teclas e afins 15 edicao

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edicao 15 teclas e afins

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  • Turi Collura Referncia no ensino online de msica

    Sntese FM Tecnologia verstil e poderosa

    AmiltonGodoyO mestre dos mestres fala de carreira, pedagogia e concepes musicais

    E mais: Hammond: as novas geraesAnlise estrutural de Here Comes The SunArranjo exclusivo de ArrastoComo aproveitar melhor os timbres de seu teclado

    & A

    FINS

    Ano 2 - Nmero 15 - Julho 2015www.teclaseafins.com.br

  • 4 / junho 2015 teclas & afins

    Ano 2 - N 15 - Julho 2015

    PublisherNilton Corazza

    [email protected]

    Gerente FinanceiroRegina Sobral

    [email protected]

    Editor e jornalista responsvelNilton Corazza (MTb 43.958)

    Colaboraram nesta edio:Alex Saba, Alexandre Porto, Eloy Fritsch, Ivan

    Teixeira, Jos Osrio de Souza, Rosana Giosa, Turi Collura, Wagner Cappia

    DiagramaoSergio Coletti

    [email protected]

    Foto da capaDivulgao

    Publicidade/[email protected]

    [email protected]

    Sugestes de [email protected]

    Desenvolvido por Blue Note Consultoria e Comunicaowww.bluenotecomunicacao.com.br

    Os artigos e materiais assinados so de responsabilidade de seus autores. permitida a reproduao dos contedos

    publicados aqui desde que fonte e autores sejam citados e o material seja enviado para nossos arquivos. A revista no se

    responsabiliza pelo contedo dos anncios publicados.

    & A

    FINS

    Rua Nossa Senhora da Sade, 287/34Jardim Previdncia - So Paulo - SP

    CEP 04159-000Telefone: +55 (11) 3807-0626

    Fazer diferente ou fazer a diferena? Essa difcil questo, que muitas vezes assombra a mente de msi-cos, produtores e (acre-dite) editores, pode levar a vrios sadas. Uma delas simplesmente fazer algo novo, no importando se o conceito por trs da novi-dade est sedimentado por convices slidas. Talvez isso proprocione sucesso instantneo, mas nem sempre reconhecimento ou se-guidores. Outra realizar algo mais abrangente, que es-tabelea novos parmetros e sirva de exemplo ou guia para quem acredita nas propostas e v ali um novo caminho. De modo geral, a primeira se esvai quando o sabor de novidade j no to proeminente ou quando a falta de compromisso evidente. A segunda, por sua vez, traz transformaes. Esta edio de Teclas & Afins dedicada queles que fazem a diferena. Nossa matria de capa traz uma entrevista exclusiva com Amilton Godoy, pianista que, frente do Zimbo Trio, estabeleceu um novo parmetro para a msica brasileira, equiparando-a s de maior qualidade de todo o planeta. Quem tambm faz a diferena Turi Collura que, por meio de sua proposta de ensino de msica online, leva informao a todos os cantos do Pas e, tambm, ao exterior. Na dcada de 1980, a Yamaha fez a diferena ao equipar seus sintetizadores com a tecnologia de sntese FM, estabelecendo um novo padro para a indstria da msica. E toda a equipe de Teclas & Afins, com destaque para nossos colunistas, procura fazer a diferena ao divulgar informao de qualidade a todos os amantes dos instrumentos de teclas e de todo o unvierso que o compe. Esperamos estar atingidno esse objetivo. Boa leitura!

    Nilton CorazzaPublisher

    EDITORIAL

  • junho 2015 / 5 teclas & afins

    VOCE EM TECLAS E AFINS 6O espao exclusivo dos leitores

    INTERFACE 10As notcias mais quentes do

    universo das teclas

    entrevista 16Turi Collura

    Referncia no ensino online de msica

    Vitrine 20Novidades do mercado

    materia de capa 26Amilton Godoy

    Mestre dos mestres

    sintese 36 Sntese FM - Verstil e poderosa

    Por Eloy Fritsch

    42 livre pensarO misterioso Phineas Newborn Jr.Por Alex Saba

    46 vida de musicoAdicione novas cores sua msicaPor Ivan Teixeira

    50 palcoArtista ou empresrio?Por Wagner Cappia

    52 cultura hammondOs novos mestresPor Jos Osrio de Souza

    58 arranjo comentadoTrs estilos na mesma canoPor Rosana Giosa

    62 harmonia e improvisacaoHere Comes the SunPor Turi Collura

    NESTA EDIO

  • 6 / julho 2015 teclas & afins

    vOCE em teclas & afins

    Vamos nos conectar? Adorei a entrevista com Eliane Elias. bom saber que ainda est na ativa e representa muito bem a msica e a mulher brasileiras, mesmo que vivendo no exterior. (Isabela Mantovanni, por e-mail).

    R.: Eliane Elias realmente representa muito bem as duas coisas. E seu sucesso motivo de alegria para todos ns. Acompanhe nesta edio a entrevista exclusiva com seu

    mentor, Amilton Godoy, e fique ligada s prximas edies, que traro muitas novidades.

    Foi um imenso prazer e uma honra contar um pouco da minha histria e de como vejo nosso mercado nessa entrevista. Muito obrigado pelo convite, Teclas

    & Afins. (Sidinholeal Tecladista, por e-mail)

    R.: O prazer e a honra foram nossos, Sidinho. Como sempre dizemos, nossa obrigao falar daqueles que impulsionam nosso mercado. Forte abrao!

    Graas a Teclas & Afins conheci mais sobre Ruri Duprat, esse compositor e produtor que at ganhou um Grammy. No conhecia sua histria, mas imaginei que fizesse parte da famlia Duprat, to famosa na msica brasileira. Gosto muito quando a revista fala sobre esses msicos menos conhecidos. (Ataulfo Rodrigues, por e-mail)

    R.: H uma grande quantidade de msicos no to conhecidos pelo grande pblico que representam muito bem o talento e a alma do povo brasileiro, mesmo que em gneros no to nacionais. Temos a certeza de que, a cada edio, muitas outras descobertas sero levadas ao

    nosso pblico.

    Saudaes. Estive na exposio que ocorreu no ms de maio em So Paulo, no Expo Center Norte e recebi um marcador de pgina com a propaganda de vocs. Em primeiro lugar, parabns pela iniciativa. (Fabio Ibrahim, por e-mail)

    Parabns pela revista Teclas & Afins. Est melhor a cada edio. (Zaqueu Banks, em nossa pgina no Facebook)

    R.: Agradecemos todos pelas felicitaes. Nosso intuito o de levar informao de qualidade a todos aqueles que tm profundo e verdadeiro interesse pelos instrumentos de teclas. Prova

    disso que, a partir desta edio, nossos leitores podem enviar suas dvidas em relao a equipamentos, conexes, tcnicas, teoria musical, msicos e qualquer outro assunto

    relacionado aos universo das teclas. Curtam nossa nova seo, Pergunte ao especialista.

  • julho 2015 / 7 teclas & afins

    vOCE em teclas & afins

    Pergunte ao especialista

    Gostaria de saber qual a diferena entre os sintetizadores CASIO WX-P1 e CASIO WX-G1.(Antonio Lima, por nosso canal no YouTube)

    Quem responde o msico e produtor Fbio Augusto, especialista da Casio Brasil:

    O XW-P1 um sintetizador voltado para performances ao vivo e estdio, por causa de sua praticidade e do fcil manuseio, oferecendo timbres vintage, knobs e sliders dinmicos, Step

    sequencer,Organ Drawbar e timbres PCM. O XW-G1 um sintetizador direcionado para o mercado de msica eletrnica, oferecendo sliders e knobs para edio e performance. Ele grava

    e reproduz takes de arquivos WAV em at quatro regies do teclado.Com o software dedicado da Casio, conecta-se com iPad/iPhone e plataformas OSX e Windows. Mais informaes podem ser

    obtidas no prprio site do fabricante: www.casio.com.br

  • 8 / julho 2015 teclas & afins

    vOCE em teclas & afins

    Gospel como baseAtuando em vrias frentes e tendo sempre como foco seu aperfeioamento, Vandaluz Junior se destaca no cenrio musical capixaba

    O pianista, tecladista, arranjador e produtor musical Vandaluz Junior nasceu em Vitria, no Esprito Santo, em 1984. Comeou seus estudos de teclado aos 8 anos de idade, influenciado por seu pai (Joo Roberto Vandaluz, tecladista e pianista de Jorge Ben Jor na banda Admiral V). Aos 12 anos, iniciou sua experincia com a msica gospel, frequentando a mesma igreja de seu pai: Ca de paraquedas j em um grupo, sem experincia alguma, nem mesmo de harmonia, conta. Creditando 90% de importncia desse estilo em sua formao, Vandaluz foi procurar mais conhecimento,

    para conseguir acompanhar os msicos mais experientes com quem tocava. Com 17 anos decidiu estudar na Escola de Msica do Esprito Santo (hoje FAMES - Faculdade de Msica do Esprito Santo), em um curso tcnico de msica popular de trs anos. Na igreja, fui adquirindo experincia, e j era lder dos instrumentistas, mesmo com pouca idade, continua o msico. Falo muito para alunos e amigos que a igreja uma porta para o crescimento de um msico, pois sempre temos que nos esforar para cada situao, e at mesmo aprender outros instrumentos para suprir

  • julho 2015 / 9 teclas & afins

    vOCE em teclas & afins

    Mostre todo seu talento!No importa o instrumento: piano, rgo, teclado, sintetizadores, acordeon, cravo e todos os outros tm espao garantido em nossa revista. Mas tem que ser de teclas!

    Como participar:1. Grave um vdeo de sua performance. 2. Faa o upload desse vdeo para um canal no Youtube ou para um servidor de transferncia de arquivos como Sendspace.com, WeTransfer.com ou WeSend.pt. 3. Envie o link, acompanhado de release e foto para o endereo [email protected]. A cada edio, escolheremos um artista para figurar nas pginas de Teclas & Afins, com direito a entrevista e publicao de release e contato.

    Teclas & Afins quer conhecer melhor voc, saber sua opinio e manter comunicao constante, trocando experincias e informaes. E suas mensagens podem ser publicadas aqui! Para isso, acesse, curta, compartilhe e siga nossas pginas nas redes sociais clicando nos cones acima. Se preferir, envie crticas, comentrios e sugestes para o e-mail [email protected]

    NA REDEa necessidade dos grupos. O ambiente gospel continua sendo uma seara muito importante na carreira de Vandaluz, que j trabalhou com Adelso Freire, Lucas Amorim, Srgio Saas, Adhemar de Campos, Rafael Bitencurt (Ministrio Apascentar), Luiz Arcanjo (Trazendo a Arca), Wilian Nascimento, Andr Valado e cantores de outros pases como Joe Vasconcelos (EUA) e Maria Paz Guzmn (CHILE), alm da cantora Bruna Olly, com quem atua at hoje. Tendo estudado com professores do porte de Bruno Venturim e Turi Collura, Vandaluz continua se aperfeioando em cursos da Berklee College Music e com o pianista Gilson Peranzzetta. Atualmente, mantm, com Eric Carvalho (bateria) e Denis Feijo (contrabaixo), o MB Trio, oficializado como Grupo Oficial da Faculdade de Msica do Espirito Santo (FAMES), que tem como uma das finalidades formar um repertrio

    indito e do qual responsvel pelos arranjos. Na hora de experimentar nos ensaios, sempre h colocaes e ideias de todos, quando ocorrem mudanas sempre bem-vindas, afirma. Envolvido em projetos de gravao de um lbum do trio, e escrevendo material para publicao que abordar uma forma prtica de aplicao de tcnicas de Reharmonizao e Improvisao, Vandaluz tem ministrado master classes e workshops nas disciplinas de arranjos, prticas de conjunto e tcnicas de harmonia e reharmonizao.

  • 10 / julho 2015 teclas & afins

    INTERFACE

    Sucesso absoluto de pblico nos anos 70 e 80, A Cor do Som est de volta cena em sua formao original. O grupo - formado por M Carvalho nos teclados, Dadi no baixo e guitarra, Armandinho na guitarra, bandolim e guitarra baiana, Gustavo Schroeter na bateria, e Ary Dias na percusso - nasceu em 1977 experimentando novos padres, introduzindo instrumentos eltricos no chorinho e misturando rock com ritmos regionais e msica clssica. ramos todos meninos e, entre 1979 e 1982 nos sentamos como os Beatles, com estdios lotados pelo Brasil e sucessos em todas as rdios, lembra M. A Cor do Som foi a primeira banda brasileira a participar do Festival de Montreux, na Sua, e possui 11 discos gravados, um DVD, e vrios prmios conquistados. Com sua msica transbordando brasilidade e modernidade, aliada ao bom gosto e aos excelentes instrumentistas, A Cor do Som est produzindo um lbum de inditas: Estamos gravando no meu estdio, sem pressa, conta M. O processo bem lento porque o Armandinho mora em Salvador e aproveitamos as raras vindas dele ao Rio. O grupo promete repetir o sucesso tocando Zanzibar, Beleza Pura, Menino Deus, Semente do Amor e Abri a Porta, entre outras, em shows pelo Brasil e o exterior. Estamos mais maduros e com os ps no cho. Sabemos que aquele tempo, em que a gente saa para uma turn e ficava vinte dias pelo Sul do pas, um ms no Nordeste, acabou, no s para a gente, mas pra todos, diz o tecladista. Mas estamos animados, porque quando a gente sobe no palco, sempre uma felicidade, conclui.

    A VOLTA DA COR

  • julho 2015 / 11 teclas & afins

    INTERFACE

    O pianista Ricardo de Castro Monteiro encantou a multido que assistia a um evento durante a Virada Cultural realizada em So Paulo. Dezenas de metros acima dos espectadores, Monteiro executou obras ao piano suspenso por cabos, acompanhado pela performance da bailarina e acrobata Sandra Miyazawa, suspensa acima dele.

    Piano nos ares

    O apresentador Otaviano Costa mais um que se dedica ao piano e msica. Desafiado por Rafa Brites no programa SuperStar Web, Costa interpretou Georgia On My Mind, sucesso na voz de Ray Charles, com execuo correta e seu estilo peculiar. No a primeira vez que o ator se apresenta ao piano, e em todas demonstrou habilidade e familiaridade com o instrumento.

    MIL TALENTOS

    Formado em engenharia mecnica o pianista paulistano Tony Berchmans desistiu da carreira ainda na faculdade, quando montou um estdio. Aficionado por trilhas de cinema, se licenciou este ano do trabalho como produtor de jingles para se dedicar ao projeto em que acompanha filmes mudos como O Circo, de Chaplin. O que fao era comum na poca do cinema mudo: o filme no tinha nenhuma msica composta, era lanado sem som e, muitas vezes, um pianista o acompanhava, de improviso, na sala de cinema, conta o msico. Minha proposta recriar essa atmosfera usando um piano acstico e um projetor de 16 mm para cpias em pelcula. Fao questo de coloc-lo no meio da sala, para as pessoas ouvirem o barulho e terem a sensao de estar em um lugar mgico.

    C I N E P I A N O

  • 12 / julho 2015 teclas & afins

    interface

    Ao completar 70 anos de idade e 45 de carreira, o pianista, cantor e compositor Ivan Lins comemora oferecendo ao pblico mais de dez projetos seus ou em sua homenagem, que incluem uma biografia e um documentrio. Nome reconhecido internacionalmente h mais de 30 anos, gravado por Sarah Vaughan, Ella Fitzgerald e Jane Monheit, entre outros, o artista lanou este ano o CD Amrica, Brasil. No ano que vem, devem sair um CD com arranjos e uma biografia escrita pela pianista Thais Nicodemo. Tambm esto sendo produzidos um CD de msicas sertanejas, letradas pelo paulistano Rafael Altrio, e uma coleo de fados cantados por nomes em ascenso na msica portuguesa, como Antnio Zambujo e Carminho.

    O ano de Ivan

  • julho 2015 / 13 teclas & afins

    Conhea as publicaes da

    www.editorasomearte.com.brContato: [email protected]

    Visite nosso site para conhecer melhor os 3 Mtodos e os 3 Repertrios

    SOM & ARTEE D I T O R A

    INICIAO AO PIANO POPULAR Volumes 1 e 2

    Inditos na rea do piano popular, so livros dirigidos a adultos ou crianas que queiram iniciar seus estudos de piano de forma agradvel e consistente.

    MTODO DE ARRANJO PARA PIANO POPULAR

    Volumes 1, 2 e 3

    Ensinam o aluno a criar seus prprios arranjos.

    Trazem 14 arranjos prontos em cada volume para desenvolvimento da leitura das duas claves (Sol e F) e anlise dos arranjos.

    REPERTRIO PARA PIANO POPULAR

    Volumes 1, 2 e 3

    LANAMENTO

    @Blue

    NoteC

    omun

    icao

    INTERFACE

    A Allianz acaba de anunciar, em conjunto com a Fundao Internacional de Msica de Lang Lang, a 3. edio do Allianz Junior Music Camp. As candidaturas j esto abertas, podendo os interessados submeter dois curtos vdeos para avaliao. O estgio, destinado a 10 jovens pianistas do mundo inteiro, ter lugar em Viena, na ustria, entre 18 e 24 de novembro. A iniciativa vista como uma oportunidade nica de contato com o pianista chins Lang Lang. O Allianz Junior Music Camp inclui aulas de piano-solo com professores da Youth Academy of the University of Music and Performing Arts, alm de atividades culturais. O grande atrativo do estgio uma masterclass com Lang Lang na Wiener Musikverein, uma das salas de concerto mais conhecidas do mundo. Esta iniciativa procura inspirar a prxima gerao de msicos clssicos e alimentar a sua paixo pela msica. Ao observar esta nova gerao de embaixadores da msica e constatar como partilham a sua paixo e espalham a mensagem do poder da msica para um pblico mais vasto, fico muito otimista relativamente ao futuro do piano, diz Lang Lang. Para se inscrever, clique na foto.

    H VAGAS!

  • 14 / julho 2015 teclas & afins

    interface

    Durante o ms de julho comemora-se o aniversrio de vrias personalidades ligadas ao mundo das teclas.PARABNS!

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    7Ahmad Jamal (1930)

    Champion Jack Dupree (1910)

    Joe Zawinul (1932)

    Rick Davies (1944 )

    Jon Oliva (1960)

    Richard Wright (1943) Flvio Venturini (1949)

    Wanda Landowska (1879)

    Kate Bush (1958) Hank Jones (1918)

    Guilherme Arantes (1953)

    Brian Auger (1939)

    Vince Guaraldi (1932)Arthur Moreira Lima (1940)

    Vladimir Ashkenazy (1937)

    Rhoda Scott (1938)

    Pinetop Perkins (1913)

    Dr. Lonnie Smith (1942)

    Vince Clarke (1961)

  • 16 / julho 2015 teclas & afins

    Nilton CorazzaENTREVISTA

    Turi Collura:ensino online de qualidade

  • julho 2015 / 17 teclas & afins

    Nova referncia

    ENTREVISTA

    De forma geral, qual a proposta do Terra da Msica?O Terra da Msica um site de informao e de educao musical. Oferece acesso gratuito a artigos, palestras, entrevistas, vdeos, playbacks, resenhas de livros e publicaes etc. Com alguns amigos, realizamos um sonho que eu tinha h cinco anos: criar um site de informao musical em lngua portuguesa que fosse referncia nacional e por que no internacional, j que temos alunos de Angola e at da Austrlia! Queremos construir a maior comunidade musical do Brasil que toca, que aprende msica, que busca informaes sobre equipamentos e instrumentos, e, sobretudo, formao musical. O site nasceu na metade de abril deste ano, mas j chamou a ateno de leitores, professores de msica e de colaboradores. A ideia a de um site colaborativo. Este o ponto de fora de nossa proposta: agregar valores e conhecimentos, trazendo msicos de ponta, sejam eles professores ou msicos profissionais.

    Alm de contedos gratuitos, o site vende cursos online. Qual a proposta didtica e a vantagem desses cursos?A proposta a de oferecer cursos de qualidade com custos reduzidos e que ajudem o aluno no desenvolvimento do seu potencial artstico e criativo. Os cursos so de instrumento e de matrias terico-prticas (como composio, arranjo, improvisao, linguagem e percepo musical, rtmica etc). Por meio da tecnologia, msicos de qualquer lugar do mundo tm seu ponto de encontro dentro de uma plataforma de ensino viva, interagem, trocam experincias e informaes. Imagine isso: antigamente comprava-se um livro e, sozinhos, amos ler, tentando entender a ideia de seu autor. Que tal se o livro pudesse ser vivo, permitindo a interao entre leitor e autor, ou, ainda entre os leitores? Que tal um livro que contivesse vdeos, botes onde apertar o play? Criamos um sistema em que possvel interagir atravs

    Conversamos com Turi Collura - pianista, compositor, e professor de msica com consolidada experincia didtica - diretor pedaggico do site Terra da Msica, que promete consolidar-se como referncia para a informao musical de qualidade em lngua portuguesa e revolucionar o ensino de msica

  • 18 / julho 2015 teclas & afins

    Turi Collura: ensino online diretamente de seu estdio

    da plataforma de ensino distncia. No existem mais barreiras, basta uma conexo internet. Ao escolher o curso, o aluno tem disposio toda a informao e as tarefas organizadas em aulas sequenciais. O aluno pode acessar os seus cursos quando quiser, de onde quiser, com total flexibilidade de horrios e de prazo para concluir os estudos.

    De que forma o aluno interage com o professor?A proposta diferenciada em que acreditamos a da assistncia do professor, que est disponvel para tirar dvidas, avaliar os trabalhos dos alunos, ajudar os msicos em seu desenvolvimento musical. Cada pgina do curso, cada aula ou tpico possui um espao para fazer perguntas, comentar, publicar os prprios vdeos, interagir com

    o grupo e com o professor e assistentes.

    Os cursos online so um substituto s escolas de msica tradicionais?A ideia no substituir as escolas de msica, mas somar, agregar valor e oferecer informao de qualidade em campos especficos. Hoje, fazer um curso online chega a custar at 80% a menos que uma uma escola tradicional. Isso acontece em todas as reas, no s no mbito da msica.

    Quem o cliente dos cursos online? De forma geral, todos aqueles que buscam informao: compradores de livros e mtodos didticos, estudantes, profissionais ou professores de msica. De fato, podemos distinguir diferentes perfis de clientes. O primeiro o aluno que est cursando uma escola tradicional e que

    ENTREVISTA

  • julho 2015 / 19 teclas & afins

    encontra nos cursos online aquele plus, em termos de informao e de dinmicas de estudo/ensino. H tambm o msico, profissional ou amador, que no tem tempo para frequentar uma escola tradicional. Os cursos online so, ainda, uma fonte de informao, estudo e reciclagem para professores de msica.

    Um elemento importante dos cursos online em sites do exterior o fato do aluno receber algum certificado. A proposta do Terra da Msica contempla isso?Sim, certamente. Terra da Msica oferece oportunidades de desenvolvimento profis-sional para msicos e professores de msi-ca que desejam crescer no trabalho e na carreira artstica. Os certificados so muito importantes. Eles atestam a frequncia dos cursos, sua carga horria, a formao e a experincia pela qual o aluno passa. Eles so emitidos automaticamente assim que o aluno concluir cada mdulo ou cada cur-so, dependendo do caso.

    Quem so os professores e colaboradores?Quanto aos professores, estamos preparando algumas surpresas que envolvem msicos da pesada, os nomes so ainda top secret (risos)! De forma geral, buscamos profissionais especializados em reas especficas e avaliamos suas propostas didticas.

    A equipe do Terra da Msica analisa o diferencial pedaggico, o currculo do professor e o diferencial do curso que pode ser oferecido; estuda, junto a ele, como realizar os contedos dentro das diretrizes propostas pelo site. A ideia de base essa: se alguma coisa leva o carimbo do Terra da Msica, ento deve tratar-se de uma informao relevante e confivel. H, tambm, os colaboradores, que contribuem para o contedo do site com algum artigo interessante, com entrevistas, vdeos, udios etc. Recebemos os colaboradores com muito prazer. Algum tem algo de interessante para contar ao mundo? O Terra est a para isso.

    Planos para o futuro?Acabamos de abrir as portas, e, no, momento, estamos investindo no desenvolvimento de metodologias prprias que visem a otimizao da relao tempo de estudo/resultados e do desenvolvimento de habilidades dos alunos. Mas j temos programado o que iremos acrescentar em breve, como, por exemplo, as videoconferncias ao vivo, a organizao de concursos e a presena do Terra da Msica em festivais de msica. Eu, pessoalmente, estou elaborando um curso de harmonia aplicada que possa constituir-se como referncia importante em lngua portuguesa.

    ENTREVISTA

    NA REDE

  • 20 / JUlHO 2015 teclas & afins

    VITRINE Toque nos produtos para acessar vdeos, informaes e muito mais!

    KORG HAVIAN-30Pride Music www.korg.com.br

    A Pride Music traz ao mercado o KORG HAVIAN-30, que combina piano digital com recursos de teclado arranjador. O modelo oferece sons de pianos de cauda - gravados em mltiplos nveis de dinmica - e verticais, todos com ressonncia das cordas, alm de eltricos dos tipos tine e reed, clavinet, honky-tonk, rgo, cravo entre uma coleo de 950 timbres, alguns deles com recurso de meio-Pedal (Half-Dump), e 64 kits de bateria. Para o usurio, so reservados 256 sons e 128 kits de bateria com possibilidade completa de edio. A seo de efeitos traz quatro blocos de Master Effects em estreo, 125 tipos, EQ de trs bandas para cada pista e Limiter e EQ paramtrico de quatro bandas na sada. O modelo vem carregado com 420 Styles de fbrica, livremente reconfigurveis, e at 1.040 alocaes de memria incluindo bancos Favorite/User. Cada estilo possui oito pistas, quatro Single Touch Settings e um Style Setting, alm de trs Intros, quatro Variations, quatro Fills, Break, trs Endings, Autofill, Synchro Start/Stop, Tap Tempo, Manual Bass, Bass Inversion, Memory, Accompaniment Mute, Kick & Snare Designation e Chord Sequencer. O equipamento ainda oferece Player, Funo Jukebox compatvel com SMF e MP3, letras compatveis com CDG, Score Markers, Transpose (+6/-5 semitons) e mudana de andamento para MP3 (+/-30%), sequencer, Song Book e 88 teclas European Hammer-Action sensveis velocidade.

  • JUlHO 2015 / 21 teclas & afins

    Ritmller UP121Pianofatura Paulista www.piano.com.br

    Yamaha P-115Yamaha Musical do Brasil www.yamaha.com.br

    O piano vertical UP121 da Ritmller Piano Company, empresa fundada na Alemanha em 1795, carrega a herana clssica da marca e os padres de excelncia atuais, misso a cargo do mundialmente renomado master piano designer Lothar Thomma. Com apenas 121 cm de altura e 60 cm de profundidade, o modelo compacto ideal para residncias e pequenos espaos, oferecendo 88 teclas e trs pedais em lato fundido. O mecanismo com martelos com feltro duplo faz companhia estrutura de 5 colunas de madeira macia e tbua harmnica de Spruce com 11 costelas. Com acabamento em imbuia ou preto de alto brilho, o piano oferece tampa com amortecedores e banqueta regulvel, alm de garantia de 5 anos.

    O piano digital Yamaha P-115 traz teclado GHS (Graded Hammer Standard) que gradualmente altera a sensibilidade para que o msico o sinta mais pesado quando toca notas graves e mais leve quando toca notas agudas. O piano tambm traz teclado realista ao toque, com teclas pretas de acabamento matizado. O modelo utiliza a tecnologia de gerao sonora Pure CF Sound Engine com som gravado a partir do famoso piano de concerto CFIIIS da marca. A funo aperfeioada de ressonncia simula a reverberao de um piano de concerto, permitindo nvel mais detalhado de expresso das nuances sonoras. Entre os recursos, esto disponveis 14 timbres, 14 padres rtmicos de bateria com ajuste de tempo, 192 vozes de polifonia e quatro tipos de reverb (Recital hall, Concert hall, Salon e Club). O P-115 vem equipado com terminais AUX-OUT e USB TO HOST para que seja ligado diretamente a um computador.

    Alm disso, compatvel com o aplicativo Digital Piano Controller para iPhone ou iPad.

    VITRINEVITRINE

  • 22 / JUlHO 2015 teclas & afins

    Duas novas bibliotecas de sons para o SampleTank 3 para Mac e PC esto disponveis. A coleo Alan Parsons Imperial Grand traz o piano de cauda de concerto Bsendorfer Model 290 gravado pelo lendrio produtor-engenheiro Alan Parsons em mais de um gigabyte de contedo e 650 samples estreo. As notas foram sampleadas em oito diferentes velocidades para o melhor realismo e tocabilidade. A Terry Bozzio Drums uma imensa biblioteca de 1.7 gigabyte, com mais de 1.800 samples de bateria e 350 loops, todos tocados por Terry Bozzio em pessoa e gravados por Ken Scott.

    VITRINE

    THE BEATLESHunter DaviesEditora BestSellerPreo de capa: R$ 65,00

    Em 1966, Hunter Davies era jornalista e j havia entrevistado os Fab Four e lido os poucos livros publicados sobre o quarteto. A ideia de escrever um livro definitivo sobre a banda do momento parecia perfeita e, surpreendentemente, eles toparam. Brian Epstein, o empresrio, no apenas concordou com a empreitada como ainda garantiu: depois que o livro sasse, durante dois anos os Beatles no falariam com mais ningum. The Beatles foi publicado em 1968 e dois anos mais tarde a banda no existiria mais, tornando esta a nica biografia autorizada de um dos grupos musicais mais influentes da histria. Durante 18 meses entre 1967 e 1968, Davies acompanhou John Lennon, Paul McCartney, Ringo Starr e George Harrison em shows, gravaes, turns e em momentos particulares, em casa, com suas famlias. Reuniu fotos raras, entrevistou pais, esposas e amigos dos msicos, documentou a infncia e a vida pr-Beatles dos quatro. Para atualizar a histria, Davies adicionou a esta edio um prlogo com material novo, uma reflexo sobre a histria dos integrantes aps o fim da banda e detalhes dos bastidores da negociao do livro. No fim, tambm como parte da reviso, h ainda relatos sobre personagens entrevistados por Davies e que morreram ao longo destas quase cinco dcadas.

    Alan Parsons Imperial Grand e Terry Bozzio DrumsIK Multimedia - www.ikmultimedia.com

  • JUlHO 2015 / 23 teclas & afins

    Tempo o ttulo do quarto CD de carreira do pianista, tecladista, acordeonista, arranjador e compositor Guilherme Ribeiro. Acompanhado por Vincius Gomes (guitarra e violo de ao), Daniel de Paula (bateria), Sidiel Vieira (contrabaixo acstico), Ricardo Braga (percusso) e com a participao do saxofonista Felipe Salles, o msico deixa transparecer no lbum a grande influncia da msica instrumental contempornea e do pop, e dos timbres dos sintetizadores e pianos eltricos nascidos nos anos 60, como Mellotron, MiniMoog, Fender Rhodes e Wurlitzer, alm do piano acstico. A inspirao surgiu das mtricas mpares, forte caracterstica de suas criaes. O lbum traz composies de Ribeiro (Pra Cada Coisa, O Seu Tempo, Evening Mist, O Agora, Despertar, Vernica, Desatino, Sim, No, Talvez) e inclui uma verso para Canto de Ossanha, de Baden Powell e Vinicius de Moraes. Msica de qualidade, muito bem acabada, que enriquece a seara instrumental brasileira. Altamente recomendvel! (Nilton Corazza)

    TempoGuilherme RibeiroIndependente

    VITRINEVITRINE

  • 26 / julhO 2015 teclas & afins

    materia de capa alexanadre porto e NILTON CORAZZA

    Amilton Godoy:estilo nico

  • julho 2015 / 27 teclas & afins

    Mestre dos Mestres

    Amilton Godoy fez histria frente de um dos mais icnicos grupos da msica brasileira, criando e

    sedimentando nosso estilo instrumental de maior projeo internacional, e, hoje, transmite a bagagem

    de conhecimento acumulada em mais de 60 anos em sua escola na capital paulista, onde j formou

    diversas geraes de msicos da mais alta qualidade

    materia de capa

  • 28 / julhO 2015 teclas & afins

    materia de capa

    Amilton Godoy: bauruense famoso

    No se pode dissociar o nome do pianista Amilton Godoy do grupo que estabeleceu as bases da moderna msica instrumental brasileira: o Zimbo Trio. Nascido no auge do movimento de renovao de nossa msica, por volta de 1964, e formado por Rubens Barsotti e Luiz Chaves, alm do prprio Godoy, o conjunto trazia a proposta de tocar msica brasileira de qualidade, com todo o requinte que a slida formao instrumental dos msicos e a excelente escolha de repertrio poderia proporcionar. O sucesso imediato alavancou a carreira do grupo e o tornou referncia de estilo e identidade na fuso da msica brasileira com o jazz. Hoje, passados mais de 50 anos de sua criao, o Zimbo Trio ainda o exemplo a ser seguido por centenas de grupos instrumentais, que levam e elevam nossa msica a patamares cada vez mais altos.

    HistriaAmilton Godoy natural de Bauru, cidade do interior paulista, e nasceu em uma famlia de msicos. O av tocava alade e seu pai tocou violino em orquestra e trabalhava como trompetista em uma boate da cidade. Um de seus tios por parte de pai tocava trompete. Outro, por parte de me, era maestro e pianista. O ambiente musical da casa era propcio: seus dois irmos - Adilson e Amilson - tornaram-se profissionais. Sua primeira professora foi Nida Marchioni, que lecionava pelo mtodo tradicional. As harmonias e melodias populares surgiram por influncia do pai e do tio: o grupo formado por Amilton, ento com 11 anos, e os irmos j fazia sucesso pelo interior paulista. A proximidade com o no-erudito fez que a mestra se recusasse a continuar lhes dando aulas, forando-

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  • julho 2015 / 29 teclas & afins

    materia de capa

    Palco: lugar preferido

    os a procurarem por alternativas. Mas a base tcnica slida iniciada com os tradicionais Czerny e Beringer seria de muita valia no futuro. Efsio Aneda, outro professor da cidade, recebeu Amilton e os irmos e lhes deu aulas, incluindo harmonia tradicional, at falecer, dois anos mais tarde. Sem opes, os garotos voltaram a estudar com a antiga professora, at que ela aconselhou o pai a envi-los a So Paulo. Depois de um teste com Nellie Braga, Amilton passou a estudar na escola Magdalena Tagliaferro, que o levou a participar de concursos e acumular prmios. Em 1962, foi terceiro colocado no Concurso Nacional da Bahia, prmio conquistado novamente em 1963 no Concurso Nacional do Rio de Janeiro. No ano seguinte, foi vencedor do IV Concurso Nacional Eldorado e Medalha de Ouro no Prmio Governador do Estado de So Paulo, alm de vencedor do Concurso Nacional Hora de Arte como Melhor Intrprete de Villa-Lobos. A carreira erudita parecia pavimentada, mas o popular falou mais alto.

    O jazz e o ZimboPara manter-se em So Paulo, alm da bolsa de estudos que ganhou em um dos concursos, Amilton passou a trabalhar como msico. Para isso, precisou aprender a aplicar o conhecimento adquirido nas aulas de piano e harmonia no repertrio popular. Logo recebeu o convite do saxofonista Cas para integrar seu quinteto. Aprendeu, ento a improvisar, tirando de ouvido as msicas e desenvolvendo seus prprios solos baseados nos discos que ouvia. Tendo como parmetros George Shearing e Oscar Peterson e, no Brasil, Moacyr Peixoto e Dick Farney, Amilton uniu a

    formao clssica com a espontaneidade do jazz e da msica brasileira, formando seu repertrio de recursos e linguagens. O Zimbo Trio foi formado a partir do convite feito pelo baterista Rubinho Barsotti para compor, ao lado do contrabaixista Luiz Chaves, um trio para tocar na Boate Baica. O primeiro show com o nome, porm, foi na Boate Osis, no centro de So Paulo, em 17 de maro de 1964, acompanhando Norma Bengell. O termo Zimbo, retirado do dicionrio afro-brasileiro, significa boa sorte, felicidade e sucesso. Zimbo era tambm uma antiga moeda que circulava no Congo e em Angola. Em 1965, o trio passou a fazer o acompanhamento fixo do programa O Fino da Bossa, da TV Record, apresentado por Elis Regina e Jair Rodrigues, que divulgava novos talentos. O resto faz parte da histria! A sonoridade e a qualidade musical do Zimbo Trio, influenciador de inmeros msicos e grupos, esto registradas em 48 discos gravados e lanados no Brasil e em outros 22 pases, estabelecendo uma carreira internacional slida e invejvel. O grupo tocou em mais de 40 pases e com orquestras sinfnicas da Venezuela, da Argentina, do Uruguai e da

  • 30 / julhO 2015 teclas & afins

    materia de capa

    Colmbia, alm, obviamente, do Brasil, e apresentou-se nas mais importantes casas de espetculo do mundo. Entre os prmios conquistados, como Trofu Imprensa, Roquete Pinto, Pinheiro de Ouro, Chico Viola, ndio de Prata, Cndido Mendes, merecem destaque o VII Prmio Sharp de Msica, Prmio Tim de Msica 2008, e o 23 Prmio da Msica Brasileira. Com a morte de Luiz Chaves, em 2007, e por conta de desentendimentos com a famlia do baterista Rubens Barsotti, Amilton Godoy, depois de duas outras formaes do grupo, abriu mo de usar o nome que ajudou a construir desde 1964. Capitaneando projetos-solo e em parceria com a flautista Lea Freire, tem turns agendadas pelos Estados Unidos, tanto para apresentaes quanto

    para palestras por escolas de msica e Universidades e continua frente do Centro Livre de Aprendizagem Musical (CLAM), criada pelo Zimbo Trio. Foi ali, em sua sala na escola, que Amilton Godoy nos recebeu, com a simpatia que as pessoas do interior sabem ter, para uma conversa superagradvel, recheada de exemplos musicais e histrias.

    A bossa nova foi fortemente influenciada pelo jazz. Mas, graas a msicos como vocs, tambm o influenciou...Depois que a bossa nova apareceu, os msicos de jazz comearam a perceber que tinham nas mos um trunfo: as melodias brasileiras, bem feitas harmonicamente, sobre as quais eles poderiam improvisar e contar suas histrias. Um dos primeiros foi Stan Getz, que era considerado um monstro na poca, com o Joo Gilberto. A Astrud dava um tema e, em algumas gravaes, o Stan Getz poderia estar improvisando at agora (risos). uma beleza ouvir aqueles solos dele. Hoje, a bossa nova, o ritmo, o suingue brasileiro, esto incorporados pelos msicos de fora. Eles encontraram uma linguagem prpria para tocar nossa msica. Tocam do jeito deles e ficam felizes em dizer que tocam msica brasileira. Mas a msica brasileira muito mais que uma levada de bossa nova. Tem muito mais jogada para levar do que simplesmente conduzir em bossa nova. O que o msico brasileiro tem que fazer, sem preguia, entrar no folclore brasileiro, nas influncias brasileiras, estudar um compositor, pegar uma msica e dizer: essa msica tem uma levada diferente. O que aconteceu com o Zimbo Trio? Nesses 49 anos, foram 40 pases. H alguns em que voltei 17 vezes! Para a Amrica Latina, no d nem

    Contagiante: msica com alegria

  • julho 2015 / 31 teclas & afins

    materia de capa

    para saber quantas vezes fomos. Europa, Estados Unidos, rodamos o mundo inteiro, at frica.

    Como o trio trabalhava os arranjos?Os trs participavam da ideia central que algum propunha. importante que o pianista - pela prpria caracterstica do trio, j que ele vai conduzir a melodia chegue e apresente uma maneira de tocar para os outros msicos perceberem que podem criar possibilidades em cima daquilo. Isso sempre funcionou muito bem no Zimbo. Domingo no Parque, por exemplo. Conheci essa cano porque era do jri que escolhia as 36 msicas do Festival da Record. Eu era responsvel pelas msicas. Tinha o Dcio Pignatari, um ano, escolhendo a letra. No outro, o Ferreira Goulart. Sempre gente de cabea aberta, para perceber as coisas novas que estavam surgindo. Para escolher as msicas, eu estava em todos os festivais, desde os tempos da Excelsior. Tnhamos a partitura e tudo mais. A ouvi aquela msica do Gil. Pego a essncia dela com ele tocando com o violo, mostrando a msica, sem participao do grupo ainda, ou do Rogrio Duprat. Ningum ainda descaracterizou coisa alguma... Ponteio, com o Edu Lobo cantando com o violo... Ento, eu partia da essncia da msica, crua. Assim como com as msicas do Milton Nascimento, que conheci antes de todo mundo! O Zimbo Trio teve essa sorte, de pegar esse pessoal no incio. Em um determinado disco nosso, eles comeam a aparecer. O primeiro disco tem uns caras novos: Baden e Vincius (risos). No terceiro tem os sambas-jazz do Baden. Teve uma em poca que destacamos Chico Buarque. Em outra, Gilberto Gil, e assim por diante.

    Como surgiu o CLAM?Surgiu da vontade de oferecer aos alunos o que no tivemos: ensino de msica popular com base slida e sem preconceitos. ramos muito procurados para aulas. Ento, montamos uma editora e comeamos a produzir mtodos com nossa maneira de tocar. O aluno chega aqui e encontra vrios professores, de diferentes estilos. Mas h uma espinha dorsal, o sistema CLAM de educao musical, que todo mundo segue. Os professores possuem diferenas individuais, so as costelas. E cada aluno pode querer tocar um estilo diferente, nada engessado. Eliane Elias queria um caminho diferente do Felix Wagner. O Nico Assumpo, contrabaixista, foi

    No CLAM: estrutura completa

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  • 32 / julhO 2015 teclas & afins

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    meu aluno tambm. Tinha uma cabea espetacular para msica e buscava outro caminho. Ento, o que vou ensinar para ele? importante transmitir o conhecimento para o aluno, sentir qual o caminho dele e qual a importncia dele conhecer determinados assuntos, para no ficar fazendo bobagem, algo sem fundamento. Eu quero estudar msica atonal!. Primeiro, ele precisa conhecer a msica tonal pra depois fazer o a, de tal forma que ele no incorra nela. O cara est na faculdade, fica quinhentos mil anos l, sai e no consegue viver de msica porque no aprendeu nada daquilo que o mercado exige. Ele no est preparado para aquilo. Ele estudou outra coisa. Os professores acadmicos tambm no sabem tudo aquilo que

    A escola tem que melhorar o nvel da plateia, j que no consegue colocar todo mundo em cima do palco

    a gente sabe. Infelizmente, ainda est tudo muito separado: o erudito segurou aquela peteca para ficar ali, e o msico popular quase um proscrito na cabea deles... A Unicamp comeou a ter um curso popular. O Ciro Pereira chegou a ir para l. Mas h uns caras l em cima que fazem a coisa virar curso especial, sem fazer parte do currculo. No CLAM, no influenciamos no estilo que o aluno quer seguir. Passamos conhecimento musical que ele pode usar no tipo de gnero de que ele mais gostar.

    Como v hoje o mercado de trabalho para os msicos? muito complicado falar disso. A Ordem dos Msicos tinha uma proposta, me lembro, no comeo. Mas tambm havia

  • julho 2015 / 33 teclas & afins

    materia de capa

    um sindicato, e as instituies divergiam entre si. Havia msicos que a gente sabia que eram atuantes, que pertenciam ao sindicato, mas tinham que ter a carteira da Ordem e, para isso, tinham que tocar erudito. Isso acabou enfraquecendo demais a categoria. Somos uma categoria sem presena alguma. O sindicato inexpressivo. Fizeram o que quiseram com os msicos e ningum os defendeu. Quando a msica mecnica comeou a entrar nas excelentes casas em que havia msica ao vivo, isso foi feito sem nenhum problema, porque era do interesse das grandes gravadoras internacionais que o Brasil fosse no um produtor de cultura, mas consumidor de coisa ruim. No h interesse nenhum de melhorar o nvel da plateia. Sempre digo que a escola tem que melhorar o nvel da plateia, j que no consegue colocar todo mundo em cima do palco. E tem que cumprir essa meta. Quanto mais ignorante o povo, mais ignorantes os representantes dele. Ento, chegamos ao Status Quo atual. Olhe aonde chegamos! Por que na msica haveria de ser diferente? A boa msica no Brasil passa por problemas. Assim como o ensino de msica. A msica instrumental quase no existe mais, no tem espao. Daqui a pouco, quem vai acompanhar os cantores famosos ou fazer arranjos? No podemos deixar isso acontecer!

    Mas h um retorno de msica ao vivo em casas noturnas...Mas no o suficiente. Assim como tocar Tom Jobim na novela das nove tambm no. Certo dia, ouvi uma entrevista do Andr Midani na televiso: O futuro do Brasil o rock, ele dizia. Ao lado dele estavam Gilberto Gil, Caetano Veloso, Postura: posio perfeita

    Chico Buarque... E todo mundo ficou quieto! Ningum falou nada! E todos foram artistas consagrados por fazer msica brasileira. Como que o cara fala isso? O que ele quer dizer com isso? Quando comeamos a fazer msica de categoria, de nvel, j existia essa msica sem contedo, digamos assim. A msica brasileira sempre concorreu e sempre procurou seu espao - a msica de qualidade - com essa msica pop que existe. No sou contra, porque cada um vai atrs daquilo de que gosta. Pode gostar! O que no pode fechar portas de outros movimentos que existem. O que no pode chegar a um lugar onde h quatro ou cinco msicos tocando e, de um dia para o outro, dizer: est despedido

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    porque vou colocar msica mecnica. No pode existir monoplio! O mal vem sendo feito no decorrer dos tempos. No posso reclamar da minha profisso. Mas mal protegida, mal defendida pelas instituies que deveriam cuidar bem dela. Sou uma exceo. No posso reclamar, porque a msica me deu tudo.

    Como voc se sente com tantos alunos que formou e influenciou tendo destaque no mercado? muito bom! E muita gente. Em primeiro lugar, sempre agradeo por terem nos procurado (risos). Acredito que atendemos s expectativas deles. Ter alunos desses, que esto a fim, muito importante. Voc est a fim de fazer certo e o cara est a fim de estudar... Ele acha que, porque est estudando comigo, vai progredir. E progride mesmo, porque j vem com isso na cabea. Mas tem uma coisa: eu nunca ensebei, nunca levei mais ou menos. Para mim, isto srio!

    Como as palestras auxiliam nisso?Falo sobre alguns temas, entre eles Villa-Lobos, por exemplo. Quando falo de bossa nova, explico todo o processo evolutivo que houve, de renovao e

    de crescimento da msica brasileira. Falo da importncia de Cano do Amor Demais, por exemplo, trabalho de Jobim com Vincius que a Elizeth (Cardoso) cantou. Toco as msicas. Fiz uma verso instrumental em forma de sute desse trabalho, que ficou muito bonito. Falo de cada compositor com projees, como Carlos Lyra, com o monte de parceiros dele. Esses caras tiveram uma importncia muito grande. Depois, a msica brasileira foi tendo contribuies excelentes, como Djavan e Ivan Lins. Essa linha de msica de qualidade continua at hoje, menos divulgada, mas continua. Isso no pode acabar.

    Depois de trs formaes do Zimbo Trio, voc vem trabalhando com Edu Ribeiro e Sidiel Vieira no Amilton Godoy Trio. Como v as novas geraes de msicos?So msicos muito bem formados. O ensaio rende porque voc escreve e os caras saem tocando! impressionante o que os caras leem. Digo que so todos msicos leiteros (risos). Ento voc j comea tendo resultado. Se escrever a partitura de piano, eles at preferem, porque veem o que vai acontecer com os outros. O rendimento muito grande.

    materia de capa

    NA REDE

  • 36 / julho 2015 teclas & afins

    SINTESE POR ELOY FRITSCH

    Responsvel pelo enorme sucesso comercial do Yamaha DX-7, ao lado de outros recursos implementados pela fabricante, a FM uma tcnica de sntese que possibilita a criao de uma grande variedade de timbres, usada para simular instrumentos acsticos, pianos eltricos e sons no tradicionais, proporcionando uma efetiva economia no processo computacional.

  • sintese

    julho 2015 / 37 teclas & afins

    sinteseversatil

    e poderosa

  • 38 / julho 2015 teclas & afins

    SINTESE

    Na msica, a tcnica de modulao de frequncia foi introduzida por John Chowning, da Universidade de Standford, e baseia-se nos mesmos princpios usados na transmisso de rdios FM. O primeiro experimento realizado por Chowning foi empregar um sinal de udio (chamado de modulador) para controlar a frequncia de um oscilador (chamado de portador) na produo de sons ricos em harmnicos.A abordagem mais bsica de um instru-mento baseado em sntese FM compos-ta de dois osciladores senoidais chamados de modulador (modulator aquele que modula) e portador (carrier aquele que modulado). Juntos iro determinar quais as frequncias que sero produzidas para for-mar o espectro harmnico.

    Entendendo a sntese FMA Modulao de Freqncia (FM) o controle da frequncia de um som. Quando um violinista produz o vibrato, ao movimentar o dedo que prende a corda ele pode estar alterando a frequncia do som do violino sete vezes por segundo, ou seja, 7 Hz (Hertz). Um trillo produzido quando o violinista aumenta a modulao para prximo de 14 Hz. Essas alteraes podem ser obtidas eletronicamente nos sintetizadores quando o LFO (Oscilador de Baixa Freqncia) modula o oscilador. Entretanto, quando a frequncia aumenta acima de 20Hz, o som no mais ouvido como vibrato, mas como uma modificao do timbre. Isso ocorre porque, quando um oscilador modula outro em frequncia,

    FB-01 Sound GeneratorUm dos sintetizadores FM mais baratos da dcada de 1980 foi o FB-01. Esse mdu-lo contm vrios sons de ins-trumentos sintetizados como piano, rgo, metais, baixo e guitarra. Possui oito partes multitimbrais e a programao dos timbres pode ser realizada com mais simplicidade se o msico utilizar um software editor como o Unisyn.

  • julho 2015 / 39 teclas & afins

    sintese

    novos harmnicos so produzidos de cada lado da portadora em intervalos de igual frequncia do modulador. Por exemplo, se uma frequncia portadora de 1000 Hz for modulada por 100 Hz, o resultado ser a produo dos harmnicos: (900 Hz e 1100 Hz), (800 Hz e 1200 Hz), (700 Hz e 1300 Hz), (600 Hz e 1400 Hz) prosseguindo ao infinito. No grfico, a frequncia portadora denominada Fp e a frequncia moduladora Fm. O nmero de parciais na sntese por modulao de

    frequncia so determinadas pela soma e subtrao da Fp pela Fm, conforme o grfico. Sempre que possvel, os valores de frequncia da onda portadora e da moduladora devem ser expressos por meio de relaes. Por exemplo, a razo 1:3 (um para trs) empregada para representar a relao entre as frequncias portadora 110 Hz e moduladora 330Hz. A razo 2:1 indica uma relao para as frequncias portadora 880 Hz e moduladora 440 Hz.

    Os sintetizadores FM da YamahaDepois do lanamento dos aclamados sintetizadores CS-80 e GX1, o departamento de rgos da Yamaha comprou a licena da sntese FM e comeou a investir na nova tendncia. Os algoritmos FM de Chowning foram usados pela empresa em um primeiro prottipo monofnico chamado MAD. Em

    1981, antes da era MIDI, a Yamaha produziu o sintetizador polifnico GS1 ( esquerda) com oito operadores e quinhentos presets. Apenas 100 unidades desse modelo foram vendidas. A Yamaha lanou o GS-2 e, depois disso, resolveu produzir modelos mais baratos e acessveis, como o CE20 e o CE25 (acima), que deram origem ao Yamaha DX-7, modelo lanado em 1983.

    ELECTONE FX-1A Yamaha continuou acreditando no mercado dos sintetizadores lanando o Yamaha Electone FX-1. Esse instrumento semelhante ao rgo um dos sintetiza-dores FM polifnicos mais complexos, caros e raros j produzidos. Ele ofere-ce todas as possibilidades sonoras de um rgo padro e de um sintetizador polifnico em um nico instrumento. Quando foi lanado, em 1984, custava por volta de 44 mil dlares. Nesse mes-mo ano, foi lanado o sintetizador DX-1.

  • 40 / julho 2015 teclas & afins

    SINTESE

    Eloy F. FritschTecladista do grupo de rock progressivo Apocalypse, compositor e professor de msica do Instituto de Artes da UFRGS onde coordena o Centro de Msica Eletrnica. Lanou 11 lbuns de msica instrumental tocando sintetiza-dores, realizou trilhas sonoras para cinema, teatro e televiso.

    Implementao modular da FMNos sintetizadores comerciais, mecanismos de FM foram encapsulados em mdulos que s possibilitam manipulao de funes em alto nvel, chamados operadores. O usurio s possui acesso a um nmero limitado de parmetros para o controle dos operadores. Cada operador consiste basicamente de um gerador de envolvente e um oscilador que pode ser usado como portador ou modulador. Os sintetizadores da Yamaha da linha DX so programados pela interconexo apropriada de um nmero de operadores constituindo um algoritmo. A Yamaha utiliza alguns tipos importantes de algoritmos: aditivos, pares, pilhas, mltiplos portadores e mltiplos moduladores.

    At seis operadores podem ser recombina-dos com o objetivo de criar novos patchs que podem ser armazenados na memria. O gerador de som FM do Yamaha DX-7 usa seis operadores. J outros modelos que o precederam, como o DX-9, DX-11 e o DX-21, usam apenas quatro deles.

    SY-99Na dcada de 1990, a Yamaha combinou dois ou mais tipos de sntese em um mesmo instrumento, como o caso do SY-99. Nesse modelo, podem ser encontradas a sntese FM com seis operadores e a tecnologia AWM2 para reproduo de samples com 267 formas de onda existentes na memria ROM.

  • ANOS DEPOIS, ELE RESSURGE! O LENDRIO SYNTH ANALGICO QUE TRANSFORMOU SUA GERAO.

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  • 42 / junho 2014 teclas & afins42 / julho 2015 teclas & afins

    livre pensar POR ALEX SABA

    O misterioso Phineas Newborn Jr.Quando cheguei ao estdio naquela manh, o som estava alto. Muito alto. Nenhum revestimento acstico dos bons seria suficiente para abafar aquilo. Mas reconheci a msica. Estranhei e, por isso, demorei a reconhecer. Era Well, You Neednt de Thelonious Monk com sua introduo pra l de manjada. S que era reproduzida perfeio, portanto no era ningum tocando aquilo ao vivo. Quando cheguei tcnica, Sev no estava l. Havia uma capa de LP jogada no cho e a gaveta do toca-discos estava puxada, com um belo vinil rodando ali. Peguei a capa que estava emborcada no cho. Claro, como no percebi logo que era ele?

    Phineas Newborn Jr foi um dos melhores pianistas de seu tempo, to misterioso ou mais at que o prprio Thelonious Monk. Costuma-se dizer que Monk soturno. Sendo assim, este aqui ganha o trofu mistrio de Teclas & Afins. Por conta de problemas fsicos e mentais, ele praticamente desapareceu de cena l pelo meio da dcada de 1960.O pai dele era msico de blues, e seu irmo um guitarrista de jazz, com quem comeou a trabalhar nas bandas de R&B em Memphis, chegando a gravar com o saudoso B.B.King no incio dos anos 50. Depois de se mudar para New York, em 1956, esse pianista surpreendeu os fs e os crticos. Trabalhou com Charles Mingus, em 1958, e Roy Haynes, mas geralmente se apresentava no formato de trio ou quarteto, sempre frente. Suas primeiras gravaes - em 1956, para os selos Atlantic, Victor, Roulette e Contemporary - so

    impressionantes. Infelizmente, de meados dos anos 60 at meados da dcada de 1970, quando desapareceu de vista, quase foi esquecido, sendo subvalorizado e pouco gravado. Mesmo com registros para

  • junho 2014 / 43 teclas & afins julho 2015 / 43 teclas & afins

    livre pensar

    os selos Contemporary e Atlantic, em 1969, Pablo, em 1976 e Philips, em 1977, soando como um msico em plena forma, no era assim que ele se sentia e passava a maior parte do tempo em Memphis. Ensaiou um retorno parcial no final dos anos 70, incio dos 80, embora isso aparentemente no conseguiu beneficiar sua situao financeira. Morreu em 1989, aps a descoberta de um cncer em seus pulmes, e foi enterrado no Cemitrio Nacional de Memphis.De acordo com o historiador de jazz Nat Hentoff, a situao dele estimulou a fundao, em 1989, da Jazz Foundation of America, grupo dedicado a auxiliar grandes jazzistas aposentados com as contas mdicas e outras necessidades financeiras. No incio de 1990, quatro pianistas formaram a Piano Contemporary Ensemble (Harold Mabern, James Williams, Mulgrew Miller e Geoff Keezer) para prestar homenagem a esse grande msico. O grupo gravou dois lbuns e excursionou internacionalmente.Fiquei parado no meio da tcnica, com a capa na mo, lendo a extensa nota da contracapa, enquanto ouvia o disco. impressionante como Phineas Newborn Jr. pde ter problemas mentais de sade (leia-se, entrou em depresso) quando crticos disseram que seu estilo era fcil.O bigrafo Scott Yanow escreveu: um dos pianistas mais tecnicamente qualificados e brilhantes do jazz durante seu auge,

    Phineas Newborn continua a ser um pouco de mistrio. Atormentado por problemas fsicos e mentais de origem desconhecida, Newborn desapareceu de cena em meados dos anos 60, apenas para ressurgir em intervalos irregulares ao longo de sua vida. Newborn poderia ser comparado a Oscar Peterson por seu estilo baseado em bop em grande parte inclassificvel e sua tcnica fenomenal. E ele era muito capaz de encantar uma plateia tocando uma msica inteira apenas com a mo esquerda.

    O lbumThe Great Jazz Piano of Phineas Newborn Jr, abre com a difcil Celia, de Bud Powell, mostrando seu domnio tcnico. uma boa faixa para chamar a ateno logo de cara. Depois, vem This Here, de Bobby Timmons,

    Phineas Newborn Jr. no auge da carreira

  • 44 / junho 2014 teclas & afins44 / julho 2015 teclas & afins

    e fica muito clara a independncia entre suas mos, com as escalas lembrando o j citado Oscar Peterson, mas sem os resmungos caractersticos dele. Domingo, de Benny Golson, traz um interessante unssono de mo esquerda com o baixista Leroy Vinnegar que, com Milt Turner na bateria, colabora no Lado A (as cinco primeiras faixas) do disco. S na quarta faixa, Prelude to a Kiss (Irving Gordon, Irving Mills e Duke Ellington) que podemos respirar, apesar da levada mais tensa. A impresso que fica de que Phineas no relaxa, estando pronto para explodir a qualquer momento. Ele no explode, mas o improviso bem mais relaxado, apesar das frases rpidas, curtas e difceis da mo direita. Well, You Neednt a faixa que ouvi assim que entrei no estdio. E voltamos ns a bater os ps pra acompanhar o pianista. Theme for Basie, do prprio Newborn - agora com Sam Jones no baixo e Louis Hayes na bateria - abre o Lado B. uma

    bela balada em 4/4 e, apesar de ser um tema para o famoso maestro Count Basie, no tem menos intensidade e possui muito mais notas do que Basie tocaria. New Blues outra faixa composta pelo pianista , um lindo e lento blues que antecede Way Out West, do saxofonista Sonny Rollins. A essa altura, parece que essa seo rtmica deixa Phineas mais vontade, no mais tcnico mas apenas mais relaxado, j que a conduo de Louis Hayes mais tranquila. Nessa faixa h umas inverses de mos, ou quase isso, bem interessantes, com a mo esquerda fazendo a melodia enquanto a direita cuida de outros assuntos, s vezes uma escala ou repetindo uma curta frase. A conhecida Four, de Miles Davis, encerra o disco, trazendo de volta o up tempo das faixas iniciais.Mas, espere. No acabou. Uma verso japonesa desse mesmo disco traz uma faixa extra com a mesma seo rtmica. Moon River, de Henry Mancini e Johnny Mercer. Uma bela maneira de encerrar, com Newborn muito vontade e tranquilo, mesmo com o tempo mais acelerado do que o esperado e quase convencionado dessa balada.Foi uma bela surpresa voltar a esse disco meio que esquecido na prateleira. Procurei o Sev pra ver o que ele estava fazendo e qual o motivo de ter colocado o som to alto. Quando encontr-lo, pergunto, porque, pelo visto, ele abandonara o posto por algum motivo que s ele sabe. Pensando bem, melhor deixar pra l, porque esse paraibano originrio de Bayeux (ele pronuncia Bai) capaz das coisas mais incrveis, inclusive ouvir Phineas Newborn Jr em volume to alto quanto os fs de Metlica, Iron Maden ou Black Sabbath. Vai entender...

    livre pensar

    Look Out - Phineas is Back!: o retorno em 1978

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  • 46 / JULHO 2015 teclas & afins

    Piano, Rhodes, Warm Pad, Sine Lead (que todo mundo chama de Moog) e rgo (Hammond). Ser que nessa pequena lista se encontram pelo menos 90% de suas opes? Muito se fala dos teclados lanados e das bibliotecas cada vez maiores. Mas ser que voc est aproveitando o recurso principal dos teclados que, sem dvida alguma, so as opes de diferentes e timos timbres? Mesmo em situaes em que o estilo musical te restringe a poucas sadas, voc pode encontrar solues para colorir muito mais seu som.

    Adicione novas cores sua msicaSaber usar os timbres de seu teclado pode ser, em muitos casos, a grande soluo

    Varie entre as diferentes opes de pianosSei que todo mundo, assim como eu, tem em seu setup um timbre de piano preferido. Mas, de repente, aquela msica que tem uma parte de piano simples e discreta pode ganhar uma perspectiva diferente usando um timbre mais estragado, com algum efeito que, comumente, no usaria em um timbre como esse, como um chorus, uma distoro, um vibrato ou at mesmo um trmolo. Imagine sua ideia com um timbre mais ousado, como uma camada mais moderna no som. Se voc tem um

    vida de musico por ivan teixeira

  • JULHO 2015 / 47 teclas & afins

    segundo timbre de piano que considera aceitvel, divida o seu setlist entre essas duas opes. Se tiver mais opes para isso, use. A mesma coisa vale para os timbres de piano eltrico, principalmente se voc faz uso frequente da famlia Rhodes. Os teclados, normalmente, dividem esses timbres considerando-os por poca. Subdividindo de Marks I at VII, voc ter opes muito interessantes para tambm espalhar durante a sua performance. A utilizao de efeitos pode aumentar ainda mais as opes. Particularmente, fao a substituio de Rhodes para os Wurlitzers que so at mais interessantes em situaes em que voc pode optar por timbres mais opacos e escuros mas no menos maravilhosos.

    Ouse utilizar timbres que normalmente voc descartaria Explorar timbres, na maioria das vezes, exige experimentao, degustao. Existem acordes, harmonias e convenes que, com um pouco mais de experincia, o msico sabe se vai dar certo ou no s de ver na partitura ou quando mencionada. Isso no se aplica aos timbres. Vamos, amigo! Voc no pode ser preguioso a esse ponto. Isso pode ser crucial para sua carreira e para sua boa fama de tecladista cuidadoso com som. Consequentemente, voc passa a ter mais possibilidades de trabalho que seus colegas preguiosos. A beleza da gastronomia que os ingredientes so conhecidos por todos, mas a tcnica de preparo, o paladar e o bom gosto, fazem dos pratos, nicos. Gosto desse exemplo porque no vejo melhor descrio para justificar o bom gosto que encontro em diversos tecladistas que, por meio de timbres considerados os mesmos, conseguem resultados distintos e maravilhosos.

    Esse um conceito que voc precisa incorporar: experimente suas ideias nas msicas, toque diferente com um timbre diferente. Essa a minha mais importante dica. No d pra tocar com um timbre nada usual do mesmo jeito que tivesse tocando piano. No mesmo! Voc no vai conseguir agradar nem mesmo a voc. Para quem nunca fez isso, bom gastar esse tempo de pesquisa em casa para no deixar os outros msicos no ensaio querendo jogar seu teclado pela escada abaixo. Nunca descarte a possibilidade de utilizao de um timbre.

    Considere substituir timbres orgnicos por sintetizados

    vida de musico

    First StepsCory HenrySe voc no sabe quem esse americano, precisa conhecer. tecladista de um dos grupos musicais mais aclamados da atualidade, o Snarky Puppy. A primeira faixa a minha preferida, First Steps. Acredito que ele tambm acha isso, porque a faixa que d ttulo ao lbum.

  • 48 / JULHO 2015 teclas & afins

    Adoro alguns timbres de cordas que tenho, mesmo sendo de teclado. Tenho algumas bibliotecas VSTs poderosssimas instaladas em meu computador, mas s vezes, um timbre menos realstico uma opo a ser considerada. Tenho gostado mais, ultimamente, das Synth Strings do que de meus to idolatrados Warm Pads (principalmente aqueles do JV-2080 e os da biblioteca do Ivory. Quem tem sabe do que estou falando). Estou em uma fase em que aquelas simulaes cool dos Oberheims e todas as tentativas dos outros fabricantes (todo teclado tem uma biblioteca de

    Synth Strings inspirada neles) me agradam profundamente. Elas arranham mais as msicas, tem mais atitude. Alguns Analog Pianos tambm cumprem o mesmo papel.

    Oua msicas que utilizam esses recursos para conhecer a linguagemNo tenho dvidas que entender como podem ser feitas as diferentes aplicaes de timbres primordial para compreender a mecnica dessas possibilidades. Portanto, oua artistas, lbuns e perodos da msica que utilizaram esses recursos. Uma pesquisa bsica do Google pode te

    IVTOTOTodos os lbuns dessa banda so verda-deiras aulas para qualquer pessoa que lida com msica. Os guitarristas amam, os bateristas, os baixistas, os compositores, cantores, engenheiros de udio Mas os tecladistas idolatram. Duvide de um tecla-dista se ele disser que no gosta de TOTO. A melhor aplicao de teclados a canes pop. Todo mundo deveria tirar o solo de synth de Rosanna (desse lbum). Muita categoria de David Paich e Steve Porcaro.

    OxygneJean Michel JarreComo ele fez aquilo, pouca gente sabe. Sem dvida alguma, foi o maior sucesso desse criativo, revolucionrio e, muitas vezes, discriminado tecladista. Ele deveria ser o seu heri, muito mais que o Wolverine. Fez esse disco em um estdio improvisado em sua casa, no ano de 1976. Vendeu 12 milhes de cpias (s desse lbum). Se voc tiver um P.A. em sua casa, sugiro ouvi-lo ali. A mixagem,por si s, uma obra de arte.

    vida de musico

  • JULHO 2015 / 49 teclas & afins

    Ivan TeixeiraPianista de formao erudita, tecladista por sua prpria escolha, Ivan Teixeira proprietrio da produtora de udio IMUSI, produzindo, compondo e arranjando diversos projetos para cantores, cinema, publicidade e games. Trabalha com nomes importantes da msica brasileira e tem sua prpria carreira e seus discos gravados. Adora histria da msica, sintetizadores digitais, analgicos e virtuais.

    dar isso, mas gostaria de sugerir a audio desses trs lbuns indicados na matria, que talvez voc nunca tenha ouvido, at mesmo por um infeliz preconceito:

    ConclusoMinha ponderao final neste artigo que ns, tecladistas, temos a possibilidade de imprimir diferentes cores a qualquer msica, de qualquer estilo. Ser tecladista estar mesmo atento a esses detalhes, conectado com as tendncias do passado que viraram referncias, e as do presente, que dizem onde queremos chegar com nossa msica. Temos que ter o esprito aberto para o novo e o diferente, com bom

    gosto suficiente para no deixar nossas escolhas carem no ridculo (s vezes existe a possibilidade de que voc esteja muito frente do seu tempo, fazendo sua msica soar estranha). Sei que voc vai se sair bem. Use esse artigo como um ponto de partida e encontre o seu caminho no meio de tantas referncias. Boa sorte!

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  • 50 / JULHO 2015 teclas & afins

    PALCO POR WAGNER CAPPIA

    Artista ou empresrio?Vislumbrar uma carreira de sucesso - ser reconhecido pelo pblico como um artista talentoso e de presena permanente - quase sempre o ponto de partida de todo msico, mas, para chegar l, talento musical e tcnica no so mais suficientes: preciso encarar a msica como um empreendimento

    Independentemente do momento da carreira, o msico precisa entender que, estudar alucinadamente no uma opo, mas uma obrigao. No entanto, compreender que outros fatores sero determinantes para que tudo funcione, inclusive em cima do palco, vital. preciso uma gesto financeira adequada, principalmente quando ainda no h tanto dinheiro envolvido, por exemplo, e pensar em como ser a distribuio de cachs em uma banda e como ser gerado um

    fundo de reserva e investimento. Tambm necessrio manter uma pessoa jurdica, para que o artista tenha acesso a grandes projetos, contratos, e uma infinidade de coisas que no tem relao direta com a arte em si. O msico artista quando est exposto. Fora disso, ele deve ser um empresrio.

    AtitudeAlm dos aspectos administrativos, o msico precisa pensar em sua postura

    Palco: mais que arte

  • JULHO 2015 / 51 teclas & afins

    Wagner CappiaIniciou seus estudos em piano clssico em 1982, com formao pelo Conservatrio Dramtico Musical de So Paulo. scio-diretor do Conservatrio Ever Dream (Instituto Musical Ever Dream), tecladista, compositor e arranjador da banda Eve Desire e scio-proprietrio e responsvel tcnico do estdio YourTrack. Msico envolvido na cena metal, procura misturas de estilos que vo desde sua origem natural na msica erudita at a msica contempornea, mesclando elementos clssicos e de ambiente em suas composies. Especialista em tecnologia musical, performance ao vivo para tecladistas, coaching para bandas, professor de piano, teclado e udio. www.cappia.com.br - www.evedesire.com - www.institutomusicaleverdream.com

    como artista tambm. Deve saber como se comportar em uma entrevista, por exemplo, e pensar em agenda, logstica de palco e tudo mais.Como tecladista, levo uma srie de equipamentos ao palco: dois (s vezes trs) teclados, laptop, estantes, interface de udio, cabos e pads. No posso chegar a um evento e ficar batendo a cabea para montar todo o equipamento, seja eu ou um roadie. Todo o processo deve seguir uma ordem. Tenho que pensar na montagem e no teste de todo o equipamento. Sim, problemas acontecem! Como citei nas edies anteriores, trabalhar com tecnologia sem contingncia suicdio. Pensando empresarialmente, o evento em que participo possui sua logstica e sua organizao e no posso me tornar um problema. Portanto, em absolutamente todas as minhas apresentaes, estou no local com pelo menos uma hora de antecedncia. Quando o palco liberado, vou direto ao espao destinado pra mim, monto todo o equipamento e testo tudo o mais rapidamente o possvel. E se houver algo que possa ser antecipado, uma conversa breve com o tcnico de som economiza muito tempo (onde esto as tomadas e sua voltagem, onde ser colocado o DI e outras informaes que possam ajudar no processo).No palco, comum algum acesso do pblico. Mas, nos processo de montagem

    PALCO

    e desmontagem, gentilmente deixo claro que no posso atender e que depois do show estarei disposio. Parece bvio, mas muito comum encontrar msico atrapalhando o trabalho da organizao do evento porque quer ser a estrela para seu pblico no momento errado.Msica um trabalho srio, por vezes divertido, mas envolve muito mais que apenas diverso, pegao ou qualquer outra iluso que se tenha a respeito do mundo artstico. O lado divertido est l, o assdio est l, mas nada disso ter brilho se o artista no se comportar como profissional, responsvel e organizado. Independentemente do palco e de quantas pessoas esto na plateia, a postura deve ser a mesma. Na verdade, nenhum msico chegar nata dos eventos se no pensar dessa forma e ficar eternamente preso ao underground, que legal, mas apenas uma fase na carreira (ou deveria ser).

  • 52 / JULHO 2015 teclas & afins

    cultura hammond por Jose Osorio de Souza

    Barbara Dennerlein: Hammond e tubos

  • JULHO 2015 / 53 teclas & afins

    Dennerlein, Goldings e DeFrancesco: os novos mestresAs novas geraes de organistas, do final dos anos 1980 pra c, tm visitado os antigos mestres, imitando-os e juntando contemporaneidade ao passado

    cultura hammond

    A arte humana eterna, pelo menos enquanto dura. Seus perodos criativos, de pioneirismo e real inovao, tm comeo, meio e fim. Contudo, o talento humano infinito para manter o que foi criado, sempre adicionando algo novo. O que realmente bom sempre apaixona e, mesmo se ficar esquecido por um tempo, volta vida. Entre os novos mestres do Hammond - que nem so to novos assim vamos citar alguns, cuja apreciao no pode faltar a uma cultura musical de qualidade.

    Barbara DennerleinOrganista alem, nasceu em Munique em 1964. Comeou a tocar rgo aos 11 anos de idade, depois de ganhar um instrumento Hohner. Teve aulas com Paul Greisl, que tinha um Hammond B-3, ento se interessou pelo instrumento e instalou um pedalboard em seu Hohner. Aos 13 anos, adquiriu seu primeiro Hammond e aos 15 j tocava em clubes de jazz de primeira linha.Em 1985, quando seu lbum Bebab foi lanado, Dennerlein montou seu prprio selo de gravao e passou a administrar seu trabalho, porque percebeu que no tinha apoio de outras gravadoras - ou

    mesmo da Hammond - que, na poca, estavam mais interessadas em promover modelos de rgos digitais e no o B-3 que ela usava.Conquistou dois prmios German Record Critics pelo trabalho que produziu. Depois, pelas gravadoras Enja Records e Verve Records, trabalhou com Ray Anderson, Randy Brecker, Dennis Chambers, Roy Hargrove, Mitch Watkins e Jeff Tain Watts.Dona de espetacular tcnica com os ps, Dennerlein modificou um pedalboard da Hammond para tocar samples de baixo acstico por meio de tecnologia MIDI e gostou muito do resultado. Resolveu ento alterar tambm os manuais para tocarem timbres de samplers e sintetizadores externos. Essa sonoridade imprimiu caractersticas nicas ao seu estilo de tocar.Tendo inicialmente sido influenciada pelo jazz, comeou a se interessar por msica clssica e litrgica. Gravou com rgo de tubos em 1994 e, em 2002, fez o primeiro de trs lbuns de jazz em rgo de igreja. Desde 2003, tem desenvolvido projetos com orquestras sinfnicas, incluindo colaborao com a Orquestra Filarmnica de Berlim em um rgo Karl Schuke.

  • 54 / JULHO 2015 teclas & afins

    cultura hammond

    Joey DeFrancesco: parceria com Jimmy Smith

  • JULHO 2015 / 55 teclas & afins

    Joey DeFrancescoUm dos mais talentosos artistas de sua gerao, Joey DeFrancesco, organista, cantor e trompetista norte-americano, nasceu em Springfield, Pennsylvania, no ano de 1971, em uma famlia de trs geraes de msicos. Seu pai, o papa John DeFrancesco, organista reconhecido e ganhou o Oklahoma Jazz Hall of Fames Living Legend Award em 2013. Joey DeFrancesco comeou a tocar com 4 anos e aos 5 j dedilhava repertrio de Jimmy Smith. Aos 10, formou uma banda com Hank Mobley e Philly Joe Jones e abriu shows para Wynton Marsalis e B.B. King. Cursou Creative and Performing Arts no Philadelphia High School e aos 16 anos assinou contrato de exclusividade com a Columbia Records. No ano seguinte, fez sua primeira gravao, All of Me, trabalho considerado de grande influncia para a volta do uso do Hammond no jazz. No final dos anos 1980, DeFrancesco juntou-se a Miles Davis e sua banda para uma turn na Europa seguida da gravao do lbum Amandla. No incio dos anos 1990, gravou alguns discos e, aos 18 anos, montou seu prprio quarteto. Com 22 anos, fundou o grupo The Free Spirits com o guitarrista John McLaughlin e o baterista Dennis Chambers, com o qual excursionou e gravou. Em um desses lbuns, Tokyo Live, tambm tocou trompete.Em 1999, DeFrancesco gravou ao vivo, no San Francisco Jazz Festival, o lbum Incredible!. Seu dolo, Jimmy Smith, participou em algumas faixas. Em 2005, DeFrancesco lanou o lbum Legacy, no qual Jimmy Smith tambm colaborou, sendo essa a ltima gravao do mestre do Hammond, que faleceu em 2004, antes do lanamento. DeFrancesco foi indicado ao Grammy Award desse mesmo ano

    pela gravao Falling in Love Again. Em 2009, tocou e produziu o filme Moonlight Serenade e, em 2011, foi indicado a outro Grammy, como Best Contemporary Jazz Album por Never Can Say Goodbye: The Music of Michael Jackson.Vir tuose e exmio improvisador, DeFrancesco recebeu, dentre outras aclamaes, o ttulo de melhor organista B-3 do planeta pela JazzTimes, alm disso tem colaborado com a indstria de instrumentos musicais se envolvendo em projetos e promoes.

    Larry GoldingsNasceu em Boston, Massachusetts, em 1968. Estudou msica erudita at os 12 anos, mas durante o colgio comeou a se encantar com o jazz de Erroll Garner, Oscar Peterson, Dave McKenna, Red Garland e Bill Evans. Na adolescncia, teve aulas particulares com Ran Blake e Keith Jarrett e, em 1986, mudou-se para Nova York. J nessa poca, tocou piano na banda de Sarah Vaughan, Harry Sweets Edison e Al Cohn e, enquanto ainda cursava o colgio, saiu em turn com Jon Hendricks.A partir de 1988, Goldings comea a aparecer regularmente como organista no

    cultura hammond

    Joey DeFrancesco: renascimento do B3

  • 56 / JULHO 2015 teclas & afins

    cultura hammond

    Larry Goldings: compositor e arranjador

  • JULHO 2015 / 57 teclas & afins

    Jose Osrio de SouzaPianista de formao erudita, foi proprietrio de estdio e escola de msica e Suporte Tcnico da Roland Brasil. tecladista da noite, compositor e escritor. Ama histria e tecnologia dos sintetizadores e samplers, mas apaixonado por teclados vintages, blues, rock progressivo e msica de cinema. Atualmente atua como msico gospel na cidade de Itu (SP).

    cenrio musical de Nova York, em vrias bandas e com seu prprio trio, formado com o guitarrista Peter Bernstein e o baterista Bill Stewart. Gravou seu primeiro lbum, Intimacy Of The Blues, em 1991, seguido por mais de uma dezena deles, colaborando tambm como msico de estdio com diversos artistas, em vrios estilos, tanto como organista quanto como pianista.Em 2007, Larry Goldings, Jack DeJohnette e John Scofield receberam indicao para o Grammy na categoria de Best Jazz Instrumental Album individual ou grupo por seu lbum Trio Beyond Saudades (ECM). Msico completo, tem composies gravadas por diversos artistas, como Michael Brecker, Jack DeJohnette, Bob Dorough, Jim Hall, John Scofield, Toots Thielemans, Curtis Stigers, Jane Monheit e Sia Furler, dentre outros, alm criar e arranjar msica para cinema.

    cultura hammond

  • 58 / JULHO 2015 teclas & afins

    arranjo comentado por rosana giosa

    Trs estilos na mesma canoArrasto uma cano diferente das convencionais porque composta de trs partes distintas, cuja soma de ritmos faz dela uma das mais ricas composies do nosso cancioneiro e um exemplo de como uma msica popular pode ser criativa e especial

    Temos observado que as msicas que ouvimos e conhecemos, em geral, se enquadram em um mesmo estilo do comeo ao fim. Desse modo, as classificamos ou rotulamos como samba, bossa nova, cano ou outros gneros que estudamos. Mas nem sempre isso acontece. Um bom exemplo disso Arrasto, uma composio maravilhosa de Edu Lobo e Vinicius de Morais que venceu o 1 Festival da Msica Popular Brasileira da TV Excelsior, em 1965, na voz de Elis Regina. Vale comentar que a explosiva apresentao de Elis surpreendeu a todos pelo contraste entre aquela cano e o minimalismo da bossa nova, movimento musical que vivia seu auge poca e, por isso, essa apresentao foi considerada o marco de um novo estilo na chamada msica popular brasileira. Arrasto uma composio diferente das convencionais porque composta de trs partes distintas. A primeira um misto de baio com algo que no conseguimos rotular, assim como certos ritmos criados especificamente para algumas canes que no foram repetidos com frequncia que justificasse dar a eles nomes ou rtulos. Na segunda parte, claramente identificamos um samba. Na terceira parte, surge uma cano meio chorosa e recitativa. Essa soma de ritmos faz dessa cano uma das mais ricas composies do nosso cancioneiro e um exemplo de como uma msica popular pode ser criativa e especial.

    Introduo - Oito compassos apresentam a levada que ser o apoio da primeira parte. Na metade do primeiro compasso, uma clula de baio, mas se desenvolve de forma rtmica e arpejada na outra metade e no compasso seguinte. Dessa forma, procura dar ao arranjo a sensao de tenso e movimento, muito forte na primeira parte da composio original.A1 - O tema se apresenta acompanhado dessa levada por 16 compassos. B - Nesse momento, o padro de samba nos dois primeiros compassos se alterna com acordes nos dois compassos seguintes criando dessa forma um contraste com o movimento tenso do perodo anterior.C - Mais contrastante ainda essa terceira parte, em que uma cano mais livre, at de andamento, descansa o tema e faz a preparao para, logo em seguida, retomar a tenso e o movimento da parte A.A2 - O tema se repete, agora com algumas novidades para criar mais interesse e tenso, e termina numa coda aclamativa e forte.

  • JULHO 2015 / 59 teclas & afins

    Arrasto

    arranjo comentado

  • 60 / JULHO 2015 teclas & afins

    arranjo comentado

  • JULHO 2015 / 61 teclas & afins

    arranjo comentado

    Rosana GiosaPianista de formao popular e erudita, vive uma intensa relao com a msica dividindo seu trabalho entre apresentaes, composies, aulas e publicaes para piano popular. Pela sua Editora Som&Arte lanou trs segmentos de livros: Iniciao para piano 1, 2 e 3; Mtodo de Arranjo para Piano Popular 1, 2 e 3; e Repertrio para Piano Popular 1, 2 e 3. Com seu TriOficial e outros msicos convidados lanou o CD Casa Amarela, com composies autorais. professora de piano h vrios anos e desse trabalho resultou a gravao de nove CDs com seus alunos: trs CDs coletivos com a participao de msicos profissionais e seis CDs-solo. Contato: [email protected]

  • 62 / JULHO 2015 teclas & afins

    HARMONIA E IMPROVISACAO

    Here Comes the SunNesta edio, faremos a anlise estrutural e harmnica de uma msica muito famosa dos Beatles, composta por George Harrison e lanada no icnico disco Abbey Road, de 1969

    por turi collura

    Um pensamento norteia, desde sempre, meu trabalho, meus estudos, meus cursos de msica: importante aprendermos com quem faz para valer! Em outras palavras, no que diz respeito msica, importante olharmos ao que os grandes fazem. Pode ser um bom improvisador, um bom compositor, um bom intrprete e por a vai. No caso da composio, como podemos aprimorar nossas composies ou aprender coisas novas? Certamente uma ideia interessante analisar as composies que tm se afirmado no mercado musical. Nesta edio, faremos a anlise estrutural e harmnica de uma msica muito famosa

    dos Beatles, Here Comes the Sun, composta por George Harrison e lanada no icnico disco Abbey Road, de 1969. Segundo o prprio autor, a msica foi composta em uma ensolarada manh de primavera, provavelmente de abril aps um longo inverno britnico na casa de Eric Clapton, e gravada entre 7 de julho e 19 de agosto.

    Os msicos da gravaoGeorge Harrison: voz, violo, guitarra e sintetizador Moog;Paul McCartney: vocais e baixo;Ringo Star: bateria;Foram utilizados tambm instrumentos de orquestra: quatro violas, quatro cellos, um contrabaixo, dois piccolos (flautim), duas flautas, duas flautas alto e duas clarinetas. John Lennon no comparece nessa msica, pois estava se recuperando de um acidente de carro.

    A estrutura musical Antes de tudo, sugiro duas ou trs audies repetidas da msica! A primeira vez para curtir o som, ver o lado esttico da cano. Em seguida, sugiro uma segunda audio mais analtica para perceber a forma da msica, e uma terceira para observar os instrumentos e suas tarefas dentro da cano.Aps uma audio analtica da msica, surge a pergunta: qual a frmula de compasso utilizada? 4/4? Percebeu alguma

  • JULHO 2015 / 63 teclas & afins

    HARMONIA E IMPROVISACAO

    frmula de compasso diferente? Mais de uma? Oua novamente!A msica, que est na tonalidade de L maior, basicamente composta por duas partes: estrofe e refro. Comea com uma introduo baseada na estrofe e realizada de forma instrumental nos primeiros oito compassos e, a seguir, cantada ao longo

    de cinco compassos. A introduo termina com o que parece ser a marca registrada da msica, uma sequncia instrumental de dois compassos com um desenho rtmico muito interessante: uma frase com um acento a cada trs notas que cria uma sensao de iluso polirrtmica. Veja a estrutura da introduo:

    Aps a introduo, a cano comea pra valer sobre as palavras Little darling (0:30m) apresentando a estrofe, que ser repetida duas vezes. A harmonia dessa seo apresenta, basicamente, os acordes I, IV, V e uma dominante secundria (B7, V7/V) que no resolvida. So 16 compassos, mais um

    compasso que liga as partes. A melodia baseada na escala pentatnica de l maior, utilizando apenas as notas l-si-d#-mi-f#. Veja a estrutura da estrofe, at a concluso da casa 1, observando a harmonia, as clulas meldicas e, no final, a frase instrumental que chamei de marca registrada da msica:

  • 64 / JULHO 2015 teclas & afins

    HARMONIA E IMPROVISACAO

    Aps a repetio da estrofe, a msica prossegue de maneira interessante, diferente. Trata-se de uma ponte que prepara a chegada do refro, baseada na estrutura deste ltimo.

  • JULHO 2015 / 65 teclas & afins

    HARMONIA E IMPROVISACAO

    Temos aqui duas coisas muito legais para observar: uma sequncia harmnica diferente (bIII bVII IV I), ou seja, uma sequncia de acordes que procede por quartas descendentes at o I grau e que ainda se estende para mais uma quarta descendente at o V grau. A segunda coisa que observamos uma mudana na

    frmula de compasso (e que mudana!): 3/8; 5/8; 4/4; 2/4. Muito interessante, no? E como soa bem!A imagem a seguir mostra a estrutura do refro, que comea com poucos compassos repetidos por quatro vezes, tipo isto: Gostou dessa coisa diferente? Quer ouvir de novo? Vamos l, quatro vezes!.

    Moog Modular: George Harrison foi um dos primeiros msicos de rock a utilizar o Moog em gravaes. esquerda, ele explora o instrumento com Ringo Starr.

  • 66 / JULHO 2015 teclas & afins

    HARMONIA E IMPROVISACAO

    Turi ColluraPianista, compositor, atua como educador musical e palestrante em instituies e festivais de msica pelo Brasil. Autor dos mtodos Rtmica e Levadas Brasileiras Para o Piano e Piano Bossa Nova, tem se dedicado ao estudo do piano brasileiro. autor, tambm, do mtodo Improvisao: prticas criativas para a composio meldica, publicado pela Irmos Vitale. Em 2012, seu CD autoral Interferncias foi publicado no Japo. Seu segundo CD faz uma releitura moderna de algumas composies do sambista Noel Rosa. Entre outras atividades, Turi Coordenador Pedaggico do site www.terradamusica.com.br onde ministra os cursos online de Piano Blues & Boogie, e de Improvisao e Composio Meldicawww.turicollura.com - www.terradamusica.com.br

    Aps as quatro repeties, a quinta vez leva para a rea da dominante E7 (observe que podemos ler o acorde Bm7/E como um E7sus4,9), que prepara a volta estrofe. Aps a reapresentao desta ltima, vem o Coda, composto por elementos apresentados ao longo da msica e agora dispostos de maneira um pouco diferente. O Coda termina com mais uma sequncia de acordes ligados por quartas descendentes (bIII bVII IV I).

    ConcluindoA anlise de Here Comes the Sun nos leva a observar detalhes compositivos muito interessantes. A receita usada por George Harrison para compor essa msica de sucesso contempla poucos elementos, mas muito bem elaborados: melodia simples; mtrica irregular; harmonia diferente no refro, que utiliza dois acordes emprestados pela tonalidade homnima menor e ligados em uma sequncia de quartas descendentes. Tudo, como se diz, bem bolado. Parece-me que podemos aproveitar para perceber um segredinho: a genialidade pode estar na simplicidade. At a prxima!

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