

CLÍNICOS E A ELETRONEUROMIOGRAFIA

PARA O DIAGNÓSTICO DE NEUROPATIA

HANSÊNICA

Page 52: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

52

7. OBJETIVOS

7.1 Geral

Avaliar a correlação entre os exames clínicos e a eletroneuromiografia para o

diagnóstico de neuropatia hansênica em um centro de referência no Nordeste do

Brasil, no período de 2007 a 2010.

7.2 Específicos

Descrever o perfil de classificação e a caracterização, os achados do exame

clínico neurológico, e os padrões eletrofisiológicos e tipos de neuropatias

periféricas da amostra.

Identificar a prevalência de neuropatia hansênica diagnosticada por

eletroneuromiografia e os nervos periféricos mais acometidos na hanseníase.

Avaliar a concordância específica por nervos entre os exames clínicos e a

eletroneuromiografia para diagnóstico de neuropatia hansênica.

Avaliar a concordância geral entre os testes de monofilamentos, contração

muscular voluntária e a eletroneuromiografia para diagnóstico de neuropatia

hansênica.

Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

53

8. MÉTODOS

8.1 Delineamento, Amostra e Critérios de Elegibilidade

Foram analisados os dados de um estudo caso controle aninhado que

identificou 166 pacientes com diagnóstico de neuropatia hansênica confirmado por

eletroneuromiografia, de 2007 a 2010, no Centro de Referência Nacional em

Dermatologia Sanitária Dona Libânia (CDERM), vinculado à Secretaria de Saúde do

Estado do Ceará, localizado no município de Fortaleza (FERREIRA et al., 2008;

GOMES et al., 2005). A pesquisa foi delineada para uma análise de concordância entre

exames diagnósticos.

A amostra foi selecionada a partir dos pacientes identificados no estudo de

caso controle (n=166). Foram incluídos pacientes com diagnóstico de hanseníase

confirmado por critérios clínicos, baciloscópicos e/ou histopatológicos, no referido

período. Foram excluídos os pacientes com diagnóstico diferencial confirmado para:

siringomielia, poliartralgias, síndrome do desfiladeiro torácico, HIV/AIDS, síndrome do

túnel do carpo, esclerose lateral amiotrófica, entre outros.

8.2 Coleta de Dados

Os pacientes foram avaliados com anamnese, exame físico dermatológico e

neurológico, e exame complementar de eletroneuromiografia. Informações adicionais

foram extraídas dos prontuários e da base de dados do SINAN (Sistema de Informação

de Agravos de Notificação) – CDERM (GALVAO et al., 2008; LAGUARDIA et al.,

2004). Na anamnese foram coletadas informações a respeito da idade, sexo, cor da pele

autodeclarada e início dos sintomas.

8.2.1 Exame Clínico Neurológico

No exame clínico neurológico foi avaliada a presença de dormência,

formigamento, sensação de queimação, déficit motor (fraqueza muscular), hipotrofia,

alterações sensitivas, espessamento neural e dor durante a palpação dos nervos

periféricos.

O espessamento neural foi avaliado pelo teste palpatório. A palpação do

trajeto dos nervos foi realizada no sentido proximal-distal, observando-se a

consistência, uniformidade, dor espontânea, presença de abscessos e/ou fístulas, sempre

Page 54: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

54

comparando com o lado contralateral. Os nervos avaliados de rotina foram: o ulnar (no

canal epitrócleo-olecraniano e acima deste, com o cotovelo semi-fletido), mediano (face

palmar do punho, entre os tendões do músculo palmar longo e do flexor radial do

carpo), radial (no nível do braço, atrás do músculo deltóide), radial superficial

(tabaqueira anatômica do punho), fibular comum (na fossa poplítea e face posterior da

cabeça da fíbula), tibial posterior (fossa retromaleolar interna), fibular superficial (face

anterior do tornozelo e dorsal do pé) e o nervo safeno (face superior do maléolo interno)

(CHEN et al., 2006; LEHMAN et al., 1997).

A avaliação da função motora foi realizada por meio do teste muscular

voluntário (TMV) utilizando a escala proposta pelo Medical Research Council

(SURESH et al., 2008), e adotada pelo Ministério da Saúde no Brasil nas Ações Básicas

de Prevenção de Incapacidades na Hanseníase. A força muscular dos membros

superiores e inferiores foi graduada em uma escala de 0 a 5, conforme ilustrado na

tabela 5. Déficit motor (fraqueza muscular) foi considerado quando o escore estava

igual ou inferior a 4 (quatro).

Tabela 5 - Graus de força muscular na escala proposta pelo Medical Research Council.

GRAU DE FORÇA

MUSCULAR OBSERVAÇÃO CLÍNICA

CONDIÇÃO

FUNCIONAL

5 Movimento completo contra a gravidade

com resistência máxima Normal

4 Movimento completo contra a gravidade

com resistência moderada Déficit Motor

3 Movimento completo contra a gravidade

sem resistência Déficit Motor

2 Movimento incompleto Déficit Motor

1 Contração muscular sem movimento

articular Déficit Motor

0 Sem evidência de contração muscular Paralisia

A avaliação da função sensorial (sensibilidade superficial tátil) dos pontos

das mãos (7 pontos) e dos pés (10 pontos) foi realizada com utilização dos

Page 55: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

55

monofilamentos Semmes-Weinstein. O teste inicia com a aplicação do monofilamento

mais fino (0,05g – verde); na ausência de resposta, utiliza-se o monofilamento de 0,2g

(azul) e assim sucessivamente. Os monofilamentos azul e verde foram aplicados três

vezes seguidas em cada ponto específico e os demais foram aplicados apenas uma vez.

A resposta considerada normal (sensibilidade normal) para as mãos foi quando o

paciente respondeu ao teste com o monofilamento mais fino (verde = 0,05g); qualquer

outra resposta foi significativa de alteração sensorial nas mãos. A resposta considerada

normal (sensibilidade normal) para os pés foi quando o paciente respondeu ao teste com

os monofilamentos verde (0,05g) ou azul (0,2g); qualquer outra resposta foi

significativa de alteração sensorial nos pés (VILLARROEL et al., 2007). Cada ponto

pesquisado, seja nas mãos ou nos pés, corresponde à área inervada pelos respectivos

nervos periféricos (Figura 8).

Figura 8 - Representação esquemática dos pontos sensitivos padronizados das mãos (nervos mediano 1, 2

e 3; ulnar 4, 5 e 6; e radial 7) e dos pés (nervos tibial posterior 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 9; nervo safeno 7; sural 8;

e fibular 10).

8.2.2 Exame Complementar - Eletroneuromiografia

No exame complementar de eletroneuromiografia foram avaliados: o padrão

eletrofisiológico e o tipo de neuropatia. No CDERM, o exame de eletroneuromiografia

foi realizado por um mesmo profissional, médico neurologista, com mais de 20 anos de

experiência clínica na área. Os estudos eletrofisiológicos foram realizados em um

aparelho Neuropack M1 com quatro canais (Nihon Kohden Co., Ltd). Os valores

calculados para amplitude, latência e velocidade de condução nervosa foram

armazenados no banco de dados eletrônico do próprio aparelho. A sala de avaliação foi

Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

56

mantida em torno de 25ºC, e os pacientes tiveram 15 minutos para adaptação climática.

A temperatura da pele foi monitorada eletronicamente no punho e tornozelo, e os

valores de velocidade de condução nervosa e latência distal foram corrigidos pela

temperatura no momento da análise usando fórmulas convencionais (DHAVALIKAR et

al., 2009).

Os parâmetros de potencial de ação sensorial e potencial composto de ação

muscular foram medidos, bilateralmente em locais e distâncias fixas, nos nervos ulnar,

mediano, radial, fibular, sural, tibial posterior, e safeno. Eletrodos de superfície

monopolares e eletrodo de estimulação bipolar foram utilizados para a obtenção dos

potenciais compostos de ação muscular, com configurações de filtro de 2 Hz - 10 kHz.

O início dos potenciais evocados foi usado para calcular as velocidades de condução

nervosa; e as amplitudes foram calculadas a partir dos picos negativos para os positivos

(KHAMBATI et al., 2009).

8.2.3 Classificação

Com base nos resultados do exame clínico, foi determinado o grau de

incapacidade de acordo com os critérios propostos pela OMS (NORMAN et al., 2004),

registrando-se o grau máximo (zero, I ou II) de incapacidade encontrada nos olhos,

mãos e pés. Os casos foram diferenciados em paucibacilar ou multibacilar segundo a

classificação operacional adotada pelo Ministério da Saúde no Brasil. Além disso, a

classificação de Ridley-Jopling e a forma clínica (conforme registro do SINAN)

também foram utilizadas (EICHELMANN et al., 2013). Registrou-se o histórico de

reação tipo 1, tipo 2, ou mista. Os pacientes foram considerados como hanseníase neural

pura quando os pacientes apresentaram alteração da função sensorial ou motora sem

qualquer lesão de pele (CUNHA et al., 2006; JARDIM et al., 2004). Neuropatia

silenciosa foi considerada quando os pacientes apresentaram alteração da função

sensorial ou motora sem lesões na pele ou espessamento neural evidente e na ausência

de dor a palpação do nervo ou queixas espontâneas (parestesia, etc) (JENA et al., 2002;

LEITE et al., 2011).

Page 57: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

57

8.3 Análise dos Dados e Aspectos Éticos

Os dados foram formatados e analisados no programa SPSS (Statistical

Package for Social Sciences) versão 20.0, considerando o nível de significância de p <

0,05 em todos os cálculos. As variáveis categóricas foram analisadas como frequência

absoluta e relativa e as variáveis contínuas como média e desvio-padrão. A

concordância entre os exames foi analisada em uma matriz de cálculo 2x2 (tabela de

contingência) com o coeficiente Kappa (k), considerando-se valores abaixo de 0,40

como baixa concordância, entre 0,40-0,60 como moderada, entre 0,60-0,80 como

substancial, e acima de 0,80 como excelente (LANDIS & KOCH, 1977; LIMA et al.,

2012). A validade de critério entre os exames foi analisada com o Coeficiente de

correlação Phi (Φ).

Esse estudo foi aprovado pelo comitê de Ética em pesquisa do CDERM com

parecer número 011/07. Essa pesquisa foi financiada pelo CNPq com fomentos do

Edital Nº 25/2006 - MCT-CNPq / MS-SCTIE-DECIT.

9. RESULTADOS

A amostra foi composta por 101 (60,8%) homens e 65 (39,2) mulheres,

apresentando idade média de 39,07±17,92 anos, com 146 (88,0%) pacientes

autodeclarados como pardo/negro, e a maioria relatando início dos sintomas superior a

12 meses. Cento e treze pacientes (68,1%) foram classificados operacionalmente como

multibacilar, e segundo o sistema de Ridley-Jopling a maioria se concentrou na forma

Boderline-Tuberculóide com 73 (44,0%) casos. A maior parte da amostra (53,6%)

apresentou algum grau de incapacidade (I ou II), a forma neural pura esteve presente em

30 (18,1%) casos, e neuropatia silenciosa foi identificada em 64 (38,6%) pacientes. Os

resultados de classificação e caracterização da amostra estão disponíveis na tabela 6.

Tabela 6. Classificação e características da amostra.

VARIÁVEIS n (%)

Sexo Feminino 65 (39,2)

Masculino 101 (60,8)

Idade* - 39,07±17,92 anos

Idade (Grupos) < 25 42 (25,3)

Page 58: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

58

26 – 40 46 (27,7)

41 – 60 56 (33,7)

> 60 22 (13,3)

Cor da Pele Branca 20 (12,0)

Parda / Negra 146 (88,0)

Início dos Sintomas até 6 meses 30 (18,1)

6 – 12 meses 45 (27,1)

superior a 12 meses 91 (54,8)

Classificação Operacional Paucibacilar 53 (31,9)

Multibacilar 113 (68,1)

Classificação

Ridley-Jopling

Indeterminada 2 (1,2)

Tuberculóide 38 (22,9)

Boderline- Tuberculóide 73 (44,0)

Boderline- Boderline 8 (4,8)

Boderline-Lepromatosa 5 (3,0)

Lepromatosa 27 (16,3)

Forma Clínica

(SINAN)

Indeterminada 5 (3,0)

Tuberculóide 35 (21,1)

Dimorfa 74 (44,6)

Virchowiana 19 (11,4)

Baciloscopia Negativa 129 (77,7)

Positiva 37 (22,3)

Grau de Incapacidade

(OMS)

Zero 71 (42,8)

Grau I 48 (28,9)

Grau II 41 (24,7)

Page 59: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

59

Hanseníase Neural Pura Ausente 136 (81,9)

Presente 30 (18,1)

Neuropatia Silenciosa Ausente 102 (61,4)

Presente 64 (38,6)

Histórico de Reação Ausente 93 (56,0)

Presente 73 (44,0)

*Idade: variável contínua com distribuição normal e expressa em média±desvio-padrão.

Os resultados do exame clínico neurológico estão apresentados na tabela 7.

Destaca-se que a maioria dos pacientes relatavam sintomas de dormência,

formigamento e sensação de queimação. Durante o teste palpatório, 112 (67,5%)

pacientes apresentaram espessamento neural e 99 (59,6%) estavam associados com dor.

Na avaliação da função sensorial (teste de monofilamentos), 159 (95,8%) pacientes

apresentaram alteração (hipoestesia/anestesia); e na avaliação da função motora (teste

muscular voluntário), 79 (47,6%) pacientes apresentaram déficit motor.

Tabela 7. Descrição do exame clínico neurológico.

VARIÁVEIS n (%)

Dormência Ausente 9 (5,4)

Presente 157 (94,6)

Formigamento Ausente 47 (28,3)

Presente 119 (71,7)

Sensação de queimação Ausente 52 (31,3)

Presente 114 (68,7)

Déficit motor Ausente 87 (52,4)

Presente 79 (47,6)

Hipotrofia Ausente 95 (57,2)

Presente 71 (42,8)

Page 60: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

60

Alterações sensoriais Ausente 7 (4,2)

Presente 159 (95,8)

Espessamento Neural Ausente 54 (32,5)

Presente 112 (67,5)

Dor na palpação neural Ausente 67 (40,4)

Presente 99 (59,6)

Com relação ao exame de eletroneuromiografia, 128 (77,1%) pacientes

apresentaram resultados alterados em algum dos parâmetros analisados. O tipo de

comprometimento neural mais prevalente foi a mononeuropatia múltipla sensitiva

motora, percebida em 62 (37,3%) casos; e o tipo menos prevalente foram as

polineuropatias (tabela 8).

Tabela 8. Descrição do exame complementar de eletroneuromiografia.

VARIÁVEIS

Amostra

completa

n (%)

Amostra de

128 casos

n (%)

Eletroneuromiografia Normal 38 (22,9) 0 (0,0)

Alterada 128 (77,1) 128 (100,0)

Mononeuropatia Simples Sensitiva Ausente 161 (97,0) 123 (96,1)

Presente 5 (3,0) 5 (3,9)

Mononeuropatia Simples Sensitiva Motora Ausente 125 (75,3) 88 (68,7)

Presente 41 (24,7) 40 (31,3)

Mononeuropatia Múltipla Sensitiva Ausente 143 (86,2) 107 (83,6)

Presente 23 (13,8) 21 (16,4)

Mononeuropatia Múltipla Sensitiva Motora Ausente 104 (62,7) 67 (52,3)

Presente 62 (37,3) 61 (47,7)

Polineuropatia Sensitiva Ausente 163 (98,2) 126 (98,4)

Page 61: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

61

Presente 3 (1,8) 2 (1,6)

Polineuropatia Sensitiva Motora Ausente 160 (96,4) 122 (95,3)

Presente 6 (3,6) 6 (4,7)

Em ordem decrescente, as frequências de neuropatia hansênica nos nervos

avaliados no exame de eletroneuromiografia foram: ulnar com 67 (40,3%) casos, fibular

com 51 (30,7%) casos, sural com 50 (30,1%) casos, tibial posterior com 45 (27,1%)

casos, mediano com 38 (22,8%), radial com 13 (7,8%), e safeno com 13 (7,8%). Os

valores de concordância específica por nervos entre os exames clínicos neurológicos

com a eletroneuromiografia estão ilustradas na tabela 9. Destaca-se que, em grande

parte, a concordância específica por nervos foi moderada, com coeficiente Kappa

variando de 0,58 no nervo fibular profundo a 0,41 no nervo tibial posterior. A melhor

concordância foi observada no nervo ulnar (k = 0,61); considerada como ligeiramente

substancial. A pior concordância foi observada no nervo mediano (k = 0,38),

considerada como baixa. O nervo que apresentou maior variação da concordância foi o

radial (95% IC 0,13-0,75).

Tabela 9. Concordância específica por nervos entre os exames clínicos neurológicos e a

eletroneuromiografia para diagnóstico de neuropatia hansênica.

Nervos Kappa 95% IC* p

Ulnar 0,61 0,49 – 0,73 0,001

Fibular Profundo 0,58 0,44 – 0,72 0,001

Sural 0,51 0,37 – 0,66 0,001

Radial 0,44 0,13 – 0,75 0,001

Safeno 0,41 0,13 – 0,70 0,001

Tibial Posterior 0,41 0,25 – 0,57 0,001

Mediano 0,38 0,21 – 0,55 0,001

A concordância geral entre o teste de monofilamentos (função sensorial) e a

eletroneuromiografia para diagnóstico de neuropatia hansênica está apresentada na

Page 62: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

62

tabela 10. A concordância foi muito baixa com Kappa = 0,02 (95% IC 0,00 - 0,12; p =

0,71). Do mesmo modo, a validade de critério também foi muita baixa com coeficiente

Phi igual a 0,03 (p=0,71).

Tabela 10. Concordância geral entre o teste de monofilamentos e a eletroneuromiografia para

diagnóstico de neuropatia hansênica.

ENMG†

Total

Positivo Negativo

Monofilamentos

Positivo 123 (74,1%) 36 (21,7%) 159 (95,8%)

Negativo 5 (3,0%) 2 (1,2%) 7 (4,2%)

Total 128 (77,1%) 38 (22,9%) 166 (100,0%)

†ENMG: eletroneuromiografia. Coeficiente Kappa = 0,02 (95% IC 0,00 - 0,12; p = 0,71). Coeficiente de

correlação Phi (Φ) = 0,03 (p = 0,71).

A concordância geral entre o teste muscular voluntário (função motora) e a

eletroneuromiografia para diagnóstico de neuropatia hansênica está apresentada na

tabela 11. A concordância foi baixa com Kappa = 0,16 (95% IC 0,04 – 0,28; p = 0,01).

Do mesmo modo, a validade de critério também foi baixa com coeficiente Phi igual a

0,20 (p=0,01).

Tabela 11. Concordância geral entre o teste muscular voluntário e a eletroneuromiografia para

diagnóstico de neuropatia hansênica.

ENMG†

Total

Positivo Negativo

Teste Muscular

Voluntário

Positivo 68 (41,0) 11 (6,6) 79 (47,6%)

Negativo 60 (36,1) 27 (16,3) 87 (52,4%)

Total 128 (77,1%) 38 (22,9%) 166 (100,0%)

†ENMG: eletroneuromiografia. Coeficiente Kappa = 0,16 (95% IC 0,04 – 0,28; p = 0,01). Coeficiente de

correlação Phi (Φ) = 0,20 (p = 0,01).

Page 63: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

63

10. DISCUSSÃO

Este estudo investigou a concordância entre os exames clínicos e a

eletroneuromiografia para o diagnóstico de neuropatia hansênica. Além disso, foi

investigada a prevalência dos nervos mais acometidos e o tipo de comprometimento

neural na detecção de alterações na função dos nervos. Os resultados mostram que

existe uma baixa a moderada concordância entre os testes diagnósticos. O tipo de

comprometimento neural mais prevalente foi a mononeuropatia múltipla sensitiva

motora, e o nervo mais acometido foi o ulnar.

A confiabilidade intra e inter-examinador do teste de monofilamentos de

Semmes-Weinstein e teste muscular voluntário na avaliação da neuropatia em pacientes

com hanseníase tem sido alvo de pesquisas mais antigas (LEWIS, 1983) e outras mais

recentes (ANDERSON & CROFT, 1999; ROBERTS et al., 2007; VAN BRAKEL et

al., 1996). A maioria dos autores concorda que poucos fatores influenciam na

confiabilidade do teste de monofilamentos, como treinamento específico; formação

acadêmica; e o tempo de experiência profissional. No geral, o teste de monofilamentos

apresenta boa confiabilidade intra e inter-examinador (VAN BRAKEL et al., 1996). O

teste muscular voluntário é um pouco mais controverso, pois se baseia em critérios

subjetivos na pontuação 4 (resistência moderada) e 5 (resistência máxima); e isso

influencia diretamente em sua confiabilidade. Por outro lado, as pontuações de 0 (zero)

a 3 (três) são fundamentadas em critérios extremamente objetivos e de fácil percepção,

o que aumenta o poder de confiabilidade intra e inter-examinador do teste. Comparando

os níveis de confiabilidade entre ambos os testes, a literatura mostra que os

monofilamentos apresentam maior variação do que o teste muscular voluntário. Uma

razão para explicar isso é que o resultado dos monofilamentos é calculado como a soma

de pontos para cada um dos locais de teste dentro da mesma distribuição do nervo,

variando o escore de 0 a 16 pontos. Em contraste a isso, as pontuações do teste

muscular voluntário são baseadas em um único movimento e variam de 0 até 5.

Portanto, existe uma maior variação nos escores do teste de monofilamentos e, portanto,

é de se esperar, que isso resulte em um nível reduzido de confiabilidade dentro de um

mesmo ponto (VAN BRAKEL et al., 1996).

Os monofilamentos e o teste muscular voluntário não são usados

exclusivamente no contexto da infecção por hanseníase. Pelo contrário, existem

Page 64: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

64

evidências do uso em diversas outras condições de saúde, como diabetes; síndrome do

túnel do carpo; úlceras de pele; amputações; entre outras lesões neurológicas (ARAD et

al., 2011; MACDERMID et al., 1994). Resultados falso-positivos foram encontrados

em um percentual significativo de pacientes com e sem história de ulceração (SLATER

et al., 2014). Não é possível fazer grandes comparações entre os níveis de

confiabilidade dos testes nesses diversos cenários clínicos, pois existe uma variação

considerável proveniente das regras de decisão e critérios de medida.

Existem outros testes para avaliar a função sensorial dos nervos periféricos,

e alguns estudos comparando os resultados foram realizados em países da Ásia

(KHAMBATI et al., 2009; VAN BRAKEL et al., 2008) e no Brasil (VILLARROEL et

al., 2007). Na investigação brasileira a validade concorrente foi baixa entre os

monofilamentos e o limiar de percepção térmica para quente e frio. Resultados

semelhantes foram encontrados no estudo INFIR (VAN BRAKEL et al., 2008) em que

os limiares térmico e vibratório foram determinantes no diagnóstico precoce de

neuropatia. Quando essa comparação é restrita ao instrumento de avaliação considerado

como padrão-ouro (i.e., eletroneuromiografia) no diagnóstico de neuropatia, os

resultados são ainda mais evidentes. Estes achados mostram baixa concordância entre os

exames clínicos e a eletroneuromiografia, e essa evidência é constante na literatura,

resultados semelhantes foram encontramos em outros estudos eletrofisiológicos

(KHAMBATI et al., 2009; VAN BRAKEL et al., 2008). Os parâmetros de velocidade,

latência e a amplitude foram anormais pelo menos 12 semanas antes da deficiência

sensorial tornar-se clinicamente evidente pelos testes clínicos. Isso corresponde com os

achados anteriores em estudos transversais em que uma proporção substancial de nervos

clinicamente não afetados tinha evidências de neuropatia subclínica (SAMANT et al.,

1999). Esta fase oculta do déficit neural escapa da detecção precoce e oportuna, e depois

progride para a doença manifestada quando certa quantidade de fibras nervosas se torna

não funcional. Uma combinação de exames clínicos com o teste palpatório parece

aumentar os valores de sensibilidade e especificidade dos monofilamentos e teste

muscular voluntário (KHAMBATI et al., 2009).

Recentes evidências estão tentando correlacionar a ultrassonografia com a

eletroneuromiografia em uma tentativa não invasiva para avaliar a função dos nervos

periféricos. Estudos conduzidos pela professora Norma Foss e colaboradores (ELIAS

JR. et al., 2009; FRADE et al., 2013) indicaram que o uso de ultrassonografia, um

Page 65: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

65

método não invasivo, para calcular as áreas de secção transversa dos nervos periféricos

é uma ferramenta útil e de baixo custo para a detecção de grandes áreas de danos nos

nervos em pacientes com hanseníase. Outras medidas de ultrassom observadas durante a

avaliação são a vascularização neural aumentada e o edema fascicular (JAIN et al.,

2009).

O tipo de comprometimento neural mais prevalente foi a mononeuropatia

múltipla sensitiva motora que esteve presente em aproximadamente 40% dos casos,

seguida pela mononeuropatia simples sensitiva motora com 24,7% dos casos. É bem

sabido que os nervos sensoriais são os primeiros a serem afetados na hanseníase, por

isso é importante avaliar os parâmetros de condução nervosa. Entretanto, destaca-se que

a neuropatia se manifesta com complicações sensoriais, motoras e/ou autonômicas

(KAR et al., 2013). Estudos de eletrodiagnóstico confirmam a prevalência de

mononeuropatia múltipla na infecção por hanseníase (MISRA et al., 2008).

Nesse estudo o nervo mais acometido foi o ulnar com 40,3% dos casos, e os

menos prevalentes foram os nervos radial e safeno com 7,8% dos casos cada um. Os

dados de prevalência de envolvimento neural são controversos e variam de acordo com

a região, os instrumentos de detecção e os critérios de avaliação. Os nervos que

frequentemente são mais relatados na literatura sobre neuropatia hansênica são o ulnar

(43%), mediano (25%), e fibular (29%) (SMITH et al., 2009). As prevalências não

variam muito quando se restringe a amostra para pacientes com neuropatia silenciosa

(LEITE et al., 2011) ou neural pura (JARDIM et al., 2004).

Portanto, os exames clínicos de monofilamentos e teste muscular manual

voluntário são capazes de refletir a função geral do nervo periférico em um determinado

ponto no tempo, porém em comparação com a eletroneuromiografia, os testes clínicos

subestimam a extensão dos danos e por isso detectam tardiamente a lesão. Sugere-se

que a investigação de neuropatia hansênica deve incluir eletroneuromiografia para

avaliar e monitorar a deficiência sensorial não detectável por monofilamentos ou teste

muscular voluntário (VAN BRAKEL et al., 2008). Além disso, considerando que os

recursos materiais para execução do exame clínico neurológico são de baixo custo,

deve-se, portanto, aperfeiçoar os recursos humanos para melhorar o nível de confiança

nessa avaliação.

Page 66: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

66

11. CONCLUSÃO

Os resultados mostraram que existe uma baixa a moderada concordância

entre os exames clínicos (monofilamentos e teste muscular voluntário) e o exame de

eletroneuromiografia. O tipo de comprometimento neural mais prevalente foi a

mononeuropatia múltipla sensitiva motora, e o nervo mais acometido foi o ulnar.

Esses achados também refletem a necessidade de investimentos em

treinamento e capacitação dos profissionais de saúde para avaliar corretamente os

pacientes com hanseníase em risco de desenvolver neuropatia e incapacidades.

Page 67: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

67

12. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O tema central dessa tese de doutorado é a importância do uso da

eletroneuromiografia para a avaliação da neuropatia hansênica, uma complicação muito

prevalente da infecção.

O que já se sabia sobre o assunto é que o dano neural é amplamente avaliado por

exames clínicos, como o teste muscular voluntário e de monofilamentos, que produzem

um diagnóstico tardio da neuropatia. Já sabíamos também que o tratamento com

corticosteroides é mais efetivo quando aplicado no início da lesão neural.

Compreendemos que a eletroneuromiografia consegue realizar um diagnóstico precoce

do dano neural, pois detecta alterações subclínicas imperceptíveis ao exame físico.

Portanto, para um tratamento mais efetivo da neuropatia é preciso que o diagnóstico do

dano neural seja realizado o mais precoce possível. Descobrimos que um homem entre

41 e 60 anos apresentando formigamento e espessamento neural são características que

aumentam a chance de desenvolver a neuropatia hansênica. Sendo assim, para um

diagnóstico mais precoce da neuropatia hansênica se deveria levar em consideração o

exame de eletroneuromiografia e os fatores clínicos mais associados.

Desse modo, seria possível aumentar a prevenção de incapacidade física e

deformidades e consequentemente atingiríamos a meta da Organização Mundial de

Saúde de reduzir a incidência de pacientes com incapacidade grau 2 até 2015.

Page 68: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

68

REFERÊNCIAS

ANDERSON, A. M.; CROFT, R. P. Reliability of Semmes Weinstein monofilament

and ballpoint sensory testing, and voluntary muscle testing in Bangladesh. Lepr Rev, v.

70, n. 3, p. 305-13, Sep 1999.

ARAD, Y. et al. Beyond the monofilament for the insensate diabetic foot: a systematic

review of randomized trials to prevent the occurrence of plantar foot ulcers in patients

with diabetes. Diabetes Care, v. 34, n. 4, p. 1041-6, Apr 2011.

BATHALA, L. et al. Ulnar neuropathy in hansen disease: clinical, high-resolution

ultrasound and electrophysiologic correlations. J Clin Neurophysiol, v. 29, n. 2, p. 190-

3, Apr 2012.

BOKU, N. et al. Impacts of the diagnosis of leprosy and of visible impairments amongst people affected by leprosy in Cebu, the Philippines. Lepr Rev, v. 81, n. 2, p.

111-20, Jun 2010.

BRANDSMA, J. W. et al. Intertester reliability of manual muscle strength testing in

leprosy patients. Lepr Rev, v. 69, n. 3, p. 257-66, Sep 1998.

BRASIL. Guia para o Controle da Hanseníase. 3. Brasília: Minitério da Saúde, 2002.

BRASIL. Portaria 3.125. Secretaria de Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da

Saúde 2010.

BRASIL. Plano integrado de ações estratégicas de eliminação da hanseníase,

filariose, esquistossomose e oncocercose como problema de saúde pública, tracoma

como causa de cegueira e controle das geohelmintíases : plano de ação 2011-2015.

Brasília: Ministério da Saúde 2012.

BRITTON, W. J.; LOCKWOOD, D. N. Leprosy. Lancet, v. 363, n. 9416, p. 1209-19,

Apr 10 2004.

BROWNE, S. G. The history of leprosy. Edinburgh: Longman Group Limited, 1985.

CARDOSO, M. et al. Late onset neuropathy in leprosy patients released from

treatment: not all due to reactions? Lepr Rev, v. 84, n. 2, p. 128-35, Jun 2013.

CHEN, S. et al. Inter-observer reliability in assessment of sensation of skin lesion and

enlargement of peripheral nerves in leprosy patients. Lepr Rev, v. 77, n. 4, p. 371-6,

Dec 2006.

Page 69: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

69

CHOPRA, J. S. et al. Clinical, electrophysiological and teased fibre study of peripheral

nerves in leprosy. Indian J Med Res, v. 77, p. 713-21, May 1983.

CRAMPIN, A. C.; GLYNN, J. R.; FINE, P. E. What has Karonga taught us? Tuberculosis studied over three decades. Int J Tuberc Lung Dis, v. 13, n. 2, p. 153-64,

Feb 2009.

CROFT, R. P. et al. Incidence rates of acute nerve function impairment in leprosy: a

prospective cohort analysis after 24 months (The Bangladesh Acute Nerve Damage

Study). Lepr Rev, v. 71, n. 1, p. 18-33, Mar 2000.

CROFT, R. P. et al. A clinical prediction rule for nerve function impairment in leprosy

patients-revisited after 5 years of follow-up. Lepr Rev, v. 74, n. 1, p. 35-41, Mar 2003.

CUNHA, F. M. B. et al. Pure neural leprosy: diagnostic value of the polymerase chain

reaction. Muscle Nerve, v. 33, n. 3, p. 409-14, Mar 2006.

DHAVALIKAR, M.; NARKEESH, A.; GUPTA, N. Effect of Skin Temperature on

Nerve Conduction Velocity and Reliability of Temperature Correction Formula in

Indian Females. J Exerc Sci Physiother, v. 5, n. 1, p. 24-29, 2009.

DORFMAN, L. J.; ROBINSON, L. R. AAEM minimonograph #47: normative data in

electrodiagnostic medicine. Muscle Nerve, v. 20, n. 1, p. 4-14, Jan 1997.

EICHELMANN, K. et al. Leprosy. An update: definition, pathogenesis, classification,

diagnosis, and treatment. Actas Dermosifiliogr, v. 104, n. 7, p. 554-63, Sep 2013.

ELIAS JR., J. et al. Role of ulnar nerve sonography in leprosy neuropathy with

electrophysiologic correlation. J Ultrasound Med, v. 28, n. 9, p. 1201-9, Sep 2009.

FERREIRA, M. et al. A demanda de um centro de referência nacional para hanseníase no Nordeste Brasileiro: por que o excesso de pacientes? Cad Saúde Colet., v. 16, n. 2,

p. 14, 2008.

FOSS, N. T. Aspectos imunológicos da hanseníase. Medicina (Ribeirão Preto), v. 30,

p. 335-339, 1997.

FRADE, M. A. et al. New sonographic measures of peripheral nerves: a tool for the

diagnosis of peripheral nerve involvement in leprosy. Mem Inst Oswaldo Cruz, v. 108,

n. 3, May 2013.

Page 70: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

70

GALVAO, P. R. et al. An evaluation of the Sinan health information system as used by

the Hansen's disease control programme, Pernambuco State, Brazil. Lepr Rev, v. 79, n.

2, p. 171-82, Jun 2008.

GARBINO, J. A. et al. Primary neural leprosy: systematic review. Arq

Neuropsiquiatr, v. 71, p. 397-404, 2013.

GARBINO, J. A. et al. Neurophysiological patterns of ulnar nerve neuropathy in

leprosy reactions. Lepr Rev, v. 81, n. 3, p. 206-15, Sep 2010.

GOMES, C. C. D. et al. Perfil clínico-epidemiológico dos pacientes diagnosticados

com hanseníase em um centro de referência na região nordeste do Brasil. An Bras

Dermatol, v. 80, p. S283-S288, 2005.

HAN, X. Y.; SILVA, F. J. On the age of leprosy. PLoS Negl Trop Dis, v. 8, n. 2, p.

e2544, Feb 2014.

HUSAIN, S.; MALAVIYA, G. N. Early nerve damage in leprosy: an

electrophysiological study of ulnar and median nerves in patients with and without

clinical neural deficits. Neurol India, v. 55, n. 1, p. 22-6, Jan-Mar 2007.

IGNOTTI, E.; PAULA, R. C. Situação Epidemiológica da Hanseníase no Brasil: análise

de indicadores selecionados no período de 2001 a 2010. In: BRASIL (Ed.). Saúde

Brasil 2010: uma análise da situação de saúde e de evidências selecionadas de

impacto de ações de vigilância em saúde. Brasília: Ministério da Saúde. Secretaria de

Vigilância em Saúde (Org.). , v.1, 2011. p.185-202.

ILA, T. Report of the International Leprosy Association Technical Forum. Paris,

France, 25-28 February 2002. Indian J Lepr, v. 74 Suppl, p. 1-93, 2002.

IMBIRIBA, E. N. et al. Social inequality, urban growth and leprosy in Manaus: a

spatial approach. Rev Saúde Públ., v. 43, n. 4, p. 656-65, Aug 2009.

JAIN, S. et al. High-resolution sonography: a new technique to detect nerve damage in

leprosy. PLoS Negl Trop Dis, v. 3, n. 8, p. e498, 2009.

JARDIM, M. R. et al. Clinical, electroneuromyographic and morphological studies of

pure neural leprosy in a Brazilian referral centre. Lepr Rev, v. 75, n. 3, p. 242-53, Sep

2004.

JENA, S.; MISHRA, S.; MOHANTY, G. Silent neuropathy in leprosy. Indian J

Dermatol Venereol Leprol, v. 68, n. 2, p. 84-5, Mar-Apr 2002.

Page 71: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

71

KAHAWITA, I. P.; WALKER, S. L.; LOCKWOOD, D. N. J. Leprosy type 1 reactions

and erythema nodosum leprosum. An Bras Dermatol, v. 83, p. 75-82, 2008.

KAR, B. R.; JOB, C. K. Visible deformity in childhood leprosy--a 10-year study. Int J

Lepr Other Mycobact Dis, v. 73, n. 4, p. 243-8, Dec 2005.

KAR, S. et al. Nerve damage in leprosy: An electrophysiological evaluation of ulnar

and median nerves in patients with clinical neural deficits: A pilot study. Indian

Dermatol Online J, v. 4, n. 2, p. 97-101, Apr 2013.

KHAMBATI, F. A. et al. Sensitivity and specificity of nerve palpation, monofilament

testing and voluntary muscle testing in detecting peripheral nerve abnormality, using

nerve conduction studies as gold standard; a study in 357 patients. Lepr Rev, v. 80, n.

1, p. 34-50, Mar 2009.

KIM, W. et al. Comparison of sarcopenic status between elderly leprosy survivors and

general population. Arch Gerontol Geriatr, v. 58, n. 1, p. 134-9, Jan-Feb 2014.

LAGUARDIA, J. et al. Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan):

desafios no desenvolvimento de um sistema de informação em saúde. Epidemiol. Serv.

Saude, v. 13, n. 3, p. 135-147, 2004.

LANCET, N. Leprosy as a neurological disease. Lancet Neurol, v. 8, n. 3, p. 217, Mar

2009.

LANDIS, J. R.; KOCH, G. G. The measurement of observer agreement for categorical

data. Biometrics, v. 33, n. 1, p. 159-74, Mar 1977.

LASRY-LEVY, E. et al. Neuropathic pain and psychological morbidity in patients with treated leprosy: a cross-sectional prevalence study in Mumbai. PLoS Negl Trop Dis, v.

5, n. 3, p. e981, 2011.

LEHMAN, L. et al. Avaliação Neurológica Simplificada. Belo Horizonte: ALM

International, 1997.

LEITE, V. M.; LIMA, J. W.; GONCALVES, S. Silent neuropathy in patients with

leprosy in the city of Fortaleza, Ceara State, Brazil. Cad. Saúde Pública, v. 27, n. 4, p.

659-65, Apr 2011.

Page 72: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

72

LEWIS, S. Reproducibility of sensory testing and voluntary muscle testing in evaluating

the treatment of acute neuritis in leprosy patients. Lepr Rev, v. 54, n. 1, p. 23-30, Mar

1983.

LIMA, P. O. et al. Reproducibility of the pressure biofeedback unit in measuring transversus abdominis muscle activity in patients with chronic nonspecific low back

pain. J Bodyw Mov Ther, v. 16, n. 2, p. 251-7, Apr 2012.

LOCKWOOD, D. N.; SARNO, E.; SMITH, W. C. Classifying leprosy patients--

searching for the perfect solution? Lepr Rev, v. 78, n. 4, p. 317-20, Dec 2007.

LOCKWOOD, D. N.; SAUNDERSON, P. R. Nerve damage in leprosy: a continuing

challenge to scientists, clinicians and service providers. Int Health, v. 4, n. 2, p. 77-85,

Jun 2012.

MACDERMID, J. C.; KRAMER, J. F.; ROTH, J. H. Decision making in detecting

abnormal Semmes-Weinstein monofilament thresholds in carpal tunnel syndrome. J

Hand Ther, v. 7, n. 3, p. 158-62, Jul-Sep 1994.

MASTRANGELO, G. et al. Leprosy reactions: the effect of gender and household

contacts. Mem Inst Oswaldo Cruz, v. 106, n. 1, p. 92-6, Feb 2011.

MCKNIGHT, J. et al. Reference values for nerve function assessments among a study

population in northern India - III: sensory and motor nerve conduction. Neurology

Asia, v. 15, n. 1, p. 39-54, 2010.

MEIMA, A.; VAN VEEN, N. H.; RICHARDUS, J. H. Future prevalence of WHO

grade 2 impairment in relation to incidence trends in leprosy: an exploration. Trop Med

Int Health, v. 13, n. 2, p. 241-6, Feb 2008.

MENDONÇA, V. A. et al. Imunologia da hanseníase. An Bras Dermatol, v. 83, p.

343-350, 2008.

MISRA, U. K.; KALITA, J. Clinical neurophysiology. 1. New Delhi: Elsevier, 2006.

MISRA, U. K.; KALITA, J.; NAIR, P. P. Diagnostic approach to peripheral neuropathy.

Ann Indian Acad Neurol, v. 11, n. 2, p. 89-97, Apr 2008.

MONOT, M. et al. On the origin of leprosy. Science, v. 308, n. 5724, p. 1040-2, May

13 2005.

Page 73: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

73

MONTENEGRO, A. C. et al. Spatial analysis of the distribution of leprosy in the State

of Ceara, Northeast Brazil. Mem Inst Oswaldo Cruz, v. 99, n. 7, p. 683-6, Nov 2004.

MOSCHIONI, C. et al. Risk factors for physical disability at diagnosis of 19,283 new

cases of leprosy. Rev Soc Bras Med Trop, v. 43, n. 1, p. 19-22, Jan-Feb 2010.

MURTHY, P. K. Clinical manifestations, diagnosis and classification of leprosy. J

Indian Med Assoc, v. 102, n. 12, p. 678-9, Dec 2004.

NARDI, S. M. T.; PASCHOAL, V. D. A.; ZANETTA, D. M. T. Frequência de

avaliações e seu impacto na prevenção das incapacidades físicas durante o tratamento

dos pacientes com hanseníase. . Hansen Int v. 30, p. 157-66, 2005.

NASCIMENTO, O. J. M. Leprosy neuropathy: clinical presentations. Arq

Neuropsiquiatr, v. 71, p. 661-666, 2013.

NORMAN, G.; JOSEPH, G.; RICHARD, J. Validity of the WHO operational

classification and value of other clinical signs in the classification of leprosy. Int J

Lepr Other Mycobact Dis, v. 72, n. 3, p. 278-83, Sep 2004.

OLIVEIRA, D. T. et al. Neurological disability in leprosy: incidence and gender

association in Sergipe, Brazil. Geospat Health, v. 6, n. 3, p. S125-9, Sep 2012.

OLIVEIRA, D. T. D. et al. Clinical variables associated with leprosy reactions and

persistence of physical impairment. Rev Soc Bras Med Trop, v. 46, p. 600-604, 2013.

OPROMOLLA, P. A.; MARTELLI, A. C. C. A terminologia relativa à hanseníase. An

Bras Dermatol, v. 80, p. 293-294, 2005.

PANDHI, D.; CHHABRA, N. New insights in the pathogenesis of type 1 and type 2

lepra reaction. Indian J Dermatol Venereol Leprol, v. 79, n. 6, p. 739-49, Nov-Dec

2013.

PENNA, G. O. et al. A clinical trial for uniform multidrug therapy for leprosy patients in Brazil: rationale and design. Mem Inst Oswaldo Cruz, v. 107 Suppl 1, p. 22-7, Dec

2012.

PENNA, M. L. et al. Primary results of clinical trial for uniform multidrug therapy for

leprosy patients in Brazil (U-MDT/CT-BR): reactions frequency in multibacillary

patients. Lepr Rev, v. 83, n. 3, p. 308-19, Sep 2012.

Page 74: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

74

PENNA, M. L.; OLIVEIRA, M. L.; PENNA, G. O. The epidemiological behaviour of

leprosy in Brazil. Lepr Rev, v. 80, n. 3, p. 332-44, Sep 2009.

PENNA, M. L.; PENNA, G. O. Trend of case detection and leprosy elimination in

Brazil. Trop Med Int Health, v. 12, n. 5, p. 647-50, May 2007.

RABELLO, F. The indeterminate group of hanseniasis, and its basic connotation: the polar concept. An evaluation and a refutation of the so-called “spectral” approach.

Hansenol int, v. 1, p. 111-119, 1976.

RAMBUKKANA, A. How does Mycobacterium leprae target the peripheral nervous

system? Trends Microbiol, v. 8, n. 1, p. 23-8, Jan 2000.

REJA, A. H. et al. Use of fine needle aspirate from peripheral nerves of pure-neural

leprosy for cytology and PCR to confirm the diagnosis: a pilot study. Indian J

Dermatol Venereol Leprol, v. 79, n. 6, p. 789-94, Nov-Dec 2013.

RICHARD, J. et al. Recent trends in new case detection rates in leprosy by age and sex

in Gudiyatham Taluk, Tamil Nadu, India. Indian J Lepr, v. 82, n. 3, p. 131-5, Jul-Sep

2010.

RICHARDUS, J. H.; HABBEMA, J. D. The impact of leprosy control on the

transmission of M. leprae: is elimination being attained? Lepr Rev, v. 78, n. 4, p. 330-7,

Dec 2007.

RICHARDUS, J. H. et al. Incidence of acute nerve function impairment and reactions

in leprosy: a prospective cohort analysis after 5 years of follow-up. Int J Epidemiol, v.

33, n. 2, p. 337-43, Apr 2004.

RIDLEY, D. S. [The pathogenesis and classification of polar tuberculoid leprosy]. Lepr

Rev, v. 53, n. 1, p. 19-26, Mar 1982.

RIDLEY, D. S.; JOPLING, W. H. Classification of leprosy according to immunity. A

five-group system. Int J Lepr Other Mycobact Dis, v. 34, n. 3, p. 255-73, Jul-Sep

1966.

ROBERTS, A. E. et al. Ensuring inter-tester reliability of voluntary muscle and

monofilament sensory testing in the INFIR Cohort Study. Lepr Rev, v. 78, n. 2, p. 122-

30, Jun 2007.

RODRIGUES, L. C.; LOCKWOOD, D. Leprosy now: epidemiology, progress,

challenges, and research gaps. Lancet Infect Dis, v. 11, n. 6, p. 464-70, Jun 2011.

Page 75: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

75

ROTHMAN, K.; GREENLAND, S.; LASH, T. Modern Epidemiology. 3rd.

Philadelphia: Lippincott Williamns & Wilkins, 2008.

SAMANT, G. et al. Clinical and electrophysiological evaluation of nerve function impairment following cessation of multidrug therapy in leprosy. Lepr Rev, v. 70, n. 1,

p. 10-20, Mar 1999.

SAUNDERSON, P. The epidemiology of reactions and nerve damage. Lepr Rev, v. 71

Suppl, p. S106-10, Dec 2000.

SAUNDERSON, P. et al. The pattern of leprosy-related neuropathy in the AMFES

patients in Ethiopia: definitions, incidence, risk factors and outcome. Lepr Rev, v. 71,

n. 3, p. 285-308, Sep 2000.

SCHREUDER, P. A. The occurrence of reactions and impairments in leprosy:

experience in the leprosy control program of three provinces in northeastern Thailand,

1987-1995 [correction of 1978-1995]. III. Neural and other impairments. Int J Lepr

Other Mycobact Dis, v. 66, n. 2, p. 170-81, Jun 1998.

SEILER, D. K.; WILTON, J.; DELLON, A. L. Detection of neuropathy due to

Mycobacterium leprae using noninvasive neurosensory testing of susceptible peripheral

nerves. Ann Plast Surg, v. 55, n. 6, p. 633-7, Dec 2005.

SKACEL, M. et al. The diagnosis of leprosy among patients with symptoms of

peripheral neuropathy without cutaneous lesions: a follow-up study. Arq

Neuropsiquiatr, v. 58, n. 3B, p. 800-7, Sep 2000.

SLATER, R. A. et al. Interpreting the results of the Semmes-Weinstein monofilament

test: accounting for false-positive answers in the international consensus on the diabetic

foot protocol by a new model. Diabetes Metab Res Rev, v. 30, n. 1, p. 77-80, Jan 2014.

SLIM, F. J. et al. Effects of impairments on activities and participation in people

affected by leprosy in The Netherlands. J Rehabil Med, v. 42, n. 6, p. 536-43, Jun

2010.

SMITH, W. C. et al. Steroid prophylaxis for prevention of nerve function impairment

in leprosy: randomised placebo controlled trial (TRIPOD 1). BMJ, v. 328, n. 7454, p.

1459, Jun 19 2004.

SMITH, W. C. et al. Predicting neuropathy and reactions in leprosy at diagnosis and

before incident events-results from the INFIR cohort study. PLoS Negl Trop Dis, v. 3,

n. 8, p. e500, 2009.

Page 76: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

76

SMITH, W. C.; SAUNDERSON, P. Leprosy. Clin Evid (Online), v. 2010, 2010.

SOYSAL, A. et al. Electrophysiological evaluation of peripheral and autonomic

involvement in leprosy. Can J Neurol Sci, v. 31, n. 3, p. 357-362, 2004.

SURESH, M. et al. Voluntary muscle testing and dynamometry in diagnosis of motor impairment in leprosy: a comparative study within the INFIR Cohort Study. Lepr Rev,

v. 79, n. 3, p. 277-94, Sep 2008.

TALHARI, S.; NEVES, R. G. Dermatologia tropical – Hanseníase. 1. Manaus:

Gráfica Tropical, 1997.

UPLEKAR, M. W.; ANTIA, N. H. Clinical and histopathological observations on pure

neuritic leprosy. Indian J Lepr, v. 58, n. 4, p. 513-21, Oct-Dec 1986.

VAN BRAKEL, W. H. Peripheral neuropathy in leprosy and its consequences. Lepr

Rev, v. 71 Suppl, p. S146-53, Dec 2000.

VAN BRAKEL, W. H. et al. The prognostic importance of detecting mild sensory

impairment in leprosy: a randomized controlled trial (TRIPOD 2). Lepr Rev, v. 74, n.

4, p. 300-10, Dec 2003.

VAN BRAKEL, W. H.; KHAWAS, I. B. Silent neuropathy in leprosy: an

epidemiological description. Lepr Rev, v. 65, n. 4, p. 350-60, Dec 1994.

VAN BRAKEL, W. H. et al. Intra- and inter-tester reliability of sensibility testing in

leprosy. Int J Lepr Other Mycobact Dis, v. 64, n. 3, p. 287-98, Sep 1996.

VAN BRAKEL, W. H. et al. The INFIR Cohort Study: assessment of sensory and

motor neuropathy in leprosy at baseline. Lepr Rev, v. 76, n. 4, p. 277-95, Dec 2005.

VAN BRAKEL, W. H. et al. The INFIR Cohort Study: investigating prediction,

detection and pathogenesis of neuropathy and reactions in leprosy. Methods and baseline results of a cohort of multibacillary leprosy patients in north India. Lepr Rev,

v. 76, n. 1, p. 14-34, Mar 2005.

VAN BRAKEL, W. H. et al. Early diagnosis of neuropathy in leprosy--comparing

diagnostic tests in a large prospective study (the INFIR cohort study). PLoS Negl Trop

Dis, v. 2, n. 4, p. e212, 2008.

Page 77: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNVERSIDADE ESTADUAL … · universidade federal do cearÁ unversidade estadual do cearÁ universidade de fortaleza programa de pÓs-graduaÇÃo em

77

VAN BRAKEL, W. H. et al. Disability in people affected by leprosy: the role of

impairment, activity, social participation, stigma and discrimination. Glob Health

Action, v. 5, 2012.

VILLARROEL, M. F. et al. Comparative study of the cutaneous sensation of leprosy-suspected lesions using Semmes-Weinstein monofilaments and quantitative thermal

testing. Lepr Rev, v. 78, n. 2, p. 102-9, Jun 2007.

VISSER, L. H. et al. Morphological changes of the epineurium in leprosy: a new

finding detected by high-resolution sonography. Muscle Nerve, v. 46, n. 1, p. 38-41, Jul

2012.

VITAL, R. T. et al. Progression of leprosy neuropathy: a case series study. Brain

Behav, v. 2, n. 3, p. 249-55, May 2012.

WAGENAAR, I. et al. Two randomized controlled clinical trials to study the

effectiveness of prednisolone treatment in preventing and restoring clinical nerve

function loss in leprosy: the TENLEP study protocols. BMC Neurol, v. 12, p. 159,

2012.

WHO. Chemotherapy of leprosy control programmes. 675. Geneva: World Health

Organization, 1982.

WHO. Leprosy Resolution. Forty-fourth World Health Assembly, 1991. 44-49.

WHO. Global leprosy situation. Weekly epidemiological record. 30 august 2013.

World Health Organization, 2013. 365-380.