musicoterapia e a síndrome de down
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃOCENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS
CURSO DE MÚSICA
MUSICOTERAPIA E A SÍNDROME DE DOWN: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA NA CLÍNICA MIGUEL ARCANJO
KLEITON TEIXEIRA MENDES
São Luís - MA2015
KLEITON TEIXEIRA MENDES
MUSICOTERAPIA E A SÍNDROME DE DOWN: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA NA CLÍNICA MIGUEL ARCANJO
KLEITON TEIXEIRA MENDES
Trabalho de Conclusão apresentado ao Curso de Licenciatura em Música da Universidade Federal do Maranhão, como requisito parcial para a sua conclusão.
Orientadora: Prof.ª Drª. Maria Verônica Pascucci
São Luís - MA2015
Mendes, Kleiton Teixeira
Musicoterapia e a síndrome de Down: um relato de experiência na clínica
Miguel Arcanjo/ Kleiton Teixeira Mendes. – São Luís, 2015.
66f.
Orientadora: Profa Dra Maria Verônica Pascucci
Monografia (Graduação) – Universidade Federal do Maranhão, Curso de
Licenciatura em Música, 2015.
1. Música 2. Deficiência 3. Educação inclusiva 4. Desenvolvimento I. Título
CDU 78:376
KLEITON TEIXEIRA MENDES
MUSICOTERAPIA E A SÍNDROME DE DOWN: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA NA CLÍNICA MIGUEL ARCANJO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Licenciatura em Música da Universidade Federal do Maranhão, como requisito parcial para a obtenção do grau de Licenciado em Música.
São Luís, ______ de ______________________de 2015
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Verônica Pascucci
Departamento de Artes - UFMA
________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Thelma Helena Costa Chahini
Departamento de Educação II – UFMA
________________________________________________
Prof.ª Me. Risaelma de Jesus Arcanjo Moura Cordeiro
Coordenação do Curso Música Licenciatura - UFMA
São Luís - MA2015
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus, autor da nossa existência, por nortear nossos
caminhos dando – nos sabedoria, força e fé para enfrentar os obstáculos surgidos
durante a nossa caminhada acadêmica.
A minha família, que é o meu alicerce de vida, pelo incentivo, força e coragem
em todos os momentos difíceis desta caminhada, em especial ao meu filho Davi.
Ao meu pai in memória.
E em especial a minha professora e orientadora Maria Verônica Pascucci,
nosso reconhecimento e gratidão pelos ensinamentos, orientação, amizade e
contribuições para que chegasse até aqui.
A todos o “meu” muito obrigado!
“Não existe um caminho para a felicidade, a felicidade é o caminho”.
Mahatma Gandhi.
RESUMO
MUSICOTERAPIA E A SÍNDROME DE DOWN: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA NA CLÍNICA MIGUEL ARCANJO
O referido trabalho abordará questões sobre a utilização da Música como ferramenta
de Integração e Inclusão, Terapia, Educação e Socialização de pessoas com
deficiência intelectual, no caso, a síndrome de Down que foi objeto de estudo
durante as aulas de Estágio Obrigatório concedido pela Universidade Federal do
Maranhão (UFMA), em 2013, na cidade de São Luís do Maranhão. A pesquisa tem
caráter qualitativo, baseada em coleta de dados e por observações durante as aulas,
fazendo ainda um apunhado histórico-bibliográfico sobre legislação da Educação
Inclusiva e Educação Musical no Brasil, além de mencionar o papel da família, da
escola e do professor na fixação do aprendizado e construção de valores, cujo
objetivo de fomentar novas propostas pedagógicas e adaptações, que facilitarão na
reprodução e fixação do conteúdo musical. Assim, é importante que todos participem
do processo de estimulação adequada e efetiva das estratégias que garantem o
desenvolvimento das habilidades das crianças com síndrome de Down, lhes
garantindo inclusão social e cidadania.
Palavras-chave: Música. Deficiência. Educação Inclusiva. Desenvolvimento.
ABSTRACT
MUSIC THERAPY AND DOWN SYNDROME: NA EXPERIENCE REPORT IN CLINICAL MIGUEL ARCANJO
This work will address issues on the use of music as Integration and Inclusion tool,
therapy, education and socialization of people with intellectual disabilities in the case,
a Down syndrome who has been the object of study during Mandatory Training
classes provided by the Federal University Maranhao (UFMA) in 2013 in the city of
Sao Luis. The research is qualitative, based on data collection and observations in
class, still doing a historical-bibliographical apunhado on legislation of Inclusive
Education and Music Education in Brazil, as well as mention the role of the family,
the school and the teacher in learning fixing and building values, which aims to
promote new educational proposals and adaptations that will facilitate the
reproduction and fixation of musical content. It is therefore important that all
participate in an appropriate and effective stimulation process strategies that ensure
the development of skills of children with Down syndrome, ensuring their social
inclusion and citizenship.
Keywords: Music. Deficiency. Inclusive education. Development.
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO...................................................................................................10
2 JUSTIFICATIVA .............................................................................................. 14
3 OBJETIVOS .................................................................................................... 16
3.1 Objetivo geral ............................................................................................ 16
3.2 Objetivos específicos ..................................................................................................16
4 MARCOS HISTORICOS ................................................................................. 17
4.1 Inclusão e Integração.................................................................................28
4.2 - A importância da música na vida das pessoas.........................................31
4.3 Musicoterapia.............................................................................................33
4.4 Identidade Sonora......................................................................................34
5 SÍNDROME DE DOWN ................................................................................... 36
5.1 As Trissomias.............................................................................................36
5.2 Características e Tratamento.....................................................................37
5.3 Estimulando a Criança Down.....................................................................38
5.4 A Aprendizagem da pessoa com Síndrome de Down................................40
5.4.1 A importância do brincar para os portadores da síndrome de Down......42
5.5 A criança Down no ambiente escolar.........................................................43
6 A EDUCAÇÃO MUSICAL NO BRASIL .......................................................... 45
6.1 Educação Musical para pessoa com síndrome de Down...........................46
6.2 O papel do professor..................................................................................49
6.3 Práticas pedagógicas.................................................................................51
6.3.1 Adaptações e execuções........................................................................53
7 METODOLOGIA ................................................................................................................. 55
8 NOSSAS EXPERIÊNCIAS ...............................................................................57
8.1 Considerações Prévias .............................................................................. 57
8.2 No universo da sala de aula....................................................................... 61
9 CONCLUSÃO ................................................................................................. 66
REFERÊNCIAS .............................................................................................. 67
ANEXOS ......................................................................................................... 72
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho surgiu das experiências vividas em sala de aula
durante o estágio obrigatório concedido pela Universidade Federal do Maranhão
no Centro Especializado Miguel Arcanjo, que cuida de crianças especiais na
cidade de São Luís/MA. O Centro de Ensino Especializado Miguel Arcanjo, tem
como objetivo desenvolver habilidades, trabalhando na parte educacional
preparando essas crianças para serem inseridas na educação regular, quando
possível, e aguçar nelas outras inteligências através das artes e terapias.
A Clínica conta com o acompanhamento psicopedagógico que
permite aos profissionais envolvidos aprender de forma diferenciada o
entendimento de todas as dificuldades da aprendizagem e a compreensão das
situações encontradas no dia a dia das crianças por eles atendidas. As atividades
escolares são trabalhadas de forma lúdica, com jogos, brincadeiras, desenhos,
entre outros recursos disponíveis. A referida clínica trabalha com várias
síndromes e deficiências, como por exemplo: Síndrome de Asperger, Síndrome
de Down, Altas Habilidades, Baixa Visão, Baixa Audição, Baixa Motricidade,
Espectro Autismo (leve, moderado e grave), Transtorno do Déficit de Atenção
(TDH), Hiperatividade e Deficiência mental.
O convívio com essas crianças nos instigou a seguir adiante nas
pesquisas sobre o conteúdo pedagógico relacionado às aulas de música para
crianças especiais fundamentadas em pesquisa bibliográfica. Notamos que
precisaria de mais estudo sobre o assunto, pois queríamos oferecer mais durante
as aulas de música, mas nos faltava o suporte técnico que embasasse a práxis.
O primeiro passo foi conseguir reunir materiais dos principais
autores e pesquisadores da área de educação especial, além de participar de
cursos de formação especifica. Recebemos apoio técnico por parte dos
funcionários da Clínica Miguel Arcanjo o que nos permitiu dar continuidade ao
trabalho de educação musical especial, isto é, os conteúdos se tornaram mais
dinâmicos e tiveram outro efeito, vencemos as barreiras do preconceito, inclusive
os nossos.
Após profundas reflexões, uma pergunta era evidente em nossas
mentes: quais as práticas musicais mais adequadas às crianças com Síndrome
de Down da Clínica Miguel Arcanjo?
Para responder a essa pergunta pesquisamos o papel da música na
Clínica Miguel Arcanjo não só como conteúdo pedagógico, mas também como
facilitadora do processo de aprendizagem e como instrumento para tornar a
inclusão mais acessível, oportunizando a convivência com os diferentes gêneros,
possibilitando novas abordagens e adaptações de conteúdo.
Assim, este trabalho objetiva investigar a respeito das práticas
musicais mais adequadas às crianças com síndrome de Down. Pretendemos
abordar a música como facilitadora no processo de aprendizagem e mediadora da
socialização dessas crianças. Para tanto, iremos nos referir, no primeiro capítulo,
às generalidades e aspectos históricos da educação inclusiva. No segundo
capítulo nos concentraremos na síndrome de Down, suas características e suas
possibilidades terapêuticas. No terceiro, abordaremos os aspectos sobre a
Educação Musical que favorecem a integração, o desenvolvimento e a
socialização das pessoas com deficiência, além de mencionar o papel do
professor e possíveis adaptações para educação musical especial. No quarto e
último capítulo, falaremos da experiência adquirida ao lecionar para crianças
portadoras da síndrome de Down.
A música pode provocar reações no ser humano, muitas das vezes
inexplicáveis, ou seja, dependendo da composição, calmaria e euforia se
misturam em meio a batidas rítmicas que conduzem a um bailado de harmonias e
melodias de fácil absorção, principalmente das massas.
A história da humanidade nos conta que tribos nômades (Pré-
história) já desenvolviam percussão corporal e imitavam os sons da natureza. O
controle da altura, intensidade e do timbre da voz humana, ocorreu no surgimento
do Homo Sapiens. Este período culmina com o desenvolvimento das funções
cognitivas, há cerca de 70.000 anos. No período Paleolítico a cerca 40.000 anos
surgem os primeros instrumentos musicais que imitavam os sons da natureza. É
neste período que a linguagem falada se desenvolve e o canto começa a ibro
força. (FILHO 2014, p. 11).
Aos poucos instrumentos como flautas e tambores vão surgindo e
sendo registrados através de pintura rupestres em Argiére, França, pintura
produzida por volta de 10.000 a.C. Por volta de 5.000 a.C com o manuseio de
ibro, instrumentos de bronze e cobre com execução mais refinada. Surgem as
primeiras civilizações musicais, dotadas de sistemas de escalas, harmonia e
melodías.
Na civilização grega, a música era parte fundamental da formação
educacional do cidadão, pois acreditavam que ela moldava o caráter singular
desses indivíduos, direcionando-os a seguir seu papel mantendo o equilíbrio
diante da sociedade. Questões políticas, sociais e morais, eram relacionadas a
normas melódicas, rítmicas e poéticas, frequentemente comparadas a normas
discutidas pelo Estado grego, caracterizando uma base estritamente harmônica
entre música e política. De acordo com Filho (2014, p.11) apud Candé (2001, p.
38):
Para Platão a música expressava as relações entre as progressões musicais e os movimentos da alma. As formas de expressão rítmicas, melódicas e poéticas eram determinadas por normas que conduziam o indivíduo à essência desses princípios.
O culto aos deuses Apolo e Dionísio eram evidenciados em suas
composições, onde calmaria, elevação espiritual, entusiasmo e excitação, eram
representados respectivamente por esses dois mitos.
Em 145 A.C a Grécia é conquistada por Roma que detém para si
toda esta vivencia musical, apreciando o virtuosismo das músicas gregas. Aos
pouco foram introduzindo rítmica e uniformidade às melodias. A música enquanto
arte natural aprimora a concepção de reflexão determinando o comportamento
humano.
O Classicismo foi marcado pelos filósofos e pensadores que
escreviam diversas obras relacionando a música, às ciências e fenômenos
naturais. De acordo com FILHO (2014, p.17), Boecio (480 – 526), baseado na
teoría de Ptolomeu (90-168) escreveu diversas obras e classificou a música em
três categorías: a Música Mundana que esta diretamente ligada aos fenómenos
naturais, movimiento dos astros em volta da terra, definição das estações do ano,
a Música Humana que establece a harmonia entre corpo e alma, razão e
sensibilização e a Música Instrumentalis, a música que imitava a natureza.
No século XX, as músicas tornam-se ferramentas de protesto, nas
quais suas letras tinham o intuito de atingir ditadores e opressores da época.
Contudo, durante as grandes guerras, hospitais e centros de reabilitação
utilizavam música europeia para entreter os doentes e feridos que ali estavam,
descobriu-se uma nova atribuição para a música, o tratamento terapêutico.
Acreditava-se que sons agradáveis melhoravam a autoestima, diminuía o trauma
do pós-guerra e acelerava o tempo de recuperação dos pacientes, observamos o
surgimento de uma nova especialidade, a Musicoterapia.
A educação especial que é uma esfera da educação geral está
voltada para Pessoas com Necessidades Especiais, utiliza muitas terapias para o
atendimento individual de seus educandos. No Brasil a educação especial é
regulamentada pelo Art. 58 da Lei de Diretrizes Básicas nº 9393 de 20 de
dezembro de 1996. “(...) entende-se por educação especial, para os efeitos desta
Lei, a modalidade de Educação escolar, oferecida preferencialmente na rede
regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais”
(SIMAO, 2014).
2 JUSTIFICATIVA
Este trabalho justifica-se pela importância de uma reflexão acerca de
como ocorre a educação musical especial na atualidade, ampliar o conceito de
inclusão e traçar um paralelo entre a musicoterapia (BENENZON, 1985),
educação especial (ILARI, 2006) e da educação musical (GAINZA, 1988) na
clínica Miguel Arcanjo. Em seguida, considerar o desenvolvimento da criança
portadora de necessidades especiais, mais precisamente a criança portadora de
Síndrome de Down, onde iremos ressaltar a importância da música nos processos
de ensino e de aprendizagem, para o envolvimento de todos os Portadores de
Necessidades Especiais (PNE’s) nas atividades musicais, de forma que a mesma
se torna uma prática social importante.
A música é capaz de proporcionar experiências de participação e
colaboração, valorizando a contribuição década sujeito participante da sua
prática. A palavra chave nos processos de aprendizagem coletiva musical,
portanto, é a cooperação. A experiência do fazer, interpretar e apreciar enriquece
o mundo do aluno com necessidades educativas especiais em termos lúdicos e
estéticos. Através da musicalização, da compreensão dos elementos musicais
podem-se trabalhar as questões de percepção, psicomotricidade, ritmo, entre
outras.
Segundo Santos (2000, p.103), “não se pode subestimar a
necessidade humana de beleza sem mutilar o desenvolvimento das pessoas”. Ao
proporcionar à criança a exploração do prazer de brincar, cantar, conhecer e
pesquisar o mundo em suas múltiplas possibilidades ampliamos as possibilidades
desses indivíduos de participarem cooperativamente, do meio social em que se
encontram, inseridos pela vivência de situações que facilitem trocas nos
diferentes níveis - afetivo, linguístico, motor e intelectual.
A partir da concepção da Epistemologia Genética de Jean Piaget, a
qual entende que as necessidades humanas se desenvolvem na interação entre
sujeito e objeto, acredita-se que todos os indivíduos possuem potencialidades e
estas devem ser exploradas. Segundo Becker (2001):
[…] o sujeito progressivamente se torna objeto, se
faz objeto e é exatamente nessa medida que ele se subjetiva, é
nessa precisa medida que ele constrói o mundo, que ele transforma
o mundo, que ele se faz sujeito. Essa medida depende estritamente
das possibilidades que o meio social lhe dá, que o meio social lhe
proporciona (BECKER, 2001, p.37).
Propiciar às pessoas que possuem necessidades especiais a
vivenciarem situações de troca nos níveis afetivo, linguístico, intelectual e motor,
bem como, participarem de forma cooperativa em grupos escolares em que se
encontram inseridos, são ações fundamentais para a inserção destas nos grupos
sociais de sua convivência. Constata-se que a música pode envolver e afetar
várias facetas do ser humano e, devido à grande diversidade de suas aplicações
clínicas, a musicoterapia pode ser utilizada para se obter um grande espectro de
mudanças terapêuticas (BRUSCIA, 2000), ora produzida e vivenciada por
pessoas com necessidades especiais, levando em considerações quais são as
influências recebidas pelos principais pesquisadores em musicoterapia.
3 OBJETIVOS
3.1 Objetivo Geral
Investigar como a música influência o desenvolvimento cognitivo em
crianças com síndrome de Down da clínica Miguel Arcanjo.
3.2Objetivos Específicos
Fazer observações das crianças na clínica a fim de verificar o
comportamento das mesmas;
Investigar na Clínica Miguel Arcanjo, as principais práticas pedagógicas
musicais, métodos, abordagens, dentre outros;
Relatar como o ensino da música está inserida na Clínica Miguel Arcanjo.
4 MARCOS HISTÓRICOS
O capitulo abordará os acontecimentos históricos referentes à
inclusão e exclusão de pessoas portadoras de deficiências traçando um
panorama e questionamentos no que diz respeito ao surgimento da legislação
referente a Educação Especial e Inclusão, bem como suas funcionalidades no
Brasil e no mundo.
Na história da humanidade, culturas antigas como a grega e
espartana tratavam os deficientes como objeto descartável, muitos deles
tornaram-se atração para a corte proporcionando-lhes diversão e estranheza por
parte de todos.
Com a chegada do Renascimento, o fanatismo religioso dá lugar ao
antropocentrismo, repercutindo nas artes e ciências, a preocupação com o bem-
estar humano desencadeou uma série de pesquisas para formação e tratamento
de doenças, as artes, iniciaram o processo, sendo a música, a que mais se
destacava. Tínhamos dado o início ao tratamento musicoterápico.
A sociedade em geral, despertou profundo interesse por essas
pessoas desprezadas por anos. Teríamos o então surgimento de iniciativas em
benefício da educação e reabilitação das pessoas com necessidades especiais.
Ao final do século XIX, surge à educação especial, em seguida no início do século
XX, surge a educação inclusiva visando um tratamento digno e qualitativo com
base em terapias ocupacionais para essas pessoas marginalizadas por serem
diferentes. De acordo com Sassaki (2002, p. 41):
É fundamental equiparmos as oportunidades para que todas as pessoas, incluindo portadoras de deficiência, possam ter acesso a todos os serviços, bens, ambientes construídos e ambientes naturais, em busca da realização de seus sonhos e objetivos.
As pessoas estão se conscientizando acerca do tratamento de
pessoas com necessidades especiais seja ela: física, cognitiva ou sensorial, pode
e devem gozar de uma vida normal e usufruir de sua cidadania geral. Os
preconceitos existem mesmos com os avanços das políticas inclusivas no Brasil e
no mundo, atitudes assim não são bem-vindas.
Segundo Filho (2014, p.19), “a música sempre influenciou no
comportamento humano desde os tempos mitológicos, e sua utilização para fins
terapêuticos eram debatidos por vários filósofos gregos, dentre eles Platão e
Aristóteles, pois acreditavam que a música provocava reações nas pessoas, ora
estimulava coragem, ora agressividade”. Esta visão reflexiva foi por muito tempo
sustentado, no entanto, com o passar dos anos, observou-se que a música estava
perdendo o seu caráter religioso, levando a outras funções, como por exemplo, a
terapia.
Inúmeros tratamentos foram desenvolvidos para melhorar a
qualidade de vida das pessoas com necessidades educacionais especiais, tais
como: remédios, cirurgias, psiquiatria, e as quatro linguagens artísticas. Sendo a
música que demonstra maiores resultados significativa.
A música é parte complementar da cultura dos povos, sendo marca
registrada na história da humanidade, obedecendo à ordem cronológica de cada
época. Boa parte das civilizações tinham manifestações culturais musicais,
embora não tivesse esse objetivo, música desempenhava o papel inicialmente
artístico. Dependendo do contexto que está inserida suas utilidades variam
constantemente, que vão da arte, militarismo, educacional e terapêutica.
A inclusão social das pessoas com deficiência nada mais é que
trazê-los a vida social, econômica e política garantindo o respeito dos seus
direitos perante a Sociedade, o Estado e Poder Público.
A escola historicamente se caracterizou pela visão da educação de
um grupo privilegiado delimitando a escolarização através de práticas arcaicas de
ensino, embasado em políticas que evidenciavam um padrão de normalidade.
Com a democratização da escola, as pessoas consideradas diferentes, eram
inclusas no ensino regular, ao qual não possuía estruturas (físicas e humanas)
para recebê-los, pois necessitavam de um acompanhamento especializado para
que o atendimento tivesse mais eficácia, as salas de recursos ou especiais, que
embora estivessem dentro de escolas regulares, eram destinadas a alunos
portadores de deficiências, sobretudo de aprendizagem iniciando o processo de
segregação e exclusão que consequentemente findava com o fracasso escolar.
Louro (2012, p. 27) diz, “[...] a pessoa com deficiência tem direito a convivência
não segregada e ao acesso imediato e continuo aos direitos disponíveis aos
demais cidadãos. No entanto para que isso aconteça, é necessário que haja um
suporte (social, econômico, físico ou instrumental), um meio que garanta um
acesso a todo e qualquer recurso da comunidade”.
Visando a melhor condição o para os alunos portadores de
deficiência, os direitos humanos, fundamentado no conceito de cidadania,
elaboram documentos legais que assegurassem direitos e deveres como
cidadãos, acabando com a distinção e toda forma de preconceito aos alunos em
razão de características intelectuais, físicas, culturais e linguísticas, entre outras
que fazem parte do modelo tradicional de educação escolar.
Com a criação das Organizações das Nações Unidas (ONU) a
questão da deficiência passa a ser discutida e vários países criam políticas
educacionais e sociais na tentativa de resolver o problema.
Muitos países como Estados Unidos, Inglaterra e França
desenvolveram programas de serviços educacionais e de reabilitação para
deficientes físicos ainda no século X. Esses serviços priorizavam os feridos de
guerra, no entanto se viu a possibilidade de atender parte da população. A área
da educação foi ponto o de partida para o processo de transformação, pois
acreditavam que os pilares educacionais precisavam de um reforço, ou seja, uma
nova modalidade de ensino surgia priorizando as necessidades: educacionais,
cognitivas e motoras de seus alunos, no momento em que muitos desses países
estavam em plena ascensão econômica.
A educação regular cedeu lugar à educação especial, que se
aperfeiçoou como atendimento educacional especializado, buscando novas
modalidades de ensino que levaram a criação de instituições especializadas,
escolas especiais e salas especiais com um corpo docente especializado para
atender alunos com necessidades especiais.
A educação Inclusiva, que vem sendo divulgada por meio de Educação Especial, teve sua origem nos Estados Unidos, quando a lei pública 94.142, de 1975, resultado dos movimentos sociais de pais e alunos com deficiência, que reivindicavam o acesso de seus filhos com necessidades educacionais especiais às escolas de qualidades. (ROGALSKI, 2010, p. 7 apud STAINBAK E STAINBAK, 1999, p.36).
Nos Estados Unidos, nas décadas de 1950 e 1960, pais de alunos
portadores de deficiência, fundaram Organizações Não Governamentais (ONG´s)
que almejavam uma educação de qualidade para seus filhos, dos quais essas
ONG´s desenvolveram programas educacionais para os deficientes a fim de
inclui-los em salas de aulas regulares apoiados a vários serviços especializados,
esses programas foram chamados de mainstreaming1.
Durante a história da Educação Especial norte americana, foi
observado que a desinstitucionalização dos manicômios era uma alternativa para
um novo modelo de serviços terapêuticos, assim como o tratamento médico,
atendimento assistenciais e educacionais. Muitos dessas atividades tinham o
objetivo de garantir livre acesso aos serviços fundamentais de saúde, educação e
segurança social.
Na década de 1960, nos países nórdicos, iniciou-se a
sistematização aplicada aos portadores de deficiência. Este princípio se fortaleceu
com desinstitucionalização dos manicômios, essas instituições eram
estigmatizadas por marginalizar da sociedade os portadores de necessidades
especiais. Dessa forma o atendimento e tratamento dado aos doentes mentais
seguiriam novos parâmetros trazendo um novo olhar para esses seres
marginalizados por décadas.
No mesmo ano, na França, na década de 1960, a Pedagogia
Institucional ou Pedagogia Revolucionária embasavam-se nos ideais freinetiano2 e
no grupo dos Situacionistas Internacionais. Estes últimos foram um dos grupos
mais importantes na base da composição da Revolução de Maio de 1968, que irá
desencadear, no mundo todo, uma nova forma de ver a cultura e a Educação.
Esse modelo avançado de educação tem o objetivo de eliminar o
tradicionalismo na escola, dando um novo sentido as salas de aula, respeitando
as crianças do jeito que elas são. Essa pedagogia estimula a construção do
caráter, incitando-os a agir e interagir em seu meio, questionando-se sobre seu
papel na sociedade.
Em 1970, a fusão da Educação Especial e Educação Regular,
culminou em uma série de programas embasados no atendimento especializando,
aprimorando e fortificando essa nova modalidade de ensino. Com o intuito de
ampliar esse modelo de educação, movimentos em favor dos direitos humanos
1 O termo inglês literalmente traduzido como “corrente principal”, significa o pensamento ou gosto da maioria de uma determinada população.2 Teoria pedagógica humanista baseada nos conceitos do teórico francês Célestian Freinet (1896-1966).
tornam-se mais eficientes a partir da Declaração Mundial sobre Educação para
Todos de 1990, e respectivamente, a Declaração de Salamanca de 1994 sendo
esse um dos mais importantes documentos de âmbito internacional, referente às
políticas de inclusão.
A Convenção de Guatemala (1999) determina a eliminação de toda
e qualquer forma de descriminação, diferenciação, exclusão ou restrição contra a
pessoa portadora de deficiência e garantia de seus direitos enquanto cidadão.
Os esforços referidos à inclusão estiveram e estão ainda hoje
diretamente ligados a movimentos ou associações de pais de crianças com
deficiência em todas as partes do mundo, esses movimentos visavam convencer
a sociedade e as autoridades públicas a incluírem seus filhos em situações
comuns de ensino amparados por lei.
No Brasil o desenvolvimento da educação especial se dá no século
XIX, quando alguns educadores inspirados com experiências norte-americanas e
europeias, se dispuseram a organizar e a programar ações isoladas e particulares
para atender a pessoas com deficiências físicas, mentais e sensoriais (BRASIL,
2015).
O século XX no Brasil ficou marcado como um período caracterizado
inicialmente pela identificação da deficiência ou síndrome e encaminhamento para
tratamento exclusivo, ou seja, com o especialista ao qual foi indicado.
Em 1906, as escolas públicas do Rio de Janeiro começaram a atender alunos com deficiência mental. Em 1911, foi criada o Serviço de Higiene e Saúde Púbica do Estado de São Paulo, a inspeção médico-escolar, que viria trabalhar conjuntamente como Serviço de Educação na defesa da Saúde Pública (AGUIAR, 2015).
No primeiro momento, a medicina enfatizava o atendimento clínico
especializado aliado à educação escolar, paralelamente foram fundadas as
instituições mais tradicionais de assistência às pessoas com deficiência mental,
físicas e sensoriais que seguiram o exemplo e o pioneirismo do Instituto dos
Meninos Cegos, fundado na cidade do Rio de Janeiro, em fins de 1854. Assim, a
evolução dos serviços de educação especial caminhou de uma fase inicial,
primeiramente assistencial, visando apenas ao bem-estar da pessoa com
deficiência para uma segunda, em que foram priorizados os aspectos médico e
psicológico.
No mesmo ano o Instituto Benjamin Constant adota o sistema
Braille, que consiste em um sistema internacional de leitura com o tato para cegos
em alto relevo, inventado em 1827 na França por Louis Braille, que após se
machucar com um objeto pontiagudo na oficina do pai, perde a visão devido a
uma grave infecção. A alfabetização pela grafia Braille se mostra eficiente desde
sua criação, passando por diversas adaptações e aperfeiçoamentos para que seu
método seja expandido e melhorando para atender as normas de educação
inclusiva de deficientes aos modelos nacionais e internacionais de educação.
A Musicografia Braille é o modelo de escrita utilizado mundialmente
pelos cegos elencados ao sistema Braille cujo objetivo e facilitar o acesso de
músicos cegos ou de baixa visão às partituras musicais.
Nas décadas de 1940 e 1950 as instituições como a Sociedade
Pestalozzi do Brasil e APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais)
cresciam de forma que cada parte do Brasil tivesse um representante.
A partir da década de 1960 e 1970 aparecem programas voltados
para integração escolar da pessoa portadora de deficiência, como alternativa de
institucionalização. O termo maestreaming foi traduzido no Brasil por Integração.
Em nosso país a integração escolar consistia em colocar o aluno
com deficiência em classe especial na escola regular.
Esse cenário veio consolidar-se por meio da promulgação da Lei de Diretrizes e Bases – LDB (Lei nº4. 024/61), que explicitou o compromisso do poder público brasileiro com a educação especial. Nesse mesmo momento ocorria um aumento crescente das escolas públicas no país. (AGUIIAR, 2015).
A lei nº 5.692/71 altera a LDBEN de 1961, ao definir “tratamento
especial” para os alunos com “deficiência físicas, mentais, os que se encontra em
atraso, considerável quanto à idade regular”. Matriculados obrigatoriamente no
ensino regular.
Porém, não oferece um sistema de qualidade capaz de suprir as
necessidades educacionais especiais levando-os a uma única alternativa de
encaminha-los para as classes e escolas especiais.
O direito a educação é reforçado com o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), de 1990, a Declaração Mundial de Educação para Todos e a
Declaração de Salamanca do mesmo ano, passam a atuar fortemente na
elaboração das políticas públicas da educação inclusiva. A Lei de Diretrizes
Básicas de 1996 em seu capitulo V, diz:
Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais (MEC, 2015).
A Lei de Diretrizes Básicas (LDB) de 1996 e da Convenção da
Guatemala ambos os documentos fazem referência a um conceito de educação
que tem como base torná-la acessível a todas as pessoas e com isso atender as
exigências de uma sociedade que vem combatendo preconceitos e discriminação
de pessoas, povos e culturas.
Em 2001, a Resolução CNE/CEB no art. 2º de acordo com as
Diretrizes Nacionais para a Educação Especial para Educação Básica garante a
matricula de portadores de deficiência na rede regular de ensino e qualifica como
crime a quem se recusar.
Seguindo a visão inclusiva, a resolução CNE/CP no 1/2002, que
estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de professores
da Educação Básica, define que as instituições de ensino superior devem
organizar em sua grade curricular, formação adequada voltada para atender as
diversidades dos alunos especiais.
A Lei nº 10.436/02 reconhece a Língua Brasileira de Sinais Libras
como meio legal de comunicação e expressão, determinando o uso e difusão por
instituições de ensino, no mesmo ano a Portaria de nº 2.678 de 2002 do MEC
aprova as normas para uso, o ensino, a produção e a difusão do sistema Braile
em todas as modalidades de ensino.
Em 2003, o MEC lança o Programa Educação Inclusiva: direito a
diversidade, que visa modificar os sistemas de ensino para inclusivo, promovendo
em escala nacional a formação de gestores educadores, garantindo direito a
escolarização e atendimento educacional especializado. Respectivamente, em
2004, o Ministério Público Federal ratifica os conceitos e normas mundiais para a
inclusão, reiterando os direitos e os benefícios da escolarização de alunos com e
sem deficiência nas turmas comuns de ensino regular.
Para regulamentar a Lei nº 10.436/02 o decreto nº 5.626/05, visando
o acesso à escola dos alunos surdos, a inclusão da disciplina de Libras, bem
como a formação e certificação de professor e instrutor/interprete de Libras, o
ensino da Língua Portuguesa com segunda língua para os alunos surdos e a
organização da educação bilíngue no ensino regular.
Posteriormente, em 2006 é realizado no Brasil apoiada pela
Organização das Nações Unidas (ONU), a Convenção sobre os Direitos das
Pessoas com Deficiência determinando que o modelo de Educação Inclusiva seja
difundido em todos os níveis de ensino, principalmente em ambientes que
ampliem a questão social que tem como objetivo inclusão sem exclusão, além do
acesso a um ensino gratuito e de qualidade.
O Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos foi lançado em
parceria da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Ministérios da Educação e
da Justiça em parceria com a Organização das Nações unidas para a Educação
em Direitos Humanos que objetiva contemplar no currículo da educação básica,
temas que abordassem os ideais de inclusão.
Em 2008 a segregação chega ao fim, já que a Política Nacional de
Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva define que todos devem
estudar em escolas comuns.
O número de matrículas em salas regulares de ensino aumentou
consideravelmente em 2008, demonstrando um comprometimento dos pais em
relação ao futuro dos filhos portadores necessidades especiais. A escola comum
se torna desafiadora estimulando-os ao máximo demonstrando o quanto são
capazes. Ao se referir à educação do deficiente no Brasil, a professora Gilberta de
Martino Januzzi, afirma:
A partir de 1930, a sociedade civil começa a organizar-se em associações de pessoas preocupadas com o problema da deficiência: a esfera governamental prossegue a desencadear algumas ações visando a peculiaridade desse alunado, criando escolas junto a hospitais e ao ensino regular, outras entidades filantrópicas especializadas continuam sendo fundadas, há surgimento de formas diferenciadas de atendimento em clínicas, institutos psicopedagogos e outros de reabilitação (JANNUZZI, 2004, p.34).
Resolução CNE/CEB 04/2009, Institui Diretrizes Operacionais para o
Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, modalidade
Educação Especial. O §2º da Lei de Diretrizes Básicas determina que:
O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns do ensino regular (MEC, 2015).
O AEE é uma modalidade da educação especial que identifica,
elabora e organiza recursos pedagógicos e de acessibilidade, com objetivo de
excluir quaisquer obstáculos que dificultem a participação, o desenvolvimento e
na aprendizagem dos alunos com deficiência ou mobilidade reduzida, transtornos
globais do desenvolvimento e altas habilidades/superlotação. Esse serviço poderá
ser oferecido no contra turno das aulas, nas salas de recursos multifuncionais
pela própria escola ou em centros de Atendimento Especial Especializado da rede
pública, centros comunitários, ONG’s etc.
O Decreto nº 7.612 de 2011, institui o Plano Nacional dos Direitos da
Pessoa com Deficiência - Plano Viver sem Limite. Cuja finalidade é incorporar
políticas, medidas e programas que garantem os direitos das pessoas com
deficiência de acesso à educação, pelo decreto legislativo número 186 de 9 de
julho de 2008.
Em 2014 o número de matrículas de pessoas com deficiência na
rede regular de ensino, cresceu consideravelmente, de acordo com o censo
escolar, mais 698.768 estudantes estão matriculados em escolas comuns de
ensino. Em relação ao ano de 2008, foram registradas 200 mil inscrições na
educação básica. Os números só demonstram o quanto a inclusão social está
sendo trabalhada e difundida pela sociedade civil e Órgãos Públicos.
O Ministério da Educação oferece suporte técnico para a formação
de professores graduados e especializados, principalmente da área de educação
especial, suporte financeiro para que as escolas melhorem suas estruturas e
atendimentos a fim de promover maior interação com pessoa portadora de
deficiência. A chegada dos alunos especiais às classes comuns torna a escola um
ambiente agradável socialmente, pois o fato de conviver com o diferencial de
cada indivíduo demostra um grande respeito ao próximo e principalmente a si
mesmo.
O compromisso com a escola inclusiva deve ser renovado dia após
dia pelos profissionais da educação, buscando dignidade e qualidade no ensino.
Sabe-se que a educação é a chave para o desenvolvimento socioeconômico de
um país. Contudo, essa linha de pensamento ficará completa quando o exercício
da cidadania for total em todos os níveis. Justiça eficiente, saúde de qualidade,
política compromissada com o cidadão.
Quanto mais sistemas comuns da sociedade adotar a inclusão, mais cedo se completará a construção de uma verdadeira sociedade para todos (SASSAKI, 1997, p.42).
O MEC adota até hoje o termo Portador de Necessidades Especiais
(PNE) ao se referir a alunos que necessitam de educação especializada. Assim a
clientela da educação especial ainda não fica bem caracterizada, pois se mantém
a relação direta e linear entre o fato de uma pessoa ser deficiente e frequentar o
ensino especial, na compreensão da maioria das pessoas. Louro apud Sassaki
(2009) afirma que:
[...] sugere que o sugere que o uso de uma palavra costuma estar relacionada à evolução alcançada mundialmente por determinado conceito. Ou seja, seu uso depende do amadurecimento de determinado assunto alcançou dentro de uma nação num período de sua história. Portanto não podemos afirmar categoricamente que este ou aquele termo tem correção absoluta. O que podemos dizer é que cada palavra é mais adequada devido a reflexões compatíveis com os valores vigentes de cada sociedade frente a época em que ela vive.
Ainda não foi estabelecido um termo correto para validar essa ação,
isso acontece pelo fato de que a cada época a sociedade define um
posicionamento diante das características peculiares de cada pessoa.
No decorrer da história a pessoa com deficiência já tiveram inúmeras
denominações, como por exemplo: inválidos, indivíduos com capacidades
residual, incapazes, deficientes, excepcionais, pessoas deficientes, pessoas
portadoras de deficiência, pessoas com necessidades especiais, pessoas
especiais, pessoas portadoras de direitos especiais. Todas essas expressões
estavam ligadas a um contexto social da época. (BRASIL, 2015).
A Convenção Internacional para Proteção dos Direitos e Dignidade
das Pessoas com Deficiência utiliza o termo “pessoas com deficiência”
delimitando o termo aos demais países-membros incluindo, o Brasil. Ainda,
(LOURO, 2012, p. 30):
[...] Eliminou-se a palavra portador, afinal de contas a deficiência não é um item opcional; eliminou-se também o termo “necessidades especiais”, porque, de certa forma, todos temos necessidades especiais, dependendo da circunstância: um estrangeiro que venha morar no Brasil terá necessidades especiais para se adequar ao novo ambiente, bem como uma pessoa obesa, quando for se movimentar ou mesmo permanecer em determinados lugares.
Futuramente o termo pessoa com deficiência será alterado para um
termo adequado, obedecendo e respeitando os valores sociais e culturais
posteriores.
A Constituição Federal de 1988 em seu Art.205 diz: “A educação,
direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com
a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu
preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. No que
diz respeito ao inciso III do Art. 208: “O Atendimento educacional especializado
aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino”.
A pesar desses esforços por parte da legislação, sabemos que as
lacunas existentes neste âmbito são ainda muito grandes. As leis que apontam
para a temática da inclusão, em termos gerais, estabelecem uma ação mais
ampla que propõe uma educação com qualidade para todos, sem ferir o princípio
da isonomia, com isso, incluem-se os portadores de necessidades especiais,
porem esses ideais educacionais referidos às crianças especiais estão longe de
ser uma realidade, pois estudos e pesquisas demonstram longos períodos de
exclusão dessas crianças.
No Brasil quase 25 milhões de brasileiros possuem algum tipo de
necessidade especial, onde os mesmos possuem uma das melhores legislações
do mundo para atendê-los. Na pratica isso não ocorre, as condições para gozar
dos direitos já assegurados em lei, deixa a desejar.
Cabe a Secretaria da Educação Especial e Ministério Público
manter, fiscalizar e acompanhar todas e quaisquer irregularidades. (BRASIL
20015).
A Inclusão Social delimita transformações e adaptações em todas as
esferas, seja: físicas, humanas e mentais traçando e organizando metas que
perpetuaram para vida toda.
4.1 Inclusão e Integração
O direito a educação de qualidade foi debatido arduamente por
vários anos, e ao final do século XX, houve a necessidade de construir uma
escola que em pratica, englobe todos de um modo geral. A partir de documentos
legais nacionais e internacionais, cujo quais fundamentavam o modelo práxis de
educação Inclusiva, foram delimitados, discutidos e aprovados em lei.
As pessoas com deficiência, assim como qualquer cidadão possuem
direitos e deveres perante a lei, esses direitos facilitam o convívio social,
oportunizando o acesso a recursos disponíveis aos demais cidadãos. Para que
essa integração ocorra, são necessárias mudanças radicais nos modelos
tradicionais de organização do sistema escolar, a fim de propiciar um ensino de
qualidade para todos, pois esse sistema tem que se adaptarem as
particularidades de todos os alunos. Mantoan diz (1997, p.120):
A inclusão é um motivo para que a escola se modernize e os professores aperfeiçoem suas práticas e, assim sendo, a inclusão escolar de pessoas deficientes torna-se uma consequência natural de todo um esforço de atualização e de reestruturação das condições atuais do ensino básico.
A escola no seu papel de instituição intercessora na organização do
saber, ao qual objetiva conduzir conhecimentos para um número elevado de
pessoas carrega um gigantesco fardo de responsabilidade. É através da escola
que a sociedade adquire, fundamenta e modifica conceitos de participação,
colaboração e adaptação. Embora outras instituições como família ou igreja tenha
papel muito importante, é da escola a maior parcela (MANTOAN, 1997, p.13).
O ponto fundamental é a compreensão de que o sentido de integração pressupõe a ampliação da participação nas situações comuns para indivíduos e grupos que se encontravam segregados. Portanto, é para os alunos que estão em serviços de educação especial ou outras situações segregadas que prioritariamente se justifica a busca da integração. Para os demais portadores de deficiência, deve-se pleitear a educação baseada no princípio da não segregação ou da inclusão (MAZZOTA, 1998, p. 5).
Os serviços de educação, quando inclui a pessoa com deficiência
torna-se ambiente efetivo para aprendizagem, partindo do pressuposto em que
devemos atentar para cada individualidade, diminuindo as dificuldades e
aumentando as possibilidades de interação com o meio social colaborando com o
grupo do qual está inserido.
A questão da integração representa um movimento de inovação do sistema de ensino que, em princípio, já deveria existir, abrangendo as diferenças existentes mesmo entre os não deficientes (CARNEIRO, 1997, p.33).
A democratização da educação nas escolas só será completa se
todos forem capacitados e conscientizados sobre o real significado da Inclusão,
exigindo modernização do ensino e aperfeiçoamento das atuais práticas de
ensino.
O Atendimento Educacional Especializado segundo a legislação
brasileira considera pessoas com deficiência, aquelas que têm restrições físicas,
mentais, intelectuais ou sensoriais de longo prazo que possam afetar sua
participação na sociedade em igualdade de condições. O atendimento escolar é
obrigatório a todos os estudantes de 4 a 17 anos, inclusive aos com deficiência e
transtornos globais do desenvolvimento.
Para o atendimento se tornar completo, a escola deve oferecer todas
as circunstancias que garantem o processo de aprendizado. A principal
ferramenta para isso é o Atendimento Educacional Especializado (AEE),
considerado por muitos, outra matrícula, recebendo recursos à parte do Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
Profissionais da Educação (FUNDEB) acontecendo no contra turno da classe
regular. O AEE deve sistematizar propostas pedagógicas do ensino comum,
utilizando as salas de recursos multifuncionais para organização de materiais que
diminuam as barreiras causadas por anos de discriminação.
A educação especial e inclusiva é um processo em expansão, cujo
objetivo é a integração do aluno com deficiência na vida sociedade, através de
ações positivas para alcançar técnicas eficientes. Com uma educação básica de
qualidade e especializada oferece às pessoas com necessidades especiais
propostas temáticas, organizadas e trabalhadas por equipe multidisciplinar com
objetivo de prepara-los a superar os desafiados diariamente.
O desenvolvimento de estratégias que englobem todos os seres
participantes da escola é sem dúvida, um dos desafios da proposta inclusiva,
acreditando que todos aprendam juntos independentes da diferença que
possuam.
Frente a esse novo paradigma educativo, a escola deve ser definida como uma instituição social que tem por obrigação atender todas as crianças, sem exceção. A escola deve ser aberta, pluralista, democrática e de qualidade. Portanto, deve manter as suas portas abertas às pessoas com necessidades educativas especiais (GODOFREDO, 1999, p. 31).
As escolas inclusivas devem atender às diversas necessidades dos
alunos e dar uma resposta à sociedade assegurando uma educação de qualidade
a todos, através de currículos apropriados, modificações organizacionais,
estratégias de ensino, usam de recursos pertinentes e parcerias com ONGs e
outros movimentos que possam colaborar para um melhor atendimento às
referidas crianças. Mantoan (1997, p.120) acredita que “incluir alunos com
deficiência na rede regular de ensino, exigiu uma quebra de paradigmas frente
aos novos processos de ensino-aprendizagem”.
Para isso as crianças com necessidades especiais devem receber
os apoios extras que necessitam para que tenham uma educação inclusiva.
Contudo, é notório o avanço da educação inclusiva no decorrer dos anos, a
preocupação e a promoção do acesso educacional a pessoas com deficiência
apoiados pela Declaração de Salamanca (1999) e a Lei de Diretrizes Básicas nº
9394/96 que têm facilitado esse árduo caminho. Sabemos através de novos
estudos da comunidade cientifica, na área da educação especial afirmam que
para a inclusão acontecer, é imprescindível o comprometimento de todos. Por
isso muitos tratamentos são oferecidos para o desenvolvimento cognitivo, social e
psicomotor dos portadores de necessidades especiais. Dentre esses tratamentos,
sabemos que a música e sua utilização terapêutica possibilitam incalculáveis
benefícios para seus pacientes.
A inclusão da música no universo das terapias não é exclusiva dos
avanços neste sentido acontecidos no século XX, pois ela, a música, vem sendo
utilizada com fins terapêuticos há muito tempo. Os historiadores afirmam que as
primeiras civilizações utilizavam a música para diversos fins, como por exemplo:
nascimento, casamento, morte, recuperação de doentes, ou para exaltação de
seus líderes ao qual veneravam.
Na antiga Grécia, o filosofo Pitágoras, acreditava que a música
tocada através de um instrumento, ao qual segue uma sequência correta de
acordes poderia curar enfermidades com maior velocidade. Os gregos tratavam
seus doentes através de estímulos sonoros que aumentavam os efeitos
psicossomáticos, esses estímulos chegam até os centros nervosos e fazendo
com que descarreguem hormônios que acalmam o corpo, eliminado qualquer tipo
de dor ou euforia.
Assim, nos dias de hoje a música é considerada ciência, arte e
terapia, vejamos: Música enquanto ciência: relações entre os elementos musicais
relacionados à matemática e física (tom, semitons, intervalos, tessituras,
cromatismo e etc.). Música enquanto arte: apreciação musical, escolha do
repertorio, arranjos simples e complexos. Música enquanto terapia: tratamento
terapêutico através dos sons, ritmos, acordes.
A escola comum se transforma em escola inclusiva para a pessoa
com deficiência, a partir do momento que lhe garantam o direito a educação de
qualidade. O modelo de inclusão é assegurado pela comunidade escolar com um
novo sistema ensino igualitário, valorizando a condição do aluno especial
Esse pensamento inclusivo amplia a gama de conhecimentos dentro
e fora da escola, facilitando sua inserção na família, na sociedade, no trabalho.
4.2 A importância da música na vida das pessoas
Todos sabem que a música faz bem para alma, cantar ou tocar um
instrumento musical, mexe com nossos sentidos, transformando momentos de
apreciação em momentos de profunda reflexão, embalados em melodias
agradáveis e simples. Esta arte, desperta sensações prazerosas quando
manuseada de maneira ordenada (VALE, 2015).
O uso terapêutico da música vai do mais simples, como por
exemplo: o alivio do estresse ou ansiedade; ao mais complexo como, por
exemplo: a diminuição a rejeição de órgãos transplantados de acordo com
pesquisas realizadas em ratos de laboratório, publicada em 2012 no Journal of
Cardiothoracic Surgery.
A música se torna importante aliado nas atividades escolares,
principalmente para educação infantil que visa o desenvolvimento global das
crianças nos aspectos cognitivos, linguístico, psicomotores e sócio afetivo, além
de garantir a aquisição de novos conhecimentos. A educação básica é o marco
inicial para o processo de socialização e escolarização da criança.
A música com seu poder criador e libertador torna-se um poderoso
recurso a ser utilizado nas series iniciais, o lúdico sempre faz parte das
atividades, pois reforça o desenvolvimento trazendo benefícios para a formação
da personalidade da criança e do adolescente.
Para os idosos a música tem características terapêuticas, cujo sua
finalidade está ligada a mudança comportamental. Durante as seções de terapia
musical ou musicoterapia, os idosos são estimulados a trabalharem a fala, a
cognição, a recuperação da memória, o movimento corporal, trabalhando
articulações superiores e inferiores, instigando o ritmo cardíaco e pressão
sanguínea.
Quanto à questão emocional é um poderoso remédio contra a
depressão e solidão. Filho (2014, p. 25) afirma que ouvir boa música traz paz.
Traz à tona sentimentos diversos capazes de transportar o ouvinte para uma
dimensão que o aproxima àqueles com quem mantém laços de afetividade, como
amigos e família, levando-o a percepções no âmbito espiritual ou incentivando-o à
reflexão. É uma terapia, em todos os sentidos. E para o corpo todo.
A utilização da música para fins terapêuticos é altamente praticada e
discutida desde a antiguidade até os dias atuais. A música é, sem dúvida, um
mecanismo que visa tratamento diferenciado dos medicinais, e esta prerrogativa
vem atravessando vários séculos até nossos dias. Quando ouvimos determinada
música o cérebro reage imediatamente a esses estímulos despertando emoções
quase indescritíveis, ativando e estimulando a criatividade.
A Música retarda o stress e diminui as tensões causadas por dores e
ansiedades oriundas do frenesi diário. Além de desenvolver o cognitivo e
psicomotricidade além de melhorar a concentração e percepção.
As respostas sensoriais do nosso cérebro diante de estímulos
sonoros musicais são facilmente percebidas, pois ela trabalha os dois hemisférios
proporcionando um equilíbrio entre raciocinar, identificar e o produzir. Graças às
funções do nosso cérebro temos noção de tempo e espaço, desenvolvemos a
nossa memória e podemos falar, dentre outros benefícios.
Ao se referir a esse tema, o Dr. R. Benezon (1998, p. 22) considera
que o tálamo é a área na qual chegam às sensações e emoções que ocorrem em
um plano não consciente, pode-se dizer que, mediante um ritmo musical,
podemos condicionar uma resposta inconsciente automática.
4.3 Musicoterapia
A Musicoterapia é um tratamento que utiliza sons ou músicas com
intuito terapêutico, ressaltando dificuldades e necessidades de cada pessoa. A
influência da música no comportamento do homem, como já vimos, é conhecida
desde a Antiguidade e foi tema de reflexão nas obras de vários filósofos gregos.
Foram muitos os pensadores que seguiram essa linha de raciocínio. Ao longo do
curso da História, passou-se a observar que a música perdeu o sentido religioso,
levando a outras atribuições e benefícios. (FILHO apud CANDE, 2001, p. 45).
Ao buscar as diversas formas de tratamento, o paciente recupera a
qualidade de vida além de trazer vários benefícios no decorrer do processo. Ela é
aconselhada para todos que gostam de música e pretendem utiliza-la de forma
prazerosa como mecanismo que desenvolva potenciais, seja: cognitivo;
psicomotor; linguístico e social, além de combater o stress hipertensão e
desconforto muscular.
Musicoterapia é uma terapia que facilita o potencial criativo, aumentando a comunicação e mobiliza os aspectos biológicos, psicológicos culturais e espirituais. (MILECO, 2001, p. 110).
O tratamento Musicoterapeutico demonstra eficácia no
condicionamento físico e psicológico. Os ambientes formais, como empresas,
escolas e outras instituições em geral, já utilizam essa técnica, afirmam uma
melhora significativa no humor e bom desempenho nas atividades durante o
trabalho.
Os estímulos sonoros em nosso cérebro trazem inúmeros
benefícios, de acordo com pesquisas da American Music Therapy Association-
AMTA, dos Estados Unidos, e pelo World Federation of Music Therapy-WFMT,
localizada em Gênova, na Itália, de que a utilização da Musicoterapia minimiza os
sintomas de ansiedade, estresse, depressão e dores crônicas, devido ao fato da
música atingir a parte responsável pelas emoções, motivações e afetividade.
No Brasil, alguns Hospitais, Centros de Reabilitações, Centros de
Neurologia, Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) Centros de
Atendimento Psiquiátrico, assim como Associação de Pais e Amigos dos
Excepcionais (APAE) e Escolas Especiais, ONGs, desenvolvem tratamentos
sonoro-musicais em seus pacientes e garantem eficácia em quase 100% dos
casos de recuperação após o início do tratamento, afirma a musicoterapeuta
Magali Dias, secretária geral da União Brasileira de Associações de
Musicoterapia-UBAM.
A utilização terapêutica da música tem sido proveitosa, inclusive no
âmbito social e principalmente psíquico, ampliando o contato com as demais
deficiências mentais, cerebrais, autismo, (leve, moderado e grave) problemas de
personalidades etc. estreitando laços de afetividade e reflexão sobre os possíveis
tratamentos. (VOLUNTARIOS, 2015)
4.4 Identidade Sonora
Para iniciar o processo Musicoterapico é necessário fazer um
apanhado histórico-musical do indivíduo, a fim de conhecer e trabalhar sua
identidade sonora, também conhecida como ISO. De acordo com Filho (2014,
p.32) apud Benezon.
[...] é um conceito totalmente dinâmico que resume a noção de existência de um som, ou um conjunto de sons, ou de fenômenos acústicos e de movimentos internos, que caracterizam ou individualizam cada ser humano (BENENZON, 1998, p. 34).
Cada pessoa possui características que difere uma das outras as
tornando única, essas características se farão presente pelo resto de suas vidas
como, por exemplo, nacionalidade, etnia, impressão digital.
Para a Musicoterapia o conjunto de sons (ISO), possui
características semelhantes, ao identificar a música na história de vida do
indivíduo e não apenas no momento de apreciação esse conceito é trabalhado
para desenvolver potenciais que ajudarão no processo terapêutico.
A identidade sonora está diretamente ligada a história de vida do
indivíduo uma vez que a música percorre todo o percurso do ser, que vai desde a
gestação até o seu momento final.
O ISO trabalha e potencializa as experiências músicas do homem
durante toda vida, observando e percebendo em cada detalhe situações
enriquecedoras que afloram do inconsciente humano demonstrando familiaridade
com sensações musicais até o término de sua vida.
5 SÍNDROME DE DOWN
A Síndrome de Down é uma alteração genética causada pelo
cromossomo extra no par 21. Ainda que apresentem deficiências cognitivas, as
pessoas com síndrome de Down, se estimuladas desde os primeiros anos de
vida, podem desenvolver suas potencialidades e habilidades intelectuais. De
acordo com (WERNECK, 1995, p. 58), a história oficial da síndrome de Down no
mundo começa no século XIX. Até então, os deficientes mentais eram vistos
como um único grupo homogêneo. Assim eram tratadas e medicadas
identicamente, sem se levar em consideração as causas da deficiência, que são
inúmeras e podem ocorrer durante a gestação, no momento do parto e depois do
nascimento.
A síndrome de Down ocorre pela presença de três cromossomos 21
na maior parte das células de um indivíduo. Isso ocorre no ato da fertilização do
bebê. As pessoas com síndrome de Down, ou trissomia do cromossomo 21,
possuem 47 cromossomos em suas células em vez de 46, como a maior parte da
população.
Normalmente, o ser humano tem 46 cromossomos em cada célula
de do seu corpo. Na fase inicial da fecundação, os cromossomos do pai (23
pares) se juntam com os cromossomos da mãe (23 pares) para formar o zigoto.
Os portadores da síndrome de Down têm 47, pois uma cópia extra aparece no par
21, originando a trissomia 21. A síndrome de Down independe de raça, país ou
situação financeira.
5.1 As Trissomias
Durante muito tempo suspeitava-se que a síndrome de Down estaria
relacionada a algum tipo de problema cromossômico, porém, não tinham como
afirmar com exatidão. Só em 1958, Lejeune descobriu que na célula humana com
46 cromossomos, no par 21 possuía um cromossomo a mais, conhecida
posteriormente como, trissomia 21.
A Trissomia Simples apresenta-se com frequência, chegando a 90%
dos casos de bebes nascimentos vivos. Na divisão celular, no ato da separação
dos pares de cromossomos, não acontece de maneira adequada, ou seja, os dois
cromossomos 21 permanecem unidos, não há separação. A célula gerada fica
com 24 cromossomos sendo dois pares 21, ao se unir a outra célula embrionária
comum, com 23 cromossomos, resultara em uma “nova” célula com 47
cromossomos sendo três do par 21.
A Translocação ocorre em quase 3% dos casos de síndrome de
Down, apontam dois cromossomos do par 21e uma parte do terceiro cromossomo
21 geralmente colado a outro cromossomo de outro par 21. Os pais são
portadores do gene da trissomia, porém não apresentam a síndrome, no entanto,
o fato de estarem colados a outro cromossomo, é provável que o evento aconteça
em outros óvulos ou espermatozoides, transmitindo para outros filhos que
herdariam a síndrome.
O Mosaicismo ocorre em quase 2% dos casos das crianças Down,
diferente das demais trissomias, as células embrionárias (óvulo e o
espermatozóide) dos pais possuem 23 cromossomos comuns, dando origem a
uma célula como 46 cromossomos. Contudo, essa alteração genética acontece
no início do processo de divisão celular, algumas células apresentam o fenômeno
genético da “não separação” ou disjunção (termo técnico) do par de cromossomos
21, originando uma célula com 47 cromossomos. Essa proporção de células
normais e trissomicas, afeta diretamente o paciente mosaico, pois dependendo da
quantidade de células o fenótipo ficará mais evidente.
5.2 Características e Tratamento
As pessoas portadoras da síndrome de Down apresentam
características peculiares e distintas, como por exemplo: estatura mediana, olhos
amendoados, língua portuguesa, achatamento da parte de trás, da cabeça, mãos
(apresentam uma única prega na palma ao invés de duas) e pés pequenos,
hipotonia muscular, deficiência intelectual e física. Devido à fragilidade frente a
outras doenças, inúmeros problemas podem surgir, por exemplo: problemas
oculares, perca da audição, problemas cardíacos e gastrointestinais.
Acredita-se que a idade materna influencia na incidência de bebês
Down, já que mulheres acima dos 35 anos apresentam células que envelhecem
com o avanço da idade, essas células possibilitam erros durante a mitose e
produzir um cromossomo a mais ou a menos no zigoto. O diagnóstico é
confirmado por testes genéticos a partir da na nona semana de gestação. A
retirada de material genético para detectar falhas cromossômicas no DNA do
bebê é comprovada em quase 100% dos casos (FRAZAO, 2015).
A confirmação da síndrome de Down também é possível por um
exame genético chamado cariótipo. O diagnóstico é comprovado por meio deste
exame que, identifica a existência do cromossomo extra no par 21, oriundos de
um erro na divisão celular, no início da formação embrionária que implicará no
comprometimento do desenvolvimento da criança.
Entretanto, mulheres mais jovens podem gerar bebês com a
síndrome, as chances de acontecer são de um para cada 1000 nascimentos. No
Brasil estimam-se em média um para cada 700 nascimentos, quase 300 mil
nascidos com a síndrome de Down. De acordo com o censo de 2010 do IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), cerca de 20% da população
brasileira apresenta algum tipo de deficiência física ou mental, dentro desse grupo
quase 300 mil nasceram com a síndrome de Down. (MARTINHAGO, 2015).
5.3 Estimulando a Criança Down
As pessoas com síndrome de Down devem ser estimuladas desde
os primeiros anos de vida, esses estímulos serão trabalhados primeiramente pela
família, mesmo que não demonstre nenhuma anomalia ou deficiência.
Os benefícios obtidos pela estimulação precoce serão de extrema
importância para melhoria de vida desta criança, no que se refere às funções
motoras e intelectuais. (LOURO, 2012, p, 80) diz, “é no período da infância que os
estímulos mais influenciam nosso desenvolvimento”.
A criança estimulada necessita de atenção, carinho e cuidados para
trabalhar as diversas habilidades das quais precisarão quando estiverem em
contato com o mundo externo.
Os estímulos deverão acontecer logo nos primeiros dias de vida,
tendo em vista que o desenvolvimento cerebral e motor acontecem no período de
0 a 3 anos. Contudo, outros estímulos devem ser adicionados para o
desenvolvimento inicial, como por exemplo: a estimulação visual com brinquedos
multicoloridos; auditivos com sons variados, a voz humana deverá ser utilizada;
sensitivo com texturas diferentes. Para Werneck, toda criança, com ou sem
retardo mental, precisa de estímulos para aprender a se arrastar, engatinhar,
sentar, andar, falar. Só que os adultos, apesar de intuitivamente trabalharem
nesse sentido, não se dão conta do que fazem.
A cada brincadeira nova, a cada ida ao circo ou parquinho de
diversões, a cada música que cantamos, a cada passeio, a cada atividade na
hora do banho ou durante a refeição, estamos estimulando-as [...] (1995, p.145).
Vale ressaltar, que essas atividades deveram fazer parte do seu cotidiano,
atuando como forma de aprendizado.
A família sempre será a primeira a adaptar-se pelo fato de terem
contato direto com pessoas que, mesmo inconsciente farão esses estímulos de
forma indireta, essas crianças, terão mais chances de desenvolver a fala nos
primeiros anos de vida. Sabemos que a criança Down que não recebe o estimulo
adequado, consequentemente terá sua vida prejudicada por conta disso.
Torna-se importante, desde os primeiros anos de vida da criança com Síndrome de Down, a estimulação que leve em conta seus diferentes modos e ritmos de aprendizagem, em função de suas necessidades especiais. (VOIVODIC 2008, p. 46).
A criança com síndrome de Down demora mais tempo para
responder aos estímulos do que as outras crianças são de extrema importância
estimula-la diariamente, criando uma rotina para que comece a trabalhar de forma
sequencial, internalizando atividades ou tarefas para o desenvolvimento dos
potenciais da criança. Para Louro (2012, p. 133) “Diante de alunos com
deficiência cognitiva procure sempre manter, além de objetividade, uma rotina,
pois a sequência lógica das atividades colabora muito com a organização
neurológica”.
O acompanhamento médico é indispensável, os especialistas
deverão criar programas ou atividades que estimulem o bebê nas fases iniciais,
conforme vai amadurecendo, muitos reflexos típicos de recém-nascido estarão
limitados, desaparecendo aos poucos. Voivodic (2008, p.54) diz, ”famílias que
conseguem manter a ligação afetiva, estreita e positiva com a criança favorecem
a aprendizagem, proporcionando condições de desenvolvimento e segurança
para sua independência e autonomia”.
Os pais precisam tornar isso uma forma agradável de trabalho em
equipe, todos devem ajudar, só assim poderão usufruir de bons resultados.
A família se constitui o primeiro grupo social da criança, e é através do relacionamento familiar que a criança viverá a primeira inserção no mundo. É no seio da família que a criança terá suas primeiras experiências, sendo, portanto esta unidade básica de crescimento do ser humano e sua primeira matriz de aprendizagem. (VOIVODIC, 2008, p. 48)
As limitações causadas pela síndrome de Down podem ser
atenuadas pela família, responsabilizando-se por completo sobre este indivíduo.
Segundo (LOURO, 2012, p. 37)
“O núcleo familiar exerce um papel essencial na vida e no desenvolvimento da criança, desde a gestação até o momento em que ela se torna independente ou que forma sua própria família. É de importância vital, para a criança, os suportes emocional e psicológico dos familiares, quando se pensa em termos de crescimento e desenvolvimento, seja de ordem corporal, cognitiva, emocional e social“.
O meio em que está inserida será determinante para o desenvolvimento
do mesmo, dependendo do ambiente favorável ou não, a criança Down terá seus
referenciais construídos a partir dali. A influência da família é essencial para o
desenvolvimento da aprendizagem, seja ela especial ou não. É preciso um olhar
mais atento no que se referem a valores, as crianças precisam ser amadas
independente das situações que estão.
5.4 A aprendizagem da pessoa com Síndrome de Down
As pessoas com síndrome de Down dentro das suas limitações
demonstram em ritmo de aprendizagem mais lentas em relação às demais
pessoas, ou seja, demoram mais tempo para desenvolver-se por completo, no
entanto se estimulados adequadamente desde o nascimento e acompanhado por
algumas terapias, terão um desenvolvimento alcançado. De acordo com Voivodic,
“é necessário, porém romper com determinismo genético e considerar que o
desenvolvimento da pessoa com S.D. resulta não só de fatores biológicos, mas
também das importantes interações com o meio”. (2008, p. 46).
Depois da família, a escola é o ambiente mais socializador em que a
criança Down está inserida, pois o convívio com outras pessoas estará sendo
constantemente exercitado, promovendo a cidadania e aquisição de novas
habilidades, dentro dos limites impostos pela condição genética. É tarefa dos
educadores, dos pais e equipe multidisciplinar é estimula-los com atividades
lúdicas com objetivo de prepara-los para adquirir novos conhecimentos ou mais
complexos. Cabe à escola promover adequações, seja elas quais forem, para
incluir um aluno com deficiência. (LOURO, 2012 p, 28).
Para desenvolver essas habilidades, é preciso que as atividades
tenham cunho pedagógico voltado para aprendizagem, pois se tratando em
síndrome de Down não existe um método especifico, é necessário um tratamento
que trabalhe a deficiência mental de modo que os estímulos quando bem
aplicados poderão se mostrar mais eficiente referente ao tratamento.
O uso de rótulos e categorias enfatiza apenas as dificuldades e desvia a atenção de outros fatores que não são importantes e podem facilitar a aprendizagem (VOIVODIC 2008, p. 60).
A aprendizagem da criança Down sempre se mostrará mais
trabalhosas se não forem estimuladas para um proposito, como por exemplo:
linguagem; a percepção; o esquema corporal; as noções de espaço e
lateralidade.
Outros fatores que dificultam a aprendizagem são as alterações
visuais e auditivas, incapacidade de usar conceitos abstratos, raciocínio logico,
habilidades que incluam imaginação, fixação de ideias e reprodução de
atividades.
Na fase da alfabetização é aconselhável que estejam matriculadas
turmas regulares, para que desenvolvam suas habilidades motora e psicossociais
interagindo com os colegas e professores, esse incentivo deve ser incessante. No
entanto, para alguns casos específicos é recomendado que se matriculasse em
centros especializados, oferecendo outro tipo de acompanhamento.
Contudo, o desenvolvimento da cognição e aprendizagem será mais
eficaz quando a criança com síndrome de Down for inserida em atividades
rotineiras, aperfeiçoando suas habilidades e potencialidades.
Cada pessoa possui o ritmo de aprendizagem, alguns são mais
rápidos enquanto que outros não, no caso das crianças Down, são mais lentos.
Para que isso ocorra é necessário que profissionais estejam focados e
preocupados com a melhora nos padrões de vida e com seu desenvolvimento.
5.4.1 A importância do brincar para os portadores da síndrome de Down
Para as crianças o brincar é tão importante quanto se alimentar, é
através delas que reproduzem cenas do cotidiano transformando em agradáveis
horas de lazer, isso relação também é observada em crianças com síndrome de
Down. Ao trazerem sua realidade para o mundo abstrato da ludicidade, as
crianças Down, tornam simples o desenvolvimento social e motor, proporcionando
independência em atividades da vida diária. De acordo com Milani (2006, p. 102):
A brincadeira permite que a criança resolva problemas não resolvidos no passado, de forma simbólica. Dessa forma, poderá enfrentar diretamente o presente, e se preparar para o futuro. As brincadeiras em que a criança precisa perseverar lhe ensinam a confiar. A confiança desenvolve o hábito de paciência, preservação e aplicação necessário para tornar possíveis as aprendizagens complexas.
As brincadeiras desenvolvem o sentimento de união, ou seja,
aprendem a viver em grupos, respeitando regras e limites. Aumentam a agilidade
mental, exercitam a lateralidade e noções de espaço. “A criança atribui vida aos
objetos (animismo) e a brincadeira predominante é solitária. [...]. Aos poucos, vai
se descentralizando e brincando coletivamente. Esse convívio social é
fundamental para o desenvolvimento cognitivo e afetivo - emocional. Já na
brincadeira simbólica coletiva, [...], aparece à necessidade de respeitar regras
para ser aceita no grupo. A colaboração e / ou competição aparecerá mais tarde,
nos jogos de regras” (MILANE, 2006, p. 99).
É durante as brincadeiras que a criança com ou sem Síndrome de
Down expõe sua personalidade, ao mesmo tempo transborda energia e fantasia
emoções, as deixando fluir normalmente. No caso da criança Down, precisam de
auxilio no brincar, ao observar outras crianças, aprendem imitando mesmo com
dificuldades conseguem fazer parte desse universo lúdico.
As regras e os limites são determinantes para o comportamento
formando conceitos dos quais serão utilizados posteriormente na vida adulta. As
habilidades adquiridas durante as brincadeiras colaboram com a atuação dos pais
e da escola, visando à melhora na qualidade de vida. É muito mais fácil aprender
brincando, a final criança é tudo igual.
5.5 A criança Down no ambiente escolar
A Declaração de Salamanca diz que, todos têm direito a uma
educação de qualidade e que o atendimento será trabalhado de acordo com suas
necessidades interesses e capacidades. Contudo, a comunidade escolar deve
estar preparada para atender esses alunos, pois só as leis que asseguram a
educação para todos, não garantem um ensino qualitativo para os alunos já
matriculados.
As adaptações devem acontecer em todos os níveis para iniciar o
processo de inclusão, ou seja, é necessário criar para cada aluno uma
programação especifica, de acordo com sua necessidade educacional. A inclusão
escolar prioriza a visão de que todos devem aprender juntos independentes das
diferenças. As escolas precisam estar capacitadas para recebê-los e prepara-los
para uma educação igualitária ou especializada.
No Brasil os moldes da educação ainda desfavorecem a visão
inclusiva, pelo fato de ainda esbarramos em técnicas antigas e ultrapassadas de
aprendizagem. Nas escolas especializadas, em alguns casos o ambiente se torna
segregador, mesmo que desenvolva as habilidades relacionadas a cognição,
motricidade e linguagem. Os pais ficam na dúvida de onde matricular seus filhos
para aprender, ou se possui equipe multidisciplinar para suprir as necessidades
de seus filhos.
A escola regular proporciona novos desafios aos portadores de
necessidades especiais, pois o desenvolvimento e a interação devem acontecer
de forma natural.
[...] a inserção escolar dessas crianças no ensino regular poderá contribuir significativamente para o seu desenvolvimento intelectual e para a sua atuação no meio social. (VOIVODIC, 2008, p.62).
O ambiente deve ser agradável e os profissionais capacitados com
especialidades e generalidades sobre comportamento para auxiliar e mediar
situações do cotidiano no âmbito escolar.
O preconceito ainda é o maior inimigo da Inclusão, mesmo que
discretamente ele está misturado a valores e pensamentos que atrasam ou
atrapalham todo esforço de inserir pessoas com deficiências nas esferas sociais.
Aceitar o próximo do que jeito que ele é, com deficiência ou não, parece um
pensamento utópico. Faz-se necessário mostrar a todos o quanto são capazes e
o quanto podem contribuir moralmente para a sociedade, e que o preconceito das
pessoas seja quebrado e esquecido. A criança portadora deficiência, além de ser estigmatizada por sua própria deficiência, acaba sendo isolada do meio social em que vive por não ser considerada como um adulto produtivo em potencial. Aos olhos preconceituosos ela nada será quando crescer, portanto, além de ser uma criança inútil, acaba sendo prejulgada como um adulto inútil, que não contribuirá para o aumento de produção em nosso quadro social (BLASCOVI – ASSIS, 1997, p 21).
É preciso oportunizar essas pessoas em todas as áreas,
principalmente: as emocionais, sociais e educacionais, mantendo um contato
direto com outras pessoas, demostrando o quanto são maiores que o preconceito
social.
Para o processo de inclusão acontecer é preciso conscientizar-se
sobre a causa, valorizando as pessoas de acordo com as habilidades que
possuem, adequando-se a condição de qualquer um mesmo que parece
impossível evidenciando verdadeira proposta da inclusão.
6 A EDUCAÇÃO MUSICAL NO BRASIL
Após o descobrimento em 1500, os jesuítas foram enviados com a
missão de educar, catequisar e socializar os nativos que viviam no Brasil.
Os jesuítas foram os primeiros educadores musicais do país, pois
utilizam o canto gregoriano para educar os índios através de jogos e brincadeiras.
“Os Jesuítas usavam a música para o catecismo católico traduzido para o Tupi as
canções e hinos, ou através dos “Autos”, monólogos musicados do sec. XVI, a
que depois se juntaram desenvolvimentos coreográficos” (ALMEIDA, 1942, p
286).
A música ganhou muito destaque durante o período colonial, com
tudo, era voltada para a música sacra.
Com a expulsão dos jesuítas do Brasil, o país percorreu um longo
período de escassez musical dentro das escolas brasileiras. Com o sentimento
nacionalista aflorado devido à primeira guerra mundial, Heitor Villa-Lobos foi
encarregado de preparar e organizar o ensino de música nas escolas brasileiras,
através da Superintendência da Educação Musical e Artística (SEMA) dirigido por
Villa-Lobos, torna-se obrigatório o Canto Orfeônico nas escolas do país.
Villa-Lobos acredita que: ”a ênfase no lugar exato que a música
deverá ter, a educação musical aplicada coletivamente, a integração do artista
com a sociedade e finalmente, a visão do compositor como ressonância da alma
do povo” (MENEGALE, 1969, p. 15-16). Ao elevar a concepção artística do povo
brasileiro, por intermédio da educação musical, estaria cooperando e
desenvolvendo a sensibilidade artística das massas.
Até o final da década de 1960 o canto orfeônico permaneceu nas
escolas, desaparecendo gradativamente dos currículos escolares, após a
aprovação da lei nº 5.692/71 que garantia a polivalência nas aulas de artes.
Durante a ditadura militar, a coletividade das artes foi suprimida dos
currículos escolares, permanecendo somente as artes visuais.
A lei nº 9.394/96 aponta um tímido retorno das artes coletivas para o
currículo das escolas brasileiras. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) do
mesmo ano determinam que as quatro linguagens artísticas integrem novamente
os currículos escolares em todos os níveis. As universidades criam cursos e
especialização nessas áreas especifica. O curso de licenciatura plena em
educação artística é substituído pelo curso de licenciatura plena em música.
Em 2008, a lei nº 11.769/08 foi aprovada comprovando a
obrigatoriedade do conteúdo de música na educação básica. No entanto é preciso
pensar na formação do professor de música e em projetos políticos pedagógico
que priorize e padronize este componente curricular.
A educação musical deve ser bem delimitada no sentido de buscar
meios de para a formação geral do cidadão. É necessário que toda a comunidade
escolar se conscientize sobre a seriedade da disciplina de música assim como as
outras e não para momentos de recreação ou festividades.
6.1 Educação Musical para pessoa com síndrome de Down
A arte é um mecanismo que possibilita e facilita na proposta da
inclusão, a utilização das quatro linguagens artísticas como forma de tratamento
tem facilitado muito a proposta inclusiva, sendo a Música a que melhor representa
essa capacidade terapêutica, ela foi escolhida para tal abordagem. As atividades
devem estar adaptadas às necessidades de cada aluno. Além de refletir sobre a
importância da formação e o espaço de atuação do educador musical que se
propõe à educação especial.
A educação musical praticada em pessoas com deficiência, como a
síndrome de Down, em alguns casos, é executada por educadores sem formação
especializada em Educação Musical e Educação Especial, podendo prejudicar o
aluno com conteúdos repetitivos. Essas atitudes acontecem pela falta de mão de
obra especializada de quem se dispõe a esse trabalho. Em contrapartida, àqueles
que se qualificam para desempenhar seu papel educacional de forma sensata e
eficaz, demonstrando interesse e preocupação diante do desafio da educação
especial.
Ouvir música é ativar a mente, estimulando a criatividade, a produtividade e a inteligência. Aumenta os níveis de concentração e atenção, melhorando o estado de espírito e de humor. A música é um redutor de ansiedade e stress, reorientando o foco de problemas, dores, tensões, podendo se transformar em ferramenta de promoção da saúde. (FILHO, 2014, p 26).
A criança aprende e interage com o mundo ao seu redor através de
brincadeiras. Com a música não será diferente, pois a descoberta de novos sons
e melodias, desperta no pequeno ouvinte sensações agradáveis diante das
diferentes formas de sons que o mundo ao seu redor pode oferecer.
A Musicalização tem como principal objetivo despertar o interesse
pela música, estimulando o desenvolvimento global do indivíduo. O termo
“musicalização infantil” adquire então uma conotação específica, caracterizando o
processo de educação musical por meio de um conjunto de atividades lúdicas, em
que as noções básicas de ritmo, melodia, compasso, métrica, som, tonalidade,
leitura e escritas musicais são apresentadas à criança por meio de canções,
jogos, pequenas danças, exercícios de movimento, relaxamento e prática em
pequenos conjuntos instrumentais (HENTSCHKE & DEL BEN, 2003, p.116).
As atividades de musicalizações possibilitam ao aluno fundamentos
de esquemas corporais, cognitivos, linguísticos, cognitivos e sócios afetivos.
Vejamos como a música desenvolve essas áreas.
Desenvolvimento cognitivo e linguístico – a música se faz presente
desde os primeiros anos de vida uterina, o bebe já ouvia os sons que o corpo da
mãe produzia involuntariamente. As canções de acalanto fazem parte desse
grandioso repertorio musical. Na infância o processo de musicalização aumenta
devido ao ambiente que o cerca, massificando o desenvolvimento e percepção
sonora.
A criança com síndrome de Down também percebe o ambiente
sonoro de acordo com as limitações imposta pela condição. Ela precisa ser
orientada pelo profissional capacitado, que fara as seguintes adaptações para
tenha uma maior absorção do ambiente que vive. Louro (2012 p, 140) diz “[...] é
preciso paciência para conviver com uma evolução “degrau a degrau” na escada
do ganho cognitivo”.
Os estímulos devem gradativamente, seguir o ritmo de
aprendizagem em que a criança possa acompanhar e entender o conhecimento
adquirido. As práticas rítmicas musicais trabalham os sentidos das crianças, ao
imitarem sons ou reproduzir gestos corporais, estão constantemente
aperfeiçoando sua concentração e coordenação motora.
Desenvolvimento psicomotor – As atividades musicais exercitam as
habilidades motoras, dando-lhes oportunidade de controlar seus movimentos
musculares de forma consciente. Ao acompanharem um ritmo, batendo palmas,
ou os pés, estão trabalhando o equilíbrio sensório-motor, concentração,
autodisciplina e memorização.
O estudo da música melhora o trabalho em equipe, demonstrando o
quanto cada pessoa é importante para realização e concretização da atividade
musical. A criança com síndrome de Down ao perceber o quanto é importante no
ambiente social apresentará maior comprometimento para realizar seus objetivos.
A música desenvolve a personalidade da criança Down, dando-lhes
autoconfiança, encorajando-os, para seguir sempre em frente.
Desenvolvimento sócio afetivo – em virtude do amadurecimento, as
atividades coletivas são essenciais para desenvolver a autoestima, aprendendo a
aceitar-se dentro de suas capacidades e limitações.
Crianças portadoras de deficiência mental, possuem um ritmo próprio (mais lento) no processo de aprendizagem visto que diante de uma tarefa apresentam dificuldades de concentração e dispersam facilmente (MARTINS, 2002, p. 27).
É necessário que os professores observem atentamente o
aprendizado e como está sendo desenvolvido o conteúdo de educação musical,
criando e discutindo maneiras de transmitir essa matéria para que a criança
usufrua do aprendizado musical.
A educação musical é importante no processo de aquisição de habilidades básicas para o aprendizado de toda e qualquer criança destacando, sobretudo, as portadoras de deficiência mental (URICOECHEA, 1993, p.28).
A música consegue de uma só vez estimular a audição,
coordenação motora, atenção, memoria e ainda promove a socialização, sendo
este um dos mais surpreendentes ganhos que ela proporciona. Os estimas e
preconceitos fazem parte do cotidiano dessas pessoas. No caso das crianças
essa discriminação é maior, pois na maioria dos casos o desrespeito vem por
parte dos seus próprios colegas.
No entanto, o caráter socializador da música aliada a praticas
coletivas, transpassam as barreiras do preconceito, provando o quanto são
capazes de aprender e viver em sociedade.
6.2 O papel do professor
A educação musical tem a finalidade de desenvolver a sensibilidade
estética e artística, estimulando a atenção e memorização, possibilitando aos
alunos a aquisição de novas habilidades diante de suas capacidades mentais.
Com o crescente número de crianças com necessidades especiais
matriculados nas escolas regulares nos últimos anos, a comunidade escolar tem
observado que os professores, devem seguir os moldes da educação inclusiva,
ou seja, desenvolver práticas de acordo com a necessidade de cada aluno,
contudo, espera-se que o professor esteja capacitado para encarar o desafio de
inclui-lo no processo de aprendizagem.Mudanças profundas só acontecerão quando a formação dos professores deixar de ser um processo de atualização, feita de cima para baixo, e se converter em um verdadeiro processo de aprendizagem, como um ganho individual e coletivo, e não como uma agressão. (BRUINI, 2015).
A capacitação profissional deve acontecer em sequência, buscando
informações previas sobre a deficiência ou síndrome adequando-se para
proporcionar uma boa relação professor – aluno.
Educar uma criança é uma experiência que leva o professor a rever
e questionar suas ideias sobre desenvolvimento e competência profissional.
[...] É o professor, com a sua prática cotidiana, que buscará os caminhos mais adequados para cada aluno. Competência, técnica caminha lado a lado com disponibilidade interna e compromisso profissional, elementos essenciais para enfrentar os desafios (ROSA; VITORINO; CHINALIA, 2005, p. 32).
Porém, um dos problemas enfrentados pelos professores de
educação musical, quando trabalha com crianças com necessidades especiais é
de que a aula de música não é vista como área de conhecimento, e sim como de
recreação. Segundo Louro (2006, p. 06):
Cada aluno, seja com deficiência ou não, possui sua própria história de vida, sua maneira de aprender, suas características físicas, psicológicas e culturais. Sendo assim, o ensino precisa ser eficiente e abarcar a diversidade.
O Ministério da Educação é responsável por capacitar professores
para o ensino inclusivo por meio de programas voltados para a educação
especial. No entanto, é das universidades o dever de preparar esses profissionais
e desenvolver pesquisas para diminuir os problemas sociais relacionados aos
portadores de necessidades especiais.
[...] E esta nova era, vem para traduzir em novos ambientes e aprendizagem, através dos mais diversos recursos tecnológicos, a fim de atender as mais diversas formas de aprendizagem humana, corroborando assim para estreitar-se às diversidades e aumentar as oportunidades dos que antes eram vistos como “improdutivos”, esta deve ser a principal preocupação quando se fala em educação inclusiva: Preparar o aluno para novos conhecimentos e novas tecnologias, além de se preocupar com a sua capacidade de aprender (FERREIRA e GUIMARÃES, 2003, p.137).
A educação especial permite aos professores avaliarem sua própria
formação, diante do desafio da pluralidade social e das diferenças características
de seus alunos, a qualificação profissional é acima de tudo uma um modelo de
transformação dos métodos já ultrapassados da educação.
O cérebro é pré-programado para aprender o melhor que podemos fazer é trabalhar como facilitadores dessa aprendizagem; essa, sim -arrisco a dizer - é a função sagrada do educador (LOURO, 2012, p. 117).
O professor é um dos principais responsáveis pelo sucesso da
inclusão, pois é capaz de vivenciar todo o processo de aprendizagem do aluno
com necessidades especiais, pesquisando, adaptando e executando ações
diretamente ligadas ao sistema de inclusão.
A educação inclusiva ainda está longe de um entendimento por parte
da comunidade escolar, principalmente por professores de música. Nos enquanto
educadores musicais, precisamos refletir sobre as práticas preconceituosas e
estigmas que na maioria dos casos, nos impedem de realizar um trabalho ou um
estudo referente à educação especial.
“O achismo” deve ser deixado pra traz, a princípio devemos focar no
aprendizado da pessoa com deficiência, no que se refere à síndrome de Down, o
professor deve extrair o máximo daquele aluno, tendo a consciência das suas
limitações, dando qualidade e credibilidade ao ensino.
Não se pode negar a importância do empenho pessoal, do apoio familiar, da relação professor – aluno, etc. no aprendizado, porem quanto maior a compreensão da deficiência em questão, maiores as chances de ganho cognitivo por parte do aluno. Conhecer-lhes as potencialidades e limitações evitara grandes equívocos por parte do professor (LOURO, 2012 p, 51).
É necessário que o professor tenha um estudo aprofundado a
respeito das deficiências dos seus alunos, essas informações auxiliarão no
planejamento das aulas. As informações colhidas com antecedência evitam
problemas durante as aulas, o professor precavido e organizado consegue bons
resultados se tiver um conhecimento prévio do tipo de eficiência que irá trabalhar.
A família sempre será a maior fornecedora de informações, como
por exemplo: características físicas, comportamentais, medicamentos etc., no
entanto o professor pode conseguir mais conteúdo em artigos, livros, sites e
profissionais envolvidos com a causa. De acordo com Louro (2012, p. 53) “em
princípio o mais recomendável é que a família mantenha proximidade, inteirando
o professor das informações que se fizerem necessárias para o aluno, e
colaborando com a aprendizagem, por meio de estimulação também fora do
ambiente escolar”.
O professor que acredita que incluir é quebrar barreiras viabilizando
a construção do saber, garantindo a educação inclusiva um futuro sem
discriminação e mais harmonioso para alcançar a proposta de integrar e incluir,
estará de fato cumprindo seu papel.
6.3 Práticas pedagógicas
A criança com síndrome de Down em relação às outras crianças
ditas normais demonstra um ritmo de aprendizagem mais lento, visando o
desenvolvimento de suas habilidades, prática pedagógica vem sendo adaptadas e
trabalhadas em salas das escolas do ensino regular, estimulando-o de acordo
com necessidade educacional ao qual apresentar.
Dependendo do aluno ou da turma a linguagem (ou a proposta) é adaptada para a idade com qual se lida no momento. De qualquer maneira, à deficiência cognitiva, é comum que seus alunos estejam em estágios cognitivos não condizentes com o esperado para sua faixa etária (LOURO, 2012, p. 148).
As práticas pedagógicas precisam estar em harmonia com as
necessidades de cada criança, conquistando gradativamente o conhecimento
ocasionado pelo trabalho das atividades reflexivas, fazendo com que o aluno
aprenda de forma natural.
A vivência escolar tem demonstrado que a inclusão pode ser favorecida quando observam as seguintes providencias: preparação e dedicação dos professores; apoio especializado para os que necessitam; e a realização de adaptações curriculares e de acesso ao currículo, se pertinentes (CARVALHO, 1999, p.52).
O professor deve trabalhar de forma interdisciplinar, relacionando os
conteúdos com situações cotidianas, criando uma relação das aulas com o
abstracionismo, como por exemplo: relacionar uma música ou canção, a um fato
ocorrido durante o dia. Essa construção mental, além de exercitar o cognitivo, fará
com que as crianças criem um vínculo afetivo, inserindo a criança Down a vida
social.
Os sons ambientes são um valioso recurso para as atividades que
sugerem o reconhecimento dos variados sons que nos cercam, podem ser
elencados a ao desenvolvimento da linguagem, sempre respeitando as limitações
que a condição genética impõe as crianças Down.
Os estímulos sonoro-linguísticos permitem que a criança com
síndrome de Down associe símbolos ou objetos, aos sons percebidos captados
pelo ambiente.
A contextualização das atividades permite melhor absorção dos
conteúdos escolares, as tarefas simples podem ser facilmente compreendidas,
dando início a alfabetização, criando e organizando concepções, aumentando o
desempenho físico, cognitivo e emocional que de alguma forma trabalhe o
pensar.Mesmo em etapas mais avançadas não descarto as atividades lúdicas paralelas, tais como jogos, brincadeiras, criações coletivas e desafios que estimulem o desenvolvimento de algum elemento importante da aprendizagem (LOURO, 2012, p. 140).
As atividades lúdicas quando bem direcionadas trazem uma
agradável sensação de bem-estar, essas brincadeiras tem um valoroso cunho
pedagógico, pois se transformando em ferramenta, possibilitando ganhos de
novos julgamentos e habilidades.
As principais atividades lúdicas mais indicadas são: desenho dos
símbolos musicais, recorte e colagem, quebra-cabeça de um pequeno trecho de
partitura, jogos de tabuleiro, inspirando a criatividade; pintura dos símbolos
musicais, representação da paisagem sonora, movimento corporal ampliando a
coordenação motora envolvê-las em atividades como danças, futebol, brincar de
estátua com referência aos valores positivos (som) e valores negativos (pausa),
cirandas, esconde-esconde da escala diatônica, dentre outras.
É preciso que a escola observe o processo educacional dos alunos,
prevenindo possíveis problemas que ocorrem durante a construção do saber.
Através de planejamento pedagógico, o rendimento educacional deve ocorrer de
forma gradual garantindo o desenvolvimento global da criança.
6.3.1 Adaptações e execuções
As adaptações se faro presente de acordo com a necessidade de
cada deficiência ao qual for trabalhada.
Precisamos lembrar que sempre haverá necessidade de adaptações, tanto do material utilizado em aula, como também da metodologia empregada. (LOURO, 2012, p. 59).
As adaptações das atividades é uma das tarefas funcionais do
professor, visando facilitar o aprendizado do aluno com deficiência, em alguns
casos, essas adaptações são preparadas pelos Terapeutas Ocupacionais, esses
profissionais nos auxiliam ao máximo nas atividades em sala de aula. Ainda,
Louro, “A Terapia Ocupacional é uma área a que recorro frequentemente, pois
uma das suas vertentes, chamada Tecnologia Assistiva, trata de promover as
adaptações mecânicas de artefatos que possibilitem determinadas atividades em
sala de aula”. (2012, p. 56).
O registro das aulas é importante para controle das atividades, os
planos de aula serão produzidos de acordo com cada aluno, criando um banco de
dados a respeito das aulas ou situações inusitadas durante as mesmas.
[...] A inclusão de alunos com deficiência no ensino musical comum sempre exigirá alternativas, bem como um tempo de aprendizado maior que aquele dispensado aos alunos sem deficiência, além de um bom planejamento, de organização e envolvimento por parte dos professores, coordenadores pedagógicos e principalmente, pais (LOURO, 2012, p. 70).
Durante as aulas de teclado, notava que os alunos se distanciavam
do instrumento pelo tamanho ou por desconhecerem tal coisa. Ficava
impressionado, pois não sabia o que fazer quanto a isso.
Decidi tocar algumas melodias simples, explorando toda extensão
do instrumento, demonstrando a eles que se tratava de um instrumento musical
eletrônico e que iriamos estudar as músicas que eles mais gostavam. Após isso,
adaptei cores ao teclado, intercalando em oitavas, colocando nome em cada tecla
respectivamente. Algumas instruções foram deixadas intencionalmente para que
os alunos adiantados musicalmente pudessem seguir e tocar de acordo com o
esquema que havia deixado.
A criança Down a princípio, não conseguia assimilar o exercício
proposto, necessitava de mais tempo para compreender as instruções para tocar,
foi de cores adaptadas ao teclado que consegui transmitir o conteúdo proposto.
Pois a criança Down, tem mais absorção do conteúdo, por meio da concretização,
ou seja, as imagens são mais absorvidas do que as palavras. (Veja figura abaixo).
As músicas trabalhadas para o recital, foram previamente escolhidas
e trabalhadas de forma lúdica, com auxílio do teclado, flauta doce e instrumentos
percussivos. Sempre contextualizando as histórias cantada com o cotidiano dos
alunos.
A criatividade e memorização se mostravam mais aflorada, pois
repetiam as músicas por diversas vezes. Seja tocando, cantando, as crianças
aprendem brincando.
7 METODOLOGIA
O universo desta pesquisa será constituído pelos alunos da Clínica
Miguel Arcanjo. No entanto, a amostra selecionada para a investigação serão
apenas os alunos com Síndrome de Down, da clínica mencionada.
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, segundo Severino (2000), Gil
(1991), Andrade (1999), onde pretendemos abordar outras áreas de
conhecimento, ou seja, interdisciplinarmente, já que o trabalho abordará temas da
área da Educação (BECKER, 2001) e da Musicoterapia (BENENZON, 1985)
ficando bem delimitadas durante o trabalho. Sendo este um Instrumento de coleta
de dados.
Como instrumentos de coleta de dados, utilizaremos: questionário
com perguntas abertas e entrevistas semiestruturadas para os funcionários,
professores e diretores, observação sistemática das aulas segundo (DUARTE,
2004) “a realização da entrevista é fácil, simples e acessível a todo pesquisador,
principalmente aos principiantes”, este método requer planejamento, preparo
teórico e habilidade técnica no momento da coleta, da transcrição e da análise
dos dados. Porém, seguindo todos esses passos, nem sempre será possível
coletar dados apenas com o uso de entrevistas. Para avaliar as habilidades, os
comportamentos e as relações entre indivíduos e ambiente é preciso ver. Mas
como? A observação e a vídeo gravação (filmagem) são métodos que podem
auxiliar na visualização acurada dos dados e facilitar o olhar do pesquisador.
Observar é um processo e possui partes para seu desenrolar: o objeto observado,
o sujeito, as condições, os meios e o sistema de conhecimentos, a partir dos
quais se formula o objetivo da observação (BARTON; ASCIONE, 1984).
A evolução dos recursos tecnológicos permitiu uma melhoria no
processo de observação. Os pesquisadores aprofundaram a coletada de dados
de suas pesquisas por meio do vídeo gravação. A filmagem passou a captar sons
e imagens que reduzem muitos aspectos que podem interferir na credibilidade da
coleta dos dados observados (PINHEIRO, KAKEHASHI, ANGELO, 2005). A
principal vantagem deste método é que outros pesquisadores também podem
fazer uso do material coletado. Torna-se possível analisar todo o material de
pesquisa e manter a neutralidade dos dados. Sendo assim, o uso do vídeo
permite certo grau de exatidão na coleta de informações, uma comprovação
frente aos tradicionais questionamentos da subjetividade da pesquisa qualitativa
(KENSKI, 2003).
8 NOSSAS EXPERIÊNCIAS
8.1 Considerações Prévias
A educação especial tem completado a educação regular detectando
e atendendo uma parcela da população que necessita de acompanhamento
especifico ou especializado para desenvolver habilidades funcionais dos vários
níveis de escolarização, ao mesmo tempo, a exclusão desse fragmento de
pessoas é observada e ignorada pelos mesmos mecanismos de educação.
Antes de iniciar o relato da nossa experiência no Centro
Especializado Miguel Arcanjo, faz-se necessário trazer algumas considerações e
reflexões que surgiram no início do trabalho como resposta às inúmeras
questões, dúvidas e desafios que a prática do Estágio Obrigatório do Curso de
Música/Licenciatura da UFMA, colocou diante de nós. A realidade em que nos
encontrávamos motivou a busca por bibliografia e possíveis caminhos de
intervenção pedagógica a través da música a serem trabalhados com as crianças
da referida instituição. Assim, destacaremos a seguir algumas questões gerais
que dizem ao tema escolhido e à sua realização prática.
Segundo alguns autores, dentre eles a professora Maria Helena
Michels da Universidade Federal de Santa Catarina os professores da educação
especial inclusiva demonstram muito comprometimento para inseri as crianças a
eles confiadas na sociedade, pois em sua formação acadêmica, há disciplinas
tanto em nível médio como superior que visam desmistificar as discussões sobre
a educação de alunos deficientes, (MICHELS, 2006, p. 345).
No que diz respeito à cidade de São Luís (MA), a falta de
profissionais nessa área é enorme, já que a Universidade Federal do Maranhão
possui poucos profissionais para essa modalidade, na nossa experiência como
estagiários do curso de Música dessa universidade percebemos que a principal
dificuldade enfrentada para a realização do trabalho de inclusão, referia-se à falta
de formação especializada e de apoio técnico no trabalho com alunos inseridos
nas classes regulares.
A busca por curso de formação especializada ainda é insuficiente
diante dos desafios sobre as práticas educativas que contribuam para a
concretização dos ideais de escola inclusiva.
Na sua coluna na revista Veja, o jornalista Rodrigo Constantino
escreveu no dia 07 de agosto de 2015, o seguinte:
Professor tem que ter preparo conhecer sua matéria, continuar sempre investindo em sua formação, treinando, evoluindo, para que possa transmitir conhecimento verdadeiro aos alunos. Quem não sabe ensinar, doutrina, repete chavões, slogans marxistas, apela para o subjetivismo excessivo, alega que o professor aprende tanto com o aluno analfabeto da periferia quanto o aluno com o professor (CONSTANTINO, 2015).
Concordamos com Constantino, pois acreditamos que encarar uma
sala de aula e ministrar uma aula de qualidade, seja qual for não é tarefa fácil,
afinal, não basta saber o conteúdo, é necessário ter didática que reforcem e
facilitem essa transmissão de conhecimento, para isso existem os cursos de
capacitação ou disciplinas especificas que suprem essa necessidade. Há vários
profissionais graduados, que não possuem didática, ou domínio dos conteúdos
adquiridos durantes os anos de graduação, geralmente e depara com situações
problemáticas ou frustrantes, essa formação incipiente é amargamente esboçada
nas salas de aula. Na mesma coluna, o jornalista continua:
Conhecer a fundo a matéria a ser ensinada, como matemática, química, física, biologia, exige preparo, treinamento, investimento de tempo e recursos. Quanto maior for o domínio do professor sobre tais assuntos, maior será sua capacidade de envolver os alunos nos temas, tornar suas aulas mais interessantes. (CONSTANTINO, 2015).
Na sala de aula não basta colocar em prática o que foi planejado. É
preciso administrar inúmeras variáveis tais como falta de recursos didáticos,
problemas de disciplina da turma, inserção da aprendizagem na rotina da escola e
sua tradução em vivencias significativas para o aluno e o professor naquele
momento.
O professor deve estar atento a respeito das possibilidades
metodológicas para o ensino, e principalmente ao ensino de música. Isto é, o
professor deve estar sempre instigando a discussão sobre as várias
possibilidades do fazer musical, ressaltando uma visão mais ampla de música,
que não seja voltada para a performance instrumental em si, mas que tente inserir
todas as crianças nas atividades a fim de que as mesmas contribuam para um
processo de aprendizagem significativo e eficaz em todos os sentidos.
A formação acadêmica é de extrema importância para
desenvolvimento das atividades da área estudada, contudo a teoria nem sempre
está aliada à prática. Na universidade não se aprende tudo, situações que nos
deparamos no cotidiano são de grande valia para o processo de ensino-
aprendizagem, valorizando as práticas educacionais.
O trabalho desenvolvido na educação especial é exclusivamente
singular, pois cada aluno com sua particularidade, conhecimento, limitações e
principalmente dificuldades na aprendizagem, as quais variam de pessoa para
pessoa, precisa ser visto, entendido, e aperfeiçoado, de acordo com suas
competências individuais.
Cabe ao professor enxergar as dificuldades apresentadas por seu
aluno e buscar o melhor caminho para amenizar esse problema. Na maioria das
vezes esse caminho vem acompanhado de inúmeras tentativas, fracassos,
decepções, contudo, precisamos entender que sem vivenciar o novo, suas
habilidades jamais serão descobertas. É com esta linha de pensamento que o
professor deve seguir adiante, criando e planejando alternativas exigindo o
máximo da aprendizagem de seu aluno, levando em consideração o limite que
cada criança especial possui.
Embora a disciplina de Educação Especial fosse muito comentada
nos corredores do campus, nós não tínhamos nenhuma experiência na área,
então, decidimos encarar esse desafio, não sem um sentimento de inquietude que
nos acompanhou a todo o momento. Diante das lacunas e incertezas fomos à
busca de conhecimento prévio em livros, revistas, artigos, sites, vídeo aula,
chegando até a cursar em outros cursos, disciplinas de Educação Especial no
intuito de ampliar nossa gama de conhecimentos à respeito do tema.
Ao iniciarmos nossas atividades como estagiários no Centro de
Ensino Especializado Miguel Arcanjo nos deparamos com uma realidade
totalmente diferente daquela apresentada nos livros, percebemos que tínhamos
muito a fazer e pouco tempo para desenvolver as atividades musicais, voltada aos
pacientes do dessa instituição.
A inexperiência nos causou profundo constrangimento, pois não
tínhamos habilidade com crianças especiais. Além do mais, não esperava que
trabalhasse com várias síndromes ao mesmo tempo: Síndrome de Down,
Asperger, Baixa Visão, Baixa Audição, Autismo (leve, moderado e grave)
Hiperatividade e dentre outros. Contudo, decidimos trabalhar com Síndrome de
Down (SD), pela afinidade e por outros motivos.
Durante nossa caminhada tivemos muito apoio e orientação da
equipe multidisciplinar formada pelos demais profissionais do Centro
Especializado Miguel Arcanjo (Pedagogo, Psicólogo, Psicopedagogo,
Fonoaudiólogo, Arte terapeuta, Auxiliares de sala de aula, cozinheiros etc.), sem
falar numa previa aproximação, junto aos alunos com necessidades especiais e
sem falar no apoio que obtivemos da família dos alunos, pois muitos pais foram
previamente entrevistados, fornecendo informações preciosas sobre o dia-a-dia
de seus filhos e sua síndrome. Tais atitudes facilitaram a programação e o
desenvolvimento das aulas no primeiro momento.
Segundo a Revista Educação Inclusiva, é comum responsabilizar a
escola de ensino regular por não saber trabalhar com as deficiências e excluir
seus alunos e a escola especial por se colocar de forma segregadora e
discriminatória. A implementação da educação inclusiva requer a superação desta
dicotomia eliminando a distância entre ensino regular e especial, que numa
perspectiva inclusiva significa efetivar o direito de todos os alunos à escolarização
nas escolas comuns de ensino regular e organizar a educação especial, enquanto
uma proposta pedagógica que disponibiliza recursos, serviços e realiza o
atendimento educacional especializado, na própria escola ou nas escolas
especiais, que se transformam em centros especializados do sistema
educacional, atuando como suporte ao processo de escolarização (2007, p. 32 –
33).
Dessa forma o sistema de ensino deve priorizar um atendimento
qualitativo nos serviços comuns como nos serviços especiais. Com base nessas
sugestões decidimos fazer um levantamento de possíveis adaptações dos
métodos usualmente utilizados, visando o melhor aproveitamento dos alunos
deficientes. A ação em si mesma tem um forte significado de superação dos
problemas vivenciados por eles. Seguindo a linha de que “a música deve ser
acessível a todos, procurando mudar a concepção de que é necessário ter “dom”
ou “talento” para aprendê-la”.
Foi então que nos deparamos com a Musicoterapia e as suas
possibilidades pedagógico-terapêuticas. Sempre buscando materiais que nos
ajudassem nas aulas de música, chegamos até essa ciência, que utiliza a música
com fins terapêuticos.
De acordo com Benezon (1985, p.38) vejamos a definição de
Musicoterapia:
Do ponto de vista terapêutico “a musicoterapia é uma disciplina paramédica que utiliza o som, a música e o movimento para produzir efeitos regressivos e abrir canais de comunicação, com o objetivo de empreender através deles o processo de treinamento e recuperação do paciente para a sociedade.
A musicoterapia tende a melhorar a vida dos pacientes
proporcionando-lhes bem-estar à medida que potencializam áreas comprometidas
por alguma deficiência ou lesão.
8.2 No universo da sala de aula
As aulas de musicalização começam a tomar forma, a assimilação
por parte dos alunos era visível a cada dia, conseguimos avançar mais um degrau
educacional a fim de alcançar o ápice educacional, pois acreditávamos no
progresso que os alunos poderiam apresentavam.
No entanto, observamos que alguns alunos estavam se recusando a
participar das aulas, que se iniciavam após o intervalo, essa rotina já era
praticada por outros professores, ou seja, já fazia parte da rotina deles.
Ao indagarmos um dos alunos de o “por que” de estarem se
recusando de participar das aulas, o mesmo, com muita sinceridade, disse que as
aulas estavam chatas e repetitivas.
Acreditávamos que o trabalho desenvolvido estava surtindo efeito,
porém, não nos deixamos abater, imediatamente buscamos novas estratégias de
incrementar as aulas, as novidades não surtiam efeito, o “novo”, não funcionava,
fazendo com que eu ficasse mais apreensivo e receoso.
O desespero tomou conta de nós, não sabíamos o que fazer diante
do problema, foi a primeira vez que pensamos em desistir.
Ao recebermos o livro “Práticas Musicais para trabalhar em sala de
aula, Fundamentos Da Aprendizagem Musical Da Pessoa Com Deficiência”, de
Viviane Louro, após uma leitura reflexiva sobre diversas abordagens, e exemplos
de atividades para as crianças portadoras de deficiência, podemos nos
tranquilizar e acreditar que éramos capazes de realizar o trabalho que nos foi
proposto.
Diante do conhecimento adquirido, adaptamos alguns exemplos
para os alunos, compreendemos que, para cada criança com deficiência
necessitamos de cuidados especializados e adaptações referentes a elas.
Percebemos o quanto se desenvolveram, notava-se que algumas capacidades
físicas e cognitivas ficavam mais aguçadas, a criatividade e memorização sempre
se mostravam mais acentuada.
Diante disso, um novo desafio foi lançado, no qual, seria a
realização de um espetáculo musical, onde todos teriam que executar uma
música que eles mais gostavam de tocar nas aulas.
As adaptações foram importantes para iniciar os ensaios, como por
exemplo: nos arranjos, modulações, composições e alterações no teclado. De
certo modo, nós, professores, buscamos transformar e adaptar nossas praticas
educativas para que elas cheguem ao aluno da forma mais simples possível, e
proporcionando-os um melhor aprendizado, por meio de atividades planejadas e
diferenciadas, buscando novas pesquisas assim como, propostas de ensino-
aprendizagem organizando o meio educacional.
Nos enquanto profissionais da educação temos que entender que as
frustrações fazem parte da nossa caminhada, e esses obstáculos nos fortalecem
ainda mais.
O trabalho desenvolvido não apresentou resultados imediatos, pelo
fato de trabalhar com várias crianças, síndromes e características que são
peculiares de cada uma. A cada tropeço, tínhamos vontade de seguir em frente, ir
mais além, esse sentimento nos levava a alcançar meus objetivos.
As músicas foram escolhidas de acordo com o gosto musical de
cada aluno, e um setlist foi criado para que os mesmos decidissem quais músicas
gostariam de tocar, como por exemplo: Borboletinha; Marcha Soldado; Atirei o
pau no gato; Boi da cara preta; Cai, cai balão; Ciranda cirandinha; Escravos de
Jó; e Eu sou pobre, pobre, pobre.
Por fim, a canção Amor, composta por um aluno SD (Síndrome de
Down) em homenagem a Professora Auxiliar que nos ajudava durante as aulas de
música na sala de aula. Apesar de não gostar das aulas de teclado “V.H”.
(abreviamos o nome do aluno para preservar sua identidade) se mostrou muito
criativo ao produzir essa canção, onde o mesmo observou vários aspectos que
mais lhe chamavam atenção na Auxiliar como, por exemplo: beleza, carinho,
respeito e afeição, o mesmo me pediu para que o ajudasse com essa tarefa.
“V.H.” era conhecido por todos os pais do Centro Especializado
Miguel Arcanjo por ser um tanto, indisciplinado durante as aulas. Esse
comportamento era frequente com acontecia com todos os funcionários do
Centro, e conosco não foi diferente. Era muito difícil ministrar as aulas quando
“V.H.” estava presente, por mais que o resto dos alunos prestasse atenção, ele
desconcentrava a todos com suas brincadeiras nocivas os demais.
Após refletirmos sobre o comportamento de “V.H” resolvemos mudar
de estratégia, decidimos nomear “V.H.” como nosso auxiliar em sala de aula,
delegando funções, direitos e deveres, para que o mesmo despertasse o
sentimento de integração do ambiente musical.
A inclusão quando acontece naturalmente, no ambiente familiar,
escolar ou social desenvolve o sentimento de cidadania, ou seja, um ambiente
agradável faz com que a pessoa com deficiência se sinta amparada e integrada
de forma digna e justa.
Cabe ao professor propor novos desafios, experimentando e
desfrutando dos conhecimentos adquiridos por seus alunos. Sendo especial ou
não.
O comportamento de “V.H.” melhorou muito, porém, em
determinadas situações ainda se apresentava um pouco indisciplinado.
Apesar disso, era muito criativo e respondia bem aos estímulos
musicais. Aos poucos sua dicção foi melhorada e as respostas sensoriais
(cognitivas e motoras) estavam aflorando pouco a pouco.
Foi a primeira vez que compunha uma melodia, que convenhamos,
ficou muito bom. Sendo assim, cantamos para todos os funcionários e todos
ficaram surpresos com o talento de “V.H”. Recebemos muitos elogios, porém o
mérito era todo do compositor.
Contudo preparamos um pequeno recital para os pais a fim de
mostrar o trabalho musical intitulado: O vôo dos anjos e assim, demos início as
apresentações e cada aluno tocou uma música da qual mais gostavam, deixamos
o melhor para o final, pois todos estavam aguardando “V.H.”.
Chegou o momento mais aguardado, a apresentação de “V.H”. Para
a surpresa de todos, ele tocou e cantou sua composição, emocionando a todos
que observavam atentamente a execução da sua composição, ao final o
aplaudiram e o parabenizavam pelo que ele fez, que realmente foi muito
emocionante.
A musicalização e os princípios da musicoterapia foram essenciais
para realização dessas atividades musicais, porque de certo modo aliviou as
tensões que existiam nos alunos e em nos principalmente, nos proporcionou a
mais um aprendizado, que devemos respeitar as diferenças, o que é a regra
básica para viver em grupo ou em sociedade.
Com o resultado desse esforço conjunto, os alunos acabam
aprendendo não só noções da teoria e execução musical, mas a superar suas
limitações, sendo percebido nas diversas apresentações do grupo. Durante as
apresentações musicais sentiamos que os mesmos ficavam mais à vontade, não
só pelas execuções, mas pela postura diante do público.
As limitações físicas e intelectuais foram deixadas para traz,
superando seus medos e contradizendo o que sempre ouviram: “que eles nunca
seriam capazes”.
Os ensaios seguiam a todo vapor, os alunos estavam muito
animados e com a aproximação do espetáculo, muitos pais se preparavam para o
grande dia.
Como resultado desse esforço conjunto, os alunos acabam
aprendendo não só música, mas também a superar suas limitações, o que é
percebido nas diversas atividades ao qual desenvolvem dentro e fora da escola.
Os benefícios que a música traz para nosso bem-estar são incontáveis. Ela nos
tornou mais sensíveis, ajudou a entender e compreender o sentimento do
próximo, enriquecendo o convívio com as pessoas. Através da música é possível
protestar, impor uma opinião, mover multidões, podendo até mesmo transformar
toda uma nação. A música faz bem a todos, dede que haja o respeito às
generalidades, ela sempre será um elo de ligação entre os seres humanos.
Com a chegada do Natal mais uma música foi adicionada, “Bom
Natal” para finalizar com chave de ouro o espetáculo “O Voo dos Anjos”. Nós
tínhamos certeza de que não teria dificuldade, pois sabia que conseguiria realizar
o trabalho, até porque, estávamos convictos de que daria certo
Observou-se que a música auxilia no desenvolvimento de várias
habilidades que são facilmente percebidas nas áreas da cognição, linguística e
motricidade, quando estimuladas ainda na fase da infância. As atividades de
musicalização para crianças com síndrome de Down demonstram um caráter
lúdico e ao mesmo tempo socializador, as práticas coletivas despertam o
sentimento de cidadania, onde esse aprendizado garante uma melhor
compreensão das diferenças, na família e principalmente no ambiente
educacional.
A escola é um dos lugares onde todas suas habilidades são
trabalhadas e potencializadas por propostas pedagógicas, profissionais
especializados ou terapias, cujo objetivo é desenvolver-se por completo.
Pais e educadores devem trabalhar juntos para diminuir os
problemas de aprendizagem imposta pela condição genética da criança com
síndrome de Down, estimulando, capacitando e refletindo sobre práticas
educacionais que mais condicionam um aprendizado significativo e reflexivo para
que o conhecimento adquirido faça parte do seu dia a dia. É necessário que a
criança Down experimente um ambiente propicio a aprendizagem por parte da
família e da escola para que essa aprendizagem se torne ferramenta integração
social, quebrando preconceitos e estigmas, fugindo dos padrões culturais que a
sociedade impõe por desconhecimento ou medo.
O exercício dessas práticas pode colaborar nos processos de
aquisição do conhecimento, aguçar a sensibilidade, a criatividade, a sociabilidade
e o gosto artístico. Todo o trabalho com a música de ser desenvolvido de forma
lúdica e agradável, respeitando sempre o ritmo de cada criança.
9 CONCLUSÃO
O relato de experiência mostrou que a musicalização é importante
para o desenvolvimento do saber, visto que explora várias áreas do
conhecimento. No processo educacional, a música estimula as habilidades
relacionadas às potencialidades humanas no campo físico, mental, social,
emocional e espiritual. Pensando nisso, os educadores consideram-na
importante, pois ajuda no desenvolvimento da fala, percepção, na memória,
raciocínio logico-matemático, essa atuação assegura um bom rendimento escolar.
A utilização da música com a finalidade terapêutica auxilia na
recuperação da saúde possibilitando resultados satisfatórios nas áreas mentais e
motrizes.
As atividades de musicalização por outro lado, contribuem para a
inclusão de crianças com síndrome de Down, pela sua característica lúdica, livre
de cobranças ou resultados concretos. A terapia musical proporciona a criança
Down agradável momento de bem-estar, colaborando com a desinibição, a
integração social, despertando o sentimento de cidadania.
Esperamos com este trabalho ter contribuído para futuras pesquisas
e que ele sirva para auxiliar outros colegas.
Da nossa parte crescemos muito com esse trabalho, posto que,
pudemos nos aprofundar nas características e peculiaridades das crianças com
síndrome de Down, o que enriqueceu enormemente as nossas práxis
pedagógico-musicais.
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URICOECHEA, Ana Sheila M. de. Musicoterapia e deficiência mental: teorias e técnicas Revista Boletim Sociedade Pestalozzi do Brasil. São Paulo - SP. n. 59/60.p.20-28, 1993.
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Werneck, Claudia. Muito Prazer eu Existo. 4ª ed. WVA, rio de Janeiro, 1995.
ANEXO I
C D E F G A B C D E F G A B C D E F G A
Representação gráfica do teclado adaptado.
EU SOU POBRE POBRE POBRE DE MA RRÉ MA RRÉ MA RRÉ
EU SOU POBRE POBRE POBRE DE MA RRÉ DE CI
EU SOU RICO RICO RICO DE MARRÉ MARRÉ MARRÉ
EU SOU RICO RICO RICO DE MA RRÉ DE CI